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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ERAM OS EMPREGADOS ESTAGIÁRIOS?
A Nova Lei de Estágio e seu Descumprimento
Por: Júlio Rocha Machado
Orientador
Prof. José Roberto Borges
Niterói – RJ
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ERAM OS EMPREGADOS ESTAGIÁRIOS?
A Nova Lei de Estágio e seu Descumprimento
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Direito e Processo do Trabalho.
Por: Júlio Rocha Machado
3
Meus mais honestos e devidos
agradecimentos aos meus amigos que
me incentivaram a iniciar este curso e
que me acompanharam durante todo o
processo de formação.
4
Dedico este trabalho a quem me deu o
apoio necessário para iniciá-lo,
desenvolvê-lo e finalizá-lo: aos meus pais
pela formação acadêmica e moral e a
Raquel, pelo tempo cedido de sua
companhia para comparecimento às
aulas, estudos, pesquisa e digitação.
5
RESUMO
Este trabalho irá expor a nova legislação aplicada ao estágio em seus
diversos aspectos, a Lei nº 11.788 de 25 de setembro de 2008, descrevendo
historicamente a evolução do estágio nas mais diversas áreas da formação
profissional do trabalhador especializado, indicando as consequências de seu
descumprimento. Será discorrido sobre os aspectos da relação de trabalho
situando a relação da empresa com os estagiários e vice-versa, bem como os
limites das atividades dos agentes de integração e a realização de estágio em
órgão públicos.
6
METODOLOGIA
A metodologia empregada para o desenvolvimento do presente
trabalho, precipuamente se ateve à pesquisa bibliográfica doutrinária sobre o
tema, abarcando-se da sabedoria dos principais autores na área jurídica
trabalhista, como Sergio Pinto Martins.
Aplicou-se, também, pesquisa jurisprudencial e de textos inerentes à
finalidade deste estudo localizados na rede mundial de computadores
(internet).
Encimando o método de trabalho, foram cotejadas as leis sobre o tema,
pondo-se em destaque a Lei nº 11.788/08 e a Lei nº 6.494/77, revogada
expressamente pela primeira, adicionando, no confronto de normas e sempre
que pertinente, as regulamentações exaradas no decurso da vigência desta
última.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I - Origens do Estágio 12
CAPÍTULO II - A Lei nº 11.788/08 19
CAPÍTULO III – As Pessoas da Relação Jurídica de Estágio 35
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49
ÍNDICE 50
FOLHA DE AVALIAÇÃO 51
8
INTRODUÇÃO
Este trabalho pesquisa acerca da chegada ao mundo jurídico da nova
legislação sobre o estágio de estudantes, estabelecendo parâmetros e
objetivos próprios sobre a complementação profissional dos estudantes de
nível fundamental, médio e superior.
O título que batiza este trabalho se trata de uma paródia ao clássico livro
“Eram os Deuses Astronautas?”, do escritor suíço Erich Von Däniken,
publicado em 1968, significando que as aparências de verdades que
costumamos deparar no dia a dia nem sempre se consumam se vistas com
mais precisão, mais acuidade.
Sugere-se, portanto, com este título que a contratação de estagiários
numa empresa pode não passar de mero mascaramento da condição de
empregado, livrando-se dos pesados encargos sociais determinados pela
legislação trabalhista brasileira.
Agora, com o surgimento no ordenamento jurídico pátrio de nova norma
reguladora da relação de estágio como complemento da formação
educacional, há a necessidade de se analisar os termos e condições impostos
pela lei.
Quase todas, senão todas, as áreas de conhecimento e formadoras de
profissionais, hodiernamente, exigem que o candidato à vaga de emprego
possua experiência na área desejada, e o estágio curricular se presta a
integrar os conhecimentos percebidos no curso teórico à prática diária que a
profissão exigirá dos estudantes.
Neste trabalho, no concernente à pesquisa jurisprudencial, necessário
se fez recorrer às decisões referentes à legislação anterior, visto que, por sua
recente publicação, ainda há dificuldade para encontrar decisões definitivas
recentes sobre o tema. No entanto, devido à manutenção do cerne da
9
legislação, que protege o estagiário e tenta evitar a fraude à lei, não há, neste
ponto, prejuízo ao estudo.
O termo “empresa” utilizado diversas vezes no decorrer do estudo o é
de forma mais ampla possível, não havendo preocupação com conceitos
jurídicos mais específicos do Direito Empresarial. Significa, portanto, todo e
qualquer estabelecimento de trabalho apto a receber estudantes que desejam
ser estagiários. Será mais observado na forma “empresa concedente”.
O trabalho se inicia com a análise das origens do estágio em seu
primeiro capítulo, havendo o estudo de sua definição e conceito, histórico,
principais aspectos e a posição do estagiário na atual ordem jurídica brasileira.
Após, são verificadas as condições específicas da Lei nº 11.788/08,
observando-se os requisitos impostos para configuração da perfeita relação de
estágio, suas características inerentes como contrato que é e demais
especificidades.
No derradeiro capítulo deste estudo são consideradas em primeiro plano
as pessoas que tomam parte da relação de estágio, a instituição de ensino, a
empresa concedente de estágio, o estagiário, bem como os agentes de
integração que, se não são parte legítimas da relação de estágio propriamente
dita, têm relevante papel na captação e alocação da mão de obra estudantil, o
que enseja responsabilidades que serão discriminadas.
Encerram o capítulo as referências ao monitoramento e fiscalização das
atividades elaboradas pelos estagiários nas instalações da parte concedente, e
ao exercício de estágio em órgão da administração pública, fornecendo
informações sobre as consequências do desvirtuamento do estágio de
estudantes neste nível.
Por fim, conclui-se o trabalho com a exposição sucinta do que foi
observado durante a pesquisa e o estudo empreendidos, inferindo-se acerca
do reconhecimento do vínculo empregatício ou não quando da existência de
irregularidades na relação de estágio.
10
CAPÍTULO I
ORIGENS DO ESTÁGIO
1.1 - Definição e Conceito
O termo estágio é definido em sua primeira acepção pelo Novo
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, como aprendizado, exercício, prática,
tirocínio (de advogado, médico, dentista, etc.). Mais a frente, define como
“aprendizado de especialização que alguém faz numa repartição ou em
qualquer organização, pública ou privada.”
O renomado dicionário informa a compreensão do verbete de forma
ampla com escopo de espargir o conhecimento terminológico da língua pátria,
não atendo a preceitos legais e de ordenação jurídica, pelo o que resta
incompleta, para os fins deste estudo, a definição supra descrita, não obstante
seja de imenso valor propedêutico para a pesquisa que se inicia.
Devemos, portanto, nos reportar aos que se dedicaram ao estudo do
tema no âmbito do Direito do Trabalho, bem como seus reflexos sociais e
particulares, sem olvidar da pontual legislação reformada recentemente.
Para a lei atualmente em vigor que rege a relação de estágio, em seu
artigo inaugural, delimita o entendimento sobre o termo e como ele deve ser
aplicado tecnicamente. A lei, portanto, delineia o estágio na seguinte diretriz:
“Art. 1º. Estágio é ato educativo escolar supervisionado,
desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à
preparação para o trabalho produtivo de educandos que
estejam frequentando ensino regular em instituições de
educação superior, de educação profissional, de ensino
médio, da educação especial e dos anos finais do ensino
11
fundamental, na modalidade profissional da educação de
jovens e adultos.” (Redação da Lei nº 11.708/08).
Antes desta norma, já foi definido o estágio legal com cunho mais
amplo, reportando-se como “aprendizagem social, profissional e cultural,
proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais de vida e
trabalho de seu meio, sendo realizada na comunidade em geral e junto a
pessoas jurídicas e de direito público ou privado...” o artigo 2º do Decreto nº
87.497/82, que regulamentou o estágio no tempo de império da Lei nº
6.494/77.
Sob a análise precisa de Sergio Pinto Martins em sua obra “Estágio e
Relação de Emprego”, o reverenciado autor dedica suas linhas a dizer sobre o
conceito em debate:
“O estágio é, portanto, considerado ato educativo escolar.
É uma forma de integração entre a pessoa que aprende
na escola e aplica a prática na empresa” (MARTINS,
2009, p. 10).
Não seria despiciendo declarar que o termo escola utilizado pelo
professor acima citado está empregado em sentido mais amplo e extenso,
referindo-se a qualquer espécie de instituição de ensino responsável pela
formação do indivíduo como ser produtivo à sociedade.
Seguindo em sua análise inicial da lei nos dois parágrafos que
complementam o artigo primeiro, o mestre declara que o estágio faz parte do
projeto pedagógico do curso a que se remete bem como objetiva o
aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à
contextualização curricular. No entanto, podemos entender os dois parágrafos
do art. 1º da Lei nº 11.788/08 como um mero desenvolvimento das diretrizes
básicas contidas no caput. Este já determina o escopo do estágio como ato
educativo para o trabalho com base no treinamento pedagógico aplicado pela
instituição de ensino.
12
Diversos conceitos de estágio são mencionados pelos estudiosos do
assunto, mas se aproximam no ponto em comum que relaciona o trabalho
exercido pelo estudante em determinada empresa, pública ou privada, com o
arcabouço teórico de que é imbuído pela instituição de ensino. Indissociável do
conceito de estágio, portanto, a inerência entre o estudo e o serviço.
Nesse sentido firmou Ricardo Luz (1999) ao entender que o estágio é a
permanência do estudante na empresa, com o objetivo de tomar os primeiros
contatos com o ambiente de trabalho, complementando a sua formação
profissional.
Para José Teixeira dos Reis, em sua extensa e esclarecedora obra
“Relações de Trabalho – Estágio de Estudantes”, a definição se apresenta nos
seguintes termos:
“...estágio de estudantes é o período durante o qual o
estudante exerce uma atividade prática de aprendizagem
dos conhecimentos adquiridos na instituição de ensino,
em conformidade com os currículos, programas e
calendários escolares, podendo ser realizado no
estabelecimento de ensino, na comunidade em geral ou
em empresas públicas e privadas, sob a responsabilidade
e coordenação/supervisão da instituição de ensino.”
(REIS, 2008, p. 203).
Mesmo sendo um conceito cunhado sob a força normativa da lei
anterior, o conceito expresso pelo nobilíssimo autor encontra guarida no
ordenamento hodierno, respaldando-se pelo entendimento geral de que o
estágio tem princípios, acima de tudo, pedagógicos.
O multicitado Sergio Pinto Martins conceitua juridicamente o estágio
como negócio jurídico realizada entre estudante e concedente (recrutador de
mão de obra), sob a supervisão da instituição de ensino ao qual é vinculado o
estagiário. Tem como intuito precípuo a educação profissional.
13
Nesse caminho, conclui o mesmo autor, que o estágio implica numa
relação triangular que envolve a pessoa do estudante que intenta estar inserido
no mercado de trabalho ao completar seu curso, o concedente que busca
propiciar ao interessado oportunidade de aplicação fática dos conhecimentos
teóricos adquiridos bem como receber alguma contrapartida com o serviço
prestado em suas dependências, e a instituição de ensino que, dessa forma,
capacita melhor seu aluno para que se torne um profissional com as
qualidades humanas e profissionais exigidas em sua área de educação.
Acerca de sua natureza jurídica, Miguel Cardenal Carro assevera ser um
contrato formativo.
Para Martins, não teria outra natura que não a civil, visto ser celebrado
por pessoas civis, sem importar em vínculo de emprego entre as partes. Seria,
nesses termos, uma espécie de prestação de serviços.
Julpiano Chaves Cortês é direto ao determinar que o estágio “é o
instrumento de integração entre a reflexão e o fato, entre a inteligência e a
experiência, entre a escola e a prática.” (CORTÊS, 1984, p.23).
1.2 – Histórico Legal do Estágio
Anuncia Sergio Pinto Martins que a primeira referência legal ao estágio
está contida no Decreto nº 20.294 de 12 de agosto de 1931, que, em seu
artigo 4º, estabelece que a Sociedade Nacional de Agricultura admitiria, nas
escolas, alunos estagiários. Seguiram-se as Leis Orgânicas do Ensino
Industrial, em 1942, e do Ensino Comercial, no ano seguinte, referenciando os
trabalhos escolares como instrumento de formação e de complementação do
ensino.
A Lei Orgânica do Ensino Industrial de 1942 (Decreto-Lei nº 4.073)
invocava o estágio em sua art. 48 com as seguintes palavras: “Consistirá o
estágio em um período de trabalho, realizado por aluno, sob o controle da
autoridade docente, em estabelecimento industrial”. Já em seus primórdios, a
norma jurídica entendia indispensável o relacionamento direto da instituição de
14
ensino com a atividade prática de seu discente, no que concerne à
complementação de aprendizagem e o não desvirtuamento dos fins a que se
destina o estágio.
A primeira normatização com caráter geral aplicada aos estágios foi
editada na forma de Portaria e exarada pelo Ministro do Trabalho e
Previdência Social, Jarbas Passarinho. Com o número 1.002 e datada de 29
de setembro de 1967, disciplinou a relação entre as empresas e os estagiários
estabelecendo, naturalmente, os direitos e obrigações decorrentes da
formalização do contrato de estágio.
Limitou-se, o então ministro, a inserir na categoria de estagiários os
estudantes matriculados nas universidades, faculdades ou escolas técnicas de
nível colegial, o que se equipara, hoje em dia, ao ensino médio
profissionalizante. Estabeleceu parâmetro de contratação de estagiários no
referente a carga horária praticada, valor de bolsa oferecido pelas empresas, a
duração do estágio etc. Já explicitava a inexistência de vínculo empregatício
entre a empresa concedente e o estagiário.
No entendimento de Sergio Pinto Martins, a portaria em estudo criava
direitos não instituídos em lei, o que sobrepujava sua função legal violando,
portanto, o princípio da legalidade, inclusive na referência ao vínculo de
emprego, por ausência de norma legal superior que o determinasse inexistente
na relação de estágio.
Em 1970, foi publicado o Decreto nº 66.546 que se destinou a permitir a
implantação de sistemas de estágios para os estudantes de ensino de nível
superior em ares prioritárias, em especial as áreas de engenharia, tecnologia,
economia e administração, com a possibilidade de praticar em entidades de
caráter público ou privadas.
No ano seguinte, a Lei nº 5.692, reafirmou em seu artigo 6º a
impreterível cooperação entre empresas e escolas. No parágrafo único desse
artigo, impôs, pela primeira vez por uma lei federal formal, a não criação de
vínculo de emprego entre a empresa concedente e o discente estagiário, ainda
que houvesse remuneração da atividade executada por este último.
15
O art.9º do Decreto nº 69.927 de 13 de janeiro de 1972, responsável
pela criação do Programa Bolsa de Trabalho, impôs a direta e necessária
relação entre a área de formação escolar seguida pelo estudante e as tarefas a
ele atribuídas onde presta serviços para que seja considerado estágio, sem
que se venha a reconhecer vínculo de emprego entre as partes.
Finalmente, foi sancionada e publicada a Lei nº 6.494 de 7 de dezembro
de 1977, que regulou mais amplamente e com caráter mais definitivo o estágio
de estudantes em empresas com fins de complementação pedagógica de sua
formação teórica. O Decreto nº 84.497/82, já mencionado neste trabalho, veio
para regulamentar a lei. Nota, Sergio Pinto Martins, que em muitos pontos a lei
copiou a Portaria nº 1.002 exarada por Jarbas Passarinho nos idos de 1967.
Ainda assim, foi alvo de críticas a então nova lei, por não expressar em
seu texto a exigibilidade de correlação entre o currículo escolar e a atividade
profissional de fato exercida. Martins é ainda mais incisivo:
“A Lei nº 6.494 não era tão rígida, proporcionando a
contratação de muitos estagiários em fraude à lei, pois
preenchiam os requisitos do contrato de trabalho. Na
prática, o que existia era um subemprego aberto
disfarçado.” (MARTINS, 2009, p. 6).
Após, ainda surgiram algumas leis regulando o estágio para específicos
cursos de formação profissional, como a dos médicos residentes (Lei nº
6.932/81).
Apenas em 1994, com a promulgação da Lei nº 8.859 que modificou
dispositivos da Lei 6.494/77, que se fez menção direta à necessidade de
planejamento, acompanhamento, e avaliação do estágio em conformidade
com os currículos, programas e calendários.
Com algumas poucas alterações sofridas desde então, sobreviveu a
antiga norma até o surgimento da Lei nº 11.788/08, em 25 de setembro,
revogando expressamente o prisco regramento e suas alterações posteriores.
16
1.3 – O Estagiário na Ordem Jurídica
O estagiário ocupa, no ordenamento jurídico em vigência, a posição de
trabalhador atípico, não estando amparado pela proteção normativa
dispensada ao empregado.
Isto se dá expressamente, uma vez que a legislação relativa ao estágio,
desde 1977, o exclui do conceito de empregado, muito embora reúna de fato
todas as características da relação de emprego, havendo, sem dúvidas,
subordinação, habitualidade, pessoalidade na prestação de serviços e, quando
do pagamento de bolsa, onerosidade.
Exatamente por essa circunstância, qualquer variação na relação de
estágio que desvirtue minimamente essa situação tende-se ao reconhecimento
do vínculo empregatício e ao tratamento como tal do contratado, sendo
devidos todos os direitos inerentes ao empregado comum.
Outro ponto a ser observado é que o estagiário não pode ser confundido
com o aprendiz. Este é verdadeiro trabalhador, que, diferentemente do
estagiário, é etariamente limitado entre 14 e 24 anos, restrição jamais imposta
ao estagiário em qualquer plano de atuação. Basta, ao estagiário, estar
complementando seus estudos profissionais com atividades correlacionadas
ao seu programa de formação.
O aprendiz, inclusive, é regido pela CLT, conforme podemos evidenciar
com a citação in verbis do art. 428 daquela consolidação:
“CLT, art. 428, caput. Contrato de aprendizagem é o
contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por
prazo determinado, em que o empregado se compromete
a assegurar ao maior de 14 (quatorze) e menor de 24
(vinte e quatro) anos inscrito em programa de
aprendizagem formação técnico-profissional metódica,
compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e
17
psicológico, e o aprendiz a executar com zelo e diligência
as tarefas necessárias a essa formação.”
Enquanto o estágio pode mesmo ser realizado sem qualquer
contraprestação financeira direta ao estagiário, ao aprendiz é garantido o
salário mínimo por hora, nos termos do §2º do art. 428 da CLT.
No entanto, a Lei nº 11.788/08 se aproximou levemente um pouco da
aprendizagem, vez que adotou o prazo máximo de dois anos de duração do
estágio num mesmo estabelecimento e, ainda, excetuou esse mesmo limite
aos portadores de deficiência.
CAPÍTULO II
A LEI Nº 11.788/08
A Lei nº 11.788/08 veio da necessidade e desejo de aprimorar a
legislação acerca do estágio, encetando maior proteção ao estagiário,
expandindo seus direitos, e ampliando a formalidade que envolve a
contratação e alocação de estagiários numa empresa. Tem também a
finalidade de dificultar a burla à lei por aquelas empresas que veem no estágio
meio para reduzir os encargos sociais pagos ao empregado comum, bem
como afastar a incidência dos direitos impostos pelo art. 7º e seus incisos da
Constituição da República.
A busca por menores custos e maior produtividade atrai empresas
inescrupulosas de todos os ramos profissionais a se valer da imposição a
profissionais já formados e inseridos no mercado de trabalho da posição de
pseudoestagiários, pagando a título de bolsa o que seria verdadeiro salário,
isentando-se de pagamento de férias, de depósitos para o Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS) etc.
18
Como dito, o novo estatuto de estágio procura cercar de maior
segurança jurídica essa enorme parcela da mão de obra especializada do país,
deixando as vagas de estágio para os verdadeiros estagiários e obrigando, ou
ao menos dificultando, que pessoas já estabelecidas em suas atividades
profissionais não sejam realocadas ou mantidas numa situação de
inferioridade em certas empresas duvidosas.
“ESTÁGIO CURRICULAR – DESRESPEITO À LEI Nº
6.494/77 – VÍNCULO EMPREGATÍCIO ENTRE AS
PARTES – RECONHECIMENTO – A contratação de
estagiário não tem por objetivo o aproveitamento de mão-
de-obra (sic) mais barata, sem pagamento de qualquer
encargo social, mascarando a relação de emprego, em
prejuízo daquele que concorre para o enriquecimento da
empresa. Estando o estágio em desacordo com as regras
da Lei nº 6.469/77, haverá vínculo entre as partes,
aplicando-se a regra profilática do art. 9º da CLT. Recurso
improvido. (TRT 11ª R. – RO 1771/2000 – (104-2002) –
Rel. Juiz José dos Santos Pereira Braga – J.
07.02.2002).”
2.1 – Requisitos que Configuram o Estágio Regular
Tais requisitos são os que devem, não só no momento da concretização
do estágio, mas durante todo o tempo de duração da prestação de serviços,
ser mantidos intactos como única forma de manter a regularização da relação
de estágio, sob pena de ter reconhecida a relação empregatícia entre a pessoa
física do estagiário e o concedente convolando-os em empregado e
empregador.
19
Os requisitos em estudo encontram-se elencados no corpo do texto da
Lei nº 11.788/08, mais precisamente no art. 3º, incisos. Seu caput assim
determina:
“Art. 3º. O estágio, tanto na hipótese do § 1º do art. 2º
desta Lei, quanto na prevista no § 2º do mesmo
dispositivo, não cria vinculo empregatício de qualquer
natureza, observados os seguintes requisitos.”
O primeiro desses requisitos refere-se à freqüência do discente ao curso
de formação profissional e assim está expresso no inciso I do retro citado
dispositivo legal:
“I – matrícula e freqüência regular do educando em curso
de educação superior, de educação profissional, de
ensino médio, da educação especial e nos anos finais do
ensino fundamental da educação de jovens e adultos e
atestados pela instituição de ensino.”
Indispensável que o estagiário esteja regularmente matriculado e
frequentando as aulas em instituição de ensino. Qualquer eventualidade
havida que venha a modificar, rescindir, excluir, suspender a condição de
discente da pessoa física, e mantendo-se a prestação de serviços ao
concedente, acarretará o reconhecimento do vínculo de emprego.
É dever de o concedente manter-se informado sobre a regularidade
estudantil de seu estagiário, pois é o maior interessado em manter a natureza
inicial da relação de trabalho. A jornada de trabalho excessiva também pode
ocasionar a frequência meramente eventual do discente, o que é suficiente
para tornar irregular seu vínculo estudantil com a instituição de ensino e
culminar na ilegalidade do estágio e suas consequências jurídicas. Outras
circunstâncias que caracterizam o desvirtuamento do estágio é o abandono do
curso, sua conclusão, trancamento de matrícula.
20
A regularidade do estudante diante sua instituição de ensino deverá ser
mantida inalterada por todo o período de estágio. Por isso mesmo, o
trancamento de matrícula, ainda que com a intenção de retomada dos estudos
posteriormente, é suficiente para desvirtuar a relação de estágio.
A seguinte decisão do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais,
realizada em 14 de setembro de 2007, pela 5ª Turma espelha com limpidez o
exposto, embora ainda sob a égide da lei morta:
“A 5ª Turma do TRT-MG considerou fraudulento contrato
de estágio em que a reclamante, que prestava serviços à
empresa na qualidade de estagiária, sequer se
encontrava matriculada em um curso regular. Negando
provimento ao recurso da reclamada, a Turma confirmou
a sentença que reconheceu o vínculo empregatício e
determinou a anotação na CTPS da reclamante como
empregada regular da empresa. A reclamante havia
firmado com a ré o “Termo de Compromisso de Estágio”,
que vigorou durante dois anos. A empresa, por sua vez,
havia regularizado o convênio de estágio com a instituição
de ensino, nos termos da lei. No entanto, a partir do
primeiro semestre de vigência do contrato, a reclamante
não mais renovou sua matrícula no curso de
Administração de Empresas, deixando de preencher, a
partir de então, um dos requisitos formais para a
configuração do contrato de estágio, qual seja, que o
favorecido seja estudante. Segundo o relator, (...) ficou
claro o caráter fraudulento da contratação que, por isso, é
nula de pleno direito, nos termos do art. 9º da CLT, o que
leva ao reconhecimento do vínculo empregatício. (...) A
questão é delicada, porque, embora o estagiário
preencha todos os pressupostos da relação empregatícia,
a relação jurídica que se trava entre este e a empresa
21
não é assim considerada, por força de uma lei específica,
mas desde que os objetivos educacionais em jogo não
sejam prejudicados. Por isso, é fundamental que o
estágio atenda a todos os requisitos formais e materiais
para a sua configuração, sem os quais ele se reverte em
contrato de trabalho comum. (RO nº 00051-2007-113-03-
00-4).”
O segundo dos requisitos em estudo é imposto nos seguintes termos:
“II – celebração de termo de compromisso entre o
educando, a parte concedente do estágio e a instituição
de ensino.”
O contrato de estágio é negócio jurídico solene, uma vez que não se
opera plenamente sem o cumprimento das formalidades especiais
determinadas pela lei específica que o regula. O termo de compromisso já é
uma obrigação legalmente imposta desde a promulgação do Decreto nº
87.497/82, que regulamentou a Lei nº 6.494/77 e, já naquela época, exigia a
participação tríplice para sua validade formal.
Estagiário, empresa concedente e instituição de ensino devem firmar o
termo conjuntamente, reduzindo a possibilidade de fraudes à lei. Portanto, a
primeira solenidade do contrato de estágio é a indispensabilidade de que seja
escrito, não se reconhecendo o contrato verbal como válido para caracterizar o
vínculo de estágio entre a empresa concedente e o discente.
O art. 16 da Lei nº 11.788/08 não permite que agentes de integração
participem como representantes de qualquer uma das pessoas necessárias
para o escorreito cumprimento da formalidade legal.
Sergio Pinto Martins considera, ainda, o Termo de Compromisso como
contrato derivado, asseverando que o mesmo não se viabiliza quando não há o
contrato originário, o acordo de cooperação necessário entre a instituição de
ensino e a parte concedente de estágio, pessoa física ou jurídica.
22
“Vínculo de emprego. Estágio. Para a configuração do
contrato de estágio, exige-se a presença dos elementos
que compõem tal relacionamento estudante-escola-
empresa. Se no caso, não há intervenção da instituição
de ensino como exige a Lei 6.494/77, nem tampouco (sic)
a fiscalização, desvirtuada foi a finalidade do estágio,
ficando caracterizado o vínculo de emprego.” (Acórdão
Unânime do TST – R – TP 823/99 – Rel. Min. Munir Saad
– DJMS 16.01.1999)
Segundo a Cartilha Esclarecedora sobre a Lei de Estágio exarada pelo
Ministério do Trabalho e do Emprego ainda em 2008, devem constar do Termo
de Compromisso os dados de identificação das partes, inclusive o cargo e
função do supervisor do estágio da parte concedente e do orientador da
instituição de ensino; as responsabilidades de cada uma das partes; objetivo
do estágio; definição da área do estágio; plano de atividades com vigência; a
jornada de atividades do estagiário; a definição do intervalo na jornada diária;
vigência do Termo de Compromisso; motivos de rescisão; concessão do
recesso dentro do período de vigência do Termo de Compromisso; valor da
bolsa, nos termos do art. 12, da Lei nº 11.788/08; valor do auxílio-transporte;
concessão de benefícios; e o número da apólice e a companhia de seguros.
O terceiro requisito exposto pela Lei nº 11.788/77 tem a seguinte
redação:
“III – compatibilidade entre as atividades desenvolvidas
no estágio e aquelas previstas no termo de
compromisso.”
Este inciso contém a essência do estágio. Sua finalidade íntegra, aquilo
pelo qual a lei surgiu para proteger. A formação profissional do estudante em
sua área de estudos, o contato do discente com a realidade diária do exercício
23
dos aspectos teóricos transmitidos pela instituição de ensino a qual se
encontra vinculado.
Aqui, está expressa a premente necessidade de correlação entre as
atividades cometidas na empresa e as atividades curriculares elaboradas pelo
discente estagiário em seu estabelecimento de ensino. Não poderá, num
exemplo, um universitário do curso de Engenharia da Produção, firmar, sem
fraude, termo de compromisso com empresa na qual sua principal atividade
seja de atendente de call center.
Ainda que o termo de compromisso esteja formalmente correto, que
haja o termo de cooperação entre a empresa concedente e a instituição de
ensino, no exemplo uma universidade, o estágio será irregular, vez que
ausente o requisito da identidade entre as atividades curriculares pedagógicas
e os serviços prestados de fato na empresa contratante. Fatalmente, em ação
judicial, teremos por reconhecido o vínculo de emprego sobre a relação de
trabalho por clara fraude à lei.
Maurício Godinho Delgado, em seu Curso de Direito do Trabalho (2004)
assevera que esse vínculo sócio-jurídico foi pensado e regulado para favorecer
o aperfeiçoamento e complementação da formação acedêmico-profissional do
estudante. São seus relevantes objetivos sociais e educacionais, em prol do
estudante, que justificaram o favorecimento econômico embutido na Lei do
Estágio, isentando o tomador dos serviços, partícipe da realização de tais
objetivos, dos custos de uma relação formal de emprego, em face, pois, da
nobre causa de existência do estágio e de sua nobre destinação. Entretanto,
frustradas a causa e a destinação nobres do vínculo estagiário formado,
transmudando-se sua prática real em simples utilização menos onerosa de
força de trabalho, sem qualquer efetivo ganho educacional para o estudante,
esvai-se o tratamento legal especialíssimo antes conferido, prevalecendo, em
todos os seus termos, o reconhecimento do vínculo empregatício.
Três Regionais da Justiça Trabalhista encorpam e corroboram a
doutrina:
24
“Relação de emprego. Estagiário. A finalidade essencial
do estágio é propiciar a complementação do ensino e da
aprendizagem devidamente planejados, executados,
acompanhados e avaliados conforme os currículos,
programas e calendários escolares. Ausentes estas
condições, surge o contrato de trabalho, com todos os
direitos do empregado.” (Acórdão 24880/99-8 – TRT – 2ª
Região).
“Vínculo de Emprego – Caracterização. A mera rotulação
de estagiário não impede o reconhecimento da condição
de empregado, mormente quando não há conexidade
entre as disciplinas de seu currículo com o serviço
efetivamente realizado.” (RO 8313/95 – TRT – 19ª
Região).
“Estágio. A finalidade precípua do estágio é propiciar ao
estudante a complementação do ensino e da
aprendizagem, sob o acompanhamento da escola m
conjunto com a empresa. Sendo a função do reclamante
rotineira e subordinada, sem nenhum vínculo com a grade
curricular e sem a devida participação e avaliação da
escola, configurada resta a relação de emprego. As
tarefas de estágio devem ser complementares,
embasadas cientificamente, de acordo com os
conhecimentos do estagiário e segundo o curso que
frequenta revelando-se de forma útil à empresa como
atividade de apoio e pesquisa, e não desenvolvendo
tarefas rotineiras. Alem do que, colocar o estagiário em
um setor e fazê-lo trabalhar como qualquer outro
funcionário não representa a atitude da empresa sugerida
pela Lei 6.494/77. São devidos o reconhecimento da
25
vinculação empregatícia e o pagamento dos consectários
legais.” (Acórdão, por maioria de votos, da 3ª T. – TRT da
12ª Reg. – RO V 000374/97 – Tel. Juiz João Barbosa).
Além desses três incisos do art. 3º da lei nº 11.788/77, o § 1º do mesmo
dispositivo determina que, sendo o estágio um ato educativo supervisionado,
deverá haver acompanhamento por professor orientador da instituição de
ensino e supervisor da parte concedente. Continua o § 2º explicitando que: “o
descumprimento de qualquer dos incisos deste artigo ou de qualquer obrigação
contida no termo de compromisso caracteriza vínculo de emprego do
educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação
trabalhista e previdenciária.”
2.2 – Características do Contrato de Estágio
Sempre se ouve que cada autor tem sua forma de classificar os
institutos de que se fala. Quantos forem os autores que se dedicam a
determinado tema, tantas serão as classificações existentes. A fim de não
haver alongamento desnecessário, adotamos a classificação expressa por
Sergio Pinto Martins em sua obra Estágio e Relação de Emprego.
Algumas características já foram esporadicamente comentadas
anteriormente quando pertinente. Neste item do estudo, está devidamente
concentrado referido conteúdo.
Sergio Pinto Martins classifica o contrato de estágio como solene, intuito
personae, triangular ou tripartite, oneroso, de trato sucessivo, acessório,
animus contrahendi, há subordinação, e de atividade.
É solene, pois exige termo escrito que cumpra integralmente
formalidades existentes em lei específica, sendo que a falta de qualquer delas
ensejará o desvirtuamento do estágio e sua não concretização. É
indispensável a formalização de Termo de Compromisso entre a empresa
concedente e o discente estagiário, bem como de Acordo de Cooperação entre
26
a empresa concedente e a instituição de ensino. Difere, aqui, do contrato de
trabalho comum, que poderá ser firmado até mesmo pela mera habitualidade
de atividades e aceitação tácita pelo tomador do serviço sem que se tenha
sequer sido pactuado verbalmente.
É pessoal, ou intuito personae, uma vez que a prestação de serviço
deve ser ultimada pela pessoa singular do estagiário contratado, não se
podendo fazer substituir frente à empresa concedente, a qualquer tempo ou
por qualquer razão, por outra pessoa, sob pena de o vínculo estabelecido com
o estagiário ser formado na pessoa do substituto. Esta característica também é
existente no contrato de trabalho comum.
Com o termo triangular ou tripartite, deseja o autor fazer menção à
obrigatoriedade de participação de três agentes interessados: a pessoa física
estudante, a instituição de ensino a qual o agente estudante é vinculado, e a
empresa concedente que tem a intenção de contratar o agente estudante
como estagiário. Essa característica também pode ser reconhecida como parte
da solenidade exigida pelo contrato de estágio.
Será de caráter oneroso quando compulsório for o pagamento de bolsa
auxílio. Este caso ocorrerá nos estágios não obrigatórios, uma vez que Lei nº
11.788/08 é coercitiva quando impõe o pagamento de bolsa em seu art.12,
caput. Aqui, também se obriga, por força de lei, a empresa concedente, a
fornecer o auxílio-transporte.
É o contrato de estágio, na classificação de Sergio Pinto Martins, de
trato sucessivo, pois abrange prestações periódicas, não se exaurindo, pois,
em única prestação.
Considera-se como característica do contrato de estágio sua
acessoriedade em relação a um principal, visto que não será investido de valor
legal caso inexista Acordo de Cooperação entre a empresa concedente e a
instituição de ensino a qual é vinculado o estagiário contratado. Assim, o termo
de compromisso é acessório ao acordo de cooperação, pois sua validade está
imiscuída à validade deste.
27
A não obrigatoriedade do estagiário em se vincular à empresa
concedente é a razão pela qual o contrato é conhecido por externar um animus
contrahendi.
É um contrato de subordinação, porque o estagiário se põe, com a
assinatura do termo de compromisso, sob as ordens da empresa, tendo de
obedecer a uma jornada de trabalho predeterminada e se enquadrar nas
normas de conduta da contratante. Na mesma característica recai o contrato
de trabalho comum.
É, ainda, um contrato de atividade, pelo qual o estagiário se obriga a
exercer determinada função no âmbito específico da empresa. No entanto,
toda e qualquer atividade a que se sujeita o estagiário deverá ser, de alguma
forma, voltada para o complemento de sua formação profissional, estando em
correspondência com o cumprimento de seu currículo escolar e lhe fornecendo
vivência efetiva no ambiente profissional rotineiro a que se destinam seus
estudos.
Martins ainda fala em adequação do contrato de estágio entre o trabalho
a ser realizado e a formação prática do educando. Entretanto, parece que tal
característica é comum da à da atividade, pois se relaciona com a execução do
contrato.
Apenas um adendo deveria ser feito ao rol de características do
professor Sergio Pinto Martins: o contrato de estágio também se caracteriza
por ser a prazo, visto que no termo de compromisso deve conter a data de
início ou de término do vínculo. Ademais, a própria Lei nº 11.788/08 determina
que o estágio não possa ter duração superior a dois anos na mesma parte
concedente (art. 11), excetuando-se o portador de deficiência.
2.3 – Especificidades da Nova Lei de Estágio
Trouxe a nova lei de estágio, não só alterações aos institutos já
consagrados pela lei revogada, mas também coube a ela inovar no
ordenamento jurídico.
28
Uma das alterações de pronto perceptíveis no regulamento de estágios
é a compulsoriedade no pagamento de bolsa auxílio aos estagiários que
ingressem em relações de estágios de caráter não obrigatório. Inclusive a
divisão em estágio obrigatório e não obrigatório é classificação legal nova. A
instituição de auxílio-transporte, recesso remunerado, limitação de quantitativo
de estagiários segundo as dimensões das empresas, bem como as alterações
nas pessoas participantes da relação tríplice serão consideradas.
2.3.1 – Classificação do Estágio
A Lei nº 11.788/08, em seu artigo 2º e parágrafos, define que o estágio
poderá ser obrigatório ou não obrigatório. O critério utilizado para caracterizar
de uma forma ou de outra determinada relação de estágio será de acordo com
as diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e do projeto
pedagógico do curso.
Com este parâmetro, será obrigatório o estágio que definido como tal no
projeto do curso, cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção de
diploma, ou seja, aquele sem o qual o estudante fica impedido de colar grau,
não encerrando suas atividades acadêmicas. Depende dele, o estudante, para
alcançar com sucesso o complemento de sua formação profissional.
Não obrigatório, inversamente, é atividade opcional do educando que
tão somente acresce à carga horária regular e obrigatória.
Não é meramente um exercício de classificação a determinação de um
estágio como obrigatório ou não obrigatório. A inserção em uma ou outra
qualidade irá determinar algumas reverberações jurídicas.
O art. 12 da Lei de Estágio impõe o pagamento de bolsa aos estagiários
que estejam prestando estágio não obrigatório, o que é facultativo à empresa
quando do estágio obrigatório curricular. Também o auxílio-transporte se torna
compulsório no estágio não obrigatório.
Qualquer das espécies de estágio não importa em vínculo empregatício
com a empresa concedente, pois a restrição existente na lei é geral, salvo
existência de alguma irregularidade na formação da relação jurídica.
29
Obrigatório ou facultativo, não poderá o estágio desvincular-se de sua
destinação primordial de complementação do currículo escolar, de
fornecimento de prática diária na área de conhecimento do discente.
2.3.2 – Bolsa-auxílio e Auxílio-transporte
A bolsa não tem natureza de salário, prestando-se para que o estagiário
possa suprir as necessidades básicas decorrentes do exercício do estágio,
como alimentação, vestuário e outras despesas regulares.
Até a lei anterior, a bolsa de estágio era meramente facultativa,
alteração expressamente trazida pela Lei nº 11.788/08 em seu art. 12.
“O estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de
contraprestação que venha a ser acordada, sendo
compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio
transporte, na hipótese de estágio não obrigatório.”
Depreende-se da leitura do dispositivo legal que, quando o estágio tiver
caráter não obrigatório, a empresa concedente estará obrigada a fornecer a
bolsa. No entanto, não houve determinação de valor mínimo, devendo ser
percebido o caso concreto para determinar a suficiência da bolsa para o fim a
que se destina. Num primeiro momento, será o valor acordado pelas partes.
Pode o contratante, com arrimo no § 1º do art.12 conceder benefícios de
outra natureza sem que isso caracterize o vínculo empregatício. Somente a
afronte aos princípios e dispositivos legais da Nova Lei de Estágio podem
configurar o reconhecimento daquele vínculo.
Por não possuir natureza salarial, não incide sobre a bolsa qualquer
espécie de desconto previdenciário. No entanto, trata-se de rendimento, o que
poderá acarretar se ultrapassada a faixa de isenção, desconto de Imposto de
Renda.
30
O auxílio-transporte é novidade da lei, uma vez que não era previsto na
Lei nº 6.494/77, inclusive sendo proibida sua concessão nos estágios
praticados em órgãos da administração pública.
Não se há que confundir este instituto com o vale-transporte da Lei nº
7.418/86, razão pela qual não será regido por esta lei. Logo, não será
observado desconto de 6% (seis por cento) sobre a bolsa, ainda que se trate
de caso de pagamento compulsório. Sequer será fornecido em forma de
tíquete ou cartão eletrônico e sim como ajuda financeira adicionada à bolsa,
porém independente dela.
2.3.3 – Recesso
Outra inovação, o art. 13 da Lei de Estágio estabelece o recesso
remunerado criando o direito do estagiário a gozar 30 (trinta) dias de recesso
sem prejuízo do recebimento do valor da bolsa, quando receber a
contraprestação.
Para ter direito ao recesso, o estágio deverá ter duração igual ou
superior a um ano. A duração de estágio inferior a um ano importará em
concessão dos dias de recesso de forma proporcional e, nesse caso, deve-se
utilizar a norma contida no art. 130 da CLT como regra de cálculo da fração a
ser atribuída. Dá-se preferência a que os dias de recesso sejam concedidos
nos períodos de férias estudantis.
No entender de Sergio Pinto Martins, em sua atualizada obra Estágio e
Relação de Emprego, o recesso “se justifica pelas mesmas razões das férias,
ou seja, fundamentos de ordem biológica, social e econômica.” Também para
aquele autor, o direito de recesso é indisponível, não podendo o estagiário
abrir mão ou mesmo transacionar.
Já a Cartilha Esclarecedora sobre a Lei de Estágio do Ministério do
Trabalho limitou-se a repetir o texto legal, não esclarecendo de fato as dúvidas
inerentes a qualquer novidade normativa.
O recesso não pode ser confundido com férias, o que importa dizer que
o estagiário não terá direito ao terço de remuneração quando do gozo do
31
período de recesso. O art. 7º da Constituição da República, inciso XVIII, trata
de férias anuais remuneradas e não de recesso, razão pela qual não se
estende tal direito aos estagiários, ainda que percebam bolsa.
O recesso deverá ser concedido durante o período de estágio, não
estando previsto o pagamento indenizado de dias não gozados. Para Martins,
o pagamento a título de indenização para ser a solução mais razoável, tendo
em vista que o contrário traria prejuízo ao estagiário e enriquecimento sem
causa para a empresa concedente. Também não se extrai do texto normativo o
pagamento em dobro em caso de não concessão de recesso dentro dos doze
meses de estágio.
2.3.4 – Quantitativo de Estagiários Permitido
De forma objetiva a lei determinou parâmetros para a contratação de
estagiários pelas empresas em seu art. 17, tenho como critério a quantidade
de funcionários no quadro de pessoal.
Apenas poderá ter um estagiário as empresas com um a cinco
funcionários; até dois estagiários as empresas que variem entre seis e dez
funcionários; poderão ter até cinco estagiários empresas que tenham no
quadro de pessoal de onze a 25 (vinte e cinco) empregados; e, quando a
empresa tiver um quadro superior a 25 (vinte e cinco) funcionários, será
permitida a contratação de quantitativo de funcionários no relação de 20%
(vinte por cento) do total de empregados.
O parágrafo segundo informa que o cálculo para determinar quantos
estagiários poderão ser contratados deve considerar o quadro de pessoal de
cada uma das filiais.
O disposto neste artigo não se aplica no caso de estagiários de nível
superior ou de nível médio profissional.
32
2.3.5 – Jornada de Estágio
Antes que se entre em detalhes quanto às horas a serem praticadas na
atividade do estágio, deve-se ter em mente que, qualquer que seja a duração
da jornada do estagiário, diária ou semanal, esta jamais poderá ser empregada
de tal forma que venha a dificultar ou impedir que o discente tenha acesso às
aulas de sua instituição de ensino, prejudicando, assim, sua formação teórica.
Tal prática vai de encontro ao objetivo precípuo do estágio, sendo odiosa para
o bom exercício do direito.
O art. 10 da Lei nº 11.778/08 preconiza que a jornada será decide em
comum acordo das partes, mas deverá necessariamente estar expressa no
Termo de Compromisso. Poderá a jornada ser de quatro horas diárias e vinte
semanais ou de seis horas diárias e trinta semanais, caso, respectivamente, se
trate de estudantes de educação especial e dos anos finais do ensino
fundamental na modalidade profissional de educação de jovens e adultos, ou
se trate de estudantes de nível superior, da educação profissional de nível
médio e do ensino médio regular. Para Sergio Pinto Martins, no primeiro caso,
os anos finais do ensino fundamental são as 8ª e 9ª séries.
Há exceção para os cursos que alternam teoria e prática, que são
aqueles que cessam os trabalhos teóricos quando das fases de práticas.
Nesses casos, poderá ser estabelecida carga horária de até 40 (quarenta)
horas semanais, desde que haja previsão para tanto no projeto pedagógico do
curso e da instituição de ensino. Havendo período de verificações de
aprendizagem na instituição de ensino, a carga horária deverá ser reduzida à
metade, pelo menos, devendo o incidente estar previsto no Termo de
Compromisso.
2.3.6 – Normas de Segurança e Saúde no Trabalho
A Lei de Estágio é sucinta quanto ao assunto ao determinar que são
aplicáveis ao estágio as legislação relacionada à saúde e segurança no
trabalho, sendo responsável por sua implementação a empresa concedente.
33
Decorre, então, que os estagiários, segundo Sergio Pinto Martins,
deverão ser submetidos a exames admissionais, periódicos e demissionais,
bem como ter acesso aos equipamentos de proteção individual. No entanto,
para o mestre, não haverá pagamento de adicionais de periculosidade ou
insalubridade, visto possuírem natureza salarial, o que não se coaduna com a
natureza da bolsa percebida pelo estagiário e nem mesmo há determinação
legal específica para tanto.
Infere, ainda, o professor Martins, que apenas os maiores de dezoito
anos poderão estagiar em condições insalubres ou perigosas, pois há restrição
genérica no inciso XXXIII do artigo 7º da Constituição da República para
qualquer trabalhador.
CAPÍTULO III
AS PESSOAS DA RELAÇÃO JURÍDICA
DE ESTÁGIO
A relação de estágio, como já mencionado anteriormente neste trabalho,
é tripartite, ou tríplice, visto que envolve, indispensavelmente, três pessoas ou
partes.
Não há como estabelecer uma relação jurídica de estágio válida se
qualquer das pessoas não estiver presente. Participam da relação o estudante
que deseja estagiar para aprimorar sua aprendizagem profissional, a instituição
de ensino que deverá verificar periodicamente o desenvolvimento do estágio
de seu discente, e a parte concedente que abrigará o estagiário e determinará
sua produção.
Também podem estar presentes no processo do estágio os agentes de
integração, porém não podem estar inseridos na relação de estágio,
34
funcionando como intermediadora na captação de estagiários para empresas
interessadas. Não poderá, em qualquer hipótese, cobrar valores dos
educandos, restrição que não se repete para as empresas.
Deverá ser elaborado em comum acordo das partes o plano de
atividades dos estagiários, que passará a fazer parte do Termo de
Compromisso.
3.1 – A Instituição de Ensino
As obrigações dessa parte da relação jurídica estão descritas nos
artigos 7º e 8º da Lei de Estágio.
A instituição de ensino deve sempre estar presente na relação de
estágio, sendo sua obrigação indicar professor orientador para acompanhar o
desenvolvimento do discente no estágio. Para Martins, em obra multicitada, a
presente determinação acarretará maior ônus financeiro para as instituições de
ensino decorrente da remuneração desse profissional orientador.
Além de fazer parte no Termo de Compromisso, impõe-se que ela avalie
as condições físicas das instalações das empresas concedentes.
Com o escopo de mensurar o valor do estágio na formação profissional
do estudante, deverá exigir periodicamente relatório de atividades, que não
poderá superar os seis meses entre um relatório e outro.
Deverá comunicar à empresa concedente as datas de aplicação das
verificações de aprendizagens no início do ano letivo, para que se possa
proporcionar o cumprimento da determinação de redução pela metade da
jornada de estágio nesses períodos.
A responsabilidade de avaliar o estagiário implica num maior controle
sobre a empresa, dificultando a ocorrência de exploração da mão de obra
estudantil e a burla à lei vigente.
Faculta-se à instituição de ensino o estabelecimento de convênio para
concessão de estágio com entes públicos ou privados. Contudo, a existência
de convênio não exclui a necessidade de firmar Termo de Compromisso.
35
3.2 – A Parte Concedente
A empresa concedente encontrará suas responsabilidades no art. 9º da
Lei nº 11.788/08.
Importante dar relevo aqui à ampliação conferida pela Nova Lei quando
incluiu entre os concedentes de estágio os profissionais liberais como médicos,
dentistas engenheiros etc. Sob a égide da Lei nº 6.494/77, esses profissionais
só poderiam recrutar estagiários quando organizados como pessoa jurídica.
Nos termos da nova lei poderão conceder estágio:
“Art. 9º. As pessoas jurídicas de direito privado e os
órgãos da administração pública direta, autárquica e
fundacional de qualquer do Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como
profissionais liberais de nível superior devidamente
registrados em seus respectivos conselhos de
fiscalização profissional, podem oferecer estágio...”
Os concedentes deverão oferecer instalações adequadas às atividades
que serão exercidas pelos estagiários para que se proporcione da melhor
forma a aprendizagem social, profissional e cultural.
Assim como as instituições de ensino, é obrigatória a indicação de um
de seus funcionários do quadro de pessoal para ser supervisor do estágio.
Deverá ser funcionário que detenha conhecimento comprovado na área de
estudos do estagiário. A lei limita a dez estagiários a quantidade máxima que
poderá ser supervisionada pelo mesmo funcionário, claramente com a
finalidade de manter o bom acompanhamento pelo supervisor.
É indispensável que o estagiário esteja segurado contra acidentes
pessoais, e é da empresa concedente a responsabilidade de contratação, sob
pena de se caracterizar o vínculo empregatício entre a empresa e o estagiário.
36
O seguro não poderá ser de valor irrisório estabelecendo a lei que seja
compatível com os valores praticados no mercado. O parágrafo único do art. 9º
da Lei de Estágio permite que, quando se tratar de estágio obrigatório, a
contratação do seguro contra acidentes pessoais em favor do estagiário possa
como alternativa, ser assumida pela instituição de ensino.
É da concedente a obrigatoriedade de encaminhar à instituição de
ensino relatórios de atividades com periodicidade mínima de seis meses, o que
vem a ser mais uma forma de se verificar o escorreito andamento do estágio,
ou seja, que não haja desvirtuamento da relação jurídica ora em comento.
3.3 – O Estagiário
Estagiário é a pessoa física que presta serviços subordinados ao
concedente, mediante intervenção da instituição de ensino, visando à sua
formação profissional (Martins, 2009, p. 29).
O artigo inaugural da Lei nº 11.788/08 determina aqueles que são aptos
a funcionar como estagiários.
“Art. 1º. (...) educandos que estejam frequentando o
ensino regular em instituições de educação superior, de
educação profissional, de ensino médio, de educação
especial e dos aos finais do ensino fundamental, na
modalidade profissional da educação de jovens e
adultos.”
A lei ampliou para os alunos do ensino fundamental a possibilidade de
estagiarem, uma vez que a lei revogada restringia essa possibilidade aos
alunos de nível médio profissionalizante.
Tornamos a mencionar o Professor Sergio Pinto Martins em sua obra
dedicada exclusivamente ao tema deste trabalho, quando, na página 10,
37
assevera que deverá ser considerado como anos finais do ensino fundamental
as 8ª e 9ª séries.
O estagiário deverá ser pessoa física, não se admitindo qualquer forma
de personificação jurídica neste pólo da relação. Pode-se dizer que é
decorrente da característica do contrato de estágio ser intuito personae.
Tem-se por educação especial aquela oferecida preferencialmente na
rede de ensino regular, público ou privado, em que o aluno é portador de
alguma necessidade especial, conforme se extrai do art. 58 da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996), podendo
haver apoio especializado conforme o caso solicite. O art. 59 da mesma norma
vem conceder ao portador de necessidade especial a garantia de inserção,
quando a deficiência permitir, no mercado de trabalho. É a seguinte a redação
do dispositivo mencionado.
“Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos
educandos com necessidades especiais:
(...)
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive
condições adequadas para os que não revelarem
capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante
articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para
aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
áreas artística, intelectual ou psicomotora.”
A Lei de Estágio, coma redação atual, está em consonância com a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, permitindo a prática profissional ainda nos
anos de estudo para os alunos da rede regular de ensino que retêm alguma
deficiência.
Salvo ausência de regularização de sua entrada ou permanência no
país, não se impede a que o aluno estrangeiro que regularmente frequente
qualquer curso de nível superior do ensino nacional efetive estágio para
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complementar sua formação, na forma do art. 4º da Lei nº 11.788/08. A
Constituição da República, em seu artigo 5º, vem repudiar a distinção entre
brasileiros e estrangeiros, ressalvando-se aquelas constantes em lei. Basta,
para tanto, que o estrangeiro tenha seu visto temporário para estudo
regularizado, na forma da Lei do Estrangeiro (Lei nº 6.815/80). Essa
possibilidade não se trata de inovação da lei, existindo desde o decreto
regulamentador da Lei nº 6.494/77, Decreto nº 87.497/82, que permitia o
estágio de alunos estrangeiros em seu art. 11.
Deve-se atentar para que o aluno possua o visto temporário de estudo,
pois, caso a natureza de seu visto seja de turista, de trânsito ou temporário,
segundo o art. 98 da Lei do Estrangeiro, ele não poderá exercer qualquer
atividade remunerada no país, o que o limitaria ao estágio obrigatório, uma vez
que o não obrigatório exige que a percepção de bolsa.
3.4 – Os Agentes de Integração
Embora esteja exposto no capítulo acerca dos participantes da relação
jurídica de estágio, isso se dá apenas para mais fácil localização de quem
pode se imiscuir de fato do processo formação do estágio.
Isso porque o agente de integração é impedido por lei de ser parte
efetiva da relação tripartite, funcionando como mero intermediário na captação
de estagiários para as empresas interessadas em conceder estágio.
O § 1º do art. 5º da Nova Lei de Estágio deixa claro que os agentes de
integração possuem caráter auxiliar no processo de aperfeiçoamento do
instituto do estágio, sendo sua ação limitado a identificar oportunidades de
estágio, ajustar suas condições de realização, fazer o acompanhamento
administrativo, encaminhar negociação de seguros contra acidentes pessoais
em favor da pessoa do estagiário e cadastrar estudantes em banco de dados
para acesso das empresas interessadas.
Embora não se exija que a atividade dos agentes de integração seja
filantrópica, é terminantemente vedado que a contrapartida financeira pelo
39
serviço de captação, indicação e alocação de estagiário em empresas
interessadas em conceder estágio seja custeada pelo aluno da rede regular de
ensino.
É responsabilidade dos agentes de integração que o estagiário indicado
por seus serviços tenha sua grade curricular de ensino compatível com as
atividades que lhe serão atribuídas no exercício efetivo do estágio. Dessa
forma, deve o agente de integração observar o currículo do aluno e as
atividades a serem exercidas na empresa concedente, avaliando sua
compatibilidade com o curso ministrado na instituição de ensino. Caso
contrário, a lei permite que os agentes de integração sejam civilmente
responsabilizados.
3.5 – Monitoramento e Fiscalização do Estágio
Distingue-se o monitoramento da fiscalização pelo fato de o primeiro ser
ato executado pelas partes envolvidas na relação jurídica e o segundo ser
ação externa de órgão da Administração Federal, Estadual ou Municipal sobre
os agentes envolvidos no programa de estágio.
3.5.1 – Monitoramento
Diferentemente do estatuto legal anterior que regia a relação de estágio,
a Lei nº 11.788/08 determina expressamente a necessidade de monitoramento
das atividades do estagiário nas instalações da empresa concedente. Nada
impede, porém, que o estagiário exerça atividades externas, desde que não
signifiquem que o contratado esteja praticando atos de empregado regular que
não contribuam para sua formação profissional por não se correlacionarem
com seu currículo escolar e linha de formação.
A regulamentação do monitoramento está disperso na Lei Nova de
Estágio, presente nas obrigações impostas a cada um dos agentes da relação
de estágio.
40
A instituição de ensino deverá avaliar as instalações da empresa
concedente a fim de firmar ou não sua adequação ao exercício cabal do
estágio. O estagiário não poderá ser submetido à ambiente hostil de trabalho
como ser obrigado a exercer suas funções o inteiramente em pé, não ter
mobiliário que atenda suas necessidades funcionais etc.
Também cabe à instituição de ensino a indicação de professor
orientador que deverá zelar pelas atividades decorridas no âmbito do empresa
concedente, responsabilizando-se pelo acompanhamento do desenvolvimento
do trabalho do estagiário e pela manutenção das características da relação
jurídica de estágio.
Em complemento e para o fiel cumprimento da responsabilidade
cometida ao professor orientador, a instituição de ensino é obrigada a exigir,
com periodicidade não inferior a seis meses, relatórios de atividades de seu
discente, avaliando se se mantém íntegro o contrato de estágio. Não será
outro senão o professor orientador o profissional da instituição de ensino
responsável pela conferência dos relatórios entregues.
Por fim, a Lei de Estágio determina que a instituição de ensino deva
zelar pelo fiel cumprimento do Termo de Compromisso. Em caso de
desvirtuamento do estágio, o aluno será reorientado a outro local.
Entretanto, não só à instituição de ensino é cometida a responsabilidade
de monitoramento das atividades, pois a empresa concedente também é
exigida neste sentido.
Corrobora a afirmação o fato de a lei nova exigir que a parte concedente
indique funcionário de seu quadro de pessoal para orientar e supervisionar o
estagiário, devendo, impreterivelmente, ser funcionário com dotado de
comprovado conhecimento na área de formação bem como possuidor de
experiência profissional pertinentes às atividades monitoradas. Para o
escorreito cumprimento do mandamento legal, cada supervisor não poderá
orientar mais de dez estagiários simultaneamente.
Com periodicidade mínima de seis meses, da mesma forma a empresa
concedente deverá elaborar relatório das atividades do estagiário, com vista
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obrigatória deste, e encaminhá-lo à instituição de ensino para verificação de
regularidade do estágio oferecido.
Depreende-se, então, que serão fornecidos dois relatórios à instituição
de ensino, um exigido por esta ao estagiário e outro informado pela empresa
concedente com visto obrigatório do aluno. Do cotejo desses dois documentos
avaliar-se-á plenamente a qualidade do estágio e o aproveitamento do aluno
acerca de sua linha de formação profissional.
Sergio Pinto Martins destaca em sua obra sobre estágio algumas
jurisprudências referentes à Lei nº 6.494/77 no que concerne ao
monitoramento das atividades e, como não havia obrigação expressa, há
entendimentos em dois sentidos sobre os efeitos da ausência de avaliação.
Reproduzimos duas delas exemplificativamente:
“Estágio – Inexistência de vínculo empregatício – Não há
por que anular-se o Termo de Compromisso de Estágio,
unicamente pela falta de compromissos que deveriam ser
cumpridos pela instituição de ensino. Penalizar-se a
reclamada pelo descumprimento de obrigações que não
lhe diziam respeito, não é possível e consequentemente é
de se dar validade ao estágio, mantendo-se assim o
decisum que inacolheu a pretensão do autor.” (TRT 9ª R.
2ªT., RO 693/92, j. 11.5.93, Rel. Juiz João Antônio
Gonçalves de Moura).
“Estágio – Configuração de vínculo empregatício.
Perseguidos pelo legislador a integração e o preparo do
futuro profissional às necessidades do mercado, via
instituições de ensino formal, não abdica a Lei nº
6.494/77 de sua participação no decorrer da relação de
estágio. É, pois, requisito essencial cuja falta desnatura o
contrato de estágio, o acompanhamento crítico pela
instituição de ensino ao desempenho e proveito curricular
que a atividade propicia. Reconhecida, então, a relação
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como de emprego por incompatibilidade das tarefas aos
interesses pedagógicos próprios ao curso que frequenta a
reclamante.” (TRT 9ªR., 2ªT., RO 7.055/91, j. 14.1.93,
Rel. Juiz Ernesto Trevisan).
3.5.2 – Fiscalização
Impõe a Lei nº 11.788/08 que a desconformidade na manutenção de
estagiários com a lei configura vínculo de emprego entre a parte concedente e
o estagiário (art. 15, caput). No entanto, não se trata de única sanção imposta
pela lei que, no § 1 º do mesmo dispositivo legal, determina a proibição de
receber estagiários pelo período de dois anos a parte concedente que reincidir
na irregularidade. Limita, entretanto, a punição temporal à filial ou agência que
cometeu a irregularidade.
Uma vez que a Lei Nova de Estágio se omite na determinação da
responsabilidade pela fiscalização, indica o Professor Sergio Martins o art. 626
da CLT como solução. É a seguinte a redação do dispositivo: “incumbe às
autoridades competentes do Ministério do Trabalho, ou àquelas que exerçam
funções delegadas, a fiscalização do fiel cumprimento das normas de proteção
ao trabalho.”
A Lei Nova assevera que a parte concedente de estágio deverá
colaborar com a fiscalização, devendo manter a disposição dela documentos
que comprovem a relação de estágio (Lei nº 11.788/08, art. 9º, VI).
Qualquer irregularidade reconhecida pelo órgão fiscalizador terá como
consequência imediata o reconhecimento do vínculo de emprego entre o
educando e a parte concedente.
3.6 – Estágio em Órgãos da Administração Pública
Permite a nova lei sobre o estágio de estudantes, bem como já o era na
vigência da lei anterior, a concessão de estágio em unidades ou órgão da
administração pública.
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O art. 9º da Lei nº 11.788/08 elenca entre as pessoas jurídicas que
podem conceder estágio os “órgãos da administração pública direta, autárquica
e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios...”.
Entretanto, não está à salvo de irregularidades a prestação de estágio
pelo simples fato de ser exercido em unidade da administração pública.
Existindo e sendo comprovado o desvio de finalidade do estágio em órgão
público, e sendo a consequência única de tanto o reconhecimento da relação
empregatícia entre a parte concedente e o estagiário, ocorre conflito de
normas, pois determina o art. 37, inciso II da Constituição da República que a
investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em
concurso público. Prevalecerá a norma constitucional em decorrência de seu
maior valor hierárquico, pois a Carta Magna tem regência soberana sobre
todas as demais normas exaradas pelo Poder Público.
Não podendo o estagiário desviado de função ser convolado em
servidor público pela ausência do requisito constitucional de aprovação prévia
em concurso público, outra solução deverá ser imposta à questão sob pena de
se deixar impune o órgão da administração pública que incidiu em ilegalidade e
não satisfeito o prejuízo na linha de formação profissional do estudante
envolvido.
Já decidiu a Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por
unanimidade:
“RELAÇÃO DE EMPREGO – ESTAGIÁRIO –
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. Não é possível o
nascimento de uma relação de emprego entre o estagiário
e uma sociedade de economia mista, pois entendimento
contrário violaria o princípio constante do inciso II, do art.
37, da Constituição Federal de 1988, que impõe, para
investidura em cargo ou emprego público, a prévia
aprovação em concurso público de provas ou de provas e
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títulos. Recurso da revista não conhecido.” (Ac. 2ª T.,
1879/97, de 9 de abril de 1997, Rel. Valdir Righetto).
A questão foi alvo do Enunciado do TST nº 363 com o seguinte teor:
“TST, Enunciado 363 – Contratação de Servidor Público
sem Concurso – Efeitos e Direitos – A contratação de
servidor público, após a CF/1988, sem a prévia aprovação
em concurso público, encontra óbice no respectivo art.
37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento
da contraprestação pactuada, em relação ao número de
horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário
mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do
FGTS.”
Nesses termos, o estagiário não terá direito ao vínculo definitivo com a
instituição pública concedente de estágio por afronta à norma maior, mas
poderá extrair remuneração proporcional às horas trabalhadas.
45
CONCLUSÃO
O estágio de estudantes é instituto que almeja a inserção no mercado
de trabalho através da experiência diária do aluno da rede regular de ensino.
Para tanto, deverão as atividades do discente na empresa contratante serem
voltadas para o complemento de sua linha de formação acadêmica-
profissional.
Com este objetivo, foi promulgada a Lei nº 11.788 de 25 de setembro
de 2008, legislando com mais minúcias a relação de estágio, especificando
com maior precisão as responsabilidades de cada uma das partes envolvidas.
A instituição de ensino, o estagiário e a empresa concedente deverão
obedecer fielmente às determinações legais sob pena de se ver desmoronar a
relação erigida no Termo de Compromisso de Estágio.
Não havendo o respeito indispensável à norma legal em debate,
consectário lógico é a convolação do estágio em vínculo empregatício,
recebendo o antes estagiário tratamento idêntico ao de empregado regular e
formal da empresa. Se o estágio não cumpre as formalidades legais, estágio
não é, mas alguma coisa no mundo jurídico haverá de ser. Portanto, por ser o
contrato de trabalho comum o instituto jurídico que mais se aproxima do
contrato de estágio, a irregularidade existente neste o transforma naquele,
fornecendo a coesão e a segurança jurídica necessárias ao bem estar da
sociedade.
Pela análise também da doutrina sobre o tema e da jurisprudência
firmada, não há outra punição alternativa à empresa que desrespeita a norma
jurídica, não se podendo recorrer a multas administrativas, sanções tributárias
ou pessoais como substitutivas da consolidação do vínculo de emprego por
ausência de dispositivo legal expresso que as determine. O que se pretende
com a lei é a proteção do estagiário, não permitindo que sua mão de obra
isenta de encargos sociais e previdenciários seja banalmente explorada.
Única exceção ao reconhecimento de vínculo empregatício
decorre da irregularidade do estágio prestado aos órgãos públicos, pois tal
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reconhecimento é conflitante com a imposição da Carta Magna de que o
ingresso em emprego ou cargo público deva ser precedido de concurso público
em qualquer das modalidades permitidas pelo art. 37, II.
O aperfeiçoamento da lei de estágio vem com o intuito de garantir a
correlação entre a experiência prática de trabalho e a formação pedagógica.
Ao tornar mais complexa a contratação de estagiários e definir com maior
precisão as responsabilidades de cada ente envolvido, pode-se inferir que
houve avanço na proteção do estagiário em sua relação com partes mais
poderosas socialmente como a empresa concedente e a própria instituição de
ensino.
Contudo, apenas com o tempo poderá ser verificada a verdadeira
eficácia da Lei nº 11.788/08, aplicando-se com veemência a fiscalização pelo
Ministério do Trabalho e do Emprego, bem como pela atuação Ministério
Público do Trabalho.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CORTÊS, Julpiano Chaves. O estágio de estudantes na empresa: comentários
à Lei nº 6.494/77 e ao Decreto nº 87.497. São Paulo: LTr, 1984.
DELGADO. Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3ª Ed. São Paulo:
LTr, 2004.
LUZ, Ricardo. Programas de Estágios e de Trainee: Como Montar e Implantar.
São Paulo: LTr, 1999.
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2007.
________________, Estágio e Relação de Emprego. São Paulo: Atlas, 2009.
REIS, Jair Teixeira dos. Relações de Trabalho: Estágio de Estudantes.
Curitiba: Juruá, 2008.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
ORIGENS DO ESTÁGIO 10
1.1 – Definição e Conceito 10
1.2 – Histórico Legal do Estágio 13
1.3 – O Estagiário Na Ordem Jurídica 16
1.2.1 - Fator psicológico 15
1.2.2 - Estímulo e Resposta 17
CAPÍTULO II
A LEI Nº 11.788/08 17
2.1 – Requisitos que Configuram o Estágio Regular 18
2.2 – Características do Contrato de Estágio 25
2.3 – Especificidades da Nova Lei de Estágio 27
2.3.1 – Classificação do Estágio 28
2.3.2 – Bolsa-auxílio e Auxílio-transporte 29
2.3.3 – Recesso 30
2.3.4 – Quantitativo de Estagiários Permitido 31
2.3.5 – Jornada de Estágio 32
2.3.6 – Normas de Segurança e Saúdo do Trabalho 32
CAPÍTULO III
AS PESSOAS DA RELAÇÃO JURÍDICA DE ESTÁGIO 33
3.1 – A Instituição de Ensino 34
3.2 – A Parte Concedente 35
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3.3 – O Estagiário 36
3.4 – Os Agentes de Integração 38
3.5 – Monitoramento e Fiscalização do Estágio 39
3.5.1 – Monitoramento 39
3.5.2 – Fiscalização 42
3.6 – Estágio em Órgão da Administração Pública 42
CONCLUSÃO 45
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47
ÍNDICE 48
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50
50
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: