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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA AS CONTRIBUIÇÕES DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Por: Giselle Gomes da Costa Orientador: Profª Maria Esther de Araújo Co-orientadora: Profª Giselle Böger Brand Duque de Caxias 2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM FACULDADE INTEGRADA

AS CONTRIBUIÇÕES DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL

ESPECIALIZADO PARA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Por: Giselle Gomes da Costa

Orientador: Profª Maria Esther de Araújo

Co-orientadora: Profª Giselle Böger Brand

Duque de Caxias

2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AS CONTRIBUIÇÕES DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL

ESPECIALIZADO PARA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Educação Especial e Inclusiva.

Por: Giselle Gomes da Costa

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus em primeiro lugar por

todas as bênçãos que tenho recebido e

a todos os familiares e amigos que

estiveram ao meu lado apoiando e

compreendendo meus momentos de

ausência. A orientadora Maria Esther e

a co-orientadora Giselle Böger pelo

auxilio em diversos momentos ao longo

da especialização.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu pai Gilberto,

ao meu companheiro Jorge e a minha

sobrinha Ana Luiza, por estarem ao meu

lado incentivando a conclusão deste

trabalho.

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RESUMO

Esta pesquisa se propõe a investigar as contribuições pedagógicas que o Atendimento Educacional Especializado pode oferecer para mediar à aprendizagem dos alunos com Transtorno do Espectro Autista. Para orientar nossas observações utilizamos os documentos oficiais como a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e a Resolução CNE/CNB Nº 04/2009 que estabelece as Diretrizes Operacionais do Atendimento Educacional Especializado. Unimos os referenciais teóricos e dividimos o estudo em três capítulos. Estabelecendo uma relação entre o percurso histórico da educação especial no Brasil e o atendimento de alunos com TEA. Apontando as intervenções e estratégias necessárias para efetivar o processo de inclusão dos alunos. Destacando a importância do novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-V que engloba quatro categorias: Autismo, Síndrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação no Transtorno do Espectro Autista. Palavras - Chave: Atendimento Educacional Especializado; Transtorno do Espectro Autista; Inclusão.

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METODOLOGIA

O instrumento metodológico utilizado para realização da monografia é a

abordagem teórica documental e bibliográfica.

Para o desenvolvimento deste estudo foram utilizados documentos

oficiais, pesquisas bibliográficas e pesquisas na Internet, referentes à literatura

especializada acerca do transtorno do espectro autista (TEA) e da educação

especial e inclusiva.

Para realizar a pesquisa bibliográfica recorreu-se ao suporte teórico da

atual versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-

V e de vários autores, que apresentaram conteúdos fundamentais para o

desenvolvimento do trabalho.

Dentre os autores pesquisados destacam-se o referencial teórico

fornecido por Schwartzman, Riviere, Wing, Grandin, Vygotsky, Orrú e Coll.

Schwartzman (1992, 2003), Riviere (1995, 2004), Wing (1985, 1992)

apresentam conceitos e aspectos do autismo, relacionados à necessidade

educativa.

Grandin (1999) permitiu a aproximação da realidade vivida pelas

crianças com autismo, sobretudo, uma relação com a teoria apresentada.

Vygotsky (1998, 2007) apresenta o desenvolvimento a partir da

abordagem histórico-cultural. Destacando que a perspectiva histórico-cultural

propõe trocas e relações que potencializam o sujeito, num processo de

significação da sua presença no mundo a partir dessa relação estabelecida

com o outro.

Orrú (2007) apresenta subsídios para nortear o trabalho com alunos

autistas.

Coll (2004) contribui ao abordar as escolas inclusivas e sua prática de

integração educativa ressaltando os dilemas e as propostas para tornar uma

escola inclusiva.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................08 CAPÍTULO I - Atendimento Educacional Especializado (AEE).........................10 1.1 Histórico da Educação Especial no Brasil....................................................10

1.2 Escola inclusiva............................................................................................21 1.3 A importância do AEE no processo de inclusão..........................................24 CAPÍTULO II - Transtorno do Espectro Autista (TEA).......................................27 2.1 Histórico........................................................................................................27

2.2 Conceito do Transtorno de Espectro Autista................................................30 CAPÍTULO III – Contribuições do AEE para o desenvolvimento de alunos com TEA....................................................................................................................35 3.1 Implicações e possibilidades para aprendizagem de alunos com TEA.......35

3.2 Indicações Pedagógicas...............................................................................37 3.2.1 Quanto à comunicação.............................................................................37 3.2.2 Quanto ao ambiente.................................................................................38 3.2.3 Quanto ao comportamento.......................................................................38 3.2.4 Quanto ao ensino......................................................................................39 3.3 Estratégias de intervenção...........................................................................40

3.3.1 Método TEACCH......................................................................................42 3.3.2 Método ABA..............................................................................................44 3.3.3 Comunicação Suplementar e/ou Alternativa.............................................45 CONCLUSÃO....................................................................................................48 BIBLIOGRAFIA..................................................................................................50

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INTRODUÇÃO

O tema desta monografia é pesquisar a aprendizagem escolar de alunos

com Transtorno de Espectro Autista (TEA). O presente trabalho tem como

proposta investigar as contribuições pedagógicas que o Atendimento

Educacional Especializado pode oferecer para mediar à aprendizagem dos

alunos com TEA.

O trabalho se justifica, à medida que se observou no cotidiano escolar

vários questionamentos acerca da aprendizagem de alunos com autismo,

como, o que é autismo? Quais as suas características e consequências para a

aprendizagem? Existe a possibilidade de uma criança autista acompanhar os

ensinamentos escolares? Como proceder para que as crianças alcancem a

aprendizagem?

Alguns professores sentem-se inseguros, no atendimento escolar das

crianças com autismo, em razão da complexidade do autismo, sobretudo a falta

de conhecimentos fundamentais para a prática. Portanto, as contribuições do

Atendimento Educacional Especializado são de suma importância para

escolarização dos alunos com Transtorno de Espectro Autista.

São, portanto, objetivos deste trabalho, identificar as possibilidades de

aprendizagem que o Atendimento Educacional Especializado (AEE) pode

oferecer aos alunos com autismo, analisar as implicações que as

características do autismo podem ter sobre a “dificuldade de aprendizagem”,

investigar as possibilidades de aprendizagem e propor alternativas para

aprendizagem dos alunos com autismo na classe regular a partir das

contribuições do Atendimento Educacional Especializado.

Nesse trabalho, entendemos o desenvolvimento da criança autista a

partir da abordagem histórico-cultural de VYGOTSKY (1998, 2007), por

considerarmos que o sujeito se constitui e desenvolve nas condições concretas

de vida, a partir das relações e interações que lhes são possibilitadas nos

processos mediados.

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O Atendimento Educacional Especializado pode promover o

desenvolvimento das potencialidades cognitivas dos alunos com autismo ao

mediar o processo de aquisição da aprendizagem escolar.

No primeiro capítulo objetivou-se analisar a Educação Especial no Brasil,

destacando a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva e a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa

com Transtorno do Espectro Autista, definindo os conceitos de Atendimento

Educacional Especializado e escola inclusiva. Enfatizando a importância do

AEE no processo de inclusão e o papel do professor de AEE no contexto

escolar.

No segundo capítulo procurou-se abordar o Transtorno de Espectro

Autista (TEA) através dos aspectos históricos, do conceito segundo a DSM-V

que divide o TEA em três níveis.

Destacamos no terceiro capítulo as implicações e possibilidades para

aprendizagem dos alunos com TEA. Pretendeu-se analisar as indicações

pedagógicas e as estratégias de intervenção. Enfatizando a importância do

AEE para o recebimento e permanência dos alunos com TEA no ambiente

escolar.

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CAPÍTULO I

ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE)

As primeiras informações sobre o atendimento educacional das pessoas

com deficiência no Brasil surgem na época do império, portanto

apresentaremos uma retrospectiva sobre a educação especial no Brasil.

Destacando as leis nacionais e internacionais que asseguram a inclusão e

regulamentam o atendimento educacional especializado. Apresentaremos o

conceito de escola inclusiva, ressaltando a importância do AEE no processo de

inclusão e o papel do professor de AEE no contexto escolar.

1.1 Histórico da Educação Especial no Brasil

Observamos que “o termo Educação Especial era tradicionalmente

utilizado para designar um tipo de educação diferente da praticada no ensino

regular e que se desenrolaria paralelamente a esta.” (BAUTISTA: 1997, p.9)

O atendimento ao deficiente no Brasil iniciou-se no século XVIII, com a

criação das primeiras instituições totais na época do império. A ideia da criação

de internatos foi importada da Europa e segundo Goffan (1962) instituição total

significa um lugar de residência e de trabalho, onde um grande número de

pessoas, excluídos da sociedade mais ampla, por um longo período de tempo,

leva uma vida enclausurada e formalmente administrada.

O imperador D. Pedro II através do Decreto Imperial nº 1.428 de 12 de

setembro de 1854, fundou a primeira escola para cegos na cidade do Rio de

Janeiro: O Imperial Instituto dos Meninos Cegos. A criação deste instituto foi

um marco na história da educação especial no Brasil, pois caracteriza o início

efetivo do atendimento escolar das pessoas com deficiência. Três anos após,

D. Pedro II através da Lei nº 839 de 26 de setembro de 1857 fundou o Imperial

Instituto dos Surdos-Mudos.

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No governo republicano o Imperial Instituto dos Meninos Cegos teve

seu nome alterado e o seu regulamento aprovado, pelo decreto nº 408 de maio

de 1890, passando a chamar-se Instituto Nacional dos Cegos. Segundo

Mazzotta (2005) em 24 de janeiro de 1891, pelo decreto nº 1.320, a escola

passou a denominar-se Instituto Benjamin Constant (IBC). O Imperial Instituto

dos Surdos-Mudos em 1957, através da lei nº 3.198 de 6 de julho, passou a

denominar-se Instituto Nacional de Educação de surdos-INES.

Os relatos históricos confirmam que a educação especial no Brasil vem

se desenvolvendo como uma modalidade assistencial ao deficiente.

[...] nesse sentido, cabe alertar que, tanto na literatura educacional quanto em documentos técnicos, é frequente a referência a situações de atendimento a pessoas deficientes (crianças e/ou adultos) como sendo educacionais, quando uma análise mais cuidadosa revela tratar-se de situações organizadas com outros propósitos que não o educacional. (MAZZOTTA, 2005, p.15)

As instituições que foram criadas para o atendimento das pessoas com

deficiências tinham um grande caráter assistencialista e muitas eram

particulares. Até meados da década de 50 permaneceu no Brasil este modelo

europeu de institucionalização da educação especial.

No início do século XX é fundado o Instituto Pestalozzi (1926), instituição especializada no atendimento às pessoas com deficiência mental; em 1954, é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE; e, em 1945, é criado o primeiro atendimento educacional especializado às pessoas com superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. (MEC/SEESP, 2007, P.2)

Em 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas, proclamou a

Declaração Universal dos Direitos Humanos. E o Brasil enquanto país membro

da ONU e signatário desse documento utiliza seus princípios na elaboração de

suas políticas públicas. De acordo com esta declaração, “todos os seres

humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos...” (art.1º), portanto, é

assegurado às pessoas com deficiência o direito a igualdade.

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Wing (1985) nos afirma que devido aos seus problemas em entender

qualquer tipo de linguagem, as crianças autistas pequenas são tão deficientes

quanto crianças que nasceram cegas e surdas.

Segundo Gauderer (1987), no Brasil, os primeiros atendimentos

especializados aos autistas surgiram na iniciativa privada em 1954. Em 1957, a

educação do deficiente foi assumida em nível nacional, pelo governo federal.

Na década de 60, ocorreu um movimento mundial contra a

marginalização que vitima as pessoas com deficiências. O modelo europeu de

Paradigma da Institucionalização do atendimento a essas pessoas foi

substituído por serviços de Reabilitação Profissional, embora não sendo

exclusivamente voltado para pessoas com deficiência ele preparava para

integração, ou reintegração na vida da comunidade.

Segundo Mazzotta (2005), nesse período iniciou-se a Campanha

Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais (CADEME), que

visava oferecer educação, treinamento, reabilitação e assistência educacional,

as crianças e outros deficientes mentais de qualquer idade ou sexo.

Destacaremos a LDB nº 4.020/61 através dos artigos (88 e 89), que

abordam à educação dos excepcionais, garantiu o direito à educação das

pessoas deficientes, dentro do sistema geral de ensino. Visando a integração

das pessoas deficientes na comunidade. Outro ponto importante desta lei é

que, no artigo 89, o governo se compromete em ajudar as organizações não

governamentais (ONG) à prestarem serviços educacionais às pessoas

deficientes.

Percebemos que o governo apesar de garantir de garantir na lei, o

direito ao ensino dos excepcionais nas escolas públicas diminuiu a sua

responsabilidade, em relação à educação dos deficientes ao “ajudar” as ONG a

prestarem esse serviço, visto que foi crescente o número de instituições

filantrópicas criadas nas décadas de 60 e 70.

Nos anos 70, difundia-se a ideia de que estas pessoas poderiam ser

capacitadas para a vida no espaço comum da sociedade. Percebemos que “da

segregação total, passou-se a buscar a integração das pessoas com

deficiência, após capacitadas, habilitadas ou reabilitadas. A esta concepção

modelo denominou-se Paradigma de Serviços” (MEC/SEESP, 2004).

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Observamos que a Lei nº 5.692/71, ao definir “tratamento especial” para

os alunos com “deficiências física, mentais, os que se encontram em atraso

considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”, não

favorece a organização de um sistema de ensino capaz de atender às

necessidades educacionais especiais e acaba reforçando o encaminhamento

dos alunos para as classes e escolas especiais.

Em 1973 através do Decreto 72.425 foi criado o Centro Nacional de

Educação Especial (CENESP), ligado ao Ministério de Educação e Cultura. O

plano setorial de educação e cultura (1972-1974) inclui a educação especial no

rol das prioridades educacionais do país.

Em 1980 foi realizado em Bauru (SP) o 1° Seminário Nacional de

Reabilitação profissional. No mesmo ano foi criada a primeira Associação de

Pais e Amigos do Autista em São Paulo (AMA/SP), ao longo dos anos foram

surgindo várias outras instituições, que constituem a Associação Brasileira de

Autismo- ABRA.

O ano de 1981, ano internacional da pessoa deficiente, motivou a

sociedade que clamava por transformações nesta área.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 assumiu os

princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O artigo 208

menciona que “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a

garantia de: [...] III – atendimento especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede de ensino” (BRASIL, 1988). O artigo 227 menciona a

criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os

portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como a integração

social do adolescente com necessidades especiais, mediante o treinamento

para o trabalho e convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços

coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. A lei

ainda dispõe de normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso

público e de fabricação de veículos transporte coletivos, a fim de garantir

acesso adequado às pessoas com necessidades especiais.

Foi realizado em Brasília, em 1989, o I Congresso Brasileiro de Autismo,

para a discussão científica do transtorno, que resultou no nascimento do

GEPAPI (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o autismo e outras psicoses

Infantis).

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Baseando-se no artigo 227 da Constituição Federal, a ideia de espaço

social inclusivo começou a ser delineada na década de 90. Este novo modelo,

denominado Paradigma de Suportes, baseava-se na organização de espaços

sociais para atendimento das necessidades e características de todos os

cidadãos.

Este paradigma associou a ideia da diversidade como fator de enriquecimento social e o respeito às necessidades de todos os cidadãos como pilar central de uma nova prática social: a construção de espaços inclusivos em todas as instâncias da vida na sociedade, de forma a garantir o acesso imediato e favorecer a participação de todos nos equipamentos e espaços sociais, independente das suas necessidades educacionais especiais, do tipo de deficiência e do grau de comprometimento que apresentem. (MEC/SEESP, 2004)

Em março de 1990, o Brasil participou da Conferência Mundial sobre

Educação para Todos em Jomtien, Tailândia. Ao assinar a Declaração de

Jomtien, o Brasil comprometeu-se, com a comunidade internacional, a construir

um sistema educacional inclusivo. Devido a este compromisso internacional, o

Brasil tem investido na criação de instrumentos norteadores para ação

educacional e documentos legais para apoiar a construção de sistemas

educacionais inclusivos, nas diferentes esferas públicas: municipal, estadual e

federal.

O Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº 8.069 promulgada em 13

de julho de 1990, reafirma em seus artigos os princípios da Declaração

Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Federal. Ratificando no

artigo 54 que “é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: [...] II. I

– atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular.” (BRASIL, 1990).

Em 1990 a ABRA realizou o I Seminário Para Definição de Política

Nacional de Atenção à Pessoa Portadora da Síndrome do autismo. Nesse

seminário, foram discutidas ações preventivas que apontam a adoção de

diagnósticos, cuidados, estratégias de atendimentos individualizados,

profissionalização e ainda sugere a integração de serviços de saúde, trabalho e

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lazer, visando disponibilizar ao máximo, serviços especializados para o resgate

de potencialidade dessas pessoas (LOPES, 1992).

Os ministérios foram reorganizados no final de 1992 e reapareceu a

Secretaria de Educação Especial (SEESP), começaram as discussões em

torno de um novo modelo de atendimento escolar denominado “Inclusão

Escolar”. Esse novo paradigma surge como uma reação contrária ao processo

de integração. MAZZOTTA (2005) destaca que: “Tais alterações refletem, sem

dúvida, opções políticas diferentes que, por sua vez, criam desdobramentos os

campos financeiros, administrativo e pedagógico”. (p. 62)

Em junho de 1994, a UNESCO realizou em Salamanca (Espanha), a

Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e

Qualidade, tendo como objetivo principal, a atenção educacional aos alunos

com necessidades educacionais especiais.

Para compreendermos a importância desta declaração é relevante é

relevante analisarmos as seguintes citações:

Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito fundamental à educação e que a elas deve ser dada à oportunidade de obter e manter um nível aceitável de conhecimentos. Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios. Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados de modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e necessidades. As pessoas com necessidades educacionais especiais devem ter acesso às escolas comuns, que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a essas necessidades. As escolas comuns, com essa orientação integradora, representam o meio mais eficaz de combater atitudes discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras, construir uma sociedade integradora e dar educação para todos.

Percebemos que a Declaração de Salamanca visa assegurar a

transformação dos sistemas educacionais em sistemas educacionais

inclusivos. Assim, as escolas poderão acomodar todas as crianças

independentemente de suas condições físicas e/ou intelectuais. Estabelecendo

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uma visão de educação para diversidade, ao priorizar atenção às necessidades

educacionais especiais de cada aluno (UNESCO, 1994).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 traz

algumas inovações para educação especial, destacamos a oferta da educação

especial na faixa etária de zero a seis anos e a ideia de melhoria de qualidade

dos serviços educacionais para os alunos e a necessidade de o professor estar

preparado e com recursos adequados de forma a compreender e atender à

diversidade dos alunos.

O capítulo V que trata especificamente da Educação Especial, em seu

artigo 58, estabelece que:

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).

Já o artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar

aos alunos currículo, método, recursos e organização específicos para atender

às suas necessidades, assegura a terminalidade especifica àqueles que não

atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude

de suas deficiências, e assegura a aceleração de estudos aos superdotados

para concluir em menor tempo o programa escolar. Outro ponto importante é a

obrigatoriedade dos sistemas de ensino garantir professores com

especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento

especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a

integração desses educandos nas classes comuns.

Sabemos que os alguns sistemas de ensino começaram a elaborar

concursos específicos para professores de Atendimento Educacional

Especializado (AEE), porém ainda não asseguram a capacitação para os

professores de classe regular.

O Decreto nº 3.298/99, que estabelece a Política Nacional para a

Integração da Pessoa Portadoras de Deficiência, estabelece a matrícula

compulsória de pessoas com deficiência, em cursos regulares, a consideração

da educação especial com modalidade da educação escolar que permeia

transversalmente todos os níveis e modalidades de ensino, a oferta obrigatória

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e gratuita da educação especial em estabelecimentos públicos de ensino,

dentre outras medidas (art. 24, I, II, IV).

A resolução CNE/CEB n° 02/2001, estabelece as Diretrizes Nacionais

para Educação Especial na Educação Básica, em seu Art. 3º define a

Educação Especial como:

Modalidade da educação escolar, um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educados que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. (BRASIL, 2001).

A Resolução determina a obrigatoriedade da matrícula de todos os

alunos no ensino regular.

Os sistemas de ensino devem matricular todos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educando com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos (art. 2º). O atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade da educação básica - art. 7º (BRASIL, 2001).

Podemos perceber que as escolas devem promover a adaptação destes

alunos em suas classes comuns, realizando as adaptações curriculares

necessárias. "A proposição da política expressa nas Diretrizes, traduz o

conceito de escola inclusiva, pois centra seu foco na discussão sobre a função

social da escola e no seu projeto pedagógico" (BRASIL, 2004).

A Lei nº 10.172/01 aprovou o Plano Nacional de Educação, estabeleceu

28 objetivos e metas para a Educação Especial, que tratam do

desenvolvimento de programas educacionais em todos os municípios, inclusive

a parceria com a área de saúde e assistência social.

O Decreto nº 3.956/2001 que promulga a Convenção da Guatemala

(1999) no Brasil, estabelece que as pessoas com deficiência têm os mesmos

direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo

como discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão

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que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas

liberdades fundamentais.

Este Decreto tem importante repercussão na educação, exigindo uma reinterpretação da educação especial, compreendida no contexto da diferenciação, adotado para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à escolarização (BRASIL, 2007, p.3).

Em 2002 através da Resolução CNE/CP nº1, que estabelece as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da

Educação Básica, determina-se que as instituições de ensino superior devem

prever, em sua organização curricular, formação docente voltada para a

atenção a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as

especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais.

De acordo com a legislação educacional para as pessoas com

necessidades educacionais especiais, foi publicado em 2003 o documento

Saberes e Práticas da inclusão na Educação Infantil. Este documento visa

garantir acessibilidade física e acessibilidade de recursos materiais e técnicos

apropriados para o atendimento escolar das crianças com necessidades

educacionais especiais, em creches e pré-escolas.

Neste mesmo ano foi implementado pelo MEC o Programa Educação

Inclusiva: direito à diversidade, com vistas a apoiar a transformação dos

sistemas de ensino em sistema educacionais inclusivos, promovendo um

amplo processo de formação de gestores e educadores nos municípios

brasileiros para a garantia do direito de acesso de todos à escolarização, à

oferta do atendimento educacional especializado e à garantia da

acessibilidade.

Em 2004, o ministério Público Federal publicou o documento "O Acesso

de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular",

com o objetivo de disseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a

inclusão, reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de alunos com

e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular.

Em 2007, foi lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE,

que possui como eixos: a formação de professores para a educação especial, a

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implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade

arquitetônica dos prédios escolares, acesso e a permanência das pessoas com

deficiência na educação superior e o monitoramento do acesso à escola dos

favorecidos pelo Beneficio de prestação Continuada – BPC.

Em Janeiro de 2008 foi aprovada "Política Nacional de Educação

Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva", que tem como objetivo o

acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas

escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas

às necessidades educacionais especiais (BRASIL, 2008).

Em 2008 o Decreto 6.571/08 estabelece que o Atendimento

Educacional Especializado (AEE) é “o conjunto de atividades, recursos de

acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de

forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular”.

O Atendimento Educacional Especializado tem caráter complementar ou

suplementar (no caso de alunos com altas habilidades), não podendo mais

substituir a escolarização em classe regular.

Resolução CNE/CNB Nº 04/2009 Institui Diretrizes Operacionais para o

Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade

Educação Especial. Em seu Art. 1° garante a matrícula nas classes comuns e

no AEE:

Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. (Resolução CNE/CEB 4/2009).

Em seu Art. 4º afirma que os alunos autistas são público-alvo do AEE:

(...) II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno

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desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação.

Posteriormente utilizaremos a Resolução CNE/CNB Nº 04/2009 para

citar as atribuições do professor de AEE no contexto escolar.

Em 2011 o Decreto 7.611/11 revoga por completo o Decreto 6.571/08. E

estabelece uma flexibilização do AEE, pois em seu artigo 1º destaca que:

Não há especificação de faixa etária para oferta de Educação Especial pelo Estado, a qual é definida como “aprendizado ao longo de toda a vida” (Art. 1°, II). É garantido ao público-alvo da Educação Especial, “ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas adaptações razoáveis, de acordo com as necessidades individuais” (Art. 1°, IV).

O artigo 5º menciona a oferta de formação para professores no ensino

de LIBRAS e Braile. E destaca a necessidade da formação da equipe escolar

para estabelecer a Educação Inclusiva. As Salas de Recursos Multifuncionais

neste artigo são definidas como “ambientes dotados de equipamentos,

mobiliários e materiais didático pedagógicos para oferta do atendimento

educacional especializado” (Art. 5°, III).

O Decreto nº 8.368, de 2 de dezembro de 2014 regulamenta a Lei nº

12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de

Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Estabelecendo no Art. 1º que “A pessoa com transtorno do espectro autista é

considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais”.

Em seu Art. 4º garante o direito a educação em um sistema educacional

inclusivo:

É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar o direito da pessoa com transtorno do espectro autista à educação, em sistema educacional inclusivo, garantida a transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior.

E assegura o direito a um acompanhante especializado caso seja

comprovada a necessidade de apoio.

[...] 2º Caso seja comprovada a necessidade de apoio às atividades de comunicação, interação social, locomoção, alimentação e cuidados pessoais, a instituição de ensino em que a pessoa com transtorno do espectro autista ou com outra

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deficiência estiver matriculada disponibilizará acompanhante especializado no contexto escolar, nos termos do parágrafo único do art. 3o da Lei no 12.764, de 2012.

Destacamos também o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado

pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que estabelece na Meta 4 a

necessidade de:

Universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados (BRASIL, 2014).

A Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015, que Institui a Lei Brasileira de

Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) no

capítulo IV Do Direito à Educação, ratifica no Art. 27 que:

A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem.

Observamos que as políticas públicas garantem o acesso e a

permanência dos educandos com transtorno do espectro autista (TEA) nas

unidades escolares e defendem a criação de sistemas educacionais inclusivos.

1.2 Escola Inclusiva

O conceito de escola inclusiva supõe uma maneira mais radical de entender a resposta educativa à diversidade dos alunos baseia-se fundamentalmente na defesa de seus direitos à integração e na necessidade de promover uma profunda reforma das escolas, que torne possível uma educação de qualidade para todos eles, sem nenhum tipo de exclusão. (COLL, 2004, p. 15)

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A educação inclusiva visa efetivar o direito à educação, esse direito não

se limita ao acesso a ela, é também o direito a aprender e a desenvolver-se

plenamente. “A inclusão na educação é um meio de garantir uma maior

equidade e o desenvolvimento de sociedades mais inclusivas.” (MEC,

SEESP,2005).

Compreendemos que a escola é um espaço de construção da

identidade e as escolas inclusivas contribuem para o desenvolvimento de

valores como igualdade, justiça e solidariedade. Contribuindo assim para a

formação de um indivíduo que respeita e valoriza as diferenças.

A educação inclusiva implica uma visão diferente da educação comum baseada na heterogeneidade e não na homogeneidade, considerando que cada aluno tem uma capacidade, interesse, motivações e experiência pessoal única, quer dizer, a diversidade está dentro do “normal”. Dada essa concepção, a ênfase está em desenvolver uma educação que valorize e respeite às diferenças, vendo-as como uma oportunidade para otimizar o desenvolvimento pessoal e social e para enriquecer os processos de aprendizagem. (MEC, SEESP, 2005)

Partindo deste pressuposto começamos a refletir sobre a inclusão dos

alunos com transtorno do espectro autista e buscamos no referencial do MEC

um esclarecimento para esta questão. As crianças com TEA:

Embora requeiram dos professores atitudes e conhecimento e domínio de recursos instrucionais específicos além de orientação técnica devem ter acesso ao sistema escolar, porque a síndrome de que são portadoras não as impede do aprendizado acadêmico. Algumas até podem ser integradas às salas do ensino regular. (MEC, SEESP, 2002, p.19).

Entretanto segundo RIVIERE (2004), nem todos estão aptos à inclusão

escolar, especialmente no ensino regular. Portanto, é necessário que:

Antes de encaminhar as crianças com o autismo para o ensino regular, deverão ser avaliadas as habilidades de cada uma. A escolha da escola poderá ser feita de acordo com o quadro evolutivo que a criança se encontra. Isto não significa que essa escolha seja definitiva, pois, quando o progresso dos alunos que frequentam a escola especial for avaliado e constatado, estes podem ser transferidos para o ensino regular. (MEC, SEESP, 2002).

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Historicamente a escola é responsabilizada pela mediação entre homens

e o conhecimento sistematizado, “se o aprendizado impulsiona o

desenvolvimento, então a escola tem um papel essencial na construção do ser

psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas”

(VYGOTSKY apud OLIVEIRA, 1997, P. 61).

Os fundamentos ideológicos das escolas inclusivas, segundo Coll

(2004), baseiam-se na declaração universal dos direitos humanos: os poderes

públicos têm a obrigação de garantir um ensino não segregador, que se

prolongue posteriormente na integração à sociedade, a todos os alunos, sejam

quais forem suas condições físicas, sociais ou culturais. Percebemos que,

escola inclusiva é aquela que acomoda todas as crianças respeitando suas

especificidades e garantindo uma educação de qualidade.

A inclusão escolar promove às crianças com TEA oportunidades de convivência com outras crianças da mesma idade, tornando-se um espaço de aprendizagem e desenvolvimento social. Possibilita-se o estímulo de suas capacidades interativa, impedido o isolamento contínuo. (LOWENTHAL, 2001, P.134).

A inclusão deve ser um projeto de toda comunidade escolar e como tal

deve estar presente no Projeto Político Pedagógico da escola (PPP).

Destacaremos os principais fatores que caracterizam uma escola inclusiva: a

transformação do currículo; o desenvolvimento profissional dos professores;

uma liderança efetiva; a modificação da cultura, da organização da escola e o

compromisso de todos com a mudança, são os referenciais mínimos para

realização da inclusão.

Os “Parâmetros Curriculares: adaptações curriculares – estratégias para

a educação de alunos com necessidades educacionais especiais” indicam os

aspectos fundamentais para uma Educação Inclusiva:

_ Atitude favorável da escola para diversificar e flexibilizar o processo de ensino aprendizagem, de modo a atender às diferenças individuais

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dos alunos; _ Identificação das necessidades educacionais especiais para justificar a priorização de recursos e meios favoráveis à sua educação; _ Adoção de currículos abertos e propostas curriculares diversificadas, em lugar de uma concepção uniforme e homogeneizadora; _ Flexibilidade quanto à organização e ao funcionamento da escola para atender à demanda diversificada dos alunos; _ Possibilidade de incluir professores especializados, serviços de apoio e outros não convencionais, para favorecer o processo educacional (BRASIL, 1998, p. 32)

Percebemos que promover a inclusão de alunos com transtorno do

espectro autista deve ser um projeto da comunidade escolar, pois envolve a

mudança da cultura, dos métodos e das práticas de ensino. Ao promover a

responsabilidade de todos no processo de inclusão, rompemos as barreiras

atitudinais e comunicacionais.

1.3 A importância do Atendimento Educacional

Especializado (AEE) no processo de inclusão

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva (BRASIL, 2008) institui o Atendimento Educacional Especializado

(AEE), tornando possível a efetivação dos serviços especializados na

abrangência do ensino comum.

O AEE é espaço de mediação, uma alternativa dentro das políticas

públicas para efetivar a educação inclusiva. Com a função de prover recursos

para garantir a aprendizagem dos alunos com deficiência, o AEE, contém

conteúdos e práticas pedagógicas específicas para atender adequadamente as

particularidades de cada aluno.

A Resolução CNE/CNB Nº 04/2009 que estabelece as Diretrizes

Operacionais do AEE no artigo 2º define:

Art. 2º - A educação especial deve garantir os serviços de apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que possam

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obstruir o processo de escolarização de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. § 1º - Para fins deste Decreto, os serviços de que trata o caput serão denominados atendimento educacional especializado, compreendido como o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e continuamente, prestado das seguintes formas: I - complementar à formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo e na frequência dos estudantes às salas de recursos multifuncionais; ou II - suplementar à formação de estudantes com altas habilidades/superdotação. § 2º - O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família para garantir pleno acesso e participação dos estudantes, atender às necessidades específicas das pessoas público-alvo da educação especial, e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas.

Percebemos que a função do AEE é identificar as dificuldades e propor

ações que possam minimizar as mesmas, estabelecendo uma metodologia que

respeite as limitações e o ritmo diferenciado desse aluno. O aluno com

transtorno do espectro autista precisa ser estimulado com diversos recursos

para descobrir o seu potencial, para aprender a viver com autonomia e

desenvolver habilidades sociais.

Segundo a Resolução CNE/CNB Nº 04/2009:

Para realizar o AEE, cabe ao professor que atua nesta área, elaborar o Plano de Atendimento Educacional Especializado – Plano de AEE, documento comprobatório de que a escola, institucionalmente, reconhece a matricula do estudante público alvo da educação especial e assegura o atendimento de suas especificidades educacionais.

Para a escola regular tornar-se inclusiva é necessário que se estabeleça

um currículo comum a todos os alunos, porém posteriormente devem ser

realizadas as adaptações curriculares de acordo com as necessidades dos

alunos. Consideramos o Atendimento Educacional Especializado de suma

importância para tornar fidedigno o processo de inclusão dos alunos com TEA.

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Os professores de AEE possuem um papel muito importante neste

processo, pois utilizam uma didática específica, exatamente porque cada aluno

tem suas especificidades, logo o Plano de AEE deve ser organizado no início

do ano e cada aluno deve ter um PEI - Plano de Ensino Individualizado.

“[...] o PEI pode auxiliar os docentes a planejar ações que possibilitem aos alunos com deficiência participar das atividades e desenvolver aprendizagens escolares, mesmo que com adaptações, a partir das práticas curriculares propostas para a turma em que estiverem matriculados”. (GLAT; PLETSCH, 2013, p. 22, 23)

Segundo Schreibman e Koegel (1981, p. 506 apud RIVIERE, 1995), a

complexidade maior ao ensinar crianças autistas é a motivação, contudo isso

não significa que elas não tenham motivação. Cabe ao professor descobrir tal

interesse para promover a aprendizagem.

As crianças autistas podem aprender, mas parece que somente o

fazem em condições especiais. Não aprendem, se não forem

seguidas, de forma muito escrupulosa, regras específicas de ensino,

identificadas através da investigação na área da aprendizagem.

(SCHREIBMAN; KOEGEL, 1981, p. 506 apud RIVIERE, 1995, p.

288).

Rocha (2000) ressalta que o professor deve introduzir nas atividades

escolares materiais coloridos com formas e texturas diferentes, para estimular

os cinco sentidos. E enfatiza que a estimulação do sistema cognitivo deve ser

mediada, pois caso contrário, as crianças continuarão restringindo-se, a

manipulação dos objetos de forma estereotipada.

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CAPÍTULO II

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Neste capítulo abordaremos o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

através dos aspectos históricos, do conceito segundo a DSM-V que divide o

TEA em três níveis.

2.1 Histórico

O termo autismo significa “voltando para si mesmo”, ele é oriundo das

palavras gregas autós que significa “em si mesmo” e ismo que significa

“voltando para”. Segundo Gauderer (1987), a terminologia indica isolamento

social e uma postura centrada em si mesmo.

O psiquiatra Eugen Bleuler utilizou em 1911 o termo “autismo” para

descrever a perda de contato com a realidade e o isolamento observados em

adulto com esquizofrenia.

O conceito de autismo se originou com a descoberta do psiquiatra Leo

Kanner em 1943, ao observar o caso de onze crianças que apresentavam

características diferentes das demais. No artigo denominado “Alterações

autistas do contato afetivo”, Kanner relatou três características similares, que

se repetiam nos onze casos: a tendência ao isolamento; as dificuldades na

comunicação; e problemas comportamentais como a insistência obsessiva em

não variar o ambiente e a tendência a repetir atividades ritualizadas

(SCHWARTZMAN, 2003; RIVIERE, 2004).

Hans Asperger em 1944 publicou o artigo “A psicopatia autista na

infância”, onde apresentou suas observações sobre crianças com

características semelhantes às descritas por Kanner, com apenas algumas

variações de intensidade. Apesar dessa semelhança, de acordo com Riviere

(apud COLL, 2004 p. 235), “parece claro que Asperger não conhecia o artigo

de Kanner e que ‘descobriu’ o autismo de modo independente”.

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Segundo Orrú (2007), Kanner revisou várias vezes seu conceito e em

1949 passou a referir-se ao quadro como “Autismo Infantil Precoce”.

O trabalho de Asperger foi escrito em alemão e só se tornou conhecido

quando Lorna Wing, médica inglesa, o traduziu para o inglês. Logo passou a

ser conhecido um tipo de autismo de alto desempenho, que Asperger chamou

de “psicopatia autística” e anos depois em sua homenagem passou a ser

denominado síndrome de Asperger.

Durante muitos anos o autismo foi considerado uma psicose infantil,

Orrú (2007), relata que em 1976 Ritvo escreveu um livro sobre autismo onde

apontava os déficits cognitivos inerentes a essas crianças, cuja caracterização

ocorreria desde o nascimento, levando-se em conta suas particularidades

comportamentais. E destacou que existe a possibilidade desta síndrome

ocorrer em associação com outras patologias específicas, em que o autismo

seria a derivação de uma patologia exclusiva do sistema nervoso central.

Após este estudo o autismo passou a ser pesquisado como um distúrbio

do desenvolvimento. Em 1979 Wing e Gold, formularam inicialmente a noção

de “continuum” de gradação nitidamente relacionada com o grau de

comprometimento cognitivo – e posteriormente nomeado de espectro do

autismo (GILLBERG, 1989 apud TARELHO, 2005) – cujas características

essenciais comuns seria a noção de “Tríade de Comprometimentos” que ficou

conhecida como “Tríade de Wing”.

A tríade de comprometimentos é formada por dificuldades na interação

social, imaginação e comunicação. Essas dificuldades provocam

comportamentos rígidos, repetitivos e estereotipados.

Uma contribuição teórica bastante importante realizada por Wing foi a de chamar a atenção para o fato de ser o autismo uma desordem ao desenvolvimento do engajamento na interação social recíproca, tanto isoladamente quanto associado a prejuízos de outras funções psicológicas, pressupões a ideia do que a autora chama de spectrum. Esta ideia está relacionada à existência de alterações comportamentais que se apresentam em graus variados de tipo e severidade, podendo muitas vezes estar combinadas com outros prejuízos observados na criança. (FACION, 2005, p. 25)

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O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM- III-R

(1989) da Associação Americana de Psiquiatria (APA) classificava o autismo

nos Transtornos Globais do Desenvolvimento. Estes manuais são revisados e

atualizados ao longo dos anos. Na revisão de 1987, do DSM III, segundo

ORRÚ (2007), para receber o diagnostico de transtorno autista, o paciente

deveria:

Manifestar, pelo menos, oito dos 16 critérios, dos quais em um mínimo de dois seriam critérios do item A: comprometimento da interação social; um pertenceria ao item B: comprometimento da comunicação; e um representaria o item C: repertório restrito de atividades

(ORRÚ, 2007, p. 25).

Em 1994 a quarta edição do DSM, apresentou um novo termo para o

autismo, que foi denominado “Transtorno Invasivo de Desenvolvimento” (TID) e

passou a ser caracterizado por alterações no desenvolvimento da interação

social, da comunicação e pela presença de padrões típicos de

comportamentos. O termo “invasivo” segundo Peeters (1989) foi utilizado para

indicar que as alterações do autismo eram qualitativas, graves e afetavam

várias áreas do desenvolvimento. O DSM-IV aponta que:

Os prejuízos qualitativos que definem essas condições representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou idade mental do indivíduo. Esta seção abarca Transtorno Autista, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de Asperger e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outra especificação” (APA, 1995, apud ORRÚ, 2007, p. 25).

A atual versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos

Mentais DSM-V (2013), surge com uma nova classificação em relação ao

autismo. A primeira mudança é na nomenclatura, pois o autismo não está mais

na categoria de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) e sim numa

nova categoria chamada “Transtorno de Espectro Autista” (TEA).

Percebemos que não é apenas uma mudança de nome, e sim uma

mudança na classificação, pois a nomenclatura Transtorno de Espectro Autista

(TEA) passou a ser utilizada para englobar quatro categorias: Autismo,

Síndrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno

Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. É importante destacar

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que a APA considerou ainda, que a Síndrome de Rett possuía características

distintas desse grupo e a reclassificou em outra categoria à parte.

2.2 Conceito do Transtorno do Espectro Autista

Ressaltamos que no DSM-IV o Transtorno Autista, a Síndrome de

Asperger, o Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno Global do

Desenvolvimento Sem Outra Especificação eram quatro categorias de

diagnóstico separadas e com a mudança para DSM-V surge uma nova

classificação chamada "Transtorno do Espectro Autista" (TEA), que vai

abranger essas quatro condições.

Segundo a APA "O 'transtorno do espectro autista' reflete um consenso

científico de que essas quatro doenças separadas são, na verdade, uma

mesma condição com diferentes níveis de gravidade dos sintomas" De acordo

com a Associação, o "transtorno do espectro autista" se caracteriza por "déficits

em comunicação e interação sociais" e "conduta, atividades e interesses

restritivos repetitivos".

Observamos que o DSM-V quer simplificar o diagnóstico, pois ele é feito

conforme cada pessoa se apresenta, individualmente, sem tentar coloca-la

numa categorias pronta de sintomas e características.

Ainda que o TEA seja considerado uma desordem que pode envolver

comprometimentos de ordem neurológica, não há ainda um único tipo de

exame ou procedimento médico que confirme isoladamente o seu diagnóstico.

Segundo o DSM-V:

As características comportamentais do transtorno do espectro autista tornam-se inicialmente evidentes na primeira infância, com alguns casos apresentando falta de interesse em interações sociais no primeiro ano de vida. Algumas crianças com transtorno do espectro autista apresentam platôs ou regressão no desenvolvimento, com uma deterioração gradual ou relativamente rápida em comportamentos sociais ou uso da linguagem, frequentemente durante os dois primeiros anos de vida. Tais perdas são raras em outros transtornos, podendo ser um sinal de alerta útil para o transtorno do espectro autista. (2014, p. 99)

A avaliação deve incluir entrevistas com os familiares, observação

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clínica e exame psico – mental e, alguns casos exames complementares para

doenças genéticas ou hereditárias. Os exames mais comuns são os que

indicam a possibilidade de convulsões, anormalidades cerebrais e os que

avaliam a capacidade auditiva.

É importante destacar que no DSM-IV existiam três critérios para o

diagnóstico: Desafios de Linguagem; Déficits sociais e Comportamentos

estereotipados ou repetitivos.

No DSM-V são avaliadas apenas duas áreas principais: Comunicação

social e Comportamentos restritos e repetitivos.

As características essenciais do transtorno do espectro autista são prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na interação social (Critério A) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (Critério B). Esses sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário (Critérios C e D). O estágio em que o prejuízo funcional fica evidente irá variar de acordo com características do indivíduo e seu ambiente. Características diagnósticas nucleares estão evidentes no período do desenvolvimento, mas intervenções, compensações e apoio atual podem mascarar as dificuldades, pelo menos em alguns contextos. Manifestações do transtorno também variam muito dependendo da gravidade da condição autista, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica; daí o uso do termo espectro. (2014, p. 97)

Observamos que o atraso de linguagem não faz mais parte dos critérios

para o diagnóstico. O atraso de linguagem é analisado no “critério A” que

define os Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em

múltiplos contextos.

Conquanto a definição de autismo tenha mudado, as características

principais da doença permanecem as mesmas. Uma vez que as pessoas com

TEA apresentam muitas das mesmas características, todavia variam no nível

de gravidade.

O DSM-V (2014, p. 96) na Tabela 2 apresenta os especificadores de

níveis de gravidade para o transtorno do espectro autista:

ü Nível 3

“Exigindo apoio muito substancial”

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Comunicação social

Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal

causam prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a

interações sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros.

Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas palavras que

raramente inicia as interações e, quando o faz, tem abordagens incomuns

apenas para satisfazer a necessidades e reage somente a abordagens sociais

muito diretas.

Comportamentos restritos e repetitivos

Inflexibilidade de comportamento, extrema dificuldade em lidar com a mudança

ou outros comportamentos restritos/repetitivos interferem acentuadamente no

funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento/dificuldade para mudar

o foco ou as ações.

Nível de gravidade

ü Nível 2

“Exigindo apoio substancial”

Comunicação social

Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não

verbal; prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio; limitação em

dar início a interações sociais e resposta reduzida ou anormal a aberturas

sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa que fala frases

simples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que

apresenta comunicação não verbal acentuadamente estranha.

Comportamentos restritos e repetitivos

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Inflexibilidade do comportamento, dificuldade de lidar com a mudança ou

outros comportamentos restritos/repetitivos aparecem com frequência

suficiente para serem óbvios ao observador casual e interferem no

funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimento e/ou dificuldade de

mudar o foco ou as ações.

Nível de gravidade

ü Nível 1

“Exigindo apoio”

Comunicação social

Na ausência de apoio, déficits na comunicação social causam prejuízos

notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos claros de

respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode

parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais. Por exemplo,

uma pessoa que consegue falar frases completas e envolver-se na

comunicação, embora apresente falhas na conversação com os outros e cujas

tentativas de fazer amizades são estranhas e comumente malsucedidas.

Comportamentos restritos e repetitivos

Inflexibilidade de comportamento causa interferência significativa no

funcionamento em um ou mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade.

Problemas para organização e planejamento são obstáculos à independência.

É importante destacar as características associadas que apoiam o

diagnóstico de TEA apontadas no DSM-V:

Muitos indivíduos com transtorno do espectro autista também apresentam comprometimento intelectual e/ou da linguagem (p. ex., atraso na fala, compreensão da linguagem aquém da produção).

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Mesmo aqueles com inteligência média ou alta apresentam um perfil irregular de capacidades. A discrepância entre habilidades funcionais adaptativas e intelectuais costuma ser grande. Déficits motores estão frequentemente presentes, incluindo marcha atípica, falta de coordenação e outros sinais motores anormais (p. ex., caminhar na ponta dos pés). Pode ocorrer autolesão (p. ex., bater a cabeça, morder o punho), e comportamentos disruptivos/desafiadores são mais comuns em crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista do que em outros transtornos, incluindo deficiência intelectual. Adolescentes e adultos com transtorno do espectro autista são propensos a ansiedade e depressão. Alguns indivíduos desenvolvem comportamento motor semelhante à catatonia (lentificação e “congelamento” em meio à ação), embora isso tipicamente não costume alcançar a magnitude de um episódio catatônico. (2014, p. 99)

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CAPÍTULO III

CONTRIBUIÇÕES DO AEE PARA O

DESENVOLVIMENTO DE ALUNOS COM TEA

O presente capítulo tem por objetivo destacar as indicações

pedagógicas e as estratégias de intervenção que possibilitam a aprendizagem

de alunos com transtorno do espectro autista. Enfatizando a importância do

AEE para o recebimento e permanência da criança com TEA na escola. “O

autismo requer do sistema educacional duas coisas importantes: diversidade e

personalização”. (COLL, 2004, p. 248)

3.1 Implicações e possibilidades para aprendizagem de

alunos com TEA

Entende-se que o espectro autista não se manifesta da mesma forma

para todas as crianças, podendo ter crianças com boas condições intelectuais

e outras bem prejudicadas. Conforme enfatiza Wing (1985, p. 118), “devido aos

seus problemas em entender qualquer tipo de linguagem crianças autistas

pequenas são tão deficientes quanto crianças que nasceram cegas e surdas”.

A priori, pode parecer um impedimento para a aprendizagem, entretanto, todas

as crianças com TEA apresentam possibilidades de determinadas

aprendizagens. É fundamental que a educação não centralize na patologia em

sim no sujeito.

Segundo Leboyer (1995) o transtorno no desenvolvimento das crianças

autistas, é explicado pelo déficit cognitivo que estas apresentam. Porquanto, as

condições cognitivas dos autistas implicam tanto no desenvolvimento de suas

aprendizagens, quanto na aquisição de novos saberes.

As crianças com autismo percebem os estímulos disponíveis no

ambiente de forma diferente das crianças sem autismo (LEBOYER, 1985;

WING 1992), o que pode dificultar a aprendizagem, pois, a forma como se dá a

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percepção das crianças com autismo, afeta à capacidade de estruturar e

compreender o significado das coisas.

Às vezes eu ouvia e entendia, mas outras vezes os sons ou a fala chegavam ao meu cérebro como o barulho insuportável de um trem de carga a toda velocidade. O barulho e a confusão de grandes reuniões de pessoas deixavam meus sentidos totalmente esgotados. (GRANDIN,1999 p.147)

Percebemos no relato da autista, Temple Grandin, que situações do

cotidiano podem tornar o mundo muito confuso para as crianças com autismo.

Essa dificuldade torna o mundo muito confuso para as crianças com autismo, é

por isso, que elas lutam tanto para que suas rotinas não sejam mudadas, pois

são as poucas coisas que conseguem entender.

As crianças autistas acham difícil ou impossível entender o mundo social e ficam confusas e aflitas ao enfrentar situações sociais que agradam à criança normal. As propriedades dos objetos inanimados como: forma, tamanho, cor e textura são simples, imutáveis e parecem ser muito mais atraentes para a criança autista do que os seres vivos e providos de movimentos humanos ou animais. O alívio vem não do contato humano, mas da manipulação de objetos e da repetição de rotinas fixas. (WING,1992, p.85)

Segundo Kanner a criança autista “é governada por um desejo

ansiosamente obsessivo por manter a igualdade, que ninguém, a não ser a

própria criança, pode romper em raras ocasiões” (1943, p. 22 apud RIVIERE,

2004 p. 235). Diante de tal afirmação refletimos sobre o papel da escola e dos

educadores que precisam se organizar para oferecer uma orientação

educacional adequada aos alunos com TEA.

RIVIERE destaca os seguintes fatores para uma orientação educativa

adequada:

• São preferíveis as escolas de pequeno porte e número baixo de alunos, que não exijam interações de grande complexidade social.

• Devem-se evitar escolas excessivamente ruidosas e “despersonalizadas”.

• São preferíveis escolas estruturadas, com estilos didáticos diretivos e formas de organização que tornem “previsível” a jornada escolar.

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• É imprescindível um compromisso efetivo do conjunto dos professores e dos professores concretos que atendam a criança com TGD ou Autismo.

• É importante haver recursos complementares e especialmente psicopedagogos com funções de orientação e de logopedia.

• É muito conveniente proporcionar pistas aos colegas da criança autista para compreender e apoiar suas aprendizagens. (2004, p. 249)

Mantoan (1997) nos relata que criar e educar um autista representa um

grande desafio para pais, familiares, educadores e pessoas à sua volta,

principalmente porque há uma grande necessidade de se utilizar uma

abordagem adequada e eficiente para que estes possam se desenvolver.

A família deposita na escola todas as suas expectativas e frustrações,

portanto a interação entre a escola e a família constitui um fator primordial para

favorecer o processo de aprendizagem dos alunos com TEA.

Cabe ressaltar que os autores citados utilizaram as expressões crianças

com “Autismo ou TGD” e atualmente a expressão utilizada no DSM-V é TEA

(transtorno do espectro autista).

3.2 Indicações Pedagógicas

Destacaremos brevemente algumas indicações pedagógicas utilizadas

no Atendimento Educacional Especializado que contribuem para o processo de

escolarização dos alunos com transtorno do espectro autista.

Para atender o aluno com TEA o professor precisa estar disposto a

mudar seus métodos de ensino-aprendizagem. É necessário que ele

reconheça a importância da inclusão, para romper e desconstruir o modelo

linear e tradicional da educação escolar. Para reformular as suas práticas

educacionais o profissional que atende alunos com TEA deve se apropriar das

indicações pedagógicas referentes às seguintes categorias: comunicação,

ambiente, comportamento e ensino.

3.2.1 Quanto à comunicação

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De acordo com RIVIERE (1995), a quantidade excessiva de palavras

pode levar a desconcentração. As crianças com autismo podem voltar sua

atenção a detalhes específicos do professor, como o movimento da boca,

desviando sua atenção da explicação do professor.

A utilização da explicação verbal, segundo o mesmo autor (1995)

até pode ser utilizada no processo de ensino do aluno autista, desde que o

ensino não se resuma apenas nela, e que não contenha muita informação,

tornando o processo de ensino-aprendizagem confuso ou ineficaz para o aluno

autista.

A criança com TEA responde mais consistentemente aos estímulos

visuais que aos estímulos auditivos, portanto as instruções verbais das tarefas

a serem realizadas são indicadas somente quando se assegurar que ela está

atenta. É importante destacar que estas instruções devem ser bastante claras e

simples, para garantir sua compreensão.

3.2.2 Quanto ao ambiente

É normal a crianças com TEA sentir-se desconfortável e intimidada em

um ambiente novo, o medo e a raiva podem ganhar proporções traumáticas,

portanto entende-se que um ambiente confortável, organizado sem muitos

estímulos visuais e que tenha um esquema de rotinas, tornando o espaço

previsível, é essencial para sua adaptação e desenvolvimento.

As mudanças devem ser introduzidas com cuidado. A cada começo e

fim das etapas é necessário enfatizar no quadro a sequencia da nova rotina,

para orientar os alunos.

3.2.3 Quanto ao comportamento

Os professores enfrentam a necessidade de diminuir ou eliminar as

alterações de condutas, como frequentes birras, autoagressões e outras no

decorrer das aulas.

Glat (1989) destaca que para eliminar os comportamentos inadequados

é preciso observar se existe algum “reforço” após o mau comportamento da

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criança e detectando-o deve ser removido imediatamente. A criança ao

perceber que o reforço não veio, provavelmente vai aumenta a intensidade do

seu mau comportamento para ver se consegue o que deseja. Cabe ao

educador ignorar o mau comportamento e em sequencia pode ser reforçado

um comportamento adequado.

Segundo Brown (1985) as crianças com autismo podem apresentar

quadros de hiperatividade, portanto é fundamental ajudar a criança a se

controlar. O ideal é diminuir a agitação com restrições e tentativas de controle.

O autor enfatiza que pode até ser uma tarefa difícil, mas que com paciência,

firmeza e consistência conseguem-se bons resultados.

3.2.4 Quanto ao ensino

Os objetivos para o ensino das crianças com TEA, devem se basear em:

a) um conhecimento preciso, e o mais profundo possível, da natureza do autismo e das características especificas da criança que está sendo educada, b) o ponto de referência oferecido pelo desenvolvimento normal, c) uma consideração realista das possibilidades de desenvolvimento funcional do aluno em diferentes áreas (cognição, comunicação e linguagem, desenvolvimento social, motricidade fina e grossa, autoajuda, etc.), que depende em grande parte de seu nível intelectual, possibilidades simbólicas e habilidades comunicativas e d) uma análise também realista dos contextos ambientes em que essas funções estão inseridas. Levando-se em consideração essas quatro dimensões, os objetivos relativos ao desenvolvimento social e comunicativo da criança autista têm sempre valor primordial. (RIVIERE, 1995, p. 289)

Myer (1976 apud LEBOYER, 1995) destaca que os autistas possuem

dificuldade em transferir as informações que são adquiridas visualmente ao

sistema motor. “A escrita para muitas crianças autistas é uma tarefa por demais

laboriosa”. (BROWN, 1985, p. 162), logo percebemos que alguns alunos com

autismo terão inicialmente um pouco de dificuldade de reprodução motora.

Wing (1985) relata que as crianças com um bom rendimento intelectual

têm condições para aprender a ler e a escrever, porém a leitura pode se dar de

maneira mecânica, pois elas podem ler e escrever mesmo sem saber o

significado das palavras.

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Leboyer (1995) destaca que os indivíduos com autismo possuem uma

boa capacidade de memória curta, podendo ser verificado nos comportamentos

repetitivos, e na facilidade com ritmos musicais. Torna-se evidente que a

memória auditiva tem um melhor desenvolvimento, pois crianças autistas que

não falam, são capazes de pronunciarem palavras através das letras de

músicas. Contudo, é importante destacar que segundo o autor, algumas

crianças também podem possuir reações alteradas a certos tipos de estímulos.

Os estímulos auditivos podem ser alvos de fixação, ignorados, ou pode haver

uma hipersensibilidade auditiva com reações exageradas depois de ouvir um

simples ruído.

O ideal para se promover a aprendizagem, de acordo com Brown (1985),

é que o professor oriente e conduza a aprendizagem sem que os alunos

autistas se deparem com erros repetitivos, pois estes podem produzir um

aumento do negativismo, das alterações de condutas e desmotivações, em

razão da frustração causado pelo erro. É importante que o professor passe

segurança, pois é fundamental que as tarefas propostas obtenham sucesso

para que as crianças com autismo desenvolvam confiança e com isso

consigam progredir. O autor sugere que as tarefas comecem pelas etapas mais

simples e após o domínio desta passar para a etapa seguinte. Por esse

método, tarefas complexas também conseguem ser aprendidas por crianças

autistas com um nível alto de comprometimento mental.

O professor deve compreender que o processo de aprendizagem não

deverá exigir resultados imediatos, pois o foco deve ser a aprendizagem do

sujeito e não os resultados. Destacamos a importância do desenvolvimento de

habilidades sociais e da autonomia para que este aluno se torne um adulto

capaz de realizar sozinho tarefas simples do seu dia a dia e seja mais

independente em diferentes espaços sociais.

3.3 Estratégias de intervenção

As crianças autistas podem aprender, mas parece que somente o fazem em condições especiais. Não aprendem, se não forem seguidas, de forma muito escrupulosa, regras específicas de ensino, identificadas através da investigação na

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área da aprendizagem. (SCHREIBMAN E KOEGEL, 1981, p. 506 apud RIVIERE, 1995, p.288).

A ideia da existência do continuum dos espectros autistas permite a

reflexão de que não existe um método ou técnica aplicada de forma única,

capaz de atender as todas as crianças com diferentes graus de

comprometimentos.

Primeiro como acontece com qualquer criança, não existem duas crianças autistas que sejam idênticas. O que dá certo no caso de uma pode não funcionar com outra. É verdade de que existem princípios específicos do aprendizado que se aplicam a todos os empreendimentos humanos. A meta é observar e encontrar o padrão especifico de reação que cada criança exibe, e tornar isso como o ponto de partida. (GRANDIN, 1999, p. 142)

Apresentaremos as técnicas de mudanças de comportamentos utilizadas

como alternativa para o ensino de alunos com TEA. Destacando sempre que o

“ponto de partida” deve ser a área de interesse do aluno, portanto é

fundamental estabelecer uma parceria com a família para descobrir o que

agrada e desagrada o educando.

Na década de 60 surgiram as primeiras pesquisas comportamentais

focando a criança com autismo.

No trabalho com os alunos autistas, Ferster (1961) discutiu a questão da aprendizagem do comportamento autista, tendo como fundamento os pressupostos operantes que entendem ser o comportamento humano controlado por suas consequências e, em razão de variáveis históricas e ambientais, o comportamento da criança com autismo não é funcional. (ORRÚ, 2007, p. 58)

A priori Ferster, iniciou sozinho as pesquisas e depois com DeMyer.

Segundo Orrú (2007) eles contribuíram para “explicitar, de forma concreta, a

aplicabilidade dos princípios de aprendizagem ao estudo de crianças com

distúrbio de desenvolvimento, de acordo com as adequações ambientais que

provocavam alterações no comportamento delas”. (p. 58)

As técnicas de modificação de comportamentos têm tido resultados interessantes no tratamento [...] particularmente

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naqueles casos mais comprometidos [...] técnicas comportamentais podem representar um valioso auxiliar na sala de aula, onde uma tarefa complexa pode ser quebrada em etapas lógicas facilitando o aprendizado do aluno; uma série de dicas verbais ou físicas poderão ser relacionadas aos estágios, e o aprendizado poderá ser reforçado por recompensas. (SCHWARTZMAN, 2003, p. 104)

Percebemos a complexidade de oferecer recompensas aos alunos com

TEA, pois saber exatamente o que interessa essas crianças para recompensá-

las é uma tarefa muito difícil em razão da dificuldade de comunicação e

interação com as pessoas e o ambiente. Wing (1985) relata que é preciso

dedicar-se a observação para descobrir qual o interesse da criança, pois algo

que não é de seu interesse, poderá ser em vão. Segundo o autor o objetivo

dessa técnica é emitir comportamentos que têm consequências positivas e

evitar comportamentos que têm consequências negativas, ou seja, visa mudar

o comportamento, em decorrência do ensino de novas habilidades.

É de suma importância recompensar ou corrigir o aluno com TEA

imediatamente, pois eles têm pouco domínio e compreensão do vocabulário,

logo conversar apenas não é muito eficiente. Eles precisam receber elogios

devido ao bom comportamento e precisam perceber que não ganham nada

com comportamentos inapropriados.

Wing (1985) destaca que nesses momentos ter paciência é fundamental,

para não ceder às birras e outros tipos de mau comportamento. Uma pessoa

sem paciência acaba cedendo às birras, como um meio de se livrar

rapidamente de choros e alterações de comportamentos. Isso pode até

funcionar na hora, porém, servirá mais tarde como um meio de reforçar o mau

comportamento, pois a recompensa foi dada no momento errado. O objetivo é

colocar o comportamento “sob controle e reduzir sua frequência permanente,

não simplesmente conseguir uma cessação temporária”. (GLAT, 1989, p.146).

Em casos de comportamentos inapropriados é fundamental tentar acalmar a

criança, oferecendo objetos para desviar sua atenção ou simplesmente afastá-

la da situação de conflito para poder resolver o problema.

3.3.1 Método TEACCH

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O método TEACCH (Treatmente and Education of Autistic and Related

Communication Handicapped Children) - Tratamento e Educação para Autistas

e Crianças com Déficits Relacionadas à Comunicação foi criado em 1966, a

partir de um projeto de pesquisa, do Dr. Eric Schopler da Universidade da

Carolina do Norte, que buscou observar profundamente os comportamentos

das crianças autistas em diversas situações frente a diferentes estímulos.

Orrú (2007) destaca que o método TEACCH é uma das poucas

abordagens educativas pertinentes ao autismo. Seus princípios são baseados

na teoria comportamental, portanto visa indicar, especificar e definir de maneira

operacional os comportamentos que devem ser trabalhados. Ele é considerado

um programa educacional e clínico com uma prática psicopedagógica que

observa os comportamentos de crianças autistas em distintas situações de

acordo com vários estímulos. O professor ou terapeuta atua como mediador

manipulando o ambiente e visando o desaparecimento ou à redução de

comportamentos inadequados a partir do reforço positivo.

O método TEACCH utiliza estímulos visuais e audiocinestesicovisuais para produzir comunicação. As atividades são programadas individualmente e mediadas por um profissional. (...) A metodologia de ensino se dá a partir da condução das mãos do aluno que faz uso dos símbolos, em um contínuo direcionamento de sua ação até que se encontre em condições (ou se mostre capaz) de realizar a atividade proposta sozinho, porém, com uso do recurso visual. (ORRÚ, 2007, p. 61)

Observamos que o método TEACCH procura focar a comunicação,

através da utilização de estímulos visuais (fotos, gravuras, cartões, etc.),

estímulos corporais (apontar, gestos, movimentos corporais, etc.) e estímulos

audiocinestésicovisuais (som, palavra, movimentos associados às fotos, etc.)

para buscar a linguagem oral ou uma comunicação alternativa.

O método procura, principalmente, enfocar a comunicação receptiva do aluno, crendo que a ela se antepõe a linguagem expressiva. As atividades realizadas são conduzidas pela linguagem dos símbolos apresentados. Os princípios do TEACCH também enfocam que é muito difícil e mesmo improvável que um autista construa a generalização do que aprendeu e a realização de analogias, por isso estrutura

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totalmente o ambiente com os símbolos e direciona suas atividades. (FARAH, L.S.D.; GOLDENBERG, M., 2001: 22 apud ORRÚ, 2007, p. 61).

Ressaltamos a importância da utilização de métodos como o TEACCH

durante o AEE, pois alunos com TEA respondem mais consistentemente aos

estímulos visuais que aos estímulos auditivos.

Orrú (2007) relata que o método TEACCH proporciona condições para

avaliar o aluno por tarefas que o classifiquem de acordo com o seu nível de

desenvolvimento cognitivo e interacional, pois acredita que o desenvolvimento

de comportamentos adequados gera autonomia. O TEACCH desenvolveu a

CARS – Childhood Autism Rating Scale uma escala destinada à avaliação e

diagnóstico do autismo que tem por objetivo identificar o nível de manifestação

da síndrome autista em crianças em idade pré-escolar, o PEP –

Psychoeducational Profile, um instrumento avaliativo para crianças entre os

seis meses e os sete anos de idade, baseado na observação cuidadosa de oito

áreas do desenvolvimento, e o APEP – Adolescent and Adult Psycoeducational

Profile, destinado ao atendimento de adolescentes.

O AEE é um ambiente propício ao desenvolvimento de crianças e

adolescentes com TEA, pois é um espaço favorável à criação de sistemas de

trabalho programados individualmente e ensinados um a um pelo professor. O

desenvolvimento de atividades de vida diária no AEE contribui para a aquisição

da autonomia dos alunos.

3.3.2 Método ABA

ABA (Applied Behavior Analysis) - Análise Aplicada do Comportamento,

é um método que observa, analisa e explica a associação entre o ambiente, o

comportamento e a aprendizagem. Através de investigações científicas são

procuradas regras que controlam o comportamento, no sentido de prever,

manipular, mudar e prevenir determinados comportamentos. O ensino é

realizado de um modo sistemático, consistente e gradual.

Segundo Rodrigues e Spencer (2010) a finalidade do método é a

identificação de habilidades já assimiladas pelo indivíduo e o treinamento das

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habilidades que o indivíduo ainda não domina. O trabalho de estimulação do

aprendizado de novas habilidades é conduzido com o auxílio de indicações ou

instruções, caso necessário o terapeuta intervém, auxiliando o indivíduo até

que ele execute a tarefa com autonomia. O método ABA recebe algumas

críticas por está focado na concepção mecanicista da aprendizagem e não no

desenvolvimento das potencialidades do indivíduo. Outro ponto que é

questionado refere-se ao seu elevado custo de treinamento e implantação.

3.3.3 Comunicação Suplementar e/ou Alternativa

Orrú (2007) relata que embora a comunicação verbal seja a principal

forma de comunicação entre os seres humanos, nem todos conseguem utilizá-

la. Devido à necessidade de se desenvolver a comunicação em indivíduos que

não utilizam a comunicação verbal, foram desenvolvidos sistemas de

comunicação não verbal.

Tais sistemas de comunicação são os que proporcionam expressão por meio de símbolos distintos da fala funcional, de quem se comunica, sendo classificados em sistemas de comunicação sem ajuda e sistemas de comunicação com ajuda. (BASIL, 1988, apud ORRÚ, 2007, p. 65).

Segundo Orrú (2007) os sistemas de comunicação “sem ajuda” não

utilizam nenhum instrumento ou auxílio técnico externo, pois são utilizados

gestos de uso comum e códigos gestuais não linguísticos. Os sistemas de

comunicação “com ajuda” utilizam elementos de representação, desde os

iconográficos até os mais complexos e abstratos. São utilizados sistemas com

elementos muito representativos e sistemas constituídos por desenhos

lineares.

A Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA) é um sistema de

comunicação “com ajuda”.

O termo Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA) é utilizado para definir outras formas de comunicação como o uso de gestos, da língua de sinais, das expressões faciais, o uso de pranchas de alfabeto ou símbolos pictográficos e até o uso de sistemas

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sofisticados de computador com voz sintetizada (ORRÚ, 2007, p. 67).

Segundo Chum (1991 apud ORRÚ, 2007, p. 66) no Brasil “[...] os

primeiros trabalhos sobre o assunto se encontram desconhecidos por terem

sido registrados de maneira informal”. No início da década de 70 a equipe do

Ontário Crippled Children’s Centre, em Toronto, Canadá desenvolveu um

estudo visando descobrir um meio alternativo de comunicação para indivíduos

com distúrbios neuromotores, que não apresentavam fala funcional.

Orrú (2007) relata que a equipe canadense descobriu no Signs and

Symbols around the World, de Elizabeth Helfman, um sistema simbólico de

abrangência internacional criado por Charles K. Bliss. O Blissymbolics –

Sistema Bliss de comunicação, que após algumas adaptações efetuadas pela

equipe canadense juntamente com seu autor, foi inicialmente aplicado a

crianças com paralisia cerebral, sendo posteriormente utilizado em crianças

com outras patologias.

“O objetivo da CSA é favorecer a capacidade das pessoas no

estabelecimento e na manutenção da interação social e a possibilidade da

comunicação”. (ORRÚ, 2007, p. 68) A CSA é um recurso de suma importância

no processo de escolarização dos alunos com TEA, pois é constituída por

símbolos que possibilitam representações visuais, auditivas ou táteis.

Atualmente existem diversos sistemas simbólicos, englobados na

Comunicação Suplementar e/ou Alternativa, que estão sendo incorporados a

recursos de informática para facilitar o armazenamento dos símbolos.

Dentre os principais sistemas simbólicos de CSA, Orrú (2007) destaca:

ü Core Picture Vocabulary, criado por Don Jonston em 1985. É um código

pictográfico, constituindo-se por um vocabulário de 109 significados.

Cuja versão é padronizada e autoadesiva.

ü Picture Communication Symbols, desenvolvido por Roxana Mayer em

1980. É um código pictográfico, formado por cerca de 3.000 símbolos e

está disponível em programas de computador, no formato de selos e

adesivos.

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ü Pictogram Ideogram Communication, criado por George Goudation é

um código que, em parte é pictográfico e, em parte, é ideográfico. Ele é

constituído por 416 elementos.

ü PICSYMS, criado por F. Carlson é um sistema gráfico utilizado na idade

infantil e formado por aproximadamente 850 símbolos.

ü Símbolos Bliss, criado por Charles K. Bliss na década de 1970. São

sinais gráficos fundamentados no significado e não na fonética.

ü PECS - Picture Exchange Communication System, desenvolvido por

Andrew Bondy e Lori Frost. O sistema de intercâmbio de imagens PECS

foi desenvolvido pelas dificuldades ao longo dos anos, com outros

programas de comunicação.

ü Rebus, criado em 1968 e adaptado e expandido para indivíduos com

problemas de comunicação. É composto por 800 símbolos em preto e

branco que, combinados, podem representar mais de 2.000 palavras.

Os sistemas de símbolos facilitam a comunicação dos alunos com TEA,

portanto devem ser utilizados no AEE e na classe regular. “A CSA é um

instrumento a ser utilizado como ferramenta de apoio no desenvolvimento da

linguagem e no suporte pedagógico para o trabalho com pessoas que possuem

dificuldade de comunicação [...]”. (ORRÚ, 2007, p. 70)

No AEE de alunos com TEA utilizamos com mais frequência o PECS -

Picture Exchange Communication System ou Sistema de Comunicação por

Troca de Figuras.

Rodrigues e Spencer (2010) destacam que a finalidade do método é

estimular o desenvolvimento e a aquisição de habilidades de comunicação,

quer expressiva (saber expressar o que deseja ou o que necessita), ou

receptiva (que lhe permite a assimilação de informações recebidas de seu

ambiente).

Percebemos que o PECS dá à criança a possibilidade de expressar

suas necessidades e desejos de uma maneira muito fácil de entender, portanto

sua utilização no ambiente escolar é de suma importância para auxiliar o

processo de escolarização dos alunos com transtorno do espectro autista.

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CONCLUSÃO

As análises dos documentos legais e pesquisas bibliográficas realizadas

durante esta pesquisa foram fundamentais para avaliarmos as contribuições do

atendimento educacional especializado para o processo de escolarização de

alunos com transtorno do espectro autista.

Ao analisarmos o histórico da educação especial no Brasil percebemos

que a educação inclusiva representa uma grande conquista para o processo de

escolarização dos alunos com TEA.

A inclusão de alunos com TEA nas classes regulares deve ser um

projeto de toda comunidade escolar, pois depende de um conjunto de fatores e

deve estar presente no Projeto Político Pedagógico da escola. Notamos que o

professor de Atendimento Educacional Especializado tem um papel

fundamental neste processo.

Percebemos que o professor de AEE tem a possibilidade de garantir a

permanência e o desenvolvimento da aprendizagem do aluno com TEA na

unidade escolar, todavia precisamos ressaltar que o aluno não é apenas do

professor de AEE e sim da unidade escolar.

Devido o seu conhecimento teórico sobre as implicações e

possibilidades de aprendizagem de alunos com TEA, o professor de AEE tem o

dever de orientar os professores de sala regular e demais profissionais da

unidade para garantir mudanças na prática educativa.

Para que isto ocorra os profissionais devem reformular suas práticas

educacionais e se apropriarem das indicações pedagógicas e estratégias de

intervenção para o ensino de alunos com TEA, portanto cabe ao professor de

sala regular se apropriar desses conhecimentos e iniciar verdadeiramente a

inclusão em sua sala de aula.

Cabe ressaltar que as pessoas com TEA apresentam muitas das

mesmas características, todavia variam no nível de gravidade, portanto o

planejamento de intervenção não pode ser considerado eficiente e único para

todas as crianças, sendo fundamental a adaptação dos métodos e estratégias

de ensino conforme as necessidades individuais.

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Ao propor atividades para as crianças com TEA é importante respeitar

sua capacidade e individualidade, pois se lhes forem exigidas atividades além

de suas capacidades, elas poderão apresentar desmotivação e

comportamentos alterados, em razão da dificuldade para lidar com o fracasso.

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