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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE TUTELA ANTECIPADA: CRITÉRIOS PARA SUA CONCESSÃO Elisa de Figueiredo Leite Orientador Prof. Jean Alves Pereira Almeida Rio de Janeiro 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · a Antecipação da Tutela, trazida pela Lei n° 9.494/97, representa um grande avanço no aspecto ideológico do Processo

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

TUTELA ANTECIPADA: CRITÉRIOS PARA SUA CONCESSÃO

Elisa de Figueiredo Leite

Orientador

Prof. Jean Alves Pereira Almeida

Rio de Janeiro

2009

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

TUTELA ANTECIPADA: CRITÉRIOS PARA SUA CONCESSÃO

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Pós Graduação em Direito

Processual Civil.

Por: Elisa de Figueiredo Leite

3

AGRADECIMENTOS

Ao meu marido Eduardo, pela ajuda e

carinho dispensados na realização

deste trabalho.

4

DEDICATÓRIA

Aos meus pais queridos que tanto me

ensinaram e aos meus filhos, Rafael e

Luiza, amores da minha vida.

5

RESUMO

O presente estudo tem por escopo analisar o instituto da tutela

antecipada introduzida pelo legislador em nosso ordenamento jurídico como

instrumento hábil para responder de forma imediata os anseios dos

jurisdicionados.

Partindo da análise das principais questões do instituto, demonstra que

a Antecipação da Tutela, trazida pela Lei n° 9.494/97, representa um grande

avanço no aspecto ideológico do Processo Civil Brasileiro.

Primeiramente, faremos um breve estudo sobre a tutela cautelar e a

tutela antecipada, ambas apontadas como espécies do mesmo gênero,

identificando suas características comuns e concluindo que, apesar de

guardarem entre si semelhanças, cada espécie possui peculiaridades que

devem ser observadas no momento de se estabelecer qual o mecanismo

mais apropriado para o caso concreto.

No segundo momento, veremos, de forma abrangente, suas

generalidades: pressupostos, legitimidade, momentos para a sua concessão.

Por fim, com mais ênfase, demonstraremos a importância da atividade

do juiz na análise dos requisitos para a concessão da medida antecipatória,

diante de expressões de conteúdos indeterminados, presentes no art. 273 do

CPC, como a “prova inequívoca”, “verossimilhança”, “fundado receio de

dano”, etc.. , concluindo como a possibilidade da revogação da medida

antecipatória.

6

METODOLOGIA

A metodologia empregada no desenvolvimento deste trabalho foi

essencialmente a dogmática, baseada em uma extensa pesquisa bibliográfica,

incluindo-se livros, revistas, e artigos jurídicos, bem como às decisões e

jurisprudências emanadas dos Tribunais.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................

. 8

CAPÍTULO I – DAS TUTELAS DE URGÊNCIA 1.1 – Origem Histórica....................................................................... 11 1.2 – Espécies................................................................................... 13

1.3 – Fungibilidade das Tutelas de Urgência.................................... 15

CAPÍTULO II – DA TUTELA ANTECIPATÓRIA:GENERALIDADES 2.1 – Natureza Jurídica...................................................................... 20 2.2 – Pressupostos............................................................................ 21

2.2.1- pressupostos positivos necessários................................ 21 2.2.2 – pressupostos positivos alternativos............................... 23

2.2.3 – pressuposto negativo.................................................... 26 2.3 – legitimidade para requerer a tutela antecipada........................ 27 2.4 - concessão de ofício................................................................... 29 2.5 - momentos de concessão da tutela antecipada.......................... 30

CAPÍTULO III – CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPATÓRIA: CRITÉRIOS E MOTIVAÇÃO DA DECISÃO DE ANTECIPAÇÃO

3.1 – Princípio da motivação na decisão antecipatória...................... 33 3.2 – Relação entre prova e convencimento...................................... 36 3.3 – Verificação da verossimilhança................................................ 44 3.4 – Antecipação determinada pelo perigo de dano e pelo abuso do direito de defesa...........................................................................

45

CAPÍTULO IV – REVOGAÇÃO DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA................... 48

CONCLUSÃO........................................................................................................ 51

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 54

ÍNDICE.................................................................................................................... 56

FOLHA DE AVALIAÇÃO................................................................................

57

8

INTRODUÇÃO

Por muito tempo, o processo civil brasileiro foi alvo de críticas, devido a

sua morosidade e falta de agilidade, as decisões sempre demoravam a chegar

a um resultado definitivo. Esse cenário fez com que diversas vezes a justiça

não tenha sido realizada, principalmente quando se tratava de demandas

envolvendo os mais necessitados, lesando, portanto o princípio da igualdade.

Com a reforma processual de 1994, o processo civil ganhou novo

ânimo, pois com as excepcionais mudanças introduzidas pelos ilustres

Professores Athos Gusmão Carneiro e Sálvio de Figueiredo Teixeira, diversos

pontos problemáticos foram solucionados. De todas as inovações a que maior

impacto produziu foi, inquestionavelmente, a antecipação da tutela, também

denominada antecipação dos efeitos da tutela ou tutela antecipatória.

Contudo, tal reforma, apesar de essencial, não foi suficiente, afinal são

muitos os problemas. Com isso a EC/45 positivou em nossa Constituição

Federal o princípio da celeridade e da efetividade da tutela jurisdicional.

A tutela antecipada é um instrumento que atenta para a realidade

processual, qual seja a demora da atividade jurisdicional. Contudo, um

processo rápido nem sempre é justo, a velocidade não é sinônimo de justiça.

Entretanto, a morosidade, de fato, não traz uma decisão justa em qualquer

hipótese, o dizer “a justiça tarda mais não falha” é falacioso, pois uma decisão

que se alonga por mais de 20 anos, é falha, visto que não atendeu ao

comando constitucional.

9

A antecipação da tutela distribui ao longo da demanda o ônus

temporal, que, na realidade atual, está a favor do réu. No início de sua

positivação os magistrados faziam seu uso de forma tímida, tendo cuidado de

não prejudicar a parte ré. Todavia, o que se deve ter em mente, é que muitas

vezes o autor não pode esperar o final normal do processo. Nem sempre o

direito lesado ou ameaçado pode aguardar o lapso temporal necessário para

se formar a chamada cognição exauriente, pois senão, aí sim ele terá um

grande prejuízo.

Atualmente, o instituto é mais utilizado pelos juízes, visto que já está

incorporado em nosso ordenamento há mais de dez anos. A visão de que

apenas a ação (de conceder a antecipação de tutela) pode causar danos, foi

modificada pela noção de que a omissão também pode prejudicar as partes,

como ilustra o Professor Marinoni “o juiz que se omite é tão nocivo quanto o

juiz que julga mal”. Os magistrados devem compreender que inexiste

efetividade sem riscos.

Para isso, deverá o magistrado proceder nesta fase processual a uma

ponderação de bens, utilizando-se inclusive do princípio da proporcionalidade,

pois quanto maior for o valor jurídico do bem a ser sacrificado, tanto maior será

a probabilidade da existência do direito que justificará o seu sacrifício. Isto é,

deve o magistrado, com equilíbrio e cautela, dado ao caráter excepcional da

medida, proceder à avaliação dos interesses do autor e réu e dar prioridade

àquele que se revelar mais provável.

Junto a isso, guarda também relevância o princípio da motivação das

decisões judiciais, visto que a decisão da tutela antecipada pode ser concedida

bastando um a cognição sumária da prova apresentada pelo autor, afastando a

necessidade de uma cognição exauriente.

10Diante do exposto, verifica-se, portanto, que a prestação jurisdicional

deve ser eficaz, célere, adequada e, sobretudo, segura. O Estado não pode

deixar o direito perecer, mas também não pode suprimir etapas procedimentais

que lhe permitam apurar a verdade fática.

Por essa razão, faremos agora um estudo sobre os critérios adotados

para uma decisão antecipatória, fundada em cognição sumária, suas

conseqüências práticas e as principais controvérsias envolvendo esta decisão.

11

CAPÍTULO I

DAS TUTELAS DE URGÊNCIA

1.1 – Origem Histórica

O Estado, visando à harmonia social e o bem comum, tomou para si o

compromisso da administração da justiça, de forma que a autotutela foi

restringida em nosso ordenamento jurídico. A contrapartida desta vedação é a

realização do direito pelo Estado, que passou a ser obrigado a prestar uma

tutela adequada e eficaz, capaz de atender e realizar verdadeiramente os

interesses daqueles que o procuravam.

Nesse cenário, surge o princípio da celeridade processual, buscando

imprimir maior efetividade na prestação jurisdicional. Porém, muitas vezes, a

celeridade não responde a urgência da situação enfrentada por aquele que

busca a prestação jurisdicional do Estado. É neste momento, então, que

surgem as tutelas de urgência.

Desde a reforma de 1994, na busca de uma resposta concreta e

imediata aos anseios dos jurisdicionados, foi dada maior relevância às tutelas

de urgência. Contudo, tais tutelas não são novidades em nosso ordenamento

jurídico. Sempre existiu em nosso diploma processual, como ainda existe, a

chamada tutela cautelar, com a possibilidade de concessão de medidas

cautelares atípicas (art. 798, CPC), além de outras medidas específicas de

efeitos antecipatórios, previstas, excepcionalmente, para a satisfação imediata

de alguns direitos tutelados por procedimentos especiais – como nas ações

possessórias, mandado de segurança e ação de alimentos.

12No entanto, mesmo com a existência da tutela cautelar, não era ela

capaz de resolver uma série de situações que clamavam por rapidez, uma vez

que a medida cautelar está limitada a um escopo peculiar, que é o de garantir

a eficácia de outro processo. Diante desse angustiante problema, a tutela

cautelar passou a ser utilizada indiscriminadamente, criando-se na doutrina e

jurisprudência o que chamavam de “cautelares satisfativas”.

Se de um lado as cautelares satisfativas foram encaradas como um

desvirtuamento, de outro foi imprescindível para a criação de uma tutela

jurisdicional diferenciada, que permitisse àqueles que têm seus direitos

ameaçados ou lesados, pleitear e obter respostas mais efetivas às suas

necessidades. É a partir de então que surge a antecipação da tutela, como

instrumento hábil para dar respostas a determinadas situações não resolvidas

pelas cautelares.

Com a consagração da tutela antecipada, a partir da reforma

processual de 1994, o legislador possibilitou ao juiz, atendidos certos

requisitos, antecipar, no âmbito do processo de conhecimento, os efeitos da

tutela definitiva de mérito. Essa mudança teve relevantes conseqüências não

só para o processo cautelar, como também para o processo de conhecimento.

Tudo aquilo que somente era possível em determinados procedimentos, como

no mandado de segurança, possessória, ação de alimentos e outros, agora se

admite em qualquer hipótese, desde que preenchidos os requisitos do art. 273.

Hoje, como afirma Teori Zavascki “já não se pode mais questionar da

legitimidade das medidas provisórias satisfativas, providência cabível, agora,

em qualquer ação de conhecimento. No entanto, sua concessão está sujeita a

regime próprio, inconfundível e, em alguns aspectos, mais rigoroso que o das

medidas cautelares...” (Zavascki, Teori Albino, Antecipação da Tutela, 1997,

pág. 44/45).

13

Nesse contexto, o processo cautelar reassume o seu papel, deixando

de ser, nas palavras do professor Carreira Alvim, “repositório de pretensões

materiais que, por esgotarem o seu objeto, sempre foram vistas com

desconfiança pelos Tribunais” (Carreira Alvim, J.E., Tutela Antecipada, 5ª

Edição, 2008, pág. 28) e todas as demais medidas assecurativas, que

constituam satisfação antecipada dos efeitos de mérito, não mais serão

postuladas em ação cautelar, mas sim na própria ação de conhecimento,

sujeitas à regime próprio.

1.2 – Espécies

Tanto a medida cautelar como a antecipação da tutela são espécies

do gênero tutela de urgência. Apesar de guardarem entre si características

comuns, possuem peculiaridades que, não obstante a fungibilidade prevista no

§ 7° do artigo 273, CPC, devem ser observadas no momento de se estabelecer

qual o mecanismo mais apropriado para o caso concreto.

A primeira distinção dessas espécies reside no fato de que as

cautelares continuam sujeitas às ações autônomas, disciplinadas no Livro III -

Do Processo Cautelar, artigo 796 e seguintes do CPC, com pressupostos e

requisitos próprios, diferentemente da antecipação da tutela, prevista no artigo

273, CPC, requerida na própria ação destinada a obter a tutela definitiva.

A segunda distinção reside no fato de que enquanto a tutela cautelar

visa assegurar o resultado útil do processo, a tutela antecipada visa o

adiantamento dos efeitos do mérito.

14

A tutela antecipatória, porém, é satisfativa do direito material,

permitindo a sua realização, e não a sua segurança. “Na cautelar há medida

de segurança para certificação ou segurança para futura execução do direito;

na antecipatória há adiantamento, total ou parcial, da própria fruição do direito,

ou seja, em sentido lato, execução antecipada, como um meio para evitar que

o direito pereça ou sofra dano (execução para segurança)” (Zavascki, Teori

Albino, Antecipação da Tutela, 1997, pág. 57).

A antecipação da tutela satisfaz, total ou parcialmente, o direito

afirmado pelo autor, tendo um reflexo direto no plano da eficácia social. Na

antecipação da tutela existe relação direta entre a decisão sumária cognitiva

(antecipação da tutela) e a decisão cognitiva exauriente (sentença final). No

procedimento cautelar inexiste tal relação, por ser autônomo em relação ao

procedimento de tutela definitiva.

Outro aspecto importante diz respeito ao tempo de duração dos efeitos

das tutelas de urgência. Na tutela cautelar esta duração está limitada ao

tempo, não sendo sucedida por outra da mesma natureza, tendo a sua eficácia

desfeita ao término de sua vigência. Já na antecipação da tutela, o mesmo não

ocorre, pois seus efeitos poderão ser perpetrados no tempo, sucedidos pela

decisão final, sendo capaz de alcançar a autoridade da coisa julgada.

Tais distinções, no entanto, perderam sua utilidade prática quando do

advento da Lei n° 10.444/2002, que acrescentou o § 7° ao artigo 273, tornando

possível a fungibilidade entre as medidas cautelares e a antecipação da tutela.

15

1.3 – Fungibilidade das Tutelas de Urgência

Considerando que as tutelas cautelar e antecipada, apesar de terem

características peculiares, são, em verdade, muito próximas em razão do fim a

que se destinam, importante destacar o instituto da fungibilidade, previsto no §

7°, do artigo 273 do CPC:

Art. 273, § 7° : Se o autor, a título de antecipação de tutela requerer

providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os

respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do

processo ajuizado.

Segundo este artigo, se formulado um pedido sob denominação de

tutela antecipada e o juiz verificar que a hipótese é de providência cautelar, ele

está autorizado a afastar o que foi chamado de antecipação da tutela e deferir

a medida cautelar, desde que presentes os respectivos requisitos. Assim,

esse parágrafo consagrou o chamado Princípio da Fungibilidade entre as

tutelas de urgência.

Hoje, sem mais qualquer objeção doutrinária, é possível a concessão

de provimentos cautelares no bojo do processo de conhecimento.

Para o Prof. Alexandre Câmara, a fungibilidade prevista no § 7° do art.

273, mesmo que não requerida pela parte, vincula o juiz:

“tal regra proíbe ao juiz indeferir uma medida cautelar sob

o fundamento de que ela deveria ter sido requerida em

processo autônomo e não incidentalmente ao processo

em que se busca a tutela satisfativa, bem como proíbe ao

juiz o indeferimento de tutela sumária satisfativa sob o

fundamento

16de que esta não deve ser postulada em demanda

autônoma, mas incidentemente ao processo de

conhecimento.” (Câmara, Alexandre Freitas, Lições de

Direito Processual Civil, Vol. I, 16ª Edição, pág. 480/481)

É certo, porém, que se deve reconhecer a diferença entre a tutela

antecipada e a tutela cautelar, no entanto, essas diferenças não podem

representar um óbice à prestação jurisdicional.

Entendem alguns doutrinadores que, além dos requisitos gerais para a

concessão das tutelas de urgência – fumus boni iuris e periculum in mora – um

outro deve ser preenchido para que a regra da fungibilidade seja aplicada.

Para que a cautelar seja concedida mediante requerimento de tutela

antecipada, é necessário que haja dúvida fundada e razoável quanto à sua

natureza, ou seja, só é permitida a aplicação do dispositivo em hipóteses

excepcionais, quando não caracterizado o erro grosseiro.

Nesse sentido, o professor Luiz Guilherme Marinoni afirma:

“(...) aceitando-se a possibilidade de requerimento de

tutela cautelar no processo de conhecimento, é correto

admitir a concessão de tutela de natureza antecipatória

ainda que ela tenha sido postulada como nome de

cautelar. Neste caso, não existindo erro grosseiro do

requerente, ou, em outras palavras, havendo dúvida

fundada e razoável quanto à natureza da tutela, aplica-se

a idéia de fungibilidade, uma vez que o seu objetivo é o

de evitar maiores dúvidas quanto ao cabimento da tutela

urgente (evidentemente de natureza nebulosa) no

processo de conhecimento.” (Marinoni, Luiz Guilherme,

Antecipação da Tutela, 10ª Edição, pág. 131)

17Outra questão discutida na doutrina diz respeito à reciprocidade da

aplicação da fungibilidade. Considerando que, pelo disposto no § 7°, art. 273,

CPC, é possível a concessão de medida cautelar mediante requerimento de

antecipação de tutela, surge a problemática quanto à possibilidade de o

contrário ser também permitido.

Para Cândido Rangel Dinamarco, é possível e, até mesmo, necessário,

na medida em que o processo, como instrumento, deve alcançar o princípio da

efetividade das tutelas. No mesmo sentido entende Luiz Guilherme Marinoni,

mas com algumas ressalvas.

Porém, existem alguns doutrinadores que não aceitam a reciprocidade

da fungibilidade, pois consideram que a existência da norma processual tal

qual como prevista em nosso ordenamento jurídico não autoriza a fungibilidade

ampla das tutelas de urgência e, portanto, deve ser apreciada sob um enfoque

restritivo.

Ainda, Fredie Didier Júnior, em comentários a regra introduzida pela lei

n° 10.444/02, indica que a situação trata de fungibilidade entre tutelas e não

entre procedimentos e que, em princípio, entende não ser possível a sua

aplicação em caráter dúplice, mas visualiza uma alternativa para a solução de

todos os casos em que há dúvida na bisca da tutela.

“(...) É razoável defender a fungibilidade progressiva dos

provimentos de urgência, desde que acompanhada de

uma mudança (conversão) do procedimento.

Vislumbramos solução intermediária, sugerida

principalmente para os magistrados, como homenagem

ao princípio da instrumentalidade. Se a parte requerer

medida antecipatória/satisfativa via processo cautelar, e o

magistrado entender que os requisitos da tutela

antecipada

18estão preenchidos, deve ele conceder a medida, desde

que determine a conversão do procedimento para o rito

comum (ordinário ou sumário, conforme seja), intimando

o autos para que proceda, se assim o desejar ou for

necessário, às devidas adaptações em sua petição inicial,

antes da citação do réu.” (Didier Jr., Fredie, Curso de

Direito Processual Civil, Vol. 2, 2007, pág. 527)

Com efeito, o processo hoje só pode ser pensado como um

acompanhante dissociável do direito, cuja realização busca assegurar. É essa,

então, a maior justificativa para a aplicação do princípio da fungibilidade na

esfera das tutelas de urgência.

19

CAPÍTULO II

DA TUTELA ANTECIPATÓRIA: GENERALIDADES

Após uma breve análise das tutelas de urgência, da qual a tutela

antecipada é espécie, passemos a uma exposição do instituto da antecipação

da tutela, mostrando sua natureza jurídica, pressupostos, legitimidade e

momento de deferimento ou indeferimento da tutela antecipada.

O instituto da antecipação de tutela surge em nosso ordenamento

jurídico com a reforma do Código de Processo Civil de 1994, sendo uma

grande revolução, não obstante, como já mencionado no capítulo anterior, já

existirem alguns institutos similares, como as liminares possessórias, os

alimentos provisionais, as liminares de mandado de segurança, etc.

O artigo 273 do Código de Processo Civil, identificando o instituto da

tutela antecipada, permitiu, em seus incisos I e II, a concessão da antecipação

da tutela no curso do processo de conhecimento em caso de fundado receio

de dano irreparável ou de difícil reparação e quando houver abuso do direito

de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu.

Desta forma, presentes certos requisitos, pode o juiz, nos termos do

art. 273 e seus parágrafos, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela

pretendida.

20

2.1 – Natureza Jurídica

A doutrina muito diverge quanto à natureza jurídica da tutela

antecipada. Alguns consideram-na medida cautelar, outros defendem sua

natureza própria (sui generis).

Para aqueles que consideram ter a tutela antecipada natureza cautelar,

dois seriam os motivos que as assemelham: ambas existem com a mesma

finalidade e ambas possuem características comuns, como a cognição

sumária, a precariedade da decisão e a referência a outra tutela. Nessa linha

de raciocínio, José Roberto dos Santos Bedaque afirma que:

“as tutelas provisórias devem ser reunidas e receber o

mesmo tratamento. Inexiste razão para a distinção entre a

tutela cautelar conservativa e a antecipação dos efeitos a

tutela de mérito. Ambas são provisórias e instrumentais,

pois voltadas para assegurar o resultado final. São

técnicas processuais com idêntica finalidade e estrutura.

Não há porque distingui-las.” (Bedaque, José Roberto dos

Santos, Tutela Cautelar e Tutela Antecipada: Tutelas

Sumárias e de Urgência, 2ª Edição, 2001, pág. 301)

Em contrapartida, parte da doutrina afirma que a antecipação jamais

poderá ser tratada como medida cautelar, nem ser concedida com os

respectivos pressupostos. Para estes, o fato de a cognição ser sumária para

as duas tutelas, não permite confundi-las, pois toda tutela urgente é fundada

em cognição sumária. Quanto à possibilidade de revogação da medida

antecipatória (provisoriedade), também não permite confundir as duas

medidas. Ademais, a afirmação de que ambas se referem à outra tutela,

enquanto que na tutela cautelar, existe um processo, devendo posteriormente

existir outro a ser considerado principal, na antecipação da tutela, tem-se um

só processo e esta representa sua decisão final.

21Enquanto a tutela cautelar apresenta-se como instrumento garantidor

da decisão final, a tutela antecipada é o próprio adiantamento dos efeitos da

decisão de mérito.

Em reforço, o nosso Código de Processo Civil não equipara as

medidas, não apenas por ter incluído a tutela antecipada no capítulo do

processo de conhecimento, mas também, por ter estabelecido critérios

diversos para a concessão de uma e outra.

Não há dúvida, porém, sobre a natureza da decisão que concede ou

denega a antecipação dos efeitos da tutela. Esta tem natureza interlocutória,

cabendo à parte agravar desta decisão.

2.2 - Pressupostos

Há, segundo a doutrina, duas espécies de pressupostos da tutela

antecipada: positivos e negativos. Os positivos se subdividem em necessários

ou obrigatórios e alternativos ou concorrentes.

2.2.1 – Pressupostos positivos necessários ou obrigatórios

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou

parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,

existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação.

São pressupostos necessários para a concessão da tutela antecipada:

a existência de prova inequívoca e a verossimilhança das alegações do autor.

22O primeiro pressuposto necessário, a prova inequívoca, não deve ser

entendido como aquela que conduza a verdade plena, absoluta, mas aquela

que apresente como suficiente ao convencimento do magistrado. Para Fredie

Didier, prova inequívoca “não é aquela prova irrefutável, senão conduziria a

uma tutela satisfativa definitiva (fundada em cognição exauriente) e, não,

provisória. A exigência não pode ser tomada no sentido de “prova segura”,

“inarredável”, capaz de induzir a certeza sobre os fatos alegados, sob pena de

esvaziar completamente o conteúdo das tutelas antecipadas, que só poderiam

ser deferidas, desse modo, após toda a instrução processual, após uma

cognição profunda.” (Didier Jr., Fredie, Curso de Direito Processual Civil, Vol.

2, 2007, pág. 539)

Qualquer meio de prova é válido para ser a prova inequívoca da tutela

antecipada, desde que respeitado o princípio da prova lícita, positivado no art.

5º, LVI da Constituição Federal, bastando que ela possa conferir ao magistrado

uma segurança para conceder o requerimento antecipatório.

Importante salientar que a concessão da tutela antecipada não se dá

apenas na fase postulatória do processo, ocorre também na probatória,

decisória e recursal, como veremos nos capítulos adiante. Exatamente por isso

não podemos restringir a idéia de prova inequívoca àquela trazida pelo autor

em sua exordial. A prova como pressuposto da tutela antecipada pode ser

produzida no decorrer do processo, como por exemplo, a prova testemunhal,

não perdendo o seu caráter de cognição sumária.

Outro pressuposto necessário é a verossimilhança da alegação, que

deve ser entendida como aquilo que tem aparência de verdade. Esse

pressuposto apresenta uma dificuldade prática, pois é muito difícil ao

magistrado entender que alegações feitas pelo autor o permitiriam conceder a

tutela desejada com base em cognição sumária. A doutrina, então, passou a

entender que o juízo de verossimilhança é aquele que permite a uma verdade

provável dos fatos alegados.

23Haverá verossimilhança, então, nas alegações do requerente, quando

existir uma razoabilidade entre o que é narrado, os fatos apresentados e a tese

jurídica exposta.

De início, parece que os esses pressupostos mostram-se antagônicos,

pois o que é inequívoco, não pode ser verossímil, já que a idéia de inequívoco

retoma um juízo de certeza. Porém, a doutrina vem unindo estes dois

conceitos para se colocar em uma posição intermediária. Assim, Alexandre

Câmara em seu livro Lições de Direito Processual Civil, sustenta que:

“(...) Esta probabilidade de existência nada mais é,

registre-se, do que o fumus boni iuris, o qual se afigura

como requisito de todas as modalidades de tutela

sumária, e não apenas da tutela cautelar. Assim sendo,

deve verificar o julgador se é provável a existência do

direito afirmado pelo autor, para que se torne possível a

antecipação da tutela jurisdicional.” (Câmara, Alexandre

Freitas, Lições de Direito Processual Civil, Vol. I, pág.

473)

Esses pressupostos são necessários porque sempre devem estar

presentes para que o pleito antecipatório seja concedido, se um deles faltar

não será procedente o requerimento.

2.2.2 - Pressupostos positivos alternativos ou concorrentes

Os pressupostos positivos alternativos estão dispostos nos incisos I e II

do art. 273 do CPC.

24Art. 273. ...

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação

(periculum in mora); ou

II- fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto

propósito protelatório do réu.

O dano irreparável, de que trata o inc. I do art. 273, é similar ao

periculum in mora da tutela de urgência. O periculum in mora é o risco

concreto, que deve ser atual e grave para ensejar a antecipação da tutela.

O professor Luiz Guilherme Mainoni afirma que “há irreparabilidade

quando os efeitos do dano não são reversíveis.” (Marinoni, Luiz Guilherme,

Antecipação da Tutela, 10ª Edição, pág. 156) Assim, também, Fredie Didier:

“Dano irreparável é aquele cujos efeitos são irreversíveis”. (Didier Jr., Fredie,

Curso de Direito Processual Civil, Vol. 2, 2007, pág. 546) Enfim, pode-se dizer

que o deferimento da tutela antecipada com base no inciso I, se justifica

quando a demora natural do processo puder causar uma frustração na

obtenção da tutela final pelo demandante, que veria seu direito

irremediavelmente lesado. Estar-se-ia, aqui, diante do que poderíamos chamar

de “tutela antecipada de segurança”.

É importante elucidar que a citação acima de Marinoni deve ser

interpretada em sentido extensivo, pois não é somente o dano irreparável o

objeto remediável por meio da tutela antecipada, mas também aquele dano

que traga ao autor uma difícil reparação, ou seja, é reparável, porém de

maneira demasiadamente custosa.

Questão interessante é que no inciso I o dano pode ainda não ter

ocorrido, devendo-se demonstrar a iminência do dano, com a consequente

irreparabilidade ou difícil reparação, caso não haja a prestação jurisdicional

antecipada; ou já ter sido sofrido pelo requerente, hipótese que a antecipação

de tutela será o instrumento eficaz para a sua minimização.

25O receio do dano não pode ser meramente subjetivo, deve estar

comprovado objetivamente em suas alegações, a simples demora do processo

não é capaz de ensejar a concessão do pleito antecipatório, salvo quando ficar

caracterizado o fim protelatório, que veremos a seguir.

Outro pressuposto alternativo é o previsto no inciso II. O abuso de

direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu são expressões

que comportam grande subjetivismo, que devem ser analisados pelo juiz à luz

do caso concreto.

A intenção do legislador ao positivar o inciso II é lógica, pois está de

acordo com a sistemática do ordenamento jurídico pátrio, vez que o princípio

da boa fé nas relações é essencial, devendo todos agir de acordo com tal

mandamento. Assim, se o réu pratica qualquer ato com o único propósito de

prejudicar o direito do autor, devem-se antecipar os efeitos da tutela

pretendida, que já se revela evidente.

Para Didier, embora o legislador mencione a palavra “réu”, esta não

deve ser interpretada restritivamente, pois o comportamento previsto no inciso

II do art. 273, que autoriza a concessão da tutela antecipada, pode ser de

qualquer parte, uma vez que o réu também pode requerer a tutela antecipada.

Outra questão importante é que, uma leitura apressada do referido

inciso pode levar o leitor a crer que este é baseado em um ato praticado dentro

do processo. Todavia, essa leitura não é verdadeira, pois também é possível

pedir a antecipação da tutela com base no inciso II mesmo quando a relação

processual não está instaurada. Situações extraprocessuais também podem

caracterizar o abuso de direito, como no caso do futuro réu que cria

dificuldades desnecessárias em sede de negociações anteriores a fase judicial

ou na fraude contra credores, quando “dilapida” todo o patrimônio apenas para

prejudicar o direito do credor. Estamos aqui diante da chamada “tutela da

evidência”.

26

2.2.3 – Pressuposto negativo

O § 2° do artigo 273 assevera que “não se concederá a antecipação da

tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento jurisdicional”.

Assim, em princípio, seria condição para o deferimento da medida a

possibilidade de revertê-la, isto é, o bem da vida concedido ao demandante

deve ser passível de reversão, de retornar ao âmbito jurídico do demandado.

Diversos autores tentam conceituar o que seria essa “irreversibilidade”,

Sérgio Bermudes entende que será irreversível quando a restituição só puder

ser feita em pecúnia. Para Cândido Dinamarco, o risco da irreversibilidade

pode ser afastado quando for prestada uma caução capaz de fazer voltar ao

estado anterior. Já Marinoni entende que o juiz deve assumir o risco de

sacrificar um direito menos provável (do réu) em prol da concessão da

antecipação de um direito mais provável (do autor), em suas palavras, “não há

razão para não admitirmos a possibilidade de uma tutela antecipatória que

possa gerar efeitos fáticos irreversíveis, pois a tutela cautelar não raramente

produz tais efeitos”. (Marinoni, Luiz Guilherme, Antecipação da Tutela, 10ª

Edição, pág. 199).

Com efeito, o Juiz, diante da dúvida a respeito da possibilidade de

reversibilidade da medida, deve identificar o interesse mais relevante, valendo-

se do Princípio da Proporcionalidade. Para Luiz Fux, em se tratando de direito

em estado de periclitação, deve o juiz avaliar o caso concreto, confrontando a

prova inequívoca com a urgência requerida, para compor um juízo de

probabilidade que o autorizará à concessão da tutela antecipada.

Logo, é possível concluir que o magistrado somente indeferirá o pedido

de antecipação da tutela, com base no § 2°, do art. 273, naquelas situações

em que o próprio direito não e encontrar severamente ameaçado pela demora

na prestação jurisdicional.

27Não podemos esquecer que, em determinados casos, a não

concessão antecipada da tutela pretendida, pode causar danos irreversíveis

tanto quanto se concedida a medida.

Portanto, a irreversibilidade não deve configurar um óbice à concessão

da tutela antecipada, “até porque a proibição da concessão da tutela obrigaria

o juiz a expor a risco de irreversibilidade exatamente o direito que, à luz da

ponderação, merece tutela”. (Marinoni, Luiz Guilherme, Antecipação da Tutela,

10ª Edição, pág. 205).

2.3 – Legitimidade para requerer a tutela antecipada

Inicialmente, pensamos que a figura legítima para este pedido é o

autor, contudo o réu também é legitimado para requerer a tutela antecipada,

não obstante, o autor seja o responsável pela maioria dos pedidos nos casos

concretos.

Isso porque é o demandante quem pede algo e o demandado, na

grande parte dos casos, resiste ao pedido formulado, seja na petição inicial,

seja em petição ao longo do processo. Assim, o réu só poderá formular pedido

antecipatório em face do autor quando também lhe for concedida a

possibilidade de requerer uma pretensão, como na reconvenção e nas ações

de natureza dúplice.

Para Fredie Didier , “todo aquele que alegar ter direito à tutela

jurisdicional está legitimado a requerer a antecipação dos seus efeitos; essa é

a regra que não comporta exceções.” (Didier Jr., Fredie, Curso de Direito

Processual Civil, Vol. 2, 2007, pág. 552). Para ele, em homenagem ao princípio

da isonomia, o réu, até mesmo quando se limita a apresentar contestação,

preenchidos os pressupostos legais, poderá requer a tutela antecipada.

28

O Ministério Público, quando autor da demanda, também pode

requerer a tutela antecipada, uma vez que é demandante como outro qualquer.

Porém, quando o Ministério Público age na qualidade de custos legis, o

entendimento majoritário é de que essa pretensão não é cabível, pelo simples

motivo de que lhe falta legitimidade para formular tal demanda.

Pode, ainda, pleitear a tutela antecipada o assistente, simples ou

qualificado, uma vez que dispõe dos mesmos poderes da parte assistida. No

caso do assistente litisconsorcial, sua legitimação é positiva, salvo nos casos

em que o assistente não tem legitimidade para a causa, como no caso das

ações coletivas.

Ao opoente, igualmente se admite o requerimento da antecipação da

tutela, uma vez que a oposição é uma verdadeira ação, tendo como autor o

oponente, e como litisconsortes passivos necessários, autor e réu.

Já na nomeação à autoria não cabe o pedido do art. 273 CPC,

porquanto esse é um instituto de iniciativa exclusiva do réu, igual entendimento

deve-se ter quanto ao chamamento ao processo.

Na denunciação da lide o denunciante formula uma ação de regresso

em face do denunciado, sendo possível pensar na sua legitimidade para

requerer a tutela antecipada, porém cabe ressaltar que essa ação é

secundária, e somente será julgada se houver a necessidade do denunciante

exercer o seu direito de regresso em face do denunciado. Portanto, cabe ao

denunciante formular o pedido antecipatório, todavia fica sujeito a condição da

necessidade real de exercer, desde logo, seu direito de regresso.

29

2.4 – Concessão de ofício

Da simples leitura do artigo 273 seria possível afirmar que a concessão

da tutela antecipada somente pode ser positiva quando houver o requerimento

feito pela parte. Há, contudo, quem admita que, em situações excepcionais, o

magistrado, a fim de evitar o perecimento do direito, deve conceder a tutela

antecipada ex officio.

Para Cássio Scarpinella Bueno se o juiz vê, diante de si, tudo o que a

lei reputou suficiente para a concessão da tutela antecipada, e, sobretudo

naqueles casos em que a situação fática reclamar a tutela jurisdicional urgente,

não deve ele ficar inerte.

A maior parte da doutrina e da jurisprudência, no entanto, é no sentido

de que é necessário o requerimento da parte para a atuação do juiz. Isso

porque a jurisdição tem como uma de suas características a inércia, portanto, o

Estado-Juiz só é autorizado a se manifestar quando chamado, sob pena de

violar o princípio do dispositivo.

Desse modo, o juiz só pode conceder decisões ex officio quando a

própria lei autoriza, como no caso da tutela cautelar no art. 797 do CPC.

Mesmo pugnando pela maior aplicação do princípio da efetividade,

entendemos que nesse caso específico ele não deve ser aplicado, pois na

ponderação entre efetividade e imparcialidade, há uma preponderância do

último, porque ter um Poder Judiciário imparcial é uma garantia ainda maior,

qual seja a de estarmos em um Estado Democrático de Direito, como preceitua

o art. 1º da nossa Constituição Federal.

30

2.4 – Momentos de concessão da tutela antecipada

A princípio, a tutela antecipada pode ser requerida e concedida a

qualquer momento dentro do processo: liminarmente, na sentença ou em grau

recursal.

Se a necessidade precede à propositura da ação, o pedido de

antecipação da tutela será objeto preliminar da petição inicial, vinculando o

juízo a quo, que deverá exarar sua decisão pelo deferimento ou indeferimento

da medida antes da oitiva do réu. Assim, quando o direito demonstrar ser de

suma urgência, de modo que aguardar a citação possa trazer prejuízos

irreversíveis, a antecipação da tutela poderá ser concedida inaudita altera pars.

Essa concessão sem a manifestação do réu, apesar de não prevista

expressamente, não ofende o princípio constitucional do contraditório, o que

acontece é uma postergação da sua concretização, em face do direito do

autor.

Ocorre que, muitas vezes, a prova apresentada na inicial não se mostra

suficiente para o magistrado, isto é, nem sempre o autor consegue preencher

os requisitos legais no momento do ingresso da ação judicial, podendo ocorrer

de a prova inequívoca da verossimilhança da alegação apenas se confirmar,

por exemplo, após a produção de provas em audiência de instrução e

julgamento. Logo, a antecipação da tutela poderá ser concedida também após

a contestação e passada a fase instrutória, bastando para tanto a

comprovação dos seus requisitos.

Tema que se discuti na doutrina é a possibilidade de concessão de tutela

antecipada na própria sentença. Isso porque, na antecipação da tutela, o juiz

antecipa os efeitos de mérito, sendo que, quando o juiz profere uma sentença,

ele já está dando à parte o próprio mérito. Além disso, a tutela antecipada é

baseada em cognição sumária, ao passo que na sentença o juiz já chegou ao

seu grau de convencimento máximo.

31Então, qual seria a utilidade de se conceder a antecipação da tutela no

bojo da sentença? Não raro, pode ocorrer de, no momento em que o juiz

proferir a sentença, ele perceber a necessidade de seu imediato cumprimento

e, em sendo caso de reexame necessário ou de apelação com efeito

suspensivo, o juiz poderá conceder a medida de urgência no bojo da sentença,

conferindo eficácia imediata a decisão, quebrando com isso o efeito

suspensivo do recurso. Por conta disso, entende-se que, quando o juiz

concede a antecipação da tutela no bojo da sentença, ele está, na verdade,

recebendo a apelação somente no efeito devolutivo, permitindo desta forma o

cumprimento imediato o disposto na sentença.

Outra questão muito discutida é quanto à possibilidade de concessão da

antecipação da tutela em grau de recurso. Se a urgência surgir quando o

processo estiver em fase recursal, a medida antecipatória será dirigida ao

Tribunal, que poderá ser chamado para conhecer da matéria originariamente.

A antecipação da tutela poderá ser requerida, ainda, mediante recurso

contra decisão do juízo a quo que deferiu ou indeferiu a medida antecipatória.

A parte, concedida ou negada a tutela, poderá agravar e requerer com base no

art. 558 do CPC a suspensão dos efeitos da decisão antecipatória ou a própria

antecipação da tutela. Para Marinoni “o fato de o legislador ter inicialmente

dado ao relator apenas a possibilidade de conferir efeito suspensivo ao agravo

não poderia retirar do jurisdicionado o direito de exigir tempestivamente a tutela

antecipatória indevidamente indeferida pelo juiz de primeiro grau de jurisdição.”

(Marinoni, Luiz Guilherme, Antecipação da Tutela, 10ª Edição, pág. 164)

32

CAPÍTULO III

CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPATÓRIA:

CRITÉRIOS PARA A SUA CONCESSÃO E A

MOTIVAÇÃO DA DECISÃO ANTECIPATÓRIA

Junto aos direitos fundamentais previstos na carta magna, outro

também foi previsto pelo legislador infraconstitucional quando da reforma da lei

processual, o dever de fundamentação das decisões. Embora desnecessário,

já que previsto no art. 93, IX, CR/88, o legislador, no art. 273, § 1° do CPC,

dispôs que, no caso da tutela antecipada, deverá o juiz, na decisão que

conceder a medida antecipatória, indicar, de modo claro e preciso, as razões

do seu convencimento.

A propósito, Carlos Alberto Baptista, Promotor de Justiça e Professor

da UEPG, observa que:

“a exigência de motivação dos atos jurisdicionais

constitui, hoje, postulado constitucional inafastável, que

traduz poderoso fator de limitação ao exercício o próprio

poder estatal, além de configurar instrumento essencial

de respeito e proteção às liberdades públicas. Com a

constitucionalização desse dever jurídico imposto aos

magistrados – e que antes era de extração meramente

legal – dispensou-se aos jurisdicionados uma tutela

processual significativamente mais intensa, não obstante

idênticos os efeitos decorrentes de seu descumprimento:

a nulidade insuperável e insanável da própria decisão.

33A importância jurídico-política do dever estatal de motivar

as decisões judiciais constitui inquestionável garantia

inerente à própria noção do Estado Democrático de

Direito. Fator condicionante da própria validade dos atos

decisórios, a exigência de fundamentação dos

pronunciamentos jurisdicionais reflete uma expressiva

prerrogativa individual contra abusos eventualmente

cometidos pelos órgãos do Poder Judiciário” (Baptista,

Carlos Alberto, Decisão Motivada na Tutela Antecipatória,

RJ n° 292 – Fevereiro de 2002 – pág. 64)

Diante disso, com base no art. 273 do CPC, pode o magistrado

antecipar os efeitos da tutela desejada pelo demandante, desde que haja

prova inequívoca capaz de convencê-lo da verossimilhança das alegações. A

dificuldade que se encontra, porém, está na falta de critérios para o juiz, diante

dos conceitos de prova inequívoca e verossimilhança, indicar “de modo claro e

preciso” as razões do seu convencimento.

Visando melhor elucidar o problema da motivação da decisão que

concede a tutela antecipatória, faremos algumas considerações sobre o

principio da motivação das decisões judiciais e o instituto da tutela antecipada,

procurando mostrar a relevância deste princípio para a concessão de uma

tutela baseada em cognição sumária.

3.1 – Princípio da motivação na decisão antecipatória

O instituto da motivação das decisões judiciais teve origem desde a

adoção das Ordenações Filipinas, através do Decreto de 20 de outubro de

1823.

34

Após diversas previsões do dever de motivar pela legislação ordinária,

o mesmo obteve status constitucional a partir de 1988, com a recepção da

motivação pelo legislador constituinte. Assim, embora o dever de motivação

das decisões judiciais seja anterior à norma constitucional, uma vez que

decorrente da manifestação do Estado de Direito, o encontramos somente

como princípio no art. 93, IX, CR/88, cujo desrespeito conduz à nulidade do ato

decisório.

Em nosso Código de Processo Civil Brasileiro vigente, o encontramos

em seus artigos 131, 165 e 458, II, ora referindo-se aos motivos, ora aos

fundamentos das decisões judiciais.

Os artigos 131, 165 e 458 do CPC, recepcionados pela norma

constitucional de 1988, adotou o sistema do livre convencimento motivado das

decisões ou da persuasão racional do juiz, ou seja, o convencimento do

magistrado é livre, porém, ainda que livre, deve ser racional conforme as

provas descritas nos autos processuais, devendo o mesmo indicar em sua

decisão as razões do seu convencimento. Isto quer dizer que, o juiz decide

com base nos elementos existentes nos autos, mas os avalia segundo critérios

críticos e racionais. Porém, essa liberdade de convicção não equivale à sua

formação arbitrária, pois o seu convencimento deve ser motivado.

Assim, é que a exigência de motivação das decisões imposta pela

legislação processual ordinária e pela norma constitucional tem não só a

função de dar às partes o direito de compreendê-las e, se assim entender,

impugná-las perante os Tribunais, mas também de propiciar o controle da

atividade jurisdicional pela sociedade.

35

Nesse sentido, Carlos Alberto Baptista leciona: “sob o aspecto

extraprocessual, a obrigatoriedade da motivação tem como função essencial

propiciar condições para um controle externo, até de natureza popular, sobre o

conteúdo da decisão, consubstanciando-se numa garantia da própria

jurisdição, inserta numa noção de justiça democrática” (Baptista, Carlos

Alberto, Decisão Motivada na Tutela Antecipatória, RJ n° 292 – Fevereiro de

2002).

O autor cita, ainda, Flávio Boechat Albernaz, para contextualizar a

amplitude da obrigatoriedade da motivação nas decisões judiciais: “São

corolários desta postura a total amplitude da publicidade da motivação e a

absoluta impossibilidade de se impor ao juiz qualquer forma de limitação ao

dever de explicitar as razões do julgado” (Albernaz, Flávio Boechat, O princípio

da motivação das decisões do conselho de sentença, Revista Brasileira de

Ciência Criminais n° 19)

Desta forma, é através da motivação que o juiz tem condições de

demonstrar seu posicionamento equidistante das partes, revelando sua

imparcialidade ao decidir.

Embora o dever de motivação previsto na Constituição se refira a toda

decisão judicial, na antecipação da tutela, o legislador infra-constitucional fez

questão de enfatizá-lo em seu artigo 273, § 1º do CPC. Assim, presentes os

pressupostos legais, não pode o magistrado se furtar em antecipar os efeitos

da tutela, porém ele é livre para apreciar os elementos constantes dos autos,

devendo unicamente identificar os motivos de seu convencimento.

36

3.2 – Relação entre prova e convencimento

Para que o Juiz possa formar o seu convencimento, faz-se necessário

a colheita das provas existentes nos autos. O importante, no entanto, é

enfatizar que o conceito de prova sempre esteve associado à idéia de busca

da ‘verdade’ acerca dos fatos que envolvem determinado litígio. Prova é,

portanto, todo elemento que contribui para a formação da convicção do juiz a

respeito da existência de determinado fato. Assim, ao se produzir determinada

prova, o que se pretende é convencer o juiz acerca da veracidade dos fatos

relevantes para a solução de determinado conflito de interesses.

Três são os sistemas de apreciação das provas: o da prova legal, em

que a lei fixa detalhadamente o valor a ser atribuído a cada meio de prova; o

da íntima convicção, no qual o juiz tem integral liberdade de avaliação; e, por

fim, o da chamada persuasão racional ou do livre convencimento motivado, em

que o juiz forma livremente o seu convencimento, porém dentro de critérios

racionais que devem ser indiciados em sua decisão.

O sistema da persuasão racional, ou do livre convencimento motivado,

é o acolhido em nosso direito, que o consagra através do artigo 131 do CPC:

“o juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias

constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes, mas deverá

indicar, na decisão, os motivos que lhe formaram o convencimento.”

Partindo dessas noções a respeito da prova, podemos verificar ser de

suma importância a função do juiz no exame dos requisitos necessários à

concessão da tutela antecipada.

37Como já dissemos no capítulo anterior, dois são os requisitos

necessários: a prova inequívoca e a verossimilhança da alegação, e dois são

alternativos, o abuso do direito de defesa e o fundado receio de dano

irreparável ou de difícil reparação. Ocorre que estes requisitos, presentes no

mencionado dispositivo legal, são expressões abertas, vagas ou

indeterminadas, o que faz crescer sobremaneira o papel do juiz, a quem cabe

adequar a letra da lei à realidade, pois quanto maior a indeterminação do

conceito legal, mais relevante se apresenta a função jurisdicional.

A decisão, nesses casos, pressupõe grande liberdade de investigação

do julgador. Na verdade, não se trata de poder discricionário, visto que o juiz,

ao conceder ou negar a antecipação da tutela, não o faz por conveniência e

oportunidade. Presentes os pressupostos legais, não restará alternativa ao

julgador, que deverá deferir a pretensão do autor. Existe, sim, maior liberdade

no exame desses requisitos, dada a imprecisão desses conceitos legais, mas

essa circunstância não torna discricionário o ato judicial.

O primeiro pressuposto necessário, porém, para a concessão

antecipatória dos efeitos da tutela é a prova inequívoca do direito pleiteado,

que é aquela capaz de convencer o Magistrado, a prima facie, da

verossimilhança das alegações.

Segundo Marinoni, a dificuldade é compreender como uma prova

inequívoca poderia gerar apenas verossimilhança. Para o renomado autor “...a

prova existe para convencer o juiz, de modo que chega a ser absurdo

identificar prova com convencimento, como se pudesse existir prova de

verossimilhança ou prova de verdade...a idéia, certamente correta, de que toda

certeza jurídica se resolve em verossimilhança, não deve obscurecer o que se

quer dizer aqui, pois obviamente não se pretende, nessa altura dos estudos

ligados à filosofia do direito, fazer alguém acreditar que o juiz pode penetrar na

essência da verdade....”. (Marinoni, Luiz Guilherme, Antecipação da Tutela, 10ª

Edição, pág. 169/169)

38Carlos Alberto Baptista enumera os requisitos elencados por Marinoni

para conduzir o convencimento quanto à verossimilhança exigida para a

antecipação da tutela: (a) o valor do bem jurídico ameaçado; (b) a dificuldade

do autor provar a sua alegação; (c) a credibilidade , de acordo com as regras

de experiência, da alegação, e (d) a própria urgência descrita...” (Carlos

Alberto Baptista, Decisão Motivada na Tutela Antecipatória – Revista Jurídica

n° 292, págs. 51/68).

Para o Exmo. Juiz Federal e professor da UFRN, Francisco Barros

Dias, o fato do texto do art. 273 referir-se que para a concessão da medida

deva existir ‘prova inequívoca’ para se convencer da ‘verossimilhança da

alegação’, pode levar o intérprete a cometer equívocos, sob o argumento de

que só poderia esse requisito estar atendido com a prova irrefutável do fato,

uma vez que convencer-se da verossimilhança não poderia significar infundir

no espírito do juiz o sentimento de certeza, mas apenas o sentimento de que a

realidade fática pode ser como a descreve o autor.

Ainda, citando o ensinamento esposado por Candido Rangel

Dinamarco, ressalta a necessidade de coadunar-se as expressões

aparentemente contraditórias contidas no artigo 273 do CPC -‘prova

inequívoca’ e ‘convencer-se da verossimilhança’ - para alcançar o conceito de

probabilidade, qual seja, “...a situação decorrente da preponderância dos

motivos convergentes à aceitação de determinada proposição, sobre os

motivos divergentes. As afirmativas pesando mais sobre o espírito da pessoa,

o fato é provável; pesando mais as negativas, ele é improvável. A

probabilidade, assim conceituada, é menos que a certeza, porque lá os

motivos divergentes não ficam afastados mas somente suplantados; e é mais

que a credibilidade, ou verossimilhança, pela qual na mente do observador os

motivos convergentes e os divergentes comparecem em situação de

equivalência e, se o espírito não se anima a afirmar, também na ousa negar...”

(Dias, Francisco Barros, Processo de Conhecimento e Acesso à Justiça -

Tutela Antecipatória, RTJE vol. 138, jul de 1995, págs. 35/58).

39Desse modo, conclui-se que a prova inequívoca deve ser visualizada

pelo aplicador do direito como suficiente para vislumbrar a verossimilhança, a

fim de que reste induvidosa a probabilidade do direito a ser antecipado.

A dificuldade para a correta conceituação dos termos constantes do

art. 273 do CPC, em face das imprecisões técnicas das expressões utilizadas,

não passou despercebida do ilustre advogado e professor Ricardo Rodrigues

Gama, que ressalta a exigência da combinação da ‘prova inequívoca’ com

‘verossimilhança’, in verbis:

“...Dispõe o caput do referido artigo: o juiz poderá, a

requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente,

os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde

que, existindo prova inequívoca, se convença da

verossimilhança da alegação. A prova inequívoca vai

servir para o convencimento da verossimilhança da

alegação. A prova é o meio e a verossimilhança constitui

o fim.

Cumpre tentar esclarecer o sentido da locução prova

inequívoca. Em princípio, é bom que se diga que não há

como precisar um conceito lógico para a combinação

destes dois vocábulos. Para ser adjetivada, a prova

necessita de avaliação do magistrado, o qual vai atribuir o

valor que lhe parecer presente nela. A doutrina manifesta-

se em várias frentes, tentando explicar a terminologia

empregada pelo legislador.

A prova inequívoca deve ser entendida como sendo

aquela capaz de convencer o juiz da verdade do que se

alega. Em princípio, a palavra inequívoca parece assumir

aqui o seu sentido literal, qual seja, o de não-duvidoso,

distante da ambigüidade ou com toda a clareza.

40

Por não poder existir por si própria, a inequivocidade da

prova só pode ser aferida pelo magistrado, sendo ele que

lhe atribui o adjetivo inequívoca (no tópico seguinte

vamos tentar esclarecer os caminhos a serem trilhados

pelo magistrado para adjetivar a prova como determinou

com imprecisão o legislador).

A verossimilhança da alegação significa o que pode ser

ou parece verdadeiro. Do latim, vero é a verdade e

similhança corresponde ao parecido (parecido com a

verdade). Com a prova inequívoca representando a

certeza e a verossimilhança correspondendo ao provável,

o entendimento conjugado dos termos fica muito

prejudicado, reclamando uma análise combinada das

terminologias.

Como falta profundidade do conhecimento da real

possibilidade do requerente da tutela vencer a demanda,

o juiz não tem e nem poderia ter elementos para decidir a

causa definitivamente; contudo, ele vai conceder a tutela

antecipada firmando-se em prova capaz de eximir as

dúvidas sobre a probabilidade da alegação” (Gama,

Ricardo Rodrigues, Algumas considerações sobre a

antecipação de tutela, RJ n° 265 – Nov. de 1999, págs.

12/20).

O eminente jurista João Batista Lopes ao se debruçar sobre tema tão

controvertido, não deixou de ressaltar a dificuldade na interpretação da norma

sobredita que pode advir da utilização no artigo de termos vagos ou

indeterminados pelo legislador infraconstitucional, discorrendo:

41“...A primeira conclusão a ser extraída do texto é que

‘prova inequívoca’ não significa ‘prova documental’ ou

‘prova literal’, certo que a demonstração inequívoca de

uma alegação pode ser feita também de outra forma (v.g.

pareceres de experts, teste de DNA, etc).

De outro modo, talvez preocupado com a possibilidade de

interpretação exageradamente restritiva da expressão

‘prova inequívoca’, resolveu o legislador aludir à

verossimilhança que significa aparência de verdadeiro.

Daí se pode concluir que ‘prova inequívoca’ não significa

‘prova legal’ (v.g. art. 366 do CPC) conquanto seja a

prova legal, sem dúvida, inequívoca.

Assim, para que a norma não perca sua operatividade,

não deverão os juízes interpretar literalmente seu

enunciado, mas tomar em atenção a ratio legis e, pois,

satisfazer-se com prova segura das alegações do autor...”

(Lopes, João Batista, Antecipação da Tutela e o Art. 273

do CPC, RT n° 729, julho de 1996, págs. 63/74).

Por outro lado, Marinoni adverte que incorre em erro quem afirma que

para a antecipação exige-se a mesma prova inequívoca que pede a decisão

definitiva, já que o art. 273 expressamente descreve que basta a convicção de

verossimilhança.

Nesse sentido, se a regra processual autorizou o juiz a decidir com

base em convicção de verossimilhança, deve-se desde logo afastar o

entendimento de que a tutela antecipatória apenas poderia se basear na prova

que aponta em um sentido, na medida em que a prova que aponta em mais de

um sentido também pode formar convicção de verossimilhança, bastando

apontar para o direito do autor de forma mais convincente.

42De fato, se a expressão ‘prova inequívoca’ fosse interpretada de forma

literal, seria aquela sobre a qual não restaria nenhuma dúvida. Tal argumento

poderia levar o intérprete a cometer o equívoco de que, para se convencer da

verossimilhança da alegação, seria necessária a prova irrefutável do fato.

Aduz o ilustre processualista com extrema precisão que a prova que

aponta duas direções pode gerar convicção de verossimilhança, capaz de

ensejar a antecipação da tutela, na medida em que “a verdadeira questão da

prova que aponta em dois sentidos não está na sua credibilidade, mas sim na

convicção que pode gerar”.

Nesse sentido, ensina Cândido Rangel Dinamarco: “...ao dar peso ao

sentido literal do texto, seria difícil interpretá-lo satisfatoriamente porque prova

inequívoca é prova tão robusta que não permite equívocos ou dúvidas,

infundindo no espírito do juiz o sentimento de certeza e não mera

verossimilhança. Convencer-se da verossimilhança, ao contrário, não poderia

significar mais do que imbuir-se do sentimento de que a realidade fática pode

ser como a descreve o autor...” (Dinamarco, Cândido Rangel, A Reforma do

Código de Processo Civil, 1ª Ed. , pág. 139).

Teori Albino afirma que “na verdade, a referência a “prova inequívoca”

deve ser interpretada no contexto do relativismo próprio do sistema de provas.

(....) Assim, o que a lei exige não é, certamente, prova de verdade absoluta –

que não existe nem mesmo quando concluída a instrução – mas uma prova

robusta, que aproxime em segura medida o juízo de probabilidade do juízo de

verdade”. (Zavascki, Teori Albino, Antecipação da Tutela, 1997, pág. 76)

Luiz Fux, ao discorrer sobre o tema ressalta a aparente controvérsia

existente entre os termos “prova inequívoca” e “verossimilhança”, na medida

em que aquela conduziria à certeza, aduzindo:

43

“a prova, via de regra, demonstra o ‘provável’, a

‘verossimilhança’, nunca a verdade plena que compõe o

mundo da realidade fenomênica. Os fatos em si não

mudam, porque a prova realiza-se num sentido diverso

daquele que a realidade indica. Ora, se assim o é e se o

legislador não se utiliza inutilmente de expressões, a

exegese imposta é a de que ‘prova inequívoca’ para a

concessão da tutela antecipada e alma gêmea da prova

do direito líquido e certo para a concessão do mandamus.

É a prova extreme de dúvidas, aquela cuja produção não

deixa ao juízo outra alternativa senão a concessão da

tutela antecipada” (Fux, Luiz - Tutela de Segurança e

Tutela de Evidência, 1996, pág. 348).

Entende o autor que a prova inequívoca, desse modo, há de ser

preconstituída se o autor desejar obter a antecipação initio litis, ou constituída

no curso do processo através de justificação ou antecipação da fase

probatória, uma vez que a lei não estabelece o momento de concessão da

tutela.

Assim, a parte deve comprovar de plano o seu direito evidente na

inicial através de qualquer meio de prova moralmente legítimo para comprovar

a verossimilhança da alegação, apta a ensejar a antecipação da tutela,

concluindo que se revela em prova inequívoca a alegação calcada em fatos

notórios, incontroversos ou confessados noutro feito entre as partes, bem

como aquela fundada em presunção jure et de jure, forma que admite prova

em contrário e por isso mesmo não é inequívoca, cabendo ao juízo avaliar a

prova inequívoca em confronto com a urgência requerida, compondo um juízo

de probabilidade que o autorizará a conceder a antecipação .

44

3.3 – Verificação da verossimilhança

A verificação da verossimilhança e demais pressupostos que autorizam

a antecipação da tutela dependerá de um juízo de valor que será feito pelo juiz.

Esse juízo consiste em valorar os fatos e o direito, de modo que o juiz se

convença de que provavelmente o demandante terá o seu pedido julgado

procedente ao final. Isso não é certeza, porque o convencimento judicial só

será amadurecido ao longo do processo.

Para Marinoni, “o fato de o juiz não poder descobrir a ‘verdade’ não o

dispensa da necessidade de buscar se convencer a respeito do que se alega

em juízo. (...) Estar convicto da verdade não é o mesmo que encontrar a

verdade, até porque, quando se requer a convicção da verdade, não se nega a

possibilidade de que ‘as coisas não tenham acontecido assim’.” ((Marinoni,

Luiz Guilherme, Antecipação da Tutela, 10ª Edição, pág. 168/169)

Segundo Carreira Alvim, “ao examinar um pedido liminar, deve o

julgador trabalhar à luz da lógica maior, material ou crítica. Deve o juiz

considerar as diferentes atitudes que a inteligência pode assumir em face da

verdade: a ignorância, a dúvida, a opinião e a certeza.” (Carreira Alvim, J.E.,

Tutela Antecipada, 5ª Edição, 2008, pág. 45). E arremata: a ignorância é a

situação de pleno desconhecimento. A dúvida é a situação em que a

inteligência oscila ente o “sim” e o “não”. Como o juiz tem que decidir entre o

“sim” e o “não”, forma-se a opinião, que se dará diante da probabilidade de

prevalecer os motivos afirmativos. E, por fim, a certeza, que é o conhecimento

firme fundado na evidência do objeto.

O mesmo ocorre em sede de antecipação da tutela. O juiz ao julgar um

pedido de tutela antecipada, muitas vezes, poderá ficar entre o “sim” e o “não”,

numa verdadeira situação de dúvida, que deverá ser quebrada quando da

análise dos motivos favoráveis ou contrários a concessão ou não da medida.

45Assim, afirma Carreira Alvim, “se os motivos convergentes são

superiores aos divergentes, o juízo de probabilidade cresce; se os motivos

divergentes são superiores aos convergentes, a probabilidade diminui. (...)

Desta forma, a probabilidade é o que fatalmente ocorrerá, se não sobrevier

algum motivo divergente; (...)” (Carreira Alvim, J.E., Tutela Antecipada, 5ª

Edição, 2008, pág. 48).

Por fim, no exame do pedido de antecipação da tutela, o juiz não foge

a um juízo crítico dos fatos e do direito, do qual permitirá a formação do seu

convencimento, no sentido de concessão ou não do provimento antecipatório.

3.4 – Antecipação determinada pelo perigo de dano e pelo

abuso do direito de defesa

Constituindo-se a prova inequívoca e a verossimilhança da alegação

como pressupostos necessários e concorrentes, apresentam-se como

pressupostos alternativos o fundado receio de dano irreparável ou de difícil

reparação e a caracterização do abuso do direito de defesa.

A antecipação da tutela concedida com base no perigo de dano é

aquela que se destina a assegurar o resultado prático do processo. É a

urgência que justifica a antecipação do provimento final, por isso, a

antecipação deve limitar-se ao estritamente necessário. Há aqui perfeita

identificação com as cautelares, pois para a sua concessão é imprescindível o

periculum in mora.

O receio de dano, para ser fundado, deve vir acompanhado de

circunstâncias fáticas objetivas, a demonstrar que a falta da tutela ensejará à

ocorrência do dano e, ainda, que este será irreparável ou de difícil reparação.

46Sendo o receio um sentimento de índole subjetiva, deverá ser

analisado pelo magistrado, levando em conta vários fatores pessoais.

Carreira Alvim, citando Sydney Sanches, diz que “fundado receio

significa o temor justificado, que possa ser objetivamente demonstrado com

fatos e circunstâncias e não apenas uma preocupação subjetiva.” (Carreira

Alvim, J.E., Tutela Antecipada, 5ª Edição, pág. 97)

Para Teori Albino Zavaski, “o risco de dano irreparável ou de difícil

reparação que enseja a antecipação da tutela assecuratória é o risco concreto

(e não o hipotético ou eventual), atual (ou seja, o que se apresenta iminente no

curso do processo) e grave (vale dizer, o potencialmente apto a fazer parecer

ou prejudicar o direito afirmado pela parte). Se o risco, mesmo grave, não é

iminente, não se justifica a antecipação da tutela.” (Zavaski, Teori Albino,

Antecipação da Tutela, 1997, pág. 77)

O abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do

réu, outro pressuposto alternativo para a concessão da tutela antecipada está

positivado no inciso II do art. 273, do CPC. A intenção do legislador ao positivar

o inciso II é lógica, pois está de acordo com a sistemática do ordenamento

jurídico pátrio, vez que o princípio da boa fé nas relações é essencial, devendo

todos agir de acordo com tal mandamento. Assim, qualquer ato praticado pelo

demandado que configure sua intenção de prejudicar o direito do autor é capaz

de servir como argumento para o pedido autoral antecipatório. Aqui a situação

descrita assemelha-se à litigância de má-fé, regulada pelos artigos 16 a 18 do

CPC.

Para Carreira Alvim, “se, nos termos do art. 17, inc. I, reputa-se

litigante de má-fé aquele que deduz defesa contra texto expresso de lei ou fato

incontroverso, nada mais lógico (e racional) do que antecipar a tutela se o réu

abusa do seu direito de defesa, ou oferece defesa com propósito

47manifestamente protelatório. (Carreira Alvim, J.E., Tutela Antecipada, 5ª

Edição, pág. 100).

48A antecipação neste caso será possível quando a defesa do réu

mostrar a possibilidade de o autor resultar vitorioso e, portanto, injusta a

espera para a realização do direito.

De fato, a caracterização do abuso do direito de defesa somada à

existência de prova inequívoca, normalmente, permitirá ao juiz a antecipação

dos efeitos da tutela final. Ocorre que, assim como a expressão “prova

inequívoca”, o “abuso do direito de defesa” e o “manifesto propósito

protelatório” também são expressões de conteúdo indeterminado, sujeitas,

portanto, ao juízo de valor do julgador. Todavia, como já mencionado, essa

liberdade de convicção não equivale à sua formação arbitrária, mas, ao

contrário, deve-se obediência à finalidade da norma. Se o que se busca é

privilegiar a celeridade da prestação jurisdicional, há de se entender que

somente os atos que constituam obstáculos ao andamento do processo serão

aceitos.

No entender de Teori Albino Zavaski, “a antecipação da tutela só se

justificará se necessária (princípio da necessidade), ou seja, se o

comportamento do réu importar, efetivamente, o retardamento. O ato, mesmo

abusivo, que não impede, nem retarda, os atos processuais subseqüentes não

legitima a medida antecipatória. Assim, a invocação, pelo réu, na contestação,

de razões infundadas, por si só não justifica a antecipação da tutela. Se

justificasse, com mais razão se deveria antecipá-la sempre que ocorresse

revelia. Para tais hipóteses, o sistema já oferece a solução do julgamento

antecipado da lide (art. 330 do CPC).” (Zavaski, Teori Albino, Antecipação da

Tutela, 1997, pág. 78)

Por fim, uma leitura apressada do inc. II pode levar o leitor a crer que

este é baseado em um ato do réu dentro do processo. Todavia, essa leitura

não é verdadeira, pois também é possível visualizar o abuso de direito ou atos

protelatórios antes do réu integralizar a relação processual, ou seja, fora do

49processo, embora com ele relacionado, como por exemplo: ocultação de

provas, não atendimento de diligências, simulação de doença, etc.

50

CAPÍTULO IV

REVOGAÇÃO DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA

A lei processual em seu art. 273, § 4° estabelece que a tutela

antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, por decisão

motivada do juiz. Assim, toda vez que surgirem novas circunstâncias, de fato

ou de direito, capazes de alterarem as razões que autorizaram a concessão da

medida, pode o juiz revogá-la ou modificá-la.

Questão que se discuti, porém, é quanto à possibilidade do juiz, ex

officio, revogar ou modificar a tutela anteriormente deferida. Para Alexandre

Câmara “... a revogação ou modificação da tutela antecipada exige

requerimento da parte interessada, não podendo se dar de ofício.” (Câmara,

Alexandre Freitas, Lições de Direito Processual Civil, Vol. I, 16ª Edição, pág.

478)

Em sentido contrário, Luiz Fux afirma que a modificação ou revogação

do provimento antecipado pode se dar de ofício ou a requerimento da parte.

Para ele “verificando o juízo através de provas inequívocas que a tutela

requerida merece, v.g., uma ampliação, sob pena de frustrar aquela

anteriormente concedida, deve atuar de ofício, ainda que seja para equilibrar

as posições das partes no processo.” (Fux. Luiz, Tutela de segurança e tutela

da evidência, 1996, pág. 352/353).

Para Luiz Fux, embora à luz do caput do art. 273 do CPC, a extensão

do poder de o juiz modificar essa decisão deva limitar-se ao que foi pedido

pela parte na inicial, não é esse o melhor entendimento:

51

“A modificação da tutela antecipada em sede de tutela de

segurança deve atender, especificamente, às

necessidades do caso concreto. A situação de

periclitação é mutável e pode exigir algo proporcional que

não seja incluído no pedido, até porque superveniente a

nova exigência.” (Fux, Luiz, Tutela de segurança e tutela

da evidência, 1996, pág. 353).

A decisão de modificação e revogação, assim como se exige para a

concessão, também deve obedecer ao princípio do livre convencimento

motivado do juiz.

Por fim, a revogação da tutela antecipada pode ocorrer, como a própria

lei prevê, a qualquer tempo. Nesse sentido, afirma Marinoni:

“Na tutela antecipatória não há preclusão; assim, a

alteração do fazer e do não fazer e do meio executivo não

fica subordinada à hipótese de inadimplemento da

decisão. Ou melhor, para a alteração do não fazer ou do

fazer determinados não é necessário o não cumprimento

da tutela, bastando o surgimento de uma nova

circunstância, seja fática, seja decorrente do

desenvolvimento do contraditório. Por isso, o juiz pode

alterar a tutela antes de ela ter sido conhecida pelo réu ou

após ter sido observada, quando o seu cumprimento deva

se desenvolver no tempo.” (Marinoni, Luiz Guilherme,

Antecipação da Tutela, 10ª Edição, 2008, pág. 255)

52Haverá revogação também quando da sentença final.

Uma vez concedida a tutela antecipada, se o magistrado vier a julgar a

demanda improcedente, esta irá prevalecer em relação a media provisória,

produzindo seus efeitos imediatamente. Nesse sentido é o voto do Min. Barros

Monteiro:

“A revogação da antecipação da tutela na sentença

produz efeitos desde logo, sendo irrelevante, quanto a

isso, o duplo efeito atribuído à apelação (STJ-4ª T., REsp

145.676, rel. Min. Barros Monteiro, j. 21.6.05, julgaram

prejudicado o recurso, v.u., DJU 19.9.05, p. 327; JTJ

260/416, 293/395)

Desta forma, a revogação é imediata e tem eficácia ex tunc. Isto é,

uma vez revogada a medida, a situação anterior deve-se restabelecer de

imediato e de forma integral.

53

CONCLUSÃO

Como conclusão deste trabalho, podemos dizer que a antecipação da

tutela, introduzida em nosso direito através da chamada “A Reforma do CPC”,

veio distribuir o ônus do tempo do processo, conferindo maior celeridade e

efetividade à prestação jurisdicional

A busca pela garantia de um processo mais justo trouxe à luz esse

instituto, que tem grande valor na medida em que fornece o direito material a

cada jurisdicionado na proporção exata, não permitindo que se espere demais

pelo bem de vida que se tem direito.

Entretanto, uma prestação jurisdicional mais célere, fundada numa

cognição sumária, poderia sacrificar a segurança e a certeza decorrentes de

uma cognição plena e exauriente, eis que comprometidos o contraditório e a

ampla defesa.

Para isso, o legislador infraconstitucional determinou a possibilidade do

juiz antecipar total ou parcialmente os efeitos da tutela pretendida no pedido

inicial, desde que presentes determinados requisitos próprios do instituto,

previstos no artigo 273 do CPC.

De acordo com o explorado, vimos que, enquanto a hipótese do inciso

I visa assegurar o resultado útil do processo diante da situação de perigo, a

previsão do inciso II tem objetivos diversos. Sua finalidade é tão somente

acelerar os efeitos da prestação jurisdicional, sem qualquer consideração

quanto ao risco de dano. Trata-se de providência destinada a eliminar o grande

mal dos processos, qual seja a demora.

54

Ocorre que, como vimos no decorrer deste trabalho, a dificuldade está

na falta de critérios para o magistrado justificar sua decisão, diante de termos

vagos contidos no texto do art. 273 do Código de Processo Civil, como são as

expressões “verossimilhança nas alegações”, “prova inequívoca”, “fundado

receio de dano irreparável ou de difícil reparação” e “perigo de

irreversibilidade”.

A decisão, nesses casos, pressupõe grande liberdade de investigação

do julgador. Mas, na verdade, essa “liberdade” conferida ao julgador não se

trata de poder discricionário, visto que o juiz, ao conceder ou negar a

antecipação da tutela, não o faz por conveniência e oportunidade. Presentes

os pressupostos legais, não restará alternativa ao julgador, que deverá deferir

a pretensão do autor. Existe, sim, maior liberdade no exame desses requisitos,

o qual será exercido levando-se em conta a experiência, os valores reinantes

na comunidade, etc.

Realmente, o objetivo deste estudo foi demonstrar que os conceitos

inseridos no texto legal como “verossimilhança” “prova inequívoca”, “fundado

receio” “abuso de direito” e “manifesto propósito protelatório”, por sua própria

natureza, permitem ao magistrado interpretar a extensão de seus significados,

mas isso não o autoriza a agir de forma arbitrária.

Para tanto trouxemos definições e conceituações de juristas

destacados que se debruçaram sobre o tema, buscando o alcance das

expressões inseridas pelo legislador e que devem nortear o raciocínio e o

convencimento do magistrado.

Observa-se que embora a livre formação da convicção do magistrado

encontra-se presente, impõe-se ao julgador uma avaliação das provas

existentes nos autos, a fim de fundamentar seu raciocínio de forma clara e

55precisa, elencando as razões que o levaram a reconhecer cada um dos

pressupostos necessários para a concessão da medida.

56

Por fim, cabe dizer que a aplicação correta do instituto da tutela

antecipada faz com que a garantia constitucional da efetividade da prestação

jurisdicional seja uma realidade ao jurisdicionado, assegurando-lhe um melhor

acesso à justiça com a externalização do seu direito material.

57

BIBLIOGRAFIA

BAPTISTA, Carlos Alberto. Decisão motivada na tutela antecipatória.

Revista Jurídica 292, Fevereiro de 2002

BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela Cautelar e Tutela Antecipada:

Tutelas Sumárias e de Urgência. 1ª edição. São Paulo: Ed. Malheiros, 1998

CARREIRA ALVIM, J.E. Tutela Antecipada. 5ª edição. Curitiba: Juruá, 2008

CÂMARA, Alexandre de Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. I.

16ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007

CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO,

Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 9ª edição. São Paulo: Ed.

Malheiros, 1992

DIAS, Francisco Barros Dias. Processo de Conhecimento e Acesso à

Justiça - Tutela Antecipatória, RTJE n° 138, 1995

DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 2. Salvador: Ed.

Jus Podium, 2007

DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reforma do Código de Processo Civil. 1ª

Ed. São Paulo: Malheiros,

FUX, Luiz. Tutela de segurança e tutela da evidência. São Paulo: Saraiva,

1996

GAMA, Ricardo Francisco. Algumas considerações sobre a antecipação da

tutela. RJ n° 265. Nov., 1999

58LOPES, João Batista. Antecipação da Tutela e o Art. 273 do CPC – RT n°

729, julho de 1996

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART Sergio Cruz. Antecipação da Tutela.

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MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Direito Processual Civil: Processo

Cautelar. Vol. 4. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008

MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro, 25ª

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NEGRÃO, Theotonio; Gouvêa, José Roberto F., Código de Processo Civil.

São Paulo: Saraiva, 2007

ZAVASCKI, Teori Albino, Antecipação da Tutela, São Paulo: Saraiva, 1997

59

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO

2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO

. 8

CAPÍTULO I – DAS TUTELAS DE URGÊNCIA 1.1 – Origem Histórica 11.2 – Espécies 11.3 – Fungibilidade das Tutelas de Urgência 1CAPÍTULO II – DA TUTELA ANTECIPATÓRIA: GENERALIDADES

2.1 – Natureza Jurídica 22.2 – Pressupostos 22.2.1- pressupostos positivos necessários 22.2.2 – pressupostos positivos alternativos 22.2.3 – pressuposto negativo 22.3 – legitimidade para requerer a tutela antecipada 22.4 - concessão de ofício 22.5 - momentos de concessão da tutela antecipada 3CAPÍTULO III – CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPATÓRIA: CRITÉRIOS E

MOTIVAÇÃO DA DECISÃO DE ANTECIPAÇÃO 3.1 – Princípio da motivação na decisão antecipatória 33.2 – Relação entre prova e convencimento 33.3 – Verificação da verossimilhança 43.4 – Antecipação determinada pelo perigo de dano e pelo abuso do

direito de defesa

4CAPÍTULO IV – REVOGAÇÃO DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA 4

8 CONCLUSÃO 5

1 BIBLIOGRAFIA 5

4 ÍNDICE 5

6

60

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

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