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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O ORIENTADOR EDUCACIONAL EM BUSCA DE FERRAMENTAS PARA MINIMIZAR O FRACASSO ESCOLAR<> Por: Lucia Helena Albuquerque Orientador Profa. Mônica Melo Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU · conhecimento sobre a dificuldade, modificando o seu modo de pensar e de agir com relação a criança e o desempenho escolar

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O ORIENTADOR EDUCACIONAL EM BUSCA DE

FERRAMENTAS PARA MINIMIZAR O FRACASSO ESCOLAR<>

Por: Lucia Helena Albuquerque

Orientador

Profa. Mônica Melo

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O ORIENTADOR EDUCACIONAL EM BUSCA DE

FERRAMENTAS PARA MINIMIZAR O FRACASSO ESCOLAR <>

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Orientação

Educacional e Pedagógica.

Por: . Lúcia Helena Albuquerque

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos meus Orientadores

Espirituais que em todos os momentos da

minha vida estiveram presentes, para

indicar qual o melhor caminho a seguir, e

mesmo que por vezes tenha tropeçado

nesses caminhos, com certeza contei com

ajuda deles, para que o tropeço não

passasse de um mero escorregão.

Aos meus filhos que amo demais.

E agradeço antecipadamente por todas

as oportunidades que terei pela vida

afora.

4

DEDICATÓRIA

.....Dedico este trabalho a todos os meus

alunos que serviram de inspiração e

motivação para buscar o

aperfeiçoamento, acreditando sempre na

transformação social do ser humano.

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RESUMO

O presente estudo tem como objetivo reconhecer a importância da

Orientação Educacional no processo de aprendizagem como alternativa de

buscar ferramentas para minimizar o fracasso escolar. O fracasso escolar é

hoje um grande problema para o sistema educacional. Muitas vezes, para se

livrar da responsabilidade deste fracasso busca-se um culpado, ou seja,

geralmente patologiza o aprendente. Este trabalho tem como objetivo

questionar esta atitude e ampliar o foco. Assim, propõe discutir o fracasso

escolar a partir de outras variáveis: como a pratica avaliativa, que também

influencia no processo de aprendizagem. A partir de tal pratica refletirei a

respeito do papel do Orientador Educacional com relação ao fracasso escolar,

como tal profissional poderá intervir nesta instituição para revertermos tal

quadro.

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METODOLOGIA

O processo metodológico para alcançar ao que propõe este trabalho

acadêmico, foi a consulta de diversos autores significativos para tal estudo.

Tendo como referencia estudos bibliográficos, procurei sintetiza-los de maneira

clara e objetiva para o aperfeiçoamento da obra.

Para iniciarmos nossa pesquisa bibliográfica primeiramente iremos

conceituar o que é aprendizagem sobre a ótica de Alicia Fernandez, onde ela

ira definir a construção e a transformação que opera no sujeito.

Poderemos através de Júlio Groppa entender qual o trabalho do

Orientador Educacional e sua área de atuação, já Mirian Grinspun, nos dará

contribuições importantes na definição do desempenho escolar e o

desenvolvimento das potencialidades do educando.

Traremos considerações de Moacir Gadotti, sobre trabalhos que

influenciaram uma geração de pedagogos na questão da mediação da

inteligência e o aprendizado já relacionado ao afeto iremos falar sobre a politica

de Moacir Gadotti.

Através de Cipriano Luckesi e Jussara Hoffmann poderemos entender a

relação professor-aluno e o processo de avaliação e suas manifestações.

A partir dessas leituras iremos buscar entender como esta se dando

essa dialética entre a teoria e a pratica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................08

CAPÍTULO I - O ORIENTADOR EDUCACIONAL FACE AO FRACASSO ESCOLAR...............................................................................11

CAPÍTULO II - AS DIFICULDADES DA APRENDIZAGEM...................._.........17

CAPÍTULO III – Afeto – Fator de importância para a construção do

Conhecimentos.......................................................................28

CONCLUSÃO....................... ...........................................................................34

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................33

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INTRODUÇÃO

O objetivo desta pesquisa é reconhecer a importância do Orientador

Educacional no processo da aprendizagem como alternativa de tentar

minimizar o fracasso escolar nos últimos anos.

Muitos pesquisadores têm contribuído com estudos sobre o fracasso escolar no

ensino médio noturno. Nem sempre a escola consegue atingir plenamente seus

objetivos, o índice de repetência e baixo rendimento escolar são preocupantes.

É necessário destacar as possíveis causas responsáveis pelo problema,

apresentando alternativas para mudanças de posicionamento do professor e de

outros profissionais da educação.

Diante das questões levantadas acima, discutirei o trabalho do

Orientador Educacional neste processo, e o cotidiano da escola com suas

praticas educativas, que mais tem sido fator de exclusão do que o momento de

estudo.

A escolha por este tempo surgiu devido a questionamentos em relação à

educação, até porque como profissional da Educação senti a necessidade de

discutir tal tema, tentando assim buscar alternativas para minimizar este

problema. Identificando as possibilidades para reverter tal quadro do fracasso

escolar.

A trajetória histórica que envolve o fracasso escolar, sempre nos

apresentou que as causas dos problemas de aprendizagem escolar

encontravam-se na criança. Isto porque, ela era portadora de atraso no

desenvolvimento cognitivo e emocional. Segundo estudos realizados em

diferentes épocas, tiveram por premissa rotular esses indivíduos como sendo

os maiores responsáveis pelo fracasso escolar. Contudo, ao longo deste

trabalho tentarei desmistificar os mitos que cercam esta temática.

As explicações contraditórias e mal compreendidas que envolvem o

fracasso escolar acabam por perpetuar tais afirmações. E é neste momento

que o Orientador Educacional precisa questionar tais informações, refletindo

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sobre as verdadeiras causas que envolvem o fracasso escolar. Nesta

perspectiva, destacarei dois polos que se evidenciam nesse processo: o

fracasso escolar, polo negativo e seu reverso: a aprendizagem – ambos os

objetos centrais desse processo. A aprendizagem e a não aprendizagem estão

sendo tratadas como algo individual, muitas vezes inerente ao aluno em

particular, quando na verdade as grandes maiorias das dificuldades de

aprendizagem perpassam o sistema no qual o aluno esta inserido. Seja no

patamar do micro espaço, aquele no qual o aluno esta presente todos os dias –

determinada escola ou sala de ou em um patamar mais amplo – o sistema em

si (municipal, estadual ou federal), as politicas publicas implementada para

esse ou aquele segmento ou ainda, a situação do próprio estado ou pais.

Portanto, cabe destacar que a maneira pela qual concebemos o

significado do fracasso escolar esta intimamente ligado à concepção de escola

e de vida de quem se propõe a analisar e entender o problema. Nos últimos

anos a escola brasileira tem sido responsável por produzir o fracasso escolar,

já que o sucesso, as pesquisas e avaliações tem demonstrado com grande

veemência, que não é para todos, ignora-se que a Educação tem que ser

pensada privilegiando o universo do aluno, seja como função da realidade

socioeconômica e cultural em que esta inserido, ou nas relações e na

veemência, que não é para todos. Ignora-se que a Educação tem que ser

pensada privilegiando o universo do aluno, seja como função da realidade

socioeconômica e cultural em que este inserido, ou nas relações e nas

condições que a escola oferece aos educandos em processo de apropriação

do conhecimento.

Dessa forma, compreendo que a escola funciona como um instrumento

que motiva o educando na relação social e, a sua relação com o próprio meio e

como individuo social deve sempre ser levada em consideração no processo

de aprendizagem.

Sendo assim, podemos dizer que é importante compreender o processo

de construção e o tipo de implicações envolvidas no processo de ensino-

aprendizagem, não deixamos de ressaltar que esse processo não é imediato,

10

mas ele advém da complexidade da sociedade, da condição do sujeito e da

interação com a realidade vivida.

O tema em questão será desenvolvido em três momentos distintos. O

primeiro capitulo é citado a importância e as contribuições do Orientador

Educacional na intervenção do fracasso escolar, o segundo capitulo é

apresentado a forma como a escola esta organizada, bem como os sistemas

de avaliações que são adotados nas escolas brasileiras e o terceiro capitulo

concentra-se nas abordagens de autores em relação ao fracasso escolar.

Partindo do exposto acima, farei uma analise critica sobre o assunto

mencionado, utilizarei para isso alguns teóricos que discutem esse assunto,

afim, de embasar tal trabalho.

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CAPITULO I

O ORIENTADOR EDUCACIONAL FACE AO FRACASSO

ESCOLAR

Neste capitulo iremos abordar a importância do Orientador Educacional,

apresentando a necessidade urgente de mudança de postura em relação à

avaliação e o empenho dos profissionais comprometidos com a educação

deste pais.

O Orientador Educacional deve buscar o que significa o aprender para

esse sujeito e sua família, tentando descobrir a função do não aprender.

Conhecer como se dá a circulação de conhecimento na família, qual a

modalidade aprendizagem da criança, não perdendo de vista qual é o papel da

escola na construção do problema de aprendizagem apresentado, tentando

também engajar a família no projeto de atendimento para ampliar seu

conhecimento sobre a dificuldade, modificando o seu modo de pensar e de agir

com relação a criança e o desempenho escolar.

1.1. Aprendizagem e Fracasso Escolar

Não poderia falar em fracasso escolar sem deixar de comentar a

importância do vinculo para a aprendizagem. Além de tentarmos analisar os

fatores que contribuem para seu surgimento, é necessário conceituar aquilo

que vira a ser seu oposto: a aprendizagem:

“Pois sabemos que a aprendizagem é um processo vincular, ou seja, que se dá no vinculo entre ensinante e aprendente, ocorre, portanto entre subjetividades. Para aprender, o ser humano coloca em jogo seu organismo herdado, seu corpo e sua inteligência construídos em interação e a dimensão inconsciente. A aprendizagem tem um caráter subjetivo, pois o

12

aprender implica em desejo que deve ser reconhecido pelo aprendente. O desejar é o terreno onde se nutre a aprendizagem” (FERNANDEZ,2001,p.36)

Aprender passa pela observação do objeto, pela ação sobre ele, pelo

desejo. A aprendizagem é a articulação entre saber, conhecimento e

informação. Esta ultima é o conhecimento objetivado que pode ser transmitido,

o conhecimento é o resultado de uma construção do sujeito na interação com

os objetos e o saber é a apropriação desses conhecimentos pelo sujeito de

forma particular, própria dele, pois implica no inconsciente.

A partir disso posso definir aprendizagem como uma construção singular

que o sujeito vai fazendo a partir de seu saber e assim ele vai transformando

as informações em conhecimento, deixando sua marca como autor e

vivenciando a alegria que acompanha a aprendizagem.

Este processo se difere bastante do fracasso escolar que pode

evidenciar uma falha nesta relação vincular ensinante-aprendente. Alicia

Fernandes diferencia fracasso escolar problema de aprendizagem mental.

“Para ele no fracasso escolar a criança não tem um problema de

aprendizagem, mas eu, como docente, tenho problema de ensinagem com

ele.” (FERNANDEZ, 200, p.56). O problema de aprendizagem pode ser um

sintoma de outros conflitos ou ainda uma inibição cognitiva, e a deficiência

mental tem incidência pequena na população. Enfim, a escola valoriza a

inteligência e se esquece de interferência afetiva na não aprendizagem. O

sujeito pode estar em dificuldades de aprendizagem por ter ligado este fato a

uma situação de desprazer. Esta situação pode estar ligada a algum

acontecimento escolar. Portanto, a escola pode provocar na criança conflitos

que influenciarão seu gosto de aprender.

13

1.2 – A intervenção do Orientador Educacional

Considerando os fatos implicados no processo de aprendizagem,

poderíamos pensar no papel do Orientador Educacional com relação ao

fracasso escolar. Assim, o Orientador Educacional vem fazendo parte do

cotidiano escolar, e no que se refere ao fracasso escolar, vem respondendo a

ele com suas atribuições em um trabalho em conjunto com a equipe da escola.

Levando em considerações os aspectos do fracasso escolar cabe ao

Orientador Educacional estar sempre atento a essas questões para não

mencionar respostas errada quando solicitado, ou ausência de resposta, pois

ele não é simplesmente transmissor de informações, deve ir além,

preocupando-se em desenvolver capacidade e ter clareza na distinção entre

erros de informação e problemas no desempenho de capacidades.

Segundo Julio Groppa (2002, p.48). “um desempenho é classificado

como satisfatório, ou não, dependendo das variáveis do contexto.” Por isto, é

preciso que o Orientador Educacional desenvolva um trabalho cauteloso e

realizado com muita distinção em suas atitudes. O Orientador Educacional tem

que ter sabedoria para enfrentar situações aparentemente sem solução, sua

atuação exige discernimento entre “certo e errado”, pois uma atitude distante

do cotidiano pode vir a destruir todo um trabalho levando o aluno à desistência

escolar.

Para conhecer fracasso escolar precisamos partir do principio de que

não é algo genérico, mas que diz respeito a um certo aluno, e sua historia, em

uma certa escola, em um certo sistema, para detectar certo problema faz se

necessário fazer um diagnostico.

Os Orientadores Educacional ao longo de sua trajetória utilizou-se e

ainda se permitem a utilizar de alguns recursos como testes, desenhos

históricos, atividades pedagógicas, jogos, brinquedos, etc. É bem verdade que

estes tipos de recursos se tornam imprescindíveis como instrumentos de

14

linguagem, pois muitos alunos que não conseguem se comunicar através da

linguagem falada, o fazem por meio da linguagem escrita demonstrando algum

tipo de informação que são colhidos a partir dessa atividade. O trabalho do

Orientador Educacional para esses alunos é realizado com o auxilio do

professor da classe, para a melhoria das condições do processo ensino-

aprendizagem, além de prevenir os problemas relacionados ao aprendizado.

Mais uma vez a atenção do Orientador Educacional é de real valor pois muitas

crianças e adolescentes preferem acreditar, e reforçar na crença fazendo com

que os outros acreditem também, que vão mal nos estudos meramente por

falta de interesses, pensamentos errôneos que os fazem nutrir um sentimento

destrutivo de sua capacidade. O trabalho do Orientador Educacional pode ser

relacionado a um trabalho de “formiguinhas”, onde devagar e em conjunto tem

função transformadora, permitindo que o individuo se torne cidadão consciente

em grau crescente de reflexão. Desta forma o exercício do Orientador

Educacional é percebido de forma global ao ato de educar e para a

compreensão satisfatória dos objetivos da educação. O Orientador Educacional

deve colaborar para a promoção do desenvolvimento das potencialidades e

capacidades dos educandos.

Em se tratando de desempenho escolar a autora Grispun faz a seguinte

colocação: ao declarar-se “ incompetentes” ante ao fracasso escolar, a Escola

abre caminhos para que o aluno internalize esses fracasso como algo pessoal,

social ou biológico” (GRINSPUN, 2002,p.81)

A natureza desse discurso nos faz refletir como este ainda é muito

comum em nossa formação, portanto cabe a nós Orientadores Educacional

juntamente com toda a equipe pedagógica reavaliar a nossa pratica, pois

temos a oportunidade de estarmos a frente como agentes transformadores da

educação.

As afirmações de que as causas do Fracasso Escolar até então estavam

agrupadas na escola ou na clientela deparam-se agora, com outra visão do

problema: a escola é inadequada aos novos tempos isto porque, o papel da

escola é muito diferente de que alguns anos. Segundo o pedagogo e filosofo

15

(1989,p.23) “As exigências são outras e o papel do educador é adaptar-se:

deixar de ser um selecionador para que se tornar um gestor do conhecimento.”

Em outras palavras, de nada adianta ficar se lamentando. De todas as

profissões estão se exigindo mais competências, presença e versatilidade. Por

que seria diferente com a educação? Todos falam que só haverá espaço no

mercado de trabalho para quem tiver conhecimento. Porem percebe-se que os

professores em sua grande maioria apresentam discurso arcaico, isto porque o

professor idealiza um estudante que não existe.

Suponho que os problemas extraescolares influenciam nas atividades,

porem, este não é o fator determinante do fracasso escolar.

A escola em nossa sociedade contemporânea cada vez mais tem

reconhecido a dificuldade que enfrenta ao educar integralmente, percebendo o

quanto é difícil trabalhar valores e atitudes educativas quando a sociedade

impõe valores contrários. Verifica-se que é inútil esperar que a escola

desenvolva valores e atitudes que a comunidade não assuma como próprios.

Não é possível pensar uma escola onde um espera que o outro solucione os

problemas e onde as pessoas não modifiquem seus hábitos arraigados de não

desenvolvimento e não participação. Retornando nessas colocações iniciais,

sobre o trabalho do Orientador Educacional podemos afirmar que não existe

presença constante do trabalho do mesmo nas escolas. Para que o trabalho

realizado obtenha resultados satisfatórios é necessário que o Orientador

Educacional desenvolva um trabalho em equipe com todos os integrantes da

área pedagógica, para tratar a fundo os possíveis problemas existentes.

Uma escola sintonizada com as conquistas da sociedade e, portanto,

comprometida com a maioria da população, não se satisfaz em garantir o

acesso de todos na escola, mas luta também pela permanência a fim de que

todos tenham acesso ao conhecimento que nela buscam reverter o quadro do

fracasso escolar e, pois, função de uma escola que se prenda fazer um

trabalho em conjunto com todos os comprometidos da escola em busca de

16

resultados satisfatórios. “ Só é bem sucedido na escola o aluno que, se vendo

acreditado, acredita em sua capacidade de aprender.” (MAIA, 1990, p.59)

17

CAPÍTULO II

AS DIFICULDADES DA APRENDIZAGEM

Neste segundo capitulo será apresentado algumas razões para as dificuldades

de aprendizagem na intenção de podermos entender as causas e

consequências acarretadas, identificando as características individuais e

coletivas e tentar assim entender o porquê do fracasso na aprendizagem e a

relação do Orientador Educacional com esse cotidiano escolar.

As ideias atualmente existente no Brasil a respeito das dificuldades de

aprendizagem escolar, advém da necessidade do pais em modernizar-se e isso

só poderá acontecer se houver um investimento maciço na área educacional.

Portanto, a trajetória histórica do fracasso escolar na realidade brasileira pode

ser identificada a partir de alguns pontos básicos: explicações para o fracasso

escolar baseadas na teoria do déficit e da diferença cultural; explicações

advindas das crises do sistema social, que estariam sendo reproduzidas no

sistema escolar; o momento do fracasso analisado à luz do próprio sistema

educacional eu é gerador de obstáculos à realização de seus objetivos e o

fracasso como depositário das dificuldades dos protagonistas que atuam no

processo educacional.

Diante desses aspectos levantados e que serão discutidos

posteriormente, vale ressaltar sobre as raízes históricas das concepções sobre

o fracasso escolar que já nos séculos XIX e XX na Europa e nos E.U.A. foram

objeto de estudos e reflexões que desafiaram estudiosos e especialistas.

Os primeiros especialistas a se ocuparem de caso de dificuldades de

aprendizagem foram os médicos. O final do século XVIII e o inicio do século

XIX foram de grande desenvolvimento nas ciências médicas e biológicas,

especialmente na psiquiatria. Com os estudos neurológicos, da neurofilosofia e

da neuropsiquiatria, os distúrbios de aprendizagem tinham um tratamento

18

diferenciado, sendo os portadores de tais distúrbios designados como anormais

escolares.

A corrente psicopedagogia para explicar a questão do fracasso tem, no

campo psicométrico, o embrião dessa abordagem. Inicialmente, com os

trabalhos de Binet, em 1985, o autor da primeira escala métrica da inteligência

para crianças; posteriormente, com os trabalhos de Claparéde – que

influenciaram uma geração de psicólogos e pedagogos nessa questão da

mediação da inteligência.

Clarapéde refere-se ao termo aptidões como sendo uma disposição

natural do individuo, disposição esta que teria que levar em conta a educação,

o nível de fadigamento, o exercício e o estado afetivo.

Com o desenvolvimento dos testes os indivíduos puderam ser

classificados como mais aptos e menos aptos, independentemente das

influencias ambientais, inclusive a de natureza socioeconômica. A crença na

oportunidade igual era viabilizar de dois recursos: o uso de instrumentos

mediação das verdadeiras disposições naturais e o aprimoramento no sistema

escolar.

Todas as participações de psicólogos e pedagogos, em especial nas

primeiras décadas do século XX, influenciaram a abordagem da analise das

dificuldades de aprendizagem sob a luz do conhecimento das aptidões dos

indivíduos. Os testes psicológicos nas escolas fazerem parte da vida cotidiana

nos países capitalistas centrais. Dois pontos são importantes neste momento:

a psicometria e a pedagogia nova, que estava sendo produzida, principalmente

nos meios educacionais da Europa e da América do Norte. Os testes de QI

adquiriram um grande peso nas decisões dos educadores a respeito do destino

escolar dos alunos que tiveram acesso à escola.

Outro ponto que convém ressaltar é a influencia das teorias

psicanalíticas nas concepções sobre as causas das dificuldades de

aprendizagem. Inicialmente tida como “anormal escolar”, a criança que

19

apresentava problemas de ajustamento ou de aprendizagem escolar passou a

ser vista como “criança problema”. Se antes as dificuldades eram identificadas

por instrumentos da medicina e da psicologia, que falavam em anormalidades

genéticas e orgânicas o é por instrumentos da psicologia clinicas de

inspirações psicanalíticas, que buscam no ambiente sócio familiar as causas

dos desajustes infantis. As causas do fracasso vão desde as físicas até a

emocional e de personalidade, passando pelas intelectuais.

No estudo da fundamentação sobre o fracasso escolar cabe uma

palavra a respeito das questões de hereditariedade. Se na literatura psicológica

predeterminista do desenvolvimento humano foi substituída por uma

concepção interacionista, por outro lado a introdução de novas concepções,

vindas da psicologia e da antropologia a respeito da influencia ambiental e da

teoria psicanalista no pensamento educacional, criou outras expressões

simplificadoras que levaram pais e educadores a uma atitude também fatalistas

frente a supostas causas físicas e psicológicas do fracasso escolar.

Pude observar que essas concepções tiveram um peso significativo na

analise do fracasso escolar. Convém lembrar que essas ideias foram

estudadas e analisadas por estudiosos brasileiros principalmente nas primeiras

décadas do século XX. Mas precisamente na década de setenta, quando

houve um investimento maior no campo educacional, pois como já foi citado

mais acima, o pais precisava de pessoas capacitadas para competir no

mercado mundial, bem como foi nesta década que médicos e psicólogos

introduziram em nosso pais a abordagem psiconeurologica ao desenvolvimento

humano, trazendo com ela noções de disfunção cerebral mínima e de dislexia,

objetos privilegiados pela atenção dos médicos, psicólogos e fonodiólogos.

Inicialmente destinados a atender alunos de melhor nível socioeconômico, toda

“uma equipe” de apoio analisava as dificuldades de aprendizagem que

poderiam gerar fracasso escolar e procurava suprir as deficiências

apresentadas.

20

A partir dessas pesquisas varias foram as abordagens que historicamente

tentam explicar o fenômeno do fracasso escolar em nosso país. Eis algumas

delas:

• Abordagem psicologicista – explica o fracasso escolar pela existência de

diferenças individuais na capacidade de aprendizagem das crianças: as

crianças que não aprendem são consideradas como portadoras de

distúrbios mentais, sensoriais e neurológicos, que originam dificuldades

linguística, motoras ou afetivas.

• Abordagem biologicista – Essa abordagem tem como pressuposto as

disfunções biológicas e a desnutrição como responsáveis pela não

aprendizagem dos alunos.

As duas abordagens citadas apresentam que as dificuldades estão no

aluno, que por algumas características individuais (orgânica ou psicológica)

não consegue aprender ou se adaptar. Essas abordagens interpretadas

unilateralmente dão origens a ideias equivocadas sobre homogeneidade na

aprendizagem, testagens, categorização, classificação dos alunos,

encaminhamento e exclusões diversas.

• Abordagem culturalista – Essa abordagem supõe as crianças com

dificuldades como produto de um ambiente cultural desfavorecidos,

pobre em estímulos e vivencias. Parte da constatação de que a maior

parte das crianças que fracassam são oriundas da classe popular. Essa

abordagem dá origem a estudos valorativos e comparativos, segundo os

quais há uma cultura dominante (universal) e culturas inferiores (cultura

popular). Traz a ideia de educação compensatória pela “carência

cultural”. Torna possível, a crença de que as crianças de meios

desfavorecidos têm dificuldades de aprender.

• Abordagem antropológica – Essa abordagem entende o fracasso não

como um produto da família ou ad escola isoladamente, mas de fatores

externos que atingem a ambos. Analisa as relações de classes sociais

21

que processos d família e da escola e as relações entre esses grupos

sociais. Analisa o micro em suas relações com o macro ( social).

A partir dessas diferentes abordagens sobre o tema, pude perceber o

quanto ele é complexo e concluir que sua analise não pode ser reducionista.

Identificar as características individuais, psicológicas ou biológicas que

interferem no rendimento escolar e importante, mas, não para justificar o

fracasso ou excluir o aluno do processo, e sim, para contribuir com a escola e a

família no sentido de superação. Obviamente, existem patologias de

aprendizagem, mas pelos índices do fracasso que ainda temos no Brasil, seria

incoerente acreditarmos que todas as crianças por ele atingidas são portadoras

de tais patologias. Outro risco que corremos é o de pensar que uma criança de

classe popular, somente pela sua origem, esta predestinada ao fracasso na

escola ou de ficarmos apenas na analise ideológica do problema, sem

considerarmos a individualidade e singularidade de cada sujeito no processo

de construção de sua aprendizagem.

A realidade do cotidiano da escola e sua relação com o processo de ensino

aprendizagem e muito complexa combater o fracasso escolar tem sido uma

preocupação constante na educação. Mas a realidade existe conforme

Perrenoud:

“....temos que enfrentar a complexidade dos processos mentais e sociais, a ambivalência ou a coerência dos atores a das instituições, as flutuações da vontade politica, a renovação dos currículos e das didáticas, as rupturas teóricas e ideológicas ao longo das décadas.” (PERRENOUD,2001, p.15)

É muito importante discutir que tipo de escola o Brasil precisa e qual o

aluno que se encontra nesta escola antes de editarem o seu currículo. Isso

permitirá que uma escola, de conteúdos novos e de qualidade adequados a sal

clientela seja construída para que as camadas populares permaneçam dentro

dela e não excluídas e reprovadas como até agora vem acontecendo.

O estudo das questões que permeiam o fracasso escolar nos leva a crer

que, se uma criança fracassa na aprendizagem escolar, não se deve ao fato

22

dela ser deficiente ou possuir deficiências em seu contexto sócio familiar, mas

é um fracasso da própria escola, por sua incapacidade de avaliar sua própria

estrutura e pelo desconhecimento dos processos pelos quais as tem revelado

incompetentes no aproveitamento das qualidades dos alunos, no processo de

transmitir os conhecimentos formais as que se propõe:

“As dificuldades para superar o fracasso estão mais no campo social do que no campo pessoal, embora, sempre, recaia sobre o individuo responsabilidade maior desta recuperação.” (GRINSPUN, 2002, p.69)

Para a aquisição da competência, torna-se urgente que a escola, a partir

de uma ampla reflexão de sua pratica pedagógica e função social, tenha

clareza dos fatores que determinam as causas do fracasso escolar e supere os

mitos que há tanto tempo marcaram a realidade.

Nessa perspectiva, a escola não pode ser um lugar de reproduções das

desigualdades sociais a serviços de classes privilegiadas da sociedade. Deve

ser um espaço que favorece a construção de uma nova sociedade, dando a

seus usuários condições de analisar esta sociedade, identificar suas

contradições e apontar alternativas de superação das mesmas.

Considerando as condições históricas e culturais de nossa sociedade, é

fundamental lutar pela efetiva democratização do saber, promovendo a

igualdade real de oportunidade para todos, com vistas a diminuir a

desigualdade entre classes.

Para que possamos continuar buscando a escola desejada, precisamos

definir alguns caminhos. Durante muitos anos, as pesquisas sobre fracasso

escolar se preocupavam em descobrir suas causas ou verificar o que “faltava”

nas crianças que fracassavam. Considero aqui alguns autores que vem

produzindo um movimento diferente que priorizam a investigação dos

processos que produzem as experiências de fracasso e sucesso escolar e das

relações que os alunos mantem como a escola e o saber.

23

Chartlot (2000) aborda o fracasso escolar a partir da perspectiva da

relação com o saber e com a escola. Devemos segundo o autor, compreender

a realidade social a partir dos processos que a constroem. A globalização nos

empurra para uma sociedade de informações, e a informação, por si só, não é

saber. Torna-se saber apenas quando trata do sentido do mundo, da vida, das

relações com o mundo do ser humano consigo mesmo:

“ É preciso tentar entender com historias singulares se desenvolvem no interior de espaços sociais que são as mesmas para todos, e continuam sendo historias individuais, singulares.” (CHARLOT,1996,p.9)

A escola deve ter sido para a vida do aluno, pois a criança que vai à

escola vice também fora dela tem praticas, conhecimentos construídos nas

relações com a comunidade. Se não encontra sentido na escola, não pode

aprender:

“ Há uma diferença extremamente importante entre aquelas crianças para quem a verdadeira vida esta fora da escola, e aqueles que tiveram acesso a outro universo na escola, um universo que produz sentido, dá prazer, e que é a verdadeira vida, em relação ao saber.” (CHARLOT, 1996, p.12)

Tais ideias me levam a pensar a questão das diferenças e no desafio

que é para a escola trabalhar com a diversidade. Somo seres humanos

originais, pertencentes a uma cultura, e termos o direito de ser respeitados na

nossa sociedade singularidade. A escola deve conhecer as diferenças culturais

e acolhe-las e respeita-las, exercendo o duplo papel de não esquecer a

realidade da comunidade, estabelecendo relações com ela, e, ao mesmo

tempo, permitir um espaço para o distanciamento necessário para que a

criança perceba que pode viver de outras maneiras. O direito a diferença

cultural é emancipatório na medida em que se afirma, e ao mesmo tempo, a

identidade de todos os seres humanos e o direito de cada um deles de ser

sujeito singular.

Cada ser humano tem o direito de ter raízes e construir sua

subjetividade de acordo com elas. Se na escola isso não for respeitado, existe

24

um risco maior de fracasso escolar, pois os alunos terão de viver na

contradição, no “sem sentido”:

“Não podemos subestimar o choque cotidiano das culturas. Ele influencia o fracasso escolar: as rejeições, as rupturas na comunicação, os conflitos de valores e as diferenças de costumes contam tanto quanto o eventual elitismo dos conteúdos.” (PERRENOUD, 2001, p.57)

Em lugar de perceber que existem diferentes culturas, imaginamos que

existe apenas uma cultura, a dominante, com a ideia equivocada de que cultura

é algo que podemos ter ou não ter. Desta forma, as diferenças culturais se

tornam um obstáculo para crianças oriundas da classe popular e acarretam

maior possibilidade de fracasso escolar para elas.

No sentido de romper com esses conceitos (Bernard) Lahire (1997)

realizou uma pesquisa enfatizando o sucesso escolar emergentes nas classes

populares. Preocupou-se em analisar as diferenças secundarias entre famílias

populares, com renda e escolaridade aproximadas, observando crianças com

desempenhos e comportamentos escolares diversos dentro de famílias com

realidade sócia cultural semelhante:

“Se a família e a escola podem ser consideradas como redes de interdependências estruturadas por formas de relações sociais especificas, então o fracasso ou o sucesso escolares podem ser apreendidos como o resultado de uma maior ou menor contradição, do grau mais ou menos elevado de dissonância ou de consonância das formas de relações sociais de uma rede de interdependência a outra.” (LAHIRE, 1997, p.19)

Lahire afirma que, embora exista tendência de apresentar as classes

populares como homogêneas, suas pesquisas explicitam a diversidade das

relações que tais classes podem ter com a aprendizagem escolar, e que as

situações de sucesso escolar “estão longe de ser improváveis em meios

populares.”(LAHIRE, 1997,p.51)

Sendo assim, pude pensar que nem toda a criança da escola

pertencente à classe popular encontra-se em situação de fracasso. Devemos

25

então, nos perguntar o que é fracasso e o que é sucesso para a escola, para

os alunos a para a comunidade onde estão inseridos? Como as crianças se

relacionam com o saber e com a escola? Que relações existem entre a vida da

escola e vida da comunidade.

A partir de tais indagações, é possível pensarmos a educação para além

da escola oportunizando o rompimento de algumas praticas, buscando a logica

da permanência, da aprendizagem, do dialogo, da participação, da inclusão:

“Estabelecem-se canais, até então inusitados, da comunidade para a escola e da escola para comunidade, que buscam reeducar, tanto uma quanto a outra. Tais processos não são lineares – sobretudo pela dificuldade em demover ideias naturalizadas do fracasso escolar e constituem espaços e construção.” (MOLL, 2000, p.162)

Já afirmei nesse trabalho a necessidade de ampliar nosso olhar sobre o

fenômeno do fracasso escolar, tão complexo. Nesta perspectiva é que se

estabelece a relação entre o combate ao fracasso escolar, trata-se de olhar

para as questões da aprendizagem ou da educação para além dos muros da

escola:

“A escola que pode enfrentar o fracasso escolar prevenindo-o é uma escola voltada para diversidade, voltada para o respeito ao particular de cada um, voltada a igualdade entre os diferentes: é uma escola cuja participação da comunidade é completamente indispensável, onde pais questionam e repensa sua função educacional junto aos professores: é uma escola que abandona seus isolamentos da comunidade e transforma-se em uma comunidade de aprendizagem, envolvendo a todos: pais, alunos e professores, transformando as relações entre os diferentes atores do fazer educativo; é uma escola que caminha na busca de uma ruptura paradigmática que substitua os valores de competição e utilitarismo por valores de solidariedade e igualdade.”(DORNELLES,2000, p.28)

Devido aos fatores anteriormente apresentados, percebe-se que a

grande maioria dos professores tem uma formação precária, conduzindo-o a

não preocupar-se em ver seu conhecimento como um fator principal de

transformação social. O conhecimento para ele tem um valor em si mesmo. É

uma mera repetição. É responsabilidade de todos nos professores que

26

devemos mudar a postura com relação ao trabalho realizado com os alunos e

sociedade, precisamos definir o que esperamos realmente da escola. Não resta

duvidas de quem se vê excluído da escola, ou quem tem acesso a ela fica à

margem dos conhecimentos e competências que ela promete, serão os

marginalizados do próximo século.

Sabemos de modo geral que a escola é o lugar onde o aluno tem a

oportunidade de desenvolver-se culturalmente. O preenchimento de todos os

quesitos de uma escola bem equipada, sem a presença dos professores

devidamente capacitados, não trará a mínima possibilidade de transformação e

avanço nesses alunos.

Entretanto, a mera constatação dos fatos não é o bastante para a

reversão desse quadro, onde professores e alunos compartilham de uma

frustação mutua na qual se materializa uma ideologia de incompetência.

Porem em se tratando de dados estatísticos, percebe-se que o Brasil

nas questões de fracasso escolar revela um aumento considerável do numero

de matriculas. Através do senso escolar, que é uma pesquisa de alcance

nacional da qual participam todos os estabelecimentos de ensino publico e

privado é feito através do preenchimento de questionários padronizados,

fixados pelo decreto nº 73.177 de 20 de novembro de 1973. O objetivo desse

censo é produzir os dados e informações educacionais de forma ágil e

fidedigna, retratando a realidade educacional, sendo instrumentos de

avaliação, planejamento e auxilio ao processo decisório para estabelecimento

de politicas voltadas para a reformulação do quadro educacional brasileiro. Os

dados estatísticos revelam que houve aumento do numero de matriculas

considerável no Ensino Fundamental, porem, no Ensino Médio e na Educação

Superior, houve uma estagnação.

Contudo, não existem dados específicos nas questões que tangem os

alunos que fracassam. Constatando apenas os Estados que obtiveram êxito

e/ou fracasso na Educação.

27

Os desafios do futuro, portanto, são claras: melhorar a qualidade do

ensino para todas as faixas etárias, e aumentar o acesso tanto de criança com

menos de 5 anos a Educação Infantil, quando de adolescentes e jovens ao

Ensino Fundamental e Médio.

28

CAPÍTULO III

AFETO - FATOR DE IMPORTÂNCIA PARA A

CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Neste terceiro capitulo iremos apresentar a forma como a escola esta

organizada, bem como os sistemas de avaliações que são adotados nas

escolas brasileiras, qual o processo avaliativo e como a afetividade é

importante no processo ensino/aprendizagem.

O nosso processo educativo consiste em educar o sensório e para falar

em educação através da afetividade é importante conhecer o principio dessa

relação afetiva.

A autoestima de uma criança surge, segundo Winiccot através da

relação da criança com a mãe, esta imprimira naquele novo corpo os eu ritmo

somático, através da maneira de falar, embalar e amamentar. Esse ritmo é

afetivo e dará a esse ser uma sensação de pertencimento, pertencimento a um

núcleo familiar que transmite afetos, expectativas, intenções e outras emoções,

fazendo então, com essa pessoa se torne um ser social, pois o homem é um

ser em relação, e é nessa relação que se constrói o sujeito.

3.1 – Educar com afeto

O aprendiz se transforma junto com o professor e os demais

companheiros com os quais convive em seu espaço educacional, e é na

convivência que as dimensões do ser e fazer vão modelando-se mutuamente,

influenciando ações, comportamentos e condutas dos alunos:

Educar é enriquecer a capacidade de ação e de reflexão dor ser aprendente, desenvolver-se na biologia do amor que nos mostra que o ser vivo é uma unidade do ser e do fazer. (MATURANA & NISIS, 1997,p.49)

29

Segundo Maturana (1999), os afetos modelam o operar da inteligência,

abrindo e fechando caminhos para possíveis consensos a serem estabelecidos

em nossa vida cotidiana. Ele exemplifica dizendo que a inveja, o medo e a

ambição restringem a conduta inteligente porque estreitam a visão e a atenção.

Para ele, somente o amor amplia a visão na aceitação de si mesmo e do outro.

Por esta razão, Maturana compreende que a educação é um processo de

transformação na convivência, através do qual o ser aprendente se conserva

em seu meio ou se perde, a partir da formação.

Aprender implica em transforma-se. Resulta de uma historia de

interações recorrentes a dois ou mais sistemas vivos que interagem. Sabemos

que o individuo aprendeu algo quando percebemos que a sai conduta mudou.

Essas questões e preocupações indicam que a tarefa docente é a

formação humana de aprendizes, onde os conteúdos são apenas veículos

relacionais para a sua consecução. O mais importante é que a educação seja

capaz de criar condições que permitam a cada aluno torna-se um cidadão

sério, responsável e, sobretudo feliz.

O homem nasce com a possibilidade de vir a ser. Tornar essas

oportunidades efetivas vai depender da sua relação com o meio e com o outro,

vai depender do quanto esse individuo esteja aberto às mudanças, respectivo

às transformações e desejosos de se constituírem enquanto ser pensante e

atuante no mundo.

3.2. – O papel do O.E. e do professor na avaliação

Análise sobre a instituição escolar nos permite refletir a cerca de

inúmeros aspectos, tais como: a pratica educativa, o compromisso social e

ético dos Orientadores Educacionais e professores, a formação profissional, a

estrutura e os componentes do processo de ensino, nos métodos e os meios

30

de ensino, a relação professor aluno, enfim, diversas são as situações que

podem levar o aluno ao fracasso. Contudo, o numero de alunos que vão sendo

reprovados e que abandonam a escola é assustador.

Segundo Perrenoud, (1991, p.11) “os alunos são comparados e depois

classificados em virtudes de uma norma de excelência definida no absoluto ou

encarnada pelo professor e pelos melhores alunos”. Certamente é possível

observar inúmeros problemas que afloram durante a pratica docente quando o

tema é avaliação.

Avaliar e necessário em todas as atividades humanas e, em se tratando

da questão educacional, mostra-se essencial, permanente e continua, assim

como preza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96 e

de forma sociocultural no imaginário coletivo dos educadores: o agir em função

dos desejos.

Para Luckesi (1998), a avaliação é uma apropriação qualitativa sobre os

dados relevantes do processo de ensino e aprendizagem que auxilia o

professor a tomar decisões sobre o seu trabalho. De fato deve-se considerar a

ideia de avaliação como inerente ao próprio ato de aprender.

A partir do autor é possível observar as diferenças de pratica avaliativa

realizados em sala de aula: a classificação do aluno após a medida do

quantitativo que o aluno aprendeu e o ato dinâmico, aberto que oportuniza o

aluno a vencer as etapas da aprendizagem.

Em relação à primeira, numa visão mecanicista, o professor com toda a

sua autoridade, é o único dono do saber na sala de aula quando faz uso dessa

avaliação. Apesar de ser a escola o lugar onde se aprendeu, a valorização

recai sobre os acertos, sendo estimulada a competição. “Percebe-se o aluno

sendo observado apenas em situações programadas.” (Hoffamann, 2000, p.25)

Hoffmann ainda salienta que nessa pratica avaliativa tradicional, a

postura do professor é “corrigir tarefas e provas do aluno para verificar

31

respostas certas e erradas e, como base nessa verificação periódica, tomar

decisões ao seu aproveitamento escolar”. (2000, p.95)

A escola não pode continuar trabalhando com verdades absolutas,

prontas e acabadas. A avaliação da aprendizagem necessita cumprir o seu

verdadeiro significado, assumir a função de subsidiar a construção da

aprendizagem bem sucedida.

Em se tratando da segunda observação, a avaliação da aprendizagem

escolar como um ato amoroso já é encontrado no ambiente de sala de aula que

possui a característica de não julgar. Como preza Luckesi (1998), o

acolhimento afastado é o julgamento.

Numa perspectiva semelhante, Hoffmann (2000) apresenta a avaliação

mediadora, que avalia as várias manifestações dos alunos em situação de

aprendizagem:

“...para acompanhar as hipóteses que vem formulando a respeito de determinados assuntos, em diferentes áreas do conhecimento, de forma a exercer uma ação educativa que lhes favoreça a descoberta de melhores soluções ou formulação de hipóteses preliminarmente formuladas”. (HOFFMANN, 200, p.96)

A falta de conceitual, bem como, de competência técnica na elaboração

de objetivos educacionais, na seleção e construção de instrumentos de medida

tomada de decisões, tem contribuído para que a avaliação na sala de aula seja

desenvolvida de forma fragmentada e descontextualizada.

É preciso ter coragem para questionar, refletir e realizar uma avaliação

dinâmica, significativa e libertadora.

A ação educativa deve contar com a curiosidade de conhecer a quem se

educa, possibilitando a descoberta de si próprio.

Mesmo que a sala de aula seja constituída pelo movimento, pela

surpresa, pela turbulência, pela desordem, pela diferença, as praticas

escolares e os processos ensino/aprendizagem estão estruturados para

conduzir a homogeneidade, à linearidade, considerados essências para uma

32

boa relação pedagógica. Isso fica implícito no discurso do professor e explicito

na sua pratica avaliativa, quando é dado um único modelo de avaliação para

todos, sem respeitar a diversidade.

Segundo Demo (2004), cuidar da aprendizagem do aluno, é olhar cada

um com atenção, saber de sua historia, família, sobrevivência, representações

sociais, amizades, problemas. Por vezes, há de acentuar a igualdade de

condições de todos, outras vezes será o caso não tratar de modo igual a

desiguais: o aluno que vai mal precisa de maior cuidado. Assim, o fracasso

escolar tem como um dos fatores principais a ação pedagógica do educador. A

avalição é um dos aspectos principais deste fenômeno, principalmente quando

o professor não assume a reponsabilidade desse fracasso, colocando a culpa

somente em outros aspectos, principalmente na falta de interesse do aluno, ou

seja, o aluno se transforma no agente principal do seu próprio fracasso.

Na concepção de Hoffmann (2003), o professor não assume

absolutamente a responsabilidade em relação ao fracasso do aluno. Em

primeiro lugar, porque representaria assumir sua incompetência na

organização do trabalho pedagógico, uma apresentação inadequada de

estímulos de aprendizagem, em segundo lugar, porque aquilo que faz

geralmente se traduz em resultados positivos para alguns alunos, então o

problema esta nos alunos que não aprendem e não na ação do professor. Sem

ultrapassar a visão comportamentalista de conhecimento, nenhuma outra

hipótese é levantada pelo professor sobre as dificuldades que os alunos

apresentam, senão a sua desatenção e desinteresse. Em terceiro lugar,

porque, coerente com tal visão de conhecimento, o avaliar reduz-se, para ele, a

observação, o registro de resultados alcançados pelos alunos ao final de um

período. Tal visão não absorve uma perspectiva reflexiva e mediadora da

avaliação.

Enfim, cabe a nos professores refletirmos a respeito do mundo que se

que ter, através da avaliação. Pode perpetuar o status ou pode-se transformar

a sociedade, sendo que por traz do tipo de avaliação esta o tipo de homem que

se pretende formar: submisso ou autônomo, que apenas se submete a

pensamentos ou o que pensa por si mesmo. Portanto, devemos assumir o

33

fracasso escolar como um desafio e uma das possíveis alternativas para a

superação esta na avaliação.

34

CONCLUSÃO

No presente trabalho objetivei apresentar que não existe um único

“culpado” pelo fracasso escolar. Muitas vezes a escola, situa o problema do

fracasso no individuo, considerando-o como portador de algum tipo de desvio

ou anormalidade e a avaliação que se da de forma meramente quantitativa.

Assim, o insucesso é atribuído a debilidade das capacidades intelectuais

e a cultura desviante. Sendo assim, culpa-se somente o aluno por tal fracasso

desconsiderando que há ocasiões em que a avaliação do sistema educacional

é totalmente fora da nossa realidade.

Contudo, ao longo dessa produção pesquisei e apresentei a

necessidade urgente de uma mudança de postura em relação a avaliação, no

sentido de situar o papel dos profissionais comprometidos com a educação

deste pais.

Também pude observar que pensar em fracasso escolar, a partir da

perspectiva da escola, não é mais suficiente e nem tem possibilitado a reversão

deste fenômeno. É necessário ampliar a forma de analisar o fracasso para

além dos muros da escola.

O professor considerado agente de mudança social, não vem refletindo

seriamente sobre a pratica educativa e sobre as condições e contextos em que

ocorre o processo ensino-aprendizagem.

Não basta ao educador criticar a metodologia e a eficiência de sua ação

docente. É preciso que o professor assessore seu alicerce de um

embasamento teórico que as ciências educacionais colocam à sua disposição

como referencial teórico, além de uma postura critica.

35

Torna-se necessário ainda destacar predominantemente em nosso

cotidiano escolar, destacando a urgência de ser adotar uma nova postura

visando a sua melhoria bem como, a compreensão de seu verdadeiro

significado.

Então de acordo com esta pesquisa, pode-se supor que o melhor

caminho para a melhoria do desempenho escolar dos alunos surgirão a partir

do momento em que a escola estiver certa e aberta as mudanças, aceitando a

realidade do fracasso escolar para que assim possamos encontrar soluções

para este problema.

Enfim, buscar soluções para este problema não consiste em patologizar

o aprendente, mas em ampliar o foco, abrindo espaço para outras variáveis

que também influenciam o processo da aprendizagem como a instituição, o

método de ensino e a avaliação, as relações ensinante – aprendente e os

aspectos sócios culturais. Portanto esta mudança deverá estar voltada para

uma reflexão, com decisão critica a cerca de tal educação oferecida, apoiada

no respeito e dedicação, associada ao comprometimento na formação dos

cidadãos atuantes e críticos.

36

BIBLIOGRAFIA

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38

SOARES, Magda, Linguagem e Escola, Uma Perspectiva Social. 17º ed.

Ática, 2000.

39

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO...........................................................................................02

AGRADECIMENTO...........................................................................................03

DEDICATÓRIA..................................................................................................04

RESUMO...........................................................................................................05

METODOLOGIA................................................................................................06

SUMÁRIO..........................................................................................................07

INTRODUÇÃO...................................................................................................08

CAPÍTULO I - O ORIENTADOR EDUCACIONAL FACE AO FRACASSO ESCOLAR...............................................................................11

1.1 – Aprendizagem e Fracasso Escolar................................................11

1.2 – A intervenção do Orientador Educacional....................................13 CAPÍTULO II - AS DIFICULDADES DA APRENDIZAGEM.............................17

CAPÍTULO III – Afeto – Fator de importância para a construção do

Conhecimentos.......................................................................28

3.1 – Educar com afeto...........................................................................28

3.2 - O papel do O.E. e do professor na avaliação................................29

CONCLUSÃO. .................................................................................................31

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................34

ÍNDICE...............................................................................................................39

40

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: O ORIENTADOR EDUCACIONAL EM BUSCA

DE FERRAMENTAS PARA MINIMIZAR O FRACASSO ESCOLAR

Autor: Lúcia Helena Albuquerque

Data da entrega: 30 ⁄ 01 ⁄ 2011.

Avaliado por:__________________________ Conceito:_________