Upload
giovanna-brito-castelhano
View
691
Download
6
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - 2008
SUMARIO
INTRODUÇÃO
UNIDADE I – PARA QUE FILOSOFIA NO CURSO DE DIREITO?
1 IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA
2 PODEM OS FILÓSOFOS MODIFICAR O MUNDO?
3 O CONHECIMENTO HUMANO
4 PARTES DA FILOSOFIA E GRANDES ESCOLAS FILOSÓFICAS
5 ALGUNS REPRESENTANTES DA FILOSOFIA OCIDENTAL
6 MÉTODO, CIÊNCIA, FILOSOFIA E SENSO COMUM
7 FILOSOFIA DO DIREITO: CONCEITO, ATRIBUIÇÕES E FUNÇÕES
UNIDADE 2 – PANORAMA HISTÓRICO DA FILOSOFIA EM RELAÇÃO AO
DIREITO
1 SOFISTAS: DISCURSO E RELATIVISMO DA JUSTIÇA
2 SÓCRATES: ÉTICA, EDUCAÇÃO, VIRTUDE E OBEDIÊNCIA
3 PLATÃO: IDEALISMO, VIRTUDE E ÉTICA
4 ARISTÓTELES: JUSTISÇA COMO VIRTUDE
5 SANTO TOMAS DE AQUINO: JUSTIÇA E SINDERESE
6 THOMAS MORE : UTOPIA DO DIREITO
7 ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL
8 MARX : HISTÓRIA, DIALÉTICA E REVOLUÇÃO
9 HANNAH ARENDT: PODER, LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS
UNIDADE 3 - TÓPICOS ESPECIAIS DAS OBRAS FILOSÓFICAS DO PRO-
GRAMA DE IVELAMENTO
1 A REPUBLICA DE PLATÃO
2 A POLÍTICA-ARISTÓTELES
3 A CIDADE DE DEUS-SANTO AGOSTINHO
4 UTOPIA-THOMAS MORE
5 O PRÍNCIPE - NICOLAU MAQUIAVEL
6 DOM QUIXOTE-MIGUEL DE CERVANTES
7 O LEVITÃ-THOMAS HOBBES
8 A CIDADE DO SOL-TOMÁS DE CAMPANELLA
9 DISCURSO DO MÉTODO-RENÉ DESCARTES
10 DO ESPÍRITO DAS LEIS-MONTESQUIEU
11 CONTRATO SOCIAL - JEAN J. ROUSSEAU
12 DOS DELITOS E DAS PENAS-CÉSAR BECCARIA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
INTRODUÇÃO
Ao me deparar com a Disciplina Cultura Teológica, na grade curricular do Curso de
Direito, fiquei me questionando, o que o acadêmico de Direito, precisa saber para
posteriormente aplicar no dia à dia de sua profissão.
Ai vem a primeira unidade demonstrando a importância dos filósofos, com seus
pensamentos tentando modificar o mundo, com suas idéias e métodos, tentando, através de
suas escolas filosóficas fixaram seus pensamento na cultura da humanidade, como ciência,
que a seu ponto de vista poderia mudar o mundo.
Para que possamos entender um pouquinho de seus ideais filosóficos, temos que ler
as obras literárias da época, tais como aqueles elencados na unidade terceira do índice,
como seus tópicos na seqüência, que vai desde a mais simples narração, até a fantasia de
Dom Quixote, do nosso ilustre escritor Miguel de Cervantes.
É na segunda unidade que tenho a oportunidade de obter as respostas de meu
questionamento,onde através da leitura, pude conhece um pouco dos pensamento do
época, mais em destaque a frente a filosófica para ser aplicada ao Direito.
UNIDADE 1 - PARA QUE FILOSOFIA NO CURSO DE DIREITO?
1 IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA
Para que se destaque a importância da filosofia, é mister que se debruce a análise
sobre algumas capacidade humanas, delas extraindo-se a atividade filosófica. Nesse
sentido, trabalhando as noções de ação e pensamento, pode-se, por meio dessa dicotomia,
alcançar uma discussão a respeito dos meados filosóficos e do papel da especulação
reflexiva, a reflexão acerca de algo, prioriza-se o alcance de uma proposta coerente de
entendimento. explicando e buscando às causas do fenômeno investigado.
A atitude que pensa os fundamentos, que reclama os princípios, que analisa as
conseqüências, que destaca as origens, que resgata as incongruências... é a atitude
tipicamente filosófica. Em suma, trata-se daquela atitude que observe pela observação, que
demanda especulação, onisciência do fenômeno, e não ação, ou mesmo decisão.
A filosofia não pode estar plenamente comprometida com a ação, sob pena de
converter-se ao tecnicismo decisório, é o homem que investiga a si mesmo, em suas
características intrínsecas, ou em suas projeções sociais.
2 PODEM OS FILÓSOFOS MODIFICAR O MUNDO?
Seria demasiado exagero considerar que é pretensão dos filósofos modificarem o
mundo. Suas idéias, porém, não se lançam ao mundo sem motivo, sem objetivo, sem
finalidade. Então, o filósofo modifica indiretamente o mundo, pois seu rastro é sua marca
impressa sobre as coisas e as pessoas, à medida que suas idéias são recepcionadas.
Todavia, de qualquer forma, o que há que se dizer é que o filósofo age por meio do
pensamente; seu modo de ação dá-se por meio de palavras, de idéias, de discursos, e de
escritos, que ficam para sempre, a todo tempo em que os leitores a lêem-se concordam com
aquelas idéias, volta a florar na humanidade, e acaba, sendo um assunto que apesar dos
tempos torna-se atualizado.
O pensamento se exerce e desencadeia certa mudança no mundo (modificação
indireta). As pessoas abraçam as idéias. O filosofo age pelo pensamento (ação = palavra,
escritos), mas não está alheio às suas pretensões de ingerência política sobre o mundo, a
pessoa não é um ser só pensantes, somos agentes.
3 O CONHECIMENTO HUMANO
Ele divide-se em: 1) Senso Comum 2) Religião, 3) Técnica, 4) Ciência 5) Filosofia.
1) SENSO COMUM: noções superficiais, assistemáticas, juízos não aprofundados e
retirados da experiência do cotidiano (nem tudo é certo, nem tudo é errado). Ausência de
método, fala de provas. De suas preliminares surge o saber científico.
2) RELIGIÃO: fé (nascida com o ser humano), função de medo, carência de
conhecimento científico, crença em poderes naturais e sobrenaturais, engajamento em
mística, culto, poderes sociais estabelecidos a partir dos poderes religiosos e espirituais.
A verdadeira crença solidifica-se por instrumentos racionais, por expedientes
comprobatórios, lógicos e lúcidos, distanciando-se do fanatismo e da cegueira sectária, isso
quer dizer a fé esclarecida.
3) TÉCNICA: saber – fazer implica meio de interação e adaptação mecânica do
homem com o meio.
Solução prática visando a eficiência, celeridade, menor esforço. O risco da
escravidão tecnológica, com abandono da essencialidade.
O homem sem técnica está a mercê das contingências materiais da vida.
4) CIÊNCIA: manifestação racional que busca a causa dos fenômenos para explicá-
los coloca á prova do raciocínio e da testabilidade empírica as hipóteses formuladas para os
fenômenos que circulam a humanidade.
5) FILOSOFIA: a especulação distingue-se da mera observação passiva, da
contemplação admirativa. Postula as causas primeiras, explica, critica, ela favorece a
liberdade de pensar. É uma busca racional para as questões que a ciência se julga
incompetente. Não tem compromissos imediatos. Faz questionamentos sobre meios e fins,
princípios e causas, destinos e metas, etc.
4 PARTES DA FILOSOFIA E GRANDES ESCOLAS FILOSÓFICAS
É costume apontar, de acordo, com o acumulo das experiências filosóficas desde a
antiguidade, subdivisões didática dos saberes filosóficos. As classificações são muitas, as
opiniões que de diga que a filosofia se espraia por campos infinitos de conhecimento, à
medida que inesgotáveis são os saberes, e seu as distensões teóricas são as que seguem:
1. Ética: moral, comportamento, costumes, hábitos, atitude perante si e o outro,
limites da ação humana, fins e meio da decisão de agir, regras de proceder (a moral está
sujeito às normas).
2. Lógica: raciocínio, pensamento, encadeamentos racionais, referências, deduções,
abduções, são estas as principais preocupações da filosofia ética.
3. Estética: sensibilidade, arte, imitação da natureza, potencial criativo, juízo do
gosto, invenção. são estas as principais preocupações da filosofia ética.
4. Epistemologia: conhecimento (teoria do), possibilidade de alcance da verdade, são
estas as principais preocupações da filosofia das ciências.
5. Filosofia política: poder, legitimidade, consenso, vontade popular,
representatividade, participação, cidadania, totalitarismo, opressão, desvio de poder,
governo, justiça social, gestão social, são estas as principais preocupações da filosofia
política.
6. Metafísica: origem das coisas, unidade divina, relação criador/criatura,
preexistente do mundo, substância do se, alma, destino, governo do universo, causa das
causas, sentido da vida, são estas a principais preocupações da filosofia metafísica.
7. História da Filosofia: conceitos filosóficos, escolas filosóficas, doutrinas e injunções
históricas das doutrinas, atrelamento entre o pensamento e seu tempo, discussões que
perpassam a história com continuidade e descontinuidade. são estas a principais
preocupações é a história da filosofia .
8. Filosofia da História: os limites do saber histórico, a valoração humana sobre os
fatos passados, os meandros da ação humana sobre a história, as descontinuidades
históricas, a história e sua escrita, a determinação ideológica das práticas e do saber
histórico, são estas a principais preocupações da filosofia metafísica, são estas a principais
preocupações da filosofia da história.
9. Filosofia da linguagem: o poder de significação das palavras, o pronunciamento do
ser humano sobre a realidade, a dimensão do signo, a dependência da razão da linguagem,
a participação do discurso na construção do arquétipo social, a análise dos instrumentos de
comunicação, a interação social, as diversas linguagens, da gutural à escrita, a manipulação
da linguagem, pó poder persuasivo da linguagem, são estas a principais preocupações da
filosofia da linguagem.
5 ALGUNS REPRESENTANTES DA FILOSOFIA OCIDENTAL
1. TALES DE MILETO (625 – 547aC): primeiro pensador, está entre os sete sábios
da Grécia, destacou-se pelas idéias matemáticas, astronômicas e cosmológicas. Para ele, a
água é o princípio de todas as coisas.
2. ANAXIMANDRO (? – 647aC): o ápeion é o elemento formador e originário do
universo (substância diferente da água, da terra, do ar e do fogo).
3. ANAXÍMENES (546 aC - ?): o ar era a origem de tudo e substância composta da
alma e do universo.
4. PITÁGORAS (572 – 510aC): afinidade com a matemática. Foi pensador e místico
que fundou uma congregação de iniciados. Para ele era possível ouvir os sons dos astros e
explicar a essência das coisas por meio das categorias numéricas e seus sentidos.
5. DEMÓCRITO (460 – 370aC): teoria atomística > elemento individual, o átomo. A
diferença entre os corpos é devido a diferença entre os átomos que os compõem.
6. PROTÁGORAS (490 – 421 aC): sofista. “O homem é a medida de todas as
coisas”. Os sofistas relativizam o absoluto dos pré-socráticos e situam a filosofia no contexto
econômico e político. Protágoras era grande orador e ensinava as estratégias sofistas
mediante pagamento.
7. SÓCRATES (469 – 399 aC): Atenas. Iluminação filosófica, maiêutica, dialética.
Temas morais e antropocêntricos, tratados em praça pública (agorá). Condenado a beber
cicuta, acusado de perverter a juventude e de propalar a adoração a outros deuses. Mártir
da filosofia. “Conheça-te a ti mesmo”, “Só sei que nada sei”.
8. PLATÃO (427 – 347aC). Autor de muitos diálogos, com destaque para a
República. Discípulo de Sócrates. Fundador da Acadêmica de Atenas. Filosofia ontológica e
dualista pressupõe a existência de uma realidade para além da realidade mundana,
representando certa fusão da dialética e da ética socráticas com o orfo-petagorismo e o
sincretismo oriental. Sua doutrina do estado revela o primeiro dos compromissos possíveis.
9. ARISTÓTELES (384–322aC): discípulo de Platão, nascido na Macedônia. Autor
de grandes tratados. Fundador da lógica, biologia. Buscou as causas das coisas e dos
fenômenos. Cf. A política, Ética a Nicômanos, etc.
10. ZENÃO (334-262aC): fundador do estoicismo grego, doutrina helenística que
colocava o homem em relação e em sintonia com o cosmos. A ataraxía é o meio de
alcançar a virtude e sabedoria.para este pensamento, esta escola encontrou também fortes
adeptos os pensadores romanos .
11. EPICURO (341–271aC): Epicurismo - o conhecimento se origina das sensações
e a felicidade do prazer que pode conduzir ao bem estar máximo e harmonia da alma.
Atenas
12. PLOTINO (205 – 270dC): dá origem ao neoplatonismo, revigorando o estudo
pagão. O Neoplatonismo é uma escolástica (utilização da Filosofia para defesa de verdades
religiosas, reveladas ao homem (o que pode rejeitar uma lei, norma) e que por ele passíveis
de serem redescobertas na intimidade da consciência.
13. AGOSTINHO (354– 430dC): Iniciou-se na retórica e no maniqueísmo, converteu-
se ao cristianismo. Ela consiste na elaboração da doutrina das crenças religiosas do
cristianismo e na defesa contra os ataques dos pagãos e contra as heresias. A Patrística é
caracterizada pela falta de distinção entre religião e filosofia. Ela foi dividida em três
períodos
14. ABELARDO (1079–1142dC): engajado nas discussões medievais dos universais,
é o maior protótipo do período escolástico. Foi hábil instrumentador da lógica, da gramática,
da retórica, da dialética e da razão.
15. SANTO TOMAS DE AQUINO (1225–1274dC): Conciliou dogmas cristãos com
idéias aristotélicas.
16. FRANCIS BACON (1561–1650dC): é de origem inglesa. Considerado o pai da
ciência moderna e da lógica da pesquisa – demonstração do saber (ídola).
17. RENÉ DESCARTES (1596–1650dC): fundador do método cientifico moderno
(analítico ou dedutivo).
18. JOHN LOCKE (1632–1704dC): médico inglês. Há profundo significado político e
filosófico em seu pensamento. Trata da Teoria do Conhecimento e a origem da sociedade
(como meio de garantia de sobrevivência para os indivíduos).
19. VOLTAIRE (1694–1778dC): representante da modernidade (Renascimento), foi
contra a hipocrisia e a intolerância religiosa. Diz-se do seu humor satírico que lhe causa
problemas políticos, resultando em prisão e exílio
20. JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712–1778dC): Conheceu Voltaire e Diderot
(Iluministas). Colaborou na Enciclopédia, redigindo verbetes sobre música.
21. IMMANUEL KANT (1724–1804dC): Sem dúvida, o maior representante da
filosofia do século XVIII, fundou o cretinismo filosofo e trouxe notáveis contribuições aos
temas de lógica, da metafísica.
22. GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770-1831dC): O filósofo alemão, que
chegou à titularidade da Universidade de Berlin, é o maior representante do idealismos
filosófico do século XIX. Em seu sistema de idéias, a razão domina tudo, pois o saber é a
verdadeira sede ontológica das coisas, sendo a dialética a forma pela qual as coisas entram
em movimento. A idéia do estado é algo semelhante a uma necessidade social de
transformação do anárquico da vontade livre em racional da estrutura burocrática e pensada
na ordem estatal. Hegel é o maior representante do idealismo do século XIX.
23. KARL MARX (1818 -1883dC): Em parte, influenciado por Feurbach e em parte
por Hegel, incrementa o materialismo, tornando-o dialético e histórico, sabendo entrever na
história humana a sucessão de regimes econômicos de expiração e de alternância de
classes dominantes. Identifica estrutura e superestrutura. Sua leitura dos métodos
capitalistas de acumulação primitiva é apuradíssima. Juntamente como Engels, consegue
dar início, bem como acompanhar, os principais movimentos de trabalhadores do século
XIX, ideologia engatilhada sobretudo a partir do Manifesto comunista. Sua doutrina traz
fortes influências sobre os movimentos sociais dos séculos XIX e XX.
24. FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844–1900dC): Representante do
voluntarismo, lança as fundações do miilismo. Sua filosofia irrompe com uma crítica cética à
tradição metafísica ocidental, e discorre sobre a vontade de poder. Para ele a constituição
da realidade decorre de uma explosão multifária de formas desordenadas, e a ética dos
tempos deve ser posta em dúvida pelo método genealógico.
25. EDMUND HUSSERL (1859–1938dC): iniciou seus estudos pela matemática,
passando à lógica e filosofia. É fundador da fenomenologia, corrente de pensamento que
projeto na busca da essência das coisas-em-si a verdadeira meta do saber. Nenhum juízo
sobre as coisas deve estar contaminado pela visão que comumente se tem sobre elas, pois
se torna desde já as coisas obscuro: a identidade de algo decorre de sua natureza e
constituição mais íntimo, e é nisso que consiste a pesquisa fenomenologia, que haverá de
fazer na ser de dentro de si também o existencialismo. busca a essência das coisas em si.
O juízo sobre as coisas não pode estar contaminado pelas visões que se tem sobre elas. A
identidade decorre de sua.
26. MARTIN HEIDEGGER (1889-1976dC): Autor alemão. É fenomenólogo. Deteve-
se na pergunta sobre o ser, especialmente do tema dasein (ser-aí).
27. HANNAH ARENDT (1906–1975dC): Dedicou-se à filosofia política com franca
oposição à intolerância anti-semita e ao nazismo. Discute o poder. Suas contribuições para
a temática da condição humana também são de extrema valia.
28. JEAN PAUL-SARTRE (1905–1980dC): É francês. Está entre o marxismo e o
existencialismo filosófico. Sua obra está focada sobre a figura frágil do homem enquanto
ser-aí, enquanto ser no mundo. Dedicou-se a temas existenciais, psicológicos, literários,
filosóficos e teatrais. Defesa da liberdade do espírito e certos temas humanistas.
29. JÜRGEN HABERMAS (1929 -----). Faz análise da comunicatividade e dos
discursos sociais. È ligado à teoria hermenêutica, dentro da “Escola” de Frankfurt (base
ético-discursiva).
6 MÉTODO, CIÊNCIA, FILOSOFIA E SENSO COMUM
1.CIÊNCIA. É ponto pacífico que a atividade científica não pode possuir o mesmo
grau de incerteza que possui o senso comum. De fato, se o senso comum corresponde a
um conjunto assistemático de conhecimentos de diversas naturezas, que corresponde à
multiplicidade das informações recebidas e colhidas ao longo de determinado tempo de
experiência humana, a ciência não poderá encontrar-se ao sabor das mesmas incertezas.
A ciência, então, deverá representar o conhecimento sistematizado, especializado,
testado, organizado, diluído em uma trama de postulados metodológicos. Trata-se de uma
prática racional da qual resultam conhecimentos mais rigorosamente testados que aqueles
adquiridos informalmente. Assim é que se pode dizer que o grau de probabilidade e de
certeza nas conclusões científicas é maior que no conhecimento vulgar.
Em suma, o onicompreensivo saber filósofo teve de ceder espaço aos saberes
especializados que irrompiam, que eram conquistados ou descobertos.
2. FILOSOFIA E SENSO COMUM – É freqüente afirmar que a ciência e a filosofia
constituem-se em saberes sistemáticos, complexo, verticalizado e metodologicamente
amparados: são, por isso, saberes diferenciados do saber vulgar esse tipo de preocupação
acaba por concentrar os esforços e as atenções dos doutrinadores e cientistas, que se
distanciam de uma reflexão mais apurada das relações entre a ciência, a filosofia e o senso
comum.
As ciências jurídicas estão algemadas a necessidade que as tornam saberes
parciais, sobre fenômenos sócias, além de saberes normativos sobre fenômeno sociais.
A filosofia do direito é, um meio ao emaranhado das contribuições científicas do
direito, a proposta de investigação que valoriza a obstrução conceitual, servindo de reflexão
crítica, engajada e dialética sobre as construções jurídicas, sobre os discursos jurídicos,
sobre as práticas jurídicas, sobre os fatos e as normas jurídicas. Por sua proposta mais
aberta, livre das amarras do direito vigente, livre dos pré-conceitos contidos na legislação
positiva, descompromissada com a moral.
7 FILOSOFIA DO DIREITO: CONCEITO, ATRIBUIÇÕES E FUNÇÕES
2 SÓCRATES: ÉTICA, EDUCAÇÃO, VIRTUDE E OBEDIÊNCIA
2.1 SÓCRATES NA HISTÓRIA
Sócrates conviveu com o povo ateniense, Seu campo de especulação não é o da
cosmovisão das coisas e da natureza, mas a natureza humana e suas implicações ético-
sociais. Interagiu e reagiu ao movimento dos sofistas. Seu método maiêutico, baseado na
ironia e no diálogo, tem como finalidade a parturição das idéias e como inspiração a
parturição da vida.
Todo erro é fruto da ignorância e toda virtude é conhecimento. A maior luta humana
deve ser pela educação e a maior das virtudes é a de saber que nada sabe. Condenado a
beber cicuta pelo tribunal ateniense, não se furtou à sentença e curvou-se ante o desvario
decisório dos homens do seu tempo. Para ele a obediência à lei é o limite entre a civilização
é a barbárie.
2.2 ÉTICA SOCRÁTICA
O pensamento socrático é profundamente ético e envolve temas impossíveis de
solução como: o que é justiça? Bem? Coragem, virtude.
Com Sócrates a filosofia converteu-se num éthos (o homem radicado em meio aos
homens). Os temas surgem do convívio da moralidade, das práticas coletivas, das atitudes
do legislador, da linguagem poética. O modo de vida e a filosofia socrática não se separam.
A doutrina ética e o ensino ético de Sócrates retiram-se de seu testemunho de vida.
Sócrates combateu o relativismo sofista, a quem chamava de prostituídos, rompeu
com a tradição e com os ensinamentos de seu tempo. O conhecimento para ele reside no
interior do homem, conhecendo-se a si mesmo, o homem pode conhecer melhor o mundo.
O ensinamento ético de Sócrates reside no conhecimento e na felicidade. Para saber julgar
acerca do bem e do mal é necessário conhecimento (enquanto verdadeira sabedoria e
discernimento). A ética para Sócrates tem a ver com a semelhança com o que é valorizado
pelos deuses. O cultivo da verdade consiste no controle efetivo das paixões e na condução
das forças humanas para a realização do saber, é o que conduz à felicidade.
A filosofia socrática traduz uma ética teleológica, e sua contribuição consistem em
vislumbrar na felicidade o fim da ação. Essa ética tem por fito a preparação do homem para
conhecer-se, uma vez que o conhecimento é a base do agir ético; só erra quem
desconhece, de modo que a ignorância é o maior dos males. Conhecer, porém, não é fiar-se
nas aparências e nos enganos e desenganos humanos, e sim fiar-se no que há de
verdadeiro e certo. Erradicar a ignorâncias, portanto, por meio da educação é tarefa do
filósofo, que na certeza desses princípios, abdica até mesmo de sua vida para re-afirmar
sua lição e seu compromisso com a divindade. A lição de vida da ética socrática, é já uma
lição de justiça.
Portanto, um misterioso conjunto de elementos éticos, sociais e religiosos
permearam os ensinamentos socráticos, que permaneceram como princípios perenes e
modelares, apesar de não terem sido reduzidos a escrito, mas que se transmitiram e se
consubstanciaram principalmente no pensamento platônico,surtindo seus reflexos nas
demais escolas que se firmaram na doutrina socrática.
Ao contrário de fomentar a desordem, o caos, a insurreição, sua filosofia prima pela
submissão, uma vez que a ética do coletivo está acima da ética do indivíduo. Seu
testemunho de vida bem provou essa convicção no acerto da renúncia em prol da cidade-
estado. Onde está a virtude está a felicidade, e isso independente dos julgamentos
humanos a respeito.
A condenação do Sócrates, além de ter-lhe propiciado a oportunidade de questionar
com sua vida a justiça citadina, também produzir sérios efeitos e deixou aprofundas marcas
na história da filosofia.
3 PLATÃO: IDEALISMO, VIRTUDE E ÉTICA
3.1 PLATÃO NA HISTÓRIA
Platão (427 – 347aC), filósofo grego nascido em Atenas foi discípulo de Sócrates e
fundador da Academia. Seu verdadeiro nome era Aristóteles, em uma homenagem ao seu
avô. Platão significa largura, e é quase certo que seu apelido veio de sua constituição
robusta, ombros e frontes largos, um porte físico forte e vigoroso, que o fez receber
homenagens por seus feitos atléticos na juventude.
O pensamento platônico acolhe a principal parte das premissas socráticas, através
de seus diálogos.
3.2 IDEALISMO, VIRTUDE E TRANSCEDÊNCIA ÉTICA
A filosofia platônica é decorrente de pressupostos transcendentais sobre a alma e
sua preexistência, a reminiscência das idéias e sobre a subsistência da alma.
A rigor Platão, diferentemente de Sócrates distanciou-se das questões políticas. Ao
invés de ensinar na agora, como Sócrates fazia, Platão decepcionado com o governo dos
Trinta Tiranos, ensinava em ambiente separado onde o pensamento pudesse fluir com
tranqüilidade, a Academia.
A ética platônica destina-se a elucidar que a ética não se esgota na simples
localização da ação virtuosa e de seu discernimento com relação à ação viciosa.
De suas principais figuras textuais, de seus principais mito, podem-se inferir lições
que fazem a alma orienta-se de acordo com padrões de conduta ditados com base na noção
de Bem. Se sua natureza é metafísica, também a natureza da verdadeira e definitiva justiça
será metafísica. Ao se moldar a conduta de acordo com estes reclamos, estará,
definitivamente, a alma a orientar-se de acordo com o Bem; ao desviar-se destes, estará,
literalmente, deixando o barco ser guiado pela correnteza e não pelo timoneiro. No controle
das outras partes da alma pela alma racional reside a harmonia da virtude: no descontrole, o
vício.
De qualquer forma, a educação da alma tem por finalidade destinar a alma ao
pedagogo universal, ao Bem Absoluto. No mundo, a tarefa de educação das almas, para
Platão, deve ser levada a cabo pelo Estado, que monopoliza, no diálogo da república, a vida
do cidadão. A educação dever ser pública, com vistas no melhor aproveitamento do cidadão
pelo Estado e do Estado pelo cidadão. Assim justiça ética e política movimentam-se, no
sistema platônico, num só ritmo, sob a melodia de uma única e definitiva sonata, cujas notas
são as idéias metafísica que derivam da Idéia primordial do Bem.
Tamanho idealismo filosófico haveria de produzir condições favoráveis para o
desenvolvimento de uma corrente de pensamento igualmente contundente, mas
profundamente empírica: o aristotelismo.
4 ARISTÓTELES: JUSTISÇA COMO VIRTUDE
4.1 ARISTÓTELES NA HISTÓRIA
Aristóteles (384–322aC), vindo da Macedônia, foi atraído pela intensa vida cultural da
cidade que lhe poderia propiciar oportunidades de prosseguir os estudos. Tinha certas
dificuldades de pronunciar corretamente as palavras. Ingressou na Academia de Platão,
onde permaneceu por vinte anos.
As obras de Aristóteles eram de dois tipos de composição: as endereçadas ao
grande público e os escritos ditos filosóficos ou científicos, que eram lições aos alunos do
Liceu. Estas últimas foram as únicas que se conservaram, embora constituam pequena
parte do total que a ele é atribuído.
À Política segue-se a Retórica, que se vincula, devido ao tema, à arte da
argumentação ou dialética exposta.
4.2 A JUSTIÇA COMO VIRTUDE
A justiça tem sede no campo ético (saber prático). O saber aristotélico é fruto da
reunião das opiniões dos sábios, do povo e da experiência prática.
As contribuições de Aristóteles para o tema da discussão da justiça são inúmeras,
vistos que sua teoria redimensiona o entendimento do problema, conceituando,
classificando, organizando, sistematizando o que anteriormente se discutia sem maior rigor.
A justiça aqui é entendida como sendo uma virtude, e portanto, trata-se de uma
aptidão ética humana que apela para a razão prática, ou seja, para a capacidade humana
de eleger comportamentos para a realização de fins. O entendimento da temática da justiça
em Aristóteles fica definitivamente grafado como sendo um debate ético: a ciência prática
que discerne o bom e o mau, o justo e o injusto se chama ética. Assim, aqui fica claro que a
justiça ocorre inter homines, ou seja, trata-se de uma prática humana e social bem
delimitada: a justiça é uma virtude. Para que se diga isto se está necessariamente
recorrendo à noção de médium terminus.
Tudo parte da reflexão que faz do homem um ser gregário, e isto por natureza. Não
só. Além de gregário para sua subsistência, é também político. Se por natureza, política, e
por natureza, racional, então o homem exerce essa sua racionalidade no convívio político.
Não de outra forma a racionalidade humana se exerce, senão em sociedade, na polis, e
assim por meio do discurso. E certo que na polis, na acepção que Aristóteles confere ao
termo, não é qualquer comunidade de homens: é sim, uma comunidade humana soberana e
auto-suficiente, autarquia, com vistas ao melhor e não simplesmente à satisfação das
necessidade básicas de subsistência.
Em se tratando de uma virtude, que se exerce em função da racionalidade, então, há
que se dizer, a justiça participa da razão prática, e seu estudo pertence ao campo das
ciências práticas, o que guarda relação com a ação e não com a teoria, como querem
alguns. Trata-se, pois, mais de algo que se pratica e do qual se extrai um resultado ativo;
Trata-se menos de algo que se pensa.
Justiça e injustiça são questões atinentes ao campo da razão prática. É a justiça
qualidade, afecção, bondade, auto-realização, ou o quê? É ela, aristotelicamente, virtude
ética, e nada mais. Seu campo é o da ponderação entre dois extremos, o da injustiça por
carência e o da injustiça por excesso. Com este apelo ao virtuosismo, reclama-se maior
espaço para a atuação da prudentia, e dos de mais tributos da racionalidade humana, o que,
em todos os sentidos, tem sido subestimado pelo homem moderno. Talvez seja esta uma
forma de se retornar a valorização do problema a justiça como um problema genuinamente
humano ou mais, puramente humano.
Mas que isso, a justiça não se realiza sem a plena aderência da vontade do
praticante do ato justo a sua conduta. Aquele de pratica um ato justo, não necessariamente
é um homem justo, pode ser um bom cidadão.
Ainda além da justiça há algo que com ela guarda profunda relação, que não pode
ser chamada justiça, e este algo é a eqüidade. Tem-se, pois, que a justiça requer uma
pluralidade de classificações atinentes a sua diversas concepções, de acordo com cada
situação, e um algo para além de seu juízo de mediedade, ou seja, a eqüidade.
Assim, o tema da justiça vem inteiramente recoberto por uma análise percuciente de
seu umbrais: os quadrantes do problema vêm notoriamente bem delimitados na teoria
aristotélica. A justiça total destaca-se como sendo a virtude total de observância da lei. A
justiça total vem complementada pela noção de justiça particular, corretiva, precedida pela
noção de igualdade aritmética ou distributiva, presidida pela noção de igualdade geométrica.
Cumpre ao juiz debruçar-se na equanimização de diferenças surgidas da desigualdade; é
ele quem representa a justiça personificada. Para além da lei, porém, da justiça e de tudo o
que se disse, está a noção de amizade, como a indicar que onde há amizade, definida em
sua pureza conceitual, não é necessária a justiça.
5 SANTO TOMAS DE AQUINO: JUSTIÇA E SINDERESE
5.1 SÃO TOMAS DE AQUINO NA HISTÓRIA
São Tomás de Aquino (1225 – 1274d.C):Ícone da Filosofia Cristã, ocidente medieval.
Conciliou dogmas cristãos com idéias aristotélicas, sua principal obra foi Summa
Theolótgica.
5.2 JUSTIÇA E SINDERESE
A filosofia tomista encontra-se estrutural e visceralmente comprometida com os
Sagrados Escritos, de um lado, e com o pensamento aristotélico, de outro.
No entanto os pilares de seus escritos são estes que se indicam como principais
fontes de inspiração de seu pensamento, claramente fecundo e vasto, seja pela proporção
de sua obras, seja pela qualidade de sua doutrina teológica, que haveria de converter-se em
doctrina perennis, além de coligir opiniões, sua doutrina converte-se num foco de dispersão
de uma nova forma de conceber o conhecimento, aliando fé e razão.
A dimensão da teoria tomista sobre a justiça são incrivelmente vastas. Abrangem-se,
com suas concepções, a atividade do legislador, a atividade do juiz, o que é pela natureza,
por força divina, e o que é por força de convenção. Mais que isso, todo este aparato de
classificações permite explorar com certeza e clareza o terreno teórico elaborando por
Tomás de Aquino para o cultivo de suas idéias. Ou seja, para além da letra do que
concebeu como sendo o justo e o injusto, percebe-se a preocupação que transparece de
sua teoria de recobrir como apuro os diversos espectros pelos quais se desdobra o
problema. Com esta visão mais larga da justiça, e, portanto, mais crítica, sua resposta ao
problema aparece mais completa e racional.
Sua contribuição reside em seu jus naturalismo, sendo que sua teoria admite uma lex
naturalis mutável, e que portanto, não se encontra nos ombros estreitos do que é absoluto.
Ademais, sua concepção transcende para a lei divina, da qual faz derivar tudo, o que foi
gerado por força da razão divina. Nesse sentido, todo conteúdo de direito positivo deve-se
adequar às prescrições que lhe são superiores e fontes de inspiração: o direito natural e o
direito divino. Nesse sentido, os transcende à lex scripta: a lei posta pela autoridade não
exaure o Direito.
Além disso, resta como resposta ao que seja o justo, ou melhor, a qual seja o
conceito de justiça: trata-se de um hábito virtuoso, de uma reiteração de atos direcionados a
um fim e voluntariamente concebidos pela razão prática, no qual reside a vontade de dar a
cada um o que é seu.
O apego e fundamentos teológicos para a aplicação do justo, claramente delineado
no pensamento tomista, com o advento do Renascimento e do Iluminismo, tendo a reduzir-
se vez a vez mais.
6 THOMAS MORE : UTOPIA DO DIREITO
6.1 THOMAS MORE NA HISTÓRIA
Thomas More (1478–1535dC): destacou-se por sua luta intelectual, propondo uma
possível solução utópica em seus pensamentos filosóficos.Completou seus estudos em
Oxford. Sua formação humanística incluía o conhecimento de obras filosóficas-políticas de
grande importância, como as de Santo Agostinho e de Platão.Sua condenação à morte em
1535, em função de uma desavença político-religiosa com Henrique VII, mais tarde foi
canonizada, passando a ser identificado como São Tomás Morus, sua principal obra intitula-
se UTOPIA.
6.2 UTOPIA DO DIREITO
É esse o homem que publica, em 1516. A Utopia, cujo objetivo é apresentar o melhor
estado da república. Claro, esse humanista pensa na Cidade Ideal de Platão, mas não se
trata aqui essencialmente, de uma celebração de um pensamento antigo. Thomas morre
pode muito bem dar à sua obra o aspecto da descrição – bastante detalhada, a cidade
filosófica de lugar nenhum, bem como à propriedade privada em que faz severa crítica os
governos. Da época e, em especial, à Inglaterra, ao mesmos tempo que propõe a criação de
um Estado ideal, sabidamente impossível, cujo protótipo modelo é o da ilha imaginária que
descreve, em pleno funcionamento, com governo perfeito, habitada por cidadãos sabidos e
felizes.
Da análise social. Ressalta-se que o trono tem sido utilizado por seus ocupantes
como mero instrumento de satisfação de seus desejos e caprichos, distanciando-se de sua
função inicial, que era a organização social e a condução harmônica do conjunto para o
alcance do escopo social por todo idealizado.
O modelo utopiano de organização social, política, econômica e jurídica refunda a
realidade em novas bases, nitidamente. Destacasse a atenção pelo sistema comunal de
produção e pela divisão do trabalho de acordo com a aptidão de cada membro do corpo
social. Além das condições geográficas as mais favoráveis, Utopia oferece a seus
habitantes ordem, abundância de alimentos, sistema jurídicos organizado, sistema político
participativo, integração prova-poder e divisão de tarefas na construção dos ideais sociais.
Outro aspecto importante da obra, que aqui deve ser ressaltado, é quanto à
consideração de Morus sobre as instituições jurídicas de seu momento, que compactuavam
com a perpetuação das eqüidade. Em Utopia inexiste a excessiva burocracia e a
inoperacionalidade do sistema jurídico devido à excessiva quantidade de normas, leis e
regulamentos, bem como a grande distância existente entre o povo e a ordem jurídica,
sendo esta inteligível e manuseável unicamente por seus técnicos, torna-a pouco
democrático.
Apesar de distante da consecução de seu escopo, quando More escreveu sua Utopia
não tinha, de fato, preocupação com sua implantação efetiva a realidade: a ilha é um lugar
inexistente. Mas, desta miragem sobre a Terra è que se extraem lições encantadoras sobre
o poder que os homens possuem de cunharem seus próprios encantadoras destinos sociais.
A Utopia, além de obra de devaneio intelectual, é ainda ferramenta crítico-teórico que se
coloca na fileira dos escritos sobre as necessidade de justiça no meio social.
7 ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL
7.1 ROUSSEAU NA HISTÓRIA
Jean Jacques Rousseau (1712–1778): sueco (Genebra) de língua francesa, de
família calvinista. Órfão de mãe foi abandonado pelo pai aos dez anos. Conheceu Voltaire e
Diderot (Iluministas). Colaborou na Enciclopédia, redigindo verbetes sobre música.
7.2 CONTRATO SOCIAL
1. Para Rousseau o homem é naturalmente bom e a sociedade o corrompe. O cultivo
das ciências e das artes conduz ao ócio e promove a decadência moral e deteriora os
costumes;
2. Rousseau faz apologia do instinto, com exaltação da emoção e do sentimento em
oposição ao racionalismo progressista (é precursor do Romantismo);
3. Para Rousseau a desigualdade social teve origem na propriedade, que também
gerou o Estado despótico. O Estado ideal deve ser o resultado de um acordo entre os
indivíduos que cederiam alguns de seus direitos para se tornarem cidadãos. A base desse
acordo é a VONTADE GERAL (coletivamente soberana). Há em Rousseau uma
interpretação paradisíaca da vida no Estado da natureza. A pena de morte é um ato
ilegítimo do Estado. A vida não é alienada ao Estado no pacto social.
Não se pode conceber a teoria da justiça reousseauniana senão como uma grave
crítica aos desvios do poder, aos desmando da política, ao desgoverno das leis, em fim, às
instituições humanas em seu status quo. Nesse sentido é que a idéia de um pacto que
originasse o convívio sócio-humano em bases sólidas poderia representar, filosoficamente,
o argumento-vetor para todo um conjunto de pensamentos, caminhando não no sentido da
renúncia à vida comum, à vida agremiada, mas às iniqüidade advindas da deterurpação dos
fins aos quais se destina a agremiação.
Re-fundar os ditames do convívio social, nisso reside o envolver teórico de Jean
Jacques Rousseau. Sua proposta, por um só ato, mantém a ordem do Estado, renuncia ao
caos e à desordem implantados, instituto o culto do estado de natureza, privilegia a
liberdade e enaltece os fins sociais. Com isso, quer-se opor, sem dúvida por sobreviver
numa sociedade que é tão ou mais iníqua que seu estado natural, fazendo do pacto
sociopolítico o meio para o perfazimento da justiça.
A justiça, aqui reside no respeito pelo que da natureza humana deflui, não se
podendo ultrapassar os limites que são ditados pelo ato de concessão de poder quando do
perfazimento do contrato. A injustiça, neste caso, representa o próprio e entrelaçamento do
poder com fins que não correspondem à vontade geral dos contratantes, mas com outras
propostas de seduções ditadas pelos interesses particulares.
O contrato não é pura ficção reousseauniana, nem descrição de uma historia da
formação da sociedade. Deste modo, sublinhava categoricamente uma necessidade
racional: indicava como se deveria constitui o ordenamento jurídico, a fim de se
conservarem socialmente íntegros os direitos que o homem por natureza já possui.
8 MARX : HISTÓRIA, DIALÉTICA E REVOLUÇÃO
8.1 MARX NA HISTÓRIA
Karl Marx (1818 -1883): Filho de um advogado e conselheiro de justiça e
descendente de judeus, nasceu em Treves, capital da província alemã da Renânia. Após os
estudos prelimires em sua terra natal, matriculou-se na Universidade de Bonn, onde iniciou
o curso de Direito, logo interrompido, pois seu interesse maior concentrava-se nos estudos
de História Filosofia ingressou posteriormente na Universidade de Berlin.Onde em parte,
influenciado por Feurbach e em parte por Hegel, incrementa o materialismo, tornando-o
dialético e histórico, sabendo entrever na história humana a sucessão de regimes
econômicos de expiração e de alternância de classes dominantes. Identifica estrutura e
superestrutura. Sua leitura dos métodos capitalistas de acumulação primitiva é
apuradíssima.
Juntamente como Engels, consegue dar início, bem como acompanhar, os principais
movimentos de trabalhadores do século XIX, ideologia engatilhada sobretudo a partir do
Manifesto comunista. Sua doutrina traz fortes influências sobre os movimentos sociais dos
séculos XIX e XX., sua principal obra foi O capital: e a Crítica da filosofia de direito de Hegel.
Publicou varias obras dentre elas Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel.
8.2 DIALÉTICA E REVOLUÇÃO
A dialética exerce exatamente a mesma função na mente humana. Uma idéia
desnudada engalfinha-se apaixonadamente com sua antítese, criando uma síntese: esta,
por usa vez, transforma-se na nova tese, a ser devidamente seduzida por um novo amante
demoníaco. Dois erros podem formar um acerto – mas. Logo depois do nascimento, esse
acerto converte-se noutro erro, que tem de ser submetido ao mesmo escrutínio rigoroso que
sues antepassados, e assim vamos avançando. Em si mesmo, o embate de Marx com Intel
foi uma espécie de processo dialético, do qual emergiu o bebê sem nome que viria a se
transformar no materialismo histórico.
Duas conclusões decorrem desses fatos
1) O comunismo já é reconhecido como força por todas as potências da Europa.
2) é tempo de os comunistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver,
seus fins e sua tendências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do aspecto do
comunismo.
Com este fim, reuniram-se, em Londres, comunistas de várias nacionalidade e
redigiram o manifesto seguinte, que foi publicado em vários idiomas.
As forças econômicas em interação na história, a luta de classes como o móvel da
sociedade, a civilização do homem pelo trabalho, numa indesculpável perversão do papel
existencial do homem, são fatores que destacam o marxismo para uma forte crítica social. E
isso é analisado na teoria marxista não somente como um fato contemporâneo e
passageiro, mas também como uma constante história, que por forçosamente presente,
haveria de gerar a operação burguesa em fase da fraqueza proletária. Eis a dialética
econômica da história.
“Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e
companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido
numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada: uma guerra que terminou sempre, ou
por uma transformação revolucionário da sociedade inteira, ou pela destruição das duas
classes em luta”
Engajado no plano dos fenômenos, o marxismo torno-se uma bandeira políca-
ideológica no mundo inteiro, com sensíveis repercussões sobre o Direito a Política, a
Economia, e mesmo sobre as relações internacionais entre estados de modo que
desconsidera-la em seu profundo papel de modificação da sociedade contemporânea seria
equívoco teórico inescusável.
O pensamento marxista encontra seus reflexos na área do Direito, apesar de não ver
neste a saída para a história das iniqüidades praticadas de homem sobre homem, de
sociedade para sociedade. O Direito é servil com relação ao poder, e expressa as
dimensões exatas da relação explorador-explorado, não permitindo a abertura dos horizonte
da igualdade, que somente seria possível com a instauração de uma ditadura provisória do
proletariado, para um passo seguinte, em que nem o direito e nem o Estado teriam lugar.
9 HANNAH ARENDT: PODER, LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS
9.1 HANNAH ARENDA - NA HISTÓRIA
Hannah Arendt (1906 – 1975 = 69aC). Dedicou-se à filosofia política com franca
oposição à intolerância anti-semita e ao nazismo. Discute o poder. É judia alemã.
9.2 PODER, LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS
Poder é definido com os seguintes termos por Hannah A. “O poder corresponde à
habilidade humana não apenas para agir, mas para ir em concerto. O poder nunca é
propriedade de um indivíduo: pertence a um grupo e permanece em existência apenas na
medida em que o grupo conserva-se unido. Quando dizemos que alguém está no poder, na
realidade nos referimos ao fato de que ele foi empossado por um certo número de pessoas
para agir em seu nome.
A partir do momento em que o grupo. Do qual se originara o poder desde o começo,
se, um povo ou grupo não há poder, desaparece seu poder, também se esvanece.
Em seu uso corrente, quando falamos de um homem poderoso ou de uma
personalidade poderosa, já usamos a palavra poder metaforicamente: aquilo a que nos
referimos sem metáfora é o vigor.
Politicamente o ponto é o de que com a perda do poder torna-se uma tentação
substituí-lo pela violência – em 1968, durante a Convenção democrática, em Chicago,
pudemos assistir a este processo pela televisão - e essa violência por si mesma resulta em
impotência.
Para Hannah Arendt, ao prescindir da violência como elemento de definição do
exercício do poder, inaugura uma nova forma e pensar a política. Essa deixa de ser vista
como algo utilitário, com interesse de alcançar determinando fim. Assim transformar-se no
exercício da construção do espaço público, espaço no qual manifesta-se-à a singularidade
de cada ser no momento da ação. Essa manifestação conjunta do agir traçará os nortes da
vida coletiva daquela específica comunidade.
Significa dizer: Onde há política, há espaço público; onde há espaço público há
diálogo; onde há diálogo, há direitos a ação política gandhiana e o Direito Internacional dos
Direitos Humanos, ao tornarem imprescindível a manutenção do espaço da ação, são
exemplos pra dogmáticos da tentativa de construção desta nova política, delineada por
Hannah Arendt, não um instrumento de controle r opressão, mas uma senda para libertação
de cada um e de todos nós.
UNIDADE 3. TÓPICOS ESPECIAIS DAS OBRAS FILOSÓFICAS DO PROGRAMA
DE NIVELAMENTO
1 A REPUBLICA DE PLATÃO
A obra escrita por este importante filosofo é composta por 10 (dez) livros, escritos
com ênfase na grande quantidade de definições e conceitos construídos a partir do discurso
dialético. Utilizando a figura de Sócrates e seus discursos junto a outros cidadãos da cidade,
a república preocupou-se em traduzir o conhecimento das verdades essenciais a fim de se
chegar à realidade do mundo social, expondo ideais políticos, jurídicos e morais. Isso fez
com que os conceitos fossem elaborados a partir de argumentos que pudessem convencer
e mudar opiniões de cada cidadão, demonstrando exemplos práticos e imaginários, a partir
de conceitos norteadores daquela época. Ao ser lido, cada um dos livros da obra a república
irá se tentar, expor de maneira mais clara, o teor ideológico contido em seus escritos,
comentando e analisando as diversas situações apresentadas na obra.
No livro I da mencionada obra, há o início do discurso dialético entre Sócrates e
Cefálo, onde basicamente o último já achando sem condições de ir ao encontro de Sócrates,
ressalta que já está velho e por isso quer que ele (Sócrates), vá até seu encontro. A partir
daí, Sócrates começa a afirmar que, na verdade, vê a velhice como uma fonte de sabedoria
e não como uma forma de se abster do prazer da juventude, até porque é com a velhice que
pode vir à sensatez e a experiência que o tempo trás, melhorando assim a vida. Isso porque
para Sócrates a melhora de vida vem quando alguns problemas são deixados de lado, ou
ainda, quando há mudança de caráter. A questão do caráter, segundo Sócrates, faz com
que o homem passe a não ter os mesmos problemas que possuía quando jovem, ou seja,
sua consciência muda, consequentemente, há um novo estilo de caráter que muda a própria
condição do homem, fazendo com que seu estilo de vida melhore gradativamente, conforme
seu caráter.
A partir dessa afirmativa, Sócrates dá início a suas explicações sobre o que significa
para o homem ter caráter ligado a sua melhora de vida. Segundo ele, na velhice daquele
que comete injustiças é temerosa porque não sabe o que a morte pode trazer como
conseqüências. O que não comete tais atos vai lembrar da velhice não como temerosidade,
mas com bons "olhos", tendo em vista que não fez nada que desabone sua conduta. Como
se pode observar esse foi o primeiro aspecto levantado dentro da obra referente ao aspecto
da justiça. Pois para Platão, o homem só tem paz de espírito quando pratica a Justiça, ou
seja, a justiça trás para o próprio homem que a prática, grande esperanças e segui-la são o
melhor caminho. Depois disso, há ainda, um discurso simples, porém com grande
importância sobre o aspecto da riqueza trazer a vida na velhice grande melhora, segundo o
protagonista da história (Sócrates), a riqueza somente trás conseqüências boas quando o
homem tem caráter, para administrá-la, senão nada adianta.
Como foi dito anteriormente, a questão da velhice, na verdade foi um via de acesso
para se chegar ao conceito de justiça, visto que, para os cidadãos daquela cidade, não era
fácil conceitua-la, tanto que para uns o conceito de justiça era simplesmente restituir a cada
um o que é devido; sendo assim justiça deveria ser praticada como uma forma de
retribuição daquilo que cada um faz. Cefálo chegou a afirma que para ele Justiça era então,
prejudicar os maus, visto que, eles (os maus) só pensavam em prejudicar os outros, e
ajudar os bons, pois estes só praticavam a bondade. Replicando isso, Sócrates contra-
argumenta que não é isso, até porque a realidade que se pode observar pode não ser a
realidade dos fatos, ou seja, pode haver pessoas boas que praticam o mau; e boas más que
praticam a bondade; ou ainda, as pessoas camufladas de bondosas, mas que na realidade
são maldosas. Com isso, Sócrates fez cair por terra à idéia de Cefálo, mas não explicou
definitivamente o que era então justiça.
De forma que, outros suscitaram que a justiça era a política do mais forte, inclusive
afirmando que o Estado rege as leis para impor aos governados, no sentido de que os que
transgridem as leis são considerados injustos. Analisando essa afirmativa, observa-se que
segundo esse critério para se chegar ao conceito de justiça, o Estado era bastante forte
(tinha poder de imposição), e, portanto, poderia fazer o que bem entender, e se caso alguém
violasse o preceito estabelecido por ele, era passível de punição (física ou de liberdade),
traduzindo está idéia, a justiça na verdade era feita pela parte que tinha mais poder, para
elucidar mais ainda, é necessário observar um trecho da obra, a saber:
“Uma vez promulgadas as leis, fazem saber que é justo para os governados aquilo
que lhes convém, e castigas os transgressores, a titulo de que violaram a lei e cometeram
uma injustiça...".
Sócrates observar de outra forma, ressaltando a idéia de que nenhum governo ou
pessoa, por mais poderosos que seja não governa para si, mas para seus súditos. Então, se
o poder lhe foi dado, foi porque os próprios súditos assim o quiseram. Fazendo uma
analogia do que Sócrates afirmou, será que a frase, "cada povo tem o governo que merece",
faz jus a afirmativa de Sócrates. Serão os povos que vivem sobre governo de um tirano,
realmente não escolheram isso, ou melhor, será que não querem mudar isso, e acabam se
conformando. Como então afirmar que é um governo tirano, na verdade, é um governo
escolhido pelo povo, não há de se falar em tirania. Para findar esse livro, foi ressaltado que
a Justiça, na verdade seria uma forma de saber, que se transforma em virtude do homem,
sendo um conceito maior que injustiça, que seria um vício que está presente no homem,
porém alguns desenvolvem com maior furo, outros nem tanto.
No livro II, já vem embasado no termino do livro I, já iniciando a discussão sobre as
leis e normas, tendo em vista que essas editadas pelo Estado, serão que evitam o beneficio
e malefícios das injustiças para uns e para outros, ou seja, será que somente com aplicação
das normas e das leis se é capaz de afetar os benefícios e vantagens auferidas por alguns
quando há injustiças, em razão dos prejuízos causados a outros, como bem pode ser
observado no trecho retirado da própria obra, a seguir:
"Dizem que a injustiça é, por natureza, um bem e sofrê-la, um mal, mas que ser
vítima de injustiça é um mal maior do que o bem que há em cometê-la".
Segundo Sócrates, o lema da injustiça é parecer ser justo, sem na verdade o ser. Ou
ainda, demonstrar algo que na verdade, não ocorre como os poetas que na verdade, apenas
imitam, de maneira, que os poetas apenas demonstram ter amor, mas não o tem. Essa idéia
faz com que se imagine que a realidade, não tenha uma lógica natural, podem ocorrer
coisas na vida que não são programas, não são coerentes. Como por exemplo, as pessoas
que praticam a bondade e a justiça, podem ser vítimas de injustiças, claro que isso ocorre
naturalmente.
Segundo os cidadãos que discutiam com Sócrates, seria fatalidade ou vontade de
um deus, rechaçando essa idéia o protagonista da história o deus não é culpado do que
ocorre, na verdade, o culpado disso é o próprio homem, tendo em vista que ele trás consigo
da sua própria natureza a possibilidade de mudar conforme sua vontade, conforme sua
consciência pode o homem praticar o que achar ser justo (o que pode para outro ser
injusto), ou simplesmente ser injusto (e na opinião de outros estarem praticando o que seria
justiça). Aqui se pode observar perfeita, a questão da opinião individual, a opinião do ser
humano traduz seu próprio interesse diante de uma situação, ou seja, os seres humanos
podem observar uma mesma situação, e conceitua-la de justa ou injusta, conforme sua
consciência. Consciência está que dirige seus atos durante a vida.
Porém, alguns injustos por natureza, não praticam, mas a injustiça, não por remorso
a consciência ou por simples virtude, mas por medo da velhice e as futuras conseqüências
que podem advir de tanta maldade durante a juventude. Com isso Sócrates quer dizer que
na verdade, este ser humana, não pratica a justiça por ser sua virtude, mas por esta
tentando enganar a si mesmo, tentando praticar atos que não condizem com sua própria
natureza. Vale lembrar aqui aquela discussão feita no Livro I, a respeito da velhice e porque
alguns a encaram com tanta frustração e tristeza.
O Livro III fará uma ligação da consciência com a justiça, pois ela está presente na
natureza do ser humano, mas porque alguns não a desenvolvem, o protagonista explica a
partir deste novo capítulo os motivos que podem determinar a evolução da consciência da
cada pessoa. No discurso de Sócrates a consciência humana livre e justa nasce com cada
individuo, porém dado a alguns fatores pode não vir a surgiu o que dá origem aos homens
injustos. Para que isso não ocorre é necessário que a educação do ser humano seja
baseada em princípios éticos e morais, que visem o aprimoramento dessa virtude humana,
caso isso não ocorra, o ser tende a ficar aprisionado pelo vício da injustiça, que
acompanhará desde a juventude até sua velhice, e conseqüentemente morte. Sócrates
ressalta, além desses fatores éticos e morais, em seu discurso outro fator bastante
importante, pois aqui voltado ao tema central, ou seja, a justiça.
Segundo ele, a experiência de vida para aprender, é um dos grandes aliados na
forma da consciência humana no que tange as tendências para a justiça ou para a injustiça.
Tanto que chega a dar um exemplo prática que pode ter reflexo até nos tempos atuais, é o
caso do individuo que se torna juiz, para Sócrates para ocupar esse cargo, a pessoa não
deveria ser novo (pouca idade), pois devido pouca sua vivência e experiência de vida no
mundo real, faria com que acabasse realizando julgamento abastados e que não expressem
basicamente o que seria justiça, ocasionando possíveis injustiças. Com a própria
experiência de vida, o ser humano poderia acumular conhecimentos que dariam mais
firmeza a seus conhecimentos, pois não ficariam atreladas apenas algumas informações
que poderiam, na verdade, ser uma forma de impedir que a virtude pudesse se instalar na
própria consciência do homem.
Sim, pois o homem que se acha conhecedor suficiente de algo, na verdade, não o é,
passa da virtude do sábio à ignorância do perverso, conforme o comentário que se obteve:
"Efetivamente, o vício não poderá jamais conhecer-se a si e a virtude, ao passo que
com o tempo, a virtude, se as qualidades naturais forem aperfeiçoadas pela educação,
atingirá o conhecimento cientifico de si mesmo e do vício".
Dentro desta discussão, o protagonista começa a dar início a outro conceito ligado
aos demais já observados durante a obra já lida, são justamente as características do ser
que passa ao cargo de governante das cidades. Partindo das idéias expostas por Sócrates,
o governante não deveria ficar atrelado a apenas um ou outro conceito (conhecimento),
deveria ter conhecimento diversificado, dominando habilidades em vários campos para
assim conseguir administrar a cidade com perfeição. Com isso, começa a discussão sobre a
questão da ética na política, tendo em vista que vários são os governantes políticos que
sequer, tem conhecimento da sua função, dirá dos problemas que os súditos que os
elegeram possuem, e que confiam nele, por isso o elegeram.
Para Sócrates, o cargo de governante ou chefe, deveria ser preenchido por aquele
que realmente possuí esse preparo, destacado dentre os demais cidadãos, conforme prevê:
"deus recomenda aos chefes, em primeiro lugar e acima de tudo, que aquilo em que devem
ser melhores guardiões...". E é a partir do conhecimento adquirido durante a experiência de
vida, que pode o chefe ou governante, desenvolver aptidões do conhecimento que o
auxiliam no ardo trabalho da administração daquilo que lhe foi confiado.
Fazendo uma ligação a esses conceitos, teoricamente isolados, durante o discurso
dialético feito por Sócrates, o livro IV traz a idéia que o Governante que trás conceitos
amplos para a administração da cidade, o faz bem baseado na virtude consciente e honesta,
podendo ocorrer dessa forma, a justiça. Caso isso não venha ocorrer, possivelmente, a
cidade, estará fadada ao caos e a injustiça social. Segundo Sócrates, a cidade que tiver
maus governantes ou governantes injustos não terá progresso social, porém se tiver
governantes bons e for bem administrada terá felicidade e a população pode ter grandes
avanços dentro do aspecto social, desenvolvendo uma consciência virtuosa e justa. Observe
como é citada tal referência dentro da própria obra:
"A república, uma vez que esteja bem lançada, irá alargando como um círculo.
Efetivamente, uma educação e instrução honestas que se conservam tornam a natureza
boa, e por sua vez, naturezas honestas que tenham recebido uma educação assim tornam-
se ainda melhores que os seus antecessores, sob qualquer ponto de vista, bem como sob o
da procriação, tal como sucede com os outros animais".
Também é necessário ressaltar algo interessante, O livro VI da República revela o
que há de mais divino e supremo para Sócrates, o que está no ponto mais alto, o único a
estar além da justiça: o bem.
O bem para Platão é para onde direciona todas as almas, todos os homens. É aquilo
que todos nós almejamos e buscamos alcançar. Para Sócrates, quem atinge essa espécie
de bem é filósofo, pois está no ponto mais alto das operações da alma. O bem é o único a
estar acima da justiça, o que tanto se investiga na República. O bem, como dito, possui
caráter unificador, é supremo e alcançado pelo filósofo. As características do bem e suas
relações com as pessoas justificam o governo do filósofo: quão ordenada será a cidade que
possua no seu comando um governante filósofo, de acesso ao bem e que contagiará a
cidade com toda essa ordem. Dando continuidade a essa idéia o livro V, estabelece o
conceito de que uma cidade boa e reta é conseqüência da administração de um homem
certo e justo; apesar de que nem todos os homens são pessoas boas, apesar de
naturalmente todos serem iguais.
Dentro dessa concepção, Sócrates faz referência ao fato de que mesmo, numa
cidade governada por honestos e justos, há possibilidade de seus filhos (cidadãos) desta
cidade não desenvolvem tais aptidões, pois a própria natureza humana os faculta a
possibilidade de escolher o caminho que querem percorrer inclusive o caminho do mal e do
vício. Há dentro deste livro uma analogia feita em comparação da Cidade e o Corpo, ambas
tem administradores próprios, a cidade seu governante e o corpo o seu dono, se os seus
administradores não estiverem bem, consequentemente, a coisa que administram não
estará bem. Mas o Livro V de "A república" estabelece a diferença entre o "Ser" e o "Não-
ser", Sócrates em seu discurso faz referência que o ser na verdade traz o conhecimento e a
sabedoria e o não ser traduz-se em ignorância e falta de conhecimento, e é aqui que tem
expressado significância à palavra filósofo, pois este é amigo da sabedoria.
O não-ser, ligados a atos e fatos sem estrutura embasada, traz meras opiniões, não
cabendo assim, falar de filosofia, pois pela própria composição da palavra Filosofia, não
significa amigos das opiniões, mas amigo da sabedoria. Tendo em vista que opiniões estão
ligadas à consciência de cada pessoa, porém, essa consciência pode ser fundada em
injustiças que não traduzem a verdade, e a se não traduzem a verdade, não são reais.
Consequentemente, se não são reais, não podem ser considerados como forma de
conhecimento, ainda mais cientifico, consequentemente, opiniões não são verdades, pois
podem mudar conforme a consciência daquele que as proferiu, portanto, está fora do
aprimoramento humano, que tenta ser justo e verdadeiro. Daí em diante é o início do livro
VI, esclarecido quem é filofoso e quem não é, inclusive demonstrando que há cegos que
não enxergam devido às próprias questões físicas, e os ignorantes que apesar de
fisicamente perfeitos, não conseguem ver.
Esse discurso apesar de ser metafórico, faz referencia ao fato dos ignorantes não
conseguirem enxergar, não é a visão natural, mas sim a visão para os fatos do
conhecimento, os que não possuem aptidão a filosofia, não possuem essa faculdade
humana de enxergar o conhecimento, consequentemente, tornam-se cegos e imperfeitos,
ocasionando sua ignorância para as questões do mundo, criando uma falsa realidade
daquilo que os rodeia. E para isso, é necessário que desde cedo, o ser humano, passe a
tentar desenvolver essa aptidão (filosofar), pois somente dessa forma outras virtudes serão
também desenvolvidas, segundo o discurso do protagonista da obra.
Aliás, Sócrates chega afirma que isso não é tarefa fácil, necessita de muito esforço
desde cedo, para que seja dado início o seu desenvolvimento, talvez por isso a maioria das
pessoas (multidão), acabe não se importando com isso, e preferindo o lado mais fácil, ou
seja, optar pela ignorância, isso fica bem explicito no discurso abaixo:
- "É impossível que a multidão seja filósofo".
- Impossível.
- "Logo, é forçoso que os filósofos sejam criticados por ela".
Passando agora, a um dos mais importantes escritos dentro da obra, o Livro VII, traz
o chamado mito das cavernas, Platão quis mostrar muitas coisas. Uma delas é que é
sempre doloroso chegar-se ao conhecimento, tendo-se que percorrer caminhos bem
definidos para alcançá-lo, pois romper com a inércia da ignorância (agnosis) requer
sacrifícios. A primeira etapa a ser atingida é a da opinião (doxa), quando o indivíduo que se
ergueu das profundezas da caverna tem o seu primeiro contanto com as novas e imprecisas
imagens exteriores. Nesse primeiro instante, ele não as consegue captar na totalidade,
vendo apenas algo impressionista flutuar a sua frente. No momento seguinte, porém,
persistindo em seu olhar inquisidor, ele finalmente poderá ver o objeto na sua integralidade,
com os seus perfis bem definidos. Ai então ele atingirá o conhecimento (episteme).
Essa busca não se limita a descobrir a verdade dos objetos, mas algo bem mais
superior: chegar à contemplação das idéias morais que regem a sociedade - o bem, o belo e
a justiça. Partindo dessa idéia, pode-se colocar a citação feita no livro VII da seguinte
maneira: Há dois mundos. O visível é aquele em que a maioria da humanidade está presa,
condicionada pelo lusco-fusco da caverna, crendo, iludida que as sombras são as
realidades. O outro mundo, o inteligível, é apanágio de alguns poucos. Os que conseguem
superar a ignorância em que nasceram e, rompendo com os ferros que os prendiam ao
subterrâneo, ergueram-se para a esfera da luz em busca das essências maiores do bem e
do belo. O visível é o império dos sentidos, captado pelo olhar e dominado pela
subjetividade; o inteligível é o reino da inteligência percebido pela razão.
O primeiro é o território do homem comum preso às coisas do cotidiano, o outro, é a
seara do homem sábio (filósofo) que se volta para a objetividade, descortinando um
universo diante de si.
Daí se pode tirar a contribuição da educação no papel do ser humano que vive sobre
reflexo desses dois mundos tão antagônicos e tão próximos e é por isso, justamente que se
pode dizer, que por educação, ou melhor, por formação, entende-se a capacidade não só de
encontrar na alma de cada cidadão quais suas reais capacidades, suas qualificações, como
despertá-las, aperfeiçoa-las e conduzi-las ao bom caminho. Segundo Platão, todo homem
nasce com uma alma (psique) divida em três partes: o apetite, a coragem e a razão, que,
por sua vez, materializam-se nas virtudes da temperança, valor e sabedoria. Cabe ao
educador fazer desenvolver uma delas (que se sobrepões às demais) e orientar o indivíduo
a ocupar o seu devido lugar na sociedade.
No entanto, como seria recebido aquele que conhecendo as maravilhas fora da
caverna obscura do não conhecer, voltasse a ela, onde estão aqueles que jamais tentaram
se aventurar a sair dela e descobrir o que tem do lado de fora, provavelmente, segundo
Sócrates, iria se sentir desconfortado, pois na verdade seria considerado um louco, O
recém-vindo certamente seria unanimemente hostilizado. Dessa forma, Platão traçou o
desconforto do homem sábio quando é obrigado a conviver com os demais homens
comuns. Não acreditam nele, não o levam a sério. Imaginam-no um excêntrico, um
idiossincrático, um extravagante, quando não um rematado doido (destino comum a que a
maior parte dos cientistas, inventores, e demais revolucionários do pensamento tiveram que
enfrentar ao longo da história).
No livro VIII, Platão utiliza a dialética para tentar demonstrar as formas de governo,
dentre as quais já se deparou durante a sua existência na Grécia Antiga, a saber:
Timocracia, Oligarquia, Democracia e Tirania que são formas de governo narrados
comumente cada uma delas e destacando como é sua aplicabilidade dentre as cidades, e
quais os seus principais problemas. Aqui o discurso apesar de dialético, vem trazer não tão
explicitamente a idéia sobre a Justiça, mas na verdade sobre o que seria a política, e as
formas como ela pode ser feita. Um dos pontos que vale ressaltar do próprio texto é a
respeito da tirania, como bem se pode observar a seguir:
"O tirano tem de eliminar todos esses, se quiser governar, até não deixar ninguém
dentre amigos e inimigos, que tenha alguma valia"
A afirmativa utilizada soa como uma forma de humor negro, porém retrata
exatamente o que o autor quis expor. Inclusive, é bom lembrar que no fim do Livro VIII, o
protagonista da história chega a se questionar sobre o fato de uma das formas de governo
elecandas, poderiam evoluir para outras, como por exemplo, a tirania para a democracia.
No livro IX, a obra faz referência às formas de governo estabelecidas pelas cidades e
possivelmente já analisadas no Livro VIII, ou seja, como será regido cada povo e as
respectivas almas características a cada um e compararam a vida do homem justo e a do
homem injusto, baseado justamente no que tange essa forma de governo. Segundo ele um
homem se torna tirano, quando por sua natureza ou hábito, ou por ambos, acaba se
entregando as paixões e vícios que norteia não apenas a vida, mas o pensamento que o
cerca. O que ressalta uma idéia já observa nos livros anteriores desta obra de que o tirano,
na verdade, não possuem virtudes apenas interesses, sendo que desta forma jamais
poderia ser chamado de filosofo. Sendo assim, Toda a argumentação desenvolvida no livro
IX não visa senão demonstrar que não há nada mais infeliz do que a tirania e nada mais
feliz do que a realeza.
A justiça e a felicidade, de início focalizado no plano individual, finalmente, revelam-
se uma e a mesma para o indivíduo e a pólis. A ontologia que faz a mediação dessa
passagem é tão somente aquela que, no plano ético, visa submeter à causa segunda,
inescapável coerção da parte mortal da alma humana – cerco insaciável dos sentidos (dos
prazeres, das aquisições, das conquistas e do poder) - à simetria proporcionada pela
Justiça, a menos imperfeita e a mais feliz imagem do bem.
O Livro X, último da obra, desenvolve, primeiramente, a justificativa de a poesia ser
banida da cidade e, em segundo lugar, o relato mítico de razoavelmente esperançoso, do
que acontece com a alma após a morte do indivíduo. No livro X é discutida a poesia como
forma de educar as crianças, maneira muito comum entre os gregos de transmitir
conhecimento, de educar e formar os futuros cidadãos. Há também a questão da imitação
da verdade, que muitos de nós aceitamos possivelmente, sem o devido questionamento ou
indagação a respeito do que ocorre então, no livro X há um deslocamento do foco da
discussão e esta recairá unicamente sobre a poesia imitativa ou mimética. Sendo assim, o
problema do livro X não é mais como determinar se a poesia imitativa seria ou não
adequada à educação dos jovens daquela cidade ideal, mas o de mostrar por que ela não
dever mais ser executada, nem ouvida, ao que parece, por ninguém dessa cidade justa.
O livro X tem basicamente três objetivos: o de esclarecer qual a natureza da mimese
que é a base da poesia imitativa, o demonstrar que os poetas não têm conhecimentos
verdadeiros sobre os assuntos de que parecem falar tão bem, iludindo a inteligência dos
espectadores através do encanto da poesia e, por fim, o de associar a poesia à pior parte da
alma em detrimento da parte mais sábia e racional que deveria governar as demais.
2 A POLÍTICA-ARISTÓTELES
Neste livro Aristóteles fala sobre a seleção natural, uns nascem para mandar e
outros para receberem ordens, a relação entre senhor escravo, economia doméstica, a
justiça é à base da sociedade, cada família é uma porção do estado.
Cita:
Tales de Mileto, em relação ao monopólio de mercadorias.
Sócrates aprova que o estado seja uno, pois a política é uma espécie de sociedade,
o tratado de leis baseia-se nisso.
Platão no seu tratado de leis pensava que seria necessário conceder um certo
desenvolvimento sem permitir a nenhum cidadão possuir uma fortuna cinco vezes maior que
o menor.
Faléias - dupla igualdade da fortuna. Para Aristóteles o remédio desses males não e
igualar as fortunas, mas fazer de modo que os homens dotados de natureza não queiram se
enriquecer.
Hipotamos de Mileto que escreveu sobre a melhor forma de governo que consiste
em uma república de 10 mil cidadãos e a dividia em três classes: uma dos artesões,
lavrados e guerreiros. Ele imaginava só três espécies de leis: a injúria, o dano e o homicídio.
Sobre o governo de Creta. Em todo o estado bem constituído os cidadãos devem ser
eximidos dos cuidados que exigem as primeiras necessidades, as leis referentes às
mulheres eram falhas, tinham belíssimas leis sob vários aspectos de pouca importância.
Os Cartigines, a falhas na constituição cuja base é ao mesmo tempo aristocrática e
demagógica.
Cidade – Cidadão: Aquele que uma parte legal na autoridade deliberativa e na
judiciária chama cidadão da cidade assim constituída e cidade e a multidão de cidadãos
capazes de bastar a si mesmo e de obter, em geral, tudo que é necessário a sua existência.
A questão de saber se a virtude do homem de bem é a mesma do bom cidadão, para
ele três coisa fazem os homens bons e virtuosos; a natureza, os costumes e a razão.
Ele vê a virtude do bom cidadão é a mesma do homem de bem, mostra ao mesmo
tempo certos estados, o bom cidadão e o homem de bem constituem uma só pessoa; em
outros eles se separam e que os indivíduos em geral não são cidadão, mas apenas homens
políticos que sós ou em companhia de outros, são ou podem ser senhores dos interesses
comuns da cidade, pois o interesse geral reúne os homens, pelo menos em quanto dessa
união possa resultar a cada uma parte de felicidade e concedem a outro poder de garantir
seus interesses, como eles próprios garantiriam os deles.
Não é somente para viver, mas para ser felizes que os homens estabelecem entre si
a sociedade civil, o que mais importa para o estado são aqueles que melhor contribui para
formar tal associação.
Cada individuo que compõe será sem duvida pior juiz que os que os entendidos,
mais reunidos julgarão melhor ou pelo menos não julgarão pior, porque o soberano não é
um juiz, um senador ou um membro da assembléia, mas o tribunal, o senado e o povo. Para
isso é preciso que os governos sigam as leis.
Aristóteles refere à palavra justiça sendo há mesmo tempo ao interesse geral da
cidade e ao interesse particular do cidadão.
Um povo para ser governado por reis é aquele que por natureza pode suportar a
dominação de uma família dotada de virtudes superiores que a fazem próprias para o
governo do estado. Assim no governo perfeito, a virtude do homem de bem é forçosamente
a mesma que a do bom cidadão. É, pois, evidente também que com os mesmos meios e as
mesmas virtudes que constituem o homem de bem, constitui geralmente um estado
aristocrático ou monárquico.
Para ele o melhor governo é aquele que possua uma constituição tal que todo
cidadão possa ser virtuoso e viver feliz. Para a formação de uma sociedade civil, coisas há
que a natureza deve dar outras que o legislador deve procurar, pois compete a ele achar o
meio de tornar os homens virtuosos regular os exercícios que podem conduzi-lo a virtude e
determinar qual é o fim da vida perfeita.
Ele fala dos estados gregos que possuíam o melhor governo e legisladores, mas eles
esqueceram de ter em vista as virtudes das leis, educação e dirigiam para a ambição.
Aristóteles acreditava que eles não eram felizes e nem tiveram um legislador que foi sua
culpa não lhes ensinar a desejar o repouso. Eis que é necessário prestar os primeiros
cuidados ao corpo, antes da alma em seguida do instinto.
Primeiro dever do legislador é garantir as crianças que se educam uma constituição
robusta o mais possível, ele deve antes disso ocupar –se do casamento e das qualidades
que os esposos devem trazer a união e por fim dar aos filhos uma constituição física que
corresponde aos seus desejos, pois todos os estados que desprezaram com a educação
dos jovens prejudicam grandemente por isso. Então a três coisas a observar em relação à
educação a meio termo, a possibilidade e a conveniência.
O governo é a ordem estabelecida na distribuição das magistraturas. Estas são
distribuídas por todos os cidadãos, sob a influencia daqueles que nelas tomam parte ou
segundo principio de igualdade comum quer dizer os pobres e aos ricos com direitos iguais.
A política também só reconhece um governo perfeito, cuja forma é ora oligárquica, quando é
mais concentrada e despótica, ora popular, quando tem atividades doces e moderadas. A
elementos que entre si disputam a igualdade no governo: a liberdade, a riqueza e a virtude.
Aristóteles entra na questão qual é o melhor governo e qual a vida mais feliz para a
maioria dos estados e dos indivíduos. Em resposta diz que jamais existiu uma forma de
governo de todas essas considerações se depreende claramente qual é o melhor governo e
porque ele é o melhor, o exame das qualidades e condições da constituição convém à
natureza e ao caráter desde ou daquele.
O mesmo examinou a natureza das causas que produzem as revoluções nos
estados, às vezes os cidadãos se revoltam contra o governo, com o fim de mudar em outra
forma a constituição estabelecida por ex: a democracia em oligarquia ou a oligarquia em
democracia ou estas em republica ou aristocracia ou é contra a forma estabelecida que se
revoltam, mas em deixá-la subsistir os descontentes querem eles próprios governar.
Assim se encerra as idéias de Aristóteles em seu livro "A política".
3 A CIDADE DE DEUS-SANTO AGOSTINHO
Esta obra é composta de vinte e dois livros. Foi escrita mais ou menos em 10 anos
(416-427), a obra traz um roteiro sobre a invasão de Roma por Alarico, Rei de Visigodos, em
410. Todo orbe reconhecido foi abalado pela queda de Roma e todos, até mesmo alguns
cristãos, culpavam o cristianismo pela queda da cidade.
Todos, cristãos e não cristãos, acusavam o Cristianismo: o Deus do amor e da
caridade não serve para institucionalizar, isto é, organizar e defender uma civilização e uma
cultura. 410 é a demonstração prática da fraqueza política de Deus dos cristãos. (LEÃO,
2002, p. 17).
Como é notório, Agostinho trata do problema da história na Cidade de Deus, e
resolve-o ainda com os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção. A Cidade
de Deus representa, talvez, o maior monumento da antigüidade cristã e, certamente, a obra
prima de Agostinho. Nesta obra é contida a metafísica original do cristianismo, que é uma
visão orgânica e inteligível da história humana. O conceito de criação é indispensável para o
conceito de providência, que é o governo divino do mundo; este conceito de providência é,
por sua vez, necessário, a fim de que a história seja suscetível de racionalidade. O conceito
de providência era impossível no pensamento clássico, por causa do basilar dualismo
metafísico. Entretanto, para entender realmente, plenamente, o plano da história, é mister a
Redenção, graças aos quais é explicado o enigma da existência do mal no mundo e a sua
função.
Cristo tornara-se o centro sobrenatural da história: o seu reino, a cidade de Deus, é
representada pelo povo de Israel antes da sua vinda sobre a terra, e pela Igreja depois de
seu advento. Contra este cidade se ergue a cidade terrena, mundana, satânica, que será
absolutamente separada e eternamente punida nos fins dos tempos.
Nos dez primeiros livros Agostinho tenta mostrar como o culto aos deuses não
proporcionam nem a felicidade temporal e nem, tampouco, a felicidade eterna. Nos cinco
primeiros livros acentua a inutilidade do culto aos ídolos para alcançar a felicidade eterna. A
partir do livro sexto e até o décimo ressalta o quanto é frívolo cultuar aos deuses esperando
obter deles a felicidade eterna.
Agostinho distingue em três grandes seções a história antes de Cristo. A primeira
concerne à história das duas cidades, após o pecado original, até que ficaram confundidas
em um único caos humano, e chega até a Abraão, época em que começou a separação. Na
Segunda descreve Agostinho a história da cidade de Deus, recolhida e configurada em
Israel, de Abraão até Cristo. A terceira retoma, em separado, a narrativa do ponto em que
começa a história da Cidade de Deus separada, isto é, desde Abraão, para tratar paralela e
separadamente da Cidade do mundo, que culmina no império romano. Esta história, pois,
fragmentária e dividida, onde parece que Satanás e o mal têm o seu reino, representa, no
fundo, uma unidade e um progresso. É o progresso para Cristo, sempre mais claramente,
conscientemente e divinamente esperado e profetizado em Israel; e profetizado também, a
seu modo, pelos povos pagãos, que, consciente ou inconscientemente, lhe preparavam
diretamente o caminho.
Depois de Cristo cessa a divisão política entre as duas cidades; elas se confundem
como nos primeiros tempos da humanidade, com a diferença, porém, de que já não é mais
união caótica, mas configurada na unidade da Igreja. Esta não é limitada por nenhuma
divisão política, mas supera todas as sociedades políticas na universal unidade dos homens
e na unidade dos homens com Deus. A Igreja, pois, é acessível, invisivelmente, também às
almas de boa vontade que, exteriormente, dela não podem participar. A Igreja transcende,
ainda, os confins do mundo terreno, além do qual está a pátria verdadeira. Entretanto, visto
que todos, predestinados e ímpios, se encontram empiricamente confundidos na Igreja -
ainda que só na unidade dialética das duas cidades, para o triunfo da Cidade de Deus - a
divisão definitiva, eterna, absoluta, justíssima, realizar-se-á nos fins dos tempos, depois da
morte, depois do juízo universal, no paraíso e no inferno.
É uma grande visão unitária da história, não é uma visão filosófica, mas teológica: é
uma teologia, não uma filosofia da história.
A segunda parte da obra compreende todos os livros restantes e será sobretudo nela
que Agostinho irá desenvolver a sua teoria das duas cidades. Nela tratará tanto da origem e
o desenvolvimento das duas cidades, quanto de seus respectivos fins. Vejamos as palavras
do próprio Agostinho:
Nos dez livros precedentes, respondi aos inimigos da Cidade Santa, tanto quanto
pude, com a assistência de nosso Senhor e Rei. Agora, consciente do que de mim se
espera e lembrando-me de minha dívida, empreenderei, no favor do mesmo Rei e Senhor
nosso e meu escasso valor, falar da origem, desenvolvimento e fins devidos das duas
cidades ( XI, I, p. 19).
A origem das duas cidades, conforme Agostinho, remonta à queda dos anjos.
Contudo, o que as fundada, de fato, são dois amores: o amor de si levado ao desprezo de
Deus, a cidade terrena; o amor de Deus que leva ao desprezo de si, a cidade celestial.
Por fim, resta acentuar uma última questão. Estas duas cidades se distinguem
também pela doutrina. Enquanto na cidade terrena se permite que a verdade conviva com o
erro, na cidade de Deus – neste ponto Agostinho parece identificá-la com a própria
instituição Igreja – aqueles que pregam o erro devem ser dirigidos e, caso persistam em sua
perversidade, se tornam hereges e devem ser excluídos da comunhão eclesial, passando a
ser vistos como inimigos.
4 UTOPIA-THOMAS MORE
O livro a Utopia Thomas More, mostra uma sociedade organizada estatalmente, na
qual a comparo com o socialismo e acredito que serviu de base para este sistema de
governo, e que também esta diretamente ligada as idéias Platônicas, More, explica a
organização dessa sociedade através de um personagem chamado Rafael, um senhor de
idade q conhece em umas de sua viagens e que de acordo com os relatos feito a more ele
escrevi a obra a utopia.
O livro começa com um "Prefácio do Tratado da melhor forma de governo", que se
trata de uma carta redigida à um amigo, Pierre Gilhes, com a qual Thomas Morus envia seu
livro que descreve a República de Utopia, que lhe fora relatada por Rafael, um amigo que
vivera em Utopia.
Ele também fala da organização de classes sociais dos criados de famílias nobres,
artesãos e até camponeses, todas as classes sociais, entregaram-se a ostentação no
vestuário e à extravagância na alimentação. Além dos restaurantes do grande número de
casas de prostituição, das tabernas e cervejarias. A jogatina imoral que essa gente se
entrega. Passai uma lei que obrigue todos que destruam cidades a reconstruí-las, ou
entregá-las a alguém que esteja disposto a fazê-lo. Limitai o direito que os ricos tem de
comprar toda e qualquer coisa, e de estabelecerem verdadeiros monopólios. Enquanto
essas coisas continuarem a existir não tens o direito de dizer que justiça é isso que fazem
com os ladrões. "Trata-se, quando muito, de uma justiça ilusória que nada tem de real ou
socialmente desejável."... Até que em todas as esferas da vida humana os homens decidam
até que ponto os mandamentos divinos.
Essa organização social tinha uma preocupação muito grande em não estimular as
desigualdades sociais, a em algumas decisões eram até muito radicais, pois os Utopianos
eram obrigados a se vestirem de uniformes para não estimular este tipo de vicio.
A obra de Thomas More traz dois conceitos centrais na concepção da ilha que está
toda enraizada em duas idéias: a não existência da propriedade privada é o alcance dos
interesses individuais, entendido como apenas viável, se feito através do preenchimento
prévio das necessidades coletivas. Todos os outros elementos do funcionamento tanto dos
costumes, quanto da cultura, como do governo são diretamente ligados a esses pontos. O
autor vê a propriedade privada como a essência das mazelas do homem. Da mesma forma,
a necessidade de ver a sociedade como uns conjuntos de subordinar os interesses
individuais aos coletivos são as únicas maneiras de alcançar prosperidade e progresso.
A descrição da ilha é feita com base numa comparação com a Inglaterra do seu
tempo, que tem uma função de negativo. É perfeitamente possível entender Utopia como
uma anti-Inglaterra. A Inglaterra de More não é mais medieval, os valores não são mais
exatamente os da nobreza, embora muito ainda reste dessa época. A revolta de More contra
o dinheiro, a moeda, contra a desigualdade material e concentração de riquezas e contra a
propriedade da terra, que já não é entendida por ele como direito natural de posse,
demonstra o quanto já era acelerado na Inglaterra esse processo em direção ao capitalismo.
Não são os valores medievais que More critica, são os que mais tarde serão chamados de
valores burgueses.
Na época de More, a terra era a principal fonte de riqueza e trazia consigo também
poder político e status. Na Inglaterra, ela já era considerada uma mercadoria e a nobreza
inglesa estava num processo em que cada vez mais passaria a pensar como a burguesia,
isto é, empresarialmente. As enclosures que fazem parte desse processo de transformação
da terra em propriedade privada e, por conseqüência, mercadoria, vão resultar na
necessidade dos camponeses assalariarem-se e aqueles que até então conseguiram
produzir para si, nas terras comunais, vão tornar a ser explorados por um grupo de
proprietários.
O outro ponto central, é as necessidades e a felicidade coletivas predominantes às
individuais, têm grande força na concepção do governo da ilha. Não é à toa que a ilha tem
um governo democrático e similar ao republicano. É por conta dos governantes europeus. A
visão de Thomas More dos governantes, ao contrário do que se pode pensar está longe de
ser ingênua. Ele sabia muito bem com quem estava tratando.
O poder de uma classe militar, apenas preocupada com seus interesses, com seus
privilégios, alimentados exatamente pela guerra – outro grande mal eleito por More, por sua
vez também derivado da desigualdade material. Ao identificar nos governantes hereditários
e intocáveis essa falta de ligação com o bem comum, criticava também o direito divino, o
poder legitimado pela tradição. É natural então a defesa que faz da democracia como forma
de governo. E é uma das componentes mais importantes de seu discurso a deslegitimarão
que faz ao poder real e ao poder da aristocracia. Fica extremamente claro para ele que o
único governante legítimo é aquele escolhido pelos cidadãos. É muito forte a necessidade
de um governo democrático, eleito e diretamente ligado aos interesses do povo. Por sinal,
esse povo do qual fala não é um pequeno grupo restrito, não é um recurso ideológico (e
demagogo) que visa tornar os interesses de alguns poucos os de todos.
Os mais velhos, e por conseqüência para More, os mais sábios, teriam mais
capacidade de decidir o que é melhor para todos. Em Utopia, as decisões políticas são
feitas com base em uma estrutura que tem como as células básicas a divisão em famílias.
Cada família é comandada pelo homem mais velho, e certo número de famílias vai eleger
um magistrado regional (sifograntes ou também chamado filarca) que as governará. Cada
dez destes obedece a um magistrado superior, também eleito (protofilaraca ou traníboras), e
os sifograntes ainda elegem um príncipe. Os traníboras e o príncipe reunidos são os
senados, e deliberam a política da ilha. Mesmo assim há um rígido controle da base popular
sobre o que o senado pode fazer. Com relação às mulheres nada é dito do papel delas na
política, mas fica subentendido que esse papel está reservado aos homens. Por outro lado,
a participação das mulheres na sociedade é bem igualitária, na educação, no treinamento
militar e na divisão do trabalho.
Por exemplo, mesmo o casamento sendo rigidamente controlado de acordo com as
necessidades coletivas, ambos os noivos deverão estar de acordo com o matrimônio. Da
mesma forma, o divórcio é tão restrito ao homem quanto à mulher (daí a necessidade de
escolher bem os cônjuges antes).
Os escravos de Utopia não são entendidos como parte do povo. A eles é reservado o
papel de parias, e que executam os trabalhos mais duros e indignos. Mas esse papel é
reservado a eles não por serem estrangeiros ou por hereditariedade, e sim por serem
criminosos ou soldados estrangeiros vencidos e poupados. O alfabeto Utopiano, segundo
Peter Giles, apresenta bases latinas e gregas.
Esse rígido controle é encontrado também nos costumes. More entendeu que uma
sociedade tão diferente no funcionamento e nas suas raízes deveria ter também uma cultura
e ética totalmente diferente, e tentou encontrar os pontos onde os costumes contribuiriam
para a manutenção dessa sociedade.
De acordo com More, o trabalho coletivo resultaria numa produção muito acima da
necessária para a manutenção da sociedade. Parte pode ser reservada para
eventualidades, outra parte doada para os pobres de alguma nação vizinha. Uma outra
parte é reservada para ser vendida a nações vizinhas que queiram comprar. O dinheiro
resultante não teria utilidade se não houvesse nações gananciosas e belicosas. Mas como
Utopia é uma ilha de paz e igualdade num mundo de violência e exploração, esse ouro vai
ser utilizado para contratar exércitos mercenários para proteger a ilha, sempre fora das
fronteiras, e subornar os exércitos adversários.
Thomas More escreveu uma obra onde descreve uma sociedade que entende como
melhor que aquela onde vivia. Isso todos sabem. O próprio nome da ilha acaba colaborando
essa concepção geral de que Utopia (que vem do grego, ou-topos: lugar nenhum) é
considerada como o local onde se encontraria a sociedade ideal, e sendo ideal inalcançável.
Mas embora o nome da ilha indique que esta exista em um lugar nenhum, ela é situada
geograficamente na América, no novo mundo.
O deus dos utopianos, que More faz questão de frisar, seria muito parecido com o
cristão, antes de tudo quer que seus crentes busquem o prazer e não prejudiquem ao
próximo. Este seria o Deus onipotente, universal, mas em utopia as pessoas também
poderiam seguir outras religiões restritas, e cultas variados, ou seja, o autor defendia idéias
de liberdade e tolerância religiosas.
As nítidas influências de Platão nos escritos de More também nos levam a esse
raciocínio. Não é difícil perceber que a Republica de Platão foi crucial para a criação dessa
sociedade perfeita, várias vezes More cita os escritos do filósofo grego. A concepção de
Utopia deve muito as idéias deste pensador, e as conseqüências do livro também. O
conceito de idealização é geralmente ligado a algo perfeito e inalcançável que está longe do
mundo real.
4.1 CONCLUSÃO
Ao concluir este trabalho observei que a idéia de Utopia está ligada diretamente a
singularidade da Inglaterra, onde a nobreza mais cedo começou a perder poder, permite
entender o porquê é tão forte a crítica de More à propriedade privada. Na sociedade inglesa
a essa época já era tênue a linha que distingue burguesia e nobreza. Era muito fácil a
ascensão à nobreza de um burguês rico ou a um nobre adquirir as práticas de um burguês.
A Inglaterra de seu tempo, pelo que ele demonstra, já apresentava algumas distorções
sociais e injustiças que são inerentes ao capitalismo.
É dessa forma que é entendido o trabalho por More. Para ele, se há escassez de
alimentos e desigualdade, é porque alguns estão trabalhando por outros. O trabalho, assim
como a riqueza, deveria ser distribuído igualmente a todos. O trabalho, como vê em seu
tempo, é apropriado por um exército de inúteis: clero, nobreza militar, comerciantes,
proprietários de terra, donos de empresa, funcionários do estado e outros que estariam
parasitando a sociedade e impedindo a felicidade comum. Nos cálculos de More, se toda
essa casta de parasitas se também trabalhassem em algo produtivo, como na indústria ou
agricultura, haveria suprimento suficiente para todas as necessidades da sociedade, assim
como é descrito em Utopia. A miséria da qual More fala não é a dos mendigos das cidades
medievais, é aquele resultado da necessidade de exploração do camponês.
A descrição que Thomas More faz da Inglaterra de seu tempo é tão familiar ao leitor
do século XX, capitalista, que chega a ser um instrumento de possível contestação da teoria
de Max Weber sobre a origem do capitalismo.
Na verdade, More escreveu uma obra com a pretensão de fazer uma crítica divertida
à sociedade de sua época. O modo sempre cortês e a queda pelas sátiras humorísticas de
More parecem reforçar a idéia de que, Utopia é apenas uma crítica despretensiosa que é
colocada na boca de seu personagem Hitlodeu, citado no desenvolvimento deste.
5 O PRÍNCIPE-NICOLAU MAQUIAVEL
5.1- INTRODUÇÃO
Em sua obra "O Príncipe", Nicolau Maquiavel mostra uma preocupação em analisar
acontecimentos ocorridos ao longo da história comparando com fatos do seu tempo. Relata
os pontos negativos e positivos que existem em comandar uma nação nos vários aspectos
da política mundial. Trazendo também ao conhecimento de todos, através desta obra, como
deve se comportar um líder perante sua nação para obter sucesso em seu governo. A obra
é dividida em 26 capítulos, que podem ser agregados em cinco partes, a saber:
• capítulo I a XI: análise dos diversos principados e meios de obtenção e manutenção
destes;
• capítulo XII a XIV: discussão da análise militar do Estado;
• capítulo XV a XIX: estimativas sobre a conduta de um Príncipe;
• capítulo XX a XXIII: conselhos de especial interesse ao Príncipe;
• capítulo XXIV a XXVI: reflexão sobre a conjuntura da Itália à sua época.
2- Contexto Histórico
Maquiavel viveu durante a Renascença Italiana , o que explica boa parte das suas
idéias.
Na Itália do Renascimento reina grande confusão. A tirania impera em pequenos
principados, governados despoticamente por casas reinantes sem tradição dinástica ou de
direitos contestáveis. A ilegitimidade do poder gera situações de crise e instabilidade
permanente, onde somente o cálculo político, a astúcia e a ação rápida e fulminante contra
os adversários são capazes de manter o príncipe. Esmagar ou reduzir à impotência a
oposição interna, atemorizar os súditos para evitar a subversão e realizar alianças com
outros principados constituem o eixo da administração. Nem a religião nem a tradição, nem
a vontade popular legitimaram e ele tem de contar exclusivamente com sua energia
criadora. A ausência de um Estado central e a extrema multipolarização do poder criam um
vazio na Itália.
Até 1494, graças aos esforços de Lourenço, o Magnífico, a península experimentou
uma certa tranqüilidade.
Entretanto, desse ano em diante, as coisas mudaram muito. A desordem e a
instabilidade ficaram incontroláveis. Para piorar a situação, que já estava grave devido aos
conflitos internos entre os principados, somaram-se as constantes e desestruturadoras
invasões dos países próximos como a França e a Espanha. E foi nesse cenário conturbado,
onde nenhum governante conseguia se manter no poder por um período superior a dois
meses, que Maquiavel passou a sua infância e adolescência.
5.2 RESUMO
Maquiavel acredita, apoiando-se nos exemplos, opiniões e tradições, que aspectos
relevantes de estratégias de outro tempo e espaço se repetiriam em seu ambiente temporal
e espacial, assumindo internamente o pressuposto que ambientes, pertencentes a épocas e
espaço diferentes, guardariam semelhança. Desta forma, através de exemplos construiu sua
obra O PRÍNCIPE, que nos mostra os conselhos políticos para a conquista e a manutenção
do poder. Este, é um tratado político apresentado em 26 capítulos, com uma conclusão que
propõem a libertação da Itália das intervenções de franceses e de espanhóis, considerados
bárbaros. Escrito originalmente em 1513 e dedicado a Lourenço de Médicis.
"(...) o conhecimento das ações dos homens com poder, as quais tenho aprendido
quer pela longa experiência adquirida nesses anos quer pelo estudo do mundo antigo.
Tendo eu, com longo empenho, as analisado e pensado sobre elas, as reuni em um
pequeno volume e as envio a Vossa Alteza."(...) (MAQUIAVEL, Nicolau).
O autor começa seu discurso definindo o Estado: (...)"governos que tiveram e têm
autoridade sobre os homens"(...) (Cap. I), e pontua que o Estado pode ser uma república ou
um principado. Como na época o mais comum é o principado, o autor tratou deste, por
grande parte da obra.
Em relação à forma que o principado é adquirido, ou seja, se por hereditariedade ou
por conquista; o autor argumenta com exemplos, no intuito de aconselhamento ao príncipe,
sobre a capacidade de conservação do poder. Ao contrário, da facilidade na manutenção do
poder nos principados conquistados pela sucessão hereditária, portanto baseada na
tradição, os principados novos ou mistos devem, segundo Maquiavel ter uma forma eficaz
de controle. E, aconselha soluções onde existe ameaça na conservação do poder do
príncipe, tais como: eliminação da linhagem de nobres do antecessor, a conduta de não
alterar a organização de leis e impostos que estavam em vigor, a instalação de colônias ou
a permanência do dominador no local conquistado, previne veemente sobre o perigo do
poder temporal da Igreja e principalmente, estimula a conquista de aliados entre os
dominados e entre seus vizinhos, pontuando a importância do apoio dos membros da
sociedade conquistada.
Através do exemplo do caso histórico da sucessão de Alexandre O Grande, que
morreu logo após a conquista da Ásia e mesmo não tendo filhos, seus herdeiros mantiveram
a conquista, ele traça um paralelo com territórios ocupados pela França. A explicação reside
na forma de organização da monarquia: no reino de Dario, existe apenas uma figura central
e de maior importância no poder (o príncipe), e todos os outros são servos e nos reinos
governados pela França o rei governa: (...) em meio a uma multidão de senhores de
linhagem antiga, reconhecidos e amados pelos súditos." (Cap. IV), e desta forma não cria
uma figura central forte, e assim o autor conclui: "Não sendo possível nem contentá-los nem
eliminá-los, perde-se este Estado na primeira ocasião." (Cap. IV)
O autor aconselha para a manutenção dos principados dominados que, antes da
conquista, possuíam leis próprias, três modos para mantê-los: "O primeiro é aniquilá-los. O
outro é residir neles. O terceiro é deixá-los viver com suas leis, retirando uma renda e
criando internamente um governo de poucos que manterá o consenso." (Cap. V)
Os três capítulos subseqüentes tratam da forma que os principados foram
conquistados, Cap. VI – com as próprias armas e qualidades pessoais, Cap. VII - com as
armas e a virtude de outrem, Cap. VIII – com malvadez; e a partir destas formas de
conquista os cuidados que o príncipe deve ter para manter o domínio. Exemplifica com a
História de Teseu, Moisés, entre outros, que por virtude própria tornaram-se príncipes e
discute a vida política de seu contemporâneo César Bórgia, filho do papa Alexandre VI,
cujas conquistas foram impulsionadas pelo poder da posição de seu pai e, depois, por
alianças com pessoas mais poderosas que ele, como Remirro de Orco. Salientou a
perspicácia que o príncipe deve ter para aproveitar a ocasião e a melhor maneira de
administrar a força ou a malvadez, aconselhando que o mal deve ser administrado de uma
só vez e o bem, pausadamente, para ser "melhor saboreado".
Ao principado civil em que o príncipe foi escolhido graças ao favor do povo ou dos
nobres, o autor recomenda: (...)"quem se tornar príncipe pelos favores do povo deve mantê-
lo amigo, o que é fácil, uma vez que só pede para não ser oprimido." (Cap.IX) e completa,
caso, tornou-se príncipe graças aos poderosos, conquiste o povo. Maquiavel, neste
momento de sua obra, nos dá mais uma prova da sua arte em governar: "Portanto um
príncipe sábio deve pensar no modo em que os seus cidadãos, sempre e em qualquer
tempo, precisem do Estado e dele. Assim ser-lhe-ão sempre fiéis". (Cap. IX)
Em relação ao principado eclesiástico, o autor coloca que: "somente esses
principados são seguros e felizes" (Cap. XI), para tal afirmação ele exemplifica com a
seqüência de três papas da Era Moderna, Alexandre VI, Júlio II e Leão X, onde mostrou o
poder das armas e do dinheiro empregados na conquista, do primeiro; a manutenção, a
expansão e o fortalecimento da Igreja, do segundo e a "bondade infinitas e outras virtudes"
deste terceiro, para apenas continuar o poderosíssimo império, afinal é mantido por Deus,
legitimado e não contestado Ou seja, foi necessário o mal, (guerras) para atingir o bem
(reinar na paz).
Após toda a discussão sobre os principados, como conquistá-los, governá-los e
mantê-los dominado, o autor discorre sobre os perigos em ter exércitos mercenários ou
auxiliares, responsabilizando estas práticas a levarem a Itália à escravidão e à vergonha: "O
resultado disto foi que a Itália foi subjugada por Carlos VIII, depredada por Luís XII,
submetida a todo tipo de violência por Fernando o Católico, e desonrada pelos suíços."
(Cap. XII) E conclui que, um príncipe deve manter exército próprio aliado a boas leis e
manter este exército preparado.
Em relação às qualidades da personalidade do príncipe, Maquiavel adverte: "Para
um príncipe é necessário, querendo se manter, aprender a poder ser não bom e usar ou não
usar isso, conforme precisar." (Cap. XV) E considerar o modo como convém ser generoso,
isto é, o melhor é poder ser generoso com muitos (povo) e miserável com poucos (elite),
mas para tal, de onde tirar os recursos? Do povo? Do rei?
"Portanto, um príncipe deve ser pouco generoso, para não precisar roubar os
súditos, para poder se defender, para não ficar pobre e desprezível,"(...) (Cap. XVI)
"Entre todas as coisas que um príncipe deve evitar estão ser desprezível e odioso. A
generosidade conduz seja a um como a outro. Portanto, é mais sábio manter a fama de
miserável, que traz infâmia sem ódio, do que, por querer ser conhecido como generoso,
necessitar incorrer na fama de rapace (ladrão), que traz infâmia com ódio." (Cap. XVI) Afinal,
é óbvio que para alguns ganharem, outros tantos perdem.
Ainda o autor acrescenta com a questão: é melhor ser amado ou temido? É melhor
ter a fama de cruel ou de bom? E responde: a desordem prejudica a muitos enquanto as
execuções do príncipe cruel são individuais. Assim sendo, Maquiavel afirma que na
impossibilidade de reunir características antagônicas, é melhor que o governante priorize ser
cruel e ser temido, pois ser traído por quem te teme é mais difícil do que ser traído por quem
te ama. No entanto, se desta forma não conseguir conquistar o povo, ainda assim, é melhor,
pois o autor adverte que muito pior ao governo, é suscitar o ódio de seus súditos, aliás, esta
é uma recorrente preocupação do autor.
Quanto à "palavra" do príncipe, o autor pontua, que este deve procurar mantê-la,
porém só se for possível: (...) "não se desviar do bem, se possível, mas saber sempre como
usar o mal, se necessitar."(...) "Deve parecer, vendo-o e ouvindo-o, repleto de clemência, de
lealdade, de integridade, de humanidade, de religião. E não há coisa mais necessária de se
ter do que essa última qualidade."(Cap. XVIII) Ou seja, o autor reforça que os meios da
conquista e manutenção de um Estado serão sempre "honrados e por todos louvados",
defende a prioridade do Estado como suprema realidade política e atribui ao Príncipe, o
poder absoluto de decidir qual é o bem do Estado.
Sua posição em relação à natureza humana é contundente: "Os homens esquecem
mais rápido a morte do pai do que a perda do patrimônio" (Cap. XVII) "O amor é mantido por
um vínculo de obrigação, que os homens, sendo malvados, rompem quando melhor lhes
servir." (Cap. XVII) Os homens: "são ingratos, volúveis e ávidos de lucro" (Cap. XVIII)
O capítulo "Como evitar o desprezo e o ódio", sem dúvida teve maior consideração
pelo autor, prova disto, é que é o mais extenso, subdividido em 21 partes. E o autor adverte:
um príncipe torna-se odioso, por roubar rapinamente ou usurpar dos bens e das mulheres
do povo. E torna-se desprezível, quando é considerado: "volúvel, superficial, efeminado,
pusilânime, indeciso." E reafirma: "Deve esforçar-se para que, em suas ações, vejam-se
grandeza, coragem, seriedade,"(...) (Cap.XIX)
O príncipe adquirindo uma boa reputação, evitando o desprezo e o ódio dos seus
súditos, terá as armas necessárias para manter o domínio e evitar conspirações.
Maquiavel salienta que não se devem criar inimizades com os poderosos e ao
mesmo tempo deve satisfazer e contentar o povo, que aliás, para ele deve ser: "um dos
maiores objetivos que pode ter um príncipe" (Cap. XIX) Enfim, deve agradar a "gregos e
troianos", ou seja, a elite e o povo. E para tal observação, o autor propõe uma solução,
defendendo o sistema político parlamentar, argumentando que se constituir um Parlamento,
o príncipe poderá deixar de tomar medidas impopulares, responsabilizando o Parlamento e
ao mesmo tempo poderá tomar "para si os atos de graça".
O autor deu diversos exemplos de administrações que mostrou, que o ódio e o
desprezo foram motivos da ruína de muitos imperadores e ainda os motivos pelos quais
alguns deles, agindo de uma forma e outros de modo contrário, alguns terminaram bem e
outros tiveram triste fim.
Depois de discursar sobre métodos e exemplos de como evitar o desprezo e o ódio,
Maquiavel sai um pouco dessa parte pessoal e discute assuntos que cercam um príncipe.
Alguns Príncipes, para conservarem com segurança o Estado, deixaram desarmados
os seus súditos, outros repartiram as cidades conquistadas mantendo facções para
combaterem-se mutuamente, outros alimentaram inimizades contra si próprios, outros se
entregaram à conquista do apoio daqueles que lhe eram suspeitos no princípio de seu
Governo, alguns outros construíram fortalezas.
Tirando as armas, principais por ofendê-los, dando a entender que desconfia deles
ou que é covarde. Qualquer dessas opiniões levantará ódio contra ti. Não houve Príncipe
num principado novo, sempre organiza a força armada, porém, um Príncipe que conquista
um novo Estado, que seja anexado ao domínio, então faz-se preciso desarmar aquele
Estado, menos aqueles que tenham ajudado a conquistá-lo a ainda a esses é preciso, com
o tempo, torná-los apáticos e moles, de maneira que todas as armas desse Estado estejam
com os teus soldados, que junto a ti viviam no Estado antigo.
Muitas vezes, servem melhor ao Príncipe os serviços dos ex-adversários do que os
daqueles que, por demasiada segurança, negligenciam os interesses do Príncipe.
Em ocasiões diversas, Maquiavel apresenta-se com uma dupla posição perante o
fato. Neste caso, em particular, no que se diz respeito à fortaleza ser ou não útil, ele diz que:
"...louvarei, os que construírem fortalezas e também os que não as construírem, e
lamentarei aqueles que, fiando-se em tais meios de defesa, não se preocupem com o fato
de serem odiados pelo povo". (Cap.XX)
Para que um príncipe passe a se estimado pelos seus súditos, e é claro, por todo o
Estado que lhe pertence, convêm a ele fazer grandes empreendimentos e o dar de si raros
exemplos.
Podemos assim citar os grandes assaltos do Fernando de Aragão, que usando a
religião e Igreja, pode assim ser respeitado por seus grandes e sucedidos roubos.
Também para que seja de total êxito seu principado, o dito cujo príncipe, terá que
constituir bons, dignos e versáteis ministros, os quais lhe auxiliaram em seu laborioso
trabalho.
Mas o príncipe tem que ser, sábio na hora da escolha de seu ministro, pois, se o
ministro for honesto, direito e fiel, logo o príncipe será tido como sério e inteligente, pois
soube escolher bem e com sabedoria. Mas se o ministro for indigno, falso e ladrão, aí o
príncipe estará arruinado, pois o tacharam como incompetente na escolha de seus
ajudantes.
Assim o príncipe terá que observar muito bem os súditos, e aos pretendentes a
serem os seus ministros pois (...) "há três tipos de cérebro – uma que entende as coisas por
si mesmo, outra que sabe discernir o que os outros entendem e, finalmente, uma que não
entende nem por si, nem sabe ajuizar do trabalho dos outros (a primeira é excelente, a
segunda muito boa e a terceira inútil)".(Cap. XXII)
Quando um príncipe luta para edificar o principado e o seu Estado e com isso
destaca-se e põe-se em glória, logo aparecem os adulares ou seus (puxa saco), pois,
veremos agora como é que o príncipe fará para evitá-los. Nicolau Maquiavel denomina
essas pessoas de peste.
"Um príncipe prudente deve, portanto, conduzir-se (...), escolhendo no seu Estado
homens sábios, e só o estes deve dar direito de falar-lhe a verdade a respeito, porém,
apenas das coisas que ele lhes perguntar". (Cap. XXIII)
O que se conclui daí é que os bons conselhos, de onde quer que provenham,
nascem da prudência do príncipe e não a prudência do príncipe dos bons conselhos.
Depois Maquiavel cita as razões pelas quais os príncipes da Itália perderam seus
domínios (na época de Maquiavel a Itália estava fraca, dividida e dominada), usando isso
como exemplo de muito do que ele falou durante o livro "pelos motivos já amplamente
analisados"; fala, também, sobre a sorte "para não descartar inteiramente nosso livre-
arbítrio, creio que se pode admitir que a sorte seja o árbitro da metade dos nossos atos, mas
que nos permite o controle sobre a outra metade, aproximadamente" (Cap. XXIV) e
considera que "o príncipe que baseia seu poder inteiramente na sorte se arruína quando
esta muda", o que significa que o príncipe precisa agir sempre com cautela, preparado para
uma sorte menos favorável.
Um príncipe recente é muito mais vigiado em suas ações do que um hereditário, e
quando essas ações revelam virtude, atraem muito mais aos homens e os obrigam muito
mais do que a Antigüidade do sangue.
Assim por não honrar a promessa feita aos súditos e deixar brechas feias pode
perder o principado.
O poder da fortuna em um principado, pode ao mesmo tempo ser a seu favor, como
também ser contra. Este contra ao que me refiro é em relevância de seu mau uso e mal
quando empregado em lugar e forma errada. Assim sendo, como tudo que o príncipe faz,
também o uso da fortuna no Estado, deve ser com muita cautela, pois este principado e
Estado são compostos de várias pessoas, por isso tem que ser destruído por ela.
Maquiavel conclui a obra com um aviso de que a Itália precisa de um novo soberano
que assuma uma forma de governo que dê orgulho e prosperidade ao povo e liberte a Itália
dos bárbaros. Diz ele que, não podem deixar de passar este tempo propício à ocasião de
fazer com que a Itália, depois de tanto tempo encontre um redentor.
5.3 CONCLUSÃO
A partir da nacionalidade e o contexto histórico de Maquiavel poderemos analisar a
sua linha de raciocínio. Ele era um nacionalista fervoroso e seu maior sonho era ver uma
Itália forte e unificada. Com esse intuito desenvolveu este manual de política que ensina
"passo a passo" o comportamento do príncipe ideal. Este é fruto de observações
diplomáticas pelo interior italiano, de sua bagagem cultural e de muita reflexão. Seu livro foi
um marco, já que explicava claramente como se deve desenvolver a política . Isso causou
uma tremenda revolução para a época, já que abolia os fundamentos básicos da política ,
usados por quase mil anos. Resumindo podemos dizer que Maquiavel é o responsável pela
autonomia do campo da ciência política, que se desliga das preocupações filosóficas e da
política normativa dos gregos, desvinculando-se também da moral cristã.
As questões centrais de 'O Príncipe' são as mesmas de qualquer obra de ciência
política da atualidade: a conquista, manutenção e preservação do poder. E os
desdobramentos dessas questões também estão na ordem do dia: como obter alianças,
acordos e negociações, as relações entre governo e povo, a formação de um Estado, as
políticas interna e externa, a corrupção e o favorecimento.
Porém, quero deter-me neste ponto: O porque de uma obra escrita há quase
quinhentos anos, permanece atual?
Creio que mesmo o autor não saberia responder, ou melhor, creio que ele, apesar de
construir uma obra de caráter prescritivo e preditivo, não pôde prever o longínquo alcance
dos seus ensinamentos, e digo isso, baseando-me em suas próprias palavras, pois ele
atribuiu sua obra ao estudo político da história antiga e as observações efetuadas por ele.
Maquiavel acredita, apoiando-se nos exemplos, opiniões e tradições, que aspectos
relevantes de estratégias de outro tempo e espaço se repetiriam em seu ambiente temporal
e espacial, assumindo internamente o pressuposto que ambientes, pertencentes a épocas e
espaço diferentes, guardariam semelhança. Porém, creio, que muito além desse
pressuposto, muito mais que isso, ele teve sim, uma grande compreensão da psicologia
humana, e exatamente por isso, apesar de ressalvas que veremos adiante, concordo que
sua obra é sim, aplicável a todos os tempos, pois se muda o contexto do homem, mas não
sua essência.
A contribuição de Nicolau Maquiavel para o mundo é imensa, ensinou através da sua
obra, a vários políticos e governantes. Como ex: Napoleão Bonaparte.
Quero acrescentar, que lendo essa obra, na passagem abaixo citada, recordei-me do
fato da renúncia do ex-presidente Jânio Quadros e não me contive, em incluir a observação,
de que se este "príncipe" tivesse observado melhor os conselhos de Maquiavel, talvez não
tivesse renunciado a presidência do Brasil em 1961.
"Ninguém deve querer cair, por acreditar que alguém irá recolhê-lo. Isso ou não
acontece ou, se acontece, não é seguro, por ser defesa vil e não depender de ti." (Cap.
XXIV)
A objetividade historiográfica e o realismo político constituem, assim, os dois pontos
básicos de Maquiavel e sua doutrina original. Graças a este segundo aspecto, Maquiavel foi
considerado fundador da ciência empírica da política, ou seja, disciplina empírica que estuda
as regras da arte de governar sem outras preocupações além da eficácia dessas regras.
Porém, quero fazer uma séria ressalva, a todo este discurso que sempre "rondou" a
obra. Creio que como estudante de história, devo fugir do "discurso pronto", e atrevo-me a
questionar esta "validade eterna". Como já me coloquei, creio que no aspecto da alma
humana em relação ao poder, "O Príncipe" será imortal (mesmo eu rezando e torcendo
contra), mas em relação à política atual, creio que a objetividade e a racionalidade
perseguida por Maquiavel foram, sim, substituídas. Na atualidade, percebe-se uma busca da
subjetividade na política. Não é possível compreender o mundo atual, apenas
racionalmente, é necessário levar em conta a diversidade cultural e suas inter-relações, os
desejos da sociedade, enfim o imaginário do povo.
Apenas através de estudos que respeitem a alteridade que, poderemos melhor
compreender a desintegração do Leste Europeu, a guerra da Bósnia e o conflito entre
Sérvios e Kosovares. Só este tipo de estudo pode explicar as dificuldades encontradas
pelos Estados Unidos nesta segunda guerra do Golfo. Afinal, enquanto os americanos
vêem-se como libertadores, os iraquianos, mesmo aqueles que estavam em desacordo com
Saddam Hussein, vêem os americanos como os outros, diferentes, estrangeiros e intrusos
em uma casa e uma causa que não são deles.
Um dos grandes desafios da ciência política atual é reconhecer que o econômico não
pode explicar tudo, precisamos de novos modelos, novos métodos, novos paradigmas,
novos marcos teóricos para poder dar conta destas questões. Estes marcos teóricos podem
e devem ser buscados dentro e fora da política.
No entanto não devemos perder de vista que no fim das contas estamos de volta por
outros meios ao paradigma clássico da Teoria Política, afinal trata-se de uma luta pelo poder
e pela legitimidade do uso da força, e também da idéia preconizada por Maquiavel de que
para o espaço político não valem os mesmos valores morais que regulam a vida do cidadão.
Ter poder, portanto, é conseguir impor sua vontade sobre a vontade de outras
pessoas.
O conceito de poder está intimamente ligado à questão da dominação. Quando se
trata de poder, fala-se obrigatoriamente de Dominantes e Dominados. Daqueles que
exercem o poder e daqueles sobre quem o poder é exercido.
Mais uma vez cito o exemplo da segunda guerra do Golfo, onde George W. Bush,
contra tudo e contra todos (incluindo-se aí a ONU e quase toda a opinião pública mundial),
utilizou a força para fazer valer as suas vontades e convicções.
É importante ressaltar que ele não é o único, em boa parte dos países árabes o
poder é exercido de maneira personalíssima, em Cuba poder e Fidel Castro são sinônimos e
também no Brasil a idéia de que governar e exercer o poder é a capacidade de impor a sua
vontade é generalizada. Nossos governantes costumam exercer o poder como uma
extensão de suas vontades pessoais passando por cima de tudo e de todos. Obviamente
esta posição é sempre justificada através de discursos onde se afirma a idéia de que o
governo está trabalhando pelo progresso, pelo desenvolvimento, alegando sempre que as
críticas e reclamações são injustificadas porque partem daqueles que viram seus interesses
prejudicados ou que perderam as eleições.
Cristóvam Buarque, ex-ministro da educação, professor da UNB e ex-governador de
Brasília, afirma que a lógica da modernidade técnica subordina os objetivos sociais e
ambientais à racionalidade econômica, ela mesma subordinada à técnica, e que neste
contexto os valores éticos são ignorados. (BUARQUE, 1994) Ou seja, voltamos a Maquiavel
e à idéia de que a política não pode subordinar-se à moral.
E enfim podemos dizer que apesar da mudança de enfoque, continuam intactos
pontos fundamentais da teoria política clássica como a amoralidade do jogo político, a
proximidade entre vontade individual e o poder e ainda, a natureza humana.
O que significa não uma substituição do paradigma de Maquiavel nem a sua
aplicação de maneira integral, mas sua incorporação a novos paradigmas, se de um lado é
importante levar em conta as subjetividades envolvidas não há como deixar de pensar que a
velha máxima de Maquiavel que afirma que o poder do príncipe é medido pela eficácia de
suas ações continua valendo, e que ganhar a guerra ainda é uma estratégia eficaz para
calar as críticas.
Mesmo levando em conta o patriotismo de Maquiavel, diante da realidade da Itália
que se encontrava esfacelada por povos inimigos, quero ainda discordar "com seu príncipe",
que usa da astúcia e da violência para unificar o Estado. Este modelo político Florentino
patriota recusa o ideal de uma comunidade eticamente homogênea, o seu pessimismo
antropológico não permite conceber uma forma de governo, cujo princípio fosse ético. Falta
a ele, acreditar no potencial humano de viver de forma socialmente harmoniosa, concordo
que o ser humano (principalmente o que é detentor do poder) é mau por natureza como o
concebeu. Mas acredito na evolução espiritual da espécie e talvez ainda, poder contribuir
através do ensino de História para a formação de cidadãos éticos
6 DOM QUIXOTE-MIGUEL DE CERVANTES
O livro conta a história de Dom Quixote, que de tanto ler historias de cavalaria,
passou a acreditar nos feitos históricos dos cavaleiros, ele resolve então virar um cavaleiro,
mas como todos os cavaleiros ele tinha que ter uma mulher a quem honrar.
Ele pegou uma armadura velha que tinha e saiu por ai tentando fazer feitos heróicos,
e se intitulou Dom Quixote de la Mancha, então ele montou em seu pangaré que se
chamava Rocinante, e saiu por aí.
Ele encontra uma estalagem onde pede para que o dono o ordene como Cavaleiro.
Outro dia ele ataca vendedores que via como inimigos, e apanha desses vendedores. Um
amigo dele que estava a sua procura o leva para casa.
Sua família decide então destruir todos os seus livros de cavaleiro e fechar a
biblioteca. Depois disso Dom Quixote volta acompanhado por Sancho Pança, um ingênuo
homem que cai na conversa de Dom Quixote.
Em uma de suas aventuras ele vê moinhos de ventos e confunde com gigantes,
então investe neles, mas é jogado longe e socorrido por Sancho, então ele diz que foi o
mago que transformou o gigante em moinhos, quando viu que o cavaleiro estava vencendo.
Mais adiante ele vê um rebanho de ovelhas e pensa que é inimigos, investindo nelas,
mas os pastores não deixam isso acontecer e batem nele, também ajuda ladrões a fugirem
pensando que eles são escravos.
Eles encontram abrigo, e nesse abrigo eles encontram Tomas e o padre Nicolau, que
convencem Sancho a levarem Dom Quixote a sua casa, cedido pela chantagem Sancho
ajuda a levar Dom Quixote para sua casa.
Depois que sai da gaiola que estava preso ele vai a procura de sua amada Dulcinéia,
que o recebe com um repolho batido em sua cabeça, para agradar Maria, Sansão resolve se
vestir de Cavaleiro dos Espelhos, e enfrentar Dom Quixote, ele é traído por seu cavalo que
fica comendo grama, ao eives de duela, por isso Dom Quixote perde a batalha.
Em outra de suas aventuras eles encontram o Duque e a Duquesa, que já tinha
ouvido falar dele e resolve curtir com ele, falando que o levaria até o feiticeiro Merlin.
Depois disso ele encontra o Cavaleiro Da Lua Cheia, que o desafia para um duelo,
na verdade era Sansão. Dom Quixote perde e desiste de ser cavaleiro andante, e volta para
casa, ele fica com muita febre, e acaba morrendo no final do livro.
6.1 BIBLIOGRAFIA DO AUTOR
Miguel de Cervantes y Saavedra nasceu em 1547, em Alcalá de Henares, uma
pequena cidade da Espanha, perto da capital, Madri.
Ainda jovem, embarcou para Nápoles, cidade italiana que na época estava sob
domínio da Espanha, e lá se alistou no exercito, lutando contra turcos na batalha de
Lepanto, da qual carregou uma lembrança triste a perda dos movimentos da mão esquerda,
por causa de um ferimento causado por arma de fogo.
Só em 1580 é que conseguiu voltar a Espanha. Encontrou se país na miséria e até
pensou em tentar a vida na América. Nessa época, chegou a trabalhar como cobrador de
impostos. Devido a essa profissão, ele viajou por toda Espanha e conheceu de perto as
dificuldades do povo – o que lhe serviu de inspiração para mais tarde escrever Dom
Quixote.
Até a publicação dessa obra a vida de Cervantes ainda foi bastante atribulada. Como
cobrador, foi acusado de corrupção, sofrendo processos e chegando a ser preso por três
vezes. Mas, em 1605, tudo mudou. O lançamento da primeira parte do O engenhoso fidalgo
Dom Quixote de la Mancha foi um sucesso imediato.
Tanto que ele continuou escrevendo e em 1613 publicou outra obra prima, as
Novelas exemplares. Em 1615 lançou a segunda parte de Dom Quixote. Tinha mais de 60
anos e dizia que já havia aprendido a ter paciência das adversidades da vida.
Miguel de Cervantes faleceu no ano seguinte, bastante conhecido, mas ainda sem
recursos.
6.2 CONCLUSÃO OU TEXTO CRITICO
O livro teve partes ruins e boas, a boa é que a historia foi divertida, contando as
trapalhadas de um homem, mas a parte chata foi que o livro é muito grande.
7 O LEVITÃ-THOMAS HOBBES
7.1 OBJETIVO
A obra de Thomas Hobbes é muito vasta, criativa e de um valor histórico-cultural
riquíssimo à humanidade. Portanto esse trabalho visa formular de forma simplista e
sintetizada a axiologia jurídica do pensamento deste inglês em seu livro "Leviatã" no que diz
respeito a ato e fato jurídico aplicado em sua época, realizando um comparativo com o
direito aplicado nos dias atuais.
7.2 INTRODUÇÃO
Thomas Hobbes foi defensor ferrenho do Estado Monárquico Absolutista no século
XVII, na Inglaterra. Hobbes foi durante toda a sua vida critico do ideário econômico-burguês
que se instalou.
Em seu trabalho "Leviatã" contribuiu para o enriquecimento e fortalecimento da sua
filosofia a respeito do Estado Soberano, na qual se contrapôs aos que defendiam o Estado
Liberal Democrático. Para ele um Rei é mais capaz do que uma República.
Hobbes através de sua critica filosófica deixou para o mundo um modelo de corpo
político que estava preparado para enfrentar os percalços da grande diversidade de súditos
(sociedade na visão de Hobbes) que viveriam sob os auspícios do Estado.
Por isso Hobbes preocupou-se em criar mecanismos como as leis para isolar ou
inibir aqueles que por ventura reivindicassem algum tipo de direito. Pois o soberano criava
as leis de forma que só e somente ele seria beneficiado.
7.3 - FATOS E ATOS JURÍDICOS - Leviatã X Direito atual
Hobbes colocava que o Estado foi instituído quando uma multidão de indivíduos
concorda e pactua que a qualquer homem ou assembléia de homens seja atribuído o direito
de representar a coletividade.
É bom lembrar que nas democracias, o poder está nas mãos da coletividade, embora
Hobbes defendesse a centralização deste, pois, a fragmentação do poder traria
complicações devido ao conjunto de idéias evoluídas, enquanto que o Rei só estaria à
mercê dos fatídicos da natureza humana.
Importante observarmos que nos dias atuais a representatividade consubstancia-se
no modelo democrático que melhor anseia os ideais do povo, já que esse ideal está inserido
em nossa carta constitucional, que diz o seguinte:
"Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta constituição". (Parágrafo único, artigo 1º da CF)
Thomas Hobbes tratou de caracterizar as formas pelas quais os soberanos poderiam
ascender ao poder supremo e/ou ampliar seus domínios. Caracterização essa dada sobre o
aspecto de domínio por aquisição ou por conquista.
Para ele, o Estado por aquisição ocorre quando a tomada do poder verifica-se a
partir da força, ou seja, a autotutela era a decisão imposta pela vontade do soberano, no
qual a sociedade amedrontada outorgava plenos poderes àquele que governa suas vidas e
liberdade.
Hobbes procurava legitimar a importância do Estado na direção da sociedade, sendo
este gestor de tal monta conduzir tais processos. O estado nesse contexto centraliza o
poder em suas mãos e despreza os questionamentos e/ou aspirações da sociedade, já que
Hobbes levantava a discussão sobre o Estado de natureza, onde não haja leis que
disciplinem esses entraves.
Um pensamento que Hobbes aspirava de forma utópica e que não possui
aplicabilidade em nosso direito atual é a que dividir o poder possibilita complicações as
quais redundam na necessidade de leis e constituições que regulem esses empecilhos,
contudo, centralizando o poder nas mãos do soberano as situações indesejáveis e
reguladas por aparato jurídico não tem destaque, pois o rei está submetido às leis da
natureza, pois tudo que ele fizer será legitimo, já que a sociedade lhe deu plenos poderes.
Eram consideradas ilegais as leis criadas em consenso para beneficiar a sociedade,
caracterizando, portanto, crime. Teoria esta que diverge totalmente do direito atual que
permite a participação popular no auxilio a formulação de projetos de leis.
Hobbes destinou parte de seus estudos à formulação de ordenamento jurídico que
deveria ser aplicado. Dizia que entendia por leis civis aquelas leis que os homens são
obrigados a respeitar, não por serem membros deste ou daquele Estado em particular, mas
por serem membros de um Estado. Porque o conhecimento das leis particulares é da
competência dos que estudam as leis de seus diversos países, mas o conhecimento da lei
civil é de caráter geral e compete a todos os homens.
As leis romanas influenciaram várias nações, até mesmo as que não estiveram sob
seu julgo, dada a sua natureza e aplicação. Os romanos elaboraram sua lei civil
obedecendo aos seus interesses e particularidades do cidadão romano independente do
território onde ele vivesse era comum, também, estender o beneficio jurídico para seus
aliados para mostrar as boas pretensões do dominador sobre os dominados.
A lei civil romana, da expressão Civitas, que significa Estado. As leis foram criadas
para impor ao homem um conjunto de normas sobre o que é o bem e o mal para a
coletividade, ou seja, aquilo que é admitido pela maioria, desde que seja espontâneo, mas
isso não ocorre assim, pois a elite ou os detentores do poder procura elaborar preceitos
dentro de seus interesses e impô-los ao conjunto da sociedade a partir do aparelho
ideológico de Estado o que muitas vezes pode ser antagônico.
As leis aplicadas no Brasil visam impor aos homens a função de direção das
condutas e de tratamento de conflitos, já que fomos fortemente influenciados pela Lei Civil
Romana, onde buscamos com a lei obedecer aos interesses do Estado e também a dos
cidadãos, fazendo com que o beneficio jurídico seja mutuo e recíproco.
Entretanto, na ótica de Hobbes não poderia ocorrer desta forma, já que a elite ou os
detentores do poder procura elaborar preceitos dentro de seus interesses e impô-los ao
conjunto da sociedade de uma forma inescrupulosa e antagônica. Hobbes defendia que s
leis deviam ser elaboradas pelo Estado e nada mais. A partir desse ideário de sujeição a tal
instituição, deduziu-se abaixo conforme Hobbes:
1 – Em todos os Estados o legislador é unicamente o soberano, seja ele um homem,
como numa Monarquia, ou uma assembléia, como uma Democracia ou numa Aristocracia;
2 – O soberano de um Estado, que seja uma assembléia ou um homem, não se
encontra sujeito às leis civis;
3 – quando um costume prolongado adquire a autoridade de uma lei, não é grande
duração que lhe dá autoridade, mas a vontade do soberano expressa por seu silencio;
4 – A lei da natureza civil contêm-se uma à outra e são de idêntica extensão;
5 – Se o soberano de um Estado subjugar um povo que haja vivido sob outras leis
escritas e, posteriormente, os governar através das mesmas leis pelas quais antes eram
governadas, essas leis serão, não obstante, as leis civis do Estado vencedor, e não as do
Estado vencido;
6 – Dado que todas as leis, escritas ou não, recebem toda sua foca e autoridade da
vontade do Estado, quer dizer, da vontade do representante, que numa Monarquia é o
monarca, e nos outros estados, a assembléia soberana, há lugar para perguntar de onde
derivam aquelas opiniões que se encontram nos livros de eminentes juristas de vários
estados, segundo as quais o poder legislativo depende, diretamente, ou por conseqüência,
de indivíduos particulares ou juízes subordinados;
7 – Que a lei nunca pode ser contraria a razão é coisa com que nossos juristas
concordam, assim como com que não é a letra que é a lei, e sim aquilo que é conforme a
intenção do legislador;
8 – Partindo daqui, de que a lei é uma ordem, e de que uma lei consiste na
declaração ou manifestação da vontade de quem ordena, oralmente ou por escrito, ou
mediante outros suficientes argumentos da mesma vontade, podemos compreender que a
ordem do Estado só é lei para aqueles que tem meios para dela se informarem.
Hobbes alertava para o problema de desconhecimento da lei por parte do homem.
Falava que não poderia servir de desculpa para desconhecer ou infringir o legislador ou lei,
a ignorância sobre tal assunto.
Segundo Hobbes o homem violava as leis sobre três formas:
Por presunção de falso principio;
Por falsos mestres;
Por inferências erradas feitas a partir dos principio verdadeiros.
Hobbes isenta o soberano da legislação em vigor e reforça a autoridade suprema
deste, centralizando o poder em suas mãos.
Importante salientar como ocorre nos dias atuais, no enfoque da participação do
estado na solução de litígios, legado esse deixado por Hobbes, onde é vastamente utilizado
no caráter publico de articulação dos litígios.
O soberano possuía o papel de não poder deixar de garantir a integridade dos
súditos e conjuntamente esclarecer, aos mesmos os direitos primordiais para que estes não
sejam influenciados com facilidades e levados a não colaborar com o Estado quando este o
procurar.
Atualmente o Estado possui o dever de também garantir os meios necessários à
sobrevivência da sociedade, seja ela na educação, saúde, segurança, etc.
7.4 – CONCLUSÃO
O direito nasceu junto com a sociedade, sua historia é a historia da própria vida. Por
mais que mergulhemos no passado sempre vamos encontrar o direito, ainda que
rudimentar, a regular as relações humanas. Onde está o homem, está o direito.
O Leviatã tão discutido nos deixa o exemplo de que num determinado momento
histórico, século XVII, um homem fez a comparação de um organismo vivo e o homem
natural dando a esta entidade as características que norteiam o ser humano.
Entender os fatos jurídicos como acontecimento que produz conseqüência jurídica e
ato jurídico decorrente de ação humana, voluntária e licita, com a intenção de obter um
resultado jurídico. Sendo que para validar esse ato jurídico requer a vontade livre, agente
capaz, objeto lícito e forma prescrita em lei. Fica claro que o direito atual alcançou um
estagio de plena democracia, seja pela participação da sociedade, ou pela aplicabilidade e
eficácia das leis. Diferentemente dos ideais de Hobbes, onde enfocou bem a necessidade
de criar o órgão gestor da sociedade, o Estado, onde "somente o Estado, um poder cima
das individualidades, garantiria segurança a todos". Mascarava e massacrava os direitos e
garantias individuais do cidadão, onde reinava plena e soberana em mãos do rei, fazendo o
que bem entendia.
A vontade unilateral da época seria causa de anulabilidade, inexistência e ineficácia
dos atos e fatos jurídicos praticados pelos soberanos, onde cabe nos dias atuais a vontade
do povo e capacidade de sermos representados pelos legisladores, celebrar leis que
venham a servir de forma igualitária as necessidades e anseios do povo democrático.
Portanto os ideais apresentados por Hobbes no que se refere à criação das leis civis,
bem como na sua aplicação, não se verificava de forma alguma a segurança jurídica, essa
que norteia nosso direito moderno e atual, trazendo a sociedade à certeza que seu direito
será respeitado e as leis cumpridas de forma imparcial e igualitária.
8 A CIDADE DO SOL-TOMÁS DE CAMPANELLA
No pensamento de seu autor, Tommaso Campanella, é uma comunidade ideal a ser
governada por homens iluminados pela razão; todo trabalho de cada um era destinado ao
patrimônio comum. Propriedade privada, riqueza indevida e também a pobreza não
existiriam, porque a nenhum homem seria permitido ter mais do que o necessário. O autor
imagina uma cidade ideal, sem hierarquias, na qual todos trabalham e as várias funções são
adequadamente repartidas. É abolidas toda habitação separada, a família e tudo que
alimenta o egoísmo; o bem individual é subordinado ao bem da comunidade.
A maior parte da cidade está situada sobre uma alta colina que se eleva no meio de
vastíssima planície. Mas, as suas múltiplas circunferências se estendem num longo trecho,
além das faldas do morro, de forma que o diâmetro da cidade ocupa mais de duas milhas,
por sete do recinto total. Mas, achando-se sobre uma elevação, apresenta ela uma
capacidade bem maior do que se estivesse situada numa planície ininterrompida. Divide-se
em sete círculos e recintos particularmente designados com os nomes dos sete planetas.
Cada círculo se comunica com o outro por quatro diferentes caminhos, que terminam por
quatro portas, voltadas todas para os quatro pontos cardeais da terra. A cidade foi
construída de tal forma que, se alguém, em combate, ganhasse o primeiro recinto, precisaria
do dobro das forças para superar o segundo, do triplo para o terceiro, e, assim, num
contínuo multiplicar de esforços e de trabalhos, para transpor os seguintes.
Por essa razão, quem se propusesse expugná-la precisaria recomeçar sete vezes a
empresa. Considero, porém, humanamente impossível conquistar apenas o primeiro recinto,
de tal maneira é ele extenso, munido de terraplenos e guarnecido de defesas de toda sorte,
torres, fossas e máquinas guerreiras. Assim é que, tendo eu entrado pela porta que dá para
o setentrião (toda coberta de ferro e fabricada de modo que pode ser levantada e abaixada,
fechando-se com toda a facilidade e com plena segurança, graças à arte maravilhosa com
que as suas engrenagens se adaptam às aberturas dos possantes umbrais), o que primeiro
me despertou a atenção foi o intervalo formado por uma planície de setenta passos de
extensão e situada entre a primeira e a segunda muralhas. Distinguem-se, daí, os
grandiosos palácios que, de tão unidos uns aos outros, ao longo da muralha do segundo
círculo, parecem mais um só edifício.
A meia altura desses palácios, vêem-se surgir, de fora para dentro do círculo, várias
arcadas com galerias superiores, sustentadas por elegantes colunas e circundando quase
toda a parte inferior do pórtico, à maneira dos peristilos ou dos claustros religiosos. Em
baixo, além disso, só estão encravados na parte côncava das muralhas, e é caminhando no
plano que se penetra nos compartimentos inferiores, ao passo que, para alcançar os
superiores, devem subir-se umas escadas de mármore que conduzem às galerias internas,
chegando-se então às partes mais altas e mais belas dos edifícios, as quais recebem luz
pelas janelas existentes tanto na parte côncava como na convexa das muralhas, estupendas
por sua sutileza. Cada muralha convexa, isto é, a sua parte externa, tem uma espessura de
cerca de oito palmos, por três somente da parte côncava, ou seja, a sua parte interna,
enquanto os tabiques têm apenas um, ou pouco mais.
Atravessada a primeira planície, chega-se à segunda, mais estreita uns três passos,
e aí se descobre a primeira muralha do segundo círculo, igualmente guarnecido de palácios
que, como os do primeiro círculo, possuem galerias em baixo e em cima, havendo na parte
interior outra muralha interna que circunda os palácios e tem em baixo sacadas e peristilos
sustentados por colunas, sendo que em cima, onde se acham as portas das casas
superiores, apresenta preciosas pinturas. E assim, por esses círculos e duplas muralhas que
cercam os palácios, ornados de galerias sustentadas por colunas, chega-se à última parte
da cidade, sempre caminhando no plano. Só quando se entra pelas portas duplas dos vários
circuitos, uma na muralha interna e a outra na externa, é que se sobem uns degraus de tal
forma construídos que mal se sente a subida, pois estão colocados obliquamente e muito
pouco mais elevados uns do que os outros.
No cimo do monte, encontra-se, então, uma espaçosa planície, em cujo centro se
ergue um templo de maravilhosa construção.
9 DISCURSO DO MÉTODO-RENÉ DESCARTES
9.1 IDÉIA CENTRAL
A busca de um método eficiente para a utilização da razão humana.
9.2 CONTEÚDO
A obra é estruturada em seis partes, a saber:
9.2.1 Primeira Parte: Considerações sobre as Ciências
O conhecimento depende do caminho seguido e é possível que homens virtuosos
dele se afastem como também é perfeitamente realizável que outros menos hábeis por ele
sigam. O importante é que avanço pode ocorrer de forma lenta, mas significativa, se
observado esse preceito.
Difícil definir em quais aspectos os homens poderiam ser superiores ou inferiores
entre si. A razão é comum a todos e tudo depende de sua utilização e da abordagem que se
faz da realidade. O método é a chave de tudo.
Nos enganamos muito facilmente a nosso próprio respeito. A desconfiança deve ser
constante e não se pode tomar verdades como absolutas. Duvidar nos proporciona a
oportunidade de conhecer caminhos e enxergar novas situações.
Descartes mostra, com honestidade, a maneira da condução de sua razão,
entretanto não a impondo como certa. Tem desejo de conhecimento e o persegue
continuamente, "frustrando-se" em descobrir-se pequeno diante do saber. Não ousou
discutir religião por acreditar-se incapaz de fazê-lo; nem tão pouco filosofia, que entende ser
duvidosa e discutida, como são as ciências que dela derivam. Simplesmente, reconheceu-se
como homem limitado e desconhecedor de muitas questões. Para ele, os cientistas pensam
saber mais do que realmente sabem.
Procurou incessantemente distinguir o verdadeiro do falso e encontrar as respostas
em si mesmo, nas experiências que podia ter, em seu relacionamento com o mundo,
examinando as experiências dos homens e o modo como resolvem seus problemas. Não
acreditara naquilo que tão somente fora imposto pelo costume ou pelo tempo; tentara
enxergar além.
9.2.2 Segunda Parte: As principais regras do exame de Descartes
Iniciando uma nova fase, após um isolamento, Descartes concluiu que obras
perfeitas decorrem da realização individual, dificilmente podendo resultar de contribuições
diversas. Cada indivíduo deve construir suas próprias experiências e tirar suas próprias
conclusões. Quando se pretende desenvolver a partir do que alguém construiu, dificilmente
chegar-se-á a um bom resultado. Não se deve construir a vida sobre velhos alicerces. Seu
propósito era construir um conhecimento próprio, sem, no entanto, ter a pretensão de
destruir coisa alguma.
Apesar disso, também não pode um homem reformar tudo. Então, deve-se suprimir
alguns preceitos para depois os substituir ou os retornar.
Não podendo valorar mais um pensamento que outro, escolheu um caminho próprio,
avançando lentamente num campo desconhecido, já que partira do início e não pretendia
recuos. Passou então a disciplinar-se, utilizando-se de um método por ele definido e
disposto a não contrariá-lo, assim planejou: evitar a precipitação, com conclusões sem uma
cuidadosa análise; dividir os problemas em partes que proporcionassem melhor julgamento;
construir o conhecimento por meio de uma gradação, partindo das mais simples análises
para as mais complexas; e fazer revisões e estudos de forma a tudo contemplar.
Em seu entendimento, demonstrações complexas são explicadas por meio de
simples cadeias de razões, e estas apresentam-se e chegam ao conhecimento dos homens
de uma maneira comum. Como se relacionam e até coincidem em determinados pontos, é
fácil compreendê-las ou descobri-las, corrigindo-se umas pelas outras.
9.2.3 Terceira Parte: Algumas regras das moral extraídas do método
Foi necessário, segundo Descartes, para melhor adequação e estudo da realidade, a
formação de uma moral provisória, inclusive com o abandono das próprias opiniões. A
garantia dessa atitude seria o aperfeiçoamento dos juízos.
Passou a seguir alguns preceitos que em seu entendimento lhe conduziriam mais
eficientemente. Decidira que obedeceria às leis e à religião; não podendo discernir,
procuraria seguir as opiniões mais prováveis; e aceitaria que o poder absoluto não está no
homem, mas além de sua mente. Decidira não aceitar opiniões alheias, mas examinar tudo
à luz de sua própria razão, juízo ou julgamento e refletia sobre o que observava.
Passou a empregar a vida no cultivo da razão e do progresso cientifico, na busca da
verdade segundo seu próprio método e em dispor do pensamento de modo absoluto.
Chegou a certas conclusões que o satisfizeram.
Duvidava unicamente com o propósito de chegar à conclusões seguras e à
destruição de opiniões mal fundamentadas, com estabelecimento de entendimentos.
Procurou isolar-se para, de maneira prudente, melhor desenvolver o pensamento.
9.2.4 Quarta Parte: Prova da existência de Deus e da alma humana
Refletindo sobre as dúvidas que afetam "as verdades", Descartes concluíra pela
razão e lógica singular dos próprios pensamentos que a essência do homem é o pensar.
Reconhecera o homem como sendo um ser imperfeito, o que se prova pelas dúvidas que
este sustenta.
A perfeição existe fora do homem, em Deus, e está presente numa consciência
independente, que se apresenta fora de uma composição, fora de uma união mente-corpo.
Não se pode negar a existência de Deus e da alma. No entanto, sem uma
intervenção do entendimento, os sentidos não nos dão certeza, não nos levam a conclusões
seguras.
Deus nos dá a razão e como somos seres imperfeitos não a utilizamos eficazmente
de modo a compreender todas as verdades.
A razão humana apoia-se nas perfeições infinitas de Deus.
9.2.5 Quinta Parte: A ordem das questões de física examinadas
Descartes não aceita verdades que não se apresentem mais claras que a geometria.
Estudando, compreendeu o estabelecimento de leis naturais por Deus, o modo como tais
noções foram impressas na alma humana e expandiu seus horizontes a pontos nem
esperados.
Segundo tais estudos, Deus dá à alma humana, sua criação, a capacidade de
desenvolver-se; sua natureza é pensar e existe independentemente do corpo.
Uma distinção facilmente observada entre os homens e os demais animais,
desprovidos de alma, encontra-se no fato destes não serem capazes de articular
pensamentos, de usarem a razão que simplesmente não detém e de não serem capazes de
um discurso.
A natureza opera-se nos corpos conforme a disposição dos órgãos e segue as
mesmas regras da mecânica.
O corpo humano é como uma máquina, feita por Deus como tudo mais, e apesar da
superioridade que apresenta diante dos outros animais tem a mesma origem, o que se pode
reconhecer por algumas semelhanças.
Apesar da engenhosidade que possui, não há como o homem conceber máquinas
que a ele se assemelhem e sejam ao mesmo tempo capazes de repetir suas ações
conscientes e racionais. Esta capacidade só pertence a Deus.
A alma humana é imortal (não perece juntamente com o corpo) e não existe como
refutar a existência de Deus.
9.2.6 Sexta Parte: As coisas que julga necessárias para a investigação da natureza e
as razões que o levaram a escrever sobre o método
O propósito inicial de Descartes era o de chegar a algum lugar ainda não percorrido.
Ao fim, tinha a intenção de revelar aquilo que descobrira e que julgara necessário
compartilhar com os demais, quais sejam: os caminhos que levam ao saber e que poderão
tornar a vida melhor; o uso de uma filosofia que pode ser empregada nas mais diversas
situações e para controlar de maneira mais eficiente a natureza; uma forma de tornar os
homens mais sábios e hábeis e conservar sua saúde.
Os princípios que descobrira a respeito da filosofia são muito simples e evidentes e
em sua avaliação não os poderia ocultar.
Os horizontes do saber são enormes e ainda há muito a se desvendar.
Procurando proporcionar o bem aos outros, mas não possuindo capacidade para
realizar todas as experiências, Descartes intencionava dar a oportunidade de outros o
fazerem. Então, procurou encorajar os demais a seguirem seus caminhos e a irem além,
levando a humanidade o mais longe.
Segundo sua visão, alguns cientistas preocupam-se mais com suas reputações e
prestígio adquiridos pela situação em que se encontram. Então, desviam-se do caminho da
verdade, que só pode ser resultado de muito esforço e dedicação continuados. Esses
cientistas são vaidosos e querem demonstrar que nada ignoram. Para estes, seu discurso
pouco serve.
Descartes atribui a qualquer um a capacidade de enxergar o que enxergou, desde
que ajam com racionalidade e busquem o conhecimento pelo princípio. Partindo desse
princípio e examinando cada fato, a capacidade do homem lhe permite escavar a verdade e
a partir daí ter toda a chance de seguir adiante. O sucesso e o descobrimento são frutos da
curiosidade pioneira, da aplicação da procura.
Segundo seus estudos, as melhores trabalhos são aqueles concluídos por quem os
começou. Não recomenda que continuem sua obra, mas que empreendam suas próprias.
9.3 ASPECTOS MAIS IMPORTANTES
A busca de um método próprio que direcione o homem ao conhecimento ainda
obscuro, às novas possibilidades do saber, que garantirão à humanidade desenvolvimento e
solução para problemas, e à uma busca coletiva do bem comum, por meio da solução de
questões de ordem prática.
O reconhecimento do pensamento crítico como sendo exclusivo da espécie humana,
decorrente da vontade de Deus e da existência da alma por ele criada.
A visão de tudo o que há como sendo de obra de Deus e da singularidade do homem
como sendo o ápice dessa obra.
A oportunidade dada somente à raça humana de desfrutar da razão e da liberdade
de sua utilização e por meio dela poder enxergar sua real posição dentro da natureza.
9.4 REFLEXÃO PESSOAL SOBRE O CONTEÚDO
O fato é que mesmo possuindo racionalidade, o homem não se utiliza bem dela. A
razão deve servir para retirar o homem da mediocridade e levá-lo a pensar sobre algo mais
complexo e útil, desprendê-lo da simplicidade de fatos corriqueiros e lhe proporcionar
entendimento de questões que lhe acrescentarão mais vigor e lhe mostrarão os caminhos
pelos quais deva realmente se enveredar, dando motivo à sua existência e lhe imprimindo
mais utilidade à vida.
A natureza do homem é pensar e pensar necessariamente leva a perguntar, discutir
e duvidar. A dúvida deve estar presente em toda evolução do pensamento, balizando seu
desenvolvimento e servindo de garantia de que todas as questões serão incansavelmente
submetidas a testes que provem sua veracidade.
9.5 AVALIAÇÃO DO LIVRO
Não há maneira de avaliá-lo negativamente, uma vez que desta obra só se podem
retirar ensinamentos poderosos a respeito da própria essência humana e de como um
homem bem intencionado, livre de vaidades pôde dedicar a vida em esclarecer aos outros
aquilo que lhe aguçou a curiosidade.
Descartes não se absteve de compartilhar com a humanidade seus propósitos e
descobertas, simplesmente por acreditar numa possibilidade de levar outros a também o
fazerem.
9.6 RECOMENDAÇÃO
Há obras que não são percebidas por sua fundamental importância. Esquecidas,
nunca lembradas; são simplesmente deixadas, não se permitindo a oportunidade de delas
auferir tudo o que há de tão fantástico e necessário em seu corpo. Permitir, preferir e até
exigir um desenvolvimento intelectual sustentado em bases filosóficas só pode garantir
sucesso profissional e satisfação da alma. Aqui, são respondidas questões sequer
formuladas por alguns mas assustadoramente fantásticas, à luz do contexto e da solução
apresentada. O Discurso do Método é assim. Compartilhar o conhecimento adquirido em
suas experiências foi o que Descartes pôde nos deixar de mais valioso e seguro. O
conhecimento, como se diz, é só o não nos pode ser retirado e sua acumulação deve ser
preferivelmente a partir de obras como esta.
10 DO ESPÍRITO DAS LEIS-MONTESQUIEU
10.1 INTRODUÇÃO
O século XVII abre caminho para o pensamento moderno, através do racionalismo
científico e do empirismo inglês. Nessa época, o domínio total da natureza constitui a tarefa
principal do homem. O século do Iluminismo, XVIII, vai transportar essa concepção para os
seus anseios, fazendo com que os filósofos procurem outro conceito de verdade e filosofia.
Montesquieu foi prova viva desse caráter investigador.
Charles Louis de Secondat, Barão de la Brède e Barão de Montesquieu, nasceu em
1689, próximo a Bordeaux. Provinha de família inglesa por parte de mãe e de família nobre
por parte de pai. Estudou, a partir dos doze anos, no Colégio de Juilly, onde teve sua
formação intelectual decididamente formada, pois os sacerdotes que lecionavam orientavam
o ensino com espírito iluminista. Estudou direito, adquirindo experiência prática em Paris.
Quando da morte de seu pai, ele acabou, ele acaba voltando para sua terra natal e é nela
que recebe a herança de um tio com consideráveis propriedades e o título de barão de
Montesquieu, que também herdou. Com uma posição financeira confortável, Montesquieu
passa a dedicar-se mais ao estudo do direito romano e das leis naturais, firmando sai
formação iluminista.
Em 1721, surge sua primeira obra literária, com a qual ganhou fama: as Cartas
Persas. Retratando satiricamente a sociedade francesa de sua época, a obra é escrita por
meio de uma certa correspondência fictícia de dois viajantes persas que estavam em Paris.
O sarcasmo estende-se aos costumes e à política, e Montesquieu atribui diálogos de
admiração aos viajantes.
Entretanto a constante vivência e reflexão sobre a política e as leis fizeram
amadurecer o projeto de uma grande obra, finalmente publicada em 1748: Do Espírito das
Leis ou Das Relações que as Leis Devem Ter com a Constituição de Cada Governo,
Costumes, Clima, Religião, Comércio, etc.
10.2 ANTI-ABSOLUTISMO
Do Espírito das Leis é uma obra política por ter como objeto primordial o Estado, a
organização da sociedade, o meio que pode dominar legitimamente os homens.
Montesquieu tem assinalado o espírito dos contemporâneos e das gerações posteriores, em
uma relação de oportunidade e ressonância, respectivamente. Por ter sido produzida em
longos 20 anos, a obra possui falhas quanto a sua lógica e possível didática.
A obra retrata a crise da consciência européia, com caráter de revolução frente ao
absolutismo monárquico, uma vez que reverencia todas as possibilidades de argumentos,
não se viciando em uma vertente mais conveniente. A significativa originalidade de
Montesquieu está em sua metodologia, que exclui da ciência social toda perspectiva
religiosa ou moral e afasta-se das teorias abstratas e dedutivas, abordando mais
descritivamente e comparativamente os fatos sociaIs.
Escrito em 1748, Do Espírito das Leis aborda a questão crucial no direito da
humanidade: o motivo da existência e aplicação de uma lei em determinada época e espaço
e a sua não aplicação em outra situação. Parte daí, então, os seguintes pressupostos: existe
um espírito das leis; os homens políticos não se levam pela fantasia; Montesquieu não
admite uma regra para toda e qualquer situação.
Contudo, isso não quer dizer que, os acidentes particulares tinham uma importância
exacerbada; pelo contrário, os acidentes eram nivelados inferiormente quando do
conhecimento de uma causa principal. Para ele, o que explica racionalmente a história, sem
necessidade de apelar para o Destino, pode explicar , racionalmente as leis, os costumes.
Se o aspecto exterior é nublado, o exame lógico descobre. Deve-se, a priori, procurar a
mola, a alavanca para a máquina funcionar.
Isso se faz vigorosamente no século XVIII, através do método experimental
mundano, das ciências exatas, através da dissecação da legislação. Dissecação difícil,
porque precisa-se ter senso de conjunto e, ao mesmo tempo, gosto por detalhes, além de
muita leitura e viagem. Com tudo isso, o cientista conceitua que as leis particulares se ligam
uma a outra e dependem de outra mais geral.
Um dos grandes tópicos frisados por Montesquieu é a relevância dos princípios.
Entende-se por princípio que toda lei tem uma razão, porque toda lei é relativa a um
elemento da realidade física, moral ou social. Sendo assim, toda lei supõe uma relação. O
espírito é o encadeamento dessas relações, a sua organização sistêmica.
Ao fim da obra, Montesquieu sentiu-se satisfeito com o desenvolvimento de sua
teoria dos governos e com o caminho que o seu critério de divisão de leis estava tomando.
Entretanto, "à medida que se desenvolve (a teoria), a coesão (intelectual) vai
progressivamente se afrouxando; o autor enriquece constantemente sua investigação, e ei-
lo embaraçado com sua própria riqueza."
Os oito primeiros livros que Montesquieu escreveu para a sua obra-prima são
direcionados para a teoria de sua investigação.
Os livro de IX a XIII trata da proteção dos cidadãos no exterior, interior e os impostos
e rendas públicas. Abrange, portanto, a teoria da liberdade política, assegurada por certa
distribuição dos poderes. É daí que surge sua decepção com as repúblicas de seu tempo e
vê-se seduzido pelas instituições inglesas, modificando o curso de sua obra.
Dos livros XIV a XVIII, o autor preocupa-se com as causas físicas dos países a
serem estudados. São lei relativas ao ambiente físico de diversos lugares do mundo,
fazendo com que o assunto pareça um pouco insólido, perigoso e até com pitadas
deterministas.
O livro XIX refere-se ao espírito geral das causas, abrangendo o governo, a religião,
tradição, costumes, maneiras e inclusive climas físicos.
O livro XX abre caminho para a segunda parte de sua obra, fazendo a relação com o
comércio. É nesse momento que Montesquieu sente que sua vida avança, ao passo que
sua obra retrocede, devido ao seu imenso tamanho. Os livros não têm mais uma coesão,
são soltos, como monografias.
Até o livro XXV o pensador continua a analisar a lei e sua relação com o comércio, a
moeda, a população e a religião.
O livro XXVII discute os distintos domínios da legislação, ao mesmo tempo
analisando as leis sucessórias dos romanos e a origem e revolução das leis civis entre os
franceses, seguindo o assunto pelo livro XXVIII. Esse mesmo assunto está em Das causas
da Grandeza e da Decadência dos Romanos, livro de difícil assimilação e produção, uma
vez que até hoje não se vêem claras todas as causas da dissolução da civilização antiga.
Nos livros XXX e XXXI, a questão estudada é a teoria das leis feudais na sua relação
com a monarquia.
O último livro, que aparentemente fecharia com chave de ouro toda essa ciência
produzida, acaba por frustrar ironicamente em um assunto de extrema coerência com o
restante da obra: a maneira de composição das leis. Não por isso esse conjunto de livros
perdeu seu valor autêntico. Do Espírito das Leis é um dos maiores monumentos de
jurisprudência comparada, de política comparada. Como o próprio Montesquieu se orgulhou
em dizer: foi um filho gerado sem mãe.
Questiona-se que Montesquieu produziu um livro com uma vertente de higienização
social. O fato é que sua teoria ilustra a moralidade e a reforma. Com sua forma
fragmentada, o teórico não tem o caráter dedutivo de Hobbes, Locke ou Bossuet. Fez isso
propositalmente, visto que sua visada é mais abrangente. "As leis não são estabelecidas,
mas sim relações que derivam da natureza das coisas", aludindo à filosofia de Descartes.
No desenvolver desse processo vê-se, antes de mais nada, o espírito de Montesquieu
10.3 GOVERNOS
Obra de caráter generalizador, em que o autor considera tudo situado num mesmo
plano. Nessa teoria, Montesquieu muda a classificação tradicional dos governos (exposta
por Aristóteles) de democracia, aristocracia e monarquia, para república, monarquia e
despotismo, admitindo que esta teria mais propriedade com a realidade das coisas. Com
isso, acaba por arriscar uma categorização menos segura, pois a república, imediatamente
pode ser dividida em duas: democracia e aristocracia.
No decorrer de sua teorização, percebeu-se, mais uma vez, que, para cada governo,
é necessário distinguir a natureza e o princípio, para poder classificá-lo. Ele estabelece uma
relação entre as condições psicológicas de cada povo e a forma de governo adotada. A
natureza é a estrutura particular de um governo. Já o princípio é a "mola" propulsoras dos
eventos que acontecem em um governo. Todas as leis devem ser relativas a esses dois
gêneros do governo, sendo que o princípio é o maior influente em toda a legislação, uma
vez que produz diretamente as leis da educação e conseqüentemente todas as outras. Ele
ressalta ainda que quando os princípios são corrompidos, as melhores leis se tornam ruins.
Nas próprias palavras de Montesquieu," o governo republicano é aquele em que o
povo em conjunto, ou só uma parte do povo, tem o soberano poder; o monárquico, aquele
em que um só governa, mas por leis fixas e estabelecidas; ao passo que no depóstico, um
só, sem lei e sem regra, tudo arrasta por sua vontade e caprichos". Afere-se daí que o
Estado, para Montesquieu, é uma totalidade real, em que todos os pormenores são efeitos
de uma unidade interna.
Considerando a república democrática, nota-se que a sua natureza é o povo,
mandante e mandado, e que seu fundamento encontra-se nas leis que estabelecem o direito
de sufrágio. O autor defende que o povo é apto para escolher e examinar a gestão de quem
escolheu para governar, mas não é apto para administrar a si mesmo, porque ou age
demais ou age muito pouco, sem um critério coerente. Ele adiciona ainda que o tamanho do
território influi muito no bem comum, de maneira positiva na pequena república, sendo
compreendido e relevado, e de modo negativo nas grandes repúblicas, que o sacrificam
inevitavelmente. Tudo isso remete ao interesse público, acarretando a virtude como
essência desse tipo de governo. Desenvolve aí a idéia de que virtude se encontra de
preferência nos países freios, o despotismo nos países quentes e a monarquia em países
temperados.
O emprego da generalização, de convenções, faz de Do Espírito das Leis a primazia
do heroísmo nostálgico de Montesquieu, uma vez que este isola e considera as condições
sempre válidas das democracias.
Na república aristocrática, que para nós só tem interesse histórico, por não ser mais
aplicada em país algum, o poder está nas mãos de um certo número de pessoas e quanto
maior esse número, maior a sua semelhança com a democracia. A sua distinção com os
outros governos está no espírito de moderação, que visa a suavizar as desigualdades.
A monarquia constitui, para Montesquieu, o governo de um só, com esta pessoa
sendo a fonte de todo o poder. Mas é um governo limitado por leis estabelecidas e fixas e,
conseqüentemente, poderes intermediários. A nobreza, o clero, as cidades com seus
privilégios e o depósito de leis são poderes que censuram o monarca de extravagâncias e
caprichos. As leis que estão no depósito têm o papel de regular e reter o curso da
soberania, refrescando a memória de leis esquecidas . evidentemente, por ser presidente do
Parlamento de Bordéus, Montesquieu reservou esse poder ao Parlamento. Com esse jogo
complexo de oposições, de resistências é que ele consegue manter o Estado monárquico. O
princípio desse governo é a "honra", o preconceito das pessoas e das situações. Através
dessa concepção, a monarquia acaba por se auto-regular, pois as pessoas, visando a si
mesmas, criam corporações de privilegiados, tal qual esse tipo de governo necessita.
O despotismo é caracterizado pelo abuso de poder de uma pessoa só, não se
preocupando com a opinião do povo. O autor admite que o que o diferencia da monarquia é
apenas o grau de moralidade. Enfatiza, contudo, a diferença radical quanto ao princípio: o
temor versus a "honra". Com o objetivo de estabelecer a tranqüilidade, o despotismo não
busca a paz, mas sim o silêncio dos povos.
10.4 LIBERDADE POLÍTICA
O livro XI, que trata "das leis que formam a liberdade política em sua relação com a
constituição", é a parte de sua obra mais famosa. Com uma mudança significativa da
atmosfera que rodeia todos os outros aspectos abordados, este livro passa a considerar a
liberdade política, em vez do governo moderado. Entende-se, entretanto, por liberdade por
liberdade política, não o livre arbítrio nas escolha do que se quer fazer, mas sim a
possibilidade, a permissão, o direito de escolher fazer ou não determinada coisa. Nota-se
que a própria virtude precisa, segundo ele, de limites para não acontecer o abuso de poder.
Daí a fragmentação dos poderes, com evidente alusão a Locke.
Liberdade não existe quando o legislativo, o executivo e o judiciário estão nas
mesmas mãos. Ao chegar a essa conclusão, Montesquieu teve que passar pela
conceituação das forças concretas do governo (inglês): monarquia, nobreza e povo. A
primeira das forças é o povo, que não age por si mesmo, mas por seus representantes. O
segundo poder é a nobreza, constituindo uma corporação particular, por ser hereditária. A
parte que se refere à legislação fica nas mãos dos nobres, podendo somente aplicar o
impedimento das leis, após analisá-las, e não corrigi-las. O terceiro poder, o executivo, é
confiado ao monarca, que deve tomar decisões momentânea, de acordo com as decisões
do legislativo. Ressalta-se nessa divisão que o legislativo é assegurado por sessões
periódicas, mas os reis não devem tentar governar o Parlamento, apesar deles serem
considerados sagrados e invioláveis.
10.5 LEGADO
O equilíbrio da monarquia que Montesquieu montou foi muito criticado, por razões de
medo e outras até racionais. O argumento de que a engrenagem da máquina emperraria
com tantas limitações e falta de inter-relações é posto abaixo com a realidade de nossos
tempos: a sua influência em todo o Ocidente se encontra viva até hoje, por uma questão de
movimentação orgânica dos homens, que Montesquieu assinalou. A sua contribuição mais
notável ainda permanece: a investigação das relações entre os fatos sociais e a sua
compreensão na totalidade.
11. CONTRATO SOCIAL - JEAN J. ROUSSEAU
11.1 LIVRO PRIMEIRO
Rousseau,era secretário do embaixador de Veneza em 1743 e estudava teorias
políticas vigentes. Podemos destacar das leituras políticas do autor podemos destacar os
livros jurisconsultos como: Grotius,Pufendorf e Althusius ou se preferir filósofos políticos
como Montesquieu,Hobbes e Locke.Grotius foi uma de suas obras mais lidas nos séculos
XVII e XVIII. Segundo Grotius o poder político pode assumir varias formas ,mas suas
preferencias pessoais tendem para a monarquia absoluta.Quanto a Pufendorf precisou da
teoria do contrato de Grotius, para fazem a distinção entre dois tipos de pactos: A) o pacto
de associação segundo o qual é formada a sociedade e que no sistema permite afirmar que
a sociedade não se desfaz com a queda do governo) Um pacto de submissão pelo qual o
poder é confiado pelo povo a um soberano.
Quanto á Althusius sua presença é bastante clara em algumas elaborações de
Rosseau,exemplo: Cartas da Montanha, e certos trechos deste Do contrato Social.Quanto a
Hobbes, resumimos sua doutrina assim: No estado de natureza os homens apenas visão
satisfação egoísta de suas necessidades.O soberano legista ,estabelece os dogmas
religiosos,etc.A teoria do contrato social exposta por Locke, precursor do liberalismo
burguês, opõe-se frontalmente a de Hobbes.Montesquieu se concentrava em fatores
geográficos,Rosseau insistia nos valores históricos.
A economia política que se refere o livro hoje é chamada de administração
pública.Esse livro é um estudo de teorias políticas,sociais e civis da época do século XVIII.
11.1.1 Conclusão do I capítulo
Explica que a pessoa nascida de um Estado livre e membro do Conselho Geral ou
Assembléia Soberana da Republica de Genebra (da época),mesmo que tivesse pouca
influência de voz nos negócios públicos o direito que eles tinham para votar era suficiente
para impor o dever de instruir. Diz que a ordem social é um direito que se auto justifica e que
serve de base a todos os outros. Mas esse direito não é proveniente de natureza foram
fundados em convenções, mas precisa-se saber quais convenções.
11.1.2 Conclusão do II capítulo – Das primeiras sociedades
O que achei interessante e verdadeiro e nunca tinha parado para pensar e o que
está neste capítulo: que a família é a mais antiga das sociedades, e ainda explica que os
filhos permanecem com os pais durante o tempo que tem necessidade.Quando a
necessidade cessa o laço natural se dissolve.Os filhos ficam isentos da obediência que
tinham com os pais e os pais fica isento de cuidados com os filhos. Assim se tem a
igualdade e a independência. Se continuarem unidos não é mais naturalmente mas sim
voluntariamente.A família se mantém por conveniência. É uma liberdade comum e
conseqüência da natureza do homem.Grotius nega que todo poder humano seja
estabelecido em favor dos que são governados e cita a escravatura como exemplo.Calígola
concluiu dessa analogia que os reis eram deuses e os povos eram bestas.O raciocínio de
Calígola é igual ao de Hobbes e de Grotius.Aristóteles antes deles havia dito que os homens
não são Naturalmente iguais ,uns nascem para escravidão e outros para dominar.
11.1.3 Conclusão do III capítulo- Direito do mais forte
Mais forte se não transformar sua força em direito e a obediência em dever nunca vai
ser o senhor. A força faz o direito o efeito muda com a causa. A palavra direito nada
acrescenta a força , aqui não significa absolutamente nada. Se obedecer as potências quer
dizer ceder a força o preceito é bom. Ex.: Quando uma pessoa nos assalta usa de arma
para retirar nossos bens é um tipo de força, mas se eu pudesse me defender também usaria
de força para recuperar meus bens o sujeito poderia estar sem armas seria mais fácil para
usar a minha força física. Deduzimos que a força não faz direito, somos obrigados a
obedecer as potências legitimas.
11.1.4 Conclusão do IV capítulo – Da escravidão
Como nenhum homem possui autoridade sobre seu semelhante e como a força não
produz nenhum efeito restam as convenções como base de toda autoridade legítima entre
os homens. Alienar é dar ou vender. Um homem que se torna escravo de um outro não se
dá; ele se vende pelo menos por sua subsistência . Dizer que um homem se dá
gratuitamente é um absurdo. Mesmo que cada um pudesse se alienar a si mesmo, não
poderia alienar seus filhos, nasceram homens livres, sua liberdade lhe pertence e ninguém
se não eles, tem o direito de dispor dela. Antes que atinjam a idade da razão o pai pode em
seu nome, estipular condições para sua conservação, para seu bem estar, mas não pode
da-los irrevogavelmente e sem condição, pois tal doação é contrária aos fins da natureza e
ultrapassa os direitos de paternidade. O vencedor tendo direito de matar o vencido segundo
eles, este pode resgatar sua vida a sua liberdade.
A guerra não é, portanto, uma relação de Estado para Estado, os particulares são
inimigos acidentalmente como defensores. Cada Estado só pode Ter como inimigos outros
Estados. O estrangeiro seja rei, seja particular, seja povo que rouba ou mata e detém os
súditos, sem declarar guerra ao príncipe não se trata como um inimigo é um bandido.
Mesmo em guerra , um príncipe justo se apossa, em país inimigo de tudo que pertence ao
público, mas respeita as pessoas e os particulares respeita os direitos nos quais se
fundaram os seus. Pode-se destruir o Estado sem destruir nenhum de seus membros. O
direito da conquista tem como único fundamento a lei do mais forte. Se guerra não da ao
vencedor o direito de massacrar os povos vencidos, esse direito não pode servir para
fundamentar aquele de escravizá-los. O direito de escravizar não é originário. É portanto
uma troca perversa fazê-lo adquirir a vida com o preço da liberdade.
Assim, por qualquer lado que se encarem as coisas, é nulo o direito de escravizar,
não só pelo fato de ser ilegítimo, como porque é absurdo e nada significa. As palavras
escravatura e direito são contraditórias, excluem-se mutuamente. Seja de homem para
homem, seja de um homem para um povo, este discurso será igualmente insensato: "Faço
contigo um contrato, todo em teu prejuízo e todo em meu proveito, que eu observarei
enquanto me aprouver, e que tu observarás enquanto me aprouver."
11.1.5 Conclusão do capítulo V – De como é necessário sempre remontar a uma
primeira Convenção
Sempre haverá diferença entre submeter uma multidão e reger uma sociedade .O
interesse separado dos outros, sempre será um interesse privado. Um povo é um povo
antes de se entregar a um rei. Está própria doação é um ato civil. Supõe uma discussão
para resolver o assunto público. Antes de examinar pelo qual um povo escolhe um rei , seria
bom examinar o ato pelo qual o povo é um povo.
11.1.6 Conclusão do capítulo VI – Do pacto social
Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de toda a força comum a
pessoa e os bens de cada associado e pela qual cada um, se unindo a todos obedeça
apenas a si mesmo e permaneça tão livre quanto antes. Este é o problema fundamental a
que o contrato social dá á solução. As cláusulas desse contrato são de tal modo
determinadas pela natureza do ato que a menor modificação as tornaria vãs e sem efeito,
ainda que jamais pudessem Ter sido formalmente enunciadas, são as mesmas em todas as
partes silenciosamente admitidas e reconhecidas, até que tendo sido violado o pacto social,
cada um recobre seus primeiros direitos e retome a sua liberdade natural perdendo a
liberdade convencional. Á qual renuncia por aquela. Essas cláusulas se reduzem quando
bem compreendidas a uma só, alienação total de cada associado com todos seus direito a
toda comunidade.
Quanto aos associados, adquirem coletivamente o nome de povo, e se chamam
particularmente cidadãos, na qualidade de participantes na autoridade soberana, e vassalos,
quando sujeitos às leis do Estado. Todavia, esses termos freqüentemente se confundem e
são tomados um pelo outro. É suficiente saber distingui-los, quando empregados em toda a
sua precisão.
11.1.7 Conclusão do capítulo VII – Do soberano
O ato de associação encerra um compromisso recíproco do publico com os
particulares, cada indivíduo contratado encontra-se comprometido sob uma dupla
relação:como membro do soberano relativamente aos particulares, e como membro do
Estado relativamente ao soberano mas não se pode aplicar a máxima do direito civil. O
corpo político ou soberano tirando apenas o seu ser de santidade do contrato jamais se
pode obrigar, mesmo relativamente ao outro, a nada que derrogue esse ato primitivo como o
alienar qualquer porção de si mesmo, ou de se submeter a um outro soberano. Violar o ato
pelo qual ele existe seria aniquilar-se. Quando a multidão está reunida formando um corpo,
não se pode ofender um dos membros sem atacar o corpo. O soberano sendo formado
apenas pelos particulares, não tem nem pode Ter interesse contrário ao seu .
11.1.8 Conclusão do capítulo VIII – Do Estado Civil
A passagem do estado de natureza ao estado civil produz no homem uma mudança
notável, substituindo em sua conduta o instinto pela justiça e dando a suas ações a moral de
que não se tinha antes. O que o homem perde pelo contrato social é a sua liberdade natural
e um direito limitado a tudo o que tenta e pode alcançar ,o que vem a ganhar a liberdade
civil e a propriedade de tudo que possui. É preciso distinguir bem a liberdade natural da
liberdade civil, que é limitada pela vontade geral.
11.1.9 Conclusão do capítulo IX – Do Domínio Real
Para autorizar sobre um terreno qualquer o direito do primeiro ocupante, são
necessárias as seguintes condições: Primeiro que esse terreno não seja ainda habitado por
alguém . Segundo: que não se ocupe dele mais que a porção que necessita para estar em
vigor. Terceiro: que se tome pose dele , não apenas por uma cerimonia em vão, mas pelo
trabalho e cultivo, único sinal de propriedade que em falta de títulos jurídicos deve ser
respeitado pelos outros. O que serve de base para rodo o sistema social é que em lugar de
destruir a igualdade social, o pacto fundamental substitui ao contrário uma igualdade moral e
legítima naquilo que a natureza podia trazer de desigualdade física entre os homens e que
podendo ser desiguais na força ou na capacidade , tornam-se todos iguais por convenção e
direito. As leis sempre são úteis àqueles que a possuem e prejudiciais àqueles que nada
tem.
11.2 LIVRO SEGUNDO
11.2.1Conclusão do I capítulo – A Soberania é Inalienável
Inalienável: intransferível. Se não houvesse algum ponto no qual todos os interesses
concordassem, nenhuma sociedade poderia existir. É unicamente segundo este interesse
comum que a sociedade deve ser governada. Se o povo promete simplesmente obedecer,
ele se dissolve por esse ato, perde sua qualidade de povo, no instante de que tem um
senhor, não mais possui soberano, sendo assim o corpo político está destruído. Não quer
dizer que as ordens dos chefes não possam passar por vontades gerais, enquanto que o
soberano livre para se opor, não o faz.
11.2.2 Conclusão do II capítulo– A Soberania é indivisível
A soberania é indivisível pela mesma razão pela qual é intransferível. Os políticos
não podem dividir a soberania em seu princípio, dividem-na em seu objetivo : em força e em
vontade, em poder legislativo e poder executivo, em direitos de impostos justiça ,de guerra,
em administração interior e em poder de tratar com o estrangeiro: tanto confundem essas
partes quanto as separam. Eles despedaçam um corpo social e depois não conseguem
juntar. Isso se origina de não Ter noções exatas da autoridade soberana e por Ter tomado
como partes dessa autoridade aquilo que era apenas emanações. Exemplo: encarou o ato
de declarar guerra e o fazer a paz como atos de soberania, o que não acontece pois cada
um desses atos não é lei, apenas uma aplicação de lei um ato particular que determina o
caso da lei. Caso: termo específico do Direito ,significando o modo pelo qual uma lei se
aplica a um caso particular, espécies ou ocorrências em que determinada lei se aplica.
11.2.3 Conclusão do III capítulo – Se a vontade geral pode enganar
Já mais se corrompe o povo, mas freqüentemente o povo é enganado. É aí que o
povo começa a desejar o que é mau. ‘Há muita diferença entre a vontade de todos e a
vontade geral. Cada interesse tem princípios diferentes. O acordo de dois interesses
particulares é formado pela oposição de um terceiro. Se não houvesse interesses diferentes
era mais fácil se reconhecer os interesses comum que jamais encontraria obstáculo. Importa
obter o enunciado da vontade geral.
11.2.4 Conclusão do Capítulo IV – Dos limites do poder soberano
Como a natureza dá a cada homem um poder absoluto sobre todos os seus
membros, o pacto social da ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus, e é
esse mesmo poder que, dirigindo pela vontade geral recebe o nome de soberania. Além da
pessoa pública devemos considerar as pessoas privadas que a compõem e cujo a vida e a
liberdade são naturalmente independentes dela. A igualdade de direito, e a noção de justiça
que produz deriva da preferência que cada um se dá e por conseqüência da natureza do
homem. A vontade geral por seu lado muda de natureza tendo um objeto particular, e não
pode como regra geral pronunciar-se nem sobre um homem, nem sobre um fato.
O poder soberano por mais absoluto, mais sagrado e mais inviolável que seja, não
ultrapassa nem pode ultrapassar os limites das convenções gerais., e que todo homem pode
dispor plenamente daquilo que lhe foi deixado de seus bens e de sua liberdade por essas
convenções, de modo que o soberano jamais tem direito impor um súdito mais que outro
porque a questão se tornando particular , seu poder deixa de ser competente.
11.2.5 Conclusão do capítulo V – Do direito de vida e de morte
Todo homem tem o direito de arriscar sua própria vida para conservá-la. O tratado
social tem por finalidade conservar os contratantes. Quem deseja conservar sua vida as
custas dos outros deve da-la também pelos outros quando for necessário. A pena de morte
infligida aos criminosos pode ser vista sobre o mesmo ponto de vista: é para não se vitima
de um assassino que se consente em morrer se torna um. Todo malfeitor , atacando o
direito social, torna-se, por seus crimes rebelde e traidor da pátria, deixa de ser seu membro
violando suas leis e chega a mover guerra. A condenação de um criminoso é um ato
particular. Quando o direito de conceder graça ou isentar um culpado da pena imposta pela
lei ou pronunciada por um juiz, pertence apenas aquele que está acima do juiz e da lei isto é
o soberano. Embora o seu direito não esteja claro é raro casos em que é empregado. Num
Estado bem governado há poucas punições por que a existência de poucos criminosos .
O grande número de crimes assegura sua impunidade quando o Estado enfraquece.
11.2.6 Conclusão do capítulo VI – Da Lei
Pelo pacto social temos a existência da vida ao corpo político: trata-se de dar-lhe o
movimento e a vontade pela legislação. É uma justiça universal originou-se da razão, mas
para ser admitida entre nós deve haver troca. Para considerar as coisas humanas, sem a
sanção natural as leis da justiça são vãs entre os homens, apenas proporcionam o bem do
mal e o mau do justo. São necessárias as convenções e leis para unir os direitos aos
deveres e reconduzir a justiça a seu objeto. No estado civil todos os direitos são fixados a
lei. Aquele que ousa tentar executar a instituição de um povo deve se sentir em condições
de mudara a natureza humana, de alterar a constituição do homem para reforçá-la é preciso
que tire o homem de suas próprias forças. A vontade geral é sempre reta; mas o julgamento
que a dirige nem sempre é esclarecido.
E necessário fazer-lhe ver os objetos tais como são, e muitas vezes tais como devem
parecer-lhe; é preciso mostrar-lhe o bom caminho que procura, protegê-la da sedução das
vontades particulares, aproximar de seus olhos os lugares e os tempos, equilibrar o encanto
das vantagens presentes e sensíveis com o perigo dos males afastados e ocultos. Os
particulares vêem o bem que rejeitam, o público deseja o bem que não vê. Todos
igualmente necessitam de guias; é preciso obrigar uns a conformar suas vontades com sua
razão; é necessário ensinar outrem a conhecer o que pretende. Então, das luzes públicas
resulta a união do entendimento e da vontade no corpo social; dá o exato concurso das
partes e, finalmente, a maior força do todo. Eis de onde nasce a necessidade de um
legislador.
11.2.7 Conclusão do capítulo VII – Do legislador
Para descobrir as melhores regras de sociedade convenientes às nações, seria
necessária uma inteligência superior que visse todas as paixões e não provasse nenhuma;
que não tivesse nenhuma relação com nossa natureza e a conhecesse no íntimo.
O legislador, a todos os respeitos, é no Estado um homem extraordinário. Se o deve
ser por seu engenho, não o é menos por seu emprego; não é de modo algum magistratura,
não é de nenhum modo soberania. O emprego, que constitui a república, não entra em
absoluto em sua constituição; é uma função particular e superior, que nada tem de comum
com o império humano; porque, se quem dirige os homens não deve dirigir as leis, quem
dirige as leis não deve, pela mesma razão, dirigir os homens; do contrário, suas leis,
ministras de suas paixões, perpetuariam muitas vezes suas injustiças, e ele jamais poderia
evitar que intuitos particulares alterassem a santidade de sua obra.
Ao dar leis à sua pátria, começou Licurgo por abdicar a realeza. Era costume da
maioria das cidades gregas confiar a estrangeiros o estabelecimento de suas leis. As
modernas repúblicas da Itália imitaram muitas.
Disso tudo não se deve concluir, juntamente com Warourton, que a política e a
religião tenham entre nós um objetivo comum; mas sim que, na origem das nações, uma
serve de instrumento à outra.
11.2.8 Conclusão do capítulo VIII – Do povo
Assim como um grande arquiteto, antes de construir, observa e sonda o solo, para
ver se este tem condições de sustentar o peso, o sábio instituidor não começa por redigir
boas leis em si mesmas; mas examina anteriormente se o povo, ao qual são destinadas,
está apto para as aceitar. Foi por isso que Platão recusou dar leis aos árcades e aos
cirenaicos, sabendo que esses dois povos eram ricos e não podiam admitir a igualdade; foi
também por isso que se viram em Creta leis perfeitas e homens perversos, porque Minos só
havia disciplinado um povo sobrecarregado de vícios. Há para as nações, como para os
homens, um tempo de maturidade, que é preciso esperar, antes de as sujeitarmos às leis;
mas a maturidade de um povo não é fácil de conhecer, e se a antecipamos, aborta a obra.
Certo povo pode ser disciplinado ao nascer; outro não o será ao término de dez séculos. Os
russos não serão nunca verdadeiramente policiados, porque o foram muito cedo.
Pedro o Grande tinha o talento imitativo, não o verdadeiro gênio, o que cria e tudo
faz do nada. Algumas coisas que fez eram boas, a maioria delas indevida. Ele viu que seu
povo era bárbaro, mas não viu em absoluto que seu povo não estava amadurecido para a
polícia; ele desejou civilizá-lo, quando devia torná-lo aguerrido; quis, de início, fazer deles
alemães, ingleses, quando era preciso começar por fazê-los russos; impediu seus vassalos
de jamais se tornarem o que poderiam realmente ser, persuadindo-os de que eram aquilo
que são. É dessa maneira que o preceptor francês educa o seu aluno, fazendo-o brilhar um
momento, durante a infância, para, em seguida, não vir a ser jamais ninguém. O império
russo desejará subjugar a Europa, e acabará por ser subjugado. Os tártaros, seus vassalos
ou seus vizinhos, se tornarão seus senhores e nossos: esta revolução parece-me infalível.
Todos os reis da Europa trabalham de comum acordo para acelerá-la.
11.2.9 Conclusão do capítulo IX – Seqüência
Á melhor constituição de um Estado, limitando-lhe a extensão, a fim de que não
venha a ser nem muito grande para poder ser bem governado, nem muito pequeno para se
poder manter por si mesmo. Em todo corpo político há um máximo de força que ele não
poderia ultrapassar, e do qual com freqüência se afasta à medida que se expande. Quanto
mais se estende o laço social, tanto mais afrouxa; e, em geral, um pequeno Estado é
proporcionalmente mais forte que um grande. A administração, em primeiro lugar, torna-se
mais penosa nas grandes distâncias, assim como um peso qualquer se torna mais pesado
na ponta de uma alavanca maior.
Torna-se mais onerosa à medida que os degraus se multiplicam; porque cada cidade
tem, de início, a sua administração, que o povo paga; cada distrito a sua, paga ainda pelo
povo; a seguir, cada província, depois os grandes governos, as satrapias, os vice-reinados,
cuja administração se torna cada vez mais cara, à medida que se sobe, e sempre à custa do
inditoso povo; vem, por fim, a administração suprema, que tudo esmaga: com tanta
sobrecarga a exauri-los continuamente, os vassalos, longe de serem melhor governados por
essas diferentes ordens, acabam por sê-lo pior que se tivessem um só desses governos a
dirigi-los. Não obstante, apenas sobram recursos para os casos extraordinários; e quando
se faz preciso a eles recorrer, é que se encontra o Estado às vésperas da ruína.
Se vê-se por aí haver razões para alargar e razões para estreitar os limites do
Estado, e não constitui o menor aspecto do talento do político, encontrar, entre umas e
outras, a proporção mais vantajosa à conservação do Estado. Pode-se dizer em geral que
as primeiras, sendo apenas exteriores e relativas, devem ser subordinadas às outras, que
são internas e absolutas; uma sã e forte constituição é a primeira coisa a pesquisar, e, de
preferência, deve-se contar com o vigor nascido de um bom governo que com os recursos
fornecidos por um grande território.
11.2.10 Conclusão do capítulo X - Seqüência
Pode-se mensurar um corpo político de duas maneiras, a saber: pela extensão do
território, e pelo número da população; e entre uma e outra dessas medidas, há uma relação
conveniente para dar ao Estado sua verdadeira grandeza. São os homens que fazem o
Estado, e é o terreno que alimenta os homens; essa relação consiste, pois, em que a terra
baste para a manutenção de seus habitantes e haja tantos habitantes quantos a terra possa
nutrir. Nessas condições, para instituir um povo, é preciso ajuntar uma outra que não pode
suprir nenhuma outra, mas sem a qual todas se revelam inúteis: a de que se desfrute de paz
e abundância; porque o tempo durante o qual se ordena um Estado é igual àquele em que
se forma um batalhão, ao instante em que o corpo tem menos capacidade de resistência e,
portanto, é mais fácil de ser destruído. Resistir-se-ia melhor em meio a uma desordem
absoluta que num momento de fermentação, quando cada qual se ocupa de sua classe e
não do perigo.
Se uma guerra, uma crise de fome, uma sedição sobre vem em tempo de crise, o
Estado é infalivelmente derrubado. E qual é o povo apto a receber a legislação é aquele que
estando já ligado através de alguma união de origem, de interesse ou convenção, não foi
ainda submetido ao verdadeiro jugo das leis; aquele que não possui nem costumes nem
superstições bem arraigadas; aquele que não receia ser esmagado por uma invasão súbita,
que, sem entrar nas querelas de seus vizinhos, tem condições de resistir sozinho a cada um
deles ou obter a ajuda de um a fim de repelir o outro; aquele em que cada membro pode ser
conhecido de todos, e em que não se faz necessário sobrecarregar um homem de um
grande fardo que não possa carregar; aquele que pode dispensar os outros povos, e do qual
nenhum outro povo deixa de necessitar aquele que nem é rico, nem é pobre, e pode bastar-
se a si mesmo; enfim, aquele que reúne a consistência de um povo antigo com a docilidade
de um hodierno.
O que torna penosa a obra da legislação não é tanto o que é preciso estabelecer,
mas sim o que é preciso destruir; e o que torna o êxito tão raro é a impossibilidade de
encontrar a simplicidade da Natureza junto às necessidades da sociedade. Todas essas
condições, é verdade, dificilmente se encontram reunidas: eis por que se vêem poucos
Estados bem constituídos.
11.2.11Conclusão do capítulo XI – Dos diferentes sistemas de legislação
Se procura saber em que consiste precisamente o maior dos bens, que deve ser o
objetivo de todo sistema de legislação, achar-se-á que se reduz a estes dois objetos
principais: a liberdade e a igualdade. A liberdade, porque toda independência particular é
outra tanta força subtraída ao corpo do Estado; a igualdade, porque a liberdade não pode
subsistir sem ela. O que torna a constituição de um Estado verdadeiramente sólida e durável
é o fato de as conveniências serem de tal modo observadas, que as relações naturais, bem
como as leis, tombam sempre, harmoniosamente, sobre os mesmos pontos, e estas últimas
assegurarem, acompanharem e retificarem as outras. Mas, se o legislador, enganando-se
em sua matéria, toma um princípio diverso daquele que nasce da natureza das coisas, um
que tenda para a servidão e outro para a liberdade, um para as riquezas e outro para o
povoamento, um para a paz e outro para as conquistas, veremos as leis debilitarem-se
insensivelmente, a constituição alterar-se, e o Estado não cessar de ser agitado, até ser
destruído ou mudado, e a invencível Natureza retomar o seu império.
11.2.12 Conclusão do capítulo XII – Divisão das leis
As leis que regulamentam essas relações são denominadas leis políticas; chamam-
se também leis fundamentais, não sem alguma razão, no caso de serem feitas com
sabedoria; porque se em cada Estado, não há senão uma maneira de o dirigir, o povo que a
encontrou deve a ela ater-se; mas, no caso de ser má a ordem estabelecida, por que se há
de tomar por fundamentais as leis que impedem de ser bom? De resto, em todo estado de
causa, o povo é sempre senhor de mudar suas leis, mesmo as melhores, porque, se lhe
aprouver prejudicar a si mesmo, quem terá o direito de impedi-lo?
A segunda relação é a dos membros entre si ou com o corpo inteiro, e essa relação
deve ser, no primeiro caso, tão pequena, e, no segundo, tão grande quanto possível; de
sorte que cada cidadão se sinta perfeitamente independente de todos os outros e numa
excessiva dependência da cidade, o que sempre se faz através dos mesmos meios, uma
vez que não há senão a força do Estado para promover a liberdade de seus membros. E
desta segunda relação que nascem as leis civis. Pode-se considerar uma terceira espécie
de relação entre o homem e a lei: isto é, a da desobediência ao castigo, e esta dá lugar ao
estabelecimento das leis criminais, que, no fundo, constituem menos uma espécie particular
de leis que a sanção de todas as outras.
Entre essas diversas classes, as leis políticas que constituem a forma do governo
são as únicas que se relacionam com o meu assunto. (do autor).
11.3 LIVRO TERCEIRO
11.3.1 Conclusão do I capítulo – Do governo em geral
Toda ação livre tem duas causas, que concorrem para produzi-la: uma, moral, a
saber, a vontade que determina o ato; outra, física, isto é, o poder que a executa. Quando
caminho na direção de um objeto, faz-se primeiramente necessário que eu lá queira ir; em
segundo lugar, que meus pés me levem. Vimos que o poder legislativo pertence ao povo e
só a ele pode pertencer. poder executivo não pode pertencer ao maior número como
legislador ou soberano, pelo fato de este poder só consistir em atos particulares que não
são de modo algum da jurisdição da lei, e, por conseguinte, do soberano cujos atos não
podem ser senão leis. Governo e um corpo intermediário, estabelecido entre os vassalos e o
soberano, para possibilitar a recíproca correspondência, encarregado da execução das leis
e da manutenção da liberdade, tanto civil como política. Chamo, pois, governo, ou suprema
administração, ao exercício legítimo do poder executivo; e príncipe ou magistrado, ao
homem ou ao corpo incumbido dessa administração.
É no governo que se encontram as forças intermediárias cujas relações compõem a
do todo ao todo, ou a do soberano ao todo. Pode-se representar essa última relação pela
dos extremos de uma proporção.
O governo é, em pequena escala, o que o corpo político, que o encerra, é em grande
escala. Constitui uma pessoa moral, dotada de determinadas faculdades, ativa como o
soberano, passiva como o Estado, suscetível de ser decomposta em outras relações
semelhantes: de onde nasce, por conseguinte, uma nova proporção, e ainda outra nesta
aqui, segundo a ordem dos tribunais, até que se chegue a um meio-termo indivisível, isto é,
a um único chefe ou magistrado supremo, que podemos representar. em meio dessa
progressão, como a unidade entre a série das frações e a dos números.
Ora, quanto menos as vontades particulares se relacionam com a vontade geral, isto
é, os costumes, as leis, tanto mais deve aumentar a força repressiva. Portanto, para ser
bom, deve o governo ser relativamente mais forte à medida que o povo seja mais numeroso.
O governo é, em pequena escala, o que o corpo político, que o encerra, é em grande
escala. Constitui uma pessoa moral, dotada de determinadas faculdades, ativa como o
soberano, passiva como o Estado, suscetível de ser decomposta em outras relações
semelhantes: de onde nasce, por conseguinte, uma nova proporção, e ainda outra nesta
aqui, segundo a ordem dos tribunais, até que se chegue a um meio-termo indivisível, isto é,
a um único chefe ou magistrado supremo, que podemos representar. em meio dessa
progressão, como a unidade entre a série das frações e a dos números.
11.3.2 Conclusão do capítulo II – Do princípio que constitui as diversas formas de
governo
O corpo do magistrado pode ser composto de um maior ou menor número de
membros. Dissemos já que a relação do soberano com os vassalos era tanto maior quanto
mais numeroso fosse o povo, e, por evidente analogia, o mesmo podemos dizer do governo
em relação aos magistrados.
Portanto, os magistrados são tão mais numerosos quanto mais débil se mostre o
governo. E como esta máxima é fundamental, apliquemo-nos a melhor esclarecê-la.
Ora, desde que a força total do governo continue a ser do Estado, em absoluto não
varia; de onde se segue que, quanto mais ele use essa força sobre seus próprios membros,
menos força lhe resta para agir sobre todo o povo.
Numa legislação perfeita, a vontade particular ou individual deve ser nula; a vontade
do corpo, própria ao governo, bastante subordinada; e, por conseguinte, a vontade geral ou
soberana sempre dominante é a regra única de todas as outras.
É ainda certo que a expedição dos negócios se torna mais lenta, à medida que maior
número de pessoas é disso encarregada; que, fazendo-se maiores concessões à prudência,
não se concede o bastante à fortuna, e se permite que fuja a oportunidade; e que, à força de
deliberar, perde-se por vezes o fruto da deliberação.
11.3.3 Conclusão do capítulo III – Divisão dos governos
Sabemos por que se distinguem as diversas espécies ou formas de governos pelo
número dos membros que os compõem; resta ver agora em que momento se opera essa
divisão.
O soberano pode, de início, confiar o depósito do governo ao povo em conjunto ou à
maioria do povo, de modo a haver maior número de cidadãos magistrados que simples
cidadãos particulares. Dá-se a essa forma de governo o nome de democracia.
Ou pode então restringir o governo entre as mãos de um pequeno número, de sorte
a haver maior número de cidadãos particulares que de magistrados, e esta forma de
governo recebe o nome de aristocracia.
Finalmente, pode o soberano concentrar todo o governo em mãos de um magistrado
único, do qual todos os demais recebem o poder. Esta terceira forma é a mais comum de
todas, e chama-se monarquia, ou governo real.
A aristocracia, por sua vez, pode restringir-se da metade do povo até
indeterminadamente ao menor número. A própria monarquia é suscetível de alguma
partilha. Esparta, de acordo com sua constituição, sempre teve dois reis, e houve, no
Império romano, até oito imperadores simultaneamente, sem que por isso se pudesse dizer
que o Império estava dividido. Assim sendo, existe um ponto em que cada forma de governo
em geral. O governo democrático é o que mais convém aos pequenos Estados; o
aristocrático aos Estados médios; e a monarquia aos grandes.
11.3.4 Conclusão do capítulo IV – Da Democracia
Não é conveniente que quem redija as leis as execute, nem que o corpo do povo
desvie a atenção dos alvos gerais para a concentrar nos objetos particulares. Nada é mais
perigoso que a influência dos interesses privados nos negócios públicos; e o abuso das leis
por parte do governo constitui um mal menor que a corrupção por parte do legislador,
continuação infalível dos alvos particulares. Então, alterado o Estado em sua substância,
toda reforma se torna impossível. Um povo que jamais abusaria do governo, também jamais
abusaria da independência; um povo que sempre governasse bem, não teria necessidade
de ser governado.
Acrescentemos que não há governo tão sujeito às guerras civis e às agitações
intestinas como o democrático ou popular, pois que não há nenhum outro que tenda tão
freqüente e continuamente a mudar de forma, nem que demande mais vigilância e coragem
para se manter na sua. É sobretudo nessa constituição de governo que o cidadão se deve
armar de força e constância, e dizer em cada dia de sua vida, no fundo do coração, o que
dizia um virtuoso palatino na dieta da Polônia: Malo periculosam libertatem quam quietum
servitium
11.3.5 Conclusão do capítulo V – Da Aristocracia
As primeiras sociedades governaram-se aristocraticamente. Os chefes de família
deliberavam entre si sobre os negócios públicos. Os jovens cediam sem dificuldade perante
a autoridade da experiência. Daí os nomes de padres, anciãos, senado, gerentes. Os
selvagens da América setentrional ainda assim se governam em nossos dias, e são muito
bem governados.
Mas, à medida que a desigualdade de instituição sobrepujou a desigualdade natural,
a riqueza ou o poder foi preferido à idade, e a aristocracia passa a ser eletiva. Finalmente, o
poder, transmitido juntamente com os bens dos pais aos filhos, enobrecendo as famílias,
torna o governo hereditário, e viram-se então senadores de apenas vinte anos.
Há, pois, três espécies de aristocracia: natural, eletiva e hereditária. A primeira não
convém senão a povos simples; a terceira é o pior de todos os governos; a segunda é a
melhor: é a aristocracia propriamente dita.
Afora a vantagem da distinção dos dois poderes, possui a da escolha de seus
membros; porque, no governo popular, todos os cidadãos nascem magistrados, mas este os
limita a um pequeno número, o qual é escolhido através de eleição, meio pelo qual a
probidade, as luzes, a experiência, e todas as demais razões preferenciais e de estima
pública, constituem outras tantas novas garantias de que seremos sabiamente governados.
A respeito das conveniências particulares, não convém nem um Estado tão pequeno,
nem um povo tão simples e reto, que a execução das leis resulte imediatamente da vontade
pública, como numa boa democracia. Também não convém uma tão grande nação em que
os chefes esparsos para a governar possam decidir à revelia do soberano, em seus
respectivos departamentos, e começar por se tornarem independentes e virem a ser, em
seguida, os senhores.
11.3.6 Conclusão do capítulo VI – Da Monarquia
Consideramos o príncipe como uma pessoa moral e coletiva, unida pela força das
leis, e depositária no Estado do poder executivo. Temos agora a considerar este poder
reunido em mãos de uma pessoa natural, de um homem real, único investido do direito de
dele dispor segundo as leis. É o que se chama um monarca ou um rei.
A vontade do povo, e a vontade do príncipe, e a força pública do Estado, e a força
particular do governo, tudo enfim responde ao mesmo móbil; todas as molas da máquina
estão na mesma mão, tudo caminha para o mesmo objetivo: não há movimentos adversos
que se destruam mutuamente, e não se pode imaginar nenhuma espécie de constituição em
que um esforço menor produza uma ação mais considerável. Arquimedes, tranqüilamente
sentado na praia, seguindo sem dificuldade um grande navio, representa a meu ver um hábil
monarca, a dirigir de seu gabinete seus vastos Estados, e a fazer com que tudo se mova
dando a impressão de que permanece imóvel.
Através das relações gerais, que a monarquia só é conveniente aos vastos Estados,
e o mesmo acharemos examinando-a em si mesma. Quanto mais numerosa for a
administração pública, mais a relação entre o príncipe e os vassalos diminui e se aproxima
da igualdade, de sorte que tal relação é uma ou a própria igualdade na democracia. Essa
mesma relação aumenta à medida que o governo se contrai, e atinge o seu máximo quando
o governo se acha em mãos de uma única pessoa. Passa a haver então uma enorme
distância entre o príncipe e o povo, e o Estado carece de ligação. Para formá-la, são
necessárias as ordens intermediárias: príncipes, grandes, nobreza, que as devem
preencher. Ora, nada do que foi dito convém a um pequeno Estado, pois, antes, o arruínam.
11.3.7 Conclusão do capitulo VII – Dos governos mistos
Não há governo simples. É necessário a um chefe único possuir magistrados
subalternos; é indispensável a um governo popular ter um chefe. Assim, na partilha do poder
executivo, há sempre gradação do grande número ao menor, com a diferença que ora é o
grande número que depende do pequeno, ora é o pequeno que depende do grande.
O governo simples é melhor em si, pelo simples fato de ser simples. Entretanto,
quando o poder executivo pouco depende do legislativo, isto é, quando há mais relação
entre o príncipe e o soberano que entre o povo e o príncipe, é necessário remediar essa
falta de proporção dividindo o governo; porque, então, todas as suas partes têm igual
autoridade sobre os vassalos, e a divisão delas torna-as, todas em conjunto. menos fortes
contra o soberano.
Quando o governo é excessivamente frouxo, erigir tribunais a fim de o reforçar. Tal
coisa se pratica em todas as democracias. No primeiro caso, divide-se o governo para o
enfraquecer, e no segundo, para fortalecê-lo; porque o máximo de força e de fraqueza
encontra-se igualmente nos governos simples, enquanto que as formas mistas produzem
uma força média.
11.3.8 Conclusão do capítulo VIII – Que qualquer forma de governo não convém a
qualquer país
Não sendo a liberdade um fruto de todos os climas, não está ao alcance de todos os
povos todos os governos do mundo, a pessoa pública consome e nada produz. Nem todos
os governos possuem a mesma natureza; há os dotados de maior ou menor voracidade, e
as diferenças estão baseadas neste princípio: quanto mais as contribuições públicas se
distanciam de sua fonte, tanto mais se tornam onerosas. Não é pela quantidade de
imposições que se deve medir essa carga, mas pelo caminho a ser feito por elas a fim de
regressarem às mãos de que saíram. Quando essa circulação é realizada e bem
estabelecida, pague-se pouco ou muito, o povo é sempre rico e as finanças caminham
sempre a contento. Quando, ao contrário, por pouco que contribua, esse pouco não retorna
às suas mãos, em contribuindo sempre o povo depressa se exaure; o Estado jamais será
rico, e o povo será sempre indigente.
Vamos percebendo a diferença entre os Estados livres e os monárquicos: nos
primeiros, tudo é empregado no sentido do interesse comum; nos segundos, as forças
públicas e particulares funcionam de maneira recíproca, e o aumento de uma corresponde
ao enfraquecimento da outra; enfim, ao invés de governar os vassalos para os fazer felizes,
o despotismo torna-os miseráveis a fim de os governar.
11.3.9 Conclusão do capítulo IX – Signos de um bom governo
Os súditos elogiam a tranqüilidade pública, os cidadãos a liberdade dos particulares;
um prefere a segurança das possessões, e outro a das pessoas; um pretende que o melhor
governo é o mais severo, outro sustenta que é o mais brando; este quer que se punam os
crimes, e aquele que se os previnam; um é de opinião que se deve ser temido dos vizinhos,
outro prefere ser ignorado; um mostra-se contente quando o dinheiro circula, outro exige
que o povo tenha pão.
11.3.10 Conclusão do capítulo X – Do abuso do governo e de seu pendor a
degenerar
A vontade particular atua continuamente contra a vontade geral, assim se esforça
incessantemente o governo contra a soberania. Quanto mais aumenta esse esforço, mais se
altera a constituição, e como não há aqui outra vontade de corpo que, resistindo à vontade
do príncipe, faça equilíbrio com ela, deve acontecer cedo ou tarde venha o príncipe oprimir
enfim o soberano e romper o tratado social. Está aí o vício inerente e inevitável que, desde o
nascimento do corpo político, tende sem afrouxamento a destruí-lo, assim como a velhice e
as mortes destroem por fim o corpo do homem.
Quando o Estado se dissolve, seja qual for o abuso do governo, toma o nome de
anarquia. Fazendo a distinção: a democracia degenera em ociocracia, a aristocracia em
oligarquia: Posso ainda acrescentar que a realeza degenera em tirania; mas este último
termo é equívoco e exige explicação.
11.3.11 Conclusão do capítulo XI – Da morte do corpo político
O corpo político, bem como o corpo do homem, começa a morrer desde o
nascimento e contém em si mesmo as causas de sua destruição. Mas um e outro podem ter
uma constituição mais ou menos robusta e adequada a conservá-los por um longo tempo. A
constituição do homem é obra da Natureza; a do Estado é obra da arte. Não depende dos
homens a prolongação de sua vida; mas depende deles prolongar a do Estado tanto quanto
possível, dando-lhe a melhor constituição que possa existir. O melhor constituído será mais
duradouro que outro, se nenhum incidente imprevisto provocar sua perda com o tempo.
O princípio da vida política está na autoridade soberana. O poder legislativo é o
coração do Estado; o poder executivo é o cérebro que põe em movimento todas as partes.
O princípio da vida política está na autoridade soberana. O poder legislativo é o
coração do Estado; o poder executivo é o cérebro que põe em movimento todas as partes.
11.3.12 Conclusão do capítulo XII – Como se mantém a autoridade soberana
Não dispondo de outra força senão o poder legislativo, o soberano só atua pelas leis;
e, não sendo as leis mais que atos autênticos da vontade geral, não poderia o soberano agir
senão quando o povo se encontra reunido.
O povo não somente exercia os direitos de soberania, mas também uma parte dos
governamentais. Cuidava de certos negócios, julgava determinadas causas, e permanecia
na praça pública, freqüentemente, quase na qualidade de magistrado, afora o ser na de
cidadão.
11.3.13 Conclusão do capítulo XIII – Seqüência
Não basta que o povo reunido tenha uma vez fixado a constituição do Estado,
sancionando um corpo de leis; não basta que tenha constituído um governo perpétuo, ou
provido de uma vez por todas a eleição dos magistrados. Além das assembléias
extraordinárias, que casos imprevistos podem exigir, é necessário havê-las fixas e
periódicas que não possam ser abolidas nem adiadas, a fim de que, em dia marcado, seja o
povo legitimamente convocado pela lei, sem que se faça preciso para tanto nenhuma outra
convocação formal.
Não podemos reduzir o Estado aos justos limites, resta ainda um recurso: é o de não
impor uma Capital, sediando o governo alternativamente em cada uma das cidades, e aí,
também de modo alternado, reunir todos os Estados do país.
11.3.14 Conclusão do capítulo XIV – Seqüência
No instante em que o povo está legitimamente reunido em corpo soberano, cessa
toda e qualquer jurisdição do governo, o poder executivo fica suspenso, e a pessoa do
último dos cidadãos é tão sagrada e inviolável quanto a do primeiro magistrado, porque
onde se encontra o representado deixa de haver o representante. A maioria dos tumultos
ocorridos em Roma, durante os comícios, originou-se de se haver ignorado ou
negligenciado essa regra. Os cônsules não eram então senão os presidentes do povo; os
tribunos, simples oradores , o senado não era coisa alguma.
No instante em que o povo está legitimamente reunido em corpo soberano, cessa
toda e qualquer jurisdição do governo, o poder executivo fica suspenso, e a pessoa do
último dos cidadãos é tão sagrada e inviolável quanto a do primeiro magistrado, porque
onde se encontra o representado deixa de haver o representante. A maioria dos tumultos
ocorridos em Roma, durante os comícios, originou-se de se haver ignorado ou
negligenciado essa regra. Os cônsules não eram então senão os presidentes do povo; os
tribunos, simples oradores , o senado não era coisa alguma.
11.3.15 Conclusão do capítulo XV –Dos deputados ou representantes
Assim que o serviço público cessa de ser a principal preocupação dos cidadãos, ao
qual melhor preferem servir com a bolsa que pessoalmente, já se encontra o Estado
próximo da ruína. Se é preciso seguir para o combate, eles pagam as tropas e permanecem
em casa; se é preciso ir à assembléia, eles nomeiam os deputados e continuam em casa. À
força de dinheiro e preguiça, eles dispõem de soldados para servir a pátria e de
representantes para a venderem.
Quanto melhor estiver o Estado constituído, tanto mais os negócios públicos
prevalecerão sobre os particulares no espírito dos cidadãos.
Chega mesmo a haver muito menor número de negócios privados, porque a soma de
felicidade comum fornece maior porção à felicidade de cada indivíduo, de modo que menos
lhe resta a procurar em suas ocupações particulares. Numa cidade, bem dirigida, todos
votam nas assembléias; sob um mau governo, ninguém aprecia dar um passo para isso
fazer, porque ninguém se toma de interesse pelo que se faz, prevendo que a vontade geral
não prevalecerá, e porque, enfim, os cuidados particulares tudo absorvem. As boas leis
permitem que se façam outras melhores; as más conduzem às piores. Tão logo diga
alguém, referindo-se aos assuntos do Estado, que me importo? pode-se ter a certeza de
que o Estado está perdido.
A soberania não pode ser representada, pela mesma razão que não pode ser
alienada; ela consiste essencialmente na vontade geral, e a vontade de modo algum se
representa; ou é a mesma ou é outra; não há nisso meio termo.
Os deputados do povo não são, pois, nem podem ser seus representantes; são
quando muito seus comissários e nada podem concluir definitivamente. São nulas todas as
leis que o povo não tenha ratificado; deixam de ser leis.
O povo inglês pensa ser livre, mas está completamente iludido; apenas o é durante a
eleição dos membros do Parlamento; tão logo estejam estes eleitos, é de novo escravo, não
é nada. Pelo uso que faz da liberdade, nos curtos momentos em que lhe é dado desfrutá-la,
bem merece perdê-la.
Não concebo, pelo exposto, a necessidade de se ter escravos, nem que o direito de
escravatura seja legítimo, uma vez que provei o contrário. Exponho apenas as razões pelas
quais os povos modernos, que se acreditam livres, têm representantes, e por que os povos
antigos não os tinham. Seja como for, no instante em que um povo se dá representantes,
deixa de ser livre, cessa de ser povo.
11.3.16 Conclusão do capítulo XVI – De que a instituição do governo não é, de modo
algum um contrato
Uma vez bem estabelecido o poder legislativo, trata-se de estabelecer igualmente o
poder executivo; porque este último, que só opera através de atos particulares, não sendo a
essência do outro, está naturalmente dele separado. Se fosse possível que o soberano,
como tal considerado, tivesse o poder executivo, o direito e o fato seriam de tal modo
confundidos que não mais se saberia o que é lei e o que não o é; e o corpo político, assim
desnaturado, cedo seria presa da violência contra a qual havia sido instituído.
De início, a autoridade suprema não pode modificar-se nem alienar-se; limitá-la
eqüivale a destruí-la. É absurdo e contraditório que o soberano se outorgue um superior;
obrigar-se a obedecer a um senhor, é repor-se em plena liberdade.
Só há um contrato no Estado: é o da associação, que exclui qualquer outro. Não
seria possível imaginar nenhum contrato público que não constituísse uma violação do
primeiro.
11.3.17 Conclusão do capítulo XVII – Da instituição do governo
Sob que idéia deve-se, pois, conceber o ato pelo qual o governo é instituído?
Assinalarei, de início, que tal ato é complexo ou composto de dois outros: o do
estabelecimento da lei e o da sua execução.
Para o primeiro, estatui o soberano que haverá um corpo de governo, estabelecido
sob esta ou aquela forma e está claro que este ato constitui uma lei.
Para o segundo, o povo nomeia seus chefes que serão encarregados do governo
estabelecido. Ora, sendo essa nomeação um ato particular, não constitui uma lei, mas
apenas uma continuação da primeira, e uma função do governo.
A dificuldade consiste em compreender como pode haver um ato de governo antes
de existir o governo, e como pode o povo, que só é soberano ou vassalo, tornar-se príncipe
ou magistrado em determinadas circunstâncias.
Superioridade do governo democrático: poder estabelecer-se de fato por um simples
ato da vontade geral. Depois disso, esse governo é empossado, se tal é a forma adotada ou
estabelecida em nome do soberano, passa a prescrever a lei, e tudo entra novamente na
normalidade. Não é possível instituir o governo de nenhuma outra maneira legítima, sem
renunciar aos princípios acima referidos.
11.3.18 Conclusão do capítulo XVIII – Modo de prevenir as usurpações do governo
Resulta desses esclarecimentos, confirmando o capítulo XVI, que o ato instituidor do
governo não constitui um contrato, mas uma lei; que os depositários do poder executivo não
são em absoluto os senhores do povo, mas apenas seus oficiais; que o povo dispõe do
direito de os nomear e os substituir quando bem lhe aprouver; que o problema, para eles,
não consiste em contratar, mas em obedecer, e que, incumbindo-se das funções que lhes
são impostas pelo Estado, outra coisa não fazem senão cumprir com seu dever de
cidadãos, sem terem de maneira alguma o direito de discutir as suas condições. Verdade
que essas mudanças são sempre perigosas, e que não convém tocar jamais no governo
estabelecido, exceto quando este se torna incompatível com o bem público; mas tal
circunstância é uma máxima política e não uma regra de direito, e o Estado não é mais
constrangido a deixar a autoridade civil em mãos de seus chefes ou a autoridade militar em
mãos de seus generais.
As assembléias periódicas, de que falei anteriormente, são apropriadas para prevenir
ou espaçar esse infortúnio, mormente se independem de convocação formal; porque então
o príncipe não pode impedi-las, sem se declarar abertamente infrator das leis e inimigo do
Estado.
A abertura dessas assembléias, cujo único objetivo é a manutenção do tratado
social, deve sempre fazer-se por duas proposições que não possam jamais ser suprimidas e
sejam separadamente sufragadas.
11.4 LIVRO QUARTO
11.4.1 Conclusão do I capítulo – De que vontade geral é indestrutível
Enquanto numerosos homens reunidos se consideram como um corpo único, sua
vontade também é única e se relaciona com a comum conservação e o bem-estar geral.
Todas as molas do Estado são então vigorosas e simples, suas sentenças são claras e
luminosas; não há interesses embaraçados, contraditórios; o bem comum mostra-se por
toda parte com evidência e apenas demanda bom senso para ser percebido. A paz, a união,
a igualdade são inimigas das sutilezas políticas.
Um Estado assim governado necessita de bem poucas leis; à medida que se torne
necessário promulgar outras novas, todos percebem tal necessidade. O primeiro que as
propõe não faz senão dizer o que todos já sentiram, e não haverá problemas de disputas
nem de eloqüência para transformar em lei o que cada qual, individualmente, já tinha
resolvido fazer, certo de que os demais o farão como ele.
11.4.2 Conclusão do II capítulo – Dos sufrágios
A maneira pela qual se tratam os negócios gerais pode fornecer um índice assaz
seguro do estado atual dos costumes e da saúde do corpo político. Quanto maior a
harmonia reinante nas assembléias, isto é, quanto mais as opiniões se aproximam da
unanimidade, tanto mais a vontade geral se revela dominante; já os longos debates, as
dissensões, o tumulto, anunciam o ascenso dos interesses particulares e o declínio do
Estado.
Dessas, diversas considerações nascem as máximas sobre as quais deve ser
regulamentada a maneira de contar os votos e comparar a opiniões, na proporção em que a
vontade geral é mais ou menos fácil de ser conhecida, e o Estado se mostra mais ou menos
em declínio, pois, no momento do pacto social, houver opositores, sua oposição não
invalidará o pacto, mas os excluirá do mesmo; serão os estrangeiros entre os cidadãos.
Quando o Estado é constituído, a residência prova o consentimento; habitar o
território é submeter-se à soberania.
Duas máximas gerais são o bastante para regulamentar essas relações: uma
consiste em que, quanto mais importantes e graves sejam as deliberações, tanto mais a
opinião vencedora deve estar próxima da unanimidade; a outra em que, quanto mais
presteza exige o negócio discutido, tanto mais se deve restringir a diferença prescrita na
divisão das opiniões: nas deliberações a serem encerradas imediatamente deve bastar o
excedente de uma única voz. A primeira dessas máximas parece mais conveniente às leis, e
a segunda aos negócios. De qualquer maneira, é na base da combinação das duas que se
estabelecem as melhores relações sobre as quais deve a pluralidade pronunciar-se.
11.4.3 Conclusão do capítulo III – Das eleições
A respeito das eleições do príncipe e dos magistrados, que constituem, como já
disse, atos complexos, há dois caminhos para os proceder, os seguintes: a escolha e a
sorte. Um e outro têm sido empregados em diversas repúblicas, e ainda vê-se atualmente
uma mistura bastante complicada de ambos na eleição do doge de Veneza.
O sufrágio por sorteio", diz Montesquieu, "é da natureza da democracia.
Em toda verdadeira democracia, a magistratura não constitui um proveito, mas sim
uma carga onerosa que se pode impor a um particular de preferência a outro. Somente a lei
pode impor tal carga àquele a quem a sorte escolherá; porque então, sendo igual para todos
a condição, e não dependendo a escolha de nenhuma vontade humana, não há qualquer
aplicação particular que altere a universalidade da lei.
Na aristocracia, o príncipe escolhe o príncipe, o governo se conserva por si mesmo,
e os sufrágios são bem colocados.
11.4.4 Conclusão do capítulo IV – Dos comícios romanos
Após a fundação de Roma a república nascente, isto é, o exército do fundador,
composto de albaneses, sabinos e estrangeiros, foi dividido em três classes, que dessa
divisão tomaram o nome de tribos. Cada uma dessas tribos foi subdividida em dez cúrias, e
cada cúria em decúrias, à testa das quais foram postos chefes denominados curiões e
decuriões.
Além disso, tirou-se de cada tribo um corpo de dez cavaleiros ou cavalheiros,
chamado centúria; por onde se vê que essas divisões, pouco necessárias num burgo, não
eram de início senão militares. Parece, porém, que um instinto de grandeza levava a
pequena cidade de Roma a dar-se por antecipação uma organização civil adequada à
capital do mundo.
Dessa distinção de tribos citadinas e rurais resultou um efeito digno de ser
observado, mesmo porque não existe disso outro exemplo e porque Roma lhe deve a um só
tempo a conservação de seus costumes e o crescimento de seu império. Acreditar-se-ia que
as tribos urbanas cedo se arrogassem as honras e o poder, e não tardassem em envilecer
as tribos rústicas; no entanto, deu-se exatamente o contrário. Conhece-se o gosto dos
primeiros romanos pela vida campestre. Vinha-lhes esse gosto do sábio instituidor que uniu
à liberdade os trabalhos rústicos e militares, e, por assim dizer, relegou à cidade as artes, os
ofícios, a intriga, a riqueza e a escravidão.
As leis e a eleição dos chefes não constituíam os únicos pontos submetidos ao
julgamento do governo; tendo o povo romano usurpado as mais importantes funções do
governo, pode-se dizer que a sorte da Europa era regulamentada em suas assembléias.
Essa variedade de assuntos dava lugar às diversas formas tomadas por essas assembléias,
de acordo com as matérias sobre as quais havia que pronunciar-se.
Na república, as cúrias, sempre limitadas às quatro tribos urbanas, não contando
senão com a plebe de Roma, não podiam convir nem ao senado, que se mantinha à testa
dos patrícios, nem aos tribunos, que, conquanto plebeus, estavam à frente dos cidadãos
abastados. Elas tombaram, portanto, no descrédito e foi tal seu aviltamento que seus trinta
lictores, reunidos em assembléia, realizavam o que os comícios por cúria deveriam fazer.
Tais foram as diferentes divisões do povo romano. Vejamos agora o efeito produzido nas
assembléias. Essas assembléias, legitimamente convocadas, denominavam-se comices.
Realizavam-se ordinariamente na praça de Roma ou no Campo de Marte, e se distinguiam
por comícios por cúrias, comícios por centúrias e comícios por tribos, segundo as três
formas pelas quais eram convocados. Os comícios por cúrias eram da instituição de
Rômulo; os por centúrias, de Servius; os comícios por tribos, dos tribunos do povo.
Nenhuma lei recebia a sanção, nenhum magistrado era eleito, a não ser nos
comícios; e como não houvesse nenhum cidadão que não fosse inscrito numa cúria, numa
centúria ou numa tribo, segue-se que nenhum cidadão era excluído do direito do sufrágio e
que o povo de Roma era verdadeiramente soberano de direito e de fato. Para que os
comícios fossem legitimamente convocados e o que ali se fizesse tivesse força de lei,
faziam-se necessárias três condições: primeira, que o corpo ou o magistrado que os
convocasse fosse revestido para isso da autoridade indispensável; segunda, que a
assembléia se realizasse num dia permitido pela lei terceira, que os augúrios se revelassem
favoráveis.
As leis e a eleição dos chefes não constituíam os únicos pontos submetidos ao
julgamento do governo; tendo o povo romano usurpado as mais importantes funções do
governo, pode-se dizer que a sorte da Europa era regulamentada em suas assembléias.
Essa variedade de assuntos dava lugar às diversas formas tomadas por essas assembléias,
de acordo com as matérias sobre as quais havia que pronunciar-se.
Os comícios por tribos constituíam propriamente o conselho do povo romano.
Somente os tribunos os convocavam; neles eram estes eleitos e se tomavam as
deliberações. Não apenas o senado deixava de ter ali assento, como sequer tinha o direito
de a eles assistir; e, assim sendo, eram os senadores forçados a obedecer às leis que não
tinham podido votar, de maneira que, sob certo aspecto, passavam a ser menos livres que
os últimos dos cidadãos.
Tal injustiça era mal-entendida e bastaria, por si só, para invalidar os decretos de um
corpo em que todos os membros não tinham sido admitidos. Mesmo que todos os patrícios
assistissem a esses comícios, consoante o direito que possuíam na qualidade de cidadãos,
tornados então simples particulares, não poderiam influir em nada num processo de eleição
cujos votos eram recolhidos por cabeça, e no qual o mais humilde proletário dispunha de
tanto poder como o príncipe do senado.
11.4.5 Conclusão do capítulo V - Do Tribunato
Quando não se pode estabelecer uma exata proporção entre as partes constitutivas
do Estado, ou quando causas indestrutíveis nelas alteram continuamente as relações,
institui-se então uma magistratura particular que não se corporifica com as outras, que repõe
cada termo em sua verdadeira relação, e que estabelece uma ligação ou um meio-termo,
seja entre o príncipe e o povo, seja entre o príncipe e o soberano, ou ainda entre ambos os
lados, em caso de necessidade.
Esse corpo, que eu denominarei tribunato, é o conservador das leis do poder
legislativo, e serve, por vezes, para proteger o soberano contra o governo, como faziam em
Roma os tribunos do povo; como faz presentemente em Veneza o Conselho dos Dez, para
sustentar o governo contra as investidas do povo; e, algumas vezes, para manter o
equilíbrio entre ambas as partes, como o faziam os éforos em Esparta.
11.4.6 Conclusão do capítulo VI – Da ditadura
A inflexibilidade das leis, que as impede de se ajustarem aos acontecimentos, pode,
em determinados casos, torná-las perniciosas, e causar, por elas, a perda do Estado num
momento de crise.
A ordem e a lentidão das formas requerem um espaço de tempo que as
circunstâncias muitas vezes recusam.
Podem apresentar-se mil casos não esperados pelo legislador, e constitui necessária
providência perceber que é possível tudo prever.
Não se deve, pois, querer consolidar as instituições políticas a ponto de levar o poder
a suspender o efeito delas. Esparta mesma deixou dormir suas leis.
O primeiro processo era empregado pelo senado romano quando encarregava os
cônsules, através de uma fórmula consagrada, de prover a salvação da república; o
segundo processo tinha lugar quando um dos dois cônsules nomeava um ditador, cujo
exemplo Roma recebeu de Alba.
Volta do fim da república, os romanos, tornados circunspectos, economizaram a
ditadura com a mesma irracionalidade com que a tinham prodigalizado anteriormente. Era
fácil ver que seu receio estava mal fundamentado: que a fraqueza da Capital constituía
então sua segurança contra os magistrados abrigados em seu seio; que um ditador, em
determinado caso, podia defender a liberdade pública, sem jamais atentar contra ela; e que
os grilhões de Roma de modo algum seriam forjados na própria Roma, mas em seus
exércitos. A pequena resistência de Mário frente a Sila, e de Pompeu frente a César,
demonstrou perfeitamente o que se podia esperar da autoridade de dentro contra a força
vinda de fora.
11.4.7 Conclusão do capítulo VII – Da Censura
Assim como a declaração da vontade geral se faz através da lei, a declaração do
julgamento público se faz pela censura; a opinião constitui uma espécie de lei cujo censor é
o ministro, o qual, a exemplo do príncipe, somente a aplica aos casos particulares.
Longe, pois, de ser o tribunal censório o árbitro da opinião pública; este não é senão
o declarador dessa opinião, e, tão logo dela se afaste, suas decisões passam a ser vãs e
sem efeito.
A censura mantém os costumes impedindo que as opiniões se corrompam,
conservando sua inteireza através de sábias aplicações, por vezes mesmo fixando-as,
quando se mostram ainda incertas.
11.4.8 Conclusão do capítulo VIII – Da religião civil
Os homens, de início, não tiveram outros reis senão os deuses, nem outro governo,
a não ser o teocrático.
Os gregos imaginaram reencontrar seus deuses entre os povos bárbaros; essa idéia,
porém, vinha do fato de se considerarem os soberanos naturais desses povos. Estando
cada religião circunscrita unicamente às leis do Estado que as prescrevia, não havia outra
maneira de converter um povo senão submetendo-o, nem havia outros missionários além
dos conquistadores; e, consistindo a lei dos vencidos na obrigação de mudar de culto; fazia-
se preciso começar por vencer antes de pregar. Não quer isto dizer que os homens
combatessem pelos deuses; ao contrário, eram os deuses, como em Homero, que
combatiam pelos homens; cada qual pedia a seu deus a vitória e a pagava erigindo-lhe
novos altares.
Estando cada religião circunscrita unicamente às leis do Estado que as prescrevia,
não havia outra maneira de converter um povo senão submetendo-o, nem havia outros
missionários além dos conquistadores; e, consistindo a lei dos vencidos na obrigação de
mudar de culto; fazia-se preciso começar por vencer antes de pregar. Não quer isto dizer
que os homens combatessem pelos deuses; ao contrário, eram os deuses, como em
Homero, que combatiam pelos homens; cada qual pedia a seu deus a vitória e a pagava
erigindo-lhe novos altares.
Os romanos, antes de tomarem uma praça, intimavam os deuses locais a abandoná-
la; e quando deixavam aos tarentinos seus deuses irritados, faziam-no porque olhavam
então esses deuses como submetidos aos deles romanos, forçados aqueles a prestar
homenagens a estes. Permitiam que os vencidos conservassem os seus deuses, assim
como lhes permitiam reger-se por suas próprias leis.
11.4.9 Conclusão do capítulo IX – Conclusão
Depois de ter exposto os verdadeiros princípios do direito político, e cuidado de
edificar o Estado em suas bases, restaria ampará-lo através de suas relações externas, o
que compreenderia o direito das gentes, o comércio, o direito da guerra e das conquistas, o
direito público, as ligas, as negociações, os tratados, etc.
11.5 DISCURSO SOBRE A ECONOMIA POLÍTICA
Economia (moral e política), originariamente indica sobretudo o sábio e legítimo
governo da casa, para o bem comum de toda a família. Uma diferença importante é que não
tendo os filhos qualquer outra coisa a não ser a recebida do pai, todos os direitos de
propriedade pertence a ele.
O objetivo principal de cada trabalho de casa e conservar e aumentar o patrimônio
do pai, para um dia dividir entre seus filhos.
A economia pública é bem distinta da economia privada(particular).Toda sociedade
política é composta por outras sociedades de diversas espécies, com regras e interesses
próprios.
O Estado de atacar o sacro direito da propriedade , que éa sua base , consiste a
dificuldade da justa Economia. Da taxa sobre a terra ou sobre o grão, quando é excessiva ,
derivam de dois inconvenientes espantosos, que acabarão por despovoar e depois arruinar
todos os países em que é vigente. O primeiro é do derivado do defeito de circulação da
moeda, o segundo é uma vantagem aparente que se agrava antes que se perceba.
11.6 CONCLUSÃO FINAL
Surgiu naquela época idéias, que foram postas em pratica e permanecem até os dias
de hoje. Claro que algumas coisas foram extintas, e outras modernizadas de acordo com o
século em que vivemos.
Nasceu o poder legislativo, executivo, monarquia, aristocracia, assembléia, eleição,
voto, leis, senadores, ministros, governadores, deputados, censura, contrato, democracia, e
etc.
É um livro que fala muito sobre política e diretos e a liberdade.
Rousseau, em vários capítulos falou sobre a liberdade e igualdade, direitos.
Considera que todos os homens nasce livres e iguais, e devem continuar assim. Que todos
os seres humanos tem direito de sobreviver, de ir e vir, de adquirir bens, e etc.
O Estado era considerado unidade, que levou o nome de vontade geral.
A vontade geral era para ter segurança a liberdade, a igualdade e a justiça dentro do
estado. Para ele não existe a lei do mais forte, mas a lei da vontade geral.
Governo e povo era considerado como corpo. Na religião, o Estado e religião não
deve interferir um com o outro.O exemplo de religião é o cristianismo no Evangelho. A
religião na época para o cidadão era tratado religião civil . Mas o que se entende é que
liberdade e igualdade em primeiro lugar.
12 DOS DELITOS E DAS PENAS-CÉSAR BECCARIA
12.1 INTRODUÇÃO
Apenas com boas leis, se pode impedir os abusos da sociedade de deixar os
privilégios e o poder nas mãos de poucos, enquanto a maioria fica à mercê da miséria e da
debilidade. O Homem demora a abrir os olhos a essas verdades. Por isso, talvez seja esta a
hora de examinar e diferenciar as diversas espécies de delitos e a maneira de os punir, pois
nunca alguém soube orientar a sociedade com um único objetivo, ou seja, o bem-estar da
sociedade como um todo. O autor, no decorrer do livro, vai restringir-se às faltas e aos erros
mais comuns.
12.2 ORIGEM DAS PENAS E DO DIREITO DE PUNIR
A moral política deve estar fundada em sentimentos indeléveis do coração do
homem. Qualquer lei que não estiver fundada nessa base achará sempre uma resistência
que a constrangerá a ceder, pois, somente a necessidade obriga os homens a abrir mão de
alguma coisa. Está na liberdade o fundamento do direito de punir. Qualquer exercício que se
afaste um pouco disso constituirá abuso e não a justiça verdadeira. E quanto mais sagrado
e inviolável for a segurança, mais justas serão as penas, que não podem ir além da
necessidade de manter o depósito da salvação pública.
12.3 CONSEQÜÊNCIAS DESSES PRINCÍPIOS
A primeira conseqüência desses princípios é que apenas a lei pode indicar as penas
de cada delito, sendo que, tal lei somente pode ser proposta pelo legislador (representante
da sociedade).
A segunda conseqüência cabe ao soberano, que ao fazer leis, estas devem ser
gerais (todos devem obedecer-lhas), não cabendo a ele julgá-las.
A terceira e última conseqüência é mostrar que a crueldade das penas é inútil, em
desacordo com a justiça e com a natureza do contrato social.
12.4 DA INTERPRETAÇÃO DAS LEIS
Os julgadores dos crimes não têm o direito de interpretar as leis penais por não ser
legislador. Isso cabe ao juiz, que, fazendo com que as leis penais sejam cumpridas à letra,
qualquer cidadão poderia calcular os incovenientes de uma ação reprovável, o que seria útil,
pois pode fazer com que o indivíduo se desvie do crime.
12.5 DA OBSCURIDADE DAS LEIS
A obscuridade das leis, fica ainda maior quanto estas são escritas em outra língua.
Estas leis devem ser escritas de uma forma mais popular, para que o povo entenda as
conseqüências que devem ter os atos que praticam sobre a sua liberdade e sobre seus
bens. Pois quanto mais pessoas as lerem, menos será o número de delitos.
12.6 DA PRISÃO
Está em poder dos magistrados, um poder que contraria o fim da sociedade, que é a
segurança pessoal (prender). Tal poder é usado para acabam com a liberdade do inimigo
sob pretextos frívolos, errados. Quanto mais suaves forem as penas, as leis poderão se
satisfazer com provas mais fracas para pedir a prisão, precisando esta de deixar de ser a
horrível mansão do desespero e da fome, onde a piedade e a humanidade se farão
presentes.
12.7 DOS INDÍCIOS DO DELITO E DA FORMA DOS JULGAMENTOS
Um dos meios de calcular a certeza de um fato e o valor que têm os indícios de um
delito é: "Quando as provas de um fato se apóiam todas entre si, isto é, quando os indícios
do crime não se mantêm senão apoiados uns nos outros, quando a força de inúmeras
provas dependem de uma só, o número dessas provas nada acrescenta nem subtrai na
probabilidade do fato: merecem pouca consideração, porque, se destruís a única prova que
parece certa, derrocareis todas as demais. Quando, porém, as provas independem umas
das outras... ...tanto mais provável será o delito, porque a falsidade de uma prova em nada
influi sobre a certeza das restantes".
As provas de um delito podem distinguir-se em perfeitas e imperfeitas. Basta uma
prova perfeita (aquelas que demonstram positivamente que é impossível ser ele inocente)
para que se condene o acusado.
Os julgamentos devem ser públicos. É justo também, que o culpado e o ofendido,
quando em condições desiguais, escolham os juízes, a fim de contrapesar os interesses
pessoais, que mudam as aparências das coisas e para deixar que falem apenas a verdade e
as leis. O culpado, pode recusar um certo número de juízes que lhe parecem suspeitos.
Lei sábia e de efeitos sempre felizes é aquela que prescreve que cada qual seja
julgado por seus iguais.
12.8 DAS TESTEMUNHAS
Todo homem razoável, que puser ligação em suas idéias e que experimentar as
mesmas sensações que os demais homens, poderá ser recebido em testemunho. Contudo,
a confiança que se lhe depositar deve ser medida pelo interesse que ele tem em dizer ou
não a verdade. Vale dizer, que uma só testemunha não é suficiente porque, se o acusado
nega o que ela afirma, nada resta de certo e a justiça então tem de respeitar o direito que
cada qual tem de se considerar inocente.
12.9 DAS ACUSAÇÕES SECRETAS
As acusações secretas, tornam o homem falso e péfido, pois, aquele que suspeita
que seu concidadão é um delator vê logo nele um inimigo. Elas provocam terríveis males,
como, por exemplo: um governo em que o monarca em cada súdito suspeita de um inimigo
e vê-se constrangido, para garantir a paz pública, a conturbar a paz de cada cidadão. O
autor se tivesse de criar novas leis, recusar-se-ia a autoriza tais acusações secretas.
12.10 DOS INTERROGATÓRIOS SUGESTIVOS
A atual legislação proíbe que sejam feitos interrogatórios sugestivos, pois, de acordo
com nossos juristas, apenas se deve interrogar a propósito da maneira pela qual o crime foi
cometido e a respeito das circunstâncias que o acompanham. Tal método foi estabelecido
para evitar sugerir ao acusado uma reposta que o salve, ou por ter sido considerada coisa
monstruosa ou contrária à natureza um homem acusar-se a si próprio, qualquer que tenha
sido a finalidade desejada com a proibição dos interrogatórios sugestivos, fez-se com que as
leis caíssem numa contradição bem notória, visto que ao mesmo tempo se autorizou a
tortura. As confissões do acusado não são necessárias quando provas suficientes
comprovaram que ele é com certeza culpado do crime de que se trata. A experiência indica
que, na maioria dos processos criminais, os culpados negam tudo.
12.11 DOS JURAMENTOS
Os juramentos é uma outra contradição entre as leis e os sentimentos naturais.
Como exigir que o acusado diga a verdade quando seu maior interesse é escondê-la? Seria
como ajudar na própria destruição. A experiência comprova a inutilidade dos juramentos,
pois não existe juiz que não convenha que nunca o juramento faz com que o acusado diga a
verdade.
12.12 DA TORTURA
Um dos maiores absurdos é consagrado pelo uso na maioria dos governos de aplicar
a tortura a um acusado enquanto se faz o processo, seja para que ele confesse a autoria do
crime, seja para esclarecer as contradições em que tenha caído, seja para descobrir os
cúmplices ou outros crimes de que não é acusado, porém dos quais poderia ser culpado,
seja finalmente porque sofistas incompreensíveis pretenderam que a tortura purgava a
infâmia.
Um homem não pode ser considerado culpado antes da sentença do jiz; e a
sociedade apenas lhe pode retirar a proteção pública depois que seja decidade que ele
tenha violado as normas em que tal proteção lhe foi dada. Apenas o direito da força pode,
portanto, das autoridade a um juiz para infligir um pena a um cidadão quando ainda se está
em dúvida se ele é inocente ou culpado.
Portanto, ou o crime é certo, ou é incerto. Se é certo, apenas deve ser punido com a
pena que a lei fixa, e a tortura é inútil, porque não se tem mais necessidade das confissões
do acusado. Se o crime é incerto, não é hediondo atormentar um inocente? Perante as leis,
é inocente aquele cujo delito não está provado.
12.13 DA DURAÇÃO DO PROCESSO E DA SUA PRESCRIÇÃO
É justo que se conceda ao acusado tempo e meio para se justificar, quando o delito é
constatado e as provas são certas. Porém, tal tempo precisa ser bem curto para não atrasar
muito o castigo que deve acompanhar de perto o delito, se quer que o mesmo seja um útil
freio contra os criminosos. Para sua aplicação exata, é necessário ter um vista a legislação
vigente, os costumes do país e as circunstâncias. Nos crimes de menos visto e mais
comuns, é necessário prolongar o tempo dos processos, pois a inocência do acusado é
menos provável, e diminuir o tempo fixado para a prescrição, pois a impunidade é menos
perigosa.
12.14 DOS CRIMES INICIADOS; DOS CÚMPLICES; DA IMPUNIDADE
Por existir uma grande diferença entre a tentativa do crime e sua execução, é justo
reservar uma pena maior para o crime realizado para deixar, ao que apenas começou o
crime, motivos que o impeçam de acabá-lo. Deve-se observar idêntica gradação nas penas,
quanto aos cúmplices, se estes não forem todos executores imediatos. Um caso que
devemos afastar da regra, é quando aquele que executa o crime recebe dos cúmplices uma
recompensa à parte; como a diferença dos perigos ficou compensada com a diferença das
vantagens, o castigo deve ser igual.
Uma lei geral que prometesse a impunidade a qualquer cúmplice que delata um
delito, seria melhor que uma declaração especial num casa particular: precaveria a união
dos maus, pelo medo recíproco que imporia a cada um de enfrentar sozinho os perigos.
Seria importante acrescentar a essa lei que a impunidade acarretaria o banimento do
delator.
12.15 DA MODERAÇÃO DAS PENAS
A finalidade das penalidades não é torturar e afligir um ser sensível, nem desfazer
um crime que já está praticado. Os castigos têm por finalidade única obstar o culpado de
tornar-se futuramente prejudicial à sociedade e afastar os seus concidadãos do caminho do
crime. Entre as penalidades e no modo de aplicá-las proporcionalmente aos delitos, é
necessário, portanto, escolher os meios que devem provocar no espírito público a impressão
mais eficaz e mais durável e, igualmente, menos cruel no corpo do culpado. Quanto mais
terríveis forem os castigos, mais cheio de audácia será o culpado em evitá-los. Praticará
novos crimes, para subtrair-se à pena que mereceu pelo primeiro. A fim de que o castigo
surta o efeito que se deve esperar dele, basta que o mal causado vá além do bem que o
culpado retirou do crime. Devem ser contados ainda como parte do castigo os terrores que
antecedem a execução e a perda das vantagens que o delito devia produzir. Qualquer
excesso de severidade torna-a supérflua e, portanto, tirânica. Mas, o mais importante é que
o rigor das penas deva estar em relação com o atual estado do país.
12.16 DA PENA DE MORTE
A soberania e as leis nada mais são do que a soma das pequenas partes de
liberdade que cada qual cedeu à sociedade. representam a vontade geral, que resulta da
reunião das vontades individuais. Mas quem já pensou em dar a outros homens o direito de
lhes tirar a existência? Se isso ocorresse, como conciliar tal princípio com a máxima que
proíbe o suicídio?
A pena de morte, pois, não se apoia em nenhum direito. É guerra que se declara a
um cidadão. A morte de um cidadão apenas pode ser considerada necessária por duas
razões: nos instantes confusos em que a nação está na dependência de recuperar ou
perder sua liberdade, nos períodos de confusão quando se substituem as leis pela
desordem; e quando um cidadão, embora sem a sua liberdade, pode ainda, graças às suas
relações e ao seu crédito, atentar contra a segurança pública, podendo a sua existência
acarretar um revolução perigosa no governo estabelecido.
12.17 DO BANIMENTO E DAS CONFISCAÇÕES
Deve ser posto fora da sociedade, banido, quem perturba a tranquilidade pública,
quem não obedece às leis, quem viola as condições sob as quais os homens se mantêm e
se defendem mutuamente. Poderiam ainda ser banidos, aqueles que, acusados de crime
atroz, são suspeitos de culpa com maior verossimilhança, porém sem estar inteiramente
convencido do delito.
12.18 DA INFÂMIA
Infâmia significa desaprovação pública, que retira do culpado a consideração, a
confiança que a sociedade depositava nele e essa espécie de irmandade que une os
cidadãos de uma mesma nação. Como seus efeitos não dependem das leis, é necessário
que a vergonha que a lei inflinge esteja baseada na moral, na opinião pública.
12.19 DA PUBLICIDADE E DA PRESTEZA DAS PENAS
Mais justa e útil será a pena, se aplicada o mais rápido possível e mais perto
acompanhar o crime. Mais justa, porque evitará ao acusado os cruéis tormentos da dúvida.
A rapidez do julgamento é justa também porque, senda a perda da liberdade uma pena em
si, esta apenas deve preceder a condenação na exata medida em que a necessidade o
exige.
12.20 DA INEVITABILIDADE DAS PENAS DAS GRAÇAS
A certeza da punição, o zelo vigilante do juiz e essa severidade inalterável que só é
uma virtude no magistrado quando as leis são brandas. A perspectiva de um castigo
moderado, porém inflexível, provocará sempre uma impressão mais forte do que o vago
temor de um suplício horrendo, em relação ao qual aparece alguma esperança de
impunidade.
12.21 DOS ASILOS
Pouca diferença existe entre a impunidade e os asilos; e como a melhor maneira de
impedir o delito é a perspectiva de um castigo certo e inexorável, os asilos, que são um
abrigo contra a ação das leis, incitam mais ao crime do que as penas o evitam, do instante
em que se tem a esperança de evitá-los.
12.22 DO USO DE PÔR A CABEÇA A PRÊMIO
Será para a sociedade vantagem ou desvantagem colocar a cabeça a prêmio? Ou o
criminoso deixou o país ou ainda reside nele. No primeiro caso, os cidadãos são excitados a
praticar um homicídio, a matar talvez um inocinte, a merecer tormentos. Comete-se uma
injúria ao país estrangeiro, desmerece-se a autoridade, autoriza-se que sejam feitas
idênticas usurpações entre os próprios domínios. Se ele ainda se encontra no país cujas leis
violou, o governo que coloca a cabeça dele a prêmio demonstra debilidade. Isso também
desfaz todas as idéias de moral e virtude.
12.23 QUE AS PENAS DEVEM SER PROPORCIONAIS AOS DELITOS
Os meios que se utiliza a legislação para impedir os crimes devem ser mais fortes à
proporção que o crime é mais contrário ao bem público e pode tornar-se mais freqüente.
Portanto, deve haver uma proporção entre os crimes e as penas. A população não quer
apenas que se cometam poucos crimes, mas principalmente que os crimes mais prejudiciais
à sociedade sejam os menos comuns.
12.24 DAS MEDIDAS DOS DELITOS
A exata medida dos crimes é o prejuízo causado à sociedade. A grandeza do crime
não depende da intenção de quem o pratica, como o entenderam erroneamente alguns, pois
a intenção do acusado depende das impressões provocadas pelos objetos presentes e das
disposições que vêm da alma. Tais sentimentos variam em todos os homens e no próprio
indivíduo, coma rápida sucessão das idéias, das paixões e das circunstâncias.
12.25 DIVISÃO DOS DELITOS
Todo ato não enquadrado em certas divisões não podem ser classificados como
delitos. Tais divisões são seguintes: delitos que tendem diretamente à destruição da
sociedade ou daqueles que a representam, delitos que afetam o cidadão em sua existência,
em seus bens ou em sua honra, e por fim, delitos são atos contrários ao que a lei determina
ou proíbe, tendo em mira o bem público.
12.26 DOS CRIMES DE LESA-MAJESTADE
Estes são considerados grandes crimes, pois são prejudiciais à sociedade. Tal
conceito foi usado erroneamente devido ao despotismo.
12.27 DOS ATENTADOS CONTRA A SEGURANÇA DOS PARTICULARES E
SOBRETUDO DAS VIOLÊNCIAS
Como a segurança dos particulares e da violência é a finalidade de todas as
sociedades humanas, não se pode deixar de castigar com as penalidades mais graves
aquele que a viole. Entre esses crimes, uns são atentados contra a existência, outros contra
a honra e outros contra a propriedade. Os primeiros devem ser castigados com penas
corporais.
12.28 DAS INJÚRIAS
As injúrias pessoais, que são contra a honra, insto é, a essa justa parcela de estima
que cada homem tem o direito de esperar de seus concidadãos, devem ser punidas pela
infâmia. Existe uma contradição evidente entre as "leis" ocupadas especialmente com a
proteção da fortuna e da existência de cada cidadão, e as leis do que se chama a "honra",
que preferem a opinião a tudo o mais.
12.29 DOS DUELOS
A honra, que não é mais do que a necessidade dos votos públicos, deu origem aos
combates singulares, que só puderam se estabelecer na desordem das leis más. Se os
duelos não eram comuns na Antiguidade, como muitos acreditam, é porque os antigos não
se reuniam armados com um sentimento de desconfiança, nos templos, no teatro e entre os
companheiros.
12.30 DO ROUBO
Um roubo praticado sem o uso de violência apenas deveria ser punido com uma
pena em dinheiro. É justo que aquele que rouba o bem de outrem seja despojado do seu. A
pena mais apropriada será essa espécie de escravidão, a única que pode ser chamada de
justa, isto é, a escravidão temporária, que dá à sociedade domínio total sobre a pessoa e
sobre o trabalho do culpado para fazê-lo pagar.
12.31 DO CONTRABANDO
O contrabando produz ofensa ao soberano e à nação, porém cuja pena não deveria
ser infamante, pois a opinião pública não liga qualquer infâmia a esse tipo de crime. Os
homens, aos quais as distantes conseqüências de um ato apenas produzem impressões
fracas, não vêem o prejuízo que o contrabando lhes pode provocar. Não enxergam que o
mal causado ao príncipe e, para recusarem estima ao culpado, só têm um motivo premente
contra o ladrão, o falsário e alguns outros celerados que podem prejudicá-los pessoalmente.
12.32 DAS FALÊNCIAS
A boa-fé dos contratos e a garantia do comércio obrigam o legislados a conceder
recurso aos credores sobre a pessoa de seus devedores, assim que estes abrem falência.
Deve-se, entretanto, não confundir o falido de modo fraudulento e aquele que o faz de boa-
fé. O primeiro teria de ser castigado como os moedeiros falsos, pois não é mais grave o
delito de falsificar o metal amoedado, que é a base da garantia dos homens entre si, do que
falsificar essas mesmas obrigações.
12.33 DOS CRIMES QUE PERTURBAM A TRANQÜILIDADE PÚBLICA
A terceira espécie de crimes que distinguimos é a dos que perturbam, de modo
particular, o repouso e a tranqüilidade pública. Não existe exceção à regra geral de que os
cidadãos devem conhecer o que precisam fazer para serem culpados, e o que necessitam
evitar para serem inocentes.
12.34 DA OCIOSIDADE
Cabe às leis e não à severa virtude de alguns censores, definir a espécie de
ociosidade passível de punição.
12.35 DO SUICÍDIO
Se o castigo ao suicídio fosse aplicado contra os restos sem vida do culpado, não
produziria nenhuma impressão nos espectadores senão a que eles sentiriam vendo fustigar
uma estátua. Se esse castigo é aplicado sobre a família inocente, ele se torna despótico e
odioso, pois já não existe liberdade quando os castigos não são essencialmente pessoais. A
questão fica reduzida em saber se é útil ou perigoso à sociedade deixar cada um de seus
membros uma liberdade perpétua de se afastarem dela.
12.36 DE ALGUNS DELITOS DIFÍCEIS DE SEREM CONSTATADOS
Praticam-se na sociedade alguns crimes que são muito freqüentes, porém difíceis de
serem provados. São, por exemplo, o adultério, a pederastia, o infanticídio. A melhor
maneira de evitar essa espécie de crime seria proteger com leis eficientes a fraqueza e a
desventura contra essa espécie de despotismo, que apenas se ergue contra os vícios que
não podem se cobrir com o manto da virtude.
12.37 DE UMA ESPÉCIE PARTICULAR DE CRIME
O autor do livro, não fala dos crimes mais atrozes à humanidade, como um corpo
humano alimentando chamas. Ele apenas discorre dos delitos que pertencem ao homem
natural e que desrespeita o contrato social.
12.38 DE ALGUMAS FONTES GERAIS DE ERRO E DE INJUSTIÇAS NA
LEGISLAÇÃO
As falsas idéias que os legisladores fizeram da utilidade são uma das fontes mais
fecundas de erros e de injustiças. É ter idéias falsas de utilidade ocupar-se mais com
inconvenientes particulares do que com os ferais; desejar comprimir os sentimentos naturais
em vez de procurar excitá-los; fazer silenciar a razão. Pode-se chamar ainda falsas idéias
de utilidade aquelas que separam o bem geral dos interesses particulares, sacrificando as
coisas às palavras.
12.39 DO ESPÍRITO DE FAMÍLIA
Esta é outra fonte geral de injustiças na legislação. Este espírito é uma minúcia
limitado pelos mais insignificantes pormenores; ao passo que o espírito público, ligado a
princípios gerais, vê os fatos com visão segura, coordena-os nos lugares respectivos e sabe
tirar deles efeitos úteis ao bem da maioria.
12.40 DO ESPÍRITO DO FISCO
É para a mesma finalidade fiscal que se encaminha hoje toda a jurisprudência
criminal, pois as conseqüências permanecem por muito tempo depois de cessadas as
causas. O acusado que recusa declarar-se culpado, ainda que convicto por provas
evidentes, sofrerá um castigo mais leve do que se tivesse confessado; não lhe será aplicada
a tortura pelos outros delitos que poderia ter praticado, exatamente porque não confessou o
delito principal de que está convicto. contudo, se o delito é confessado, o magistrado
apossa-se do corpo do culpado; despedaça-o metodicamente; e dele faz, por assim dizer,
um fundo do qual retira todo proveito que pode. Reconhecida a existência do delito, a
confissão do réu toma-se prova convincente.
Crê-se tornar essa prova menos suspeita quando se arranca a confissão do delito
pelos tormentos e pelo desespero; e estabeleceu-se que a confissão não é mais suficiente
para condenar o culpado se este se mostra calmo, fala com desembaraço, e não está
rodeado pelas formalidades judiciárias e pelo aparato aterrados dos suplícios.
12.41 DOS MEIOS DE PREVENIR CRIMES
É muito melhor previnir os delitos a ter de puni-los ( é preferível impedir o mal que
repará-lo). Se desejas previnir os crimes, faça leis claras e simples; e esteja o país inteiro
preparado a armar-se para defendê-las, sem que a minoria se preocupe constantemente em
destruí-las.
12.42 CONCLUSÃO
A pena deve ser de modo essencial, pública, pronta, necessária, a menor das penas
aplicáveis nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e determinada pela lei.
Pela época em que foi escrita a obra "sub examem", século XVIII , muito trouxe esta
de novo ao pensamento criminalista. O legado que dela se irradia, influenciando gerações
futuras é patente e flagrante.
Teve, Beccaria, uma terrível missão: ir contra os pensamentos dominantes e
arraigados no seio da coletividade em que vivia.
Tratar da humanização e da proporcionalidade das penas, afirmando que "pena justa
é a pena necessária" é o exemplo que deve ser seguido por todas as boas leis.
Ao escrever sobre temas que assolavam à sua época, tais como torturas, pena de
morte, dentre outros, manter-se fiel à sua linha de raciocínio, qual seja, a desnecessidade
de incutir, somente o medo na população, fazendo-se mista, para a consecução de uma
sociedade justa, o investimento na boa educação.
Em sua época, grande foi a valia "Dos delitos", servindo como manual certo e seguro
do magistrado, no momento da dosagem das penas.
Nada obstante, alguns dos seus ensinamentos, hoje já se encontram ultrapassados,
devido à constante evolução do gênio humano. A título ilustrativo poderíamos dizer que,
atualmente, cabe ao magistrado interpretar a lei, e não ao poder legislativo, que a
confecciona, que perscrutar à mente do acusado, em busca de seus desígnios mais íntimos.
Essas máculas, porém, se devem mais ao pensamento da época do que ao Autor
"Dos delitos".
Diante do exposto, tem-se como grande clássico da literatura criminal, que merece
ser lido e estudado por todos aqueles que, como nós, temos um carinho muito especial para
com esse ramo do direito, e pretendermos, futuramente, prestar, mesmo que ínfimos,
nossos préstimos ao estudo do direito criminal.
CONCLUSÃO
Ao concluir o trabalho percebi que a Disciplina Filosofia, vem contribuir em muito com
o operador do Direito, pois é através dela que aprendemos a compreender o pensamento
dos filosóficos contemporâneos como um referencial teórico para o cotidiano do profissional
jurídico, muito em especial para aqueles que querem se destacar na literatura forense.
O pensamento filosófico é a fonte de valores que devemos buscar, assim com os
princípios da ciência jurídica, visando obter uma prática jurídica, completa desde sua base
para atingirmos o topo da pirâmide.
Cada profissional da área jurídica deverá exercitar seu raciocino, observando a
lógica deixada por nossos filósofos, pois se eles obtiveram sucesso com seus pensamento
divulgados e cultuados até nossos dias, seguindo com base nos cursos de Direitos, nada
mais justo creio que será de auto ajuda no decorrer do exercício das atividades jurídicas.
Penso que a Filosófica é para o Direito, assim como a gramática é para a Disciplina
da Língua Portuguesa.
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
AGOSTINHO, Sto. A Cidade de Deus. trad. Oscar Paes Lemes. 7º ed. Rio de
Janeiro: Editora Vozes, 2002.
ARISTÓTELES. A política. Editora Martin Claret, São Paulo: 2005.
CAMPANELLA, T. A cidade do sol. (Á. Ribeiro, trad.). Lisboa: Guimarães.1990
DESCARTES, René, Discurso do Método, São Paulo: Martins Fontes,1989, 102
Páginas
DOM QUIXOTE
Nome da obra Dom Quixote
Nome do autor Miguel de Cervantes
Editora Ática
Edição 1
Data de publicação 1995
Ilustração Victor G. Ambrus.
Numero de capítulos e paginas 17 capítulos e 109 paginas.
Antagonista Cavaleiro da lua cheia.
Personagem Principal Dom Quixote.
Personagens Secundários Dulcinéia Del Toboso, Rocinante, Maria (sua sobrinha) e
Sancho Pança.
Personagens terciários Artur, Lancelot, Rolando, dragão, as duas criadas da
estalagem, o estalajadeiro, o barbeiro, os escravos e guardas que encontra em seu
caminho, Tomas, o padre, Nicolau o Barbeiro, Duque, a Duquesa, feiticeiro Merlin pessoas
que trabalhavam no palácio, Roberto, Jorge e Jerônimo.
Temática Central A historia fala de um homem que decide ajudar as pessoas.
Tempo Cronológico (Se passa na vida real)
Foco narrativo observador (narra em 2 e 3 pessoa do verbo da qual é mero
espectador ou observador)
Linguagem Coloquial (é a linguagem usada no dia)
Enredo Linear (pois a historia tem seqüência inicio )
Espaço a historia se passa em sua casa, na cidade de Toboso, e estradas que
passam procurando por aventuras.
DOS DELITOS E DAS PENAS – César Beccaria
EDUARDO C. B. BITTAR e GUILHERME ASSIS DE ALMEIDA. Curso de Filosofia do
Direito - Editora Atlas S.A – 3ª edição, São Paulo: 2004.
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e
civil.3. ed. Tradução por João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo:
Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores).
MAQUIAVELLI, Nicólo - O Príncipe. Trad. de Lívio Xavier. 6a. ed. Campos do
Jordão: Editora Campos do Jordão, 1999.
MAXIMILIANO, Cláudio Américo Fuhrer. Resumo de Direito Civil, 24ª edição (2001) –
Coleção 3.
MONTESQUIEU, C. L. S. - Do Espírito das Leis- Os Pensadores, 3a edição, Editora
Abril Cultural, São Paulo, 1985.
MORE, Thomas. A Utopia. Porto Alegre; Ed. L & PM: 2001.
PLATÃO. A república. Editora Martin Claret, São Paulo: 2005.
ROUSSEAU, Jean Jacques. Contrato Social. Editora Martin Claret, São Paulo: 2005.