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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - 2008 SUMARIO INTRODUÇÃO UNIDADE I – PARA QUE FILOSOFIA NO CURSO DE DIREITO? 1 IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA 2 PODEM OS FILÓSOFOS MODIFICAR O MUNDO? 3 O CONHECIMENTO HUMANO 4 PARTES DA FILOSOFIA E GRANDES ESCOLAS FILOSÓFICAS 5 ALGUNS REPRESENTANTES DA FILOSOFIA OCIDENTAL 6 MÉTODO, CIÊNCIA, FILOSOFIA E SENSO COMUM 7 FILOSOFIA DO DIREITO: CONCEITO, ATRIBUIÇÕES E FUNÇÕES UNIDADE 2 – PANORAMA HISTÓRICO DA FILOSOFIA EM RELAÇÃO AO DIREITO 1 SOFISTAS: DISCURSO E RELATIVISMO DA JUSTIÇA 2 SÓCRATES: ÉTICA, EDUCAÇÃO, VIRTUDE E OBEDIÊNCIA 3 PLATÃO: IDEALISMO, VIRTUDE E ÉTICA 4 ARISTÓTELES: JUSTISÇA COMO VIRTUDE 5 SANTO TOMAS DE AQUINO: JUSTIÇA E SINDERESE 6 THOMAS MORE : UTOPIA DO DIREITO 7 ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL 8 MARX : HISTÓRIA, DIALÉTICA E REVOLUÇÃO 9 HANNAH ARENDT: PODER, LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS UNIDADE 3 - TÓPICOS ESPECIAIS DAS OBRAS FILOSÓFICAS DO PRO- GRAMA DE IVELAMENTO 1 A REPUBLICA DE PLATÃO 2 A POLÍTICA-ARISTÓTELES 3 A CIDADE DE DEUS-SANTO AGOSTINHO 4 UTOPIA-THOMAS MORE 5 O PRÍNCIPE - NICOLAU MAQUIAVEL

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - 2008

SUMARIO

INTRODUÇÃO

UNIDADE I – PARA QUE FILOSOFIA NO CURSO DE DIREITO?

1 IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA

2 PODEM OS FILÓSOFOS MODIFICAR O MUNDO?

3 O CONHECIMENTO HUMANO

4 PARTES DA FILOSOFIA E GRANDES ESCOLAS FILOSÓFICAS

5 ALGUNS REPRESENTANTES DA FILOSOFIA OCIDENTAL

6 MÉTODO, CIÊNCIA, FILOSOFIA E SENSO COMUM

7 FILOSOFIA DO DIREITO: CONCEITO, ATRIBUIÇÕES E FUNÇÕES

UNIDADE 2 – PANORAMA HISTÓRICO DA FILOSOFIA EM RELAÇÃO AO

DIREITO

1 SOFISTAS: DISCURSO E RELATIVISMO DA JUSTIÇA

2 SÓCRATES: ÉTICA, EDUCAÇÃO, VIRTUDE E OBEDIÊNCIA

3 PLATÃO: IDEALISMO, VIRTUDE E ÉTICA

4 ARISTÓTELES: JUSTISÇA COMO VIRTUDE

5 SANTO TOMAS DE AQUINO: JUSTIÇA E SINDERESE

6 THOMAS MORE : UTOPIA DO DIREITO

7 ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL

8 MARX : HISTÓRIA, DIALÉTICA E REVOLUÇÃO

9 HANNAH ARENDT: PODER, LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS

UNIDADE 3 - TÓPICOS ESPECIAIS DAS OBRAS FILOSÓFICAS DO PRO-

GRAMA DE IVELAMENTO

1 A REPUBLICA DE PLATÃO

2 A POLÍTICA-ARISTÓTELES

3 A CIDADE DE DEUS-SANTO AGOSTINHO

4 UTOPIA-THOMAS MORE

5 O PRÍNCIPE - NICOLAU MAQUIAVEL

6 DOM QUIXOTE-MIGUEL DE CERVANTES

7 O LEVITÃ-THOMAS HOBBES

8 A CIDADE DO SOL-TOMÁS DE CAMPANELLA

9 DISCURSO DO MÉTODO-RENÉ DESCARTES

10 DO ESPÍRITO DAS LEIS-MONTESQUIEU

11 CONTRATO SOCIAL - JEAN J. ROUSSEAU

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12 DOS DELITOS E DAS PENAS-CÉSAR BECCARIA

CONCLUSÃO

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

INTRODUÇÃO

Ao me deparar com a Disciplina Cultura Teológica, na grade curricular do Curso de

Direito, fiquei me questionando, o que o acadêmico de Direito, precisa saber para

posteriormente aplicar no dia à dia de sua profissão.

Ai vem a primeira unidade demonstrando a importância dos filósofos, com seus

pensamentos tentando modificar o mundo, com suas idéias e métodos, tentando, através de

suas escolas filosóficas fixaram seus pensamento na cultura da humanidade, como ciência,

que a seu ponto de vista poderia mudar o mundo.

Para que possamos entender um pouquinho de seus ideais filosóficos, temos que ler

as obras literárias da época, tais como aqueles elencados na unidade terceira do índice,

como seus tópicos na seqüência, que vai desde a mais simples narração, até a fantasia de

Dom Quixote, do nosso ilustre escritor Miguel de Cervantes.

É na segunda unidade que tenho a oportunidade de obter as respostas de meu

questionamento,onde através da leitura, pude conhece um pouco dos pensamento do

época, mais em destaque a frente a filosófica para ser aplicada ao Direito.

UNIDADE 1 - PARA QUE FILOSOFIA NO CURSO DE DIREITO?

1 IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA

Para que se destaque a importância da filosofia, é mister que se debruce a análise

sobre algumas capacidade humanas, delas extraindo-se a atividade filosófica. Nesse

sentido, trabalhando as noções de ação e pensamento, pode-se, por meio dessa dicotomia,

alcançar uma discussão a respeito dos meados filosóficos e do papel da especulação

reflexiva, a reflexão acerca de algo, prioriza-se o alcance de uma proposta coerente de

entendimento. explicando e buscando às causas do fenômeno investigado.

A atitude que pensa os fundamentos, que reclama os princípios, que analisa as

conseqüências, que destaca as origens, que resgata as incongruências... é a atitude

tipicamente filosófica. Em suma, trata-se daquela atitude que observe pela observação, que

demanda especulação, onisciência do fenômeno, e não ação, ou mesmo decisão.

A filosofia não pode estar plenamente comprometida com a ação, sob pena de

converter-se ao tecnicismo decisório, é o homem que investiga a si mesmo, em suas

características intrínsecas, ou em suas projeções sociais.

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2 PODEM OS FILÓSOFOS MODIFICAR O MUNDO?

Seria demasiado exagero considerar que é pretensão dos filósofos modificarem o

mundo. Suas idéias, porém, não se lançam ao mundo sem motivo, sem objetivo, sem

finalidade. Então, o filósofo modifica indiretamente o mundo, pois seu rastro é sua marca

impressa sobre as coisas e as pessoas, à medida que suas idéias são recepcionadas.

Todavia, de qualquer forma, o que há que se dizer é que o filósofo age por meio do

pensamente; seu modo de ação dá-se por meio de palavras, de idéias, de discursos, e de

escritos, que ficam para sempre, a todo tempo em que os leitores a lêem-se concordam com

aquelas idéias, volta a florar na humanidade, e acaba, sendo um assunto que apesar dos

tempos torna-se atualizado.

O pensamento se exerce e desencadeia certa mudança no mundo (modificação

indireta). As pessoas abraçam as idéias. O filosofo age pelo pensamento (ação = palavra,

escritos), mas não está alheio às suas pretensões de ingerência política sobre o mundo, a

pessoa não é um ser só pensantes, somos agentes.

3 O CONHECIMENTO HUMANO

Ele divide-se em: 1) Senso Comum 2) Religião, 3) Técnica, 4) Ciência 5) Filosofia.

1) SENSO COMUM: noções superficiais, assistemáticas, juízos não aprofundados e

retirados da experiência do cotidiano (nem tudo é certo, nem tudo é errado). Ausência de

método, fala de provas. De suas preliminares surge o saber científico.

2) RELIGIÃO: fé (nascida com o ser humano), função de medo, carência de

conhecimento científico, crença em poderes naturais e sobrenaturais, engajamento em

mística, culto, poderes sociais estabelecidos a partir dos poderes religiosos e espirituais.

A verdadeira crença solidifica-se por instrumentos racionais, por expedientes

comprobatórios, lógicos e lúcidos, distanciando-se do fanatismo e da cegueira sectária, isso

quer dizer a fé esclarecida.

3) TÉCNICA: saber – fazer implica meio de interação e adaptação mecânica do

homem com o meio.

Solução prática visando a eficiência, celeridade, menor esforço. O risco da

escravidão tecnológica, com abandono da essencialidade.

O homem sem técnica está a mercê das contingências materiais da vida.

4) CIÊNCIA: manifestação racional que busca a causa dos fenômenos para explicá-

los coloca á prova do raciocínio e da testabilidade empírica as hipóteses formuladas para os

fenômenos que circulam a humanidade.

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5) FILOSOFIA: a especulação distingue-se da mera observação passiva, da

contemplação admirativa. Postula as causas primeiras, explica, critica, ela favorece a

liberdade de pensar. É uma busca racional para as questões que a ciência se julga

incompetente. Não tem compromissos imediatos. Faz questionamentos sobre meios e fins,

princípios e causas, destinos e metas, etc.

4 PARTES DA FILOSOFIA E GRANDES ESCOLAS FILOSÓFICAS

É costume apontar, de acordo, com o acumulo das experiências filosóficas desde a

antiguidade, subdivisões didática dos saberes filosóficos. As classificações são muitas, as

opiniões que de diga que a filosofia se espraia por campos infinitos de conhecimento, à

medida que inesgotáveis são os saberes, e seu as distensões teóricas são as que seguem:

1. Ética: moral, comportamento, costumes, hábitos, atitude perante si e o outro,

limites da ação humana, fins e meio da decisão de agir, regras de proceder (a moral está

sujeito às normas).

2. Lógica: raciocínio, pensamento, encadeamentos racionais, referências, deduções,

abduções, são estas as principais preocupações da filosofia ética.

3. Estética: sensibilidade, arte, imitação da natureza, potencial criativo, juízo do

gosto, invenção. são estas as principais preocupações da filosofia ética.

4. Epistemologia: conhecimento (teoria do), possibilidade de alcance da verdade, são

estas as principais preocupações da filosofia das ciências.

5. Filosofia política: poder, legitimidade, consenso, vontade popular,

representatividade, participação, cidadania, totalitarismo, opressão, desvio de poder,

governo, justiça social, gestão social, são estas as principais preocupações da filosofia

política.

6. Metafísica: origem das coisas, unidade divina, relação criador/criatura,

preexistente do mundo, substância do se, alma, destino, governo do universo, causa das

causas, sentido da vida, são estas a principais preocupações da filosofia metafísica.

7. História da Filosofia: conceitos filosóficos, escolas filosóficas, doutrinas e injunções

históricas das doutrinas, atrelamento entre o pensamento e seu tempo, discussões que

perpassam a história com continuidade e descontinuidade. são estas a principais

preocupações é a história da filosofia .

8. Filosofia da História: os limites do saber histórico, a valoração humana sobre os

fatos passados, os meandros da ação humana sobre a história, as descontinuidades

históricas, a história e sua escrita, a determinação ideológica das práticas e do saber

histórico, são estas a principais preocupações da filosofia metafísica, são estas a principais

preocupações da filosofia da história.

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9. Filosofia da linguagem: o poder de significação das palavras, o pronunciamento do

ser humano sobre a realidade, a dimensão do signo, a dependência da razão da linguagem,

a participação do discurso na construção do arquétipo social, a análise dos instrumentos de

comunicação, a interação social, as diversas linguagens, da gutural à escrita, a manipulação

da linguagem, pó poder persuasivo da linguagem, são estas a principais preocupações da

filosofia da linguagem.

5 ALGUNS REPRESENTANTES DA FILOSOFIA OCIDENTAL

1. TALES DE MILETO (625 – 547aC): primeiro pensador, está entre os sete sábios

da Grécia, destacou-se pelas idéias matemáticas, astronômicas e cosmológicas. Para ele, a

água é o princípio de todas as coisas.

2. ANAXIMANDRO (? – 647aC): o ápeion é o elemento formador e originário do

universo (substância diferente da água, da terra, do ar e do fogo).

3. ANAXÍMENES (546 aC - ?): o ar era a origem de tudo e substância composta da

alma e do universo.

4. PITÁGORAS (572 – 510aC): afinidade com a matemática. Foi pensador e místico

que fundou uma congregação de iniciados. Para ele era possível ouvir os sons dos astros e

explicar a essência das coisas por meio das categorias numéricas e seus sentidos.

5. DEMÓCRITO (460 – 370aC): teoria atomística > elemento individual, o átomo. A

diferença entre os corpos é devido a diferença entre os átomos que os compõem.

6. PROTÁGORAS (490 – 421 aC): sofista. “O homem é a medida de todas as

coisas”. Os sofistas relativizam o absoluto dos pré-socráticos e situam a filosofia no contexto

econômico e político. Protágoras era grande orador e ensinava as estratégias sofistas

mediante pagamento.

7. SÓCRATES (469 – 399 aC): Atenas. Iluminação filosófica, maiêutica, dialética.

Temas morais e antropocêntricos, tratados em praça pública (agorá). Condenado a beber

cicuta, acusado de perverter a juventude e de propalar a adoração a outros deuses. Mártir

da filosofia. “Conheça-te a ti mesmo”, “Só sei que nada sei”.

8. PLATÃO (427 – 347aC). Autor de muitos diálogos, com destaque para a

República. Discípulo de Sócrates. Fundador da Acadêmica de Atenas. Filosofia ontológica e

dualista pressupõe a existência de uma realidade para além da realidade mundana,

representando certa fusão da dialética e da ética socráticas com o orfo-petagorismo e o

sincretismo oriental. Sua doutrina do estado revela o primeiro dos compromissos possíveis.

9. ARISTÓTELES (384–322aC): discípulo de Platão, nascido na Macedônia. Autor

de grandes tratados. Fundador da lógica, biologia. Buscou as causas das coisas e dos

fenômenos. Cf. A política, Ética a Nicômanos, etc.

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10. ZENÃO (334-262aC): fundador do estoicismo grego, doutrina helenística que

colocava o homem em relação e em sintonia com o cosmos. A ataraxía é o meio de

alcançar a virtude e sabedoria.para este pensamento, esta escola encontrou também fortes

adeptos os pensadores romanos .

11. EPICURO (341–271aC): Epicurismo - o conhecimento se origina das sensações

e a felicidade do prazer que pode conduzir ao bem estar máximo e harmonia da alma.

Atenas

12. PLOTINO (205 – 270dC): dá origem ao neoplatonismo, revigorando o estudo

pagão. O Neoplatonismo é uma escolástica (utilização da Filosofia para defesa de verdades

religiosas, reveladas ao homem (o que pode rejeitar uma lei, norma) e que por ele passíveis

de serem redescobertas na intimidade da consciência.

13. AGOSTINHO (354– 430dC): Iniciou-se na retórica e no maniqueísmo, converteu-

se ao cristianismo. Ela consiste na elaboração da doutrina das crenças religiosas do

cristianismo e na defesa contra os ataques dos pagãos e contra as heresias. A Patrística é

caracterizada pela falta de distinção entre religião e filosofia. Ela foi dividida em três

períodos

14. ABELARDO (1079–1142dC): engajado nas discussões medievais dos universais,

é o maior protótipo do período escolástico. Foi hábil instrumentador da lógica, da gramática,

da retórica, da dialética e da razão.

15. SANTO TOMAS DE AQUINO (1225–1274dC): Conciliou dogmas cristãos com

idéias aristotélicas.

16. FRANCIS BACON (1561–1650dC): é de origem inglesa. Considerado o pai da

ciência moderna e da lógica da pesquisa – demonstração do saber (ídola).

17. RENÉ DESCARTES (1596–1650dC): fundador do método cientifico moderno

(analítico ou dedutivo).

18. JOHN LOCKE (1632–1704dC): médico inglês. Há profundo significado político e

filosófico em seu pensamento. Trata da Teoria do Conhecimento e a origem da sociedade

(como meio de garantia de sobrevivência para os indivíduos).

19. VOLTAIRE (1694–1778dC): representante da modernidade (Renascimento), foi

contra a hipocrisia e a intolerância religiosa. Diz-se do seu humor satírico que lhe causa

problemas políticos, resultando em prisão e exílio

20. JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712–1778dC): Conheceu Voltaire e Diderot

(Iluministas). Colaborou na Enciclopédia, redigindo verbetes sobre música.

21. IMMANUEL KANT (1724–1804dC): Sem dúvida, o maior representante da

filosofia do século XVIII, fundou o cretinismo filosofo e trouxe notáveis contribuições aos

temas de lógica, da metafísica.

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22. GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770-1831dC): O filósofo alemão, que

chegou à titularidade da Universidade de Berlin, é o maior representante do idealismos

filosófico do século XIX. Em seu sistema de idéias, a razão domina tudo, pois o saber é a

verdadeira sede ontológica das coisas, sendo a dialética a forma pela qual as coisas entram

em movimento. A idéia do estado é algo semelhante a uma necessidade social de

transformação do anárquico da vontade livre em racional da estrutura burocrática e pensada

na ordem estatal. Hegel é o maior representante do idealismo do século XIX.

23. KARL MARX (1818 -1883dC): Em parte, influenciado por Feurbach e em parte

por Hegel, incrementa o materialismo, tornando-o dialético e histórico, sabendo entrever na

história humana a sucessão de regimes econômicos de expiração e de alternância de

classes dominantes. Identifica estrutura e superestrutura. Sua leitura dos métodos

capitalistas de acumulação primitiva é apuradíssima. Juntamente como Engels, consegue

dar início, bem como acompanhar, os principais movimentos de trabalhadores do século

XIX, ideologia engatilhada sobretudo a partir do Manifesto comunista. Sua doutrina traz

fortes influências sobre os movimentos sociais dos séculos XIX e XX.

24. FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844–1900dC): Representante do

voluntarismo, lança as fundações do miilismo. Sua filosofia irrompe com uma crítica cética à

tradição metafísica ocidental, e discorre sobre a vontade de poder. Para ele a constituição

da realidade decorre de uma explosão multifária de formas desordenadas, e a ética dos

tempos deve ser posta em dúvida pelo método genealógico.

25. EDMUND HUSSERL (1859–1938dC): iniciou seus estudos pela matemática,

passando à lógica e filosofia. É fundador da fenomenologia, corrente de pensamento que

projeto na busca da essência das coisas-em-si a verdadeira meta do saber. Nenhum juízo

sobre as coisas deve estar contaminado pela visão que comumente se tem sobre elas, pois

se torna desde já as coisas obscuro: a identidade de algo decorre de sua natureza e

constituição mais íntimo, e é nisso que consiste a pesquisa fenomenologia, que haverá de

fazer na ser de dentro de si também o existencialismo. busca a essência das coisas em si.

O juízo sobre as coisas não pode estar contaminado pelas visões que se tem sobre elas. A

identidade decorre de sua.

26. MARTIN HEIDEGGER (1889-1976dC): Autor alemão. É fenomenólogo. Deteve-

se na pergunta sobre o ser, especialmente do tema dasein (ser-aí).

27. HANNAH ARENDT (1906–1975dC): Dedicou-se à filosofia política com franca

oposição à intolerância anti-semita e ao nazismo. Discute o poder. Suas contribuições para

a temática da condição humana também são de extrema valia.

28. JEAN PAUL-SARTRE (1905–1980dC): É francês. Está entre o marxismo e o

existencialismo filosófico. Sua obra está focada sobre a figura frágil do homem enquanto

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ser-aí, enquanto ser no mundo. Dedicou-se a temas existenciais, psicológicos, literários,

filosóficos e teatrais. Defesa da liberdade do espírito e certos temas humanistas.

29. JÜRGEN HABERMAS (1929 -----). Faz análise da comunicatividade e dos

discursos sociais. È ligado à teoria hermenêutica, dentro da “Escola” de Frankfurt (base

ético-discursiva).

6 MÉTODO, CIÊNCIA, FILOSOFIA E SENSO COMUM

1.CIÊNCIA. É ponto pacífico que a atividade científica não pode possuir o mesmo

grau de incerteza que possui o senso comum. De fato, se o senso comum corresponde a

um conjunto assistemático de conhecimentos de diversas naturezas, que corresponde à

multiplicidade das informações recebidas e colhidas ao longo de determinado tempo de

experiência humana, a ciência não poderá encontrar-se ao sabor das mesmas incertezas.

A ciência, então, deverá representar o conhecimento sistematizado, especializado,

testado, organizado, diluído em uma trama de postulados metodológicos. Trata-se de uma

prática racional da qual resultam conhecimentos mais rigorosamente testados que aqueles

adquiridos informalmente. Assim é que se pode dizer que o grau de probabilidade e de

certeza nas conclusões científicas é maior que no conhecimento vulgar.

Em suma, o onicompreensivo saber filósofo teve de ceder espaço aos saberes

especializados que irrompiam, que eram conquistados ou descobertos.

2. FILOSOFIA E SENSO COMUM – É freqüente afirmar que a ciência e a filosofia

constituem-se em saberes sistemáticos, complexo, verticalizado e metodologicamente

amparados: são, por isso, saberes diferenciados do saber vulgar esse tipo de preocupação

acaba por concentrar os esforços e as atenções dos doutrinadores e cientistas, que se

distanciam de uma reflexão mais apurada das relações entre a ciência, a filosofia e o senso

comum.

As ciências jurídicas estão algemadas a necessidade que as tornam saberes

parciais, sobre fenômenos sócias, além de saberes normativos sobre fenômeno sociais.

A filosofia do direito é, um meio ao emaranhado das contribuições científicas do

direito, a proposta de investigação que valoriza a obstrução conceitual, servindo de reflexão

crítica, engajada e dialética sobre as construções jurídicas, sobre os discursos jurídicos,

sobre as práticas jurídicas, sobre os fatos e as normas jurídicas. Por sua proposta mais

aberta, livre das amarras do direito vigente, livre dos pré-conceitos contidos na legislação

positiva, descompromissada com a moral.

7 FILOSOFIA DO DIREITO: CONCEITO, ATRIBUIÇÕES E FUNÇÕES

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2 SÓCRATES: ÉTICA, EDUCAÇÃO, VIRTUDE E OBEDIÊNCIA

2.1 SÓCRATES NA HISTÓRIA

Sócrates conviveu com o povo ateniense, Seu campo de especulação não é o da

cosmovisão das coisas e da natureza, mas a natureza humana e suas implicações ético-

sociais. Interagiu e reagiu ao movimento dos sofistas. Seu método maiêutico, baseado na

ironia e no diálogo, tem como finalidade a parturição das idéias e como inspiração a

parturição da vida.

Todo erro é fruto da ignorância e toda virtude é conhecimento. A maior luta humana

deve ser pela educação e a maior das virtudes é a de saber que nada sabe. Condenado a

beber cicuta pelo tribunal ateniense, não se furtou à sentença e curvou-se ante o desvario

decisório dos homens do seu tempo. Para ele a obediência à lei é o limite entre a civilização

é a barbárie.

2.2 ÉTICA SOCRÁTICA

O pensamento socrático é profundamente ético e envolve temas impossíveis de

solução como: o que é justiça? Bem? Coragem, virtude.

Com Sócrates a filosofia converteu-se num éthos (o homem radicado em meio aos

homens). Os temas surgem do convívio da moralidade, das práticas coletivas, das atitudes

do legislador, da linguagem poética. O modo de vida e a filosofia socrática não se separam.

A doutrina ética e o ensino ético de Sócrates retiram-se de seu testemunho de vida.

Sócrates combateu o relativismo sofista, a quem chamava de prostituídos, rompeu

com a tradição e com os ensinamentos de seu tempo. O conhecimento para ele reside no

interior do homem, conhecendo-se a si mesmo, o homem pode conhecer melhor o mundo.

O ensinamento ético de Sócrates reside no conhecimento e na felicidade. Para saber julgar

acerca do bem e do mal é necessário conhecimento (enquanto verdadeira sabedoria e

discernimento). A ética para Sócrates tem a ver com a semelhança com o que é valorizado

pelos deuses. O cultivo da verdade consiste no controle efetivo das paixões e na condução

das forças humanas para a realização do saber, é o que conduz à felicidade.

A filosofia socrática traduz uma ética teleológica, e sua contribuição consistem em

vislumbrar na felicidade o fim da ação. Essa ética tem por fito a preparação do homem para

conhecer-se, uma vez que o conhecimento é a base do agir ético; só erra quem

desconhece, de modo que a ignorância é o maior dos males. Conhecer, porém, não é fiar-se

nas aparências e nos enganos e desenganos humanos, e sim fiar-se no que há de

verdadeiro e certo. Erradicar a ignorâncias, portanto, por meio da educação é tarefa do

filósofo, que na certeza desses princípios, abdica até mesmo de sua vida para re-afirmar

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sua lição e seu compromisso com a divindade. A lição de vida da ética socrática, é já uma

lição de justiça.

Portanto, um misterioso conjunto de elementos éticos, sociais e religiosos

permearam os ensinamentos socráticos, que permaneceram como princípios perenes e

modelares, apesar de não terem sido reduzidos a escrito, mas que se transmitiram e se

consubstanciaram principalmente no pensamento platônico,surtindo seus reflexos nas

demais escolas que se firmaram na doutrina socrática.

Ao contrário de fomentar a desordem, o caos, a insurreição, sua filosofia prima pela

submissão, uma vez que a ética do coletivo está acima da ética do indivíduo. Seu

testemunho de vida bem provou essa convicção no acerto da renúncia em prol da cidade-

estado. Onde está a virtude está a felicidade, e isso independente dos julgamentos

humanos a respeito.

A condenação do Sócrates, além de ter-lhe propiciado a oportunidade de questionar

com sua vida a justiça citadina, também produzir sérios efeitos e deixou aprofundas marcas

na história da filosofia.

3 PLATÃO: IDEALISMO, VIRTUDE E ÉTICA

3.1 PLATÃO NA HISTÓRIA

Platão (427 – 347aC), filósofo grego nascido em Atenas foi discípulo de Sócrates e

fundador da Academia. Seu verdadeiro nome era Aristóteles, em uma homenagem ao seu

avô. Platão significa largura, e é quase certo que seu apelido veio de sua constituição

robusta, ombros e frontes largos, um porte físico forte e vigoroso, que o fez receber

homenagens por seus feitos atléticos na juventude.

O pensamento platônico acolhe a principal parte das premissas socráticas, através

de seus diálogos.

3.2 IDEALISMO, VIRTUDE E TRANSCEDÊNCIA ÉTICA

A filosofia platônica é decorrente de pressupostos transcendentais sobre a alma e

sua preexistência, a reminiscência das idéias e sobre a subsistência da alma.

A rigor Platão, diferentemente de Sócrates distanciou-se das questões políticas. Ao

invés de ensinar na agora, como Sócrates fazia, Platão decepcionado com o governo dos

Trinta Tiranos, ensinava em ambiente separado onde o pensamento pudesse fluir com

tranqüilidade, a Academia.

A ética platônica destina-se a elucidar que a ética não se esgota na simples

localização da ação virtuosa e de seu discernimento com relação à ação viciosa.

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De suas principais figuras textuais, de seus principais mito, podem-se inferir lições

que fazem a alma orienta-se de acordo com padrões de conduta ditados com base na noção

de Bem. Se sua natureza é metafísica, também a natureza da verdadeira e definitiva justiça

será metafísica. Ao se moldar a conduta de acordo com estes reclamos, estará,

definitivamente, a alma a orientar-se de acordo com o Bem; ao desviar-se destes, estará,

literalmente, deixando o barco ser guiado pela correnteza e não pelo timoneiro. No controle

das outras partes da alma pela alma racional reside a harmonia da virtude: no descontrole, o

vício.

De qualquer forma, a educação da alma tem por finalidade destinar a alma ao

pedagogo universal, ao Bem Absoluto. No mundo, a tarefa de educação das almas, para

Platão, deve ser levada a cabo pelo Estado, que monopoliza, no diálogo da república, a vida

do cidadão. A educação dever ser pública, com vistas no melhor aproveitamento do cidadão

pelo Estado e do Estado pelo cidadão. Assim justiça ética e política movimentam-se, no

sistema platônico, num só ritmo, sob a melodia de uma única e definitiva sonata, cujas notas

são as idéias metafísica que derivam da Idéia primordial do Bem.

Tamanho idealismo filosófico haveria de produzir condições favoráveis para o

desenvolvimento de uma corrente de pensamento igualmente contundente, mas

profundamente empírica: o aristotelismo.

4 ARISTÓTELES: JUSTISÇA COMO VIRTUDE

4.1 ARISTÓTELES NA HISTÓRIA

Aristóteles (384–322aC), vindo da Macedônia, foi atraído pela intensa vida cultural da

cidade que lhe poderia propiciar oportunidades de prosseguir os estudos. Tinha certas

dificuldades de pronunciar corretamente as palavras. Ingressou na Academia de Platão,

onde permaneceu por vinte anos.

As obras de Aristóteles eram de dois tipos de composição: as endereçadas ao

grande público e os escritos ditos filosóficos ou científicos, que eram lições aos alunos do

Liceu. Estas últimas foram as únicas que se conservaram, embora constituam pequena

parte do total que a ele é atribuído.

À Política segue-se a Retórica, que se vincula, devido ao tema, à arte da

argumentação ou dialética exposta.

4.2 A JUSTIÇA COMO VIRTUDE

A justiça tem sede no campo ético (saber prático). O saber aristotélico é fruto da

reunião das opiniões dos sábios, do povo e da experiência prática.

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As contribuições de Aristóteles para o tema da discussão da justiça são inúmeras,

vistos que sua teoria redimensiona o entendimento do problema, conceituando,

classificando, organizando, sistematizando o que anteriormente se discutia sem maior rigor.

A justiça aqui é entendida como sendo uma virtude, e portanto, trata-se de uma

aptidão ética humana que apela para a razão prática, ou seja, para a capacidade humana

de eleger comportamentos para a realização de fins. O entendimento da temática da justiça

em Aristóteles fica definitivamente grafado como sendo um debate ético: a ciência prática

que discerne o bom e o mau, o justo e o injusto se chama ética. Assim, aqui fica claro que a

justiça ocorre inter homines, ou seja, trata-se de uma prática humana e social bem

delimitada: a justiça é uma virtude. Para que se diga isto se está necessariamente

recorrendo à noção de médium terminus.

Tudo parte da reflexão que faz do homem um ser gregário, e isto por natureza. Não

só. Além de gregário para sua subsistência, é também político. Se por natureza, política, e

por natureza, racional, então o homem exerce essa sua racionalidade no convívio político.

Não de outra forma a racionalidade humana se exerce, senão em sociedade, na polis, e

assim por meio do discurso. E certo que na polis, na acepção que Aristóteles confere ao

termo, não é qualquer comunidade de homens: é sim, uma comunidade humana soberana e

auto-suficiente, autarquia, com vistas ao melhor e não simplesmente à satisfação das

necessidade básicas de subsistência.

Em se tratando de uma virtude, que se exerce em função da racionalidade, então, há

que se dizer, a justiça participa da razão prática, e seu estudo pertence ao campo das

ciências práticas, o que guarda relação com a ação e não com a teoria, como querem

alguns. Trata-se, pois, mais de algo que se pratica e do qual se extrai um resultado ativo;

Trata-se menos de algo que se pensa.

Justiça e injustiça são questões atinentes ao campo da razão prática. É a justiça

qualidade, afecção, bondade, auto-realização, ou o quê? É ela, aristotelicamente, virtude

ética, e nada mais. Seu campo é o da ponderação entre dois extremos, o da injustiça por

carência e o da injustiça por excesso. Com este apelo ao virtuosismo, reclama-se maior

espaço para a atuação da prudentia, e dos de mais tributos da racionalidade humana, o que,

em todos os sentidos, tem sido subestimado pelo homem moderno. Talvez seja esta uma

forma de se retornar a valorização do problema a justiça como um problema genuinamente

humano ou mais, puramente humano.

Mas que isso, a justiça não se realiza sem a plena aderência da vontade do

praticante do ato justo a sua conduta. Aquele de pratica um ato justo, não necessariamente

é um homem justo, pode ser um bom cidadão.

Ainda além da justiça há algo que com ela guarda profunda relação, que não pode

ser chamada justiça, e este algo é a eqüidade. Tem-se, pois, que a justiça requer uma

Page 13: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

pluralidade de classificações atinentes a sua diversas concepções, de acordo com cada

situação, e um algo para além de seu juízo de mediedade, ou seja, a eqüidade.

Assim, o tema da justiça vem inteiramente recoberto por uma análise percuciente de

seu umbrais: os quadrantes do problema vêm notoriamente bem delimitados na teoria

aristotélica. A justiça total destaca-se como sendo a virtude total de observância da lei. A

justiça total vem complementada pela noção de justiça particular, corretiva, precedida pela

noção de igualdade aritmética ou distributiva, presidida pela noção de igualdade geométrica.

Cumpre ao juiz debruçar-se na equanimização de diferenças surgidas da desigualdade; é

ele quem representa a justiça personificada. Para além da lei, porém, da justiça e de tudo o

que se disse, está a noção de amizade, como a indicar que onde há amizade, definida em

sua pureza conceitual, não é necessária a justiça.

5 SANTO TOMAS DE AQUINO: JUSTIÇA E SINDERESE

5.1 SÃO TOMAS DE AQUINO NA HISTÓRIA

São Tomás de Aquino (1225 – 1274d.C):Ícone da Filosofia Cristã, ocidente medieval.

Conciliou dogmas cristãos com idéias aristotélicas, sua principal obra foi Summa

Theolótgica.

5.2 JUSTIÇA E SINDERESE

A filosofia tomista encontra-se estrutural e visceralmente comprometida com os

Sagrados Escritos, de um lado, e com o pensamento aristotélico, de outro.

No entanto os pilares de seus escritos são estes que se indicam como principais

fontes de inspiração de seu pensamento, claramente fecundo e vasto, seja pela proporção

de sua obras, seja pela qualidade de sua doutrina teológica, que haveria de converter-se em

doctrina perennis, além de coligir opiniões, sua doutrina converte-se num foco de dispersão

de uma nova forma de conceber o conhecimento, aliando fé e razão.

A dimensão da teoria tomista sobre a justiça são incrivelmente vastas. Abrangem-se,

com suas concepções, a atividade do legislador, a atividade do juiz, o que é pela natureza,

por força divina, e o que é por força de convenção. Mais que isso, todo este aparato de

classificações permite explorar com certeza e clareza o terreno teórico elaborando por

Tomás de Aquino para o cultivo de suas idéias. Ou seja, para além da letra do que

concebeu como sendo o justo e o injusto, percebe-se a preocupação que transparece de

sua teoria de recobrir como apuro os diversos espectros pelos quais se desdobra o

problema. Com esta visão mais larga da justiça, e, portanto, mais crítica, sua resposta ao

problema aparece mais completa e racional.

Page 14: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Sua contribuição reside em seu jus naturalismo, sendo que sua teoria admite uma lex

naturalis mutável, e que portanto, não se encontra nos ombros estreitos do que é absoluto.

Ademais, sua concepção transcende para a lei divina, da qual faz derivar tudo, o que foi

gerado por força da razão divina. Nesse sentido, todo conteúdo de direito positivo deve-se

adequar às prescrições que lhe são superiores e fontes de inspiração: o direito natural e o

direito divino. Nesse sentido, os transcende à lex scripta: a lei posta pela autoridade não

exaure o Direito.

Além disso, resta como resposta ao que seja o justo, ou melhor, a qual seja o

conceito de justiça: trata-se de um hábito virtuoso, de uma reiteração de atos direcionados a

um fim e voluntariamente concebidos pela razão prática, no qual reside a vontade de dar a

cada um o que é seu.

O apego e fundamentos teológicos para a aplicação do justo, claramente delineado

no pensamento tomista, com o advento do Renascimento e do Iluminismo, tendo a reduzir-

se vez a vez mais.

6 THOMAS MORE : UTOPIA DO DIREITO

6.1 THOMAS MORE NA HISTÓRIA

Thomas More (1478–1535dC): destacou-se por sua luta intelectual, propondo uma

possível solução utópica em seus pensamentos filosóficos.Completou seus estudos em

Oxford. Sua formação humanística incluía o conhecimento de obras filosóficas-políticas de

grande importância, como as de Santo Agostinho e de Platão.Sua condenação à morte em

1535, em função de uma desavença político-religiosa com Henrique VII, mais tarde foi

canonizada, passando a ser identificado como São Tomás Morus, sua principal obra intitula-

se UTOPIA.

6.2 UTOPIA DO DIREITO

É esse o homem que publica, em 1516. A Utopia, cujo objetivo é apresentar o melhor

estado da república. Claro, esse humanista pensa na Cidade Ideal de Platão, mas não se

trata aqui essencialmente, de uma celebração de um pensamento antigo. Thomas morre

pode muito bem dar à sua obra o aspecto da descrição – bastante detalhada, a cidade

filosófica de lugar nenhum, bem como à propriedade privada em que faz severa crítica os

governos. Da época e, em especial, à Inglaterra, ao mesmos tempo que propõe a criação de

um Estado ideal, sabidamente impossível, cujo protótipo modelo é o da ilha imaginária que

descreve, em pleno funcionamento, com governo perfeito, habitada por cidadãos sabidos e

felizes.

Page 15: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Da análise social. Ressalta-se que o trono tem sido utilizado por seus ocupantes

como mero instrumento de satisfação de seus desejos e caprichos, distanciando-se de sua

função inicial, que era a organização social e a condução harmônica do conjunto para o

alcance do escopo social por todo idealizado.

O modelo utopiano de organização social, política, econômica e jurídica refunda a

realidade em novas bases, nitidamente. Destacasse a atenção pelo sistema comunal de

produção e pela divisão do trabalho de acordo com a aptidão de cada membro do corpo

social. Além das condições geográficas as mais favoráveis, Utopia oferece a seus

habitantes ordem, abundância de alimentos, sistema jurídicos organizado, sistema político

participativo, integração prova-poder e divisão de tarefas na construção dos ideais sociais.

Outro aspecto importante da obra, que aqui deve ser ressaltado, é quanto à

consideração de Morus sobre as instituições jurídicas de seu momento, que compactuavam

com a perpetuação das eqüidade. Em Utopia inexiste a excessiva burocracia e a

inoperacionalidade do sistema jurídico devido à excessiva quantidade de normas, leis e

regulamentos, bem como a grande distância existente entre o povo e a ordem jurídica,

sendo esta inteligível e manuseável unicamente por seus técnicos, torna-a pouco

democrático.

Apesar de distante da consecução de seu escopo, quando More escreveu sua Utopia

não tinha, de fato, preocupação com sua implantação efetiva a realidade: a ilha é um lugar

inexistente. Mas, desta miragem sobre a Terra è que se extraem lições encantadoras sobre

o poder que os homens possuem de cunharem seus próprios encantadoras destinos sociais.

A Utopia, além de obra de devaneio intelectual, é ainda ferramenta crítico-teórico que se

coloca na fileira dos escritos sobre as necessidade de justiça no meio social.

7 ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL

7.1 ROUSSEAU NA HISTÓRIA

Jean Jacques Rousseau (1712–1778): sueco (Genebra) de língua francesa, de

família calvinista. Órfão de mãe foi abandonado pelo pai aos dez anos. Conheceu Voltaire e

Diderot (Iluministas). Colaborou na Enciclopédia, redigindo verbetes sobre música.

7.2 CONTRATO SOCIAL

1. Para Rousseau o homem é naturalmente bom e a sociedade o corrompe. O cultivo

das ciências e das artes conduz ao ócio e promove a decadência moral e deteriora os

costumes;

2. Rousseau faz apologia do instinto, com exaltação da emoção e do sentimento em

oposição ao racionalismo progressista (é precursor do Romantismo);

Page 16: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

3. Para Rousseau a desigualdade social teve origem na propriedade, que também

gerou o Estado despótico. O Estado ideal deve ser o resultado de um acordo entre os

indivíduos que cederiam alguns de seus direitos para se tornarem cidadãos. A base desse

acordo é a VONTADE GERAL (coletivamente soberana). Há em Rousseau uma

interpretação paradisíaca da vida no Estado da natureza. A pena de morte é um ato

ilegítimo do Estado. A vida não é alienada ao Estado no pacto social.

Não se pode conceber a teoria da justiça reousseauniana senão como uma grave

crítica aos desvios do poder, aos desmando da política, ao desgoverno das leis, em fim, às

instituições humanas em seu status quo. Nesse sentido é que a idéia de um pacto que

originasse o convívio sócio-humano em bases sólidas poderia representar, filosoficamente,

o argumento-vetor para todo um conjunto de pensamentos, caminhando não no sentido da

renúncia à vida comum, à vida agremiada, mas às iniqüidade advindas da deterurpação dos

fins aos quais se destina a agremiação.

Re-fundar os ditames do convívio social, nisso reside o envolver teórico de Jean

Jacques Rousseau. Sua proposta, por um só ato, mantém a ordem do Estado, renuncia ao

caos e à desordem implantados, instituto o culto do estado de natureza, privilegia a

liberdade e enaltece os fins sociais. Com isso, quer-se opor, sem dúvida por sobreviver

numa sociedade que é tão ou mais iníqua que seu estado natural, fazendo do pacto

sociopolítico o meio para o perfazimento da justiça.

A justiça, aqui reside no respeito pelo que da natureza humana deflui, não se

podendo ultrapassar os limites que são ditados pelo ato de concessão de poder quando do

perfazimento do contrato. A injustiça, neste caso, representa o próprio e entrelaçamento do

poder com fins que não correspondem à vontade geral dos contratantes, mas com outras

propostas de seduções ditadas pelos interesses particulares.

O contrato não é pura ficção reousseauniana, nem descrição de uma historia da

formação da sociedade. Deste modo, sublinhava categoricamente uma necessidade

racional: indicava como se deveria constitui o ordenamento jurídico, a fim de se

conservarem socialmente íntegros os direitos que o homem por natureza já possui.

8 MARX : HISTÓRIA, DIALÉTICA E REVOLUÇÃO

8.1 MARX NA HISTÓRIA

Karl Marx (1818 -1883): Filho de um advogado e conselheiro de justiça e

descendente de judeus, nasceu em Treves, capital da província alemã da Renânia. Após os

estudos prelimires em sua terra natal, matriculou-se na Universidade de Bonn, onde iniciou

o curso de Direito, logo interrompido, pois seu interesse maior concentrava-se nos estudos

Page 17: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

de História Filosofia ingressou posteriormente na Universidade de Berlin.Onde em parte,

influenciado por Feurbach e em parte por Hegel, incrementa o materialismo, tornando-o

dialético e histórico, sabendo entrever na história humana a sucessão de regimes

econômicos de expiração e de alternância de classes dominantes. Identifica estrutura e

superestrutura. Sua leitura dos métodos capitalistas de acumulação primitiva é

apuradíssima.

Juntamente como Engels, consegue dar início, bem como acompanhar, os principais

movimentos de trabalhadores do século XIX, ideologia engatilhada sobretudo a partir do

Manifesto comunista. Sua doutrina traz fortes influências sobre os movimentos sociais dos

séculos XIX e XX., sua principal obra foi O capital: e a Crítica da filosofia de direito de Hegel.

Publicou varias obras dentre elas Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel.

8.2 DIALÉTICA E REVOLUÇÃO

A dialética exerce exatamente a mesma função na mente humana. Uma idéia

desnudada engalfinha-se apaixonadamente com sua antítese, criando uma síntese: esta,

por usa vez, transforma-se na nova tese, a ser devidamente seduzida por um novo amante

demoníaco. Dois erros podem formar um acerto – mas. Logo depois do nascimento, esse

acerto converte-se noutro erro, que tem de ser submetido ao mesmo escrutínio rigoroso que

sues antepassados, e assim vamos avançando. Em si mesmo, o embate de Marx com Intel

foi uma espécie de processo dialético, do qual emergiu o bebê sem nome que viria a se

transformar no materialismo histórico.

Duas conclusões decorrem desses fatos

1) O comunismo já é reconhecido como força por todas as potências da Europa.

2) é tempo de os comunistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver,

seus fins e sua tendências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do aspecto do

comunismo.

Com este fim, reuniram-se, em Londres, comunistas de várias nacionalidade e

redigiram o manifesto seguinte, que foi publicado em vários idiomas.

As forças econômicas em interação na história, a luta de classes como o móvel da

sociedade, a civilização do homem pelo trabalho, numa indesculpável perversão do papel

existencial do homem, são fatores que destacam o marxismo para uma forte crítica social. E

isso é analisado na teoria marxista não somente como um fato contemporâneo e

passageiro, mas também como uma constante história, que por forçosamente presente,

haveria de gerar a operação burguesa em fase da fraqueza proletária. Eis a dialética

econômica da história.

Page 18: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

“Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e

companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido

numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada: uma guerra que terminou sempre, ou

por uma transformação revolucionário da sociedade inteira, ou pela destruição das duas

classes em luta”

Engajado no plano dos fenômenos, o marxismo torno-se uma bandeira políca-

ideológica no mundo inteiro, com sensíveis repercussões sobre o Direito a Política, a

Economia, e mesmo sobre as relações internacionais entre estados de modo que

desconsidera-la em seu profundo papel de modificação da sociedade contemporânea seria

equívoco teórico inescusável.

O pensamento marxista encontra seus reflexos na área do Direito, apesar de não ver

neste a saída para a história das iniqüidades praticadas de homem sobre homem, de

sociedade para sociedade. O Direito é servil com relação ao poder, e expressa as

dimensões exatas da relação explorador-explorado, não permitindo a abertura dos horizonte

da igualdade, que somente seria possível com a instauração de uma ditadura provisória do

proletariado, para um passo seguinte, em que nem o direito e nem o Estado teriam lugar.

9 HANNAH ARENDT: PODER, LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS

9.1 HANNAH ARENDA - NA HISTÓRIA

Hannah Arendt (1906 – 1975 = 69aC). Dedicou-se à filosofia política com franca

oposição à intolerância anti-semita e ao nazismo. Discute o poder. É judia alemã.

9.2 PODER, LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS

Poder é definido com os seguintes termos por Hannah A. “O poder corresponde à

habilidade humana não apenas para agir, mas para ir em concerto. O poder nunca é

propriedade de um indivíduo: pertence a um grupo e permanece em existência apenas na

medida em que o grupo conserva-se unido. Quando dizemos que alguém está no poder, na

realidade nos referimos ao fato de que ele foi empossado por um certo número de pessoas

para agir em seu nome.

A partir do momento em que o grupo. Do qual se originara o poder desde o começo,

se, um povo ou grupo não há poder, desaparece seu poder, também se esvanece.

Em seu uso corrente, quando falamos de um homem poderoso ou de uma

personalidade poderosa, já usamos a palavra poder metaforicamente: aquilo a que nos

referimos sem metáfora é o vigor.

Politicamente o ponto é o de que com a perda do poder torna-se uma tentação

substituí-lo pela violência – em 1968, durante a Convenção democrática, em Chicago,

Page 19: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

pudemos assistir a este processo pela televisão - e essa violência por si mesma resulta em

impotência.

Para Hannah Arendt, ao prescindir da violência como elemento de definição do

exercício do poder, inaugura uma nova forma e pensar a política. Essa deixa de ser vista

como algo utilitário, com interesse de alcançar determinando fim. Assim transformar-se no

exercício da construção do espaço público, espaço no qual manifesta-se-à a singularidade

de cada ser no momento da ação. Essa manifestação conjunta do agir traçará os nortes da

vida coletiva daquela específica comunidade.

Significa dizer: Onde há política, há espaço público; onde há espaço público há

diálogo; onde há diálogo, há direitos a ação política gandhiana e o Direito Internacional dos

Direitos Humanos, ao tornarem imprescindível a manutenção do espaço da ação, são

exemplos pra dogmáticos da tentativa de construção desta nova política, delineada por

Hannah Arendt, não um instrumento de controle r opressão, mas uma senda para libertação

de cada um e de todos nós.

UNIDADE 3. TÓPICOS ESPECIAIS DAS OBRAS FILOSÓFICAS DO PROGRAMA

DE NIVELAMENTO

1 A REPUBLICA DE PLATÃO

A obra escrita por este importante filosofo é composta por 10 (dez) livros, escritos

com ênfase na grande quantidade de definições e conceitos construídos a partir do discurso

dialético. Utilizando a figura de Sócrates e seus discursos junto a outros cidadãos da cidade,

a república preocupou-se em traduzir o conhecimento das verdades essenciais a fim de se

chegar à realidade do mundo social, expondo ideais políticos, jurídicos e morais. Isso fez

com que os conceitos fossem elaborados a partir de argumentos que pudessem convencer

e mudar opiniões de cada cidadão, demonstrando exemplos práticos e imaginários, a partir

de conceitos norteadores daquela época. Ao ser lido, cada um dos livros da obra a república

irá se tentar, expor de maneira mais clara, o teor ideológico contido em seus escritos,

comentando e analisando as diversas situações apresentadas na obra.

No livro I da mencionada obra, há o início do discurso dialético entre Sócrates e

Cefálo, onde basicamente o último já achando sem condições de ir ao encontro de Sócrates,

ressalta que já está velho e por isso quer que ele (Sócrates), vá até seu encontro. A partir

daí, Sócrates começa a afirmar que, na verdade, vê a velhice como uma fonte de sabedoria

e não como uma forma de se abster do prazer da juventude, até porque é com a velhice que

pode vir à sensatez e a experiência que o tempo trás, melhorando assim a vida. Isso porque

para Sócrates a melhora de vida vem quando alguns problemas são deixados de lado, ou

ainda, quando há mudança de caráter. A questão do caráter, segundo Sócrates, faz com

Page 20: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

que o homem passe a não ter os mesmos problemas que possuía quando jovem, ou seja,

sua consciência muda, consequentemente, há um novo estilo de caráter que muda a própria

condição do homem, fazendo com que seu estilo de vida melhore gradativamente, conforme

seu caráter.

A partir dessa afirmativa, Sócrates dá início a suas explicações sobre o que significa

para o homem ter caráter ligado a sua melhora de vida. Segundo ele, na velhice daquele

que comete injustiças é temerosa porque não sabe o que a morte pode trazer como

conseqüências. O que não comete tais atos vai lembrar da velhice não como temerosidade,

mas com bons "olhos", tendo em vista que não fez nada que desabone sua conduta. Como

se pode observar esse foi o primeiro aspecto levantado dentro da obra referente ao aspecto

da justiça. Pois para Platão, o homem só tem paz de espírito quando pratica a Justiça, ou

seja, a justiça trás para o próprio homem que a prática, grande esperanças e segui-la são o

melhor caminho. Depois disso, há ainda, um discurso simples, porém com grande

importância sobre o aspecto da riqueza trazer a vida na velhice grande melhora, segundo o

protagonista da história (Sócrates), a riqueza somente trás conseqüências boas quando o

homem tem caráter, para administrá-la, senão nada adianta.

Como foi dito anteriormente, a questão da velhice, na verdade foi um via de acesso

para se chegar ao conceito de justiça, visto que, para os cidadãos daquela cidade, não era

fácil conceitua-la, tanto que para uns o conceito de justiça era simplesmente restituir a cada

um o que é devido; sendo assim justiça deveria ser praticada como uma forma de

retribuição daquilo que cada um faz. Cefálo chegou a afirma que para ele Justiça era então,

prejudicar os maus, visto que, eles (os maus) só pensavam em prejudicar os outros, e

ajudar os bons, pois estes só praticavam a bondade. Replicando isso, Sócrates contra-

argumenta que não é isso, até porque a realidade que se pode observar pode não ser a

realidade dos fatos, ou seja, pode haver pessoas boas que praticam o mau; e boas más que

praticam a bondade; ou ainda, as pessoas camufladas de bondosas, mas que na realidade

são maldosas. Com isso, Sócrates fez cair por terra à idéia de Cefálo, mas não explicou

definitivamente o que era então justiça.

De forma que, outros suscitaram que a justiça era a política do mais forte, inclusive

afirmando que o Estado rege as leis para impor aos governados, no sentido de que os que

transgridem as leis são considerados injustos. Analisando essa afirmativa, observa-se que

segundo esse critério para se chegar ao conceito de justiça, o Estado era bastante forte

(tinha poder de imposição), e, portanto, poderia fazer o que bem entender, e se caso alguém

violasse o preceito estabelecido por ele, era passível de punição (física ou de liberdade),

traduzindo está idéia, a justiça na verdade era feita pela parte que tinha mais poder, para

elucidar mais ainda, é necessário observar um trecho da obra, a saber:

Page 21: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

“Uma vez promulgadas as leis, fazem saber que é justo para os governados aquilo

que lhes convém, e castigas os transgressores, a titulo de que violaram a lei e cometeram

uma injustiça...".

Sócrates observar de outra forma, ressaltando a idéia de que nenhum governo ou

pessoa, por mais poderosos que seja não governa para si, mas para seus súditos. Então, se

o poder lhe foi dado, foi porque os próprios súditos assim o quiseram. Fazendo uma

analogia do que Sócrates afirmou, será que a frase, "cada povo tem o governo que merece",

faz jus a afirmativa de Sócrates. Serão os povos que vivem sobre governo de um tirano,

realmente não escolheram isso, ou melhor, será que não querem mudar isso, e acabam se

conformando. Como então afirmar que é um governo tirano, na verdade, é um governo

escolhido pelo povo, não há de se falar em tirania. Para findar esse livro, foi ressaltado que

a Justiça, na verdade seria uma forma de saber, que se transforma em virtude do homem,

sendo um conceito maior que injustiça, que seria um vício que está presente no homem,

porém alguns desenvolvem com maior furo, outros nem tanto.

No livro II, já vem embasado no termino do livro I, já iniciando a discussão sobre as

leis e normas, tendo em vista que essas editadas pelo Estado, serão que evitam o beneficio

e malefícios das injustiças para uns e para outros, ou seja, será que somente com aplicação

das normas e das leis se é capaz de afetar os benefícios e vantagens auferidas por alguns

quando há injustiças, em razão dos prejuízos causados a outros, como bem pode ser

observado no trecho retirado da própria obra, a seguir:

"Dizem que a injustiça é, por natureza, um bem e sofrê-la, um mal, mas que ser

vítima de injustiça é um mal maior do que o bem que há em cometê-la".

Segundo Sócrates, o lema da injustiça é parecer ser justo, sem na verdade o ser. Ou

ainda, demonstrar algo que na verdade, não ocorre como os poetas que na verdade, apenas

imitam, de maneira, que os poetas apenas demonstram ter amor, mas não o tem. Essa idéia

faz com que se imagine que a realidade, não tenha uma lógica natural, podem ocorrer

coisas na vida que não são programas, não são coerentes. Como por exemplo, as pessoas

que praticam a bondade e a justiça, podem ser vítimas de injustiças, claro que isso ocorre

naturalmente.

Segundo os cidadãos que discutiam com Sócrates, seria fatalidade ou vontade de

um deus, rechaçando essa idéia o protagonista da história o deus não é culpado do que

ocorre, na verdade, o culpado disso é o próprio homem, tendo em vista que ele trás consigo

da sua própria natureza a possibilidade de mudar conforme sua vontade, conforme sua

consciência pode o homem praticar o que achar ser justo (o que pode para outro ser

injusto), ou simplesmente ser injusto (e na opinião de outros estarem praticando o que seria

justiça). Aqui se pode observar perfeita, a questão da opinião individual, a opinião do ser

humano traduz seu próprio interesse diante de uma situação, ou seja, os seres humanos

Page 22: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

podem observar uma mesma situação, e conceitua-la de justa ou injusta, conforme sua

consciência. Consciência está que dirige seus atos durante a vida.

Porém, alguns injustos por natureza, não praticam, mas a injustiça, não por remorso

a consciência ou por simples virtude, mas por medo da velhice e as futuras conseqüências

que podem advir de tanta maldade durante a juventude. Com isso Sócrates quer dizer que

na verdade, este ser humana, não pratica a justiça por ser sua virtude, mas por esta

tentando enganar a si mesmo, tentando praticar atos que não condizem com sua própria

natureza. Vale lembrar aqui aquela discussão feita no Livro I, a respeito da velhice e porque

alguns a encaram com tanta frustração e tristeza.

O Livro III fará uma ligação da consciência com a justiça, pois ela está presente na

natureza do ser humano, mas porque alguns não a desenvolvem, o protagonista explica a

partir deste novo capítulo os motivos que podem determinar a evolução da consciência da

cada pessoa. No discurso de Sócrates a consciência humana livre e justa nasce com cada

individuo, porém dado a alguns fatores pode não vir a surgiu o que dá origem aos homens

injustos. Para que isso não ocorre é necessário que a educação do ser humano seja

baseada em princípios éticos e morais, que visem o aprimoramento dessa virtude humana,

caso isso não ocorra, o ser tende a ficar aprisionado pelo vício da injustiça, que

acompanhará desde a juventude até sua velhice, e conseqüentemente morte. Sócrates

ressalta, além desses fatores éticos e morais, em seu discurso outro fator bastante

importante, pois aqui voltado ao tema central, ou seja, a justiça.

Segundo ele, a experiência de vida para aprender, é um dos grandes aliados na

forma da consciência humana no que tange as tendências para a justiça ou para a injustiça.

Tanto que chega a dar um exemplo prática que pode ter reflexo até nos tempos atuais, é o

caso do individuo que se torna juiz, para Sócrates para ocupar esse cargo, a pessoa não

deveria ser novo (pouca idade), pois devido pouca sua vivência e experiência de vida no

mundo real, faria com que acabasse realizando julgamento abastados e que não expressem

basicamente o que seria justiça, ocasionando possíveis injustiças. Com a própria

experiência de vida, o ser humano poderia acumular conhecimentos que dariam mais

firmeza a seus conhecimentos, pois não ficariam atreladas apenas algumas informações

que poderiam, na verdade, ser uma forma de impedir que a virtude pudesse se instalar na

própria consciência do homem.

Sim, pois o homem que se acha conhecedor suficiente de algo, na verdade, não o é,

passa da virtude do sábio à ignorância do perverso, conforme o comentário que se obteve:

"Efetivamente, o vício não poderá jamais conhecer-se a si e a virtude, ao passo que

com o tempo, a virtude, se as qualidades naturais forem aperfeiçoadas pela educação,

atingirá o conhecimento cientifico de si mesmo e do vício".

Page 23: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Dentro desta discussão, o protagonista começa a dar início a outro conceito ligado

aos demais já observados durante a obra já lida, são justamente as características do ser

que passa ao cargo de governante das cidades. Partindo das idéias expostas por Sócrates,

o governante não deveria ficar atrelado a apenas um ou outro conceito (conhecimento),

deveria ter conhecimento diversificado, dominando habilidades em vários campos para

assim conseguir administrar a cidade com perfeição. Com isso, começa a discussão sobre a

questão da ética na política, tendo em vista que vários são os governantes políticos que

sequer, tem conhecimento da sua função, dirá dos problemas que os súditos que os

elegeram possuem, e que confiam nele, por isso o elegeram.

Para Sócrates, o cargo de governante ou chefe, deveria ser preenchido por aquele

que realmente possuí esse preparo, destacado dentre os demais cidadãos, conforme prevê:

"deus recomenda aos chefes, em primeiro lugar e acima de tudo, que aquilo em que devem

ser melhores guardiões...". E é a partir do conhecimento adquirido durante a experiência de

vida, que pode o chefe ou governante, desenvolver aptidões do conhecimento que o

auxiliam no ardo trabalho da administração daquilo que lhe foi confiado.

Fazendo uma ligação a esses conceitos, teoricamente isolados, durante o discurso

dialético feito por Sócrates, o livro IV traz a idéia que o Governante que trás conceitos

amplos para a administração da cidade, o faz bem baseado na virtude consciente e honesta,

podendo ocorrer dessa forma, a justiça. Caso isso não venha ocorrer, possivelmente, a

cidade, estará fadada ao caos e a injustiça social. Segundo Sócrates, a cidade que tiver

maus governantes ou governantes injustos não terá progresso social, porém se tiver

governantes bons e for bem administrada terá felicidade e a população pode ter grandes

avanços dentro do aspecto social, desenvolvendo uma consciência virtuosa e justa. Observe

como é citada tal referência dentro da própria obra:

"A república, uma vez que esteja bem lançada, irá alargando como um círculo.

Efetivamente, uma educação e instrução honestas que se conservam tornam a natureza

boa, e por sua vez, naturezas honestas que tenham recebido uma educação assim tornam-

se ainda melhores que os seus antecessores, sob qualquer ponto de vista, bem como sob o

da procriação, tal como sucede com os outros animais".

Também é necessário ressaltar algo interessante, O livro VI da República revela o

que há de mais divino e supremo para Sócrates, o que está no ponto mais alto, o único a

estar além da justiça: o bem.

O bem para Platão é para onde direciona todas as almas, todos os homens. É aquilo

que todos nós almejamos e buscamos alcançar. Para Sócrates, quem atinge essa espécie

de bem é filósofo, pois está no ponto mais alto das operações da alma. O bem é o único a

estar acima da justiça, o que tanto se investiga na República. O bem, como dito, possui

caráter unificador, é supremo e alcançado pelo filósofo. As características do bem e suas

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relações com as pessoas justificam o governo do filósofo: quão ordenada será a cidade que

possua no seu comando um governante filósofo, de acesso ao bem e que contagiará a

cidade com toda essa ordem. Dando continuidade a essa idéia o livro V, estabelece o

conceito de que uma cidade boa e reta é conseqüência da administração de um homem

certo e justo; apesar de que nem todos os homens são pessoas boas, apesar de

naturalmente todos serem iguais.

Dentro dessa concepção, Sócrates faz referência ao fato de que mesmo, numa

cidade governada por honestos e justos, há possibilidade de seus filhos (cidadãos) desta

cidade não desenvolvem tais aptidões, pois a própria natureza humana os faculta a

possibilidade de escolher o caminho que querem percorrer inclusive o caminho do mal e do

vício. Há dentro deste livro uma analogia feita em comparação da Cidade e o Corpo, ambas

tem administradores próprios, a cidade seu governante e o corpo o seu dono, se os seus

administradores não estiverem bem, consequentemente, a coisa que administram não

estará bem. Mas o Livro V de "A república" estabelece a diferença entre o "Ser" e o "Não-

ser", Sócrates em seu discurso faz referência que o ser na verdade traz o conhecimento e a

sabedoria e o não ser traduz-se em ignorância e falta de conhecimento, e é aqui que tem

expressado significância à palavra filósofo, pois este é amigo da sabedoria.

O não-ser, ligados a atos e fatos sem estrutura embasada, traz meras opiniões, não

cabendo assim, falar de filosofia, pois pela própria composição da palavra Filosofia, não

significa amigos das opiniões, mas amigo da sabedoria. Tendo em vista que opiniões estão

ligadas à consciência de cada pessoa, porém, essa consciência pode ser fundada em

injustiças que não traduzem a verdade, e a se não traduzem a verdade, não são reais.

Consequentemente, se não são reais, não podem ser considerados como forma de

conhecimento, ainda mais cientifico, consequentemente, opiniões não são verdades, pois

podem mudar conforme a consciência daquele que as proferiu, portanto, está fora do

aprimoramento humano, que tenta ser justo e verdadeiro. Daí em diante é o início do livro

VI, esclarecido quem é filofoso e quem não é, inclusive demonstrando que há cegos que

não enxergam devido às próprias questões físicas, e os ignorantes que apesar de

fisicamente perfeitos, não conseguem ver.

Esse discurso apesar de ser metafórico, faz referencia ao fato dos ignorantes não

conseguirem enxergar, não é a visão natural, mas sim a visão para os fatos do

conhecimento, os que não possuem aptidão a filosofia, não possuem essa faculdade

humana de enxergar o conhecimento, consequentemente, tornam-se cegos e imperfeitos,

ocasionando sua ignorância para as questões do mundo, criando uma falsa realidade

daquilo que os rodeia. E para isso, é necessário que desde cedo, o ser humano, passe a

tentar desenvolver essa aptidão (filosofar), pois somente dessa forma outras virtudes serão

também desenvolvidas, segundo o discurso do protagonista da obra.

Page 25: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Aliás, Sócrates chega afirma que isso não é tarefa fácil, necessita de muito esforço

desde cedo, para que seja dado início o seu desenvolvimento, talvez por isso a maioria das

pessoas (multidão), acabe não se importando com isso, e preferindo o lado mais fácil, ou

seja, optar pela ignorância, isso fica bem explicito no discurso abaixo:

- "É impossível que a multidão seja filósofo".

- Impossível.

- "Logo, é forçoso que os filósofos sejam criticados por ela".

Passando agora, a um dos mais importantes escritos dentro da obra, o Livro VII, traz

o chamado mito das cavernas, Platão quis mostrar muitas coisas. Uma delas é que é

sempre doloroso chegar-se ao conhecimento, tendo-se que percorrer caminhos bem

definidos para alcançá-lo, pois romper com a inércia da ignorância (agnosis) requer

sacrifícios. A primeira etapa a ser atingida é a da opinião (doxa), quando o indivíduo que se

ergueu das profundezas da caverna tem o seu primeiro contanto com as novas e imprecisas

imagens exteriores. Nesse primeiro instante, ele não as consegue captar na totalidade,

vendo apenas algo impressionista flutuar a sua frente. No momento seguinte, porém,

persistindo em seu olhar inquisidor, ele finalmente poderá ver o objeto na sua integralidade,

com os seus perfis bem definidos. Ai então ele atingirá o conhecimento (episteme).

Essa busca não se limita a descobrir a verdade dos objetos, mas algo bem mais

superior: chegar à contemplação das idéias morais que regem a sociedade - o bem, o belo e

a justiça. Partindo dessa idéia, pode-se colocar a citação feita no livro VII da seguinte

maneira: Há dois mundos. O visível é aquele em que a maioria da humanidade está presa,

condicionada pelo lusco-fusco da caverna, crendo, iludida que as sombras são as

realidades. O outro mundo, o inteligível, é apanágio de alguns poucos. Os que conseguem

superar a ignorância em que nasceram e, rompendo com os ferros que os prendiam ao

subterrâneo, ergueram-se para a esfera da luz em busca das essências maiores do bem e

do belo. O visível é o império dos sentidos, captado pelo olhar e dominado pela

subjetividade; o inteligível é o reino da inteligência percebido pela razão.

O primeiro é o território do homem comum preso às coisas do cotidiano, o outro, é a

seara do homem sábio (filósofo) que se volta para a objetividade, descortinando um

universo diante de si.

Daí se pode tirar a contribuição da educação no papel do ser humano que vive sobre

reflexo desses dois mundos tão antagônicos e tão próximos e é por isso, justamente que se

pode dizer, que por educação, ou melhor, por formação, entende-se a capacidade não só de

encontrar na alma de cada cidadão quais suas reais capacidades, suas qualificações, como

despertá-las, aperfeiçoa-las e conduzi-las ao bom caminho. Segundo Platão, todo homem

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nasce com uma alma (psique) divida em três partes: o apetite, a coragem e a razão, que,

por sua vez, materializam-se nas virtudes da temperança, valor e sabedoria. Cabe ao

educador fazer desenvolver uma delas (que se sobrepões às demais) e orientar o indivíduo

a ocupar o seu devido lugar na sociedade.

No entanto, como seria recebido aquele que conhecendo as maravilhas fora da

caverna obscura do não conhecer, voltasse a ela, onde estão aqueles que jamais tentaram

se aventurar a sair dela e descobrir o que tem do lado de fora, provavelmente, segundo

Sócrates, iria se sentir desconfortado, pois na verdade seria considerado um louco, O

recém-vindo certamente seria unanimemente hostilizado. Dessa forma, Platão traçou o

desconforto do homem sábio quando é obrigado a conviver com os demais homens

comuns. Não acreditam nele, não o levam a sério. Imaginam-no um excêntrico, um

idiossincrático, um extravagante, quando não um rematado doido (destino comum a que a

maior parte dos cientistas, inventores, e demais revolucionários do pensamento tiveram que

enfrentar ao longo da história).

No livro VIII, Platão utiliza a dialética para tentar demonstrar as formas de governo,

dentre as quais já se deparou durante a sua existência na Grécia Antiga, a saber:

Timocracia, Oligarquia, Democracia e Tirania que são formas de governo narrados

comumente cada uma delas e destacando como é sua aplicabilidade dentre as cidades, e

quais os seus principais problemas. Aqui o discurso apesar de dialético, vem trazer não tão

explicitamente a idéia sobre a Justiça, mas na verdade sobre o que seria a política, e as

formas como ela pode ser feita. Um dos pontos que vale ressaltar do próprio texto é a

respeito da tirania, como bem se pode observar a seguir:

"O tirano tem de eliminar todos esses, se quiser governar, até não deixar ninguém

dentre amigos e inimigos, que tenha alguma valia"

A afirmativa utilizada soa como uma forma de humor negro, porém retrata

exatamente o que o autor quis expor. Inclusive, é bom lembrar que no fim do Livro VIII, o

protagonista da história chega a se questionar sobre o fato de uma das formas de governo

elecandas, poderiam evoluir para outras, como por exemplo, a tirania para a democracia.

No livro IX, a obra faz referência às formas de governo estabelecidas pelas cidades e

possivelmente já analisadas no Livro VIII, ou seja, como será regido cada povo e as

respectivas almas características a cada um e compararam a vida do homem justo e a do

homem injusto, baseado justamente no que tange essa forma de governo. Segundo ele um

homem se torna tirano, quando por sua natureza ou hábito, ou por ambos, acaba se

entregando as paixões e vícios que norteia não apenas a vida, mas o pensamento que o

cerca. O que ressalta uma idéia já observa nos livros anteriores desta obra de que o tirano,

na verdade, não possuem virtudes apenas interesses, sendo que desta forma jamais

poderia ser chamado de filosofo. Sendo assim, Toda a argumentação desenvolvida no livro

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IX não visa senão demonstrar que não há nada mais infeliz do que a tirania e nada mais

feliz do que a realeza.

A justiça e a felicidade, de início focalizado no plano individual, finalmente, revelam-

se uma e a mesma para o indivíduo e a pólis. A ontologia que faz a mediação dessa

passagem é tão somente aquela que, no plano ético, visa submeter à causa segunda,

inescapável coerção da parte mortal da alma humana – cerco insaciável dos sentidos (dos

prazeres, das aquisições, das conquistas e do poder) - à simetria proporcionada pela

Justiça, a menos imperfeita e a mais feliz imagem do bem.

O Livro X, último da obra, desenvolve, primeiramente, a justificativa de a poesia ser

banida da cidade e, em segundo lugar, o relato mítico de razoavelmente esperançoso, do

que acontece com a alma após a morte do indivíduo. No livro X é discutida a poesia como

forma de educar as crianças, maneira muito comum entre os gregos de transmitir

conhecimento, de educar e formar os futuros cidadãos. Há também a questão da imitação

da verdade, que muitos de nós aceitamos possivelmente, sem o devido questionamento ou

indagação a respeito do que ocorre então, no livro X há um deslocamento do foco da

discussão e esta recairá unicamente sobre a poesia imitativa ou mimética. Sendo assim, o

problema do livro X não é mais como determinar se a poesia imitativa seria ou não

adequada à educação dos jovens daquela cidade ideal, mas o de mostrar por que ela não

dever mais ser executada, nem ouvida, ao que parece, por ninguém dessa cidade justa.

O livro X tem basicamente três objetivos: o de esclarecer qual a natureza da mimese

que é a base da poesia imitativa, o demonstrar que os poetas não têm conhecimentos

verdadeiros sobre os assuntos de que parecem falar tão bem, iludindo a inteligência dos

espectadores através do encanto da poesia e, por fim, o de associar a poesia à pior parte da

alma em detrimento da parte mais sábia e racional que deveria governar as demais.

2 A POLÍTICA-ARISTÓTELES

Neste livro Aristóteles fala sobre a seleção natural, uns nascem para mandar e

outros para receberem ordens, a relação entre senhor escravo, economia doméstica, a

justiça é à base da sociedade, cada família é uma porção do estado.

Cita:

Tales de Mileto, em relação ao monopólio de mercadorias.

Sócrates aprova que o estado seja uno, pois a política é uma espécie de sociedade,

o tratado de leis baseia-se nisso.

Platão no seu tratado de leis pensava que seria necessário conceder um certo

desenvolvimento sem permitir a nenhum cidadão possuir uma fortuna cinco vezes maior que

o menor.

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Faléias - dupla igualdade da fortuna. Para Aristóteles o remédio desses males não e

igualar as fortunas, mas fazer de modo que os homens dotados de natureza não queiram se

enriquecer.

Hipotamos de Mileto que escreveu sobre a melhor forma de governo que consiste

em uma república de 10 mil cidadãos e a dividia em três classes: uma dos artesões,

lavrados e guerreiros. Ele imaginava só três espécies de leis: a injúria, o dano e o homicídio.

Sobre o governo de Creta. Em todo o estado bem constituído os cidadãos devem ser

eximidos dos cuidados que exigem as primeiras necessidades, as leis referentes às

mulheres eram falhas, tinham belíssimas leis sob vários aspectos de pouca importância.

Os Cartigines, a falhas na constituição cuja base é ao mesmo tempo aristocrática e

demagógica.

Cidade – Cidadão: Aquele que uma parte legal na autoridade deliberativa e na

judiciária chama cidadão da cidade assim constituída e cidade e a multidão de cidadãos

capazes de bastar a si mesmo e de obter, em geral, tudo que é necessário a sua existência.

A questão de saber se a virtude do homem de bem é a mesma do bom cidadão, para

ele três coisa fazem os homens bons e virtuosos; a natureza, os costumes e a razão.

Ele vê a virtude do bom cidadão é a mesma do homem de bem, mostra ao mesmo

tempo certos estados, o bom cidadão e o homem de bem constituem uma só pessoa; em

outros eles se separam e que os indivíduos em geral não são cidadão, mas apenas homens

políticos que sós ou em companhia de outros, são ou podem ser senhores dos interesses

comuns da cidade, pois o interesse geral reúne os homens, pelo menos em quanto dessa

união possa resultar a cada uma parte de felicidade e concedem a outro poder de garantir

seus interesses, como eles próprios garantiriam os deles.

Não é somente para viver, mas para ser felizes que os homens estabelecem entre si

a sociedade civil, o que mais importa para o estado são aqueles que melhor contribui para

formar tal associação.

Cada individuo que compõe será sem duvida pior juiz que os que os entendidos,

mais reunidos julgarão melhor ou pelo menos não julgarão pior, porque o soberano não é

um juiz, um senador ou um membro da assembléia, mas o tribunal, o senado e o povo. Para

isso é preciso que os governos sigam as leis.

Aristóteles refere à palavra justiça sendo há mesmo tempo ao interesse geral da

cidade e ao interesse particular do cidadão.

Um povo para ser governado por reis é aquele que por natureza pode suportar a

dominação de uma família dotada de virtudes superiores que a fazem próprias para o

governo do estado. Assim no governo perfeito, a virtude do homem de bem é forçosamente

a mesma que a do bom cidadão. É, pois, evidente também que com os mesmos meios e as

Page 29: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

mesmas virtudes que constituem o homem de bem, constitui geralmente um estado

aristocrático ou monárquico.

Para ele o melhor governo é aquele que possua uma constituição tal que todo

cidadão possa ser virtuoso e viver feliz. Para a formação de uma sociedade civil, coisas há

que a natureza deve dar outras que o legislador deve procurar, pois compete a ele achar o

meio de tornar os homens virtuosos regular os exercícios que podem conduzi-lo a virtude e

determinar qual é o fim da vida perfeita.

Ele fala dos estados gregos que possuíam o melhor governo e legisladores, mas eles

esqueceram de ter em vista as virtudes das leis, educação e dirigiam para a ambição.

Aristóteles acreditava que eles não eram felizes e nem tiveram um legislador que foi sua

culpa não lhes ensinar a desejar o repouso. Eis que é necessário prestar os primeiros

cuidados ao corpo, antes da alma em seguida do instinto.

Primeiro dever do legislador é garantir as crianças que se educam uma constituição

robusta o mais possível, ele deve antes disso ocupar –se do casamento e das qualidades

que os esposos devem trazer a união e por fim dar aos filhos uma constituição física que

corresponde aos seus desejos, pois todos os estados que desprezaram com a educação

dos jovens prejudicam grandemente por isso. Então a três coisas a observar em relação à

educação a meio termo, a possibilidade e a conveniência.

O governo é a ordem estabelecida na distribuição das magistraturas. Estas são

distribuídas por todos os cidadãos, sob a influencia daqueles que nelas tomam parte ou

segundo principio de igualdade comum quer dizer os pobres e aos ricos com direitos iguais.

A política também só reconhece um governo perfeito, cuja forma é ora oligárquica, quando é

mais concentrada e despótica, ora popular, quando tem atividades doces e moderadas. A

elementos que entre si disputam a igualdade no governo: a liberdade, a riqueza e a virtude.

Aristóteles entra na questão qual é o melhor governo e qual a vida mais feliz para a

maioria dos estados e dos indivíduos. Em resposta diz que jamais existiu uma forma de

governo de todas essas considerações se depreende claramente qual é o melhor governo e

porque ele é o melhor, o exame das qualidades e condições da constituição convém à

natureza e ao caráter desde ou daquele.

O mesmo examinou a natureza das causas que produzem as revoluções nos

estados, às vezes os cidadãos se revoltam contra o governo, com o fim de mudar em outra

forma a constituição estabelecida por ex: a democracia em oligarquia ou a oligarquia em

democracia ou estas em republica ou aristocracia ou é contra a forma estabelecida que se

revoltam, mas em deixá-la subsistir os descontentes querem eles próprios governar.

Assim se encerra as idéias de Aristóteles em seu livro "A política".

3 A CIDADE DE DEUS-SANTO AGOSTINHO

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Esta obra é composta de vinte e dois livros. Foi escrita mais ou menos em 10 anos

(416-427), a obra traz um roteiro sobre a invasão de Roma por Alarico, Rei de Visigodos, em

410. Todo orbe reconhecido foi abalado pela queda de Roma e todos, até mesmo alguns

cristãos, culpavam o cristianismo pela queda da cidade.

Todos, cristãos e não cristãos, acusavam o Cristianismo: o Deus do amor e da

caridade não serve para institucionalizar, isto é, organizar e defender uma civilização e uma

cultura. 410 é a demonstração prática da fraqueza política de Deus dos cristãos. (LEÃO,

2002, p. 17).

Como é notório, Agostinho trata do problema da história na Cidade de Deus, e

resolve-o ainda com os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção. A Cidade

de Deus representa, talvez, o maior monumento da antigüidade cristã e, certamente, a obra

prima de Agostinho. Nesta obra é contida a metafísica original do cristianismo, que é uma

visão orgânica e inteligível da história humana. O conceito de criação é indispensável para o

conceito de providência, que é o governo divino do mundo; este conceito de providência é,

por sua vez, necessário, a fim de que a história seja suscetível de racionalidade. O conceito

de providência era impossível no pensamento clássico, por causa do basilar dualismo

metafísico. Entretanto, para entender realmente, plenamente, o plano da história, é mister a

Redenção, graças aos quais é explicado o enigma da existência do mal no mundo e a sua

função.

Cristo tornara-se o centro sobrenatural da história: o seu reino, a cidade de Deus, é

representada pelo povo de Israel antes da sua vinda sobre a terra, e pela Igreja depois de

seu advento. Contra este cidade se ergue a cidade terrena, mundana, satânica, que será

absolutamente separada e eternamente punida nos fins dos tempos.

Nos dez primeiros livros Agostinho tenta mostrar como o culto aos deuses não

proporcionam nem a felicidade temporal e nem, tampouco, a felicidade eterna. Nos cinco

primeiros livros acentua a inutilidade do culto aos ídolos para alcançar a felicidade eterna. A

partir do livro sexto e até o décimo ressalta o quanto é frívolo cultuar aos deuses esperando

obter deles a felicidade eterna.

Agostinho distingue em três grandes seções a história antes de Cristo. A primeira

concerne à história das duas cidades, após o pecado original, até que ficaram confundidas

em um único caos humano, e chega até a Abraão, época em que começou a separação. Na

Segunda descreve Agostinho a história da cidade de Deus, recolhida e configurada em

Israel, de Abraão até Cristo. A terceira retoma, em separado, a narrativa do ponto em que

começa a história da Cidade de Deus separada, isto é, desde Abraão, para tratar paralela e

separadamente da Cidade do mundo, que culmina no império romano. Esta história, pois,

fragmentária e dividida, onde parece que Satanás e o mal têm o seu reino, representa, no

Page 31: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

fundo, uma unidade e um progresso. É o progresso para Cristo, sempre mais claramente,

conscientemente e divinamente esperado e profetizado em Israel; e profetizado também, a

seu modo, pelos povos pagãos, que, consciente ou inconscientemente, lhe preparavam

diretamente o caminho.

Depois de Cristo cessa a divisão política entre as duas cidades; elas se confundem

como nos primeiros tempos da humanidade, com a diferença, porém, de que já não é mais

união caótica, mas configurada na unidade da Igreja. Esta não é limitada por nenhuma

divisão política, mas supera todas as sociedades políticas na universal unidade dos homens

e na unidade dos homens com Deus. A Igreja, pois, é acessível, invisivelmente, também às

almas de boa vontade que, exteriormente, dela não podem participar. A Igreja transcende,

ainda, os confins do mundo terreno, além do qual está a pátria verdadeira. Entretanto, visto

que todos, predestinados e ímpios, se encontram empiricamente confundidos na Igreja -

ainda que só na unidade dialética das duas cidades, para o triunfo da Cidade de Deus - a

divisão definitiva, eterna, absoluta, justíssima, realizar-se-á nos fins dos tempos, depois da

morte, depois do juízo universal, no paraíso e no inferno.

É uma grande visão unitária da história, não é uma visão filosófica, mas teológica: é

uma teologia, não uma filosofia da história.

A segunda parte da obra compreende todos os livros restantes e será sobretudo nela

que Agostinho irá desenvolver a sua teoria das duas cidades. Nela tratará tanto da origem e

o desenvolvimento das duas cidades, quanto de seus respectivos fins. Vejamos as palavras

do próprio Agostinho:

Nos dez livros precedentes, respondi aos inimigos da Cidade Santa, tanto quanto

pude, com a assistência de nosso Senhor e Rei. Agora, consciente do que de mim se

espera e lembrando-me de minha dívida, empreenderei, no favor do mesmo Rei e Senhor

nosso e meu escasso valor, falar da origem, desenvolvimento e fins devidos das duas

cidades ( XI, I, p. 19).

A origem das duas cidades, conforme Agostinho, remonta à queda dos anjos.

Contudo, o que as fundada, de fato, são dois amores: o amor de si levado ao desprezo de

Deus, a cidade terrena; o amor de Deus que leva ao desprezo de si, a cidade celestial.

Por fim, resta acentuar uma última questão. Estas duas cidades se distinguem

também pela doutrina. Enquanto na cidade terrena se permite que a verdade conviva com o

erro, na cidade de Deus – neste ponto Agostinho parece identificá-la com a própria

instituição Igreja – aqueles que pregam o erro devem ser dirigidos e, caso persistam em sua

perversidade, se tornam hereges e devem ser excluídos da comunhão eclesial, passando a

ser vistos como inimigos.

4 UTOPIA-THOMAS MORE

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O livro a Utopia Thomas More, mostra uma sociedade organizada estatalmente, na

qual a comparo com o socialismo e acredito que serviu de base para este sistema de

governo, e que também esta diretamente ligada as idéias Platônicas, More, explica a

organização dessa sociedade através de um personagem chamado Rafael, um senhor de

idade q conhece em umas de sua viagens e que de acordo com os relatos feito a more ele

escrevi a obra a utopia.

O livro começa com um "Prefácio do Tratado da melhor forma de governo", que se

trata de uma carta redigida à um amigo, Pierre Gilhes, com a qual Thomas Morus envia seu

livro que descreve a República de Utopia, que lhe fora relatada por Rafael, um amigo que

vivera em Utopia.

Ele também fala da organização de classes sociais dos criados de famílias nobres,

artesãos e até camponeses, todas as classes sociais, entregaram-se a ostentação no

vestuário e à extravagância na alimentação. Além dos restaurantes do grande número de

casas de prostituição, das tabernas e cervejarias. A jogatina imoral que essa gente se

entrega. Passai uma lei que obrigue todos que destruam cidades a reconstruí-las, ou

entregá-las a alguém que esteja disposto a fazê-lo. Limitai o direito que os ricos tem de

comprar toda e qualquer coisa, e de estabelecerem verdadeiros monopólios. Enquanto

essas coisas continuarem a existir não tens o direito de dizer que justiça é isso que fazem

com os ladrões. "Trata-se, quando muito, de uma justiça ilusória que nada tem de real ou

socialmente desejável."... Até que em todas as esferas da vida humana os homens decidam

até que ponto os mandamentos divinos.

Essa organização social tinha uma preocupação muito grande em não estimular as

desigualdades sociais, a em algumas decisões eram até muito radicais, pois os Utopianos

eram obrigados a se vestirem de uniformes para não estimular este tipo de vicio.

A obra de Thomas More traz dois conceitos centrais na concepção da ilha que está

toda enraizada em duas idéias: a não existência da propriedade privada é o alcance dos

interesses individuais, entendido como apenas viável, se feito através do preenchimento

prévio das necessidades coletivas. Todos os outros elementos do funcionamento tanto dos

costumes, quanto da cultura, como do governo são diretamente ligados a esses pontos. O

autor vê a propriedade privada como a essência das mazelas do homem. Da mesma forma,

a necessidade de ver a sociedade como uns conjuntos de subordinar os interesses

individuais aos coletivos são as únicas maneiras de alcançar prosperidade e progresso.

A descrição da ilha é feita com base numa comparação com a Inglaterra do seu

tempo, que tem uma função de negativo. É perfeitamente possível entender Utopia como

uma anti-Inglaterra. A Inglaterra de More não é mais medieval, os valores não são mais

exatamente os da nobreza, embora muito ainda reste dessa época. A revolta de More contra

Page 33: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

o dinheiro, a moeda, contra a desigualdade material e concentração de riquezas e contra a

propriedade da terra, que já não é entendida por ele como direito natural de posse,

demonstra o quanto já era acelerado na Inglaterra esse processo em direção ao capitalismo.

Não são os valores medievais que More critica, são os que mais tarde serão chamados de

valores burgueses.

Na época de More, a terra era a principal fonte de riqueza e trazia consigo também

poder político e status. Na Inglaterra, ela já era considerada uma mercadoria e a nobreza

inglesa estava num processo em que cada vez mais passaria a pensar como a burguesia,

isto é, empresarialmente. As enclosures que fazem parte desse processo de transformação

da terra em propriedade privada e, por conseqüência, mercadoria, vão resultar na

necessidade dos camponeses assalariarem-se e aqueles que até então conseguiram

produzir para si, nas terras comunais, vão tornar a ser explorados por um grupo de

proprietários.

O outro ponto central, é as necessidades e a felicidade coletivas predominantes às

individuais, têm grande força na concepção do governo da ilha. Não é à toa que a ilha tem

um governo democrático e similar ao republicano. É por conta dos governantes europeus. A

visão de Thomas More dos governantes, ao contrário do que se pode pensar está longe de

ser ingênua. Ele sabia muito bem com quem estava tratando.

O poder de uma classe militar, apenas preocupada com seus interesses, com seus

privilégios, alimentados exatamente pela guerra – outro grande mal eleito por More, por sua

vez também derivado da desigualdade material. Ao identificar nos governantes hereditários

e intocáveis essa falta de ligação com o bem comum, criticava também o direito divino, o

poder legitimado pela tradição. É natural então a defesa que faz da democracia como forma

de governo. E é uma das componentes mais importantes de seu discurso a deslegitimarão

que faz ao poder real e ao poder da aristocracia. Fica extremamente claro para ele que o

único governante legítimo é aquele escolhido pelos cidadãos. É muito forte a necessidade

de um governo democrático, eleito e diretamente ligado aos interesses do povo. Por sinal,

esse povo do qual fala não é um pequeno grupo restrito, não é um recurso ideológico (e

demagogo) que visa tornar os interesses de alguns poucos os de todos.

Os mais velhos, e por conseqüência para More, os mais sábios, teriam mais

capacidade de decidir o que é melhor para todos. Em Utopia, as decisões políticas são

feitas com base em uma estrutura que tem como as células básicas a divisão em famílias.

Cada família é comandada pelo homem mais velho, e certo número de famílias vai eleger

um magistrado regional (sifograntes ou também chamado filarca) que as governará. Cada

dez destes obedece a um magistrado superior, também eleito (protofilaraca ou traníboras), e

os sifograntes ainda elegem um príncipe. Os traníboras e o príncipe reunidos são os

senados, e deliberam a política da ilha. Mesmo assim há um rígido controle da base popular

Page 34: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

sobre o que o senado pode fazer. Com relação às mulheres nada é dito do papel delas na

política, mas fica subentendido que esse papel está reservado aos homens. Por outro lado,

a participação das mulheres na sociedade é bem igualitária, na educação, no treinamento

militar e na divisão do trabalho.

Por exemplo, mesmo o casamento sendo rigidamente controlado de acordo com as

necessidades coletivas, ambos os noivos deverão estar de acordo com o matrimônio. Da

mesma forma, o divórcio é tão restrito ao homem quanto à mulher (daí a necessidade de

escolher bem os cônjuges antes).

Os escravos de Utopia não são entendidos como parte do povo. A eles é reservado o

papel de parias, e que executam os trabalhos mais duros e indignos. Mas esse papel é

reservado a eles não por serem estrangeiros ou por hereditariedade, e sim por serem

criminosos ou soldados estrangeiros vencidos e poupados. O alfabeto Utopiano, segundo

Peter Giles, apresenta bases latinas e gregas.

Esse rígido controle é encontrado também nos costumes. More entendeu que uma

sociedade tão diferente no funcionamento e nas suas raízes deveria ter também uma cultura

e ética totalmente diferente, e tentou encontrar os pontos onde os costumes contribuiriam

para a manutenção dessa sociedade.

De acordo com More, o trabalho coletivo resultaria numa produção muito acima da

necessária para a manutenção da sociedade. Parte pode ser reservada para

eventualidades, outra parte doada para os pobres de alguma nação vizinha. Uma outra

parte é reservada para ser vendida a nações vizinhas que queiram comprar. O dinheiro

resultante não teria utilidade se não houvesse nações gananciosas e belicosas. Mas como

Utopia é uma ilha de paz e igualdade num mundo de violência e exploração, esse ouro vai

ser utilizado para contratar exércitos mercenários para proteger a ilha, sempre fora das

fronteiras, e subornar os exércitos adversários.

Thomas More escreveu uma obra onde descreve uma sociedade que entende como

melhor que aquela onde vivia. Isso todos sabem. O próprio nome da ilha acaba colaborando

essa concepção geral de que Utopia (que vem do grego, ou-topos: lugar nenhum) é

considerada como o local onde se encontraria a sociedade ideal, e sendo ideal inalcançável.

Mas embora o nome da ilha indique que esta exista em um lugar nenhum, ela é situada

geograficamente na América, no novo mundo.

O deus dos utopianos, que More faz questão de frisar, seria muito parecido com o

cristão, antes de tudo quer que seus crentes busquem o prazer e não prejudiquem ao

próximo. Este seria o Deus onipotente, universal, mas em utopia as pessoas também

poderiam seguir outras religiões restritas, e cultas variados, ou seja, o autor defendia idéias

de liberdade e tolerância religiosas.

Page 35: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

As nítidas influências de Platão nos escritos de More também nos levam a esse

raciocínio. Não é difícil perceber que a Republica de Platão foi crucial para a criação dessa

sociedade perfeita, várias vezes More cita os escritos do filósofo grego. A concepção de

Utopia deve muito as idéias deste pensador, e as conseqüências do livro também. O

conceito de idealização é geralmente ligado a algo perfeito e inalcançável que está longe do

mundo real.

4.1 CONCLUSÃO

Ao concluir este trabalho observei que a idéia de Utopia está ligada diretamente a

singularidade da Inglaterra, onde a nobreza mais cedo começou a perder poder, permite

entender o porquê é tão forte a crítica de More à propriedade privada. Na sociedade inglesa

a essa época já era tênue a linha que distingue burguesia e nobreza. Era muito fácil a

ascensão à nobreza de um burguês rico ou a um nobre adquirir as práticas de um burguês.

A Inglaterra de seu tempo, pelo que ele demonstra, já apresentava algumas distorções

sociais e injustiças que são inerentes ao capitalismo.

É dessa forma que é entendido o trabalho por More. Para ele, se há escassez de

alimentos e desigualdade, é porque alguns estão trabalhando por outros. O trabalho, assim

como a riqueza, deveria ser distribuído igualmente a todos. O trabalho, como vê em seu

tempo, é apropriado por um exército de inúteis: clero, nobreza militar, comerciantes,

proprietários de terra, donos de empresa, funcionários do estado e outros que estariam

parasitando a sociedade e impedindo a felicidade comum. Nos cálculos de More, se toda

essa casta de parasitas se também trabalhassem em algo produtivo, como na indústria ou

agricultura, haveria suprimento suficiente para todas as necessidades da sociedade, assim

como é descrito em Utopia. A miséria da qual More fala não é a dos mendigos das cidades

medievais, é aquele resultado da necessidade de exploração do camponês.

A descrição que Thomas More faz da Inglaterra de seu tempo é tão familiar ao leitor

do século XX, capitalista, que chega a ser um instrumento de possível contestação da teoria

de Max Weber sobre a origem do capitalismo.

Na verdade, More escreveu uma obra com a pretensão de fazer uma crítica divertida

à sociedade de sua época. O modo sempre cortês e a queda pelas sátiras humorísticas de

More parecem reforçar a idéia de que, Utopia é apenas uma crítica despretensiosa que é

colocada na boca de seu personagem Hitlodeu, citado no desenvolvimento deste.

5 O PRÍNCIPE-NICOLAU MAQUIAVEL

5.1- INTRODUÇÃO

Page 36: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Em sua obra "O Príncipe", Nicolau Maquiavel mostra uma preocupação em analisar

acontecimentos ocorridos ao longo da história comparando com fatos do seu tempo. Relata

os pontos negativos e positivos que existem em comandar uma nação nos vários aspectos

da política mundial. Trazendo também ao conhecimento de todos, através desta obra, como

deve se comportar um líder perante sua nação para obter sucesso em seu governo. A obra

é dividida em 26 capítulos, que podem ser agregados em cinco partes, a saber:

• capítulo I a XI: análise dos diversos principados e meios de obtenção e manutenção

destes;

• capítulo XII a XIV: discussão da análise militar do Estado;

• capítulo XV a XIX: estimativas sobre a conduta de um Príncipe;

• capítulo XX a XXIII: conselhos de especial interesse ao Príncipe;

• capítulo XXIV a XXVI: reflexão sobre a conjuntura da Itália à sua época.

2- Contexto Histórico

Maquiavel viveu durante a Renascença Italiana , o que explica boa parte das suas

idéias.

Na Itália do Renascimento reina grande confusão. A tirania impera em pequenos

principados, governados despoticamente por casas reinantes sem tradição dinástica ou de

direitos contestáveis. A ilegitimidade do poder gera situações de crise e instabilidade

permanente, onde somente o cálculo político, a astúcia e a ação rápida e fulminante contra

os adversários são capazes de manter o príncipe. Esmagar ou reduzir à impotência a

oposição interna, atemorizar os súditos para evitar a subversão e realizar alianças com

outros principados constituem o eixo da administração. Nem a religião nem a tradição, nem

a vontade popular legitimaram e ele tem de contar exclusivamente com sua energia

criadora. A ausência de um Estado central e a extrema multipolarização do poder criam um

vazio na Itália.

Até 1494, graças aos esforços de Lourenço, o Magnífico, a península experimentou

uma certa tranqüilidade.

Entretanto, desse ano em diante, as coisas mudaram muito. A desordem e a

instabilidade ficaram incontroláveis. Para piorar a situação, que já estava grave devido aos

conflitos internos entre os principados, somaram-se as constantes e desestruturadoras

invasões dos países próximos como a França e a Espanha. E foi nesse cenário conturbado,

onde nenhum governante conseguia se manter no poder por um período superior a dois

meses, que Maquiavel passou a sua infância e adolescência.

5.2 RESUMO

Page 37: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Maquiavel acredita, apoiando-se nos exemplos, opiniões e tradições, que aspectos

relevantes de estratégias de outro tempo e espaço se repetiriam em seu ambiente temporal

e espacial, assumindo internamente o pressuposto que ambientes, pertencentes a épocas e

espaço diferentes, guardariam semelhança. Desta forma, através de exemplos construiu sua

obra O PRÍNCIPE, que nos mostra os conselhos políticos para a conquista e a manutenção

do poder. Este, é um tratado político apresentado em 26 capítulos, com uma conclusão que

propõem a libertação da Itália das intervenções de franceses e de espanhóis, considerados

bárbaros. Escrito originalmente em 1513 e dedicado a Lourenço de Médicis.

"(...) o conhecimento das ações dos homens com poder, as quais tenho aprendido

quer pela longa experiência adquirida nesses anos quer pelo estudo do mundo antigo.

Tendo eu, com longo empenho, as analisado e pensado sobre elas, as reuni em um

pequeno volume e as envio a Vossa Alteza."(...) (MAQUIAVEL, Nicolau).

O autor começa seu discurso definindo o Estado: (...)"governos que tiveram e têm

autoridade sobre os homens"(...) (Cap. I), e pontua que o Estado pode ser uma república ou

um principado. Como na época o mais comum é o principado, o autor tratou deste, por

grande parte da obra.

Em relação à forma que o principado é adquirido, ou seja, se por hereditariedade ou

por conquista; o autor argumenta com exemplos, no intuito de aconselhamento ao príncipe,

sobre a capacidade de conservação do poder. Ao contrário, da facilidade na manutenção do

poder nos principados conquistados pela sucessão hereditária, portanto baseada na

tradição, os principados novos ou mistos devem, segundo Maquiavel ter uma forma eficaz

de controle. E, aconselha soluções onde existe ameaça na conservação do poder do

príncipe, tais como: eliminação da linhagem de nobres do antecessor, a conduta de não

alterar a organização de leis e impostos que estavam em vigor, a instalação de colônias ou

a permanência do dominador no local conquistado, previne veemente sobre o perigo do

poder temporal da Igreja e principalmente, estimula a conquista de aliados entre os

dominados e entre seus vizinhos, pontuando a importância do apoio dos membros da

sociedade conquistada.

Através do exemplo do caso histórico da sucessão de Alexandre O Grande, que

morreu logo após a conquista da Ásia e mesmo não tendo filhos, seus herdeiros mantiveram

a conquista, ele traça um paralelo com territórios ocupados pela França. A explicação reside

na forma de organização da monarquia: no reino de Dario, existe apenas uma figura central

e de maior importância no poder (o príncipe), e todos os outros são servos e nos reinos

governados pela França o rei governa: (...) em meio a uma multidão de senhores de

linhagem antiga, reconhecidos e amados pelos súditos." (Cap. IV), e desta forma não cria

uma figura central forte, e assim o autor conclui: "Não sendo possível nem contentá-los nem

eliminá-los, perde-se este Estado na primeira ocasião." (Cap. IV)

Page 38: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

O autor aconselha para a manutenção dos principados dominados que, antes da

conquista, possuíam leis próprias, três modos para mantê-los: "O primeiro é aniquilá-los. O

outro é residir neles. O terceiro é deixá-los viver com suas leis, retirando uma renda e

criando internamente um governo de poucos que manterá o consenso." (Cap. V)

Os três capítulos subseqüentes tratam da forma que os principados foram

conquistados, Cap. VI – com as próprias armas e qualidades pessoais, Cap. VII - com as

armas e a virtude de outrem, Cap. VIII – com malvadez; e a partir destas formas de

conquista os cuidados que o príncipe deve ter para manter o domínio. Exemplifica com a

História de Teseu, Moisés, entre outros, que por virtude própria tornaram-se príncipes e

discute a vida política de seu contemporâneo César Bórgia, filho do papa Alexandre VI,

cujas conquistas foram impulsionadas pelo poder da posição de seu pai e, depois, por

alianças com pessoas mais poderosas que ele, como Remirro de Orco. Salientou a

perspicácia que o príncipe deve ter para aproveitar a ocasião e a melhor maneira de

administrar a força ou a malvadez, aconselhando que o mal deve ser administrado de uma

só vez e o bem, pausadamente, para ser "melhor saboreado".

Ao principado civil em que o príncipe foi escolhido graças ao favor do povo ou dos

nobres, o autor recomenda: (...)"quem se tornar príncipe pelos favores do povo deve mantê-

lo amigo, o que é fácil, uma vez que só pede para não ser oprimido." (Cap.IX) e completa,

caso, tornou-se príncipe graças aos poderosos, conquiste o povo. Maquiavel, neste

momento de sua obra, nos dá mais uma prova da sua arte em governar: "Portanto um

príncipe sábio deve pensar no modo em que os seus cidadãos, sempre e em qualquer

tempo, precisem do Estado e dele. Assim ser-lhe-ão sempre fiéis". (Cap. IX)

Em relação ao principado eclesiástico, o autor coloca que: "somente esses

principados são seguros e felizes" (Cap. XI), para tal afirmação ele exemplifica com a

seqüência de três papas da Era Moderna, Alexandre VI, Júlio II e Leão X, onde mostrou o

poder das armas e do dinheiro empregados na conquista, do primeiro; a manutenção, a

expansão e o fortalecimento da Igreja, do segundo e a "bondade infinitas e outras virtudes"

deste terceiro, para apenas continuar o poderosíssimo império, afinal é mantido por Deus,

legitimado e não contestado Ou seja, foi necessário o mal, (guerras) para atingir o bem

(reinar na paz).

Após toda a discussão sobre os principados, como conquistá-los, governá-los e

mantê-los dominado, o autor discorre sobre os perigos em ter exércitos mercenários ou

auxiliares, responsabilizando estas práticas a levarem a Itália à escravidão e à vergonha: "O

resultado disto foi que a Itália foi subjugada por Carlos VIII, depredada por Luís XII,

submetida a todo tipo de violência por Fernando o Católico, e desonrada pelos suíços."

(Cap. XII) E conclui que, um príncipe deve manter exército próprio aliado a boas leis e

manter este exército preparado.

Page 39: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Em relação às qualidades da personalidade do príncipe, Maquiavel adverte: "Para

um príncipe é necessário, querendo se manter, aprender a poder ser não bom e usar ou não

usar isso, conforme precisar." (Cap. XV) E considerar o modo como convém ser generoso,

isto é, o melhor é poder ser generoso com muitos (povo) e miserável com poucos (elite),

mas para tal, de onde tirar os recursos? Do povo? Do rei?

"Portanto, um príncipe deve ser pouco generoso, para não precisar roubar os

súditos, para poder se defender, para não ficar pobre e desprezível,"(...) (Cap. XVI)

"Entre todas as coisas que um príncipe deve evitar estão ser desprezível e odioso. A

generosidade conduz seja a um como a outro. Portanto, é mais sábio manter a fama de

miserável, que traz infâmia sem ódio, do que, por querer ser conhecido como generoso,

necessitar incorrer na fama de rapace (ladrão), que traz infâmia com ódio." (Cap. XVI) Afinal,

é óbvio que para alguns ganharem, outros tantos perdem.

Ainda o autor acrescenta com a questão: é melhor ser amado ou temido? É melhor

ter a fama de cruel ou de bom? E responde: a desordem prejudica a muitos enquanto as

execuções do príncipe cruel são individuais. Assim sendo, Maquiavel afirma que na

impossibilidade de reunir características antagônicas, é melhor que o governante priorize ser

cruel e ser temido, pois ser traído por quem te teme é mais difícil do que ser traído por quem

te ama. No entanto, se desta forma não conseguir conquistar o povo, ainda assim, é melhor,

pois o autor adverte que muito pior ao governo, é suscitar o ódio de seus súditos, aliás, esta

é uma recorrente preocupação do autor.

Quanto à "palavra" do príncipe, o autor pontua, que este deve procurar mantê-la,

porém só se for possível: (...) "não se desviar do bem, se possível, mas saber sempre como

usar o mal, se necessitar."(...) "Deve parecer, vendo-o e ouvindo-o, repleto de clemência, de

lealdade, de integridade, de humanidade, de religião. E não há coisa mais necessária de se

ter do que essa última qualidade."(Cap. XVIII) Ou seja, o autor reforça que os meios da

conquista e manutenção de um Estado serão sempre "honrados e por todos louvados",

defende a prioridade do Estado como suprema realidade política e atribui ao Príncipe, o

poder absoluto de decidir qual é o bem do Estado.

Sua posição em relação à natureza humana é contundente: "Os homens esquecem

mais rápido a morte do pai do que a perda do patrimônio" (Cap. XVII) "O amor é mantido por

um vínculo de obrigação, que os homens, sendo malvados, rompem quando melhor lhes

servir." (Cap. XVII) Os homens: "são ingratos, volúveis e ávidos de lucro" (Cap. XVIII)

O capítulo "Como evitar o desprezo e o ódio", sem dúvida teve maior consideração

pelo autor, prova disto, é que é o mais extenso, subdividido em 21 partes. E o autor adverte:

um príncipe torna-se odioso, por roubar rapinamente ou usurpar dos bens e das mulheres

do povo. E torna-se desprezível, quando é considerado: "volúvel, superficial, efeminado,

Page 40: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

pusilânime, indeciso." E reafirma: "Deve esforçar-se para que, em suas ações, vejam-se

grandeza, coragem, seriedade,"(...) (Cap.XIX)

O príncipe adquirindo uma boa reputação, evitando o desprezo e o ódio dos seus

súditos, terá as armas necessárias para manter o domínio e evitar conspirações.

Maquiavel salienta que não se devem criar inimizades com os poderosos e ao

mesmo tempo deve satisfazer e contentar o povo, que aliás, para ele deve ser: "um dos

maiores objetivos que pode ter um príncipe" (Cap. XIX) Enfim, deve agradar a "gregos e

troianos", ou seja, a elite e o povo. E para tal observação, o autor propõe uma solução,

defendendo o sistema político parlamentar, argumentando que se constituir um Parlamento,

o príncipe poderá deixar de tomar medidas impopulares, responsabilizando o Parlamento e

ao mesmo tempo poderá tomar "para si os atos de graça".

O autor deu diversos exemplos de administrações que mostrou, que o ódio e o

desprezo foram motivos da ruína de muitos imperadores e ainda os motivos pelos quais

alguns deles, agindo de uma forma e outros de modo contrário, alguns terminaram bem e

outros tiveram triste fim.

Depois de discursar sobre métodos e exemplos de como evitar o desprezo e o ódio,

Maquiavel sai um pouco dessa parte pessoal e discute assuntos que cercam um príncipe.

Alguns Príncipes, para conservarem com segurança o Estado, deixaram desarmados

os seus súditos, outros repartiram as cidades conquistadas mantendo facções para

combaterem-se mutuamente, outros alimentaram inimizades contra si próprios, outros se

entregaram à conquista do apoio daqueles que lhe eram suspeitos no princípio de seu

Governo, alguns outros construíram fortalezas.

Tirando as armas, principais por ofendê-los, dando a entender que desconfia deles

ou que é covarde. Qualquer dessas opiniões levantará ódio contra ti. Não houve Príncipe

num principado novo, sempre organiza a força armada, porém, um Príncipe que conquista

um novo Estado, que seja anexado ao domínio, então faz-se preciso desarmar aquele

Estado, menos aqueles que tenham ajudado a conquistá-lo a ainda a esses é preciso, com

o tempo, torná-los apáticos e moles, de maneira que todas as armas desse Estado estejam

com os teus soldados, que junto a ti viviam no Estado antigo.

Muitas vezes, servem melhor ao Príncipe os serviços dos ex-adversários do que os

daqueles que, por demasiada segurança, negligenciam os interesses do Príncipe.

Em ocasiões diversas, Maquiavel apresenta-se com uma dupla posição perante o

fato. Neste caso, em particular, no que se diz respeito à fortaleza ser ou não útil, ele diz que:

"...louvarei, os que construírem fortalezas e também os que não as construírem, e

lamentarei aqueles que, fiando-se em tais meios de defesa, não se preocupem com o fato

de serem odiados pelo povo". (Cap.XX)

Page 41: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Para que um príncipe passe a se estimado pelos seus súditos, e é claro, por todo o

Estado que lhe pertence, convêm a ele fazer grandes empreendimentos e o dar de si raros

exemplos.

Podemos assim citar os grandes assaltos do Fernando de Aragão, que usando a

religião e Igreja, pode assim ser respeitado por seus grandes e sucedidos roubos.

Também para que seja de total êxito seu principado, o dito cujo príncipe, terá que

constituir bons, dignos e versáteis ministros, os quais lhe auxiliaram em seu laborioso

trabalho.

Mas o príncipe tem que ser, sábio na hora da escolha de seu ministro, pois, se o

ministro for honesto, direito e fiel, logo o príncipe será tido como sério e inteligente, pois

soube escolher bem e com sabedoria. Mas se o ministro for indigno, falso e ladrão, aí o

príncipe estará arruinado, pois o tacharam como incompetente na escolha de seus

ajudantes.

Assim o príncipe terá que observar muito bem os súditos, e aos pretendentes a

serem os seus ministros pois (...) "há três tipos de cérebro – uma que entende as coisas por

si mesmo, outra que sabe discernir o que os outros entendem e, finalmente, uma que não

entende nem por si, nem sabe ajuizar do trabalho dos outros (a primeira é excelente, a

segunda muito boa e a terceira inútil)".(Cap. XXII)

Quando um príncipe luta para edificar o principado e o seu Estado e com isso

destaca-se e põe-se em glória, logo aparecem os adulares ou seus (puxa saco), pois,

veremos agora como é que o príncipe fará para evitá-los. Nicolau Maquiavel denomina

essas pessoas de peste.

"Um príncipe prudente deve, portanto, conduzir-se (...), escolhendo no seu Estado

homens sábios, e só o estes deve dar direito de falar-lhe a verdade a respeito, porém,

apenas das coisas que ele lhes perguntar". (Cap. XXIII)

O que se conclui daí é que os bons conselhos, de onde quer que provenham,

nascem da prudência do príncipe e não a prudência do príncipe dos bons conselhos.

Depois Maquiavel cita as razões pelas quais os príncipes da Itália perderam seus

domínios (na época de Maquiavel a Itália estava fraca, dividida e dominada), usando isso

como exemplo de muito do que ele falou durante o livro "pelos motivos já amplamente

analisados"; fala, também, sobre a sorte "para não descartar inteiramente nosso livre-

arbítrio, creio que se pode admitir que a sorte seja o árbitro da metade dos nossos atos, mas

que nos permite o controle sobre a outra metade, aproximadamente" (Cap. XXIV) e

considera que "o príncipe que baseia seu poder inteiramente na sorte se arruína quando

esta muda", o que significa que o príncipe precisa agir sempre com cautela, preparado para

uma sorte menos favorável.

Page 42: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Um príncipe recente é muito mais vigiado em suas ações do que um hereditário, e

quando essas ações revelam virtude, atraem muito mais aos homens e os obrigam muito

mais do que a Antigüidade do sangue.

Assim por não honrar a promessa feita aos súditos e deixar brechas feias pode

perder o principado.

O poder da fortuna em um principado, pode ao mesmo tempo ser a seu favor, como

também ser contra. Este contra ao que me refiro é em relevância de seu mau uso e mal

quando empregado em lugar e forma errada. Assim sendo, como tudo que o príncipe faz,

também o uso da fortuna no Estado, deve ser com muita cautela, pois este principado e

Estado são compostos de várias pessoas, por isso tem que ser destruído por ela.

Maquiavel conclui a obra com um aviso de que a Itália precisa de um novo soberano

que assuma uma forma de governo que dê orgulho e prosperidade ao povo e liberte a Itália

dos bárbaros. Diz ele que, não podem deixar de passar este tempo propício à ocasião de

fazer com que a Itália, depois de tanto tempo encontre um redentor.

5.3 CONCLUSÃO

A partir da nacionalidade e o contexto histórico de Maquiavel poderemos analisar a

sua linha de raciocínio. Ele era um nacionalista fervoroso e seu maior sonho era ver uma

Itália forte e unificada. Com esse intuito desenvolveu este manual de política que ensina

"passo a passo" o comportamento do príncipe ideal. Este é fruto de observações

diplomáticas pelo interior italiano, de sua bagagem cultural e de muita reflexão. Seu livro foi

um marco, já que explicava claramente como se deve desenvolver a política . Isso causou

uma tremenda revolução para a época, já que abolia os fundamentos básicos da política ,

usados por quase mil anos. Resumindo podemos dizer que Maquiavel é o responsável pela

autonomia do campo da ciência política, que se desliga das preocupações filosóficas e da

política normativa dos gregos, desvinculando-se também da moral cristã.

As questões centrais de 'O Príncipe' são as mesmas de qualquer obra de ciência

política da atualidade: a conquista, manutenção e preservação do poder. E os

desdobramentos dessas questões também estão na ordem do dia: como obter alianças,

acordos e negociações, as relações entre governo e povo, a formação de um Estado, as

políticas interna e externa, a corrupção e o favorecimento.

Porém, quero deter-me neste ponto: O porque de uma obra escrita há quase

quinhentos anos, permanece atual?

Creio que mesmo o autor não saberia responder, ou melhor, creio que ele, apesar de

construir uma obra de caráter prescritivo e preditivo, não pôde prever o longínquo alcance

dos seus ensinamentos, e digo isso, baseando-me em suas próprias palavras, pois ele

atribuiu sua obra ao estudo político da história antiga e as observações efetuadas por ele.

Page 43: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Maquiavel acredita, apoiando-se nos exemplos, opiniões e tradições, que aspectos

relevantes de estratégias de outro tempo e espaço se repetiriam em seu ambiente temporal

e espacial, assumindo internamente o pressuposto que ambientes, pertencentes a épocas e

espaço diferentes, guardariam semelhança. Porém, creio, que muito além desse

pressuposto, muito mais que isso, ele teve sim, uma grande compreensão da psicologia

humana, e exatamente por isso, apesar de ressalvas que veremos adiante, concordo que

sua obra é sim, aplicável a todos os tempos, pois se muda o contexto do homem, mas não

sua essência.

A contribuição de Nicolau Maquiavel para o mundo é imensa, ensinou através da sua

obra, a vários políticos e governantes. Como ex: Napoleão Bonaparte.

Quero acrescentar, que lendo essa obra, na passagem abaixo citada, recordei-me do

fato da renúncia do ex-presidente Jânio Quadros e não me contive, em incluir a observação,

de que se este "príncipe" tivesse observado melhor os conselhos de Maquiavel, talvez não

tivesse renunciado a presidência do Brasil em 1961.

"Ninguém deve querer cair, por acreditar que alguém irá recolhê-lo. Isso ou não

acontece ou, se acontece, não é seguro, por ser defesa vil e não depender de ti." (Cap.

XXIV)

A objetividade historiográfica e o realismo político constituem, assim, os dois pontos

básicos de Maquiavel e sua doutrina original. Graças a este segundo aspecto, Maquiavel foi

considerado fundador da ciência empírica da política, ou seja, disciplina empírica que estuda

as regras da arte de governar sem outras preocupações além da eficácia dessas regras.

Porém, quero fazer uma séria ressalva, a todo este discurso que sempre "rondou" a

obra. Creio que como estudante de história, devo fugir do "discurso pronto", e atrevo-me a

questionar esta "validade eterna". Como já me coloquei, creio que no aspecto da alma

humana em relação ao poder, "O Príncipe" será imortal (mesmo eu rezando e torcendo

contra), mas em relação à política atual, creio que a objetividade e a racionalidade

perseguida por Maquiavel foram, sim, substituídas. Na atualidade, percebe-se uma busca da

subjetividade na política. Não é possível compreender o mundo atual, apenas

racionalmente, é necessário levar em conta a diversidade cultural e suas inter-relações, os

desejos da sociedade, enfim o imaginário do povo.

Apenas através de estudos que respeitem a alteridade que, poderemos melhor

compreender a desintegração do Leste Europeu, a guerra da Bósnia e o conflito entre

Sérvios e Kosovares. Só este tipo de estudo pode explicar as dificuldades encontradas

pelos Estados Unidos nesta segunda guerra do Golfo. Afinal, enquanto os americanos

vêem-se como libertadores, os iraquianos, mesmo aqueles que estavam em desacordo com

Saddam Hussein, vêem os americanos como os outros, diferentes, estrangeiros e intrusos

em uma casa e uma causa que não são deles.

Page 44: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Um dos grandes desafios da ciência política atual é reconhecer que o econômico não

pode explicar tudo, precisamos de novos modelos, novos métodos, novos paradigmas,

novos marcos teóricos para poder dar conta destas questões. Estes marcos teóricos podem

e devem ser buscados dentro e fora da política.

No entanto não devemos perder de vista que no fim das contas estamos de volta por

outros meios ao paradigma clássico da Teoria Política, afinal trata-se de uma luta pelo poder

e pela legitimidade do uso da força, e também da idéia preconizada por Maquiavel de que

para o espaço político não valem os mesmos valores morais que regulam a vida do cidadão.

Ter poder, portanto, é conseguir impor sua vontade sobre a vontade de outras

pessoas.

O conceito de poder está intimamente ligado à questão da dominação. Quando se

trata de poder, fala-se obrigatoriamente de Dominantes e Dominados. Daqueles que

exercem o poder e daqueles sobre quem o poder é exercido.

Mais uma vez cito o exemplo da segunda guerra do Golfo, onde George W. Bush,

contra tudo e contra todos (incluindo-se aí a ONU e quase toda a opinião pública mundial),

utilizou a força para fazer valer as suas vontades e convicções.

É importante ressaltar que ele não é o único, em boa parte dos países árabes o

poder é exercido de maneira personalíssima, em Cuba poder e Fidel Castro são sinônimos e

também no Brasil a idéia de que governar e exercer o poder é a capacidade de impor a sua

vontade é generalizada. Nossos governantes costumam exercer o poder como uma

extensão de suas vontades pessoais passando por cima de tudo e de todos. Obviamente

esta posição é sempre justificada através de discursos onde se afirma a idéia de que o

governo está trabalhando pelo progresso, pelo desenvolvimento, alegando sempre que as

críticas e reclamações são injustificadas porque partem daqueles que viram seus interesses

prejudicados ou que perderam as eleições.

Cristóvam Buarque, ex-ministro da educação, professor da UNB e ex-governador de

Brasília, afirma que a lógica da modernidade técnica subordina os objetivos sociais e

ambientais à racionalidade econômica, ela mesma subordinada à técnica, e que neste

contexto os valores éticos são ignorados. (BUARQUE, 1994) Ou seja, voltamos a Maquiavel

e à idéia de que a política não pode subordinar-se à moral.

E enfim podemos dizer que apesar da mudança de enfoque, continuam intactos

pontos fundamentais da teoria política clássica como a amoralidade do jogo político, a

proximidade entre vontade individual e o poder e ainda, a natureza humana.

O que significa não uma substituição do paradigma de Maquiavel nem a sua

aplicação de maneira integral, mas sua incorporação a novos paradigmas, se de um lado é

importante levar em conta as subjetividades envolvidas não há como deixar de pensar que a

velha máxima de Maquiavel que afirma que o poder do príncipe é medido pela eficácia de

Page 45: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

suas ações continua valendo, e que ganhar a guerra ainda é uma estratégia eficaz para

calar as críticas.

Mesmo levando em conta o patriotismo de Maquiavel, diante da realidade da Itália

que se encontrava esfacelada por povos inimigos, quero ainda discordar "com seu príncipe",

que usa da astúcia e da violência para unificar o Estado. Este modelo político Florentino

patriota recusa o ideal de uma comunidade eticamente homogênea, o seu pessimismo

antropológico não permite conceber uma forma de governo, cujo princípio fosse ético. Falta

a ele, acreditar no potencial humano de viver de forma socialmente harmoniosa, concordo

que o ser humano (principalmente o que é detentor do poder) é mau por natureza como o

concebeu. Mas acredito na evolução espiritual da espécie e talvez ainda, poder contribuir

através do ensino de História para a formação de cidadãos éticos

6 DOM QUIXOTE-MIGUEL DE CERVANTES

O livro conta a história de Dom Quixote, que de tanto ler historias de cavalaria,

passou a acreditar nos feitos históricos dos cavaleiros, ele resolve então virar um cavaleiro,

mas como todos os cavaleiros ele tinha que ter uma mulher a quem honrar.

Ele pegou uma armadura velha que tinha e saiu por ai tentando fazer feitos heróicos,

e se intitulou Dom Quixote de la Mancha, então ele montou em seu pangaré que se

chamava Rocinante, e saiu por aí.

Ele encontra uma estalagem onde pede para que o dono o ordene como Cavaleiro.

Outro dia ele ataca vendedores que via como inimigos, e apanha desses vendedores. Um

amigo dele que estava a sua procura o leva para casa.

Sua família decide então destruir todos os seus livros de cavaleiro e fechar a

biblioteca. Depois disso Dom Quixote volta acompanhado por Sancho Pança, um ingênuo

homem que cai na conversa de Dom Quixote.

Em uma de suas aventuras ele vê moinhos de ventos e confunde com gigantes,

então investe neles, mas é jogado longe e socorrido por Sancho, então ele diz que foi o

mago que transformou o gigante em moinhos, quando viu que o cavaleiro estava vencendo.

Mais adiante ele vê um rebanho de ovelhas e pensa que é inimigos, investindo nelas,

mas os pastores não deixam isso acontecer e batem nele, também ajuda ladrões a fugirem

pensando que eles são escravos.

Eles encontram abrigo, e nesse abrigo eles encontram Tomas e o padre Nicolau, que

convencem Sancho a levarem Dom Quixote a sua casa, cedido pela chantagem Sancho

ajuda a levar Dom Quixote para sua casa.

Depois que sai da gaiola que estava preso ele vai a procura de sua amada Dulcinéia,

que o recebe com um repolho batido em sua cabeça, para agradar Maria, Sansão resolve se

Page 46: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

vestir de Cavaleiro dos Espelhos, e enfrentar Dom Quixote, ele é traído por seu cavalo que

fica comendo grama, ao eives de duela, por isso Dom Quixote perde a batalha.

Em outra de suas aventuras eles encontram o Duque e a Duquesa, que já tinha

ouvido falar dele e resolve curtir com ele, falando que o levaria até o feiticeiro Merlin.

Depois disso ele encontra o Cavaleiro Da Lua Cheia, que o desafia para um duelo,

na verdade era Sansão. Dom Quixote perde e desiste de ser cavaleiro andante, e volta para

casa, ele fica com muita febre, e acaba morrendo no final do livro.

6.1 BIBLIOGRAFIA DO AUTOR

Miguel de Cervantes y Saavedra nasceu em 1547, em Alcalá de Henares, uma

pequena cidade da Espanha, perto da capital, Madri.

Ainda jovem, embarcou para Nápoles, cidade italiana que na época estava sob

domínio da Espanha, e lá se alistou no exercito, lutando contra turcos na batalha de

Lepanto, da qual carregou uma lembrança triste a perda dos movimentos da mão esquerda,

por causa de um ferimento causado por arma de fogo.

Só em 1580 é que conseguiu voltar a Espanha. Encontrou se país na miséria e até

pensou em tentar a vida na América. Nessa época, chegou a trabalhar como cobrador de

impostos. Devido a essa profissão, ele viajou por toda Espanha e conheceu de perto as

dificuldades do povo – o que lhe serviu de inspiração para mais tarde escrever Dom

Quixote.

Até a publicação dessa obra a vida de Cervantes ainda foi bastante atribulada. Como

cobrador, foi acusado de corrupção, sofrendo processos e chegando a ser preso por três

vezes. Mas, em 1605, tudo mudou. O lançamento da primeira parte do O engenhoso fidalgo

Dom Quixote de la Mancha foi um sucesso imediato.

Tanto que ele continuou escrevendo e em 1613 publicou outra obra prima, as

Novelas exemplares. Em 1615 lançou a segunda parte de Dom Quixote. Tinha mais de 60

anos e dizia que já havia aprendido a ter paciência das adversidades da vida.

Miguel de Cervantes faleceu no ano seguinte, bastante conhecido, mas ainda sem

recursos.

6.2 CONCLUSÃO OU TEXTO CRITICO

O livro teve partes ruins e boas, a boa é que a historia foi divertida, contando as

trapalhadas de um homem, mas a parte chata foi que o livro é muito grande.

7 O LEVITÃ-THOMAS HOBBES

7.1 OBJETIVO

Page 47: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

A obra de Thomas Hobbes é muito vasta, criativa e de um valor histórico-cultural

riquíssimo à humanidade. Portanto esse trabalho visa formular de forma simplista e

sintetizada a axiologia jurídica do pensamento deste inglês em seu livro "Leviatã" no que diz

respeito a ato e fato jurídico aplicado em sua época, realizando um comparativo com o

direito aplicado nos dias atuais.

7.2 INTRODUÇÃO

Thomas Hobbes foi defensor ferrenho do Estado Monárquico Absolutista no século

XVII, na Inglaterra. Hobbes foi durante toda a sua vida critico do ideário econômico-burguês

que se instalou.

Em seu trabalho "Leviatã" contribuiu para o enriquecimento e fortalecimento da sua

filosofia a respeito do Estado Soberano, na qual se contrapôs aos que defendiam o Estado

Liberal Democrático. Para ele um Rei é mais capaz do que uma República.

Hobbes através de sua critica filosófica deixou para o mundo um modelo de corpo

político que estava preparado para enfrentar os percalços da grande diversidade de súditos

(sociedade na visão de Hobbes) que viveriam sob os auspícios do Estado.

Por isso Hobbes preocupou-se em criar mecanismos como as leis para isolar ou

inibir aqueles que por ventura reivindicassem algum tipo de direito. Pois o soberano criava

as leis de forma que só e somente ele seria beneficiado.

7.3 - FATOS E ATOS JURÍDICOS - Leviatã X Direito atual

Hobbes colocava que o Estado foi instituído quando uma multidão de indivíduos

concorda e pactua que a qualquer homem ou assembléia de homens seja atribuído o direito

de representar a coletividade.

É bom lembrar que nas democracias, o poder está nas mãos da coletividade, embora

Hobbes defendesse a centralização deste, pois, a fragmentação do poder traria

complicações devido ao conjunto de idéias evoluídas, enquanto que o Rei só estaria à

mercê dos fatídicos da natureza humana.

Importante observarmos que nos dias atuais a representatividade consubstancia-se

no modelo democrático que melhor anseia os ideais do povo, já que esse ideal está inserido

em nossa carta constitucional, que diz o seguinte:

"Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou

diretamente, nos termos desta constituição". (Parágrafo único, artigo 1º da CF)

Thomas Hobbes tratou de caracterizar as formas pelas quais os soberanos poderiam

ascender ao poder supremo e/ou ampliar seus domínios. Caracterização essa dada sobre o

aspecto de domínio por aquisição ou por conquista.

Page 48: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Para ele, o Estado por aquisição ocorre quando a tomada do poder verifica-se a

partir da força, ou seja, a autotutela era a decisão imposta pela vontade do soberano, no

qual a sociedade amedrontada outorgava plenos poderes àquele que governa suas vidas e

liberdade.

Hobbes procurava legitimar a importância do Estado na direção da sociedade, sendo

este gestor de tal monta conduzir tais processos. O estado nesse contexto centraliza o

poder em suas mãos e despreza os questionamentos e/ou aspirações da sociedade, já que

Hobbes levantava a discussão sobre o Estado de natureza, onde não haja leis que

disciplinem esses entraves.

Um pensamento que Hobbes aspirava de forma utópica e que não possui

aplicabilidade em nosso direito atual é a que dividir o poder possibilita complicações as

quais redundam na necessidade de leis e constituições que regulem esses empecilhos,

contudo, centralizando o poder nas mãos do soberano as situações indesejáveis e

reguladas por aparato jurídico não tem destaque, pois o rei está submetido às leis da

natureza, pois tudo que ele fizer será legitimo, já que a sociedade lhe deu plenos poderes.

Eram consideradas ilegais as leis criadas em consenso para beneficiar a sociedade,

caracterizando, portanto, crime. Teoria esta que diverge totalmente do direito atual que

permite a participação popular no auxilio a formulação de projetos de leis.

Hobbes destinou parte de seus estudos à formulação de ordenamento jurídico que

deveria ser aplicado. Dizia que entendia por leis civis aquelas leis que os homens são

obrigados a respeitar, não por serem membros deste ou daquele Estado em particular, mas

por serem membros de um Estado. Porque o conhecimento das leis particulares é da

competência dos que estudam as leis de seus diversos países, mas o conhecimento da lei

civil é de caráter geral e compete a todos os homens.

As leis romanas influenciaram várias nações, até mesmo as que não estiveram sob

seu julgo, dada a sua natureza e aplicação. Os romanos elaboraram sua lei civil

obedecendo aos seus interesses e particularidades do cidadão romano independente do

território onde ele vivesse era comum, também, estender o beneficio jurídico para seus

aliados para mostrar as boas pretensões do dominador sobre os dominados.

A lei civil romana, da expressão Civitas, que significa Estado. As leis foram criadas

para impor ao homem um conjunto de normas sobre o que é o bem e o mal para a

coletividade, ou seja, aquilo que é admitido pela maioria, desde que seja espontâneo, mas

isso não ocorre assim, pois a elite ou os detentores do poder procura elaborar preceitos

dentro de seus interesses e impô-los ao conjunto da sociedade a partir do aparelho

ideológico de Estado o que muitas vezes pode ser antagônico.

As leis aplicadas no Brasil visam impor aos homens a função de direção das

condutas e de tratamento de conflitos, já que fomos fortemente influenciados pela Lei Civil

Page 49: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Romana, onde buscamos com a lei obedecer aos interesses do Estado e também a dos

cidadãos, fazendo com que o beneficio jurídico seja mutuo e recíproco.

Entretanto, na ótica de Hobbes não poderia ocorrer desta forma, já que a elite ou os

detentores do poder procura elaborar preceitos dentro de seus interesses e impô-los ao

conjunto da sociedade de uma forma inescrupulosa e antagônica. Hobbes defendia que s

leis deviam ser elaboradas pelo Estado e nada mais. A partir desse ideário de sujeição a tal

instituição, deduziu-se abaixo conforme Hobbes:

1 – Em todos os Estados o legislador é unicamente o soberano, seja ele um homem,

como numa Monarquia, ou uma assembléia, como uma Democracia ou numa Aristocracia;

2 – O soberano de um Estado, que seja uma assembléia ou um homem, não se

encontra sujeito às leis civis;

3 – quando um costume prolongado adquire a autoridade de uma lei, não é grande

duração que lhe dá autoridade, mas a vontade do soberano expressa por seu silencio;

4 – A lei da natureza civil contêm-se uma à outra e são de idêntica extensão;

5 – Se o soberano de um Estado subjugar um povo que haja vivido sob outras leis

escritas e, posteriormente, os governar através das mesmas leis pelas quais antes eram

governadas, essas leis serão, não obstante, as leis civis do Estado vencedor, e não as do

Estado vencido;

6 – Dado que todas as leis, escritas ou não, recebem toda sua foca e autoridade da

vontade do Estado, quer dizer, da vontade do representante, que numa Monarquia é o

monarca, e nos outros estados, a assembléia soberana, há lugar para perguntar de onde

derivam aquelas opiniões que se encontram nos livros de eminentes juristas de vários

estados, segundo as quais o poder legislativo depende, diretamente, ou por conseqüência,

de indivíduos particulares ou juízes subordinados;

7 – Que a lei nunca pode ser contraria a razão é coisa com que nossos juristas

concordam, assim como com que não é a letra que é a lei, e sim aquilo que é conforme a

intenção do legislador;

8 – Partindo daqui, de que a lei é uma ordem, e de que uma lei consiste na

declaração ou manifestação da vontade de quem ordena, oralmente ou por escrito, ou

mediante outros suficientes argumentos da mesma vontade, podemos compreender que a

ordem do Estado só é lei para aqueles que tem meios para dela se informarem.

Hobbes alertava para o problema de desconhecimento da lei por parte do homem.

Falava que não poderia servir de desculpa para desconhecer ou infringir o legislador ou lei,

a ignorância sobre tal assunto.

Segundo Hobbes o homem violava as leis sobre três formas:

Page 50: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Por presunção de falso principio;

Por falsos mestres;

Por inferências erradas feitas a partir dos principio verdadeiros.

Hobbes isenta o soberano da legislação em vigor e reforça a autoridade suprema

deste, centralizando o poder em suas mãos.

Importante salientar como ocorre nos dias atuais, no enfoque da participação do

estado na solução de litígios, legado esse deixado por Hobbes, onde é vastamente utilizado

no caráter publico de articulação dos litígios.

O soberano possuía o papel de não poder deixar de garantir a integridade dos

súditos e conjuntamente esclarecer, aos mesmos os direitos primordiais para que estes não

sejam influenciados com facilidades e levados a não colaborar com o Estado quando este o

procurar.

Atualmente o Estado possui o dever de também garantir os meios necessários à

sobrevivência da sociedade, seja ela na educação, saúde, segurança, etc.

7.4 – CONCLUSÃO

O direito nasceu junto com a sociedade, sua historia é a historia da própria vida. Por

mais que mergulhemos no passado sempre vamos encontrar o direito, ainda que

rudimentar, a regular as relações humanas. Onde está o homem, está o direito.

O Leviatã tão discutido nos deixa o exemplo de que num determinado momento

histórico, século XVII, um homem fez a comparação de um organismo vivo e o homem

natural dando a esta entidade as características que norteiam o ser humano.

Entender os fatos jurídicos como acontecimento que produz conseqüência jurídica e

ato jurídico decorrente de ação humana, voluntária e licita, com a intenção de obter um

resultado jurídico. Sendo que para validar esse ato jurídico requer a vontade livre, agente

capaz, objeto lícito e forma prescrita em lei. Fica claro que o direito atual alcançou um

estagio de plena democracia, seja pela participação da sociedade, ou pela aplicabilidade e

eficácia das leis. Diferentemente dos ideais de Hobbes, onde enfocou bem a necessidade

de criar o órgão gestor da sociedade, o Estado, onde "somente o Estado, um poder cima

das individualidades, garantiria segurança a todos". Mascarava e massacrava os direitos e

garantias individuais do cidadão, onde reinava plena e soberana em mãos do rei, fazendo o

que bem entendia.

A vontade unilateral da época seria causa de anulabilidade, inexistência e ineficácia

dos atos e fatos jurídicos praticados pelos soberanos, onde cabe nos dias atuais a vontade

Page 51: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

do povo e capacidade de sermos representados pelos legisladores, celebrar leis que

venham a servir de forma igualitária as necessidades e anseios do povo democrático.

Portanto os ideais apresentados por Hobbes no que se refere à criação das leis civis,

bem como na sua aplicação, não se verificava de forma alguma a segurança jurídica, essa

que norteia nosso direito moderno e atual, trazendo a sociedade à certeza que seu direito

será respeitado e as leis cumpridas de forma imparcial e igualitária.

8 A CIDADE DO SOL-TOMÁS DE CAMPANELLA

No pensamento de seu autor, Tommaso Campanella, é uma comunidade ideal a ser

governada por homens iluminados pela razão; todo trabalho de cada um era destinado ao

patrimônio comum. Propriedade privada, riqueza indevida e também a pobreza não

existiriam, porque a nenhum homem seria permitido ter mais do que o necessário. O autor

imagina uma cidade ideal, sem hierarquias, na qual todos trabalham e as várias funções são

adequadamente repartidas. É abolidas toda habitação separada, a família e tudo que

alimenta o egoísmo; o bem individual é subordinado ao bem da comunidade.

A maior parte da cidade está situada sobre uma alta colina que se eleva no meio de

vastíssima planície. Mas, as suas múltiplas circunferências se estendem num longo trecho,

além das faldas do morro, de forma que o diâmetro da cidade ocupa mais de duas milhas,

por sete do recinto total. Mas, achando-se sobre uma elevação, apresenta ela uma

capacidade bem maior do que se estivesse situada numa planície ininterrompida. Divide-se

em sete círculos e recintos particularmente designados com os nomes dos sete planetas.

Cada círculo se comunica com o outro por quatro diferentes caminhos, que terminam por

quatro portas, voltadas todas para os quatro pontos cardeais da terra. A cidade foi

construída de tal forma que, se alguém, em combate, ganhasse o primeiro recinto, precisaria

do dobro das forças para superar o segundo, do triplo para o terceiro, e, assim, num

contínuo multiplicar de esforços e de trabalhos, para transpor os seguintes.

Por essa razão, quem se propusesse expugná-la precisaria recomeçar sete vezes a

empresa. Considero, porém, humanamente impossível conquistar apenas o primeiro recinto,

de tal maneira é ele extenso, munido de terraplenos e guarnecido de defesas de toda sorte,

torres, fossas e máquinas guerreiras. Assim é que, tendo eu entrado pela porta que dá para

o setentrião (toda coberta de ferro e fabricada de modo que pode ser levantada e abaixada,

fechando-se com toda a facilidade e com plena segurança, graças à arte maravilhosa com

que as suas engrenagens se adaptam às aberturas dos possantes umbrais), o que primeiro

me despertou a atenção foi o intervalo formado por uma planície de setenta passos de

extensão e situada entre a primeira e a segunda muralhas. Distinguem-se, daí, os

grandiosos palácios que, de tão unidos uns aos outros, ao longo da muralha do segundo

círculo, parecem mais um só edifício.

Page 52: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

A meia altura desses palácios, vêem-se surgir, de fora para dentro do círculo, várias

arcadas com galerias superiores, sustentadas por elegantes colunas e circundando quase

toda a parte inferior do pórtico, à maneira dos peristilos ou dos claustros religiosos. Em

baixo, além disso, só estão encravados na parte côncava das muralhas, e é caminhando no

plano que se penetra nos compartimentos inferiores, ao passo que, para alcançar os

superiores, devem subir-se umas escadas de mármore que conduzem às galerias internas,

chegando-se então às partes mais altas e mais belas dos edifícios, as quais recebem luz

pelas janelas existentes tanto na parte côncava como na convexa das muralhas, estupendas

por sua sutileza. Cada muralha convexa, isto é, a sua parte externa, tem uma espessura de

cerca de oito palmos, por três somente da parte côncava, ou seja, a sua parte interna,

enquanto os tabiques têm apenas um, ou pouco mais.

Atravessada a primeira planície, chega-se à segunda, mais estreita uns três passos,

e aí se descobre a primeira muralha do segundo círculo, igualmente guarnecido de palácios

que, como os do primeiro círculo, possuem galerias em baixo e em cima, havendo na parte

interior outra muralha interna que circunda os palácios e tem em baixo sacadas e peristilos

sustentados por colunas, sendo que em cima, onde se acham as portas das casas

superiores, apresenta preciosas pinturas. E assim, por esses círculos e duplas muralhas que

cercam os palácios, ornados de galerias sustentadas por colunas, chega-se à última parte

da cidade, sempre caminhando no plano. Só quando se entra pelas portas duplas dos vários

circuitos, uma na muralha interna e a outra na externa, é que se sobem uns degraus de tal

forma construídos que mal se sente a subida, pois estão colocados obliquamente e muito

pouco mais elevados uns do que os outros.

No cimo do monte, encontra-se, então, uma espaçosa planície, em cujo centro se

ergue um templo de maravilhosa construção.

9 DISCURSO DO MÉTODO-RENÉ DESCARTES

9.1 IDÉIA CENTRAL

A busca de um método eficiente para a utilização da razão humana.

Page 53: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

9.2 CONTEÚDO

A obra é estruturada em seis partes, a saber:

9.2.1 Primeira Parte: Considerações sobre as Ciências

O conhecimento depende do caminho seguido e é possível que homens virtuosos

dele se afastem como também é perfeitamente realizável que outros menos hábeis por ele

sigam. O importante é que avanço pode ocorrer de forma lenta, mas significativa, se

observado esse preceito.

Difícil definir em quais aspectos os homens poderiam ser superiores ou inferiores

entre si. A razão é comum a todos e tudo depende de sua utilização e da abordagem que se

faz da realidade. O método é a chave de tudo.

Nos enganamos muito facilmente a nosso próprio respeito. A desconfiança deve ser

constante e não se pode tomar verdades como absolutas. Duvidar nos proporciona a

oportunidade de conhecer caminhos e enxergar novas situações.

Descartes mostra, com honestidade, a maneira da condução de sua razão,

entretanto não a impondo como certa. Tem desejo de conhecimento e o persegue

continuamente, "frustrando-se" em descobrir-se pequeno diante do saber. Não ousou

discutir religião por acreditar-se incapaz de fazê-lo; nem tão pouco filosofia, que entende ser

duvidosa e discutida, como são as ciências que dela derivam. Simplesmente, reconheceu-se

como homem limitado e desconhecedor de muitas questões. Para ele, os cientistas pensam

saber mais do que realmente sabem.

Procurou incessantemente distinguir o verdadeiro do falso e encontrar as respostas

em si mesmo, nas experiências que podia ter, em seu relacionamento com o mundo,

examinando as experiências dos homens e o modo como resolvem seus problemas. Não

acreditara naquilo que tão somente fora imposto pelo costume ou pelo tempo; tentara

enxergar além.

Page 54: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

9.2.2 Segunda Parte: As principais regras do exame de Descartes

Iniciando uma nova fase, após um isolamento, Descartes concluiu que obras

perfeitas decorrem da realização individual, dificilmente podendo resultar de contribuições

diversas. Cada indivíduo deve construir suas próprias experiências e tirar suas próprias

conclusões. Quando se pretende desenvolver a partir do que alguém construiu, dificilmente

chegar-se-á a um bom resultado. Não se deve construir a vida sobre velhos alicerces. Seu

propósito era construir um conhecimento próprio, sem, no entanto, ter a pretensão de

destruir coisa alguma.

Apesar disso, também não pode um homem reformar tudo. Então, deve-se suprimir

alguns preceitos para depois os substituir ou os retornar.

Não podendo valorar mais um pensamento que outro, escolheu um caminho próprio,

avançando lentamente num campo desconhecido, já que partira do início e não pretendia

recuos. Passou então a disciplinar-se, utilizando-se de um método por ele definido e

disposto a não contrariá-lo, assim planejou: evitar a precipitação, com conclusões sem uma

cuidadosa análise; dividir os problemas em partes que proporcionassem melhor julgamento;

construir o conhecimento por meio de uma gradação, partindo das mais simples análises

para as mais complexas; e fazer revisões e estudos de forma a tudo contemplar.

Em seu entendimento, demonstrações complexas são explicadas por meio de

simples cadeias de razões, e estas apresentam-se e chegam ao conhecimento dos homens

de uma maneira comum. Como se relacionam e até coincidem em determinados pontos, é

fácil compreendê-las ou descobri-las, corrigindo-se umas pelas outras.

9.2.3 Terceira Parte: Algumas regras das moral extraídas do método

Foi necessário, segundo Descartes, para melhor adequação e estudo da realidade, a

formação de uma moral provisória, inclusive com o abandono das próprias opiniões. A

garantia dessa atitude seria o aperfeiçoamento dos juízos.

Page 55: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Passou a seguir alguns preceitos que em seu entendimento lhe conduziriam mais

eficientemente. Decidira que obedeceria às leis e à religião; não podendo discernir,

procuraria seguir as opiniões mais prováveis; e aceitaria que o poder absoluto não está no

homem, mas além de sua mente. Decidira não aceitar opiniões alheias, mas examinar tudo

à luz de sua própria razão, juízo ou julgamento e refletia sobre o que observava.

Passou a empregar a vida no cultivo da razão e do progresso cientifico, na busca da

verdade segundo seu próprio método e em dispor do pensamento de modo absoluto.

Chegou a certas conclusões que o satisfizeram.

Duvidava unicamente com o propósito de chegar à conclusões seguras e à

destruição de opiniões mal fundamentadas, com estabelecimento de entendimentos.

Procurou isolar-se para, de maneira prudente, melhor desenvolver o pensamento.

9.2.4 Quarta Parte: Prova da existência de Deus e da alma humana

Refletindo sobre as dúvidas que afetam "as verdades", Descartes concluíra pela

razão e lógica singular dos próprios pensamentos que a essência do homem é o pensar.

Reconhecera o homem como sendo um ser imperfeito, o que se prova pelas dúvidas que

este sustenta.

A perfeição existe fora do homem, em Deus, e está presente numa consciência

independente, que se apresenta fora de uma composição, fora de uma união mente-corpo.

Não se pode negar a existência de Deus e da alma. No entanto, sem uma

intervenção do entendimento, os sentidos não nos dão certeza, não nos levam a conclusões

seguras.

Deus nos dá a razão e como somos seres imperfeitos não a utilizamos eficazmente

de modo a compreender todas as verdades.

A razão humana apoia-se nas perfeições infinitas de Deus.

Page 56: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

9.2.5 Quinta Parte: A ordem das questões de física examinadas

Descartes não aceita verdades que não se apresentem mais claras que a geometria.

Estudando, compreendeu o estabelecimento de leis naturais por Deus, o modo como tais

noções foram impressas na alma humana e expandiu seus horizontes a pontos nem

esperados.

Segundo tais estudos, Deus dá à alma humana, sua criação, a capacidade de

desenvolver-se; sua natureza é pensar e existe independentemente do corpo.

Uma distinção facilmente observada entre os homens e os demais animais,

desprovidos de alma, encontra-se no fato destes não serem capazes de articular

pensamentos, de usarem a razão que simplesmente não detém e de não serem capazes de

um discurso.

A natureza opera-se nos corpos conforme a disposição dos órgãos e segue as

mesmas regras da mecânica.

O corpo humano é como uma máquina, feita por Deus como tudo mais, e apesar da

superioridade que apresenta diante dos outros animais tem a mesma origem, o que se pode

reconhecer por algumas semelhanças.

Apesar da engenhosidade que possui, não há como o homem conceber máquinas

que a ele se assemelhem e sejam ao mesmo tempo capazes de repetir suas ações

conscientes e racionais. Esta capacidade só pertence a Deus.

A alma humana é imortal (não perece juntamente com o corpo) e não existe como

refutar a existência de Deus.

9.2.6 Sexta Parte: As coisas que julga necessárias para a investigação da natureza e

as razões que o levaram a escrever sobre o método

O propósito inicial de Descartes era o de chegar a algum lugar ainda não percorrido.

Ao fim, tinha a intenção de revelar aquilo que descobrira e que julgara necessário

Page 57: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

compartilhar com os demais, quais sejam: os caminhos que levam ao saber e que poderão

tornar a vida melhor; o uso de uma filosofia que pode ser empregada nas mais diversas

situações e para controlar de maneira mais eficiente a natureza; uma forma de tornar os

homens mais sábios e hábeis e conservar sua saúde.

Os princípios que descobrira a respeito da filosofia são muito simples e evidentes e

em sua avaliação não os poderia ocultar.

Os horizontes do saber são enormes e ainda há muito a se desvendar.

Procurando proporcionar o bem aos outros, mas não possuindo capacidade para

realizar todas as experiências, Descartes intencionava dar a oportunidade de outros o

fazerem. Então, procurou encorajar os demais a seguirem seus caminhos e a irem além,

levando a humanidade o mais longe.

Segundo sua visão, alguns cientistas preocupam-se mais com suas reputações e

prestígio adquiridos pela situação em que se encontram. Então, desviam-se do caminho da

verdade, que só pode ser resultado de muito esforço e dedicação continuados. Esses

cientistas são vaidosos e querem demonstrar que nada ignoram. Para estes, seu discurso

pouco serve.

Descartes atribui a qualquer um a capacidade de enxergar o que enxergou, desde

que ajam com racionalidade e busquem o conhecimento pelo princípio. Partindo desse

princípio e examinando cada fato, a capacidade do homem lhe permite escavar a verdade e

a partir daí ter toda a chance de seguir adiante. O sucesso e o descobrimento são frutos da

curiosidade pioneira, da aplicação da procura.

Segundo seus estudos, as melhores trabalhos são aqueles concluídos por quem os

começou. Não recomenda que continuem sua obra, mas que empreendam suas próprias.

9.3 ASPECTOS MAIS IMPORTANTES

A busca de um método próprio que direcione o homem ao conhecimento ainda

obscuro, às novas possibilidades do saber, que garantirão à humanidade desenvolvimento e

Page 58: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

solução para problemas, e à uma busca coletiva do bem comum, por meio da solução de

questões de ordem prática.

O reconhecimento do pensamento crítico como sendo exclusivo da espécie humana,

decorrente da vontade de Deus e da existência da alma por ele criada.

A visão de tudo o que há como sendo de obra de Deus e da singularidade do homem

como sendo o ápice dessa obra.

A oportunidade dada somente à raça humana de desfrutar da razão e da liberdade

de sua utilização e por meio dela poder enxergar sua real posição dentro da natureza.

9.4 REFLEXÃO PESSOAL SOBRE O CONTEÚDO

O fato é que mesmo possuindo racionalidade, o homem não se utiliza bem dela. A

razão deve servir para retirar o homem da mediocridade e levá-lo a pensar sobre algo mais

complexo e útil, desprendê-lo da simplicidade de fatos corriqueiros e lhe proporcionar

entendimento de questões que lhe acrescentarão mais vigor e lhe mostrarão os caminhos

pelos quais deva realmente se enveredar, dando motivo à sua existência e lhe imprimindo

mais utilidade à vida.

A natureza do homem é pensar e pensar necessariamente leva a perguntar, discutir

e duvidar. A dúvida deve estar presente em toda evolução do pensamento, balizando seu

desenvolvimento e servindo de garantia de que todas as questões serão incansavelmente

submetidas a testes que provem sua veracidade.

9.5 AVALIAÇÃO DO LIVRO

Não há maneira de avaliá-lo negativamente, uma vez que desta obra só se podem

retirar ensinamentos poderosos a respeito da própria essência humana e de como um

homem bem intencionado, livre de vaidades pôde dedicar a vida em esclarecer aos outros

aquilo que lhe aguçou a curiosidade.

Page 59: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Descartes não se absteve de compartilhar com a humanidade seus propósitos e

descobertas, simplesmente por acreditar numa possibilidade de levar outros a também o

fazerem.

9.6 RECOMENDAÇÃO

Há obras que não são percebidas por sua fundamental importância. Esquecidas,

nunca lembradas; são simplesmente deixadas, não se permitindo a oportunidade de delas

auferir tudo o que há de tão fantástico e necessário em seu corpo. Permitir, preferir e até

exigir um desenvolvimento intelectual sustentado em bases filosóficas só pode garantir

sucesso profissional e satisfação da alma. Aqui, são respondidas questões sequer

formuladas por alguns mas assustadoramente fantásticas, à luz do contexto e da solução

apresentada. O Discurso do Método é assim. Compartilhar o conhecimento adquirido em

suas experiências foi o que Descartes pôde nos deixar de mais valioso e seguro. O

conhecimento, como se diz, é só o não nos pode ser retirado e sua acumulação deve ser

preferivelmente a partir de obras como esta.

10 DO ESPÍRITO DAS LEIS-MONTESQUIEU

10.1 INTRODUÇÃO

O século XVII abre caminho para o pensamento moderno, através do racionalismo

científico e do empirismo inglês. Nessa época, o domínio total da natureza constitui a tarefa

principal do homem. O século do Iluminismo, XVIII, vai transportar essa concepção para os

seus anseios, fazendo com que os filósofos procurem outro conceito de verdade e filosofia.

Montesquieu foi prova viva desse caráter investigador.

Charles Louis de Secondat, Barão de la Brède e Barão de Montesquieu, nasceu em

1689, próximo a Bordeaux. Provinha de família inglesa por parte de mãe e de família nobre

por parte de pai. Estudou, a partir dos doze anos, no Colégio de Juilly, onde teve sua

formação intelectual decididamente formada, pois os sacerdotes que lecionavam orientavam

Page 60: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

o ensino com espírito iluminista. Estudou direito, adquirindo experiência prática em Paris.

Quando da morte de seu pai, ele acabou, ele acaba voltando para sua terra natal e é nela

que recebe a herança de um tio com consideráveis propriedades e o título de barão de

Montesquieu, que também herdou. Com uma posição financeira confortável, Montesquieu

passa a dedicar-se mais ao estudo do direito romano e das leis naturais, firmando sai

formação iluminista.

Em 1721, surge sua primeira obra literária, com a qual ganhou fama: as Cartas

Persas. Retratando satiricamente a sociedade francesa de sua época, a obra é escrita por

meio de uma certa correspondência fictícia de dois viajantes persas que estavam em Paris.

O sarcasmo estende-se aos costumes e à política, e Montesquieu atribui diálogos de

admiração aos viajantes.

Entretanto a constante vivência e reflexão sobre a política e as leis fizeram

amadurecer o projeto de uma grande obra, finalmente publicada em 1748: Do Espírito das

Leis ou Das Relações que as Leis Devem Ter com a Constituição de Cada Governo,

Costumes, Clima, Religião, Comércio, etc.

10.2 ANTI-ABSOLUTISMO

Do Espírito das Leis é uma obra política por ter como objeto primordial o Estado, a

organização da sociedade, o meio que pode dominar legitimamente os homens.

Montesquieu tem assinalado o espírito dos contemporâneos e das gerações posteriores, em

uma relação de oportunidade e ressonância, respectivamente. Por ter sido produzida em

longos 20 anos, a obra possui falhas quanto a sua lógica e possível didática.

A obra retrata a crise da consciência européia, com caráter de revolução frente ao

absolutismo monárquico, uma vez que reverencia todas as possibilidades de argumentos,

não se viciando em uma vertente mais conveniente. A significativa originalidade de

Montesquieu está em sua metodologia, que exclui da ciência social toda perspectiva

religiosa ou moral e afasta-se das teorias abstratas e dedutivas, abordando mais

descritivamente e comparativamente os fatos sociaIs.

Escrito em 1748, Do Espírito das Leis aborda a questão crucial no direito da

humanidade: o motivo da existência e aplicação de uma lei em determinada época e espaço

Page 61: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

e a sua não aplicação em outra situação. Parte daí, então, os seguintes pressupostos: existe

um espírito das leis; os homens políticos não se levam pela fantasia; Montesquieu não

admite uma regra para toda e qualquer situação.

Contudo, isso não quer dizer que, os acidentes particulares tinham uma importância

exacerbada; pelo contrário, os acidentes eram nivelados inferiormente quando do

conhecimento de uma causa principal. Para ele, o que explica racionalmente a história, sem

necessidade de apelar para o Destino, pode explicar , racionalmente as leis, os costumes.

Se o aspecto exterior é nublado, o exame lógico descobre. Deve-se, a priori, procurar a

mola, a alavanca para a máquina funcionar.

Isso se faz vigorosamente no século XVIII, através do método experimental

mundano, das ciências exatas, através da dissecação da legislação. Dissecação difícil,

porque precisa-se ter senso de conjunto e, ao mesmo tempo, gosto por detalhes, além de

muita leitura e viagem. Com tudo isso, o cientista conceitua que as leis particulares se ligam

uma a outra e dependem de outra mais geral.

Um dos grandes tópicos frisados por Montesquieu é a relevância dos princípios.

Entende-se por princípio que toda lei tem uma razão, porque toda lei é relativa a um

elemento da realidade física, moral ou social. Sendo assim, toda lei supõe uma relação. O

espírito é o encadeamento dessas relações, a sua organização sistêmica.

Ao fim da obra, Montesquieu sentiu-se satisfeito com o desenvolvimento de sua

teoria dos governos e com o caminho que o seu critério de divisão de leis estava tomando.

Entretanto, "à medida que se desenvolve (a teoria), a coesão (intelectual) vai

progressivamente se afrouxando; o autor enriquece constantemente sua investigação, e ei-

lo embaraçado com sua própria riqueza."

Os oito primeiros livros que Montesquieu escreveu para a sua obra-prima são

direcionados para a teoria de sua investigação.

Os livro de IX a XIII trata da proteção dos cidadãos no exterior, interior e os impostos

e rendas públicas. Abrange, portanto, a teoria da liberdade política, assegurada por certa

distribuição dos poderes. É daí que surge sua decepção com as repúblicas de seu tempo e

vê-se seduzido pelas instituições inglesas, modificando o curso de sua obra.

Page 62: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Dos livros XIV a XVIII, o autor preocupa-se com as causas físicas dos países a

serem estudados. São lei relativas ao ambiente físico de diversos lugares do mundo,

fazendo com que o assunto pareça um pouco insólido, perigoso e até com pitadas

deterministas.

O livro XIX refere-se ao espírito geral das causas, abrangendo o governo, a religião,

tradição, costumes, maneiras e inclusive climas físicos.

O livro XX abre caminho para a segunda parte de sua obra, fazendo a relação com o

comércio. É nesse momento que Montesquieu sente que sua vida avança, ao passo que

sua obra retrocede, devido ao seu imenso tamanho. Os livros não têm mais uma coesão,

são soltos, como monografias.

Até o livro XXV o pensador continua a analisar a lei e sua relação com o comércio, a

moeda, a população e a religião.

O livro XXVII discute os distintos domínios da legislação, ao mesmo tempo

analisando as leis sucessórias dos romanos e a origem e revolução das leis civis entre os

franceses, seguindo o assunto pelo livro XXVIII. Esse mesmo assunto está em Das causas

da Grandeza e da Decadência dos Romanos, livro de difícil assimilação e produção, uma

vez que até hoje não se vêem claras todas as causas da dissolução da civilização antiga.

Nos livros XXX e XXXI, a questão estudada é a teoria das leis feudais na sua relação

com a monarquia.

O último livro, que aparentemente fecharia com chave de ouro toda essa ciência

produzida, acaba por frustrar ironicamente em um assunto de extrema coerência com o

restante da obra: a maneira de composição das leis. Não por isso esse conjunto de livros

perdeu seu valor autêntico. Do Espírito das Leis é um dos maiores monumentos de

jurisprudência comparada, de política comparada. Como o próprio Montesquieu se orgulhou

em dizer: foi um filho gerado sem mãe.

Questiona-se que Montesquieu produziu um livro com uma vertente de higienização

social. O fato é que sua teoria ilustra a moralidade e a reforma. Com sua forma

fragmentada, o teórico não tem o caráter dedutivo de Hobbes, Locke ou Bossuet. Fez isso

propositalmente, visto que sua visada é mais abrangente. "As leis não são estabelecidas,

Page 63: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

mas sim relações que derivam da natureza das coisas", aludindo à filosofia de Descartes.

No desenvolver desse processo vê-se, antes de mais nada, o espírito de Montesquieu

10.3 GOVERNOS

Obra de caráter generalizador, em que o autor considera tudo situado num mesmo

plano. Nessa teoria, Montesquieu muda a classificação tradicional dos governos (exposta

por Aristóteles) de democracia, aristocracia e monarquia, para república, monarquia e

despotismo, admitindo que esta teria mais propriedade com a realidade das coisas. Com

isso, acaba por arriscar uma categorização menos segura, pois a república, imediatamente

pode ser dividida em duas: democracia e aristocracia.

No decorrer de sua teorização, percebeu-se, mais uma vez, que, para cada governo,

é necessário distinguir a natureza e o princípio, para poder classificá-lo. Ele estabelece uma

relação entre as condições psicológicas de cada povo e a forma de governo adotada. A

natureza é a estrutura particular de um governo. Já o princípio é a "mola" propulsoras dos

eventos que acontecem em um governo. Todas as leis devem ser relativas a esses dois

gêneros do governo, sendo que o princípio é o maior influente em toda a legislação, uma

vez que produz diretamente as leis da educação e conseqüentemente todas as outras. Ele

ressalta ainda que quando os princípios são corrompidos, as melhores leis se tornam ruins.

Nas próprias palavras de Montesquieu," o governo republicano é aquele em que o

povo em conjunto, ou só uma parte do povo, tem o soberano poder; o monárquico, aquele

em que um só governa, mas por leis fixas e estabelecidas; ao passo que no depóstico, um

só, sem lei e sem regra, tudo arrasta por sua vontade e caprichos". Afere-se daí que o

Estado, para Montesquieu, é uma totalidade real, em que todos os pormenores são efeitos

de uma unidade interna.

Considerando a república democrática, nota-se que a sua natureza é o povo,

mandante e mandado, e que seu fundamento encontra-se nas leis que estabelecem o direito

de sufrágio. O autor defende que o povo é apto para escolher e examinar a gestão de quem

escolheu para governar, mas não é apto para administrar a si mesmo, porque ou age

demais ou age muito pouco, sem um critério coerente. Ele adiciona ainda que o tamanho do

território influi muito no bem comum, de maneira positiva na pequena república, sendo

compreendido e relevado, e de modo negativo nas grandes repúblicas, que o sacrificam

Page 64: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

inevitavelmente. Tudo isso remete ao interesse público, acarretando a virtude como

essência desse tipo de governo. Desenvolve aí a idéia de que virtude se encontra de

preferência nos países freios, o despotismo nos países quentes e a monarquia em países

temperados.

O emprego da generalização, de convenções, faz de Do Espírito das Leis a primazia

do heroísmo nostálgico de Montesquieu, uma vez que este isola e considera as condições

sempre válidas das democracias.

Na república aristocrática, que para nós só tem interesse histórico, por não ser mais

aplicada em país algum, o poder está nas mãos de um certo número de pessoas e quanto

maior esse número, maior a sua semelhança com a democracia. A sua distinção com os

outros governos está no espírito de moderação, que visa a suavizar as desigualdades.

A monarquia constitui, para Montesquieu, o governo de um só, com esta pessoa

sendo a fonte de todo o poder. Mas é um governo limitado por leis estabelecidas e fixas e,

conseqüentemente, poderes intermediários. A nobreza, o clero, as cidades com seus

privilégios e o depósito de leis são poderes que censuram o monarca de extravagâncias e

caprichos. As leis que estão no depósito têm o papel de regular e reter o curso da

soberania, refrescando a memória de leis esquecidas . evidentemente, por ser presidente do

Parlamento de Bordéus, Montesquieu reservou esse poder ao Parlamento. Com esse jogo

complexo de oposições, de resistências é que ele consegue manter o Estado monárquico. O

princípio desse governo é a "honra", o preconceito das pessoas e das situações. Através

dessa concepção, a monarquia acaba por se auto-regular, pois as pessoas, visando a si

mesmas, criam corporações de privilegiados, tal qual esse tipo de governo necessita.

O despotismo é caracterizado pelo abuso de poder de uma pessoa só, não se

preocupando com a opinião do povo. O autor admite que o que o diferencia da monarquia é

apenas o grau de moralidade. Enfatiza, contudo, a diferença radical quanto ao princípio: o

temor versus a "honra". Com o objetivo de estabelecer a tranqüilidade, o despotismo não

busca a paz, mas sim o silêncio dos povos.

10.4 LIBERDADE POLÍTICA

Page 65: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

O livro XI, que trata "das leis que formam a liberdade política em sua relação com a

constituição", é a parte de sua obra mais famosa. Com uma mudança significativa da

atmosfera que rodeia todos os outros aspectos abordados, este livro passa a considerar a

liberdade política, em vez do governo moderado. Entende-se, entretanto, por liberdade por

liberdade política, não o livre arbítrio nas escolha do que se quer fazer, mas sim a

possibilidade, a permissão, o direito de escolher fazer ou não determinada coisa. Nota-se

que a própria virtude precisa, segundo ele, de limites para não acontecer o abuso de poder.

Daí a fragmentação dos poderes, com evidente alusão a Locke.

Liberdade não existe quando o legislativo, o executivo e o judiciário estão nas

mesmas mãos. Ao chegar a essa conclusão, Montesquieu teve que passar pela

conceituação das forças concretas do governo (inglês): monarquia, nobreza e povo. A

primeira das forças é o povo, que não age por si mesmo, mas por seus representantes. O

segundo poder é a nobreza, constituindo uma corporação particular, por ser hereditária. A

parte que se refere à legislação fica nas mãos dos nobres, podendo somente aplicar o

impedimento das leis, após analisá-las, e não corrigi-las. O terceiro poder, o executivo, é

confiado ao monarca, que deve tomar decisões momentânea, de acordo com as decisões

do legislativo. Ressalta-se nessa divisão que o legislativo é assegurado por sessões

periódicas, mas os reis não devem tentar governar o Parlamento, apesar deles serem

considerados sagrados e invioláveis.

10.5 LEGADO

O equilíbrio da monarquia que Montesquieu montou foi muito criticado, por razões de

medo e outras até racionais. O argumento de que a engrenagem da máquina emperraria

com tantas limitações e falta de inter-relações é posto abaixo com a realidade de nossos

tempos: a sua influência em todo o Ocidente se encontra viva até hoje, por uma questão de

movimentação orgânica dos homens, que Montesquieu assinalou. A sua contribuição mais

notável ainda permanece: a investigação das relações entre os fatos sociais e a sua

compreensão na totalidade.

11. CONTRATO SOCIAL - JEAN J. ROUSSEAU

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11.1 LIVRO PRIMEIRO

Rousseau,era secretário do embaixador de Veneza em 1743 e estudava teorias

políticas vigentes. Podemos destacar das leituras políticas do autor podemos destacar os

livros jurisconsultos como: Grotius,Pufendorf e Althusius ou se preferir filósofos políticos

como Montesquieu,Hobbes e Locke.Grotius foi uma de suas obras mais lidas nos séculos

XVII e XVIII. Segundo Grotius o poder político pode assumir varias formas ,mas suas

preferencias pessoais tendem para a monarquia absoluta.Quanto a Pufendorf precisou da

teoria do contrato de Grotius, para fazem a distinção entre dois tipos de pactos: A) o pacto

de associação segundo o qual é formada a sociedade e que no sistema permite afirmar que

a sociedade não se desfaz com a queda do governo) Um pacto de submissão pelo qual o

poder é confiado pelo povo a um soberano.

Quanto á Althusius sua presença é bastante clara em algumas elaborações de

Rosseau,exemplo: Cartas da Montanha, e certos trechos deste Do contrato Social.Quanto a

Hobbes, resumimos sua doutrina assim: No estado de natureza os homens apenas visão

satisfação egoísta de suas necessidades.O soberano legista ,estabelece os dogmas

religiosos,etc.A teoria do contrato social exposta por Locke, precursor do liberalismo

burguês, opõe-se frontalmente a de Hobbes.Montesquieu se concentrava em fatores

geográficos,Rosseau insistia nos valores históricos.

A economia política que se refere o livro hoje é chamada de administração

pública.Esse livro é um estudo de teorias políticas,sociais e civis da época do século XVIII.

11.1.1 Conclusão do I capítulo

Explica que a pessoa nascida de um Estado livre e membro do Conselho Geral ou

Assembléia Soberana da Republica de Genebra (da época),mesmo que tivesse pouca

influência de voz nos negócios públicos o direito que eles tinham para votar era suficiente

para impor o dever de instruir. Diz que a ordem social é um direito que se auto justifica e que

serve de base a todos os outros. Mas esse direito não é proveniente de natureza foram

fundados em convenções, mas precisa-se saber quais convenções.

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11.1.2 Conclusão do II capítulo – Das primeiras sociedades

O que achei interessante e verdadeiro e nunca tinha parado para pensar e o que

está neste capítulo: que a família é a mais antiga das sociedades, e ainda explica que os

filhos permanecem com os pais durante o tempo que tem necessidade.Quando a

necessidade cessa o laço natural se dissolve.Os filhos ficam isentos da obediência que

tinham com os pais e os pais fica isento de cuidados com os filhos. Assim se tem a

igualdade e a independência. Se continuarem unidos não é mais naturalmente mas sim

voluntariamente.A família se mantém por conveniência. É uma liberdade comum e

conseqüência da natureza do homem.Grotius nega que todo poder humano seja

estabelecido em favor dos que são governados e cita a escravatura como exemplo.Calígola

concluiu dessa analogia que os reis eram deuses e os povos eram bestas.O raciocínio de

Calígola é igual ao de Hobbes e de Grotius.Aristóteles antes deles havia dito que os homens

não são Naturalmente iguais ,uns nascem para escravidão e outros para dominar.

11.1.3 Conclusão do III capítulo- Direito do mais forte

Mais forte se não transformar sua força em direito e a obediência em dever nunca vai

ser o senhor. A força faz o direito o efeito muda com a causa. A palavra direito nada

acrescenta a força , aqui não significa absolutamente nada. Se obedecer as potências quer

dizer ceder a força o preceito é bom. Ex.: Quando uma pessoa nos assalta usa de arma

para retirar nossos bens é um tipo de força, mas se eu pudesse me defender também usaria

de força para recuperar meus bens o sujeito poderia estar sem armas seria mais fácil para

usar a minha força física. Deduzimos que a força não faz direito, somos obrigados a

obedecer as potências legitimas.

11.1.4 Conclusão do IV capítulo – Da escravidão

Como nenhum homem possui autoridade sobre seu semelhante e como a força não

produz nenhum efeito restam as convenções como base de toda autoridade legítima entre

os homens. Alienar é dar ou vender. Um homem que se torna escravo de um outro não se

Page 68: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

dá; ele se vende pelo menos por sua subsistência . Dizer que um homem se dá

gratuitamente é um absurdo. Mesmo que cada um pudesse se alienar a si mesmo, não

poderia alienar seus filhos, nasceram homens livres, sua liberdade lhe pertence e ninguém

se não eles, tem o direito de dispor dela. Antes que atinjam a idade da razão o pai pode em

seu nome, estipular condições para sua conservação, para seu bem estar, mas não pode

da-los irrevogavelmente e sem condição, pois tal doação é contrária aos fins da natureza e

ultrapassa os direitos de paternidade. O vencedor tendo direito de matar o vencido segundo

eles, este pode resgatar sua vida a sua liberdade.

A guerra não é, portanto, uma relação de Estado para Estado, os particulares são

inimigos acidentalmente como defensores. Cada Estado só pode Ter como inimigos outros

Estados. O estrangeiro seja rei, seja particular, seja povo que rouba ou mata e detém os

súditos, sem declarar guerra ao príncipe não se trata como um inimigo é um bandido.

Mesmo em guerra , um príncipe justo se apossa, em país inimigo de tudo que pertence ao

público, mas respeita as pessoas e os particulares respeita os direitos nos quais se

fundaram os seus. Pode-se destruir o Estado sem destruir nenhum de seus membros. O

direito da conquista tem como único fundamento a lei do mais forte. Se guerra não da ao

vencedor o direito de massacrar os povos vencidos, esse direito não pode servir para

fundamentar aquele de escravizá-los. O direito de escravizar não é originário. É portanto

uma troca perversa fazê-lo adquirir a vida com o preço da liberdade.

Assim, por qualquer lado que se encarem as coisas, é nulo o direito de escravizar,

não só pelo fato de ser ilegítimo, como porque é absurdo e nada significa. As palavras

escravatura e direito são contraditórias, excluem-se mutuamente. Seja de homem para

homem, seja de um homem para um povo, este discurso será igualmente insensato: "Faço

contigo um contrato, todo em teu prejuízo e todo em meu proveito, que eu observarei

enquanto me aprouver, e que tu observarás enquanto me aprouver."

11.1.5 Conclusão do capítulo V – De como é necessário sempre remontar a uma

primeira Convenção

Sempre haverá diferença entre submeter uma multidão e reger uma sociedade .O

interesse separado dos outros, sempre será um interesse privado. Um povo é um povo

antes de se entregar a um rei. Está própria doação é um ato civil. Supõe uma discussão

Page 69: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

para resolver o assunto público. Antes de examinar pelo qual um povo escolhe um rei , seria

bom examinar o ato pelo qual o povo é um povo.

11.1.6 Conclusão do capítulo VI – Do pacto social

Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de toda a força comum a

pessoa e os bens de cada associado e pela qual cada um, se unindo a todos obedeça

apenas a si mesmo e permaneça tão livre quanto antes. Este é o problema fundamental a

que o contrato social dá á solução. As cláusulas desse contrato são de tal modo

determinadas pela natureza do ato que a menor modificação as tornaria vãs e sem efeito,

ainda que jamais pudessem Ter sido formalmente enunciadas, são as mesmas em todas as

partes silenciosamente admitidas e reconhecidas, até que tendo sido violado o pacto social,

cada um recobre seus primeiros direitos e retome a sua liberdade natural perdendo a

liberdade convencional. Á qual renuncia por aquela. Essas cláusulas se reduzem quando

bem compreendidas a uma só, alienação total de cada associado com todos seus direito a

toda comunidade.

Quanto aos associados, adquirem coletivamente o nome de povo, e se chamam

particularmente cidadãos, na qualidade de participantes na autoridade soberana, e vassalos,

quando sujeitos às leis do Estado. Todavia, esses termos freqüentemente se confundem e

são tomados um pelo outro. É suficiente saber distingui-los, quando empregados em toda a

sua precisão.

11.1.7 Conclusão do capítulo VII – Do soberano

O ato de associação encerra um compromisso recíproco do publico com os

particulares, cada indivíduo contratado encontra-se comprometido sob uma dupla

relação:como membro do soberano relativamente aos particulares, e como membro do

Estado relativamente ao soberano mas não se pode aplicar a máxima do direito civil. O

corpo político ou soberano tirando apenas o seu ser de santidade do contrato jamais se

pode obrigar, mesmo relativamente ao outro, a nada que derrogue esse ato primitivo como o

alienar qualquer porção de si mesmo, ou de se submeter a um outro soberano. Violar o ato

pelo qual ele existe seria aniquilar-se. Quando a multidão está reunida formando um corpo,

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não se pode ofender um dos membros sem atacar o corpo. O soberano sendo formado

apenas pelos particulares, não tem nem pode Ter interesse contrário ao seu .

11.1.8 Conclusão do capítulo VIII – Do Estado Civil

A passagem do estado de natureza ao estado civil produz no homem uma mudança

notável, substituindo em sua conduta o instinto pela justiça e dando a suas ações a moral de

que não se tinha antes. O que o homem perde pelo contrato social é a sua liberdade natural

e um direito limitado a tudo o que tenta e pode alcançar ,o que vem a ganhar a liberdade

civil e a propriedade de tudo que possui. É preciso distinguir bem a liberdade natural da

liberdade civil, que é limitada pela vontade geral.

11.1.9 Conclusão do capítulo IX – Do Domínio Real

Para autorizar sobre um terreno qualquer o direito do primeiro ocupante, são

necessárias as seguintes condições: Primeiro que esse terreno não seja ainda habitado por

alguém . Segundo: que não se ocupe dele mais que a porção que necessita para estar em

vigor. Terceiro: que se tome pose dele , não apenas por uma cerimonia em vão, mas pelo

trabalho e cultivo, único sinal de propriedade que em falta de títulos jurídicos deve ser

respeitado pelos outros. O que serve de base para rodo o sistema social é que em lugar de

destruir a igualdade social, o pacto fundamental substitui ao contrário uma igualdade moral e

legítima naquilo que a natureza podia trazer de desigualdade física entre os homens e que

podendo ser desiguais na força ou na capacidade , tornam-se todos iguais por convenção e

direito. As leis sempre são úteis àqueles que a possuem e prejudiciais àqueles que nada

tem.

11.2 LIVRO SEGUNDO

11.2.1Conclusão do I capítulo – A Soberania é Inalienável

Page 71: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Inalienável: intransferível. Se não houvesse algum ponto no qual todos os interesses

concordassem, nenhuma sociedade poderia existir. É unicamente segundo este interesse

comum que a sociedade deve ser governada. Se o povo promete simplesmente obedecer,

ele se dissolve por esse ato, perde sua qualidade de povo, no instante de que tem um

senhor, não mais possui soberano, sendo assim o corpo político está destruído. Não quer

dizer que as ordens dos chefes não possam passar por vontades gerais, enquanto que o

soberano livre para se opor, não o faz.

11.2.2 Conclusão do II capítulo– A Soberania é indivisível

A soberania é indivisível pela mesma razão pela qual é intransferível. Os políticos

não podem dividir a soberania em seu princípio, dividem-na em seu objetivo : em força e em

vontade, em poder legislativo e poder executivo, em direitos de impostos justiça ,de guerra,

em administração interior e em poder de tratar com o estrangeiro: tanto confundem essas

partes quanto as separam. Eles despedaçam um corpo social e depois não conseguem

juntar. Isso se origina de não Ter noções exatas da autoridade soberana e por Ter tomado

como partes dessa autoridade aquilo que era apenas emanações. Exemplo: encarou o ato

de declarar guerra e o fazer a paz como atos de soberania, o que não acontece pois cada

um desses atos não é lei, apenas uma aplicação de lei um ato particular que determina o

caso da lei. Caso: termo específico do Direito ,significando o modo pelo qual uma lei se

aplica a um caso particular, espécies ou ocorrências em que determinada lei se aplica.

11.2.3 Conclusão do III capítulo – Se a vontade geral pode enganar

Já mais se corrompe o povo, mas freqüentemente o povo é enganado. É aí que o

povo começa a desejar o que é mau. ‘Há muita diferença entre a vontade de todos e a

vontade geral. Cada interesse tem princípios diferentes. O acordo de dois interesses

particulares é formado pela oposição de um terceiro. Se não houvesse interesses diferentes

era mais fácil se reconhecer os interesses comum que jamais encontraria obstáculo. Importa

obter o enunciado da vontade geral.

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11.2.4 Conclusão do Capítulo IV – Dos limites do poder soberano

Como a natureza dá a cada homem um poder absoluto sobre todos os seus

membros, o pacto social da ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus, e é

esse mesmo poder que, dirigindo pela vontade geral recebe o nome de soberania. Além da

pessoa pública devemos considerar as pessoas privadas que a compõem e cujo a vida e a

liberdade são naturalmente independentes dela. A igualdade de direito, e a noção de justiça

que produz deriva da preferência que cada um se dá e por conseqüência da natureza do

homem. A vontade geral por seu lado muda de natureza tendo um objeto particular, e não

pode como regra geral pronunciar-se nem sobre um homem, nem sobre um fato.

O poder soberano por mais absoluto, mais sagrado e mais inviolável que seja, não

ultrapassa nem pode ultrapassar os limites das convenções gerais., e que todo homem pode

dispor plenamente daquilo que lhe foi deixado de seus bens e de sua liberdade por essas

convenções, de modo que o soberano jamais tem direito impor um súdito mais que outro

porque a questão se tornando particular , seu poder deixa de ser competente.

11.2.5 Conclusão do capítulo V – Do direito de vida e de morte

Todo homem tem o direito de arriscar sua própria vida para conservá-la. O tratado

social tem por finalidade conservar os contratantes. Quem deseja conservar sua vida as

custas dos outros deve da-la também pelos outros quando for necessário. A pena de morte

infligida aos criminosos pode ser vista sobre o mesmo ponto de vista: é para não se vitima

de um assassino que se consente em morrer se torna um. Todo malfeitor , atacando o

direito social, torna-se, por seus crimes rebelde e traidor da pátria, deixa de ser seu membro

violando suas leis e chega a mover guerra. A condenação de um criminoso é um ato

particular. Quando o direito de conceder graça ou isentar um culpado da pena imposta pela

lei ou pronunciada por um juiz, pertence apenas aquele que está acima do juiz e da lei isto é

o soberano. Embora o seu direito não esteja claro é raro casos em que é empregado. Num

Estado bem governado há poucas punições por que a existência de poucos criminosos .

O grande número de crimes assegura sua impunidade quando o Estado enfraquece.

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11.2.6 Conclusão do capítulo VI – Da Lei

Pelo pacto social temos a existência da vida ao corpo político: trata-se de dar-lhe o

movimento e a vontade pela legislação. É uma justiça universal originou-se da razão, mas

para ser admitida entre nós deve haver troca. Para considerar as coisas humanas, sem a

sanção natural as leis da justiça são vãs entre os homens, apenas proporcionam o bem do

mal e o mau do justo. São necessárias as convenções e leis para unir os direitos aos

deveres e reconduzir a justiça a seu objeto. No estado civil todos os direitos são fixados a

lei. Aquele que ousa tentar executar a instituição de um povo deve se sentir em condições

de mudara a natureza humana, de alterar a constituição do homem para reforçá-la é preciso

que tire o homem de suas próprias forças. A vontade geral é sempre reta; mas o julgamento

que a dirige nem sempre é esclarecido.

E necessário fazer-lhe ver os objetos tais como são, e muitas vezes tais como devem

parecer-lhe; é preciso mostrar-lhe o bom caminho que procura, protegê-la da sedução das

vontades particulares, aproximar de seus olhos os lugares e os tempos, equilibrar o encanto

das vantagens presentes e sensíveis com o perigo dos males afastados e ocultos. Os

particulares vêem o bem que rejeitam, o público deseja o bem que não vê. Todos

igualmente necessitam de guias; é preciso obrigar uns a conformar suas vontades com sua

razão; é necessário ensinar outrem a conhecer o que pretende. Então, das luzes públicas

resulta a união do entendimento e da vontade no corpo social; dá o exato concurso das

partes e, finalmente, a maior força do todo. Eis de onde nasce a necessidade de um

legislador.

11.2.7 Conclusão do capítulo VII – Do legislador

Para descobrir as melhores regras de sociedade convenientes às nações, seria

necessária uma inteligência superior que visse todas as paixões e não provasse nenhuma;

que não tivesse nenhuma relação com nossa natureza e a conhecesse no íntimo.

O legislador, a todos os respeitos, é no Estado um homem extraordinário. Se o deve

ser por seu engenho, não o é menos por seu emprego; não é de modo algum magistratura,

não é de nenhum modo soberania. O emprego, que constitui a república, não entra em

absoluto em sua constituição; é uma função particular e superior, que nada tem de comum

Page 74: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

com o império humano; porque, se quem dirige os homens não deve dirigir as leis, quem

dirige as leis não deve, pela mesma razão, dirigir os homens; do contrário, suas leis,

ministras de suas paixões, perpetuariam muitas vezes suas injustiças, e ele jamais poderia

evitar que intuitos particulares alterassem a santidade de sua obra.

Ao dar leis à sua pátria, começou Licurgo por abdicar a realeza. Era costume da

maioria das cidades gregas confiar a estrangeiros o estabelecimento de suas leis. As

modernas repúblicas da Itália imitaram muitas.

Disso tudo não se deve concluir, juntamente com Warourton, que a política e a

religião tenham entre nós um objetivo comum; mas sim que, na origem das nações, uma

serve de instrumento à outra.

11.2.8 Conclusão do capítulo VIII – Do povo

Assim como um grande arquiteto, antes de construir, observa e sonda o solo, para

ver se este tem condições de sustentar o peso, o sábio instituidor não começa por redigir

boas leis em si mesmas; mas examina anteriormente se o povo, ao qual são destinadas,

está apto para as aceitar. Foi por isso que Platão recusou dar leis aos árcades e aos

cirenaicos, sabendo que esses dois povos eram ricos e não podiam admitir a igualdade; foi

também por isso que se viram em Creta leis perfeitas e homens perversos, porque Minos só

havia disciplinado um povo sobrecarregado de vícios. Há para as nações, como para os

homens, um tempo de maturidade, que é preciso esperar, antes de as sujeitarmos às leis;

mas a maturidade de um povo não é fácil de conhecer, e se a antecipamos, aborta a obra.

Certo povo pode ser disciplinado ao nascer; outro não o será ao término de dez séculos. Os

russos não serão nunca verdadeiramente policiados, porque o foram muito cedo.

Pedro o Grande tinha o talento imitativo, não o verdadeiro gênio, o que cria e tudo

faz do nada. Algumas coisas que fez eram boas, a maioria delas indevida. Ele viu que seu

povo era bárbaro, mas não viu em absoluto que seu povo não estava amadurecido para a

polícia; ele desejou civilizá-lo, quando devia torná-lo aguerrido; quis, de início, fazer deles

alemães, ingleses, quando era preciso começar por fazê-los russos; impediu seus vassalos

de jamais se tornarem o que poderiam realmente ser, persuadindo-os de que eram aquilo

que são. É dessa maneira que o preceptor francês educa o seu aluno, fazendo-o brilhar um

momento, durante a infância, para, em seguida, não vir a ser jamais ninguém. O império

Page 75: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

russo desejará subjugar a Europa, e acabará por ser subjugado. Os tártaros, seus vassalos

ou seus vizinhos, se tornarão seus senhores e nossos: esta revolução parece-me infalível.

Todos os reis da Europa trabalham de comum acordo para acelerá-la.

11.2.9 Conclusão do capítulo IX – Seqüência

Á melhor constituição de um Estado, limitando-lhe a extensão, a fim de que não

venha a ser nem muito grande para poder ser bem governado, nem muito pequeno para se

poder manter por si mesmo. Em todo corpo político há um máximo de força que ele não

poderia ultrapassar, e do qual com freqüência se afasta à medida que se expande. Quanto

mais se estende o laço social, tanto mais afrouxa; e, em geral, um pequeno Estado é

proporcionalmente mais forte que um grande. A administração, em primeiro lugar, torna-se

mais penosa nas grandes distâncias, assim como um peso qualquer se torna mais pesado

na ponta de uma alavanca maior.

Torna-se mais onerosa à medida que os degraus se multiplicam; porque cada cidade

tem, de início, a sua administração, que o povo paga; cada distrito a sua, paga ainda pelo

povo; a seguir, cada província, depois os grandes governos, as satrapias, os vice-reinados,

cuja administração se torna cada vez mais cara, à medida que se sobe, e sempre à custa do

inditoso povo; vem, por fim, a administração suprema, que tudo esmaga: com tanta

sobrecarga a exauri-los continuamente, os vassalos, longe de serem melhor governados por

essas diferentes ordens, acabam por sê-lo pior que se tivessem um só desses governos a

dirigi-los. Não obstante, apenas sobram recursos para os casos extraordinários; e quando

se faz preciso a eles recorrer, é que se encontra o Estado às vésperas da ruína.

Se vê-se por aí haver razões para alargar e razões para estreitar os limites do

Estado, e não constitui o menor aspecto do talento do político, encontrar, entre umas e

outras, a proporção mais vantajosa à conservação do Estado. Pode-se dizer em geral que

as primeiras, sendo apenas exteriores e relativas, devem ser subordinadas às outras, que

são internas e absolutas; uma sã e forte constituição é a primeira coisa a pesquisar, e, de

preferência, deve-se contar com o vigor nascido de um bom governo que com os recursos

fornecidos por um grande território.

Page 76: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

11.2.10 Conclusão do capítulo X - Seqüência

Pode-se mensurar um corpo político de duas maneiras, a saber: pela extensão do

território, e pelo número da população; e entre uma e outra dessas medidas, há uma relação

conveniente para dar ao Estado sua verdadeira grandeza. São os homens que fazem o

Estado, e é o terreno que alimenta os homens; essa relação consiste, pois, em que a terra

baste para a manutenção de seus habitantes e haja tantos habitantes quantos a terra possa

nutrir. Nessas condições, para instituir um povo, é preciso ajuntar uma outra que não pode

suprir nenhuma outra, mas sem a qual todas se revelam inúteis: a de que se desfrute de paz

e abundância; porque o tempo durante o qual se ordena um Estado é igual àquele em que

se forma um batalhão, ao instante em que o corpo tem menos capacidade de resistência e,

portanto, é mais fácil de ser destruído. Resistir-se-ia melhor em meio a uma desordem

absoluta que num momento de fermentação, quando cada qual se ocupa de sua classe e

não do perigo.

Se uma guerra, uma crise de fome, uma sedição sobre vem em tempo de crise, o

Estado é infalivelmente derrubado. E qual é o povo apto a receber a legislação é aquele que

estando já ligado através de alguma união de origem, de interesse ou convenção, não foi

ainda submetido ao verdadeiro jugo das leis; aquele que não possui nem costumes nem

superstições bem arraigadas; aquele que não receia ser esmagado por uma invasão súbita,

que, sem entrar nas querelas de seus vizinhos, tem condições de resistir sozinho a cada um

deles ou obter a ajuda de um a fim de repelir o outro; aquele em que cada membro pode ser

conhecido de todos, e em que não se faz necessário sobrecarregar um homem de um

grande fardo que não possa carregar; aquele que pode dispensar os outros povos, e do qual

nenhum outro povo deixa de necessitar aquele que nem é rico, nem é pobre, e pode bastar-

se a si mesmo; enfim, aquele que reúne a consistência de um povo antigo com a docilidade

de um hodierno.

O que torna penosa a obra da legislação não é tanto o que é preciso estabelecer,

mas sim o que é preciso destruir; e o que torna o êxito tão raro é a impossibilidade de

encontrar a simplicidade da Natureza junto às necessidades da sociedade. Todas essas

condições, é verdade, dificilmente se encontram reunidas: eis por que se vêem poucos

Estados bem constituídos.

11.2.11Conclusão do capítulo XI – Dos diferentes sistemas de legislação

Page 77: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Se procura saber em que consiste precisamente o maior dos bens, que deve ser o

objetivo de todo sistema de legislação, achar-se-á que se reduz a estes dois objetos

principais: a liberdade e a igualdade. A liberdade, porque toda independência particular é

outra tanta força subtraída ao corpo do Estado; a igualdade, porque a liberdade não pode

subsistir sem ela. O que torna a constituição de um Estado verdadeiramente sólida e durável

é o fato de as conveniências serem de tal modo observadas, que as relações naturais, bem

como as leis, tombam sempre, harmoniosamente, sobre os mesmos pontos, e estas últimas

assegurarem, acompanharem e retificarem as outras. Mas, se o legislador, enganando-se

em sua matéria, toma um princípio diverso daquele que nasce da natureza das coisas, um

que tenda para a servidão e outro para a liberdade, um para as riquezas e outro para o

povoamento, um para a paz e outro para as conquistas, veremos as leis debilitarem-se

insensivelmente, a constituição alterar-se, e o Estado não cessar de ser agitado, até ser

destruído ou mudado, e a invencível Natureza retomar o seu império.

11.2.12 Conclusão do capítulo XII – Divisão das leis

As leis que regulamentam essas relações são denominadas leis políticas; chamam-

se também leis fundamentais, não sem alguma razão, no caso de serem feitas com

sabedoria; porque se em cada Estado, não há senão uma maneira de o dirigir, o povo que a

encontrou deve a ela ater-se; mas, no caso de ser má a ordem estabelecida, por que se há

de tomar por fundamentais as leis que impedem de ser bom? De resto, em todo estado de

causa, o povo é sempre senhor de mudar suas leis, mesmo as melhores, porque, se lhe

aprouver prejudicar a si mesmo, quem terá o direito de impedi-lo?

A segunda relação é a dos membros entre si ou com o corpo inteiro, e essa relação

deve ser, no primeiro caso, tão pequena, e, no segundo, tão grande quanto possível; de

sorte que cada cidadão se sinta perfeitamente independente de todos os outros e numa

excessiva dependência da cidade, o que sempre se faz através dos mesmos meios, uma

vez que não há senão a força do Estado para promover a liberdade de seus membros. E

desta segunda relação que nascem as leis civis. Pode-se considerar uma terceira espécie

de relação entre o homem e a lei: isto é, a da desobediência ao castigo, e esta dá lugar ao

estabelecimento das leis criminais, que, no fundo, constituem menos uma espécie particular

de leis que a sanção de todas as outras.

Page 78: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Entre essas diversas classes, as leis políticas que constituem a forma do governo

são as únicas que se relacionam com o meu assunto. (do autor).

11.3 LIVRO TERCEIRO

11.3.1 Conclusão do I capítulo – Do governo em geral

Toda ação livre tem duas causas, que concorrem para produzi-la: uma, moral, a

saber, a vontade que determina o ato; outra, física, isto é, o poder que a executa. Quando

caminho na direção de um objeto, faz-se primeiramente necessário que eu lá queira ir; em

segundo lugar, que meus pés me levem. Vimos que o poder legislativo pertence ao povo e

só a ele pode pertencer. poder executivo não pode pertencer ao maior número como

legislador ou soberano, pelo fato de este poder só consistir em atos particulares que não

são de modo algum da jurisdição da lei, e, por conseguinte, do soberano cujos atos não

podem ser senão leis. Governo e um corpo intermediário, estabelecido entre os vassalos e o

soberano, para possibilitar a recíproca correspondência, encarregado da execução das leis

e da manutenção da liberdade, tanto civil como política. Chamo, pois, governo, ou suprema

administração, ao exercício legítimo do poder executivo; e príncipe ou magistrado, ao

homem ou ao corpo incumbido dessa administração.

É no governo que se encontram as forças intermediárias cujas relações compõem a

do todo ao todo, ou a do soberano ao todo. Pode-se representar essa última relação pela

dos extremos de uma proporção.

O governo é, em pequena escala, o que o corpo político, que o encerra, é em grande

escala. Constitui uma pessoa moral, dotada de determinadas faculdades, ativa como o

soberano, passiva como o Estado, suscetível de ser decomposta em outras relações

semelhantes: de onde nasce, por conseguinte, uma nova proporção, e ainda outra nesta

aqui, segundo a ordem dos tribunais, até que se chegue a um meio-termo indivisível, isto é,

a um único chefe ou magistrado supremo, que podemos representar. em meio dessa

progressão, como a unidade entre a série das frações e a dos números.

Page 79: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Ora, quanto menos as vontades particulares se relacionam com a vontade geral, isto

é, os costumes, as leis, tanto mais deve aumentar a força repressiva. Portanto, para ser

bom, deve o governo ser relativamente mais forte à medida que o povo seja mais numeroso.

O governo é, em pequena escala, o que o corpo político, que o encerra, é em grande

escala. Constitui uma pessoa moral, dotada de determinadas faculdades, ativa como o

soberano, passiva como o Estado, suscetível de ser decomposta em outras relações

semelhantes: de onde nasce, por conseguinte, uma nova proporção, e ainda outra nesta

aqui, segundo a ordem dos tribunais, até que se chegue a um meio-termo indivisível, isto é,

a um único chefe ou magistrado supremo, que podemos representar. em meio dessa

progressão, como a unidade entre a série das frações e a dos números.

11.3.2 Conclusão do capítulo II – Do princípio que constitui as diversas formas de

governo

O corpo do magistrado pode ser composto de um maior ou menor número de

membros. Dissemos já que a relação do soberano com os vassalos era tanto maior quanto

mais numeroso fosse o povo, e, por evidente analogia, o mesmo podemos dizer do governo

em relação aos magistrados.

Portanto, os magistrados são tão mais numerosos quanto mais débil se mostre o

governo. E como esta máxima é fundamental, apliquemo-nos a melhor esclarecê-la.

Ora, desde que a força total do governo continue a ser do Estado, em absoluto não

varia; de onde se segue que, quanto mais ele use essa força sobre seus próprios membros,

menos força lhe resta para agir sobre todo o povo.

Numa legislação perfeita, a vontade particular ou individual deve ser nula; a vontade

do corpo, própria ao governo, bastante subordinada; e, por conseguinte, a vontade geral ou

soberana sempre dominante é a regra única de todas as outras.

É ainda certo que a expedição dos negócios se torna mais lenta, à medida que maior

número de pessoas é disso encarregada; que, fazendo-se maiores concessões à prudência,

não se concede o bastante à fortuna, e se permite que fuja a oportunidade; e que, à força de

deliberar, perde-se por vezes o fruto da deliberação.

Page 80: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

11.3.3 Conclusão do capítulo III – Divisão dos governos

Sabemos por que se distinguem as diversas espécies ou formas de governos pelo

número dos membros que os compõem; resta ver agora em que momento se opera essa

divisão.

O soberano pode, de início, confiar o depósito do governo ao povo em conjunto ou à

maioria do povo, de modo a haver maior número de cidadãos magistrados que simples

cidadãos particulares. Dá-se a essa forma de governo o nome de democracia.

Ou pode então restringir o governo entre as mãos de um pequeno número, de sorte

a haver maior número de cidadãos particulares que de magistrados, e esta forma de

governo recebe o nome de aristocracia.

Finalmente, pode o soberano concentrar todo o governo em mãos de um magistrado

único, do qual todos os demais recebem o poder. Esta terceira forma é a mais comum de

todas, e chama-se monarquia, ou governo real.

A aristocracia, por sua vez, pode restringir-se da metade do povo até

indeterminadamente ao menor número. A própria monarquia é suscetível de alguma

partilha. Esparta, de acordo com sua constituição, sempre teve dois reis, e houve, no

Império romano, até oito imperadores simultaneamente, sem que por isso se pudesse dizer

que o Império estava dividido. Assim sendo, existe um ponto em que cada forma de governo

em geral. O governo democrático é o que mais convém aos pequenos Estados; o

aristocrático aos Estados médios; e a monarquia aos grandes.

11.3.4 Conclusão do capítulo IV – Da Democracia

Não é conveniente que quem redija as leis as execute, nem que o corpo do povo

desvie a atenção dos alvos gerais para a concentrar nos objetos particulares. Nada é mais

perigoso que a influência dos interesses privados nos negócios públicos; e o abuso das leis

por parte do governo constitui um mal menor que a corrupção por parte do legislador,

Page 81: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

continuação infalível dos alvos particulares. Então, alterado o Estado em sua substância,

toda reforma se torna impossível. Um povo que jamais abusaria do governo, também jamais

abusaria da independência; um povo que sempre governasse bem, não teria necessidade

de ser governado.

Acrescentemos que não há governo tão sujeito às guerras civis e às agitações

intestinas como o democrático ou popular, pois que não há nenhum outro que tenda tão

freqüente e continuamente a mudar de forma, nem que demande mais vigilância e coragem

para se manter na sua. É sobretudo nessa constituição de governo que o cidadão se deve

armar de força e constância, e dizer em cada dia de sua vida, no fundo do coração, o que

dizia um virtuoso palatino na dieta da Polônia: Malo periculosam libertatem quam quietum

servitium

11.3.5 Conclusão do capítulo V – Da Aristocracia

As primeiras sociedades governaram-se aristocraticamente. Os chefes de família

deliberavam entre si sobre os negócios públicos. Os jovens cediam sem dificuldade perante

a autoridade da experiência. Daí os nomes de padres, anciãos, senado, gerentes. Os

selvagens da América setentrional ainda assim se governam em nossos dias, e são muito

bem governados.

Mas, à medida que a desigualdade de instituição sobrepujou a desigualdade natural,

a riqueza ou o poder foi preferido à idade, e a aristocracia passa a ser eletiva. Finalmente, o

poder, transmitido juntamente com os bens dos pais aos filhos, enobrecendo as famílias,

torna o governo hereditário, e viram-se então senadores de apenas vinte anos.

Há, pois, três espécies de aristocracia: natural, eletiva e hereditária. A primeira não

convém senão a povos simples; a terceira é o pior de todos os governos; a segunda é a

melhor: é a aristocracia propriamente dita.

Afora a vantagem da distinção dos dois poderes, possui a da escolha de seus

membros; porque, no governo popular, todos os cidadãos nascem magistrados, mas este os

limita a um pequeno número, o qual é escolhido através de eleição, meio pelo qual a

probidade, as luzes, a experiência, e todas as demais razões preferenciais e de estima

pública, constituem outras tantas novas garantias de que seremos sabiamente governados.

Page 82: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

A respeito das conveniências particulares, não convém nem um Estado tão pequeno,

nem um povo tão simples e reto, que a execução das leis resulte imediatamente da vontade

pública, como numa boa democracia. Também não convém uma tão grande nação em que

os chefes esparsos para a governar possam decidir à revelia do soberano, em seus

respectivos departamentos, e começar por se tornarem independentes e virem a ser, em

seguida, os senhores.

11.3.6 Conclusão do capítulo VI – Da Monarquia

Consideramos o príncipe como uma pessoa moral e coletiva, unida pela força das

leis, e depositária no Estado do poder executivo. Temos agora a considerar este poder

reunido em mãos de uma pessoa natural, de um homem real, único investido do direito de

dele dispor segundo as leis. É o que se chama um monarca ou um rei.

A vontade do povo, e a vontade do príncipe, e a força pública do Estado, e a força

particular do governo, tudo enfim responde ao mesmo móbil; todas as molas da máquina

estão na mesma mão, tudo caminha para o mesmo objetivo: não há movimentos adversos

que se destruam mutuamente, e não se pode imaginar nenhuma espécie de constituição em

que um esforço menor produza uma ação mais considerável. Arquimedes, tranqüilamente

sentado na praia, seguindo sem dificuldade um grande navio, representa a meu ver um hábil

monarca, a dirigir de seu gabinete seus vastos Estados, e a fazer com que tudo se mova

dando a impressão de que permanece imóvel.

Através das relações gerais, que a monarquia só é conveniente aos vastos Estados,

e o mesmo acharemos examinando-a em si mesma. Quanto mais numerosa for a

administração pública, mais a relação entre o príncipe e os vassalos diminui e se aproxima

da igualdade, de sorte que tal relação é uma ou a própria igualdade na democracia. Essa

mesma relação aumenta à medida que o governo se contrai, e atinge o seu máximo quando

o governo se acha em mãos de uma única pessoa. Passa a haver então uma enorme

distância entre o príncipe e o povo, e o Estado carece de ligação. Para formá-la, são

necessárias as ordens intermediárias: príncipes, grandes, nobreza, que as devem

preencher. Ora, nada do que foi dito convém a um pequeno Estado, pois, antes, o arruínam.

Page 83: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

11.3.7 Conclusão do capitulo VII – Dos governos mistos

Não há governo simples. É necessário a um chefe único possuir magistrados

subalternos; é indispensável a um governo popular ter um chefe. Assim, na partilha do poder

executivo, há sempre gradação do grande número ao menor, com a diferença que ora é o

grande número que depende do pequeno, ora é o pequeno que depende do grande.

O governo simples é melhor em si, pelo simples fato de ser simples. Entretanto,

quando o poder executivo pouco depende do legislativo, isto é, quando há mais relação

entre o príncipe e o soberano que entre o povo e o príncipe, é necessário remediar essa

falta de proporção dividindo o governo; porque, então, todas as suas partes têm igual

autoridade sobre os vassalos, e a divisão delas torna-as, todas em conjunto. menos fortes

contra o soberano.

Quando o governo é excessivamente frouxo, erigir tribunais a fim de o reforçar. Tal

coisa se pratica em todas as democracias. No primeiro caso, divide-se o governo para o

enfraquecer, e no segundo, para fortalecê-lo; porque o máximo de força e de fraqueza

encontra-se igualmente nos governos simples, enquanto que as formas mistas produzem

uma força média.

11.3.8 Conclusão do capítulo VIII – Que qualquer forma de governo não convém a

qualquer país

Não sendo a liberdade um fruto de todos os climas, não está ao alcance de todos os

povos todos os governos do mundo, a pessoa pública consome e nada produz. Nem todos

os governos possuem a mesma natureza; há os dotados de maior ou menor voracidade, e

as diferenças estão baseadas neste princípio: quanto mais as contribuições públicas se

distanciam de sua fonte, tanto mais se tornam onerosas. Não é pela quantidade de

imposições que se deve medir essa carga, mas pelo caminho a ser feito por elas a fim de

regressarem às mãos de que saíram. Quando essa circulação é realizada e bem

estabelecida, pague-se pouco ou muito, o povo é sempre rico e as finanças caminham

sempre a contento. Quando, ao contrário, por pouco que contribua, esse pouco não retorna

às suas mãos, em contribuindo sempre o povo depressa se exaure; o Estado jamais será

rico, e o povo será sempre indigente.

Page 84: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Vamos percebendo a diferença entre os Estados livres e os monárquicos: nos

primeiros, tudo é empregado no sentido do interesse comum; nos segundos, as forças

públicas e particulares funcionam de maneira recíproca, e o aumento de uma corresponde

ao enfraquecimento da outra; enfim, ao invés de governar os vassalos para os fazer felizes,

o despotismo torna-os miseráveis a fim de os governar.

11.3.9 Conclusão do capítulo IX – Signos de um bom governo

Os súditos elogiam a tranqüilidade pública, os cidadãos a liberdade dos particulares;

um prefere a segurança das possessões, e outro a das pessoas; um pretende que o melhor

governo é o mais severo, outro sustenta que é o mais brando; este quer que se punam os

crimes, e aquele que se os previnam; um é de opinião que se deve ser temido dos vizinhos,

outro prefere ser ignorado; um mostra-se contente quando o dinheiro circula, outro exige

que o povo tenha pão.

11.3.10 Conclusão do capítulo X – Do abuso do governo e de seu pendor a

degenerar

A vontade particular atua continuamente contra a vontade geral, assim se esforça

incessantemente o governo contra a soberania. Quanto mais aumenta esse esforço, mais se

altera a constituição, e como não há aqui outra vontade de corpo que, resistindo à vontade

do príncipe, faça equilíbrio com ela, deve acontecer cedo ou tarde venha o príncipe oprimir

enfim o soberano e romper o tratado social. Está aí o vício inerente e inevitável que, desde o

nascimento do corpo político, tende sem afrouxamento a destruí-lo, assim como a velhice e

as mortes destroem por fim o corpo do homem.

Quando o Estado se dissolve, seja qual for o abuso do governo, toma o nome de

anarquia. Fazendo a distinção: a democracia degenera em ociocracia, a aristocracia em

oligarquia: Posso ainda acrescentar que a realeza degenera em tirania; mas este último

termo é equívoco e exige explicação.

Page 85: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

11.3.11 Conclusão do capítulo XI – Da morte do corpo político

O corpo político, bem como o corpo do homem, começa a morrer desde o

nascimento e contém em si mesmo as causas de sua destruição. Mas um e outro podem ter

uma constituição mais ou menos robusta e adequada a conservá-los por um longo tempo. A

constituição do homem é obra da Natureza; a do Estado é obra da arte. Não depende dos

homens a prolongação de sua vida; mas depende deles prolongar a do Estado tanto quanto

possível, dando-lhe a melhor constituição que possa existir. O melhor constituído será mais

duradouro que outro, se nenhum incidente imprevisto provocar sua perda com o tempo.

O princípio da vida política está na autoridade soberana. O poder legislativo é o

coração do Estado; o poder executivo é o cérebro que põe em movimento todas as partes.

O princípio da vida política está na autoridade soberana. O poder legislativo é o

coração do Estado; o poder executivo é o cérebro que põe em movimento todas as partes.

11.3.12 Conclusão do capítulo XII – Como se mantém a autoridade soberana

Não dispondo de outra força senão o poder legislativo, o soberano só atua pelas leis;

e, não sendo as leis mais que atos autênticos da vontade geral, não poderia o soberano agir

senão quando o povo se encontra reunido.

O povo não somente exercia os direitos de soberania, mas também uma parte dos

governamentais. Cuidava de certos negócios, julgava determinadas causas, e permanecia

na praça pública, freqüentemente, quase na qualidade de magistrado, afora o ser na de

cidadão.

11.3.13 Conclusão do capítulo XIII – Seqüência

Não basta que o povo reunido tenha uma vez fixado a constituição do Estado,

sancionando um corpo de leis; não basta que tenha constituído um governo perpétuo, ou

provido de uma vez por todas a eleição dos magistrados. Além das assembléias

Page 86: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

extraordinárias, que casos imprevistos podem exigir, é necessário havê-las fixas e

periódicas que não possam ser abolidas nem adiadas, a fim de que, em dia marcado, seja o

povo legitimamente convocado pela lei, sem que se faça preciso para tanto nenhuma outra

convocação formal.

Não podemos reduzir o Estado aos justos limites, resta ainda um recurso: é o de não

impor uma Capital, sediando o governo alternativamente em cada uma das cidades, e aí,

também de modo alternado, reunir todos os Estados do país.

11.3.14 Conclusão do capítulo XIV – Seqüência

No instante em que o povo está legitimamente reunido em corpo soberano, cessa

toda e qualquer jurisdição do governo, o poder executivo fica suspenso, e a pessoa do

último dos cidadãos é tão sagrada e inviolável quanto a do primeiro magistrado, porque

onde se encontra o representado deixa de haver o representante. A maioria dos tumultos

ocorridos em Roma, durante os comícios, originou-se de se haver ignorado ou

negligenciado essa regra. Os cônsules não eram então senão os presidentes do povo; os

tribunos, simples oradores , o senado não era coisa alguma.

No instante em que o povo está legitimamente reunido em corpo soberano, cessa

toda e qualquer jurisdição do governo, o poder executivo fica suspenso, e a pessoa do

último dos cidadãos é tão sagrada e inviolável quanto a do primeiro magistrado, porque

onde se encontra o representado deixa de haver o representante. A maioria dos tumultos

ocorridos em Roma, durante os comícios, originou-se de se haver ignorado ou

negligenciado essa regra. Os cônsules não eram então senão os presidentes do povo; os

tribunos, simples oradores , o senado não era coisa alguma.

11.3.15 Conclusão do capítulo XV –Dos deputados ou representantes

Assim que o serviço público cessa de ser a principal preocupação dos cidadãos, ao

qual melhor preferem servir com a bolsa que pessoalmente, já se encontra o Estado

próximo da ruína. Se é preciso seguir para o combate, eles pagam as tropas e permanecem

em casa; se é preciso ir à assembléia, eles nomeiam os deputados e continuam em casa. À

Page 87: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

força de dinheiro e preguiça, eles dispõem de soldados para servir a pátria e de

representantes para a venderem.

Quanto melhor estiver o Estado constituído, tanto mais os negócios públicos

prevalecerão sobre os particulares no espírito dos cidadãos.

Chega mesmo a haver muito menor número de negócios privados, porque a soma de

felicidade comum fornece maior porção à felicidade de cada indivíduo, de modo que menos

lhe resta a procurar em suas ocupações particulares. Numa cidade, bem dirigida, todos

votam nas assembléias; sob um mau governo, ninguém aprecia dar um passo para isso

fazer, porque ninguém se toma de interesse pelo que se faz, prevendo que a vontade geral

não prevalecerá, e porque, enfim, os cuidados particulares tudo absorvem. As boas leis

permitem que se façam outras melhores; as más conduzem às piores. Tão logo diga

alguém, referindo-se aos assuntos do Estado, que me importo? pode-se ter a certeza de

que o Estado está perdido.

A soberania não pode ser representada, pela mesma razão que não pode ser

alienada; ela consiste essencialmente na vontade geral, e a vontade de modo algum se

representa; ou é a mesma ou é outra; não há nisso meio termo.

Os deputados do povo não são, pois, nem podem ser seus representantes; são

quando muito seus comissários e nada podem concluir definitivamente. São nulas todas as

leis que o povo não tenha ratificado; deixam de ser leis.

O povo inglês pensa ser livre, mas está completamente iludido; apenas o é durante a

eleição dos membros do Parlamento; tão logo estejam estes eleitos, é de novo escravo, não

é nada. Pelo uso que faz da liberdade, nos curtos momentos em que lhe é dado desfrutá-la,

bem merece perdê-la.

Não concebo, pelo exposto, a necessidade de se ter escravos, nem que o direito de

escravatura seja legítimo, uma vez que provei o contrário. Exponho apenas as razões pelas

quais os povos modernos, que se acreditam livres, têm representantes, e por que os povos

antigos não os tinham. Seja como for, no instante em que um povo se dá representantes,

deixa de ser livre, cessa de ser povo.

Page 88: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

11.3.16 Conclusão do capítulo XVI – De que a instituição do governo não é, de modo

algum um contrato

Uma vez bem estabelecido o poder legislativo, trata-se de estabelecer igualmente o

poder executivo; porque este último, que só opera através de atos particulares, não sendo a

essência do outro, está naturalmente dele separado. Se fosse possível que o soberano,

como tal considerado, tivesse o poder executivo, o direito e o fato seriam de tal modo

confundidos que não mais se saberia o que é lei e o que não o é; e o corpo político, assim

desnaturado, cedo seria presa da violência contra a qual havia sido instituído.

De início, a autoridade suprema não pode modificar-se nem alienar-se; limitá-la

eqüivale a destruí-la. É absurdo e contraditório que o soberano se outorgue um superior;

obrigar-se a obedecer a um senhor, é repor-se em plena liberdade.

Só há um contrato no Estado: é o da associação, que exclui qualquer outro. Não

seria possível imaginar nenhum contrato público que não constituísse uma violação do

primeiro.

11.3.17 Conclusão do capítulo XVII – Da instituição do governo

Sob que idéia deve-se, pois, conceber o ato pelo qual o governo é instituído?

Assinalarei, de início, que tal ato é complexo ou composto de dois outros: o do

estabelecimento da lei e o da sua execução.

Para o primeiro, estatui o soberano que haverá um corpo de governo, estabelecido

sob esta ou aquela forma e está claro que este ato constitui uma lei.

Para o segundo, o povo nomeia seus chefes que serão encarregados do governo

estabelecido. Ora, sendo essa nomeação um ato particular, não constitui uma lei, mas

apenas uma continuação da primeira, e uma função do governo.

A dificuldade consiste em compreender como pode haver um ato de governo antes

de existir o governo, e como pode o povo, que só é soberano ou vassalo, tornar-se príncipe

ou magistrado em determinadas circunstâncias.

Page 89: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Superioridade do governo democrático: poder estabelecer-se de fato por um simples

ato da vontade geral. Depois disso, esse governo é empossado, se tal é a forma adotada ou

estabelecida em nome do soberano, passa a prescrever a lei, e tudo entra novamente na

normalidade. Não é possível instituir o governo de nenhuma outra maneira legítima, sem

renunciar aos princípios acima referidos.

11.3.18 Conclusão do capítulo XVIII – Modo de prevenir as usurpações do governo

Resulta desses esclarecimentos, confirmando o capítulo XVI, que o ato instituidor do

governo não constitui um contrato, mas uma lei; que os depositários do poder executivo não

são em absoluto os senhores do povo, mas apenas seus oficiais; que o povo dispõe do

direito de os nomear e os substituir quando bem lhe aprouver; que o problema, para eles,

não consiste em contratar, mas em obedecer, e que, incumbindo-se das funções que lhes

são impostas pelo Estado, outra coisa não fazem senão cumprir com seu dever de

cidadãos, sem terem de maneira alguma o direito de discutir as suas condições. Verdade

que essas mudanças são sempre perigosas, e que não convém tocar jamais no governo

estabelecido, exceto quando este se torna incompatível com o bem público; mas tal

circunstância é uma máxima política e não uma regra de direito, e o Estado não é mais

constrangido a deixar a autoridade civil em mãos de seus chefes ou a autoridade militar em

mãos de seus generais.

As assembléias periódicas, de que falei anteriormente, são apropriadas para prevenir

ou espaçar esse infortúnio, mormente se independem de convocação formal; porque então

o príncipe não pode impedi-las, sem se declarar abertamente infrator das leis e inimigo do

Estado.

A abertura dessas assembléias, cujo único objetivo é a manutenção do tratado

social, deve sempre fazer-se por duas proposições que não possam jamais ser suprimidas e

sejam separadamente sufragadas.

11.4 LIVRO QUARTO

Page 90: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

11.4.1 Conclusão do I capítulo – De que vontade geral é indestrutível

Enquanto numerosos homens reunidos se consideram como um corpo único, sua

vontade também é única e se relaciona com a comum conservação e o bem-estar geral.

Todas as molas do Estado são então vigorosas e simples, suas sentenças são claras e

luminosas; não há interesses embaraçados, contraditórios; o bem comum mostra-se por

toda parte com evidência e apenas demanda bom senso para ser percebido. A paz, a união,

a igualdade são inimigas das sutilezas políticas.

Um Estado assim governado necessita de bem poucas leis; à medida que se torne

necessário promulgar outras novas, todos percebem tal necessidade. O primeiro que as

propõe não faz senão dizer o que todos já sentiram, e não haverá problemas de disputas

nem de eloqüência para transformar em lei o que cada qual, individualmente, já tinha

resolvido fazer, certo de que os demais o farão como ele.

11.4.2 Conclusão do II capítulo – Dos sufrágios

A maneira pela qual se tratam os negócios gerais pode fornecer um índice assaz

seguro do estado atual dos costumes e da saúde do corpo político. Quanto maior a

harmonia reinante nas assembléias, isto é, quanto mais as opiniões se aproximam da

unanimidade, tanto mais a vontade geral se revela dominante; já os longos debates, as

dissensões, o tumulto, anunciam o ascenso dos interesses particulares e o declínio do

Estado.

Dessas, diversas considerações nascem as máximas sobre as quais deve ser

regulamentada a maneira de contar os votos e comparar a opiniões, na proporção em que a

vontade geral é mais ou menos fácil de ser conhecida, e o Estado se mostra mais ou menos

em declínio, pois, no momento do pacto social, houver opositores, sua oposição não

invalidará o pacto, mas os excluirá do mesmo; serão os estrangeiros entre os cidadãos.

Quando o Estado é constituído, a residência prova o consentimento; habitar o

território é submeter-se à soberania.

Page 91: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Duas máximas gerais são o bastante para regulamentar essas relações: uma

consiste em que, quanto mais importantes e graves sejam as deliberações, tanto mais a

opinião vencedora deve estar próxima da unanimidade; a outra em que, quanto mais

presteza exige o negócio discutido, tanto mais se deve restringir a diferença prescrita na

divisão das opiniões: nas deliberações a serem encerradas imediatamente deve bastar o

excedente de uma única voz. A primeira dessas máximas parece mais conveniente às leis, e

a segunda aos negócios. De qualquer maneira, é na base da combinação das duas que se

estabelecem as melhores relações sobre as quais deve a pluralidade pronunciar-se.

11.4.3 Conclusão do capítulo III – Das eleições

A respeito das eleições do príncipe e dos magistrados, que constituem, como já

disse, atos complexos, há dois caminhos para os proceder, os seguintes: a escolha e a

sorte. Um e outro têm sido empregados em diversas repúblicas, e ainda vê-se atualmente

uma mistura bastante complicada de ambos na eleição do doge de Veneza.

O sufrágio por sorteio", diz Montesquieu, "é da natureza da democracia.

Em toda verdadeira democracia, a magistratura não constitui um proveito, mas sim

uma carga onerosa que se pode impor a um particular de preferência a outro. Somente a lei

pode impor tal carga àquele a quem a sorte escolherá; porque então, sendo igual para todos

a condição, e não dependendo a escolha de nenhuma vontade humana, não há qualquer

aplicação particular que altere a universalidade da lei.

Na aristocracia, o príncipe escolhe o príncipe, o governo se conserva por si mesmo,

e os sufrágios são bem colocados.

11.4.4 Conclusão do capítulo IV – Dos comícios romanos

Após a fundação de Roma a república nascente, isto é, o exército do fundador,

composto de albaneses, sabinos e estrangeiros, foi dividido em três classes, que dessa

divisão tomaram o nome de tribos. Cada uma dessas tribos foi subdividida em dez cúrias, e

Page 92: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

cada cúria em decúrias, à testa das quais foram postos chefes denominados curiões e

decuriões.

Além disso, tirou-se de cada tribo um corpo de dez cavaleiros ou cavalheiros,

chamado centúria; por onde se vê que essas divisões, pouco necessárias num burgo, não

eram de início senão militares. Parece, porém, que um instinto de grandeza levava a

pequena cidade de Roma a dar-se por antecipação uma organização civil adequada à

capital do mundo.

Dessa distinção de tribos citadinas e rurais resultou um efeito digno de ser

observado, mesmo porque não existe disso outro exemplo e porque Roma lhe deve a um só

tempo a conservação de seus costumes e o crescimento de seu império. Acreditar-se-ia que

as tribos urbanas cedo se arrogassem as honras e o poder, e não tardassem em envilecer

as tribos rústicas; no entanto, deu-se exatamente o contrário. Conhece-se o gosto dos

primeiros romanos pela vida campestre. Vinha-lhes esse gosto do sábio instituidor que uniu

à liberdade os trabalhos rústicos e militares, e, por assim dizer, relegou à cidade as artes, os

ofícios, a intriga, a riqueza e a escravidão.

As leis e a eleição dos chefes não constituíam os únicos pontos submetidos ao

julgamento do governo; tendo o povo romano usurpado as mais importantes funções do

governo, pode-se dizer que a sorte da Europa era regulamentada em suas assembléias.

Essa variedade de assuntos dava lugar às diversas formas tomadas por essas assembléias,

de acordo com as matérias sobre as quais havia que pronunciar-se.

Na república, as cúrias, sempre limitadas às quatro tribos urbanas, não contando

senão com a plebe de Roma, não podiam convir nem ao senado, que se mantinha à testa

dos patrícios, nem aos tribunos, que, conquanto plebeus, estavam à frente dos cidadãos

abastados. Elas tombaram, portanto, no descrédito e foi tal seu aviltamento que seus trinta

lictores, reunidos em assembléia, realizavam o que os comícios por cúria deveriam fazer.

Tais foram as diferentes divisões do povo romano. Vejamos agora o efeito produzido nas

assembléias. Essas assembléias, legitimamente convocadas, denominavam-se comices.

Realizavam-se ordinariamente na praça de Roma ou no Campo de Marte, e se distinguiam

por comícios por cúrias, comícios por centúrias e comícios por tribos, segundo as três

formas pelas quais eram convocados. Os comícios por cúrias eram da instituição de

Rômulo; os por centúrias, de Servius; os comícios por tribos, dos tribunos do povo.

Page 93: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Nenhuma lei recebia a sanção, nenhum magistrado era eleito, a não ser nos

comícios; e como não houvesse nenhum cidadão que não fosse inscrito numa cúria, numa

centúria ou numa tribo, segue-se que nenhum cidadão era excluído do direito do sufrágio e

que o povo de Roma era verdadeiramente soberano de direito e de fato. Para que os

comícios fossem legitimamente convocados e o que ali se fizesse tivesse força de lei,

faziam-se necessárias três condições: primeira, que o corpo ou o magistrado que os

convocasse fosse revestido para isso da autoridade indispensável; segunda, que a

assembléia se realizasse num dia permitido pela lei terceira, que os augúrios se revelassem

favoráveis.

As leis e a eleição dos chefes não constituíam os únicos pontos submetidos ao

julgamento do governo; tendo o povo romano usurpado as mais importantes funções do

governo, pode-se dizer que a sorte da Europa era regulamentada em suas assembléias.

Essa variedade de assuntos dava lugar às diversas formas tomadas por essas assembléias,

de acordo com as matérias sobre as quais havia que pronunciar-se.

Os comícios por tribos constituíam propriamente o conselho do povo romano.

Somente os tribunos os convocavam; neles eram estes eleitos e se tomavam as

deliberações. Não apenas o senado deixava de ter ali assento, como sequer tinha o direito

de a eles assistir; e, assim sendo, eram os senadores forçados a obedecer às leis que não

tinham podido votar, de maneira que, sob certo aspecto, passavam a ser menos livres que

os últimos dos cidadãos.

Tal injustiça era mal-entendida e bastaria, por si só, para invalidar os decretos de um

corpo em que todos os membros não tinham sido admitidos. Mesmo que todos os patrícios

assistissem a esses comícios, consoante o direito que possuíam na qualidade de cidadãos,

tornados então simples particulares, não poderiam influir em nada num processo de eleição

cujos votos eram recolhidos por cabeça, e no qual o mais humilde proletário dispunha de

tanto poder como o príncipe do senado.

11.4.5 Conclusão do capítulo V - Do Tribunato

Quando não se pode estabelecer uma exata proporção entre as partes constitutivas

do Estado, ou quando causas indestrutíveis nelas alteram continuamente as relações,

institui-se então uma magistratura particular que não se corporifica com as outras, que repõe

Page 94: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

cada termo em sua verdadeira relação, e que estabelece uma ligação ou um meio-termo,

seja entre o príncipe e o povo, seja entre o príncipe e o soberano, ou ainda entre ambos os

lados, em caso de necessidade.

Esse corpo, que eu denominarei tribunato, é o conservador das leis do poder

legislativo, e serve, por vezes, para proteger o soberano contra o governo, como faziam em

Roma os tribunos do povo; como faz presentemente em Veneza o Conselho dos Dez, para

sustentar o governo contra as investidas do povo; e, algumas vezes, para manter o

equilíbrio entre ambas as partes, como o faziam os éforos em Esparta.

11.4.6 Conclusão do capítulo VI – Da ditadura

A inflexibilidade das leis, que as impede de se ajustarem aos acontecimentos, pode,

em determinados casos, torná-las perniciosas, e causar, por elas, a perda do Estado num

momento de crise.

A ordem e a lentidão das formas requerem um espaço de tempo que as

circunstâncias muitas vezes recusam.

Podem apresentar-se mil casos não esperados pelo legislador, e constitui necessária

providência perceber que é possível tudo prever.

Não se deve, pois, querer consolidar as instituições políticas a ponto de levar o poder

a suspender o efeito delas. Esparta mesma deixou dormir suas leis.

O primeiro processo era empregado pelo senado romano quando encarregava os

cônsules, através de uma fórmula consagrada, de prover a salvação da república; o

segundo processo tinha lugar quando um dos dois cônsules nomeava um ditador, cujo

exemplo Roma recebeu de Alba.

Volta do fim da república, os romanos, tornados circunspectos, economizaram a

ditadura com a mesma irracionalidade com que a tinham prodigalizado anteriormente. Era

fácil ver que seu receio estava mal fundamentado: que a fraqueza da Capital constituía

então sua segurança contra os magistrados abrigados em seu seio; que um ditador, em

determinado caso, podia defender a liberdade pública, sem jamais atentar contra ela; e que

Page 95: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

os grilhões de Roma de modo algum seriam forjados na própria Roma, mas em seus

exércitos. A pequena resistência de Mário frente a Sila, e de Pompeu frente a César,

demonstrou perfeitamente o que se podia esperar da autoridade de dentro contra a força

vinda de fora.

11.4.7 Conclusão do capítulo VII – Da Censura

Assim como a declaração da vontade geral se faz através da lei, a declaração do

julgamento público se faz pela censura; a opinião constitui uma espécie de lei cujo censor é

o ministro, o qual, a exemplo do príncipe, somente a aplica aos casos particulares.

Longe, pois, de ser o tribunal censório o árbitro da opinião pública; este não é senão

o declarador dessa opinião, e, tão logo dela se afaste, suas decisões passam a ser vãs e

sem efeito.

A censura mantém os costumes impedindo que as opiniões se corrompam,

conservando sua inteireza através de sábias aplicações, por vezes mesmo fixando-as,

quando se mostram ainda incertas.

11.4.8 Conclusão do capítulo VIII – Da religião civil

Os homens, de início, não tiveram outros reis senão os deuses, nem outro governo,

a não ser o teocrático.

Os gregos imaginaram reencontrar seus deuses entre os povos bárbaros; essa idéia,

porém, vinha do fato de se considerarem os soberanos naturais desses povos. Estando

cada religião circunscrita unicamente às leis do Estado que as prescrevia, não havia outra

maneira de converter um povo senão submetendo-o, nem havia outros missionários além

dos conquistadores; e, consistindo a lei dos vencidos na obrigação de mudar de culto; fazia-

se preciso começar por vencer antes de pregar. Não quer isto dizer que os homens

combatessem pelos deuses; ao contrário, eram os deuses, como em Homero, que

combatiam pelos homens; cada qual pedia a seu deus a vitória e a pagava erigindo-lhe

novos altares.

Page 96: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

Estando cada religião circunscrita unicamente às leis do Estado que as prescrevia,

não havia outra maneira de converter um povo senão submetendo-o, nem havia outros

missionários além dos conquistadores; e, consistindo a lei dos vencidos na obrigação de

mudar de culto; fazia-se preciso começar por vencer antes de pregar. Não quer isto dizer

que os homens combatessem pelos deuses; ao contrário, eram os deuses, como em

Homero, que combatiam pelos homens; cada qual pedia a seu deus a vitória e a pagava

erigindo-lhe novos altares.

Os romanos, antes de tomarem uma praça, intimavam os deuses locais a abandoná-

la; e quando deixavam aos tarentinos seus deuses irritados, faziam-no porque olhavam

então esses deuses como submetidos aos deles romanos, forçados aqueles a prestar

homenagens a estes. Permitiam que os vencidos conservassem os seus deuses, assim

como lhes permitiam reger-se por suas próprias leis.

11.4.9 Conclusão do capítulo IX – Conclusão

Depois de ter exposto os verdadeiros princípios do direito político, e cuidado de

edificar o Estado em suas bases, restaria ampará-lo através de suas relações externas, o

que compreenderia o direito das gentes, o comércio, o direito da guerra e das conquistas, o

direito público, as ligas, as negociações, os tratados, etc.

11.5 DISCURSO SOBRE A ECONOMIA POLÍTICA

Economia (moral e política), originariamente indica sobretudo o sábio e legítimo

governo da casa, para o bem comum de toda a família. Uma diferença importante é que não

tendo os filhos qualquer outra coisa a não ser a recebida do pai, todos os direitos de

propriedade pertence a ele.

O objetivo principal de cada trabalho de casa e conservar e aumentar o patrimônio

do pai, para um dia dividir entre seus filhos.

Page 97: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

A economia pública é bem distinta da economia privada(particular).Toda sociedade

política é composta por outras sociedades de diversas espécies, com regras e interesses

próprios.

O Estado de atacar o sacro direito da propriedade , que éa sua base , consiste a

dificuldade da justa Economia. Da taxa sobre a terra ou sobre o grão, quando é excessiva ,

derivam de dois inconvenientes espantosos, que acabarão por despovoar e depois arruinar

todos os países em que é vigente. O primeiro é do derivado do defeito de circulação da

moeda, o segundo é uma vantagem aparente que se agrava antes que se perceba.

11.6 CONCLUSÃO FINAL

Surgiu naquela época idéias, que foram postas em pratica e permanecem até os dias

de hoje. Claro que algumas coisas foram extintas, e outras modernizadas de acordo com o

século em que vivemos.

Nasceu o poder legislativo, executivo, monarquia, aristocracia, assembléia, eleição,

voto, leis, senadores, ministros, governadores, deputados, censura, contrato, democracia, e

etc.

É um livro que fala muito sobre política e diretos e a liberdade.

Rousseau, em vários capítulos falou sobre a liberdade e igualdade, direitos.

Considera que todos os homens nasce livres e iguais, e devem continuar assim. Que todos

os seres humanos tem direito de sobreviver, de ir e vir, de adquirir bens, e etc.

O Estado era considerado unidade, que levou o nome de vontade geral.

A vontade geral era para ter segurança a liberdade, a igualdade e a justiça dentro do

estado. Para ele não existe a lei do mais forte, mas a lei da vontade geral.

Governo e povo era considerado como corpo. Na religião, o Estado e religião não

deve interferir um com o outro.O exemplo de religião é o cristianismo no Evangelho. A

religião na época para o cidadão era tratado religião civil . Mas o que se entende é que

liberdade e igualdade em primeiro lugar.

Page 98: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

12 DOS DELITOS E DAS PENAS-CÉSAR BECCARIA

12.1 INTRODUÇÃO

Apenas com boas leis, se pode impedir os abusos da sociedade de deixar os

privilégios e o poder nas mãos de poucos, enquanto a maioria fica à mercê da miséria e da

debilidade. O Homem demora a abrir os olhos a essas verdades. Por isso, talvez seja esta a

hora de examinar e diferenciar as diversas espécies de delitos e a maneira de os punir, pois

nunca alguém soube orientar a sociedade com um único objetivo, ou seja, o bem-estar da

sociedade como um todo. O autor, no decorrer do livro, vai restringir-se às faltas e aos erros

mais comuns.

12.2 ORIGEM DAS PENAS E DO DIREITO DE PUNIR

A moral política deve estar fundada em sentimentos indeléveis do coração do

homem. Qualquer lei que não estiver fundada nessa base achará sempre uma resistência

que a constrangerá a ceder, pois, somente a necessidade obriga os homens a abrir mão de

alguma coisa. Está na liberdade o fundamento do direito de punir. Qualquer exercício que se

afaste um pouco disso constituirá abuso e não a justiça verdadeira. E quanto mais sagrado

e inviolável for a segurança, mais justas serão as penas, que não podem ir além da

necessidade de manter o depósito da salvação pública.

12.3 CONSEQÜÊNCIAS DESSES PRINCÍPIOS

A primeira conseqüência desses princípios é que apenas a lei pode indicar as penas

de cada delito, sendo que, tal lei somente pode ser proposta pelo legislador (representante

da sociedade).

Page 99: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

A segunda conseqüência cabe ao soberano, que ao fazer leis, estas devem ser

gerais (todos devem obedecer-lhas), não cabendo a ele julgá-las.

A terceira e última conseqüência é mostrar que a crueldade das penas é inútil, em

desacordo com a justiça e com a natureza do contrato social.

12.4 DA INTERPRETAÇÃO DAS LEIS

Os julgadores dos crimes não têm o direito de interpretar as leis penais por não ser

legislador. Isso cabe ao juiz, que, fazendo com que as leis penais sejam cumpridas à letra,

qualquer cidadão poderia calcular os incovenientes de uma ação reprovável, o que seria útil,

pois pode fazer com que o indivíduo se desvie do crime.

12.5 DA OBSCURIDADE DAS LEIS

A obscuridade das leis, fica ainda maior quanto estas são escritas em outra língua.

Estas leis devem ser escritas de uma forma mais popular, para que o povo entenda as

conseqüências que devem ter os atos que praticam sobre a sua liberdade e sobre seus

bens. Pois quanto mais pessoas as lerem, menos será o número de delitos.

12.6 DA PRISÃO

Está em poder dos magistrados, um poder que contraria o fim da sociedade, que é a

segurança pessoal (prender). Tal poder é usado para acabam com a liberdade do inimigo

sob pretextos frívolos, errados. Quanto mais suaves forem as penas, as leis poderão se

satisfazer com provas mais fracas para pedir a prisão, precisando esta de deixar de ser a

horrível mansão do desespero e da fome, onde a piedade e a humanidade se farão

presentes.

Page 100: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

12.7 DOS INDÍCIOS DO DELITO E DA FORMA DOS JULGAMENTOS

Um dos meios de calcular a certeza de um fato e o valor que têm os indícios de um

delito é: "Quando as provas de um fato se apóiam todas entre si, isto é, quando os indícios

do crime não se mantêm senão apoiados uns nos outros, quando a força de inúmeras

provas dependem de uma só, o número dessas provas nada acrescenta nem subtrai na

probabilidade do fato: merecem pouca consideração, porque, se destruís a única prova que

parece certa, derrocareis todas as demais. Quando, porém, as provas independem umas

das outras... ...tanto mais provável será o delito, porque a falsidade de uma prova em nada

influi sobre a certeza das restantes".

As provas de um delito podem distinguir-se em perfeitas e imperfeitas. Basta uma

prova perfeita (aquelas que demonstram positivamente que é impossível ser ele inocente)

para que se condene o acusado.

Os julgamentos devem ser públicos. É justo também, que o culpado e o ofendido,

quando em condições desiguais, escolham os juízes, a fim de contrapesar os interesses

pessoais, que mudam as aparências das coisas e para deixar que falem apenas a verdade e

as leis. O culpado, pode recusar um certo número de juízes que lhe parecem suspeitos.

Lei sábia e de efeitos sempre felizes é aquela que prescreve que cada qual seja

julgado por seus iguais.

12.8 DAS TESTEMUNHAS

Todo homem razoável, que puser ligação em suas idéias e que experimentar as

mesmas sensações que os demais homens, poderá ser recebido em testemunho. Contudo,

a confiança que se lhe depositar deve ser medida pelo interesse que ele tem em dizer ou

não a verdade. Vale dizer, que uma só testemunha não é suficiente porque, se o acusado

nega o que ela afirma, nada resta de certo e a justiça então tem de respeitar o direito que

cada qual tem de se considerar inocente.

12.9 DAS ACUSAÇÕES SECRETAS

Page 101: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

As acusações secretas, tornam o homem falso e péfido, pois, aquele que suspeita

que seu concidadão é um delator vê logo nele um inimigo. Elas provocam terríveis males,

como, por exemplo: um governo em que o monarca em cada súdito suspeita de um inimigo

e vê-se constrangido, para garantir a paz pública, a conturbar a paz de cada cidadão. O

autor se tivesse de criar novas leis, recusar-se-ia a autoriza tais acusações secretas.

12.10 DOS INTERROGATÓRIOS SUGESTIVOS

A atual legislação proíbe que sejam feitos interrogatórios sugestivos, pois, de acordo

com nossos juristas, apenas se deve interrogar a propósito da maneira pela qual o crime foi

cometido e a respeito das circunstâncias que o acompanham. Tal método foi estabelecido

para evitar sugerir ao acusado uma reposta que o salve, ou por ter sido considerada coisa

monstruosa ou contrária à natureza um homem acusar-se a si próprio, qualquer que tenha

sido a finalidade desejada com a proibição dos interrogatórios sugestivos, fez-se com que as

leis caíssem numa contradição bem notória, visto que ao mesmo tempo se autorizou a

tortura. As confissões do acusado não são necessárias quando provas suficientes

comprovaram que ele é com certeza culpado do crime de que se trata. A experiência indica

que, na maioria dos processos criminais, os culpados negam tudo.

12.11 DOS JURAMENTOS

Os juramentos é uma outra contradição entre as leis e os sentimentos naturais.

Como exigir que o acusado diga a verdade quando seu maior interesse é escondê-la? Seria

como ajudar na própria destruição. A experiência comprova a inutilidade dos juramentos,

pois não existe juiz que não convenha que nunca o juramento faz com que o acusado diga a

verdade.

12.12 DA TORTURA

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Um dos maiores absurdos é consagrado pelo uso na maioria dos governos de aplicar

a tortura a um acusado enquanto se faz o processo, seja para que ele confesse a autoria do

crime, seja para esclarecer as contradições em que tenha caído, seja para descobrir os

cúmplices ou outros crimes de que não é acusado, porém dos quais poderia ser culpado,

seja finalmente porque sofistas incompreensíveis pretenderam que a tortura purgava a

infâmia.

Um homem não pode ser considerado culpado antes da sentença do jiz; e a

sociedade apenas lhe pode retirar a proteção pública depois que seja decidade que ele

tenha violado as normas em que tal proteção lhe foi dada. Apenas o direito da força pode,

portanto, das autoridade a um juiz para infligir um pena a um cidadão quando ainda se está

em dúvida se ele é inocente ou culpado.

Portanto, ou o crime é certo, ou é incerto. Se é certo, apenas deve ser punido com a

pena que a lei fixa, e a tortura é inútil, porque não se tem mais necessidade das confissões

do acusado. Se o crime é incerto, não é hediondo atormentar um inocente? Perante as leis,

é inocente aquele cujo delito não está provado.

12.13 DA DURAÇÃO DO PROCESSO E DA SUA PRESCRIÇÃO

É justo que se conceda ao acusado tempo e meio para se justificar, quando o delito é

constatado e as provas são certas. Porém, tal tempo precisa ser bem curto para não atrasar

muito o castigo que deve acompanhar de perto o delito, se quer que o mesmo seja um útil

freio contra os criminosos. Para sua aplicação exata, é necessário ter um vista a legislação

vigente, os costumes do país e as circunstâncias. Nos crimes de menos visto e mais

comuns, é necessário prolongar o tempo dos processos, pois a inocência do acusado é

menos provável, e diminuir o tempo fixado para a prescrição, pois a impunidade é menos

perigosa.

12.14 DOS CRIMES INICIADOS; DOS CÚMPLICES; DA IMPUNIDADE

Por existir uma grande diferença entre a tentativa do crime e sua execução, é justo

reservar uma pena maior para o crime realizado para deixar, ao que apenas começou o

Page 103: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

crime, motivos que o impeçam de acabá-lo. Deve-se observar idêntica gradação nas penas,

quanto aos cúmplices, se estes não forem todos executores imediatos. Um caso que

devemos afastar da regra, é quando aquele que executa o crime recebe dos cúmplices uma

recompensa à parte; como a diferença dos perigos ficou compensada com a diferença das

vantagens, o castigo deve ser igual.

Uma lei geral que prometesse a impunidade a qualquer cúmplice que delata um

delito, seria melhor que uma declaração especial num casa particular: precaveria a união

dos maus, pelo medo recíproco que imporia a cada um de enfrentar sozinho os perigos.

Seria importante acrescentar a essa lei que a impunidade acarretaria o banimento do

delator.

12.15 DA MODERAÇÃO DAS PENAS

A finalidade das penalidades não é torturar e afligir um ser sensível, nem desfazer

um crime que já está praticado. Os castigos têm por finalidade única obstar o culpado de

tornar-se futuramente prejudicial à sociedade e afastar os seus concidadãos do caminho do

crime. Entre as penalidades e no modo de aplicá-las proporcionalmente aos delitos, é

necessário, portanto, escolher os meios que devem provocar no espírito público a impressão

mais eficaz e mais durável e, igualmente, menos cruel no corpo do culpado. Quanto mais

terríveis forem os castigos, mais cheio de audácia será o culpado em evitá-los. Praticará

novos crimes, para subtrair-se à pena que mereceu pelo primeiro. A fim de que o castigo

surta o efeito que se deve esperar dele, basta que o mal causado vá além do bem que o

culpado retirou do crime. Devem ser contados ainda como parte do castigo os terrores que

antecedem a execução e a perda das vantagens que o delito devia produzir. Qualquer

excesso de severidade torna-a supérflua e, portanto, tirânica. Mas, o mais importante é que

o rigor das penas deva estar em relação com o atual estado do país.

12.16 DA PENA DE MORTE

A soberania e as leis nada mais são do que a soma das pequenas partes de

liberdade que cada qual cedeu à sociedade. representam a vontade geral, que resulta da

reunião das vontades individuais. Mas quem já pensou em dar a outros homens o direito de

Page 104: UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO

lhes tirar a existência? Se isso ocorresse, como conciliar tal princípio com a máxima que

proíbe o suicídio?

A pena de morte, pois, não se apoia em nenhum direito. É guerra que se declara a

um cidadão. A morte de um cidadão apenas pode ser considerada necessária por duas

razões: nos instantes confusos em que a nação está na dependência de recuperar ou

perder sua liberdade, nos períodos de confusão quando se substituem as leis pela

desordem; e quando um cidadão, embora sem a sua liberdade, pode ainda, graças às suas

relações e ao seu crédito, atentar contra a segurança pública, podendo a sua existência

acarretar um revolução perigosa no governo estabelecido.

12.17 DO BANIMENTO E DAS CONFISCAÇÕES

Deve ser posto fora da sociedade, banido, quem perturba a tranquilidade pública,

quem não obedece às leis, quem viola as condições sob as quais os homens se mantêm e

se defendem mutuamente. Poderiam ainda ser banidos, aqueles que, acusados de crime

atroz, são suspeitos de culpa com maior verossimilhança, porém sem estar inteiramente

convencido do delito.

12.18 DA INFÂMIA

Infâmia significa desaprovação pública, que retira do culpado a consideração, a

confiança que a sociedade depositava nele e essa espécie de irmandade que une os

cidadãos de uma mesma nação. Como seus efeitos não dependem das leis, é necessário

que a vergonha que a lei inflinge esteja baseada na moral, na opinião pública.

12.19 DA PUBLICIDADE E DA PRESTEZA DAS PENAS

Mais justa e útil será a pena, se aplicada o mais rápido possível e mais perto

acompanhar o crime. Mais justa, porque evitará ao acusado os cruéis tormentos da dúvida.

A rapidez do julgamento é justa também porque, senda a perda da liberdade uma pena em

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si, esta apenas deve preceder a condenação na exata medida em que a necessidade o

exige.

12.20 DA INEVITABILIDADE DAS PENAS DAS GRAÇAS

A certeza da punição, o zelo vigilante do juiz e essa severidade inalterável que só é

uma virtude no magistrado quando as leis são brandas. A perspectiva de um castigo

moderado, porém inflexível, provocará sempre uma impressão mais forte do que o vago

temor de um suplício horrendo, em relação ao qual aparece alguma esperança de

impunidade.

12.21 DOS ASILOS

Pouca diferença existe entre a impunidade e os asilos; e como a melhor maneira de

impedir o delito é a perspectiva de um castigo certo e inexorável, os asilos, que são um

abrigo contra a ação das leis, incitam mais ao crime do que as penas o evitam, do instante

em que se tem a esperança de evitá-los.

12.22 DO USO DE PÔR A CABEÇA A PRÊMIO

Será para a sociedade vantagem ou desvantagem colocar a cabeça a prêmio? Ou o

criminoso deixou o país ou ainda reside nele. No primeiro caso, os cidadãos são excitados a

praticar um homicídio, a matar talvez um inocinte, a merecer tormentos. Comete-se uma

injúria ao país estrangeiro, desmerece-se a autoridade, autoriza-se que sejam feitas

idênticas usurpações entre os próprios domínios. Se ele ainda se encontra no país cujas leis

violou, o governo que coloca a cabeça dele a prêmio demonstra debilidade. Isso também

desfaz todas as idéias de moral e virtude.

12.23 QUE AS PENAS DEVEM SER PROPORCIONAIS AOS DELITOS

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Os meios que se utiliza a legislação para impedir os crimes devem ser mais fortes à

proporção que o crime é mais contrário ao bem público e pode tornar-se mais freqüente.

Portanto, deve haver uma proporção entre os crimes e as penas. A população não quer

apenas que se cometam poucos crimes, mas principalmente que os crimes mais prejudiciais

à sociedade sejam os menos comuns.

12.24 DAS MEDIDAS DOS DELITOS

A exata medida dos crimes é o prejuízo causado à sociedade. A grandeza do crime

não depende da intenção de quem o pratica, como o entenderam erroneamente alguns, pois

a intenção do acusado depende das impressões provocadas pelos objetos presentes e das

disposições que vêm da alma. Tais sentimentos variam em todos os homens e no próprio

indivíduo, coma rápida sucessão das idéias, das paixões e das circunstâncias.

12.25 DIVISÃO DOS DELITOS

Todo ato não enquadrado em certas divisões não podem ser classificados como

delitos. Tais divisões são seguintes: delitos que tendem diretamente à destruição da

sociedade ou daqueles que a representam, delitos que afetam o cidadão em sua existência,

em seus bens ou em sua honra, e por fim, delitos são atos contrários ao que a lei determina

ou proíbe, tendo em mira o bem público.

12.26 DOS CRIMES DE LESA-MAJESTADE

Estes são considerados grandes crimes, pois são prejudiciais à sociedade. Tal

conceito foi usado erroneamente devido ao despotismo.

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12.27 DOS ATENTADOS CONTRA A SEGURANÇA DOS PARTICULARES E

SOBRETUDO DAS VIOLÊNCIAS

Como a segurança dos particulares e da violência é a finalidade de todas as

sociedades humanas, não se pode deixar de castigar com as penalidades mais graves

aquele que a viole. Entre esses crimes, uns são atentados contra a existência, outros contra

a honra e outros contra a propriedade. Os primeiros devem ser castigados com penas

corporais.

12.28 DAS INJÚRIAS

As injúrias pessoais, que são contra a honra, insto é, a essa justa parcela de estima

que cada homem tem o direito de esperar de seus concidadãos, devem ser punidas pela

infâmia. Existe uma contradição evidente entre as "leis" ocupadas especialmente com a

proteção da fortuna e da existência de cada cidadão, e as leis do que se chama a "honra",

que preferem a opinião a tudo o mais.

12.29 DOS DUELOS

A honra, que não é mais do que a necessidade dos votos públicos, deu origem aos

combates singulares, que só puderam se estabelecer na desordem das leis más. Se os

duelos não eram comuns na Antiguidade, como muitos acreditam, é porque os antigos não

se reuniam armados com um sentimento de desconfiança, nos templos, no teatro e entre os

companheiros.

12.30 DO ROUBO

Um roubo praticado sem o uso de violência apenas deveria ser punido com uma

pena em dinheiro. É justo que aquele que rouba o bem de outrem seja despojado do seu. A

pena mais apropriada será essa espécie de escravidão, a única que pode ser chamada de

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justa, isto é, a escravidão temporária, que dá à sociedade domínio total sobre a pessoa e

sobre o trabalho do culpado para fazê-lo pagar.

12.31 DO CONTRABANDO

O contrabando produz ofensa ao soberano e à nação, porém cuja pena não deveria

ser infamante, pois a opinião pública não liga qualquer infâmia a esse tipo de crime. Os

homens, aos quais as distantes conseqüências de um ato apenas produzem impressões

fracas, não vêem o prejuízo que o contrabando lhes pode provocar. Não enxergam que o

mal causado ao príncipe e, para recusarem estima ao culpado, só têm um motivo premente

contra o ladrão, o falsário e alguns outros celerados que podem prejudicá-los pessoalmente.

12.32 DAS FALÊNCIAS

A boa-fé dos contratos e a garantia do comércio obrigam o legislados a conceder

recurso aos credores sobre a pessoa de seus devedores, assim que estes abrem falência.

Deve-se, entretanto, não confundir o falido de modo fraudulento e aquele que o faz de boa-

fé. O primeiro teria de ser castigado como os moedeiros falsos, pois não é mais grave o

delito de falsificar o metal amoedado, que é a base da garantia dos homens entre si, do que

falsificar essas mesmas obrigações.

12.33 DOS CRIMES QUE PERTURBAM A TRANQÜILIDADE PÚBLICA

A terceira espécie de crimes que distinguimos é a dos que perturbam, de modo

particular, o repouso e a tranqüilidade pública. Não existe exceção à regra geral de que os

cidadãos devem conhecer o que precisam fazer para serem culpados, e o que necessitam

evitar para serem inocentes.

12.34 DA OCIOSIDADE

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Cabe às leis e não à severa virtude de alguns censores, definir a espécie de

ociosidade passível de punição.

12.35 DO SUICÍDIO

Se o castigo ao suicídio fosse aplicado contra os restos sem vida do culpado, não

produziria nenhuma impressão nos espectadores senão a que eles sentiriam vendo fustigar

uma estátua. Se esse castigo é aplicado sobre a família inocente, ele se torna despótico e

odioso, pois já não existe liberdade quando os castigos não são essencialmente pessoais. A

questão fica reduzida em saber se é útil ou perigoso à sociedade deixar cada um de seus

membros uma liberdade perpétua de se afastarem dela.

12.36 DE ALGUNS DELITOS DIFÍCEIS DE SEREM CONSTATADOS

Praticam-se na sociedade alguns crimes que são muito freqüentes, porém difíceis de

serem provados. São, por exemplo, o adultério, a pederastia, o infanticídio. A melhor

maneira de evitar essa espécie de crime seria proteger com leis eficientes a fraqueza e a

desventura contra essa espécie de despotismo, que apenas se ergue contra os vícios que

não podem se cobrir com o manto da virtude.

12.37 DE UMA ESPÉCIE PARTICULAR DE CRIME

O autor do livro, não fala dos crimes mais atrozes à humanidade, como um corpo

humano alimentando chamas. Ele apenas discorre dos delitos que pertencem ao homem

natural e que desrespeita o contrato social.

12.38 DE ALGUMAS FONTES GERAIS DE ERRO E DE INJUSTIÇAS NA

LEGISLAÇÃO

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As falsas idéias que os legisladores fizeram da utilidade são uma das fontes mais

fecundas de erros e de injustiças. É ter idéias falsas de utilidade ocupar-se mais com

inconvenientes particulares do que com os ferais; desejar comprimir os sentimentos naturais

em vez de procurar excitá-los; fazer silenciar a razão. Pode-se chamar ainda falsas idéias

de utilidade aquelas que separam o bem geral dos interesses particulares, sacrificando as

coisas às palavras.

12.39 DO ESPÍRITO DE FAMÍLIA

Esta é outra fonte geral de injustiças na legislação. Este espírito é uma minúcia

limitado pelos mais insignificantes pormenores; ao passo que o espírito público, ligado a

princípios gerais, vê os fatos com visão segura, coordena-os nos lugares respectivos e sabe

tirar deles efeitos úteis ao bem da maioria.

12.40 DO ESPÍRITO DO FISCO

É para a mesma finalidade fiscal que se encaminha hoje toda a jurisprudência

criminal, pois as conseqüências permanecem por muito tempo depois de cessadas as

causas. O acusado que recusa declarar-se culpado, ainda que convicto por provas

evidentes, sofrerá um castigo mais leve do que se tivesse confessado; não lhe será aplicada

a tortura pelos outros delitos que poderia ter praticado, exatamente porque não confessou o

delito principal de que está convicto. contudo, se o delito é confessado, o magistrado

apossa-se do corpo do culpado; despedaça-o metodicamente; e dele faz, por assim dizer,

um fundo do qual retira todo proveito que pode. Reconhecida a existência do delito, a

confissão do réu toma-se prova convincente.

Crê-se tornar essa prova menos suspeita quando se arranca a confissão do delito

pelos tormentos e pelo desespero; e estabeleceu-se que a confissão não é mais suficiente

para condenar o culpado se este se mostra calmo, fala com desembaraço, e não está

rodeado pelas formalidades judiciárias e pelo aparato aterrados dos suplícios.

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12.41 DOS MEIOS DE PREVENIR CRIMES

É muito melhor previnir os delitos a ter de puni-los ( é preferível impedir o mal que

repará-lo). Se desejas previnir os crimes, faça leis claras e simples; e esteja o país inteiro

preparado a armar-se para defendê-las, sem que a minoria se preocupe constantemente em

destruí-las.

12.42 CONCLUSÃO

A pena deve ser de modo essencial, pública, pronta, necessária, a menor das penas

aplicáveis nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e determinada pela lei.

Pela época em que foi escrita a obra "sub examem", século XVIII , muito trouxe esta

de novo ao pensamento criminalista. O legado que dela se irradia, influenciando gerações

futuras é patente e flagrante.

Teve, Beccaria, uma terrível missão: ir contra os pensamentos dominantes e

arraigados no seio da coletividade em que vivia.

Tratar da humanização e da proporcionalidade das penas, afirmando que "pena justa

é a pena necessária" é o exemplo que deve ser seguido por todas as boas leis.

Ao escrever sobre temas que assolavam à sua época, tais como torturas, pena de

morte, dentre outros, manter-se fiel à sua linha de raciocínio, qual seja, a desnecessidade

de incutir, somente o medo na população, fazendo-se mista, para a consecução de uma

sociedade justa, o investimento na boa educação.

Em sua época, grande foi a valia "Dos delitos", servindo como manual certo e seguro

do magistrado, no momento da dosagem das penas.

Nada obstante, alguns dos seus ensinamentos, hoje já se encontram ultrapassados,

devido à constante evolução do gênio humano. A título ilustrativo poderíamos dizer que,

atualmente, cabe ao magistrado interpretar a lei, e não ao poder legislativo, que a

confecciona, que perscrutar à mente do acusado, em busca de seus desígnios mais íntimos.

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Essas máculas, porém, se devem mais ao pensamento da época do que ao Autor

"Dos delitos".

Diante do exposto, tem-se como grande clássico da literatura criminal, que merece

ser lido e estudado por todos aqueles que, como nós, temos um carinho muito especial para

com esse ramo do direito, e pretendermos, futuramente, prestar, mesmo que ínfimos,

nossos préstimos ao estudo do direito criminal.

CONCLUSÃO

Ao concluir o trabalho percebi que a Disciplina Filosofia, vem contribuir em muito com

o operador do Direito, pois é através dela que aprendemos a compreender o pensamento

dos filosóficos contemporâneos como um referencial teórico para o cotidiano do profissional

jurídico, muito em especial para aqueles que querem se destacar na literatura forense.

O pensamento filosófico é a fonte de valores que devemos buscar, assim com os

princípios da ciência jurídica, visando obter uma prática jurídica, completa desde sua base

para atingirmos o topo da pirâmide.

Cada profissional da área jurídica deverá exercitar seu raciocino, observando a

lógica deixada por nossos filósofos, pois se eles obtiveram sucesso com seus pensamento

divulgados e cultuados até nossos dias, seguindo com base nos cursos de Direitos, nada

mais justo creio que será de auto ajuda no decorrer do exercício das atividades jurídicas.

Penso que a Filosófica é para o Direito, assim como a gramática é para a Disciplina

da Língua Portuguesa.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

AGOSTINHO, Sto. A Cidade de Deus. trad. Oscar Paes Lemes. 7º ed. Rio de

Janeiro: Editora Vozes, 2002.

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CAMPANELLA, T. A cidade do sol. (Á. Ribeiro, trad.). Lisboa: Guimarães.1990

DESCARTES, René, Discurso do Método, São Paulo: Martins Fontes,1989, 102

Páginas

DOM QUIXOTE

Nome da obra Dom Quixote

Nome do autor Miguel de Cervantes

Editora Ática

Edição 1

Data de publicação 1995

Ilustração Victor G. Ambrus.

Numero de capítulos e paginas 17 capítulos e 109 paginas.

Antagonista Cavaleiro da lua cheia.

Personagem Principal Dom Quixote.

Personagens Secundários Dulcinéia Del Toboso, Rocinante, Maria (sua sobrinha) e

Sancho Pança.

Personagens terciários Artur, Lancelot, Rolando, dragão, as duas criadas da

estalagem, o estalajadeiro, o barbeiro, os escravos e guardas que encontra em seu

caminho, Tomas, o padre, Nicolau o Barbeiro, Duque, a Duquesa, feiticeiro Merlin pessoas

que trabalhavam no palácio, Roberto, Jorge e Jerônimo.

Temática Central A historia fala de um homem que decide ajudar as pessoas.

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Tempo Cronológico (Se passa na vida real)

Foco narrativo observador (narra em 2 e 3 pessoa do verbo da qual é mero

espectador ou observador)

Linguagem Coloquial (é a linguagem usada no dia)

Enredo Linear (pois a historia tem seqüência inicio )

Espaço a historia se passa em sua casa, na cidade de Toboso, e estradas que

passam procurando por aventuras.

DOS DELITOS E DAS PENAS – César Beccaria

EDUARDO C. B. BITTAR e GUILHERME ASSIS DE ALMEIDA. Curso de Filosofia do

Direito - Editora Atlas S.A – 3ª edição, São Paulo: 2004.

HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e

civil.3. ed. Tradução por João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo:

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MAQUIAVELLI, Nicólo - O Príncipe. Trad. de Lívio Xavier. 6a. ed. Campos do

Jordão: Editora Campos do Jordão, 1999.

MAXIMILIANO, Cláudio Américo Fuhrer. Resumo de Direito Civil, 24ª edição (2001) –

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MONTESQUIEU, C. L. S. - Do Espírito das Leis- Os Pensadores, 3a edição, Editora

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