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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU" PROJETO A VEZ DO MESTRE ASPECTOS DA REDE DE DRENAGEM EM ANTIGOS LOGRADOUROS DO BAIRRO DE VILA ISABEL, PARTE INTEGRANTE DA GRANDE TIJUCA. Por Célia Maria Monteiro Soares Orientador Professor Francisco Carrera Rio de Janeiro, de 2010.

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · Janeiro, erguida com a participação de José de Anchieta, em homenagem a São Francisco Xavier. O pequeno templo foi erguido

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU"

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ASPECTOS DA REDE DE DRENAGEM EM ANTIGOS

LOGRADOUROS DO BAIRRO DE VILA ISABEL, PARTE

INTEGRANTE DA GRANDE TIJUCA.

Por Célia Maria Monteiro Soares

Orientador

Professor Francisco Carrera

Rio de Janeiro, de 2010.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO "LATO SENSU"

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ASPECTOS DA REDE DE DRENAGEM EM ANTIGOS

LOGRADOUROS DO BAIRRO DE VILA ISABEL, PARTE

INTEGRANTE DA GRANDE TIJUCA.

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Direito Ambiental.

Por: Célia Maria Monteiro Soares

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AGRADECIMENTOS

Aos dignos moradores e parceiros dos logradouros

que constituem a Aldeia Campista no atual bairro de

Vila Isabel, parte da Grande Tijuca na Cidade de São

Sebastião do Rio de Janeiro.

Ao Engenheiro Projetista Municipal da Rio Águas Alan

Lopes Nóbrega.

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DEDICATÓRIA

À memória de minha querida mãe, Nina que

nunca mediu esforços para me guiar na vida,

inclusive para o livre exercício da cidadania de

forma consciente e participativa.

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RESUMO.

O presente trabalho apresenta causas e soluções para problemas de

drenagem pluvial em logradouros que apesar de antigos, localizados em Vila

Isabel, parte integrante da Grande Tijuca, ainda não possuem infraestrutura

instalada, suficiente para suportar dias chuvosos, em especial na ex-Aldeia

Campista, ocasionando alagamento das vias públicas. Tanto as águas das

chuvas, como as águas servidas e empoçadas pela falta do escoamento

organizado, impedem o exercício do direito de ir e vir do cidadão contribuinte,

expondo-o ao meio ambiente insalubre.

Procurou-se respeitar a visão de totalidade e de interconexão dos

vários estratos que compõem o ambiente urbano: o estrato do meio ambiente ao

longo do tempo e o da tecnologia, assim como o estrato coletivo e individual

representado pelo sistema de mecanismos institucionais e de processos sociais

do ser humano como ser coletivo, decorrentes de sua natureza biopsicológica,

com destaque para os direitos transindividuais à cidade sustentável, em

conformidade com os padrões legais da atualidade.

Apresenta-se a síntese do processo histórico da ocupação

construída sobre o espaço natural, nos diferentes ciclos sócio-econômicos até os

dias de hoje.

Apontam-se técnicas de engenharia capazes de oferecer o suporte

necessário ao comportamento hidrodinâmico da bacia fluvial, a partir do que é

utilizado no mundo desde a década de 1970, visando a sustentabilidade urbana.

Finalmente, através do Direito Ambiental, são destacadas

competências, legislação ordinária, políticas e iniciativas legais capazes de

fundamentar a solução para o problema local, com destaque para a participação

da comunidade, associações afins, poder público municipal e possível atuação do

Ministério Público Estadual.

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METODOLOGIA

O método inicial de pesquisa é a observação dos problemas locais

nos dias chuvosos assim como de vivências dos antigos moradores. Através das

constatações, busca-se bibliografia sobre a ocupação do espaço geográfico e

histórico durante o processo de urbanização dos bairros componentes e bacias

hidrográficas que banham a Grande Tijuca. Sobre as inter-relações ambientais;

utiliza-se fontes cartográficas comparativas no tempo; websites e leituras em

periódicos especializados em saneamento ambiental e drenagem pluvial.

Bibliografia básica de Direito Ambiental, onde se inclui Direito Urbanístico, Agenda

21; sites governamentais; Constituições Federais e Estadual; Lei Orgânica do

Município do Rio de Janeiro, Plano Diretor do Município do Rio de Janeiro; sites

de Universidades; pesquisa e atual administrativa junto a em órgãos públicos

municipais que tratam do assunto tais como: Secretarias Municipais de

Urbanismo, de Obras, de Conservação (6º Distrito); Arquivo de Projetos da

Subsecretaria de Bacias Hidrográficas Rio-Águas, parte da Secretaria Municipal

de Obras.

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SUMÁRIO

Introdução ______________________________________ 8

Capítulo I _______________________________________ 10

Capítulo II _______________________________________ 36

Capítulo III ______________________________________ 41

Conclusão ______________________________________ 47

Anexo _______________________________________ 49

Bibliografia _______________________________ 53

Webgrafia ________________________________ 54

ÍNDICE ___________________________________ 55

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INTRODUÇÃO.

A vida em sociedade gera necessidades coletivas ambientais que

com o processo civilizatório tornam-se mais e mais complexos e exigentes.

Ocorre que as exigências do cidadão comum dependem do grau de

informação que possui a população, principalmente no que diz respeito aos

direitos e deveres previstos na legislação específica do conflito.

O presente trabalho se ocupa em buscar novos rumos para a

drenagem de águas pluviais em logradouros antigos localizados na Grande Tijuca,

local antes denominado Aldeia Campista, no atual bairro de Vila Isabel, tendo

preocupações com a sustentabilidade urbana e também com os dispositivos

legais reguladores, na atualidade, utilizados para garantir ao cidadão carioca

qualidade de vida saudável.

Cabe realçar que as principais áreas de baixadas da Cidade do Rio

de Janeiro - Guanabara, Jacarepaguá e Sepetiba - próximas ao nível do mar, são

o exutório final das águas de drenagem do Município. Essas baixadas litorâneas

são receptoras dos rios e águas pluviais oriundas dos Maciços da Tijuca, da Pedra

Branca e de Jericinó, contendo, originariamente, grandes áreas de alagamento.

O ecossistema urbano é fruto de uma simbiose necessária entre os

diversos momentos do homem no meio ambiente construído ao longo do tempo.

A discussão se resume nas possibilidades do ambiente atender as reais

necessidades do cidadão contribuinte num padrão de vida digna.

Segundo José Afonso da Silva a preservação, a recuperação e a

revitalização ambientais hão de se constituir preocupações constantes do Poder

Público e consequentemente do Direito, já que ele atua na ambiência onde se

move, desenvolve, age e se expande com a vida humana.

O Direito Ambiental é um Direito recente, com menos de cinquenta

anos, emergente da necessidade de regulação das condutas geradas pelas

relações do indivíduo com o meio onde ele vive. A consciência ambiental de

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massa passou a existir na segunda metade do século XX; sendo a ocupação

urbana regulada por este Direito Novo conveniente ao equilíbrio do processo de

desenvolvimento, manutenção, fiscalização e controle ambientais.

A caracterização do dano muitas vezes é de difícil identificação e

reparação, apesar da utilização de embasamento técnico-científico para tal. No

entanto, para o problema em estudo, a solução é possível através da integração

entre planejamento urbano, políticas públicas e técnicas de engenharia, aplicando-

se princípios do Direito Ambiental, dentre outras iniciativas legais criadas.

A área urbanizada possui infraestrutura própria para área

consolidada, capaz de produzir escoamento de águas pluviais adequado? Qual o

risco para a qualidade de vida do cidadão e para o ambiente natural provocado

pelas enchentes ocasionadas pela pluviosidade do clima tropical atlântico da

Cidade do Rio de Janeiro? E as águas servidas são escoadas adequadamente?

Os entes públicos competentes estão cumprindo as leis reguladoras indicadas

para garantir à comunidade local saúde e salubridade? Qual o ônus para a

municipalidade pela falta de providências diante das reclamações? Qual o padrão

ambiental desejável a que o cidadão contribuinte tem direito? Estará a

habitabilidade local integrada ao padrão de desenvolvimento do sistema urbano

aceitável estabelecido na atualidade? A comunidade aceita os padrões atuais de

habitabilidade no local em estudo?

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CAPÍTULO I

1 .1. Processo de urbanização da Grande Tijuca.

Na Cidade do Rio de Janeiro, a área de baixada da Guanabara foi a

primeira a ser ocupada, adensando-se pela dificuldade de expansão urbana

devido às barreiras físicas topográficas. O adensamento da ocupação urbana

dessa região exigiu a extinção dos algamentos, através da construção de canais,

como o Canal do Mangue e a canalização de rios. Para aumento de áreas

disponíveis para o assentamento humano foram também realizados sucessivos

aterros de pântanos e lagoas, bem como desmonte de alguns morros.

Os vales da bacia do Canal do Mangue e sub-bacias dos rios

contribuintes como Maracanã e Joana abrigam áreas de ocupação das mais

antigas do Município. Pelas limitações técnicas da época e devido ao baixo índice

de impermeabilidade dos terrenos de baixada, ainda com poucas edificações e

vias urbanas pavimentadas, as canalizações e galerias de drenagem foram

construídas com dimensões insuficientes para o volume de águas de hoje em dia.

A grande pressão da ocupação urbana levou, posteriormente, à ocupação das

encostas dos morros existentes, o que agravou o problema de desmoronamentos,

assoreamentos e inundações. A válvula de escape para a expansão urbana foram

as linhas ferroviárias na direção leste-oeste e na direção norte.

Território da Grande Tijuca localizado a oeste do atual centro da

Cidade foi, no início da colonização, espaço rural. Tinha acesso dificultado pela

existência de uma fronteira natural, o Saco de São Diogo e seus manguezais,

canalizado em 1854 por Mauá. Convém frisar que o projeto e construção do Canal

do Mangue permitiu o início do desenvolvimento urbano da Cidade ao nível atual.

Após obras de saneamento e drenagem do começo do século XX a transposição

dessa fronteira ficou facilitada pela abertura de uma passagem. Desde os tempos

D. João VI se encontram consolidados os bairros da Tijuca e Vila Isabel, onde o

urbanismo português ocorreu receptivo às circunstâncias de cada localidade.

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A ocupação urbana se deu com planejamento inadequado, quanto à

drenagem, originando problemas de enchentes, desmoronamentos num ambiente

que recebe a média de 1.400mm. de chuvas anuais segundo a medição nos

últimos dez anos. O problema do controle e minimização do lixo disperso é

também outro aspecto ambiental relacionado ao uso do solo, que afeta as

enchentes na bacia principal e sub-bacias tributárias-adjacentes cujas encostas

apresentam atualmente intensa ocupação por favelas.

Galerias capeadas dos rios Trapicheiros, Joana, e Maracanã foram

construídas com dimensões insuficientes. Mesmo em trechos a céu aberto, tais

canais em certos estirões, não asseguram larguras e profundidades necessárias,

sendo também sujeitos a obstruções e assoreamentos desfavoráveis. Isto sem

contar que os rios Joana e Maracanã tiveram seus canais unificados, antes do

desaguadouro.

As chuvas mais intensas no Município do Rio de Janeiro se

concentram entre os meses de novembro a abril. Elas são de origem convectiva e

de curta duração. Tendem a ser mais fortes nas imediações dos maciços

montanhosos. Assentamentos desde 1756 mostram que a população da cidade do

Rio de Janeiro sofre com problemas de enchentes e deslizamentos.

A Bacia do Canal do Mangue, parte da Bacia Hidrográfica da Baía

de Guanabara, tem curso principal com 2,6 km. de extensão, aproximadamente

42km² de superfície, com exutório no quilômetro zero da Av. Brasil, área do Porto

do Rio de Janeiro; limita-se norte com a Baía de Guanabara e a Serra do Engenho

Novo; ao sul e a oeste com o Maciço da Tijuca. Drena bairros tradicionais e

importantes da cidade do Rio de Janeiro como Leopoldina, São Cristóvão, Tijuca,

Vila Isabel, Maracanã, Grajaú, Andaraí, Muda, Usina,Praça da Bandeira, Cidade

Nova, Estácio, Rio Comprido, Catumbi e Santo Cristo.

A interpretação da toponímia associada nos mapas a alguns bairros

nesse espaço tem significados relacionados com o elemento água. O nome

Andaraí herdado dos indígenas também é uma alteração de “andr’ay” e corruptela

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de andirá-y, significando “rio dos morcegos”. Desde 1809 são inúmeros os relatos

de navegação e pesca, mesmo após a canalização., para reforço do

abastecimento de água à cidade. Seu nome foi alterado depois para Rio Joana.

Tijuca é descrição da paisagem física do ambiente natural. Os

indígenas usavam o termo “ti’yug” para descrever áreas com acumulação

superficial de “líquido podre, lama”. Seu território está estabelecido onde as

condições naturais de drenagem permitiriam a acumulação das águas das chuvas

em brejos, pântanos, lagoas e laguna. Maracanã é denominação de ave que se

reúne em áreas descampadas e alagadas.

O berço da ocupação da Grande Tijuca foi a pequena ermida

construída por volta de 1572, sete anos após a fundação da cidade do Rio de

Janeiro, erguida com a participação de José de Anchieta, em homenagem a São

Francisco Xavier. O pequeno templo foi erguido junto ao rio dos Trapicheiros

terras da Companhia de Jesus que com o passar dos anos tornou-se um centro

religioso e social do Engenho Velho.

Vila Isabel se originou da Fazenda do Macaco, pertencente aos

jesuítas, onde plantavam cana-de-açúcar e posteriormente arrendada por eles aos

portugueses imigrantes. Em 1759 a Fazenda foi confiscada pela Coroa ficando

abandonada até 1822, quando passou a pertencer ao Império Brasileiro. D. Pedro

I a doou à dona Amélia., sua segunda esposa, Duquesa de Bragança. Em 1870

houve a retificação do Rio Joana, que antes alagava, e o interesse tomou a

direção da antiga fazenda com a abertura da via principal Rua do Macaco, atual

Boulevard 28 de Setembro. Em 1871 o empreendedor Viana Drummond buscou

junto à Corte desenvolvimento comercial para o local, conseguindo a linha carril

ligando a fazenda do Macaco ao centro da Cidade. Em 1872 a Fazenda foi

vendida pela Duquesa de Bragança a Viana Drummond cujos bens foram

transferidos em 1873 à Companhia Arquitetônica afim de possibilitar a

urbanização da área, com objetivo de modernizar a aparência como a cidade de

Paris. Assim Vila Isabel tornou-se o primeiro bairro planejado da cidade, tendo

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seus terrenos loteados em homenagem à Princesa Isabel com 13 ruas projetadas

e uma grande avenida arborizada, “Boulevard” 28 de setembro, aproveitando o

antigo caminho do Macaco.

O campista Domingos Pereira Nunes e o Dr. Luís Gonzaga de Souza

Bastos possuíam duas chácaras loteadas em 1897. Na primeira surgiram as ruas

da Aldeia Campista como: Tomás Coelho, Pereira Nunes, Baltasar

Lisboa(historiador), Ambrosina, Ribeiro Guimarães, Padre Champagnat e na

segunda abriram-se Gonzaga bastos e Adalberto Aranha. O amigo Araújo Lima,

homem de negócios e escritor, imitou os vizinhos, dotando também o bairro de

outras ruas até a Rua Uruguai, entre elas a Araújo Lima.

A Rua Maxwell surgiu da chácara de José Maxwell, lorde inglês

amigo íntimo de D. Pedro II, que se estendia até a atual Boulevard 28 Setembro;

parte de sua casa integrou-se na Fábrica Confiança Industrial. Todas localizadas

entre as sub-bacias dos rios Joana e Maracanã.

Assim, é possível constatar que a Grande Tijuca teve o espaço

ocupado desde 1572, inicialmente pela atividade agrícola, canaviais nas baixadas

alagadas e cafezais nas partes elevadas de clima mais ameno, onde a Mata

Atlântica devastada foi replantada artificialmente, a partir de 1861, devido ao

ressecamento dos mananciais. Hoje este espaço abriga o Parque Nacional da

Tijuca, denominação desde 1967; ex Parque Nacional do Rio de Janeiro criado

em1961 por Decreto Federal, tombado em 1966 pelo Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional; Reserva da Biosfera e Patrimônio da Humanidade declarado

pela UNESCO, devido ao seu importante papel no equilíbrio do clima e na

preservação do solo, da água e do ar, e por sua relevância histórica e cultural.

Nos primeiros anos da República surgiram algumas fábricas na

periferia do Maciço da Tijuca, tais como: Cervejaria Brahma, Cia. de Cigarros

Souza Cruz, Cia Franco-Brasileira de Papel e Lanifício Alto da Boa Vista; mas

também, nas proximidades, Fábrica Covilhã, tecido de lã pelos ingleses, Fábrica

de Tecidos Maracanã. Nas vizinhanças da Aldeia Campista, Fábrica Confiança de

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Tecidos, Fábrica Peixe de Alimentos e outras de menor porte. Originando uma

população operária que passou a residir nas encostas dos morros próximos,

dando início à favelização.

Vale destacar também a construção de pequena usina hidrelétrica

aproveitando as quedas d'água sobre o Maciço da Tijuca que alimentava de

energia elétrica a linha férrea do transporte por bondes, cujos trilhos percorriam o

Alto da Boa Vista até o início da Floresta da Tijuca.

Os bairros da Tijuca, Alto da Boa Vista e adjacências foram

abastecidos por mananciais originados dos rios Maracanã, Trapicheiros e

afluentes; este último projetado em 1869 por André Rebouças com tecnologia

inglesa; Vila Isabel e Andaraí usavam água da bacia do rio Joana. Ainda hoje,

resta um deles sendo utilizado por moradores de dois logradouros do Alto da Boa

Vista; trata-se do manancial da Caixa Velha, administrada pela Companhia

Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE). Várias capitações são feitas

clandestinamente ou com autorização municipal. Neste caso, destaca-se o

represamento de um dos braços do rio Maracanã, capitado pelos moradores da

Favela do Alto Catrambi, já urbanizada com recursos de origem europeia e

também do Projeto Rio-Cidade (1993/94). A Caixa Maior para distribuição localiza-

se na parte mais alta da fronteira com a área florestal.

1.2.Saneamento ambiental; drenagem pluvial.

A principal forma de relação entre o homem e a natureza, entre o

homem e o meio, é dada pela técnica. As técnicas são um conjunto de meios

instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e ao

mesmo tempo, cria espaço

A cada lugar geográfico concreto corresponde, em cada momento,

um conjunto de técnicas e de instrumentos de trabalho, resultado de uma

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combinação específica que também é historicamente determinada. Na época em

que a construção de moradias, abertura de ruas, instalação de fábricas, de

mananciais de contenção, obras de canalização com desvios de leitos fluviais,

aterros, desmontes foram realizadas não se levava em consideração as

características ambientais numa previsão de suas repercussões para as futuras

gerações.

Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, saneamento é o

controle de todos os fatores do meio físico que exercem ou podem exercer efeitos

nocivos sobre o bem estar físico, mental e social humanos. Para promover o bem

estar, o saneamento constitui um conjunto de ações sobre o meio físico, incluindo

controle ambiental tais como: abastecimento d'água, coleta e tratamento de

esgoto, coleta, tratamento e deposição final de resíduos sólidos, drenagem pluvial,

controle de vetores. Todas essas condições precisam de técnicas sustentáveis

próprias do meio ambiente urbano. Devido a sua importância sócio-ambiental o

conceito de saneamento básico vem sendo alterado para saneamento ambiental a

conceituado como a seguir.

Saneamento ambiental é considerado o conjunto de ações

socioeconômicas que tem por objetivo alcançar um meio ambiente menos

degradado, através de abastecimento de água potável, coleta, tratamento e

disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, promoção e

disciplina sanitária do uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças

transmissíveis e demais serviços de obras especializadas, com a finalidade de

proteger e melhorar as condições de vida rural e urbana.

Conclui-se, portanto, que o saneamento ambiental é meta coletiva

diante da sua essencialidade à vida humana e à proteção ambiental,

evidenciando-se o seu caráter público e o dever do Estado na sua promoção,

constituindo um direito social integrante de políticas públicas e sociais.

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Na discussão sobre o conceito de saneamento ambiental sabe-se

que ele está submetido e condicionado ao próprio processo de construção do

conhecimento ao longo da história, que se tem pautado por continuidade e

descontinuidade, movimentos esses que não se dão de forma neutra e estão

inseridas na complexidade do controle social e político do momento.

O site governamental da Secretaria Nacional de Saneamento

Ambiental ao fazer referência à Lei sob o nº 11.445/07 que regula as Diretrizes

para a Definição da Política e Elaboração de Planos Municipais e Regionais de

Saneamento Básico, assim se expressa: .

"Saneamento básico é o conjunto de serviços,

infraestruturas e instalações operacionais de

abastecimento de água potável, esgotamento sanitário,

manejo de resíduos sólidos e limpeza urbana, manejo de

águas pluviais e drenagem urbanas."

No conceito legal os resultados ambientais estão implícitos nas

partes das espécies de saneamento, conduzindo à manutenção da qualidade da

vida humana; entendendo o básico como imprescindível, apesar do uso ambiental.

Enquanto no anterior, saneamento ambiental é entendido numa visão de

totalidade, tendo como resultado um sistema saudável.

Com a adoção no Brasil do sistema separador absoluto em 1912, o

esgoto sanitário passou a ser obrigatoriamente projetado e construído.

Independentemente dos sistemas de drenagem pluvial e da generalização do

emprego de tubos de concreto, a drenagem passou a ser elemento obrigatório dos

projetos de urbanização.

"Drenagem e manejo de águas pluviais são tratadas como o

conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem

urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para

amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final de águas

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pluviais drenadas nas áreas urbanas" (conforme a Lei Federal 11.445 de

5/01/2007).

O sistema de drenagem urbana engloba dois sub-sistemas

principais: a microdrenagem e a macrodrenagem. Por microdrenagem entende-e o

sistema de dutos, destinados a receber e conduzir as águas das chuvas vindas

diretamente das construções, lotes, ruas, praças, etc. Já a macrodrenagem

corresponde à rede natural, pré-existente à urbanização, constituída por rios,

córregos, e que podem receber obras que modifiquem e complementem, tais

como canalizações, barragens, soleiras, diques, alargamentos e outros.

Quando as obras sobre macrodrenagem, em regiões urbanas, são

realizadas sem uma visão integrada da bacia, é possível se gerar enchentes com

efeito colateral. Quando contiverem uma cheia local através da correção da

capacidade de descarga, por vezes o que se consegue é apenas transferi-la de

local, para jusante, quando não se estudar o problema como um todo. Este estudo

integrado é assim de natureza sistêmica e bastante complexo pela diversidade de

situações e possibilidades envolvidas.

As cheias também podem ser resultado do próprio envelhecimento

de rede de drenagem que, com o passar do tempo e com o crescimento urbano

não consegue mais comportar as necessidades.

Um feito desenvolvido no início do século XX foi a inauguração dos

primeiros canais de drenagem de terrenos alagadiços destinados à drenagem de

águas estagnadas dentro do perímetro urbano da cidade de Santos(SP), visando

diminuir o surgimento de epidemias em 1912.

O crescimento desordenado das cidades, em especial a ocupação de

várzeas e fundos de vales, agravam as situações críticas. A infraestrutura pública

nas cidades brasileiras quanto à drenagem caracteriza-se como insuficiente, o que

não tem contribuído para a tranquilidade do cidadão, agravada pela

irresponsabilidade de ocupação das áreas de preservação naturais, tanto as de

macrodrenagem como as de terrenos instáveis.

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A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) através de pesquisas

realizadas no Instituto de Pesquisas Hidrológicas pelo pesquisador Carlos E. M.

Tucci propõe e indica técnicas usadas desde a década de 1970 no mundo.

Procura-se relatar a seguir argumentação e aspectos relevantes das medidas

principais a serem tomadas segundo o pesquisador, visando adequar de forma

sustentável a ocupação urbana.

A urbanização produz grande impermeabilização do solo. Esta

relação pode ser obtida relacionando a área impermeabilizável (AI) e a área

habitacional (Dh) AI em %= 0,489 Dh para 120 hab/hectare e constante para

valores superiores.

Esta equação foi obtida com base em dados de São Paulo, Curitiba e

Porto Alegre. A vazão máxima unitária (1mm de precipitação) pode ser estimada

com base na AI (através de dados de 12 bacias brasileiras), onde Qp é obtido em

m³/s e A, área da bacia em km².

Observa-se dessas equações que o aumento da vazão máxima

depende da impermeabilização do solo e da ocupação da bacia pela população. O

aumento relativo pode ser superior a seis vezes com relação à situação de pré-

desenvolvimento. Esse aumento ocorre em detrimento da redução de

evapotranspiração e do escoamento subterrâneo e da redução do tempo de

concentração da bacia.

O impacto sobre a qualidade da água é resultante do seguinte :

a} poluição existente no ar que se precipita junto com a água;

b) lavagem das superfícies urbanas contaminadas com diferentes

componentes orgânicos e metais;

c) resíduos sólidos representados por sedimentos erodidos pelo

aumento da vazão (velocidade do escoamento) e lixo urbano depositado ou

transportado pela drenagem;

d) esgoto cloacal sem tratamento.

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Deve-se considerar que 90% da carga de escoamento pluvial ocorre

na fase inicial de precipitação (primeiros 25mm).

Em Curitiba, na bacia do Rio Belém (42km²) que drena o centro da

cidade, com cerca de 60% de áreas impermeáveis mostrou um aumento de seis

vezes na vazão média de inundação com relação às suas condições rurais.

O grande desenvolvimento urbano no Brasil ocorreu do final dos

anos 60 até o final dos anos 90, quando o país passou de 55% de população

urbana para 76%. Esta concentração de população ocorreu principalmente em

grandes metrópoles com o aumento da poluição e da frequência das inundações

em função da impermeabilização e da canalização. Nos últimos anos, o aumento

de população urbana ocorre principalmente na periferia das metrópoles, ocupando

áreas de mananciais e de risco de inundação e escorregamento. Este processo

descontrolado atua diretamente sobre as inundações pela falta de infraestrutura e

da capacidade que o poder público possui para cobrar a legislação.

A política existente de desenvolvimento e controle dos impactos

quantitativos e qualitativos na drenagem se baseia no conceito de "escoar a água

precipitada o mais rápido possível". Este princípio já foi abandonado. A

consequência imediata dos projetos baseados neste conceito é o aumento das

inundações a jusante devido à canalização. Na medida em que a precipitação

ocorre a água não é infiltrada, este aumento de volume da ordem de seis vez,

escoa pelos condutos. Para transportá-la é necessário ampliar a capacidade dos

condutos e canais ao longo de todo seu trajeto. Os custos são insustentáveis se

comparados ao amortecimento no pico dos hidrogramas e diminuição da vazão

máxima a jusante através de uma detenção.

O controle moderno e sustentável tem medidas que podem ser

classificadas de acordo com o comportamento da drenagem em medidas:

. na fonte - que envolva o controle em nível de lote ou qualquer área primária

de desenvolvimento;

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. na microdrenagem - medidas adotadas em nível de loteamento;

. na macrodrenagem - soluções de controle nos principais rios urbanos.

As principais medidas sustentáveis na fonte têm sido: a detenção de

lote (pequeno reservatório); o uso de áreas de infiltração para receber a água de

áreas impermeáveis e recuperar a capacidade de infiltração da bacia:pavimentos

permeáveis. Estas duas últimas medidas também minimizam impactos da

poluição.

As medidas de micro e macrodrenagem são as detenções e

retenções respectivamente. As detenções são reservatórios urbanos mantidos

secos com uso do espaço integrado à paisagem urbana, enquanto as retenções

são reservatórios com lâmina de água utilizados não somente para controle de

pico e volume do escoamento, mas também da qualidade da água. Atualmente a

maior dificuldade na projeto e implantação dos reservatórios é a quantidade de

lixo transportada pela drenagem que obstrui a entrada dos reservatórios. Os

volumes necessários para o amortecimento devido à urbanização (alta

impermeabilização) são da ordem de 420 a 470 m³/ha, considerando uma

profundidade média de 1,5m.. A área necessária é da ordem de 3% da área total

da bacia de drenagem urbanizada.

Para implantar estas medidas sustentáveis na cidade, além das

áreas vazias é necessário desenvolver o Plano Diretor de Drenagem Urbana

baseado em princípios tais como:

A) novos desenvolvimentos não podem aumentar a vazão máxima a

jusante;

B) planejamento e controle dos impactos existentes devem ser

elaborados considerando a bacia como um todo;

C) horizonte de planejamento deve ser integrado ao Plano Diretor da

cidade;

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D) controle dos efluentes deve ser avaliado de forma integrada com o

esgotamento sanitário e os resíduos sólidos.

O Plano Diretor deve ser desenvolvido utilizando medidas não

estruturais (principalmente legislação) para os novos desenvolvimentos

(loteamentos e lotes) e medidas estruturais por sub-bacia urbana. Neste último

caso são projetadas as medidas para evitar os impactos já existentes na bacia

para um horizonte de desenvolvimento econômico e para um risco de projeto..

Geralmente, a combinação de detenção (ou retenção) com a ampliação da

capacidade de escoamento que minimize o custo, tem sido adotado. O custo de

uma detenção urbana aberta é da ordem de R$110,00 por metro cúbico, enquanto

uma detenção fechada o custo aumenta sete vezes. A alternativa da detenção

fechada só deve ser adotada quando fisicamente não é possível o uso de uma

detenção aberta. O aumento do escoamento por condutos ou canais é utilizado

apenas para compatibilizar os locais de amortecimento pois seu custo ainda é

superior aos anteriores. Para áreas muito densificadas o custo médio das medidas

estruturais e da ordem de R$ 1,5 - 2 milhões o km², reduzindo para menos de 1

milhão em áreas, onde em parte, é possível utilizar medidas não-estruturais.

A principal medida não-estrutural é a legislação para controle dos

futuros desenvolvimentos. Essa legislação pode ser incorporada no Plano Diretor

da cidade ou em decretos municipais específicos. A Prefeitura de Porto Alegre

introduziu este modelo.

1.3. Direito ambiental urbano

O Direito que cuida da proteção jurídica do meio ambiente não recebe

o mesmo tratamento dos ramos do Direito tradicional porque diz respeito à

proteção de interesses transindividuais de natureza indivisível, superando as

noções tradicionais de interesses individuais ou coletivos. Na doutrina

convenciona-se chamá-los de "interesses difusos". De Paulo Affonso Leme

Machado, mestre da matéria, são utilizados alguns dos princípios gerais do Direito

Ambiental aplicáveis ao tema do presente trabalho monográfico:

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a) Princípio do direito à sadia qualidade de vida - O Instituto de Direito

Internacional na sessão de Estrasburgo em 04/09/1997, afirmou que "todo ser

humano tem direito de viver em um ambiente sadio" considerado como direito

individual de gestão coletiva. A qualidade de vida é elemento finalista do Poder

Público. Para a saúde dos seres humanos leva-se em conta o estado dos

elementos da Natureza - água, solo, ar, flora, fauna e paisagem.

O Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos

prevê no art. 11:

"1 - Toda Pessoa tem direito de viver em um meio

ambiente sadio e dispor dos serviços públicos básicos.

2 - Os Estados partes promoverão a proteção, a

preservação e melhoramento do meio ambiente."

O Tribunal Europeu de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo,

decidiu em 09/12/94 que atentados graves contra o meio ambiente podem afetar o

bem estar de uma pessoa e privá-la do gozo do domicílio, prejudicando sua vida

privada e familiar.

b) Princípio da precaução contido no art. 225 da CRF/88 que afirma

ser o meio ambiente equilibrado ecologicamente, direito de todos, à sadia

qualidade de vida, cabendo tanto ao Poder Público como a coletividade o dever de

defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

c) Princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência aplicados às providências ambientais para cumprimento pela

Administração Pública; integram o caput do art. 37 da CRF/88.

d) Princípio da participação que se destaca pela atuação popular das

pessoas e das organizações não governamentais, visando a conservação do meio

ambiente. Insere-se no quadro de procedimentos diante dos interesses difusos e

coletivos da sociedade para as decisões administrativas e nas ações judiciais

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ambientais, próprias da segunda metade do séc. XX. Somente o voto popular e

secreto não traz resultados totalmente esperados ao eleitor.

e) Princípio da informação conforme a Declaração do Rio de

Janeiro/92 "no nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado às

informações relativas ao meio ambiente que disponham as autoridades

públicas."... Além disso, a Constituição Federal garante como direito fundamental

(cláusula pétrea) o recebimento pelos órgãos públicos de informações do seu

interesse particular ou coletivo ou geral, a serem prestadas no prazo da lei (art. 5º,

XXXIII).

Vale lembrar que as preocupações do homem com o meio ambiente

começaram a ser evidenciadas internacionalmente a partir de 1968, através do da

fundação do Clube de Roma, quando um grupo de pessoas ilustres se reúnem

para debater um vasto conjunto de assuntos relacionados à política, economia

internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

Em 1972, o tema ambiental obteve grande divulgação mundial

através da publicação do relatório "Os Limites do Crescimento" que tratava

essencialmente de problemas para o desenvolvimento da humanidade tais como:

ambiente, poluição, saneamento, saúde, energia, tecnologia e crescimento da

população mundial, dentre outros.

Logo após, em 1972, ocorreu a 1ª Conferência Intergovernamental

sobre Meio Ambiente Humano – Estocolmo – Suécia, com a participação de 113

países; e vinte anos depois, o Rio de Janeiro sediou a 2ª Conferência da ONU

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – RIO 92.

A Agenda 21 foi um dos principais resultados da Conferência do Rio

de Janeiro em 1992. Esse documento estabeleceu compromissos de reflexão,

global e local entre todos os países participantes acerca de como se poderia

colaborar para a solução dos problemas sócio-ambientais. Então cada país

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passou a desenvolver a sua Agenda 21, instituindo políticas de desenvolvimento

sustentável.

Com a Agenda 21 teve início a busca por um "novo progresso",

contemplando maior harmonia e equilíbrio holístico entre o todo e as partes,

promovendo a qualidade, não apenas a quantidade do crescimento. Abriu-se o

caminho capaz de ajudar a construir politicamente as bases de um plano de ação

e de um planejamento participativo em âmbito global, nacional e local, de forma

gradual e negociada, tendo como meta um novo paradigma econômico e

civilizatório. O capítulo 28 atribui ao poder local a responsabilidade de desenvolver

uma plataforma de diálogo e criação de consensos para promover uma estratégia

participada de sustentabilidade.

Viver de forma sustentável implica aceitar a imprescindível busca de

harmonia com as outras pessoas e com a natureza, no contexto do Direito Natural

e do Direito Positivo.

Vale ressaltar que a sustentabilidade urbana é uma busca que se faz

através de diversas dimensões para organização humana sobre os territórios. Não

há cidades sustentáveis, mas a busca para a sustentabilidade. É necessário

pensar a cidade sustentável como um processo progressivo de implementação de

critérios de sustentabilidade que exigem reconhecimento de uma série de valores,

atitudes e princípios, tanto nas esferas públicas como privadas e individuais da

vida urbana.

O conceito de sustentabilidade urbana possui menos de 20 anos.

Mas, planejar a cidade para torná-la mais humana e mais racional na distribuição

de bens e serviços é uma preocupação consolidada entre arquitetos e urbanistas

no âmbito da chamada de ecologia urbana. Seu tema central nos anos 60 e 70 foi

o controle da poluição nas suas diversas formas e da “degradação do espaço

urbano” pela ocupação desordenada. Em meados dos anos 80 e, sobretudo, nos

anos 90 é que começa a ser delineado o conjunto de formulações para possibilitar

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o uso de instrumentos do planejamento urbano e da ecologia urbana a fim de se

promover o desenvolvimento sustentável das cidades.

Não são necessários grandes argumentos para se verificar a

insustentabilidade de cidades como Nova York, Cidade do México, São Paulo e

Rio de Janeiro. Mesmo quem não tem a observação treinada para identificar os

problemas ambientais graves, percebe a montanha de lixo produzida diariamente,

a crescente dificuldade de fluência do tráfego e o efeito cogumelo das favelas,

quase sempre junto aos mananciais e cursos de água existentes nas cidades.

A sustentabilidade urbana é um objetivo a ser alcançado a partir de

conjunto complexo de iniciativas e políticas complementares entre si e que geram

efeitos cumulativos.

Esses efeitos diminuem o déficit de desajustes e promovem o

desenvolvimento sustentável da cidade. Como mostram os Relatórios de

Desenvolvimento Humano produzidos pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) nos anos 90, a sustentabilidade tem várias dimensões:

ecológica, econômica, política, social e ética. Uma política urbana voltada para a

sustentabilidade não pode ser unidimensional, tem sempre que combinar essas

dimensões para ser verdadeira.

Em resumo, promover a sustentabilidade urbana implica primeiro

conhecer (fazer diagnósticos) e, depois, formular estratégias. Em ambas as fases

deve-se mover a participação, envolvendo todos os atores sociais relevantes. As

experiências existentes em cidades de qualquer tamanho mostram que se a

sociedade não está engajada e convencida da validade das propostas, de projetos

e programas, a sustentabilidade não avança. Participação e maior integração nas

políticas e parcerias (entre o setor público e o privado, entre organizações

governamentais e não-governamentais) são princípios básicos da nova

governabilidade.

Cumpre regular todas as situações de fato e de direito que se

configurem como atividades urbanísticas. Assim, José Afonso da Silva define

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direito urbanístico como direito positivo, consignando que "consiste no conjunto de

normas que tem por objeto organizar os espaços habitáveis, de modo a propiciar

melhores condições de vida ao homem na comunidade". De outro lado, como

ciência, define-o como "o ramo do Direito Público que tem por objeto, expor,

interpretar e sintetizar as normas e princípios disciplinadores dos espaços

habitáveis".

A Constituição Federal atual consagrou a competência concorrente

entre União, Estados e ao Distrito Federal para legislar em matéria de meio

ambiente (art. 24, inciso VI).

E ainda, no art. 25 afirma que os Estados organizam-se e regem-se

pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios da Carta

Magna.

Pela Constituição Federal compete aos Municípios, art.30:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

II- suplementar a legislação estadual e municipal no que

couber;

...

VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento

territorial,mediante planejamento e controle de uso, do

parcelamento e da ocupação do solo urbano;

Compete à União instituir políticas para as diretrizes do

desenviolvimento urbano e também para o saneamento básico, nos termos do art.

21, inciso XX da CRF/88. Vale considerar que as providências tomadas para o

tradicional saneamento básico conduzem ao saneamento ambiental.

Por outro lado, o art. 23, VI e VII da Constituição Federal prevê a

proteção ambiental como competência comum à União, Estados, Distrito federal e

Municípios.

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1. 3.1. Política de desenvolvimento urbano nacional.

A Constituição Federal dedicou Capítulo específico à Política Urbana

Brasileira constituído pelos artigos 182 e 183. Assim, por iniciativa federal foi

criada a Lei nº 10.257/2001 regulamentadora dos artigos citados denominada

Estatuto da Cidade. O Brasil nunca teve antes uma Política de Desenvolvimento

Urbano. O art. 182 estabelece no caput que a política de desenvolvimento urbano

seja executada pelo poder público municipal em consonância com art. 30, VIII da

CRF/88. A Política Urbana fixada em lei tem por objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana,

garantindo assim o bem estar de seus habitantes. O Plano Diretor é o instrumento

básico dessa política, determinando os rumos do desenvolvimento sustentável

para a comunidade municipal.

As Diretrizes Gerais dos objetivos da Lei, previstas no art. 2º,

constituem uma verdadeira carta de princípios para os governos municipais.

Apresentam características governamentais, sociais, econômico-financeiras,

relativas ao solo urbano, dentre outras.

Como diretriz governamental o planejamento se destaca no inciso IV,

sendo tratado como guia para o "desenvolvimento das cidades, da distribuição

espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território

sob sua influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano

e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente.

Pode-se definir planejamento como processo prévio de análise

urbanística pelo qual o Poder Público formula os projetos para implementar uma

política de tranformação das cidades com a finalidade de alcançar o

desenvolvimento urbano e a melhoria das condições de qualquer tipo de ocupação

dos espaços urbanos. É um princípio básico para o Poder Público ao lado da

coordenação, controle,...etc. Uma idéia vital ao planejamento moderno é partir da

formulação geral para se chegar posteriormente aos casos mais específicos e

detalhistas.

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Como diretrizes sociais sobressaem:

a) art. 2º, I - "direito a cidades sustentáveis entendido como o direito

à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao

transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para a presente e

futuras gerações". É direito fundamental das populações urbanas; valendo

destacar que a cidade sustentável reclama a conjugação dos fatores do meio

ambiente urbano com os fatores do meio ambiente natural.

b) art. 2º, II - - O Estatuto fixou que a "gestão democrática por meio

da participação da população e o de associações representativas dos vários

segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de

planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano"; sendo esses últimos

integrantes do sistema geral de planejamento.

Dentre as diretrizes relativas ao uso do solo, além da regularização

fundiária e de urbanização cumprindo normas ambientais(2º,.XIV), merecem

destaque a ordenação e controle do uso do solo de forma a evitar deterioração

das áreas urbanizadas (2º,VI,f), a poluição e a degradação ambientais (2º,VI,g).

As diretrizes gerais da política urbana previstas representam um

conjunto de situações urbanísticas de fato e de direito a serem implementadas

pelo Poder Público no intuito de constituir, melhorar, restaurar e preservar a ordem

urbanística de modo a assegurar a saúde e o bem-estar das comunidades em

geral, procurando modificar paradigmas com vistas à sustentabilidade.

1.3.1.1. Plano Diretor.

Enquanto as diretrizes gerais representam os caminhos fundamentais

a serem trilhados pelo Poder Público, os instrumentos urbanísticos previstos no

art. 4º da Lei 10.257/2001 correspondem aos mecanismos efetivos para a

concretização dos objetivos e das diretrizes gerais que os integram.

O plano diretor, conforme o art. 40, é o instrumento legal básico da

política de desenvolvimento e expansão urbana; sendo obrigatório para todas as

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cidades com mais de 20 mil habitantes. A lei ordinária municipal que o institui é

revista a cada 10 anos, sendo aprovada pela Câmara de Vereadores. "O Plano

Diretor não é estático; é dinâmico e evolutivo. Na fixação dos objetivos e na

orientação do desenvolvimento do Município é a lei suprema geral que

estabelece as prioridades nas realizações do governo local, conduz e ordena o

crescimento da cidade, disciplina e controla as atividades urbanas em benefício do

bem estar social"- Hely Lopes Meirelles.

A revisão do Plano Diretor constitui dever jurídico para administração

municipal. Desse modo, a inércia administrativa caracteriza-se como omissão

ilegal e , como tal, deve render ensejo e consequências de ordem jurídica. Trata-

se de conduta omissiva.

O Estatuto considera como improbidade admninistrativa nos termos

da Lei n.º 8.429, de 2/06/92, a omissão consistente em "deixar de tomar

providências necessárias para garantir a observância do diisposto no § 3º do art.

40 e no art. 50 desta Lei" (art. 52,VII), sendo o art. 40, § 3º , exatamente aquele

que compele a Administração Municipal a proceder a revisão do plano diretor. Na

verdade, como em nossa sociedade sobressai a cultura da impunidade, nem

sempre tais condutas sofrem o devido controle e adequda punição.

O art. 42 do Estatuto, inciso primeiro, dá a entender que o plano

diretor configura-se como conditio sine qua para que o Município exerça o seu

direito de impor as obrigações urbanísticas. Em consequência, revela-se como

ato-condição para legitimidades dessas obrigações.

Alguns aspectos gerais são objetos de previsão pelos planos

diretores, dentre eles o aspecto ambiental.. É a própria Constituição que deixa

implícito, assentando a necessidade de proteger o meio ambiente, incumbência

tanto dirigida ao Poder Público como à coletividade. O mandamento contido no art.

225, da CRF, é de insidência geral, de modo que o Município, ao projetar os bens

jurídicos sociais e econômicos que pretende proteger, não pode alijar o meio

ambiente.

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Como exemplos de planos de desenvolvimento elaborados em

épocas mais recentes para a Cidade do Rio de Janeiro, destacam-se :

- Plano Agache de 1930. Impresso em Paris, segundo consta, dele se

origina a expressão "plano diretor". Tratou, dentre outros temas, de soluções para

"enchentes" através do amortecimento de cheias e controle dos tempos de

concentração das bacias, localizadas, principalmente, nas encostas aclivosas e/ou

em seus sopés, com a finalidade de reduzir "picos" de cheia e aumentar "tempo de

base";

- Plano Doxiadis em 1965, que nunca saiu do papel;

- Plano Urbanístico Básico - PUB RIO em 1977 - inovou criando as

cinco áreas de Planejamento Locais;

- Plano Diretor Decenal de 1992; elaborado antes da regulamentação

que dispõe sobre a Política Urbana do Município. A revisão desse último deveria

ter ocorrido em 2002. No entanto, até julho de 2010 se encontrava em processo de

discussão pela Câmara de Vereadores ainda sob a forma do Projeto de Lei

Complementar sob o nº 25/2001, Mensagem nº 81 de 2001.

Todos os planos sempre alertaram sobre problemas mais

emergentes: favelas, transportes, enchentes, habitação, redes públicas de serviços

etc.

O primeiro Plano Diretor de 04/06/92, ainda em vigor, apresenta no

art. 16, ao tratar dos meios de defesa da Cidade, dentre as determinações :

I - a prevenção dos efeitos das enchentes, desmoronamentos e

outras situações de risco, através de ações do Poder Público, entre as quais:

a) o controle, a fiscalização e a remoção das causas de risco;

b) monitoramento dos índices pluviométricos;...

II - o impedimento e a fiscalização da ocupação das áreas de risco,

assim definidas em laudo solicitado ou emitido por órgão técnico competente, e

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de áreas públicas, faixas marginais de rios e lagoas, vias públicas e áreas de

proteção ambiental;...

Em seu art. 50, § 1º, II considera áreas frágeis as " de baixada,

sujeitas a alagamentos, inundação ou rebaixamento decorrentes de sua

composição morfológica."

O atual Projeto de Revisão do Plano Diretor para a Cidade do Rio de

Janeiro, com participação popular, trata do tema de forma ampla e mais

específica. Apresenta no Título II "Política de Desenvolvimento Urbano

Sustentável". Neste item encontram-se objetivos, diretrizes e estratégias, para a

"Política do Meio Ambiente" e também para o "Saneamento Ambiental". Vale

realçar as estratégias da drenagem urbana mencionadas:

"Seção II – Da Drenagem Urbana

Art.. São estratégias relativas à drenagem urbana: I- implantar o Plano Diretor de Manejo de Águas Pluviais, base para o planejamento das ações referentes à gestão de manejo dos corpos hídricos e redes de drenagem municipais, e promover as revisões periódicas decenais das ações nele contidas;

II- fomentar o monitoramento de variáveis hidrológicas e de qualidade de água através de equipamentos que possibilitem a aquisição de dados em tempo real;

III- priorizar a manutenção das faixas “non aedificandi” de cursos d’água;

IV- controlar os processos erosivos de origem antrópica, movimentos de terra, transporte e deposição de entulho e lixo, desmatamentos, e ocupações irregulares ao longo das linhas naturais de drenagem;

V- fixar condições para a ocupação urbana nas baixadas inundáveis e demais áreas frágeis, definindo cotas de soleira mínimas para a implantação de edificações, subordinadas às limitações e condicionantes ambientais; VI- garantir maiores taxas de permeabilidade nos terrenos públicos e privados através do processo de licenciamento edilício e de parcelamento do solo, que deverá considerar também os aspectos topográficos e as condições de drenagem natural dos terrenos;

VII- determinar taxas de permeabilidade, por bacia hidrográfica; VIII- incrementar a capacidade de absorção pluvial das áreas pavimentadas públicas, pelo uso de dispositivos e / ou novas tecnologias;

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IX- fomentar a adoção de medidas compensatórias em drenagem urbana, desde que viáveis sob os aspectos técnico, financeiro, social e ambiental, visando uma abordagem integrada e sustentável das questões relativas à água e ao controle de enchentes;

X- criar instrumento legal que exija dos responsáveis por edificações públicas e privadas, que possuam grandes áreas de recepção e captação de águas pluviais, ações e dispositivos que visem reduzir a sobrecarga no sistema de drenagem urbana e mitigar enchentes;

XI- aumentar os níveis de arborização urbana;

XII- reflorestar e recuperar áreas degradadas, priorizando as áreas ao longo das linhas naturais de drenagem, principalmente nas faixas marginais dos corpos hídricos, fundos de vale e várzeas;

XIII- definir usos do solo compatíveis com as áreas ao longo das linhas naturais de drenagem, tais como parques lineares, área de recreação e lazer, hortas comunitárias, priorizando a manutenção da vegetação nativa;

XIV- desobstruir e manter as redes de drenagem e as vias de escoamento; XV- dragar rios, canais, lagunas e baías, como medida paliativa, de curto prazo, para mitigar o assoreamento;

XVI- promover a educação ambiental e campanhas publicitárias objetivando a difusão de ações da população que evitem as inundações; XVII- estabelecer marcos físicos para a delimitação das faixas "non aedificandi" de drenagem; XVIII- definir áreas de risco e/ou impróprias à ocupação urbana; XIX- definir áreas saturadas quanto à capacidade de escoamento pluvial."

Este conjunto de providências estratégicas, voltadas para a drenagem

urbana, nunca antes explicitamente mencionadas, estão articuladas com as

diretrizes federais que regulamentaram desenvolvimento urbano e saneamento

básico a nível nacional. Tais preceitos, se futuramente aprovados, constituirão um

marco para a futura política de desenvolvimento urbano sustentável da Cidade nos

próximos dez anos de gestão municipal carioca.

1.3.2. Política de saneamento básico nacional.

Coube à União instituir diretrizes para o saneamento básico

(art.21,XX) o que resultou na Lei federal regulamentadora, sob o n.º 11.445 de

05/01/2007, por sua vez, regulamentada pelo Decreto sob o n.º 7.217.de

21/06/2010.

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Das diretrizes nacionais são considerados, dentre outros aspectos: o

planejamento das atividades atinentes, a prestação do serviço público de

saneamento básico e sua universalização aos domicílios brasileiros.

Os serviços públicos de saneamento básico, de natureza essencial,

fundamentam-se nas estratégias abaixo relacionadas, adequadas à saúde pública

e à proteção do meio ambiente, para todos, de forma integral, tais como:

a) abastecimento de água;

b) esgotamento sanitário;

c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos;

d) manejo de águas pluviais;

e) disponibilidade em todas as áreas urbanas de serviços de manejo

de águas pluviais adequados à segurança da vida e do patrimônio público e

privado;

f) articulação com políticas de desenvolvimento urbano, de proteção

ambiental, de recurso hídricos, de promoção da saúde;

g) transparência das ações;

h) controle social;

i) integração das infraestruturas com a gestão dos recursos hídricos.

O manejo das águas pluviais urbanas é considerado na Lei de

Saneamento da seguinte forma:

art. 3º. I, d) "conjunto de atividades, infraestruturas e

instalações operacionais de drenagem urbana de águas

pluviais, de transporte detenção ou retenção para

amortecimento de vazões de cheias, tratamento e

disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas

urbanas";

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O art. 16 do Decreto regulamentador prevê a cobrança pela

prestação do serviço público descrito no art. 3º, I, d).

A prestação do serviço deverá ser realizada mediante planejamento

específico para cada serviço compatível com aquele de recursos hídricos das

bacias hidrográficas, que foram adotadas como unidade referência para

planejamento das ações. E ainda a utilização de recursos hídricos na prestação

de serviços públicos estará sujeita à outorga de direito de uso (art. 12,III da Lei n.º

9.433 de 1997). Assim, fica clara a disposição da Lei do Saneamento Básico em

proteger o meio ambiente contra impactos e degradação já praticadas com o

despejo desordenado de esgoto in natura nos rios das cidades.

Para o Planejamento do Saneamento Básico é imprescindível o

Plano Nacional (PNSB) por iniciativa da União, a cargo da Secretaria Nacional de

Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades que está em fase de

elaboração, e Planos Regionais, atendendo ao princípio da solidariedade, entre os

entes da federação. Os referidos Planos deverão abranger todos os aspectos do

saneamento básico, cuja revisão não deverá ultrapassar 4 anos com ampla

participação da sociedade, instrumento de eficácia de gestão,

Percebe-se que a organização e funcionamento desta nova estrutura

é bastante complexa, se forem consideradas as especificidades municipais e

estaduais do funcioanmento atual do setor.

No Município do Rio de Janeiro, por exemplo, os serviços de acesso

à água potável e ao esgotamento sanitário têm sido tradicionalmente prestados à

população pela esfera estadual, através da Cia. Estadual de Água e Esgoto

(CEDAE). Quanto ao manejo de águas pluviais está a cargo do Município da

seguinte forma: conservação de rios e canais em todas as bacias hidrográficas e

projetos de macrodrenagem compete à Subsecretaria de Gestão de Bacias

Hidrográficas-Rio-Águas vinculada à Secretaria Municipal de Obras. Em convênio

com o Estado presta serviço de esgotamento sanitário em 21 bairros da Cidade;

na área de Planejamento 5, correspondente a Bangu, Realengo, Campo Grande e

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adjacências. Projetos de microdrenagem e limpeza de galerias pluviais cabem ao

Distrito de Conservação, vinculado à Secretaria Municipal de Conservação.

A questão da qualidade da água bebida pelos cariocas não é tratada

de modo transparente, e a população não tem acesso facilitado à informação. O

Conselho Estadual de Meio Ambiente, que tem a participação de representantes

de associações/organizações da sociedade civil e deveria estar atento ao

problema, reúne-se pouco e tem dificuldades de lidar com uma pauta infindável e

cada vez mais técnica. E órgãos como a Comissão de Meio Ambiente da

Assembleia Legislativa Estadual têm denunciado a oferta de água fora de padrões

aceitáveis.

O município do Rio de Janeiro produz 470 toneladas de esgotos por

dia, dos quais, segundo a CEDAE, apenas 64 toneladas recebem tratamento ou

são eliminados através do emissário submarino de Ipanema. Em 1991, 69% dos

domicílios estavam ligados à rede de esgotos. É consenso entre gestores e

lideranças ambientais que o maior problema ambiental do Rio de Janeiro é ainda

uma questão de saneamento básico....

O manejo de resíduos sólidos é serviço prestado pelo Município do

Rio de Janeiro através da Companhia de Limpeza Urbana Comlurb.

A Lei de Saneamento Básico visa direcionar ações para melhoria da

qualidade de vida, das condições ambientais e de saúde pública e colaborar para

o desenvolvimento regional já que as providências devem estar articuladas com as

ações de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate a

erradicação da pobreza, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras

de relevante interesse social.

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CAPÍTULO II

2. Situação atual da rede de drenagem em antigos logradouros do

bairro de Vila Isabel.

A Grande Tijuca, conjunto da Zona Norte da cidade do Rio de

Janeiro, compreende hoje os bairros da Tijuca, Praça da Bandeira, Alto da Boa

Vista, Grajaú, Andaraí, Vila Isabel e Maracanã. Possui 367.003 habitantes (IBGE

2.000), sendo que 13% vive em 29 favelas, ocupando 55,16 km² (2003) da

totalidade municipal de 1.224.561km², segundo o Instituto Pereira Passos (IPP);

cuja população total atingiu em 2000, segundo o IBGE - 5.857.904 habitantes.

Diversos logradouros antigos instalados entre as sub-bacias dos rios

Joana e Maracanã, no trecho onde os leitos canalizados ainda correm

separadamente, tais como: Dona Maria, Ribeiro Guimarães, Artistas, Almirante

João Cândido Brasil, Dona Zulmira, Ambrosina, trechos da Barão de Mesquita,

José Higino, Maxwell, e também Araújo Lima, Senador Soares, Senador Muniz

Freire, Pereira Soares, Antônio Salema, Adalberto Aranha, Gonzaga Bastos,

Tomás Coelho e Baltasar Lisboa apresentam insuficiência de escoamento das

águas de chuvas mais fortes, de alguns poucos minutos, em qualquer período do

ano, deixando tudo alagado; a ponto de impedir a circulação de pessoas e

veículos.

Os problemas são maiores do que ralos sujos ou obstruídos por lixo.

Nunca houve planejamento urbano considerando bacia e sub-bacias hidrográficas.

O diâmetro de manilhamento insuficiente (cerca de 40 cm.) instalado

há mais de sessenta anos demonstra que não houve previsão, reposição e

manutenção. Segundo os órgãos competentes, 6º Distrito de Conservação, nunca

atualizaram os condutos; seriam obras muito caras para ficarem enterradas, não

visíveis. Não existem galerias capazes de transportarem o volume de água até o

escoadouro construído, ou seja até os canais fluviais existentes nas proximidades.

Acrescente-se a gradativa impermeabilização ocorrida pela construção de

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inúmeros arranha-céus atendendo a valorização imobiliária e as necessidades de

novas residências. Sem contar a recente instalação do Polo Gastronômico da

Tijuca, que nos fins de semana recebe milhares de consumidores nos bares e

restaurantes.

Em alguns pontos a tubulação dos esgotos sanitários recebe

também as águas das chuvas sem qualquer organização padronizada. O subsolo

nesta região é uma total desordem desconhecida. O lençol freático é o grande

receptor. Onde o subsolo é mais permeável a rua a água da chuva escoa com

mais rapidez, considerando que os ralos inexistem para cumprirem suas funções.

As ligações se encontram em total abandono. Nas ruas, onde de quarenta em

quarenta metros, junto ao meio-fio, deveriam estar instalados ralos (exemplo na

rua Dona Maria e Rua Santa Luísa, Almirante João Cândido Brasil) eles inexistem;

apenas bueiros do tipo "bocas de lobos" nos cruzamentos fazem o escoamento de

águas servidas e pluviais. O volume de águas se reúne muitas vezes ao

esgotamento sanitário geral e/ou lençol freático. Por outro lado, mesmo onde

existem ralos instalados, como nas Ruas dos Artistas, Ribeiro Guimarães,

Almirante João Cândido Brasil, eles não funcionam.

Caso qualquer abertura seja feita na superfície impermeabilizada

para obras de manutenção de gás, luz ou telefonia, com até 0,50 m. de

profundidade, observa-se o subsolo encharcado e/ou com muita água acumulada,

mesmo na ocasião de seca, indicando a gravidade do problema. Os moradores

convivem com umidade permanente em suas residências, produto de mais de

meio século de água acumulada de qualidade duvidosa (esgoto e/ou água de

chuva) infiltrada. As vias que servem de comunicação com todas as demais

regiões da Cidade: norte, centro, sul e oeste ficam localizadas em situação de

maior declive. Por consequência, alagam primeiro já que recebem as águas das

ruas contíguas, localizadas em topografia mais elevada. Assim, a circulação de

pedestres e veículos torna-se impossível porque os pontos "chaves" apresentam

trânsito impedido, até que ocorra o escoamento, quase por obra da natureza.

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Pertencem ao citado entroncamento as ruas: Dona Maria, Artistas,

Ribeiro Guimarães (no maior trecho), Almirante João Cândido Brasil, Santa Luísa e

Dona Zulmira, todas localizadas na sub-bacia do rio Joana. Nos meses mais

chuvosos de novembro a abril, o problema se generaliza para toda a área da sub-

bacia do rio Joana.

Muito grave também é o empoçamento de águas servidas que em

vários pontos permanecem estagnadas, em longos trechos, pela ausência das

possibilidades de escoamento regular. Mosquito e mau cheiro no verão são

comuns nestas ruas. Apesar disso, nesse meio ambiente o metro quadrado

construído local está valorizado em virtude de tratar-se de zona residencial

periférica à Praça Saens Peña, sub-centro comercial regional, servido por

interligações de transportes com percurso municipal e intermunicipal, inclusive

metrô, além de apresentar toda ordem de prestação de serviços. Isto sem falar na

proximidade com o Complexo Esportivo do Maracanã e do Campus Universitário

da UERJ.

Durante 500 anos o ecossistema da planície onde se assentou a

Cidade evoluiu aceleradamente de um dos mais ricos e diversificados, inclusive o

manguezal sadio, de água salobra, dos mais afetados do país por atuações

antrópicas, promotoras de impactos ambientais dos mais variados e complexos.

Principalmente nos últimos dois séculos, caracterizou-se por processos antrópicos

que levaram o ecossistema ocupado a ser profundamente afetado em seus

condicionantes energético, sanitário e paisagístico. Alguns lugares da Grande

Tijuca jamais deveriam ter sido urbanizados, considerando o princípio da

precaução do Direito Ambiental.

Cabe realçar a particularidade desfavorável promovida pela

elevações que constituem o entorno das sub-bacias hidrográficas em fase de

urbanização. Elas impõem o agravamento de fatores ambientais devido à

aceleração do ciclo geológico (erosão, deslizamentos, deposição) e as maiores

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concentrações energéticas no sopé de encostas por efeito de atuações antrópicas

nas mesmas (poluições ambientais variadas; impermeabilizações; lixo disperso,

desbaste florísticos; etc.).

Foi desenvolvida a rápida e impactante ocupação e uso do solo por

crescentes populações urbanas e rurais ansiosas por usufruir as riquezas e bens

disponíveis, sem levar em conta o ajuste dos fatores de ocupação à realidade

ambiental, de acordo com o enfoque ecológico, desconhecido na época. As ações

imediatistas e setoriais de uso e ocupação do solo com enfoque e visão somente

tecnicista e desenvolvimentista, sobretudo, sem levar em consideração os

parâmetros ambientais inadequadamente afetados, levaram e continuam levando a

reações inesperadas e desfavoráveis do ecossistema antropomorfizado que vem

alterando padrões de qualidade de vida das populações locais.

Portanto, existem profundas razões para mobilização dos moradores

mais prejudicados, ansiosos por providências da municipalidade.

Através de Abaixo-Assinados ao Prefeito da Cidade em 2009 em

Anexo, teve início a mobilização. O pedido contém representação significativa,

com a participação de Associação de Moradores, Associação de Comerciantes do

Polo Gastronômico da Tijuca, pontos de comércio afetados e cerca de seiscentas

e cinquenta unidades residenciais representadas.

O processo administrativo, ilustrado por fotos e mapa, já resultou num

Estudo e Projeto Preliminar, de macrodrenagem, pela Rio Águas, que em meados

de julho 2010 já deveria tê-lo encaminhado à Coordenadoria Geral de Obras do

Município (CGO), para providências, abrangendo os logradouros localizados no

espaço urbano correspondente à sub-bacia do rio Joana no bairro de Vila Isabel.

Por outro lado, também produziu no final de julho de 2010, a pedido

de instância superior Projeto para Retenção de Águas do Canal do Mangue,

contendo três reservatórios, visando o manejo de águas pluviais desse curso

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receptor, bacia do rio principal, com deságue na Baía de Guanabara, cujo Comitê

de Bacia tem controle pelo meio ambiente de administração estadual.

De construção onerosa, onde se inclui utilização de bombeamentos,

foram encaminhadas verbas de origem federal, por conta de Projetos para

Saneamento Básico Municipal financiados pelo Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC), cuja motivação do planejamento e execução é a proximidade

de eventos previstos para de 2014 e 2016, respectivamente, Copa do Mundo da

Federação Internacional de Futebol(FIFA), Jogos Olímpicos.

Caso o Projeto encaminhado para manejo de águas pluviais das

cheias na bacia principal do Canal do Mangue seja concretizado, também a sub-

bacia do rio Joana terá seu curso alterado, mudando as condições do escoamento

atual e repercutindo no sistema hidrodinâmico de toda a região e as obras do

projeto preliminar planejado antes, por mobilização dos moradores também será

executado.

Hoje, para as providências requeridas, qualquer intervenção de obras

de drenagem se torna muito complexa devido à intensidade da ocupação urbana,

exigindo a adoção de novas técnicas, ajustadas eventualmente a composições e

acertos gerenciais e fundamentadas em novos instrumentos legais. Por isso o

Projeto alvo do pedido popular foi planejado por etapas. Primeiro a execução está

programa para atendimento aos pontos de maior declive

A Rio-Águas, vinculada à Secretaria Municipal de Obras, a

Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), sociedade de economia

mista pertencente ao município do Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de

Conservação, além de outras entidades e programas municipais dispõem de

estruturas institucional, gerencial e administrativa em condições de implementar

ações de ajustamento, visando o controle de enchentes na Cidade.

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Contudo, não há garantia quanto à realização das modificações

urgentes, atrasadas há décadas. As próprias autoridades afirmam serem obras

caras que não aparecem e por isso não dão voto. Por isso, a descrença é geral

quanto às providência, por interesses de ordem da "política profissional". Se

necessário, caberá ao cidadão contribuinte recorrer ao Poder Judiciário.

CAPÍTULO III

3.1. Proteção ao meio ambiente local.

Segundo Norberto Bobbio os direitos humanos são “fins que

merecem ser perseguidos” e nem todos eles foram reconhecidos ainda. Direitos do

homem são aqueles cujo reconhecimento é condição necessária para o

aperfeiçoamento da pessoa humana, ou para o desenvolvimento da civilização.

Ocorre que o elenco de direitos do homem se modificou, e continua a

se modificar, com a mudança das condições históricas, ou seja, dos carecimentos

e dos interesses das classes de poder, dos meios disponíveis para a realização

dos mesmos, das transformações técnicas, etc. O que parece fundamental numa

época histórica e numa determinada civilização não é fundamental em outras

épocas e em outras culturas.

Importante em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de

justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas

político.

O problema filosófico dos direitos do homem não pode ser dissociado

do estudo dos problemas históricos, sociais, econômicos, psicológicos, e mais

recentemente, ambientais, inerentes à sua vida: o problema dos fins não pode ser

dissociado do problema dos meios.

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A tutela ambiental proposta na Constituição de1988 estimula ao

homem brasileiro à busca incessante da sustentabilidade para o lugar onde ele

vive e convive, seja na cidade ou no campo; assim juridicamente garantido

através do art. 225 que preconiza :

"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à

sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para a

presente e futuras gerações."

A mesma Carta Magna ao tratar "dos direitos e garantias

fundamentais" do homem, consideradas cláusulas pétreas, as normas contidas no

Título II, Capítulo I, art. 5º , Direitos e Deveres Individuais e Coletivos é certo que:

Inciso LXXIII . "qualquer cidadão é parte legítima para

propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao

patrimônio público ou de entidade de que o Estado

participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente,

ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo

comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da

sucumbência;"

De outro lado, segundo o art. 129, III, a instituição Ministério Público

também defende os interesses ambientais dentre suas funções;

"promover o inquérito civil e a ação civil pública, pela a

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente

e de outros interesses difusos e coletivos;"

A utilização dos instrumentos processuais é recurso disponível toda

vez que deixar de existir meio ambiente equilibrado, prejudicial à manutenção da

qualidade da vida humana.

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A Constituição brasileira anterior, a de 1967, não fazia menção aos

direitos e garantias de todos integrados ao meio ambiente, só ocorrendo a partir

da promulgação da atual em 1988.

A Constituição Estadual do Rio de Janeiro, promulgada em 05/10/89,

no Capítulo III, sobre Política Urbana a ser formulada pelos municípios, afirma:

art. 228, § 6º : "o projeto de plano diretor e a lei de

diretrizes gerais...regulamentarão...a proibição de

construção de edificações sobre dutos, canais, valões e

vias similares de esgotamento ou passagens de cursos

d'água" e "restrição à utilização de área que apresente

riscos geológicos."

...

art. 258, § 1°, inciso VII : "promover.. o gerenciamento

integrado dos recursos hídricos... com base nos seguintes

princípios:

a) adoção das áreas de bacias e sub-bacias hidrográficas

como unidades de planejamento e execução de planos,

programas e projetos."

art. 265 - " são áreas de preservação permanente... as

nascentes e as faixas marginais de protenção de águas

superficiais."

Decreto-Lei nº 39 de 24/03/75 diz:

art. 226 - "lei ordinária demarcará a área "non aedificandi"

à margem dos cursos d'água, nas zonas urbanas e

suburbanas."

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Decreto Estadual n.º 2.330, de 08 /01/79, que regula parte do

Decreto-Lei n° 39, institui o Sistema de Proteção dos Lagos e Cursos d'Água do

Estado do Rio de Janeiro.

A Lei Orgânica Municipal de 05/04/90, entre outros ordenamentos

relativos à matéria, estabelece:

art.461 - "incumbe ao Poder Público...

V - controlar, monitorar e fiscalizar as instalações,

equipamentos e atividades que comportem risco efetivo ou

potencial para a qualidade de vida e o ambiente;

..

VII - promover a protenção das águas contra ações que

possam comprometer seu uso atual ou futuro;

VIII- proteger os recursos hídricos, minimizando a erosão

e a sedimentação;

...

X - estimular e promover o reflorestamento ecológico em

áreas degradadas, sempre que possível com a

participação comunitária, através de planos e programas

de longo prazo, objetivando especialmente:

a) a proteção das bacias hidrográficas,...das nascentes,...

e dos terrenos sujeitos à erosão e inundações;

...

e) a estabilização das encostas."

art. 463 - "são instrumentos, meios e obrigações de

responsabilidade do Poder Público para preservar e

controlar o meio ambiente:

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I - celebração de convênios com universidades, centros de

pesquisa, associações civis e organizações sindicais nos

esforços para garantir e aprimorar o gerenciamento

ambiental;

II- adoção da área das bacias e sub-bacias hidrográficas

como unidades de planejamento e execução de planos,

programas e projetos;...

VIII- determinação de realização periódica, por instituições

científicas idôneas, de autoria nos sistemas de controle de

poluição e prevenção de riscos de acidentes nas

instalações de atividades de significativo potencial

poluidor, incluindo avaliação detalhada dos efeitos de sua

operação sobre a qualiade física, química e biológica do

meio ambiente e sobre as populações a expensas dos

responsáveis por sua ocorrência;

IX - manutenção e defesa das áreas de preservação

permanente assim entendidas aquelas que, pelas suas

condições fisiográficas, geológicas, hidrográficas,

biológicas ou climatológicas, formam um ecossistema de

importância no meio ambiente natural, destacando-se:

..

b) as nascentes e faixas marginais de proteção de águas

superficiais;

c) a cobertura vegetal que contribua para a estabilidade

das encostas sujeitas à erosão e deslizamentos ..."

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3.1.1. Ação Civil Pública.

O cidadão atingido pelo descaso do poder público municipal poderá

proteger o meio ambiente onde vive, utilizando-se dos instrumentos legais já

mencionados neste capítulo como fundamentos, e também incluir a Lei n.º 7.347

de 24/07/85 que instituiu a Ação Civil Pública, remédio processual adequado para

apurar responsabilidades pelos danos causados ao meio ambiente.

A Constituição de 1988, ao relacionar as funções institucionais do

Ministério Público, inseriu a de promover a ação civil pública para a tutela do

patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesse difusos e

coletivos (art.129,III).

O legislador ao disciplinar especificamente a proteção do consumidor

na Lei 8.078 de 11/09/90 (Código de Defesa do Consumidor), alterou o art. 1º da

Lei n.º 7.347/85, inserindo o inciso IV para que ao lado dos interesses específicos

que a lei protegia, constasse a expressão "a qualquer outro interesse difuso ou

coletivo". Caracterizando-se, assim, esta lei como um grande instrumento da

proteção de bens e direitos.

Também, com a evolução dos interesses transindividuais, o art. 53

da Lei do Estatuto da Cidade acrescentou o inciso III ao art.1º da Lei 7.347/85 que

passou a ter a seguinte redação:

"Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem

prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade

por danos morais e patrimoniais causados:

I - ao meio ambiente;

II - ao consumidor

III - à ordem urbanística;

IV - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,

turístico e paisagístico;

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V - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;

VI - por infração da ordem econômica e da economia

popular".

Considera-se a ordem urbanística como direito transindividual. e o

processo de urbanização não tem o escopo de proteger bem jurídico do indivíduo

isoladamente considerado, mas sim o de tutelar grupos, comunidades,

populações, vistos como conglomerados de pessoas com titularidade sobre

direitos de natureza coletiva. Desta forma o Ministério Público seja Federal,

Estadual ou do Trabalho pode, fiscalizar e atuar na defesa do meio ambiente junto

ao Poder Judiciário na defesa de todos, para a presente e futuras gerações.

CONCLUSÃO.

De um lado é necessário considerar:

- a histórica do processo de urbanização e o sistema hidrodinâmico

natural;

- as condições geográficas da área urbana consolidada de ocupação

mais antiga, inundável em dias de chuvas mais fortes impedindo a comunicação

entre diversos bairros da cidade;.

- o ambiente urbano local sem infraestrutura capaz de garantir

qualidade de vida saudável ao cidadão contribuinte por falta do saneamento

básico em todos os seus aspectos;

- a qualidade das instalações das redes de drenagem antigas se

comparada com os atuais padrões, onde já exista sustentabilidade urbana;

- as técnicas de Engenharia da atualidade capazes de solucionar

problemas de enchentes, tendo por base diretrizes das políticas de saneamento

ambiental e desenvolvimento urbanos voltadas à sustentabilidade, mesmo em

locais sujeitos às inundações e erradamente urbanizados.

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E de outro lado:

- as potencialidades do Plano Diretor do município do Rio de Janeiro

atual e futuro, não omissos quanto aos problemas de drenagem pluvial.

- o grau de informação, participação,e mobilização da comunidade

local, demonstrados nos termos do apelo ao Prefeito da Cidade em 2009;

- a atuação dos órgãos especializados contactados: Processo

Administrativo sob o n.º 01/106.017/2009, em anexo.

Têm-se dessa forma a possibilidade de aplicar ao problema

ambiental concreto os fundamentos da legislação pertinente ao Direito Ambiental

selecionada, desde os princípios norteadores, passando pelas normas e

competências constitucionais, no âmbito Federal, Estadual e da Lei Orgânica,

legislação ordinária e remédio processual escolhido, com vistas a pressionar as

autoridades competentes para providências cabíveis que promovam o

saneamento integral nestes logradouros da Cidade.

É lamentável reconhecer que a administração pública municipal não

se encontra suficientemente organizada a ponto de utilizar as novas regras

ambientais de forma ágil sem pressão popular e/ou judicial. Políticas voltadas para

o desenvolvimento urbano e/ou saneamento ambiental, fundamentais à melhoria

das condições de habitabilidade, muitas vezes não saem do papel, porque os

administradores apostam na desinformação dos interessados, alegando falta de

recursos.

A degradação ambiental produzida na área precisa ser tratada

através de estudo pormenorizado do comportamento hídrico de cada sub-bacia

fluvial, integrada à principal, como um todo. A partir da nova estrutura construída

foram geradas novas inter-relações entre o todo e as partes. A manutenção da

qualidade da prestação dos serviços públicos do saneamento em todos os seus

aspectos, é que irá resultar na tão almejada sustentabilidade urbana, mesmo que

momentânea para a localidade estudada.

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ANEXO.

Cópia dos termos da petição e abaixo-assinados

encaminhados ao Prefeito do Município do Rio de Janeiro,

Eduardo Paes, ilustrados por fotos das ruas inundadas e mapa de

situação. As ilustrações não puderam ser incluídas.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PREFEITO DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO,

EDUARDO PAES.

Processo n° 01/106.017/2009

Data - 30/04/2009

São encaminhados a Vossa Excelência dois tipos de Abaixo-

Assinados, visando providências urgentes nos termos dos mesmos. Os

moradores, prestadores de serviços e transeuntes, das Ruas Dona Maria, Artistas,

Ribeiro Guimarães, Almirante João Cândido Brasil e adjacências, bairros de Vila

Isabel e Tijuca (antigo Aldeia Campista) precisam obter dos órgãos públicos

competentes atenção necessária para solucionar seus problemas mais imediatos.

Apesar do tema causar apelo unânime, na metodologia da

amostragem optou-se pela participação de apenas uma pessoa em cada

residência num total de 659(seiscentas e cinquenta e nove) e um proprietário

prestador de serviço nas vinte e quatro contatadas; transeuntes apenas os

moradores da Rua Maxwell n.º 80, a pedido.

Sobrevive-se nesta localidade com infraestrutura de drenagem

inadequada ao atual estágio de ocupação do espaço, pois trata-se da mesma

urbanização inicial que recebeu apenas capeamento asfáltico. Nestas ruas, o

escoamento de águas pluviais ocorre através de bueiros localizados nos

cruzamentos entre elas; ao longo, não existe despejo organizado, de tal forma que

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as águas servidas no dia-a-dia ficam empoçadas, causando proliferação de

mosquitos e terrível mau cheiro, devido também à mistura com o refluxo do esgoto

em alguns pontos. Além disso, a topografia local, por ser mais baixa, exige maior

eficácia na drenagem. Durante as chuvas mais fortes, tudo fica inundado em

quinze minutos. Enquanto isso, tanto algumas ruas vizinhas, mais altas e

contribuintes, Gonzaga Bastos, Maxwell, Pereira Nunes, trecho da Santa Luísa e

Felipe Camarão, como os rios próximos, Maracanã e Joana, permanecem vazios.

Isto ocorre mesmo após a limpeza dos poucos bueiros existentes. É nítido e

insustentável o desajuste!

Convém destacar que a antiga rede foi extremamente

sobrecarregada nos últimos anos com a expansão do chamado Polo

Gastronômico. Este atrai população flutuante, maior no fim de semana, causando

diversos tipos de problemas para os que residem nesta área. Isto sem contar com

o aumento natural de habitantes nas edificações mais recentes, em blocos e

blocos de apartamentos. Com posição geográfica privilegiada, necessita do poder

público novas iniciativas,visando melhoria das condições ambientais que revertam

o atual padrão de qualidade devida; investimentos apenas por particulares

aguardam a devida ação pública.

Os danos afetam ao cidadão-contribuinte no seu direito básico de ir e

vir, tirando-lhe a paz e a segurança de poder sair ou voltar para casa nos dias

chuvosos, isto sem contar com a preocupação e o desconforto de ter a residência

ou o estabelecimento comercial invadido pela água que inunda a rua.

Segundo informações obtidas na Subsecretaria de Gestão de Bacias

Hidrográficas Rio-Águas, a Prefeitura já dispõe de Estudo Prévio para realização

de obras de maior porte nesta região, datado de 2006. Tal proposta visa organizar

o escoamento das águas pluviais, onde, provavelmente, seria incluída a instalação

de bueiros hoje inexistentes. Junto ao meio-fio nas citadas ruas, águas paradas e

estagnadas em pleno século XXI, ocasionam graves riscos á saúde pública (fotos

em ANEXO II).

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A comunidade já se encontra desencantada e descrente com

atuação das autoridades, visando solucionar qualquer problema neste local, tal é o

longo abandono. No entanto, este, de forma especial, tende a se agravar com o

passar do tempo de forma calamitosa, isto porque apesar do esgotamento

sanitário não ser da competência da municipalidade vale destacá-lo na

oportunidade, já que as águas pluviais e esgotos se apresentam como problemas

conexos, quando os últimos afloram com frequência.

Desde já, pela compreensão, interesse e ajuda para que se realizem,

o mais breve possível, as obras necessárias capazes de atender aos anseios

desta coletividade.

Aguarda-se, ansiosamente, contato de retorno, informando as

providências devidas.

Rio Janeiro,30 de abril de 2009

Célia Maria Monteiro Soares

Associação de Moradores 29 de Abril

Presidente

Associação do Polo Gastronômico da Tijuca

Presidente

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Termos da abaixo-assinado pelos residentes:

ABAIXO-ASSINADO AO PREFEITO DA CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO

DE JANEIRO.

NÓS MORADORES DAS RUAS DONA MARIA, ARTISTAS E ADJACÊNCIAS,

PRINCIPALMENTE NOS TRECHOS ENTRE AS RUAS PEREIRA NUNES E

ALMIRANTE CÂNDIDO BRASIL, ENCONTRAMO-NOS IMPOSSIBILITADOS DE

TRANSITAR, OU SEJA, EXERCER O DIREITO DE IR E VIR, SAIR E CHEGAR

EM NOSSAS RESIDÊNCIAS NOS DIAS DE CHUVA MAIS FORTES, EM

VIRTUDE DAS VIAS PÚBLICAS CITADAS PERMANECEREM INUNDADAS. A

FALTA DE GALERIAS DE ÁGUAS PLUVIAIS DE ACORDO COM O ATUAL

ESTÁGIO DE URBANIZAÇÃO NESTA LOCALIDADE IMPEDE QUE HAJA

ESCOAMENTO ADEQUADO, SE COMPARADO COM AS VIZINHANÇAS.

PORTANTO, A COMUNIDADE ESPERA DE VOSSA EXCELÊNCIA

PROVIDÊNCIAS URGENTES VISANDO A NORMALIZAÇÃO DA

HABITABILIDADE.

Termos do abaixo-assinado ao Prefeito pelos comerciantes:

NÓS, PRESTADORES DE SERVIÇOS ESTABELECIDOS NAS RUAS DONA

MARIA, ARTISTAS E ADJACÊNCIAS, PRINCIPALMENTE NOS TRECHOS

ENTRE AS RUAS PEREIRA NUNES E ALMIRANTE CÂNDIDO BRASIL

ENCONTRAMO-NOS IMPOSSIBILITADOS DE EXERCER NOSSAS ATIVIDADES

NOS DIAS DE CHUVA MAIS FORTES EM VIRTUDE DAS VIAS PÚBLICAS

CITADAS PERMANECEREM INUNDADAS. A FALTA DE GALERIA DE ÁGUAS

PLUVIAIS IMPEDE QUE HAJA ESCOAMENTO ADEQUADO, SE COMPARADO

COM AS VIZINHANÇAS. PORTANTO ESPERA-SE DE VOSSA EXCELÊNCIA

PROVIDÊNCIAS URGENTES VISANDO A REGULARIZAÇÃO NO EXERCÍCIO

DE NOSSAS ATIVIDADES.

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BIBLIOGRAFIA.

ABREU, Maurício de Almeida. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro: Iplan,1997.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Comentários ao Estatuto da Cidade. 3ª, ed.

Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2009.

COUTINHO, Ronaldo, ROCCO, Rogério. O Direito Ambiental das Cidades. 2ª, ed.

Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2010.

GOMES, Marcos Correia. A Importância do Plano Diretor de Desenvolvimento

Urbano. Rio de Janeiro: Revista TCMRJ, nº 43 - Janeiro/ 2010

IBAMA, MMA. Educação Ambiental no Parque Nacional da Tijuca. Rio de Janeiro:

Centro de Criação de Imagem Popular - CECIP, 1998.

LEME MACHADO, Paulo Affonso. Direito Ambiental Brasileiro. 18ª, ed. São Paulo:

Malheiros Editores, 2010.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 6ª, ed. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2009.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção.

2ª, ed. São Paulo: Editora HUCITEC, 1997.

TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: Superintendência de Recursos

Naturais e Meio Ambiente (SUPREN), 1977.

UFRJ . Escola de Engenharia . Fundação COPPETEC.: Execução de Concepção

de Projetos e Obras Civis e Ações de controle das Enchentes na bacia

Hidrográfica do Canal do Mangue. Rio de Janeiro: Out. de 2.000.

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WEBGRAFIA.

www.camara.rj.gov.br/legislacao/index.html

www.cidades.gov.br

www.cidades.gov.br/.../saneamento-ambiental/secretaria-nacional-de-saneamento-

ambiental

http:www.rc.unesp.br/igce/planejamento/territorioecidadania

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ÍNDICE.

INTRODUÇÃO ___________________________________ 8

CAPÍTULO I

1.1. Processo de urbanização da Grande Tijuca __________ 10

1.2. Saneamento ambiental; drenagem pluvial ____________ 14

1.3. Direito ambiental urbano __________________________ 21

1.3.1. Política de desenvolvimento urbano nacional _______ 27

1.3.1.1. Plano Diretor _______________________________ 28

1.3.2. Política de saneamento básico nacional __________ 32

CAPÍTULO II

2. Situação atual da rede de drenagem em antigos logradouros do

bairro de Vila Isabel. ______________________________ 36

CAPÍTULO III

3.1.Proteção ao meio ambiente local _________________ 41

3.1.1. Ação Civil Pública ___________________________ 46

CONCLUSÃO __________________________________ 47

ANEXO _______________________________________ 49

BIBLIOGRAFIA __________________________________ 53

WEBGRAFIA ____________________________________ 54

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