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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPLEMENTAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NAS ATIVIDADES FUNCIONAIS Por: Andrea Esberard Teixeira Orientador Prof. Fabiane Muniz Niterói 2009

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO ...revolucionar os sistemas educacionais de todo o mundo. Ela diversifica-se em função das relações sociais, das idéias morais, das

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPLEMENTAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NAS

ATIVIDADES FUNCIONAIS

Por: Andrea Esberard Teixeira

Orientador

Prof. Fabiane Muniz

Niterói

2009

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPLEMENTAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NAS

ATIVIDADES FUNCIONAIS

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicomotricidade.

Por: Andrea Esberard Teixeira

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RESUMO

Esta pesquisa teve como foco, fazer compreender que a

Psicomotricidade pode ser aplicada através de outras atividades (dentro da

Educação Física), de forma a potencializar os resultados benéficos em relação

ao corpo. A pesquisa abordou uma visão reeducacional, haja visto que a ideia

de implementação da Psicomotricidade através das Atividades Funcionais é

direcionado aos adolescentes, adultos e idosos, podendo ser realizada em

academias de ginástica, clubes, estúdios, condomínios ou na casa do cliente.

Para entender a proposta, foi analisado separadamente a

Psicomotricidade e a Atividade Funcional, com seus respectivos históricos e

funções, para que depois então, pudesse ser feito esse paralelo de como um

trabalho poderia ser um facilitador para o outro. Nas abordagens feitas tornou-

se nítido as potencialidades físicas em comum a serem trabalhadas, como:

esquema e imagem corporal, coordenação, lateralidade, equilíbrio e tônus

muscular .

A contribuição maior da Psicomotricidade está na questão afetiva, tentar

entender melhor o histórico de vida do indivíduo, sua bagagem cultural, para

que se possa compreender suas dificuldades e suas limitações em relação ao

movimento, em relação ao seu corpo, e fazer com que esse indivíduo tenha

melhor consciência de toda sua estrutura física, podendo assim, criar uma

perfeita harmonia entre mente e corpo.

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METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada por meio de livros consultados na biblioteca da

UFF- Niterói e emprestados por amigos e parentes, artigos científicos

(encontrados na internet), revistas relacionadas a educação e a atividade física.

Dentre os autores consultados estão: Vitor da Fonseca, Lapierre e Henri

Wallon.

O principal objeto de estudo foram os alunos das academias de ginástica

Sculp Fitness Club e Home Fitness, ambas situadas em Niterói-Rj., observando

a dificuldade de execução de movimentos propostos nas aulas de ginástica.

Vindo a surgir um novo método de atividades nas academias chamadas de

Atividades Funcionais na qual se objetiva os praticantes a terem maior domínio

de seus movimentos entre outros aspectos, ficou clara a ideia do paralelo

Psicomotricidade/ Atividades Funcionais.

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SUMÁRIO

Introdução 6

Capítulo I - A Psicomotricidade 8

Capítulo II - As Atividades Funcionais 16

Capítulo III - A Contribuição da Psicomotricidade para as

Atividades Funcionais 23

Conclusão 28

Bibliografia 30

6

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é demonstrar que através da psicomotricidade

a Educação Física pode ter um valor ainda maior, não só na infância mas

também em outras fases da vida, tanto numa visão de educação quanto

reeducação. Para entendermos esse paralelo é preciso entender o início desse

processo e sua importância para a formação de uma personalidade como um

todo.

A Educação Física, como ação e por meio da educação psicomotora,

incentiva a prática do movimento em todo o percurso de existência do ser

humano. Tal concepção fundamenta-se nos conceitos da educação

permanente, como uma nova manifestação educativa que atualmente tende a

revolucionar os sistemas educacionais de todo o mundo. Ela diversifica-se em

função das relações sociais, das idéias morais, das capacidades e da maneira

de ser de cada um, além de seus valores; educa o movimento, ao mesmo

tempo em que põe em jogo as funções da inteligência. A partir dessa posição,

pode-se ver a relação intrínseca das funções motoras cognitivas e que,

também pela afetividade, direciona o movimento. Historicamente, a Educação

Física tem priorizado e enfatizado a dimensão biofisiológica. Entretanto, a partir

da metade do século XIX entra em cena a psicomotricidade, de forma muito

atuante e com uma visão de ciência e técnica. Os temas sobre a

psicomotricidade eram abordados excepcionalmente em pesquisas teóricas

fixadas no desenvolvimento motor da criança. Com o tempo, as pesquisas

passaram a abranger a relação entre o atraso no desenvolvimento motor e o

intelecto da criança. Seguiram-se outros estudos sobre o desenvolvimento da

7

habilidade manual e da aptidão motora em função da idade. Nos dias atuais,

os estudos ultrapassam os problemas motores. Pesquisam-se as ligações com

estruturação espacial, orientação temporal, lateralidade, dificuldades escolares

enfrentadas por crianças com inteligência normal.

O ser humano é um complexo de emoções e ações, propiciadas por

meio do contato corporal nas atividades psicomotoras, que também favorecem

o desenvolvimento afetivo entre as pessoas, o contato físico, as emoções e

ações. A educação física e sua relação com a psicomotricidade estão

baseadas nas necessidades das crianças. Com a educação psicomotora, a

educação física passa a ter como objetivo principal incentivar a prática do

movimento em todas as etapas da vida de uma criança. O movimento humano

é a parte mais ampla e significativa do comportamento do ser humano. É obtido

através de três fatores básicos: os músculos, a emoção e os nervos, formados

por um sistema de sinalizações que lhes permitem atuar de forma coordenada.

A unidade básica do movimento, que abrange a capacidade de equilíbrio e

assegura as posições estáticas, são as estruturas psicomotoras. As estruturas

psicomotoras definidas como básicas são: locomoção, manipulação e tônus

corporal, que interagem com organização espaço-temporal, as coordenações

finas e amplas, coordenação óculo-segmentar, o equilíbrio, a lateralidade, o

ritmo e o relaxamento. Elas são traduzidas pelos esquemas posturais e de

movimentos, como: andar, correr, saltar, lançar, rolar, rastejar, engatinhar,

trepar e outras consideradas superiores, como estender, elevar, abaixar,

flexionar, rolar, oscilar, suspender, inclinar, e outros movimentos que se

relacionam com os movimentos da cabeça, pescoço, mãos e pés. Esses

movimentos são conhecidos na educação física como movimentos naturais e

espontâneos da criança. A educação da criança deve evidenciar a relação

através do movimento de seu próprio corpo, levando em consideração sua

idade, a cultura corporal e os seus interesses. Portanto a Psicomotricidade,

pode além de auxiliar na aprendizagem, contribuir para um fenômeno cultural

que consiste de ações psicomotoras exercidas sobre o ser humano de maneira

a favorecer comportamento e transformações.

8

CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE

Em razão de seu próprio objeto de estudo, isto é, o indivíduo humano e

suas relações com o corpo, a psicomotricidade é uma ciência que está

relacionada a várias outras, mais exatamente, uma técnica em que se cruzam

e se encontram múltiplos pontos de vista, e que utiliza as aquisições de

inúmeras ciências constituídas como: biologia, psicologia, psicanálise,

sociologia, linguística entre outras.

Toda inovação no que se diz respeito a motricidade é fruto de um longo

processo, contemporâneo dos trabalhos de Dupré, dando começo a

psicomotricidade. Foi ele quem em 1905, estabeleceu a diferença radical entre

a motricidade e seu aspecto negativo, a relaxação (como o recorda Begès em

seu livro com M. Bounes, La Relaxation des enfants). A partir dessa época, de

fato, aparecem os primeiros trabalhos que constituirão o ponto de partida de

uma elaborada reflexão sobre o movimento corporal. Charcot já se interessara

pela função motora, para fazer dela a base da patologia psiquiátrica. Mais foi

realmente Dupré quem definiu, de uma forma rigorosa, baseado em estudos

clínicos, a debilidade motora, a instabilidade, e isolou perturbações tais como

os tiques, as sincinesias, as paratonias entre outras. Hoje, a psicomotricidade é

o relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência que

une o ser corpo, o ser mente, o ser espírito, o ser natureza e o ser sociedade.

A psicomotricidade está associada à afetividade e à personalidade,

porque o indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente, e uma

9

pessoa com problemas motores passa a apresentar problemas de expressão.

A psicomotricidade conquistou, assim, uma expressão significativa, já que se

traduz em solidariedade profunda e original entre o pensamento e a atividade

motora. Vitor da Fonseca (1988) comenta que a psicomotricidade é atualmente

concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação

inteligível entre a criança e o meio. É um instrumento privilegiado através do

qual a consciência se forma e se materializa. Mesmo em meio a tantos

conceitos, pode-se dizer que existe uma coerência na ciência. No momento em

que a psicomotricidade educa o movimento, ela ao mesmo tempo coloca em

jogo as funções da inteligência. A partir dessa posição, observa-se a relação

profunda das funções motoras cognitivas e que, também pela afetividade,

encaminha o movimento.

“O cérebro e a medula espinhal enviam aos músculos

pelos seus mecanismos cerebrais ordens para o controle

da contínua atividade de movimento com específica

finalidade e dentro das condições ambientais. Essas

ordens sofrem as influências do meio e do estado

emocional do ser humano” (BARROS; NEDIALCOVA,

1999).

O movimento refere-se, geralmente, ao deslocamento do corpo como

um todo ou dos membros, produzido como uma conseqüência do padrão

espacial e temporal da contração muscular. Movimento é o deslocamento de

qualquer objeto e na psicomotricidade o importante não é o movimento do

corpo como o de qualquer outro objeto, mas a ação corporal em si, a unidade

biopsicomotora em ação. Os movimentos podem ser involuntários ou

voluntários. Movimentos involuntários são atos reflexos, comandados pela

substância cinzenta da medula, antes de os impulsos nervosos chegarem ao

cérebro. Os movimentos involuntários são os elementares inatos e adquiridos.

Os inatos são aqueles com os quais nascemos e são representados pelos

reflexos, que são respostas caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de

sua produção e execução. Aprendizagem, movimentos e expressões

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involuntárias, muitas vezes, estão presentes em determinadas ações sem

que o executante os perceba. Esses movimentos são desencadeados e

manifestados pelo corpo no momento em que realiza determinados atos

voluntários. Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados, que

ocorrem devido à aprendizagem e que formam os hábitos, os quais, quando

bons, poupam tempo e esforço, porém, se exagerados, eliminam a criatividade.

Os hábitos podem ser passivos (adaptação biológica ao seu meio ambiente) ou

ativos (comer, andar, tocar instrumentos). Os reflexos condicionados são

produzidos desde as primeiras semanas de vida. Esses reflexos condicionados

geralmente começam como atividade voluntária e, depois de aprendidos, são

mecanizados. Para a execução do ato voluntário exige-se um certo grau de

consciência e de reflexão sobre finalidades, entretanto, a maior parte dos atos

executados na vida diária é relativamente automática. Para a atividade

voluntária cotidiana, faz parte uma série de reflexos automáticos e instintivos os

quais, na prática, não podem ser bem diferenciados. A freqüente repetição de

atitudes voluntárias acaba por transformar-se em atos automáticos.

Associada à psicomotricidade, está a afetividade. A criança utiliza seu

corpo para demonstrar o que sente. Desde o nascimento, a criança passa por

diferentes fases nas quais adquire conhecimentos e passa por diversas

experiências até então chegar a sua vida adulta. As primeiras reações afetivas

da criança envolvem a satisfação de suas necessidades e o equilíbrio

fisiológico.

Segundo Lapierre e Aucouturier (1984), “Durante o seu

desenvolvimento, aparecem os fantasmas corporais que limitam suas

expressões devido à falta de contato corporal dos pais com os filhos. A

afetividade é indispensável para o desenvolvimento da criança e ao equilíbrio

psicossomático”. Como esse contato corporal tende a diminuir com o passar do

tempo, cria-se um grande problema para o desenvolvimento da criança.

“É recomendado aos pais que mantenham o contato corporal através do

toque durante toda a vida da criança”. (CHICON, 1999). Isso certamente levará

a uma evolução psicomotora e cognitiva da criança. É necessário que toda

11

criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento. Rev. PEC,

Curitiba, v.3, n.1, p.89-93, jul. 2002-jul. 2003

Henri Wallon (1971) diz que o movimento humano surge das emoções,

que a criança é pura emoção durante uma longa fase de sua vida. A

afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, as

emoções, as paixões, e reflete sempre a capacidade de experimentar

sentimentos e emoções. É ela quem determina a atitude geral da pessoa diante

de qualquer experiência vivencial, percebe os fatos de maneira agradável ou

sofrível, confere uma disposição indiferente ou entusiasmada e determina

sentimentos que oscilam entre dois pólos, a depressão e a euforia. O modo de

relação do indivíduo com a vida se dá através da tonalidade de ânimo em que

a pessoa perceberá o mundo e a realidade. Direta ou indiretamente, a

afetividade exerce profunda influência sobre o pensamento e sobre toda a

conduta do indivíduo.

“A vivência corporal não é senão o fator gerador das respostas

adquiridas, onde se inscrevem todas as tensões e as emoções que

caracterizam a evolução psicoafetiva da criança". (FONSECA, 1983).

Outro fator relacional que faz parte do componente afetivo é a

agressividade. É a nossa afirmação do desejo de existir, nossa pulsão de vida.

Os obstáculos surgem a cada momento e pela experiência vivida o indivíduo

aprende a superá-los, contorná-los, ou suportá-los. A solução sugerida por

Lapierre na linha da psicomotricidade relacional, é que precisamos transpor

essa agressividade para o plano simbólico em que esta, poderá ser aceita e

“desculpada” por meio de materiais lúdicos e sem perigo, como lutas de

desequilíbrio, de tração, de pressão, de defesa de seu espaço. Por intermédio

dessa situação o indivíduo pode vivenciar no simbólico sua demanda

agressiva, dominá-la e aí estabelecer o início de adaptação ao outro.

A vivência do corpo na relação com o outro e com o mundo é entendida

como corporeidade, condição básica para a qualidade de vida do indivíduo. A

noção da corporeidade está intimamente ligada à noção de identidade porque,

e para que esta possa aparecer, o corpo deve ser reunido em uma imagem

12

global. A construção da imagem corporal do bebê vai construindo-se não

apenas na sua história individual, mas também em suas relações com os

outros, tanto a nível psicológico como libidinal. Por meio do interesse

demonstrado pelo outro em seu corpo, por ações, ou simplesmente palavras e

atitudes, vai-se fortalecendo pouco apouco sua imagem corporal.

[...] a noção do eu corporal não se limita a sua intuição,

embora plenamente coordenada, dos órgãos e de sua

atividade: exige uma distinção feita entre os elementos

relacionados ao mundo exterior e os atribuídos ao próprio

corpo; assim, pois, estaria o eu corporal definido sob os

seus diferentes aspectos. Por conseguinte, é condição

indispensável e de reconhecida suficiência, que seja

possível a ligação entre a atividade debruçada para o

mundo exterior e às atitudes do corpo (WALLON,

1971,p160).

Para entendermos melhor o seguimento deste estudo, temos que apontar alguns aspectos do desenvolvimento motor.

1.1 O esquema corporal

O esquema corporal se dá através do processo de integração da percepção corporal com o modelo e a forma da personalidade.

“Esquema corporal é a integração das sensações relativas ao próprio corpo, em relação aos dados do mundo exterior.” (P. Vayer)

A partir do momento que o indivíduo domina, e consegue utilizar melhor seu corpo, o esquema corporal é estruturado, começando a ter consciência e entender melhor seus limites. É preciso vivenciar estímulos para se entender cada parte do corpo, para isso, é importante associarmos:

• a percepção do corpo; • o equilíbrio;

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• a lateralidade; • a independência dos membros em relação ao tronco e entre si; • o controle muscular; • o controle da respiração

Segundo De Meur (1989), uma criança que se sinta à vontade significa que

ele domina o seu corpo, utiliza-o com desenvoltura e eficácia, proporcionando

lhe bem estar, tornando fáceis e equilibrados seus contatos com os outros.

1.2 Imagem Corporal

A imagem de si mesmo se constrói igual à forma que as demais

estruturas mentais (por associação de elementos cada vez mais coordenados e

complexos). Um dos focos da teoria de Wallon, está relacionado ao papel que

a imagem de si mesmo, refletida no espelho, desempenha na integração e na

formação do eu e da consciência corporal.

Pode perecer simples, mas perceber a imagem e relacioná-la a si próprio

são construções complexas sustentadas numa ontogênese que se passa

necessariamente pelo outro.

1.3 Coordenação Motora

Podemos considerar cinco tipos de Coordenação Motora:

• Coordenação Motora-Fina

• Coordenação Motora-Ampla

• Coordenação Visomotora

• Coordenação Audiomotora

• Coordenação Facial

A capacidade de coordenação reúne as atividades que abrangem duas ou

mais capacidades e padrões motores. Com relação à coordenação dinâmica

14

das mãos Le Boulch (1982) diz que a habilidade manual ou destreza constitui

um aspecto particular da coordenação global. Reveste muita importância nas

praxias, no grafismo, pelo que deve dar se muita atenção particular. O

desenvolvimento de todas as capacidades perceptivas é fundamental para

crescimento das potencialidades do indivíduo na aprendizagem cognitiva,

psicomotora e afetiva.

1.4 Equilíbrio

O equilíbrio é a base da sustentação do corpo. A medida que crescemos,

ele se torna cada vez importante. Ele está associado a atitudes, a coordenação

de movimentos, que permite o corpo a se ajustar com o meio. Pode ser

classificado de duas formas:

• Equilíbrio Estático- Movimentos não locomotores

• Equilíbrio Dinâmico- Movimentos locomotores

1.5 Lateralidade

A lateralidade é a tendência que o indivíduo possui de utilizar

predominantemente um hemisfério cerebral sobre o outro, levando-o a

utilização dominante de um dos lados do corpo em três níveis: mão, pé, e olho.

Podemos nomear em:

• Destro- Predomínio claro do lado direito

• Sinistro ou canhoto- Predomínio claro do lado esquerdo

• Ambidestro- Não existe um predomínio claro, podendo haver uma

condição de lateralidade cruzada.

15

Para Baroja, Paret & Riesgo(1978), a definição de lateralidade está

relacionada com o conhecimento corporal. O conhecimento do próprio corpo é

de grande importância nas relações entre o eu e o mundo exterior, o que

segundo Wallon é um elemento indispensável na constituição da

personalidade.

Abrangendo todos os aspectos do desenvolvimento motor, uma função que

se destaca, é a função tônica. Fenômeno nervoso muito complexo, sendo a

junção de todos os movimentos, sem desaparecer na inércia. O tônus ataca em

todos os níveis da personalidade psicomotora e participa de todas as funções

motrizes, é sobretudo, o veículo da expressão de emoções, além disso, é o

suporte essencial da comunicação – verbal e corporal, e sobretudo, é um

critério de definição da personalidade, que varia segundo a inibição, a

instabilidade e a extroversão que a caracterizem.

Verifica-se o estado do tônus muscular através da resistência de um

músculo à mobilização passiva de um seguimento do corpo.

• Grande resistência- hipertonia

• Pequena resistência- hipotonia

• Resistência normal- tônus normal.

“ Toda atitude ou postura, tanto no sono como na vigília, depende da

atividade tônica, ou seja, daquela atividade que dá aos músculos um grau de

consistência e uma forma determinada.” ( H. Wallon, Les Origines du

caractère..., pp.31-32).

Há uma relação muito estreita entre o tono e o repouso muscular.

Segundo Dupré, a relaxação, ou seja, a descontração muscular, é a outra face

da motricidade. A psicomotricidade interessa-se tanto pelo movimento, que

certo comportamento tônico subtende, quanto pela relaxação, que não é

somente inação, mas comportamento tônico específico, pois que visa

justamente a resolução tônica, a diminuição do tono residual (de fundo)- a

descontração muscular.

16

CAPÍTULO II

AS ATIVIDADES FUNCIONAIS

“O treinamento funcional consiste

em uma modalidade de treino que através principalmente

da especificidade do movimento esportivo, busca o

equilíbrio, a prevenção de lesões e a otimização do

condicionamento físico. Cada movimento realizado pelo

corpo humano envolve vários músculos, cada qual com

diferentes funções. Alguns são responsáveis por gerar o

movimento, enquanto outros atuam ao mesmo tempo

para estabilizar articulações e potencializar movimentos.”

(RANGEL, Claúdia dos Anjos, 2009)

Os exercícios funcionais visam a harmonia do movimento. Ele tem como

base tanto na prática quando na teoria, métodos estruturados, como: o Pilates,

a Yoga e o Tai-chi-chuan. É importante salientar que este método pode ser

usado como treinamento ou tratamento. A variedade de exercícios,

principalmente para o fortalecimento da musculatura profunda, é essencial para

a manutenção de uma boa postura e estabilização da coluna. Um pilar para o

exercício funcional é o equilíbrio.

Segundo Márcia Gralha, Personal Trainer e Treinadora Pro Bodysistem

(2009), o EF (exercício funcional) resgata os déficits de movimento que foram

adquiridos durante o desenvolvimento. É necessário que seja dado uma boa

base, para que seu desenvolvimento seja mais harmônico. Os responsáveis

por essa base são a musculatura profunda, a musculatura estabilizadora das

17

cinturas escapular e pélvica, sendo a última de maior importância, por ser

mais vulnerável.

Na educação física escolar não é dada tanta ênfase para esses

processos, gerando adultos com pouco conhecimento do próprio corpo. No

caso dos adultos, surge um outro fator que se torna grave, são praticantes

fortes esteticamente, porém com déficits de força da musculatura profunda

(estabilizadora). O EF nada mais é do que um meio para tornar o corpo

funcional para as atividades que o indivíduo pratica diariamente. A prática

promove a sustentação de um estilo de vida ativo através da melhora da

performance nas atividades do dia-a-dia, ajuda na realização de tarefas

profissionais aumentando a produtividade e diminuindo o stress e o risco de

lesão e, ainda aumenta a capacidade de realizar de forma efetiva movimentos

e ações relacionadas às atividades esportivas e de lazer. Envolve uma gama

de exercícios em que o enfoque principal é o movimento que cada exercício

trabalha.

Seja qual for a definição, o treinamento funcional tem como principal

meta, a melhora da qualidade dos movimentos, conseqüentemente a postura,

tornando o corpo apto a executar plenamente suas funções biomecânicas. Isso

é possível através do aprimoramento do controle neural, com destaque a

propriocepção, que é um dos aspectos mais trabalhados neste método.

Ainda, pode ser definido como método educativo e terapêutico que mantém,

melhora e mesmo reabilita a eficiência funcional de cada indivíduo. A proposta

de trabalho leva em consideração dois aspectos cruciais para restabelecer o

bem estar e a competência motora dos alunos: como nos movemos e por que

nos movemos. Assim, a ginástica, o exercício, a atividade funcional promove

melhora na performance enquanto aprimora o auto-conhecimento.

O equilíbrio é a base dos exercícios funcionais. Desde criança,

buscamos o equilíbrio. A primeira batalha é vencer a força da gravidade e

conseguir se equilibrar em dois apoios. A partir daí, o desenvolvimento se dará

por maturações distintas temporalmente. Quando temos a musculatura mais

18

profunda com déficit de força, sobrecarregamos a musculatura superficial,

que começa a desenvolver desequilíbrios musculares que afetam diretamente

o sistema locomotor. Hoje é sabido que pré-púberes com asma, tem

dificuldades para manter o rendimento desportivo por não poderem respirar de

forma correta, pois tem a musculatura dos intercostais e transverso do abdome

fracas. Com a execução correta do EF, existe uma grande vantagem de se

poder ganhar força e, ao mesmo tempo, não se perder a flexibilidade dos

músculos e tendões. Um bom alinhamento postural promove uma melhor

coordenação, tanto intermuscular como intramuscular, facilitando o movimento

articular e deixando livres ramificações nervosas, promovendo uma boa

lubrificação das articulações sinoviais e evitando a fadiga precoce.

A respiração é um dos pontos principais para uma boa execução dos

exercícios. Muitos dos vícios posturais aparecem quando estamos em

movimento, como compensações de um movimento específico. Para se

conseguir um corpo firme, deve-se construir um corpo com consciência

corporal. Nossos alicerces são nossos músculos profundos.

História e a Linha do Tempo da Atividade Física

A palavra ginástica vem do grego Gimnastiké, arte de fortificar o corpo e

dar-lhe agilidade, ou Gimnos, que significa nu. Mas, já para o homem pré-

histórico, a “actividade física” tinha um papel importante para sua

sobrevivência, expressa principalmente na necessidade vital de atacar e

defender-se. O exercício físico utilitário e sistematizado de forma rudimentar,

era transmitido através das gerações e fazia parte dos jogos, rituais e

festividades. Na antiguidade, principalmente no Oriente, os exercícios físicos

apareceram nas várias formas de luta, na natação, no remo, no hipismo, na

arte de atirar com o arco, como exercícios utilitários, nos jogos, nos rituais

religiosos e na preparação militar de maneira geral. Foram os antigos gregos,

19

os primeiros a praticar a ginástica como atividade esportiva e não apenas

como forma de treino militar. Segundo Langlade e Langlade (1970), até 1800

as formas comuns de exercício físico eram os jogos populares, as danças

folclóricas e regionais e o atletismo. De acordo com Soares (1994: 64), a partir

desta época, a Ginástica passou a desempenhar importantes funções na

sociedade industrial,apresentando-se como capaz de corrigir vícios posturais

adotados decorrentes do trabalho, demonstrando assim, as suas vinculações

com a medicina e, desse modo, conquistando status. Para estes autores, a

origem da atual Ginástica data do início do século XIX, quando surgiram quatro

grandes escolas: A Escola Inglesa, a Escola Alemã, a Escola Sueca e a Escola

Francesa, sendo a primeira mais relacionada aos jogos, atividades atléticas e

ao esporte. As demais escolas foram as responsáveis pelo surgimento dos

principais métodos ginásticos, que por sua vez determinaram a partir de 1900 o

início dos três grandes movimentos ginásticos na Europa. São eles: o

Movimento do Oeste na França, o Movimento do Centro na Alemanha, Áustria

e Suíça e o Movimento do Norte englobando os países da Escandinávia.

A ginástica artística tornou-se esporte olímpico nos jogos de Atenas

(1896), mas só para homens. A participação das mulheres foi liberada nos

jogos de Amesterdã, em 1928. Também a ginástica egípcia já valorizava o que

se conhece hoje como qualidades físicas, tais como: equilíbrio, força,

flexibilidade e resistência. Já usavam, embora rudimentares, materiais de apoio

tais como tronco de árvores, pesos e lanças. Dentre os costumes egípcios

estavam os exercícios Gímmicos revelados nas pinturas das paredes das

tumbas.

Vejamos agora a segunda metade do século xx.

Anos 70 - Exercícios aeróbicos

Nesta década havia grande incidência de doenças relacionadas ao

sistema cardiovascular e respiratório, além do aparecimento do sedentarismo.

20

Neste cenário, começa a ganhar força o treinamento aeróbico: cooper,

caminhadas, corridas e ginástica aeróbica.

Anos 80 - Treinamento força muscular

“Resolvidos” os problemas cardiovasculares, combater flacidez,

enfraquecimento e envelhecimento viram o alvo dos atletas. É o início do

treinamento de força. Surgem as máquinas de musculação construídas com o

princípio do isolamento muscular. As salas para essa modalidade começam a

ganhar espaço dentro das academias.

Anos 90 - Estética

Junto com a força apareceu a estética. Valorização do corpo com mais

músculo e definição. Mulheres começaram a frequentar as salas de

musculação.

Ano 2000 - Bem estar

A musculação, que era até então praticada pelos mais jovens, também

ganha adeptos da terceira idade, com o objetivo de fortalecer músculos e

ossos, consequentemente, obtendo uma boa qualidade de vida. A ioga, o

pilates e posteriormente a ginástica funcional, começam a ganhar espaço. As

academias passam a investir nestas práticas, a fim de corresponder as

expectativas das pessoas que tem por objetivo principal a integração mente e

corpo.

Surgimento da Técnica

O Treinamento Funcional não é uma novidade, afinal a funcionalidade

do ser humano, como já citado, foi uma questão de sobrevivência. Seguindo a

linha histórica, na mitologia grega é observada a importância de uma plena

funcionalidade para sucesso de desafios propostos, como Os doze trabalhos

21

de Hércules. Na grécia antiga encontramos os jogos olímpicos. Para

melhoria da performance os atletas gregos desenvolveram equipamentos e

métodos de treinamento específicos para superação de resultados. Esta

prática, também foi aplicada na Roma antiga, entre os gladiadores. A técnica

direcionada teve início na fisioterapia e aos poucos os educadores físicos

perceberam que poderiam aplicar o mesmo princípio nas academias e no

desporto.

Durante mais de vinte e cinco anos, Paul Chek (Califórnia) aborda de

uma forma holística ao tratamento e educação que mudou a vida de inúmeros

clientes, alunos e colegas, ao tratar o corpo como um todo, e encontrar a causa

da raiz de um problema. Ele desenvolveu um sistema de treinamento funcional

focado nos movimentos fundamentais do homem primitivo e que são

executados também no cotidiano do homem moderno, são eles os movimentos

de: agachar, avançar, abaixar, puxar, empurrar, levantar e girar.

“Se uma pessoa tivesse uma lesão, precisaria recuperar não somente o

músculo, mas também o movimento para que ele cumprisse sua função. Para

fazê-lo voltar a andar, era necessário estimular os músculos com a função de

locomoção”. Explica Mauro Guiselini, professor de Educação Física

especialista em ginástica funcional. No Brasil o precursor do treino funcional é

o professor de Educação Física Luciano D’Elia, ele possui 11 anos de

experiência em pesquisa, desenvolvimento e aplicação prática do método.

Evolução da Carga

A intensidade não pode estar caracterizada somente pelo aumento de

carga em quilos. O maior aumento da intensidade vai dos poucos apoios

utilizados para o equilíbrio a superfícies instáveis, com supressão dos

receptores visuais e táteis. É bom lembrar que o treinamento do EF não é só

movimento do músculo, é movimento do corpo como um todo. Após o

22

treinamento ou tratamento é muito importante relaxar, tentar entender o que

aconteceu, perceber cada parte do corpo que foi solicitado. Devemos deixar

aquela teoria, que para obter resultados o corpo tenha que sentir dor. O

método é progressivo, vai do estático ao dinâmico, e envolve não somente

muita concentração, mas um esquema corporal adequado. Quando não

estamos com uma postura adequada, torna-se difícil a execução. Isso obriga

que o praticante comece a perceber seu próprio corpo (suas alavancas, seus

apoios), o “feedback” acontece o tempo todo. Como princípio básico, iniciar os

movimentos pelas superfícies sólidas (estáveis) e progredir para superfícies

instáveis. Iniciar com maior número de apoios e progredir para menor número

de apoios. A postura sempre prevalecerá sobre a carga.

Equipamentos mais utilizados:

- Bolas Suíças: foram desenvolvidas nos anos 70, para reabilitação de

problemas posturais que atualmente na área do fitness são um ótimo acessório

para trabalhos de força, equilíbrio, coordenação, flexibilidade e alongamento.

- Pranchas de equilíbrio: da mesma forma que as Bolas Suíças, a prancha tem

como objetivo desenvolver propiocepção e equilíbrio por meio de suas reações

de ajustes posturais a diferentes níveis de desequilíbrios.

- Bancos de diferentes alturas: quando saltados em série, adaptam o músculo a

reagir rapidamente a uma deformação ou alongamento rápido chamado de

Reflexo Miotático, sendo muito útil para o aperfeiçoamento da potência

muscular.

- Medicine Ball: do tamanho de uma bola de voleibol ou basquete, com peso de

2 a 15 kg, é eficientemente usada no tratamento de força pliométrica de

membros superiores, para aumentar a força explosiva e potência.

- Elásticos: utilizados para gerar tensão, são uma alternativa para aumentar o

ganho de força, rigidez, alongamento e flexibilidade muscular.

23

CAPÍTULO III

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE PARA AS

ATIVIDADES FUNCIONAIS

Somos seres emocionais, e aqui está a resposta para o porquê de nos

movermos. Nossas emoções em grande parte surgem de nosso contexto

cultural. Qualquer gesto, expressão facial ou deslocamento expressa sempre

um estado emocional. Por exemplo, uma pessoa que está assustada não

caminha da mesma forma que caminha quando está tranquila. A maneira como

uma pessoa se movimenta é a sua marca registrada e reflete a maneira como

ela lida com as situações que surgem em seu cotidiano. Nós humanos

expressamos nossos estados emocionais através da diminuição (relaxamento)

ou do aumento (enrijecimento) do tônus corporal. Nós aprendemos a fazer isto

desde pequeninos. As predominâncias de certos estados emocionais formam

padrões posturais rígidos que alteram o grau de eficiência funcional.

A princípio, equilíbrio têm muito mais a ver com coordenação e controle,

com a capacidade que o indivíduo têm de manter o balanço sobre a superfície

onde está apoiado; já estabilidade se relaciona de forma mais clara, com a

capacidade de criar resistência contra os distúrbios do equilíbrio.

A questão é que depois da primeira infância, onde os estímulos de equilíbrio

estão presentes , como aprender a andar por exemplo, deixamos de ter esses

desafios de forma regular no nosso dia-a-dia. Em geral nas sociedades

urbanas modernas, estamos nos movimentando cada vez menos e, ainda pior,

nos movimentando de maneira inadequada. Nossa capacidade biológica

adaptativa é extremamente requintada, tão requintada que podemos gerar

respostas anatômicas e fisiológicas tanto a estímulos positivos quanto

24

negativos. Mas independente de não condicioná-la, as demandas de

equilíbrio estão presentes a todo momento da nossa vida. Por exemplo, a cada

momento que ao desferir um chute, um pé só apoia-se sobre o chão,

terminações nervosas encontradas nos músculos, articulações e tendões,

chamadas de proprioceptores, enviam essa informação ao Sistema Nervoso

Central para ajustar todos os segmentos do corpo durante o movimento, com a

finalidade de manter o equilíbrio. Quanto mais rápido e preciso for esse

processo, mais eficiente será o movimento.

Existem dois tipos de estímulos básicos:

-Exercícios de Estabilização sobre Superfícies Instáveis como bolas, pranchas

e discos para o condicionamento do Equilíbrio Estático e Propriocepção.

-Exercícios de Agilidade (deslocamentos) e Exercício Pliométricos (Saltos) para

o Condicionamento do Equilíbrio Dinâmico.

Os benefícios da presença regular desses exercícios num programa de

condicionamento se traduzem em movimentos mais eficientes, e na prevenção

de lesões. Esses elementos podem ser introduzidos através de:

-exercícios em apoio Uni-Podal (1 pé só);

-exercícios com os olhos fechados;

-equilíbrios sobre uma bola, prancha ou disco de equilíbrio;

-exercício de deslocamento ( de um lado para o outro, da frente para trás) entre

dois cones, ou halteres colocados sobre o chão, saltar em um pé só, para cima,

para o lado e para trás.

Como artifício psicomotor, tais como coordenação, raciocínio,

compreensão, localização espaço temporal e vários outros aspectos, os

educadores físicos conseguem desenvolver o seu trabalho de forma mais clara

e objetiva, sendo muito mais eficaz se atingir resultados. A aplicação da

25

psicomotricidade como recurso na execução dos exercícios pode “ensinar”

novos procedimentos ao sistema nervoso, reestruturando e/ou reeducando-o.

Através das atividades funcionais e da psicomotricidade podemos fazer

um paralelo entre o desenvolvimento motor e o condicionamento físico. Ambos

são trabalhos globais, e tem por objetivo principal transformar em benefícios

para o dia a dia. Todo indivíduo possui características ímpares, e as demandas

de sua atividade específica determinam efetivamente qual será a relação ideal

entre todas as capacidades físicas. O processo de pleno desenvolvimento

psicomotor, ou seja das capacidades físicas e mentais é o que realmente

importa, seja para o atleta de alto nível, seja para o praticante que busca, por

meio da prática de atividade física, uma melhor qualidade de vida. A

psicomotricidade leva as atividades uma inter-relação entre o cognitivo e o

afetivo.

“Para utilizar o corpo como forma de expressão da

individualidade, faz-se necessário desenvolver, explorar,

dominar, conhecer este corpo, suas possibilidades e

diferenças. Consequentemente sua interação com o

mundo e no que nele existe será de uma forma

harmônica, precisa e emocionalmente segura. (ROCHA,

Dina Lúcia Chaves, Rio de Janeiro, 2007).

As principais funções tanto da psicomotricidade, quanto das atividades

funcionais se enquadram em um bom desenvolvimento da estruturação do

esquema corporal que mostre a evolução da apresentação da imagem do

corpo e o reconhecimento do próprio corpo, evolução de preensão e da

coordenação óculo-manual que nos proporciona a fixação ocular e preensão e

olhar e desenvolvimento da função tônico e da postura em pé e reflexos

arcaicos da estruturação espaço-temporal (tempo, espaço, distância e retina).

26

Um perfeito desenvolvimento de nosso corpo não ocorre

mecanicamente, mas sim através de movimentos que são aprendidos e

vivenciados, seja em forma de brincadeiras quando criança, seja em forma de

algum tipo de atividade física na adolescência ou na fase adulta onde se

aprende ou se reaprende a noção de seu 'eu corporal'.

A psicomotricidade não fragmenta o movimento, e sim, enfoca a ação

humana como várias atividades que se complementam, buscando as questões

emocionais como facilitador e como respostas para questões não entendidas

em um primeiro momento. A aplicação da psicomotricidade nas atividades

funcionais é um norteador para que se possa entender melhor as dificuldades

de movimentos propostos e conseguir desenvolver estratégias para que se

consiga trabalhar todos os aspectos de interesse comum como:

• equilíbrio;

• força;

• velocidade;

• coordenação;

• flexibilidade;

• resistência.

Todo indivíduo possui características ímpares, e as demandas de sua

atividade específica determinam efetivamente qual será a relação ideal entre

todas as capacidades físicas, sob o prisma do treinamento funcional e da

Psicomotricidade.

“O processo de pleno desenvolvimento de suas

capacidades físicas e mentais é o que realmente importa,

seja para o atleta de alto nível, seja para o praticante que

busca, por meio da prática de atividade física, uma

melhor qualidade de vida. O treinamento funcional prega,

pela prática regular desses estímulos, uma quebra de

paradigmas em relação ao que qualquer indivíduo deve

27

fazer para se condicionar.” (D’ELIA, Luciano, Revista

O2 por minuto, Junho, 2009).

Pensando em movimentos, e não somente em músculos, é oferecida a

possibilidade de um ambiente de treino cada vez mais dinâmico, no qual novas

experiências físicas são possíveis, estimulando um corpo mais inteligente ao

se submeter a esse processo.

Outro aspecto psicomotor a contribuir na aplicação das atividades

funcionais é a avaliação psicomotora haja visto que através dela é possível

obter as informações necessárias para ajudar a detectar uma possível

dificuldade e entender o porque da mesma. Essa avaliação trará dados

pessoais, características do ambiente familiar, histórico, dados do

desenvolvimento motor, seu comportamento e todos os aspectos das áreas

psicomotoras, suas dificuldades ou não.

28

CONCLUSÃO

Quando o homem desempenha movimentos intencionais, ele está

coordenando os domínios cognitivo, psicomotor e afetivo.

O movimento está em ligação direta com o ser humano, pois através dele

nos comunicamos, nos organizamos enquanto sujeito pensante e atuante, para

dar conta da sua participação na sociedade. Com o passar do tempo o ser

humano começa a automatizar, a mecanizar os movimentos, e a partir de uma

certa faixa etária começa haver um decréscimo, uma certa limitação de alguns

movimentos que antes eram executados com mais destreza. Estando este

indivíduo realizando atividades que possam lhe resgatar ou até mesmo ganhar

novas qualidades que não possuía, este acarretará a curto e a longo prazo

maior autonomia para realizar movimentos do cotidiano.

Neste sentido, fazer um paralelo da Educação Física com a

Psicomotricidade atenderá às exigências de um corpo que pertence a uma

cultura, a um momento histórico, político e socioeconômico, que está em

constante desenvolvimento. Direcionando a uma visão psicomotora as

atividades funcionais, (podendo estar estas, inseridas em academias de

ginásticas, em clubes, estúdios, condomínios ou na casa do aluno/cliente),

oportuniza o indivíduo ao movimento, conscientizando-o do seu próprio corpo,

da consciência do esquema corporal, domínio do equilíbrio, construção e

controle das coordenações global e parcial, organização das estruturas

espaço-temporal, melhoria das possibilidades de adaptação ao mundo externo,

estruturação das percepções. O profissional utilizando-se da psicomotricidade

na aplicação de exercícios funcionais irá entender melhor as limitações do

29

indivíduo e saberá mais facilmente desenvolver estratégias para que o

mesmo consiga ter êxito, respeitando e superando essas limitações.

O mais importante, é que o indivíduo supere barreiras, paradigmas de um

corpo carregado de vícios, que trás uma bagagem cultural extensa, e tentar

fazer “reconstruir” esse corpo, para que aí então, lhe possibilite ser um ser

humano mais consciente de si próprio e mais atuante na sociedade.

30

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