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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES ASSÉDIO MORAL Fernanda Baptista da Silva Rio de Janeiro 03/2010

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES · se as chamadas doenças psicossomáticas, as quais, segundo a psicóloga linda Davidoff, referem-se: “A distúrbios resultantes de respostas físicas

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

ASSÉDIO MORAL

Fernanda Baptista da Silva

Rio de Janeiro

03/2010

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Fernanda Baptista da Silva

Assédio Moral

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pós Graduação em Gestão de Recursos Humanos da Universidade Cândido Mendes. Orientador: Marcelo Saldanha

Rio de Janeiro

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DEDICATÓRIA

Dedico minha conquista a todos aqueles que contribuíram para meu aprendizado e

desenvolvimento pessoal e profissional, a todos aqueles que participaram e

caminharam junto comigo durante todo esse processo. Sem essas pessoas eu não

teria chegado até aqui.

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AGRADECIMENTOS

À Deus por me dar a devida coragem, paciência e percepção adequada sobre como

agir em cada momento.

Aos meus pais todo o agradecimento pelo apoio, carinho, compreensão e ajuda

durante todo o processo. Um dos momentos mais importantes da minha vida é a

conclusão do pós graduação, que tanto batalhei para chegar até aqui, foram as

pessoas que mais estiveram presente durante essa longa caminhada.

Ao meu namorado Tiago, pela paciência e compreensão, que nessa reta final foi a

pessoa em que mais esteve presente e mais me ajudou, que acreditou na minha

capacidade e que mais me apoiou nos momentos de dificuldade.

A minha avó que sempre tinha uma palavra de conforto ou um chazinho para

acalmar nas horas difíceis.

A minha amiga Roberta que caminhou junto comigo durante todo esse processo,

estudamos juntas, nos desenvolvemos e aprendemos nesse um ano de pós.

Aos professores que sempre dispostos, mesmo que após a um longo dia de jornada

de trabalho, nos passar todos os ensinamentos, teorias e práticas de suas vivências,

sempre com muita paciência e sabedoria souberam explicar da melhor forma por

qual caminho devemos seguir.

Nos mostrando que o mercado de trabalho não é fácil, mas que com muita

dedicação podemos chegar onde queremos.

Sem essas pessoas essa caminhada teria sido em vão ou nem teria acontecido,

obrigada a todos por tudo.

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Não desista do amor, não desista de amar. Não se entregue à dor porque ela um dia vai passar.

Deixa que a aventura de ser gente te envolva.

Prepara o que será no que és. Não prenda os teus olhos dos olhares que te acusam.

Esquece a voz que te condenou. Não desista do amor.

Fábio de Melo, Não desista do amor.

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RESUMO

Assédio moral ou violência moral no trabalho não é um fenômeno novo. Pode-

se dizer que ele é tão antigo quanto o trabalho.

Assédio moral é a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e

constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no

exercício de suas funções.

São mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que

predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa

duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s),

desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho.

Esse fenômeno caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de

trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a

seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos

práticos e emocionais para o trabalhador. A vítima escolhida é isolada do grupo sem

explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada e desacreditada

diante dos pares. Estes, por medo do desemprego e a vergonha de serem também

humilhados, rompem os laços afetivos com a vítima e, freqüentemente, reproduzem

ações e atos do agressor no ambiente de trabalho, instaurando o “pacto da

tolerância e do silêncio” no coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente se

desestabilizando e fragilizando, “perdendo” sua auto-estima.

Esse estudo propõe-se a realizar algumas reflexões no sentido de

compreender os aspectos determinantes que envolvam o assédio moral do trabalho,

o papel da sociedade em relação ao fenômeno, indo desde a sua definição e

historicidade, passando posteriormente a análise de suas principais determinantes

psicossociais.

Palavras-chave: Assédio moral, auto-estima, trabalhador.

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1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8 2 ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO.......................................................................10 2.1 Assédio Moral na vida privada E.........................................................................14 2.2 Assédio Moral na escola......................................................................................15 3 DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS DO TRABALHO .................................17 4 CLASSIFICAÇÃO...................................................................................................18 4.1 Fases de uma situação de assédio moral, de acordo com Leymann E..............20 4.2 Táticas de assédio moral.....................................................................................21 5 O ASSÉDIO MORAL E A SAÚDE DO TRABALHADOR E..................................23 5.1 Como as vítimas reagem......................................................................................26 6 AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL.....................................................28 6.1 Consequências para o empregador E................................................................30 6.2 Consequências para o empregado......................................................................32 6.3 Consequências para o empregado assediante...................................................32 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................34 REFERÊNCIAS .........................................................................................................36

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INTRODUÇÃO A humanidade convive com o assédio moral desde os primeiros contatos com a vida

familiar e social, muito embora referida agressão psicológica provoque doenças e

pode levar até a morte.

Dentre as enfermidades que podem ser provocadas pelo assédio moral, destacam-

se as chamadas doenças psicossomáticas, as quais, segundo a psicóloga linda

Davidoff, referem-se:

“A distúrbios resultantes de respostas físicas (somáticas) do

animal a tensão, uma condição fisiológica (...) são, de fato,

distúrbios reais que causam prejuízos reais ao tecido e

sofrimentos reais. Pessoas podem até morrer dessas doenças”.

Com o fenômeno da deterioração dos valores éticos e morais, tão presente no

mundo pós-moderno, as pessoas passaram a sofrer diversas formas de violência e

com isso desenvolvem diversas formas de doenças.

A busca desenfreada pelo poder e sucesso criou uma sociedade sem freios éticos,

na qual o ser humano voltou a ser tratado como um objeto, perdeu os valores, as

pessoas passam por cima de qualquer valor ético ou moral para alcanças seus

objetivos.

O assédio moral é uma das preocupações na busca pela qualidade de vida no

ambiente de trabalho. Na atual gestão de pessoas, em o que mais se preocupa é a

saúde e o bem estar do ser humano, porém ainda precisa ser muito trabalhado tanto

por empresários como por funcionários. Cada um precisa entender exatamente qual

o seu papel em uma instituição empresarial.

É através do trabalho que nos reconhecemos, que descobrimos nossas

potencialidades, que aprendemos sobre os “outros”, amadurecemos com a

valorização perante os pares, reforçamos a nossa dignidade e temos a garantia de

inserção no círculo social. Isto fica cada vez mais realçado, neste mundo pós-

moderno, onde as organizações trazem promessas sedutoras e satisfação imediata.

Um funcionário precisa ser respeitado como pessoa, é um profissional qualificado ou

não, que está naquele ambiente praticando uma das formas de capitalismo,

vendendo sua força de trabalho, que busca qualidade de vida e não apenas um

meio de sobrevivência.

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Segundo Maciel et al (2007: p. 118): assédio moral no trabalho compreende toda

exposição prolongada e repetitiva a situações humilhantes e vexatórias no ambiente

de trabalho. Essas humilhações se caracterizam por relações hierárquicas

desumanas e autoritárias, onde a vítima é hostilizada e ridicularizada diante dos

colegas e isolada do grupo.

A sociedade durante muitos anos considerou um procedimento normal essa forma

de tratamento. Afinal, o trabalho sempre foi representado por algo de categoria

inferior, sem valor, aquele que é necessitado de trabalho é o ser humano de baixo

escalão. Assim foi no período colonial, (apenas para focar em História do Brasil) com

a colonização portuguesa, em que o trabalho físico era exercido por escravos.

A relação escravo-trabalho reflete a valorização do trabalho intelectual, o culto ao

bacharelismo. Essa condição acarreta na exaltação do trabalhador com

reconhecimento acadêmico, como se alguém pudesse ser superior a outro pelo

diploma que carrega. E por consequência, o já tradicional respeito aos "doutores"

que há pelo mundo de terno e gravata, e motivando pessoas em diversos cargos,

mas principalmente em chefias, a se identificarem como seres superiores que

merecem todo respeito e consideração, como se fossem insubstituíveis, de sucesso

e poder.

São profissionais assim que modificam o ambiente de trabalho que deveria ser

estimulante, descontraído e alegre. Passamos a encontrar, principalmente indivíduos

desanimados e sem motivação, porque acabaram se transformando em meros

instrumentos de produção. Muitas vezes as empresas, chefias, não estimulam

devidamente seus funcionários, não dão o valor devido a cada função, passando o

funcionário a se sentir desmotivado.

Essas questões delicadas de relacionamento são os ingredientes para o

desenvolvimento de comportamentos inadequados ao trabalho: assédio moral.

A questão do assédio moral vem se intensificando com o passar dos tempos,

gravidade, amplitude do fenômeno e na abordagem que estabelece diferenças para

tais comportamentos.

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2- Assédio moral no ambiente de trabalho

O assédio moral existe em toda parte, com repercussões na esfera familiar,

estudantil e com maior intensidade no ambiente de trabalho, em decorrência da

relação de subordinação existente entre capital e força de trabalho.

Segundo Maria Aparecida Alkimin, o terror psicológico infligido ao trabalhador é um

tema que se tornou universal no mundo pós-moderno.

Cristophe Dejours, psiquiatra e psicanalista, observa que em virtude da denominada

“ameaça da derrocada econômica”, vivencia-se uma situação semelhante a uma

guerra. Entretanto, “não se trata de um conflito armado entre nações, mas de uma

guerra ´econômica´ na qual estariam em jogo, com a mesma gravidade que na

guerra, a sobrevivência da nação e garantia da liberdade”.

As organizações empresariais adotaram a produtividade e competitividade como

regra, faz parte do cotidiano no trabalhador. As empresas vivem na constante busca

do aumento da produção e dos lucros, exigindo do trabalhador empenho total e

capacitação exacerbada. O profissional de hoje precisa ter não somente um curso

de graduação, pós, cursos de especialização para acompanhar o mercado de

trabalho.

Assim no mundo corporativo atual todos competem contra todos, assim nasce um

ambiente propício a prática de assédio moral.

Existem vários conceitos sobre assédio moral, que sempre se relacionam com

abuso de poder e autoritarismo manifestado por comportamentos, gestos, atos,

palavras, enfim tudo que traga dano a dignidade da pessoa, entretanto o interesse

deste trabalho recai sobre o assédio moral nas organizações.

De acordo com Ferreira (2003, p. 16):

O assédio moral nas organizações representa condutas abusivas,

humilhantes e constrangedores, frequentes e no exercício das

funções dos trabalhadores, manifestadas através de atitudes

comportamentais que possam trazer danos ao empregado, pondo em

perigo o seu emprego ou degradando o ambiente de trabalho.

De acordo com Molon (2004), em um atual ambiente de trabalho, globalizado e

moderno, indústrias e empresas, forçam cada vez a rotina de trabalho visando o

lucro. A estrutura do trabalho, com sua composição hierárquica, partição de tarefas,

jornadas de trabalho em turnos, ritmos, intensidade, prostração, repetitividade e uma

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exagerada responsabilidade são produtos que ajudam a manifestar uma série de

distúrbios ao trabalhador, sejam elas físicas ou psíquicas.

No mundo globalizado, cuja perspectiva é a competição, caracterizado pela

insuficiência de trabalho e mão de obra em demasia, encontra-se uma facilidade da

propagação do assédio moral, pois a política e o mercado são submetidos por

comportamentos desumanos e aéticos, prevalecendo a arrogância e o interesse

individual.

O assédio moral é prejudicial à saúde do trabalhador, é como uma enfermidade que

se alastra, podendo levar o trabalhador a condições frágeis de saúde. Como

conseqüência do assédio moral e os seus danos à saúde, muitos profissionais têm

sofrido com a Síndrome de burn-out, que é conjunto de sintomas e sinais que

advém, sobretudo, por pressão trabalhista exagerada sobre o profissional.

De acordo com Freitas (2007, p. 04), “o assédio provoca diversos problemas de

saúde, particularmente os de natureza psicossomática, de duração variável, que

desestabiliza a vida do indivíduo”.

Santos (2005), diz que, a saúde é um patrimônio do ser humano, ou seja, ela é

indispensável e serve de fundamento para o exercício de suas atividades e convívio

social, inclusive no ambiente de trabalho. A saúde é um bem estar completo, ou

seja, conforme a OMS estabelece que “saúde é um estado completo de bem estar

físico, mental e social, e não ausência de doença ou enfermidade”.

O assédio moral se caracteriza por uma conduta que costuma menosprezar a

pessoa, transformá-la num brinquedo nas mãos de pessoas com má fé. Esse último

normalmente é um profissional inseguro e necessita demonstrar o poder através de

frases que desestimulam e atitudes que enfraquecem as pessoas que estão ao

redor.

Quando se está num cargo de chefia, não por ter alcançado tal posto com atitudes

empreendedores, liderança e conhecimento e sim por promoção vertical e

preenchimento de vagas ociosas, a pessoa pode se sentir pouco valorizado e

precisa se impor. Suas ferramentas são a desvalorização de alguém abaixo,

brincadeiras de mau gosto e caráter pessoal, se aproveita de problemas familiares

como doenças ou dependência financeira para fazer ameaças e chantagens.

A grande dificuldade em difundir esse problema está no medo que as pessoas têm

em perder o emprego ou vergonha de ficar "mal falado" entre os colegas de trabalho,

e assim evitam em fazer a denúncia.

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O medo de se fazer ouvir contra um assédio moral está no fato de que emprego está

cada vez mais difícil de conseguir. A grande competitividade, um número elevado de

pessoas interessadas em trabalhar mesmo sem benefícios, insegurança em perder

o emprego para outro mais experiente ou mais novo. Além disso, não há entre

colegas o comprometimento de amizade, estão todos apenas numa convivência

aparente.

Colegas de departamento são apenas pessoas com que se passa a maior parte do

tempo, não cria vinculo afetivo. São peças no tabuleiro que poderão ser trocadas a

qualquer momento sem perda para o trabalho e para aquela falsa equipe.

Todo funcionário sabe que não é insubstituível, seja qual for seu grau de instrução

ou cargo. Todo conhecimento é algo prático, ferramentas de uso que são difundidos

por apostila e cursos rápidos de atualização. Esse fenômeno tornou-se maior com

as conseqüências da globalização devido à informatização, o desenvolvimento dos

meios de comunicação e transporte, tornando a concorrência mais agressiva,

provocando um grau intenso de insegurança na empresa em que trabalha.

Um dos piores danos causados pelo assédio moral é a propaganda negativa que é

feita sobre o profissional. Tal comportamento fica tão explicito que mesmo em outra

áreas a pessoa é assediada negativamente, colocando em questão sua capacidade

profissional ou até mesmo ocorrendo brincadeiras, piadas de caráter pessoal.

O assediado fica tão desmotivado que ele próprio começa a desconfiar de suas

habilidades. De profissional seguro de suas informações, confiante e disposto a

assumir novas tarefas, aos poucos se vê no meio de uma campanha contra sua

pessoa, seus comentários, seus e-mails são motivos de graça e risadas do

assediador e muitas vezes de alguns colegas de trabalho que não visualizam essa

situação constrangedora.

Assédio sexual é uma deformação profissional decorrente de uma tradição machista

e de abuso de poder. Normalmente começa através de brincadeiras na equipe,

podendo avançar para chantagens e ameaças no campo pessoal.

É reconhecido por lei apenas quando o assédio é de chefe para subordinado ou que

a relação de superior em função do cargo seja evidente. Nas relações entre colegas

do mesmo nível profissional, esse tipo de abuso é classificado como assédio moral.

As mulheres são as mais vulneráveis ao assédio sexual, primeiramente, porque, em

regra, ocupam cargos inferiores. É uma prática reconhecida nos locais de trabalho e

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aceita como uma coisa comum, apesar de tratada em sigilo, em uma sociedade que

prossegue sem respeitar as mulheres e suas conquistas.

As mulheres deixaram para trás uma tradição de dependência financeira, afetiva e

social. Através do trabalho garantem o próprio sustento e de sua família, coloca-se

na sociedade de forma mais imperativa e decisiva e transforma a forma de ver e ser

vista no mundo.

As transformações no comportamento da mulher, os novos padrões de liberdade,

dignidade a qual vem ocorrendo em todo o mundo, às vezes não é acompanhada

por homens. Alguns deles, por uma educação extremamente machista ou por

insegurança mesmo, tentam impor seu poder e também desqualificar a profissional

perante seus colegas. Com atitudes ou frases com o tom de brincadeira, tentam

mascarar o assédio sexual.

Esses assédios tanto o moral quanto o sexual estão diretamente conectados com a

cultura machista e da posição de ser superior. Diversas empresas estão enraizadas

dessa tradição. São atitudes reveladoras de um passado nem tão distante de

opressão, falta de respeito ao próximo, chantagem emocional e ameaças de

desemprego. Os departamentos de recursos humanos por mais que estejam

interessados em aniquilar esses comportamentos com campanhas, atividades

envolvendo diversas áreas, é muito difícil no dia-a-dia da empresa, em salas

reservados o controle desses males.

Esse problema é tão grande e comum nas empresas que profissionais que agem

assim, costumam fazer parte do folclore da organização. São pessoas respeitadas,

que suas determinações são atendidas por todos. Acontece de pessoas novas no

setor ou de outras áreas render respeito a esses por saber do famoso

comportamento. É comum ouvir histórias, versões diversas e piadas de fatos que

foram constrangedores para alguns colegas.

Apenas com muita vontade política será possível reverter isso. A solução ainda está

muito distante. Mas, como em todas as transformações, é um movimento lento e

com a valorização da qualidade de vida no trabalho poderá ser uma realidade na

vida de todo profissional.

No mais das vezes, o assédio moral se dá na sua forma vertical, isto é, quando é

cometido de cima para baixo, pela direção, gerência, supervisão ou por qualquer

outro superior hierárquico em relação a seu subordinado.

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Quem assistiu ao filme “O diabo veste Prada” (“The devil wears Prada”, EUA, 2006)

teve a oportunidade de vislumbrar um exemplo clássico de assédio moral dentro do

ambiente de trabalho. Todavia, o final feliz do filme não costuma se repetir na vida

real, quando, na maioria das vezes, o assediado precisa de auxílio médico-

psicológico para se livrar do trauma sofrido.

A maneira com que a gestão se comporta é o que, de modo geral, abre brechas

para o individualismo, que, por sua vez, pode gerar o assédio moral.

Além disso, as organizações devem ser mantidas, por seus gestores, como um

ambiente de comportamento controlado, a fim de que a imagem da organização seja

preservada e que as metas e objetivos sejam alcançados, independente das

condições de trabalho, de modo geral.

Posturas de gestão como essas, ao invés de motivar o ambiente de trabalho,

acabam por serem prejudiciais às empresas, pois causam o absenteísmo, por parte

dos funcionários, que associado à desmotivação, gerada pela forte pressão sobre o

trabalhador, diminui a produtividade e qualidade dos resultados esperados no

trabalho.

2.1 Assédio moral na vida privada

A prática do assédio moral na vida privada é usualmente acobertada e entendida

como mera relação de dominação, sendo certo que nem mesmo a psicanálise tem

colaborado no sentido de auxiliar as vítimas e a se defenderem. Em muitos casos, a

vítima acaba se considerando cúmplice e até mesmo culpada pela agressão moral a

que é exposta.

Segundo, Márcia Novaes Guedes, é na vida privada que a agressão moral ganha

proporções dramáticas tendo em vista que “a relação perversa entre casais pode,

muitas vezes, ser a própria base de constituição da família”.

Marie France Hirigoyen descreve inúmeros casos de casais onde se pode constatar

a violência moral. Relata, em síntese, que na maior parte dos processos de

separação entre casais – nos quais se verifica a prática do assédio moral – o

agressor recusa a separação, não pelo fato de amar a pessoas, mas sim por

considera-la e tratá-la como uma verdadeira “presa”, razão pela qual não admite a

hipótese de perdê-la, podendo vir a ser tornar uma pessoa ameaçadora.

No seio familiar até mesmo as crianças podem se tornar vítimas da prática do

assédio moral.

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Afirma Marie France Hirigoyen que pelo fato de não se poder “matar fisicamente um

filho, anula-se a criança psiquicamente”, agindo de maneira que ela não seja

ninguém. Assim, “pode se manter uma boa imagem de si, mesmo se, em

conseqüência a criança perder toda consciência e seu próprio valor”.

De notar que uma criança tanto pode absorver dos pais qualidades positivas como

características negativas, o que aumenta a possibilidade dessa criança, no futuro,

também se tornar um agressor, em virtude das agressões que tenha sofrido na

infância.

Logo, pode-se afirmar que esse tipo de agressão moral compromete o

desenvolvimento psíquico da criança, criando uma espécie de circulo vicioso, no

qual hoje a criança se encontra na posição de vítima do terror psicológico, porém,

amanhã, será um sujeito perverso, será o agressor.

Portanto, considerando-se a família a base da sociedade, onde se desenvolve

caráter, personalidade da criança, deve-se buscar meios de neutralizar a prática do

assédio moral, no âmbito familiar, tendo em vista que uma família desestruturada

pode ocasionar diversos prejuízos a sociedade da qual faz parte.

2.2 Assédio moral na escola

O assédio moral também se verifica nas instituições públicas e privadas de ensino.

Existem inúmeros casos de professores que perseguem e humilham alunos,

chegando

até mesmo a obstar-lhe o desenvolvimento intelectual.

Segundo o escritor britânico George Orwell, narra a seguinte cena:

Dificilmente lhe ocorria, então, que pudesse ter talentos capazes

de lhe render alguma coisa. E aquilo era o resultado do que seus

mestres haviam feito por ele: deixaram impresso em sua mente

que não passava de um rapazola insubordinado e inconveniente,

incapaz de alcançar ´sucesso´na vida. E ele aceitou o que lhe foi

imposto.

Há também situações em que os alunos agridem os professores, com ameaças de

morte por reprovação, causando afastamentos dos mestres e consequentemente

doenças psicológicas, professores são obrigados a se afastar para cuidar de sua

saúde. O professores quando vítima de assédio moral praticado pela figura “aluno-

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cliente que as instituições privadas fazem questão de preservar”, o que dificulta

sobremaneira a participação do mestre no desenvolvimento pedagógico e

profissional do aluno.

Existem aquelas situações nas quais são os próprios estudantes, que pó inveja do

colega mais aplicado, praticam assédio moral, fenômeno conhecido nas escolas

como Bullyng. O Bullying é uma forma de violência escolar que ocorre entre alunos,

aparentemente sem qualquer motivo presente, os agressores usam a violência tanto

física quanto verbal, humilham a vítima perante todos, causando, assim, traumas em

suas vítimas.

3- Direitos humanos fundamentais do trabalho

O trabalho qualquer que seja sua modalidade dignifica e enaltece o ser humano, que

dela alcança meios materiais e produz riquezas essências a sua própria

subsistência. É, dessa forma, uma necessidade elementar, assim como bem

necessário para a realização pessoal e valorização no âmbito familiar e social.

O poeta Kahlil Gibran assim discorre acerca do trabalho:

Trabalho é amor feito visível. Se não podeis trabalhar com amor, mas

somente com desgosto, é melhor deixar vosso trabalho, sentar-vos no

portão do Templo e pedir esmolas aqueles que trabalham com alegria.

Não se discute o fato do trabalho humano produtivo ser indispensável ao

desenvolvimento econômico, político e social de um Estado, tendo em vista que é

por meio da produção, distribuição e circulação de bens e serviços que se alcança o

progresso.

Conforme se desprende da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual

afirma que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito,

bem como toda pessoa tem direito ao trabalho humano livre e digno é inerente a

pessoa humano.

Segadas Viana salienta que o trabalho é um meio de elevação do homem a uma

posição de dignidade, tornando-o diferente dos outros animais.

Assim, sendo o trabalho verdadeira fonte de dignidade humana e tendo todo ser

humano dignidade, pode-se afirmar que o trabalhador tem dignidade, condizente

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com a “ consciência moral e autonomia individual de atuar segundo as regras

morais, valores, princípios éticos e costumes no seio da sociedade”.

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4- Classificação

Em relação as espécies de assédio moral, classificam-se em três tipos:

(1) Vertical descendente – praticado por chefe ou empregador;

(2) Horizontal – praticado por colegas de trabalho;

(3) Vertical ascendente – praticado por grupos de subordinados.

Vertical descendente – É o tipo mais comum. Corresponde aquele proveniente do

comando hierárquico, ou seja, constata-se o assédio moral quando praticado pelo

próprio empregador ou algum de seus superiores hierárquicos.

Essa é a espécie de assedio moral mais comum, em razão da própria organização

de trabalho, pautada sob forte influência da competitividade e maior obtenção de

lucros com menor custo.

É notório que o trabalhador se encontra em condição de inferioridade em relação ao

empregador, em especial por força de subordinação jurídica decorrente do contrato

individual de trabalho.

Amauri Damasceno Nascimento conceitua subordinação jurídica como uma situação

na qual se encontra o trabalhador “decorrente da limitação contratual da autonomia

da sua vontade, para o fim de transferir ao empregador o poder de direção sobre a

atividade que desempenhará”.

Deve-se ressaltar que esta subordinação não dá ao empregador direito de maltratar,

desrespeitar o trabalhador, utilizando como mero instrumento para alcançar seus

objetivos.

Márcia Novaes Guedes afirma que o superior hierárquico pratica assedio moral

quando “sente-se ameaçado de perder o seu poder e o status privilegiado de que

goza dentro da empresa”, em face de uma ameaça real ou potencial que o

trabalhador representa.

Assim, pode-se se dizer que as formas e motivações da manifestação de abuso de

poder são variadas, podendo estar relacionadas, antipatia pessoal, ameaça a

imagem social, entre outros.

A prática do assédio moral por parte do empregador acarreta no descumprimento de

obrigação contratual por parte do empregador, no que diz respeito a dignidade da

pessoa humana do trabalhador, devendo tal conduta ser evitada no ambiente de

trabalho e caso o empregar não cumpra suas obrigações contratuais, o trabalhador

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pode se valer da proteção juslaboral, buscando a rescisão indireta do contrato de

trabalho consoante disposição do art. 483 da CLT.

Horizontal – No assédio moral horizontal, a prática perversa e desencadeada pelos

próprios colegas de trabalho, com idêntico grau de hierarquia, manifestando-se por

meio de brincadeiras maliciosas, gracejos, piadas, gestos obscenos, menosprezo

entre outros.

O assédio moral nesse caso decorre de conflitos interpessoais, tais como: atributos

pessoais ou profissionais, capacidade ou dificuldade de relacionamento, ausência de

cooperação, preferência pessoal do chefe gozada pela vítima, racismo, xenofobia,

razões políticas ou religiosas, entre outras, que causam dificuldade de

relacionamento profissional.

A prática do assédio moral viola os direitos de personalidade e dignidade da vítima,

fazendo desaparecer da organização empresarial o espaço de sociabilidade,

solidariedade e companheirismo.

A vítima poderá ser agredida psicologicamente de maneira individual ou coletiva,

uma vez que em geral a coletividade tem a tendência a se posicionar

favoravelmente ao lado do agressor, responsabilizado a vítima pela violência sofrida.

Vertical descendente – Hipótese menos comum que as anteriores. Trata-se do

assédio moral que parte de um ou de vários empregados contra o superior

hierárquico.

Essa espécie de terror psicológico pode vir a ser praticada em relação ao superior

que extrapola os poderes de mando e gestão, adotando posturas autoritárias e

arrogantes.

Pode se verificar também que por falta de experiência ou insegurança, o superior

hierárquico não consiga manter o controle sobre os empregados, sendo pressionado

ou tendo suas ordens descumpridas, resultando no fortalecimento dos agentes

perversos para se livrarem do superior hierárquico indesejado.

As situações agravam-se ainda mais quando não existe a comunicação entre

superiores e subordinados.

Os poucos casos de assédio moral ascendente, os efeitos nocivos a saúde da vítima

são tão intensos quanto nos demais casos analisados, devendo da mesma forma tal

prática ser banida de nossas organizações empresariais.

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4.1 Fases de uma situação de assédio moral de acordo com Leymann:

Fonte: Leymann, 1996 - tradução e esquematização da autora.

Segundo o modelo de Leymann (1993, 1996), o processo de assédio moral evolui da

seguinte maneira:

Fase 1- Ocorre um incidente crítico ou conflito entre as duas partes, este é o

começo, mas ainda não é assédio;

Fase 2- Ocorre a “estigmatização” da vítima - é o início do processo de assédio

propriamente dito;

Fase 3- A gerência entra no conflito - geralmente quando a gerência é envolvida ela

tende a aceitar a visão do assediador e ter a visão negativa da vítima;

Fase 4- Ocorre à expulsão da vítima.

Para Leymann (1996) o assédio nos seus estágios iniciais é frequentemente

um sinal de que um conflito sobre a organização do trabalho atingiu o nível pessoal

e na opinião deste pesquisador, a “privatização” de um conflito é uma situação em

que o empregador tem obrigação de agir. Reisch e Schubinski (1996) explicam que

nos últimos anos Leymann incluía a Fase 5 que era o “diagnóstico errado”, ou seja,

as vítimas depois de serem afrontadas no trabalho ainda eram diagnosticadas por

seus médicos como sendo paranóicas ou tendo depressão maníaca, adicionando ao

sofrimento das vítimas a desconfiança de médicos e os efeitos de diagnósticos

errados.

Segundo Piñuel y Zabala (2003), o assédio tem três momentos distintos: 1º. O alvo

recebe críticas sistemáticas; 2º. Acontece a perseguição sistemática do alvo; 3º no

terceiro momento a pessoa é isolada do grupo social. Tanto Piñuel y Zabala quanto

Leymann acreditam que quando o departamento de recursos humanos finalmente

intervém a pessoa já chega estigmatizada, o que dificulta um tratamento mais justo

da questão e que normalmente existe a pressão da organização para se livrar das

pessoas tido como “problemáticas” sem apurar a realidade da ocorrência.

Para a pesquisadora brasileira Freitas (2001) o processo geralmente começa pelo

abuso de poder, em seguida ocorre o abuso narcísico no qual o outro perde a auto-

estima e pode chegar ao abuso sexual. Ela completa dizendo que o assédio torna-se

possível porque é precedido de uma desqualificação da vítima que é aceita em

silêncio ou endossada pelo grupo. Tanto em Hirigoyen (2001) quanto em Freitas

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(2001) não raro a vítima se torna aquilo que se diz dela, ou seja, ela é induzida ao

erro, desconcentra-se e comete o erro que foi antecipadamente imposto. Birman

(2005) lembra que é evidente que as licenças psiquiátricas reforçam ainda mais a

experiência de destruição social, confirmando a posteriori a desconfiança dos

superiores sobre a credibilidade e a competência funcional.

4.2- Táticas de assédio moral

1. Ataques à vítima com medidas organizacionais

• O superior restringe as possibilidades de falar;

• Trocar a posição da pessoa, separando-a de seus colegas;

• Proibir aos companheiros que falem com a pessoa;

• Obrigar alguém a executar tarefas contra a sua consciência;

• Julgar o desempenho de alguém de maneira ofensiva;

• Questionar as decisões de uma pessoa;

• Não dar nenhuma tarefa;

• Dar tarefas sem sentido;

• Dar tarefas muito inferiores às capacidades;

• Dar tarefas degradantes.

2. Ataques às relações sociais da vítima com isolamento social

• Restringir aos colegas que falem com a pessoa;

• Recusar a comunicação através de olhares e gestos;

• Recusar a comunicação através de não falar com a pessoa;

• Não dirigir a palavra à pessoa;

• Tratar a pessoa como se ela não existisse.

3. Ataques à vida privada da vítima

• Críticas permanentes da vida privada;

• Terror telefônico;

• Fazer a pessoa parecer estúpida;

• Dar a entender que a pessoa tem problemas psicológicos;

• Fazer graça das incapacidades da pessoa;

• Imitar os gestos, vozes;

• Fazer graça das vida privada da pessoa.

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4. Violência física

• Ofertas sexuais, violência sexual;

• Ameaças de violência física;

• Uso de violência indireta;

• Maltrato físico.

5. Ataques às atitudes da vítima

• Ataques às atitudes ou crenças políticas;

• Ataques às atitudes ou crenças religiosas;

• Fazer graça da nacionalidade da vítima.

6. Agressões verbais

• Gritar ou insultar;

• Fazer críticas permanentes;

• Ameaças verbais.

7. Espalhar rumores

• Falar mal por trás das costas;

• Espalhar rumores.

Fonte (Zapf, Knorz y Kulla, 1996).

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5- O assédio moral e a saúde do trabalhador

Até 1988, no Brasil, a Saúde era um benefício previdenciário, um serviço

comprado na forma de assistência médica ou uma ação de misericórdia oferecida à

parcela da população que não tinha acesso à previdência ou recursos para pagar

assistência privada. Em meados de 1970, surge o Movimento de Reforma Sanitária,

propondo uma nova concepção de Saúde Pública para o conjunto da sociedade

brasileira, incluindo a Saúde do Trabalhador.

Saúde e qualidade de vida são dois conceitos, que estão presentes hoje em todos

os contextos: família, escola, trabalho, mídia.

De acordo com o Ministério da Saúde a Política Nacional de Saúde do Trabalhador,

que está em vigor desde 2004, visa à diminuição dos acidentes e doenças

adquiridas no ambiente de trabalho, mediante a execução de ações de promoção,

reabilitação e vigilância na área de saúde. Uma área de estudo recente é a

denominada Saúde do Trabalhador.

Atualmente, existe uma visão mais favorável ao trabalhador, visão que perpassa por

uma perspectiva bio-psico-social, preocupada com a promoção e prevenção da

saúde.

Um dos grandes problemas é ausência de preocupação, por grande parte de

empregadores, quanto à saúde de seus funcionários. Os empregadores em muitos

casos não estão preocupados com o bem estar de seus funcionários e sim com a

sua produtividade, muitas vezes gerando ambientes de trabalho muito estressantes,

jornada de trabalho ampliada, desvalorização profissional e, em conseqüência,

desigualdades salariais, sobrecarga de trabalho são apenas alguns dos fatores que

estão na etiologia de inúmeras doenças que atingem os trabalhadores. Por outro

lado, o próprio adoecimento caracteriza-se como um fator de risco à permanência do

trabalhador em seus empregos.

Além disso, como lidar com situações que agridem que têm como alvo determinados

trabalhadores?

Com a influência do assédio moral, o trabalhador humilhado sofre de angústia,

depressão, podendo chegar até ao suicídio. Isto significa que o assédio moral

procede de um reflexo muito sério naqueles que sofrem de assédio.

A literatura referente ao assunto alerta para casos de profundo adoecimento do

trabalhador, como consequência do assédio moral. Sem poder se desvencilhar da

situação, sobretudo por dependência financeira, a pessoa é submetida

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constantemente a exposições, mantendo uma postura passiva que, por outro lado,

gera inúmeros problemas não só de saúde física e psíquica, mas também adoecem

as relações de trabalho e as relações pessoais.

É importante registrar que o assédio moral em si não é uma doença dos ambientes

de trabalho, mas caracteriza-se como um conjunto de ações que podem gerar

doenças físicas ou psíquicas, quer em ambientes de trabalho hostis, fato muito

comum, ou em qualquer outro tipo de instituição: família, igreja, comunidade, etc.

O assédio nas organizações, no caso em empresas, é muito comum, pois ambientes

desumanos e competitivos, decorrentes do modo de viver capitalista, causam

conseqüências sobre o trabalhador. Neste contexto, o assédio moral cresce numa

abundância causando danos à saúde individual e coletiva.

Efetivamente a saúde do trabalhador está relacionada à produtividade, pois para

produzir é preciso ter trabalhadores saudáveis, trabalhando com qualidade.

De acordo com Silva (2000), o número de doenças diretamente relacionadas com o

estresse está aumentando, e, simultaneamente, a preocupação sob formas de

prevenção e cura.

O trabalho mesmo quando realizado com perseverança, exige esforço, capacidade

de concentração, de raciocínio, implica desgaste físico e/ou mental, atuando na

qualidade de vida.

Desempenhar ações de saúde do trabalhador, do ponto de vista da saúde, é

principalmente realizar prevenção, compreendendo entre outras, ações de vigilância,

de inspeção e de fiscalização dos ambientes de trabalho.

De acordo com Oliveira (1996), em um estado democrático de direito é

inquestionável o papel do controle social e, na área de Saúde do Trabalhador, este

controle só se dará na medida em que os trabalhadores forem sujeitos das ações

referentes à sua saúde.

Não se pode esquecer de que o trabalhador, além de ser empregado da empresa,

tem outras responsabilidades, quer como parte integrante de uma família e/ou como

membro de outra instituição e como ser humano precisa divertir-se e descansar. Ou

seja, tem a sua vida particular.

O trabalhador deve ser tomado como um cidadão que tem o direito de manifestar os

domínios de sua existência, pois o impedimento disso pode ocasionar vários danos

à saúde.

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Geralmente quando os trabalhadores adoecem são responsabilizados pela queda de

produção, desqualificação profissional que levam a demissão e conseqüentemente o

desemprego. São comportamentos como estes que reforçam o medo e aumenta a

submissão.

O assédio moral acontece com o objetivo de excluir e destruir alguém de forma

perversa, causando baixa auto-estima e sofrimento mental.

Portanto, ao considerar qualidade de vida no trabalho, de forma a englobar aspectos

de bem-estar e saúde biopsicossocial, devem-se tomar medidas de prevenção e

tratamento para que esses estados não afetem a organização de maneira a impedir

a produtividade e o desenvolvimento, nem mesmo ao indivíduo na sua saúde e

qualidade de vida.

Entre as inúmeras doenças que o assédio moral pode trazer a síndrome de burn-out,

se destaca, a síndrome de burn-out é o diagnóstico encontrado em trabalhadores

que são normalmente assediados e que acabam por desestruturar-se como ser

humano integral, sendo levado a um sentimento de ruína emocional, isolamento

afetivo e dificuldades intensas no convívio com a família e amigos, e tudo pela via do

meio ambiente doentio no trabalho.

O termo burn-out advém do inglês e tem o significado de burn = queima e out =

exterior. A síndrome de burn-out é uma doença ocupacional, e pode ser uma

conseqüência do assédio moral. Ela é caracterizada pelo esgotamento físico,

psíquico e emocional em conseqüência das condições excessivas de estresse no

ambiente de trabalho, causando distúrbios mentais e psíquicos seguido de: stress,

hipertensão arterial, perda de memória, ganho de peso e depressão entre outros

problemas.

A síndrome do esgotamento profissional não acontece da noite para o dia:

desenvolve-se lentamente, por um longo período.

De acordo com Pereira (2004, p 37):

De forma geral, toda e qualquer atividade pode vir a desencadear um

processo de burn-out, no entanto, algumas profissões têm sido

apontadas como mais predisponentes por características peculiares

das mesmas. As ocupações cujas atividades estão dirigidas a

pessoas e que envolvam contato muito próximo, preferentemente de

cunho emocional, são tidas de maior risco ao burn-out. Assim sendo,

têm-se encontrado um número considerável de pessoas que se

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dedicam à docência, enfermagem,medicina, psicologia, policiamento, etc.

É importante destacar que a síndrome de burn-out não traz consequências apenas

para o individuo que a padece. Com a regressão na qualidade do trabalho,

constantes faltas, e outras características, acabam por atingir também os colegas de

trabalho e a instituição, podem oprimir ou ser oprimidos.

5.1- Como as vitimas reagem com o assedio moral?

Como ficam as pessoas que passam por esse trauma?

É possível recomeçar?

Como esse processo pode atingir pessoas tão seguras e competentes?

A pesquisa de Field (2004) mostrou que a reação das vítimas passa por sete

estágios:

1) impacto inicial - a vítima percebe que algo está errado, que os ataques não são

justos;

2) tentativa fracassada de acabar com a situação de assédio - a vítima confronta o

agressor e envolve a organização, mas a organização nega ou minimiza as

acusações;

3) busca de validação ou justiça – muitas vítimas sentem-se humilhadas e buscam

validação externa de que são bons empregados, que não fizeram nada errado;

4) identificando e lidando com as injúrias - a vítima identifica o agressor e fica

obcecada com ele, torna-se mais desconfiada e confia menos nas pessoas;

5) aceitação da experiência - a vítima aceita todas as mudanças que ocorreram na

sua vida desde que o assédio começou, aceita a verdade do processo e das

injustiças por que talvez tenha passado;

6) processo de luto - luto da perda de emprego, da perda de saúde, mudança de sua

personalidade etc;

7) torna-se um sobrevivente - lentamente começa a reconstruir sua vida, com um

novo “começo”.

Segundo Niedl (1996), a maioria das vítimas primeiramente reage de maneira

construtiva (assegura sua lealdade à empresa etc.); depois, ao perceberem que a

solução do problema não é possível, suas reações tornam-se destrutivas tais como

sair da empresa ou a redução de seu comprometimento com a organização.

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Segundo Niedl (1996), a maioria das vítimas primeiramente reage de maneira

construtiva (assegura sua lealdade à empresa etc.); depois, ao perceberem que a

solução do problema não é possível, suas reações tornam-se destrutivas tais como

sair da empresa ou a redução de seu comprometimento com a organização. A

pesquisa de Djurkovic, McCormack e Casimir (2005) confirma esta afirmação,

mostrando que as reações das vítimas ao assédio podem ser descritas como sendo:

1) evitar o conflito;

2) assertividade, ou seja, enfrentar o agressor;

3) procurar ajuda formal. A maioria das vítimas reporta usar a tática de “evitar” o agressor e o conflito,

mais do que as outras duas opções. As vítimas tendem a apoiar-se em táticas de

resolução do conflito e usam “evitar” ou “apoio social” se a tática de resolução do

conflito não funcionar.

A pesquisa de Piñuel y Zabala (2004) com funcionários públicos desnudou as

estratégias mais usadas para fazer frente a uma situação de assédio moral

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6- AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL

A maior importância de se ter idéia da consequência do assédio moral é que se

possa realmente denominar a lesão causada ao assediado, a fim de que numa

eventual reclamação trabalhista possa ser devidamente indenizado pelos prejuízos

que foram lhe causados.

Quando falamos em consequências do assédio moral a primeira que vem em

nossas mentes é quanto a sua saúde física, porém as consequências vão muito

mais além, e acabam por afetar outras áreas como a vida social e econômica da

pessoa e ainda afeta a produtividade da empresa e a sociedade de maneira geral.

Os danos à saúde do empregador são os mais variados possíveis, e aparecem de

acordo com o assédio aplicado e de acordo com o perfil do assediado.

Cecchin (2006, p. 148), discorre sobre os danos a saúde física e mental da vitima de

assédio moral:

Há um sistêmico e constante abalo físico e mental da vitima humilhada.

Nesta investida o assediador é capaz das mais inusitadas atitudes perversas. Deteriora propositadamente as condições de trabalho, isola a vitima

recusando-se se comunicar com ela, desqualifica-a para atingir a dignidade de sua alma. Não satisfeito, pode partir para as violências verbais, físicas e até sexual. Como conseqüência dessa barbárie, os sintomas e alterações

físico-biológicas são constantes podendo levar a vitima a óbito.

Ainda Cecchin (2006, p. 148), relata sobre alguns efeitos causados pelo assédio moral: ⇒ Dificuldades emocionais: irritação constante, falta de confiança em si, cansaço exagerado, diminuição da capacidade de enfrentar o estresse, pensamentos repetitivos. ⇒ Alteração do sono: dificuldades para dormir, pesadelos, interrupções freqüentes do sono, insônia. ⇒ Alteração da capacidade de concentrar-se e memorizar (amnésia pscógena, diminuição da capacidade de recordar os acontecimentos). ⇒ Anulação dos pensamentos ou sentimentos que relembrem a tortura psicológica como forma de se proteger e resistir. ⇒ Anulação de atividades ou situações que possam recordar a tortura psicológica. ⇒ Diminuição da capacidade de fazer novas amizades. Morte social:

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redução do afeto, sentimento de isolamento ou indiferença com respeito ao sofrimento alheio. Tristeza profunda. ⇒ Interesse claramente diminuído em manter atividades consideradas importantes

anteriormente.

⇒ Sensação negativa do futuro. Vivencia depressiva.

⇒ Mudança de personalidade, passando a praticar a violência moral.

⇒ Sentimentos de culpa, pensamento suicida, tentativa de suicídio.

⇒ Aumento de peso ou emagrecimento exagerado. Distúrbios digestivos,

hipertensão arterial, tremores, palpitações.

⇒ Aumento do consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas.

⇒ Diminuição da libido.

⇒ Agravamento de doenças pré-existentes, como dores de cabeça.

⇒ Estresse na maioria dos casos.

Segundo Hirigoyen (2002, p. 159), o assédio moral na maioria das vezes leva

à saída da vitima do emprego, num estado de saúde muito debilitado, ficando sem

condições físicas e mentais para se realocar no mercado de trabalho. Sua pesquisa

mostra os seguintes números: em 36% dos casos a vitima é desligada da empresa;

20% destes a demissão vêm em decorrência de falhas no trabalho; 9% a demissão

é negociada; 7% a pessoa é quem pede demissão; e 1% trata-se de pré-

aposentadoria. Consequência essa, visto que a pessoa poderá não mais ter

condições de voltar a trabalhar, e o terror aumenta por ser este o único meio do

sustento de sua família, tornando muitas vezes a doença mais grave.

As consequências não se limitam à vida do empregado, a empresa também acaba

sentindo os reflexos. Não é tão difícil deduzir que um empregado que é pressionado,

assediado e mantém seu psicológico abalado vai diminuir sua produtividade,

diminuindo

conjuntamente a da empresa onde trabalha e muitas vezes desmotivando os demais

companheiros de trabalhado que presenciam a situação (FERREIRA, 2004, p. 92).

Conforme estudo desenvolvido nos Estados Unidos, empregadores tomaram

consciência de que os transtornos mentais advindos de más condições de trabalho

significavam elevação de custo. Obviamente que nesse caso a empresa sofre muito,

pois deixa de ganhar em números e ainda deve aumentar os custos com novas

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contratações na substituição de pessoal. Percebeu-se com isso, a relação existente

entre saúde mental e produtividade.

Com relação à consequência econômica que assola a sociedade de maneira geral,

se fazem referência aos benefícios previdenciários temporários ou muitas vezes

permanentes, que sobrecarregam a Previdência Social e ainda o aumento dos

custos na área da saúde.

Torna-se o problema de todos, visto que é crescente o gasto com esse tipo de

problema, problema esse que poderia ser evitado, se fosse usado bom senso.

Contudo, podemos dividir então as consequências em: consequências para o

empregador; consequências para o empregado assediado; e, por fim, consequência

para o empregado assediante.

6.1 Consequências para o empregador

Justa causa do empregador – rescisão indireta

A rescisão indireta ou dispensa indireta, é uma forma de cessação do contrato de

trabalho. Ocorre quando o empregador comete ato grave contra o empregado, que

devido a essa falta, pode pedir a rescisão do contrato.

O artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho relaciona essas faltas graves

que dão origem à rescisão indireta:

Art. 483. O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida

indenização quando:

a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos

bons costumes, ou alheios ao contrato [...]

Entende-se como sendo a exigência de trabalhos físicos ou intelectuais

inapropriados à idade, saúde ou habilidades que o empregado não possui, como

dispõe o art. 390 e § 5º do rt. 490 da CLT.

Ao tratar-se do rigor excessivo na alínea b, o legislador se refere como sendo atos

de perseguição e intolerância ao empregado, através de repressões, medidas

disciplinares sem causa ou desproporcionais ao ato cometido.

O Mal Considerável tratado na alínea “c”, é a exposição do empregado a riscos a,

sua vida e integridade física, em virtude da falta de cumprimento das normas de

higiene e segurança do trabalho.

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A alínea “d” se refere ao descumprimento das cláusulas do contrato de trabalho,

bem como de todas as Normas Legais; Constituição Federal, C.L.T., Normas

Coletivas de Trabalho.

Na alínea “e” expõe o legislador: “praticar o empregador ou seus prepostos, contra

ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama”. O ato lesivo da

honra e boa fama são atos de acusações de calúnia, injúria ou difamação contra o

empregado ou entes familiares.

O empregado poderá considerar rescindido o contrato, ainda, conforme a alínea “o

empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de

legítima defesa, própria ou de outrem”; As ofensas físicas tratadas neste são atos de

agressão física contra o empregado, pelo empregador, superior hierárquico ou

mesmo outrem a mando do empregador ou superior hierárquico.

Por ultimo a alínea g que trata da redução do trabalho, dispõe “o empregador reduzir

o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a

importância dos salários.” Nesse caso trata-se do ato de deixar propositadamente o

empregado na ociosidade, quando percebe por comissões ou tarefa, ou mesmo

afastado do trabalho com percepção de salários, afetando sensivelmente sua

dignidade humana e deixando-o frustrado por receber sem trabalhar.

Estabelece o parágrafo 1º do artigo 483 da CLT que: “empregado poderá suspender

a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar

obrigações legais, incompatível com a continuação do serviço”.

O parágrafo 3º do referido artigo, elenca as hipóteses das alíneas “d” e “g” expõe

que: Art. 483. [E] § 3º. Nas hipóteses das letras “d” e “g”, poderá o empregado

pleitear a rescisão do seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas

indenizações , permanecendo ou não no serviço ate final decisão do processo.

d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;

g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a

afetar sensivelmente a importância dos salários.

Para o reconhecimento da Justa Causa do Empregador e a consequente rescisão

indireta do contrato de trabalho, o empregado deve ajuizar Reclamação Trabalhista

perante a Justiça do Trabalho, podendo ou não se manter trabalhando, porém se

sair do emprego, deve comunicar o motivo ao empregador, caso contrário poderá

caracterizar abandono de emprego.

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6.2 Consequências para o empregado assediado

As palavras e gestos que são dirigidos ao assediado com intuito de humilhá-lo,

fazem com que seja invadido tanto a sua vida íntima como profissional, destacamos

abaixo as

principais consequências do assédio moral:

a) Prejuízos a saúde física e psíquica – gera grande tensão psicológica, isolamento

da vitima que passa a se sentir culpada, a sentir dúvida sobre suas origens, sentir

angústia, medo, palpitações, insônia, extremo cansaço, ansiedade, irritabilidade,

dores de cabeça e autovigilância acentuada. Desarmoniza as emoções e provoca

danos à saúde física e mental somadas ao estresse.

b) Prejuízos no convívio familiar e social – o assédio gera um ambiente tenso,

muitas vezes para tentar esquecer as humilhações que vem sofrendo e por se sentir

inferior a todos, assediado se isola da família procurando refúgio no álcool e outras

drogas, com isso interrompendo vários casamentos, dessa forma a família também

sofre os reflexos do assédio.

c) Baixa auto-estima pessoal e profissional – como o assediador busca atingir

principalmente a auto-estima do assediado, este fica com ela em baixa, ficando

inseguro quanto a sua competência, e provavelmente terá problemas com uma

realocação no mercado de trabalho, caso saia da empresa.

d) Aumento ou queda da produtividade – como já abordado anteriormente um

funcionário insatisfeito em seu ambiente de trabalho, terá uma produtividade baixa.

Porém, existe a possibilidade de ocorrer o contrário, devido o medo da demissão o

assediado começa a fazer uma carga de trabalho excessiva, levando-o a um

desgaste físico, cansaço e depressão.

Diante das consequências narradas, é difícil perceber logo de início uma pessoa que

esteja sendo assediada pelas suas mudanças de comportamento, pois este se trata

de um processo que vai se intensificando de acordo com a evolução do próprio

processo de assédio moral empregado.

6.3 Consequências para o empregado assediante

O assediante poderá ser dispensado por justa causa se preencher os requisitos

tipificados no artigo 482 da CLT e suas alíneas “b”, “j” e “k”.

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Dispõe o artigo 482 da CLT: “constituem justa causa para rescisão do contrato de

trabalho pelo empregador: b) incontinência de conduta ou mau procedimento [...].”

Podemos caracterizar como mau procedimento, ato que é praticado pelo funcionário

que tornando impossível a sua convivência com os demais colegas de trabalho,

como por exemplo, usar palavras ofensivas, brincadeiras desagradáveis e

humilhantes. Quanto à incontinência da conduta, é aquele comportamento contrário

à moral e à vida sexual, como por exemplo, atos de desvios de conduta sexual,

abusivos no meio de trabalho.

Art. 482. [...]

j) ato lesivo a honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou

ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legitima defesa, própria

ou de outrem;

k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o

empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legitima defesa, própria ou

de outrem.

Neste caso, refere-se ao assédio moral ascendente e horizontal, podendo ser

praticado ato lesivo à honra e boa fama tanto pelo superior hierárquico ou pelo

empregado. Segundo Martins (2006, p. 365): Os atos mencionados quanto à honra e

boa fama do empregador ou superior hierárquico, ou de qualquer pessoa, originam

calunia, injuria e difamação,podendo ser praticados por palavras e gestos.

Importante salientar que a legitima defesa excluirá a justa causa.

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7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao findar o assunto do assédio moral, podemos chegar à conclusão de que o

assédio moral é uma forma contínua de humilhação que é feita por superior

hierárquico ou qualquer pessoa relacionada ao seu ambiente de trabalho, com o fim

específico de afastar a vítima do local de trabalho. Sendo que dessa forma as

empresas se livram dos trabalhadores indesejados sem arcar com a despesa gerada

pela demissão sem justa causa, como as verbas trabalhistas.

Com o objetivo de buscar o conceito para Assédio Moral, ressalta-se a abrangência

que esse fenômeno desperta nas pessoas. O grau de incidência deve ser medido de

acordo as consequências que a manifestação desse evento causou.

O termo assédio moral, embora já exista há muitos anos, de acordo com a

constatação de Hirigoyen (2002), passou a ser evidenciado há pouco tempo no

cotidiano dos colaboradores, isto graças ao apoio dos sindicatos, veiculação de

reportagens jornalísticas nos órgãos da imprensa, de pesquisas científicas e artigos

acadêmicos desenvolvidos, que abriram um canal de discussão e alerta sobre este

tema.

O assédio moral não é exclusivo da relação de trabalho. É nesse ambiente que há a

manifestação mais expressiva do Assédio Moral, pelos seguintes motivos: a

fiscalização exercida pelos sindicatos organizados que o denunciam ao Poder

Judiciário, que está ligado ao Direito do Trabalho, bem como pelos representantes

dos empregadores que, preocupados com as consequências incidentes nos

trabalhadores em que geram prejuízo, resolvem dar-lhes mais atenção, fazendo com

que esta ocorrência seja controlada, com vistas a atingir a sua eliminação.

Embora nossa legislação não trate de maneira específica sobre o assédio moral,

este é uma violação ao contrato de trabalho, tanto na forma ativa como omissiva,

pois ao se estabelecer em uma empresa, mesmo que não seja pelo empregador é

porque esta empresa permite, ou não trata o assunto com represálias. Pois, cabe à

empresa zelar pelo ambiente de trabalho, proporcionando aos seus funcionários um

ambiente sadio.

Assim, para que reste comprovado o fenômeno, basta a conduta do empregador

caracterizando o assédio moral, independente dos danos causados ao trabalhador,

se físicos ou psicológicos, devendo ser reconhecido ou comprovado, para que o

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empregado possa pedir a rescisão indireta ou pleitear uma justa indenização devida

à condição degradante a que foi submetido, tendo violada sua dignidade.

Ao agregar à expressão “assédio”, a palavra “moral”, na justificativa de Hirigoyen

(2002, p.15), seria a de que haveria uma qualificação psicológica, fundamentada em

estudos sobre os mecanismos psicológicos utilizados quando da manifestação

desse fenômeno. Entende a autora que esta decisão da adoção do termo “moral”

implicaria numa tomada de posição em que “trata-se efetivamente de bem e de mal,

do que se faz e do que não se faz, e do que é considerado aceitável ou não em

nossa sociedade” (HIRIGOYEN, 2002, p.15). Razão pela qual optou-se por adotar

um conceito de moral e ética para condução desta pesquisa. Isso é justificável em

razão do fato de que a incidência do Assédio Moral gera o

desrespeito à dignidade humana, e, por conseguinte, o abalo às questões morais e

éticas atribuídas ao trabalhador. E se não houver uma providência imediata contra a

crescente incidência do Assédio Moral, haverá prejuízo aos princípios que têm como

objetivo a Proteção ao Trabalho.

Como reflexão final importa chamar à atenção para a necessidade de se disseminar

mais informações sobre o Assédio Moral, de modo geral, e, sobretudo, nas

organizações, já que se caracteriza como um palco privilegiado para este tipo de

violência. Além disso, uma organização preocupada com condições de saúde de seu

trabalhador deve investir em políticas de prevenção que perpassem pelo trabalho

técnico qualificado e direcionado ao tema.

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