O estresse e as doenças psicossomáticas

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    Jornal Interno da SadeEngenharia/IETEG/IETR/CMSCPR

    navarro/2005 @ ABC da Sade

    (O Jornal Interno da Sade um documento interno do SMS daEngenharia/IETR/IEABAST/CMSCPR/QSMS, desenvolvido com o objetivo de levar

    aos colegas de trabalho informaes teis sobre o tema da Sade. As informaesaqui contidas no se destinam a prescrever medicamentos e nem induzir os colegas aautomedicao. Quem deve avaliar o estado clnico e medicar o MdicoEspecialista. Portanto, ao sentirem que as coisas no esto bem procurem logo umMdico. Somente ele poder avaliar seu estado clnico e prescrever o medicamentoou o exame necessrio)

    Assunto da Semana: O estresse e as doenas psicossomticas

    1) INTRODUO

    As doenas psicossomticas surgem como conseqncia de processos psicolgicos e mentais do

    indivduo desajustados das funes somticas e viscerais e vice-versa. Caracterizam-se aspossibilidades de distrbios de funo e de leso nos rgos do corpo, devido ao mau uso e aoefeito degenerativo, e descontroles dos processos mentais. Diferenciam-se neste ponto dasdoenas mentais, em que o mau desempenho no opcional.

    Distrbios emocionais desempenham papel importante, precipitando incio, recorrncia ouagravamento de sintomas, distinguindo das doenas puramente orgnicas. Porm, elas podem setransformar em doenas crnicas ou ter com um curso fsico. Tendem a associar-se com outrosdistrbios psicossomticos. Isso pode ocorrer numa famlia, em diferentes perodos da vida de umpaciente ou em certos ambientes de trabalho e at de lazer. Mostram grande diferenas deincidncia nos dois sexos. Assim, asma duas vezes mais freqente nos meninos do que nasmeninas, antes da puberdade, depois, menos comum nos homens do que nas mulheres. A

    lcera do duodeno manifesta-se mais em homens, e a doena de Basedow, mais em mulheres.

    2) O CONCEITO DE ESTRESSE

    A palavra estresse quer dizer "presso", "tenso" ou "insistncia", portanto estar estressado querdizer "estar sob presso" ou "estar sob a ao de estmulo insistente". importante no confundirestado fsico de estresse com estado de alarme de Cannon, pois h alguns critriosestabelecidos para que se possa assumir que um indivduo est estressado e no simplesmentecom alerta temporria. Chama-se de estressor qualquer estmulo capaz de provocar oaparecimento de um conjunto de respostas orgnicas, mentais, psicolgicas e/oucomportamentais relacionadas com mudanas fisiolgicas padres estereotipadas, que acabamresultando em hiperfuno da glndula supra-renal e do sistema nervoso autnomo simptico.

    Essas respostas em princpio tem como objetivo adaptar o indivduo nova situao, gerada peloestmulo estressor, e o conjunto delas, assumindo um tempo considervel, chamado deestresse. O estado de estresse est ento relacionado com a resposta de adaptao.

    O estresse essencialmente um grau de desgaste no corpo e da mente, que pode atingir nveisdegenerativos. Impresses de estar nervoso, agitado, neurastnico ou debilitado podem serpercepes de aspectos subjetivos de estresse. Contudo, estresse no implica necessariamenteuma alterao mrbida: a vida normal tambm acarreta desgaste na mquina do corpo. Oestresse pode ter at valor teraputico, como o caso no esporte e no trabalho, exercidosmoderadamente. Assim, uma partida de tnis ou um beijo apaixonado podem produzirconsidervel estresse sem causar danos de monta.

    O estresse produz certas modificaes na estrutura e na composio qumica do corpo, quepodem ser avaliadas. Algumas dessas modificaes so manifestaes das reaes deadaptao do corpo, seu mecanismo de defesa contra o estressor; outras j so sintomas de

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    leso. No conjunto dessas modificaes o estresse denominado sndrome de adaptao geral(SAG), termo cunhado por Hans Selye, o criador e pesquisador que levantou pioneira e

    profundamente a questo.

    2.1) Doena de adaptao

    A todo instante estamos fazendo atividades de adaptao, ou seja, tentativas de nos ajustarmoss mais variadas exigncias, seja do ambiente externo, seja do mundo interno, atingindo estevasto mundo de idias, sentimentos, desejos, expectativas, sonhos, imagens, que cada um temdentro de si. Selye demonstrou, em trabalhos publicados a partir de 1936, que o organismoquando exposto a um esforo desencadeado por um estmulo percebido como ameaador homeostase, seja ele fsico, qumico, biolgico ou mesmo psicossocial, apresenta a tendncia deresponder de forma uniforme e inespecfica, anatmica e fisiologicamente A esse conjunto dereaes inespecficas na qual o organismo participa como um todo, ele chamou de SndromeGeral de Adaptao. Esta sndrome consiste em trs fases: Reao de Alarme, Fase deResistncia e Fase de Exausto. No necessrio que a fase se desenvolva at o final para quehaja o estresse e evidentemente s nas situaes mais graves que se atinge a ltima fase, a deexausto.

    A Reao de Alarme subdivide-se em dois tempos: choque e contra-choque. Parte dessa reaoassemelha-se Reao de Emergncia de Cannon. Ele percebeu que quando um animal erasubmetido a estmulos agudos ameaadores da homeostase, inclusive medo, raiva, fome e dor, oanimal apresentava uma reao em que se preparava para a luta ou fuga. Esta reaocaracteriza-se por:

    a) aumento da freqncia cardaca e da presso arterial, para permitir que o sangue circule maisrapidamente e portanto, para chegar aos msculos esquelticos e crebro mais oxignio enutrientes e facilite a mobilidade e o movimento;

    b) contrao do bao, levando mais glbulos vermelhos corrente sangunea, acarretando maisoxignio para o organismo particularmente nas reas estrategicamente favorecidas;

    c) o fgado libera glicose armazenado na corrente sangunea para que seja utilizado comoalimento e, conseqentemente, mais energia para os msculos e crebro;

    d) redistribuio sangunea, diminuindo o fluxo para a pele e vsceras, aumentando paramsculos e crebro;

    e) aumento da freqncia respiratria e dilatao dos brnquios, para que o organismo possacaptar e receber mais oxignio;

    f) dilatao pupilar e exoftalmia,isto , a protuberncia do olho para fora do globo ocular, para

    aumentar a eficincia visual;g) aumento do nmero de linfcitos na corrente sangunea, para reparar possveis danos aostecidos por agentes externos agressores.

    Tais reaes so desencadeadas por descargas adrenrgicas da medula da glndula supra-renale de noradrenalina em fibras ps-ganglionares do sistema nervoso autnomo simptico Emestudos realizados com seres humanos, Funkestein descobriu que a raiva dirigida para foraestava associada secreo de noradrenalina, enquanto a depresso e a ansiedade associava-se a uma secreo de adrenalina. Paralelamente, acionado o eixo hipotlamo-hipfise-supra-renal que desencadeia respostas mais lentas e prolongadas e que desempenha um papel crucialna adaptao do organismo ao estresse a que est sendo submetido. O estmulo agudo provoca asecreo no hipotlamo do hormnio "corticotrophin releasing hormone", que por sua vez

    determina a liberao de ACTH da adeno-hipfise, alm de outros neuro-hormnios e peptdeoscerebrais, como as beta-endorfinas, STH, prolactina etc. O ACTH desencadeia a sntese e asecreo de glicocorticides pelo crtex da supra-renal. Estabelece-se ento um mecanismo de

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    feedback negativo com os glicocorticides atuando sobre o eixo hipotlamo-hipofisrio. Estasreaes so mediadas pelo sistema diencfalo-hipofisrio, visto que no surgem em animais de

    experimentao que tiveram a hipfise ou parte do diencfalo destrudos. Se os agentesestressantes desaparecerem, tais reaes tendem a regredir; no entanto, se o organismo obrigado a manter seu esforo de adaptao, entra em uma nova fase, que chamada Fase deResistncia, que se caracteriza basicamente pela reao de hiperatividade crtico-supra-renal,sob mediao diencfalo-hipofisria, com aumento volumtrico do crtex da supra-renal, atrofia dobao e de estruturas linfticas, leucocitose, diminuio de eosinfilos e ulceraes.

    Se os estmulos estressores continuarem a agir, ou se tornarem crnicos e repetitivos, a respostabasicamente se mantm, mas com duas caractersticas: diminuio da amplitude e antecipaodas respostas. Poder ainda haver falha nos mecanismos de defesa, com desenvolvimento daterceira fase, que a de Exausto, com retorno Fase de Alarme de Cannon, dificuldade namanuteno de mecanismos adaptativos, perda de reserva energtica e morte.

    As reaes de estresse resultam, pois, de esforos de adaptao. No entanto, se a reao aoagressor for muito intensa ou se o agente do estresse for muito potente e/ou prolongado, poderhaver, como conseqncia, doena ou maior predisposio ao desenvolvimento de doenas. Poisa reao protetora sistmica desencadeada pelo estresse pode ir alm da sua finalidade e darlugar a efeitos indesejveis, devido perda de equilbrio geral dos tecidos e rgos e defesaimunolgica do organismo. oportuno lembrarmos mais uma vez Levi (1971): "o ser humano capaz de adaptar-se ao meio ambiente desfavorvel, mas esta adaptao no ocorreimpunemente". O perigo parece ser maior nas situaes em que a energia mobilizada peloestresse psicoemocional no pode ser consumida. Alis, Seyle nos lembra que as doenas deadaptao so predominantemente conseqncias do excesso de reaes de submisso.

    As colocaes acima podem ser mais facilmente comprovadas nas doenas em que notoriamenteh um componente de esforo de adaptao, como, por exemplo, nas lceras digestivas, nasalteraes da presso arterial, crises hemorridicas, alteraes inflamatrias do aparelhogastrintestinal, alteraes metablicas vrias etc.

    O estresse pode ser fsico, emocional ou misto. O estresse misto o mais comum, pois o estressefsico (associado a eventos como cirurgias, traumatismos, hemorragias e leses em geral)compromete tambm o emocional j que a dor induz a estados emocionais bastante intensos. Oestresse emocional resulta de acontecimentos que afetam o indivduo psiquicamente ouemocionalmente, sem que haja relao primria com leses orgnicas. O estresse misto seestabelece quando uma leso fsica acompanhada de comprometimento psquico (emocional)

    ou vice-versa.

    hman, Esteves e Parra (1995) apontam trs categorias de acontecimentos estressantes. Naprimeira categoria encontram-se aqueles que impem grandes exigncias capacidade deenfrentamento de uma pessoa e ocorrem com pouca freqncia, como por exemplo, a morte deum ente querido, a perda de um emprego, ser aprisionado etc. Os pequenos acontecimentosestressantes, chamados de problemas do cotidiano constituem a segunda categoria e acontecemcom maior frequncia na vida das pessoas. Na terceira categoria encontram-se os conflitoscontnuos da vida: problemas de casais, desemprego prolongado,dificuldade de educar os filhos,etc.

    Entretanto, as pessoas diferem quanto sua forma de reagir aos desafios impostos pela vida.

    Enquanto algumas so capazes de superar uma perda altamente significativa, outros podem darincio a um transtorno psiquitrico diante de um acontecimento estressante de menor gravidade.

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    Assim, as variveis individuais desempenham um papel decisivo na formao de um problemapsicopatolgico.

    Alm dos acontecimentos estressantes da vida, Barlow (1993) sugere a existncia de umavulnerabilidade biolgica e uma vulnerabilidade psicolgica necessrias para a formao de umtranstorno de ansiedade.

    A vulnerabilidade biolgica refere-se a uma tendncia herdada a manifestar ansiedade. Algumaspessoas reagem com uma ativao fisiolgica maior aos acontecimentos estressantes. Mas essaresposta fisiolgica pouco especfica, no determina por si s, se uma pessoa desenvolvertranstorno de ansiedade ou que tipo de transtorno de ansiedade ou que tipo de transtorno poderocorrer.

    A vulnerabilidade psicolgica corresponde a uma percepo de imprevisibilidade em relao aomundo, que aprendida, a partir da relao familiar e das experincias de vida. Assim, se umapessoa possui o componente biolgico e desenvolve o componente psicolgico, ela estarpredisposta a sofrer de um transtorno de ansiedade, partir do momento em que surgirem osacontecimentos estressantes da vida, os quais funcionam com o estmulo disparador que conduza um transtorno de ansiedade.

    2.2) Relao com doenas digestivas

    O sistema gastrointestinal especialmente sensvel ao estresse geral. A perda de apetite umdos seus primeiros sintomas, devido paralisao do trato gastrointestinal sob ao simptica, epode ser seguido por vmitos, constipao e diarria, no caso de bloqueios emocionais. Sinais de

    irritao e perturbao dos rgos digestivos podem ocorrer em qualquer tipo de estresseemocional.

    geralmente sabido que as lceras gstricas so registradas com maior freqncia em pessoasque so desajustadas em seu trabalho e que sofrem de tenso e frustrao constantes. O Dr.Gray demonstrou que pacientes sob estresse secretam uma quantidade considervel dehormnios digestivos ppticos na sua urina, isso indica que os hormnios do estresse aumentama produo de enzimas ppticas, ou seja, a lcera parece ser produzida com o aumento do fluxodos sucos cidos, causado pelas tenses emocionais, no estmago, que se encontradesprotegido do muco protetor secretado em estado de homeostase, sob ao do sistemanervoso autnomo parassimptico. A conexo entre distrbio emocional, secreo gstrica elceras est bem documentada. Um estudo recente entre 2000 recrutas do exrcito americano

    mostrou que aqueles que apresentavam, durante o exame fsico inicial, distrbio emocional esecreo gstrica excessiva vieram a desenvolver lceras, mais tarde, sob o peso da vida militar.

    Estudos de lceras em macacos mostraram que, aparentemente, tenso emocional provocalceras se seu perodo coincide com algum ritmo natural do sistema gastrointestinal, na sua fasede bloqueio. O experimento realizado colocava dois macacos em "cadeiras restritivas" individuaise tentava-se condicion-los a evitar um choque eltrico pressionando uma alavanca. Somente omacaco "executivo" poderia evitar que ele e o outro macaco "controle" no recebessem choqueeltrico. O macaco "controle" diante de uma alavanca falsa no apresentou nenhum sinal delcera, j o macaco "executivo" depois de certo tempo de experimento morreu, a autpsia revelougrandes lceras no duodeno. Esse macaco era o nico que estava sob tenso emocional dianteda alavanca que poderia evitar os choques eltricos. O ritmo mais eficiente para produzir lcera foi

    o de 6 horas.

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    Para finalizar devemos ressaltar que foi encontrado tambm uma bactria, helicobater pilori, que tambm uma das causas de perfurao ulcerante.

    2.3) Relao com cncer

    "Cada um tem sua prpria participao na sade ou na doena, a todo o momento. Os doentesparticipam de sua prpria recuperao." Essa forma de pensar no pretende desfazer, de formaalguma, dos mdicos; ela apenas ensina o que pode ser feito em conjunto, entre mdico epaciente para a recuperao da sade.

    Os Simonton, dirigem o Cancer Counseling and Research Center de Dallas, Texas. Carl ummdico radioterapeuta, especializado no tratamento do Cncer. Stephanie formada emPsicologia. Eles defendem a idia de que as doenas somtico-viscerais sofrem grande influnciapsicolgica.

    Ao tratarem de vrios casos de doentes com Cncer, eles puderam observar que a vontade deviver influencia na expectativa de vida de seus pacientes. Pacientes que, por algum motivoparticular, achavam que teriam que viver mais tempo do que o previsto pelos mdicos, realmenteo viviam, provando que tinham certa influncia sobre o curso de sua prpria doena.

    O casal Simonton parte da premissa de que uma doena no s um fato fsico, e sim, umproblema que diz respeito pessoa como um todo; corpo, emoes e mente. As emoes e amente tem uma certa funo na suscetibilidade ao cncer e na sua recuperao.

    O cncer, por exemplo, surge como uma indicao de problemas em outras reas da vida da

    pessoa, agravados ou compostos de uma srie de estresses que surgem de 6 a 18 meses antesde aparecer o cncer. Foi observado que as pessoas reagiram a esses estresses com umsentimento de falta de esperana, desespero, desistindo de lutar por uma vida melhor. Acredita-seque essa reao emocional dispara um conjunto de reaes fisiolgicas que suprimem as defesasnaturais do corpo, tornando-o suscetvel produo de clulas anormais, devido a umdesequilbrio profundo mental, hormonal, orgnico e psicolgico.

    Existe, ainda hoje, uma confuso entre "efeito placebo" e "doenas psicossomticas". O "efeitoplacebo" ocorre quando um paciente recebe uma prescrio que produzir um efeito colateralbenfico, o que acontece na realidade, mesmo que no haja nenhum medicamento nocomprimido que pudesse produzi-lo. As doenas psicossomticas, no entanto, so doenasoriginadas como resultado de, ou agravadas por processos mltiplos.

    As distores que ocorrem neste sentido, fazem com que as doenas psicossomticas pareammenos reais, o que puro engano. Costuma-se aceitar a conexo psicossomtica em casos depresso alta, ataques cardacos, dor de cabea, doenas da pele etc., mas, com o cncer, emgeral no. No entanto, hoje, j foi comprovada uma ligao evidente entre estresse e cncer,ligao to forte que possvel predizer a doena baseando-se na quantidade de estresse sofridapelas pessoas, na vida cotidiana.

    Descobertas recentes foram primordiais para paciente canceroso, porque sugerem que efeitos doestresse emocional podem deprimir o sistema imunolgico, abalando as defesas naturais contra ocncer e outras enfermidades. H maiores possibilidades de que ocorram doenas apsacontecimentos altamente estressantes na vida da pessoa. Quando uma pessoa sofre dissabores

    emocionais, h um aumento no s das doenas reconhecidamente suscetveis influnciaemocional: lceras, aumento da presso sangunea, doenas cardacas, dores de cabea, mastambm de doenas infecciosas, dores lombares e at acidentes.

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    Foi desenvolvida uma lista com valores numricos de todos os acontecimentos estressantes da

    vida de uma pessoa, chegando-se assim, quantidade de estresse que a pessoa estariasofrendo. Ao observarmos esta lista, notaremos coisas que ns mesmos achamos estressantes,mas perceberemos tambm, curiosamente, sucessos pessoais excepcionais, normalmenteconsiderados como sendo experincias agradveis.

    Foi observado que essas experincias aparentemente agradveis para ns, so experincias queimplicam em mudanas de hbitos, na maneira de nos relacionarmos com as pessoas e emnossas auto-imagens. Mesmo sendo experincias positivas, podem exigir um grau profundo deintrospeco, podendo chegar a causar o aparecimento de conflitos emocionais no solucionados.O ponto principal , portanto, a necessidade de adaptao mudana, quer ela seja positiva, quernegativa.

    Estresse tambm varia de pessoa para pessoa. Cada um vai agir de uma forma diferente diantedas situaes. Assim, fica claro que fatores de natureza psicossocial podem modificar aresistncia a um nmero de doenas infecciosas e cancerosas.Muitas pessoas no ficam doentesmesmo quando recebem grandes cargas de estresse. necessrio examinar a reao especficade cada pessoa ao fator estressante.

    Agora, tornou-se claro, que nveis elevados de estresse emocional aumentam a suscetibilidade doenas. O estresse crnico resulta na supresso do sistema imunolgico, o que por sua vez criauma maior suscetibilidade doena, especialmente o cncer. O estresse emocional, realimenta odesequilbrio emocional. Esse desequilbrio pode vir a aumentar a produo de clulas anormaisno momento em que o corpo encontra-se menos capacitado a destru-las.

    A personalidade individual tambm um forte diferenciador entre as pessoas que tem maior oumenor suscetibilidade doenas. A maneira como reagimos s tenses dirias origina-se dehbitos e ditada pelas nossas convices ntimas sobre quem somos, quem deveramos ser e amaneira como o mundo e as outras pessoas deveriam ser. Existem indcios de que diferentestomadas de posio em relao vida, em geral, podem estar associadas com certas doenas.

    2.4) Relao com crescimento

    Os denominados hormnios de adaptao ou hormnios do estresse, so tambm importantesreguladores do crescimento em geral. ACTH e COL so poderosos inibidores de crescimento e oSTH ativador que realmente denominado hormnio do crescimento. Esses hormnios tem

    efeitos opostos to poderosos. Portanto, se uma criana exposta a estresse excessivo, seucrescimento prejudicado, sendo tal inibio, pelo menos em parte, conseqncia do excesso desecreo de ACTH e COL.

    2.5) Relao com sono

    O fato de dormir bem ou no depender muito do que fazemos durante o dia. No devemos nosdeixar levar por impulsos, nem pela tenso, alm do ponto necessrio para aplicar-nos da melhorforma possvel ao exerccio que desejamos fazer. Deixando-se dominar pela tenso,especialmente nas ltimas horas do dia, a reao de estresse por via hormonal poder processar-se durante toda noite.

    Devemos tentar no sobrecarregar desproporcionalmente o corpo ou a mente pela repetio dasmesmas aes exaustivas e evitar a repetio intil da mesma tarefa, quando j se est exausto.

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    Ento, para dormir bem precisamos nos resguardar melhor ainda contra o estresse noite. Nosomente reduzindo o excesso de luz, barulho, frio ou calor mas, especialmente, no nos

    entregando, durante o dia, ao tipo de estresse que nos manter acordados noite. Esse estresse,que tende a se perpetuar, pode ser resultado de refeies pesadas, bebidas, perturbaesemocionais e muitas outras coisas.

    2.6) O desgaste da vida

    Podemos considerar o estresse como um grau de desgaste do corpo, como um todo. Assim, aestreita relao entre o envelhecimento e o estresse torna-se evidente. O estresse a soma detodo o desgaste causado por qualquer tipo de reao vital atravs do corpo, a qualquer momento.Por isso ele uma espcie de velocmetro da vida.

    Portanto, a verdadeira idade (no a cronolgica, mas a fisiolgica) depende muito do grau dedesgaste, do ritmo do autodesgaste. A vitalidade como um tipo especial de depsito bancrioque voc pode usar para fazer retiradas, mas no para fazer depsitos. O nico controle sobreessa fortuna o ritmo com que voc faz suas retiradas. A soluo evidentemente, no suspender as retiradas, pois isso resultaria na morte. Nem retirar apenas o suficiente para asobrevivncia, pois isso permitiria somente uma vida vegetativa. O processo inteligente gastarconvenientemente a vitalidade, mas nunca malbaratar.

    Muitas pessoas pensam que, depois de se terem exposto a atividades que resultam em grandeestresse, um repouso pode fazer com que se restabeleam completamente suas condies. Isto,porm falso, uma vez que cada experincia deixa uma cicatriz indelvel, pois ela exige tantaadaptabilidade forando o organismo como um todo at o nvel de exausto, que no podem ser

    restabelecidas. verdade que aps certas experincias exaustivas, o repouso pode fazer comque voltemos quase s condies anteriores, pela eliminao da fadiga mais grave. Mas a nfasefica no termo quase. Desde que passamos constantemente por perodos de estresse e repouso,atravs de toda a vida, um pequeno dficit de energia de adaptao vai sendo acumulado dia adia e resulta no que denominamos envelhecimento.

    2.7) Hipotlamo e estado de estresse

    Nosso organismo dotado de mecanismos adaptativos, nos quais todos os rgos e tecidosexercem funes que ajudam a manter as condies do organismo, como um todo, estveis.Nosso organismo possui uma capacidade de equilbrio que mantm suas condies estticas, ouconstantes, no meio interno.

    O hipotlamo a rea do sistema nervoso central que tem sob sua responsabilidade vriasfunes que so bsicas para a manuteno e sobrevivncia do organismo. Atravs do sistemanervoso autnomo e do sistema endcrino, o hipotlamo promove uma srie de mudanasorgnicas necessrias para a conservao do equilbrio durante estados de grande atividadefsica e/ou mental e atravs de mecanismos prprios, como o mecanismo da fome, da sede e daregulao trmica corporal, produz subsdios que possibilitam o funcionamento integrado,mantendo a harmonia orgnica durante todo o perodo em que o indivduo estiver sob a influnciado estressor. O funcionamento global do hipotlamo o grande responsvel pela gnese dascondies orgnicas para que o sujeito "estressado" possa, dentro de certos limites, se adaptar esuperar as mudanas responsveis pelo estresse.

    Todo tipo de questionamento relacionado com a situao que se apresenta (estressora) estacontecendo no crebro e todas estruturas ligadas a ele esto sofrendo a influncia da ansiedade,do desconforto, da insegurana, geradas no seu interior. A isso se deve a grande

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    responsabilidade do hipotlamo nos estados de estresse em suprir o crebro com todos oselementos necessrios para a sua importante atividade, no deixando de lado as necessidades

    globais do organismo, principalmente nos casos de estresse fsico, onde a restaurao tecidual o marco das necessidades.

    O estado de estresse implica numa necessidade aumentada de energia, porque se caracterizauma grande atividade a nvel de sistema neuro-muscular e demais tecidos. Um aumento basal dotnus muscular esqueltico surge logo de incio, dada ao das catecolaminas, preparando oindivduo para possveis atividades fsicas, o que equivale a manter um estado de alerta. Assim, oorganismo precisa de um nvel aumentado de glicose, pois o sistema nervoso dependente diretoda glicose sangnea, e outros nutrientes como aminocidos, sais e vitaminas, indispensveispara sustentar o aumento da atividade.

    2.7.1) Funes do sistema simptico e estresse

    Tanto nos estados de estresse fsico quanto nos emocionais o hipotlamo ativa o sistema nervososimptico, responsvel por um aumento da freqncia cardaca e da fora de contraoventricular, da presso arterial, aumentando o fluxo sangneo para msculos ativos, ao mesmotempo que diminui o fluxo para rgos que no so necessrios para aquela atividade, daglicemia e do metabolismo celular em todo o corpo, da glicose e da fora muscular, da atividademental, da coagulao sangnea, etc. A soma desses efeitos permite que a pessoa desempenheuma atividade fsica ou mental bem maior do que seria possvel em outras circunstncias.

    2.7.2) Sistema endcrino e estresse

    O hipotlamo tambm ativa o sistema endcrino atravs da estimulao que capaz de exercersobre a glndula hipfise. A glndula supra-renal o alvo mais importante nos estados deestresse, devido a seus hormnios secretados das regies medular e da camada cortical.

    2.7.3) A medula da supra-renal

    A liberao dos hormnios produzidos pela camada medular da supra-renal se d principalmenteem resposta a descargas simpticas. Secreta catecolaminas (adrenalina e pequena quantidade denoradrenalina), durante situaes emergenciais e de estresse, produzindo efeitos do tiposimptico e sua principal funo dar suporte "adrenrgico" atravs do sangue para prolongar osefeitos de origem neural, atravs de mecanismos hormonais, que se difundem pela via sangunea.

    2.7.4) O crtex da supra-renal

    A camada cortical da adrenal secreta os corticosterides, composio formada por trs famlias dehormnios: os mineralocorticides, os glicocorticides e os andrgenos. Mas so osglicocorticides (GC) que tm importncia primria nos estados de estresse e na sua composioencontramos em maior quantidade o cortisol (95%), apresentando em similares comohidrocortisona, corticosterona e a cortisona.

    O efeito mais pronunciado do cortisol sua capacidade de aumentar a taxa de glicose sangneapela neoglicognese, mas tambm tem importante ao sobre o sistema cardiovascular, sistemanervoso central, sobre outras glndulas e sobre as respostas inflamatria e imunolgica.

    Os GC ativam em menor grau a dissoluo das gorduras em reserva no tecido adiposo, alm deinibirem a lipognese, dando lugar formao de cidos graxos, que sero captados pelo fgado epossibilitam o aumento do colesterol circulante, com todos efeitos de anterior clerose previsveis.

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    Ento bom que se lembre, que no basta fazer dieta, por que o estresse produz o mesmo efeito.Este efeito mais pronunciado nas extremidades do corpo. Quantidades excessivas deste

    hormnio produzem quadros de distribuio irregular da gordura, distribuio centrpeta, commaior acmulo na regio torxica e cervical.

    Todos esses mecanismos de emergncia (glicognese, liplise, deposio de glicognio nofgado, aumento de colesterol etc.), em conjunto protegem o organismo da hipoglicemia e facilitama estocagem de glicognio. No aparelho cardiovascular agem reforando a ao dascatecolaminas, pois aumenta o tnus vascular e a fora de contrao do miocrdio, masrepresentam uma agresso ao corao. Inibe a sntese das prostaglandinas e prostaciclinascontribuindo para o restabelecimento do volume sangneo e da presso arterial em casos dehemorragias.

    O efeitos sobre o sistema nervoso vo desde a regulao de vrios processos bsicos decrescimento e diferenciao celular at alteraes na atividade eletrofisiolgica, alm deinfluenciar padres de do sistema lmbico como o hipocampo a rea septal, os ncleos basal ehumor, motivao e aprendizagem. Ligam-se em pontos especficos do crebro, em estruturascortical da amgdala e o indusium griseum.

    Fora do sistema lmbico, os GC concentram-se a nvel do neocrtex, no cerebelo, no ncleoolfatrio anterior e nas lminas III, VII e IX da substncia cinzenta da medula.

    Influenciam a diferenciao e o desenvolvimento dos sistemas de neurotransmissores. Agemcomo reguladores de sistema de catecolaminas, pois aumentam a sntese de certas enzimasrelacionadas com a produo das mesmas e induzem a transformao de noradrenalina em

    adrenalina, portanto diminuindo a agressividade e capacidade de defesa e aumentando apassividade no quadro estressante.

    Alm desses efeitos sobre as catecolaminas, os GC aumentam a sntese da triptofano-hidroxilase,enzima relacionada com a produo de serotonina no crebro e mesencfalo, sendo que oestresse aumenta a sensibilidade dos receptores serotoninrgicos, principalmente no crtexfrontal, aumentando a excitao e preparando para quadros depressores.

    Os GC apresentam um grau considervel de especificidade em relao regulao hormonal dadiferenciao celular em vrios tecidos. Tm um efeito negativo no crescimento do crebro e naproliferao das clulas que compem o tecido nervoso. A exposio prolongada de clulascerebrais aos GC, ou a taxas altas desses, provoca decrscimo do peso cerebral e diminui seu

    contedo em DNA, sugerindo uma diminuio em seu nmero de clulas. Interfere negativamentena formao das sinapses, pois provoca um retardo no crescimento dos dendritos corticais ereduz os nveis de gangliosdios cerebrais, que so essenciais nos processos neuronais. Nessacondio, o cortisol inibe a secreo do hormnio do crescimento pela hipfise, das iodotirosinaspela tireide, tem efeito mineralocorticide, aumenta a secreo de gastrina e interfere naabsoro eletroltica a nvel intestinal.

    Na fase neonatal tudo isso tem aspectos drsticos, pois o estresse intenso pode resultar em umavariedade de dficits, como conseqncia de srios danos a nvel de sistema nervoso central, poiso processo de desenvolvimento normal deste sistema vai sofrer interferncia abrangente dos GC,podendo gerar srias mudanas neuroqumicas e neuroanatmicas. Qualquer tratamento queenvolva a administrao de glicocorticide na fase neonatal ou de crescimento tambm ter

    conseqncias drsticas. Mas dependendo do tempo de administrao e da dose, os GC podemacelerar ou retardar a maturao funcional.

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    possvel que a grande importncia do aumento destes hormnios e o conseqente aumento dasrespostas durante o estresse sejam possibilitar, a nvel cerebral, a comutao de um estado

    "distrfico" (estressado) para um estado "eufrico", criando condies compatveis com asnecessidades do momento, permitindo o restabelecimento das capacidades cognitivas e que oindivduo se torne capaz de enfrentar o estresse.

    O cortisol tambm tem importante papel na diminuio da defesa do organismo pela sua respostaanti-inflamatria, em contraponto reao de defesa inflamatria produzida por hormnios comoaldestorerona e desoxicorticosterona. Influencia tambm as respostas imunolgicas, bloqueando asntese de interferon, inibindo as interleucinas o que leva supresso das respostas mediadas porlinfcitos T, a sntese de prostaglandinas e leucotrienos por inibio do cido aracdnico,mediador das respostas inflamatrias imunes.

    Nos estados de estresse as catecolaminas, cuja liberao se segue ao aumento de atividade dosistema nervoso simptico, constituem o primeiro mecanismo hormonal com que o organismolana mo como suporte glicemico, seguido por liberao do GC em fases posteriores. Ambos sofundamentais, necessrios para o desempenho das atividades, principalmente cerebrais, que sode grande importncia durante a Sndrome geral de adaptao.

    O nosso organismo tem mecanismos muito eficientes para nos sustentar quando somossubmetidos a situaes estressantes, mas esta eficincia pode falhar no caso de estimulaesmuito intensas ou muito prolongadas, capazes de tornar o organismo inbil em promover o seuequilbrio. Ento, surgem vrios distrbios orgnicos caractersticos da fadiga, como cefalia,taquicardia, mos frias, mudana de apetite, cansao muscular, falhas de memria, distrbiossexuais, m digesto, etc. As doenas psicossomticas so muito comuns como resultado ou

    complicaes dos estresses psquicos. Os estressados crnicos apresentam uma variedade dedistrbios que podem culminar com quadros de complicaes como: infarto do miocrdio, lceraspepticas, doenas circulatrias, envelhecimento precoce etc.

    3) O TRABALHO E O ESTRESSE

    Vrias das patologias hoje estudadas pela Medicina do Trabalho tm ntima correlao com oestresse. O desgaste a que pessoas so submetidas nos ambientes e nas relaes com otrabalho fator dos mais significativos na determinao de doenas. Este trabalho no escapa aoconhecimento mdico, mas tambm fato que o espao dedicado na anamnese investigaodestes aspectos pequeno em relao sua importncia.

    3.1) A influncia da cultura

    O conjunto de prticas e as redes de significados compartilhados em grupamentos sociais formamo processo cultural. Tem permanncia de tempo, tem carter de coletividade e tem continuidade,alm da vida de quem a cria (Laraia). Este processo realiza a construo social da realidade. Umacultura adquire "conformao e carter especficos graas coerncia e unidade de suasinstituies sociais. Tais instituies possibilitam a continuidade social e constituem osinstrumentos efetivos do seu equilbrio"(Laraia).

    Para Mello Filho (1988), a cultura o resultado das atitudes, idias e condutas compartilhadas etransmitida pelas pessoas de uma sociedade, juntamente com as respectivas transformaes, isto, invenes, mtodos de investigaes do ambiente e objetos manufaturados. Por isto

    importante a filosofia de vida e viso do mundo que presidem a cultura, na construo dodinamismo dia a dia.

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    As caractersticas da cultura representam potencialidades adaptativas e estressoras, dentro danumerosa gama de possibilidades de transformaes, reprodues e expresses prprias da

    complexidade e das riquezas humanas. Mas, existem processos culturais que limitam e moldam aexpresso desta natureza sobre o que Geertz (in Laraia) afirma: "... um dos mais significativosfatos sobre as pessoas a constatao de que todos nascem com um equipamento para viver milvidas, mas terminam tendo vivido uma s... o homem no apenas o produtor da cultura, mastambm num sentido especificamente biolgico, o produto da cultura".

    Existem estudos em que a atuao da cultura sobre o biolgico se torna evidente, no processo doadoecer ou do curar. Por exemplo, o surgimento ou no de sintomas de mal-estar provocadospela ingesto combinada de determinados alimentos: leite com manga. Relata-se, tambm, o casode africanos removidos violentamente de seu continente, ou seja, de seu ecossistema e de seucontexto cultural, que, transportados para uma terra estranha, perdiam a motivao para continuarvivos. Os casos de curas decorrentes da "f" no remdio ou na religio.

    Os processos psicossociais so constitudos, em parte, por percepes e atitudes dos indivduose, em parte, por elementos culturais que direcionam os vnculos, reproduzem e recriam valoressobre vrios fatos da realidade. Os critrios especficos sobre sade, doena, indivduo, trabalho,produtividade, fora, vulnerabilidade so construdos pela cultura e transformada pelos indivduos.

    A cultura edificada a partir do meio ambiente. O meio ambiente o mundo externo e a realidadeimediata. Realidade esta, que segundo Berger e Luckmann (1987) decorrente da vidaquotidiana, que se apresente interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentidopara eles, na medida em que forma um mundo coerente.

    Existem estudos realizados por Wiittkower sobre estresse cultural, conforme relata Mello Filho(1983) a partir dos quais possvel relacionar respostas psicossomticas e cultura. Neles, foramidentificados aspectos culturais estressantes, como o uso acentuado de tabus, saturao devalores, instabilidade de modelos culturais, privao de vida social, rigidez de normas e condiesminoritrios. Assim, conclumos que as respostas psicossomticas sofrem influncias diferentesem cada cultura.

    3.2) A Cultura empresarial

    Toda empresa um conjunto scio-cultural complexo, organizado para realizao de servios,fabricao de coisas, transformao ou extrao de produtos da natureza. Segundo Lapassade(1983), constitui-se de um sistema de redes, de status e papis.

    Este complexo de pessoas, com seus modos prprios, transforma e provoca transformaes notrabalho que se realiza no espao empresarial. Suas atitudes visam satisfao de necessidadesorganizacionais e individuais, a partir de limites estruturais e tecnolgicos, sobre as quais seprocessam acomodaes dentro e fora do espao empresa.

    Na cultura empresarial sobressaem valores objetivos e impessoais, isto , no contando com aemoo, v-se o indivduo de forma incompleta, com habilidades especficas para a realizao detarefas, isolado das suas caractersticas de ser, das suas experincias de vida. Desta forma,durante a relao indivduo-empresa, h uma ciso do comportamento: de um lado a fora detrabalho com subordinao s regras da empresa, de outro o vivenciar emoes nem sempreexpressas adequadamente.

    O processo de firmar contrato de trabalho, na verdade, caracteriza-se por acatar as normas, osvalores e os procedimentos utilizados e cobrados de forma coletiva. Nas empresas brasileiras, a

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    ao empresarial passou a ser contida a partir da Consolidao das Leis do Trabalho, queregulamenta o registro, a remunerao, o repouso, o afastamento, a validade de atestados

    mdicos etc, no sentido de dar o mnimo de garantia ao cidado que trabalha. No entanto, diantedas novas imposies do capitalismo selvagem em voga, estas regras esto se afrouxando paradar lugar maximizao do lucro e competitividade.

    Ao celebrar o contrato de trabalho, a pessoa com todos os fenmenos intrapessoais einteracionais que caracterizam sua identidade, acata as normas organizacionais. A pessoaquando admitida na empresa, traz consigo sua histria, sua personalidade e uma forma defuncionar tanto orgnica como psquica e social. E tende a produzir nas suas relaes no s asexpectativas, mas tambm sua histria, que vai interagir com o sistema de organizao,manuteno e de adaptao do indivduo, do grupo e da empresa.

    O "homem organizacional" leva toda sua potencialidade fsica, as caractersticas mentais, asanatmicas, as fisiolgicas e as sensitivas para a empresa. Leva tambm sua potencialidadesocial: a histria de vida, experincias adquiridas, os valores introjetados e a capacidade decompartilhar.

    A entrada da pessoa para o sistema empresa celebrada atravs da Consolidao das Leis doTrabalho, de prticas administrativas e de procedimentos seletivos especficos. Implcito a estemomento, instala-se o contrato psicolgico de trabalho. Este trato no explicitado de formadireta, mas fator determinante no processo adaptativo do indivduo na empresa. Mas agora coma flexibilizao das regras, recomendadas inclusive pelo Ministrio do Trabalho, a ansiedade dotrabalhador aumenta pelas incertezas e ameaas de desemprego, procurando sujeit-lo maisainda ao esprito empresarial.

    Para atuao deste "homem organizacional" apenas alguns aspectos so utilizados, estimuladose aceitos. No se pretende o trabalho para o homem, mas o homem para o trabalho, acionando ogerenciamento da moda chamado de "reengenharia ou qualidade total", para extrair o mximo emfavor da empresa.

    Arendt faz a seguinte reflexo sobre a autonomia da pessoa no seu trabalho: "o anormal laboranspode escapar sua difcil situao como prisioneiro do ciclo interminvel do processo vital, eterna sujeio, necessidade do labor e do consumo, unicamente atravs da mobilizao deoutra capacidade humana: a capacidade de fazer fabricar e produzir o que atributo do homemfaber, o qual, como fazedor de instrumentos, no s atenua as dores e fadigas do labor comoerige um mundo de durabilidade".

    Codo destaca que "a sobrevivncia de um organismo depende em ltima instncia da capacidadefsica, biolgica e psicolgica de transformar o meio a sua imagem e semelhana, portanto, deautotransformar-se imagem e semelhana do meio".

    O grupo de trabalho legtima as articulaes entre interesses individuais, coletivos e empresariais.Formam-se redes de influncias com processos relativos cooperao, competio, conflitos,nvel de motivao e presses externas. Formam-se tambm, redes de afetos, emoes esentimentos entre as pessoas com as quais se mantm variada frequncia e intensidade deconvivncia.

    O equilbrio um dos processos determinantes da dinmica do grupo. Est associado ao contexto

    amplo em que est inserido. Sobre os grupos, Lewin, citado por Amado, afirma que "grupos sototalidades dinmicas que resultam das interaes entre seus membros. Estes grupos realizam

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    formas de equilbrio no seio de um campo de foras. em funo da organizao perceptiva doespao social que as energias postas em jogo se completam e se combatem".

    A reciprocidade no grupo elemento definitivo na estrutura de grupos e na empresa. Se dentro dogrupo de trabalho na empresa a regra no quebrar ou no parar a produo, se ocorre estaquebra em funo de doena, estabelece-se uma condio de suspenso da reciprocidade,atingindo-se vnculos de produtividade que existem entre os indivduos desse grupo.Desencadeiam-se novos tipos de vnculos em funo dos sintomas e a alterao decomportamento do queixoso, novos fatores da dinmica do grupo. Para Rodrigues, esta inter-relao pessoa -empresa ser mais ou menos conflituosa quanto maiores forem as diferenas deexpectativas dos dois plos ou quanto mais rgidos eles forem, com relao capacidade deadaptao.

    3.3) A importncia do lazer

    A diverso e descontrao torna-se cada vez mais importante no combate ao estresse puramentemental, fsico e psicolgico ( todos ns conhecemos os danos causados pela preocupao). Hmuitos estudos da medicina psicossomtica descrevendo a produo de lceras gstricas,hipertenso e vrios outros males pela preocupao crnica em relao a problemas de ordemmoral e econmica. E o melhor remdio aqui a diverso e a descontrao em que se encontraqualquer coisa que tome o lugar dos pensamentos preocupantes, para afugent-los, e nada afastato eficazmente pensamentos desagradveis quanto a concentrao em pensamentosagradveis.

    4) O CONTROLE DAS EMOES

    Tens sido...Um homem que as desgraas e recompensa da SorteAceitas com igual gratido... D-me o homemQue no escravo da paixo, que eu o trareiNo fundo do meu corao, sim, no corao do meu coraoComo fao contigo...(Hamlet a seu amigo Horatio, Shakespeare)

    Desde os tempos de Plato, o senso de autodomnio, de poder agentar as tempestadesemocionais que trazem as desgraas da sorte sem ser "escravos da paixo", tem sido louvado. Oobjetivo que devemos atingir o equilbrio mental e psicolgico no a eliminao das emoes:

    todo sentimento tem seu valor e sentido. Mas, se precisa da emoo controlada, o sentimentoproporcional circunstncia. Quando as emoes so abafadas demais, criam o embotamento ea distncia; quando extremas e persistentes demais tornam-se patolgicas, como na depressoparalisante, na ansiedade esmagadora, na raiva demente e na agitao manaca.

    As pessoas no precisam evitar sentimentos desagradveis, eles podem contribuir para uma vidacriativa e espiritual. S devemos impedir que eles desloquem contigo todos os demais estados deespritos agradveis.

    Controlar nossas emoes uma atividade de tempo integral: muito de que fazemos umatentativa de controlar o estado de esprito. Tudo, desde ler um romance ou ver televiso at asatividades e companhias que preferimos, pode ser uma maneira e nos sentirmos melhor.

    No plano do crebro muitas vezes temos pouco ou nenhum controle sobre quando seremosarrebatados pela emoo e sobre qual emoo eclodiremos. Mas podemos ter alguma voz sobre

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    o quanto durar uma emoo. A tristeza, preocupao ou ira habituais passam com o tempo, masquando as emoes so intensas demais como a ansiedade crnica, a ira descontrolada ou a

    depresso, podem exigir medicao e/ou psicoterapia.

    Hoje, um sinal da incapacidade de autocontrole emocional pode ser o reconhecimento de quandoa agitao crnica do crebro emocional demasiado forte para ser superado sem a ajudafarmacolgica.

    Estudos afirmam ainda a independncia da inteligncia emocional da cognitiva, constatandopouca ou nenhuma relao entre graus de QI e o bem estar emocional das pessoas.

    Pesquisas demonstraram ainda, que no foi unanimidade entre os que acham que estados deesprito negativos devem ser mudados. Algumas pessoas admitem que jamais tentam mudar seuestado de esprito, pois para elas todas as emoes so "naturais" e devem ser experimentadascomo se apresentam. Outras buscam regularmente entrar em estados desagradveis por motivospragmticos: mdicos que precisam estar sombrios para dar ms notcias a pacientes, cobradoresque enfurecem para ser mais firmes com os caloteiros, jovens que se provocam raiva para ajudaro irmo menor contra os valentes infantis. Mas tirando estes raros cultivos propositais desentimentos desagradveis a maioria se queixava de que estava merc de seus estados deesprito.

    4.1) Mecanismo da raiva e seu controle

    "A ira jamais sem motivo, embora raramente um bom motivo". (Benjamim Franklin).

    Em parte a afirmativa acima confirmada em Goleman quando acha que deve haver liberao daira at mesmo com perda da cabea, mas nunca devendo resultar em comportamentos induzidospor ela.

    Existem vrios tipos diferentes de raiva. As amgdalas bem podem ser uma fonte principal dasbita centelha de clera que sentimos quando estamos em perigo. Mas mais provvel que nooutro extremo dos circuitos emocionais, o neocrtex, fomente raivas mais calculadas, como a friavingana ou indignao com a injustia.

    De todos os estado de esprito de que as pessoas querem escapar, a raiva aquele que elas tmmais dificuldade para controlar. Ela a mais sedutora das emoes negativas. Ao contrrio da

    tristeza, a raiva energiza e at mesmo exalta. As pessoas inundam a mente dos maisconvincentes argumentos e justificativas para dar-lhe razo. O poder sedutor e persuasivo daraiva pode em si explicar porque algumas opinies sobre ela so to comuns: que incontrolvelou que, no deve ser controlada e que dar-lhe vazo numa "cartase" faz bem. Esta viso emrelao raiva enganosa. Ela pode ser inteiramente evitada se evitarmos ruminaes eprocurarmos ver as coisas de uma outra forma, encontrar o lado positivo da situao.

    Um disparador universal da raiva "estar em perigo". O perigo pode ser uma ameaa fsica direta,ameaa simblica a auto-estima ou dignidade, tratamento injustos ou grosseiros, insulto ouhumilhao etc. Essas percepes atuam como gatilho instigante de uma onda lmbica, que temum duplo efeito sobre o crebro. Uma parte dessa onda a liberao de catecolaminas, quegeram um rpido surto de energia que dura alguns minutos, durante os quais o corpo se prepara

    para uma boa briga ou fuga, dependendo de como o crebro racional avalia a posio. Outra viaimpulsionada pela amgdala percorre o ramo hipotlamo-adrenocortical, cria um passo de fundo

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    tnico geral de prontido para a ao, que pode durar horas ou at mesmo dias fazendo com queo crebro fique em vigia e reaes posteriores formem com total rapidez.

    Quando o corpo j se acha em estado de irritao devido a algum estmulo, pode disparar, umseqestro emocional de intensidade especialmente grande. Esta dinmica atua quando algum sezanga. A raiva no tolhida pela razo facilmente explode em violncia. Nesse ponto, as pessoasno perdoam e esto alm do alcance da razo, que com ela ficou conivente. Seus pensamentosgiram em torno da vingana e represlia, indiferente s conseqncias.

    A raiva pode ser completamente interrompida se uma informao mitigante vier antes que se dvazo a ela. Pois esta informao mitigante permite uma reavaliao dos atos que provocam araiva. Mas ela s funciona em nveis controlados de raiva, pois em nveis mais elevados paracertos indivduos h uma "incapacitao cognitiva" - as pessoas no mais pensam direito.

    Outro poderoso artifcio moderador do estado de esprito a distrao, a diverso, mudar deambiente, afastar-se da outra pessoa no momento da discusso. Dar vazo raiva uma daspiores maneira de esfriar: as exploses de raiva tipicamente inflam o estmulo no crebro,deixando as pessoas mais iradas. Talvez soltar a raiva funcione: quando ela expressadiretamente pessoa visada, quando devolve o senso de controle ou corrige uma injustia. Masmuito mais acertivo a pessoa esfriar o crebro por criar alternativas intelectuais e depois deforma mais construtiva enfrentar a outra pessoa.

    4.2) A preocupao e seu controle

    A preocupao , num certo sentido, um ensaio do que pode dar errado e como lidar com isso. A

    tarefa da preocupao seria de apresentar solues positivas para o perigo da vida, prevendo-osantes que surjam. Mas as preocupaes crnicas, repetitivas, que se reciclam sempre, jamais seaproximam de uma soluo positiva.

    As preocupaes parecem surgir do nada, so incontrolveis, gera um rumor constante deansiedade, so imunes razo e prendem o preocupado numa nica e inflexvel viso do tpicoque o preocupa. Quando esse mesmo ciclo de preocupao se intensifica e persiste, beraiva olimite de seqestros neurais completos, as perturbaes da ansiedade: fobias, obsesses ecompulses, ataques de pnico. Em cada uma dessas perturbaes, a preocupao se fixa de ummodo distinto; para o fbico, as ansiedades giravam em torno de uma situao temida; para oobsessivo, fixa-se em prevenir alguma temida calamidade; nos ataques de pnico, a preocupaose concentra num medo de morrer ou na perspectiva de ter o prprio ataque.

    As preocupaes quase sempre se expressam ao ouvido mental, no ao olho mental - quer dizer,em palavras, no em imagens. Um fato importante para o seu controle comeou a ficar claroquando estudaram a preocupao como um tratamento para a insnia. A ansiedade, observaramoutros pesquisadores, surge em duas formas: cognitiva, ou idias preocupadas, e somtica, ossintomas psicolgicos da ansiedade, como suor, corao disparado, tenso muscular. Borkovecconstatou que o principal problema dos insones no era o estmulo somtico, o que os mantinhaacordados eram os pensamentos intrusos. Eram preocupados crnicos, e no podiam parar depreocupar-se, por mais sono que tivessem. Eles se preocupam com uma ampla gama de coisas, amaioria das quais no tem a menor possibilidade de acontecer: vem perigos na jornada da vidaque outros jamais notam.

    Contudo, os preocupados crnicos dizem a Borkovec que a preocupao os ajuda e seautoperpetua. O hbito de preocupar-se reforante. H na preocupao, pelo menos para ocrebro lmbico primitivo, alguma coisa de mgico. Como um amuleto que afasta um mal previsto,

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    a preocupao ganha psicologicamente o crdito de prevenir o perigo com o que se estobcecado.

    Enquanto as pessoas esto mergulhadas em tais pensamentos, parecem no notar as sensaessomticas da ansiedade que desencadeiam o corao disparado, as gotas de suor, os tremores ea medida que a preocupao continua, na verdade parece eliminar parte dessa ansiedade, pelomenos no que se reflete s batidas cardacas.

    Berkovec descobriu alguns passos simples que podem ajudar mesmo o mais crnico preocupadoa controlar o hbito. O primeiro passo a autoconscincia, pegar os episdios preocupantes omais perto do incio possvel. As pessoas aprendem mtodos de relaxamento que podem aplicarnos momentos em que reconhecem o incio da preocupao. Os preocupados tambm precisamcontestar ativamente os pensamentos preocupantes; sem isso, a espraival de preocupaocontinuar voltando. Assim, o passo seguinte assumir uma posio crtica em relao s suassuposies.

    A combinao de ateno e saudvel ceticismo atuaria, como um freio na ativao neural dapreocupao a um nvel de baixa ansiedade. A gerao ativa desses pensamentos prepara oscircuitos que inibem o impulso lmbico de preocupar-se; ao mesmo tempo, a induo ativa de umestado de relaxamento contrabalana os sinais de ansiedade que o crebro emocional envia paratodo o corpo.

    Para pessoas com preocupaes to severas que se tornaram fobia, distrbio obsessivo-compulsivo ou de pnico, talvez seja prudente recorrer medicao para interromper o ciclo mas,conteno dos circuitos emocionais por meio de terapia tornou-se necessrio posteriormente para

    reduzir a probabilidade de que os problemas de ansiedade retornem quando se parar amedicao.

    4.3) Como se realiza o controle emocional

    A perturbao emocional pode ser apagada da mente atravs de repressores, que so atitudesque habitual e automaticamente podem funcionar. Embora certas pessoas paream calmas eimperturbveis, s vezes fervilham de perturbaes fisiolgicas que ignoram. O contnuodesligamento de emoes como raiva ou ansiedade no incomum: cerca de uma pessoa emseis apresenta o padro, segundo Weinberger. Permanece a questo, claro, de saber at ondeeles so de fato calmos e controlados. Podem realmente no ter conscincia dos sinais fsicos deemoes aflitivas, ou simplesmente fingem calma? A resposta a isso veio de uma pesquisa de

    Richard Davidson. Seu estudo valeu-se do fato de que (nas pessoas destras) um centro-chavepara processar a emoo negativa a metade direita do crebro, enquanto que o centro daracionalidade fica na esquerda. Assim que o hemisfrio direito reconhece que uma palavra perturbadora, transmite essa informao pelo corpo caloso para o centro da fala do lado esquerdoe uma resposta cognitiva desencadeada. Assim o controle diante duma reao emocionalinevitvel aparece sempre em retardo at que se passe a descoberta duma soluo cognitivacapaz de dar-lhe evaso. Usando um complexo dispositivo de lentes, Davidson pde mostrar umapalavra de modo que fosse vista apenas na metade do campo visual, portanto exposta s a umametade do crebro. Devido projeo cortical cruzada do sistema visual, se a exibio era para ametade esquerda do campo visual, era reconhecida primeiro pela metade direita do crebro, comsua sensibilidade perturbao emocional. Se era para a metade direita, o sinal ia para o ladoesquerdo do crebro, sem ser percebido quanto perturbao.

    Quando as palavras eram apresentadas ao hemisfrio direito, havia um atraso no tempo que aspessoas imperturbveis levavam para processar uma resposta - mas apenas se a palavra a que

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    se submetiam era perturbadora. O atraso aparecia apenas quando as palavras eramapresentadas ao hemisfrio direito, nada acarretando se eram apresentadas ao hemisfrio

    esquerdo. Em suma, a imperturbabilidade eles parece dever-se a um mecanismo neural que tornamais lenta ou interfere com a transferncia da informao perturbadora . A implicao que elesno esto fingindo sua falta de conscincia de como foram perturbados: o crebro nega-lhes estainformao,porque a reao nem sempre consciente, mas graas preparao anterior podeflexibilizar a resposta.

    Essas pessoas, negam que a tenso as estejam perturbando, e quando simplesmente emrepouso, apresentam um padro de ativao frontal esquerda, associada com sentimentospositivos. Essa atividade do crebro pode ser a chave das suas afirmaes positivas, apesar dasubjacente estimulao fisiolgica da perturbao.

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