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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
UBIRATAN SEVERINO ASSUNÇÃO
Redes sociais e capital social: um estudo de caso dos coletores de caranguejos do
município de Curuçá/PA
BELÉM
2012
UBIRATAN SEVERINO ASSUNÇÃO
Redes sociais e capital social: um estudo de caso dos coletores de caranguejos do
município de Curuçá/PA
BELÉM
2012
Dissertação apresentada ao Programa
de Mestrado em Administração da
Universidade da Amazônia como parte
dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Castro
Gomes
UBIRATAN SEVERINO ASSUNÇÃO
Redes sociais e capital social: um estudo de caso dos coletores de caranguejos do
município de Curuçá/PA
Banca Examinadora
_______________________________
Prof. Dr. Sérgio Castro Gomes
_______________________________
Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho
_______________________________
Prof. Dr. Carlos Jorge Paixão
Apresentado em: __/__/__
Conceito:___________
BELÉM
2012
Dissertação apresentada ao Programa
de Mestrado em Administração da
Universidade da Amazônia como parte
dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Castro
Gomes
AGRADECIMENTOS
Primeiramente ao Grande Deus, por me conduzir em todos os momentos desta
jornada, me impulsionando sempre a seguir com força e determinação.
À minha mãe Olgarina Assunção in memorian, por me ensinar a ser um homem de
caráter e sempre me oportunizar momentos de intensa sabedoria.
À minha filha Sinara, por ser-me inspiração e fortaleza nos momentos difíceis, por
me proporcionar permanente felicidade e por seu amor incondicional.
Aos meus familiares, pelo apoio durante o decorrer do curso e pelo incentivo à
certeza de ser um vitorioso.
Ao professor Dr. Sérgio Castro Gomes, pela orientação na execução deste trabalho,
pela dedicação e disponibilidade e pela confiança na concretização do mesmo.
À coordenação do Mestrado da UNAMA – Universidade da Amazônia, pela
dedicação e profissionalismo nas questões referentes ao programa de mestrado.
A todos os professores do programa de mestrado em Administração, por me
auxiliarem na aquisição de conhecimentos que levarei para toda a minha vida.
Ao professor Dr. Rinaldo Moraes, por sua dedicação na construção deste projeto e
por acreditar na realização da pesquisa.
Ao Professor Msc. José Luiz Nunes Fernandes, pela oportunidade e incentivo ao meu
ingresso na docência do ensino superior.
Aos amigos do mestrado, pelos bons momentos que tivemos nas calorosas discussões
durante as disciplinas ministradas, pelos poucos momentos de lazer que foram inesquecíveis e
pela amizade que se estenderá pelo percurso de nossas vidas.
À minha amiga Ana Carla Tavares Franco, pelo incentivo e escolha do programa do
Mestrado em Administração na linha de pesquisa Desenvolvimento Sustentável.
Ao amigo de todas as horas Waljucy Cardoso, pelos nossos momentos de estudos e
grande força para sempre continuar e nunca desistir.
À FIBRA – Faculdade Integrada Brasil Amazônia, pela bolsa de estudos e pela
compreensão durante minha ausência em sala de aula.
À cidade de Curuçá, em especial às comunidades de Beira Mar, Boa Vista e
Algodoalzinho, pela calorosa recepção e contribuição com o fornecimento de dados para a
pesquisa.
A todos os meus amigos que, direta e indiretamente, torceram por minha vitória e
pela concretização deste sonho.
A todos os meus alunos e ex-alunos, por acreditarem no meu profissionalismo e
torcerem pelo sucesso da concretização desta meta traçada durante o decorrer de minha
jornada acadêmica.
O primeiro passo para conseguirmos o que
queremos na vida é decidirmos o que queremos.
(Ben Stein)
RESUMO
Este trabalho procura compreender como se articulam as redes sociais dos catadores de
caranguejo para a formação do capital social no município de Curuçá nas comunidades de
Beira Mar, Boa Vista e Algodoalzinho, áreas localizadas na RESEX, com grandes extensões
de manguezais, habitat natural do caranguejo, principal fonte de renda das famílias que vivem
da atividade de coleta deste produto. O referencial teórico que sustenta o presente estudo está
embasado em Redes Sociais e Capital Social. O método utilizado foi a análise de Redes
Sociais, com auxílio da ferramenta UCINET, que possibilitou a construção de sociogramas
para melhor compreensão das relações nas redes das comunidades visitadas, sendo também
utilizado o software SPSS, que forneceu tabelas para dar ênfase às características dos perfis
dos catadores e de suas comunidades. Os resultados demonstram as articulações das redes
para formação do capital social, predominando nas comunidades pesquisadas o Capital Social
Comunitário ou Capital de Ligação, demonstrando que apesar dos laços de confiança
existirem nas redes sociais das comunidades, estes foram insuficientes para a evolução do
capital social de ligação e conexão.
PALAVRAS-CHAVE: Comunidades, Caranguejo, Capital Social, Redes Sociais, RESEX.
ABSTRACT
This paper seeks to understand how to articulate the social networks of the crab collectors for
the formation of social capital in communities in the municipality of Curuçá Beira Mar, Boa
Vista and Algodoalzinho, areas located in RESEX, with large tracts of mangrove forests,
natural habitat crab, the main source of income of families living collection activity of this
product. The theoretical framework that underpin this study is grounded in Social Networks
and Social Capital. The method used was the analysis of social networks, with the aid of the
tool UCINET, which enabled the construction of sociograms for a better understanding of the
relationships in the networks of the communities visited, and also using the SPSS software,
which provided tables to emphasize the characteristics of profiles the collectors and their
communities. The results show the joints of the networks to build social capital,
predominantly in the communities studied Social Capital Community or capital connection,
that although there are bonds of trust in social networking communities, these were
insufficient for the evolution of capital connection and connection.
KEYWORDS: Communities, Crab, Social Capital, Social Networks, RESEX.
LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS
Figura 1 – Localização de áreas que estão protegidas pela RESEX – Curuçá 41
Gráfico 1 – Distribuição dos Catadores de Caranguejo, quanto ao estado civil e proporção
de filhos (Comunidade Beira Mar)
45
Gráfico 2 – Distribuição dos Catadores de Caranguejo, quanto ao estado civil e
proporção de filhos (Comunidade Boa Vista)
53
Gráfico 3 – Distribuição dos Catadores de Caranguejo, quanto ao estado civil e proporção
de filhos (Comunidade Algodoal)
59
Diagrama 1 – Sociograma (Rede Social da comunidade Boa Vista) 64
Diagrama 2 – Sociograma (Rede Social da Comunidade Algodoal) 67
Diagrama 3 – Sociograma (Rede da comunidade Beira Mar) 70
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição da amostra e números de questionários aplicados por
comunidade 38
Tabela 2 – Resumo descritivo da Idade e Tempo de Atividade de catador (Comunidade
Beira Mar) 43
Tabela 3 – Faixa etária dos entrevistados (Comunidade Beira Mar) 44
Tabela 4 - Extensão familiar na relação de confiança (Comunidade Beira Mar) 50
Tabela 5 - Idade e Tempo de Atividade de catador (Comunidade Boa Vista) 51
Tabela 6 - Faixa etária dos entrevistados (Comunidade Boa Vista) 52
Tabela 7 - Relações de Confiança (Comunidade de Boa Vista) 56
Tabela 8 - Idade e Tempo de Atividade de catador (Comunidade Algodoal) 57
Tabela 9 - Faixa etária dos entrevistados (Comunidade Algodoal) 58
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 12
2 REVISÃO DA LITERATURA 15
2.1 CAPITAL SOCIAL 22
2.1.1 Tipos de capital social 24
2.1.2 Dimensão relacional do capital social 26
2.2 REDES SOCIAIS 27
2.2.1 Principais fatores e critérios para análise de redes sociais 29
2.2.2 Morfologia das redes 33
3 METODOLOGIA 36
3.1 TIPO DE PESQUISA 36
3.2 NÚMERO DE ENTREVISTADOS, PROCEDIMENTOS DE COLETA E
ANÁLISE DE DADOS
37
3.2.1 Seleção dos atores sociais 37
3.2.2 Coleta dos dados 37
4 CARACTERIZAÇÃO DA RESEX 39
4.1 DESCRIÇÃO SOCIOECONÔMICA DAS COMUNIDADES 43
4.1.1 Comunidade Beira Mar 43
4.1.1.1 Aspectos locacionais 43
4.1.1.2Características econômicas e sociais dos comunitários 43
4.1.1.3Infraestrutura 45
4.1.1.4 Caracterização da Estrutura Produtiva 46
4.1.1.5 Participação Cívica 49
4.1.1.6 Extensão familiar 49
4.1.2 Comunidade Boa Vista 50
4.1.2.1 Aspectos locacionais 50
4.1.2.2 Características econômicas e sociais dos comunitários 50
4.1.2.3 Infraestrutura 52
4.1.2.4 Caracterização da Estrutura Produtiva 54
4.1.2.5 Participação Cívica 55
4.1.2.6 Extensão familiar 56
4.1.3 Comunidade Algodoal 56
4.1.3.1 Aspectos locacionais 56
4.1.3.2 Características econômicas e sociais dos comunitários 57
4.1.3.3 Infraestrutura 59
4.1.3.4 Caracterização da Estrutura Produtiva 60
4.1.3.5 Extensão familiar 61
4.1.3.6 Participação Cívica 62
5 MORFOLOGIA DAS REDES POR COMUNIDADE 63
5.1 A REDE SOCIAL DA COMUNIDADE BOA VISTA E SUAS CONEXÕES 63
5.2 A REDE SOCIAL DA COMUNIDADE ALGODOAL E SUAS CONEXÕES 67
5.3 A REDE SOCIAL DA COMUNIDADE BEIRA MAR E SUAS CONEXÕES 69
5.4 COMPARANDO AS REDES SOCIAIS DAS COMUNIDADES 71
6 CONCLUSÕES 74
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77
ANEXO 80
12
1 INTRODUÇÃO
Este estudo fundamentou-se em analisar as redes sociais das comunidades de Beira
Mar, Boa Vista e Algodoal, localizadas no município de Curuçá/PA. Buscou-se entender os
aspectos socioeconômicos da captura artesanal do caranguejo e sua relação com a dimensão
social. Foram analisados aspectos como origem, faixa etária, grau de escolaridade, extensão
familiar de catadores e a infraestrutura das comunidades. No âmbito da estrutura econômica
dos catadores foram analisadas as questões pertinentes às relações do trabalho, duração dos
esforços no processo produtivo, tipos de equipamentos utilizados e recursos disponíveis nos
meios de produção e a participação na gestão administrativa.
As comunidades onde foram coletados os dados para a pesquisa estão localizadas em
áreas da Reserva Extrativista (RESEX), áreas de preservação ambiental. Nessas áreas, o
homem, por conta de suas necessidades de sobrevivência, utiliza os recursos naturais sem
estabelecer parâmetros quanto ao processo de escassez dos recursos coletados. O objetivo
legal da criação da RESEX é conciliar a conservação de recursos naturais, renováveis locais,
principalmente, em comunidades localizadas próximas a estas áreas (MENDES et al, 2006).
Neste trabalho descreveu-se a atual situação dos catadores de caranguejos das
comunidades da região de Curuçá e seus vínculos existentes nas redes sociais, verificando se
eles são sustentados por meio de relações de confiança, regras e normas, cooperação,
reciprocidade e participação cívica, elementos fundamentais à condução do capital social nos
níveis micro (capital social de ligação), meso (capital social de ponte) e macro (capital social
de conexão).
O arcabouço teórico da dissertação delineia-se sobre as redes sociais, Capital Social e
a relação entre esses conceitos. Buscou-se identificar as características das redes sociais e a
sua importância na formação do Capital Social nas comunidades de catadores de caranguejo
do município de Curuçá.
Os conceitos utilizados foram apropriados de Granovetter (2007) e Marteleto e Silva
(2004), em relação às redes sociais, e quanto aos principais conceitos de Capital Social
amparou-se em Coleman (1986), Bourdier (1986) e Putnam (2000, 2003). Estes autores
enfatizam a tríade que compõe os fatores de discussões deste trabalho: confiança,
reciprocidade e cooperação.
Segundo Putnam (2000), capital social está relacionado às características da
organização social – como confiança, normas e sistemas – que contribuem para aumentar a
13
eficiência da sociedade e facilitam as ações coordenadas. Putnam (2000, p. 177) afirma ainda
que o Capital Social é formado por um “conjunto que representa as características da
organização social, que abrange redes de relação, normas de comportamento, valores de
confiança somados à participação, cooperação, obrigações e canais de informação”.
A problemática deste trabalho direciona-se a entender como as relações de confiança
dentro das comunidades geram capital social. Dessa forma, o problema central da pesquisa
foi: Em que medida as redes de relacionamentos nas comunidades de catadores de caranguejo
sustentadas na confiança geram Capital Social?
O objetivo geral da pesquisa foi analisar a importância das redes sociais no processo
de formação do Capital Social, em particular nas comunidades dos catadores de caranguejos
localizadas no município de Curuçá-Pa. Quanto aos objetivos específicos, buscou-se:
desenvolver o diagnóstico socioeconômico das famílias residentes nas comunidades em
estudo; entender a dimensão do capital social através da participação das pessoas dentro das
redes sociais; e analisar o item confiança nas relações sociais como fator indutor de capital
social.
A pesquisa procura analisar as relações sociais dos catadores de caranguejos, como
forma de contribuir para a formação do Capital Social nos níveis micro, meso e macro,
objetivando analisar a relevância das redes sociais dos catadores para ganhos coletivos e para
alcance de suas prioridades sociais e econômicas. As relações de confiança, cooperação e
participação cívica são o tripé utilizado por Bourdieu (1986), Coleman (1986) e Putnam
(2000, 2003) quando se trata de análise de Redes Sociais e Capital Social.
A pesquisa é qualitativa e descritiva e visa entender as comunidades locais através de
suas redes de relacionamentos.
Para análise dos dados coletados foram elaboradas Tabelas e Gráficos (sociogramas)
que têm por base as entrevistas realizadas com 52 moradores. O objetivo das entrevistas foi
identificar os hábitos e costumes de grupos dentro de uma mesma comunidade. Isso
possibilitou a obtenção de dados valiosos que permitiram a compreensão geral do problema
proposto pela pesquisa e a identificação dos fatores que podem conduzir à formação do
capital social.
Curuçá, lócus da pesquisa, possui peculiaridades notadas nas características do seu
povo, costume, crenças e histórias vividas pela comunidade. Localiza-se na área de proteção
ambiental da RESEX, denominada “Mãe grande de Curuçá”, com vasta extensão de mangues.
A dissertação é constituída de seis capítulos. O primeiro constitui a introdução. O
segundo capítulo apresenta a revisão de literaturas sobre Capital Social e Redes Sociais. O
14
terceiro aborda os procedimentos metodológicos. No quarto capítulo faz-se uma
caracterização da RESEX em que as comunidades estão incluídas e a descrição das condições
de vida das comunidades. No quinto capítulo trata-se da morfologia das redes segundo as
comunidades estudadas. E, por fim, no capítulo seis, apresenta-se a conclusão dos resultados
apresentados.
15
2 REVISÃO DA LITERATURA
Nazzari et al (2009) menciona a proporção dos indicadores de confiança, cooperação e
participação cívica que o capital social pode gerar nas comunidades, através do seu limite e
alcance, por meio dos recursos disponíveis pelos indicadores. Os pontos abordados pelos
autores referem-se aos estoques de capital social e como se pode armazená-lo dentro de uma
comunidade, pautado nas relações de confiança tendo como objetivo o bem comum a ela. Os
autores fazem uma abordagem sobre o desenvolvimento econômico sob a ótica marxista que
explana sobre o desenvolvimento capitalista. As contribuições de Singer (1982) apontam para
o desenvolvimento econômico, caracterizando assim as transformações qualitativas do
desenvolvimento econômico que prevalecem nos países em subdesenvolvimento.
As dimensões do capital social apresentadas por Nazzari et al (2009) têm força a partir
da década de 70, quando o conceito é resgatado para proporcionar novos olhares sobre a
sociedade de forma a desenvolver mecanismos capazes de potencializar sua capacidade
produtiva. Nesse sentido, o capital social é apresentado pelos autores através dos conceitos de
Rosseti (1982), Peres (2002), Baquero (2001) e Rodrigues (2001). Eles apontam as principais
formas de dimensionar o capital social, citando a confiança em grupos, civilismo, laços fracos
e fortes. Assim, os parâmetros dão ênfase às teorias econômicas contemporâneas para
conceituar o capital social como indutor de desenvolvimento, promovido pela colaboração
dinâmica das redes de informação.
Nessa direção, os índices de capital social, apontados pelos autores, enfatizam a
melhora de qualidade de uma ou mais comunidades, sendo a confiança um elemento
fundamental para gerar o capital social, em que a ausência da mesma pode gerar o
esgotamento do capital social, tornando a vida das comunidades sem perspectiva de alcance
do bem comum.
Os estudos de Fukuyama (1998) são citados por Nazzari et al (2009), haja vista que as
obras desse teórico focam na confiança como fonte geradora de capital social a partir da
proximidade dos laços existentes nas redes das comunidades, desenvolvendo o nível de
confiança com a finalidade de promover ganhos coletivos.
Nazzari et al (2009) confirmam as hipóteses de Coleman(1986) e Putnam (2000) em
que o capital social é alcançado à medida que as relações de confiança e reciprocidade
aumentam na comunidade, gerando a sinergia necessária para o trabalho coletivo a partir da
cooperação e do associativismo. Estudos de Rigo e Oliveira (2007) abordam a verificação da
existência de capital social através da análise de redes sociais em comunidades que
16
desenvolvem o projeto URBE (Desenvolvimento sustentável em áreas metropolitanas) em
parceria com o SEBRAE. Este estudo tem como objetivo explorar o caso concreto da
comunidade de Caranguejo Tabaiares, em Recife, estado de Pernambuco, onde as lideranças
locais desenvolvem o projeto. Esta comunidade foi escolhida por apresentar líderes que estão
à frente das ações do projeto e fazem a ponte com as autoridades competentes, formando os
elementos base do capital social através das redes sociais.
O estudo apresentou as principais abordagens teóricas sobre capital social e redes
sociais, e os atores buscaram fundamentos nos estudos de Putnam (2000), Bourdieu (1986),
Coleman (1988, 1990), Uphoff (2000), Marques (1999), Marteleto e Silva (2004) e Clark
(2006), como forma de balizar as análises através das redes de relacionamentos na
configuração dos elementos da confiança, solidariedade, reciprocidade e generalidade.
A pesquisa de Rigo e Oliveira (2007) tem caráter exploratório, fundamentado nas
análises de redes sociais, em que foi utilizado o programa UCINET, gerando sociogramas
para análise das redes sociais a partir dos resultados obtidos através das relações apontadas
dentro das redes sociais da comunidade de caranguejos Tabaiares, onde foi possível ter
evidências da existência do capital social, bem como apontar as dificuldades enfrentadas pelas
comunidades.
O trabalho baseia-se nos estudos de Uphoff (2000), que caracteriza o capital social em
níveis de manifestação através da confiança, identificando ainda duas categorias de capital
social: (a) estrutural, que tem o capital social promovido através de padrões e regras; e (b)
cognitiva, que enfoca o capital social articulado com crença e valores, tendo a confiança e a
cooperação como principais elementos que propiciam o reforço desta cultura e facilitam a
obtenção do ganho coletivo.
Os autores concluem que a identificação dos papéis informais dentro das redes sociais
da comunidade do Caranguejo Tabaiares, bem como os padrões de interação dos grupos
através dos laços fortes nas redes, foram elementos de cunho fundamental para evidenciar a
existência do capital social na promoção do bem comum.
Ribeiro (2009) buscou compreender as articulações das redes de relações sociais das
associações agroextrativistas ASTEX/MA (Associação dos Trabalhadores Agroextrativista do
Assentamento Maracá) e ASTEX/CA (Associação dos Trabalhos Extrativistas da Reserva
Extrativista do Rio Cajari), tendo como objetivo de sua pesquisa as literaturas de capital social
e redes sociais, destacando a confiança, reciprocidade e cooperação em redes de
relacionamentos, constituindo as instituições sociais do capital social. O autor enfatiza que
uma das formas de construir capital social está nos laços de relacionamentos dentro das redes
17
egocentradas (redes formadas por laços de parentesco, amizade e vizinhança), quanto mais
densa for uma rede, maior será seu estoque de capital social.
Nesse estudo, Ribeiro (2009) apresenta a problemática sobre como se articulam as
redes sociais das associações agroextrativistas configuradas nas suas redes de
relacionamentos. Esse fato busca fundamentação teórica para contextualizar os elementos
essenciais no construto do capital social. Para tanto, são usados conceitos como os de
Bourdieu (1986) para estudar as relações egocentradas nas redes sociais através da
comunicação entre os membros das redes sociais.
Para uma melhor identificação dos elementos do capital social, Ribeiro (2009)
direciona seus estudos sobre isso utilizando a ótica de Putnam ( 2000), Durston (2000),
Fukuyama (1999) e Coleman (1988), e em suas pesquisas os três mencionam aspectos como:
pobreza, instituições, ação coletiva e confiança.
O estudo de Ribeiro (2009) é conduzido através da análise de redes sociais, tendo
como ferramenta o software UCINET, que permite construir fluxogramas das redes de
relacionamentos do ator e suas relações através dos laços fortes e fracos. A investigação de
campo utiliza o método etnográfico na verificação das articulações dos diversos atores que
estão envolvidos na rede.
Os resultados obtidos permitiram identificar que as redes agroextrativistas apresentam
diferenças marcantes em suas configurações, uma vez que este fator está relacionado à
trajetória histórica de cada município onde as redes estão localizadas. Vale ressaltar que os
resultados obtidos pelo quanto à estrutura das redes agroextrativistas mostram que a
ASTEX/MA apresenta uma rede limitada com pouca cooperação, enquanto que a ASTEX/CA
está mais estruturada, havendo uma cooperação mais intensificada, havendo nesta rede uma
melhor caracterização do capital social de acordo com as literaturas utilizadas pelo ator.
Nas conclusões de Ribeiro (2009) foi possível identificar que as estruturas sociais das
redes da ASTEX/MA e ASTEX/CA demonstram desvantagens quanto à questão de
atendimento de suas prioridades sociais e produtiva. Ele ainda ressalta que estas redes têm
muito a ganhar quanto às articulações de suas conexões junto às instituições, tendo, assim, um
ganho maior para suas prioridades.
Romaniello (2010) elaborou estudo empírico sobre o Capital Social como variável
potencializadora do desenvolvimento social e econômico na região cafeeira de Poço Fundo no
Sul de Minas Gerais, tendo como principal objetivo analisar a existência de capital social na
comunidade cafeeira a partir da produção e análise de indicadores de capital.
18
Neste estudo, o autor faz uma análise sobre dois aspectos: dos recursos coletivos e das
redes densas, que promovem a intensidade do capital social por meio da cooperação e
confiança. Para o autor somente existe cooperação quando existe a confiança. Ele ainda
apresenta um breve histórico sobre os conceitos de capital social e redes sociais que
fundamentam o assunto através de três identificadores principais: a confiança, a participação e
a cooperação, ratificando que estes fatores formam o tripé condutor da formação do capital
social dentro das redes de cooperação, que pode ser incrementado pelo compartilhamento das
redes sociais direcionadas pela cooperação.
Tocqueville (1987, apud ROMANIELLO, 2010) traz contribuições sobre comunidades
que visam ao bem comum, de Putnam (1996), Coleman (1989), Bourdieu (1986), Durston
(2000), autores que consideram o capital social emerge das relações de confiança ancoradas
em um conjunto de normas e valores presentes nas comunidades.
A pesquisa desenvolvida por Romaniello (2010) teve como lócus a comunidade dos
cafeicultores, utilizando a combinação de dados quantitativos e qualitativos, com amostragem
intencional que foi analisada através de um software estatístico.
Os resultados apresentados pelo autor mostram que o alto grau de confiança dentro das
redes dos cafeicultores evidencia a solidificação do capital social, proporcionando, assim, as
normas, condutas e valores, elementos de intensa dimensão para gerar cooperação e
participação entre os cafeicultores de Poço Fundo. Dessa forma, chegou-se à conclusão de que
a partir da rede encontrada na região foi possível identificar a existência de capital social,
estando este relacionado a um recurso coletivo. Os indicadores de confiança, participação e
cooperação foram relevantes para o autor afirmar que a existência do capital social
proporciona o desenvolvimento regional e o bem estar comum dos membros da comunidade.
Os elevados níveis de confiança encontrados nesta região consolidam os ganhos coletivos.
Nicola e Diesel (2006) elaboraram estudo sobre a evolução do capital social em uma
comunidade rural do município de Carro Quebrado (RS), que desenvolve um projeto piloto de
desenvolvimento regional participativo. De maneira a fundamentar o trabalho empírico, os
autores utilizam o modelo síntese proposto por Woolcock (1988) com adaptações de Castilhos
(2002). Este modelo denota a direção ascendente do capital social nos níveis micro e meso
(integração, conexão, compromisso cívico dos indivíduos) para o nível macro do capital
social.
Nessa direção, Nicola e Diesel (2006) incluem este modelo como principal ferramenta
para mensurar o capital social nas três dimensões propostas no modelo de Woolcock,
centrando a pesquisa de campo na comunidade, envolvendo as redes sociais no nível interno
19
(capital social comunitário) e externo (capital social extra-comunitário), reconhecendo assim a
importância da participação institucional, principalmente quanto à atuação do estado nessas
comunidades.
O estudo de Nicola e Diesel (2006) contextualizou a evolução institucional a partir da
década de 90, período em que começa a surgir o interesse nas dimensões social e institucional
em promover o desenvolvimento econômico. Nesse sentido, no final da década de 90
emergem estudos sobre capital social como fonte potencializadora para promover o
desenvolvimento econômico através dos recursos produtivos dentro das comunidades,
discussão mensurada por autores como Durston (2000), Woolcock (1998), Abromoway
(2005), Monasterio (2000), Castilhos (2002) que conceituam o capital social como sendo um
recurso ou via de acesso ao desenvolvimento de uma determinada região.
Nicola e Diesel (2006) incluem no modelo utilizado em seus estudos as variáveis para
medir o capital social. Elas foram apresentadas em uma escala de comparação entre a
realidade passada e a atual, realizadas com moradores da comunidade onde foi aplicado
questionário com vários indicadores que determinaram elementos para identificação do
capital social nos níveis micro, meso e macro.
Os resultados apresentados denotam a evolução dos níveis de capital entre a realidade
passada e a atual, predominando o avanço do capital social em todos os níveis, apresentando,
assim, melhores estoques de capital social. Os autores afirmam que as comunidades rurais
pobres apresentam capital social do tipo intracomunitário, em que a confiança se intensifica à
medida que os laços se fortalecem.
Entretanto para que esse capital evolua para o nível meso e macro, há a necessidade de
agentes institucionais, além de uma sinergia entre estes níveis de capital social.
Os autores concluem que a avaliação dos elementos do capital social foram
identificados e medidos através do modelo proposto por Woolcock (1998) e adaptados por
Castilhos (2002). Além de verificar os elementos determinantes para medir o capital social,
os autores concluem que a evolução deste se mostrou positiva em relação às realidades
apresentadas.
Marteleto e Silva (2004) desenvolvem um trabalho que tem como objetivo enfatizar a
importância do uso da informação através da metodologia na análise de redes sociais, sua
evolução recente, conceitos básicos e a relação existente entre os indivíduos. Para isso são
utilizadas as contribuições teóricas mais relevantes que discutem sobre redes sociais e capital
social, utilizando o potencial de análise para melhor conceituar e ampliar o desenvolvimento
da pesquisa.
20
A pesquisa fundamenta-se em literaturas a respeito do tema, bem como nas principais
contribuições das áreas de sociologia, psicologia, antropologia e, por último, a economia, que
contribuiu mais recentemente de maneira significativa com a análise do capital social para o
desenvolvimento econômico de uma região.
Nos estudos de Marteleto e Silva (2004) a base teórica está fundamentada em
Coleman (1988), Putnam (1996), Durston (2000) e Bourdieu (1986) em que conceitua o
capital social como a soma dos recursos produtivos dentro das redes sociais.
Granovetter (1985) enfatiza a força dos laços fracos e fortes, ressaltando que os laços
fortes entre os indivíduos intensificam os laços de confiança dentro da rede, enquanto que os
laços fracos referem-se aos laços com pessoas conhecidas dentro da rede, embora este seja
relevante para a formação do capital social dentro da comunidade, haja vista que os laços
fracos impulsionam a expansão das redes, conectando grupos que não possuem ligações entre
si.
Os resultados dos estudos de Marteleto (2001) mostram que as redes sociais com
características horizontais são mantidas pelos laços fortes, caracterizando o capital social, e
atua em três níveis dentro das redes sociais, sendo assim os laços fortes, formam o capital
social Bonding ou capital social de ligação, predominando as relações de confiança e amizade.
Entretanto, as redes devem ampliar suas conexões para o alcance de suas ações.
Nesse sentido, têm-se o capital social do tipo Brinding, ou capital social de ponte,
sendo este relevante para o alcance dos interesses da comunidade junto às instituições. O
capital social do tipo Linking, ou capital social de conexão, intermedeia os recursos adicionais
das comunidades na promoção do desenvolvimento da comunidade.
Os resultados evidenciam que o ideal, segundo os autores, seria a existência dos três
tipos de capital social dentro das comunidades, promovendo assim o crescimento das redes
sociais tanto no sentido horizontal, quanto vertical, através dos indicadores de capital social
como a confiança, comprometimento, informação, fatores que ampliariam as fontes de
informação junto ao poder das instituições.
Os autores concluem que a informação existente dentro das redes sociais é o elemento
chave para se obter uma análise de investigação nos níveis de ligação, ponte e conexão, e que
essa combinação conduz ao sucesso das comunidades em promover o desenvolvimento social
e econômico.
Portugal (2009) desenvolveu um estudo sobre redes sociais e suas principais
contribuições quanto ao conceito da teoria sociológica. O estudo tem como objetivo
apresentar as principais linhas de abordagens quanto à teoria das redes sociais. A
21
problemática apresentada diz respeito à articulação dos elementos básicos da sociologia
quanto ao questionamento da interação social. Desse modo, a autora descreve o longo
percurso dos conceitos de redes sociais, chegando até às dimensões dos conceitos atuais
através dos autores que discutem o tema sob diversas óticas dentro do mundo acadêmico.
Os resultados apresentados nos estudos de Portugal (2009) sintetizaram que as redes
sociais são estruturas desenvolvidas em que as pessoas se conhecem e formam suas conexões
a partir do grau de confiança desenvolvida entre a comunidade, focando a atenção do
comportamento de cada indivíduo dentro da rede. Para a autora os diversos estudos de redes
sociais trazem contribuições para situar o acesso dos recursos disponíveis dentro das redes,
possibilitando a viabilidade destes recursos em prol da comunidade.
Fontes (2004, apud PORTUGAL, 2007) trouxe contribuições quanto aos conceitos
comuns entre redes sociais e capital social, sintetizando que a análise de redes sociais em
comunidades pobres são detentoras de capital social, gerado a partir das relações entre os
indivíduos através dos laços de confiança e solidariedade entre os mesmos. Assim, para
Portugal (2009), a análise de redes sociais trouxe um novo paradigma para os novos conceitos
sobre esse assunto, sendo de grande relevância para os questionamentos básicos sobre a
sociologia na interação social.
Quanto ao ponto de vista metodológico, a análise de redes sociais viabiliza inúmeros
fatores em relação à questão dos problemas apresentados em comunidades pobres, empresas e
grupos sociais, formando um conjunto de dispositivos analíticos solidamente estruturados e
testados (PORTUGAL, 2009).
Limieux (2000) aborda a popularidade do conceito de redes sociais, enfatizando que
tais conceitos ultrapassam os limites das ciências sociais. Outros autores como Watts (2003) e
Bachmann (2001), ambos físicos e matemáticos, trouxeram grandes contribuições para a
análise de redes sociais, pois ambos desenvolveram o cruzamento da matemática com as
ciências sociais, formando os sociogramas que atualmente apresentam grande relevância
quando se quer estudar a estrutura de redes sociais através das várias conexões que um
indivíduo pode ter dentro de sua rede de conexão.
Segundo Portugal (2009), as principais abordagens sobre os estudos de redes sociais
são originárias das áreas da sociologia, antropologia e psicologia social, muito embora outras
áreas utilizassem o conceito de redes sociais para a base metodológica e empírica, a fim de
situar problemas multidisciplinares em uma determinada região.
22
Na literatura nacional, a utilização do conceito de redes sociais e capital social tem
conquistado espaço na esfera do crescimento social e econômico nas comunidades que
desenvolvem suas atividades através das relações sociais existentes em suas redes de conexão.
Os estudos empíricos, por meio de suas investigações na identificação dos principais
elementos que formam o capital social, trouxeram contribuições relevantes quanto à
problemática e aos objetivos propostos neste trabalho, onde o principal propósito está em
investigar a existência do capital social nas comunidades analisadas através de suas redes de
conexão.
O objetivo dos estudos destacados nesta revisão está em apontar algumas evidências
quanto às relações sociais nas comunidades para a formação do capital social através da
confiança, participação e colaboração, bem como aos procedimentos metodológicos
utilizados, suas discussões e resultados através dos principais conceitos de redes sociais e
capital social.
2.1 CAPITAL SOCIAL
Muitas discussões têm surgido a respeito do Capital social, mas ainda persiste o
desafio de conceituá-lo com precisão, podendo o mesmo ser entendido como o “conjunto de
normas de reciprocidade, informação e confiança presentes nas redes sociais informais
desenvolvidas pelos indivíduos em sua vida cotidiana” (PUTNAM, 2000, p.181), resultando
em numerosos benefícios diretos ou indiretos, sendo determinante na compreensão da ação
social (COLEMAN, 1986).
Para Putnam (2000, p.302), o capital social pode ser entendido “como um recurso em
potencial, fundamentando este conceito para um melhor entendimento quanto ao processo de
desenvolvimento econômico”, tendo como ênfase características da organização social como
confiança, cooperação, participação, em que o tripé funciona como parâmetro de análise dos
estudos apresentados entre todos os autores que discutem sobre os aspectos de formação do
Capital Social.
Desse modo, o capital social diz respeito a características da organização social,
portanto é produtivo, possibilitando a realização de certos objetivos que seriam inalcançáveis
se ele não existisse (PUTNAM, 2000). Exemplo disso é a ajuda mútua entre grupos que
depositam confiança um nos outros e pautados na cooperação e solidariedade.
23
Bourdieu (1986) chama a atenção à reprodução da forma mais material do capital, a
forma econômica, fruto de trocas calculadas, como as que se realizam no mercado, e afirma
que essa forma não pode ser entendida sem a compreensão do que ele chama “uma economia
geral das trocas”, que requer investimentos em tempo e esforços pessoais, que em longo
prazo conduzem ao fortalecimento das relações, à medida que cresce a confiança do grupo,
criando assim um forte vínculo de respeito e crédito em dar e receber.
Ideias de Bourdieu (1986) e Putnam (2000) convergem no sentido de que o capital
social facilita a cooperação espontânea; o indivíduo coopera porque se sente à vontade sem a
perspectiva de receber algo em troca em curto prazo.
Putnam (2000, p. 178) afirma que “quanto maior a relação de confiança dentro das
redes, maior será essa dimensão para formação do Capital Social”, que, nesse sentido, estaria
relacionado à ajuda mútua entre os indivíduos dentro das redes sociais que podem ser
mobilizadas para beneficiar o indivíduo ou sua classe social em busca do bem comum, pois
A existência de uma rede de conexões não é um dado natural, ou mesmo um
dado social constituído de uma vez por todas por um ato inicial,
representado, no caso do grupo familiar, pela definição genealógica dos
laços de parentesco. (…) É produto de um esforço constante de instituição,
dos quais ritos de instituição. (…) marcam os momentos essenciais e que são
necessários para produzir e reproduzir relações úteis, duradouras, que podem
assegurar lucros materiais ou simbólicos. (BORDIEU, 1986, p. 242).
Os estudos de Bourdieu (1986), Coleman (1986) e Putnam (2000) demonstram que o
Capital Social pode ser considerado de grande valia quando analisado nos aspectos de
confiança dentro das redes de relacionamento, fortalecendo assim os laços denominados
fortes.
Os trabalhos publicados sobre o Capital Social, com foco na confiança, ainda são
poucos em nossa literatura e estão ancorados nos estudos sobre o desenvolvimento local
(REIS, 2003); (NAZZARI et al, 2009); (NICOLA, 2009). Há estudos sobre ações
coordenadas que promovem e elevam a eficiência da sociedade por meios de características
como confiança, participação e cooperação. (MILANI, 2008); (XIMENES, 2008);
(ROMANIELLO, 2010). Contudo, há crescente interesse na literatura internacional a partir da
década de 90, com várias discussões metodológicas que possibilitem a compreensão do
Capital Social sobre vários aspectos quanto ao desenvolvimento local, redes de
relacionamento, cooperação mútua. (BOURDIEU, 1986); (COLEMAN, 1986); (PUTNAM,
1993, 2000).
24
Nessa perspectiva, para que funcione, essa forma de capital social depende da
confiança no meio social circundante, significando que as obrigações serão pagas, o que, de
fato, é a garantia que mantém essas relações, enfatizando os laços fortes e fracos, e,
sobretudo, a cumulatividade deste capital em proporcionar estoques em longo prazo.
Coleman (1986) ressalta que o capital social, através das relações sociais sustentado
no “enraizamento”, “integração” ou “inserção” dos indivíduos nas relações sociais, contribui
para o desenvolvimento econômico e social de uma região.
Em “Comunidade e Democracia”, Putnam (2000) aponta os elementos de
comunidades cívicas e não cívicas desenvolvidos no Norte e Sul da Itália, sobre capital social,
que ressaltam os costumes de uma determinada região, sua cultura, hábitos, que são
configurados através de normas de confiança, facilitando assim o fluxo de informação dentro
da rede. Também são enfatizados os sistemas de participação e as regras de reciprocidade, que
“fortalecem a confiança social”, e onde existe confiança há cooperação. Destacam-se dois
tipos de reciprocidade: a “balanceada”, em que existe a permuta de igual valor, citando o
exemplo da permuta de horários entre dois colegas de trabalho; e a “generalizada”,
condicionada à contínua relação de troca, em que prevalece uma expectativa futura quanto à
retribuição mútua entre os indivíduos que realizam este tipo de reciprocidade. A amizade é
um exemplo de reciprocidade generalizada. Esta última regra é um elemento altamente
produtivo de capital social, proporcionando assim um bom intercâmbio na comunidade.
Conforme Putnam (2000) as referências às participações cívicas estão ligadas às
ações das comunidades e seus efeitos secundários. O autor sintetiza que os efeitos de
participação cívica são uma forma essencial para formação de capital social, quanto mais
cívica uma comunidade, maior será sua probabilidade de reivindicar seus direitos junto às
autoridades competentes. As comunidades não cívicas apresentam características de
exploração, oportunismo, e os indivíduos que vivem nessas comunidades se sentem
explorados, alienados e sem perspectivas de mudanças. A atuação do governo nesse tipo de
comunidades é inoperante, a ausência de filiações a cooperativas, associações e sindicatos
trazem consequências desalentadoras da ação coletiva.
2.1.1 Tipos de capital social
Existem várias formas de conceituar o capital social com base na ocupação social dos
agentes envolvidos na formação do mesmo. Monasterio (2000) apresenta os seguintes tipos de
capital social:
25
a) Capital social institucional (linking): “descreve as relações existentes entre a sociedade
civil e o estado, apontando o espaço onde prevalecem as relações dos diversos órgãos
públicos e cidadãos que estão em busca do bem comum, existindo assim as relações
entre os pobres e as pessoas ocupantes de cargos de gestão nas organizações formais.
(...) Nas comunidades que se utilizam deste tipo de capital há predominância de
governos permeáveis às demandas oriundas das camadas inferiores da pirâmide
social”. (MONASTERIO, 2000, p. 30)
b) Capital Social extracomunitário (bridgin): “descreve as relações geradoras de capital
que determinada comunidade estabelece com grupos sociais e econômicos externos.
Este tipo de capital destaca-se por sua importância, haja vista que permite que os
indivíduos estabeleçam as relações sociais em que são efetuadas as trocas econômicas
(relação de mercado) e o acesso às informações (conhecimento) presentes em meios
externos à sua comunidade. (...) Neste sentido, tem-se os laços fracos entre os atores
de grupos sociais distintos. São relações sociais mais distantes que ultrapassam as
fronteiras sociais nos quais as virtudes cívicas se mostram mesmo entre pessoas com
distintas situações demográficas, étnicas ou ocupacionais”. (MONASTERIO, 2000, p.
30)
c) Capital social comunitário (bonding): “corresponde às relações sociais comunitárias
dos indivíduos, referindo-se às relações sociais que os indivíduos exercem dentro de
sua comunidade, baseado nas relações de confiança, reciprocidade e informações, bem
como do potencial de participação que estes membros possuem nos grupos informais”.
(MONASTERIO, 2000, p. 30)
Monasterio (2000) apresenta contribuições no sentido de ações cívicas dentro de uma
determinada comunidade independente de sua localização geográfica. Nesse contexto, o
capital social funciona como ponte, em que as informações disponíveis fluem por meio do
capital social do tipo bridgin.
No capital social do tipo bonding, foi possível verificar as formas como as
comunidades vivem e se relacionam umas com as outras diante de suas necessidades e
limitações como: saúde, educação e moradia digna.
26
2.1.2 Dimensão relacional do capital social
A dimensão relacional do capital social é o foco deste estudo, pois para uma análise
com fundamentação teórica é preciso o entendimento quanto à dimensão relacional do capital
social dentro das redes sociais.
Segundo Fink (2009, p. 36) “no tocante à dimensão relacional, o conteúdo
transacionado oferece uma medida de qualidade da relação, mais especificamente os
benefícios mútuos que os indivíduos esperam receber em uma relação”, estes benefícios são
gerados através dos recursos disponíveis nas redes através da cooperação.
Diante dessa perspectiva, o Capital social é analisado sob duas óticas, a individual e a
coletiva. Albagri e Maciel (2002) fizeram a seguinte reflexão:
O foco no capital social individual refere-se a como os indivíduos têm
acesso e usam recursos embutidos em redes sociais, baseadas em relações
de confiança e reciprocidade, para obter ou preservar ganhos (a ênfase
real em redes egocentradas). As relações sociais de cada indivíduo
indicam suas possibilidades de acessos a recursos escassos por meio da
participação em redes. O importante aí não é tanto o que se conhece, mas
quem se conhece (WOOLCOOK, 2000; JOHNSON e LUNDVALL,
2000 apud ALBAGRI; MACIEL, 2002, p. 9).
Nessa linha de argumentos, Fukuyama (2005 apud FINK, 2009, p. 46) afirma que “a
necessidade de confiar é tão importante quanto à satisfação de ser igualmente confiável, do
contrário não há cooperação entre as pessoas”. Portanto, a confiança é um fator necessário nas
relações interpessoais, pois, o indivíduo mantém seus laços de amizades atrelados à questão
da confiança e reciprocidade e acredita que somente dessa forma as trocas poderão ocorrer.
Para Putnam (2000, p. 186), “a cooperação voluntária é mais fácil numa comunidade
que tenha herdado um bom estoque de capital social sob a forma de reciprocidade e sistema
de participação cívica”, enfatizando que o capital social está pautado na questão da confiança,
normas e sistemas que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as
ações coordenadas.
A dimensão relacional do Capital Social vem ganhando espaço na área da economia.
Estudos recentes apontam que o capital social serve como um fator indutor de
compartilhamento de interesses comuns entre indivíduos inseridos em um grupo social.
Contudo, apesar da expansão do capital social no mundo literário, alguns estudiosos
questionam o posicionamento de certos autores quando falam sobre o tema. Estes teóricos
enfatizam que “não se pode mensurar estoques de capital social, sendo, portanto impossível
27
ter uma taxa de retorno” .(ARROW, 2000; SOLOW, 2000; GITELL, 1998 apud
MONASTERIO, 2000, p. 32)
2.2. REDES SOCIAIS
A análise de Redes Sociais emerge como uma forma de estudar as relações sociais
entre os indivíduos a partir das estruturas de redes de relacionamento, de maneira a identificar
as formas, os motivos, os interesses, o posicionamento e outros fatores determinantes no
processo de formação de uma rede (FARIAS; SANTOS, 2010).
O conceito de redes sociais enfatiza a posição do indivíduo dentro do grupo de modo
que flua a informação, facilitando, assim, a troca da mesma para possibilitar o bem comum a
todos, pois
A confiança, a reciprocidade e a cooperação em redes de relações constituem
as instituições sociais de Capital Social, recursos que podem contribuir para
o desenvolvimento produtivo e para o fortalecimento da democracia de
determinada região, comunidade ou agrupamento social. (RIBEIRO, 2008,
p. 3).
Os recursos gerados pelo capital social contribuem para o fortalecimento dos atores
dentro de suas redes, fator de grande relevância nas redes das comunidades analisadas,
definindo, assim, os mecanismos de confiança, solidariedade e cooperação.
Granovetter (2007) considera que tais mecanismos de abertura e de fechamento que
definem as fronteiras da confiança e da filiação social (parentesco, vizinhança, comunidade
étnica) devem estar no centro de interesse comum aos atores de uma rede.
Marteleto e Silva (2004), afirmam que a técnica de análise de redes sociais interessam
a pesquisadores de vários campos do conhecimento. Na tentativa de compreender o impacto
da rede sobre a vida social, eles deram origem a diversas técnicas de análise que têm como
base as relações entre os indivíduos, em uma estrutura em forma de redes. Nesta inserção do
indivíduo a principal característica está nas relações sociais desenvolvidas por estes atores,
fortalecendo assim seus modos de relacionamentos e intensificando uma relação de confiança
e solidariedade.
Para Farias e Santos (2010) existem duas formas de se fazer análise de Redes Sociais,
uma através da análise de Redes a partir da investigação do relacionamento do indivíduo
dentro da rede, com foco no seu perfil, sem haver restrições na fonte de relacionamento. A
28
outra forma refere-se à análise do grupo investigado, sendo estes relacionamentos restritos ao
grupo. Os sujeitos são conectados por algum tipo de relação, valor, interesse e
compartilhamento (MARTELETO; SILVA, 2004).
Ribeiro (2009, p. 04) conceitua Redes Sociais “como um conjunto de nós
interconectados, onde os sujeitos possuem algum tipo de vínculo que lhes proporciona a troca
e compartilhamento de conhecimentos”. Entretanto, redes sociais não se limitam apenas às
trocas de informação e conhecimento, mas em fluxo de todos os recursos disponíveis na rede.
O indivíduo possui conhecimento individual e compartilha o mesmo, tal informação contribui
para o desenvolvimento de parceria que trazem benefícios recíprocos (RIGO; OLIVEIRA,
2007).
É inevitável não falar em confiança quando se busca a análise de Redes Sociais.
Segundo Russeau et al (1998, apud FINK, 2009), existe uma condição para surgimento de
confiança e estabilidade, que é a questão da expectativa quanto a ações positivas do outro
indivíduo como elemento integrante da confiança, o que é possível através da integração do
mesmo na rede de relacionamento.
Putnam (1990, apud ALBAGRI; MACIEL, 2002), apresenta dois pressupostos quanto
à conceituação de redes: (1) Redes (“redes de engajamento cívico”) e normas estão
empiricamente associadas e têm consequências econômicas importantes para a comunidade,
supondo um papel instrumental para o capital social; e (2) a participação cívica, onde os
ganhos coletivos somente são possíveis com as intermediações externas na comunidade.
Rigo e Oliveira (2007, p. 06) sintetiza que “a configuração dos atores em redes pode
potencializar as ações de cada um, favorecendo os objetivos coletivos e a solução dos
problemas, residindo neste ponto o reconhecimento do seu valor”. Para os autores a análise de
Redes Sociais tem seus fundamentos a partir das relações entre os indivíduos através dos
“nós” que compõem as redes, e dependendo das relações desenvolvidas, os laços podem ser
fortes ou fracos.
Nesse sentido, Granovetter (1973) aponta uma qualificação de natureza na formação
dos “nós” e de laços sociais inseridos em redes de relacionamentos interpessoais: um laço
forte entre dois indivíduos envolve uma elevada dose de tempo e esforço dedicado à relação,
feição emocional e confiança e reciprocidade. Logo, é um relacionamento que se molda e
autor reforça ao longo do tempo (NICOLA; DIESEL, 2006).
Marteleto e Silva (2004, p. 43) afirmam que “as pessoas vivem em redes de
dependências, difíceis de serem rompidas. Essas redes são diferentes em cada sociedade. O
modo como o indivíduo se comporta é determinado por suas relações passadas ou atuais com
29
outras pessoas”. Independente da rede em que o individuo está conectado existe sempre um
grau de dependência que fortalece as relações dentro da rede, ou seja, quanto maior o tempo
de permanência na rede maior será a relação de confiança entre os mesmos.
É importante ressaltar que a análise das Redes Sociais surge como forma de estudar as
relações sociais entre indivíduos, através de suas várias formas de relacionamentos, buscando
assim estudar sistemas interativos entre pessoas, tais como cultura, hábitos, apresentando
como fundamento de estudos os vínculos relacionais tais como, associação, relação física,
relação virtual, laços biológicos, afiliação em partidos, órgãos de classes (GRANOVETTER,
2007).
Em função disso, para se efetuar a análise de redes sociais, vários fatores deverão ser
levados em consideração. Borgattt (2003, apud RIBEIRO, 2009) enfatiza que a análise de
redes sociais busca mapear relações de confiança: Quem confia em quem? Com quem se
busca auxílio? Com quem se obtém informação? Quem tem melhor competência? Qual a
intensidade desta relação? Qual o grau de compartilhamento desta relação? Qual a estrutura
social econômica e política da rede? Qual a centralidade do grupo de cada ator, quantidade de
ligações, proximidade, confiança? Qual a posição estratégica de cada ator dentro da rede?
Quais os papéis que os atores representam na rede, em termos de recursos, partilha,
cooperação, e responsabilidades? Qual a simetria quanto à média entre as ligações? Qual a
abrangência da rede quanto ao total de atores e o número de atores isolados?
2.2.1 Principais Fatores E Critérios Para Análise De Redes Sociais
O fator confiança dentro de uma rede social tem uma representatividade de grande valia
quando se busca analisar os elementos da Rede social, pois sem ela seria impossível viabilizar
os recursos disponíveis dentro de uma rede. Segundo Fink (2009), a análise de redes sociais
pode ser vista sob dois aspectos: o primeiro diz respeito à visão estrutural, que busca
fundamentação na teoria dos grafos; outro aspecto refere-se à dimensão relacional do capital
social dentro da rede. Este último atribui o elemento essencial para análise das redes das
comunidades visitadas.
Hanneman (2001, apud FINK, 2009) aponta os conceitos utilizados dentro da análise de
redes sociais, para que se possa ter uma melhor compreensão quanto às terminologias
utilizadas em relação à apresentação das discussões dos resultados:
30
Ator: São as pessoas dentro do grupo, ou rede que podem ser alocadas dentro das
comunidades;
Ligações: São representações gráficas de linhas que se conectam aos pontos, podendo haver
ligação unilateral, quando um ator tem apenas uma ligação com outro ator, ou bilateral,
quando existe mais de uma ligação entre os atores;
Subgrupos: São subconjuntos de atores de uma determinada rede, que resultam de aspectos
que envolvem a localização, função, hierarquia, idade, nível cultural ou sexo. Dois atores
ligados formam uma díade. Três atores ligados formam uma tríade e assim sucessivamente;
Relação: É um tipo específico de ligações de um determinado grupo;
Tamanho: Quantidade de ligações dentro de uma rede;
Densidade: É vista como o quociente entre o número de ligações existentes e o número de
ligações possíveis dentro de uma rede. Este elemento determina o potencial da rede em termos
de fluxos de informações na referida rede e vice-versa (SCOTT, 2000 apud FINK, 2009);
Distância geodésica: É o caminho mais curto entre dois atores de uma determinada rede;
Diâmetro: É a maior distância geodésica entre quaisquer pares de atores de sua respectiva
rede.
Estes elementos apresentados por Hanneman (2001, apud MONASTERIO, 2000)
trazem a base fundamental para a análise de redes sociais, pois as relações de laços fortes e
fracos, que sustentam a hipótese de Granovetter (2007) de que quanto mais densa uma rede
maior será a relação de confiança entre seus elementos.
Nesse sentido, se para uns recursos a rede se centra nos laços fortes e de parentesco,
para outros, os laços fracos são essenciais para garantir a provisão das necessidades, ou seja,
em uma rede de relacionamentos os laços se intensificam à medida que cresce o grau de
confiança amadurecido pelo tempo de relacionamento (PORTUGAL, 2009).
31
Fink (2009), ao desenvolver sua pesquisa sobre as Redes Sociais, em especial a
importância sobre confiança, aponta outros elementos que servem de mapeamento dos
subgrupos dentro da estrutura das redes sociais, quais sejam:
Coesão: Forte relacionamento de atores de uma rede, formando subgrupos por tipos de
afinidades por terem padrões de comportamentos semelhantes. Este fator foi identificado nas
redes dos catadores das comunidades visitadas, pois todos desenvolvem a mesma atividade e
têm como pilar de sustentação a confiança, percebida não somente nos laços familiares, mas
também nos laços de amizades.
Clique: Quando três ou mais atores escolhem a todos do subgrupo como pares em suas
ligações.
Reciprocidade: São as ligações entre os atores, que são representadas quanto ao sentido das
setas. As ligações são recíprocas quando fluem no mesmo sentido. Ex: A confia em B e B
confia em A.
Posição: Elementos que estão em redes e que se aproximam de alguma forma, por
semelhanças.
Papel: São padrões de relação entre os atores ou posições.
Centralidade: É a medida de quão é acessível um determinado ator dentro da rede, ou seja, é
o seu poder de intervenção dentro da rede social, mobilizando assim o fluxo de informação
dentro da rede. Marteleto e Silva (2004) afirma que embora a centralidade não se trate de uma
posição fixa dentro da rede, hierarquicamente determinada, traz consigo a ideia de poder.
Hanneman (2001 apud FINK, 2009) ressalta que para uma melhor compreensão da densidade
deve-se verificar a classificação da centralidade:
Centralidade de entrada: É a medida do número de ligações que um ator recebe de outros
atores, configurando seu grau de popularidade dentro da rede;
Centralidade saída: Representa a medida do número de ligações que um ator estabelece com
outros atores da rede, denotando expansividade;
32
Centralidade de proximidade: Medida do número mínimo de passos que um ator necessita
realizar para estabelecer uma relação com qualquer outro ator da rede, denotando autonomia;
Centralidade de intermediação: Baseia-se em um controle exercido por um ator sobre as
interações entre dois atores na rede, denotando a capacidade de interrupção.
Com base nestes conceitos e definições citados pelos autores, buscou-se caminhos
para analisar as redes sociais das comunidades visitadas, em que os fatores apontados foram
de fundamental importância para uma melhor interpretação das relações dentro da rede, dos
laços de parentesco, das amizades, e da vizinhança.
Outro critério apontado pelos autores para analisar as redes sociais refere-se à
dimensão do Capital Social focada nas relações de confiança, que funciona como um
elemento “termômetro” dentro das relações sociais. Segundo Albagri e Maciel (2002) “os
comportamento associados ao Capital Social – confiança, redes e valores compartilhados,
contribuem para os processos de aprendizagens, de criação e de compartilhamento de
conhecimentos e habilidades”.
Ainda sobre a questão da confiança, Putnam (2000, apud ALBAGRI; MACIEL, 2002)
sintetiza que “a confiança “lubrifica” a vida social, e que a sociedade com elevados graus de
confiança tornam-se e permanecem ricas porque são cívicas”. Nesse sentido, ressalta-se que o
autor destaca a confiança como um fator essencial nas relações, evidenciando, assim, que
quanto mais alto for o grau de confiança entre um grupo, maior será o ganho coletivo,
trazendo assim benefícios comuns ao grupo.
Segundo Coleman (1986), “o Capital Social é elevado onde as pessoas confiam uma
nas outras e onde essa confiança é exercida pela aceitação mútua de obrigações”,
considerando esta acepção do autor, a confiança surge como um compromisso entre os atores
de uma rede, canalizando as informações dentro da rede, no sentido da busca de satisfação do
grupo.
Fukuyama (1995, apud MONASTERIO, 2000) equipara o Capital Social à confiança,
afirmando que “são as normas de cooperação que compõem o Capital Social”, segundo o
autor estas normas não precisam estar no papel, pois parte-se do princípio da confiança. Nesta
dimensão, os atores da rede seguem as normas, não no sentido de imposição, mas no sentido
de serem obedecidas por conta da confiança, reciprocidade e cooperação. Elementos que
33
dominam toda a discussão sobre capital social e redes sociais presente neste trabalho realizado
junto às comunidades do município de Curuçá.
2.2.2 Morfologia Das Redes
A análise morfológica das redes sociais vem conquistando espaço na sociologia,
antropologia e outras ciências que se manifestam para desenvolver estudos sobre grupos de
pessoas, comunidades, laços de amizades, família e outros vínculos que fazem com que o
indivíduo mantenha um tipo de elo com seu meio social. Os laços são usados para representar
fluxos de recursos, relações simétricas de amizade, transferências ou relações estruturais entre
“nós” (WELMAN; BERKOWITZ, 1991: apud PORTUGAL, 2009).
Assim sendo, estes autores trouxeram contribuições de cunho fundamental para melhor
reflexão quanto à análise morfológica de redes, pois
As estruturas sociais podem ser representadas como redes, como conjunto de
“nós” (ou membros do sistema social) e conjuntos de laços que representam
as suas interconexões. Esta é uma ideia maravilhosamente libertadora. Dirige
o olhar dos analistas para as relações sociais e liberta-os de pensarem os
sistemas sociais como coleções de indivíduos, díades, grupos restritos ou
simples categorias. Usualmente os estruturalistas têm associado nós com
indivíduos, mas eles podem igualmente representar grupos, corporações,
agregados domésticos ou outras coletividades. Os “laços” são usados para
representar fluxos de recursos, relações simétricas de amizade, transferências
ou relações estruturais entre “nós”. (WELMAN e BERKOTWITZ, 1991
apud PORTUGUAL, 2007, p. 6)
Nesse sentido, a morfologia de redes ganha elementos que representam o indivíduo ou
ator (termo encontrado em literaturas que discutem este tema). Estes elementos ganham
ênfase quando visualizados dentro do contexto de redes sociais. São laços que contribuem
para gerar a confiança, quanto mais forte for o laço maior será o grau de confiança dentro de
uma rede, maior será seu potencial de intermediação e mais densa quando for relacionada ao
número de ligações que cada indivíduo faz dentro da estrutura da rede.
Vale ressaltar que Welman (1985, apud PORTUGAL, 2009) desenvolveu um trabalho
de rua em bairros urbanos – entretanto, uma pesquisa sem sucesso – e passou assim a entender
realidade local diante de seus costumes, crenças, criando uma forma específica de relação
social. Segundo este autor, as comunidades são vistas como um grupamento que está em
busca da realização do bem comum. O autor propõe o conceito de “comunidade pessoal”
34
como forma de tornar inteligível um conjunto de laços de companheirismo e entreajuda –
“laços de comunidade” que extravasam os limites das unidades geográficas de vizinhança
(WELMAN, 1985 apud PORTUGAL, 2009).
Desse modo, a morfologia de redes permite trazer para análise das comunidades a
possibilidade do indivíduo se mover dentro do seu grupo social, buscando laços que se
reforçam com maior afinidade, pautados com vínculos de confiança e amadurecimento das
relações dentro da estrutura das redes. Assim sendo, a morfologia das redes abre e/ou fecha
possibilidades do indivíduo com posições semelhantes na estrutura social (WELMAN, 1991
apud PORTUGAL, 2009).
Dessas acepções sobre morfologia de rede, pode-se ressaltar que os estudos que
abordam o assunto procuram dar maior contextualização quanto aos níveis de
relacionamentos dentro da rede. Essas relações se intensificam à medida que o fator confiança
alcança níveis elevados dentro da rede, estruturando uma base sólida para que haja
solidariedade e comprometimento entre os membros de um determinado grupo.
Estudos de Granovetter (1985, apud MONASTERIO, 2000) trazem para o bojo da
sociologia uma obra que procurou mostrar a análise de redes sociais. Intitulada “Ação
econômica e estrutura social: O problema da inserção”, tem como foco principal uma
abordagem sobre a escolha dos indivíduos que são baseadas em uma determinada malha de
conexões com outros agentes. Contudo, Granovetter (1985, apud MONASTERIO, 2000) sem
utilizar a expressão “capital social” compreende as redes sociais para resolver o dilema do
grupo e promover a confiança.
Notadamente há ênfase no que diz respeito às relações sociais dentro de uma região,
comunidade, empresa, e elas são fortalecidas por meio dos laços de confiança. Quanto maior
for sua dimensão, maiores são os elos existentes entre seus membros.
Colemam (1988, apud MONASTERIO, 2000) é tido como o responsável em citar o
Capital Social em suas obras, seguindo de perto Granovetter (1985) que sustenta a hipótese
dos laços fracos e fortes para definir os relacionamentos dentro de uma rede social.
Monasterio (2000), em sua tese “Capital Social e a Região Sul do Rio Grande do Sul” cita
texto de Coleman sobre a influência para a análise de redes sociais:
O Capital Social (...) não é uma entidade única, mas uma variedade de
diferentes entidades tendo duas características em comum: todas elas
consistem de algum aspecto de uma estrutura social e elas facilitam certas
ações de indivíduos que estão dentro da estrutura. Como outras formas de
capital, o capital é produtivo, tornando possível a realização de certos fins
que seria, sem ser atingido na sua ausência. Ao contrário e outras formas de
35
capital, o capital social na estrutura das relações entre pessoas e entre
pessoas é apresentado ao indivíduo em implementos físicos de produção.
(COLEMAN, 1990 apud MONASTERIO, 2000, p. 302)
Isso conduz ao aprofundamento da análise de redes sociais, pois o indivíduo que está
inserido na rede pauta seu relacionamento baseado nos fatores que levam ao interesse coletivo
do grupo. Estes fatores podem ser apontados como confiança, reciprocidade e,
principalmente, sustentado no grau de proximidade dentro das redes.
O conceito de centralidade é fundamental para tipificar a morfologia de uma rede social.
Dois aspectos estão no foco do conceito: o primeiro diz respeito ao número de ligações
convergentes a um determinado ponto, onde a concentração de ligações num ponto em
particular indica uma configuração centralizada de estrutura de redes; o segundo aspecto
refere-se ao número de pontos na rede, que são, forçosamente, passagem para o intercâmbio
entre dois outros pontos da rede delineando maior ou menor grau de centralização, uma vez
que sejam identificados (ROMANIELLO, 2010).
Nesse sentido, ressalta-se que estes indicadores são necessários para fundamentar a
análise das redes sociais das comunidades pesquisadas no município de Curuçá, uma vez que
os seguintes indicadores serão construídos:
a) Indicador de densidade - permite analisar a rede tanto no seu conjunto como
individualmente, este indicador mostra o valor em percentual da rede, isto é, mostra a
alta ou baixa conectividade da rede.
b) O indicador de Centralidade - permite mostrar o número de ligações de cada ator
dentro da rede.
c) O indicador de intermediação - permite mostrar o prestígio que um ator exerce dentro
da rede, ou seja, mostra a possibilidade de um ator poder intermediar as comunicações
entre pares de “nós”.
d) O indicador de proximidade - mostra a capacidade de um ator alcançar todos os nós
da rede.
36
3 METODOLOGIA
3.1 TIPO DE PESQUISA
Segundo Vergara (2000), a classificação da pesquisa se qualifica em relação a dois
aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa
descritiva, em virtude de expor características das comunidades locais do município em
estudo. O emprego da pesquisa descritiva teve como objeto a identificação dos fatores que
contribuem para apontar a dimensão estrutural do Capital Social dentro da rede dos catadores.
Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa baseada no estudo de caso. O estudo de
caso é uma investigação de um caso específico bem delimitado, interpretado e analisado no
contexto do tempo e do lugar para que se possa realizar uma busca circunstanciada de
informações. (VENTURA, 2007).
Utilizou-se também a metodologia de redes sociais. Esta metodologia foi apoiada na
utilização do software UCINET (BORGATTI; EVERETT; FREMAN, 2002) que gerou os 03
(três) sociogramas de redes das comunidades de Boa Vista, Algodoal e Beira Mar.
Os analistas de redes sociais utilizam dois tipos de ferramentas para representar
informações sobre padrões de relações entre atores sociais: sociogramas e matrizes.
Sociogramas (ou gráficos) são diagramas de redes que permitem a visualização de uma dada
estrutura social provenientes de informações geradas a partir de uma matriz. Matrizes são
conjuntos quadrados de elementos dispostos em linhas horizontais (filas) e verticais (colunas)
onde se introduzem informações para geração de gráficos ou de sociogramas.
Para caracterização de ARS (Análise de Redes Sociais) foram realizadas entrevistas
com os moradores da localidade. Nessas entrevistas, membros das comunidades descreveram
seus conhecimentos, habilidades e atitudes sobre o manejo da catação do caranguejo nos
manguezais e suas formas de relacionamento dentro das redes sociais.
Dessa forma, esta pesquisa analisou os fatores que contribuem para a identificação do
capital social e a possibilidade de encontrar relações de confiança entre os membros das
comunidades.
37
3.2 NÚMERO DE ENTREVISTADOS, PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE
DADOS
3.2.1 Seleção dos atores sociais
Os entrevistados foram escolhidos de forma aleatória nas comunidades de Boa Vista,
Algodoal e Beira Mar, no Município de Curuçá/PA. Nestas comunidades existe a prática de
atividades de catação de caranguejos em áreas de mangues.
3.2.2 Coleta dos dados
A área de abrangência da Pesquisa são as comunidades Boa Vista, Algodoal e Beira-
Mar, Curuçá/PA, por apresentar extensas áreas de mangues localizadas na área da RESEX .
Foi elaborado um questionário com perguntas semiabertas, baseado nas literaturas de
Redes Sociais e Capital Social, divididos em dois blocos. No primeiro bloco havia perguntas
direcionadas a fim de identificar o perfil dos catadores de caranguejos nas comunidades
visitadas e as condições sociais dos mesmos. No segundo bloco, havia perguntas com o
intuito de identificar os aspectos da estrutura produtiva, comercialização, participação cívica,
e também identificar a maneira como são estabelecidas as relações sociais dentro da
comunidade.
Os dados que oferecem suporte ao trabalho foram obtidos a partir da aplicação de 52
questionários, preenchidos pelo pesquisador nas comunidades de Boa Vista, Algodoal e Beira
Mar, todas localizadas às margens do Rio Muriá, área de proteção da RESEX. Nas
comunidades de Boa Vista, Algodoal e Beira Mar foram coletados dados de 52 famílias que
desenvolvem a atividade (Tabela 01). As visitas foram feitas durante o mês de
dezembro/2011. Após a coleta e avaliação dos questionários, foi consolidado um banco de
dados que, posteriormente, foi submetido à análise estatística para elaboração de gráficos,
tabelas e distribuição de frequências.
38
Tabela 01 – Distribuição da amostra e números de questionários aplicados por comunidade
Comunidade Número de
Questionários
Número total de
famílias %
Boa Vista 16 29 8,09
Algodoal 18 80 22,28
Beira Mar 18 250 69,63
Total 52 359 100,00
Fonte: Dados da pesquisa
Os dados foram organizados em duas bases de dados. Os referentes ao perfil dos
catadores foram alocados no software SPSS 19.0, enquanto os que envolvem as questões de
relacionamentos foram trabalhados no software UCINET 6.109 e NetDraw 2.28. Estes dois
softwares permitiram a análise de rede sociais e subsidiaram as discussões sobre as evidências
de formação do Capital Social.
Utilizando os dados sobre grau de densidade, proximidade, intermediação e
centralidade foi possível identificar, com base no perfil dos catadores, suas relações dentro da
rede e os indicadores que podem conduzir à formação do capital social nas comunidades
visitadas. As análises foram feitas com base nos fundamentos da classificação dos laços fortes
e fracos (GRANOVETER, 2007) e Análise de Redes Sociais (MARTELETO; SILVA, 2004).
Os resultados obtidos na pesquisa foram apresentados em forma de sociogramas que
representam as redes sociais de cada comunidade visitada.
A análise dos sociogramas se concentrou em dois aspectos: (1) os nós que representam
os atores (catadores) e (2) as linhas que representam o elo entre cada ator dentro da rede
analisada. O software UCINET possibilitou gerar informações quantitativas e qualitativas a
partir do ordenamento das interações (informação) dos elementos da rede, de modo que estas
ligações fossem representadas por meio de gráficos, os quais mostram os “nós” em que cada
indivíduo da rede mantém ligação, também chamados de “laços”. A estrutura da rede foi
analisada usando os seguintes indicadores gerados pelo programa UCINET: densidade,
centralidade e intermediação, sendo que eles determinam a posição do papel desenvolvido de
cada membro da rede.
39
4 CARACTERIZAÇÃO DA RESEX
Estudos recentes realizados por Souza (2010) retratam a realidade de Curuçá quanto aos
aspectos econômicos e sociais frente à realidade dos catadores de caranguejos. A pesquisa
realizada mescla temas que relatam a ocupação humana no município, conflitos sociais na
pesca e a questão que vai da saúde ao saneamento oferecido à população, apontando ainda
qual a visão dos catadores quanto ao seu futuro com a criação da RESEX (Figura 1). È
importante ressaltar a existência de relatório construído por pesquisadores da Casa da Virada
de Curuçá, que tem apoio do Museu do Mangue, apontando os indicadores econômicos e
sociais das comunidades de Curuçá.
Outro fator relevante da pesquisa refere-se à criação da Resex Marinha Mãe Grande de
Curuçá, conforme a lei 9.985/2000 de criação de RESEX. Nesta área estão localizadas as
comunidades apresentadas anteriormente, onde existem famílias que vivem ao redor do
mangue e ainda desconhecem a legislação quanto ao uso e manejo dos recursos naturais que
estão lá. A RESEX, de acordo com Figueiredo (2007), apresenta as seguintes características:
A Reserva extrativista marinha Mãe Grande protege igarapés, restingas,
ilhas, furos, rios, praias e os manguezais medindo entorno de 37.062,09
hectares, englobando praticamente todo o estuário do município de Curuçá.
Seus recursos naturais encontram-se diretamente ligados à atividade
pesqueira (mariscagem, pesca artesanal) e ao extrativismo vegetal (coleta
tradicional de produtos florestais), conquanto com uma possibilidade
concreta de abrigar um grande porto de escoamento nacional.
(FIGUEIREDO, 2007, apud SOUZA, 2010, p. 98)
A Reserva extrativista marinha Mãe Grande de Curuçá foi legalmente constituída em
13/12/2002, possui extensas áreas de manguezais, onde vivem ao redor populações carentes
em virtude das variedades de recursos naturais lá encontradas. A área da RESEX é
considerada uma das mais importantes Unidades de Conservação (UC) localizada na costa
amazônica (MENDES et al, 2006 apud SOUZA, 2010).
É necessário, pois, frisar que nestas áreas encontram-se os manguezais que são
identificados como uma unidade ecológica da qual dependem dois terços da população
pesqueira do mundo (CANESTRI; RIUZ, 1973 apud ALMEIDA, 2008). E constituem,
consequentemente, o ponto de partida para o sustento nutricional de uma enorme diversidade
de animais (PANNIER; PANNIER, 1980 apud ALMEIDA, 2008).
Nesse sentido, as comunidades locais que estão localizadas nestas áreas da RESEX,
vivem da intensa coleta do caranguejo, um importante elemento da fauna em toda extensão da
40
RESEX (ALMEIDA, 2008), tendo o mangue como seu habitat natural. A dependência dos
catadores deste molusco é de grande relevância para suas rendas familiares, uma vez que não
desenvolvem outra atividade remunerada.
A origem do nome “Grande Mãe de Curuçá” refere-se à “grande mãe”, aquela que
acolhe a todos (SOUZA, 2010). Neste sentido, a RESEX visa à preservação destas áreas a fim
de poder garantir os meios de sobrevivência das populações que vivem ao redor da mesma.
Segundo Mendes et al (2006, apud SOUZA, 2010), em geral, os moradores ocupantes destas
áreas não têm outro lugar onde morar e também não serão retirados do local onde já se
encontram. Considerando esta realidade, vale ressaltar que essa é uma situação suscitadora de
conflitos, e cabe ao poder público tentar solucioná-los. Mas esta não a razão de ser desta
pesquisa, a situação fora mencionada apenas como um fator, em decorrência de áreas de
preservação ambiental.
41
Figura 1 – Localização de áreas que estão protegidas pela RESEX - Curuçá
Fonte: Revista Geografar (2010)
É de conhecimento público que as Reservas Extrativistas decorrem de demandas
oriundas de um segmento de trabalhadores rurais, conhecidos como extrativistas, com o
objetivo de buscar a regularização fundiária de suas posses (ALMEIDA, 2008). Objetiva-se
42
também alcançar a solução de conflitos, condição essencial para a consolidação de sua
atividade econômica, e é dentro deste contexto que estão inseridos os catadores de
caranguejos que desenvolvem suas atividades nos arredores dos mangues, em áreas
demarcadas pela RESEX.
Em conformidade com o SNUC (Sistema Nacional de Unidade de Conservação), a
criação de uma RESEX, além da consulta pública deve ser precedida de estudos técnicos que
permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade
(SOUZA, 2010).
Deve-se ainda levar em consideração que no meio ambiente ocorrem constantes
modificações, dadas as suas características envolvendo biodiversidade, ecossistemas, habitat
natural. O local em estudo agrupa estes elementos, que serão analisados através de dados,
mantendo as peculiaridades da área em análise, bem como a realidade local das comunidades.
43
4.1 DESCRIÇÃO SOCIOECONÔMICA DAS COMUNIDADES
4.1.1 Comunidade Beira Mar
4.1.1.1 Aspectos locacionais
A comunidade Beira Mar fica a 8 km de distância da cidade Curuçá, localizada às
margens do rio Muriá, propício a áreas de mangue, fazendo parte da RESEX. O acesso pode
ser feito por veículo, por uma estrada vicinal não pavimentada. A pesquisa de campo
identificou que residem na comunidade 80 famílias que vivem da pesca de mariscos, peixes e
caranguejos, sendo que 32 (37,5%) destas famílias realizam o manejo de caranguejos, sua
principal atividade de sustento.
4.1.1.2 Características econômicas e sociais dos comunitários
Na comunidade foram entrevistadas 18 famílias, todas ligadas à atividade de coleta de
caranguejo. Há predominância de catadores do sexo masculino (100%). A média de idade é
de 32,22 anos, sendo que a média de tempo de atividade de catador é de 15,67 anos, entre os
quais 50% possuem o tempo atividade superior a 14 anos (Tabela 2).
Tabela 2 – Resumo descritivo da Idade e Tempo de Atividade de catador (Comunidade Beira Mar)
Idade Tempo na atividade de
catador
Média 32,22 15,67
Menor valor 16 4
Maior valor 60 45
Fonte: Dados da pesquisa
Embora se tenha verificado a predominância das faixas etária entre 26 e 30 anos nesta
comunidade, observou-se também a presença de adolescentes com 16 anos, que desde os 8
anos dedicam parte de seu tempo à atividade da coleta, em lugar de estarem na escola. A falta
de fiscalização pelos órgãos competentes contribui significativamente para a permanência
dessa situação. Diante disso, é possível perceber a ausência do capital social Brinding, ou
capital social de ponte, no qual a participação institucional é de fundamental importância,
principalmente quanto à atuação do estado em comunidades que apresentam situações desta
44
natureza. Neste sentido a evolução do capital social mostra-se negativa (NICOLA; DIESEL,
2006).
A maior idade observada foi de 60 anos, sendo que está na atividade há 45 anos. Isso
mostra que a prática de iniciação das pessoas nessa atividade começa na adolescência,
situação que se mantém há bastante tempo. Este fator está associado à dificuldade de conciliar
a vida escolar e a atividade de catador, impossibilitando, assim, a permanência nas escolas nos
cursos que possuem horários regulares.
Tabela 3 – Faixa etária dos entrevistados (Comunidade Beira Mar)
Faixa etária Nº de casos %
15 a 20 anos 4 22,2
21 a 25 anos 2 11,1
26 a 30 anos 5 27,8
31 a 40 anos 4 22,2
41 a 50 anos 1 5,6
51 a 60 anos 2 11,1
Total 18 100,0
Fonte: Dados da pesquisa
Dos 18 entrevistados na comunidade, 2 afirmaram não saber ler nem escrever. A
média de anos de estudos é de 4,11 anos, porém, existem catadores com um ano e com oito
anos de estudos, daí, assumindo-se que não houve reprovações. Os catadores, no máximo,
conseguiram obter o ensino fundamental completo ou a primeira fase deste (com desvio
padrão de 1,69 anos, o que indica elevada dispersão).
Pode-se destacar também que 25% dos entrevistados possuem o tempo de
escolaridade acima de 4 anos e meio, o que mostra o baixo nível de instrução formal dos
entrevistados. Segundo Putnam (2000, p. 123) “a educação é um dos fatores que mais
influenciam o comportamento político em uma comunidade”. Diante deste fator, essa
comunidade não possui elementos de uma comunidade cívica, em virtude dos comunitários
não reivindicarem seus direitos junto às autoridades competentes, e o baixo nível de
escolaridade reforça esta interpretação.
Em relação à cidade de origem dos catadores, 72,2% deles são oriundos do município
de Curuçá e os demais dos municípios de São Caetano de Odivelas, Belém e Acará. Este fator
retrata uma baixa mobilidade no tempo e espaço destes comunitários, podendo ser relacionado
às poucas oportunidades de empregos formais e ao baixo nível de escolaridade. No que se
45
refere ao estado civil, tem-se que os catadores estão distribuídos igualmente entre “Solteiro”
(50%) e “Casado ou em União estável” (50%). Entre os que são solteiros, 44,4% possuem
filhos, sendo que destes, 75% possuem até 3 filhos. Apenas uma família tem 7 filhos. Já entre
os casados ou em união estável, 88,9% possuem filhos, e destes, 62,5% possuem até 4 filhos
(Gráfico 01).
Gráfico 1 – Distribuição dos Catadores de Caranguejo, quanto ao estado civil e proporção de filhos
(Comunidade Beira Mar)
Fonte: Dados da pesquisa
4.1.1.3 Infraestrutura
O tipo de moradia de maior predominância na comunidade Beira Mar são domicílios
construídas de tijolos (83,3%), e o restante dos domicílios é constituído de taipa, uma espécie
de muro de barro ou de cal e areia, socados entre armações de tábuas. Os 18 domicílios são
compostos, em média, de aproximadamente 4 cômodos, sendo que 83,3% dos domicílios têm
até 4 cômodos. Quanto à condição de abastecimento de água, 88,9% das famílias possuem
água encanada, e o restante possui poço artesiano; 100% dos domicílios possuem energia
elétrica, 61,1% dos domicílios utilizam instalações rústicas e precárias para realização de
necessidades fisiológicas. Não há coleta de lixo, e, por consequência, todas as famílias fazem
queima do lixo domiciliar.
A comunidade é carente de transportes, e este foi um fator relevante apresentado
pelos catadores. O meio de transporte para a cidade de Curuçá é um ônibus escolar que só
88,9%
44,4%
11,1%
55,6%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Casado / União Estável Solteiro
Tem filhos Não tem filhos
46
atende às crianças que estudam na própria cidade. Quando os comunitários precisam ir à
cidade, utilizam o transporte alternativo de moto-taxistas, que cobram R$ 15,00 (quinze reais)
para conduzi-los até a cidade. Outra forma de deslocamento é usar um ônibus alternativo -
cujo preço da passagem é de R$ 2,50 (dois reais e cinquenta centavos) – o qual tem horários
específicos de saída para a cidade de Curuçá.
Outra dificuldade apresentada pelos membros da comunidade refere-se à questão da
saúde. Lá não existem hospitais ou postos de saúde. Segundo relatos dos entrevistados, um
médico visita a cidade uma vez por mês para realizar o atendimento dos casos mais graves.
Por conta disso, os moradores seguem o caminho do saber popular para suprir a carência do
atendimento médico, enfrentando dificuldades quando há urgências em função da carência de
transporte para o deslocamento até a cidade. Os dados da infraestrutura também reforçam o
entendimento de que há baixo nível de Capital Social para reivindicação de direitos, o que faz
perceber a fragilidade em termos de comunidade cívica.
4.1.1.4 Caracterização da Estrutura Produtiva
Dos entrevistados, 13 respondentes não possuem outra atividade além da de catador,
o que corresponde a 72,2%. Este fator está relacionado à falta de oportunidades em razão da
baixa escolaridade apresentada pelos comunitários, sendo a necessidade de manter a família
um dos principais motivos que levaram a desenvolver este tipo de atividade (61,1%).
O cotidiano dos catadores começa cedo, às 6 horas da manhã. Os esforços da captura
com duração média de ida ao mangue é de 04 dias, sendo que permanecem no local
aproximadamente de 06 horas, possibilitando coletar em média 102 caranguejos. A principal
espécie capturada é o caranguejo macho, sendo a média de produtividade em relação às horas
no mangue de 18,94 caranguejos coletados por horas. Segundo o relato de um dos
respondentes
quando o dia tá (sic) bom, a gente pega de 80 a 100 caranguejos (Informação
verbal)1
Os caranguejos coletados diariamente são acondicionados em média de 43,32 de
horas. Os catadores não possuem planejamento quanto as suas atividades diárias e não
desenvolvem a gestão administrativa quanto aos recursos naturais.
A partir das informações fornecidas pelos comunitários, estes se preparam em grupos
para descer até o mangue. O principal meio de transporte é a “montaria”, nome dado aos
barcos que fazem o transporte dos catadores. Na embarcação, os catadores levam roupas para
1 Informe e comunicação colhida dos entrevistados moradores da comunidade Beira Mar, em 2011.
47
usarem no mangue durante a coleta dos caranguejos. As roupas são camisas com mangas
longas, calças compridas e uma espécie de proteção para o rosto confeccionada
artesanalmente por eles, além de uma braçadeira (espécie de luva) para coletar o marisco, uma
vez que eles devem introduzir o braço dentro de uma funda cavidade no terreno, feita pelo
próprio caranguejo. Outro ponto relatado pelos catadores refere-se à alimentação que levam
para consumo no mangue. As necessidades diárias são supridas pelo consumo de farinha, pão
e sardinha em conserva e água armazenada em garrafas.
Várias situações de risco à vida foram relatadas pelos catadores durante a
permanência no mangue, tais como desabamento de árvores e picadas de cobras e insetos.
Para se protegerem contra picadas de insetos, eles utilizam óleo diesel – comprado no
comércio da comunidade, pelo preço aproximado de R$ 1,00 (um real) a garrafa com 300 ml
– que funciona como um repelente. Em época de chuvas intensas, os catadores correm mais
riscos no mangue. Nesse período, eles enfrentam a ameaça dos raios e perigo durante a
viagem, quando o mar fica agitado, pois as embarcações são quase sem segurança, havendo
até o risco de naufrágio.
Alguns possuem sua própria embarcação, enquanto outros necessitam do favor para
conseguir chegar ao mangue. Há catadores que possuem mais de uma embarcação, facilitando
o empréstimo para os que não possuem, sem cobrar aluguel. Tudo isso funciona mantido por
cooperação e confiança. Desse modo, percebe-se uma das dimensões do capital social que
está pautada nas bases da confiança e ação coletiva (PUTNAM, 2000). Nesta dimensão
relacional do capital social, o elemento transacional oferece alto grau de confiança quanto aos
benefícios mútuos que um indivíduo espera receber em uma relação (FINK, 2009).
O retorno do mangue acontece por volta das 16 horas do dia, e as embarcações
atracam em um pequeno porto, construído pelos próprios catadores. Depois, todo o produto é
desembarcado e direcionados para a residência dos catadores ou do líder principal da
comunidade, o sr. Brígido, conhecido popularmente como “Bijoca”.
O marisco é vendido em sacas, cujo preço chega a no máximo R$ 40,00 (quarenta
reais). Este foi um dos fatores mencionados entre as principais dificuldades enfrentadas pelos
catadores, pois o valor de compra ofertado pelos “marreteiros” (denominação atribuída aos
compradores oriundos de Belém que pagam um preço irrisório pelo produto) é injusto quando
comparado ao preço final que o caranguejo chega às feiras livres, sem contar as grandes
dificuldades enfrentadas no mangue para a coleta do caranguejo.
Segundo informações coletadas entre dos respondentes, os compradores não abrem
mão da negociação do preço. Uma melhora pouco significativa ocorre durante o inverno, em
48
virtude de grandes dificuldades de se chegar ao mangue, ficando escasso o produto,
prevalecendo a lei da oferta e demanda. Geralmente o caranguejo tem comprador certo, em
poucos casos os compradores não são os mesmos.
O produto final chega ao consumidor com preços que variam entre R$2,00 (dois
reais) e R$ 3,00 reais (três reais) a unidade. Diante destes fatores os comunitários sentem-se
explorados, alienados e impotentes, sentimentos típicos de comunidades menos cívicas com
ausência de politização dos cidadãos (PUTNAM, 2000).
O senhor Brígido pratica o manejo e comercialização do caranguejo há 45 anos e foi
o responsável pelas informações quanto às técnicas de coleta utilizadas. A primeira descrita
foi a braçal – técnica na qual o catador introduz o braço em uma cavidade para capturar o
marisco – usada, em média, por 36,8% dos catadores. Mas a mais utilizada é a que eles
chamam de “tapa” – consiste em vedar a cavidade em que está o caranguejo e esperar que ele
se dirija á superfície, o que leva um tempo aproximado de 45 minutos – praticada por 57,9%
dos catadores. Já o laço – que consiste na colocação de um enredado de fios na extensão do
mangue para captura do caranguejo – é realizado por apenas 5,3% dos catadores. Essa última
técnica, embora rudimentar, é prejudicial ao mangue e deveria ser proibida.
Segundo os respondentes, existe um acordo entre eles quanto a não captura dos
caranguejos usando a técnica do laço. Este fator evidencia a consistência do capital social
através das normas, condutas e valores, elementos que integram a geração de capital social
entre a cooperação e participação (ROMANIELLO, 2010).
Durante o período de defeso – época do ano em que é proibida a caça – conhecido
como “Soatá”, grande parte dos catadores não realizam a coleta (78,9% deles), pois a
legislação de pesca proíbe a captura neste período. Diante desta situação aparecem as
dificuldades, sobretudo as financeiras, pois muitos catadores que sobrevivem somente da
coleta de caranguejo buscam outras atividades informais na cidade para manter a família, e,
segundo os respondentes, não existe o envolvimento das autoridades locais para solucionar
este fato.
Diante deste contexto é possível identificar a ausência do capital social do tipo
“Brinding”, capital social de ponte, onde este proporciona o alcance dos interesses dos
comunitários junto às instituições (MONASTERIO, 2000), o que justificaria a comunidade
subjugar-se a limites ante a reivindicação de seus direitos junto às autoridades.
A coleta do caranguejo fêmea – que recebe a denominação de “condessa” – quando
está ovada (pejada de ovas) não é permitida, quem as captura é obrigado a soltá-las, pois que
cada “condessa” produz cerca de 1.000 ovas de caranguejos, ou seja, capturá-la ovada impede
49
a reprodução de caranguejos. Essa situação torna-se penosa e de difícil ação coletiva, pois o
indivíduo que transgredir as normas, de certo modo, estará punindo a si mesmo, em função do
perigo da escassez do produto.
Há a preferência na coleta pelo caranguejo macho, pois este apresenta algumas
vantagens se comparado à fêmea: há 42,1%, mais qualidade, é 31,6% maior, existem 15,8%
em maior quantidade e sua venda é 10,5% superior, tornando a comercialização do produto
muito mais viável.
4.1.1.5 Participação Cívica
A participação dos catadores em associações, sindicatos e cooperativas é
inexpressiva. De acordo com os respondentes, 78,9% não possuem carteira de pescador,
contudo possuem conhecimento da legislação de pesca e respeitam as normas. Nesse sentido,
para Putnam (2000), as normas apresentam características específicas de capital social, tais
como a confiança e cadeias de relações sociais, e sobre essas condições, quanto maior for a
comunidade, maior será sua confiança mútua, e mais facilidades eles terão para cooperar. A
obediência às normas e regras culturais acumula-se a uma forma de capital social.
A comunidade apresenta características de comunidades não cívicas, onde as
limitações de reivindicações ficam expressas pela ausência de mobilização dos comunitários
na busca pelo atendimento de suas necessidades junto às autoridades, o que impede seu
próprio desenvolvimento econômico.
Os catadores ficam na expectativa do “seguro-defeso”, uma espécie de seguro-
desemprego que lhes será ofertado durante o período em que acontece o defeso. Autoridades
já fizerem visitas à comunidade, cadastraram todos os que vivem da pesca e coleta, porém,
não houve o retorno quanto ao benefício. A passividade nessa situação permite perceber a
inexpressiva participação cívica dos comunitários, que se acomodam quanto ao pleito de seus
direitos.
4.1.1.6 Extensão familiar
Um elemento predominante na comunidade refere-se à extensão familiar na
participação da atividade de catador. Dos respondentes, 89,5% possuem membros da família
que desenvolvem ou já desenvolveram a atividade de catador. A conexão com o grau de
parentesco é considerada um dos elementos para definir capital social (MONASTERIO,
50
2000). Esta relação familiar fortalece os laços nas redes, entretanto, tais laços se estreitam e
não permitem a acessibilidade de outros membros a fazerem parte da rede (Tabela 4).
Segundo Granovetter (2007 apud PUTNAM, 2000, p. 185) “os vínculos interpessoais
‘fortes’ (como parentesco e íntima amizade) são menos importantes que os laços ‘fracos’
(como conhecimento e afiliações em sindicados e associações)”, sendo assim, os
comunitários, apesar de possuírem o capital social comunitário, não conseguiram evoluir para
o capital social de ponte.
Tabela 4 - Extensão familiar na relação de confiança (Comunidade Beira Mar)
Respostas
N Percentual
Vínculo Total Amizade 10 11,8%
Comunidade 7 8,2%
Familiar 45 52,9%
Trabalho 23 27,1%
Total 85 100,0%
Fonte: Dados da pesquisa
A comunidade possui apenas três comércios. Lá ainda se pratica a venda cujo
pagamento é realizado posteriormente, denominada pelos catadores de “fiado”. Esse tipo de
atividade ocorre porque os catadores somente efetuam o pagamento daquilo que adquiriam ou
consumiram quando vendem o caranguejo. Isso institui elementos para formação do capital
social, tais como as relações de confiança como fonte geradora de capital social a partir das
proximidades dos laços existentes na comunidade (FUKUYAMA, 1998 apud
MONASTERIO, 2000).
4.1.2 Comunidade Boa Vista
4.1.2.1 Aspectos locacionais
A comunidade de Boa Vista está localizada a 6 km de Curuçá, seu acesso é feito
através de uma estrada vicinal. A comunidade está localizada às margens do Rio Muriá, área
51
da RESEX, e possui uma vasta área de mangues, facilitando a captura do caranguejo, prática
desenvolvida pelas famílias locais.
A pesquisa de campo identificou a existência de 29 famílias que desenvolvem a
captura do caranguejo, sendo esta uma das principais atividades econômicas do lugar, o que
reflete a importância da captura deste crustáceo para as comunidades locais.
4.1.2.2 Características econômicas e sociais dos comunitários
Na comunidade foram entrevistadas 16 famílias e todas estão ligadas à atividade de
coleta de caranguejo, predominando o sexo masculino (100%). A média de idade é de 34,06
anos, sendo que a média de tempo de atividade de catador é de 18,25 anos. Outra conclusão é
que 50% dos catadores possuem o tempo de atividade superior a 18 anos.
Tabela 5 - Resumo descritivo da Idade e Tempo de Atividade de catador (Comunidade Boa Vista)
Idade Tempo na atividade de
catador
Média 34,06 18,25
Menor valor 18 5
Maior valor 57 40
Fonte: Dados da pesquisa
Nesta comunidade, prevaleceram as faixas de idade de 31 a 40 anos, no entanto é
possível encontrar adolescentes com idade de 18 anos, que desde os 13 anos participam da
coleta, e não frequentam (ou frequentam irregularmente) a escola, sem também existir algum
tipo de coibição dos órgãos fiscalizadores. Nesse sentido, é percebida a não evolução
institucional das entidades competentes, fragilizando os fatores que conduzem a formação do
capital social (NICOLA; DIESEL, 2006). A maior idade observada foi de 57 anos, sendo que
o catador participa da atividade há 40 anos. Isso evidencia que a prática de iniciação das
pessoas começa na adolescência, situação que se mantém há bastante tempo.
52
Tabela 6 - Faixa etária dos entrevistados (Comunidade Boa Vista)
Faixa etária Nº de casos %
15 a 20 anos 3 18,8
21 a 25 anos 2 12,5
26 a 30 anos 3 18,8
31 a 40 anos 4 25,0
41 a 50 anos 3 18,8
51 a 60 anos 1 6,3
Total 18 100,0
Fonte: Dados da pesquisa
Dos 16 entrevistados na comunidade, 100% afirmaram saber ler e escrever. A média
de anos de estudos é de 3,88 anos. Além disso, os catadores conseguiram, no máximo,
concluir o ensino fundamental ou pararam nas séries iniciais, com desvio padrão de 0,885
anos, o que indica elevada dispersão. Pode-se destacar também que 35% dos entrevistados
possuem o tempo de escolaridade acima de 3,5 anos, o que indica o baixo nível de instrução
entre eles.
Em relação à cidade de origem, 56,3% deles são oriundos do município de Curuçá, e
os demais dos municípios de Terra Alta, Joanes, Bragança e Acará. Em relação ao estado
civil, encontram-se “Solteiros” (31,3%), “Casado ou em União Estável” (62,5%) e “viúvo”
(6,3%). Entre os solteiros, 20% possuem filhos, e destes, 75% possuem até 3 filhos. Apenas
uma família tem 7 filhos. No outro grupo, 88,9% possuem filhos, e entre eles 62,5% possuem
até 4 filhos (Gráfico 2).
53
Gráfico 2 – Distribuição dos Catadores de Caranguejo, quanto ao estado civil e proporção
de filhos (Comunidade Boa Vista)
Fonte: Dados da pesquisa
4.1.2.3 Infraestrutura
O tipo de moradia de maior predominância (62,5%) na comunidade Boa Vista são
domicílios construídos de tijolo, o restante é feito de tábuas. Grande percentual das
construções possuem até 4 cômodos, o equivalente a 62,5% . Quanto à condição de
abastecimento de água, 82,2% das famílias possuem água encanada, e o restante possui poço
artesiano. Nos domicílios, 63,4% utilizam instalações rústicas e precárias para realização de
necessidades fisiológicas e não há recolhimento de lixo domiciliar feito por empresas, o que
induz as famílias a realizarem a queima do próprio lixo.
O atendimento à saúde é igualmente precário se comparado às outras comunidades
pesquisadas, pois em caso de precisão de atendimento médico os moradores devem se dirigir
à cidade para buscar assistência e medicamentos. Nesse sentido, foi possível perceber a
ausência do capital social do tipo linking, ou capital social de conexão, havendo assim uma
baixa densidade de capital social, em que a comunidade fica inviabilizada de reivindicar
direitos quanto à obtenção de recursos.
A localidade possui escola, igrejas católica e evangélica, com participação da
comunidade nos cultos religiosos. Segundo Putnam (2000, p. 104 ) “a participação cívica
100,0%
20,0%
100,0%
80,0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Casado / União Estável Solteiro Viúvo
Tem filhos Não tem filhos
54
desenvolve o espírito de cooperação e o senso de responsabilidade comum para com os
empreendimentos coletivos”.
4.1.2.4 Caracterização da Estrutura Produtiva
O dia a dia dos catadores de caranguejos dessa comunidade começa às seis horas da
manhã, com o deslocamento para o mangue, onde irão coletar os caranguejos. A viagem leva
aproximadamente três horas.
Geralmente a embarcação que conduz os catadores é própria. Eles saem em grupos
organizados, facilitando a viagem em caso de algum tipo de risco enfrentado. Segundo
relatos, há bastantes situações de perigo durante a permanência deles no mangue, como o
desabamento de árvores, atolamentos, raios durante o período de chuvas e, principalmente,
picadas de insetos, o que incomoda muito os catadores. Para combater as picadas de insetos
eles utilizam óleo diesel que funciona como repelente e, às vezes, queimam tecidos de cor
preta, pois, conforme informações deles, a fumaça produzida afasta os insetos.
Da mesma forma como ocorre na comunidade Beira Mar, por conta do Decreto Lei
0001/2011 – Sepaq, durante o Soatá – que compreende os meses de janeiro, fevereiro e março
– quando os caranguejos saem de suas tocas para o acasalamento e as fêmeas realizam a
desova, os catadores (100%) preocupam-se em coletar apenas o macho em virtude do
tamanho ser considerado como principal vantagem (com média de 68,8%). Na captura dos
mariscos predomina a técnica braçal (56,3%), seguida do “tapa” (43,8%), não ocorrendo a
captura através do laço, pois existe um acordo entre os catadores para não utilizarem este tipo
de coleta em virtude dos prejuízos causados na captura.
Este fator leva a mensuração do capital social através de sua natureza no sentido de
coletividade, quando o grupo busca o bem comum, ou seja, o capital social facilita a
cooperação espontânea quando relacionado a características da organização social, como
confiança, normas e sistemas que contribuem para aumentar a eficiência da comunidade,
facilitando as ações coordenadas (PUTNAM, 2000).
Quanto ao armazenamento dos caranguejos coletados, estes são colocados em sacas
artesanais com perfurações para que não morram durante o transporte até o local onde serão
comercializados. Em média, o crustáceo fica armazenado durante cinco dias, havendo perdas
de 10 a 15 unidades que não resistem ao calor, não existindo nenhum tipo de beneficiamento,
todos os caranguejos coletados são vendidos vivos. Por fim, observa-se que nessa comunidade
não há planejamento quanto as suas atividades diárias, não traçam metas, não avaliam
55
necessariamente perdas e danos, isto é, os coletores de marisco não desenvolvem a gestão
administrativa quanto aos recursos naturais, mesmo se levado em conta a época em que não se
pode praticar a atividade.
A renda dos moradores da comunidade gira em torno das atividades de pesca
artesanal, coleta de caranguejos, aposentadoria, bolsa escola ou bolsa família, venda de carvão
e atividades esporádicas rentáveis, como a prestação de pequenos serviços na marcenaria ou
construção.
4.1.2.5 Participação Cívica
Quanto à organização cívica nessa comunidade, foi observado que a participação dos
indivíduos em sindicatos é de apenas 12,5%, pouco significativa. Em contrapartida, foi
possível perceber – via dados nas pesquisas – que quanto maior o tempo na atividade, maior é
a preocupação em busca de benefícios. Este fator é considerado por Putnam (2000) como um
indicador básico da sociabilidade cívica. Em relação ao conhecimento da legislação de pesca
43,8 % dos entrevistados responderam que desconhecem na íntegra o teor das leis, mas
respeitam o que entendem, os outros (56,3%) têm conhecimento da legislação, e isso
normalmente está condicionado ao tempo de atividade de catação (um intervalo entre 11 a 40
anos).
Mesmo os que não estão vinculados a nenhum tipo de associação conhecem e
respeitam a legislação que regulamenta a catação do caranguejo, e compreendem o motivo do
período do defeso e das proibições quanto à retirada das partes isoladas dos animais, ou seja,
as patas. Esse fator permite identificar uma das categorias do capital social que é o capital
social estrutural, promovido através de regras e padrões (UPHOFF, 2000 apud RIBEIRO,
2009) e este capital é reforçado à medida que as relações de confiança entre os membros na
comunidade cooperam e não infringem as regras, configurando, assim, os elementos da
confiança e solidariedade (PUTNAM, 2000).
Segundo o relato dos membros dessa comunidade, a prática da captura ocorre, em
média, cinco dias durante a semana. O tempo de permanência no mangue é de quase seis
horas. Coleta-se aproximadamente 93 caranguejos por dia, o que implica uma produtividade
(por hora no mangue) de 16,54% de caranguejos. Os caranguejos capturados suprem primeiro
a necessidade das famílias, só o excedente é destinado à comercialização, não havendo um
comprador definido. Em outros casos a produção é destinada aos “marreteiros”, que pagam
56
um preço irrisório ao se avaliar o processo da catação e a exposição aos riscos enfrentados no
mangue.
4.1.2.6 Extensão familiar
Existe uma forte relação de confiança entre os mesmos, e a prática da solidariedade é
constante entre as famílias, pois há grau de parentesco e amizade entre eles no local de
trabalho, predominando a amizade com 67,5% (Tabela 7), que facilita o bom relacionamento
e a participação voluntária no que diz respeito a aspectos em caso de doenças, dificuldades
financeiras e até mesmo assuntos de ordem particular. Nesse sentido, surge o capital social
bonding, ou capital social de ligação. Este tipo de capital social diz respeito às redes fechadas
como família e trabalho (RIBEIRO, 2009), sendo intensificado através dos laços fortes,
formando, as redes horizontais em que as relações se intensificam à medida que a confiança é
pautada nas relações de parentesco e amizade. (MARTELETO; SILVA, 2004).
Tabela 07 - Relações de Confiança (Comunidade de Boa Vista)
Respostas
N Percentual
Vínculo Total Amizade 10 12,5%
Comunidade 3 3,8%
Familiar 13 16,3%
Trabalho 54 67,5%
Total 80 100,0%
Fonte: Dados da pesquisa
4.1.3 Comunidade Algodoal
4.1.3.1 Aspectos locacionais
A comunidade Algodoal está localizada às margens do Rio Muriá, área da RESEX,
região de extensos manguezais que fica a 8 km de distância da cidade Curuçá, localizada às
margens do rio Muriá. O tempo para se chegar à comunidade, partindo do porto de Curuçá ao
57
outro lado do rio, é de pouco mais de 40 minutos, usando barcos como transporte. Em
seguida, há mais um percurso em estrada, no qual se gastam 15 minutos.
A pesquisa de campo identificou 250 famílias residentes na comunidade, que vivem
da exploração dos recursos naturais: pesca de mariscos, peixes e caranguejos. Destas famílias,
30 (12%) realizam o manejo de caranguejos, principal atividade de sustento.
4.1.3.2 - Características econômicas e sociais dos comunitários
Na comunidade foram entrevistadas 18 famílias. Todas estão ligadas à atividade de
coleta de caranguejo, predominando o sexo masculino (100%). A média de idade é de 33,82
anos, com 18,12 anos de prática na atividade de catador. Identificou-se também que 50%
deles possuem o tempo atividade superior a 18 anos (Tabela 8).
Tabela 8 - Resumo descritivo da Idade e Tempo de Atividade de catador (Comunidade Algodoal).
Idade Tempo na atividade de
catador
Média 33,82 18,12
Menor valor 18 3
Maior valor 60 50
Fonte: Dados da pesquisa
Foi possível observar predominarem idades entre de 31 e 40 anos, embora
adolescentes na faixa dos 18 anos (trabalhando no manejo desde os 15) também tenha
ocorrido. Em Algodoal, também foi detectada a falta de fiscalização dos órgãos educacionais
competentes, criando um ambiente propício á ausência desses adolescentes na escola. Este
fator aponta para uma das dimensões do capital social quanto à atuação das instituições. A
ausência do capital social o tipo linking, ou capital social de conexão, impossibilita a
canalização dos recursos para as comunidades (NICOLA; DIESEL, 2006).
A maior idade observada foi de 60 anos, de um catador que está na atividade há 50
anos, evidenciando que a iniciação dessa prática começa na infância, situação que ocorre
tradicionalmente na localidade por gerações.
58
Tabela 9 - Faixa etária dos entrevistados (Comunidade Algodoal)
Faixa etária Nº de casos %
15 a 20 anos 2 11,1
21 a 25 anos 3 16,7
26 a 30 anos 3 16,7
31 a 40 anos 6 33,3
41 a 50 anos 2 11,1
51 a 60 anos 2 11,1
Total 18 100,0
Fonte: Dados da pesquisa
Dos 18 entrevistados na comunidade, apenas 1 afirmou não saber ler nem escrever. A
maioria deles estudou apenas por quatro anos, porém, existem catadores com um ano e com
sete anos de estudos. Assumiram não ter havido reprovações no período escolar, mas mesmo
assim conseguiram concluir, no máximo, ensino fundamental completo ou a primeira fase
deste, com desvio padrão de 1,225 anos, o que indica elevada dispersão.
Pode-se destacar, também, que 82,35% dos entrevistados possuem o tempo de
escolaridade inferior a quatro anos, o que mostra o baixo nível de instrução dos entrevistados.
Isso denota o baixo desempenho institucional nas comunidades onde existem níveis inferiores
de escolaridade e de desempenho econômico. Não existem registros de dados sobre a
produtividade dessas comunidades, apontando fragilidades no sistema, características estas
que permeiam as comunidades menos cívicas, onde predominam os sentimentos de
exploração e impotência por não poder galgar melhores condições de vida para a comunidade
(PUTNAM, 2000).
Em relação à cidade de origem dos catadores, 64,7% deles são oriundos do
município de Curuçá e os demais dos municípios de Terra Alta, São Miguel, Belém e Acará.
O tempo de atividade na catação do caranguejo é justificado pela média do tempo de
residência na comunidade, e este elemento forma o vínculo de capital social na questão dos
vínculos de vizinhança, representando assim o Capital social comunitário, bonding, ou seja,
os laços que refletem nas relações da comunidade ajuda mútua entre os moradores residentes
no mesmo local. (MONASTERIO, 2000).
Em relação às profissões exercidas antes da atividade de catador, de acordo com os
respondentes, apenas 5.9% exercia a profissão de pedreiro e 94,1% sempre desenvolveu a
atividade de catador, devido ser uma atividade que não exige qualificação profissional.
59
Quanto à condição conjugal, os catadores de Algodoal estão distribuídos entre
“Solteiros” (27,7%), “Casado ou em União estável” (66,6%) e “viúvo” (5,7%). Dos solteiros,
apenas um possui filhos; já entre os casados, 100% possuem filhos, e destes 50,0% possuem
até 4 filhos, no entanto foi verificada uma família com 8 filhos. Todos os viúvos possuem
filhos (Gráfico 3).
Gráfico 3 – Distribuição dos Catadores de Caranguejo, quanto ao estado civil e proporção de filhos
(Comunidade Algodoal)
Fonte: Dados da pesquisa
4.1.3.3 Infraestrutura
O tipo de moradia de maior predominância na comunidade Algodoal são domicílios
construídos de tijolo (64,7%), e o restante dos domicílios é constituído de taipa. Há 3
cômodos em 33,3% deles. No que se refere ao abastecimento de água, 77,7% das famílias
possuem água encanada, e o restante, poço artesiano. A estrutura das acomodações para
realização das necessidades fisiológicas é da mesma forma como nas outras comunidades
pesquisadas: rústica, simples e, às vezes, precária. Também não ocorre a coleta de lixo feita
por instituições do governo e o destino dos resíduos domésticos é decidido pelas famílias,
ocorrendo a queima na maioria das vezes.
Em Algodoal não há postos de saúde e hospitais, há uma pequena igreja católica e
uma igreja evangélica, que promovem atividades de evangelização todos os dias. Há apenas
100,0%
20,0%
100,0%
80,0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Casado / União Estável Solteiro Viúvo
Tem filhos Não tem filhos
60
uma escola de alfabetização para as crianças. O sistema de transporte é igualmente escasso,
sendo a bicicleta o meio de transporte mais utilizado pelos membros da comunidade. Essas
condições apontam para a ausência do capital social do tipo Capital Social Institucional
linking, pois a ausência das entidades públicas pode ser percebida nas condições de vida da
comunidade. Este fator leva a não participação cívica da comunidade quando comparada aos
estudos de Putnam (2000, p. 115), o qual considera que “não é de admirar que nessas regiões
o governo seja menos eficaz do que nas comunidades mais cívicas”.
Nesse sentido, de acordo com a realidade apresentada na comunidade, foi possível
perceber a falta de inter-relação entre a comunidade e os setores públicos. Apesar dos fatores
de solidariedade, confiança e cooperação terem sido percebidos nesta comunidade, não existe
o capital social de ponte para viabilizar as necessidades básicas em prol da comunidade.
4.1.3.4 Caracterização da Estrutura Produtiva
Nesta comunidade existem 30 famílias que vivem da coleta do caranguejo. O
principal problema relatado pelos catadores está relacionado ao preço. De acordo com
informações fornecidas por eles, a saca com 100 caranguejos é vendida para o atravessador
por um valor de R$ 40,00 (quarenta reais), sendo o custo unitário do produto de R$ 0,40
(quarenta centavos), enquanto que o produto final chega ao consumidor no valor de R$ 2,50
(dois reais e cinquenta centavos). Os caranguejos coletados no mangue são destinados
exclusivamente à venda, quando sobram alguns, o destino é o consumo familiar. O cotidiano
dos catadores dessa comunidade é semelhante ao das demais comunidades, começando pela
manhã, bem cedo, quando os catadores se apropriam de suas “montarias” que os conduzem ao
mangue, local onde o caranguejo é coletado.
Os riscos em média de 88.2% apontados pelos catadores dessa comunidade referem-
se a picadas de mosquitos ou cobras durante a estadia no mangue. Eles também usam
artesanalmente o óleo diesel como repelente. Alguns catadores já sofreram acidentes no
mangue, tendo ocorrido quedas que provocaram fraturas de membros inferiores e superiores.
O esforço na captura do caranguejo coletado tem em média 91,18% de caranguejos
por dia (na variação de 40 a 120 caranguejos coletados), sendo que a média da produtividade
em relação a horas de trabalho diário no mangue é de 17,61%. Ao avaliar o modo como
procedem em relação ao armazenamento e estocagem, observa-se que os catadores não
praticam a gestão administrativa. Isso fica evidente no período em que a coleta do marisco é
61
em menor quantidade, e não há, por exemplo, nenhum tipo de solução para a pouca oferta do
produto.
A ida ao mangue ocorre de segunda a sexta-feira e o tempo de permanência no local
é, em média, de 5 horas. Nesta comunidade, a principal preocupação de todos os catadores
(100%), é capturar os caranguejos machos, devido ao tamanho e à facilidade de
comercialização. Quando capturado o caranguejo fêmea, os catadores relatam que a devolvem
ao mangue em virtude do prejuízo à produção de ovas.
Durante o período de defeso, 82,4% dos catadores afirmam que não realizam a
coleta. Para Putnam (2000), quando existem normas e estas são obedecidas gera-se um fator
que conduz à formação de capital social. Assim, a cooperação voluntária e a regra de
reciprocidade generalizada são componentes produtivos do capital social, em que as normas
são incutidas e sustentadas tanto por meio de suporte quanto de socialização (PUTNAM,
2000). Segundo o autor “as regras são reforçadas pela cadeia de relacionamentos que
dependem do gozo da reputação de manter promessas e acatar as regras de comportamento da
comunidade” (PUTNAM, 2000, p. 183).
Estas regras têm mais efeito moral do que legal, pois o indivíduo que transgride tais
regras, por piores que forem as consequências para todos os interessados, continuará sendo
uma atitude racional para ele.
4.1.3.5 Extensão familiar
Na comunidade, a relação dos catadores é próxima, pois, a maioria possui laços de
parentescos, o que facilita a confiança entre eles. Segundo Putnam (2000, p. 184) “os laços de
parentesco desempenham um papel especial na solução dos dilemas da ação coletiva”. Esta
afirmação do autor é verificada na comunidade quando surgem problemas de ordem
financeira, de doença ou até mesmo de ordem particular. Existe uma solidariedade entre eles
que se estende ao local de trabalho, pois na ocorrência da viagem para o mangue que dura em
torno de 03 horas, muitos catadores pegam carona na embarcação dos que possuem sua
própria “montaria”. O retorno para comunidade acontece por volta das 18 horas. É no final da
tarde que as embarcações atracam no porto e os caranguejos são transportados para as casas
dos catadores, onde são acondicionados vivos em sacas que comportam até 100 caranguejos.
Os mariscos ficam até cinco dias acondicionados, enquanto aguarda-se a chegada do
comprador, cujo nome dado pelos catadores é de “marreteiro”. É este quem dita o preço do
caranguejo, ele oferece, em média, em R$ 40,00 (quarenta reais) por saca.
62
4.1.3.6 Participação Cívica
Na comunidade de Algodoal 72,22% dos catadores não estão associados à Associação
dos pescadores de Curuçá. De acordo com as respostas dos entrevistados, eles desconhecem a
legislação de pesca, contudo respeitam as regras utilizadas pelos comunitários. E mais
importante é que as sanções que resguardam as regras de reciprocidade da ameaça de
oportunismo dificilmente são impostas de baixo para cima. Ainda que o sejam, dificilmente
são acatadas (PUTNAM, 2000), dada a inércia das autoridades competentes quanto à prática
desenvolvida nas atividades dos catadores.
Também foi possível perceber nas respostas aos questionários as dificuldades que têm
em resolver os problemas de ordem de social. Apesar da existência de relação de confiança
entre eles (captada na coleta de dados), que forma a base para o capital social comunitário,
este não evolui para o capital social de ponte, que possibilita o intercâmbio para as conquistas
em prol do bem comum.
Em uma comunidade cívica, as associações proliferam, as filiações se sobrepõem e a
participação se alastra por múltiplas esferas da vida comunitária (PUTNAM, 2000). Segundo
este autor, a inexistência de associações cívicas e a escassez de meios de comunicação locais
em comunidades não cívicas, significa que os cidadãos raramente se envolvem nos assuntos
comunitários. A comunidade de Algodoal está longe de ser uma comunidade cívica, pois a
participação em sindicatos ou cooperativas é inexpressiva, o que gera a relação de alienação e
exploração, em consequência da não atuação das entidades competentes para resolver os
conflitos de ação coletiva desta comunidade.
63
5 MORFOLOGIA DAS REDES POR COMUNIDADE
5.1 A REDE SOCIAL DA COMUNIDADE BOA VISTA E SUAS CONEXÕES
A rede social da comunidade de Boa Vista contém 18 atores (16 catadores, 01
sindicato e 01 colônia de pescadores), e 65 (sessenta e cinco) relações estabelecidas, um
número considerado regular para um total de 240 (duzentos e quarenta) relações possíveis,
demonstrando um percentual de 25,87% de grau de densidade entre vínculos unilaterais e
bilaterais.
De acordo com esses dados, a rede é considerada egocentrada – formada por laços de
parentesco, amizade e vizinhança (RIBEIRO, 2009) –, na forma como os principais atores
sociais manifestam seus capitais sociais individuais, conforme Durston (2000, apud
RIBEIRO, 2009).
Os elos da rede foram desenhados a partir de entrevistas entre os catadores da
comunidade, os quais informaram até cinco nomes com os quais mantinham contatos em
relação de amizade, trabalho, família e comunidade. Assim formou-se a rede. Com essas
informações foi percebido na rede o capital social do tipo bonding, ou capital social de
ligação, em que predominam as relações de confiança e amizade (MARTELETO; SILVA,
2004). Contudo, este capital não demonstra evoluir para o próximo nível, ou seja, o capital
social de ponte brinding, que é relevante para o encalce dos interesses da comunidade. O
capital social bonding tende a esgotar-se e se tornar frágil, assim, os laços de confiança
existentes na rede não são suficientes para conduzir a comunidade a obter ganhos coletivos e
crescimento econômico, fatores que são essenciais para apontar o capital social no nível meso
(integração, conexão, compromisso cívico dos indivíduos) (NICOLA; DIESEL, 2006).
A rede é constituída por laços entre parentes, vizinhos e amigos, fortalecidos através
das relações de confiança e solidariedade. À medida que as linhas se conectam aos pontos de
ligação (nós), é possível identificar o grau de intensidade na relação de cada ator. Esta relação
de confiança é intensificada nos laços de amizades no trabalho. Os dados da pesquisa apontam
que em 67,5% delas predominam os laços de amizade nas relações de trabalho, em que
confiança, solidariedade e cooperação são percebidas entre os comunitários, tanto em
dificuldades de saúde quanto financeiras. Porém, esses laços não são fortes o suficiente para a
promoção de ganhos coletivos na comunidade. A ausência de ações cívicas dos comunitários
não conduz à solidificação do capital social através dos fatores de confiança, cooperação e
espírito cívico defendido por Romaniello (2010).
64
Diagrama 1- Sociograma (Rede Social da comunidade BOA VISTA)
Fonte: Dados da pesquisa
A densidade da rede não é uniforme, havendo grupos localizados à esquerda com
atores que exercem grande influência na comunidade. Como se pôde observar nos nós A08,
A12 e A16. Neste grupo estão envolvidos os líderes da comunidade. Estas pessoas, por
estarem há mais tempo na atividade, são admiradas pelos demais catadores e recebem o
respeito e confiança deles, são eles que fazem negociações. Esta estratégia intensifica a
relação de confiança entre os membros da rede (MARTELETO; SILVA, 2004).
O grau de reciprocidade na rede é visualizado nas ligações entre os atores A08 e A10,
A11 e A16, A09 e A11, A03 e A12, A14 e A02. Através destas ligações é possível mostrar o
grau de confiança em que um ator tem com outro. Na teoria das redes (GRANOVETTER,
2007) quando A confia em B e B confia em A, a confiança é destacada através da
65
reciprocidade e cooperação em redes, fato este evidenciado pelos comunitários quando existe
o empréstimo de embarcações sem cobrança de aluguéis, socialização dos equipamentos de
manejo e, principalmente, quanto ao armazenamento do caranguejo, que fica nos quintais
durante a noite sem ocorrências de roubo. Estes indicadores de confiança, participação e
cooperação formam a base para condução do capital social (ROMANIELLO, 2010).
A análise dos índices de centralidade indica fenômenos interessantes, como o poder
que o indivíduo exerce dentro da rede. Este poder está centrado nos líderes da comunidade
que conseguem conduzir o grupo e mantém o respeito às normas quanto à captura do
caranguejo. Bourdieu (1986) retrata sobre capital social afirmando que a rede de relações é
resultado de estratégias de investimentos individuais ou coletivas, conscientes ou
inconscientemente com o fim de estabelecer ou reproduzir relações que são diretamente
utilizáveis no curto e longo prazo.
Quanto ao grau de centralidade de entrada, os atores A12 e A16 recebem ligações de
outros atores da rede. Este fator está ligado ao grau de popularidade que os mesmos possuem
na comunidade em virtude da larga experiência, conhecimento e habilidades no que se refere
à prática de manejo. Estes líderes desempenham papel na rede como de conselheiros, uma vez
que conhecem a legislação e a repassam aos comunitários que inevitavelmente criam suas
próprias normas dentro da comunidade.
Quanto mais central é um indivíduo, mais bem posicionado ele está em relação às
trocas e à comunicação, o que aumenta seu poder na rede (MARTELETO; SILVA, 2004).
Para Marteleto e Silva (2004), a centralidade é entendida como a posição do indivíduo em
relação aos outros, considerando-se como medida a quantidade de elos que existem entre eles.
Outra consideração importante na Rede Social da comunidade de Boa Vista, refere-
se ao grau de intermediação. Este fator indica a importância do ator dentro da sua comunidade
no sentido de intermediar a comunicação entre os membros. A medida de intermediação se
obtém através das quantidades de ligações que um nó faz com os demais, podendo ser
chamado de “ponte” entre os nós.
Isso ocorre através do “nó” A16. Este ator está na atividade de catador há quarenta
anos, o senhor Manoel, chamado pelos moradores de “Negão”. Com sua experiência e
popularidade, ele é, sem dúvida, considerado pelos comunitários como principal membro da
comunidade. Assume papel de líder entre os catadores, fazendo as negociações com os
atravessadores. Com essas ações, ganhou confiança e respeito entre os outros. Todavia suas
ações tem se restringido aos domínios internos da comunidade, não ultrapassando de lá os
66
limites, fato que inviabiliza o estabelecimento de canais de comunicação na esfera de
autoridades competentes para reivindicações de melhorias para a comunidade.
O ator de valor mais alto na rede é o nó A12. Este ocupa um lugar importante dentro
da comunidade, visto que está na atividade há doze anos. Apesar de sua idade (25 anos), já
mostra indícios de um futuro líder, pois possui mais vínculos que os demais atores, ocupando,
assim, uma posição de intermediário entre os demais nós da rede. Segundo Granovetter (2007,
p. 95) “o grau de confiança que um indivíduo exerce dentro da rede é visto pelos membros da
comunidade como um líder capaz de solucionar os problemas em comum”.
A análise das estatísticas, mais uma vez, indica fenômenos interessantes e alguns
fatores que devem ser ressaltados. Um indicador de grande relevância para análise de redes
sociais se refere ao grau de proximidade. Este fator indica a capacidade de um nó se ligar a
todos os membros de uma rede. Este cálculo é resultante de todas as distâncias geodésicas (os
caminhos mais curtos que um ator deve seguir para alcançar outro nó) de um ator para se ligar
aos restantes, em que cada ator faz a ponte para que as informações possam fluir entre os
membros da rede.
A rede da Comunidade de Boa Vista revela que a Associação dos Pescadores se
relaciona com poucos atores da comunidade. São somente cinco membros da rede que se
relacionam com a Associação, sendo este número considerado pequeno quando observado o
total de catadores, assim não possui força para formalizar uma relação densa com órgãos do
governo. Por outro lado, a relação com os sindicatos é inexpressiva, em que apenas dois
membros da rede estão sindicalizados. Isto revela a falta de politização dos membros da
comunidade e caracteriza a mesma como comunidade “não cívica”. Na visão de Putnam
(2000, p. 120) “a filiação sindical não está relacionada com o grau de instrução, nem com a
faixa etária, nem com a urbanização, e as diferenças por classe social são menores do que se
poderia esperar”. De fato, a comunidade se mantém estática, sem perspectiva de melhores
condições de vida. O descrédito nestes tipos de filiações é percebido entre os membros
entrevistados.
Desse modo, o nível de capital social na rede da comunidade está restrito apenas ao
capital social comunitário (bonding), haja vista que os membros não procuram se mobilizar
para fazerem conexões com os órgãos responsáveis por serviços periódicos. É possível
perceber a pouca dinâmica dos mesmos , apesar dos fortes laços que os unem, inexistindo os
laços fracos que direcionam a formação do Capital Social de ponte. Sendo assim, os
comunitários esperam com boa fé que as entidades locais solucionem seus problemas de
ordem social, econômica e produtiva.
67
5.2 A REDE SOCIAL DA COMUNIDADE ALGODOAL E SUAS CONEXÕES
A Rede social da comunidade de Algodoal é composta por 18 atores, constituída de 17
(dezessete) catadores e 1 colônia. Esta é a única associação a que os catadores estão
vinculados. Isto caracteriza uma comunidade não cívica. A rede possui 49 (quarenta e nove)
relações estabelecidas e 342 (trezentos e quarenta e duas) relações possíveis, apresentando um
percentual de 14,32% de densidade entre os vínculos unilaterais e bilaterais.
Diagrama 2 – Sociograma (Rede Social da Comunidade Algodoal)
Fonte: Dados da pesquisa
Segundo o que se pode observar, nesse caso, conforme Ribeiro (2009) a rede é
considerada egocentrada. Essa denominação é feita em virtude de ser construída a partir do
levantamento de dados primários via pesquisa primária, com os principais atores sociais. A
análise destes formulários permitiu verificar, segundo Durston (2000, apud RIBEIRO, 2009),
como se manifestam os seus capitais sociais individuais.
68
O grau de reciprocidade na rede é percebido nas ligações entre os atores A01 e A05,
A17 e A18, A13 e A15. A confiança entre eles acontece em virtude de desenvolverem suas
atividades produtivas em reunidos em grupos. Eles possuem grau de parentesco e laços de
amizade que fortalecem a regra de reciprocidade generalizada, em que o indivíduo coopera
espontaneamente. (PUTNAM, 2000).
A centralidade de entrada observada na rede aponta para os atores A10 e A15 com 5
ligações de entrada e A14 com 8 ligações. Estes atores são pessoas que já desenvolvem a
atividade de catador há mais de 20 anos e possuem prestígio e confiança dentro da rede. A
reputação dos mesmos na comunidade é solidificada através do respeito e companheirismo.
Segundo Ribeiro (2009), as relações de troca, confiança e cooperação, em redes de
relações, constituem as relações sociais do capital social, recursos que podem contribuir para
o desenvolvimento produtivo e para o desenvolvimento da democracia de determinada região,
comunidade ou agrupamento social. O fluxo desses recursos tramita pela rede social, contudo,
são insuficientes para induzir ao desenvolvimento produtivo dos catadores.
Na comunidade, os únicos recursos disponíveis que os catadores possuem são os
equipamentos que são utilizados na captura dos caranguejos e as embarcações que os
transportam para o mangue. Existe a socialização destes recursos entre os catadores e quando
surgem problemas de ordem financeira, uns emprestam dinheiro aos outros sem cobranças de
juros ou prazos para pagamento (conforme relatos durante as entrevistas).
Na comunidade de Algodoal os recursos disponíveis não contribuem para o
desenvolvimento democrático da região, prevalecendo apenas a cooperação entre os
comunitários para a realização de suas atividades produtivas. Este fato pode levar à formação
do capital social comunitário, entretanto não atinge outros níveis de capital que promovem o
crescimento econômico da comunidade e conduz a ganhos coletivos (ROMANIELLO, 2010).
Observa-se ainda que, tanto no que diz respeito à confiança quanto à valorização do
outro, predominam os laços de vínculos de trabalho, equivalentes a 57,6% (dados da
pesquisa). Isto significa que o grupo desenvolve fortes relações de trabalho, caracterizando as
relações de confiança e reciprocidade, que segundo Marques (1999), estão ligadas as suas
condições sociais, neste caso, pessoas pobres. A ajuda mútua faz parte deste tipo de relação
entre atores de uma mesma rede. Estas características da rede indicam o capital social do tipo
bonding, que envolve agentes da mesma posição social, criando um ambiente de lealdade
entre os membros da comunidade (MONASTERIO, 2000).
69
5.3 A REDE SOCIAL DA COMUNIDADE BEIRA MAR E SUAS CONEXÕES
De acordo com o sociograma da Rede da comunidade Beira Mar pode-se perceber que
é uma rede que apresenta 20 atores, composta por 18 (dezoito) catadores, 1 (um) sindicato e 1
(uma) colônia, formando 36 (trinta e seis) elos entre os nós, 380 (trezentos e oitenta) possíveis
relações, com um percentual de 9,47% de densidade.
Essa rede também se reconhece, para Ribeiro (2009) como egocentrada, ou seja,
formada por laços de parentesco, amizade e vizinhança, da mesma forma como se notou nas
comunidades Boa Vista e Algodoal.
O grau de reciprocidade na rede é visualizado em ligações entre os atores A10 e A17,
A13 e A17, A03 e A16, A01 e A04. Por meio destas ligações é possível evidenciar o grau de
confiança em que um ator tem com outro. Isso dá a perceber quando existe a troca de favores
entre os comunitários, tais como: empréstimo de embarcações sem cobrança de aluguéis,
socialização dos equipamentos de manejo e assistência financeira em casos de doenças. Estes
indicadores de confiança, participação e cooperação formam a base para condução do capital
social (ROMANIELLO, 2010).
A rede da comunidade de Beira Mar apresenta apenas um ator ligado ao sindicato
(nó em vermelho). Isto mostra que a comunidade não se relaciona com o sindicato, ou por
motivos de descrença, ou por outras razões como falta de dinheiro, tempo, ou até mesmo
desconhecimento da atuação do sindicato de sua categoria. Tal situação aponta a quase
inexistência de participação cívica na comunidade. A desconfiança nas entidades competentes
conduz a decadência da participação social e torna sensível qualquer indicador de capital
social (PUTNAM, 2000).
Entretanto, existe o grupo que está ligado à colônia de pescadores (nó verde). De
fato, existem cinco ligações vinculadas a este nó. Na relação com a Colônia existe a troca de
informações quanto à legislação de pesca e outras atividades, tais como reuniões com os
associados que contribuem com uma mensalidade de valor simbólico. Estes recebem o apoio
para a busca de auxílios em caso de afastamento de suas atividades de catadores.
70
Diagrama 3 – Sociograma (Rede da comunidade Beira Mar)
Fonte: Dados da pesquisa
É importante ressaltar que na rede em questão, cada indivíduo indicou no máximo 5
(cinco) nomes com quem tem relação, embora, certamente, eles se relacionem com muito
mais pessoas dentro do seu grupo. Reconhece-se, entretanto, que em uma rede social os atores
não obtêm informações apenas das pessoas com as quais se relacionam diretamente
(MARTELETO; SILVA, 2004). Através dos dados da pesquisa foi detectado que quanto à
extensão familiar no desenvolvimento das atividades de catador, 89% confirmam ter
familiares na prática do manejo. Esta extensão se prolonga ao fator de confiança, em que
52,5% correspondem aos laços de confiança entre os membros da família, e 27,1% aos laços
de confiança de trabalho. Os vínculos, família, trabalho e amizade fortalecem os laços na
rede. Contudo, estes laços, por estarem em uma rede egocentrada, se estreitam e não
viabilizam acessibilidade para agentes externos da comunidade. Caso isso ocorresse,
poderiam se propagar para a condução do desenvolvimento de capital social em um nível
mais elevado, ao nível em que é possível a intermediação dos órgãos competentes para
promover o desenvolvimento local e os ganhos coletivos de uma comunidade (PUTNAM,
2000).
71
5.4 COMPARANDO AS REDES SOCIAIS DAS COMUNIDADES
Com base nos dados do ensaio etnográfico e análise de dados, é possível comparar as
redes sociais das comunidades. É possível também verificar os fatores que conduzem ao
capital social. De fato, existem fatores que podem explicar as características em comum
observadas nas comunidades.
A rede social da comunidade Beira Mar com poucos atores e baixa mobilização para
ganhos coletivos, mostra que o capital social encontrado na rede do tipo comunitário não tem
sido suficiente para proporcionar melhores condições de vida aos comunitários, muito menos
aos catadores de caranguejos da comunidade. Não existe um esforço coletivo para viabilizar
recursos através dos órgãos competentes. Apesar dos laços de confiança internos existentes
nas redes, os atores sociais não conseguem formar arranjos sociais que criam estímulos em
busca do bem estar comum. Esse capital social comunitário, ou capital de ligação, é pouco
significativo em virtude da comunidade não possuir participação cívica em assuntos que
dizem respeito às prioridades da comunidade como um todo, tais como saúde, transporte,
produção, todos problemas identificados na pesquisa empírica. O capital social de conexão na
rede é inexistente, pois não há relações com vínculos externos que possam conduzir ao
crescimento econômico e desenvolvimento social da comunidade.
A rede social da comunidade de Algodoal com 19 atores possui uma Colônia como
agente de ponte, entretanto, com pouca representatividade na comunidade. A Colônia não atua
politicamente para trazer ganhos aos associados, concentrando esforços apenas nos benefícios
assistencialistas.
O capital social de ligação da rede de Algodoal é baixo, pois os recursos disponíveis
na rede se restringem apenas à socialização de usos de equipamentos de coleta de
caranguejos. Os laços de confiança existentes na rede não são suficientes para o
amadurecimento do capital social. É interessante ressaltar que no capital social de conexão os
laços fortes têm pouca importância quando se trata de reivindicações externas. Neste caso, os
laços fracos ganham destaque, pois proporcionam o desenvolvimento econômico e os ganhos
produtivos da comunidade (ROMANIELLO, 2010).
O capital social de ponte na rede de Algodoal é insignificante. O único “nó” externo
da rede é representado pela Colônia dos Pescadores e este não evolui através das instâncias
deliberativas para estabelecer relações com os órgãos públicos no âmbito estadual a fim de
viabilizar os serviços sociais na comunidade. Apesar de os dados da pesquisa atestarem que a
comunidade tem interesses em formação de cooperativas, capacitação para coleta, capacitação
72
para outras atividades, participação em programas sociais e participação em movimentos de
catadores, não existe uma iniciativa dos comunitários em viabilizar estes interesses. A
participação cívica é inexistente e este fato provoca a fragilização do capital social em
promover ganhos através da confiança, cooperação e civilismo (PUTNAM, 2000).
A comunidade de Boa Vista possui 18 atores (1 sindicato, 1 colônia e 16 catadores).
Ressalta-se que nesta rede existe pouca mobilização entre os membros da comunidade na
canalização dos direitos a serem pleiteados. A insignificante participação em sindicatos e
associações mostra a falta de politização dos membros da rede. Os indicadores de confiança,
solidariedade e reciprocidade conduzem apenas para formar o capital social de ligação, a
ausência do espírito cívico restringe este capital a evoluir para os demais níveis, Putnam
(2000) enfatiza que uma comunidade alcançará mesmos níveis de politização e civilidade,
quando a política se aproximar do ideal de igualdade entre os cidadãos que seguem as regras
de reciprocidade e participam do governo.
O capital social de ponte na rede de Boa Vista é insignificante. Os agentes externos
da rede, que são representados pela Colônia dos Pescadores e pelo sindicato, não viabilizam
ações nas instâncias deliberativas para estabelecer relações com os órgãos públicos no âmbito
estadual com o objetivo de tentar viabilizar os serviços sociais na comunidade. Em uma
comunidade no âmbito interno, as associações e sindicatos incutem em seus membros hábitos
de cooperação, solidariedade e espírito público (PUTNAM, 2000). Este fato não ocorre na
comunidade Boa Vista, pois a passividade entre os comunitários inviabiliza a busca de
soluções para os interesses comuns.
As comparações acima e as observações feitas através dos estudos das respectivas
redes demonstram que as três comunidades analisadas possuem pontos em comum quanto à
estrutura na formação do capital social. Vale ressaltar que os indícios de capital social
comunitário, ou capital de ligação, encontrados nas comunidades, não foram capazes de
solucionar os problemas em comum nelas existentes. O capital social de ponte, ou capital
brinding é inexistente nas comunidades pesquisadas, não havendo assim o alcance de
resultados nos interesses dos comunitários junto às instituições. O capital social do tipo
linking, ou capital social de conexão, não está presente nas comunidades. Portanto, as
intermediações na promoção do desenvolvimento da comunidade são inexistentes.
A participação cívica nas comunidades é inexpressiva. A falta de espírito cívico não
impulsiona os comunitários a realizarem parcerias com entidades a fim de canalizar soluções
para seus problemas em comum como transporte, saúde e produtividade. As comunidades
possuem líderes, que através de suas popularidades possuem o respeito e confiança dos
73
comunitários. Contudo, estes líderes não desenvolvem ações deliberadamente pactuadas que
visam melhorar as condições da comunidade (PUTNAM, 2000).
Os catadores das comunidades de Boa Vista, Algodoal e Beira Mar não possuem
planejamento quanto as suas atividades diárias e não desenvolvem a gestão administrativa
quanto aos recursos naturais, o processo do esforço produtivo ocorre sem nenhuma estratégia
planejada. De acordo com os argumentos dos respondentes, isso se justifica pelo fato de o
caranguejo estar disponível no mangue, ou seja, há acesso fácil ao marisco que
comercializam. Os líderes da comunidade não conseguem gerenciar a prática da coleta
quanto aos meios utilizados na captura do crustáceo. Neste sentido, a situação de convivência
requer líderes que dominem ambas as atividades através do processo que envolve decidir
como agir, com base no que está acontecendo no ambiente imediato e no futuro próximo, uma
vez que há necessidade de planejar e transformar essas decisões em ações gerenciais
(ALDAY, 2007).
74
6 CONCLUSÕES
As respostas à problemática na introdução deste trabalho devem considerar o
conjunto de fatores que foram fundamentais para entender os elementos que conduzem à
formação do capital social de ligação, ponte e conexão nas comunidades de Beira Mar, Boa
Vista e Algodoal. O modelo síntese utilizado através da ferramenta UCINET e do software
SPSS contribuiu com uma prática útil de análise.
Os laços analisados demonstram que as redes apresentam ligações de parentescos,
amizades, relações de trabalho, sendo esta última predominante nas comunidades de Boa
Vista e Algodoal. Na comunidade de Boa Vista, os laços de confiança se pautam na
solidariedade, haja vista a forte relação entre parentes, vizinhos e colegas de trabalho, esta
confiança se estende nos casos de doenças e dificuldades financeiras. Este fato conduz ao
capital social de ligação, contudo não evolui para os níveis meso e macro do capital social, o
mesmo acontecendo na comunidade de Algodoal.
Na comunidade Beira-Mar a extensão familiar apresentou-se como um fator
predominante nesta comunidade, pois os catadores possuem membros da família que
desenvolvem ou já desenvolveram atividade de catador. Este fato indica a conexão com o
grau de parentesco como um dos elementos condutores à formação do capital social, haja
vista que a relação familiar fortalece os laços na rede e intensifica com a confiança.
Vale ressaltar que apesar dos laços fortes nas redes, não foi possível identificar os
dois principais tipos de capital social: Capital social de ponte Brindgin que promove o alcance
dos interesses da comunidade e o Capital Social de conexão Linking, que intermedeia os
recursos adicionais das comunidades na promoção do desenvolvimento econômico e social.
As conexões que são os laços fracos não possuem uma ligação que possa viabilizar as
necessidades sociais dos comunitários.
Na comunidade Beira-Mar, a atividade da catação de caranguejo tem início na
infância, este fato se justifica pela falta de oportunidades e pela necessidade de manter o
sustento familiar, tendo como consequência o abandono dos estudos ou a pouca frequência
nas escolas nos horários regulares. Os catadores residem na comunidade há bastante tempo e
desenvolvem a prática que vai se estendendo entre as gerações, este fato também é comum
nas comunidades de Boa Vista e Algodoal. A baixa escolaridade nestas comunidades
demonstra a ausência de politização dos comunitários quanto ao requerimento de direito à
assistência em favor de suas necessidades sociais.
75
A infraestrutura existente evidencia o baixo nível do capital social para fortalecer as
questões quanto à solução dos problemas comuns às comunidades, tais como transporte,
saúde, recursos financeiros e preço dos produtos comercializados. Estes problemas foram
predominantes nas três comunidades e fragilizam a existência de capital social. A baixa
participação dos catadores em associações e sindicatos foi outro fator identificado. Segundo
relatos dos catadores, existe certo receio em se filiar a estas entidades. O descrédito, a falta de
conhecimento e a ausência de recursos foram elementos percebidos quanto à ausência da
atuação destas entidades nas comunidades.
Os elementos de ponte como ação cívica e cooperação, necessários para formação do
capital social, não foram identificados nas comunidades. A base para essa conclusão foram os
referenciais teóricos dos autores citados no trabalho. O capital social de ponte nas
comunidades visitadas é insignificante, uma vez que a única ligação que as comunidades
possuem refere-se à Colônia de Pescadores, entretanto esta apenas viabiliza assuntos de
caráter assistencialista, não havendo, portanto, uma extensão para deliberações junto às
autoridades públicas.
Nas comunidades de Beira-mar, Boa Vista e Algodoal os recursos disponíveis não
contribuem para o desenvolvimento da região, prevalecendo apenas a cooperação entre os
comunitários para o desenvolvimento de suas atividades produtivas. As normas e regras são
obedecidas pelos comunitários. Apesar do desconhecimento da legislação de pesca, os
mesmos respeitam e cumprem as normas, e até criam as suas próprias, as quais têm mais
efeito moral do que legal. Este fato foi percebido nas comunidades visitadas evidenciando
uma das dimensões do capital social quanto ao alcance do fator confiança e civilismo,
contudo estas características não evoluem para formar uma comunidade cívica, onde a
presença das autoridades competentes é ativa e promove o desenvolvimento econômico e
social da comunidade.
As entrevistas revelam, ainda, a dimensão do capital social relacional, somente este
tipo foi identificado ao se observarem as relações dos catadores nas comunidades em seus
vínculos de amizade e respeito, independente do grau de parentesco, vizinhança ou relações
de trabalho, pois a confiança molda as relações intensas e é amadurecida com o transcorrer
dos anos. Contudo, o espírito cívico sendo apontado como um dos principais fatores
conjugados com confiança e cooperação não foi identificado nas comunidades.
Não há nenhuma forma de planejamento nas atividades desenvolvidas pelos
catadores nas comunidades de Beira-mar, Boa Vista e Algodoal. As ações acontecem no
cotidiano dos catadores sem controle de produção e não há um gerenciamento exercido pelos
76
líderes comunitários sobre a quantidade de caranguejos coletados. O mangue é visto pelos
catadores como um estoque de caranguejos que se autossustenta e a qualquer momento o
crustáceo está disponível para a coleta, independente do número de caranguejos coletados.
Os dados da pesquisa através das análises do Capital Social e Redes Sociais das
comunidades de Beira-Mar, Boa Vista e Algodoal, na dimensão dos aspectos econômicos e
sociais, onde foram analisados aspectos como origem, faixa etária, grau de escolaridade,
extensão familiar de catadores e a infraestrutura das comunidades, bem como os fatores como
relações de trabalho, esforço produtivo, apontam elementos que não configuram a formação
do capital social nos níveis mais avançados como o meso e macro. Isso evidencia apenas o
capital social de ligação, que é formado pela relação de confiança desenvolvida entre os
comunitários. Entretanto, apesar dos comunitários demonstrarem interesse em formar
cooperativas, associações, participar mais ativamente em reuniões para alcance de seus
interesses comuns, não existe de fato uma mobilização entre os mesmos para se organizarem e
reivindicarem seus direitos junto às autoridades competentes.
A análise de redes sociais é um estudo que ainda merece maior destaque em
situações futuras, possibilitando uma melhor avaliação frente às realidades encontradas nas
comunidades visitadas, bem como a identificação do capital social, sendo este de fundamental
importância para questões relacionadas aos vínculos existentes dentro de uma rede social,
através da confiança, reciprocidade e cooperação. Apesar de esses fatores estarem presentes
nas comunidades, estas estão em desvantagens quanto ao atendimento de suas demandas
sociais e produtivas. Os líderes que possuem melhor posição na rede não canalizam o capital
social que possuem, ou porque vive sem expectativas, ou porque acreditam na boa vontade
dos órgãos competentes em promover o bem social nas comunidades.
77
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82
ANEXO
83
Questionário de Pesquisa
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
ESTUDO DE CASO DOS PEQUENOS PRODUTORES DO
MUNICÍPIO DE CURUÇÁ
Bloco I - PERFIL DO CATADOR/COMUNIDADE
1. Município: 2. Local:
3. Nome: 4. Apelido:
5. Sexo: ( ) Masc. ( ) Fem. 6. Idade: 7. Cidade/UF de Origem:
8. Anos de estudo: 9. Sabe ler e escrever: ( ) Sim ( ) Não
10. Tempo na atividade de catador: 11. Trabalha sempre como catador de caranguejo?
12. Situação Conjugal: ( ) Casado ou União Estável ( ) Solteiro ( ) Viúvo ( ) Separado
13. Tem filhos:( ) Sim ( ) Não 14. Se tem filhos, quantos?
15. Tipo de Moradia : ( )Taipa ( )Tábua ( )Tijolo 16. Cobertura : ( )Telha ( )Palha
17.Origem da água : Filtro ( )Sim ( )Não 18. Posto de Saúde : ( )Sim ( )Não
19. Hospital : ( )Sim ( )Não 20. Vacina : ( )Sim ( )Não
21. Possui água encanada : ( )Sim ( )Não 22. Possui energia elétrica : ( ) Sim ( )Não
23. Privada /Fossa : ( )Sim ( )Não 24.Telefone público : ( )Sim ( )Não
25. Campo de futebol : ( )Sim ( )Não 26. Igreja : ( )Sim ( )Não
27. Número de cômodos na casa : 28. Lixo domiciliar : ( )Sim ( )Não
Bloco II – CONDIÇÕES E RELAÇÕES DO CATADOR
29.Que motivos levaram você a entrar na atividade de catador?
30. Que atividade exercia antes de entrar para a atividade de catador?
31. Há quanto tempo trabalha no atual local em que faz a coleta?
32. Na sua família existem outras pessoas que trabalham na coleta de material? ( ) Sim ( ) Não
33. Se a resposta for sim na pergunta anterior, quantas pessoas?
34. Que tipo de produto você coleta?
( ) Caranguejo macho.
( ) caranguejo fêmea.
( ) Todos os tipos.
35.Qual a vantagem de se coletar um só produto?
36. Para quem você vende os caranguejos coletados?
37. O Caranguejo coletado é vendido sempre para o mesmo comprador? ( ) Sim ( ) Não
38. Qual o destino da Produção : ( )Consumo ( )Venda
39. Qual o tipo da coleta : ( )Braçal ( )Tapa ( )Laço
40. Qual o tempo que você fica no mangue em horas?
41.Qual a quantidade de caranguejo coletada por dia?
84
42. Quantas vezes por semana é realizada a coleta?
43. Qual o tipo de acondicionamento do caranguejo coletado: ( )Nenhuma ( )Cofo ( )Caixas
44. Qual o tempo do acondicionamento em dias?
45. Quanto ao beneficiamento: ( )Patas ( )Carne ( )Nenhuma
46. Possui carteira de pescador/catador?
47. Tem conhecimento da legislação de pesca?
48. Realiza a coleta durante o período do defeso?
49. Recebe algum tipo de recurso durante o período de defeso ?( )Governo ( )Prefeitura ( )Cooperativa ( )Associação
50. É associado a alguma entidade: ( ) Coopetativa ( )Associação ( )Sindicato
43. Indique as principais dificuldades que você enfrenta:
a) No trabalho de coleta:
b) Na venda do caranguejo coletado:
c) No dia-a-dia de casa:
d) Na comunidade onde mora:
44. O que você precisa para diminuir essas dificuldades?
a) No trabalho de coleta
b) Na venda do caranguejo coletado:
c) No dia a dia de casa:
d) Na comunidade onde mora:
45. Cite pessoas em quem você busca auxílio, quando precisa resolver problemas:
a) Financeiros: Vínculo:
b) De Saúde: Vínculo:
c) Do Trabalho: Vínculo:
d) Outro. Qual? Vínculo:
Bloco III – CARACATERIZAÇÃO AGRICULTURA/PECUÁRIA
46.Qual a cultura plantada: ( )Arroz ( )Milho ( )Feijão ( )Mandioca
47. Qual a área plantada?
48. Total em produção (KG):
49. Total para consumo (KG):
50. Venda em Kg:
51. Utiliza agrotóxico: ( )Sim ( )Não
52.Utiliza adubo: ( )Sim ( )Não
PECUÁRIA
53. Espécie/Produto? ( ) Caprino ( ) Suíno ( )Ovino ( )Bovino ( )Galináceos ( )Equino
54. Qual o destino da Produção: ( )Consumo ( )Venda
55.Você deve indicar 05 pessoas em que mais tem confiança e 05 que considera as mais
importantes na sua comunidade, informando o tipo de vínculo que o entrevistado mantém com a
pessoa indicada (marido, mulher, primo, amigo, vizinho, comprador etc.), a idade (pode ser idade
aproximada) e a frequência com que se relaciona.
Nome da Pessoa por tipo de Relacionamento Regularidade Idade Vínculo
85
Co
nfi
an
ça a) 1 2 3 4 F T C A
b) 1 2 3 4 F T C A
c) 1 2 3 4 F T C A
d) 1 2 3 4 F T C A
e) 1 2 3 4 F T C A
Imp
ort
ân
cia a) 1 2 3 4 F T C A
b) 1 2 3 4 F T C A
c) 1 2 3 4 F T C A
d) 1 2 3 4 F T C A
e) 1 2 3 4 F T C A
Legenda:
1 = Várias Vezes ao
Dia
2 = Uma Vez ao Dia 3 = Uma a Duas Vezes na
Semana
4 = Uma a Duas Vezes ao Mês
F = Familiar T = Trabalho C = Comunidade A = Amizade
56. No primeiro Quadro 1 a seguir o(a) entrevistado(a) deve informar se existem, entre os
catadores, os problemas indicados ou se existem no local da coleta (marque Sim ou Não). Já no
segundo Quadro 2 ele(a) deve responder (Sim ou Não) se as atividades indicadas são de interesse
dele visando melhorar a atividade de catador, a situação dele e de sua família.
Quadro 1 Ocorrência Quadro 2 Crença
Problemas Existentes entre os Catadores Sim Não Ações de Interesse dos Catadores em: Sim Não
Separação Recente Formação de Cooperativas
Falecimento de Familiares Capacitação para a Coleta
Uso de Drogas Capacitação para outras Atividades
Recém-Desempregado Educação de Jovens e Adultos
Problema Grave de Saúde Participação em Programas Sociais
Violência Doméstica
Participação em Movimentos de
Catadores
Envolvidos com Prostituição
Alcoolismo
Envolvidos em Crimes
Entrevistador: Local: Data: Nº