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Aplicação dos Sistemas de Informação Geográfica como ferramenta de apoio ao combate a Incêndios Florestais no Concelho da Guarda. __________________________________________________________________________________ UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Ciências da Engenharia Aplicação dos Sistemas de Informação Geográfica como ferramenta de apoio ao combate a Incêndios Florestais no Concelho da Guarda Bruno Filipe Bernardo Dos Santos Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Informação Geográfica (2º ciclo de estudos) Orientador: Prof. Doutor Pedro Gabriel de Faria Lapa Barbosa de Almeida Covilhã, Outubro de 2010.

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Aplicao dos Sistemas de Informao Geogrfica como ferramenta de apoio ao combate a Incndios Florestais no Concelho da Guarda. __________________________________________________________________________________

UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Cincias da Engenharia

Aplicao dos Sistemas de Informao Geogrfica como ferramenta de

apoio ao combate a Incndios Florestais no Concelho da Guarda

Bruno Filipe Bernardo Dos Santos

Dissertao para obteno do Grau de Mestre em

Sistemas de Informao Geogrfica

(2 ciclo de estudos)

Orientador: Prof. Doutor Pedro Gabriel de Faria Lapa Barbosa de Almeida

Covilh, Outubro de 2010.

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Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

II

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Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

III

AGRADECIMENTOS

Para a realizao deste trabalho muito contribuiu o apoio e estimulo de diversas

pessoas, s quais expresso a minha gratido.

Ao meu orientador, o Professor Doutor Pedro Gabriel de Faria Barbosa de Almeida,

pelos oportunos conselhos e sugestes e sobretudo, pela riqueza dos conhecimentos

transmitidos.

Ao Professor Jos Riscado, pela pacincia e pelos conhecimentos transmitidos quando

necessitei.

Aos meus pais pelo apoio nas grandes e pequenas coisas.

Direco Geral dos Recursos Florestais e ao Servio Nacional de Bombeiros e

Escola Nacional de Bombeiros e aos Bombeiros Voluntrios da Guarda pela colaborao

prestada, na cedncia de dados estatsticos.

Quero deixar expresso o meu agradecimento a todos aqueles que de alguma forma

contriburam para a realizao deste trabalho.

Por fim, mas com uma enorme contribuio, agradeo aos meus amigos por me

ouvirem e incentivarem nesta fase, pela amizade em todos os momentos.

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Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

IV

Resumo

Os incndios florestais so responsveis pelos maiores prejuzos possveis de serem

causados s florestas, quer pela sua rapidez, quer pela dificuldade de controlo.

Portugal o pas da Bacia Mediterrnica (que inclui ainda Espanha, Frana, Itlia e

Grcia) com o maior nmero de ocorrncias todos os anos. Ano ps ano Portugal ocupa um

lugar de destaque relativamente aos flagelos dos incndios florestais. No decorrer do ano

2009 arderam no territrio nacional 82.000 hectares, tendo o Concelho da Guarda uma rea

total ardida de 5.378 hectares.

Sintetizando, os incndios so o principal factor limitativo do desenvolvimento

sustentvel da floresta e como tal necessrio preveni-los.

Este estudo pretende abordar o maior e mais grave problema que afecta as florestas

em Portugal os incndios florestais. Alm do tratamento estatstico que nos permitem

caracterizar os perodos recentes, relativamente ao nmero de ocorrncias e do nmero de

rea ardida. Pretende-se tambm abordar a temtica do comportamento e propagao dos

incndios florestais. Esta abordagem indispensvel, na medida em que para se planearem

estratgias de combate a incndios florestais importante conhecer o comportamento e as

diversas formas de propagao do fogo.

Este trabalho pretende tambm dar a conhecer a realidade de um dos concelhos que

tem vindo sucessivamente a ser devastado pelos incndios florestais em Portugal (o Concelho

da Guarda). Para tal, procedeu-se caracterizao de diversos indicadores, que nos

permitem estabelecer relaes com o elevado nmero de ocorrncias e de rea ardida no

Concelho da Guarda. Este trabalho pretende ainda explorar as potencialidades dos Sistemas

de Informao Geogrfica (SIG) (Geographical Information Systems), na preveno e como

ferramenta de apoio ao combate a incndios florestais. Estas ferramentas permitem

compreender a realidade existente no concelho face propagao de grandes incndios

florestais e planeamento e ordenamento do territrio.

So ainda apresentadas e discutidas algumas relaes entre o nmero de ocorrncias,

rea ardida, densidade populacional e ocupao de solo.

Por ltimo, pretende-se apresentar algumas solues que permitam inverter o flagelo

dos incndios florestais no Concelho da Guarda.

Palavras-chave: Incndios Florestais, Combate, Sistemas de Informao Geogrfica.

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V

ABSTRACT

Forest wildfires are the main cause of the largest damages to forests for its fastness

and control difficulties.

Portugal is the country within the Mediterranean margin (including Spain, France,

Italy and Greece) with the largest number of occurrences every year. Year after year Portugal

occupies the highest ranking concerning the wildfires disasters. During the year of 2009 about

82.000 hectares were destroyed, with the municipality of Guarda obtaining a total burnt area

of 5.378 hectares.

In resume, wildfires are the main limitation factor for sustainable forest development

and it is then necessary to prevent it.

On this work it is presented an approach to the largest and more serious problem

affecting Portuguese forests wildfires. Besides statistical analysis allowing recent years

characterization, concerning number of occurrences and burnt area, it is also referenced the

behavior and propagation of wildfires. This approach is essential as it is necessary for

planning wildfires combat strategies to know the behavior and propagation methods of fire.

It will also be presents the reality of one of the most devastated municipalities by

wildfires in Portugal (Guarda municipality). Several factors were characterized allowing to

established relations between the very high number of occurrences and burnt area at Guarda

municipality. In order to obtain such relations a GIS (Geographical Information System) was

used as well as to establish its utility as a tool for wildfire prevention and combat aid. These

tools allow to understand the reality of the municipality concerning large wildfires and

territorial planning.

Relations between the number of occurrences, burnt area population and soil use is

presented and its consequences are discussed.

Finally some possible solutions are presented in order to prevent forest wildfires at

Guarda municipality.

Keywords: Forest wildfires, fire combat, Geographic Information Systems

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VI

NDICE

ndice de Figuras ........................................................................................... VIII

ndice de Tabelas .............................................................................................. X

ndice de Grficos ............................................................................................ XI

1- Introduo .................................................................................................. 1

2- Factores intervenientes em incndios florestais em Portugal .................................. 4

2.1- Caracterizao da Floresta Portuguesa ........................................................ 5

2.2- Descrio do comportamento do fogo .......................................................... 9

2.3- O Risco de Incndio .............................................................................. 12

2.4- Portugal no contexto dos pases mediterrneos ............................................ 17

2.5- A problemtica dos incndios florestais em Portugal ..................................... 21

2.6- Factores que afectam a propagao de incndios florestais ............................. 25

2.7- Causas dos incndios ............................................................................ 27

2.8- Efeitos dos incndios ............................................................................ 29

2.9- Factores que influenciam a propagao dos incndios florestais ....................... 30

2.10- Comportamento extremo do fogo ........................................................... 35

2.11- Solues para atenuar os incndios florestais ............................................ 38

3- Caracterizao da rea de estudo: Concelho da Guarda ....................................... 41

3.1 - Caracterizao geral do Concelho da Guarda .............................................. 42

3.2 - Populao ........................................................................................ 44

3.3 - Clima .............................................................................................. 50

3.3.1 - Temperatura .............................................................................. 50

3.3.2 - Precipitao ............................................................................... 51

3.3.3 Vento ....................................................................................... 51

3.3.4 - Humidade Relativa ....................................................................... 52

3.4 - Morfologia ........................................................................................ 53

http://snig.igeo.pt/Portugues/Apps/Crif/relatorios/guarda/Guarda.html#_Toc374881278#_Toc374881278http://snig.igeo.pt/Portugues/Apps/Crif/relatorios/guarda/Guarda.html#_Toc374881279#_Toc374881279http://snig.igeo.pt/Portugues/Apps/Crif/relatorios/guarda/Guarda.html#_Toc374881280#_Toc374881280http://snig.igeo.pt/Portugues/Apps/Crif/relatorios/guarda/Guarda.html#_Toc374881282#_Toc374881282

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Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

VII

3.5 - Uso e Ocupao do Solo ........................................................................ 57

3.6 - Risco de Incndio Florestal .................................................................... 60

3.7 - Incndios florestais no Concelho da Guarda ............................................... 62

3.7.1 - Nmero de ocorrncias e rea ardida no Concelho da Guarda, ano 2000...... 65

3.7.2 - Nmero de ocorrncias e rea ardida no Concelho da Guarda, ano 2001...... 66

3.7.3 - Nmero de ocorrncias e rea ardida no Concelho da Guarda, ano 2002...... 67

3.7.4 - Nmero de ocorrncias e rea ardida no Concelho da Guarda, ano 2003...... 68

3.7.5 - Nmero de ocorrncias e rea ardida no Concelho da Guarda, ano 2004...... 69

3.7.6 - Nmero de ocorrncias e rea ardida no Concelho da Guarda, ano 2005...... 70

3.7.7 - Nmero de ocorrncias e rea ardida no Concelho da Guarda, ano 2006...... 71

3.7.8 - Nmero total de ocorrncias e rea total ardida no Concelho da Guarda (2000-

2006) ......................................................................................... 72

4- Apresentao e discusso dos resultados ......................................................... 73

4.1 Relao do nmero de ocorrncias e rea ardida pela densidade populacional ..... 74

4.2 - Relao da rea ardida, da rea das freguesias e da densidade populacional ....... 76

4.3 - Carta de preveno / combate a incndios ................................................ 78

4.4 - Carta de preveno/ combate em funo da densidade populacional ................ 80

4.5 Carta de risco de incndio ..................................................................... 81

4.6 Discusso .......................................................................................... 82

5- Concluses ............................................................................................... 79

5.1 - Trabalhos futuros .............................................................................. 86

6- Bibliografia ................................................................................................ 87

7- Anexos ..................................................................................................... 92

7.1 Anexo 1: Ponderao dos critrios segundo a grau de importncia para o risco de

incndio potencial ............................................................................... 93

7.2 - Anexo 2: Clculo da velocidade de propagao de um incndio florestal ........... 94

8- Glossrio ................................................................................................... 95

http://snig.igeo.pt/Portugues/Apps/Crif/relatorios/guarda/Guarda.html#_Toc374881283#_Toc374881283http://snig.igeo.pt/Portugues/Apps/Crif/relatorios/guarda/Guarda.html#_Toc374881284#_Toc374881284http://snig.igeo.pt/Portugues/Apps/Crif/relatorios/guarda/Guarda.html#_Toc374881285#_Toc374881285

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VIII

Lista de Figuras

Figura n 1 - Tringulo do fogo ............................................................................ 10

Figura n 2 Risco de incndio florestal dirio em Portugal Continental .......................... 14

Figura n 3 Risco de incndio florestal em Portugal Continental .................................. 16

Figura n 4 - Tipos de incndios florestais............................................................... 26

Figura n 5 - Principais factores que influenciam o desenvolvimento dos incndios florestais 30

Figura n 6 - Continuidade e descontinuidade dos combustveis .................................... 31

Figura n 7 - Um propagao de um incndio em funo do relevo ................................ 32

Figura n 8 Influencia do vento na propagao de um incndio florestal ........................ 33

Figura n 9 Influncia da humidade entre os combustveis florestais e o ar .................... 34

Figura n 10 Influncia de estufa num incndio florestal ........................................... 35

Figura n 11 Estrutura para estudo laboratorial do comportamento eruptivo do fogo ........ 37

Figura n 12 Localizao do Concelho da Guarda por NUTS II ...................................... 41

Figura n 13 Localizao do Concelho da Guarda .................................................... 41

Figura n 14 Freguesias do Concelho da Guarda ...................................................... 42

Figura n 15 Rede viria do Concelho da Guarda ..................................................... 43

Figura n 16 Aglomerados populacionais as freguesias do Concelho da Guarda, 2001 ......... 47

Figura n 17 Densidade populacional no Concelho da Guarda, 2001 .............................. 48

Figura n 18 Variao da populao no concelho da Guarda (1991-2001) ....................... 49

Figura n 19 Nmero de Nascimentos nas freguesias do Concelho da Guarda (1991-2001) ... 49

Figura n 20 Mapa hipsomtrico do concelho da Guarda ............................................ 54

Figura n 21 Mapa de Declives do Concelho da Guarda ............................................. 55

Figura n 22 Mapa de exposies do Concelho da Guarda .......................................... 56

Figura n 23 Mapa de uso do solo Concelho da Guarda .............................................. 58

Figura n 24 Carta de visibilidades dos postos de vigia no Concelho da Guarda ................ 59

Figura n 25 Mapa de risco de incndio florestal no Concelho da Guarda ....................... 61

Figura n 26 Nmero de ocorrncias no Concelho da Guarda, 2000 .............................. 65

Figura n 27 rea ardida no Concelho da Guarda, 2000 ............................................. 65

Figura n 28 Nmero de ocorrncias no Concelho da Guarda, 2001 .............................. 66

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Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

IX

Figura n 29 rea ardida no Concelho da Guarda, 2001 ............................................. 66

Figura n 30 Nmero de ocorrncias no Concelho da Guarda, 2002 .............................. 67

Figura n 31 rea ardida no Concelho da Guarda, 2002 ............................................. 67

Figura n 32 Nmero de ocorrncias no Concelho da Guarda, 2003 .............................. 68

Figura n 33 rea ardida no Concelho da Guarda, 2003 ............................................. 68

Figura n 34 Nmero de ocorrncias no Concelho da Guarda, 2004 .............................. 69

Figura n 35 rea ardida no Concelho da Guarda, 2004 ............................................. 69

Figura n 36 Nmero de ocorrncias no Concelho da Guarda, 2005 .............................. 70

Figura n 37 rea ardida no Concelho da Guarda, 2005 ............................................. 70

Figura n 38 Nmero de ocorrncias no Concelho da Guarda, 2006 .............................. 71

Figura n 39 rea ardida no Concelho da Guarda, 2006 ............................................. 71

Figura n 40 Nmero total de ocorrncias no Concelho da Guarda, 2000-2006 ................. 72

Figura n 41 rea total ardida no Concelho da Guarda, 2000-2006 ............................... 72

Figura n 42 Relao entre o nmero de ocorrncias e a densidade populacional no Concelho

da Guarda, 2000-2006 ....................................................................................... 74

Figura n 43 Relao entre a rea ardida e a densidade populacional, 2000-2006............. 75

Figura n 44 Relao entre a rea ardida e a rea das freguesias, 2000-2006 .................. 76

Figura n 45 - Relao entre a rea ardida e a populao residente, 2000-2006 ................ 77

Figura n 46 Relao entre a rea ardida e o nmero de ocorrncias, 2000-2006 ............. 78

Figura n 47 Relao entre a rea ardida, o nmero de ocorrncia e a densidade

populacional, 2000-2006 .................................................................................... 77

Figura n 48 Mapa de Risco de Incndio Florestal .................................................... 81

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Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

X

Lista de Tabelas

Tabela n 1 - Evoluo do coberto florestas 1995-2005 ................................................. 6

Tabela n 2 - Critrios e respectiva contribuio para o clculo do risco de incndio .......... 15

Tabela n 3 Nmero mdio de ocorrncias de incndios florestais nos pases da Europa

Mediterrnea ................................................................................................. 18

Tabela n 4 Nmero mdio da rea ardida nos pases da Europa Mediterrnea ................ 19

Tabela n 5 Nmero de ocorrncias nos pases da Europa mediterrnea ........................ 19

Tabela n 6 - rea ardida nos pases da Europa Mediterrnea ....................................... 20

Tabela n 7 - Principais causas dos incndios florestais investigadas pela GNR/SEPNA em 2009

.................................................................................................................. 28

Tabela n 8 - Freguesias do Concelho da Guarda ...................................................... 45

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Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

XI

Lista de Grficos

Grfico n 1 - Uso do solo em Portugal..................................................................... 5

Grfico n 2 - Uso do solo por espcie em Portugal ..................................................... 5

Grfico n 3 - Evoluo da rea ocupada por espcie florestal em Portugal ........................ 6

Grfico n 4 - Percentagem de rea ardida por espcies afectadas pelos incndios, em 2009 .. 8

Grfico n 5 - Nmero mdio de incndios florestais nos pases da Europa do Sul .............. 17

Grfico n 6 Nmero mdio da rea ardida nos pases da Europa do Sul ........................ 18

Grfico n 7 - Nmero de ocorrncias de incndios florestais em Portugal, entre 1980 e 2009 ..

.................................................................................................................. 21

Grfico n 8 rea total ardida em Portugal, entre 1980 e 2009 ................................... 22

Grfico n 9 - Relao entre a rea total ardida e o nmero de ocorrncias, entre 1980 e 2009

.................................................................................................................. 22

Grfico n 10 Distribuio espacial do nmero de incndios florestais e fogachos em 2009 ....

.................................................................................................................. 23

Grfico n 11 Distribuio do nmero de ocorrncias de incndios florestais e fogachos em

2009 ............................................................................................................ 24

Grfico n 12 Distribuio de reas ardidas, em 2009 ............................................... 24

Grfico n 13 Relao temporal entre a rea total ardida e o nmero de ocorrncias, em

2009 ............................................................................................................ 25

Grfico n 14 - Causas dos incndios florestais investigadas pela GNR/SEPNA em 2009 ........ 28

Grfico n 15 - Evoluo da Populao no Concelho da Guarda ..................................... 44

Grfico n 16 - Mdia da temperatura do ar (Normais Climatolgicas) Guarda, 1971-2000 .... 50

Grfico n 17 - Quantidade de precipitao total (Normais Climatolgicas) Guarda, 1971-2000

.................................................................................................................. 51

Grfico n 18 Velocidade mdia do vento no concelho da Guarda s 9 h (1951-1980) ........ 52

Grfico n 19 Humidade relativa mensal no concelho da Guarda s 9h (1951-1980) .......... 53

Grfico n 20 - Uso do solo no concelho da Guarda .................................................... 57

Grfico n 21 reas dos povoamentos florestais por espcies no concelho da Guarda ........ 57

Grfico n 22 - FWI por Distrito, em Agosto 2000-2010 ............................................... 60

Grfico n 23 - Nmero de ocorrncias de incndios florestais no concelho da Guarda entre

1990 e 2006 ................................................................................................... 62

Grfico n 24 - Nmero da rea ardida no concelho da Guarda entre 1990 e 2006 .............. 63

Grfico n 25 - Relao entre a rea total ardida e o nmero de ocorrncias, entre 1980 e

2009 ............................................................................................................ 64

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Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

XII

ACRNIMOS

AFN Autoridade Florestal Nacional

AMU reas Medianamente Urbanas

ANPC- Autoridade Nacional de Proteco Civil

APR reas Predominantemente Rurais

CMDFCI- Comisso Municipal de Defesa da Floresta Contra Incndios

COS Carta de Ocupao do Solo

CRIF - Cartografia de Risco de Incndio Florestal

DFCI- Defesa da Floresta Contra Incndios

DGRF- Direco Geral de Recursos Florestais

ECIN - Equipa de Combate a Incndios

ENF Estratgia Nacional para as florestas

FEB Fora Especial de Bombeiros

FWI - ndice Meteorolgico de Risco de Incndio

GAUF Grupo de Anlise e Uso do Fogo

GIPS Grupo de Interveno de Proteco e Socorro

GNR Guarda Nacional Republicana

IA- Instituto do Ambiente

IGP /IGEO Instituto Geogrfico Portugus

ICN- Instituto de Conservao da Natureza

IM Instituto de Meteorologia

LEIF Laboratrio de Estudos sobre Incndios Florestais

NICIF- Ncleo de Investigao Cientifica de Incndios Florestais

OPF`s- Organizao de Produtores Florestais

PNDFCI- Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incndios

PNSE Parque Natural da Serra da Estrela

POM - Plano Operacional Municipal

PMDFCI - Plano Municipal De Defesa da Floresta Contra Incndios

SIG- Sistemas de Informao Geogrfica

SNBPC - Servio Nacional de Bombeiros e Proteco Civil

SNIG- Sistema Nacional de Informao Geogrfica

SEPNA/GNR- Servio da Proteco da Natureza e do Ambiente da GNR

TO Teatro de Operaes

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- 1 -

I - Introduo

As florestas so um recurso natural renovvel e uma das nossas maiores fontes de

riqueza e desenvolvimento de muitas reas rurais. Para alm de serem uma importante fonte

de matrias-primas, as florestas desempenham importantes funes (minimizam o efeito de

estufa, reduzem os fenmenos erosivos, regularizam os recursos hdricos, contribuem para a

manuteno da diversidade biolgica e do equilbrio da natureza, atenuam os efeitos das

alteraes climticas, so uma fonte de riqueza, etc.).

O fogo para alm de ser um factor natural, que condicionou a existncia e a

distribuio da floresta ao longo de milhares de anos, pode considerar-se uma ferramenta que

o Homem tem vindo a utilizar principalmente na agricultura. Atravs do arroteamento de

terras e consequente aproveitamento das cinzas como fertilizante e da queima de restolho,

pasto e eliminao de restos agrcolas.

O fogo uma manifestao da combusto. Contudo, quando deixa de ser controlado,

surge o incndio com todas as suas dramticas consequncias. Para que exista fogo

indispensvel a juno simultnea de trs elementos, o combustvel, o comburente

(substncia que alimenta a combusto) e a energia de activao (fonte de calor). Estes trs

elementos formam o que se designa por tringulo do fogo. Depois de um fogo se iniciar

necessrio um quarto factor para que ele se desenvolva; este quarto factor a chamada

energia de reactivao ou reaco em cadeia e transforma o tringulo do fogo num tetraedro

do fogo. A tcnica de extino (dos fogos) consiste exactamente em eliminar pelo menos um

dos factores do fogo (Guerra, ENB, 2007).

Quando ocorre um fogo que no controlado pelo Homem, toma a designao de

incndio. Sempre que o fogo tenha iniciado ou atingido uma rea florestal, isto , uma

superfcie arborizada (povoamento) ou de mato (inculto) toma a designao de incndio

florestal (ANF, 2009).

Hoje o fogo responsvel pelos maiores prejuzos possveis de serem causados s

florestas. Os incndios florestais so pois, um dos riscos naturais mais importantes, no s

pela elevada frequncia com que ocorrem e extenso que alcanam, como pelos efeitos

destrutivos que causam no territrio. (Gomes, 2003)

Portugal um dos pases da Unio Europeia mais afectado por esta catstrofe. Tendo

em ateno os valores dos ltimos anos relativamente s reas ardidas e ao nmero de

ignies, estes so avassaladores. Dos pases da Bacia Mediterrnea, Portugal o nico pas

em que a mdia da rea ardida tem aumentado desde 1980 (European Commission, 2004).

Portugal afectado sucessivamente com elevados prejuzos resultantes da destruio

de vastas reas florestais, bem como elevados prejuzos associados ao combate aos incndios

florestais.

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Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

- 2 -

Dependendo dos factores que afectam o comportamento dos incndios florestais,

sempre que se verificam condies adequadas sua expanso, estes podem atingir extensas

reas florestais, causando srios danos vegetao, fauna, solo e causando perdas

significativas na biodiversidade, econmicas e sociais, tendo em conta vrios benefcios,

directos e indirectos, fornecidos pelas florestas sociedade.

Segundo diversos autores (Colao, 2005, Viegas, 2003) os cenrios futuros no que se

refere aos incndios florestais no so os mais animadores. As alteraes climticas em

Portugal vo fazer-se sentir de forma mais severa e vai ter repercusses no aumento do ndice

de Risco de Incndio, bem como numa poca de incndios mais alargada, isto , no incidindo

somente nos meses de Vero. Tal significa que alm de aumentar o nmero de incndios num

espao mais alargado de tempo, estes tambm tero maior severidade (Santos, 2002).

Sempre que se verifica um perodo de seca algo extenso, geralmente entre os meses

de Maio e de Setembro, onde se verifica um elevado nmero de dias com ausncia de

precipitao, temperaturas extremamente elevadas e valores de humidade relativa muito

baixos, aumenta desde logo o risco de incndios florestais. A estes factores extremamente

importantes na ocorrncia de incndios, podemos ainda referir que, em anos em que ao

perodo de estiagem precedem Invernos e Primaveras chuvosos, com precipitao mdia

superior aos valores normais, h uma intensificao do desenvolvimento de espcies vegetais,

principalmente do estrato herbceo, o que facilita a propagao da combusto, levando ao

aumento do risco de incndios florestais.

Dados o tipo e a quantidade de vegetao, bem como as situaes meteorolgicas

existentes em Portugal, existiro sempre condies para a deflagrao e rpida propagao

de incndios. Estas caractersticas so as principais responsveis pelas reas afectadas

anualmente, no sendo possvel muitas vezes, evitar verdadeiras catstrofes desta natureza

(Loureno, 2001).

Quando o incndio escapa ao ataque inicial, passa a comportar-se, por vezes, de

modo to imprevisvel e violento que, no raro, somos impotentes para conter a sua marcha,

pagando alguns de ns com a prpria vida, o que de princpio parecia coisa de pouca

importncia (DGF, 2002).

As causas estruturais da grande vulnerabilidade das nossas florestas ao risco de

incndio tm a ver com as grandes quantidades de detritos combustveis acumulados que,

quando chega o tempo quente, seco e ventoso, cria condies prprias aos fogos, o abandono

da colheita de matos e lenhas, a predominncia de povoamentos monoespecficos de

resinosas e o mau ordenamento florestal. (Costa, 1999)

A melhor forma de combater os incndios florestais preveni-los, contudo, a

preveno no elimina por completo o risco de ocorrncia de incndios. Porm, com uma

eficaz preveno e uma rpida deteco contribuem para a reduo das propores atingidas

por estes (Frazo, 1999).

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Portugal quer pela sua posio geogrfica e pelo clima marcadamente temperado com

caractersticas mediterrneas, verificam-se longos perodos estivais, reduzida precipitao e

temperaturas elevadas, que conduz a uma forte evaporao. Estes factores tornam a

vegetao facilmente inflamvel.

Para evitar as perdas resultantes dos incndios florestais, muitas vezes irreparveis

necessrio estabelecer uma srie de medidas com vista preveno e combate aos incndios

florestais. necessrio conhecer as caractersticas do fenmeno do fogo, bem como os

factores que determinam o seu comportamento e conhecimento, para prever a evoluo dos

incndios florestais.

O concelho da Guarda abrange uma rea de 71. 211 Hectares, compreendendo 55

freguesias. Segundo a ANF e CRIF na zonagem do continente para o grau de risco de incndio

florestal, o Concelho da Guarda, insere-se na classe de Risco Muito Alto. (Plano Operacional

Municipal, 2006).

No ano 2009, o total de rea ardida no Concelho da Guarda perfez os 5.378 hectares,

sendo um valor bastante elevado comparado com o total do territrio nacional 82.000

hectares. A forte emigrao da populao e consequente abandono das propriedades

transformou a paisagem agrcola da regio. Este abandono levou condicionalmente ao

desenvolvimento progressivo dos incultos. O clima acentuado tanto devido ao efeito da

continentalidade como orografia. As elevadas temperaturas e baixas precipitaes durante

o perodo de estio levam formao de condies favorveis ocorrncia de focos de

incndio durante este perodo do ano (CRIF, 1997).

Verifica-se assim, a necessidade de se proceder e implementar instrumentos de

gesto de risco de incndios florestais, bem como no desenvolvimento de sistemas de gesto

e de ligao entre as estruturas de preveno, deteco e combate aos incndios florestais no

Concelho da Guarda. Somente com a inter-relao das diferentes estruturas e entidades se

conseguir amenizar os efeitos dos incndios florestais.

Este trabalho pretende contribuir para uma maior consciencializao por parte da

sociedade, relativamente problemtica dos incndios florestais que frequentemente

ocorrem em Portugal no geral e no Concelho da Guarda em particular. Pretende-se dar a

conhecer a realidade existente ao nvel das freguesias que constituem o Concelho da Guarda

no que refere aos incndios florestais.

Para as estratgias de preveno e combate aos incndios florestais indispensvel o

conhecimento exaustivo e constantemente actualizado da rea de interveno. A melhor

forma de conhecer a realidade existente explorar as potencialidades dos (SIG).

Posteriormente, pretende-se utilizar os Sistemas de Informao Geogrfica (SIG)

(Geographical Information Systems), como ferramenta de apoio ao combate aos incndios

florestais.

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2 Factores intervenientes em incndios

florestais em Portugal.

Neste captulo pretende-se analisar de forma aprofundada os incndios florestais em

Portugal. Assim, proceder-se- caracterizao da floresta existente em Portugal,

verificando as espcies predominantes, a sua evoluo ao longo dos tempos bem como,

analisar as espcies mais devastadas pelos incndios florestais (grau de combustibilidade).

Pretende-se fazer uma descrio breve do fenmeno do fogo, ou seja, os elementos

necessrios para que se verifique uma ignio.

Aborda-se o conceito de risco de incndio para melhor contextualizao do fenmeno,

bem como, a descrio dos ndices utilizados na avaliao do risco de incndio florestal. Para

tal, abordam-se os dois principais ndices utilizados em Portugal. O ndice canadiano de

indexao de perigo de incndio (FWI) utilizado pelo Instituto de Meteorologia (IM) e o

modelo usado pelo Instituto Geogrfico Portugus (IGP) na elaborao de cartas de risco de

incndio florestal.

Pretende-se ainda neste captulo contextualizar a problemtica dos incndios

florestais no contexto dos pases mediterrneos, abordando o nmero de ocorrncias e de

rea ardida, evidenciando a posio ocupada por Portugal. Em particular vo abordar-se os

incndios em Portugal, verificar a evoluo do nmero de ocorrncias e rea ardida ao longo

dos tempos. Para uma melhor contextualizao da realidade existente faz-se uma abordagem

temporal e espacial dos incndios florestais em Portugal. Esta abordagem exige o

desenvolvimento e conhecimento das principais causas e efeitos dos incndios florestais, para

uma melhor consciencializao da sociedade perante este flagelo que atinge frequentemente

Portugal.

Referem-se ainda os principais factores que afectam e influenciam a propagao dos

incndios florestais. Esta temtica permite desde logo, avaliar o grau de perigosidade dos

incndios e definir as melhores estratgias de combate a adoptar. D-se especial destaque ao

comportamento extremo do fogo, na medida em que, o fenmeno mais perigoso que pode

ocorrer durante um incndio florestal. Sendo este fenmeno eruptivo do fogo o principal

responsvel pela perda de vidas Humanas.

Por fim, este captulo aponta algumas solues possveis de implementar para

minimizar os efeitos dos incndios florestais em Portugal.

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2.1- Caracterizao da Floresta Portuguesa

Cerca de 38 % do territrio nacional ocupado por floresta (Grfico n1 IFN5, 2005-

2006), o que demonstra bem a importncia das florestas no contexto do territrio nacional.

Comparando com os inventrios florestais anteriores, a floresta portuguesa apresenta uma

tendncia para aumentar (Pereira et al. 2007; Radich e Alves, 2000). Esta percentagem

corresponde a uma rea de 3 458 557 ha constitudos por uma elevada diversidade de

espcies. Esta riqueza florestal devida ao clima mediterrnico uma vez que determina a

distribuio e sobrevivncia das espcies ao longo do territrio (Santos e Miranda, 2006).

Grfico n1 - Uso do solo em Portugal. Fonte: IFN 2005-2006.

Segundo o ultimo inventrio florestal nacional (IFN5), as espcies mais abundantes na

floresta portuguesa so pinheiro-bravo (Pinus pinaster) (27%), o sobreiro (Quercus suber)

(23%) e o eucalipto glbulo (Eucalyptus globulus) (23%) espcie arbrea da famlia das

Mirtacias, originrias da Austrlia e Tasmnia, introduzida em Portugal na primeira metade do

sculo XIX, (CELPA, 2001) (Grfico n2 IFN5, 2005-2006).

Grfico n2 - Uso do solo por espcie em Portugal. Fonte: IFN 2005-2006.

Tendo em ateno a evoluo da rea ocupada por espcies florestais em Portugal

(Grfico n3 IFN5, 2005-2006). Podemos verificar que durante o perodo de (1968-1980), o

Pinheiro-Bravo ocupava um lugar de destaque em relao s restantes espcies (1.293

Milhares de Hectares). Contudo, nos perodos seguintes tem vindo a reduzir a sua rea.

0% 10% 20% 30% 40%

Floresta

Agricultura

Matos

Outros usos

guas interiores

38%

33%

22%

5%

2%

Outras folhosas 3%

Pinheiro-Bravo 27%

Pinheiro-Manso 4%

Outras Resinosas

1%

Sobreiro 23%Azinheira

13%

Carvalhos 5%

Castanheiro 1%

eucalipto; 23%

Accias 0,1%

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Porm, no perodo de 2005-2006, ainda a espcie dominante com 971.000 ha

ocupados, mas j muito prxima da rea ocupada pelo eucalipto. O sobreiro no perodo 1960-

1980 era a segunda espcie dominante (657.000 ha), tendo vindo a manter sensivelmente a

mesma rea ao longo dos tempos, em (2005-2006) ocupava uma rea de (643.000 ha), sendo

superado pelo eucalipto. O eucalipto teve uma implementao em Portugal mais recente, por

isso, no perodo (1968-1980) ocupava apenas (214.000 ha), entretanto no perodo mais

recente (2005-2006) a segunda espcie mais representativa em Portugal (743.000 ha).

Grfico n3- Evoluo da rea ocupada por espcie florestal em Portugal. Fonte: IFN 2005-2006.

Em relao aos ltimos perodos (1995-1998 e 2005-2006) podemos verificar as

tendncias futuras relativamente s reas ocupadas pelas diversas espcies (Tabela n1 IFN5,

2005-2006). As espcies que apresentaram maiores variaes foram o Pinheiro-Bravo com uma

reduo de (91.000 ha), a Azinheira com menos (49.000 ha) e Outras Folhosas com uma

reduo de (16.000 ha). As espcies que verificaram maiores aumentos das reas ocupadas

foram o Eucalipto com um aumento de (68.000 ha), o Pinheiro-Manso (52.000 ha) e os

Carvalhos com um aumento de (19.000 ha).

Tabela n1. Evoluo do coberto florestal 1995-2005. Fonte: IFN5, 2005-2006.

Espcies 1995-98 2005-2006 Variao Milhares/Ha

Pinheiro-bravo 976 885 - 91

Eucalipto 672 740 + 68

Sobreiro 713 716 + 3

Azinheira 462 413 - 49

Pinheiro-manso 78 130 + 52

1293

971

214

743

657643

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1968-80 1980-89 1995-98 2005-06

Pinheiro-Bravo Eucalipto Sobreiro

Azinheira Pinheiro-Manso Outras Resinosas

Carvalhos Castanheiro Outras Folhosas

Milhares /ha

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Tabela n 1 (Continuao) Evoluo do coberto florestal 1995-2005. Fonte: IFN5.

Espcies 1995-98 2005-2006 Variao Milhares/Ha

Outras Resinosas 27 25 - 2

Carvalhos 131 150 + 19

Castanheiro 41 30 - 11

Outras Folhosas 102 86 - 16

Total 3202 3175 - 27

Apesar disso tem-se dado elevada relevncia aos fogos florestais uma vez que a

severidade do fogo tem vindo a aumentar e tornou-se a ameaa natural mais importante que

afecta as florestas da bacia mediterrnica, destruindo mais rvores do que qualquer outra

calamidade natural (Alexandrian, 1999).

Como anteriormente foi referido as espcies com maior rea so o pinheiro-bravo, o

sobreiro e o eucalipto. Contudo, no que se refere s espcies mais afectados pelos incndios

florestais em Portugal, em 2009 podemos afirmar que foi o Pinheiro-bravo a espcie que

registou maior rea ardida (39,1 %), seguindo-se os Carvalhos (20,6 %) e o Eucalipto (20,1 %)

(Grfico n4 ANF, 2009). As restantes espcies apresentam valores reduzidos de rea ardida.

O sobreiro apesar de ocupar uma extensa rea, (grande peso econmico na

exportao de produtos de cortia) caracteriza-se por uma descontinuidade vertical, a

densidade de ocupao reduzida, logo a velocidade de propagao ser menor e

consequentemente, maior a probabilidade de extino do incndio. Este aspecto est

relacionado com o grau de combustibilidade das espcies vegetais. Definida pela maior ou

menor facilidade que as espcies tm para suportar a propagao de uma frente de chamas

(Viegas, 2005).

Quanto maior for a quantidade de combustvel e menor for a distncia existente entre

os estratos inferiores e superiores, maior a continuidade vertical, maior a velocidade de

propagao, maior espessura atingida pelas chamas, assim como mais elevada vai ser a sua

temperatura (Almeida, Cunha e Freiria, 2007). Outra caracterstica a espessura das

combustveis. Quanto mais grossos forem os combustveis menor ser a combusto.

O pinheiro-bravo comeou a ser explorado para diversos tipos de construo, mas foi

no sculo passado que se expandiu sobretudo devido iniciativa dos proprietrios

particulares, sendo hoje a principal espcie produtora de madeira do pas (Fabio, 1996). O

pinheiro-bravo tornou-se a espcie dominante no territrio continental portugus neste

sculo. Rene as condies ideais para proporcionar o desenvolvimento de grandes incndios,

principalmente por se associar a vegetao arbustiva de grande combustibilidade (caruma e

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resina). em zonas com grandes reas contnuas de pinheiro-bravo que se verificam as

maiores extenses de rea ardida.

Segundo Catry et al, (2007) o pinheiro-bravo e o pinheiro-manso so duas resinosas

que so muito inflamveis mas que ao possurem uma casca grossa lhes permite sobreviver se

o fogo no for muito severo. No entanto, se a severidade do fogo for elevada e consumir

grande parte da copa, a probabilidade da rvore sobreviver muito reduzida.

Os carvalhos tm vindo a aumentar a sua rea de ocupao e a sua extensa rea

ardida deve-se essencialmente ao facto de se tratar de uma espcie caduciflia. Onde se

verificam grandes quantidades de combustveis mortos existentes no coberto vegetal.

Frequentemente os carvalhos resistem aos incndios florestais. Contudo, se a velocidade de

propagao do incndio for elevada e o fogo atingir a copa (incndios superficiais) a grande

maioria destas espcies acaba por no resistir fora do fogo. As folhosas em geral

apresentam uma maior resistncia ao fogo que as resinosas (Catry et al., 2007).

O Eucalipto uma espcie introduzida que se adaptou com grande facilidade s

nossas condies edafo-climticas. Inicialmente foi considerada uma espcie promissora pelo

seu rpido crescimento, mas revelou ser um problema devido ao seu comportamento invasor.

No entanto, hoje em dia importante para a economia nacional sendo explorado

pelas indstrias de pasta para papel dada a qualidade das suas fibras. Apesar de ocupar uma

extensa rea florestal e sendo uma espcie bastante combustvel, devido essencialmente s

extraces de matos, geralmente sobrevive e regenera. No possuindo grande taxa de

destruio pelos incndios florestais. Este aspecto resulta fundamentalmente dos mecanismos

de defesa adoptados pelas grandes empresas da indstria papeleira portuguesa.

Grfico n4 - Percentagem de rea ardida por espcies afectadas pelos incndios, em 2009,Fonte: ANF,2009

O comportamento dos incndios florestais depende muito das espcies afectadas.

Quanto mais finas a folhagem e mais abundante no solo (combustveis mortos), mais elevada

a combustibilidade e a rapidez de propagao dos incndios. Os arbustos so pois,

0

10

20

30

40

(%)

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comparativamente s rvores e s plantas herbceas, as verdadeiras acendalhas dos

incndios. Por isso, normalmente nestas formaes que eclodem os fogos florestais, por

meio delas que se propagam no espao, e graas a elas que logram atingir a copa das

rvores mais prximas. Quando o fogo atinge a copa inicia-se uma catstrofe de violncia

irresistvel, independentemente de as florestas serem compostas por eucalipto, pinheiro ou

carvalho.

A caracterstica dos povoamentos em Portugal tambm influencia gravemente a

propagao dos incndios florestais para extensas reas. Em Portugal predominam os

povoamentos contnuos monoespecficos (constitudos por uma s espcie) ou mistos de

espcies muito combustveis (pinheiro-bravo e eucalipto), permitem que no acaso da

ocorrncia de um incndio, este se propague mais facilmente.

indispensvel estabelecer descontinuidades nos povoamentos, espcies cujo grau de

combustibilidade seja diferente.

Uma das tcnicas mais utilizadas a construo ou abertura de faixas de conteno,

onde assim, a descontinuidade da vegetao interrompida, com dupla finalidade. Uma

dificulta a propagao do incndio florestal e outra facilita o combate.

2.2- Descrio do comportamento do fogo

Um incndio florestal uma propagao do fogo sobre a vegetao, libertando

energia e calor resultante de uma combusto (Trejo, 1996). Para que seja criado um fogo

necessrio haver condies propcias, atravs da presena de trs elementos fundamentais:

um comburente (oxignio), um combustvel e uma fonte de calor (ignio) (Colao, 2006;

Fernandes, 2003).

O oxignio um elemento que se encontra sempre presente na atmosfera florestal.

Comparando este elemento com os restantes elementos do tringulo do fogo (Figura n I),

este o que sofre menos variaes (Vlez, et al., 2000; Garnica, et al., 2006), podendo

somente variar com a estrutura do combustvel (mais ou menos denso) (Pyne, et al., 1996).

Dos trs ramos do tringulo do fogo, aquele que pouco ou nada tem sido discutido o

do comburente, o oxignio atmosfrico, O2. O ar atmosfrico, alm de quantidades variveis

de vapor de gua, uma mistura de cerca de 21% de oxignio (O2), 78% de azoto (N2) e 0,9%

de rgon (Ar), e outros gases minoritrios, dos quais o que est presente em maior

quantidade o dixido de carbono (CO2), com cerca de 0,035%. Quando a composio em

oxignio baixa para 15%, cessam as combustes; por outro lado, subindo para 25%, at a

matria orgnica molhada arde (Cames, 2006).

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O combustvel florestal toda a matria orgnica vegetal existente na floresta e que

se encontra disponvel para arder (Moreira, 2000) (percentagem de combustveis vivos ou

mortos, distribuio vertical e horizontal, humidade, combustibilidade, dimenso e

quantidade ou carga dos combustveis). Este factor apresenta variaes no tempo e no espao

e a sua distribuio espacial vai influenciar a ignio e propagao do fogo (Vlez, et al.,

2000).

Os combustveis vivos apresentam uma elevada quantidade de gua e no baixa para

alm de um certo limite, nos combustveis mortos o teor em gua muito baixo e alm disso,

varia com a humidade do ar (ENB, 2003). Sempre que estamos na presena de combustveis

mortos (manta morta), significa que a ignio pode ocorrer com maior facilidade, bem como

a propagao do foco de incndio. Nos combustveis vivos e ignio e a propagao esto mais

limitados.

A distribuio dos combustveis essencialmente vertical e horizontal. Na distribuio

vertical distinguem-se os estratos arbreos, arbustivos e herbceos. Sempre que se verifica a

continuidade vertical (do solo at s copas das rvores) e horizontal dos combustveis (junto

ao solo) ou seja, os diferentes estratos encontram-se ligados entre si. Esta situao cria as

condies para que as chamas se propaguem facilmente quer na horizontal quer na vertical.

necessrio estabelecer descontinuidades verticais e horizontais, evitando assim, o

contacto entre os combustveis. As tarefas de limpeza das florestas, desbasto e a abertura de

faixas de conteno impedem a propagao das chamas (Viegas, 2005).

A carga ou quantidade de combustvel, refere-se quantidade de combustvel

existente numa dada rea: inclui a folhada, pinhas, ramos e troncos mortos, as herbceas e

os arbustos. Quanto maior for a carga de combustvel existente, maior ser a capacidade de

ignio e propagao do foco de incndio (ENB, 2003).

Quanto dimenso, os combustveis classificam-se em finos, midos, mdios e

grossos. Quanto mais finos forem os combustveis, maior ser o seu pr-aquecimento e a

propagao da combusto (ENB, 2003).

A humidade do combustvel a quantidade de gua que ele contm, expressa em

percentagem relativamente ao seu peso seco. Quanto maior for a humidade contida nos

combustveis, mais difcil ser a ignio e o desenvolvimento do incndio. (ENB, 2003).

Figura n I - Tringulo do fogo. (ENB, 2003).

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A combustibilidade caracteriza a facilidade de propagao de um incndio num

determinado conjunto de combustveis. Ela depende da estrutura e das espcies dominantes

da formao vegetal em combusto, estando directamente relacionada com a disposio dos

combustveis no terreno. normalmente determinada atravs do tempo que um conjunto de

combustveis demora a arder, podendo exprimir-se em quilocalorias por metro quadrado de

terreno. A combustibilidade num pinhal bravo, num matagal ou num eucaliptal muito

superior combustibilidade num povoamento de sobro ou de azinho (ENB, 2003).

Por fim, alm do combustvel e do comburente, necessria uma terceira condio

para que a combusto possa ocorrer. Esta condio a temperatura de ignio, que a

temperatura acima da qual um combustvel pode queimar (ENB, 2003).

Neste contexto refere-se a uma fonte de energia suficiente para atingir o ponto de

ignio. O calor libertado deve ser suficiente para manter a combusto (Pyne, et al., 1996). A

fonte de calor (ignio) o elemento que permite estabelecer a causa do foco de incndio

(uso do fogo, indeterminadas, incendiarismo, estruturais, acidentais e naturais).

O combustvel termina, quando o calor insuficiente ou inexistente ou quando h

limitaes do oxignio, ou seja, quando h uma falta de um destes elementos do tringulo,

no h ocorrncia de fogo (Pyne, et al., 1996) e (Trejo, 1996).

Os bombeiros frequentemente falam sobre o tringulo do fogo quando esto a tentar

acabar com um incndio. A ideia que se puderem remover um dos pilares do tringulo,

podem controlar e finalmente extinguir o fogo (Cunha, 2008).

Os incndios florestais destroem as florestas, podendo por vezes provocar mortes de

civis e bombeiros, (Viegas, 2004). Causam imensos problemas/prejuzos nomeadamente:

destruio de casas e outras edificaes, morte de animais, poluio do ar, contaminao de

guas, queima de plantaes agrcolas e intoxicaes por monxido de carbono, cianido,

aldedos, cido clordrico, cloro, fosgnio, amnia dixido sulfrico e cido actico, (Viegas,

1998).

A problemtica dos incndios florestais, tem levado diversos autores a investigarem

quer no espao e no tempo este fenmeno (Cunha, 2008), levando a que cada vez mais

cincias se debrucem sobre a temtica dos incndios florestais.

O ano 2003 ficar marcado na memria como um ano trgico relacionado com os

incndios florestais e as suas terrveis consequncias. O resultado desta enorme calamidade,

foram as 21 vtimas mortais, 17 das quais civis e 4 bombeiros (Viegas, 2003).

O estudo dos incndios florestais extremamente complexo devido ao nmero de

variveis que influenciam quer a ignio, quer a propagao de um incndio florestal. Para o

aumento do perigo de propagao dos incndios, so determinantes, o tipo e carga

combustvel existente no terreno, o relevo e as condies meteorolgicas.

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Em 2004, Luciano Loureno props o termo de Dendrocaustologia para definir a

cincia que se propem estudar os incndios florestais. Esta designao proveniente do

grego, concretamente dos termos:

- dendron - que significa rvore.

- kaustos - que arde (derivado do verbo kaio ou kao - incendiar, fazer queimar.

Consumir pelo fogo, acender).

- logos palavra.

Deste modo, com a definio da cincia que estuda os incndios florestais, a

Dendrocaustologia, podemos dizer que ter comeado uma nova etapa de consolidao e

autonomizao para esta nova cincia. (Cunha, 2008).

Nos ltimos anos tem-se assistido a uma maior consciencializao e envolvimento de

diversas entidades no estudo aprofundado sobre a preveno e o comportamento do fogo,

bem como na implementao de estratgias de recuperao de reas ardidas. Somente com o

esforo generalizado podemos conseguir preservar as florestas e evitar os efeitos destrutivos

dos incndios florestais em Portugal.

2.3 O Risco de Incndio Diversos sistemas tm sido desenvolvidos com o objectivo de avaliar os factores

condicionantes das ocorrncias, do comportamento e dos efeitos dos incndios florestais. Os

sistemas que avaliam a probabilidade de ocorrncia de incndios florestais, tomam a

designao de sistemas de avaliao de risco de incndio florestal.

Segundo Bachmann e Allgwer, 1999 em (Pereira e Santos, 2003), o risco de incndio

florestal define-se como a probabilidade de que um incndio florestal ocorra num local

especfico, sob determinadas circunstncias e as suas consequncias esperadas,

caracterizadas pelos impactes nos objectos afectados.

Em sentido lato, entende-se como risco de incndio o risco de ignio do fogo, ou

seja, a existncia de causas humanas (acidentais ou voluntrias) ou naturais que o provoquem

(Loureno, 1996).

Numa abordagem integrada, assente na Teoria do Risco, a estimativa do risco de

incndio engloba, para alm da probabilidade condicional de ocorrncia do fogo no tempo, a

quantificao das consequncias esperadas, que se traduzem em prejuzos econmicos e

danos ambientais. De acordo com esta teoria, a anlise do risco de incndio inclui

metodologias de identificao do risco (Risk assessment), de avaliao do risco (Risk

evaluation), e de gesto do risco (Risk management alternatives) (SOCIETY FOR RISK

ANALYSIS, 2002).

Para a avaliao do risco de incndio, recorre-se normalmente a ndices

Meteorolgicos de Risco de Incndio, dado que as condies meteorolgicas condicionam no

s as causas de ignio como o teor de humidade dos tecidos vegetais, que condiciona a

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inflamabilidade dos combustveis (Gonalves, 2001). Estes ndices so dirios, mas o clculo

dos seus valores mdios anuais permite estimar o risco de incndio no mdio prazo.

Os ndices meteorolgicos so particularmente teis na identificao do padro de

distribuio temporal dos fogos florestais, ou seja, a concentrao do nmero de ocorrncias

durante o perodo seco e quente, que corresponde aos meses de Vero. Contudo, mostra-se

insuficiente para explicar a sua distribuio espacial, pois quando se analisam os valores dos

ndices para uma determinada data, os valores mais baixos e elevados no correspondem

necessariamente ao maior ou menor nmero real de fogos ocorridos naquela data no

continente (Reis, 1998). Existem contudo, factores de risco regionais que favorecem a ignio

e propagao dos incndios, a carga de combustvel, o relevo acidentado e a fragmentao da

paisagem.

De entre os vrios ndices utilizados em Portugal destacam-se o ndice de Nesterov

Modificado (ou ndice Portugus: IP), utilizado pelo Instituto Nacional de Meteorologia e

Geofsica desde 1988 (Loureno, 1996) e o ndice canadiano (Canadian Fire Weather ndex,

tambm conhecido por FWI), utilizado desde 1998.

Em Portugal, o perigo de incndio comeou por ser calculado a partir de uma frmula

originria da Sucia denominada Frmula de Angstrom em 1960 (IM, 2008).

Entre 1988 e 1998, adoptou-se o ndice de Nesterov. Para o clculo deste ndice era

necessrio conhecer a temperatura do ar e a humidade relativa a uma determinada hora e

tambm era tido em conta a velocidade e a direco do vento, calculado diariamente

(Viegas, 1999).

Em 1995, a Comisso Europeia elaborou uma recomendao que aconselhava os pases

da Europa a adoptar o sistema canadiano de indexao de perigo de incndio (Fire Weather

Index-FWI). Esta recomendao tinha como principal objectivo uniformizar a interpretao de

dados para assim ser possibilitado o intercmbio internacional de informao (Rodrigues,

2009). Passou ento a calcular-se os dois ndices em simultneo, o de Nesterov e o FWI.

O FWI (Fire Weather Index) utiliza ndices exclusivamente meteorolgicos

(temperatura, humidade relativa, velocidade do vento e precipitao), recolhidos

diariamente. Este compreendido por dois subsistemas principais, o Fire Weather Index (FWI)

e o Fire Behavior Prediction (FBP) (Wagner, 1987); (Nest, 1999). O FWI, que depende apenas

da medio da temperatura, da humidade relativa do ar, da precipitao e da velocidade do

vento, integra seis componentes normalizados sendo os primeiros trs correspondentes a

cdigos de humidade da vegetao e os restantes consistem em ndices de comportamento do

fogo. O FMC (ndice de Humidade dos Combustveis Finos) Este ndice, classifica os

combustveis finos mortos, de secagem rpida, quanto ao seu contedo em humidade.

Corresponde assim ao grau de inflamabilidade destes combustveis, que se encontram

superfcie do solo. O contedo de humidade destes combustveis s 12 UTC de um

determinado dia, depende do contedo de humidade mesma hora, do dia anterior, da

precipitao (mm) ocorrida em 24 horas (12-12 UTC) e da temperatura (C) e da humidade

relativa do ar (%) s 12 UTC do prprio dia. A intensidade do vento influncia apenas na

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velocidade de secagem destes materiais. O ISI (ndice de Propagao Inicial) - Este ndice de

propagao inicial do fogo, depende do sub-ndice FFMC e da intensidade do vento (Km/h) s

12 UTC. O BUI (ndice de Combustvel Disponvel) - O ndice de combustvel disponvel, um

factor de avaliao dos vegetais que podem alimentar um fogo (combustveis "pesados" que se

encontram no solo) e calculado a partir de dois dos sub-ndices: DMC e DC.O DC (ndice de

Hmus) - Este ndice traduz o contedo de humidade do hmus e materiais lenhosos de

tamanho mdio que se encontram abaixo da superfcie do solo at cerca de 8 cm. O ndice de

hmus calculado a partir da precipitao ocorrida em 24 horas (12-12 UTC), da temperatura

e humidade relativa do ar s 12 UTC e do ndice de hmus da vspera. O DMC (ndice de Seca)

- Este ndice um bom indicador dos efeitos da seca sazonal nos combustveis florestais

(hmus e materiais lenhosos de maiores dimenses), que se encontram abaixo da superfcie

do solo, entre 8 e 20 cm de profundidade. O ndice de seca obtido a partir da precipitao

ocorrida em 24 horas, da temperatura s 12 UTC e do ndice de seca verificado na vspera. O

FWI (ndice Meteorolgico de Risco de Incndio) - Este o ndice final do sistema Canadiano,

sendo calculado em funo dos seus sub-ndices ISI e BUI. (IM, 2009).

Desde 2002 que o ndice FWI calculado diariamente pelo Instituto de Meteorologia

sem interrupes ao longo do ano, com utilizao operacional nas aces de preveno e

combate dos incndios florestais, inclusive na poca de Inverno, onde passou a utilizar-se

uma nova escala, tambm escala distrital, com reduo a trs nveis: Baixo, Mdio e Alto

(IM, 2008) (Figura n 2, IM, 2010)

Figura n 2 Risco de incndio florestal dirio em Portugal Continental. Fonte: IM, 2010

O Instituto Geogrfico Portugus (IGP) adoptou outro modelo de modo a

complementar o sistema imposto pelo IM. Este sistema assenta em quatro grupos de variveis,

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como a Orografia, a Ocupao do Solo, a Demografia e Infra-estruturas (IGEO, 2008) (Tabela

n 2, Fernandes, 2002) (ver anexo 1, ponderao dos critrios segundo a grau de importncia

para o risco de incndio potencial). Estas variveis so muito teis na percepo dos padres

de risco de incndio ajudando assim numa melhor gesto da preveno do fogo (Chuvieco,

1997).

O objectivo consistia na execuo de cartas de risco de incndio ao nvel municipal,

com o intuito de apoiar o planeamento de medidas de preveno aos incndios florestais,

conhecer as zonas de maior risco e melhorar a gesto dos recursos necessrios para o seu

combate. Tambm quanto menor for a escala da anlise, melhor sero as relaes entre as

diversas variveis, como sendo a topografia, o clima, a vegetao, entre outros, sendo por

isso tambm motivo para a produo de cartas ao nvel regional (Freire, 2002).

Da relao das diferentes variveis os valores so divididos em 5 classes de risco,

sendo o risco: Baixo, Baixo-Moderado, Moderado, Elevado e Muito Elevado, (IGEO, 2010).

Tabela n 2- Critrios e respectiva contribuio para o clculo do risco de incndio (Fonte: Fernandes, 2002)

Critrios Contribuio para o valor de risco de incndio potencial

% Valor mximo

Ocupao do solo 59 % 590

Declives 21 % 210

Rede Viria 9 % 90

Exposies 6 % 60

Densidade Populacional 5 % 50

A ocupao do solo (59 %) o critrio com maior influncia para o valor de risco de

incndio florestal. Este critrio tem por base a carta de ocupao do solo (COS). Para melhor

contextualizao deve utilizar-se os dados estatsticos dos perodos de reas ardidas por tipo

de ocupao do solo posterior ltima carta existente. Assim, pretende-se avaliar a evoluo

do coberto vegetal aps os incndios. Por outro lado, atribuiu-se um grau de risco tendo em

conta os diferentes graus de inflamabilidade e combustibilidade de cada espcie. Variando os

valores ao logo de sete classes com diferentes valores de risco de incndio.

Os declives (21 %) representam uma contribuio considervel graas sua influncia

na propagao do fogo, quanto mais acentuados forem os declives, maior a probabilidade de

o fogo se propagar. Verifica-se uma tendncia para o pr-aquecimento dos combustveis.

Podendo ocorrer frequentemente o designado efeito chamin. Os declives dificultam e podem

impedir o acesso de meios humanos e tcnicos a determinada rea. A escala varia ao longo de

quatro classes, sendo que todos os declives superiores a 40 % assumem o valor mais elevado

de risco de incndio.

Rede Viria (9 %) atravs da representao de informao vectorial de caminhos e da

rede viria principal. Baseado em dois critrios: a proximidade rede viria e a densidade de

caminhos. Este critrio extremamente importante na medida em que pode promover o risco

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de incndio ou diminuir, j que a acessibilidade pode ser benfica ou prejudicial. A principal

causa dos incndios florestais o Homem, logo frequente registar-se um elevado nmero de

ignies prximo da rede viria. Contudo, em tarefas de conservao da floresta e de

combate a incndios florestais a baixa densidade de caminhos pode levar ao aumento da rea

ardida.

As exposies (6 %) determinam as variaes do tempo atmosfrico durante o dia:

variao da temperatura superfcie, humidade relativa, contedo em humidade dos

combustveis e velocidade e direco dos ventos locais. As vertentes viradas a Sul e Sudoeste

so mais propcias propagao de incndios florestais, na medida em que recebem maior

insolao. As vertentes viradas a Norte e Nordeste, so mais sombrias, conduzindo a uma

reduo da propagao.

A densidade populacional (5 %) a avaliao deste critrio baseia-se nos pressupostos

de que uma grande densidade populacional prejudicial (causas antrpicas) mas que a baixa

densidade populacional leva ao abandono de propriedades e ao aparecimento de matos. A

elevada densidade populacional associa-se maior probabilidade de ocorrerem actos

negligentes e mesmo propositados. Por outro lado, uma menor densidade populacional

influencia a deteco do foco de ignio, o combate e conduz ao abandono de reas

anteriormente ocupadas, levando ao aumento dos combustveis existentes (CRIF, 2010).

Posteriormente da sobreposio das diferentes cartas, resulta a Carta de Risco de

Incndio Florestal, em formato raster (Figura n 3, ANF, 2010). Para melhor compreenso da

carta, adoptou-se uma escala qualitativa utilizando os valores de 0 a 1000 e agrupando em 5

classes de risco (IGEO, 2010): Classe I (0, 100) Baixo ; Classe II (101, 200) Baixo Moderado;

Classe III (2001, 350) Moderado; Classe IV (351, 700) Elevado e Classe V (701, 1000) Muito

Elevado.

Figura n 3 Risco de incndio florestal em Portugal Continental. Fonte: ANF, 2010.

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2.4- Portugal no contexto dos pases mediterrneos

No contexto dos pases mediterrneos (Portugal, Espanha, Frana, Itlia e Grcia)

Portugal ocupa um lugar de destaque no que se refere aos incndios florestais. Assim, tendo

em ateno o nmero de ocorrncias mdias para trs perodos de nove anos cada (mdia

1980-1989, 1990-1999 e 2000-2009), verifica-se que Portugal apenas no o pas com maior

mdia de ocorrncias no perodo de 1980 a 1989, sendo superado pela Espanha e pela Itlia.

Nos restantes perodos, Portugal o pas com maior nmero de ocorrncias de incndios

florestais. (Relatrio da Comisso Europeia sobre incndios florestais, 2009)

A anlise deste indicador permite-nos tambm verificar a tendncia de evoluo do

nmero de ocorrncias. (Grfico n 5, Relatrio da Comisso Europeia sobre incndios

florestais, 2009). Assim, a Itlia tem vindo a diminuir claramente o nmero de ocorrncias. A

Grcia e a Frana tm sofrido alteraes, pouco significativas. Contudo, os grandes aumentos

tm-se verificado em Portugal e Espanha. A Espanha viu o nmero de ocorrncias entre os

trs perodos duplicar e em Portugal o nmero de ocorrncias mais que triplicou. Logo, ao

verificarem-se valores muito elevados do nmero mdio de ocorrncias de incndios em

Portugal, podemos concluir que as estratgias de preveno no tm tido o sucesso esperado.

Grfico n 5 - Nmero mdio de incndios florestais nos pases da Europa do Sul. Fonte: Relatrio da Comisso Europeia sobre incndios florestais, 2009.

Portugal foi o pas da Europa Mediterrnea onde se verificou um maior aumento do

nmero mdio de ocorrncias entre (1980 e 2009), com mais 17.568 ocorrncias do que no

perodo (1980-1989). Os nicos pases que registaram uma diminuio da mdia de

ocorrncias foram a Itlia e a Frana com menos 4.312 e menos 504 ocorrncias mdias

respectivamente. Relativamente ao nmero mdio total de ocorrncias, Portugal destaca-se

claramente com uma mdia total de 54.580 ocorrncias mdias, seguidamente a Espanha com

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Portugal Espanha Frana Itlia Grcia

Milhare

s de o

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Mdia 1980-1989 Mdia 1990-1999 Mdia 2000-2009

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46.002,a Itlia com 29.994, a Frana com 14.853 e por ltimo a Grcia com 4.581 total de

ocorrncias mdias (Tabela n 3, Relatrio da Comisso Europeia sobre incndios florestais,

2009).

Tabela n 3 Nmero mdio de ocorrncias de incndios florestais nos pases da Europa Mediterrnea. Relatrio da Comisso Europeia sobre incndios florestais, 2009

N de ocorrncias Portugal Espanha Frana Italia Grcia

Mdia 1980-1989 7.381 9.514 4.910 11.571 1.264

Mdia 1990-1999 22.250 18.151 5.537 11.164 1.748

Mdia 2000-2009 24.949 18.337 4.406 7.259 1.569

Mdia total 54.580 46.002 14.853 29.994 4.581

Diferena 1980-2009

+ 17.568 + 8.823 - 504 - 4.312 + 305

No que se refere rea mdia ardida no contexto dos pases mediterrneos, nos

diferentes perodos, verificam-se algumas desigualdades. No primeiro perodo (1980-1989) a

Espanha ocupava o primeiro lugar, seguido da Itlia, Portugal, Grcia e Frana, com a maior

rea mdia ardida. No perodo seguinte (1990-1999), verificou-se uma grande diminuio da

rea ardida na grande maioria dos pases mediterrneos. A excepo foi Portugal que viu a

sua rea ardida aumentar 27.717 ha relativamente ao perodo anterior. No perodo mais

recente (2000-2009) Portugal e a Grcia foram os nicos pases que viram a sua rea mdia

ardida aumentar, mais 47.8989 ha e 5.130 ha, relativamente ao perodo transacto. A Espanha,

Itlia e a Frana viram a sua rea mdia ardida diminuir (Grfico n 6, Relatrio da Comisso

Europeia sobre incndios florestais, 2009).

Grfico n 6 Nmero mdio da rea ardida nos pases da Europa do Sul. Fonte: Relatrio da

Comisso Europeia sobre incndios florestais, 2009.

A mdia total de rea ardida englobando os trs perodos (1980-2009) a Espanha

destaca-se claramente, muito graas ao perodo (1980-1989), (244.778 ha ardidos) seguindo-

se a Itlia, Portugal, Grcia e Frana com maior rea total ardida.

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Portugal Espanha Frana Itlia Grcia

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Mida 1980-1989 Mdia 1990-1999 Mdia 2000-2009

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Contudo, se analisarmos a diferena entre o perodo de 1980 a 2009, Portugal

destaca-se claramente com o maior aumento da rea mdia ardida, com um aumento de

47.898 ha. A Grcia apresenta tambm um aumento, mas muito mais reduzido, apenas um

aumento de 5.130 ha. Os restantes pases, Espanha, Itlia e Frana, apresentam uma reduo

da rea mdia ardida. Este aspecto preocupante, na medida em que Portugal no tem

conseguido diminuir a rea ardida, ou seja, as estratgias de combate no esto a ter o efeito

esperado (Tabela n 4, Relatrio da Comisso Europeia sobre incndios florestais, 2009).

Tabela n 4 Nmero mdio da rea ardida nos pases da Europa Mediterrnea. Fonte: (Relatrio da Comisso Europeia sobre incndios florestais, 2009)

rea Ardida (ha) Portugal Espanha Frana Italia Grcia

Mdia 1980-1989 74.486 244.788 39.157 148.485 52.417

Mdia 1990-1999 102.203 161.323 22.695 108.890 44.108

Mdia 2000-2009 150.101 125.239 22.342 83.878 49.238

Total 326.790 531.350 84.194 341.253 145.763

Diferena 1980-2009 + 47.898 - 36.084 - 353 - 25.012 + 5.130

Analisando o nmero de ocorrncias de incndios florestais nos pases da Europa

Mediterrnea, verificamos uma predominncia de Portugal relativamente aos demais pases.

Portugal ocupa o primeiro lugar com um total de 1.496.048 ocorrncias ao longo do perodo

2000-2009, a Espanha com 1.027.081, Itlia com 838.756, Grcia com 780.811 e por ltimo a

Frana com 187.121 ocorrncias. O nmero elevado de ocorrncias em Portugal

preocupante para uma populao estimativa de 10.637.713 habitantes, a Espanha com quatro

vezes mais populao tem um menor nmero de ocorrncias (Tabela n 5, Relatrio da

Comisso Europeia sobre incndios florestais, 2009).

Tabela n 5 Nmero de ocorrncias nos pases da Europa Mediterrnea. Fonte: (Relatrio da Comisso Europeia sobre incndios florestais, 2009)

N de

ocorrncias

Portugal Espanha Frana Italia Grcia *

2000 34.109 24.312 5.600 10.629 2.581

2001 27.067 19.631 4.103 7.134 2.535

2002 26.469 19.929 900 4.594 1.141

2003 20.864 18.628 4.100 9.697 1.452

2004 21.891 21.394 2.028(*) 6.428 1.748

2005 35.698 (*) 26.261 (**) 1.871 7.951 1.544

2006 19.929 16.355 4.100 5.634 1.417

2007 18.722 10.915 3.364 10.639 1.983

2008 13.832 11.612 2.781 6.486 1.481

2009 26 119 15 391 4 800 5 422 1 063

Total 1.496.048 1.027.081 187.121 838.756 780.811

(*) Dados provisrios 2009

(*) Nmero de ocorrncias apenas no Sul de Frana

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Analisando o nmero da rea ardida nos pases da Europa Mediterrnea ao longo dos

ltimos nove anos (2000-2009). Portugal ocupa o primeiro lugar no conjunto dos restantes

pases com um total de 218.581 ha, a Espanha com 142.776 ha, a Itlia com 69.192 ha, a

Frana com 24.948 ha e a Grcia com 15.882 ha. (Tabela n 6, Relatrios da Comisso

Europeia sobre incndios florestais, 2000 a 2009).

Tabela n 6 - rea ardida nos pases da Europa Mediterrnea. Fonte: (Relatrios da Comisso Europeia sobre incndios florestais, 2000 a 2009)

rea ardida

(Ha)

Portugal Espanha Frana Italia Grcia *

2000 159.604 188.586 23.700 114.648 145.033

2001 111.165 66.075 17.000 76.427 18.221

2002 123.910 107.472 20.850 40.768 6.013

2003 421.835 149.224 74.000 91.803 3.397

2004 129.652 134.171 12.500 60.176 10.267

2005 338.262 (*) 179.929 (**) 17.356 47.575 6.437

2006 75.510 148.827 7.500 39.946 12.661

2007 31.450 82.048 8.570 227.729 225.734

2008 17.244 39.895 6.001 66.329 29.152

2009 87.416 110.783 17.000 73.355 323.896

Total 218.581 142.776 24.948 69.192 15.882

(**) S para o Sul de Frana.

(*) Dados provisrios 2009

Assim, indispensvel repensar as estratgias de combate, tendo em vista a

diminuio da rea total ardida. Estamos a comparar pases com muitas semelhanas

climticas, logo as condies meteorolgicas adversas no podem ser usadas para justificar o

elevado valor da rea ardida em Portugal.

Para alm das caractersticas climticas, muitas outras razes justificam a

distribuio espacial dos incndios florestais. A composio da floresta, do relevo, o tipo e a

dimenso da propriedade, as caractersticas demogrficas, as infra-estruturas de circulao e

de combate so alguns dos factores que justificam a ecloso e a propagao dos incndios e,

de certa forma, justificam a sua Geografia. Os processos de litoralizao, urbanizao e

terciarizao da economia e da sociedade conduziram a um progressivo abandono do mundo

rural, com diminuio das reas agrcolas e aumento das reas florestais que, em muitos

casos, esto hoje quase completamente abandonadas, por uma populao cada vez mais

rarefeita e envelhecida. (Almeida, Cunha e Freiria, 2007).

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2.5 A problemtica dos incndios florestais em Portugal

Nas ltimas trs dcadas tem-se verificado em Portugal um grande aumento do

nmero de ocorrncias de incndios florestais. Desde 1980 em que houve 2.349 ocorrncias

de incndios, passando para as 10.745 ocorrncias em 1990 e as 34.109 no ano 2000. No ano

de 2005 foi alcanado o mximo absoluto, com 35.697 ocorrncias. Todavia desde o ano de

2000 tem-se verificado uma reduo, com a excepo do ano de 2005 que ficou marcado pela

reduzida precipitao. O ano de 2009, foi tambm fortemente marcado ao nvel das

ocorrncias, tendo-se verificado 26.339, valor este que representou o maior aumento desde o

ano 2005 (Grfico n 7, ANF, 2009).

A mdia anual entre (1980-2009) de ocorrncias de incndios florestais foi de 18.772.

Grfico n 7 - Nmero de ocorrncias de incndios florestais em Portugal, entre 1980 e 2009. Fonte: ANF, 2009

O nmero de ocorrncias de incndios florestais tem vindo a diminuir

significativamente contudo, sempre que se verificam condies meteorolgicas adversas o

nmero de ocorrncias aumenta. As estratgias de preservao implementadas no tm

sucesso sempre que se verificam adversidades, o que demonstra a grande fragilidade das

estratgias de preservao adoptadas.

A rea total ardida em Portugal tem sofrido bastantes oscilaes nas ltimas trs

dcadas. Desde 1980, o ano em que se verificou menor rea ardida foi o ano de 2008,

registando apenas 17.000 hectares de rea ardida. No oposto, verifica-se que no ano 2003,

registou-se a maior rea ardida das ltimas dcadas, com 426.000 hectares de rea ardida.

Relacionando o nmero de ocorrncias com a rea total ardida, podemos concluir que

nem sempre o maior nmero de ocorrncias de incndios florestais, correspondem a uma

maior rea ardida. Em suma, o ano 2003 foi o ano que apresentou maior rea ardida, mas no

o ano com maior nmero de ocorrncias. Paralelamente, em 2005 registou-se o maior nmero

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de ocorrncias, contudo este aspecto no se traduziu na maior rea total ardida, embora com

valores bastante elevados (Grfico n 8, ANF, 2009).

Grfico n 8 rea total ardida em Portugal, entre 1980 e 2009. Fonte: ANF, 2009

Para se verificar a eficincia dos meios de combate a incndios vai-se dividir a rea

total ardida pelo nmero de ocorrncias, j que o nmero de ocorrncias depende da

preveno, ao passo que a rea ardida depende em boa parte dos meios de combate a

incndios (Grfico n 9, ANF, 2009).

Assim, podemos verificar que o ano de 1980 ficou marcado pela negativa em relao

eficincia das estratgias de combate (1.883 ha por ocorrncia). Recentemente destaca-se o

ano 2003 e 2005 com piores registos. Os anos mais recentes demonstram claramente uma

maior eficincia no combate aos incndios florestais.

A rea total ardida em Portugal na sua maioria tem diminudo, muitas graas

melhoria no dispositivo de combate a incndios florestais e maior eficincia do mesmo.

Grfico n 9 - Relao entre a rea total ardida e o nmero de ocorrncias, entre 1980 e 2009 Fonte: ANF, 2009.

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1992

1994

1996

1998

2000

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2006

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2008

2009

Milhare

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Aplicao dos Sistemas de Informao Geogrfica como ferramenta de apoio ao combate a Incndios

Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

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Porque a problemtica dos incndios florestais em Portugal varivel de regio para

regio, vejamos a sua distribuio espacial. O maior nmero de incndios florestais em 2009,

ocorreu no Distrito de V. Real, Porto, Braga, Viseu e Guarda, respectivamente. Assim,

predominam as regies Norte e Centro do territrio nacional. (Grfico n 10, ANF, 2009).

No que se refere distribuio espacial dos fogachos (incndio cuja rea total

ardida inferior a 1 ha), destacam-se os Distritos do Porto, Braga, Aveiro e Viseu, com o

maior nmero de ocorrncia de fogachos.

Englobando o nmero de incndios florestais e o nmero de fogachos verifica-se

novamente o predomnio da regio Norte e Centro do territrio nacional. Estes dados

observados, permitem tirar concluses importantes relativamente s regies onde

imprescindvel actuar de forma mais intensa quer na preveno quer no combate aos

incndios florestais, podendo desta forma, inverter os valores elevados do nmero de

ignies.

Grfico n 10 Distribuio espacial do nmero de incndios florestais e fogachos em 2009 Fonte: ANF, 2009.

A distribuio temporal dos incndios florestais em Portugal Continental tipicamente

sazonal, com influncia clara do clima tipicamente mediterrneo (cariz marcadamente

continental, martimo e com efeito de altitude), concentrando-se o maior nmero de

ocorrncias de incndios florestais e fogachos nos meses de Julho a Setembro,

respectivamente. Em 2009, Maro verifica-se tambm um elevado nmero de ocorrncias.

Esta realidade est provavelmente relacionada com comportamentos negligentes,

como a queima de restolho, renovao de pastagens e eliminao de restos agrcolas, que

associado a condies meteorolgicas favorveis, conduz a um aumento da rea ardida e do

nmero de ocorrncias (Grfico n 11, ANF, 2009).

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4

6

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Incndios Florestais Fogachos Total

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Aplicao dos Sistemas de Informao Geogrfica como ferramenta de apoio ao combate a Incndios

Florestais no Concelho da Guarda. _______________________________________________________________________

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Grfico n 11 Distribuio do nmero de ocorrncias de incndios florestais e fogachos em 2009 Fonte: ANF, 2009

O ms de Maro tem registado nos ltimos anos um nmero de ocorrncias e de rea

ardida significativo. O ano de 2009, Maro no foi excepo. Esta realidade est

provavelmente associada a comportamentos negligentes,