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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
E
DESENVOLMENTO REGIONAL
DEPARTAMENTO DE GESTÃO E ECONOMIA
António de Jesus Fernandes de Matos
Covilhã, 2000
UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR
Departamento de Gestão e economia
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
DISSERTAÇÃO APRESENTADA NA UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR
PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM ECONOMIA
ORIENTADOR: Professor Doutor Felisberto Marques Reigado
António de Jesus Fernandes de Matos
Covilhã, 2000
À Valentina, à Anna
e
aos meus Pais
AGRADECIMENTOS
Assumindo o risco, sempre presente nestas ocasiões, de ser injusto por omissão,
gostaria de expressar aqui uma palavra particular de profundo reconhecimento e
gratidão ao Prof. Doutor Marques Reigado pelo seu incondicional apoio ao longo
da minha carreira académica e pela paciência, disponibilidade e competência com
que orientou a Dissertação de Doutoramento. Manifesto, igualmente, o meu
reconhecimento aos Profs. Doutores Henrique Albergaria, Jean Paul Carrière,
Mora Aliseda pelos seus comentários e sugestões. Aos Profs. Doutores Cadima
Ribeiro, Alexandre Smirnov e Carlos Osório, o meu obrigado pelo seu apoio e
incentivo. Agradeço à UBI, na pessoa do Magnífico Reitor, Prof. Doutor Santos
Silva por me ter proporcionado a bolsa do PRODEP. À Dra. Carolina Almeida
exprimo os meus agradecimentos pelas sugestões redacionais e à Sandra Cosme
pelo seu apoio no tratamento de texto. Por último, mas perto do coração, um
agradecimento muito especial à minha esposa e à minha filha pelo tempo que lhes
retirei da minha companhia.
SUMÁRIO
Embora, nos últimos anos, se tenha feito um esforço notável no sentido de eliminar a
deficiente organização do território nacional ainda há muito para fazer. A par da
insuficiente cobertura do território continental, pelas várias figuras de plano, parece-nos
importante, desde já, a elaboração do programa nacional de ordenamento do território
que, definindo a estratégia e políticas do território nacional, permita aprofundar o grau de
articulação horizontal e vertical dos planos de ordenamento e deia início à elaboração de
uma nova geração de Planos Directores Municipais em que a estratégia de
desenvolvimento sustentável, devidamente cartografada em suporte digital, seria uma das
suas principais características.
O modelo territorial apresentado foi elaborado numa perspectiva de “janela” ou de zoom
dado que a Beira Interior está integrada na Região Centro que, por sua vez, se integra no
país e este na Europa. O modelo da Beira Interior está, assim, intimamente ligado a um
espaço de fronteira que foi sendo construído e reconstruído, vivido e representado, ou, se
quisermos a um espaço histórico geo-económico e sócio-cultural, cuja existência fluiu no
tempo e se foi moldando em função da forma como as comunidades nele se integraram e
dele se apropriaram e manipularam. Refira-se que, numa “Europa das Regiões”, a Beira
Interior e as zonas fronteiriças espanholas de Castilla-León e Extremadura formam uma
região transnacional com fortes possibilidades de se tornar numa região piloto no sistema
de regiões europeias. Este facto deve repercutir-se de forma activa no ordenamento do
território, na regularização e aproveitamento dos recursos hídricos, no ordenamento e
valorização da floresta, no reordenamento e modernização da agricultura, na preservação
e valorização do património natural e cultural, no planeamento e gestão integradas dos
circuitos turísticos, no desenvolvimento e reforço do próprio SC&T e das suas relações
com as empresas, pelo que a estruturação territorial da Beira Interior terá de ser efectuada
numa perspectiva de cooperação transfronteiriça.
Tendo em consideração, a posição geo-estratégica, os recursos e potencialidades e os
estrangulamentos da região, o modelo territorial da Beira Interior apoia-se em quatro
tipos de acções, ou seja, acções sobre o meio físico, acções para o fortalecimento e
reequilíbrio da malha urbana, acções sobre as áreas “não urbanas” e programas de
dinamização territorial.
ÍNDICE
ÍNDICE DE CAPÍTULOS ....................................................................................... I
ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................ V
ÍNDICE DE FLUXOGRAMAS .................................................................................. V
ÍNDICE DE MAPAS ............................................................................................... VI
ÍNDICE DE QUADROS .......................................................................................... VI
GLOSSÁRIO DE SIGLAS ....................................................................................... VIII
CAPÍTULOS ................................................................................................... 1
1. MODELO DE CRESCIMENTO................................................................... 1
1.1.
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 1
1.2. A ESCOLA CLÁSSICA............................................................................................... 5
1.2.1. A divisão do trabalho e crescimento económico............................................. 5
1.2.2. O aumento da população na óptica dos clássicos.......................................... 7
1.2.3. O “modelo do cereal” de Ricardo................................................................... 9
1.2.4. O estado estacionário na escola clássica........................................................ 12
1.3. A TEORIA MARXISTA................................................................................................ 13
1.3.1. A teoria da mais-valia e da acumulação de capital........................................ 13
1.3.2. As crises e agudização das contradições internas do capitalismo.................. 16
11
1.4
A TEORIA NEOCLÁSSICA.......................................................................................... 18
1.4.1. Os percursores da escola neoclássica............................................................. 18
1.4.2. Os modelos micro económicos e teoria da produção...................................... 22
1.5. O MODELO DE SHUMPETER...................................................................................... 26
1.5.1. Os contributos do modelo analítico shumpeteriano........................................ 26
1.5.2. Concorrência e flutuações cíclicas.................................................................. 27
1.6. OS MODELOS KEYNESIANO E NEOKEYNESIANO....................................................... 29
1.6.1. A depressão económica segundo Keynes......................................................... 29
1.6.2. A teoria do emprego........................................................................................ 31
1.6.3. O modelo de Kaldor......................................................................................... 33
1.6.4. O modelo matemático de Kalecki.................................................................... 36
1.7. AS CONDICIONANTES EXTERNAS NOS MODELOS DE CRESCIMENTO........................... 38
1.7.1. Introdução: o comércio como elemento dinamizador do crescimento............ 38
1.7.2. As relações de troca no modelo de Ronald Findlay........................................ 41
1.7.3. O crescimento desigual na perspectiva de Paul krugman............................... 42
1.7.4. Os capitais externos como factor de crescimento........................................... 44
1.8. RESUMO E CONCLUSÕES............................................................................................
46
2. TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL..................................... 50
2.1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 50
SECÇÃO I – TEORIA E MODELOS DE LOCALIZAÇÃO........................................................ 56
2.2. MODELOS DE LOCALIZAÇÃO DAS ACTIVIDADES ECONOMICAS................................. 56
2.2.1. A teoria da localização.................................................................................... 56
2.2.2. A localização da actividade agrícola.............................................................. 58
2.2.3. A localização da indústria............................................................................... 63
2.2.3.1. O custo mínimo de transporte....................................................................... 63
2.2.3.2. A localização na óptica das áreas de mercado............................................. 68
2.2.3.3. Modelos operativos e aplicações empíricas................................................. 76
2.2.4. A Localização dos equipamentos Terciários................................................... 82
2.2.4.1. Breve abordagem teórica.............................................................................. 82
2.2.4.2. Bens de serviços centrais.............................................................................. 84
2.2.5. A teoria da localização e seus desenvolvimentos............................................ 89
SECÇÃO II –TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL.............................................. 94
2.3. TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL............................................................. 94
2.3.1. Breve Introdução............................................................................................. 94
2.3.2. A teoria da base-exportação ou export base theory........................................ 97
2.3.3. A teoria dos pólos de desenvolvimento............................................................ 100
2.3.4. A teoria do desenvolvimento desigual............................................................. 104
2.3.5. O desenvolvimento a partir dos factores endógenos....................................... 108
2.3.6. A teoria dos ciclos longos na economia regional............................................ 110
2.4. RESUMO E CONCLUSÕES............................................................................................
111
3. PLANEAMENTO REGIONAL : MÉTODOS DE ABORDAGEM................. 116
3.1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 116
SECÇÃO I – PLANEAMENTO SÓCIO-ECONÓMICO............................................................ 118
3.2. O PLANEAMENTO DOS SISTEMAS SOCIAIS................................................................. 118
3.2.1. Génese do planeamento: breve revisão bibliográfica..................................... 118
3.2.2. O sistema social no processo de planeamento................................................ 125
3.2.3. Do espaço ao território no planeamento......................................................... 133
SECÇÃO II – PLANEAMENTO DO TERRITÓRIO................................................................. 143
3.3. O PLANEAMENTO DO TERRITÓRIO............................................................................. 143
3.3.1. Os modelos de ocupação do território............................................................ 143
3.3.2. Os níveis de planeamento territorial............................................................... 152
3.3.2.1. O planeamento normativo e operacional...................................................... 152
3.3.2.2. O planeamento estratégico: modelos a etapas............................................. 156
3.4. O PLANEAMENTO URBANO: MODELOS DE ANÁLISE ESPACIAL.................................. 165
3.4.1. Perspectiva histórica da cidade e seu planeamento........................................ 165
3.4.2. Os modelos gravitacionais............................................................................... 171
3.4.3. Modelo de localização dos parques habitacionais.......................................... 176
3.4.4. Modelo de localização do comércio a retalho................................................. 178
3.4.5. O modelo de distribuição de tráfego............................................................... 179
3.4.6. O modelo de Lowry.......................................................................................... 180
3.5. RESUMO E CONCLUSÕES............................................................................................
184
4. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO: UMA PERSPECTIVA
EUROPEIA..................................................................................................
188
4.1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 188
4.2. O ORDENAMENTO DO ESPAÇO................................................................................... 190
4.2.1. Breves notas históricas.................................................................................... 190
4.2.2. Génese e evolução do conceito “ordenamento de território”......................... 196
4.2.3. Os objectivos do ordenamento do território.................................................... 205
4.2.4. O ordenamento do espaço rural/urbano......................................................... 212
4.3. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NA UNIÃO EUROPEIA.......................................... 217
4.3.1. Breves considerações....................................................................................... 217
4.3.2. Os sistemas de ordenamento do território na Europa..................................... 221
4.3.3. O território da União Europeia...................................................................... 226
4.3.3.1. Caracterização das grandes regiões............................................................. 226
4.3.3.2. O Esquema de Desenvolvimento de Espaço Comunitário............................ 231
4.4. RESUMO E CONCLUSÕES............................................................................................
240
5. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NACIONAL................................... 243
5.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 243
5.2. A INFORMAÇÃO NA ELABORAÇÃO DOS PLANOS DE ORDENAMENTO......................... 245
5.2.1. Introdução aos Sistemas de Informação Geográfica...................................... 245
5.2.2. A experiência portuguesa na utilização dos SIG............................................. 248
5.2.3. A Base de Dados do Ordenamento do Território............................................ 251
5.3. A COMPONENTE AMBIENTAL NO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO............................ 258
5.3.1. O binómio ordenamento/protecção do ambiente............................................. 258
5.3.2. A realização do planeamento ambiental através do ordenamento do
território...........................................................................................................
261
5.3.2.1. As Áreas Protegidas...................................................................................... 270
5.3.2.2. A Reserva Agrícola Nacional........................................................................ 273
5.3.2.3. A reserva Ecológica Nacional...................................................................... 275
5.4. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NACIONAL.......................................................... 277
5.4.1. É urgente ordenar o território português........................................................ 277
5.4.2. Os instrumentos de ordenamento do território................................................ 281
5.4.2.1. A precedência dos planos urbanísticos................................ ........................ 281
5.4.2.2. Os níveis de planeamento territorial: nacional, regional e municipal......... 285
5.4.2.3. Os Planos Regionais de Ordenamento do Território................................... 289
5.4.2.4. Os Planos Espaciais de Ordenamento do Território.................................... 293
5.4.2.5. Os Planos Locais de Ordenamento do Território......................................... 297
5.4.3. Os Planos de Ordenamento do território no terceiro milénio......................... 302
5.5. RESUMO E CONCLUSÕES............................................................................................
307
6. MODELO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO................ 312
6.1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 312
6.2. A INTEGRAÇÃO DO MODELO TERRITORIAL NACIONAL NA ESTRATÉGIA EUROPEIA.... 314
6.3. OS CENÁRIOS DE EVOLUÇÃO DA REGIÃO CENTRO..................................................... 320
6.3.1. Caracterização social económica e ambiental................................................ 320
6.3.2. Organização do espaço regional..................................................................... 324
6.3.3. A estratégia de desenvolvimento da Região Centro........................................ 330
6.4. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA BEIRA INTERIOR............................................. 332
6.4.1. Caracterização da região................................................................................ 332
6.4.1.1. Enquadramento geofísico e demográfico..................................................... 332
6.4.1.2. Caracterização demográfica do emprego e da actividade económica......... 333
6.4.1.3. A qualidade de vida na Beira Interior.......................................................... 340
6.4.1.4. Sistema urbano e infra-estruturação do território....................................... 341
6.4.2. O potencial endógeno regional........................................................................ 343
6.4.3. O modelo territorial da Beira Interior............................................................ 350
6.5. RESUMO E CONCLUSÕES............................................................................................
359
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ......................................................................... 362
1º CAPITULO .............................................................................................................. 362
2º CAPITULO .............................................................................................................. 365
3º CAPITULO .............................................................................................................. 370
4º CAPITULO .............................................................................................................. 376
5º CAPITULO .............................................................................................................. 381
6º CAPITULO .............................................................................................................. 384
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.1 - Área do mercado......................................................................................... 85
Figura 3.1 - A cidade de Howard (1898)........................................................................ 167
Figura 3.2 - A cidade do pós-guerra nos anos 70........................................................... 168
ÍNDICE DE FLUXOGRAMAS
Fluxograma 1.1 - Visão sinóptica do modelo keynesiano................................................. 33
Fluxograma 2.1 - Modelo de decisional de Söderman...................................................... 78
Fluxograma 2.2 - Princípios das causas cumulativas........................................................ 93
Fluxograma 2.3 - Factores de crescimento económico..................................................... 99
Fluxograma 2.4 - Movimentação de factores de produção............................................... 106
Fluxograma 3.1 - Sistema de Informação.......................................................................... 128
Fluxograma 3.2 - O planeamento como um processo cíclico............................................ 130
Fluxograma 3.3 - Circuitos de informação no processo de planeamento.......................... 132
Fluxograma 3.4 - Modelo de utilização do espaço físico.................................................. 142
Fluxograma 3.5 - Modelo ortodoxo de planeamento estratégico...................................... 158
Fluxograma 3.6 - Modelo interaccionista de planeamento estratégico............................. 160
Fluxograma 3.7 - Envolvente económica e política do planeamento urbano
Racionalista............................................................................................
168
Fluxograma 4.1 - O trinómio recursos/território/necessidades......................................... 197
Fluxograma 5.1 - Enquadramento de Base de Dados de Ordenamento do
Território..............................................................................................
252
Fluxograma 5.2 - Fluxos de informação da BDOT........................................................... 254
Fluxograma 5.3 - Modelo de planeamento ambiental integrado....................................... 260
Fluxograma 5.4 - Interface entre Ambiente e o Ordenamento do Território.................... 280
Fluxograma 6.1 - Capital endógeno da Beira Interior....................................................... 346
ÍNDICE DE MAPAS
Mapa 4.1 - As grandes regiões do território comunitário................................................ 228
Mapa 4.2 - Organização actual e tendências do espaço Europeu.................................... 231
Mapa 5.1 - Regiões Biogeográficas da União Europeia.................................................. 263
Mapa 5.2 - 1ª Lista Nacional de Sítios – Continente....................................................... 264
Mapa 5.3 - Planos Regionais do Ordenamento do Território.......................................... 292
Mapa 5.4 - Planos de Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas............................ 295
Mapa 6.1 - Eixos de desenvolvimento na Região Centro................................................ 326
Mapa 6.2 - Principais aglomerados urbanos.................................................................... 327
Mapa 6.3 - Acessibilidades aos principais centros urbanos............................................. 329
Mapa 6.4 - Modelo Territorial da Beira Interior.............................................................. 342
Mapa 6.5 - Eixos de desenvolvimento na Península Ibérica... ....................................... 347
Mapa 6.6 - Ligação multimodal Portugal-Espanha: corredores e eixos.......................... 348
Mapa 6.7. - A Raia Central Ibérica................................................................................... 351
Mapa 6.8 - Rede viária transfronteiriça........................................................................... 353
ÍNDICE DE QUADROS Quadro 2.1 - Evolução da economia espacial............................................................... 54
Quadro 2.2 - Coeficientes de correlação....................................................................... 79
Quadro 2.3 - Hierarquização dos factores de localização............................................ 81
Quadro 3.1 - Níveis e questões fundamentais do planeamento.................................... 154
Quadro 3.2 - Desafios da nova política urbana............................................................. 170
Quadro 4.1 - Índices sectoriais de desenvolvimento humano (1997)........................... 207
Quadro 4.2 - Índices sintéticos de desenvolvimento humano (1997)........................... 208
Quadro 4.3 - Evolução da população das cidades do Continente segundo a
dimensão...................................................................................................
214
Quadro 4.4 - Evolução da repartição da população citadina do Continente entre
1864-1991.................................................................................................
215
Quadro 4.5 - Principais indicadores das regiões interiores e marítimas da União em
1991..........................................................................................................
229
Quadro 5.1 - Métodos de aquisição de conhecimento.................................................. 253
Quadro 5.2 - Protocolos celebrados no âmbito do PROSIG......................................... 256
Quadro 5.3 - Monitorização dos Planos Directores Municipais................................... 257
Quadro 5.4 - Fontes de financiamento do investimento no ambiente........................... 266
Quadro 5.5 - Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas aprovados ou em
elaboração................................................................................................. 272
Quadro 5.6 - Planos Regionais de Ordenamento aprovados ou em elaboração............ 291
Quadro 5.7 - Analise comparada dos PMOT................................................................ 298,
299
Quadro 5.8 - Planos Directores Municipais por regiões de planeamento..................... 300
Quadro 5.9 - Planos de Urbanização e de Pormenor publicados em D.R..................... 301
Quadro 5.10 - O ordenamento do território em números................................................ 310
Quadro 6.1 - Descrição sintética dos cenários.............................................................. 316,
317
Quadro 6.2 - Classificação dos eixos de desenvolvimento........................................... 319
Quadro 6.3 - Evolução demográfica entre 1981-1997.................................................. 334
Quadro 6.4 - Nível de Formação da População............................................................ 335
Quadro 6.5 - Produto Interno Bruto e da Produtividade por NUT III em 1994............ 337
Quadro 6.6 - VABpm na Beira Interior por Produto e por NUT III em 1994................ 338
Quadro 6.7 - Comércio Internacional por NUT’s III.................................................... 339
Quadro 6.8 - Despesas das Câmaras Municipais em Actividades Culturais e em
Ambiente em 1997....................................................................................
340
Quadro 6.9 - Velocidade média em linha recta............................................................. 354
GLOSSÁRIO DE SIGLAS
APDR - Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional
BDAR - Base de Dados para Analise Regional
BDOT - Base de Dados do Ordenamento do Território
BP - Banco de Portugal
CCR - Comissão de Coordenação da Região
CCRC - Comissão de Coordenação da Região Centro
CE - Comunidade Europeia
CEE - Comunidade Económica Europeia
CES - Concelho Económico e Social
CGIS - Canadian Geographical Information System
CNIG - Centro Nacional de Informação Geográfica
CORDIALE - Conferência de Regiões da Diagonal Continental Europeia
CP - Caminhos de Ferro de Portugal
D.R. - Diário da Republica
DGOTDU - Direcção Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano
DPH - Domínio Público Hídrico
DPP - Departamento do Planeamento e Perspectiva
DRABI - Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior
EDEC - Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário
ETE - Estratégia Territorial Europeia
EUA - Estados Unidos da América
FEDER - Fundo Estrutural de Desenvolvimento Regional
FEOGA - Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola
GEOCID - Interface de Acesso ao CNIG Destinado aos Cidadãos
IC - Itinerário Complementar
ICN - Instituto de Conservação da Natureza
IDE - Investimento Directo Estrangeiro
IEFP - Instituto de Emprego e Formação Profissional
IGAPHE - Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado
INATEL - Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores
INE - Instituto Nacional de Estatístico
INTERREG - Programa Operacional de Desenvolvimento das Regiões Fronteiriças
IORC - Intervenção Operacional Regional do Centro
IP - Itinerário Principal
J.E. - Junta da Extremadura
JF - Jornal do Fundão
LEADER - Iniciativa Comunitária de Apoio aos Projectos de Desenvolvimento Rural
LIFE - Sistema de Financiamento para o Ambiente (U.E.)
MEPAT - Ministério do Equipamento, Planeamento e Administração do Território
MIE - Ministério da Industria e Energia
MPAT - Ministério do Planeamento e Administração do Território
NUT - Nomenclatura de Unidades Territoriais para Fins Estatísticos
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
ONU - Organização das Nações Unidas
PAC - Política Agrícola Comum
PAVC - Parque Arqueológico do Vale do Côa
PBH - Plano Bacia Hidrográfica
PCM - Presidência do Concelho de Ministros
PDAR - Plano de Desenvolvimento da Agricultura Regional
PDI - Programa de Desenvolvimento Integrado
PDM - Plano Director Municipal
PDR - Plano Regional de Desenvolvimento
PEOT - Plano Especial de Ordenamento do Território
PER - Programa Especial de Realojamento
PERSU - Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos
PIB - Produto Interno Bruto
PIDDAC - Plano de Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração
Central
PMA - Plano Municipal do Ambiente
PME - Pequena e Média Empresa
PMF - Plano Municipal da Floresta
PMOT - Plano Municipal de Ordenamento do Território
PNDES - Plano Nacional de Desenvolvimento Económico e Social
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
POAAP - Plano de Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas
POAP - Plano de Ordenamento de Áreas Protegidas
POOC - Plano de Ordenamento da Orla Costeira
PP - Plano de Pormenor
PPDU - Plano Prioritário de Desenvolvimento Urbano
PROCOM - Programa de Apoio à Urbanização do Comércio
PROGIP - Programa de Apoio à Gestão Informatizada de Planos Municipais de
Ordenamento do Território
PROSIG - Programa de Apoio à Criação de Nós Locais do Sistema Nacional de
Informação Geográfica
PROSIURB - Programa de Consolidação do Sistema Urbano Nacional e Apoio à Execução
dos Planos Directores Municipais
PROT - Plano Regional de Ordenamento do Território
PROTALI - Plano de Ordenamento do Litoral Alentejano
PROTAM - Plano de Ordenamento do Alto Minho
PROTAML - Plano de Ordenamento da área metropolitana de Lisboa
PROTCL - Plano de Ordenamento do Centro Litoral
PROTO - Plano de Ordenamento do Oeste
PROZAG - Plano de Ordenamento da Zona Envolvente das Barragens da Agueira, Coiço e
Fronhas.
PROZED - Plano de Ordenamento da Zona Envolvente do Douro
PU - Plano de Urbanização
QCA - Quadro Comunitário de Apoio
RAN - Reserva Agrícola Nacional
REN - Reserva Ecológica Nacional
SC&T - Sistema Cientifico & Tecnológico
SI - Sistema de Informação
SIC - Sítio de Interesse Comunitário
SIG - Sistema de Informação Geográfica
SNIG - Serviço Nacional de Informação Geográfica
SOMEA - Sociedade de Matemática e Economia Aplicada
UE - União Europeia
USIG - Associação de Utilização dos Sistemas de Informação Geográfica
VAB - Valor Acrescentado Bruto
ZDL - Zona de Localização Prioritária
ZEC - Zona Especial de Conservação
ZPE - Zona Espacial de Conservação
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
1
1. MODELOS DE CRESCIMENTO
1.1. INTRODUÇÃO
Desde há muito tempo que o crescimento económico é visto como um objectivo
central da política económica. Assumindo que a transição de um sistema
económico para outro significa desenvolvimento económico, durante largas
dezenas de anos, considerou-se que a sucessão de sistemas seguia uma
determinada sequência. Por exemplo, segundo Marx, a sociedade evoluiria num
sentido único:
civilização primitiva ⇒⇒⇒⇒ feudalismo ⇒⇒⇒⇒ capitalismo ⇒⇒⇒⇒socialismo/comunismo
Os factos, porém, parecem não confirmar esta cronologia, ficando várias questões
sem resposta, nomeadamente:
• por que razão o capitalismo vitoriano resultou no Estado do bem-estar ;
• o que levou à não concretização das revoluções na França e Alemanha,
preconizadas por Marx e Engels;
• o que esteve na base da expansão inédita das economias de mercado, na
segunda metade do século XX;
• quais as causas do aparecimento da estagflação nos anos 70.
A história poderá ser melhor compreendida se nos socorrermos de modelos
económicos. Mas, qual é a definição de modelo? Para Raymond Boudon (1970),
os modelos quanto ao seu princípio, são técnicas de ordenação, de classificação e
de construção de tipologias (cit. Reigado, 1983, p. 74). Tinbergen, em Economic
Policy, referindo-se aos modelos económicos, considera que estes são não só um
conjunto de relações económicas e de equações que traduzem a maneira como
certos instrumentos de política económica influenciam o processo económico,
mas também uma imagem simplificada da realidade (ibid., p. 74).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
2
Embora a definição de Tinbergen seja imprecisa, o modelo deve retractar
fielmente a realidade ou aspectos fundamentais da mesma, bem como a própria
transformação da mesma. Para a concepção de modelos económicos, os
economistas recorrem aos princípios que presidem à ocorrência dos factos e às
teorias subjacentes aos processos que estarão sendo representados, bem como às
leis que explicam as inter-relações das variáveis económicas em consideração,
procurando conjugar num só elemento complexo todas as hipóteses relativas aos
mecanismos que governam a realidade. Assim, os modelos de crescimento
interpretam, por um lado, o processo de crescimento económico e, por outro,
permitem efectuar projecções. Mas o que se entende por crescimento económico?
O crescimento económico é a expansão do PNB real de uma economia. Porém, se
nos recordarmos da fronteira de possibilidades de produção, podemos igualmente
considerar o crescimento económico como uma deslocação para fora desta curva,
ao longo do tempo.
O termo “crescimento” significou durante muito tempo um aumento aritmético da
produção e respectivas consequências: enriquecimento da nação, elevação do
nível material de vida. Actualmente, este termo toma um sentido cada vez mais
restrito e contrapõe-se a “desenvolvimento” que engloba o crescimento
propriamente dito e as suas repercussões sobre o bem-estar das pessoas e o
próprio sistema social. O desenvolvimento tem, assim, como objectivo principal a
melhoria crescente do bem estar económico, social e humano o que, para além do
aumento dos índices globais de produção, pressupõe uma harmonia do
crescimento nos diferentes sectores económicos e, portanto uma transformação
positiva das estruturas sociais. O homem enquanto fim último do desenvolvimento
surgirá assim, também, como meio eficiente (Reigado, 1999, p. 310).
Os recursos naturais, os transportes e comunicações, a informática (no sentido
mais lato), o conhecimento e a própria história económica e social são,
igualmente, factores importantes do desenvolvimento que se pretende sustentado a
médio/longo prazo. A sustentabilidade temporal do desenvolvimento deverá, por
um lado, apoiar-se nos recursos endógenos existentes no país/região e, por outro,
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3
nas ajudas exógenas que muitas das vezes se revelam de importância fulcral para
o início de um processo de relançamento da economia. O processo de
desenvolvimento implica o reconhecimento da perenidade da actividade humana,
da qualidade do ambiente, dos recursos naturais e da sua conservação em
condições satisfatórias para as gerações seguintes. A admissão de que os recursos
são finitos leva, quer ao encorajamento da reciclagem dos materiais e à sua
reutilização ao longo do processo de criação/consumo, de forma a evitarem-se os
desperdícios, quer à alteração dos padrões de comportamento humano.
A melhoria do bem estar da população, a participação na tomada de decisões, a
democracia e a sustentabilidade do desenvolvimento no longo prazo, são as
questões centrais do desenvolvimento sempre numa perspectiva de que o homem
é o seu principal destinatário. Assim, não é de admirar que a nova concepção do
desenvolvimento, partilhada pelas Nações Unidas, tenha como fim supremo o
indivíduo e como objectivo o seu bem-estar económico, social e cultural, a
melhoria do acesso aos bens e serviços, o reforço da liberdade de escolha, a
vivência democrática, as possibilidades crescentes de participação na tomada de
decisões relativas ao seu próprio destino e ao sistema onde se insere (Reigado,
1998). Nesta concepção de desenvolvimento, o rendimento e a riqueza material
são considerados, somente, como um dos muitos elementos que contribuem para o
desenvolvimento social e humano, isto é, são meios propiciadores das condições
de bem-estar social.
Apesar de crescimento não significar, necessariamente, desenvolvimento, é
frequente falar-se de modelos de crescimento ou de desenvolvimento de uma
forma indiferenciada, o que a nosso ver é incorrecto uma vez que, como já foi
referido, o crescimento do PNB, embora necessário, é insuficiente para assegurar
o desenvolvimento. Com efeito, o desenvolvimento terá que ser económico, social
e humano pelo que terá de se preocupar não apenas com a satisfação das
necessidades essenciais mas, também, com a implementação de um processo
dinâmico de participação dos agentes sociais, isto é, da população em geral, das
empresas, das organizações patronais e sindicais, das instituições públicas, etc.
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4
Por outro lado, o desenvolvimento deve ser um processo sustentável, isto é,
deverá ter na sua raiz competências, factores e recursos humanos que assegurem o
desenvolvimento como um processo continuado e dinâmico capaz de se auto
alimentar numa perspectiva de médio/longo prazo.
O processo de desenvolvimento, pelo atrás descrito, atinge e transforma
profundamente todas as dimensões da sociedade humana, pelo que, cada
experiência particular constitui uma realidade global, evolutiva e específica.
A complexidade do problema corresponde a uma enorme variedade de hipóteses,
teorias e explicações que a ciência económica tem apresentado ao longo do tempo
para compreender e analisar. Daí a nossa preocupação, ao longo deste capítulo,
em identificar os componentes básicos do mecanismo propulsor do
desenvolvimento presentes nos vários modelos de crescimento versus
desenvolvimento.
Em modelos e explicações muito distintas entre si é possível identificar quatro
“motores” essenciais do desenvolvimento – acumulação de capital, inovação,
vantagens comparativas e dimensão de mercado – a que correspondem outras
tantas forças económicas dinâmicas, nomeadamente: o investimento físico, a
iniciativa empresarial, a especialização internacional e o aproveitamento de
economias externas e de escala.
Na estruturação do capítulo, optou-se pela apresentação e análise das principais
teses e modelos apresentados pelos autores que, em nosso entender, mais se
distinguiram no estudo do processo de crescimento versus desenvolvimento.
Assim, debruçar-nos-emos sobre os modelos de crescimento clássicos, dos quais
destacamos as contribuições de Adam Smith, Malthus, Ricardo e Stuart Mill, o
modelo marxista, os modelos neoclássicos (considerados microeconómicos) de
Jevons e Walras, o modelo schumpeteriano que introduz a inovação e progresso
tecnológico como elementos dinamizadores do processo de crescimento (sendo
por isso considerado o primeiro modelo de desenvolvimento puro), o modelo
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5
keynesiano e os neokeynesianos de Kaldor e de Kalecki e, finalmente, os modelos
em que o comércio e condicionantes externas assumem um papel importante no
desenvolvimento, ou seja, os modelos de Ronald Findlay, de Paul Krugman, de
Arthur Lewis, e de Michael Bruno.
1.2. A ESCOLA CLÁSSICA
1.2.1. A divisão do trabalho e crescimento económico
Adam Smith viveu numa época de mudanças extraordinárias na economia,
provocadas pela introdução da máquina a vapor e outras inovações que
permitiram revolucionar a indústria têxtil nos finais do séc. XVIII. Smith, embora
tenha acompanhado a 1ª Revolução Industrial1, negligenciou o capital fixo dado
estar convicto de que a agricultura (e não a indústria) era a principal fonte de
riqueza da Grã-Bretanha. Partindo da teoria da divisão do trabalho, irá concluir
que a riqueza é criada pelo trabalho, logo a diferente produtividade do mesmo é a
causa de umas nações serem mais ricas do que as outras. Smith com a sua obra An
Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, publicada em 1776,
embora denotando ainda a tradição mercantilista apresenta já uma preocupação
central que, na linguagem actual, designamos por teoria do desenvolvimento
económico. Antes, porém, de analisarmos a visão smithiana do desenvolvimento
relembraremos as suas concepções quanto ao problema do valor.
Em primeiro lugar, Adam Smith distingue o valor de uso do valor de troca.
Assim, segundo Smith, enquanto o valor de uso é a utilidade que um qualquer
objecto possui, o valor de troca é a quantidade que qualquer objecto tem de
oferecer vantagem para ser trocado por outro bem. O valor de troca é, por um
lado, uma função do trabalho já que a natureza nada cria, é o homem que tudo faz
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6
(cit. Taylor, 1997, p. 51) e, por outro, depende das variações da oferta e da
procura no mercado, aumentando na medida em que a procura é superior à oferta
e diminuindo quando a oferta é superior à procura. Aos conceitos de valor de uso
e de valor de troca estão ligados o preço natural e o preço de mercado. Enquanto
o preço natural ou normal corresponde ao custo marginal de um produto, o preço
de mercado é determinado pela situação da oferta e da procura, pelo que, nem
sempre estes dois preços coincidem. Partindo do pressuposto de que não havia
identificação entre o preço e o valor Smith, tal como os outros autores clássicos
posteriores, considerou o trabalho como medida de valor pelo que o trabalho é a
essência do valor.
A divisão do trabalho proporciona uma crescente especialização da mão-de-obra
que ao favorecer o aumento da produtividade, entretanto apropriada e acumulada
pelos detentores dos meios de produção, vem a constituir-se num factor de
desenvolvimento. Assim o processo de desenvolvimento estaria dependente, por
um lado, da crescente divisão do trabalho e, por outro, da acumulação de capital.
O contexto das forças de mercado e a mão invisível da concorrência assegurariam
o desenrolar automático do processo. Além disso, a divisão do trabalho levaria à
separação entre trabalho produtivo e não produtivo. O trabalho produtivo
acrescenta valor líquido ou, segundo as palavras de Smith, fixa-se e corporiza-se
em qualquer objecto particular ou mercadoria vendável, enquanto os serviços do
trabalho improdutivo deixam, em geral, de existir no próprio instante em que são
prestados (cit. Blaug, 1989, p. 97). Por conseguinte, quanto maior for a proporção
de trabalho que é produtivamente empregada, tanto maior será o stock existente e
tangível de meios de produção, assim como a capacidade de produção da
economia no ano seguinte. Isto leva Smith a considerar um conceito bruto e outro
líquido do rendimento da sociedade. A separação entre eles parece residir no valor
da produção2 de cada ano que é necessária para assegurar a mesma produção no
ano seguinte. O rendimento seria líquido quando constituía uma potencialidade de
1 Na altura em que Adam Smith publicou An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations (1776), a fábrica média, movida a força hidráulica, empregava 300 a 400 trabalhadores, e não havia mais do que vinte ou trinta estabelecimentos do género em todas as Ilhas Britânicas. 2 Ou rendimento bruto que compreendia a depreciação do capital fixo, o capital circulante e a remuneração dos factores de produção.
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7
crescimento futuro da produção, pelo que, quanto maior fosse a proporção de
trabalho produtivo na sociedade, maior seria a capacidade de aumento de
produção.
A acumulação de capital, ou criação de rendimento líquido, estaria dependente da
repartição entre classes sociais. Enquanto os trabalhadores recebiam um
rendimento praticamente equivalente às suas necessidades de consumo, o que
implica uma poupança nula, os proprietários e capitalistas dispunham de um
excedente, que era canalizado para o investimento, leia-se, aumento das
capacidades produtivas. Daí, Smith concluir que a poupança abundante dos
capitalistas a par da liberdade das trocas, são as condições necessárias e
suficientes para o crescimento económico.
1.2.2. O aumento da população na óptica dos clássicos
No final do século XVIII, discutiam-se os resultados do primeiro censo completo
da população inglesa, segundo os quais, parecia depreender-se o crescimento
rápido da mesma no final do século. Malthus (1798), ao contrário de Godwin
(1793) que defendia o aumento demográfico, enuncia o famoso princípio segundo
o qual a população tenderia, naturalmente, a crescer em progressão geométrica,
enquanto os alimentos apenas poderiam aumentar em progressão aritmética3.
Desta “lei” resultaria uma ameaça ao progresso humano já que se, por um lado, só
a muito longo prazo a mentalidade das classes trabalhadoras poderia evoluir no
sentido da diminuição da taxa de natalidade, por outro lado, nem o progresso
técnico nem o comércio internacional tinham capacidade para compensar o
crescimento demográfico.
3 A razão de ambas as progressões é 2 e o intervalo entre os termos das progressões correspondem a 25 anos.
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8
Malthus ao reconhecer que os salários tenderiam inexoravelmente a fixar-se ao
nível da subsistência - mínimo considerado indispensável pelo chefe de família,
em determinada época, para a sustentar - apelava à limitação voluntária da
natalidade, de forma a atingir-se um nível de subsistência mais elevado. O
crescimento da economia, segundo Malthus, passava pelo aumento da procura
efectiva4 dos produtos, isto é, de uma procura5 feita por aqueles que têm os meios
e a vontade de dar um preço suficiente (cit. Denis, H., 1978, p. 356). A posição de
que o crescimento da produção, em economia capitalista, se baseia no crescimento
prévio da procura vem, por um lado, reafirmar a tese de Sismondi de que toda a
poupança cria uma situação de subconsumo e, por outro lado, discordar da “lei
dos mercados”, atribuída ao francês Jean Baptiste Say (1803), segundo a qual a
oferta cria a sua própria procura, pelo que o mercado tenderia, automaticamente, a garantir o
pleno emprego dos recursos produtivos.
Embora concorde com a tese de que a economia capitalista tende para o
subconsumo, Malthus admite a possibilidade de ocorrerem crises de
superprodução provocadas pelo excesso de capital relativamente aos mercados6 e
não pela sua insuficiência tal como advogavam Say e Ricardo. A implementação
de grandes obras públicas, o desenvolvimento do comércio interno e externo a par
da manutenção ou aumento dos improdutivos (Administração Pública, corpos
judicial e militar, pessoal médico, sacerdotes) conduziria ao equilíbrio e, portanto,
ao desaparecimento das crises de sobreprodução. De ressalvar, no entanto, que
enquanto às grandes obras públicas era atribuído um efeito temporário sobre o
crescimento, a intensificação do comércio interno e externo era considerado um
elemento impulsionador do crescimento económico.
Não obstante a obra de Malthus encerrar em si uma contradição importante – se
por um lado, é impossível alcançar o crescimento económico devido ao rápido
4 A expressão “procura efectiva” entrou definitivamente no vocabulário corrente após a sua utilização por Keynes. 5 Deve haver qualquer coisa na situação anterior da procura e da oferta (...) previamente à procura ocasionada pelos novos trabalhadores (...) para que o emprego de um número adicional de pessoas na produção seja garantido (cit. Denis, H., 1978, p. 359). 6 Esta tese viria a ser retomada por Keynes após a grande crise de 1929.
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9
aumento da população, por outro o emprego e a produção podem crescer desde
que se propicie o desenvolvimento da procura efectiva -, o autor é o único
economista clássico a colocar correctamente o problema dos mercados necessários
para o crescimento da economia capitalista.
1.2.3. O “modelo do cereal” de Ricardo7
David Ricardo viveu numa época em que as contradições do sistema capitalista
começavam a manifestar-se a um ritmo crescente. Se, por um lado, se assistia à
concentração e centralização do capital enquanto a agricultura tendia para a
estagnação, por outro lado, a França e a Alemanha começavam a concorrer com a
Inglaterra nos mercados de matérias primas e de produtos fabricados. Além disto,
a independência dos EUA foi outro factor importante que contribuiu para a crise
do capitalismo inglês. Ricardo, influenciado por esta situação e preocupado em
encontrar uma saída para a crise, veio a destacar-se ao publicar os Principles of
Economy (1817). Para ele, o Comércio Internacional livre e sem restrições
proporcionaria essa saída.
Diferentemente de Smith, Ricardo defende a concepção que explica o valor das
mercadorias pela quantidade de trabalho necessário à sua produção. No trabalho
incorporado, há a considerar dois tipos de trabalho, o trabalho directo, ou seja, o
número de horas necessárias à produção de um bem e o trabalho indirecto, que
corresponde ao trabalho cristalizado nos instrumentos de produção.
Na teoria ricardiana do valor está implícita a consideração do custo como a causa
do valor8 uma vez que, por um lado, Ricardo considera, como determinante do
valor de um bem, o trabalho incorporado na sua produção e, por outro, o valor de
7 Ou teoria dos lucros em termos de trigo 8 Alguns marginalistas, entre os quais se destaca Böhm-Bawerk (1889), elaboram a sua teoria do valor a partir desta constatação.
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10
um bem é dado pela quantidade de horas de trabalho necessárias à sua produção.
A noção de mais-valia encontra-se, de certo modo, implícita na afirmação de que
a remuneração do trabalho real não está, necessariamente, em proporção com o
que ele produz (cit. Reigado, 1980, p.12) e continua se supusermos que o trigo e
os objectos manufacturados se vendem sempre ao mesmo preço, os lucros serão
sempre elevados ou reduzidos segundo a alta ou a baixa dos salários (cit. Denis,
1978, p. 344). Assim, o valor do rendimento nacional seria fixado e limitado pela
concorrência entre os capitalistas e os operários. Aos possuidores da terra,
contudo, é-lhes dado um tratamento diferente em virtude do seu rendimento – a
renda – ter uma natureza também diferente. Tal deve-se ao facto de a oferta do
factor terra ser inelástica pelo que à medida que a procura deste factor produtivo
aumenta, vão-se introduzindo terras menos férteis na produção9 levando os
rendimentos marginais a decrescer. Esta tendência pode, no entanto, ser
contrariada com a introdução de novas técnicas que permitem o incremento da
taxa de lucro e, portanto, a expansão da produção.
O pagamento da renda é, para Ricardo, excepcional e não afecta a lei do valor de
troca, segundo a qual as mercadorias se trocam em função do seu custo, isto é,
pelo trabalho incorporado na mercadoria produzida nas condições mais
desfavoráveis. O valor de troca de qualquer género - afirma Ricardo - (...)
depende, pelo contrário, da maior quantidade de trabalho que são forçados a
empregar aqueles que não têm semelhantes facilidades e os que, para produzir,
têm que lutar contra as circunstâncias mais desfavoráveis (ibid., p. 340). Daqui
pode-se deduzir que a renda é um pagamento independente do valor e define-se
como o pagamento que o rendeiro faz ao proprietário das terras pelo direito de
explorar as faculdades primitivas e indestrutíveis do solo. A renda resulta da
escassez da terra ou, por palavras de Ricardo, assim que, em consequência dos
progressos da sociedade, se entregam à cultura terrenos de fertilidade
secundária, começa a renda para os primeiros (proprietários), e a taxa de renda
depende da diferença na qualidade respectiva das duas espécies de terras (cit.
Taylor, 1997, p. 58).
9 Com menores níveis de produtividade.
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11
Sendo o valor da renda pré-determinado pela diferença entre o valor do produto e
o respectivo custo, o problema de repartição do rendimento coloca-se, então, entre
trabalhadores e capitalistas. De salientar que o pagamento dos factores trabalho e
capital se deve manter no mínimo, isto é, o salário real será apenas o necessário
para reproduzir a força de trabalho ao mesmo nível e os lucros serão somente os
necessários para manterem constantes os stocks de capital. O excedente entretanto
criado levará a um acréscimo da poupança tornando os investimentos mais
atractivos para os investidores (só os capitalistas têm poupanças que canalizam
para o investimento) pelo que a existência de uma taxa média de lucro
suficientemente elevada seria a única condição, necessária e suficiente, do
crescimento económico. No entanto, dado os lucros tenderem a situar-se no ponto
mínimo (garantindo a reprodução simples), o aumento da produção só é possível
desde que se verifiquem acréscimos de produtividade da mão-de-obra e,
consequentemente, dos lucros. Mas, mesmo neste caso, o equilíbrio seria
restabelecido pela concorrência levando a uma situação de estacionaridade10. É
neste ponto que se articulam as teorias do valor e da renda com a dinâmica do
crescimento, ou seja, os rendimentos marginais tenderiam a decrescer e essa
marcha implacável para uma situação de impasse só poderia ser retardada pelas
trocas comerciais entre os países ou pela introdução de novas tecnologias de
cultivo das terras. No entanto, a prazo, viria a verificar-se a saturação da
capacidade de inventividade e de utilização das terras aptas para a actividade
agrícola, pelo que o comércio internacional deveria ser considerado como o único
agente potencialmente desbloqueador do ciclo gerador de uma situação de
impasse11. Ricardo preocupou-se, fundamentalmente, com as exportações, pois
apresentava-se-lhe como a única forma de superar uma crise de sobreprodução
decorrente da exiguidade do mercado interno. As importações de bens e matérias-
primas a custos inferiores aos nacionais contribuíam para o aumento da taxa de
10 A situação de estacionaridade, segundo Ricardo, tem como características: produção estagnada; população constante; lucro igual ao prémio de risco; salário real igual ao salário natural. 11 Adam Smith tinha uma visão retrospectiva da sociedade mais optimista e Malthus levou o pessimismo de D. Ricardo às últimas consequências, baseando-se no já referido princípio de que enquanto os recursos aumentam em progressão aritmética, a população aumenta em progressão geométrica.
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12
lucro. A saída para a crise do capitalismo inglês deveria procurar-se no comércio
internacional12 que deveria ser livre, isto é, sem quaisquer restrições.
A concepção de vida económica, que está subjacente à teoria da renda e do
crescimento de Ricardo reflecte, por um lado, a importância primordial da
agricultura na determinação da taxa média de lucro de toda a economia e, por
outro, o facto de este não antever as mutações que viriam a operar-se nos países
europeus mais evoluídos, em consequência da revolução industrial. De referir, no
entanto, o papel importante de David Ricardo no aprofundamento da própria
teoria da dinâmica de crescimento das economias e dos conceitos valor de uso e
valor de troca das mercadorias.
1.2.4. O estado estacionário na escola clássica
Stuart Mill13, considerado como “revisionista” da tradição clássica, é também um
socialista moderado de tipo reformista, tendo a sua obra exercido uma influência
comparável à da Riqueza das Nações de Adam Smith. Mill ao fazer a síntese da
tradição clássica do pensamento económico modificou os fundamentos
ideológicos dessa tradição. Assim, e segundo Stuart Mill, a felicidade dos
indivíduos depende tanto de aspectos quantitativos como qualitativos, logo há
diferentes ordens de prazer ou satisfação, pois, como ele escreveu, mais vale ser
um Sócrates insatisfeito que um tolo satisfeito (cit. Murteira, 1990, p. 89).
Efectivamente, o crescimento económico ou o enriquecimento das nações, não só
não garante espontaneamente uma repartição equitativa das riquezas como
também conduz ao predomínio duma ordem inferior de satisfação humana14.
12 A Teoria dos Custos Comparativos, de David Ricardo, é a base da maior parte das modernas teorias da Economia Internacional. 13 Stuart Mill publicou a sua obra principal, Principles of Political Economy, no mesmo ano em que Marx editava o seu Manifesto Comunista (1848). 14 O exemplo dos EUA, a economia mais avançada na época, não seduzia o autor chegando a escrever ...Todas as vantagens parecem reduzir-se a que a vida de um sexo é totalmente dedicada à caça ao dólar e a do outro à criação dos caçadores de dólares (cit. Murteira, 1990, p. 90).
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13
Stuart Mill distinguiu claramente as “leis” relativas à produção das que
comandam a repartição. As primeiras seriam imutáveis, impossíveis de alterar de
acordo com a vontade humana, enquanto as outras poderiam e deveriam ser
modificadas de modo a possibilitar o progresso das classes trabalhadoras,
designadamente através da sua promoção cultural, de molde a que a limitação
voluntária do crescimento demográfico permitisse ultrapassar os estritos níveis de
subsistência. O socialismo moderado de Mill apontava para reformas mitigadas da
organização social, compatíveis com a democracia política, e traduzidas em certas
medidas do Estado (regulamentação de herança, promoção do trabalho pela
educação, tributação das fortunas, etc.) e em fórmulas de cooperação capital-
trabalho.
1.3. A TEORIA MARXISTA
1.3.1. A teoria da mais-valia e da acumulação de capital
A teoria económica marxista apareceu na segunda metade do século XIX numa
altura em que, se por um lado, as crises do capitalismo começavam a pôr em
causa o sistema económico e social, por outro, o proletariado industrial tinha-se
tornado numa poderosa força revolucionária. O desenvolvimento das forças
produtivas, proporcionado pelo processo de industrialização do séc. XVIII e início
do séc. XIX, tornou-se num factor importante de desenvolvimento social ao
permitir a emergência e consolidação do proletariado que, estando na génese da
teoria económica marxista, irá adoptá-la como sua. Apoiado no método de
pesquisa por si elaborado (o materialismo histórico e o materialismo dialéctico),
Marx conclui que todo o processo histórico tem como base o desenvolvimento da
produção material15.
15 Ver o prefácio da Contribuição à Crítica da Economia Política, (1975), pp. 27-31
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14
Toda a teoria económica marxista assenta na teoria da mais-valia e da acumulação
de capital. Apoiando-nos na sua obra Contribuição para a Crítica da Economia
Política verificamos que o valor de uma mercadoria é a materialização do
trabalho humano abstracto e é sempre o produto de um trabalho particular,
concreto e útil (Marx, 1975, pp. 35-66). O valor de uma mercadoria corresponde
ao trabalho abstracto cristalizado nesta, pelo que, só o trabalho cria valor. O
trabalho concreto seria, portanto, uma manifestação operacional do trabalho
abstracto. Por sua vez, o valor de troca de uma determinada mercadoria deve
expressar-se em termos quantitativos, pelo que a quantidade de trabalho
abstracto constitui a substância do valor expresso na troca (ibid.).
O valor da força de trabalho determina-se pela quantidade de trabalho necessária
à sua produção, tal como qualquer outra mercadoria, sendo a diferença entre o
custo da força de trabalho e o resultado prestado pelo trabalhador a mais-valia
que, transformando-se num rendimento, é apropriado pelo detentor dos meios de
produção. Por sua vez, o valor de um produto é superior ao valor criado num
determinado período, uma vez que parte do valor do produto resulta do valor
transferido de uma mercadoria pré existente levando-nos a definir os conceitos de
capital constante e variável. Assim, o valor do capital constante corresponde ao
valor de todos os meios de produção utilizados, enquanto o capital variável será o
valor da força de trabalho empregue na actividade produtiva. Por outro lado, o
capital constante subdivide-se em capital fixo considerado o valor das máquinas,
instrumentos de trabalho, instalações etc., e circulante que compreende os
materiais de produção, tais como matérias-primas e auxiliares e produtos
semiacabados. No processo produtivo, Marx considera somente a fracção do
capital fixo desgastada na produção, segundo uma taxa de desgaste físico, e as
matérias primas consumidas. O produto ou valor da produção é, então, o
somatório dos capitais constante e variável e da mais-valia:
Y = C + V + Mv sendo C = u . K + m
onde,
Y - Valor da produção de um dado sector económico C - Capital constante (investido e gasto)
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15
V - Capital variável (investido e gasto) Mv - Mais-valia u - Taxa de remuneração do capital fixo K - Capital fixo m - Matérias-primas
A mais-valia subdivide-se em absoluta e relativa. A primeira depende apenas do
horário de trabalho e do número de trabalhadores, a segunda depende da
produtividade. Os acréscimos de produtividade e, consequentemente, da mais-
valia relativa estão relacionados com a introdução de inovações tecnológicas e de
novos métodos de produção. Dadas as particularidades do processo de
acumulação capitalista, os detentores dos meios de produção e os empresários são
compelidos a substituir, progressivamente, trabalho humano por maquinaria (para
obterem um super lucro), elevando a composição orgânica do capital e baixando,
no longo prazo, a taxa de lucro. Além disto, à medida que a composição orgânica
do capital vai aumentando vai-se verificando uma redução, em termos relativos,
da procura de trabalho e da taxa de lucro que dada a sua persistência se transforma
numa lei. Segundo a Lei da Baixa da Taxa de Lucro, esta varia inversamente com
a “composição orgânica do capital” q e directamente com a taxa de mais-valia
Mv , isto é 1+
=+
=qVC
Mr
v σ onde r é a taxa de lucro (cit. Blaug, 1989, p. 325).
A baixa tendencial da taxa de lucro, estudada desde Adam Smith, levaria a uma
situação em que a acumulação de capital deixaria de se efectuar e,
consequentemente, a economia entrava num estado estacionário. Marx retoma esta
análise e deduz conclusões bastante diferentes das anteriores. Em seu entender, é
de excluir que uma economia capitalista se instale duradoiramente num estado
estacionário, antes pelo contrário, a baixa da taxa de lucro cria uma situação
instável e explosiva de subemprego das forças produtivas que conduz ao
derrubamento do sistema.
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16
1.3.2. As crises e agudização das contradições internas do capitalismo
A Lei da Baixa Tendencial da Taxa de Lucro, no sistema capitalista, é
fundamental para a análise do carácter cíclico16 do crescimento económico. Esta
questão, cuja compreensão exige o estudo do binómio
sobreprodução/insuficiência da procura, foi considerada por Schumpeter17 como o
grande capítulo não escrito da obra de Marx. Outros autores, entre os quais
destacamos Bukharine (197), Hilferding (1910), Rosa Luxemburgo (1913),
Sternberg (1926), Sweezy (1942), Baran (1957) também se debruçaram sobre este
problema.
Marx divide a esfera total da produção em dois sectores: o primeiro corresponde
aos ramos ou empresas que fabricam os meios de produção18 e o segundo sector
aos ramos ou empresas que produzem as mercadorias consumíveis, ou seja, os
bens destinados ao consumidor final. A análise19 das crises do capitalismo assenta
na diferença dos ritmos de crescimento verificada entre os sectores. A capacidade
de produção do sector II tenderia a crescer, aumentando a sua composição
orgânica do capital, pelo que aumentaria a procura de bens de equipamento
relativamente ao sector I, baixando, todavia, a fracção correspondente ao fundo
salarial distribuído. O sector I, solicitado pelo II, alargaria a sua capacidade de
produção, com o aumento simultâneo da composição orgânica. Os capitalistas do
sector II ao pretenderem uma redução dos custos provocam um acréscimo
suplementar da composição orgânica e, uma vez que o sector I produz bens de
equipamento para si próprio e para o sector II, a procura de bens de capital por
16 Marx não tem, propriamente, uma teoria especial dos ciclos económicos e não haveria necessidade de a elaborar já que as crises são meramente expressões da contradição fundamental do capitalismo, ou seja, o mecanismo que aumenta os lucros destrói as oportunidades de investimento. 17 Schumpeter, J. , (1966), Ten great economists, Unwin University Books. 18 Marx considera as matérias-primas como meios de produção. No entanto, dadas as características das matérias-primas, admite-se que estas dependem do sector I ou do sector II segundo a natureza dos produtos finais em que se incorporam. 19 Admite-se que: 1) a procura global é igual à oferta global; 2) a procura de um sector é igual à sua oferta; 3) a realização de equilíbrio num sector garante a realização de equilíbrio no outro sector e, de um modo geral, para toda a economia; 4) o investimento bruto é igual à poupança bruta quando esta seja fracção determinada do valor total da produção.
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17
parte de II produz efeitos aceleradores em I. Assim, os sucessivos aumentos da
composição orgânica do capital com a consequente diminuição da massa salarial
estão na origem de uma crise de sobreprodução.
A realidade actual parece não confirmar esta evolução. Com efeito, se olharmos
para as economias europeias20, verifica-se que o grande contributo para o
crescimento do PIB é dado pelo investimento público e privado. A título de
exemplo registe-se que, segundo o Banco de Portugal21, em 1997, enquanto o PIB
em relação ao ano anterior cresceu 4%, o crescimento das suas rubricas, na óptica
da despesa, oscilou entre 2,6% relativos ao consumo público e os 12,8% do
investimento, de onde se deduz que o aumento da composição orgânica do capital
não é o principal responsável pelas crises de sobreprodução como afirmava Marx.
O comércio internacional de mercadorias e de capitais é considerado uma
consequência do tendencial agravamento das contradições internas do sistema
capitalista. As relações entre o modo de produção capitalista e outros modos de
produção, segundo Rosa Luxemburgo, decorrem essencialmente da necessidade
de realização da parte de mais-valia destinada à acumulação o que conduz à
procura constante de novos mercados no exterior e à sua monopolização em
proveito das grandes potências industriais. Perante o facto de as taxas de lucro
tenderem a igualizar-se (processo que Marx chamou de perequação das taxas de
lucro), a mais-valia suplementar obtida nos países com salários mais baixos é
transferida para os países onde os salários são mais elevados através do
mecanismo dos preços.
Em termos gerais, as abordagens marxistas sobre a internacionalização da
produção capitalista podem dividir-se em duas correntes principais: 1) a
“ortodoxa” ou “tradicional”, segundo a qual a internacionalização da produção
tem em vista aproveitar os salários baixos praticados nos países do “centro”; 2) a
20 Pelo menos de dimensão idêntica à economia portuguesa. 21 Relatório Anual de 1997, pp. 64 – 82
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
18
da Monthly Review22 que se aproxima, de certa forma, de Lenine, a qual explica a
internacionalização de produção pela necessidade de canalizar o excedente do
produto obtido nos novos mercados externos23. Estas abordagens, no entanto, não
permitem explicar quais as razões que levam as multinacionais a recorrerem,
predominantemente, ao crédito e não à transferência de capitais provenientes do
país de origem ou o que leva o investimento americano a ser canalizado para a
Europa em detrimento do Terceiro Mundo ou ainda o que leva as economias
emergentes da Ásia a efectuarem grandes investimentos nos países
industrializados do ocidente.
1.4. A TEORIA NEOCLÁSSICA
1.4.1. Os percursores da escola neoclássica
O pensamento de Karl Marx exerceu uma grande influência, não apenas no
movimento operário, mas também no meio intelectual ligado à investigação e ao
ensino das ciências humanas, provocando um facto inédito na história da
economia política: os economistas seus contemporâneos para melhor
salvaguardarem as distâncias relativamente às teses marxistas repudiaram os
ensinamentos dos economistas clássicos ingleses. Por exemplo, em 1871, o
britânico William S. Jevons, publicava a Teoria da Economia Política em que na
tentativa de renovar inteiramente a ciência económica apelava, por um lado, para
as matemáticas e, por outro, recuperava o princípio marginal24 já utilizado por
Ricardo no seu estudo sobre a distribuição do rendimento agrícola. No mesmo
ano, o austríaco Carl Menger, na obra Fundamentos da Economia Política,
analisava o comportamento do consumidor baseando-se no mesmo princípio. Nos
Elementos de Economia Política Pura, publicados em 1784, por Leon Walras
22 Baran e Sweezy foram os seus principais adeptos. 23 Canalizando o excedente do produto para os países industrializados. 24 O marginalismo assenta, fundamentalmente, nos seguintes pressupostos: 1) existência de concorrência perfeita em todos os mercados; 2) os sujeitos económicos comportam-se sempre de forma a maximizar as suas utilidades individuais; 3) as necessidades são insaciáveis.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
19
vamos encontrar concepções sobre o problema do valor, idênticas às de Jevons e
de Menger. No entanto, apesar da semelhança de resultados, o economista francês
propôs uma formalização do problema económico cuja importância ainda hoje é
reconhecida.
Jevons, Menger e Walras apresentam nas suas obras uma nova teoria do valor
apoiando-se na noção de utilidade marginal e da teoria da repartição dos
rendimentos, partindo da noção de taxa final de rendimento do capital (em
linguagem actual, produtividade marginal do capital). Daí, considerar-se estes três
autores como os fundadores da Teoria Marginalista.
A teoria neoclássica, como salientou Cláudio Napoleoni (1973), tem como centro
de orientação predominante a noção de equilíbrio – equilíbrio geral, na
formulação de Walras, da escola de Lausanne, e equilíbrio parcial, de Alfred
Marshall, da escola de Cambridge. Esta orientação leva a que os walrasianos
coloquem a questão: dadas certas quantidades iniciais de recursos, estabelecidas
as técnicas de produção e assumidas determinadas preferências dos sujeitos
económicos, como determinar as quantidades trocadas e os preços de equilíbrio?
Para Marshall, a questão é outra: como se comporta e atinge o equilíbrio cada
unidade de produção e o conjunto das unidades que produzem o mesmo bem
numa situação de concorrência ? A resposta a estas questões só é possível
recorrendo ao conceito de valor e à teoria da repartição do rendimento dos
neoclássicos.
O valor de um bem, ao contrário do que se considera nas teorias clássica e
marxista, não é determinado pelo trabalho nele incorporado, mas sim pelo grau de
utilidade. Partindo da noção da taxa final de rendimento do capital (produtividade
marginal do capital), os neoclássicos mostram que o emprego do capital é
vantajoso já que permite diferir o momento em que se goza dos frutos do trabalho
gasto na produção. Esta análise vem, de certa forma, confirmar a tese dos autores
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
20
clássicos segundo a qual o valor inteiro dos produtos deriva do trabalho
despendido, tendo o emprego do capital por efeito a modificação da repartição
temporal do dispêndio de trabalho e aumentar a sua produtividade. O rendimento
marginal do capital deve, segundo os neoclássicos, ser igual em toda a parte
levando a que cada negócio empregará capital até ao ponto em que o capital tem
um rendimento justamente igual ao juro corrente (Jevons, 1871, p. 237). Em
relação aos salários, estes dependem da produtividade do trabalho, já que sendo a
taxa de juro, aqui entendida como a remuneração do capital, fixada anteriormente,
quanto mais elevado for o produto total, mais elevado é o salário. Esta tese de
determinação do salário pela produtividade líquida do trabalho será aplicada em
substituição das teorias clássicas do salário de subsistência ou do fundo de
salários25. O abandono da teoria de Smith e Ricardo sobre o valor, impulsionada
pelos neoclássicos, deverá ser entendida à luz da adopção da teoria dos três
factores de produção26: o trabalho, o capital e os agentes naturais27.
A economia política pura de Walras consiste na construção de um modelo
matemático (sistema de equações simultâneas) que permite definir, de um modo
preciso, a situação em que tende a estabelecer-se uma economia que assenta na
livre troca dos produtos, na venda livre da força de trabalho, na livre circulação
dos capitais e no livre aluguer das terras. Este é considerado o primeiro modelo28
completo do equilíbrio geral dos preços e das trocas. Aqui, o equilíbrio define-se
como uma situação tal que nem os consumidores, nem os produtores, tenham
25 A teoria de fundo do salários, defendida por Stuart Mill,, sustenta que o montante de capitais destinados ao pagamento de salários é determinado e fixo, num certo momento, de modo que o salário por operário é igual ao quociente desse fundo pelo número dos trabalhadores empregados. 26 Jean-Baptiste Say enunciou esta teoria no início do séc. XIX. 27 Entre os agentes naturais, segundo Say, só a terra deverá interessar aos economistas, uma vez que é o único elemento a ser apropriado enquanto que o usufruto dos outros elementos naturais é gratuito. 28 Na elaboração do modelo, Walras utiliza a lei de igualação das utilidades marginais ponderadas dos bens com os preços dos produtos e a teoria dos serviços produtores de Jean-Baptiste Say. Em 1803, Say publicava o Tratado de Economia Política no qual formulava a teoria segundo a qual a produção se realiza graças ao concurso de três elementos: trabalho, capital e agentes naturais, isto é, a terra devido ao facto de ser apropriável. Assim, cada um destes elementos indispensáveis ou factores de produção traz o concurso dos seus “serviços produtivos” aos chefes de empresa e obtém em troca um rendimento, que é o preço destes serviços. Os salários, os lucros e as rendas fundiárias são os preços de serviços, que se determinam em função da sua oferta e procura.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
21
interesse em modificar as quantidades de bens e de serviços que procuram ou
oferecem nos diferentes mercados. Esta situação é considerada normal e só poderá
ser modificada no caso da intervenção de causas exteriores ao sistema de trocas.
Gustavo Cassel, economista sueco, aluno de Walras, foi o primeiro a conseguir
traduzir a teoria microeconómica walrasiana num verdadeiro modelo
micro/macro. Na sua obra Theoretische Social-ökonomie, publicada em 1918,
Cassel apresenta um modelo geral de equilíbrio em forma aritmética com n
sectores e r factores de produção. A base de raciocínio deste modelo assenta no
pressuposto de que se verificará equilíbrio duradouro entre a procura e a oferta de
factores produtivos e de bens finais. A procura de factores produtivos é, segundo
o modelo, determinada pela procura de bens finais através dos coeficientes
técnicos aij considerados constantes29.
Os economistas clássicos e neoclássicos interessavam-se, antes de mais, pelo
ritmo do crescimento da economia e viam no liberalismo um meio de assegurar
um rápido crescimento económico. Jevons, um neoclássico, afirma que o
crescimento económico é possível desde que as capacidades de produção
disponíveis em determinado momento sejam utilizadas da melhor maneira
possível num clima de respeito pela liberdade das trocas. A sua não preocupação
pelo crescimento económico advém do facto de, tal como os clássicos, adoptar o
ponto de vista, segundo o qual o crescimento económico depende, essencialmente,
do montante da poupança. Segundo a sua concepção, o que certas regiões da
Europa realizam, as outras regiões do mundo também podem realizar, bastando
para isso imitar as nações mais avançadas. Esta forma de colocar o problema do
subdesenvolvimento é, igualmente, uma consequência da tese clássica sobre o
crescimento. Se, no entanto, adoptarmos as concepções de Malthus e da sua
escola de que o motor da industrialização são os mercados externos, o problema
aparece de forma diferente. Neste caso, a monopolização do comércio mundial
pelas regiões mais avançadas tende a interditar a outras regiões a sua
29 Coeficiente técnico ou, mais propriamente, coeficiente de inputs intermédios, mede a intensidade das compras que o sector j (produtor) terá que fazer ao sector i (fornecedor), por unidade de produto do sector j .
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
22
industrialização. De referir que, no entanto, este problema nunca foi, de facto,
discutido em profundidade pela escola neoclássica.
1.4.2. Os modelos micro económicos e teoria da produção
Os modelos neoclássicos são, essencialmente, modelos microeconómicos, logo
aplicados ao fenómeno “empresa”. De acordo com os marginalistas, a empresa,
em termos de rendimentos, atravessa três etapas de desenvolvimento,
nomeadamente: a primeira em que os rendimentos são crescentes para pequenas
quantidades de inputs, a segunda em que os rendimentos são constantes e,
finalmente, à medida que as quantidades de inputs são cada vez maiores, os
rendimentos tornam-se decrescentes. A reacção do nível de produção a um
aumento proporcional de todos os inputs é descrita pelos rendimentos de escala.
Assim, se a produção aumentar na mesma proporção, os rendimentos de escala
são constantes para as combinações de inputs consideradas. São crescentes se a
produção aumentar mais que proporcionalmente, e decrescentes se aumentar em
menor proporção. Esta situação conduz a que uma única função de produção pode
apresentar todos os três tipos de rendimentos
A relação ou a equação que nos dá a quantidade máxima de produto que pode ser
produzida a partir de conjuntos especificados de inputs, ceteris paribus,
designamos por função da produção. Esta função, por um lado, é definida apenas
para valores não negativos dos níveis de inputs e de produtos e, por outro lado, é
construída na suposição de que as quantidades de inputs fixos estão a níveis pré-
determinados, pelo que os empresários não os podem alterar no período em
consideração. Na sua forma mais ampla, a função produção é descrita pela
formula:
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
23
q = ƒ (K,L)
onde q é a taxa de produto por período de tempo, K é o fluxo de serviços do
stock de capital por período de tempo e L é o fluxo de serviços dos trabalhadores
da empresa por período de tempo. O período de tempo para o qual são definidos
estes fluxos e, portanto, da função de produção de curto prazo, estando sujeito a
três restrições, deve ser suficientemente: a) curto para que os empresários não
possam alterar os níveis de inputs fixos; b) curto de modo a que o formato da
função de produção não seja alterado devido a melhorias tecnológicas; c) longo
para permitir a realização dos processos técnicos necessários. Esta análise de curto
prazo pode, na maioria dos casos, ser transposta para o longo prazo bastando, para
isso, aumentar o número de inputs variáveis. Em termos gerais, o que esta
equação nos diz é que o produto das empresas é uma certa função dos inputs
capital e trabalho.
Das várias funções de produção existentes a mais utilizada é a função de produção
homogénea30 de Cobb-Douglas (Henderson e Quandt, 1992, p. 79)31:
αα −= 121 xAxq
onde,
Q - Produto agregado A - Constante de dimensão X1 - Quantidade de trabalho X2 - Quantidade de capital α - Elasticidade produção/trabalho, cujo valor será >0 e <1 1-α - Elasticidade produção/capital
A função de Cobb-Douglas é homogénea de 1º grau32, as produtividades
marginais - PMg - de ambos os inputs são homogéneas de grau zero e o caminho
30 Uma função é homogénea de grau k se ƒ(tx1, tx2) = t
k ƒ(x1, x2) onde k é constante e t é qualquer número real positivo. 31 Esta função foi apresentada em 1928 por dois americanos, Cobb C. W. (matemático) e Douglas, P.H. (economista).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
24
de expansão33 gerado por esta função é linear. Esta função foi um instrumento
utilizado na tentativa de uma verificação empírica da teoria marginalista da
distribuição, segundo a qual, independentemente do nível de preços do produto, o
lucro de longo prazo é nulo34.
Nos estudos económicos, utilizam-se com bastante frequência as funções de
produção homogéneas de 1º grau, apesar dos problemas de indeterminação para a
empresa individual. Este problema pode, no entanto, ser resolvido supondo que
(íbid., p. 82):
1. o tamanho e o número das firmas são determinados por algum mecanismo
arbitrário sujeito à condição de que a produção da indústria satisfaça à procura
da indústria;
2. uma indústria possui uma função de produção homogénea de 1º grau, mesmo
que as firmas que a compõem não possuam tais funções de produção.
As funções de produção pertencentes à classe CES são, igualmente, utilizadas
com alguma frequência pese embora a sua difícil manipulação. Estas funções têm
duas características principais cumulativas, ou seja, são homogéneas de 1º grau e
a sua elasticidade de substituição é constante. Refira-se que a simplicidade da
Taxa de Substituição Técnica – TST – levou à sua popularização35. As funções
de produção CES podem ser expressas por uma equação do tipo36 (ibid., pp. 84-
86):
32 Função homogénea de 1º grau tem o Custo Marginal CMg e o Custo Total Médio CTM constantes e uma função de custo total de longo prazo linear. 33 Dado pela função (1-α) r1 x1 - α r2 x2 = 0 34 Contudo, se o empresário vender o seu produto a um preço constante e possuir uma função de produção homogénea de grau um, a análise convencional da maximização dos lucros perde o seu sentido.
35 A Taxa de substituição Técnica é
1
11
+
−
ρ
αα
x
q
36 Com os parâmetros A<0 e 0<α<1; as produtividades marginais dos inputs são 1
11
+
=
∂∂
ρ
ρα
x
q
Ax
q e
1
22
+
=
∂∂
ρ
ρα
x
q
Ax
q
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
25
( )[ ] ppp xaaxAq/1
21 1−−− −+=
onde, ρρρρ é um parâmetro intimamente relacionado com a elasticidade constante de
substituição. Sendo a TST igual à razão de preços dos inputs (ibid., p. 86), isto é:
2
1
/1
1
2
1 r
r
x
x=
−
σ
αα
e σ
=
2
1
1
2
r
ra
x
x
onde a=[(1-α )/α]σ . A última equação permite-nos verificar que a elasticidade
constante de substituição é também a elasticidade constante da razão de uso dos
inputs (x2/x1) em relação à razão de preços dos inputs. A mesma equação mostra,
ainda, que a razão de uso dos inputs é uma função potência da razão de preços dos
inputs37. Como já admitimos que x1 e x2 são trabalho e capital, respectivamente, a
equação anterior mostra ainda como varia a razão capital-trabalho para um dado
bem, em consequência de variações da razão salário-lucros o que se mostra
bastante útil para o estudo de problemas da teoria do comércio internacional.
Por último refira-se que as funções de produção visam determinar, por um lado, o
ponto de equilíbrio entre a oferta e a procura ao nível da empresa e, por outro, as
condições necessárias ao aumento da produção ou, por outras palavras, para o
crescimento económico. O equilíbrio micro-económico possibilita a criação das
condições necessárias ao estabelecimento do equilíbrio macro-económico e,
consequentemente, do crescimento económico, já que se pressupõe a existência de
um equilíbrio estável e prolongado no tempo entre a oferta e a procura de factores
produtivos e de bens finais.
37 como esta função é linear para os logaritmos das variáveis, os parâmetros a e σσσσ podem ser estimados através de uma análise de regressão linear de uma série temporal.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
26
1.5. O MODELO DE SCHUMPETER
1.5.1. Os contributos do modelo analítico schumpeteriano
Schumpeter38 refuta a ideia de que a economia europeia tende inexoravelmente
para um estado estacionário, bem como os argumentos de Hansen39, afirmando ser
perfeitamente gratuito admitir que as iniciativas susceptíveis de se substituírem às
iniciativas de colonização serão inevitavelmente menos importantes, qualquer
que seja o sentido que se dê a esse adjectivo. Pelo contrário, é perfeitamente
possível que a conquista do ar seja mais importante do que foi a conquista das
Índias: não temos o direito de confundir as fronteiras geográficas com as
fronteiras económicas (Schumpeter, J., 1954, p. 209). Reafirmando esta tese, em
1912, na Teoria do Desenvolvimento Económico, sustenta que a remuneração do
capital (juros ou lucro) é, essencialmente, a remuneração das inovações realizadas
pelos empresários dinâmicos.
A rotura do mundo estacionário e, consequentemente, o início de um processo de
desenvolvimento verificam-se ao nível da produção devido a acontecimentos tais
como a introdução de um novo bem ou a adopção de um novo método de
produção, a abertura de um novo mercado ou a conquista de uma nova fonte de
oferta de matérias-primas ou de produtos semi-acabados ou, ainda, o
estabelecimento de uma nova organização de uma determinada indústria que,
muitas das vezes, alteram profundamente os velhos sistemas produtivos
(Schumpeter40, 1911). O autor, designa estas alterações pelo termo inovações,
enquanto a introdução de uma inovação no sistema produtivo será um acto
38 Schumpeter, em 1912, publicou a obra de referência obrigatória - Teoria do Desenvolvimento Económico. Em 1939, já na América, publicou os Ciclos Económicos nos quais se encontram novos contributos para a teoria do desenvolvimento e em 1942 a obra Capitalismo, Socialismo e Democracia. 39 Alvin Harvey Hansen, professor em Harvard, autor da obra Restabelecimento Integral ou Estagnação (1938), embora se apoie nas análises de Keynes, é de opinião que as economias capitalistas desenvolvidas entraram num período em que se manifesta uma tendência muito clara para a suspensão do desenvolvimento da produção devido a três razões: 1) já não existem no mundo terras ricas e não povoadas para ocupar; 2) a população dos países industrializados tende a tornar-se estacionária; 3) o progresso técnico já não exige, para a sua realização, tantos capitais adicionais como outrora.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
27
empreendedor e empresário aquele que executa este acto. As inovações são, para
Schumpeter, a fonte do desenvolvimento económico que se define como as
modificações nos dados económicos que ocorrem continuamente no sentido de
que o seu acréscimo ou decréscimo podem ser correctamente absorvidos pelo
sistema sem distúrbios perceptíveis (cit. Sousa, 1997, p. 231). O desenvolvimento
económico implica, então, saltos quantitativos e modificações qualitativas no
processo económico derivados de inovações introduzidas nesse processo por
agentes interiores. Para Schumpeter (1935), o desenvolvimento é transformação
espontânea e descontínua das artérias do fluxo, distúrbio de equilíbrio que altera
e desloca para sempre o estado de equilíbrio pré existente (ibid., p. 231).
1.5.2. Concorrência e flutuações cíclicas
Para Schumpeter, a concorrência não é estática (conjunto numeroso de pequenas
empresas que, produzindo um bem idêntico, não podem ter, isoladamente,
qualquer influência sobre o preço) mas, é sim dinâmica definindo-a como aquela
que as empresas inovadoras exercem em confronto com as outras. Este processo
concorrencial foi designado como o processo da destruição criadora,
denominação com a qual se põe em evidência que a concorrência efectiva é dada
pelos efeitos que as inovações fazem incidir sobre as empresas existentes
(Schumpeter, J., 1954, cap. VII). Este conceito de concorrência traz consigo um
novo conceito de monopólio, ou seja, o monopólio temporário. Este monopólio
tem lugar entre o momento da introdução da inovação até ao momento da sua
difusão41 e varia segundo a natureza da própria inovação.
40 Schumpeter, J. (1911), Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung, trad. Portuguesa, A Teoria do Desenvolvimento Económico, Abril Cultural, São Paulo, (1982), p. 48 41 As empresas da indústria farmacêutica são um exemplo típico, já que ao patentear as inovações ficam no mercado com uma posição que se aproxima da do monopólio típico de carácter permanente.
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28
A passagem do capitalismo concorrencial ao capitalismo trustificado, isto é, a
passagem da fase em que as inovações se incorporam, geralmente em novas
empresas, à fase em que elas se implementam nas empresas já existentes, não
implica, para Schumpeter, uma diminuição de intensidade do desenvolvimento
económico ou da sua qualidade mas, pelo contrário, é possível dizer que nesta
passagem o desenvolvimento talvez se tenha acentuado. O desenvolvimento
económico, enquanto processo de transformação criativa da realidade económica,
social e humana não se desenvolve de um modo contínuo e uniforme, mas sim
através de uma sucessão periódica de ciclos42 (Schumpeter, J., 1911). A base em
que surge o processo cíclico43 consiste no facto de as inovações não se
distribuírem uniformemente no tempo, mas tenderem a concentrar-se, ou como
diz Schumpeter, a apinhar-se em determinados períodos.
Estando a periodicidade dos ciclos e a natureza das inovações inter-relacionadas e
admitindo que a cada novo ciclo corresponde um patamar mais elevado de criação
de riqueza, poder-se-á concluir que a constante introdução da inovação é uma
condição essencial para o desenvolvimento económico e, de certa forma, para a
reprodução do modo de produção capitalista. No entanto, e de acordo com o
pensamento de Schumpeter, o sucesso do capitalismo “mina” as instituições
sociais que o protegem e cria, inevitavelmente, condições em que não lhe será
possível sobreviver. O processo de desenvolvimento da economia capitalista é um
processo de destruição criadora em que, paralelamente à expansão da produção,
42 Marx já tinha posto em evidência que o ciclo económico era o modo como a economia capitalista se desenvolvia. 43 Schumpeter, numa base experimental, distingue três tipos de ciclos: a) os ciclos de Kondratieff ou as chamadas ondas largas com um período variável de 54 a 60 anos; b) os ciclos de Juglar com uma duração de 9-10 anos; c) os ciclos de Kitchin com uma duração média de 40 meses (Napoleoni, 1973). De acordo com Freeman e Perez (1988), desde a primeira revolução industrial ocorreram 5 ciclos: ciclo da primeira revolução industrial – corresponde ao último quartel do séc. XVIII e ao primeiro do séc. seguinte, que se caracterizou pela mecanização das indústrias transformadoras (têxtil e metalúrgica); ciclo da máquina a vapor – corresponde ao período entre 1830 e 1880 e caracterizou-se pela generalização da máquina a vapor e do combóio; ciclo da electricidade e da mecânica pesada – finais do séc. passado até à segunda guerra mundial, teve como sectores chave a siderurgia, a metalomecânica e a química pesada; ciclo das técnicas fordistas de produção em massa – terminou com as grandes crises dos anos 70 e caracterizou-se pela utilização intensiva da energia e pela produção em massa de bens de consumo; ciclo da informação e da comunicação – em pleno desenvolvimento, assenta no aproveitamento das potencialidades geradas pela microelectrónica.
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29
avanço tecnológico, redução do desemprego ou subemprego e da formação de
quadros técnicos, se assiste à destruição dos próprios fundamentos em que assenta
o sistema. Schumpeter, embora acredite no desaparecimento do capitalismo44,
está, segundo afirma, disposto a defender45 este sistema económico.
1.6. OS MODELOS KEYNESIANO E NEOKEYNESIANOS
1.6.1. A depressão económica segundo Keynes
Os problemas de reconversão da economia de guerra em economia de paz
afectaram a economia mundial até ao primeiro quarto do séc. XX. Alguns países,
como os EUA, tiveram crises de reconversão profundas, mas curtas, outros
passaram por períodos mais longos (Inglaterra) e outros ainda, experimentaram
processos inflacionistas (França) ou mesmo hiperinflacionistas (Alemanha).
Ultrapassados os problemas de reconversão, a economia ocidental entrou num
curto período de prosperidade que viria a terminar com uma das mais graves
crises económicas que o mundo já conheceu. Esta crise, habitualmente,
denominada de Grande Depressão rebentou em 1929.
Keynes com o objectivo de contribuir para a análise do problema das depressões
económicas publica, em 1936, a obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da
Moeda46. As suas preocupações são, fundamentalmente, os problemas do pleno
emprego e do rendimento nacional e estabelece que estas duas variáveis
económicas estão ligadas por uma determinada proporcionalidade. No seu
modelo, Keynes parte da noção de custo da produção nacional R, que se
44 Schumpeter ao abrir a 2ª parte da obra Capitalismo, socialismo e democracia, em 1942, coloca frontalmente a questão: Poderá o capitalismo sobreviver? e responde: Não, não creio que possa. Para fundamentar esta posição, Schumpeter refugia-se em considerações de natureza extra económica ou, mais precisamente, na sociologia de Vilfredo Pareto (1848-1923). 45 Ver o prefácio à 2ª edição de Capitalismo, socialismo e democracia, publicada em1944. 46 Keynes explica o desemprego, bem como a depressão económica, através da insuficiência do investimento. A sua análise é sobre o desemprego permanente, isto é, aquele que subsiste mesmo durante os períodos de expansão económica de que são exemplos o desemprego britânico dos anos 1921-1929 e o americano de 1933-1939.
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30
desagrega em custo de produção dos bens de equipamento R1 e custo de
produção dos bens de consumo R2. Por seu turno, os custos de produção KT são
formados pelos salários pagos na ocasião da produção e pelos lucros normais47.
Quanto ao rendimento distribuído, este divide-se em despesa para a compra de
bens de consumo C e poupança S. Se chamarmos despesa normal Cn às somas
gastas em compras de bens de consumo quando os rendimentos são normais, e
poupança normal Sn à poupança que se forma quando os rendimentos são
normais, temos:
R1 + R2 = Cn + Sn
A partir desta igualdade poderemos analisar três situações:
• Sn = R 1 ⇒⇒⇒⇒ Cn = R2 (equilíbrio ou reprodução simples)
• Sn <<<< R 1 ⇒⇒⇒⇒ Cn >>>> KT (crescimento económico)
• Sn >>>> R 1 ⇒⇒⇒⇒ Cn <<<< R2 (diminuição do nível de actividade ou depressão)
A depressão económica decorre do facto de a poupança normal ser superior ao
investimento, o que cria um desequilíbrio no mercado dos bens de consumo,
obrigando os produtores desses bens a vender a preços inferiores aos seus custos
com a consequente diminuição dos lucros e do investimento. Inversamente, a
expansão dos negócios deve-se à existência de um excesso de investimento que
origina lucros excepcionais no sector dos bens de consumo, pelo que é de incitar
as empresas a aumentarem a sua produção. Por seu lado, a paragem da expansão
explica-se recorrendo à ideia de Albert Aftalion48, segundo a qual as crises seriam
devidas ao facto de, no período de expansão, se encomendarem uma quantidade
47 Normal remuneration of entrepreneurs + interest on capital + regular monopoly gains, rent and the like, Tratado de Moeda, Londres, 1930, p. 123. 48 Albert Aftalion nos seus artigos, de 1908 e 1909, A realidade das superproduções gerais in Revue d’Économie Politique e, em 1913, na sua obra As crises periódicas de superprodução deu uma importante contribuição para o estudo do ciclo. O autor apoia-se, essencialmente, na ideia de que a construção dos bens de equipamento exige tempo.
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31
excessiva de meios de produção49. Contudo, de acordo com Keynes, o equilíbrio
geral e o crescimento económico (desde que a taxas pouco elevadas) podem
ocorrer na presença de vários níveis de subemprego dos factores de produção, ou
seja, o sistema económico pode funcionar duradouramente mesmo num estado
permanente de desemprego involuntário50.
1.6.2. A teoria do emprego
A questão do emprego versus desemprego é abordada por Kahn (1931) tentando
demonstrar que o investimento nos trabalhos públicos pode ser um meio eficaz
para diminuir o desemprego. Para isso, constrói um novo instrumento de análise
económica - multiplicador de investimento ββββ -, cuja formula é 1/k , onde k
designa a relação entre o consumo suplementar e os rendimentos suplementares
distribuídos, ou seja, k é a propensão marginal para a poupança51. Kahn
demostrou assim que, em certas condições, a principal das quais é a manutenção
de preços, o investimento público além da contratação directa de um certo número
de trabalhadores leva à recontratação de ββββ.N trabalhadores52. De um modo geral
quando o investimento é insuficiente relativamente à propensão marginal para a
poupança, o emprego efectivo é inferior ao pleno emprego, isto é, verifica-se uma
situação de desemprego.
49 De referir a existência de um lag de tempo entre a encomenda dos meios de produção e a sua efectiva entrada em funcionamento. Por outro lado, a penúria de produtos acabados continua a suscitar uma maior procura de equipamentos. 50 Nas economias modernas aceita-se que a taxa natural de desemprego oscile entre os 2 a 3% da população activa. A taxa natural de desemprego representa o nível mais elevado de emprego possível de sustentar sem inflação correspondendo, portanto, ao nível de produto potencial de um país. 51 Assume-se que todo o rendimento que não é consumido é poupado. 52 Por exemplo, se a sociedade tende a poupar ¼ do rendimento adicional posto em circulação, a propensão marginal para a poupança é igual a 0,25, e para N operários contratados directamente teremos, no total, o quádruplo de recontratos (4 N). O número 4 (4=1/0,25) é, portanto, o inverso da propensão marginal para a poupança.
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32
Keynes ao afirmar que o nível do emprego depende do montante do investimento,
isto é, do montante das compras de meios de produção adicionais realizadas pelas
empresas, assume que um verdadeiro equilíbrio económico só será atingido no
momento em que a poupança normal é igual ao investimento, proporcionando um
certo volume de produção e emprego. Por sua vez, o investimento depende, por
um lado, do comportamento das produtividades marginais do capital, isto é, das
rentabilidades que se podem esperar dos capitais adicionais investidos no decurso
de um período de tempo e da taxa de juro (fenómeno essencialmente monetário) e,
por outro lado, do valor da procura efectiva de bens de consumo. No entanto, dada
a estabilidade da propensão marginal a consumir, todo o crescimento do
rendimento implica uma aumento mais do que proporcional do investimento. Esta
relação levou Keynes a concluir que a existência de uma deficiência crónica da
procura efectiva estaria na origem do desemprego involuntário pelo que se
impunha o crescimento do investimento e, principalmente, do investimento
público, como meio de aumentar a procura e conduzir ao crescimento económico.
O mercado monetário tem, igualmente, um papel importante já que ao estabelecer
uma taxa de juro vai induzir o volume de investimento que, por sua vez, através
do multiplicador determina o rendimento nacional Y e fixa o nível de emprego L
(Saby e Saby, 1997, p. 437). Este encadeamento pode ser visualizado da seguinte
forma (fluxograma 1.1).
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33
Fluxograma 1.1
Visão sinóptica do modelo keynesiano Oferta de moeda taxa de juro i Procura de moeda I Y L antecipação dos multiplicador função de produção empresários macro-económica de curto período Fonte: Saby, B. e Saby, D., (1997), As grandes Teorias Económicas, Edições Asa, Porto, p. 437
1.6.3. O modelo de Kaldor
Os instrumentos analíticos introduzidos por Keynes prestavam-se facilmente ao
tratamento dos problemas relativos ao crescimento de longo prazo da economia e
é isso que, efectivamente, vem a suceder com as contribuições de Harrod-Domar,
Kaldor e Kalecki53. O economista indiano Mahalanobis, embora apresentando
algumas semelhanças formais com os modelos pós-keynesianos, tem uma lógica
interna diferente revelando a influência dos esquemas de reprodução do capital de
Marx54.
53 Posteriormente, Kalecki desenvolve a sua teoria de crescimento em economia socialista, procurando fundamentar opções básicas do planeamento económico na Polónia do pós-guerra. Entre estas opções estavam a definição da taxa de crescimento do rendimento, as características do progresso técnico, as incidências do emprego, os efeitos do comércio externo, etc.. 54 No modelo supõe-se que o investimento e o consumo são previamente determinados através da orientação do investimento no aumento da capacidade produtiva dos sectores que produzem bens de consumo e bens de capital. Embora as hipóteses admitidas sejam extremamente simplistas, o
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34
O modelo de crescimento económico de Kaldor, intimamente ligado à explicação
teórica da distribuição do rendimento nacional, apoia-se na função de progresso
técnico. definida como a relação entre a taxa de acréscimo anual do produto ∆∆∆∆Y/Y
e a taxa anual de acumulação de capital ∆∆∆∆K /K. Esta relação investimento/produto
é constante no tempo e o ponto de equilíbrio é atingido quando ∆∆∆∆Y/Y=∆∆∆∆K/K. Á
esquerda deste ponto, ∆∆∆∆Y/Y > ∆∆∆∆K/K ou ∆∆∆∆Y/∆∆∆∆K > Y/K, verifica-se uma situação de
“rendimentos crescentes“ a nível macro-económico dado a produtividade
marginal do capital ser crescente esperando-se, por conseguinte, uma aceleração
na acumulação do capital. Numa situação contrária, isto é, quando ∆∆∆∆Y/Y < ∆∆∆∆K/K
ou ∆∆∆∆Y/∆∆∆∆K < Y/K, os rendimentos de capital são decrescentes, tal como as
produtividades médias e marginais, verificando-se uma tendência de estabilização,
a longo prazo, do ponto de equilíbrio.
Admita-se que a economia está em equilíbrio de pleno emprego, ou seja, o
investimento I é igual à poupança S, o rendimento nacional Y desagrega-se em
salários W e lucros P, isto é, Y = W + P e a poupança, por sua vez, é composta
pela poupança dos trabalhadores Sw55 e poupança dos capitalistas Sp56. Não sendo
a taxa de investimento I/Y determinada independentemente das proporções dos
lucros e salários no rendimento nacional mas, antes, segundo a função progresso
técnico, teremos que a taxa de lucro P/Y cresce com I/Y (e diminui com W/Y) e só
estabiliza quando I/Y permanece constante. Posteriormente, Kaldor57 viria a
afirmar que a taxa de investimento I/Y e a taxa de poupança S/Y são ambas
funções das proporções dos lucros no rendimento nacional P/Y aproximando-se,
por conseguinte, de uma posição consensual acerca da dependência da taxa de
investimento em relação à parte dos lucros no rendimento nacional e à taxa de
modelo permite concluir que a prioridade à indústria pesada em detrimento da indústria ligeira sacrifica, no imediato, o nível de consumo da população mas permite, ou pode permitir, aumentá-lo significativamente a longo prazo. O modelo sugere, igualmente que, com a direcção central da economia, a poupança é imposta aos agentes económicos pela oferta planeada de bens de consumo, logo a limitação real ao crescimento não é a escassez de capital financeiro mas sim a limitação (tecnológica) na capacidade de produção de bens de capital. 55 Sw. = sw . W onde sw é propensão marginal poupar dos salários. 56 Sp = sp . P onde sp é propensão marginal poupar dos lucros. 57 A model of economic growth in The Economic Journal, Dez. 1957
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35
lucro. Embora Kaldor considere a existência de uma igualdade entre a poupança e
o investimento, como condição do equilíbrio económico, o processo que no seu
modelo conduz ao equilíbrio é bastante diferente do de Keynes. Neste modelo
kaldoriano, uma poupança normal superior ao investimento provoca não uma
contracção da produção, mas somente uma baixa de preços que altera a repartição
dos rendimentos sendo, portanto ignorados os fenómenos de expansão e recessão
originados pelo desequilíbrio entre o investimento e a poupança.
De referir, no entanto, que o modelo funciona somente quando as duas propensões
marginais são diferentes, isto é, a propensão marginal a poupar dos lucros sp é
superior à dos salários sw. No caso contrário, isto é, quando sp<sw, a descida dos
preços causará uma diminuição da procura a qual, por sua vez, levará a uma nova
descida de preços. O grau de estabilidade do sistema depende da diferença de
valor entre as duas propensões a poupar, ou seja, depende de (1/sp - sw). O
coeficiente de sensibilidade da distribuição do rendimento58 indica a alteração na
importância dos lucros no rendimento os quais acompanham o aumento dos
investimentos na obtenção dos outputs.
Se a diferença entre as propensões marginais é reduzida, o coeficiente terá um
valor elevado, pelo que, pequenas alterações na taxa de investimento causarão
alterações significativas na distribuição do rendimento. No caso de sw=0, o
montante de lucros é igual à soma do investimento e do consumo capitalista, ou
seja, P = (1/sp) . I, o que está implícito na parábola do jarro da viúva59 de Keynes,
segundo a qual o aumento do consumo dos empresários eleva os seus lucros num
valor idêntico. Esta conclusão é oposta à de Ricardo e de Marx já que para estes,
sendo os salários residuais, os lucros dependiam da propensão a investir e da
propensão a consumir dos capitalistas, o que representa uma espécie de custo
precedente do rendimento nacional. Em relação aos salários reais, estes aumentam
automaticamente, ano após ano, devido ao incremento do output por trabalhador.
Kaldor justifica este comportamento dos salários através da constância, quer da
58 Coefficient of sensitivity of income distribution 59 Widow’s cruse
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taxa de investimento e da poupança marginal dos capitalistas, quer da proporção
de salários no rendimento nacional.
No caso de sw ser positivo, isto é maior do que sp, o total de lucros será reduzido
em função desse aumento da poupança dos trabalhadores. No entanto, dada a
maior sensibilidade dos lucros em relação ao nível de investimentos, o total de
lucros aumenta (ou diminui) num valor mais elevado do que o das alterações no
investimento devido à consequente redução (ou aumento) da poupança dos
trabalhadores.
Com este modelo, Kaldor pretende explicar não só a razão de uma determinada
economia crescer a um certo ritmo, mas também o que leva o rendimento nacional
a ser dividido, segundo determinada proporção, entre lucros e salários.
1.6.4. O modelo matemático de Kalecki
Michel Kalecki60, economista polaco, construiu um dos primeiros modelos
matemáticos que visava explicar os ciclos económicos. Segundo o autor, o
investimento depende das taxas de lucro esperadas e estas, por sua vez, dependem
da taxa de lucro corrente. Quanto maior é o lucro P - escreve o autor - e quanto
menor é o equipamento no capital existente, maiores são em geral as taxas de
lucro esperadas de investimentos novos (Kalecki, M., 1943a, p. 63). Assumindo
que só os capitalistas têm poupança e que esta deve ser igual ao investimento,
teremos que só um determinado volume de lucros pode originar a poupança
60 Kalecki publicou em 1933, em Varsóvia, o artigo Prola Teorij Konjunctuy; em Londres publicou Studies in the theory of economic fluctuations, em 1939; Studies in economic dynamics e Theory of economic dynamics em 1943
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pretendida61, ou seja, um volume de poupança igual ao valor do investimento a ser
realizado.
Vejamos, mais pormenorizadamente, a formulação matemática deste modelo
aplicado a uma economia fechada. Sendo o rendimento nacional Y o somatório
do investimento produtivo bruto I, do aumento das existências (bens intermédios
e de consumo) ∆∆∆∆E e do consumo C e considerando que (I + ∆∆∆∆E) é a acumulação
produtiva, quais serão os componentes da variação do rendimento de um ano para
o outro ?. Assumindo m como a relação marginal capital/produto, o efeito do
investimento sobre o rendimento no ano seguinte será igual ao produto do valor
inverso da relação marginal capital/produto pelo investimento, isto é, (m-1. I).
Registe-se que, se por um lado, a capacidade do equipamento produtivo devido à
obsolescência e ao seu desgaste físico se vai reduzindo anualmente, por outro
lado, este mesmo equipamento é melhor utilizado devido à utilização de novas
tecnologias, novos métodos e técnicas de gestão, ajustamento mais perfeito das
procuras e ofertas inter industriais. A primeira alteração é quantificada pelo
produto a Y e a segunda pelo u Y.
A variação do rendimento ∆∆∆∆Y será dada pela expressão (Murteira, M., 1990,
pp. 119-120):
∆Y = 1
mI - a Y + u Y ou g =
∆ΥY
= 1
m 1
Y - a + u
Se os parâmetros m, a e u se mantiverem constantes ao longo de vários períodos,
o ritmo de crescimento económico, designado por g, será directamente
proporcional à relação I/Y logo, determinado nível de crescimento económico
exigirá que o investimento e o rendimento cresçam à mesma taxa.
61 O autor, chamando B ao lucro, C ao consumo capitalista, I ao investimento, supõe que o consumo se decompõe em consumo constante, C1, e em consumo variável igual a λ B. Temos, pois: B = C1+ λ B + I ou B = (C1 + I) / (1 - λ). Supondo que B = λ B + I, teremos B = I / (1 - λ), ou seja, o lucro é igual ao quociente do investimento pela propensão para a poupança.
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38
Supondo, igualmente, que o aumento das existências S é proporcional ao aumento
do rendimento nacional ∆∆∆∆Y, teremos S = µµµµ . ∆∆∆∆Y em que µµµµ será o período médio
de rotação das existências. Utilizando a formulação anterior, o ritmo de
crescimento será:
g = 1
m + µ .
I S
Y
+ -
m
m + µ . (a - u)
Seja i a taxa de acumulação produtiva igual a (I S
Y
+) e k à soma (m+µ), ou
seja, à relação marginal global capital/produto, teremos:
g = i
k -
m
k (a - u)
Como se vê pela equação, a taxa de crescimento económico g é função da taxa
de acumulação, da relação marginal capital/produto incluindo a variação de
existências, da relação marginal, excluindo aquela variação, e dos parâmetros u e
a que medem, respectivamente, a melhoria da “produtividade” do investimento e
o efeito do desgaste do equipamento.
1.7. AS CONDICIONANTES EXTERNAS NOS MODELOS DE
CRESCIMENTO
1.7.1. Introdução: o comércio como elemento dinamizador do crescimento
Em 1937, Denis Robertson proferiu a célebre declaração o comércio internacional
é o motor do desenvolvimento62. A interacção entre as relações internacionais e o
progresso encontram-se entre as mais controversas das questões de
62 Robertson, D., (1939), A frase completa explica claramente a componente do comércio internacional em que o autor estava a pensar: As especializações do século XIX não foram
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desenvolvimento. A discussão começa na consideração da possibilidade da
existência de potencial dinâmico no comércio internacional. Este foi afirmado
desde o início por Adam Smith (1776) e, como diz Findlay (1984), toda a teoria
do comércio internacional provém do capítulo 7 dos Princípios da economia de
David Ricardo (1817). Mas, para muitos, a vantagem comparativa não é uma
teoria dinâmica, mas um conceito estático.
Aceitando o carácter dinâmico dos contactos internacionais é normal alguns
autores discutirem o sentido da sua influência. Trata-se daquilo a que Hirschman
(1981) chamou a hipótese do benefício mútuo, isto é, será que os contactos entre
economias são benéficos ou prejudiciais ao desenvolvimento, sobretudo para os
países mais pobres ?
A maioria dos autores clássicos e neoclássicos aceitam esta hipótese do benefício
mutuo do comércio internacional. Marx (1867) parecia rejeitá-la. Em 1902, John
Hobson apresenta a tese do “imperialismo” segundo a qual os contactos entre a
metrópole e as colónias eram considerados como os principais promotores do
atraso relativo destas últimas. A importância que esta tese virá a ter deve-se a dois
factos essenciais. Em primeiro lugar, Lenine incorpora o conceito de imperialismo
no modelo marxista e coloca esta visão no centro do problema sócio-económico
fundamental do século XX. Se a questão social63 entre proletários e capitalistas
fora o fenómeno social mais importante do século XIX, as relações entre regiões
ricas e pobres viria a ter a correspondente importância no nosso século64. Os
modelos de interacção entre comércio internacional e desenvolvimento continuam
a ser elaborados, pelo que se multiplicam os modelos em que o comércio com o
exterior é benéfico65 ou maléfico66.
simplesmente um meio para tirar o maior partido dos trabalhos de um dado número de seres humanos: elas foram acima de tudo um motor de crescimento. 63 V. Leão XIII (1891) 64 Paulo VI (1967) 65 Entre os muitos modelos referidos por Findlay (1984), saliente-se o do próprio autor (1980) que iremos analisar neste capítulo. 66 Bhagwati (1958) é um dos maiores defensores da liberdade do comércio. No entanto, no seu modelo, hoje clássico, o crescimento é prejudicado pelo comércio.
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40
Embora aceitando a tese de que o comércio externo contribui para o
desenvolvimento é necessário, contudo, uma dimensão mínima de partida. Esta
tese anteriormente defendida, entre outros, por Smith, Young e Marshall é
retomada por Rosenstein, em 1943, ao afirmar que o desenvolvimento não
consegue verificar-se por evolução normal. É preciso um grande empurrão inicial
para criar as estruturas básicas económicas (infra-estruturais e produtivas) que
suportem um crescimento auto-sustentado. Esta tese, que será desenvolvida no
conceito de balanced growth de Ragnar Nurkse (1952-1953)67 partia de uma
desconfiança nas potencialidades do comércio internacional.
Ranis e Fei (1961), embora reconheçam ao comércio internacional alguma
importância no crescimento, reservam à expansão do sector industrial o papel
principal. O seu modelo pretende esquematizar o processo de acordo com o qual
uma economia68 sai do estado de estagnação secular e chega a um crescimento
auto sustentado, depois de superada uma fase de arranque. Tal como Arthur
Lewis, Ranis e Fei, partindo de uma economia dualista69, afirmam que o
crescimento é possível desde que se assista à expansão do segundo sector
sustentada pela oferta de trabalho, entretanto, libertada pelo sector agrícola devido
aos baixos salários aí praticados.
As relações comércio externo/desenvolvimento, como verificamos, são complexas
e os modelos apresentados são inúmeros. Não sendo um dos nossos objectivos a
apresentação e análise de todos os modelos faremos uma abordagem sintética dos
que consideramos serem os mais representativos.
67 Esta tese havia de ser desafiada, entre outros, por Albert Hirschman (1959) defendendo o unbalanced growth. 68 As características desta economia são: 1) dotação pouco variada de recursos; 2) grande percentagem da população activa na agricultura; 3) taxas elevadas de crescimento demográfico; 4) elevado desemprego oculto no sector agrícola; 5) papel pouco dinamizador do comércio externo. 69 A economia dualista tem dois sectores produtivos, sendo um tradicional (agricultura) e outro moderno (indústria).
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41
1.7.2. As relações de troca no modelo de Ronald Findlay
O modelo de Ronald Findlay (1980) pretende demonstrar a importância das
relações de troca, entre países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, no
desenvolvimento da economia mundial. Tendo-se baseado no trabalho de Raul
Prebish e Hans Singer, que estudaram as relações de troca como factor chave da
divisão internacional do trabalho, Findlay de forma a simplificar a realidade,
propõe a divisão do mundo em duas regiões, isto é, o Norte industrializado e o Sul
menos desenvolvido. Os modelos neoclássico de Solow70 (caracterização das
economias do Norte) e o dualista de Arthur Lewis71 (caracterização das economias
do Sul) são a base para a elaboração da teoria de Findlay sobre as relações de
troca externas e o desenvolvimento. No tocante às relações comerciais a nível
internacional, o autor recorre à teoria desenvolvida por Harry Johnson72
(problemática dos direitos alfandegários).
No modelo, as economias do Norte e do Sul, inicialmente, encontram-se numa
situação de equilíbrio. Verificando-se um aumento do rendimento no Norte,
regista-se, consequentemente, um acréscimo da procura de bens manufacturados e
de bens importados. Surge, então, o desequilíbrio uma vez que o Sul não tem
capacidade para responder imediatamente a esta procura adicional, aumentando o
70 Ver Solow, R. (1956), A Contribution to the Theory of Economic Growth in The Quaterly Journal of Economics, LXX, Fevereiro, pp. 65-94, reed. em Stiglitz e Uzawa (eds.) (1969); Solow, R., (1970), Growth Theory: an Exposition, Oxford University Press, Nova Iorque; Solow, R. (1987), Nobel Lecture – Growth Theory and After in Mäler, K. (ed.) (1992) Nobel Lectures, Economic Sciences 1981-1990, World Scientific, Singapura. 71 O modelo dualista de Lewis pretende demonstrar a importância das relações de troca entre países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, no desenvolvimento da economia mundial. Segundo Lewis, o processo de crescimento económico baseia-se no desenvolvimento do sector moderno através da transferência de mão-de-obra do sector tradicional para a indústria e na reaplicação sucessiva dos lucros gerados pelo sector moderno. O modelo aplicando-se facilmente às economias subdesenvolvidas, parte de três pressupostos: 1) a oferta de mão-de-obra é ilimitada no sector tradicional (agrícola); 2) no sector tradicional a produtividade marginal do trabalho é reduzida ou mesmo nula, pelo que a redução do número de trabalhadores neste sector não conduz à redução da produção; 3) o sector moderno, ainda que incipiente, é composto pelo pequeno comércio, Administração Pública e, eventualmente, por um sector industrial. 72 Ver Johnson, H. G. (1964), Tariffs and Economic Development: some Theoretical Issues in Journal of Development Studies, vol. I, pp. 3-30; Johnson, H. G. (1965), The Theory of Tariff Structure, with Special Reference to World Trade and Development: some Theoretical Issues in Johnson, h. G. e Kenen, P. B. (eds.) Trade and Development, Librairie Droz, Genebra, pp. 1-22
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42
preço dos bens primários e das razões de troca73 θθθθ. No entanto, dado que as razões
de troca têm tendência para se situarem no nível inicial torna-se necessário
aumentar o nível de emprego, ou seja, o número de trabalhadores no Sul. Desta
forma, a oferta de produtos primários cresce e chega para satisfazer o aumento da
procura por parte dos países da região Norte.
O aumento das razões de troca significa uma melhoria para o Sul, na medida em
que recebe mais manufacturas por cada unidade de bem primário entregue o que
leva a um aumento da sua taxa de crescimento, de forma a que o rácio do
emprego74 λλλλ vai aumentando gradualmente, e a razão de troca θθθθ diminuindo até
estabilizar no longo prazo, passando-se para um novo ponto de equilíbrio a que
corresponde a razão de troca inicial ou de longo prazo θθθθ* e o novo rácio de
emprego λλλλ1 .
De acordo com o exposto, verifica-se a existência de uma relação de sinal positivo
entre o desenvolvimento do Norte e o do Sul ou, por outras palavra, ambas as
regiões têm benefícios com o incremento das trocas comerciais entre si.
1.7.3. O crescimento desigual na perspectiva de Paul Krugman
De acordo com a “teoria do desenvolvimento desigual” existe uma tendência para
o agravamento do crescimento desigual. Esta teoria que está associada a radicais
como Baran e Wallerstein, tendo sido defendida, igualmente, por autores mais
moderados como, por exemplo, Myrdal (1957).
Considere-se o mundo dividido em duas regiões, em que o sector industrial com
economias externas cresce graças à acumulação de capital. Assume-se,
73 A razão de troca define-se como o quociente entre os Preços no Sul e os Preços no Norte. 74 O rácio de emprego define-se como o quociente entre o Emprego no Sul e o Emprego no Norte
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43
igualmente, que um pequeno sector de arranque a liderar as manufacturas para a
periferia poderia possibilitar uma acumulação de capital que impedisse a futura
industrialização das regiões menos desenvolvidas. Daí que, em termos de
distribuição do rendimento, se possam identificar dois cenários:
• parte da mão-de-obra empregada é utilizada na agricultura;
• a mão-de-obra está completamente especializada na indústria.
No primeiro caso, a taxa salarial média tenderá a ser mais baixa podendo
considerar-se que, em termos de produtos agrícolas, a taxa salarial é unitária e, em
termos de manufacturas é (PM)-1. A rendibilidade por unidade de capital, medida
em unidades agrícolas é, também, igual à taxa de lucro:
PN = P V
C
M N
N
− e PS =
P V
C
M S
S
−
em que,
PN ; PS - Taxa de lucro do Norte e do Sul PM - Preço do bem manufacturado (incluindo os bens de capital75) VN ; VS - Custo da mão-de-obra por unidade produzida no Norte e no Sul CN ; CS - Custo de investimento em capital fixo por unidade produzida no Norte
e no Sul
Considerando uma região completamente especializada na indústria, a taxa de
lucro é determinada de acordo com uma metodologia kaldoriana76 ou seja, a
poupança é igual a zero se não existir investimento estrangeiro ou, então, a
poupança é por este determinada. Admitindo uma simplificação do lado da
procura, isto é, considerando o comportamento clássico77 das poupanças e que
uma proporção fixa u dos salários é despendida em manufacturas e (1 – u) em
bens agrícolas teremos, dada a inexistência de investimento internacional, taxas de
crescimento do stock de capital e de lucro iguais em cada região.
75 No modelo, por uma questão de simplificação analítica, os bens de capital ou de equipamento são produzidos, apenas, pelo factor produtivo trabalho. 76 Este modelo foi apresentado neste capítulo.
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Supondo, agora, que estamos numa fase inicial de desenvolvimento da economia
mundial e que ambas as regiões não são especializadas, embora o Norte tenha
acumulado mais capital. Como ambas as regiões têm o mesmo preço relativo de
manufacturas, então, as taxas de lucro e de crescimento são maiores na região que
apresente um maior stock de capital, o que constitui a “base de divergência” ou
do “crescimento desigual”.
A especialização das economias do Norte e do Sul, tal como o aumento de stock
de capital numa das regiões, conduz à divergência até se atingir um ponto de
exaustão dos factores de especialização Kmax. Neste ponto, inicia-se um processo
de reaproximação resultante de uma multiplicidade de factores (de natureza
histórica, política, técnico-económica e cultural) que se caracteriza por um fluxo
de capitais mais intenso para as economias de rendimento médio em detrimento
das mais pobres. Assim, o crescimento de stock de capital nas regiões semi-
periféricas passa a ser mais rápido do que nas regiões periféricas e do que nas
próprias regiões mais desenvolvidas levando, por um lado, à diminuição das
desigualdades entre o centro e essa semi-periferia e, por outro, ao agravamento
das disparidades entre esta última e a periferia.
1.7.4. Os capitais externos como factor de crescimento
A moeda, segundo a teoria monetarista, tem um papel importante no
desenvolvimento económico, sendo vários os autores a debruçarem-se sobre
aspectos particulares desta problemática. Por exemplo, enquanto Kouri investiga o
impacto78 de uma sobrevalorização da moeda de um país correspondente a uma
pequena economia aberta, Branson e Katseli comparam as taxas de câmbio
flutuantes com as fixas na tentativa de analisar uma política de ligação entre a
77 Numa pequena economia aberta, todos os lucros, e só estes, são poupados. Este pressuposto só é aplicável a pequenas economias abertas com investimento estrangeiro. 78 Distorção dos preços em termos de investimento e crescimento da economia.
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45
moeda nacional e uma outra (principal) ou a um cabaz de moedas79. Já M. Bruno
se debruça sobre a escassez de divisas que, no seu entender, constitui um factor
condicionante do crescimento económico.
O modelo de M. Bruno foi aplicado em Israel, nos anos 60 e 70, numa altura em
que os capitais externos foram fundamentais para superar a escassez relativa, quer
em termos de factor produtivo capital, quer em termos de consumo interno.
Em relação à parte analítica do modelo, este tem por base 12 equações, em que
sete descrevem a estrutura da economia, três especificam as limitações de recursos
e duas são equações de definição. O modelo de Michael Bruno, posteriormente
reduzido a 4 equações torna-se mais eficiente, permitindo estudar a estrutura da
economia e a limitação de recursos, bem como quantificar a formação total de
capital e do PNB. Inspirando-se nas análises de Tinbergen e Theil, que
consideram vários tipos de variáveis nos modelos de política económica, Bruno
utilizou quatro tipos de variáveis, a saber:
1. Variáveis endógenas - variáveis cujo valor é determinado por forças que
operam dentro do modelo, ou melhor, variáveis que são “explicadas” pelo próprio
modelo, tais como, o produto, o consumo e o investimento.
2. Variáveis objectivo - variáveis que “suportam” a elaboração do modelo80, ou
seja, as exportações e importações, a poupança e o stock de capital, bem como a
oferta e procura de mão-de-obra.
3. Variáveis instrumentais - variáveis que, embora não sendo totalmente
controladas pelas autoridades políticas governamentais, podem ser por elas
influenciadas. Neste grupo incluem-se as despesas públicas correntes, os fluxos de
capitais, a propensão marginal a poupar, as taxas de desemprego, o crescimento da
produtividade do factor trabalho e a taxa de câmbio real.
4. Variáveis exógenas - variáveis que, embora desempenhando um papel
importante no modelo, são determinadas por forças exteriores a ele, daí não serem
79 Este estudo pretende analisar a perda de graus de liberdade de flutuação e sua possível influência no desenvolvimento económico. 80 Estas variáveis, no momento inicial do estudo, são consideradas exógenas.
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46
explicadas pelo modelo. Aqui consideram-se o tempo, o preço de exportação do
sector e o stock de capital81.
O modelo chama a atenção para o papel relevante desempenhado pelo
investimento estrangeiro num processo de desenvolvimento económico. M. Bruno
preocupado com as questões sociais elaborou ainda uma função Bem-estar
Social82 que traduz a existência de uma relação entre o bem-estar social, o
consumo total, o afluxo de capitais estrangeiros e o stock de capital.
1.8. RESUMO E CONCLUSÕES
O crescimento económico, entendido como um aumento do produto nacional,
permite a avaliação do desempenho de uma economia. No entanto, as conclusões
daí tiradas não são particularmente esclarecedoras já que os aspectos sociais,
organizativos e institucionais não foram tratados. Assim, torna-se necessário
recorrer ao conceito, muitas das vezes confundido ou utilizado indiferentemente,
de desenvolvimento. O desenvolvimento além da componente quantitativa
(aumento do rendimento nacional) implica alterações qualitativas no nível de
bem-estar. O desenvolvimento económico deverá ter na sua raiz competências,
factores e recursos humanos que assegurem o desenvolvimento como um processo
continuado e dinâmico capaz de se auto alimentar. O processo de
desenvolvimento é um processo de rotura criadora e inovador que deve ter como
prioridade absoluta o HOMEM numa perspectiva de longo prazo. Daí que,
perante a perenidade da actividade humana, da qualidade ambiental e dos recursos
naturais, seja extraordinariamente importante a conservação dos recursos em
condições satisfatórias para as gerações seguintes. O desenvolvimento económico,
social e humano só é efectivo quando se preocupa não apenas com a satisfação
81 Stock de capital inicial utilizado e final não utilizado. 82 A função seria do tipo (cit. Sousa, 1997, p. 294): W = W [ ( C + G ), F, K ] onde W - Bem-estar social; C - consumo privado; G - despesa pública; F - afluxo de capitais estrangeiros; K - stock de capitais ou PNB.
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das necessidades essenciais mas, também, com a instauração de um processo
dinâmico de participação dos agentes sociais, isto é, da população em geral, das
empresas, das instituições públicas e das organizações patronais e sindicais
(Reigado, 1999).
As diferentes abordagens, as variáveis utilizadas e os vários pressupostos em que
se baseiam as análises do processo de desenvolvimento, reflectem-se na
quantidade de modelos apresentados ao longo da história da ciência económica.
Os modelos de crescimento/desenvolvimento analisados permitem-nos identificar
quatro "motores" essenciais, nomeadamente: acumulação de capital/investimento,
inovação, vantagens comparativas e dimensão de mercado.
A acumulação de capital e a sua consequente aplicação nas actividades
produtivas através do investimento é, sem dúvida, o elemento comum às teorias
clássica e keynesiana. Partindo da formação e distribuição da renda fundiária e
porque a terra cultivável é escassa, Smith e Ricardo concluem que a economia
tende para um estado estacionário só possível de contrariar através do recurso a
novas técnicas de cultivo e ao comércio externo. Keynes, sob a influência da
Grande Depressão, ao contrário dos economistas clássicos, demonstra que o
equilíbrio e o crescimento económico são possíveis a níveis diversos de
subemprego dos factores de produção. Para tal, é necessário apoiar e fomentar o
investimento de capital e desincentivar a capitalização. Por outro lado, a despesa
pública (que inclui o investimento público) pode colmatar o déficit de
investimento privado de forma a manter o crescimento económico.
Considerando que a poupança dos trabalhadores é nula, parafraseando Kaldor os
capitalistas ganham aquilo que gastam e os trabalhadores gastam aquilo que
ganham (cit. Sen, 1971, p. 85), os neokeynesianos apresentam vários modelos em
que o crescimento depende directamente do investimento, da despesa pública e do
comércio externo. Kalecki, no entanto, faz referência às novas tecnologias e
Kaldor ao afirmar que o rendimento é uma função do progresso técnico inclui-o
nos elementos propiciadores do crescimento.
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No entanto, é só com Schumpeter que as novas tecnologias e a inovação, num
sentido mais lato, são reconhecidas como um motor do crescimento equacionado
numa perspectiva de desenvolvimento. É, aliás, a partir deste momento que o
desenvolvimento é entendido não como a simples expansão das quantidades, mas
um processo diferente, mais complexo e profundo que implica saltos quantitativos
e modificações qualitativas no processo económico, as quais derivam, por sua vez,
de inovações83.
As vantagens comparativas e o alargamento do mercado podem considerar-se
como os outros motores do desenvolvimento fechando, assim, o triângulo -
investimento, inovação, comércio externo - dos elementos dinamizadores do
desenvolvimento económico, social e humano sustentável84.
A abertura ao exterior proporcionada pelo desenvolvimento do sector moderno
(leia-se indústria e alguns serviços), segundo os modelos de Ranis e Fei e de
Arthur Lewis, o reforço das relações de troca entre o Norte industrializado e o Sul
pouco desenvolvido , preconizado por Findlay, ou o afluxo de divisa estrangeira e,
particularmente, o investimento directo estrangeiro, como defende M. Bruno, são
também a base de modelos de desenvolvimento.
A análise do tratamento dado às questões do crescimento versus desenvolvimento
e tendo em consideração que a economia mundial é, hoje mais do que nunca,
aberta e global leva-nos a concluir que a promoção do desenvolvimento
económico, social e humano não se enquadra num "modelo único" em que se
privilegia um elemento em detrimento dos outros. Assim, o desenvolvimento,
enquanto processo essencialmente qualitativo de alteração da realidade económica
e social em que o homem é simultaneamente o destinatário e obreiro, deve
83 Por inovação Schumpeter entende: 1) a introdução de um novo bem; 2) introdução de um novo método de produção; 3) abertura de um novo mercado; 4) conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas; 5) estabelecimento de uma nova organização em qualquer produção. 84 O desenvolvimento sustentável implica, por um lado, o reconhecimento da perenidade da actividade humana e de que o desenvolvimento económico e social depende da qualidade do ambiente e dos seus recursos naturais e da respectiva conservação em condições satisfatórias e, por outro, a alteração do padrão de comportamento dos cidadãos em relação ao meio ambiente e aos recursos naturais.
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apoiar-se no triângulo formado pelo investimento público e privado, a inovação e
as relações externas (comércio e investimento85). Neste contexto, assumem
primordial importância as questões ambientais e territoriais.
Exceptuando os dualistas, que se referem explicitamente a duas regiões do globo -
Norte e Sul - e os neoclássicos com a sua breve referência à localização das
capacidades produtivas como elemento influenciador do crescimento económico,
nos modelos analisados, o factor território não foi considerado como uma variável
importante que pode e influencia, de facto, o processo de desenvolvimento. Este
não foi territorializado e, por conseguinte, não responde a questões como:
• quais as razões que levam as empresas a localizarem-se em determinado
espaço/região, ou seja, quais os factores de localização empresarial ?
• o que leva ao desenvolvimento de um determinado território ?
• qual a razão para o processo de desenvolvimento decorrer de uma forma não
homogénea pelo território nacional versus regional?
Na tentativa de dar resposta a estas questões analisaremos no capítulo seguinte,
entre outros, os modelos de localização das actividades económicas e dos
equipamentos públicos.
85 Actualmente, o Investimento Directo Estrangeiro tem um papel importante na esforço de desenvolvimento da economia. Como reflexo desta realidade veja-se a luta entre os países para atraírem o IDE concedendo benefícios fiscais e outras condições excepcionais .
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2.TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
2.1. INTRODUÇÃO
Durante muito tempo, os economistas desenvolveram as suas análises económicas
sem terem em consideração as variáveis tempo e espaço, ou parafraseando
Marshall (1966, p. 9), os fenómenos económicos eram estudados no momento t
(ignorava-se a sua duração temporal) e no ponto p (não se considerava o factor
distância). A variável tempo é integrada na análise económica pelos marginalistas
com o desvio produtivo de Menger (1871) e com a depreciação do futuro de
Böhm-Bawerk (1889), por Alfred Marshall (1890) ao distinguir o curto do longo
prazo e por Wicksell (1898) com a teoria das antecipações e a análise ex-ante e
ex-post.
A integração do espaço na análise económica é efectuada, ainda, mais tarde. Em
1953, André Piatier afirmava que a pesquisa económica a déjà fait la révolution
dynamique, alors qu’elle n’a pas encore accompli son integration spatiale. La
théorie économique s’est renouvellée au contact du temps mais elle reste encore
rebelle à l’espace (Ponsard, C.,1955, p. 8). Em economia abstracta, como escrevia
Ponsard em 1955, os postulados e as análises são tais que a explicação é
apresentada independentemente das coordenadas espaciais, sem quaisquer
preocupações de explorar as realidades dum ponto de vista dimensional, mesmo
nos casos em que essa exploração podia ser quase imediata (citem-se, por
exemplo, os custos de transporte que são diluídos nos custos gerais). Este
raciocínio (a vida económica decorreria num único ponto) leva os economistas a
construir um mundo extraordinário, um mundo pontiforme, classificado por
Walter Isard (1960, pp. 25-26) como o país das maravilhas sem dimensões.
Cantillon (1775), considerado um dos percursores da teoria clássica de
localização, viria a afirmar que a organização do espaço assenta em princípios
extremamente simples de economias de tempo e de transportes. Ricardo (1897) ao
desenvolver a teoria da renda fundiária foi levado a analisar os ajustamentos nos
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rendimentos não só devido às diferenças de fertilidade das terras, mas também
devido à distância que separa os locais de produção dos de consumo. Mas, para os
economistas, os custos de transporte são incluídos nos custos gerais de produção.
Paradoxalmente, seria necessário esperar pela “revolução dos transportes” e pela
redução considerável do seu peso relativo nos custos, para que as despesas com o
transporte ganhem autonomia e sejam considerados como uma rubrica e,
consequentemente, passem a ser objecto de análise.
Só com Colson, Weber e Palander, no início do século XX, é que os custos de
transporte são definitivamente tratados como uma categoria especial com carácter
estratégico para os modelos de localização. Os progressos na teoria da
“tarificação” com a distinção entre custo constante e custo variável, custo médio e
custo marginal serão, ainda, mais tardios.
As funções da oferta e da procura, as propensões a consumir e a investir, etc.
aparecem igualmente como grandezas não localizadas. Efectivamente, pressupõe-
se uma mobilidade perfeita dos factores de produção e dos produtos, como se a
oferta e a procura não fossem localizadas, ou por outras palavras, o seu preço não
varia em função da sua localização. A teoria dos preços é dominada pela lei da
igualdade dos preços no mercado de factores de produção. No entanto, ao nível da
economia internacional, Ricardo reconhece que a mobilidade dos factores de
produção (mão-de-obra e capital) é imperfeita. Ohlin (1933) sublinha que as
condições de mobilidade imperfeita são comuns às trocas internacionais e às
trocas inter-regionais. Para Hoover, a mobilidade imperfeita nas trocas externas
está ligada, entre outros factores, à existência de uma “fronteira" que, além das
fronteiras políticas entre Estados, inclui todos os obstáculos físicos, jurídicos e
outros que dificultam as trocas e que, agindo como elementos de localização das
empresas, podem levar a distorções na movimentação dos factores de produção e
de produtos (Hoover, 1948, pp. 215-248).
Von Thünen, A. Weber, W. Christaller, H. Hotelling e A. Lösch são considerados
os principais representantes das teorias clássicas da localização. Assim, von
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Thünen (1826) explica a localização da empresa agrícola recorrendo às causas que
originam as diferenças de utilização da terra cultivável. Weber (1909), numa
altura em que o factor produtivo capital ganhava a maior importância, interessa-se
pela localização da empresa industrial. Para o autor, a localização óptima da
empresa será não num ponto, mas numa área definida em função dos custos de
transporte e da mão-de-obra e das economias de aglomeração. Hotelling (1929),
partindo de um modelo abstracto86, demonstra que a concorrência leva à
concentração e não, como seria de esperar, à dispersão. Christaller (1933)
desenvolve a teoria dos lugares centrais87 com a qual pretende justificar a
dimensão, o número e a distribuição de lugares centrais. Segundo Christaller há
uma lógica no padrão de ordenamento dos lugares centrais definida em função da
optimização simultânea da localização das empresas fornecedoras de serviços
produtivos em relação à localização dos concorrentes. August Lösch (1940; 1954)
distancia-se dos antecessores ao introduzir no seu modelo os mecanismos de
mercado88 e ao admitir que a hierarquia dos pontos de oferta é flexível.
Estas teorias clássicas ao privilegiarem o espaço como distância e como
condicionante de mobilidades (Reis, 1988, p. 122) não conseguem integrar, de
forma sistemática, os problemas da escolha óptima da localização com os
problemas do desenvolvimento económico. É após a II Guerra Mundial,
segundo Reigado (1999, pp. 1-6) que se faz um grande esforço no sentido da
integração. Myrdal (1956) introduz o princípio da cumulatividade dos efeitos ou
causas na concentração geográfica das actividades económicas89. Assim, e
segundo Myrdal, a localização de uma nova actividade económica, desde que
tenha uma razoável dimensão, leva ao aumento do emprego e da população que,
por sua vez, atraíria novas actividades se, entretanto, fosse formado um mercado
86 Dois vendedores de gelados estão situados em extremos opostos de uma praia fechada. 87 Segundo Christaller, a centralidade de um lugar define-se como a razão entre todos os serviços que o lugar presta e os serviços necessários aos seus residentes, o que permite ver a importância relativa de um lugar face à região em que se insere. 88 Segundo Lösch, a distribuição das matérias primas é uniforme, os custos de transporte são iguais em todos os pontos de um plano homogéneo, a população está distribuída uniformemente e tem gostos idênticos. 89 Paralelamente aos efeitos cumulativos ou spread effects, verificam-se efeitos negativos ou backwash effects
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de trabalho qualificado. Isard (1956) introduz na teoria da localização o conceito
input de transporte definido como o movimento de uma unidade de produto
ponderada por unidade de distância. Greenhut (1956; 1963) tenta determinar as
condições da localização equilibrada das empresas cujo objectivo é a
maximização do lucro90. Lefebre (1958) inclui os custos de transporte como
elementos "chave" da sua teoria de equilíbrio abandonando, por conseguinte, os
custos de transporte nulos. Allen Pred (1966) acentua as qualidades pessoais e a
managerial intelligence no processo de decisão locacional. O ambiente que rodeia
o empresário é, segundo Pred, importante no seu comportamento. De referir que o
comportamento dos agentes económicos está a mudar de um comportamento
maximizador para o de optimização. Aliás, o mapa mental, isto é, a imagem
subjectiva do conhecimento espacial que o empresário tem sobre certa localização
é, segundo, Pallenbarg (1985) um elemento que condiciona com frequência a
escolha da localização (cit. Reigado, 1999, p. 12).
A localização das actividades económicas exerce, cada vez mais, uma influência
determinante no desenvolvimento regional. A indústria é, por muitos, considerada
o sector dinâmico por excelência já que exerce fortes efeitos denominados
linkages sobre as demais actividades económicas, sendo exercidos a jusante e a
montante dessas actividades. A localização dos serviços é, dado o emprego que
proporciona e o seu volume de negócios, visto como uma das formas de promover
o desenvolvimento.
Os equipamentos terciários, tal como as actividades produtivas, têm vindo a
considerar-se extremamente importantes para o desenvolvimento nacional versus
regional levando os agentes económicos e as autoridades públicas a debruçarem-
se sobre a sua localização.
A teoria da localização, neste século, tem evoluído de um modo significativo tal
como se pode verificar no quadro 2.1.
90 Greenhhut admite ainda: 1) os custos são variáveis; 2) a procura pode ser afectada pela possibilidade da interdependência da localização; 3) introdução de inovação a qualquer momento desde que a economia seja desenvolvida.
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Quadro 2.1
Evolução da economia espacial
Dé-cada
Contribuição da economia geral à
econo-mia espacial
Problemas espaciais
Questões económicas espaciais
Teorias espaciais
Políticas Espaciais
1820 Ricardo: ignora o espaço na teoria das trocas internacionais
von Thünen: integração do espaço na teoria da renda fundiária
1890 Marshall: economias externas
1910 Microeconomia, Teoria do imperialismo
Localização óptima da empresa, substituição dos factores de produção
A.Weber: teoria da localização da indústria Prédohl: teoria das áreas de mercado
1930 Teoria dos preços de monopólio
Aspectos regionais da crise da Grã-Bretanha
Função comercial das cidades
Palander, Christaller: teoria dos lugares centrais
Início do ordena-mento do território na Grã-Bretanha
1940 Espaço – perturbação do óptimo
Lösch: localização e equilíbrio geral
1950/ 1960
Teoria do desenvolvimento
Crescimento urbano, desenvolvimento regional desigual, descentralização industrial
Domínio Hoover, Isard, Greenhut, Perroux: equilíbrio geral e localização, teoria dos pólos de crescimento Myrdal: Princípio da cumulatividade de efeitos. Análise input-output. Teoria da localização intra-urbana: modelos urbanos
Início do ordena-mento do território na França e Itália, políticas de planeamento dos transportes Política dos pólos e dos complexos industriais – políticas de alojamento
1970 Teoria do imperialismo Novas abordagens ao desenvolvimento: desenvolvimento a partir de baixo (Sthör)
Peri-urbanização Desenvolvimento regional em período de crise
Desenvolvimento territorial
Paelinck: Econometria espacial – nova economia urbana Friedmann, Stöhr: divisão espacial do trabalho – teoria do desenvolvimento autocentrado
Políticas imobiliárias - planeamento regional
1980 Economia industrial, análise de fileiras Ambiente inovador (Aydalot, Camagni, Lacour, Perrin)
Introdução no espaço de novas tecnologias – crise da urbanização
Etapas do crescimento urbano, declínio urbano, criação de empresas, tecnologia e espaço
Políticas de apoio à utilização inovadora dos recursos endógenos
1990 Economia pública, da inovação e do ambiente (ecologia)
Dotação desigual de factores imateriais de desenvolvimento, degradação ambiental
Reforço da base local de desenvolvimento
Políticas de apoio à ciência e cultura e ambiente, enquanto factores de desenvol-vimento
Fonte: Traduzido e adaptado de Aydalot, P., (1985) Economie régionale et Urbaine, Economica, Paris, pp. 12-13
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A elaboração dos modelos macroeconómicos adaptados à realidade regional
apresenta algumas dificuldades, entre as quais se destacam a falta de informação
estatística regionalizada e a existência de forças externas não controláveis pelos
responsáveis da política económica. De entre estes modelos, realçamos os
modelos de base nas exportações de Friedman (1966) que conjuga as teorias do
comércio internacional e a dos ciclos económicos.
Os modelos de desenvolvimento regional assentam em dois paradigmas, isto é, no
funcional e no territorialista. No primeiro caso, o desenvolvimento é funcional, o
seu motor é o progresso técnico e o território é considerado como o espaço onde a
actividade económica se desenrola. Pelo contrário, no desenvolvimento
territorialista, o território é um elemento activo que influencia o desenvolvimento
da região. Nesta perspectiva, o desenvolvimento regional terá lugar, em nosso
entender, devido a uma conjugação de factores endógenos (Stöhr, 1981) e de
factores externos (Hilhorst, Jacobs, 1984).
O desenvolvimento das regiões, independentemente dos factores ou paradigmas
em que se alicerça, não é uniforme em todos os espaços ou, por outras palavras, as
regiões com maior capacidade inovadora e melhor dotadas de recursos humanos e
naturais têm um desenvolvimento mais rápido assumindo-se como centros e as
restantes como periferia. Myrdal (1957), tal como outros autores, destaca os
desequilíbrios crescentes entre regiões e apela à inovação para quebrar este ciclo
vicioso.
Em posição contrária à teoria do centro-periferia parece estar a teoria dos pólos de
crescimento de Perroux (1955) segundo a qual os pólos, assentes nas indústrias
motoras e indústrias chave, têm efeitos de dispersão. O desenvolvimento regional
equilibrado seria, assim, obtido mediante a concentração do investimento em
indústrias motoras localizadas em pólos interligados entre si. Estes pólos
formariam uma rede de modo a favorecer a propagação dos efeitos de dispersão
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56
Pelo atrás exposto, dividimos este segundo capítulo em duas partes: na primeira
debruçamo-nos sobre as teorias da localização e na segunda analisamos os
modelos e teorias do desenvolvimento regional.
SECÇÃO I – TEORIA E MODELOS DE LOCALIZAÇÃO
2.2. MODELOS DE LOCALIZAÇÃO DAS ACTIVIDADES ECONÓMICAS
2.2.1. A teoria da localização
O problema mais simples que se coloca na análise da localização óptima é o de
uma empresa que utiliza somente uma matéria prima, produzida em M, e que a
transforma através de um processo produtivo, só numa fase, num único produto
final, transaccionado num mercado exclusivo situado em C. Admitindo que os
custos de produção são idênticos para qualquer ponto escolhido, então a sua
localização será no ponto da recta MC em que se minimizam os custos de
transporte, ou seja, no ponto Z. Se o custo por Km de matéria prima transportada
necessária para produzir uma unidade do produto final é tM e o custo por Km por
unidade de produto final transportado é tC , teremos que os custos totais de
transporte T serão:
T = tM MZ + tC CZ e CZ = MC – MZ
sendo,
MC - Distância percorrida entre o mercado de matérias primas e de produtos finais
MZ - Distância percorrida entre o mercado de matérias primas e o local onde se situa a empresa
CZ - Distância percorrida entre o mercado de produtos finais e o local onde se situa a empresa
Escolhendo Z de modo a minimizar T teremos várias situações,
nomeadamente (Richardson, 1978, pp. 43-44):
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• se tM > tC - a empresa minimizará MZ e situar-se-á em M, donde MZ = 0;
• se tC > tM - a empresa situar-se-á onde se maximiza MZ91, ou seja em C,
donde MZ = MC;
• se tM = tC - os custos de transporte serão iguais a tC MC, independentemente
da localização da empresa, o que nos conduz à indiferença locacional.
Os pontos extremos são os preferidos para a localização da empresas em duas das
três situações anteriores. Mesmo no terceiro caso, um dos pontos extremos é tão
desejável como qualquer outro. Os custos de transporte tendem a diminuir com o
aumento da distância devido aos custos com as operações nos terminais de carga
serem fixos, pelo que a empresa escolherá o sistema de transporte com o menor
custo médio para a totalidade do trajecto ou, no caso de o transporte necessitar de
vários meios, o ponto de transbordo.
Mas, será que as decisões de localização assentam exclusivamente nos custos de
transporte ? A resposta a esta questão parece-nos indicar que, paralelamente aos
custos de transporte, os motivos pessoais (proximidade ao local de nascimento92 e
à família, as preferências geográficas) têm sido importantes na tomada de decisão
locacional 93. Por outro lado, um estudo de Greenhut e Colberg (1962) sugere que
os factores de índole exclusivamente pessoal são importantes apenas quando
possuem alguma dimensão económica, tais como as relações com os fornecedores
e a banca, um ambiente ou clima agradável que atraem gestores e quadros
técnicos. Tiebout (1957) salienta que as pequenas empresas tendem a conceder
mais importância aos factores pessoais nas decisões de localização do que as
grandes. Isto deve-se, entre outras razões, ao facto de a decisão ser tomada por um
pequeno grupo de pessoas, à existência de outros objectivos importantes além da
maximização dos lucros, à dependência do capital local e das condições locais de
oferta e procura para iniciar o projecto com êxito. Contudo, a investigação do
processo de decisão sugere que as preferências espaciais se baseiam, em larga
91 Neste caso, teremos que tM – tC = 0 92 Cite-se, por exemplo, a indústria automobilística de Detroit, a fábrica de tabaco e a empresa farmacêutica Boots, ambas em Nottingham, 93 Ver Chapman e Wells, 1958; Katona e Morgan, 1950 e 1951; Malinowski e Kinnard, 1961.
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medida, em impressões e não em factos conhecidos. Aliás, para Pred (1967), a
tomada de decisão locacional é efectuada na base de informação muito imperfeita.
Gould94 (1966) e, posteriormente, Pallenbarg (1985) confirmam esta hipótese ao
apresentar o mapa mental, isto é, a imagem subjectiva do conhecimento espacial
como um factor importante na escolha da localização óptima não só pelos
consumidores, mas também pelos produtores (cit. Reigado, 1999, p. 12). O autor
considera, ainda, que os agentes económicos agem, muitas das vezes, na fronteira
da racionalidade económica, pelo que as suas escolhas devem ser abordadas de
forma probabilística.
2.2.2. A localização da actividade agrícola
Cantillon (1755) pode ser considerado como o percursor dos modelos explicativos
da organização espacial da sociedade. A organização social, segundo Cantillon,
encontra-se subordinada à terra transformada em riqueza pelo trabalho: La terre
est la source ou la matière d’où l’on tire la richesse: le travail de l’homme est la
forme qui la produit: et la richesse en elle même n’est autre chose que la
nourriture, les commodités et les agréments de la vie (Cap. I)95. À organização
social que leva a distinguir entre trabalhadores e proprietários (e Estado)
corresponde, segundo Cantillon, uma organização do espaço assente em
princípios, extremamente simples e óbvios, de economias de tempo e de
transportes, o que leva à existência de dois circuitos económicos que se
equilibram, isto é, um horizontal expresso em termos espaciais pelas
transferências campo-burgo-cidade-capital e outro, vertical, associado às classes
sociais existentes e às relações entre elas. A consideração dos fluxos e das
variações dos preços com a distância permitiu a Cantillon, muito antes de von
Thünen, aproximar-se dos círculos concêntricos e demonstrar que os preços
94 Ver Gould, 1966 e 1967; Gould e White, 1968 95 Ver, Cantillon, R. (1755) Essai sur la Nature du Commerce en Général, Londres. Como referência tomou-se a tradução para francês do INED de 1952
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determinam a distribuição das culturas à volta dos aglomerados urbanos, tendo em
consideração os meios de transporte e o seu custo.
O modelo de von Thünen, apresentado em 1826, embora tenha sido o ponto de
partida para vários autores da localização industrial, é um modelo de localização
agrícola. No seu trabalho principal, o autor admite que os produtos agrícolas são
oferecidos no mercado em situação de concorrência: a produtividade, os custos de
transporte (embora agregados nos custos gerais) e a procura, conjuntamente, irão
determinar a localização das várias produções em círculos concêntricos à
aglomeração urbana. Como os custos de transporte aumentam com a distância,
esta determina a selecção das culturas, de tal forma que a diminuição dos custos
de transporte permitirá o afastamento das explorações agrícolas do centro dos
aglomerados populacionais. Assim, os produtos agrícolas com elevada
produtividade por hectare - ha -, e que não possam ser facilmente transportados
ou que se deteriorem com relativa facilidade, disputam entre si o espaço que
rodeia o mercado. Por outro lado, a renda desse solo será elevada devido à melhor
acessibilidade ao local de venda incentivando a sua utilização intensiva.
A relação existente entre duas produções agrícolas (por exemplo, trigo e ervilhas)
pode ser generalizada para o conjunto dos sectores de actividade económica
através da equação apresentada por Polèse (1998, p. 298):
R = Σ Ei (pi – ai) – Ei fi k
onde,
R - Renda por ha. E - Rendimento por ha, para o produto i (número de unidades de i ) p - Preço unitário de venda de i a - Custo unitário de produção de i f - Custo unitário de transporte do produto i por Km k - Distância em relação ao mercado
O valor de E (pi – ai), ou seja, o preço máximo que a empresa está disposta a
pagar por um ha de terreno, depende do rendimento obtido e da diferença entre o
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preço do produto no mercado e o seu custo de produção96. Assim, a renda
fundiária máxima que a empresa pagará para se localizar no centro, é uma função
de E, ou seja, do número de unidades de produto que ela consegue obter num ha.
À medida que a empresa se afasta do ponto central, a sua renda diminuirá por
acção de k em proporções iguais a Ef97. Os elementos renda e custo de
transporte são, por conseguinte, a chave do modelo: quanto maior for o
rendimento do solo que um utilizador obtiver e quanto mais sensível ele for aos
custos de transporte (em relação a um ponto central pré-definido) mais disposto
estará a pagar para aí se instalar (ibid., p. 299).
Numa situação em que não houvesse concorrência para a ocupação dos solos,
qualquer empresa ocuparia o interior desde o centro de mercado até uma distância
em que o custo de transporte esgotasse o lucro bruto da produção. Uma vez que
esta situação não ocorre, estão criadas as condições para se gerarem os anéis ou os
círculos concêntricos de von Thünen.
Regressando à actividade agrícola, as culturas que ocupam os anéis mais
próximos apresentam lucros brutos de produção mais elevados por unidade de
terra ocupada, podendo, por isso, ser consideradas culturas nobres. As outras, isto
é, as culturas que se localizam nos círculos mais afastados têm um menor
rendimento bruto por unidade de terra ocupada, mas, devido ao seu baixo custo de
transporte, elas competem com as culturas nobres e atingem o mercado. De um
modo geral, conclui von Thünen, a empresa agrícola que estiver mais próxima
dos consumidores terá maior rendimento. Posteriormente, o autor viria a admitir
que os obstáculos naturais e as diferenças de fertilidade do solo e de condições de
acesso podiam alterar o padrão teórico dos anéis.
96 Admitindo um mercado de concorrência perfeita (p = a) e que o custo de produção inclui o lucro “normal” esperado pela empresa. 97 Ef define o declive da curva da renda. O utilizador com um Ef de valor mais baixo localiza-se no ponto, leia-se círculo, mais distante do centro populacional.
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61
A análise da distribuição espacial das produções agrícolas foi desenvolvida
apoiando-se num conceito de renda idêntico ao de Ricardo98. Com efeito,
enquanto Ricardo compara os resultados que se obtêm cultivando certo tipo de
solo com os obtidos em solo tido como marginal, von Thünen recorre à distância,
via custos de transporte, como factor gerador de resultados diferentes. Assim, por
exemplo, espera-se que a procura em função da distância ao mercado seja mais
elástica para um cereal do que para os vegetais frescos99.
Não obstante as limitações do modelo, a abordagem de von Thünen veio a inspirar
vários desenvolvimentos teóricos (particularmente em planeamento urbano), já
que os custos unitários de transporte e o preço do solo são, normalmente,
tomados, em meio urbano, como funções decrescentes da distância ao centro. O
grau de acessibilidade e a procura do solo nas áreas urbanas são, em regra, tidos
como determinantes dos custos de transporte e da renda urbana, pelo que,
nalgumas circunstâncias, se admite a sua complementaridade (Wingo, 1961 e
Alonso, 1964).
Partindo dos círculos concêntricos de von Thünen e generalizando os conceitos de
rendimento100 e de custo de transporte101, é possível elaborar um modelo de
utilização do solo para um espaço urbano. Alonso (1964) refere que numa cidade
centralizada (com um centro), uma empresa dedicada à produção de bens de
consumo ou a actividades de serviços terá de equilibrar, aquando da escolha da
localização, as vantagens de estar próxima do centro, em contraposição aos
aluguéis mais altos que aí se praticam ou, por outras palavras, a empresa localiza-
98 Há quem afirme que von Thünen desenvolveu o seu conceito de renda independentemente de Ricardo (Chisholm, 1968, p. 21). 99 Por exemplo, Blunden (1977, pp. 18-19), embora com um tratamento relativamente diferente, apresenta uma situação real em que se pretende decidir acerca da localização mais conveniente da produção de uma gama relativamente estreita de vegetais de alta qualidade, a cultivar em estufa, para abastecimento de uma área do S.E. da Inglaterra. 100 A noção de rendimento monetário por há, E , exprime os rendimentos que um utilizador obtém se explorar um ha de terra. A capacidade de retirar de uma unidade de terra mais rendimento que outro produtor depende, sobretudo, da intensidade de exploração e, consequentemente, das condições tecnológicas de produção. 101 A noção de custo de transporte f não se reduz aos custos directos. Para a análise do espaço urbano, f deve ser encarado como um custo de interacção espacial que inclui as comunicações interpessoais, as deslocações diárias, os custos de transacção e o custo de oportunidade do tempo consagrado às deslocações e comunicações.
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se no ponto em que o aluguer real da terra iguala o aluguer que a empresa está
disposta a pagar de forma a maximizar o lucro. A resolução deste problema passa,
segundo o autor, pela adopção do conceito de função de oferta de aluguer102
(Richardson, 1973, p. 79). Neste modelo, o aluguer de terrenos distribui as
actividades económicas espacialmente em função das necessidades de
acessibilidade. Polèse (1998), retomando este problema, apresenta a sua cidade
hipotética: o centro está ocupado por escritórios e lojas especializadas, a seguir
vem alguma indústria ligeira (confecção de vestuário por medida, artes gráficas)
e algumas funções de armazenagem e de distribuição, depois há as zonas
residenciais, zonas de indústria pesada e, finalmente, terras utilizadas na
agricultura (Polèse, 1998, p. 299). Embora não se conheça nenhuma cidade com
esta distribuição verifica-se, no entanto, em todas as grandes cidades a existência
de um ponto ou mais pontos centrais onde os preços atingem um máximo. À
medida que nos afastamos desse(s) ponto(s) os preços103 diminuem, não
uniformemente, consoante as condições locais.
Uma das críticas mais frequentes ao modelo de von Thünen é a sua
“artificialidade”. Chisholm (1968) contra argumenta, afirmando que, mesmo
quando algum aspecto do modelo não é aplicável em determinado lugar, não há
razão para generalizar a sua inaplicabilidade, do mesmo modo que, se a aplicação
não for possível em determinada escala, nada nos garante que não seja noutra. De
referir que, efectivamente, será extremamente difícil encontrar os padrões de
utilização do solo com regularidade concêntrica. No entanto, não são raros os
casos em que a ocupação do solo aponta para comportamentos que se ajustam, em
termos gerais, às conclusões esperadas da construção de von Thünen.
102 As funções de oferta de aluguer são representadas por curvas hipotéticas de isolinhas que mostram como o aluguer da terra deve variar com a distância para que a firma obtenha os mesmos lucros independentemente da ,localização (Richardson, 1973, p. 79). 103 Os preços dos solos e da sua utilização são determinados pela sobreposição das curvas de renda dos vários agentes económicos.
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63
2.2.3. A localização da indústria
2.2.3.1. O custo mínimo de transporte
Launhardt (1885) e Weber (1909), tidos como percursores dos modelos de
localização industrial104, consideravam os custos de transporte decisivos, pelo que
a localização mais conveniente será encontrada no ponto em que os custos de
transporte (custos de reunião das matérias-primas e os de colocação do produto
final) sejam mínimos. O custo mínimo será, assim, encontrado dentro do triângulo
de Weber ou triângulo ponderado105 em cujos vértices se situam a localização das
matérias primas (duas no exemplo), as ubiquidades, ou seja, os produtos que
podem ser obtidos em qualquer parte e os mercados de produtos finais (Reigado,
1999, p. 3). As matérias primas, por sua vez, classificam-se em quatro categorias:
ubiquidades, materiais localizados (obtidos em apenas algumas regiões),
materiais puros (integrados no produto acabado na totalidade) e materiais brutos
(perdem o seu peso no processo produtivo através da combustão ou eliminação
de resíduos) (cit. Blaug, 1990, p. 411). Das preocupações em relação às matérias
primas resultaram, por um lado, as tentativas da sua classificação em função do
grau de disponibilidade e, por outro, a utilização de índices auxiliares de
localização: o Índice material106 e o Peso locacional107.
O modelo de Weber, apresentado numa altura em que a Revolução Industrial era
uma realidade por toda a Europa e em que o factor produtivo capital se tornava
104 Launhardt, W. (1885), Mathematishe Begrundunge der Volkwirtschaftslehre, Leipzig, foi quem primeiro sugeriu a importância dominante dos custos de transporte na localização. Weber deu continuidade a essas preocupações na obra Uber den Standort der Industrien, 1909, traduzida para inglês por Friedrich, C. J. ( 1957), Alfred Weber’s Theory of the Location of Industries, Cambridge 105 Weight triangle segundo a expressão de Weber. 106 O índice material - IM - é a razão entre o peso das matérias-primas localizadas e o peso do produto final. 107 O peso locacional - PL - corresponde à razão entre o peso total a ser transportado (peso das matérias primas localizadas somado ao peso do produto final) e o peso do produto final. Assim, enquanto um PL elevado indica perdas no processamento das matérias primas com a consequente atracção das empresas para se localizarem próximo das fontes de matérias-primas, um PL baixo significa ganhos no processamento o que leva as empresas a situarem-se junto do mercado de produtos finais.
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cada vez mais importante, tinha como objectivo explicar a escolha locacional da
indústria. Antes, porém, é necessário distinguir os factores que se referem a uma
ou a poucas indústrias, daqueles que são capazes de influenciar os custos de
qualquer actividade industrial. Assim, os primeiros factores são classificados em
específicos e os segundos em gerais que, por sua vez, se subdividem, de acordo
com a escala geográfica de actuação em factores regionais (explicam a opção
locacional entre regiões) e factores aglomerativos108 e desaglomerativos109
(explicam a concentração ou dispersão da indústria em certa região ou, mesmo,
em determinado local).
Tal como o transporte, também a mão-de-obra, é analisada de forma semelhante
através do Índice de custo de mão-de-obra110 e do Coeficiente de mão-de-obra111.
Tendo em consideração as definições de índice de custo de mão-de-obra e de peso
locacional, podemos observar que o coeficiente de mão-de-obra corresponde à
razão entre o custo de mão-de-obra e o peso total a ser transportado. Assim,
enquanto a indústria ligeira se caracteriza por um coeficiente de mão-de-obra
elevado (as despesas com salários são superiores às despesas com transportes), a
indústria pesada tem um coeficiente baixo (despesas de transporte elevadas).
Com o seu modelo, Weber pretendia encontrar um ponto ou área óptima112
(também designada por crítica) para a localização da empresa, que enfrenta dois
constrangimentos (matérias primas e mercado), através do método das isolinhas.
Além dos custos de transporte (que traduzem a distância) são, ainda,
considerados, como factores de localização, os custos da mão-de-obra e as
108 O factor de aglomeração conduz à redução do custo que uma empresa, de certa indústria, obtém ao localizar-se junto de outras empresas da mesma indústria. 109 O factor desaglomerativo representa economia de custo devido à menor distância a percorrer em relação às empresas já estabelecidas. 110 O índice de custo de mão-de-obra - IC - é obtido pela razão entre o custo de mão-de-obra e o peso do produto final. Este índice permite calcular o número de unidades monetárias em salários por unidade de peso do produto. 111 O coeficiente de mão-de-obra - CM - relaciona directamente o custo de mão-de-obra com o custo de transporte, estabelecendo o quociente entre o índice de custo de mão-de-obra e o peso locacional, isto é, CM = IC / PL. 112 Para Weber, o ponto óptimo é aquele em que os custos são mínimos.
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economias de escala (Lopes, 1984, pp.177-185). Aliás, para o autor, a
concentração da mão-de-obra num determinado local pode levar à deslocação do
ponto óptimo de localização pelo que a empresa irá comparar o ganho por unidade
de produto ou, por outras palavras, a economia, devido à sua localização junto da
bacia de mão-de-obra, com o custo de transporte complementar que essa
localização implica. Recorrendo ao método das isolinhas e, particularmente, à
isolinha crítica113 Weber conseguiu associar numa única análise uma variável que
evolui no espaço de uma forma contínua e linear (os custos de transporte) e um
factor descontínuo (os custos de mão-de-obra).
Assumindo-se que o mercado do produto final é conhecido, a empresa irá
procurar uma localização onde o custo total de transporte, definido num espaço
euclidiano ou contínuo e isótropo, será mínimo:
Min Ct ; Ct = ti mi d (Mi , P)
onde,
Ct - Custo de transporte P - Localização procurada ti - Tarifa de transporte do input proveniente de Mi Mi - Localização da matéria prima ou do mercado do produto final mi - Quantidade de input ou output d (Mi , P) - Distância euclidiana entre Mi e P A técnica das isolinhas permitiu a Weber definir as condições de uma
deslocalização das empresas a partir do ponto em que os custos de transporte são
mínimos para obter uma economia de aglomeração ou de mão-de-obra. De referir,
no entanto, que esta análise da concentração industrial é insatisfatória, uma vez
que considera, apenas, as vantagens ou desvantagens no âmbito de certa indústria
113A isolinha crítica representa, em relação ao ponto em que os custos de transporte são mínimos, um custo unitário adicional igual à economia proporcionada pela localização junto da bacia de mão-de-obra, pelo que se pode verificar duas situações: 1) a economia situa-se no interior da isolinha crítica, isto é, a economia proporcionada pela localização junto do mercado de trabalho é superior aos custos adicionais, pelo que a empresa tende a localizar-se junto do mercado de trabalho; 2) o mercado de trabalho é exterior à isolinha crítica, ou seja, a economia é inferior aos custos de transporte, logo a empresa localizar-se-á na área em que os custos de transporte são mínimos.
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e não tem em consideração, entre outros factores, os efeitos cumulativos de umas
empresas na localização de outras. As várias críticas ao modelo levaram ao
desenvolvimento de trabalhos em que a empresa e a produção, a formalização do
espaço e do custo de transporte foram reconsiderados.
A introdução da substitubilidade dos factores permite, por um lado, abandonar a
hipótese simplista das funções de produção com coeficientes fixos e, por outro
lado, reforçar as ligações entre a teoria da localização e as estruturas de base do
modelo marginalista. A cada localização possível corresponde uma combinação
óptima de factores, tendo em consideração os preços relativos dos factores nesse
lugar. Assim, para cada combinação de factores só uma localização será óptima,
pelo que, a empresa escolherá, simultaneamente, uma localização e uma
combinação de factores determinando, ainda, a minimização dos custos. De
acordo com Paelinck e Nijkamp: a problemática da localização torna-se uma
generalização da teoria neoclássica da produção (1975, p. 46).
Predöhl (1925), recorrendo à substituição de inputs, expõe a sua teoria de uma
forma extremamente simples: uma empresa, um produto, um dado volume de
produção, um preço de venda (cit. Aydalot, P., 1985, p. 23). Os preços dos inputs
não são constantes no espaço, dependendo da distância entre a localização da
origem e a localização da empresa utilizadora. Daí, as empresas pretenderem uma
localização onde possam maximizar a produção perante um determinado custo .
Esta questão, mesmo ao nível teórico, é bastante complicada. Registe-se, entre
outras, as contribuições de Hoover e Isard (que considerou os inputs como
serviços à produção) na análise dos problemas colocados pela introdução da
substitubilidade dos factores na teoria da localização. Hoover (1948), embora
continue a linha de pensamento de Weber, admite que os custos de transporte114
114 Os custos de transporte, segundo Hoover, incluem os custos de transporte das matérias primas e os custos com a distribuição do produto final. Nos custos totais de transporte foi atribuído um papel relevante aos custos de transferência e aos custos terminais, já que estes influenciam os
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são directamente proporcionais à distância, ao peso transportado e à composição
da carga. Para além destes, considera ainda os factores institucionais que, muitas
vezes, influenciam, significativamente, as decisões de localização. A procura foi
outra preocupação de Hoover associando-se, assim, aos que entendem que a
questão de localização deve ser vista na óptica das áreas de mercado.
A análise das forças de aglomeração é em Hoover mais profunda do que em
Weber. Influenciando-as surgem, além dos factores considerados por Weber, as
vantagens em serviços de transferência eficientes, em mercados de trabalho
amplos e flexíveis, em serviços de protecção civil, melhores equipamentos
bancários, seguros mais eficientes, etc. Além disso, a aglomeração pode
proporcionar, por um lado, o favorecimento da especialização e a obtenção de
vantagens, em termos de maiores facilidades nas relações inter-sectoriais e, por
outro lado, uma melhor e mais eficiente utilização dos recursos humanos.
Na consideração de factores institucionais, enquanto influenciadores da
localização, Hoover (1948) salienta o papel dos impostos que, quando aplicados
independentemente dos volumes de produção, têm implicações semelhantes às das
taxas de juro mais elevadas, penalizando as localizações onde o equipamento não
se encontra utilizado em toda a sua capacidade. Outros factores especiais de
localização como por exemplo o clima que, em situações extremas de frio e de
calor, contribui para a subida dos custos, são igualmente analisados pelo autor.
Invocando Greenhut (1956), pode afirmar-se que, independentemente do quadro
da concorrência perfeita em que Hoover dominantemente se move, é na relativa
negligência da interdependência espacial que repousa a maior fraqueza do seu
trabalho, apesar da tentativa de considerar a oferta e a procura pela via das áreas
de mercado115.
Palander (1935) ao debruçar-se sobre a minimização dos custos de transporte viria
a enunciar a lei da refracção segundo a qual, num plano homogéneo, uma linha
custos totais fazendo com que estes aumentem menos do que proporcionalmente à distância percorrida. 115 Ver o ponto 2.2.3.2. desta Tese.
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recta entre dois pontos poderá não ser o caminho mais curto entre eles (cit.
Aydalot, 1985, p. 24). Assim, segundo o autor, se os custos de transporte por
unidade de produto forem diferentes de região para região, a minimização dos
custos pode exigir que o percurso entre os dois pontos (um em cada região) se
afaste da linha recta.
Para Isard (1956), definindo os inputs de transporte como o movimento de uma
unidade de peso por uma unidade de distância (ou, por outras palavras, o
dispêndio de recursos necessários para que as mercadorias se desloquem no
espaço e superem distâncias) e as taxas de transporte como o preço desse input116,
o conceito fundamental do princípio da substituição equimarginal bastaria para se
obter uma generalização correcta da teoria de localização. Assim, quaisquer que
sejam o grau de concentração ou de dispersão das fontes de inputs e mercados de
escoamento e independentemente da natureza da função de transporte, as
empresas que maximizam o lucro, localizar-se-ão de forma a equacionarem as
taxas marginais de substituição entre quaisquer dois inputs de transporte e o
inverso do rácio das suas taxas de transporte (Blaug, 1990, pp. 414-415).
Refira-se que, no entanto, a aplicação deste teorema não permite definir uma
localização óptima dado se trabalhar com funções de produção lineares e de as
empresas substituírem uns factores de produção por outros, mas sim várias
localizações tornando pouco útil a sua utilização prática.
2.2.3.2. A localização na óptica das áreas de mercado
A abordagem da localização pela óptica da minimização de custos é limitada, uma
vez que o mercado, na realidade, se comporta como uma variável. A localização
116 As variações das taxas ou tarifas de transporte não devem ser confundidas com variações de input de transporte. As tarifas dependem da estrutura de concorrência e de factores conjunturais,
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da empresa tem efectivamente que considerar as características do seu mercado e
em nada surpreenderá que a maximização das áreas de mercado possa surgir como
objectivo empresarial. Não obstante, a evolução técnica tender a facilitar a
concentração das actividades produtivas isso não impede que os serviços se
aproximem do consumidor numa clara tendência para a desconcentração e
dispersão. Como já vimos, a consideração da mobilidade de alguns factores, do
clima e dos aspectos institucionais não nos permite chegar a uma solução única,
mas apenas a hipóteses de localização alternativa. A questão da interdependência
é, também, incontornável quer pela linha da localização da produção e das suas
relações com o consumo, quer pela das vantagens em reduzir custos nos processos
de fabrico.
Segundo Palander (1935), a repartição espacial dos mercados deve ser analisada
segundo dois pontos de vista, ou seja, tomando como dados os preços, as
localizações, os custos e as possibilidades de transporte, surgindo assim a
dimensão do mercado como uma variável determinada pelos custos e admitindo a
existência de relações entre a formação dos preços e a própria dimensão do
mercado. A abordagem formal das áreas de mercado e a consideração de
condições de limitação da concorrência espacial podem tomar-se como
contribuições extremamente válidas de Palander para a teoria da localização. No
entanto, se as determinantes da localização não podiam ser vistas só na óptica de
minimização dos custos, também não o podem ser apenas sob o ponto de vista das
áreas de mercado, pelo que é importante considerá-las conjuntamente, admitindo-
se, assim, que a interdependência locativa é um factor determinante da
localização.
Lösch (1954) é o primeiro a considerar simultaneamente as teorias da localização
e a do equilíbrio económico no espaço com o objectivo de mostrar como se
localiza a produção, como determinar os limites das áreas de mercado das
empresas, como fixar o volume total de produção e os níveis de preços, numa
enquanto a quantidade de inputs de transporte depende, basicamente, do padrão tecnológico e da eficiência dos meios de transporte.
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situação em que a procura é totalmente satisfeita, ou seja, em que o problema
reside em compatibilizar a maximização dos lucros empresariais com a
optimização do sistema global. Ao rejeitar a minimização dos custos como
objectivo, Lösch considera que a escolha locacional deve procurar o maior lucro
possível introduzindo na sua análise as variações espaciais da procura. Para a
determinação espacial da procura, admite que as empresas adoptam a política de
estabelecer o preço do produto em termos FOB, adicionando-lhe o custo de
transporte para formar o preço final. Além disso, supõe que o espaço é constituído
por uma planície homogénea e isótropa, não havendo, por conseguinte, diferenças
de rendimento ou de gosto dos consumidores. Desta forma, obtém uma curva
espacial de procura117 decrescente com a distância, devido aos acréscimos de
custo de transporte. Uma vez fixado o preço, a quantidade procurada Q por
unidade de tempo variará apenas em função da distância118. A quantidade total
vendida por unidade de tempo pode ser calculada somando o volume de compras
de um número elevado de anéis concêntricos de espessura infinitesimal119. A
quantidade total procurada V será então (Clemente, 1994, p. 99):
V = 2 π . g . {0,5 [a – b . P0] . xmax2 - 0,33 b . t . xmax
3}
onde,
G - Densidade demográfica π - Raio entre o centro e a fronteira do 1º círculo concêntrico a , b - Parâmetros positivos da função linear da procura120 Se, porventura, admitirmos a existência de concorrência perfeita entre os vários
produtores, a manutenção da estrutura e a maximização dos lucros, os produtores
117 A curva da procura tem um formato linear e será Q = (a – b .P0) – b.t.x onde P0 representa o preço FOB, t a tarifa de transporte por unidade de produto e por unidade de distância, e x a distância (Clemente, 1994, p. 97). 118 Nestas condições: 1) quando x=0, a quantidade procurada é máxima e calcula-se através da expressão Qmax = a – b . P0 ;2) quando Q=0, a distância é máxima pelo que Xmax
= (a – b . P0) / b . t 119 Este calculo é possível tendo em consideração vários pressupostos, nomeadamente: 1) a densidade demográfica, nível de rendimento e padrão de preferências uniformes em toda a área de mercado; 2) a quantidade procurada por consumidor por unidade de tempo é decrescente devido ao encarecimento decorrente do custo de transporte; 3) a taxa de compras tem sempre o mesmo valor para determinada distância da fábrica, ou seja, graficamente poderíamos dizer que se situaria sobre uma circunferência cujo centro é a fábrica. 120 a – intercepto vertical da função linear da procura
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71
dispor-se-iam nos centros dos hexágonos regulares de igual tamanho, os quais
constituiriam a sua área de mercado.
O contributo de Lösch está na explicação das razões que levam à concentração
espacial da produção ou, por outras palavras, está no seu Modelo de equilíbrio
espacial, entendido como uma análise de equilíbrio geral da distribuição espacial
das actividades económicas. Assim, segundo o autor, se por um lado, a
concentração espacial não ocorre devido às economias de escala, capazes de
proporcionarem um custo unitário mais baixo para a produção concentrada, por
outro, a dispersão total não ocorre porque os custos de transporte a inviabilizam.
Estas duas forças têm efeitos contrários, resultando em maior ou menor
concentração, de acordo com o predomínio de uma sobre a outra.
Apesar de reconhecermos que Lösch apresenta uma primeira tentativa de
descrição das relações gerais espaciais, embora de uma forma simples (mercado
monopolista), o seu modelo tem várias limitações decorrentes de se pressupor que
(Richardson, 1969, p. 108 e Reigado, 1999, p. 6):
• a produção, as vendas e os preços dos diferentes bens são considerados
isoladamente, logo os ramos industriais são independentes entre si, tal como
os seus inputs e outputs;
• a procura de um bem depende unicamente do seu preço e não dos preços dos
vários bens disponíveis no mercado;
• todas as empresas têm os mesmos custos médios e os mesmos custos unitários
de transporte em todo o sistema espacial;
• dentro do mesmo ramo todas as empresas têm os mesmos preços dos factores
de produção.
Além das limitações apontadas refira-se, ainda, a insuficiente análise da
interdependência da localização dos diferentes bens. No entanto, a limitação mais
grave deriva da não consideração de variações espaciais nos preços, visto ter-se
b – inclinação negativa da função linear da procura
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72
considerado que os factores produtivos, incluindo o factor trabalho, se encontram
distribuídos uniformemente.
A maximização dos lucros, como objectivo, não dispensa o tratamento de
questões complexas como as da interdependência locativa, as da identificação das
variáveis relevantes, as da influência das grandes empresas e dos factores
subjectivos de comportamento dos empresários que, com alguma frequência,
põem em risco a optimização dos resultados como objectivo da localização
(Glasson, 1974, pp. 111-113).
Greenhut (1956; 1970) ao admitir a variabilidade dos custos e que a procura pode
ser afectada por razões de interdependência locativa, tentou furtar-se ao tipo de
condicionamentos assumidos por Lösch. O mesmo autor considera, ainda, que a
existência de interdependência entre os produtores e de economias de
aglomeração levam à concentração das actividades em determinados locais em
vez de conduzirem à sua dispersão. Tendo como ponto de partida a produção de
um bem novo (inovador) por uma única empresa que cria, assim, o seu mercado, e
admitindo custos de produção e procura independentes da localização, esta vai
acontecer no centro do mercado. A entrada de novas empresas no mercado será
feita em função da procura e da minimização dos custos, pelo que as novas
empresas procurarão localizar-se próximo da inovação ou, em alternativa, numa
área em que a procura é elevada. A situação de equilíbrio pode ser perturbada por
variações na procura, nos custos ou por outros factores, como os de ordem
psicológica121, levando a mudanças no local de implantação das empresas.
A teoria de Greenhut, tal como a de Lösch, parte do princípio que as empresas
individuais procuram maximizar os lucros. No entanto, o seu modelo tem um
121 A análise do plano da obra de Greenhut (1956, pp. 279-281) mostra a importância atribuída aos factores e à sua sistematização: 1) factores de custo (transportes, trabalho e custo de fabrico); 2) factores associados à procura (interdependência locativa em situações de preço discriminatório e não discriminatório); 3) factores associados à redução dos custos; 4) factores associados ao aumento das receitas; 5) factores pessoais de redução de custos e aumento das receitas; 6)
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73
maior grau de generalidade uma vez que, por um lado, permite a variação dos
custos de local para local, e por outro, admite a alteração dos custos devido à
entrada de novas empresas. A não integração dos transportes vem, contudo, a
revelar-se a limitação talvez mais importante da sua teoria geral de localização.
Henderson e Lefeber, ambos em 1958, apresentam quase simultaneamente dois
modelos de programação. Apesar dos modelos serem semelhantes, enquanto
Henderson pressupõe que a procura é perfeitamente inelástica, Lefeber considera
a procura perfeitamente elástica. A diferença, fundamental, em relação aos
modelos anteriores é o abandono do custo de transporte nulo. Desta forma, os
transportes (via custos) são integrados no modelo como determinantes da
localização e optimização da produção. Ao contrário de Isard (1956), Lefeber não
considera os transportes como bens intermédios antes, pelo contrário, os
transportes são um serviço que exige sacrifícios sociais, na medida em que
consome inputs indisponibilizando-os para a produção de outros bens.
O modelo de Lefeber estabelece um padrão de localização óptima e mostra,
simultaneamente, como esta maximiza a produção de bens finais sob o ponto de
vista dos consumidores. Segundo Reigado (1999, pp. 7-8), em termos de
equilíbrio espacial, o modelo estabelece as seguintes condições:
• valor da produtividade marginal de um factor originado por determinada
localização deve igualar o seu custo de transporte;
• os factores empregues no transporte devem receber uma renda igual à que
receberiam se fossem utilizados na produção;
• se o factor ficar inactivo num determinado local deve ter uma renda nula;
• se o mesmo factor for empregue noutro local, o seu produto marginal deve
igualar a sua renda no emprego local inicial acrescida do custo marginal de
transporte.
A introdução de pontos de consumo e de custos de transporte para os bens finais
não causam distorções ao modelo, desde que as condições normais de equilíbrio
considerações de ordem subjectiva. Apoiado numa análise empírica, Greenhut apresenta uma lista longa e sistematizada de factores.
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74
espacial122 sejam satisfeitas . A assunção da divisibilidade das localizações,
reforçando a ideia de que o modelo é generalizado123, significa que se, por um
lado, várias indústrias se podem estabelecer no mesmo ponto de produção, por
outro, a produção de mercadorias idênticas pode ocorrer, simultaneamente, em
vários lugares.
As localizações óptimas e as quantidades produzidas sectorialmente em cada lugar
são determinadas, entre outros factores, pelos preços de mercado, nível de
tecnologia, dotação local de factores de produção e parâmetros da função procura
de transportes. O facto de não se determinar somente as localizações, mas
também o valor maximizado do output total, a afectação óptima dos factores
produtivos e os fluxos especiais para cada mercado torna a teoria de Lefeber
muito mais vasta do que a pura teoria de localização. Daí Marques Reigado
(1999) afirmar que esta teoria é o modelo geral de equilíbrio de Walras,
modificado pela introdução das localizações da produção e consumo,
espacialmente separadas e divisíveis, ou por outras palavras, é o modelo geral de
equilíbrio integrado no espaço multiforme. No entanto, e apesar da importância
deste modelo, Lefeber introduz os preços como parâmetros e não explica quais as
suas determinantes o que, em nosso entender, constitui uma lacuna importante.
Walter Isard (1956) que, como já vimos atrás, considera possível a substituição
entre os inputs de transporte e os outros inputs mostrou como se opera essa
substituição no espaço e introduziu na análise económica as economias de escala e
de urbanização. Se há algum sentido no estudo da economia da localização, isso
deve-se ao facto de existirem certas regularidades nas variações de custos e
preços no espaço. Estas regularidades emergem fundamentalmente porque o
custo de transporte é uma função da distância. Se não fosse assim ... o padrão de
distribuição espacial da indústria, dos centros de consumo e de produção de
matérias-primas seria completamente arbitrário do ponto de vista económico
122 Os preços dos bens homogéneos diferem de lugar para lugar devido aos custos marginais de transporte. 123 Apesar de boa parte do estudo de Lefeber se limitar aos pontos de consumo, lugares de produção, factores e bens, o modelo generaliza-se para múltiplas localizações e bens.
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75
(Isard, 1956, p. 25). Quando uma empresa escolhe a localização entre uma fonte
de matéria-prima e o mercado de bens finais, está a decidir sobre uma combinação
particular de quantidades de input de transporte despendidas com matéria-prima e
com produto. Daí que a questão relevante, do ponto de vista da escolha locacional,
possa ser formulada do seguinte modo: como escolher a combinação óptima de
inputs de transporte com a matéria-prima e com o produto ? A resposta a esta
questão passa pela consideração dos requisitos de inputs de transporte por unidade
de produto em conjunto com os seus preços, ou seja, tarifas124. O princípio da
substituição dos factores leva-o, assim, a defender a integração da teoria da
localização na teoria neoclássica da produção.
Na integração do espaço no modelo de equilíbrio geral, a contribuição de Arrow e
Debreu (1954) é estratégica. No seu modelo consideram três tipos de bens: terra,
serviços de transporte e outros, nos quais se inclui o factor trabalho. Além disso,
considera-se a possibilidade de uma empresa ter vários estabelecimentos (logo,
várias localizações). A principal conclusão a que se chega é a seguinte: a
localização óptima só pode ser obtida quando, por um lado, o sistema de preços de
equilíbrio concorrencial não incita os agentes económicos a alterar a sua
localização e, por outro lado, qualquer deslocalização da empresa não trará ganhos
adicionais.
Esta conclusão é contestada por Koopmans e Beckmann (1957) já que, segundo
estes autores, o mercado fundiário não permite a obtenção da localização óptima.
Schweitzer, Varaya e Hartwick (1976) desenvolvem um modelo, idêntico ao de
Arrow e Debreu (1954), em que é possível gerar um equilíbrio competitivo
quando a procura de lugares é superior à oferta, o que implica uma distribuição
espacial em função da densidade de lugares por hectare e não em termos de
localização das unidades de consumo individuais.
124 Pesquisas empíricas mostram que a tarifa, expressa em unidades monetárias por unidade de peso, por unidade de distância, é decrescente com a distância devido à diluição dos custos terminais (estiva e desestiva, armazenamento e seguro).
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76
O carácter colectivo do equilíbrio, ou melhor, a incompatibilidade entre o
equilíbrio e as decisões individuais é a questão colocada por von Boventer (1975).
Assim, toda e qualquer decisão individual (por exemplo, a criação de uma
empresa ou a deslocalização de uma já existente) cria uma situação que desfaz o
equilíbrio anterior e exige a deslocação de todas as empresas de forma a encontrar
um novo equilíbrio. Posteriormente, Beckmann (1968) coloca uma questão
semelhante, ou seja, a entrada de uma nova empresa no mercado destrói o
equilíbrio existente, pois o custo de deslocalização inviabiliza o movimento que
restabeleceria o equilíbrio.
2.2.3.3. Modelos operativos e aplicações empíricas
A decisão de implantação de uma nova empresa é, muitas vezes, uma decisão
excepcional que dificilmente se enquadra numa tipologia de tomada de decisão
locacional. Refira-se que somente as grandes empresas sistematizam o seu
processo de decisão de escolha da localização óptima.
De acordo com Molle (1983), na maioria dos casos, ao industrial é proposta uma
localização que, após alguns ajustamentos, é aceite. É bastante raro que, neste
processo, sejam analisadas mais do que três localizações alternativas. Os critérios
considerados são igualmente poucos e, frequentemente, utiliza-se um único
critério, como por exemplo, o preço do terreno. Stafford (1974) refere que, no
Ohio, as tomadas de decisão locacional são efectuadas de forma idêntica.
Townroe (1983), sintetizando a experiência britânica, conclui que, raramente, as
empresas efectuam um estudo de custos comparativos entre diversas localizações.
Para o autor, na maioria das vezes, a escolha consiste em verificar quais as
localizações que convêm à empresa, eliminando aquelas que não se enquadram na
área pré-determinada inicialmente. Saliente-se a este respeito que esta área não
foi escolhida através de um estudo rigoroso.
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77
De um modo geral, as abordagens empíricas consideram os custos como a
variável determinante e têm sido dominadas pelo tratamento de situações em que,
quer o número de localizações alternativas, quer o número de inputs, é reduzido.
A existência de um número significativo de aplicações empíricas leva a deter-nos
naquelas que julgamos serem as mais importantes.
Smith (1971), apresenta o caso de uma empresa do sector da “electrónica” à qual
se põe a decisão da escolha entre 12 localizações possíveis no Canadá125. O
primeiro passo da análise envolve a especificação do processo de fabrico e das
necessidades da fábrica que vão desde os aspectos financeiros à mão-de-obra
necessária, às matérias primas, energia e água a utilizar, ao investimento e aos
meios de transporte necessários para o escoamento da produção. Por sua vez, os
custos são analisados por categorias: custos de mão-de-obra, custos de transporte
da matéria prima e do produto final, custos de instalação, impostos, etc. Neste
caso, a procura é insatisfatoriamente considerada no esquema de custos
comparativos apresentado, já que as ligações com o mercado se limitam a ter em
conta as despesas de transporte do produto final, negligenciando-se a procura
propriamente dita126.
Söderman (1975), num estudo essencialmente empírico, propõe-se observar
directamente o processo decisório das empresas industriais127 no que se refere à
localização. Considerando apenas as empresas footloose128, constata que a decisão
locacional faz parte de um conjunto mais vasto de decisões inter-relacionadas
referentes, por exemplo, ao processo produtivo, ao produto, à escala de produção
e à política de vendas.
125 Smith, (1971, pp. 320-325). O caso referido é o Fantus Company in Cost Comparison Study, Winnipeg, 1962. 126 A maior parte das tentativas para considerar a procura tem recorrido aos modelos de potencial de mercado, com a intenção de avaliar o efeito da localização sobre a procura ou sobre as receitas. Refira-se, a propósito, que a localização da fábrica e a dimensão do mercado são interdependentes. 127 Söderman baseou o seu estudo numa amostra de 25 empresas sobre a qual aplicou um questionário contendo 94 perguntas. 128 Empresas que não dependem de matérias-primas ou outras condições específicas para a sua localização.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
78
Conforme se verifica no fluxograma 2.1, de Söderman, entre as variáveis
explicativas e o planeamento locacional estabelecem-se cinco relações,
nomeadamente: complexidade, número de actores, contactos de negociação,
distância física e performance (cit. Clemente, 1994, p. 112). A variável
planeamento locacional é medida segundo quatro critérios alternativos, ou seja, o
número de fontes pesquisadas, a quantidade de “comportamento sistemático”, o
custo envolvido e o tempo despendido (ibid.). O tratamento estatístico da
informação permitiu concluir que os únicos coeficientes de correlação
significativos são referentes ao custo envolvido/contactos de negociação (0,670) e
número de fontes/distância física (0,399). Os resultados alcançados são, de certa
forma, decepcionantes como se verifica pela análise do quadro 2.2.
Fluxograma 2.1
Modelo decisional de Söderman
Fonte: Söderman, S., Industrial location planning: an empirical investigation of company
approaches to the problem of locating new plants, Ed. J. Wiley, Estocolmo, 1975, cit.
CLEMENTE, A. (1994), Economia regional e urbana, Editora Atlas, S. Paulo, Brasil, p. 112
NÚMERO DE ACTORES
Tamanho do Projecto
COMPLEXIDADE
PERFORMANCE
DISTÂNCIA FÍSICA
CONTACTOS DE NEGOCIAÇÃO
PLANEAMENTO LOCACIONAL
Nível de sigilo do projecto
Comportamento dos actores Conflitos
entre actores
Experiência dos actores
Actores que negociam
Capacidade de autofinanciam
Quantidade de vantagens e condições
Decisão
Competição
Causas da Mudança
Procura
Classificação da área
Atitude perante as diferenças regionais
Características da empresa
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
79
A opção de Söderman (1975), de deixar de lado qualquer preocupação teórica e de
empreender uma análise estritamente empírico-descritiva, apresenta resultados
significativos no que se refere ao conhecimento do processo decisional das
empresas. No entanto, o modelo de decisão construído não pode ser considerado
satisfatório diante das evidências estatísticas verificadas.
Quadro 2.2 Coeficientes de correlação
Complexida
de Número de actores
Contactos de negociação
Distância física
Número de fontes (0,351) 0,040 0,376 0,399 Comportamento sistemático
(0,323) (0,014) 0,279 0,062
Custo envolvido (0,166) (0,308) 0,670 0,220 Tempo despendido (0.093) (0,091) 0,085 (0,151) Fonte: Söderman, S., Industrial location planning: an empirical investigation of company
approaches to the problem of locating new plants, Ed. J. Wiley, Estocolmo, 1975, cit. CLEMENTE, A. (1994), Economia regional e urbana, Editora Atlas, S. Paulo, Brasil, p. 112
O modelo SOMEA129, apresentado por uma empresa italiana de consultoria, é
outra tentativa empírica de modelização do processo decisional. No início dos
anos 70, a empresa desenvolveu um algoritmo baseado no conceito de zonas
elementares de planeamento, correspondentes a quadrículas em que se deve
dividir o território em análise. Assim, cada zona elementar de planeamento
apresenta certa disponibilidade de factores de interesse para a indústria.
Organizando os perfis das zonas elementares numa tabela obteremos a matriz da
oferta de factores. A procura de factores, por parte das empresas, é também
tratada no modelo dando origem aos perfis da procura de factores e,
posteriormente, à matriz da procura de factores que se subdividem em
específicos e comuns ou gerais. Os factores específicos interessam apenas a uma
ou a poucas indústrias (por exemplo, matéria-prima de determinado ramo
industrial), enquanto os factores gerais dizem respeito, teoricamente, a qualquer
129 SOMEA - Sociedade de Matemática e Economia Aplicada.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
80
actividade industrial (por exemplo, energia eléctrica). Num primeiro passo,
comparam-se os requisitos de factores específicos de cada segmento da indústria
com a disponibilidade de cada zona elementar, construindo-se, assim, a matriz de
possibilidades de localização. Em seguida, as matrizes de oferta e de procura de
factores gerais são comparadas para cada ramo industrial e cada zona elementar
de planeamento.
A ideia central do modelo, que consiste em comparar requisitos industriais com as
disponibilidades pelo território, mostrou-se capaz de produzir informações
inéditas e relevantes em muitos casos. No entanto, a sua aplicação está sujeita a
alguma subjectividade devido, por um lado, à desagregação da indústria num
número de ramos ou segmentos estar condicionada pela informação disponível e,
por outro lado, ao facto de o próprio território ser considerado ao nível regional
em virtude de, mais uma vez, ser escassa a informação regionalizada ao nível dos
municípios ou freguesias.
Schmenner (1982), ao analisar detalhadamente o processo de expansão das
empresas, coloca várias questões, entre as quais a de elaborar a listagem dos
factores determinantes na escolha da localização para a abertura de um novo
estabelecimento ou para a deslocalização.
Como se verifica pelo quadro 2.3, os factores considerados mais importantes para
a abertura de um novo estabelecimento são, por ordem decrescente, o clima social
favorável, o preço do terreno e a proximidade dos mercados. Para a
deslocalização, os dois primeiros factores mantêm-se e, em terceiro lugar, é citado
o custo de construção baixo. Schmenner (1982) chama, ainda, a atenção para o
facto de os novos estabelecimentos apresentarem características específicas: são,
geralmente, mais pequenos do que os antigos, utilizam tecnologias mais
modernas, beneficiam de uma sindicalização dos trabalhadores mais fraca, são
mais especializados e alteram a sua produção com mais frequência.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
81
Quadro nº 2.3 Hierarquização dos factores de localização
Factores de localização
Abertura de um novo
estabelecimento
Deslocalização
Clima social favorável 74 44 Preço do terreno baixo 60 50 Proximidade de mercados 42 22 Fiscalidade local favorável 35 19 Existência de auto estrada 35 28 Existência de ramal ferroviário 30 22 Custo de construção baixo 29 33 Nota: Percentagem de empresas que citaram o factor Fonte: Traduzido de Aydalot, P. (1985), Economie Régionale et Urbaine, Economica, Paris, p. 61
Um estudo de Hannoun e Templé (1975) sobre o processo de decisão locacional
nas grandes empresas (mais de 100 trabalhadores) criadas, em França, entre 1960
e 1970, mostra que a influência dos elementos ligados ao trabalho, quantitativos
(recrutamento de mão-de-obra e operários), qualitativos (clima social) e
monetários (salários) é bastante superior à das considerações sobre custos de
transporte, facilidade de contactos e existência de um meio económico estruturado
(cit. Aydalot, 1985, p. 62). De realçar que na escolha final da localização, os
factores ligados às preferências pessoais dos decisores, muitas das vezes ligadas
ao conhecimento empírico, têm um papel não negligenciável, levando-nos a
concordar com Gould (1966) e Pallenbarg (1985) quando estes afirmam que o
empresário ao tomar uma decisão de localização já tem um mapa mental pré-
definido.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
82
2.2.4. A localização dos equipamentos terciários
2.2.4.1. Breve abordagem teórica
A localização dos equipamentos terciários130, inserida na problemática da
organização do espaço, é normalmente considerada extremamente importante, tal
como a localização das actividades produtivas. Na realidade, a forma como se
localizam os equipamentos terciários é uma condicionante fundamental do
desenvolvimento, visto que, nessa localização e na sua acessibilidade, vamos
encontrar as condições necessárias para que se verifique a equidade territorial na
disponibilidade de bens e serviços básicos. Refira-se que as concepções de
desenvolvimento não podem deixar de ter em conta a produção e o seu
crescimento; simplesmente, devem tê-los como instrumentos, como meios, para
atingir da forma mais válida os fins que vêm a traduzir-se na disponibilidade dos
bens e serviços básicos por parte das populações em condições de acesso não-
discriminatório (Lopes, 1984, p. 214).
As preocupações de optimização dos resultados, quer ao nível da iniciativa
privada (responsável por grande parte da distribuição dos bens e serviços ligados à
satisfação das necessidades básicas), quer ao nível do sector público (investimento
em infra-estruturas e equipamentos do sector terciário), têm levado a procurar nas
economias de escala e nas economias externas, resultantes da concentração dos
equipamentos produtivos e terciários, vantagens económicas imediatas que,
inevitavelmente, acarretam custos sociais bastante elevados no médio/longo prazo
que se traduzem num agravamento da situação dos grupos populacionais mais
débeis e, em última análise, na redução dos níveis de desenvolvimento real. Por
130 Lopes (1984) define s equipamentos terciários, em sentido amplo, como o conjunto dos equipamentos colectivos (conjunto de instrumentos e serviços destinados a satisfazer as necessidades básicas das populações e apoiar as actividades económicas, que em última análise deveriam ainda dirigir-se à satisfação de necessidades das mesmas populações), ... os equipamentos sociais (equipamentos associados à satisfação das necessidades sociais tidas como básicas de que a alimentação, a educação, a saúde e a habitação, são os casos mais expressivos e ... equipamentos económicos de apoio às pessoas e às actividades (comércio, bancos, seguros, transportes e comunicações) e até os equipamentos administrativos, de coordenação, de apoio e de intervenção (op. cit., p. 213).
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83
outras palavras, os serviços tendem a convergir para a localização em lugares
centrais, isto é, em aglomerados populacionais que garantam à iniciativa privada
volumes mínimos de procura compensadora e aos investimentos públicos níveis
de utilização que os justifiquem. Cada aglomerado funciona como um centro cuja
importância atractiva para os equipamentos depende dos níveis de procura mínima
(bens privados e públicos) e do tamanho da “região circundante” cuja população a
ele acorrerá, isto é, da acessibilidade real das populações ao centro. Esta situação
ao conduzir os centros a organizarem-se de forma hierarquizada131 não invalida
que os mesmos, desempenhando funções raras, desempenhem, em princípio,
também todas as funções mais frequentes, isto é, os centros de ordem superior
desempenham também todas as funções de ordem inferior.
Ao nível empresarial, as funções de direcção, gestão, organização da produção,
pesquisa e comercialização tornaram-se dominantes e são realizadas em
estabelecimentos localizados em áreas diferentes das da produção. Ao mesmo
tempo, estabeleceu-se uma hierarquia entre a actividade de gestão, num sentido
amplo, e as actividades de produção industrial. As próprias actividades de gestão
foram-se hierarquizando em função de uma especialização crescente, da revolução
informática e mecanização, transformando-se progressivamente em tarefas
comparáveis às de produção em série. Este fenómeno levou a uma concentração
das sedes sociais e de escritórios nas grandes cidades. Aydalot dá vários exemplos
desta concentração: nos anos 70, em Londres e na região Sul-Este da Grã-
Bretanha estavam concentradas 66% das sedes das 500 maiores empresas
industriais e 76% das 200 maiores; em 1969, a mesma região concentrava 85%
das sedes das empresas comerciais; na França, em 1970, os valores eram
idênticos: a região parisiense contava com 60% das sedes sociais das 1 500
maiores empresas industriais, 78% das 500 maiores ou 74% das 50 maiores
empresas comerciais (Aydalot, 1985, p. 92). O domínio dos grandes centros
parece-nos evidente o que, aliás, é confirmado pelo coeficiente de domínio,
131 Por exemplo, o comércio a retalho pode ser hierarquizado em função da existência de bens adquiridos menos frequentemente, levando a que as unidades funcionais que os vendem não
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
84
definido como a relação entre o emprego das empresas com sede regional e o
total de emprego, cujo valor era de 212,2 para a região parisiense e de 61,2 para
a província (ibid., p. 95). Refira-se que esta tendência longe de se esbater tem
vindo, pelo contrário, a agravar-se com a criação das grandes metrópoles.
2.2.4.2. Bens e serviços centrais
De uma forma dedutiva foi Christaller (1933) quem primeiro veio a desenvolver a
teoria com a qual se pretendia justificar a dimensão, a distribuição e o número de
centros, apoiando-se nos princípios reguladores da procura e da oferta. Destas
preocupações resultariam dois conceitos básicos da sua teoria, ou seja o limiar da
procura (o mínimo de procura que justifica a iniciativa da oferta do bem) e de
alcance do bem (a distância e custo máximo que o comprador está disposto a
suportar para efectivar a aquisição)132.
Segundo Christaller, os padrões de ordenamento do território não são
determinados apenas pela agricultura e indústria, mas também pela localização
dos sectores de serviços e da habitação. O seu modelo de localização parte de
alguns pressupostos, nomeadamente:
• a população distribui-se no espaço de forma homogénea. O espaço é
isotrópico, logo a ocupação humana processar-se-ia segundo um padrão
triangular que garante a existência de distâncias iguais entre os compradores
mais próximos;
• a oferta localiza-se espacialmente num sistema de pontos, isto é, lugares
centrais;
• a procura dos bens e serviços oferecidos nesses pontos é assegurada pela
população que neles vive e pela da região complementar;
possam dispersar-se tanto quanto se dispersarão as unidades funcionais de bens com uma maior procura
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
85
• os bens e serviços são de ordem de importância variável em função inversa da
frequência com que são necessários. Em princípio, os bens e serviços de
ordem mais elevada são aqueles cuja procura é mais rara;
• a ordem dos bens e serviços oferecidos num centro está associada à própria
ordem de importância do centro para cuja medida propõe o conceito de
centralidade133;
• um centro de ordem superior desempenha também as funções de ordem
inferior (ver figura 2.1).
Fig. 2.1 Áreas de mercado
Fonte: Polèse, M. (1998), Economia Urbana e Regional : Lógica espacial das transformações
económicas, Colecção APDR, Coimbra, p. 274 A introdução do conceito de distância económica que tem em consideração o
custo de transporte e seguro, embalagem, armazenamento e tempo necessário, no
caso de mercadorias, ou custo de transporte, tempo de viagem e desconforto, no
caso de passageiros deve-se, essencialmente, a duas razões: 1) a centralização da
oferta de bens e serviços não pode ser explicada apenas por factores geográficos;
132 Christaller (1933, p. 68) chamar-lhes-ia limite inferior e limite superior do alcance (upper limit of the range e lower limit na tradução de Baskin). 133 Gaspar (1972, pp. 52-53) define-a como um índice que representa a extensão, o valor do exercício de funções centrais do lugar na área que serve. Para Christaller (1933, p. 18), a centralidade é a importância relativa de um lugar face à região que o rodeia ou o grau em que determinado lugar exerce funções centrais.
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86
2) cada produto apresenta um certo domínio espacial, isto é, produtos de elevada
centralidade estão disponíveis apenas em alguns lugares e são procurados a longas
distâncias económicas, enquanto produtos de menor centralidade estão
disponíveis num maior número de lugares, pelo que a procura é efectuada a
distâncias menores. Dessa forma, de acordo com a centralidade dos produtos,
determinada em função da importância relativa do custo de acesso e das
economias de escala134 internas e externas à empresa e externas à indústria, é
possível construir uma hierarquia de lugares.
O modelo de Christaller (1933) assenta na análise da estrutura de centros do Sul
da Alemanha cuja centralidade aferiu, recorrendo a um índice calculado sobre a
utilização do telefone, destacando assim grandes ordens de centros135. O
ordenamento espacial encontrado por Christaller assemelha-se a uma rede de
hexágonos sobrepostos que, por um lado, corresponde ao mínimo de centros de
serviços que podem instalar-se num espaço isotrópico e, por outro, assegura
correspondência entre a oferta e a procura. O processo de construção de uma rede
de lugares centrais inicia-se pela associação das actividades de ordem idêntica em
grupos. Começando pelos produtos do fundo da hierarquia (que correspondem às
áreas de mercado mais pequenas) forma-se uma rede de pequenos lugares centrais
que, sendo pequenos, estão relativamente próximos uns dos outros e
proporcionam apenas os bens e serviços mais banais. O escalão seguinte da
hierarquia dos lugares centrais, composto por cidades maiores, além de todos os
serviços dos aglomerados populacionais anteriores, oferecerá ainda os serviços de
ordem superior e assim sucessivamente.
134 As economias de escala, em sentido amplo, compreendem as economias internas à empresa, externas à empresa mas internas à indústria e externas à indústria. Alfred Weber denominou as duas últimas por economias de aglomeração, enquanto Walter Isard denominou as externas à indústria por economias de urbanização. Hoover ao estudar os factores aglomerativos e desaglomerativos classificou as vantagens em: 1) economias de escala – internas à empresa; 2) economias de localização – externas à empresa e internas à indústria; 3) economias de urbanização – externas à indústria. 135 Aos lugares menos importantes (lugares auxiliares) atribuiu a letra H (de hilfszentrale orte) sucedendo-se a atribuição de letras associadas aos nomes utilizados na tipologia alemã: M (Marktflecken), A (Amtssdtädtchen), K (Kreisstädtchen), B (Bezirkshauptorte), G (Gaubezirk), P (Provinzialhauptorte), L (Landeszentrale).
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87
A junção das várias áreas de mercado cria uma paisagem económica com a forma
de uma rede de hexágonos sobrepostos em que, por um lado, cada habitante do
território está no interior de um sistema de zonas múltiplas e, por outro, a área de
influência dos centros de ordem inferior se insere na área dos centros de nível
superior. Assim, como sublinha Christaller, existe uma lógica no padrão de
ordenamento dos lugares centrais que é consequência da optimização simultânea
da localização das empresas fornecedoras de serviços em relação à localização
dos seus concorrentes.
O conhecimento das distâncias entre as cidades de determinada ordem permite-
nos fixar as fronteiras entre as áreas de mercado. Em princípio, as fronteiras serão
demarcadas na zona situada a meio da distância que separa dois centros do mesmo
nível. O modelo a que chegaremos observará uma hierarquia na qual se verifica
uma sequência rígida de centros associada, por um lado, à ordem dos bens e
serviços que estes oferecem e, por outro, à procura efectiva dos residentes e não-
residentes que acorrem aos centros. Saliente-se o facto de os consumidores, em
igualdade de circunstâncias (distância a percorrer, por exemplo), preferirem um
centro de ordem superior uma vez que este engloba um certo número de áreas de
influência de centros de ordem inferior.
O geógrafo americano George Zipf (1949) propôs a Lei do escalonamento urbano
ou rank-size rule segundo a qual há uma relação estatística entre o número e a
dimensão das cidades e, por conseguinte, entre a sua ordem e a sua população.
Segundo a sua formulação136, a população de qualquer cidade Pi pode ser
estimada a partir da equação:
i
gi
R
PqP =
em que, Pg - População da maior cidade Ri - Ordem da cidade i
136 Ver Zipf, G. K. (1949), Human Behaviour and the Principle of Least Effort: An Introduction to Human Ecology, Cambridge (Mass.), Addison-Wesley Press, III-A
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88
q - Constante a estimar De um modo geral, a relação traduzir-se-á por uma recta num gráfico logarítmico:
as cidades, ou melhor, o número que se encontra em cada classe, são escalonadas
no eixo vertical por ordem decrescente de população e distribuídas pelo eixo
horizontal segundo a sua ordem. Uma recta regular significa que a distribuição
está de acordo com a lei do escalonamento urbano. No caso contrário,
observaremos vários níveis, ou seja a relação não é perfeitamente contínua, pelo
que existem categorias identificáveis de cidades, tal como presume a teoria dos
lugares centrais.
A teoria de Christaller tem sido criticada, quer devido à sua rigidez, quer por ser
essencialmente estática, quer ainda por não considerar devidamente a
especificidade do comportamento humano. Daí que, por exemplo, Lewis (1977)
considere ser necessário ter em atenção factores explicativos adicionais que se
podem agregar em factores de ordem temporal e factores de ordem
comportamental. Wolpert (1964) considera que a diversidade do comportamento
humano é enorme, sendo quase irrealista falar de populações homogéneas. A
hipótese de que o consumidor actua sempre no sentido de minimizar o esforço
pode não ser válida já que, segundo Downs (1970), a distância é apenas um dos
factores que entra na sua formulação, para não falar do vendedor que, certamente,
tem as suas decisões de localização fortemente influenciadas por factores de
ordem psicológica.
Um produto também pode ser caracterizado pela sua centralidade avaliada em
termos de raridade com que é oferecida no mercado. Produtos encontrados em
toda a parte, por menor que seja o centro de mercado, são produtos de
centralidade inferior, enquanto que os produtos encontrados apenas em alguns
lugares de maior expressão são de centralidade superior. Além disso, há ainda
uma relação directa entre a centralidade e o tamanho da área de mercado ou, de
uma forma mais precisa, tanto o tamanho do lugar como a população da área de
mercado aumentam exponencialmente à medida que aumenta o nível de
hierarquia (Richardson, 1973, p. 87), o que é perfeitamente compatível com a
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
89
hipótese empírica de que a diversidade de negócios num centro aumenta, de
acordo com o nível do próprio centro.
Durante quase 30 anos, a abordagem gravitacional foi um dos instrumentos mais
utilizados na análise espacial quer como modelos de trocas inter-espaciais, quer
como medida de centralidade, quer para medir a influência relativa de uma
região sobre outra (Aydalot, 1985, p. 275). De entre estes modelos, destaque-se o
modelo de localização dos parques habitacionais de Hansen (1959), o modelo de
localização do comércio a retalho, o modelo de fluxo de tráfego e o modelo de
Lowry (1964). Contudo, uma vez que estes modelos são mais utilizados no
planeamento urbano (enquanto suporte teórico de ordenamento do território),
iremos estudá-los no capítulo que dedicamos às questões do planeamento do
território137.
2.2.5. A teoria da localização e seus desenvolvimentos
Entre a teoria clássica ou tradicional da localização e a realidade existe um
desfasamento significativo o que coloca algumas dificuldades na sua utilização
para explicar as dinâmicas de localização das actividades económicas e dos
equipamentos sociais. As críticas à teoria clássica da localização são diversas. No
entanto, a ausência de um corpo teórico é, porventura, a falta mais grave que se
pode apontar à teoria clássica da localização. Salientem-se, ainda, as seguintes três
críticas:
•••• a consideração da empresa de uma forma isolada, o que leva a desprezar os
efeitos cumulativos da localização de uma empresa sobre as outras. Ressalve-
se que, no entanto, Weber e Christaller referiram este problema sem, contudo,
lhe dar um corpo teórico;
137 Ver 3º capítulo desta tese.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
90
•••• os custos de transporte estão no centro da teoria tradicional de localização.
Ora, a diversidade de características dos produtos é tão elevada e importante
que dificulta a generalização sobre a introdução dos custos de transporte na
teoria da localização (Reigado, 1999, p.10). Embora, Weber e Lösch tenham
relativizado o papel dos custos de transporte na explicação da localização
industrial não apresentaram uma teoria alternativa;
•••• a assunção de que os agentes económicos detêm informação completa e agem
com racionalidade é, em nosso entender, errada. A informação sobre
determinado fenómeno económico e social nunca é completa. As empresas
nem sempre têm acesso à informação necessária e em tempo útil, nem sempre
a circulação da informação é fluída pelo que a sua detenção, por parte de
algumas empresas, permite controlar o mercado. A questão da racionalidade
do agente económico é também uma questão controversa. Na realidade, o
decisor orienta a sua acção de acordo com o “mapa mental”138 do local que foi
construindo de acordo com a sua experiência, as suas preferências pessoais
(valores, cultura, etc.), as relações pessoais e de vizinhança. Assim, embora
não negando a racionalidade dos agentes económicos, parece-nos que os
factores de ordem psicológica têm um papel importante no processo de
tomada de decisão.
Além disso, as limitações relativas à informação, nomeadamente em termos
temporais, dificultam a apreciação sobre o que é racional ou não. O sistema real
está em constante evolução pelo que uma decisão que tomada ex-ante nos parece
racional poderá não o ser no decorrer do processo, ou seja, no momento ex-post.
Marques Reigado (ibid.) salienta, ainda, que a escassez de informação sobre o
futuro levanta a questão da racionalidade das decisões agora tomadas com
incidência no médio/longo prazo.
Apesar das críticas dirigidas aos modelos clássicos de localização é de realçar que
estes modelos reflectem a evolução das forças produtivas, a estrutura e
organização da economia e a própria evolução da teoria económica. Cite-se, a este
138 Ver Allen Pred (1966), Pallenbarg (1985)
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91
respeito, a teoria de Weber que se mantém extremamente útil quando se estuda a
localização de empresas em que os custos de transporte têm um peso importante
na estrutura de custos.
Para Weber (1972), a decisão de localização, com efeitos a médio/longo prazo,
suporta alguma incerteza pelo que a melhor escolha não é mais procurar uma
maximização impossível dos lucros, mas minimizar os riscos, adoptar uma atitude
probabilística, utilizar factores de escolha em que a racionalidade não é
estritamente monetária. A estratégia de minimização dos riscos impõe-se, logo
fazer como os outros torna-se numa opção lógica. Para Richardson (1973), em
termos gerais, a incerteza justifica a escolha de uma localização não óptima, mas
somente a viável. Smith (1971) considera que as empresas são incapazes de
quantificar, com precisão, os benefícios ligados a cada possível localização.
Assim, estas limitam-se a estabelecer dentro do território estudado os locais com
lucro e, destes, as localizações que maximizam as vantagens não monetárias. A
consideração de factores de localização não económicos (preferência por um
ambiente mais agradável, a procura de comodidades pessoais, a escolha à priori de
grandes cidades) tem uma importância crescente. Além disso, existem outros
factores - informação sobre o local de origem ou de residência do empresário, o
bem estar, a projecção social, a possibilidade de encontrar trabalhadores da sua
confiança - que influenciam a decisão. A mão-de-obra é também resistente à
mobilidade (geralmente, procura emprego próximo da área de residência)
constituindo-se num elemento a ter em consideração na localização (Johansson,
M. et all, 1991). Esta situação leva Simon a afirmar que os agentes têm um
comportamento optimizador e não maximizador (cit. Reigado, 1999, p. 11).
Pred (1966), não concordando com o pressuposto clássico da racionalidade dos
agentes económicos e da existência de informação completa, concentra a sua
atenção em duas situações: 1) disponibilidade e características da informação; 2)
especificidade do processo de escolha. O autor salienta, ainda, o papel das
qualidades pessoais e da managerial intelligence na localização, bem como o
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facto de os indivíduos agirem, com alguma frequência, nas fronteiras da
racionalidade, pelo que os resultados das escolhas devem ser abordados de forma
probabilística (ibid., p. 11). Esta abordagem, por um lado, torna possível diminuir
a má qualidade das estimativas através do cálculo das probabilidades e do estudo
de behavioural space, desde que se trabalhe com valores esperados e, por outro,
permite a sua aplicação nos casos em que a informação é deficiente ou a
diversidade de conhecimentos é grande. Refira-se que, para Marques Reigado
(1999), embora esta abordagem seja passível de aplicação com relativo sucesso a
casos isolados, o seu contributo para a explicação dos padrões de mudanças de
localização e dinâmicas regionais não é significativo. Segundo o mesmo autor, as
alterações tecnológicas e os problemas institucionais não têm o devido destaque.
Acrescente-se, ainda, que as decisões relativas ao investimento e à localização são
bastante diferentes entre as PME's e as grandes empresas nas quais se incluem as
multinacionais.
A abordagem cumulativa dos efeitos ou causas - spread e backwash effects139 - na
concentração geográfica das actividades económicas possibilitou a Myrdal (1957)
integrar, de forma sistémica, os problemas da escolha óptima da localização com
os problemas do desenvolvimento económico (ver fluxograma 2.2).
Esta teoria que aborda, simultaneamente, os problemas de localização e os da
teoria do desenvolvimento regional, assenta no princípio de que a escolha da
localização e o desenvolvimento económico, na óptica regional e mundial, só
podem ser explicados através da mobilidade espacial do capital .
O modelo, concebido para um país com um nível de desenvolvimento económico
baixo, mostra como a localização num determinado local, de uma nova actividade
económica, com razoável dimensão, teria efeitos positivos na expansão do
emprego e da população. Admitindo que o Estado não influencia a rede de feitos
cumulativos, Myrdal afirma que a dotação da região ou localidade em infra-
139 Os spread effects são efeitos cumulativos inter regionais positivos com origem na região e que se ramificam para o resto do país. Os backwash effects são efeitos cumulativos inter regionais negativos para o resto do país devido à atracção dos factores para a região.
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estruturas, equipamento, empresas públicas de grande dimensão e serviços resulta
do aumento local das receitas fiscais, o que leva a uma melhoria no ambiente
empresarial na região/local. Sendo a teoria de Myrdal um sistema integrado de
vários contributos (geografia, micro e macro economia) ela é, contudo, uma das
poucas teorias de economia regional em que o sistema económico é abordado de
forma dinâmica (ibid., p.14).
Fluxograma 2.2 Princípio das causas cumulativas
Fonte: Reigado, F. M. (1999), Planeamento e desenvolvimento regional: abordagem sistémica, p. 13 (no pelo)
A abordagem estrutural está ligada à teoria marxista e tem, nos últimos 20 anos,
evoluído no sentido da teoria macro-económica e da organização industrial. Para
Marques Reigado (1999), nesta aproximação da teoria económica aos problemas
Aumento da mão-de-obra qualificada
Localização das actividades económicas
Expansão do emprego e da
população local Desenvolvimento das “economias externas”
Melhoramento das infra-estruturas
Desenvolvimento das empresas através da polarização técnica
Expansão da produção de bens e serviços para o
mercado local
Aumento do bem estar da sociedade
Aumento das receitas fiscais
Atracção de capital e de actividades empresariais em consequência do aumento da procura
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sociais é de destacar os chamados economistas institucionais – entre os quais
citamos Gralbaight – e a chamada Public Choice School com Buchanan. Ao nível
da geografia económica são de realçar os franceses Lipietz e Castells e os anglo-
saxónicos Allen Scott e Doreen Massey (1984) que, a este respeito, escreve Quite
centrally, location and geographical mobility are key factors in the conflict
between labour and capital within production. The simple fact of distance, of
spatial separation, can be important e mais adiante one of the capital’s crucial
advantages over labour is its great, and increasing mobility (...) capital can make
positive use, in a way labour cannot, of a distance and differentiation (cit.
Reigado, 1999, p. 16).
Esta teoria que aborda, simultaneamente, os problemas de localização e os da
teoria do desenvolvimento regional, assenta no princípio de que a escolha da
localização e o desenvolvimento económico, na óptica regional e mundial, só
podem ser explicados através da mobilidade espacial do capital .
SECÇÃO II – TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL 2.3. TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
2.3.1. Breve introdução
A dinâmica do crescimento regional é analisada, muitas das vezes, recorrendo a
teorias e modelos explicativos derivados do corpo teórico mais geral da
Economia. Os modelos elaborados são, muitas vezes, tentativas para levar à escala
das regiões as construções arquitectadas para o todo nacional. Saliente-se que
estes modelos têm de responder a preocupações de equilíbrio inter-regional que,
enquanto modelos de nível nacional, naturalmente ignoram. Por outro lado, o
crescimento equilibrado da economia nacional (formada por várias regiões) e em
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cada uma das regiões é extremamente difícil de atingir. No entanto, apesar das
limitações do suporte teórico proposto, o seu estudo tem interesse.
Segundo a teoria neoclássica, e de um modo bastantes simples, há crescimento
regional quando a população rural (com baixos rendimentos) se torna urbana e
industrial ou se verifica a afluência de mão-de-obra vinda o exterior, isto é, de
outra região (Borts e Stein, 1964).
A orientação do crescimento via procura (ponto central da teoria da base) veio
inspirar vários autores. Alguns como Kaldor (1970), prolongaram no domínio
regional as suas construções globais, outros como Hartman e Seckler (1967)
aprofundaram a teoria da base económica, seguindo uma metodologia muito
próxima da keynesiana, fazendo depender o produto regional do multiplicador das
exportações, do acelerador e das tendências endógenas de crescimento da região.
Kaldor apoia-se na teoria de Hicks segundo a qual o crescimento da procura
autónoma comanda o crescimento da produção a longo prazo. No contexto
regional, o principal factor será a procura autónoma externa140, pelo que o
crescimento regional dependerá do crescimento da procura de exportação à qual
se ajustarão as taxas de crescimento do consumo interno e do investimento. Ainda
segundo Kaldor, uma região ao adquirir vantagens de crescimento, tenderá a
mantê-las e até acentuá-las pela via dos rendimentos crescentes que o próprio
crescimento induz141.
Richardson (1969), ao analisar estes modelos de crescimento regional, coloca
várias dúvidas sobre a insuficiência de modelos agregados que têm sido utilizados
enquanto forem a-espaciais (Lopes, 1984, p. 123). Ao mesmo tempo chama a
atenção para a complexidade e interdependência dos fenómenos capazes de
explicar o crescimento, ao nível das regiões, vindo a concluir da necessidade de
ter em conta o processo histórico por duas ordens de razão: 1) o comportamento
140 Associa-se à teoria da base. Este modelo tem algumas dificuldade operativas ligadas à dificuldade de se obter informação relativa às exportações.
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anterior das varáveis pode ser a “chave” para a explicação dos processos actuais
de crescimento; 2) os padrões actuais de crescimento, na maioria dos casos, são
diferentes dos do passado.
No final dos anos 60, vários investigadores iniciam a análise dos processos
espaciais de difusão da inovação a partir de um ponto inicial. A questão que se
colocava era a de saber como o conjunto do espaço adoptaria progressivamente a
inovação. Para Hagerstrand (1967), apoiado em observações empíricas, a
inovação era adoptada em várias fases sucessivas: 1) difusão inicial através do
contacto directo na vizinhança; 2) disseminação progressiva pelo espaço devido
aos efeitos da vizinhança; 3) saturação no centro enquanto na periferia a taxa de
adopção é, ainda, baixa. Beckmann (1970) e Morill (1968) nas suas formulações
advogam que a distância reduz o ritmo de difusão e a taxa final de adopção de
inovação (cit. Aydalot, 1985, p. 116).
Mais recentemente, retomando-se algumas posições dos anos 50, o
desenvolvimento regional é visto como um processo que se desenvolve por
etapas. Assim, para vários autores a organização espacial das economias nacionais
evolui paralelamente às etapas de desenvolvimento nacional. Willianson (1965) a
este respeito escreve: as disparidades regionais crescentes e o dualismo Norte-Sul
crescente são típicos das primeiras etapas do desenvolvimento, enquanto a
convergência regional e o desaparecimento dos problemas Norte-Sul são
representativos das fases de maturidade do desenvolvimento nacional (ibid., p.
117). Friedmann e Richardson (1973) propuseram esquemas explicativos deste
duplo processo de divergência seguido de convergência142.
141 É o chamado efeito de Verdoorn que torna o modelo circular e cumulativo. Estes modelos de causalidade cumulativa explicam a essência da teoria da divergência entre o centro e a periferia, entre as áreas industriais e agrícolas, entre zonas urbanas e rurais. Ver Dixon e Thirlwall (1975). 142 Na sua obra Regional economic growth, Richardson coloca três hipóteses simétricas: a) o desenvolvimento nacional é, de início, polarizado e depois integrado; b) no seio de cada região, o desenvolvimento antes de se difundir é, primeiro, concentrado em poucos centros (a integração inter-regional verifica-se primeiro entre os centros das diferentes regiões); c) no seio das áreas urbanas, a descentralização progressiva beneficia a periferia.
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97
As assimetrias regionais que, longe de se esbaterem, têm vindo a agravar-se
deram origem a novas abordagens do desenvolvimento regional como, por
exemplo, a do centro-periferia (Friedmann, 1966, 1972) apoiada na existência de
interdependência entre actividades específicas com localizações geográficas
distintas dispostas, muitas das vezes, de acordo com as linhas de comunicação
dominantes facilitando, assim, a transmissão dos efeitos de crescimento. Perloff,
(1963) explora as vantagens do processo inter-sectorial partindo do princípio que,
embora seja possível identificar as actividades com maior capacidade de
promoção do crescimento, nem todas as regiões disporão de vantagens relativas
no que respeita ao acesso input-output resultando daí uma reduzida capacidade
de atracção para este conjunto de actividades (Lopes, 1984, p. 137).
Outras abordagens do desenvolvimento regional partem, igualmente, das
desigualdades existentes no sistema regional, ou seja, certas regiões têm
características que lhes permite criar uma organização desigual do espaço, como
por exemplo: o poder dominante das grandes unidades (teoria dos pólos de
crescimento); o carácter cumulativo dos mecanismos de crescimento (teoria da
causalidade circular de Myrdal); a lógica do capital (teoria do imperialismo); a
acção das forças que retardam ou anulam a convergência (teoria centro-periferia);
as tendências de especialização hierarquizada dos espaços (teoria da divisão
espacial do trabalho) ... Assim, o espaço não é mais, como para os neoclássicos,
um elemento a integrar, igualizar e uniformizar, mas, pelo contrário, ele é a base
da desigualdade técnica, económica e social (Aydalot, 1985, p. 112).
2.3.2. A teoria da base-exportação ou export base theory
A teoria da base-exportação tem como pressuposto que só os conjuntos
económicos de grande dimensão, tais como as nações, são capazes de ter o
crescimento económico e social em função de variáveis internas. Se
considerarmos apenas partes do espaço nacional, mais ou menos especializados,
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98
estes não podem, através do seu esforço interno nem das suas aptidões naturais,
sustentar um processo de desenvolvimento pelo que ficam dependentes dos sinais
vindos do exterior. Daqui conclui-se que é necessário existir uma conjuntura inter-
espacial favorável para que se verifique crescimento regional. Este pressuposto da
teoria da base está ligado à concepção de crescimento sustentado pela procura, ou
seja, a uma visão keynesiana do desenvolvimento.
De acordo com a teoria da base, e segundo Lowry143 (1964) no seio da economia
regional, deve distinguir-se dois sectores - o sector exportador ou de base e o
sector local que satisfaz a procura local - pelo que o rendimento total da região
será constituído pelo rendimento proporcionado pelas actividades de base e pelo
das actividades locais (cit. Reigado, 1999, pp. 296-298). Assumindo que as
actividades locais são uma fracção constante do rendimento total teremos que este
é, por sua vez, um múltiplo do rendimento das exportações. O valor deste
multiplicador depende do rácio despesas locais/despesas totais. Em termos
algébricos, o rendimento total virá (Aydalot, 1985, p. 121):
Ba
Y−
=1
1
onde,
Y - Rendimento total B - Rendimentos dos sectores de base ou exportadores a - Propensão média e marginal a despender localmente o rendimento
A operacionalização deste modelo levanta, contudo, duas questões importantes,
ou seja, como escolher a unidade de medida e como medir as exportações. Em
relação à primeira questão, dada a falta de informação estatística regionalizada
sobre a produção ou o rendimento, geralmente opta-se pelo emprego. A medição
das exportações, tendo em consideração a pouca informação estatística sobre o
comércio inter-regional, vem alimentando um longo debate. Hoyt (1939)
apresentou uma solução, calculando as exportações de forma indirecta, ou seja,
143 O modelo de Lowry dado ser, essencialmente, um modelo de planeamento urbano será estudado no 3º capítulo desta tese.
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99
recorreu ao quociente de localização144 (cit. Aydalot, 1985, p. 122). Como
facilmente se verifica, a teoria da base-exportações defende que o crescimento
económico da região dependerá da sua capacidade exportadora dos sectores
básicos enquanto os impostos, a despesa pública e o crédito obtido/concedido são
considerados como residuais que se ajustam, automaticamente, ao valor das
exportações. O fluxograma 2.3 descreve, de forma sucinta, as relações que unem
as regiões ao exterior com a originalidade de privilegiar uma única ligação
(receitas de exportação) considerando, implicitamente, que as outras ligações são
mecânicas.
Fluxograma 2.3
Factores de crescimento económico
Fonte: Aydalot, P. (1985), Economie Régionale et Urbaine, Economica, Paris, p. 125 Esta teoria da base tem sido alvo de várias críticas, nomeadamente: a) o
multiplicador das exportações pode igualmente medir outras situações; b) não tem
em consideração que as importações diminuem o valor do multiplicador; c) as
despesas do Estado não são devidamente consideradas no modelo; d) as
144 O quociente de localização é entendido como uma medida de especialização das regiões e calcula-se pela formula Ql = (xij / xi) / (Xj / X) onde x mede a actividade j ao nível regional i e X mede a actividade j ao nível nacional. No caso do quociente ser superior à unidade, a região diz-se exportadora em relação ao sector em estudo.
Impostos nacionais
Rendimento regional
Empréstimos concedidos
Empréstimos obtidos
Despesas do Estado
Receitas das exportações
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100
exportações dos sectores locais não são explicadas; e) o mercado intra-regional
não é considerado. Além disso, o modelo da base-exportações continua a deixar
em aberto duas questões, ou seja, como atrair as empresas das actividades básicas
e o que explica as diferenças regionais na atracção dessas empresas.
Jacobs (1984) ao tentar responder a estas questões, observa a seguinte tendência:
as regiões que conseguiram, durante décadas, formar um centro urbano com uma
rede diferenciada de actividades terão, no futuro, boas possibilidades de
desenvolvimento (cit. Reigado, 1999, p. 299). Por sua vez, os centros ou regiões
que possuem este tipo de rede tendem a ligar-se com outras congéneres formando
pontos chave do comércio mundial e de inovação económica. Ao contrário, as
regiões de monocultura ou mono indústria terão as suas possibilidades de
desenvolvimento muito limitadas. Por último, registe-se que a teoria da base-
exportações tem tido algum sucesso, essencialmente, por associar um ambiente
teórico clássico do comércio internacional com uma apresentação de tipo
keynesiana: o crescimento depende da procura.
2.3.3. A teoria dos pólos de desenvolvimento
Como já vimos o crescimento económico não surge espacialmente distribuído de
forma igual. Pelo contrário, a par dos factores naturais e históricos, os efeitos da
política económica podem ser responsabilizados pela concentração das
actividades económicas em locais específicos, enquanto outros se situam na
periferia do crescimento.
A teoria dos pólos parte do princípio que os efeitos de dispersão que irradiam de
“pontos” espacialmente localizados (empresas ou grupos de empresas,
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101
aglomerações populacionais, etc.) transmitem impulsos de crescimentos a outros
“pontos” – efeitos de dispersão – que podem ultrapassar os efeitos de
polarização, isto é, reabsorção dos efeitos de dispersão pelo próprio “ponto”
(Lopes, 1984, p.295).
Desenvolvida por Perroux (1955), a teoria dos pólos de crescimento (ou de
desenvolvimento) começou por sustentar que o crescimento se iniciaria a partir de
uma empresa motora ou pólo de crescimento que, por sua vez, seria formado por
um centro urbano desenvolvido. O desenvolvimento deste centro urbano
assentaria no aumento da produtividade do seu hinterland e na produtividade das
suas actividades secundárias. Nestes pólos verificar-se-ia, geralmente, dois tipos
de efeitos ou seja o efeito de aglomeração (atracção de actividades
complementares) e o efeito de ligação (consequência da criação de novas redes
viárias).
O desenvolvimento dos pólos de crescimento está profundamente relacionado
com a existência de indústrias que se costumam designar por indústrias motoras145
e indústrias chave146. Por seu turno, as actividades adicionais, ao aparecerem
como resposta aos impulsos dados pelas indústrias motoras, não se irão dispersar
pelo território mas, pelo contrário, tendem a agrupar-se junto da unidade motora.
Esta situação deve-se à pequena dimensão das empresas dependentes (actividades
adicionais) que evitam o seu isolamento ou, por outras palavras, procuram
economias externas de aglomeração, um melhor acesso aos diversos mercados e
serviços. A observação empírica mostra, claramente, que as empresas
subcontratadas costumam agrupar-se junto das empresas que procedem
regularmente à subcontratação. Perroux (1955), ao estudar os pólos de
145 Consideram-se indústrias motoras as de crescimento rápido, modernas e dinâmicas, de grande capacidade de difusão dos efeitos da inovação e com um elevado grau de interdependência sectorial. 146 As indústrias chave destacam-se, de entre as indústrias motoras, pela sua capacidade de desencadearem efeitos multiplicadores superiores à sua própria produção.
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102
desenvolvimento existentes147 veio a concluir que o pólo altera o seu próprio
ambiente ao criar novos tipos de consumos e comportamentos económicos, bem
como ao desenvolver necessidades colectivas.
Perrin (1983) contribui para a teoria da polarização ao demonstrar que não é o tipo
de actividade industrial o factor polarizante, mas a sua capacidade de evoluir, a
sua complexidade e a natureza das tecnologias que incorpora. Assim, para o autor,
enquanto as actividades de fabricação são, ao contrário das de transformação (por
exemplo, a indústria do aço) susceptíveis de criar uma polarização real, as
actividades quaternárias (serviços especializados, investigação, gestão de
empresas) podem promover polarizações duráveis.
Aos pólos coloca-se, entretanto, uma questão importante: o pólo, de certa forma,
pode definir-se como um conjunto de indústrias interligadas e hierarquizadas e,
simultaneamente, como um lugar de concentração dessas actividades produtivas.
Assim, para Aydalot (1985, p.130) como teoria de desenvolvimento, o pólo é um
mecanismo indutor do crescimento; como teoria espacial, o pólo explica a
concentração espacial do crescimento.
Em termos de desenvolvimento regional equilibrado, a teoria dos pólos sugere que
os investimentos em actividades motoras se concentram em “pólos” interligados
entre si que, formando uma rede, favorecem a propagação dos efeitos de
dispersão. O reconhecimento da dimensão do espaço no funcionamento da
empresa tem em vista responder a uma questão fundamental: quais as medidas
que se devem tomar para que os efeitos de crescimento, provocados pela
existência de uma indústria de base e de uma rede de relações, fiquem na região e
não se dispersem para outras regiões. Para Higins (1977) o pólo pode difundir
para o exterior um crescimento superior ao verificado no seu seio (ibid.). A
informação disponível mostra-nos que, se a difusão não se verificar de um modo
regular, o pólo concentrará em si o conjunto dos efeitos de dispersão privando os
147 A bacia do Reno, nos anos 50, era considerado como o protótipo dos pólos de desenvolvimento: a partir do carvão e do aço, os mecanismos amplificadores levaram à enorme concentração de homens, capitais e actividades num espaço restrito.
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103
espaços periféricos ou, então, as grandes metrópoles “recuperarão” os efeitos
deixando ao pólo um papel sem qualquer relevância no processo de fomento do
desenvolvimento.
Friedmann (1966) atento a esta situação combina na sua teoria, formulada na base
dos conceitos de centro e periferia, as teorias dos pólos de crescimento e a dos
efeitos cumulativos de Myrdal. O desenvolvimento de uma região periférica pelas
administrações pública e local tinha, para Friedmann, como objectivo a criação de
uma rede de efeitos cumulativos entre as regiões centrais até se alcançar uma
integração da economia nacional em que as assimetrias regionais eram eliminadas.
Durante quase trinta anos (dos anos 50 a 80), a noção de pólo de crescimento
parecia a interpretação mais natural do desenvolvimento espacial148. Actualmente,
a situação mudou levando a teoria dos pólos de desenvolvimento a ser objecto de
alguns ajustamentos integrando-os num corpo teórico mais vasto. De facto, a
evolução recente nos países europeus e nos EUA põe em evidência a dispersão da
indústria com novos contornos: paralelamente à industrialização das zonas
periféricas, verifica-se nos antigos centros a sua desindustrialização absoluta.
Este movimento indica que a problemática do desenvolvimento no espaço está a
inflectir-se. No plano teórico, é possível chegar a duas posições distintas, isto é,
ou se proporciona uma nova vida à óptica neoclássica vendo na concentração
polarizada um elemento que provoca atrasos no estabelecimento do equilíbrio
inter-regional, ou se questiona a validade dos indicadores, puramente materiais,
do desenvolvimento encarando esta nova forma de polarização da indústria como
uma nova forma de desenvolvimento desigual.
A teoria dos pólos embora constituindo um avanço significativo nas teorias do
desenvolvimento regional tem alguns aspectos negativos. Em primeiro lugar, as
escolhas da localização e os processo de desenvolvimento regional não são
devidamente clarificados. Em segundo lugar, é exagerado afirmar-se que o
148 A tendência para a concentração da indústria europeia em pólos começa a manifestar-se na Segunda metade do séc. XIX.
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104
desenvolvimento das regiões periféricas depende unicamente da localização de
uma grande empresa. Por exemplo, Aydalot (1976) apresenta o seu modelo de
longo prazo em que mostra como uma inovação fundamental desencadeia um
ciclo inter-regional. Nijkamp (1982), baseando-se na teoria das catástrofes149,
mostra como a inovação e as indivisibilidades ligadas às infra estruturas podem
levar a um enorme deslocamento do ponto de equilíbrio. E em terceiro lugar, além
dos efeitos positivos que todos reconhecemos há também efeitos negativos ou os
backwash effects de Myrdal.
2.3.4. A teoria do desenvolvimento desigual
Para certos autores, a crítica dos neoclássicos tem a sua origem na economia
internacional. Para Myrdal (1957), Bologh, Prebish, Hilgert ou Eckaus (1961) a
análise dos processos que decorrem nas relações entre espaços desigualmente
desenvolvidos põe em evidência os desequilíbrios crescentes ao nível das regiões.
Segundo Myrdal, a mobilidade dos factores não é reequilibrante e a mobilidade
dos bens n’a q’une utilité limitée en tant que substitut au mouvement des facteurs
pour réaliser l’intégration (Aydalot, 1985, p. 138). Não é a mobilidade dos bens
ou dos factores que poderá igualar as produtividades marginais dos factores mas,
ao contrário, só a realização prévia desta igualdade poderá suprimir o carácter
desequilibrante da mobilidade já que esta é um processus cumulatif engendré par
le commérce international et tendant à détruire l’equilibre des proportions de
facteurs et des prix de facteurs (ibid.). Daí, o assumir a posição de que uma
diferença inicial nos níveis de produtividade conduz necessariamente a uma troca
desigual.
149 A teoria das catástrofes ocupa-se das descontinuidades brutais no processo de desenvolvimento, quer ao nível nacional, quer ao nível regional, provocadas por fenómenos naturais ou pela actividade humana.
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105
Se para Perroux ou Hirschmann (1958) a relação centro-periferia pode ser o motor
do desenvolvimento, para outros esta é o suporte da desigualdade. Para Friedmann
(1972), esta relação é de natureza colonial e chega a afirmar que le fait
indiscutible est que la convergence régionale ne survient pas automatiquement au
cours de l’histoire du développement d’une nation (ibid., p. 139). Ainda, segundo
Friedmann, o centro e a periferia não se distinguem somente pela dotação de
factores mas, também, porque:
• as actividades de “ponta” concentram-se no centro;
• o ambiente cultural é mais favorável no centro;
• os rendimentos decrescentes, bloqueadores do crescimento do centro, tardam a
aparecer;
• as ocasiões de lucro são mal apreendidas e utilizadas pela periferia;
• as exportações do centro têm uma procura cada vez maior;
• a periferia, desprovida dos seus capitais e recursos humanos, tem dificuldade
em se adaptar.
No centro da clivagem centro-periferia está o domínio tecnológico e institucional
das sociedades inovadoras. Assim, enquanto os centros têm poder sobre o seu
próprio desenvolvimento, as periferias, inaptas em inovação, ficam sujeitas às
decisões provenientes do centro. Stuart Holland (1979) propõe um esquema, que
completa o de Myrdal, para caracterizar a movimentação de factores de produção
entre espaços/regiões ricas e pobres. O fluxograma 2.4, tendo em consideração a
acção perturbadora dos países menos desenvolvidos, mostra que as relações entre
regiões pobres e ricas dos países industrializados não são mais do que uma parte
do conjunto de relações bastante mais complexas.
A divisão espacial do trabalho, proposta nos finais dos anos 70 pelos ingleses
Massey e Megan (Grã-Bretanha) e pelo francês Aydalot (1976), é um ensaio para
integrar a formação dos processos centro-periferia numa concepção de conjunto
de espaços e de desenvolvimento regional. Qual a razão que leva os centros com
um nível elevado de poder e de qualificação a opor-se às periferias subordinadas
e dedicadas às tarefas rotineiras ? O elemento central da resposta a esta questão
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106
tem a ver com a análise do desfasamento entre as formas de produção e os modos
de vida. Efectivamente, a cada forma de organização da produção estão associadas
formas de vida quotidiana e modelos de consumo, pelo que, uma tecnologia terá
vantagens em relação a outra, não tanto pela satisfação técnica ou produtividade
aparente mas, pelos modelos sociais que permite introduzir. Aliás, toda a nova
tecnologia implica formas de funcionamento mais complexas, modos de vida mais
urbanos, mais mercados e mais e maiores custos. De um modo geral, e numa
perspectiva de longo prazo, a tecnologia vê os seus efeitos positivos sobre a
produtividade alterados pelo encarecimento correspondente dos modos de vida.
Fluxograma 2.4 Movimentação de factores de produção
Fonte: Aydalot, P. (1985), Economie Régionale et Urbaine, Economica, Paris, p. 141
O espaço reflecte o estado em que se encontra o modo de produção e determina os
modos de vida. A manutenção dos trabalhadores no seu meio original permite,
pelo menos, durante algum tempo perpetuar os modos de vida menos
dispendiosos ainda que a base económica tenha desaparecido. Este desfasamento,
entre a adaptação das formas de produção e os de consumo, é o motor da
evolução. O espaço, neste contexto, passa a ser um actor essencial do processo de
desenvolvimento: durante muito tempo o espaço continua heterogéneo permitindo
à empresa jogar com esta heterogeneidade em seu proveito.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
107
A evolução do pós-guerra pode ser interpretada como um processo quase cíclico
de substituição de uma forma de organização da produção por outra. O declínio
dos velhos modos de produção traduz-se, simultaneamente, pela libertação de uma
força de trabalho privada do seu emprego anterior (muitas das vezes qualificado) e
pela desqualificação da mão-de-obra, uma vez que esta não tem a qualificação
exigida pelas novas tecnologias. A estes trabalhadores não resta outra solução
senão oferecerem a sua força de trabalho às empresas estrangeiras a operarem na
região desenvolvendo-se, assim, a criação de uma nova força de trabalho
industrial proveniente de estruturas arruinadas. O progresso dos transportes e
comunicações liberta um número crescente de actividades do constrangimento da
distância, pelo que a indústria se vê “obrigada”, cada vez mais, a deslocar-se para
junto dos recursos humanos tornando os velhos centros industriais periféricos.
Estas novas formas de organização reproduzem, porventura de uma forma mais
intensa, as assimetrias de desenvolvimento verificadas entre as regiões centrais e
as periféricas.
Actualmente, as novas tecnologias têm posto em causa este modelo territorial e
podem levar as novas actividades, cujo ciclo produtivo ainda não atingiu a
maturidade, a retornarem para os velhos centros. O espaço oferece, assim, um
registo histórico ou, por outras palavras, o espaço é fruto dos estratos depostos
pelos períodos anteriores conservando, desta forma, a imagem dos modos de
produção que aí, sucessivamente, se localizaram. O espaço é, por natureza, a
expressão das desigualdades entre os modos de produção dominantes e
dominados, entre zonas dominantes e dominadas. Aos primeiros classificamos
como centros e os segundos como periferias. Enquanto o centro aparece como o
espaço de origem do modo de produção dominante e em expansão, a periferia é o
lugar dos velhos modos de produção que subsistem, de forma dispersa, em
proveito do centro.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
108
2.3.5. O desenvolvimento a partir dos factores endógenos
O desenvolvimento autocentrado, defendido por John Friedmann e Walter Stöhr
(1981), é, essencialmente, uma abordagem territorial do desenvolvimento e uma
crítica à sociedade de consumo das economias ocidentais. A alteração150 das
condições económicas levou à aceitação e rápida difusão das ideias relativas ao
desenvolvimento endógeno. O desenvolvimento autocentrado é passível de se
verificar a vários níveis: regional para os países ocidentais e nacional para os
países do terceiro mundo. Saliente-se, ainda, que o desenvolvimento autocentrado
representa, fundamentalmente, um novo paradigma de desenvolvimento: o
desenvolvimento territorial, o desenvolvimento from below (partindo de baixo) de
Stöhr por oposição ao desenvolvimento funcional (partindo de cima).
Ao desenvolvimento endógeno estão associadas algumas palavras-chave que
passaremos a abordar de forma sucinta (Aydalot, 1985, pp. 146-147):
• desenvolvimento territorial: geralmente, as empresas são o agente
fundamental do desenvolvimento. O espaço, por seu lado, reúne um certo número
de características técnicas que a empresa utiliza. No nosso entender, o espaço não
pode ser considerado um elemento neutro, pelo que dar ao meio o papel essencial
é tornar o território a fonte do desenvolvimento;
• necessidades básicas: o desenvolvimento é, agora, definido não em termos
quantitativos mas, em relação com as necessidades das populações (habitação,
alimentação, educação, emprego, etc.). O nível de desenvolvimento é apreciado
em função do acesso das populações ao bem-estar e não em função da posição na
divisão internacional do trabalho151;
150 O modelo de crescimento, baseado numa taxa de crescimento elevada, no nível baixo de incerteza, e custos decrescentes de energia e de transportes e em tecnologias que favoreciam a grande escala, entrou em crise. Ao nível das regiões, estas compreenderam que o modelo clássico de desenvolvimento só lhes pode trazer efeitos negativos: dependência acrescida e sem contrapartidas, exploração exaustiva dos recursos locais, degradação do ambiental e especialização em funções e sectores subordinados ou regressivos. 151 Em termos técnicos, rompe-se com a lógica da teoria de base: não é a procura externa que define o crescimento, mas as necessidade internas do território em consideração.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
109
• desenvolvimento comunitário: o desenvolvimento é fruto da participação de
toda a população;
• valorização dos recursos locais: o desenvolvimento interno da região implica
privilegiar as fileiras que utilizam os recursos naturais locais ou o uso das
tradições industriais locais;
• desenvolvimento integrado: a promoção do desenvolvimento global que
integra, numa mesma lógica, os aspectos sociais, culturais, técnicos, agrícolas e
industriais é melhor opção do que desenvolver uma ou outra especialização de
ponta;
• autarcia selectiva: as relações com as outras regiões e países não devem pôr
em causa a preferência pelos produtos locais e a diferenciação dos modos de vida;
• pequena escala: prioridade aos pequenos projectos, empresas e cidades como
forma de manter o poder de decisão na região.
O estudo do crescimento a partir de factores internos exige particular atenção ao
aumento da disponibilidade de factores produtivos através do aumento dos
investimentos, da melhoria na eficiência da produção, do nível educacional e da
formação profissional, bem como dos sistemas de transportes e comunicações. A
melhoria das infra estruturas e a introdução de inovações tecnológicas são,
igualmente, factores internos a ter em consideração. Dadas as novas tecnologias
de transporte, a superação do factor distância entre o centro de decisão e o nódulo
onde se desenvolvem as actividades produtivas, tem um custo sem significado
quando comparado com o custo total de produção. Da mesma forma, os custos de
deslocação dos agentes de decisão para os locais onde se encontram as
actividades executivas de primeira ordem ao terem pouco significado levam-nos a
identificar os nódulos das relações de dependência com as actividades executivas
de primeira ordem. De referir que o surgimento destes nódulos de relações de
actividades executivas de primeira ordem está sempre ligado à existência de um
centro urbano dimensionado e equipado para desempenhar um conjunto de
funções administrativas.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
110
A especialização, fruto da inovação, reflecte-se nas transformações das estruturas
económicas que, por sua vez, implicam transformações nas relações de
dependência e reforço das relações de interdependência. Refira-se, ainda que,
além de uma vasta rede de transportes e de comunicações, o ordenamento urbano
e do território, em termos mais gerais, o saneamento básico, a concentração das
actividades comerciais e de serviços, a existência de recursos naturais, a
proximidade de centros de formação, de investigação e inovação, são os factores
fundamentais do desenvolvimento endógeno.
O desenvolvimento endógeno assenta, ainda, na ideia de uma economia flexível
capaz de se adaptar a situações inconstantes e constitui uma alternativa à
economia de grandes unidades. O desenvolvimento endógeno é, assim, a
variedade que se opõe à uniformidade: variedade de culturas, de estatutos sociais,
de técnicas, bem como de gostos, por oposição à rigidez das formas de
organização clássica.
2.3.6. A teoria dos ciclos longos na economia regional
Após os anos 80, a problemática do desenvolvimento regional transformou-se já
que se passou a falar, mais frequentemente, do declínio e não do crescimento.
Após a crise se ter instalado, o papel extremamente importante das grandes
unidades industriais, atribuída pela teoria dos pólos de crescimento e da teoria do
centro-periferia, foi fortemente diminuído aparecendo novos dinamismos. A teoria
das catástrofes e a questão dos ciclos longos, ao nível das regiões, começaram a
chamar a atenção de alguns autores.
Nijkamp (1982) afirma e mostra como a inovação e as indivisibilidades ligadas às
infra-estruturas podem criar catástrofes (ibid., p. 152). Que factos explicam os
ciclos ao nível regional? Como podem os ciclos modelar a conjuntura nas
regiões?. A inovação e a rentabilidade do capital são, geralmente, considerados
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
111
como os principais elementos da evolução. O carácter cíclico virá do facto de as
inovações de base serem os motores das fases ascendentes do ciclo económico. A
este respeito, Perroux chama a tenção para duas situações, isto é, as mudanças
tecnológicas têm conteúdo espacial e, nos modelos cíclicos de difusão de
inovação no espaço a partir de um ponto, as fases ascendentes do ciclo decorrem
em simultâneo com o desenvolvimento dos transportes e comunicações.
Nijkamp e Paelinck (1975) propuseram um modelo de flutuações inter-regionais
segundo o qual o espaço se dividia em pólos de crescimento, pólos de atracção e
regiões intermediárias (ibid., p. 151). Para estes autores, a atractividade de uma
região depende do seu stock de capital, da suas infra-estruturas e do seu stock de
informação. De acordo com determinadas hipóteses, o modelo mostra como o
sistema espacial pode evoluir e como se repartem no espaço os efeitos de difusão
e de retenção. Aydalot (1976), no seu modelo de longo prazo, descreve como uma
inovação fundamental pode dar origem a um ciclo inter-regional.
A aptidão diferenciada dos meios locais para apreenderem e procederem à difusão
da inovação, a constituição de “viveiros” de novas empresas em regiões com
elevadas densidades de pequenas e médias empresas, o comportamento espacial
das novas actividades terciárias e as estratégias in situ e de relocalização espacial
das empresas em períodos de crise (Stöhr, 1984) são novas linhas de investigação
que se abrem.
2.4. RESUMO E CONCLUSÕES
A vida económica foi estudada durante anos no tempo t e parecia decorrer num
mundo com um único ponto que Isard classificou como o país das maravilhas
sem dimensões (Isard, 1960, pp. 25-26). A integração do tempo na análise
económica só se viria a verificar com os marginalistas (Menger, seria o primeiro,
com o desvio produtivo). Embora tivesse havido tentativas anteriores de
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
112
tratamento da variável espaço na teoria económica, só em meados da década de
cinquenta é que será formulada uma teoria geral que integra simultaneamente o
tempo e o espaço.
As tentativas de compreensão/explicação da distribuição espacial dos fenómenos
começaram por verificar-se, fundamentalmente, em termos de descrição das
observações recolhidas e apareceram intimamente ligadas ao “possibilismo” e à
ideia de cultura. Dado que os processos económicos ocorriam em áreas bem
definidas, a superfície da terra parecia susceptível de ser dividida em várias
regiões distintas, mas com condições humanas e físicas que se ajustavam de uma
forma harmoniosa.
Na realidade se, por um lado, a associação extrema de vários fenómenos
raramente ocorre, por outro lado, existem interacções no quadro regional, o que
levou à substituição da explicação regional de tipo descritivo pela descrição
funcional. A ideia base das relações funcionais tornou-se dominante na década
de cinquenta, partindo-se do princípio de que a localização é justificada pelas
interdependências existentes entre os recursos naturais, recursos humanos e
equipamentos.
Os primeiros modelos de localização resultam, no entanto, da generalização de
regularidades empíricas. Richard Cantillon (1755) foi o autor da primeira grande
contribuição para a discussão e explicação da localização dos aglomerados
urbanos. A localização é determinada pelas funções que os aglomerados
populacionais desempenham e, em primeira instância, pela actividade agrícola.
Cantillon atribuiu grande importância às economias de tempo e de transporte para
a definição da organização espacial da sociedade, tornando-as variáveis
estratégicas, bem como à interdependência económica.
Joahann-Heinrich von Thünen (1826), cerca de cinquenta anos depois, analisando
as produções agrícolas conclui da existência de concorrência quanto a usos
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
113
alternativos do solo para a agricultura e adoptando a hipótese de uniformidade
chega, no extremo, a padrões de regularidade geométrica – círculos concêntricos.
A importância da indústria no processo de desenvolvimento económico e social
levou ao estudo da sua localização, inicialmente, sob a óptica da minimização dos
custos de transporte. Weber (1909), por exemplo, ao considerar os custos de
transporte decisivos para a tomada de decisão locacional, viria a afirmar que a
localização mais conveniente seria encontrada no ponto em que os custos
conjuntos de transporte das matérias primas, vindas de várias origens, e os de
colocação do produto final eram mínimos. A introdução da substitubilidade dos
factores, a consideração das economias de aglomeração e de factores
institucionais, os efeitos cumulativos de Myrdal (1956), o potencial populacional
de Hansen (1959) e o mapa mental de Pred (1966) e Pallenbarg (1985) viria a
tornar mais flexível a teoria da localização. No entanto, o mercado continuava a
não ser considerado como uma variável. A análise das relações espaciais permitiu
verificar a Palander (1935) que as relações técnicas entre a produção e o consumo
conduzem a situações em que a localização das unidades de produção estão
situadas junto do consumidor152.
A localização dos equipamentos terciários, de iniciativa privada ou pública, tem
vindo a ganhar uma importância equiparada à dos equipamentos produtivos. A
optimização dos resultados tem levado à sua concentração nos aglomerados
urbanos de média/grande dimensão. Christaller (1933) verificou que cidades de
dimensão populacional semelhante se encontravam distanciadas também de forma
idêntica. No seu modelo é visível a existência de uma hierarquia de aglomerados
populacionais com muitas aldeias e sucessivamente menor número de vilas e
cidades e uma única capital, cujo padrão espacial deveria aproximar-se da
configuração triangular. Neste contexto, cada centro possuiria uma área de
influência próxima da hexagonal. Os lugares, por seu turno, seriam hierarquizados
152 O facto de da evolução técnica e tecnológica permitir a concentração da produção não impede, contudo, que os serviços se aproximem do consumidor desconcentrando-se e dispersando-se.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
114
de acordo com uma rede de interdependência, na qual a centralização é uma
tendência natural.
A teoria de localização permite enquadrar, em termos teóricos, o comportamento
das empresas privadas e do próprio Estado em relação à localização dos
equipamentos produtivos e terciários. No entanto, esta teoria, tal como todas as
outras, não cobre toda a multiplicidade de aspectos que estão por detrás da
decisão locacional. Os modelos de rendimento regional são outra abordagem ao
problema da localização das actividades económicas e sociais. De entre estes
modelos, o mais simples é o modelo de base nas exportações que se baseia no
pressuposto de que o rendimento de determinada região é uma função das suas
exportações. É evidente que as exportações são importantes para o
desenvolvimento da região, contudo, será exagerado afirmar, como Friedmann
(1966), que este é sempre induzido externamente. Neste contexto, é legítimo
questionar o papel desempenhado pela oferta e pela procura interna, bem como,
pelos recursos endógenos no desenvolvimento regional.
Outro factor importante no desenvolvimento regional é a ligação existente entre
os vários segmentos dos sectores produtivos das regiões, o que torna os níveis de
rendimento regionais interdependentes vindo reforçar, por conseguinte, uma das
críticas que se fazem às teorias de base nas exportações e de base económica de
que é necessário considerar o efeito de retorno. As ligações (linkages) de
produção existentes entre as regiões significam que a oferta interna em cada
região depende de outras regiões e, ao mesmo tempo, as influencia.
O desenvolvimento regional, numa perspectiva clássica, baseia-se no paradigma
funcionalista no qual o território tem um papel secundário já que é “apenas” o
elemento no qual as empresas desenvolvem a sua actividade. As insuficiências
deste modelo levaram, no início dos anos 70, ao aparecimento do paradigma
territorialista no qual o território é um elemento relevante no desenvolvimento das
regiões, uma vez que lhe é reconhecida a sua capacidade de influenciar as
decisões de localização. É com base neste pressuposto que Stöhr, nos anos 80,
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
115
chama a atenção para o desenvolvimento endógeno em que o aproveitamento dos
recursos naturais e humanos existentes na região são a base para o
desenvolvimento auto sustentado da região. Refira-se, no entanto, que ao
development from below é necessária a contribuição de factores externos
(exportações, ajudas internacionais – IDE, por exemplo – e transferências do
governo central), pelo que os recursos endógenos e os externos se complementam
e potenciam uma estratégia de desenvolvimento auto sustentado.
O processo de desenvolvimento regional, independentemente do paradigma em
que se alicerçam, têm origem em espaços desigualmente infra estruturados pelo
que a criação de pólos pode ser uma das formas, devido aos efeitos de dispersão,
de contrariar o crescimento das assimetrias regionais e, porventura, até eliminá-
las. A criação de uma rede de pólos pode, segundo Perroux (1961) conduzir ao
desenvolvimento da região, já que proporciona efeitos semelhantes aos efeitos
cumulativos de Myrdal (1957). Neste contexto, as administrações central e local
podem contribuir positivamente para o desenvolvimento regional ao
implementarem uma política de incentivo à criação de uma rede de pólos (com
efeitos cumulativos) ou regiões centrais.
A análise das teorias da localização e dos modelos e teorias de desenvolvimento
regional permitiu-nos estudar os postulados, s perspectivas e as leis em que pode
assentar o desenvolvimento económico e social ao nível regional. As teorias e
modelos estudados constituem um dos pilares em que se apoia o planeamento do
território numa dupla perspectiva, isto é, o território percepcionado como um
elemento passivo (local onde têm lugar as actividades) e como elemento activo
capaz de influenciar o modo e a velocidade como se processa o desenvolvimento
regional.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
116
3. PLANEAMENTO REGIONAL: MÉTODOS DE ABORDAGEM
3.1. INTRODUÇÃO
Após a análise crítica dos modelos de crescimento versus desenvolvimento, a
nível macro-económico e regional, bem como das teorias de localização das
actividades produtivas e dos equipamentos iremos reflectir sobre o planeamento
enquanto instrumento de análise económica e de tomada de decisões.
O planeamento, como afirma Reigado (1999) deve o seu aparecimento à evolução
da ciência económica e ao desenvolvimento das forças produtivas numa dupla
perspectiva: se, por um lado, as grandes empresas sentiram a necessidade de
planear a sua actividade a médio/longo prazo, por outro lado, a Grande Depressão
de 1929 e as sucessivas crises que se lhe seguiram vieram exigir o abandono do
laissez faire aceitando-se, por conseguinte, a necessidade do planeamento macro-
económico. Se a partir destes factos podemos concluir que o planeamento macro-
económico é recente, então o planeamento do território é ainda mais recente.
A concepção que se tem do espaço não é indiferente para o processo de
planeamento, já que, ao considerarmos o espaço como determinante do
desenvolvimento e elemento aglutinador da história (que consideramos o mais
correcto) ou como elemento passivo, estaremos a articular de forma diferente o
território e as actividades que nele se desenvolvem. Assim, em nosso entender, o
planeamento, em cada caso concreto, dependerá das condições reais do espaço
sujeito a intervenção e terá como objectivo supremo contribuir para a melhoria do
bem estar da população nele residente. O planeamento do território e, de um modo
mais geral, o planeamento macro-económico é um processo que se desenvolve a
três níveis: normativo, estratégico e tácito ou operacional (Reigado, 1999, p. 61).
O planeamento estratégico será alvo de maior atenção pelo que nos vamos
debruçar sobre os seus modelos, etapas e componentes. Em termos de modelos
destacam-se o ortodoxo concebido pela Harvard School (1981) e o interaccionista
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
117
de Bryson e Einsweiller (1988). Embora, os modelos tenham algumas diferenças é
possível detectar semelhanças. Segundo Sallez (1986), podemos identificar quatro
componentes essenciais do planeamento estratégico, ou seja, definição das
escolhas estratégicas, adaptação às tendências-chave de evolução, afectação de
recursos escassos e definição de um sistema interno de informação (Neves, 1996,
p. 54). Ainda, segundo Sallez, as etapas à semelhança dos componentes são
também quatro: a determinação dos objectivos, a escolha de programas
estratégicos, a escolha de acções e as realizações e o seu controlo (ibid., p. 55). A
estas etapas poder-se-ia acrescentar uma quinta – comunicação dos resultados
alcançados e sua aprovação – o que, no entender de alguns autores próximos dos
project de ville, contribuiria para o reforço do envolvimento dos agentes
económicos e sociais nos projectos de desenvolvimento. Refira-se, por último,
que a introdução desta etapa vem reforçar a concepção de planeamento, segundo a
qual, este é um processo contínuo, deslizante de correcções e ajustamentos
constantes Reigado (1999, p. 51) pelo que, a fase de avaliação final de um plano
decorre simultaneamente com a implementação de um novo plano.
No âmbito do planeamento estratégico do território tem-se assistido, nos últimos
anos, à consolidação do planeamento urbano que, numa abordagem actual, assenta
em cinco ideias-chave (DGOTDU, 1996, p. 27):
• os problemas urbanos devem ser interpretados como sintomas de dificuldade
de ajustamento a situações de mudança;
• a intervenção dos responsáveis pela cidade pauta-se, cada vez mais, por uma
perspectiva de gestão (urban entrepreneurialism) e não de administração (urban
managerialism);
• a intervenção do planeamento deve valorizar uma cultura de transformação e
de recuperação urbana (reabilitação, refuncionalização) em detrimento de uma
cultura de expansão física da cidade (Venuti, 1990);
• a eficácia da transformação urbana depende do grau de empenhamento e da
capacidade de articulação dos diversos actores urbanos;
• não existe um modelo único de soluções para o desenvolvimento da cidade,
mas antes princípios gerais que importa adaptar a cada caso concreto.
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118
O desenvolvimento dos territórios e, em particular, das cidades implica,
necessariamente, o seu ordenamento. Daí, se encerrar este capítulo com o estudo
dos modelos de análise espacial que, de certo modo, são o suporte teórico do
ordenamento do território. Assim, abordamos os modelos gravitacionais, os
modelos de localização do parque habitacional e do comércio retalhista, o modelo
de distribuição do tráfego e o modelo de Lowry.
SECÇÃO I – PLANEAMENTO SÓCIO-ECONÓMICO
3.2. O PLANEAMENTO DOS SISTEMAS SOCIAIS
3.2.1. Génese do planeamento: breve revisão bibliográfica
O planeamento macro-económico está naturalmente ligado, por um lado, ao
desenvolvimento das forças produtivas e da própria ciência económica e, por
outro lado, à ruptura institucional desencadeada pela revolução socialista russa153.
Determinar o lugar e as funções que exerce o planeamento na actualidade,
significa estudar as formas de desenvolvimento da produção, a sua concentração
baseada na divisão do trabalho e o fomento do desenvolvimento a nível
internacional, nacional e regional/local. O planeamento é assim, antes de mais,
sócio-económico e integra os planos regionais e setoriais.
A função social do planeamento macro-económico consiste em substituir a força
espontânea do mercado por uma actividade conscientemente dirigida ou, por
palavras de Marx, o que primeiro distingue o pior arquitecto da melhor abelha é
aquele que, antes de construir um favo de cera, já o construíu no próprio
cérebro (op. cit., p. 185154). Refira-se, no entanto, que a própria possibilidade de
planear depende da existência de condições específicas que, por sua vez,
153 Verificada em Novembro de 1917. 154 Capital, Tomo I (ed. russa).
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119
determinam os princípios e métodos de articulação dos planos, o seu conteúdo
económico e formas orgânicas. Os diferentes níveis de utilização do planeamento
estão igualmente relacionados com o sistema económico dominante, isto é, os
países com grande ascendente socialista inclinam-se a praticar a planificação,
enquanto aqueles onde predomina a influência capitalista são menos propensos
a isso (Tinbergen, 1964, p. 73). Efectivamente, na ex-URSS, o planeamento surge
ligado às profundas transformações sociais e económicas operadas em 1917. O
primeiro plano de longo prazo155 teve como suporte técnico o modelo de Feldman
que, por sua vez, se apoiou nos esquemas de reprodução alargada de Marx e nos
trabalhos de Dmitriev156.
As dificuldades de afirmação do planeamento na sociedade capitalista, por um
lado, e a direcção central da economia na ex-URSS, por outro lado, levou a que
entre 1920 e meados da década de 40 não se dessem passos importantes ao nível
do corpo teórico.
Após a II Guerra Mundial, verifica-se um aprofundamento da base teórica do
planeamento o que, mais uma vez, reflecte as condições objectivas da época.
Paralelamente, no domínio das técnicas auxiliares de planeamento, registam-se
progressos de extrema importância como, por exemplo, na modelização macro-
económica (modelos de Harrod-Domar, Kalecki e Klein-Goldenbergen157), no
domínio da contabilidade nacional e da estatística (Kuznets, Hicks, Colin, Clark e
Stone). Landauer (1947) ao publicar, em 1944, The Theory of Economics
Planning dá um contributo importante no esforço de teorização do planeamento
definindo-o como a coordenação das actividades económicas por um órgão
comunitário através dum esquema que descreva em termos quantitativos e
155 Conhecido por Plano GOELRO ou de electrificação geral do país. 156 Dmitriev recorrendo à teoria de valor de Marx publicou, em 1904, os primeiros quadros input-output. 157 Este modelo foi publicado em 1955 tendo por base a economia dos EUA entre 1929 e 1952, exceptuando os anos de 1929 e 1945. O modelo de longo prazo é formado por 23 equações e 42 variáveis podendo ser ordenado numa série de sub-modelos de acordo com o objectivo de estudo. A distinção entre os sectores monetário e real, bem como a introdução da carteira de títulos,
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120
qualitativos o processo produtivo tal como se deseja que ocorra no futuro (cit.
Reigado, 1999, p.8). Esta definição, sendo relativamente avançada para a época,
sugere-nos que o planeamento pode desempenhar algumas das funções,
geralmente, atribuídas ao mercado.
Myrdal (1963), que sintetizou158 os progressos verificados nas décadas de 40 e 50
ao nível do planeamento, considera que este se tornou, gradualmente, num
instrumento da política económica dos países ocidentais, não porque tenha sido
conscientemente assumido, mas sim devido à necessidade de fazer face aos
problemas concretos a que o mercado já não conseguia dar resposta. Keynes
chegou, mesmo, a defender uma ampliação das funções do governo, relacionada
com a tarefa de coordenar a tendência para o consumo e estimular o investimento
de capital e adianta ser o planeamento o único meio possível de evitar a
destruição total das formas económicas actuais e como condição para que a
iniciativa individual funcione com êxito (op. cit, 1949, p. 367).
O crescimento da escala e complexidade das economias a par dos importantes
progressos verificados, como veremos adiante, quer ao nível dos debates teóricos
quer no desenvolvimento de técnicas e metodologias de implementação e controlo
de execução dos planos, levam a que vários países ocidentais comecem a pôr em
prática programas de fomento económico de curto e longo prazo entre os quais se
destacam o Plano Marshall, cujo objectivo era a reconstrução da Europa após a II
Segunda Guerra, e o Plano Monnet159, que preconizava a concentração de meios
para impulsionar os sectores básicos da economia francesa. A este, seguiram-se
outros planos que viriam colocar a prática francesa num lugar de destaque. A
Holanda, reconhecida internacionalmente pelos seus contributos teóricos, viria a
ter os seus primeiros resultados com o Primeiro Memorando sobre a
Industrialização da Holanda (1948-1952). A Noruega elabora os seus primeiros
planos de médio prazo em 1947 e, a partir de 1954, estes planos terão a duração
enquanto determinante do nível de consumo, são elementos que distinguem este modelo dos até aí conhecidos. 158 Ver a obra, publicada em 1951, The Trend Towards Economic Planning.
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121
de quatro anos acompanhando a legislatura parlamentar. A Bélgica cria, em 1959,
o Instituto de Programação com a atribuição de estudar as perspectivas
económicas para 1965 e que virá a elaborar o Programa de Expansão Económica
(1962-1965). A Itália160, à semelhança da França, investe nos planos quinquenais.
A Grã Bretanha viria a criar em 1961 o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Económico com atribuições no âmbito do planeamento. Os EUA, embora não
tenham uma prática relevante ao nível prático, deram, contudo, um importante
contributo na área da investigação econométrica.
Num mundo dividido em dois grandes blocos económicos, com lógicas de
funcionamento completamente diferentes, não há uma uniformidade na definição
do âmbito e natureza do planeamento. Para Kornai (1971) o planeamento tem
como objectivos primordiais a recolha de informação, a coordenação e a
intermediação das actividades chegando a defini-lo como a process of cognition
and comprise (cit. Reigado, 1983, p. 23). Esta concepção de planeamento, apesar
de se ter consolidado nos últimos anos, evoluiu em duas direcções distintas.
Herzog (1972) e Fedorenko (1977) defendem que só é possível falar de
planeamento em países socialistas. Efimov (1972) reafirma esta ideia ao
considerar que no capitalismo só se pode falar de programação e não de
planeamento, visto o sector nacionalizado ser insignificante e o “planeamento” se
reduzir a recomendações. Para o autor, enquanto a programação capitalista não
deixa de ser um formulário de boas intenções, o planeamento reflecte a
regularidade com que actuam as leis económicas do socialismo (Efimov 1972, p.
15). Bettelheim (1968) chega mesmo a afirmar que a planificação é a forma
específica de organização de um determinado tipo de sociedade (cit. Reigado,
1983, p. 25) e identifica o planeamento com a ciência económica do socialismo na
qual se integraria e a partir da qual se desenvolveriam os outros ramos das
ciências sociais.
159 Este plano foi elaborado para o período 1946/47 – 1952/53.
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Todaro (1971), pelo contrário, sustenta que o planeamento só se pode verificar
nos países capitalistas dado este consistir no esforço do Governo para conseguir o
crescimento rápido da economia sem tensões inflacionistas e com um nível de
emprego elevado através de políticas fiscais e monetárias adequadas. Myrdal
(1963) manifesta-se no mesmo sentido ao escrever que o planeamento deve ser
entendido como o conjunto de tentatives conscientes entreprises par le
gouvernement d’un pays, habituellement avec la participacion d’autres
collectivités, pour coordonner d’une manière plus rationnelle les politiques
nationales afin d’atteindre plus rapidement et plus complètement les buts
souhaitables pour un développement futur, déterminés par le processus politique
au cours de sa transformation (cit. Caire, 1972, p. 40).
Abstraindo-nos da polémica sobre a utilização do planeamento num ou noutro
sistema económico161, parece-nos importante sublinhar que o funcionamento da
economia é um processo de complexas interdependências dentro dos e entre os
diversos subsistemas [que o integram] e entre estes e o seu meio ambiente
(Reigado, 1999, p. 9). À definição apresentada está subjacente uma concepção
sistémica dos circuitos económicos que podemos estender ao planeamento.
Chadwick (1971) considera-o um sistema conceptual genérico de extraordinária
importância e justifica a sua afirmação escrevendo que pela criação de um quadro
conceptual autónomo mas em perfeita correspondência com os sistemas reais,
poderemos compreender os fenómenos da mudança, antecipá-los e procurar
então a optimização dos sistemas reais através do aperfeiçoamento dos sistemas
conceptuais (ibid., p. 9).
Van Court (1972) partilha desta concepção de planeamento que introduz um
estímulo importante à modelização. Neste contexto, destaque-se Lange (1965)
pela interpretação sistémica dos quadros input-output. Por seu turno, Kornai
160 O Relatório Saraceno, precedido do Plano Vanoni (1955-1964), é o resultado da primeira fase dos trabalhos da Comissão Nacional para a Programação Económica e está na base do plano para 1965-1969. 161 Esta questão perdeu a sua actualidade em virtude de, nos anos 90, a experiência socialista na Europa de Leste ter sido abandonada e de se questionar os seus resultados noutras regiões do mundo.
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(1971) sublinha a necessidade de se considerar no processo de planeamento um
elemento de controlo independente da esfera real, mas em paralelo com esta.
A ligação às teorias da decisão e dos jogos, bem como as alterações ao nível
conceptual da política económica verificada no bloco socialista nos finais de 60
levaram vários economistas, entre os quais se destacam Johansen (1978) e Kornai
(1971), a debruçarem-se sobre esta questão.
O planeamento económico a nível global é, pois, recente e mais recente o é ainda
a nível regional, embora nos planos de recuperação do pós-guerra na Europa
Ocidental (Planos Marshall e Monnet), e em Portugal nos Planos de Fomento (em
especial, a partir do IIIº), estivessem presentes algumas preocupações com o
planeamento e desenvolvimento regional. Refira-se que, segundo Kalinski (1970),
a formulação de políticas e planos regionais deve-se, por um lado, à existência de
territórios-problema com as implicações daí decorrentes ao nível das políticas de
âmbito nacional e, por outro lado, à necessidade de dar concertação e eficiência
às acções de política global e de política sectorial e de criar uma base espacial
integradora para as próprias acções de política urbana (Lopes, 1984, p. 273).
O interesse pelo planeamento regional parece, assim, ter derivado não de aspectos
globais no funcionamento da economia, mas de problemas específicos sentidos
localmente como, por exemplo, o congestionamento nos grandes centros urbanos,
a pressão imobiliária, a resposta insuficiente por parte dos serviços públicos ou o
desemprego crescente. Apesar destes problemas serem, de certa forma, urbanos
tornou-se evidente que era necessário alargar a área de estudo à região envolvente
e, até, mais distantes162. Refira-se, ainda, que o problema chave do planeamento
regional está intrinsecamente ligado ao grau de autonomia das regiões ou, por
outras palavras, ao grau de centralização/descentralização no processo de tomada
de decisões. Embora, nas décadas de 50 e 60, a concepção dominante tinha sido a
162 É hoje aceite pacificamente que a solução para o desemprego urbano, por exemplo, passa pela criação de emprego em meio rural eliminando, assim, as migrações.
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da centralização163 o debate tem sido intenso e não perde a sua actualidade.
Johansen164 (1978), sobretudo ao nível da compreensão do processo de tomada
de decisão, destaca-se no debate centralização/descentralização. Questões como
a definição dos princípios que presidem à repartição e articulação das
competências aos níveis central e regional, ou até onde podem ir as escolhas e
meios regionais numa economia nacional/internacional em que a globalização
crescente da actividade económica é uma variável a ter em consideração ou,
ainda, como resolver a conflitualidade entre os órgãos funcionais e órgãos
territoriais encontram-se no centro das dificuldades sentidas nas várias
experiências de planeamento independentemente da abordagem ser funcional ou
territorial.
A abordagem funcionalista tem a sua raiz na teoria micro e macro económica, isto
é, combina a economia de mercado com o planeamento. Em termos de conteúdo,
o planeamento funcionalista é constituído por programas sectoriais ventilados por
regiões em que estas se ficam por simples objectos de planeamento (Lopes, 1984,
p. 278) e, consequentemente, têm um papel passivo em todo o processo de
planeamento. A abordagem territorialista é, em nosso entender, efectivamente
mais aberta aos problemas do ordenamento do território e da qualidade do meio
ambiente, tem um carácter mais pluridisciplinar, apela à descentralização das
decisões públicas e valoriza as dinâmicas regionais. Nesta concepção do
planeamento, as regiões emergem como sujeitos activos de pleno direito
responsabilizando-se pela definição dos objectivos e das estratégias e o controlo
da execução, havendo naturalmente que promover a conciliação entre os vários
planos regionais (concertação inter-regional) e de os acomodar dentro das
capacidades globais dos meios (ibid., p. 278).
As insuficiências, ao nível teórico, de ambas as abordagens têm a ver com um
problema fundamental, de ordem epistemológica, levantado pela análise espacial
nas ciências humanas e sociais. Efectivamente, a matriz de pensamento legada
163 Ver TINBERGEN, J., (1964), Central Planning, Yale University Press, New Haven
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pela tradição científica das ciências exactas e, particularmente, os modelos
espaço-temporais mostram-se inadaptados, já que estes são do tipo systèmes
fermés e toutes chouses restant égales par ailleurs (Perrin, 1978, pp. 216-217).
Ora, na realidade os sistemas humanos comportam-se como sistemas abertos em
retroacção165 com o meio envolvente. Todas estas questões sugerem a necessidade
de um aprofundamento ao nível da análise e construção teórica do planeamento
regional.
3.2.2. O sistema social no processo de planeamento
Os sistemas, e de uma forma muito particular o social, caracterizam-se, entre
outros aspectos, pela sua extraordinária capacidade de evolução. Os sistemas
estão em mutação constante, antes e depois da nossa análise. A dinâmica
contínua dos sistemas está intimamente relacionada com a incerteza relativa ao
meio ambiente e aos resultados das acções programadas (Reigado, 1999, p. 52).
Além disso, o conhecimento exaustivo de todos os elementos dos sistemas sociais
é impossível, quer devido ao seu elevado grau de complexidade, quer à evolução
constante dos próprios sistemas o que gera, por sua vez, mais incerteza166 ao
planeador. A incerteza proveniente do meio envolvente deve-se à constante
mutação, em função de novos condicionantes e potencialidades, do próprio
sistema e do seu ambiente específico e genérico. Mas, a própria imagem que
temos do sistema social e do seu funcionamento também não é constante já que ao
dispormos de mais informação e experiência somos levados a vê-lo de uma forma
qualitativamente diferente. Além disso, como afirma Reigado (1999), o facto de a
mente humana não ser capaz de abarcar um “sistema” para além de uma certa
164 Sobretudo ao nível da compreensão do processo de tomada de decisão. 165 Sobre este mecanismo falaremos mais adiante. 166 A incerteza está ligada a três importantes fontes, ou seja, ao comportamento do sistema face a alterações do meio ambiente, à hierarquia de valores e às estratégias dos actores de desenvolvimento e às interacções das mesmas sobre o sistema objecto das acções a desenvolver.
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complexidade leva-nos a socorrer de modelos que, como já vimos atrás, são um
quadro simplificado da realidade ou, por outras palavras, uma generalização
abstracta de como certos fenómenos realmente ocorrem. Convém, contudo não
absolutizar a sua importância dado que todas as simplificações possibilitadas
pelos princípios, leis e modelos devem ser confrontadas com a realidade que
traduzem de forma a serem validados ou reelaborados de acordo com as novas
observações. Este processo é, em termos metodológicos, vital para o estudo dos
sistemas sociais e económicos. Nenhuma ciência social – observa Herskovits
(1954) – pode cumprir os seus objectivos se desatender ao princípio de que os
problemas só podem ser compreendidos com clareza e os dados somente podem
lograr uma interpretação válida mediante a constante e contínua referência
cruzada entre as hipóteses e os factos (cit. Rossetti, 1988, p. 55).
Os modelos, no âmbito do planeamento, caracterizam-se de acordo com o prazo
de projecção, o modo de inserção da variável tempo, o número de variáveis e de
relações, a forma matemática das relações, a aptidão do modelo para revelar um
óptimo social e os tipos de utilização (Babeau e Derycke, 197.., p. 25). Em termos
nacionais, é possível distinguir os modelos de política económica (geralmente de
curto prazo), os modelos de estudo das variantes (geralmente de médio prazo) e os
modelos de projecção a longo prazo.
A informação, entendida como um conjunto de dados (imagens, textos,
documentos, voz, etc.), tem vindo a assumir uma importância extraordinária no
processo de decisão. Perroux (1964) sublinha o papel fundamental da informação
na sociedade moderna e o poder dos indivíduos, empresas e organizações
proporcionado pela sua capacidade de receber, criar e transmitir informação.
Bateson (1984) concebe a informação como a différence qui crée une différence
(op. cit., p. 234). Drucker (1993), por seu turno, chega a defender o primado da
informação/conhecimento sobre o binómio capital/trabalho como factor de
sucesso. A informação torna-se, assim, na base de um novo tipo de gestão das
empresas e organismos em que a tomada de decisão é efectuada com o máximo de
informação disponível.
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Mas, se por um lado, os órgãos de planeamento não desempenham a sua função
sem informação, por outro, é importante saber usá-la de modo a que o
planeamento se torne mais eficiente. A utilização eficiente da informação depende
também do tempo de acesso, isto é, a recolha, tratamento e disponibilização da
informação deve ser efectuada de um modo rápido tornando possível a redução da
incerteza e, consequentemente, do risco no processo de tomada de decisão.
A gestão da informação167 tem, assim, como objectivo apoiar a tomada de decisão
dos planeadores tornando mais eficiente o conhecimento e a articulação entre os
vários subsistemas que constituem o sistema sócio-económico. Refira-se que a
gestão da informação assenta num Sistema de Informação168 - SI - que,
assegurando a ligação entre os vários subsistemas, permite o processamento de
dados provenientes das várias fontes e subsequente análise. Nijkamp (1984)
enfatiza a importância dos sistemas de informação ao integrá-los na própria
análise política como se depreende das suas palavras ... se definirmos a análise
política como a investigação sistemática de elementos, factos, estruturas,
relações, conflitos e efeitos inerentes na escolha ou no decurso de acção é claro
que os sistemas de informação são parte dessa análise política (cit. Reigado,
1999, p. 35).
O desenho dos sistemas de informação é variável, indo desde um sistema
compreensivo que sirva, eventualmente, todas as necessidades dos planeadores e
decisores até uma versão específica para determinado problema. Nos últimos
anos, segundo Nijkamp, foram sendo elaborados sistemas de informação
adaptativos (ver o fluxograma 3.1) que, situando-se numa posição intermédia,
respondem melhor às características do processo de planeamento e de tomada de
decisão (perspectiva de longo prazo, interacções entre decisores e grupos de
interesses, efeitos de retroacção).
167 Wilson (1989) define a gestão da informação como o controlo eficaz de todos os recursos de informação relevantes para a organização, tanto de recursos gerados internamente como os produzidos externamente e fazendo apelo, sempre que necessário, à tecnologia de informação. 168 Araújo (1993) define sistema de informação, numa perspectiva tecnológica, como um conjunto de elementos com funções específicas no desempenho de tarefas de gestão da informação residente em computador.
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Fluxograma 3.1 Sistema de Informação
Fonte: Adaptado de GUESNIER, B., (1980), “Le Systeme d’Information Regional” in Revue d’Economie Régionale et Urbaine, nº 4-2, 3
Necessidades do Sistema de Informação: • Análise da situação • Previsão, simulação
Determinação dos dados a recolher
Pesquisa das fontes
Ministérios e Organismos Públicos
INE Associações Patronais
Sindicatos
Instituições de Ensino e de Formação Profissional
Administração Regional/Local
IPSS
Centros de Investigação Científica
MODELOS: • Análise • Processamento • Previsão
INTEGRAÇÃO e FUSÃO
SISTEMA de INFORMAÇÃO
TABELAS : • Correspondência de nomenclaturas • Reagrupamento geográfico
Análise crítica dos resultados
RESULTADOS: • Tabelas, mapas, gráficos • Previsões, simulações • Plano
Outras
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O sistema de informação apresentado é adaptativo já que, não sendo rígido,
permite a análise crítica dos resultados e sua correcção aos vários níveis, isto é, ao
nível dos modelos utilizados, das próprias necessidades do sistema e dos dados a
recolher através de um processo iterativo. Neste sistema destaque-se a fusão e
integração dos dados que, se por um lado, é um processo para se proceder à
elaboração de uma chave de agregação169, por outro, estabelece uma ligação com
outros dados representativos da interdependência entre os dados ou do fenómeno
analisado. Estabelecida a chave de agregação e classificada a informação
disponível estamos em condições de realizar a fusão da mesma, obtendo o
quadro que caracteriza determinada entidade do sistema sócio-económico. A
capacidade de auto avaliação e de correcção aumenta a qualidade da informação
utilizada pelos planeadores, reduz a incerteza sobre a evolução do sistema
económico e social e contribui para atribuir aos sistemas de informação um papel
central no processo de planeamento que se desenrola por ciclos.
Os ciclos do planeamento (McLoughlin, 1969), como se verifica no fluxograma
3.2, integram a caracterização e avaliação do ambiente, a formulação dos
objectivos, a inventariação das linhas de acção, o balanceamento linhas de
acção/meios disponíveis e selecção das acções a implementar, que modificando as
relações entre os indivíduos (e grupos) e o ambiente justifica o reiniciar de novo
ciclo, com a identificação das necessidades, a formulação dos objectivos, a
inventariação das políticas, a selecção/avaliação, a acção, ... (op. cit., pp. 94-
103). Numa óptica sistémica, o planeamento é constituído por inputs (decisões a
tomar) e outputs (resultados das decisões “iniciais” e decisões geradas pelo
próprio sistema), o que permite introduzir no processo um mecanismo de
retroacção170 de dois tipos, isto é, negativa e positiva. Assim, enquanto as
retroacções negativas conservam constantes os valores e asseguram o equilíbrio
geral do sistema, as retroacções positivas tendem a romper o equilíbrio e a
transformar o sistema noutro com características diferentes.
169 Entende-se por chave de agregação uma característica particular do período, lugar ou sector.
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Fluxograma 3.2 O planeamento como um processo cíclico
Fonte: Lopes, A. S. (1984), DESENVOLVIMENTO REGIONAL: Problemática, Teoria,
Modelos, 2ª ed., Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, p. 281
O controlo das acções e a possibilidade da sua correcção, permitidos pelo
mecanismo de retroacção, conferem um carácter adaptativo do planeamento e
aumentam a eficácia do mesmo, ao contrário dos regulamentos determinísticos e
das actualizações periódicas do planeamento tradicional. Nesta situação de
controlo limitado sobre o sistema real e, por conseguinte, de incerteza Blackman
(1940) apoia a concepção de que o planeamento deve permitir a correcção de
estratégias, medidas e acções ao longo do ciclo de acordo com as alterações
entretanto verificadas no sistema sócio-económico, ou seja, o planeamento
initiates a course of action which produces events experienced by the agent, in the
light of which modifies the plan; so that in a sequence of phases, the plan is
continuously initiating action or being modified by the results f action; and this
modification is not merely a more efficacious employment of means to an
originally intended end (a continuous adjustment on the feedback principle), but
also a modification of the end in view, a revision of intention ... a development in
understanding (cit. Gillingwater e Hart, 1978, p. 141).
170 Alguns sistemas reais caracterizam-se pela sua capacidade de auto regulação. Neste caso, os desvios entre o planeado e o real, detectados pelo sistema, são automaticamente corrigidos, embora com algum desfasamento temporal, através de mecanismos autoreguladores.
ANÁLISE ESCALA DE VALORES OBJECTIVOS
MEIOS INVENTARIAÇÃO DE POLÍTICAS
AVALIAÇÃO/SELECÇÃO DE POLÍTICAS
ACÇÃO
CUSTOS/BENEFÍCIOS SOCIAIS
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Nesta definição, ou seja, no planeamento deslizante está implícito que o processo
continua mesmo após a aceitação e implementação da estratégia inicial,
entretanto, alterada em função dos resultados obtidos tornando-se um processo, de
certo modo, contínuo. A introdução do circuito de retroacção, embora com algum
desfasamento devido à não coincidência temporal quer entre o desencadear das
acções (iniciais ou de correcção) e a ocorrência dos resultados, quer ainda entre o
momento em que se decide efectuar determinadas correcções e a sua introdução
efectiva, permite verificar se os resultados correspondem aos objectivos fixados
embora, nada nos diga sobre as causas dos eventuais desvios.
Esta questão, ou melhor, quais as razões que levaram a desvios podem e são
definidas e analisadas no decorrer do próprio processo de planeamento, uma vez
que este assenta num modelo conceptual que inclui o modelo de funcionamento
do fenómeno/realidade sobre a qual se vai actuar, do sistema sócio-económico nos
seus vários níveis e do comportamento do meio ambiente e das relações entre este
e o sistema. Um conjunto de valores e de objectivos que definem as principais
linhas de orientação são, igualmente, parte integrante do modelo conceptual de
planeamento. Mas, a concepção que temos do sistema não é estática. Na realidade,
a evolução do sistema e do seu meio ambiente influencia a concepção que temos
do mesmo, levando-nos a reformular o modelo conceptual que, por sua vez, se
deverá reflectir no modelo de planeamento provocando novas alterações no
sistema real e seu ambiente. Este encadeamento de acções no processo de
planeamento é obtido endogenamente, isto é, através do sistema informativo de
relações internas (Reigado, 1999, p. 59) que assegura o ajustamento imediato do
processo ao modelo conceptual sempre que se verificam, por um lado, alterações
no sistema de valores e objectivos e, por outro lado, uma evolução do próprio
processo de planeamento.
O desenvolvimento do sistema e do seu meio ambiente, isto é, do mundo real
também provoca alterações exógenas ao processo de planeamento. Daí a
necessidade de se dispor de um sistema informativo de relações externas (op. cit.,
1999, p. 59) que canalize as informações sobre as acções desencadeadas, via
processo de planeamento, sobre o mundo real. Um segundo grupo de relações
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132
externas garante que as mudanças no mundo real (sistema e meio envolvente) se
vão reflectir ao nível do processo de planeamento e do próprio modelo
conceptual.
Da análise do fluxograma 3.3 verifica-se que a cada tipo de fluxo de informação
corresponde uma retroacção específica, ou seja, self conscientious feed-back, task
oriented feed-back e learning feed-back (ibid., p. 59) que, embora, tenham
objectos de análise diferenciados contribuem para um mesmo fim: o aumento dos
níveis de qualidade do processo de planeamento. Assim, enquanto a primeira
retroacção funciona como sinal de aviso para todos os intervenientes no processo
de planeamento sobre as alterações internas do sistema, isto é, do modelo
conceptual e do processo de planeamento devido a alterações verificadas no
sistema económico e social, a segunda (claramente orientada para os objectivos)
fornece a informação relativa ao nível de realização do plano e a terceira e última
retroacção disponibiliza a informação relevante sobre o desenvolvimento no
próprio sistema e no meio que o envolve, ou seja, indica as razões de eventuais
insucessos.
Fluxograma 3.3
Circuitos de informação no processo de planeamento
Legenda:
- Relações internas - 1º Tipo de relações externas - 2º Tipo de relações externas
Fonte: Adaptado de REIGADO, F. M., (1999), Desenvolvimento e Planeamento Regional:
abordagem sistémica, p. 57 (no prelo)
PLANEAMENTO
MODELO CONCEPTUAL PROCESSO
MEIO ENVOLVENTE
SISTEMA SÓCIO-ECONÓMICO
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133
O circuito de retroacção e as projecções forecasting, segundo o mesmo autor, são
dois modos diferentes de considerar a dinâmica do sistema sócio-económico no
processo de planeamento. Através da utilização de projecções forecasting é
possível incorporar nova informação relativa ao futuro no processo de
planeamento, recorrendo à extrapolação, exploração e especulação. Assim,
enquanto que com a extrapolação se efectua uma previsão do comportamento do
sistema e do seu meio envolvente, a exploração possibilita testar a possibilidade
lógica da ocorrência e desenvolvimento de novos fenómenos; a especulação
permite-nos aferir as probabilidades de se verificarem as hipóteses colocadas
inicialmente. Paralelamente, através das projecções forecasting normativas,
procura-se construir uma imagem consistente do futuro que seja um guia para a
tomada de decisões no processo de planeamento.
Não obstante, a utilização do circuito de retroacção e das projecções forecasting, o
planeamento ou, melhor, o seu output (projecções, planos, etc.) é necessariamente
probabilístico (Irwin, 1966) dado o controlo limitado sobre o sistema económico e
social extremamente volátil e a falta de informação, de certo modo, crónica e
inevitável.
3.2.3. Do espaço ao território no planeamento
Sob o ponto de vista teórico, o desenvolvimento, tal como já foi referido
anteriormente, tem ignorado o espaço como se aquele partisse de lógicas de
crescimento numa leitura estática e nacional do território. O crescimento
económico, sob influência do progresso técnico e tecnológico, levou à banalização
dos espaços e à internacionalização do capital. Além disso, o facto das sociedades
contemporâneas parecerem condenadas a viver a desterritorialização da produção
e das suas duas manifestações dominantes: a verticalidade da dependência e a
horizontalidade da concorrência (Lacour, 1985, p. 840) levou a economia, as
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134
políticas de ordenamento do território, as políticas urbanas e o crescimento
urbano, comandadas por lógicas funcionais e funcionalistas, a descobrir os limites
destas políticas e a redescobrir a importância do territorial e da diferença.
A análise do papel do espaço no desenvolvimento económico e social levanta
novas questões e obriga, em qualquer caso, o economista a sair dos caminhos já
trilhados da sua disciplina (Rallet, 1988, p. 375). Assim, as análises de tipo
espaço-lugar, abordando o espaço como superfície de suporte ou lugar de
concentração de actividades, têm a sua raiz na teoria de localização. As análises
do tipo espaço-sistema baseiam-se numa lógica de tipo cibernético e estão
relacionadas com os modelos macro-económicos regionais e, mais recentemente,
com as abordagens em termos de dependência ou de domínio. As análises em
termos de espaço-território surgem a partir, por um lado, das reflexões sobre os
paradigmas de desenvolvimento e, por outro lado, do debate regionalismo/
regionalização. Hoje, mais do que nunca, é necessário organizar as cidades,
recompor os meios rurais e pensar como minimizar os efeitos negativos destas
medidas, por um lado, adaptadas ao período em que vivemos e, por outro lado,
necessárias às vontades e necessidades políticas. Isto leva a que os processos de
desenvolvimento tenham efeitos complexos, perversos e contraditórios que, se
verificam em períodos e lugares diferentes. Lacour (1985) designa-os por pares
infernais: valorização e desvalorização, integração e desintegração e, por último,
estruturação e destruição da estrutura (ibid., p. 842).
Os processos de desenvolvimento decorrem num espaço não homogéneo,
observável ou não, onde se inscrevem uma série de elementos como o relevo e as
rochas, as águas e os solos, o clima e a vegetação, as actividades económicas e
sociais, etc. que permitem a sua individualização. Durkheim (1973) considera o
espaço, tal como o tempo, uma categoria do entendimento, ou seja, ambos são
representações colectivas que exprimem realidades colectivas (...) coisas sociais,
produtos do pensamento colectivo (cit. de Silvano, 1997, p. 3), pelo que a tomada
de consciência em relação ao espaço não é um processo linear, mas sim
progressivo. A noção de espaço evolui, assim, desde uma concepção em que este
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
135
é visto como uma disponibilidade rara e hostil até ao espaço-território. O espaço
é, assim, sucessivamente percepcionado como (Lacour, 1995, pp. 23-26):
• espaço disponível, raro e hostil, mas maleável. Esta tese, adoptada nos
modelos de optimização, leva-nos ao espaço-factor que se declina em espaço-
conquista, espaço-esforço, espaço-custo, espaço-recompensa, espaço-lugar
(op. cit., p. 24);
• espaço compreendido como um perigo, uma ameaça. Além das catástrofes
naturais, directa ou indirectamente provocadas pelo homem, a saturação dos
solos e a poluição fragilizam o espaço e tornam-no perigoso pelo que se deve
garantir o seu bom uso optimizando os comportamentos a montante (estudos
de impactos, por exemplo) e a jusante (ordenamento e gestão eficientes);
• espaço refúgio e espaço símbolo. O espaço-refúgio, ao simbolizar a
solidariedade, transcende a arrogância das civilizações e a mercantilização dos
comportamentos e dos homens. O espaço-símbolo, enquanto testemunho de
uma história, obriga à valorização e reparação dos espaços fragilizados pela
economia, as guerras ou as catástrofes naturais e industriais;
• espaço-território, lugar privilegiado de contestação e de tomada de
consciência. O espaço torna-se pretexto, objecto de contestação ou, mesmo,
alavanca. O espaço é concreto e imediato, mas, é também geral. Por exemplo,
o buraco na camada de ozono, embora seja uma ameaça relativamente
abstracta e não directamente localizável, constitui uma federação de oposições
e de rejeições. Neste contexto, o território mundial estrutura-se segundo um
pensamento e as acções têm uma ordem universal: o nuclear, os oceanos.
Em termos regionais, o espaço é o produto de um campo de forças caracterizado,
segundo Van Geenhuizen e Ratti (1995), por três dimensões: a abertura, a
durabilidade e a capacidade criativa (cit. Ratti, 1997, p. 527). A abertura
significa comunicação entre as diferentes partes que compõem o sistema (região
ou cidade) e os centros-sistemas (capacidade de beneficiar de economias de escala
e de variedade). A durabilidade considera não só a capacidade ambiental de
garantir um desenvolvimento sustentável mas, também o seu conteúdo sócio-
cultural aqui assumido como um “constrangimento”. A capacidade criativa ou
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
136
territorialidade171 representa a dimensão pela qual passa a capacidade do sistema
local de responder pelos objectivos, normas e comportamentos estratégicos, bem
como aos desafios internos e externos ao sistema.
O espaço regional activo, entendido como um campo de forças meso-económicas,
tem uma abordagem espacial consubstanciada em dois eixos: um vertical e um
horizontal. No eixo vertical, descrito por Raffestin (1986) em termos de
territorialidade (Ratti, 1997, p. 529), situam-se as tensões entre níveis espaciais
diferentes, isto é, entre o global e o local. No eixo horizontal situa-se o campo de
forças dos espaços funcionais das empresas, isto é, o espaço de produção e o de
mercado. Neste eixo inclui-se, ainda, uma terceira categoria de relações, ou seja,
espaços de apoio (ibid., p. 529). Este espaço de apoio, através de e para além do
sistema de preços, tem um papel de conexão entre espaços de produção e espaços
de mercado e caracteriza a trajectória de desenvolvimento de realidade sectorial
tal como a territorialidade permite a conexão entre o local e o global.
Das dependências mútuas entre a política, a economia, o espacial e o social nasce
uma organização territorial do desenvolvimento ou, por outras palavras, nasce um
território que vai sendo construído e reconstruído, vivido e representado, ou, se
quisermos, um espaço histórico, cuja existência fluiu no tempo e se foi moldando
em função da forma como as comunidades dele se foram apropriando e
manipulando (Vilaça et all, 1998, p. 35). O território resulta, assim, d’une
création de l’activité humaine: ce sont les hommes-agissants qui font le territoire
(Passet, 1995, p. 9). Polanyi, sublinha que é a pessoa humana, portadora de
valores, que está no centro do processo de criação do território e não o indivíduo
reduzido às dimensões de consumidor, força de trabalho ou centro de custos
(ibid., p. 9).
171 Em ciências sociais a territorialidade é um paradigma que exprime uma relação complexa e dinâmica entre um grupo humano e o ambiente, pelo que a territorialidade de um país/região é, então, uma construção, um produto sócio-cultural, económico e político ou um processo complexo através do qual uma sociedade cria a sua capacidade de resposta (interna e externa) à mudança.
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137
A introdução do território na análise conduz-nos a inventariar a pluralidade dos
sistemas locais de produção e a variedade das trajectórias de desenvolvimento. A
análise das diferentes formas de coordenação territorial das actividades permite
romper com uma longa tradição de modelos económicos, de tipo funcional, que
atribuem um papel determinante à presença de funções económicas privilegiadas e
de sectores avançados. A presença ou não deste tipo de funções permitiria definir
uma hierarquia de países e uma evolução, por estádios de desenvolvimento
obrigatório, para os países menos desenvolvidos.
Noutros termos, a análise dos territórios mostra que o desenvolvimento se
desenrola a partir de um sistema de inter-relações, de circulação de informação, de
produção e de reprodução de valores que caracterizam um modo de produção. Isto
significa que os factores críticos do desenvolvimento estão, historicamente,
enraizados na realidade social e local e não são facilmente transferíveis para
outros espaços: o desenvolvimento aparece, em definitivo, como um processo
social e não como um processo unicamente técnico. O território torna-se, assim,
um factor privilegiado do desenvolvimento na medida em que inclui todos estes
factores - históricos, culturais, sociais – que estão na base de modelos específicos
de organização da produção (os mundos reais da produção de Salais e Storper,
1993) e da contínua interacção entre a esfera económica e a esfera social.
A riqueza do conceito de território reside na sua inscrição em temporalidades
diferentes, isto é, no longo e no curto prazo. A concepção do território como uma
construção histórica (que) encontra o seu princípio unificador nas práticas
sociais de momento (Schapira, 1997) implica a apreensão das diversas
modalidades de construção: umas terão um caracter integrador, jogarão o papel de
cimento identificador e contribuirão para a sua edificação; outros, dada a sua
volatilidade, destabilizarão a construção e poderão diminuir o ritmo de
sedimentação dos processos sociais e institucionais. Inscrito no longo prazo, mas
também nas praticas sociais de momento, o território sendo diferente do espaço,
não é mais a pura e simples cópia modernizada do espaço dos anos 70 (Pailliart,
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138
1993, p. 150), mas o sinal de novas interrogações sobre a estruturação social do
espaço.
O território ao possuir uma dinâmica própria, não é mais um simples receptáculo
no qual os agentes económicos (empresas, fundamentalmente) extraem os
recursos. Além disso, é sobre o território que as mutações na esfera do trabalho
ganham um certa visibilidade. De tudo isto resulta a impossibilidade de concebê-
lo, apenas, como dotação de factores, pelo contrário tem uma lógica própria e a
capacidade de não só produzir mas, também, se apropriar de externalidades
positivas e de as potenciar levando-nos a conceber o território como um agente
socialmente inovador.
Do atrás exposto, concluiu-se que os territórios são evolutivos, isto é, têm uma
história que testemunha uma sucessão de fases e de novas situações às quais se
têm de adaptar. A noção de território reflecte esta dinâmica, pelo que este,
segundo Kherdjemil (1999), vai sendo apreendido como uma expressão de
identidade de um grupo (Le Berre, 1992), um espaço fluído, consolidado ou
disperso (Fremont, 1976) um elemento activo do desenvolvimento a nível local
ou, ainda, um espaço de relações. Assim, se na primeira noção se realça o acto de
nascimento do território, assente numa dinâmica conflituosa de apropriação do
espaço, na segunda destaca-se a tipologia do território segundo a qual o espaço
económico172 evolui para um espaço que resulta da dinâmica funcional dos
sistemas produtivos. Na terceira noção de território, apela-se ao desenvolvimento
que pressupõe o seu ordenamento e a actuação de vários actores entre os quais o
próprio território, na última destaca-se o papel importante que as relações
estabelecidas entre os vários actores têm no desenvolvimento regional e local e na
própria estruturação e dinâmica dos territórios.
O território, considerado como o espaço onde se desenrolam as relações, está
associado a uma imagem vivida e interiorizada no subconsciente humano. É o
território do instinto ligado a valores pessoais com facetas tão numerosas, variadas
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139
e multiformes em virtude dos comportamentos se diferenciarem em função da
idade, do sexo ou da situação social. O território, escreve Fremont (1976, p. 91),
não pode ser compreendido na sua plenitude se não juntarmos às contribuições
anteriores este último cimento que são as relações vividas, isto é, assimiladas no
mais profundo da intimidade psicológica de cada um.
Os aspectos estruturados e estruturantes do território são, igualmente, assinalados
por Lacour (1996, p. 35) ao afirmar que um território é um espaço que, num dado
momento, por certas razões, por certo período, pode realizar uma intermediação
múltipla “global” entre múltiplas trajectórias possíveis sob o efeito de actores
variados e variáveis, logo no território tem lugar a objectivação dos
comportamentos e dos processo dos actores (ibid., pp. 34-35). Esta definição dá-
nos uma grelha de leitura da dinâmica de estruturação espacial ao indicar pontos
de referência sobre o modo como as especificidades do território se articulam
com a dinâmica espacial de conjunto. Além disso, esta definição ajudar
igualmente a compreender a articulação entre o global e o local visto descodificar,
parcialmente, as motivações das acções empreendidas pelos actores do
desenvolvimento.
Na evolução dos sistemas territoriais não há nada de linear nem de progressivo:
estes são marcados pela descontinuidade da crise, da contradição e da incerteza.
Lacour (1996) utiliza a expressão tectónica dos territórios173 para descrever este
processo de construção de um território.
Os diferentes comportamentos dos vários agentes gera concorrência pela
ocupação do espaço-território” nas zonas onde a posição económica é mais
favorável. As primeiras preocupações teóricas em relação à formação de uma
estrutura de utilizações do espaço encontram-se na obra de von Thünen (1826) na
qual se viriam a inspirar várias gerações de autores entre os quais destacamos
172 O espaço económico é entendido como o local onde o homem se estabelece em função de oportunidades económicas. 173 A tectónica é a parte da geologia que estuda as deformações da crosta terrestre devido às forças internas que sobre ela se exerceram in Dicionário Enciclopédico da Língua Portuguesa (1992), Publicações Alfa, Vol. II, p. 1145
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140
Lösch (1940) e Dun (1951). No final do século XIX, Marshall contribui para a
base de uma teoria de utilização dos solos urbanos174. Já no século XX, os
modelos mais interessantes175 são os de Wingo (1961), Alonso (1964), de Lowry
(1964), que iremos analisar, e o de Muth (1969).
Nos modelos globais de utilização do espaço atrás enunciados, a variável central é
a renda fundiária pelo que qualquer utilização dos solos176 conduzirá a resultados
idênticos. Huriot (1978) reforça esta opinião e cita um modelo simplificado de
três tipos de utilizadores, elaborado por Alonso (1964), cujo resultado mostra
claramente a hierarquização das actividades económicas em função da renda
fundiária. Assim, e segundo o modelo, o centro é ocupado pelas empresas de
serviços visto pagarem uma renda fundiária mais elevada pela utilização do solo.
À volta do centro formam-se dois anéis concêntricos: o primeiro é reservado às
residências visto proporcionarem uma renda intermédia e o segundo destina-se às
empresas agrícolas uma vez que estas estão ligadas à menor renda fundiária.
Este tipo de modelos tem, contudo, várias insuficiências. A primeira, segundo
Strawczinski (1971), deriva do modelo ser elaborado a partir da combinação de
sub-modelos177, em que cada um trata de um caso particular levando a utilizações
174 Nos últimos anos têm-se vindo a desenvolver várias pesquisas sobre a utilização residencial do espaço urbano. As reflexões da maior parte dos autores neoclássicos contemporâneos deram origem a transposições, mais ou menos elaboradas, das teorias de utilização agrícola dos solos para o estudo da estrutura de utilizações urbanas. 175 Estes modelos de utilização dos solos pressupõem que: 1) espaço físico é sempre percepcionado como uma plataforma uniforme no que diz respeito à sua topografia e fertilidade, sem limites precisos, onde se encontra um centro de mercado ou, de um modo mais genérico, um único centro de atracção; 2) o espaço considerado deve ser alocado aos utilizadores; 3 ) o espaço é apropriado e existe um mercado fundiário (mercado de utilização do espaço) que possui, de um modo geral, as características de um mercado livre. 176 Por exemplo, na utilização dos solos para a construção de habitação o ponto de equilíbrio caracteriza-se por uma repartição da renda dos solos e densidade de utilização regularmente decrescente em função da distância ao centro 177 Quando nos preocupamos com a utilização do espaço para o produtor agrícola, o centro adquire um papel de um lugar de concentração da procura: é lá que este pode vender toda a sua produção; o centro torna-se um lugar de concentração da oferta de trabalho o que pressupõe a residência dos potenciais agentes da oferta no centro; para a as empresas do sector comercial, o centro é um lugar de concentração da procura; para os residentes, trabalhadores e procura de bens e serviços, o
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141
do espaço contraditórias entre si que nem a polarização à volta de um centro
consegue mitigar. A segunda insuficiência advém da determinação de um
equilíbrio puramente estático, formado a partir da existência de um centro à priori
e de um espaço não utilizado. Ora na realidade, o problema de utilização do
espaço coloca-se em termos de transformação das ocupações já existentes
possuidoras de uma carga história importante como sublinha Castells (1981) ao
escrever, toute forme de la matière a une histoire ou mieux encore, elle est son
histoire (cit. Thierau, 1993, p. 269). Por último, os modelos neoclássicos são
modelos de procura de espaço. Efectivamente, enquanto os motivos económicos
para a sua procura são analisados detalhadamente negligencia-se a definição de
uma função de oferta de espaço que tenha em consideração a estrutura existente
das utilizações e os obstáculos à passagem de uma utilização para outra. Na
realidade, as transformações na utilização do espaço são lentas devido à existência
de estruturas com custos elevados e uma vida relativamente longa tornando,
assim, a mobilidade dispendiosa e ineficiente quando esta se verifica antes da
obsolescência técnica ou económica das estruturas construídas.
A utilização do espaço físico, iniciando-se com os impulsos de crescimento,
resulta da combinação da procura de bens e serviços, de factores espaciais e das
funções de produção (ver fluxograma 3.4). O modelo apresentado destaca as
relações fundamentais privilegiadas (posição económica das zonas, raridade do
espaço em cada zona e rigidez na ocupação do espaço) que, em termos dinâmicos,
geram o equilíbrio na utilização do espaço a par de uma determinada estrutura. A
formalização do modelo178 é efectuada com a ajuda de um programa matemático
que integra comportamentos de optimização de curto prazo limitados pela inércia
natural da ocupação dos espaços existentes.
A articulação diferenciada, no tempo e espaço, da procura de bens e serviços,
factores espaciais e funções de produção, resulta no desenvolvimento sócio-
económico territorialmente desequilibrado ou, por palavras de Perroux (1955), la
centro é um lugar de concentração da oferta de bens e serviços bem como um lugar de concentração da procura de trabalho.
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142
croissance n’apparait partout à la fois, elle se manifeste en des points, ou pôles
de croissance, avec des intensités variables et avec des effects terminaux
variables pour l’emsenble de l’economie (cit. por Alves (1996, p. 22). No entanto,
a intervenção dos agentes económicos e da Administração Pública pode atenuar os
desequilíbrios (ou agravá-los), por um lado, facilitando e promovendo a
mobilidade dos recursos naturais e humanos e, por outro lado, utilizando as novas
tecnologias ambientalmente mais puras. Neste contexto, o planeamento179 sócio-
económico, e de um modo particular, o planeamento do território (sub avaliado
nas décadas de 70 e 80) começa de novo a ocupar um lugar de destaque permitida
pela a revalorização dos aspectos espaciais no desenvolvimento sustentável. A
nível nacional, a elaboração e implementação dos Planos Regionais de
Desenvolvimento – PDR -, embora com algumas deficiências, insere-se nesta
lógica.
Fluxograma 3.4 Modelo de utilização do espaço físico
Fonte: Huriot, J. M., (1978), “Utilization de l’espace et dynamique économique” in Revue
d’Economie Régionale et Urbaine, nº 1, p. 141
178 Ver Huriot, J. M., (1978), “Utilization de l’espace et dynamique économique” in Revue d’Economie Régionale et Urbaine, nº 1, pp. 119-148 179 Este planeamento, como já vimos anteriormente, é concebido não como um processo de elaboração de um documento tecnicamente perfeito e rígido mas, de um plano deslizante que permite adaptações em função dos resultados que se vão obtendo com a sua implementação ou porque, condicionalismos externos, alteraram profundamente as condições inicias.
Impulsos de crescimento: - crescimento demográfico - progresso científico e tecnológico - progresso sócio-cultural - situação internacional
Factores espaciais: - posição económica - preço de utilização do espaço
Procura de bens e serviços: - produtos alimentares - bens industriais - habitação - serviços
Funções de produção: - processos de produção - bens produzidos - custos de produção
Procura de espaço económico (rendimento das actividades): - agricultura - indústria - construção de habitação - equipamentos colectivos
Procura de espaço físico: - superfícies - localizações
Oferta de espaço físico: - superfícies das zonas - rigidez de ocupação Estrutura de utilização do
espaço físico
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143
O planeamento do território diz-se regional ou urbano porque o seu objecto é a
região ou a cidade, mas tal não implica que os aspectos físicos, supostamente
relacionados exclusivamente com o espaço, tenham à priori qualquer primazia. O
conteúdo específico do planeamento em cada caso dependerá das condições
concretas do espaço a planear e terá como objectivo principal a melhoria dos
níveis de bem-estar das populações residentes ou, por outras palavras, o
desenvolvimento social e económico. Aliás, partilhamos a ideia de Massey
(1984) segundo a qual não existem processos puramente espaciais ou sociais não-
espaciais pelo que a dicotomia social/espacial nos parece impossível de sustentar.
O facto de os processos sociais - escreve Massey - ocorrerem no espaço, os factos
da distância ou da proximidade, da variação geográfica entre áreas, do carácter
e significado individuais de regiões e lugares específicos – tudo isto é essencial à
operação dos processos sociais. Tal como não há processos puramente espaciais,
também não há processos sociais não-espaciais (op. cit., 1984, pp. 52-53). O
planeamento do território reflecte esta especificidade do processo de
desenvolvimento social e económico sustentável, ou por outras palavras, o
planeamento reflecte uma situação inquestionável: território e sociedade são
indissociáveis.
SECÇÃO II – PLANEAMENTO DO TERRITÓRIO
3.3. O planeamento do território
3.3.1. Os modelos de ocupação do território
A ocupação do território não se verifica uniformemente em todo o espaço
habitado pelo homem pelo que os modelos de ocupação do território são variados
e tendem a projectar a dinâmica de procura de espaço das actividades com maior
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144
impacto no desenvolvimento, bem como o seu padrão de utilização do solo. A
procura de espaço para alojamento e lazer é, em condições idênticas às anteriores,
parte integrante dos modelos de ocupação de território. Mas vejamos, mais em
pormenor, o padrão de utilização destes elementos. As actividades industriais
características da primeira e segunda revoluções, mostraram-se fortes
consumidoras de espaço, quer pela extensão das actividades, quer pela função de
armazenagem de matérias primas, bens intermédios e produtos acabados.
Actualmente, uma situação idêntica é protagonizada pelas actividades ligadas à
logística da distribuição uma vez que, necessitando de grandes espaços, tendem a
concentrar-se nas periferias mais próximas dos grandes mercados consumidores.
A implantação das actividades económicas e consequente concentração da
população conduz à instalação de redes e sistemas de suporte (por exemplo,
transportes, telecomunicações, energia, abastecimento de água, tratamento de
resíduos e de efluentes). A concentração da procura/oferta de alojamento e
condições de lazer nos grandes centros urbanos foi a resposta encontrada para
satisfazer os requisitos claramente objectivos de mobilização, utilização e
reprodução da mão-de-obra, na maioria dos casos, deslocada dos seus locais de
origem.
Na década de 70, a nova distribuição das actividades económicas no espaço, quer
pelas características quer pela dimensão, dá lugar a novas formas de organização
da produção em que o território emerge com um papel activo. A abordagem
territorial, pressupondo a análise das diferentes formas de coordenação territorial
das actividades, rompe com a longa tradição de modelos económicos de tipo
funcional que atribuem um papel determinante à presença de funções económicas
privilegiadas e de sectores avançados que, em conjunto, definem uma hierarquia
de países e uma trajectória de evolução obrigatória para os países menos
desenvolvidos.
O território torna-se, então, num factor privilegiado de desenvolvimento na
medida em que inclui os factores históricos, culturais e sociais nos quais se
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145
baseiam os modelos específicos de organização da produção ou, como diz Salais e
Storper (1993), os mundos reais da produção e a contínua interacção entre a
esfera económica e a esfera social. A análise dos territórios mostra, como já
vimos, que o desenvolvimento se desenrola a partir de um sistema de inter-
relações, de circulação de informação, de produção e de reprodução de valores
que caracterizam um modo de produção.
No centro desta nova abordagem sobre o papel do território no desenvolvimento
estão as análises dos distritos industriais, dos sistemas produtivos locais e do meio
inovador desenvolvidos a partir de experiências como, por exemplo, a Terceira
Itália, o Jura suíço ou o Sillicon Valley. A análise da industrialização difusa e a
sua sistematização, sob a forma de distrito industrial, tem origem na Itália
(Bagnasco, 1977; Brusco, 1982; Garofoli, 1981, 1983; Fuà e Zacchia, 1985) em
que o Norte industrializado das grandes empresas se opõe ao Sul sub-
industrializado e agrícola, emergindo no Centro e Norte-Este uma realidade mais
complexa caracterizada pela presença difusa de pequenas empresas exportadoras
especializadas em determinado ramo da indústria. O sucesso do distrito industrial
reside nas economias de aglomeração, fortemente ancoradas no território e de
reduzida irreversibilidade dado estarem profundamente ligadas às estruturas
históricas e sociais dos distritos.
A segunda forma de organização da produção, numa perspectiva territorial, está
ligada ao conceito de sistema produtivo local que, em cerca de década e meia,
conheceu uma rápida evolução. Assim, enquanto Wilkinson (1983) introduz a
noção de sistema produtivo180, Garofoli (1984) classifica o sistema produtivo de
local de forma a reflectir a profunda simbiose entre os fenómenos económicos e
sócio-culturais. A consideração da influência de regulações locais no sistema
produtivo dará origem ao sistema produtivo localizado (Raveyre e Saglio, 1984;
Courlet e Pecqueur, 1991; Ganne, 1992; Courlet e Soulage, 1994). O conceito de
sistema produtivo local traduz fenómenos originais de desenvolvimento
180 O sistema produtivo é constituído pela força de trabalho, meios de produção e métodos de organização da produção, estrutura da propriedade, controlo da actividade produtiva e contexto sócio-político no qual se verifica o processo de produção.
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146
localizado e que se verificam em economias desenvolvidas e em
desenvolvimento. Assim, qualquer modelo de organização da produção baseado
na presença de economias externas e de conhecimento não transferíveis e na
introdução de formas específicas de regulação que identificam e salvaguardam a
originalidade da trajectória de desenvolvimento (Courlet, 1999, p. 537) pode
ser considerado um sistema produtivo local.
Por último, analisemos o meio inovador, isto é, um ambiente tecnológico e de
mercado que integra e endogeniza o saber fazer, as regras, as normas e valores e o
capital relacional. O meio inovador é um colectivo de actores com recursos
humanos e materiais (Aydalot, 1986; Maillat e Senn, 1993; Maillat, 1994;
Camagni, 1995; Sabel, 1996; Braczyk, Cook e Heidenreich, 1998; Cook e
Morgan, 1998) e está ligado a um sistema de produção localizado que
compreende as empresas, os custos de investigação e de formação, instituições de
financiamento, associações sócio-profissionais e, ainda, órgãos de Administração
Pública com autonomia para formular as suas escolhas estratégicas (ibid., p.
536). A existência de um meio inovador181 estimula a confiança e a convergência
de pontos de vista levando as empresas a ultrapassar as barreiras habituais da
concorrência para discutir os problemas tecnológicos comuns, trocar experiências
e, eventualmente, procurar soluções comuns.
A abordagem do desenvolvimento reorientada no sentido da valorização do
território tem a ver, de certa forma, com o esgotamento do paradigma fordista de
produção. Nestas circunstâncias, o aparelho produtivo ou reage de forma
acomodativa reflectindo a perda de posições competitivas a prazo e declínio das
181 Bramanti (1999, p. 634), centrando-se no conceito de território, sistematiza as abordagens ao meio inovador da seguinte forma: 1) como lugar de nascimento de tecnologia e inovação, isto é, o progresso advém de um processo de alocação de recursos existentes que, num processo de construção colectiva, se transformam em recursos específicos (Gaffard, 1990); 2) como lugar de coordenação das actividades industriais, isto é, de ligação entre as economias externas territoriais as trajectórias organizacionais e inter-organizacionais das empresas (Veltz, 1993); 3) decisão política de localização, capaz de criar e redistribuir recursos ... (Storper e Harrison,
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147
actividades ou, pelo contrário, tem reacções de ajustamento activo, isto é, produz
novos factores de competitividade. A acomodação ou o ajustamento activo têm
consequências ao nível do espaço e da consolidação das estruturas sectoriais de
actividade, que se traduzem no reforço de posições de hierarquia das cidades ou
de deslocalização de investimentos e actividades com a consequente perda
progressiva de prestígio e capacidade de influenciar as decisões locativas.
Este quadro de evolução conduz-nos a duas noções que ajudarão a explicar o ciclo
de vida dos territórios, ou seja, as noções de ciclo de produto e nova economia de
produção. A noção de ciclo de produto182 nasce ligada aos desenvolvimentos
teóricos do comércio internacional assumindo a ruptura com os postulados
clássicos da localização das empresas e das actividades183. Segundo Vernon
(1979), as estratégias locativas das grandes empresas transnacionais são função de
custos espacialmente diferenciados da produção, os quais são formados a partir
das diferentes dotações de recursos de localizações alternativas. Assim, nas
diferentes fases do ciclo de vida de um dado produto, o óptimo da produção
ocorre em espaços que oferecem a dotação de factores minimizadores dos custos
pelo que a capacidade de proporcionar os factores estratégicos de localização
determinaria o potencial de atractividade dos diferentes espaços alternativos.
Esta abordagem, que valoriza particularmente a capacidade de regeneração dos
factores de competitividade, é interessante para a dinâmica de renovação das
regiões ou das grandes cidades. Perante esta dinâmica a dotação de recursos
económicos por parte dos territórios, na área dos factores de excelência (ensino
superior, centros de investigação, oferta de serviços estratégicos), permite-lhes a
reconfiguração de vantagens competitivas num contexto de concorrência aberta e
de globalização da economia.
1991); 4) como lugar gerador de formas de interdependência ... (Storper, 1995; Cook e Morgan, 1998). 182 Ver Vernon, R., (1979), “O comércio e o investimento internacionais no ciclo do produto” in Teorias do Comércio Internacional, Série I, CEDEP, vol. 9, pp. 51-71, ISE, Lisboa 183 A localização de empresas e actividades, como já vimos no segundo capítulo, seria determinada em função dos custos de produção e de transporte.
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148
A nova economia de produção (Veltz, 1991) valoriza, sobretudo, os aspectos
relacionados com a transformação qualitativa da procura de factores de
localização associada à mudança dos sistemas produtivos. A evolução das
tecnologias de informação e, em particular, a utilização das mesmas pelos
sistemas de produção e de distribuição contribuem fortemente para o
aparecimento de novas formas de estruturação de actividades internas nas
empresas e introduzem novos critérios na procura de factores de localização que
tendem a valorizar os factores de excelência.
Ainda, segundo Veltz (op. cit.), a dinâmica de integração das diferentes
componentes produtivas, a qual se tem constituído num complexo processo de
base técnica, tende a transversalizar e a horizontalizar as organizações,
sistematizando os ciclos produtivos da concepção à distribuição. Esta nova
filosofia tem na sua base uma lógica de estruturação em rede interna (através dos
seus departamentos/secções ou estabelecimentos) e externa (no quadro de
relações de parceria ou de subcontratação). Do ponto de vista das estratégias
espaciais, observa-se a tendência para a concentração nas capitais ou grandes
cidades das funções que asseguram a coesão do modelo, libertando para a
periferia, em primeiro lugar, as funções técnicas de fabrico. Neste quadro
conceptual, isto é, na perspectiva funcionalista o território é um espaço passivo
que não é, por si próprio, produtor de uma dinâmica, mas somente o lugar de
localização das actividades económicas. Neste caso, não se procura tanto tirar o
melhor partido do espaço em si, mas pesquisar a melhor distribuição possível das
pessoas e das actividades num dado espaço (Pecqueur, 1987, p. 28).
A redução do ciclo de vida dos produtos devido à difusão acelerada de práticas de
automação flexível no sentido de, por um lado, reforçar a capacidade de resposta
ao mercado e, por outro lado, reduzir o hiato entre o momento de concepção e o
de fabrico tem como consequência espacial a perda de importância das condições
de acessibilidade184 em favor de factores de diferenciação específicos.
184 Aliás, as condições de acessibilidade têm tendência a homogeneizar-se em função da difusão de redes de transporte, energia e telecomunicações.
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149
Paralelamente assiste-se à transformação das estruturas de trabalho cuja
característica mais visível é a expansão do terciário industrial185 que, necessitando
de recursos humanos com qualificações médias e superiores, origina a
dinamização de mercados de trabalho de quadros especializados e profissões de
enquadramento.
Uma evolução do tipo atrás descrito tende a reforçar as vantagens locativas dos
centros urbanos de média e grande dimensão dada a importância dos mercados de
trabalho qualificado, da presença de serviços estratégicos e de factores de
inovação tecnológica nas novas estratégias de localização (Veltz, 1991, p. 679).
Este padrão territorial remete-nos para uma relativa desintegração regional já que
tendo em vista a forte polarização em torno das áreas urbanas, ligadas pelo efeito
rede, ao assegurar níveis elevados de integração e desenvolvimento no seio das
próprias redes promove a formação de “autênticos desertos” nos territórios que se
situam fora destas redes polarizadas. Por outras palavras, as assimetrias inter e
intra-regionais longe de se esbaterem são, pelo contrário, agravadas devido à forte
integração e desenvolvimento dos territórios pertencentes às redes e à estagnação
ou, mesmo, aceleração do declínio das restantes áreas.
Tal como os produtos e as empresas também as regiões e cidades têm um ciclo de
vida. Estas nascem a partir de um conjunto de actividades (formas de ocupação
humana) que se concentram num determinado território; estas actividades
crescem e geram necessidades de segurança, de infra-estruturas básicas, de
equipamentos de apoio, etc., cuja satisfação supõe uma lógica de organização
espacial, de urbanismo e de planeamento (Neves, 1996, pp. 14-15). Ora, o
sucesso ou insucesso desta evolução impõe o comportamento do ciclo de vida das
cidades e, de um modo mais geral, das regiões, o qual é acelerado à medida que a
difusão da informação entre os diferentes territórios e a envolvente económica
mundial incentiva a mobilidade dos capitais e recursos humanos.
185 O terciário industrial tem a ver com as fases a montante (concepção de produtos, marketing) e a jusante (distribuição e comercialização) do ciclo de produção propriamente dito.
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150
O ciclo do território decompõe-se em cinco fases, nomeadamente: infância,
crescimento, controlo, maturidade e crise (Forn, 1989, p.31). Em cada uma destas
fases é possível identificar as necessidades progressivas de adaptação do
planeamento e de intervenção dos responsáveis daí que, sob o ponto de vista, das
prioridades e níveis de intervenção do planeamento se observe uma evolução com
as seguintes características:
1. no início com a infância, o binómio actividades/recursos tem um papel
determinante e o cenário físico (o local) deve adaptar-se-lhe;
2. durante a fase de crescimento, o teste à capacidade do território em suportar a
concentração das actividades e recursos tende a dar a primazia ao planeamento
urbano, às infra-estruturas e equipamentos com o objectivo de assegurar níveis de
crescimento compatíveis com a dimensão e características do território;
3. a fase de controlo pressupõe o alcance de uma plataforma de estabilização em
que os mecanismos de gestão do território (planos de desenvolvimento regional,
planos directores municipais, planos de urbanização, etc.) regulam as formas de
uso e apropriação do solo pelos agentes públicos e privados;
4. na fase de maturidade assiste-se a uma certa inércia sem subordinação visível
entre o binómio actividades/recursos e o bloco território;
5. com a emergência dos factores de crise, ocorre uma ruptura nos equilíbrios
levando a que os blocos actividades/recursos e território (valorizando a sua
especificidade e individualidade) sejam reavaliados e se procure o
desenvolvimento de novas actividades produtivas e de serviços que permitam
iniciar um novo ciclo.
Na evolução cíclica dos territórios, e em particular das cidades, o diálogo entre as
actividades económico-sociais e o planeamento é permanente. Aliás, esta
estratégia foi seguida pela maioria das grandes cidades europeias que tiveram um
processo de crescimento centrado no dinamismo das actividades produtivas de
base industrial. Estas no seu processo de expansão geraram correntes migratórias,
alargaram as áreas urbanas e configuraram aglomerações metropolitanas com
lógicas produtivas, de ocupação humana e de organização espacial específicas
num processo que conduziu à criação de uma imagem própria e poder de atracção.
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151
Como refere Forn (1989, p. 31) a duração do ciclo (do território) é variável,
dependendo de diversos factores: um, geral, ligado às transformações dos modos
de produção; outros, particulares, ligados à evolução de cada formação
económico-social em particular, por um lado, e, por outro, aos factores
envolventes (formação dos estados nacionais, redistribuição de praças
financeiras, emigração maciça ligada à crise da agricultura). Estes elementos,
além da contextualização do seu desempenho, pressupõem a análise do
dinamismo e da capacidade de adaptação dos diferentes actores cujas estratégias
empresariais ou de acesso à habitação, ao emprego ou a diferentes serviços se
projectam no território. É também um pressuposto a análise da emergência e do
desenvolvimento de situações de crise que, sobretudo após o primeiro choque
petrolífero nos anos 70, têm atingido duramente o tecido económico e social de
vastas regiões/cidades do sistema urbano e mundial.
Na segunda metade da década de 80 emerge a questão metropolitana levando May
(1994, p. 3) a afirmar que se participe d’un retour, des regards sur la ville,
longtemps abandonnée au profit du local. Esta mudança de unidade territorial de
análise186 deve ser entendida não só como mais um sinal de renascimento da
dimensão urbana, mas também como uma mudança no sistema de actores e na
origem das formas de liderança. Efectivamente, vem ganhando consistência um
novo quadro de funcionamento económico das cidades (Sallez, 1993) determinado
pela transição do local para o global que correspondendo a transformações
técnicas e organizacionais da produção induzem a reformulação de estratégias das
grandes empresas, quer a nível interno, quer face ao mercado. A recomposição
espacial que favorece as regiões e as grandes cidades está associada, conforme
assinala May, à capacidade de oferecer às empresas vantagens decisivas187 na sua
localização. Paralelamente, as transformações técnicas e organizacionais da
186 Ver conferência de Nicole May no Colóquio Internacional, de Lille, “ Cities, Enterprises and Society at the XXIst century”, em Março de 1994 187 May (1994, p. 14) enumera cinco vantagens decisivas das metrópoles: a) presença de importantes equipamentos de formação superior e de investigação públicos e privados; b) fortes contingentes de mão-de-obra qualificada; c) importância e qualidade dos serviços prestados às empresas (nomeadamente de serviços “avançados”); d) oferta imobiliária variada e abundante; e) boas infra-estruturas de transporte e de comunicação (nomeadamente em matéria de ligações internacionais).
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152
produção ao levarem à divisão espacial dos investimentos e actividades originam
a consolidação de redes de cidades viabilizando a expansão e a melhoria das
actividades aí existentes através da fixação dos factores de atractividade para o
investimento, o emprego e a habitação, quer dos agentes internos, quer dos
externos, numa óptica de transferência intra-regional e a uma escala mais
reduzida, numa óptica de transferência intra-urbana.
Neste contexto de rápidas mudanças, os aspectos “físicos” do território perdem
importância no planeamento territorial uma vez que estes não podem ser
analisados separadamente da compreensão das relações entre o uso económico do
território e do uso dos solos e da espacialidade. Os circuitos económicos, a
acumulação de capital e a constituição dos interesses sectoriais são também, em
última análise, responsáveis pela transformação das estruturas territoriais. Assim,
sempre que se procura uma abordagem global e compreensiva do território
objecto de planeamento terá que existir um processo de diálogo dada a
impossibilidade de dissociar o “físico” do “económico” em planeamento
territorial (Henriques, 1990, p. 87), ou seja, a territorialidade e a funcionalidade,
ligadas e complementares uma da outra, estão em constante interacção. As forças
territoriais tiram as suas bases nas estruturas sociais construídas pela história de
um determinado espaço. Os laços funcionais estão marcados pelas relações de
interdependência (Greffe, 1984, p. 190).
3.2.3. Os níveis de planeamento territorial
3.2.3.1. O planeamento normativo e operacional
O planeamento, como já vimos, pretende regular e influenciar os processos sócio-
económicos gerados na sociedade ou, por outras palavras, o objectivo do
planeamento é prever a evolução da realidade económica e social orientando-a
para a realização de determinados objectivos. O processo de planeamento passa,
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
153
naturalmente, por várias fases que vão desde a preparação dos programas de acção
até à avaliação de todo o processo e seus resultados, passando pelas etapas
intermédias da escolha e execução dos programas. Num sentido mais restrito, o
processo de planeamento define-se como a determinação dos objectivos e dos
meios para os atingir.
A definição de planeamento, em sentido lato, indica que este se desenvolve de
forma sistemática e iterativa, isto é, além do processo passar por várias fases
(como já vimos anteriormente), estas podem ser percorridas mais do que uma vez
e os resultados entretanto obtidos podem ser introduzidos como informação na
etapa seguinte. O processo de planeamento, que acabamos de descrever
sucintamente tem três níveis: normativo, estratégico e tácito ou operacional
(Reigado, 1999, p. 61).
O planeamento normativo, entendido como um processo dinâmico de cognição,
de aprendizagem e de troca de informação (ibid., p. 31), por um lado, implica a
concordância entre os valores e as normas padrão com as alterações verificadas no
sistema económico e social, e por outro lado, é a este nível de planeamento que se
decide qual a direcção a tomar pela sociedade como um todo e seus elementos
constituintes. A um nível intermédio, isto é, ao nível do planeamento estratégico
toma-se a decisão sobre quais os objectivos a alcançar. Refira-se que esta decisão
baseia-se nas preferências, funcionalidade e afectação óptima dos recursos
disponíveis. Por último, o planeamento táctico ou operacional é, essencialmente,
de curto prazo já que envolve a implementação das opções tomadas
anteriormente. Neste nível de planeamento a questão importante a definir
relaciona-se com o modo de implementar as estratégias de forma a atingir os
objectivos previamente fixados.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
154
Quadro 3.1 Níveis e questões fundamentais do planeamento
Normativo ⇒ Para onde queremos ir ? Estratégico ⇒ Com que meios ? Operacional ⇒ Como vamos actuar ?
Fonte: REIGADO, F. M., (1999), Desenvolvimento e Planeamento Regional: abordagem
sistémica, (no prelo), p. 61
O planeamento normativo advém da dificuldade em assegurar o equilíbrio geral
num ambiente de incerteza. A consideração das “incertezas endógenas”, isto é, o
reconhecimento dos planos dos diferentes agentes coloca alguns problemas uma
vez que se trata de recondicionar o sistema de informação mútua. Pelo contrário, a
tomada em consideração da incerteza em relação ao comportamento do meio, ou
seja, aquela que parte dos diferentes Estados do mundo, da intervenção das novas
tecnologias ou da descoberta de novas fontes de energia, entre outras, é bastante
mais complexa.
A incerteza, qualquer que seja a sua natureza, é um elemento que condiciona o
planificador e o único meio de atenuar os seus efeitos negativos passa pela
abertura de canais de informação fluídos e de uma selecção rigorosa da
informação relevante a ser trocada o que, conjuntamente, permitirá elevar o seu
nível de qualidade. A informação sobre o meio ambiente, o debate acerca da
hierarquia de valores e a coordenação e cooperação entre os diversos actores do
desenvolvimento económico-social contribuem para a diminuição da incerteza.
Daí que a informação continue a ser uma das chaves do bom funcionamento do
processo de planeamento. Pese embora o facto de a organização deste sistema de
informação implicar custos estes são, certamente, inferiores aos proveitos que
advêm da sua implementação.
Harrod (1973) fundamenta, igualmente, a importância do planeamento normativo
a partir do desvio entre o crescimento máximo possível da economia e a taxa de
crescimento efectiva. Assim, a partir do momento em que se verifica este desvio,
colocam-se problemas relacionados com o espaço necessário ao crescimento da
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
155
produção empresarial e, mais complexo, com a instabilidade que advém da sub
utilização dos recursos. Torna-se, assim, importante para o bom funcionamento
dum sistema, onde o investimento tem um papel determinante, que os empresários
beneficiem de informação sobre as possibilidades reais da economia de tal forma
que as suas projecções sejam ajustadas à realidade. Nestas condições, as
projecções dos empresários serão idênticas às dos técnicos de planeamento
ganhando o sistema estabilidade e um nível mais elevado de desempenho. Esta
ideia encontra-se na base do planeamento francês através da noção de redutor das
incertezas. O autor, que lamenta a reduzida utilização desta abordagem, chega a
afirmar cette idée a obtenu autrefois quelque succès ... si lon en parle peu
aujourd’hui, cela tient selon moi à un déclin manifeste de la qualité de la
réflexion économique (Harrod, 1973, p. 119).
Não obstante reconhecer-se a importância do planeamento normativo é, com
alguma frequência, que lhe são colocadas algumas críticas entre as quais
destacamos a dos custos “elevados” que envolve a aquisição da informação
necessária ao planeamento, a qualidade e utilidade da mesma, bem como a
“imposição” pelo mercado deste nível de planeamento. Ora, esta desconfiança em
relação aos resultados do planeamento não é correcta. Na realidade, o planeador
não domina as fontes e não pode ser o único responsável pela qualidade da
informação.
É por todos conhecida a dificuldade em obter a informação desejada, quer porque
não está disponível (níveis diferentes de desagregação, não coincidência da
nomenclatura territorial utilizada, séries temporais interrompidas, etc.), quer
porque os organismos oficiais têm critérios diferentes na recolha e tratamento da
informação188. Esta situação conduz à necessidade de, muitas das vezes, se
recolher a informação primária junto das populações, empresas e organismos
públicos o que se, por um lado, melhora a qualidade da informação obtida, por
outro lado, conduz ao agravamento de custos. Contudo, dado a informação ser
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
156
essencial para o planeamento atingir os seus objectivos (a melhoria do bem-estar
das populações), parece-nos que o seu custo financeiro é algo que teremos de
assumir. Aliás, em nosso entender, a questão dos custos deve ser colocada em
termos de uma relação custos financeiros com a implementação de um sistema de
informação eficiente e os benefícios sociais que este possibilita ao se introduzir
um factor de qualidade no processo de planeamento. Além disso, a redução da
incerteza nos processos de decisão proporcionada pela qualidade da informação
deve ser valorizada constituindo-se num proveito.
3.3.2.2. O planeamento estratégico: modelos e etapas
O conceito de planeamento estratégico tem origem no quadro teórico e
metodológico da gestão de empresas, sendo definido por Sorkin (1985, p. 1) como
um processo sistemático para gerir a mudança e criar o melhor futuro possível.
Trata-se de um processo criativo de identificação e acompanhamento das acções
mais importantes, tendo em atenção as forças e fraquezas, bem como as ameaças
e oportunidades. Este conceito, aplicado ao sector público, é definido por Arthur
Anderson & Co como um processo para gerir a mudança e para descobrir os
caminhos de futuro mais promissores para as cidades e as colectividades locais.
Este processo consiste em colocar no centro das atenções as fraquezas e as
oportunidades das cidades e das colectividades locais (cit. Padioleau, 1990, p.
159). Os primeiros elementos teóricos do planeamento estratégico das
organizações datam dos anos 60, num período de crescimento e de consolidação
das grandes empresas dos EUA. O aprofundamento desta teoria está ligado, por
um lado, à emergência e desenvolvimento da crise e, por outro à preocupação de
determinação de estratégias de gestão que melhor se adaptam a uma oferta
limitada de recursos, num cenário de rápidas e frequentes mudanças. A
apropriação dos referenciais e práticas do planeamento estratégico pelas
administrações central e local verifica-se na década de 80. Esta apropriação,
inscrita por Padioleau (ibid., p. 157) num movimento de racionalização da acção
188 A este respeito é já clássica, por exemplo, a diferença de valores entre o INE e o IEFP em
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
157
pública urbana, corresponde ao reconhecimento de que a Administração Pública,
de um modo geral, poderia retirar vantagens da utilização de modelos gestionários
das grandes empresas para conduzir o seu território, bem como para escolher e
acompanhar os programas (projectos e acções de renovação da região, município
ou cidade189) que compõem essa acção pública.
A interpenetração crescente das economias, quer ao nível regional, quer ao nível
dos países, conduz a uma utilização mais intensa do planeamento estratégico
territorial sendo necessário, contudo, alterar o seu conteúdo e técnicas. O
planeamento estratégico abarcará assim um número limitado de decisões sobre
grandes sectores económicos e equilíbrios macroeconómicos que garantirão o
desenvolvimento do país/região e o pleno emprego dos recursos naturais e
humanos.
Em termos de modelos de planeamento estratégico territorial, destacam-se duas
grandes correntes de pensamento que deram origem ao modelo ortodoxo e ao
modelo interaccionista (Padioleau, 1990, p. 159). O grau de detalhe com que se
chega às escolhas estratégicas por parte dos actores e a importância atribuída à
função de implementação constituem os elementos fundamentais da distinção
entre os modelos de planeamento estratégico.
O modelo ortodoxo desenvolve-se a partir da metodologia de planeamento
estratégico concebida pela Harvard School e foi aplicado, pela primeira vez, em
1981 na cidade norte-americana de São Francisco. O planeamento estratégico,
funcionando como um ciclo (ver fluxograma 3.5), inicia-se com a análise da
envolvente e selecção dos problemas-chave e termina com o controlo e avaliação
da execução do plano. Entre estas etapas, e seguindo a ordem natural das mesmas,
teremos a formulação das missões, a análise interna e externa, a definição e
quantificação das metas, objectivos e estratégias a implementar, a elaboração do
plano de acção e, por último, a implementação do plano estratégico.
relação ao desemprego em Portugal.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
158
A este modelo além da crítica de que está “demasiado” ligado à sua matriz
fundadora (consultoria à gestão de empresas) fazem-se mais algumas,
nomeadamente:
• no plano de acção estão programados os recursos humanos e financeiros
necessários à implementação do plano o que denota a sua estreita ligação com
o ciclo orçamental da instituição;
• insuficiência dos mecanismos de produção de consensos na elaboração do
plano estratégico o que é agravado pelas características das instituições
públicas (conflitos de tutela, culturas de intervenção, estruturas de motivações
e objectivos pretendidos com a participação);
• ausência de referências à metodologia de escolha das estratégias
nomeadamente, por parte dos intervenientes, numa perspectiva de maximizar o
binómio potencialidades/oportunidades e de minimizar o par
debilidades/ameaças.
Fluxograma 3.5
Modelo ortodoxo de planeamento estratégico
Fonte: PADIOLEAU, J. G., (1990), “Un mouvement de rationalisation de l’action publique
urbaine: le planning stratégique” in Wachter, S. (org.), Politiques publiques et territoires, Logiques Sociales, Paris, p. 161 (Adaptação de Arthur Anderson & Co)
189 A primeira experiência em planeamento estratégico de cidades teve lugar, em 1981, em São Francisco. Um pouco mais tarde foram encetadas experiências idênticas em várias cidades europeias: Amesterdão, Birmingham, Barcelona e Lisboa.
Selecção dos
problemas-chave Formulação das missões
Organização da reflexão estratégica Radiografia da
envolvente
Controlo-avaliação
Implementação Plano de acção
Análise interna e externa
Metas, objectivos e estratégias
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
159
A tentativa de correcção dos aspectos negativos do modelo ortodoxo conduz ao
surgimento do modelo interaccionista que é, segundo Padioleau (1990, p. 168),
tributário da influência das correntes da disciplina das políticas públicas, que
distingue entre a política poder (que anula os interesses e vontades pessoais a
favor do colectivo) e a política programa de acção (que desenvolve a relação
entre recursos e objectivos). Daí deriva a incorporação de elementos internos às
atribuições e competências das instituições públicas, ao seu próprio estatuto
jurídico-legal, à envolvente política (ciclos eleitorais, natureza do mandato) e aos
constrangimentos de dotação e execução orçamental.
O modelo iterativo de planeamento estratégico do território (ver fluxograma 3.6),
embora reproduza as principais características do modelo ortodoxo, tem, no
entanto, um conjunto de elementos que permitem a introdução das especificidades
já referidas para as instituições públicas, nomeadamente:
• mandatos (representação dos cidadãos por um determinado período de
tempo);
• missões e valores (delimitação das atribuições e competências dos órgãos de
gestão territorial e o sistema de interesses em presença);
• descrição da região no futuro (tradução dos resultados da discussão dos
problemas estratégicos que envolvem conflitos de interesses, diferenças entre
objectivos, meios de acção alternativos, etc.).
A apropriação destes elementos é operacionalizável com alguma facilidade
recorrendo ao conceito de sistema e, por extensão, aos contributos da análise
sistémica. A noção de sistema é aqui essencial uma vez que o planeamento das
organizações (operadores públicos do sector empresarial, regiões, cidades ou
sistemas190) tem como característica principal o envolvimento de unidades que
estruturam recursos de diversa ordem, desenvolvem a sua actividade em função de
objectivos previamente definidos e respondem a estímulos provenientes da
sociedade ou do mercado, consoante a natureza dos bens que produzem ou dos
serviços que prestam. A transformação destes sistemas, enquanto resposta à
190 Sistemas de transportes, rede de telecomunicações, rede de equipamentos escolares, etc.
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160
alteração da sua envolvente externa, implica a actuação sobre variáveis-chave do
seu desenvolvimento, isto é, sobre aquelas que podem viabilizar a mudança.
Fluxograma. 3.6
Modelo interaccionista de planeamento estratégico
Fonte: Extraído de Bryson & Einsweiller, 1988 (cit. Neves, 1996, p. 52)
A definição da estratégia de planeamento deve, segundo Bryson e Einsweiller
(1988), incluir um conjunto de características das quais destacamos: a) a recolha
selectiva de dados de acordo com as dimensões-chave da envolvente global da
organização ou território; b) o envolvimento dos principais actores do processo de
desenvolvimento; c) a concertação das expectativas e interesses dos agentes
envolvidos; d) a formulação de alternativas/opções para a evolução e respectiva
avaliação; e) a avaliação dos efeitos futuros das decisões e medidas adoptadas no
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
161
presente; f) as decisões devem ser centradas nos pontos-chave; g) a boa
implementação das acções previstas.
O planeamento estratégico territorial é, assim, marcadamente interaccionista e
pressupõe a evolução para situações de concertação de interesses ou, como afirma
Padioleau (1990, p. 172) ... la planification stratégique interactionniste s’efforce
d’activer des solidarités d’intérêts ou de sentiments (valleurs, idéologies, etc.)
entre les partenaires de l’action publique.
Não obstante existirem, como vimos, várias abordagens ao planeamento
estratégico do território ainda está em aberto a questão do seu faseamento. A
explicação para esta situação passa, em nosso entender, pelas ópticas de
abordagem adoptadas: os autores que chegam ao planeamento estratégico vindos
das práticas e experiências de gestão e planeamento das organizações do sector
empresarial têm tendência para elaborarem modelos que configuram um ciclo
estratégico com vários pontos de passagem intermédios; os autores que estiveram
ligados à análise regional e planeamento territorial têm uma visão que privilegia
grandes blocos de estruturação da metodologia nos quais se integram as tarefas
que, por sua vez, concretizam os pontos intermédios.
Na primeira abordagem, a elaboração do plano estratégico inicia-se pelo acordo
de partida ou plan for planning passando, sucessivamente pelos mandatos,
missão, envolvente externa, questões estratégicas, estratégia e, finalmente, a
descrição da organização no futuro após o que estaremos em condições de
implementar as acções definidas e controlar os seus efeitos (Bryson e Einsweiller,
1988). A envolvente externa revela-se particularmente importante já que do
estudo aprofundado dos principais constrangimentos/tendências ao nível das
políticas públicas, dos aspectos económico-sociais e tecnológicos e, também, da
capacidade competitiva e de colaboração das outras organizações pode elaborar-se
um quadro geral de oportunidades e constrangimentos. Nesta envolvente há ainda
a considerar os recursos, a estratégia actual e o desempenho da própria
organização o que nos permite uma avaliação das forças e fraquezas. O
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162
cruzamento desta informação permite-nos elaborar uma matriz com os pares
oportunidades/ameaças e forças/fraquezas que conduzem ao levantamento das
questões estratégicas e à definição de estratégias a implementar tendo em
consideração as alternativas políticas e as dificuldades. Da discussão das várias
alternativas, em termos de estratégia, sairá a proposta principal, as acções e
programas de trabalho numa visão conjunta que nos dará a descrição da
organização ou do território no futuro, ou seja, teremos o plano estratégico
elaborado.
A segunda abordagem do planeamento estratégico, cujos autores estão mais
ligados à análise regional, baseia-se nas experiências dos projects
d’agglomération ou propjects de ville française (Courson, 1993, p. 49) e nas
contribuições, sobretudo, no que diz respeito aos componentes essenciais e etapas
do planeamento estratégico, de Sallez191 (1986). Neves (1996, p. 54), citando estes
dois autores, enumera as quatro componentes do planeamento estratégico a saber:
1. definição das escolhas estratégicas ou, por outras palavras, definição das
grandes linhas de desenvolvimento com coerência global entre si. Estas
devem, por um lado, motivar um consenso institucional alargado e, por outro
lado, possuir um horizonte de longo prazo192;
2. adaptação às tendências-chave de evolução que exige atenção em relação ás
consequências das mudanças, em termos de oportunidades e ameaças, mas
também ter presente as tendências do passado em termos de comportamentos
e práticas interiorizadas pelos agentes sociais e económicos193;
3. afectação de recursos escassos que se mostra muito importante já que as
escolhas estratégicas determinam, com frequência, a qualidade da afectação
191 Desde meados da década de 80 que Alain Sallez tem publicado um conjunto de trabalhos em que articula o funcionamento dos sistemas económicos com a organização dos territórios. Destaque-se, a este respeito, a coordenação da edição de Les villes lieux d’Europe para a DATAR em 1993. 192 Esta expressão é variável segundo a natureza e os objectivos pelo que pode ser de 5 anos para um plano da empresa, de 10 anos para um plano de pormenor de determinado local ou de 30 anos para um plano regional. 193 Um exemplo que se pode apontar é a tendência para a concentração de actividades em determinadas regiões ou cidades que a pouco e pouco foram criando uma imagem de tradição e de especialização (por exemplo: Vale do Ave - indústria têxtil, Marinha Grande - indústria vidreira, Leiria - plásticos e moldes, Covilhã - lanifícios).
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163
de recursos raros (espaciais, humanos e financeiros) por parte das cidades e,
num sentido mais lato, dos territórios;
4. definição de um sistema interno de informação, ou seja, definição dos
instrumentos de controlo que permitam o conhecimento das dinâmicas
internas das organizações urbanas e regionais, do seu passado e presente, bem
como o conhecimento de elementos prospectivos que contribuam para
antecipar e orientar as evoluções do território.
Independentemente do tipo de abordagem, o planeamento estratégico do território
é um processo com quatro etapas: a definição dos objectivos, a escolha de
programas estratégicos, a escolha de acções e as realizações e seu controlo
(Sallez, 1986, p. 301). Assim, a primeira etapa consiste na determinação do
objectivo principal tendo em consideração os constrangimentos exteriores, as
forças e debilidades das organizações e as suas motivações. Este objectivo
principal é, geralmente, decomposto em sub objectivos que, em conjunto, devem
contribuir para a programação estratégica194. Do ponto de vista da condução do
processo de planeamento, esta etapa desempenha um papel essencial, quer seja
pela identificação rigorosa da composição do sistema de actores a envolver na
fase das escolhas estratégicas, quer pela definição dos parâmetros a serem
respeitados no diagnóstico. Por outras palavras, nesta fase dos trabalhos de
planeamento estará definido o nosso modelo conceptual do território.
A escolha de programas estratégicos, enquanto segunda etapa do planeamento
estratégico (com características essencialmente técnicas), corresponde à procura
dos melhores instrumentos para atingir os objectivos já definidos. Perante o
objectivo principal, enquanto os diversos actores (privados, de intermediação de
interesses, responsáveis da Administração Central e Local), apresentam os vários
programas alternativos, os serviços encarregam-se de avaliar, no plano técnico e
financeiro, as propostas, o que leva a uma troca intensa de informação entre o
nível técnico e o nível político ou decisional. Apoiando-se no quadro de
194 Por exemplo, o objectivo de descongestionar os centros urbanos capitais de distrito pode desdobrar-se em objectivos de concentração urbana em centros secundários a 30 Km da capital de distrito e de reforço da rede de transportes.
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164
potencialidades/debilidades, traçado no diagnóstico e na análise dos factores
externos, desenvolve-se a reflexão estratégica sobre os programas alternativos que
permitirá desenhar uma matriz das probabilidades de ocorrência dos factores e da
intensidade dos impactos a estes associados.
A terceira etapa - escolha de acções - tem em vista a concretização dos programas
estratégicos que se estendem ao longo de vários anos tornando necessário
enunciar o conjunto de acções em que se desdobram os programas, bem como o
seu faseamento. No final desta etapa o plano, enquanto figura jurídica, estará
aprovado pelos órgãos consultivos e organismos políticos.
Por último, a implementação de um plano estratégico induz rupturas de
comportamento face aos hábitos existentes, pelo que se desenvolve uma
verdadeira estratégia interna para o realizar (ibid., p. 310). Geralmente, a fase de
realização do plano leva à criação de organismos responsáveis pela sua execução
dotados de meios, de competências e de atribuição de responsabilidades de forma
a possibilitar-lhes a execução ou a coordenação da mesma. A reorganização de
organismos já existentes é, também, prática frequente. A realização de tarefas de
avaliação de processo e de desempenho, embora sejam prática corrente no
planeamento empresarial, só recentemente são utilizadas no planeamento espacial
enquanto processo195 contínuo, deslizante, de correcções e ajustamentos
constantes (Reigado, 1999, p. 51). A introdução de uma etapa final de
comunicação dos resultados e sua aprovação, proposta pelos autores mais
próximos dos projet de ville, deverá contribuir para o reforço do envolvimento
nos projectos de desenvolvimento económico e social por parte das empresas,
instituições, associações e residentes.
195 Como já vimos, esta definição enquadra-se no conceito de planeamento em sentido lato. Em sentido restrito, o processo de planeamento é definido como a preparação sistemática de programas de acção. Neste sentido, a escolha, o desenvolvimento e a implementação das acções previstas no plano não são consideradas fases do plano.
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165
3.4. O PLANEAMENTO URBANO: MODELOS DE ANÁLISE ESPACIAL 3.4.1. Perspectiva histórica da cidade e seu planeamento A ocupação romana da Península Ibérica impulsionou a fundação de cidades e
fortaleceu o povoamento que, anteriormente, se limitava aos castros de
populações pastoris e algumas feitorias na costa. Nos finais do século III e
princípios do século IV iniciam-se as primeiras invasões bárbaras (Francos e
Alamanos) levando as cidades da Lusitânia a adoptar planos sistemáticos de
muralhas. No século VIII, perante a pressão dos muçulmanos, os godos retiram-se
para Norte. Por volta do século X, inicia-se a reconquista cristã da Península e,
consequentemente, de Portugal. O território conquistado, tornado deserto pela
morte, fuga e aprisionamento dos que nele habitavam, necessitava urgentemente
de ser repovoado, organizado e explorado pelo que os primeiros reis de Portugal
concederam terras a alguns moradores estrangeiros, aos cruzados e às Ordens
religiosas que atraíram colonos e fundaram povoações. A consolidação das
fronteiras do reino português irá permitir o desenvolvimento da produção
agrícola, da pesca e de algumas manufacturas. O aumento da actividade
económica, impulsionada pelos descobrimentos marítimos, leva ao crescimento
das cidades medievais e à sua expansão para fora das muralhas. A primeira
revolução industrial tornou possível o crescimento acelerado da indústria e da
população operária que ao concentrar-se nas grandes cinturas industriais viria a
deixar as suas marcas no ambiente urbano (carência habitacional, bairros de lata e
ilhas, marginalização e segregação de grupos sociais, etc.). Na segunda metade do
século XX, estes problemas agravaram-se, as principais zonas urbanas cresceram
de forma anárquica, assistiu-se à diminuição da qualidade de vida das populações
e à degradação ambiental. Esta evolução da cidade vem reforçar a necessidade de
planear o seu desenvolvimento e de a estruturar, isto é, ordenar o seu território.
O planeamento urbano é visto, inicialmente, como o meio de colectivamente
reajustar o processo de desenvolvimento espacial a novas formas de produção,
utilização e apropriação do espaço urbano (DGOTDU, 1996, p. 25). Choay e
Merlin (1988) definem o planeamento urbano como o conjunto de iniciativas ou
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166
de procedimentos jurídicos ou financeiros, que permitem às colectividades
públicas conhecer a evolução dos meios urbanos, definir as hipóteses de
ordenamento respeitando quer a dimensão, quer a natureza e localização dos
desenvolvimentos urbanos e dos espaços a proteger, antes de intervir na
concretização das opções retidas (cit. Antunes, 1998, p. 16). Para outros autores,
o planeamento urbano consiste no processo de gerir mudanças de forma a alcançar
objectivos particulares respeitantes ao sistema urbano. Segundo Small e Witherick
uma parte considerável do planeamento urbano diz respeito, sem qualquer dúvida,
à melhoria dos problemas urbanos herdados ou à melhoria das condições
existentes nas vilas e cidades (ibid., p. 16). O planeamento urbano centra-se na
organização morfológica das cidades e, num plano mais vasto, nas questões
urbanísticas ligadas ao crescimento industrial e dos serviços e à consequente
concentração urbana. O método e a teoria do planeamento têm as suas origens nas
ideias do iluminismo e no pensamento técnico e racional. Enquanto, a tradição
ilumunista de progresso e modernidade fundamentou a definição de objectivos de
planeamento e desenvolvimento dos ideais utópicos do séc. XIX196 (ver figura
3.1), o pensamento técnico-racional197 forneceu os instrumentos para a construção
de um processo de planeamento capaz de interpretar e justificar tomadas de
decisão e procedimentos considerados racionais.
O desenvolvimento industrial levou à definição de soluções englobantes da cidade
projectando-se no traçado rectilíneo das vias e edifícios que, se por um lado,
facilitavam as comunicações, por outro, tinham em vista uma rápida intervenção
das forças de segurança. Esta concepção do espaço urbano foi, pela primeira vez,
implementada na França por Haussmam vindo a espalhar-se por toda a Europa e
América.
196 Os utópicos socialistas (Fourier, Cabet, Owen ....) defendem a libertação e felicidade do homem pelo progresso científico, técnico e económico e estabelecem uma relação estreita entre a natureza e o habitat, propõem o ordenamento urbano, de modo a poder exercer a sua tríplice função: habitar, trabalhar, distrair. 197 Os engenheiros sanitaristas impuseram uma legislação urbanística que definia as exigências técnicas relativamente à construção de habitação e à implementação de infra-estruturas básicas.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
167
Figura 3.1 A cidade-jardim de Howard (1898)
Fonte: Gardens Cities of Tomorrow de Ebenezer Howard, (1988), citado em MEPAT/DGODTU,
(1996), Guia para a Elaboração de Planos Estratégicos de Cidades Médias, p. 25
No início do séc. XX, começa a emergir uma nova corrente denominada por uns
de “funcionalismo” (F. Choay), por outros de “progressista” e, por outros ainda de
“racionalista” (M. Ragon). A “Carta de Atenas”, aprovada em 1933, elaborada
por Le Corbusier é apontada como o expoente máximo desta corrente de
planeamento urbanístico que considerava as necessidades humanas (habitar,
trabalhar, cultivar o corpo e o espírito) como o núcleo central para a definição da
cidade. As duas Guerras Mundiais, a descoberta de novos materiais e as
alterações das concepções estéticas contribuíram para a aceitação de Le Corbusier.
O modelo racionalista (ver figura 3.2), expresso em planos físicos de
desenvolvimento ou blueprints, dominou até finais dos anos 60, altura em que
começou a ser criticado pelo seu excessivo determinismo e pouca flexibilidade,
pela incapacidade de atender à diversidade de valores de interesses (o económico
ganhava uma importância crescente) e, por último, por continuar a assumir o
processo racional como a única forma de planeamento (Heard, 1990). A política
urbana praticada era orientada sobretudo para a regulação física da expansão
urbana apoiada na capacidade de investimento público e no zonamento enquanto
critério do uso do solo e instrumento produtor da forma urbana (ver fluxograma
3.7).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
168
Figura 3.2 A cidade do pós-guerra nos anos 70
Fonte: Central Milton Keynes de Llewelyn-Davies & Partners, 1970, citado em MPEAT/DGODU
(1996) Guia para a Elaboração de Planos Estratégicos de Cidades Médias, p. 26
Na década de 70, a descentralização, os novos níveis de planeamento sectoriais e
espaciais e a crise financeira e fiscal do Estado alterou a prática do planeamento
urbano, o papel do técnico do planeamento e do seu produto. A crise do fordismo
e Estado-Previdência, com forte incidência nas transformações urbanas, foi, em
alguns casos tão profunda que as novas ideologias neoliberais chegaram a
questionar o próprio sentido e necessidade do planeamento (Thornley, 1991;
Simmie, 1993).
Fluxograma 3.7
Envolvente económica e política do planeamento urbano racionalista
Fonte: Domingues, A. (1996), "Política Urbana e competitividade" in Revista de Estudos
Urbanos e Regionais, n.º 23, Outubro, p. 32
Regulamentos . Planos; . Zonamento; . Licenciamento de obras; . Expropriações; . Etc
Estado-Previdência
Modelo espacial dominante
Explosão periférica da indústria em torno das cidades
Grande crescimento da população e das áreas urbanas; suburbanização
Crescente importância do Estado na regulação do uso do solo e nas políticas públicas de incidência urbana
Investimentos . Rede viária; . Água, saneamento; . Habitação; . Equipamentos públicos; . Sistemas de transporte; . Etc
Fordismo
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
169
Ao nível do território urbano, esta crise caracterizou-se por um processo de
desindustrialização, internacionalização do sistema económico e terciarização.
Este intenso processo de desindustrialização levou, por um lado, a identificar a
crise urbana com a crise industrial com consequências ao nível social (anulação
dos postos de trabalho, quebra no ritmo de criação de emprego) e ao nível
territorial/urbano (intensificação da degradação ambiental) e, por outro lado, à
perda de uma boa parte dos efeitos de atractividade e à acumulação das tensões
sociais agravados pelo facto da terciarização da economia ocorrer num ambiente
de forte inflação dos solos urbanos mais centrais.
A internacionalização do sistema económico caracteriza-se pela progressiva
concentração urbana das funções económicas de carácter direccional e pelo
crescente desajustamento entre o quadro de incidência das políticas local e urbana
e a regulação internacional. Ao mesmo tempo que as instâncias reguladoras se
tornam "exteriores" ao quadro urbano/local assiste-se a um processo crescente de
"desterritorialização" da actividade económica o que, em conjunto, conduz a uma
forte polarização entre cidades que funcionam como portas, placas giratórias e
nós do relacionamento internacional e as que ficam limitadas à sua influência
regional e local. Nestas condições, dada a natureza reticular dos sistemas
logísticos, as cidades-nós surgem como verdadeiras placas giratórias de um
relacionamento internacional "intercidades".
Por último, a terciarização, leia-se, a expansão e diversificação das funções e
actividades de serviços inscreve-se no processo mais geral da divisão social e
técnica do trabalho. Numa leitura territorial, o processo de aglomeração espacial
que acompanha a terciarização (tendo uma tradução eminentemente urbano-
cêntrica) implica uma dinâmica de recentragem urbana que, consoante a
composição do perfil de serviços em que determinada cidade se especializa abarca
várias temáticas: económicas, culturais, logísticas, político-administrativas, etc. A
nova política urbana (ver quadro 3.2) assenta, assim, no planeamento estratégico
como modelo de concepção e operacionalização dessa política. Ao mesmo tempo
que se defende um maior pragmatismo e pluralismo dá-se maior atenção ao
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
170
processo de implementação, à procura do consenso na tomada de decisão e ao
papel do planeamento como forma de aprendizagem e de cognição. Além disso, as
repercussões espaciais da prática do planeamento urbano, isto é, a sua incidência
regional começa a ser uma das preocupações principais dos agentes envolvidos no
esforço de organização do espaço urbano.
Quadro 3.2 Desafios da nova política urbana
Urbanismo Clássico Novo Urbanismo
- Previsão. - Continuidade de tendências. - Certeza.
- Instabilidade. - Mudança. - Incerteza, probabilidade. - Oportunidades. - Racionalidade limitada.
- Antecipação da transformação. - Validação "ex-ante".
- Cenários, hipóteses. - Validação. - Dimensão estratégica.
- Quadro legislativo claro. - Normas rígidas. - Critérios de equidade fundiária.
- Desregulação ± selectiva. - Incerteza, desadaptação do quadro legal. - Flexibilidade, adaptabilidade. - Abertura. - Instrumentos informais.
- Modelos normativos. - Estratégias normalizadas, pré-determinadas. - Tecnocracia. - Racionalidade. - Mentalidade dirigista. - Rigidez.
- Plano adaptativo segundo regras. - Planeamento negocial segundo regras. - Agentes directos de transformação. - Planeamento participativo. - Inovação. - Contratualização. - Carácter operativo.
- Planos em cascata (descendentes). - Geral. - Longo período.
- Projectos específicos. - Período definido, breve. - Partes da cidade. - Fragmentação.
- Regulação da expansão urbana. - Zonamento, regulação do uso do solo.
- Qualificação. - Reorganização. - Reestruturação. - Marketing urbano. - Competitividade; atractividade.
- Planeamento/execução. - Técnicos/políticos. - Público/privado. - Interesse público.
- Investigação-acção. - Responsabilização política e técnica. - Parceria: público e privado. - Gestão de conflitos e interesses.
Fonte: DOMINGUES, A. (1996), "Política Urbana e competitividade" in Sociedade e
Território, Revista de Estudos Urbanos e Regionais, nº 23, Outubro, p.37 Os desafios do novo urbanismo exigem um planeamento estratégico que,
mantendo-se actual, pressupõe a compreensão e actuação sobre as próprias
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
171
condições sócio-económicas do desenvolvimento urbano e não apenas sobre as
suas consequências ou manifestações). O planeamento deve, então, contribuir para
a criação de condições de competitividade, de consumo e qualidade de vida, de
atracção de funções de decisão, de negociação e de mobilização ou, por outras
palavras, deve contribuir para a promoção do desenvolvimento orientando-se por
princípios de cultura de transformação urbana e de desenvolvimento sustentado
(DGOTDU, 1996, p. 27). O desenvolvimento sustentado do sistema urbano e o
seu ordenamento são questões a reflectir no planeamento pelo que, neste contexto,
os modelos de análise espacial ganham uma nova importância.
3.4.2. Os modelos gravitacionais
A abordagem gravitacional foi, durante quase 30 anos198, um dos instrumentos
mais utilizados na análise espacial quer como modelos de trocas inter-espaciais,
quer como medida de centralidade, quer para medir a influência relativa de uma
região sobre outra (Aydalot, 1985, p. 275). Estas múltiplas utilizações
conduziram à elaboração de um corpo teórico e ao seu aprofundamento. Schneider
(1959) é o primeiro a evidenciar-se pela sua tentativa de aprofundar o corpo
teórico dos modelos gravitacionais uma vez que, segundo o autor, o seu
desenvolvimento é bastante menor quando comparado com as aplicações práticas
existentes.
Em 1962, Tinbergen199 utiliza o modelo gravitacional como um modelo de trocas
inter-espaciais (Aydalot, 1985, p. 275). Na mesma linha, Linnemann (1966)
afirma que o modelo permite calcular o potencial do país vendedor como uma
medida da sua capacidade de oferta, o potencial do país comprador como
198 Este período decorre entre 1954 e 1981. 199 Tinbergen fez uma análise das trocas comerciais entre 18 países.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
172
avaliação da sua capacidade de aquisição e a distância como medida das
resistências às trocas200 (ibid., p. 275).
Wilson (1967; 1974) interpreta o modelo gravitacional de um modo probabílistico
ao contrário de Niedercorn e Becholdt (1969; 1974) que sugerem uma abordagem
maximizadora das utilidades. Refira-se que a abordagem de Wilson tem como
referência grandes agregados e realça a importância das distorções causadas pela
distância “psíquica”, pelas limitações à difusão da informação e outras
características da economia espacial.
Keeble (1981) utiliza o modelo como medida de centralidade: uma região será
tanto mais central quanto menor for a distância entre esta e os centros de grande
produção. O modelo permite, igualmente, medir a influência relativa exercida por
uma região sobre outra e avaliar as escalas de influências. A observação empírica
permite concluir que uma região com um rendimento elevado exerce uma
influência maior sobre outra região com menor rendimento, nunca acontecendo o
inverso.
Além disso, os modelos de tipo gravitacional (nos quais se incluem os modelos de
potencial), ao permitirem estimar os fluxos de bens, de serviços e da população,
utilizam-se frequentemente para o estudo da localização das empresas industriais
e de serviços, bem como de infra-estruturas e de equipamento colectivo. As
simulações de fluxos de tráfego rodo/ferroviário, as previsões do volume de
negócios num dado centro comercial, a atractividade das bacias de emprego e
consequente localização dos parques habitacionais são indicadores importantes
para o planeamento e ordenamento do território, em particular, visto fornecerem
indicações para a infra-estruturação dos territórios numa perspectiva de
conciliação do desenvolvimento económico e social com a preservação e gestão
cuidada do ambiente.
200 Traduzidos em custos de transporte, tempo, distanciamento psicológico fruto do afastamento.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
173
A Lei da Gravidade Universal, segundo a qual a força de atracção entre dois
corpos (Iij)201 é directamente proporcional às massas desses corpos e inversamente
proporcional ao quadrado da distância que os separa, aplicada à economia espacial
possibilita a elaboração do modelo gravitacional que consiste, por um lado, em
considerar a intensidade dos fluxos entre dois lugares e, por outro, substituir o
conceito de massa dos corpos por um indicador de dimensão dos lugares. Assim,
o modelo gravitacional permite estimar os fluxos de bens e serviços entre dois
lugares de dimensões diferentes. A sua expressão algébrica (Clemente, 1994, p.
88) será:
cij
bj
ai
D
TTKIij
.=
onde, Ti e Tj - Dimensão dos lugares i e j, respectivamente Dij - Distância entre os corpos i e j; K - Constante de gravitação202 a, b, c - Parâmetros exponenciais203 De acordo com a Teoria dos Lugares Centrais, os parâmetros devem assumir
valores diferentes em função do conjunto de bens e serviços considerados. Por
outro lado, como já referimos, a maior ou menor disponibilidade de meios e vias
de comunicação influencia a intensidade dos fluxos que ligam os lugares. Além
disso, admite-se que os factores sociais, culturais e políticos também exercem
influência sobre os fluxos observados pelo que, os parâmetros estimados para uma
região não podem ser utilizados nos estudos de outra região.
201 ( )[ ]2/.. ijjiij DMMGI = em que Iij - grau esperado de interacção entre o cento i em relação
ao centro j; Mi e Mj - massa do corpos i e j, respectivamente; Dij - distância entre os corpos i e j; G - constante 202 O valor da constante de gravitação depende das unidades de medida utilizadas para exprimir a dimensão dos lugares e a distância entre eles. Este valor é, no sistema de medição internacional, 6,67.10-11 (Ponsard, 1988, p. 195). 203Geralmente, admite-se que os expoentes das dimensões não sejam necessariamente unitários e que o expoente da distância económica possa ser diferente de dois. O cálculo destes parâmetros pode ser efectuado linearizando a expressão algébrica do modelo, ou seja, através da fórmula lg Fij = lg K + a . lg Ti + b . lg Tj – c . lg Dij
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
174
Os modelos gravitacionais204 são, por vezes, criticados como tendo apenas valor
descritivo faltando-lhes, por conseguinte, uma estrutura teórica. Esta objecção não
é, em nosso entender, totalmente válida já que nos modelos gravitacionais mais
complexos, os pesos e os parâmetros exponenciais – a, b, c - se ajustam à variável
T (dimensão do centro) e a distância é medida, não em quilómetros, mas em
termos económicos. Além disso, os modelos gravitacionais permitem testar
teorias que relacionam a dispersão desigual da actividade económica com, por um
lado, a atracção das forças de aglomeração e, por outro lado, o desejo geral dos
agentes económicos de acessibilidade reflectida na minimização dos custos.
Outra das críticas é a de que os modelos de localização do parque habitacional e
do comércio retalhista, baseados no princípio da gravitação, sendo modelos da
procura assumem que a procura iguala a oferta. Igualmente se questiona a pouca
atenção dada ao poder atractivo intrínseco de uma zona205, embora seja
considerado uma componente essencial do mecanismo de localização.
Apesar das críticas, o modelo gravitacional proporciona uma abordagem flexível
à análise da interacção espacial entre dois pontos. Além da ampla diversidade de
aplicações206 (como vimos neste capítulo), o modelo gravitacional iria dar origem
ao modelo potencial. A interpretação económica da noção de potencial depende,
fundamentalmente, da natureza das variáveis que intervêm na sua formulação.
Recorrendo à gravitação demográfica 1V2 representa o potencial da população M2
para o mercado localizado no centro da zona 1. Da mesma forma, 1V é o potencial
da população total das zonas n-1 sobre o centro da zona 1. Admitindo que o
potencial populacional permite definir uma relação de proximidade entre um
dado lugar e a população localizada noutro lugar podemos, então, considerar que
este indicador traduz uma possibilidade de deslocação, ou seja, um fluxo potencial
que será tanto mais intenso quanto maior for o potencial de população. De um
204 Por forma a assegurarem resultados coerentes, os modelos mais utilizados assumem algumas restrições em relação à origem e aos destinos dos fluxos. 205 Hayes et all (1970) define poder atractivo intrínseco de uma zona como aqueles atributos de uma área que a fazem atractiva para desenvolvimento residencial mas que não estão relacionados com a sua proximidade aos locais de emprego (cit. Lee, 1973, p. 100)
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
175
modo geral, o potencial indica a posição ocupada por um ponto na superfície
onde este foi definido (Ponsard, 1988, p.199).
Stewart (1948) utiliza o potencial parcial 1V2 para estimar o fluxo com origem no
lugar 2 com destino ao lugar 1 (ibid., p. 199). Sendo m’’ uma função crescente
de M2, o potencial parcial virá:
)(
)(''
12
221
Dd
MmV =
onde,
M2 - Variável 2
D12 - Distância entre o ponto 1 e 2
Esta expressão permite quantificar o fluxo potencial entre o lugar 1 e 2 em função
da variável M2 ou, por outras palavras, hierarquizar os lugares tendo em
consideração a intensidade dos fluxos potenciais. O potencial global exprime,
assim, uma posição económica global sintetizando a relação entre a zona 1 e todas
as restantes segundo determinada variável. A expressão algébrica do potencial
global é:
∑−
=
=1
11
)(
)(''n
zi i
i
Dd
MmV
De referir que o potencial de um lugar não é apenas uma função da interacção
entre dois lugares pelo que a existência de infra-estruturas, edifícios, parque
habitacional e a qualidade do meio ambiente natural são, igualmente, factores
importantes para a localização das empresas. Para Harris (1954) e Dunn (1956), o
valor de um local deve exprimir o perfil do mercado potencial que pode ser
satisfeito a partir desse local. A noção potencial de mercado substitui-se à de
potencial de população considerando-se, agora, o valor das vendas a retalho como
a variável do modelo.
No interior da cidade, o valor de um bairro é interpretado em termos de
acessibilidade. Um bairro fortemente valorizado significa que os seus residentes
206 Neste capítulo iremos analisar vários modelos cuja base é o princípio gravitacional.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
176
podem aceder facilmente às diversas funções urbanas (comércio, serviços, etc.). O
cálculo do potencial de acessibilidade (Fustier e Rouget, 1985) depende, por
conseguinte, da natureza da função que se considera como a variável do modelo
(por exemplo, superfície de venda em m2 dos estabelecimentos comerciais,
número de quartos das unidades hoteleiras, etc.).
Ao contrário do modelo gravitacional, o modelo de potencial pode ser
operacionalizado a escalas geográficas reduzidas tais como distritos, concelhos e
freguesias. De forma a obterem-se resultados ainda mais pormenorizados, pode
dividir-se o território em análise em quadrículas, calculando-se o potencial de
cada uma, o que tornando o modelo mais operacional exige um nível mais elevado
de desagregação da informação estatística.
3.4.3. Modelo de localização dos parques habitacionais
Utilizando um modelo do tipo gravitacional, Hansen (1959) elabora um modelo
de localização da população, partindo do pressuposto que o principal factor da sua
fixação é a existência de emprego remunerado. A relação localização da
população/emprego pode ser expressa pelo índice de acessibilidade Aij que define
para cada zona a sua acessibilidade ao emprego (Lee, 1973, pp. 71-77):
bij
jij
d
EA =
onde, Ej - Emprego no lugar j
ijd - Distância entre o local de residência i e o local de emprego j
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
177
O índice total para a zona i será a soma dos índices individuais207. Hansen
reconhece que um dos mais importantes factores de atracção é a existência de solo
infra-estruturado para construção de habitação ou holding capacity da zona ou
região i que designa por Hi. Combinando a acessibilidade e o solo infra-
estruturado, através da sua multiplicação, teremos o índice de desenvolvimento
potencial Di, ou seja, Di = Ai . Hi que mede a atracção de cada lugar em função
do acesso ao emprego e à disponibilidade de terreno infra-estruturado para
construção de habitação. Calculando o índice de desenvolvimento potencial para
as várias zonas concorrentes é possível determinar o índice de desenvolvimento
potencial relativo208 k o que permitirá às populações escolher a zona onde irão
construir a sua habitação.
Ainda segundo Hansen, o crescimento da população num local i, que designamos
por Gi, é igual ao produto do crescimento total da população Gt pelo índice de
desenvolvimento potencial relativo da zona i, ou seja :
( )
=
∑i
ii
iiti
HA
HAGG ou
∑=
i
i
iti
D
DGG
A utilização do modelo de localização dos parques habitacionais é faseada, ou
seja, implica a seguinte sequência de cálculos:
1. índice de acessibilidade para cada zona - Aij
2. índice de desenvolvimento potencial - Di -
3. índice de desenvolvimento potencial relativo - k
4. crescimento da população em cada zona - Gi
207 A expressão algébrica é ∑=bij
ji
d
EA
208 A expressão algébrica é ∑
=
i
ii
ii
HA
HAk
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
178
Este modelo, não obstante as suas limitações ao nível de agregação e da ausência
de efeitos retroactivos da concentração de população sobre os preços dos terrenos
para construção, permite testar várias hipóteses, quer em relação às políticas de
distribuição do emprego, quer à política de preços do solo urbanizável.
3.4.4. Modelo de localização do comércio a retalho
O modelo desenvolvido por Lakshmanan e Hansen (1965) descreve os fluxos da
procura entre as zonas residenciais e os centros comerciais e estima também as
vendas de cada centro comercial. De referir que este modelo tem uma restrição: o
orçamento da população residente na zona residencial i.
Em termos formais, a despesa efectuada por cada zona residencial em cada centro
comercial será dada pela expressão (Lee, 1973, pp. 78-82):
ijib
ijajiiij CdFACS Pr== −
em que, Sij - Despesa efectuada pela zona residencial i no centro comercial j Ci - Despesa total da zona residencial i Fj - Atractibilidade do centro comercial j Ai - 1)( −−∑ b
ijj
aj dF
dij - Distância entre a zona residencial i e o centro comercial j Prij - ( ∑ −−
j
bij
aj
bij
aj dFdF / )
a ; b - Expoentes A despesa total por centro comercial será dado pelo somatório dos fluxos de
despesa de todas as zonas residenciais no centro comercial j , isto é:
∑∑∑ === −
iijij
ii
bij
aji
iij SCdFACS Pr
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
179
A operacionalização do modelo exige informação sobre o orçamento para
consumo da população em cada zona residencial i, a atractibilidade dos centros
comerciais e a distância percorrida pelos consumidores. De acordo com este
modelo de localização do comércio a retalho, o volume de vendas de cada centro
comercial j é directamente proporcional ao seu poder atractivo e inversamente
proporcional, quer à distância entre a zona residencial i e o centro comercial, quer
à competição entre os centros comerciais. Os estudos empíricos ao confirmarem
esta tendência demonstraram, ainda, que os grandes centros comerciais atraem
mais compradores do que a sua dimensão à priori indicaria.
3.4.5. O modelo de distribuição de tráfego
O modelo gravitacional é aqui utilizado, fundamentalmente, para descrever a
interacção das actividades analisando a distribuição das viagens visto a
localização da mão-de-obra (zonas residenciais) e do emprego (zonas de
localização das empresas) não coincidirem. Neste modelo, o total das viagens
quer em termos de origens, quer de destinos, é conhecido pelo que é possível
estimar a quantidade de viagens a realizar entre cada par de zonas, isto é, entre a
zona de habitação e a de emprego. Isto significa que, através do modelo, é
impossível prever o local onde a viagem termina já que, quer a origem, quer o
destino, são restrições. A resolução deste problema implica a introdução de um
novo termo Bj cuja função é assegurar a satisfação das duas restrições do
modelo, ou seja, ij
ij OT =∑ e ji
DTij =∑ .
Em termos algébricos, o número de viagens por cada par de zonas será dado pela
expressão (Lee, 1973, pp. 82-87):
ijjb
ijjijiij OdDOBAT Pr== −
onde,
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
180
Tij - Viagem entre a zona i e a zona j Oi - Total de viagens com origem na zona i Dj - Total de viagens com destino na zona j Ai - 1)( −−∑ b
iji
jj dDB
Bj - 1)( −−∑ bij
jii dOA
As origens Oi e os destinos Dj são calculadas através de um processo iterativo
já que se, por um lado, a fórmula para o cálculo de Ai inclui o termo Bj , por
outro lado, o cálculo de Bj é efectuado tendo em consideração o valor de Ai. Isto
significa que estabelecido o valor inicial de Ai este deverá ser utilizado para
calcular o valor de Bj que, por sua vez, será utilizado para recalcular o novo
valor de Ai e assim sucessivamente. O processo termina quando a diferença entre
os valores anteriores de Ai e Bj e os calculados imediatamente a seguir é nula
ou muito próxima desta e, por conseguinte, sem significado económico.
3.4.6. O modelo de Lowry
Nos últimos três parágrafos analisámos alguns dos modelos utilizados para o
estudo e projecção da distribuição das actividades humanas no sistema urbano,
bem como a interacção existente entre as mesmas.
O modelo de Lowry (1964), considerado um modelo geral209, introduz duas
inovações no campo da modelização urbana ao incorporar, por um lado, na sua
estrutura a previsão e os procedimentos de localização e ao relacionar, por outro
lado, três elementos (população, emprego e transportes) do sistema urbano num
único quadro de referência. Refira-se que, neste modelo, a população é uma
função do emprego nos sectores básicos e não básicos ou de serviços de uma
economia. Além disso, no modelo de Lowry, assume-se que o emprego do sector
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
181
básico tem efeitos directos e indirectos sobre a população. Formalmente virá (cit.
Lee, 1993, p. 93):
P=αB+αS
em que, P - População α - Inverso da taxa de ocupação210 B - Emprego no sector básico da economia S - Emprego no sector não básico ou de serviços
O segundo pressuposto, importante para a operacionalização do modelo de
Lowry, é que o nível de empregos nos serviços é determinado pelo nível de
população. Assim, o emprego no sector de serviços D(1) devido à procura da
população empregue nos sectores básicos P(1) é dado pela equação D(1)= βP(1)
onde ββββ é o rácio população/emprego nos serviços. Os trabalhadores empregues
nos sectores serviços têm também pessoas dependentes do seu trabalho P(2), ou
seja, P(2)= αD(1) que, por sua vez, irá gerar uma nova procura211 de empregos no
sector de serviços D(2) e assim sucessivamente até os acréscimos da procura de
emprego se tornarem insignificantes ou mesmo nulos.
A população, no modelo original, é distribuída usando o modelo potencial
(similar ao modelo de localização da população de Hansen), segundo o qual a
população residente numa determinada zona é determinada pelo somatório das
potencialidades inter-zonas da região em estudo (cit. Lee, 1973, pp. 95-97):
∑=
=n
i ij
ij
d
EGP
1
onde 209 O modelo de Lowry, ao contrário dos anteriores, considera mais do que um subsistema. Batty (1971) considera que, dado o estádio de conhecimento, devem ser considerados modelos gerais todos aqueles que representem dois ou mais subsistemas. 210 A taxa de ocupação é calculada dividindo o emprego pela população, logo α=(E/P)-1 ou α=P/E. 211 Calculada pela fórmula D(2)= βP(2)
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
182
Pj - Quantidade de população residente em j Ei - Empregos básicos em i dij - Índice de viagens reflectindo as migrações entre i e j G - Factor de escala para assegurar que ∑
j
jp é igual à previsão do crescimento
total da população
Garin (1966) sugere a introdução do princípio da gravidade no modelo de Lowry
resultando deste modo uma nova versão que viria a ser mais a mais utilizada.
Assim, a actividade deslocada da zona i para a j - Tij - pode ser calculada
utilizando a seguinte expressão:
1−= ijiiij dAET
onde, Ei - Actividade a ser deslocada da zona i
1−ijji dAE - Probabilidade de interacção entre as zonas i e j
Pj - Medida de interacção da zona j
Utilizando as convenções do modelo de Hansen e representando a população da
zona j por Pj , teremos que a componente localização do parque residencial no
modelo de Lowry virá,
b
ijjiij dAiPET −=
onde Ai é calculado pela expressão ∑ −
j
bijjdP .
Seguindo as recomendações de Garin, a maioria das aplicações do modelo
integram os pressupostos da teoria da base e os procedimentos de localização.
Considere-se que Ei representa o número de trabalhadores dos sectores básicos
da zona i e Tij o número de trabalhadores do sector básico que trabalham na
zona i e vivem na zona j . Assim, a população residente na zona j que depende
do sector básico Pj(1) obtém-se multiplicando o número total de trabalhadores no
sector básico residentes na zona j (ΣTij) pelo inverso da taxa de ocupação αααα, ou
seja, ( ) ∑=i
ijj TP α1 .
Considerando que a população dependente do sector básico gera uma procura de
serviços da qual resultará mais emprego neste sector teremos que o primeiro
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183
aumento da procura de emprego no sector serviços Dj(1) será o resultado do
produto entre o rácio população/emprego no sector de serviços ββββ e a população
dependente do sector básico residente na zona j, ou seja, Dj(1) = β Pj(1). A
imputação deste tipo de emprego aos centros de serviços é efectuada recorrendo à
expressão ajiijjji dSDBS −= )1()1( onde ∑ −−=
i
ajiij dSB 1)( .
Assumindo, uma vez mais, que a medida de atractividade de uma zona é igual ao
nível de actividade aí existente (no caso emprego no sector de serviços Si), então
Sji(1) representa os empregos no sector serviços procurados pela população
residente na zona j que trabalham na zona i . O primeiro acréscimo de emprego
no sector de serviços Si(1) é, portanto, calculado somando Sji(1 ) em ordem a j .
A quantidade total de emprego nos serviços em todas as zonas é obtido somando o
emprego no sector de serviços de cada zona, isto é, ∑∑=j
jii
SS )1( .
Seguidamente, calcula-se o aumento da população dependente de Si(1)
substituindo Si(1) por Ei(1) na equação b
ijjiij dAiPET −= . Recorrendo à equação
( ) ∑=i
ijj TP α1 calcula-se, novamente, a população dependente do sector serviços
utilizando o multiplicador populacional αααα . Esta sequência de cálculos é repetida
até que os acréscimos da procura de emprego se tornem insignificantes e os totais
convirjam.
O modelo, embora relativamente simples e fácil de usar, tem alguns problemas
que derivam da sua estrutura e operacionalidade limitando, assim, a utilidade e
validade do mesmo como uma ferramenta de planeamento. Hayes (1970) critica,
ainda, o modelo de Lowry por este só considerar relações simplificadas entre
variáveis muito agregadas (por exemplo, o sector básico e o de serviços não são
desagregados). Batty (1970) considera ser necessário incorporar restrições no
quadro original de referências de Lowry dado a componente de localização do
modelo recorrer à abordagem gravitacional.
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184
No sentido de ultrapassar estas insuficiências foram feitas algumas sugestões
como, por exemplo, a desagregação de variáveis críticas (população e emprego)
que poderia conduzir a uma significativa melhoria da base teórica do modelo e até
do seu desempenho (Cripps and Batty, 1969; Wilson 1970). A tentativa de
incorporar um elemento dinâmico (Consad, 1964, Batty, 1971) foi outra forma de
melhorar o modelo de Lowry. Em termos de conclusão parece-nos que podemos
concordar com Batty (1970) quando este afirma o presente modelo providencia
um razoavelmente bom aparelho de simulação e pode ser extremamente útil se
usado com cuidado. É viável em termos de técnica e custos, e se ele for integrado
com técnicas objectivas de desenho e avaliação do sistema o planeador pode ter
uma confiança bastante elevada na previsão do modelo (cit. Lee, 1973, p. 101).
No entanto, e apesar das suas deficiências, o modelo de desenvolvimento urbano
elaborado por Lowry continua a ser um dos mais utilizados.
3.5. RESUMO E CONCLUSÕES
O planeamento territorial, tal como o planeamento macro-económico, tem a sua
génese no início do século XX. No entanto, a partir da década de 50 evoluiu
rapidamente o que pode ser explicado pelas sucessivas crises vividas um pouco
por todo o mundo e pela manutenção, ou mesmo agravamento, das assimetrias
intra e inter- regionais. Esta situação levou ao reconhecimento de que o
planeamento macro-económico (a nível nacional e depois regional) se tornou uma
necessidade e não uma intromissão inadmissível do Estado na vida económica
como advogavam os adeptos do laissez faire. Além disto, os agentes de
desenvolvimento depararam-se com um grau de incerteza elevado proporcionado,
por um lado, pela extraordinária capacidade de evolução do sistema social e, por
outro lado, pela própria imagem que temos do sistema social e seu funcionamento
também ela variável em função da informação de que dispomos e da experiência
adquirida.
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A redução da incerteza torna-se assim uma prioridade e também possível
recorrendo às projecções forecasting que combinam as técnicas de extrapolação,
exploração e especulação e à implementação de um sistema de informação que
responda às características do processo de planeamento e de tomada de decisão
(perspectiva de longo prazo, interacção entre decisores e grupos de interesses), ou
seja, um sistema de informação adaptativo212 nas palavras de Nijkamp (cit.
Reigado, 1999, p. 36). Outra característica importante do sistema de informação é
a sua capacidade de retroacção, ou seja, a capacidade de permitir “ajustamentos”
no decorrer do processo de planeamento do território. O circuito de retroacção,
embora nos permita verificar se os resultados correspondem aos objectivos
previamente fixados, não dá qualquer informação sobre as razões que levaram aos
eventuais desvios. Daí decorre a necessidade de introduzir, segundo Reigado
(1999, pp. 56-59), dois sistemas de informação, um de relações internas
(informação sobre o nível de realização dos objectivos e informação sobre o
ambiente contextualizado, o processo de planeamento e o modelo conceptual ) e
outro de relações externas (informação sobre as alterações no modelo conceptual
e sua integração no processo de planeamento).
A transposição dos conceitos de política económica e de planeamento (pensados
ao nível da economia nacional) para o nível local, isto é, para a região, veio pôr
em evidência um elemento até aí quase ignorado: o ESPAÇO. No entanto, isto
não implica que o planeamento de vocação territorial coloque os aspectos físicos
numa situação de privilégio. Assim, o conteúdo específico do planeamento do
território depende das condições concretas do espaço a planear e terá sempre
como objectivo a melhoria do bem estar das populações residentes. Nesta
perspectiva, a articulação do espaço (pensado como um elemento passivo ou
como determinante das actividades) com os processos e estruturas que nele
ocorrem é compatível com a forma de planear em que o espaço é autónomo. A
concepção do espaço segundo a qual este é o elemento aglutinador da história
conduz-nos a um tipo de planeamento em que a separação do espaço e o que nele
212 Nijkamp coloca este sistema de informação numa posição intermédia entre o modelo maximalista (sistema compreensivo que, eventualmente, serve todas as necessidades dos
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186
toma lugar não é mais possível a não ser como recurso metodológico para estudar
o sistema social territorializado. Ora, a transformação do espaço ou, melhor, a
construção contínua do espaço leva-nos ao conceito de território. Esta concepção
do território e por arrastamento do planeamento territorial é, em nosso entender, a
mais correcta já que os fenómenos sociais ocorrem em determinado espaço ou,
segundo Giddens (1985), o desenvolvimento social envolve caracteristicamente
movimentos espaciais e temporais (cit. Cardoso, 1986, p. 80).
Independentemente da concepção do espaço e das formas de planeamento, a
ocupação do território obedece a modelos que tendem a projectar a dinâmica da
procura de espaço e os seus padrões de utilização, quer para as actividades
motoras, quer para o alojamento e actividades de cultura e lazer. Esta procura
evolui de forma cíclica levando-nos a concluir que o território, tal como as
empresas e os produtos, evolui em ciclos de cinco fases: infância, crescimento,
controlo, maturidade e crise (Forn, 1989, p. 31). A evolução deste ciclo de vida
dos territórios, e em particular das cidades, põe em destaque o diálogo permanente
entre as actividades económico-sociais e o território. Num contexto de rápidas
mudanças, torna-se impossível analisar os aspectos físicos do território
separadamente da compreensão das relações entre o seu uso económico e do uso
dos solos e da espacialidade que, em última instância, são responsáveis pela
transformação das estruturas territoriais. Assim se, por um lado, o planeamento do
território implica um processo de diálogo entre o “ físico” e o “económico”, por
outro lado, este organiza-se em torno de dois paradigmas de desenvolvimento: o
funcionalista e o territorialista.
A crescente interpenetração das economias nacionais e regionais, conduziu a uma
utilização mais intensa do planeamento estratégico territorial e,
consequentemente, a vários modelos. Destes destaque-se o modelo ortodoxo da
Harvard School (1981) e o modelo interaccionista de Bryson e Einsweiller (1988)
cuja raiz é o planeamento estratégico das empresas. De um modo geral, e segundo
Sallez (1986), ao nível do planeamento estratégico do território é possível
planeadores) e o modelo minimalista , ou seja, um sistema de informação específico para
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187
identificar quatro componentes essenciais, ou seja, definição das escolhas
estratégicas, adaptação às tendências-chave de afectação de recursos escassos e
definição de um sistema interno de informação (cit. Neves, 1996, p. 54). Refira-
se que no âmbito do planeamento do território tem vindo a ganhar notoriedade o
planeamento urbano com preocupações profundas ao nível do ordenamento do
espaço urbano. Isto levou-nos a estudar vários modelos de análise espacial como
são os modelos gravitacionais, os modelos de localização do parque habitacional e
do comércio retalhista, o modelo dos fluxos de trafego e o modelo de Lowry.
Estes modelos, que se constituem na base teórica do ordenamento do território,
permitem testar várias hipóteses em relação às políticas de emprego, dos preços
do solo, bem como a estimar a atractibilidade dos centros comerciais e os fluxos
entre as zonas de habitação e de emprego.
Por último, refira-se que o planeamento do território implica a delineação e
implementação de políticas conducentes ao ordenamento do território. Esta
necessidade deve-se, antes de mais, à situação caótica em que se encontra a
grande maioria das zonas urbanas. Assim, a necessidade de, por um lado, não
repetir erros anteriores na gestão dos solos e, por outro, de dar uma unidade ao
território e inserir harmoniosamente as actividades produtivas e de lazer num
ambiente ecologicamente puro reforça o papel do ordenamento do território no
desenvolvimento sustentável. Esta questão, isto é, o ordenamento do território
será o nosso objecto de estudo pormenorizado nos dois capítulos seguintes.
responder a uma situação também ela particular.
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188
4. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO: UMA PERSPECTIVA
EUROPEIA
4.1. INTRODUÇÃO
O povoamento humano e a localização da actividade económica não são fruto do
acaso antes, pelo contrário, obedecem a regras (mais ou menos explícitas) e a uma
lógica de comportamento. Efectivamente, se na pré-história o homem escolhia o
local para se estabelecer em função das possibilidades de defesa, de caça e de
recolha de alimentos que o mesmo oferecia, mais tarde, passou-se a equacionar
outro tipo de condicionalismos à localização. O aumento da população e
consequente colonização de novos espaços, o desenvolvimento das técnicas e
tecnologias de produção, a concentração da população e da produção em espaços
reduzidos a par da polarização dos sistemas produtivos, conduziram à necessidade
de ordenar o território. Além disso, esta necessidade foi reforçada pela interacção
entre os recursos do território e as necessidades sociais. Neste contexto, o
território ganha importância e afirma-se como elemento estratégico do
desenvolvimento económico e social sustentável numa dupla perspectiva de
equidade intra e intergeracional.
O ordenamento do território pode definir-se como uma disciplina científica, uma
técnica administrativa e uma política concebida como um enfoque
interdisciplinar e global, cujo objectivo é o desenvolvimento equilibrado das
regiões e a organização física do espaço segundo um conceito que o rege
(Reigado, 1999, p. 171). Dada a complexidade e a importância do ordenamento do
território na estratégia de desenvolvimento regional, optamos por dividir este tema
em duas partes que correspondem aos quarto e quinto capítulos. Assim, neste
quarto capítulo, além de fazermos referência aos principais elementos que o
influenciam (o povoamento humano, a localização dos recursos naturais, as vias
de comunicação, o comércio internacional e a divisão administrativa) analisamos
a sua interacção numa perspectiva dinâmica. Seguidamente, debruçamo-nos sob a
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189
génese e evolução do conceito e objectivos do ordenamento do território, bem
como o planeamento físico do espaço urbano/rural.
O facto de Portugal ser membro da União Europeia e o ordenamento do território
ser, cada vez mais, equacionado numa dupla perspectiva, isto é, numa perspectiva
supranacional e de integração do nível local no nacional levou-nos a analisar o
passado recente e as perspectivas do ordenamento do território comunitário. As
políticas de ordenamento do território europeu tiveram, durante cerca de três
décadas, uma dimensão eminentemente nacional pelo que no Tratado de Roma
foram quase ignoradas. No entanto, nos anos 90, o alargamento das políticas
regionais e o reforço dos Fundos Estruturais tendo em vista a aceleração da
integração europeia e a diminuição das graves assimetrias regionais deram uma
nova visibilidade às questões do ordenamento do território traduzida na
cooperação bi ou trilateral, nas directivas comuns e, mesmo, na elaboração de um
esquema de desenvolvimento do espaço comunitário.
Apesar dos esforços no sentido de dotar a União Europeia com uma política
comum de ordenamento do território e de harmonizar os vários sistemas de
planeamento espacial, a os resultados estão aquém do desejável. Na realidade, os
vários Estados-membros preconizam soluções diferenciadas. Assim, enquanto na
França, Espanha e Itália, o ordenamento nasce no seio de uma economia
planificadora indicativa e se atribui aos aspectos económicos uma extraordinária
importância, na Inglaterra, a prática descentralizadora mais acentuada, levou à
valorização equitativa de todos os elementos que se inscrevem no espaço, sejam
económicos, sociais ou ambientais. A Alemanha, com uma prática idêntica à
inglesa, dá prioridade à gestão dos recursos naturais e conservação da natureza.
No final deste capítulo procura-se apresentar as ideias-chave que nos permitem
enquadrar o ordenamento do território português num plano supranacional, ou
melhor, no espaço europeu de que é parte integrante.
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190
4.2. O ORDENAMENTO DO ESPAÇO
4.2.1. Breves notas históricas
Desde que o homem iniciou o processo de sedentarização que se assiste à procura,
consciente ou não, da melhor localização para o desenvolvimento das suas
actividades, quer em termos de produção dos bens essenciais à sua sobrevivência,
quer para se defender das feras ou mesmo de outros indivíduos.
O território português e, de um modo mais geral, a Península Ibérica dada a sua
localização privilegiada foi, desde os tempos mais remotos213 o ponto de encontro
de vários povos. As fronteiras de Portugal do século XIII estão ligadas ao sistema
administrativo romano e muçulmano. Efectivamente, o ordenamento do espaço
peninsular e, naturalmente, do espaço que hoje é Portugal tem raízes profundas
nas reformas administrativas promovidas por Augusto214, em 27 a.C., no
povoamento e na rede de estradas romanas. Como afirma Oliveira Marques, os
romanos com o objectivo de descentralizar a administração e de civilizar os
povos construíram uma vasta rede de estradas ligando para sempre regiões que
até então se tinham mantido em maior ou menor isolamento (...) deram origem a
duas áreas desenvolvidas, uma a norte do Douro e outra a sul do Tejo, separadas
por uma vasta região escassamente povoada que, em Portugal, corresponde,
aproximadamente, à área que hoje se chama Região Centro (Reigado, 1999, p.
131). A maior concentração a Sul que caracteriza a ocupação romana e
muçulmana esteve ligada, por um lado, ao próspero comércio e ao artesanato
característico desta área e, por outro lado, à proximidade dos portos de abrigo
situados no estuário do Tejo e na costa algarvia.
À Idade Média estão associadas a circulação de mercadorias, essencialmente por
via marítima e fluvial, e a organização em rede de feiras e de pequenos mercados
213 Os fenícios de Tiro, por exemplo, começaram a instalar-se nas costas meridionais da península, no século II a.C.. A partir de 194 a.C. registam-se as primeiras confrontações entre Romanos e Lusitanos, as campanhas dos Suevos verificam-se em 441, as dos Visigodos em 470 e as invasões muçulmanas dão-se em 711-714 (Mattoso, 1992, pp. 79-316). 214 Imperador romano.
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191
reflectindo, assim, uma certa hierarquia urbana. O rápido desenvolvimento das
manufacturas e do comércio internacional irá influenciar, de forma decisiva, o
ordenamento urbano da Europa. A Igreja, na época da nacionalidade, trouxe
igualmente um importante contributo para a divisão administrativa do país.
A divisão administrativa tem sido ao longo da história um dos principais pilares
em que se baseia o ordenamento do território nacional. Assim, em 1299, no
testamento de D. Dinis, Portugal era constituído por cinco regiões e um
enclave215.
Em 1406, no reinado de D. Duarte, no território nacional distingue-se pela
primeira vez, o Minho de Trás-os-Montes e o Reino do Algarve. Paralelamente,
enquanto estrutura organizacional de base, as comarcas afirmam-se no
ordenamento administrativo do país.
Em 1599, nas cartas de Duarte Nunes de Leão, o Entre Tejo e Odiana, transforma-
se em Alentejo (parte do litoral e Setúbal faziam parte da Estremadura). Esta
divisão administrativa viria a perdurar por mais de dois séculos.
Em 1832, o governo provisório216, dando cumprimento à Carta Constitucional de
1826, divide o país em províncias, comarcas e concelhos. Mouzinho da Silveira
propõe a centralização da Administração régia e a atribuição de amplos poderes
aos representantes regionais do governo. Este projecto de centralização, a ser
aprovado, mudaria completamente as normas da Administração Pública. Em
1836, o Código Administrativo de Passos Manuel reintroduz, no ordenamento do
território nacional, os distritos administrativos. Além disso, na sequência da
reforma concebida para acabar com os privilégios acumulados e com a
diversidade de situações que até aí vigoravam, extinguiu217 498 dos antigos
215 As regiões eram: d’antre Douro e Minho (as actuais Trás-os-Montes e Minho), a Beira, a d’antre Douro e Mondego, a Estremadura e a d’antre Tejo e Odiana (actuais Alentejo e Algarve). O enclave era formado por Moura e Serpa (Mendonça e Évora, 1998, p. 41). 216 Instalado nos Açores e leal a D. Pedro IV. 217 Decreto de 6 de Novembro de 1836.
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concelhos, criou mais de duas dezenas de novos e fixou o seu número em 351
(Manique, 1989). Em 1842, o Código Administrativo de Costa Cabral confirma a
divisão distrital que, embora com ligeiras alterações, se iria manter vigente
durante quase um século.
Em 1936, seguindo as sugestões de Amorim Girão, o Código Administrativo de
Marcelo Caetano institui onze províncias218. Em 1959, a revisão constitucional,
embora mantendo os distritos do Código de 1933, acaba com as províncias e
define um modelo de divisão distrital ainda em vigor.
Em 1976, após a queda do regime ditatorial, o Ministério da Administração
Interna219 e o Departamento Central de Planeamento, do Ministério do Plano e
Coordenação Económica220, propõem duas delimitações regionais que, segundo
Ernesto Figueiredo, se afiguram com as mais significativas do pós-25 de Abril.
São vistas como modelos e têm-se definido opções em torno destes dois elementos
(Mendonça e Évora, 1998, p. 43). Os estudos de Proença Varão indicavam uma
divisão administrativa que se aproxima da Nomenclatura de Unidades
Territoriais – NUT - adoptada aquando da adesão de Portugal à Comunidade
Europeia. Nestes estudos, o Entre Douro e Tejo era dividido em duas regiões, uma
a Norte e outra a Sul (ibid., p.43).
A actual nomenclatura territorial para fins estatísticos, dividindo o país em sete
NUT’s de nível II221, confere aos vários territórios (leia-se regiões de
planeamento) uma maior complexidade, quer pela divisão que estabelece, quer
pelo espaço que engloba, levando a descontinuidades com divisões
administrativas anteriores, mas que traduz uma maior coerência em termos físicos
218 Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Douro Litoral, Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Baixo Alentejo, Algarve. 219 O Ministério da Administração Interna propõe duas áreas metropolitanas (Lisboa e Porto) e seis grandes províncias: Minho, Douro e Trás-os-Montes, Beira, Estremadura e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. 220 O Ministério do Plano e Coordenação Económica propõe sete regiões-plano: Norte Litoral, Norte Interior, Beira Litoral, Beira Interior, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. 221 Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira.
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193
e económicos. De referir que esta nomenclatura coexiste com a divisão
administrativa do país em distritos.
A Constituição da República Portuguesa, ao manter os distritos, mesmo que
transitoriamente, ao mesmo tempo que não estabelecia mecanismos para a rápida
concretização da autarquia regional e a fazia depender da simultaneidade da
instituição das regiões administrativas, criou as condições para a proliferação de
delegações regionais, sub-regionais e distritais sem unidade territorial ou eficácia
administrativa. Efectivamente, a indefinição de décadas acerca do modelo de
organização administrativa levou ao acumular incoerente de situações, muitas das
vezes, contraditórias na Administração Pública desconcentrada, ao aumento da
burocracia e à reduzida transparência nas políticas públicas com impacto
territorial. A análise dos serviços desconcentrados 222da Administração Pública
mostra, ainda, que estes não têm qualquer mecanismo de coordenação entre si,
nem o Estado dispõe de formas de tutela horizontal dos mesmos, apesar do seu
número ser significativo e coexistirem vários modelos de desconcentração
(Cabrita, 1998, p. 23):
• 15 casos de desconcentração, segundo o modelo distrital223 (por exemplo, Serviço Nacional de Protecção Civil, INATEL);
• 20 casos de desconcentração agrupando distritos (por exemplo,
Administrações Regionais de Saúde, Centros Regionais de Segurança Social);
• 13 casos de desconcentração seguindo o modelo das Comissões de
Coordenação Regional224 (por exemplo, Direcções Regionais do Ambiente, de
Educação, de Economia);
222 A desconcentração de competências é entendida como a operação que transfere para órgãos de nível hierárquico inferior o desempenho de funções que, desse modo, ficam mais próximas dos seus destinatários, mantendo a instância central que a ela procede a responsabilidade pela definição das normas segundo as quais tudo é feito (Oliveira, 1996, p. 25). 223 Actualmente, no continente há 18 distritos: Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança, Porto, Aveiro, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Coimbra, Leiria, Lisboa, Santarém, Portalegre, Setúbal, Évora, Beja e Faro. 224 Actualmente, estas Comissões de Coordenação Regional (CCR) são cinco: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. As CCR’s dependem do Ministério do Equipamento, Planeamento e Administração do Território.
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• 26 tipos de desconcentração seguindo outras formas de delimitação espacial diversa (por exemplo, IGAPHE225, Direcções Regionais de Agricultura,
Regiões de Turismo).
Este quadro caótico chama a atenção para a necessidade urgente do ordenamento
administrativo do território português numa dupla perspectiva de desconcentração
de competências e de descentralização da tomada de decisões. O movimento de
desconcentração, desde que acompanhada da descentralização226, é uma das
formas de contrariar a propensão para o reforço da Administração Central. A
desconcentração permitiria racionalizar o aparelho administrativo do Estado,
redistribuindo as competências pelos vários níveis (nacional, regional e local),
segundo o princípio da subsidiariedade que permite reforçar a eficácia das
intervenções públicas e simplificar os processo de decisão. Além disso, é
necessária uma reorientação da Administração desconcentrada no sentido de os
seus serviços periféricos serem integrados em serviços desconcentrados regionais.
O movimento de descentralização implica a uniformidade de tratamento, mas
também a compreensão de que se, por um lado, a variedade de respostas conduz a
um aumento da satisfação dos cidadãos por serem estes, através dos seus
representantes mais próximos, a definir as soluções que mais lhe convêm, por
outro lado, aumenta a responsabilidade pelas decisões tomadas. Neste processo é
extremamente importante a participação dos agentes locais de forma a preservar
as tradições e não criar fortes resistências às mudanças que o desenvolvimento
sempre exige. De realçar que a simultaneidade das operações de desconcentração
de competências e de descentralização da tomada de decisões, permitindo uma
aproximação entre estas e os seus destinatários, assegura um tratamento igual para
todos nos domínios em que o Estado entenda dever garanti-lo e autorizando a
que, naqueles em que tal não é imperativo, se deixe à iniciativa e ao critério das
225 IGAPHE – Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado. 226 A descentralização da tomada de decisões é entendida como a operação que impõe uma uniformidade das formas de tratamento das solicitações dos cidadãos que o estado realmente quer assegurar em paridade de condições e em relação a todos (Oliveira, 1996, p. 31).
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populações de uma dada área a responsabilidade de definir e concretizar o
caminho que preferem seguir (Oliveira, 1996, p. 35).
Em 1998, a tentativa de instituir as regiões administrativas227 no continente, que
daria início a um processo gradual de reorganização da Administração Pública e
de identificação, caso a caso, do nível mais adequado à tomada de decisão
(nacional, regional ou municipal) não teve sucesso já que foi inviabilizada pelos
resultados228 do Referendo sobre a Regionalização229. Assim, a Administração
Pública continua marcada pelo centralismo e pela baixa eficiência pelo que se
torna necessário proceder à reforma administrativa, dando coerência à divisão
territorial e proporcionando uma base sólida para o ordenamento do território
nacional. Uma das vias da reforma administrativa (urgente e necessária) seria a
criação de regiões administrativas, entendidas como autarquias locais
direccionadas para uma intervenção de base territorial nos domínios do
planeamento e da definição das prioridades de actuação da Administração Pública.
Refira-se a propósito que os Açores e a Madeira, de acordo com a Constituição da
República Portuguesa (artº 225º), constituem a única excepção do ordenamento
político-administrativo nacional visto gozarem de autonomia político-
administrativa sem, no entanto, afectar a integridade da soberania do Estado.
Esta breve abordagem histórica permite-nos identificar alguns dos principais
elementos que influenciam o ordenamento do território: as vias de comunicação, a
localização dos recursos naturais, o comércio nacional e internacional, o
povoamento e, naturalmente, a divisão administrativa do país.
227 Proposta de mapa das regiões administrativas: Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Beira Litoral, Beira Interior, Estremadura e Ribatejo, Lisboa e Setúbal, Alentejo e Algarve. 228 No Referendo à Regionalização, de 8 de Novembro de 1998, os resultados foram: votos contra 63,6%, votos a favor 36,4% e abstenções 51,7% - Diário de Notícias de 9 de Novembro de 1998, pp. 2-14. 229 Embora aliciante, a regionalização não será, contudo, por nós desenvolvida já que não é um dos objectivos da tese.
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4.2.2. Génese e evolução do conceito “ordenamento do território”
A ocupação do território é fundamentalmente resultado da interacção dinâmica
entre os recursos disponíveis do território e as necessidades das distintas
sociedades que dele usufruem. O modelo actual de ocupação do território é, por
conseguinte, consequência deste processo dinâmico, isto é, deste conflito
dialéctico que se desenrola ao longo da história (ver fluxograma 4.1). A
descrição de qualquer modelo territorial, referente a um país ou região, inicia-se
com o estabelecimento dos potenciais e condicionantes relacionados quer com as
características naturais (físicas e geográficas), quer com a evolução histórica
(social, cultural, económica e política).
Actualmente, a maior parte dos modelos territoriais distingue-se dos anteriores
pela sua maior independência em relação à fisiografia. Efectivamente, se no
passado este factor era determinante para a fixação da população e,
consequentemente, da actividade económica, na actualidade o desenvolvimento
tecnológico e a transformação do modelo económico, traduzida na globalização
dos processos produtivos, conduziu à polarização e concentração das populações
em zonas cada vez mais reduzidas e relativamente independentes da existência de
recursos naturais na sua proximidade. Refira-se que, na maioria dos casos, os
níveis de desenvolvimento das economias nacionais não está directamente
associada aos seus recursos naturais, mas sim à capacidade de os transformar, ou
por outras palavras, o desenvolvimento só é possível desde que os recursos
humanos, numa perspectiva educativo-formativa, sejam capazes de transformar os
recursos potenciais em recursos reais230.
A expressão ordenamento do território, embora numa acepção ampla que
engloba o planeamento económico regional e a economia do espaço, é utilizada
pela primeira vez, em 1947, por François Gravier (Antunes, 1998).
230 O Japão e o Brasil são dois exemplos que ilustram este postulado. Socorrendo-nos do Índice de Desenvolvimento Humano do PNUD, em 1998, verifica-se que o Japão ocupa o 8º lugar e o Brasil o 62º.
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Anteriormente, já Von Thünen (1826), Weber (1909) e Lösch (1940) se tinham
referido ao ordenamento do território sem, contudo, o explicitar formalmente.
Fluxograma 4.1 O trinómio recursos/território/necessidades
Fonte: Rodriguez, A. S., Dinâmica de la Ocupación del Territorio in Curso de Ordenación del
Territorio da Asociación Interprofissional de Ordenación del Territorio, FUNDICOT (citado em Reigado, 1999, p. 163)
Klaassen define o ordenamento do território como o estudo da utilização do solo
na região e a repartição desta utilização entre nós de diferente importância (op.
cit., 1965, p. 121). Para Merlin e Choay (1988, p. 29)231, é uma acção voluntária
231 Cit. in Cartas Municipais do Ambiente: Glossário, p. 77
PROCURA
NOVOS RECURSOS POTENCIAIS NECESSIDADES SOCIAIS
PROCURA
RECURSOS POTENCIAIS NECESSIDADES SOCIAIS
RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO SUPORTE BÁSICO - INFRA-ESTRUTURA ECONÓMICA
- SUPERESTRUTURA SÓCIO-POLÍTICA
TERRITÓRIO SOCIEDADE
TRANSFORMAÇÃO DO MEIO NATURAL
TERRITÓRIO LOCALIZAÇÃO DE USOS TRANSFORMADO E DE ACTIVIDADES
CONSTRUÇÃO DE INFRA-ESTRUTURAS
Tempo T+1
Tempo T
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
198
impulsionada pelos poderes públicos, que pressupõe um planeamento físico e
uma mobilização de actores (população, empresas, eleitos locais, administrações)
e que pode ser concebido a escalas muito diversas: do território de um país à de
uma cidade. Outros autores entendem-no como o conjunto de acções concertadas
visando dispor ordenadamente num território os habitantes, as actividades, as
construções, os equipamentos e os meios de comunicação. Reigado define o
ordenamento do território como a expressão espacial da política económica,
social, cultural e ecológica de toda a sociedade ou ainda como uma disciplina
científica, uma técnica administrativa e uma política concebida com um enfoque
interdisciplinar e global, cujo objectivo é um desenvolvimento equilibrado das
regiões e a organização física do espaço segundo um conceito que o rege (op.
cit., 1999, p. 171).
O ordenamento do território, sendo interdisciplinar, é composto por vários
sistemas e domínios - a demografia, os estabelecimentos humanos, a floresta, a
agricultura, a ecologia, as redes de distribuição, a conservação do património e o
recreio - que, por sua vez, se desdobram em vários sub-sistemas232.
A ocupação do território e o uso do espaço colocam problemas aos quais o
ordenamento territorial tenta responder ao constituir-se numa ferramenta de
articulação das políticas sectoriais com as decisões sobre o uso do solo. O carácter
globalizador do espaço leva a que o ordenamento do território seja uma disciplina
de síntese não só devido à sua pluridisciplinaridade (elementos de geografia,
economia, sociologia, urbanismo, direito, etc.), mas também porque exige a
integração dos vários processos que decorrem no território. O ordenamento do
território corresponde, assim, à organização ou seja a tornar orgânico todo um
sistema espacial, dispondo os seus elementos constitutivos nos locais de forma a
que estes ao desempenharem as suas funções contribuam para a evolução
232 A título de exemplo citem-se os subsistemas: urbanização, espaço rural, região de fronteira, habitação, indústria, equipamentos e serviços, ordenamento, gestão e utilização de recursos, protecção e conservação da biodiversidade, transportes, comunicações, lazer, desporto, etc..
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
199
equilibrada do sistema económico e social, isto é, contribuam positivamente para
o bem estar das populações.
O conceito de ordenamento do território, designado Amenagement du Territoire
pelos franceses ou Town and Country Planning e Regional Planning pelos
urbanistas ingleses, foi evoluindo desde o ordenamento “normativo”, dos anos
cinquenta, até a um “novo” ordenamento com profundas preocupações ao nível da
ecologia e sustentabilidade do desenvolvimento.
A constatação de profundos desequilíbrios nas economias europeias traduzidos na
dicotomia: uma região norte que corresponde à zona industrial, activa e próspera
do país e uma região do sul, rural e condenada a produtividades menores e baixos
níveis de vida colocou o ordenamento do território na ordem do dia. A análise
mais profunda destes desequilíbrios mostra que, na realidade, há duas séries de
desequilíbrios, ou seja, um desequilíbrio profundo entre a capital e a província
devido, entre outros factores, a uma aberrante centralização que se foi agravando
durante séculos e que originou uma hipertrofia da capital e região circundante
geradora, por sua vez, de desequilíbrios demográficos, económicos e culturais
ainda hoje visíveis. A segunda série de desequilíbrios diz respeito às
desigualdades existentes entre as regiões de província, como por exemplo, o
interior português ou o Mezzogiorno italiano. A tomada de consciência das
diferenças de desenvolvimento e das condições de vida das populações de um país
suscitaram, quase por todo o lado, a implementação de medidas tendentes a uma
repartição geográfica mais equitativa das fontes de crescimento económico. Além
disso, o mau uso dos solos e o agravamento dos problemas ecológicos reforçam a
importância do ordenamento do território e, também, da elaboração e
concretização de políticas de desenvolvimento regional.
O campo de actuação do ordenamento do território será definido
progressivamente partindo-se de uma aplicação iminentemente urbana.
Efectivamente, do ordenamento urbano, ditado pela necessidade de reconstrução
das cidades, passa-se a falar de valores regionais e medidas que favoreçam a
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
200
descentralização industrial ou a reconversão de empresas para se chegar à
promoção das condições de vida das populações que assegure uma igualdade de
oportunidades. Evoluímos assim, pouco a pouco, de uma política voluntarista de
ordenamento do território para uma política “organizadora”, ou seja, substituiu-se
a “geografia” que se contentava em descrever e analisar o espaço territorial pela
“geonomia” que pretende organizar o território tendo em vista o desenvolvimento
económico e social mais equilibrado.
A concepção de ordenamento “organizador” está bem patente no programa Por
um plano nacional de ordenamento do território apresentado, em 1950, por
Petit233 que assentava nos quatro elementos clássicos da política regional:
industrialização segundo um plano descentralizado, renovação da agricultura,
equipamento turístico e descentralização cultural. Os resultados obtidos, embora
não sendo negligenciáveis, dadas as resistências das estruturas administrativas e
psicológicas, estiveram bem longe das esperanças do legislador. Gravier (1947) ao
publicar a obra Paris et le désert français provocou um efeito de “choque” que
levaria a um esforço de reflexão profunda e de investigação sobre o
subdesenvolvimento regional, iniciado em 1933 pelos EUA (criação da Tennessee
Valley Authority) e pela Grã Bretanha, no ano seguinte, com a política das zonas
deprimidas e, depois, com o Relatório Barlow.
Apesar deste esforço, a lenta evolução das ideias e da regulamentação sobre o
ordenamento do território dão origem, nos anos 60, a políticas voluntaristas. Sem
perder o seu carácter de expressão da solidariedade nacional com as zonas
deprimidas, a política de ordenamento do território é agora percepcionada como
uma contribuição activa para o desenvolvimento económico e social do país. A
integração da política de ordenamento do território na política nacional de
desenvolvimento económico e social é assegurada pela tomada em consideração
dos objectivos regionais. A prática, contudo, não tardou a demonstrar que não
haverá ordenamento voluntarista sem um mínimo de planeamento.
233 Ministro da Reconstrução e Urbanismo francês.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
201
A crise económica da década de 70 e a política activa de ordenamento do
território, inspirada nas ideias de Perroux sobre o desenvolvimento polarizado,
irão ter fortes repercussões no ordenamento do território. Esta política assentava
em quatro vectores essenciais, ou seja, na industrialização descentralizada234, no
reforço da armadura urbana, no ordenamento do espaço rural e na protecção do
ambiente. O reforço da armadura urbana é percepcionada a três níveis, ou seja:
• as grandes aglomerações beneficiariam de um esforço para se equiparem,
especialmente, ao nível das actividades terciárias e “quaternárias” permitindo-
lhes, assim, fazerem a ponte entre a capital do país e as metrópoles regionais;
• as cidades médias seriam promovidas graças à celebração de contratos-
programa entre a cidade, o Estado e a região com o objectivo de melhorar o
nível de bem-estar das populações;
• as pequenas zonas geográficas à volta de pequenas cidades com fortes relações
sociais, culturais e económicas devido a características naturais ou uma longa
tradição histórica seriam, tal como as cidades de média dimensão, alvo de
contratos-programa que assegurariam a ligação entre a política de
desenvolvimento urbano e a política de ordenamento rural.
O espaço rural profundamente transformado pelo êxodo agrícola, pela
concentração das explorações e pela luta, cada vez mais intensa, entre as diversas
formas de ocupação do solo é dividido em zonas de actuação rural, zonas de
renovação rural e zonas de montanha. Os Planos de Ordenamento Rural tinham
como objectivo, por um lado, assegurar uma organização específica dos serviços e
do espaço e, por outro lado, favorecer a modernização das actividades tradicionais
e compensar a especificidade da agricultura de montanha. É com estes Planos que
a protecção e valorização do ambiente se torna parte integrante do ordenamento
do território.
A difícil conciliação dos objectivos do planeamento económico a médio prazo e
as exigências de uma conjuntura marcada pela inflação levou ao planeamento
234 Este assunto já foi referido no segundo capítulo.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
202
descentralizado, isto é, ao plano nacional que determina as escolhas estratégicas e
os objectivos a médio prazo juntam-se os planos regionais que farão das regiões
os novos actores do planeamento e do ordenamento do território. Nesta fase, a
centralização das funções do Estado dá lugar à repartição das suas competências
pelos órgãos regionais e locais, ou seja, o Estado passa agora a decidir somente
sobre o que não é exequível ao nível da Administração regional e local. Além
disso, o Estado transfere poderes para a esfera supranacional. A Comunidade
Europeia, por sua vez, acentua esta descentralização de competências através da
sua Política Regional e dos Fundos Comunitários. Estas alterações traduzem uma
mudança de paradigma uma vez que, segundo Lopes235 (1989), se substitui um
sistema de crescimento polarizado por um sistema que emerge e tem em vista o
desenvolvimento integrado (cit. Frade, 1999, p. 40). Contudo, a emergência de
regiões, como colectivo territorial, geridas por uma assembleia eleita por sufrágio
universal e directo e com um presidente com poder executivo pode levar a uma
certa ambiguidade, ou seja, poderá a descentralização que favorece o
desenvolvimento regional ser integrada no ordenamento racional do território? A
resposta a esta questão é positiva desde que, por um lado, as competências
reconhecidas à região, para traçar as suas acções e definirem as suas
competências, se exprimam no quadro das grandes opções nacionais de
desenvolvimento e de ordenamento e, por outro lado, os procedimentos de
arbitragem possam tornar as escolhas regionais compatíveis entre si e estas com
as nacionais ou, parafraseando Guichard, o desenvolvimento de um país não pode
ser nacionalmente conseguido se este não estiver territorialmente equilibrado (cit.
Lagujie, 1989, p. 30).
A OCDE (1986), baseada num estudo sobre os princípios e perspectivas da
política regional, alerta para a necessidade de definir as principais linhas
orientadoras do novo ordenamento do território dado terem-se verificado
profundas alterações nos sistemas territorial, produtivo, económico e social:
235 Lopes (1989) entende que o sentido actual do ordenamento do território não é o mesmo que existia nas décadas de 60 e 70. O carácter indicativo e centralizador de então, definido pela intenção de corrigir os desvios do mercado livre sem, contudo limitar a sua acção, é abalado pela crise económica vivida nos finais da década de 70 e década de 80.
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203
• as novas disparidades regionais que, ultrapassando largamente as disparidades
herdadas das duas anteriores revoluções industriais, provocaram novas
clivagens nos territórios nacionais;
• a vaga de inovações tecnológicas (informática, robótica, biotecnologia,
energias renováveis, materiais compósitos, etc.) que, segundo o esquema
clássico de Schumpeter estaria na origem de uma nova revolução industrial,
conduz a uma nova distribuição da população e das actividades no território.
Além disso, as novas tecnologias da informação possibilitam novas formas de
descentralização das actividades industriais e do terciário;
• a dimensão europeia, isto é, a política regional da UE até aqui considerada
como um complemento das políticas nacionais e um meio para a
convergência dos níveis de desenvolvimento das regiões deve transformar-se
numa verdadeira política de ordenamento do espaço europeu;
• a vontade política parece-nos, simultaneamente, uma evidência e uma
necessidade. Perante a diversidade e complexidade dos problemas a resolver
(as regiões encontram-se em diferentes fases de desenvolvimento) poderemos
ser tentados a concluir sobre a impossibilidade de definir uma política de
ordenamento do território deixando às regiões e aos mecanismos de mercado
a tarefa de implementar os ajustamentos necessários. Esta atitude, decerto,
levará ao agravamento das disparidades regionais, já de si tão graves, e
despoletará tensões sociais e pressões inflacionistas perigosas pelo que se
caminha para uma política de ordenamento do território solidária com as
regiões deprimidas evitando-se, assim, a desintegração da economia nacional
e europeia.
A política de ordenamento do território dos anos noventa caracteriza-se pelo
fortalecimento do que já existe, pelo estabelecimento do que ainda não há
(Uhrich, 1996, p. 1006). O ordenamento do território do final de século revela,
igualmente, o aprofundamento das características de descentralização interna e de
concentração externa que resultavam do período anterior. Assim, enquanto a
Administração regional e local atinge a estabilidade e maturidade institucional,
possuindo um lugar de maior destaque no quadro da Administração do Estado, ao
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204
nível comunitário regista-se o reforço das competências e dotações orçamentais
para o desenvolvimento regional, particularmente visível a partir do momento em
que se procedeu a mais uma reforma dos Fundos Estruturais (1988).
A ocupação do espaço pelo homem parece, assim, pressupor o seu ordenamento
devendo este contribuir, ao nível nacional, para a melhor organização do território
(descongestionamento das áreas de maior aglomeração urbano-industrial e
desenvolvimento das áreas rurais) e, ao nível supranacional ou europeu, para a
resolução dos problemas que ultrapassam as fronteiras individuais dos Estados-
membros favorecendo, assim, a criação de um sentimento de identidade comum.
Efectivamente, o ordenamento do território e, de um modo geral, as políticas
espacializadas são jogos de múltiplos actores locais, regionais, nacionais e
mesmo internacionais. Cada um dos agentes é agora levado a definir o lugar que
ocupa em relação aos outros e as relações que este conduz no seu relacionamento
com eles (Jayet, 1993, p. 55).
A política de organização territorial do Estado, percepcionada neste novo
equilíbrio de forças ainda não consolidado, reassume um novo significado e
incorpora novos conteúdos que passam pela concretização de três princípios
fundamentais, ou seja, dos princípios de gestão do património comum nacional,
do equilíbrio entre a conservação e o desenvolvimento e o da compatibilidade. Os
dois primeiros princípios estão estreitamente ligados já que gerir o património
comum pressupõe o aproveitamento integrado da componente humana com a
componente física, pressupondo igualmente a gestão da tensão entre o
desenvolvimento económico e a conservação da natureza. Isto implica que o
desenvolvimento não pode colocar em risco os ecossistemas naturais que são a
base de sustentação de vida na Terra ou, por outras palavras, o modelo de
desenvolvimento deve garantir a manutenção dos equilíbrios biológicos
indispensáveis ao equilíbrio global do planeta. É esta consciência que impõe
mudanças nos nossos comportamentos através de uma progressiva atenuação do
antropocentrismo a favor de uma relação mais equilibrada entre o homem e a
natureza (Alfonso, 1987, p. 864). Ora, o ordenamento do território tem um papel
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
205
essencial na integração espacial equilibrada dos elementos biológicos com a
actividade humana, isto é, tem um papel essencial na nova concepção do
desenvolvimento que, geralmente, designamos por desenvolvimento sustentável.
O terceiro princípio - a compatibilidade - traduz a coerência das decisões tomadas
aos vários níveis institucionais, com responsabilidades no ordenamento do
território, quer no interior do país (Estado, região, município), quer na sua
dimensão externa (Comunidade e Estados-membros). O ordenamento do
território representa uma mais valia incontestável quando é democrático, global,
funcional e prospectivo. Assim, ao mesmo tempo que se deve assegurar a
participação da população e dos seus representantes políticos, criando um quadro
institucional favorável à sua mobilização, terá de se efectuar a coordenação,
articulação e integração das várias políticas sectoriais com a de ordenamento do
território, aos níveis europeu, nacional, regional e local. A existência de
consciências regionais baseadas em valores, cultura e interesses comuns que se
sobrepõem frequentemente às divisões administrativas do país, e ultrapassam
mesmo as fronteiras nacionais, têm que ser equacionadas à luz das realidades
constitucionais dos vários países. Além disso, o ordenamento ao ser prospectivo,
deve analisar e integrar as tendências e o desenvolvimento a longo prazo dos
fenómenos e actuações económicas, sociais, culturais, ecológicas e meio
ambientais na sua actuação.
4.2.3. Os objectivos do ordenamento do território
O ordenamento do território, como vimos no parágrafo anterior, é uma actividade
globalizante e pluridisciplinar com objectivos muito concretos e interligados entre
si e que podemos sistematizar em:
• desenvolvimento sócio-económico equilibrado das regiões, quer a nível
nacional, quer ao nível supranacional (leia-se europeu);
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206
• melhoria da qualidade de vida das populações;
• gestão responsável dos recursos naturais aliada à protecção do meio ambiente;
• utilização racional do território.
O indivíduo e o seu bem-estar, assim como a sua interacção com o meio ambiente,
constituem o ponto central do ordenamento do território, numa perspectiva de
desenvolvimento sustentável236. O ordenamento do território, estendendo-se a
quase todas as políticas nacionais e comunitárias, é considerado um instrumento
prático da integração da integração no esforço de coesão económica e social, bem
como um meio importante para a integração do ambiente nas políticas sectoriais.
O 5º Programa do Ambiente (1992a) reconhece este papel importante ao
ordenamento, já que pode fornecer ... as regras básicas do desenvolvimento sócio-
económico e da “saúde” ecológica de um país, região ou localidade.
A questão do desenvolvimento equilibrado das regiões aliada à da
sustentabilidade é extremamente importante para a União Europeia e, muito
particularmente, para um país como Portugal em que as assimetrias regionais
(numa dicotomia litoral/interior) são enormes. Efectivamente se, por um lado, nos
últimos anos se verificou um crescimento dos sectores geradores de emprego
pouco exigentes em qualificações e, consequentemente, com baixos níveis de
produtividade, por outro lado, consolidou-se um núcleo restrito (em termos de
peso relativo no emprego total e de concentração geográfica) de actividades da
236 O conceito de desenvolvimento sustentável representa uma tentativa de ir mais além do simples enunciado dos limites físicos do crescimento económico e de procurar como, em que termos e em que proporção os objectivos sócio-económicos tradicionalmente ligados ao crescimento podem ser conciliados com a preocupação de qualidade ambiental e as preocupações de equidade intertemporal (O’Connor, 1991). Para alguns, o desenvolvimento sustentável tenderia a tornar-se o paradigma do desenvolvimento para os anos 90 (Lele, 1989). O desenvolvimento sustentável é portanto multidimensional visto conduzir às dimensões económica, social e ecológica. Por outro lado, trata-se de um conceito normativo apreendido por Barbier e Markandya (1990) como um vector de objectivos sociais desejáveis, ou seja uma lista de atributos que a sociedade procura alcançar ou maximizar (cit. Faucheux e Noël, 1995, p. 286). O desenvolvimento sustentável é, geralmente, interpretado de duas formas. A primeira, qualificada de sustentabilidade fraca, conduz à regra de Hichs-Hartwick-Solow (HHS), segundo a qual a sustentabilidade é tratada como uma nova forma de eficiência económica estendida à gestão dos serviços da natureza. A segunda, ou a dita sustentabilidade forte, considera que a eficiência é um critério inadequado para satisfazer as preocupações do desenvolvimento sustentável pelo que os seus defensores propõem regras de sustentabilidade implicando, seja o estado estacionário (Daly, 1991), seja uma vontade de integrar preocupações económicas e ecológicas (Common e Perrings, 1992; Perrings, 1994).
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207
indústria, dos serviços e do conhecimento com produtividades elevadas e de
criação de emprego qualificado. Este modelo extensivo e dual de crescimento
económico conduziu a uma acentuada litoralização do território português237, isto
é, levou à criação de uma faixa costeira, descontínua a Sul, com uma forte
concentração de recursos humanos e actividade económica, e um vasto interior
(Alentejo, toda a zona de fronteira luso-espanhola e algumas bolsas do litoral)
com baixa densidade populacional, dotação insuficiente de infra-estruturas e
equipamentos, bem como um reduzido número de centros urbanos de média
dimensão.
Os índices sectoriais de desenvolvimento humano, em 1997, confirmam a
existência e, de certo modo, quantificam as disparidades regionais já enunciadas.
Recorrendo aos índices de educação, esperança de vida, conforto e PIB Real
per capita e estabelecendo três níveis de desenvolvimento (elevado, intermédio e
baixo) verifica-se que o interior e, em especial, a Beira Interior238 se encontra
geralmente no nível inferior de desenvolvimento (ver quadro 4.1).
Quadro 4.1
Índices sectoriais de desenvolvimento humano (1997)
Níveis NUT’s III Índice de Educação – IEDU Elevado
Intermédio Baixo
0,958 a 0,903 0,894 a 0,862 0,860 a 0,779
SE BIN, BIS, CB e PIS
Índice de Esperança de Vida – IEV Elevado Intermédio Baixo
0,862 a 0,859 0,856 a 0,843 0,840 a 0,795
BIS e PIS BIN, CB e SE
Índice de Conforto239 - IC Elevado Intermédio Baixo
0, 983 a 0,949 0,946 a 0,929 0,927 a 0,881
BIS SE, CB, BIN e PIS
Índice do PIB real per capita – IPIB/DPP
Elevado Intermédio Baixo
0,920 a 0,473 0,463 a 0,411 0,402 a 0,285
BIS PIS e CB BIN e SE
Fonte: Cónim, C. N. P., (1999), POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO. Uma
Perspectiva de Quantificação, Departamento de Prospectiva e Planeamento, Ministério do Planeamento, Lisboa, pp. 40-56
237 Os eixos de Aveiro-Valença e Leiria-Setúbal concentram 70% da população residente no litoral ou 14% da população da Península Ibérica (MEPAT, 1998a, p. III-2). 238 A Beira Interior integra as seguintes Nut’s III: Beira Interior Norte (BIN), Beira Interior Sul (BIS), Cova da Beira (CB), Serra da Estrela (SE) e Pinhal Interior Sul (PIS). 239 Neste índice considera-se a percentagem de população que dispõe de energia eléctrica, instalações sanitárias e água canalizada.
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208
Os índices sintéticos, isto é, os índices de desenvolvimento humano, de
desenvolvimento económico e social e de desenvolvimento social mostram que a
situação da Beira Interior se agrava um pouco. Exceptuando a Beira Interior Sul,
todas as sub regiões se situam no nível de desenvolvimento mais baixo (ver
quadro 4.2).
Quadro 4.2 Índices sintéticos de desenvolvimento humano (1997)
Níveis NUT’s III Índice de Desenvolvimento Humano – IDH/ONU
0,943 a 0,919 0,917 a 0,895 0,895 a 0,874
BIS BIN, SE, CB e PIS
Índice de Desenvolvimento Económico e Social – IDES/DPP
0,928 a 0,803 0,798 a 0,751 0,747 a 0,727
BIS BIN, CB, SE e PIS
Índice de Desenvolvimento Social – IDS/DPP
0, 930 a 0,902 0,900 a 0,873 0,872 a 0,839
BIS SE, CB, BIN e PIS
Fonte: Cónim, C. N. P., (1999), POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO. Uma
Perspectiva de Quantificação, Departamento de Prospectiva e Planeamento, Ministério do Planeamento, Lisboa, pp. 82-89
A distância que separa o litoral, com maiores índices de desenvolvimento, do
interior traduz ritmos de desenvolvimento quantitativa e qualitativamente
diferentes. Neste contexto e sendo o território um elemento activo do
desenvolvimento regional, é necessário inserir o interior português nas dinâmicas
competitivas globais, num espaço de equidade social e territorial, num uso
sustentável dos recursos naturais e num território inovador e criativo
(MEPAT240,1998b) recorrendo, por um lado, à utilização de novos instrumentos
de ordenamento do território como os Planos Prioritários de Desenvolvimento
Urbano (PPDU) e as Zonas de Localização Prioritária (ZDL) e, por outro lado,
ao reforço do papel catalisador dos Programas de Desenvolvimento Integrado
(PDI) ... (ibid.).
240 MEPAT – Ministério do Equipamento, do Planeamento e Administração do Território
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209
A utilização racional do território, em conjugação com os objectivos definidos
anteriormente visa, por um lado, controlar a implementação, a organização e o
desenvolvimento dos grandes centros urbanos e industriais e das grandes infra-
estruturas e, por outro lado, a protecção e o desenvolvimento das zonas rurais de
forma a que estes dois espaços se integrem e se complementem.
Estes objectivos, sendo gerais e por conseguinte consensuais, encontram-se
definidos no articulado da actual Lei de Bases da Política de Ordenamento do
Território e de Urbanismo (artº 6º). De entre os objectivos aí enunciados,
destacamos os seguintes:
a) a melhoria das condições de vida e de trabalho das populações, no respeito
pelos valores culturais, ambientais e paisagísticos;
b) a distribuição equilibrada das funções de habitação, trabalho, cultura e
lazer;
c) a criação de oportunidades diversificadas de emprego como meio para a
fixação de populações, particularmente nas áreas menos desenvolvidas;
d) a preservação e defesa dos solos com aptidão natural ou aproveitados para
actividades agrícolas, pecuárias ou florestais ...;
e) a adequação dos níveis de densificação urbana e a aplicação de uma política
de habitação que permita resolver as carências existentes;
f) a reabilitação e a revitalização dos centros históricos e dos elementos de
património cultural classificado, bem como a recuperação ou reconversão de
áreas degradadas e/ou de génese ilegal.
A par destes grandes objectivos do ordenamento do território é possível, em
função do tipo de população predominante e das condições geofísicas do
território, traçar objectivos particulares. Assim, assumindo a diversidade do
território europeu, Reigado (1999, pp. 174-175) classifica-o em regiões rurais,
urbanas, fronteiriças, de montanha, pobres, em decadência e, por último, em
regiões costeiras e ilhas. A esta multiplicidade de regiões corresponde
naturalmente uma diversidade de objectivos particulares, nomeadamente:
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210
• regiões rurais – dada a sua função agrícola prioritária torna-se necessário criar condições de vida aos seus habitantes idênticas às das regiões urbanas, quer ao
nível económico, social, cultural e ecológico, quer em termos de infra-
estruturas e equipamentos. O desenvolvimento da rede urbana, das estruturas
sócio-económicas e dos transportes deverá ser efectuado de modo a permitir a
conservação e ordenamento da paisagem numa óptica de desenvolvimento
sustentável e equilibrado;
• regiões urbanas – atendendo ao seu importante papel no desenvolvimento da
Europa e, em particular, do país, estas regiões apresentam, com alguma
frequência, problemas de crescimento (densidades populacionais elevadas,
poluição sonora e atmosférica, taxas de utilização dos equipamentos próximas
da ruptura, etc.). O equilíbrio destas regiões exige a implementação de planos
de ocupação dos solos em que se privilegie o cidadão e a melhoria do seu bem-
estar. Neste contexto, a revalorização do património arquitectónico e cultural
deve integrar-se numa política de ordenamento do território e do espaço
urbano;
• regiões fronteiriças – na qual nos integramos exigem, de um modo muito
particular, uma política de coordenação das políticas públicas de ambos os
lados da fronteira tornando-a permeável e permitindo, por um lado, o
estabelecimento de processos de consulta e de cooperação transfronteiriça e,
por outro, o uso comum de equipamentos e infra-estruturas. A articulação com
Espanha é inevitável e a integração das economias portuguesa e espanhola será
uma realidade. Actualmente, segundo Jorge Gaspar, na energia,
telecomunicações, banca tudo se faz integrado com este país (cit. Madeira,
1999);
• regiões de montanha – têm um papel importantíssimo ao nível ecológico,
cultural, agrícola e de reserva de recursos naturais. As pressões de que são
alvo, dada a fragilidade do seu ecossistema, terão de ter como resposta uma
maior atenção na elaboração e implementação das políticas de ordenamento do
território que contribuam, por um lado, para o desenvolvimento equilibrado e,
por outro, para a sua preservação tendo em vista as gerações vindouras;
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211
• regiões pobres – estas regiões que, por razões históricas, se debatem com
debilidades estruturais e más condições de vida e de trabalho necessitam de
medidas excepcionais, quer da Administração Central, quer da União Europeia,
de forma a serem criadas as condições que permitam o início de um processo
de desenvolvimento apoiado, fundamentalmente, nos seus recursos humanos,
naturais e culturais, pelo que se torna necessário proceder à integração destas
regiões em planos de ordenamento do espaço urbano e rural, numa lógica de
articulação de todo o território nacional, sob o risco de se verificar uma
progressiva desertificação e degradação ambiental;
• regiões em decadência – a diminuição substancial da actividade económica em
consequência da reestruturação industrial, envelhecimento do equipamento e
das suas infra-estruturas e da mono especialização exigem uma política de
revitalização específica para estas regiões;
• regiões costeiras e ilhas – o turismo de massas, o transporte marítimo e a
industrialização exigem uma política específica que assegure o
desenvolvimento e a urbanização destes territórios apoiados nos recursos
endógenos e nas necessidades económicas e socais regionais, bem como na
protecção do seu meio ambiente relativamente frágil.
Esta tipologia de regiões deveria, em nosso entender, considerar ainda as regiões
susceptíveis a catástrofes naturais. No território europeu há regiões que integram
vulcões em actividade ou adormecidos, outras estão situadas próximo ou sobre
falhas tectónicas (o risco sísmico é elevado) e outras, ainda, localizam-se junto a
importantes corredores internacionais de tráfego marítimo. A especificidade
destas regiões exige, sobretudo, ao nível do ordenamento do território e da
localização das infra-estruturas e equipamento produtivo e colectivo um
tratamento especial de modo a prepará-las para a eventual ocorrência de
catástrofes.
A prossecução destes objectivos gerais e particulares exige a definição, por um
lado, da entidade ou entidades responsáveis pelo ordenamento do território e, por
outro, dos instrumentos a utilizar. Recorrendo à Lei de Bases da Política de
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
212
Ordenamento do Território e de Urbanismo, publicada em 11 de Agosto de 1998,
verifica-se no seu artº 4º, que ao Estado, às Regiões Autónomas e às Autarquias
Locais compete a promoção, necessariamente articulada, de políticas activas de
ordenamento do território. Convém, contudo, realçar que não basta a
Administração Pública central e local promover o ordenamento do território, pelo
que é necessário dar-lhe um estatuto de cidadania reforçando os mecanismos
existentes de acesso à informação e fomentando a participação útil e efectiva dos
cidadãos nas decisões da administração e na plena garantia à tutela jurisdicional
do direito a um correcto ordenamento do território.
Em relação à segunda questão, isto é, aos instrumentos de gestão do território, a
resposta encontra-se no artº 9º da mesma Lei que enumera e caracteriza,
sumariamente, os vários instrumentos: Programa nacional da política de
ordenamento do território e Planos regionais, intermunicipais (facultativos),
municipais, especiais e com incidência territorial da responsabilidade dos
diversos sectores da Administração Central. Embora possuam características
próprias, os instrumentos de ordenamento do território (regulamentados pelo
Dec.-Lei nº 380/99 de 22 de Setembro) estão interligados entre si influenciando-se
mutuamente ou, por outras palavras, um plano de ordenamento do território de
nível inferior ao mesmo tempo que exerce uma certa influência no plano com uma
posição hierárquica superior deverá enquadrar-se no mesmo plano.
4.2.4. O ordenamento do espaço rural/urbano
Ordenar o território, como vimos, consiste em implementar um conjunto de
medidas articuladas que regulamentem a utilização do espaço, de modo a
melhorar as condições de vida das populações, a desenvolver as actividades
económicas e a valorizar os recursos e o património, evitando perturbar
gravemente os equilíbrios naturais. A necessidade de organizar o território torna-
se mais evidente e premente pelo facto de grandes zonas do território estarem
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
213
afectadas, por um lado, com a constante regressão e degradação da paisagem rural
e, por outro lado, com o acelerado e desregrado crescimento da paisagem urbana.
O rápido desenvolvimento dos centros urbanos que se tornaram os centros
económicos e, em certa medida, os centros de poder têm quase monopolizado a
atenção dos planeadores do território deixando as zonas rurais para um claro
segundo plano. O êxodo da população rural para as cidades à procura de melhores
condições de vida, traduzida no acesso a emprego mais aliciante e a toda uma
gama de serviços só disponíveis nas grandes cidades, tornou-se num movimento
natural que urge inflectir criando-se uma rede de médias e pequenas cidades,
dotadas de infra-estruturas, equipamentos e com uma boa oferta de serviços, em
articulação com o mundo rural despoluído e rico, em termos, de património
natural, cultural e arquitectónico.
O século XX poderá ficar na história da humanidade, como o século da mudança
de uma sociedade predominantemente rural para uma sociedade urbana: em 1900
menos de 10% da população mundial vivia em cidades enquanto que actualmente
metade da população do planeta é urbana (Albergaria, 1999, p. 2). Na União
Europeia a evolução é idêntica já que 49% da população vive em áreas urbanas241
que, por sua vez, correspondem a 3,5% da superfície total da mesma deixando
antever uma elevada densidade populacional, sobretudo, nas grandes cidades da
Europa Central e do Norte (CE, 1999a, p. 23). Efectivamente, a população
europeia concentra-se ao longo de um grande eixo urbano formado por cidades da
Bélgica, Holanda, Alemanha e Norte de Itália. A maior parte das outras áreas
urbanas de elevada densidade populacional (Roma, Paris, Sul-Este e Norte-Oeste
da Inglaterra e Copenhaga) situam-se na proximidade do eixo anterior. À volta da
zona central europeia, a configuração das áreas de povoamento é mais polarizada
e as áreas urbanas importantes estão separadas por vastos territórios de baixa
densidade populacional. De referir que as áreas rurais ocupam 80% do território
da União e aí vive, cerca de, 24% da população europeia (ibid., p. 23).
241241 Segundo os critérios adoptados pela União Europeia, consideram-se áreas urbanas aquelas em que a densidade populacional é superior ou igual a 500 habitantes por Km2. As áreas rurais, por sua vez, têm uma densidade populacional menor ou igual a 100 habitantes por km2.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
214
Em Portugal, assiste-se igualmente a uma urbanização242 crescente do território.
No final de 1998, havia oficialmente 121 cidades, das quais 92% se situavam no
Continente. De referir que a dimensão média das cidades do Continente é
reduzida (menos de 30 000 habitantes) o que está de acordo com o facto de 70%
das mesmas terem menos de 2 000 habitantes (Albergaria, 1999). Além disso
verifica-se, ainda, que entre 1864 e 1991, a população a viver em áreas agora
consideradas cidades triplicou (ver quadro 4.3) enquanto a população cresceu
apenas 144,8%. Em 1991, 86% da população do Continente vivia em concelhos
urbanos e concentrava-se em cerca de 55% da respectiva área (MEPAT, 1998,
p. 1).
Quadro 4.3
Evolução da população das cidades do Continente segundo a dimensão
Dimensão Nº 1991 1981 1900 1864 Tx. Cresc. 1991/1864
1 2 3 4 5 6 8=(3-6)/6 Menos de 10 000 hab. 39 250 709 257 049 128 595 99 271 1,53 Entre 10 e 20 000 hab. 36 508 574 496 209 226 462 167 878 2,03 Entre 20 e 30 000 hab. 17 413 731 408 399 129 684 86 429 3,79 Entre 30 e 100 000 hab.
17 976 523 943 305 209 212 142 928 5,83
Mais de 100 000 hab. 2 965 866 1 115 305 517 939 279 660 2,45 Total 111 3 115 403 3 240 267 1 211 892 776 166 3,01
Fonte: ALBERGARIA, H., (1999), “A dinâmica populacional das cidades do Continente
português”, comunicação apresentada no VI Encontro da APDR, Braga, 1 e 2 de Julho, p. 11
Em termos regionais, verifica-se uma distribuição irregular da população urbana e
algumas alterações no que se refere ao peso relativo das diferentes regiões (ver
quadro 4.4), nomeadamente:
• a região de Lisboa e Vale do Tejo, embora tenha atingido o pico em 1981,
vem mantendo e reforçando uma posição dominante desde o início;
242 O Conselho Superior de Estatística, em 1998, aprovou a seguinte classificação das freguesias (INE, 1998): freguesias urbanas: freguesias integradas em cidades ou aquelas que possuam densidade populacional superior a 500 habitantes por Km2. ou um lugar com população residente superior ou igual a 5 000 habitantes; freguesias semi-urbanas: freguesias não urbanas que
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
215
• a região Norte, apesar de algumas flutuações, em 1991, mantinha uma posição
semelhante à que detinha em 1864;
• as regiões do Centro, Alentejo e Algarve são as que apresentam, em termos
relativos, a maior perda de população (entre 3,5 a 2,9 pontos percentuais).
Quadro 4.4 Evolução da repartição da população citadina do Continente entre 1864-1991
1991 1981 1970 1960 1950 1940 1930 1920 1911 1900 1864
Norte 30,4 27,9 29,2 29,2 28,3 28,8 28,6 29,6 30,5 31,1 31,0 Centro 12,9 12,1 12,4 12,5 12,6 12,5 12,8 13,0 13,8 14,6 16,4 Lisboa 45,9 49,8 48,4 47,1 47,3 46,6 45,9 44,9 42,6 40,0 36,0 Alentejo 5,3 5,4 5,7 6,3 6,6 6,6 6,6 6,5 6,8 7,2 8,3 Algarve 5,4 4,8 4,3 4,9 5,3 5,5 6,0 6,0 6,3 7,2 8,3
100,0 100,0 100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: ALBERGARIA, H., (1999), “A dinâmica populacional das cidades do Continente
português”, comunicação apresentada no VI Encontro da APDR, Braga, 1 e 2 de Julho, p. 13
O critério adoptado para a definição de urbano e rural foi o de considerar urbanas
as áreas com uma densidade populacional elevada. Este critério parece-nos
razoável já que a especificidade dos espaços urbanos está ligada à proximidade
dos agentes económicos e dos contactos frequentes que essa concentração
proporciona às famílias e aos sectores de actividade (Sullivan, 1995). O espaço
urbano, como todas a s criações humanas, tem uma organização interna (variável
ao longo da história e de acordo com as sociedades) que estabelece correlações
entre os componentes de molde a funcionar como um sistema. Para Simões Lopes
(1984) a organização do espaço urbano tem a ver com o uso do solo, com a
adaptação e utilização que se lhe dá para acomodar diferentes actividades
humanas resultantes da aglomeração de pessoas em áreas urbanas. Claval (1987)
diz mesmo que, sem um mínimo de regulamentação a cidade achar-se-ia
rapidamente destruturada e Salgueiro (1992) refere, igualmente, que os problemas
colocados pelo crescimento urbano e a multiplicação de iniciativas que visam o
possuam densidade populacional superior a 100 habitantes por Km2. ou um lugar com população residente superior ou igual a 2 000 habitantes; freguesias rurais: as restantes.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
216
território, tornam necessário regulamentar a construção, disciplinar a expansão e
repensar a localização das diversas actividades que partilham o espaço.
O tempo em que as noções de cidade e de campo se distinguiam sem equívocos e
se opunham já vai longe. A cidade escondia-se atrás de uma couraça protectora de
muralhas e a partir daí reinava o espaço rural (Beaujeu-Garnier, 1993). A cidade,
apesar de ser uma criação da sociedade rural, viria a ter um ascendente, quer pela
acumulação de riqueza e respectivo “prestígio” que lhe anda associado, quer pela
concentração de poder civil, militar, e religioso que desde logo aí se radicou. O
crescimento urbano surge-nos, assim, como um factor incontornável que se
manifesta de várias formas (Lopes, 1984):
• em termos internos ao próprio centro urbano;
• pelo desenvolvimento dos seus subúrbios;
• pela degradação das suas áreas internas e adjacentes.
A cidade surge-nos hoje como uma entidade complexa e dinâmica, ao ponto de
ser cada vez mais complicado estabelecer, com exactidão, os limites entre o
espaço urbano e o espaço rural tal é a interpenetração e a mutação constante nas
áreas periurbanas. Como afirmava Le Corbusier (1977), a cidade clássica
desaparece e a aldeia (organismo rural coerente) acusa os estigmas duma
decadência acelerada em resultado do brusco contacto com a grande cidade que a
desequilibra e a desertifica. A civilização do século XX fez explodir as cidades e,
consequentemente, estenderem-se desorganizadamente violando o espaço e a
organização social rural que se vê impotente face à necessidade crescente de
espaço urbano.
O meio rural e o meio urbano são, assim, conjuntos com espaços de interacção
cada vez mais fortes e onde se foram criando forças de carácter contraditório cuja
compreensão se mostra fundamental para a conservação e valorização destes dois
espaços. Assim se, por um lado, o espaço urbano progride à custa do rural, por
outro lado, o tecido urbano (enquanto veículo de penetração de factores de
adulteração da identidade rural) é indispensável para proporcionar ao meio rural
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
217
os serviços regionais ou mesmo locais especializados, transportar as inovações
externas e criar as condições para a inovação local. Daqui deriva a necessidade de
articulação destes dois territórios que, complementando-se, podem potenciar as
suas aptidões de modo, por um lado, a evitar uma evolução desvirtuante da vida
rural e, por outro lado, a não pôr em causa a dignificação da vida urbana. Por
outras palavras, o ordenamento e as políticas de desenvolvimento terão de ter um
carácter de discriminação positiva de forma a não se destruir a identidade destes
territórios e, assim, utilizar a especificidade como elemento do seu
desenvolvimento.
A integração dos territórios urbanos e rurais numa rede policêntrica deve ser, em
nosso entender, uma das prioridades da política de ordenamento do território, quer
a nível nacional, quer a nível municipal, impedindo a continuação da expansão
urbana desordenada e especulativa que se tem verificado no país. Uma política
eficaz de ordenamento do território deverá, portanto, abranger o “desenho” da
paisagem na qual se inclui a zonagem ecológica, o sistema hídrico, a
compartimentação cultural, as infra-estruturas viárias, os equipamentos e a
recuperação/transformação dos sistemas de utilização do espaço pelas actividades
(agrícola, florestal, lúdica e urbana) numa perspectiva de desenvolvimento social
e cultural das populações.
4.3. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NA UNIÃO EUROPEIA
4.3.1. Breves considerações
As políticas de ordenamento do território, iniciadas um pouco por toda a Europa
após a carta de Atenas nos anos trinta, tiveram até aos anos noventa uma
dimensão nacional, pelo que foram quase totalmente ignoradas aquando da
assinatura do Tratado de Roma243. Embora na década de 60 se esboce a primeira
estratégia comum de ordenamento do território dos Estados-membros, só em
1982, o Conselho da Europa adoptou a Carta Europeia do Ordenamento do
243 Assinado em 1957 pelos Chefes de Estado da Comunidade Económica Europeia
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
218
Território, no seguimento das Cartas Europeias do Património Cultural, do Solo e
da Água, definindo de forma inovadora os grandes objectivos que deveriam
orientar as políticas de ordenamento do território, de melhoria da qualidade de
vida e de organização das actividades humanas no continente europeu. Em
Novembro de 1989, na primeira reunião de Ministros responsáveis pela Política
Regional, realizada em Nantes, surge novamente na ordem do dia o debate sobre
os problemas do ordenamento do território, ainda que ligados à realização do
Mercado Único.
O alargamento das políticas regionais verificado nos anos 90, intimamente ligado
com a aceleração do processo de aprofundamento da integração europeia, e os
Fundos Estruturais (recentemente restruturados) têm como objectivo apoiar a
reestruturação do espaço europeu, apoiando prioritariamente as regiões mais
desfavorecidas. Assim, o ordenamento territorial na União ganha uma importância
nunca vista devido a factores de ordem política e económica, nomeadamente:
• a queda do muro de Berlim com a consequente reunificação da Alemanha;
• o desmoronamento da União Soviética e do bloco de leste;
• a globalização e mundialização das economias nacionais;
• o aprofundamento da integração europeia e crescente importância, quer das
entidades subnacionais (regionais e locais), quer das organizações comunitárias
(Parlamento Europeu, Comité das Regiões, etc.);
• o processo de alargamento da União ao Centro e Norte da Europa e a países
do Mediterrâneo;
• a manifesta incapacidade das medidas e políticas sectoriais, quer a nível
nacional, quer a nível da União, de conduzirem à eliminação/esbatimento das
assimetrias regionais;
• a deficiente e escassa articulação nacional das políticas de ordenamento do
território entre os Estados-membros (especialmente visível nas regiões de
fronteira).
Em Lieja (1993), numa iniciativa conjunta dos Estados-membros e da Comissão,
deu-se início à elaboração de um documento que servisse de guia para o
desenvolvimento da política territorial europeia. Assim, desde Lieja a Potsdam
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
219
(1999), as várias presidências rotativas da União Europeia têm colaborado na
elaboração da Estratégia Territorial Europeia – ETE - que estabelece como
objectivos prioritários: a coesão económica e social, o desenvolvimento
sustentável e a competitividade equilibrada do território europeu. Esta estratégia
é inovadora visto, por um lado, os objectivos se combinarem através de uma
abordagem territorial e, por outro lado se relacionarem de forma directa formando,
assim, três pares: coesão/equilíbrio, desenvolvimento sustentável/protecção e
competitividade territorial/desenvolvimento. Paralelamente, procedeu-se à
elaboração do Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário – EDEC -
com o objectivo de melhorar a implementação das políticas comunitárias e
aumentar a sua eficácia e relevância. Além disso, a ETE/EDEC poderá contribuir
para aumentar os níveis de cooperação entre os Estados-membros e entre estes e a
Comissão, bem como levar as autoridades responsáveis pelo ordenamento do
território a uma maior ponderação das questões de desenvolvimento territorial
europeu numa fase precoce.
A elaboração e implementação de uma política de ordenamento do território
europeu, contudo, enfrenta as mesmas dificuldades sentidas ao nível nacional, ou
seja, a dispersão das competências sectoriais e a multiplicidade de agentes que
actuam no território. A sobreposição de níveis administrativos e as dificuldades
levantadas pelos Estados-membros sempre que têm de ceder competências a favor
de políticas mais globais agravam as dificuldades sentidas no ordenamento do
território. Actualmente, a política de ordenamento do território nos países da
União, exceptuando alguns projectos pontuais, é realizada fundamentalmente
através das políticas sectoriais244 pelo que a necessidade de pensar o território em
termos supranacionais, isto é, em termos da União Europeia vem reforçar a
actualidade das orientações inscritas ETE/EDEC.
A dimensão europeia é, hoje em dia, frequente nas políticas espaciais na maioria
dos Estados-membros. Na realidade são cada vez mais frequentes, quer as
consultas entre os Estados sobre questões transnacionais, quer a troca regular de
244 A Política Agrícola Comum ou os intervenções em infra-estruturas financiadas pelo FEDER têm uma extraordinária incidência territorial.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
220
informação sobre planeamento do território num quadro multi lateral. Além das
orientações saídas das cimeiras internacionais, alguns Estados-membros têm
elaborado documentos245 nos quais são traçadas estratégias comuns para a sua
política nacional de ordenamento do território ou para problemas específicos de
planeamento246. Saliente-se ainda, neste âmbito, os programas e projectos ligados
ao desenvolvimento espacial coerente de regiões pertencentes a vários países que
encontraram em problemas idênticos uma plataforma para a colaboração247. Neste
contexto, é de salientar a iniciativa comunitária INTERREG II-C (cooperação
transnacional) que aborda, entre outros aspectos importantes do desenvolvimento
sustentável, a cooperação em matéria do ordenamento do território, a prevenção
da seca mediante a utilização racional dos recursos hídricos, a prevenção das
inundações e a gestão das bacias hidrográficas, bem como a utilização
sustentável dos recursos naturais (CE, 1998, p. 144).
Não obstante este esforço no sentido de dotar a União com uma política comum
de ordenamento do território os resultados alcançados estão longe do desejável.
Efectivamente, o alargamento das políticas regionais e dos Fundos Comunitários,
e em particular dos Fundos Estruturais, não conseguiram provocar as alterações
pretendidas no ordenamento económico e social do espaço europeu. Pelo
contrário, as tendências para o agravamento das, já de si profundas, assimetrias
regionais parecem acentuar-se. Assim, por exemplo, enquanto entre 1986 e 1996
o índice do PIB per capita248 no Luxemburgo passava de 137,3 para 168,5, em
Portugal os valores eram, respectivamente, 55,1 e 70,5 (CE, 1999a, pp. 234-240).
Num processo paralelo, a política de desenvolvimento regional e as políticas
orientadas para o fortalecimento do Mercado Único e para o reforço da coesão
económica e social, embora implementadas a ritmos diferentes e com impactos
diferenciados (por vezes, até contraditórios) no ordenamento do território, vão
245 Cite-se, por exemplo, a Quarta Nota do Governo Holandês, a Horizon 2108 da Dinamarca, o Raumordnungpolitshe Orientirungsrahmen alemão. 246 Por exemplo: o Segundo Esquema Estrutural do Benelux debruça-se sobre o desenvolvimento rural, os principais eixos de desenvolvimento e a política de localização; o Baltique 2010: visão prospectiva e estratégias deve servir de base para as iniciativas de desenvolvimento integrado nas fronteiras da Alemanha, Dinamarca e futuros membros nórdicos da União. 247 Cite-se, a título de exemplo, programa piloto ATLANTIS (regiões do eixo atlântico) ou o INTERREG (regiões de fronteira). 248 Este índice para os quinze países da União tem o valor 100 (EUR15=100).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
221
moldando a União Europeia. A situação é idêntica no que diz respeito aos
programas de apoio ao desenvolvimento transfronteiriço já que, ao ficarem aquém
das expectativas geradas, têm consequências ao nível da coesão económica e
social e da criação da Europa dos cidadãos.
4.3.2. Os sistemas de ordenamento do território na Europa
Os desenvolvimentos económicos resultantes, directamente ou indirectamente, do
Mercado Único traduzidos no acréscimo de concorrência para atrair os
investimentos internacionais e na maior mobilidade das empresas e do emprego, a
par da necessidade de, por um lado, criar emprego nas regiões deprimidas e
periféricas e, por outro lado, estreitar os laços comerciais e económicos com os
Estados exteriores à União, colocam novos desafios aos sistemas de planeamento
espacial europeu. As grandes redes transeuropeias (incluindo as de energia e
telecomunicações), o número crescente de problemas ambientais, a dimensão
internacional dos problemas demográficos, o rápido aumento do número de
imigrantes provenientes da Europa Central e de Leste e do Norte de África e dos
refugiados vindos de outras partes do mundo, bem como a polarização social
traduzida na distanciação cada vez maior entre bairros ricos e bairros pobres, estes
marcados por forte desemprego, criminalidade e miséria são, igualmente desafios
importantes à capacidade dos sistemas de planeamento físico, económico e social
do território. Neste contexto, realce-se ainda a importância do financiamento do
sector público dado o seu papel decisivo na aplicação dos planos.
Os sistemas de ordenamento do território dos vários Estados-membros, sendo
bastante diversificados, resultam da conjugação de vários factores, tais como a
história, a geografia e as tradições culturais, o estádio de desenvolvimento da
economia e do sistema urbano, a orientação política e ideológica dos Estados-
membros, o regime de direitos de propriedade e de utilização dos solos ou a
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
222
organização do Estado (CE, 1995, p. 141). Mas, vejamos as características
principais dos sistemas de ordenamento de alguns países que traduzem, de forma
exemplar, a diversidade de experiências neste domínio (ibid., pp. 147-160) :
• Bélgica - o sistema atravessa um período de transição: a região Flamenga tem
um sistema a três níveis (região, província e comuna) baseado em dois tipos
de planos (plano de estrutura249 e plano de aplicação); a região Valã tem um
sistema a dois níveis (regional e comunal) em que cada um deve elaborar o
plano estrutural para a região250 e o esquema de estrutura. As comunas
elaboram ainda planos de afectação251; a região de Bruxelas-capital tem um
sistema a dois níveis (regional e comunal com dois planos cada (plano de
desenvolvimento e plano de afectação). Os planos elaborados pelas comunas
são, posteriormente, aprovados pela região;
• Alemanha – o sistema, bem consolidado e combinando o federalismo com a
autonomia local, está organizado a três níveis: o Bund (Federação), os Länder
(Estados federados) e as Selbstverwaltungskörperschaften252 (autoridades
locais). O Ministério federal tem como função definir com os Länder um
documento geral de orientação e coordenar o planeamento especializado a
nível do Bund e as medidas de planeamento tomadas pelos Länder. Cada Land
elabora uma lei de planeamento (Landesplannungsgesetz) e adopta: um
programa de desenvolvimento (Landesentwicklungsprogramm), planos de
desenvolvimento (Landesentwicklungspläne) e planos regionais
(Regionalpläne). As cidades e comunas elaboram um plano indicativo de
utilização dos solos (Flächennutzungplan) e um plano coercivo de utilização
do espaço (Bebauungsplan). De referir que o controlo do planeamento e da
construção faz-se com a ajuda de um único instrumento, ou seja, a licença de
construção (Baugenehmigung);
• Grécia – o sistema de ordenamento do território é composto por: 1) uma lei
constitucional; 2) um conjunto de planos de desenvolvimento a nível nacional,
regional e de prefeitura (anartyxiaka programmata); 3) uma hierarquia de
249 Este plano forma o quadro director de conjunto. 250 Figura similar ao Plano Regional de Ordenamento do Território português. 251 Planos de sector e planos específicos de ordenamento. 252 Estas compreendem os Kreise (círculos), as Städte (cidades) e as Gemeinden (comunas).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
223
planos legalmente coercivos: terrenos dentro do plano (entos schediou),
sistema de planeamento local pormenorizado (poleodomiki meleti), plano de
conjunto para a cidade (geniko poleodomiki schedio), esquemas directores
estratégicos para Atenas e Tessalonica (rythmistiko schedio); 4) instrumentos
legislativos ou de acção nacionais que regem o desenvolvimento das zonas
não abrangidas pelos planos (ektos schediou); 5) regulamentos gerais de
construção (GOK) aplicáveis a todo o país;
• Espanha – a Constituição de 1978 transferiu os poderes e competências de
ordenamento para as diferentes instâncias regionais pelo que as 17
Comunidades Autónomas podem elaborar as suas próprias leis sobre o
ordenamento do território nos domínios que não são da competência do
Estado253. Posteriormente, uma lei de ordenamento do território (1992) viria a
incluir no seu clausulado todos os instrumentos de planeamento espacial
propostos pelas diferentes regiões (Comunidades Autónomas). Além desta lei,
existe uma quantidade de diplomas legislativos254 que, não visando
directamente o ordenamento, têm sobre este implicações. Daqui resulta um
leque complexo de instituições e instrumentos de planeamento e ordenamento
do território espanhol;
• França – a autoridade pública é composta por 4 escalões: 1) o governo
nacional que define as regras e toma as grandes decisões sobre o
ordenamento; 2) as regiões que participam na coordenação do
desenvolvimento económico; 3) os departamentos que fornecem uma
assistência técnica às pequenas comunas do mundo rural; 4) as comunas que
se responsabilizam pelas infra-estruturas locais, planeamento local e
determinação da validade das propostas de ordenamento. Embora só o Estado
tenha poder legislativo e nenhuma colectividade territorial possa tutelar outras,
a sobreposição das competências, em questões de ordenamento do território,
leva a fortes e complexas inter relações entre as autoridades de diferentes
níveis. Os principais elementos do sistema são o Código do Urbanismo
253 Ao Estado cabe a elaboração de um Pano Nacional que sirva de quadro aos objectivos e políticas de planeamento espacial. Além disso, o Governo central elaborou um Plano Director de infra-estruturas para o período de 1993-2007 que abrange todo o território espanhol. 254 Diplomas sobre as zonas costeiras, auto-estradas, recursos hídricos, protecção dos espaços naturais, da fauna e da flora selvagem.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
224
(âmbito nacional), os Esquemas Directores (Schéma Directeur) elaborados por
um conjunto de comunas e os Planos de ocupação dos solos – POS – cuja
responsabilidade é da comuna;
• Itália - o sistema de ordenamento, revisto em 1990, opera aos seguintes
níveis: 1) ao nível nacional elabora-se toda uma série de planos sectoriais nos
quais se inclui um plano geral dos transportes; 2) os planos regionais, ou seja,
os Piani Territoriali di Coordinamento fornecem orientações sobre a
utilização dos solos aos escalões inferiores da Administração Pública; 3) a
nível local, elaboram-se os esquemas directores (Piani Regolatori Locali) que
definem a utilização dos solos através de um processo de divisão do território
em zonas para cada comuna;
• Inglaterra - embora o Governo central conserve uma influência e um poder de
controlo consideráveis, o sistema de planeamento espacial britânico é
descentralizado cujos principais elementos são: 1) as orientações nacionais
emanadas pela Administração Central; 2) planos de desenvolvimento não
coercivos: os esquemas directores com orientações globais e os planos locais
com orientações específicas; 3) um sub sistema de emergência de planos
unitários de desenvolvimento nas zonas metropolitanas; 4) um sub sistema
rigoroso de controlo para a maior parte dos vários tipos de ordenamento e de
alteração na utilização dos solos255.
Os sistemas de ordenamento e as práticas de planeamento espacial confrontam-se
com a necessidade de se adaptarem constantemente à evolução dos sistemas
económico, social e territorial europeu, bem como ao processo de globalização e
internacionalização da economia. Esta transformação constante não impede,
contudo, que se desenhem algumas tendências, nomeadamente (ibid., 1995, pp.
144-145):
• surgimento de um planeamento espacial mais global e complexo que reflecte
o facto das preocupações do planeador do território serem cada vez mais
amplas, abarcando desde a sustentabilidade do desenvolvimento económico
aos problemas com os transportes, o turismo, a habitação, a gestão dos
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
225
resíduos urbanos e industriais, a qualidade da água e a protecção da natureza.
Da mesma forma, a avaliação (ex-ante e ex-post) das políticas sectoriais têm
um novo parâmetro: os impactos ao nível regional e territorial;
• consideração das forças de mercado traduz a sofisticação dos factores de
atracção do investimento estrangeiro e a flexibilização na escolha da
localização das empresas;
• simplificação dos processos de planeamento aliada a uma maior
descentralização das responsabilidades. Estas duas tendências,
aparentemente, contraditórias têm a ver com o prazo demasiado longo para a
tomada de decisão sobre a implementação de uma determinada infra-estrutura.
Assim, paralelamente à simplificação dos processos de tomada de decisão
eliminando circuitos e níveis de decisão, muitas das vezes sobrepostos, e
burocracias desnecessárias na Comissão Europeia e Administrações pública e
local é imperioso, apoiando-se no princípio da subsidiariedade, descentralizar
competências aproximando, assim, os decisores dos beneficiários das decisões
de ordenamento, ou seja, dos cidadãos;
• consenso crescente sobre o modo de actuação do planeamento espacial
perante os novos desafios. Os problemas ambientais e demográficos, os
impactos do Mercado Único e da mundialização da economia e as grandes
redes transeuropeias de transportes e comunicação levam os planeadores do
território e a classe política europeia e nacional, numa óptica de solidariedade,
a considerarem imprescindível:
• concentrar o crescimento nas zonas urbanas já existentes, regenerando as
cidades e promovendo a utilização dos locais subaproveitados;
• desenvolver uma política global de gestão do ambiente com o objectivo de
controlar a poluição na fonte, proteger e reforçar o ambiente natural;
• desenvolver uma acção global e multimodal no que diz respeito às
questões de mobilidade e aos transportes;
• utilização crescente de meios técnicos modernos e sofisticados como a
medida à distância e imagens por satélite.
255 A única excepção prende-se com as utilizações agrícolas e silvícolas.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
226
Apesar das tendências e dos esforços de harmonização dos vários sistemas de
planeamento do território, dos instrumentos, e mesmo, de conceitos, as soluções
preconizadas pelos países da União são diferentes. Assim, é possível distinguir
dois grupos de países, isto é, os seguidores de uma linha teórica idêntica à do
legislador francês (Portugal, Itália e Espanha) que privilegiam os aspectos
económicos do ordenamento do território e o grupo dos países com uma linha
diferenciada. Neste caso, citemos a Inglaterra que valoriza, de modo idêntico, as
componentes sociais, económicos e ambientais e a Alemanha que faz da gestão
equilibrada dos seus recursos naturais e da preservação do meio ambiente os
elementos centrais do planeamento físico do território.
4.3.3. O TERRITÓRIO DA UNIÃO EUROPEIA
4.3.3.1. Caracterização das grandes regiões
Em 1990, na reunião de Ministros de Turim, foi proposto um estudo prospectivo
sobre o território europeu que viria a ser apresentado, em Haia, sob o título
EUROPA 2000 - Perspectivas para o Desenvolvimento do Território da
Comunidade no qual se chama a atenção para o facto de o território europeu se
encontrar sujeito a um amplo leque de pressões directas e indirectas resultantes
de desenvolvimentos sócio-económicos, bem como de intervenções provenientes
de uma multiplicidade de autoridades nacionais e regionais responsáveis pelo
planeamento (C.E., 1992, p. 25). Em 1995, o relatório EUROPA 2000+ -
Cooperação para o Ordenamento do Território Europeu256 sugere a nova
organização do espaço europeu em 8 grupos territoriais (ver mapa 4.1) que
reflectem o desaparecimento das fronteiras internas da União e a criação do
Espaço Económico Europeu (CE, 1995, p. 171):
• as Regiões do Centro das Capitais que compreende o Sudeste da Inglaterra, a
metade sul dos Países Baixos, a Bélgica, o Norte e o Nordeste da França
256 Este Relatório analisa os factores mais importantes para a organização do território (povoamento e mobilidade da população, o investimento internacional, as redes transeuropeias de
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
227
(inclui a Bacia Parisiense), o Luxemburgo, o Centro-Oeste e o Sudoeste da
Alemanha;
• o Arco alpino, compreendendo o Centro-Este da França, o Norte da Itália, a
Suíça e a Áustria;
• a Diagonal continental, que agrupa o Centro e a parte central do Sudoeste da
França, a parte Central do Norte e o interior da Espanha;
• os cinco novos Länder alemães (o território da antiga RDA);
• a Região Mediterrânica, que se estende ao longo da costa da União desde a
Andaluzia (Espanha), até à Grécia e inclui o Este da Espanha, o sul da
França, a maior parte da Itália e toda a Grécia, bem como as ilhas
mediterrânicas da União;
• o Arco Atlântico, que se estende do Norte da Escócia até ao sul de Portugal
Continental e inclui a Irlanda, a parte ocidental do Reino Unido, o Oeste da
França, o Noroeste da Espanha e Portugal Continental;
• as regiões do Mar do Norte, formadas pelo este da Escócia, o Norte, o Centro
e Este da Inglaterra, o Norte dos Países Baixos, o Noroeste da Alemanha e
toda a Dinamarca;
• as regiões ultraperiféricas, que compreendem os departamentos ultramarinos
da França (Guadalupe, Guiana, Martinica, Reunião), as Canárias, os Açores
e a Madeira).
Embora Portugal continental seja incluído no arco atlântico, algumas das suas
regiões têm mantido uma cooperação com outras regiões transnacionais
europeias: as Regiões Centro e Alentejo aderiram à Conferência de Regiões da
Diagonal Continental Europeia (CORDIALE257) e a Região Norte está a
desenvolver um projecto conjunto sobre as regiões de montanha258.
telecomunicações, de transporte e de energia, a protecção dos espaços abertos e os recursos hídricos). 257 A Conferência de Regiões da Diagonal Continental Europeia - CORDIALE – é formada pelas regiões de Aragón, Midi-Pyrénes, Extremadura, Centro, Castilla y León, Alentejo e Limousin. Em 20 e 21 de Abril de 1999 teve lugar em Cáceres uma Assembleia Geral. 258 O projecto intitula-se Adaptation des montagnes du Sud-Oueste europeen a la construction europeenne et la mondialisation e são participantes além da CCR Norte, o Conseil Régional du Limousin (França), a Diputación General de Aragón (Espanha), a Université de Limoges (França) e o Centre d ’́Etudes et de Recherches Appliquées au Massif Central à la Moyenne Montagne et aux Espaces Ruraux Fragiles - CERAMAC - (França).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
228
Mapa 4.1 As grandes regiões do território comunitário
Fonte: COMISSÃO EUROPEIA (1992), EUROPA 2000 – PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TERRITÓRIO DA COMUNIDADE, Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, Bruxelas, Luxemburgo, p. 73
A abordagem adoptada tem como principal objectivo salientar a importância das
dinâmicas transnacionais que farão evoluir a configuração do território europeu
Estes territórios têm características sociais e económicas diversas que procuramos
sintetizar no quadro 4.5.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
229
Quadro 4.5 Principais indicadores das regiões interiores e marítimas da União em 1991
Regiões interiores Regiões marítimas EUR
12 1 2 3 4 5 6 7 8
Superfície (% EUR 12) 11,2 12,6 18,8 4,7 9,8 21,1 8,4 100 População (% EUR 12) 25,9 15,9 6,0 4,6 8,4 13,5 13,4 100 Densidade (hab./Km2) 337 184 47 242 126 94 232 153 PIB/hab. (EUR12=100) 116 122 87 33 62 80 99 100 Tx. desemprego (% 1991-2-3)
7,6 4,6 10,1 14,1 18,9 10,0 8,6 9,4
Repartição do emprego (%): • agricultura • indústria • serviços
2,7
32,4 64,7
5,6
39,2 55,2
10,1 30,1 59,8
8,9
44,7 46,4
15,9 21,9 62,2
16,0 30,4 53,6
4,6
29,7 65,7
6,4
33,2 60,4
Elegibilidade aos Fundos Estruturais (% da população) • Objectivo 1
21,4 2,4
23,7
-
62,7 26,2
100,0 100,0
100,0 100,0
72,3 41,4
35,6 3,6
51,6 26,6
Legenda: 1 - Centro das Capitais 5 - Mediterrâneo Central 2 - Arco Alpino (exceptuando a Suíça e
a Áustria) 6 - arco Atlântico
3 - Diagonal Continental 7 - Mar do Norte 4 - Novos Länder
Fonte: COMISSÃO EUROPEIA (1995), EUROPA 2000+ Cooperação para o Ordenamento do Território Europeu, Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, Bruxelas, Luxemburgo, p. 173
A Europa em que vivemos e se desenha para o futuro (mapa 4.2) apresenta três
níveis de desenvolvimento diferentes (Reigado, 1999, pp. 157-160):
• o eixo do Reno, estruturado em forma de “banana”, com forte concentração da
oferta de potencial científico e tecnológico, de infra-estruturas e equipamentos
e de centros urbanos de grandes dimensões. Este eixo, embora apresente alguns
desequilíbrios em termos de crescimento, tem um dinamismo económico
elevado e a mais intensa e melhor estruturada rede de transportes e
comunicações, apesar de evidenciar alguns sinais de saturação e de pré-ruptura;
• o arco atlântico encontra-se numa situação intermédia em termos de dotação
de equipamentos e infra-estruturas, oferta de potencial científico e tecnológico
e densidade populacional. Além disso, o sistema urbano é desequilibrado com
uma situação e evolução demográfica contrastante visto alternar sub regiões
densamente povoadas com certas zonas rurais pouco povoadas. A perificidade
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
230
do arco atlântico é, ainda, evidenciada pela ligação muito deficiente às grandes
redes de transporte259;
• o eixo mediterrânico e diagonal continental que, tendo condições geofísicas
diferentes, se caracterizam pela fraca dotação de equipamentos e infra-
estruturas, reduzida dinâmica económico-social aliada a uma baixa densidade
populacional e reduzido potencial científico e tecnológico. Em relação à
diagonal continental é possível distinguir três tipos de zonas (CE, 1995, p.
190): 1) zonas extremamente urbanizadas ou influenciadas pelas dinâmicas
metropolitanas (Tipo A) que compreendem os aglomerados de Madrid e
Toulouse, a província de Guadalajara (Espanha) e os departamentos Eure-et-
Loire e do Loiret (próximos de Paris); 2) as zonas rurais que dispõem de uma
estrutura urbana ou que estão profundamente integradas nas redes das
cidades médias (Tipo B) ... Saragoça, Valladolid, Pampelona, Tours, Dijon e
Limoges; 3) as zonas rurais frágeis e debilmente estruturadas por duma rede
de centros urbanos (Tipo C) com progressivo despovoamento.
Embora, o relatório Europa 2000+ não apresente os mecanismos de articulação
entre as várias regiões ou iniciativas chama, no entanto, a atenção para a
necessidade de implementar políticas transnacionais como meio de reforçar os
vínculos entre as regiões e as novas formas de conceber as perspectivas territoriais
que transcendem as fronteiras nacionais.
259 As regiões francesas são uma excepção.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
231
Mapa 4.2
Fonte: Reigado, F. M., (1999), Desenvolvimento e planeamento regional: abordagem sistémica, (no prelo), p. 157
4.3.3.2. O Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário
Na última década, a União Europeia tem feito progressos assinaláveis nos
domínios do ordenamento do território e do desenvolvimento regional. O Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional deixou de ser o “caixa” passivo, de março
de 1975, que pagava segundo a procura e em proporção das quotas nacionais
definidas pelos Estados-membros para se passar a uma programação que leve em
consideração: 1) a avaliação do progresso em conformidade com o plano
aprovado e dos resultados físicos; 2) a avaliação aprecia o impacto final do
programa em termos económicos e sociais e, cada vez mais, considera a eficácia
do sistema de gestão; 3) o controlo financeira avalia o respeito das regras de
dispêndio dos fundos (CE, 1999, p. 139). Em termos de concepção de
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
232
desenvolvimento também se verifica uma evolução. Assim, enquanto no 5º
Relatório sobre o estado das regiões, a União sublinha a importância decisiva, no
desenvolvimento regional, dos recursos humanos e dos equipamentos de
transporte, já no 6º Relatório se chama a atenção para o facto do crescimento
económico não depender somente dos factores tangíveis (investimento público em
infra-estruturas e equipamento, investimento empresarial), mas também de
factores mais intangíveis e, sobretudo, da estrutura institucional. Os factores como
o capital social, a eficiência e eficácia da Administração Pública são, cada vez
mais, reconhecidos como elementos fundamentais do desenvolvimento regional.
A União estabeleceu, por iniciativa própria, vários programas, patrocinou a
elaboração de estudos prospectivos sobre o território europeu, entre os quais
salientamos os relatórios Europa 2000 e Europa 2000+”, as acções TERRA260, as
Acções-piloto de ordenamento do território261 o Esquema de Desenvolvimento
do Espaço Comunitário – EDEC - e a Estratégia Territorial Europeia - ETE.
Assumindo a elevação dos níveis de bem-estar das populações apoiado no
desenvolvimento económico sustentável e equilibrado, como objectivo último da
União Europeia, ao território são colocados novos desafios, pelo que este deverá
ser mais competitivo, viável e mais solidário, isto é, organizado de forma mais
equitativa e no respeito pela coesão económica e social. Neste contexto, e segundo
a Comissão Europeia (1995, pp. 16-47), as iniciativas de ordenamento do
território devem:
1. oferecer alternativas aos eixos mais sobrecarregados (das redes
transeuropeias de telecomunicações, de transporte e de energia,) que visem
servir as zonas desfavorecidas;
260 O convite à apresentação de propostas foi em 1996. Com uma dotação global de 20 milhões de ecus, a Comissão seleccionou 15 projectos-piloto a decorrer durante três anos: 5 projectos relativos a bacias fluviais, 5 a zonas costeiras, 3 a património cultural ameaçado, 2 a zonas rurais de acesso difícil e 1 a zonas com problemas de erosão. A assistência técnica do programa será iniciada em 1998 (CE, 9º Relatório Anual dos Fundos Comunitários – 1997, p. 48). 261 São quatro as acções-piloto a executar: periferia Norte (DK, FIN, S, N), Espaço alpino/Alpes orientais (A, I, D), “Archi-med” Mediterrâneo do sudeste (GR, I, Malta, Chipre) e “Porta do Mediterrâneo” (E, P, Marrocos). Cada acção-piloto tem uma dotação de 20 milhões de ecus (ibid. p.48) .
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
233
2. privilegiar o desenvolvimento das cidades de dimensão intermédia e as redes
de cidades pequenas e médias como centro de organização e de irrigação das
regiões;
3. incluir a conservação do ambiente e da biodiversidade, bem como a luta
contra a sua deterioração;
4. contribuir para a integração e harmonização dos territórios europeus (com
particular destaque para as regiões periféricas);
5. contribuir para o reequilíbrio da estrutura urbana, a preservação dos espaços
rurais periurbanos (regiões do Centro das Capitais e do Mar do Norte) e a
revitalização das cidades rurais (diagonal continental e zonas interiores das
orlas atlânticas e mediterrânicas da União);
6. zelar pela coerência entre a repartição espacial dos empregos e da população
activa.
No seguimento do relatório Europa 2000+, o Comité de Desenvolvimento
Espacial iniciou em Lieja (1993), como já foi referido, a preparação do Esquema
de Desenvolvimento do Espaço Comunitário e a Estratégia Territorial Europeia
com o objectivo de construir um quadro global de referência com características
prospectivas que possibilite a preparação das políticas de desenvolvimento e
ordenamento do território europeu aos vários níveis de intervenção (comunitário,
transnacional e nacional) num contexto, por um lado, de aumento das disparidades
de desenvolvimento entre as regiões europeias porventura agravadas com o
desenvolvimento das redes transeuropeias e, por outro lado, de globalização da
economia e evolução das tecnologias de informação. A ETE/EDEC, cuja primeira
versão oficial foi apresentada em Noordwjik (1997) e a versão final em Potsdam
(1999), aborda as três componentes do território europeu, ou seja, a análise dos
componentes do território europeu de acordo com sete critérios de diferenciação
espacial - situação geográfica, riqueza económica, integração social, integração
territorial, pressão do uso do solo, recursos naturais e património -, um estudo
estratégico sobre a cooperação campo-cidade na Europa e a cartografia das opções
transnacionais.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
234
O estudo estratégico sobre a cooperação campo-cidade na Europa que consistindo,
basicamente, na compilação das várias fontes de informação, se centra em quatro
aspectos fundamentais:
• as principais tendências que configuram o território europeu;
• as funções territoriais e o potencial económico do sistema urbano europeu
(tipologia das cidades);
• a selecção de assuntos de interesse para a cooperação no desenvolvimento
rural e urbano;
• os possíveis campos de intervenção política e de cooperação campo-cidade.
O terceiro estudo, isto é, a representação cartográfica das opções técnicas
alternativas tem um carácter experimental e debruça-se fundamentalmente sobre a
diversidade, a complementaridade e cooperação no sistema urbano, as relações
campo-cidade, a acessibilidade, infra-estruturas e transportes, os recursos naturais
e gestão da água.
Os estudos efectuados e apresentados em Noordwjik (1997) permitiram concluir
que o modelo geográfico das actividades e de uso do solo em cada Estado-
Membro é cada vez mais influenciado por processos externos, resultantes de
forças económicas, sociais, físicas e outras, ou do impacte das políticas
comunitárias. Por outro lado, os Estados-membros e as regiões, ao organizarem o
seu território de acordo com as suas directrizes políticas terão de identificar,
compreender e ponderar os processos e questões de carácter territorial que
ultrapassam as fronteiras nacionais e, por isso, possuem ou adquirem dimensão
europeia. De referir, ainda, que as questões territoriais europeias são sobretudo,
mas não exclusivamente, aquelas que ocorrem a nível continental e transnacional
visto nelas se integrarem também os problemas que se manifestam a nível
regional ou local.
A compreensão das principais questões territoriais da Europa passa, por um lado,
pela compreensão de que as políticas comunitárias não têm um efeito neutro sobre
o desenvolvimento territorial da União Europeia e, por outro lado, pelo
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
235
conhecimento de algumas especificidades e tendências das quais destacamos (CE,
1997, pp. 12-16):
• demográficas: taxa relativamente baixa de crescimento demográfico, aumento
da idade média da população, importância crescente da migração tanto no
crescimento demográfico como na distribuição da população;
• económicas: distribuição irregular das grandes, média e pequenas empresas,
internacionalização do comércio dentro da Europa, impacto da União
Económica e Monetária e do aprofundamento do processo de liberalização
económica, impacto das novas tecnologias da comunicação;
• ambientais: redução e gestão dos resíduos, alteração do clima, perda de
biodiversidade, elevada acidificação dos solos e intensiva utilização de
pesticidas.
Ao nível do território há também algumas tendências a consideração (ibid., pp. 17- 44): • alteração nas estruturas urbanas: formação de redes e agrupamentos de
cidades, alteração do potencial económico das cidades, continuação do
processo de expansão urbana, crescente segregação social nas cidades,
melhoria insuficiente da qualidade do ambiente urbano;
• alteração do papel e da função das áreas rurais motivada pela crescente
interdependência com as áreas urbanas;
• alterações na agricultura, base económica das áreas rurais: intensificação,
diversificação e marginalização;
• alterações nos transportes, comunicações e acesso ao conhecimento:
persistência de situações de incoerência a nível transfronteiriço, aumento dos
fluxos de transportes, aumento do congestionamento e dos pontos de
estrangulamento de tráfego, repartição desigual da acessibilidade no território
europeu, tendências para a concentração e afirmação de corredores de
desenvolvimento, assimetrias na difusão da inovação e do conhecimento;
• pressão permanente sobre o património natural e cultural da Europa: perda
de biodiversidade e áreas naturais, utilização insuficiente e poluição da água,
pressão permanente sobre paisagens culturais, pressões crescentes sobre o
património cultural.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
236
Este quadro realça a necessidade de um processo de tomada de decisões
coordenado não só a nível horizontal (entre sectores ao mesmo nível geográfico),
mas também verticalmente (entre níveis administrativos). O EDEC/ETE reflecte
três grandes objectivos para o território europeu: a) um sistema mais equilibrado e
policêntrico de cidades e uma nova relação campo-cidade; b) igualdade de
acesso às infra-estruturas e ao conhecimento; c) a gestão e desenvolvimento
prudentes do património natural e cultural (CE, 1997, pp. 62-83).
O equilíbrio do sistema urbano implica o aumento da complementaridade entre as
cidades tendo em vista a obtenção de benefícios da concorrência económica entre
elas superando, simultaneamente, as suas desvantagens. As vias para se atingir
esta situação vai desde a cooperação efectiva entre cidades, assentes em interesses
comuns e nos contributos de todas as partes envolvidas até à formação de redes de
cidades geograficamente próximas. Estas redes de cidades é podem desempenhar
vários papeis, isto é, podem contribuir para a distribuição de funções entre as
cidades de média dimensão e as grandes metrópoles, evitar uma polarização
excessiva em torno de determinada área metropolitana ou o declínio de
metrópoles em situação difícil, procurar complementaridades entre as cidades do
litoral congestionadas e as cidades do interior em declínio. A criação de redes
entre as pequenas cidades situadas em regiões de baixa densidade populacional e
economicamente débeis é também importante visto que a utilização em comum
dos recursos pode proporcionar a cada cidade participante os meios de que, só por
si, não poderia dispor.
A expansão das cidade e a difusão de um estilo de vida urbano deram origem a
zonas “híbridas”, isto é, zonas em que não se distingue de forma clara e objectiva
o espaço urbano do rural. A revitalização económica de muitas zonas rurais, em
especial nas regiões mais remotas, dependerá cada vez mais da regeneração da
economia das cidades e não da preservação de um sector agrícola em declínio. Em
várias zonas rurais assiste-se à diversificação da sua base económica, numa
perspectiva de complementaridade e o desenvolvimento sustentável, equilibrando
as funções estruturalmente determinantes (centradas na integração de actividades
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
237
alternativas tais como o turismo e o lazer), mas não permitindo, todavia, que elas
se tornem predominantes em excesso.
Como já foi referido, a circulação de pessoas, mercadorias e informação através
da Europa é marcada por uma tendência para a concentração e a polarização que a
liberalização dos mercados dos transportes e das telecomunicações acentuam.
Além disso, numa economia mais incorpórea em consequência da sociedade da
informação, a concorrência entre as regiões (na Europa e no mundo) baseia-se
cada vez mais na capacidade de inovação e no conhecimento, isto é, no nível geral
de instrução e qualificações da população activa, pelo que se impõe uma
combinação de melhores acessos às regiões e uma utilização mais eficiente e
sustentável das infra-estruturas, conjugada com uma ampla difusão do saber e da
capacidade de inovação. A melhor acessibilidade, apesar de se tratar de uma
questão à escala da Comunidade, não depende somente da conclusão das
principais redes transeuropeias, mas também de medidas complementares de
desenvolvimento territorial para desenvolver ligações secundárias e fornecer um
serviço universal no sector das telecomunicações (CE, 1997, p. 71). O acesso ao
saber é, sem dúvida, importante para a competitividade europeia pelo que as
regiões, e em particular as mais desfavorecidas, devem ser capazes de enfrentar o
desafio da sociedade da informação, quer aumentando a sua capacidade de
inovação, quer participando activamente nas novas oportunidades económicas. Ao
governo, por seu lado, cabe promover a incorporação do ensino superior e a
investigação no tecido económico e criar as condições para o aumento do nível
geral de instrução e qualificação da população.
O terceiro objectivo tem a ver com a enorme riqueza natural da Europa, de grande
diversidade, mas que em muitos lugares se encontra ameaçada pela actividade
humana. O património cultural, enquanto expressão de identidade, transforma-se
num bem mundial caracterizado por uma grande riqueza e diversidade. Ora este
património, que se divide em áreas protegidas, áreas sensíveis mas não protegidas
e paisagens rurais de carácter cultural, exige a adopção de medidas específicas que
se adaptem às condições e características regionais. O ordenamento do território
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
238
tem potencialidades para desempenhar um papel relevante, por um lado, no
controlo dos riscos susceptíveis de surgirem devido à actividade humana ou da
própria natureza e, por outro lado, na protecção das populações e dos recursos.
A água será um dos grandes motores do desenvolvimento no próximo século, pelo
que as políticas de gestão e da qualidade dos recursos hídricos deverão ser
integradas com o ordenamento do território. As estratégias de ordenamento do
território tendentes a apoiar as políticas de gestão da quantidade e qualidade da
água têm uma importância primordial nas zonas transfronteiriças e transnacionais,
uma vez que as bacias hidrográficas e os lençóis freáticos constituem recursos
comuns.
A diversidade das paisagens culturais europeias constitui, simultaneamente, um
registo histórico e uma expressão da interacção humana com a natureza. Os
esforços despendidos para conservar as paisagens regionais deve ser visto como
estímulo ao desenvolvimento económico já que constituem uma atracção turística
e contribuem para a captação de investimento. Este património exige uma gestão
cuidadosa e diversificada que vai desde a protecção dos locais de interesse
especial até à recuperação das paisagens afectadas pelo desleixo. De referir que,
com alguma frequência, os esforços para preservar o cultivo extensivo dos
terrenos agrícolas se afigura como a melhor medida para impedir que as terras
fiquem ao abandono. Esta situação é particularmente evidente nas zonas
ecológicas sensíveis, como por exemplo, nas montanhas e zonas costeiras. O
património urbano europeu não consiste apenas nos imóveis, pelo contrário, as
suas cidades são lugares de vida social intensa e de realização de acontecimentos
culturais. Contudo, muitas cidades europeias estão expostas a graves pressões de
comercialismo e da uniformidade cultural que eliminam a individualidade e a
identidade de cada cidade e levam, frequentemente, à desagregação da estrutura e
da vida social das cidades, pelo que é necessário e urgente encontrar uma resposta
adequada através de estratégias de desenvolvimento que incluam, em especial, o
ordenamento físico e uma política para o uso do solo.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
239
As políticas sectoriais têm, naturalmente, uma abordagem territorial e a sua
aplicação coordenada, horizontal e verticalmente, trará mais valias ao
desenvolvimento do território europeu. De referir ainda que as opções políticas
diferem consoante a escala e o âmbito da sua aplicação que, num contexto
europeu, terá três níveis:
• o nível europeu que permite a coordenação entre as políticas agrícolas,
sociais, regionais, do ambiente e dos transportes, ou seja aquelas que são
mais relevantes para o desenvolvimento territorial;
• o nível transnacional é considerado “pivot” para uma integração completa
das opções de política territorial visto ser a este nível que se podem formular
estratégias territoriais claras. Em termos de estratégias transnacionais, estas
poderiam desempenhar um papel positivo como directrizes para a
diferenciação das políticas sectoriais comunitárias nas diferentes regiões da
União e para a coordenação entre essas políticas comunitárias e as
correspondentes políticas nacionais. Aliás, o princípio da abordagem
integrada já está a ser aplicado no programa INTRREG II-C, em sete
grandes áreas de cooperação transnacional, no Mar Báltico (VASAB 2010,
Conferência de Visby, Declaração de Estocolmo ...) e as quatro acções-piloto
nos termos do artº 10 do FEDER (ibid., p. 88);
• nível regional/local. A sua importância advém do facto de as comunidades e
administrações aos níveis regional e local estarem entre os actores essenciais
no domínio do ordenamento do território europeu. Estes actores além das
iniciativas que promovem e pelas quais se responsabilizam são, muitas das
vezes, imprescindíveis para a implementação de políticas transnacionais já
que estas necessitam da complementaridade propiciada pelas políticas ao
nível regional e local.
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240
4.4. RESUMO E CONCLUSÕES
O problema do desenvolvimento regional sustentável que temos vindo a estudar
está intimamente ligado às questões do território enquanto elemento que suporta
toda a actividade humana, quer fornecendo os recursos, quer como local onde se
desenrola essa actividade. Ressalve-se, no entanto, que o território ao contrário do
que possa parecer tem vindo a assumir um papel activo com capacidade de
influenciar o desenvolvimento sócio-económico. As relações que se estabelecem
entre os recursos e as necessidades, sendo dialécticas e dinâmicas, não se podem
desligar do território pelo que este é, cada vez mais, um elemento estratégico do
desenvolvimento sustentável. A crescente concentração da população e das
actividades produtivas nas grandes cidades com os consequentes problemas de
poluição, sobrecarga dos equipamentos e de infra-estruturas e o agravamento dos
problemas sociais (a exclusão social é, porventura, um dos mais visíveis e graves)
a par da desertificação de vastas áreas do território colocam as questões do
ordenamento do território na ordem do dia. Mas, o que é o ordenamento do
território, quais os seus objectivos e instrumentos?
A resposta à primeira questão podemos encontrá-la nas várias definições deste
conceito. Assim, para Merlin e Choay (1988), ordenamento do território é uma
acção voluntária impulsionada pelos poderes públicos, que pressupõe um
planeamento físico e uma mobilização de actores (população, empresas, eleitos
locais, administrações) e que pode ser concebido a escalas muito diversas: do
território de um país à de uma cidade (cit. Antunes, 1998, p. 15). Reigado define-
o como uma disciplina científica, uma técnica administrativa e uma política
concebida como uma enfoque interdisciplinar e global, cujo objectivo é o
desenvolvimento equilibrado das regiões e a organização física do espaço
segundo um conceito que o rege (op. cit., 1999, p.171).
A segunda questão, ou seja, para que serve o ordenamento do território tem uma
resposta clara na actual Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e
de Urbanismo (artº 6º) que podemos sintetizar em quatro grandes objectivos: 1)
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241
desenvolvimento sócio-económico equilibrado das regiões, quer a nível nacional,
quer ao nível supranacional (leia-se europeu); 2) melhoria da qualidade de vida
das populações; 3) gestão responsável dos recursos naturais aliada à protecção do
meio ambiente; 4) utilização racional do território. Já em relação aos
instrumentos, a Lei de Bases prevê o Programa nacional, os Planos Regionais, os
Planos Intermunicipais (facultativos), os Planos Municipais, os Planos especiais e
os Planos sectoriais com incidência espacial262. O sistema de ordenamento do
território adoptado em Portugal (como veremos no capítulo seguinte) diferencia-
se dos existentes nos restantes Estados-membros da União Europeia apesar de,
nos últimos anos, se terem feito alguns progressos no que diz respeito à
harmonização, quer das políticas, quer dos sistemas e instrumentos.
A crescente integração da economia europeia exige que o território seja
percepcionado em termos supranacionais, isto é, em termos da União. No relatório
Europa 2000, apresentado pela Comissão Europeia (1992), o território continental
português263 é incluído na região Arco Atlântico que apresenta níveis médios de
desenvolvimento. Apesar disso, as Regiões Centro e Alentejo aderiram à
Conferência de Regiões da Diagonal Continental Europeia (CORDIALE264) e a
Região Norte está a desenvolver um projecto conjunto sobre as regiões de
montanha. No seguimento deste trabalho, em 1995, surge um novo relatório
Europa 2000+ a chamar a atenção para a necessidade de implementar políticas
transnacionais como meio de reforçar os vínculos entre as regiões e as novas
formas de conceber as perspectivas territoriais que transcendem as fronteiras
nacionais. Além destes relatórios, a União Europeia iniciou as acções TERRA265e
262 Por exemplo, citemos os planos de desenvolvimento da agricultura, os planos de bacia hidrográfica e os planos municipais de intervenção florestal. 263 Os Açores e a Madeira são consideradas regiões europeias ultraperiféricas. 264 A Conferência de Regiões da Diagonal Continental Europeia - CORDIALE – é formada pelas regiões de Aragón, Midi-Pyrénées, Extremadura, Centro, Castilla y León, Alentejo e Limousin. Em 20 e 21 de Abril de 1999 teve lugar em Cáceres uma Assembleia Geral. 265 O convite à apresentação de propostas foi em 1996. Com uma dotação global de 20 milhões de ecus, a Comissão seleccionou 15 projectos-piloto a decorrer durante três anos: 5 projectos relativos a bacias fluviais, 5 a zonas costeiras, 3 a património cultural ameaçado, 2 a zonas rurais de acesso difícil e 1 a zonas com problemas de erosão. A assistência técnica do programa será iniciada em 1998 (CE, 9º Relatório Anual dos Fundos Comunitários – 1997, p. 48).
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242
as Acções-piloto de ordenamento do território266 e elaborou o Esquema de
Desenvolvimento do Espaço Comunitário e a Estratégia Territorial Europeia
com o objectivo de construir um quadro global de referência com características
prospectivas que possibilite a preparação das políticas de desenvolvimento e
ordenamento do território europeu aos vários níveis de intervenção (comunitário,
transnacional e nacional) num contexto, por um lado, de aumento das disparidades
de desenvolvimento entre as regiões europeias porventura agravadas com o
desenvolvimento das redes transeuropeias e, por outro lado, de globalização da
economia e evolução das tecnologias de informação. A ETE/EDEC, cuja
preparação foi iniciada em Lieja (1993) e aprovada em Potsdam (1999), reflecte
três grandes objectivos para o território europeu: a) um sistema mais equilibrado e
policêntrico de cidades e uma nova relação campo-cidade; b) igualdade de
acesso às infra-estruturas e ao conhecimento; c) a gestão e desenvolvimento
prudentes do património natural e cultural (CE, 1997, pp. 62-83).
Portugal, enquanto Estado-Membro da União Europeia, participou na elaboração
desta estratégia e, obviamente, irá implementá-la. A integração do território
português na ETE/EDEC será objecto de análise no próximo capítulo dedicado ao
ordenamento do território português.
266 São quatro as acções-piloto a executar: periferia Norte (DK, FIN, S, N), Espaço alpino/Alpes orientais (A, I, D), “Archi-med” Mediterrâneo do sudeste (GR, I, Malta, Chipre) e “Porta do Mediterrâneo” (E, P, Marrocos). Cada acção-piloto tem uma dotação de 20 milhões de ecus (ibid. p.48) .
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5. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NACIONAL
5.1. INTRODUÇÃO As questões do ordenamento do território foram durante décadas negligenciadas
pela Administração Central gerando-se, em consequência, um território
deficientemente estruturado com graves assimetrias entre o litoral e o interior,
quer ao nível da actividade económica, quer ao nível da dotação de infra-
estruturas e equipamento colectivo. O poder local, durante décadas submetido a
uma centralização muito forte, só com a revolução do 25 de Abril readquiriu
alguma autonomia e responsabilidades, entre as quais destacamos, as
competências no âmbito do ordenamento municipal que, contudo, passariam para
um segundo plano (à semelhança do que se passava a nível nacional) recriando-se,
assim, o quadro nacional à escala municipal.
O ordenamento do território exige o manuseamento de grande quantidade de
informação diversificada, mas com uma característica comum (a
georeferenciação) o que contribuiu para o desenvolvimento dos Sistemas de
Informação Geográfica. No caso português, a experiência na criação e
desenvolvimento do Serviço Nacional de Informação Geográfica (SNIG) é, em
muitos aspectos, inovadora. A curta história deste Serviço vai desde os anos
setenta, altura em que se iniciou o projecto da Base de Dados do pólo de
desenvolvimento de Sines, até ao lançamento do SNIG na Internet em 1995 e à
criação recente (Junho de 1999) de uma interface específica para o cidadão (o
GEOCID) poder aceder à informação geográfica digitalizada sem que o mesmo
tenha de recorrer a sofisticados e caros produtos informáticos. Paralelamente, à
implementação do SNIG, procedeu-se à criação da Base de Dados de
Ordenamento do Território com o objectivo de recolha e tratamento da
informação necessária à elaboração e monitorização dos planos de ordenamento
do território.
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244
Os planos de ordenamento do território, enquanto instrumentos privilegiados da
política de gestão do território, têm uma forte componente ambiental. Aliás, a
protecção e gestão do ambiente estão ligados ao planeamento do território e à
sustentabilidade do desenvolvimento sócio-económico formando um trinómio.
O planeamento ambiental foi sendo construído e evoluiu desde uma fase
caracterizada por um optimismo exagerado quanto ao crescimento ilimitado das
economias até à fase actual em que o princípio activo passou a ser o da
preservação e não o princípio intermédio do poluidor-pagador. Em relação aos
instrumentos de planeamento ambiental, Fraga (1995, p. 231 e segs.) divide-os em
três grupos: planos que possuem um conteúdo protector do ambiente, planos
especificamente ambientais e medidas que se efectivam através dos planos de
ordenamento do território. Já em relação ao ordenamento do território, a Lei de
Bases prevê três níveis geográficos a que correspondem dois níveis
administrativos. Os instrumentos, leia-se planos de ordenamento, classificam-se
conforme a sua abrangência territorial ou administrativa em regionais,
intermunicipais, municipais, especiais e sectoriais de incidência territorial.
A problemática do ambiente/desenvolvimento/ordenamento é interessante e
complexa pelo que iremos abordá-la numa perspectiva teórica e prática. Assim, o
presente capítulo estrutura-se em três partes sendo a primeira dedicada à
informação - sistemas de informação geográfica e base de dados do ordenamento
do território -, enquanto suporte do planeamento territorial. Na segunda parte,
trataremos de um componente essencial do desenvolvimento sustentável - o
ambiente - que além dos seus instrumentos específicos se realiza através dos
planos de ordenamento. Por último, a nossa atenção centra-se nos vários
instrumentos de ordenamento do território – programa e planos regionais,
especiais e municipais – visando o estudo dos conteúdos programáticos e o grau
de cobertura do território continental. Após o balanço sobre o estado do
ordenamento do território, encerramos o capítulo tecendo algumas considerações
sobre os planos de ordenamento no limiar do terceiro milénio.
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245
5.2. A INFORMAÇÃO NA ELABORAÇÃO DOS PLANOS DE ORDENAMENTO
5.2.1. Introdução aos sistemas de informação geográfica
Actualmente, e em diversos domínios, é possível constatar algum desajustamento
entre as potencialidades postas à nossa disposição pelas tecnologias de informação
e comunicação e os sistemas de informação existentes, que suportam processos
decisionais na Administração Pública, entre os quais o de ordenamento do
território. Informação completa e consistente aos níveis nacional, regional e
municipal/local sobre as dinâmicas da alteração dos padrões de uso do solo e, em
alguns casos, dos processos de planeamento do uso do solo, é bastante difícil de
obter. Esta situação advém, segundo Alves (1997), da conjugação de factores
decorrentes da relevância atribuída ao ordenamento do território no quadro das
políticas públicas, da própria natureza do ordenamento do território, do quadro
institucional, normativo e regulamentar vigente, da organização do sistema
estatístico e das limitações de carácter tecnológico.
Durante várias décadas, as questões do ordenamento do território tiveram um
papel secundário no quadro das políticas públicas e só com o X Governo
Constitucional é que estas questões ganharam um espaço de intervenção mais
amplo no conjunto das políticas com a criação do MPAT267. As sucessivas
alterações da orgânica dos Ministérios e dos respectivos serviços competentes, a
par da dispersão do quadro de atribuições e competências por diversas instituições
conduziu à ausência de um centro de racionalidade comum e de um observatório
de acompanhamento no âmbito da política de ordenamento do território. Além
disso, o quadro normativo tem sido pouco claro e exigente quanto ao nível e ao
conteúdo da informação técnica a oferecer nos instrumentos de planeamento e na
instrução dos processos de pedido de licenciamento de alteração do uso dos solos,
bem como do processo inter-institucional.
267 MPAT – Ministério do Planeamento e Administração do Território
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246
Ao contrário de outros tipos de dados, habitualmente tratados pelos sistemas de
informação, a informação sobre ordenamento do território é georeferenciada, isto
é, inclui indicações acerca da posição, possíveis ligações topológicas e
características das entidades (espaços delimitados e definidos geograficamente)
que representam (Burrough, 1986). Assim, esta informação, para além de estar
relacionada com localizações específicas, é também composta por espaços
geográficos e dados alfanuméricos, textos e atributos268 que os caracterizam.
A origem dos Sistemas de Informação Geográfica está ligada, pelo menos em
parte, a tarefas relacionadas com o ordenamento do território. A necessidade de
fazer o inventário de terras canadianas, de um modo fácil e rápido, levou à
utilização de tecnologia informática e ao consequente desenvolvimento do
Canadian Geographical Information System (1964). McHairg (1969) e o
Laboratório de Cartografia de Harvard são, igualmente, considerados os pioneiros
da utilização de Sistemas de Informação Geográfica no ordenamento do território
(Chrisman, 1988). De um modo geral, os sistemas de Informação Geográfica são
utilizados para o estudo da capacidade de acolhimento das actividades humanas
no território, isto é, para a análise do modo como as características do território
afectam as actividades humanas e, por outro lado, dos efeitos destas actividades
sobre o território (Alegre, 1983).
O ordenamento do território exige dois tipos de actividades complementares. A
primeira, tem a ver com a análise das relações que as distintas actividades e usos
dos solos (agrícola, urbano, industrial, etc.) mantêm com os diferentes factores
físicos (topografia, tipo de solo, etc.) e sociais (posição social das actividades,
necessidades de acessibilidade e acesso a centros urbanos). Conhecidas as
incidências que estes factores têm sobre as formas de ocupação do solo podemos
passar ao segundo tipo de actividades, ou seja, podemos determinar os lugares
268 Machado ( 1992) entende por atributos de segundo nível ou de iniciativa do utilizador as informações básicas comuns a qualquer sistema de georeferenciação (divisão política, hidrografia, rede viária, etc.) e informações temáticas (localização no espaço de múltiplos objectos que podem ser populações, conjuntos de bens, de actividades ou simples entidades, bem como a sua evolução temporal e características: distribuição de infra-estruturas, dos edifícios, dos transportes, das características e usos do solo, da riqueza, do emprego, etc.). A posição geográfica corresponde ao atributo de primeiro nível e é criado automaticamente pelo SIG.
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mais adequados para receber cada uma das actividades humanas que precisam de
se estabelecer. Esta abordagem dá origem a dois enfoques nos estudos de
ordenamento do território, ou seja:
• enfoque descritivo que pretende informar sobre as relações entre
determinadas propriedades do território e as actividades humanas. Esta
abordagem necessita de vários tipos de análise que vão desde a simples
descrição (cartografia temática, inventário da situação, etc.) à descrição
multivariada, mediante a classificação do território em unidades homogéneas.
Finalmente, definem-se áreas de associação/repulsa de uma actividade
humana (característica dependente) com combinações de factores físicos
(variáveis explicativas);
• enfoque normativo/prescritivo, cujo objectivo consiste na procura de decisões
sobre as restrições/recomendações em relação ao uso do território, apoia-se na
informação anterior, classifica-a e gera novas variáveis com valores
significativos para a actividade em estudo.
Este processo de manipulação da informação obriga à utilização de numerosas
capacidades dos SIG e, em especial, da que designamos por manipulação espacial
da informação. A inclusão nos Sistemas de Informação Geográfica de métodos de
avaliação multicritério e novos procedimentos de análise estatística vêm reforçar o
seu papel e transforma-os numa ferramenta essencial para o ordenamento do
território. Aliás, a digitalização da cartografia nacional269, a cartografia de dados
geo-referenciáveis e a utilização de imagens de satélites no âmbito do
planeamento/ordenamento do território é indispensável para a actualização
permanente de toda a informação de âmbito municipal, sub-regional, regional e
nacional.
As possibilidades de utilização dos SIG são “infinitas” indo, entre outras, desde a
monitorização e controle dos incêndios florestais, ao planeamento das áreas de
reflorestação e seu acompanhamento, ao ordenamento da florestas nas suas várias
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componentes (espaço de lazer, espaço de produção de produtos florestais e espaço
de preservação do ambiente), à monitorização e controle da poluição das reservas
naturais de águas, à realização de simulações e optimização de implementação de
redes de infra-estruturas e de equipamentos, à elaboração e gestão dos planos de
ordenamento das albufeiras, dos planos directores municipais, de pormenor e de
urbanização até a análises sócio-económicas. Além desta versatilidade e elevada
operacionalidade registe-se, ainda, por um lado, a enorme economia de meios
humanos, técnicos e financeiros e por outro lado, a elevada qualidade do produto
final.
5.2.2. A experiência portuguesa na utilização dos SIG
A experiência portuguesa na criação e desenvolvimento dos SIG é, em muitos
aspectos, exemplar. As dificuldades encontradas na produção automática de
mapas, na constituição de Bases de Dados Territoriais e sua integração nos
Sistemas de Informação Geográfica, puseram a descoberto as grandes deficiências
estruturais existentes ao nível da Administração Pública e do tecido empresarial,
bem como a dificuldade da Universidade em assumir um papel de antecipação dos
saberes que a sociedade necessita.
A primeira utilização de tecnologias de tipo SIG verificou-se em Portugal, nos
anos setenta, no projecto da Base de Dados do pólo de desenvolvimento de Sines
e na informação recolhida pelas Comissões de Planeamento Regional e outros
órgãos de planeamento (em ficheiros informáticos) com o objectivo de,
posteriormente, as representar cartograficamente em SYMAP. Nos anos oitenta,
tiveram lugar várias iniciativas dispersas, entre as quais se salientam os primeiros
esforços de informatização da cartografia básica existente nos Serviços
Cartográficos do Exército e no Instituto Geográfico e Cadastral. Refira-se, ainda,
o projecto de criação da Base de Dados para Análise Regional - BDAR – que
269 Esta cartografia que cobre todo o território nacional é disponibilizada pelos Serviços
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249
associava módulos de informação concelhia e distrital com tratamento
cartográfico e matemático270 e o pioneirismo do Ministério do Ambiente (Serviço
Nacional de Parques, Reservas e Património Natural) ao implementar um sistema
nacional integrado de gestão de áreas protegidas271.
A fase de consolidação dos SIG inicia-se em 1986 com a publicação do Despacho
SEIC 2/86, de Fevereiro, que cria um Grupo de Trabalho para o desenvolvimento
dum Sistema Nacional de Informação Geográfica272 - SNIG – dado o
ordenamento do território requerer não só o acesso, em tempo real, a informação
abundante, actualizada e facilmente acessível relativa a diferentes sectores e
disciplinas, como exige também a disponibilidade de meios de análise dessa
informação capazes de permitir a tomada de decisões tão correctas, justas e
oportunas quanto possível (Henriques, 1990). Esta abordagem, de tipo top-down,
surge na altura em que a Comunidade Europeia lançou o Programa CORINE e em
que se começava a sentir a necessidade de infra-estruturas nacionais de
informação geográfica em resposta, quer à crescente disseminação de informação
no formato digital, quer à popularização dos primeiros sistemas de informação
geográfica.
O Sistema Nacional de Informação Geográfica273 - CNIG -, embora criado em
1990, só viria a tornar-se uma realidade em termos “físicos”, em 1995, quando foi
lançado na Internet. O SNIG, estando em pleno desenvolvimento, integra o nó
Cartográficos do Exército e pelo Instituto Geográfico e Cadastral. 270 Este projecto decorreu de 1979 a 1985 numa colaboração do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil. 271 Ainda em desenvolvimento. 272 A temática tratada no SNIG é vastíssima, citando-se a título de exemplo (Abreu, 1996, p. 81): a)preparação da digitalização de toda a cartografia de base (militar, cadastral, agrícola, florestal, geológica, etc.); b) estudo e modelização de indicadores ambientais; c) gestão de Planos de Ordenamento de Áreas Metropolitanas, de Municípios, de Albufeiras e áreas envolventes, de parques tecnológicos, etc.; c) caracterização biofísica de bacias fluviais, definição de Normas para a qualidade do ambiente urbano, Produção de Cartas de Risco de Incêndio florestal, predição dos locais de ignição, modelização do comportamento do fogo, Defesa contra cheias, Distribuição do crime em áreas urbanas, Produção de atlas sócio-económicos, Modelização de trajectos urbanos em ambiente de risco; d)Detecção Remota; e) Cartografia temática. 273 Dec.-Lei nº 53/90 de 13 de Fevereiro. O sistema é constituído por uma rede de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) que liga entre si os serviços produtores de informação georeferenciada organizada em base de dados, o Centro Nacional de Informação Geográfica (CNIG) e os Sistemas de Informação Geográfica de âmbito local, regional ou nacional.
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250
central do Centro Nacional de Informação Geográfica274 e as ligações à Rede de
Dados da Comunidade Científica Nacional (Universidades e Laboratórios de
Pesquisa) e à Internet, aos sistemas informáticos das Comissões de Coordenação
Regional, a algumas Câmaras Municipais (a título experimental) e ao
Departamento de Estatística do Ministério do Emprego e Segurança Social. Além
destas instituições (ligadas em rede) é cada vez maior o número de unidades de
investigação estatais e académicas (entre as quais a UBI275) a desenvolverem
Sistemas próprios, bem como de empresas que prestam serviços de consultoria
geral, de apoio à implementação de sistemas ou de tratamento especializado da
informação.
Em Junho de 1999, foi inaugurada o interface específico para o cidadão, o
GEOCID, mais apelativa e directa, tanto em termos gráficos como em temos de
navegação e acesso à informação (Henriques, et all, 1999, p. 38). O CNIG
pretende, ainda, contribuir para o aumento do número e tipo de utilizadores do
SNIG desenvolvendo, para tal, a criação de módulos temáticos dedicados a áreas e
utilizadores específicos (educação e ambiente). Apesar deste cenário favorável,
levantam-se algumas preocupações, sobretudo, ao nível da disponibilidade da
informação e do pessoal qualificado. Assim, na prática de gestão do território
pensamos ser fundamental garantir, por um lado, protocolos normalizados de
transferências de informação gráfica e alfanumérica e dos programas de
tratamento e, por outro lado, o acesso à informação e segurança dos dados
existentes. Em relação à formação estamos perante um desafio e uma
preocupação, quer ao nível básico (a integrar no ensino secundário e universitário
de acordo com os níveis e especialidades), quer na componente profissional que
274 O CNIG tem o apoio de três instituições: a Fundação para o Cálculo Científico Nacional (FCCN) que funciona como o Internet Service Provider do SNIG, o Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico e o Grupo de Análise de Sistemas Ambientais da Universidade Nova de Lisboa que colaboram na investigação e desenvolvimento de soluções para a disseminação das bases de dados de informação geográfica e utilização de tecnologias multimédia e de tecnologias associadas à WWW do SNIG (Henriques et all, (1999), p. 39). 275 Projecto de Criação do Centro Transfronteiriço de Informação Geográfica, no âmbito do INTEREG II, a decorrer no triénio 1997/1999. Este Centro tem dois pólos idênticos, um sediado na UBI e o outro na Universidade de Salamanca.
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251
se deverá adequar às configurações de cada sistema e ser fornecida no próprio
ambiente de trabalho.
5.2.3. A Base de Dados do Ordenamento do Território
No seguimento dos trabalhos de implementação do Sistema Nacional de
Informação Geográfica foi criada, em 1994, a Base de Dados do Ordenamento do
Território276 - BDOT - cujo conteúdo deverá integrar os diversos instrumentos de
planeamento e acompanhamento de alteração de uso do solo previstos na lei e
assegurar, simultaneamente, a maior cobertura possível de temas e de
instrumentos de acordo com a legislação vigente e a flexibilidade que permita a
inclusão de outros instrumentos, tendo como pressuposto o estabelecimento de
uma rede que materialize um sistema integrado de informação acessível a
qualquer utilizador (ver fluxograma 5.1).
Um dos elementos essenciais da BDOT é a cartografia que, tendo sido uma tarefa
manual de cartógrafos, pode ser automatizada por intermédio de meios
informáticos (utilizando os SIG277, por exemplo) tendo em vista a obtenção de
resultados de superior qualidade, mais rápidos, uniformes e de custos
significativamente mais baixos. A generalização georeferenciada define-se como
o processo ou processos de abstracção de dados geográficos disponíveis a
determinado nível, tendo em vista determinado objectivo, que envolve sempre a
necessidade de uma modificação/adaptação dos objectivos cartográficos em
função de uma redução de escala, para a produção de representações gráficas
(mapas) claras ou a adaptação/selecção da informação geográfica disponível
para fins analíticos (Silva e Painho, 1997, p. 113). Desta definição emergem dois
segmentos distintos: a generalização cartográfica (produção de mapas) e a
276 Despacho nº 97/94 de 11 de Dezembro
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252
generalização orientada para a modelação que, segundo Weibel (1995), tem como
objectivo principal o controlo da redução dos dados nos domínios espacial,
temático ou temporal, bem como a derivação de bases de dados a variados níveis
de precisão e resolução (ibid.).
Fluxograma 5.1 Enquadramento da Base de Dados de Ordenamento do Território
Fonte: Alves, R. A. (1997), “Informação sobre o estado do ordenamento do território:
passado, presente e futuro” in Sociedade e Território, Revista de Estudos Urbanos e Regionais, nº24
A recolha da informação de base, considerada uma etapa extraordinariamente
importante na construção da BDOT, é efectuada através de várias técnicas que
vão desde os métodos clássicos (entrevistas, observação directa, etc.) à
inteligência aplicada. Estas técnicas, com extraordinárias potencialidades,
apresentam características e utilidade diversa que procuramos sintetizar no
quadro 5.1.
277 Um SIG – Sistema de Informação Geográfica – é composto fundamentalmente por quatro elementos: o hardware, o software, a base de dados e o quadros técnicos responsáveis por construir, implementar e utilizar o sistema.
Política de ordenamento do território
Base de dados de ordenamento do território
- BDOT -
Monitorização (avaliação)
Instrumentos
Evolução da realidade Implementação
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253
Quadro 5.1 Métodos de aquisição de conhecimento
Técnicas Complexidade e
Utilidade Potencialidades Características e
Problemas Métodos clássicos (entrevista, observação directa, etc.)
- Útil a curto e médio prazo - Média complexidade - Possível automatização parcial
- Fornecem uma boa base de Trabalho
- Ideal para serem aplicados em grandes organismos produtores de cartografia
- O conhecimento adqui- rido permite explicações
sobre o mesmo - Necessita de experts
Análise dos documentos dos Produtores de Cartografia
- Útil a curto prazo - Baixa complexidade - Difícil automatização
- Boa fonte de conhecimentos e procedimentos
- Descrições vagas - As especificidades
raramente são explica- das - Possíveis conflitos
entre as regras Análise de Mapas (Reverse Engineering)
- Útil a curto prazo - Média complexidade - Difícil automatização
- Regras semi-formais de conhe- cimentos e procedimentos
- A ideia original que orientou a generalização pode ser obscurecida Por posteriores actuali-
zações - O mapa final pode não
revelar modificações intermédias
- Difícil definir a sequên- cia de operadores utili- zados
Machine Learning - Útil a curto e médio prazo - Alta complexidade - Possível automatização total
- Interpreta variado número de factos extraídos por Reverse Engineering - Melhora regras iniciais, adquiri-
das pelas outras fontes
- Poucas experiências realizadas utilizando Esta técnica em carto-
grafia
Redes Neurais (Machine Learning)
- Útil a curto e médio prazo - Alta complexidade - Possível automatização total
- Não é muito útil dado não existirem explicações - Permite a substituição da abor- dagem algorítmica por uma abordagem holística
- Poucas experiências realizadas utilizando esta técnica em carto-
grafia
Inteligência Aplicada - Útil a curto e médio prazo - Média/Alta complexidade
- Permite avaliação imediata dos operadores de generalização
- Aquisição de conhecimento atra- vés da acção Homem-/máquina - Permite a integração de conhe- cimento adquirido em função de várias fontes
- Necessita a coordena- ção humana - Poucas experiências
realizadas utilizando esta técnica em carto- grafia
Fonte: Adaptado de Weibel, R., (1995) “Three essencial Building Blocks for Automated
Generalization” in Muller, J-C, Lagrange, J-P and Weibel, R., (ed.), GIS and Generalization – Methodology and Practice, GISDATA 1, Masser, I.and Salgé F. (SerieEdt.), London, Taylor & Francis Ltd., pp. 56-70, cit. Silva e Painho (1997, p. 119)
Os fluxos de informação entre as várias entidades, muitas das vezes com trabalhos
já realizados e arquivos residentes em cada uma delas, têm características distintas
dado coexistirem temas e instrumentos com processos administrativos da
responsabilidade de uma só entidade e outros que envolvem entidades externas ao
ministério de tutela (ver fluxograma 5.2). A intensidade dos fluxos e a
complexidade da informação (as transformações dos padrões actuais de uso e
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254
ocupação do solo assumem múltiplos aspectos) implicam a existência de uma boa
rede de comunicação de dados e o estabelecimento de um conjunto de normas e
rotinas processuais sobre a captura, o carregamento e a transferência de dados no
âmbito do ordenamento do território. Além disso, sendo a BDOT aberta, isto é,
integrada na rede pública de dados que permite o acesso generalizado torna-se
necessário garantir a segurança e confidencialidade da informação, nos termos da
lei, pelo que se utiliza níveis de privilégio de acesso ou filtros.
Fluxograma 5.2 Fluxos de informação da BDOT
Legenda: INE - Instituto Nacional de Estatística CCR - Comissão de Coordenação Regional DGOTDU
- Direcção Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano
A L - Administração Local (Câmaras Municipais) O E - Outras Entidades Fonte: Adaptado de Alves, R. A. (1997), “Informação sobre o estado do ordenamento do
território: passado, presente e futuro” in Sociedade e Território, Revista de Estudos Urbanos e Regionais, nº24
Este conjunto de situações implica a necessidade de estabelecimento de
protocolos de três tipos, nomeadamente:
• entre instituições com competências complementares nos fluxos de
informação estabelecidos na lei (por exemplo, produtor de informação ou de
estatísticas);
Entidades de tutela
Cidadãos
Outras instituições
BDOT
INE
CCR
DGOTDU
A L
O E
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
255
• entre ministérios e instituições que partilham competências no ordenamento
do território, tendo em vista a obtenção de níveis de informação mais
completos e coerentes (por exemplo, Autarquias Locais, Instituto Nacional de
Estatística, Conservatórias do Registo Predial, Comissões de Coordenação
Regional);
• entre entidades responsáveis pelo ordenamento e entidades de outros
ministérios responsáveis por instrumentos específicos que interessam a este
domínio (por exemplo, entidades responsáveis pelos Planos de Ordenamento
de Áreas Protegidas, de Albufeiras de Águas Públicas, etc.).
As actividades a desenvolver no âmbito do PROGIP278 e do PROSIG279 podem
ser consideradas como um subsistema da Base de Dados do Ordenamento do
Território uma vez que, o primeiro envolve a realização de duas acções: a
digitalização dos Planos Municipais de Ordenamento do Território e o
desenvolvimento de uma aplicação informática para a gestão eficiente de planos
de ordenamento. O segundo, isto é, o PROSIG tem como objectivo o apoio à
execução de SIG’s ao nível municipal entendidos como instrumentos de
monitorização do planeamento territorial e, em particular, do território municipal,
traduzida numa atitude de contínua observação e análise sistemática a empreender
em paralelo com a implementação do plano municipal.
Decorridos cinco anos desde o lançamento do PROSIG e quatro anos de execução
financeira é já possível fazer um balanço provisório, não só em relação ao grau de
adesão dos municípios, mas também e sobretudo à capacidade de realização das
acções elegíveis, do impacto estruturante no ordenamento do território municipal
e da organização da sociedade de informação. A adesão dos municípios pode
278 PROGIP - Programa de Apoio à Gestão Informatizada dos Planos Municipais de Ordenamento do Território. Este programa, desenvolvido pelo INESC sob contrato do CNIG, permite a “navegação” e consulta específica orientada do PDM, a análise de pedidos de Informação Prévia e Licenciamento e a obtenção de indicadores estatísticos associados. 279 PROSIG - Programa de Apoio à Criação de Nós Locais do Sistema Nacional de Informação Geográfica. De referir que esta aplicação informática, desenvolvida no âmbito do PROGIP, inclui a componente do licenciamento da transformação do uso e ocupação do solo apresentando-se, assim, como o veículo principal para o fornecimento de informação técnica sobre o plano municipal, as acções que transformam o território e a articulação entre os dois.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
256
apreciar-se pelo número de protocolos celebrados. Como se verifica pela leitura
do quadro 5.2, foram celebrados 92 protocolos que cobrem 178 municípios, ou
seja 64,5% do total continental.
Quadro 5.2 Protocolos celebrados no âmbito do PROSIG
Municípios 1995 1996 1997 1998 1999 Total
A título individual 23 11 20 10 9 73 Associações ou Agrupamentos 5 4 4 4 2 19
Total 46 30 53 30 19 178
Fonte: MOURÃO, M. e GASPAR, R., (1999), “Sistemas de Informação nos municípios” in
Fórum SNIG, Revista Semestral do CNIG, Ano III, Nº 5, Novembro, p. 44 A simples leitura destes indicadores dão uma ideia errada sobre os avanços
registados na utilização das novas tecnologias de informação. Na realidade, uma
parte significativa dos municípios abrangidos não revelou qualquer iniciativa no
sentido de proceder à instalação do respectivo Sistema de Informação Geográfica.
Aliás, a debilidade dos SIG’s municipais é uma realidade devido a três factores
essenciais (Mourão e Gaspar, 1999, pp. 46-47):
• escassez de quadros nas autarquias e fortes condicionamentos à sua
contratação;
• dificuldade do mercado em disponibilizar informação cartográfica em formato
digital necessária ao planeamento e gestão municipal levando à orientação dos
esforços municipais no sentido de colmatar essa falha;
• tendência para o isolamento destes projectos que acabou por comprometer o
empenhamento dos poderes públicos.
Não obstante, e apesar das limitações já referidas, a experiência adquirida é
considerada positiva e levou ao alargamento do seu horizonte temporal280, até o
final de 2000, de forma a se atingir os objectivos subjacente à criação do
PROSIG. A implementação dos sistemas de informação municipais permite uma
280 Despacho nº 17720/99 de 10 de Setembro.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
257
maior operacionalidade à monitorização dos Planos Directores Municipais que,
segundo Lobo (1990), se estrutura em três níveis (cit. Silva, 1997, pp.183-184):
• operacional da execução dos planos, ou seja, a concretização da ideia de
futuro pretendida explicada pelos planos;
• do próprio território objecto do plano ou que nele influi – a realidade em
permanente transformação;
• aderência entre plano e sistema territorial.
Estes três níveis de monitorização articulam-se e implicam, por sua vez, o
acompanhamento de vários elementos, processos ou estados como se pode
verificar no quadro seguinte.
Quadro 5.3 Monitorização dos Planos Directores Municipais
Nível Monitorizações especiais
A - Execução dos planos A1 – Elementos Formais Fundamentais (Regulamento, Planta de Síntese, Planta Actualizada de Condicionantes) A2 – Objectivos do Plano A3 – Acções (outros planos de ordem inferior, estudos, projectos, obras e outras iniciativas)
B - Território objecto do plano B1 – Processos de transformação do território B2 – Estado e funcionamento do Sistema Territorial
C - Aderência entre plano e sistema territorial
C1 – Estratégia C2 - Impactes
Fonte: Elaborado a partir de SILVA, J. P. (1997), “Os SIG’s e a Monitorização do Processo de
Planeamento Urbanístico” in USIG 95 – III Encontro sobre Sistemas de Informação Geográfica, Lisboa, 27 a 29 de Setembro, pp. 183-184
Numa perspectiva sistémica, o Sistema Nacional de Informação Geográfica e a
Base de Dados do Ordenamento do Território representam um contributo muito
importante para o conhecimento dos múltiplos aspectos que assumem a ocupação
e a organização do território, bem como a simulação de cenários prospectivos.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
258
5.3. A COMPONENTE AMBIENTAL NO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO 5.3.1. O binómio ordenamento/protecção do ambiente
A protecção e gestão do ambiente, estando interligados com o planeamento físico
do território, formam dois domínios essenciais para o desenvolvimento
equilibrado e duradouro. Não obstante, existem algumas teses que defendem o
primado da política de ordenamento do território sobre a política ambiental e
outras que defendem o contrário. Assim, para uns, o ordenamento do território é
uma política global que condiciona o conteúdo da protecção ambiental, tal como o
faz para outras questões sectoriais como sejam a localização industrial, a gestão
energética, a implantação da rede viária ou a construção de infra-estruturas de
apoio à população e à actividade económica. Para outros, a defesa do ambiente
sobrepõe-se e comanda as finalidades do ordenamento do território com o
subsequente condicionamento do seu conteúdo. Puig (1980, p. 16) chega a afirmar
que o imperativo universal ambientalista implica que se deixe claramente exposta
a prioridade e o caracter axial, dentro do ordenamento do território, das
previsões próprias da planificação ambiental, sem que, em caso algum, possam
as leis e os planos permitir a inversão de valores.
Em nosso entender, a radicalização das posições não é acertada já que, na
realidade, o ordenamento do território (entendido como a conciliação do espaço
com o homem, as suas actividades e o meio ambiente garantindo o futuro das
gerações vindouras) é, antes de mais, uma política instrumental e horizontal, dado
que nela desaguam todas as políticas com impactos territoriais. A sua função é a
de, por um lado, proporcionar a convergência dos interesses próprios de cada
política sectorial e, por outro lado, coordenar através dos seus mecanismos (leia-
se, planos) a propensão “egoísta” de muitas das escolhas realizadas no seio da
política industrial, de transportes, de obras públicas, de energia, de saúde, de
educação e, naturalmente, do ambiente. O ordenamento do território faz, assim, a
síntese e a espacialização de todos estes vértices com o objectivo de realizar uma
política de desenvolvimento regional e local sustentável ou, como diz Ramón
(1987, p. 152), o desenvolvimento dentro da conservação.
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259
A protecção do ambiente, por seu lado, é objecto de uma política vertical que
torna efectivas algumas das suas prescrições através de técnicas de planeamento.
Refira-se que, contudo, a política ambiental não deixa de assumir um lugar
especial e transversal, no quadro das outras políticas, já que as suas regras
influenciam as opções tomadas noutras áreas. A título de exemplo, o requerimento
para a instalação de um parque industrial numa área na qual não haja um Plano
Director Municipal em vigor, deve ser acompanhado de uma planta de
condicionantes onde estejam assinaladas as Áreas Protegidas existentes, um
extracto das cartas da Reserva Ecológica Nacional e da Reserva Agrícola
Nacional e um estudo de impacte ambiental281.
O planeamento ambiental, que entrou na rotina do planeamento na década de 80,
era, até aí, utilizado principalmente como referência ao ordenamento do espaço
ecológico, natural, designando-se como ordenamento biofísico, tal como foi
introduzido pelo arquitecto paisagista americano McHairg (1969). A sua
utilização noutras áreas do planeamento deve-se à necessidade de atenuar ou
eliminar o conflito existente entre o ambiente natural e o desenvolvimento físico-
urbanístico e sócio-económico. Para Partidário (1993, pp. 10-11), de um modo
geral, o planeamento ambiental refere-se ao processo de planeamento que integra
factores ambientais, sociais e económicos em todas as intervenções de
planeamento do uso do espaço (Nesbitt, 1990; White, Sage, Rodammer e Peter
Jr., 1985). Outros autores salientam a incorporação da componente ambiental no
planeamento de projectos (Simmons e Allett, 1990). Ortolano (1984) destaca a
importância da incorporação de procedimentos de avaliação de impacte ambiental
e de medidas de controle de poluição no planeamento do ambiente. Planeamento
ambiental é, ainda, definido como uma tentativa de atingir maior racionalidade e
estabelecer uma estratégia viável no processo de tomada de decisão em relação à
protecção e gestão dos recursos naturais (Baldwin, 1985; Davis, Compagnoni e
Nanninga, 1987).
281 Artº 5º, alíneas a), b) c) e e) do Dec.-Lei nº 232/92, de 22 de Outubro.
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260
Em Portugal, a estratégia de planeamento ambiental veio a ser delineada na Lei de
Bases do Ambiente, e mais tarde no Plano Nacional do Ambiente que, por sua
vez, se articula com o Plano Nacional de Desenvolvimento Económico e Social e
o Plano Nacional de Ordenamento do Território. A integração do ambiente no
planeamento do território e do desenvolvimento económico e social deve-se ao
facto das variáveis físico-ecológicas, sociais e económicas se encontrarem em
profunda articulação e interacção (ver fluxograma 5.3) e tem como objectivo o
estabelecimento do equilíbrio entre a exploração dos recursos naturais e a
protecção do ambiente, segundo princípios de gestão sustentada de recursos, no
curto e longo prazo, e por forma a tingir, como objectivo último, benefícios sócio-
económicos para as populações.
Fluxograma 5.3 Modelo de planeamento ambiental integrado
Percepção ambiental
NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS
ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO
Fonte: PARTIDÁRIO, M. R. (1993), “A Integração da Componente Ambiental no Processo de
Planeamento” in Sociedade e Território – Revista de Estudos Urbanos e Regionais, Ano 6, Nº 18, Junho, p.11
BENEFÍCIOS SÓCIO-ECONÓMICOS
PROTECÇÃO AMBIENTAL
EXPLRAÇÃO DE RECURSOS
GESTÃO SUSTENTADA
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261
As estratégias de planeamento fornecem, por sua vez, um conjunto de medidas
técnicas e legais fundamentais para assegurar a sustentabilidade do
desenvolvimento em condições de equidade intra e intergeracional. O
desenvolvimento económico sem uma abordagem integrada deste tipo resulta em
poluição e degradação do património natural tal como o passado recente e a
realidade actual têm demonstrado. Um aspecto importante a ter em consideração é
o da sensibilidade das populações à qualidade ambiental, que depende do nível de
satisfação das suas necessidades básicas e da sua maior ou menor receptividade a
medidas de gestão sustentada dos recursos e de protecção ambiental, pelo que o
seu envolvimento e colaboração é uma condição sine qua non para a protecção
eficaz do ambiente.
Nas circunstâncias actuais, Ambiente/Desenvolvimento/Ordenamento são os
elementos de um do triângulo que se articulam e se influenciam mutuamente, pelo
que as opções de desenvolvimento e os mecanismos para as implementar, terão de
ser necessariamente diferentes das que se têm utilizado no pós-guerra.
5.3.2. A realização do planeamento ambiental através do ordenamento do
território
No quadro das economias ocidentais, a política do ambiente foi sendo construída
através de um enriquecimento sucessivo dos seus objectivos e dos seus
instrumentos, bem como em função da evolução económica e social dos países.
Numa primeira fase, caracterizada por um optimismo generalizado quanto ao
crescimento ilimitado das economias, as medidas ambientais incidiam apenas
sobre a protecção dos recursos naturais, em termos de raridade, diversidade ou
especificidade paisagística sem, contudo, implicar qualquer restrição significativa
no tocante à sua utilização.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
262
A segunda geração da política de ambiente coincide com o aumento progressivo
das acções de controlo sobre os índices de poluição atmosférica, hídrica e sonora,
em resultado de uma rápida e desregrada industrialização. A estratégia das
autoridades públicas passa pela fixação de parâmetros de emissão de cargas
poluentes e introdução do princípio poluidor-pagador. Os primeiros Programas
de Acção sobre o Ambiente da Comunidade Europeia, iniciados em 1973, são
característicos desta política de ambiente.
A política ambiental contemporânea baseia-se na concepção do desenvolvimento
equilibrado e sustentável que permite a convergência da qualidade do ambiente e
a manutenção dos ecossistemas com o progresso económico e social das
comunidades. O princípio activo é, agora, o princípio da prevenção e a sua plena
execução passa necessariamente pelo planeamento das actividades humanas e
aproveitamento racional dos recursos físicos que, afinal, não são inesgotáveis
como se “apregoava” até há bem pouco tempo.
A política de conservação da natureza da União Europeia no interior do seu
território baseia-se em duas Directivas282 que, estabelecendo as bases para a
protecção e conservação da fauna selvagem e dos habitats da Europa, apontam
para a criação de uma rede ecologicamente coerente de áreas protegidas - Rede
Natura 2000 – constituída por:
• Zonas de Protecção Especial - ZPE - destinadas a conservar 182 espécies e
sub-espécies de aves;
• Zonas Especiais de Conservação – ZEC - que visam conservar 253 tipos de
habitats, 200 animais e 434 plantas.
A tarefa de estabelecer estas zonas é da competência da cada Estado-Membro.
Antes, porém, é elaborada uma Lista Nacional de Sítios e submetida à apreciação
da Comissão Europeia para que, através de um processo de análise e discussão
282 Directiva do Conselho 79/409/CEE relativa à protecção das aves selvagens (conhecida por "Directiva das Aves") adoptada em Abril de 1979 e a Directiva do Conselho 92/43/CEE relativa a
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
263
bilateral, possam integrar os Sítios de Importância Comunitária. Portugal tem
três parcelas do seu território incluídas nas seis zonas biogeográficas em que se
divide a Europa Comunitária, ou seja, o continente insere-se nas regiões atlântica
e mediterrânica e os Açores e a Madeira na região macaronésia (ver mapa 5.1).
Mapa 5.1 REGIÕES BIOGEOGRÁFICAS DA UNIÃO EUROPEIA
Em 1997, Portugal entregou à União uma primeira lista de sítios283 (ver mapa 5.2)
e, posteriormente, em Março de 2000, foi apresentada para discussão nacional
conservação dos habitats naturais e da fauna e flora selvagens (conhecida por "Directiva Habitats") adoptada em Maio de 1992. 283 Esta lista inclui ainda: a) nos Açores: Costa e Caldeirão - Ilha do Corvo, Caldeira, Capelinhos, Monte da Guia, Ponta do Varadouro e Morro de Castelo Branco - Ilha do Faial, Zona Central - Morro Alto, Costa Nordeste e Ilhéu de Baixo - Ilha das Flores, Restinga e Ponta Branca - Ilha Graciosa, Ponta dos Rosais e Costa NE e Ponta do Topo - Ilha de S. Jorge, Lagoa do Fogo, Caloura-Ponta da Galera e Banco D. João de Castro (Canal Terceira) - S. Miguel, Baixa do Sul (Canal do Faial), Montanha do Pico, Prainha e Caveiro, Ponta da Ilha, Lajes do Pico e Ilhéus da Madalena - Ilha do Pico, Ponta do Castelo e Ilhéu das Formigas e Recife Dollabarat (Canal S. Miguel - Sta. Maria), Serra Santa Bárbara e Pico Alto e Costa das Quatro Ribeiras - Ilha da Terceira; b) na Madeira: Ilhas Desertas, Laurisilva da Madeira, Maciço Montanhoso Central da Ilha da Madeira, Ponta de S. Lourenço, Ilhéu da Viúva, Achadas da Cruz, Moledos - Madalena do Mar, Pináculo, Ilhéus do Porto Santo, Pico Branco - Porto Santo e Ilhas Selvagens.
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264
uma segunda lista284 que, a ser aprovada, eleva a 21,3 a percentagem do território
nacional protegido.
Mapa 5.2 1ª Lista Nacional de Sítios – Continente
Fonte: Instituto de Conservação da Natureza
O 5º Programa de Política e Acção em Matéria do Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (CE, 1992), ainda em execução, tem entre os seus principais
objectivos a integração do ambiente nas políticas e acções empreendidas em cinco
284 A 2ª lista da Rede Natura 2000 inclui: Corno do Bico (Paredes de Coura); serra de Arga; Samil; Minas de Santo Adrião; Romeu; litoral norte de Esposende; barrinha de Esmoriz; serra da Feita e Arada; serra da Estrela; rio Paiva; Cambarinho; dunas de Mira, Gândara e Gafanhas; complexo da serra do Açor; Sicó/Alvaiázere; Azabuxo (Leiria); serras de Aire e Candeeiros; Peniche/Santa Cruz; serra de Montejunto; Nisa/Lage da Prata; Fernão Ferro/Lagoa de Albufeira; serra de Monfurado; Alvito/Cuba; Moura/Barrancos; Arade/Odelouca; ria de Alvor; barrocal/serra do Caldeirão e cerro da Cabeça (Vasconcelos, H., Diário de Notícias, 16 de Março de 2000).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
265
sectores-chave (indústrias transformadoras, transportes, energia, agricultura e
turismo) de forma a, por um lado, evitar a ocorrência de problemas ambientais e,
por outro lado, minimizar os impactos dos desastres ambientais. Neste contexto,
nos últimos 20 anos, a indústria tem tido uma atitude mais positiva para com a
política do ambiente reduzindo os resíduos e recorrendo a tecnologias mais limpas
e de baixo consumo de energia. O sector de turismo continua a crescer e prevê-se
que continue a aumentar o seu potencial de emprego que representa, actualmente,
1,6 milhões de postos de trabalho na União Europeia (CE, 1996, p. 8).
O ambiente é uma componente cada vez mais importante dos fundos estruturais
da União, quer ao nível da política agrícola (oportunidades de financiamento
oferecidas em troca da adopção de programas agro-ambientais285), quer ao nível
da política regional. A este nível saliente-se a atribuição, em 1994, de 1 000
milhões de ecus a projectos no domínio do ambiente financiados pelo Fundo de
Coesão, o financiamento regional da renovação urbana e o sistema de
financiamento para o ambiente (LIFE)286. Em 1997, além da inclusão de uma
nova rubrica orçamental (B2 – 1600) que consagra os aspectos ambientais na
política de coesão, o FEDER e o Fundo de Coesão financiaram acções ligadas ao
ambiente em mais de 50 milhões de ecus.
Em termos nacionais, a expressão financeira das acções actualmente consideradas
de protecção do ambiente eram inscritas no programa de investimentos sectoriais,
isto é, da agricultura, silvicultura e pecuária (protecção e conservação dos recursos
florestais), da investigação científica e da habitação e urbanismo (saneamento
básico). Nos trabalhos preparatórios do Plano de Médio Prazo 77/80 o ambiente
aparece, pela primeira vez, individualizado. Contudo, e apesar da existência do
Ministério do Ambiente e Recursos Naturais desde 1990287, só em 1991, a
Administração Central viria a expressar as suas intenções de investimento
relacionados com o ambiente em PIDDAC. Nesse ano a despesa em ambiente
285 Estes programas foram introduzidos aquando da reforma da PAC em 1992. 286 Este sistema entrou em vigor em Dezembro de 1992. 287 Dec.-Lei nº 94/90 de 20 de Março.
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266
representava 1% do investimento total em PIDDAC e evoluiu até os, cerca de,
4,5% em 1996 (Gonçalves, A., 1996, p. 272). De referir que, embora o PIDDAC
reflicta o carácter horizontal do ambiente, o Ministério do Ambiente tem
absorvido o maior volume de investimentos (85 a 97% do total) canalizado para a
monitorização do estado do ambiente, gestão dos recursos hídricos, elaboração
dos planos de ordenamento da orla costeira, conservação da natureza com especial
atenção para aos habitats particularmente frágeis, raros ou ameaçados e o
estabelecimento de um sistema de gestão de resíduos. De referir ainda, que as
acções no âmbito do PIDDAC são financiadas através do orçamento nacional e
dos Fundos Comunitários que actualmente são sensivelmente equivalentes (ver
quadro 5.4).
No III Quadro Comunitário de Apoio será afectado à conservação da natureza, no
âmbito do Plano Operacional do Ambiente, um total de trinta milhões de contos,
até 2006 resultante de uma componente de fundos comunitários e outra de fundos
nacionais. Há também a possibilidade de mobilizar o programa LIFE, e as
medidas agro-ambientais (Pereira288, P., 2000).
Quadro 5.4 Fontes de financiamento do investimento no ambiente
288 Pereira, Pedro Silva, Secretário de Estado da Conservação da Natureza e Ordenamento do Território, na apresentação pública da lista da segunda fase da Rede Natura 2000.
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267
Apesar da evolução positiva verificada nos últimos 20 anos, a Comissão Europeia
no 9º Relatório Anual dos Fundos Comunitários - 1997, numa avaliação
intercalar do II QCA, sugere o reforço das intervenções no domínio do ambiente
(CE, 1998, p. 115) e chama a atenção para a importância do respeito pelas
prescrições em matéria de ambiente e conservação da natureza e, em especial, da
Directiva Habitats que constitui a raiz da Rede Natura 2000.
Os instrumentos de planeamento ambiental tal como a política têm evoluído em
resposta à crescente complexidade e profundidade dos problemas ambientais. Os
instrumentos de planeamento ambiental, segundo Fraga (1995, p. 231 e segs.),
podem dividir-se em três grupos:
• planos que possuem um conteúdo protector do ambiente. A sua acção tem
como objectivo a articulação racional do conjunto das potencialidades
económicas, físicas e infra-estruturais decorrentes de cada espécie de recurso.
A título de exemplo, citemos os Planos Municipais de Intervenção Florestal
(Dec.-Lei nº 423/93, de 31 de Dezembro), o Plano Nacional da Água e os
Planos de Bacia Hidrográfica (Dec.-Lei nº 45/94, de 22 de Dezembro) e o
Plano Nacional de Resíduos que se integra no Plano Nacional de Política de
Ambiente (Resolução de Conselho de Ministros nº 38/95, de 21 de Abril);
• planos especificamente ambientais cuja vocação é de explicitar e coordenar
as acções de conservação e as actividades permitidas dentro da área
protegida. O parque nacional, a reserva e o parque natural e, ainda, a área
protegida de âmbito regional e local, devem possuir obrigatoriamente o
respectivo Plano de Ordenamento elaborado ou sujeito a parecer, conforme o
caso, pelo/do Instituto de Conservação da Natureza. Estes planos contemplam
as medidas de salvaguarda e a gestão dos usos dominantes da área protegida
(artº 14º, 15º e 26º do Dec.-Lei nº 19/93, de 23 de Janeiro);
• medidas que se efectivam através dos planos de ordenamento do território. O
ordenamento físico é, de um modo geral, percepcionado como a expressão
mais característica do planeamento de ordem ambiental. A delimitação da
RAN e da REN nos planos regionais e municipais de ordenamento do
território são um exemplo deste tipo de medidas.
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268
Apesar do importante papel do planeamento ambiental, este não esgota a
problemática da política do ambiente. O planeamento ambiental é apenas uma das
faces desta política, ou seja, é a que está ligada à promoção da gestão e
regeneração dos recursos naturais. Efectivamente, grande parte das regras de
protecção ambiental ganha operacionalidade e efectividade práticas através dos
instrumentos privilegiados do ordenamento do território (planos regionais,
municipais e especiais). Por sua vez, a gestão e organização eficazes do território
com vista à melhoria das condições de vida do homem, enquanto finalidade
absoluta do planeamento do espaço físico, ficará amputada sem a consideração
das questões ambientais que, com maior ou menor consciência, representam uma
necessidade tão premente como quaisquer necessidades básicas colectivas ou
individuais.
No domínio do ambiente, o ordenamento jurídico português possui algumas
figuras que, mantendo uma relação privilegiada com o ordenamento do território,
se servem dos seus meios para ganhar maior operatividade. Efectivamente, as
Áreas Protegidas, a Reserva Agrícola Nacional e a Reserva Ecológica Nacional
não dependem da execução de planos de ordenamento do território e têm
identidade própria como elementos integrantes de uma estratégia jurídico-material
de salvaguarda dos valores ambientais.
A actividade de planeamento ambiental e físico do território apoia-se em duas
Leis de Base, isto é, a Lei de Bases289 do Ambiente (1987) que define seis
componentes ambientais naturais (o ar, a luz, a água, o solo vivo e subsolo, a flora
e a fauna) e três componentes ambientais humanos (a paisagem, o património
natural e construído e a poluição), assim como identifica os instrumentos da
política de ambiente, entre os quais destacamos além dos planos municipais e
supramunicipais de ordenamento do território, o plano nacional de ambiente e a
reserva ecológica nacional e a Lei de Bases290 da Política de Ordenamento do
Território e de Urbanismo (1998) que, no seu art.º 5º, explicita os princípios gerais
do ordenamento do território dos quais destacamos o da economia (utilização
289 Ainda por regulamentar. 290 Regulamentada pelo Dec.-Lei nº 380/99 de 22 de Setembro.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
269
ponderada dos recursos naturais e culturais) e o da coordenação (articulação e
compatibilização do ordenamento com o desenvolvimento económico e as
políticas sectoriais).
Apesar dos princípios enunciados, os instrumentos de gestão do território (e
particularmente, os planos de ordenamento do território) ao darem prioridade aos
aspectos sócio-económicos do desenvolvimento e à captação de investimentos
para infra-estruturas parecem subalternizar a política de ambiente. A razão desta
situação, para Vítor Martins, em declarações ao Público291, está no facto de que só
recentemente os economistas estão a passar da economia-espaço-recursos
naturais para o novo paradigma do território-economia-ambiente em que o
território, como entidade mais complexa do que o espaço, atribui ao ambiente um
papel que não tinha na noção de espaço. Ao nível da Administração Pública é
também visível esta reorientação ao considerar, pela primeira vez, no Plano
Nacional de Desenvolvimento Económico e Social 2000-2006 (PNDES) que o
ambiente é um dos pilares essenciais de uma estratégia de desenvolvimento
sustentável (MEPAT, 1998a, p. VIII-21). O actual modelo de crescimento
económico português produziu um passivo ambiental importante (ibid., p. VIII-
21) cuja recuperação exige elevados custos económicos e ambientais. Assim, o
novo modelo de crescimento deverá contribuir para (ibid., p. VIII-21):
• a transformação estrutural da economia portuguesa se processe num quadro
de valorização económica, social e ambiental dos recursos naturais;
• integração efectiva do ambiente nas políticas de coesão social, territoriais e
de desenvolvimento sectorial ...;
• a diminuição das crises ambientais e sobre a saúde humana, associados aos
processos de introdução e uso de novos produtos e processos tecnológicos.
291 19 de Abril de 1999
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
270
5.3.2.1. As Áreas Protegidas
A experiência portuguesa inicia-se com a publicação em 1970, da Lei nº 9/70, de
19 de Junho, que previa a criação de parques nacionais que podiam integrar
reservas integrais, naturais, de paisagem e biofísicas, e de outro tipo de reservas,
ou seja, as reservas botânicas, zoológicas e geológicas. Ao abrigo deste diploma
viria a surgir a primeira área protegida em Portugal – o Parque Nacional do Gerês.
De então para cá, esse número tem aumentado, embora a sua área total não
ultrapasse os 8% do território nacional (Frade, 1999, p. 80).
Em 1976, é publicado o Dec.-Lei nº 613/76, de 27 de Julho que, embora crie um
regime incipiente, reflecte no seu preâmbulo algumas das ideias que orientam a
actual política ambiental nacional e internacional. Assim, além de fazer uma
referência implícita à necessidade de agir preventivamente, através da gestão
racional dos recursos naturais e salvaguarda da sua capacidade de renovação,
afirma explicitamente a integração da componente ambiental no ordenamento do
território, como elemento base de qualquer política de progresso económico,
social e cultural.
Em 1993, o Dec.-Lei nº 19/93, de 23 de Janeiro (actualizado pelo Dec.-Lei nº
231/97 de 16 de Agosto), introduz uma profunda alteração no regime jurídico das
Áreas Protegidas com o objectivo de criar uma Rede Nacional de Áreas
Protegidas, repartida por figuras de dimensão nacional, regional ou local e de
estatuto privado, já prevista na Lei de Bases do Ambiente. A partir de 1997, as
áreas protegidas292 subdividem-se em:
• áreas protegidas de interesse nacional, ou seja, o parque nacional, a reserva
natural, o parque natural e o monumento natural;
• áreas protegidas de interesse regional ou local ou áreas de paisagem
protegida
• áreas protegidas de estatuto privado ou sítios de interesse biológico.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
271
As áreas protegidas são zonas especiais do território constituídas, na sua grande
maioria, por terrenos de propriedade privada, e nelas vivem mais de duzentos mil
pessoas, o que obriga à articulação dos valores de protecção ecológica com a
garantia de uma qualidade de vida razoável às populações residentes. Nestas
áreas, as actividades ligadas à terra e à floresta são, geralmente, bastante apoiadas.
Além destas actividades económicas, o turismo com características particulares
(ecológico, cultural e científico) é hoje visto como uma ocupação que valoriza
estas áreas contribuindo, assim, para a criação de riqueza na região e,
consequentemente, de criação de condições para a fixação das populações. Apesar
destes esforços, as áreas protegidas vivem sob a ameaça de se tornarem “ilhas”
votadas ao abandono.
O risco de isolamento e abandono pode ser atenuado se, por um lado, estas zonas
forem integrados no quadro de uma gestão activa através de um plano de
ordenamento deste espaço que equilibre, no interior do perímetro de protecção, o
nível de vida das populações com os objectivos de preservação biofísica e, por
outro lado, a gestão destas áreas seja aberta, isto é, esteja em permanente
comunicação com as zonas que envolvem a área protegida transpondo os critérios
definidos no planos de ordenamento do território regionais e municipais às outras
acções que se exercitam sobre a mesma unidade territorial, e muito
particularmente à RAN e à REN. Como se afirmou no 1º Congresso de Áreas
Protegidas, em 1987, estas são uma componente da política de ambiente, um
instrumento da conservação da natureza e uma figura do ordenamento do
território.
292 Dentro das áreas protegidas podem ser estabelecidas reservas integrais de forma a proteger, única e exclusivamente, os conjuntos biológicos e onde a presença humana não é tolerada, excepto para investigação científica ou monitorização ambiental.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
272
De acordo com o Dec.-Lei nº 151/95, de 24 de Junho (alterado pela Lei nº 5/96
de 29 de Fevereiro), a decisão de elaborar os Planos Especiais de Ordenamento293
(PEOT), entre os quais se incluem os Planos de Ordenamento de Áreas
Protegidas – POAP -, compete ao membro do Governo de quem depende o
organismo responsável pela sua elaboração. O modo de articulação com os Planos
Regionais de Ordenamento do Território e os Planos Municipais de Ordenamento
é igualmente definido pelos diplomas anteriores.
Actualmente, os POAP encontram-se em várias fases de elaboração, exceptuando
os quatro já aprovados, quatro estão em elaboração, quatro encontram-se em
concurso público ou em adjudicação e dois em processo de revisão (ver quadro
5.5).
Quadro 5.5 Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas aprovados ou em elaboração
Quant
. Parques ou Reservas Situação
4 PNAC Peneda/Gerês; PN Sintra/Cascais; PN Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina; PN Ria Formosa
Aprovado
4 PN Montesinho; PN Alvão; PN Arrábida; RN Estuário do Tejo
Em elaboração
4 PN Douro Internacional; PN Tejo Internacional; PN Serra S. Mamede; PN Vale do Guadiana
Em concurso publico/adjudicação
2 PN Serra da Estrela; PN Serra D’Aire e Candeeiros Em revisão
Legenda:
PNAC - Parque Nacional PN - Parque Natural RN - reserva Natural
Fonte: Elaborado a partir de MEPAT – Ministério do Equipamento, do Planeamento e da
Administração do Território (1998b), Relatório do Estado do Ordenamento do Território – 1997, Lisboa
Além dos quatorze parques ou reservas com existência legal existem, no
continente, mais cinco áreas protegidas ainda não delimitadas por Decreto
Regulamentar294, nomeadamente: RN do Paul de Arzila; RN Estuário do Tejo;
293 Segundo a Lei são Planos Especiais de Ordenamento os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), os Planos de Ordenamento de Albufeira de Águas Públicas (POAAP) e os Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas (POAP).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
273
RN Sapal de Castro Marim/V.R.S. António; RN Berlengas e RN Dunas de S.
Jacinto (MEPAT, 1998b, p. 209).
5.3.2.2. A Reserva Agrícola Nacional
A protecção dos solos agrícolas constitui uma medida estratégica com vista a
assegurar a manutenção de determinado número de hectares vinculados à
produção de bens alimentares como prevenção face a uma absoluta dependência
alimentar do exterior ou, mesmo, um estrangulamento ocasional devido a um
conflitos armados ou debilidades económicas temporárias. A delimitação de uma
Reserva Agrícola Nacional – RAN - deverá, assim, constituir-se numa das
principais preocupações da Administração Central promovendo a utilização
racional dos solos e impedindo a sua destruição. A realização destes objectivos,
bem como do regime jurídico administrativo depende da efectiva delimitação das
áreas da RAN que, sendo um trabalho complexo, se integra na política de
ordenamento do território.
Em 1970 e 1976 foram publicadas duas leis sobre o uso dos solos que incidiam
unicamente sobre os solos para edificação e expansão urbana deixando, por
conseguinte, os solos rústicos sem quaisquer regras. Os Dec.-Lei nº 356 e 357, de
8 de Julho de 1975, vieram colmatar esta falta ao darem um enquadramento
jurídico à salvaguarda das zonas rurais, em geral, e dos terrenos de maior aptidão
agrícola, em particular.
Em 1982, através do Dec.-Lei nº 451/82, de 16 de novembro, é formalizada a
Reserva Agrícola Nacional da qual fazem parte os solos nacionais com maior
294 Estas áreas são: RN do Paul de Arzila; RN Estuário do Tejo; RN Sapal de Castro Marim/V.R.S. António; RN Berlengas e RN Dunas de S. Jacinto.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
274
aptidão para a prática da agricultura295 que são cartografados e identificados nos
planos regionais e municipais de ordenamento do território. O Dec.-Lei nº 196/89,
de 14 de Julho, trouxe uma maior operacionalidade e rigor à tarefa de delimitação
e conservação das áreas integrantes da RAN. A confluência da Reserva Agrícola
Nacional com os planos de ordenamento tornou-se mais intensa em resultado da
dupla vocação que lhe é atribuída pelo Estado ao inscrever na lei (...) contribuir
para o pleno desenvolvimento da agricultura portuguesa e para o correcto
ordenamento do território (artº 1º). O Dec.-Lei nº 274/92, de 12 de Dezembro,
revendo alguns aspectos da disciplina jurídica da RAN, torna obrigatória a
inclusão da sua carta, aprovada pela Comissão Regional da Reserva Agrícola, nos
planos de ordenamento.
Para um país como Portugal, com uma reduzida percentagem do solo afecta à
RAN (os solos mais produtivos abrangem apenas 12% do território nacional)
pretendia-se impor regras bastante rígidas em relação à desanexação do solo o que
não veio a acontecer assistindo-se, pelo contrário, a uma gestão casuística que, a
pouco e pouco, permite a sua destruição pela ocupação humana, pelas infra-
estruturas, pelas albufeiras, por práticas agrícolas pouco adequadas e pela
ignorância e irresponsabilidade de muitos dos que tomam decisões neste País
(Espenica, 1994, p. 95). O processo de constituição da Reserva Agrícola Nacional
sofreu um grande impulso a partir de 1989 acompanhando, quase sempre, a
elaboração dos Planos Directores Municipais. Em Outubro de 1999, a maioria
dos concelhos do continente (269) tinham a Carta da Reserva Agrícola Nacional
publicada faltando, apenas, um concelho das CCR’s do Centro e de Lisboa e Vale
do Tejo, dois concelhos da CCR Norte e três concelhos da CCR Alentejo.
295 Os solos que integram a RAN são os das classes A, B e da subclasse Ch e, na sua falta, os solos de classe C.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
275
5.3.2.3. A Reserva Ecológica Nacional
A regulamentação da REN tem sido feita por sucessivas aproximações num
esforço ambicioso de implementar uma conservação da natureza, fora das Áreas
Protegidas, através de ecossistemas litorais e interiores e da intensificação dos
processos biológicos indispensáveis à plena e equilibrada integração da actividade
humana. A conservação da natureza é, assim, conseguida graças a um
condicionamento na utilização das áreas com características biológicas especiais.
Em 1983 é criada a Reserva Ecológica Nacional pelo Dec.-Lei nº 321/83, de 5 de
Julho. Este novo diploma, mais abrangente do que Dec.-Lei nº 613/76, considera
no seu preâmbulo a Reserva Ecológica Nacional, juntamente com a Reserva
Agrícola Nacional, instrumentos privilegiados da política de ordenamento do
território nacional, promovendo uma utilização equilibrada dos recursos naturais
sem, contudo, comprometer o desenvolvimento económico e social das regiões. A
Reserva Ecológica Nacional, surge com uma forte componente “ordenamentista”
em resposta ao caos instalado, sobretudo a partir da década de 70, ao nível do
ordenamento do território. A delimitação da REN296 é considerada uma
condicionante de ordem superior pelo que passa a integrar todos os instrumentos
de ordenamento do território, designadamente os Planos Regionais, os Planos
Especiais, os Planos Directores Municipais e os Planos de Urbanização e de
Pormenor. Esta reserva obriga a um forte posicionamento quanto à manutenção
e/ou alteração do uso dos solos com o objectivo de salvaguardar as situações que
podem pôr em causa a utilidade do território como suporte biofísico indispensável
ao desenvolvimento económico, social e cultural297.
A falta de delimitação da REN pelo poder central e a urgência em defender
algumas zonas em perigo (não abrangidas pelo Dec.-Lei nº 613/76) levaram à
296 A REN abrange três tipos de áreas: 1) as zonas costeiras; 2) as zonas ribeirinhas, águas interiores e áreas de infiltração máxima ou de apanhamento; 3) as zonas declivosas. 297 O regime da REN encontra-se regulamentado no seu artº 4º da seguinte forma: Nas áreas de REN são proibidas as acções de iniciativa pública ou privada que se traduzem em operações de loteamento, obras de urbanização, construção de edifícios, obras hidráulicas, vias de comunicação, aterros, escavações e destruição do coberto vegetal.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
276
criação de um regime transitório até 1992. O Dec.-Lei nº 213/92, de 12 de
Outubro, vem reafirmar o papel importante dos planos de ordenamento do
território e abrir um espaço de manobra que faltava à Reserva Ecológica Nacional
para esta deixar de ser interpretada como absolutamente restritiva e proibitiva e,
pelo contrário, seja compreendida como uma figura de planeamento ambiental que
permite o exercício das actividades que não perturbem o equilíbrio biológico e a
protecção dos ecossistemas. O problema reside, então, na determinação dos usos
compatíveis na área da REN que pode ser efectuada de dois modos:
• se não existe um Plano de Ordenamento Municipal, cabe às Direcções
Regionais do Ministério do Ambiente confirmar, através de parecer, a
compatibilidade das acções;
• se houver um Plano Municipal válido, será através deste que se aferirá da
compatibilidade das acções a desenvolver na área da REN.
Em 1995, o Dec.-Lei nº 79/95, de 20 de Abril, determina que a aprovação da
Reserva Ecológica Nacional se passe a fazer por Resolução do Conselho de
Ministros. A outra alteração importante tem a ver com a possível não
correspondência entre a delimitação aprovada em Conselho de Ministros e a
delimitação feita no Plano Director Municipal. Neste caso, é obrigatório proceder-
se à compatibilização duas delimitações prevalecendo a primeira.
A criação de um quadro legal para a Reserva Ecológica Nacional, onde se prevê
uma regulamentação uniforme para um conjunto de ecossistemas diversificados,
representa uma filosofia jurídica inovadora com a vantagem de, por um lado,
construir um sistema de regulação único e, por outro lado, eliminar a dispersão de
leis e procedimentos administrativos. Contudo, este procedimento não exclui o
risco de extremar a uniformização e descurar as possibilidades de utilização
específica de cada conjunto biofísico pelo que alguns países europeus preferem a
projecção e formalização de um regime sectorial de protecção ou, por outras
palavras, cada “unidade físico-natural” é objecto de um diploma particular.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
277
Em Setembro de 1997, cerca de 97% dos municípios do continente, ou seja, 266
tinham delimitada a Reserva Ecológica Nacional faltando apenas quatro concelhos
da CCR Lisboa e Vale do Tejo, outros quatro da CCR Alentejo e um da CCR
Algarve (MEPAT, 1998b, p. 224). Esta situação é alterada se considerarmos
apenas os municípios que têm a sua REN publicada em Diário da República.
Assim, em Outubro de 1999, ainda havia 57 dos 276 municípios do continente
sem a sua carta publicada, destes 24 pertencem à região de Lisboa e Vale do Tejo,
19 ao Norte, 10 ao Algarve e 4 ao Alentejo.
5.4. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NACIONAL
5.4.1. É urgente ordenar o território português
Á medida que se aproxima o final do milénio, o mundo confronta-se com o
problema da conciliação do crescimento demográfico e dos padrões de consumo
com as disponibilidades de recursos naturais. Reconhece-se que, por um lado, o
ritmo do uso dos recursos naturais é insustentável, a degradação ambiental não
pode continuar e, por outro lado, o sistema económico predominante não promove
o desenvolvimento sustentável.
A Cimeira da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, entre as acções mundiais refere
expressamente o desenvolvimento sustentável como uma prioridade na agenda
da comunidade internacional (CNEUD, 1992, § 2.1). Ao mesmo tempo, foi
assumido que só a sustentabilidade do desenvolvimento permitiria inverter,
simultaneamente, a pobreza e a degradação ambiental. A esta Cimeira, sob a égide
da ONU, seguiram-se outras298 claramente sectorializadas, mas ligadas entre si
por um denominador comum: o HOMEM. Assim, o desenvolvimento humano não
pode ser separado do conceito de desenvolvimento sustentável uma vez que este
298 Como, por exemplo, a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (Cairo, 1994), a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (Paris, 1994), a Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Social (Copenhaga, 1995), a HABITAT II (Istambul, 1996), etc.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
278
não envolve apenas a dimensão ambiental do desenvolvimento, mas também a
dimensão humana. Daí se considerar que o desenvolvimento tem de ser centrado
no homem, com preocupações sobre a capacitação humana, participação,
igualdade entre os sexos, crescimento equitativo, redução da pobreza e
sustentabilidade a longo prazo (PNUD, 1998, p. 14). A concretização destes
objectivos passa pela definição e implementação de, entre outras, uma política de
desenvolvimento em que o território é assumido como um elemento central (daí
deriva a importância do seu ordenamento) tendo em vista a equidade intra e
intergeracional no acesso ao bem-estar colectivo (rendimento, educação, cultura,
saúde, direitos políticos, ambiente e ecologia).
A ideia, muito comum em Portugal, de que no nosso estádio de desenvolvimento,
a qualidade do espaço não é compatível com o caminho do progresso tem de ser
definitivamente erradicada. Embora, nos últimos anos se tenha assistido a uma
progressiva consideração dos princípios ecológicos nos mais diversos sectores de
actividade há, ainda, muito para fazer. Neste sentido, não se pode ser credível
qualquer política ou estratégia de desenvolvimento que não inclua a qualidade do
ambiente como um dos vectores essenciais do bem-estar das populações. Da
mesma forma, um território arruinado pelo mau uso e ocupação anárquica, é um
território perdido para a comunidade e para o País pelo que é necessário
implementar uma correcta política de ordenamento do território, isto é, ordenar e
impor as soluções adequadas através do planeamento, tendo em consideração os
valores sócio-culturais e ecológicos, que devem presidir à gestão dos recursos
naturais e da localização das actividades vitais do homem. Como afirma Mendes
(1991, p. 11) em matéria de ordenamento do território, os desenvolvimentos são
rápidos e complexos: as forças que os estimulam são muitas vezes contraditórias.
O progresso da ciência e da técnica, a evolução dos valores e normas e, acima de
tudo, uma mais acérrima e consciente defesa dos interesses individuais pela
qualidade de vida e pela participação social, são tudo aspectos responsáveis pelo
número crescente de elementos a ter em conta na preparação de uma estratégia e
política de ordenamento do território.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
279
Em Portugal, as opções de política económica, as normas ambientais e sectoriais
em vez de se articularem, tendo em vista o desenvolvimento sustentável, entram
frequentemente em conflito. Além disso, exceptuando no XIV Governo
Constitucional, as questões ambientais e do ordenamento do território têm estado
sob a responsabilidade de Ministérios diferentes o que restringia, por um lado,
uma unidade de pensamento e de acção e, por outro, reduzia a eficácia de uma
política global e correcta de desenvolvimento já que o ordenamento do território
não existe sem os estudos de caracterização local que permitem definir com rigor
a aptidão biofísica, ambiental e paisagística do terreno. Efectivamente, não se
pode continuar a separar o ordenamento do território das questões ambientais e de
qualidade de vida, uma vez que esta separação artificial impede a implementação
de uma verdadeira política integrada de ambiente e desenvolvimento (ver
fluxograma 5.4). Além disso, as políticas de ordenamento do território e do
ambiente terão de actuar de forma integrada e a todos os níveis (nacional, regional
e local) sobre o conjunto de factores que condicionam a localização das
actividades e do habitat humano. Assim, estas políticas deverão incidir, quer ao
nível das áreas urbanas, quer ao das zonas rurais de forma a incentivar a
preservação dos seus recursos, a reestruturação e hierarquização dos aglomerados
populacionais, bem como zonificar o uso do solo de acordo com a sua vocação
natural.
A falta de uma verdadeira política de ordenamento do território durante muitos
anos provocou graves problemas (forte concentração da população e actividades
produtivas na faixa litoral, poluição dos recursos hídricos, construção de
habitação dispersa, muitas das vezes, em zonas de inundação, dunas, etc.). A
recente aprovação299 da Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e
de Urbanismo e a subsequente regulamentação suplementar300 poderão contribuir
para inverter a tendência até aqui verificada.
299 Aprovada em agosto de 1998. 300 Dec.-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro, define o regime aplicável aos instrumentos de ordenamento do território.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
280
Fluxograma 5.4
Interface entre Ambiente e o Ordenamento do Território
SISTEMA AMBIENTAL
Fonte: Mendes, J. L. M. F. (1991), Política do ambiente – da Rua do século a Maastricht, F. C. T., Monte da Caparica
É do conhecimento geral que o país se confronta com várias dificuldades que vão
desde as assimetrias regionais às disparidades de repartição dos rendimentos,
que se traduzem por contrastes sociais muito vincados, desde a frágil estrutura
económica, extremamente dependente do exterior, às deficientes condições de
existência de muitos dos seus habitantes (Brito, 1997, p. 102), mas, em nosso
entender, o deficiente ordenamento do território constitui a maior dificuldade
apesar de quase todos os municípios terem o seu Plano de Ordenamento aprovado
(somente 4 concelhos ainda não têm o seu plano aprovado e publicado em Diário
Ordenamento do
Território
REDE URBANA e TRANSEUROPEIA
DESENVOLVIMENTO REGIONAL e LOCAL
GESTÃO DOS
RECURSOS
NATURAIS
PROTECÇÃO DA NATUREZA
LAZERES
CONSUMO
TECNOLOGIA
IMPACTES AMBIENTAIS
AGRICULTURA INDÚSTRIA TRANSPORTES ENERGIA
HABITAT
MINAS
RESÍDUOS
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
281
da República301). Em relação à cobertura do território nacional pelos restantes
instrumentos de ordenamento a situação é bastante pior.
Os planos de ordenamento para além de serem instrumentos de carácter
preventivo que se ocupam sobretudo com a definição dos condicionamentos
localizados no espaço, da actuação dos homens, têm também um conteúdo activo,
de procura e de reposição de equilíbrios perdidos, procurando abranger toda a
actuação humana sobre o território. Os planos de ordenamento definem-se como
instrumentos que procuram subordinar o ordenamento do território à realização de
dois objectivos vitais: manter o equilíbrio ecológico e promover o
desenvolvimento sustentável.
5.4.2. Os instrumentos de ordenamento do território
5.4.2.1. A precedência dos planos urbanísticos
O plano de reconstrução de Lisboa, destruída pelo terramoto de 1755, embora
com características marcadamente urbanísticas, é considerado um dos primeiros
planos de ordenamento. No entanto, só em 31 de Dezembro de 1864 viria a ser
publicado o primeiro decreto (de impacto reduzido) que determinava as regras
sobre as ruas e edificações no interior das cidades, vilas e povoações e previa a
elaboração de planos gerais de melhoramentos, obrigatórios para as cidades de
Lisboa e Porto, facultativos para as restantes vilas e cidades do reino.
Nos anos trinta, do século XX, publicaram-se dois importantes diplomas
específicos sobre questões urbanísticas. Em 1932, o Dec.-Lei nº 21697, de 30 de
Setembro, menciona pela primeira vez os planos de urbanismo, com
preocupações essencialmente estéticas, da responsabilidade da Direcção Geral de
301 Dados recolhidos pelo autor .
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
282
Edifícios e Monumentos Nacionais. Em 1934, o Dec.-Lei nº 24802, de 21 de
Dezembro, que não provocou grandes alterações, atribuía às Câmaras Municipais
a tarefa de elaboração dos planos gerias de urbanização e obrigava o Estado a
uma comparticipação financeira. Um novo impulso é dado, na década de quarenta,
com a aprovação do Dec.-Lei nº 33821, de 5 de Setembro de 1944, que
completando e reforçando os objectivos e princípios contidos no diploma de 1934,
obrigava as Câmaras Municipais a elaborarem não só planos gerais de
urbanização, mas também planos de expansão para as localidades com mais de 2
500 habitantes, desde que entre dois censos gerais da população demonstrassem
uma apreciável expansão demográfica, e para as localidades de reconhecido
interesse turístico, recreativo, climático, histórico ou outro. Além destes planos
podiam ser elaborados planos parciais de urbanização que tinham um carácter
transitório e incidiam sobre uma determinada área do espaço urbano. No mesmo
ano, o Dec.-Lei nº 34173, de 6 de Dezembro, previa a elaboração de anteplanos
de urbanização (equivalentes aos planos gerais de urbanização) destinados às
colónias ultramarinas.
Em 1959, é publicado o Dec.-Lei nº 2099, de 18 de Agosto de 1959, que
determina a elaboração de um plano regional, ou melhor, do Plano Director do
Desenvolvimento Urbanístico da Região de Lisboa, cujos trabalhos decorreriam
até 1964. Este plano, segundo Mendes (1990, p. 171) definia, em linhas gerais,
uma nova estrutura urbanística, assente em critérios de rendibilização das infra-
estruturas, transportes e equipamentos e na dinamização da vida local, através
do controlo de crescimento dos aglomerados. A Guerra Colonial, desviando as
atenções para situações mais imediatas, levou a Administração Central a não
assumir os seus compromissos perante as Autarquias nem a aprovar o plano. Em
1972, sem êxito, tentou-se retomar a sua elaboração. Já em relação ao Porto, o
Plano Director da Região do Porto teve início em 1964 e arrastou-se até 1973
(Dec.-Lei nº 124/73 de 24 de Março).
Em 1965, pela primeira vez, regulamentam-se os loteamentos urbanos (Dec.-Lei
nº 46673/65, de 29 de Novembro) e, em 1969, o Relatório do Secretariado
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
283
Técnico da Presidência do Conselho de Ministros perspectiva a política de
ordenamento do território nacional.
No início da década de setenta, destaque-se a publicação da Lei dos Solos (Dec.-
Lei nº 576/70 de 24 de Novembro) que impôs algumas regras reguladoras das
expropriações, bem como o Dec.-Lei nº 560/71, de 17 de Dezembro, que introduz
algumas inflexões no sistema de planos clarificando, por um lado, os contornos e
o conteúdo dos planos gerais de urbanização e, por outro lado, terminando com a
figura dos anteplanos e criando os planos de pormenor. Além disso, consagra o
direito de consulta aos interessados mediante o instituto jurídico do inquérito
público. Os planos de urbanização das áreas territoriais são, também, uma
inovação introduzida pelo Dec.-Lei de 1971. Embora estes planos sejam
designados de urbanização de facto, quer pela área abrangida, quer pela sua
origem central (os restantes são de origem municipal), eles aproximam-se dos
actuais Planos Regionais de Ordenamento do Território. O Dec.-Lei nº 561/71, de
17 de Dezembro, permitiu um avanço importante no planeamento territorial ao
atribuir à Direcção Geral dos Serviços de Urbanização a elaboração dos planos
gerais de urbanização das sedes dos seus concelhos e de outras povoações,
acrescentando que deveriam ser igualmente elaborados planos gerais de
urbanização ... nas áreas territoriais em que a estrutura urbana justificasse a
elaboração de planos de conjunto abrangendo vários centros urbanos e zonas
rurais intermédias ou envolventes (Brito, 1997, p. 185). Apesar de ser a
Administração Central a elaborar os planos gerais de urbanização das áreas
territoriais, e não os Municípios como seria de esperar, a experiência teve um
saldo positivo.
As preocupações com a rede urbana reflectem-se no III Plano de Fomento (1969-
1973) ao considerar-se como um dos objectivos o equilíbrio da rede urbana
conseguido pelo desenvolvimento ou a criação de centros urbanos, para que toda
a população disponha, a distâncias razoáveis, de equipamento sócio-económico
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
284
mínimo (CM, 1969, p. 620). O IV Plano de Fomento302 (1974-1979),
considerando o ordenamento do território e a correcção dos desequilíbrios
regionais como um dos seus objectivos básicos, veio dar um conteúdo mais exacto
às intenções enunciadas no anterior plano. Este plano, embora não tivesse sido
implementado (em 1974 ocorreu a Revolução de Abril), teve uma influência
considerável no ordenamento do território nacional. Em Setembro de 1974, cria-se
o Conselho Restrito para o Ordenamento do Território que não viria a funcionar.
Em 1976, a Constituição da República Portuguesa, reflectindo as preocupações da
sociedade com a problemática do ordenamento do território, compromete o
Estado na promoção e realização do ordenamento territorial. Em 1977, é
promulgada a Lei nº 79/77, de 25 de Outubro, que define as atribuições das
autarquias e as competências dos seus órgãos e introduz a figura do Plano
Director Municipal sem, contudo, estabelecer qualquer regulamentação sobre a
sua forma ou conteúdo. Dois anos depois é publicada a Lei das Finanças Locais
que atribui às autarquias meios financeiros próprios e o direito de receberem
subsídios e parte das receitas fiscais cobradas pela Administração Central. Entre
1978 e 1979 é criada uma Secretaria de Estado com competências no âmbito do
ordenamento físico (subentende-se do território) as quais viriam, posteriormente,
a ser transferidas para outro órgão da Administração Pública.
Em 1982, o Dec.-Lei nº 208/82, de 26 de Maio, regula com maior exactidão o
Plano Director Municipal como veremos mais adiante. Em 1983, é publicada
legislação sobre os Planos Regionais de Ordenamento do Território e, em 1985,
reaparece a Secretaria de Estado com competências no âmbito do ordenamento do
302 No plano afirmava-se: Base IV: “O esforço de desenvolvimento económico e social (...) visará os objectivos seguintes: c) Ordenamento do território e correcção dos desequilíbrios regionais, tendo em conta a valorização do factor humano e o aproveitamento das potencialidades naturais de cada região, nomeadamente nas áreas menos desenvolvidas. Base VIII: Tendo em consideração os requisitos da política de ordenamento do território, e em ordem à progressiva correcção dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento, será dada prioridade no Plano às actuações tendentes a promover: O fortalecimento e equilíbrio da rede urbana e da rede de apoio rural ....; A expansão descentralizada da indústria ...; A ocupação racional do espaço rural, visando ... as exigências do equilíbrio ecológico, da conservação do solo e da defesa do ambiente.
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285
território. Em 1998, como já vimos, é aprovada a Lei de Bases da Política de
Ordenamento do Território e de Urbanismo que viria a ser regulamentada no ano
seguinte.
5.4.2.2. Os níveis de planeamento territorial: nacional, regional e municipal
Nos últimos anos, quer ao nível da Administração Central, quer ao nível da
Administração Local, tem-se vindo a assistir a uma maior consciencialização da
necessidade de preservar o ambiente e de ordenar o território pelo que foram
surgindo instrumentos nesse sentido. Actualmente, a estruturação do território
nacional constrói-se a três níveis geográficos a que correspondem dois níveis
administrativos303 (central e local):
• Nível nacional revê-se num Programa ou Plano Nacional de Ordenamento do
Território (ainda não concretizado) que, adequadamente desenvolvido em
planos de implantação ou de ordenamento regional, proporcionaria ao
planeamento municipal ou sub-regional os parâmetros entre os quais se
poderiam mover e permitiria visionar, com alguma antecedência, o impacto
territorial dos programas nacionais sobre cada sub-região ou município. Este
programa deveria definir, simultaneamente, a estruturação do território
nacional e as estratégias de (Araújo, 1995):
a) racionalização da actual divisão administrativa que se revela anacrónica e de manutenção dispendiosa;
b) valorização dos recursos naturais e das vocações atribuídas a cada
segmento geo-económico-social do país, o que implica conhecer, em
profundidade, as potencialidades económicas e a sua distribuição
espacial;
c) correcção de desequilíbrios e assimetrias entre regiões e localidades
através, por um lado, da redistribuição de serviços de âmbito nacional,
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
286
regional e local, bem como da promoção do investimento em
actividades produtivas e, por outro lado, apoio ao potencial endógeno;
d) fixação ou redistribuição da população de modo a evitar a
desertificação de certas áreas enquanto noutras se verifica o
sobrepovoamento.
• Nível regional que, abrangendo a área total ou parcial de vários municípios,
engloba:
1. os Planos Regionais de Ordenamento do Território - PROT -,
previstos no Dec.-Lei nº 176-A/88, de 18 de Maio;
2. os Planos Especiais de Ordenamento do Território - PEOT -,
regulados inicialmente pelo Dec.-Lei nº 151/95, de 24 de Junho, 9 de
Fevereiro, integram os Planos de Ordenamento da Orla Costeira, os
Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas e os Planos de
Ordenamento das Albufeiras de Águas Públicas.
• Nível municipal que, abrangendo a área de um município ou parte dela, dá
origem à elaboração dos Planos Municipais de Ordenamento do Território -
PMOT - introduzidos pelo Dec.-Lei nº 69/90, de 2 de Março, compreendem os
Planos Directores Municipais, os Planos de Urbanização e os Planos de
Pormenor.
Este conjunto de instrumentos de ordenamento do território pode desempenhar um
papel importante na adequada organização da paisagem urbana/rural desde que se
conjuguem os esforços dos vários intervenientes no processo de ordenamento do
território, na articulação dos planos com os instrumentos financeiros304, na
303 Exceptuando as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, as regiões portuguesas não dispõem de autonomia administrativa e financeira pelo que são tuteladas pela Administração Central através do Ministério do Planeamento. 304 Nos instrumentos financeiros com impacto no ordenamento do território incluem-se, entre outros, as taxas de licenciamento de operações de loteamento e obras públicas, de licenciamento de obras particulares e de infra-estruturas (cobradas pelas câmaras municipais), as taxas de licenciamento de pedreiras e outras actividades de exploração dos recursos geológicos (cobradas pelos municípios ou direcções gerais), os Fundos Nacionais como o FEF (Fundo de Equilíbrio Financeiro) atribuído às autarquias pela Administração Central, os Programas Urbanos como o PROSIURB (Programa de Consolidação do Sistema Urbano Nacional e Apoio à Execução dos Planos Directores Municipais), o PROCOM (Programa Apoio à Modernização do Comércio) ou o PER (Programa Especial de Realojamento), os Programas sectoriais como o PDF (Plano de Desenvolvimento da Floresta) e os Fundos comunitários com destaque para o Fundo de Coesão, o
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
287
programação dos investimentos e, sobretudo, não se encarem estes planos como
meros regulamentos, mais ou menos estáticos, mas sim como instrumentos de
programação das intervenções da Administração Central e Local, dos agentes
económicos e da população em geral.
A Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e Urbanismo (Lei nº
48/98 de 11 de Agosto), além de definir os instrumentos de ordenamento ou de
planeamento físico do território português, formula os grandes princípios da
política de ocupação do solo, os quais irão moldar todos os programas e as opções
daí emergentes, dando-lhes uma unidade jurídico-política. Seguindo a
sistematização da Lei, estão consagrados em primeiro lugar os instrumentos de
desenvolvimento territorial, de natureza estratégica e delimitadora das grandes
linhas programáticas do planeamento, que incluem o programa nacional de
ordenamento do território (fixa os objectivos e metas fundamentais do
ordenamento), os PROT (definem as orientações para a organização do espaço
regional no quadro das medidas de amplitude nacional) e os planos
intermunicipais de ordenamento do território (elaboração facultativa por parte de
grupos de municípios tendo em vista a gestão integrada de áreas municipais
contíguas). Seguem-se os instrumentos de planeamento territorial que
estabelecem as regras de ocupação dos solos em função da respectiva vocação.
Nestes instrumentos incluem-se os PMOT que são vinculativos para as entidades
públicas e privadas. A Lei prevê, ainda, os instrumentos de política sectorial,
criados pelos vários sectores da Administração Central, isto é, pelos vários
Ministérios. Finalmente, existem os instrumentos de natureza especial, da
responsabilidade da Administração Central, materializados sob a forma de PEOT.
A falta do Programa Nacional de Ordenamento do Território conduz a uma
situação insólita: a Lei de Bases é a cobertura e, simultaneamente, constitui os
alicerces de todo o ordenamento do território.
FEOGA e o FEDER e, por último, os Programas de Iniciativa Comunitária INTERREG e
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
288
A nova regulamentação tem a virtude imediata de consagrar as fundações que há
muito faltavam para se erigir um sólido sistema de gestão territorial e configurar
uma hierarquização dos vários instrumentos de ordenamento do território
dispersos na ordem jurídica. De referir que no período de discussão pública do
anteprojecto da Lei de Bases foram feitas algumas críticas ainda, hoje, actuais.
Entre estas destacamos as seguintes (Alves, 1997):
• o anteprojecto está imbuído de uma lógica administrativa de conservação do
território e não de ordenamento ...;
• à lógica conservacionista teria sido preferível uma lógica promocional da
gestão do território ... [que] encara o território não apenas como um sistema
físico mas, também, como um sistema humano de actividades, realizações e
aspirações, de interdependências;
• ... a visão de preservação do território é limitada e demasiada estática. A
gestão do território implica a capacidade para encontrar o equilíbrio entre a
preservação de ordem natural e criação de território.
Além disso, registe-se ainda a falta de ambição desta Lei ao restringir o
ordenamento do território à Administração Pública e não o estender ao sector
privado através do estabelecimento de protocolos e de contratos-programa.
Subsiste, ainda, alguma “confusão” entre fins e objectivos do ordenamento do
território, bem como entre instrumentos de desenvolvimento territorial e
instrumentos de planeamento territorial (não será o planeamento territorial um
instrumento de promoção do desenvolvimento do território ?). Sublinhe-se a
persistência na bipolarização da classificação do solo, através das clássicas
categorias rural e urbano, o que é hoje considerado insuficiente para enquadrar
minimamente os novos recortes funcionais do território. Será que o legislador ao
referir-se a solo rural e a solo urbano terá em mente o espaço rural e o espaço
urbano dado o solo ser um elemento físico, com determinadas características
(minerais, biológicas, de humidade e de temperatura), e o espaço compreender os
elementos físicos e humanos, eis uma dúvida que a Lei de Bases não esclarece.
Além disso, perante a urbanização crescente da sociedade moderna torna-se
CORINE.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
289
extremamente difícil delimitar com exactidão os limites entre o espaço rural e o
espaço urbano. Este diploma prevê, ainda, o estabelecimento do direito de
compensação e indemnização dos particulares sem, contudo, clarificar os
mecanismos pelos quais este se fará. Por último, as relações entre os vários
instrumentos de gestão territorial não estão devidamente clarificadas e não se faz
qualquer referência à articulação entre os planos sectoriais e os planos especiais o
que pode gerar algumas situações bastante complexas305 .
Apesar destes reparos, a publicação da Lei de Bases de Ordenamento e seu
diploma regulamentar representa uma inflexão positiva no rumo que tem sido
seguido na concretização da política de ordenamento do território. Efectivamente,
a prática vinha revelando a existência de planos de urbanização, seguidos dos
planos directores municipais e, só depois, os planos regionais.
5.4.2.3. Os Planos Regionais de Ordenamento do Território
Os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT), como já vimos,
foram criados pelo Dec.-Lei 338/83, de 20 de Julho. Passados cinco anos, o Dec.-
Lei nº 176-A/88, de 18 de Maio, altera a legislação anterior que, por sua vez sofre
algumas alterações com o Dec.-Lei nº 294/94, de 12 de Outubro, e o Dec.-Lei nº
309/95 de 20 de Novembro que veio a fixar a aprovação do PROT através de
decreto regulamentar.
A necessidade de elaboração deste tipo de planos decorre das profundas alterações
que ocorrem no território devido ao desenvolvimento económico e social, ou seja,
devido aos impactos da actividade turística, da exploração agrícolas, da extracção
dos mármores e da concentração de actividades produtivas e da população em
áreas relativamente reduzidas do litoral, em particular. Esta situação leva ao
305 Por exemplo, os conflitos decorrentes das previsões de um plano sectorial na área do turismo sobre a qual incide um Plano de Ordenamento da Orla Costeira.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
290
estabelecimento de orientações e directrizes que, salvaguardando o património
cultural, visem o desenvolvimento harmonioso das diferentes parcelas do
território e a optimização das implantações humanas, do uso dos solos e do
aproveitamento dos seus recursos.
Os PROT, constituídos por duas peças (Regulamento e Relatório), integram a
área de vários municípios com uma certa homogeneidade em termos económicos,
sociais ou ecológicos e representam interesses ou preocupações que, pela sua
interdependência, necessitam de um tratamento integrado. Estes planos são,
assim, um instrumento privilegiado para prosseguir uma melhor localização das
actividades e do desenvolvimento equilibrado e sustentável do território nacional.
O zonamento e a organização dos elementos estruturantes do espaço regional
(traduzida na hierarquia/funções dos centros urbanos e eixos) constituem a parte
fundamental da proposta de ordenamento pelo que todos os PROT,
independentemente do seu nível, procedem à delimitação das diversas zonas de
uso dos respectivos solos.
Os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT), sendo supra
municipais, como já vimos, incidem sobre a área de vários. Em termos de
balanço, embora tenham sido aprovados alguns Planos Regionais de Ordenamento
e outros estejam em processo de elaboração municípios (ver quadro 5.6), o facto é
que na sua totalidade estes abrangem, somente, 31,4% do território continental e
50% da população (ver mapa 5.3). Refira-se ainda que, salvo algumas excepções,
o território abrangido pelos PROT, é constituído pela faixa costeira.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
291
Quadro 5.6 Planos Regionais de Ordenamento aprovados ou em elaboração
Plano Concelhos envolvidos Situação
PROTAL: Algarve
Todos os municípios do distrito de Faro Em vigor
PROZED : Zona Envolvente do Douro
Gondomar, Penafiel, Marco de Canavezes, Baião, Cinfães, Resende, Castelo de Paiva, Lamego, Mesão Frio, Peso da Régua, Armamar, Sabrosa, Alijó e Tabuaço
Em vigor
PROZAG : Zona Envolvente das Barragens da Agueira, Coiço e Fronhas
Parte dos municípios de Arganil, Carregal do Sal, Mortágua, Penacova, Santa Comba Dão, e Tábua
Em vigor
PROTALI: Litoral Alentejano
Alcácer do Sal, Grândola, Santiago de Cacém, Sines e Odemira
Em vigor
PROTAM: Alto Minho
Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Certeira, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Ponte de Lima e Viana do Castelo
Em elaboração
PROTCL: Centro Litoral
Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Mealhada, Murtosa, Oliveira do Bairro, Ovar, Sever do Vouga, Vagos, Cantanhede, Coimbra, Condeixa, Figueira da Foz, Mira, Montemor-o-Velho, Penacova, Soure, Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós
Em elaboração
PROTAML: Área Metropolitana de Lisboa
Amadora, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Oeiras, Sintra e Vila Franca de Xira, Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal, Sesimbra e Setúbal
Em elaboração
PROZEA: Zona Envolvente da Barragem do Alqueva
Alandroal, Reguengos de Monsaraz, Portel, Mourão, Moura e Barrancos
Em elaboração
PROZOM : Zona dos Mármores
Alandroal, Borba, Estremoz e Vila Viçosa A elaborar
PROTO: do Oeste
Nazaré, Alcobaça, Caldas da Rainha, Peniche, Óbidos, Bombarral, Lourinhã, Torres Vedras, Sobral de Monte Agraço, Arruda dos Vinhos, Alenquer e Cadaval
A iniciar306
Fonte: Elaborado a partir de MEPAT – Ministério do Equipamento, do Planeamento e da
Administração do Território (1998b), Relatório do Estado do Ordenamento do Território – 1997, Lisboa
Na área de um PROT podem existir um ou mais Planos Especiais de
Ordenamento (orla costeira, albufeira de águas públicas ou áreas protegidas) o que
exige um esforço de articulação e de compatibilização entre estes instrumentos de
ordenamento do território de modo a que as estratégias para o território em causa
não sejam conflituantes, mas, pelo contrário, se complementem. Refira-se, ainda,
que as propostas cruzadas existentes durante a elaboração dos PROT exigem a
procura de consensos entre os diversos Municípios envolvidos e entre estes e os
vários Ministérios.
306 Segundo informação telefónica de uma técnica do GAT de Caldas da Raínha, está previsto lançar o Concurso Público para a elaboração do PROT após o Verão de 1999.
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292
Mapa 5.3
Planos regionais de Ordenamento do Território
Fonte: MEPAT - Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território (1998c), Relatório do Estado do Ordenamento do Território - 1997, Lisboa, p. 201
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293
5.4.2.4. Os Planos Especiais de Ordenamento do Território
A Lei de Bases refere-se ainda aos Planos Especiais de Ordenamento do
Território, já previstos pelo Dec.-Lei nº151/95, de 24 de Junho, posteriormente
reformulados pelo Dec.-Lei nº 5/96 de 29 de Fevereiro. O diploma de 1995 previa
sete tipos de Planos Especiais, nomeadamente: os Planos de Ordenamento
Florestal, os Planos de Ordenamento e Expansão dos Portos, os Planos
Integrados de Habitação, os Planos de Salvaguarda do Património Cultural,
Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas, Planos de Ordenamento de
Albufeiras de Águas Públicas e os Planos de Ordenamento da Orla Costeira. De
referir no entanto que somente os últimos três planos estavam regulamentados307,
enquanto os restantes estavam referidos em legislação dispersa308.
Em 1996, a nova legislação reduz para três os Planos Especiais - Planos de
Ordenamento da Orla Costeira, Planos de Ordenamento de Albufeiras de Águas
Públicas e Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas -, com um regime
jurídico bastante semelhante ao dos Planos Regionais. Estes planos reflectem um
conjunto de princípios e objectivos, que vão desde a realização integrada do
ordenamento do território e a garantia de um desenvolvimento económico e social
sustentável até à sua compatibilização com a promoção e salvaguarda dos recursos
naturais, áreas agrícolas e florestais, património natural e construído, passando
pela estímulo à participação da população e pela protecção dos seus legítimos
interesses e, finalmente, pelo cumprimento do princípio da hierarquia entre os
vários tipos de planos. A principal peça dos planos especiais é o regulamento que,
explicando o regime jurídico e a estratégia a implementar, possui duas
representações gráficas:
• a planta de síntese onde, para além da classificação dos espaços de acordo
com o uso dominante, predominam os aspectos de carácter urbanístico;
307 Dec.-Lei nº 19/93, de 23 de Janeiro, Decreto Regulamentar nº 2/88, de 20 de Janeiro, e Dec.-Lei nº 309/93 de 2 de Setembro. 308 Por exemplo, os Planos de Salvaguarda do Património Cultural, previstos formalmente no art. 21º/5, da Lei nº 13/85, de 6 de Julho, eram referenciados no art. 2º/2 do Dec.-Lei nº 69/90, de 2 de Março, que remetia para legislação especial a criar. Posteriormente, esta disposição foi revogada pelo Dec.-Lei nº 151/95 de 24 de Junho (DR, n.º 144/95).
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294
• a planta de condicionantes que delimita geograficamente todas as restrições e
servidões administrativas que impedem sobre a área do plano: a Reserva
Agrícola Nacional, a Reserva Ecológica Nacional, as áreas do regime florestal
e do domínio público hídrico, as servidões aeronáuticas e as relativas à defesa
nacional.
Além deste elementos obrigatórios, há toda uma série de documentos avulsos que
podem servir para a instrução do processo como a planta de enquadramento ou os
estudos de fundamentação da proposta apresentada.
O mar, enquanto factor centralizador, determina uma faixa com características
distintivas e atractivas para o homem levando a enormes fluxos migratórios na
sua direcção e, no caso português, a fazer do litoral a zona mais intensamente
povoada e economicamente mais desenvolvida. Esta situação conduziu à
elaboração dos Planos de Ordenamento da Orla Costeira 309. Os primeiros POOC
foram lançados em 1983, sem qualquer base legal, pela Direcção Geral dos
Portos. Em 1993, o Dec.-Lei nº 309/93, de 2 de Setembro, veio reconhecer a sua
existência legal e permitir a cobertura integral da orla costeira continental.
Actualmente, cinco310 dos nove planos estão aprovados, encontrando-se os outros
em fase de elaboração. Estes planos, que definem as condições de ocupação, uso e
transformação dos solos no litoral, não são, contudo, muito claros sobre as regras
a que devem obedecer a construção de aldeamentos turísticos (um dos mais graves
problemas com que se debatem as zonas costeiras).
As albufeiras, tal como a orla costeira, funcionam como um suporte biológico
importante a merecer especiais atenções. Em cada albufeira existe um perímetro
dentro do qual são proíbidas ou limitadas certas actividades (previstas na
legislação) por comportarem perigos para a sua manutenção. Actualmente, estes
perímetros são alvo de um Plano de Ordenamento de Albufeiras de Águas
309 Os POOC são: Caminha/Espinho, Ovar/Marinha Grande, Alcobaça/Sintra, Sintra/Sado, Cascais/S. Julião da Barra, Sado/Sines, Sines/Burgau, Burgau/Vilamoura e Vilamoura/V. R. S. António. 310 Os POOC aprovados são: Caminha/Espinho, Cascais/S. Julião da Barra, Sado/Sines, Sines/Burgau, Burgau/Vilamoura.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
295
Públicas - POAAP. Estes planos, em número de vinte e oito, encontram-se em
várias fases do processo de planeamento: sete estão aprovados, um em revisão,
dezoito em elaboração e dois em fase de concurso/adjudicação (ver Mapa 5.4).
Mapa 5.4 Planos de Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas
Fonte: MEPAT - Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território
(1998c), Relatório do Estado do Ordenamento do Território - 1997, Lisboa, p. 207
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
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As áreas protegidas representam a nossa tradição mais consistente quanto à defesa
do património natural. Nestes autênticos santuários da natureza, a presença do
homem é consentida desde que obedeça a certos parâmetros que regulamentam os
limites da actividade humana aí exercida. Os Planos de Ordenamento de Áreas
Protegidas são, pelas suas características, verdadeiros planos ambientais 311já que
a sua linha orientadora é sempre a protecção dos ecossistemas naturais e destas
dependem as decisões quanto ao aproveitamento económico e, especialmente,
para as actividades de recreio e lazer.
Entre os PEOT e os PROT, ambos de nível regional ou intermédio, existe uma
divergência quanto à natureza dos interesses que realizam. Assim, enquanto ao
PROT está reservado o ordenamento integral de um determinado território, no
qual convergem vários e distintos interesses, o PEOT contrapõe a satisfação de
um interesse público concreto que é a valorização, a protecção ou aproveitamento
de uma parcela com uma unidade intrínseca que lhe é dada por um elemento
natural ou humano agregador (o mar, um parque ou reserva, uma albufeira).
Daqui resulta que estes planos têm uma amplitude mais restrita e intenções mais
modestas do que as do PROT. Ao mesmo tempo, esta diversificação de
instrumentos de planeamento de territórios regionais cria problemas de
convivência e entrosamento, uma vez que é perfeitamente possível a existência
simultânea, por exemplo, de um PROT e um POOC sobre a mesma faixa costeira.
Apesar de a lei obrigar a uma compatibilização entre si, na prática gerar-se-ão
alguns atritos e em caso de divergência não se sabe qual o regime que prevalece.
Outra dificuldade tem a ver com as possíveis críticas por parte das autarquias que
vêm crescer os limites à sua liberdade de disposição do território municipal e
estão obrigadas a proceder à revisão dos PDM de forma a incorporarem o
disposto nos PEOT, tal como fazem relativamente ao PROT. Esta situação, no
limite, como refere Frade (1999) pode levar a um quadro algo complicado: o
PDM tem de ser revisto porque perfaz dez anos de vigência, há que rever o PDM
311 Esta a razão pela qual os analisamos no ponto
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
297
para o pôr em conformidade com o articulado do PROT recém criado, é
necessário ajustar o PDM para não contrariar as normas de um PEOT e, com a
aprovação da Lei de Bases do Ordenamento do Território e do Urbanismo e sua
recente regulamentação, haverá, uma vez mais, que revê-lo para se ajustar aos
seus princípios básicos; além disto, o quadro poderá piorar se lhe acrescentarmos
os planos sectoriais e intermunicipais. Daí a necessidade de repensar as formas de
coordenação de todos estes instrumentos de ordenamento do território de modo a
evitar um dispêndio inútil de esforços, conflitos institucionais e a irracionalidade
de algumas medidas.
5.4.2.5. Os Planos Locais de Ordenamento do Território
Os Planos Municipais de Ordenamento do Território – PMOT -, como já vimos,
englobam o Plano Director Municipal, o Plano de Urbanização e o Plano de
Pormenor. Em termos de área abrangida, o Plano Director Municipal – PDM -
abrange todo o território municipal, o Plano de Urbanização – PU - abarca
apenas as áreas urbanas e urbanizáveis e, ainda, as áreas não urbanizáveis
intermédias ou envolventes daquelas. Por último, os Planos de Pormenor - PP -
têm uma área de intervenção em sub-áreas dos Planos Directores e dos Planos de
Urbanização. As características principais e os elementos de cada plano de
ordenamento do território municipal são sintetizados no quadro 5.7.
O Plano Director Municipal é o principal instrumento para a definição e
implementação de uma estratégia económica e social das autarquias e o meio mais
apropriado para a disciplina urbanística dos aglomerados populacionais. O Dec.-
Lei nº 280/82 e o Dec.-Lei nº 69/90, sendo considerados os principais diplomas de
enquadramento jurídico do PDM, não impedem, segundo Portas (1995, pp. 25-
26), a existência de várias concepções do PDM: a restritiva, a expansionista e a
de regulação variável. Assim, enquanto num PDM restritivo predominam os
interesses mais conservadores (fixação com exactidão onde e quando se pode
construir), o plano expansionista valoriza as dinâmicas de crescimento e as
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
298
vantagens comparativas para o investimento público e privado. A terceira
concepção de PDM, isto é, de regulação variável concilia as regras pré-fixadas e
conhecidas à partida por todos (REN e RAN, por exemplo) com a iniciativa
empreendedora e a utilização das oportunidades de investimento dos sectores
público e privado.
Quadro 5.7 Análise comparada dos PMOT
PDM PU PP
ÁREA
Todo o território municipal Áreas urbanas e urbanizáveis, podendo também abranger áreas intermédias ou envolventes
Tratam em detalhe dos outros planos
C O N T E Ú D O
Estabelece uma estrutura espacial para o território do município, a classificação dos solos, os perímetros urbanos e os indicadores urbanísticos, tendo em conta o desenvolvimento, a distribuição racional das actividades económicas, as carências habitacionais, os equipamentos, as redes de transporte e comunicações e as infra-estruturas
Define uma organização para o meio urbano, estabelecendo o perímetro urbano, a concepção geral da forma urbana, os parâmetros urbanísticos, o destino das construções, os valores patrimoniais a proteger, os locais de implementação de equipamentos, os espaços livres e o traçado esquemá-tico da rede viária e das infra-estruturas principais
Define, com minúcia, a tipologia de ocupação de qualquer área específica do município. Se for área urbana, estabelece a conce-pção do espaço urbano, dispondo sobre usos do solo e condições gerais de edificação, quer para novas edificações, quer para trans-formação das existentes, caracte- rização das fachadas dos edifícios e arranjo dos espaços livres
Elemen-tos
Funda- men- tais
Regulamento Planta de ordenamento (delimita classes de espaço312 em função do uso dominantes e estabelece unidades operativas de gestão313) Planta de condicionantes actua-lizada, instalações das forças armadas e forças/serviços de segurança, servidões adminis-trativas e restrições de utilidade pública, incluindo: RAN e REN, áreas protegidas, de regime florestal, de protecção e imóveis classificados e áreas do domínio público hídrico
Regulamento Planta de zonamento (delimita cate-gorias de espaço em função do uso dominante, estabelece unidades e subunidades operativas de planea-mento e gestão que servirão de base ao desenvolvimento e indica os respectivos parâmetros urbanísticos) Planta de condicionantes (ídem ao PDM)
Regulamento Planta de implantação (define o parcelamento, alinhamento, im-plantação de edifícios, nº de pisos ou cárceas, nº de fogos e tipologia, área total de pavimento e usos, demolição, manutenção ou rea-bilitação das construções exis-tentes, natureza e localização de equipamentos, arranjos paisagís-ticos e outras intervenções)
312 Os Planos Directores Municipais definem classes de espaço, em função do uso dominante, considerando: 1) espaços urbanos, caracterizados pelo elevado nível de infra-estruturação e concentração de edificações, onde o solo se destina predominantemente à construção; 2) espaços urbanizáveis, assim denominados por poderem vir a adquirir as características de espaços urbanos. São geralmente designados por áreas de expansão; 3) espaços industriais, destinados a actividades transformadoras e serviços próprios e apresentando elevado nível de infra-estruturação; 4) espaços para indústrias extractivas, incluindo as áreas destinadas a controlar o impacte sobre as áreas envolventes; 5) espaços agrícolas, abrangendo as áreas com características adequadas à actividade agrícola, ou que as possam vir a adquirir; 6) espaços florestais, nos quais predomina a produção florestal; 7) espaços culturais e naturais, nos quais se privilegiam a protecção dos recursos naturais ou culturais e a salvaguarda dos valores paisagísticos, arqueológicos, arquitectónicos e urbanísticos; 8) espaços canais, correspondendo a corredores activados por infra-estruturas e que têm efeito de barreira física dos espaços que os marginam. 313 Unidades operativas de gestão – áreas de intervenção específica, demarcadas principalmente em função de um programa de acção que se aplicam a esse território.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
299
Quadro 5.7 Análise comparada dos PMOT
/cont. /
Elemen-tos
Comple- men- tares
Relatório (indica as principais medidas, indicações e dispo-sições adoptadas) Planta de enquadramento (abrange e assinala a área de intervenção e zona envolvente e as principais vias de comuni-cação) Programa de execução (ídem ao PU facultativo) Plano de financiamento (ídem ao PU facultativo)
Relatório (ídem ao PDM) Planta de enquadramento (ídem ao PDM) Programa de execução (disposições sobre o escalonamento temporal das obras públicas municipais e da elabo- ração ou revisão de outros PMOT’s) Plano de financiamento (estimativa de custo das realizações municipais previstas no plano e fontes de finan-ciamento por fases de execução)
Relatório (ídem ao PDM e PU) Planta de enquadramento (ídem ao PDM e PU) Programa de execução (ídem ao PU) Plano de financiamento (ídem ao PU)
Elemen-tos
Anexos
Estudos de caracterização física, social, económica e urbanística que fundamentam a solução proposta Extracto do regulamento e da planta, síntese do plano mais abrangente se existir e dispo-sições alteradas pelo plano Planta da situação existente
ídem ao PDM
ídem ao PDM e PU mais: Plantas de trabalho (elementos técnicos de modelação do terreno, cotas mestras, volumetrias, perfis longitudinais e transversais de arruamentos e traçado de infra-estruturas)
Fonte: BRITO, A. J., (1997), A Protecção do Ambiente e os Planos Regionais de Ordenamento
do Território, Livraria Almedina, Coimbra, p. 189 O Plano Director Municipal inclui um instrumento importante - inquérito público
– cujo objectivo é dar conhecimento aos munícipes e a todos os interessados em
geral do conteúdo do plano elaborado, antes de ser submetido a aprovação e
ratificação, permitindo a apresentação de sugestões, comentários e críticas. Este
instrumento, desde que bem utilizado, dá à equipa do plano uma outra visão das
repercussões que este poderá ter para o município possibilitando, assim, a recolha
de informações que permitam fazer pequenas correcções ou, inclusivamente,
alterações profundas.
O regulamento, enquanto peça integrante do PDM, fixa, entre outras, as regras
jurídicas para as zonas do território definidas no plano (traduzidas graficamente
nas plantas de ordenamento e de condicionantes). Para efeito de delimitação das
zonas em que se decompõe o território municipal prevêem-se diversas classes de
espaços (urbanos, urbanizáveis, industriais para indústrias transformadoras e
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
300
respectivos serviços, agrícolas, florestais, culturais e naturais e canais),
individualizáveis de acordo com o uso dominante. Refira-se, ainda, que o
perímetro urbano é determinado pelo espaço urbano e espaço urbanizável.
A elaboração dos Planos de Ordenamento Municipal tem tido uma evolução
positiva. Assim, até Junho de 1997 já tinham sido ratificados 244 Planos
Directores Municipais que correspondem a 86% da área continental e 90% da
população (ver quadro 5.8). Desde aí até Dezembro de 1999 foram, entretanto,
ratificados e publicados em Diário da República mais 18 PDM pelo que restam
somente quatro municípios do continente sem este importante instrumento de
ordenamento do território.
Quadro 5.8 Planos Directores Municipais por regiões de planeamento
Total de municípios NUT Até
30/06/97 1/0797 a 31/12/99 Por NUT Com PDM Sem PDM
Norte 83 1 85 84 1 Centro 67 9 78 6 2 Lisboa e Vale do Tejo 40 11 51 51 - Alentejo 39 6 46 45 1 Algarve 15 1 16 16 - Total 244 18 276 272 4
Fonte: Elaborado a partir de MEPAT – Ministério do Equipamento, do Planeamento e da
Administração do Território (1998b), Relatório do Estado do Ordenamento do Território – 1997, Lisboa, p. 206; Dados recolhidos pelo autor
Em relação aos Planos de Urbanização (PU) e Planos de Pormenor (PP) verificou-
se um maior dinamismo na sua elaboração após a entrada em vigor dos Planos
Directores Municipais. Assim, se por exemplo até 31/12/71 foram aprovados 332
PU e 50 PP, em cerca de 21 anos (1/1/72 a 31/5/794) aprovaram-se,
respectivamente, 159 e 703 planos, entre 1 de Maio de 1995 e 30 de Julho de
1996 foram aprovados 19 PU e 135 PP, nos quais se incluem alguns de índole
mais específica, como sejam os 6 Planos de Pormenor de Renovação Urbana e os
28 Planos de Pormenor de Zonas Industriais. De 1de Julho de 1997 a 31 de
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
301
Dezembro de 1999 foram aprovados e publicados em Diário das República 14
Planos de Urbanização e 37 Planos de Pormenor. Estes valores mostram bem a
dinâmica existente, embora a sua distribuição por NUT apresente disparidades
assinaláveis como se verifica no quadro seguinte.
Quadro 5.9 Planos de Urbanização e de Pormenor publicados em D.R
NUT Muni-
cípios Sem data
Até 31/12/71
01/01/72 a 31/05/94
1/05/95 a 30/06/96
1/07/97 a 31/12/99
Total
PU PP
PU PP
PU PP PU PP PU PP PU PP
Norte 85 0 5 95 19 27 148 5 13 6 7 133 192 Centro 78 0 0 86 10 35 166 3 36 2 13 126 225 Lisboa V. T.
51 10 3 77 9 45 162 6 49 1 9 139 232
Alentejo 46 0 0 37 4 43 221 5 36 3 5 88 266 Algarve 16 1 0 26 0 9 6 - 1 2 4 38 11 Total 276 11 8 321 42 159 703 19 135 14 38 524 926
Fonte: Elaborado a partir de MPAT – Ministério do Planeamento e da Administração do Território
(1995), Relatório do Estado do Ordenamento do Território – 1994, Lisboa; MEPAT – Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território (1998b), Relatório do Estado do Ordenamento do Território – 1997, Lisboa; Dados recolhidos pelo autor
A análise da situação existente em relação aos vários tipos de planos de
ordenamento do território permite-nos destacar algumas situações que merecem
profunda reflexão, nomeadamente:
• insuficiente cobertura do território continental, em termos de planos regionais,
planos especiais (exceptuando os da orla costeira) e planos sectoriais de
incidência territorial;
• fraca articulação entre os vários planos, quer a nível horizontal, quer a nível
vertical;
• inexistência de um programa nacional de ordenamento do território;
• inexistência de planos intermunicipais (talvez devido a indisponibilidade dos
autarcas para cooperarem);
• má qualidade dos planos directores municipais, salvo algumas excepções,
consubstanciada em: a) número bastante elevado de restrições e proibições; b)
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
302
poucas ou nenhumas orientações estratégicas para o desenvolvimento do
concelho; c) planos vagos e gerais; d) indefinição ao nível dos espaços
naturais e rurais; e) desactualização geral da cartografia utilizada; f) quase
inexistente interligação entre os PDM’s de concelhos vizinhos traduzida na
sobreposição ou não continuidade de propostas.
5.4.3. Os Planos de Ordenamento do Território no terceiro milénio Em Portugal, a perspectiva de crescimento económico adoptada até 1950 era
meramente sectorial. Com a década de 60, o crescimento urbano-industrial passou
a fazer-se sentir de forma assimétrica, gerando degradações e inevitáveis
problemas sociais. Deu-se início à rápida litoralização do país que continua ainda
hoje a verificar-se. A intensificação da mecanização da agricultura e as sucessivas
campanhas de produção sectorial contribuíram, sobretudo no sul do país, para a
extensividade da produção agrícola. A conjugação de todos estes factores levou ao
progressivo empobrecimento da diversidade paisagística do nosso território e dos
recursos naturais, razões pelas quais o desenvolvimento sustentável como
conjunto de princípios e valores sociais, ecológicos e económicos se tornou o
tema incontornável da nossa época. A Comissão Mundial para o Ambiente e
Desenvolvimento, define como ambiente sustentável aquele que procura
satisfazer as necessidades e aspirações actuais sem comprometer a possibilidade
de as gerações futuras satisfazerem as suas (cit. Brito, 1997, p. 258).
Em nosso entender, os princípios gerais do desenvolvimento sustentável podem e
devem ser assumidos nos Planos de Ordenamento do Território e, em especial,
nos Planos Regionais de Ordenamento do Território, uma vez que só à escala
regional se pode fazer a abordagem integrada e objectiva que falta ao nível da
Administração Central e municipal. Os PROT são, então, o instrumento mais
poderoso de ordenamento do território representando o plano de nível superior, a
quem se têm de subordinar e compatibilizar os PMOT (PDM, PU e PP) e, em
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
303
princípio, todos os planos especiais (POAPP, POAP e POOC) e de natureza
sectorial (PDAR, PBH e PMIF).
Os PROT são planos que se sobrepõem inclusivamente aos planos sectoriais dado
que, enquanto os PROT são instrumentos de carácter programático e normativo,
os planos sectoriais têm apenas um carácter sectorial pré-definido, de conservação
e valorização do património natural ou, por outras palavras, o seu objectivo e
âmbito de aplicação é mais restrito. De referir que a eficácia dos PROT está
intimamente ligada à metodologia de elaboração, ao próprio teor das propostas
avançadas e aos meios disponibilizados na sua elaboração, mas também à
hierarquização da sua implementação, conjugação com os programas
sectoriais/operacionais e definição de acções subsequentes de acompanhamento e
monitorização. A delimitação da área geográfica de cada PROT, sendo
determinada por Resolução do Conselho de Ministros, conduz, com alguma
frequência, à elaboração de um PROT com uma dimensão territorial
excessivamente pequena (cite-se o PROZOM e o PROZEA) comparativamente
com outros que abrangem toda uma região de planeamento (por exemplo, o
PROTAL). Além disso, a actual estrutura administrativa que reserva ao Estado a
implementação das grandes redes de infra-estruturas e equipamentos colectivos,
cujo planeamento e execução promove de forma sectorial, sem a necessária
coordenação horizontal (veja-se o caso do PROTAML), espacializada em plano
próprio, cria enormes contradições no sistema de planeamento.
Ao nível dos Planos Municipais de Ordenamento do Território registe-se o
esforço de planeamento que tem vindo a ser desenvolvido pelas autarquias. No
entanto, ou por inexperiência, ou pela teia de interesses económicos dos quais
estas dependem (devido aos condicionamentos orçamentais), muitos dos PDM são
tecnicamente fracos, não se respeitaram as áreas non aedificandi, previstas na lei,
validaram-se implantações de parques habitacionais e industriais, bem como de
infra-estruturas e equipamentos que degradam o ambiente e impedem a
implementação de uma Estrutura Verde com base na REN, RAN e DPH. Registe-
se, ainda, a ausência de instrumentos de actuação ao nível das várias figuras do
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
304
planeamento/ordenamento municipal, ou seja dos PDM, PU e PP. No nosso
quadro legal, a diferença entre os planos é, segundo Portas (1995), de objectiva e
não de objectivo ou objecto. Efectivamente, se a diferenciação entre os tipos de
plano fosse a escala e não a natureza ou finalidade da informação que
representam, então uma só figura de plano mediante um sistema de “janela”
permitiria descer ao cadastro onde quiséssemos, ou em sentido inverso, subir ao
conjunto do território sem soluções de continuidade. No entanto, apesar de a
maioria dos concelhos terem o seu PDM aprovado (com algumas ambiguidades
na escala) a informação imprecisa sobre os cadastros, as tendências dos
mercados, a vontade dos agentes promotores, o regime operativo da urbanização é
certamente, um dos maiores problemas que teremos de enfrentar na gestão do
território municipal.
Além disso, os Planos Directores Municipais da presente geração podem
caracterizar-se como instrumentos de divisão do território em áreas ou zonas, em
função dos usos dominantes, do solo municipal sem estratégia global e com uma
marcada incidência na regulamentação dos espaços urbanos e urbanizáveis, pelo
que a nova geração deverá apontar claramente uma estratégia de desenvolvimento
ambientalmente sustentável e cartografada.
Um sistema de planeamento do território municipal eficaz e económico
caracteriza-se por possibilitar a passagem do plano ao projecto, dado que o plano
guia e o projecto se executa. Assim, neste esforço de planeamento/ordenamento
do território é aconselhável tentar a variação de graus de
determinação/indeterminação na mesma figura de plano314 o que levaria a uma
estreita cooperação com o Município e deste com os agentes públicos e privados.
Em última análise, esta regulação variável levaria à definição de projectos
elegíveis para os Programas ou Contratos Programas que constituiriam a
componente física da estratégia municipal. Os PDM de regulação variável não se
limitam somente à flexibilização regrada do perímetro urbano, mas também à
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
305
forma como se regula o solo urbano e urbanizável. Partindo do princípio que um
perímetro tem áreas com níveis diferenciados de incerteza, a aplicação de um
critério de ajustamento do grau de rigidez ao grau de convicção admissível, para
cada parte do território, permite não só ir mais longe na regulação dos tecidos
urbanos consolidados e menos naqueles que não têm tais amarras a estruturas
construídas, como também legitima que se tracem as malhas estruturantes para
aquelas áreas que, não as tendo, são consideradas preferidas ou prioritárias para
o desenvolvimento realista do Município (Portas, 1995, p. 25). Esta representação
selectiva, na escala adequada, permite uma regulação menos abstracta ou
quantitativa com ganhos, quer para os Municípios (reduz-se o número de Planos
de Pormenor a elaborar), quer para as populações (transparência de processos e de
normas com a consequente redução da insegurança para os particulares).
Dados os desfasamentos existentes entre os PDM e a legislação de protecção aos
ecossistemas fundamentais é necessário proceder à sua revisão com base nos
Planos Municipais de Ambiente - PMA - que reavaliem as situações, onde e em
que medida a edificação deve ser controlada e, simultaneamente, estudem as redes
de recolha, reciclagem e tratamento de resíduos industriais e urbanos.
A composição das equipas técnicas dos Planos de Ordenamento Municipal deve
ser regulamentada de modo a exigir técnicos com formação específica ao estudo
do meio ecológico e cultural, bem como dos mecanismos legais e institucionais
responsáveis pelas alterações do território. A deficiente composição das equipas
tem contribuído significativamente para a deformação das propostas, numa ou
noutra perspectiva, ignorando ou mesmo deturpando abordagens fundamentais.
Araújo (1994, pp.132-135) além de apontar a falta de planeadores qualificados,
como uma das razões para a dificuldade ao nível do planeamento municipal,
sugere ainda a indefinição das unidades de planeamento, a impreparação dos
gestores e a fraca participação das populações.
314 Esta variação de graus de determinação/indeterminação pode traduzir-se, eventualmente, na utilização de várias escalas e/ou sobreposição de layers com diferente tipo de informação.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
306
A questão das densidades de ocupação deverá ser abordada à semelhança do que
se passa noutros países europeus, pelo que é indispensável legislar sobre as
densidades máximas de edificação, em função da situação urbana e da relação
volume edificado/espaço público que permita a integração, no tecido urbano, dos
equipamentos e infra-estruturas necessárias. A manutenção da volumetria das
edificações, a par da recuperação dos locais históricos da cidade, eventualmente
para equipamentos colectivos, e dos espaços verdes existentes são, portanto,
indispensáveis à preservação da identidade histórica da cidade.
As periferias geralmente mal estruturadas em que os edifícios se localizam, soltos,
numa matriz predominantemente verde ou as zonas urbanas degradadas terão que
ser reconstruídos a partir do espaço público. A transformação das zonas
monofuncionais em zonas multifuncionais, integrando os equipamentos
necessários junto aos parques habitacionais (comércio, educação, culturais e
sociais), é indispensável à qualidade de vida dos residentes nestas zonas. O
planeamento das vias deve ser integrado com o dos transportes públicos e com os
percursos pedonais, privilegiando os transportes públicos, em relação ao
transporte individual e evitando o enorme corte provocado, no tecido urbano,
pelas vias rápidas que actualmente têm vindo a proliferar. Nas periferias, há ainda
que estimular a integração social, através da criação de espaços de convívio e
encontro em espaço fechado, para as várias faixas etárias e de espaços de lazer e
contemplação em espaços abertos.
O ordenamento do território é, simultaneamente, uma actuação administrativa e
um imperativo constitucional (artº 9º da constituição) pelo que não pode ter lugar
uma intervenção casuística, baseada na discricionaridade e precariedade das
soluções. Daí, a importância do planeamento, quer em termos espaciais, quer em
termos temporais para a prossecução do ordenamento do território. O papel
decisivo dos Planos de Ordenamento do Território para a correcta localização das
actividades e para o desenvolvimento equilibrado e sustentável, é enfatizado pelo
facto das suas normas e princípios vincularem as entidades públicas e privadas,
nos termos do artº 11º da Lei de Bases do Ordenamento do Território e
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
307
Urbanismo, só poderá realizado com uma fiscalização eficiente (dotada de meios
humanos e materiais adequados) nas fases de elaboração e implementação dos
Planos. Efectivamente, enquanto muitas autarquias têm vindo a licenciar projectos
sem ter em conta uma perspectiva global de ordenamento do território, as
Comissões de Coordenação Regional não têm, de um modo geral, meios humanos
que permitam fazer uma fiscalização adequada na fase de execução destes
planos315 levando a que os resultados obtidos, embora bastante positivos, não
atinjam elevados padrões de qualidade.
5.5 RESUMO E CONCLUSÕES
O ordenamento do território, enquanto competência da Administração Central e
Local, tem sido esquecida, ao longo dos anos, pelo que foi dada prioridade a
outras tarefas e resolução de outros problemas.
O ordenamento do território exige o manuseamento de grande quantidade de
informação diversificada, mas com uma característica comum (a
georeferenciação) o que contribuiu para o rápido desenvolvimento das novas
tecnologias de informação e dos Sistemas de Informação Geográfica. No caso
português, a experiência na criação e desenvolvimento do Serviço Nacional de
Informação Geográfica – SNIG - é, em muitos aspectos, inovadora. A curta
história deste serviço vai desde os anos setenta, altura em que se iniciou o projecto
da Base de Dados do pólo de desenvolvimento de Sines, até ao lançamento do
SNIG na Internet (1995) e à criação (1999) de uma interface específica para o
cidadão (o GEOCID) poder aceder à informação geográfica digitalizada sem que
o mesmo tenha de recorrer a sofisticados e caros produtos informáticos.
315 A entidade coordenadora, por excelência do cumprimento da Lei no que diz respeito ao ordenamento do território, é a Inspecção Geral da Administração do Território. Esta actua, quer através de inspecções ordinárias, inquéritos, sindicâncias e averiguações sumárias, que efectua junto das autarquias locais, em nome e no exercício da tutela inspectora do Governo, ou junto dos serviços centrais desconcentrados do MPAT ou sua sob sua tutela (actualmente, MP), conforme determina o D.L. nº 64/87, de 6 de Fevereiro; quer, ainda, mediante participação da DGOT (actualmente, DGOTDU), no que diz respeito aos loteamentos urbanos.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
308
Paralelamente, à implementação do SNIG, procedeu-se à criação da Base de
Dados de Ordenamento do Território com o objectivo de recolha e tratamento da
informação necessária à elaboração e monitorização dos planos de ordenamento
do território. Neste âmbito, é de destacar o lançamento do PROGIP e do PROSIG
(subsistemas da Base de Dados do Ordenamento do Território) com o objectivo
de, no primeiro caso, se proceder à digitalização dos Planos Municipais de
Ordenamento do Território e ao desenvolvimento de uma aplicação informática
para a gestão eficiente de planos de ordenamento. Por seu lado, o PROSIG tem
como objectivo principal o apoio à implementação do Sistema de Informação
Geográfica à escala municipal visto se entender que estes sistemas têm um papel
importante no processo de planeamento do território, conferindo-lhe maior
eficiência, desde que entendidos como instrumentos de apoio à tarefa de
monitorização desse processo e, em particular, dos Planos Directores Municipais.
Os planos de ordenamento do território, enquanto instrumentos privilegiados da
política de gestão do território, têm uma forte componente ambiental. Aliás, a
protecção e gestão do ambiente estão ligados ao planeamento do território e à
sustentabilidade do desenvolvimento sócio-económico formando um trinómio.
O planeamento ambiental foi evoluindo desde uma fase caracterizada por um
optimismo exagerado quanto ao crescimento ilimitado das economias até à fase
actual em que o princípio activo passou a ser o da preservação e não o princípio
intermédio do poluidor-pagador. Em relação aos instrumentos de planeamento
ambiental, Fraga (1995, p. 231 e segs.) divide-os em três grupos:
• planos que possuem um conteúdo protector do ambiente. A sua acção tem
como objectivo a articulação racional do conjunto das potencialidades
económicas, físicas e infra-estruturais decorrentes de cada espécie de recurso.
A título de exemplo, citemos os Planos Municipais de Intervenção Florestal, o
Plano Nacional da Água e os Planos de Bacia Hidrográfica e o Plano Nacional
de Resíduos que se integra no Plano Nacional de Política de Ambiente;
• planos especificamente ambientais cuja vocação é de explicitar e coordenar
as acções de conservação e as actividades permitidas dentro da área protegida
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
309
que poderá ser parque nacional, reserva ou parque natural e, ainda, área
protegida de âmbito regional e local,. A título de exemplo, citemos os Planos
de ordenamento de Área Protegida ou os Planos de Ordenamento da albufeira
de Águas Públicas;
• medidas que se efectivam através dos planos de ordenamento do território. A
delimitação da RAN e da REN nos planos regionais e municipais de
ordenamento são um exemplo deste tipo de medidas.
Apesar do importante papel do planeamento ambiental, este não esgota a
problemática da política do ambiente. O planeamento ambiental é apenas uma das
faces desta política, ou seja, é a que está ligada à promoção da gestão e
regeneração dos recursos naturais. Refira-se, ainda, que grande parte das regras de
protecção ambiental ganha operacionalidade e efectividade práticas através dos
instrumentos privilegiados do ordenamento do território, isto é, através dos
planos de ordenamento territorial.
Já em relação ao ordenamento do território, a Lei de Bases prevê três níveis
geográficos a que correspondem dois níveis administrativos originando vários
tipos de instrumentos, ou seja, o Programa Nacional, os Planos Regionais, os
Planos Intermunicipais (facultativos), os Planos Municipais, os Planos
Especiais316 e os Planos sectoriais com incidência espacial317. De referir, contudo,
que há uma clara precedência dos planos com características marcadamente
urbanísticas sobre os planos de ordenamento. Embora, nos últimos anos, se tenha
feito um esforço notável no sentido de eliminar a deficiente organização do
território ainda há muito para fazer. A par da insuficiente cobertura do território
continental por várias figuras de plano (ver quadro 5.10) parece-nos importante,
desde já, a elaboração do programa nacional de ordenamento do território que,
definindo a estratégia e políticas do território nacional, permitiria aprofundar o
grau de articulação horizontal e vertical dos planos de ordenamento e iniciar a
316 Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas, Planos de Ordenamento das Albufeiras de Águas Públicas e Planos de Ordenamento da Orla Costeira. 317 Por exemplo, citemos os planos de desenvolvimento da agricultura, os planos de bacia hidrográfica e os planos municipais de intervenção florestal.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
310
elaboração da nova geração de Planos Directores Municipais em que a estratégia
de desenvolvimento sustentável, devidamente cartografada em suporte digital,
seria uma das suas principais características.
Quadro 5.10 O ordenamento do território em números
Processo de elaboração Instrumentos
De Ordenamento
Território coberto Ela-
bora-dos
Ela-bor./ Rev.
Adju- dica- ção
To- tal
1. Programa nacional Todo o país * * * * 2. Plano regional Vários concelhos ou partes 4 4 32 10 3. Plano director municipal Todo o território municipal 272 4 - 276 4. Plano de urbanização Áreas urbanas ou urbanizáv. 524 * * - 5. Plano de pormenor Áreas detalhadas de PDM ou
PU
889
*
* -
6. Plano especial: - orla costeira - áreas protegidas
- albufeiras de águas pú- blicas
Faixa litoral de vários muni-cípios Parque ou reserva Área envolvente
5 4 7
4 6
19
- 4 2
9 14 28
7. Reserva Agrícola Nacional Parte do território municipal 219 57 - 276 8. Reserva Ecológica Nacional Parte do território municipal 269 6 - 276
Legenda:
- Os dados referem-se aos instrumentos ratificados e publicados em diário da República até 31 de Dezembro de 1999
- * dados não disponíveis
Paralelamente ao esforço de cobrir o país com os vários Planos de Ordenamento,
actualizar a Base de Dados de Ordenamento do Território, desenvolver o Sistema
Nacional de Informação Geográfica e criar o Observatório de Ordenamento do
Território é absolutamente necessário motivar e incentivar todos os agentes
económicos e a população em geral para esta importante questão que é o
planeamento do território nacional num contexto de desenvolvimento sustentável
cujo centro das atenções é a população residente.
Os Planos Regionais de Ordenamento do Território são, então, o instrumento mais
poderoso e central do ordenamento do território pelo que a este plano se deverão
subordinar e compatibilizar os Planos Municipais (PDM, PU e PP), todos os
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
311
planos especiais (POAP, POAAP e POOC) e de natureza sectorial (PDAR318,
PBH e PMF319).
Ao nível dos Planos Municipais de Ordenamento registe-se o esforço de
planeamento que tem vindo a ser desenvolvido pelas autarquias e que deverá ter
continuidade de forma a tornarem estes planos estratégicos de desenvolvimento
do município. Paralelamente, deve-se fazer um esforço suplementar para dotar os
municípios com um serviço de informação geográfica permitindo a eliminação
das ambiguidades na escala das cartas e a informação imprecisa sobre os
cadastros, as tendências dos mercados, a vontade dos agentes promotores e o
regime operativo da urbanização. Além disso, os Planos Directores Municipais da
presente geração podem caracterizar-se como instrumentos de divisão do território
em áreas ou zonas, em função dos usos dominantes do solo municipal, sem
estratégia global e com uma marcada incidência na regulamentação dos espaços
urbanos e urbanizáveis, pelo que a nova geração deverá apontar claramente uma
estratégia de desenvolvimento ambientalmente sustentável. Não poderíamos
concluir este capítulo sem referir a importância da implementação de Programas
ou Contratos Programa a celebrar entre a Administração Central, as Autarquias e
os agentes económicos para a prossecução dos grandes objectivos estratégicos
municipais.
Ao longo deste trabalho, foram analisados os modelos macro-económicos, os
modelos de localização da actividade humana e desenvolvimento regional, bem
como o planeamento regional e, em especial, o planeamento do território e
ambiental o que nos permitiu a apreensão de conceitos, da prática europeia e
nacional ao nível, ente outros, do ordenamento do território e das questões
ambientais. A reflexão efectuada leva-me a sugerir um modelo de ordenamento
territorial para a Beira Interior320 a ser desenvolvido no último capítulo.
318 Plano de Desenvolvimento da Agricultura Regional 319 Planos Municipais da Floresta 320 A Beira Interior integra as NUT’s Beira Interior Norte, Beira Interior Sul, Serra da Estrela, Cova da Beira e Pinhal Interior Sul
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
312
6. MODELO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
6.1. INTRODUÇÃO
O modelo de ordenamento que iremos apresentar está intimamente ligado a um
espaço - a Beira Interior - que foi sendo construído e reconstruído, vivido e
representado, ou, se quisermos a um espaço histórico geo-económico e sócio-
cultural, cuja existência fluiu no tempo e se foi moldando em função da forma
como as comunidades nele se integraram e dele se apropriaram e manipularam. O
território resulta, assim, da acção dos seus habitantes que, explorando-o, nele se
foram incorporando e com ele estabelecendo uma profunda relação. As sucessivas
revoluções tecnológicas, o crescimento da produção industrial e a globalização da
economia retiraram protagonismo aos territórios tornando alguns deles
periféricos. Contudo, embora a globalização seja dominante na lógica de
organização do espaço, à escala supranacional, nacional e local, esta não constitui
uma dinâmica aglutinadora e supressora de outras sensibilidades, ou seja, de
outras formas de estar e pensar o território. Perante a tendência da uniformização,
a diferença e a qualidade constituem-se em elementos-chave das estratégias de
desenvolvimento regional pelo que um território qualificado e com identidade
cria predisposição para a fixação da população (Fernandes, 1998, p. 68) e, em
particular, de quadros técnicos tão necessários ao desenvolvimento sustentável.
Portugal não é um país homogéneo, pelo contrário as suas regiões têm diferentes
níveis de desenvolvimento sócio-económico. A variação territorial, em termos de
população residente e recursos humanos, de actividade produtiva e inovação,
dotação de infra-estruturas, equipamentos e acessibilidades, em sentido lacto,
mostra-nos um país fortemente litoralizado com duas áreas metropolitanas
polarizadoras (Lisboa e Porto) e, no outro extremo, um vasto território fronteiriço
caracterizado pela baixa densidade demográfica, dispersão do sistema de
povoamento e falta de recursos humanos qualificados. É neste espaço periférico e
de fronteira, mas específico que a Beira Interior se insere. A utilização consciente
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
313
da especificidade regional representa uma das vias de afirmação no contexto
nacional e europeu.
O modelo territorial que iremos apresentar foi elaborado numa perspectiva de
“janela” ou de zoom dado que a Beira Interior está integrada na Região Centro
que, por sua vez, se integra no país e este na Europa. O modelo apoia-se na
seguinte tipologia de intervenções (J.E., 1997, pp. 106-111):
• acções sobre o meio físico;
• acções para o fortalecimento e reequilíbrio da malha urbana;
• acções sobre as áreas “não urbanas”;
• programas de dinamização territorial.
Para além disso tomaremos como elementos importantes o facto de se tratar de
uma região de fronteira, as características do seu relevo, do solo e coberto vegetal,
a riqueza dos recursos hídricos e do património natural e cultural e a forma como
se tem verificado o povoamento da região.
Dada a heterogeneidade do território nacional e a metodologia adoptada para a
elaboração do modelo territorial da Beira Interior optamos por dividir o presente
capítulo em três partes. Assim, na primeira parte – integração do modelo
territorial nacional na estratégia europeia – analisamos três cenários de
desenvolvimento do tecido produtivo e do território nacional tendo em
consideração a posição que ocupamos na União Europeia, o Esquema de
Desenvolvimento do Espaço Comunitário e a Estratégia Territorial Europeia.
Os cenários de evolução da região centro – segunda parte deste capítulo - inicia-
se com a caracterização social, económica e ambiental. Após esta introdução
detemo-nos na análise do espaço regional, isto é, estudamos os eixos de
desenvolvimento, o sistema urbano e as acessibilidades após o que abordamos a
estratégia de desenvolvimento.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
314
O capítulo e a tese termina com a proposta de um modelo de organização
territorial da Beira Interior. Assim, após se caracterizar física, social e
economicamente a região, apresentamos os constrangimentos e as potencialidades
de forma a determinar o capital endógeno que, associado a recursos exógenos e
políticas adequadas, formam a base do relançamento do desenvolvimento
económico e social da região. Por último, é apresentada uma proposta de modelo
de organização do território da Beira Interior.
6.2. A INTEGRAÇÃO DO MODELO TERRITORIAL NACIONAL NA ESTRATÉGIA
EUROPEIA
O indivíduo e o seu bem-estar, assim como a sua interacção com o meio ambiente,
constituem o ponto central do ordenamento do território, numa perspectiva de
desenvolvimento sustentável que concilie a multiplicidade de centros de decisão
com influência na organização do território, o carácter aleatório dos estudos
prospectivos, as limitações do mercado, as peculiaridades dos sistemas
administrativos, a diversidade das condições sócio-económicas e do meio
ambiente. Em Portugal, a adopção de um modelo extensivo e dual de crescimento
económico levou à forte litoralização do território português321 com a consequente
criação de graves e profundas assimetrias que põem em causa a coesão
económica e social do país. Neste contexto torna-se urgente inserir o interior nas
dinâmicas competitivas globais, num espaço de equidade social e territorial, num
uso sustentável dos recursos naturais e num território inovador e criativo
(MEPAT, 1998b). O território, durante longas décadas esquecido, ganha um nova
importância ao ser considerado, às portas do terceiro milénio, um importante
instrumento para uma melhor inserção na economia mundial e um veículo
privilegiado para a redução das assimetrias de desenvolvimento numa
perspectiva de sustentabilidade ou de longo prazo, pelo que a sua gestão deverá
321 Os eixos urbanos Aveiro-Valença e Leiria-Setúbal concentram 70% da população residente no litoral.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
315
ser prudente nas situações mais expostas a uma utilização mais intensiva e
ousada nas situações de risco de marginalização (MEPAT, 1998a, p.VIII-1).
A preparação do Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário,
aprovado na Cimeira de Potsdam, em 1999, desencadeou a realização de vários
estudos a nível de cada Estado-Membro tendo em vista perspectivar a integração
desses Estados neste esquema. Em Portugal, este esforço de reflexão deu origem,
entre outros, ao relatório “Portugal 2 010 – Posição no Espaço Europeu: uma
reflexão prospectiva” no qual são definidos três cenários de desenvolvimento,
suportados por vários modelos de acordo com as variáveis analisadas, ou seja, a
dinâmica de actividades e especialização internacional, a inserção geoeconómica
e o sistema urbano/organização do território (Ribeiro, 1998, pp. 12-22):
Cenário I : • modelo tradição modernizada
• modelo euroibérico
• modelo bipolar com urbanização litoral difusa
Cenário II : • modelo de renascimento industrial
• modelo euroatlântico
• modelo malha urbana polarizada
Cenário III : • modelo de terciarização internacionalizada
• modelo euroglobal
• modelo “região metropolitana atlântica”
Estes cenários, perspectivando formas diferentes de integração da economia e do
território nacional nas dinâmicas europeias e mundiais, como se verifica pela
leitura do quadro 6.1, tem reflexos profundos na forma como se poderão
desenvolver, por um lado, os sectores produtivos e, por outro lado, os sistemas
urbanos e o território de um modo geral. O primeiro cenário (conservador) aposta
na continuidade pelo que a tradição terá um peso elevado no processo de tomada
de decisão económica, social e territorial. Esta estratégia de desenvolvimento,
inserindo Portugal nas dinâmicas da Península e sendo do tipo “reacção passiva”
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
316
aos desafios da construção europeia, levará, certamente, a uma subalternização
dos interesses nacionais face a Espanha.
Quadro 6.1 Descrição sintética dos cenários
Especialização internacional
Do tecido empresarial Inserção geoeconómica Sistema urbano/organização do
território
1º CENÁRIO:
• ascensão na “cadeia de valor” de pólos industriais tradicionais322;
• consolidação da fileira florestal e diversificação de produtos;
• fraco dinamismo na criação de novos pólos de especialização industrial;
• investimento directo estrangeiro (IDE) de média dimensão, pontual e disperso;
• oferta de serviços internacionais centrada no turismo de massas. Alguma diversificação de produtos e mercados;
• fraca dinâmica do processo de “Clusterização” na economia.
• Concentração nos mercados europeus e importância crescente do mercado ibérico;
• Ausência de funções geoeconómicas de valia ibérica ou europeia, com concentração destas funções em Espanha;
• Intensa exploração das complementaridades transfronteiriças;
• Acesso de mercadorias à Europa e acesso a recursos naturais, via Espanha;
• Investimento português (polarizado pelos serviços financeiros, distribuição, telecomunicações) em Espanha e algumas “economias em desenvolvimento”;
• fraco papel da C&T na internacio- nalização.
• bipolarização do sistema urbano, centrada nos Grande Lisboa e Porto. Dificuldade de afirmação de centros urbanos de dimensão intermédia, na faixa litoral;
• persistência de formas de urbanização difusa ao longo do litoral, resistências ao desenvolvimento de “redes” ou “eixos” urbanos;
• crescimento de alguns pólos urbanos no interior, paralelamente ao despovoamento rural;
• localização de alguns desses pólos nos “corredores” de aceso a Espanha e ao longo do IP2;
• desenvolvimento urbano com duas prioridades: Construir e Equipar.
2º CENÁRIO:
• redução do peso relativo de vários pólos de especialização industrial tradicionais, maior articulação de “fileiras” e densidade de “clusters” e clara ascensão na “cadeia de valor”;
• estagnação/declínio da fileira florestal e dinamização das indústrias agroalimentares;
• criação de um “cluster” Automóvel, aumento do investimento nas Indústrias Eléctricas e Electrónica e subcontratação evolutiva na Aeronáutica;
• dinamização do “cluster” Materiais, Embalagem, Artes Gráficas, Material de Escritório;
• extensão dos serviços internacionais: turismo e expansão das actividades de teletrabalho;
• forte dinâmica de “Clusterização” da economia.
• Importância dos mercados e dos destinos de investimento na Europa e na “Bacia do Atlântico”; desempenho de funções geo-económicas ibéricas e, em menor escala, europeias e globais;
• Acesso de mercadorias à Europa com maior autonomia face a Espanha, dada a maior importância do transporte marítimo;
• Exploração de complementaridades com regiões de Espanha, utilizando os portos nacionais;
• forte investimento português (sectores do cenário 1 e electricidade, ambiente e redes de transporte) preferencialmente em Espanha e “economias emergentes” da Bacia do Atlântico e da Europa Central
• forte intensidade de IDE contribuindo para a “clusterização” da economia;
• criação de uma “rede” na economia global, funcionando o território nacional como seu “nó”.
• maior estruturação urbana do litoral, com a criação de dois sistemas urbanos polarizados pelas Áreas Metropolitanas de Lisboa (AML) e do Porto (AMP), ambas ampliadas;
• desenvolvimento rápido de algumas cidades médias no litoral com efeitos polarizadores sobre cidades vizinhas (base industrial ou logística do desenvolvimento);
• concentração destes desenvolvimentos ao longo de dois “Macro-Corredores” urbanos polarizados pelas “novas” AML e AMP;
• desenvolvimento de algumas cidades e 4 “eixos urbanos” no interior, beneficiando da maior articulação com a faixa litoral e redinamização de zonas interiores localizadas ao longo do IP2;
• desenvolvimento urbano com três prioridades: Descongestionar, Habitar e Redinamizar “Centros Históricos.
322 Têxtil, vestuário, calçado, cerâmica, produtos metálicos.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
317
Quadro 6.1 Descrição sintética dos cenários /cont./
3º CENÁRIO:
• redução do peso relativo de vários pólos de especialização industrial tradicional, mas com ascensão na “cadeia de valor”, “Clusterização” e articulação entre “Clusters”;
• diversificação industrial para sectores dinâmicos a nível mundial: electrónica e comunicações, material de saúde, aeroespacial, novos veículos urbanos, aproveitamento da energia solar (atracção de investidores estrangeiros e dinâmica de PME’s nacionais);
• diversificação: “Cluster” software/Conteúdos/Audiovisual/Serviços Informáticos e Telemáticos, “Cluster” Turismo/ Lazer reforçado com a atracção de residentes estrangeiros;
• Pólos de especialização nascentes nos Serviços de Saúde, Comunicações e Serviços Aeroespaciais.
• presença em sectores e actividades com procura mundial dinâmica e forte utilização do ciberespaço;
• funções geoeconómicas, reforçadas como plataforma de valia europeia e internacional nos transportes aéreos, marítimos e telecomunicações;
• maior capacidade de interacção com regiões de Espanha, a partir das plataformas logísticas de inserção nas redes e rotas mundiais;
• maior peso da internacionalização a partir do território nacional e da inserção nas redes e rotas internacionais e no ciberespaço;
• menor dinâmica do investimento de grandes empresas portuguesa no estrangeiro;
• dinâmica do IDE no terciário e nalgumas actividades industriais inovadoras;
• Portugal sede de Agência Europeia dos Oceanos e localização de laboratórios de I&D com ele relacionados
• Sistema urbano português, constituindo um factor de aglutinação de uma “Macro-região Atlântica do sudoeste europeu”;
• Formação de duas Grandes Regiões Metropolitanas Porto/Braga e Lisboa/Setúbal, ambas fortemente internacio-nalizadas e articuladas entre si;
• Organização no litoral de várias “redes de cidades” entre as duas Regiões Metropolitanas;
• Desenvolvimento de quatro “eixos urbanos” no interior, dinamizando actividades turísticas e servindo novas zonas de localização de residências secundárias;
• Desenvolvimento urbano com três prioridades: Cidades Verdes, Cidades Digitais, Cidades com Memória Histórica.
Fonte: Adaptado de RIBEIRO, J. F., (1998), “Cenários de Longo Prazo para o Território do
continente. Uma reflexão a propósito do EDEC” in PROSPECTIVA E PLANEAMENTO, V. 3/4, MEPAT/SEDR, Departamento de Prospectiva e Planeamento, Lisboa, pp. 11-22
O segundo cenário, sendo intermédio, apela a alguma inovação, assume desafios e
reclama a participação mais ousada da Administração Pública, dos agentes
económicos e da população em geral. Este cenário, integrando a economia e o
território nacional numa Região Atlântica, faz a ponte entre um passado de
imobilismo e uma participação activa na construção europeia.
O terceiro cenário, sendo o mais ousado, é um cenário de rotura com o passado
que perspectiva a economia e o território nacional inseridos numa grande Região
Metropolitana Europeia. Neste cenário aposta-se na inovação, nas novas
tecnologias de informação, no conhecimento e na posição estratégica do território
nacional como factores de crescimento. O território será mais equilibrado já que
se, por um lado, as duas áreas metropolitanas (Lisboa e Porto) se expandem, por
outro lado, criam-se novos eixos de desenvolvimento no interior articulados entre
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
318
si e com as duas áreas metropolitanas nacionais reequilibrando, assim, o território
português e criando as condições para o esbatimento das graves assimetrias
regionais. As políticas a serem implementadas para atingirmos este cenário
centram-se no estímulo ao desenvolvimento simultâneo e harmonioso de
condições favoráveis à articulação entre a economia, o território e os cidadãos,
isto é, entre competitividade nacional, afirmação regional e bem-estar individual
(Sousa, 2000, p. 64).
O desenvolvimento equilibrado do território nacional (3º cenário) exige uma
distribuição diferente da despesa pública em novos moldes, ou seja, exige uma
distribuição com discriminação positiva a favor das regiões menos desenvolvidas.
Efectivamente, não é mais possível continuar com uma distribuição da despesa
pública per capita que favorece a região mais desenvolvida (Lisboa e Vale do
Tejo) e contribui, assim, para o agravamento das assimetrias regionais como
demonstram os valores seguintes: no período de 1994-1998, exceptuando as
Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (regiões ultra periféricas) em que
esta despesa ultrapassa os 400 contos, a Lisboa e Vale do Tejo foram atribuídos
225 contos, ao Alentejo 177, ao Centro 174 e ao Norte 142 (DPP, 1999, p. 38).
Os cenários de evolução apresentados se, por um lado, não são contraditórios com
a inclusão de Portugal no Arco Atlântico, por outro lado, não excluem o
aprofundamento e consolidação das relações luso-espanholas e reforçam mesmo
essa necessidade. Nos últimos anos, têm-se vindo a desenhar e consolidar eixos de
desenvolvimento que, em alguns casos, ultrapassam o território nacional e se
podem considerar internacionais ou ibéricos (ver quadro 6.2).
A consolidação destes eixos de desenvolvimento exigem a criação de infra-
estruturas que, por sua vez, irão permitir implementar um modelo de
desenvolvimento sustentável e incluir Portugal nas redes transeuropeias de
telecomunicações, de transporte e de energia. A opção de inserção nas redes
transeuropeias tem levado a Administração Central a programar elevados
investimentos na modernização das redes de transportes e, em especial, nas
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
319
ligações multimodais de Portugal-Espanha/Europa que implicam a articulação dos
transportes marítimos, aéreos, ferroviários e rodoviários. Além disso, está em
curso a construção do gasoduto de gás natural, cuja estrutura base (troços de
Setúbal/Braga e Campo Maior/Leiria) ficou concluída e operacional em Fevereiro
de 1997 (MEPAT, 1998c, p. 66).
Quadro 6.2 Classificação dos eixos de desenvolvimento
Corredores internacionais:
• eixo Irun-Portugal (na parte portuguesa acompanha o IP5) • eixo Lisboa-Madrid-França (no território nacional acompanha a A1, IP6, IP2, EN223 e
EN240 até à fronteira de Segura) Corredores ibéricos:
• eixo galaico-português (abrange toda a orla costeira portuguesa, exceptuando o litoral alentejano onde se verifica uma ligeira inflexão para o interior)
• eixo Faro-Sevilha (num futuro próximo, ligar-se-á ao eixo do mediterrâneo) Corredor nacional:
• eixo Guarda-Covilhã-Castelo Branco (eixo junto à fronteira acompanhando o IP2)
Fonte: MEPAT - Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território
(1998c), Relatório do Estado do Ordenamento do Território - 1997, Lisboa, p. 67
Embora consideremos que o corredor Guarda-Covilhã-Castelo Branco tem
capacidade para contrariar a tendência de desertificação que se verifica no interior
português há, contudo, além de outras medidas, a necessidade de reforçar a rede
de estradas da região com as ligações Norte-Sul (conclusão do IP2), as
transversais, isto é, eixos paralelos ao IP5 que permitam, por um lado, a ligação
do litoral português ao interior e deste a Espanha e as intra-regionais dotando a
Beira Interior de um sistema viário integrado que facilite os fluxos de tráfego inter
municipal. Esta rede, formada por estradas de vários níveis, ao mesmo tempo que
aumenta a acessibilidade inter e intra regional contribui para a fixação da
população constituindo-se, assim, num dos principais elementos de estruturação
do território.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
320
6.3. OS CENÁRIOS DE EVOLUÇÃO DA REGIÃO CENTRO
6.3.1 Caracterização social, económica e ambiental
Na Região Centro, em 1997, viviam 1,7 milhões de pessoas numa área de 23 668
Km2, ou seja, 17,2% da população nacional e 25,8% da superfície de Portugal. A
diversidade dos seus territórios, em termos naturais e sócio-culturais, e a
configuração espacial que serve de suporte à Administração Pública e à promoção
das políticas de desenvolvimento são aspectos a destacar. A articulação Norte-Sul
ou das áreas metropolitanas do Litoral Atlântico com os espaços de baixa
densidade no Interior fronteiriço, coloca a região numa posição estratégica nas
ligações entre as áreas mais dinâmicas de Portugal e no acesso à Europa. A região,
à semelhança do país, apresenta fortes desequilíbrios de povoamento, onde a uma
densidade média de 72 hab/Km2 correspondem densidades inferiores a 40
hab/Km2 na maior parte dos concelhos (Pinhal Interior e ao longo da fronteira) e
densidades superiores a 120 hab/Km2 em alguns concelhos do litoral.
Em termos sócio-económicos, a região caracteriza-se, entre outros, pelos
seguintes indicadores (CCRC, 1999, pp.17-37):
• elevado índice de envelhecimento devido, em parte, às elevadas taxas de
mortalidade e baixas taxas de natalidade. O crescimento natural da população
é negativo em todas as NUT’s III da região excepto no Baixo Vouga e no
Pinhal Litoral. As projecções demográficas, 1991-2011, publicadas pela
DGOTDU, estimam uma diminuição populacional de -4,5% a -11%. Em
termos de distribuição territorial, a evolução da população apresenta
tendências diferenciadas com três unidades territoriais do litoral (Tâmega, Ave
e Cávado) a registaram um crescimento natural de 6%, duas áreas litorais
(Baixo Vouga e Pinhal Litoral) a verificarem uma estagnação dos valores e os
espaços mais periféricos ou interiores (Pinhal Interior Sul e Beira Interior Sul)
a sofrerem diminuições significativas, respectivamente, de 9,9% e 6,8% (op.
cit., 1997, p. 58);
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
321
• povoamento disperso onde não se destacam grandes cidades323. No litoral
formaram-se algumas “redes de cidades” com algumas centenas de milhar de
habitantes num raio de 20 a 30 Km;
• baixos níveis de qualificação da população, taxa de analfabetismo elevada324 a
par de taxas de escolarização, no ensino básico e secundário, relativamente
baixas e elevado abandono no final do ensino obrigatório. Além disso,
verificam-se carências de mão-de-obra com qualificações específicas em
alguns sectores de actividade;
• estrutura económica325 dominada pelos serviços (75% do VAB total regional).
A indústria representa 26% do VAB, os produtos energéticos 4%, a
construção civil 6% e a agricultura 7% (valor bastante inferior à média
nacional). No sector secundário encontram-se alguns sub-sectores inseridos
nas dinâmicas de competitividade internacional (cerâmicas, produtos
metálicos, moldes, componentes automóveis, aglomerados de madeira e pasta
de papel, vidro) a par de outros baseados nas vantagens dos baixos custos
salariais (vestuário). O sector de serviços é tradicional (61% do VAB terciário
é obtido por serviços reparação, restauração e hotelaria e serviços não
mercantis);
• poder de compra regional inferior ao valor médio nacional. O PIB per capita e
a produtividade do trabalho, em 1994, era 85% da média nacional o que
coloca a região em penúltimo lugar no ranking nacional destes indicadores. A
Região Centro, em termos de PIB per capita, ocupa a 19ª posição mais baixa
de entre as 206 NUT’s II da União Europeia (59% da média Comunitária);
• o emprego regional, em 1998, representava 19,2% do total nacional
distribuído da seguinte forma (INE, 1998, pp. 30-31): serviços - 40,9%,
indústria, construção, energia e água - 32,7%, agricultura, silvicultura e
pesca - 26,4%;
• taxa de desemprego bastante baixa (2,5% em 1998). Contudo, verificam-se
graves desequilíbrios no mercado de trabalho continuando as migrações,
323 Coimbra, sendo a maior cidade da região, terá cerca de 100 000 habitantes. 324 A taxa de analfabetismo na região é de 14,5% e no país é de 10,4%. 325 Valores referentes a 1994.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
322
sobretudo no interior, a ser um factor importante de equilíbrio do mercado de
trabalho;
• a despesa pública executada com o apoio FEDER, no período de 1994 a 1997,
totalizou cerca de 220,8 milhões de contos (equivalente a 13,7% do País, não
considerando o investimento não regionalizada). O Fundo de Coesão, nos
domínios dos transportes e ambiente totalizaram, no período 1993-1997, 18,1
milhões de contos (4% do total nacional)326. As verbas inscritas no PIDDAC
para a Região Centro foram, em 1997 e 1998, respectivamente, cerca de 112 e
151 milhões de contos, o que corresponde a 13,1% e 15,6% do total do
continente;
• insuficiência de infra-estruturas de transportes e comunicações. Refira-se, a
título de exemplo, o atraso significativo na infra-estruturação dos principais
eixos viários e a ausência de articulação entre o litoral e o interior da região;
• situação desfavorável nos indicadores de conforto e nível de vida das
populações.
Em relação à situação ambiental registe-se que, em 1998, o abastecimento
domiciliário de água cobria 92% da população residente (CCC, 1999, p. 113)
embora a quantidade e qualidade da água distribuída seja insuficiente o que se
explica, parcialmente, pelo facto dos sistemas de abastecimento serem de pequena
dimensão e se encontrarem dispersos obrigando, assim, muitos municípios a
controlarem dezenas de captações. A drenagem de águas residuais que, segundo a
mesma fonte, abrangia somente 60% da população é efectuada por sistemas de
drenagem de efluentes de pequena dimensão devido a uma orografia bastante
acidentada e ao afastamento dos aglomerados rurais. O tratamento das águas
residuais é um dos maiores problemas das autarquias (a taxa de cobertura da
população é apenas de 37%) agravado pela dificuldade em fixar os quadros
técnicos e operadores de estações de tratamento. Em relação aos resíduos sólidos
urbanos, embora a média da população abrangida ascenda a 97%, a situação é
preocupante visto estes resíduos serem depositados em lixeiras (sem qualquer
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
323
tratamento) ou em aterrros sanitários. Refira-se que o Plano Estratégico de
Resíduos Sólidos Urbanos - PERSU -, apostando na política dos quatro “r”
(reduzir, reutilizar, reciclar, recuperar), preconiza a redução do montante de
resíduos sólidos urbanos depositados em aterro sanitário para um valor próximo
dos 13%, em 2005, contra os 87% em 1998 (Expresso, 14 de Março 1998).
Apesar de, nos últimos anos, se ter verificado um significativo aumento do
número de habitantes da região com acesso a água no domicílio e servidos por
redes de drenagem de efluentes e águas fluviais, não foi possível verificar padrões
elevados de qualidade da água dos meios hídricos por três razões fundamentais:
deficiente cobertura de infra-estruturas de saneamento básico, desadequação dos
sistemas de tratamento de águas residuais e descoordenação temporal na
implementação de acções de despoluição ambiental. A Região Centro, apesar de
ser a principal nascente de recursos hídricos do país e possuir as melhores e
maiores reservas de águas nacionais327, não tem gerido e preservado este
importante recurso natural de modo conveniente (estima-se que 50% da rede
hidrográfica regional regista níveis de poluição elevados) como, aliás, os Planos
de Bacia Hidrográfica têm vindo a documentar. Em todas as bacias hidrográficas
regionais (Mondego, Vouga e Liz) e em muitas sub-bacias das bacias
internacionais (Zêzere, Côa, etc.) verifica-se a existência de troços muito, ou
moderadamente, poluídos.
A qualidade do ar na região é, de um modo geral, boa. Apenas nas zonas
envolventes de alguns dos maiores pólos industriais (Estarreja, por exemplo) ou
zonas de maior tráfego automóvel dos principais aglomerados urbanos se
verificam, esporadicamente, algumas situações poluentes.
O importante coberto vegetal, a grande quantidade de áreas integradas em Parques
e Reservas (6,9% do território da região é ocupado pelas Áreas Naturais
326 Estes valores destinaram-se essencialmente à modernização das linhas ferroviárias do Norte e da Beira Alta e a projectos nos domínios do tratamento de resíduo sólidos e do tratamento de águas residuais.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
324
Classificadas), os corredores ecológicos e o relevo montanhoso proporcionam
uma qualidade paisagística sem paralelo no país tornando-se, assim, num factor de
crescimento da economia regional desde que gerido e explorado cuidadosamente,
isto é, conciliando a preservação da sua identidade e os ecossistemas aí existentes
com a actividade económica na qual o turismo de qualidade e em pequenos
grupos tem um lugar de destaque.
6.3.2. Organização do espaço regional
A delimitação de espaços sub-regionais, tendo em vista a dinamização da base
económica e do processo de urbanização, é operacionalizado através dos eixos de
desenvolvimento ou eixos estruturantes. A região Centro, como se verifica pela
leitura do mapa 6.1, tem, no seu conjunto, cinco eixos com diferentes níveis de
intensidade e estádios de consolidação, nomeadamente:
1. O eixo Ovar/Porto de Mós que se caracteriza pela melhor dotação de infra-
estruturas e equipamento (embora com deficiências ao nível do saneamento
básico) e por um tecido produtivo consolidado, dinâmico e com forte pendor
exportador, divide-se em:
• sub-eixo que, acompanhando a linha costeira, vai desde Ovar/Aveiro até
Leiria/ Marinha Grande;
• sub-eixo que, acompanhando a Linha do Norte e a auto-estrada Porto-
Lisboa, inclui Albergaria, Águeda, Coimbra, Pombal, Leiria;
2. o eixo Aveiro/Viseu/Guarda-Espanha que, acompanhando o IP5, aproximou o
litoral do interior e permitiu o alargamento da faixa litoral no sentido de Viseu
com a consequente criação de novas centralidades que, entretanto não foram
aproveitadas pelos municípios do interior minimizando, assim, o potencial de
desenvolvimento associado a esta via. Aliás, o IP5 tornou-se numa via rápida
de escoamento de recursos do interior para o litoral e da produção industrial
327 Cite-se, a título de exemplo, a albufeiras da Aguieira que garante o abastecimento do Baixo Mondego e a do Castelo do Bode que fornece água potável à Região de Lisboa e Vale do Tejo
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
325
deste para a Europa Central e do Norte pelo que o seu impacto na captação de
investimento e fixação da população e das actividade produtiva no interior não
é elevado;
3. o eixo tradicional de ligação litoral-interior da região Centro, ou seja, o
corredor Celorico da Beira/Coimbra. Refira-se que, além da “Estrada da
Beira”, este eixo tem beneficiado de avultados investimentos na construção de
novas ligações rodoviárias (IP3, IC12), na modernização das estruturas
ferroviárias (Linha da Beira Alta) e na construção de equipamentos colectivos
e de apoio à actividade produtiva pelo que se pode tornar num importante eixo
estruturante da região e, especialmente, do seu interior;
4. o eixo que corresponde ao corredor urbano Guarda/Covilhã/Fundão/Castelo
Branco com um potencial elevado de recursos endógenos e condições para se
transformar num pólo de desenvolvimento do espaço interior e fronteiriço. A
construção do IP2 e rede complementar, a modernização da linha ferroviária
da Beira Baixa e o esforço concertado das autarquias e entidades regionais de
ambos os lados da fronteira (Universidade e Politécnicos, Centros de
Investigação, associações patronais e sindicais, etc.) são os elementos
estratégicos que poderão estruturar este vasto território do interior;
5. o eixo Pombal/Sertã/Castelo Branco, ainda em fase de formação, denota
alguma debilidade do aparelho produtivo, carências ao nível de infra-
estruturas, de equipamentos sociais e de apoio às empresas, bem como a falta
de recursos humanos em quantidade e qualidade.
Os sistemas urbanos, tal como os eixos de desenvolvimento, desempenham um
papel importante na organização do território. O sistema urbano da região Centro
é estruturado por uma rede de centros de pequena e média dimensão em termos
nacionais328, mas bastante pequenos à escala europeia, que têm evidenciado
ritmos e formas diferentes de crescimento (ver mapa 6.2).
(aproximadamente 3 milhões de habitantes) e produz energia. 328 Dos 78 lugares sedes de concelho, 52 têm menos de 2 500 habitantes e apenas um, Coimbra, tem cerca de 100 000habitantes. Dos restantes 25 lugares, só 10 têm uma população entre os 20 000 e 50 000 habitantes (CCRC, 1999, p. 93).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
326
Mapa 6.1 Eixos de desenvolvimento na Região Centro
Fonte: CCRC, (1999), Uma região qualificada, activa e solidária: visão sobre a região Centro
para próxima década, Coimbra, p. 101
No litoral, a consolidação dos sistemas urbanos caracterizou-se pelo crescimento
dos principais centros urbanos e das suas periferias (Coimbra, Aveiro, Figueira da
Foz, Leiria/Marinha Grande), bem como dos centros de pequena dimensão
(geralmente, sedes de concelho). No interior, o crescimento dos aglomerados
urbanos verificou-se, principalmente, nas sedes de concelho e, em particular, nas
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
327
capitais do distrito devido ao fluxo da população para o centro com o consequente
despovoamento das suas zonas rurais.
Mapa 6.2 Principais aglomerados urbanos
Fonte: CCRC, (1994), ANÁLISE, DIAGNÓSTICO E PERSPECTIVAS DE
DESENVOLVIMENTO PARA A REGIÃO CENTRO, Contributos para o PDR 1994-99, Coimbra, p. 195
Numa análise mais pormenorizada dos espaços sub-regionais verifica-se a
diferenciação acentuada das densidades populacionais e formas de urbanização.
Castelo Branco e Viseu constituem dois pólos centralizadores dos respectivos
sistemas urbanos que, apesar das semelhanças, têm características que os
distinguem: enquanto Castelo Branco se tem vindo a afirmar como o centro de
uma estrela suburbana cujos vértices são Alcains, Cebolais, Retaxo e Escalos,
Viseu é um centro mais dinâmico e aberto onde, pelo seu nível de especialização
funcional, se formam dois pólos complementares (Mangualde e Tondela).
Coimbra ocupa uma situação peculiar na região dado, por um lado, tender para a
satelitização das vilas e aglomerados urbanos vizinhos (Condeixa, Miranda do
Aglomerado Habitantes Águeda 23 057 Aveiro/Ílhavo 48 158 Ovar 26 267 Castelo Branco 27 267 Covilhã 30 856 Coimbra 100 673 Figueira da Foz 36 686 Guarda 20633 Leiria 42 872 Marinha Grande 26 176 Viseu 44 164
Fonte: CCRC/INE 1991 e GEPAT
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
328
Corvo, Lousã, Mealhada, Penacova) e, por outro lado, ser o centro de um sistema
policêntrico cujos vértices são a Figueira da Foz e Cantanhede. O Baixo Vouga é
talvez, na região Centro, o caso típico de um sistema policêntrico que permite a
definição e implementação de uma estratégia comum para os vários centros
urbanos que o integram. O sistema Côa/Alto Mondego é atípico por duas razões:
nem a Guarda exerce uma forte polarização sobre os aglomerados urbanos
vizinhos nem é claramente visível a tendência para a formação de eixos urbanos
locais. Apesar disso, a Guarda encontra-se numa situação geográfica privilegiada
já que, por um lado se situa no importante corredor rodo-ferroviário Aveiro/Vilar
Formoso/Espanha/Europa e, por outro lado, é um dos pólos do eixo de
desenvolvimento Guarda/Covilhã/Castelo Branco. O Pinhal Interior e as sedes dos
concelhos raianos, sendo territórios periféricos, não dispõem de um sistema
urbano consolidado pelo que a sua localização, dada a emergência de novas
centralidades proporcionadas pelo aprofundamento da integração europeia e
progressivo esbatimento das fronteira internas, poderá representar a oportunidade
para o reforço e consolidação deste sistema urbano.
Em termos gerais, o processo de urbanização e, muito particularmente, a
emergência e consolidação de sistemas urbanos locais contribuem decisivamente
para a estruturação dos territórios “sub-regionais” e a fixação da população e das
actividades produtivas. Embora, cerca de 75% da população resida a menos de 30
minutos de uma das 8 principais cidades (ibid., p. 93), as deficientes infra-
estruturas rodoviárias, sobretudo no interior, constituem um obstáculo à
articulação intra e inter regional pelo que é necessário reforçar a malha viária
existente implementando esquemas de incremento das acessibilidades sub-
regionais. O estudo da acessibilidade, em automóvel, aos principais centros
urbanos (Baltasar, 1999) confirma esta necessidade ao pôr em evidência a
reduzida acessibilidade na maior parte do território regional.
A leitura do mapa 6.3 indica-nos três manchas urbanas com boas ou razoáveis
acessibilidades (15 a 30 minutos), ou seja, uma no litoral com continuidade para
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
329
Norte e Sul, uma segunda na NUT III Dão-Lafões já consolidada e a terceira na
Raia Central (paralela ao IP2) em consolidação. A par destas manchas urbanas,
um vasto território predominantemente rural (Pinhal Interior, Serras da Estrela e
do Caramulo) apresenta índices de acessibilidade automóvel bastante reduzidos o
que vem reforçar a necessidade de melhorar as condições de circulação na rede
rodoviária existente e, ao mesmo tempo, complementá-la com novas ligações de
forma a reduzir os tempos de acesso em automóvel aos centros urbanos regionais
e supra regionais.
Mapa 6.3
Acessibilidades aos principais centros urbanos
Fonte: CCRC, (1999), Uma região qualificada, activa e solidária: visão sobre a região Centro para próxima década, Coimbra, p. 100
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
330
6.3.3. A estratégia de desenvolvimento da Região Centro
A região Centro tem condições para se diferenciar das restantes regiões do país
dado possuir importantes recursos, uma rede de estruturas de ensino e
investigação capaz de dinamizar o meio em que se insere pela excelência das
competências científicas e tecnológicas, recursos humanos qualificados, bem
como uma posição geo-estratégica ímpar que lhe possibilita ter um papel central
na relação do país com o exterior. Aliás, a nova geografia das redes e fluxos
reforçam a centralidade dos principais sistemas urbanos, pelo que, algumas das
cidades polarizadoras dos sistemas urbanos da Região Centro podem transformar-
se em vértices estratégicos nessas redes. Além disso, o reforço das acessibilidades
possibilita a cobertura integral e equilibrada do território por sistemas urbanos
criando-se, assim, efeitos circulares crescentes. Este quadro positivo não impede,
contudo, que se constatem importantes assimetrias territoriais, quer entre o litoral
e o interior, quer mesmo no interior destes espaços, evidenciadas por uma
distribuição desigual da população e do tecido empresarial associada a uma fraca
dinâmica demográfica e a um forte envelhecimento da população. Além disso, o
baixo nível sócio-económico e as dificuldades de integração de alguns territórios,
sobretudo os mais periféricos e do interior, são acentuados pela sua incapacidade
para aproveitar os recursos e oportunidades de que dispõem.
Tendo em consideração o quadro atrás descrito, a estratégia de desenvolvimento
da região Centro, na qual se integra a Beira Interior, assenta na promoção da
diversificação industrial, na consolidação de uma dinâmica de serviços/indústria
polarizada pelo triângulo conhecimento/saúde/lazer, na atracção de IDE
valorizador das dinâmicas endógenas, na valorização dos recursos naturais
subaproveitados e especialidades agrícolas e pecuárias, na promoção do turismo,
no aproveitamento do potencial produtivo dos grandes investimentos públicos e
desenvolvimento da intermodalidade de modos de transporte (MEPAT, 1998a).
Com esta estratégia pretende-se, igualmente, inverter a crescente litoralização da
região (à semelhança do país), revitalizando o interior e criando novas
centralidades que se abrem com o aprofundamento da integração europeia e, de
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
331
um modo mais geral, com a globalização da economia. Ao nível da coesão social,
o Plano Nacional de Desenvolvimento Sócio-Económico apela ao ordenamento
do território através da consolidação dos eixos urbanos territoriais, às intervenções
específicas nas zonas de baixa densidade populacional, ao desenvolvimento de
serviços às pessoas (em especial às crianças e idosos) e à aplicação de programas
de desenvolvimento comunitário dirigidos a núcleos populacionais com
problemas específicos (ibid).
Tendo como referência o PNDES e o Plano de Desenvolvimento Regional 2000-
2006, foi elaborada a Intervenção Operacional Regional do Centro – IORC - que
reafirma a ambição de estruturar o território através de um conjunto de
objectivos e prioridades que apontam claramente para a atenção ao território, à
qualidade, ao acesso dos cidadãos aos frutos do desenvolvimento e à conjugação
da competitividade com a coesão económica e social (CCRC). A realização plena
destes objectivos, segundo a Comissão de Coordenação, passa pela definição e
implementação de acções que se enquadram em cinco eixos prioritários:
• acesso da população aos “serviços universais” e infra-estruturação do
território;
• qualificação urbana e ordenamento dos espaços constituintes das cidades;
• restituir ao meio rural, à agricultura e às aldeias capacidade de dinamização;
• valorização das potencialidades de territórios específicos;
• qualificação dos factores de competitividade da economia regional.
Os objectivos para a região, sendo ambiciosos, estão claramente relacionados com
a prioridade estabelecida pela Administração Central: promoção do
desenvolvimento sustentável das regiões e da coesão nacional. Contudo, a
estratégia e os eixos prioritários de intervenção propostos envolvem alguns riscos,
entre os quais destacamos a possibilidade de agravamento das disparidades à
escala sub-regional e, muito particularmente, ao nível das relações urbano/rural,
bem como a marginalização dos espaços mais afastados dos grandes eixos de
comunicação e sua subordinação, pelo menos na faixa fronteiriça, às lógicas de
internacionalização das principais actividades e cidades espanholas.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
332
6.4. O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA BEIRA INTERIOR
6.4.1. Caracterização da região
6.4.1.1. Enquadramento geofísico e demográfico
A Beira Interior329, abrangendo uma área de 11 957 Km2 ou 13% do território
nacional, é atravessada pela Cordilheira ou Sistema Central da Península, da qual
se destacam as Serras da Estrela e da Malcata, do lado português, e as Serras da
Gata, da Penha de França e de Gredos do lado espanhol pelo que o relevo é, de
um modo geral, acidentado alternando as superfícies aplanadas com duros relevos
e bacias de abatimento. Dispõe de alguns recursos minerais, sendo de destacar as
minas de urânio, volfrâmio e estanho, as pedreiras de granito, as argilas, os
caulinos brancos (utilizados na produção de porcelanas no litoral) e areias.
Os recursos hídricos, tal como os florestais, são elevados, isto, apesar da área
ocupada actualmente por floresta ser muito inferior à correspondente aptidão
florestal e à devastação, nas últimas três décadas, de grandes áreas provocada pelo
elevado número de incêndios florestais. Só em 1999, a Beira Interior perdeu quase
25 000 hectares de mato e pinhal em mais de 2 000 incêndios e 118
reacendimentos o que, segundo a DRABI, em termos de área ardida, coloca esta
região no primeiro lugar do ranking nacional (JF, 8/10/1999). Já este ano, de
Janeiro a Março, ardeu no Parque Natural da Serra da Estrela uma área igual à do
ano passado devido, fundamentalmente, às queimadas efectuadas pelos pastores
para rejuvenescerem as zonas de pastoreio (JF, 24/03/2000).
A Beira Interior constitui a maior nascente de recursos hídricos do País. Com
efeito, têm origem nesta região os dois principais rios nacionais (Zêzere e
Mondego) que definem duas importantes bacias hidrográficas estruturantes do
território limitadas a Norte pelo rio Douro e a Sul pelo rio Tejo. Além dos
recursos hídricos à superfície, a região oferece uma abundância de águas
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
333
subterrâneas que tem permitido a instalação, sobretudo nas zonas de montanha
(Serras da Gardunha e da Estrela) de unidades de engarrafamento de água de
mesa.
Saliente-se, ainda, a excepcional riqueza em termos paisagísticos, biológicos,
patrimoniais e culturais (alguns deles de grande valor e singularidade330) o que
abre boas perspectivas para o desenvolvimento do turismo de qualidade em
pequenos grupos.
6.4.1.2. Caracterização demográfica, do emprego e da actividade económica
Nas últimas décadas, a Beira Interior foi sujeita a fortes tensões demográficas
devidas, fundamentalmente, ao surto migratório dos anos 60 em direcção à área
metropolitana de Lisboa e à emigração para a Europa. Entre 1981 e 1997, a região
perdeu 54 719 habitantes o que representa um decréscimo populacional de 13%
(ver quadro 6.3) com a consequente diminuição da ocupação e aproveitamento do
território e, mesmo, desestruturação do sistema produtivo.
A análise ao nível sub regional (NUT’se III) mostra que a diminuição da
população foi diferenciada destacando-se, pela negativa, o Pinhal Interior Sul
com um decréscimo populacional na ordem dos 25% e, no extremo oposto, a
Serra da Estrela com 8,7%.
329 A região integra as seguintes NUT III: Beira Interior Norte, Beira Interior Sul, Cova da Beira, Serra da Estrela, Pinhal Interior Sul. 330 Cite-se, por exemplo, o Parque Arqueológico do Vale do Côa – PAVC - ou a Estação Arqueológica das Portas de Ródão.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
334
Quadro 6.3
Evolução demográfica entre 1981-1997
1981 1991 1997 Tx. Cresc. % (1981/1997)
Portugal 9 835 100 9 867 147 9 957 270 1,2 Região Centro 1 763 119 1 721 650 1 710 390 (1,5) Beira Interior 433 559 397 468 376 840 (13,1) Pinhal Interior Sul 60 527 50 801 45 330 (25,1) Serra da Estrela 56 991 54 801 52 030 (8,7) Beira Interior Norte 130 104 118 513 112 130 (13,8) Beira Interior Sul 86 138 81 015 77 740 (9,5) Cova da Beira 99 799 93 097 89 310 (10,5)
Legenda : Os valores entre parêntesis são taxas negativas de crescimento populacional Fonte: INE, Anuário Estatístico de Portugal – 1992 e Anuário Estatístico da Região Centro - 1998 A existência de recursos humanos qualificados é um importante elemento de
diferenciação das regiões e de atracção para as actividades económicas,
especialmente as que necessitam de processos produtivos mais sofisticados. Da
leitura do quadro 6.4 constata-se que, em 1991, 80,8% da população da região
possuía níveis de formação muito baixos, destes 22% da população não sabe ler
nem escrever e (56,26%) apenas possui o ensino básico. No entanto, esta
percentagem encontra uma boa parte da sua materialização na faixa etária da
população que está próxima ou além dos 60 anos de idade, ou seja, população que
já não está em idade activa.
Esta situação verifica-se apesar do esforço realizado no sentido de implementar,
na região, instituições de ensino de diversos graus. A Beira Interior dispõe de um
considerável número de instituições de Ensino Superior Público (Universidade da
Beira Interior, Institutos Politécnicos da Guarda e de Castelo Branco) e Privado
(Instituto Superior de Administração e Ciências Empresariais, Instituto Superior
de Matemática Aplicada e Gestão) que atraem inúmeros jovens de outras regiões.
A rede de ensino secundário e técnico-profissional é também, relativamente,
densa. Apesar desta oferta de formação científica e técnica, a região continua a
debater-se com os problemas derivados da fraca qualificação dos seus recursos
humanos o que nos leva a questionar se as estratégias de fixação dos jovens
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
335
quadros é a mais correcta. Efectivamente, nos distritos da Guarda e de Castelo
Branco, apenas 2,94% da população tem habilitações de nível superior.
Quadro 6.4 NÍVEL DE FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO
Dist. Castelo Branco Dist. Guarda Total N.º de
Habitantes %
N.º de Habitantes
% N.º de
Habitantes %
NÃO SABE LER NEM ESCREVER 50.870 23,68 37.786 20,08 88.656 22,00
LÊ E ESCREVE SEM GRAU DE
ENSINO 2.269 1,06 1.355 0,72 3.624 0,90
ENSINO PRE-ESCOLAR 3.039 1,41 3.726 1,98 6.765 1,68
ENSINO BÁSICO 115.919 53,95 110.811 58,89 226.730 56,26
ENSINO SECUNDÁRIO 33.758 15,71 26.586 14,13 60.344 14,97
CURSO MÉDIO 2.602 1,21 2.433 1,29 5.035 1,25
ENSINO SUPERIOR 6.096 2,84 5.225 2,78 11.321 2,81
ENSINO SUPERIOR/PÓS
GRADUAÇÃO 300 0,14 242 0,13 542 0,13
TOTAL 214.853 100 188.164 100 403.017 100
Fonte: “Alterações Demográficas nas Regiões Portuguesas entre 1981 – 1991”, INE, Gabinete de Estudos Demográficos, 1993
Na estrutura do emprego regional, evidencia-se o emprego ligado às actividades
agrícolas e às que exigem um baixo ou médio nível de formação, consequência
natural do nível de formação que podemos encontrar na população da região.
Entre 1981 e 1991, à semelhança do que ocorreu, quer na região Centro, quer no
país, a Beira Interior registou uma movimentação da sua população activa, por
sector de actividade, caracterizada por uma quebra de 18,1% no sector primário e
um aumento equivalente nos restantes sectores, com maior incidência no sector
terciário (13,7%), pelo que, em termos contabilísticos, os ganhos do sector
terciário quase igualaram as perdas do sector primário.
A actividade produtiva caracteriza-se por uma agricultura com alguns processos
tecnológicos desactualizados e produtos de pouco valor acrescentado, a mono
especialização industrial (lanifícios e vestuário) assente na mão-de-obra pouco
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
336
qualificada e, nos baixos custos salariais e, ainda, um sector de serviços
relativamente dinâmico e pouco inovador.
Em termos do sector primário, a região destaca-se pela produção de frutos secos e
frescos, batata, azeitona e tabaco. Além disso, regista-se a criação de gado de
pequeno porte (ovinicultura e caprinicultura). A analise ao nível sub-regional
mostra-nos que na Beira Interior Norte predominam os frutos secos (amêndoa e
castanha), a Cova da Beira produz, principalmente, frutos frescos (maçã, pêssego
e cereja) e na Beira Interior Sul regista-se uma elevada produção de tabaco. Em
relação ao olival, este ocupa uma extensa área na Beira Interior exceptuando o
Pinhal Interior Sul.
Uma análise mais profunda do sector secundário revela-nos que, além dos têxteis
e vestuário, a energia e combustíveis, a indústria agroalimentar, a madeira e
mobiliário e a construção são os sub-sectores industriais com maior peso, em
termos de produção e de criação de rendimento e emprego (Reigado, 1996).
Em 1994 e 1996, na Beira Interior, apenas, se criava aproximadamente 3% do
PIBpm nacional, ou seja, 411 109 e 472 224 milhares de contos, respectivamente
(quando tem um peso de cerca de 3,7% do emprego e de 3,8% da população
nacional). O PIBpm per capita, apesar de ter aumentado no período de 1986-1994,
quer a preços constantes331, quer em termos relativos, representa apenas cerca de
70% da média nacional o que, de certa forma, reflecte o fraco grau de
desenvolvimento da região. É, ainda, de referir que, de 1994 para 1996, o PIBpm
per capita, na Beira Interior, cresceu a uma taxa anual superior à do país
(respectivamente, 8,5% e 7,6%). Numa análise mais fina, isto é, ao nível sub-
regional (ver quadro 6.5), em 1994, a sub-região Beira Interior Norte apresenta
maior PIBpm (cerca de 29%) e a sub-região Serra da Estrela é a que menor
contributo dá para o produto regional (cerca de 11%).
A produtividade no período compreendido entre 1986 e 1994, duplicou passando
de 822 contos por pessoa para 2173. Refira-se, ainda, que a produtividade da
331Valores constantes de 1986.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
337
Beira Interior representa, apenas, cerca de 70% da produtividade média nacional,
apesar de nos últimos anos se ter verificado uma aproximação. Assim, de 1986
para 1996, registou-se um aumento de 5 pontos percentuais, ou seja, passou de
71% para 76%. No entanto, é de sublinhar que, é na sub-região Beira Interior Sul
onde se verifica a maior produtividade da Beira Interior. A comparação com a
Beira Interior Norte, com os melhores valores da região para o PIB e PIB per
capita, parece denotar que tem havido alguma inovação na sub-região Beira
Interior Sul.
Quadro 6.5 Produto Interno Bruto e da Produtividade por NUTS III em 1994
/ milhares de contos/
Indicadores
Média Beira Interior
Pinhal Interior Sul
Serra da
Estrela
Beira Interior Norte
Beira Interior Sul
Cova da
Beira PIBpm 411109 52330 44733 119771 97236 97039 PIBpm em % do total da Beira Int. 100% 12,7% 11% 29,1% 23,7% 23,6% PIB per capita 1064 1093 843 1041 1227 1066 Produtividade per capita 2305 2032 2326 2227 2594 2307
Fonte: INE
Relativamente ao VABpm, verifica-se que são os Serviços Mercantis, os Produtos
Industriais e os Serviços não Mercantis que mais têm contribuído para acrescentar
valor à produção da Beira Interior (ver quadro 6.6). A análise territorializada,
indica-nos a Beira Interior Norte como a sub região que mais contribui para o
Valor Acrescentado Bruto da Beira Interior, excepto nos Produtos Energéticos
onde se destaca o Pinhal Interior Sul e nos Produtos Industriais em que a Cova da
Beira e, muito particularmente, a Covilhã apresenta o VAB mais elevado da
região.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
338
Quadro 6.6 VABpm na Beira Interior por Produto e por NUTS III em 1994
Indicadores Beira
Interior Pinhal
Interior Sul Serra da Estrela
Beira Interior Norte
Beira Interior Sul
Cova da Beira
1000 cts
% do País
1000 cts
% da BI
1000 cts
% da BI
1000 cts
% da BI
1000 cts
% da BI
1000 cts
% da BI
VABpm 378 313
2,8 48155
12,71
41164
10,9
110216 29,1
89480
23,7
89298
23,6
01- Produtos Agrícolas 40 975
7,1 5916 14,4
3450 8,4 14599 35,6
8440 20,6
8570
20,9
06-Produtos Energ. 23 249
4,0 11156
48,0
4550 19,6
2903 12,5
1887 8,1 2753
11,8
30-Produtos Industriais 78 672
2,4 5813 7.4 10093
12.8
17163 21.8
22043
28.0
23560
29.9
53-Const. e Obras Púb. 27 279
3,2 4823 17.7
3145 11.5
8163 29.9
6144 22.5
5004
18.3
68- Serviços Mercantis 151 691
2,3 15966
10.5
13657
9.0 48853 32.2
36016
23.7
37199
24.5
86-Serv. Não Mercantis
76 936
3,3 7089 9.2 8499 11.0
24504 31.8
19795
25.7
17049
22.2
69B- Prod. Imput. De Serv. Bancários
- 20 486
2,8
-
2608
-2.7
-
2229
10.9
-5968
29.1
-4845
23.7
-
4836
23.6
Fonte: INE Apesar, de nos últimos anos, se ter verificado um crescimento2 das exportações e
das importações na Beira Interior (as exportações representam, apenas, entre 1,6%
e 1,8% da média nacional e as importações cerca de 8% da média nacional) o grau
de internacionalização é, ainda bastante baixo. A taxa de cobertura das
importações pelas exportações era de 97% em 1986, de 155% em 1995 e de 134%
em 1996 (este último valor deve-se ao decréscimo registado nas exportações),
enquanto a média do país é bastante inferior (81% em 1986 e 70% nos anos de
1995 e 1996). Em termos sub-regionais, é a Cova da Beira, e em particular a
Covilhã, que apresenta maior fluxo de comércio internacional (cerca de 50%),
quer em termos de exportações, quer em termos de importações (ver quadro 6.7).
A sub-região que menos exporta é a Serra da Estrela e a que recorre menos à
importação é o Pinhal Interior Sul.
Apesar desta situação “positiva”, o modelo de especialização produtiva emergente
levanta algumas dúvidas quanto à sua sustentabilidade dado que, por um lado, se
assiste ao preenchimento não qualificante da fileira têxtil com as actividades de
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
339
confecção e vestuário e, por outro lado, a reestruturação do sector dos lanifícios
tem seguido uma trajectória de integração vertical e de inovação de processos, de
modo a assegurar um poder competitivo baseado no controle de custos,
cumprimento de prazos e não valorização da combinação de recursos.
QUADRO 6.7
Comércio Internacional por NUTS III
/ 1 000 contos/ Indicadores Total
Beira Interior
Pinhal Interior Sul
Serra da
Estrela
Beira Interior Norte
Beira Interior Sul
Cova da Beira
1992: Exportações Importações Saldo Bal. Comercial Taxa de Cobertura
47864 35098 12766 136,7
3079 2006 1073 153,5
3009 3576 - 567 0,84
9073 8214 859
110,5
4702 7023
- 2321 66,9
28001 14279 13722 196,1
1996: Exportações Importações Saldo Bal. Comercial Taxa de Cobertura
58943 44105 14838 133,6
5301 2451 2850 216,3
1825 2642 -817 69,1
9620
10867 -1247 88,5
10755 8186 2569 131,4
31442 19959 11483 157,5
Fonte: INE
Os investimentos efectuados no sector, muitos deles comparticipados pela União
Europeia (Isidoro, 1996), concentraram-se na aquisição de maquinaria sem o
devido acompanhamento ao nível da qualificação dos recursos humanos (Pombo,
1996). Relativamente à emergência de novas actividades, destaque-se, por um
lado, a importância crescente da indústria do frio com elevada propensão
exportadora supra regional e, por outro lado, a ausência de criação de serviços de
apoio às empresas. Refira-se, ainda, que as empresas revelam um fraco
conhecimento dos centros tecnológicos e laboratórios existentes nos principais
aglomerados urbanos.
2 A preços correntes e a preços constantes.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
340
6.4.1.3. A qualidade de vida na Beira Interior
Ao nível da saúde, na Beira Interior, em 1997, existia em média 1,36 médicos por
mil habitantes, enquanto que no país e região Centro, havia cerca de três médicos
por mil habitantes. Relativamente às camas hospitalares por mil habitantes, a
Beira Interior apresenta, igualmente, um valor inferior ao do resto do país.
Quanto às actividades culturais tem havido, por parte das autoridades municipais,
uma certa preocupação que se reflecte na afectação de meios financeiros. Em
1997, as Câmaras Municipais despenderam 4,4 milhões de contos, em actividades
culturais, o que corresponde a 5,79% do valor nacional e 31,41% da Região
Centro (ver quadro 6.8). A distribuição destas despesas per capita, ao nível das
NUT’s III, embora seja superior à média nacional e à da Região Centro
(respectivamente, 7,65 e 8,21 milhares de escudos), não é homogénea indo desde
os 4,3 milhares de escudos na Cova da Beira até aos 17,85 na Beira Interior Norte
o que poderá dar algumas indicações sobre as prioridades dos autarcas da Beira
Interior.
QUADRO 6.8 Despesas das Câmaras Municipais em Actividades Culturais
e em Ambiente em 1997
/ milhares de escudos/
Indicadores Despesas em Actividades
Culturais Despesas em Ambiente
Total em % Per capita
Total em % Per capita
Beira Interior 4 408 307
100,0 11,70 3 338 201 100,0 8,85
Pinhal Interior Sul 427 619 9,70 9,43 287 693 8,62 6,34
Serra da Estrela 362 729 8,23 6,97 475 268 14,24 9,13 Beira Interior Norte 1 998
701 45,34 17,82 845 555 25,33 7,54
Beira Interior Sul 1 235 684
28,03 15,90 955 697 28,63 12,29
Cova da Beira 383 654 8,70 4,30 773 992 23,18 8,66
Fonte: INE
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
341
No que concerne ao ambiente, verificamos que este factor ainda não assumiu uma
preocupação determinante na Beira Interior. Em 1997, as despesas dos municípios
desta região, apenas, representam 3,3% do total nacional ou 33,3% do total da
Região Centro. A distribuição sub regional das despesas per capita com o
ambiente é mais homogénea do que na cultura, indo desde os 6,34 milhares de
escudos no Pinhal Interior Sul aos 12,29 na Beira Interior Sul que ultrapassa,
ligeiramente, a média nacional situada nos 10,16 e a média da Região Centro em,
cerca de, 4 milhares de escudos. Estes valores resultam da pouca atenção que se
dá às questões ambientais e, naturalmente, pela razoável qualidade ambiental da
região.
Como vimos, os indicadores relativos à qualidade de vida (exceptuando a
componente ambiental) penalizam a Beira Interior. Os padrões atingidos não são
elevados devido, fundamentalmente, a problemas na área da saúde, actividades
culturais, de recreio e desporto, condições de habitabilidade, saneamento básico e
de apoio social.
6.4.1.4. Sistema urbano e infra-estruturação do território
A Beira interior é caracterizada, segundo Camagni (EU, 1996), pela ausência de
integração dos sistemas urbanos de nível superior, sem funções urbanas de
elevado nível de especialização (...) possuidora de um povoamento difuso,
ausência de redes de transportes nacionais e acessibilidades insuficientes a redes
transnacionais ... (cit. Reigado, 1998a, p. 43).
Apesar da perificidade da região, como já vimos, nos últimos anos tem-se vindo a
desenhar um eixo funcional apoiado em centros urbanos (Guarda, Covilhã,
Fundão e Castelo Branco) com algum dinamismo e diferentes especializações
(Mapa 6.4). Além de globalmente terem uma base industrial, ainda que pouco
diversificada, estão dotadas de razoável equipamento comercial, actividades
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
342
(públicas e privadas) de apoio à agricultura, instituições de ensino superior e
centros tecnológicos o que pode revelar, de algum modo, a existência de um meio
inovador na região, bem como, as vantagens de uma estratégia conjunta.
Mapa 6.4 Modelo Territorial da Beira Interior
Legenda:
Fonte: Adaptado de CCRC, (1999), Uma região qualificada, activa e solidaria: visão sobre a
Região Centro para a próxima década, p. 103.
O sistema urbano regional é ainda formado por uma rede de pequenos centros
urbanos atraentes, inseridos num território privilegiado do ponto de vista
paisagístico e com recursos endógenos potencialmente valorizáveis. O
afastamento dos grandes focos de depredação, um passado histórico que faz parte
da memória não só da região e do País, como da própria Europa, deixaram um
Castelo Branco
Covilhã
Área de influência
Áreas em risco de Desertificação Humana
Corredor
Vias de comunicação
Polarização forte – acessibilidade Guarda
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
343
património rico e variado, que constitui uma das componentes de relevo no
elenco dos recursos endógenos. O Turismo, em especial nas suas vertentes
ecológica, cultural, histórica, além das já praticadas cinegética e termal, é uma
das actividades de futuro da Beira Interior (Gaspar, J., 1993, p.86).
Relativamente às redes de acessibilidade terrestre e, em particular, às rodovias
existentes são evidentes os atrasos e carências. Esta realidade é reconhecida pela
Administração Central ao se afirmar no PNDES que (MEPTAT, 1998, pp. VIII 2-
3) ... São de assinalar as vantagens de localização conseguidas na Região Norte e
no Alentejo, enquanto na região Centro o progresso das acessibilidades se
processou a um ritmo mais lento. Face a esta afirmação parece-nos legítimo
concluir que a Beira Interior, uma vez mais, foi desfavorecida em relação à
melhoria das acessibilidades rodo e ferroviárias. Apesar disso, Contudo, a
existência de infra-estruturas aeroportuárias na região (na Covilhã e em
Monfortinho) e, sobretudo, as ligações a Espanha e ao Litoral, através do IP5 e
Linha da Beira Alta, conferem à Beira Interior uma localização privilegiada para o
acesso aos mercados da Península Ibérica e, mesmo, da Europa Central e do
Norte.
6.4.2. O potencial endógeno regional
Apesar da Beira Interior, como já vimos, apresentar fortes condicionantes, é
também verdade que a mesma dispõe de importantes recursos endógenos
disponíveis para suportarem um processo de desenvolvimento sustentável, numa
perspectiva de equidade intergeracional e de preservação e gestão do meio
ambiente, nomeadamente:
• a cadeia montanhosa da Serra da Estrela que se prolonga até à Serra da
Malcata e, já em território espanhol, às Serras da Gata, Penha de França e
Gredos;
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
344
• a floresta (um dos principais recursos naturais) apesar de a área por si ocupada
ser bastante inferior à correspondente aptidão florestal. Registe-se, ainda, a
grande variedade de outros recursos vegetais que poderão vir a constituir-se em
matérias primas332 para a medicina, química, cosmética e indústria
agroalimentar;
• a maior nascente de recursos hídricos do país. Na região, nascem os principais
rios com origem em Portugal (Zêzere e Mondego) que definem duas
importantes bacias hidrográficas limitadas a Norte pelo Rio Douro e a Sul pelo
Tejo. Pela sua importância acrescente-se, ainda, os rios Alba, Côa, Távora,
Águeda, Ocreza, Ponsul e Erges e a abundância de águas subterrâneas333;
• as minas de urânio e volfrâmio, as pedreiras de granito, xisto e alguns
mármores, os barros, os caulinos brancos da Guarda e de Castelo Branco
(trabalhados em Águeda) e as areias são recursos minerais a considerar;
• o SC&T da região, formado por vários estabelecimentos de ensino superior
(público e privado), laboratórios e centros tecnológicos;
• o corredor urbano Guarda-Covilhã-Castelo Branco e a Ruta de la Plata (ligação Salamanca/Cáceres/Mérida);
• posição geo-estratégica privilegiada: a região encontra-se no centro das
ligações multimodais Portugal-Espanha/Europa. A ligação multimodal à
Europa Central e do Norte é feita através da Beira Interior, ou seja, através dos
Itinerários Principais – IP - 5, 6 e 2 (os dois primeiros IP’s ligam-se ao
IP1/A1) e das linhas ferroviárias da Beira Alta334 e da Beira Baixa;
• o património, em termos paisagísticos e biológicos335, com destaque para o
Parque Natural da Serra da Estrela, a Reserva Natural da Serra da Malcata e os
Parques Naturais do Arribas do Douro Internacional e Águeda e do Tejo
Internacional;
332 Esta possibilidade terá de ser testada através do estudo físico, químico e farmacológico das plantas, bem como de estudos de viabilidade económica. 333 Nas Serras da Estrela e da Gardunha, nos últimos anos, instalaram-se várias empresas de engarrafamento de águas de mesa. 334 A Linha da Beira Alta integra o conjunto das Redes Transeuropeias de caminho-de-ferro. 335 As Serras da Gardunha, Malcata e S. Mamede foram incluídas na 1ª Lista Nacional de Sítios de Interesse Comunitário e a Serra da Estrela na 2ª lista.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
345
• o rico património construído. Além de um número considerável de antas,
destaque-se as gravuras rupestres do Complexo Ródão-Fratel e do Vale do
Côa, as pontes, estradas e outras edificações do período de ocupação romana,
os castelos medievais, os pelourinhos, solares e casas brasonadas. Refira-se,
ainda, que várias localidades da região fazem parte do Programa Aldeias
Históricas de Portugal;
• a gastronomia e o artesanato são recursos culturais com grande importância na
região.
Os recursos atrás apontados em conjunto com as relações estabelecidas entre os
actores do desenvolvimento regional constituem um importante capital endógeno
– humano, natural, sócio-cultural, relacional e produzido pelo homem – que,
associado a recursos exógenos e políticas adequadas, formam a base do
relançamento do desenvolvimento económico e social da região que se pretende
sustentável a prazo (fluxograma 6.1). Embora alguns investigadores, como por
exemplo Camagni (UE, 1996), considerem a Beira Interior, num contexto ibérico,
como uma região geograficamente periférica e economicamente de fraco grau de
integração em toda a Península (ibid., p. 43) pensamos que o facto de a região
estar “entalada” a Norte pelo eixo Irun-Portugal, a Sul pelo eixo Lisboa-Madrid, a
Oeste pelo eixo Galaico-Português e a Leste pela fronteira espanhola deve ser
transformado num dos pontos fortes do seu desenvolvimento rentabilizando, quer
a sua posição de fronteira criando uma nova centralidade, quer desenvolvendo o
eixo Guarda/Covilhã/Castelo Branco articulando-o com a Ruta de la Plata no
sentido longitudinal quer, ainda, explorando a situação de ser a única região
nacional que é atravessada pelo principal corredor multimodal de ligação
Portugal-Espanha/Europa Central e do Norte (ver mapas 6.5 e 6.6).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
346
Fluxograma 6.1 Capital endógeno da Beira Interior
Fonte: Adaptado de Reigado, F. M. et all (1998a), Potencialidades, Modelo e Estratégias
Económicas para a Beira Interior, UBI – Núcleo de Economia, p. 136 Além do capital endógeno, o território e sua diversidade é um factor de
competitividade. A capacidade de oferecer espaços diferenciados para funções,
também elas, diferenciadas é um argumento de competitividade do país/região. O
território, enquanto espaço organizado e moldado, política, económica e
administrativamente, pela acção do homem ao longo da história encontra-se de
algum modo estruturado em seis grandes tipos de cluster: o cluster da natureza
ou dos recursos naturais (incluindo aqui o ambiente ecológico); o cluster das
actividades económicas; o cluster das actividades, dos equipamentos e das infra-
estruturas de acessibilidades físicas e sociais; o cluster dos recursos humanos
CAPITAL PRODUZIDO PELO HOMEM ( Fraco )
. Vantagens locativas . Infra-estruturas e transporte rodoviário . Loteamentos industriais . Comércio e serviços
CAPITAL HUMANO ( Fraco )
. Mão-de-obra qualificada
. Dinâmica empresarial
. Espírito de inovação
. Centros de formação profissional
. Centros de investigação regionais
CAPITAL SÓCIO-CULTURAL ( Forte )
. Artesanato
. Gastronomia
. Património cultural
. Património Histórico
. Animação cultural
CAPITAL NATURAL7
( Forte )
. Recursos vegetais
. Recursos Hídricos
. Recursos Minerais
. Recursos Cinegéticos
. Recursos Florestais
. Recursos Energéticos
. Biodiversidade
. Recursos Rurais
. Recursos paisagísticos
CAPITAL
ENDÓGENO
CAPITAL RELACIONAL ( Forte )
. Ligação Universidade/Empresas . Cooperação Instituições de
Ensino Superior e de I&D . Ligação Univ./ Administração
Local, Regional e Central
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
347
com a sua história, as suas tradições e o seu sistema de valores; o cluster do
conhecimento e da ciência e tecnologia e o cluster das relações grupos (Reigado,
1999, texto mimeografado).
Mapa 6.5 Eixos de desenvolvimento na Península Ibérica
Fonte: MEPAT - Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território
(1998c), Relatório do Estado do Ordenamento do Território - 1997, Lisboa, p. 67
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
348
Mapa 6.6 Ligação multimodal Portugal - Espanha: corredores e eixos
Fonte: MEPAT - Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território
(1998c), Relatório do Estado do Ordenamento do Território - 1997, Lisboa, p. 69
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
349
Desta concepção de território resulta que o desempenho económico e competitivo
de uma região deixa de ser equacionado da forma tradicional, isto é, como o
resultado exclusivo da dotação de factores produtivos, de infra-estruturas e de
uma determinada configuração geográfica para estar fortemente associado às
características organizacionais do tecido sócio-produtivo. Efectivamente, a
existência de actividades estruturantes da divisão social do trabalho, a qualidade e
a intensidade das interacções condicionam profundamente o desempenho
competitivo das regiões. Não menos importante para a afirmação e
competitividade de uma região é a forma como esta se projecta e se relaciona com
o exterior e, muito particularmente no caso da Beira Interior, com as regiões
fronteiriças do país vizinho.
O território da Beira Interior, enquanto espaço de fronteira com Espanha, não
poderá ser estruturado numa perspectiva exclusivamente nacional dado que daí
resultaria a sua absorção pelo litoral sem ganhos globais no curto ou médio prazo.
A vantagem competitiva com o restante território nacional reside precisamente na
possibilidade de vir a desempenhar um papel de charneira entre o litoral português
e o interior da Extremadura e Castilla-Léon espanholas336 desde que se estruture e
equipe para ofertar os serviços necessários à fixação da população e da produção
ganhando, assim, uma consistência de território com capacidade de sobrevivência
a prazo. O reforço do sistema urbano da região e a sua articulação com Espanha é
duplamente vantajoso, isto é, se por um lado, a Beira Interior ganha uma nova
vitalidade de forma a inverter a tendência para a desertificação ao mesmo tempo
que poderá impedir, como já o dissemos, a subordinação da região à lógica
comercial de internacionalização das principais actividades e cidades espanholas.
Opor outro lado, o litoral da Região Centro também daí retira benefícios uma vez
que passa a dispor no interior (junto à fronteira) de um importante ponto de apoio
logístico na sua ligação rodo e ferroviária à Europa Central e do Norte.
336 Estas duas regiões de fronteira do país vizinho apresentam características físicas, demográficas, sociais e económicas idênticas às da Beira Interior. Além disso, na estruturação do território, a Ruta de la Plata (Salamanca/Cáceres) ocupa uma posição simétrica ao eixo Guarda/Covilhã/ Castelo Branco.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
350
6.4.3. O modelo territorial da Beira Interior Em termos metodológicos, as acções que levam ao desenho de um modelo
territorial são agrupadas em quatro tipos, nomeadamente (J.E., 1997, pp. 106-
111):
• acções sobre o meio físico (suporte do modelo territorial) que, além do
ordenamento hídrico (regularização de caudais e prevenção de inundações),
visa a protecção e gestão da natureza e o tratamento do solo não urbanizável;
• acções para o fortalecimento e reequilíbrio da malha urbana nas quais se
incluem medidas para as cidades e núcleos populacionais, infra-estruturas
(incluindo as vias de comunicação) e equipamentos;
• acções sobre as áreas “não urbanas” de forma a valorizar o património
natural, arqueológico e cultural. Nestas acções incluem-se a definição de
estratégias de recuperação e melhoramento paisagístico, de dotação de
equipamentos de turismo e lazer, de protecção, renovação e reabilitação dos
centros históricos, de utilização de parques e reservas naturais, bem como de
caminhos e roteiros turísticos;
• programas de dinamização territorial tendo em vista melhorar a eficácia
administrativa (marketing regional, desenho de novos instrumentos e
mecanismos de trabalho, controle de implementação de medidas, etc.) e os
níveis de relacionamento entre os agentes do desenvolvimento.
Além destas acções deve-se, ainda, incluir as medidas direccionadas ao potencial
científico e tecnológico, isto é, acções que conduzam, por um lado, à articulação
das instituições de ensino superior, de formação profissional e de investigação e,
por outro lado, apoiem a sua ligação ao tecido produtivo. A estruturação desta
rede de instituições e o reforço das interdependências criadas entre si e no
relacionamento com as actividades económicas contribuem, decisivamente, para a
vitalidade da região e, deste modo, para o ordenamento do território da Beira
Interior.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
351
Seguindo esta metodologia e numa perspectiva de “janela” ou de zoom, isto é,
vendo a Beira Interior integrada na Região Centro que, por sua vez, se integra no
país e este na Europa, a estruturação desta região transfronteiriça passa pela
organização de uma grande bacia agrícola, formada pela Cova da Beira, lezíria da
Idanha e pelo vale do Alagón, capaz de fornecer os mercados consumidores de
produtos frescos e frutas das duas capitais ibéricas (ver mapa 6.7). A criação desta
bacia agrícola, que podendo estender-se até aos regadios de Alqueva e Badajoz
(Espanha), decerto desempenhará um papel importante no reordenamento agrícola
e, de um modo geral, no ordenamento territorial de ambos os países ibéricos.
Mapa 6.7 A Raia Central Ibérica
Coimbra
Viseu
AveiroGuarda
Salamanca
Madrid
Cáceres
Mérida
Badajoz
Alqueva
Lisboa
Castelo Branco
Portalegre
Legenda - Vias rodoviárias - Delimitação da Península e de Portugal - Delimitação da região transfronteiriça
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
352
O fortalecimento da malha urbana implica, entre outras, uma rede de vias de
comunicação rodoviária a quatro níveis:
• reforço das ligações Norte-Sul, isto é, a conclusão do IP2 e a construção de
uma via que, junto à Raia Espanhola, ligue Figueira de Castelo Rodrigo/
Almeida/Sabugal/Penamacor/ Idanha-a-Nova/Vila Velha de Ródão; • conclusão dos eixos paralelos ao IP5, isto é, o IC6 - ligação Coimbra/Covilhã
- que, via Penamacor, deveria chegar à fronteira e o IC8 - Figueira da Foz/
Castelo Branco que, articulado com o IC31 (Castelo Branco/Monfortinho),
também faria a ligação a Espanha;
• permeabilização da fronteira através da construção, a Norte do IP5, da ligação
Mêda/Pinhel/Figueira de Castelo Rodrigo/Vitigudino/Ledesma/Salamanca e
uma, a Sul, ligando Covilhã/Castelo Branco/Idanha-a-Nova/Segura/Alcântara
/Cáceres; • conclusão da rede viária intra-regional dotando esta região fronteiriça de um
sistema viário integrado que facilite os fluxos de tráfego inter e intra
municipais.
A actuação proposta sobre a rede viária é fundamental para o desenvolvimento da
região e para a permeabilização da fronteira já que sem vias de comunicação não é
possível relançar o desenvolvimento económico e reforçar a cooperação nesta
região de fronteira. De referir, ainda, que as ligações transversais são uma forma
de “fechar” a malha viária transfronteiriça ou, utilizando a expressão de Mora
Alizeda (1999), abotoar os dois lados da fronteira (ver mapa 6.8). Da mesma
forma, as ligações intra regionais são um importante veículo para a promoção da
região e para a ampliação e consolidação de um mercado interno, ou melhor,
local visto facilitar a aproximação entre o produtor e o consumidor.
Efectivamente, não é possível promover o desenvolvimento numa região com
graves problemas de acessibilidade rodoviária que se traduzem numa velocidade
média em linha recta337 de 32,8 Km/h no trajecto Coimbra/Covilhã ou 40,3 Km/h
337 Esta velocidade, calculada pela equipa técnica que elaborou o Plano Director do Município da Covilhã, indica a velocidade média (Km/h) a que se percorre a distância entre dois pontos em linha recta e obtém-se dividindo a distância (Km) pelo tempo (h).
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
353
no percurso Leiria/Castelo Branco (ver quadro 6.9) e que se mantém, sem
alterações significativas, desde 1994. A situação é agravada pela reduzida
velocidade atingida na Linha da Beira Baixa, o desfasamento dos horários da CP
em relação à procura e a inexistência de transporte aéreo regular para as duas
metrópoles do país. De referir que a CCRC partilha esta preocupação ao assinalar,
como um dos factores de bloqueio ao desenvolvimento da Beira Interior, o
estrangulamento fortíssimo em matéria de infra-estruturas de transporte rodo e
ferroviário e conclui que sem a sua resolução o desenvolvimento da zona está
muito limitado (CCRC, 1999, p. 99).
Mapa 6.8 Rede viária transfronteiriça
Fonte: Reigado, F. M. et all, (1999), Estratégia de Inovação para a Região Centro: O CASO DA
BEIRA INTERIOR, Universidade da Beira Interior, p. 84
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
354
Quadro 6.9 Velocidade média em linha recta
Distância (Km) Percurso
Real Em linha recta
Tempo gasto (h)
Velocidade média em linha recta (Km/h)
Porto - Vila Real 115 74,75 1,3 57,1 Aveiro - Coimbra 160 117,25 1,2 97,6 Coimbra - Covilhã 145 78,65 2,4 32,8 Leiria - Castelo Branco 168 112,75 2,8 40,3 Lisboa - Évora 150 107,25 1,7 63,1
Fonte: Plano Director do Concelho da Covilhã, 1994
A existência de uma cordilheira transfronteiriça sem graves problemas ecológicos,
fortemente arborizada e com um considerável património natural e cultural,
constitui o terceiro pilar do modelo de ordenamento territorial da região.
Efectivamente, a criação de um grande Parque Natural Transfronteiriço (um dos
maiores da Europa) que englobe as Serras do Açor, da Estrela e da Malcata, em
Portugal, e as Serras da Gata, Penha de França e Gredos, em Espanha, além de
contribuir decisivamente para o ordenamento e preservação do território pode
constituir-se num pólo de desenvolvimento assente em actividades económicas
como o turismo, a pastorícia e a exploração da floresta e flora autóctone (Reigado,
1998a). Este espaço privilegiado, procurado pelo turismo de espaços naturais e
paisagísticos, tem ainda condições para o desenvolvimento do “turismo cultural”
ligado às festividades civis e religiosas e ao rico património construído que deve,
por um lado, ser articulada com os sectores e actividades que com ele estão
relacionados e, por outro lado, acolher a componente transfronteiriça que o
Parque Natural propicia. Aliás, em nosso entender, qualquer projecto de
desenvolvimento para a Beira Interior deverá incluir a dimensão transfronteiriça e
o vector ordenamento do território. Neste contexto, a elaboração de Roteiros
Turísticos que abarquem os dois lados da fronteira luso-espanhola são
indispensáveis visto permitir ao turista saber qual a oferta de produtos,
equipamentos e de infra-estruturas que irá encontrar introduzindo no circuito
económico e valorizando o património natural, cultural e arquitectónico, a
gastronomia, o artesanato, etc..
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
355
Os recursos hídricos são, tal como a montanha, a planície e as infra-estruturas, um
dos elementos determinantes do ordenamento do território, quer pelo facto de as
populações e as actividades produtivas terem tendência a localizarem-se na sua
proximidade, quer pelos constrangimentos que originam como, por exemplo, a
necessidade da construção de pontes para atravessar os rios, etc. Como se vê, a
simples passagem de um rio por um determinado território ou a existência de uma
albufeira de águas públicas condiciona a ocupação humana do espaço. Mas, a sua
influência no ordenamento do território vai mais além. Quando, por exemplo, se
despolui os cursos de água, se regula os caudais de forma a garantir o
fornecimento de água potável às populações, à indústria, ao comércio e aos
serviços, bem como para a rega, ou se utiliza a água para a prática de desportos
náuticos ou, ainda, para a pesca estamos a agir sobre o território o que implica o
seu planeamento e ordenamento. Refira-se que, tal como os cursos de água à
superfície, também as águas subterrâneas influenciam a estruturação do território
uma vez que a sua captação para a irrigação dos campos ou abastecimento de água
às populações ou, mesmo, a localização das unidades de engarrafamento obriga à
intervenção do homem sobre o território no sentido de, simultaneamente, lhe dar
uma coerência interna (ordenando-o) e enquadrar estas actividades num modelo
de desenvolvimento sustentável.
O SC&T tem, igualmente, um papel determinante na questão da dinamização e
ordenamento do território. Como sustenta Reigado (1993), o impacto do ensino
superior no desenvolvimento regional faz-se sentir na dimensão do capital fixo
público e privado, da criação de mercados locais, da formação de quadros
superiores, do apoio técnico e científico e da dinâmica cultural e atracção da
população jovem. A região além dos vários centros de investigação e de formação
profissional conta com uma rede, relativamente densa, de estabelecimentos de
ensino superior público e privado concentrada ao longo de dois corredores
Norte/Sul, isto é, do eixo Guarda/Covilhã/Fundão/Castelo Branco/Idanha-a-Nova,
do lado português, e do eixo Zamora/Salamanca338/Cáceres/Mérida, do lado
espanhol. A vasta oferta que o SC&T regional proporciona repercute-se na
338 Salamanca tem uma das mais antigas Universidades da Europa
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
356
especialização produtiva da Beira Interior, sedimentando uma estratégia de
diversificação da estrutura produtiva e afirmando um novo sector económico com
elevada propensão exportadora de serviços de educação de nível superior. Além
disso, a actividade de investigação (efectuada, sobretudo, na Universidade da
Beira Interior e Institutos Politécnicos da Guarda e Castelo Branco) já se
conseguiu impor no panorama científico português e tem condições para se
expandir, quer através da consolidação e abertura de novos canais de cooperação
com o tecido empresarial regional e nacional, quer, ainda, pela inovação do
modelo organizacional das instituições de ensino superior e das empresas
(Reigado, 1999, p. 76). Nos últimos anos, a colaboração com as instituições
congéneres espanholas têm vindo a aumentar. Daí que, a ligação em rede das
várias instituições de ensino superior e de investigação e das empresas de ambos
os lados da fronteira, formando um cluster Ensino & Investigação
Transfronteiriço, seja fundamental para a intensificação dos fluxos de
“conhecimento científico” intra e inter fronteiras que, certamente, teria
consequências positivas para o desenvolvimento da Beira Interior e permitiria a
sua inserção nas redes europeia e internacional de investigação científica.
O eixo urbano estruturante desta região (Guarda/Covilhã/Fundão/Castelo Branco)
tem uma particularidade interessante: a diferenciação do processo de afirmação
destas quatro cidades. O concelho da Covilhã com uma tradição urbana mais
antiga, fortemente relacionada com a indústria têxtil (Reigado e Rogowski, 1996),
ao receber recentemente a Universidade poderá adquirir uma nova centralidade
estruturante da rede urbana, sobretudo se a virmos no contexto sub-urbano da
Cova da Beira. Outras cidades, como por exemplo o Fundão, viram no apoio às
actividades do sector primário (leia-se, agricultura) o seu principal factor de
crescimento. Guarda e Castelo Branco devem o seu desenvolvimento à instalação
de serviços administrativos motivada pelo processo de desconcentração do poder.
Fora deste eixo Norte/Sul encontram-se duas extensas faixas (a Este e a Oeste)
que associam a baixa densidade demográfica e económica à fragilidade urbana.
Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional _______________________________________________________________________________
357
Esta situação, que se vem desenhando desde a década de 70, leva-nos a questionar
as prioridades de reestruturação territorial, isto é, a intervenção discriminatória
positiva do Estado deve favorecer o desaparecimento dos lugares de baixa
densidade, ou, pelo contrário, deve estimular uma forte polarização nas cidades
com potencial para desempenharem um papel de maior relevo ao nível nacional?.
A resposta a esta questão passa, numa óptica de desenvolvimento sustentável, pela
articulação de duas perspectivas, isto é, a da economia industrial e da análise
territorial e institucional que valoriza, por um lado, as questões organizacionais e
da comunicação/informação e, por outro lado, as novas oportunidades para
territórios de baixa densidade surgidas com o aproveitamento de economias de
rede e de sinergias de complementaridade, bem como os novos nichos de mercado
ligados à natureza, aos valores da tradição, ao património e ao turismo. Tendo em
consideração o atrás descrito, a reestruturação do território nacional e da Beira
Interior, em particular, passa pelo estímulo polarizador dos aglomerados urbanos
com maior potencial, ou seja, o modelo de desenvolvimento regional, integrando
pólos de crescente urbanidade com o vasto hinterland rural, terá de promover uma
correcta articulação territorial.
Além disso, a estruturação do sistema urbano da Beira Interior deve articular-se
com o sistema urbano das zonas de fronteira de Castilla e da Extremadura
formando um sistema transfronteiriço coeso onde se alicerce o desenvolvimento
económico e social e a cooperação transfronteiriça. Dentro desta rede ganham
particular importância os dois eixos urbanos regionais (Guarda/Covilhã/
Fundão/Castelo Branco/Idanha-a-Nova e Zamora/Salamanca/Cáceres/Mérida),
pelo seu papel na estruturação da Raia Central Ibérica. Contudo, a par destes eixos
e para não corrermos o risco de formar um “deserto” entre eles, é necessário
implementar toda uma série de ligações transversais que, permitindo a
desconcentração da população, equipamento e infra-estruturas levaria à criação de
uma rede transfronteiriça de centros urbanos atractivos e com possibilidades de
inverter a tendência de desertificação deste vasto território.
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358
Em termos gerais, o ordenamento do território não começa e acaba com a
estruturação das vias de comunicação (estruturas rodo e ferroviárias), estas
“apenas” suportam os fluxos de pessoas e bens, daí que ordenar o território
implique compatibilizar as áreas de forte densidade populacional com as áreas
deprimidas, integrar as aldeias históricas com a cidade moderna, valorizar os
recursos naturais e o património histórico-cultural, integrar o urbano e o rural
numa rede policêntrica, formar os quadros técnicos e criar as condições para a sua
fixação na região, ou por outras palavras, pôr o território ao serviço do homem
numa lógica de equidade intra e intergeracional. As políticas sectoriais nacionais e
comunitárias, com destaque para a PAC, além das Iniciativas Comunitárias como
o INTERREG e LEADER são também “instrumentos” de ordenamento do
território. Andresen, (1999) chega mesmo a afirmar que permitir subsidiar a
tremocilha339 ou não, mais ou menos toneladas de tomate, privilegiar o replantio
de vinhas com mais de trinta anos de existência faz ordenamento do território
dado ocupar o território e gerar dinâmicas sociais, económicas e culturais.
As acções para o desenho do modelo territorial devem ser concebidas de forma
inter-relacionada pelo que o modelo territorial adoptado para a região
(regulamentado através de um Plano Regional de Ordenamento do Território),
deverá ser inovador (a perspectiva transfronteiriça é, seguramente, um dos
vectores da inovação) e apoiar-se nos recursos humanos, na rede de infra-
estruturas e de equipamentos, nos recursos hídricos, na cadeia montanhosa, na
bacia agrícola e na rede de instituições de ensino superior, de formação e de
investigação. A estratégia de desenvolvimento e de ordenamento desta região
transfronteiriça deve, por outro lado, resultar de uma ampla discussão que envolva
a Administração Central e Local, os cidadãos, as instituições e os diferentes
colectivos da sociedade civil de modo a que o empenho de todos constitua o
elemento dinamizador de um correcto ordenamento do território que concilie o
desenvolvimento económico e social com a gestão e preservação do ambiente.
Aliás, a concretização e aproveitamento das potencialidades inerentes a cada
339 Planta leguminosa.
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359
território apenas se concretizará com o envolvimento das populações locais e a
afirmação de sentimentos de pertença e de co-responsabilização por um território.
6.5. RESUMO E CONCLUSÕES O aprofundamento da integração europeia, o alargamento da União Europeia, a
globalização, as assimetrias regionais que, longe de se esbaterem, têm tendência
para o seu agravamento e a grave degradação ambiental conduziu a um novo
paradigma de desenvolvimento: o território com a sua especificidade, história e
população que o foi moldando e, por sua vez, nele se foi integrando e criando
uma identidade, é um elemento estratégico do desenvolvimento sustentável.
As disparidades de desenvolvimento verificam-se não só quando comparamos os
países entre si, mas também quando procedemos à análise das dinâmicas dentro
do espaço nacional. Portugal, além de ter o seu território deficientemente
ordenado e com alguns problemas ambientais, é bastante heterogéneo, em termos
de densidade populacional, de localização da actividade produtiva e inovação,
dotação de infra-estruturas, equipamentos e acessibilidades em sentido amplo. O
modelo de desenvolvimento seguido levou à forte litoralização dividindo o país
numa faixa litoral densamente povoada, bem dotada de infra-estruturas e
equipamento e com um tecido produtivo dinâmico, inovador e propenso à
exportação e, no outro extremo, um vasto território fronteiriço caracterizado pela
baixa densidade demográfica, dispersão do sistema de povoamento e falta de
recursos humanos qualificados. É neste espaço periférico e de fronteira, mas
específico que a Beira Interior se insere. Esta especificidade, tornando a Beira
Interior única, não pode ser visto como um “constrangimento”, mas, pelo
contrário, tem de ser percepcionado como uma das vias de afirmação no contexto
nacional e mundial.
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360
Neste contexto, o ordenamento do território da Beira Interior tem ser considerado
um subsistema do ordenamento da Região Centro que, por sua vez, é um
subsistema do nacional e este do europeu. A Beira Interior, sendo um sub-sistema
da Região Centro, é mais do que a Região Centro visto ser uma região
transnacional com fortes possibilidades de se tornar uma região piloto no sistema
de regiões europeias. O reconhecimento, pela União Europeia, desta
especificidade exige o empenho, quer das Administrações Públicas de Portugal e
Espanha, quer das Administrações Locais e dos agentes económicos. O facto de
ser uma região de fronteira com Espanha leva a que um dos vectores estratégicos
do seu desenvolvimento seja a cooperação transfronteiriça, criando sinergias e
complementaridades nos dois lados da fronteira.
O desenho do modelo territorial passa quatro tipo de intervenções, ou seja, por
acções sobre o meio físico e áreas “não urbanas”, de fortalecimento e reequilíbrio
da malha urbana e, por último, programas de dinamização territorial (J.E., 1997,
pp. 106-111). Além disso, é necessário ter em consideração que, por um lado, a
Beira Interior é uma região de fronteira e, por outro lado, esse facto deve
repercutir-se de forma activa no ordenamento do território, na regularização e
aproveitamento dos recursos hídricos, no ordenamento e valorização da floresta,
no reordenamento e modernização da agricultura, na preservação e valorização do
património natural e cultural, no planeamento e gestão integradas dos circuitos
turísticos, no desenvolvimento e reforço do próprio SC&T e das suas relações
com as empresas, pelo que a estruturação deste território terá de ser efectuada
numa perspectiva de cooperação transfronteiriça.
Assim, o modelo territorial da Beira Interior passa por:
1. organização de uma grande bacia agrícola, formada pela Cova da Beira, lezíria
da Idanha e pelo vale do Alagón que pode ser alargada a Badajoz e Alqueva;
2. dotação de uma rede de vias de comunicação que, por um lado, promova a
permeabilidade entre o Norte e o Sul da região bem como os contactos da
Beira Interior/Extremadura e Castilla-León e, por outro lado, conclua a rede
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361
viária inter e intra-regional de forma a facilitar os fluxos de tráfego
intermunicipal na região e da região com o resto do país;
3. criação de um grande Parque Natural Transfronteiriço na cordilheira
transfronteiriça (Serras da Estrela, Malcata, Gata, Penha de França, e Gredos )
que, sendo fortemente arborizada e possuindo um considerável património
natural e cultural, pode constituir-se num pólo de desenvolvimento assente em
actividades económicas como o turismo, a pastorícia e a exploração da floresta
e flora autóctone;
4. utilização da grande riqueza hídrica (à superfície e no subsolo) da região, quer
como reserva biológica e ambiental, quer nas actividades produtivas, bem
como o seu ordenamento;
5. articulação dos vários centros de investigação e de formação profissional e
instituições do ensino superior público e privado, situadas na Raia Central
Ibérica, com o tecido empresarial e sua inserção nas redes europeia e mundial
de investigação científica;
6. criação e consolidação de um sistema urbano transfronteiriço coeso que, além
de contribuir para o ordenamento do território, polarize o desenvolvimento e,
assim, contribua para a inversão da tendência de desertificação deste vasto
território;
7. articulação territorial dos pólos de crescente urbanidade com o vasto
hinterland rural valorizado e inserido nas dinâmicas produtivas através do
aproveitamento de economias de rede e de sinergias de complementaridade,
bem como dos novos nichos de mercado ligados à natureza, aos valores da
tradição, ao património e ao turismo.
O modelo territorial e a estratégia de desenvolvimento apresentados para a Beira
Interior, sendo de rotura com o passado imobilista, apela ao amplo diálogo com as
instituições públicas, privadas e da população em geral, e ao seu empenhamento
activo numa perspectiva de co-responsabilização pelo futuro deste território e de
revalorização das raízes e sentimento de pertença.
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