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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR
Departamento de Engenharia Electromecânica
Mestrado em Design Industrial Tecnológico
Por:
José Miguel Lopes Gateira
Dissertação apresentada em cumprimento
dos requisitos para a obtenção do grau de
Mestre em Design Industrial Tecnológico
COVILHÃ
2008
IV
AGRADECIMENTOS
Durante a realização desta dissertação foram vários os apoios que auxiliaram e
estimularam a sua elaboração. O autor deseja expressar os seus agradecimentos a todas
as pessoas e instituições que possibilitaram a realização deste trabalho, nomeadamente:
- ao orientador científico, Professor Paulo Nobre Balbis dos Reis, a quem coube
a iniciativa e orientação deste trabalho, pela constante atenção e apoio que
dedicou ao longo de toda a sua execução;
- ao co-orientador científico, Professor Denis Alves Coelho, pela consolidação
de conhecimentos, através de sugestões bibliográficas, sobre o mobiliário e o
design assim como ao nível da organização da dissertação;
- ao Professor Fernando Antunes pela formação e todo o apoio prestado no que
concerne ao estudo numérico efectuado neste trabalho;
- ao Engº Carlos, da SSAB, por ter disponibilizado as chapas de aço necessárias
à realização do trabalho experimental;
- ao Prof. Martins Ferreira por ter disponibilizado as chapas de alumínio
necessárias à realização deste trabalho experimental assim como o uso dos
equipamentos do laboratório de Construções Mecânicas do DEM/FCTUC;
- a todos os elementos do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pelo apoio e
colaboração manifestados ao longo da execução de todo o trabalho;
- ao Departamento de Engenharia Electromecânica da Universidade da Beira
Interior por ter disponibilizado os seus laboratórios, e respectivos
equipamentos, para a elaboração da parte experimental, bem como todo o
apoio prestado ao longo da execução desta dissertação;
V
- aos meus Pais pelo incentivo e incondicional apoio;
- à Sra. Piedade, mãe de um antigo colega de licenciatura, ao disponibilizar-me o
alojamento na Covilhã durante o período lectivo;
- à minha Avó Alzira a minha gratidão pelo apoio, carinho e companhia;
- ao meu Tio Joaquim pelas boleias até ao Polo II de Coimbra.
VI
RESUMO
Actualmente o sector de mobiliário aposta em mais valias, que passam não só
por um design moderno, atraente e competitivo, mas também em materiais e tecnologias
de processamento que complementam este ar inovador.
Ao nível dos materiais, ditos tradicionais, passam cada vez mais por se rivalizar
com os mais recentes, como é o caso dos compósitos. Deste modo, para além da
inovação introduzida associa-se a elevada resistência e rigidez específica que lhes é
característica.
Por outro lado as juntas coladas assumem um papel determinante pois
concorrem com os métodos de união mais tradicionais, pelo facto de poderem unir
diferentes materiais, possibilitar o uso de diferentes espessuras, permitir uma melhor
distribuição de tensões e estanquicidade da junta. Este tipo de união assume ainda um
maior interesse quando aplicada aos materiais compósitos, pois evita a abertura de
orifícios e a consequente diminuição da resistência mecânica.
Toda esta filosofia acabada de referir foi aplicada a um estilo de mobiliário
muito particular, Thomas Chippendale, versando a sua valorização e também actualizá-
lo às necessidades dos dias de hoje.
Para isso foi desenvolvido um estudo onde se efectuou uma breve perspectiva
histórica da evolução do mobiliário associada ao seu design, com vista a enquadrar o
elemento de estudo proposto, a cadeira. Foi elaborada uma metodologia de projecto,
onde se faz o enquadramento da cadeira, como elemento de estudo, e a sua validação
estrutural. Seguidamente realizou-se um estudo experimental de uniões coladas entre
diferentes aderentes, para a obtenção da sua melhor eficiência. Verificou-se que, por
exemplo, o efeito da rugosidade, do comprimento de sobreposição e da rigidez dos
aderentes apresenta um papel relevante na resistência das juntas coladas.
Finalmente apresentam-se as conclusões onde se verifica que o modelo proposto
é passível de ser exequível. Os materiais seleccionados conduzem a soluções projectuais
inovadoras e capazes de ser aplicadas a soluções tecnológicas mais recentes. O tipo de
junta seleccionada revela-se como uma alternativa bastante aceitável.
Palavras-chave: Design, mobiliário, Chippeandale, cadeiras, juntas coladas,
compósitos, alumínio, aço, comportamento mecânico.
VII
ABSTRACT
Currently the sector of furniture bet on capital gains, bringing not only by a
modern design, attractive and competitive, but also in materials and processing
technologies that complement this innovative air.
In terms of materials, such as traditionals, are increasingly to compete with
newer, such as composites. Thus, in addition to the innovation introduced associates
itself with high strength and stiffness characteristic specific of them.
On the other hand the adhesive joins assume a crucial role because they compete
with the most traditional methods of union, for the reason they being able to join
different materials, enabling the use of different thicknesses, and allow a better
distribution of tensions. This type of union assumes a bigger interest when applied to
composite materials; it prevents the opening of holes and the consequent reduction of
mechanical strength.
This whole philosophy reported was applied to a very particular style of
furniture, Thomas Chippendale, conserving its value and also being up to the needs of
today.
For that was developed a study carried out a brief historical perspective of the
evolution of furniture associated with its design in order to frame the element of the
study proposed, the chair. It was developed a methodology for project which is the
framework of the chair, as a element of study, and its structural validation. Then there
was an experimental study of adhesives between different materials, to achieve its best
efficiency. It was found that, for example, the effect of roughness, the length of overlap
and the rigidity of materials presents a major role in the resistance of adhesive joins.
Finally the conclusions, were checked that the proposed model is susceptible of
being feasible. The materials selected lead to innovatory solutions that are able to be
applied to the latest technological solutions. The type of joint selected reveals itself as a
very acceptable alternative.
Keywords: Design, furniture, Chippeandale, chairs, adhesive joins, composite,
aluminium, steel, mechanical behaviour
VIII
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS iv
RESUMO vi
ABSTRACT vii
ÍNDICE GERAL viii
ÍNDICE DE FIGURAS x
ÍNDICE DE TABELAS xi
NOMENCLATURA xiii
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO 3
1.1 Perspectiva Histórica da Evolução do Mobiliário 4
1.2 Design e o Mobiliário 8
1.3 Cadeira e Design – Perspectiva Cronológica 14
1.4 Uniões Comuns no Mobiliário 23
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA UTILIZADA NO PROJECTO 42
2.1 Introdução 43
2.2 A Era do Mogno e o Mobiliário Chippendale 43
2.3 Abordagem ao Projecto 45
2.4 Proposta de Projecto 47
2.5 Contributo para a Validação Estrutural do Projecto 51
2.6 Conclusões 53
IX
CAPÍTULO 3 – ESTUDO EXPERIMENTAL EM JUNTAS COLADAS 54
3.1 Introdução 55
3.2 Material, Provetes, Equipamento e Técnicas Experimentais 57
3.3 Análise de Resultados 65
3.4 Conclusões 73
CAPÍTULO 4 – CONCLUSÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
PARA TRABALHOS FUTUROS 74
4.1 – Conclusões gerais 75
4.2 – Recomendações para trabalhos futuros 76
BIBLIOGRAFIA/ WEBGRAFIA 77
ANEXOS 82
X
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1 - Exemplos de aplicações de alguns elementos de fixação no
mobiliário. 23
Figura 1.2 - Tipo de uma união aparafusada. 23
Figura 1.3 - União rebitada, união soldada e união por sambladura. 24
Figura 1.4 - Zig-Zag chair, 1932-1934 Gerrit Rietveld. 26
Figura 1.5 - MN-01 LC1, Lockheed Louge, 1985-1986, Marc Newson. 30
Figura 1.6 - Nomenclatura de um rebite. 31
Figura 1.7 - Diamond, Model, 1950-1952, Harry Bertoia. 32
Figura 1.8 - Beugelstoel 2, 1927, Gerrit Rietveld. 36
Figura 1.9 - Uniões particulares. 39
Figura 2.1 - Perna característica do estilo Chippendale. 44
Figura 2.2 - Cadeira original estilo Chippendale. 47
Figura 2.3 - Cadeira redesenhada. 47
Figura 2.4 - Vistas dimensionadas. 48
Figura 2.5 - Vista explodida. 49
Figura 2.6 - “Simplex” renderizada. 50
Figura 2.7 - Cadeira “Simplex”. 51
Figura 2.8 - Malha aplicada ao modelo. Restrições a verde e o
carregamento a amarelo. 52
Figura 2.9 - Representação da deformada. 52
Figura 2.10 - Representação das tensões de Von Mises para as pernas
da frente. 53
Figura 3.1 - Curvas típicas tensão deformação obtidas nos ensaios de
tracção. 61
Figura 3.2 - Geometria dos provetes utilizados nos ensaios experimentais. 62
Figura 3.3 - Máquina electromecânica, Instron modelo 4206, utilizada nos
ensaios de tracção. 64
Figura 3.4 - Equipamento laser Mahr RM600-3D utilizado para obter os
valores das rugosidades nos provetes. 64
Figura 3.5 - Evolução da tensão de corte média com a rugosidade. 67
Figura 5.1 - Propostas alternativas para a aplicação das juntas coladas. 78
Figura 5.2 - Propostas alternativas para a aplicação das juntas coladas. 79
Figura 5.3 - Proposta escolhida para a aplicação das juntas coladas. 80
XI
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1.1 - Alguns exemplos de uniões entre materiais. 25
Tabela 1.2 - Exemplos de uniões para madeiras naturais 27
Tabela 1.3 - Tipos de rebite. 31
Tabela 1.4 - Processos de soldadura convencionais. 33
Tabela 1.5 - Formatos de parafusos. 37
Tabela 1.6 - Classificação de parafusos. 38
Tabela 1.7 - Alguns exemplos de uniões particulares. 40
Tabela 3.1 - Vantagens e limitações que advêm da aplicação das juntas
coladas. 56
Tabela 3.2 - Relação dos ensaios realizados. 57
Tabela 3.3 - Composição química da liga 6082 (% em peso). 58
Tabela 3.4 - Propriedades mecânicas da liga 6082-T6. 58
Tabela 3.5 - Composição química do aço Docol 1000 (% em peso) 59
Tabela 3.6 - Propriedades mecânicas do aço Docol 1000. 59 Tabela 3.7 - Resultados obtidos para as diferentes rugosidades produzidas. 66
Tabela 3.8 - Resultados obtidos para as diferentes orientações de
rugosidades. 68
Tabela 3.9 - Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em
alumínio 6082 T6 e tratados com lixa P400 (comprimento de sobreposição
de 12.5 mm). 69
Tabela 3.10 - Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes
em aço Docol 1000 e tratados com lixa P60 (comprimento de sobreposição
de 12.5 mm). 69
Tabela 3.11 - Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes
em compósito carbono/epoxy (comprimento de sobreposição de 12.5 mm). 70
Tabela 3.12 - Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes
em aço Docol 1000 e compósito carbono/epoxy (aço tratado com lixa P60
e comprimento de sobreposição de 12.5 mm). 70
Tabela 3.13 - Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em
aço Docol 1000 e alumínio 6082 T6 (aço Docol 1000 tratado com lixa P60
e alumínio 6082 T6 com lixa P400, comprimento de sobreposição
de 12.5 mm). 70
XII
Tabela 3.14 - Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em
alumínio 6082 T6 e compósito carbono/epoxy (alumínio 6082 T6 tratado
com lixa P400, comprimento de sobreposição de 12.5 mm). 70
Tabela 3.15 - Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em
aço Docol 1000 e comprimentos de sobreposição de 12.5 mm e 25 mm
(tratados com lixa P60). 72
Tabela 3.16 - Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em
aço Docol 1000 e compósitos carbono/epoxy para comprimentos de
sobreposição de 12.5 mm e 25 mm (aços tratados com lixa P60). 72
Tabela 3.17 - Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes
em compósitos carbono/epoxy para comprimentos de sobreposição
de 12.5 mm e 25 mm. 73
XIII
NOMENCLATURA
E = módulo de rigidez
l = comprimento de Sobreposição
Ra = média aritmética dos desvios do perfil de rugosidades em relação à
linha média, dentro do comprimento de avaliação
Símbolos gregos
εr = deformação até à rotura
ν = coeficiente de Poisson
σc = tensão de cedência uniaxial
σr = tensão de rotura uniaxial
Abreviaturas
ISO = International standart organisation
ASTM = American Society for Testing and Materials
1
INTRODUÇÃO
O sector do design de mobiliário nos dias de hoje, tem feito uma grande aposta
em novos materiais, conferindo assim mais valias ao produto, quando comparado com
os ditos materiais tradicionais. Um grupo que actualmente se destaca é o dos materiais
compósitos, o qual reúne características que vão desde a elevada resistência e rigidez
específica; boa resistência à corrosão e bom comportamento à fadiga.
A união destes materiais revela-se também determinante neste sector, onde as
juntas coladas podem ser uma alternativa promissora, visto que elas podem possibilitar
a obtenção de formas mais atraentes e complexas (e daí a sua relevância para o design
industrial) sem perda de eficiência mecânica. Para além do mais, apresentam ainda
vantagens como a possibildade de unir diferentes materiais, utilização de diferentes
espessuras (em particular as finas), melhores propriedades à fadiga e resistência à
corrosão do que os métodos de união tradicionais (parafusos, rebites, soldaduras), boa
capacidade de vedação e a sua aplicação pode ser automatizada.
Uma vez que estamos numa era de grande aposta e desenvolvimento de
materiais avançados, é importante consciencializar os designers industriais à sua
aplicação de modo a acrescentar mais valias aos produtos. Só assim deixamos de ter
objectos exclusivos de um determinado segmento social para cada vez mais serem
acessíveis à maioria dos consumidores.
Deste modo, o presente estudo, pretende-se dar a conhecer ao designer novas
alternativas de materiais para o sector de mobiliário, assim como, o recurso às juntas
coladas em detrimento dos tradicionais métodos de união.
Nesse sentido este trabalho encontra-se dividido em capítulos, fazendo-se, neste
ponto uma breve introdução ao tema proposto, bem como, à estrutura da dissertação.
No capítulo 2 é feito um enquadramento teórico, de modo a fornecer ao leitor
todas as bases de entendimento que possam estar subjacentes ao trabalho proposto.
Começa-se por apresentar uma breve perspectiva histórica da evolução do mobiliário,
ao que se segue, no ponto seguinte uma abordagem ao seu design. No ponto 3, deste
capítulo, faz-se uma perspectiva cronológica da cadeira, elemento de estudo deste
trabalho, com vista a fornecer ao leitor ideias evolutivas do design e tecnologias
associadas a este elemento. Finalmente este capítulo termina com uma abordagem
tecnológica, em particular às diversas formas de união, intrínsecas ao ponto anterior.
2
No capítulo 3 será apresentada a metedologia utilizada no projecto. Basicamente
é apresentado o elemento de estudo, a cadeira, assim como todo o conceito que lhe está
subjacente, incluindo uma breve abordagem à sua validação estrutural.
O capítulo 4, por seu lado contém a ababordadgem ao estudo das juntas coladas.
É feita uma breve introdução teórica a este tema, onde se aponta as principais
vantagens/desvantagens deste tipo de união, bem como, a influência de alguns
parâmetros na resistência mecânica das juntas coladas. O comprimento de sobreposição,
o efeito da rugosidade e da rigidez dos aderentes, por exemplo, foram alvo de um estudo
experimental, visando o melhor desempenho da junta colada para os vários aderentes
em estudo.
Finalmente o capítulo 5 apresenta as pincipais conclusões deste estudo e as
propostas para trabalhos futuros sobre determinados pontos que revelaram necessitar
uma análise mais detalhada.
3
CAPÍTULO 1
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Este capítulo irá dar a conhecer uma visão que parte do geral para o
particular, abordando as repercussões da evolução humana no
surgimento de certos arquétipos, e o contributo de várias
individualidades no âmbito do design na vertente do mobiliário.
4
1.1 Perspectiva Histórica da Evolução do Mobiliário
Segundo os autores Falkenberg e Reschke [1] o mobiliário tem acompanhado a
vida humana através de inúmeras civilizações, embora, a sua existência nem sempre foi
importante para a espécie humana, como nos é descrito nalguns períodos da história.
A existência de peças de mobiliário, está de certa maneira relacionada com o
abandono de certos hábitos e posturas primatas, o que representa uma mudança e um
avanço cultural. O seu aparecimento, determina um estilo de vida sedentário, em
oposição ao nomadismo e uma educação associada à forma como lidam com estes
objectos. Apesar de tudo o uso destes objectos não implica uma superioridade cultural,
embora, algumas delas possuam uma extensa tradição tanto no oriente como no
ocidente.
O mundo do mobiliário pode ser visto de várias perspectivas: pela sua função e
pela sua parte técnica. Através delas, é possível a compreensão da evolução e do
progresso numa determinada época e descobrir como é que certos materiais eram usados
e trabalhados. A análise do mobiliário pode-nos dar uma reconstrução parcial de um
período particular, permitindo, assim, descobrir a classe social à qual o proprietário
pertence bem como as vestes, a arquitectura e a literatura da época. O estudo do
mobiliário acaba por nos ajudar a entender uma determinada época da história.
A evolução do mobiliário começa com o início da descoberta do fogo, quando o
ser humano passa a diferenciar-se dos seus congéneres do reino animal. Desde então, a
sua evolução tornou-se imparável, o que originou um distanciamento face ao resto das
espécies animais. A recém-descoberta da sua inteligência esteve na origem deste
afastamento permitindo, deste modo, ao Homem tomar a noção de tempo na história.
Passaram-se milhares de anos de evolução e uma vez consolidadas todas as
descobertas do passado, o Homem passa a descobrir então a beleza, a arte, o viver em
sociedade e formar grupos, criando novas filosofias de objectos e equipamentos.
Na verdade, toda e qualquer sociedade, necessita de uma estrutura social e
filosófica, para se identificar a si e aos seus. Tal evolução, levou o Homem a adoptar
uma posição erecta. O Homem passou a estar rodeado de elementos que o permitiam
descansar, pois, os seus membros estavam em constante tensão, fruto de não terem
assimilado estas novas posturas. Uma vez capazes de suportar o equilíbrio nos membros
inferiores, a coluna passa a suportar todo o peso do seu corpo. Para o seu descanso, o
5
ser humano necessitou de esticar o seu corpo sobre superfícies lisas e proporcionar lazer
à parte orgânica, que mais tarde, se adaptaria a uma nova postura. Este tipo de hábitos
tornaram-se fundamentais, pois, era necessário nesta nova fase o devido repouso, para
se poder estar em forma perante situações de confronto, sejam elas por questões de caça
ou defesa pessoal. É a partir deste momento que surge o conceito de cama, a primeira
peça de mobiliário idealizada pelo homem, sendo que os primeiros exemplos que
surgiram na história, se assemelham aos que hoje estamos habituados.
Esta fase marca um ponto de viragem no que diz respeito ao ser humano. O
Homem passa a pensar em si próprio e começa por sentir necessidade do seu próprio
espaço, centrando as suas atenções no mundo que o rodeia, ao ponto de o tentar imitar.
Os alimentos, ao invés de serem colocados nas bases das árvores, passam a ser servidos
nas rochas, usando então folhas e peles de animais para se sentar. Foi o início de uma
nova era, em que os objectos funcionais começaram por tornar a vida mais fácil,
passando a indispensáveis. Há medida que o tempo foi passando novas eras surgiram,
novos conceitos e valores conduziram então a outras necessidades.
De acordo com Diodoro Sículo, foi o faraó da primeira dinastia do Egipto a
primeira pessoa a introduzir o gosto pela beleza, em todos os objectos e utensílios do
dia-a-dia. O mobiliário passa então a estar associado ao desenho, à perspectiva, à
construção e a muitos outros aspectos relacionados com a de criação de arte.
Pode-se dizer que todo o mobiliário deriva de quatro tipologias e que
acompanham o homem desde o momento em que a chegada da inteligência adoptou
valores sociais: a cadeira; a mesa; a poltrona e a cama. Tomando estes elementos como
pontos de partida, o homem começa por procurar o isolamento e a privacidade, o que o
leva a um aperfeiçoamento da sua inteligência, resultando no desenvolvimento de uma
série de variantes que contribuíram para aumentar o stock de mobiliário.
A história do mobiliário teve início no Egipto, uma das mais importantes
civilizações ancestrais. O Egipto descobriu novas possibilidades para a criação,
contribuindo de forma profunda para a história não só ao nível político e filosófico,
como também pelo seu legado de objectos, muitos deles funcionais e outros de pura
beleza. O Egipto respirava arte, um clima propício para inventar sem limites, deixando
ainda para os dias de hoje uma forte carga enigmática e surpreendente na realização de
algumas obras.
O poder e capacidade de organização desta civilização deu origem ao
surgimento de novas profissões como, por exemplo, decoradores, escultores, artesãos,
6
filósofos e todos aqueles que seriam necessários para a arte da criação. A madeira,
assumiu-se desde logo, como o material de eleição para a manufactura de mobiliário.
Contudo, o maior problema residia na escassez desta matéria-prima na zona geográfica
do Egipto. A presença de palmeiras, de tamarindos, de sicomoros e outras espécies não
se adequavam à construção de mobiliário pelo que se tornou necessário importar
madeiras de Ébano da Suécia e da Síria e Fenícia a Oliveira e o Pinho.
Curioso é o facto, que desde o início existiam duas maneiras de entender o
mobiliário. Por um lado, o móvel modesto, por outro, o móvel para a corte, no qual se
aplicavam sofisticadas decorações realizadas em ouro, prata, marfim e outros materiais
preciosos. Nestes acabamentos os artistas introduziam relevos e uma grande variedade
de cores puras, como o branco, o vermelho, o verde e o amarelo. O artista também
passou a saber tirar partido das peles, dos bordados e revestimentos dotando os artesãos
de grande sensibilidade em satisfazer o prazer dos imperadores, considerados Deuses e
com gostos refertados.
O mobiliário moderno acaba por ser influenciado pela arte egípcia, que se
desenvolveu muito por causa da riqueza desta civilização. A peça mais comum do
antigo Egipto foi a cadeira e as suas variantes (mesas, camas para dormir de noite e
camas de repouso), o que mostra uma distinção entre o acto de dormir e o de descansar.
Para além destes exemplos, encontram-se também presentes os cofres e os caixões.
Todos estes objectos possuíam grande beleza formal e uma grande variedade ao nível de
tipologias, indicando que foi no Egipto que surgiu a história do móvel. Mais tarde este
sector passou a ser dominado pelos povos do médio oriente, como a Síria, Suméria e
Pérsia.
A civilização grega também absorveu as influências egípcias, tendo os móveis
Micénicos e das ilhas Ciclades como os primeiros exemplos de mobiliário desta cultura.
Peças que alcançaram o seu máximo esplendor na era dourada do reino de Péricles. O
tipo de mobiliário encontrado não difere muito do egípcio (cadeiras, arcas, divans e
pequenas mesas).
No que se refere ao mobiliário Romano, ele deriva dos modelos gregos e à
medida que o império se expandiu é possível apreciar o gosto pelo luxo e ostentação
típica dos Romanos.
Durante a idade média mantiveram-se basicamente os mesmos tipos de móveis e
nos últimos tempos da antiguidade. Os reis, os nobres e seus descendentes na época
medieval eram nómadas e frequentemente habituados a transportar o mobiliário de um
7
local para o outro. Assim assistimos a dois tipos de mobiliário, peças largas e pesadas
que permaneciam nos castelos e casas e, por outro lado, peças leves que facilmente
eram transportadas. Ao longo deste período faziam-se móveis adornados de maneira
luxuosa com dourados e ornamentos preciosos, sendo a maioria das peças de escassa
qualidade. Neste período medieval destacaram-se peças como as arcas para guardar a
roupa com cadeiras “pegadas” e os bancos. Nos séculos XIV e XV passaram a ser
criadas peças de mobiliário de maior refinamento graças às influências flamengas.
Por sua vez no renascimento e no barroco as camas continham colunas
generosamente adornadas, convertendo-se nas peças mais típicas juntamente com as
arcas devidamente decoradas. Nos finais do século XVI assistiram-se a importantes
novidades no mobiliário europeu muito graças às mudanças de costumes sociais.
Uma análise ao mobiliário do século XVII revela mais diferenças que afinidades
para com a sua congénere dos períodos anteriores. Este século, em particular, é definido
pela sua variedade, resultado do conflito entre exuberância e austeridade. Outra das
novidades desta época prende-se com a importância dada ao mobiliário da Índia e países
vizinhos. Desde o século XVII que a França se tem destacado na criação de mobiliário
de grande qualidade. Exemplo típico é o estilo Luís XIV onde predomina o classicismo,
e peças como aparadores e consolas são predominantes. A mudança ocorrida no estilo
Luís XIV, tendo Messionnier e Oppenordt como designers, chama a atenção pelo seu ar
Barroco e Rococó que protagonizam um novo estilo clássico, o estilo Luís XVI.
O mobiliário Inglês correu todo o século XVIII. O magnífico design foi criado
pelo Arquitecto R. Adam, que teve como inspiração os modelos romanos, devido às
suas formas simples e funcionais. Desde a queda de Napoleão em 1860 que se abriu um
período de ecletismo. O criador das novas tendências passou a ser protagonizado por
William Morris, que suprimiu a decoração em detrimento da funcionalidade, indo ao
encontro de novos materiais como os metais e os plásticos.
Foi durante a primeira metade do século XIX que o mobiliário sofreu, em muitos
aspectos, a transformação mais radical comparativamente aos trezentos anos anteriores.
Um período de comparável inovação foi vivido desde 1945 até aos dias de hoje, com
mudanças tanto ao nível técnico como estilísticas. Actualmente o mundo do mobiliário
vive uma etapa marcada pela disparidade de influências, o ecletismo e a pluralidade.
Tudo ou quase tudo é permitido, possibilitando ao designer dispor de uma liberdade
absoluta de movimentos na hora de criar. Controlado por normas estabelecidas pelo
mercado, pela sociedade, pelas necessidades e pelas tendências.
8
1.2 Design e o Mobiliário
Segundo os autores Falkenberg e Reschke [1] o design surge para tirar proveito
dos desenvolvimentos tecnológicos, papel que continua a desempenhar e que se
converteu à revolução estética do século XX. O design veio para ficar, quer nós
aceitemos quer não. É indispensável para muitos de nós, já que lidamos com ele no dia-
a-dia. As suas intervenções fazem-se sentir um pouco por toda a parte, marcando a
nossa era pela maneira como se expõe.
Desde o boligrafo com que se faz os crucigramas até à escova de dentes, à cama
onde dormimos, às roupas ou à paragem onde se aguarda pelo autocarro tudo passou por
um filtro de design que influencia a grande variedade de objectos e produtos criados
pelo ser Homem. É dito que design, é o que torna possível a criação de algo em resposta
a uma dada necessidade que até então não se tinha pensado. Contrariamente ao que se
pensa, o design não é uma disciplina nova e os seus fundamentos rodeiam o nosso dia-
a-dia. Ele está ao alcance de todos e tem acompanhado o Homem desde que há
memória, embora, as suas origens, tal como as entendemos hoje, podem encontrar-se na
revolução industrial e na produção mecanizada.
Inicialmente o fabrico de objectos e mobiliário era totalmente artesanal e o seu
autor era um criador individual. Contudo, com o aparecimento dos novos processos de
fabrico industrial e a divisão do trabalho, o design acaba por atingir uma nova
dimensão. No seu começo o design era entendido como de entre muitos aspectos
interrelacionados com a produção mecânica. A sua concepção original não tinha
nenhuma base industrial, teórica ou filosófica, exercendo apenas um escasso impacto
sobre o processo industrial e sobre a sociedade.
O design moderno surgiu graças aos designers reformistas do século XIX,
particularmente por William Morris, que tentou unir a teoria à prática. As suas ideias
não tiveram resultados imediatos, uma vez que continuavam a utilizar métodos de
produção artesanal. Apesar disso, as suas ideias reformistas foram fundamentais para o
desenvolvimento deste movimento moderno. O design moderno implementou-se nos
princípios do século XX, graças a Walter Gropios (fundador da Bauhaus em 1919) que
integrou aos novos métodos de produção, a teoria e a prática do design.
Bauhaus nasceu com a vocação de trazer a realidade comercial para perto da
sociedade e tirar o máximo possível da nova cultura tecnológica que emergiu. O design
9
moderno unia interesses intelectuais, comerciais, estéticos, mediante a actividade
artística e o aproveitamento tecnológico. Através destes pontos, conseguiram-se
proporcionar novas maneiras de entender o design, como os conceitos que mais tarde
iriam ser explorados na nova Bauhaus (Laszo e Hochschule, criada em Ulm no ano
1953). Estas contribuições serviram para o debate e para a aplicação prática da teoria do
design, relativamente a novos métodos de produção industrial.
No século XX, as teorias, os estilos e os produtos são tão eclécticos como
dispares, consequência da grande complexidade que envolve o processo de design. Esta
pluralidade também se deve, em parte, às mudanças nos modelos de consumo, aos
gostos, aos processos tecnológicos, ao mercado e às grandes tendências existentes.
Hoje em dia os produtos não podem ser entendidos fora dos contextos culturais,
económicos, tecnológico, políticos e sociais, pois, são estes os elementos que
determinam o design e a sua realização. A ligação entre design e economia, pode por
exemplo ser visto no período “Boom”, que se caracteriza pela exuberância das suas
formas, ou na época das “vacas magras” onde a simplicidade domina. Contudo, a
variedade e riqueza que marcou a evolução da disciplina é impressionante. Esta
pluralidade é marcada por muitos movimentos, escolas, designers e conceitos que se
foram sucedendo e trouxeram novos meios, materiais, processos e ideias inovadoras que
influenciaram, sem dúvida, a sociedade e a cultura.
De Alvar Aalto a Philippe Starck, muitos são os designers que nos presentearam
com a sua visão particular da realidade a partir das suas criações. As peças criadas por
estes profissionais podem ser consideradas como clássicos da contemporaneidade.
Apesar de muitos deles terem sido concebidos à alguns anos são considerados
referências para os novos designers.
A contribuição de William Morris (1834-1896) foi crucial, seguindo ideias
reformistas tanto sociais como artísticas, baseadas nas ideias de Ruskin. Um dos seus
propósitos consistia em transmitir “Boom Design” para as massas, apesar de renunciar a
produção em série. Os seus objectos traduziram-se em peças raras e pouco acessíveis à
maioria. Foi um dos principais defensores do movimento Arts And Crafts. Entre as suas
ideias destacavam-se, a supremacia da utilidade, da simplicidade e a frequente
adequação ao luxo. Produzir peças de qualidade e tendo a concepção de um design
como ferramenta democrática, foram as ideias fundamentais e as origens do movimento
moderno.
10
Por sua vez de 1852 a 1926 Antoni Gaudí introduzia as suas ideias
revolucionárias. O inclassificável arquitecto catalão apostou numa visão particular sobre
a realidade, materializada numa obra que tem chegado aos nossos dias. O seu profundo
respeito pela natureza, a sua incrível imaginação e genialidade, que não conhecia
limites, segue, inspirando profissionais de várias áreas e que continua a ser admirada.
Gaudí foi um artista prolífico, não se ocupando só da arquitectura. Os seus projectos
eram integrais, estando a arquitectura composta por peças de mobiliário, que nunca
foram produzidas em série, merecem ser recordadas tratando-se de peças especialmente
expressivas e belas assim como confortáveis e ergonómicas.
Frank Lloyd Wright (1867-1959), com origens que se enquadram no movimento
Arts and Crafts veio mais tarde explorar novos estilos. O seu profundo respeito pela
natureza e a crença nos valores humanos estão presentes na obra deste percursor do
design orgânico, que tem como intenções simbolizar a essência da natureza e do
homem. O trabalho deste humanista exerceu uma grande influência noutros autores.
A aproximação de Charles Rennie Mackintosh (1868-1928) tanto na arquitectura
como no design, incluía o uso do simbolismo e um equilíbrio entre forças opostas (luz/
escuridão; masculino/ feminino; moderno/ tradicional;). Tanto o seu estilo orgânico
como posterior e reconhecido estilo geométrico, exerceram uma destacada influência.
O movimento britânico Arts and Crafts está presente nas concepções de outro
designer, Arquitecto de reconhecido prestígio. A parte das influências deste movimento,
Josef Hoffmann (1870-1956), distingue as suas criações por um carácter anti
históricista. As suas formas rectas reduzidas, eram inspiradas na linguagem geométrica
adaptada pelo movimento moderno.
Walter Gropios (1883-1969) fomentou a unidade das artes e foi director da
Bauhaus, desde a sua criação em 1919 até 1928. O seu design reflectiu uma certa
mudança devido à modernidade industrial. A sua obra é uma clara expressão do
movimento moderno, orientada para uma produção standard no design.
Outro dos mais importantes expoentes do design moderno foi sem dúvida,
Ludwing Mies Van Der Rohe (1886-1969). Inspirado na arquitectura neoclássica foi
percursor de um design racionalista e funcional, tendo a sua obra sido considerada das
mais influentes do século XX. O mesmo ocorre com o trabalho de Le Corbusier (1887-
1965), que passou pela história como um dos arquitectos mais notáveis e que deixou
também marcas no design. O seu início está marcado pelo estilo internacional,
designação atribuída aos artistas do movimento moderno, que combinaram
11
funcionalidade e tecnologia, com uma linguagem geométrica para criar uma estética
moderna. Com o passar do tempo, adoptaram uma linguagem formal mais expressiva e
livre face ao formalismo inicial. Sem dúvida que é um dos criadores mais importantes
pela sua maneira de entender o “design” e a “arquitectura” com grande impacto em
vários campos.
Gerrit Thomas Rietveld (1888-1964) baseou-se no neoclassicismo e na
linguagem formal geométrica, aplicando-as às suas criações, e que com o passar dos
anos se tornou na sua marca comercial. Muitos dos seus objectos manifestam um
retorno às estruturas elementares em madeira como resposta à recessão económica de
1930. Foi pioneiro em inovação, o que faz com que as suas obras sejam uma referência
para os dias de hoje.
O italiano Gio Ponti (1891-1979) contribuiu em grande para o ressurgimento do
design italiano pós guerra. O classicismo intemporal típico da sua obra adquire com o
passar dos anos uma expressividade e solidez incrível. A sua carreira tanto no campo do
design como da arquitectura foi marcada pela grande produtividade.
O dinamarquês Poul Henningsen (1894-1967) arquitecto e designer, renunciou
as pretensões artísticas do design escandinavo em favor de um design com uma
aproximação mais prática e funcional, com o intuito de levar o bom design às pessoas
em geral. O seu princípio tinha por base, fazer produtos mais democráticos, usando
formas e materiais tradicionais. O seu legado é constituído por mais de cem candeeiros
que ainda hoje continuam a ser fabricados, demonstrando que o bom design não tem
idade.
Alvar Aalto (1898-1976) é outro dos designers escandinavos de referência. As
suas concepções são caracterizadas pelo uso de formas orgânicas. Profundamente
convencido que o design, para além de conhecer as exigências funcionais, também teria
de incluir outras necessidades do utilizador, sendo que a melhor maneira para o
conseguir seria através da aplicação de materiais naturais, como a madeira que Aalto
aprendeu a moldar e na qual se consumou mestre. Criou uma linguagem acessível à
maioria das pessoas.
Marcel Breuer (1902-1981) tal como Mies Van Der Rohe e Walter Gropius, foi
professor na Bauhaus e um dos expoentes do design moderno. O atractivo ímpar das
suas criações, é um claro testemunho do domínio que combina métodos de produção e
estética.
12
Nascido no mesmo ano que Beurer, Arne Jacobsen (1902-19719), foi pioneiro
na introdução do estilo moderno Dinamarquês no design. Combinou formas orgânicas e
esculturais com elementos tradicionais do design escandinavo, com o propósito de criar
peças de aparência simples mas, temporalmente charmosas.
O matrimónio formado por Charles Eames (1907-1978) e Ray Eames (1912-
1988), foi celebrado pelas suas excelentes inovações e design pouco vulgar. A
contribuição de ambos neste campo são inegáveis, fazendo das suas peças, obras
atractivas, funcionais e eficazes como quando eles as criaram. São os expoentes que
mais destaque tiveram no design orgânico e das figuras mais importantes do século XX.
Provaram que o design não só permite conceber objectos de grande beleza como
também ajudar as pessoas a ter uma qualidade de vida melhor.
Eero Saarien (1910-1961) introduziu criações atrevidas e revolucionárias no
mundo do design. Racionalista e progressista foi pioneiro no design orgânico criando
peças que se consideram das mais importantes do século XX, ao anunciar uma nova
direcção na criação do mobiliário. Se não alcançou a unidade orgânica total no seu
design com o material, a função e a estrutura, isso deveu-se às limitações impostas pela
tecnologia da altura. São as formas esculturais, orgânicas e expressivas que definem o
seu trabalho.
Achille Castiglioni (1918) o melhor dos irmãos Castiglioni e um dos
profissionais mais importantes na revolução do design. O seu trabalho tem por base o
racionalismo, o que não o impede que seja capaz de criar formas práticas e funcionais
suavizadas com certa beleza. O seu toque pessoal, juntamente com a qualidade do seu
design, a inovação das estruturas e uma sugestiva estética convertem-no numa figura
carismática do design italiano.
Entre os objectivos de Vico Magistretti (1920) encontra-se o de humanizar o
movimento moderno. Ele foi bem sugerido ao equilibrar com facilidade e eficiência a
técnica inventiva com a elegância formal. O seu design é intemporal dada a grande
qualidade e beleza das suas peças. O grande mérito deste criador está nas soluções de
desenho duradouras.
Outro italiano de referência é Alessandro Mendini (1931). Destacou-se dos seus
compatriotas pela promoção de um design “banal”, de modo a preencher o vácuo social
e intelectual da sociedade industrializada. As suas peças transmitem uma sensação
sofisticada de humor, assim como, a ideia de inovação que não poderia continuar a ser
feita da mesma maneira que antes. As suas criações são revestidas de exuberância, uma
13
explosão de cor e formas ousadas, que reflectem necessidade de enfatizar o design pelo
design, mais precisamente pela sua causa.
Não houve ninguém que tivesse contribuído mais para o debate “anti-design”,
provocatório e fomentador do pós-modernismo, que Philipe Stark (1949). É dos
designers mais prolíficos dos dias de hoje e foi na década de 80´s que começou a ser
reconhecido. Os seus primeiros trabalhos são sumptuosos exagerados, audaciosos, ricos
em imaginação e inovadores. Começou como “enfant-terrible” do design francês e é
responsável por algumas das peças com maior carácter e personalidade dos últimos
anos. Durante os anos 80 centrou-se na exploração do exagero que incutia às suas obras.
Esta característica já não é tão visível, sendo a moderação o que melhor o caracteriza
nos dias de hoje, garantindo, assim, peças com maior longevidade.
Muitos são os designers que contribuíram e ainda contribuem para a evolução e
continuidade de melhores produtos, proporcionando, deste modo uma melhor qualidade
de vida.
Torna-se claro que o design nasceu no século XX, trazendo novos objectivos e
desafios para o nosso quotidiano. Os avanços industriais, a sociedade, os problemas
económicos, as guerras e os gostos foram factores preponderantes para o surgimento e
afirmação do design.
Uma breve pesquisa sobre o século XX permite-nos descobrir porque é que o
design de um determinado período se revela típico. No início de 1900 a máquina
consolida a sua força. Este auge industrial acaba por ser escurecido pela primeira guerra
mundial e pelo triunfo da revolução. Os europeus passaram então a ter em 1920 a Art
Déco, o Jazz e a Coco Channel.
Os anos 30 são envoltos de sofrimento, onde o derrube da bolsa conduz a uma
estética sóbria e funcional imposta pelo design escandinavo e dos E.U.A.
Uma década mais tarde a Europa volta a sofrer uma nova guerra mundial e
transforma-se num campo de batalha. O design e a indústria tiveram de se adaptar à
nova situação, enquanto se investigavam as vantagens dos novos materiais.
Emergindo de um período de guerra, os anos 50 centram-se no funcionalismo e
nos avanços tecnológicos. As formas deveriam estar associadas à função e não o
contrário. A guerra-fria surge e é nessa altura que o Ikea abre a sua primeira loja. A
explosão dos anos 60 chega carregada de criatividade, a contra cultura passa a estar
presente nas ruas marcada por splash de cores dando, assim, origem aos estilos Pop Art
e Psychadelia.
14
Durante os anos 70 a crise do petróleo obriga a uma recessão, acalmando a
euforia do pós-modernismo e dando origem a uma mudança de valores. A ecologia e o
aforro passam a impor-se!
O “boom do design” começa na década de oitenta, anos marcados pela
tecnologia e a era “Reagan”. É o momento em que o mundo pensa em globalizar-se e o
design torna-se universal.
Os anos noventa, por sua vez, impõem um cruzamento de estéticas. A petulância
e a transgressão que marcaram os anos oitenta fora substituída pela contenção e
sobriedade do minimalismo. É inegável que a sua influência é fortemente sentida,
embora um novo maximalismo esteja a invadir o panorama actual.
Com a chegada do novo milénio está-se a favorecer o retorno ao exagero. As
formas estão a surgir cada vez mais generosas, exuberantes e volumosas. A ideia “less is
more”, que governou o minimalismo, e que continua a ser relevante, está a perder
terreno face às novas “ondas” do design. Com todo o ecletismo, tudo é permitido e a
pluralidade é a tónica dominante. Passa a ser permitido, então, criar peças díspares,
todas igualmente válidas e atractivas.
1.3 Cadeira e Design – Perspectiva Cronológica
Segundo os autores Falkenberg e Reschke [1] a cadeira é juntamente com a
mesa, uma das mais antigas peças de mobiliário, a mais usada e a que apresenta uma
maior variedade de modelos. Desde a antiguidade que o homem precisou de um objecto
que lhe garantisse um assento. Com o passar do tempo, os avanços tecnológicos e as
modas, o seu design foi influenciado de modo a criar peças de grande beleza e
funcionalidade.
Um dos incidentes que permitiu novas propostas ao design, foi conseguido pelos
“irmãos Thonet”, na Áustria durante o final do século XIX, com o surgimento do
processo industrial capaz de curvar a madeira. A partir deste momento o fabrico de
cadeiras assistiu a avanços espectaculares.
Nenhum dos modelos propostos pelos designers da actualidade se assemelham
com os estabelecidos anteriormente, apesar, de ser possível encontrar modelos no
15
mercado imbuídos de extravagância e imaginação. Com o passar de todos estes séculos,
as cadeiras, continuam na sua grande maioria a ser concebidas com um assento apoiado
em quatro pernas e um encosto, para garantir uma maior comodidade. Nos tempos que
correm existem cadeiras para todos os gostos: austeras, discretas, elegantes, audazes,
coloridas, e até esculturais feitas em materiais como madeira, alumínio, tubos em aço
carbono, fibras vegetais, policarbonato, aço inoxidável e plástico.
Houve um tempo em que reinou a ostentação no modo de conceber uma peça.
Contudo, actualmente a ergonomia tem um papel preponderante, assim como a
tecnologia e os novos materiais. Quando se trata de escolher, é necessário ter em
atenção factores como a comodidade e o peso. A cadeira deve então, nos dias de hoje,
ser leve, confortável e segura.
A cadeira tal como a conhecemos tornou-se num ícone cultural e foi durante o
século XX que muitos designers se esforçaram no desenvolvimento de uma estrutura
relacionada com o acto de sentar. Prestigiados profissionais continuam ainda a incluir as
cadeiras como propostas de trabalho, apesar de este objecto se encontrar resolvido em
termos funcionais.
Neste contexto é elaborada, de forma sucinta, uma cronologia de algumas obras
mais significativas [2,3], desde os meados do século XIX até finais do século XX. Nesta
cronologia é possível apercebermo-nos das orientações formais dos vários designers, em
particular no objecto cadeira, que seguem linhas geométricas, estruturais e orgânicas.
Relativamente aos processos de produção, estes vão desde os métodos mais
artesanais até aos mais industrializados, como consequência dos diferentes tipos de
materiais empregues na sua construção e respectiva evolução tecnológica.
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1.4 Uniões Comuns no Mobiliário
De um modo geral, os elementos de fixação mais usados são os rebites, as
soldaduras, as cavilhas, as sambladuras, os parafusos e as porcas.
Sambladura Rebitagem Soldadura Parafusos
Figura 1.1 – Exemplos de aplicações de alguns elementos de fixação no mobiliário.
A união de peças feita pelos elementos de fixação pode ser do tipo união
amovível ou permanente. No tipo de união móvel, os elementos de fixação podem ser
colocados e retirados do conjunto sem causar qualquer dano às peças unidas. Como
exemplo típico destas uniões temos os parafusos e as porcas.
Figura 1.2 – Tipo de uma união aparafusada.
No tipo de união permanente os elementos de fixação, uma vez instalados, não
podem ser retirados sem que ocorra a sua inutilização. Neste caso temos como exemplos
típicos as soldaduras e as sambladuras.
24
Figura 1.3 - União rebitada, união soldada e união por sambladura.
Tanto os elementos de fixação móvel como os elementos de fixação permanente
devem ser usados com muito cuidado, porque são geralmente, os componentes mais
frágeis da estrutura. Assim, para projectar um conjunto mecânico é preciso escolher o
elemento de fixação adequado ao tipo de peças que irão ser unidas.
Se, por exemplo, unirmos peças robustas com elementos de fixação fracos e mal
instalados, o conjunto apresentará falhas e poderá ficar inutilizado. Ocorrerá, portanto,
desperdício de tempo, de materiais e de recursos financeiros. É importante planear e
escolher correctamente os elementos de fixação a serem usados, de modo a evitar
concentração de tensões, as quais são causadoras de ruína [4-5].
Para que se possa ter uma noção, ainda que resumida, dos tipos de união a
aplicar aos metais, às madeiras, aos compósitos, aos polímeros, ao vidro e entre eles é
apresentada na tabela 2.1 [6-14] alguns exemplos mais comuns. Esta tabela servirá
apenas como guia e não deverá ser usada para casos que requerem maior especificidade.
25
Tabela 1.1 - Alguns exemplos de uniões entre materiais [6-14].
Materiais Metal Madeira Madeira Compósito Polímero Vidro
Metal
Soldadura
Eléctrodo Revestido
Mig/Mag
Tig
Por Pontos
Ligação Desmontável
Parafusos
Ligação Permanente
Rebitagem
Colagem
Madeira
Ligação Desmontável
Parafusos
Ligação Permanente
Rebitagem
Ligação Permanente
Sambladuras
Malhetes
Lamélas } + cola
Cavilhas
Pregos
Ligação Desmontável
Parafusos
Compósito
Ligação Permanente
Rebitagem
Colagem
Ligação Permanente
Colagem
Ligação Desmontável
Encaixes
Ligação Permanente
Colagem
Rebitagem
Polímero
Ligação Desmontável
Parafusos
Ligação Permanente
Rebitagem
Colagem
Ligação Permanente
Colagem
Ligação Desmontável
Encaixes
Parafusos
Ligação Permanente
Colagem
Ligação Permanente
Ultra-Sons
Ligação Desmontável
Encaixes
Vidro
Ligação Desmontável
Parafusos
Ligação Desmontável
Parafusos
Ligação Desmontável
Parafusos
Ligação Desmontável
Encaixes
Ligação Desmontável
Parafusos
26
Samblagens
Figura 1.4 - Zig-Zag chair, 1932-1934 Gerrit Rietveld.
Por norma, a construção de um móvel de madeira, exige o emprego de muitas e
variadas peças, que é preciso ligar entre si de uma forma permanente, indeformável e
resistente. É assim necessário formar qualquer trabalho de madeira por elementos
distintos, convenientemente reunidos entre si, de forma a apresentarem o aspecto de
uma só peça, igualmente resistente em todos os seus pontos. Ao agrupamento destas
partes elementares dá-se o nome de samblagem, bem como ao modo como se faz a
união entre os diversos elementos.
A samblagem, também chamada sambladura, deve ser o mais resistente possível,
traçada e executada rigorosamente sem deixar folgas entre as partes ligadas.
Na simplicidade da samblagem está a sua maior resistência, visto que os entalhes
complicados enfraquecem a madeira consideravelmente, além de as tornar mais
dispendiosas. Reforçam-se as samblagens por meio de cola. Não se deve empregar nas
semblagens cavilhas, pregos ou parafusos, pois, enfraquecem a madeira. Na tabela 3.2
apresentam-se algumas uniões típicas para madeira natural.
27
Tabela 1.2 - Exemplos de uniões para madeiras naturais [6-10].
(continua)
28
(continuação)
(continua)
29
(continuação)
30
Rebite
Figura 1.5 - MN-01 LC1, Lockheed Louge, 1985-1986, Marc Newson.
Um rebite compõe-se por um corpo em forma de eixo cilíndrico e uma cabeça, a
qual pode ter vários formatos. Este meio de fixação é muito aplicado em uniões
permanentes, podendo ser fabricado em aço, alumínio, cobre ou latão. Unem
rigidamente peças ou chapas, principalmente, em estruturas metálicas, de reservatórios,
cadeiras, máquinas, navios, aviões e veículos de transporte. Basicamente as ligações
rebitadas são usadas em casos onde a soldadura não é indicada (estruturas metálicas)
[11].
As suas principais vantagens são a economia, a facilidade de reparação e a
aplicação a estruturas de má soldabilidade (estruturas de alumínio). Na tabela 1.3
encontram-se alguns tipos de rebite e na figura 1.6 apresenta-se a nomenclatura
associada aos rebites.
31
Tabela 1.3 - Tipos de rebite [11].
Tipos de rebite
Formato da cabeça
Emprego
Cabeça redonda larga
Largamente utilizados devido à resistência que oferecem. Cabeça redonda estreita
Cabeça escareada chata larga
Empregues em uniões que não admitem saliências.
Cabeça escareada chata estreita
Cabeça escareada com calota
Empregues em uniões que admitem pequenas saliências.
Cabeça tipo panela
Cabeça cilíndrica Usados nas uniões de chapas com espessura máxima de 7 mm.
D= aba boleada
K= aba escareada
Ǿ= diâmetro do rebite
H= diâmetro da aba
h= altura da aba
f= altura da aba boleada
L= comprimento do rebite
Figura 1.6 – Nomenclatura de um rebite [11].
32
Soldadura
Figura 1.7. - Diamond, Model, 1950-1952, Harry Bertoia.
A soldadura é um processo de união localizada, de metais, similares ou não, de
forma permanente, sendo considerada a forma de união permanente mais importante na
indústria. Existem basicamente dois grandes grupos de processos de soldadura. O
primeiro caracteriza-se pelo uso de calor, aquecimento e fusão parcial das partes a
serem unidas, denominado "processo de soldagem por fusão". O segundo baseia-se na
deformação localizada das partes a unir, auxiliada pelo aquecimento das mesmas até
uma temperatura inferior à do ponto de fusão, conhecido como "processo de soldagem
por pressão" ou "processos de soldagem no estado sólido" [12].
33
Tabela 1.4 - Processos de soldadura convencionais [12].
Alguns Processos de Soldadura
Definição Aplicações Vantagens e Desvantagens
Eléctrodo Revestido
Trata-se de uma soldadura por eléctrodos revestidos que utiliza o calor do arco eléctrico, produzido entre o eléctrodo revestido e o material a soldar, para fundir o material de base e o eléctrodo, formando assim o material de adição o qual é depositado, no estado de fusão, na junta a soldar.
- Aço Carbono - Aços resistentes à corrosão - Ferros Fundidos - Alumínio/ ligas - Cobre/ ligas - Níquel/ ligas
- pode ser utilizado em várias posições - utilizado em grande variedade de ambientes - pouca produtividade - limitado a espessuras inferiores a 15mm - o eléctrodo cola à peça
Tig Trata-se de um processo de soldadura (metal inerte ou activo gás) que utiliza um fio Eléctrodo consumível com protecção de gases inertes tais como argon, hélio e suas misturas.
- Ligas em Alumínio - Ligas em Magnésio - Aços Inoxidáveis - Ligas de Níquel
- elevada qualidade dos cordões de solda - flexibilidade em reparações - ideal para espessuras inferiores a 10mm
(continua)
34
(continuação)
(continua)
Alguns Processos de Soldadura Definição Aplicações
Vantagens e Desvantagens
Mig/Mag Trata-se de um processo de soldadura (metal inerte ou activo gás) que utiliza um fio eléctrodo consumível com protecção de gases inertes tais como argon, hélio e suas misturas.
- Alumínio/ ligas - Aço Inoxidável - Cobre / ligas
- soldas de qualidade - menor aquecimento - ausência de respingos - inadequado apartir 6 mm - problemas (correntes de ar) - custo elevado
Ultra Sons Trata-se de um processo de soldadura no estado sólido o qual produz a soldadura pela aplicação local de uma energia vibratória de alta frequência, enquanto as peças a soldar são mantidas fixas uma contra a outra sob a acção de uma força de aperto.
- Termoplásticos - Metais de alta condutividade (Alumínio e Cobre) - Cobre e Aço
- espessuras finas (10 a 20mm) - espessuras da ordem do micron - peças finas e espessas - chapas pintadas e oxidadas
35
(continuação)
Alguns Processos de Soldadura
Definição Aplicações Vantagens e
Desvantagens
Por Pontos Trata-se de uma soldadura por resistência, que é produzida pela acção de uma pressão, sem metal de adição, utilizando como aquecimento o efeito de uma corrente eléctrica que atravessa a junta a soldar.
- Aço Inoxidável - Alumínio - Níquel - Chapa Galvanizada - Latão e Cobre
- económica - boa qualidade - sem oxidação - impressões nas faces dos materiais
36
União Aparafusada
Figura 1.8 - : Beugelstoel 2, 1927, Gerrit Rietveld.
Os parafusos são elementos de fixação, utilizados em uniões não permanentes de
peças, isto é, as peças podem ser montadas e desmontadas facilmente, bastando apertar
e desapertar os parafusos que as mantêm unidas. Os parafusos diferenciam-se pela
forma da rosca, da cabeça, da haste e do tipo de accionamento. O corpo do parafuso
pode ser cilíndrico ou cónico, totalmente roscado ou parcialmente roscado. A cabeça
pode apresentar vários formatos; porém, há parafusos que não são constituídos por
cabeça. Os materiais de que são feitos variam entre o latão, o aço (galvanizado ou
inoxidável), o titânio e o bronze. Numa situação em se exige uma sustentação que
37
requer uma força moderada e grande resistência à corrosão ou isolamento eléctrico,
utilizam-se materiais como o nylon ou teflon.
Existe uma enorme variedade de parafusos que podem ser diferenciados pelo
formato da cabeça, do corpo e da ponta. Essas diferenças, determinadas pela função dos
parafusos, permitem classificá-los em quatro grupos: os parafusos passantes, os
parafusos não-passantes, os parafusos de pressão e os parafusos prisioneiros.
Os parafusos passantes atravessam de lado ao outro, as peças a serem unidas,
passando livremente nos furos. Dependendo do serviço, esses parafusos, além das
porcas, utilizam anilhas e contra porcas como acessórios.
Os parafusos não passantes são parafusos que não utilizam porcas. O papel da
porca é desempenhado pelo furo roscado, feito numa das peças a ser unida.
Os parafusos de pressão são fixados por meio de pressão, exercida pelas pontas
dos parafusos contra a peça a ser unida. Este grupo de parafusos pode apresentar cabeça
ou não.
Os parafusos prisioneiros não são constituídos por cabeça, apresentam rosca em
ambas as extremidades, sendo recomendados para situações em que se exige montagens
e desmontagens frequentes. As roscas dos parafusos prisioneiros podem ter passos
diferentes ou sentidos opostos. O parafuso prisioneiro permanece no lugar quando as
peças são desmontadas.
Vários são os tipos de parafusos usados em carpintaria, sendo o mais comum, o
parafuso de rosca soberba, também conhecido por parafuso de fenda para madeira. Este
parafuso apresenta um corpo roscado ligeiramente cónico, podendo a sua cabeça variar
mediante três tipos distintos: cabeça chata, cabeça abaulada ou cabeça redonda [13].
Tabela 1.5 - Formatos de parafusos [13].
Parafuso cilíndrico
Parafuso cónico
Parafuso prisioneiro
38
Tabela 1.6 - Classificação de parafusos [13].
Parafusos passantes
Parafusos não passantes
Parafusos de pressão
Parafusos prisioneiros
39
Uniões Particulares
Figura 1.9 - : Uniões particulares.
Até este ponto, foram descritas, algumas das formas de união que habitualmente
se podem encontrar no mercado, nos mais variados campos de aplicação, no entanto,
existem outros exemplos, menos comuns, que também merecem ser referenciados. As
tabelas que se seguem, mostrarão alguns desses exemplos, no sentido de dar a conhecer
outras soluções de união, alternativas às tradicionais e, potenciadoras de novos desafios.
40
Tabela 1.7 – Alguns exemplos de uniões particulares [14].
Desenho esquemático
Legenda
a) Junção directa Perfil (secção circular) e banda elástica de aço. A junção é obtida por esquadros
e) Junção não desmontável. Anel de "coroa" cujos dentes penetram no cone de plástico.
b) Junção directa. Encaixe oco.
f) Junção por relação de material.
c) Junção destacável.
g) Junção através de força com dois subgrupos: elementos de junção com forma própria (pregos) elementos de junção amorfos (colas)
d) Junção destacável limitadamente. Sobreposição de duas chapas.
h) Junção por tensão. Anel de segurança
(continua)
41
(continuação)
Desenho esquemático
Legenda
i) Junção de encaixe.
m) Junção por dilatação.
j) Junção por torsão.
n) Junção por características de forma: à baioneta.
k) Junção de entalhe.
o) Junção por incisão. Elemento metálico redondo inserido na matéria plástica com reentrância para prevenir a rotação.
l) Junção por dobragem.
p) Junção por rebite. Duas componentes redondas unidas por um elemento cónico.
42
CAPÍTULO 2
METODOLOGIA UTILIZADA NO
PROJECTO
Neste capítulo irá ser apresentada a proposta de mobiliário e as
influências que estiveram na sua origem. Vai ser possível ter uma ideia
muito próxima da imagem do objecto na realidade, assim como, os
elementos que a constituem e os processos inerentes à sua fabricação.
43
2.1 Introdução
Numa primeira fase, começou-se por utilizar o desenho como ferramenta de
exploração, para libertar todas as ideias formais que estavam acumuladas até então.
Dessa exploração resultaram inúmeros exemplos de mesas, cadeiras e poltronas, desde a
mais minimal até à mais estrutural, passando pelas formas geométricas até às mais
orgânicas. Partindo desta exposição ao nível do desenho, será explicado, o conceito que
está subjacente a cada esboço, e quais as tecnologias necessárias para poderem ser
produzidas.
Com o objectivo de consolidar os conhecimentos relativamente ao mobiliário,
iniciou-se uma viagem pelos livros com o objectivo de perceber a sua origem e
evolução. Dessa viagem, apurou-se que o arquétipo cadeira, foi o mais explorado até
aos nossos dias, pois, até ao momento, poucos foram os designers e arquitectos que
prescindiram de dar o seu contributo a este elemento individual.
Com a tónica de projectar uma peça de mobiliário de interior, leve, confortável,
de fácil transporte e com uma estética actual, a busca foi centrada em exemplos de gosto
pessoal. Decorrente da leitura e sua análise foi identificado um estilo particular de
mobiliário, datado do século XVIII, e que se enquadra na “Era do Mogno”. Tal como o
nome indica, a matéria-prima mais em voga da época era o mogno, embora, este não
fosse o único material usado na manufactura de mobiliário.
2.2 – A Era do Mogno e o Mobiliário Chippendale
O período do Mogno, situa-se na primeira metade do século XVIII, em paralelo
com os períodos ingleses conhecidos como: Queen Anne e Georgian. A madeira de
nogueira deu passagem ao mogno, que se assumiu como a madeira predominante.
Assistiu-se neste período a uma repentina simplificação do estilo, numa diminuição dos
ornamentos e, consequentemente, numa estética mais elegante. Um dos elementos mais
típicos é a cabriole leg. Inicialmente era uma perna curvada desde do assento até ao pé
da cadeira, passando, mais tarde a apresentar elementos gravados como a garra e uma
esfera, também conhecida por pé de leão, conforme ilustra a figura 2.1.
44
Figura 2.1 - Perna característica do estilo Chippendale.
O mobiliário da época era feito por carpinteiros, auxiliados por ajudantes, sendo
longa a lista de espera dos American Chippendales. Thomas Chippendale foi o
carpinteiro inglês mais famoso deste período e foi através do seu nome que ficou
conhecido o mobiliário a partir dos meados deste período [4].
Thomas Chippendale foi um dos grandes nomes do mobiliário inglês do século
XVIII (nasceu em Otley, Yorkshire, em 1718) tendo herdado do seu pai uma oficina de
móveis em Londres. Em 1754 publicou um livro sobre mobiliário: The Gentleman and
cabinet-marker's Director, que ao fazer sucesso lhe trouxe fama e, assim, lhe
possibilitou difundir os seus móveis por toda a Europa. Foi a primeira obra inteiramente
dedicada ao mobiliário, onde se justapôs o Rococó, o Gótico, o Clássico e as
Chinoiseries. Apesar do livro apresentar desenhos pobres, o mobiliário fabricado por ele
era perfeito no que se refere à mão-de-obra e ao desenho. Chippendale associou aos
vários estílos existentes a melhor madeira, e com um senso absoluto da linha e das
proporções, obteve grande harmonia e unidade. Ele foi apelidado de "mestre da linha
curva."
Chippendale produziu uma grande variedade de mobiliário, usando na
ornamentação grande variedade de motivos. Atribuiu-se a ele várias peças, tornando-se
impossível dissociar o seu nome a quase todo o trabalho inglês em estilo rococó. A
cadeira de estilo Chippendale-Gótico tinha um entrecruzamento de ogivas no espaldar e
ornamentação em sentido vertical; a Chippendale-chinês lembrava um pagode com
ornamentação oriental; as chamadas “ribbon-back”, encosto em fita, tinha no espaldar
45
um desenho imitando fita chamalote e algumas mostravam o espaldar em curvas
paralelas no sentido horizontal. Aberto a novas ideias, Chippendale recebeu influências
do arquitecto escocês Robert Adam e fez trabalhos no estilo Neoclássico para os
interiores de Adam, conhecido como mobiliário “Adam-Chippendale”.
O mobiliário de Thomas foi muito copiado na Europa e na América do Norte.
No fim da sua época, Chippendale utilizou a delicadeza dos móveis franceses, mas essa
reacção foi principalmente adoptada pelo seu sucessor Hepplewhite. Com a sua morte,
Chippendale foi substituído pelo seu filho, também chamado Thomas, mas a sua firma
foi perdendo importância [15-16].
2.3 – Abordagem ao Projecto
Uma vez que um dos objectivos deste trabalho passa pela aplicação de juntas
coladas ao mobiliário de interior, aplicou-se esta técnica a um estilo de mobiliário
particular da história, como forma de o valorizar e actualizá-lo, às exigências dos dias
de hoje. Exigências estas que se reflectem na qualidade do produto, no conforto que
proporcionam, na durabilidade (tempo de vida do objecto), na funcionalidade (relação
com o utilizador), na estética, que normalmente é um dos indiciadores de compra, no
preço final. Para isso começou-se por assimilar os principais elementos que definem o
estilo Chippendale, descrito no ponto 2.2.
Perante as informações recolhidas projectou-se uma nova cadeira, baseada num
modelo clássico da época, interpretado, com recurso à criatividade pessoal, numa
tentativa de dar continuidade à mística da época. Foi propiciada a sua “passagem” e
“estadia” para os nossos dias, sempre numa tentativa de a harmonizar com outras
propostas de mobiliário. As condições referidas resultam da combinação eficaz e
equilibrada entre os diversos materiais, formas e soluções a ela atribuídas. A observação
e a assimilação tornam-se factores chave no momento em que se pretende projectar
algo, quer se aborde um público-alvo específico ou grandes massas. Estar a par das
tendências de mercado e das técnicas de produção industriais, faz com que o trabalho do
designer se torne simplificado. Ferramentas de criação como o desenho,
complementadas com o recurso a programas informáticos de modelação, asseguram
hoje em dia novos patamares, que permitem manipular e expor a imaginação em tempo
46
record e de forma ímpar, comparativamente ao passado. Novos horizontes são
alcançados à medida que estes “apêndices” vão evoluindo, elevando o nível de
qualidade e de argumentos para afirmar as nossas concepções. Foi com base nestas
ferramentas que a proposta da cadeira “Simplex” ganhou dimensão, ainda que numa
fase virtual, condicionada pelo tempo disponível para conclusão desta dissertação.
A simplificação esteve sempre na génese de toda a criação da proposta, ao serem
aplicadas formas com espessuras finas, fruto da síntese feita aos principais elementos
caracterizadores do estilo chippendale. O resultado desta interpretação, cria uma ideia
de ilusão mediante certos pontos de vista, levando-nos a querer que a estrutura se torna
“invisível”. Isto só é possível, dadas as características dos materiais escolhidos
(laminado de carbono/epóxy, alumínio e aço de elevada resistência) que garantem uma
grande eficácia a solicitações de esforços, mesmo em situações de pouca adição de
material. A solução de união através das colagens é aqui também responsável pela
ligação coesa entre estes diferentes materiais de dimensões estreitas, assemelhando-se
quase a um puro acto de bricolage.
Para que se entenda de forma clara o redesign [50] feito neste projecto, exibe-se
no ponto seguinte, duas imagens, uma com a cadeira da era chippendale e, a outra, a sua
congénere inspirada no modelo clássico. Em ambas estão descritas as suas
características, de maneira a que se perceba onde se encontram as maiores diferenças.
47
2.4 – Proposta de Projecto
48
Figura 2.4 - Vistas dimensionadas.
49
Figura 2.5 - Vista explodida.
50
Figura 2.6 - “Simplex” renderizada.
A proposta apresentada ao longo das figuras 2.4 a 2.6 é uma aproximação do que
seria possível obter após a fase de produção. Esta cadeira inspira-se nas linhas curvas do
estilo Chippendale, mas inova, ao usar materiais e soluções de união diferentes das do
século XVIII.
A produção manual característica da sua congénere, figura 2.2, passa aqui, neste
exemplo, a ser substituída por um tipo de produção automatizada, que se serve do
software cad/cam. A peça modelada em 3d que se pretende produzir, irá ser convertida
em código, lido por máquinas de CNC prototipagem, encarregues de maquinar a
matéria-prima, para obter a peça final. O encosto é, por exemplo, um componente que
irá utilizar esta tecnologia de fabricação. A moldura das pernas e do encosto poderá ser
obtida por fundição injectada de alumínio com vista a rentabilizar mais o processo de
fabrico. Caso contrário, também poderá ser feita de um modo mais artesanal,
pressionando a barra de alumínio contra um molde com as várias geometrias
51
apresentadas pelas peças. O tampo da cadeira, sendo em compósito de carbono epoxy,
pode ser obtido por auto-clave. Este processo revela-se eficaz, dada a qualidade
implementada às peças, de forma a obter uma boa resistência mecânica, conciliadora
com o fim a que se destina. Finalmente as pernas em compósito de carbono epoxy são
obtidas pelo processo automatizado de enrolamento de fio, que consiste em enrolar as
fibras de carbono, impregnadas de resina, em torno de um macho. A união dos diversos
componentes será feita com recurso à colagem. Um cuidado particular deve ocorrer
neste processo, o qual está devidamente exposto no capítulo 3.
2.5 – Contributo para a Validação Estrutural do Projecto
Revela-se também importante o uso de ferramentas actuais, disponíveis em
softwares da área do design industrial, no sentido de comprovar se a escolha dos
materiais, das dimensões e das formas atribuídas ao elemento de estudo são compatíveis
com o seu desempenho em serviço.
Figura 2.7 - Cadeira “Simplex”.
52
O Solid Work 2007®, em conjunto com a ferramenta Cosmos Express, foram os
meios informáticas utilizados para a simulação de elementos finitos.
Como primeiro passo no Cosmos Express, fez-se um Cosmos Study ao modelo
tridimensional. De seguida, aplicaram-se os materiais aos diferentes componentes 3D
(cosmos materials), que por norma já se encontram disponíveis na biblioteca do
programa.
Uma vez que o objecto aqui representado é uma cadeira, definiu-se cada uma
das bases das quatro pernas como sendo as zonas de restrição, que neste caso simulam o
chão. A partir daqui, definiu-se o assento como a área onde será aplicada a carga.
Finalmente ajustou-se uma malhagem automática ao modelo, com vista a obter a
distribuição de tensões. Os resultados são apresentados em termos das tensões de Von
Mises.
Figura 2.8 - Malha aplicada ao modelo. Restrições a verde e o carregamento a amarelo.
Figura 2.9 - Representação da deformada.
53
Para tal, foram utilizados 36856 elementos tetraédricos de 10 nós, perfazendo um total
de 67207 nós. A carga aplicada, conforme ilustrada na figura 2.8, considerou-se
Fy=1722 N = 175.54 kgf. Considerou-se a espessura do tampo igual a 10 mm e para as
pernas 8 mm.
Verifica-se que os pés são os elementos mais solicitados, contudo, as tensões de
Von Mises obtidas são relativamente baixas, na ordem dos 55 MPa, comparativamente
com as tensões cedência dos materiais propostos. De qualquer modo, recomenda-se uma
melhoria da geometria que, poderá por passar pelo aumento da espessura.
Figura 2.10 – Representação das tensões de Von Mises para as pernas da frente.
2.6 - Conclusões
O modelo da cadeira proposto é passível de ser exequível, como foi ilustrado ao
longo deste capítulo. Os materiais seleccionados conduzem a soluções projectuais
bastante aceitáveis, ainda que seja necessário um estudo mais detalhado ao nível dos
elementos finitos.
54
CAPÍTULO 3
ESTUDO EXPERIMENTAL EM
JUNTAS COLADAS
Este capítulo irá dar a conhecer um método alternativo de união, que
permite unir diferentes materiais, em especial, materiais compósitos, de
diferentes espessuras, produzindo resultados satisfatórios
comparativamente a outros métodos tradicionais. A sua aplicação
potencia novos patamares de criação, para além, de proporcionar uma
maior qualidade de acabamentos.
55
3.1 Introdução
As uniões coladas têm vindo a tornar-se cada vez mais como uma alternativa
promissora face aos tradicionais sistemas de fixação mecânica. O seu interesse revela-se
determinante quando, por exemplo, se pretende unir diferentes tipos de materiais. Neste
caso muitas técnicas são de imediato excluidas.
Os materiais compósitos são um exemplo de onde as uniões coladas se revelam
como sendo a mais apropriada, uma vez que as outras ligações induzem
descontinuidades nas fibras (dada a necessidade da abertura de furos para a aplicação de
parafusos e rebites) e, consequentemente, potenciais zonas de ruína. Por outro lado a sua
aplicação a este tipo de materiais aumenta ainda mais o seu interesse, visto associar
enormes vantagens económicas.
Ainda que a sua utilização apresente enormes vantagens face às ditas uniões
tradicionais, não podemos, contudo, desprezar algumas limitações que lhes estão
associadas. Na tabela 3.1 encontram-se mencionadas, por exemplo, algumas vantagens e
limitações que podem decorrer das suas aplicações [17, 18-21]. O sucesso da sua
aplicação passa, desta forma, por eliminar essencialmente as desvantagens apontadas na
tabela 3.1 logo na fase de projecto. Para tal, Findlater [22] propõe a existência de cinco
estágios ao nível do projecto, e que são: concepção, determinação da geometria da junta,
selecção do material, dimensionamento da junta e análise.
No que diz respeito à selecção do material, é certo que o projectista muitas vezes
não pode alterar os aderentes. Neste caso a sua escolha deve recair ao nível das colas, as
quais devem ser compatíveis com os materiais dos aderentes (quer ao nível químico
quer da resistência mecânica) e resistir tanto às condições de serviço como ao tempo de
vida útil imposto. No entanto, vários estudos mostram que a falha ocorrida numa junta
nem sempre se deve à escolha errada da cola, mas resulta essencialmente de uma má
descontaminação das superfícies dos aderentes [23]. A ausência de contaminantes é uma
condição que só por si conduz ao estabelecimento de ligações mais fortes, dada a
alteração da energia de superfície do sólido.
Torna-se deste modo evidente que a preparação das superfícies a unir é uma fase
de extrema importância, sendo usual o recurso a sistemas mecânicos e/ou químicos
[23]. Magalhães [17], por exemplo, faz uma revisão dos procedimentos de limpeza que
mais se adequam às superfícies metálicas e poliméricas. Este autor realça a necessidade
56
de tratamentos específicos para determinados polímeros e/ou famílias, os quais,
segundo Lees [24], podem também ser uma função da cola aplicada.
Tabela 3.1 – Vantagens e limitações que advêm da aplicação das juntas coladas [17, 18-
21].
Vantagens Desvantagens
Capacidade de se obter estruturas mais leves e rígidas
As peças não podem ser posteriormente separadas
Capacidade de unir materiais distintos (por exemplo metais com compósitos)
Podem ocorrer tensões residuais resultantes dos diferentes coeficientes
de expansão térmica Capacidade de unir eficientemente
materiais de espessuras finas Sensibilidade a tensões de tracção
segundo a espessura Melhor distribuição de tensões (sem
concentrações de tensões nos aderentes contrariamente às ligações
tradicionais)
Fraca resistência à temperatura e ao fogo
Melhores propriedades à fadiga devido à melhor distribuição de tensões
Susceptíveis a degradação ambiental e incerteza relativamente à sua
durabilidade a longo prazo em condições de serviço severas
Melhor aparência superficial (sem cabeças de parafusos, etc.)
Dificuldade ao nível de inspecções
Fabrico de formas complexas - Boa capacidade de vedação -
O processo de colagem pode ser automatizado, tornando-se
economicamente mais favorável -
Todavia, a preparação de uma superfície não é só um processo de limpeza, dado
que muitas vezes estão-lhe associados tratamentos tendo em vista o aumento da energia
de superfície do sólido. Wingfield [25], por exemplo, apresenta os principais objectivos
que devem estar subjacentes ao tratamento de uma superfície, e que são: eliminação de
todos os tipos de contaminantes (elementos gordurosos, óxidos, etc.), melhoramento da
molhagem de superfícies de baixa energia, modificações químicas através da introdução
de grupos químicos polares e promoção da rugosidade da superfície, aumentando desta
forma a área de colagem.
Por outro lado as juntas coladas sobrepostas simples, devido à não colinearidade
das forças exteriores aplicadas, conduzem ao aparecimento de um momento flector, o
qual vai provocar a sua rotação e o consequente aparecimento de tensões de corte e
57
tensões normais de tracção na cola, enquanto os aderentes são simultaneamente
traccionadas e flectidos. Neste caso existem vários factores que podem influenciar as
distribuições de tensões nas juntas coladas, entre os quais: a rigidez dos aderentes [26-
27], a espessura dos aderentes [28, 29], a espessura da cola [28, 29], o comprimento de
sobreposição [29-31] e o tipo de geometria usada nas extremidades da sobreposição [28,
32-35].
Neste sentido, o presente capítulo pretende caracterizar o comportamento
mecânico das juntas coladas de compósitos carbono/epoxy, alumínio e aço de elevada
resistência. Apresentan-se os resultados obtidos a partir dos ensaios de tracção uniaxial,
com vista a obter a melhor eficiência mecânica da junta colada. Para tal foram
estudados alguns parâmetros como: o efeito da rugosidade nos aderentes metálicos e o
comprimento de sobreposição. As superfícies de fractura também foram analisadas por
microscopia electrónica com vista a caracterizar os mecanismos de dano.
A relação de ensaios realizados encontra-se sintetizada na tabela 3.2. No ponto
seguinte é efectuada uma descrição sumária do material, provetes, equipamentos e
procedimentos experimentais utilizados. Na secção 3.4 é feita uma análise e discussão
de resultados apresentando-se, finalmente, na secção 3.5 as principais conclusões.
Tabela 3.2 – Relação dos ensaios realizados.
Tipo
Ensaios Nº ensaios Objectivos Variáveis Estudadas Material
Tracção Uniaxial
50 Propriedades monótonas
Influência da rugosidade Alumínio e aço
20 Propriedades monótonas
Influência da orientação da rugosidade
Alumínio e aço
30 Propriedades monótonas
Influência do comprimento de
sobreposição
Alumínio, aço e compósito
3.2 Materiais, Provetes, Equipamentos e Técnicas Experimentais
3.2.1 Materiais
Os materiais utilizados ao longo do trabalho experimental foram a liga de
alumínio AlMgSil (DIN 6082) com tratamento térmico T6, o aço de elevada resistência
58
Docol 1000 e um compósito laminado carbono-epoxy. A opção de utilizar estes
materiais no presente estudo deve-se ao facto de serem bastante atractivos para fins
estruturais associados ao seu baixo peso. Deste modo consegue obter-se uma elevada
resistência e rigidez específica.
Por exemplo, cerca de 80% da produção mundial de Alumínio na forma
extrudida é feita com base nas ligas de alumínio da série 6XXX [36], cujos principais
elementos de liga são o magnésio e o silício. As suas propriedades mecânicas revelam
ser dependentes destes elementos, 0.6 a 1.2 % de magnésio e 0.4 a 1.3 % de silício [37],
bem como da presença dos elementos de liga secundários; manganês, cobre e crómio.
Estas ligas revelam-se muito atractivas devido à sua resistência mecânica
elevada, como resultado da precipitação do composto Mg2Si por meio de tratamento
térmico. Para além desta vantagem elas apresentam ainda boa conformabilidade,
excelente resistência à corrosão, boa soldabilidade e bom comportamento mecânico a
baixas temperaturas [38, 39]. Todavia apresentam resistência mecânica limitada a altas
temperaturas [36], ao que, depois de soldadas, podem chegar a perder cerca de 50% da
sua resistência face ao material após tratamento térmico [40]. Nesta sequência as juntas
coladas revelam-se como uma possível alternativa.
Neste trabalho foi utilizada a liga de alumínio 6082-T6, já tratada termicamente.
O tatamento T6 é um tratamento térmico composto pelas fases de solubilização,
têmpera e envelhecimento artificial [36, 37]. A sua composição química encontra-se
ilustrada na tabela 3.3; e na tabela 3.4 são apresentadas as propriedades mecânicas
segundo a direcção de laminagem.
Tabela 3.3 – Composição química da liga 6082 (% em peso) [41, 42].
Si Mg Mn Fe Cr Zn Cu Ti Al
1.05 0.80 0.68 0.26 0.01 0.02 0.04 0.01 Resto
Tabela 3.4 – Propriedades mecânicas da liga 6082-T6 [36, 42].
Tensão de
ruptura
σσσσr[MPa]
Tensão de
cedência
σσσσc[MPa]
Módulo de
Young
E [GPa]
Alongamento
de ruptura
εεεεf [%]
Coeficiente
de Poisson
νννν [-]
Dureza
Vickers
HV50[kgf/mm2]
300 245 74 9 0.32 100
59
Relativamente ao aço Docol 1000 a sua elevada resistência mecânica torna-o
adequado a muitas aplicações industriais, associadas a enormes vantagens ambientais.
Ao apresentarem elevadas tensões de cedência permite-lhes, deste modo, reduzir a
espessura da chapa com a consequente redução de custos ao nível do fabrico, logistica e
funcionamento. Basta para isto pensar que se o peso de um produto diminuir teremos
menos material necessário e, consequentemente, poupança de energia tanto na produção
do aço como nas suas operações de transporte. Por outro lado em certas aplicações
poderá reduzir os custos de funcionamento dos produtos (vagões, contentores,
carroçarias, chassis, etc.) com particular incidência no consumo da energia e nas
emissões de escape. Para além de ser 100% reciclável acresce ainda o facto deste aço
ser pré-temperado, durante a sua produção, eliminando assim riscos ambientais bem
como custos de aquecimento dos fornos de tratamento térmicos, após o fabrico das
peças.
A composíção química do aço de elevada resistência, Docol 1000, encontra-se
ilustrada na tabela 3.5 e na tabela 3.6 as principais propriedades mecânicas, de acordo
com o fornecedor.
Tabela 3.5 – Composição química do aço Docol 1000 (% em peso) [43].
C Si Mn P S Nb Al Fe Al
0.15 0.50 1.50 0.015 0.002 0.015 0.04 Resto Resto
Tabela 3.6 – Propriedades mecânicas do aço Docol 1000.
Tensão de
ruptura
σσσσr[MPa]
Tensão de
cedência
σσσσc[MPa]
Módulo de
Young
E [GPa]
Alongamento
de ruptura
εεεεf [%]
Coeficiente
de Poisson
νννν [-]
Dureza
Vickers
HV50[kgf/mm2]
1000 700 208 5 - -
As suas propriedades são obtidas a partir de um recozimento a 750º C ao que se
segue um endurecimento através de têmpera em água. Finalmente o aço adquire a sua
estrutura final por revenido, onde este é aquecido entre os 200-400º C. Tanto o
recozimento como o revenido são efectuados numa atmosfera controlada para evitar que
60
o aço se oxide. A sua micro-estrutura contém a fase martensítica, responsável pela
dureza, e a ferrite, a fase mais macia, ao que a resistência do aço aumenta com o
aumento da percentagem de martensíte na micro-estrutura. A proporção de martensíte é
determinada pela percentagem de carbono no aço e pelo ciclo de temperaturas que é
sujeito no processo de recozimento contínuo [43].
Finalmente o compósito carbono-epoxy foi manufacturado nos laboratórios do
DEM/UBI. As placas foram processadas por autoclave a partir de pré-impregnados
Texipreg HS 180 REMB from SEALTM (Legnano, Italy) e de acordo com as
recomendações do fabricante. O laminado foi obtido por empilhamento de oito lâminas
de pré-impregnado com espessura de 0.15 mm e as fibras sempre dispostas na mesma
direcção. Após o empilhamento colocou-se o compósito no interior de um saco
devidamente fechado para se poder fazer vácuo. O ciclo de cura durou cerca de 2 horas
e consistiu essencialmente no aquecimento, em auto-clave, até à temperatura de 125º C
com uma velocidade de aquecimento de 3º C/min tendo sido, seguidamente, esta
temperatura mantida constante durante 60 minutos. O arrefecimento foi efectuado à
mesma velocidade até ser atingida a temperatura ambiente. De acordo com a ficha
técnica do fornecedor cada lâmina de pré-impregnado é composta por fibras de carbono
do tipo T300 e por resina epoxy na percentagem de 36 ±3 % em peso.
Para este trabalho foram obtidas placas com as dimensões de 240x200 mm e
uma espessura de 1 ±0.1 mm, tendo o controlo de qualidade sido efectuado unicamente
por inspecção visual.
A caracterização estática destes laminados foi efectuada a partir de ensaios de
tracção, de acordo com a norma ISO standard [44], realizados numa máquina
electromecânica da marca Instron, modelo 4206, à temperatura ambiente e com uma
velocidade de deformação de 1 mm/min. Foram realizados quatro ensaios para a
caracterização do material, encontrando-se duas curvas típicas ilustradas na figura 3.1.
Podemos observar que as curvas são praticamente lineares até à rotura e
apresentam, em termos médios, uma tensão máxima de 568.3 MPa com um desvio
padrão de 10.2 MPa. A rigidez média observada foi de 60.2 GPa com um desvio padrão
de 0.7 GPa.
61
Figura 3.1 – Curvas típicas tensão deformação obtidas nos ensaios de tracção.
3.2.2 Provetes
Relativamente à geometria dos provetes utilizados nos ensaios experimentais ela
encontra-se ilustrada na figura 3.2. Devido ao estudo envolver materiais compósitos foi
seguida a norma ASTM D 5868-95 [45]. Apesar destes ensaios terem decorrido
segundo os procedimentos descritos na referida norma, por uma questão de rentabilizar
o material disponível utilizou-se 20 ±0.5 mm para a largura dos provetes, ao invés dos
25.4 mm aconselhados pela mesma. Semelhante geometria foi também encontrada na
bibliografia [46]. Para eliminar o efeito da flexão nos provetes, devido ao
desalinhamento provocado no aperto, foram ainda coladas placas de alumínio nas
extremidades dos aderentes, com igual espessura.
Os provetes de carbono-epoxy foram manufacturados a partir das placas de
240x200 mm e espessura de 1 ±0.1 mm, fabricadas segundo o procedimento descrito no
parágrafo anterior. Posteriormente, e com recurso a uma serra de corte com disco
diamantado, as placas foram cortadas para as geometrias desejadas (100x20 mm).
Houve um cuidado especial em evitar o aumento da temperatura nos provetes resultante
0 2 4 10 6 8 12 14
600
450
300
150
0
Deformação (x 10-3)
Ten
são
[MP
a]
62
da maquinagem bem como a ocorrência de possíveis delaminações no compósito
durante a preparação dos provetes.
Figura 3.2 – Geometria dos provetes utilizados nos ensaios experimentais.
Por seu turno, os provetes com aderentes metálicos foram obtidos apartir de
chapas com as dimensões de 1000x500x1 mm, gentilmente fornecidas pela SSAB e
pelo DEM/FCTUC. Estas chapas foram cortadas com recurso a uma guilhotina e,
posteriormente, a geometria final dos provetes (100x20 mm) obtida com recurso a uma
fresadora. Esta última operação também tinha como função retirar as rebarbas
produzidas durante a operação de corte.
Após a obtenção dos aderentes, e antes de serem colados, estes foram
devidamente limpos com acetona. Foi utilizada uma cola epoxy Araldite 420A/B, cuja
preparação consiste em misturar por cada 10 g de resina Araldite 420A, 4 g de
endurecedor Araldite 420B. Para a sua pesagem é utilizada uma balança da marca
OHAUS, modelo Analytical Plus, com uma precisão de 0.00001 g. Após a mistura
destes dois componentes a cola é então aplicada nos aderentes. Por forma a ser atingida
a sua máxima resistência, as juntas coladas são sujeitas, durante 4 horas, a uma
temperatura de 50 ºC. Neste processo foi utilizada uma mufla da marca Digitheat,
modelo Selecta P.
Para o estudo do efeito da rugosidade efectuado no aço Docol 1000 foram
utilizados provetes com a geometria ilustrada na figura 3.2 e com l = 25 mm. Por seu
lado, o mesmo estudo efectuado no alúminio 6082 T6 foi realizado com a mesma
geometria, mas, neste caso, com um l = 20 mm e uma espessura dos aderentes de 1.5
mm. Estas alterações resultam de se ter observado, em ensaios preliminares, a
20
l
1
100
100
63
ocorrência de deformação plástica nos aderentes para a geometria semelhante à utilizada
nos ensaios do aço de elevada resistência.
As diferentes rugosidades foram produzidas por lixas P60, P100, P150, P220 e
P400 cujo tamanho médio do abrasivo é de 269 µm, 162 µm, 100 µm, 68 µm e 35 µm,
respectivamente. A orientação dos sulcos produzidos pelas lixas também é estudado
tendo, para isso, os aderentes sido lixados numa direcção prependicular à da aplicação
da carga, paralelamente à carga e aleatoriamente.
No que diz respeito ao efeito do comprimento de sobreposição, todos os
provetes utilizados apresentavam a geometria da figura 3.2, com l = 12.5 mm e l = 25
mm, excepto nos que apresentassem aderentes de alumínio onde se utilizou apenas um l
= 12.5 mm. Mais uma vez esta medida foi limitada pela deformação plástica observada
nos aderentes de 1 mm de espessura para valores de l superiores.
3.2.3 Equipamentos
Os ensaios de tracção uniaxial foram realizados numa máquina do tipo
electromecânico, Instron modelo 4206, figura 3.3, com uma capacidade de carga de 100
kN e uma velocidade máxima do travessão de 500 mm/min.
Esta máquina é constituída por um motor que, através de um sistema de polias e
correias, transmite o movimento a dois parafusos sem-fim. Estes, por seu turno, fazem
movimentar verticalmente o travessão superior da máquina que, desta forma, aplica a
carga ao provete a ensaiar. O controlo é feito por uma consola eléctrica de comando, a
qual permite ainda a aquisição em tempo real dos sinais da carga, deslocamento do
travessão e extensão do provete. Finalmente, os resultados podem ser registados numa
impressora, ou adquiridos por uma porta interface IEEE-488 que possibilita a ligação da
consola a um computador.
Os valores das rugosidades produzidas nos aderentes pelas diferentes lixas,
utilizadas no presente estudo, foram obtidos com recurso ao equipamento laser Mahr
RM600-3D, ilustrado na figura 3.4.
O sensor de distância óptico deste equipamento funciona com um laser de
infravermelhos, cujo feixe é focado na amostra, ficando desta forma, sem qualquer tipo
64
de contacto com a superfície de fractura. A dimensão do spot e a resolução vertical
deste equipamento são de 1 µm e 0.01 µm, respectivamente. O perfil de rugosidade foi
obtido ao longo do comprimento da superfície tratada.
Antes da análise as amostras foram submetidas a uma limpeza por ultra-sons.
Figura 3.3 - Máquina electromecânica, Instron modelo 4206, utilizada nos
ensaios de tracção.
Figura 3.4 - Equipamento laser Mahr RM600-3D utilizado para obter os valores das
rugosidades nos provetes.
65
3.2.4 Técnicas Experimentais
As propriedades monótonas das juntas coladas foram obtidas através de ensaios
de tracção uniaxial, realizados à temperatura ambiente e segundo o procedimento
descrito na norma ASTM D 5868-95 [45]. A razão da utilização desta norma resulta do
facto de ser usado um material compósito no presente estudo.
Os ensaios foram realizados numa máquina do tipo electromecânico da marca
Instron, modelo 4206 (descrita em 3.2.3) e para uma velocidade de deslocamento da
amarra de 1 mm/min. Os provetes utilizados apresentam a geometria descrita em 3.2.2.
Para cada condição de ensaio foram usados cinco provetes, tendo sido os dados
posteriormente tratados em função dos respectivos valores médios.
3.3 Análise de Resultados
3.3.1 Estudo do efeito da rugosidade nos aderentes metálicos
A preparação das superfícies a unir é uma forma de garantir o aumento da
resistência mecânica da junta colada, onde, por exemplo, o efeito da rugosidade da
superfície dos aderentes tem sido referido na bibliografia [47]. No presente estudo foi
avaliado o efeito deste parâmetro nas juntas coladas sobrepostas simples com aderentes
de alumínio 6082 T6 e aço Docol 1000, com vista a obter a sua máxima resistência ao
corte. Para tal, foram usadas lixas com várias granulometrias, nomeadamente, P60,
P100, P150, P220 e P400, às quais corresponde um tamanho médio do abrasivo de 269
µm, 162 µm, 100 µm, 68 µm e 35 µm, respectivamente.
Com vista a quantificar os sulcos produzidos pelas lixas nos aderentes, segundo
a direcção perpendicular à carga, foram medidas as rugosidades com recurso ao
equipamento laser Mahr RM600-3D, descrito em 3.2.3, e de acordo com a norma ISO
4288. A influência da rugosidade dos aderentes no comportamento mecânico das juntas
coladas à tracção é apresentada na tabela 3.7, em função da carga média, da tensão de
corte média e respectivo desvio padrão. Ra representa a média aritmética dos desvios do
perfil de rugosidades em relação à linha média, dentro do comprimento de avaliação (no
66
presente estudo de 25 mm). É o parâmetro de medição mais utilizado na quantificação
da rugosidade.
Tabela 3.7 – Resultados obtidos para as diferentes rugosidades produzidas.
Material Tipo
de lixa
Ra
[µµµµm]
Des.
Padrão
Carga Máx. [N] Tensão de Corte [MPa]
Média Desv. Padrão Média Desv. Padrão
Alumínio 6082 T6
P60 3.1 0.49 10312 758 18.88 1.51 P100 2.5 0.41 10563 521 19.99 0.87 P150 2.1 0.34 10873 248 20.37 0.51 P220 1.6 0.28 10916 202 20.88 0.52 P400 1.1 0.24 11089 627 21.12 0.46
Aço Docol 1000
P60 1.4 0.42 14228 740 25.88 0.63 P100 0.9 0.39 13700 216 24.65 0.48 P150 0.8 0.21 13794 537 24.47 0.62 P220 0.7 0.24 13497 298 24.19 0.57 P400 0.5 0.11 13280 283 23.84 0.53
Para os aderentes de alumínio podemos observar que à medida que a
granulometria da lixa diminui (P cresce) menor é o valor médio de Ra. Para a lixa P60
obtemos, por exemplo, um valor médio de Ra igual a 3.1 µm, enquanto para P400 o
valor médio é de 1.1 µm. Verificamos uma redução na ordem dos 64.5 % de Ra, quando
passamos da lixa P60 para a P400. Relativamente ao aço Docol 1000 assistimos à
mesma tendência, contudo, para a lixa P60 o valor de Ra é igual a 1.4 µm enquanto que
para a lixa P400 é de 0.5 µm. Neste caso, a redução do valor de Ra é de 64.3 %, muito
semelhante ao observado para o alumínio. Por outro lado podemos também observar, e
por exemplo para a lixa P60, que enquanto o valor de Ra é igual a 3.1 µm no alumínio,
no caso do aço é de 1.4 µm. Esta diferença, de 54.8 %, resulta do alumínio deixar-se
riscar mais facilmente pela lixa que o aço Docol 1000, em igual critério de
procedimento.
Na figura 3.5 encontra-se representada a evolução da tensão de corte média face
às rugosidades obtidas. Este efeito é ilustrado em função do parâmetro de rugosidade
Ra, normalizado com o correspondente valor obtido para o abrasivo P400,
respectivamente, 1.1 para o alumínio 6082 T6 e 0.5 para o aço Docol 1000.
Podemos observar, apesar da dispersão, que a resistência ao corte da junta
colada aumenta com a rugosidade, no caso dos aderentes de aço. Esta tendência conduz
a diferenças da tensão de corte média na ordem dos 7.9 % entre os valores obtidos com
lixas P60 e P400. Este comportamento seria de esperar, pois uma maior rugosidade
67
conduz a um aumento do comprimento da linha efectiva e, consequentemente, da área
efectiva de colagem. Desta forma, é possível concluir que o valor da rugosidade
máxima obtida a partir das lixas P60 (Ra = 1.4 µm) é a que conduz a tensões de corte
mais altas para juntas coladas sobrepostas simples com aderentes em aço Docol 1000.
15
20
25
30
0,5 1 1,5 2 2,5 3
Ra/RaP400 [µm]
Ten
são
de c
orte
[M
Pa]
Alumínio Aço
Figura 3.5 – Evolução da tensão de corte média com a rugosidade.
Por seu lado o efeito observado para os aderentes de alumínio é o inverso, onde
a resistência ao corte da junta colada aumenta com a diminuição da rugosidade. Neste
caso verificamos uma diferença na ordem dos 10.6 % quando se comparam os valores
obtidos com as lixas P60 e P400. Podemos assim concluir que o valor da rugosidade
máxima obtida a partir das lixas P400 (Ra = 1.1 µm) é a que conduz a tensões de corte
mais altas para juntas coladas sobrepostas simples com aderentes em alumínio 6082 T6.
Neste caso, o aumento da área efectiva de colagem não se revela benéfica na resistência
mecânica da junta.
O estudo da orientação dos sulcos produzidos pelas lixas nos aderentes também
foi estudado com vista a averiguar se apresenta qualquer influência na resistência
mecânica das juntas coladas. Assim, na tabela 3.8 encontram-se representadas as cargas
68
máximas e tensões de corte máximas obtidas para cada uma das orientações estudadas.
Os sulcos foram produzidos por lixas P400 (com Ra igual a 1.1 µm) no caso do
alumínio 6082 T6 e por lixas P220 (com Ra igual a 0.7 µm) no caso do aço Docol 1000
segundo as orientações perpendiculares à aplicação da carga, paralela à carga e
aleatória.
Tabela 3.8 – Resultados obtidos para as diferentes orientações de rugosidades.
Material Tipo
De lixa
Orientação
das
Rugosidades
Carga Máx. [N] Tensão de Corte [MPa]
Média Desv.
Padrão
Média Desv.
Padrão
Alumínio 6082 T6
P400 Perpendicular 11089 627 21.12 0.46
Paralela 11077 90 20.71 0.42 Aleatória 11192 97 21.14 0.21
Aço Docol 1000
P220 Perpendicular 13497 298 24.19 0.57
Paralela 13546 299 24.22 0.66 Aleatória 13280 283 24.26 0.3
Podemos observar que a tensão de corte média, no caso do alumínio 6082 T6,
obtida para cada uma das condições estudadas é muito semelhante, na ordem dos 21
MPa, o que nos leva, assim, a concluir que a orientação do polimento não se revela
importante na resistência mecânica das juntas coladas em condições de carregamento
estático. A mesma conclusão é observada para o caso do aço Docol 1000, dado que não
se evidência qualquer influência da resistência mecânica da junta. Neste caso o valor
médio da tensão de corte da junta é da ordem dos 24 MPa.
3.3.2 Estudo do efeito da rigidez dos aderentes
Como já foi referido anteriormente são vários os factores que influenciam as
distribuições de tensões nas juntas coladas. Vinson [26] e Thompson [27], por exemplo,
observaram que o aumento da rigidez dos aderentes conduz a uma maior resistência da
junta à flexão, o que desta forma não só diminui as concentrações de tensões junto das
extremidades da sobreposição (onde os seus valores são mais altos) como também, por
consequência, aumenta a resistência mecânica da junta. Sawa et al [48] e Liu et al [49]
observaram, por seu lado, que no caso dos aderentes apresentarem valores de rigidez
69
diferentes, as componentes das tensões σx, σy e τxy nas extremidades da sobreposição
aumentam à medida que o quociente E3/E1 diminui (onde E1 e E3 são a rigidez do
aderente superior e inferior, respectivamente).
Neste trabalho também foi estudado o efeito da rigidez dos aderentes nas juntas
coladas sobrepostas simples. Para tal realizaram-se ensaios de tracção em juntas
coladas, de acordo com o procedimento experimental descrito 3.2.4, entre aderentes de
aço Docol 1000, alumínio 6082 T6 e compósito carbono/epoxy. O comprimento de
colagem usado foi de 12.5 mm e os resultados foram comparados com os obtidos para
pares de aderentes do mesmo material já mencionado.
Nas tabelas 3.9 a 3.14 encontram-se representadas as cargas máximas, tensão de
corte máxima, valores médios da tensão de corte máxima e respectivo desvio padrão,
para cada um dos pares de aderentes estudados.
Podemos observar que, para as diferentes juntas coladas, aquela que apresenta
menor resistência mecânica ocorre entre aderentes de compósitos de carbono/epoxy,
com 18.21 MPa, e a resistência mais alta entre aderentes de aço, com 24.17 MPa.
Tabela 3.9 – Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em alumínio 6082
T6 e tratados com lixa P400 (comprimento de sobreposição de 12.5 mm).
Refª Provete Carga Máx.
[N] Tensão de Corte [MPa]
Máxima Média Des. Padrão Al_Al_12.5_1 3747.60 21.23
20.24 1.99 Al_Al_12.5_2 3653.64 22.53 Al_Al_12.5_3 4421.09 19.01 Al_Al_12.5_4 4730.14 18.20 Al_Al_12.5_5 4012.78 20.24
Tabela 3.10 – Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em aço Docol 1000
e tratados com lixa P60 (comprimento de sobreposição de 12.5 mm).
Refª Provete Carga Máx.
[N] Tensão de Corte [MPa]
Máxima Média Des. Padrão D_D_12.5_1 5895.22 23.06
24.17 0.88 D_D_12.5_2 6671.05 24.42 D_D_12.5_3 6969.03 25.40 D_D_12.5_4 6880.44 24.33 D_D_12.5_5 6569.04 23.64
70
Tabela 3.11 – Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em compósito
carbono/epoxy (comprimento de sobreposição de 12.5 mm).
Refª Provete Carga Máx.
[N] Tensão de Corte [MPa]
Máxima Média Des. Padrão C_C_12.5_1 3948.94 18.06
18.21 1.61 C_C_12.5_2 3165.06 16.68 C_C_12.5_3 4668.39 19.88 C_C_12.5_4 3927.44 17.92 C_C_12.5_5 4312.52 18.51
Tabela 3.12 – Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em aço Docol 1000
e compósito carbono/epoxy (aço tratado com lixa P60 e comprimento de sobreposição
de 12.5 mm).
Refª Provete Carga Máx.
[N] Tensão de Corte [MPa]
Máxima Média Des. Padrão D_C_12.5_1 4773.09 18.34
21.49 2.74 D_C_12.5_2 7114.00 23.33 D_C_12.5_3 6021.39 22.80 D_C_12.5_4 5689.12 21.98 D_C_12.5_5 5106.78 20.99
Tabela 3.13 – Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em aço Docol 1000
e alumínio 6082 T6 (aço Docol 1000 tratado com lixa P60 e alumínio 6082 T6 com lixa
P400, comprimento de sobreposição de 12.5 mm).
Refª Provete Carga Máx.
[N] Tensão de Corte [MPa]
Máxima Média Des. Padrão D_Al_12.5_1 4606.65 20.04
21.59 1.36 D_Al_12.5_2 5191.87 22.14 D_Al_12.5_3 4961.01 22.58 D_Al_12.5_4 4712.05 21.2 D_Al_12.5_5 4584.23 21.98
Tabela 3.14 – Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em alumínio 6082
T6 e compósito carbono/epoxy (alumínio 6082 T6 tratado com lixa P400, comprimento
de sobreposição de 12.5 mm).
Refª Provete Carga Máx. [N] Tensão de Corte [MPa]
Máxima Média Des. Padrão C_Al_12.5_1 4088.53 18.02
18.56 1.84 C_Al_12.5_2 4499.27 18.51 C_Al_12.5_3 4091.22 16.02 C_Al_12.5_4 5194.56 19.16 C_Al_12.5_5 4872.42 21.11
71
Esta diferença de 24.65 % resulta da diferença de rigidez dos aderentes que, de
acordo com 3.2.1, é de 208 GPa para o aço e 60.2 GPa para o compósito carbono/epoxy.
A resistência mecânica da junta colada entre aderentes de alumínio é da ordem dos
20.24 MPa.
Quando combinamos os aderentes verificamos que os pares que envolvem o aço
Docol 1000 são os que conduzem a juntas com resistências mecânicas mais elevadas.
Por exemplo as juntas aço-alumínio e aço-compósito apresentam uma resistência muito
semelhante, na ordem dos 21.59 MPa e 21.49 MPa, respectivamente. Contudo,
comparando estes valores com os obtidos para a resistência mecânica da junta aço-aço,
eles são 11.1 % mais baixos. Quanto ao par alumínio-compósito ele apresenta um valor
ligeiramente superior à junta compósito/compósito e 8.3 % inferior à junta alumínio-
alumínio.
3.3.3 Estudo do efeito do comprimento de sobreposição
Outro parâmetro que influencia a resistência mecânica das juntas coladas é o
comprimento de sobreposição. Existe um valor ideal, o qual é função da cola e dos
aderentes [18]. Este comprimento conduz à melhor distribuição de tensões, ou seja, aos
menores valores das concentrações de tensões que ocorrem na junta [29-31].
No presente estudo este parâmetro foi analisado para os aderentes de aço e
compósito, com valores de comprimentos de sobreposição de 12.5 mm e 25 mm. Não
foram usados aderentes de alumínio dado que eles apresentam plastificação
significativa, para a espessura de 1mm, nos comprimentos de sobreposição de 25 mm.
Nas tabelas 3.15 a 3.17 encontram-se representadas as cargas máximas, tensão
de corte máxima, valores médios da tensão de corte máxima e respectivo desvio padrão,
para cada um dos comprimentos de sobreposição estudados.
Verifica-se que o comprimento de sobreposição, como é referênciado na
bibliografia, depende da associação cola aderente. Por exemplo, para os aderentes de
aço o aumento do comprimento de sobreposição de 12.5 mm para 25 mm conduz a um
aumento da resistência mecânica da junta colada na ordem dos 6.6 %. Este aumento, a
nível de projecto, torna-se bastante vantajoso já que permite o uso de maiores cargas
72
aplicadas. No entanto, quando se compara os resultados obtidos para os comprimentos
de 12.5 mm e 25 mm nas juntas coladas aço-compósito e compósito-compósito verifica-
se que este aumento se traduz numa diminuição da resistência mecânica da junta colada.
Esta diminuição que atinge os 10.9 % nas juntas aço-compósito e os 7.5 % nas
juntas coladas entre aderentes de compósito-compósito reflectem que o aumento do
comprimento de sobreposição piora a distribuição de tensões na junta.
Uma vez que a cola usada foi sempre a mesma fica aqui presente, da análise das
tabelas, que os aderentes apresentam uma grade influência na determinação do
comprimento de sobreposição ideal.
Tabela 3.15 – Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em aço Docol 1000
e comprimentos de sobreposição de 12.5 mm e 25 mm (tratados com lixa P60).
Refª Provete Comprimento de
sobreposição [mm]
Carga
Máx. [N] Tensão de Corte [MPa]
Máxima Média Des. Padrão D_D_12.5_1
12.5
5895.22 23.06
24.17 0.88 D_D_12.5_2 6671.05 24.42 D_D_12.5_3 6969.03 25.40 D_D_12.5_4 6880.44 24.33 D_D_12.5_5 6569.04 23.64 D_D_25_1
25
14023.98 25.63
25.88 0.63 D_D_25_2 15306.84 26.83 D_D_25_3 13599.82 25.35 D_D_25_4 13905.86 25.38 D_D_25_5 14104.51 26.22
Tabela 3.16 – Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em aço Docol 1000
e compósitos carbono/epoxy para comprimentos de sobreposição de 12.5 mm e 25 mm
(aços tratados com lixa P60).
Refª Provete Comprimento de
sobreposição [mm]
Carga
Máx. [N] Tensão de Corte [MPa]
Máxima Média Des. Padrão D_C_12.5_1
12.5
4773.09 18.34
21.49 2.74 D_C_12.5_2 7114.00 23.33 D_C_12.5_3 6021.39 22.80 D_C_12.5_4 5689.12 21.98 D_C_12.5_5 5106.78 20.99 D_C_25_1
25
11731.39 19.08
19.14 0.08 D_C_25_2 12429.37 19.21 D_C_25_3 12483.06 19.24 D_C_25_4 12257.56 19.12 D_C_25_5 10772.01 19.06
73
Tabela 3.17 – Resultados obtidos para juntas coladas com aderentes em compósitos
carbono/epoxy para comprimentos de sobreposição de 12.5 mm e 25 mm.
Refª Provete Comprimento de
sobreposição [mm]
Carga
Máx. [N] Tensão de Corte [MPa]
Máxima Média Des. Padrão Al_Al_12.5_1
12.5
3747.60 21.23
20.24 1.99 Al_Al_12.5_2 3653.64 22.53 Al_Al_12.5_3 4421.09 19.01 Al_Al_12.5_4 4730.14 18.20 Al_Al_12.5_5 4012.78 20.24 Al_Al_25_1
25
9344.84 19.70
18.72 1.42 Al_Al_25_2 8042.85 16.58 Al_Al_25_3 7825.40 18.14 Al_Al_25_4 9210.62 20.17 Al_Al_25_5 8923.37 18.99
3.4 Conclusões
Podemos tirar algumas conclusões deste estudo. No que diz respeito aos
aderentes metálicos a direcção do polimento não apresenta qualquer efeito na resistência
mecânica de juntas coladas sobrepostas simples, em condições de carregamento
estático, ao contrário do tipo de lixa usada. Neste caso, dependendo do valor de
granulometria da lixa usada os valores de tensão de corte variam, podendo-se mesmo
dizer que existem valores ideais de rugosidades para cada tipo de aderente metálico.
Verifica-se também que a rigidez dos aderentes apresentam influência na
resistência mecânica das juntas coladas. O estudo leva-nos a dizer que o aumento da
rigidez dos aderentes se traduz numa maior resistência. Esta tendência é bem visivel nos
valores obtidos para as juntas aço-compósito, aço-alumínio e aço-aço, onde o aumento
da rigidez dos aderentes leva a um aumento da resistência mecânica das juntas (21.49
MPa, 21.59 MPa e 24.17 MPa, respectivamente).
Finalmente foi observado que o comprimento de sobreposição ideal depende da
associação cola/aderentes. O estudo revelou, por exemplo, que um aumento de 12.5 mm
para 25 mm nas juntas aço-aço conduz a uma maior resistência mecânica enquanto que
nas juntas coladas aço-compósito e compósito-compósito a resistência diminuiu.
74
CAPÍTULO 4
CONCLUSÕES FINAIS E
RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS
FUTUROS
Uma vez que o tema escolhido para esta dissertação exige grande
experimentação de laboratório, o tempo dedicado ao seu estudo,
revelou-se insuficiente para o cumprimento de certos objectivos. Como
forma de se entender, quais as conclusões a que se chegou, irão ser
descritas neste capítulo, as principais considerações obtidas nesta
abordagem experimental.
75
4.1 Conclusões
Em jeito de conclusão, o trabalho realizado ao longo desta dissertação permitiu
alargar os conhecimentos teóricos na área do mobiliário (uniões e materiais) e teórico-
práticos em materiais com características muito particulares, que vão desde a resistência
mecânica à leveza, assim como, experimentar uma solução alternativa às uniões ditas
clássicas como o uso de parafusos, rebites e soldadura.
Relativamente às uniões coladas elas revelam-se uma solução alternativa com a
vantagem de se poder projectar sem ter presente as barreiras do aspecto estético,
característico das uniões tradicionais. Outra das particularidades desta solução é
permitir a união de materiais diferentes dando ao designer uma maior amplitude para
novas criações.
Foi elaborada uma metodologia de projecto, onde se fez o enquadramento do
elemento de estudo, a cadeira, cuja validação estrutural leva-nos a concluir que os
materiais propostos são passíveis de ser usados sem limitações de maior. Esta proposta
também revelou ser exequível no âmbito dos actuais processos tecnológicos.
No decurso do trabalho experimental também foi possível retirar algumas
conclusões como, por exemplo:
- Nos aderentes metálicos o efeito da rugosidade revela-se importante na
resistência mecânica da junta colada. Dependendo do valor de
granulometria da lixa usada os valores de tensão de corte variam, podendo-
se mesmo dizer que existem valores ideais de rugosidades para cada tipo de
aderente metálico. Por exemplo foi observado que a lixa P60 conduz a
melhores resultados para a resistência mecânica das juntas de aço, enquanto
a lixa P400 é a mais adequada para o alumínio;
- A direcção do polimento nos aderentes metálicos não apresenta qualquer
efeito na resistência mecânica de juntas coladas sobrepostas simples, em
condições de carregamento estático;
- A rigidez dos aderentes revelou influenciar a resistência mecânica das juntas
coladas. O seu aumento traduz-se numa maior resistência;
- O comprimento de sobreposição ideal depende da associação cola/aderentes.
Verificou-se que um aumento de 12.5 mm para 25 mm nas juntas aço-aço
conduz a uma maior resistência mecânica, enquanto que nas juntas coladas
aço-compósito e compósito-compósito a resistência diminuiu.
76
4.2 Recomendações para Trabalhos Futuros
Na sequência do presente trabalho surgiram alguns aspectos que se revelaram
interessantes para uma abordagem mais detalhada. De seguida, são referidos
sumáriamente aqueles que poderão vir a ser objecto de futura investigação:
- Ao nível do elemento de estudo seria interessante produzir o próprio
objecto, por forma a determinar o seu desempenho num ambiente real;
- Ao nível do cálculo estrutural seria interessante desenvolver um estudo
numérico mais detalhado, visando, deste modo, uma melhor geometria para
o objecto de estudo;
- O estudo experimental deve ser alargado a uma maior gama de rugosidades,
para se obter o seu efeito, de uma forma mais detalhada, na resistência
mecânica das juntas coladas;
- Simultâneamente devem ser obtidas as energias de superfícies dos aderentes
em estudo, para uma melhor compreensão do efeito da rugosidade;
- Estudar mais valores do comprimento de sobreposição para determinar qual
o seu valor ideal para cada caso de estudo.
77
BIBLIOGRAFIA/ WEBGRAFIA
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Mövel Design”, Düsseldorf: teNeues.
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82
ANEXOS
ESBOÇOS E RENDERS
83
Figura 5.1. – Propostas alternativas para a aplicação das juntas coladas.
84
Figura 5.2. – Propostas alternativas para a aplicação das juntas coladas.
85
Figura 5.3. – Proposta escolhida para a aplicação das juntas coladas.