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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – CDS UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL QUALIDADE DE VIDA URBANA EM ÁREAS ÚMIDAS: RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA - AP Josiane do Socorro Aguiar de Souza Orientador: Prof. Dr. José Augusto Drummond Co-orientador: Dr. Luís Roberto Takiyama Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Sustentável Brasília – D. F. : 02 set 2003

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

QUALIDADE DE VIDA URBANA EM ÁREAS ÚMIDAS: RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA - AP

Josiane do Socorro Aguiar de Souza

Orientador: Prof. Dr. José Augusto Drummond

Co-orientador: Dr. Luís Roberto Takiyama

Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Sustentável

Brasília – D. F. : 02 set 2003

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

QUALIDADE DE VIDA URBANA EM ÁREAS ÚMIDAS: RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA - AP

Josiane do Socorro Aguiar de Souza

Orientador: Prof. Dr. José Augusto Drummond Co-orientador: Dr. Luís Roberto Takiyama

Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Sustentável

Brasília – D. F. : 02 set 2003

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Ficha Catalográfica

S725 Souza, Josiane do Socorro Aguiar de

Qualidade de vida urbana em áreas úmidas: ressacas de Macapá e Santana – AP/ Josiane do Socorro Aguiar de Souza. Macapá, 2003.

124 p.; 297mm. -- (UnB-CDS, Mestre, Gestão e Política Ambiental, 2003).

Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável.

1.Qualidade de vida urbana 2.Áreas úmidas 3.Meio ambiente urbano 4. Diagnóstico sócio-ambiental I. Souza, Josiane do Socorro Aguiar de. II.UnB-CDS. III. Título. IV. Série.

CDD(21.ed.) 333.77

Bibliotecária Adelina do S. S. Belém – CRB2 985 É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação e

emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor

reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser

reproduzida sem a autorização por escrito do autor.

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – CDS

______________________________

Josiane do Socorro Aguiar de Souza

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

QUALIDADE DE VIDA URBANA EM ÁREAS ÚMIDAS: RESSACAS DE MACAPÁ E SANTANA - AP

Josiane do Socorro Aguiar de Souza

Dissertação de Mestrado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade

de Brasília, como parte dos requisitos necessários para à obtenção do Grau de Mestre em

Desenvolvimento Sustentável, área de concentração Gestão e Política Ambiental (Gestão e

Política de C&T), opção Profissionalizante.

Aprovado por: _____________________________________ Prof. Dr. José Augusto Drummond, UnB (Orientador) _____________________________________ Prof. Dr. Elimar Pinheiro do Nascimento, UnB (Examinador Interno) _____________________________________ Dra. Odete Fátima Machado da Silveira, IEPA (Examinador Externo)

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Brasília – D. F. : agosto de 2003

DDeeddiiccoo aaooss mmeeuuss ppaaiiss JJoosséé CCaarrvvaallhhoo ddee SSoouuzzaa ee OOllggaarriinnaa

AAgguuiiaarr ddee SSoouuzzaa ppeellaa oorriieennttaaççããoo ddaaddaa nnoo ddeeccoorrrreerr ddoo mmeeuu ccaammiinnhhoo..

AA mmiinnhhaa ffiillhhaa EEllooaannaa,, ppeellaa ccoommpprreeeennssããoo ddee mmeeuu ccoonnssttaannttee

aaffaassttaammeennttoo dduurraannttee eessttee ttrraabbaallhhoo..

AA mmiinnhhaa iirrmmãã GGiisseellee ((iinn mmeemmoorriiaann)) ee aaooss mmeeuuss oouuttrrooss iirrmmããooss

pprreesseenntteess..

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Agradeço a Deus pela vida e capacidade de discernimento.

Particularmente a Antonio Tebaldi Tardin, pelo companheirismo e sustentáculo

incondicional no decurso de minha formação profissional, especialmente neste curso;

À Odete Fátima Machado da Silveira, não só pelo incentivo no processo de seleção

para o curso de mestrado e pela confiança na minha capacidade de trabalho e pela viabilização

concreta institucional do Projeto Ressacas, mas também por ter me honrado com a sua participação

na Banca Examinadora;

À Lucila da Silva, pelo interminável apoio nos momentos de desalento e colaboração

na estatística dos dados e discussões metodológicas;

Ao Prof. José Augusto Drummond, pela paciência, orientação e incentivos no

desenvolvimento desta dissertação;

Ao Dr. Luís Roberto Takiyama, pela co-orientação, revisões e sugestões

apresentadas;

Ao Instituto de Pesquisa Cientificas e Tecnológicas do Estado do Amapá, na pessoa

do seu Diretor, Dr. Admilson Morreira Torres, e ao biólogo Benedito Vítor Rabelo,

Coordenador de Centro de Ordenamento Territorial, pelo respeito à minha necessidade de tempo

para dissertar;

Ao SPRN e ao Governo do Estado do Amapá, pela viabilização deste curso;

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Aos colegas Valdenira Ferreira dos Santos, Rosa Melo e Hilário Neto, pelas

discussões e sugestões;

A Leonardo Vale, pela cessão de dados em formato digital e pelas informações sobre

a área de estudo;

Aos coletores de informações sócio-ambientais e colegas do Meio Antrópico do Projeto

Ressacas: Alex Pinto, Cleobaldo Costa, Eliel Oliveira, Elis Regina Silva, Joel Lima., Laysa

Santana, Macielson Souza, Maria de Fátima Alves, Paulo Cambraia e Regina Célia Silva;

À colega Inácia Maria Vieira, por compartilhar os momentos acadêmicos e

profissionais.

A IBGE/DIPEQ/AP, representado pelos técnicos: Raul Tabajara, Edson

Marconi, Tomé e Dorandins, pela presteza no fornecimento de dados e bibliografias.

Ao componente da Banca Examinadora, Prof. Dr. Elimar Nascimento, pelo

empenho pela realização deste curso e por ter me honrado com a sua participação;

A Wagner J. P. da Costa pelas leituras, sugestões e apoio nos momentos difíceis.

Finalmente, desculpando-me por alguns esquecimentos, agradeço às demais pessoas que

colaboraram de alguma maneira com este trabalho, seja pelas trocas de idéias, seja pelas suas

sugestões.

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"Era uma vez um grão de onde cresceu uma árvore que foi abatida por um lenhador e cortada numa

serração. Um marceneiro trabalhou-a e entregou-a a um vendedor de móveis. O móvel foi decorar um

apartamento e mais tarde deitaram-no fora. Foi apanhado por outras pessoas que o venderam numa

feira. O móvel estava lá no adeleiro, foi comprado barato e, finalmente houve quem o partisse para

fazer lenha. O móvel transformou-se em chama, fumo e cinzas. Eu quero ter o direito de refletir sobre

esta história, sobre o grão que se transforma em árvore que se torna móvel e acaba no fogo, sem ser

lenhador, marceneiro, vendedor, que não vêem senão um segmento da história. "

Edgar Morin

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RESUMO

O entendimento da evolução da qualidade de vida de uma população urbana que

ocupa áreas úmidas exige examinar a sua situação de exclusão social no contexto capitalista

urbano, a sua opinião sobre as condições em que vive e as formas de acesso a bens e serviços.

Isso deve ser feito dentro de um escopo sócio-ambiental abrangente, observando-se as condições

de moradia, alimentação, renda, habitabilidade ambiental, relações com a natureza, dentre outras.

A sua inter-relação com o meio natural, fortemente influenciado pela água, também deve ser

levada em conta. Isso permite medir a qualidade de vida urbana, com base nas verdadeiras

condições experimentadas pela população. A falta de modelos consolidados de análise sócio-

ambiental tornou necessário o uso de exemplos retirados da literatura nos quais se consideram

conjuntamente os meios natural e social. Tentou-se, neste trabalho, expressar parte da realidade

vivenciada pelas populações urbanas residentes em áreas úmidas (“ressacas”) das cidades de

Macapá e Santana, no Estado do Amapá, focalizando os aspectos sociais, econômicos e

ambientais, acima citados, salientando as peculiaridades locais. Foi proposta e aplicada uma

metodologia multidimensional de medição de um Índice de Qualidade de Vida Urbana em Áreas

Úmidas. A metodologia foi capaz de registrar diferenciações sensíveis entre as treze comunidades

estudadas, mas os resultados mostraram que elas em geral vivenciam baixos Índices de Qualidade

de Vida, por habitar áreas sem saneamento básico nem acesso direto a serviços básicos sociais,

como educação, saúde e segurança.

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ABSTRACT

In order to understand the way of settlement wetland human life quality, it must be

taken into account the social exclusion condition on an urban capitalist context as well as how

they live considering the access to goods and jobs under the scope of social and environmental

parameters, as follow: housing quality, livelyhood, income, urban and environment relationships,

and others. Thus, the urban life quality is evaluated through the actual condition of population

related to goods and jobs, considering an environment with a strong hydrological influence. This

work deals with the study of some aspects, mentioned above, of wetland urban population of the

cities of Macapá and Santana, with emphasis on local peculiarities. The results show that urban

wetland populations of these cities present a low level of human quality due to the lack of

sanitation and social instruments like education, public health, and security. The non-existing of

tested social and environment analysis models led to use some essays, acquired on literature, with

social the use of and environment parameters trying to understand the wetland settlement quality

based on the access to primary health care facilities, safe drinking water, dwelling environment

quality, wages, and others.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de localização da área de estudo.............................................................. 18

Figura 2: Gráfico da taxa geométrica de crescimento anual da população residente do Brasil, grandes regiões e unidade federal..................................................... 55

Figura 3: Fluxograma metodológico geral......................................................................... 62

Figura 4: Imagem videográfica (ano 2000) mostrando parte da ressaca Chico Dias, na parte central...................................................................................................... 68

Figura 5: Interligação entre as ressacas e igarapé Fortaleza............................................ 68

Figura 6: Sobreposição das ressacas e bairros de Macapá............................................... 69

Figura 7: Delimitação das ressacas urbanas na cidade de Macapá................................. 70

Figura 8: Delimitação das ressacas urbanas na cidade de Santana................................ 71

Figura 9: Indicadores utilizados na aferição de qualidade social e econômica............ 73

Figura 10: Indicadores utilizados na aferição da qualidade ambiental............................ 75

Figura 11: Variáveis que compõem o índice parcial populacional................................... 79

Figura 12: Variáveis que compõem o índice parcial de percepção às condições de vida.......................................................................................................................... 81

Figura 13: Variáveis que compõem o índice parcial de educação.................................... 83

Figura 14: Variáveis que compõem o índice parcial de saneamento básico................... 85

Figura 15: Variáveis que compõem o índice parcial de edificação habitacional........... 86

Figura 16: Razões de sexo no Estado do Amapá (1960/2000)........................................ 89

Figuras 17 e 18 Canalização de água com instalação precária e risco de contaminação....... 101

Figuras 19 e 20 Estilos de casa e precárias instalações sanitárias nas ressacas........................ 106

Figuras 21: Localização de postos de saúde e postos policiais em relação aos domicílios em ressacas........................................................................................ 109

Figura 22: Variáveis que compõem o índice parcial de ocupação econômica............... 111

Figura 23: Variáveis que compõem o índice parcial de renda.......................................... 112

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LISTA DE FIGURAS

Figura 24: Atributos e simbologia utilizada na qualificação e quantificação dos principais impactos ambientais.......................................................................... 121

Figura 25: Estrutura da célula da matriz de avaliação dos impactos principais............. 121

Figura 26 e 27: Localização de olarias na ressaca do Provedor e impacto da extração de argila nos igarapés................................................................................................. 125

Figura 28: Valor do impacto ambiental referente as principais atividades econômicas locais Principais atividades econômicas locais........................... 127

Figura 29: Primeira parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos.................... 128

Figura 30: Segunda parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos.................... 129

Figura 31: Terceira parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos.................... 130

Figura 32: Quarta parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos.................... 131

Figura 33: Quinta parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos....................... 132

Figura 34: Sexta parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos.......................... 133

Figura 35: Sétima parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos....................... 134

Figura 36: Índices parciais utilizados na aferição da qualidade de vida........................... 135

Figura 37: Gráfico dos valores do índice de qualidade de vida........................................ 136

Figura 38: Cartograma de qualidade de vida urbana nas ressacas de Macapá e Santana .................... .................... .................... .................... .................... ......... 138

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LISTAS DE TABELAS

Tabela 1: Brasil, grandes regiões e unidades federais: taxa geométrica de crescimento anual da população residente, 1950-2000........................................................... 50

Tabela 2: Amapá e Macapá, população residente por situação domiciliar no período de 1940 a 2000.........................................................................................................

51

Tabela 3: Estágios de ocupação das margens das áreas úmidas de Macapá – situação 2000. ......................................................................................................................... 56

Tabela 4: Resumo do plano amostral nas ressacas de Macapá e Santana........................ 63

Tabela 5: Percentuais de pessoas e famílias nas ressacas por domicílio........................... 88

Tabela 6: Valores percentuais de homens, mulheres e razão de sexo entre residentes nas ressacas............................................................................................................... 89

Tabela 7: Grupos de idade no Brasil, região norte e Amapá (2000)................................ 90

Tabela 8: População residente por faixa etária – 2000........................................................ 91

Tabela 9: População residente nas ressacas por faixa etária............................................... 91

Tabela 10: Valores percentuais de razão de dependência demográfica entre residentes das ressacas............................................................................................................... 92

Tabela 11: Valores reescalonados por variável e índice parcial populacional entre residentes das ressacas............................................................................................ 93

Tabela 12: Percentuais de opinião das pessoas de referência dos domicílios em ressacas.................................................................................................................... 94

Tabela 13: Percentual do nível de satisfação com as condições condições de vida por série de estudo das pessoas de referência da ressaca Beirol.............................. 95

Tabela 14: Percentual da opinião das pessoas de referência dos domicílios em ressacas com mais de 3 anos de estudo e as variáveis de satisfação funcional e sensibilidade ribeirinha.......... ................................................................................ 95

Tabela 15: Valores reescalonados das variáveis que compõem o índice parcial de percepção sobre às condições de vida................................................................. 96

Tabela 16: Variáveis que compõem o índice parcial de educação dos residentes em ressacas......................................................................................................................

97

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LISTAS DE TABELAS

Tabela 17: Variáveis reescalonadas que compõem o índice parcial de dos residentes em ressacas............................................................................................................... 98

Tabela 18: Principais doenças nas ressacas observadas nos domicílios em ressacas........ 99

Tabela 19: Volume de água per capita distribuída por dia ( em m3)................................... 100

Tabela 20: Formas de abastecimento de água nas ressacas.................................................. 102

Tabela 21: Percentual de domicílios das ressacas com medidas que visam a assegurar as condições sanitárias necessárias à qualidade de vida..................................... 104

Tabela 22 Percentuais das variáveis que compõem o índice parcial de ocupação econômica................................................................................................................. 116

Tabela 23 Percentuais das variáveis que compõem o índice parcial de renda.................. 118

Tabela 24 Distribuição do rendimento mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade. Brasil 1992/1999.......................................................................................... 119

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LISTA DE SIGLAS

AMCEL - Empresa Amapá Florestal Celulose S.A BASA - Banco de Desenvolvimento da Amazônia CMMAD - Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento CHAMFLORA - Champion Papel e Celulose Ltda COT - Centro de Ordenamento Territorial CPAQ - Centro de Pesquisas Aquáticas ECOLAB - Workshop de Estudos dos Ecossistemas Costeiros Amazônicos - FUNAI - Fundação Nacional do Índio FUNASA - Fundação Nacional de Saúde GERCO - Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro (AP) GPS - Sistema de Posicionamento Global IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICOMI - Indústria, Comércio de Minérios S. A. IDES - Índice de Desenvolvimento Econômico e Social IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IDS - Índice de Desenvolvimento Social IEPA - Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IQV – Índice de Qualidade de Vida IQVU - Índice de Qualidade de Vida Urbana IRD - Institut de Recherche Pour Le Développement JARI - Empresa Jari Celulose S.A. LAGET/UFRJ - Laboratório de Gestão do Território MMA - Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ONU - Organização das Nações Unidas PDSA - Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá PNAD -Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PRONABIO - Programa Nacional da Diversidade Biológica PROBIO - Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira SEMA - Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado do Amapá SIG - Sistema de Informações Geográfico SM - Salário mínimo SPVEA - Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia SUDAM - Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia TERRAP - Instituto de Terras do Estado do Amapá ZEE/AP – Programa Estadual de Zoneamento Ecológico Econômico (AP)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 17

1. O SISTEMA URBANO E O DISCURSO AMBIENTAL................................................................................ 21

1.1 A CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ............................................................... 21

1.2 DESENVOLVIMENTO DESIGUAL, POBREZA E MEIO AMBIENTE URBANO............................... 25

1.2 QUALIFICAÇÃO DA VIDA HUMANA ............................................................................................ 30

1.3.1 Qualidade de vida................................................................................................................................. 30

1.3.2 Qualidade de vida urbana..................................................................................................................... 34

1.3.3 Avaliar a qualidade de vida urbana ...................................................................................................... 36

2. AS TREZE UNIDADES................................................................................................................................... 47

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL DA ÁREA DE ESTUDO ...................... 47

2.2 ASPECTOS FÍSICOS DA ÁREA ESTUDADA........................................................................................ 57

2.3 ASPECTOS POLÍTICOS E SÓCIO-ECONÔMICOS DA ÁREA ESTUDADA....................................... 59

3. A INVESTIGAÇÃO, MENSURAÇÃO E ESPACIALIZAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA URBANA ... 61

3.1 AQUISIÇÃO DE DADOS.......................................................................................................................... 62

Universo Real............................................................................................................................................ 63

3.2 ORGANIZAÇÃO DE DADOS .................................................................................................................. 65

3.3 TRATAMENTO DE DADOS .................................................................................................................... 66

3.4 UNIDADE TERRITORIAL DE ANÁLISE ............................................................................................... 66

3.5 SISTEMA DE INDICADORES ................................................................................................................. 71

3.5.1 Qualidade social e econômica .............................................................................................................. 71

3.5.2 Qualidade ambiental............................................................................................................................. 73

3.5.3 Qualidade de Vida Urbana - QVU ....................................................................................................... 75

4. AS DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA ............................................................................................. 77

4.1. QUALIDADE SOCIAL............................................................................................................................. 77

4.2 QUALIDADE ECONÔMICA .................................................................................................................. 110

4.3 QUALIDADE AMBIENTAL................................................................................................................... 119

4.4 QUALIDADE DE VIDA URBANA EM ÁREAS ÚMIDAS................................................................... 135

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES........................................................................................................... 140

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................144

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INTRODUÇÃO

O primeiro contato com os assentamentos humanos em áreas úmidas urbanas no

Estado do Amapá, impressiona: a população mora sobre palafitas1 ligadas por passarelas de

madeira como se fossem ruas. O saneamento básico é inexistente praticamente. Normalmente, a

água potável que é distribuída por canos, que entram em contato com águas contaminadas por

lixo e fezes despejados aleatoriamente. A pobreza é evidente diante das condições de moradias e

mobílias. Essa realidade parece incompreensível para pessoas que não vivem ou viveram

semelhantes situações, e conduz às perguntas: Por que as pessoas moram naturalmente nestas

condições de habitabilidade? De onde elas vieram? Se fosse oferecido a elas outro lugar, elas

mudariam para lá? Elas gostam do lugar onde moram? Elas escolheram morar neste lugar? Por

quê?

Ao observar a capital do Amapá, Macapá, e a vizinha sede municipal de Santana,

verificou-se que existem muitos residentes em situação de moradia palafítica. A promoção de um

consórcio entre a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) e o Instituto de Pesquisas

Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), para diagnosticar a situação sócio-

ambiental das áreas úmidas urbanas das cidades de Macapá e Santana estimulou a autora deste

estudo a compor a equipe técnica incumbida de executar este trabalho, o qual não é somente

fruto de esforço individual, mas também um dos resultados deste projeto, denominado Diagnóstico

das Ressacas do Estado do Amapá: bacias do igarapé da Fortaleza e do rio Curiaú.

A área de estudo selecionada está localizada no sudeste do Estado do Amapá, nas

zonas urbanas e entornos das cidades de Macapá e Santana, compreendendo a bacia do igarapé

da Fortaleza.

A bacia do igarapé Fortaleza abrange uma superfície de 195 km2 e está compreendida

entre as latitudes 00o05’13’’ N e 00o03’43’’ S, e as longitudes 51o04’37’’ W e 51o09’57’’ W. O seu

canal principal tem a nascente nas proximidades da lagoa dos Índios e a foz no canal do Norte,

margem esquerda do rio Amazonas, com um comprimento total de cerca de 12km. Sua área de

influência se estende pelos “braços” de pequenas bacias de drenagem, que se tornam alagadas no

período chuvoso além de sofrer influência de marés, constituindo as “ressacas”. O acesso a essas

1.1

1 Palafitas são habitações edificadas sobre a água com estacas de madeira, normalmente a madeira é também este o material de construção das paredes e chão.

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áreas pode ser feito via fluvial, pelo igarapé Fortaleza, e por terra pelas rodovias AP-010 e AP-

070, que ligam as cidades de Macapá e Santana (Figura 1).

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Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo Fonte: Modificado de www.amapa.gov.br e IEPA/GERCO – 2001

Posterior à definição da área de trabalho, surgiu a indagação do nome "ressaca". Para

compreender o termo, foi necessário buscar as origens de discussões públicas sobre essa área. O

vocábulo ressaca é utilizado em Macapá e Santana para áreas úmidas. Para Silva (2000), as

ressacas são bacias de recepção e de drenagem fluviais, recentes, ricas em biodiversidade, de

dimensões e formas variadas, configurando como fontes naturais hídricas, e composições

florística e faunística variadas, encravadas na Formação Barreiras, apresentando características

evidentes de argila e areias no seu domínio, com comunicação endógena e exógena. A Lei

Ambiental do município de Macapá (Lei no 948/98) se refere a ressaca como "bacias de

acumulação de águas, influenciadas pelo regime de marés, de rios e drenagens pluviais". Em 1999,

ocorreu o primeiro encontro de importância regional2 que fez referências às áreas de ressacas, no

qual foi abordado o problema da ocupação humana nas áreas úmidas urbanas e peri-urbanas de

Macapá e Santana. Neste mesmo ano, em Porto Seguro, no Estado da Bahia, durante o

Workshop “Avaliação e Ações Prioritárias para a Zona Costeira e Marinha”, discutiu-se o termo

“ressaca” e surgiu a recomendação de criar-se o Parque Estadual das Ressacas em Macapá. De

acordo com Silveira et al. (2002) "Pela primeira vez, a comunidade científica brasileira tomou

conhecimento da existência das ressacas - termo regional usado para definir as áreas que se

1.1

2 Encontro ocorrido em Macapá, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente através do PRONABIO. Seu principal objetivo foi de identificar os sítios prioritários para conservação da biodiversidade da Amazônia.

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comportam como reservatórios naturais de água, que se caracterizam por um ecossistema

complexo e distinto, sofrendo efeitos da ação das marés e pluviosidade, de maneira temporária".

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Também, no referido ano, em setembro ocorreu o "Fórum dos Recursos Hídricos: Tema

Ressacas" (SEMA/AP, 1999), nele foi definido o termo ressacas como "uma expressão regional

dada a um tipo de ambiente palustre caracterizado por enchentes sazonais e pela influência de

marés". Neste encontro, foram efetuadas proposições para o diagnóstico das ressacas urbanas e

posterior escolha de área piloto para ações inter-institucionais.

Depois de selecionar a área de estudo e sua definição, surgiram as inquietações sobre

a melhor forma de abordagem do problema e apresentação dos resultados. Dentre muitas

indagações, as principais foram: Como representar a realidade vivenciada por pessoas que

moram em áreas úmidas, onde a presença dos serviços públicos é quase inexistente: não há

instalações prediais públicas e as condições de salubridade e segurança são mínimas? Das

propostas metodológicas atuais, qual a mais adequada? Como selecionar indicadores que

demonstrem as condições em que vivem as populações em áreas úmidas urbanas? Como

mensurar a qualidade de vida urbana da população residente em ressacas? Como elaborar um

sistema de indicadores capaz de traduzir o estado sócio-ambiental em que se encontra seu

morador? A qualidade de vida urbana na área de ressaca é menor que em outros ambientes? De

que forma pode-se contribuir para melhorar as condições de vida desta população? Estas

perguntas nortearam a realização deste trabalho. Seu principal objeto foi propor um sistema de

indicadores capaz de qualificar e quantificar a vida humana em ressacas e sua interação com o

meio ambiente. Como base, optou-se pelo índice sintético de Índice de Qualidade de Vida

Urbana (IQVU) para avaliar as realidades sócio-ambientais nas ressacas de Macapá e Santana e

verificar as suposições de que: a) a maioria das pessoas que mora em ressaca é pobre; b) as

pessoas de referência dos domicílios são, em sua maioria, provenientes de áreas úmidas ou

ribeirinhas e; c) a qualidade de vida urbana dos moradores de ressacas é baixa.

As dificuldades na busca de informações sobre o assunto durante a fase de pesquisa

bibliográfica levou a observar, através da rede virtual, algumas experiências de elaboração de

indicadores em áreas urbanas. Embora existam artigos e discussões de moradores sobre as áreas

úmidas urbanas, não foi encontrada uma proposição que trate esse assunto de forma sócio-

ambiental onde interagissem os ambientes: social, econômico e ambiental.

O primeiro capítulo deste trabalho discorre como o meio urbano passou a ser

inserido no discurso ambiental de desenvolvimento sustentável, as formas de desenvolvimento

desigual e a relação entre pobreza e degradação ambiental, as quais influenciam na qualificação da

vida humana. Também, neste capítulo, discute-se os conceitos de qualidade de vida e as

dificuldades em avaliá-la.

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O segundo capítulo conta como se deu a ocupação humana nas ressacas urbanas de

Macapá e Santana decorrente de um aumento populacional devido à migração e à ausência de

uma política habitacional capaz de implementar propostas existentes como, por exemplo, o plano

diretor.

As características do ecossistema da ressaca indicam uma alta vulnerabilidade natural

que, aliada as questões sócio-econômicas, constituem alguns riscos humanos e ambientais.

Para delinear um sistema de indicadores é necessário determinar o rumo a seguir,

exprimindo a escolha dos passos metodológicos que foram adotados. O quarto capítulo comenta

os principais procedimentos adotados.

O quarto capítulo disserta sobre os resultados obtidos para cada variável.

Primeiramente, comenta-se a obtenção dos indicadores, justificando-os e atribuindo-lhes um

atributo negativo ou positivo. Posteriormente os resultados percentuais são padronizados em

uma escala de valores para constituir os índices parciais.

O arranjo metodológico adotado na elaboração do IQVU considerou as proposições

de indicadores que compõem as bases conceituais de desenvolvimento humano,

desenvolvimento sustentável, qualidade de vida urbana e sustentabilidade local. A composição

metodológica baseou-se em proposições reconhecidas, composta de indicadores básicos e

propostas de indicadores sustentáveis atuais e regionais. Deste modo, ela é também um dos

resultados mais importantes, pois permite ser aplicado em outras áreas.

As resultantes estatísticas locais, comparadas com as resultantes estaduais e algumas

vezes com as nacionais, permitem ter uma noção da realidade nas ressacas. Sua representação

espacial, através de um único índice em unidades de trabalho, possibilita uma análise conjuntural

e espacial que serve de ferramenta para o planejamento territorial urbano e instrumento de

cidadania por meio da informação do estado do ambiente e qualidade de vida dos moradores em

áreas úmidas, contribuindo para o autoconhecimento e consciência cidadã.

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1. O SISTEMA URBANO E O DISCURSO AMBIENTAL

O avanço do conhecimento científico se fundamenta em pressupostos existente,

assim a adequação do conceito de qualidade de vida em áreas úmidas perpassa pela necessidade

de observar a inserção do meio urbano em desenvolvimento sustentável, pobreza e meio

ambiente e a qualificação de vida humanas.

1.1 A CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Desde a revolução industrial no século XVIII, a população mundial tem

progressivamente se tornado urbana. Esse processo foi intensificado no século XX com a

predominância do modelo industrial centrado na indústria petroquímica e automobilística até os

anos 70, e substituída atualmente pelos setores da informática, da robótica, da biotecnologia, e

das telecomunicações, que necessitaram da disponibilidade de mão-de-obra próxima às fábricas,

contribuindo para a concentração das pessoas nas cidades. O crescimento das cidades

normalmente está vinculado ao crescimento econômico e ocorre de maneira desordenada,

causando impactos ao ambiente sócio-ambiental (meios físico, biótico e ao próprio ser humano).

A preocupação mundial, com os efeitos negativos da exploração econômica sobre o

meio ambiente, foi acelerada no final da década de 1960. Neste período, de acordo com Biwas e

Biwas (1984), ocorreu o aumento da demanda de matéria-prima natural e de energia nos países

industrializados e a explosão populacional nos países em desenvolvimento. Desta forma, os

debates e estudos no referido período estavam voltados para os danos ao ambiente físico em

prejuízo das questões sócio-econômicas relacionadas aos problemas ambientais.

Entre os documentos que trataram destes assuntos ambientais e sócio-econômicos,

ressaltam-se Hardin (1968), Ehrlich (1968) e Meadows et al. (1972), conhecido como Relatório

do Clube de Roma. Os dois primeiros documentos chamavam a atenção para o perigo da fome e

recomendavam o controle populacional, enquanto que o último salientava a interdependência

global, a escassez dos recursos naturais e a insustentabilidade do crescimento econômico, sem

limites, causadora de distúrbios ambientais. Em resumo, surgem as primeiras proposições de uma

sociedade estável e, neste momento, analisaram-se as políticas que fundamentavam o crescimento

econômico. Isto conduziu a divergências entre cientistas e empresários quanto a aceleração ou

minimização do crescimento econômico sem controle.

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Diante da necessidade de se optar por um tipo de desenvolvimento menos agressivo

à natureza, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, sediada em

Estocolmo no ano de 1972, emergiu, pela primeira vez, o termo “ecodesenvolvimento” (Vieira,

1995), elevando este evento à categoria de marco na abordagem dos problemas ambientais a

partir de uma ótica globalizante de desenvolvimento. Em 1973, o conceito de

ecodesenvolvimento foi aperfeiçoado e ampliado por Sachs (1993), baseado em três critérios:

justiça social, prudência ecológica e eficiência econômica.

Nos primeiros anos da década de 1980, evidenciou-se um quadro tumultuoso de

crise econômica mundial devido à recessão, dívida externa dos países do terceiro mundo e outros.

As Nações Unidas encomendaram a um grupo de especialistas e líderes mundiais o Relatório

Brundtland de 1988, conhecido como “Nosso Futuro Comum”, um documento que, além de

incluir os fatores econômicos e sociais nas questões ambientais, também populariza o termo

desenvolvimento sustentável. O Relatório Brundtland conceituou desenvolvimento sustentável

como:

“ um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a

orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o

potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades do presente sem comprometer a

possibilidades das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.” (BRUNDTLAND,

1998).

A Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD (1991)

consolidou este conceito como sendo: “o desenvolvimento que satisfaz às necessidades da

geração presente sem comprometer as possibilidades das futuras gerações de satisfazer as suas

necessidades.” Esse conceito de desenvolvimento sustentável enfatiza o direito de satisfazer

também as necessidades dos segmentos mais pobres da sociedade e também ressalta a existência

de limites criados pela tecnologia e organização social sobre a habilidade do meio ambiente de

prover as necessidades das gerações presentes e das futuras. “Sua essência aponta para a

necessidade de reconhecer as dinâmicas entre as relações sócio-econômicas e ambientais”.

Os princípios destes relatórios fundamentaram a Agenda 21, documento aprovado

durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sediado no

Rio de Janeiro, em 1992. A Agenda 21 contém uma série de compromissos acordados por vários

países, que assumiram o desafio de incorporar em suas políticas públicas, princípios que desde já

os colocavam a caminho do desenvolvimento sustentável (MMA, 2000). A agenda 21 firmou a

idéia de que o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente deve formar um binômio

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indissolúvel, que promova o rompimento do antigo padrão de desenvolvimento econômico,

compatibilizando as duas aspirações das sociedades atuais: ter acesso a melhores patamares de

renda e o direito das futuras gerações de viver em um ambiente saudável.

Para constituir a Agenda 21 Brasileira, aplicaram-se como principais procedimentos

metodológicos a escolha de áreas temáticas que representassem a problemática sócio-ambiental

do país e a proposta instrumental capaz de instigar o desenvolvimento sustentável. Os seis

temas centrais selecionados para compor a Agenda 21 brasileira foram: agricultura sustentável,

cidades sustentáveis, infra-estrutura e integração regional, gestão dos recursos naturais, redução

das desigualdades sociais e ciência e tecnologia (MMA, 2001a).

Objetivando subsidiar a Agenda 21 brasileira, foi elaborado o documento Cidades

Sustentáveis (MMA, 2001a) com propostas capazes de introduzir a dimensão ambiental nas

políticas urbanas, considerando a noção de sustentabilidade ampliada, que trata a ação comum

entre as dimensões ambiental, social e econômica do desenvolvimento, levando em conta

também a idéia de sustentabilidade progressiva, que se refere à sustentabilidade como processo

pragmático de desenvolvimento sustentável.

Assim, foram enfocadas as questões sócio-econômicas urbanas intrínsecas à

problemática ambiental, as que deverão ser tratadas dentro da abordagem sócio-ambiental que

enfatize as inter-relações dinâmicas, construídas historicamente através do intercâmbio e

transformação entre a sociedade e a natureza. Neste contexto, edificaram-se metas concretas a

serem alcançadas a médio e longo prazos pela sociedade, embora haja resistências dos grandes

mercados das superpotências atuais, dominantes na economia internacional, e seus interesses

perpassam pela permanência de seu “status quo” no cenário mundial. Para tanto, é necessário

continuar com alta produção industrial, contribuindo na mesma proporção para o crescimento da

poluição ambiental e esgotamento dos recursos naturais. Embora os argumentos de

interdependência global em relação a sobrevivência no planeta Terra estejam sempre presentes

nas discussões ambientais, grande parte das soluções propostas passam pelo comércio

internacional, onde as relações são tipicamente desiguais.

Estudar a sustentabilidade nas cidades conduz a temas como a explosão populacional

e suas conseqüências: sobrecarga nos transportes, recursos e serviços públicos básicos. Hoje, a

taxa de crescimento mundial das cidades indica que, nos próximos anos, provavelmente, ocorrerá

a intensificação dos espaços urbanos, aumentando as redes de localidades centrais. Conforme as

Nações Unidas (2001), dentro das próximas duas décadas várias megacidades alcançarão um

patamar populacional superior a 10 milhões, com exceção de Tóquio e Nova York. A maior parte

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desta população urbana mundial situar-se-á em países com altas taxas de miséria e desigualdades

sociais. Mais de 15 milhões de habitantes viverão em cidades como: Lagos na Nigéria; Dakha, em

Bangladesh; Calcutá e Delhi na Índia; Jacarta na Indonésia; Karashi no Paquistão; Cidade do

México, no México e no Brasil, estima-se que a cidade de São Paulo atingirá uma população de

mais de 20 milhões de pessoas. Assim, os países subdesenvolvidos serão mais atingidos.

Com o propósito de diminuir os problemas ambientais globais e locais, discute-se

atualmente a sustentabilidade das cidades, visto que a preocupação com o meio ambiente inclui

questões variadas que vão desde problemas com o lixo, produção de alimentos até a eliminação

da pobreza, surgindo um novo conceito de qualidade de vida na cidade. Deste modo, é evidente a

necessidade de conhecer e buscar alternativas de reorganizar os espaços urbanos sem, no entanto,

ignorar que eles passam historicamente por constantes transformações.

Para Novaes (2002) “não haverá cidades sustentáveis sem agricultura sustentável e

nem redução das desigualdades sociais”. Na sua concepção, os temas constituintes da Agenda 21

são interdependentes, e para encaminhar o desenvolvimento sustentável é preciso desenvolver

tecnologias direcionadas para as necessidades brasileiras. O desafio de estruturar a

sustentabilidade no país é complexo e de difícil execução, tendo como principal motivo a

quantidade de atores envolvidos (governo federal, estadual, municipal, empresários,

universidades, associações e sociedade em geral) e ecossistemas urbanos com diversificados

interesses, ora coesos, ora contraditórios.

Pode-se afirmar que na Amazônia Brasileira a sustentabilidade defronta-se com as

contradições entre a preservação e o uso sustentável da biodiversidade, o desmatamento e a

expansão da fronteira agrícola, fluxos populacionais migratórios desordenados e sem controle,

ocupação urbana desordenada e regulamentação fundiária deficitária. Atualmente, a maioria da

população amazônica concentra-se em núcleos urbanos, que vão desde vilas, povoados até a

cidade propriamente dita. Nesta região, os problemas sociais como concentração de riqueza,

acesso privilegiado à informação e a violência, são bastante evidenciados enquanto os problemas

ambientais urbanos como a escassez e a poluição da água, resíduos sólidos, degradação do solo e

outros não são facilmente perceptíveis, porém são importantes para a discussão sobre

sustentabilidade urbana na Amazônia.

É evidente que a maioria dos amazônidas urbanos aponta como principais

problemas a distribuição de renda e as condições de habitabilidade, colocando o homem como

centro das atenções, enquanto que a comunidade técnico-científica prioriza a problemática sócio-

ambiental urbana, tratando o espaço geográfico urbano como um todo, não as partes individuais.

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Porém, conduzir ações concretas que tratem desta problemática exige diretrizes provenientes da

esfera pública e acadêmica como, por exemplo, uma legislação mais adequada e a elaboração de

diagnósticos compostos de indicadores ambientais e sociais eficientes, capazes de mensurar

realidades que devem ser conhecidas.

A fundamentação e discussão sobre indicadores sócio-ambientais serão abordadas no

capítulo 3 que discorre sobre metodologia. A proposição de alguns indicadores que tratem de

realidades vivenciadas por populações em áreas úmidas urbanas constitui um dos propósitos

deste trabalho.

1.2 DESENVOLVIMENTO DESIGUAL, POBREZA E MEIO AMBIENTE URBANO.

De acordo com o documento “Nosso Futuro Comum” (CMMD, 1991), o

desenvolvimento sustentável é aquele que “atende as necessidades do presente sem comprometer

a capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas...” Também ressalta, que “é

preciso atender as necessidades básicas de todos e dar a todos a oportunidade de realizar suas

aspirações de uma vida melhor”. Desta premissa, extraem-se dois conceitos básicos: o de

“necessidade” que prioriza as condições essenciais de vida dos mais pobres e a noção de

limitações que o estágio da tecnologia impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às

necessidades presentes e futuras.

Na opinião de Arana (1999), o documento de Brundtland fundamenta-se no

ecodesenvolvimento e enfatiza o crescimento econômico, eqüidade social e equilíbrio ecológico,

resultando, assim, no desenvolvimento sustentável proposto. Como crítica importante ao

modelo, o autor observa-se que "o modelo hegemônico atual tem como característica a

concentração da riqueza enquanto na sustentabilidade busca-se a distribuição da riqueza

implicando, conseqüentemente, em maior eqüidade social. Tal crítica pode ser constatada com o

fenômeno da globalização que tem provocado um desenvolvimento assimétrico com maiores

benefícios para os países ricos".

Martinez-Alier (1994) discorre que a principal comunicação do Relatório Brundtland

é que a pobreza causa a degradação ambiental, indicando como alternativa o crescimento

econômico para os países ricos e países pobres, pondo em segundo plano a questão da

redistribuição e eqüidade. O documento exemplifica com a “Revolução Verde”, que foi

promovida por vários interesses, destacando-se o de diminuir as condições como a pobreza,

fome e subdesenvolvimento; porém, terminou prejudicando de um lado a biodiversidade e a

fertilidade dos solos e, de outro, aumentou a dependência tecnológica dos países pobres além de

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elevar, em muito, o êxodo rural. Na realidade, o referido relatório defende o aumento da

atividade econômica no sentido de eliminar a pobreza, confrontando com a finitude dos recursos

existentes no planeta. Nessa ótica, subordina o crescimento dos países mais pobres às economias

mais ricas do Norte. Com essa visão, percebe-se que há uma definição de nível de consumo dos

países em desenvolvimento em função de suas necessidades básicas, mas omite o nível de

consumo dos países desenvolvidos. Essas críticas podem ser observadas a partir das políticas

ambientais e desenvolvimentistas difundidas pelos países desenvolvidos nos países pobres, cujas

estratégias são: retomar o crescimento; alterar a qualidade do desenvolvimento; atender as

necessidades essenciais de emprego, alimentação, energia, saneamento; manter um nível

populacional sustentável; conservar e melhorar a base dos recursos; e incluir o meio ambiente e a

economia no processo de tomada de decisão.

Baseado nos critérios de sustentabilidade de Sachs (2000), a implementação dessas

políticas ambientais e desenvolvimentistas inseridas no modelo de desenvolvimento sustentável

necessitam, no mínimo, de um sistema político que assegure efetivamente a participação do

cidadão com acesso as informações no processo de decisão; um sistema econômico capaz de

gerar excedentes; um sistema de produção que respeite e promova a conservação da base

ecológica do desenvolvimento; um sistema tecnológico que busque constantemente novas

soluções alternativas; um sistema internacional que estimule padrões sustentáveis de comércio e

financiamento.

Percebe-se que os comentários acima mencionados têm lógica a partir de que, na

maior parte dos objetivos e requisitos recomendados para o desenvolvimento sustentável, emite

diretamente ou indiretamente, mais modificações nos países em desenvolvimento do que os

desenvolvidos. Porém, discretamente, o relatório trata as diferenças entre ricos e pobres; fala do

protecionismo existente na área industrial, comercial e agrícola por parte dos países

desenvolvidos e condiciona que os países mais ricos adotem estilos de vida conciliáveis com os

recursos naturais existentes. Essa harmonização, atualmente, tem sido buscada através da

tecnologia. Mais adiante, aponta para eqüidade entre cidadãos para que haja uma verdadeira

sustentabilidade.

Baseado no conceito de desenvolvimento sustentável do Relatório Brundtland,

citado por Salama (1999), surgiram várias abordagens de dimensionar a pobreza, e algumas foram

além da simples mensuração monetária, atingindo o ápice ao avaliarem as necessidades básicas

insatisfeitas. Porém, antes de tudo é preciso conceituá-la.

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Até os anos de 1960, a pobreza era mensurada através do nível médio de renda que,

segundo Jannuzzi (2001) era o quociente do Produto Interno Bruto pelo total da população.

Apesar de ser considerado como único parâmetro para indicar a pobreza, a renda per capita ainda

é bastante utiliza por alguns organismos nacionais e internacionais, compondo inclusive o Índice

de Desenvolvimento Humano - IDH do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -

PNUD. A pobreza é considerada pelo PNUD (1997) "ausência do que é necessário ao bem estar

material. É também a negação das oportunidades e das escolhas mais essenciais ao

desenvolvimento humano.” Após o surgimento do conceito de exclusão social, a definição de

pobreza, segundo Buarque (1999), modificou-se, e passou a ter uma conotação econômica e

ética. Para este autor "o que faz uma pessoa ser pobre não é o nível de sua renda, mas a sua

exclusão dos bens e serviços sociais essenciais". A fim de definir a pobreza, algumas instituições,

de acordo com Jannuzzi (2001) utilizam o poder de compra de aquisição de produtos básicos

como ajuste de paridade do indicador de renda per capita.

Como na maioria dos países, o Brasil também apresenta uma disparidade entre os

ricos e pobres, que se agrava por apresentar maior desigualdade em relação a quantidade de

pessoas pobres e em piores condições de sobrevivência. Neste contexto, a Amazônia diferencia-

se por possuir um quadro contrastante: é detentora de um grande estoque de riquezas naturais,

embora apresente a maior parte de sua população vivendo em condições de pobreza,

principalmente no que diz respeito ao acesso aos serviços públicos básicos. Apesar da carência

estatística mais abrangente sobre a pobreza nesta região, ela pode ser caracterizada por resultados

censitários, pelas situações de fome (desnutrição e subnutrição) e pela susceptibilidade a doenças,

devido a carência de serviços básicos, o baixo atendimento à saúde, a precariedade e

superpopulação das habitações.

Na Amazônia brasileira, normalmente, a maioria da população rural dispõe de

recursos naturais (peixes, caças, frutas, castanhas e outros) que servem de alimentos e contribuem

na renda de autoconsumo, diminuindo a necessidade da renda monetária para sobreviver.

Enquanto que a população que mora em áreas urbanas depende quase que exclusivamente da

renda monetária para sua existência. Neste contexto, diz-se que as populações pobres, carentes de

alimentação, estão mais presentes em áreas urbanas, principalmente na periferia, em ambientes de

pouca resistência à degradação ambiental (baixadas e alagados) e, normalmente assumem duplo

papel, como um dos causadores e vítimas da degradação do meio ambiente. As condições

ambientais dos locais de moradias, unidas às precariedades das habitações, à superpopulação, às

dificuldades de acesso aos serviços de esgoto, coleta de lixo e de água tratada, aumenta a

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vulnerabilidade dessas populações a doenças transmitidas pela água, e a proliferação de animais

transmissores de doenças.

A desigualdade social e econômica da população amazônida corresponde a baixos

índices que mensuram a esperança de vida ao nascer, educação, saúde e outros. Essa disparidade

entre segmentos sociais e regiões tem forte influência na geração de problemas sociais e

ambientais, a começar pelo deslocamento das populações rurais para a cidade, em busca de renda

e serviços sociais.

A população amazônida urbana, tangida por essas disparidades e também pelo

processo de concentração fundiária e outros fatores como a mecanização intensiva na

agropecuária, vem aumentando em ritmo acelerado desde a década de 1940 e, segundo Moura e

Moreira (2001), teve seu crescimento inicialmente nos anos 70 e 80 devido à ação do governo

federal e às políticas de desenvolvimento econômico. Essa progressão populacional nas

metrópoles regionais (Belém e Manaus) concorreu para uma expansão urbana acelerada e

desordenada, que se traduziu na degradação ambiental, na ocupação de áreas de risco ou de

preservação obrigatória, na ausência ou degradação de infra-estruturas mínimas (saneamento,

educação, saúde, segurança, transportes e outros) e na pressão sobre as finanças públicas, já

precárias, traduzindo-se em insustentabildade urbana.

Tratar as questões urbanas dentro de uma visão ecológica integrada tem sido uma

dificuldade científica, econômica e política, muito embora a espécie humana esteja inserida em

ecossistemas. Em consonância com a definição de Odum (1985), o ecossistema é a interação

entre os seres vivos e o seu ambiente não vivo, inseparavelmente, inter-relacionados. Essas

relações mútuas entre o homem e a natureza são estudadas holisticamente em ecologia humana

(relação homem-natureza). E a partir de suas postulações, Odum (1985) se explica que

aglomerado urbano “difere de ecossistemas heterotróficos naturais, por apresentarem um

metabolismo muito mais intenso por unidade de área, exigindo um influxo maior de energia e

uma grande necessidade de entrada de materiais e saída de resíduos”. Em sua opinião, a cidade

moderna é um parasita do ambiente natural, pois produz pouco ou nenhum alimento, polui o ar e

recicla pouca ou nenhuma água e outros materiais inorgânicos. Funciona simbioticamente

quando produz e exporta mercadorias, serviços e outros para o meio ambiente rural.

Os sistemas naturais (físico e biótico) e antrópico (homem e suas atividades)

constituem o ambiente urbano, que é considerado como ambiente aberto, por depender de

outros no atendimento das necessidades humanas. Neste contexto, a cidade pode ser entendida

como um ecossistema. O ecossistema urbano segundo Marcus e Detwyler apud Mota (1995)

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apresenta necessidades biológicas (ar, água, espaço, energia e disposição de resíduos) e culturais

(organização, tecnologia, sistema econômico, comunicação e segurança).

O ecossistema urbano tem sido tratado por diferentes áreas do conhecimento,

embora alguns autores tentem justificar o domínio dessa temática por uma única ciência. Como

exemplo, cita-se a afirmação de Mota (1995), que diz: tratar sobre o ecossistema urbano compete

muito mais à sociologia do que à ecologia, porque a ecologia clássica é voltada especificamente à

ciência do modo de vida dos organismos, não incluindo em sua metodologia de estudo o homem

social, seu impacto sobre o meio ambiente e, muito menos, o ambiente urbano, produto de sua

intervenção. De acordo com Dasmann (1968), a estabilidade de sistemas naturais aumenta à

medida que crescem suas complexidades, enquanto que os sistemas urbanos aparentemente têm

tendências opostas, convertendo-os em frágeis e passíveis de ruptura. Parte dessa fragilidade é

dada pelo não reconhecimento das comunidades urbanas como verdadeiros ecossistemas,

deixando o planejamento e a viabilização da cidade carentes da visão sistêmica. Também, na

compreensão de Dasmann (1968), as cidades no século corrente tendem a crescer e a ocupar o

mesmo nicho comum global dentro da biosfera, de modo a utilizar os mesmos recursos,

provocando uma intensa competição que origina pressões ambientais de dimensões cada vez

mais fortes, comprometendo a qualidade de vida de seus moradores.

Para melhorar a sustentabilidade nos ecossistemas urbanos, é preciso adotar

tecnologias diversificadas, novos padrões espaciais de ocupação que considerem o meio natural, a

consciência social sobre suas responsabilidades com o meio ambiente e um novo padrão de

planejamento urbano. Em conformidade com Platt (1994), a sustentabilidade do ecossistema

urbano deve ser focalizada através de dois eixos: o primeiro reporta-se à proteção e restauração

das características e processos biológicos remanescentes dentro da comunidade urbana e o último

alude ao impacto das cidades nos recursos terrestres, aquáticos e atmosféricos da biosfera, com

os quais elas se mantêm e nos quais ela causa efeitos nocivos. Sustentabilidade, sob este prisma,

envolve aspectos de transporte, conservação de energia, controle da poluição da água e ar, justiça

social e outros. De acordo Sobral (1996), as dificuldades em se estudar a urbanização e o meio

ambiente decorre da complexidade das ações humanas ligadas a dinâmicas sociais e econômicas,

completamente diferentes do ambiente natural que pode ser explicado somente pelas leis da física

e química.

Apesar das afirmações de alguns autores sobre o ecossistema urbano, para efeito

deste trabalho, entende-se o ecossistema como um conjunto dos relacionamentos mútuos e

interdependentes entre os fatores que compõem o meio ambiente. Em conformidade com

Balassiano (1992), pode-se afirmar que na criação das cidades as sociedades transformam a

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paisagem natural pré-existente em paisagem cultural ou humana. Nesse processo de modificação,

as características naturais do lugar são utilizadas para a construção de um novo ambiente: o

urbano.

1.2 QUALIFICAÇÃO DA VIDA HUMANA

A qualidade de vida urbana fundamenta-se na concepção de qualidade de vida. Desta

forma, afim de melhor entendimento, se faz necessário discorrer primeiramente sobre a definição

de qualidade de vida.

1.3.1 Qualidade de vida

A afirmação de Buarque (1988) de que “...talvez nenhum conceito seja mais antigo,

antes mesmo de ser definido, de que qualidade de vida. Talvez nenhum seja mais moderno do que a

busca de qualidade de vida. Ainda que mais moderna seja a crítica e a redefinição do conceito de

qualidade de vida”, conduz a pensar sobre as condições de tempo de sobrevivência da

humanidade. O acordo com esse autor, em um passado remoto, a qualidade de vida estava

vinculada a não sofrer os efeitos das intempéries naturais, a ser capaz de sobreviver aos inimigos

da natureza ou humanos, a ter posses, à habitação segura e a não padecer de sede e fome. Esse

conceito permaneceu por um longo período, até final do século XVIII e início do século XIX,

quando ocorreu a revolução industrial, que contribuiu para o aumento da população nas cidades.

Viver no conforto com as facilidades do meio urbano, onde o trabalho pesado era efetuado por

máquinas e pobres, adicionou a possibilidade de dominar a natureza e passou a ser sinônimo de

qualidade de vida. Porém, com a utilização de mercadorias e serviços para a satisfação das

necessidades humanas, e com a diferenciação das classes sociais, a idéia de qualidade de vida

passou a ter o caráter de capacidade de consumo. Posteriormente, o conceito de qualidade de

vida evoluiu, de consumo para uso de bens de vanguarda tecnológica.

Apesar da evolução da idéia de qualidade de vida, ainda é trabalhoso demarcar seus

limites devido à abrangência e interligação com diversas abordagens e problemáticas. Porém,

baseado na literatura científica que discorre sobre este assunto, é possível equacionar três âmbitos

essenciais de análise relativos a esse assunto.

O primeiro âmbito de análise de qualidade de vida foi, segundo Fernandes (1997),

elaborado na época da revolução industrial (final do século XVIII e início do século XIX) e tem a

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ver com a distinção entre os aspectos materiais e imateriais da qualidade de vida. Os materiais

tratam das necessidades humanas básicas como, por exemplo, habitação, abastecimento de água,

saúde. Ou seja, aspectos de natureza essencialmente física e infra-estrutural. Os imateriais estão

ligados às artes, cultura e lazer. Historicamente, para as sociedades menos desenvolvidas, essas

questões materiais eram decisivas e estavam em evidência. Após este período, já no século XX, o

conceito de qualidade de vida, segundo Fernandes et al. (1997), passou a ser medido pelo poder

de compra, ou seja: o consumo.

O segundo âmbito distingue os aspectos individuais e coletivos, sendo que as

componentes individuais estão mais ligadas com as condições pessoais e familiares, às relações

pessoais e às condições econômicas tratadas por Guerreiro e Hayos (1983). Nesta ótica, qualidade

de vida passa a ser diversificada, em consonância com o processo social que leva à formação de

"camadas" hierárquicas, isto é, de grupos situados diferencialmente quanto ao grau ou natureza

do poder político, ao prestígio social ou ao papel econômico que detêm ou que lhes é atribuído.

O terceiro âmbito trata da distinção entre os aspectos objetivos e subjetivos da

qualidade de vida. Os objetivos podem ser assimilados através da definição de indicadores de

natureza quantitativa de carências humanas (alimentar, mortalidade infantil e outros) e os

subjetivos remetem-se para a percepção psíquica que os indivíduos (psique individual) têm de

qualidade de vida (nível de satisfação), enfatizada por Schartzman (1974), de que a percepção

varia de pessoa para pessoa, dependendo de diversas variáveis como nível de instrução, o estrato

social, experiências vivenciadas e outras. O subjetivo é de essencial importância, devido os

indicadores de qualidade de vida, terem várias traduções, conforme a estrutura sócio-econômica

da população. Conseqüentemente, o mesmo indicador pode ser percebido com diversas

conotações, variando de acordo com os agrupamentos sociais, pois as idéias e as experiências de

vida do sujeito será o parâmetro de avaliação de qualidade de vida e nível de satisfação. Um

indivíduo pertencente a classe social baixa deverá priorizar como qualidade de vida o

atendimento de suas necessidades básicas imediatas como (alimentação, habitação, saúde e

educação) enquanto que se for pertencente a classe social média além dessas necessidades, exigirá

serviços itens complementares, principalmente serviços e qualidade ambiental (locais de lazer,

áreas verdes, saneamento, baixos níveis de poluição, segurança e transporte).

As análises de qualidade de vida quanto aos aspectos materiais e imateriais;

individuais e coletivos; e objetivos e subjetivos estão interligados entre si, sendo praticamente

complementares. A exatidão dessa interdependência permeia as principais contribuições teóricas,

sobre o estudo de qualidade de vida. Dentre as classificações de componentes de qualidade de

vida, destacam-se os autores: Allard, Gough e Nuvolati.

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32

A primeira contribuição científica proposta por Allard (1981), sobre qualidade de

vida, distingue as condições de vida objetivas das subjetivas. Ele analisa qualidade de vida a partir

de quatro eixos: 1) nível de vida, ligado às necessidades materiais, ou seja, às necessidades básicas;

2) qualidade de vida, vinculada às condições de vida não materiais, aquelas relacionadas ao

indivíduo propriamente dito; 3) satisfação, refere-se à percepção subjetiva das condições de vida e

4) felicidade, conseqüente à percepção subjetiva da qualidade de vida (feliz ou infeliz).

A segunda contribuição, em consonância com Gough (1982), refere-se a qualidade de

vida considerando a diferença entre as necessidades e desejos. Para este autor, as necessidades estão

mais ligadas à esfera coletiva, enquanto que os desejos, as aspirações, estão relacionados com a

esfera individual. Essa classificação tem uma importante implicação já que, sendo as necessidades

associadas a esfera do coletivo, teriam a sua resolução essencialmente na esfera do poder político.

Os desejos sendo do espaço individual, a sua determinação estariam acerca da esfera econômica,

através do mercado. Indagando-se os desejos individuais, percebe-se que nos dias de hoje eles

transpõem os poderes públicos e, logicamente, a esfera do poder do Estado.

A última contribuição, elaborada por Nuvolati (1998), apresenta um estudo

pormenorizado de qualidade de vida, ordenado em cinco grandes grupos, obtidos através do

cruzamento da dicotomia individual/coletiva com a dicotomia material/imaterial. O primeiro

grupo está relacionado com os aspectos materiais coletivos, através da disponibilidade de serviços e

bens, abrangendo a saúde, comércio, educação obrigatória e outros. O segundo grupo é

denominado por este autor de aspectos materiais individuais, aqueles que tratam da condição

pessoal e familiar dos indivíduos isoladamente, especificamente a questão de rendimento e da

riqueza de cada um, o emprego, a mobilidade populacional e outros. O terceiro grupo é

designado pelo autor como imateriais coletivos e diz respeito à cultura e desporto. No quarto grupo,

chamado de imateriais individuais, o autor reúne todos os temas ligados às relações privadas

interpessoais, como, por exemplo: as relações familiares e com amigos, a prática da cidadania e o

acesso à informação. O quinto grupo faz menção ao contexto geral, que está atrelado às

particularidades da paisagem e do clima e, também, às características do patrimônio histórico e

arquitetônico do espaço em que está inserido o objeto de análise.

O processo de construção do conceito de qualidade de vida teve uma ordem de

prioridade que obedeceu as necessidades humanas, iniciando pelas essenciais de sobrevivência e

depois as essenciais sociais. A ordem desse processo influenciou na seleção, organização e

importância das variáveis componentes do sistema de indicadores que trata da qualidade de vida

em ressacas. Buscou-se relevar, em primeiro lugar, as necessidades materiais coletivas e as

materiais individuais representadas, respectivamente, pelo abastecimento de água e o poder de

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compra de alimentos (renda per capita), e verificação da ocupação e emprego. Em segundo lugar

consideraram-se as necessidades imateriais individuais através da observação das famílias

envolvidas no associativismo. Posteriormente, levou-se em conta a satisfação em relação a

qualidade de vida vivenciada. E, por último, atentou-se para o contexto geral, ou seja, para a

qualidade do ambiente através da observação dos impactos ambientais causados e sofridos pelo

homem. Deste modo, vale a pena ressaltar que na definição do conjunto de indicadores

pertinentes, a primeira faz alusão às necessidades dos indivíduos e acessibilidade dos serviços

públicos, a segunda está intimamente interligada ao contexto social, político e cultural em que

vivem; a terceira refere-se à percepção e satisfação das condições de vida e a última faz uma

caracterização espacial do local de moradia.

A multiplicidade de componentes, que integram o conceito de qualidade de vida,

proporciona o surgimento de estudos que tratam de qualidade de vida com as mais diversas

agregações espaciais e aplicados ao mais variados temas e grupos populacionais. Desta maneira,

no que tange a assuntos espaciais, existem trabalhos científicos nos níveis urbano, regional,

nacional e internacional. No que diz respeito aos temas e grupos é possível encontrar estudos em

que a qualidade de vida é analisada em relação com a habitação ou emprego, e para grupos

específicos como, por exemplo, os doentes e a terceira idade. Neste contexto, tentou-se analisar a

qualidade de vida em unidades territoriais básicas (ressacas) definidas pelos seus moradores.

Existe outra linha de investigação sobre qualidade de vida relacionada à economia e,

em particular, à econometria3. Os pioneiros nesta direção foram Rosen (1979) e Roback (1982),

que desenvolveram uma série de estudos alicerçados na elaboração de índices de qualidade de

vida a partir da identificação de preços de mercado, implícitos para as diversas "amenidades4"

existentes em diferentes espaços territoriais.

A idéia fundamental dos modelos subjacentes a estes estudos é a de que, não tendo

as amenidades, por definição, o preço de mercado explícito, é possível valorá-las calculando um

preço implícito utilizando, por exemplo, o nível de salários e o nível de renda por domicílio.

Esses níveis de salários e rendas permitiriam apreender implicitamente as diversas amenidades

existentes localmente. O valor traduz-se em preço, com o qual edifica-se o índice de qualidade de

vida, que serve para fazer comparações, estabelecendo rankings entre cidades, regiões e países.

1.1

3 Econometria é a parte da economia voltada à descrição de relações econômicas por meio de modelos matemáticos e à estimação dos parâmetros desses modelos, com uso de dados estatísticos (FERREIRA, 1999).

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Neste âmbito, este trabalho tentou demonstrar as diferenciações dos moradores agrupados em

unidades territoriais de análise. Algumas de suas variáveis podem ser comparadas com outras

regiões.

Quase uma década depois da investigação de qualidade de vida ser relacionada à

economia, em 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, com o

intuito de que o “o desenvolvimento passasse a ser medido não mais simplesmente pelo

crescimento econômico, mas sim pela ponderação de fatores que ampliam as oportunidades de

escolhas das pessoas no seu cotidiano”, (PNUD, 1997), desenvolveu o Índice de

Desenvolvimento Humano – IDH, baseado no conceito de desenvolvimento humano. Apesar do

estudo não ter como objetivo direto a verificação de qualidade de vida da população, pode ser

admitido como um bom indicador deste assunto, visto que o conceito de desenvolvimento

humano é definido pelo PNUD (1997) como um “processo abrangente de expansão do exercício

do direito de escolhas individuais em diversas áreas: econômica, política, social ou cultural.

Algumas dessas escolhas são básicas para a vida humana. As opções por uma vida saudável, ou

por adquirir conhecimento, ou por um padrão de vida decente, são fundamentais para os seres

humanos”. O IDH consiste na agregação de três dimensões básicas: longevidade, educação e

renda, que correspondem respectivamente a desfrutar de uma vida duradoura e saudável, alcançar

conhecimento e ter acesso aos recursos necessários a um nível de vida digno.

1.3.2 Qualidade de vida urbana

Nas últimas décadas, tem aumentado o interesse científico pela temática da qualidade

de vida urbana, provavelmente devido ao processo intenso de crescimento mundial da população

urbana em detrimento da população rural. A concentração humana nas cidades ocorre através da

mobilidade populacional acelerada. Este processo acelerado gera uma gama de problemas e

disfuncionamentos internos que influenciam nos estados de vida dos citadinos. Desta maneira, se

faz necessário conhecer e avaliar essas condições de vida.

Ao mesmo tempo em que o espaço urbano desempenha o papel principal na

economia e política, afirmando-se como território mais favorável à produção de riqueza,

empregos e meios criativos e inovadores, ele se apresenta paralelamente como um conjunto

1.1

4 Amenidades (“amenities”) podem ser consideradas como bens públicos coletivos que todos podem usufruir sem nenhum custo de utilização como, por exemplo, parques públicos: Elas caracterizam os diversos aspectos atraentes (ou não) dos diferentes espaços geográficos. Elas influenciam as escolhas dos indivíduos em viver nestes mesmos espaços (ROBACK, 1982).

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35

significativo de aspectos danosos, associados à sociedade desenvolvida pós-industrial, tais como

degradação ambiental, exclusão social, insegurança e outros. Tais fatos justificam em parte o

grande interesse despertado pela problemática da qualidade de vida urbana na sociedade

moderna. Em conseqüência, vários trabalhos foram produzidos sobre esta temática, alguns

voltados para abordagens unilaterais como, por exemplo, sociológicas, econômicas,

arquitetônicas, planejamento e outros. Em consonância com Capra (1982), muitos trabalhos

realizados nas últimas décadas consideram o homem como um todo indivisível e que não pode

ser explicado pelos seus distintos componentes (físico, psicológico ou psíquico) separadamente

como mostrado em “Populações marginais em ecossistemas urbanos” e “Qualidade de vida rural

na Amazônia: o caso da Reserva Extrativista do Cajari/AP”, elaborados respectivamente por

Dias (1989) e Fernandes (1997). A investigação atual sobre qualidade de vida urbana tem como

desafio buscar novos modelos de abordagem com competência de subsidiar profundas mudanças

econômicas, sociais e tecnológicas.

De acordo com Cicerchia (1996), nos estudos urbanos brasileiros, é possível

identificar uma tendência orientada para o planejamento com preocupações antigas focalizando

uma única faceta, como por exemplo: as condições de salubridade nas cidades, zoneamento e

regulamentação dos espaços físicos, ampliação das redes de infra-estrutura e equipamentos que

foram rebaixadas a um grau de menor importância. Destarte, a atividade de planejamento suscita

novas abordagens que enfoquem a interdependência entre os diversos componentes do meio

urbano; estes podem ser condensados num índice de qualidade de vida.

Embora se admita a importância das análises sobre qualidade de vida como

ferramenta de decisão estratégica, técnica e política para o planejamento e gestão urbana, existem

obstáculos que ainda não foram totalmente transpostos, de caráter metodológico e operacional.

Assim, a complexidade do conceito de qualidade de vida e a influência de componentes

subjetivos na sua avaliação, já foram explicitadas anteriormente. Quando a análise de qualidade de

vida ocorre no espaço urbano, outras condicionantes são adicionadas, perturbando o conjunto de

transformações recentes na economia e na sociedade, obrigando a re-equacionar o quadro

analítico tradicional.

Comentou-se anteriormente que o índice de qualidade de vida é constituído de

indicadores ligados a um conjunto de domínios temáticos selecionados que representam a

realidade das condições de vida da população estudada. Esses indicadores são obtidos a partir de

dados estatísticos (quantitativo e mensuração objetiva) e/ou informações e experiências do

conhecimento coletivo ou individual (qualitativo e mensuração subjetiva). Considera-se que as

dimensões materiais e imateriais, chamadas de convencionais, influenciam nas condições de vida

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36

das pessoas e ainda são consideradas importantes na constituição do índice de qualidade de vida.

Contudo, considera a necessidade imediata de tratar novas dimensões urbanas que interferem nas

condições de vida.

Este trabalho também levou em conta a concepção de qualidade de vida definida por

Sposati (1996) que reconhece a importância da qualidade e democratização dos acessos às

condições de preservação do homem e da natureza. Desta maneira, também se entende qualidade

de vida como “a possibilidade da melhor redistribuição e usufruto da riqueza social e tecnológica

aos cidadãos de uma comunidade; a garantia de um ambiente de desenvolvimento ecológico e

participativo de respeito ao homem e à natureza, com o menor grau de degradação e

precariedade”.

Ao refletir sobre os problemas citadinos, principalmente aqueles concernentes ao

ordenamento territorial (invasões) e catástrofes (deslizamentos, alagamentos e outros), percebe-se

uma carência de estudos com competência de subsidiar o planejamento urbano. Este fato indica a

necessidade de novas abordagens metodológicas que tratem a inter-relação social e natural

conjuntamente aos seus impactos e riscos.

1.3.3 Avaliar a qualidade de vida urbana

♦ Dificuldades Paradigmáticas

Por conceito, tratar de qualidade de vida urbana em áreas úmidas é também uma

forma de diagnóstico, mas pode ser entendido também como uma descrição minuciosa de algum

fato e uma caracterização de parte de uma realidade. Porém, diagnosticar a realidade e

representá-la de forma que possa ser facilmente compreensível tem se constituído em uma

dificuldade da ciência. Em particular, transladar os fenômenos reais vivenciados pela

humanidade para a esfera teórico-matemática, facilitando a compreensão dos fenômenos sócio-

ambientais, tem sido desafiador para os estudiosos. Alguns cientistas debatem entre si a respeito

da própria validade desse procedimento.

Para Morin (2000), por exemplo, é impossível quantificar o sujeito humano, as suas

percepções e a sua visão de mundo. O que se pode fazer é uma aproximação probabilística

(estatística) da realidade, pois o qualitativo não pode ser quantificado com precisão. Desta forma,

a alternativa é a representação do universo em base amostral; os seus elementos qualitativos

devem ser o condutor dinamizador de reflexão e de interpretação dos dados amostrais.

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37

Segundo Demo (2002), a realidade social tem dimensões qualitativas. O lado

qualitativo do real pode ser palpável, visível e manipulável. Por este motivo, tem-se a opinião

comum de que o mais importante na vida é a base material. Para ele, a quantidade não é uma

dimensão inferior ou menos nobre da realidade, mas simplesmente uma faceta dela. Para o

referido autor, a ciência prefere o tratamento quantitativo porque ele é mais apto aos

aperfeiçoamentos formais, em que a quantidade pode ser testada, verificada, experimentada e

mensurada. Porém, há os riscos de se se incorrer em exageros, reconhecendo-se como real

somente o que é mensurável, conduzindo ao empirismo.

As idéias de Morin e Demo são convergentes no que diz respeito à participação, ao

direito e ao exercício da cidadania. Por isso, na qualidade de vida não deve ser ressaltado o maior,

mas o melhor, ou seja, não somente a quantidade, mas essencialmente a qualidade. Na verdade, o

desafio científico é chegar ao máximo possível perto da realidade considerando o valor numérico

(quantitativo) e o valor perceptível (qualitativo).

As propostas de novas técnicas, processos e indicadores que representem a realidade

em estudos diagnósticos têm sido constantemente discutidas no estado da arte, que tenta

aprimorar e inovar métodos de avaliação, reconhecendo o processo de mudanças paradigmáticas

científicas atuais baseada no holismo, ou seja, fundamentada na teoria segundo a qual o homem é

um todo indivisível, e que não pode ser explicado pelos seus distintos componentes (físico,

psicológico ou psíquico), considerados separadamente.

O paradigma científico é definido por Kuhn (1996) como “uma constelação de

realizações – concepções, valores, técnicas etc. – compartilhada e utilizada por uma comunidade

científica para definir problemas e soluções legítimos”. Para Capra (1996), as mudanças dos

paradigmas teorizadas por Kuhn ocorrem sob a forma de rupturas descontínuas e revolucionárias

e não somente no espaço da ciência mas, com mais força, na área social.

De acordo com a explanação de Duarte (2001), as concepções e as crises do

paradigma científico, teorizadas por Kuhn, permitem pensar na possibilidade de transição e

mudança paradigmática, bem como discutir a crise e a revolução da modernidade. Porém, o

maior problema é a apreensão da dinâmica da realidade, pois a ciência trata disciplinarmente os

problemas de um modo global, enquanto que os novos paradigmas reportam-se ao retorno das

especificidades diferenciais das partes, não tomando o todo como as leis gerais. Daí as

necessidades já discutidas anteriormente sobre novas abordagens metodológicas que permitam a

inserção de novos sistemas de indicadores em áreas urbanas que considerem a interdependência

dos meios natural e humano.

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38

Para Capra (1996), o novo paradigma da ecologia profunda pode ser compreendido

através da visão holística do mundo, que concebe “o todo integrado, e não como um conjunto de

partes dissociadas”. Pode também ser entendido pela visão ecológica profunda, que está

alicerçada em valores ecocêntricos, e reconhece a interdependência fundamental de todos os

fenômenos e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedade, o ser humano está inserido nos

processos cíclicos da natureza e, desta maneira, é dependente deles.

♦ Dificuldades Operacionais

A seleção de indicadores capazes de representar a qualidade de vida em áreas úmidas,

de refletir a condição e a eqüidade, de abranger as esferas social, econômica e ambiental,

considerando o conceito de sustentabilidade, exigiu uma vasta pesquisa bibliográfica devido a

escassez de metodologias, pois essa temática passou a considerar recentemente a interação entre

o social e o ambiental. Além disto, o ideal é que o índice de qualidade de vida seja composto por

indicadores dotados de respaldo científico e com parâmetros de analogia para o restante da região

estudada e o Estado do Amapá.

A agregação dos indicadores constituiu um índice sintético, que permite a ordenação

e comparação entre comunidades, ou entre diferentes momentos da vida de uma mesma

comunidade. Entretanto, construir um índice sintético implica enfrentar os problemas de seleção

e ponderação de indicadores que, se não for bem calcado na observação da realidade, pode

distorcer detalhes importantes a serem relevados. Os indicadores selecionados devem ser

coerentes, operacionais, representativos quanto à temática e região estudadas e capazes de

produzir resultados de fácil compreensão. O sistema de ponderação deve observar os conceitos

científicos e a realidade local e regional para ordenar pela importância dos indicadores, levando

em conta os propósitos do índice sintético. Por isso, os indicadores selecionados foram

adequados à regionalidade amazônica, considerando as questões quantitativas e qualitativas.

Agrava-se a situação de diagnosticar um espaço territorial quando se consideram,

em um mesmo contexto, o processo de urbanização e a relação do tripé geográfico:

homem/sociedade/natureza. Deste modo, não se pode pensar nem planejar isoladamente a

problemática social sem levar em conta os comprometimentos ambientais que possam suceder

e/ou que já estejam ocorrendo. Há uma relação recíproca entre o meio natural e o equilíbrio

econômico-social da população. A degradação de um está necessariamente articulada à

degradação do outro. Tendo em vista o exposto, o diagnóstico sócio-ambiental deve enfocar

também a interação sócio-ambiental e os seus rebatimentos.

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39

Após discutir a quantificação e a qualificação da realidade, atentando para a interação

entre os meios humano e natural, outra categoria que merece atenção diz respeito ao caráter

conceitual de urbanização5. A diversificação de abordagens sobre a temática urbana, enquanto

espaço urbano, é mais notadamente do âmbito da geografia. Fundamentado na geografia crítica6

e em consonância com Moraes (1994), Santos (1997) e Correia (1989), define-se o espaço urbano

como um uso do solo ligado ao processo histórico-produtivo da sociedade capitalista, constituído

por um conjunto complexo de usos da terra, símbolos e campos de lutas. Como categoria

existente, apresenta particularidades: é simultaneamente fragmentado e articulado, cada uma de

suas partes mantém relações com as demais e ao mesmo tempo tem a sua própria característica.

É um reflexo e um condicionante social, reproduzindo a complexa estrutura social em classes; é

mutável por resultar da dinâmica social, e simboliza a sociedade em uma de suas dimensões, a

mais aparente, materializada nas formas espaciais. No meio urbano, as dinâmicas sociais,

econômicas e ambientais ocorrem de forma mais acelerada e têm peculiaridades vinculadas às

características humanas enquanto que no meio rural7 essas dinâmicas acontecem com mais

lentidão, são menos complexas e com especificidades ligadas principalmente ao meio natural. Na

Amazônia, além da concentração populacional urbana e seus conseqüentes problemas

(degradação ambiental, violência, pobreza e outros), a disparidade da oferta de serviços sociais

públicos (saúde, educação, energia e outros) entre as “cidades” e os interiores (assentamentos

humanos rurais) é facilmente perceptível, pois a diferença é maior que em outras regiões mais

desenvolvidas do país. Assim, dada a dessemelhança entre os espaços urbano e rural, é impossível

analisá-los a partir de uma única dimensão.

A concepção de cidade, segundo Carlos (1992), está vinculada à existência de uma ou

mais funções urbanas, e por ser fruto da realização humana, criada através de um processo

histórico-espacial, sendo fundamental à compreensão da dimensão histórica.

A delimitação oficial do Brasil para áreas urbana e rural, segundo Rocha (2002) é

atribuição individual dos municípios, que não considera essencialmente os critérios técnicos

(tamanho, densidade demográfica e disponibilidade de infra-estrutura urbana). Assim, em grande

parte das ditas áreas urbanas brasileiras, predominam as características rurais como, por exemplo,

1.1

5 A urbanização é o processo capitalista que transforma o espaço social em cidades através de equipamentos sociais e atividades produtivas com predominância dos serviços e indústrias. (FERREIRA, 1999). 6 “A geografia crítica pensa ao seu saber, como uma arma de processo político de conhecimento científico, propondo uma geografia militante, que lute por uma sociedade mais justa. São os que pensam a análise geográfica como um instrumento de libertação do homem. Esta proposta pensa a análise geográfica como um instrumento de libertação do homem". (MORAES, 1994). 7 O meio rural é ligado as atividades do campo, ou seja, lugar onde predominam as atividades agropecuárias.

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40

algumas “cidades” amazônidas e o Estado do Amapá. Apesar da observação de que o preceito

oficial brasileiro de área urbana merece ser rediscutido, para efeito deste trabalho, julgou-se

necessário acatar esse conceito, já que os dados oficiais obedeceram a esse critério.

Definido o perfil do indicador ideal e a distinção de áreas urbanas e rurais para fins

deste estudo, buscou-se atentar para experiências voltadas diretamente ou indiretamente para a

qualidade de vida. Assim sendo, nos parágrafos seguintes, estas experiências serão discutidas com

as suas respectivas fundamentações e seus sistemas de indicadores.

A elaboração de um Índice Sintético de Qualidade de Vida, segundo Guerreiro

(1983), está subordinada à população estudada. Considerando essa conjectura, o autor acima

mencionado, criou um método simplificado, fundamentado na teoria da percepção das

necessidades humanas, pretendendo examinar, simultaneamente, as diferenças ou as relações

entre os indicadores de qualidade de vida.

O IDH, elaborado pelo PNUD (1997), manifesta a qualidade de vida através das

variáveis que revelam suas dimensões básicas definidas pelos seguintes indicadores: Indicador do

Nível de Longevidade traduzido pela esperança de vida ao nascer; Indicador Educacional

composto pela taxa de alfabetização de adultos, combinada com a taxa de matrícula nos ensinos

fundamental, médio e superior; e o Indicador de Acesso a Recursos, medido pela renda per

capita. No decorrer do tempo, os componentes dos indicadores que definem o IDH têm sido

corrigidos, melhorados e ajustados, na busca de aperfeiçoamento, visando ajudar a sociedade civil

na avaliação dos resultados das políticas adotadas pelos governantes, bem como os próprios

esforços feitos pela sociedade (PNUD 1997). Neste contexto, para efeito deste trabalho, julgou-

se o IDH como um instrumento capaz de contribuir com as políticas públicas nacionais, pois

muito embora seu sistema de indicadores esteja bem estruturado, sua base de dados é secundária,

possibilitando os riscos de representar em escala de maior detalhe urbano um quadro enviesado

da realidade .

Além do PNUD, salienta-se que outras instituições como o IBGE, Instituto de

Pesquisas Econômicas Aplicadas -PEA, Fundação Getúlio Vargas e Fundação João Pinheiro, que

computam os IDH nacionais, regionais, estaduais e municipais têm desenvolvido estudos e

proposições de indicadores que subsidiaram material para a seleção e obtenção de indicadores, os

quais serão discutidos no capítulo de resultados.

1.1

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41

Outros índices de mensuração da qualidade de vida humana foram elaborados a

partir da fundamentação dos princípios básicos do IDH como o Índice de Desenvolvimento

Social – IDS, desenvolvido por Rodrigues (1991), e o Índice de Desenvolvimento Econômico e

Social – IDES, empregado por Oliveira (1991). Esses índices foram utilizados para tratar

especificidades locais e temáticas, e têm no seu escopo, indicadores passíveis de serem

cartografados.

De acordo com Schartzman (1974), os resultados alcançados no sentido de avaliar e

demonstrar a qualidade de vida de um grupo de pessoas resumem-se em determinar a medida das

variáveis negativas que traduzem carências sociais, tais como: ausência de serviços básicos,

desnutrição, deficiência da rede de saúde, inabitabilidade de moradias e outras. A maioria dos

sistemas de indicadores propostos, que tratam sobre o índice de qualidade de vida atual, exclui na

sua computação o nível de satisfação da comunidade, afastando assim sua participação no

processo de formação deste índice.

A exclusão da participação comunitária no IQV, para o autor, torna esse índice frágil

e ineficaz. Isso poderá levar à sua destruição, pois quando alguns padrões de determinados

indicadores atingem o ápice, não há mais como considerar seu crescimento, porque se chegou ao

patamar ideal de felicidade. Assim, Schartzman (1974), enfatiza a importância do nível de

satisfação da população estudada na composição deste índice.

Embora o IDH não considere diretamente as condições ambientais de

habitabilidade, já existem instituições e autores que vêm se preocupando com as condições

ambientais como parte da qualidade de vida, a exemplo da “Organización de Cooperación y Desarrollo

Económico-OCDE” que propôs um IQV composto também de indicadores ambientais (qualidade

de água, ar e solo). Ao tratar sobre qualidade de vida, Gallopín (1986) relaciona o ambiente social

dos indivíduos aos fatores externos que determinam a satisfação das necessidades humanas não-

materiais. Para ele, condicionantes ambientais podem influenciar na qualidade de vida das

pessoas, principalmente no que diz respeito ao fator saúde. O autor acaba revelando o conceito

de qualidade ambiental, diante do reconhecimento de que ela se liga às situações do ambiente que

colaboram para uma boa qualidade de vida. Desta forma, é necessário inserir na análise a

qualidade ambiental do local de moradia das pessoas, vista através das condições de

habitabilidade.

De acordo com Borja e Morais (2003), as práticas brasileiras na construção de

sistema de indicadores ambientais são recentes. Entre muitos exemplos, destacam-se Comune et

al. (1982) que propuseram um conjunto de indicadores de qualidade de vida urbana o que inclui

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aspectos sociais, econômicos e ambientais, empregando uma técnica de ponderação de análise

multivariada.

Além de observar o contexto ambiental em que se localiza a população e o acesso

aos bens e serviços, para Barbosa (1995), a compreensão da qualidade de vida de uma população

inclui também, a articulação política, a partir da qual ela poderá exercitar mais efetivamente a

cidadania. A preocupação com a cidadania incentivou os estudiosos a observar mais de perto a

participação em organizações sociais e eleições.

Ainda, nos dias de hoje, percebe-se a influência dos princípios de qualidade de vida

de Gallopín (1986), Barbosa (1995) e do IDH. Isso pode ser visto no estudo realizado em 2002

pela prefeitura de Belo Horizonte, o que avaliou os tipos e a acessibilidade aos serviços urbanos.

O acesso aos serviços básicos públicos e a distância entre a residência e as instalações

públicas que oferecem serviços como a educação, que tem importância em qualquer avaliação de

qualidade de vida. Tanto é assim que, os indicadores comuns europeus e americanos (Seatlle)

consideram a referida distância como indicador da disponibilidade dos serviços a partir destas

distâncias, entre as moradias e podem ser contemplados na construção de um conjunto de

indicadores de sustentabilidade sócio-ambiental através da linha de análise da teoria de sistemas,

que proporciona uma visão holística e integradora de relações, possibilitando a reflexão acerca do

problema em bases interdisciplinares.

Tratar a questão ambiental dentro de um complexo sistema de indicadores sócio-

ambientais ainda é uma tendência nova na ciência. Porém, não existe ainda um sistema de

indicadores completamente materializado e várias experiências vêm ocorrendo atualmente.

Segundo Comune et al. (1982) e Forge (1994), as tentativas de acrescentar a variável ambiental ao

escopo dos indicadores sociais ocorrem desde o início da década de 1960, ampliando-se nos anos

de 1970. Atualmente, este acréscimo é explicado devido ao aumento dos problemas ambientais

globais e suas conseqüências na qualidade de vida humana.

Em conformidade com Forge (1994), a seleção de indicadores está obrigada a

atender alguns critérios e os indicadores devem ser: capazes de responder às necessidades de

tomadas de decisão; quantificáveis e compreensíveis, com boa relação entre os custos e os

benefícios de obter os dados relevantes; válidos cientificamente; coerentes no tempo e no espaço;

capazes de serem integrados em um sistema; sintéticos sem perder a representatividade;

reproduzível e comunicáveis.

No final da década de 1980, de acordo com Braga e Freitas (2002), surgem

proposições de elaboração de indicadores ambientais e de sustentabilidade. Eles fundamentam-se

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em demonstrar a interação entre as atividades de uso e ocupação antrópicos e o meio ambiente e

em materializar, com maior desempenho, o conceito de sustentabilidade. A qualidade ambiental

de um ecossistema expressa as condições e os requisitos básicos que ele detém, de natureza física,

química, biológica, social, econômica, tecnológica e política, de modo que esses fatores

ambientais possam exercer as suas funções nas relações ambientais. Em suma, pode-se dizer que

qualidade ambiental é o resultado da dinâmica de adaptação e dos mecanismos de auto-superação

do ecossistema (resiliência). Para aferir a qualidade ambiental de um ecossistema, é necessário

considerar variáveis específicas de cada fator ambiental, observando as suas variações e a sua

funcionalidade no decorrer de uma série histórica.

Através da observação sobre a literatura8 que discorre sobre a questão ambiental no

meio urbano, nota-se que existe um vasto universo de indicadores ambientais desenvolvidos para

avaliar a degradação ambiental e, mais recentemente, tem surgido alguns indicadores com

capacidade de mostrar o progresso do desenvolvimento sustentável. As tentativas de construção

de indicadores ambientais e de sustentabilidade, de acordo com Braga e Freitas (2002), seguem

três vertentes principais: a primeira é biocêntrica, baseada na busca de indicadores biológicos,

físico-químicos ou energéticos, de equilíbrio ecológico de ecossistemas; a segunda é econômica,

que consiste em avaliações monetárias do capital natural e do uso de recursos naturais; e a última

busca elaborar índices sínteses de sustentabilidade e qualidade ambiental capazes de combinar

aspectos do ecossistema natural com aspectos do sistema econômico e da qualidade de vida,

sendo que, em alguns casos, também são levados em conta aspectos dos sistemas políticos,

culturais e institucionais. As condições essenciais para a perpetuação do ser humano no planeta

Terra dependem do meio natural; neste contexto entende-se que a análise sobre a qualidade de

vida deve considerar também o ambiente natural. Deste modo, embora os indicadores específicos

de cada vertente analisem aspectos diversificados e específicos, eles podem ser inseridos em um

sistema de indicadores que aponte a qualidade de vida.

Os indicadores ambientais começaram a ser usados, segundo Bastos e Almeida

(2000) desde as décadas de 1970 e 1980, através da disseminação de relatórios sobre o estado do

ambiente preparado por organizações governamentais e não-governamentais. Posteriormente,

eles foram classificados por Herculano (1988); Isla (1998); Esi (2002) apud Braga e Freitas (2002)

em três: estado, pressão e resposta. À medida que os indicadores de estado expõem a condição

atual física e/ou biológica, dos sistemas naturais, os indicadores de pressão buscam mensurar as

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pressões das atividades antrópicas sobre os sistemas naturais, enquanto os indicadores de

resposta procuram avaliar as políticas destinadas a minimizar os impactos antrópicos.

A revisão literária feita por Franca (2001) sobre indicadores ambientais urbanos,

publicada pelo PNUMA/MMA, demonstra a evolução dos indicadores ambientais considerando

a importância da ação humana no ambiente natural. Este autor analisou os indicadores propostos

pelas principais organizações mundiais9 e os classificou nas categorias de ação modificadora no

ambiente (forças motrizes de mudança ambiental como, por exemplo, produção industrial)

estado do ambiente (por exemplo, a qualidade da água em rios e lagos), pressão no ambiente (por

exemplo descargas de água usada), resposta da sociedade (por exemplo, proteção da bacia

hidrográfica) resposta e impactos em população, economia, ecossistemas (por exemplo água

inadequada para beber). Para este autor, os processos de urbanização não planejada geram os

fluxos urbanos de água (esgoto), de energia (emissões atmosféricas), de materiais e produtos (e

geração conseqüente de desperdícios industriais e efluentes), originando pressões diretas nos

estados e qualidade do ambiente urbano, comprometendo os ecossistemas. Por esse motivo foi

acrescentado, no conjunto de indicadores sustentáveis, a temática urbana. De acordo com

Franca (2001), a Comissão das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável e o IBGE

desenvolveram um conjunto de indicadores sustentáveis fundamentados nas dimensões social,

econômica e ambiental. Considerando estas dimensões e os dados censitários de 2000, o IBGE

(2000c) elaborou um documento chamado de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável. Os

dados e os arranjos metodológicos desenvolvidos pelos autores acima citados foram levados em

conta na elaboração deste trabalho.

Através do relatório Balaton Group, Bossel (1999) discutiu a importância dos

indicadores para analisar os avanços do desenvolvimento sustentável, salientando os aspectos

econômicos e a necessidade de um sistema de informação. Para este autor, os indicadores devem

refletir a inter-relação entre o indivíduo, a sociedade e a natureza. Na opinião do autor, essa inter-

relação é “limitada pelas imposições contrastantes das condições físicas e leis da natureza

(ambiente físico, fluxo de energia solar e capacidade de suporte); da natureza humana e intenções

do homem (atores sociais, organizações sociais, sistemas políticos-culturais e tecnologia

disponível) e do tempo (dinâmica e evolução social)”. Neste pensamento, Cunha e Guerra (2000)

1.1

8 Pode observar a evolução dos indicadores ambientais, por exemplo, através dos seguintes autores: BRANCO (1989), ACSERALD (1999), GUIMARÃES (2001), MOTA (1995), CUNHA E GUERRA (2000) e TAUK (1995). 9 Como, por exemplo: a UNCSD (Comissão das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável) e ICLEI (Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais).

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propuseram um conjunto de indicadores que avalia o grau de pressão de atividades humanas

sobre o ambiente em que vive.

A escassez de metodologia e conceitos consagrados de sustentabilidade local tem

levado a uma busca e proposta de indicadores que representem este conceito. Neste contexto,

por seus conceitos e indicadores terem inspirado o procedimento de avaliação de impactos deste

trabalho, salienta-se a proposta elaborada por Braga e Freitas (2003) sobre o Índice de

Sustentabilidade Local - IDL, composto por quatro índices temáticos: qualidade de vida,

qualidade do sistema ambiental, redução da pressão antrópica e capacidade político-institucional.

Para determinar este índice, os referidos autores consideraram uma localidade local como

sustentável quando ela é “capaz de evitar a degradação e manter a saúde de seu sistema

ambiental, reduzir a desigualdade social, prover seus habitantes de um ambiente construído e

saudável, bem como construir pactos políticos e ações de cidadania que o permitam enfrentar

desafios presentes e futuros”.

Alguns órgãos oficiais estão realizando estudos com novos indicadores. No Brasil,

como já foi dito anteriormente, o IBGE (2002c) colocou à disposição da sociedade uma edição

de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, com resultados informativos sobre a

realidade do país, integrando as dimensões social, ambiental, econômica e institucional. A

Presidência da República através da rede virtual coloca a disposição o Sistema Nacional de

Indicadores Urbanos contendo dados oficiais tradicionais sobre a temática urbana. Após

comparar os indicadores disponibilizados pelas duas instituições, notou-se que a proposta do

IBGE é mais coerente como os preceitos de sustentabilidade e permitem uma maior integração

com outros indicadores específicos de outros temas. Desta maneira, na etapa de seleção de

indicadores para este estudo relevou-se a proposta do IBGE.

Contudo, apesar dos esforços atuais das instituições brasileiras, ainda é primordial

estudar a temática urbana a fim de alcançar conteúdos ocultos, descobrindo novos métodos,

identificando seus limites, tentando compreender as particularidades entre sociedade e natureza.

Observado que o meio urbano é resultado da história de ocupação e as divergências do processo

de urbanização decorrem das particularidades e das especificidades dos lugares onde cada cidade

defende e define o ambiente vivido. Construir novos indicadores é também um dos desafios do

desenvolvimento sustentável, pois eles são instrumentos essenciais para guiar a ação e subsidiar o

acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado para minimizar a pobreza, a degradação

ambiental, incentivar o exercício da cidadania no regaste da legitimidade das políticas urbanas

através de pactos político-sociais e na capacidade de ofertar serviços urbanos às demandas

qualitativas e quantitativas da população. Desta forma, dimensionar os resultados do

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desenvolvimento sustentável requer novos indicadores, os quais são ferramentas constituídas por

uma ou mais variáveis que, associadas através de diversas formas, revelam significados mais

amplos sobre os fenômenos a que se referem.

No presente estudo, propõe-se analisar a qualidade de vida da população residente

nas ressacas urbanas de Macapá e Santana. A qualidade de vida será investigada através da

combinação de indicadores, em sua maioria sustentáveis, que apontem para as formas

diversificadas de vivência e experiências humanas. A concepção de qualidade de vida, adotada

neste trabalho, considerou as definições citadas anteriormente, relevando a inter-relação entre as

dimensões sociais, econômicas e ambientais. Desta forma, qualidade de vida em áreas úmidas

urbanas amazônidas é o acesso participativo a alimentação adequada, bens e serviços, tecnologias

e o conforto ambiental de moradia e participação nas tomadas de decisões locais causando o

mínimo de degradação ambiental e social.

O meio urbano, enquanto território, é um espaço construído socialmente e apresenta

as relações homem com a natureza e do homem consigo mesmo. Essas relações ocorrem e

modificam-se de acordo com o tempo, contribuindo na reconstrução do meio urbano

constituindo um processo dialético de construção e reconstrução. Os fatores que mais exercem

influência no processo dinâmico de construção do território são marcados pela contextualização

histórico-espacial, resultante das características naturais do território alteradas através do uso e

ocupação do solo pelo homem, as quais serão discutidas no segundo capítulo.

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2. AS TREZE UNIDADES

Para compreender as modificações no meio natural e os motivos que levaram as

pessoas a construírem suas casas nas áreas de ressacas, é preciso observar os aspectos físicos,

políticos e históricos da ocupação da área de estudo, bem como parte da história do Estado do

Amapá e seus municípios.

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL DA ÁREA DE ESTUDO

Ao longo do tempo, a ocupação e o uso do solo estão vinculados à necessidade de

sobrevivência do ser humano. Deste modo, Carlos (1992), a partir do dialético homem-natureza e

do processo de trabalho social, concebe o espaço geográfico como conseqüência do

desenvolvimento histórico. O processo de renovação do espaço geográfico é estabelecido pela

reprodução das relações sociais, fundamentada na divisão técnica e social do trabalho, nos planos

nacional e internacional, no âmbito da formação econômica e social. É na combinação das

definições histórico-espaciais e nas condições gerais do sistema natural que a configuração

espacial é determinada.

A configuração histórico-geográfica do Brasil demonstra que sua ocupação territorial

ocorreu inicialmente pelo litoral, desde o primeiro contato feito pelas expedições ultramarinas das

potências européias, em 1500. Atualmente, de acordo com os dados do censo 2000, a maior parte

das suas capitais está localizada nesta área, correspondendo em termos demográficos, a 23,93%10

da população brasileira (IBGE 2002c).

Similar à forma de ocupação territorial do Brasil, a Amazônia também teve o seu

processo de ocupação iniciado pelas vias aquáticas. Baseado em Júnior (1994), afirma-se que o

processo de ocupação das terras da Amazônia se deu por questões de ordem econômica e

política, diante da necessidade de assegurar ao país a posse definitiva das terras e,

fundamentalmente, a partir do interesse em explorar os seus recursos naturais, visando a extração

de produtos da floresta tropical para a demanda européia (borracha). A ocupação, iniciada no

século XVII na Amazônia, de acordo com Becker (1991), foi marcada por ações militares para a

1.1

10 De acordo com o documento de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável produzido pelo IBGE (2002c): “a variável usada neste indicador é a população residente na faixa do continente formada pelos municípios que sofrem influência direta dos fenômenos ocorrentes na Zona Costeira, e a população residente total. Os municípios integrantes da zona costeira são definidos em lei pelo Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro”.

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defesa das terras contra invasões francesas, inglesas e holandesas. A sua história de ocupação

social e econômica passou por quatro fases distintas que influenciaram o quadro atual de

distribuição e estabelecimento da população na região, a saber: 1) a exploração das “drogas do

sertão”; 2) o desenvolvimento do extrativismo vegetal, principalmente da borracha e castanha-do-

brasil; 3) a penetração das frentes agropecuárias e minerais e; 4) a expansão da fronteira agrícola

marcada pela política econômica estabelecida nos diversos planos governamentais de

desenvolvimento. Para a autora, a urbanização da região amazônica manifesta-se em duas

dimensões: a do espaço social, referente ao modo de integração econômica, e ao espaço

territorial, correspondente ao crescimento, à multiplicação e ao arranjo dos núcleos urbanos.

Segundo Becker (2001), dentre os planejamentos que deram suporte ao projeto de

ocupação da região amazônica, destacaram-se: a criação da Zona Franca de Manaus, e a

modernização de instituições, como a transformação do Banco da Borracha em Banco de

Desenvolvimento da Amazônia BASA e a Superintendência do Plano de Valorização Econômica

da Amazônia - SPVEA em Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia -SUDAM. A

criação da – SPVEA teve como objetivo elaborar planejamentos qüinqüenais para a valorização

econômica da Amazônia que, segundo Becker (1991), deu início à política nacional de povoar a

região. Como resultado dessa estratégia de povoamento, os fluxos migratórios na Amazônia são

direcionados de acordo com a implantação de estradas, rede elétrica e de incentivo a atividades

econômicas na região.

Na opinião da referida autora, visando completar a apropriação física e o controle do

território, o projeto geopolítico de ocupação se apoiou, especialmente, em estratégias territoriais

que implementaram a ocupação regional, num caso exemplar do que Henri Lefebvre definiu

como “a produção do espaço” pelo Estado. A produção do espaço, para Lefebvre (1978), ocorre

depois da construção do território, quando o “Estado passa a produzir um espaço político,

possibilitando o controle social, constituído por normas, leis e hierarquias. Para tanto, impõe

sobre o território uma malha de controle técnico e político, formada por conexões e redes,

capazes de controlar fluxos e estoques, tendo as cidades como base logística para a ação”.

A região em que se situa o Amapá, denominada de Cabo Norte, consoante Picanço

(1981), foi doada ao português Bento Manuel Parente em 1637. Neste mesmo século, iniciaram-

se as invasões de outros países europeus. No século XVIII, de acordo com Alicino (1971), os

franceses reclamam a posse de parte dessa área, devido principalmente às riquezas auríferas

locais, originando disputas fronteiriças, amenizadas através do Tratado de Utrech, em 1713.

Porém, as incursões francesas continuaram e, para garantir as suas possessões territoriais, o

governo português decidiu iniciar a construção de fortificações militares em pontos estratégicos

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na bacia amazônica. Determinou, em 1738, a ocupação estratégica da área por um destacamento

militar, na qual posteriormente foi edificada a fortaleza de São José de Macapá, no período de

1764 a 1782. Em 1751, chegaram os primeiros colonos açorianos, aumentando a população do

pequeno povoado, que mais tarde, em 1758, foi transformado em Vila de São José de Macapá.

Desta maneira, a história de ocupação do espaço amapaense é similar à história da Amazônia,

estando intimamente vinculada a expedições militares, explorações das riquezas naturais e

evangelização, tendo as suas terras disputadas pelas principais potências do velho mundo.

Os processos históricos de evangelização e as expedições militares no Amapá podem

ser divididos em períodos de predominância francesa e portuguesa. Na época de influência

portuguesa, foram construídas diversas vilas a fim de salvaguardar o seu domínio territorial e

facilitar o transporte aquático. Segundo Bubani (1979), nesta fase foram edificadas as Vilas de

Santana do Cajari (1654), Vistosa de Madre de Deus do Anauerapucu (1754), do Mazagão no rio

Mutuacá (1771) e São José (1751). De acordo com informações do autor , em 1754, Francisco

Xavier de Mendonça Furtado, governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão, visitou a

povoação de São José de Macapá e, durante sua estadia, percebeu que a população local sofria de

doenças causadas por carência de boas condições sanitárias e que as canoas eram danificadas

constantemente por ficarem a mercê da maré. Com o intuito de minimizar esses problemas, ele

mandou abrir uma vala alargando um pequeno igarapé para abrigar canoas e servir de

escoadouro, saneando a vila. Assim, sem considerar os efeitos, tem-se o primeiro registro de

alterações nos cursos de água nas proximidades da cidade de Macapá, com o objetivo de

saneamento e proteção aos meios de transporte.

Os interesses no território amapaense, durante o período imperial do Brasil (1822 a

1889), eram ligados às estratégias comerciais e de navegação na bacia do rio Amazonas. Nesta

fase, Macapá tem o seu povoamento intensificado pelos portugueses, objetivando proteger a

entrada do rio Amazonas. Segundo Meira (1975), a descoberta de jazidas auríferas nas terras

amapaenses, em 1882, aumentou as disputas territoriais e as migrações populacionais. Tais

disputas perduraram até 1901 quando, consoante Alicino (1971), foi redigido o Laudo Suíço,

delineando a configuração do extremo norte territorial do Brasil e incorporando a área do

contestado entre os rios Oiapoque e Araguari. Santos (1994) faz referência à descoberta de

manganês no território amapaense décadas depois, em 1941, o que desperta o interesse do

governo federal. Isso levou ao desmembramento do Amapá do Pará e à criação do Território

Federal do Amapá, em 1943. Novamente, as riquezas minerais provocaram mudanças

geopolíticas no espaço amapaense.

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Ao longo da história do Amapá, percebe-se que as suas transformações políticas e

econômicas tornaram-no pólo de atração para migrações populacionais. Para melhor

compreensão dessa dinâmica populacional, dividiu-se a recente história amapaense em três

períodos correlacionados com importantes eventos históricos locais. O primeiro período, que

corresponde às décadas de 1940 e 1950, iniciou com a criação do Território Federal do Amapá,

pelo Decreto-lei no 5.812, de 13 de setembro de 1943. Nesta fase, a prioridade foi ocupar o

território, incentivando a migração de agricultores nordestinos, através de doação de utensílios,

terras e transporte. Outro evento importante nesta época foi a construção da infra-estrutura

(porto de Santana, ferrovia e área de mineração) da empresa Indústria, Comércio de Minérios

S. A. – ICOMI, em 1954 que, segundo Drummond (2001), proporcionou a primeira grande

oferta de emprego amapaense, sendo um atrativo a mais para os migrantes nortistas e nordestinos

devido à expectativa de obtenção de emprego formal. Para o autor, este fato, foi um marco nas

relações trabalhistas regionais, que ainda registrava resquícios da relação de aviamento.

Entre os Censos de 1950 e 1960 (IBGE), conforme dados censitários do IBGE

apresentados na Tabela 1, a taxa média de crescimento anual foi de 6,14% para o Território

Federal do Amapá e de 8,40% para a cidade de Macapá. Essa expansão populacional deve-se

provavelmente às construções efetuadas pela ICOMI, de acordo com Drummond (2001) em

1954, como o porto de Santana, a ferrovia que liga o porto à mina e duas company towns: a Vila de

Serra do Navio, próximo à jazida de manganês e a Vila Amazonas. Neste momento, começaram a

ser ocupadas as áreas úmidas da capital e as várzeas próximas ao rio Amazonas em terras que

futuramente seriam incorporadas ao município de Santana.

Tabela 1 – Brasil, grandes regiões e unidades federais: taxa geométrica de crescimento anual da população

residente. 1950-2000.

Taxa média geométrica de crescimento anual da população residente Grandes Regiões e Unidades da Federação

1950/1960 (1) 1960/1970 1970/1980 1980/1991 1991/2000

Brasil 2,99 2,89 2,48 1,93 1,64 Norte 3,34 3,47 5,02 3,85 2,86 Estado do Amapá 6,14 5,37 4,36 4,67 5,77

Macapá 8,4 6,29 4,79 2,47 5,21 Fonte: Sistema de Indicadores Agregados – SIDRA ( IBGE – 2001)

Consoante à observação analítica dos dados mostrados na Tabela 2, nota-se que a

taxa de urbanização do Amapá e do município de Macapá entre 1940 e 2000 está em constante

crescimento. Isso deve ter sido influenciado pela criação de novos municípios, aliada à migração

da população rural do Estado e ribeirinha do Pará em busca de equipamentos sociais

principalmente educação e saúde e também pela atratividade de viver na capital.

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Tabela 2 – Amapá e Macapá, população residente por situação domiciliar no período de 1940 a 2000

Estado do Amapá Município de Macapá Data dos

Recenseamentos Gerais População

Total População

Urbana % (5)

Taxa Líquida de

Imigração(3)

População Total

População Urbana (4)

% (5)

1940 (1) 21.191 1.618 7,74 - 9.973 1.012 10,151950 (2) 37.477 13.900 37,09 80,22 20.594 10.068 48,89

1960 67.750 34.794 51,36 31,32 46.777 28.835 61,641970 114.359 62.451 54,61 32,79 86.097 54.740 63,581980 175.257 103.735 59,19 27,65 137.451 93.132 67,761991 289.397 234.131 80,90 25,65 179.777 154.063 85,701996 379459 330.590 87,12 ...... 220.962 ...... ...... 2000 477.032 423.581 88,80 ...... 283.308 270.628 95,52

Fonte: Dados censitários preliminares do IBGE.

Nota: (1) dados citados por Guerra (1954); (2) população presente; (3) residentes não-nativos/população total multiplicado por 1000 – IBGE (2000); (4) os dados da população suburbana de 1950 e 1960 foram somados aos da população urbana devido a falta da informação nos demais anos e (5) taxa de urbanização.

No segundo período, nas décadas de 1960 e 1970, além das migrações interestaduais

direcionadas para o Amapá, o aumento populacional foi incentivado pela instalação das fábricas

de celulose e caulim do Projeto Jari, em 1968, na área limítrofe sul entre o Amapá e o Pará, além

de outros empreendimentos ligados ao mesmo projeto (silvicultura, agricultura e pecuária).

Ocorreu ainda, em 1975, o início do funcionamento da usina hidrelétrica Coaracy Nunes,

atraindo investidores empresariais no eixo Macapá-Santana e ofertando novos empregos.

O processo de instalação do Projeto Jari demandou também mão-de-obra sem

qualificação específica, que migrou para a região, contratada por empreiteiras. Esses

trabalhadores habitavam alojamentos e parte de suas famílias veio morar em palafitas nas várzeas

amapaenses, em frente à company town de Monte Dourado, dando origem à “Vila de Beiradão”,

hoje cidade de Laranjal do Jari, a terceira mais populosa do Amapá. Ao término das construções

das instalações da empresa, grande parte dos trabalhadores migrantes foi demitida

progressivamente, aumentando os problemas sociais locais. Nesse período, as áreas úmidas do

Estado do Amapá eram ocupadas principalmente com atividades produtivas ligadas à pecuária.

O terceiro e último período de expansão urbana de Macapá, ainda em processo,

iniciou-se na década de 1980, com a institucionalização dos municípios de Ferreira Gomes,

Laranjal do Jari, Santana e Tartarugalzinho, em 1987 (Decreto-Lei no 17/12/1987) e a criação

do Estado do Amapá (1988), por decisão da Assembléia Nacional Constituinte. Outra vez, um

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novo contigente de pessoas, principalmente nortistas e nordestinos, é atraído para o interior do

Estado com o intuito de buscar trabalho e terras para produzir.

Pode-se dizer que as conseqüências causadas pela Constituição de 1988 no Amapá

foram: a criação de novos municípios transformando população rural em urbana, o aumento do

número de cargos públicos nos poderes legislativo e judiciário (com salários melhores que o

poder executivo) e a transferência de recursos financeiros federais para o Estado do Amapá.

Deste modo, houve um atrativo para que a movimentação populacional do “nordestino pobre”

fosse direcionada para novas áreas rurais e dos “intelectuais” de outros Estados em busca de

oportunidades de aumento de renda.

Nesta fase, efetivou-se ainda a criação da Área de Livre Comércio de Macapá e

Santana, pelo Decreto Federal no 8.387, de 30/12/91, além da emancipação dos municípios de

Cutias, Itaubal do Piririm, Pedra Branca do Amapari, Porto Grande, Pracuuba e Serra do Navio,

em 1992. Neste momento, ocorreu também a ocupação das áreas do interior, surgindo núcleos

populacionais agrícolas rurais, futuras sedes distritais consideradas posteriormente como urbanas.

Diante do caráter recente do Estado do Amapá e dos problemas sociais e

econômicos gerados principalmente pela pressão ampliada do crescimento populacional sobre os

equipamentos sociais públicos, surge a necessidade de um planejamento local. Assim, desponta,

em 1995, uma proposta governamental intitulada de “Plano de Desenvolvimento Sustentável -

PDSA”, que trouxe para o espaço amapaense a preocupação com a temática ambiental. No

âmbito urbano, apesar do PDSA ter demonstrado preocupação com a “tendência de ocupação

desordenada do território que, aliada à ineficiência de saneamento básico, deu origem a um

quadro de favelização marcado por grandes carências e marginalização social”, este plano deixou

lacunas no planejamento de ordenamento territorial urbano, talvez devido à pouca regularização

fundiária existente naquele momento no Estado do Amapá (1995 a 1996), pois o Instituto de

Terras do Amapá estava em fase embrionária.

No espaço amapaense, os principais efeitos das reproduções da história de ocupação

e uso do território brasileiro são a distribuição espacial das cidades, questões fundiárias e a

destinação do uso territorial. A maioria das cidades do Amapá localiza-se em área costeira e está

ligadas por um eixo rodoviário de sentido norte-sul. Devido à condição de ex-território, poucos

ocupantes das áreas do Estado possuem título de domínio, porém algumas empresas ocupam

grandes extensões terrestres como por exemplo, a Empresa Jari Celulose S.A. -JARI (1,42%) e

Empresa Amapá Florestal Celulose S.A - AMCEL . A conservação e preservação ambiental têm

sido a maior destinação de terras emersas amapaenses, e de acordo com os dados preliminares do

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53

Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA/COT (2002) elas

totalizam cerca 53,15% da área do Estado, as quais estão sob a jurisdição do Instituto de Meio

ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA (39,36%), Instituto de Terras do Amapá

- TERRAP (5,7%) e Fundação Nacional do Índio - FUNAI (8,02). Deste modo, a oferta de área

disponível para atividades agrícolas diminuiu e as pessoas ocuparam terras devolutas da União,

constituindo núcleos populacionais dispersos e sem infra-estrutura social (saneamento, educação

e saúde) e de produção (assistência técnica, equipamentos e vias de escoamento da produção em

boas condições). Esses núcleos populacionais foram transformados em assentamentos agrícolas,

ou seja, o critério adotado pelas instituições responsáveis (INCRA e TERRAP) para criar

assentamentos é a regularização de comunidades pré-existentes. Grande parte desses

assentamentos localiza-se em áreas com baixa aptidão agrícola, e sua produção familiar baseia-se

no plantio da mandioca, com baixos rendimentos. Devido principalmente à falta de serviços de

educação e saúde, alguns produtores mudaram com suas famílias para os centros urbanos

(Macapá e Santana), contribuindo para alta taxa de urbanização 95,52%11 no Estado (que inclui

todas as sedes distritais).

A formação das cidades de Macapá e Santana, enquanto produto social materializado,

está vinculada à história dos municípios onde se localizam. A ocupação e uso do solo é resultado

de momentos particulares do processo histórico das relações capitalistas e da necessidade do ser

humano se fixar numa parcela do espaço para prover condições materiais que mantenham a

produção dos meios de vida.

Conforme mencionado, a cidade de Macapá teve suas origens a partir de um

destacamento militar criado em 1738, transformado em Vila de São José de Macapá, pelo

governador do Grão Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, em 4 de fevereiro de 1758.

Seus primeiros bairros foram o Central e Laguinho. Conforme citação da Fundação João

Pinheiro (1973), somente na década de 1950, Macapá sofreu uma expansão ocupacional, quando

surgiram os bairros do Trem e Beirol, além do aglomerado de palafitas no igarapé Elesbão (Santa

Inês) e bairros do Laguinho e Igarapé das Mulheres (Perpétuo Socorro). A expansão territorial

alcançou as depressões alagáveis da cidade (áreas úmidas), as quais foram ocupadas

desordenadamente pela população de baixa renda com habitações palafíticas de baixo padrão

1.1

11 Ver Tabela 1 na página 52

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54

habitacional12 e atividades econômicas, dando-lhes um caráter rural. Ainda, de acordo com esta

fundação, na intenção de desestimular a dinâmica de ocupação em áreas úmidas, o governo da

época tinha uma política fundiária que não dava titulo definitivo das propriedades.

Em conformidade com a Fundação João Pinheiro (1973), a capital Macapá

desenvolveu-se e teve alterações no formato espacial de sua malha urbana, projetada em

disposição ortogonal, com as ruas paralelas ao rio Amazonas e as avenidas transversais a elas,

devido a novas ocupações na área da Vacaria (Santa Inês), nos bairros Beirol, Santa Rita, Jesus de

Nazaré, Pacoval e Buritizal, enquanto que Santana, segundo Cole (1979), teve um aumento de

residências nas proximidades da área portuária, ultrapassando o igarapé Mata Fome (Bueiro).

De acordo com Ribeiro et al. (2001), entre os anos de 1973 e 1979 ocorreu a

ocupação desordenada nas várzeas do rio Amazonas na frente da cidade, numa área chamada de

Baixada do Elesbão, atualmente parte do bairro Santa Inês. Os seus moradores foram removidos

em 1982 para outra área localizada ao norte, e entre o Quartel do Exército (3o Batalhão de

Infantaria e Selva da 8a região) e a ressaca Laguinho Nova Esperança, aumentando a pressão

antrópica na referida ressaca e nas proximidades da Lagoa dos Índios. Em 1985, surgiram em

Macapá novas áreas ocupadas em parte do bairro Buritizal, e foram criados os bairros de Santa

Inês e Congós, pressionando a ressaca do Beirol.

O diagnóstico efetuado pela Fundação João Pinheiro (1973) já alertava para o

problema do aumento da população urbana e para a conseqüente expansão da cidade, pois

Macapá estava comprimida entre o rio Amazonas e o aeroporto, que bloqueava o acesso às áreas

favoráveis para urbanização contínua. O prognóstico enunciava que a cidade não suportaria a sua

população depois de um prazo de dez anos (1983), e que ela deveria seguir um planejamento de

criação de vias indutoras de ocupação de novas áreas, transpondo os igarapés e as áreas úmidas,

contornando a área do aeroporto a fim de evitar maiores problemas no futuro e executando um

projeto paisagístico para as áreas úmidas. Desta maneira, pode-se concluir que houve um

processo acelerado de concentração urbana na capital, presumindo-se o aumento gradativo da

pressão antrópica sobre as áreas úmidas e inundáveis. Consoante Rabelo et al. (2002), o

município de Santana teve sua origem na ilha de Santana onde se localizou o antigo aldeamento

dos índios Tucujus, vindos do rio Negro sob a liderança de Francisco de Melo Portilho. De

1.1

12 Embora as habitações palafíticas urbanas tenham semelhanças estruturais de edificação com ribeirinhas, elas tem um baixo padrão habitacional por serem menores e menos arejadas e por se situarem em locais com poucas condições de habitabilidade ambiental e sem áreas de lazer.

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55

acordo com as ordens do então Governador do Grão-Pará, Mendonça Furtado, em 1753 foi

fundado em terra firme o povoado de Santana.

Com a instalação da ICOMI em Serra do Navio, surgiu o núcleo populacional Vila

Maia, hoje bairro central. Posteriormente, surgiram os bairros de Área Portuária (na várzea do rio

Amazonas), Comercial e Vila Amazonas, que foi construída e administrada pela ICOMI. Somente

em 1981, o povoamento foi elevado à categoria de distrito do município de Macapá. Seu

desmembramento de Macapá ocorreu em 1987 quando Santana já tinha outros bairros: Paraíso,

Remédios, Fortaleza e outros; por isso, na Tabela 1, até 1980, os dados populacionais do

município de Macapá contêm a população de Santana. Após essa separação, Santana teve, no

período de 1991 a 2000, uma taxa geométrica de crescimento populacional de 5,14 % e a sua taxa

de urbanização chega a 94,55%.

Comparando a dinâmica populacional do Brasil, Norte, Estado do Amapá e Macapá

demonstrados na Figura 2, nota-se que a taxa geométrica de crescimento anual do Brasil tem

diminuído progressivamente, enquanto que o Estado do Amapá (6,14%) e o município de

Macapá (8,4%), tiveram suas maiores taxas no período de 1950/1960. Isso correspondeu à época

de instalação da ICOMI e do Território Federal do Amapá. Com exceção do período de

1970/1980, o Estado do Amapá, em todos os intervalos intercensitários, teve taxas de

crescimento populacional acima das taxas do país e de sua região. Logicamente, a densidade

demográfica do Estado do Amapá aumentou também gradativamente entre os censos de 1960,

1970, 1980, 1991 e 2000 correspondendo respectivamente a 0,47%, 0,82%, 1,26%, 2,01% e

3,33% de acréscimo (IBGE 2002b).

Figura 2 – Taxa geométrica de crescimento anual da população residente (%) do Brasil, grandes regiões e

unidade federal. Fonte: Dados e dimensões das carências sociais (1991) e Censo Demográfico (1950/2000) – IBGE.

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56

Em referência ao período entre os censos de 1960 a 1991 (IBGE), quando se

compara a taxa relativa de crescimento da população total (246,59%), e da população urbana total

(107,02) e população urbana na sede municipal (245,20%) do Brasil, com as taxas

correspondentes da Amazônia Legal (485,08%; 214,82% e 509,15%), observa-se que a Amazônia

Legal teve um acréscimo superior. Tais resultados podem resultar de ações governamentais

federais que encorajaram a ocupação maciça de parcelas do território amazônico, através de

projetos de colonização agropecuários, fortalecimento da industrialização - comércio e

extrativismo mineral, datados e localizados por Becker (1991). A maior parte da população

amazônica mora em cidades, vilas, povoados e comunidades formando pequenos núcleos

populacionais, e talvez por causa dessa organização espacial Becker (1992) definiu a Amazônia

como “uma selva urbanizada, fazendo parte de um país, que é urbano, havendo multiplicação de

centros, planejados ou não (espontâneos), onde a expansão da fronteira agrícola ocorreu num

contexto de urbanização simultânea.” .

As ocupações humanas em áreas impróprias ou inóspitas ocorrem desde o

surgimento do homem, porém este processo de ocupação foi intensificado na era moderna,

principalmente nas cidades onde as áreas com melhores condições ambientais de habitabilidade

são rapidamente ocupadas. A pouca disponibilidade de áreas para morar, nas proximidades dos

centros urbanos, leva os citadinos fazer uso das ressacas para residir, implicando na qualidade da

habitação e na vida das pessoas. A constante migração, ocorrida desde a criação do Estado do

Amapá, dificultou o planejamento, provocando um déficit de empregos e infra-estrutura (água,

luz, saneamento básico e transporte). Em acréscimo ao problema governamental de atendimento

as demandas dos serviços públicos, o adensamento urbano conduziu a população de baixa renda

a ocupar, como alternativa barata de moradia, as áreas úmidas urbanas (várzeas e ressacas) de

Macapá e Santana.

Em conformidade com Maciel (2001), percebeu-se que, devido à chegada de novos

moradores em Macapá, foi necessário efetuar edificações, sem considerar o planejamento global

da cidade. Essas obras fragmentadas promoveram modificações no curso natural dos igarapés,

como retificações, alargamentos, cobertura parcial de concreto (Jandiá, Mendonça Junior e

Pedrinhas) ou canalização com cobertura total em concreto (Santa Inês e Igarapé das Mulheres).

Pelo mesmo motivo, também ocorreram retificações nos canais do Paraíso e Mata Fome, em

Santana.

De acordo com Silva (2000), em estudo realizado pela SEMA, foram classificados e

identificados três estágios da ocupação das margens das áreas úmidas de Macapá: preservadas,

passíveis de recuperação e fortemente antropizadas (Tabela 3).

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57

Tabela 3 – Estágios de ocupação das margens das áreas úmidas de Macapá – situação 2000

Percentual dos Estágios de Ocupação das Margens Áreas Úmidas Fortemente

Antropizada Passiva de

Recuperação Preservada

Extensão (km2)

Lagoa dos Índios 24% 14% 62% 62,5 Sá Comprido 24% 48% 28% 9,20 Cristo - - 100% 5,64 Chico Dias 65% 18% 17% 11,90 Beirol 92% 8% - 14,20 Tacacá 17% 12% 71% 30,80 Pedrinhas 81% 19% - 8,40 Pacoval 55% 25% 20% 52,25

Fonte: Silva, A.Q. (2000)

Percebe-se na Tabela 3 e no relatório elaborado pela SEMA (2000) que algumas

ressacas, como Tacacá (Macapá) e Fortaleza (Santana), foram consideradas em bom estágio de

preservação. Nos dias de hoje, estas áreas não apresentam um grande número de casas, porém

apresentam um risco ambiental, devido à presença de atividades econômicas impactantes, como

extração de argila, bubalinocultura e piscicultura com criação de peixes exóticos à região

amazônica. Outras, como Chico Dias, já estão quase totalmente aterradas e completamente

descaracterizadas.

Deste modo, pode-se deduzir que a ocupação desordenada nas áreas úmidas urbanas

foi devida ao aumento populacional, à deficiência de política habitacional, e à incapacidade de

implementação dos planos diretores elaborados pela Fundação João Pinheiro (1973), Cole e

Grunfibil (1979) e ao aumento da população pobre. As principais conseqüências dessa ocupação

desordenada são a ausência de saneamento básico, condições habitacionais precárias, baixa

condição de vida, destruição da mata ciliar, alagamentos, poluição das águas, eutrofização,

aterramentos, queimadas, proliferação de ratos e insetos, degradação da qualidade ambiental e

riscos de doenças epidêmicas, como hepatite, leptospirose, malária, dengue. Estes aspectos serão

discutidos no diagnóstico, mais à frente.

2.2 ASPECTOS FÍSICOS DA ÁREA ESTUDADA

Pela observação da área correspondente às cidades de Macapá e Santana, através

de imagens de satélite e de levantamentos videográficos aerotransportados (videografia), verifica-

se que a planície costeira apresenta extensões significativas, constituindo uma paisagem contínua.

De acordo com suas características físicas predominantes, foram classificadas em três unidades

denominadas de terra firme, várzea e ressaca.

A Terra Firme são os terrenos mais altos adjacentes à planície costeira. De

acordo com Guerra (1954), essa área é formada por altos barrancos nas margens dos rios, com

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altitudes variando de 5 a 12 metros, estando fora do alcance das águas advindas do efeito do

represamento provocado por marés na foz do rio Amazonas. Santos et al. (2003), classificaram-

nas como pertencentes à Formação Barreiras, formada por “sedimentos arenosos, semi-

inconsolidados, de coloração amarelo-avermelhada, contendo concreções lateríticas distribuídas

ao longo de perfis de afloramento de campo. Os solos que constituem essa unidade foram

determinados por Santos e Tardin (2003) como pertencente ao Grande Grupo Latossolo

Amarelo de textura argilosa. A cobertura vegetal primitiva é formada por floresta de terra firme

bastante alterada.

A várzea sofre influência direta das marés devido à sua localização em baixas cotas

topográficas que, de acordo com Santos et al. (2003), estão em torno de 1 metro nas

proximidades da cidade de Macapá. Estes mesmos autores qualificaram as ressacas como

pertencentes à unidade geológica de Depósitos de Planície Fluvioestuarina formada normalmente

por sedimentos argilosos a sílticos-argilosos de coloração cinza. O solo desta área foi

determinado por Santos e Tardin (2003) como Glei Pouco Húmico Eutrófico de textura muito

argilosa e Solos Aluviais de textura argilosa. A cobertura florestal existente nessa área, consoante

Costa Neto e Silva (2003), é a floresta de várzea alterada com a presença de siriubal em frente à

cidade de Macapá.

A ressaca tem cotas topográficas mais baixas que a terra firme e, segundo Santos

et al.(2003), pertence à unidade geológica de Depósito de Planície Fluvial Antiga. constituída por

“sedimentos argilosos e argilo-arenosos de coloração cinza amarelada, contendo vegetais e restos

orgânicos vegetais e com camadas arenosas subsuperficiais, correspondendo a depósitos de

antigas rias afogadas”. Elas são constantemente inundadas e encontram-se em contato com os

depósitos da Formação Barreiras. O solo identificado nessa área por Santos e Tardin (2003) foi o

Glei Pouco Húmico de textura argilosa e Solos Hidromórficos Indiscriminados. Quanto à

composição vegetal em ressaca, Costa Neto e Silva (2003) classificaram-na em duas categorias:

Campo Herbáceo Periodicamente Inundado com presença de taxi (Triplaris surinamensis Cham.) e

buriti (Mauritia flexuosa) e Campo Arbustivo Periodicamente Inundado com freqüência de Poaceae,

Cyperaceae, Nymphaceae, Alismataceae, (Araceae e Maranthaceae).

Após identificarem 45 famílias, 88 gêneros e 129 espécies, Thomaz et al. (2003)

afirmaram que a família com maior riqueza foi a Cyperaceae, com 20 espécies, seguida da família

Poaceae (16), Fabaceae (10) e Rubiaceae (7). As espécies dominantes foram: Eleocharis intesticta (Vahl)

Roem. e Schult (piripiri), Thalia geniculata L. (sororoca), Sagittaria rhombifolia Cham. (chapéu-de-

couro), Montrichardia arborescens Schott. (aninga) e Mauritia flexuosa L. f. (buriti). As formas

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59

biológicas mais freqüentes, com 78% de ocorrência, foram as anfíbias e/ou emergentes,

caracterizando um ambiente marcado por uma sazonalidade bem definida.

Maciel (2001) observou que as ressacas de Macapá e Santana diferem entre si,

embora não tenha explicação elaborada, devido à escassez de dados. Comenta que as ressacas de

Macapá têm maiores extensões do que as de Santana e, consequentemente, recebem maior

quantidade de matéria orgânica proveniente da mata ciliar.

A área urbana de Macapá, de acordo com Maciel (2001), apresentava

originalmente oito igarapés: do Jandiá, das Mulheres, Mendonça Junior, Santa Inês, das

Pedrinhas, da Fortaleza, da Lavoura ou Cascalheira e da Fazendinha. Na área urbana de Santana,

o igarapé Provedor e outros fazem parte da bacia do igarapé Fortaleza. Estes igarapés, ou seja,

rios de pequenas dimensões, constituem o elo de ligação entre as áreas de ressacas e entre estas e

o rio Amazonas. O principal igarapé é o da Fortaleza e todos os demais canais que drenam as

ressacas de Macapá e Santana convergem para ele.

De acordo com IBGE (1991) e SUDAM/PROVAM (1990), o clima predominante

na área de estudo é o quente/úmido, caracterizado principalmente por elevadas precipitações

anuais com média de aproximadamente 2.550 mm anuais, com um período de intensa

pluviosidade de janeiro a maio e outro, muito seco, de setembro a novembro. A variação de

temperatura é pequena, em virtude de sua localização, próxima a linha do Equador, sendo que a

média do mês mais quente (agosto) atinge 31,9 0C enquanto que a média do mês mais frio

(fevereiro) está em torno de 23,00C. A temperatura média anual para Macapá é de 26,6oC. Os

ventos predomin1111antes são os aliseos do hemisfério norte, que sopram do nordeste, porém

no período seco, devido ao recuo da frente intertropical na direção norte, chegam ao litoral

amapaense os aliseos do hemisfério sul.

2.3 ASPECTOS POLÍTICOS E SÓCIO-ECONÔMICOS DA ÁREA ESTUDADA

As cidades de Macapá e Santana são separadas por 23 km e correspondem a Zona de

Livre Comércio de Macapá e Santana, criada em 1991.

A população do Estado do Amapá em 2000 foi de 477.032 pessoas (IBGE, 2001),

com taxa de urbanização de 89,03%. Seu crescimento populacional, de 5,82% (1991-2000), é

maior do que o dobro daquele observado para a região norte (2,86%). Para os casos particulares

de Macapá e Santana têm-se, respectivamente, taxas de 6,36% e 3,63%. A maior parte desta

população urbana concentra-se na região de estudo (76,26%), distribuídos na zona urbana de

Macapá (63,72%) e Santana (17,86%). Devido a pouca oferta de indústrias, pressupõe-se que a

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maior parte dessa população está ocupada principalmente nas atividades econômicas ligadas a

serviços e comércio, com predomínio do serviço público.

De acordo com o mencionado anteriormente, a ocupação do território amapaense

deu-se principalmente por meio de migração, mantendo-se contínua devido a eventos históricos

econômicos, como por exemplo, a criação de unidades administrativas, início da exploração de

manganês (1953), a exploração de caulim (1968) e a criação da Área de Livre Comércio de

Macapá e Santana (1991).

O fluxo migratório de outros Estados para Macapá e Santana aumenta o déficit dos

serviços básicos, constituindo um dos seus principais problemas. Vale ressaltar que dados

percentuais dos domicílios particulares permanentes urbanos do Censo 2000 (IBGE, 2001),

demonstram que o abastecimento de água através da rede geral é insuficiente, tanto em Santana

como em Macapá, que apresentam respectivamente os percentuais de 56,49% e 53,1%. Isto se

torna mais grave quando se leva em conta os baixos percentuais dos domicílios de Santana

(20,38%) e Macapá (32,89) conectados à rede geral de esgoto ou com fossa séptica como

esgotamento sanitário. Tais informações censitárias conduzem à hipótese de que a maior parte

dos domicílios urbanos de Macapá e Santana está utilizando água com baixa qualidade, podendo

inclusive ter contaminação de coliformes fecais.

A cidade de Santana teve o seu crescimento ligado à extração de manganês pela

empresa ICOMI em Serra do Navio. A pelotização e embarque do manganês em navios, no porto

de Santana, eram atividades executadas pela empresa nesta cidade. A pelotização ou sinterização é

um recurso tecnológico que eleva a concentração de um determinado mineral através do

aquecimento deste a altas temperaturas (acima de 1.000oC). O minério de manganês, quando

submetido a este processo pode disponibilizar a mobilidade de substâncias tais como o arsênio,

ferro e manganês. Segundo Souza et al. (2001), os rejeitos provenientes deste processo no

Amapá, foram depositados em uma bacia localizada na área portuária da ICOMI a céu aberto. A

atividade de sinterização tornou-se inviável comercialmente e foi encerrada na década de 80.

No processo de aquisição da área da ICOMI, no Porto de Santana, a empresa florestal

compradora – Champion Papel e Celulose Ltda-CHAMFLORA, exigiu uma auditoria ambiental,

tendo sido constada à presença de arsênio e outras substâncias, em concentrações acima dos

padrões permitidos pela legislação em vigor.

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61

3. A INVESTIGAÇÃO, MENSURAÇÃO E ESPACIALIZAÇÃO DE

QUALIDADE DE VIDA URBANA

O índice de qualidade de vida é constituído de indicadores ligados a um conjunto de

domínios temáticos selecionados que representa a realidade das condições de vida da população

estudada. Esses indicadores são obtidos a partir de dados estatísticos (quantitativo, mensuração

objetiva) e/ou informações e experiências do conhecimento coletivo ou individual da mesma

população (qualitativo, mensuração subjetiva).

Deste modo, aborda-se neste capítulo as linhas gerais da metodologia na qual estão

inseridos procedimentos metodológicos efetuados durante o projeto de diagnóstico das Ressacas,

comentado anteriormente na introdução. Por considerar-se os arranjos, adaptações e novos

indicadores também como produto deste trabalho, esses procedimentos metodológicos foram

descritos no capítulo de resultados. Faz-se necessário também esclarecer que visando uma melhor

explanação dos resultados, as variáveis são fundamentadas e justificadas individualmente e quase

todas foram comparadas com dados oficiais do IBGE, a fim da balizar suas dimensões em

relação ao país, região e município.

No desenvolvimento da metodologia procurou-se caracterizar e avaliar a QVU da

população das ressacas e a sua intervenção no meio ambiente na tentativa de aproximação ao

paradigma de ecologia profunda. Por isso, neste trabalho, o QVU foi considerado como

resultado do processo de interação do espaço geográfico visto pela qualidade social, econômica e

ambiental. Também incorporou conceitos estabelecidos pelo PNUD.

O procedimento de integração das variáveis de qualidade social, econômica e

ambiental atentou para o nivelamento dos índices parciais eleitos na metodologia de zoneamento

proposta por Becker e Egler (1996).

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62

Os principais encaminhamentos metodológicos gerais estão apresentados no

fluxograma (Figura 3) a seguir:

Figura 3 - Fluxograma metodológico geral

3.1 AQUISIÇÃO DE DADOS

Os dados, obtidos de várias fontes, foram classificados em auxiliares, primários e

secundários. Durante a etapa de organização e crítica, observou-se a discrepância entre os dados

auxiliares e alguns precisaram ser ajustados. As particularidades que dizem respeito à aquisição, à

organização e ao tratamento de dados primários e secundários estão apresentadas a seguir.

♦ Dados Primários

Os dados primários foram obtidos no âmbito do projeto Ressacas13, através da

aplicação de questionário, registro fotográfico e georreferenciamento das atividades de uso e

ocupação do solo. Inicialmente, propôs-se trabalhar com dados secundários, dada a recentidade

do Censo Populacional (IBGE- 2000) e a existência de cadastros de algumas seguintes

1.1

13 Diagnóstico das Ressacas do Estado do Amapá: Bacias do Igarapé Fortaleza e do Rio Curiaú. IEPA/SEMA/AP

Definição e Avaliação das Unidades Territoriais de Análise

Determinação e Análise do Índice de Qualidade do

Sistema Ambiental

Elaboração de Documentos Cartográficos: • Cartogramas • Carta de Qualidade de Vida

Análise e interpretação do Índice de Qualidade de Vida em áreas úmidas urbanas.

Determinação e Análise dos Índices Qualidade do Sistema

Social e Econômico

Correlação do Índice de Qualidades de Vida da População nas UTA ‘s com as Hipóteses

Determinação do IQVU em ressaca

Aquisição, Organização e Tratamento de Dados

Dados Primários: • Obtenção de dados sócio-

econômicos • Universo amostral • Construção de banco de

dados estatísticos • Aferição de informações

sócio-econômicas • Georreferenciamento dos

usos e ocupações humanas.

Dados Secundários: • Obtenção de dados sócio-

econômicos, material bibliográfico, cartográfico e banco de dados em meio digital.

Dados Auxiliares: • Ordenamento e tratamento

dos dados orbitais em um banco de dados geográficos do meio físico em formato digital.

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63

instituições (Empresa de Correios e Telégrafos, Fundação Nacional de Saúde, Prefeituras

Municipais e Companhias de Eletricidade e Água e Esgoto). Porém, após contatos com essas

instituições, verificou-se que nenhuma delas tem registro preciso sobre as populações por

ambiente, não sendo possível identificar a população habitante nas áreas úmidas. Desta forma,

antes de iniciar o levantamento amostral, foi necessário ir ao campo contar as casas em áreas de

ressacas nas duas sedes municipais a fim de conhecer o universo real.

Em seguida, são apresentados os procedimentos de coleta e análise dos dados

primários.

Universo Amostral

As limitações constatadas quanto aos dados oficiais sobre o universo real das

populações humanas em áreas de ressaca justificaram a realização da contagem dos domicílios

particulares permanentes, a qual foi efetuada por uma equipe de 11 pessoas no período de 8 a 12

de outubro de 2001. Os resultados constam na Tabela 4.

Tabela 4 – Resumo do plano amostral nas ressacas e Macapá e Santana

No de Domicílios Particular/PermanenteCidade Ressaca

Universo Real Universo Amostral No de Pessoas Entrevistadas

Chico Dias 1360 136 668Beirol 1650 163 820Tacacá 3340 62 338Lago do Pacoval 600 60 281Laguinho Nova Esperança 340 34 180Lago da Vaca 160 16 77Sá Comprido 140 14 19

Macapá

Lagoa dos Índios 40 4 23Provedor 690 69 373Paraíso 330 33 175Funda 110 11 49Fonte Nova 80 8 48

SSantana

Vaga-lume 60 6 24TOTAL 6160 616 3075

Fonte: Modificado de IEPA/GERCO – 2001

Posteriormente, foi possível planejar e aplicar os questionários através do método de

amostragem intervalar. Desta forma, o universo amostral foi de 10% dos domicílios particulares

permanentes situados nas ressacas urbanas de Macapá e Santana, que obedeceu a proposição de

Selltiz, Wrightsman e Cook apud Kidder (1987), através da técnica de amostragem probabilística

do tipo aleatória simples,

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64

expresso, por: n1 = s2 t2 / d2, onde:

n1 = tamanho da amostra da população infinita;

s2 = 0,6272 variância de uma variável importante para o estudo (número médio de

pessoas por domicílio);

t = 1,64 no nível de significância de 90%;

d = erro amostral de 5%.

Considerando que a população é finita, faz-se necessária a seguinte correlação para se

determinar o tamanho real da amostra: n0 = n1 / ( (1 + ( n1 / N)), onde:

n0 = total de componentes da amostra

n1 = tamanho da amostra da população finita;

N = número de domicílios.

Obtenção de dados primários sócio-econômicos

O levantamento de dados primários sócio-econômicos foi efetuado por uma equipe

de 10 pessoas através da aplicação de questionários nos domicílios particulares permanentes,

priorizando entrevistar as pessoas de referência desses domicílios, os quais foram elaborados,

testados e criticados no período de 01/09 a 10/10/2001 durante a estação de estiagem. As

perguntas deste questionário foram fechadas, em sua maioria, com grades de codificação lateral

(anexo 1).

Como dito, a seleção dos domicílios entrevistados foi feita através do método

intervalar, ou seja, aplicava-se o questionário a cada dez casas dos lados direito e esquerdo de

cada passarela de madeira dentro das ressacas. Caso a residência estivesse fechada aplicava-se o

questionário na seguinte.

♦ Dados Secundários

Os dados secundários foram compilados antes, durante e depois do projeto Ressacas.

Alguns dados, extraídos de livros e mapas, conseguidos junto às instituições públicas, foram

utilizados como apoio ou suporte à investigação preliminar, visando principalmente o resgate do

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processo histórico, a visualização do uso e ocupação das ressacas e a definição espacial e

estatística da amostra.

♦ Dados Auxiliares

Os dados auxiliares cartográficos foram reunidos durante o projeto Ressacas. As

imagens de videografia do GERCO/IEPA foram utilizadas como base para compreender o uso e

ocupação nas ressacas, para a delimitação espacial da área de trabalho e auxiliar na definição do

universo amostral (10%). A delimitação da área de trabalho considerou o tempo de execução, a

dimensão das áreas antropizadas e adjacências, a densidade média urbana dos municípios

envolvidos, os recursos financeiros e outros.

Os dados espaciais georreferenciados (em meio digital formato dxf e shape) foram

cedidos pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Prefeitura Municipal de Macapá e

serviram de base para a elaboração dos cartogramas.

As atividades econômicas desenvolvidas nas Unidades Territoriais de Análise foram

georreferenciadas, utilizando o Sistema de Posicionamento Global (GPS) e posteriormente

espacializadas no Banco de Dados Geográficos, possibilitando a criação de planos de informação

sobre imagens do satélite Landsat – TM 5 e videografia.

3.2 ORGANIZAÇÃO DE DADOS

♦ Dados Primários

A base de dados primários foi codificada, tabulada, quantificada e tratada no

programa EXCEL (Office) durante o projeto Ressacas. Essa base foi importada, organizada e

novamente tratada e analisada em um banco de dados estatístico no programa Statistical Package for

the Social Science (SPSS) para a construção de novas variáveis componentes deste trabalho.

♦ Dados Secundários

A base de dados secundários foi organizada em um arquivo e posteriormente

selecionou-se os dados para serem apresentados em anexos estatístico.

♦ Dados Auxiliares

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66

As linhas em formato digital foram importadas da base georreferenciada da

SEMA/AP e organizadas por tema em um novo banco de dados geográficos, no Sistema de

Informação Geográfica ArcView.

3.3 TRATAMENTO DE DADOS

♦ Dados Primários

Os dados primários foram criticados e aferidos em novas variáveis e posteriormente

ponderados e agrupados em índices parciais.

♦ Dados Secundários

Os dados secundários foram submetidos a novos cálculos estatísticos para serem

utilizados de acordo com o interesse temático e a unidade política.

♦ Dados Auxiliares

Os dados auxiliares foram ajustados sobre uma imagem do Landsat TM-5 para um

melhor refinamento das informações.

3.4 UNIDADE TERRITORIAL DE ANÁLISE

A unidade territorial de análise foi definida através de padrões de tonalidade, textura,

e forma em imagens de satélite e videográficas e também denominações populares. Com o

objetivo de caracterizar a predominância do tipo de uso e ocupação, em cada unidade territorial

de análise, elas foram subdivididas em unidades de estratos de uso e ocupação. A sua definição

foi efetuada com base em desenhos de campo, na correlação da malha de divisão de bairros

(mapa cadastral da cidade de Macapá – IBGE), limites da área de ressaca (meio físico) e nas

formas e dinâmicas de uso e ocupação, estratos sociais e densidade populacional.

Os procedimentos computacionais foram realizados em ambiente SIG (ArcView 11),

considerando a escala de 1:50.000 na espacialização da área de trabalho, com localização das

unidades de uso e ocupação (ressacas), comunidades semi-rurais, quarteirões e elementos da

hidrografia, vias de circulação e outros, tendo como fundo a imagem TM543 – LANDSAT 5 de

09/09/1998.

No reconhecimento da complexidade e diversidade regional brasileira, destaca-se a

elaboração de diagnósticos padronizados e reprodutíveis como uma das principais dificuldades na

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composição de políticas públicas. Maior ainda é o desafio de construir indicadores de dinâmica

social e qualidade ambiental que incluam o espaço como parte integrante da análise. No espaço

urbano existe concentração populacional, exercendo variadas atividades, sendo

fundamentalmente propriedade privada, regulada pelos mecanismos de mercado.

Nas ressacas, a posse do solo urbano raramente ocorre, sendo mais evidenciada em

suas bordas, onde existem atividades econômicas primárias. Em seu interior e na sua borda com

uso residencial, o solo tem pouca valia, pois a maioria dos seus ocupantes não tem área terrestre

delimitada; as casas são amontoadas lado a lado, com pouco espaço entre si. Esse contraste

caracteriza a forma e dinâmica com que a divisão de classe social marca o espaço da moradia

humana, demonstrando imperfeitamente a contradição de estar perto de áreas valorizadas e longe

da oportunidade de apropriá-la. Também demonstra a estruturação do modo de produção

capitalista no espaço urbano, que se configura em uma mistura de pessoas que habitam parcelas

próximas, mas que se dividem em grupos quando se discutem os seus poderes sociais e

econômicos. Deste modo, a configuração espacial reflete a estratificação social.

As grandes massas populacionais pobres se instalaram nas ressacas com mínimas

condições ambientais de habitabilidade e infra-estrutura urbana. É uma dinâmica na qual o

Estado exerce uma influência relevante e o solo urbano assume o papel de agente estratificador.

Delimitar as grandes configurações espaciais da cidade requer conhecimento, esforço

e uso de conceitos, verdades de campo, técnicas e ferramentas de análise espacial, visto que esses

espaços apresentam agrupamentos diferenciados e regimes espaciais bem definidos. Porém,

subdividir uma configuração espacial que apresente aparentemente os mesmos elementos físicos,

bióticos e antrópicos, buscando encontrar diferenciações nos padrões de ocupação e divisões

reconhecidas pelos moradores, exige maior compreensão e tempo.

Desta maneira, a definição da unidade de análise procurou também caracterizar a

predominância do tipo de uso e ocupação em cada unidade territorial de análise, observando as

atividades predominantes de uso e ocupação do solo, formas e dinâmica de uso e ocupação,

estratos sociais e densidade populacional.

Curiosamente, como pode ser observado na Figura 4, a rede espacial de passarelas de

madeira obedece ao padrão de quadra, e estão ligadas a um eixo principal. Na verdade, elas são

prolongamentos de ruas e raramente tem ligações entre si, diferenciando-as dos outros padrões

espaciais de ocupação em áreas úmidas urbanas de outras cidades da Amazônia como, por

exemplo, Belém, Manaus e Laranjal do Jari, onde quase todas as passarelas estão ligadas a outras

formando um labirinto. A particularidade de organização espacial das passarelas de madeira de

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Macapá e Santana, de não ter quase ligações entre elas, dificultou a agilidade no acesso às

residências, levando mais tempo que o previsto na fase de entrevistas.

Figura 4 – Imagem videográfica (ano 2000) mostrando parte da ressaca Chico Dias, na parte central. Acervo: IEPA /GERCO

Ao observar as ressacas urbanas de Macapá e Santana, através de fotografias áreas e

imagens de satélite, conforme demonstrado nas Figuras 5 e 6, percebeu-se que as mesmas não

apresentam marcas territoriais que determinem uma subdivisão. Aparentemente, a ressaca é um

único ecossistema composto por drenagens e cursos d'água ligados a uma drenagem principal.

No caso de Santana e Macapá as ressacas estão unidas em torno das bacias do igarapé Fortaleza e

do rio Curiaú. Desta maneira, as ressacas são interligadas entre si e todas apresentam em seu

interior pequenas drenagens que são alimentadoras da bacia hidrográfica do rio principal.

Figura 5 – Interligação entre as ressacas e igarapé Fortaleza.

Igarapé Fortaleza

R. do Beirol

Lagoa dos Índios

Ressaca Chico Dias

Ressaca Sá

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Fonte: Adaptação de Fundação João Pinheiro (1973).

Como as ressacas são ambientes naturais, elas ultrapassam os limites determinados

pela sociedade: os bairros. Algumas ressacas não estão incluídas na delimitação oficial dos

bairros da cidade de Macapá, pois a legislação é anterior a algumas dessas ocupações. Essas áreas

foram denominadas pelo IBGE, no censo 2000, como “áreas diversas”. Pode-se exemplificar

através da ressaca Chico Dias. Tendo em vista a inexistência de delimitação espacial e toponímia

oficial para as ressacas nas cidades de Macapá e Santana, levou-se em conta a denominação e

delimitação definida pelos próprios moradores e adotadas por algumas instituições, como a

Empresa de Correio e Telégrafo e Fundação Nacional de Saúde - FUNASA.

Figura 6 – Sobreposição das ressacas e bairros de Macapá. Fonte: Modificado de Silva (2000)

Na subdivisão das áreas úmidas, atentou-se para a interação entre o homem e a

natureza, observando os aspectos ambientais, sociais, econômicos e governamentais. Assim

sendo, pode-se dizer que as unidades de análise são unidades sócio-ambientais.

Mesma unidade ambiental, porém com denominações diferentes

denominações

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70

Conforme mostrado na Figura 7, as unidades territoriais de análise correspondentes à

cidade de Macapá são: Lago da Vaca, Lago do Pacoval, Lagoa dos Índios, Sá Comprido,

Laguinho Nova Esperança, Chico Dias, Beirol e Tacacá.

Figura 7 – Delimitação ressacas urbanas na cidade de Macapá. Fonte: Construída a partir da base geográfica da SEMA E IEPA/CPAQ/GERCO (2002).

Salienta-se que a unidade territorial de análise Lagoa dos Índios foi selecionada para

estudo por apresentar características diferenciada das demais unidades e possibilitar uma analogia

entre as mesmas. Esta unidade localiza-se na margem da lagoa dos Índios, tem poucas casas

palafíticas, a maioria das residências foram construídas a partir de loteamentos.

Na área urbana de Santana, limítrofe à cidade de Macapá, estão situadas as ressacas:

Provedor, Paraíso, Vaga-lume, Fonte Nova e Funda, apresentadas na Figura 8.

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71

Figura 8 – Delimitação das ressacas urbanas na cidade de Santana Fonte: Construída a partir da base geográfica da SEMA E IEPA/CPAQ/GERCO (2002).

3.5 SISTEMA DE INDICADORES

3.5.1 Qualidade social e econômica

Apoiado nas afirmações de Braga e Freitas (2002), buscou-se selecionar indicadores

sociais e econômicos que demonstrem a qualidade de vida da população residente em ressacas,

considerando as condições ambientais locais provocadas pela pressão antrópica e observando a

dimensão ambiental e a sustentabilidade.

Com o objetivo de observar as características básicas da população residente em

ressacas, foram selecionados indicadores firmados no conceito de desenvolvimento humano:

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Anos de Estudo, Renda Familiar, Material de Construções Duráveis (Paredes e Teto), Renda

Familiar per Capita e Abastecimento de Água (Figura 9).

Dentro das áreas de ressacas de Macapá e Santana não há instalações prediais

públicas. Logo, os serviços como educação e saúde não estão disponíveis diretamente nestes

locais, existindo apenas em bairros próximos. Também, é inexistente ações ou programas oficiais

de saúde e educação específicos para os moradores de ressacas. Assim, sustentado pelos

princípios de Gallopín (1986), Barbosa (1995) e Bossel (1999), observou-se, através dos

indicadores de Acesso a Saúde, Segurança, Educação e Comunicação, a distância dos prédios que

abrigam os aparelhos sociais públicos, tais como escola, postos de saúde, de correios e policiais.

Atentou-se também para o Acesso à Energia Elétrica Pública, dada sua importância na utilização

das facilidades modernas atuais.

A fim de fazer analogia com os resultados do último censo demográfico, foram

levados em conta alguns indicadores considerados como sustentáveis segundo o IBGE. A

descrição e a justificativa dos indicadores adotados pelo IBGE são comentados no capítulo de

resultados e discussões.

Foram propostos os indicadores de Sensibilidade Ribeirinha e Satisfação Funcional

com as Condições de Vida, os quais foram fundamentados principalmente na idéia de cidade

sustentável e qualidade de vida urbana em áreas úmidas, revelando o processo histórico de

ocupação e satisfação de morar nestes ambientes. Mensurar os avanços de desenvolvimento

sustentável com indicadores formais, existentes anteriormente à aplicação deste novo conceito,

seria no mínimo incongruente, dada a visão fragmentada da realidade sem considerar a interação

do homem e natureza.

A proposição dos indicadores Sensibilidade Ribeirinha e Satisfação Funcional às

Condições de Vida que apontam o grau de percepção ambiental e de condições de vida

fundamentou-se em Schartzman (1974), que as denominou de Sensibilidade Ribeirinha e

Satisfação Funcional com as Condições de Vida. Na última variável evitou-se esclarecer o

conceito de condições de vida para não influenciar a resposta do entrevistado.

Desta forma, a seleção dos indicadores exemplificados abaixo e descrita

detalhadamente no capitulo de resultados, inclui convencionais e sustentáveis utilizados por

instituições internacionais, nacionais e locais, como ONU e IBGE, e considerou os conceitos de

desenvolvimento humano, qualidade de vida e sustentabilidade local, comentados no capítulo de

considerações teóricas.

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Parâmetros Variáveis

População residente

Razão de sexo Idade média

População

Razão de dependência demográfica Sensibilidade ribeirinha Percepção sobre as condições de vida Satisfação funcional às condições de vida Analfabetismo funcional Potencial jovem Educação Escolaridade de adultos

Saúde Acometimento de doenças

Abastecimento de água Armazenamento de água Destino de lixo domiciliar

Saneamento Básico

Destino dos dejetos humanos,

Associativismo Participação social

Domicílios duráveis Conforto domiciliar Estrutura habitacional Acesso a energia elétrica

Qu

alid

ade

Soci

al

Disponibilidade espacial dos serviços públicos Acesso a saúde, segurança, educação e comunicação

Atividades econômicas locais Presença de atividades econômicas

Taxa global de participação População infanto-juvenil ocupada Ocupação econômica populacional Desemprego aberto Rendimento médio mensal por sexo Renda média familiar per capita

Qu

alid

ade

Eco

nôm

ica

Renda Concentração de renda – (Índice de Gini)

Figura 9 – Indicadores utilizados na aferição da qualidade social e econômica

3.5.2 Qualidade ambiental

Os entraves paradigmáticos e operacionais discutidos no capítulo de conceituação

teórica aumentaram, sobretudo quando o objeto de estudo localiza-se em área costeira equatorial

urbana, que apresentam dinâmica e fragilidade natural peculiares, ou de ações humanas

modificam o meio natural, dificultando identificar as origens e intensidades das alterações nas

ressacas. Toma-se, como exemplo, o processo de eutroficação14, em alguns locais, é um processo

natural e, em outros, pode ser resultado ou ter sido intensificado por atividades antrópicas.

Porém, como a degradação ambiental deve influenciar diretamente as condições de habitabilidade

e na vida das populações residentes, se faz necessário estudar a deterioração e os impactos

naturais e humanos. Considerou-se impacto ambiental as alterações das propriedades físicas,

químicas e biológicas do meio ambiente causadas pelas atividades humanas.

1.1

14 “Decomposição microbiana das algas mortas causa esgotamento do oxigênio dissolvido na água e asfixia dos peixes. A eutroficação pode ser natural ou provocada por efluentes urbanos, industriais ou agrícolas” (FERREIRA, 1999)

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74

Na elaboração dos indicadores que qualificam a pressão antrópica, levou-se em

consideração a caracterização das ressacas efetuada por vários pesquisadores e organizados por

Takiyama e Silva (2003). Porém, devido à indisponibilidade de dados físicos e bióticos para todas

as unidades territoriais de análise, efetuou-se a qualificação ambiental através do estudo de

impactos ambientais. Assim, os procedimentos metodológicos para a obtenção do índice parcial

de qualidade ambiental fundamentaram-se em Bastos e Almeida (2000) e Leopold (1971).

Para analisar as inter e intra-relações dos componentes do ambiente natural, é

necessária uma gama de conhecimentos variados, próprios a diferentes áreas profissionais.

Talvez, por esse motivo, a maioria dos sistemas ambientais propostos atualmente são

constituídos por variáveis quantitativas individuais dos fatores ambientais como, qualidade de

água, do solo, percentual de áreas verdes, emissão atmosférica e outros. Devido à carência de

conhecimentos e de equipe multidisciplinar para levantar dados físicos, bióticos e sócio-

econômicos por unidade territorial de análise optou-se por efetuar a qualificação ambiental

através de dois caminhos metodológicos: espontâneo (descritivo) e matriz de interações

(avaliativo).

O primeiro caminho, em consonância com Bastos e Almeida (2000), é fundamentado

no conhecimento empírico. Este conhecimento, quando utilizado isoladamente, desenvolve a

avaliação de impactos ambientais de forma simples, objetiva e de maneira dissertativa. Este

caminho metodológico é adequado quando há escassez de dados. Deste modo, as atividades

realizadas pelo homem e os efeitos provocados por elas foram descritos em cada unidade de

análise.

O último caminho considera as relações de causa e efeito entre os impactos,

incorpora escalas de valores e ponderações, sendo conveniente para avaliações preliminares.

A principal abordagem sobre a questão ambiental nas unidades territoriais de análise

é empírica. Corresponde à avaliação qualitativa do meio ambiente através dos problemas do

entorno do domicílio, condições de moradia e habitabilidade, poder aquisitivo, instalações

sanitárias e higiene, identificação dos problemas referentes ao abastecimento de água e seu

armazenamento, destino do lixo, presença de roedores e insetos. Algumas destas variáveis já

foram discutidas nos itens que tratam de saúde e saneamento básico, mas devem ser novamente

comentados sob a ótica ambiental.

Atualmente, a matriz de interação mais disseminada dentro e fora do país é a de

Leopold (1971). Ela foi construída para avaliar impactos associados a quase todos os tipos de

implantação de projetos.

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75

Desta maneira, o último caminho metodológico foi a adaptação da matriz de

Leopold para compor uma matriz de ponderação simples, que serviu para padronizar e

quantificar os principais impactos apontados pelo método espontâneo.

Na matriz de interações, cada meio foi avaliado a partir dos seguintes fatores: água e

solo/subsolo no meio físico, fauna e flora no meio biótico e aspectos sociais no meio antrópico,

conforme o quadro mostrado a seguir:

Qualidade e circulação de Água Meio Físico

Estrutura e composição do solo/subsolo e relevo Biodiversidade da flora Meio Biótico

Biodiversidade da fauna Habitação

QUALIDADE AMBIENTAL

Meio Antrópico Renda e emprego

Figura 10 – Indicadores utilizados na aferição da qualidade ambiental

A partir de adaptações, construiu-se uma nova disposição metodológica de avaliação.

Deste modo, entende-se que este "arranjo" é também um resultado deste trabalho e como tal é

pormenorizado no capítulo 5 que trata a esse respeito para ser submetido à apreciação.

3.5.3 Qualidade de Vida Urbana - QVU

O indicador de qualidade de vida urbana é composto pelos Índices de Qualidade

Social, Econômico e Ambiental, evidenciando as inter-relações do espaço geográfico urbano,

baseado no tripé sociedade, natureza e trabalho. A correlação entre indicadores sócio-

econômicos, baseados em tratamento estatístico permitiu a caracterização dos diversos níveis de

qualidade de vida em cada unidade territorial de análise. A comparação entre a qualidade de vida

das unidades de análise individuais e do conjunto permitiu também observar o nível de qualidade

de vida na área de estudo. Apesar das diferenças metodológicas, também se pode fazer analogias

qualitativas entre a qualidade de vida da população que mora em ressacas e as que moram em

outros ambientes.

Foi também possível interpretar o IQVU a partir do conhecimento qualitativo e

quantitativo de campo, estabelecendo relações com a realidade local, comparando-o com os

dados e informações que demonstrem verdades de campo (imagens, anotações, fotos, videografia

e outros), objetivando constatar a representação da realidade estudada.

Com o intuito de possibilitar a avaliação das condições de vida, tendo como eixo as

suas necessidades físicas (infra-estrutura, social, econômica e ambiental) e a dinâmica da

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ocupação, os indicadores tradicionais e sustentáveis foram aglutinados em indicadores parciais,

que compuseram o Índice Final de Condições de Vida.

A qualidade de vida da população foi reescalonada em um intervalo de 1 a 10, para

representá-la espacialmente e, deste modo, permitir melhor visualização cartográfica deste índice.

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77

4. AS DIMENSÕES DA QUALIDADE DE VIDA

De acordo com o mencionado no capítulo 3 que discorre sobre metodologia, o

arranjo do sistema de indicadores é um dos resultados deste trabalho. Antes da apresentação dos

resultados percentuais descreve-se a construção de cada indicador com seus procedimentos,

justificativa e fundamentação teórica específica. Posteriormente, os resultados percentuais serão

apresentados e comparados entre as unidades territoriais básicas de análise.

4.1. QUALIDADE SOCIAL

Como esclarecido, quando se tratou da seleção de indicadores, levou-se em conta o

conceito de sustentabilidade, priorizando os indicadores considerados sustentáveis. Porém, como

apoio, utilizaram-se os indicadores tradicionais, propalados há mais tempo por entidades oficiais

e fundamentados nos preceitos do Índice de Desenvolvimento Humano.

É primordial em qualquer estudo que envolva populações humanas ter uma noção

do universo real. Mesmo que não seja o exato, a quantificação populacional é um subsídio para o

planejamento. Através dela, pode-se inferir as demandas sociais, a necessidade de remanejamento

de famílias para locais mais habitáveis e outros aspectos.

♦ Construção dos indicadores

No início do século XIX, de acordo com Santos (1997), cerca de 1,7% da população

mundial era considerada urbana. Em 1950, 1960, 1970 e início de 1980 os percentuais foram de

21%, 25% e 34% e 45,5%, respectivamente. O aumento da população urbano é mais evidenciado

nos países pobres, onde a proliferação das grandes cidades foi surpreendente. Nas ressacas, os

fenômenos advindos do ser humano têm uma dinâmica acelerada e umas de suas formas de

expressar esse dinamismo são as transformações quantitativas e qualitativas do espaço em que

vivem.

Percebe-se de imediato que as características demográficas e sociais da população

residente em ressaca tais como, distribuição espacial, densidade demográfica, composição etária e

outros podem influenciar nas transformações do espaço habitado. Desta maneira, convém

estudá-lo detalhadamente, observando os aspectos de sua estrutura populacional, educação,

saúde, saneamento básico, acesso à infra-estrutura urbana pública, associativismo e percepção

funcional de condições de vida.

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Em conformidade com o que foi comentado no capítulo 3 de metodologia, a qualidade social

passa pelo acesso que a população tem aos equipamentos sociais e formas de organização social e

exercício da sua cidadania. Para melhor elucidação e caracterização, a qualidade social foi dividida

nos parâmetros: populacionais, de satisfação às condições de vida, educacionais, de saúde, de

saneamento básico, de associativismo e de infra-estrutura urbana e habitacional.

Os parâmetros sociais constituem índices parciais que foram obtidos através da média simples

das variáveis reescalonadas. Objetivando uniformizar as variáveis, o reescalonamento das

variáveis simples considerou a análise conjunta de todas as ressacas, ou seja, a relação dos valores

de cada variável nas unidades territoriais de análise e área total do estudo. Dependendo do caráter

indicador positivo ou negativo de cada uma das variáveis, o seu valor reescalonado variou

de 1 a 3.

Vale ressaltar que o procedimento metodológico de reescalonamento definido por Becker e Egler

(1996) para a execução do Zoneamento Ecológico Econômico na Amazônia foi adaptado neste

trabalho. Os indicadores positivos foram reescalonados em ordem crescente, ou seja, o seu maior

valor equivale a 3 e o menor equivale a 1, enquanto que os indicadores negativos foram

reescalonados em ordem inversa. As variáveis que obtiveram valor zero receberam escore 0,1.

Populacional

A composição da população, por idade e sexo, apesar de ser incluída entre os

aspectos estatísticos obrigatórios da população, para Carvalho et al. (1998) é na realidade reflexo

da história da dinâmica populacional, desde um passado relativamente longínquo. Assim, as

variáveis apresentadas para apontar as características da população em ressacas são capazes de

demonstrar o período de ocupação, a composição populacional e o motivo de morar nesses

locais.

O índice parcial populacional foi construído pelas variáveis de População Residente,

Razão de Sexo, Razão de Dependência Demográfica e Idade Média, as quais estão descritas na

Figura 11.

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79

Parâmetro Variável Descrição Caráter

População residente

Percentual da população residente total (Domicílios particulares permanentes multiplicado pela média de moradores por domicílio da cidade) em relação ao total da população urbana estadual.

+

Razão de sexo É a razão entre o total de homens e mulheres elevado a base cem. +

Idade média Idade média da população total. - Populacional

Razão de dependência demográfica

Peso da população considerada inativa (0 a 14 anos e a partir de 65 anos de idade) sobre a população potencialmente ativa (15 a 64 anos de idade).

-

Figura 11 - Variáveis que compõem o índice parcial populacional

A variável população residente nas ressacas é interessante por contribuir com

informações quantitativas para o planejamento urbano, como a implementação de campanhas

educativas e o remanejamento para outras áreas.

A análise comparativa entre os sexos tem merecido consideração desde os

primórdios dos estudos demográficos. Segundo Nadalin (1994), o papel do contigente do sexo

masculino era o de representar a força de trabalho e militar. Porém, os movimentos sociais

femininos e a inserção da mulher no mercado de trabalho modificaram a estrutura familiar e

social na atualidade e as mulheres também passaram a ser responsáveis por domicílios. É comum

em áreas rurais a predominância do sexo masculino, contudo o equilíbrio entre os gêneros é

relevante para a formação de famílias e composição populacional. Assim a variável razão do sexo

observa especificamente o comportamento da população em relação ao sexo. Quando a razão for

maior que cem significa um número maior de homens e quando for o inverso significa um

número maior de mulheres. Admite-se equilíbrio entre 98 e 102.

A importância da variável idade média deve-se ao fato de que, juntamente com

outras, indica a capacidade de produção, a expectativa de vida da população e demanda dos

equipamentos sociais.

A variável razão de dependência demográfica demonstra o percentual da população

inativa dependente da população potencialmente ativa indicando uma baixa contribuição

produtiva. Quanto maior o valor percentual mais negativo é o indicador.

As variáveis idade média e razão de sexo tiveram o menor e maior valores

reescalonados equivalentes a 1 e 3 respectivamente. Inversamente reescalonadas foram as demais

variáveis: população residente e razão de dependência demográfica. Posteriormente as variáveis

reescalonadas através de média simples constituíram o índice parcial populacional.

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Percepção sobre as condições de vida

Com o intuito de observar a percepção das pessoas de referências dos domicílios

sobre as condições de vida considerando as especificidades dos processos mentais conscientes e

inconscientes destes indivíduos, este trabalho submete a apreciação dos indicadores: Sensibilidade

ribeirinha e Satisfação funcional às condições de vida em ressacas.

Como mencionado, a maior parte da população brasileira e amapaense mora em

cidades, provavelmente devido à busca de melhores condições de vida e trabalho. Mas morar na

cidade também significa enfrentar os problemas urbanos como falta de saneamento e segurança.

Às vezes, oportunidades oferecidas no meio urbano não compensam as dificuldades que acabam

reduzindo a qualidade de vida, embora poucas pessoas percebam este fato.

Para uma pessoa formar idéia sobre suas condições de vida e ter discernimento para

classificar as situações vivenciadas no cotidiano implica necessariamente em considerar as suas

experiências e conhecimentos acumulados no decorrer de sua vida e o entendimento dos

parâmetros e conteúdos preestabelecidos. Assim, as dificuldades de compreensão do conceito de

condições de vida, que apesar de já ter sido bastante divulgado, fazem com que muitas pessoas

tenham dúvidas. Daí a necessidade de considerar também o grau de instrução do entrevistado e

sua origem.

A exemplo das considerações acima sobre as dificuldades, o significado do conceito

de qualidade de vida, pode ser ilustrado com os resultados de uma pesquisa de opinião a respeito

desse entendimento na cidade de Macapá (anexo), coordenada pelo sociólogo Américo e

divulgado por Oliveira no Folha do Amapá (2002). Dos entrevistados, cerca de 3,5% declararam

que não sabem o seu significado e todas as outras respostas estão vinculadas a componentes

individuais de qualidade de vida, preponderando renda (26,3%) e saúde (23,7%). Desta maneira,

pode se deduzir alguns dos entrevistados deste estudo tem conhecimento pleno e imediato do

referido conceito. Através das respostas dos entrevistados ter priorizada a renda, infere-se

particularmente que a maioria dessas pessoas pertence à classe social baixa, sem discernimento

sobre seus direitos coletivos.

Essas dificuldades de compreensão fazem parte da crise de percepção decorrente das

modificações sofridas pelo mundo atual como globalização, novas tecnologias, mudança de

paradigmas científicos e outros. Capra (1982) afirma que os problemas são sistêmicos, ou seja,

eles estão interligados e são interdependentes, não podem mais ser entendidos isoladamente sem

um aporte conceitual de valores. Segundo Leripio (2002), a crise paradigmática atual, a velocidade

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do avanço tecnológico-científico e a quantidade de informações em curto espaço de tempo

contribuem para o surgimento de uma visão de mundo obsoleta, de uma percepção inadequada

da realidade, demonstrando as dificuldades de lidar com o mundo atual superpovoado e

globalmente interligado.

Na tentativa de minimizar as dificuldades de compreender os problemas sistêmicos e

o mundo atual, a variável satisfação funcional às condições de vida considerou o nível de

instrução das pessoas de referência para tentar dar mais autenticidade às opiniões. Apesar de não

ser freqüentemente abordada nos estudos sociais de IQ, esta a variável é importante para avaliar a

noção de população a respeito desse conceito e de como ela se vê como sujeito do processo.

Com o intuito de observar a percepção das pessoas de referências dos domicílios

sobre as condições de vida considerando as especificidades dos processos mentais conscientes e

inconscientes destes indivíduos propõem-se como indicador as variáveis: Sensibilidade ribeirinha

e Satisfação funcional às condições de vida em ressacas

Após vários testes de correlação entre os anos de estudo e a resposta das pessoas

entrevistadas sobre condições de vida percebeu-se um padrão, onde as pessoas sem instrução

formal e com baixo anos de estudo responderam que gostam de morar em ressacas e que estão

satisfeitos com as condições de vida. Pressupõem-se que elas não levaram em consideração a

carência de bens e serviços públicos e seus direitos de cidadão. Deste modo, considerou-se

variável Satisfação funcional às condições de vida em ressaca somente os analfabetos funcionais.

O índice parcial de percepção das condições de vida foi obtido através da média

aritmética dos parâmetros das variáveis já mencionadas no subitem sistemas de indicadores no

capítulo de metodologia e descritas particularmente no figura abaixo.

Parâmetro Variável Descrição Caráter

Sensibilidade ribeirinha

Percentual das pessoas de referência que já moraram em áreas úmidas ou alagadas anteriormente e gostam de morar em ressaca atualmente.

+

Percepção sobre as condições de vida

Satisfação funcional às condições de vida em ressaca.

Opinião da pessoa de referência do domicílio quanto ao nível de satisfação às condições de vida (Ruim – 1 a 4, Regular – 5 a 7 e Bom – 8 a 10) correlacionada com a série de estudo dessa pessoa (acima de 3 anos de estudo - analfabetismo funcional).

+

Figura 12 - Variáveis que compõem o índice parcial de percepção das condições de vida

Salienta-se que a variável satisfação funcional às condições de vida em ressaca foi

composta pela média ponderada das taxas correlacionadas de opinião: Ruim (Peso 3), Regular

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(Peso 2) e Bom (Peso 1). Devido a suposição de que as pessoas que residem sobre águas poluídas

(sobretudo por lixo e esgoto sanitário), sem atendimento adequado dos serviços básicos públicos

(água, energia elétrica, esgoto e coleta de lixo) e poucos espaços para lazer, não devem ter boas

condições de vida.

Educação A educação sempre foi temática de debates acadêmicos e alguns autores brasileiros,

como Saviani, Freire e Gadotti, que discutem em seus textos sobre as teorias educacionais.

Saviani (1991) dividiu essas teorias em não-críticas e críticas-reprodutivistas. A primeira tem

como papel difundir a instrução formal, transmitir os conhecimentos acumulados pela

humanidade e sistematizados logicamente e a outra, postula não ser possível compreender a

educação senão a partir dos seus condicionantes sociais e conhecimentos pessoais. Para Freire

(1967), a educação deve estar ligada à formação do despertar crítico, procurando decifrar o

mundo através de seu saber vivenciado. Segundo Gadotti (1980), a educação enquanto sistema de

governo, é um aparelho ideológico e só pode escapar da ideologia quando for uma práxis.

Desta maneira, conhecimento é um dos alicerces essenciais em qualquer sociedade,

pois através dele é possível modificar toda forma de agir e pensar individualmente e

coletivamente. Nesta lógica, Morin (2000) afirma que o conhecimento “é sempre tradução e

reconstrução do mundo exterior e permite um ponto de vista crítico sobre o próprio

conhecimento”. Para ele, o conhecimento é completo somente quando é construído e integrado.

No pensamento de Morin (1999), a atividade cognitiva é uma busca incessante de uma certeza, de

um fundamento sobre o qual pode-se desenvolver o conhecimento e o pensamento. Para o autor

acima citado, o processo de alfabetização não tem como único significado ensinar os símbolos

gráficos do som, mas considerar também o valor da cultura, sabedoria e os conhecimentos do

alfabetizando. Caso contrário, alfabetizar significaria a destruição de culturas e castração da

liberdade de pensar.

Por outro lado, alicerçado em Sicsú e Melo (2000), pode-se dizer que em decorrência

das exigências tecnológicas atuais, o mercado de trabalho demanda profissionais com qualificação

capaz de transpor as barreiras tecnológicas. Neste ponto, a educação formal passa a ser

determinante e no mínimo é exigido o ensino médio no mercado de trabalho.

Apesar de saber da importância da educação crítica e do nível de educação formal,

ainda não foi possível, até o presente momento, propor um sistema de indicadores capazes de

avaliá-la na íntegra. Portanto, as variáveis demonstradas na Figura 13 indicam a capacidade de

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compreensão informacional, grau de instrução, capacidade intelectual e potencial juvenil

disponível local.

Parâmetro Variável Descrição Caráter

Analfabetismo funcional

Percentual da população de 15 anos ou mais de idade com mais de três anos de estudo. +

Potencial juvenil

Percentual de estudantes acima de 15 anos com curso fundamental completo ou cursando o ensino médio ou superior, que podem ser “aproveitados “ na comunidade local.

+ Educação

Escolaridade de adultos

Média de anos de estudo da população de 25 anos ou mais e o total de pessoas neste segmento etário. +

Figura 13 - Variáveis que compõem o índice parcial de educação

Saúde A saúde é um dos fatores básicos para a longevidade do homem. Não podem faltar

remédios e pronto atendimento médico. Sua busca justifica algumas movimentações

populacionais.

De maneira geral, discorrer sobre a saúde pressupõe observar inicialmente os tipos

de moléstias que atingem a população, depois o atendimento, profissionais, instalações prediais,

equipamentos e outros. Além das moléstias os outros aspectos não puderam ser verificados

devido a inexistência na área de atendimento formal. Por isso, o item saúde considerou somente

as doenças causadas por agentes externos decorrentes do meio ambiente e modo de vida.

A inter-relação entre saúde, ambiente e cidade, de acordo Guimarães (2001), já era

considerada agravo à saúde desde o paradigma hipocrático, o qual é geralmente considerada a

matriz do pensamento médico do mundo ocidental. A componente que minimiza os processos

de transmissão das doenças infecto-contagiosas é o saneamento. Neste contexto, segundo Abreu

(1997) apud Guimarães (2001), os profissionais de saúde começaram a intervir no espaço social

das cidades através de contribuições em projetos de saneamento; através da observação, registro e

análise estatística de doenças e proposições explicativas dos determinantes biológicos das

doenças. Procurava-se identificar relações de causa e efeito das doenças nas interações entre o

meio físico e o social.

Considerando a possível delimitação da doença e os aspectos epidemiológicos como

resultados de condições específicas de vida em ambientes sociais, econômicos e políticos, Sorre

(1955) apud Guimarães (2001), afirma que “a constituição dos complexos patogênicos depende,

em grande parte, do tipo de vida dos grupos humanos e dos costumes que este gênero de vida

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exerce sobre vestuário, alimentação e condição de moradia”. Neste contexto, atualmente, a

Organização Mundial de Saúde (OMS) vem observando o comportamento das doenças, como

por exemplo a AIDS e doenças tropicais através da totalidade sócio-espacial, ou seja, considera o

local de moradia, hábitos, classe social e as demais condições sociais e econômicas.

Devido ao fato de as ressacas urbanas de Macapá e Santana não disporem de

instalações prediais, buscou-se saber sobre a saúde da população residente através da variável

acometimento de doenças por domicílio (de caráter negativo). A referida variável é o percentual

de ocorrência de doenças no domicílio que podem estar relacionadas às condições habitacionais e

ambientais decorrentes de pressão antrópica. Também se investigaram as doenças de pele e

verminoses, as quais tem possibilidades de procederem da carência de saneamento básico.

O índice parcial de acometimento de doenças foi constituído pela média ponderada

de malária, hepatite, leptospirose e dengue com peso 2 e doenças de pele e verminoses com peso

1. A ponderação considerou a gravidade da doença.

Saneamento Básico Devido à preocupação atual com a conservação dos recursos naturais,

particularmente a água, o saneamento básico perpassa por quase todas os outros itens discutidos

neste trabalho, implicando na qualificação social, econômica e ambiental. A ausência e carência de

saneamento básico incidem diretamente nos recursos aquáticos, fundamentalmente na água.

Desta maneira, pode-se dizer que a estrutura de saneamento básico é essencial para a existência e

reprodução da população humana.

A importância do saneamento na saúde da população urbana vista pela ótica da

medicina tem sido discutida por vários autores, entre eles Schmidt e Farret (1986) que defendem

a medicina preventiva nas cidades, pois a ausência e dificuldade de acesso à água potável, coleta

de lixo e esgoto sanitário derivam nas carências diversas e disseminação de doenças. Dos

elementos constituintes de saneamento, a água pode ser considerada o mais relevante, dada a

condicionalidade da vida humana. Assim, as variáveis resultantes, mostradas na Figura 14,

indicam o acesso ao saneamento básico pela população residente em áreas de ressacas.

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Parâmetros Variável Descrição Caráter

Abastecimento de água Número de domicílios que utilizam água tratada. +

Armazenamento de água

Numero de domicílio com armazenamento de água adequado. +

Coleta de lixo domiciliar Percentual de domicílio com coleta de lixo (peso 1). +

Saneamento Básico

Destino dos dejetos humanos Destino dos dejetos humanos por domicílio. +

Figura 14 - Variáveis que compõem o índice parcial de saneamento básico

Diante da peculiaridade das ressacas, na variável abastecimento de água - considerou-

se como água tratada aquela proveniente da Companhia de Água e Esgoto do Estado do Amapá

(CAESA) e; na variável armazenamento de água - julgou-se que o adequado é guardá-la em caixas

d'água e baldes plásticos.

O índice parcial de saneamento básico foi composto pela média ponderada das

variáveis abastecimento de água (peso 2), armazenamento de água (peso 2), coleta de lixo (peso 1)

e destino dos dejetos humanos (peso 2). A ponderação de pesos considerou a confrontação dos

resultados percentuais obtidos com as observações in loco.

Associativismo A organização social é uma das formas que as classes sociais utilizam para

expressarem suas aspirações na sociedade e, para observar o envolvimento das pessoas residentes

de referência dos domicílios no parâmetro associativismo, elegeu-se a variável positiva de

participação social que verifica o percentual das pessoas de referência que participam de

organizações sociais.

Estrutura habitacional Como o próprio nome já esclarece, o parâmetro estrutura habitacional reflete o

estado da habitação como necessidade básica do ser humano. A moradia apropriada é uma das

condições determinantes para as condições de vida da população. A durabilidade dos materiais

empregados na construção de habitação (durabilidade habitacional) e a densidade de moradores

por dormitório (conforto domiciliar), em conjunto com a disponibilidade de serviços básicos de

infra-estrutura (água, esgotamento sanitário, coleta de lixo, energia elétrica), já tratados

anteriormente em saneamento básico, expressam parte da qualidade de vida dos moradores em

ressacas. Além disso, a habitação com todas as paredes edificadas e a durabilidade dos materiais

de construção influenciam na privacidade familiar, orçamento familiar e avaliação do imóvel. A

presença de quartos, além de aumentar a privacidade individual e conforto domiciliar,

dependendo da densidade de pessoas por dormitório, diminui o risco de transmissão de doenças

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contagiosas. Atentou-se também para o Acesso à Energia Elétrica Pública dada sua importância

ao acesso as facilidades modernas atuais. Desta forma, objetivando traduzir o estado dos prédios

residenciais e conforto e privacidade de seus moradores, selecionaram-se as variáveis de

durabilidade habitacional, conforto domiciliar e acesso à energia elétrica, as quais estão descritas

na Figura 15.

Parâmetros Variável Descrição Caráter

Durabilidade habitacional

Porcentagem dos domicílios totalmente acabados, edificados com material de construção duráveis, consideram-se materiais duráveis de parede (alvenaria ou madeira) e teto (telha de barro, zinco ou amianto).

+

Conforto domiciliar

Percentual de densidade mínima de três moradores por dormitório. +

Estrutura habitacional

Acesso a energia elétrica

Percentual de domicílios com abastecimento de energia elétrica pública. +

Figura 15 - Variáveis que compõem o índice parcial de estrutura habitacional

Disponibilidade espacial de serviços públicos Dentro das áreas de ressacas de Macapá e Santana, não há instalações prediais

públicas, logo os serviços como educação e saúde não estão disponíveis territorialmente,

existindo apenas nas proximidades. Assim, sustentado pelos princípios de Gallopín (1986),

Barbosa (1995) e Bossel (1999) se observou, através dos indicadores de Acesso a Saúde,

Segurança, Educação e Comunicação, a distância dos prédios que abrigam os aparelhos sociais

públicos, tais com escola, postos de saúde, correios e policiais.

Alguns serviços públicos como saúde, educação e segurança requerem

estabelecimentos imobiliários na presteza do atendimento. A disposição das instalações prediais

em relação às moradias populacionais constitui a rede de atendimento público contribuindo para

a produção do espaço urbano. À distância entre o local de atendimento e a residência do usuário

pode implicar na agilidade e dificuldade de acesso no atendimento.

Neste sentido, a rede de equipamentos sociais não é somente um dado, mas uma

questão em aberto. Não se trata somente de uma rede de equipamentos conectados, mas de um

conjunto de atores sociais que a freqüentam em busca de um objetivo ou para cumprir uma tarefa

bem localizada territorialmente. Cada um destes atores (corpo técnico e unidades de atendimento,

usuários dos serviços, lideranças das associações de moradores, entre outros) ocupa uma posição

relativa, ou seja, articulações conectadas à rede.

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Dada a realidade amazônica, considerou-se a distância mínima de dois quilômetros

entre a residência e o imóvel onde estão instalados os equipamentos sociais, e observou-se a

freqüência de instalações prestadoras de serviços.

Desta forma, o parâmetro disponibilidade espacial dos serviços públicos foi

observado através da variável positiva de acesso aos serviços públicos da média das unidades

imóveis de saúde, postos policiais, unidades escolares, postos de correio em uma distância

mínima de dois quilômetros de cada unidade territorial trabalhada.

♦ Resultados dos indicadores

Populacional

Em 2000 (IBGE) o censo indicou que cerca de 81% dos 169,8 milhões de brasileiros

vivem no meio urbano. No Estado do Amapá, a maior parte da população urbana reside nas

cidades de Macapá (270.628) e Santana (75.849) representando 81,58% da população urbana

estadual e 72,63% da população total estadual. Macapá destaca-se por concentrar 63,72% da

população urbana estadual. Logo, as pressões populacionais para fins habitacionais nas ressacas

macapaenses são maiores do que no restante do Estado.

Ao observar os dados censitários para o referido ano (IBGE 2002c), nota-se que a

proporção populacional residente em áreas costeiras15 no Estado do Amapá (89,3%) é maior do

que o país (23,9%), região Norte (31,5%) e outros estados brasileiros, os quais geralmente não

ultrapassam 50% de sua população total, com exceção do Estados do Rio de Janeiro (83,4%),

Espírito Santo (65,5%), Pará (58,8%) e Alagoas (50,6%). A concentração populacional em áreas

costeiras e ausência de políticas públicas habitacionais estaduais, nas cidades de Macapá e Santana

têm corroborado para a pressão antrópica em áreas úmidas. Atualmente do total populacional do

Estado do Amapá (477.032 pessoas), cerca de 81,58% moram nas cidades de Macapá e Santana, e

destes aproximadamente 8,37% residem nas ressacas.

De acordo com os dados já apresentados anteriormente na Tabela 4 (resumo do

plano amostral da pesquisa), no capítulo 4, o qual trata da metodologia, as ressacas que

apresentam o maior número de domicílios particulares permanentes são Beirol em Macapá, e

Provedor em Santana. Normalmente, as áreas com maior presença de residências tendem a ser

1.1

15 Os municípios integrantes da zona costeira são definidos em lei pelo Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro. Ou seja, municípios que sofrem influência direta dos fenômenos ocorrentes na Zona Costeira.

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aquelas mais populosas, neste caso, a premissa geral é verdadeira: Beirol e Provedor são as áreas

úmidas mais densamente habitadas.

As sedes urbanas de Macapá e Santana contêm respectivamente 4,63 e 5,00 pessoas

por domicílio (censo 2000), porém, para essa mesma variável, as ressacas de Macapá e de Santana

apresentaram resultados estatísticos de 5,03 e 5,19 respectivamente, demonstrando uma maior

concentração de pessoas por domicílio. Conforme Tabela 5, as médias de pessoas por domicílio

acima da média de seus municípios foram obtidos nas áreas de Fonte Nova, Lagoa dos Índios, Sá

Comprido, Laguinho/Nova Esperança, Tacacá, Provedor e Paraíso com 6,00; 5,75 ; 6,64; 5,59;

5,48; 5,41; e 5,30 respectivamente. Os menores percentuais atingidos foram ressacas de Chico

Dias (4,82), Beirol (5,02), Lago da Vaca (4,81), Lago do Pacoval (4,68), Vaga-lume (4,0) e Funda

(4,45).

Tabela 5 – Valores percentuais de pessoas e famílias nas ressacas por domicílio.

Famílias por Domicílio Ressaca

Média de Pessoa por Domicílio Uma Duas Três Quatro

Chico Dias 4,82 88,89 10,37 0,74 - Beirol 5,02 85,19 12,96 1,23 0,62 Tacacá 5,48 96,72 - 1,64 1,64 Lagoa dos Índios 5,75 50,00 50,00 - - Sá Comprido 5,64 71,43 21,43 - 7,14 Lago da Vaca 4,81 87,50 6,25 6,25 - Lago do Pacoval 4,68 75,00 16,67 8,33 - Laguinho Nova Esperança 5,59 67,65 17,65 14,71 -

Provedor 5,41 95,65 4,35 - - Paraíso 5,30 93,94 6,06 - - Vaga-lume 4,00 100,00 - - - Fonte Nova 6,00 87,50 12,50 - - Funda 4,45 100,00 - - - Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001)

Os valores nas unidades estudadas, mostrados na Tabela 5, indicam uma maior

concentração populacional nas ressacas, provavelmente por causa do domicílio ser habitado por

mais de uma família e/ou por ter apresentado um número de membros das famílias acima de 4

pessoas. Ressalta-se que o número de mais de uma família no domicílio não caracteriza um déficit

habitacional, mas deve-se geralmente pela ausência ou baixa renda da mesma, na verdade são

novas famílias que dependem financeiramente da família de origem.

Os resultados do último censo populacional mostram que a população feminina

urbana do Brasil (51,52%), Norte (50,73%), Estado do Amapá (50,33%), municípios de Macapá

(51,00%) e Santana (49,89%), não apresentam muitas discrepâncias entre si.

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Conforme estudo de tendências demográficas do IBGE (2002), o gráfico abaixo

demonstra que havia em 2000 um equilíbrio entre homens e mulheres no Estado do Amapá, com

razão de sexo de 100,79 (100,79 homens para 100 mulheres) e comportamento diferenciado da

tendência histórica de predominância feminina na composição por sexo da população do Brasil

(Figura 16). Nas áreas urbanas, registrou-se um número médio de 98,70 homens para cada 100

mulheres.

No que diz respeito a razão de sexo no resultado total nas ressacas obteve-se um

valor de 96,23 homens (96,23 homens para 100 mulheres). Porém, algumas áreas como Lago da

Vaca (87,80), Laguinho do Pacoval (87,33), Laguinho Nova Esperança (87,50), Funda (68,97),

Provedor (88,38), Chico Dias (94,15), Lagoa dos Índios (91,67), Sá Comprido (92,68)

predominaram a população feminina. As ressacas onde predominaram o sexo masculino foram as

ressacas Vaga-lume (140,00), Fonte Nova (128,57), Paraíso (118,75) e Tacacá (103,66). Somente a

ressaca Beirol (100,25) demonstrou equilíbrio entre os sexos mostrados na Tabela 6.

Tabela 6 – Valores percentuais de homens, mulheres e razão de sexo entre residentes nas ressacas.

Ressaca Homens (%) Mulheres (%) Razão De Sexo Chico Dias 48,49 51,51 94,15 Beirol 50,06 49,94 100,25 Tacacá 50,90 49,10 103,66 Lagoa dos Índios 47,83 52,17 91,67 Sá Comprido 48,10 51,90 92,68 Lago da Vaca 46,75 53,25 87,80 Lago do Pacoval 46,62 53,38 87,33 Laguinho Nova Esperança 46,67 53,33 87,50 Provedor 46,92 53,08 88,38 Paraíso 54,29 45,71 118,75 Vaga-lume 58,33 41,67 140,00 Fonte Nova 56,25 43,75 128,57 Funda 40,82 59,18 68,97 Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001)

Figura 16 - Razões de sexo no Estado do Amapá (1960/2000) Fonte: IBGE (2000)

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O processo de envelhecimento da população brasileira é confirmado pelas

informações demográficas publicadas pelo Jornal Folha de São Paulo (2002), em função da queda

de fecundidade das mulheres e mortalidade, acontecer em ritmo mais acelerado do que o

observado na Europa do século XIX até agora. O aumento dos idosos vai provocar a

coexistência de várias gerações. Apesar de boa parte dos idosos serem uma força econômica na

renda familiar e representarem cerca de 8,6% da população brasileira, as pessoas acima de 60

anos ainda precisam buscar espaço na família e na sociedade. Em apreciação analítica da Tabela 7,

quanto ao processo de evolução populacional, segundo grupos de idade, nota-se que o Estado do

Amapá, está em harmonia com os indicadores nacional e regional, já que as populações de

idosos nestes níveis são menores do que em outras faixas etárias. Porém, os municípios de

Macapá (2,74%) e Santana (2,77%) apresentam uma população um pouco maior que o Estado do

Amapá e menor que a população brasileira de idosos. Este fato provavelmente seja devido a

baixa longevidade da população amapaense.

Tabela 7 – Grupos de idade no Brasil, Região Norte e Amapá ( 2000).

Faixa Etária da População Residente Unidade Geográfica População Residente

0 a 14 anos 15 a 64 anos 65 anos ou mais

Brasil 169.799.170 29,60% 64,55% 5,85%

Região Norte 12.900.704 37,22% 59,14% 3,64%

Amapá 477.032 39,37% 57,94% 2,69% Fonte: IBGE – Censo Demográfico - 2000

Deste modo, pode-se dizer que a faixa etária de uma população e sua idade média

influencia na produtividade econômica regional e na demanda dos serviços sociais públicos,

notadamente em saúde e educação.

Analisando os resultados censitários de 2000, mostrados na Tabela 8, percebe-se que

para o Estado do Amapá as faixas etárias que têm maior número de pessoas correspondem aos

intervalos de 0 a 14 anos (39,37%) e a faixa de 25 a 64 anos (35,54%), enquanto que, nestas

mesmas faixas, os municípios de Macapá (37,32% e 37,03%) e Santana (40,75% e 33,80%),

mantêm esse mesmo comportamento.

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91

Tabela 8 – População residente nas ressacas por faixa etária - 2000

População Residente Município Total

0 a 9 anos

% 0 a 14 anos

% 15 a 24 anos

% 25 a 64 anos

% acima de 65 anos

%

Macapá 283.308 72.325 25,53 105724 37,32 64911 22,91 104.915 37,03 7.758 2,74

Santana 80.439 22.223 27,63 32780 40,75 18246 22,68 27.187 33,80 2.226 2,77

Estado do Amapá 47.7032 129.040 27,05 187825 39,37 106846 22,40 169.530 35,54 12.831 2,69

Fonte: IBGE – Censo Demográfico - 2000

Nota-se na Tabela 9, que a idade média nas ressacas estão próximos, entre 24,52 a

17,78 anos. Em relação a esta variável as ressacas estão apresentadas em ordem decrescente a

seguir: Lagoa dos Índios (24,52); Paraíso (21,38); Laguinho Nova Esperança (21,15); Provedor

(20,58); Vaga-lume (20,50); Beirol (20,40), Lago do Pacoval (20,07); Chico Dias (19,93); Sá

Comprido (19,35); Lago da Vaca (18,77); Fonte Nova (18,65), Tacacá (18,20) e Funda (17,78).

Tabela 9 – População residente por faixa etária em Ressacas.

Faixa Etária Ressaca

0 a 10 11 a 25 26 a 65 Acima de 65 Idade Média

Chico Dias 33,28 26,20 39,3 1,20 19,93 Beirol 32,96 26,32 39,5 1,23 20,40 Tacacá 40,72 24,85 32,6 1,80 18,20 Lagoa dos Índios 30,43 17,39 52,2 0,00 24,52 Sá Comprido 34,18 25,32 40,5 0,00 19,35 Lago da Vaca 36,36 28,57 33,8 1,30 18,77 Lago do Pacoval 33,81 22,78 43,1 0,36 20,07 Laguinho Nova Esperança 30,00 30,56 36,7 2,78 21,15 Provedor 34,58 27,35 35,9 2,14 20,58 Paraíso 31,43 26,29 41,7 0,57 21,38 Vaga-lume 41,67 16,67 41,7 0,00 20,50 Fonte Nova 37,50 20,83 39,6 2,08 18,65 Funda 38,78 28,57 30,6 2,04 17,78

Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001)

De acordo com os dados amostrais mostrados na Tabela 9, nas ressacas de Macapá e

Santana, destacam-se as faixas etárias de 0 a 10 anos e 26 a 65 anos, muito embora, a idade média

seja de 20 anos para Macapá e 18 anos para Santana, indicando uma população jovem, com

potencial para o trabalho. A idade média total das pessoas residentes em ressacas é 20,10 anos,

este fato deve-se provavelmente devido a maioria dos domicílios abrigarem famílias recentemente

construída e jovens que migraram das ilhas do Pará em busca de instrução.

A informação da população classificada por idade é um dos elementos mais

importantes de análises demográficas. A estrutura por idade reflete aspectos relevantes da história

de uma determinada população e sua situação atual. Além disso, é possível relacionar outras

características importantes com a idade das pessoas. Isto ocorre devido ao fato de que quase

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todos os aspectos relacionados com população se comportam de forma distinta de acordo com a

idade da mesma.

Em conformidade com o IBGE (2002), a razão de dependência demográfica

dimensiona a população no que diz respeito a sua força de trabalho e geração de renda. Tanto os

demógrafos como os economistas utilizam essa variável como uma medida de “carga” exercida

pela fração populacional dependente em relação à população não-dependente, isto é,

trabalhadores. Nota-se que nesta definição, a idade é determinante, não sendo consideradas as

questões vinculadas ao funcionamento do mercado de trabalho.

No que concerne à referida variável, o resultado total para área de ressaca foi de

84,62% de jovens e idosos em relação ao total de 100 pessoas ativas, acima do percentual estadual

total (72,60%) e urbano (69,81%) e dos apresentados na Tabela 10. Destacaram-se com os

valores mais elevados as áreas úmidas de Tacacá (114,10%); Lago da Vaca (113,89%); Fonte

Nova (118,18%) e Funda (113,04%) que podem ser interpretados como desvantagem econômica,

pois supõe-se que nas classes sociais mais baixas, as pessoas de menor idade e as pessoas mais

velhas contribuam pouco para o processo econômico. As áreas úmidas da Lagoa dos Índios

(64,29%); Lago do Pacoval (69,28%) e Paraíso (71,57%) obtiveram os menores percentuais. As

demais ressacas apresentaram valores intermediários: Provedor (96,32%); Vaga-lume (84,62%);

Beirol (80,67%); Sá Comprido (79,55%); Chico Dias (79,46%) e Laguinho Nova Esperança

(73,08%).

Tabela 10 – Valores percentuais de razão de dependência demográfica entre residentes das ressacas.

População Inativa População Ativa Ressaca

0 a 14 anos 65 anos ou mais 15 a 64 anos Razão de Dependência

Demográfica

Chico Dias 42,92 55,72 1,36 79,46 Beirol 43,42 55,35 1,23 80,67 Tacacá 51,20 46,70 2,10 114,10 Lagoa dos Índios 39,13 60,87 - 64,29 Sá Comprido 44,00 - 56,00 79,55 Lago da Vaca 51,95 46,75 1,30 113,89 Lago do Pacoval 40,21 59,08 0,71 69,28 Laguinho Nova Esperança 39,44 57,78 2,78 73,08 Provedor 46,11 50,94 2,95 96,32 Paraíso 41,14 58,29 0,57 71,57 Vaga-lume 45,83 54,17 - 84,62 Fonte Nova 52,08 45,84 2,08 118,18 Funda 51,02 46,94 2,04 113,04

Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001)

No que diz respeito ao Índice Parcial Populacional, nota-se, na Tabela 11, que os

maiores valores foram alcançados pelas ressacas Lagoa dos Índios (2,77%) e Vaga-lume (2,49%).

Em relação as outras ressacas, Lagoa dos Índios e Vaga-lume apresentaram uma baixa quantidade

de domicílios e a maior parte de sua população residente é constituída de adultos potencialmente

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ativos economicamente, demonstrando uma boa qualidade populacional quando analisada a

partir da distribuição espacial e produtividade.

Tabela 11 – Valores reescalonados por variável e índice parcial populacional entre residentes das ressacas.

Ressaca População Residente

Razão do Sexo

Idade Média

Razão de Dependência Demográfica

Índice Parcial Populacional

Chico Dias 1,604 2,108 1,810 2,341 1,966 Beirol 1,454 2,209 2,021 2,295 1,995 Tacacá 2,099 2,268 1,123 1,102 1,648 Lagoa dos Índios 3,000 2,068 3,000 3,000 2,767 Sá Comprido 2,834 2,084 1,542 2,337 2,200 Lago da Vaca 2,802 2,008 1,314 1,108 1,808 Lago do Pacoval 2,114 2,002 1,881 2,765 2,190 Laguinho Nova Esperança 2,529 2,003 2,172 2,598 2,325 Provedor 1,000 2,017 2,056 1,683 1,689 Paraíso 1,656 2,547 2,220 2,663 2,272 Vaga-lume 2,691 3,000 2,040 2,224 2,489 Fonte Nova 2,575 2,747 1,271 1,000 1,899 Funda 2,411 1,000 1,000 1,130 1,385 Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001)

Percepção sobre as condições de vida

No que diz respeito à variável sensibilidade ribeirinha, destacaram-se com

percentuais acima da média (5,48%) as ressacas de Tacacá (6,45%); Provedor (7,25%); Funda

(9,09%); Lago da Vaca (12,5%) e Lagoa dos Índios (25,00%), abaixo da média estão os valores

percentuais das ressacas Chico Dias (2,94%) e Paraíso (3,17%). As ressacas de Sá Comprido,

Lago do Pacoval, Laguinho Nova Esperança, Vaga-lume, Fonte Nova, Chico Dias e Paraíso não

tiveram pessoas de referência entrevistadas que já houvessem morado em áreas úmidas

anteriormente. Salienta-se que das pessoas de referência nas ressacas Tacacá, Funda e Lago da

Vaca, cerca 9,68%; 36,4% e 37,50% (ver anexo), respectivamente, gostam de morar dentro das

ressacas. Na Lagoa dos Índios, 75,00% gostam de morar nas margens da Lagoa de mesmo nome

e nas bordas das ressacas em conjuntos habitacionais. A diferença pode estar na relação direta das

pessoas com a água e parâmetros de avaliação das vantagens e desvantagens de moradia. Para

tanto serão necessárias investigações mais aprofundadas.

Das pessoas de referência, com mais de 3 anos de estudo, questionadas quanto ao

nível de satisfação funcional às condições de vida em ressacas, nota-se, na Tabela 12, que a

maioria respondeu que são ruins. Na ressaca do Paraíso, 51,72% responderam que as condições

de moradias são boas, provavelmente devido a oportunidade de morar em casa própria não

onerando gastos no orçamento familiar pois, aparentemente, essas famílias apresentam uma baixa

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renda familiar. Essa suposição poderá ser comprovada posteriormente com a correlação entre

esta taxa com a variável de renda familiar per capita.

Tabela 12 – Percentuais de opinião das pessoas de referência dos domicílios ressacas.

Condições de Vida nas Ressacas Ressaca

Gostam de Morar em Ressacas Ruim Regular Bom

Chico Dias 10,29 36,00 37,60 26,40 Beirol 13,58 37,04 37,65 25,31 Tacacá 9,78 35,48 30,65 33,87 Lagoa dos Índios 75,00 - - 100,00 Sá Comprido ----- 57,14 28,57 14,29 Lago da Vaca 35,50 43,75 31,25 25,00 Lago do Pacoval 1,67 56,67 28,33 15 Laguinho Nova Esperança 2,94 35,29 41,18 23,53 Provedor 10,14 36 37,6 26,4 Paraíso 14,29 24,14 24,14 51,72 Vaga-lume 16,67 16,67 66,67 16,66 Fonte Nova ----- 28,57 42,86 28,57 Funda 36,40 9,09 63,64 27,27

Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001)

Nota-se também na Tabela 12 que somente na Lagoa dos Índios todos os

entrevistados responderam unanimemente que estão satisfeitos com as condições de vida,

evidenciando que a população residente na Lagoa dos Índios tem acesso ao saneamento básico.

De acordo com a metodologia da variável referida no parágrafo anterior, levou-se em

consideração os anos de estudo do entrevistado devido as dificuldades de compreensão do

conceito de qualidade de vida pela população residente. No entanto, conforme o exemplo da

ressaca Beirol, demonstrada na Tabela 13, observou-se que as opiniões de satisfação de vida em

ressacas não estão diretamente relacionadas aos anos de estudo, mas a noção dos conceitos de

condições de vida.

Conforme a Tabela 9, do total das pessoas de referência na ressaca do Beirol, 21,80%

cursaram o ensino fundamental completo, destes 21,80% classificaram o nível de satisfação como

ruim (33,30%), regular (9,30%) e bom (25,80%), os quais são equivalentes a 10,90%; 3,60% e

7,30% do total geral de pessoas entrevistadas. Nota-se que as opiniões divergem entre ruim e

bom, já que os percentuais desta modalidade de ensino concentram-se nestas duas classes.

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Tabela 13 – Percentual do nível de satisfação com as condições de vida, por série de estudo das pessoas

de referência da ressaca Beirol.

Anos De Estudo Por Faixa Nível de

Satisf. Percentual em Relação 4 a Série

Completo 5a a 7 a Série

Ensino Fundamental

Completo

Ensino Médio

Incompleto

Ensino Médio

Completo

Ensino Superior

Completo Total

Série de estudo 8,30 27,80 33,30 8,30 22,20 ___ 100,00Ruim Total 2,70 9,10 10,90 2,70 7,30 ___ 32,73 Série de estudo 18,60 44,20 9,30 14,00 11,60 2,30 100,00Regular Total 7,30 17,30 3,60 5,50 4,50 0,90 39,09 Série de estudo 6,50 25,80 25,80 16,10 25,80 ___ 100,00Bom Total 1,80 7,30 7,30 4,50 7,30 ___ 28,18

TOTAL 11,80 33,600 21,80 12,70 19,10 0,90 100,00Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001).

Na avaliação dos entrevistados com mais de 3 anos de estudo, quanto ao nível de

satisfação as condições de vida nas ressacas, conforme demonstrado na Tabela 14, os maiores

percentuais por nível foram: no nível bom, as áreas úmidas Chico Dias (35,79%) e Tacacá

(33,33%); no nível regular, as áreas úmidas Laguinho Nova Esperança (44,83%) e Paraíso

(42,11%); e no nível ruim, as áreas úmidas Lago do Pacoval (54,17%), Provedor (57,94%) e Sá

Comprido (57,14%).

As pessoas de referência dos domicílios (72,15%) justificam a escolha de morar em

ressacas pela dificuldade de encontrar áreas acessíveis financeiramente e próximas aos serviços

públicos urbanos. Porém, das pessoas de referência entrevistadas, cerca de 20,45% gostam de

morar em área de ressaca e destes, 5,44% já moraram anteriormente em áreas úmidas.

Tabela 14 – Percentual da opinião das pessoas de referência dos domicílios ressacas com mais de 3 anos

de estudo e as variáveis de satisfação funcional e sensibilidade ribeirinha.

Ressaca Ruim Regular Bom Satisfação Funcional

Sensibilidade Ribeirinha

Chico Dias 35,79 28,42 35,79 33,33 2,94 Beirol 32,73 39,09 28,18 34,09 4,29 Tacacá 30,56 36,11 33,33 32,87 6,45 Lagoa dos Índios ____ ____ 100,00 16,67 25,00 Sá Comprido 61,54 23,08 15,38 41,03 ___ Lago da Vaca 50,00 30,00 20,00 38,33 12,50 Lago do Pacoval 54,17 31,25 14,58 39,93 ___ Laguinho Nova Esperança 37,93 44,83 17,24 36,78 ___ Provedor 57,97 33,33 8,70 41,55 7,25 Paraíso 31,58 42,11 26,31 34,21 3,17 Vaga-lume 50,00 25,00 25,00 37,50 ___ Fonte Nova 50,00 25,00 25,00 37,50 ___ Funda 50,00 50,00 ___ 41,67 9,09 Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001).

De acordo com apreciação dos percentuais da variável de sensibilidade ribeirinha na

Tabela 14, nota-se que as ressacas que obtiveram maiores valores foram Lagoa dos Índios

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(25,00%), Lago da Vaca (12,50%) e Funda (9,09%) e as que tiveram menores percentuais foram

Provedor (7,25%), Tacacá (6,45%), Beirol (4,29%), Paraíso (3,14%) e Chico Dias (2,94%).

Para a referida variável algumas ressacas que não obtiveram nenhum percentual

foram porque nenhuma pessoa de referência respondeu que gosta de morar em ressacas (Fonte

Nova e Sá Comprido) ou ter morado antes em áreas úmidas (Vaga-lume, Laguinho Nova

Esperança, Lago do Pacoval). Contudo, nessas ressacas, a maioria dos entrevistados (percentuais

acima de 58%) respondeu que residem em ressacas por falta de opção.

A ressaca Lagoa dos Índios teve um alto percentual de sensibilidade ribeirinha

porquê 75% das pessoas entrevistadas responderam que gostam de morar nas bordas das ressacas

e 25% responderam que tem outros motivos. Do total de 75% que gostam de morar próximo às

ressacas, 25% já residiram antes em áreas úmidas.

Ressalta-se que dos residentes indagados no Lago da Vaca, 25% já moram perto da

água e destes, 37,50% declararam gostar de morar em ressacas, ao passo que em Santana

destacou-se a ressaca Funda com o maior percentual de pessoas que já moraram em áreas

semelhantes e gostam de morar nas ressacas.

Nota-se, na Tabela 15 que o índice parcial de percepção às condições de vida teve os

maiores percentuais nas ressacas Funda, Provedor, Vaga-lume e Lago do Pacoval provavelmente

pelo fato das pessoas de referência dos domicílios terem tido mais discernimento das condições

em que vivem.

Tabela 15 – Valores reescalonados das variáveis que compõem o índice parcial de percepção sobre às

condições de vida.

Ressaca Sensibilidade

Ribeirinha Satisfação Funcional Sobre as

Condições de Vida em RessacaÍndice Parcial de Percepção

às Condições de Vida Chico Dias 1,000 1,829 1,414 Beirol 1,000 1,880 1,440 Tacacá 1,000 1,798 1,399 Lagoa dos Índios 1,000 1,000 1,000 Sá Comprido 1,000 2,870 1,935 Lago da Vaca 1,442 2,382 1,912 Lago do Pacoval 1,486 2,661 2,073 Laguinho Nova Esperança 1,717 2,072 1,894 Provedor 2,041 2,975 2,508 Paraíso 2,075 1,888 1,981 Vaga-lume 2,156 2,249 2,202 Fonte Nova 2,314 2,249 2,281 Funda 3,000 3,000 3,000 Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/CPAQ (2001)

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Educação De acordo com os dados da PNAD (1999) publicados pelo IBGE (2000b), as taxas

de analfabetismo funcional (pessoas de 15 anos ou mais de idade) no Brasil (29,4%), região norte

(28,7%) e Estado do Amapá (24,7%), quando comparadas com os outros estados da Região

Norte, demonstram que o Amapá seguido de Roraima (16,1%) apresentam os menores valores.

Contudo a evolução da alfabetização de adultos no Estado vem apresentando um

aumento nos censos de 1980, 1991 e 2000 com taxas de 75,40%, 80,75% e 87,90%,

respectivamente. Contudo, no meio urbano em 2000, a taxa de analfabetismo no Estado do

Amapá (10,39%) teve um percentual superior que o país (10,25%) e inferior que a Região Norte

(11,15%).

Dentre as ressacas estudadas, no item educação, a média geral de analfabetismo de

adultos, analfabetismo funcional, escolaridade de adultos e potencial jovem foram

respectivamente 84,26%; 65,10%; 4,84 anos e 33,22%.

Nota-se nos dados exibidos na Tabela 16 que algumas ressacas destacam-se por

apresentarem percentuais acima da média geral: Sá Comprido (86,36%) e Lago do Pacoval

(83,65%) em analfabetismo funcional; Lagoa dos Índios (9 anos) em escolaridade de adultos e

(64,29%) em potencial jovem.

Tabela 16 – Variáveis que compõem o índice parcial de educação dos residentes em ressacas.

Ressaca Analfabetismo Funcional Escolaridade De Adultos Potencial Jovem

Chico Dias 68,73 4,77 30,46 Beirol 64,77 4,60 37,70 Tacacá 38,00 2,80 15,56 Lagoa dos Índios 78,57 9,00 64,29 Sá Comprido 86,36 6,26 56,82 Lago da Vaca 70,26 5,65 37,84 Lago do Pacoval 83,65 5,60 40,88 Laguinho Nova Esperança 82,24 5,68 48,60 Provedor 55,50 4,32 33,00 Paraíso 59,80 4,37 29,41 Vaga-lume 53,85 3,63 15,38 Fonte Nova 54,55 3,71 13,64 Funda 50,00 2,55 8,33 Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001)

Ao observar os percentuais da população de 15 anos ou mais de idade, com mais de

três de anos de estudo (analfabetismo funcional), percebe-se que as ressacas dividem-se em

quatro blocos distintos: o primeiro, com os maiores valores, corresponde a Sá Comprido

(86,36%), Lago do Pacoval (83,65%) e Laguinho Nova Esperança (82,24%) e Lagoa dos Índios

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(78,57%); o segundo é composto pelas áreas de Lago da Vaca (70,26%), Chico Dias (68,73%) e

Beirol (64,77%); o terceiro é formado por Paraíso (59,80%), Provedor (55,50%), Fonte Nova

(54,55%), Vaga-lume (53,85%), Funda (50%) e por último, com menor valor, Tacacá (38,00%).

O primeiro bloco também teve os maiores percentuais de potenciais de jovens e

escolaridade de adultos, ou seja, apresentaram o maior número de jovens que podem ser

"aproveitados" em trabalhos comunitários e adultos com média acima de cinco anos de estudo.

Apesar da ressaca de Tacacá ter tido o menor percentual de alfabetismo funcional, a

mesma obteve um percentual de escolaridade de adultos acima das ressacas Funda (8,33%), Vaga-

lume (15,38%) e Fonte Nova (13,64%).

De acordo com os dados demonstrados na Tabela 17, o índice parcial de educação

atingiu seu maior valor reescalonado na Lagoa dos Índios (2,509) devido a mesma ter obtido os

maiores valores percentuais de escolaridade de adultos e potencial jovem enquanto que a ressaca

Tacacá teve o menor valor (1,267) devido todas as suas variáveis reescalonadas foram muito

baixas. Salienta-se que a Lagoa dos Índios é a única área estudada que tem em seu interior escolas

estaduais de ensino fundamental.

Tabela 17 – Variáveis reescalonados que compõem o índice parcial de educação dos residentes em

ressacas

Ressaca Analfabetismo

Funcional Escolaridade de

Adultos Potencial

Jovens Índice Parcial de

Educação Chico Dias 1,000 1,957 1,852 1,603 Beirol 1,359 1,859 2,120 1,780 Tacacá 1,500 1,079 1,223 1,267 Lagoa dos Índios 1,527 3,000 3,000 2,509 Sá Comprido 1,565 2,297 2,721 2,194 Lago da Vaca 1,747 2,164 2,124 2,012 Lago do Pacoval 1,983 2,154 2,210 2,116 Laguinho Nova Esperança 2,143 2,170 2,444 2,253 Provedor 2,207 1,708 1,988 1,968 Paraíso 2,586 1,734 1,799 2,039 Vaga-lume 2,773 1,386 1,217 1,792 Fonte Nova 2,849 1,420 1,159 1,810 Funda 3,000 1,000 1,000 1,667 Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001)

Saúde

A análise conjunta dos estados brasileiros referente aos dados da FUNASA (2001) de

algumas doenças transmitidas por vetores no ano de 1999, mostraram que o Estado do Amapá

apresenta percentuais classificados em: muito alto o risco municipal para malária (81,30%); médio

no total de casos para a malária (4,50%); muito alto na identificação da malária, ou seja, para cada

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1.000 lâminas no ano/população sob vigilância, 66,13% são positivas; alto para os casos de

malária por P. falciparum (10,61%); e baixo para municípios infestados pela dengue (12,50%).

Presume-se que as doenças vetoriais no Amapá são favorecidas pelas condições

ambientais que oferecerem possibilidades para determinados tipos de doenças e infra-estrutura de

saúde precária. A população do Estado de 477.032 habitantes, é atendido por cerca de 707

médicos, 659 leitos, 15 hospitais e 252 unidades para atendimento médico, enquanto que o

município da capital, Macapá, com 283.308 pessoas, tem aproximadamente 566 médicos, 426

leitos, 7 hospitais, 98 unidades de atendimento médico (FUNASA).

Nos domicílios entrevistados, a malária é a doença que tem maior ocorrência, com

uma média total de 33,39%, seguida pela hepatite com 9,32. Neste âmbito, de acordo com a

comparação elucidativa dos dados referente a esta variável, na Tabela 18, no acometimento de

malária destacaram-se Lago da Vaca (83,33%) e Sá Comprido (78,57%), embora a ocorrência da

malária urbana seja freqüente nas cidades de Macapá e Santana.

Com relação às outras doenças, nota-se que houve maior ocorrência de hepatite na

ressaca Vaga-lume (66,67%); de leptospirose (9,09%) e dengue (21,05%) na Funda e, Fonte Nova

(20%).

Tabela 18 – Principais doenças nas ressacas observadas nos domicílios em ressacas.

Doenças

Ressaca Malária Hepatite Leptospirose Dengue

Doenças de Pele

Verminoses Outras

Chico Dias 21,93 2,21 3,68 11,76 25,00 22,79 34,56Beirol 25,63 3,07 1,84 12,56 16,56 5,52 30,06Tacacá 46,77 0,00 0,00 4,84 17,34 6,45 16,13Lagoa dos Índios 60,00 0,00 0,00 20,00 0,00 0,00 25Sá Comprido 78,57 7,14 0,00 7,14 0,00 0,00 7,14Lago da Vaca 83,33 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,61Lago do Pacoval 31,58 11,76 8,82 21,05 11,76 0,00 26,67Lag. N. Esperança 21,05 11,76 8,82 10,53 11,76 0,00 41,18Provedor 21,93 8,70 0,00 11,76 13,04 11,59 28,99Paraíso 43,24 0,00 9,09 8,11 9,09 15,15 39,39Vaga-lume 0,00 66,67 0,00 0,00 0,00 16,27 16,67Fonte Nova 0,00 12,50 0,00 0,00 0,00 0,00 11,11Funda 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 27,27Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001)

Quanto ao índice parcial de acometimento de doenças, as ressacas que obtiveram os

maiores valores foram: Lago do Pacoval (2,673%), Laguinho Nova Esperança (2,458%), Chico

Dias (2,146%) e Paraíso (2,077%). Os valores intermediários foram no Provedor (1,881%), Beirol

(1,811%), Tacacá (1,719%), Vaga-lume (1,637%), Lagoa dos Índios (1,633%), Sá Comprido

(1,546%). Os menores valores foram nas ressacas do Lago da Vaca (1,354%), Fonte Nova

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(1,167%) e Funda (1,080%). As ressacas que tiveram menores freqüências de doenças são aquelas

que já foram aterradas e têm parcialmente saneamento básico.

As ressacas que tiveram os maiores valores de índice de acometimento de doenças

devem ser aquelas que apresentaram menores percentuais de ocorrência de doenças graves nos

domicílios, enquanto nas ressacas de menores valores aconteceu o contrário.

Saneamento básico O saneamento básico no Brasil ainda não atingiu a maioria dos domicílios; há

carência do serviço de coleta de lixo e esgoto, e tal fato pode ser comprovado através da Pesquisa

Nacional de Saneamento Básico 2000 (IBGE 2002d). Observou-se que 63,9% dos domicílios

brasileiros têm serviço de abastecimento de água e 33,5% têm serviço de coleta de esgoto.

O saneamento básico reproduz o desequilíbrio regional brasileiro, mostrando a

discrepância de acesso e disponibilidade dos serviços o qual pode ser percebido através da

observância dos percentuais. No item de abastecimento de água, a Região Sudeste têm 70,5% dos

domicílios atendidos enquanto que nas regiões Norte e Nordeste, o serviço alcança,

respectivamente 44,3% e 52,9% dos domicílios. A taxa de atendimento com serviço de esgoto

tem o seu nível mais baixo na região Norte, onde apenas 2,4% dos domicílios são contemplados,

seguidos da região Nordeste (14,7%), Centro-Oeste (28,1%) e Sul (22,5%). A Região sudeste teve

o melhor percentual de taxa de atendimento de esgoto com 53,0%.

Quanto à quantidade e qualidade de água (Tabela 19) em 2000 foram distribuídos

diariamente, no conjunto do país, 0,26 m3 (ou 260 litros) de água per capita, média que variou

bastante entre as regiões. Na região Sudeste, o volume distribuído alcançou 0,36 m3 per capita,

enquanto no Nordeste ele não chegou à metade, apresentando uma média de 0,17m3 per capita.

Apesar do Estado do Amapá ter tido um percentual acima da Região Norte, somente cerca de

50,75% (Censo 2000) de seus domicílios é abastecido com água tratada, demonstrando uma

carência do serviço.

Tabela 19 – Volume de água per capita distribuída por dia ( em m3)

Região Total (m3)

População 2000

Per Capita(m3)

Com Tratam.

Per Capita(m3)

Sem Tratam.

Per Capita(m3)

Brasil 43.999.678 169.799.170 0,26 40.843.004 0,24 3.156.674 0,02

Norte 2.468.238 12.900.704 0,19 1.668.382 0,13 799.856 0,06

Amapá 132.430 477.032 0,28 130.559 0,27 1.871 0,00Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico / IBGE (2002c).

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Além do acesso à água tratada, do total dos domicílios particulares permanentes

amapaenses, cerca de 6,15% têm escoamento pela rede geral de esgoto e 71,75% têm o lixo

coletado. Nestes mesmos itens e na mesma ordem, os municípios de Macapá e Santana

apresentaram respectivamente 53,23% e 59,96% de acesso a água tratada; 8,17% e 2,91% ligados

a rede geral de esgoto; 80,87% e 79,23% com coleta de lixo. Apesar de existir nas cidades de

Macapá e Santana o serviço de abastecimento de água, nos bairros de classe social de menor

renda, esse serviço têm rede de canalização precária, tratamento da água inadequado e

irregularidade de fornecimento, demonstrando diretamente as dificuldades das prestadoras

responsáveis pelo serviço. Os obstáculos de abastecimento de água tratada aumentam nas áreas

úmidas, onde os problemas essenciais vão desde a dificuldade de implementar a rede de

abastecimento ao risco de contaminação. No período de chuvas, o nível do lençol freático na

bacia de acumulação de água se eleva e os canos, freqüentemente manipulados pelos moradores,

ficam submersos, expostos ao perigo de receber água poluída, pois na ausência de esgoto, os

dejetos humanos são lançados diretamente no ambiente, diminuindo consideravelmente a

qualidade da água natural. Além dos problemas de intermitência do abastecimento e

contaminação da água tratada, nas ressacas, o acesso à rede geral de água normalmente é

clandestino, feito individualmente pelo morador através de canos pendurados nas estacas das

passarelas de madeira, vedados com materiais improvisados conforme demonstrado nas Figuras

17 e 18.

Figuras 17 e 18- Canalização de água, com instalação precária e risco de contaminação.

As desigualdades no acesso e uso dos serviços de água potável nas áreas de ressacas

perpassam pela condição financeira de seus moradores os quais, apesar da aparente pobreza, têm

priorizado a obtenção deste serviço, pois a maioria dos domicílios está ligada a rede geral de

abastecimento de água. Julga-se que esses domicílios ligados à rede geral de água utilizam água

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tratada. Assim, verifica-se na Tabela 20 que a maioria dos domicílios nas ressacas tem água

tratada.

Tabela 20 – Formas de abastecimento de água nas ressacas.

Rede Geral Poço

Ressaca com canalização interna

sem canalização

interna

com canalização

interna

sem canalização

interna

Outras Formas

Chico Dias 38,23 33,09 26,47 0,74 1,47 Beirol 38,52 35,40 24,22 0,62 1,24 Tacacá 3,22 1,61 80,65 11,29 3,23 Lagoa dos Índios - - 100,00 - - Sá Comprido 100,00 - - - - Lago da Vaca 12,50 37,50 18,75 31,25 - Lago do Pacoval 66,67 31,67 1,67 - - Laguinho N. Esperança 94,12 2,94 2,94 - - Provedor 55,07 31,88 7,25 2,90 2,90 Paraíso 84,85 15,15 - - - Vaga-lume 100,00 - - - - Fonte Nova 87,50 12,50 - - - Funda 36,36 - - 63,64 - Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001).

Quanto à variável abastecimento de água, os resultados obtidos nas ressacas foram:

Sá Comprido (100,00%), Paraíso (100,00%), Fonte Nova (100,00%), Lago do Pacoval (98,34%),

Laguinho Nova Esperança (97,06%), Provedor (86,95%), Beirol (73,92%), Chico Dias (71,32%),

Lago da Vaca (50,0%), Funda (36,36%), Tacacá (4,83%) e Lagoa dos Índios (0,00%).

Nota-se que a maioria dos domicílios alcançaram percentuais acima das taxas

censitárias (IBGE - 2000) do Estado do Amapá (50,75%) e os municípios de Macapá (53,23%) e

Santana (54,86%), porém este fato não garante a qualidade da água nestes domicílios.

Percebe-se, na Tabela 20 que nas ressacas Tacacá e Lagoa dos Índios o poço é a

fonte de abastecimento de água predominante com 80,65% e 100,00% respectivamente.

Esclarece-se que no Tacacá geralmente os poços são amazônicos, usados coletivamente,

enquanto na Lagoa dos Índios a maioria dos domicílios utiliza poços artesianos e individuais.

A intermitência do abastecimento de água e os sistemas isolados de fornecimento

privados levam a necessidade de armazenamento de água nas ressacas. A forma adequada de

armazenamento de água perpassa pelas condições de higiene e manutenção da qualidade da água,

e geralmente considera-se adequado guardá-la em recipientes limpos e tampados, constituídos de

materiais que não liberem resíduos. Como já foi dito acima, na construção dos indicadores

anteriores, diante da peculiaridade das ressacas, considerou-se a caixa d'água e baldes plásticos

como adequados.

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Quanto à variável de armazenamento de água, em média 61,81% dos domicílios

armazenam água adequadamente. Em ordem decrescente de valores percentuais, os resultados

obtidos foram: Lagoa dos Índios (100,00%), Laguinho Nova Esperança (100,00%), Fonte Nova

(100,00%), Funda (90,90%), Lago da Vaca (83,30%), Tacacá (82,60%) Chico Dias (75%), Beirol

(67,30%), Sá Comprido (50%), Provedor (45,50%), Lago do Pacoval (7,30%), Funda (0,00%) e

Paraíso (0,00%).

Através da observação entre a variável de armazenamento de água com as formas de

abastecimento de água percebe-se que a ressaca Lagoa dos Índios teve um alto percentual devido

a seus domicílios serem abastecidos por poços com canalização interna. Laguinho Nova

Esperança e Fonte Nova apresentaram a maioria de seus domicílios conectados à rede geral com

canalização interna, provavelmente com o fornecimento de água descontínuo. O inverso deve

ocorrer nas ressacas Paraíso e Vaga-lume, já que nenhum domicílio armazena água e todos os

seus domicílios são abastecidos através da rede geral.

Quanto ao serviço de coleta de lixo, os resultados do censo 2000 indicam que este

serviço atende a maioria dos domicílios no Estado do Amapá (72%), municípios de Macapá

(81%) e Santana (71%). Também nas ressacas cerca de 78,78% dos domicílios declararam que seu

lixo é coletado e na variável coleta de lixo foram obtidos os percentuais: Vaga-lume (100,00%),

Lagoa dos Índios (100,00%), Fonte Nova (100,00%), Funda (18,18%), Chico Dias (27,59%),

Beirol (29,01%), Lago do Pacoval (33,33%), Laguinho Nova Esperança (38,24%), Sá Comprido

(42,86%), Lago da Vaca (56,25%), Tacacá (59,68%), Provedor (87,88%) e Paraíso (87,88%).

Vale ressaltar que nas áreas de ressacas, com exceção de Lagoa dos Índios,

normalmente não há este serviço. O carro do lixo passa nas ruas próximas às bordas da ressacas,

porém o morador não carrega o lixo para os pontos de coleta e nem os garis entram nas

passarelas de madeira para buscá-lo. As observações in loco demonstram que o lixo é acumulado

debaixo das casas e passarelas e que os resultados percentuais obtidos sobre o destino do lixo,

mostrados na Tabela 21, não correspondem fielmente à realidade observada.

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Tabela 21 – Percentual de domicílios das ressacas com medidas que visam a assegurar as condições

sanitárias necessárias à qualidade de vida.

Ressaca Armazenamento de Água em

Caixa d'água Lixo Domiciliar

Coletado Destino dos Dejetos Humanos em Fossa

Chico Dias 22,9 27,59 1,47 Beirol 25,9 29,01 3,16 Tacacá 41,3 59,68 6,45 Lagoa dos Índios 100 100 75 Sá Comprido ___ 42,86 7,14 Lago da Vaca ___ 58,25 12,5 Lago do Pacoval 7,3 33,33 1,67 Laguinho N. Esperança ___ 38,24 2,94 Provedor 9,1 87,88 13,04 Paraíso ___ 87,88 12,12 Vaga-lume ___ 100 ___ Fonte Nova ___ 100 ___ Funda ___ 18,18 ___ Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo IEPA/GERCO (2001).

Nas áreas de ressacas geralmente a rede pública de esgoto é inexistente e os dejetos

humanos são lançados diretamente no meio ambiente. As instalações sanitárias são inadequadas

com os banheiros sobre palafita, e na maioria das vezes ficam localizados fora da casa, ligado a

ela por passarela. Algumas residências no período de estiagem constroem fossas nas bordas,

porém, dada à condição natural da área elas podem sofrer inundação no período chuvoso. Do

total dos domicílios entrevistados 13,18% declararam que fazem uso de fossa para destino dos

dejetos. Nesse aspecto, os percentuais obtidos para a variável destinos de dejetos humanos via

fossa séptica são discrepantes: Lagoa dos Índios (75%), Provedor (13,04%), Lago da Vaca

(12,50%), Paraíso (12,12%), Sá Comprido (7,14%), Tacacá (6,45%), Beirol (3,16%), Laguinho

Nova Esperança (2,94%), Lago do Pacoval (1,67%), Chico Dias (1,47%).

Salienta-se que Lagoa dos Índios tem destaque pelo motivo de quase todos os

domicílios estarem localizados na borda das ressacas, enquanto que para as ressacas de Provedor

(13,04%), Lago da Vaca (12,50%) e Paraíso (12,12%) mesmo tendo apresentado valores

percentuais próximos da média geral, as dificuldades de instalações sanitárias são maiores devido

ao fato de que quase a totalidade dos domicílios estarem situados dentro de áreas que sofrem

inundação no período chuvoso. As ressacas Vaga-lume, Fonte Nova e Funda não obtiveram

nenhum percentual devido a maior parte de seus domicílios lançarem seus dejetos diretamente na

água.

O índice parcial de saneamento básico obteve os seguintes resultados: Lagoa dos

Índios (2,429), Paraíso (2,099), Provedor (2,099), Vaga-lume (1,857), Fonte Nova (1,857), Sá

Comprido (1,816), Lago do Pacoval (1,730), Beirol (1,719), Tacacá (1,666), Laguinho Nova

Esperança (1,653), Chico Dias (1,646), Lago da Vaca (1,599) e Funda (1,122). A ressaca a Lagoa

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dos Índios teve o maior valor por apresentar os demais serviços de saneamento básico, exceto

rede de esgoto sanitário.

Associativismo Para discorrer sobre associativismo em áreas de ressacas é necessário comentar sobre

facetas do processo histórico-político ocorrido no país, Região Norte e Estado do Amapá. Na

Região Norte, dada as questões históricas, esse processo foi mais tardio e diferenciado, marcado

por diferentes níveis de organização social.

Na condição de Território, o Amapá recebia atenção especial da gestão nacional, a

qual facilitava, executava e implementava estudos, projetos e planos voltados para a região. Nessa

época de território, os equipamentos sociais eram compatíveis com o número de habitantes. O

Estado brasileiro passou a suprir as necessidades populacionais influenciando na maioria das

ações locais, sobretudo pelo regime militar. Além do Estado, a iniciativa privada exploradora de

manganês e madeira no Amapá proporcionava aos seus funcionários alguns benefícios no que

tange à educação, habitação, saúde e alimentação.

Nesta fase histórica (1964-1985), diante do contexto nacional, os números de

organizações sociais não-governamentais eram tímidos, aumentando rapidamente após o término

do regime militar no final da década de 1980, e a emancipação do governo federal através da

criação do Estado do Amapá. Desta forma, acredita-se que a conjuntura política nacional e o

processo de ocupação territorial no Amapá entre 1945 e 1988 pode ter influenciado no atraso

organizacional da sociedade amapaense.

Embora atualmente a população amapaense participe de alguns encaminhamentos

políticos e sociais, conjectura-se que essa ação dos atores sociais em organizar-se seja, em parte,

derivado da exigência dos organismos governamentais e financeiros para a captação de recursos,

como por exemplo a estratégia federal de municipalização.

Até o presente momento desconhece-se a existência formal e restrita de organizações

sociais nas áreas de ressacas. As representações sociais que existem nestas áreas são as mesmas

presentes no sistema urbano das cidades de Macapá e Santana, como por exemplo, filiações

partidárias, associações esportivas, associações estudantis e trabalhistas. De acordo com a

participação nestas organizações sociais, obteve-se por meio da variável de participação social, os

seguintes percentuais: Laguinho Nova Esperança (79,41%), Paraíso (66,67%), Tacacá (38,71%),

Provedor (37,68%), Chico Dias (30,88%), Beirol (27,78%), Lago do Pacoval (26,67%), Lagoa dos

Índios (25,00%), Lago da Vaca (25,00%), Fonte Nova (25,00%), Funda (9,10%), Sá Comprido

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(7,14%) e Vaga-lume (-). Apesar de algumas ressacas terem alcançado taxas acima das médias

(por município) das áreas estudadas que foram 32,57% para Macapá e 34,61% para Santana, esse

fato não se traduz em forte envolvimento político-social.

Estrutura habitacional

Em relação ao estilo de edificação habitacional nas ressacas urbanas de Macapá e

Santana, pode-se dizer que a maioria das casas é construída sobre palafitas muito próximas umas

das outras. Algumas casas se resumem em um único cômodo com múltiplas funções de sala,

quarto e cozinha e às vezes apresentam divisórias internas feitas de cortinas, demonstrando o

desejo de privacidade. O padrão de construção é precário, sendo que a maioria das casas é

construída de madeira (84,34%) com cobertura de amianto (92,30%), com precária iluminação

solar interna, pouco ventilados e, em alguns casos, bastante adensados. Banheiros, quando

existentes são construídos com madeira, sem escoadouro e fora da casa (Figuras 19 e 20).

A limpeza ao redor da casa é feita pelo morador, na época das chuvas, para diminuir

ou eliminar locais que possam servir de abrigos para animais peçonhentos como cobras e

aranhas.

Figuras 19 e 20 - Estilos de casa e precária instalações sanitárias nas ressacas.

Em relação à variável durabilidade habitacional, os valores alcançados por unidade

territorial de trabalho foram os seguintes: Fonte Nova (100,00%), Lagoa dos Índios (99,52%),

Lago da Vaca (99,42%), Chico Dias (99,26%), Tacacá (96,77%), Beirol (93,25%), Provedor

(92,75%), Paraíso (90,91%), Lago do Pacoval (88,33%), Laguinho Nova Esperança (79,41%),

Funda (72,73%), Vaga-lume (66,67%) e Sá Comprido (28,57%).

Em comparação com as outras áreas urbanas, as ressacas têm a maior quantidade de

habitações edificadas com madeiras, dada a disponibilidade de recursos florestais, condições

ambientais, renda e cultura ribeirinha.

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Quanto à variável conforto domiciliar, a densidade de pessoas por dormitório

adequada definida pelo IBGE (2002c) é de no máximo três pessoas por dormitório. Nesta

categoria, a análise dos dados dessa instituição demonstra que no Brasil, Região Norte e Estado

do Amapá apresentaram para a densidade adequada de moradores por dormitório

respectivamente os percentuais de 85,3%; 71,4% e 66,3%. Inversamente, ou seja, a densidade

inadequada de moradores por dormitório, percebe-se rapidamente que as unidades geográficas

Brasil (14,7%), Região Norte (28,6%) e Estado do Amapá (33,7%) exibem grandes diferenças

entre si.

Nas áreas estudadas na maioria das vezes os dormitórios têm pequenas dimensões.

Para a questão da densidade adequada de moradores por dormitório, a média geral obtida foi de

45,37%. Acima deste percentual encontram-se Sá Comprido (78,57%), Lagoa dos Índios

(75,00%), Laguinho Nova Esperança (55,90%), Paraíso (57,58%), Lago da Vaca (50,00%), Vaga-

lume (50,00%) e abaixo, as ressacas de Tacacá (43,55%), Beirol (41,72%), Lago do Pacoval (40%),

Chico Dias (36,80), Funda (36,37%), Provedor (36,24%) e Fonte Nova (25,00%). Comparadas

com as taxas relativas ao Brasil, Região Norte e Estado do Amapá. Somente as ressacas de Sá

Comprido e Lagoa dos Índios podem ser tomadas como bons percentuais.

No que diz respeito ao fornecimento de energia elétrica, com raras exceções, as casas

localizadas nas áreas úmidas de Macapá e Santana têm abastecimento de energia elétrica formal.

É comum encontrar moradias com abastecimento ilegal, com fiações externas e instalações

internas impróprias. Na maioria das vezes, as ligações clandestinas são efetuadas pelo próprio

morador, podendo ocorrer acidentes graves. Do total de domicílios amostrados, 99,16% são

providos de energia elétrica e destes, 25,49% têm abastecimento clandestino. Das áreas

examinadas, os maiores percentuais de clandestinidade foram verificados em Chico Dias

(73,33%) e Beirol (72,84%). Apesar do acesso ilegal, quase todas as residências em áreas de

ressacas possuem o serviço energia elétrica. Neste âmbito os percentuais obtidos na variável de

acesso a energia elétrica foram: Chico Dias (100,00%), Beirol (100,00%), Tacacá (100,00%),

Lagoa dos Índios (100,00%), Sá Comprido (100,00%), Lago do Pacoval (100,00%), Laguinho

Nova Esperança (100,00%), Vaga-lume (100,00%), Fonte Nova (100,00%), Funda (100,00%),

Provedor (98,55%), Paraíso (96,97%) e Lago da Vaca (93,75%).

O índice parcial de edificação habitacional reflete parte da situação das pessoas

residentes em relação às instalações domiciliares que influencia no estado de vida das mesmas.

Nesse índice os valores reescalonados obtidos em ordem decrescente foram: Chico Dias (2,946),

Beirol (2,698), Tacacá (2,569), Lagoa dos Índios (2,560), Sá Comprido (2,524),

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Lago do Pacoval (2,393), Laguinho Nova Esperança (2,354), Vaga-lume (2,245), Fonte Nova

(2,109), Provedor (1,992), Funda (1,954), Paraíso (1,846) e Lago da Vaca (1,786).

Disponibilidade espacial de serviços públicos Conforme mencionado anteriormente em construção do indicador, e mostrado na

Figura 21, na extensão territorial das ressacas urbanas de Macapá e Santana, é inexistente a

presença de escolas, unidades de saúde, postos policiais e correios. Geralmente, os moradores são

atendidos nos prédios localizados na borda das áreas úmidas, situadas às vezes no mesmo bairro

ou no bairro mais próximo. Quanto à variável de acesso aos serviços públicos, os valores

alcançados foram: Beirol (8%), Lago do Pacoval (4,50%), Laguinho Nova Esperança (3,50%),

Provedor (3,50%), Chico Dias (3,25%), Paraíso (2,75%), Tacacá (2,50%), Lago da Vaca (2,50%),

Sá Comprido (1,25%), Fonte Nova (1,25%), Lagoa dos Índios (1,00%), Funda (1,00%) e Vaga-

lume (0,50%).

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109

Figuras 21 - Localização de postos de saúde e postos policiais em relação aos domicílios em ressacas. Fonte: Adaptação de SEMA/AP - 2003.

Posto de Saúde

Posto Policial

Ressacas

Escala aproximada: 1: 30 000

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110

4.2 QUALIDADE ECONÔMICA

♦ Construção dos indicadores

A qualidade econômica da população, apta para trabalho, implica na sua qualificação

profissional, direito trabalhista e poder de compra. Para se compreender as estatísticas e

indicadores do mercado de trabalho de uma região é essencial entender os conceitos de

População em Idade Ativa (PIA) e População Economicamente Ativa (PEA). Os dois conceitos

representam partes da população residente, onde a primeira corresponde à cota daquela

potencialmente apta para o exercício da atividade produtiva e a outra equivale à proporção da

PIA que está efetivamente disponível para o trabalho, ou seja, que estão trabalhando ou

procurando emprego. No Brasil, normalmente considera-se a PIA o contingente de pessoas com

idade entre 10 anos e 65 anos. Da relação entre a PIA e a PEA, pode-se saber as categorias de

ocupação da população, a proporção populacional que trabalha, proporção entre trabalhos

formais e informais, a faixa etária predominante, a proporção de sexo dos trabalhadores e a

existência de trabalho infantil. A variação desses indicadores ocorre de acordo com o

desenvolvimento de cada sociedade. Neste âmbito, caracterizaram-se as questões econômicas em

áreas úmidas através das atividades econômicas locais, ocupação econômica populacional e renda.

Atividades econômicas locais

Conjectura-se que as atividades econômicas podem refletir indiretamente as

potencialidades dos recursos naturais, humanos e financeiros de determinado lugar. Nos dias de

hoje, na região Norte, predominam as atividades produtivas vinculadas às riquezas da natureza.

Mesmo em áreas urbanas, onde o principal uso e ocupação do solo é o habitacional, ainda

existem atividades produtivas e de lazer que exploram o meio natural.

Economicamente, as atividades que geram emprego e renda estimulam a dinâmica

econômica local. Nesta dimensão, as atividades econômicas foram qualificadas, quantificadas e

localizadas através da observação in loco e informações dos questionários. De acordo com a

freqüência e porte, elas foram classificadas em pequenas, médias e grandes. A média simples foi,

posteriormente, reescalonada, resultando no índice parcial das atividades econômicas.

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111

Ocupação econômica populacional

A ocupação econômica da população demonstra o envolvimento das pessoas com o

trabalho, quer estejam na faixa etária apta legalmente ou não. Seu índice parcial é composto pelas

variáveis demonstradas no quadro a seguir.

Parâmetro Variável Descrição Caráter

Taxa global de participação

Relação entre a População Economicamente Ativa e a População em Idade Ativa (PEA/PIA). Ela indica a proporção de pessoas com 10 anos e mais incorporada ao mercado de trabalho como ocupada ou desempregada.

+

População infanto-juvenil ocupada

População infanto-juvenil entre 10 a 15 anos efetivamente trabalhando. -

Ocupação Econômica

Desemprego aberto Razão entre a população desocupada no período de referência e a PEA. -

Figura 22 - Variáveis que compõem o índice parcial de ocupação econômica

A taxa global de participação demonstra a disponibilidade da mão-de-obra para a

produção econômica. Em consonância com Jannuzzi (2001), essa variável também é útil para

indicar "o grau de envolvimento dos indivíduos para geração de renda para sua sobrevivência

física e reprodução social, avaliar a eficácia das políticas de previdência social e ensino básico em

garantir que os idosos e crianças não precisem se engajar em atividades econômicas; por fim,

apontar o grau de disseminação de valores modernos com relação ao papel da mulher na

sociedade."

Ressalta-se que na variável população infanto-juvenil ocupada considerou-se a faixa

etária de 10 a 15 anos pelo fato dos entrevistados não declararem o trabalho infantil, dificultando

a caracterização desta categoria através das entrevistas, sendo necessário realizar um estudo mais

específico. Em tese, é consenso de que a mão-de-obra infantil está mais concentrada em

atividades domésticas e pequenos empreendimentos familiares.

A taxa de desemprego aberto expressa a proporção da população economicamente

ativa desocupada e que está procurando trabalho. Em harmonia com Jannuzzi (2001), afirma-se

que a taxa de desemprego aberto é utilizada por diferentes esferas de planejamento: nos países

desenvolvidos, é tradicionalmente usada como indicador de monitoramento da conjuntura

macroeconômica; no setor privado, sinaliza as perspectivas de crescimento ou queda de demanda

de bens e serviços e no setor público serve para acompanhar as políticas econômicas e a

formulação de políticas de emprego e distribuição de renda. O desemprego é um dos muitos

problemas que atingem tanto os países desenvolvidos como em desenvolvimento, sendo um dos

fatores que influenciam os níveis de pobreza. Para o IBGE (2002c), a taxa de desemprego aberto

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112

é um dos indicadores de análise sobre o mercado de trabalho e reflete a incapacidade do sistema

econômico em prover ocupação produtiva a todos que desejam.

Durante a crítica dos dados, notou-se que alguns moradores responderam estar

trabalhando por conta própria, porém, ao responder quanto à questão da renda, especificamente

em referência ao valor da renda individual, disseram estar desempregados; logo, pode-se supor

que tais pessoas, na maioria homens, tiveram um certo "pudor" de dizer que estão

desempregadas. Desta maneira, as pessoas detectadas nessa situação foram consideradas como

desempregadas.

Na composição do índice parcial de ocupação econômica populacional, as variáveis

foram reescalonadas de acordo com o seu caráter, se positiva seu maior valor recebeu nota 3 e o

menor valor recebeu nota 1, se negativo o inverso. Assim, a variável taxa global de participação

no reescalonamento teve maior nota (3) para o maior valor percentual e a menor nota (1) para o

menor valor. O processo inverso de reescalonamento foi aplicado às variáveis de população

infanto-juvenil ocupada e desemprego aberto.

Renda

A renda é um dos componentes mais importantes na indicação de poder aquisitivo

da família, dinâmica de mercado, classe sócio-econômica e outros. Sua compreensão em estudos

locais perpassa pela diferenciação em gênero, família e distribuição. Por abranger esse contexto,

selecionaram-se as variáveis de rendimento mensal por sexo, renda média familiar per capita e

concentração de renda como descritas Figura 23.

Parâmetro Variável Descrição Caráter

Rendimento médio mensal por sexo

Razão entre a população economicamente ativa masculina e feminina e seus respectivos rendimentos médios mensais. +/-

Renda mensal familiar per capita

Média da renda familiar total em salários mínimos pelo total de indivíduos. + Renda

Concentração de renda – (Índice de Gini)

Informações relativas à população ocupada de 10 anos e mais de idade e seus rendimentos mensais. +/-

Figura 23 - Variáveis que compõem o índice parcial de renda

Na aferição da renda de dada população, é necessário, antes de tudo, ter garantia da

confiabilidade e qualidade das informações coletadas no levantamento de dados, as quais devem

ser criticadas e posteriormente tratadas. Durante as fases de crítica e tratamento estatístico, os

rendimentos pessoais foram observados de acordo com a profissão e atividade exercida e nos

rendimentos das famílias mais pobres estão incluídos os recebimentos em espécie ou doações.

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Observar as diversidades entre os rendimentos por sexo foi importante devido a

alguns domicílios terem a mulher como pessoa de referência. A inserção da mão-de-obra

feminina vem ocorrendo de forma gradativa no Brasil. Pressupõe-se que nos locais com

características urbanas haja maior quantidade de trabalhadoras femininas do que no meio rural,

dada as condições de trabalho e exigência de escolaridade.

A queda da fecundidade feminina e a demanda instrucional do mercado de trabalho

foram os dois fatores que, segundo Guerra (IBGE 2001), impulsionaram a participação da

mulher no mercado de trabalho nos anos 90. O primeiro fator iniciou em meados da década de

1960 e se intensificou nos decênios seguintes, pois uma prole menor facilita para a mulher a

conciliação de suas responsabilidades maternas e sua participação na força de trabalho. O outro

fator corresponde a demanda instrucional do mercado de trabalho e o aumento do grau de

escolaridade da mulher. Segundo a autora citada acima, os indicadores da PNAD da década de 80

e 90 revelaram que a taxa de escolarização e o nível de instrução do sexo feminino eram

superiores ao masculino. Em tese, quanto maior for o grau de escolaridade alcançado pela mulher

maior é o interesse em ingressar no mercado de trabalho.

Dentre outros tipos de renda, a renda familiar per capita, além de ser um indicador

indispensável nos estudos sobre a pobreza, desigualdades e diferenças regionais, ainda fornece

subsídios para políticas de combate à pobreza e geração de renda. Em consonância com Jannuzzi

(2001) pode-se dizer que o nível médio da renda familiar é um indicador sensível a mudanças

conjunturais do mercado de trabalho, na medida em que os rendimentos de trabalho respondem

pela parcela majoritária da renda disponível.

O grau de concentração de valores pode ser mensurado de várias formas, porém o

mais utilizado para medir a distribuição de renda da população é o índice (ou coeficiente) de Gini.

Este índice é expresso através de um valor que varia de zero a um. Quando o valor é zero, a

concentração é mínima, ou seja, a amostra está uniformemente distribuída ao longo de sua classe,

sendo interpretada como uma situação de igualdade perfeita na distribuição de rendimentos de

uma sociedade. Quando for 1 a concentração é máxima, normalmente um valor da amostra

acumula o 100% dos resultados, indicando uma condição de extrema desigualdade, em que

apenas um indivíduo se apropria da maior parte da renda disponível. Na caracterização

econômica de uma sociedade, o índice de Gini é importante para indicar o padrão de distribuição

de renda. Porém, para Jannuzzi (2001), "ele é uma medida menos sensível à desigualdade

associada à riqueza ou pobreza extremas, refletindo mais precisamente o que se passa em termos

distributivos nos segmentos de renda média".

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114

Na constituição do índice parcial de renda o reescalonamento considerou o caráter

das variáveis; assim, as variáveis distinção de rendimento médio mensal por sexo e renda média

mensal familiar per capita são positivas e seus valores foram colocados em ordem crescente e

reescalonados para valores de 1 a 3, enquanto que a concentração de renda por ser uma variável

de caráter negativo, seu valor máximo (1) significa maior concentração de renda foi tomado

como o inverso.

♦ Resultados dos indicadores

Atividades econômicas locais

Nas ressacas urbanas de Macapá e Santana, as principais atividades econômicas,

ordenadas pela constância, são: extrativismo mineral, pecuária, piscicultura e lazer.

O extrativismo mineral é marcado pela extração de argila por pequenos e médios

empresários para a produção de telhas e tijolos vendidos no comércio local. As pequenas olarias

normalmente têm produção familiar de modo artesanal e muitas vezes estão concentradas em um

único terreno. As olarias de médio porte geralmente dispõem de terrenos maiores, empregados e

técnicas de produção industrial. A extração de argila está situada na bacia do igarapé Fortaleza e

as unidades estudadas que apresentam maior número de olarias são as ressacas do Tacacá, Funda,

Paraíso e Provedor.

A pecuária extensiva de bubalinos e de bovinos, tem maior ocorrência na Lagoa dos

Índios e Lago do Pacoval. Nas demais áreas exploram a pecuária de pequenos animais, como

aves, suínos, caprinos e outros.

A atividade de piscicultura é exercida em tanques nas margens das drenagens,

aproveitando as cavas, deixadas pelas olarias após extração da argila. As principais espécies

utilizadas são: tambaqui, a tilápia e o tucunaré. Os empreendedores ligados a essa atividade

geralmente têm outras atividades econômicas e pagam pessoas para executar as tarefas e morarem

no terreno. A atividade em questão é mais freqüente no Beirol e Tacacá.

As atividades de lazer, incluindo a pesca, passeio de barco e banho são corriqueiras

nas drenagens das áreas úmidas urbanas, principalmente nas margens da Lagoa dos Índios.

Ressalta-se no entanto, os balneários ditos privados, que exploram comercialmente o recurso

hídrico. Em Santana, mais precisamente na área do Vaga-lume, existem duas áreas de lazer: uma,

mais bucólica, aproveitando o canal do igarapé como balneário e outra, como pequeno

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complexo, com piscinas, pedalinhos e salão dançante. Similar aos balneários que aproveitam as

águas de Santana, as áreas do Tacacá e Lago do Pacoval em Macapá apresentam maior freqüência

de lazer.

De acordo com a descrição nos parágrafos anteriores sobre as atividades econômicas

desenvolvidas nas ressacas, os percentuais da freqüência das atividades econômicas, alcançados

em ordem decrescente, foram: Tacacá (1,50%), Provedor (1,50%), Lago do Pacoval (1,00%),

Lagoa dos Índios (0,83%), Vaga-lume (0,83%), Funda (0,83%), Beirol (0,67%),Sá Comprido

(0,67%), Paraíso (0,50%), Lago da Vaca (0,33%), Chico Dias (0,17%), Laguinho Nova Esperança

(0,17%) e Fonte Nova (0,17%). Baseado nessa variável, o índice parcial das atividades

econômicas revela a quantidade e tamanho das atividades econômicas em cada unidade territorial

de análise e seus valores reescalonados obtidos foram: Tacacá (3,000), Provedor (3,000), Lago do

Pacoval (3,328), Lagoa dos Índios (2,140), Vaga-lume (2,140), Funda (2,140), Beirol (1,924), Sá

Comprido (1,924), Paraíso (1,587), Lago da Vaca (1,309), Chico Dias (1,080), Laguinho Nova

Esperança (1,080) e Fonte Nova (1,000).

Ocupação econômica populacional

No que diz respeito à taxa global de participação e seus componentes, demonstrados

na Tabela 22, nota-se que os maiores percentuais de PIA foram obtidos na Lagoa dos Índios

(73,91%), Lago Nova Esperança (72,22%) e Paraíso (75,57%); os mais altos valores percentuais

para a PEA foram alcançados na Lagoa dos Índios (39,13%) e Lago do Pacoval (37,72%); e, por

fim, para a taxa global de participação, ou seja, a relação entre a população economicamente ativa

e a população em idade ativa (PEA/PIA), destacam-se as áreas do Tacacá (57,64%), Vaga-lume

(27,14%) e Lago do Pacoval (56,36%), que apresentam a maior quantidade de indivíduos

ocupados ou que buscam trabalho. De acordo com os dados nas ressacas urbanas de Macapá e

Santana, predominam, na população economicamente ativa, os trabalhadores do sexo masculino,

demonstrando ainda um certo atraso do ingresso das mulheres no mercado de trabalho e

engajamento precoce de crianças nas atividades informais.

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Tabela 22 – Percentuais das variáveis que compõem o índice parcial de ocupação econômica

Ressaca PIA PEA Taxa Global de

Participação População Infanto-

Juvenil Ocupada Desemprego

Aberto Chico Dias 34,64 68,83 50,33 4,30 5,47Beirol 31,98 68,88 46,43 4,17 1,25Tacacá 35,03 60,78 57,64 16,28 8,87Lagoa dos Índios 39,13 73,91 52,94 0,00 0,00Sá Comprido 29,11 68,35 42,59 0,00 0,00Lago da Vaca 35,06 67,53 51,92 6,25 3,85Lago do Pacoval 37,72 66,90 56,38 17,24 3,19Laguinho Nova Esperança 33,89 72,22 46,92 10,34 3,08Provedor 27,08 68,10 39,76 0,00 3,54Paraíso 33,14 72,57 45,67 0,00 5,51Vaga-lume 33,33 58,33 57,14 0,00 0,00Fonte Nova 35,42 64,58 54,84 0,00 9,68Funda 28,57 65,31 43,75 0,00 0,00Fonte: Calculada a partir da base de dados de campo do IEPA/GERCO (2001).

O ingresso de crianças e adolescentes no mercado de trabalho pode prejudicar o

desempenho escolar. Nos últimos anos, a implementação no Estado do Amapá de programas

federais de incentivo à permanência dos estudantes nas escolas e apoio a famílias carentes, como,

por exemplo, a Bolsa Escola e a Bolsa Família, devem ter influenciado na redução do trabalho

infanto-juvenil. Porém, ainda há crianças trabalhando no mercado informal. Em observância a

Tabela 22 afirma-se que nas ressacas urbanas de Macapá e Santana, do total da PEA, cerca de

4,51% pertencentes à faixa etária de 10 a 15 anos de idade esta efetivamente trabalhando e, neste

contexto, destacaram-se as áreas do Lago do Pacoval e Tacaca com 17,24% e 16,28%,

respectivamente.

Também observa-se na Tabela 22 que no total da área estudada, a média para a taxa

de desemprego aberto foi de 3,42%. Destacaram-se, devido ao maior valor percentual, as

unidades de Fonte Nova e Tacacá com 9,68% e 8,87%, respectivamente, possivelmente devido

ao pouco conhecimento formal e informal das pessoas em idade ativa. Pressupõe-se que o

cabedal de conhecimentos e habilidades, exigidos para a participação nas atividades produtivas,

deriva da formação adquirida na educação básica formal e profissional. Normalmente, os

trabalhadores recebem treinos específicos para serem capazes da realização do exercício

produtivo com níveis de eficiência compatíveis com a necessária competitividade do mercado.

Através dos indicadores educacionais, percebe-se que a média de anos de estudos das pessoas

responsáveis pelos domicílios é baixa, o que pode dificultar seu acesso ao mercado de trabalho.

Os maiores resultados obtidos no índice parcial de ocupação econômica

populacional demonstram uma boa disponibilidade de mão-de-obra, poucas crianças e

adolescentes trabalhando e pouco desemprego. Seus valores alcançados por ressaca foram: Vaga-

lume (2,975), Lagoa dos Índios (2,786), Funda (2,440), Sá Comprido (2,406), Fonte Nova (2,200),

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Beirol (2,107), Paraíso (2,055), Provedor (2,033), Lago da Vaca (2,028), Lago do Pacoval (2,001),

Chico Dias (1,918), Laguinho Nova Esperança (1,765), e Tacacá (1,719).

Renda

Antes de demonstrar os resultados da variável rendimento médio mensal por sexo

nas ressacas é necessário observar esta variável no país. No término da década de 1990 a

remuneração média feminina era menor que a masculina (IBGE 2001). Os dados da PNAD de

1999 (IBGE 2002c), mostram que, no país, o rendimento médio mensal da PEA por sexo é

maior para os homens (R$534,00) do que para mulheres (R$324,00).

Comparando os dados censitários, percebe-se que o número de mulheres

responsáveis pelos domicílios particulares permanentes no Estado do Amapá aumentou

gradativamente - 1980 (14,46%), 1991 (18,62%) e 2000 (28,85%), acompanhando a tendência

mundial que consiste na expansão do número de mulheres que trabalha em atividades

remuneradas.

De acordo com os resultados censitários de 2000 apresentados pelo IBGE (2002a), o

rendimento nominal mensal das mulheres responsáveis pelos domicílios da capital Macapá

(R$671,75) e superior aos valores do país (R$591,00), região Norte (R$465,00) e Amapá

(R$603,00), os quais correspondem respectivamente a 4,45 SM; 3,91 SM; 3,08 SM e 3,99 SM

(Salário Mínimo = R$151,00/maio/2000).

Similar a tendência nacional, onde homem tem maior rendimento do que a mulher, o

rendimento médio mensal na área total estudada corresponde a 1,05 SM para o sexo masculino e

0,52 SM para o feminino. Essa constatação pode ser vista nos dados demonstrados na Tabela 23,

onde se percebe que as maiores diferenças entre o rendimento médio mensal por sexo ocorrem

nas unidades de Sá Comprido, Lago do Pacoval e Vaga-lume, mostrando que as mulheres têm

rendimentos médios mensais correspondentes a 0,38 SM ; 0,42 SM e 0,44 SM, respectivamente.

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Tabela 23 – Percentuais das variáveis que compõem o índice parcial de renda

Rendimento Médio Mensal por Sexo (SM)Ressaca

Masculino FemininoDistinção de

Rendimentos (% SM)

Renda Média Mensal

Familiar Per Capita

Concentração De Renda

(Índice De Gini)

Chico Dias 0,63 0,23 0,40 0,53 0,336 Beirol 0,61 0,29 0,32 0,47 0,305 Tacacá 0,48 0,17 0,31 0,47 0,351 Lagoa dos Índios 3,21 1,61 1,60 1,61 0,548 Sá Comprido 0,58 0,38 0,20 0,51 0,380 Lago da Vaca 0,73 0,41 0,31 0,57 0,406 Lago do Pacoval 0,62 0,42 0,20 0,60 0,304 Laguinho Nova Esperança 0,88 0,34 0,55 0,55 0,398 Provedor 0,67 0,28 0,39 0,58 0,409 Paraíso 0,65 0,35 0,30 0,51 0,332 Vaga-lume 0,73 0,44 0,28 0,58 0,251 Fonte Nova 0,47 0,18 0,29 0,64 0,417 Funda 0,71 0,22 0,49 0,42 0,208

Fonte: Calculada a partir da base de dados IEPA/GERCO (2001). Nota: Base 1

Nas áreas estudadas a maior renda média familiar per capita foi obtida na ressaca

Lagoa dos Índios (1,61 SM), onde geralmente as famílias tem um número pequeno de membros,

boa renda familiar e a maioria População Economicamente Ativa tem emprego formal.

De acordo com os dados mostrados na Tabela 23, na área total foram observadas

que a média geral de renda média familiar per capita e renda média mensal domiciliar per capita,

corresponderam a 0,62 SM e 0,71 SM. Destacaram-se com maiores valores de renda média

mensal familiar per capita a Lagoa dos Índios (1,61 SM), Lago do Pacoval (0,60 SM) e Fonte

Nova (0,64 SM), e com valores de renda média domiciliar per capita Chico dias (1,14 SM) e

Lagoa dos Índios (2,02 SM).

Com o objetivo de determinar a grandeza dos valores, apesar de períodos diferentes,

é possível comparar os dados locais coletados em 2001 em unidades territoriais básicas com os

resultados de 1999, (IBGE-2002c), no Brasil (66,60%), Região Norte (73,60%) e Estado do

Amapá (69,90%). Assim, observa-se que o Estado do Amapá apresentou a maioria de suas

famílias enquadradas na classe de renda média mensal familiar per capita até dois salários

mínimos, semelhante a distribuição percentual nas ressacas urbanas de Macapá e Santana, onde

cerca de 95,96% do total de famílias também estão nesta classe.

De acordo com dados do IBGE (1999), mostrados na Tabela 20, observa-se que na

década de 90 o índice de Gini no Brasil variou muito pouco, não ultrapassando o limite mínimo

de 0,5. Este valor representa um grau de extrema anomalia distributiva, pois Jannuzzi (2001)

afirma que em situações empíricas concretas dificilmente o índice de Gini atinge valores extremos

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e cifras de 0,5 no Brasil. Em análise comparativa aos dados do IBGE (1999), sobre o índice de

Gini, nota-se que, apesar do Estado do Amapá (0,483) ter apresentado um valor menor do que a

região Norte (0,547) e Brasil (0,567), também apresenta uma desigualdade na distribuição de

renda. Ressalta-se que, conforme informações do IBGE (1999), no Estado do Amapá, a maior

parte de disponibilidade de empregos está ligada aos setores secundário e terciário, sendo o

comércio o principal empregador com 44,62 % das ocupadas.

Tabela 24 – Distribuição do rendimento mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade. Brasil

1992/1999

Ano 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

Índice de Gini 0,571 0,600 0,585 0,580 0,580 0,575 0,567

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1992-1999: microdados. Rio de Janeiro: IBGE. Nota : Exclusive população rural de Rondônia, Acre , Amazonas, Roraima, Para e Amapá.

De acordo com a Tabela 18, o maior valor do índice de Gini encontrado nas

unidades territoriais básicas de análise, acima da média total da área estudada (0,357)

correspondeu a Lagoa dos índios (0,548), Fonte nova (0,417) e Provedor (0,409).

O índice parcial de renda indica a igualdade e distribuição de renda entre os sexos,

famílias e trabalhadores Seus valores reescalonados organizados em ordem decrescentes foram:

Lagoa dos Índios (1,871), Funda (1,821), Vaga-lume (1,506), Chico Dias (1,497), Laguinho Nova

Esperança (1,453), Beirol (1,407), Provedor (1,336), Paraíso (1,331), Lago do Pacoval (1,303),

Tacacá (1,303), Lago da Vaca (1,215), Fonte Nova (1,191) e Sá Comprido (1,120).

4.3 QUALIDADE AMBIENTAL

♦ Construção dos indicadores

Conforme já foi dito, no capitulo de metodologia geral, a qualidade ambiental teve os

direcionamentos metodológicos espontâneo (descritivo) e matriz de interações (avaliativo). O

primeiro caminho, em consonância com Bastos e Almeida (2000), é fundamentado no

conhecimento empírico. Este conhecimento quando é utilizado isoladamente, desenvolve a

avaliação de impactos ambientais de forma simples, objetiva e de maneira qualitativa. Eles são

adequados quando há escassez de dados. O último caminho considera as relações de causa e

efeito entre os impactos, incorpora escalas de valores e ponderações, sendo conveniente para

avaliações preliminares e futuras.

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120

A principal abordagem, sobre a questão ambiental nas unidades territoriais de

análise, é empírica e corresponde à avaliação qualitativa do meio ambiente através dos problemas

do entorno do domicílio, condições de moradia e habitabilidade, poder aquisitivo, instalações

sanitárias e higiene, identificação dos problemas referentes ao abastecimento de água e seu

armazenamento, destino do lixo, presença de roedores e insetos. Algumas destas variáveis já

foram discutidas nos itens que tratam de saúde e saneamento básico, mas devem ser novamente

comentadas sob a ótica ambiental.

Atualmente, a matriz de interação mais disseminada dentro e fora do país é a de

Leopold (1971). Ela foi construída para avaliar impactos associados a quase todos os tipos de

implantação de projetos.

Desta maneira, o último caminho metodológico foi a adaptação da matriz de

Leopold para uma matriz de ponderação simples, que serviu para padronizar e quantificar os

principais impactos ambientais existentes que foram qualificados pelo método espontâneo.

A matriz de análise tem, no seu eixo vertical, os impactos alocados de acordo com as

áreas territoriais de análise, o uso e ocupação do solo, atividades executadas, descrição dos

impactos e atributos.

Os principais impactos são alocados na matriz por meio (físico, biótico e antrópico),

cada um contendo um subsistema distinto no eixo vertical, sobre o qual os impactos são

avaliados nominal (qualificações alto, médio, baixo) e ordinalmente (hierarquia), considerando a

comparação entre as unidades territoriais de análise. Os estados nominais e ordinais dos atributos

foram utilizados para determinar a magnitude e importância dos impactos.

Objetivando padronizar a análise, os principais impactos ambientais identificados

foram classificados em função do efeito, magnitude, extensão, prazo do efeito e periodicidade. O

atributo efeito indica o tipo de efeito da atividade sobre o fator ambiental e pode ser positivo ou

negativo. Os atributos de qualificação e quantificação dos impactos ambientais estão descritos na

Figura 24.

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121

Atributo Descrição Classificação Especificação Símbolo Escore

Positivo Impacto benéfico ao fator ambiental parâmetro ambiental. + n.d.*

Efeito Indica o tipo de efeito da atividade sobre o fator ambiental Negativo Impacto adverso ao fator ambiental parâmetro

ambiental. - n.d.*

Pequeno Pequena dimensão nos fatores atingidos. PQ 1 Médio Média dimensão nos fatores atingidos. MD 2 Magnitude Indica a grandeza ou

tamanho do impacto Grande Grande dimensão nos fatores atingidos. GR 3

Menor Área atingida menor que a da bacia hidrográfica. ME 1

Igual Área atingida igual que a da bacia hidrográfica. IG 2 Extensão

A área territorial de abrangência do impacto

Maior Área atingida maior que da bacia hidrográfica. MA 3 Curto prazo Pequena duração (máx. 2 anos). CP 1 Médio prazo Duração entre 2 e 4 anos. MP 2 Prazo do efeito

Período de tempo das manifestações do impacto Longo prazo Duração acima de 4 anos. LP 3

Temporário O efeito tem duração limitada. TE 1

Variável Não se tem conhecimento preciso de quanto tempo vai durar o efeito. VA 2 Periodicidade

Determina o período de permanência do impacto

Permanente O efeito permanecerá durante todo o tempo que durar a ação PE 3

Figura 24 - Atributos e simbologia utilizada na qualificação e quantificação dos principais impactos ambientais Fonte: Adaptação de Leopold (1971). NOTA: * Nada a declarar, não se aplica e/ou não sabe.

Os impactos ambientais foram qualificados e quantificados de acordo com seus

respectivos atributos, em duas matrizes: uma de qualificação (símbolos) e outra de quantificação

(escores). Os escores e a simbologia, utilizada na matriz de análise dos impactos são apresentados

no quadro abaixo, onde cada célula da matriz é dividida em cinco partes. Em cada uma dessas

partes está inserida a representação numérica (escores) ou simbólica de cada avaliação. A parte

superior da cada célula, precedida do sinal referente ao tipo de efeito (+/-) da matriz de

quantificação mostra o valor resultante da soma dos quatro valores (escores de magnitude,

extensão, Prazo de efeito e Horizonte tempo) de cada impacto ambiental causado por cada

atividade. As células de qualificação e quantificação são apresentadas na Figura 25.

ATRIBUTOS CÉLULA DE QUALIFICAÇÃO CÉLULA DE QUANTIFICAÇÃO

EFEITO + +7 Magnitude Extensão ME IG 2 2

Prazo do efeito Horizonte de tempo MP TE 2 1 Figura 25 - Estrutura da célula da matriz de avaliação dos impactos Fonte: Adaptação de Leopold (1971).

Após qualificação e quantificação, os escores das atividades de cada ressaca foram

somados obtendo-se um total.

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122

Mesmo quantificando e ponderando os impactos e obtendo-se um resultado

quantitativo final para cada ressaca, as conseqüências não foram mensuradas com a precisão

técnica que convém quando se correlaciona com a amplitude do tempo e espaço. A exatidão dos

efeitos nas bacias necessita de um estudo detalhado de estudos temáticos mais aprofundados tais

como balanço hídrico e análises de água e solo. Porém foi possível fazer inferências sobre o

impacto ambiental através de observações in loco, discussões com especialistas temáticos e

bibliografia básica sobre o assunto.

Na constituição do índice parcial de impacto ambiental, os valores provenientes da

matriz de quantificação foram reescalonados de acordo com o caráter negativo da variável. Desta

maneira, os valores foram ordenados em ordem decrescente e reescalonados de 3 a 1, onde o

maior valor recebeu a menor nota de reescalonamento e o inverso para o menor valor.

♦ Resultados dos indicadores

Espontâneo (descritivo)

O impacto ambiental não é somente resultado de uma determinada ação realizada

sobre o meio ambiente, mas é também uma relação de mudanças sociais e ecológicas em

movimento. Assim, em consonância com Coelho (2001), pode-se dizer que o impacto ambiental

está em movimento o tempo todo. Ao retratá-lo em suas pesquisas, o cientista está analisando

um estágio de movimento contínuo. Destarte, o espaço sócio-ambiental é resultado das

interações entre os processos físico-químicos, político-econômicos e sócio-culturais. No entanto,

os problemas ambientais têm dimensões diferentes no espaço urbano. Eles são mais evidentes

nas áreas ocupadas por classe social menos favorecida. Cada área territorial de análise apresenta

quase os mesmos problemas ambientais, porém com facetas diferentes devido a intensidade e

abrangência das atividades econômicas. Deste modo, deve-se caracterizar os impactos mais

ocorrentes em cada unidade territorial de análise, observando a localização das atividades e seus

impactos.

A desvalorização dos terrenos em ressacas urbanas é atribuída sobretudo à

proximidade dos canais de drenagem e às constantes inundações nos períodos de chuvas,

residentes com baixo poder aquisitivo. A primeira fase de ocupação das áreas é a derrubada e

queima dos estratos vegetais, tanto ciliares como aquáticos, demarcação dos lotes, fixação dos

esteios de sustentação das palafitas e passarelas, fiação para energia elétrica e instalação da

tubulação de água. Em algumas áreas, uma das últimas fases corresponde ao aterramento com

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123

moinha de madeira, caroços de açaí e barro. A fixação das residências e os aterramentos

diminuem a circulação das águas, facilitando a proliferação de insetos. A cobertura de amianto e a

ausência de áreas verdes aumentam a temperatura das áreas. Pode-se citar, como exemplo, a

ressaca Chico Dias que possui a maior quantidade de casas, a maior extensão de área aterrada e

onde se localiza a fábrica de asfalto pública que produz e libera resíduos químicos no ambiente.

Além disso, o meio aquático deve apresentar uma alta concentração de coliformes fecais e pouca

oxigenação, provocando a diminuição de algumas espécies da fauna aquática e aumento de

insetos e roedores, devido ao lixo espalhado por entre as casas.

Como mencionado, não existem escolas, postos de saúde e policial, esgotos e

serviços de coleta de lixo dentro das áreas estudadas. O lixo, a água suja e os dejetos humanos são

lançados diretamente sobre o ambiente natural, comprometendo a qualidade da água dos

mananciais naturais. No período de seca, os resíduos sólidos ficam mais confinados sob as

palafitas e na época de maior freqüência de chuvas partes deles se espalham sobre as águas e a

outra se mistura nelas. Este problema é comum em todas as áreas estudadas, porém é mais grave

na ressaca de Sá Comprido, devido ao pequeno espaçamento entre as residências e à interrupção

do canal de água por aterramento e construção de avenidas com cobertura asfáltica, provocando

acumulação de água e lixo que, provavelmente, diminui a qualidade da água natural, aumentando

a eutrofização e diminuindo a presença da fauna aquática.

O abastecimento de água e energia elétrica na maior parte dos domicílios é realizado

de modo clandestino. Tanto as redes de canalização da água como as de energia elétrica são

efetuadas pelos moradores, geralmente com material barato e de pouca segurança. Os canos

d’água são presos embaixo das passarelas de madeira. Algumas vezes entram em contato com

água suja, acumulada nas baixadas, oferecendo riscos à saúde humana. A fiação elétrica, quando

não está sustentada por precários postes de madeira, é instalada ao lado dos canos d’água sob as

passarelas de madeira. Ressalta-se que nas áreas estudadas, as inconsistentes instalações elétricas

já provocaram mortes.

Devido à explanação dos parágrafos anteriores, pode-se afirmar hipoteticamente que

a habitabilidade dos ambientes estudados é baixa e inversa ao número de domicílios, ou seja,

quanto maior o número de residências, maior a quantidade de resíduos poluentes. A proximidade

com equipamentos sociais e facilidade de transporte coletivo consta, dentre os motivos alegados

pelas pessoas de referência entrevistadas, da principal razão em morar nas ressacas.

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124

Além das moradias, o uso e ocupação do solo também são comuns nas ressacas

como atividades econômicas extrativas, pecuária e piscicultura que podem interferir

negativamente no meio ambiente.

Como mencionado no capítulo 1, no tópico de aspectos históricos, a Lei no 0455 de

22 de julho de 1999, com finalidade de preservação, tomba as ressacas no Estado do Amapá

(áreas úmidas), proibindo qualquer atividade humana nas mesmas, tornando ilegal todos os

empreendimentos de natureza econômicas, anteriores à lei, as quais praticamente deixaram de

ser monitoradas.

A atividade de extração de argila é efetuada nas margens e no leito dos cursos

d'água. No leito, a água é desviada através de bombas e nas margens quase todas as cavas são

feitas próximo à água, alargando a calha dos igarapés. A extração de argila, realizada sem as

devidas precauções ambientais, provoca impacto direto no meio ambiente. Provavelmente, essa

atividade além de modificar a morfologia local pela derrubada das margens e escavações, também

aumenta a quantidade de partículas sólidas em suspensão e maior turbidez na água, diminuindo

sua qualidade e criando barreiras para a permanência e reprodução dos peixes. A extração de

argila e a produção de tijolos e telhas nas ressacas utilizam duas técnicas: a artesanal e a semi-

industrial. A primeira normalmente é realizada através da produção familiar, pelas famílias que

residem no local da atividade, e a última é feita por empresários que têm maquinarias de

escavação e funcionários. Dentre as ressacas, aquelas mais próximas do igarapé Fortaleza como

Tacacá, Provedor e Funda contêm a maior quantidade de olarias e apresentam as maiores

probabilidades de sofrer os referidos efeitos negativos no meio ambiente (Figura 26).

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125

Figura 26 e 27 - Localização de olarias na ressaca do Provedor e impacto das extração de argila nos igarapés. Fonte: SEMA/AP - 2003.

A criação de peixes, apesar de em alguns locais aproveitar as cavas das olarias como

tanques, é feita utilizando-se reservatórios em áreas passíveis de inundação e é comum a

utilização de tanque-redes. Além disso, foram introduzidas espécies de peixes exóticas na região,

como a tilápia. A construção inadequada dos viveiros e a sua proximidade com os cursos d'água

já favoreceram, na época das chuvas, o deslocamento dos peixes para o leito dos igarapés,

podendo ter provocado um desequilíbrio ecológico local dada à sua alta capacidade reprodutiva e

necessidade de se alimentar. Essa atividade é mais freqüente nas ressacas do Beirol, Tacacá, Sá

Comprido, Lago do Pacoval, Provedor e Vaga-lume.

A pecuária de pequeno porte é comum entre os moradores e os seus efeitos

ambientais são menos relevantes no momento, ao contrário da criação de animais de grande

porte, sobretudo os bubalinos. A pecuária bubalina é praticada extensivamente em pastos

plantados perto de aqüíferos superficiais, onde os animais se refrescam e também se alimentam.

A derrubada da mata ciliar, para o plantio do pasto, favorece a quebra das margens e dificulta a

circulação de alguns animais. Além de modificar a cobertura vegetal, a concentração de animais

em pequenas áreas pode aumentar a quantidade de coliformes fecais e materiais em suspensão na

água. A atividade bubalina é presente nas ressacas de Lagoa dos Índios, Lago do Pacoval,

Laguinho Nova Esperança, Provedor e Vaga-lume.

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126

Ainda é possível pescar e capturar pequenos mamíferos e quelônios em alguns locais

como a Lagoa dos Índios, Tacacá e Provedor. Geralmente, a pesca tem como justificativa o lazer

e sua pequena produção é destinada ao autoconsumo. Na captura de quelônios utiliza-se

normalmente a queima da vegetação herbácea-arbustiva na estação seca. Dentre as atividades de

extrativismo animal mencionadas, esta é a que mais causa impacto ao ambiente.

Embora tímida, a agricultura temporária, itinerante e de subsistência ainda é realizada

na borda das bacias de acumulação e nas margens dos igarapés. A derrubada da mata ciliar e

queimada são práticas agrícolas comuns na Amazônia para formar o roçado. Seu efeito negativo

mais relevante é a perda do solo através do processo de lixiviação e erosão. Essa atividade tem

maior ocorrência nas áreas de Tacacá, Lago do Pacoval e Provedor.

Matriz de interações (avaliativo)

De acordo com o capítulo de metodologia, a matriz de interações permite analisar

conjuntamente os impactos nas ressacas, permitindo qualificar, quantificar e demonstrar cada

efeito de forma suscinta.

A matriz com análise qualitativa pode ser observada no anexo e a quantitativa está

mostrada na Figura 29. Nota-se, na referida figura, que as atividades que obtiveram maior valor

negativo foram aquelas que apresentaram maior impacto no ambiente, devido à quantidade e

qualidade de emissão de poluentes.

Dentre as atividades destaca-se o maior valor negativo para o extrativismo mineral

nas ressacas do Tacacá e Provedor, tanto pela quantidade de olarias como pela forma de extração

e monitoramento ambiental. A extração de argila e a piscicultura são atividades predominantes na

ressaca do Tacacá; elas são desenvolvidas em lotes privados e ocupam uma área territorial urbana

considerável na borda das ressacas, restringindo a inserção de moradias no seu interior.

A presença da uma fábrica de asfalto na área aterrada e de moradia na ressaca Chico

Dias geraram valores negativos maiores que as atividades de outras ressacas, por causa da emissão

direta de maior quantidade de poluentes biológicos e químicos nos cursos d'água, significando

maior pressão e poluição ambiental. Ressalta-se que a qualidade d'água é imprescindível para a

sobrevivência da fauna aquática.

Vale a pena esclarecer que, no meio antrópico, os itens habitação e renda tiveram

valores positivos pelo fato da população residente morar relativamente próxima ao centro da

cidade, onde há maior quantidade de equipamentos sociais e locais de trabalho e também por ter

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127

"casa própria", o que representa uma redução nos gastos do orçamento mensal, ou seja, uma

forma de economizar a renda familiar.

Além de demonstrarem os efeitos das atividades humanas, os resultados

quantitativos finais de cada ressaca mostram também o grau e tipo de uso e ocupação do solo.

Conforme a Figura 28, a ressaca Tacacá obteve o maior valor negativo de impacto ambiental.

Este fato deve-se por causa dos subtotais das atividades econômicas de extração de argila no leito

e margens dos cursos d'água e extrativismo animal através da prática de queimadas, já

comentadas anteriormente.

Figura 28- Valor do impacto ambiental referente as principais atividades econômicas locais.

A ressaca do Provedor teve maior valor de impacto devido ao fato de terem sido

identificadas quase todas as atividades realizadas nas outras áreas e uma concentração de olarias.

Como mencionado, a atividade mineral tem bastante freqüência nessa ressaca, sendo

normalmente efetuada por pequenos investidores, às vezes familiares, que têm suas cavas

localizadas uma ao lado da outra, formando unidades de estratos de uso uniformes onde

predominam pequenas olarias. A ressaca do Provedor por apresentar uma baixa ocupação de

moradias e pouca incidência de atividades econômicas teve o menor valor negativo.

Conforme descrito na construção dos indicadores, os valores da matriz de impactos

ambientais, demonstrados em ordem decrescentes na Figura 28.

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MEIO FÍSICO MEIO BIÓTICO MEIO

ANTRÓPICO Água Solo / Subsolo Flora Fauna Aspectos Sociais

RE

SSA

CA

USO E

OCUPAÇÃOATIVIDADE

DESCRIÇÃO DOS IMPACTOS

Qualidade e Circulação

Estrut. e Comp. Física e Relevo

Biodiv. Biodiv. Hab. Renda

SUB

-TO

TA

L

1. Construção de pontes e casas

1. Queima e corte da vegetação -11 -9 -7 -8 +8 +7

2. Despejo de dejetos humanos e lixo

2. Contaminação da água 3 2 3 2 1 1 1 1 1 1 1 0 Moradia

3. Área aterrada 3. Impedimento de circulação da água 3 3 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3

-20

1. Derrubada da mata ciliar 1. Lixiviação e erosão do solo -10 -8 -9 -10 +0 +1 2. Aterramento 2. Impedimento de circulação da

água 3 1 1 1 2 1 3 1 0 0 1 0

Chic

o D

ias

Fábrica de asfalto 3. Liberação de resíduos

químicos 3. Poluição da água e vegetação 3 3 3 3 3 3 3 3 0 0 0 0

-36

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -9 -5 -7 -9 +9 +7

2. Construção de pontes e casas

2. Corte da vegetação aquática 2 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1 0

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação da água 3 3 0 3 2 3 3 3 3 3 3 3

Moradia

4. Área aterrada 4. Alterações paisagísticas

-14

1. Derrubada da mata 1. Lixiviação e erosão do solo -4 -5 -4 -10 +0 +5 2. Modificação do relevo 1 1 1 1 1 1 2 2 0 0 1 0 Piscicultura 2. Cavas de tanques 3. Alterações paisagísticas 1 1 2 1 1 4 3 3 0 0 1 3

-18

1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição da mata nativa -5 -6 -9 -9 +9 +3 2. Diminuição de refúgios faunísticos 1 1 2 1 3 1 3 1 3 1 1 0 Agricultura 2. Queimada

3. Lixiviamento e erosão do solo 1 2 1 2 2 3 2 3 3 2 1 1

-17

1. Pesca nos igarapés 1. Diminuição da espécie ictiica -4 -8 -9 -9 +0 +3 2. Caça de animais de pequeno porte

2. Diminuição da fauna local de pequeno porte 1 1 2 1 3 1 3 1 0 0 1 0

Beiro

l

Extrativismo Animal 3. Queimada para caçar

quelônios 3. Destruição da flora e da fauna 1 1 2 3 2 3 2 3 0 0 1 1

-27

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -8 -6 -6 -9 +8 +7

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 2 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1 0

Taca

Moradia

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação da água 2 3 2 2 2 2 3 3 2 3 3 3

-14

Figura 29 – Primeira parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos

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MEIO FÍSICO MEIO BIÓTICO MEIO

ANTRÓPICO Água Solo / Subsolo Flora Fauna Aspectos Sociais

RE

SSA

CA

USO E

OCUPAÇÃOATIVIDADE

DESCRIÇÃO DOS IMPACTOS

Qualidade e Circulação

Estrut. e Comp. Física e Relevo

Biodiv. Biodiv. Hab. Renda

SUB

-TO

TA

L

1. Derrubada da mata ciliar 1. Lixiviação e erosão do solo -7 -6 -5 -11 +4 +5 2. Cavas de tanques 2. Modificação do relevo 2 1 1 1 1 1 2 2 1 0 1 0 Piscicultura 3. Criação de peixes exóticos

3. Alteração da cadeia trófica 1 3 2 2 1 2 2 2 0 3 1 3 -20

1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição da mata nativa e ciliar -4 -5 -5 -4 +5 +3

2. Diminuição de refúgios faunísticos 1 1 2 1 2 1 1 1 1 1 1 0 Agricultura 2. Queimada

3. Aumento da vulnerabilidade do solo no período de chuvas 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1

-10

1. Pesca nos igarapés 1. Diminuição da espécies ictiicas -4 -7 -7 -8 +0 +4 2. Caça de animais 2. Diminuição da fauna de

pequeno e médio porte 1 1 2 1 2 1 3 1 0 0 2 0 Extrativismo Animal 3. Queimada para caçar

quelônios 3. Destruição da flora e da fauna 1 1 2 2 2 2 2 2 0 0 1 1

-22

1. Cava para retirar a argila 1. Assoreamento do leito do rio -11 -10 -8 -10 +3 +4 2. Queima de madeira 2. Redução da cobertura vegetal

primitiva 3 2 3 1 2 1 2 2 1 0 2 0

Tac

acá

Extrativismo Mineral 3. Descarte de rejeito 3. Aumento de sólidos em

suspensão na água 3 3 3 3 2 3 3 3 1 1 1 1

-32

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -5 +0 -3 -3 +9 +6

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 0 0 1 0 1 0 2 1 1 0

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das água 1 2 0 0 0 2 0 2 3 3 2 3

+4 Moradia

4. Área aterrada 4. Alterações paisagísticas 1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição de mata nativa -6 -9 -9 -8 +0 +3

1 1 2 1 2 1 2 1 0 0 1 0 Agricultura 2. Queimada 2. Diminuição de refúgios faunísticos 2 2 3 3 3 3 2 3 0 0 1 1

-29

1. Derrubada da mata 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -6 -6 -9 -4 +7 +5

2. Plantio de pasto 2. Erosão do solo 1 1 1 1 2 1 1 1 1 0 1 0 -13

Lag

oa d

os Í

nd

ios

Pecuária

3. Queimada 3. Contaminação das águas 1 3 1 3 3 3 1 1 3 3 2 2 Figura 30 – Segunda parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos

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MEIO FÍSICO MEIO BIÓTICO MEIO

ANTRÓPICO Água Solo / Subsolo Flora Fauna Aspectos Sociais

RE

SSA

CA

USO E

OCUPAÇÃOATIVIDADE

DESCRIÇÃO DOS IMPACTOS

Qualidade e Circulação

Estrut. e Comp. Física e Relevo

Biodiv. Biodiv. Hab. Renda

SUB

-TO

TA

L

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -6 +0 -6 -6 +6 +5

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 0 0 1 1 1 1 1 1 1 0 Moradia

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das águas 1 3 0 0 1 3 1 3 1 3 1 3

-7

1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição da mata nativa -6 -4 -4 -4 +6 +5

2. Queimada 2. Diminuição de refúgios 1 1 P 1 P 1 P 1 1 1 1 0 Agricultura

faunísticos 1 3 1 2 1 2 1 2 1 3 1 3

-7

1. Criação dentro da lagoa 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -6 -6 +0 -10 +5 +4

2. Criação de peixes da região

2. Erosão do solo 1 1 1 1 0 0 3 2 1 1 1 0

Sá C

omp

rid

o

Piscicultura

3. Introdução de espécies exóticas nos cursos d'água

3. Alteração da cadeia trófica 1 3 1 3 0 0 3 2 1 2 1 2

-13

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -6 +0 -6 -6 +8 +7

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 0 0 1 1 1 1 2 1 2 0 Moradia

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das águas 1 3 0 0 1 3 1 3 2 3 2 3

-3

1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição da mata nativa -5 -5 -5 -5 +5 +4

2. Queimada 2. Diminuição de refúgios 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0

Lag

o d

a V

aca

Agricultura

faunísticos 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2

-11

Figura 31 – Segunda parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos

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MEIO FÍSICO MEIO BIÓTICO MEIO

ANTRÓPICO Água Solo / Subsolo Flora Fauna Aspectos Sociais

RE

SSA

CA

USO E

OCUPAÇÃOATIVIDADE

DESCRIÇÃO DOS IMPACTOS

Qualidade e Circulação

Estrut. e Comp. Física e Relevo

Biodiv. Biodiv. Hab. Renda

SUB

-TO

TA

L

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -5 +0 -5 -5 +8 +7

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 0 0 1 1 1 1 1 1 1 0

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das águas 1 2 0 0 1 2 1 2 3 3 3 3

+0 Moradia

4. Pequena área aterrada 4. Alterações paisagísticas 1. Derrubada da mata 1. Carreamento de material para

o leito dos cursos d'água -6 -5 -5 -5 +5 +6

2. Plantio de pasto 2. Erosão do solo 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 0 Pecuária

3. Queimada 3. Contaminação das águas 2 2 1 2 1 2 1 2 2 2 2 3

-10

1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição da mata nativa -4 -4 -4 -4 +2 +3

1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 0 Agricultura 2. Queimada 2. Diminuição de refúgios faunísticos 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 1

-11

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -4 -5 -5 -6 +3 +5

2. Erosão do solo 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 0

Lag

o d

o P

acov

al

Piscicultura 2. Criação de alevinos exóticos 3. Alteração da cadeia trófica 1 1 1 2 1 2 2 2 1 1 3 1

-12

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -6 -1 -6 -6 +6 +5

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 1 0 1 1 1 1 1 1 1 0 Moradia

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das águas 1 3 0 0 1 3 1 3 1 3 2 2

-8

1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição da mata nativa e ciliar -6 -1 -5 -4 +5 +5

1 1 1 0 1 L P L 1 L 1 0 Agricultura 2. Queimada 2. Diminuição de refúgios faunísticos 1 3 0 0 1 3 1 3 1 3 2 2

-6

1. Derrubada da mata 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -6 -5 -6 -6 +4 +4

2. Plantio de pasto 2. Erosão do solo 1 1 0 1 1 1 1 1 1 0 1 0

Lag

uin

ho/

Nov

a E

sper

ança

Pecuária

3. Queimada 3. Contaminação das águas 1 3 1 3 1 3 1 3 1 2 1 2

-15

Figura 32 – Quarta parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos

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MEIO FÍSICO MEIO BIÓTICO MEIO

ANTRÓPICO Água Solo / Subsolo Flora Fauna Aspectos Sociais

RE

SSA

CA

USO E

OCUPAÇÃOATIVIDADE

DESCRIÇÃO DOS IMPACTOS

Qualidade e Circulação

Estrut. e Comp. Física e Relevo

Biodiv. Biodiv. Hab. Renda

SUB

-TO

TA

L

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -6 +0 -5 -5 +3 +3

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 0 0 1 1 1 1 1 0 1 0 Moradia

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das águas 1 3 0 0 1 2 1 2 1 1 1 1

-10

1. Cava para retirar a argila 1. Assoreamento do leito do rio -11 -10 -6 -7 +3 +4 2. Queima de madeira 3 2 3 1 1 1 2 1 1 0 2 0 Extrativismo

Mineral 3. Descarte de rejeito 2. Destruição de mata nativa

3 3 3 3 1 3 1 3 1 1 1 1 -27

1. Coleta de frutas 1. Pouca extração de açaí +0 +0 -4 -4 +0 +3 0 0 0 0 1 1 1 1 0 0 1 0 Extrativismo

Vegetal 2. Extração de palmito 2. Derrubada de açaizeiros nos cursos d'água 0 0 0 0 1 1 1 1 0 0 1 1

-5

1. Pesca nos igarapés 1. Diminuição da espécie ictiica +0 +0 +0 -4 +0 +3 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 Extrativismo

Animal 2. Caça a animais de pequeno porte

2. Diminuição da fauna local de pequeno porte 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 1

-1

1. Derrubada da mata 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água

-3 -3 -4 -4 +3 +4

2. Plantio de pasto 2. Erosão do solo 0 1 0 1 1 1 1 1 0 1 1 1 Pecuária Extensiva

3. Queimada 3. Contaminação das águas 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

-7

1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição da mata nativa -4 -4 -4 -4 +3 +5

1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 0 Agricultura 2. Queimada 2. Diminuição de refúgios faunísticos 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 3 1

-8

1. Criação dentro da lagoa 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água

-4 -4 -2 -4 +3 +3

1 1 1 1 0 0 1 1 1 0 1 0

Pro

ved

or

Piscicultura 2. Criação de peixes da região

2. Erosão do solo 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

-8

Figura 33 – Quinta parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos

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MEIO FÍSICO MEIO BIÓTICO MEIO

ANTRÓPICO Água Solo / Subsolo Flora Fauna Aspectos Sociais

RE

SSA

CA

USO E

OCUPAÇÃOATIVIDADE

DESCRIÇÃO DOS IMPACTOS

Qualidade e Circulação

Estrut. e Comp. Física e Relevo

Biodiv. Biodiv. Hab. Renda

SUB

-TO

TA

L

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água

-4 +0 -4 -4 +7 +6

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 0 0 1 1 1 1 3 1 1 0 Moradia

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das águas 1 1 0 0 1 1 1 1 2 1 2 3

+1

1. Pesca nos igarapés 1. Diminuição da espécie ictiica +0 +0 +0 -4 +0 +3 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 Extrativismo

Animal 2. Caça a animais de pequeno porte

2. Diminuição da fauna local de pequeno porte 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 1

-1

1. Derrubada da mata 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água

-3 -3 -4 -4 +3 +3

2. Plantio de pasto 2. Erosão do solo 0 1 0 1 1 1 1 1 0 1 1 0 Pecuária

3. Queimada 3. Contaminação das águas 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

-8

1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição da mata nativa -4 -4 -4 -4 +5 +5

1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 0

Par

aíso

Agricultura 2. Queimada 2. Diminuição de refúgios faunísticos 1 1 1 1 1 1 1 1 3 1 3 1

-6

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -4 -4 +0 -4 +4 +3 -5

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 0

Fon

te N

ova

Moradia

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das água 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 1

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -4 -4 +0 -4 +4 +3

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 0 Moradia

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das águas 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 1

-5

1. Cava para retirar a argila 1. Assoreamento do leito do rio -7 -8 -4 -5 +4 +4 2. Queima de madeira 2. Derrubada de mata nativa 2 1 2 1 1 1 2 1 1 1 2 0

Fu

nd

a

Extrativismo Mineral 3. Descarte de rejeito 2 2 3 2 1 1 1 1 1 1 1 1

-16

Figura 34 – Sexta parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos

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MEIO FÍSICO MEIO BIÓTICO MEIO

ANTRÓPICO Água Solo / Subsolo Flora Fauna Aspectos Sociais

RE

SSA

CA

USO E

OCUPAÇÃOATIVIDADE

DESCRIÇÃO DOS IMPACTOS

Qualidade e Circulação

Estrut. e Comp. Física e Relevo

Biodiv. Biodiv. Hab. Renda

SUB

-TO

TA

L

1. Criação dentro da lagoa 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -4 -4 +0 -4 +4 +3

2. Erosão do solo 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 0 Piscicultura 2. Criação de peixes da região 3. Alteração da cadeia trófica 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 1

-5

1. Derrubada da mata ciliar 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -4 +0 +0 -4 +4 +3

2. Construção de pontes e casas

2. Erosão do solo 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1 1 0 Moradia

3. Despejo de dejetos humanos e lixo

3. Contaminação das águas 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1

-1

1. Cava para retirar a argila 1. Assoreamento do leito do rio -4 -4 -3 -4 +4 +3 2. Queima de madeira 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 1 0 Extrativismo

Mineral 3. Descarte de rejeito 2. Derrubada de mata nativa

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 -8

1. Pesca nos igarapés 1. Diminuição da espécie ictiica +0 +0 +0 -4 +0 +3 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 Extrativismo

Animal 2. Caça a animais de pequeno porte

2. Diminuição da fauna local de pequeno porte 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 1

-1

1. Derrubada da mata 1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -4 +0 +0 +0 +0 +3

2. Plantio de pasto 2. Erosão do solo 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Pecuária

3. Queimada 3. Contaminação das águas 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1

-1

1. Derrubada da mata ciliar 1. Destruição da mata nativa -4 +0 +0 -4 +4 +3

1 1 0 0 0 0 1 1 1 1 1 0 Agricultura 2. Queimada 2. Diminuição de refúgios faunísticos 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1

-1

1. Criação dentro da lagoa em tanque rede

1. Carreamento de material para o leito dos cursos d'água -4 -4 +0 -4 +4 +3

2. Erosão do solo 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 0

Vag

a-lu

me

Piscicultura 2. Criação de peixes da região 3. Alteração da cadeia trófica 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 1

-5

Figura 35 – Sétima parte da matriz de avaliação qualitativa dos impactos

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4.4 QUALIDADE DE VIDA URBANA EM ÁREAS ÚMIDAS

♦ Construção do indicador

O índice de qualidade de vida urbana foi constituído pela média ponderada dos

índices parciais. A atribuição de pesos considerou a importância de cada área temática sócio-

ambiental no bem-estar das pessoas que residem nas áreas de ressacas. O índice parcial de

atividades econômicas não foi considerado por enviesar os resultados finais, dissimulando outros

indicadores e não revelando a realidade observada in loco. Esse índice demonstrou que as

atividades são impactantes no ambiente natural e após investigação sobre o local de moradia dos

empreendedores, notou-se que normalmente eles residem em outras áreas fora das ressacas.

Índices parciais Peso

Populacional 1

Percepção sobre as condições de vida 1

Educação 2

Saúde 2

Saneamento básico 2

Associativismo 1

Estrutura habitacional 1

Disponibilidade espacial de serviços públicos 2

Ocupação econômica 1

Renda 2

Impacto ambiental 2 Figura 36 – Índices parciais utilizados na aferição da qualidade de vida

A representação cartográfica foi uma adaptação metodológica da carta de

vulnerabilidade elaborada por Crepanni et al. (1995). Assim, devido ao fato de que nenhuma área

ter valor acima de 75% e as condições sociais, econômicas e ambientais serem bastante diferentes

das outras áreas das cidades onde se encontram, os resultados do índice de qualidade de vida

foram organizados em três intervalos correspondentes a escala de cores: verde, amarelo e

vermelho, significando médio, moderadamente baixo e baixo traduzidos como preocupante,

agravador e crítico. Essa classificação considerou o índice de desenvolvimento humano e de

condições de vida no Brasil e região norte.

A qualidade de vida das pessoas que moram em áreas úmidas urbanas é diferente

daquelas que residem em ambientes úmidos rurais. Principalmente, quando considera-se as

condições naturais e habitabilidade, pois, muito embora, a vida ribeirinha não disponha de um

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contigente de equipamentos sociais adequados, tem outros fatores como, qualidade do ar,

alimentação natural, ventilação, tranqüilidade, que elevam a qualidade de vida de seus habitantes.

♦ Resultados

Apesar da vida sobre águas com qualidades duvidosas por causa do lixo e esgoto,

onde os serviços públicos são restringidos pela Lei no 0455 de 22 de julho de 1999 16, existem

diferenças significativas entre as áreas de ressacas urbanas no Estado do Amapá. Deste modo, o

índice de qualidade de vida urbana mostrado na Figura 37, revela o bem-estar das populações

residentes em ressacas, a satisfação com as condições de moradia, renda, emprego e as formas de

acesso aos serviços básicos públicos. Visando uma melhor distinção entre si, os valores

reescalonados obtidos são apresentados na Figura 37 com três casas decimais e organizados em

ordem decrescente.

Figura 37 – Gráfico dos valores do índice de qualidade de vida

Para esclarecer os resultados finais de qualidade de vida urbana, será explicada a

variável que mais contribuem com peso negativo ou positivo das unidades que merecem

destaque. O maior valor alcançado foi na Lagoa dos Índios por causa da existência de condições

de infra-estrutura habitacional desta nesta unidade. Como dito, a maioria das casas está localizada

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nas proximidades das margens das ressacas e Lagoa dos Índios em conjuntos residenciais e

loteamentos. Nesta unidade, existem escolas, saneamento básico, fornecimento de luz elétrica

formal, boa estrutura habitacional e a maior parte das pessoas de referência dos domicílios tem

empregos fixos e estão satisfeitos com as condições de moradia. Laguinho Nova Esperança

obteve um alto valor por ter o maior percentual de pessoas de referência participantes de

organização social e o menor acometimento de doenças. Lago do Pacoval teve alto índice por ter

apresentado baixo acometimento de doenças e ter em suas proximidades, escolas, postos de

saúde e posto policial.

Nota-se nos resultados e no cartograma da Figura 38 que, de maneira geral, algumas

ressacas, situadas no município de Macapá apresentam valores superiores às das situadas no

município de Santana. Esse resultado se deve ao fato das ressacas localizadas na capital terem

maior possibilidades de acesso aos serviços básicos públicos, como água, energia elétrica, escolas,

posto de saúde e postos policiais.

Na cidade de Macapá, conforme discutido, a ressaca Lagoa dos índios é diferente das

outras unidades, e devido ter próximo o maior número de equipamentos sociais, teve o maior

valor no índice de qualidade de vida e apesar disto, conforme os parâmetros metodológicos

comparados ao resto do país, ele é considerado preocupante, de acordo com o mostrado Figura

38. No entanto, ainda nesta cidade, o oposto ocorre na ressaca de Tacacá que obteve o menor

índice da cidade de Macapá. Apesar de estar situada na capital ainda carece de vários serviços

públicos, principalmente de escolas e postos de saúde e policial. Na ressaca Tacacá, próximo ao

igarapé Fortaleza, localizam-se as extrações de argila feitas por médios empreendedores, causando

impacto ambiental. Também nesta unidade, localizam-se tanques de piscicultura localizadas quase

nas margens do igarapé Fortaleza, alguns tanques inclusive com criação de peixes exóticos à

região como a tilápia; a qual já foi coletada em ambiente de ressacas, desconhecendo-se os

impactos naturais que este ambiente poderá sofrer.

Seguindo a ressaca Tacacá, também a ressaca Lago do Pacoval destacou-se por obter

um valor maior que as demais unidades, por causa da boa disponibilidade espacial de

equipamentos sociais. Porém, quando se redimensiona este valor considerando as condições de

vida de outras áreas da cidade de Macapá, Norte e Brasil, ela traduz-se como preocupante,

principalmente devido as atividades de piscicultura (Figura 38).

1.1

16 Lei que dispõe sobre a delimitação e o tombamento das áreas de ressaca, impondo limitações ao uso e ocupação do solo dentro e em seu entorno.

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Em observância a legenda da Figura 38, percebe-se que na cidade de Macapá, as

ressacas Chico Dias, Beirol e Lago da Vaca tiveram o índice de qualidade classificado como

agravador. A unidade Chico Dias tem o maior número de domicílios, parte de sua área já foi

aterrada e no seu interior está localizada a usina de asfalto pública, a qual lança seus resíduos

próximo aos cursos de água. Enquanto que Beirol, além de ter bastante habitações, apresenta as

atividade de piscicultura com bastante freqüência.

Quando comparadas entre si, as demais unidades da cidade de Macapá, como Lagoa

dos Índios, Lago do Pacoval e Sá Comprido obtiveram em valores rescalonados bons resultados.

No entanto, quando comparadas qualitativamente com as demais áreas da cidade, observa-se a

carência de infra-estrutura urbana, como por exemplo a ausência de saneamento básico. Assim,

elas foram classificadas como áreas em estado crítico de qualidade de vida.

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Figura 38 - Cartograma de qualidade de vida urbana nas ressacas de Macapá e Santana Fonte: Construída a partir da base geográfica da SEMA E IEPA/GERCO (2001).

Das ressacas localizadas na cidade de Santana, destacou-se a ressaca do Paraíso com

o valor reescalonado de 2,062. Essa unidade obteve este valor por causa do baixo número de

domicílios, suas casas ocupam uma área pequena, a maioria delas situam-se de frente para as ruas

e avenidas, sendo servidas de: abastecimento de água diretamente da canalização geral,

fornecimento de energia adequado e coleta de lixo. Além de ter pouca atividade econômica.

Enquanto que, as ressacas Vaga-lume e Provedor têm bastante atividades econômicas,

principalmente intensa extração de argila, proporcionando um ambiente de difícil habitabilidade.

Este fato contribuiu para que seus respectivos índices de qualidade de vida urbana (IQVU)

fossem classificados como agravador. A ressaca Funda por apresentar atividades econômicas de

extração de argila e aglomerado de residências sem atendimento público de serviços, quando

comparada com as ressacas de Santana e de Macapá, obteve o menor valor reescalonado de

IQVU, e foi classificada espacialmente como crítico.

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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Os índices de desenvolvimento humano atuais, também são normalmente

utilizados para como indicadores de qualidade de vida. Os dados quantitativos alcançados pelas

instituições nacionais e internacionais são importantes por mostrar um quadro abrangente dos

países e cidades estudadas. Contudo, não revelam claramente a qualidade de vida das

comunidades amazônicas, principalmente as urbanas, onde estão as maiores carências. Não

manifestam a satisfação das pessoas com os equipamentos sociais públicos que elas utilizam,

quais são elas e como desejam ter acesso aos mesmos.

Existe uma preocupação na sociedade técnica e científica, principalmente dos

organismos que medem e discutem o desenvolvimento humano, de criar instrumentos

apropriados para aferir a qualidade de vida urbana. No entanto, o exercício de construção de

indicadores confiáveis, manipuláveis e comunicáveis de qualidade de vida urbana, tem sido lento

e complexo.

A qualidade de vida urbana do ser humano permite que ele desfrute das atividades

que lhes dão estímulo e vitalidade para participar da sociedade local, através das discussões

comunitárias e compreendendo a noção de espaço habitado, podendo melhorar suas relações

com o ambiente em que vive.

Os indicadores de qualidade de vida utilizados neste trabalho contribuem como

subsídio à política de uso e ocupação do solo das cidades que, além de garantir a arrecadação de

impostos e planejamento urbano, deve minimizar os problemas sociais (violência, fome, pobreza,

saúde e outros) e ambientais (poluição, contaminação de rios, doenças de veiculação hídrica e

outros), podendo evitar catástrofes e aumentos dos gastos financeiros públicos. A legitimidade

das políticas públicas deve ser centrada na diminuição da pobreza e degradação ambiental, no

incentivo ao exercício da cidadania a fim de consolidar pactos político-sociais capazes de ofertar

serviços urbanos às demandas qualitativas e quantitativas nos assentamentos humanos.

Considerando os objetivos deste trabalho, foi proposto um índice sintético com

competência de representar a qualidade de vida urbana nas ressacas das cidades de Macapá e

Santana. Dentre várias suposições, investigou-se, neste trabalho, as seguintes hipóteses: a maioria

dos habitantes destes locais tem baixa qualidade de vida, é pobre, e cerca de 65% das pessoas de

referências do domicílio já habitaram em ambiente com predominância aquática.

De acordo com os resultados apresentados no capítulo anterior, observa-se que a

qualidade de vida urbana nas áreas está abaixo da média da região Norte e muito aquém das

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regiões mais desenvolvidas do país. Os resultados obtidos através do Índice de Qualidade de

Vida Urbana indicam que os níveis são bastante baixos, sendo classificados em preocupante,

agravador e crítico.

Em relação aos outros locais das cidades de Macapá e Santana, nota-se que os

resultados das unidades territoriais de análise, localizados nas bordas e entorno das áreas úmidas,

apresentaram um maior valor do índice de qualidade de vida, não somente no sentido da

qualidade ambiental, mas principalmente pelo planejamento e acesso direto aos equipamentos

sociais, como a Lagoa dos Índios. Observa-se que, no tocante ao atendimento das necessidades

das comunidades nas áreas de ressacas, está muito aquém do almejado. Através dos dados

percentuais, pode-se afirmar que, após esclarecimento do conceito de qualidade de vida e seus

direitos de acesso à infra-estrutura, o seu nível de insatisfação é grande.

Existem variadas conotações para pobreza. Algumas já foram expostas no capítulo

de considerações teóricas. Se a pobreza for considerada como exclusão dos bens e serviços

sociais, afirma-se que a população residente em ressaca é pobre, devido à inexistência desses

serviços no local. Porém, se a pobreza for concebida na observação do nível de renda, através da

renda familiar per capita de cada família, é possível identificar o número de pessoas abaixo da

linha de pobreza, pois nas ressacas a renda per capita, além de demonstrar o poder aquisitivo de

bens, também indica a possibilidade de acesso aos serviços sociais essenciais, dado que alguns

deles, como o saneamento básico e energia elétrica, são dependentes da ação dos moradores.

O parâmetro renda, adotado como linha de pobreza neste trabalho, considerou a

citação de Rocha (2002) 17 sobre o limite de valor per capita mensal de 53,47% do salário mínimo

para as áreas urbanas do Estado do Amapá.

Após tratamento estatístico, confirmou-se que a maioria dos moradores das ressacas

de Macapá e Santana é pobre, uma vez que 78,18% das pessoas apresentaram um valor per capita

mensal inferior a R$ 96,25, equivalente a 53,47% do salário mínimo, (SM: R$180,00). Com essa

renda mensal, é impossível sastifazer as necessidades básicas como alimentação, saúde e moradia

de uma pessoa. Deste modo, pode-se afirmar que, nas ressacas de Macapá e Santana, existem

bolsões de pobreza.

1.1

17 “Linha de pobreza para a região Norte a partir do consumo observado dentre as famílias de baixa renda e da evolução de preços ao consumidor por grupos de produtos das metrópoles (Belém) em agosto de 2000, seu cálculo foram construídos a partir da cesta alimentar de menor custo capaz de atender as necessidades nutricionais médias de 2.055 calorias/pessoa/dia. Os valores estabelecidos para o Amapá levam em conta que em áreas urbanas e rurais, como é o caso das áreas em estudo no Amapá, o custo de vida para os pobres é mais baixo do que na metrópole regional. A partir do valor da linha de pobreza para Belém calculado a

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A suposição de que a maioria das pessoas de referência das famílias em domicílios

particulares permanentes em ressacas já habitou ambiente aquático é refutada, dado que somente

22,47% já moraram em ambientes aquáticos. Destas, cerca de 11,28% declararam gostar de morar

em ressacas e 67,32% responderam que habitam atualmente em ressacas por falta de opção.

Assim, a falta de recursos financeiros é o principal motivo das famílias morarem nestes

ambientes. Isso indica que a ocupação em ressacas deve-se mais à necessidade do que à

identificação com o ambiente.

A discussão sobre a problemática da qualidade de vida das populações residentes em

ressacas e os seus rebatimentos sobre os gastos públicos e as responsabilidades da administração

pública remetem à observação direta das políticas públicas direcionadas ao referido tema. Apesar

da existência da Lei no 0455/99, que tomba as ressacas e da parte do diagnóstico sócio-ambiental

ter sido efetuado, ainda tem-se muito a fazer para solucionar o problema das ressacas. O maior

fator limitante é o fato do Estado do Amapá não ter uma política habitacional definida. Qualquer

ação nesses locais é complexa. Porém, ousa-se afirmar que, devido às profundas modificações

ambientais (aterramento), algumas áreas, como Chico Dias, não são mais passíveis de

recuperação, já não vale a pena transferir as famílias para outro lugar e sim provê-las de infra-

estrutura urbana a fim de melhorar sua qualidade de vida.

Na tentativa de contribuir com a gestão pública e a conseqüente melhora da vida da

população residente de ressacas, visando um planejamento racional e ecológico nas ressacas das

cidades de Macapá e Santana, propõem-se algumas recomendações relacionadas a seguir:

Concluir o diagnóstico sócio-ambiental nas ressacas urbanas de Macapá e Santana,

para divulgar e socializar os resultados alcançados;

Realizar o zoneamento ecológico e econômico urbano e o plano diretor urbano

envolvendo a comunidade local, para que possa participar das decisões e compreender a

problemática em que vivem;

Escolher uma área piloto para ações interinstitucionais;

Elaborar e executar programas de educação ambiental e ordenamento urbano em

conjunto com a universidade e outras instituições nas áreas da borda e entorno das ressacas;

1.1

preços de agosto de 2000, data de referência do Censo da Demográfico, os valores per capita mensais para Amapá foram estimados em R$ 80,74 e R$ 46,02, respectivamente para áreas urbanas e rurais.”

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As ressacas têm uma ocupação acelerada e as suas conseqüências já são percebidas

pelos órgãos públicos através de problemas com alagamentos, doenças e violência. Esses

problemas poderão alcançar proporções maiores, caso não se estabeleça uma política habitacional

e ações integradas inter-instituicionais. Desta forma, a solução dos problemas econômicos

dependerá de novas pesquisas que informem detalhadamente a capacidade de suporte das

ressacas, o nível de poluição ambiental e a capacidade do ambiente de retornar à sua forma

primitiva e das estratégias adotadas pelo governo estadual e sociedade civil. No entanto, discutir,

propor e analisar essas alternativas seria uma nova dissertação; assim deixa-se aqui a oferta para

novas indagações de pesquisa.

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TORRES, A. M. ; OLIVEIRA, D.M. Caracterização sedimentológica e variáveis ambientais das áreas úmidas costeiras das bacias hidrográficas do igarapé da Fortaleza e do rio Curiaú, Municípios de Santana e Macapá. In: TAKIYAMA, L. R.; SILVA A. Q. (Orgs.) Diagnóstico das Ressacas do Estado do Amapá: Bacias do Igarapé da Fortaleza e Rio Curiaú. Macapá: IEPA-CPAQ/SEMA-DGEO, 2003. p.155-166.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Laboratório de Química analítica e ambiental.. Relatório Técnico. Belém, 2001. 29 p.

URBAN WORD FORUM. Reports on Dialogues II – Sustainable Urbanizations. Disponível em: http://www.unchs.org/uf/aii.html. Acessado em 20/01/2003.

VIEIRA, P.F. Meio ambiente, desenvolvimento e planejamento. In: VIOLA, E. et al. Meio ambiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 1995.

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Tabela 1 – População residente por situação do domicílio e sexo - 2000

População Residente

Urbana

Grandes Regiões e

Unidades da Federação

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Brasil 169.799.170 83.576.015 86.223.155 137.953.959 66.882.993 71.070.966 Região Norte. 12.900.704 6.533.555 6.367.149 9.014.365 4.441.624 4.572.741 Estado do Amapá 477.032 239.453 237.579 424.683 210.950 213.733 Macapá 283.308 143.964 139.344 270.628 132.619 138.009 Santana 80.439 40.111 40.328 75.849 38.007 37.842 Fonte: Censo Demográfico 2000. IBGE.

Tabela 2 – Percepção de qualidade de vida da população urbana das ressacas do município de Macapá

Percepção da População Macapaense de Qualidade de Vida Respostas %

Estar bem financeiramente 26,3 Ter saúde/estar saudável 23,7 Ter emprego/melhor condição de trabalho 13,2 Ter moradia 8,0 Ter boa educação 7,8 Ter saneamento básico 6,1 Ter acesso a serviço/cultura/boa alimentação 5,8 Não sabe 3,5 Outras resposta 5,6

Fonte : Jornal Folha do Amapá - 2002

Tabela 3 – Formas de abastecimento de água nas unidades territoriais Amapá, Macapá e Santana

Forma de Abastecimento de Água Rede geral Poço/nascente Outras

Unidade Territorial

Número de Domicílios

Abs. % Abs. % Abs. % Estado do Amapá 98.576 50.032 50,75 39 977 40,55 8.567 8,70Macapá 60.400 32.149 53,23 24 466 40,51 3.785 6,27

Santana 15.794 8.681 54,96 5 942 37,62 1.171 7,42Fonte: Censo Demográfico 2000. IBGE

Tabela 04 - Destino dado ao lixo nas unidades territoriais: Amapá, Macapá e Santana.

Destino Dado ao Lixo Coletado Outros Destinos

Unidade Territorial

Número de Domicílios

Abs. % Abs. %

Estado do Amapá 98.576 70.732 72 27.844 28 Macapá 60.400 48.723 49 11.677 51 Santana 15.794 12.513 87 3.281 13

Fonte: Censo Demográfico 2000. IBGE

ANEXO A – Dados estatísticos secundários

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Tabela 5 – Existência de banheiro ou sanitário nas unidades territoriais Amapá, Macapá e Santana.

Domicílios Particulares Permanentes Existência de Banheiro (%) Unidade Territorial

Total AbsolutoSim Ligado a Rede geral (%)

Inexistência de Banheiro(%)

Estado do Amapá 98.576 93,06 6,61 6,94

Macapá 60.400 94,00 8,65 5,53

Santana 15.794 95,59 3,05 4,41 Fonte: Censo Demográfico 2000. IBGE

Tabela 6 – Tipo de esgotamento sanitário dos domicílios que possuem banheiros no Estado do Amapá.

Domicílios Particulares Permanentes Tipo de Esgotamento sanitário

Absoluto % Rede geral de esgoto ou pluvial 6.062 6,61 Fossa séptica 17.931 19,55 Fossa rudimentar 46.886 51,11 Vala 3.958 4,31 Rio, lago ou mar 14.208 15,49 Outros escoadouros 2.692 2,93 Não tinha banheiro nem sanitário 6.839 6,94 Total 91.737 106,94 Fonte: Censo Demográfico 2000. IBGE

Tabela 7 – Classe de rendimento médio mensal familiar per capita em salário mínimo, segundo as grandes regiões

e Estado do Amapá - 1999.

Classe de Rendimento Médio Mensal Familiar Per Capita em Salários Mínimos (%) Grandes, Regiões e

Unidades da Federação Total Ate 1/2

mais de 1/2

mais de 1 a 2

mais de 2 a 3

mais de 3 a 5

mais de 5

Brasil 46.306.278 20,1 23,4 23,1 10,2 8,2 9,4 Norte 2.013.817 25,2 27,1 21,3 8,0 6,4 6,0 Amapá 94.003 24,9 20,8 21,2 8,6 8,2 5,6 Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. 1 CD-ROOM Nota : Exclusive população rural de Rondônia, Acre , Amazonas, Roraima, Para e Amapá.

Tabela 8 - Rendimento nominal mensal das mulheres de 10 anos ou mais de idade, responsáveis pelos domicílios -

1991/2000.

Rendimento Nominal Mensal das Mulheres de 10 Anos ou mais de Idade, Grandes Regiões E

Unidades Da Federação Total Ate 1/2 mais de

1/2 a1 mais de 1 a 2

mais de 2 a 3

mais de 3 a 5 mais de 5

Brasil 46.306.278 20,1 23,4 23,1 10,2 8,2 9,4 Norte 2.013.817 25,2 27,1 21,3 8,0 6,4 6,0 Amapá 94.003 24,9 20,8 21,2 8,6 8,2 5,6 Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. 1 CD-ROOM

Nota : Exclusive população rural de Rondônia, Acre , Amazonas, Roraima, Para e Amapá.

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Sexo (%) Opção do Lugar De Moradia Satisfação Funcional de CvRessaca

Pop. Total Homens Mulheres

Razão Do Sexo Gosta Sem opção Outro motivo Bom Regular Ruim

Chico Dias 664 48,49 51,51 94,15 10,29 71,32 18,38 26,40 37,60 36,00

Beirol 813 50,06 49,94 100,25 13,58 59,89 26,53 25,31 37,65 37,04

Tacacá 334 50,90 49,10 103,66 9,68 58,06 32,26 33,87 30,65 35,48 Lagoa dos Índios 23 47,83 52,17 91,67 75,00 - 25,00 100,00 - -

Sá Comprido 79 48,10 51,90 92,68 -- 100,00 - 14,29 28,57 57,14

Lago da Vaca 77 46,75 53,25 87,80 37,50 43,75 18,75 25,00 31,25 43,75 Lago do Pacoval 281 46,62 53,38 87,33 1,67 58,33 40,00 15,00 28,33 56,67

Laguinho Nova Esperança

180 46,67 53,33 87,50 2,94 67,65 29,41 23,53 41,18 35,29

Mac

apá

Média de 306 48,18 51,82 93,13 18,83 57,38 23,79 32,93 33,60 43,05

Provedor 373 46,92 53,08 88,38 10,14 75,36 14,49 26,40 37,60 36,00

Paraíso 175 54,29 45,71 118,75 14,29 71,43 14,29 51,72 24,14 24,14

Vaga-lume 24 58,33 41,67 140,00 16,67 83,33 - 16,67 66,67 16,67

Fonte Nova 48 56,25 43,75 128,57 - 100,00 - 28,57 42,86 28,57

Funda 49 40,82 59,18 68,97 36,4 63,60 - 27,27 63,64 9,09

San

tan

a

Média 134 51,32 48,68 108,93 15,50 78,74 5,76 30,13 46,98 22,89 Média Total 222,86 45,86 47,00 92,12 17,50 68,06 14,77 47,99 57,09 54,50

ANEXO B - Resultados estatísticos

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Ressaca

Analfabetismo Funcional

Escolaridade de Adultos

Potencial Jovens

Alfabetização de Adultos

Malária Hepatite Leptospirose Dengue Doenças De

Pele Verminoses Outras

Chico Dias 68,73 4,77 30,46 86,25 21,93 2,21 3,68 11,76 25,00 22,79 34,56

Beirol 64,77 4,60 37,70 86,00 25,63 3,07 1,84 12,56 16,56 5,52 30,06

Tacacá 38,00 2,80 15,56 65,00 46,77 0,00 0,00 4,84 17,34 6,45 16,13

Lagoa dos Índios 78,57 9,00 64,29 85,71 60,00 0,00 0,00 20,00 0,00 0,00 25

Sá Comprido 86,36 6,26 56,82 93,18 78,57 7,14 0 7,14 0,00 0,00 7,14

Lago da Vaca 70,26 5,65 37,84 83,78 83,33 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,61

Lago do Pacoval 83,65 5,60 40,88 88,68 31,58 11,76 8,82 21,05 11,76 0,00 26,67

Lag. N. Esperança 82,24 5,68 48,60 90,65 21,05 11,76 8,82 10,53 11,76 0,00 41,18

Mac

apá

Média 71,57 5,55 41,52 84.91 46,11 4,49 2,90 10,99 10,30 4,35 22,67

Provedor 55,50 4,32 33,00 75,62 21,93 8,70 0,00 11,76 13,04 11,59 28,99

Paraíso 59,80 4,37 29,41 83,33 43,24 0,00 9,09 8,11 9,09 15,15 39,39

Vaga-lume 53,85 3,63 15,38 92,31 0,00 66,67 0,00 0,00 0,00 16,27 16,67

Fonte Nova 54,55 3,71 13,64 81,82 0,00 12,50 0,00 0,00 0,00 0,00 11,11

Funda 50,00 2,55 8,33 83,33 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 27,27

San

tan

a

Média 54,74 3,72 19,95 83,28 13,03 17,57 1,82 3,97 4,43 8,60 24,69

Média Geral 65,10 4,84 33,22 84,28 33,39 9,52 2,48 8,29 8,04 5,98 23,44

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Formas de armazenamento de águas das ressacas (%)

Ressaca Percentual de

domicílios que utilizam água de ressaca

Domicílios que

armazenam água (*)

Caixa d'água Baldes plástico Lata Tambor Outros

Chico Dias 5,88 35,29 - 52,1 2,1 16,7 6,3

Beirol 6,29 30,67 22,9 41,4 - 10,3 22,4

Tacacá 12,90 72,58 41,3 41,3 - 8,7 8,7

Lagoa dos Índios - 100,00 100,0 - - - -

Sá Comprido - 14,29 - 50,0 - 50,0 -

Lago da Vaca - 37,50 - 83,3 16,7 - -

Lago do Pacoval 5,00 20,00 7,3 - 68,3 - 24,4

Laguinho Nova Esperança - 5,88 - 100,0 - - -

Mac

apá

Média 3,76 39,53 21,44 46,01 10,89 10,71 7,73

Provedor 5,80 47,8 9,1 36,4 6,1 36,4 12,1

Paraíso - 9,1 - - - 100,0 -

Vaga-lume - 16,7 - - - 100,0 -

Fonte Nova - 12,5 - 100,0 - - -

Funda - 2,0 - 90,9 - 9,1 -

Média 1,16 17,22 1,82 45,46 1,22 49,10 2,42

Sant

ana

Média Geral 2,46 28,37 11,63 45,74 6,05 29,91 5,07 (*) de diversas proveniências

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Formas de Abastecimento de Água (%)

Ressacas

Rede geral com canalização interna

Rede geral sem canalização

interna

Poço com canalização

interna

Poço sem canalização

interna

Outras formas (lagos,igarapé

Variável Abastecimento de

Água (%)

Chico Dias 38,24 33,09 26,47 0,74 1,47 71,33

Beirol 38,51 35,40 24,22 0,62 1,24 73,91

Tacacá 3,22 1,61 80,65 11,29 3,23 4,83

Lagoa dos Índios 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 0,00

Sá Comprido 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00

Lago da Vaca 12,50 37,50 18,75 31,25 0,00 50,00

Lago do Pacoval 66,67 31,67 1,67 0,00 0,00 98,34

Laguinho Nova Esperança 94,12 2,94 2,94 0,00 0,00 97,06

Mun

icípi

o de

Mac

apá

Média 44,16 17,78 31,84 5,49 0,74 61,93

Provedor 55,07 31,88 7,25 2,90 2,90 86,95

Paraíso 84,85 15,15 0,00 0,00 0,00 100,00

Vaga-lume 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00

Fonte Nova 87,50 12,50 0,00 0,00 0,00 100,00

Funda 36,36 0,00 0,00 63,64 0,00 36,36

Mun

icípi

o de

San

tana

Média 72,76 11,91 1,45 13,31 0,58 84,66

Média Geral 55,16 15,52 20,15 8,50 0,68 70,68 Fonte: GERCO/IEPA (Dados de campo)/2001

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Destino do Lixo Domiciliar (%)

Ressaca Coletado Enterrado Jogado a céu aberto Queimado Jogado no rio, lago e igarapé Fossa Séptica (%)

Chico Dias 27.59 1.38 32.41 17.24 21.38 1,47

Beirol 29.01 6.17 20.99 16.67 27.16 3,16

Tacacá 59.68 1.61 4.84 24.19 9.68 6,45

Lagoa dos Índios 100.00 __ __ __ __ 75,00

Sá Comprido 42.86 __ 7.14 21.43 28.57 7,14

Lago da Vaca 56.25 12.50 18.75 6.25 6.25 12,50

Lago do Pacoval 33.33 3.33 15.00 33.33 15.00 1,67

Lag. N. Esperança 38.24 __ 23.53 8.82 29.41 2,94

Mun

icípi

o de

Mac

apá

Média 48,37 4,99 17,52 18,27 19,63 13,79

Provedor 87.88 3.03 0.00 9.09 __ 13,04

Paraíso 87.88 3.03 0.00 9.09 __ 12,12

Vaga-lume 100.00 __ __ __ __ 0,00

Fonte Nova 100.00 __ __ __ __ 0,00

Funda 18.18 __ 54.55 27.27 __ 0,00

Mun

icípi

o de

San

tana

Média 78,78 3,03 54,55 15,15 __ 12,58 Média Geral 63,57 4,01 36,03 16,71 19,63 13,18

Fonte: Dados de campo -2001

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Participação Social Freqüência Em Reuniões Contribuição Monetária

Ressaca

Sim Não Sim Não Às Vezes Sim Não Sem Mensalidade

Chico Dias 30,88 69,12 71,43 28,57 - 54,76 21,43 23,81

Beirol 27,78 72,22 77,78 17,78 4,44 62,22 24,44 13,33

Tacacá 38,71 61,29 54,17 8,33 37,50 41,67 45,83 12,50

Lagoa dos Índios 25,00 75,00 - - 100,00 100,00 - -

Sá Comprido 7,14 92,86 100,00 - - 100,00 - -

Lago da Vaca 25,00 75,00 - - 75,00 50,00 50,00 -

Lago do Pacoval 26,67 73,33 - - 43,75 56,26 31,24 12,50

Lag. N. Esperança 79,41 20,59 - 14,29 71,43 85,71 14,29 -

Mac

apá

Média 32,57 67,43 75,84 17,24 55,35 68,83 31,21 15,54

Provedor 37,68 62,32 92,31 7,69 - 42,31 11,54 46,15

Paraíso 66,67 33,33 50,00 45,45 4,55 18,18 54,55 27,27

Vaga-lume - 100,00 - 100,00 - - 100,00 -

Fonte Nova 25,00 75,00 50,00 50,00 - 50,00 50,00 -

Funda 9,10 90,90 100,00 - - 100,00 - -

Sant

ana

Média 34,61 72,31 73,08 50,78 4,55 52,62 54,02 36,71 Média Geral 49,88 103,58 112,38 42,63 57,63 95,14 58,22 33,90

Fonte: Dados de campo -2001

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Rendimento Médio Mensal (R$)

Rendimento Médio Mensal (SM)

Ressaca PEA PIA Taxa global de

participação População

Infantil ocupada

Taxa de desemprego

aberto Masculino Feminino Masculino Feminino

Chico Dias 34,64 68,83 50,33 4,30 5,47 112,54 41,11 0,63 0,23

Beirol 31,98 68,88 46,43 4,17 1,25 109,81 51,68 0,61 0,29

Tacacá 35,03 60,78 57,64 16,28 8,87 87,26 31,28 0,48 0,17

Lagoa dos Índios 39,13 73,91 52,94 0,00 0 577,27 290 3,21 1,61

Sá Comprido 29,11 68,35 42,59 0,00 0 105,26 68,9 0,58 0,38

Lago da Vaca 35,06 67,53 51,92 6,25 3,85 131,14 74,63 0,73 0,41

Lago do Pacoval 37,72 66,90 56,38 17,24 3,19 111,97 76,18 0,62 0,42

Lag. N. Esperança 33,89 72,22 46,92 10,34 3,08 158,44 60,31 0,88 0,34

Mac

apá

Média 34,57 68,43 50,64 7,32 3,21 174,21 86,76 0,97 0,48

Provedor 27,08 68,10 39,76 0,00 3,54 121,31 50,49 0,67 0,28

Paraíso 33,14 72,57 45,67 0,00 5,51 116,26 62,66 0,65 0,35

Vaga-lume 33,33 58,33 57,14 0,00 0 130,71 80 0,73 0,44

Fonte Nova 35,42 64,58 54,84 0,00 9,68 85,11 32,38 0,47 0,18

Funda 28,57 65,31 43,75 0,00 0 127 39,14 0,71 0,22

Sant

ana

Média 31,51 65,78 48,23 0,00 3,75 116,08 52,93 0,64 0,29 Média Geral 33,39 67,41 49,72 4,51 3,42 151,85 73,75 0,84 0,41

Fonte: Dados de campo Nota: 0 nenhum, 1 pequeno, 2 médio e 3 grande

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Classe De Rendimento Médio Mensal Familiar Per Capita Em Salários Mínimos

Ressaca

Ate 1/2 mais de 1/2

a1 mais de 1

a 2 mais de 2

a 3 mais de 3 a 5

mais de 5 SM

Renda Média Mensal Familiar Per

Capita

Renda Média Mensal Domiciliar

Per Capita

Índice De Gini

(Exato)

Chico Dias 67,57 20,95 8,78 1,35 1,35 0 0,53 1,14 0,335945

Beirol 70,86 22,29 5,71 1,14 0 0 0,47 0,51 0,305007

Tacacá 66,67 24,24 7,58 1,51 0 0 0,47 0,51 0,350538

Lagoa dos Índios 40,00 20,00 0 0 40 0 1,61 2,02 0,548118

Sá Comprido 75,00 10,00 15 0 0 0 0,51 0,55 0,379734

Lago da Vaca 70,59 11,76 17,65 0 0 0 0,57 0,60 0,406426

Lago do Pacoval 59,68 27,42 9,68 1,61 1,61 0 0,60 0,56 0,303924

Lag. N. Esperança 64,10 25,64 7,69 2,57 0 0 0,55 0,61 0,397760

Mac

apá

Média 64,31 20,29 9,01 1,02 5,37 0,00 0,66 0,81 0,378432

Provedor 59,15 28,17 11,27 1,41 0 0 0,58 0,56 0,409265

Paraíso 68,57 20,00 11,43 0 0 0 0,51 0,58 0,332425

Vaga-lume 50,00 50,00 0 0 0 0 0,58 0,64 0,251426

Fonte Nova 62,50 25,00 12,5 0 0 0 0,64 0,42 0,417202

Funda 63,64 36,36 0 0 0 0 0,42 0,55 0,207886

Sant

ana

Média 60,77 31,91 7,04 0,28 0,00 0,00 0,55 0,55 0,323641 Média Geral 62,95 24,76 8,25 0,74 3,30 0,00 0,62 0,71 0,357358

Fonte: Dados de campo -2001 Fonte: GERCO/IEPA (Dados de campo), 2002.

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