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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – CDS UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL IMPLANTAÇÃO DA LINHA DE DISTRIBUIÇÃO PRADO/CARAÍVA E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS LUCIENE CÂNDIDA DA SILVA SANTOS Orientadora: Dra. Lais Mourão Sá Dissertação de Mestrado Brasília-DF: novembro de 2003

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – CDS

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

IMPLANTAÇÃO DA LINHA DE DISTRIBUIÇÃO PRADO/CARAÍVA E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS

LUCIENE CÂNDIDA DA SILVA SANTOS

Orientadora: Dra. Lais Mourão Sá

Dissertação de Mestrado

Brasília-DF: novembro de 2003

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – CDS

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

IMPLANTAÇÃO DA LINHA DE DISTRIBUIÇÂO PRADO/CARAÍVA E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS

LUCIENE CANDIDA DA SILVA SANTOS

Dissertação de Mestrado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Mestre em Desenvolvimento Sustentável, área de concentração Gestão e Política Ambiental (Gestão e Política de C&T), (opção Profissionalizante).

Aprovado por: _____________________________________ Laís Mourão Sá, Doutora. UNB (Orientadora) _____________________________________ Suzi Theodoro, Doutora UNB (Examinadora Interna) _____________________________________ Carlos Tadeu de Paula, Doutor:UNIBAHIA (Examinador Externo) Brasília-DF, novembro de 2003.

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – CDS

IMPANTAÇÃO DA LINHA DE DISTRIBUIÇÃO PRADO – CARAÍVA E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS

SANTOS, LUCIENE CÂNDIDA DA SILVA. Implantação da Linha de Distribuição Prado - Caraíva e Conflitos Socioambientais/Brasília: Universidade de Brasília/centro de Desenvolvimento Sustentável/Luciene Cândida da Silva Santos 160 p., 297 mm, (UnB-CDS, Mestre, Política e Gestão Ambiental, 20003). Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável. 1.Introdução e Justificativa 2. Cenário Socioambientais da Área 3. Metodologia 4. Descrição dos Dados 5. Referencial Teórico e Interpretação dos Dados I. UnB-CDS II. Título (série) É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação (tese) e emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor.

______________________________ Luciene Cândida da Silva Santos

Brasília- DF, novembro de 2003

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EM MEMÓRIA DE

LUCIENE CÂNDIDA DA SILVA SANTOS

*03.01.1953 + 04.08.2003

entre a vida e a morte - a cada instante - há sempre um possível abismo

de alegria ou de dor

semente-luz estrela

no oceano do universo

te agradecemos pelas boas colheitas - afeto, solidariedade, coragem, fé -

no jardim dos nossos sonhos

Esta dissertação de mestrado foi defendida pela aluna LUCIENE CÂNDIDA DA SILVA SANTOS no dia 10 de junho de 2003, tendo a Banca Examinadora solicitado reformulação do texto, no prazo de três meses.

A aluna reformulou o trabalho, inserindo no texto as recomendações da Banca, e entregou a versão final em fins de julho/03, poucos dias antes de seu falecimento. Essa versão foi posteriormente revisada pela orientadora e aprovada pela Banca, resultando no presente documento.

A Coordenação de Pós-Graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável solicitou e obteve a aprovação, pelo Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação, para a emissão do diploma de mestre "post-mortem", de acordo com o regimento da Fundação Universidade de Brasília.

Brasília, novembro de 2003.

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AGRADECIMENTOS

Dedico o sucesso deste trabalho às três pessoas da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito

Santo que me ajudam a suportar todos os contratempos de minha vida. À minha mãe Morena

que tanto amo e suporta os meus aborrecimentos. Às minhas irmãs Ana, Lúcia e Regina que

tanto me animaram a continuar lutando pelo que eu queria. Aos homens que praticam a

DEMOCRACIA, a ÉTICA, a IGUALDADE DE DIREITOS, a JUSTIÇA, a EQUIDADE, a

PARTICIPAÇÂO e por fim a CIDADANIA. Aos professores do CDS, principalmente ao Prof.

Roberto Aguiar, pela sua força e coragem nos enfrentamentos das dificuldades. À professora Laís

Mourão pela sua serenidade. Aos colegas, Wilson, Ana Cláudia, Lilia, Hosana, Paulo Souza,

Cristiane, Sidronio e Rita Cardoso o meu muito obrigado por toda ajuda. E aos colegas do CRA,

que são corajosos, o meu respeito. Ao Centro de Recursos Ambientais – CRA, na pessoa do Dr.

Fausto Azevedo Ex. diretor Geral, por ter aberto esse leque de conhecimento, incentivando os

seus funcionários a progredir, buscando o caminho do saber. A Teresa Muricy por coordenar o

mestrado. A Áurea Rebouças e toda sua equipe, na grande corrida que foi o deslanchar de nossa

documentação e o prazer que vi em seu sorriso ao dizer: Você passou!

A IBERDROLA Empreendimentos S.A. e a PLAMA-Planejamento e Meio Ambiente, por

disponibilizar os Estudos de Impactos Ambientais e o Relatório de Impacto Ambiental.

Aos colegas de trabalho, meu muito obrigado por sempre perguntar: Como você está com sua

dissertação?

E obrigado meu Deus, por me ajudar a suportar tanto sufoco.

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RESUMO

Neste trabalho pretende-se apresentar os conflitos socio-ambientais decorrentes da implantação

da Linha de Distribuição de Energia Elétrica 13,8 kV Prado/Caraíva que interligaria o município

de Prado ao sistema elétrico – COELBA , além de suprir com energia elétrica alguns povoados

do município de Porto Seguro. Procurou-se discutir os impactos ambientais, algumas de suas

causas apontando para as possíveis soluções para a gestão ambiental. Consideram-se na análise

as relações e conflitos socio-ambientais existentes entre os atores envolvidos nas questões

ambientais tratadas pelos órgãos de licenciamento, como o CRA, que pode tornar mais eficaz e

dar sustentabilidade às ações decorrentes desse licenciamento. Verificou-se a dinâmica dos

conflitos socio-ambientais como parte integrante dos estudos e processos de Avaliação

Ambiental, bem como análise do caso do processo de licenciamento da construção da linha de

distribuição Prado/Caraíva,quanto à dinâmica das relações e conflitos socio-ambientais entre os

atores envolvidos. Foram realizados entrevistas e questionários na comunidade indígena, com os

pescadores e com outros segmentos da sociedade civil. Após o término de todo o processo de

licenciamento, o Governo do Estado da Bahia, por intermédio da SEINFRA, resolve não

implantar a linha de distribuição, tendo em vista alguns pareceres técnicos desfavoráveis,

conforme o Ibama e a Funai. A pesquisa levou à conclusão de que os órgãos ambientais têm

dificuldade em tornar o licenciamento ambiental mais eficaz e, conseqüentemente, dar

sustentabilidade às ações decorrentes desse licenciamento. Os procedimentos seguem um

determinismo administrativo que o legitimam, porém os movimentos de participação da

sociedade civil ocorrem somente em alguns segmentos mais organizados. Nem todos os atores

sociais conseguem se fazer representar, o que dificulta a implementação de soluções , as quais

fazem parte de um processo público, onde os grandes beneficiados seriam o meio ambiente e a

sociedade que usufrui os recursos naturais.

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ABSTRACT

In this work we have in mind to bring forward the social and environmental conflicts arisen from

the implementation of Prado / Caraíva 13,8 kV power line which would interconnect Prado

municipality to COELBA power system, besides supplying electric power to a few villages

pertaining to Porto Seguro municipality. Environmental impacts are discussed, as well as some of

its causes, pointing out, when possible, their solutions for a proper environmental administration.

In this study, the socio-environmental relationships and conflicts among the involved actors have

been taken into account, as well as the environmental issues that are managed by licensing

governmental agencies, as the CRA – (Environmental Resources Center). So, the CRA can turn

more effective and give sustainability to the actions resulting from this licensing. The dynamics of

socio-environmental conflict has been considered as taking part in the studies of Environmental

Impacts Evaluation process, as well as the analysis of the case concerning the licensing process

related to the construction of Prado / Caraíva power line, as to the dynamics of socio-

environmental relationships and conflicts among the involved actors. Taking into account the

need of understanding the present day environmental problematic imposed on to the studied area

we have chosen the qualitative methodology, by means of interviews and questionnaires applied

to the indigenous community, to fishermen and individuals of other civil society segments. The

gathering of data allowed a fast and low cost systematization, and the information obtained

represented the reality as in fact it was detected by the author, who has interacted with the real

environment making possible a general and at the same time specific view on population

involvement in the process since the first stages of the research. The lack of sustainability of

actions resulting from this licensing has been verified, which would negatively affect

environmental area caused by tourism and possibly the life quality of population.

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SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO _______________________________________________________ 1 1.1 - ASPECTOS INSTITUCIONAIS ____________________________________________ 1

1.2 - PROCEDIMENTOS ______________________________________________________ 2 1.2.1 - Hipótese ___________________________________________________________________ 2 1.2.2 - Objeto de Estudo_____________________________________________________________ 2

1.3 - OBJETIVO DO TRABALHO ______________________________________________ 2 1.3.1 - Objetivo Geral_______________________________________________________________ 2 1.3.2 - Objetivos Específicos: ________________________________________________________ 2

1.4 - JUSTIFICATIVA ________________________________________________________ 3

2 - CENÁRIO SOCIOAMBIENTAL DA ÁREA EM ESTUDO ____________________ 9 2.1 - MEIO FÍSICO __________________________________________________________ 11

2.2 - GEOLOGIA ____________________________________________________________ 11

2.3 - GEOMORFOLOGIA ____________________________________________________ 11

2.4 - PEDOLOGIA ___________________________________________________________ 12

2.5 – RECURSOS HÍDRICOS _________________________________________________ 12

2.6 – MEIO BIÓTICO ________________________________________________________ 13 2.6.1 - Vegetação _________________________________________________________________ 13 2.6.2 - Fauna_____________________________________________________________________ 13

2.7 - FLORA ________________________________________________________________ 16

2.8 - ESPÉCIES RARAS E ENDÊMICAS EM VIAS DE EXTINÇÃO ________________ 18

2.9 - UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS _______ 18 2.9.1. - APA Caraíva/Trancoso________________________________________________________ 18 2.9.2 - Conflito de uso do Parque Nacional Monte Pascoal _________________________________ 20 2.9.3 - Conflitos índios X posseiros X fazendeiros_________________________________________22 2.9.4 - Conflito Reserva Extrativista Ponta de Corumbau X IBAMA ________________________ 23

2.10 - OUTROS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS _______________________________________ 23 2.10.1 - Conflitos pela falta de energia na Região Litorânea _________________________________ 24 2.10.2 - Conflitos com os Assentados de Corumbau _______________________________________ 24 2.10.3 - Conflito em relação à anuência do IPHAN para a Licença____________________________ 24 2.10.4 - Conflitos com a FUNAI (técnicos vindo de Brasília) ________________________________ 24 2.10.5 - Conflitos entre as instituições __________________________________________________ 25 2.10.6 - Conflitos entre Grupos Sociais _________________________________________________ 25 2.10.7 - Conflito em torno do Processo de Licenciamento___________________________________ 25

3 - METODOLOGIA_____________________________________________________ 26 3.1 - ESTUDO DE CASO _____________________________________________________ 26

3.2 - REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DA TÉCNICA. ______________________________ 27

3.3 - DADOS SECUNDÁRIOS _________________________________________________ 28

3.4 - DADOS PRIMÁRIOS ____________________________________________________ 28

3.5 - PASSOS DA PESQUISA__________________________________________________ 29

4 - DESCRIÇÃO DOS DADOS ____________________________________________ 31 4.1 - HISTÓRICO DO PROCESSO_____________________________________________ 31

4.2 -TRAÇADO/ÁREAS ATINGIDAS __________________________________________ 40

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4.2.1 - Impactos socioambientais (cadeias de efeitos ambientais) ____________________________ 41 4.2.2 - Ações de impactos ambientais: abertura da picada__________________________________ 43 4.2.3 - Recuperação de Acessos de Serviços e Obras de Arte Existentes ______________________ 44 4.2.4 - Incremento da Utilização de Jazidas Existentes.____________________________________ 44

4.3 - MAPEAMENTO DOS ATORES SOCIAIS __________________________________ 46 4.3.1 - Poder Público ______________________________________________________________ 46 4.3.2 - Empresa Responsável pelo empreendimento:______________________________________ 46 4.3.3 - Sociedade Civil _____________________________________________________________ 46

4.4 - DESCRIÇÃO DAS COMUNIDADES E DOS GRUPOS SOCIAIS ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE LICENCIAMENTO______________________________________________47

4.4.1- PORTO SEGURO_______________________________________________________________ 47 -Caraíva ____________________________________________________________________ 55 - Nova Caraíva________________________________________________________________60 4.4.2. - PRADO_____________________________________________________________________ 60 - Corumbau_________________________________________________________________ 66 - Ponta de Corumbau__________________________________________________________ 68 4.4.3. Descrição do Processo de Licenciamento - Audiências __________________________________71 4.4.4. Decisão sobre a não implantação do empreendimento__________________________________ 79

5 - REFÊRENCIAS TEORICAS E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ___________ 81 5.1 - POLÍTICA ENERGÉTICA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL _____________________ 81

5.2 - REGULAMENTAÇÃO JURÍDICA DOS IMPACTOS SOCIOSAMBIENTAIS. ___ 84 5.2.1 -Legislação inerente ao empreendimento __________________________________________ 86

5.3 - IMPACTOS E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS __________________________ 94

5.4 - CAPITAL SOCIAL ______________________________________________________ 97

5.5 - TURISMO E GLOBALIZAÇÃO___________________________________________ 99

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ______________________________________ 103

BIBLIOGRAFIA__________________________________________________________108

ANEXOS________________________________________________________________113

A 1. FICHA DE INFORMANTE - INDIVIDUAL

A 2. FICHA DE INFORMANTE - PESCADOR

A 3. FICHA DE INFORMANTE – ÍNDIO

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2. 1 - Localização da área de estudo. .............................................................................................9

Figura 2. 2 - Animal ameaçado de extinção: Ouriço-Cacheiro...........................................................15

Figura 2. 3– Animal ameaçado de extinção: Macaco-Prego. ...............................................................15

Figura 2. 4 - Espécie encontrada na Mata Atlântica: Borboleta e Zínia.............................................17

Figura 2. 5 - Espécie encontrada na Mata Atlântica: Mussununga. ....................................................18

Figura 4. 1 - Representantes das comunidades, Audiência Prévia Cumuruxatiba.............................37

Figura 4. 2 Técnicos da Coelba de Cumuruxativa- Audiência Prévia.................................................37

Figura 4. 3 - Comunidades presentes na audiência prévia Caraiva. ....................................................39

Figura 4. 4 - Parque Monte Pascoal. ........................................................................................................50

Figura 4. 5 - Doenças na Aldeia Barra Velha. ........................................................................................52

Figura 4. 6 - Crianças índias que vendem utensílios na praia...............................................................53

Figura 4. 7 - Vista de Caraíva....................................................................................................................56

Figura 4. 8 - Rio Caraíva ao entardecer. ..................................................................................................57

Figura 4. 9 - Praia de Caraíva....................................................................................................................59

Figura 4. 10 - População Residente na Sede principal Prado...............................................................64

Figura 4. 11- Chefes de domicílio sede Prado........................................................................................65

Figura 4. 12 - Placa Reserva Extrativista Marinha do Corumbau .......................................................66

Figura 4. 13 - Casa que serve de pensão para turistas de Corumbau..................................................67

Figura 4. 14 - Representatividades dos diversos segmentos da sociedade.........................................73

Figura 4. 15 - Representatividades dos diversos segmentos da sociedade.........................................76

Figura 4. 16 - Representatividades dos diversos segmentos da sociedade em Audiência Pública.79

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LISTA DE QUADROS

Quadro 4. 1 - Renda dos entrevistados em Ponta de Corumbau........................................................70

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LISTA DE SIGLAS

ABHIH Associação Brasileira de Indústria Hoteleira

AIA Avaliação de Impactos Ambientais

ANAI Associação Nacional de Ação Indigenista

APPA Associação Pradense de Proteção Ambiental

CUMURUT

UR

Associação comercial de Turismo de Cumuruxatiba

CEPRAM Conselho Estadual de Proteção Ambiental

CIMI Conselho Indigenista Missionário

CRA Centro de Recursos Ambientais

COELBA Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia

CONDER Companhia de Desenvolvimento Urbano

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CAR Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional

DERBA Departamento Estadual de Estrada de Rodagem da Bahia

EMBASA Empresa Baiana de Água e Saneamento

EIA/RIMA Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental

FUNAI Fundação Nacional do Índio

IBDF Instituto Brasileiro de Defesa Florestal

IBGE Instituto Brasileira de Geografia e Estatística

IBERDRO

LA

Iberdrola Empreendimento do Brasil S.A.

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPAC Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural

L.L. Licença de Localização

L.I. Licença de Implantação

L.O. Licença de Operação

N. T. Norma Técnica

NUC Núcleo Urbano Governamental

ONGs Organização não Governamental

PARNA Parque Nacional de Monte Pascoal

PLAMA Planejamento e Meio Ambiente

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PRAD Programa de Recuperação de Áreas Degradadas

SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais

SEPLANT

EC

Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia

T.R. Termo de Referência

UFBA Universidade Federal da Bahia

UNEB Universidade do Estado da Bahia

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

ZUE Zona de Uso Específico

ZVT Zona da Vila Turística

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1 - INTRODUÇÃO

1.1 - ASPECTOS INSTITUCIONAIS

A questão ambiental tem-se destacado como uma das principais preocupações da sociedade a

nível mundial. A progressiva destruição dos recursos ambientais decorre da visão imediatista,

tecnocrática, que prioriza os lucros decorrentes dos empreendimentos, sem a previsão dos

prejuízos socio-ambientais para as populações envolvidas, sendo estes recursos a base

quantitativa da produção de bens materiais, não levando em conta a necessidade da preservação

dos ecossistemas.

Este trabalho apresenta o estudo de caso e as decisões tomadas pelas comunidades do município

de Prado e do povoado de Caraíva sobre o empreendimento da Linha de Distribuição de energia

elétrica 13,8 kV que interligaria o município de Prado ao sistema Elétrico da Companhia de

Energia Elétrica – COELBA, além de suprir de energia elétrica, alguns povoados no município

de Porto Seguro.

Portanto, a abrangência, os procedimentos, os critérios para esse trabalho têm como base o

pedido da Comunidade Indígena dos Pataxós ao então Governador do Estado da Bahia, visando

atender às demandas de geração de energia elétrica na Reserva Indígena de Barra Velha. Em

paralelo, o Governo do Estado da Bahia prevê o incremento do turismo na região, por meio do

Programa do Desenvolvimento Turístico – PRODETUR, pelo qual está prevista a implantação

dos de novos projetos energéticos a serem instalados ao longo da Costa do Descobrimento.

O vínculo da pesquisadora com o Centro de Recursos Ambientais – CRA é o de integrar a equipe

multidisciplinar do Núcleo de Avaliação Tecnológica e Ambiental – NATA, setor responsável

pelo licenciamento de empreendimentos suscetíveis de causar impactos significativos ao meio

ambiente, sujeitos a Avaliação de Impacto Ambiental. Este instrumento possibilita diagnosticar,

avaliar e prognosticar as conseqüências ambientais por meio da Análise dos Estudos de Impactos

Ambientais sendo, portanto, um tema de interesse profissional e institucional as atividades efetiva

ou potencialmente poluidoras.

Este empreendimento foi escolhido por possuir um significativo impacto ambiental na

interligação dos municípios de Prado e Porto Seguro, interceptando Áreas de Preservação

Permanente - APPS. A região apresenta inquestionável valor ecológico, bem como relevante sítio

ecológico com grandes extensões de planícies litorâneas e ecossistemas, que caracterizam a rica

diversidade da APA Caraíva - Trancoso. Portanto, estas características demonstram sua

1

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importância no cenário de conflitos socio-ambientais, pois trata de questões ambientais de uma

sociedade, cujo interesse coletivo abarca temas interesses mais amplos até as questões pessoais.

1.2 - PROCEDIMENTOS

Diante do exposto serão considerados os seguintes procedimentos:

1.2.1 - Hipótese

Ao incluir em sua análise a compreensão das relações e conflitos socioambientais entre os atores

envolvidos nas questões ambientais, os órgãos de licenciamento, como o CRA, podem tornar

mais eficazes e dar sustentabilidade às ações decorrentes do licenciamento da linha de

distribuição de energia elétrica.

1.2.2 - Objeto de Estudo

A dinâmica dos conflitos socio-ambientais como parte integrante dos estudos e processos de

Avaliação de Impactos Ambientais bem como da Gestão Ambiental.

1.3 - OBJETIVO DO TRABALHO

Mapear os atores e a dinâmica de relações de conflitos, no contexto de impactos e gestão

ambiental, no caso da Linha de Distribuição Prado/ Caraíva .

1.3.1 - Objetivo Geral

Analisar o caso do processo de licenciamento da Construção da Linha de Distribuição Prado-

Caraíva quanto à dinâmica das relações e de conflitos socio-ambientais entre os atores sociais

envolvidos.

1.3.2 - Objetivos Específicos:

• Contextualizar o processo de licenciamento do empreendimento.

• Mapear os atores sociais envolvidos no processo, suas formas de organização, ideologias e

modos de vida.

• Caracterizar a eficiência das audiências prévia e pública quanto à participação dos atores

sociais envolvidos.

• Elencar recomendações que permitam orientar as ações de licenciamento do CRA, no sentido

de incluir os processos de mobilização dos atores sociais envolvidos, tendo em vista a

sustentabilidade socioambiental dos empreendimentos.

2

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Desenvolvimento do trabalho

No primeiro capitulo é apresentada a justificativa e a origem do empreendimento, bem como a

solicitação da obra e a definição dos objetivos do projeto. É importante salientar que este tipo de

empreendimento requer o licenciamento ambiental, pois se trata de uma Linha de Distribuição de

energia, enquadrada pelo CRA como de grande porte.

No segundo capítulo foi relatado o cenário socioambiental da área trabalhada, bem como foram

elencados os conflitos socio-ambientais.

No terceiro capítulo detalharam-se a metodologia utilizada na pesquisa, os instrumentos, os

métodos e a técnica para obtenção dos dados nas etapas da pesquisa.

No quarto capítulo é apresentada a descrição dos dados, o histórico do processo, o traçado do

empreendimento, nas áreas atingidas, etapas do licenciamento, os impactos socio-ambientais

(Cadeias de Efeitos Ambientais), e a decisão sobre a não implantação do empreendimento.

Buscou-se ainda neste capítulo mapear os atores sociais envolvidos no processo de licenciamento

bem como abordar o relato dos principais aspectos observados durante as audiências.

O quinto capítulo tratou da explanação do referencial teórico e suas instalações além da

interpretação dos dados, que foram discutidos da seguinte forma: Política Energética e

Participação Social, Regulamentação Jurídica dos Impactos Socio-ambientais, Impactos e

Conflito Socio-ambientais, Capital Social , Turismo e Globalização

1.4 - JUSTIFICATIVA

A Linha de Distribuição Prado/Caraíva foi solicitada por intermédio de um abaixo-assinado feito

pelos índios Pataxós, liderados pelo Cacique da Aldeia de Barra Velha, com o consentimento da

Fundação Nacional do Índio – Funai, e entregue ao então Governador do Estado da Bahia.

Aderiram à solicitação no município de Prado as comunidades de Cumuruxatiba, Assentamento

Corumbau ou Agrovilas I, II e III, Corumbau e Ponta de Corumbau. No município de Porto

Seguro as comunidades da Aldeia Pataxó de Barra Velha, Caraíva e Nova Caraíva.

O Governo do Estado tinha previsto o incremento do turismo na região, por intermédio do

Programa do Desenvolvimento Turístico - PRODETUR, no qual consta a implantação de novos

projetos energéticos ao longo da Costa do Descobrimento, com investimento da ordem de

R$3.500.000,00 . Foram também definidos os objetivos do projeto e sua importância, da seguinte

forma:

3

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• interligar as comunidades de Corumbau e Ponta de Corumbau ao sistema elétrico da

COELBA;

• suprir com energia elétrica a Reserva Indígena de Barra Velha e os povoados de Caraíva e

Nova Caraíva, no município de Porto Seguro;

• regularizar o atendimento ao povoado de Cumuruxatiba.

A área total do empreendimento teria 75 km de extensão e a rede deveria atravessar diversos

ecossistemas do Extremo Sul da Bahia, como: Manguezais, Mata Atlântica, Restinga, Brejos,

Matas Ciliares, além do Parque Nacional de Monte Pascoal, (oitocentos metros) de mata e

Patrimônios Arqueológicos. Portanto, o empreendimento necessitava ser licenciado, pois foi

enquadrado como de grande porte, com impactos ambientais significativos para os meios físico,

biótico e antrópico.

Diante de toda essa complexidade, a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia – COELBA

necessitava implantar a linha de distribuição Prado/Caraíva, objetivando ligar ao sistema de

energia elétrica os municípios de Prado e Porto Seguro, e os processos de licenciamento

ambiental tornaram-se também prioridades desta Companhia.

Com base na pesquisa de campo, pode-se contextualizar do ponto de vista ambiental, geográfico

e histórico, as análises específicas dos conflitos. Neste processo foi possível identificar e analisar

os principais atores envolvidos nos conflitos. Assim cada ator social foi analisado com base nos

interesses econômicos, socio-ambientais e individuais.

Os interesses dos diferentes atores, as táticas e estratégias utilizadas para reivindicá-los; os

símbolos e identidades em jogo e os pontos considerados negociáveis e não-negociáveis, tido isso

deve ser entendido em função da correlação de forças políticas.

O poder público tem como objeto de intervenção mobilizar e sensibilizar os atores sociais para

que participem de todas as etapas do processo de Licenciamento Ambiental. A decisão sobre se o

empreendimento deve ou não ser levado a termo, cabe, em última instância, à sociedade, uma vez

que não se trata apenas de decisão técnica, mas de uma decisão política, em que todas as variáveis

devem ser explicitadas. Cabe ao corpo técnico e à burocracia estatal apenas o papel de condutor

do processo.

O poder político é exercido mediante consenso estabelecido em leis, que são executadas em

distintas formas, que supõem que a Sociedade Civil passe, efetivamente, a fazer uso, em seu

benefício, do aparato do Estado. De acordo com a Constituição, a sociedade civil deve ter a

representação dos interesses e das necessidades coletivas.

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Além disso, com a evolução dos processos de organização social, aumentou o número de

instituições a que pertence cada indivíduo, ou, ainda, cada sociedade convive, ao mesmo tempo,

com várias formas de organização que influenciam sua existência individual e ou social.

Chega-se ao ponto em que a própria sobrevivência dos indivíduos e dos grupos humanos fica

diretamente ligada à sua capacidade e possibilidade de conviver com esta diversidade de formas

organizacionais.

A Linha de Distribuição de energia elétrica Prado/Caraíva pode configurar-se como um exemplo

da complexidade das questões ambientais, uma vez que envolve ingredientes com potencialidade

de se transformar em conflitos e embates da sociedade local, se o empreendimento tiver

prosseguimento.

Segundo Quintas, (2000) “a sociedade não é o lugar de harmonia, mas sobretudo, o lugar dos

conflitos e confrontos que ocorrem em suas diferentes esferas (política, econômica, relações

sociais e valores)”.

Quanto à dinâmica das relações de conflitos sociais e ambientais entre os atores envolvidos, trata-

se de defender seus próprios interesses para as questões de Desenvolvimento Sustentável, no

Estado da Bahia e na Região do Extremo Sul. Esta localidade situa-se em uma região de relevante

importância na economia do Estado da Bahia, com o foco em Turismo e Sustentabilidade

Socioambiental.

Sabe-se que as legislações ambientais vigentes não consideram a dimensão sociopolítica dos

impactos ambientais. De modo geral, têm uma concepção puramente técnica dos impactos

ambientais, e muitas vezes não consideram as relações entre as pessoas que vivem numa

determinada comunidade ou em um grupo social. Além disto, não consideram o processo de

informações para a tomada de decisões sobre novos desenvolvimentos,.

Segundo a Legislação Ambiental Estadual, os instrumentos de comando e controle somente são

efetivos se o órgão licenciador e fiscalizador possuir uma estrutura sistêmica-contingencial em

que a autoridade ambiental inspeciona e aplica auto de infração, quando necessário. Além disso, a

autoridade ambiental deve estar revestida do poder político, para evitar, por intermédio da

negociação, as eventuais ações impetradas pelos degradadores do meio ambiente.

Neste contexto, faz-se necessário inserir nos processos de Licenciamento Ambiental, o

diagnóstico dos Conflitos Socio-ambientais, com a descrição e a análise dos fatores ambientais

passíveis de sofrerem direta ou indiretamente os efeitos decorrentes da implantação e operação

do empreendimento.Tendo em vista que a Linha de Distribuição de energia elétrica

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Prado/Caraíva envolveria diferentes atores sociais, nas diferentes localidades, nas discussões para

solução dos dilemas da ação coletiva, torna-se necessário um exame mais aprofundado. A

interação supõe alguma forma de controle efetivo com vistas a que os atores sociais interiorizem

os elementos morais pressupostos na colaboração entre eles.

Serão elencados os diferentes atores sociais e o grau de organização sociopolítica que, para efeito

analítico, ocupam, basicamente, cinco posições para o tratamento dos conflitos socioambientais:

"confrontação, repressão, manipulação política, negociação/mediação e diálogo/cooperação”. A forma de

tratamento adotada pode variar segundo o grupo social, devido a seus poderes diferenciados, e

seus distintos interesses, e segundo a conjuntura na qual o conflito acontece " (Little, 2001).

Após as discussões com as instituições locais, percebe-se que os recursos naturais formam parte

do domínio social. Isto quer dizer que os recursos naturais somente se tornam recursos quando

um grupo social define-os como tal e fornece um uso específico para eles. Assim, os recursos

naturais são intimamente ligados aos conhecimentos e tecnologias de um grupo social

determinado e conseqüentemente, por trás dos interesses de classes (índios, sem-terra), existem

interesses de toda a sociedade na obtenção de um bem ou produto, por exemplo, a energia

elétrica.

O empreendimento é de grande porte, conforme o Art.180 da Lei Estadual de n.º 7.967, de

07.02.2001, regulamentada pelo Decreto n.º 7.799, de 05.06.2001.

Art. 180 – dependerá de prévia autorização ou de licenciamento ambiental do órgão competente, sem prejuízos de outras licenças legalmente exigíveis, a localização, construção, instalação, ampliação, alteração e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. (CARDOSO, 2001, p. 70).

O Sistema de Licenciamento Ambiental no Estado da Bahia está sob a responsabilidade tanto do

Centro de Recursos Ambientais – CRA, órgão executor da Política Ambiental Estadual , quanto

do Conselho Estadual do Meio Ambiente – CEPRAM, pioneiro no Brasil, por se configurar

como um órgão consultivo, normativo, deliberativo e recursal do Sistema Estadual de

Administração dos Recursos Ambientais – SEARA. Este sistema é constituído por

representantes do poder público,da sociedade civil e das entidades ambientalistas, que deliberam

sobre a expedição da Licença Ambiental requerida.

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Compete ao CEPRAM emitir a Licença de Localização – LL e demais Licenças Ambientais.

Reúne-se ordinariamente uma vez por mês na Secretaria de Planejamento Ciência e Tecnologia -

SEPLANTEC, sob a presidência do Secretário de Planejamento, Ciência e Tecnologia, quando

são apreciados os Processos de Licenciamento, encaminhados pelo CRA. Atualmente, o

Colegiado é composto por quinze Conselheiros, sendo cinco representantes de cada segmento –

Poder Público, Sociedade Civil e Ongs.

Um dos instrumentos mais eficientes no processo de Gestão Ambiental é a Avaliação de Impacto

Ambiental (AIA), por representar grande relevância na manutenção do equilíbrio ambiental.

Esse tipo de estudo teve início nos EUA, na década de 70. Outros países, como o Canadá e a

Nova Zelândia, adotaram este instrumento por decisão dos respectivos gabinetes de governo e,

atualmente, a sua aplicação é garantida também pelo Estudo de Impacto Ambiental e seu

respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).

A Constituição Federal de 1988, inciso IV do art. 225, prevê necessidade de estudo prévio de

Impacto Ambiental. O Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório de Impactos

Ambientais (EIA/RIMA), as diretrizes e atividades técnicas, os critérios de apresentação do

RIMA e a Audiência. Pública, estão normatizados por intermédio da resolução CONAMA

09/87.

A Resolução CONAMA 237/97 veio atualizar alguns conceitos e técnicas necessários ao sistema

de licenciamento. Introduziu o conceito de Estudos Ambientais (inciso III do Art. 1º), alterou os

Artigos 3º e 7º da Resolução 001/86, apresentando Atividades, Programas, Planos e Projetos

sujeitos ao licenciamento ambiental, dentre os quais pode-se destacar os serviços de utilidade –

energia elétrica. No âmbito Estadual, a lei mais recente é a nº 7.799 de 07/02/2001, que institui a

Política Estadual de Administração dos Recursos Ambientais e dá outras previdências,

estabelecendo que:

Seção VII – Da Avaliação de Impacto Ambiental - Art.32 – As obras, atividades e empreendimentos públicos ou privados, bem como planos, programas, projetos e políticas públicas setoriais, suscetíveis de causar impacto no meio ambiente devem ser objeto de avaliação de impacto ambiental. (CARDOSO, 2001, p. 18).

Recentemente, o Conselho Estadual de Meio Ambiente – CEPRAM aprovou uma nova Norma

dos Procedimentos de Avaliação de Impacto Ambiental, por intermédio da Resolução de nº 2929

de 18/01/02 – Norma Técnica nº. 01/02, que tem como objetivo o estabelecimento de critérios

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e procedimentos para subsidiar o processo de Avaliação de Impacto Ambiental – AIA, para os

empreendimentos e atividades considerados efetiva ou potencialmente causadores de significativa

degradação do meio ambiente, bem como as demais, passíveis de estudos ambientais.

Assim, a vigência das leis ambientais brasileiras criou parâmetros para os Estudos de Impacto

Ambiental (EIA) e Avaliação de Impacto Ambiental, tornando-os importantes instrumentos de

informação, previsão e negociação, na tentativa de minimizar os danos causados ao ambiente, e

de colaborar para o desenvolvimento sustentável do país.

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2 - CENÁRIO SOCIOAMBIENTAL DA ÁREA EM ESTUDO

A linha de distribuição está localizada nas microrregiões homogêneas de Prado e Porto Seguro,

Sub-regiões administrativas de Teixeira de Freitas e Eunapólis, inseridas na Região Econômica do

Extremo Sul da Bahia, como exibe a Fig. 2.1.

Figura 2. 1 - Localização da área de estudo.

Fonte - PLANEJAMENTO E MEIO AMBIENTE, 2001.

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Os núcleos que serão diretamente afetados pela Linha de Distribuição pesquisada estão

localizados no Município do Prado – Sede Municipal, Cumuruxatiba, Assentamento Corumbau

ou Agrovilas I, II, III, Corumbau e Ponta do Corumbau –, bem como no município de Porto

Seguro – Aldeia de Pataxós de Barra Velha, Caraíva e Nova Caraíva.

O empreendimento teria início na Subestação (SE) de Prado, distante aproximadamente 780 km

de Salvador. As principais vias de acesso são a BR-101, até a cidade de Itamaraju, e a BR – 489

que interliga Itamaraju à sede municipal de Prado. Prosseguindo rumo a orla de Prado, distando

aproximadamente a 1km de seu litoral, acompanha a estrada carroçável de acesso a Cumuruxatiba

e Ponta de Corumbau. A partir deste ponto, a linha intercepta o Parque Nacional de Monte

Pascoal, em um trecho de aproximadamente 800 metros, até alcançar a Reserva Indígena de Barra

Velha, área esta confrontante com os limites do povoado de Caraíva. O término do

empreendimento se daria na localidade de Nova Caraíva.

A principal via de acesso para Caraíva é feita pela BR – 367, onde deriva para BA-001, sentido

Trancoso, até o lado esquerdo do rio Caraíva, sendo feita sua travessia em canoas de aluguel.

Define-se genericamente como área de influência de uma determinada atividade, o espaço

geográfico afetado, de forma direta ou indireta, pelas ações a serem desenvolvidas nas diferentes

etapas do empreendimento.

A área de influência direta do empreendimento, do ponto de vista dos meios físico e biótico,

abrange uma faixa com 75 km de extensão e 15 m de largura, sendo 12,5m para cada lado do eixo

central da linha. O início desta faixa se dá na SE Prado, no município, e termina no povoado de

Nova Caraíva, município de Porto Seguro. Em relação ao meio antrópico, definindo-se ainda a

área de influência direta do empreendimento, serão consideradas: sede municipal de Prado e os

limites dos povoados de Cumuruxatiba, Corumbau e Ponta do Corumbau, Caraíva e Nova

Caraíva, além da Aldeia Indígena de Barra Velha, que seriam diretamente beneficiados com o

fornecimento de energia elétrica, por intermédio do sistema da Companhia de Eletricidade do

Estado da Bahia - COELBA.

Como área de influência indireta do empreendimento, do ponto de vista dos meios físicos e

bióticos, seria definida a área próxima ao empreendimento, que não seria afetada diretamente

com a implantação do mesmo, estando compreendida uma faixa de 4 km, logo após a área de

influência direta. Em relação ao meio antrópico, as áreas consideradas de influência indireta

seriam os limites dos municípios de Prado e Porto Seguro.

No diagnóstico ambiental da área de influência do empreendimento, apresenta-se a descrição e

análise dos fatores ambientais e suas interações, caracterizando a situação ambiental da área de

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influência direta ou indireta antes da implantação do empreendimento, considerando os aspectos

dos meios físico, biótico e socioeconômico.

2.1 - MEIO FÍSICO

Clima: O clima dos municípios de Porto Seguro e Prado apresentam em toda sua extensão o tipo

climático Af, conforme Köppen, que significa clima tropical, quente e úmido com cobertura

vegetal de floresta. As temperaturas médias mensais são superiores a 18º C com índice

pluviométrico médio inferior a 60mm. Contudo, toda a região do extremo sul da Bahia apresenta-

se com grau úmido, com baixo risco de seca (SUPERITENDÊNCIA DE ESTUDOS

ECONÔMICOS E SOCIAIS, 2001).

Não dispondo de dados de direção dos ventos para as localidades analisadas, extraiu-se do Atlas

Climatológico do Estado da Bahia (SUPERITENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS

E SOCIAIS, 2001) algumas informações importantes. Os dados de Caravelas revelaram um fato

relevante que, ao lado do regime das chuvas, possibilitou definir um limite climático zonal em

torno do vale do rio Jequitinhonha. A variação sazonal dos ventos em Caravelas mostra que, no

verão e na primavera, enquanto predominam em todo o estado os ventos de SE, os ventos

ocorrem na direção NE dominantemente. No outono e no inverno, nota-se o ligeiro predomínio

dos ventos de SE.

2.2 - GEOLOGIA

Do ponto de vista geológico, a Linha de Distribuição Prado/ Caraíva se estenderia praticamente

sobre os sedimentos terciários do Grupo Barreiras, além das formações superficiais quaternárias

holocênicas, caracterizadas pelos depósitos Argilo-Orgânicos de “Terras Úmidas”, pelos

sedimentos Argilo-Orgânicos de mangue nas travessias dos principais rios que compõem o

sistema hidrológico, bem como as pequenas áreas dos depósitos de Areias Residuais

denominadas de “Mussununga”.

Os sedimentos terciários representados pelo Grupo Barreiras, nas regiões dos tabuleiros,

oferecem condições favoráveis às obras civis de pequeno porte. Com relação às regiões de

encostas que compõem os vales e as áreas de acumulação, que apresentam problemas periódicos

de inundação, devido às suas características litológicas e topográficas, podem gerar problemas

com relação à capacidade de suporte de carga e de infiltração.

2.3 - GEOMORFOLOGIA

A geomorfologia é caracterizada pela presença de duas unidades morfoestruturais que refletem a

influência do substrato geológico, estando representadas pelos sedimentos do Grupo Barreiras e

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pelas formações superficiais quaternárias. As duas unidades morfoestruturais representam os

tabuleiros Costeiros e Planícies Fluviomarinhas (complexos praiais, estuarinos e aluviais), que são

constituídas por sedimentos quaternários, os quais foram depositados no intervalo de tempo

entre o Pleistoceno e o Holoceno.

As unidades geomorfológicas comportam formas de relevo distintas, concentradas em formas de

dissecação tabulares (tabuleiros) e convexas (colinas). As formas de acumulação são representadas

pelas áreas planas das planícies fluviomarinhas.

2.4 - PEDOLOGIA

A predominância de solos da região, objeto de classificação do estudo são: Podzóis , Gleissolos

(solos com horizonte B incipiente), Latossolos (solos com horizonte B latossólico, antigamente

tinham a mesma designação) e Neossolos (solos pouco desenvolvidos, anteriormente designados

por Litossolos), Aluviais, Litólicos, Areias Quartzosas e Regossolos, (EMBRAPA, 1999). A

avaliação da susceptibilidade à erosão está relacionada com os tipos de relevo, vales, falésias assim

como a propriedade física do solo, condições climáticas, uso da terra e cobertura vegetal. A

integração desses atributos permitiu agrupar as áreas de diferentes classes de vulnerabilidade à

erosão: muito fraca, moderada, forte e muito forte.

2.5 – RECURSOS HÍDRICOS

A hidrografia da área em estudo compreende parcialmente as bacias dos rios Caraíva e Jucuruçu e

integralmente as bacias dos rios Corumbau e Queimado ou Cahy como é mais conhecido na área.

Apresentando regime fluvial perene, essas bacias integram Bacias do Extremo Sul, II ª Região

Administrativa de Água no Estado da Bahia.

Os usos das águas nestas bacias são: Dessedentação de Animais; Lazer (prática de banho), Pesca,

Navegação, Abastecimento de Água e Despejos de Águas Residuárias.

As águas dos principais rios da região em estudo foram analisadas e os resultados atuais

demonstram que o rio Caraíva apresenta águas bem oxigenadas com valores de pH tendendo

ligeiramente ao ácido, com baixo teor de nutrientes e baixos níveis de material de origem fecal.

Na avaliação da qualidade, os parâmetros indicadores físicos químicos e bacteriológicos da

qualidade das águas, apresentaram-se dentro dos limites estabelecidos para a Classe II e pode-se

afirmar que não são detectadas poluições de origem antrópica na bacia. Já para o rio Jucuruçu, os

parâmetros físico-químicos analisados indicam ótima condição para as águas, porém observa-se o

processo de erosão e assoreamento decorrente do desmatamento, em vista dos valores sólidos

totais (188 e 44 mg/l), ainda que os mesmos estejam dentro do limite da sua Classe. Quanto ao

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parâmetro bacteriológico, a poluição orgânica antrópica já se faz sentir por intermédio dos

índices de coliformes fecais já registrados.

Na análise dos recursos hídricos subterrâneos da área em estudo foi caracterizados apenas um

sistema aqüífero, denominado Aqüíferos Sedimentar, representado pelos depósitos quaternários

dos sedimentos fluviais e fluviomarinhos e pelos sistemas do Grupo Barreiras.

2.6 – MEIO BIÓTICO

2.6.1 - Vegetação

O levantamento da vegetação da área de influência do empreendimento em estudo, concluiu pela

existência de uma rica flora terrestre e de áreas úmidas e alagadas, com cerca de 70 famílias e 196

espécies botânicas.

Conforme observações de campo, os trechos com remanescentes da mata nativa encontram-se

melhor representados em poucos fragmentos dos testemunhos das formações originais, dentre os

quais destacam-se as matas localizadas nas proximidades do rio Cahy e no Parna do Monte

Pascoal, onde resgistrou-se a ocorrência de: jacarandá, sucupira, maçaranduba, boleira, cedro,

arapati, gindibá, louro-prego, embiruçu, bicuíba, juerana, biriba, sapucaia, pau-d’alho, jatobá e

baraúna, dentre outras.

Nas áreas úmidas e brejosas é comum a ocorrência de beto, gameleira vermelha e aninga e um

número grande de ciperáceas. Nas áreas úmidas formadas pelos brejos das terras indígenas, na

Aldeia de Barra Velha, é comum a presença de junco e ciperáceas.

A restinga da área em estudo apresenta-se com diferentes variações tipológicas, a saber: restinga

arbustiva – arbórea, restinga arbustiva-herbácea e mussunungas, com a ocorrência da salsa-de-

praia, bredinho, aroeirinha, cardo-da-praia, cajueiro-bravo, murtan, guajíru e bromélias.

2.6.2 - Fauna

A fauna está muita bem representada pelas espécies insetívoras, que exercem importante papel no

controle biológico de cigarrinhas, gafanhotos e outros insetos e pelos gaviões, falcões e corujas,

que são consumidores naturais de lagartos, cobras, camundongos e ratazanas.

O levantamento da fauna realizado nas áreas direta e indiretamente atingidas pelo projeto de

implantação das linhas de distribuição de energia elétrica entre Prado e Caraíva registrou a

presença de 11 espécies de anfíbios, entre eles: sapo, rã e perereca; 36 de répteis, dos quais

destacaram-se: calango, jabuti, cágado, cobra e jacaré; 145 de aves: nambu, jacu, martim-pescador

e papa-capim; e 38 mamíferos: macaco, tatu, preguiça, gatos-do-mato, veado e paca. Deste total,

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53 espécies encontram-se nas categorias de: ameaçados de extinção, endêmico da Mata Atlântica,

vulnerável e indicadora de ambiente preservado, como a surucucu-de-fogo, o jacaré-de-papo-

amarelo, o mutum, o chauá, o beija-flor-canela, a preguiça-de-coleira, o guariba, o guigó e a

lontra.

A Fig. 2.2. representa animais em vias de extinção - Ouriço - Cacheiro de suma importância para

a biodiversidade, bem como a Fig. 2.3. Macaco- Prego.

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Na reserv

Cahy e Cu

e 19 espé

Figura 2. 2 - Animal ameaçado

de extinção: Ouriço- Cacheiro. Fonte - Plama (2001).

Figura 2. 3 - Animal ameaçado de

extinção: Macaco-Prego. Fonte - Plama (2001).

a indígena da Barra Velha e nas áreas entre o Assentamento de Corumbau, entre o rio

muruxatiba e entre Cumuruxatiba e Prado houve registro, respectivamente de 32, 31,55

cies nas categorias ameaçadas de extinção, endêmica, vulnerável e indicadora de

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ambiente preservado. Diante de tais resultados, ficou evidenciado que a área entre o rio Cahy e

Cumuruxatiba representa o ambiente em melhor estado de conservação e a área entre

Cumuruxatiba e Prado, o ambiente mais alterado.

Na foz dos rios que cortam a região, tem-se a ocorrência de extensas áreas de manguezais, com

destaque para os estuários dos rios Jucuruçu, Cahy, Corumbau e Caraíva.

Anfíbios, répteis e mamíferos usam o manguezal de diversas formas, seja como refúgio, fonte de

alimento ou mesmo para o ritual reprodutivo, buscando condições de sobrevivência, dificilmente

encontradas em outras áreas.

Nos manguezais localizados na área em estudo foram observados com maior freqüência o

mangue vermelho, mangue branco, samambaia do mangue e o algodão do mangue.

2.7 - FLORA

As relações entre as espécies da flora também demonstram diversidade e complexidade, onde

apesar da aparente inércia dos vegetais, relações de competição, simbiose e mutualismo ocorrem

de forma lenta e quase imperceptível. Bromélia e orquídea, por exemplo, habitam troncos de

espécies arbóreas, dando preferência às de casca fendidas, sem causar-lhe danos, numa relação de

epitetismo. O hemi parasitismo da erva-de-passarinho, que infesta diversa frutífera, como: o

cajueiro, e o holoparasitismo do cabelo de milho, encontrado em alguns arbustos da restinga,

exemplifica o parasitismo entre as espécies.

A Fig. 2.4. representa espécie encontrada na Mata Atlântica a Borboleta e a flor da Zinia,

enquanto na Fig. 2.5 o desenvolvimento da mussununga representa o estágio em que se encontra

o solo.

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Figura 2. 4 - Espécie encontrada na Mata Atlântica: Borboleta e Zínia. Fonte - Bahia (2001).

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Figura 2. 5 - Espécie encontrada na Mata Atlântica: Mussununga. Fonte - Bahia (2001).

Com relação à ictiofauna regional, entre Prado/Caraíva, foram registradas 17 famílias, perfazendo

um total de 21 espécies entre indivíduos coletados e relatados em bibliografia para a região. Desse

total, 10 espécies apresentam interesse econômico.

A florística das Mussunungas na região em estudo é representada basicamente pelas espécies das

famílias Asteraceae, Ciperaceae, Bonnetiacea, Eriocaulaceae e Orquidaceae.

2.8 - ESPÉCIES RARAS E ENDÊMICAS EM VIAS DE EXTINÇÃO

Com base na portaria do IBAMA 37 – N, de 03 de abril de 1992, foram identificadas na área

objeto do estudo: jacarandá-da-bahia – Categoria Vulnerável e a baraúna – Categoria Vulnerável.

Quanto às espécies raras, foram identificados o louro de casca e o óleo-corumbá.

2.9 - UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS

A área de influência direta do empreendimento inclui duas unidades de conservação: a Área de

Proteção Ambiental – APA Caraíva/Troncoso e o PARNA - Parque Nacional do Monte Pascoal.

2.9.1. A APA Caraíva/Trancoso

A APA Caraíva/Troncoso, criada através do Decreto Estadual de nº 2.215 de 14/06/93, com

uma área de 31.900 ha, está situada no Município de Porto Seguro e apresentam diversos

ecossistemas do extremo sul do Estado da Bahia, com sua costa de falésias, corais e belas praias.

No Plano de Manejo da APA, o trecho proposto no traçado do empreendimento conta com três

zonas ambientais:

a) Zona de Uso Específico – ZUE, localizada na área indígena de Itaporanga, estando

situada entre os vales dos rios dos Frades e Caraíva, estando seu uso e ocupação limitados

pela legislação federal específica.

b) Núcleo Urbano Consolidado – NUC, referente ao povoado de Caraíva, onde os

parâmetros de uso de ocupação do solo são os definidos pelo Poder Público Municipal

respeitando a Legislação Ambiental e do Patrimônio Histórico e Cultural vigentes.

c) Zona de Vila Turística – ZVT, encontrando-se nesta zona o povoado de Nova Caraíva

onde estão previstas a ocupação e implantação de empreendimentos turísticos na forma de

Vila Turística. Criada inicialmente pelo Decreto Lei nº12.729 de 19/04/43, foi repassada à

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União pelo Decreto Lei nº 242 de 29/11/61. Com 22.500 ha, na época da criação, teve suas

áreas reduzidas mediante um Termo de Acordo assinado entre o extinto Instituto de

Defesa Florestal - IBDF e a Fundação Nacional do Índio - FUNAI, para uso da

comunidade Pataxós. No início da década de 90 essas terras foram definitivamente

demarcadas.

A Costa do Descobrimento é hoje uma das principais zonas turísticas da Bahia., e permaneceu

por longo período excluída dos principais ciclos desenvolvimentistas vivenciados pelo Estado da

Bahia. Os recursos oriundos da atividade turística consolidaram Porto Seguro como o segundo

maior pólo turístico da Bahia. O desenvolvimento econômico experimentado nas últimas três

décadas vem transformando rapidamente esta região da costa baiana, sendo possível observar

atualmente, nas localidades próximas à Sede de Porto Seguro, um processo de crescimento em

função da atividade turística.

As comunidades afetadas diretamente pelo empreendimento estão situadas na região litorânea,

sendo nesta área que a população de ambos os municípios está concentrada. Desde a década de

70 esta região litorânea vem se desenvolvendo em ritmo acelerado, em função do crescimento

dos setores econômicos ligados ao turismo, graças ao asfaltamento da BR-101 e das rodovias

estaduais, federais secundárias, que permitem o acesso a este trecho da costa baiana, até então

pouco explorado.

No interior estão as atividades rurais, caracterizadas pela pecuária extensiva, silvicultura e

agricultura diversificada. Na área de influência afetada pelo empreendimento no município de

Prado, Cumuruxatiba é o principal núcleo urbano depois da Sede, enquanto em Porto Seguro, o

trecho litorâneo atingido diretamente é o povoado de Caraíva, menor densidade demográfica do

município.

Detentora de grandes extensões de praias primitivas dispostas entre imponentes falésias e o mar,

belas lagoas e remanescentes da Mata Atlântica, onde se encontram grandes parques naturais e

aldeias indígenas, a Costa do Descobrimento afigura-se inquestionavelmente, como uma região

de elevada vocação turística. No município de Porto, Seguro a Linha de Distribuição seria

implantada em terra indígena.

A partir da sede municipal a atividade estende-se rumo ao sul, em direção a Caraíva, localidade

edificada no limite sul da área de Porto Seguro. Com as comemorações dos quinhentos anos de

descobrimento, essa região vem crescendo de importância no cenário turístico nacional.

Neste contexto, o Estado trata distintamente da regulação ou das leis – como provedor

alternativo da qualidade ambiental. As leis, mesmo mostrando avanços, não fogem à tradição

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ocidental de colocar os recursos naturais sob a tutela difusa do Estado, ao mesmo tempo em que

se tolera a omissão dos órgãos encarregados de sua aplicação.

Por meio da pesquisa de campo, pode-se observar diferentes conflitos na área, tendo como

objeto de disputa algum tipo de recurso natural escasso. Os conflitos tornaram-se evidentes para

a pesquisadora, após a apresentação para implantação do empreendimento da Linha de

Distribuição.

2.9.2. - Conflito de uso do Parque Nacional Monte Pascoal

Na área do Parque Nacional de Monte Pascoal –existe um problema de difícil solução que advém

da época da sua criação. Trata-se de um conflito de uso gerado em função dos direitos

antagônicos entre os remanescentes da comunidade indígena Pataxós, a quem foi assegurado

constitucionalmente o usufruto dos recursos naturais existentes nas terras por eles ocupadas

tradicionalmente. Porém a legislação federal que trata do Sistema Nacional de Unidades de

Conservação - Lei nº 9985/2000 nas Categorias de Unidades de Conservação de Proteção

Integral, na qual se inclui os Parques Nacionais.

Ao longo de sua existência, o Parque tem sofrido diversas agressões, incêndios, retiradas de

madeira nobre e diminuição de sua área original. Os 8.627,45 ha pertencentes aos Pataxós

encontram-se desagregados, pela extração de madeiras e queimadas. Recentemente o Parque teve

suas terras tomadas pelos índios Pataxós, ficando a sua administração a cargo dos líderes

indígenas. O assunto está sendo tratado pelo Grupo de Trabalho da Funai.

A Linha de Distribuição passaria em Barra Velha, terra da Reserva Indígena Pataxó, contígua à

atual área do Parque Nacional de Monte Pascoal.

Os conflitos existentes na área do Monte Pascoal datam da época da criação do Parque. Em 1943

realizou-se a primeira delimitação da área, por técnicos do Governo acompanhados pelos índios,

pois estes acreditavam que estava sendo feita a delimitação de seu próprio território. Logo depois,

por meio do Decreto Estadual 12.729, de 19 de abril de 1943, foi criado o Parque Estadual do

Monte Pascoal, desvinculado das terras indígenas. A presença de entidades governamentais na

área causou um certo desconforto para a comunidade indígena que morava no local. Na década

de 40 houve uma abordagem repressiva de forças policiais, com episódios violentos contra a

comunidade Pataxós, onde foram dizimadas centenas de índios que lutavam pelo direito à terra.

Entre eles a luta ficou conhecida como “Fogo 51”.

Somente no início da década de 60, o Estado da Bahia repassou para a União as terras do Monte

Pascoal, por intermédio do Decreto Federal 242 de 29 de novembro de 1961, que criou

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oficialmente o Parque Nacional em áreas que não haviam sido griladas pelos plantadores de

cacau, com uma área de 8.500 ha. As famílias que habitavam nos limites da área do Parque,

foram indenizadas e autorizadas a fazer colheita de suas roças o que, segundo os índios, não

ocorreu, pois os mesmos foram impedidos de entrar na área do Parque.

Com a criação da Fundação Nacional do Índio – Funai em dezembro de 1967, iniciaram-se as

negociações no sentido de viabilizar a permanência da comunidade indígena nas roças já

existentes, sem abertura de novas áreas para plantio. Ocorre que, passados alguns anos, os índios

começaram a abrir novas roças dentro dos limites do Parque e novos conflitos afloraram.

Quadro cronológico de ocupação e conflitos na área do Parque Nacional do Monte Pascoal no

século XX, segundo pesquisa de campo (dados secundários da CONDER, 2000).

Ano / Acontecimento

1905 - O capitão-mor de Porto Seguro descreve a costa e afirma que a aldeia criada em 1861 pelo

Presidente da província é a aldeia de Barra Velha.

1920 - Estabelecimento de uma família Pataxó na atual localidade de Imbiriba.

1939 - Expedição de Gago Coutinho visita Barra Velha e constata doenças e analfabetismo.

19 de abril de 1943 - Criado através de Decreto 12.729 o Parque Estadual do Monte Pascoal,

com uma área de aproximadamente 22.000 ha.

Final da década de 40 – Viagem de representantes dos Pataxós ao Rio de Janeiro para conversar

com o Marechal Gago Coutinho.

Início dos anos 50 – Início da instalação das atuais comunidades de Águas Belas e

Corumbauzinho.

1951 – Movimento de sublevação dos Pataxós de Barra Velha, noticiado pela imprensa como “ A

Revolta dos Caboclos de Porto Seguro”.

Repressão policial seguida de espancamento, estupro e destruição de bens dos índios, episódio

conhecido como “Fogo de 51”.

Inicio da dispersão dos Pataxós pela região. Uma família em fuga após o “Fogo de 51” ocupa a

área da atual Mata Medonha.

29 de novembro de 1961 – decreto nº 242 implantando o Parque Nacional do Monte Pascoal

com uma área de aproximadamente 8.500 ha e doação das terras do mesmo pelo governo

estadual ao governo federal.

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Década de 70 – Implantação do posto indígena, pela FUNAI, em Barra Velha. Acordo entre o

extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal –IBDF e Fundação Nacional do Índio

– FUNAI, garantindo o direito dos Pataxós plantarem nas capoeiras existentes dentro do Parque.

1973 – Início do desenvolvimento da indústria turística na região de Porto Seguro com a

inauguração das rodovias BR-101 e BR-367, cujas obras determinaram o início de um surto

madeireiro predatório na região.

Anos 70 – Surgimento da comunidade de Pé-de-Pedra na entrada do Parque do Monte Pascoal.

Surgimento da comunidade de Coroa Vermelha, no local onde foi rezada a primeira missa, em

Santa Cruz de Cabrália.

Meados dos anos 70 - Retorno de muitos Pataxós e concentração em novos núcleos indígenas.

Anos 80 – Transferência da comunidade de Pé-de-Pedra para o local da atual Trevo de Parque.

14 de julho de 1980 – Acordo entre o extinto IBDF e FUNAI define uma área do parque

Nacional do Monte Pascoal para a ocupação dos Pataxós.

1981 – Surgimento da aldeia de Boca da Mata.

1984 – População indígena supera limite de mil habitantes.

1987 – Surge a aldeia de Meio da Mata.

21 de março de 1993 – Retomada pelos Pataxós a área definida como Parque Nacional de Monte

Pascoal

agosto de 1997 - os índios promovem uma nova invasão no Parque e se estabelecem com o

propósito de morar e gerenciar toda a área.

1998 – Os Pataxós ocupam a Fazenda Santo Amaro, no Arraial d’Ajuda, área considerada antigo

assentamento indígena denominado Aldeia Velha.

19 de agosto de 1999 – Última retomada da área do Parque Nacional do Monte Pascoal pelos

Pataxós.

2.9.3. - Conflitos índios X posseiros X fazendeiros

Os índios conseguiram uma área do Parque para se instalarem. Entretanto, ao que parece, os

posseiros e os fazendeiros não ficaram satisfeitos com a demarcação, pois, segundo pesquisa, a

área escolhida, localizada entre o rio Caraíva e o Parque do Monte Pascoal, era de mata

preservada, consistindo ainda em parte do manancial do rio Corumbau, além de ser muito

íngreme . Conseqüentemente a comunidade dos Pataxós permaneceu junto ao Parque, criando

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uma fronteira longitudinal. Assim, o parque ficou fora do alcance dos índios, pois os mesmos

permaneceram em uma área de mata, que foi parcialmente derrubada para o plantio de suas

roças, em terras não muito próprias para a agricultura. Vale lembrar que, desde a década de 70,

vários madeireiros haviam se estabelecido na região, promovendo um crescente desmatamento

nas áreas circunvizinhas.

Quando os Pataxós iniciam o processo de queima da mata para a abertura de áreas de plantio, os

madeireiros, que já viam seus recursos naturais quase esgotados, começaram a comprar madeira

nobre dos índios a preços irrisórios. Enquanto isso, os fazendeiros utilizavam-se de seu poder

econômico para pressionar a comunidade indígena a venderem suas terras a preços irrisórios. Os

índios, por sua vez, muito pobres, passaram a vender as suas roças.

2.9.4. - Conflito Reserva Extrativista Ponta de Corumbau X IBAMA

A pesca é a atividade que não se dá de forma organizada, uma vez que faltam melhores condições

aos pescadores. Juntamente com a coleta, a pesca representa uma importante fonte de renda para

um grande número de famílias que habitam o litoral. A pesca praticada na região utiliza-se de

métodos artesanais, sendo portanto de baixa produtividade. Caracteriza-se pelo uso de

embarcações rudimentares de pouca autonomia, ao lado da carência de apoio técnico e

financeiro. Por falta de fiscalização, a pesca na região é muitas vezes explorada de maneira

predatória por proprietários de grandes embarcações oriundas principalmente do Espírito Santo,

Santa Catarina e Ceará. Somado este fator à precariedade do setor pesqueiro da região e à não

obediência da legislação ambiental sobre os períodos de pesca permitidos para cada espécie, tem-

se como principal conseqüência a intermitência na oferta dos produtos e a diminuição da

produtividade, com um quadro desfavorável à manutenção da atividade por um longo prazo.

Muitos pescadores estão começando a se organizar em associações, porém não oficializadas.

Alguns são associados à colônia Z-56, que é vinculada à recém-criada Reserva Extrativista cuja

sede é em Ponta de Corumbau e encontra-se localizada na área de influência indireta do

empreendimento.

2.10. - Outros Conflitos socioambientais

2.10.1- Conflitos pela falta de energia na Região Litorânea

A energia elétrica consumida em Porto Seguro é proveniente de uma linha de transmissão do

sistema CHESF, cujo traçado acompanha a BR-101. Esta linha possui derivação em Eunapólis,

de propriedade da COELBA, que serve ao município de Porto Seguro e outra em Teixeira de

Freitas, que serve ao município de Prado. Não existe na região nenhum sistema de geração de

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energia, grande conflito para as comunidades litorâneas, que possuem comércios e pousadas na

região.

2.10.2- Conflitos com os Assentados de Corumbau

O Assentamento de Corumbau existe desde 1988 e foi oficializado pelo Instituto Nacional de

Reforma Agrária - INCRA. Os assentados não são vistos com bons olhos pelos outros

moradores da localidade, conforme se verifica no exemplo ações a seguir. O povoado de

Corumbau mantém um comércio à base de trocas com a vila de pescadores. A mesma relação

não ocorre com o Assentamento do INCRA, acredita-se que por suas particularidades quanto à

forma de ocupação do território, organização social e atividades econômicas distintas, somadas

ao preconceito existente para com os assentados.

Muitos dos locais escolhidos para os primeiros assentados já haviam sido ocupados por grupos

indígenas, não se descartando a possibilidade de um estreito contato interétnico. Houve entre eles

a coincidência na forma de ocupação para sua sobrevivência.

Quando os colonizadores chegaram à costa, provavelmente encontraram espaços vazios, fruto de

mudanças periódicas ou simplesmente do abandono de áreas por grupos indígenas sedentários.

Em alguns casos, esses espaços foram aproveitados para as suas instalações.

Neste contexto criou-se uma série de impasses entre os índios, assentados e fazendeiros com

revoltas e lutas e foram oficializados pelo Instituto Nacional da Reforma Agrária - Incra. As

relações dos nativos com os assentados não são cordiais.

2.10.3. - Conflito em relação à anuência do IPHAN para a Licença

O município de Porto Seguro foi tombado pelo IPHAN, tendo como justificativa não só o

patrimônio edificado, composto de um significativo conjunto arquitetônico predominante dos

séculos XVIII e XIX, mas também a integridade de sua paisagem natural e, sobretudo, o forte

valor simbólico do local para a história do Brasil, visto que foi neste trecho do litoral baiano que

desembarcaram os primeiros portugueses, no fim do século XV. O IPHAN relutou em conceder

a anuência ao empreendedor para o licenciamento, negando em seguida à audiência pública a

construção do empreendimento nas terras indígenas.

2.10.4. - Conflitos com a FUNAI (técnicos vindos de Brasília)

Os técnicos que vieram de Brasília para assistir as audiências, não emitiram parecer favorável à

implantação da linha em terras indígenas, argumentando que energia elétrica não traria grandes

benefícios à comunidade ali residente, salvo a eletrificação da aldeia, fato este que não justificaria

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os impactos negativos advindos dessa implantação que, segundo o parecer dos técnicos, traria

alterações significativas nos hábitos, costumes e modo de vida daquela população.

2.10.5. - Conflitos entre as instituições

Os principais atores envolvidos nos conflitos socioambientais são compostos pelas instituições:

IBAMA, INCRA, ISPHAN, COELBA, EMABASA e CRA. Constatou-se que existe uma clara

oposição entre Estado, Empreendimento e Sociedade Civil, como se esta fosse a questão de

fundo, o que é contestado com o advento de nova forma de participação política dos cidadãos.

Nesse jogo, aparecem as imitações de uma democracia que dá nome diferente à velha forma de

exercício de poder num regime arbitrário ao cidadão. A impressão que as comunidades passaram

para pesquisadora foi de que as mesmas seriam lesadas diante dos interesses gerados pelo

empreendimento de energia elétrica, mas que não poderiam reagir às práticas dominantes

desenvolvidas.

2.10.6.- Conflitos entre Grupos Sociais

Os conflitos socioambientais desencadeados entre os grupos sociais índios, fazendeiros, nativos,

chegantes, assentados e agricultores foram gerados pelo processo de ocupação da região, iniciado

em 1534, quando a área era ocupada pelos índios. A ocupação atual retrata o produto de um

conjunto de variáveis que refletem, em primeiro lugar, as diferentes estruturas de poder que

vigoraram ao longo do período e, em segundo, os vários ciclos econômicos vivenciados,

associados aos interesses de grupos sociais distintos e ao desenvolvimento tecnológico.

Ficou claro para a pesquisadora que os interesses dos diversos grupos presentes na área são

antagônicos com o do empreendedor e do CRA.

2.10.7. - Conflito em torno do Processo de Licenciamento

O conflito desencadeado em torno do processo de licitação do empreendimento trouxe como

resultado relevantes reflexões e descobertas para as comunidades, o órgão licenciador, a para a

pesquisadora, pois evidenciou a situação crítica em que se encontra a região do Extremo Sul da

Bahia.

Os impactos negativos ligados à construção dos sistemas de distribuição estão ligados

diretamente à desobstrução da faixa e desmatamento para início das obras; escavações para as

fundações; montagem das estruturas (movimentação e local) e abertura de estradas de acesso,

entre outros.

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3. - METODOLOGIA

3.1. - ESTUDO DE CASO

A metodologia adotada para este estudo de caso está fundamentada nos princípios do método

qualitativo, com base em Thiollent (1985). Esta escolha está relacionada ao fato de que a pesquisa

intenciona reforçar o nível de participação dos grupos locais no processo de tomada de decisão,

para que este seja um processo histórico de conquista e autopromoção do desenvolvimento. Os

grupos sociais têm uma responsabilidade fundamental nessa conquista, uma vez que podem

transformar-se em protagonistas organizados e ativos das lutas pelo seu desenvolvimento.

A apreciação do alcance das transformações passou por critérios diversificados. Cada localidade

pesquisada foi diferente da outra. Alguns aspectos foram avaliados em termos quantitativos, tais

como: renda, população, ponderações, equipamentos e pessoas que foram entrevistadas.

Por outro lado, a implantação de um empreendimento do porte da Linha de Distribuição

Prado/Caraíva remete a alguns questionamentos que só podem ser devidamente respondidos a

partir do entendimento das representações e percepções dos moradores, comerciantes, nativos,

assentados, artesãos, bem como pequenos e grandes proprietários, acerca das conseqüências e

benefícios que o mesmo trará para as comunidades. Por isso, foi necessário levar em conta

também a representatividade des grupos socio-políticos ou de opiniões que embora minoritários,

são expressivos em termos ideológicos.

Diante disso, adotaram-se duas vias para a apreensão da realidade socioeconômica e,

conseqüentemente, caracterização do meio antrópico. A primeira possibilitou a construção de

uma síntese acerca dos municípios e distritos pertencentes à área de influência, a partir da

investigação preliminar. A finalidade desta síntese é a apreensão da realidade nos seus aspectos

mais essenciais, por meio de um conhecimento objetivo das comunidades da área de estudo.

A segunda via é feita pelo diagnóstico, com o qual se vai indicar os princípios e diretrizes a serem

seguidos nas etapas posteriores, possibilitando uma leitura qualitativa acerca das percepções e

representações dos atores sociais que quotidianamente interagem, social e fisicamente, nas

localidades que se situam no percurso da Linha de Distribuição.

Foram utilizadas cinco fontes de dados/instrumentos e contextos de pesquisa, a saber:

Consulta de dados secundários disponibilizados pelos órgãos oficiais;

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observação sistemática e assistemática;

coleta de dados primários por meio de entrevistas abertas (formais e informais,

individuais e grupais) com representantes das comunidades envolvidas no processo

(índios, pescadores e moradores de cada localidade), por intermédio de um roteiro

pré-elaborado;

visitas às áreas, para organizar a investigação em torno do objeto de estudo, no

acompanhamento, em seu desenvolvimento e na avaliação das ações planejadas;

levantamento dos instrumentos existentes de Avaliação de Impacto Ambiental –

AIA, principalmente no que se refere às Audiências Prévias e à Audiência Pública.

A pesquisadora do CRA, em conjunto com a equipe da consultoria da PLAMA, empresa de

consultoria ligada ao empreendimento, elaborou e aplicou três tipos de questionários, junto a

grupos de índios, pescadores e moradores urbanos. Além deste instrumental utilizou-se a

observação sistemática, a escuta sensível e os documentos mencionados anteriormente.

Nas audiências (prévias e pública) os recursos utilizados foram: gravação em vídeo, elaboração de

Atas e fotografias.

3.2. - REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DA TÉCNICA.

Foi de fundamental importância, no inicio da atividade de pesquisa, repensar a atuação da

pesquisadora em campo, pois o resultado de uma pesquisa socioambiental depende inteiramente

do relacionamento que se estabeleça entre o pesquisador e as comunidades pesquisadas. É

necessário que o pesquisador tenha um estrito contato com os atores de seu estudo, para que se

estabeleça a afinidade e empatia desejáveis para que se consiga a colaboração e cooperação mútua

entre os mesmos.

Neste momento é que surge a importância da observação assistemática, onde a pesquisadora vai

tomando contato com a realidade por meio dos contatos com as pessoas das comunidades,

observando os fatos com olhar investigativo que se torna uma escuta sensível. O pesquisador

deve entender o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro, para compreender do interior

as atitudes, os comportamentos, o sistema de idéias, de valores e os mitos ou a "existencialidade

interna", na linguagem de Barbier (1997), sendo o diário de campo instrumento indispensável,

que fornecerá subsídios na hora da análise e interpretação dos dados coligidos.

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Para se entender os conflitos socio-ambientais, faz-se necessária a sua conceituação. Segundo

Nascimento (2001) “são confrontos de interesses em que os atores sociais dirimem suas

divergências, interesses antagônicos ou pontos de vista conflitantes, possibilitando que a

sociedade alcance uma certa unidade. Os conflitos são fatores de coesão social e não de

distúrbios”.

A pesquisadora, após marcar as reuniões com as comunidades e discutir sobre os problemas que

poderão ocorrer com a linha de distribuição, pôde perceber o desafio da “postura negocial” (que

significa a incorporação da sistemática no processo decisório), quem terá maior poder sobre a

linha de distribuição. Este desafio pode ser visto sob dois prismas: por um lado, os grupos sociais

muitas vezes se reuniram para discutir relações sociais, implicando na negociação de um conflito

que requer um alto nível de maturidade política por parte dos atores sociais, e demandando deles

postulação explicita de seus interesses; por outro, a tomada de decisões difíceis sobre as

concessões a serem feitas.

3.3. - DADOS SECUNDÁRIOS

Neste trabalho de pesquisa foram utilizados dados secundários, disponibilizados pelos órgãos

oficiais, com o objetivo de realizar a descrição histórica e socioeconômica da região e das

comunidades envolvidas.

A consulta de dados secundários sobre as comunidades contribuiu para embasar o conhecimento

sobre as mesmas de maneira substancial. A coleta de dados secundários não deve se dar

necessariamente no momento em que a equipe inicia a pesquisa com a população, sendo

preferível que se dê num momento anterior, pois dependendo dos dados conseguidos com esta

coleta, ver-se-ão quais dados primários são mais importantes neste momento de investigação

preliminar.

3.4. - DADOS PRIMÁRIOS

Quanto aos dados primários, a maioria dos instrumentos de coleta coincidiu com os adotados

pelo processo de licenciamento, permitindo a elaboração de resultados qualitativos (observações

sistemática e assistemática, entrevistas formais e informais, individuais e grupais, reuniões e

audiências, registros escritos, diário de campo, fotografia e audiovisuais – vídeo) e quantitativos

(questionários e Rede de Interações para identificação de Cadeias de Efeitos Ambientais).

Os questionários foram aplicados junto aos residentes com idade superior a 14 anos (Anexos A 1,

A 2 e A3). Tal instrumento de pesquisa possibilitou uma melhor caracterização da percepção que

a população tem acerca do empreendimento, bem como suas expectativas para a implantação. O

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cruzamento entre os dados oficiais e aqueles provenientes das percepções dos indivíduos

residentes nestas localidades foi considerado como ponto importante na análise e entendimento

da viabilidade e das conseqüências do empreendimento.

Os questionários aplicados na sede dos municípios foram em maior número, haja vista a

densidade populacional.

Foram aplicados 400 (quatrocentos) questionários entre índios, pescadores, hoteleiros,

agricultores, pecuaristas, madeireiros, lojistas, comerciantes, barraqueiros, fazendeiros, assentados

e nativos.

Foram aplicados nas sedes dos municípios de Prado e Porto Seguro 80 questionários, já em

Cumuruxatiba, Corumbau, Ponta de Corumbau, Caraíva, Nova Caraíva e Aldeia de Barra Velha,

aplicaram-se 40 questionários.

3.5. - PASSOS DA PESQUISA

Em agosto de 2000, deu-se início à pesquisa de campo, que teve duração de 12 meses

aproximadamente, até novembro/2001. A pesquisa foi dividida em nove passos, a seguir

discriminados:

1ª Passo - Os questionários e entrevistas foram elaborados e aplicados em conjunto com a equipe

de consultoria da empresa PLAMA. Para essa pesquisa foram elaborados três tipos de

questionários: questionário informante – índios, questionário informante- individual, (utilizado

com os diversos segmentos da sociedade civil) e questionário de informante – pescador. Os

questionários permitiram conhecer melhor a dinâmica socioeconômica e os costumes locais,

aspectos não registrados nos dados oficiais.

Foram realizadas visitas às comunidades atingidas pelo empreendimento, onde se utilizou a

observação sistemática que significa observar o cotidiano, a escuta sensível e entrevistas

informais, por intermédio de um roteiro pré-elaborado, para levantamento das expectativas da

população, seu modo de vida e tradição.

Na fase de motivação, existiu atuação contínua da pesquisadora, no sentido de despertar e

estimular o interesse da comunidade para participar do processo de licitação; discussão

sistemática dos problemas e potencialidades da região; estímulo à elevação do nível de

expectativas e ao desenvolvimento do espírito comunitário e da participação.

2º Passo – Foram realizadas reuniões com entidades do poder público e da sociedade civil

organizada em Porto Seguro e Prado, visando a preparação para as Audiências Prévias.

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3º Passo– Foram realizadas duas Audiências Prévias, a primeira na localidade de Cumuruxatiba,

município de Prado, no dia 19 de setembro de 2000, no Hotel Vista Mar e, a segunda, no dia 21

de setembro de 2000, em Caraíva, município de Porto Seguro, no Colégio Municipal daquele

povoado.

A ação organizada das entidades comunitárias foi a base para a escolha e arrumação do local para

as audiências, até a combinação de quem falaria em nome de cada grupo.

4º Passo – Período de elaboração do Termo de Referência que foi posteriormente encaminhado

para aprovação no CEPRAM.

5º Passo - Período de elaboração do Estudo de Impactos Ambientais – EIA e Relatório de

Impactos Ambientais – RIMA pela IBERDROLA e PLAMA. Nesta fase, foram efetivadas

algumas reuniões entre o CRA e a IBERDROLA.

6º Passo – A IBERDROLA, por intermédio da consultoria da PLAMA, publica e divulga o

RIMA na região.

7º Passo – Realização da Audiência Pública em Caraíva, município de Porto Seguro, no dia

19.07.2001, na casa do Forró de Pele, em Caraíva.

8º Passo – O empreendimento foi aprovado pelo CEPRAM e CRA em 21 de setembro de 2001,

o que autoriza a emissão da Licença de Localização.

9 º Passo – A Fundação Nacional do Índio – FUNAI; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos

Recursos Renováveis – IBAMA; Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – IPHAN

e a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia – COELBA decidem não implantar a Linha

de Distribuição. A pesquisadora realizou entrevistas e levantamentos para esclarecer as razões da

decisão.

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4. - DESCRIÇÃO DOS DADOS

4.1. - HISTÓRICO DO PROCESSO

A solicitação dos índios foi encaminhada à COELBA que, após preencher documentação do

CRA: Requerimento e Características Técnicas do Empreendimento, entrou com um pedido de

Licença de Localização junto ao Centro de Recursos Ambientais – CRA, sob número 2000-

004473/TEC/LL 0135, Linha de Distribuição 13.8 kV – Prado/Porto Seguro. O Setor de

Licenciamento repassou o processo ao técnico responsável e este checou todos os documentos

exigidos, sendo convocado a inspecionar a área para definir qualquer alteração das propriedades

físicas, químicas, biológicas e socioeconômicas do meio ambiente, resultantes das intervenções

previstas.

O empreendimento foi analisado previamente pela Norma Técnica NT - 003/99- Avaliação de

Impacto Ambiental – AIA, que dispõe o seguinte: "[...] é um instrumento de política ambiental

que se constitui num conjunto de procedimentos capaz de assegurar previamente que se faça um

exame sistemático dos Impactos Ambientais de uma atividade ou empreendimento

potencialmente causador de significativo impacto ambiental." (BAHIA, 1999, p. 3).

Como os impactos ambientais identificados foram significativos, no parecer técnico, foi

considerada a análise de toda a documentação apresentada pela empresa; verificação, durante as

inspeções realizadas, dos fatores degradantes do meio ambiente; análise dos sistemas de controle

ambiental proposto; conclusões do diagnóstico ambiental da área de influência do

empreendimento.

Foram analisados e solicitados ao empreendedor os seguintes instrumentos: Estudos de Impactos

Ambientais – EIA; Relatório de Impacto Ambiental – RIMA e Audiência Pública, nesse caso,

cabível no processo.

O empreendedor foi notificado, de acordo com a Lei Estadual nº 7.799, de 07/02/ 2001,

Decreto Estadual nº 7.967, 05/06/2001.

Após essa formalidade, identificada a necessidade do EIA, por parte do Centro de Recursos

Ambientais – CRA, este, junto com a COELBA, representada pelos responsáveis pelo Estudo

Ambiental – I Empreendimento do Brasil (empresa de origem espanhola prestadora de serviço),

definiu o Termo de Referência do Estudo de Impacto Ambiental – EIA, contemplando aspectos

físicos, bióticos e antrópicos. O EIA é o estudo técnico realizado por equipe interdisciplinar

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habilitada com vistas a identificar sistematicamente as modificações relevantes nas diversas

características biofísicas e socioeconômicas do meio ambientr, que pode resultar do

empreendimento da Linha de Distribuição Prado/Caraíva. (Cardoso, 2001).

No dia 03 de agosto de 2000, foi publicado no jornal A TARDE, jornal de grande circulação no

Estado da Bahia, nota contendo a seguinte mensagem:

A Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia – COELBA, situada a Av. Edgar Santos, 300 – Narandiba – Salvador-Bahia, com CNPJ n.º 15.139.629/0001-94, torna público que irá requerer em 04/08/00 ao Centro de Recursos Ambientais - CRA, a Licença de Localização, para o Empreendimento da Linha de Distribuição 13.8 kV Prado/Caraíva nos municípios de Prado e Porto Seguro, no Estado da Bahia, Assinado, Moisés Afonso Sales Filho – Diretor de Gestão de Ativos. (A TARDE, 2000).

Neste empreendimento, a pesquisadora foi comunicada, pela Coordenação de Licenciamento de

Impactos Ambientais do CRA, que participaria da equipe, composta de: Biólogo, Engenheiro

Florestal, Geólogo e Assistente Social/pesquisadora que executaria as atividades de avaliar a

possibilidade de licenciamento a empreendimentos efetiva ou potencialmente degradadores com

impacto direto no local, nos termos do disposto na legislação federal, estadual e municipal

pertinente.

Quanto ao contingente populacional das sedes dos municípios de Prado e Porto Seguro, por

representarem, em números absolutos, uma pequena fração para a qual os dados secundários em

geral não alcançam escala necessária à análise específica dos núcleos urbanos, tornou-se

imprescindível a realização de um minucioso levantamento de campo que colaborasse na

adaptação dos dados existentes às realidades locais.

A metodologia utilizada para esse levantamento consistiu na aplicação de questionários que

tratam pontualmente da economia de subsistência e costumes locais, que foram incrementados

com entrevistas formais, informais, observações sistemáticas e assistemáticas que possibilitaram

registrar as expectativas da população em torno do empreendimento, além de informações gerais

sobre o modo de vida das comunidades, sua relação com o meio em que vivem e suas tradições.

Neste contexto, nos dias 28, 29 e 30 de agosto de 2000, os contatos foram marcados com os

diversos segmentos da sociedade, bem como com as Instituições e Organizações Não

Governamentais – Ongs, para se proceder aos parâmetros da metodologia da escuta sensível,

visando compreender os atores sociais no processo de apropriação e uso dos recursos ambientais.

As Instituições contatadas no município de Porto Seguro foram: Prefeitura Municipal, Secretarias

32

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Municipais de Educação, de Finanças, de Saúde, de Turismo Municipal e do Meio Ambiente;

Associação de Moradores de Caraíva; - Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia -

COELBA; Empresa Baiana de Águas e Saneamento – EMBASA; Polícia Militar do Estado da

Bahia; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico – IPHAN; Reserva Extrativista Marinha –

Colônia de Pescadores Z - 56; - Instituto Brasileiro de Recursos Renováveis -IBAMA; Fundação

Nacional do Índio – FUNAI; Associação Brasileira de Indústria Hoteleira -ABIH .

As Associações e Instituições representativas no Município de Prado foram: Prefeitura Municipal

de Prado; Associação Comercial de Turismo de Cumuruxatiba - CUMURUTUR; Associação

Pradense de Proteção Ambiental - APPA; Reserva Extrativista da Marinha – Colônia de

Pescadores Z-56; Instituto Nacional de Reforma Agrária (Assentamento de Corumbau) –

INCRA.

As Instituições representativas que têm suas sedes no município de Eunapólis foram: Veracel S.

A, Fundação Nacional do Índio - FUNAI e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico –

IBGE.

Após a coleta e análise de dados com as Instituições locais, considerou-se também que os

recursos naturais formam parte do domínio social. Isto quer dizer que os recursos naturais

somente se tornam importantes quando um grupo social define-os como tais e fornece um uso

específico para eles. Assim, os recursos naturais são intimamente ligados aos conhecimentos e

tecnologias de um grupo social determinado. No entanto, no caso que se estuda, por trás dos

interesses dos índios, existe interesse de toda sociedade na obtenção da energia elétrica.

No dia 30 de agosto de 2000, foi realizada uma reunião, às 10:00h, a convite da pesquisadora,

com a Associação de Moradores de Caraíva e a Associação Pradense de Proteção Ambiental,

visando aprofundar as discussões para o amadurecimento da consciência dos grupos para as

tomadas de decisão frente ao empreendimento. Notou-se que os grupos estavam dissociados das

lutas sociais e ambientais, pois não mantinham a população mobilizada na defesa ambiental, que é

uma forma de luta pela solução dos problemas mais emergentes, aqueles que afetam

cotidianamente a qualidade de vida dos cidadãos.

As discussões giravam em torno da possibilidade da linha de transmissão ser subterrânea no

povoado de Caraíva, e, segundo informe do grupo, a planta já estava em mãos do técnico

responsável do escritório da COELBA, em Porto Seguro. A preocupação do grupo estava

voltada para o ecoturismo. Note-se que as benfeitorias só seriam para os serviços de hotelaria e

para os comerciantes, cujas áreas seriam ligadas pela linha elétrica. Como os nativos, em nenhum

33

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momento, estavam incluídos na tomada de decisão sobre o empreendimento, pois não haviam

sido convidados para a reunião, não seriam, em princípio, beneficiados.

Alegando que as comunidades dos nativos ficam mais no interior do povoado de Caraíva,

esclareceram que no local poderiam ser colocados alguns postes para iluminar, e, caso algum

morador quisesse, poderia puxar a luz elétrica para sua moradia. A pesquisadora questionou se

todos estavam preparados para as mudanças que se operariam em Caraíva e Nova Caraíva.

A Presidente da Associação de Moradores de Caraíva e o representante da APPA – Associação

Pradense de Proteção Ambiental comentaram que iriam se estruturar para os acontecimentos

advindos do turismo predatório, só que se sentiam cansados do barulho da energia a óleo diesel,

combustível que custava muito caro e, às vezes, demorava muito a chegar, devido à distância de

Porto Seguro. O desejo do grupo é não perder a característica do turismo de Caraíva, nome que

significa ”contemplativo das estrelas”, que atrai pessoas do mundo inteiro.

Associação de Proteção Ambiental Pradense - APPA fez-se presente com cinco representantes e

pouco participou, haja vista que, para o município de Prado, a energia elétrica não seria

modificada e a sociedade local só tomaria conhecimento como parte integrante da área de

influência direta, já que a Linha de Distribuição tem como ponto de partida a subestação da

COELBA, nesta cidade.

Desse modo, a participação comunitária na defesa ambiental só se dá quando está em jogo a

sobrevivência de interesses específicos e particulares. Por isso, é de fundamental importância que,

na defesa ambiental, haja uma ação efetiva das diversas instâncias políticas que podem e devem

promover os interesses da sociedade (Associação de Moradores, Organização Não

Governamentais – Ongs, Reserva Extrativista de Pescadores, Associação Comercial, etc.).

Para a população é essencial ao desenvolvimento econômico e social do extremo sul da Bahia a

linha de distribuição de energia elétrica 13.,8 kV Prado/ Caraíva, tendo como principal objetivo

integrar os povoados de Caraíva e Corumbau, e também algumas comunidades indígenas ao

sistema elétrico da COELBA. Embora achassem que esta linha de distribuição invariavelmente

pudesse provocar interferências ambientais em maior ou menor intensidade, de acordo com as

características do projeto, admitiam que o empreendedor iria procurar prevenir, minorar ou

compensar estas interferências, buscando a preservação da biodiversidade dos ecossistemas

dentro de sua área de influência.

As alternativas locacionais para o traçado da linha de distribuição foram as seguintes: a primeira

opção seria o trecho de travessia Rio Jucuruçu, uma vez que a proposta original previa uma

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passagem sobre a mata ciliar do mesmo, além de um trecho de mata atlântica em estágio

secundário na fazenda São Jorge, em Prado.

Após diversos estudos de planejamento, para análise técnica e econômica do empreendimento,

foi selecionada pelo empreendedor e analisada a opção 2, que seria uma construção de rede

expressa partindo da SE Prado, para suprimento às comunidades de Corumbau, Ponta de

Corumbau, Caraíva, além da aldeia Indígena de Barra Velha, perfazendo um total de 75 Km.

Nessa opção, a rede atenderia de forma satisfatória às cargas propostas, com possibilidade de

crescimento das mesmas, além de suprimento a cargas futuras que provavelmente iriam se

instalar ao longo da região litorânea entre Prado e Porto Seguro, devido à vocação turística desse

trecho do litoral baiano. Esta opção também iria possibilitar manobra com o alimentador

existente no povoado Cumuruxatiba, melhorando consideravelmente o nível de atendimento a

essa comunidade.

Foi identificada, por parte do CRA, a necessidade da realização da Audiência Prévia,

considerando as manifestações das comunidades interessadas e, particularmente, por meio da

Resolução do CEPRAM de n.º 2.195/99, que prevê as Audiências Prévias na área do

empreendimento, para subsidiar a Elaboração do Termo de Referência .

Assim, o CRA notificou o empreendedor, mediante o instrumento de nº 1.071/00, para que

tomasse as providências cabíveis, quanto a:

1 – Definição dos municípios e locais que sediariam as referidas Audiências Prévias,

levando-se em consideração a área de influência do empreendimento, a facilidade de acesso da

comunidade interessada, bem como a adequabilidade das instalações.

2 – Nos municípios que já tinham sido visitados pelo empreendedor, fazer contatos com

os órgãos municipais competentes, a exemplo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente,

Conselho Municipal de Meio Ambiente, Câmara de Vereadores, Ministério Público Estadual,

Órgãos Públicos Estaduais e Federais, com o objetivo de promover a integração

Projeto/município.

3 – Convocar os interessados, através dos meios de comunicação tais como: convites

individuais aos representantes de instituições, associações de moradores, hotelarias, comerciantes,

jornais e rádios locais, para que atingissem as comunidades em geral.

O CRA contemplou as sugestões cabíveis dos interessados e foram marcadas duas Audiências

Prévias, uma em Cumuruxatiba, no dia 19/09/2000, às 18:00h, no Hotel Vista Mar, e a segunda

em Caraíva, no dia 21/09/2000, às 18:00h, onde foram consideradas as resultantes das

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Audiências Prévias, o conteúdo mínimo previsto na Resolução CONAMA 001/867, as diretrizes

peculiares do projeto e as características ambientais da área.

As Audiências Prévias foram presididas pelo Coordenador da equipe do CRA, o Engenheiro

Florestal Fernando Esteves, responsável pela análise do Projeto, com a participação do

empreendedor e da equipe técnica habilitada para a realização do EIA/RIMA.

As Audiências Prévias tiveram duração de duas horas cada uma e obedeceram à seguinte pauta: a)

apresentação das competências do CRA no processo de Licenciamento Ambiental (15 minutos);

b) apresentação do escopo do Projeto pelo empreendedor e sua equipe (45 minutos); c)

Discussão e considerações pela comunidade (60 minutos).

Ficou a cargo do empreendedor, sob a supervisão da pesquisadora, a elaboração das Atas, que

foram sucintas, contendo as considerações das comunidades, objetivando subsidiar o Termo de

Referência do EIA/RIMA. As Atas foram entregues ao CRA logo após a realização das

Audiências Prévias, devidamente assinadas por uma Comissão de dez pessoas, formada por

representantes dos diversos segmentos da sociedade, presentes nas Audiências.

Na Audiência Prévia de Cumuruxatiba, estiveram presentes 31 pessoas, demonstrando, assim, a

falta de interesse da comunidade para com o projeto. Dos presentes, manifestaram-se os

representantes de serviços de hotelaria e os comerciantes, cujas áreas seriam atingidas pela linha

elétrica. Os nativos em nenhum momento estavam incluídos na tomada de decisão sobre o

empreendimento.

A Audiência Prévia do povoado de Caraíva contou com a presença de 94 pessoas, entre

representantes de associações, professores, hoteleiros, comerciantes, assentados, fazendeiros,

índios (moradores de Barra Velha), Caraíva, Corumbau, Ponta de Corumbau. A participação das

comunidades foi efetiva, pois o público teve tempo de organizar, discutir e posicionar-se nas

tomadas de decisões; o empreendedor propiciou informações adequadas e compreensíveis dos

impactos gerados pelo empreendimento.

A Fig. 4.1 mostra os poucos representantes da comunidade de Cumuruxatiba na audiência prévia,

bem como a Fig. 4.2 mostra os representantes da COELBA que iam fazer exposição do

empreendimento à comunidade.

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FiguraFonte:

Depois das Audiê

de acordo com o

encaminhar ao CR

estabelecidas, entr

Processo.

Durante a elabor

equipe técnica do

processo.

Os estudos pron

cronograma de ela

4. 1 - Representantes das comunidades, Audiência Prévia Cumuruxatiba. Bahia (2001).

n

T

A

e

to

b

Figura 4. 2 - Técnicos da COELBA de Cumuruxativa- Audiência Prévia. Fonte - Bahia (2001).

cias Prévias, o CRA notificou o empreendedor para executar o EIA/RIMA,

ermo de Referência aprovado pelo CEPRAM, Lei 3.658, devendo o mesmo

o cronograma de elaboração do EIA e do respectivo RIMA, para que sejam

o CRA e o empreendedor, reuniões periódicas para o acompanhamento do

ão do EIA/ RIMA, aconteceram reuniões periódicas formalizadas entre a

CRA e a equipe responsável pela elaboração, para acompanhamento do

s foram encaminhados ao CRA no prazo de 45 dias após a aprovação do

oração de Estudo.

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A equipe responsável pelos estudos apresentou o RIMA de forma objetiva e adequada para a

compreensão da comunidade, traduzido em linguagem accessível, utilizando técnicas de

comunicação visual, de modo a facilitar o entendimento dos impactos ambientais resultantes da

implantação do projeto.

Quando o CRA recebeu o EIA/ RIMA, publicou, de imediato, em edital, através do Diário

Oficial do Estado e de jornal de grande circulação na imprensa local “Correio da Bahia”, que o

RIMA encontrava-se à disposição da comunidade interessada nos seguintes locais: 1) Município

de Prado - Prefeitura de Prado; 2) Distrito de Cumuruxatiba – Pousada Santa Clara; 3) Município

de Porto Seguro - Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Aldeia Indígena de Barra Velha; 4)

Ponta de Corumbau – Pousada Jocotoca; 5) Povoado de Caraíva – Pousada e Restaurante Lagoa.

Neste mesmo jornal, comunicou a abertura no prazo de 45 dias para solicitação, junto ao CRA,

de Audiência Pública por parte de Entidade Civil, Ministério Público ou por cinqüenta ou mais

cidadãos.

As comunidades de Prado e Caraíva, junto com as instituições locais, solicitaram a Audiência

Pública ao CRA que, em 26 de abril de 2001, convocou os interessados, por intermédio de Diário

Oficial do Estado e em jornal de grande circulação, “Correio da Bahia”, para sua realização, no

dia 19/8/2001, às 18:00h, proporcionando as condições adequadas de local, no povoado de

Caraíva – Forró de Pele. A Audiência Pública foi presidida pela representante legal do CRA, que

expôs aos presentes os objetivos e a maneira como deveria ser conduzido o trabalho da equipe

responsável pelos estudos, bem como a participação da comunidade na discussão das questões

que porventura fossem levantadas por ela.

O responsável pela elaboração dos Estudos Ambientais iniciou sua explanação apresentando os

objetivos da COELBA para a construção da linha de distribuição. Em seguida, apresentou aos

presentes as alternativas locacionais, enfatizando o traçado escolhido pela empresa, denominado

de alternativa 2, para elaboração dos Estudos Ambientais.

Em seguida, apresentou as características tecnológicas que serão utilizadas na construção da linha

de distribuição, que são postes de concreto em padrão rural desde a subestação do Prado até o

início do Parque Nacional, postes em madeira em padrão rural com cabos multiplexados e redes

subterrâneas na área urbana de Caraíva.

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A Fig. 4.3. demonstra a participação das comunidades na audiência prévia.

Discussão de pontos

1. A empresa Plane

meios físico, bió

impactos advind

compensatórias,

Impactos Ambie

2. Indeferimento d

Nacional de Mo

alternativa seria t

3. Contatos mantid

reunião, informa

4. Possibilidades de

parque ou até ca

que o custo seria

5. Possibilidade da

córregos e habi

atravessará nenh

possibilidade, inc

6. Não haverá bene

Figura 4. 3 - Comunidades presentes na audiência prévia Caraiva. Fonte - Bahia. (2001).

importantes durante a Audiência Pública:

jamento e Meio Ambiente - PLAMA apresentou os estudos elaborados nos

tico e socioeconômico e o prognóstico dos estudos, nos quais constam os

os da construção da linha de distribuição e suas medidas mitigadoras e

esclarecendo que todos os detalhes do estudo encontram-se no Relatório de

ntais - RIMA, disponibilizado às comunidades.

o IBAMA quanto à passagem da Linha de Transmissão pelo Parque

nte Pascoal, indagando, caso seja mantido o indeferimento, que outra

omada para viabilizar o empreendimento.

os pelo empreendedor com aquele órgão, inclusive com realização de uma

ndo que dentro de uma semana teria uma resposta formal.

cabos subaquáticos para que a Linha de Distribuição contornasse a área do

bos subterrâneos, o que foi descartado pelo Sr. José Carlos Fabian, alegando

muito elevado.

supressão de vegetação dentro da área indígena, bem como de afetar

tações. Esclareceu-se que não haverá supressão de vegetação, não se

um córrego e que a área a ser atingida será ao fundo da reserva, com

lusive, de utilizar animais para carregar o material para o empreendimento.

fício da linha de transmissão à comunidade de Nova Caraíva.

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7. Questionou-se como seria feita a iluminação das casas. O representante da COELBA

respondeu que, a princípio, somente a aldeia mãe seria beneficiada.

8. A iluminação deve passar nas áreas dos fundos das casas e não pela orla para que não

prejudique a desova das tartarugas. A bióloga esclareceu que a linha de distribuição irá passar

pelos fundos dos hotéis e não irá iluminar a orla de Corumbau.

Durante a Audiência Pública, foi constituída uma comissão voluntária, visando buscar assinaturas

e legitimação da Ata, ficando a redação da mesma a cargo do empreendedor, logo ao término da

referida Audiência. Todo material de áudio e vídeo produzido deveria ser encaminhado ao CRA,

pelo empreendedor, no prazo máximo de 10 dias após a realização da mesma.

O CRA emitiu o Parecer Técnico conclusivo, de nº 203/01, sendo favorável ao empreendimento,

com validade da Licença de Localização por três anos e encaminhou à Procuradoria Jurídica do

CRA que, em 31 de julho de 2001, emitiu o Parecer à Secretaria do CEPRAM sob nº 786/20011,

acompanhado do EIA/RIMA e demais documentação pertinente. O CEPRAM julgou o

processo, fazendo publicar a respectiva decisão no Diário Oficial do Estado.

O CEPRAM emitiu a Resolução de nº 2880, de 21 de setembro de 2001, que autoriza a emissão

da Licença de Localização à Companhia de Energia de Eletricidade do Estado da Bahia –

COELBA, nos municípios de Prado e Porto Seguro.

Na última página do processo, “Controle de Qualidade CEPRAM”, as rubricas firmadas atestam

a conferência e conclusão do processo de licenciamento em suas respectivas fases.

4.2. - TRAÇADO/ÁREAS ATINGIDAS

O traçado ainda foi modificado para preservação da mata ciliar e manguezal do rio Jucuruçu, uma

vez que este último não deveria sofrer supressão pelo seu pequeno porte; preservação de

fragmentos de Mata Atlântica secundária e pelo aproveitamento da parte da rede de energia

existente onde seria implantado um trecho em circuito duplo.

A segunda mudança diz respeito ao trecho do rio Corumbau, onde a proposta original previa

uma passagem sobre o rio com o corte de uma faixa de mata ciliar. O traçado foi realocado para

um ponto mais a oeste, onde a vegetação já se encontra antropizada, sendo necessária a supressão

de apenas um ou dois indivíduos arbóreo na sua margem esquerda.

Ainda na Ponta do Corumbau, foi realizada uma mudança no trecho próximo à chegada ao

povoado do mesmo nome, sendo a linha realocada da margem da orla (acompanhando a estrada

de acesso atual) para um trecho entre o coqueiral e o mangue, reduzindo sobremaneira o impacto

visual.

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Estas mudanças de traçado, aliadas a uma série de alterações no projeto original, como a

utilização de trechos de rede subterrânea, postes de madeira de pequeno porte e cabos

multiplexados, nos trechos da Aldeia de Barra Velha e área urbana do povoado de Caraíva,

vieram minimizar os impactos visuais sobre o Patrimônio Paisagístico, Histórico e Cultural deste

trecho, já que se encontra em área de proteção de paisagem e inserido no Museu Aberto do

Descobrimento – MAD.

4.2.1. - Impactos socioambientais (cadeias de efeitos ambientais)

As Cadeias de Efeitos Ambientais são utilizadas pelo empreendimento, visando descrever os

impactos. Cada empreendimento tem seu tipo de avaliação desta cadeia, que é descrita da

seguinte forma:

A descrição, análise, classificação e valoração dos possíveis impactos ambientais relacionados

ao projeto, seguidos da sugestão de medidas mitigadoras e/ou compensatórias para os

impactos identificados, e quando necessário monitoramento destes impactos.

A matriz de inter-relação trata de um quadro analítico onde será listada a inter-relação entre

os prováveis impactos, sua ponderação nas diferentes etapas do empreendimento,

considerando-se o meio físico, biótico e socioeconômico, de tal forma que represente as

principais zonas de impactos, seus efeitos e interferências nas diferentes áreas.

Consideraram-se os impactos relacionados às etapas de implantação e operação, com a

identificação, quantificação e avaliação dos impactos sobre os meios físico, biótico e antrópico.

Os impactos previstos foram ponderados de acordo com a magnitude, importância, duração,

extensão e probabilidade de ocorrência, adotando-se o critério descrito abaixo.

A valoração dos impactos foi efetuada com base na ponderação da magnitude (0 a 5), a

importância (O a 3), duração (1 a 3) e probabilidade de ocorrência (1 a 3), que multiplicados

totalizam o valor de cada impacto, cujo sentido é dado pela sua natureza benéfica (positivo) (+)

ou adversa (negativo) (-).

Para a classificação dos Impactos, foram adotados os seguintes conceitos:

Natureza

Direto – Quando resulta de uma simples relação causa-efeito.

Indireto – Quando resulta em um efeito secundário em relação à ação. É parte de uma cadeia de

reações.

Importância

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Positivo – Quando uma ação resulta na melhoria de um ou mais componentes ambientais.

Negativo – Quando a atividade resulta em situação adversa para um ou mais componentes

ambientais.

Periodicidade

Temporário – Quando um efeito só dura determinado período de tempo.

Cíclico – quando o efeito possui recorrência em função das atividades desenvolvidas.

Permanente – Quando o efeito dura para sempre.

Reversibilidade

Reversível – Quando o ambiente afetado pelo impacto gerado pela atividade pode retornar à

condição anterior.

Irreversível – Quando o ambiente impactado não pode retornar à condição anterior.

Duração

Imediato – Quando o impacto ocorre logo em seguida à ação.

Médio Prazo – Quando o impacto tem uma duração mais prolongada.

Longo Prazo – Quando o impacto se faz presente por um extenso período.

Probabilidade de Ocorrência

Ocorrência remota – Quando é muito pequena a probabilidade de ocorrer o impacto.

Ocorrência provável – Quando é quase certa a ocorrência do impacto.

Certeza de ocorrência – Quando existe certeza da ocorrência de impacto.

Extensão

Local – Quando a ação afeta apenas o próprio sítio e suas imediações.

Regional – Quando um efeito se propaga por uma área além das imediações onde se dá a ação.

Estratégico – Quando ocorre em uma área definida do empreendimento alcançando um efeito

prolongado.

A Magnitude refere-se à mensuração do impacto, prevista em termos quantitativos sendo 1 para

magnitude insignificante, 2 para baixa, 3 para média, 4 para alta e 5 para muito alta.

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A Importância atribuída ao impacto é definida em função das características originais do

ambiente e da natureza do impacto previsto, sendo 1 para impactos pouco importantes, 2 para

médios e 3 para altos.

A Extensão do impacto é ponderada em função do seu alcance, considerando-se, em uma escala

de 1 a 3, os impactos que atingem a área de influência direta ( local), aqueles que se estendem até

a área de influência indireta (regional) e finalmente aqueles impactos que, pelas suas

características, produzem efeitos de maior alcance (estratégico).

A ponderação, em relação à Duração do impacto, dá-se em função da sua permanência no

ambiente, levando-se em conta, na escala de 1 a 3, a sua natureza temporária, cíclica ou

permanente, respectivamente.

A Probabilidade de Ocorrência do impacto também foi valorada em uma escala de 1 a 3, que

reflete uma probabilidade remota, provável ou a certeza da ocorrência do impacto.

A diretriz deste estudo foi de adotar a maior subjetividade possível num assunto que costuma ser

mais objetivo, contudo sem permitir nenhum prejuízo em qualquer dos aspectos de relevância

para a avaliação ambiental do referido empreendimento.

4.2.2. - Ações de impactos ambientais: abertura da picada

IMPACTO 1: Redução da Área de Vegetação Nativa: Esta atividade consta de abertura de faixas

para materialização da linha – levantamento planialmétrico, fixação de marcos e bandeiras. Para

este empreendimento, está prevista também abertura de picadas em ecossistemas frágeis, a

exemplo do manguezal do rio Cahy, para realização de estudos topográficos. A abertura das

picadas resulta na supressão da vegetação em uma faixa de aproximadamente 1 metro, onde será

efetuado o corte raso de todos os indivíduos de porte arbóreo, arbustivo e herbáceo.

IMPACTO 2: Alteração das Copas e Sub-bosque: na abertura da picada nos trechos do

manguezal será efetuado o corte raso, utilizando-se apenas a poda de galhos e sub-bosque. Este

impacto é considerado de grau médio, em virtude da relação entre pequena alteração da

vegetação natural e a fragilidade do ecossistema manguezal.

IMPACTO 3: Alterações de Habitats e Nichos Ecológicos: A abertura da picada, em virtude da

faixa de intervenção em extensas áreas com tipologia de vegetação aberta e/ou herbácea, altera

abrigos, áreas de reprodução e nichos ecológicos, uma vez que os animais utilizam troncos e

galhos de árvores para o desenvolvimento de diversas funções da sua dinâmica.

IMPACTO 4: Aumento da Oferta de Empregos: Na abertura de picadas será necessária a

contratação de pessoal, promovendo um aumento no número de empregos temporários para os

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moradores locais e regionais, devendo ser prática das empreiteiras a contratação de mão-de-obra

local.

4.2.3. - Recuperação de Acessos de Serviços e Obras de Arte Existentes

IMPACTO 5: Aumento do Tráfego, Ruídos e Particulados - A execução das obras acarretará

aumento do tráfego, dos níveis de ruído e poeira locais, causados pela movimentação de veículos

e equipamentos em estradas carroçáveis. Os maiores receptores desse impacto serão os operários

da obra, os moradores de Cumuruxatiba, Corumbau e Ponta de Corumbau.

IMPACTO 6: Aumento na Oferta de Empregos - Para melhoria de acessos de serviços, é

necessária a contratação de pessoal e equipamentos. Esta atividade proporciona empregos

eventuais para os moradores locais e regionais, devendo ser requerida das empreiteiras, na medida

do possível a contratação de mão- de- obra local.

.IMPACTO 7: A recuperação dos acessos e obras de arte acarretará a melhoria das condições de

uso das mesmas, facilitando o tráfego entre a sede municipal de Prado e os distritos de

Cumuruxatiba, Corumbau e Ponta de Corumbau.

4.2.4. - Incremento da Utilização de Jazidas Existentes.

IMPACTO 8: Redução da Área de Vegetação Nativa: O material e/ou cascalho para a melhoria

dos acessos e construção de obras de arte, será feito por intermédio da aquisição em jazidas já

existentes e devidamente legalizadas, na área de influência indireta do empreendimento.

IMPACTO 9: Desencadeamento de Processos Erosivos e/ou Assoreamento: A explotação de

material terroso e/ou cascalho em áreas de empréstimo tem como um dos principais impactos o

carreamento de material particulado, fruto da precipitação e vento, para as regiões mais baixas e

leito de cursos de água.

IMPACTO 10: Modificação da paisagem: como resultado da exploração das jazidas, tem-se uma

modificação da paisagem nas áreas mineradas, devido à retirada da vegetação e modificação do

relevo.

IMPACTO 11: Abertura da faixa de servidão: Redução da Área de Vegetação Nativa: A abertura

da faixa de servidão permite a implantação da rede com seus equipamentos e acessórios,

promovendo a retirada dos obstáculos, facilitando o transporte de equipamentos e a circulação

das equipes de trabalho ao longo da mesma. A faixa de servidão é uma área de proteção de rede,

e necessita de supressão de vegetação de porte arbóreo e arbustivo em uma área de 15 m de

largura, sendo 7,5 m para cada lado do seu eixo, e em toda extensão da rede. Esta ação representa

44

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um impacto elevado, uma vez que irá suprimir a vegetação ao longo de toda faixa de servidão

(vegetação de restinga arbóreo-arbustiva), por meio do corte raso.

IMPACTO 12: Diminuição da biodiversidade local: A retirada da vegetação na faixa de servidão

ocasiona a diminuição da variedade de espécies da flora e, conseqüentemente, a retirada de

abrigos, pontos de nidificação e das espécies vegetais fornecedoras de alimento. Este impacto é

de alto grau, haja vista o empreendimento estar inserido no Ecossistema de Mata Atlântica..

IMPACTO 13: Alteração do Uso do Solo: O traçado da linha de distribuição cortará áreas de

coqueirais e pomares, podendo haver um aumento na faixa de servidão nestes trechos, devido à

altura das árvores. Este impacto é de grau baixo, devido à pequena extensão da área com este tipo

de ocupação.

IMPACTO 14: Aumento da Oferta de Empregos: Na abertura de picadas, será necessária a

contratação de pessoal, promovendo um aumento no número de empregos temporários para os

moradores locais e regionais, devendo ser prática das empreiteiras a contratação da mão-de-obra

local.

IMPACTO 15: Incremento na Oferta de Material Lenhoso: Com a supressão da vegetação, será

disponibilizado material lenhoso, que pode ser utilizado para diversas finalidades, a depender da

espécie e da qualidade da madeira fornecida. Geralmente, este material é doado a comunidades

diretamente envolvidas com o empreendimento.

IMPACTO 16: Interferência em Áreas Legalmente Protegidas: a abertura da faixa de servidão

abrange áreas legalmente protegidas, tais como: Parque Nacional de Monte Pascoal, Reserva

Indígena Barra Velha, Área de Proteção Ambiental Caraíva/Trancoso, Museu Aberto do

Descobrimento – MAD e pequenos trechos de Manguezal.

IMPACTO 17: Interferência em Locais de Interesse Arqueológico, Histórico e Cultural: Para a

abertura da faixa está prevista a movimentação de máquinas e equipamentos ao longo do traçado,

para retirada da vegetação e distribuição de postes, interferindo diretamente nas camadas

superficiais do solo.

IMPACTO 18: Interferência nas Comunidades Indígenas: as alterações nos hábitos e costumes

da comunidade indígena durante a abertura da faixa de servidão são resultantes da movimentação

de máquinas e operários, interferindo no cotidiano da aldeia.

IMPACTO 19: Modificação da Paisagem: A instalação de postes, transformadores e cabos

promovem uma alteração visual, descaracterizando a paisagem nativa das comunidades de

Caraíva e Barra Velha, contrastando com a mesma.

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IMPACTO 20: Aumento do Risco de Acidentes de Trabalho: A instalação de postes,

transformadores e cabos, ainda que gerem postos de trabalho, são uma atividade de risco por

lidar com material pesado e de difícil manuseio, além de promover um aumento de risco de

acidentes durante a colocação dos transformadores e cabos a uma considerável altura.

IMPACTO 21: Interferência em locais de Interesse Arqueológico, Histórico e Cultural: A

instalação dos postes e cabos envolve a movimentação de caminhões para o transporte das

estruturas , material e de guinchos para a instalação de postes. Além disso, há necessidade de abrir

cavas para garantir a estabilidade das estruturas.

IMPACTO 22: Interrupção Programada no Fornecimento de Energia na Sede de Prado: A linha

em construção deverá ser conectada a uma já existente, em pequeno trecho, na área urbana da

cidade de Prado, em direção à subestação, utilizando parte da estrutura desta rede para fazer um

circuito duplo. Desta forma, há necessidade de desligamento temporário do fornecimento de

energia, condição esta que se repetirá no Núcleo de Assentamento de Corumbau.

IMPACTO 23: Recuperação da Rede Existente no Trecho Modificado: Para efetuar a alteração

da rede existente, será necessária a substituição de postes, cabos, transformadores etc.,

melhorando a eficiência da rede, evitando problemas no fornecimento de energia.

4.3. - MAPEAMENTO DOS ATORES SOCIAIS

Existem três grandes grupos de atores sociais envolvidos: poder público, empresa construtora

responsável pelo empreendimento e sociedade civil regional.

4.3.1. - Poder Público

Federal: IBAMA, FUNAI, ISPHAN, INCRA.

Estadual: SRH, CRA (poder gestor e mobilizador dos grupos atingidos nos processos de

licenciamento), Ministério Público e BAHIATURSA.

Municipal: Prefeituras e Secretarias dos municípios de Prado e Porto Seguro.

4.3.2. - Empresa responsável pelo empreendimento:

- COELBA (empresa privada) e PLAMA - Planejamento e Meio Ambiente, empresa de

consultoria responsável pelo Estudo de Impacto Ambiental

4.3.3. - Sociedade Civil

Organizada

Não-organizada

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4.4. - DESCRIÇÃO DAS COMUNIDADES E DOS GRUPOS SOCIAIS

ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE LICENCIAMENTO

4.4.1. - PORTO SEGURO

Porto Seguro possui uma área de 2.416, 6 km2 que compreende à sede e aos distritos de Vale

Verde, Trancoso e Caraíva. Tem uma população estimada em 72.986 habitantes, com uma

densidade demográfica de 30,2 hab/km2 , segundo dados do IBGE (1999). Está limitado ao norte

por Santa Cruz de Cabrália, ao sul pelo município de Prado, a Oeste por Itabela e Eunapólis, à

Sudoeste Itamaraju, e a Leste pelo Oceano Atlântico.

O principal acesso ao município dá-se pela rodovia BR-101, que possui três ramificações

pavimentadas na região: a BR – 367, que liga Eunapólis a Santa Cruz de Cabrália passando por

Porto Seguro e a BR-489, que liga Itamaraju a Prado. Há também a BR-498, que possui apenas

14 quilômetros de extensão e serve exclusivamente de acesso entre a BR – 101 e o Monte

Pascoal, dentro da área do parque homônimo.

Para uma melhor compreensão do processo de ocupação humana e formação regional, será

apresentado um pequeno histórico, baseado em dois elementos: o colonizador e o índio. O

primeiro tem como ponto de partida os dados históricos oficiais, a partir da chegada dos

portugueses à costa baiana em 1500, enquanto o segundo baseia-se nas informações sobre os

índios, fornecidas pelos estudos étnico-históricos contemporâneos.

Consideram-se as atividades econômicas primárias como base fundamental para a ocupação da

região estudada, cuja implementação moldou a divisão territorial do campo e conduziu à

formação dos núcleos urbanos, atuais áreas urbanas e rurais.

Processo Histórico de Ocupação

Segundo Fernandes (1989), a consolidação dos núcleos coloniais esteve associada à implantação

de atividades de exploração que garantissem o lucro da metrópole sobre os novos territórios e

sua posse, com a instalação de um número cada vez maior de núcleos urbanos.

As características principais deste processo envolvem a total dependência da mão-de-obra

escrava para baratear os custos de produção e a exportação de todo o produto final. Desta

maneira, a organização espacial da região pelos portugueses foi definida pela extração do pau-

brasil, o aproveitamento da cana-de-açúcar e a pesca, nos primeiros momentos de colonização.

Nos séculos seguintes, a agricultura e a pecuária tornaram-se os principais fatores de ocupação e

povoamento da região, até o advento do turismo no final do século XX.

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O processo de ocupação da região iniciou-se, oficialmente, em 1534, com a doação da Capitania

de Porto Seguro ao português Pero do Campo Tourinho. Este fundou a vila de Nossa Senhora

da Pena, além das vilas de Santo Amaro e Santa Cruz, estando a primeira na margem esquerda do

rio Buranhém, ao sul, e a segunda, ao norte de Porto Seguro.

Nos primeiros anos de colonização, durante o ciclo de pau-brasil, os portugueses não tiveram

problema de mão-de-obra, visto que a extração de madeira era, para os nativos, uma atividade

masculina. Os índios realizavam o corte das árvores em troca de bugigangas e ferramentas de

metal. Estes novos instrumentos de trabalho iriam facilitar o cotidiano dos grupos contatados e

permitiriam a retirada de madeira na escala desejada pelos colonizadores.

A tentativa de implantação da agroindústria açucareira na região, somada às novas necessidades

dos colonizadores, determinou o uso crescente de mão-de-obra, principalmente para o trabalho

na lavoura e nos engenhos, o que foi solucionado com a escravidão indígena. Esta prática foi

muitas vezes usada como justificativa para combater o canibalismo ritual praticado por grupos

indígenas que ocupavam o litoral.

Neste período, ocorreram fugas em massa da população nativa, uma vez que tais grupos não

estavam habituados ao trabalho na lavoura e à rotina rígida e estafante dos engenhos. Outro

motivo é que, nos grupos litorâneos, as atividades ligadas ao cultivo eram exclusivamente

femininas, dificultando ainda mais a adaptação dos homens e incentivando a sua fuga.

Esse quadro resultou em freqüentes ataques indígenas aos primeiros assentamentos coloniais da

Capitania, gerando uma crise político-administrativa, agravada pelo descontentamento da

população. Assim, a Capitania de Porto Seguro mergulhou numa séria crise econômica e sofreu

grandes mudanças.

Com a chegada dos jesuítas, em 1549, várias colônias foram fundadas com o objetivo de

introduzir, nos grupos indígenas, os padrões morais do cristianismo. Assim, surgem as aldeias de

Patativa e São João dos Índios, que, atualmente, representam os núcleos urbanos dos povoados

de Vale Verde e Trancoso.

Em 1827, Porto Seguro compreendia a área de sua atual Sede e Vila Verde (situada na margem

direita do rio Buranhém), a partir do atual povoado de Vale Verde até o mar, incluindo ainda o

Arraial d’Ajuda e Trancoso, cuja área iniciava-se nas proximidades do povoado homônimo, indo

até o extremo sul, na ponta de Corumbau.

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A economia do Extremo Sul da Bahia, durante o auge do período da cana-de-açúcar no

Recôncavo, especializou-se na agricultura e na pesca para suprir as necessidades da capital e das

regiões produtoras de açúcar.

Na região de Belmonte, o cacau passa a ser a principal atividade agrícola das sub-regiões.

Neste período, Porto Seguro perdeu uma faixa de terra na extremidade norte que se transformou

no município de Santa Cruz.

No século XX, as atividades primárias vão definir a atual ocupação dos territórios de Prado e

Porto Seguro: extração da madeira, alavancada pela abertura da BR-101, e a pecuária extensiva,

que se instalou nos vazios deixados pelo desmatamento. Entre as décadas de 1950 e 1960, a

extração de madeira tem o seu auge, (Fernandes, 1989). Estas atividades desordenadas,

conduzidas por grupos oriundos do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, levaram ao

declínio do interesse econômico pelas florestas na década de 80, causando ações antrópicas

modificadoras do ambiente natural dos municípios, dando aos mesmos o aspecto que pode ser

observado nos dias de hoje.

No início da década de 1970, o asfaltamento da BR-101 tem conseqüência para a integração

econômica do Sul da Bahia ao mercado nacional. Começam a ser implementadas atividades

comerciais, industriais e de serviços que surgem para suprir as necessidades criadas pela

consolidação e expansão dos núcleos urbanos ao longo da rodovia. O acesso fácil leva à

especialização comercial das cidades interioranas e à exploração do turismo no litoral. O primeiro

reflexo da abertura da BR-101 é o aumento da concentração populacional em torno dos

pequenos povoados que surgiram ao longo da rodovia, levando à criação de Itamaraju, na área de

Prado, e Guaratinga, em Porto Seguro.

Comunidades Indígenas

A aldeia Barra Velha fica localizada no município de Porto Seguro, em terras adjacentes à área de

proteção do Parque Nacional do Monte Pascoal, que é tido como de direito indígena, mas não

regulamentado. A aldeia e adjacências compõem uma área de proteção mantida pelo Governo

Federal que ocupa 8.860 hectares, sem contar com o Monte Pascoal, segundo informação do

chefe da Funai na aldeia. O Parque encontra-se sob dominação indígena, que o considera como

de sua propriedade, criando uma situação indefinida do ponto de vista legal.

O Parque Estadual de Monte Pascoal, Fig. 4.4, foi criado na década de 40, porém desvinculado

do direito indígena. Na década de 60, o Estado da Bahia o repassou para a União que, por

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intermédio do decreto Federal 242, de 29 de novembro de 1961, criou oficialmente o Parque

Nacional em terras que sobraram da grilagem realizada pelos plantadores de cacau neste período.

A população indíge

revoltas sufocadas

50. Nesta ocasião, d

As terras indígenas

Nesta mesma époc

ocupação de fazend

O Parque Naciona

FUNAI, mas a situ

pretendem adminis

Em 2000, foram f

manifesto em repú

indígena em Monte

dos limites da terra

por falta de recurso

Os Pataxós têm o a

de Ação Indigenista

Figura 4. 4 - Parque Monte Pascoal. Fonte - Bahia (2001).

na atual está em torno de 522 índios. Os Pataxós têm uma história de lutas e

pela polícia, como a “Revolta dos Caboclos de Porto Seguro”, na década de

ispersaram-se pela região, retornando na década de 70.

também foram ocupadas por assentamentos rurais no início dos anos 70.

a, alguns conflitos envolveram os índios e os fazendeiros na região, com

as.

l do Monte Pascoal é administrado pelo IBAMA. Há um acordo com a

ação é ambígua. Os Pataxós de Barra Velha invadem a área com suas roças e

trar o Parque, tendo retomado a área na década de 90.

eitas manifestações no Centenário do Descobrimento. Os Pataxós fizeram

dio a qualquer acordo com o IBAMA que coloque em risco o território

Pascoal. Denunciam que o grupo técnico, designado há um ano para revisão

indígena de Barra Velha e Corumbauzinho, não consegue terminar o trabalho

s para pagamento de diárias e passagens.

poio do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, e da Associação Nacional

– ANAI.

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Na Aldeia Barra Velha, habitam, além dos índios Pataxós, alguns caboclos e mestiços, havendo

também a presença de outras etnias, como brancos e negros, em sua maioria miscigenadas com

índios ou descendentes, totalizando, aproximadamente, 1.600 pessoas.

Estrutura da Aldeia

Estabeleceu-se uma estrutura organizacional que tem como objetivo atender às necessidades

básicas da comunidade. A população conta com duas escolas, posto de saúde, posto da FUNAI,

casa de farinha, roça comunitária, igreja católica e desenvolve atividade comercial de pequeno

porte – bar e mercearia

Escolas

As duas escolas da Aldeia atendem crianças da pré-escola à 5 ª série. Uma das unidades é da

prefeitura e a outra é da FUNAI. A prefeitura mantém um quadro de aproximadamente 17

funcionários entre professores e merendeiras, em ambas as escolas. Entre os professores, seis

são brancos e quatro são índios.

Segundo a Secretaria de Educação Municipal de Porto Seguro, estão matriculados 357 alunos. As

escolas funcionam em 3 turnos: manhã, tarde e noite.

O período noturno é o de o de maior evasão escolar, enquanto é rara a ocorrência de desistências

nos outros dois turnos. É também à noite que a falta de energia causa transtornos, uma vez que a

iluminação se dá por intermédio de geradores, que muitas vezes quebram, prejudicando o bom

andamento das aulas.

Posto de Saúde

O prédio e instalações são da FUNAI, e uma médica da Prefeitura presta plantão todas as

quintas-feiras. Neste plantão, são diagnosticados e medicados os casos mais simples, e os casos

de maior complexidade são encaminhados para Eunapólis ou Porto Seguro. Em média, 50

pessoas são atendidas a cada plantão e os diagnósticos mais freqüentes são de verminoses e

diarréias em crianças e pressão alta em adultos. Atualmente, o posto de saúde encontra-se

fechado para reforma e o atendimento médico é realizado em locais improvisados. A prefeitura

mantém sete funcionários da área de saúde que prestam plantão na aldeia 1 médico, 1 dentista, 1

enfermeira chefe, 2 auxiliares de enfermagem, 2 agentes índios de saúde.

Barra Velha é um lugar privilegiado pois se localiza numa região belíssima, com natureza

exuberante, lindas praias e clima saudável para se viver. As pessoas que vivem na aldeia mostram

boa aparência., preocupando-se com a higiene pessoal.

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Nas entrevistas realizadas, foram relatados: 2 casos de diabetes diagnosticados, 1 caso de alergia

de pele, 2 casos não confirmados de aparente epilepsia, 1 caso de asma, 1 caso de Síndrome de

Down e 1 criança prematura, cuja estatística é apresentada na Fig. 4.5. Em 19 casas visitadas, as

mães afirmam que as ocorrências de problema de saúde com as crianças foram casos de diarréias,

verminoses e gripes.

Doenças registradas na aldeia de Barra Velha

25,00%

12,50%25,00%

12,50%

12,50%12,50%

diabetesalergiaepilepsiadownasmaprematuro

Figura 4. 5 - Doenças na Aldeia Barra Velha. Fonte - Iberdrola.(2000).

Com base nos dados apresentados, conclui-se que, de uma forma geral, a comunidade tem bom

nível de saúde. A FUNAI e o médico de Barra Velha incentivam o uso de ervas medicinais como

forma de alternativa de tratamento, promovem campanhas de filtro de barro. Os filtros são

doados e quase 80% das casas visitadas utilizam água filtrada.

Entre as mães entrevistadas, todas disseram que amamentam seus filhos, mas 25% admitiram

complementar a alimentação com mamadeira, que é um fator que contribui para aumentar os

casos de doenças mais comuns.

Condições Habitacionais

A aldeia é composta por 260 casas, segundo dados fornecidos pela FUNAI. São habitações com

caráter de núcleo familiar e de características arquitetônicas semelhantes. As construções são

pequenas, construídas em alvenaria ou de taipa, algumas com piso de cimento e outra de chão

batido. Possuem mais de uma janela e porta, o que torna as habitações arejadas.

A FUNAI, em convênio com a Prefeitura e a Fundação Nacional de Saúde, está construindo

instalações sanitárias e lavanderias nas moradias. O projeto é dividido em duas etapas, sendo que

a primeira encontra-se em fase de execução e vai beneficiar 102 casas, enquanto a segunda, sem

data definitiva para início, beneficiará as 158 casas restantes. As instalações sanitárias previstas no

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projeto consistem em um banheiro com vaso sanitário e válvula de descarga, box com chuveiro,

pequena pia para lavar as mãos, e uma lavanderia com tanque para lavar louças e roupas.

A água consumida na aldeia é proveniente de um sistema instalado pela FUNAI, constituído de

um poço artesiano e um reservatório elevado com capacidade para 60 mil litros. A água é

bombeada por um motor a diesel para o reservatório e distribuída, através de uma rede

subterrânea, às casas.

A aldeia não possui sistema de coleta de esgotos, mas os sanitários possuem fossa séptica.

Atividades Econômicas

Artesanato

A principal atividade ligada ao turismo é o artesanato de peças de adorno, como colares e brincos

feitos de sementes, utensílios domésticos como colheres de pau, garfos e pazinhas para patê,

feitos de madeira, vendidos por crianças, como mostra a Fig. 4.6. Alguns índios confeccionam

peças entalhadas em madeira. São representações de animais e que podem servir como assento.

Estes produtos são vendidos aos turistas e visitantes que passam pela aldeia de Caraíva.

Aparentemente,

tarde, em peque

Pesca

Existem muitos

também por pre

forma de moque

Figura 4. 6 - Crianças índias que vendem utensílios na praia. Fonte - Bahia (2001).

é uma atividade que dá grande prazer aos índios, geralmente realizada no final da

nos grupos, que ficam conversando e trabalhando.

pescadores na aldeia, e pela proximidade comum com o mar, por tradição e

ferência alimentar, um dos alimentos mais preferidos é o peixe, consumido na

ca, frito ou assado.

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A pesca é artesanal, uma vez que os indígenas não dispõem de equipamentos e condições

adequados para que esta se torne uma fonte de renda melhor aproveitável. Os índios possuem

embarcação própria, pescando, na maioria das vezes, em pequenas canoas ou viajando de carona

em barcos maiores. Existe um projeto para a compra de dois barcos grandes e, com a vinda da

energia elétrica, eles esperam ter como estocar o pescado e mariscos.

O peixe é comercializado na própria aldeia e em localidades vizinhas. Também serve como

mercadoria de troca entre os moradores da aldeia.

Agricultura

A produção agrícola resume-se em duas grandes roças comunitárias, sendo que em cada roça

trabalham dezoito famílias e são plantados alguns alimentos para o consumo da aldeia e para

comercializar nas localidades vizinhas. Os alimentos são usados como objeto de troca dentro da

aldeia.

A FUNAI dispõe de um trator que ajuda a arar a terra e a transportar a produção, enquanto o

óleo diesel para o trator é fornecido pela Prefeitura.

As principais culturas desenvolvidas são: mandioca, abóbora, coco, abacaxi, banana, batata,

melancia, feijão, fava, maracujá e araruta. As frutas nativas que podem ser encontradas na aldeia

são: jenipapo, caju, mangaba, cajamanga e manga.

Pecuária

É uma atividade nova na aldeia, que começou com um rebanho de 21 cabeças e atualmente

contam com 160 animais. O rebanho é comunitário e, por enquanto, está na fase de reprodução,

para que seja multiplicado. Por causa do tempo seco e a conseqüente escassez de pasto,

atualmente não se tira leite do gado e, se existe a necessidade de abater um animal, tem que haver

reposição imediata. As primeiras cabeças de gado foram compradas com recursos da FUNAI e a

prefeitura paga um funcionário (índio) para tomar conta do rebanho.

Iniciativas Produtivas Individuais

Em alguns quintais, observa-se que as famílias cultivam pequenas hortas com boa variedade de

legumes, árvores frutíferas e ervas medicinais. Existem também galinheiros com boa produção de

ovo. São iniciativas que contribuem para a melhoria da alimentação, além de auxiliar no

orçamento doméstico e que devem ser incentivadas.

Casa de Farinha

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Este é um projeto em que a FUNAI construiu o prédio e os índios organizaram toda a produção,

a distribuição e comercialização. A casa de farinha é comunitária e geralmente a produção é feita

por famílias que a utilizam tanto para consumo próprio como para comercializar.

Em média, quando a produção de mandioca está boa, uma família consegue fazer uns 50 sacos

por mês para consumo e mais um tanto para vender. A comercialização é feita dentro da aldeia

ou nos lugarejos vizinhos. Um saco de farinha tem em média o preço de R$ 20,00. Dentro da

aldeia, a comercialização é feita mais à base de troca.

Na casa de farinha, também são fabricados alguns produtos que têm por base a mandioca, como

o beiju, a tapioca, o polvilho, o bolo de tapioca e de beiju.

Turismo

Conquanto este seja um segmento promissor e em expansão em toda região sul da Bahia, ele não

é muito explorado em Barra Velha. O que se pode constatar é que os turistas que chegam até a

aldeia vão por iniciativa própria e alguns até se decepcionam quando não encontram uma tribo

com índios estereotipados, o que mostra claramente o desconhecimento da população brasileira

em relação à cultura indígena. O que se observa é que a aldeia não tem a menor infra-estrutura

para este tipo de atividade. Não existem sanitários, transportes, restaurantes e nem pousadas

disponíveis para o turista.

As lideranças indígenas têm grande interesse em estimular este tipo de atividade e desenvolveram,

inclusive, um projeto que busca apoio de entidades para implantação de empreendimentos.

A comunidade indígena necessita de energia elétrica para comercializar seus produtos, a exemplo

dos pescados para serem vendidos em Eunapólis ou Itamaraju, como também para a abertura de

pontos comerciais como bares e restaurantes para competir com os “chegantes”.

As motivações dos atores participantes desse estudo são múltiplas, de cunho material (riquezas,

posse de bens materiais), política (disputa de poder), de status (reconhecimento), de valores

(moral). Todo esse processo foi exposto nas Audiências Prévias e Audiência Pública.

Caraíva

Caraíva é um pequeno povoado, como pode ser visto na Fig. 4.7, distrito de Porto Seguro,

situado a cerca de 63 km ao sul da sede do município. Suas raízes históricas o situam como um

antigo vilarejo índio denominado Cramimoã. No século XIX, o lugar era conhecido como

Quartel da Cunha, atuando como destacamento militar. A população, desde aquela época, já se

ocupava de ajudar os viajantes a atravessarem o rio, sendo essa uma das finalidades exigidas pelo

ouvidor ao constituir o povoado. Nesse período, as populações locais, constituídas

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predominantemente de índios e descendentes, viviam basicamente da pesca desenvolvida no rio,

ou no mar, e de suas plantas.

Atualmente, o povoado

madeira e alvenaria de

Caraíva, a situação das

pedestres, principalment

Turismo

A sua maior atividade é

gente e, em segundo pla

ser tratado de forma cie

Neste trabalho busca-se

pois o que preocupa ma

mais séria. O litoral é aq

sua potencialidade, cons

As instalações para uso

e infra-estrutura de apo

turista e do pessoal de se

A atividade turística é a

de pescadores, transform

Figura 4. 7 - Vista de Caraíva. Fonte - Bahia (2001).

é formado por casas simples, edificadas com técnicas tradicionais em

tijolos. Por estar assentado sobre a faixa litorânea e próxima do rio

ruas, sem calçamento e cobertas de areia fina, dificulta o percurso dos

e nos dias de sol, uma vez que a areia concentra muito calor.

o turismo, de caráter essencialmente social, por envolver, antes de tudo,

no, uma atividade econômica, por requerer capital, precisando, portanto,

ntífica, e não casual.

analisar alguns impactos que o turismo tem causado a Prado/Caraíva,

is é, sobretudo, a tendência de maior agravamento, o que torna a questão

ui entendido como praias, dunas, lagoas, coqueirais, paisagem natural por

tituindo-se em área prioritária para o turismo.

na atividade de turismo são aqui consideradas como todas as construções

io que se destinam ao alojamento, deslocamento e abastecimento do

rviços de apoio ao turista.

responsável pelo desenvolvimento do povoado que, de uma pacata vila

ou-se num importante destino turístico. O principal fluxo de visitantes

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ocorre na alta estação, entre os meses de dezembro e fevereiro, promovendo um considerável

aumento da população local, sendo também comum a presença de turistas em julho, porém em

menor quantidade do que no período anterior. Além do turismo, a população obtém na pesca e

mariscagem parte de sua fonte de renda, que ainda é complementada pelo artesanato e serviços

diversos na construção civil, essa última esporádica. A Fig. 4.9 expressa toda beleza do rio

Caraíva ao entardecer.

Figura 4. 8 - Rio Caraíva ao

entardecer. Fonte - Bahia (2001).

Insustentabilidade do turismo

O povoado de Caraíva apresenta um quadro de insustentabilidade para o turismo de massa,

diante dos impactos ambientais negativos que se apresentam. Os principais problemas são:

• locais de hospedagem precários: pousadas, hospedaria, “camping”, colônias de férias e leitos

domiciliares (casas de família);

• má condição de casas de alimentação: restaurantes, lanchonetes, casas de suco e sorvetes;

• inexistência de sistema de distribuição de energia elétrica;

• inexistência de sistemas de tratamento e distribuição de água;

• ineficiência no sistema de coleta e disposição de resíduos sólidos;

• ineficiência no sistema de comunicação;

• inexistência de equipamento de saúde: hospitais, clínicas e pronto - socorro;

• ineficiência nos sistemas de transportes hidroviários e de rodovias, portos, aeroportos, entre

outros.

57

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Impactos do turismo em Caraíva

A pesquisa mostrou que os impactos ambientais sofridos em Caraíva serão relevantes e de

grande proporção com a chegada da energia elétrica., caso não se tenha um ordenamento para

receber todos os turistas que advirão com o conforto da modernidade. No momento já se

percebe tais impactos:

• aumento da utilização e das necessidades de abastecimento de água potável; contaminação da

água dos rios e mares principalmente Caraíva (onde existe o encontro do mar com o rio

Cahy), devido ao aumento de esgotos não tratados;

• degradação da fauna e da flora local, devido aos desmatamentos, caça e pesca predatória;

redução da população dos animais cuja captura é dirigida ao atendimento da alimentação dos

turistas, como: camarão e caranguejo;

• aumento da geração de resíduos sólidos;

• aumento de demanda de óleo a diesel para as localidades que não têm luz elétrica e, para as

que têm, o consumo de energia elétrica aumenta assustadoramente;

• aumento de tráfego de veículos, com conseqüente redução da qualidade do ar e aumento dos

ruídos;

• assoreamento da costa, devido às ações humanas, com destruição de corais, recifes, mangues,

restingas e dunas, com destaque para os constantes aterros realizados em praias para

aumentar a área urbana;

• alterações no estilo de vida das populações nativas;

• mudanças nas formas de exploração econômicas da região afetada, com alterações tais como

na agricultura e pesca, para prestação de serviços ao turista;

• aumento sazonal de população, com diversas implicações sobre a área afetada, sua infra-

estrutura e sua população nativa;

• deslocamento e marginalização das populações locais; perda de benefícios econômicos para

as comunidades locais;

• implantação de obra de infra-estrutura causadora de impactos ambientais negativos, tais

como estradas, sistemas de drenagem, aterros provocando grande movimentação de terra,

entre outros.

58

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As atividades turísticas podem causar diversos impactos socioculturais negativos, que passam a

exercer pressão sobre o sistema ecológico do local afetado.

A Fig. 4.9 mostra uma vista do alto da praia de Caraíva.

Caraíva possui uma

serviço de travessia de

Esta associação é re

fornecimento de água

Economia

Toda a atividade econ

42 estabelecimentos h

por 8,5% da capacidad

A pesca, depois do t

pescado é comercializ

e pousadas. O pescad

proteínas das famílias

Muitos pescadores es

Alguns são associado

Marinha, cuja sede lo

desejam explorar a r

passeios de barco e m

Figura 4. 9 - Praia de Caraíva. Fonte - Bahia (2001).

associação de moradores, que consegue fazer “caixa” administrando o

barcos e o estacionamento na margem esquerda do rio, em Nova Caraíva.

sponsável por alguns serviços coletivos, como a limpeza pública e o

.

ômica de Caraíva está ligada direta ou indiretamente ao turismo. Hoje são

oteleiros que somam 253 apartamentos e 660 leitos. O povoado responde

e hoteleira de Porto Seguro.

urismo, é a principal atividade econômica de Caraíva. A maior parte do

ada na própria comunidade e os maiores consumidores são os restaurantes

o também é utilizado para consumo próprio, sendo a principal fonte de

do local.

tão começando a se organizar em associações, porém não oficializadas.

s à Colônia Z –56, que é vinculada à recém-criada Reserva Extrativista

caliza-se em Corumbau, e que se estende até Caraíva. Muitos pescadores

eserva para fins turísticos, com visitação controlada por intermédio de

ergulhos.

59

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A população nativa oferece alguns serviços ao turista que chega a Caraíva, seja ele a trabalho ou

lazer. São serviços de transporte fluvial em canoas que fazem a travessia do rio Caraíva, carroças

para o transporte de bagagens, as quais também são utilizadas pelos próprios moradores para

transportar compras mais pesadas, animais de montaria para percorrer a região ou guias para

ciceronear os visitantes durante sua estada no lugar.

Nova Caraíva

A denominação Nova Caraíva foi atribuída ao bairro novo que se formou na margem norte do

rio Caraíva, nas proximidades da travessia do rio para quem vem de Porto Seguro. A população é

formada, basicamente, por pessoas oriundas de cidades ou povoados da região sul do estado,

principalmente de áreas situadas no interior.

Economia

A principal fonte de renda está baseada direta ou indiretamente no turismo. Várias famílias

vendem frutas e bebidas nas praias durante a temporada de verão e algumas delas alugam imóveis

para hospedagem. Um pequeno comércio para consumo local também é observado no povoado:

são “vendas”, bares e fábricas caseiras de gelo que abastecem os ambulantes de bebidas na praia.

O fabrico e comercialização do gelo são aspectos importantes a serem observados na economia

local, pois, não havendo energia elétrica, a produção acontece em pequenas quantidades, por

meio de refrigeração com motor diesel. No verão, o seu preço sobe demasiadamente, devido à

escassez do produto e necessidade de conservação dos alimentos e refrigeração das bebidas

consumidas pelos turistas. A grande procura obriga à importação de gelo, principalmente das

sedes municipais de Prado e Porto Seguro, pois a produção local não é suficiente para atender à

demanda.

4.4.2. - PRADO

Sociedade Civil Organizada

Pequenos fazendeiros “chegantes”, que emigraram de outras regiões do país para adquirir terras

a preços irrisórios dos nativos da região; organizam-se na Associação de Fazendeiros de Cocos

do Extremo Sul, para discutir assuntos referentes à produção de cocos e sua exportação.

Grandes produtores, organizados na Associação dos Agricultores de Pecuária- AAP, para a

exportação dos produtos gerados pelas suas fazendas (pecuária extensiva, silvicultura e agricultura

diversificada).

60

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Colônia de pescadores Z-56 – Reserva Extrativista Marinha, cuja sede localiza-se em

Corumbau/Ponta de Corumbau.

Clube de Diretores Lojistas – Clube ligado aos comerciantes.

Assentados – Grupos assentados pelo INCRA em terras indígenas (Agrovilas I, II e III).

Associações de Pescadores de Prado e Cumuruxatiba.

Empresas: Veracel Celulose e Aracruz Celulose.

Associação de Hotelaria de Prado e Porto Seguro.

Associação Comercial de Turismo de Cumuruxatiba – Cumurutur

Grupos Sociais não Organizados

Pequenos agricultores, pequenos produtores e pescadores independentes, nativos da área e

pescadores independentes de fora da região, pequenos fazendeiros, pequenos comerciantes e

índios fora da aldeia.

Descrição geral

O município de Prado foi considerado por esse estudo como parte integrante da área de

influência direta da Linha de Distribuição, pois a linha tem como ponto de partida a subestação

da COELBA na cidade. A implantação da nova rede não traria à sede municipal de Prado e ao

povoado de Cumuruxatiba o mesmo alcance de benefícios destinados às outras comunidades

atingidas, estando o município já contemplado pelo fornecimento de energia elétrica.

Segundo os dados coletados nos questionários para os Estudos Ambientais no município de

Prado, a participação da indústria manteve-se estável no período de 1980 a 1991, notando-se

reflexos no desenvolvimento das atividades ligadas ao turismo.

Além da agricultura e do turismo, a silvicultura, a pecuária e a pesca, também participam da

economia municipal os pequenos fazendeiros. As culturas tradicionais da região, como o cacau e

o café, passaram por uma grande transformação a partir dos anos 70, decorrente da

pavimentação da BR-101. O incentivo governamental ao reflorestamento e a introdução de

cultura comercial implementada com capitais privados criaram as condições para o

estabelecimento de culturas voltadas para o abastecimento dos mercados do Centro-Sul.

Os grandes agricultores têm no mamão o principal produto emergente, cujo volume de produção

é significativo no montante nacional e internacional. O Brasil é responsável por cerca de 26% da

produção mundial da fruta, sendo o estado da Bahia o maior produtor nacional, e Prado o maior

produtor estadual. O plantio de mamão é realizado com tecnologia avançada, sendo comum a sua

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associação com o café, a laranja, o limão. Quanto à silvicultura, a Empresa Veracel explora o

reflorestamento com essências homogêneas e ocupa atualmente a maior parte das terras

destinadas ao cultivo na região.

De acordo com dados da CEPLAC de 1996, o aproveitamento das terras cultivadas pela

silvicultura representa 60,2% da área de cultivo permanente de Prado. A Empresa Veracel

Aracruz Celulose ocupa, atualmente, uma área de cultivo permanente de Prado, sendo

proprietária de uma área de 138.000 ha, distribuídos entre os quatro municípios onde atua e o

restante pertencente às áreas de preservação, infra-estrutura e outros usos.

Os espaços deixados pelo desmatamento desordenado cederam lugar à pecuária, que se

caracteriza pela alta concentração fundiária e pelo baixo nível de produtividade. Sua produção

está voltada ao mercado interno, mantendo as formas tradicionais de relações de trabalho, não

utilizando técnicas modernas no manejo de pastos e rebanhos.

Os rendimentos dos produtores são limitados pela baixa especialização das técnicas para o

rebanho, a falta de cuidados com a saúde dos animais e o uso limitado de técnicas modernas.

Predomina na região a pecuária mista, de corte e de leite, sendo a primeira baseada na venda do

boi gordo para o abate, ocorrendo, também, a comercialização do leite.

Outra atividade econômica tradicional na região é a pesca que, em conjunto com a coleta,

representa uma importante fonte de renda para um grande número de famílias que habitam o

litoral. A pesca praticada na região utiliza-se de métodos artesanais, sendo, portanto, de baixa

produtividade. Caracteriza-se pelo uso de embarcações rudimentares de pouca autonomia e

carência de apoio técnico e financeiro.

É registrada a presença de uma grande variedade de espécies de peixes, crustáceos e moluscos,

exploradas, muitas vezes, de maneira inadequada, o que vem provocando o decréscimo da

produção. Por falta de fiscalização, a pesca na região é muitas vezes explorada de maneira

predatória por proprietários de grandes embarcações oriundos principalmente do Espírito Santo,

Santa Catarina e Ceará. Somando este fator à precariedade do setor pesqueiro da região e à não

obediência da legislação ambiental sobre os períodos de pesca permitidos(e de defeso) para cada

espécie, que tem como principal conseqüência a queda da oferta dos produtos e a diminuição da

produtividade, estabelece-se um quadro desfavorável à manutenção da atividade por um longo

prazo.

Em Prado, muitos pescadores estão começando a se organizar em associações, porém não

oficializadas. Alguns são associados à Colônia Z – 56, que é vinculada à recém-criada Reserva

Extrativista Marinha, cuja sede localiza-se em Corumbau. A reserva estende-se de Caraíva, em

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Porto Seguro, a Corumbau. Os pescadores da área têm planos de explorar a reserva com fins

ecológicos, permitindo a visitação de turistas, com passeios de barco e de mergulho. No

município ainda existem as Associações de Pescadores de Prado e Cumuruxatiba.

Quanto ao setor de turismo de Prado, este ainda é bastante tímido, se comparado com o de

Porto Seguro. Entretanto, é possível identificar os sinais de expansão dessa atividade econômica

por meio da comparação dos dados de 1996 com os dados fornecidos em 1997 pela Bahiatursa.

Neste período, houve um significativo crescimento na capacidade hoteleira do município, que

contava com 2.727 leitos em 1996, passando para 3.554, o que significa um aumento da ordem de

30,3% em apenas um ano. O aumento do número de leitos, conseqüentemente, alavancou outros

serviços associados ao turismo.

Os recursos naturais são o maior atrativo do município. São várias dezenas de praias, sendo que a

grande maioria delas fica fora da sede, além de manguezais, falésias, rios e pequenos trechos de

mata atlântica. Muitas dessas praias possuem boa infra-estrutura para atender ao turista.

Distrito de Cumuruxatiba

Cumuruxatiba é o único distrito do município de Prado. Trata-se de um povoado situado a cerca

de 34 km da sede, em direção ao norte.

O distrito possui luz elétrica, porém o fornecimento é irregular, apresentando problemas de

interrupções constantes e oscilações de tensão, principalmente na alta temporada. Com a

passagem da nova linha de distribuição próximo ao povoado, o sistema atual deveria ser

interligado à nova linha, permitindo o chaveamento e evitando as atuais interrupções,

melhorando sensivelmente a qualidade do serviço prestado.

Em Cumuruxatiba as construções são simples, prevalecendo a alvenaria de tijolos como técnica

construtiva mais utilizada. Também pode ser observada a presença de técnicas tradicionais como

a taipa e a madeira, além de construções mistas As condições sanitárias das moradias são

precárias, predominando as moradias sem nenhum tipo de equipamento sanitário.

População

De acordo com o censo do IBGE (1991), o distrito de Cumuruxatiba possuía 4.823 habitantes,

que representam 21,3% da população total do município de Prado. No distrito, apurou-se que

51,6% da população era composta de homens e 48, 4% de mulheres. A população é jovem e a

soma dos que possuem até 19 anos atinge expressivos 57,0%, ver Fig. 4.10.

63

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População residente na sede de Prado por grupo de idade em 1991

15,80%

14,20%

14,60%

11,30%

8,00%

6,90%

6,00%

5,00%

4,20%

3,10%

2,70%

2,40%

2,00%

1,50%

0,90%

0,70%

0,60%

0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00% 18,00%

0-4

5-9

10-14

15-19

20-24

25-29

30-34

35-39

40-44

45-49

50-54

55-59

60-64

65-69

70-74

75-80

80 ou +%

de

pop

ula

ção

Faixa etária

Figura 4. 10 - População Residente na Sede principal Prado. Fonte - IBGE (1991).

Nível de Instrução e Renda

O distrito de Cumuruxatiba apresenta índices de analfabetismo significativamente superiores aos

resultados verificados na Sede. Verificou-se, por meio do Censo - IBGE (1991), que 54,4% da

população urbana apresenta indicação de alfabetização, número que alcança apenas 21,8% no

campo, como pode ser visto na Fig. 4.11. Chama a atenção no município que a maior parte do

serviço de educação ofertado pelos órgãos públicos está concentrada nas áreas rurais, onde vive a

maior parte da população de Prado. Os resultados do levantamento, no entanto, levam a crer que

o sistema de ensino, independentemente dos fatores sociais responsáveis pela garantia de

permanência do aluno na escola, não atinge toda a população em idade escolar.

64

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Chefes de domicílio da sede de Prado por anos de estudo em 1991

51,10%

4,60%17,60%

4,20%

21,80%0,70% semi-analfabeto

1 a 34 a 78 a 1011 a 1415¨ou +

Figura 4. 11- Chefes de domicílio sede Prado. Fonte - IBGE (1991).

O povoado vive em função da atividade turística, sua principal fonte de renda. Segundo

informações fornecidas pela Associação Comercial de Turismo de Cumuruxatiba – Cumurutur o

local conta com 45 pousadas que somam, no total, 1.400 leitos, além de 20 restaurantes e uma

boate.

Conquanto o turismo represente sua principal atividade econômica, Cumuruxatiba conserva entre

seus moradores muitos pescadores que têm na atividade pesqueira sua fonte de renda. O distrito

tem a grande vantagem de dispor de rede de energia elétrica, fornecida pela COELBA, o que

facilita a conservação e estocagem do pescado. Com isso, os pescadores da região conseguem

uma melhor negociação para o escoamento de sua produção, levando, inclusive, o produto para

frigoríficos da Sede. Os próprios frigoríficos do distrito compram o excedente para vender aos

restaurantes, pousadas e moradores.

Existe uma associação de pescadores em Cumuruxatiba, contando com 220 associados, que

engloba, além do núcleo principal do distrito, os povoados de Corumbau e Ponta de Corumbau,

em Prado e a faixa compreendida entre Caraíva e o Espelho das Maravilhas, em Porto Seguro.

Os pescadores utilizam-se de métodos artesanais como rede, linha grosseira, balão, arrastão entre

outros. Cada técnica é utilizada para a pesca de um determinado peixe. Os pescadores

habituaram-se a nomear alguns locais de preferência para a pesca. Os pontos mais procurados

são a região do rio Cahy, o local conhecido como Pião, Baçuaba, Patacho e Pedra do Japara, além

de muitos outros conhecidos pelos pescadores de Cumuruxatiba e região.

65

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Corumbau

O povoado de Corumbau está localizado no extremo norte do território do município de Prado.

O rio Corumbau, que dá nome ao povoado e à ponte homônima, está situado pouco acima do

núcleo e marca a divisa dos municípios de Prado e Porto Seguro. Nas proximidades, junto ao rio

Corumbau, está a vila de pescadores da Ponta de Corumbau onde começa a Reserva Extrativista

Marinha do Corumbau, Fig. 4.12, e mais acima, sentido norte, estão a Aldeia Pataxó de Barra

Velha, situada a cerca de seis quilômetros, e Caraíva, a cerca de 12 km do povoado.

Os núcleos mais pr

situada cerca de um

Corumbau e a vila

construção.

Por sua estreita relaç

mantém um comérc

com o assentamento

atividades econômica

O núcleo está assent

construções utilizam

tijolos. Um pequeno

produtos industrializ

Figura 4. 12 - Placa Reserva

Extrativista Marinha do Corumbau Fonte - Bahia (2001).

óximos de Corumbau são: a vila de pescadores da Ponta de Corumbau,

quilômetro no sentido nordeste, e o assentamento do INCRA. Entre

de pescadores, o espaço é ocupado por três pousadas, uma delas em

ão com o mar, em função da exploração da pesca e do turismo, Corumbau

io à base de trocas com a vila dos pescadores. A mesma relação não ocorre

do INCRA, devido à forma de ocupação do território, organização social e

s distintas, somadas ao preconceito existente para com os assentados.

ado sobre a faixa de areia, de frente para o mar. Existem algumas ruas e as

-se das técnicas tradicionais como a taipa e a madeira, além da alvenaria de

comércio abastece os moradores com gêneros alimentícios básicos e alguns

ados.

66

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Não há estimativa de renda mínima para a comunidade de Corumbau. Verifica-se porém, uma

grande proximidade com a situação observada em Ponta de Corumbau, cuja população tem uma

renda média mensal menor do que um salário mínimo. Esse dado é diagnosticado entre a maior

parte da chamada população “nativa”, formada por pescadores e família de pescadores.

Entretanto, notou-se a presença de um comércio local razoavelmente organizado e desenvolvido

pelos nativos. Em Corumbau, a maior faixa da renda está concentrada nas poucas pessoas que

trabalham no ramo de hotelaria.A Fig. 4.13 mostra a estrutura dos imóveis utilizados para

hospedagem.

Figura 4. 13 - Casa que serve de pensão para turistas de Corumbau. Fonte - Bahia (2001).

A comunidade de Corumbau necessita da Linha de Distribuição de energia elétrica Prado -

Caraíva. Por isso, participaram de todas as discussões e tomada de decisão frente ao

empreendimento. Percebe-se que as suas condições são mais favoráveis para que um grupo

organizado alcance o seu objetivo, que é a obtenção de um bem público para sua localidade.

Assentamentos de reforma agrária

No início dos anos 60, com os conflitos de terra, os assentados tornaram-se grupo visível e

significativo no Município de Prado, resultado da intensificação das ocupações. A ação política

desenvolvida pelas associações de lavradores fez com que o Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária – INCRA definisse como áreas livres as terras dos índios Pataxós, com

permissão da FUNAI.

Atualmente, os assentamentos estão tendo sérios problemas com índios, havendo invasão por

parte da tribo Pataxó.

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O Assentamento de Corumbau (Agrovila I) existe desde 1988 e foi oficializado pelo INCRA há

cerca de 3 anos. Além deste assentamento, no município de Prado, o INCRA administra outros

dois, também contemporâneos. A Agrovila I é composta de 66 domicílios e a Agrovila II,

também chamada de Assentamento Três Irmãos, tem 50 domicílios.

A ocupação metódica é o que mais chama a atenção nas Agrovilas, dando a impressão de que

estes lugares têm potencial para serem embriões de pequenas cidades, caso a organização seja

mantida.

A Agrovila II é formada por residências padronizadas e uma escola, dispostas ao redor de uma

grande praça, e um galpão numa das cabeceiras. Todas as construções são de alvenaria e possuem

instalações sanitárias completas.

O assentamento Corumbau III possui 24 casas construídas, com previsão para um total de 30

residências. Segundo informações obtidas in loco, o número de moradores é de aproximadamente

100. No assentamento, não existe pescador ou artesão. Planta-se aipim, batata, coco, cana-de-

açúcar e feijão. Produzem farinha e aguardente em casa de farinha e alambique de uso

comunitário. A pecuária é uma atividade nova e o assentamento possui criações de gado

comunitárias e individuais.

No Assentamento de Corumbau, as condições são precárias e a renda é mínima. A comunidade

conta com verbas liberadas pelo governo para estruturação do grupo.

Não existe uma estimativa de renda média dos Assentados na Agrovila II.

Os assentados sofrem muitos preconceitos por parte da população local e da sociedade em geral.

Ponta de Corumbau

A localidade conhecida pelo nome de Ponta de Corumbau é uma pequena vila de pescadores que

está situada no limite norte do município de Prado, às margens do rio do mesmo nome que

divide os municípios de Prado e Porto Seguro. No limite da área, ou “ponta”, fica uma pequena

vila de pescadores com aproximadamente 60 casas e uma população constituída, na maior parte,

por famílias de pescadores que sempre residiram no local.

O pequeno núcleo é constituído por um aglomerado de casas simples e dele se tem uma visão do

oceano e da costa de Porto Seguro. O rio Corumbau é estreito e pode ser atravessado facilmente

a pé ou montado. Além das casas, existem alguns estabelecimentos comerciais semelhantes a

bares, que também comercializam gêneros básicos de consumo, alguns industrializados, que são

comprados nas cidades da região e revendidos no lugar.

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Dos domicílios pesquisados em campo, 77,7% são construídos em alvenaria, 11,11% com técnica

mista (alvenaria, taipa e madeira). Alguns domicílios possuem precárias instalações sanitárias

externas, que representam 55,5% do total de amostragem; 33,3% dos domicílios não possuem

nenhum tipo de instalação sanitária e apenas 11,15 dos pesquisados são providos de instalações

sanitárias completas.

Economia

A atividade econômica que mais cresce na Ponta de Corumbau é o turismo. Possuindo cerca de

160 leitos, o que corresponde a 5,9% da capacidade de hospedagem do município de Prado, a

dificuldade de acesso reduz o número de turistas no local e as pousadas trabalham com grupos

fechados, evitando-se o turismo em massa. As pousadas contam com geradores próprios de

energia elétrica, também utilizando painéis solares. Não existindo o sistema de esgoto, as

pousadas possuem fossas sépticas e a água é extraída de poços artesianos e levada via

encanamento para os apartamentos e demais dependências.

Por ser o turismo a indústria que mais cresce nesta região e, economicamente, os atores sociais

estarem unidos para se libertar dos geradores por ser cara a sua manutenção, o interesse pelo

empreendimento é bem definido e viável, a ser dividido entre poucos; esses poucos tendem a se

associar mais facilmente. Esses atores sociais são motivados, ainda, pelo tamanho substancial das

parcelas individuais e pela concretização e visão dos bens coletivos a serem obtidos por cada

indivíduo.

O turismo é pouco explorado pelos moradores nativos. A população local tem como principal

atividade econômica a pesca artesanal, sendo o produto vendido na própria vila ou nos povoados

vizinhos, como Caraíva e Barra Velha. Alguns vendem alimentos no verão e não é costume a

confecção de artesanato. Muitos nativos aproveitam a temporada para trabalhar em pousadas e

em serviços gerais.

Observa-se uma grande dificuldade econômica no povoado. As famílias vivem da pesca e não

possuem roças uma vez que a terra não é boa para o plantio. Existe a coleta de frutas nativas

como o caju, a mangaba e o coco. Adquirem produtos alimentícios em Prado e Itamaraju, ou

ainda no pequeno mercado local cujos preços são mais elevados. É costume comprar produtos

das roças da Aldeia de Barra Velha.

População e renda

A partir das informações colhidas na área, foi possível estimar a população do núcleo em cerca de

300 pessoas.

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A renda média da população de Ponta de Corumbau foi estimada a partir das entrevistas

realizadas durante a pesquisa de campo (Quadro 4.1). O valor não chega a alcançar um salário

mínimo, permanecendo na faixa de R$ 99,00. Chegou-se a este valor levando-se em consideração

que apenas 11,1% dos 40 entrevistados possuem renda mensal dentro da faixa de um a dois

salário mínimos. O percentual de pessoas que ganham um salário é de 22,2%, enquanto 33,3%

ganham um pouco menos de um salário. Outros 33% da população não declaram a renda.

Quadro 4. 1 - Renda dos entrevistados em Ponta de Corumbau.

Renda (Salário Mínimo) Nº de entrevistados Menos de 1 13

1 Salário 9 Mais de 1 e menos de 2 5

Não declarados 13 Total 40

Fonte - Bahia (2001).

Educação e Saúde

A única escola existente em Ponta do Corumbau é mantida pela prefeitura de Prado e ensina até a

4ª série do curso fundamental. Os alunos que desejam continuar os estudos são obrigados a se

deslocar para outras escolas fora da vila.

Quanto à questão da saúde pública, não há posto de saúde nas redondezas, o que faz com que a

população tenha que procurar auxílio médico em postos ou hospitais na sede ou em cidades

vizinhas, como Itamaraju.

Saneamento Básico e Coleta de Lixo

Parte significativa dos domicílios simplesmente não têm instalações sanitárias e os que possuem

recorrem à utilização de fossas sépticas ou rudimentares, predominando as últimas. A água é

proveniente de um poço artesiano que abastece um reservatório coletivo e, por encanamento, é

levada até próximo às casas. Não há rede domiciliar subterrânea, obrigando os moradores e

carregar a água em vasilhames ou baldes para o seu consumo diário.

O povoado não conta com coleta pública de lixo, o que constitui, para a comunidade, um grande

problema. Alguns moradores declararam queimar lixo, outros enterram e uma grande parte o

deposita em terras devolutas. Todavia, o acúmulo exagerado de lixo faz com que a comunidade

periodicamente seja obrigada a promover um mutirão para remover os resíduos, o que não

resolve o problema.

70

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4.4.3 - DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO - AUDIÊNCIAS

Formas de Participação

Os atores sociais do Distrito de Cumuruxatiba atuaram como simples observadores, sem

interesses definidos pelo empreendimento. Presenciaram todo o processo sem tomar partido ou

sem estar diretamente envolvidos.

Os atores sociais da sede não foram solidários, não se posicionaram nem a favor nem contra o

empreendimento, ficavam preocupados em fazer pronunciamentos nem sempre coerentes.

As posturas dos atores sociais de Prado foram de apoio, porém o grupo não estava disposto a

incentivar de fato o processo. Outra posição detectada foi a neutralidade, uma vez que não

queriam assumir posição favorável a qualquer um dos lados em disputa (principalmente a APPA

– Associação Pradense de Proteção Ambiental e os hoteleiros).

Nos dados coletados através dos questionários observou-se que as agrovilas demonstraram

interesse na Linha de Distribuição, pois não existe rede elétrica nos lugarejos.

A comunidade de Corumbau necessita da Linha de Distribuição de Prado/Caraíva, participando

de todas as discussões e tomada de decisão frente ao empreendimento.

Por ser o turismo a indústria que mais cresce nesta região, os donos de pousadas de Ponta de

Corumbau estão unidos para se libertarem das despesas com a manutenção dos geradores. O

interesse é algo bem definido e viável, a ser dividido entre poucos: esses poucos tendem a se

associar facilmente. Esses atores sociais são motivados ainda pelo tamanho substancial das

propriedades e pela previsão dos bens coletivos a serem obtidos por cada indivíduo.

Relato dos principais aspectos observados durante as três audiências

1ª audiência prévia de Cumuruxatiba

A primeira Audiência Prévia para o Empreendimento da Companhia de Eletricidade do Estado

da Bahia denominado RDR 13,8 kV Prado – Caraíva, foi realizada no dia 19 de setembro de

2000, no Hotel Vista Mar, em Cumuruxatiba, município de Prado às 18:00, em conformidade

com a Resolução CEPRAM nº 2.195 datada de 26.11.99, embasada pelo Decreto nº7.639, de

28.07.99, Lei Estadual nº3.858, de 03.11.80. Sob a coordenação do Centro de Recursos

Ambientais, foram apresentadas pelo Eng. Fernando Esteves as atribuições do órgão licenciador

e fiscalizador do Estado da Bahia. Posteriormente, foi apresentado pelo empreendedor o escopo

do projeto, dividido em três etapas.

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Primeiro, foram apresentados os estudos iniciais para a viabilidade técnica do empreendimento;

em seguida, houve uma apresentação, com exposição fotográfica dos locais de passagem da rota

da RDR, da IBENBRASIL, e, finalmente a Consultora da PLAMA explanou sobre a proposta de

trabalho para elaboração do EIA/RIMA.

Franqueada a palavra aos presentes, apresentaram-se as seguintes questões:

questionou-se por que não foi pedida a autorização para passagem uma propriedade. O

coordenador da IBERDROLA respondeu que se tratava apenas de autorização prévia para o

levantamento topográfico;

solicitação de maior atenção, por parte da empresa, quanto à apresentação da passagem da

rota da RDR na zona de amortecimento da área, em próximas apresentações, e que a

passagem da rota deve ser contemplada nos estudos EIA/RIMA;

questionou-se a possibilidade da inclusão de uma rede subterrânea dentro do parque e em

locais de beleza cênica, para diminuir os impactos visuais;

solicitou-se evitar a passagem da rota da RDR dentro de limites que interfiram com o

manguezal e a restinga, evitando a proximidade com a orla marítima, para minimizar os

impactos visuais;

questionou-se também a instalação de grupos de geradores em Caraíva e Barra Velha em

lugar da RDR para se evitar novos impactos e foi esclarecido pelo representante da COELBA

que se tratava de uma alternativa que não faz parte do negócio da empresa;

questionou-se se os estudos ambientais contemplam o crescimento das demandas prováveis

frente ao projeto de asfaltamento da estrada existente entre Prado e Cumuruxatiba, e foi

esclarecido que os estudos da COELBA contemplam um horizonte de 10 anos, dentro de

parâmetros normais de crescimento da região;

questionou-se se a subestação de Prado suportaria as novas cargas elétricas previstas para

Corumbau e Caraíva, e o representante da COELBA, informou que a subestação de Prado

apresenta uma folga no sistema elétrico e não haverá transtornos para a demanda existente

na cidade de Prado;

questionou-se a falha na entrega pelo correio local dos convites para a Reunião Prévia que só

chegaram no dia 18.09, justificando, assim, a fraca presença de pessoas na reunião;

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solicitou-se que sejam apresentados os custos da implantação da RDR dentro da área do

Parque, e ratificou-se a posição de que deve ser estudada a passagem da rota utilizando-se a

estrada hoje existente;

o representante do CRA sugeriu à COELBA lembrar que os impacto não são apenas

negativos, mas que também há aspectos positivos, apresentando as alternativas locacionais

de forma mais didática, para melhor compreensão da comunidade, demonstrando que

existem outros impactos, além do desmatamento.

Foram escolhidos dez representantes para assinar a ata, para efeito representativo.

Audiência Prévia Cumuruxatiba

41%

21%

28%

10%

Órgãos público e privadoNativosComerciantesAssociações

Figura 4. 14 - Representatividades dos diversos segmentos da sociedade. Fonte - Bahia (2001).

Na audiência prévia de Cumuruxatiba, estiveram presentes 29 pessoas, das quais 41% eram

representantes dos órgãos públicos e privados, 28% representavam os comerciantes locais,

enquanto 21% eram nativos e 10% representavam as Associações existentes.

2ª audiência prévia de Caraíva

A segunda Audiência Prévia para o Empreendimento da Companhia de Eletricidade do Estado

da Bahia, denominado RDR 13,8 kV Prado – Caraíva foi realizada no dia 20 de setembro de

2000, no Colégio Municipal de Caraíva, em Caraíva, município de Porto Seguro, Estado da Bahia,

às 18:00, em conformidade com a Resolução CEPRAM nº 2.195, datada de 26.11.99, embasada

pelo Decreto nº 7.639, de 28.07.99, Lei Estadual nº 3.858, de 03.11.80. Sob a coordenação do

Centro de Recursos Ambientais foram apresentadas pelo Coordenador de licenciamento do CRA

as atribuições do CRA. Posteriormente, foi apresentado pelo empreendedor o escopo do projeto,

dividido em três partes.

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A COELBA apresentou os estudos iniciais para a viabilidade técnica do empreendimento; em

seguida, houve uma apresentação, pelo Diretor do Meio Ambiente, da IBENBRASIL, com

exposição fotográfica dos locais de passagem da rota da RDR, e, finalmente, a Consultora da

PLAMA, expôs a proposta de trabalho aos presentes, que manifestaram as seguintes questões:

foram sugeridos estudos da rede de distribuição em áreas que não afetem a paisagem

visual local, inclusive com trechos subterrâneos. Foi esclarecido, inicialmente, pela técnica

do CRA, que as reuniões foram marcadas em conformidade com o interesse demonstrado

em visitas às comunidades. O representante da COELBA esclareceu que a rede de

distribuição em Corumbau estaria passando pelo fundo do empreendimento, não sendo

necessária rede subterrânea naquela localidade;

solicitou-se que seja preservado o manguezal da reserva extrativista de Corumbau,

atentando ainda para a iluminação pública da orla, para não prejudicar a desova das

tartarugas marinhas;

a Aldeia Barra Velha solicitou da COELBA alterações, tais como: a mudança do traçado

no ponto da travessia sobre o rio Corumbau, passando em uma área já desmatada,

modificando o traçado passando ao fundo da aldeia; recomposição da vegetação nativa na

parte das margens do rio Corumbau;

solicitou-se a implantação de postes de madeira em lugar dos de concreto, e plano de

apoio às brigadas de incêndio;

solicitou-se ajuda em novos cursos de formação, reforma do colégio local, promoção de

cursos de formação de ecoturismo e formação ambiental em todas as aldeias ao redor do

Parque Nacional.

Estas reivindicações seriam passadas ao Governo do Estado, para tentar viabilizá-las. O

Presidente da Associação de Ecoturismo de Caraíva questionou, inicialmente, o prazo da

conclusão dos estudos ambientais, ao que lhe foi respondido que a previsão é de seis meses para

a conclusão final:

questionou-se também se as verbas já estavam asseguradas para a construção da RDR, ao

que foi respondido, pelo representante da COELBA, que as mesmas estavam asseguradas,

mas não repassadas. Solicitou-se também novo estudo para orçamento de rede subterrânea

para Caraíva e foi esclarecido que o mesmo já havia sido apresentado ao Governo do

Estado e não viabilizado devido ao custo elevado;

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solicitou-se informação sobre o prazo da conclusão das obras de eletrificação daquela

comunidade. Foi respondido, pelo representante da COELBA, que os recursos para a linha

- tronco estavam assegurados, enquanto que as redes de distribuição dependiam de repasses

financeiros das prefeituras, dando uma previsão para o verão 2001/2002;

quanto à não instalação da iluminação pública de Caraíva, o representante da COELBA,

respondeu que esta instalação ficará a cargo da Prefeitura e que a comunidade poderá

solicitar a sua não instalação; a parte aérea seria de postes de madeira com 7 metros de

altura, com cabos multiplexados, para a rede secundária, sendo a rede primária toda

subterrânea.;

solicitou-se a participação das associações, em conjunto com a COELBA, quando dos

estudos da rede de distribuição em Caraíva.;

questionou-se sobre os impactos indiretos causados pelo desenvolvimento urbano

decorrente da construção da RDR e suas medidas mitigadoras, e foi respondido que os

estudos contemplariam todos estes impactos, colocando-se à disposição para as sugestões.

o representante do IPHAN em Porto Seguro perguntou quando os órgãos federais seriam

ouvidos para a elaboração do Termo de Referência, bem como para analisar o projeto para

iluminação pública de Caraíva, além de como seria a travessia sobre o rio para Caraíva

Nova; o representante do CRA esclareceu que ao final da reunião seria disponibilizada uma

minuta deste Termo aos interessados, a exemplo do que ocorreu na reunião de

Cumuruxatiba, quando foi passado ao representante do IBAMA, para posterior

complemento;

esclareceu-se que a travessia sobre o rio, para a instalação de energia em Caraíva Nova,

seria por intermédio de postes de concreto, devido à impossibilidade da travessia

subaquática.;

as participações do Governo do Estado e das Prefeituras de Prado e Porto Seguro seriam

definidas em reunião conjunta;

solicitou-se a marcação de uma data para a discussão do projeto da rede de distribuição

em Caraíva, e ficou acertada uma reunião entre os dias 27 a 30 de setembro, com a

participação de uma comissão designada pela comunidade de Caraíva e a COELBA.

Nada mais ocorrendo, a reunião foi encerrada pelo representante do CRA.

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Audiência Prévia de Caraíva

12%3%

57%

27%1%

Órgão público e privadoMoradores de CorumbauMoradores de CaraívaIndio Barra VelhaAssociação

Figura 4. 15 - Representatividades dos diversos segmentos da sociedade. Fonte - Bahia (2001).

À audiência de Caraíva compareceram 96 pessoas. 57% representaram os moradores de Caraíva,

27% corresponderam aos índios da reserva Barra Velha, 12% eram representantes de órgãos

públicos e privados, enquanto 3% eram moradores de Corumbau e 1% representavam as

associações da área.

Audiência Pública

Foi realizada, no dia 19 de julho de 2001, a Audiência Pública do empreendimento COELBA

13,8 kV Prado-Caraíva, no salão do Forró do Pelé, em Caraíva, município de Porto Seguro, com

o intuito de apresentar à comunidade dos municípios os Estudos de Impacto Ambiental e

Relatório de Impacto Ambiental – EIA/RIMA que se encontram em análise no Centro de

Recursos Ambientais - CRA, visando à obtenção da licença de localização do referido

empreendimento.

O representante do CRA fez a apresentação das autoridades da mesa aos presentes e

informou a maneira como deveria ser conduzido o trabalho pela equipe responsável pelos

estudos, bem como a participação da comunidade na discussão das questões de ordem que

porventura fossem levantadas. Foram convidadas as seguintes pessoas para compor a mesa: o

Coordenador do PRODETUR, Vereador de Caraíva; o Coordenador do Natia do CRA e o

Secretário do Meio Ambiente do município de Prado. Posteriormente, agradeceu a presença

da Diretora do IPHAN- Porto Seguro, do representante da FUNAI e dos técnicos do CRA

presentes à audiência;

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a representante da empresa apresentou os objetivos da COELBA para a construção da linha

de distribuição.Continuando, apontou aos presentes as alternativas locacionais, enfatizando o

traçado escolhido pela empresa, denominado de alternativa 2, para a elaboração dos estudos

ambientais. Descreveu as características tecnológicas que serão utilizadas na construção da

linha de distribuição, que são postes de concreto em padrão rural desde a subestação do

Prado até o início do Parque Nacional, os postes de madeira e cabos multiplexados e rede

subterrânea na área urbana de Caraíva. Definiu as áreas de influência direta e indireta que

foram contempladas nos estudos de impacto ambiental;

apresentaram-se os estudos elaborados nos meios físico, biótico e socioeconômico e depois a

exposição do prognóstico dos estudos, os quais foram mostrados com maiores detalhes no

Estudo de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, que já

estavam disponibilizados para as comunidades há cerca de 20 dias. Citou dois exemplos,

sendo um de impacto positivo e outro de impacto negativo, demonstrando a metodologia

para se maximizar ou mitigar estes impactos. Apresentou exemplo de programas ambientais

voltados principalmente às comunidades locais e à empreiteira responsável pela construção,

concluindo ser o empreendimento ambientalmente viável.

Franqueada a palavra aos presentes foram feitos os seguintes comentários:

o administrador de Caraíva questionou como seria executado pela COELBA o

empreendimento nos tempos de “apagão” que atinge o país. O representante da COELBA

esclareceu que o empreendimento não seria prejudicado com a crise de energia atual;

questionou-se a possibilidade de toda a rede ser subterrânea em toda a comunidade de

Caraíva. Foi esclarecido, pelo representante da IBERDROLA que o projeto da comunidade

de Caraíva foi fruto de entendimentos com a comunidade;

o Secretário do Turismo do município de Prado questionou com relação ao indeferimento do

IBAMA e, caso seja mantido, que outra alternativa seria adotada para viabilizar o

empreendimento; indagou também quais as alternativas para a passagem pelo Parque

Nacional, solicitando que se estude a possibilidade de cabos subaquáticos para que a linha de

distribuição contorne a área do parque, ou até cabos subterrâneos, ao que o representante da

Iberdrola explicou que os custos eram elevados;

solicitou-se aos órgãos envolvidos no empreendimento que se sensibilizassem com os

prejuízos da falta de energia elétrica no povoado de Caraíva, pois a comunidade quer a luz, e

pediu o apoio de todos, citando o CRA, IPHAN, IBAMA E FUNAI;

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o representante da FUNAI questionou se somente a Aldeia Barra Velha seria beneficiada e

como seria viabilizada a chegada da energia dentro das casas dos índios. O representante da

COELBA respondeu que, a princípio, somente a aldeia - mãe seria beneficiada. Com relação

à viabilização da chegada de energia às casas, foi esclarecido pelo vereador presente que a

prefeitura municipal de Porto Seguro iria arcar com os custos de ligação domiciliar;

a Presidente da Associação Extrativista de Corumbau questionou com relação à iluminação

das casas do povoado de Corumbau, pedindo para ser utilizada a área do fundo das casas e

não a orla, para que não prejudicasse a desova das tartarugas;

o cacique da Aldeia de Barra Velha solicitou urgência aos órgãos envolvidos no

empreendimento, pois a comunidade indígena estava ansiosa com a chegada da luz, citando

os órgãos do CRA, IPHAN, IBAMA E FUNAI; solicitou também prazo definitivo para a

viabilização do empreendimento, e que a entrada da Aldeia seja preservada, inclusive com

energia subterrânea, para atender a aproximadamente 16 famílias. Solicitou ainda a doação de

energia para o posto de saúde e para a escola, para beneficiar aquela comunidade carente de

recursos;

o técnico da COELBA, esclareceu que a rede seria aérea, porém passando pelos fundos da

comunidade, e que os custos da rede subterrânea poderiam inviabilizar todo o

empreendimento, buscando junto à comunidade a melhor maneira de preservar o meio

ambiente e turismo praticado na região;

o representante da Secretaria de Turismo de Prado solicitou um compromisso da COELBA

em construir a linha de distribuição independentemente da autorização do IBAMA para o

Parque Nacional; o representante da COELBA afirmou que o indeferimento poderá

inviabilizar todo o empreendimento;

a Associação do Ecoturismo solicitou que constasse em ata o repúdio da comunidade pela

não participação de representante do IBAMA na audiência;

foi feita a leitura de uma carta enviada por um empresário hoteleiro de Corumbau, para ser

anexado ao processo, dando autorização, por escrito, para a passagem da linha de distribuição

em sua propriedade até a Ponta de Corumbau.

Franqueou-se, posteriormente, a palavra aos empreendedores e aos presentes para as

considerações finais e agradecimentos, encerrando, assim, a audiência, cuja ata foi lida e aceita

pelos que a assinaram, representantes da comunidade, representante do CRA, e representante da

IBERDROLA. A Audiência Pública contou com a participação de 74 pessoas, ver Fig. 4.16.

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Audiência Pública em Caraíva

20%

36%16%

18%3% 7%

Órgão público eprivadoÍndio Barra Velha

Moradores deCorumbauMoradores deCaraívaAssociação

Nova Caraíva

Figura 4. 16 - Representatividades dos diversos segmentos da sociedade em Audiência Pública. Fonte - Bahia (2001).

Segundo os dados coletados na lista de presença da Audiência Pública de Caraíva,

correspondendo a 74 pessoas, 36% dos participantes eram moradores da reserva Indígena de

Caraíva, 20% representantes de órgãos públicos e privados, 18% moradores de Caraíva, enquanto

16% eram residentes em Corumbau. Apenas 7,0% representavam Nova Caraíva, e 3%

correspondiam a diferentes associações.

4.4.4. - DECISÃO SOBRE A NÃO-IMPLANTAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

Citamos e comentamos, a seguir, algumas das várias versões que surgiram para explicar a decisão

de não implantação da Linha de Distribuição Prado/Caraíva. Pode-se constatar que nenhuma

delas esclarece os verdadeiros interesses que contribuíram para tal decisão:

-

-

O governo do Estado da Bahia resolveu suspender a concessão em represália às invasões,

uso de violência e morte pelos Pataxós, em terras indígenas que estão arrendadas a

fazendeiros e cacauicultores da região Sul do Estado. A morosidade da justiça em decidir

a questão da posse da terra contribui para legitimar a cada dia a posse ilegal dos invasores,

representando mais uma violência praticada pelo poder público contra os índios Pataxós.

O poder econômico dos coronéis baianos está conseguindo protelar a decisão judicial e

legitimar o ato de grilagem.

Uma outra versão surgida em conversa informal com o empreendedor (IBERDROLA),

supõe que a decisão se deveu a uma série de acontecimentos, inclusive dos

condicionantes relacionados pelo CRA, decididos e garantidos pelas comunidades nas

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Audiências e referendados pelo CRA e o CEPRAM, na obtenção da Licença de

Localização do empreendimento. Estes fatos teriam sido os obstáculos que levaram o

Governo do Estado, por intermédio da Secretaria da Infra-Estrutura, à decisão de

suspender, por tempo indeterminado, o empreendimento, inclusive arcando com a perda

do montante do investimento já alocado.

-

-

-

-

-

Nos fatos citados acima, inclui-se também a interferência da Fundação Nacional do Índio

– FUNAI, órgão de Brasília, em não emitir parecer favorável à implantação da linha em

terras indígenas, argumentando que a energia elétrica não traria grandes benefícios à

comunidade ali residente, salvo a eletrificação da aldeia, fato esse que não justificaria os

impactos negativos advindos dessa implantação que, segundo o parecer dos técnicos da

FUNAI, trariam alterações significativas no modus vivendi destas comunidades. (v. Anexo 4

documento da FUNAI )

Falta de participação das Prefeituras de Porto Seguro e Prado na cota de investimentos

previstos, por lei para viabilização do empreendimento.

Aumento do custo de investimento inicialmente previsto, em razão do cumprimento dos

Condicionantes das Licenças de Implantação e Operação.

Falta de formalização por parte de clientes potenciais, de propostas de investimento em

equipamento de Turismo e lazer na área compreendida entre Porto Seguro e Caraíva.

Um outro fator de significativa relevância foi o envio ao CRA, de ofício nº 116 do

Ministério da Justiça – Fundação Nacional do Índio, datado de 13 de setembro de 2002,

solicitando informação ao CRA sobre a desistência ou não do projeto, por parte da

COELBA, afim de que, no caso de sua desistência, possa arquivar o processo

administrativamente. Este ofício motivou uma reunião no dia 18 de setembro do mesmo

exercício, na sede do Departamento de Procuradoria de Meio Ambiente – Depima em

Ilhéus – BA, estando presentes a Procuradoria, lideranças indígenas da Reserva Pataxós

de Barra Velha, e representantes da COELBA, quando foi informado que a COELBA

havia desistido de implantar o projeto de licenciamento ambiental cujo traçado cortava os

limites das Terras Indígenas Barra Velha.

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5. REFÊRENCIAS TEORICAS E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

5.1. - POLÍTICA ENERGÉTICA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Historicamente, as mudanças políticas, sociais e culturais têm de ser levadas em conta

para que se possa entender a conjuntura em que os conflitos se desenvolvem. Nos últimos trinta

anos, houve mudanças significativas no funcionamento do Estado, no papel do setor privado, na

ação política da sociedade civil organizada e na importância da mídia.

Nas últimas décadas, é grande tanto a força com que a ideologia neoliberal entrou na

economia mundial, quanto o poder que o capital financeiro e especulativo ganhou,

principalmente com a onda mundial de privatizações. As empresas multinacionais colocam-se

como alguns dos principais atores sociais no desenvolvimento da crise ambiental.

No caso estudado, este papel é desempenhado pela IBEMBRASIL, empresa de cunho

espanhol responsável pela COELBA, particularmente devido à sua constante necessidade de

aumentar a sua produção de energia elétrica, o que tende a esgotar os recursos naturais não-

renováveis e acelerar a degradação dos ecossistemas.

Os estados nacionais estão perdendo poder econômico e político frente ao avanço das

empresas transnacionais e ao estabelecimento dos blocos regionais, a exemplo da Comunidade

Européia. Por outro lado, os Estados recebem uma cota maior da responsabilidade para o

tratamento dos problemas ambientais, justamente porque o setor privado os considera como

externalidades que devem ser tratadas pelo poder público, mesmo que sua ação produtiva tenha

sido a causa do principal problema.(Grynszpan, 1987).

No Brasil, o setor ambiental governamental cresceu nos últimos dez anos, com a criação

do Ministério do Meio Ambiente e a captação de milhões de dólares em recursos financeiros

externos. Em conjunto, houve uma série de novas leis e códigos ambientais, sendo a Lei de

Crimes Ambientais umas das mais importantes. Com essas novas responsabilidades ambientais, o

Estado é uma entidade contraditória porque representa, mesmo que de forma desigual e

diferenciada, os interesses divergentes da sociedade. Às vezes, as agências governamentais entram

em conflito porque cada uma promove os diferentes interesses de distintos segmentos da

sociedade brasileira.

Uma outra discussão sobre a conjuntura ambiental é o crescimento, em número, tamanho

e importância, das organizações da sociedade civil, que introduziram no cenário político novas

formas descentralizadas de ação. Isto as coloca mais perto dos problemas específicos da

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população, mas, por outro lado, dificulta articulações políticas em instâncias nacionais e

internacionais.

Outra mudança de cenário nos últimos trinta anos é o crescimento do poder do setor

informático e da mass media . Na sociedade da informação, também chamada sociedade pós-

industrial, a geração e controle de informações e conhecimentos servem como fonte de poder.

Os símbolos e imagens cobram uma importância inusitada e torna-se parte do domínio público.

No Brasil, o gerenciamento da concepção e da implantação de projetos do setor elétrico

por intermédio de um processo de interação com a sociedade é recente. Neste trabalho, os

desafios decorrem principalmente da tradição da democracia representativa clássica, que não

basta para atender às demandas atuais da cidadania, em suas dimensões econômicas, políticas,

sociais, culturais e em relação à natureza.

A implantação da Linha de Distribuição Prado/Caraíva foi considerada como um dos

grandes projetos do governo estadual. Caracterizou-se por envolver conflitos entre os interesses

locais e regionais quanto à partilha desigual de custos e benefícios. A distribuição equilibrada dos

custos e benefícios entre as regiões (Prado/Caraíva) e entre os grupos sociais atingidos pelo

empreendimento implica na participação dos mesmos no processo de decisão e nos resultados

posteriores. Além disso, uma gestão eficiente dos conflitos na repartição dos custos e benefícios

pode, não apenas mitigar os conflitos, como até trazer benefícios adicionais para a população

diretamente afetada.

A partir da identificação das potencialidades e oportunidades regionais, deve-se procurar

compatibilizar os projetos, de forma a ampliar os efeitos multiplicadores que o empreendimento

apresenta e, neste aspecto, a população tem grande contribuição a oferecer.

É nesse sentido que se torna importante a valorização das capacidades regionais, e o seu

conhecimento dos problemas locais, pois possibilitam identificar e encontrar soluções que

poderiam passar despercebidas.

Por essas razões, a implementação de um processo de planejamento negociatório que seja

flexível e adaptativo, com ganhos nos resultados finais, apresenta um índice custo-benefício

significativo.

O processo de participação social preconiza uma distribuição dos bens da sociedade,

alterando mecanismos responsáveis pela produção e manutenção das desigualdades sociais. Em

conseqüência, o problema da participação social só pode ser solucionado pela integração dos

setores marginalizados da sociedade. A marginalidade é um fenômeno que se opõe à participação

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social e está vinculado ao problema de dependência. É gerada e mantida pelo sistema capitalista,

pois, na medida em que o Estado, através de seus aparatos, garante a reprodução de

desigualdades quanto às chances de apropriação dos meios de produção e de acesso das camadas

populares às determinações da sociedade, está bloqueado o processo participativo. (Amann,

1979).

Cabe às camadas populares conquistar o direito de participação e habilitarem-se a

determinar o seu próprio destino, daí porque a conquista não pode ser substituída pela outorga.

As possibilidades de participação serão maiores quanto maior for a autonomia desfrutada pela

sociedade. Embora a autonomia por si só não garanta a participação social “pode oferecer

melhores condições à sua efetivação, ao permitir que os objetivos e orientações da sociedade

sejam definidos pelos atores sociais”. (Amann, 1979, p. 62).

No caso em estudo, além dos aspectos relativos à compensação dos impactos socio-

ambientais, existe a dimensão extremamente importante, de natureza político-institucional,

referida ao envolvimento dos grupos sociais locais no processo de tomada de decisão, através das

audiências prévias e da audiência pública. A pesquisa mostrou que a participação em um processo

de mobilização social, é, ao mesmo tempo, meta e meio.

Para se considerar a participação como um valor democrático, é preciso que os grupos

sociais disponham de uma forma organizativa que lhes permita atuar democraticamente.

A participação, a diferença e a manifestação dos conflitos são recursos fundamentais para

a construção dos processos democráticos. A abrangência desta participação é um valor que

sinaliza o grau de democracia vigente em uma sociedade. Uma sociedade é democrática e

produtiva quando todos os que dela participam podem fazer manifestar organizadamente seus

interesses e projetar novos futuros. A exclusão de uma camada da sociedade pode ser definida

como uma falha no sistema político, gerando a impossibilidade de manifestação dos interesses

desta camada frente aos demais.

A participação de todos os grupos organizados é uma necessidade social e um

aprendizado no sentido de conversar, decidir e agir coletivamente. Ganha-se, assim, confiança na

capacidade coletiva de gerar e viabilizar soluções para os problemas comuns, e fundamentação

para a construção de uma sociedade com identidade e autonomia.

As audiências são os instrumentos de participação e cidadania, na medida em que incluem

os grupos sociais locais, suas práticas, incorporando os processos decisórios participativos como

um valor fundamental a ser considerado na proteção ambiental.

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5.2. - REGULAMENTAÇÃO JURÍDICA DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS.

A Constituição Federal, ao consagrar o meio ambiente ecologicamente equilibrado como

direito de todos, bem como de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, atribuiu a

responsabilidade de sua presença e defesa não apenas ao Poder Público, mas também à

coletividade. Entretanto mesmo atribuindo à coletividade, também, a obrigação de proteger o

meio ambiente, a Constituição de 1988 fez do Poder Público o principal responsável pela

garantia, a todos os brasileiros, do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

A coletividade deve ter assegurado o seu direito de viver num ambiente que lhe

proporcione uma sadia qualidade de vida, e também precisa utilizar os recursos ambientais para

satisfazer suas necessidades básicas. O direito coletivo a um meio ambiente sadio é parte do

conceito de sustentabilidade.

Os desafios que os limites do espaço ambiental trazem para o discurso democrático são

indiscutíveis. Embora, nas últimas décadas, uma legislação internacional venha surgindo, sua

aplicabilidade é ainda restrita.

Um Tribunal Internacional, como vem sendo proposto pelas organizações não

governamentais, é bastante limitado no tocante aos casos admissíveis e aos reclamantes, além de

ser apenas um projeto, embora estejam na moda as regras ambientais, desde o Relatório

Bruntland (1991) até a Conferência do Rio de Janeiro, além das conferências e instituições de

acompanhamento. Na Bahia, a legislação ambiental é bem desenvolvida no âmbito estadual, mas

o problema hoje está no alcance global da destruição ambiental e no caráter sem fronteiras,

mesmo das incidências territorialmente limitadas (poluição dos rios, interferências nas

comunidades indígenas).

O sistema de direitos humanos inclui direito ambientais e pode ser usado como moldura

conceitual para a legislação ambiental. A degradação ambiental, que é uma ameaça crescente à

segurança ecológica da espécie humana, requer regulamentação política e legal na legislação

internacional, bem como nos sistemas de direitos humanos e de direitos dos povos.

O Poder Público é responsável pela proteção ambiental, por meio de suas diferentes

esferas, e deve intervir neste processo, de modo a evitar que os interesses de determinados atores

provoquem alterações no meio ambiente, colocando em risco a qualidade de vida da coletividade.

Ele é detentor de poderes e obrigações estabelecidas na legislação, que lhe permitem promover,

desde o ordenamento e controle no uso dos recursos ambientais, incluindo a criação dos

incentivos fiscais na área ambiental, até a reparação e a prisão de indivíduos pelo dano ambiental.

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Neste sentido, o Poder Público estabelece padrões de qualidade ambiental, avalia impacto

ambiental, licencia e revisa atividade efetiva e potencialmente poluidora, disciplina a ocupação de

territórios e o uso dos recursos naturais, cria e gerencia áreas protegidas, obriga a recuperação do

dano ambiental e outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora.

Ao considerar o meio ambiente como “patrimônio público”, um bem que pertence a toda

população, o discurso jurídico trata de uma questão social: a propriedade.

Isso implica em que grande parte das ações envolvendo questões ambientais coloca em

confronto interesses particulares e coletivos. No caso estudado, isto acontece em relação ao setor

hoteleiro da região de Prado e Caraíva. Esta situação ocorre porque o direito ambiental atende a

interesses de um número indeterminado de pessoas.

Os direitos, bens e interesses protegidos na legislação ambiental não pertencem a uma determinada pessoa ou grupo, mas a toda coletividade e não são susceptíveis de divisão, sendo que a satisfação de um interesse implica necessariamente a satisfação de todos, muito embora possa beneficiar apenas uma comunidade, sem, no entanto, perder a suas características difusas. (Aguiar, 1996).

Um dos aspectos mais férteis e complexos do direito ambiental, a partir do qual pode-se

pensar a respeito das potencialidades da luta em defesa da preservação do meio ambiente, é a

postulação desse sujeito social não determinado.

A implicação política das mudanças no direito moderno que possibilitaram a inclusão de

sujeitos cada vez menos individualizados tem sido a criação de condições para o surgimento de

novas formas de sociabilidade.

A questão ambiental abre espaço para um deslocamento valorativo, em que parte da

quantidade de crescimento econômico é substituída pela qualidade de vida.

A qualidade de vida é um valor bem mais complexo do que o progresso material, isso porque ela é multifacetada, incorporando a dimensão estética, espiritual: à quantidade gerada pela atividade “produtiva” soma-se a qualidade que o meio ambiente não degrado é capaz de proporcionar à vida. (Machado, 1986, p.30).

Nos processos judiciais envolvendo questões ambientais, a palavra “vida” é, na maioria

dos casos, associada à idéia de qualidade de vida e de segurança da população. Predomina a idéia

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de que danos à natureza são, na verdade, um crime contra o próprio homem. Não se trata apenas

da preservação da natureza, de um meio ambiente ecologicamente equilibrado como um “fim em

si”, mas dos danos que causam à humanidade os abusos cometidos contra o meio ambiente.

O Brasil possui algumas boas leis ambientais. A questão das relações entre uma legislação

e seus efeitos reais é inevitavelmente muito complexa, pois a efetividade das leis é sempre muito

relativa.

No conjunto da legislação ambiental pode-se observar o que incide sobre os tipos de

ambientes presentes na tipologia construída, e indagar se algum tipo de questão ambiental

deixou de ser contemplada, como, por exemplo, no caso pesquisado, a questão dos conflitos

socioambientais.

Considerando a concepção de impacto ambiental presente nas principais leis ambientais,

que se aplicam ao caso estudado (constituição, política nacional de meio ambiente, CONAMA,

CEPRAM, CRA), observa-se que estas leis não consideram a dimensão socio-ambiental e a

gestão de conflitos como variável dependente de sustentabilidade, existindo uma lacuna de

grande relevância que pode ser investigada à luz do direito ambiental.

Existem duas possibilidades de explicação para essa lacuna: ou as leis ambientais não

conseguiram cobrir todas as questões socio-ambientais, ou a tipologia apresenta alguma

inadequação.

Cada conflito tem seus ambientes naturais particulares, seus atores sociais e, portanto,

uma compreensão básica de cada conflito particular representa um passo prévio para evitá-lo. As

resoluções dos conflitos precisam ser precedidas por uma legislação própria que regule cada etapa

de pesquisa e da análise das raízes e causas dos mesmos.

5.2.1. - Legislação inerente ao empreendimento

Neste item relacionam-se as principais normas ambientais que se aplicam à Linha de

Distribuição de Energia Elétrica, e aos instrumentos de gestão ambiental, tais como: Estudo de

Impacto Ambiental, Relatório de Impacto Ambiental, Leis de Proteção à Fauna e Flora e

Unidades de Conservação, todos pertinentes ao tipo de empreendimento em estudo.

A legislação específica será abordada no âmbito Federal, Estadual e Municipal, sendo este último

através das suas Leis Orgânicas, situando a temática ambiental onde consta a identificação

normativa, o assunto por ele tratado e a reprodução ou comentário dos artigos que se prendem à

matéria.

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No âmbito federal

Constituição Federal

Título III, Cap. II.

Art. 22 – Compete privativamente à União legislar sobre

IV – águas, energia.

Art. 23 – É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal dos Municípios:

VII – preservar as florestas, a fauna e a flora;

Art. 24 - Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

VI – florestas, caça, pesca, fauna, defesa do solo e dos recursos naturais , proteção do meio e

controle de poluição;

VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente...

Título VIII, Cap. VI.

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum

do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o

dever de defende-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.

Inciso 1º VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em

risco sua função ecológica que provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à

crueldade.

Inciso 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os

infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas, independente da

obrigação de reparar os danos causados.

Código Florestal – Lei Nº. 4771, de 15 de setembro de 1965.

Art. 1º - As Florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação,

reconhecidas de utilidade ás terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os

habitantes do país, exercendo-se os direitos de propriedades...

Art. 2 º - Considera-se de preservação permanente, pelo só efeito da lei, as florestas e demais

formas de vegetação natural situados: ao longo dos rios ou qualquer curso d` água desde o seu

nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja: de 30 (trinta) metros para os cursos

de menos de 10 (dez) metros de largura; e de 50 (cinqüenta) metros para os cursos de água que

tenham de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura.

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Art.14º - Além dos preceitos gerais a que está sujeita a utilização das florestas. O poder Público

Federal ou Estadual poderá: proibir ou limitar o corte das espécies vegetais consideradas em via

de extinção, delimitando as áreas compreendidas no ato, fazendo depender, nessas áreas, de

licença prévia, o corte de outras espécies;

Art. 16º - As florestas de domínio privado, não sujeitas ao regime de utilização limitada e

ressalvadas as de preservação permanente..., são susceptíveis de exploração, obedecidas as

seguintes restrições:

Lei de Proteção à Fauna – N º 5.197 de 3 de janeiro de 1967.

Art. 1º - Os animais de qualquer espécie..., constituindo a fauna silvestre...,sendo proibida a sua

utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.

Art.3º - É proibido o comércio de espécimes de fauna silvestre.

Portaria do IBAMA de Nº 37 - N, de 3 de abril de 1992.

Art. 1º - Reconhece a Lista Oficial das Espécies de Flora Brasileira Ameaçada de Extinção.

Portaria do IBAMA de Nº 1.522.de 19 de dezembro de 1989.

Art. 1º - Reconhece como Lista Oficial de Espécies de Fauna Brasileiras Ameaçadas de Extinção.

Resolução CONAMA de Nº 01/86 e 237/97

Estabelece critérios para os tipos de empreendimentos sujeitos a EIA/RIMA. Determinando a

forma de solicitação e elaboração dos mesmos.

Decreto Federal de Nº 242, de 29 de novembro de 1961.

Cria o PARNA de Monte Pascoal, com 22.500 hectares em terras do município de Porto Seguro.

Lei Nº 2.892, de 10 de junho 1999.

Regulamenta o Art.225, § 1º. Inciso I, II, III e VII da Constituição da Natureza Federal, institui o

Sistema Nacional de unidades de Conservação e dá outras providências.

Decreto-Lei Nº 25, de 30 de novembro de 1937.

Organiza a proteção do patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Portaria do Ministério da Cultura Nº 07, de 01 de dezembro de 1988.

Submetem a proteção do poder Público, pelo SPHAN, os monumentos arqueológicos e pré-

históricos.

Lei Nº 5.371, de 06 de dezembro de 1967.

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Autoriza a instituição da Fundação Nacional do Índio e dá outras providências.

Lei Nº 6.001, de 21 de dezembro de 1973.

Dispõe sobre o estatuto do Índio

Decreto Nº 58.824, de 20 de julho de 1966.

Promulga a convenção nº 107 da Organização Internacional do Trabalho - OIT sobre as

populações indígenas e tribais.

Convenção Nº 107, de 26 de junho de 1957.

Estabelece os princípios gerais para a proteção e integração das populações indígenas e tribais e

semitribais de países independentes.

Decreto Nº 564, de 09 de junho de 1992.

Aprova o Estatuto da Fundação Nacional de Índio e dá providências.

Decreto de Nº 1.141, de 20 de maio de 1994.

Dispõem sobre as ações de proteção ambiental, saúde e apoio ás atividades produtivas para as

comunidades indígenas.

Decreto Nº 2, de 04 de fevereiro de 1994.

Aprova o texto da Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada durante a Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro,

no período de 5 a 14 de janeiro de 1992.

Convenção sobre Diversidade Biológica

As partes contratantes reconhecem a estreita e tradicional dependência de recursos biológicos de

muitas comunidades locais e populações indígenas com estilo de vida tradicionais, e que é

desejável repartir eqüitativamente os benefícios derivados da utilização do conhecimento

tradicional, de inovações e de práticas relevantes à conservação da diversidade biológica e à

utilização sustentável de seus componentes. (Art.8º item j e Art. 10º itens c e d).

Decreto Nº 1.479, de 03 de maio de 1995.

Altera os artigos 2º e 6º do Decreto Nº 1.141, de 19 de maio de 1994, que dispõe sobre as ações

de proteção ambiental, saúde e apoio às atividades produtivas para as comunidades indígenas.

Decreto Nº 1.775, de 09 de janeiro de 1996.

Dispõe sobre o procedimento administrativo de demarcação das terras indígenas.

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Decreto Nº 1.904, de 14 de maio de 1996.

Institui o Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH, contendo diagnóstico na situação

desses direitos no País e medidas para a sua defesa e promoção, com vista à redução de condutas

e atos de violência, intolerância e discriminação e, conseqüentemente, a observância dos direitos e

deveres previstos na Constituição Federal, especialmente em seu Art. 5º.

Portaria Nº 542/ MJ-GM, de 22 de dezembro de 1993.

Aprova o Regimento Interno da Fundação Nacional do Índio

Decreto de 21 de setembro de 2000.

Estabelece a criação da Reserva Extrativista Marinha de Corumbau, localizada nos municípios de

Porto Seguro e Prado, estado da Bahia, compreendendo o cinturão pesqueiro entre a ponta do

Espelho, Praia de Coruípe e a Barra do rio das Ostras. Praia de Cumuruxatiba, incluindo a faixa

marinha de oito milhas náuticas paralela à Costa do Descobrimento, com uma área aproximada

de 895 km2 de água territoriais brasileiras.

Decreto de 20 de abril de 1999.

Estabelecem a criação do Parque Nacional do Descobrimento, no município de Prado, Estado da

Bahia, com área de 21.129 ha.

No âmbito estadual

Constituição Estadual

Título III, Cap. I, seção II

Art.11 – compete ao Estado VIII – proteger o meio ambiente e combater a poluição em todas as

formas, preservando as florestas, a fauna e aflora;

Cap. V, Art. 203 – O Estado dará prioridade à realização de programas de irrigação e de

eletrificação rural em áreas situadas nas proximidades de rios perenes, barragens, lagos e

mananciais.

Cap. VIII – Do Meio Ambiente Art. 212 – Ao estado cabe o planejamento e a administração dos

recursos ambientais para desenvolver ações articuladas com todos os setores da administração

pública e de acordo com a política formulada pelo Conselho de Meio Ambiente.

Art. 215 – São de preservação ambiental, como definidas em lei: VI – as áreas de proteção das

nascentes e margens de rios compreendendo o espaço necessário a sua preservação.

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VII – As matas Ciliares; VIII – as áreas que abriguem exemplares raros da fauna, da flora e de

espécies ameaçadas de extinção, bem como aquelas que sirvam como local de pouso ou

reprodução de espécies ameaçadas de extinção, bem como aquelas que sirvam como local de

pouso ou reprodução de espécies migratórias.

Art. 216 – Indica áreas que constituem o “Patrimônio Estadual” assegurando o manejo dessas

áreas, onde se ressalta, entre outros, os localizados no Extremo Sul, como:

O Sítio Histórico do Descobrimento, inclusive suas áreas urbanas;

A Mata Atlântica;

A Zona Costeira, em especial a orla marítima das áreas urbanas... e os Abrolhos;

1º - As áreas costeiras e o Monte Pascoal, do atual Município de Porto Seguro e as do Município

de Santa Cruz de Cabrália constituirão a área denominada de Sítio do Descobrimento”.

Lei Nº 3.858 de 03 de novembro de 1980.

Institui o Sistema Estadual de Administração dos Recursos Ambientais e dá outras Providências.

Art. 7º - Será Órgão Superior do Sistema o Conselho Estadual de Meio Ambiente – CEPRAM,...,

e ficará encarregado de promover as ações distritais no Art. 1º, competindo-lhe: IV – Expedir as

licenças para localização, implantação e funcionamento de atividades potencialmente degradantes

do meio ambiente;

Decreto Nº 7.639, de 28 de julho de 1999.

Aprova o regulamento da Lei de Nº 3.858, principalmente dos artigos 91 ao 98, tratando do

EIA/RIMA.

Resolução de Nº 2287, de 28 de abril de 2000.

Aprova a Norma Técnica NT –001-2000 e seus Anexos I e II. Que dispõe sobre o Processo de

Licenciamento Ambiental das Linhas de Transmissão e Linhas de distribuição de Energia

Elétrica, no Estado da Bahia”.

Lei Nº 6.569 de 17 de janeiro de 1994.

Dispõe sobre a Política Florestal do Estado da Bahia e dá outras providências.

Decreto Nº 6.785 de 23 de setembro de 1997.

Aprova o Regulamento da Lei de Nº 6.569/94

Resolução CEPRAM Nº 2195, de 26 de novembro de 1999.

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Aprova a Norma Técnica NT - 003/99, dispõe sobre o processo de AVALIAÇÃO DE

IMPACTO AMBIENTAL, para os empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou

potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente, disciplinando a

realização de audiência Prévia, visando subsidiar a elaboração do Termo de Referência.

No âmbito municipal

Lei Orgânica do município de Prado, Cap. V do Meio Ambiente.

Art.197 – O município buscará de todas as formas criar o pólo Turístico regional, previsto nesta

Lei Orgânica, tendo a ecologia e as riquezas ambientais como seu ponto de apoio.

Art.198 – Fica criado como de preservação ambiental e ecológica a área territorial da Ponta das

Guaratibas e Ponta de Corumbau, município de Prado, com seus bens dominiais, estendidas por

200 (duzentos) metros além das terras da marinha.

1º - Fica terminantemente proibida a privatização de praias, uso particular de mananciais, quedas

d’água ou usa utilização comercial na área definida no capítulo deste artigo, bem como sua

devastação da Mata Atlântica.

2º - Constituem símbolos paisagísticos municipais, erigidos em pontos turísticos e assim devendo

ser preservados, sob pena de multa em Lei, o Farol; a praia das Ostras; a Praia da Amendoeira;

devendo a árvore ali existente ser protegida, a Praia da Paixão, a bica do Tororão; o litoral de

Cumuruxatiba, incluindo a sua ponte no mar, devendo a lei municipal definir os meios de

preservação.

3º - A Ponta de Corumbau será preservada como aldeia de pescadores, ali sendo proibida a

construção de casas, alvenarias e loteamentos.

4º - Para garantir o acesso ordenado de turistas descrito no parágrafo anterior, deverá ser

construída uma estação de apoio turístico a uma distância nunca inferior a 600 (seiscentos)

metros da Ponta de Corumbau.

5º - A Lei Municipal disporá sobre estrutura administrativa necessária à preservação das áreas

descritas neste artigo.

Art. 199 – Fica terminantemente proibido jogar lixo ou detritos na beira do rio, nos manguezais ,

lagos e praias, sob pena de responder administrativa e penalmente, possível de multa prevista em

lei, a ser aplicada por fiscais da Prefeitura.

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Art. 201 – O turismo deverá ser incentivado preservando-se o meio ambiente, devendo o Poder

Municipal, responsabilizar-se pela manutenção das estradas e vias de acesso, buscado apoio nas

empresas que trabalhem no ramo e de órgãos estaduais e federais.

Lei Orgânica do Município de Porto Seguro, Cap.V, Meio Ambiente.

Art. 103 – Todos tem direito ao meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial, à adequada qualidade de vida, impondo-se a todos, em especial,

ao Poder Municipal, o dever de defende-lo e preserva-lo para o benefício das gerações atuais e

futuras.

Parágrafo único – o direito ao ambiente saudável estende-se ao ambiente de trabalho, podendo o

Município contribuir para a proteção do trabalhador contra todas e quaisquer condições nocivas

á sua saúde física e mental.

Art. 105 – Cabe ao Poder Municipal, através de seus órgãos de administração direta, indireta e

funcional.

I – Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais das espécies e dos ecossistemas, no

âmbito da sua circunscrição.

II – Preservar e restaurar a diversidade e a integridade do patrimônio genético, biológico e

paisagístico, no âmbito municipal, e fiscalizar as entidades na pesquisa e manipulação genética.

III – Definir e implantar áreas e seus componentes representativos de todos os ecossistemas

originais do espaço territorial do Município. a serem especialmente protegidos, sendo alteração e

supressão, inclusive dos já existentes, permitida somente por meio da lei, vedada qualquer

utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Ficam

mantidas unidades de conservação atualmente existente.

IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou de atividade potencial causadora de

significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio do impacto ambiental, o que se dará

publicidade, garantias, audiências públicas, na forma de lei.

VI – proteger a fauna e a flora, vedadas as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,

provoquem extinção de espécies ou submetem os animais a crueldade, transportes

comercialização e consumo de sus espécimes e subprodutos.

VII – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas.

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IX – definir o uso e ocupação do solo, subsolos e águas, através de planejamento que englobe

diagnóstico, análise técnica e definição de diretrizes de gestão de espaços, com participações

populares e socialmente negociadas, respeitando a conservação de qualidade ambiental;

X – estimular e promover o reflorestamento ecológico em áreas degradas, objetivando,

especialmente, a proteção de encostas e dos recursos hídricos, bem como consecução de índices

mínimos de cobertura vegetal.

Art. 108 – é obrigatória a recuperação da vegetação nativa das áreas protegidas por lei e todo o

proprietário que não respeitar restrições do desmatamento deverá recupera-lo.

Art. 114 – são áreas de proteção permanente:

I – os manguezais

II – as áreas de proteção das nascentes de rios;

III – as áreas que obriguem exemplares da fauna e da flora, como aqueles que sirvam como local

de pouso ou reprodução de espécies migratórias;

IV – as áreas estuarinas;

V – as passagens notáveis

5.3. - IMPACTOS E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS

No processo de apropriação e uso dos recursos ambientais, estão sempre em jogo

interesses da coletividade, cuja responsabilidade pela defesa é do Poder Público; e interesses

específicos de atores sociais que, mesmo quando legítimos, nem sempre coincidem com os da

coletividade.

Uma outra evidência de heterogeneidade do meio social são os conflitos sociais e

políticos no seu cotidiano. O conflito social e político, como uma forma de interação entre os

indivíduos, grupos, organizações e coletividades, implica choque pelo acesso e distribuição de

recursos escassos. O conflito é apenas uma das possíveis formas de interação entre os indivíduos,

grupos, organizações e coletividades. Outra forma possível de interação é a cooperação.

O conflito tem como objeto de disputa algum tipo de recurso escasso, estando associado

ao controle de recursos que, hoje se sabe, são limitados e não podem ser utilizados

indiscriminadamente. São eles os recursos ambientais cujo uso intensivo tem provocado tanto a

escassez quanto o comprometimento da qualidade ambiental.

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No processo da Linha de Distribuição do município de Prado e povoado de Caraíva, vê-

se claramente que existem conflitos socio-ambientais de interesses entre diferentes grupos. De

um lado, existe um objetivo de gerar energia elétrica para alimentar a rede de distribuição que vai

beneficiar uma população mais ampla. Não se pode esquecer, porém, que quanto mais

privilegiada é a faixa de renda, mais essa população consome energia, ou seja, não é toda a

sociedade que se beneficia dessa eletricidade no mesmo grau. Exemplificando: os nativos,

vendedores, pequenos barraqueiros, pequenos agricultores e índios seriam menos beneficiados

(interesse nacional); a rede de hotelaria e os grandes comerciantes serão os mais beneficiados

(interesse internacional).

Por outro lado, existe uma série de custos que se concentram no nível local. No caso em

estudo, concentram-se na região os custos da implantação e operação do empreendimento,

provocando, assim, uma série de impactos: o afluxo migratório da população atraída pela obra,

para cidades que não têm infra-estrutura urbana; a abertura da picada para fixação de marcos e

bandeiras, havendo supressão de vegetação e fauna nativa; alteração das copas e sub-bosques,

provocando abertura nos trechos de manguezal; aumento do tráfego, ruídos causados pela

movimentação de veículos e equipamentos em estradas carroçáveis; desencadeamento de

processos erosivos e/ou assoreamento, provocando o carreamento de material particulado, fruto

da precipitação e vento para as regiões mais baixas e leito de cursos de água.

No campo da ação política, os conflitos socio-ambientais estão centrados na problemática

da resolução dos conflitos por meio da implementação das políticas públicas e diversas estratégias

e táticas políticas. Segundo Little(2001), a resolução destes conflitos é uma tarefa difícil devido à

sua complexidade e à profundidade das divergências. Para resolver um conflito de forma

definitiva, teriam que ser eliminadas as múltiplas causas que deram origem a ele, solucionando-se

pacífica, voluntária e consensualmente as divergências existentes entre as partes. Para isso,

necessita-se do tratamento básico que é a negociação e a mediação do conflito. (Little, 2001).

A negociação/mediação de um conflito instala meio formal para seu tratamento e

geralmente acontece depois da utilização de outras formas. A negociação de um conflito requer

um alto nível de maturidade política por parte dos atores sociais, porque demanda deles

postulação explicita de seus interesses e a tomada de decisões difíceis sobre concessões a serem

feitas. Um dos aspectos positivos da negociação dos conflitos socio-ambientais é a criação de

espaços de cidadania fundamentados em ações conscientes e legais por todas as partes envolvidas

no conflito, fato este que não aconteceu entre os órgãos envolvidos no processo da Linha de

Distribuição Prado/Caraíva.

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Como não se pode acabar com os conflitos, o processo ou a tentativa mais freqüente é o

de proceder à regulamentação dos conflitos no meio social, isto é à formulação de regras aceitas

pelos participantes, as quais estabelecem determinados limites aos conflitos. A tentativa consiste

não em por fim aos conflitos, mas em regulamentar suas formas, de modo que suas

manifestações sejam as mais construtivas para todos os atores envolvidos. O ponto crucial é que

as regras devem ser aceitas por todos os participantes e, se mudadas, devem ser alteradas por

recíproco acordo. Quando um conflito desenvolve-se segundo regras aceitas, sancionadas e

observadas, há sua institucionalização. Dessa forma, a disputa pelo uso e acesso aos recursos

ambientais é um conflito institucionalizado, quando ela ocorre segundo as regras que estão

estabelecidas na legislação ambiental.

Na Audiência Prévia de Cumuruxatiba, estiveram presentes 31 pessoas, demonstrando-

se, assim, a falta de interesse da comunidade local para com o empreendimento, tendo em vista

que não obteriam nenhum resultado com a implantação da mesma, pois, para o município de

Prado, o abastecimento de energia elétrica não seria modificado. A sociedade só tomaria

conhecimento como parte integrante da área de influência direta, pois a Linha de Distribuição

tinha como ponto de partida a subestação da COELBA em sua cidade.

Os atores sociais que estiveram presentes mantiveram-se dissociados das lutas sociais e

ambientais. Alguns donos de pousadas e lojistas cujas áreas seriam atingidas pela linha elétrica

participaram mais efetivamente, mas os nativos, em nenhum momento, estavam inclusos na

tomada de decisão sobre o empreendimento.

Foi surpreendente observar a desintegração comunitária no interior das próprias

comunidades pela multiplicação de grupos e associações improdutivos, como nas Associações de

Prado e Cumuruxatiba, que não interferem no processo de desenvolvimento da população. Os

nativos vendem suas terras aos “chegantes” a preços irrisórios, resultando, desta maneira, a perda

de formas de solidariedade coletiva.

A Audiência Prévia do povoado de Caraíva contou com a presença de 94 pessoas, entre

representantes de associações, professores, hoteleiros, comerciantes, assentados, fazendeiros e

índios, estes moradores de Barra Velha, Caraíva, Corumbau, Ponta de Corumbau. A participação

das comunidades foi efetiva, pois o público teve tempo de organizar, discutir e posicionar-se nas

tomadas de decisões; o empreendedor propiciou informações adequadas e compreensíveis dos

impactos que seriam gerados pelo empreendimento.

As discussões giravam em torno da possibilidade de ser a linha de distribuição

subterrânea no povoado de Caraíva; segundo os grupos, a planta já estava em mãos do técnico

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responsável no escritório da COELBA, em Porto Seguro. A preocupação do grupo sempre foi a

respeito do ecoturismo. Nota-se que as benfeitorias só seriam para os serviços de hotelaria e para

os comerciantes cujas áreas seriam ligadas pela linha elétrica.

5.4. - CAPITAL SOCIAL

Com base na contextualização ambiental, geográfica e histórica, identificaram-se os

principais atores envolvidos nos conflitos socio-ambientais. Cada ator social pode ser entendido

com base nos interesses de cada organização social.

Deve-se fazer uma análise da equação de poder entre os distintos participantes do

conflito, dando especial atenção às assimetrias entre os interesse, ideologias, símbolos e formas

de adaptação dos distintos grupos sociais.

O tema dos conflitos socio-ambientais é centrado na problemática da resolução de

conflitos por meio de implementação de políticas públicas e diversas estratégias e táticas políticas

Segundo Little (2001), para fins de análise podem-se delinear cinco tipos básicos de tratamento

dos conflitos socio-ambientais: confrontação, repressão, manipulação política, negociação /

mediação e dialogo / cooperação. Cada tipo de tratamento tem seus aspectos positivos e

negativos. A forma de tratamento adotada pode variar segundo o grupo social, devido a seus

poderes diferenciados e seus distintos interesses, e segundo a conjuntura histórica na qual o

conflito acontece. Ademais, um mesmo conflito pode passar por vários tratamentos, dependendo

da fase na qual se encontra e dos resultados dos tratamentos anteriores.

Os conflitos socio-ambientais encontrados no caso em estudo foram de manipulação

política. O uso de relações políticas clientelistas continua sendo um modo comum de fazer

política no país, como parte de um sistema maior, conhecido como coronelismo. Para alguns

grupos sociais como os nativos, com pouco poder econômico dentro de um conflito tão amplo

como a linha de distribuição, a participação em formas clientelistas pode representar a melhor

opção.

Outra forma de tratamento de conflitos socio-ambientais no caso estudado foi a

negociação/mediação. No caso, o CRA teve uma postura de mediador frente aos conflitos. As

mediações são feitas por uma pessoa ou grupo externo ao conflito. Quando essa mediação torna-

se obrigatória, pode tomar o caráter de arbitragem.

O capital social corresponde ao ethos de uma sociedade. É um importante instrumento

para a solução dos dilemas da ação coletiva, com base na cooperação para o controle social. O

controle só é efetivo se os atores sociais interiorizarem os elementos morais que sustentam a

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colaboração entre eles. A confiança é o mais importante valor de sustentação do capital social

(Abramovay, 1997).

Seu pressuposto é o estabelecimento de relações entre os indivíduos e grupos sociais

cujos interesses comuns são imediatamente evidentes. É por isso que a sua construção exige uma

ação voluntária e coordenada.

Embora a noção de capital envolva a idéia de apropriação privada, a característica central

do capital social é que se trata de um bem público, sendo um conjunto de recursos organizativos

de cuja propriedade depende, em grande parte, o destino das comunidades.

Segundo Grynspan (1990) o capital é definido como conjunto de “recursos e de poderes

efetivamente utilizáveis” cuja distribuição social é necessariamente desigual e dependente da

capacidade de apropriação de diferentes grupos. A acumulação do capital social é um processo de

aquisição de poder e até de mudanças na correlação de forças local.

No caso em estudo, Prado/Caraíva, existe uma grande diferença de organização entre os

grupos locais. Os grupos que acumularam mais capital social foram: associações de hoteleiros,

fazendeiros, grandes agricultores, associações de pescadores de Prado e Cumuruxatiba, Reserva

Extrativista, Aldeia Barra Velha, associação de Barraqueiros e comerciantes. Os que têm mais

dificuldades em fazê-lo são: índios, pescadores independentes, nativos, pequenos agricultores,

índios fora da aldeia, pequenos comerciantes, vendedores de gelo e assentados.

Os índios mobilizaram-se para reivindicar a construção da Linha de Distribuição, visando

concorrer ao mercado de peixe, bem como competir com o turismo local. O grupo foi o mais

representativo dentro de todo o processo e infelizmente o de menor poder de mudança na

correlação de força local.

É verdade que a confiança por si só nem sempre é um atributo suficiente das relações

sociais. A venda das terras dos nativos aos “chegantes”, atraindo cada vez mais o turismo para o

município de Prado e povoado de Caraíva, está apoiada em laços de confiança, cuja explicação

Putman (1996) diz “residir na verticalidade dos contatos e, portanto no desequilíbrio entre as

partes. Explicando assim porque não se traduz a regra da reciprocidade que é elemento decisivo

pelo qual o capital social produz instituições propícias à participação cívica”.

A noção de capital social tem como base o bem público. O capital social é um conjunto

de recursos – boa parte dos quais simbólicos, de cuja apropriação depende em grande parte o

destino de uma certa comunidade.

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As elites políticas têm um papel decisivo na formação do capital social, mas podem

bloquear sistematicamente sua cumulação. Os laços de confiança, de compromissos, os vínculos

de reciprocidade capazes de estimular os contatos sociais e as iniciativas pessoais podem ser

sabotados por elites corruptas, e então os indivíduos terão menos incentivos para dedicar energia

à construção de redes permanentes de interação. Na prática de campo desta pesquisa, ficou

evidenciado que, quando os indivíduos sentem que não só o poder é corrupto, mas que não

existem alternativas ao desmando, é maior a propensão a submeter-se verticalmente a estes

poderes e renunciar ao investimento em redes horizontais de cooperação que são a base do

capital social. Exemplificando: os nativos, os índios que trabalham com os fazendeiros, pequenos

comerciantes e assentados.

Considerando a relação entre capital social e a dimensão territorial, a idéia central é que o

território é mais que uma base física para as relações entre os indivíduos e grupos, expressando-se

através do tecido social, numa organização complexa, feita por laços que vão muito além dos

tributos naturais. Um território representa uma trama de relações com raízes históricas,

configurações políticas e identidades que desempenham um papel ainda pouco conhecido no

próprio desenvolvimento econômico.

No exemplo dos assentamentos da reforma agrária na localidade de Corumbau –

Agrovilas I, II e III, verifica-se que um ponto crítico dessas experiências está na sua falta de

capacidade de articulação com outros atores sociais e sua estreita dependência para com os

poderes públicos federais. As experiências pesquisadas e que foram bem sucedidas

caracterizavam-se sistematicamente pela ampliação dos círculos de relações sociais dos assentados

no plano político, econômico e social, superando os preconceitos a eles atribuídos pela população

nativa, a partir da construção de laços sociais permanentes. Assim, os limites físicos podem ser

vencidos pela capacidade organizativa, isto é, pela construção de uma rede de relações que amplie

as possibilidades de reconhecimento local do trabalho dos assentados.

5.5. - TURISMO E GLOBALIZAÇÃO

O turismo é anterior à chamada globalização, todavia esta atividade vai ter um

crescimento exponencial particularmente a partir dos anos 80, quando começa a etapa mais

avançada do processo de internacionalização da economia mundial. Graças ao avanço

tecnológico dramático que traz mudanças imensas nas possibilidades de comunicação e

transporte, dessa forma reduzindo as distâncias entre os lugares, o turismo tornou-se uma das

alavancas que vai impulsionar o movimento de milhões de pessoas e trilhões de dólares pelo

mundo todo. A atual expansão do turismo vem sendo considerada como a segunda era de ouro

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das viagens, em comparação com a primeira fase do fenômeno, que ocorreu no século XIX.

(Coriolano,1994).

É reconhecido como uma das atividades mais dinâmicas e prósperas do mundo neste

início de século. De fato, no contexto de novas formas de internacionalização das relações de

produção e consumo, o turismo se mundializou e ganhou a qualificação de fenômeno de massa.

Desta forma, tornou-se uma atividade importante para a acumulação e reprodução do capital por

meio de mecanismos específicos. Como exemplo, cita-se a rede transnacional de hotelaria e de

transportes, dois atores globais da economia internacional e do turismo.

A globalização é entendida como um amplo processo que envolve governos nacionais,

grandes corporações, multinacionais e novas formas de comunicação baseadas no uso da

informática, e com implicações de ordem econômica, política, social e territorial, nos termos

colocados por Santos (1991).

Globalização é uma palavra que vem do inglês, aparece nos Estados Unidos e no Japão, e

exprime as novas formas de uma mundialização nascidas das sinergias entre três grupos de

processos: a desregulamentação empreendida pelos estados em nome do liberalismo econômico e

da redução das barreiras tarifárias; uma ampliação do campo de atuação das grandes empresas no

mundo todo, enquanto exacerba-se a concorrência entre oligopólios, marcada, sobretudo, pelo

primado das estratégias financeiras sobre as estratégias produtivas (a utilização da telemática, que

permite a colocação de sistemas de informação com diferentes performances, no que se refere ao

tratamento de dados) (Coriolano, 1994).

A globalização, traduzida no domínio do poder econômico e da correspondente

especulação financeira por parte das multinacionais e transnacionais, conduz e provoca uma

crescente precarização dos estatutos laborais, tanto nos países em desenvolvimento como nos

mais dependentes, num processo que não conduz ao progresso social mas a profundos e graves

processos civilizacionais.

O crescimento continuado dos níveis de desemprego nas últimas décadas tornou-se, em

muitos casos, não só massivo como crônico, estrutural; a precarização, a regressão em matéria de

direitos sociais, acompanhada pelo domínio crescente por parte dos grandes grupos operadores

de grandes mercados emissores, coloca à atividade turística do País não poucos desafios e

inquietações e realidades que não podem ser iludidas por resultados ocasionais de curto prazo.

O mundo, em resultado das políticas dominantes, caminha hoje num sentido inverso ao

curso que motivou o acesso da grande massa de população ao usufruto de condições de vida que

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lhe permitiram beneficiar-se das viagens dos seus sonhos, realidade, até algumas décadas atrás,

desfrutadas por estreitas camadas privilegiadas da sociedade.

A globalização é responsável por conseqüências graves para os países e para a

humanidade. O abismo entre países ricos e pobres aprofundou-se, criou-se uma nova forma de

escravidão e de dependência dos países mais pobres, introduziu-se a informática e instaurou-se

uma supremacia da ordem econômica que ameaça a dignidade humana.

Os fenômenos mais execráveis agravam-se em certos locais turísticos, como por exemplo,

a exploração sexual e do trabalho principalmente das mulheres e crianças, a difusão de doenças

que ameaçam gravemente a saúde de vários setores da população mundial, o tráfico e o consumo

de drogas e a destruição da identidade cultural e dos recursos vitais.

Não se pode culpar a globalização por todos esses males da humanidade, nem considerar

o turismo como único responsável por eles, mas não há como ignorar que os dois podem

favorecê-los. O turismo pode ser promotor de uma globalização da solidariedade e os

responsáveis pelo setor podem harmonizar a atividade com as economias locais, sobretudo nos

países mais pobres.

No caso do Extremo Sul, o governo estadual vem investindo, através do Prodetur -

Programa de Desenvolvimento Turístico, reunindo indicadores de análise para contribuir com o

planejamento para que se cumpram seus objetivos que são os de promover o desenvolvimento

sustentável, garantindo a melhoria da qualidade e viabilidade econômica do destino turístico e,

simultaneamente, assegurar a elevação das condições de vida da população residente na Costa do

Descobrimento.

Porém, não foi o que aconteceu, pois ainda que os índios Pataxós tenham solicitado a

linha de energia elétrica, e apesar da participação de toda a comunidade no processo de

licenciamento, estes grupos não conseguiram ter êxito em seu pedido, sendo o processo mudado

para sua não implantação, por meio de decisões que não satisfizeram aos interesses das

comunidades.

Nas observações de campo feitas pela pesquisadora e por meio de informações da mídia,

registrou-se que os Pataxós se rebelaram em 2001 contra os fazendeiros e assentados da

localidade pela posse da terra. Conclui-se que houve represálias por parte do governo,

transferindo os recursos para outro empreendimento, fazendo assim o velho jogo do dominante

e subjugando o dominado, neste caso, os índios, considerados tutelados, e, portanto sem voz.

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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Ao término deste trabalho sobre Conflitos Socio-ambientais da Linha de Distribuição

Prado/Caraíva, pode-se perceber o cenário no qual os conflitos se desenvolveram. Cada capítulo

poderia desdobrar-se em muitos outros aspectos não abordados ou aprofundados.

Para atender aos objetivos expostos na introdução chegou-se às bases conceituais e

metodológicas, que permitiram uma compreensão mais ampla da questão ambiental, sob o

prisma de conflitos socio-ambientais. É notória a precariedade de acesso a textos com rigor

conceitual neste campo de conhecimento. Esse fato reforça a pertinência do trabalho produzido

e o mérito do Centro de Recursos Ambientais – CRA.

A metodologia qualitativo-quantitativa adotada permitiu comprovar que existem, inseridas

em um processo de licenciamento ambiental, dimensões que só podem ser devidamente avaliadas

a partir da apreensão das representações e percepções dos grupos sociais envolvidos, acerca das

conseqüências e benefícios que o mesmo trará para as comunidades.

Acredita-se que o órgão estadual encarregado do licenciamento, o CRA, em seu papel

regulador, tem uma importante tarefa de tutor de conflitos, devendo basear-se nos princípios de

uma democracia, isto é, na garantia de um espaço de debate e informação sobre as conseqüências

socio-ambientais dos empreendimentos. Considera-se aqui que os instrumentos para uma

democracia social já estão devidamente previstos na legislação, através das audiências prévia e

pública.

Há, assim, um impacto de natureza político-institucional de bastante relevância, que é o

envolvimento dos grupos sociais organizados no processo de tomada de decisão de forma clara e

precisa. As comunidades tornaram-se mais esclarecidas sobre o empreendimento, formulando

questionamentos sobre qual o melhor traçado que a linha de distribuição deveria adotar sem

causar tantos impactos ambientais e quais suas conseqüências. Aconteceu, assim, uma grande

discussão que foi incorporada ao processo de tomada de decisão para subsidiar o Termo de

Referência.

O papel desempenhado pela pesquisadora, atuando simultaneamente como técnica do

órgão ambiental estadual, foi de grande importância para a ênfase colocada no processo

participativo da população durante as audiências. Adotando uma postura mobilizadora junto aos

grupos sociais locais, e acreditando no fortalecimento da dimensão comunitária, dedicou-se a

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demonstrar a contribuição substantiva e nova da dimensão educativa inerente aos processos

socio-políticos de licenciamento ambiental.

No processo de pesquisa, a hipótese não foi comprovada, tendo em vista que a

compreensão dos atores envolvidos nas questões ambientais não foi suficiente para que os

órgãos de licenciamento atuassem de modo eficaz visando a sustentabilidade das ações

decorrentes do licenciamento, já que o empreendimento foi anulado em decisão unilateral do

poder público. Pode-se comprovar que, na maioria dos casos, os processos de licenciamento

ambiental não investem no nível cotidiano de recriação da organização comunitária, e os grupos

sociais envolvidos deixam de participar, precisamente pela complexidade, neutralidade e

dispersão das organizações locais.

Na Audiência Pública, do ponto de vista metodológico, houve o equacionamento dos

conflitos, através da negociação democrática dos diversos atores sociais envolvidos, sem perder

de vista seus interesses pessoais.

De um lado, houve avanço na organização dos grupos locais a partir da intervenção da

pesquisadora na área, principalmente entre os grupos de assentados, colônia de pescadores,

Associação de Moradores de Caraíva, Associação de Fazendeiros, Associação Pradense,

Associação de Cumuruxatiba e Reserva Indígena Barra Velha.

Quanto aos índios, de um modo geral no Brasil, uma das principais dificuldades está na

sua precária capacidade de articulação com outros atores regionais e sua estreita dependência dos

poderes públicos federais. As experiências indígenas bem sucedidas caracterizam-se

sistematicamente pela ampliação dos círculos de relações sociais dos índios no plano político,

econômico e social.

A pesquisadora considera que, na região pesquisada, o melhor grupo organizado é o

movimento dos Pataxós, com maior capital social histórico e político, pois se trata da construção

de um sujeito coletivo do desenvolvimento com relativa capacidade de articulação entre as forças

dinâmicas da região.

Por mais que as condições naturais (solo, relevo, clima) sejam importantes na

determinação do desempenho dos índios, não são poucos os casos em que os limites físicos

foram vencidos pela capacidade organizativa, ou seja, pela construção de uma rede de relações

que criou condições para ampliar as possibilidades de valoração de novos negócios, para sua

subsistência.

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Os pontos mais relevantes do estudo que chamaram a atenção da pesquisadora, foram assim

considerados:

-

-

-

o efeito de degradação socioambiental provocado pela influência negativa do turismo não

planejado.

desintegração comunitária no interior das próprias comunidades pela multiplicação de grupos

e associações improdutivas, como, por exemplo, a Associação de Prado e Cumuruxatiba não

interferiu no processo de desestruturação da população.

as comunidades que solicitaram o empreendimento e que tanto participaram do processo de

licitação, não se manifestaram acerca da não implantação do empreendimento, ficando

passivas no momento que deveriam reivindicar os seus direitos.

A pesquisadora crê que o fato de não haver reação não significa que o problema não tenha

sido percebido. Pelo contrário, um problema não possui existência em si, mas decorre do

conhecimento empírico (científico ou não) que explicite uma situação e do grau de mobilização

em torno dele, de modo a torná-lo uma existência social.

A reação frente a um problema implica, muitas vezes, a constituição de um conflito, de uma

situação em que o ator social (individual ou coletivo) se encontra em oposição consciente a outro

ator, a partir do momento em que se definem objetivos incompatíveis que conduzem ao

enfrentamento na resolução de problemas ou no encaminhamento de propostas de ação.

Apesar de adotar medidas legais, o CRA não pode impedir a desistência por parte do

empreendedor, pois a decisão foi tomada no âmbito da extinta SEINFRA – Secretaria de Infra-

Estrutura, mesmo que o processo tenha ocorrido legalmente até a Audiência Publica. Foram

levantadas as expectativas das comunidades, as discussões foram exaustivas, criando-se canais

bidirecionais de diálogo em torno do projeto, por intermédio das audiências prévias e pública.

A título de conclusão, pode-se afirmar que o processo pesquisado comprovou que os

órgãos ambientais têm dificuldade em tornar o licenciamento ambiental mais eficaz e,

conseqüentemente, dar sustentabilidade às ações decorrentes do licenciamento. Os

procedimentos seguem um determinismo administrativo que o legitimam, porém a participação

da sociedade civil ocorre somente em alguns segmentos mais organizados. Nem todos os atores

sociais conseguem se fazer representar, o que dificulta a implementação de soluções, as quais

fazem parte de um processo público, onde os grandes beneficiados são o meio ambiente e a

sociedade que usufrui os recursos naturais.

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O CRA, representante do poder público estadual, deveria ter como procedimento efetivo

a criação de condições para que se instaurasse um processo de desenvolvimento das

comunidades, devendo estimular a participação das populações nas ações que o Estado planeja,

em termos de desenvolvimento ambiental, e compatibilizar os recursos e aspirações que se

revestem, freqüentemente, de um caráter de confrontação. É importante mencionar que o âmbito

ou espaço desta confrontação/compatibilização é de natureza política, dependendo, portanto, das

relações de poder existentes em uma determinada conjuntura.

Apropriando-se dos conceitos de Frota (2001), ao longo desta pesquisa ficou evidente que o

poder público tem a função de atuar como um aglutinador da coletividade, visando garantir as

mudanças políticas de interesse geral. Os principais compromissos norteadores desta

responsabilidade estão elencados a seguir:

- a criação de canais de comunicação bidirecional com a sociedade, com aceitação das formas

de representação popular;

- a capacitação interna (técnicos) para condução de processos negociáveis, onde a elaboração

de estratégias de inserção regional dos empreendimentos, se faça clara para toda a

comunidade;

- a articulação institucional das políticas públicas a partir do reconhecimento da assimetria de

informação e de poder entre os atores sociais;

- a regulamentação de leis nas constituições vigentes para a negociação de conflitos.

Recomendações:

A partir dos elementos identificados nesta pesquisa são feitas as seguintes recomendações:

1. O Estado deve criar condições para que se dê a ação comunitária nas diferentes esferas. Para

tanto, deve eliminar os obstáculos jurídico-institucionais e, também, facilitar o aporte de

recursos que terão a função de implementar as ações desejadas pela sociedade.

2. O patrimônio natural deve ser entendido e reconhecido como um bem coletivo. Para tanto,

os recursos disponíveis devem ser utilizados de forma equilibrada, democrática e

participativa, no sentido de se alcançar um desenvolvimento de caráter mais sustentável.

Adicionalmente, é necessário que ocorra uma articulação entre a consolidação da percepção

de uso e manejo dos recursos naturais e a legitimação dos processos sociais e econômicos,

que buscam concentrar interesses antagônicos. Portanto, o reconhecimento das identidades

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políticas, da participação popular e a construção de valores democráticos devem fazer parte

da construção de um ambiente coletivo, onde o meio ambiente é parte integrante e definidora

das decisões públicas.

3. A sociedade, de modo geral, os tomadores de decisões, em particular, devem reconhecer a

imensa diversidade dos modos de vida, das relações sociais e culturais que estão envolvidas

em situações conflituosas. É evidente que toda esta diversidade está relacionada com o

ambiente no qual os grupos sociais estão inseridos.

4. Também, de fundamental importância deve ser o aprimoramento dos procedimentos

metodológicos participativos e qualitativos, os quais podem ser adotados pelos técnicos dos

órgãos ambientais (municipal, estadual e federal).

Por fim, e mais importante, destaca-se a percepção obtida pela pesquisadora ao longo do

trabalho, que aponta para a riqueza da construção compartilhada das soluções. Este ingrediente

somente estará presente na resolução de outros casos de conflito, quando o técnico ambiental se

tornar consciente do seu papel de pesquisador. A percepção das expressões culturais, concepções

de mundo, de vida social, histórica e cultural constituem-se no grande patrimônio que deve

conservado e melhorado.

A valorização das identidades e desejos de mudança configuram-se como um excelente

procedimento para resolver conflitos, disputas ou crises geradas pelo uso dos recursos naturais.

No caso estudado, os índios Pataxós, os assentados, os comerciantes, o CRA e demais

atores envolvidos no conflito pela implantação da Linha de Distribuição de energia elétrica

precisam compreender as diferentes demandas e interesses e, a partir deste quadro, buscar

soluções em que todos ganhem um pouco e não percam tudo.

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ANEXOS

A 1. FICHA DE INFORMANTE - INDIVIDUAL

FICHA DE INFORMANTE LD – PRADO-

CARAÍVA

(individual) Município: data: entrevistador: Localidade: Nome do entrevistado: idade: sexo: raça: Nacionalidade: naturalidade: Endereço: Atividade: grau de instrução:

1. Atividade paralela

2. Renda mensal da atividade principal

3. Renda mensal da atividade paralela

4. Quanto tempo reside no local

5. Reside em que tipo de casa (taipa, alvenaria, madeira, técnica mista)

6. Possui sistema de água e esgoto na residência?

7. Possui instalação sanitária na residência?

8. Existe coleta de lixo no bairro (cidade)? Como é feita?

9. Participa de manifestações culturais/religiosas? Quais e com que freqüência? (quando

ocorre, público, organização)

10. Conhece algum livro sobre a história da região?

11. conhece algum colecionador de objetos antigos, fotos ou documentos da região?

12. Conhece alguém que possua objetos antigos de índios?

13. Quais os moradores mais antigos da região?

Morador endereço Obs

14. Pode indicar algum ervateiro?

15. Pode indicar algum conhecedor de vegetais e animais?

16. Pode indicar algum artesão?

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17. Pode indicar algum pescador?

18. Quais os cultos religiosos que existem na região?

19. Nível de saúde aparente (manchas de pele, altura, dentição, peso aparente)

20. Quais os alimentos produzidos na região?

21. Quais os alimentos adquiridos fora da região?

22. Pode descrever os principais pratos e bebidas da culinária local, que são consumidos

diariamente?

23. Quantos filhos tem? (se for mulher perguntar se amamentou e observar se é gestante ou

se está amamentando)

24. Quais os casos de doenças na família?

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A 2. FICHA DE INFORMANTE - PESCADOR

FICHA DE INFORMANTE LD – Prado-Caraíva

(pescador) Município: data: entrevistador: Localidade: Nome do entrevistado: idade: sexo: raça: Nacionalidade: naturalidade: Endereço: Principal atividade: grau de instrução:

25. Qual o grau de instrução?

26. Atividade paralela:

27. Renda mensal da atividade principal

28. Renda mensal da atividade paralela

29. Quanto tempo reside no local

30. Reside em que tipo de casa (taipa, alvenaria, madeira, técnica mista)

31. Possui sistema de água e esgoto na residência?

32. Possui instalação sanitária na residência?

33. Existe coleta de lixo no bairro (cidade)? Como é feita?

34. Participa de manifestações culturais/religiosas? Quais e com que freqüência? (quando

ocorre, público, organização)

35. Em que locais costuma pescar?

36. Que tipo de técnica utiliza? (rede, vara, espinhel)

37. Quais os tipos de peixe que costuma pescar?

38. Onde comercializa o pescado?

39. Conhece alguma colônia de pescadores na região? Pescadores de que região são

associados?

40. Pode indicar outro pescador?

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A 3. FICHA DE INFORMANTE – ÍNDIO

QUESTIONÁRIO DE INFORMANTE

LD – Prado-Caraíva

(índio) Município: data: entrevistador: Localidade: Nome do entrevistado: idade: sexo: raça: Nacionalidade: naturalidade: Endereço: Principal atividade: grau de instrução:

41. Atividade paralela

42. Quanto tempo reside no local

43. Qual o grau de instrução?

44. Renda mensal da atividade principal

45. Renda mensal da atividade paralela

46. Quais os tipos de manifestações culturais/religiosas são realizadas na aldeia? Em quais

épocas?

47. Quem organiza essas festas?

48. Qual o público que participa

49. Na aldeia existe objetos antigos de índios? Pode indicar locais onde ocorram esses

objetos?

50. Quais os moradores mais antigos da aldeia?

51. Qual a pessoa que trabalha com ervas na aldeia?

52. Quais as pessoas que conhecem a flora e a fauna da região?

53. Tem artesãos na aldeia? Quem é e que tipo de artesanato faz?

54. Vocês costumam pescar? No rio ou no mar? Que tipo de peixes?

55. Se caçam, que tipo de caça?

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