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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ESTÁGIO EM ARQUITETURA E URBANISMO ANA PAULA VIEZZER LUNARDI A CASA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA: REGRA E A TRANSGRESSÃO TIPOLÓGICA NO ESPAÇO DOMÉSTICO CASAS CONTEMPORÂNEAS BRASILEIRAS: ESCRITÓRIO ARQUITETOS ASSOCIADOS CAXIAS DO SUL 2015

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CURSO DE … · Trabalho apresentado como parte dos requisitos para aprovação na disciplina de Estágio de ... um estúdio colaborativo ... Esquemas

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ESTÁGIO EM ARQUITETURA E URBANISMO

ANA PAULA VIEZZER LUNARDI

A CASA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA: REGRA E A TRANSGRESSÃO TIPOLÓGICA NO ESPAÇO DOMÉSTICO –

CASAS CONTEMPORÂNEAS BRASILEIRAS: ESCRITÓRIO ARQUITETOS ASSOCIADOS

CAXIAS DO SUL 2015

ANA PAULA VIEZZER LUNARDI

A CASA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA: REGRA E A TRANSGRESSÃO TIPOLÓGICA NO ESPAÇO DOMÉSTICO –

ESCRITÓRIO ARQUITETOS ASSOCIADOS

Trabalho apresentado como parte dos requisitos para aprovação na disciplina de Estágio de Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Arq. Ms. Cristina Piccoli Campo de Estágio: UFRGS – Faculdade de Arquitetura Supervisor: Prof. Dra. Arq. Ana Elísia da Costa

CAXIAS DO SUL 2015

RESUMO

O relatório apresenta um estudo específico sobre três residências lineares do

escritório Arquitetos Associados, um estúdio colaborativo mineiro. O trabalho faz parte

da pesquisa “A Casa Contemporânea Brasileira: regra e a transgressão tipológica no

espaço doméstico”, desenvolvida na UFRGS que analisa projetos de habitações

unifamiliares produzidos por 25 escritórios ou arquitetos selecionados em 2010, como

a “nova geração de arquitetos brasileiros” pela revista “AU-Arquitetura e Urbanismo"

(Editora PINI). A pesquisa pretende identificar estratégias projetuais que demonstram

transgressões ou regras no modo contemporâneo de projetar residências no Brasil.

Para realização do trabalho foram desenvolvidos modelos bidimensionais e

tridimensionais das três casas selecionadas, a partir de informações obtidas em sites,

revistas e junto ao acervo do próprio escritório. A revisão bibliográfica forneceu

embasamento acerca de conceitos necessários para o desenvolvimento das análises

gráfico-textuais individuais e comparativas; esta última observou similaridades e

especificidades dos projetos do escritório, tentando identificar o estilo de projetar dos

Arquitetos Associados. Verificou-se que o partido linear em composições volumétricas

decompostas, neste caso, corresponde a uma arquitetura introspectiva, mas que

também favorece uma conexão visual com a paisagem externa muito forte. Além

disso, o estudo das obras mostrou que a busca pela construção de ambientes com

grande apelo sensorial é recorrente no repertório do escritório.

Palavras-chave: Arquitetura. Arquitetos Associados. Casa contemporânea.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Implantação e Fachada Perspectivada. Residência WP. ......................... 18

Figura 2 - Tratamento das fachadas. Residência WP. ............................................. 19

Figura 3 - Zoneamento. Residência WP. .................................................................. 20

Figura 4 - Circulações e elementos de composição. Residência WP. . .................... 20

Figura 5 - Espacialidade hall e estar. Residência WP .............................................. 21

Figura 6 - Espacialidade estar íntimo e corredor. Residência WP ............................ 22

Figura 7 - Espacialidade quartos. Residência WP .................................................... 22

Figura 8 - Esquema de Implantação e Volumetria. Residência ML2 ........................ 23

Figura 9 - Composição aditiva e tratamento das fachadas. Residência ML2. .......... 24

Figura 10 - Zoneamento dos pavimentos térreo e subsolo. Residência ML2. .......... 24

Figura 11 - Modulação compositiva e elementos irregulares na composição.

Residência ML2 ......................................................................................................... 25

Figura 12 - Esquemas de circulações a partir do hall, em planta e corte. Residência

ML2 ........................................................................................................................... 25

Figura 13 - Sistema de circulação do térreo e subsolo. Residência ML2. ................ 26

Figura 14 - Espacialidade do hall de entrada. Residência ML2 ................................ 26

Figura 15 - Espacialidade da circulação e efeitos de luz. Residência ML2 .............. 27

Figura 16 - Experiência espacial da sala. Residência ML2. ..................................... 27

Figura 17 - Experiência espacial do hall de acesso ao setor íntimo. Residência ML2.

.................................................................................................................................. 28

Figura 18 - Espacialidades dos quartos. Residência ML2 ........................................ 28

Figura 19 - Situação e localização. Casa do Cumbuco ............................................ 29

Figura 20 - Volumetria e talude. Casa do Cumbuco ................................................. 30

Figura 21 - Zoneamento. Casa do Cumbuco............................................................ 30

Figura 22 - Elementos Irregulares. Casa do Cumbuco ............................................. 31

Figura 23 - Circulações e acessos. Casa do Cumbuco. ........................................... 31

Figura 24 - Espacialidade do hall de recepção. Casa do Cumbuco ......................... 32

Figura 25 - Espacialidade do espaço de convívio. Casa do Cumbuco. .................... 32

Figura 26 - Espacialidade da circulação íntima. Casa do Cumbuco ......................... 33

Figura 27 - Espacialidade do quarto. Casa do Cumbuco ......................................... 33

Figura 28 - Partido Linear das residências WP, ML2 e Cumbuco ............................ 34

Figura 29 - Composição e tratamento das fachadas WP, ML2 e Cumbuco. ............ 34

Figura 30 - Zoneamentos nas casas WP, ML2 e Cumbuco. .................................... 35

Figura 31 - Elementos regulares e irregulares nas casas WP, ML2 e Cumbuco. ..... 35

Figura 32 - Acessos e circulações nas casas WP, ML2 e Cumbuco. ....................... 36

Figura 33 - Espacialidade do hall de entrada. Casas WP, ML2 e Cumbuco.. .......... 37

Figura 34 - Espacialidade do setor social. Casas WP, ML2 e Cumbuco. ................. 37

Figura 35 - Iluminação Zenital. Casas ML2 e WP. ................................................... 37

Figura 36 - Espacialidade quartos. Residência WP. ................................................. 38

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Roteiro de análise ..................................................................................10

Quadro 2 – Redesenhos bidimensionais...................................................................13

Quadro 3 – Modelagens tridimensionais...................................................................15

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 8

2 CONTEXTO E DELIMITAÇÃO DA PESQUISA............................................................... 9

2.1 Demanda do campo de estágio .................................................................................... 9

2.2 Objetivo ........................................................................................................................ 9

2.3 Problema de pesquisa e justificativa ........................................................................... 10

2.4 Método ....................................................................................................................... 10

3 REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS ............................................................................ 12

4 PESQUISA DOCUMENTAL.......................................................................................... 13

5 ANÁLISES .................................................................................................................... 18

5.1 RESIDÊNCIA WP ....................................................................................................... 18

5.1.1 Implantação e partido formal .................................................................................... 18

5.1.2 Configuração funcional ............................................................................................. 19

5.1.3 Espacialidade ........................................................................................................... 21

5.2 RESIDÊNCIA ML2 ...................................................................................................... 23

5.2.1 Implantação e partido formal .................................................................................... 23

5.2.2 Configuração funcional ............................................................................................. 24

5.2.3 Espacialidade ........................................................................................................... 26

5.3 CASA DO CUMBUCO ................................................................................................ 29

5.3.1 Implantação e partido formal .................................................................................... 29

5.3.2 Configuração funcional ............................................................................................. 30

5.3.3 Espacialidade ........................................................................................................... 32

6 ANÁLISE COMPARATIVA ............................................................................................ 33

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................39

ANEXOS.....................................................................................................................40

8

1 INTRODUÇÃO

Em 2010, a revista AU - Arquitetura e Urbanismo (Editora PINI) apontou os

profissionais que estão delineando o perfil da arquitetura contemporânea no Brasil,

através da indicação de 25 arquitetos os escritórios que foram eleitos como a “nova

geração de arquitetos brasileiros”. Essa seleção é objeto de estudo da pesquisa “A

Casa Contemporânea Brasileira: regra e transgressão tipológica no espaço

doméstico”, desenvolvida pela UFRGS, que busca identificar as estratégias projetuais

na produção residencial unifamiliar daquele grupo de arquitetos. Dentre os

selecionados, encontra-se o escritório Arquitetos Associados, um estúdio colaborativo

mineiro, alvo deste trabalho.

O estudo desenvolvido neste trabalho de estágio se concentra nas residências

lineares do escritório Arquitetos Associados: Residência WP (2005) e Residência ML2

(2008) localizadas em Minas Gerais, e a Casa do Cumbuco (2013) situada no Ceará.

O trabalho divide-se em três etapas, pesquisa bibliográfica, pesquisa

documental e análises. A revisão bibliográfica busca construir o embasamento teórico

acerca dos conceitos norteadores para desenvolvimento das análises, estudando o

conceito de tipo e estratégias projetuais.

A pesquisa documental envolveu o levantamento de informações acerca do

projeto para embasar o desenvolvimento dos desenhos bidimensionais e modelos

tridimensionais das três residências.

Todo o conhecimento e as informações produzidas nessas duas etapas

preliminares permitiram a elaboração das análises individuais de cada residência,

mirando os critérios previamente selecionados pela coordenação da pesquisa:

aspectos formais e implantação, aspectos funcionais e espacialidade. Deste modo foi

possível tecer o pano de fundo para a análise comparativa, que identifica similaridades

e especificidades na produção arquitetônica de casas lineares do escritório Arquitetos

Associados, objetivo maior deste trabalho.

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2 CONTEXTO E DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

2.1 DEMANDA DO CAMPO DE ESTÁGIO

A pesquisa A Casa Contemporânea Brasileira tem como tema a habitação

contemporânea brasileira e como objeto de estudo, projetos de residências

unifamiliares desenvolvidos por 25 arquitetos ou escritórios brasileiros. Os escolhidos

foram indicados em 2010 pela revista “AU - Arquitetura e Urbanismo” (Editora PINI)

como a “nova geração de arquitetos brasileiros”. A publicação não revelou os critérios

de seleção aplicados pelos críticos e professores de arquitetura, Mônica Junqueira de

Camargo, Carlos Eduardo Comas, Cláudia Estrela, Fernando Lara e Roberto Segre,

explicando somente que os profissionais deveriam ter menos de 40 anos de idade.

A maioria dos eleitos são de São Paulo: Estúdio América, FGMF, Grupo SP,

SIAA, SPBR, Triptyque, Una Arquitetos, Arquitetos Cooperantes, Aum Arquitetos,

Frederico Zanelato, Metro Arquitetos, Nitsche Arquitetos Associados, TACOA e Yuri

Vital. Do Rio de Janeiro vêm mais cinco escritórios: Carla Juaçaba, DDG Arquitetura,

Mareines + Patalano Arquiteura, Rua Arquitetos e Bernardes Jacobsen Arquitetura.

Já Minas Gerais e Rio Grande do Sul contam com dois escritórios cada, os mineiros

Arquitetos Associados e BCMF, e os gaúchos Studio Paralelo (atual MAPA) e POAA.

E por fim, Pernambuco e Brasília contribuem com mais um escritório cada Estado, O

Norte – Oficina de Criação e MGS, respectivamente.

A análise dos projetos residenciais unifamiliares desta seleção servirá no

âmbito geral da pesquisa para traçar conclusões gerais sobre a atual produção

brasileira. Para tanto cada escritório terá sua produção estudada por um grupo de

pesquisadores, gerando uma base de dados. Este trabalho de estágio, vem então,

atender a esta demanda ao estudar o escritório Arquitetos Associados.

2.2 OBJETIVO

O objetivo geral da pesquisa é construir, por amostragem, um quadro que

ilustre “a casa contemporânea brasileira”, identificando métodos e estratégias

projetuais utilizadas nas residências produzidas pelos 25 arquitetos ou escritórios

eleitos, e na medida do possível, a ocorrência de séries tipológicas.

Este trabalho de estágio tem por objetivo estudar o escritório Arquitetos

Associados, um estúdio colaborativo mineiro que tem trabalhos nas mais diversas

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áreas de arquitetura e urbanismo, desenvolvidos paralelamente à prática docente. Em

específico serão analisadas apenas três casas, a Casa do Cumbuco (2013),

Residência ML2 (2008) e Residência WP (2005), pelo seu partido linear.

2.3 PROBLEMA DE PESQUISA E JUSTIFICATIVA

No âmbito geral da pesquisa, a análise da produção dos escritórios pretende

identificar quais são os esquemas tipológicos recorrentes usados na arquitetura

residencial contemporânea brasileira, e se estes esquemas expressam continuidades,

transgressões, miscigenações tipológicas em relação aos tipos tradicionalmente

usados na arquitetura doméstica. A pesquisa também se propõe verificar se estão

sendo construídas e/ou consolidadas novas práticas projetuais e se é isso que faz

com que esses escritórios tenham ganhado notoriedade.

Estes dados permitirão que se tenha um posicionamento crítico sobre a atual

produção brasileira, já que esta potencialmente passa a influenciar as futuras

gerações. O estudo também permite subsidiar a prática e a reflexão teórica de

atividades profissionais e de ensino.

Como um estudo parcial, este trabalho se justifica por analisar o acervo de um

dos escritórios mais prósperos do país, o Arquitetos Associados, e ganha relevância

por subsidiar diretamente a pesquisa em que insere, fornecendo os dados parciais

que serão utilizados para traçar conclusões gerais sobre o universo estudo.

2.4 MÉTODO

O método de trabalho seguiu as diretrizes gerais da pesquisa em que se insere,

sendo desenvolvido através de procedimentos de pesquisa bibliográfica, pesquisa

documental e análise.

A pesquisa bibliográfica buscou identificar e sintetizar referências bibliográficas

sobre o conceito de tipo na arquitetura e sobre a produção do escritório Arquitetos

Associados. A leitura de títulos previamente selecionados pela coordenação serviu

para dotar todos os pesquisadores do mesmo vocabulário e permitiu um intercâmbio

de conhecimento, através do seminário realizado na UFRGS. Já a pesquisa sobre a

produção do escritório buscou identificar e sintetizar artigos, matérias e entrevistas

sobre estratégias projetuais para o desenvolvimento das análises.

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A pesquisa documental envolveu o levantamento e a organização das

informações sobre os projetos encontradas no website do escritório e em outros tipos

de publicações. Os dados coletados foram postados na base de dados da pesquisa

hospedada numa conta do Dropbox e estão disponíveis para consulta de todos os

pesquisadores envolvidos no projeto.

A análise gráfico-textual foi subsidiada pelos conceitos aprendidos no seminário

e pelos desenhos feitos e baseou-se no método de observação e no método

comparativo. Através do método da observação os projetos foram analisados com os

critérios eleitos previamente. (Quadro 1) Através da comparação foram verificadas

similaridades e especificidades entre os projetos analisados.

Quadro 1 – Roteiro para análise

(continua)

Partido formal/

implantação

Partido formal:

Planar/ volumétrico; compacto/ aditivo; linear, centralizado ou em grelha;

Lugar: Lote curto/profundo, largo/estreito, meio de quadra/ esquina; topografia do terreno; visuais, orientação solar, etc.; pressão dos edifícios do entorno sobre o projeto;

Programa: Arranjo em alas desconectadas ou espaço contínuo; arranjo térreo ou em níveis;

Configuração Funcional

Configuração das alas:

Posição e adjacência dos elementos de composição: regular ou irregular: no perímetro externo/ aceito no interior/ volume isolado;

Linha circulatória:

Especializada, conduzindo a lugares privados; sugerida, na continuidade espacial;

Eixos de acesso e circulação do conjunto:

Halls; corredores ou circulações: periféricos ou centralizados

Características compositivas:

Planos horizontais, planos verticais e aberturas;

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Espacialidade Percursos no espaço:

Posição e dimensão de portas e janelas; dimensões proporcionais dos ambientes; visuais; layout do mobiliário;

Relações ambientes e adjacentes:

Abertas ou fechadas; dinâmicas ou estáticas;

Fonte: COSTA (2014)

3 REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS

A fim de criar um vocabulário comum a todos os pesquisadores, foram

indicadas leituras acerca dos conceitos norteadores que foram utilizadas no

desenvolvimento das análises. A bibliografia tinha dois enfoques principais: o conceito

de tipo e estratégias projetuais, além de, espacialidade, elementos de arquitetura, de

composição, circulações e acessos. Os autores selecionados para as leituras foram

Ana Elísia da Costa, Alfonso Corona Martinez, Célia Helena Castro Gonsales, Edson

da Cunha Mahfuz e Marcio Cotrim Cunha. Cada pesquisador ficou responsável por

um tema indicado pela coordenação e a socialização dos conhecimentos adquiridos

aconteceu através de seminário1 realizado pela UFRGS, no dia 06/05/2015.

Como tarefa individual, foram estudados três textos. O primeiro título “Ensaio

sobre a razão compositiva” de Edson da Cunha Mahfuz, teve o enfoque sobre o

método tipológico (páginas 45 a 56) tratando do conceito de tipo, o elemento que serve

de regra para o modelo, a estrutura anterior à forma e que possui uma variação formal

infinita. As funções podem apenas sugerir a forma especifica, mas nunca determiná-

la. Ele salienta também que na escolha do arranjo formal devem-se considerar as

condições impostas pelo local.

Os outros textos analisados foram os capítulos do livro “Ensaio sobre o projeto”

escrito por Afonso Corona Martinez, referentes às páginas 27 a 35 e 157 a 175,

tratando das configurações das alas e dos eixos de acesso e circulação do conjunto.

O autor primeiramente faz uma distinção entre elementos de arquitetura, limites

espaciais que o fazem existir, os corpos (paredes, portas, janelas, tetos), dos

elementos de composição, espaços abstratos como hall, cômodos, escadas, acessos.

1 Ver em Anexo 1 a apresentação feita pela autora.

13

Ele explica como as posições dos elementos, regulares e irregulares, os acessos e

circulações interferem nas relações dos espaços. Os elementos de composição são

determinados pela sua configuração espacial, pelas conexões que apresentam com

os outros espaços e pela função prevista para o conjunto. Ele observa que na

Arquitetura Moderna houve a dualidade entre a funcionalidade mecânica, em que

havia um espaço para cada função e a privacidade era essencial nos lugares de

permanência, - e a continuidade espacial, com ambientes que se unificam com

integração entre interior/exterior, muito utilizada na arquitetura residencial

contemporânea. O autor identifica que a circulação surgiu para resolver os problemas

de distribuição, acessibilidade e privacidade, e podem ser expressas de formas

variadas, conduzindo a lugares privados, na continuidade espacial ou na série de

espaços.

Com base nos referenciais teóricos a coordenação construiu um resumo de

conceitos para facilitar a análise das residências (Anexo 2).

4 PESQUISA DOCUMENTAL

A pesquisa documental, desenvolvida na segunda semana de março, envolveu

o levantamento e a organização das informações sobre os projetos estudados e serviu

de base para a elaboração dos redesenhos e dos modelos tridimensionais de cada

uma das casas a serem estudadas do escritório Arquitetos Associados. Os dados

coletados foram sistematizados e formatados de acordo com o padrão da pesquisa e

estão armazenados no banco de dados do Dropbox, para consulta de todos os

pesquisadores envolvidos no projeto.

O escritório possui um acervo de 26 residências unifamiliares desenvolvidas

após o ano 2000. Este trabalho, por questões inerentes a sua natureza – um estágio

– e por determinação da coordenação, estudou somente as casas lineares do

escritório, que se reduz a três residências (Residência WP, Sete Lagoas, MG, 2002;

Residência ML2, Brumadinho, MG, 2008; e Casa do Cumbuco, Cumbuco, CE, 2013).

Iniciou-se então a busca das informações necessárias para o redesenho e a

modelagem em 3d, através de pesquisa feita em sites, revistas e todos tipos

publicações onde se pudesse encontrar material referente à produção do escritório.

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Exauridas estas fontes e constatando-se a falta de material para execução completa

da tarefa, recorreu-se ao próprio escritório que cedeu diversos arquivos técnicos sobre

as obras a serem analisadas. Todos os arquivos encontrados foram postados no

banco de dados do Dropbox, na subpasta denominada “Material Encontrado” presente

dentro da pasta “Arquitetos Associados”.

De posse do material necessário, iniciou-se a etapa de elaboração das

imagens, no dia 16 de março, de acordo com padrão da pesquisa (Anexo 3), através

do redesenho bidimensional e tridimensional. No redesenho bidimensional das

edificações foram produzidos implantação, plantas baixas, cortes e fachadas de todas

as casas, conforme Quadro 2.

Quadro 2 – Redesenhos bidimensionais

15

Fonte: LUNARDI, 2015.

O material elaborado subsidiou a execução dos modelos tridimensionais das

três residências analisadas no software Google SketchUp. Com os modelos prontos,

foram geradas imagens da implantação, das 4 fachadas perspectivadas, das vistas

superiores perspectivadas dos quatro cantos do terreno e de 4 vistas do observador,

gerando um total de 13 imagens para cada casa a ser analisada, conforme Quadro 3.

Após a elaboração, todo material foi organizado em um conjunto de pranchas síntese

de cada residência, conforme mostra o no Anexo 4.

16

Quadro 3 – Modelagens Tridimensionais

17

Fonte: LUNARDI, 2015.

Na segunda semana de abril foi realizado um seminário individual de trabalhos

na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, em Porto Alegre, para mostrar o resultado

da pesquisa documental antes do início das análises. O material apresentado está

presente no Anexo 5. Foi um momento de socialização da produção de todos os

pesquisadores, a fim de conhecer os projetos dos escritórios estudados, dirimir

dúvidas e relatar as dificuldades encontradas. Devido a disponibilidade de material

encontrado e também fornecido pelo escritório, não houve grandes problemas na

18

elaboração dos redesenhos e modelos tridimensionais. Os trabalhos de redesenho,

modelagem e formatação das pranchas síntese se estenderam até final de abril.

5 ANÁLISES

A pesquisa documental, os redesenhos bidimensionais e as modelagens

tridimensionais, juntamente com a revisão bibliográfica serviram de base para a

elaboração das análises, desenvolvida no início de maio a final de junho. A formatação

dos textos seguiu o padrão da pesquisa, conforme Anexo 6, compreendendo a

implantação e partido formal, configuração funcional e espacialidade. As análises

individuais serão apresentadas nos itens a seguir, pela ordem cronológica, Residência

WP (2005), Residência ML2 (2008) e Casa do Cumbuco (2013).

5.1 RESIDÊNCIA WP

A Casa WP é uma residência unifamiliar de uso regular, localizada em um

condomínio urbano com frente para o Lago do Cercadinho em Sete Lagoas, Minas

Gerais.

5.1.1 Implantação e partido formal

Finalizada em 2007, o projeto aproveita totalmente o lote de meio de quadra

estreito e profundo através da adoção de um partido decomposto linear construído

junto a uma das divisas. Aproveitando a topografia levemente acidentada também foi

explorado a utilização de meio-níveis na composição. (Figura 1)

Figura 1 - Implantação e Fachada Perspectivada. Residência WP. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

A composição, constituída de um bloco tripartido, possui três volumes com

características distintas: um frontal, mais fechado e pesado, que evita uma relação

direta com a rua (Figura 2 (a)); um volume intermediário, destacado do conjunto pela

19

elevação da laje de cobertura, e, consequentemente dos planos verticais que a

sustentam, estes últimos de paradoxal leveza em função do fechamento com grandes

painéis de vidro o que possibilita a integração física e visual com o exterior (Figura

2(b)); e o volume posterior, menor e mais alongado, implantado a meio-nível, que

através das venezianas permite a relação aberta ou fechada para o exterior (Figura

2(c)).

Completando a composição, o plano horizontal elevado se prolonga até a divisa

oposta, criando um volume “vazio” que intercepta perpendicularmente o primeiro. Sob

este, o terraço elevado privilegia a vista para a lagoa (Figura 2 (b)). (Figura 2)

Figura 2 - Tratamento das fachadas. Residência WP. Arquitetos Associados. Fonte: http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=residencia-wp

5.1.2 Configuração funcional

A composição tripartida está explícita na organização funcional, onde os

setores estão distribuídos linearmente a partir do de serviços, passando pelo social e

finalmente chegando ao íntimo.

Na parte frontal, encontram-se os ambientes de serviços: depósito, área de

serviço, dependência de empregados e cozinha. Sucessivamente, está o setor social,

com salas de estar, jantar e TV, que se articula com o terraço elevado, constituindo

um estar externo que possibilita a contemplação da paisagem. Sob ele, foram

alocadas as vagas de estacionamento, levemente rebaixadas em relação ao corpo da

casa. Na última faixa estão os dormitórios, ocupando a porção final e mais elevada

do lote, reforçando o caráter íntimo deste setor. (Figura 3)

20

Figura 3 - Zoneamento. Residência WP. Arquitetos Associados Fonte: LUNARDI, 2015.

O arranjo linear fica ainda mais destacado pelo modo como são feitos os

acessos, as circulações e no modo de disposição dos elementos de composição.

Para ingressar na residência é possível utilizar a porta de serviços, que garante

autonomia de acesso a este setor, ou a social, que se inflete sobre o percurso de

entrada, como um convite. Uma vez dentro da residência, obedecendo a uma regra

implícita são três os modos de circulação: no setor de serviços, a passagem é feita

através dos ambientes, ou “en suite"; no setor social, ela é sugerida pela disposição

do mobiliário e dos ambientes e no setor íntimo, a circulação periférica espacializada

remete ao recolhimento inerente desses cômodos. Por fim, os elementos irregulares

de composição – como banheiros - estão internalizados na planta, liberando a

fachada para os elementos regulares - quartos e salas - dispostos sequencialmente

numa rígida modulação. (Figura 4)

Figura 4 - Circulações e elementos de composição. Residência WP. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

21

5.1.3 Espacialidade

O ingresso principal à casa acontece pelo acesso social localizado a meio nível

do passeio público, através de uma pequena rampa que termina em um plano – a

porta. Este elemento de arquitetura bloqueia a vista do restante da edificação e fecha

a parede de vidro inclinada a 45° que configura o pequeno hall de entrada, que

imediatamente introjeta o usuário na sala de usos integrados. Ali o pé-direito elevado

e o plano envidraçado voltado para o estar externo, garantem uma forte sensação de

amplidão. Já a iluminação abundante vinda da fachada sul é dramatizada pelos planos

opacos em U e não sofre influência considerável pela iluminação zenital na

extremidade oposta, prevalecendo uma tensão unidirecional. (Figura 5)

Figura 5 - Espacialidade hall e estar. Residência WP, 2005. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

A diferença de cota a meio-nível mais alto no estar TV é o preambulo de que

uma modificação irá acontecer. Esta estratégia cria um ambiente mais aconchegante,

apesar da relação aberta com o anterior, hierarquicamente mais imponente. A

compressão causada pelo desnível é reforçada pela inserção de um dos elementos

de composição irregulares, o que conforma o estar TV e cria o vestíbulo para a área

22

íntima. Esta, organizada por um corredor, que, pela sua geometria, tem a esperada

tensão unidirecional colocada em cheque com o sequenciamento de portas de

acessos aos dormitórios e a contribuição dramática da iluminação zenital. (Figura 6)

Figura 6 - Espacialidade estar íntimo e corredor. Residência WP, 2005. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

Ao adentrar nos quartos, a compressão espacial é potencializada no halls

íntimos, pela diminuição do pé-direito e estreitamento entre os planos do closet e do

banheiro. Logo após ocorre uma dilatação espacial devido a mudança de dimensões

do ambiente e pela iluminação vinda pelo plano frontal envidraçado, tornando a

espacialidade do percurso mais dinâmica. (Figura 7)

Figura 7 - Espacialidade quartos. Residência WP, 2005. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

23

5.2 RESIDÊNCIA ML2

A residência ML2 foi projetada em 2008 e possui caráter suburbano, estando

implantada em um condomínio residencial fechado em Brumadinho, Minas Gerais.

5.2.1 Implantação e partido formal

O projeto, com 535m², adota um partido linear, condicionado principalmente

pelas dimensões e topografia acidentada do terreno. Posicionado paralelo à rua de

acesso, na parte mais alta do lote, o volume principal gera uma barreira entre o espaço

frontal-público, e o espaço posterior-privado, que explora as visuais e a insolação mais

favorável à noroeste. Um volume menor, transversal ao volume principal, se acomoda

na topografia descendente e serve como apoio para o volume principal. (Figura 8)

Figura 8 - Esquema de Implantação e Volumetria. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

Formalmente, a composição resultante é aditiva, sugerindo inicialmente dois

volumes individualizados – volume-base e corpo principal – que não se tocam

diretamente. Contundo, o corpo principal é subdividido em dois volumes longitudinais:

um frontal e outro posterior. O volume frontal, delimitado por dois planos longitudinais,

é pesado e estabelece uma interface pouco generosa com a rua – nele se abre apenas

a porta do acesso principal. O volume posterior caracteriza-se por uma maior leveza

compositiva, alcançada através da subtração no volume que dá espaço ao deck-

piscina e através das grandes aberturas das salas e quartos. A leveza desta fachada

também contrasta com o peso visual das paredes em concreto do volume-base, peso

visual este que é amenizado por uma grande esquadria que abre o volume para a

parte posterior da casa. (Figura 9)

24

Figura 9 - Composição aditiva e tratamento das fachadas. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015; http://www.arquitetosassociados.arq.br/home/?cat=6&lang=pt

5.2.2 Configuração funcional

Relacionando-se com a composição volumétrica, o programa da casa está

organizado em dois níveis. O pavimento térreo abriga o programa principal, com os

setores social, íntimo e parte do setor de serviço (cozinha e despensa). O pavimento

inferior abriga ambientes voltados ao trabalho (ateliê e estúdio) e demais ambientes

do setor de serviço, incluindo a grande garagem. (Figura 10)

Figura 10 - Zoneamento dos pavimentos térreo e subsolo. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

Os elementos de composição regulares, como quartos e salas, se voltam para

interior do lote e são dispostos linearmente em uma rígida modulação, cuja pauta é

interrompida pelo arranjo do deck-piscina. Esta disposição proporciona privacidade

aos ambientes em relação à rua, bem como tira proveito da melhor orientação solar e

das melhores visuais da área densamente arborizada.

25

Já os elementos de composição irregulares, como cozinha, despensa, lavabo,

closet e banheiro, estão posicionados no perímetro externo e frontal, onde a

orientação solar é menos favorável à permanência prolongada. Observa-se ainda que,

em duas suítes, os banheiros estão internalizados na planta, liberando a fachada para

o arranjo dos quartos. (Figura 11)

Figura 11 - Modulação compositiva e elementos irregulares na composição. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

O programa é completado com o terraço-jardim da cobertura, que, devido a sua

cota elevada, proporcionada uma vista panorâmica.

O acesso principal da casa ocorre pelo térreo, através do hall de entrada,

posicionado simetricamente na parte frontal da composição. Essa disposição

centralizada permite que os percursos sejam independentes entre os diferentes

setores e níveis (subsolo e cobertura), bem como reduz os deslocamentos horizontais.

Somente a cozinha não possui acesso exclusivo, exigindo um percurso pela área

social. (Figura 12)

Figura 12 - Esquemas de circulações a partir do hall, em planta e corte. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

26

Na extensão da casa, a circulação principal se comporta nas mais diversas

formas, ora “sugerida”, na continuidade espacial das salas e cozinha; ora

“especializada”, configurando um longo corredor que conduz aos ambientes privados,

(Figura 13).

O acesso de serviços ocorre através do pavimento inferior (subsolo), ligado à

rua através de uma rampa. Neste pavimento, uma circulação periférica conecta as

duas escadas que levam ao pavimento superior. (Figura 13)

Figura 13 - Sistema de circulação do térreo e subsolo. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

5.2.3 Espacialidade

O acesso à residência ML2 se dá através de uma abertura central no plano

vertical opaco, oferecendo uma única forma de percurso social. Ao adentrar na

habitação, depara-se com um pequeno hall de entrada, que oferece três

possibilidades de direção: o acesso direto e frontal para o interior da casa, o acesso

descendente à direita para o subsolo e o acesso ascendente à esquerda que leva o

usuário à cobertura-jardim. (Figura 14)

Figura 14 - Espacialidade do hall de entrada. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

27

Do hall de acesso ao setor social, o percurso contempla a passagem pelo

corredor que se abre física e visualmente para o deck-piscina e, mais ao fundo, para

a paisagem. Dali, já se antecipa visualmente a experiência espacial que a sala irá

proporcionar. Circular na casa é um grande passeio, uma promenade. A geometria da

circulação – linear, com o extenso plano vertical opaco que a isola do setor de serviços

– sugere uma tensão unidirecional, que é rompida pelos efeitos de luz que incidem

sobre o espaço: de um lado, a luz abundante, vinda da fachada envidraçada a

noroeste; por cima, a iluminação zenital, que é ritmada pela modulação da estrutura.

(Figuras 15)

Figura 15 - Espacialidade da circulação e efeitos de luz. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

O ingresso da sala, delimitada em três de seus lados por grandes superfícies

envidraçadas, ainda estabelece uma continuidade espacial entre o interior e exterior,

provocando uma tensão visual multidirecional, com muitos pontos focais de interesse.

Os limites deste grande estar tornam-se ainda imprecisos, por estar integrado com a

cozinha e dilatados em relação às varandas, quando os grandes painéis envidraçados

são abertos. (Figura 16)

Figura 16 - Experiência espacial da sala e visuais com painéis envidraçados abertos e fechados. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

Do hall de acesso ao setor íntimo, a experiência espacial remete àquela

vivenciada no percurso para o setor social, contudo, mais limitada pelas dimensões

28

do estar TV e pela antecipação visual do corredor íntimo ao fundo. Assim, a passagem

pelo corredor e sala de TV ainda é uma experiência aberta e dinâmica, sendo

interrompida pelo corredor íntimo, que define uma experiência mais fechada e estática

e, indica a penetração num território mais íntimo e privado. (Figura 17)

Figura 17 - Experiência espacial do hall de acesso ao setor íntimo. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

A compressão espacial promovida na passagem pelo corredor íntimo é mantida

no ingresso dos quartos, com a passagem pelos halls íntimos, que levam ao closet e

banheiro. Transposto este hall, o percurso sofre uma nova dilatação espacial, quer

pela mudança de dimensões dos ambientes, quer pela incidência de luz vinda da

grande abertura entre planos, que dilata as dimensões dos quartos e dinamiza a

experiência espacial. Contudo, a experiência espacial nos quartos é mais serena do

que aquela vivenciada no setor social, marcada por uma forte tensão multidirecional.

(Figura 18)

Figura 18 - Espacialidades dos quartos. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

29

5.3 CASA DO CUMBUCO

A Casa do Cumbuco é uma residência unifamiliar projetada em 2013 e

desenvolvida em um condomínio fechado na praia do Cumbuco, no Ceará.

5.3.1 Implantação e partido formal

Seu terreno plano, de grandes dimensões (3.562m²), ocupa uma esquina, com

testada para a praia. (Figura 19) A vista privilegiada, o programa extenso e o desejo

de privacidade, tanto em relação aos vizinhos, quanto à rua, condicionaram a adoção

de um partido decomposto em dois níveis.

Figura 19 - Situação e localização. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados. Fonte: http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=casa-no-cumbuco e LUNARDI, 2015.

Um volume prismático e um plano vertical são dispostos paralelamente,

próximos às duas extremidades longitudinais do lote. A disposição do primeiro, a

sudeste, garante privacidade em relação ao vizinho; o segundo, a noroeste, isola a

casa em relação à rua principal do condomínio. Esse plano serve de apoio a um

talude, que mimetiza o volume da escada e sauna, ao mesmo tempo em que protege

os usuários de olhares indesejados. (Figura 20)

Sobre o volume o plano descritos anteriormente, apoia-se um volume

transversal, que privilegia a vista para a praia. Esse arranjo resulta em dois grandes

pátios, que, isolados pelo volume translúcido do térreo, preservam uma continuidade

visual entre si. (Figura 20)

30

Figura 20 - Volumetria e talude. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados. Fonte: http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=casa-no-cumbuco

5.3.2 Configuração funcional

O volume térreo abriga, além do setor de serviços (garagem, área de serviço,

depósito e dependência dos empregados), as dependências dos hóspedes, as

circulações verticais e a sauna. No volume perpendicular a este, de dois andares, se

encontra no térreo o setor social da casa, com cozinha, jantar e estar. Já no pavimento

superior acolhe o setor íntimo, que compreende as suítes, sala de TV, escritório,

mezanino e a escada de acesso à cobertura mirante. (Figura 21)

Figura 21 - Zoneamento. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

Os quartos e o espaço de convívio estão dispostos linearmente, e são voltados

para a orientação solar e visuais mais favorável. Em contraponto, os elementos

irregulares estão internalizados na planta, liberando a fachada para os ambientes

principais. (Figura 22)

31

Figura 22 - Elementos Irregulares. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

Quatro acessos independentes são definidos de acordo com os usos (social,

veículos, serviços e casa do caseiro), revelando a autonomia de uso dos setores. O

acesso principal ao lote ocorre no térreo, sobre espelhos d’água, em um eixo que

permite o acesso direto à praia desde a entrada.

Já o acesso ao interior da residência ocorre de maneira fluida, através dos

grandes painéis envidraçados do estar e do espaço que, ao longo do percurso que

liga o acesso principal à praia, sugere ser um hall. Decorrente deste arranjo, o layout

do estar ocupa uma posição centralizada, sugerindo duas circulações periféricas. As

circulações periféricas ocorrem também no pavimento superior, sendo uma interna,

que conduz ao interior dos ambientes; e outra externa, através da grande varanda que

liga os quartos ao deck-piscina. (Figura 23)

Figura 23 - Circulações e acessos. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

32

5.3.3 Espacialidade

Passando pelo grande pátio frontal e adentrando ao espaço que sugere ser um

hall, a experiência é aberta e dinâmica. O hall promove uma leve compressão

espacial, determinada pela sobreposição do pavimento superior. A partir desse

espaço de recepção, aberto e coberto, o usuário escolhe livremente seguir para a

praia ou adentrar na sala, cujos planos envidraçados antecipam visualmente o

ambiente interno a ser vivenciado na sequência espacial. (Figura 24)

Figura 24 - Espacialidade do hall de recepção. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

Na sala, a geometria do espaço, com vários ambientes em sequência, sugere

horizontalidade, que é enfatizada pelo fechamento com os dois planos envidraçados

paralelos. Nesta caixa envidraçada, a experiência espacial é multidirecional, com

relações visuais abertas e dinâmicas com o exterior. No entanto, a horizontalidade

sugerida é tensionada verticalmente pelo mezanino, que estabelece uma continuidade

espacial com o pavimento superior. (Figura 25)

Figura 25 - Espacialidade do espaço de convívio. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

O acesso ao setor íntimo ocorre através de duas escadas localizadas em

pontos opostos, uma no interior da residência, outra externa. Ambas circulações são

estreitas e fechadas, indicando um acesso mais privado. Ao chegar pavimento

superior, a experiência visual é ampliada, devido às dimensões do espaço e ao painel

envidraçado em uma das laterais. No entanto, a proteção do painel por brises promove

33

ainda uma atmosfera intimista, anunciando o ingresso no território mais privado da

casa – o quarto (Figura 26)

Figura 26 - Espacialidade da circulação íntima. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

A experiência parcialmente dilatada do corredor íntimo é interrompida no

ingresso do quarto. A passagem pelos halls íntimos, entre o closet e o banheiro,

promove uma suave compressão espacial, seguida de nova dilatação com o ingresso

nos quartos, promovida pela mudança de dimensões dos ambientes e pela grande

esquadria que abre o quarto para o exterior. (Figura 27)

Figura 27 - Espacialidade do quarto. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

6 ANÁLISE COMPARATIVA

Neste item, as três residências são analisadas comparativamente, buscando

identificar similaridades entre os projetos e especificidades de casa um deles. A

formatação dos textos seguiu o padrão da pesquisa, conforme Anexo 7.

Implantação e Aspectos Formais

Apesar de estarem situadas em condomínios residenciais fechados, as três

casas analisadas tem um caráter introspectivo, privilegiando as relações da edificação

e dos usuários com os pátios intramuros. Porém em todos os casos há uma espécie

de flerte com o exterior, promovido pela criação de espaços que permitem desfrutar

da melhor visual, seja ela o lago (Casa WP), o mar (Casa do Cumbuco) ou a mata

34

nativa (Casa ML2). Esta parece ser a regra norteadora para a implantação das

edificações, mas sem deixar de lado outros condicionantes, como a orientação solar

e a topografia (Figura 28). Decorrente disto nota-se que a estratégia preferida do

escritório para resolver o problema projetual é a adoção de partidos decompostos e

lineares, onde, invariavelmente, os volumes estão perpendiculares entre si.

Figura 28 - Partido Linear das residências WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

Chama também a atenção a repetição da solução de tratamento dos volumes.

Os setores de serviço são sempre volumes fechados, com um grande peso visual,

promovido pelo falta de aberturas para o exterior e pelos revestimentos, ao contrário

do que nos setores sociais e íntimos, estes sempre recebem planos envidraçados,

que garantem leveza e permeabilidade, visual e física, com o entorno circundante.

(Figura 29)

Figura 29 - Composição e tratamento das fachadas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

35

Aspectos Funcionais

Na disposição dos setores, a organização se dá em pavimentos ou níveis

diferentes (Cumbuco e WP) e/ou em faixas (Cumbuco e ML2). Quando em faixas,

estas podem estar paralelas (ML2) ou perpendiculares (Cumbuco) entre si, sem que

haja uma miscigenação entre os ambientes de cada setor. (Figura 30)

Figura 30 - Zoneamentos nas casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015

Outra solução recorrente, observada nos três projetos, é o deslocamento dos

elementos irregulares de composição para o interior ou perímetro externo da

edificação, em orientações solares menos favoráveis à permanência prolongada ou

longe dos olhares estranhos. O resultado disto é a liberação das fachadas para os

elementos regulares de composição, como quartos e salas que acabam por receber

a melhor orientação solar, e terem vista privilegiada para o exterior. (Figura 31)

Figura 31 - Elementos regulares e irregulares nas casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

36

Quanto aos acessos, é recorrente que o principal ocorra ao final de um percurso

refinadamente pensado, leva o usuário a área social. As entradas de serviços por sua

vez, estão discretamente posicionadas, denotando uma hierarquia secundária em

relação ao acesso social. No setor social, através da disposição do mobiliário, as

circulações são sugeridas na periferia dos ambientes, podendo ocorrer nas duas

periferias (Cumbuco), em uma periferia (ML2) ou, de modo menos eficiente,

atravessando longitudinal e transversalmente o setor social (WP). A ausência de um

padrão de circulação é também observado na circulação estabelecida no setor íntimo

– nas duas periferias da ala íntima (Cumbuco), em uma das periferias da ala (WP) e

entre os elementos irregulares de composição e os quartos (ML2). (Figura 32)

Figura 32 - Acessos e circulações nas casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

Espacialidade

É na espacialidade que parece se concentrar grande parte da experimentação

projetual do escritório. O maior destaque está no modo como o usuário é recebido em

cada uma das casas. O percurso traçado é uma constante, assim como a variedade

de sensações a serem provadas. Na Casa ML2, o hall é um espaço de compressão

com tensões multidirecionais, na Casa WP a parede em 45º convida o usuário a

adentrar a residência, enquanto que na Casa no Cumbuco o hall promove relações

dinâmicas e abertas causados pelos planos envidraçados que antecipam o ambiente

interno (Figura 33)

37

Figura 33 - Espacialidade do hall de entrada. Casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

A continuidade espacial entre interior e exterior está presente no setor social

das três casas, garantido a estes ambientes tensão visual multidirecional, com

relações abertas e dinâmicas com o exterior. (Figura 34)

Figura 34 - Espacialidade do setor social. Casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

A circulação espacializada na área intima, promove uma sensação de

compressão, que é contratado pela iluminação zenital, como nas casas WP e ML2.

(Figura 35)

Figura 35 - Iluminação Zenital. Casas ML2 e WP. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

Outra característica comum nos projetos é a experiência dinâmica promovida

no ingresso aos dormitórios. Determinada pela geometria dos ambientes, bem como

pela posição e dimensão das aberturas dos quartos, essa passagem promove efeitos

rítmico entre contração, ao passar pelos halls íntimos e dilatação, depois destes

transpostos. (Figura 36)

38

Figura 36 - Espacialidade quartos. Residência WP. Arquitetos Associados. Fonte: LUNARDI, 2015.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conjugação de uma composição volumétrica decomposta organizada por um

partido linear, solução projetual adotada pelo escritório Arquitetos Associados nas três

residências analisadas nesse trabalho, resultou em casas voltadas para o interior do

lote, que buscam dar privacidade ao usuário, ao mesmo tempo que permitem um olhar

contemplativo extramuros.

Essa estratégia, utilizada em terrenos com características distintas, gerou

resultados também distintos, mas não tanto a ponto de ser possível identificar algumas

similaridades: a) setorização clara, otimizada pela estrutura linear; b) internalização

ou concentração dos elementos irregulares de composição, gerando plantas fluidas

nos espaços de convívio e descanso; c) forte integração visual do interior com exterior;

d) aproveitamento da orientação solar; e) tratamento dos volumes de forma leve e

aberta, através da utilização abundante do vidro, nos setores sociais e íntimos, em

contraste com os volumes de serviços, pesados e fechados.

Por fim, a espacialidade aparece como o efeito que parece ter sido mais

intensamente pesquisado na construção do vocabulário projetual utilizado pelo

escritório mineiro. Não há casualidade no uso de planos opacos, translúcidos e

aberturas zenitais. Isso fica evidente nos contrastes rítmicos de contração e dilatação

espacial presentes nas circulações íntimas e nas relações abertas promovidas pelas

fachadas envidraçadas das áreas sociais que proporcionam múltiplos pontos focais

de interesse, causando tensões multidirecionais. Enfim, estar em uma casa de partido

linear do escritório Arquitetos Associados é uma interessante experiência sensorial.

39

REFERÊNCIAIS BIBLIOGRÁFICAS

CHING, F. D. K. Arquitectura: forma, espacio y orden. México: Gustavo Gili,1973. COSTA, A. E. O Gosto pelo Sutil: confluências entre as casas-pátio de Daniele Calabi e Rino Levi. Porto Alegre: UFRGS, 2011 (Tese de Doutorado). COTRIM, Marcio; GUERRA, Abilio. Entre o pátio e o átrio. Três percursos na obra de Vilanova Artigas. Arquitextos (São Paulo), v. 150, p. 00, 2012. GONSALES. Célia Helena Castro. Residência e cidade: Arquiteto Rino Levi. São Paulo: Vitruvius:ano 01, jan. 2001. MAHFUZ, Edson da Cunha. Ensaio sobre a razão compositiva. Viçosa: UFV; Belo Horizonte: AP Cultural, 1995.

MARTÍ ARIS, Carlos. Le variazioni dell’identità: il tipo nella architettura. Torino: Città Studio Edizione, 1993.

MARTINEZ, Alfonso Corona. Ensaio sobre o projeto. Brasília: UNB, 2000.

ANEXO 1

1

REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS

aluno: ANA PAULA VIEZZER LUNARDI | orientador: CRISTINA PICCOLI | supervisor: ANA ELÍSIA DA COSTA | local do estágio: Faculdade de Arquitetura UFRGS

Eixos de acesso/ Circulação do conjunto/

Configuração das alas

POSIÇÕES E ADJACÊNCIA DOS ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO:

-espaços, : cômodos, hall, acessos, escadas (MARTINEZ, 2000, p.157, 158)

-abstrações, conceitos: ambientes de certas proporções, de dimensões relativamente definidas (MARTINEZ, 2000, p. 129)

elementos de arquitetura-corpos: paredes, portas, janelas, escadas, tetos (MARTINEZ, 2000, p.157, 158)

-limites espaciais que os fazem existir, coisas concretas, invólucros espaciais (MARTINEZ, 2000, p. 129,130)

elementos de composição

Os elementos de arquitetura ao delimitar os espaços surgem os elementos de composição

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

2

Na composição se decidem a identidade das parteshabitáveis do edifício e a posição relativa dessas partes.

Zoneamento: agrupamento de locais destinados a usossimilares

Ao se criar espaços surgem as noções de interior eexterior, de limite e transição, próprias da sequênciaespacial.

Os espaços existem por meio de seus limites, que tornamos espaços parecidos ou diferentes entre si, contínuos oudescontínuos. Os conjuntos de espaços utilitários podemser unidos de maneira conveniente a uma redecirculatória adequada.

Residência ML2, Arquitetos Associados

POSIÇÕES E ADJACÊNCIA DOS ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

A caracterização dos elementos decomposição podem ser por sua forma edimensão, como também por sua posiçãonas sequência espacial.

Certas configurações espaciais associam-secom categorias de atividades, a partir deuma distinção entre espaços prolongadosque indicam trânsito para outros espaços eespaços de proporções equilibradas,autocentrados, que sugerem permanência. Residência WP, Arquitetos Associados

permanência

passagem

POSIÇÕES E ADJACÊNCIA DOS ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

3

Os elementos de composição estão sujeitos a uma tripla determinação: por sua configuração espacial, pelas conexões que apresentam com outros espaços, pela função prevista para o conjunto, esta pode ser submetida a mutações.

Em edifícios de menor escala, as partes estão fortemente caracterizadas por seu uso esperado e as dimensões restritas aos mínimos compatíveis com esse uso. As redes de serviços são elementos com pouca mobilidade nas plantas.

Elementos de pouca mobilidade em plantaResidência ML2, Arquitetos Associados

POSIÇÕES E ADJACÊNCIA DOS ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

Colocar as irregularidades de forma para o perímetro externo

Interpor, entre espaços de forte conformação, outros espaços com forma residual e de uso secundário, aceito no interior

Aceitar as contraformas no interior do edifício ou isolar totalmente o espaço atípico, tornando-o um volume isolado

ELEMENTOS IRREGULARES

Residência ML2, Arquitetos Associados Residência Cumbuco, Arquitetos Associados Residência Cumbuco, Arquitetos Associados

POSIÇÕES E ADJACÊNCIA DOS ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

4

Os espaços principais são frequentementeregularizados, expandidos ou privilegiados àscustas de seus adjacentes.

Todos espaços tem valor igual, todos seexpressam.

Regularidade das partes para se obter umaeconomia de meios – perímetros menores,estruturas regulares.

ELEMENTOS REGULARES

Residência ML2, Arquitetos Associados

POSIÇÕES E ADJACÊNCIA DOS ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

Especializada – conduz a lugares privados; eixo circulatório externo aos cômodos; a circulação se produz naturalmente através de corredores, que não estão ocupados a não ser pelas pessoas que por eles circulam; busca de privacidade, conforto e independência

Sugerida – está na continuidade espacial, em espaços contínuos e fluentes; linhas circulatórias com “anexos habitáveis”; a composição espacial livre recusa o emprego de elementos de arquitetura pré-formados.

“Suíte”– apresenta série continua, circulação de passagem pelo interior dos cômodos; espaço universal e livre

Circulação Sugerida/Espacializada.Residência WP, Arquitetos Associados

sugerida especializada

Circulação Em Suíte.Residência Cumbuco, Arquitetos Associados

LINHA CIRCULATÓRIA:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

5

Periféricos – separados os cômodos de sua convivência, suas vistas podem se orientar para o espaço externo, até se tornarem cada vez mais permeáveis; ala simples

Centralizados – ala dupla carga dupla

Circulação Periférica.Residência Cumbuco, Arquitetos Associados

Circulação Centralizada.Residência ML2, Arquitetos Associados

LINHA CIRCULATÓRIA:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

MARTINEZ: Localizada no sentido daentrada, perpendicular à circulação

CHING:Espaço de transição entre o dentroe o fora. Plano real ou implícitoperpendicular à via de acesso.

Planta térreoResidência ML2, Arquitetos Associados

HALL:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

6

Faz a separação entre os “espaços serventes” e“espaços servidos”.

Resolve problemas de acessibilidade e privacidade.

Arquitetura Moderna:-Funcionalidade mecânica – um espaço para cada funçãoe a privacidade como condição “natural” dos lugares depermanência- Continuidade espacial como imagem de modernidade, demanifestação de novas possibilidades técnicas para obter atransparência ou a continuidade literal, na qual todos osambientes se unificam, uma continuidade que estende uminterior em outros e todos eles ao espaço exterior.

Planta térreoResidência ML2, Arquitetos Associados

FuncionalidademecânicaContinuidade espacial

CORREDORES OU CIRCULAÇÕES:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

Abandono da continuidade entre ambientesinteriores, para satisfazer as exigênciasutilitárias, com exagero como transparênciada continuidade visual com o exterior.

Circulação Periférica com continuação espacial com o exteriorPerspectiva externa e planta do primeiro pavimento Residência Cumbuco, Arquitetos Associados

CORREDORES OU CIRCULAÇÕES:

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

7

Divisão do programa em uma parte especialmente contínua e em outra tradicionalmente compartimentada que respeita a privacidade.

Planta térreoResidência ML2, Arquitetos Associados

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

CORREDORES OU CIRCULAÇÕES:

Aceitação da continuidadeespacial moderna comutilização de pés-direitos duplos(com mezaninos).

Planta térreo e primeiro pavimento Residência Cumbuco, Arquitetos Associados

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

CORREDORES OU CIRCULAÇÕES:

8

Aproveitamento do caráter naturalmentecontínuo das circulações para nelasconcentrar os efeitos de continuidadeespacial, normalmente aumentando-os,mantendo os espaços “utilmentecompartilhados”.

Em casos extremos, os espaços decirculação são monumentalizados, e osespaços principais, aqueles habitados,convertem-se em secundários do ponto devista expressivo.

Planta subsoloResidência ML2, Arquitetos Associados

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

CORREDORES OU CIRCULAÇÕES:

Abandono da continuidadeespacial, aceitando acompartimentação comouma necessidade prática.

Planta térreoResidência Cumbuco, Arquitetos Associados

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

CORREDORES OU CIRCULAÇÕES:

ANEXO 2

CA

TE

GO

RIA

SD

EA

LIS

EPARTIDO FORMAL/ IMPLANTAÇÃO

Partido formal: - planar/ volumétrico

- compacto/ aditivo;

- linear, centralizo ou em grelha;

Lugar: - lote – curtos/profundos, largos/estreitos, meio de quadra/esquina;

- topografia do terreno, visuais, orientação solar, etc.;

- pressão dos edifícios do entorno sobre o projeto.

Programa: - arranjo em alas desconectadas ou espaço contínuo;

- arranjo térreo ou em níveis.

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

Posições dos elementos de composição: - regular;

- irregular no perímetro externo/aceito no interior/ volume isolado;

Linha circulatória: - especializada, conduzindo a lugares privados;

- sugerida, na continuidade espacial.

EIXOS DE ACESSO E CIRCULAÇÃO DO CONJUNTO

Halls

Corredores ou circulações: - periféricos ou centralizados;

ESPACIALIDADE

Características compositivas: - planos horizontais, planos verticais e aberturas;

Percursos no espaço: - posição e dimensão de portas e janelas;

- dimensões proporcionais dos ambientes;

- visuais

- layout do mobiliário

Relações ambientes e adjacentes: - abertas ou fechadas;

- dinâmicas ou estáticas.

PA

RT

IDO

FO

RM

AL

.L

UG

AR

.P

RO

GR

AM

A

PA

RT

IDO

FO

RM

AL

/IM

PL

AN

TAÇ

ÃO Nesta categoria de análise, busque identificar a relação entre os partidos formais, o lote e o

programa.

PARA IDENTIFICAR OS PARTIDOS FORMAIS

Duas estratégias definem, de modo mais recorrente, o partido formal de um projeto:

1. MANIPULAÇÃO DE VOLUMES

2. MANIPULAÇÃO DE PLANOS

Cas

a em

Pin

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s. U

na A

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Cas

a R

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AR

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RO

GR

AM

A

PA

RT

IDO

FO

RM

AL

/IM

PL

AN

TAÇ

ÃO

MA

HF

UZ

, 19

95, p

. 78

(ver

são

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tal)

Cas

a B

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line.

Stu

dio

Par

alel

o

1. MANIPULAÇÃO DE VOLUMES: composição subtrativa

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1. MANIPULAÇÃO DE VOLUME: composição aditiva

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A manipulação dos volumes, seja numa composição aditiva, seja numa composição subtrativa,

obedece a três princípios de organização principais:

- Ponto

- Linha

- Grelha

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PRINCÍPIO DE ORGANIZAÇÃO: Ponto

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PRINCÍPIO DE ORGANIZAÇÃO: Linha

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PRINCÍPIO DE ORGANIZAÇÃO: Grelha

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ÃO 2. MANIPULAÇÃO DE PLANOS:

- Busca romper os limites da “caixa”, tensionando a gestalt da forma.

- Os elementos de arquitetura (lajes, paredes, muros) são tratados de forma independente, o que

promove o transpasse dos mesmos

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2. MANIPULAÇÃO DE PLANOS: As composições planares buscam estabelecer uma intensa relação entre interior-

exterior. Para tanto, adotam as seguintes estratégias:

2.1. Uso de tipologia que favorecem a relação do interior com o exterior:

PAVILHÃO: arranjos lineares

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PÁTIO: arranjos centrados em ponto

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2. MANIPULAÇÃO DE PLANOS:

2.2. Definição de espaços “intermediários”, que valorizem a “experiência perceptiva”, rica

em sensações.

SEMI-PÁTIOS

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INDEFINIÇÃO DAS MARGENS

DIEMER, 2006, P. 59

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Linha

Subtração

Adição

Pode estar vinculado ao desejo de promover privacidade ou

segurança. Também pode ser uma resposta paisagística,

diante de um contexto pouco estimulante para o

estabelecimento de visuais entre interior e exterior.Ponto

PRINCÍPIO DE ORGANIZAÇÃO

MANIPULAÇÃO DA FORMA

Mahfuz (1985) sugere uma estreita relação entre as estratégias compositivas e o lugar

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GONSALES, Célia Helena Castro. Residência e cidade. Arquiteto Rino Levi. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n.

008.14, Vitruvius, jan. 2001 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.008/939>.

As imagens revelam um estudo sobre as casas de Rino Levi, em que é enfatizada a relação do partido

compacto ou aditivo com as dimensões do lote: se curtos ou profundos, se largos ou estreitos, se de

meio de quadra ou esquina

Na relação DO PARTIDO FORMAL com o LUGAR, avalie, além da geometria do lote:

- topografia do terreno

- visuais

- orientação solar

- pressão dos edifícios do entorno sobre o projeto.

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Ao analise a relação do Programa com Partido Formal e o Lugar, identifique:

ARRANJO EM ALAS DESCONECTADAS:

Volumes expressam as diferentes partes do programa, buscando definir um “zoneamento” eficiente;

Podem ser explorados arranjos térreos (com 3 ou 2 volumes, com o setor íntimo numa ala isolada) ou

em níveis (com setor íntimo num pavimento isolado);

Os arranjos térreos normalmente se manifestam em lotes de dimensões generosas;

Observar que a natureza programática de cada ala busca se relacionar diretamente com a natureza do

lugar: com a orientação solar e com as visuais, com os acessos e com o desejo de privacidade, com a

topografia do terreno, etc

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Ao analise a relação do Programa com Partido Formal e o Lugar, identifique:

ARRANJOS EM ESPAÇOS CONTÍNUOS:

As diversas partes do programa se subordinam a um volume único pré-definido;

Podem ser explorados arranjos térreos (com o zoneamento definido por “faixas”) ou em níveis

(com setor íntimo num pavimento isolado);

Normalmente se manifestam em lotes de dimensões restritas ou em terrenos grandes em que o

programa exige a compacidade do edifício;

Observar que o arranjo das “faixas” também busca se relacionar com os condicionantes impostos

pelo terreno.

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EPARTIDO FORMAL/ IMPLANTAÇÃO

Partido formal: - planar/ volumétrico

- compacto/ aditivo;

- linear, centralizo ou em grelha;

Lugar: - lote – curtos/profundos, largos/estreitos, meio de quadra/esquina;

- topografia do terreno, visuais, orientação solar, etc.;

- pressão dos edifícios do entorno sobre o projeto.

Programa: - arranjo em alas desconectadas ou espaço contínuo;

- arranjo térreo ou em níveis.

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

Posições dos elementos de composição: - regular;

- irregular no perímetro externo/aceito no interior/ volume isolado;

Linha circulatória: - especializada e sugerida.

- periférica e centralizada;

EIXOS DE ACESSO E CIRCULAÇÃO DO CONJUNTO

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Corredores ou circulações:

ESPACIALIDADE

Características compositivas: - planos horizontais, planos verticais e aberturas;

Percursos no espaço: - posição e dimensão de portas e janelas;

- dimensões proporcionais dos ambientes;

- visuais

- layout do mobiliário

Relações ambientes e adjacentes: - abertas ou fechadas;

- dinâmicas ou estáticas.

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Nesta categoria de análise, analise a geometria das alas, identificando a disposição dos seus

elementos de composição.

Antes, porém, é importante entender o que se entende como elementos de arquitetura e

elementos de composição. Segundo Alfonso Corona Martinez (2000, p. 157):

- Elementos de Arquitetura são elementos materiais que formam uma edificação, como as

paredes, as portas, as janelas e as escadas.

- Elementos de Composição são elementos imateriais, os espaços delimitados pelos

elementos de Arquitetura.

- Elementos de arquitetura podem ser considerados os corpos e os elementos de composição

os espaços.

- O agrupamento de elementos de composição, reunidos espacialmente por afinidades de

usos, define o que se chama de zoneamento.

No arranjo de uma planta, os elementos de composição podem ser REGULARES (OU

REPETITIVOS) E IRREGULARES. Nos programas habitacionais, normalmente, quartos são

elementos repetitivos e banheiros e cozinhas são elementos irregulares. Neste sentido, Martinez

observa:

“No caso das habitações, as redes de serviços que incidem em especial sobre banheiros e

cozinhas fazem com que estes sejam elementos de pouca mobilidade nas plantas; seu

desenhos como “mínimos” os tornam pouco modificáveis, aproximando-os do status projetual

que possuíam os Elementos de Arquitetura”. (MARTINEZ, 2000, p. 162)

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ESTRATÉGIAS DE INSERÇÃO DOS ELEMENTOS DE ARQUITETURA IRREGULARES:

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Entre os séculos XIX e XX, são identificados três esquemas principais de circulação:

EM “SUÍTE”: circulação cômodo a cômodo, tendo que passar através de um ambiente para se chegar num outro;

ESPACIALIZADA: circulação independente dos cômodos, buscando promover privacidade e autonomia de

uso. Neste caso, a circulação é um elemento de composição autônomo, que conduz a lugares privados;

SUGERIDA: circulação estabelecida na continuidade espacial, tendo, de certo modo, um caráter residual.

(MARTINEZ, 2000, p. 31).

Se considerada a posição das circulações no volume edificado, estas podem ser:

CENTRALIZADAS: configuram um corredor de “carga dupla”, que diminui a extensão do volume edificado;

PERIFÉRICAS: configuram um corredor de “carga simples”, que pode ser relacionar física e visualmente

com o exterior;

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CIRCULAÇÃO SUGERIDA/ ESPACILIZADA/ CENTRALIZADA CIRCULAÇÃO ESPACILIZADA/ SUGERIDA/ PERIFÉRICA

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Casa do Cafezal FGMF ArquiteturaCasa Aberta FGMF

COMPOSIÇÃO SUBTRATIVA

CIRCULAÇÃO ESPACILIZADA/ SUGERIDA/ PERIFÉRICA

Nas composições aditivas, a circulação podem se expressar mais facilmente, assumindo configuração

própria, capaz de orientar o arranjo final do edifício.

Nas composições subtrativas, a expressão da circulação fica contida pelo envoltório pré-concebido

do arranjo formal (Martinez, 2000, p. 29 e 30)

COMPOSIÇÃO ADITIVA

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A especialização da circulação definiu nos edifícios um sistema circulatório, em que se percebe

diferentes categorias e hierarquias de circulação.

Este sistema articula: 1) acessos distintos (hall social e serviço, por exemplo); 2) e os diversos

setores, definidos por ambientes espacialmente contínuos e/ou ambientes compartimentados.

No Movimento Moderno, Corona Martinez (2000, p. 171 e 173) identifica algumas estratégias

recorrentes no tratamento das circulações, entre as quais se destaca:

Casa das Pérgolas Deslizantes. FGMF

Circulação Principal

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EPARTIDO FORMAL/ IMPLANTAÇÃO

Partido formal: - planar/ volumétrico

- compacto/ aditivo;

- linear, centralizo ou em grelha;

Lugar: - lote – curtos/profundos, largos/estreitos, meio de quadra/esquina;

- topografia do terreno, visuais, orientação solar, etc.;

- pressão dos edifícios do entorno sobre o projeto.

Programa: - arranjo em alas desconectadas ou espaço contínuo;

- arranjo térreo ou em níveis.

CONFIGURAÇÃO DAS ALAS

Posições dos elementos de composição: - regular;

- irregular no perímetro externo/aceito no interior/ volume isolado;

Linha circulatória: - especializada e sugerida.

- periférica e centralizada;

EIXOS DE ACESSO E CIRCULAÇÃO DO CONJUNTO

Halls

Corredores ou circulações:

ESPACIALIDADE

Características compositivas: - planos horizontais, planos verticais e aberturas;

Percursos no espaço: - posição e dimensão de portas e janelas;

- dimensões proporcionais dos ambientes;

- visuais

- layout do mobiliário

Relações entre ambientes : - abertas ou fechadas;

- dinâmicas ou estáticas.

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ECONCEITOS

Espacialidade se relaciona com a experiência concreta do espaço, através do movimento, e com o

significado que ele passa a ter para as pessoas. (LEATHERBARROW, 2008).

Este conceito se aproxima do conceito de tipologia espacial: “[...] a tipologia formal na sua

concepção completa, aquela da tridimensionalidade dinâmica (onde interferem as relações, ou seja, o

movimento como ‘quarta dimensão’)” (CORNOLDI, 1994, p. 18, tradução nossa).

RELEVÂNCIA

O estudo da espacialidade (ou tipologia espacial) passa a ter importância ao se perceber que um

arranjo tipológico convencional, depreendido da análise bidimensional do objeto, não traduz a sua

complexidade. Arranjos tipológicos diferentes podem desfrutar de uma mesma espacialidade, assim

como casas com mesmo tipo podem não desfrutar de uma mesma espacialidade. (CORNOLDI, 1999)

MÉTODO

Busca-se identificar a tensão vivenciada nas sequências espaciais:

1. Definir percursos: sugere-se entre hall de entrada > setor social > setor íntimo (fazer planta com

estações de observação. Cada estação define uma imagem 3d, que ilustra a análise)

2. Analisar características e as relações entre os ambientes:

• Características compositivas dos ambientes: é uma descrição objetiva, absoluta, e

procura descrever a coisa em si, o espaço geométrico.

• Características dos percursos no espaço e Relações espaciais dos ambientes com os

seus adjacentes: são descrições relativas, destacando a existência dos objetos e a

relação de uns com os outros, ou seja, o espaço topológico

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São descritos os elementos de arquitetura, ou “fechamentos”, que definem a qualidade espacial dos ambientes:

PLANOS HORIZONTAIS:

Pisos: as variações de níveis dos pisos determinam a classificação dos planos horizontais:

piso-base, piso-elevado e piso-rebaixado.

Forros: O plano de cobertura pode determinar e articular volumes dentro de um espaço interior,

modificar a proporção de um ambiente, ou ainda permitir a entrada de luz e da ventilação.PL

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ABERTURAS:

• nos planos: rodeada

perimetralmente pelo plano

• nos cantos: dispostas junto às

arestas dos volumes

• entre planos: disposta

horizontalmente entre as paredes, ou

verticalmente, entre o teto e o piso.PL

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São destacadas tensões promovidas pelos aspectos direcionais e visuais

dos ambientes.

Condicionam estas tensões:

• Dimensões proporcionais dos ambientes;

• Posição e dimensão de portas e janelas;

• Visuais, antecipando visualmente os ambientes na sequência

espacial e preparando o fruidor para a experiência que irá vivenciar;

• Layout do mobiliário, indicando “barreiras” x passagens;

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STipos de tensão a serem registradas:

Tensão unidirecional ocorre:

• em ambientes configurados por planos

paralelos fechados, com a luz disposta

em um de seus lados;

• em ambientes mais estreitos e

compridos, que induzem à circulação;

Tensão na diagonal da planta ocorre:

• em ambientes com aberturas nas

arestas do volume,

Tensão multidirecional ocorre:

• em ambientes com excessiva

disposição de aberturas em um de

seus planos, rompendo o seu caráter

direcional;

• em ambientes suscetíveis a se

subdividir em várias zonas

Caráter estático ocorre:

• em ambientes com proporções

quadráticas;

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SAs sequências espaciais entre os ambientes podem ser

abertas ou fechadas, dinâmicas ou estáticas:

Relações fechadas: caracterizam os espaços da vida

privada ou espaços comuns que exigem isolamento,

acessados por uma única porta.

Relações abertas: caracterizam os espaços que, sem

portas, ganham liberdade de comunicação, atendendo às

demandas de vidas domésticas ricas em interações.

Relações estáticas: são aquelas em que a todos os espaços

estabelecem uma conexão única, normalmente organizada

por um eixo simétrico.

Relações dinâmicas: são aquelas em que as relações

espaciais provocam tensões entre áreas principais e áreas

marginais. As relações dinâmicas são favorecidas pelos

sistemas assimétricos e pela geometria adotada. A assimetria

permite o imprevisto e o deslocamento livre e dinâmico nas

sequências espaciais. A geometria aditiva, com

deslocamentos e sobreposições de volumes, pode também

promover ângulos com situações particulares, configurando

uma planta com vários centros e níveis de tensão.

As variáveis - aberto-fechado e estático-dinâmico - podem

sobrepor-se, criando inúmeros tipos de sequência espacial.

ANEXO 3

Passo a passo para o trabalho de registro de uma residência (redesenho e modelo tridimensional) 1º passo – conhecendo o material

será fornecido pelo professor da disciplina uma pasta nomeada alunos_material, onde você encontrará:

o arquivo Instruções.pdf fornece as informações necessárias para elaboração e formatação do trabalho

os arquivos têm um padrão para nomeação que deverá ser seguido, uma espécie de abreviação para facilitar o trabalho:

redesenho: rd modelo digital: md modelo físico: mf quadro analítico: qd imagens analíticas: ia (contidas dentro do quadro analítico)

a pasta entrega vem dividida em subpastas e essa organização deve ser mantida, apenas renomeando-as quando for necessário, trocando a

palavra “casa” pelo nome da residência em estudo (ver pasta exemplo)

na pasta 01. material encontrado deve ser colocado todo material de relevância encontrado nas pesquisas (desenhos técnicos, croquis, fotografias antigas, textos, documentos, etc.)

na pasta 02. material elaborado deverá ser colocado o material elaborado pelos alunos: redesenho em formato .dwg modelo tridimensional digital em formato .skp imagens do modelo tridimensional em formato .tif quadro analítico em formato .dwg imagens analíticas em formato . tif modelo tridimensionais analíticos em formato .skp

Em caso de dúvida, não deixe de olhar a pasta exemplo encaminhada juntamente a esse material. 2º passo – elaboração do redesenho

O trabalho se inicia na pesquisa, coleta de dados sobre a residência e arquiteto em questão; A partir do material encontrado será elaborado o redesenho da residência, que será resultado da interpretação dos materiais encontrados;

...

O template do redesenho está disponível dentro da pasta 02. material elaborado - nomeado como casa_rd.dwg -, assim como o arquivo de penas_rd, configurado para a utilização dos layers presentes no arquivo fornecido;

Dentro do arquivo casa_rd.dwg estão presentes todos os layers necessários para a representação padrão; Os símbolos contidos no template devem respeitar a escala em que o desenho será visualizado no layout; A prancha padrão está no layout e tem o tamanho de uma folha A3;

Não esquecer! O nome do arquivo deve ser substituído como no exemplo 3º passo – elaboração do modelo tridimensional digital

Com o redesenho finalizado, passa-se para o modelo tridimensional digital; O template (casa_md) para esta etapa também está na pasta 02. material elaborado, como pode ser observado no esquema acima; O arquivo de SketchUp deve ser configurado no Estilo de engenharia, evitando a vista do horizonte (divisão por cores). Abaixo o caminho para

alterar o estilo no programa: Janela -> Estilo -> Estilos Padrão -> Estilo de engenharia

O arquivo enviado já está com o estilo configurado corretamente, também neste arquivo existem exemplos de materiais e objetos, como a imagem humana e o modelo de árvore que devem ser utilizados.

Alguns pontos que devem ser levados em consideração para garantir a qualidade do modelo: Identificar os materiais que se destacam na edificação e evidenciá-los; Utilizar as texturas definidas no template sempre que possível; Levar em consideração somente a vegetação que for parte do projeto, ou que tenha grande importância para as decisões projetuais; Fazer o entorno da residência, locando-a no lote, quadra e marcando as ruas circundantes, além das edificações vizinhas que devem ser

representadas como prismas translúcidos, apenas como referência de gabarito e taxa de ocupação dos lotes próximos à residência.

Com o modelo finalizado, passa-se para a etapa de captura de imagens, onde teremos imagens em cores e em preto e branco: Salvar 10 cenas no SketchUp, mostrando as cenas descritas adiante; Exportar as 10 imagens (cenas) em .tif com o estilo sombreado com texturas; Fazer imagens com sombra

Não esquecer! A casa deve estar com o norte correto para que a sombra esteja de acordo com a original, afinal a orientação solar é um fator considerado na decisão projetual. Atenção! Para não perder a qualidade da imagem, faça o seguinte procedimento para exportar suas imagens:

Vá até o menu ARQUIVO > EXPORTAR > GRÁFICO 2D Na janela de exportação:

Escolha o formato Arquivo TIF (*.tif) Em seguida, aperte no botão Opções... (no canto inferior direto)

Nessa nova janela, desmarque a opção de “Usar tamanho da visualização” Depois coloque o valor de 4500 pixels para a Largura Marque a opção de Suavização de serrilhado

E finalmente exporte a imagem com o nome correto.

As imagens devem ser exportadas (cenas) e nomeadas conforme ordem abaixo: VISTA SUPERIOR – IMPLANTAÇÃO

nome do arquivo: casa_md (1) FACHADAS PERSPECTIVADAS

nome do arquivo: casa_md (2) nome do arquivo: casa_md (3)

nome do arquivo: casa_md (4) nome do arquivo: casa_md (5)

VISTAS SUPERIORES PERSPECTIVADAS - quatro cantos do terreno

nome do arquivo: casa_md (6) nome do arquivo: casa_md (7)

nome do arquivo: casa_md (8) nome do arquivo: casa_md (9) VISTA DO OBSERVADOR

nome do arquivo: casa_md (10)

Utilizar as 10 cenas feitas anteriormente e

exportá-las com o estilo de linha oculta

(essas são as imagens em preto e branco)

4º passo – elaboração do modelo tridimensional físico

O modelo deve ser ANALÍTICO Modelo analítico ≠ Modelo comercial

Materiais da maquete física: Papel paraná Papelão de sapateiro Papel duplex Papel micro-ondulado Papel camurça Papel craft

Cartolina Isopor Cola de isopor Acetato MDF...

Como fotografar o modelo digital físico:

Câmera fotográfica com resolução superior a 10 megapixels Boas condições de luz Fundo homogêneo preto ou branco

Não colocar efeitos nas fotos, como p&b, sépia, vintage, etc. Exemplos:

http://www.historiaenobres.net/

5º passo – elaboração do quadro analítico Dividido em três grupos: funcional, formal e construtivo; O quadro analítico é o produto de toda interpretação e descobertas feitas ao longo do trabalho; A síntese (texto) deve ser produto das imagens analíticas (elaboradas pela equipe); As imagens do modelo digital ou físico que forem usadas no quadro, devem estar dentro da mesma pasta que o arquivo casa_qd.dwg e

nomeadas como casa_ia, como no exemplo; Caso não seja possível analisar um dos parâmetros, a linha deve ser desconsiderada (apagada) e o quadro deve ser reajustado; Se houver alguma peculiaridade no objeto de estudo, é possível acrescentar um novo parâmetro ao quadro (em comum acordo com o

orientador); O arquivo de penas é diferente daquele destinado ao redesenho, e está na pasta; No template estão presentes instruções importantes que devem ser seguidas.

ANEXO 4

ANEXO 5

ANEXO 6

RESIDÊNCIA WP

Local Sete Lagoas, MG

Ano 2005 Escritório Arquitetos Associados

Autoras: Ana Elísia da Costa, Ana Paula Lunardi e Cristina Piccoli

Implantação e Partido Formal

A Casa WP é uma residência unifamiliar de uso regular, localizada em um condomínio urbano com frente para o Lago do

Cercadinho em Sete Lagoas, Minas Gerais. Finalizada em 2007, o projeto aproveita totalmente o lote de meio de quadra

estreito e profundo através da adoção de um partido decomposto linear construído junto a uma das divisas. Aproveitando a

topografia levemente acidentada também foi explorado a utilização de meio-níveis na composição. (Figura 1)

A composição, constituída de um bloco tripartido, possui três volumes com características distintas: um frontal, mais fechado

e pesado, que evita uma relação direta com a rua (Figura 2 (a)); um volume intermediário, destacado do conjunto pela

elevação da laje de cobertura, e, consequentemente dos planos verticais que a sustentam, estes últimos de paradoxal leveza

em função do fechamento com grandes painéis de vidro o que possibilita a integração física e visual com o exterior (Figura

2(b)); e o volume posterior, menor e mais alongado, implantado a meio-nível, que através das venezianas permite a relação

aberta ou fechada para o exterior (Figura 2(c)).

Completando a composição, o plano horizontal elevado se prolonga até a divisa oposta, criando um volume “vazio” que

intercepta perpendicularmente o primeiro. Sob este, o terraço elevado privilegia a vista para a lagoa (Figura 2 (b)).(Figura

2)

Figura 1: Vista Superior e Fachada Perspectivada. Residência WP. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 2: Perspectivas da casa. Residência WP. Arquitetos Associados.

Fonte: http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=residencia-wp

Configuração funcional

A composição tripartida está explícita na organização funcional, onde os setores estão distribuídos linearmente a partir do

de serviços, passando pelo social e finalmente chegando ao íntimo.

Na parte frontal, encontram-se os ambientes de serviços: depósito, área de serviço, dependência de empregados e cozinha.

Sucessivamente, está o setor social, com salas de estar, jantar e TV, que se articula com o terraço elevado, constituindo um

estar externo que possibilita a contemplação da paisagem. Sob ele, foram alocadas as vagas de estacionamento, levemente

rebaixadas em relação ao corpo da casa. Na última faixa estão os dormitórios, ocupando a porção final e mais elevada do

lote, reforçando o caráter íntimo deste setor. (Figura 3)

O arranjo linear fica ainda mais destacado pelo modo como são feitos os acessos, as circulações e no modo de disposição

dos elementos de composição.

Para ingressar na residência é possível utilizar a porta de serviços, que garante autonomia de acesso a este setor, ou a

social, que se inflete sobre o percurso de entrada, como um convite. Uma vez dentro da residência, obedecendo a uma regra

implícita são três os modos de circulação: no setor de serviços, a passagem é feita através dos ambientes, ou “en suite"; no

setor social, ela é sugerida pela disposição do mobiliário e dos ambientes e no setor íntimo, a circulação periférica

espacializada remete ao recolhimento inerente desses cômodos. Por fim, os elementos irregulares de composição – como

banheiros - estão internalizados na planta, liberando a fachada para os elementos regulares - quartos e salas - dispostos

sequencialmente numa rígida modulação. (Figura 4)

Figura 4: Circulações e elementos de composição. Residência WP, 2005. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 3: Zoneamento. Residência WP, 2005. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Espacialidade

O ingresso principal à casa acontece pelo acesso social localizado a meio nível do passeio público, através de uma pequena

rampa que termina em um plano – a porta. Este elemento de arquitetura bloqueia a vista do restante da edificação e fecha

a parede de vidro inclinada a 45° que configura o pequeno hall de entrada, que imediatamente introjeta o usuário na sala de

usos integrados. Ali o pé-direito elevado e o plano envidraçado voltado para o estar externo, garantem uma forte sensação

de amplidão. Já a iluminação abundante vinda da fachada sul é dramatizada pelos planos opacos em U e não sofre influência

considerável pela iluminação zenital na extremidade oposta, prevalecendo uma tensão unidirecional. (Figura 5)

A diferença de cota a meio-nível mais alto no estar TV é o preambulo de que uma modificação irá acontecer. Esta estratégia

cria um ambiente mais aconchegante, apesar da relação aberta com o anterior, hierarquicamente mais imponente. A

compressão causada pelo desnível é reforçada pela inserção de um dos elementos de composição irregulares, o que

conforma o estar TV e cria o vestíbulo para a área íntima. Esta, organizada por um corredor, que, pela sua geometria, tem

a esperada tensão unidirecional colocada em cheque com o sequenciamento de portas de acessos aos dormitórios e a

contribuição dramática da iluminação zenital. (Figura 6)

Figura 5: Espacialidade hall e estar. Residência WP, 2005. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Ao adentrar nos quartos, a compressão espacial é potencializada no halls íntimos, pela diminuição do pé-direito e

estreitamento entre os planos do closet e do banheiro. Logo após ocorre uma dilatação espacial devido a mudança de

dimensões do ambiente e pela iluminação vinda pelo plano frontal envidraçado, tornando a espacialidade do percurso mais

dinâmica. (Figura 7)

Figura 7: Espacialidade quartos. Residência WP, 2005. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 6: Espacialidade estar íntimo e corredor. Residência WP, 2005. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

RESIDÊNCIA ML2

Local Brumadinho, MG

Ano 2008 Escritório Arquitetos Associados

Autoras: Ana Elísia da Costa, Ana Paula Lunardi e Cristina Piccoli

Implantação e Partido Formal

A residência ML2 foi projetada em 2008 e possui caráter suburbano, estando implantada em um condomínio residencial

fechado em Brumadinho, Minas Gerais. O projeto, com 535m², adota um partido linear, condicionado principalmente pelas

dimensões e topografia acidentada do terreno. Posicionado paralelo à rua de acesso, na parte mais alta do lote, o volume

principal gera uma barreira entre o espaço frontal-público, e o espaço posterior-privado, que explora as visuais e a insolação

mais favorável à noroeste. Um volume menor, transversal ao volume principal, se acomoda na topografia descendente e

serve como apoio para o volume principal. (Figura 1)

Formalmente, a composição resultante é aditiva, sugerindo inicialmente dois volumes individualizados – volume-base e corpo

principal – que não se tocam diretamente. Contundo, o corpo principal é subdividido em dois volumes longitudinais: um frontal

e outro posterior. O volume frontal, delimitado por dois planos longitudinais, é pesado e estabelece uma interface pouco

generosa com a rua – nele se abre apenas a porta do acesso principal. O volume posterior caracteriza-se por uma maior

leveza compositiva, alcançada através da subtração no volume que dá espaço ao deck-piscina e através das grandes

aberturas das salas e quartos. A leveza desta fachada também contrasta com o peso visual das paredes em concreto do

volume-base, peso visual este que é amenizado por uma grande esquadria que abre o volume para a parte posterior da casa.

(Figura 2)

Figura 1: Esquema de Implantação e Volumetria. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 2: Composição aditiva e tratamento das fachadas. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015; http://www.arquitetosassociados.arq.br/home/?cat=6&lang=pt

Configuração funcional

Relacionando-se com a composição volumétrica, o programa da casa está organizado em dois níveis. O pavimento térreo

abriga o programa principal, com os setores social, íntimo e parte do setor de serviço (cozinha e despensa). O pavimento

inferior abriga ambientes voltados ao trabalho (ateliê e estúdio) e demais ambientes do setor de serviço, incluindo a grande

garagem. (Figura 3)

Os elementos de composição regulares, como quartos e salas, se voltam para interior do lote e são dispostos linearmente

em uma rígida modulação, cuja pauta é interrompida pelo arranjo do deck-piscina (Figura 4). Esta disposição proporciona

privacidade aos ambientes em relação à rua, bem como tira proveito da melhor orientação solar e das melhores visuais da

área densamente arborizada.

Já os elementos de composição irregulares, como cozinha, despensa, lavabo, closet e banheiro, estão posicionados no

perímetro externo e frontal, onde a orientação solar é menos favorável à permanência prolongada. Observa-se ainda que,

em duas suítes, os banheiros estão internalizados na planta, liberando a fachada para o arranjo dos quartos. (Figura 4)

O programa é completado com o terraço-jardim da cobertura, que, devido a sua cota elevada, proporcionada uma vista

panorâmica.

Figura 3: Zoneamento dos pavimentos térreo e subsolo. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 4: Modulação compositiva e elementos irregulares na composição. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

O acesso principal da casa ocorre pelo térreo, através do hall de entrada, posicionado simetricamente na parte frontal da

composição. Essa disposição centralizada permite que os percursos sejam independentes entre os diferentes setores e

níveis (subsolo e cobertura), bem como reduz os deslocamentos horizontais. Somente a cozinha não possui acesso exclusivo,

exigindo um percurso pela área social. (Figura 5)

Na extensão da casa, a circulação principal se comporta nas mais diversas formas, ora “sugerida”, na continuidade espacial

das salas e cozinha; ora “especializada”, configurando um longo corredor que conduz aos ambientes privados, (Figura 6).

O acesso de serviços ocorre através do pavimento inferior (subsolo), ligado à rua através de uma rampa. Neste pavimento,

uma circulação periférica conecta as duas escadas que levam ao pavimento superior. (Figura 6)

Espacialidade

O acesso à residência ML2 se dá através de uma abertura central no plano vertical opaco, oferecendo uma única forma de

percurso social. Ao adentrar na habitação, depara-se com um pequeno hall de entrada, que oferece três possibilidades de

direção: o acesso direto e frontal para o interior da casa, o acesso descendente à direita para o subsolo e o acesso

ascendente à esquerda que leva o usuário à cobertura-jardim. (Figura 7)

Figura 5: Esquemas de circulações a partir do hall, em planta e corte. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 6: Sistema de circulação do térreo e subsolo. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Do hall de acesso ao setor social, o percurso contempla a passagem pelo corredor que se abre física e visualmente para o

deck-piscina e, mais ao fundo, para a paisagem. Dali, já se antecipa visualmente a experiência espacial que a sala irá

proporcionar. Circular na casa é um grande passeio, uma promenade. A geometria da circulação – linear, com o extenso

plano vertical opaco que a isola do setor de serviços – sugere uma tensão unidirecional, que é rompida pelos efeitos de luz

que incidem sobre o espaço: de um lado, a luz abundante, vinda da fachada envidraçada a noroeste; por cima, a iluminação

zenital, que é ritmada pela modulação da estrutura. (Figuras 8)

O ingresso da sala, delimitada em três de seus lados por grandes superfícies envidraçadas, ainda estabelece uma

continuidade espacial entre o interior e exterior, provocando uma tensão visual multidirecional, com muitos pontos focais

de interesse. Os limites deste grande estar tornam-se ainda imprecisos, por estar integrado com a cozinha e dilatados em

relação às varandas, quando os grandes painéis envidraçados são abertos. (Figura 9)

Do hall de acesso ao setor íntimo, a experiência espacial remete àquela vivenciada no percurso para o setor social, contudo,

mais limitada pelas dimensões do estar TV e pela antecipação visual do corredor íntimo ao fundo. Assim, a passagem pelo

corredor e sala de TV ainda é uma experiência aberta e dinâmica, sendo interrompida pelo corredor íntimo, que define uma

experiência mais fechada e estática, e indica a penetração num território mais íntimo e privado. (Figura 17)

Figura 7: Espacialidade do hall de entrada. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 8: Espacialidade da circulação e efeitos de luz. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 9: Experiência espacial da sala e visuais com painéis envidraçados abertos e fechados. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Do hall de acesso ao setor íntimo, a experiência espacial remete àquela vivenciada no percurso para o setor social, contudo,

mais limitada pelas dimensões do estar TV e pela antecipação visual do corredor íntimo ao fundo. Assim, a passagem pelo

corredor e sala de TV ainda é uma experiência aberta e dinâmica, sendo interrompida pelo corredor íntimo, que define uma

experiência mais fechada e estática e, indica a penetração num território mais íntimo e privado (Figura 10).

A compressão espacial promovida na passagem pelo corredor íntimo é mantida no ingresso dos quartos, com a passagem

pelos halls íntimos, que levam ao closet e banheiro. Transposto este hall, o percurso sofre uma nova dilatação espacial, quer

pela mudança de dimensões dos ambientes, quer pela incidência de luz vinda da grande abertura entre planos, que dilata as

dimensões dos quartos e dinamiza a experiência espacial. Contudo, a experiência espacial nos quartos é mais serena do que

aquela vivenciada no setor social, marcada por uma forte tensão multidirecional. (Figura 11)

Figura 10: Experiência espacial do hall de acesso ao setor íntimo. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 11: Espacialidades dos quartos. Residência ML2, 2008. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

2

3

1

CASA DO CUMBUCO

Local Cumbuco, CE

Ano 2013 Escritório Arquitetos Associados

Autoras: Ana Elísia da Costa, Ana Paula Lunardi e Cristina Piccoli

Implantação e Partido Formal

A Casa do Cumbuco é uma residência unifamiliar projetada em 2013 e desenvolvida em um condomínio fechado na praia do

Cumbuco, no Ceará. Seu terreno plano, de grandes dimensões (3.562m²), ocupa uma esquina, com testada para a praia.

(Figura 1) A vista privilegiada, o programa extenso e o desejo de privacidade, tanto em relação aos vizinhos, quanto à rua,

condicionaram a adoção de um partido decomposto em dois níveis.

Um volume prismático e um plano vertical são dispostos paralelamente, próximos às duas extremidades longitudinais do

lote. A disposição do primeiro, a sudeste, garante privacidade em relação ao vizinho; o segundo, a noroeste, isola a casa em

relação à rua principal do condomínio. Esse plano serve de apoio a um talude, que mimetiza o volume da escada e sauna, ao

mesmo tempo em que protege os usuários de olhares indesejados. (Figura 2)

Sobre o volume o plano descritos anteriormente, apoia-se um volume transversal, que privilegia a vista para a praia. Esse

arranjo resulta em dois grandes pátios, que, isolados pelo volume translúcido do térreo, preservam uma continuidade visual

entre si. (Figura 2)

Figura 1: Situação e localização. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados.

Fonte: http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=casa-no-cumbuco e LUNARDI, 2015.

Figura 2: Volumetria e talude. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados.

Fonte: http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=casa-no-cumbuco

Configuração funcional

O volume térreo abriga, além do setor de serviços (garagem, área de serviço, depósito e dependência dos empregados), as

dependências dos hóspedes, as circulações verticais e a sauna. No volume perpendicular a este, de dois andares, se encontra

no térreo o setor social da casa, com cozinha, jantar e estar. Já no pavimento superior acolhe o setor íntimo, que compreende

as suítes, sala de TV, escritório, mezanino e a escada de acesso à cobertura mirante. (Figura 3)

Os quartos e o espaço de convívio estão dispostos linearmente, e são voltados para a orientação solar e visuais mais

favorável. Em contraponto, os elementos irregulares estão internalizados na planta, liberando a fachada para os ambientes

principais. (Figura 4)

Quatro acessos independentes são definidos de acordo com os usos (social, veículos, serviços e casa do caseiro), revelando

a autonomia de uso dos setores. O acesso principal ao lote ocorre no térreo, sobre espelhos d’água, em um eixo que permite

o acesso direto à praia desde a entrada.

Já o acesso ao interior da residência ocorre de maneira fluida, através dos grandes painéis envidraçados do estar e do

espaço que, ao longo do percurso que liga o acesso principal à praia, sugere ser um hall. Decorrente deste arranjo, o layout

do estar ocupa uma posição centralizada, sugerindo duas circulações periféricas. As circulações periféricas ocorrem

Figura 3: Zoneamento. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 4: Elementos Irregulares. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

também no pavimento superior, sendo uma interna, que conduz ao interior dos ambientes; e outra externa, através da grande

varanda que liga os quartos ao deck-piscina. (Figura 5)

Espacialidade

Passando pelo grande pátio frontal e adentrando ao espaço que sugere ser um hall, a experiência é aberta e dinâmica. O hall

promove uma leve compressão espacial, determinada pela sobreposição do pavimento superior. A partir desse espaço de

recepção, aberto e coberto, o usuário escolhe livremente seguir para a praia ou adentrar na sala, cujos planos envidraçados

antecipam visualmente o ambiente interno a ser vivenciado na sequência espacial. (Figura 6)

Na sala, a geometria do espaço, com vários ambientes em sequência, sugere horizontalidade, que é enfatizada pelo

fechamento com os dois planos envidraçados paralelos. Nesta caixa envidraçada, a experiência espacial é multidirecional,

com relações visuais abertas e dinâmicas com o exterior. No entanto, a horizontalidade sugerida é tensionada verticalmente

pelo mezanino, que estabelece uma continuidade espacial com o pavimento superior. (Figura 7)

Figura 6: Espacialidade do hall de recepção. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 7: Espacialidade do espaço de convívio. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 5: Circulações e acessos. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

O acesso ao setor íntimo ocorre através de duas escadas localizadas em pontos opostos, uma no interior da residência,

outra externa. Ambas circulações são estreitas e fechadas, indicando um acesso mais privado. Ao chegar pavimento

superior, a experiência visual é ampliada, devido às dimensões do espaço e ao painel envidraçado em uma das laterais. No

entanto, a proteção do painel por brises promove ainda uma atmosfera intimista, anunciando o ingresso no território mais

privado da casa – o quarto. (Figura 8)

A experiência parcialmente dilatada do corredor íntimo é interrompida no ingresso do quarto. A passagem pelos halls

íntimos, entre o closet e o banheiro, promove uma suave compressão espacial, seguida de nova dilatação com o ingresso

nos quartos, promovida pela mudança de dimensões dos ambientes e pela grande esquadria que abre o quarto para o

exterior. (Figura 9)

2

3

1

Figura 8: Espacialidade da circulação íntima. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 9: Espacialidade do quarto. Casa do Cumbuco, 2013. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

ANEXO 7

RESIDÊNCIA

WP

RESIDÊNCIA

ML2

CASA DO

CUMBUCO

Local: Sete Lagoas,

MG | Ano: 2005 Local: Brumadinho,

MG | Ano: 2008 Local: Praia do Cumbuco,

CE | Ano: 2013 Escritório Arquitetos Associados

Autoras: Ana Elísia da Costa, Ana Paula Lunardi e Cristina Piccoli ANÁLISE COMPARATIVA: RESIDÊNCIAS WP, ML2 E CUMBUCO

Implantação e Partido Formal

Apesar de estarem situadas em condomínios residenciais fechados, as três casas analisadas tem um caráter introspectivo,

privilegiando as relações da edificação e dos usuários com os pátios intramuros. Porém em todos os casos há uma espécie

de flerte com o exterior, promovido pela criação de espaços que permitem desfrutar da melhor visual, seja ela o lago (Casa

WP), o mar (Casa do Cumbuco) ou a mata nativa (Casa ML2). Esta parece ser a regra norteadora para a implantação das

edificações, mas sem deixar de lado outros condicionantes, como a orientação solar e a topografia (figura 1). Decorrente

disto nota-se que a estratégia preferida do escritório para resolver o problema projetual é a adoção de partidos

decompostos de arranjo linear decompostos, onde, invariavelmente, os volumes estão perpendiculares entre si.

Chama também a atenção a repetição da solução de tratamento dos volumes . Os setores de serviço são sempre volumes

fechados, com um grande peso visual, promovido pelo falta de aberturas para o exterior e pelos revestimentos, ao contrário

do que nos setores sociais e íntimos, estes sempre recebem planos envidraçados, que garantem leveza e permeabilidade,

visual e física, com o entorno circundante. (Figura 2)

Figura 1: Partidos decomposto lineares das residências WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 2: Composição e tratamento das fachadas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

Configuração funcional

Há sempre uma lógica tradicional na disposição dos ambientes e setores, sem que haja uma miscigenação entre eles. Quando

a edificação permite, áreas sociais e de serviços, ocupam o andar ou nível inferior. Nos outros casos, a linha rege a

organização funcional obedecendo sempre a mesma estrutura: serviços/social/íntimo. (Figura 3).

Outra solução recorrente, observada nos três projetos, é o deslocamento dos elementos irregulares de composição para o

interior ou perímetro externo da edificação, em orientações solares menos favoráveis à permanência prolongada ou longe

dos olhares estranhos. O resultado disto é a liberação das fachadas para os elementos regulares de composição, como

quartos e salas que acabam por receber a melhor orientação solar, e terem vista privilegiada para o exterior. (Figura 4)

Quanto aos acessos, nunca existe dúvida: o principal, sempre ao final de um percurso refinadamente pensado, leva o usuário

a área social. As outras entradas, sempre de serviços, estão discretamente posicionadas em pontos estratégicos da fachada

e daquele setor, denotando clara hierarquia. Já as circulações no setor social podem ser de duas formas - ou sugerida,

através da disposição do mobiliário, como nas residências WP e ML2, ou “em suíte” na casa do Cumbuco, ao contrário daquela

Figura 4: Elementos regulares e irregulares nas casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 3: Zoneamentos nas casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados

Fonte: LUNARDI, 2015.

realizada no setor íntimo, onde em todos os projetos a circulação é espacializada, dada a natureza mais íntima dos ambientes.

(Figura 5)

Espacialidade

É na espacialidade que parece se concentrar grande parte da experimentação projetual do escritório. O maior destaque está

no modo como o usuário é recebido em cada uma das casas. O percurso delimitado é uma constante assim como a variedade

de sensações a serem provadas. Na Casa ML2 o hall é um espaço de compressão com tensões multidirecionais, na Casa WP

a parede em 45º convida o usuário a adentrar a residência, enquanto que na Casa no Cumbuco o hall promove relações

dinâmicas e abertas causados pelosplanos envidraçados que antecipam o ambiente interno (Figura 6)

A continuidade espacial entre interior e exterior está presente no setor social das três casas, garantido a estes ambientes

tensão visual multidirecional, com relações abertas e dinâmicas com o exterior. (Figura 7)

A circulação espacializada na área intima, promove uma sensação de compressão, mas que nos corredores das casas WP e

ML2, com a utilização de aberturas zenitais, este efeito é contrastado pela iluminação abundante vinda de um dos lados de

cima e pelo plano cego no outro. (Figura 8)

Figura 5: Acessos e circulações nas casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 6: Espacialidade do hall de entrada nas casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 7: Espacialidade do setor social nas casas WP, ML2 e Cumbuco. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

Outra característica comum nos projetos é a experiência dinâmica promovida no ingresso aos dormitórios, causada pelo

efeito rítmico entre contração, ao passar pelos halls íntimos e dilatação, depois de transpostos, originada pela a combinação

da geometria e dimensões dos quartos e a posição das aberturas. (Figura 9)

Considerações Finais

A conjugação de uma composição volumétrica decomposta organizada por um partido linear, solução projetual adotada

pelo escritório Arquitetos Associados nas três residências analisadas nesse trabalho, resultou em casas voltadas para o

interior do lote, que buscam dar privacidade ao usuário, ao mesmo tempo que permitem um olhar contemplativo

extramuros.

Essa estratégia, utilizada em terrenos com características distintas, gerou resultados também distintos, mas não tanto a

ponto de ser possível identificar algumas similaridades: a) setorização clara, otimizada pela estrutura linear; b)

internalização ou concentração dos elementos irregulares de composição, gerando plantas fluidas nos espaços de convívio

e descanso; c) forte integração visual do interior com exterior; d) aproveitamento da orientação solar; e) tratamento dos

volumes de forma leve e aberta, através a utilização abundante do vidro, nos setores sociais e íntimos, em contraste com

os volumes de serviços, pesados e fechados.

Por fim, a espacialidade aparece como o efeito que parece ter sido mais intensamente pesquisado na construção deste

vocabulário projetual utilizado pelos escritório mineiro. Não há casualidade no uso de planos opacos, translúcidos e

aberturas zenitais. Isso fica evidente nos contrastes rítmicos de contração e dilatação espacial presentes nas circulações

íntimas e nas relações abertas promovidas pelas fachadas envidraçadas das áreas sociais que proporcionam múltiplos

Figura 8: Espacialidade da iluminação zenital nas casas WP e ML2. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

Figura 9: Espacialidade do quarto na casa WP. Arquitetos Associados.

Fonte: LUNARDI, 2015.

pontos focais de interesse, causando tensões multidirecionais. Enfim, estar em uma casa de partido linear do escritório

Arquitetos Associados é uma experiência sensorial.