47
2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual UC/FPCE Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, subárea de especialização em Psicogerontologia Clínica, sob a orientação da Professora Doutora Margarida Pedroso Lima e da Professora Doutora Maria Manuela Vilar Marinho. UNIV-FAC-AUTOR

Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

20

15

Universidade de Coimbra

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

UC

/FP

CE

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected])

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, subárea de

especialização em Psicogerontologia Clínica, sob a orientação da

Professora Doutora Margarida Pedroso Lima e da Professora Doutora

Maria Manuela Vilar Marinho.

– UNIV-FAC-AUTOR

Page 2: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades

seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a

qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Resumo

Percebida como um objetivo ideal do desenvolvimento humano, a

sabedoria tem vindo a ser considerada, por muitos teóricos, um resultado

positivo do envelhecimento. Esta investigação tem como principais objetivos

estudar o nível de sabedoria – definida como característica tridimensional da

personalidade que combina as dimensões cognitiva, reflexiva e afetiva, tal como

medida pela 3D-WS-19 – em 90 adultos idosos reformados, que participam em

atividades de promoção de envelhecimento bem-sucedido, nomeadamente em

universidades seniores; verificar se este difere consoante o género e o nível de

escolaridade dos sujeitos; e explorar a associação da sabedoria com a abertura à

experiência, com a qualidade de vida e com o bem-estar espiritual. Na

globalidade, os resultados sugerem que a maioria dos adultos idosos em estudo

apresenta um nível médio de sabedoria e que este não difere consoante o género

e o seu nível de escolaridade. A relação da sabedoria com a abertura à

experiência – a qual revelou ser o seu melhor preditor – e com a qualidade de

vida foi confirmada, contrariamente à sua associação com o bem-estar

espiritual.

Palavras chave: sabedoria, adultos idosos, 3D-WS-19, universidade

sénior, abertura à experiência, qualidade de vida, bem-estar espiritual.

Wisdom in older adults engaged in senior universities: A

correlational study with openness to experience, quality of life and

spiritual well-being

Abstract

Regarded as an ideal goal of human development, wisdom has been

considered by many theorists as a positive result of aging. This dissertation has

the main goals of studying the wisdom level – defined as a three-dimensional

characteristic of personality that combines cognitive, reflexive and affective

dimensions as measured by 3D-WS-19 – in a sample of 90 retired older adults

that are engaged in successful aging promotion activities, namely senior

universities; verify if it differs according to gender and educational attainment;

and explore the association of wisdom with openness to experience, with

quality of life, and with spiritual well-being. Generally, the results seem to

suggest that the majority of our sample presents medium levels of wisdom and

it doesn’t differ according to gender and educational attainment. The relation of

wisdom with openness to experience – which was found to be its best predictor

– and with quality of life was confirmed, as opposed to its association with

spiritual well-being.

Key Words: wisdom, older adults, 3D-WS-19, senior university,

openness to experience, quality of life, spiritual well-being.

Page 3: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

Agradecimentos

À insustentável leveza do ser.

A ti, Fernando, meu grande companheiro, pelos abraços, lágrimas e sorrisos;

pela presença incessante nos trilhos da minha redescoberta; por partilhares

comigo a aventura de conquistar a expressão mais elevada do amor, cabal e

colossal. À Professora Margarida e à Professora Vilar, pelos ensinamentos

formais, mas, sobretudo, pelos informais; pela energia e motivação que movem

em mim. A todas as pessoas magníficas e incrivelmente disponíveis com quem

contactei durante a realização deste trabalho. Às duas Mulheres da minha vida:

madrinha Celeste e madrinha Adélia; ao meu grande irmão, David; à minha

mãe, Aldina; à minha pequenina, Madalena; a vocês, pais, padrinho Fernando e

Paulo, pelo carinho incondicional e por me ensinarem a ser quem sou. À

Fortaleza dos Psicobichos – Braga, Bia, Capela, Íris, Sara e Teresa – por dar

mais sentido a Coimbra quando chega o Domingo à noite. À Marta e à

Joaninha, pela amizade autêntica, humildade e espontaneidade. Ao memorável

48 e, especialmente, à Mariana e à Ana, por, passo-a-passo, me terem

proporcionado um lar durante os três anos iniciais deste longo percurso. Aos 18,

com quem cresci. Às Mondeguinas – a cada uma de vocês, pela partilha, vigor e

paixão; por me proporcionarem a possibilidade de crescer e de vencer. Aos

Jotas, pela amizade duradoura. Ao Belo, pela disponibilidade, ajuda e apoio. À

casa que, durante os últimos cinco anos, contribui para o meu desenvolvimento

pessoal e formação profissional – FPCE-UC. À calçada de Coimbra, desde

sempre estimulante e cheia de sonhos.

A todos os que estiveram, estão e estarão.

O meu imenso e profundo bem-haja.

Page 4: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

Índice

Introdução ............................................................................................. 1

I – Enquadramento conceptual ........................................................... 2

1. O processo de envelhecimento e a pessoa idosa ....................... 2

1.1 Perdas e ganhos envolvidos no processo de envelhecimento.. 3

1.2 Envelhecimento bem-sucedido ................................................. 5

2. Sabedoria: um conceito multidimensional ................................ 6

2.1 Conceptualizações acerca da sabedoria ................................... 8

2.2 Investigação desenvolvida no âmbito da sabedoria ............... 10

2.3 Sabedoria e idade .................................................................... 14

2.4 Sabedoria e abertura à experiência ........................................ 15

2.5 Sabedoria e qualidade de vida ................................................ 16

2.6 Sabedoria e espiritualidade/bem-estar espiritual .................. 17

II – Objetivos ....................................................................................... 19

III – Metodologia ................................................................................. 19

1. Descrição da amostra ................................................................. 19

2. Instrumentos .............................................................................. 20

3. Procedimento de recolha de dados ........................................... 22

4. Procedimentos de análise de dados .......................................... 22

IV – Resultados ................................................................................... 23

1. Nível de sabedoria da amostra em estudo ................................ 23

2. Diferenças ao nível da sabedoria consoante o género e o nível

de escolaridade dos sujeitos ...................................................... 24

3. Associação da sabedoria com a abertura à experiência, com a

qualidade de vida e com o bem-estar espiritual........................ 25

4. Qual o melhor preditor da sabedoria? ...................................... 27

V – Discussão ..................................................................................... 28

VI – Conclusões .................................................................................. 33

Referências bibliográficas ................................................................. 35

Page 5: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

1

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

Introdução Num contexto sociodemográfico pautado pelo aumento da população

idosa, urge como prioridade indiscutível e de grande pertinência o estudo do

envelhecimento – um processo universal, dinâmico, complexo e idiossincrático,

reconhecido, atualmente, como uma etapa desenvolvimental particular do ciclo

de vida. Dentro do horizonte do modelo coextensivo à duração da vida (life

span), este fenómeno envolve um equilíbrio dinâmico e constante entre ganhos

e perdas, permanecendo a sua magnificência na interação entre a maturação, a

aprendizagem e a senescência (Baltes, 1987). É justamente nesta linha, e em

oposição a uma conceção negativa da velhice – a qual lhe atribui as condições

de dependência, de declínio e de passividade irrevogáveis – que emerge uma

nova conceção, dita positiva, da terceira idade (Marchand, 2005). Dispõe esta,

pois, do propósito primordial de explorar o potencial do desenvolvimento

humano na última fase da vida (Villar, 2012) e, ainda, o de identificar as

condições sine qua non de um envelhecimento bem-sucedido e com qualidade.

Ora, numerosos são os autores que, sob a égide desta abordagem positiva,

se propõem a estudar aquele que é considerado um (dos) objetivo(s) “ideal(s)”

do desenvolvimento humano: a sabedoria. Tema de interesse em diversas

tradições culturais, filosóficas e religiosas, e objeto de estudo recente da

Psicologia (Alves, 2011), a sabedoria é tida, por uns, como o domínio da

excelência cognitiva e perspetivada, por outros, como um fenómeno que

envolve não apenas aspetos cognitivos, como também reflexivos e afetivos. Não

obstante a dificuldade em definir o conceito, assiste-se a um assentimento geral

quanto à sua natureza (multi)dimensional, complexa e dinâmica (Barros, 2010).

Ainda que a maioria das investigações neste domínio tenham sido

conduzidas com adultos idosos, parece não existir uma relação linear entre

sabedoria e idade (Jordan, 2005), assumindo-se que esta última variável não é

uma condição suficiente daquela (Lima, 2010). Há, no entanto, o

reconhecimento de que o tempo, a experiência e a prática determinam

positivamente o desenvolvimento da sabedoria, embora diversos autores

assumam e argumentem a existência de outras condições que a promovem (p.e.,

prática de mentor, generatividade) e que se associam ao seu desenvolvimento

(p.e., abertura à experiência, espiritualidade).

É neste sentido que a presente investigação se propõe a estudar o nível de

sabedoria em adultos idosos, pretendendo, concomitantemente, verificar se este

difere consoante o género e o nível de escolaridade dos sujeitos, e ainda

explorar a associação entre esta dimensão da existência humana e outros fatores

articulados com os domínios espiritual, personalístico e da qualidade de vida

dos indivíduos. Relativamente à estrutura da dissertação, no Enquadramento

Conceptual será apresentada a contextualização teórica relativa à(s) temática(s)

em estudo, seguindo-se a explanação dos Objetivos. É apresentada,

seguidamente, a Metodologia, onde são descritos a amostra, os instrumentos

utilizados e os procedimentos adotados. Posteriormente são expostos os

Resultados decorrentes da análise dos dados, os quais são, na Discussão,

relacionados/integrados com as abordagens teóricas preconizadas no

Enquadramento Conceptual. Decorrente da discussão dos resultados e de uma

Page 6: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

2

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

reflexão crítica sobre a investigação realizada foi possível coligir e elaborar as

informações aduzidas nas Conclusões, onde serão igualmente tecidas algumas

considerações relativas às limitações do presente estudo e apresentadas

sugestões para futuros trabalhos.

I – Enquadramento conceptual

1. O processo de envelhecimento e a pessoa idosa

Embora o envelhecimento conte com um amplo domínio de escritos

clássicos desde a Grécia e Roma Antigas até, mais recentemente, aos debates/

estudos atuais (Novo, 2003), “a assunção generalizada de que a idade adulta era

uma época de estabilidade levou a que esta fase do ciclo de vida tivesse sido

negligenciada, durante muito tempo, como objeto de estudo” (Lima, 2010, p.

21). Com efeito, ainda que o envelhecimento não seja uma realidade

contemporânea, só começou a ser estudado sistematicamente no séc. XX,

devido ao aumento da população idosa (Pocinho, Santos, Rodrigues, Pais, &

Santos, 2013). Analogamente a outros países, Portugal presencia a transição de

um modelo demográfico pautado por elevados índices de fecundidade e de

mortalidade para um modelo caracterizado por níveis mais baixos destes. Daqui

advém a inversão da pirâmide populacional, observando-se o estreitamento da

sua base (i.e. diminuição da população jovem) e o alargamento do seu topo (i.e.

o aumento da população idosa) (Carneiro, 2012). De acordo com o Instituto

Nacional de Estatística (INE, 2011), o índice de envelhecimento da população

portuguesa, em 2011, era de 128, significando isto que por cada 100 jovens

existiam 128 idosos, confirmando-se assim a tendência para o incremento da

população idosa e a diminuição da população jovem.

Mas o que se entende por ‘idoso’, ‘velhice’ e ‘envelhecimento’? Embora

a conceptualização destes termos varie consoante o período histórico, a

perspetiva social e individual e as teorias científicas consideradas, hoje em dia é

relativamente aceite que o envelhecimento é um processo universal, gradual e

irreversível, que se inicia com a conceção e termina com a morte, sendo a

velhice uma etapa da vida e o idoso a pessoa que nela se encontra (Lima, 2010).

Segundo Novo (2003), a distinção conceptual de diferentes padrões de

envelhecimento contribui para uma melhor compreensão deste processo. Assim,

o envelhecimento primário/normal é caracterizado pela ausência de doença e

reporta-se às mudanças intrínsecas e irreversíveis do organismo, com o passar

do tempo, o envelhecimento secundário/patológico está associado à presença de

doença e decorre de fatores ambientais, traumas e doenças (Spar & La Rue,

2005) e o envelhecimento terciário diz respeito a alterações precipitadas que são

causa próxima de morte (Birren & Cunningham, 1985). Não obstante o

assentimento de que o envelhecimento não implica obrigatoriamente

deterioração ou doença (Lima, 2010), existe ainda dificuldade em determinar

quais as alterações típicas deste e quais os processos patológicos que, podendo

estar presentes, se diferenciam do avançar da idade (Montorio & Izal, 1999).

Para além de universal, o envelhecimento é também um processo

complexo, dinâmico e idiossincrático, pelo que os indivíduos não envelhecem

todos ao mesmo ritmo (Pocinho, Santos et al., 2013). É neste sentido que, de

Page 7: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

3

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

acordo com Lima (2010, p. 38), “se deve dar importância relativa à idade

cronológica de uma pessoa, devendo antes considerar-se que à mesma podem

corresponder idades diferentes”. Desta forma, para além da idade cronológica,

há que considerar a idade biológica, associada à maturidade física e estado de

saúde; a idade psicológica, relacionada com as dimensões cognitiva, emocional

e motivacional, e com a capacidade de adaptação e de aprendizagem; a idade

social, associada ao estatuto e papéis que se espera que o indivíduo desempenhe

no seio da sociedade (Barros, 2008); e a idade funcional, relacionada com a

competência do indivíduo para continuar a realizar tarefas específicas (Erber,

2013) e manter a capacidade de adaptação ao seu meio ambiente (Novo, 2003).

Ainda que alguns autores tenham proposto dividir a velhice em distintas

categorias baseadas no critério cronológico – tome-se como um dos exemplos a

divisão considerada no recenseamento dos Estados Unidos: idosos jovens

(young-old) (65-74 anos); idosos (old-old) (75-84 anos) e muito idosos (oldest-

old) (+ de 85 anos) (Erber, 2013) –, na perspetiva de Lima (2010), devem

também ser considerados os critérios biológico, psicológico, social e funcional.

De notar que, apesar de a maioria dos autores assinalar os 65 anos como a idade

para a entrada na velhice, de acordo com a Organização Mundial de Saúde

(OMS) esta tem início entre os 60 e os 65 anos (Lima, 2010). Contudo, devido

ao seu carácter arbitrário, a idade que marca a entrada nesta etapa está legislada

a ser a idade de reforma prevista no país em questão. Por este motivo, as

Nações Unidas consideram não haver um marco cronológico para se ser idoso,

aceitando, no entanto, os 60 anos para esse efeito (Carneiro, 2012).

A este respeito, Erber (2013) afirma que um dos principais erros que

poderá ser cometido é considerar que os indivíduos ao atingirem os 60/65 anos

de idade se tornem membros de um grupo homogéneo, pois, como bem salienta

Fonseca (2004, p.74), “a variabilidade interindividual dos idosos é superior à

constatada noutros grupos etários”. Em conformidade com esta ideia estão Vaz

Serra (2006) ao mencionar que, com o passar dos anos, a interação entre a base

genética e o meio ambiente leva a que o idoso apresente níveis cada vez mais

diferenciados e heterogéneos de desempenho biológico, temperamento e

aptidões mentais, e Lima (2010) ao salientar que a heterogeneidade aumenta

com a idade devido à diversidade de experiências acumuladas ao longo da vida.

1.1 Perdas e ganhos envolvidos no processo de envelhecimento

A velhice representa uma etapa da vida marcada por perdas ou por

ganhos? Como resposta a esta questão, Birren e Schaie (1996, citado em Lima,

2004) afirmam a existência de perspetivas teóricas distintas: umas que

concetualizam esta fase como um período de perdas, outras que a descrevem

como uma etapa positiva caracterizada pela estabilidade e/ou ganhos e outras

que assumem uma posição intermédia, afirmando ser uma fase caracterizada

concomitantemente por perdas e ganhos. Um exemplo desta última conceção

teórica é o modelo de desenvolvimento coextensivo à duração da vida1 (life-

span), o qual preconiza não só que o desenvolvimento envolve o equilíbrio

constante entre ganhos e perdas, como também que: este se processa ao longo

do curso de vida; é multidimensional e multidirecional, podendo assumir

1 Surge também na literatura com a designação de Teoria do Ciclo de Vida.

Page 8: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

4

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

diferentes formas e direções dependendo das condições e experiências de vida;

envolve uma grande plasticidade; depende de múltiplos contextos e influências

normativas ligadas à idade e ao período histórico e a acontecimentos de

natureza não-normativa2; e é considerado como uma área multidisciplinar,

devendo o seu estudo e compreensão ter em conta os contributos da Biologia,

da Sociologia, da Antropologia (Baltes, 1987) e da Psicologia.

A diminuição da massa óssea, a atrofia da musculatura esquelética, as

alterações das células e dos tecidos (Santos, Pocinho, Ferreira, Santos, & Pais,

2013), o declínio da acuidade de alguns órgãos dos sentidos e o decréscimo

gradual de determinadas funções de órgãos importantes como o coração,

pulmões e rins (Vaz Serra, 2006), constituem alguns exemplos das alterações

fisiológicas associadas ao processo gradual de envelhecimento primário. Deste

poderão decorrer igualmente alterações ao nível social, como por exemplo, uma

menor participação social (Pocinho, Santos et al., 2013), ao nível psicológico,

tal como a “falta de vitalidade”, o que leva o idoso a preferir atividades que

envolvam um menor esforço físico (Santos et al., 2013), e ao nível cognitivo,

tais como o défice significativo das funções percetivo-espaciais, a redução da

velocidade de realização e o declínio da inteligência fluída (Barros, 2004), a

qual diz respeito ao conjunto de capacidades básicas de natureza biológica e

fisiológica (p.e., atenção, memória, capacidade de concentração) (Horn &

Cattell, 1967). Em contraste, a inteligência cristalizada – referente às

competências e conhecimentos mais sistematizados e dependentes da

aculturação e da aprendizagem (p.e., compreensão verbal, raciocínio/avaliação

de experiências) (Horn e Cattel, 1967) – parece permanecer estável ao longo do

ciclo de vida (Barros, 2004)3. Mais, existem evidências de que, durante a vida

adulta, ocorrem transformações em direção a um estádio de pensamento pós-

formal, o qual é caracterizado pela capacidade em compreender e integrar

pontos de vista contraditórios numa lógica de conciliação entre raciocínios

lógicos e aspetos afetivos (Lima, 2013). Kensinger, College e Hill (2009)

referem que, emocionalmente, após os 60 anos, a capacidade de regulação

emocional do indivíduo parece aumentar, o que resulta na diminuição de

estados depressivos e no incremento do humor positivo. Os autores mencionam

ainda que há uma tendência para os idosos se focalizarem nos aspetos positivos

do meio circundante e escolherem atividades que os preenchem

emocionalmente, tais como passar mais tempo com os amigos ou com a família.

Ao nível da personalidade, de um modo geral, verifica-se a estabilidade das

disposições ou traços da personalidade, numa tensão dinâmica de equilíbrio

entre ganhos e perdas (Barros, 2008). A inteligência emocional, as aptidões

sociais, a consciência crítica, a sinergia de cognições, entre outras, são

2 Enquanto as influências normativas ligadas à idade remetem para fatores biológicos e

ambientais [p.e., maturação biológica (p.e., puberdade) e processos de socialização associados a

diferentes períodos/idades (p.e., entrada na escola)], as influências normativas ligadas ao período

histórico dizem respeito à época em que se vive e aos acontecimentos que ocorrem durante esta

(p.e., epidemias, guerras). Por sua vez, as influências não-normativas abarcam acontecimentos de

vida marcantes e diversificados de indivíduo para indivíduo, que nada têm a ver com a idade ou

com o período histórico (p.e., doenças, acidentes) (Baltes, 1987). 3 Para uma consulta mais detalhada acerca das capacidades intelectuais mais e menos

afetadas pelo curso desenvolvimental, consultar Salthouse (1991).

Page 9: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

5

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

condições únicas que possibilitam ao idoso saudável deter não só um melhor

juízo crítico, como também perspetivas distintas, uma visão mais genérica dos

acontecimentos e um nível de sabedoria mais profundo (Cohen, 2005).

Torna-se assim evidente que o desenvolvimento ao longo do ciclo de vida

se traduz em crescimento (ganhos) e declínio (perdas), abrangendo qualquer

progressão desenvolvimental quer o aparecimento de novas capacidades

adaptativas, quer a perda de capacidades previamente existentes (Baltes, 1987).

Embora a investigação gerontológica, alicerçada neste pressuposto, tenha vindo

a contrariar a ideia de que a velhice se caracteriza por perdas, deterioração e

dependência crescentes (Lima, 2013), subsistem ainda diversos estereótipos,

isto é, generalizações abusivas e distorcidas da realidade (Simões, 2005), acerca

desta etapa do ciclo de vida, que estão na base do idadismo (ageism), o qual

remete para a discriminação dos indivíduos com base na sua idade (Lima,

2010). Na ótica de Simões (2002), para além destes nos prejudicarem, ao

impedirem de ver as potencialidades do idoso e de as empregar para o bem

comum, prejudicam-no também a ele, pois, como afirma Ferreira-Alves (2010),

o próprio acaba por internalizar os estereótipos que a sua cultura estabelece

acerca do envelhecimento, podendo ter como consequência a perda de

confiança para lidar com a esfera física e social, bem como a afetação do seu

bem-estar psicológico, social e económico (Lima, 2010). Afigura-se assim

fundamental e urgente perspetivar a velhice como um momento

desenvolvimental peculiar, de idêntica relevância a etapas antecedentes do ciclo

de vida, e não apenas como um simples ponto de chegada de percursos

anteriores (como a infância e a adolescência) (Ferreira-Alves, 2010).

1.2 Envelhecimento bem-sucedido

Apesar de durante muito tempo os estudos acerca do envelhecimento se

focarem nas perdas que o acompanham e na influência que estas têm na saúde e

bem-estar do idoso, nas últimas décadas o campo das ciências sociais tem vindo

a descrever uma visão alternativa e mais otimista deste processo, procurando

estudar os fatores subjacentes a um envelhecimento bem-sucedido. Assim,

contrariando uma visão estereotipada, o propósito desta abordagem é explorar o

potencial do desenvolvimento humano na última fase da vida (Villar, 2012).

O envelhecimento bem-sucedido pode ser definido com base em três

condições: ausência ou risco reduzido de doença; manutenção de um elevado

funcionamento cognitivo e físico; e comprometimento/participação ativa na

vida (Fontaine, 2000). Uma velhice bem-sucedida é, portanto, uma velhice

saudável que implica não só manter um elevado nível físico e mental, de forma

a que o idoso viva de maneira independente, como também estabelecer/manter

relações sociais e participar em atividades produtivas com significado pessoal

(Simões, 2005). De acordo com o modelo proposto por Baltes e Baltes (1990) –

“Seleção, Otimização e Compensação” (SOC) – o envelhecimento bem-

sucedido tem como objetivos fundamentais a manutenção de um nível de

funcionamento elevado (ganhos) e o evitamento de perdas, implicado isto a

coordenação e interação dinâmica entre três processos: a seleção de domínios

capazes de contornar limitações físicas e/ou cognitivas, a otimização destes, de

modo a maximizar o funcionamento, e a compensação de perdas através do

Page 10: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

6

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

recurso a estratégias capazes de as colmatar. De salientar que a definição de

envelhecimento bem-sucedido não é consensual, não apresentando a literatura

um modelo universal a seu respeito (Pocinho, Santos et al., 2013).

Dentre as múltiplas situações que contribuem para o stress normativo

inerente à última fase do ciclo de vida e que, por isso, constituem desafios ao

envelhecimento bem-sucedido (Lima, 2004) encontra-se a transição para a

reforma. Embora, como já referido, para alguns autores esta possa representar

um marco de entrada na velhice, determinando a perda de papéis sociais ativos

e, consequentemente, a perda de poder/importância social (Sousa, Figueiredo,

& Cerqueira, 2006), para outros poderá ser uma oportunidade de libertação e de

renovação que permite criar novos objetivos, investir no lazer e na formação

pessoal, bem como estabelecer/manter contatos sociais (Fonseca, 2006). Não

obstante o sucesso adaptativo ou não-adaptativo à reforma, Fragoso (2012)

considera que a preparação da transição da vida ativa para uma etapa de

aposentação e a promoção da participação social – quer através do

desenvolvimento de atividades de ocupação de tempos livres, quer através do

acesso a espaços, meios e atividades culturais – emergem como dois dos vastos

desafios colocados pelo envelhecimento. Torna-se então claro que o

envelhecimento bem-sucedido e com qualidade não depende exclusivamente

dos recursos pessoais que cada um detém, mas também dos recursos

disponibilizados pela sociedade (Pocinho, Santos et al., 2013).

É precisamente neste contexto que surgem as Universidades Seniores

(US) como uma resposta social aos desafios mencionados e com o intuito de

promover o envelhecimento bem-sucedido, uma vez que oferecem um conjunto

amplo de atividades culturais e educativas, de caracter lúdico e recreativo,

permitindo que o idoso desenvolva novas experiências, encontre novos

interesses, molde objetivos, se sinta um agente ativo da sua vida e adquira um

novo papel social. Para além disto, as US possibilitam ao indivíduo estabelecer

novas interações sociais e, consequentemente, melhorar as suas capacidades

relacionais, bem como combater o isolamento social (Pocinho, Santos et al.,

2013), se este se verificar. Estas entidades desempenham não só um papel

fulcral no incremento da qualidade de vida (QdV) dos idosos, como também

proporcionam a concretização do princípio da aprendizagem ao longo da vida

(Carneiro, 2012), permitindo-lhes manter as suas capacidades cognitivas num

nível ótimo, através da sua estimulação e exercício (Pocinho, Santos et al.,

2013). Na ótica dos autores (p. 30), “a fomentação da formação ao longo da

vida; a promoção da intergeracionalidade; a maximização das capacidades

intelectuais; (…) a transmissão de conhecimento (…)” constituem algumas das

vantagens das US, sendo, então, inegável o grande contributo que estas têm na

promoção do envelhecimento bem-sucedido e consequentes qualidade e

satisfação com a vida (Pocinho, Abreu, Gaspar, Pais, & Santos, 2013).

2. Sabedoria: um conceito multidimensional

De acordo com a Enciclopédia Britânica, a sabedoria é já mencionada em

escritos egípcios por volta dos 3000 a.C. (Barros, 2010), sendo abundantes as

tradições culturais, filosóficas e religiosas a seu respeito em numerosas

civilizações, desde o Antigo Egipto, passando pela Mesopotâmia, Índia, China e

Page 11: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

7

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

Grécia (Alves, 2011). Embora tenha uma longa história, a sabedoria só

começou a ser estudada pela Psicologia a partir dos anos 80 do séc. XX devido

ao crescente interesse pelos aspetos positivos do envelhecimento (Alves, 2007;

Webster, 2003), isto é, pelas características e pelos processos individuais que

detêm um grande potencial de desenvolvimento e crescimento ao longo do ciclo

de vida, particularmente na vida adulta e na velhice (Kunzmann, 2007).

Segundo Alves (2007) a obra editada por Robert Sternberg (1990c) intitulada de

“Wisdom: Its nature, origins, and development” constitui, nas suas palavras, “a

primeira grande abordagem” do estudo psicológico da sabedoria, por apresentar

uma síntese estruturada e com inclinação empírica acerca desta.

Dado o carácter amplo e riquíssimo do conceito “sabedoria”, a sua

conceptualização e o desenvolvimento de uma definição psicológica

compreensiva é, na perspetiva de Kunzmann e Baltes (2005), difícil, se não

mesmo impossível. No entanto, durante as últimas décadas têm sido vários os

autores a tentar definir este constructo. Erikson (1963) definiu a sabedoria como

a virtude representativa do último estádio do desenvolvimento humano

(“integridade versus desespero”), a qual emerge da resolução da crise

psicossocial característica desta fase. Clayton e Birren (1980), por sua vez,

definem-na como a integração de aspetos cognitivos (capacidade de lidar com a

complexidade e incerteza, tentando alcançar sempre a verdade), reflexivos

(capacidade de interpretar o conhecimento, procurando sempre conhecer o

significado profundo da realidade) e afetivos (compreensão e empatia com os

outros). Para Kekes (1988, p.145) a sabedoria é “como o amor, a inteligência e

a honestidade (…) o oposto da sabedoria é a insensatez, universalmente

conhecida como sendo um defeito”. Esta confere humanidade e universalidade

ao indivíduo, estando orientada para a realização de um bem comum através do

equilíbrio entre os próprios interesses, os dos outros e os da comunidade

(Sternberg, 1990a). Staudinger (1999) considera que a sabedoria atua na

interface da personalidade e da inteligência, não se cingindo ao comportamento

inteligente, uma vez que pressupõe juízos equilibrados, uma avaliação

distanciada do problema, bem como um equilíbrio entre a emoção, a motivação

e o pensamento, ao passo que Baltes (2004, p.20) a define como a “sinergia

perfeita entre a mente e o carácter, a orquestração perfeita entre o conhecimento

e a virtude, refletindo a visão de que é mais do que o conhecimento ‘cognitivo’.

Para a sabedoria emergir é necessário que os atributos cognitivos, sociais e

motivacionais convirjam e formem um todo de excelência extraordinária”.

A pessoa sábia tem, assim, um elevado grau de maturidade e é aquela que

para além de compreender excecionalmente a realidade, aceitando as limitações,

incertezas e contradições, possui uma ótima capacidade de julgamento (Barros,

2010) e de integração de perspetivas opostas, conseguindo manter uma atitude

objetiva enquanto considera os múltiplos aspetos da situação deficientemente

estruturada4 (Erber, 2013). A característica proeminente de uma pessoa sábia “é

deliberar bem, apontar e ir ao encontro da melhor solução atingível pelo

homem” (Alves, 2011, p.120). Na ótica de Lima (2010, p.120) “as pessoas ditas

4 Ao contrário dos problemas bem estruturados, estes não têm uma solução única e linear,

pois exigem uma resposta lógica capaz de os inserir numa realidade concreta, complexa e

contextualizada (Kramer, 1990, citado em Marchand, 2006).

Page 12: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

8

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

sábias são socialmente inteligentes, boas ouvintes e boas observadoras,

aprendem com os seus próprios erros, e com os erros dos outros, e possuem

elevadas competências interpessoais”, sendo por isso capazes de encontrar

significado e satisfação com a vida, independentemente das circunstâncias

objetivas serem ou não as ideais (Ardelt, 2004a). Atendendo a todas estas

características, não surpreende que sejam raras as pessoas a alcançar níveis

elevados de sabedoria, constituindo esta uma representação mental utópica e um

objetivo “ideal” do desenvolvimento (Ardelt, 2004a; Kunzmann & Baltes,

2005; Lima, 2010; Marchand, 2005; Gonçalves, Lamela, & Bastos, 2013).

Apesar de não ser fácil definir e avaliar um conceito tão complexo e

dinâmico como é a sabedoria, parece existir um consenso geral entre as

diferentes conceptualizações quanto à sua dimensionalidade (Barros, 2010), as

quais serão apresentadas seguidamente.

2.1 Conceptualizações acerca da sabedoria

Existem fundamentalmente duas conceptualizações acerca da sabedoria:

uma que valoriza predominantemente a dimensão cognitiva e outra que a encara

como a integração da cognição com o afeto.

Baltes e colaboradores, do Max Planck Institute for Human Development

and Education de Berlim, são provavelmente os autores mais representativos da

visão cognitivista da sabedoria. A partir do seu modelo dual de inteligência

(inteligência mecânica versus inteligência pragmática), definem a sabedoria

como um “conhecimento de mestria” (expert knowledge), mais relacionada e

dependente da inteligência pragmática do que da inteligência mecânica (cf.

Barros, 2010; Marchand, 2006). Baltes e Smith (1990) afirmam que esta mestria

pode ser identificada a partir de cinco critérios: elevado conhecimento factual

relativo ao curso da vida e natureza humana; elevado conhecimento processual

acerca dos problemas da vida; contextualismo, isto é, compreensão da relação e

mudança dos múltiplos contextos de vida; relativismo, o qual pressupõe o

conhecimento das diferenças de valores e propriedades da vida; e, por último,

consciência da imprevisibilidade e da incerteza inerentes à condição humana. A

idade cronológica, a experiência de numerosas circunstâncias, a atividade de

tutor/mentor e certas disposições motivacionais (p.e., generatividade)

constituem, na ótica de Baltes e colaboradores (cf. Baltes & Smith, 1990;

Smith, Staudinger, & Baltes, 1994; Staudinger, Smith, & Baltes, 1992),

condições favoráveis ao desenvolvimento da sabedoria.

As conceptualizações de Robert Sternberg e de John Meacham acentuam

igualmente os aspetos cognitivos da sabedoria. Para Sternberg (1985, 1990a,

1990b), esta é caracterizada por um estilo metacognitivo, que permite ao

indivíduo identificar os limites do seu próprio pensamento e conhecimento, bem

como as incertezas inerentes à vida, e pela capacidade de compreensão

profunda dos acontecimentos. A sagacidade é, do ponto de vista de Sternberg

(1990a, 1990b), a característica particular da sabedoria (que a permite distinguir

da inteligência e da criatividade), a qual abrange não só um elevado interesse e

compreensão dos outros, como também a aceitação de distintas perspetivas e

consciência do carácter contínuo da aprendizagem. Por sua vez, Meacham

(1990) assevera que a sabedoria pressupõe a consciência das limitações e da

Page 13: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

9

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

falibilidade do conhecimento, e uma atitude de dúvida/questionamento acerca

das vicissitudes da vida. Para este autor, o modo como o indivíduo utiliza os

seus conhecimentos adquiridos é mais importante do que o conhecimento em si.

A perspetiva de Kitchener e Brenner (1990) realça, igualmente, a

dimensão cognitiva da sabedoria. Na ótica das autoras, esta associa-se à

consciência de que a vida envolve problemas deficientemente estruturados, ao

reconhecimento do carácter incerto do saber e da impossibilidade de conhecer a

verdade total, à compreensão tolerante e profunda, e à capacidade excecional de

formular juízos adequados às diferentes situações. Apesar de orientada para a

avaliação da inteligência, as autoras afirmam que a “Escala de Juízo Reflexivo”

(elaborada no âmbito da presente conceptualização) permite identificar a

existência de diferentes características da sabedoria.

Ainda que todos estes autores perspetivem a sabedoria sob uma ótica

predominantemente centrada nos aspetos cognitivos, não deixam de reconhecer

a sua multidimensionalidade e a relevância que a dimensão emotivo-

motivacional detém. É precisamente neste sentido que diversos autores

desenvolveram as conceptualizações baseadas na integração das dimensões

cognitiva e afetiva (Barros, 2010; Marchand, 2006).

Pascual-Leone (1990), um destes autores, considera que é a integração

dialética da cognição, do afeto e das experiências da vida – resultante da

resolução de conflitos e contradições dos projetos e valores de vida – que

permite a emersão da sabedoria. A vontade e a determinação do indivíduo em

desenvolver-se e em transcender-se (will to be) é, segundo o autor, o caminho

em direção à sabedoria e à maturidade humana, dependendo esta disposição,

fundamentalmente, da educação e dos modelos a que esteve sujeito durante a

sua infância. Semelhantemente a Sternberg, Pascual-Leone (1990, p. 272)

advoga que a sabedoria, a inteligência e a criatividade são “produtos diferentes

da mente”, pois, contrariamente a estas últimas, a sabedoria envolve a

assimilação da cognição, do afeto e da personalidade, manifestando-se numa

elevada capacidade de aconselhamento, descentração e compreensão empática.

Também da integração da cognição com a afetividade resulta a sabedoria

conforme conceptualizada por Kramer (1990), assumindo esta cinco funções

interdependentes: resolução de dilemas e planificação da vida; aconselhamento;

gestão e orientação de questões sociais; revisão/reflexão da própria vida; e

questionamento acerca do sentido da mesma. A sabedoria resulta, assim, da

conjugação do desenvolvimento cognitivo (em direção a um pensamento

relativista e dialético) com o desenvolvimento do afeto (alcance do estádio mais

elevado do Modelo de Desenvolvimento do Eu de Jane Loevinger5,

caracterizado pela consolidação da identidade, tolerância, responsabilidade e

transcendência, o qual é visto por Kramer como um pré-requisito da sabedoria).

Considerando o exposto, a aptidão para lidar com problemas complexos,

a compreensão profunda dos diversos acontecimentos e diferentes contextos de

vida, o pensamento relativo e crítico, o conhecimento e aceitação da

incerteza/ambiguidade, a capacidade elevada de reflexão e de julgamento, o

reconhecimento dos limites pessoais e do próprio conhecimento, a competência

5 Para uma consulta mais detalhada acerca deste modelo, consultar Loevinger (1976-

1982).

Page 14: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

10

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

de descentração e, consequentemente, de empatia e de aconselhamento, bem

como a capacidade de dar sentido à vida constituem algumas das características

que podem ser atribuídas à sabedoria. Trata-se, assim, de um conceito complexo

e multidimensional, caracterizado por elevados níveis de desenvolvimento

cognitivo-afetivo (Barros, 2010).

2.2 Investigação desenvolvida no âmbito da sabedoria

Tendo em conta as diferentes linhas teóricas acerca da sabedoria que têm

proliferado na literatura no campo das ciências humanas, é possível distinguir

dois grandes tipos de teorias: as teorias implícitas e as teorias explícitas da

sabedoria (Ardelt, 2011b; Krzemien, 2012).

Através de abordagens populares ou do senso comum, as teorias

implícitas visam analisar as representações mentais, crenças e conceções que as

pessoas utilizam para caracterizar a sabedoria, os seus indicadores e as pessoas

ditas sábias, na linguagem corrente. As questões centrais da investigação no

âmbito destas teorias são: o que é uma pessoa sábia? Quando e em que

condições é que se pode considerar que uma pessoa é sábia? Em que consiste

uma ação sábia? O que se entende por sabedoria? (Barros, 2010; Krzemien,

2012; Marchand, 2001).

Ao analisarem as conceções de sabedoria de sujeitos jovens, de meia-

idade e idosos, os quais tinham de avaliar a similaridade entre 12 adjetivos e as

palavras “sabedoria”, “idade” e “eu próprio”, Clayton e Birren (1980)

identificaram três dimensões relacionadas com “sabedoria”: cognitiva

(conhecimento, experiência, inteligência, pragmática, atenção), reflexiva

(intuição e introspeção) e afetiva (compreensão, empatia, paz, gentileza).

Constataram ainda que os participantes jovens e de meia-idade associaram a

palavra “sabedoria” às palavras “idade” e “experiência”, ao passo que os

adultos idosos, para além de não a associarem à expressão “eu próprio”,

consideraram-na mais similar às palavras “compreensão” e “empatia”.

Holliday e Chandler (1986), através de uma tarefa em que era pedido aos

sujeitos para descrever o conceito “sabedoria” e indicar quais as características

distintivas das pessoas sábias, identificaram 5 fatores de sabedoria,

nomeadamente: “compreensão excecional”, “capacidade de julgamento e de

comunicação”, “competência geral”, “aptidão interpessoal” e “discrição social”.

Sternberg (1985, 1990a, 1990b), ao comparar as descrições de sabedoria,

inteligência e criatividade de pessoas leigas e de profissionais de distintas áreas,

identificou seis indicadores de sabedoria: elevada capacidade de raciocínio,

sagacidade, aprendizagem a partir das ideias e do ambiente, juízos excecionais,

uso expedito da informação e perspicácia, constituindo a sagacidade, como

referido anteriormente, o elemento fundamental da sabedoria que a permite

distinguir da inteligência e da criatividade.

De acordo com Ardelt (2011b), os autores anteriores, assim como as suas

conceções, enquadram-se no âmbito das teorias implícitas ocidentais, diferindo

estas das definições orientais em termos da importância relativa atribuída aos

diferentes fatores e dimensões da sabedoria.

As investigações de Yang (2001) e de Takahashi e Bordia (2000)

constituem dois exemplos de estudos orientais acerca da sabedoria. Através da

Page 15: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

11

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

análise das características que seiscentos e dezasseis Chineses de Taiwan

atribuíram à pessoa dita sábia, Yang concluiu que a sabedoria resulta da

combinação de capacidades cognitivas (competência e conhecimento),

reflexivas (abertura e profundidade) e compassivas (benevolência e compaixão).

Por sua vez, Takahashi e Bordia, ao compararem uma amostra intercultural,

com indivíduos Americanos, Australianos, Japoneses e Indianos, concluíram

que tornar-se sábio é visto como altamente desejável em todos estes grupos

culturais, contrariamente ao tornar-se idoso. Mais, enquanto os participantes

Americanos e Australianos associaram a palavra “sábio” aos adjetivos

“experiente” e “conhecedor”, não o relacionando com a prudência, os Japoneses

e Indianos associaram justamente o adjetivo “prudente” ao ser-se sábio,

conjuntamente como os termos “idoso” e “experiente”. Do dito anteriormente,

depreende-se que a cultura oriental tende a enfatizar os aspetos interpessoais da

sabedoria, mais do que a ocidental (Takahashi & Overton, 2005), embora ambas

descrevam este constructo como multifacetado (Ardelt, 2011b).

As teorias explícitas, desenvolvidas a partir das teorias implícitas,

pretendem avaliar e medir as manifestações cognitivo-comportamentais da

sabedoria, através da sua operacionalização quantitativa, construção de

inquéritos e estudo da correlação com outros constructos (Barros, 2010;

Krzemien, 2012). No âmbito destas, Kunzmann e Baltes (2005) advogam a

existência de três tipos de conceptualizações da sabedoria: as que a consideram

enquanto pensamento dialético pós-formal; as que a concebem como uma forma

expandida de inteligência e mestria cognitivo-emocional; e as que a percebem

enquanto característica da personalidade.

As conceptualizações segundo a tradição neo-piagetiana do pensamento

pós-formal e dialético consideram a sabedoria como a última etapa do

desenvolvimento cognitivo, caracterizada por um pensamento complexo e

dialético, o qual inclui a consciência de múltiplas causas e soluções, a

consciência da presença de contradições, bem como a capacidade para lidar

com a incerteza, imperfeição e compromisso (Kunzmann & Baltes, 2005;

Staudinger, 2008). Inseridos nesta perspetiva estão, por exemplo, Labouvie-

Vief (1990), que elabora a sabedoria como a integração de modos de

conhecimento distintos; Birren e Fisher (1990), Kramer (2000), Orwoll e

Perlmutter (1990) e Pascual-Leone (1990), que enfatizam a importância da

integração dos aspetos cognitivos, motivacionais e afetivos da sabedoria; e, por

último, as autoras Kitchener e Brenner (1990), as quais sugerem que a sabedoria

requer a assimilação de perspetivas opostas.

Enquadrados no segundo grupo de conceptualizações, estão, por

exemplo, Baltes e colaboradores e Robert Sternberg. De acordo com a Balance

Theory of Wisdom de Sternberg (1998), o conhecimento tácito – componente da

inteligência prática, mais relacionado com o “saber como” em vez do “saber o

quê” – é uma das características fundamentais da sabedoria, pois é orientado

para a ação e permite auxiliar os indivíduos a alcançar os seus objetivos. Assim,

pode falar-se de uma ação sábia quando este tipo de conhecimento/inteligência,

mediado por valores pessoais, é aplicado e orientado para a maximização de um

bem comum, mais do que para o próprio bem-estar, através de um equilíbrio

entre os interesses intrapessoais, interpessoais e extrapessoais.

Page 16: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

12

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

O Paradigma de Berlim, desenvolvido ao longo das últimas duas décadas

por Baltes e colaboradores, na ótica de Kunzmann (2007), representa o

programa mais sistemático de investigação acerca da sabedoria produzido até

aos dias de hoje. Os autores do “Grupo de Berlim” definem-na como “a

expressão ótima do conhecimento quanto à pragmática fundamental da vida,

isto é, um conhecimento apurado e integrado acerca do significado da vida que

coordena fatores da mente, personalidade e emoção” (Baltes, Staudinger, &

Lindenberger, 1999, p. 494). Para avaliarem a sabedoria, estes autores utilizam

o método “pensar alto” (thinking aloud) sobre dilemas tipicamente complexos,

mal estruturados e pobremente definidos de planificação, de gestão e de revisão

de vida, usualmente vividos por personagens fictícias. Ao assumirem que os

sujeitos respondem aos dilemas, pelo menos em parte com base nas suas

experiências pessoais, os autores afirmam que através deste método é possível

aceder aos níveis de conhecimento relacionados com a sabedoria (Staudinger,

Smith, & Baltes, 1994). Os principais resultados obtidos por este grupo

mostram que: (1) elevados níveis de conhecimento relacionado com a sabedoria

são raros, (2) o início do desenvolvimento do conhecimento relacionado com a

sabedoria ocorre entre a adolescência tardia e o início da adultez, (3) para além

da idade, é necessária uma complexa coligação de fatores de distintos domínios,

desde o estilo sociocognitivo pessoal (p.e., abertura à experiência), passando

pelo contexto social (p.e., presença de modelos), até às condições sociais (p.e.,

exposição a transições sociais), e (4) o conhecimento relacionado com a

sabedoria pode ser incrementado através de intervenções sociais e cognitivas

simples, pois numerosos adultos detêm um potencial latente muito mais elevado

do que o demonstrado pelo seu desempenho em tarefas de sabedoria (Baltes &

Staudinger, 2000; Kunzmann & Baltes, 2005; Staudinger, 1999).

O trabalho de Erikson (1985) integra as conceptualizações que veem a

sabedoria como uma característica personalística. Para o autor, a sabedoria

emerge da resolução da crise psicossocial “integridade versus desespero”,

característica da idade adulta avançada, onde o indivíduo encara a aproximação

da morte. A resolução desta crise com integridade permite-lhe aceitar a

fugacidade da vida e, consequentemente, avaliar os problemas de uma

perspetiva holística, bem como considerar os assuntos da humanidade, mais do

que os próprios interesses, transcendendo-se.

Orientada para o estudo da sabedoria na velhice e a partir dos estudos de

Clayton e Birren (1980), Monika Ardelt considera a sabedoria como uma

característica tridimensional da personalidade, definindo-a como “um conceito

multidimensional latente de personalidade, que compreende três dimensões

interdependentes: cognitiva, reflexiva e afetiva” (Ardelt, 2000a, p.369). A

dimensão cognitiva refere-se ao desejo de conhecer a verdade e de compreender

profundamente o significado dos fenómenos e acontecimentos, especialmente

em relação aos assuntos pessoais e interpessoais, o que implica o conhecimento

e a aceitação dos aspetos positivos e negativos da natureza humana, dos limites

do conhecimento e do carácter imprevisível e incerto da vida. Para alcançar uma

profunda compreensão da realidade é necessário que o indivíduo, através da

reflexão pessoal, supere a sua própria subjetividade e projeções. A dimensão

reflexiva é, assim, um pré-requisito para o desenvolvimento da dimensão

Page 17: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

13

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

cognitiva, uma vez que implica autoconsciência, introspeção e capacidade de

considerar os acontecimentos de diversas perspetivas. Isto fará com que o

indivíduo percecione e aceite a realidade presente, incluindo as próprias

motivações do agir e as dos outros. A descentralização do sujeito sobre si

mesmo e, consequentemente, uma melhor compreensão do seu comportamento

e do dos outros, o que leva a um amor mais simpatético e compassivo para com

todos, define aquilo que é a dimensão afetiva (Ardelt, 1997, 2003, 2004a). De

acordo com Ardelt (2003), a dimensão reflexiva é a componente essencial da

sabedoria porque estimula o desenvolvimento das outras duas. Não obstante,

para que uma pessoa seja considerada sábia, é necessário que as três dimensões,

interdependentes e conceptualmente distintas, estejam presentes.

Ardelt (2011a, 2011b) considera que esta caracterização

multidimensional da sabedoria tem a vantagem de ser relativamente

parcimoniosa e compatível com a maioria das teorias implícitas e explícitas,

advogando Etezadi e Pushkar (2013) que esta conceção tridimensional vai para

além da perspetiva cognitiva/baseada no conhecimento, o que permite uma

reflexão mais completa deste conceito. De facto, Ardelt critica o modelo de

Baltes e colaboradores, ao afirmar que estes encaram a sabedoria sob uma ótica

meramente cognitiva e de forma abstrata. Atendendo a que a sabedoria não

existe independentemente das pessoas e que esta não é propriamente algo que se

tem, mas que se é, a autora propõe estudar as pessoas sábias mais do que o

conhecimento relacionado com a sabedoria (Ardelt, 2004a, 2004b).

Convicta de que esta dimensão da existência humana se aproxima de um

“tipo ideal”, sendo raramente encontrada na realidade, afirma ser apenas

possível avaliar o quão próxima uma pessoa se encontra deste estado ideal

(Ardelt, 2004a). Com efeito, para medir a sabedoria, Ardelt (2003) propôs um

instrumento de avaliação psicométrica – Three-dimensional Wisdom Scale (3D-

WS) –, o qual consiste numa medida de autorresposta, constituída por 39 itens

que permitem avaliar, através das dimensões cognitiva, reflexiva e afetiva, a

variável latente “sabedoria”. A 3D-WS é considerada um bom instrumento de

avaliação da sabedoria, particularmente em pessoas idosas. De acordo com a

autora a sabedoria está significativa e positivamente correlacionada com a

mestria, bem-estar subjetivo, propósito de vida, saúde subjetiva e escolaridade,

e relacionada negativamente com sintomas depressivos, evitamento e medo da

morte e com sentimentos de pressão económica. Para além disso, não se

relacionou com o estatuto socioeconómico, estado civil, género, raça e

indicadores de desejabilidade social (Ardelt, 2003, 2004a, 2011a).

Semelhantemente às teorias implícitas da sabedoria, Ardelt (2011b)

considera que os autores precedentes se enquadram nas teorias explícitas

ocidentais, sendo raros os estudos desenvolvidos no âmbito destas no oriente. O

trabalho de Jeste e Vahia (2008, citado em Ardelt, 2011b) constitui uma

exceção. Tendo por base a análise de conteúdo do texto sagrado “Bhagavad-

Gita” da filosofia Hindu, os autores definem a sabedoria como conhecimento da

vida, regulação emocional, controlo de desejos, determinação, amor a Deus,

dever e trabalho, contentamento, compaixão/sacrifício e introspeção/humildade.

Embora sejam numerosas as investigações desenvolvidas com o intuito

de estudar a sabedoria, são vários os autores a salientar a insuficiência do tempo

Page 18: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

14

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

que a psicologia dispôs para se pronunciar genérica e rigorosamente acerca

deste constructo (Alves, 2011). Neste sentido, Krzemien (2012) considera que

existe uma certa insuficiência e ambiguidade na sua conceptualização teórica,

sendo um tanto ambicioso considerar que o campo das ciências humanas dispõe

de modelos e técnicas que permitam identificar, delimitar e avaliar um conceito

tão complexo e que, no entender de Barros (2010), até há pouco tempo, era

considerado como um fenómeno psicológico que escapava à análise científica.

2.3 Sabedoria e idade

Devido ao elevado nível de competência e experiência que implica,

numerosos teóricos defendem que a sabedoria se desenvolve com a idade, sendo

considerada o pináculo do desenvolvimento humano e vista como resultado

positivo do envelhecimento (Marchand, 2006; Etezadi & Pushkar, 2013).

Porém, na ótica de Sternberg (2005), a relação entre sabedoria e idade

permanece relativamente polémica, uma vez que, baseado num trabalho de

revisão de literatura sobre este tópico, o autor encontrou resultados díspares:

enquanto uns demonstram que a sabedoria aumenta com a idade, outros indicam

que esta decresce à medida que se envelhece e outros apontam para a sua

manutenção ao longo do ciclo de vida.

Segundo Erber (2013), existe um grande número de investigações que

concluem que a sabedoria não aumenta necessariamente com a idade, sendo

numerosos os estudos, por exemplo, no âmbito do Paradigma de Berlim, a

demonstrar a inexistência de uma associação entre ambas as variáveis (cf.

Baltes, 1993; Pasupathi, Staudinger, & Baltes, 2001; Staudinger, 1999;

Staudinger et al., 1992). Isto não significa que os idosos não possam ser sábios

(Gonçalves et al., 2013), chegando mesmo Lima (2010, p.45) a afirmar que

“não ficamos mais sábios/sages com a idade, no entanto, a fase da vida onde há

mais pessoas sábias é na velhice”. De facto, sob condições ideais de saúde

cognitiva e física, os adultos idosos podem deter alguma vantagem no alcance

da sabedoria devido ao maior número de experiências pelo tempo vivido

(Jordan, 2005). Assume-se, então, que a idade, embora importante, não é uma

condição suficiente de sabedoria, (Lima, 2010), sendo diversos os fatores,

estratégias e ambientes que a promovem (Alves, 2011).

Os investigadores da abordagem do modelo coextensivo à duração da

vida, e mais precisamente Baltes (1993), consideram que, para além da idade,

os aspetos pessoais (p.e., capacidades cognitivas, pensamento dialético e

algumas caraterísticas de personalidade), os fatores de competência e

experiência (p.e., aconselhamento, prática como tutor) e os contextos de vida

facilitadores (p.e., escolaridade) promovem a aquisição e o desenvolvimento da

sabedoria. No mesmo sentido, Baltes e colaboradores asseveram que a idade

cronológica, sob determinadas condições, favorece o desenvolvimento desta, a

saber: vivência de múltiplas experiências, prática de mentor e determinadas

disposições motivacionais, tais como a generatividade (Baltes & Smith, 1990;

Smith et al., 1994; Staudinger et al., 1992). Por sua vez, Meacham (1990)

defende que a sabedoria se desenvolve sob um ambiente particular, que

designou de “Atmosfera de Sabedoria”. Esta caracteriza-se por uma atmosfera

de questionamento e reflexão em relação ao absolutismo e é um ambiente onde,

Page 19: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

15

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

para além de se poder expressar abertamente as dúvidas, se consideram as

contradições como momentos vantajosos para o desenvolvimento da sabedoria.

Vemos então que o passar do tempo e, mais especificamente, a idade

avançada não se assumem como determinantes no alcance da sabedoria,

dependendo esta faceta da existência humana, antes, de uma longa e intensiva

aprendizagem e prática (Kunzmann & Baltes, 2005).

2.4 Sabedoria e abertura à experiência

A sabedoria é em si uma característica da personalidade, um conjunto de

características personalísticas ou pode ser, antes, fomentada por estas últimas?

Para alguns autores, como referido anteriormente, a sabedoria é vista como uma

característica da personalidade rara e especial [p.e., Erikson (1985)]; outros

consideram que existem determinados traços da personalidade que estão

correlacionados com esta e/ou funcionam como seus antecedentes ou

consequentes (p.e., Grupo de Berlim: Staudinger, Dörner, & Mickler, 2005).

Segundo as teorias dos traços de personalidade, e mais especificamente de

acordo com o Modelo dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade, de Costa e

McCrae (1991, 1992), os traços de personalidade podem ser definidos como

disposições estáveis e consistentes que influenciam os sentimentos,

pensamentos e comportamentos do indivíduo, e que são pouco afetados pelo

contexto (p.e., educação, história, experiências de vida) (McCrae & Costa,

2003; Costa, Yang, & McCrae, 1998). Este modelo postula a existência de

cinco fatores de personalidade: Extroversão (E), Neuroticismo (N),

Amabilidade (A), Conscienciosidade (C) e Abertura à Experiência (O),

abrangendo cada um deles dimensões/facetas mais específicas.

Baseados na abordagem que considera a existência de diversos traços de

personalidade como antecedentes, consequentes da sabedoria ou como estando

correlacionados com esta, são diversos os estudos e autores que têm encontrado

uma associação positiva entre a O – conceptualizada como a recetividade a

novas ideias, perspetivas e experiências nos domínios da imaginação, estética,

sentimentos, ações, ideias e valores (Costa & McCrae, 1992) – e a sabedoria

(Kramer, 2000; Le, 2008, 2011; Staudinger et al., 2005; Webster, 2003; Wink &

Helson, 1997). Isto faz sentido na medida em que a O requer adaptação à

novidade, flexibilidade cognitiva e modificação do modo de pensar, das crenças

e das ideias habituais, atos estes frequentemente implicadas no desenvolvimento

da sabedoria (Clayton & Birren, 1980). Também o Grupo de Berlim sugere que

a O, enquanto variável personalística conforme medida pelo NEO-PI-R6, está

fortemente associada a pontuações elevadas em tarefas de sabedoria (Ardelt,

2004a). De igual modo, os autores Krzemien (2012), a partir de uma revisão de

literatura acerca dos fatores que contribuem para a aquisição e desenvolvimento

da sabedoria, Ardelt (2011a), Csikszentmihalyi e Nakamura (2005), Staudinger,

Lopez e Baltes (1997), propõem, respetivamente, a O como um antecedente, um

componente, um pré-requisito essencial e um dos preditores mais poderosos da

6 NEO Personality Inventory – Revised: inventário de personalidade de autorresposta

desenvolvido a partir do modelo do Big Five, que permite avaliar os cinco principais domínios da

personalidade (OCEAN) (versão original: Costa & McCrae, 1989; McCrae & Costa, 2004; versão

portuguesa: Lima & Simões, 2000).

Page 20: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

16

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

sabedoria. Wink e Helson (1997) chegam mesmo a sugerir a inclusão deste

traço de personalidade como uma dimensão da sabedoria. De salientar que,

quando comparada com os outros quatro fatores dos Big Five, a O revela-se o

preditor mais importante da sabedoria, não apresentando aqueles uma

correlação significativa com esta (Staudinger, 2008).

No que respeita, particularmente, ao envelhecimento são também vários os

autores a afirmar e a demonstrar que, para além da ausência de labilidade

emocional e da presença de sociabilidade, a O não só se associa ao

desenvolvimento da sabedoria como está positivamente relacionada com ela na

velhice (Ardelt, 1998; 2000a, 2005; Clayton & Birren, 1980; Holliday &

Chandler, 1986; Wink & Dillon, 2003; Wink & Helson, 1997).

2.5 Sabedoria e qualidade de vida

Para Baltes e Smith (2008), os estudos acerca da natureza, da ontogénese

e das aplicações da sabedoria poderão promover uma compreensão mais

abrangente das competências individuais, da dignidade humana e da QdV dos

sujeitos. O crescente interesse por esta temática, sensivelmente a partir das

décadas de 80 e 90 e, consequentemente, a proliferação de numerosas

formulações conceptuais e definições de QdV, conduziu à ausência de uma

clarificação, definição e avaliação consensuais do conceito (Canavarro, 2010;

Walker & Mollenkopf, 2007). Todavia, assiste-se a um assentimento geral

acerca do seu carácter multifacetado, complexo e dinâmico, bem como acerca

do facto de a QdV englobar uma interação entre aspetos objetivos, subjetivos,

positivos e negativos (Walker & Mollenkopf, 2007).

Não obstante a multiplicidade de modelos, devido à diversidade de

perspetivas e de contextos disciplinares que tomam este constructo como objeto

de estudo, optou-se, na presente dissertação, apenas pela descrição breve do

modelo de QdV da OMS, atendendo à centralidade que este assume na

definição e operacionalização de tal conceito. Assim, com o propósito de o

debater e de conceber instrumentos para a sua avaliação transcultural, a OMS,

no início da década de 90, formou o grupo WHOQOL7, constituído por peritos

de diferentes culturas. De acordo com este grupo, a QdV assenta em três

aspetos principais: subjetividade, na medida em que é tida em conta a perceção

do próprio indivíduo; multidimensionalidade, uma vez que abarca diferentes

domínios (p.e., físico, psicológico, crenças pessoais); e uma articulação

dinâmica entre a presença/ausência de dimensões positivas (p.e., autonomia) e

de dimensões negativas (p.e., dependência). Com efeito, esta é definida como “a

perceção do indivíduo acerca da sua posição na vida, no contexto de cultura e

sistema de valores nos quais está inserido, e em relação aos seus objetivos,

expectativas, padrões e preocupações (WHOQOL Group, 1994, p. 28). Este é,

então, um conceito amplo e influenciado por múltiplos aspetos do indivíduo,

como por exemplo, saúde física, estado psicológico, crenças pessoais, relação

com o meio envolvente, entre outros (WHOQOL Group, 1995).

Ao considerar as especificidades do envelhecimento e o carácter

dinâmico da QdV ao longo do ciclo de vida, foi criado, em 1999, o Grupo

WHOQOL-OLD, cujo um dos objetivos essenciais foi o de adaptar medidas

7 World Health Organization Quality of Life.

Page 21: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

17

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

genéricas da QdV (p.e., WHOQOL-100, WHOQO-Bref) à população idosa e,

eventualmente, elaborar um módulo específico para esta mesma, tendo daqui

resultado o Inventário de Avaliação da Qualidade de Vida WHOQOL-OLD

(Power, Quinn, Schmidt, & WHOQOL-OLD Group, 2005).

Apesar de serem numerosos os autores a argumentar que a QdV na idade

avançada se associa tanto a aspetos objetivos (p.e., saúde física, estatuto

socioeconómico, ambiente físico e social, entre outros) como a aspetos mais

subjetivos e menos tangíveis (p.e., satisfação com a vida, dignidade pessoal,

espiritualidade, sentido positivo de si próprio, entre outros) (Carneiro, 2012), da

revisão da literatura efetuada constatou-se a inexistência de estudos que se

debrucem sobre a relação entre a sabedoria e a QdV e/ou influência que estes

conceitos poderão ter ou não um no outro. Mais, de acordo com os estudos de

Vecchia e colaboradores (2005, citado em Pocinho, Santos et al., 2013) e de

Fleck, Chachamovich e Trentini (2003, citado em Pocinho, Santos et al., 2013),

cujo objetivo foi compreender que fatores são considerados pelos idosos como

determinantes da QdV, a sabedoria nunca foi referida, tendo sido mencionados,

por exemplo, a espiritualidade e sentimentos de bem-estar, de alegria e de amor.

2.6 Sabedoria e espiritualidade/bem-estar espiritual

De acordo com Barros (2006, 2008), a sabedoria tem uma dimensão

espiritual, sobrenatural e/ou transcendental, estando por isso relacionada com a

espiritualidade, sobretudo em adultos idosos8. Embora não exista uma definição

aceite universalmente, devido ao seu carácter multidimensional e complexo

(Moberg, 2005), a espiritualidade pode ser considerada como uma tentativa de

autotranscendência e autorrealização, capaz de fornecer um sentido e finalidade

para a vida e para a própria existência, estando por isso associada a um conjunto

de crenças pessoais que transcendem a vida material e proporcionam um

sentimento profundo de esperança, otimismo, amor, compaixão, conexão e

abertura ao infinito (Barros, 2007; Myers, Sweeney, & Witmer, 2000; Paldron,

2004). Moberg (2005) afirma que são vários os estudos que concluem pela

existência de um aumento significativo da espiritualidade ao longo do ciclo de

vida, particularmente na velhice, talvez porque, como defendem Koepke (2005)

e Gentzler (2004), as múltiplas vivências proporcionam ao adulto idoso a

oportunidade de aumentar a introspeção, o que influencia a sua espiritualidade.

Ao analisarem o desenvolvimento da espiritualidade na idade adulta, Fowler

(1981;1994), Oser (1994) e Oser e Gmunder (1991) consideram que a velhice

favorece o alcance de estádios elevados desta, os quais, na ótica de Marchand

(2005), partilham aspetos com o que vários autores entendem por sabedoria.

Existem ainda estudos que sugerem que a espiritualidade está relacionada

com a sabedoria (Jason et al., 2001; Ardelt, 2004b), outros que avaliam a

sabedoria com base no critério “profundidade espiritual” (Wink & Helson,

1997), que propõem que a sabedoria integra um compromisso espiritual

(Achenbaum & Orwoll, 1991), que consideram a “introspeção espiritual” como

8 Barros (2006) afirma que há autores que, ao estudarem a espiritualidade no idoso, falam

em gerotranscendência – “alteração meta-perspetivada da visão material e racional do mundo para

uma visão mais cósmica e transcendente, normalmente acompanhada por um aumento da

satisfação com a vida” (cf. Tornstam, 1989, citado em Tornstam, 2003, p.3).

Page 22: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

18

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

uma das funções da sabedoria (Kramer, 1990) e outros que indicam a existência

de uma associação entre a espiritualidade e a sabedoria cognitiva/reflexiva em

adultos de meia-idade e adultos idosos (Wink & Dillon, 2003).

A relação entre a espiritualidade e o bem-estar, particularmente na velhice,

tem vindo a ser estudada por diferentes autores, referindo-se alguns ao conceito

de Bem-Estar Espiritual (BBE) (Barros, 2006). Apoiado num modelo

conceptual baseado na literatura, num conjunto de dados empíricos, na

operacionalização e na validação do constructo “BEE”, Fisher (1999) define-o

como um estado dinâmico que se reflete na qualidade das relações que o

indivíduo estabelece consigo próprio, com os outros, com o ambiente e com o

Outro transcendente. Esta definição pressupõe, assim, quatro domínios de

relação fundamentais: domínio pessoal (modo como a pessoa se relaciona

consigo própria em termos de significado, propósito e valores na vida, e que

implica o desenvolvimento de autoconhecimento e consciência sobre si mesmo,

relacionados com a identidade e autoestima); domínio comunitário (qualidade e

profundidade das relações interpessoais, incluindo sentimentos de amor, justiça,

esperança e fé na humanidade); domínio ambiental (cuidado e proteção do

mundo físico e biológico, que se expressa através da admiração, respeito e

unidade com a natureza); e, por último, domínio transcendental (relação do

próprio com algo ou alguma coisa para além do que é humano, como uma força

cósmica, uma realidade transcendente ou Deus, e que envolve sentimentos de

fé, adoração e culto relativamente à fonte de mistério do Universo). De acordo

com este modelo, enquanto a qualidade das relações estabelecidas pelo

indivíduo em cada domínio indica o BEE nessa mesma dimensão, o

desenvolvimento do BEE em cada um dos domínios manifestar-se-ia pelo

aprofundar das relações nesse domínio, contribuindo para o aprofundamento

das relações nos restantes. O BEE global de uma pessoa será, assim, o resultado

do efeito combinado do BEE em cada um dos domínios.

Embora os termos “espiritualidade” e, por extensão, “BEE” tenham vindo a

ser vistos, tradicionalmente, no contexto da religião/experiências religiosas, não

se circunscrevem a estas (Gomez & Fisher, 2005a), expressando-se também,

particularmente em adultos idosos, através do cultivo da autoestima, gratidão,

liberdade, amizade, bem como pela defesa da justiça, paz e ecologia – práticas

estas de cariz não religioso (Bianchi, 2005).

De salientar que, da revisão de literatura efetuada, não foram encontrados

estudos realizados sobre a associação do BEE com a sabedoria.

Ancorados na abordagem dita positiva do envelhecimento e da velhice,

abordámos até aqui o envelhecimento demográfico, clarificámos os conceitos

“idoso”, “velhice” e “envelhecimento”, apresentámos algumas perdas e ganhos

inerentes a este processo dinâmico e definimos o que se entende por

envelhecimento bem-sucedido, considerando o papel que as US assumem na

sua promoção. Descrevemos, ainda, o conceito “sabedoria”, apresentámos as

suas conceptualizações e a investigação desenvolvida neste âmbito e, por

último, tecemos algumas considerações em torno da associação da sabedoria

com a idade, a O, a QdV e o BEE. Seguidamente, serão descritos os objetivos e

os aspetos metodológicos da investigação, incluindo a descrição da amostra, dos

instrumentos utilizados e dos procedimentos adotados.

Page 23: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

19

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

II - Objetivos

O reconhecimento do potencial do desenvolvimento humano na última

etapa do ciclo de vida e o crescente interesse pelos aspetos positivos inerentes

ao processo de envelhecimento têm mobilizado, nas últimas décadas, cada vez

mais estudos em torno da sabedoria. Considerada por muitos teóricos como o

objetivo ideal do desenvolvimento humano, é vista como um resultado positivo

do envelhecimento, uma vez que, entre os variadíssimos fatores que promovem

a sua aquisição e o seu potencial desenvolvimento, se encontra o fator “idade

cronológica”. Neste sentido, e atendendo a que a sabedoria é um tema pouco

versado em Portugal, o propósito principal da presente investigação é analisar o

nível de sabedoria, tal como concebida por Monika Ardelt, numa amostra de

adultos idosos reformados e que participam em atividades de promoção de

envelhecimento bem-sucedido, nomeadamente em universidades seniores, bem

como estudar se determinadas condições se associam ou não ao seu

desenvolvimento. Assim, os objetivos específicos deste estudo consistem em:

i. Identificar o nível de sabedoria na amostra em estudo;

ii. Investigar se existem diferenças significativas ao nível da sabedoria

consoante o género e o nível de escolaridade dos sujeitos;

iii. Verificar a existência de uma relação entre o nível total de sabedoria e o

nível total de O;

iv. Verificar a existência de uma associação entre a sabedoria e a QdV;

v. Verificar a existência de uma associação entre a sabedoria e o BEE;

vi. Explorar a relação entre a sabedoria e o BEE, controlando o efeito da O

e da QdV;

vii. Perceber quais destas variáveis (O, QdV, BEE) se revela melhor

preditor do nível total de sabedoria.

III - Metodologia

1. Descrição da amostra

A amostra do presente estudo foi selecionada por conveniência e é

composta por 90 adultos idosos, alunos de universidades seniores do distrito de

Coimbra, com idades compreendidas entre os 60 anos e os 80 anos (M= 69.40;

DP= 6.15), dos quais 57 do sexo feminino (63.3%) e 33 do sexo masculino

(36.7%). A maioria dos sujeitos apresentou estado civil casado (61.1%) e

completou o ensino superior (32.2%). As características sociodemográficas da

amostra encontram-se sintetizadas na Tabela 1.

De notar que, para a seleção da amostra, foram estabelecidos como

critérios de inclusão: idade igual ou superior a 60 anos e reforma. Foram

excluídos todos os sujeitos que à data eram seguidos em consulta de psicologia,

psiquiatria ou neurologia.

Page 24: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

20

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

Tabela 1. Características sociodemográficas da amostra total.

N M (DP) [Min. – Máx.]

Idade 90 69.40 (6.15) [60 – 80]

N %

Género

Masculino 33 36.7 Feminino 57 63.3

Estado Civil

Solteiro 6 6.7 Casado 55 61.1 Viúvo 22 24.4 Divorciado 7 7.8

Nível de Escolaridade

1º Ciclo 11 12.3 2º Ciclo 3 3.3 3º Ciclo 25 27.8 Ensino Secundário 22 24.4 Ensino Superior 29 32.2

2. Instrumentos

Seguindo o método de inquérito por questionário autoadministrado9, os

dados recolhidos para a presente investigação foram obtidos através da

aplicação dos seguintes instrumentos:

- Questionário sociodemográfico: visou a obtenção de informações

relativas à idade, ao género, ao estado civil e ao nível de escolaridade dos

sujeitos. Permitiu ainda averiguar se estes se encontravam reformados e se eram

seguidos em consulta de psicologia, psiquiatria ou neurologia.

- Escala “Abertura à Experiência” (O) do Inventário de Personalidade

NEO-FFI (NEO-Five Factor Inventory; Costa & McCrae, 1989; McCrae &

Costa, 2004; versão portuguesa: Lima & Simões, 2000): incluída no NEO-FFI

(versão reduzida do NEO-PI-R desenvolvida com o intuito de medir de forma

fiável, válida e rápida as cinco dimensões da personalidade, o que facilita a sua

utilização em avaliações com adultos idosos), permite avaliar, através de 12

itens, a proatividade na procura e apreciação da experiência por si própria, bem

como a tolerância e a exploração do não familiar. Para cada afirmação

apresentada, é solicitado aos sujeitos que assinalem o seu grau de concordância,

segundo uma escala tipo Likert de 5 pontos (0-Discordo Fortemente; 1-

Discordo; 2-Neutro; 3-Concordo; 4-Concordo Fortemente). Na versão original,

o NEO-FFI apresenta valores de consistência interna que variam entre .75 e .82,

ao passo que, similarmente, na versão portuguesa, estes variam entre .71 e .81

(Magalhães et al., 2014). Especificamente, para o fator O, os valores são,

respetivamente, de .75 e de .71 para cada uma das versões referidas.

- Questionário de Bem-estar Espiritual (Spiritual Well-Being

Questionnaire/SWBQ; Gomez & Fisher, 2003, 2005a, 2005b; versão

portuguesa: Gouveia, Pais-Ribeiro, & Marques, 2008): permite avaliar cada

uma das quatro subescalas do BEE (pessoal, comunitária, ambiental e

9 Note-se que, embora a administração do WHQOL-OLD, no âmbito dos estudos para a

população portuguesa, seja prevista em formato entrevista, permite também a modalidade de

autopreenchimento. Na presente investigação, devido a constrangimentos de tempo e de recursos

humanos, e com o intuito de recolher uma amostra com um efetivo considerável, este instrumento

foi autoadministrado.

Page 25: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

21

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

transcendental), através de 20 itens, distribuídos de igual forma por estas, bem

como obter uma medida global de BEE. Aos sujeitos é solicitado que indiquem

em que medida sentem que cada afirmação reflete a sua experiência pessoal

atual, de acordo com uma escala tipo Likert de 5 pontos (1-Muito pouco; 2-

Pouco; 3-Moderadamente; 4-Muitíssimo; 5-Totalmente). Na versão original,

todas as subescalas do SWBQ apresentam uma boa fiabilidade e validade com

valores de consistência interna que variam entre .76 e .95 para diferentes

subamostras. A versão portuguesa do SWBQ (SWBQp) apresenta uma estrutura

fatorial semelhante à original e bons níveis de consistência interna quer para as

quatro subescalas, quer para o fator global de BEE, variando estes entre .74 e

.90 (Gouveia, Marques, & Pais-Ribeiro, 2009).

- Escala Tridimensional de Sabedoria-19 itens (Three dimensional

wisdom scale/3D-WS-19; Ardelt, 2003; versão portuguesa reduzida: Gonçalves,

2012): composta por 19 itens, permite avaliar as três dimensões da sabedoria –

cognitiva (7 itens), reflexiva (5 itens) e afetiva (7 itens) –, bem como o nível

total de sabedoria dos sujeitos. A estes é pedido que, mediante duas escalas de

resposta tipo Likert, ambas de 5 pontos, assinalem o seu grau de concordância

com as afirmações apresentadas (1-Concordo Totalmente; 2- Concordo; 3-

Neutro; 4-Discordo; 5-Discordo Totalmente) ou indiquem em que medida é que

estas são verdadeiras sobre de si (1-Totalmente Verdadeiro; 2-Quase Sempre

Verdadeiro; 3-Nem Verdadeiro nem Falso; 4-Raramente Verdadeiro; 5-Não

Verdadeiro). A 3D-WS-19 apresenta uma boa consistência interna, com valores

de .73, .74 e .60 para as subescalas cognitiva, reflexiva e afetiva,

respetivamente, os quais se aproximam dos da versão original (3D-WS): .78

para a dimensão cognitiva, .75 para a dimensão reflexiva e .74 para a dimensão

afetiva. Na versão original, os valores de estabilidade temporal (teste-reteste)

são, respetivamente, para as escalas referidas, de .85, .71 e .72.

- Inventário de Avaliação da Qualidade de Vida em Adultos Idosos, da

Organização Mundial de Saúde (World Health Organization Quality of Life-

Older Adults Module/WHOQOL-OLD; Power et al., 2005; versão portuguesa:

Vilar, Sousa, & Simões, 2009, 2015; Vilar et al., 2010)10

: utilizado

especificamente com adultos idosos, visa avaliar, através de 28 itens, numa

escala de resposta tipo Likert de 5 pontos (1 a 5 pontos, com descritores

semânticos relativos a intensidade, capacidade e avaliação/satisfação - Nada a

Muitíssimo, Nada a Completamente, Muito Mau a Muito Bom, Muito

Insatisfeito a Muito Satisfeito) o resultado global da QdV e as suas sete facetas

(de quatro itens cada): funcionamento sensorial (avalia o funcionamento

sensorial e o impacto da perda das capacidades sensoriais na participação em

atividades e na interação); autonomia (avalia a capacidade para viver de forma

autónoma/independência e tomar decisões); atividades passadas, presentes e

futuras (avalia a satisfação com objetivos alcançados na vida e projetos a

realizar); participação social (avalia a participação em atividades do quotidiano,

nomeadamente, na comunidade); morte e morrer (avalia preocupações e medos

10

Como definido no artigo de divulgação do processo de construção do instrumento

(Power et al., 2005), é usualmente utilizada a designação abreviada World Health Organization

Quality of Life-OLD Module. Na versão portuguesa, apesar de proposta a designação em

português, mantêm-se o acrónimo de língua inglesa, WHOQOL-OLD, por facilitar a identificação

transcultural e estar já amplamente divulgado.

Page 26: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

22

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

sobre a morte e o morrer); intimidade (avalia a capacidade para ter relações

pessoais e íntimas); e família/vida familiar (avalia a satisfação com o tempo

passado em família, o apoio e as relações familiares, e o sentido de valor do

idoso na família). De salientar que esta última faceta integra apenas a versão

portuguesa, sendo uma inovação relativamente ao módulo original, e que

contribui para a robustez psicométrica do instrumento, bem como para a

compreensão da QdV em adultos idosos portugueses. A consistência interna

para o total de 28 itens apresenta um valor de .91, revelando-se, deste modo,

excelente, ao passo que os valores de alfa de Cronbach para as facetas oscilam

entre .72 e .94. A fiabilidade teste-reteste para o total é de .80 e para as facetas

varia entre .47 e .83 (Vilar, Sousa, & Simões, 2015).

3. Procedimentos de recolha de dados

O recrutamento dos participantes foi efetuado em duas US do distrito de

Coimbra, nomeadamente na Aposenior e na Universidade Sénior da Associação

Viver em Alegria. Após contactadas formalmente, ambas as instituições

autorizaram o presente estudo e cederam os espaços físicos para o

preenchimento do protocolo de investigação, o qual foi aprovado pelas

comissões de ética das entidades envolvidas.

O preenchimento dos instrumentos utilizados demorou cerca de 30

minutos e foi realizado na presença de um investigador, de modo a assegurar o

esclarecimento de eventuais dúvidas. Previamente, todos os participantes foram

informados acerca da natureza e dos objetivos do estudo, da absoluta

confidencialidade das respostas, do carácter voluntário da sua participação e da

possibilidade de desistência, a qualquer momento, do estudo. Todas estas

informações foram apresentadas por escrito num documento impresso

(consentimento informado) que, depois de lido e analisado, foi assinado.

4. Procedimento de análise de dados

O tratamento estatístico dos dados foi efetuado através do programa

informático Statistical Package for the Social Sciences (IBM SPSS Statistics),

versão 22 para Windows.

A caracterização da amostra quanto às variáveis sociodemográficas e

quanto ao nível de sabedoria foi concretizada através de estatísticas descritivas

(médias, desvios-padrão, valores mínimo e máximo, frequências absolutas e

percentagens).

De modo a investigar a existência de diferenças significativas ao nível da

sabedoria em função do género e do nível de escolaridade dos sujeitos foram

concretizados o Teste t de Student para amostras independentes e o teste

Kruskal-Wallis, respetivamente, após verificação da adequação dos dados

quanto aos pressupostos da normalidade e da homogeneidade das variâncias.

Para testar a associação do nível total de sabedoria com o nível total de O

foi realizado o Teste Exato de Fisher como alternativa ao Teste de

Independência do Qui-quadrado, uma vez que o pressuposto de aplicação deste

último “mais de 20% das células têm de ter uma frequência esperada inferior a

5” foi violado (Pestana & Gageiro, 2003). O grau de associação entre as

Page 27: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

23

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

variáveis foi quantificado com base no Coeficiente V de Cramer11

.

Foram calculados, após garantia da não violabilidade dos pressupostos da

normalidade, da linearidade e da homocedasticidade, os coeficientes de

correlação de Pearson, de modo a explorar a relação entre a sabedoria e a QdV,

e entre a sabedoria e o BEE, e o coeficiente de correlação parcial entre a

sabedoria e o BEE, controlando o efeito da O e da QdV. A avaliação da

magnitude das correlações entre as variáveis baseou-se nos critérios definidos

por Pestana e Gageiro (2003)12

.

Por último, o impacto da O, da QdV e do BEE no nível de sabedoria da

amostra em estudo foi explorado através da análise de regressão múltipla, onde

as três primeiras variáveis foram tidas como preditoras e a sabedoria como

variável critério. A adequação do modelo foi averiguada através da análise de

resíduos, constatando-se que estes cumprem os critérios da normalidade, da

linearidade e da homocedasticidade. A independência dos erros foi igualmente

confirmada e validada através do Teste de Durbin-Watson. Não foi ainda

verificada a presença de multicolinearidade ou singularidade entre as variáveis

(VIF< 5)13

.

Após a exposição do problema e dos objetivos desta investigação, da

caracterização da amostra e da descrição dos instrumentos utilizados e dos

procedimentos adotados na recolha e análise dos dados, serão apresentados,

seguidamente, os principais resultados, considerando os objetivos a que nos

propusemos inicialmente.

IV – Resultados

1. Nível de sabedoria da amostra em estudo

Considerando que pontuações <3 correspondem a um nível baixo quer

para o total de sabedoria, quer para cada uma das dimensões, que pontuações ≥3

e <4 equivalem a um nível médio e que um nível elevado é determinado por

pontuações ≥414

, os resultados sugerem a presença de um nível médio tanto para

o total de sabedoria como para as dimensões cognitiva e afetiva, apresentando a

dimensão reflexiva um nível baixo (cf. Tabela 2). A maioria dos sujeitos

apresenta níveis médios para o total de sabedoria e para as dimensões cognitiva,

reflexiva e afetiva, distando as pontuações mais do nível baixo do que do nível

elevado, significando isto que há mais sujeitos a obter pontuações elevadas do

que baixas, com a exceção da dimensão reflexiva. Observa-se ainda que a

dimensão afetiva é a que apresenta um valor médio mais elevado e é onde se

situam mais sujeitos com pontuações elevadas e menos com pontuações baixas.

Por sua vez, a dimensão reflexiva é aquela em que a proporção de sujeitos com

níveis baixos é maior, comparativamente às outras dimensões.

11 Atendendo a que esta medida de associação varia entre 0 e 1, os valores baixos indicam

uma pequena associação entre as variáveis, enquanto os valores elevados indicam uma grande

associação (Pestana e Gageiro, 2003). 12 r < .20 – muito baixa; .20 ≥ r < .39 – baixa; .40 > r < .69 – moderada; .70 > r < .89 –

alta; .90 ≥ r ≤ 1 – muito alta. 13 Variance Inflaction Fator 14 Pontos de corte da 3D-WS definidos e indicados por Monika Ardelt em Inês (2009).

Page 28: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

24

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

Tabela 2. Estatísticas descritivas do nível total de sabedoria e das dimensões cognitiva,

reflexiva e afetiva.

Sabedoria D. Reflexiva D. Afetiva D. Cognitiva

M

3.14

2.78

3.44

3.21

DP .58 .84 .58 .65

N.Baixo N 9 34 3 13

% 10.0 37.8 3.3 14.4 N.Médio N 58 39 48 49

% 64.4 43.3 53.3 54.4 N.Elevado N 23 17 39 28 % 25.6 18.9 43.3 31.1

M= Média; DP= Desvio-padrão.

2. Diferenças ao nível da sabedoria consoante o género o nível de

escolaridade dos sujeitos

Através da tabela 3 é possível verificar que não existem diferenças

estatisticamente significativas entre homens e mulheres no que concerne ao

nível total de sabedoria (t(88) = 0.651, p = 0.517) e às pontuações obtidas nas

dimensões cognitiva (t(88) = 0.313, p = 0.755), reflexiva (t(88) = 1.883, p = 0.063)

e afetiva (t(88) = -1.085, p = 0.281).

Tabela 3. Comparação entre as médias dos resultados no nível total de sabedoria e nas

dimensões cognitiva, reflexiva e afetiva em função do género dos sujeitos.

Masculino

(n = 33)

Feminino

(n = 57)

M DP M DP t p

Sabedoria 3.20 .71 3.11 .50 .651 .517

D. Cognitiva 3.24 .72 3.20 .60 .313 .755

D. Reflexiva 2.99 .96 2.65 .74 1.883 .063

D. Afetiva 3.36 .64 3.49 .53 -1.085 .281

M= Média; DP= Desvio-padrão.

Os resultados expostos na Tabela 4 revelam que não existem diferenças

estatisticamente significativas no que respeita ao nível total de sabedoria (H(4) =

5.752, p = 0.218) e às dimensões cognitiva (H(4) = 6.324, p = 0.176), reflexiva

(H(4) = 4.147, p = 0.386) e afetiva (H(4) = 3.819, p = 0.431), em função do nível

de escolaridade.

Tabela 4. Comparação entre as médias dos resultados no nível total de sabedoria e nas dimensões cognitiva,

reflexiva e afetiva em função do nível de escolaridade dos sujeitos.

1º Ciclo

(n = 11)

2º Ciclo

(n = 3)

3º Ciclo

(n = 25)

Secundário

(n = 22)

E.Superior

(n = 29)

M DP M DP M DP M DP M DP H Test p

Sabedoria 2.91 .83 3.02 .23 3.12 .46 3.06 .51 3.34 .62 5.752 .218

D. Cognitiva 2.97 .88 3.24 .29 3.19 .57 3.07 .59 3.43 .64 6.324 .176

D. Reflexiva 2.42 1.01 2.40 1.04 2.77 .74 2.77 .73 2.97 .91 4.147 .386

D. Afetiva 3.34 .72 3.43 .62 3.39 .51 3.32 .55 3.61 .59 3.819 .431

M= Média; DP= Desvio-padrão.

Page 29: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

25

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

3. Associação da sabedoria com a O, com a QdV e com o BEE

Atendendo aos valores normativos/intervalo normativo para a escala de O

do NEO-FFI (M = 27.69; DP = 6.00) (Magalhães et al., 2014), foram

estabelecidos três grupos relativamente ao nível de O que os sujeitos

apresentam: nível baixo (<21.69), nível médio (≥21.69 e <33.69) e nível

elevado (≥33.69). Os resultados permitem verificar que o nível total de

sabedoria não é independente do nível total de O, existindo uma relação

estatisticamente significativa entre ambas (χ2(4) = 24.124, p <.001), a qual é

moderada (Coeficiente V de Cramer = 0.40). Observa-se ainda a presença de

mais sujeitos com um nível elevado de sabedoria e, concomitantemente, com

um nível elevado de O do que o que seria esperado, se as variáveis fossem

independentes. De notar que a maioria dos sujeitos tem um nível médio tanto de

sabedoria, como de O (cf. Tabela 5).

Tabela 5. Associação entre o nível total de sabedoria e o nível total de O.

Sabedoria

N.Baixo N.Médio N.Elevado

Ab

ert

ura

à E

xp

eri

ên

cia

N.Baixo N 0 6 0

RP -.8 1.2 -1.5

N.Médio N 9 44 8

RP 1.1 .7 -1.8

N.Elevado N 0 8 15

RP -1.2 -1.8 3.8*

χ2 p Coeficiente V de Cramer

24.124 <.001 .40

RP = Resíduos Padronizados; *Resíduo significativo ao nível de significância 1%.

Ao observar-se os coeficientes de correlação de Pearson, aduzidos na

Tabela 6, verifica-se que a sabedoria e as suas três dimensões apresentam uma

correlação positiva, moderada e estatisticamente significativa com a QdV.

Observa-se ainda que a dimensão cognitiva apresenta uma correlação positiva,

baixa e estatisticamente significativa com as facetas funcionamento sensorial,

atividades passadas, presentes e futuras e participação social. O mesmo tipo de

associação é observado entre a dimensão afetiva e as facetas funcionamento

sensorial, atividades passadas, presentes e futuras, participação social e morte

e morrer. Por sua vez, a dimensão reflexiva não se correlaciona

significativamente apenas com as facetas autonomia e morte e morrer, e a

sabedoria não se correlaciona significativamente somente com a faceta

autonomia.

Page 30: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

26

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

Tabela 6. Coeficientes de correlação de Pearson entre a sabedoria e a QdV, e as respetivas dimensões e facetas.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

1.Sabedoria 1

2.D. Cognitiva .89*** 1

3.D. Reflexiva .86*** .65*** 1

4.D. Afetiva .78*** .65*** .43*** 1

5.QdV .46*** .41** .43*** .42*** 1

6.Funcionamento sensorial .29** .26* .23* .26* .44*** 1

7.Autonomia .19 .13 .21 .14 .62*** .24* 1

8.Atividades Passadas,

Presentes e Futuras .37*** .23* .35*** .36*** .79*** .19 .51*** 1

9.Participação Social .36*** .24* .33*** .33*** .72*** .20 .41*** .57*** 1

10.Morte e Morrer 0.23* .15 .18 .28** .43*** .05 .11 .27* .17 1

11.Intimidade 0.25* .13 .28** .19 .63*** .11 .31** .48*** .46*** -.14 1

12.Família/Vida Familiar 0.25* .17 .25* .20 .66*** .03 .28** .51*** .49*** .07 .51*** 1

*p< .05, **p< .01, ***p< .001

Page 31: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

27

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

Através da análise dos coeficientes de correlação de Pearson,

apresentados na Tabela 7, observa-se que tanto a sabedoria como as suas três

dimensões se corelacionam positivamente com o BEE. Enquanto a sabedoria e a

sua dimensão afetiva se correlacionam com todas as dimensões do BEE, a

dimensão cognitiva da sabedoria apenas se correlaciona com as dimensões

comunitária e ambiental do BEE, e a dimensão reflexiva da sabedoria com a

dimensão pessoal do BEE. Todas estas correlações são positivas, baixas e

estatisticamente significativas.

Os resultados apresentados na Tabela 8 permitem constatar que a

correlação entre o nível de sabedoria e das suas três dimensões com o BEE

decresce ligeiramente quando o efeito da O é controlado. Por sua vez, verifica-

se que esta associação deixa de ser estatisticamente significativa quando

controlado o efeito da QdV.

Tabela 8. Correlação parcial entre a sabedoria e o BEE, controlando a O e a QdV.

VC Sabedoria D. Cognitiva D. Reflexiva D.Afetiva

O BEE .25* .19* .14* .29**

QdV BEE .13 .16 .02 .16

VC = variável controlada; *p< .05, **p< .01

4. Qual o melhor preditor do nível total de sabedoria?

Os resultados evidenciam que, no seu conjunto, o modelo proposto

explica 40.5% da variância do nível total de sabedoria, com significância

estatística (F(3,86) = 19.53, p <.001). Constata-se ainda que a QdV (t = 2.79, p

<.05; β = .28) e a O (t = 5.12, p <.001; β = .45) são os únicos preditores

significativos da sabedoria, tendo este último uma contribuição mais forte para

a sua explicação, sendo, por isso, considerado o melhor preditor (cf. Tabela 9).

Tabela 7. Coeficientes de correlação de Pearson entre a sabedoria e o BEE, e as respetivas

dimensões.

1 2 3 4 5 6 7 8 9

1.Sabedoria 1

2.D. Cognitiva .89*** 1

3.D. Reflexiva .86*** .65*** 1

4.D. Afetiva .78*** .65*** .43*** 1

5.BEE .34*** .29** .24* .35*** 1

6.D. Pessoal .27** .19 .26* .23* .77*** 1

7.D. Comunitária .26* .26* .18 .24* .72*** .54*** 1

8.D. Ambiental .32** .34*** .19 .31** .79*** .55*** .52*** 1

9.D.Transcendental .23* .17 .15 .31** .82*** .44*** .41*** .47*** 1

*p< .05, **p< .0, ***p< .001

Page 32: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

28

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

Tabela 9. Análise de regressão múltipla, usando

como preditores a O, a QdV e o BEE, e a

sabedoria como variável critério.

R2 F p

.405 19.53 .001

β t p

O .45 5.12 <.001

QdV .28 2.79 .006

BEE .08 .83 .41

Tendo por base a análise e a descrição dos resultados que acabámos de

expor, e ainda o seu encadeamento com as abordagens teóricas preconizadas no

Enquadramento Conceptual, ocupar-nos-emos, seguidamente, da sua discussão.

V - Discussão

Percebida como o nível supremo do desenvolvimento humano, a

sabedoria tem mobilizado, nas últimas décadas, um grande esforço científico

por parte das ciências sociais no sentido de clarificar a sua delimitação

conceptual e ontogénese, bem como identificar as suas funções, propriedades,

dimensões, antecedentes e consequentes. Convictos do desafio que o estudo

empírico deste constructo complexo e multidimensional representa, e ancorados

na abordagem positiva do envelhecimento, no paradigma life-span e no modelo

tridimensional de sabedoria da autora Monika Ardelt, procuraremos sintetizar,

em seguida, as principais conclusões da presente investigação, subjacentes aos

objetivos a que nos propusemos.

Questionámo-nos inicialmente acerca do nível de sabedoria de adultos

idosos reformados, que frequentam universidades seniores. Os resultados

globalmente obtidos sugerem que a maioria apresenta níveis médios de

sabedoria, o que está em conformidade com a assunção de que raras são as

pessoas a alcançar elevados níveis de sabedoria, tendência esta observada

mesmamente entre adultos idosos (Ardelt, 2004a; Baltes & Staudinger, 2000;

Gonçalves, Lamela, & Bastos 2013; Jordan, 2005; Lima, 2010; Kunzmann &

Baltes, 2005; Marchand, 2005; Staudinger, 1999).

Ao considerarmos as três dimensões da sabedoria, as diferenças

patentes entre elas sugerem padrões e percursos de desenvolvimento distintos,

isto é, o desenvolvimento das dimensões de personalidade integrantes da

variável latente “sabedoria”, tais como propostas por Ardelt (2003), parece não

ser nem homogéneo, nem simultâneo. De facto, os resultados obtidos revelam

que, contrariamente à dimensão cognitiva e afetiva, nas quais se observa um

nível médio de sabedoria, a dimensão reflexiva apresenta um nível baixo,

embora muito próximo do nível médio, o qual se deve, sobretudo, à elevada

proporção de sujeitos com níveis baixos (apenas ligeiramente inferior à

proporção de sujeitos com níveis médios). Mais, a dimensão afetiva é a que

apresenta a média mais elevada e a que contém o maior número de sujeitos com

pontuações elevadas e um número menor com pontuações baixas. Ora, se por

Page 33: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

29

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

um lado estes resultados estão de acordo com a assunção de que o significado

daquilo que é a sabedoria varia de pessoa para pessoa (Ardelt, 2011a) e com a

proposta de Ardelt (2003), segundo a qual as três dimensões da sabedoria não

são independentes umas das outras mas também não são conceptualmente

idênticas, por outro lado opõem-se, em certa medida, ao seu modelo teórico, o

qual preconiza a dimensão reflexiva como um pré-requisito crucial para o

desenvolvimento das outras duas dimensões.

Consideramos que o quotidiano dos sujeitos em estudo, pautado por

uma participação ativa em universidades seniores – espaço privilegiado para a

criação e desenvolvimento de interações sociais significativas e para a expansão

das redes social e de apoio (Carneiro, 2012; Pocinho, Abreu et al., 2013;

Pocinho, Santos et al., 2013) – permite-lhes, possivelmente, e com maior

facilidade, descentrarem-se de si mesmos, compreender os outros e,

consequentemente, desenvolver emoções e comportamentos positivos em

relação àqueles, tais como o amor simpatético e compassivo (Ardelt, 1997,

2003, 2004a). De notar que não é intenção nossa descurar o potencial que as

universidades seniores têm para oferecer em termos do desenvolvimento e

alcance de uma profunda compreensão acerca da realidade (dimensão

cognitiva), do incremento da reflexão pessoal e da superação da própria

subjetividade (dimensão reflexiva), mas sim salientar a vertente social

fortemente presente nestas entidades que, nos adultos idosos em estudo, parece

ser altamente valorizada e contribuir para pontuações mais elevadas na

dimensão afetiva. Aliás, estes resultados confirmam as conclusões de estudos

prévios, desenvolvidos no âmbito das teorias implícitas da sabedoria, que

demonstraram a tendência para uma valorização mais elevada de aspetos que se

intersectam com a dimensão afetiva, tais como a compreensão e a empatia, por

parte dos adultos idosos, quando comparados a outros grupos etários (Clayton

& Birren, 1980). Mais, a evidência de que a sabedoria é fundamentalmente um

produto social e cultural, variando a sua conceção consoante as normas e os

valores da cultura em que os indivíduos estão inseridos (Ardelt, 2011a; Baltes

& Staudinger, 2000; Staudinger, 2008; Takahashi & Bordia, 2000), permite-nos

avançar com a hipótese de que esta diferença de resultados relativamente às

amostras estudadas por Ardelt, onde é evidente a preeminência da dimensão

reflexiva, poderá ser melhor explicada pelos aspetos culturais. No entanto,

estamos cientes de que mais estudos transculturais são necessários para

aprofundar a relação entre a cultura e o desenvolvimento, a natureza e a

manifestação comportamental da sabedoria.

Ainda no que respeita à dimensão reflexiva, apraz-nos concordar com a

ideia de Gonçalves (2012) de que a 3D-WS, e mais especificamente a 3D-WS-

19, deveria ser capaz de evidenciar, em termos empíricos, a importância teórica

que esta dimensão assume, ao invés de abordar as três dimensões exatamente da

mesma forma, sendo expectável que constituísse um fator de segunda ordem.

Não obstante a relevância que as dimensões cognitiva, reflexiva e

afetiva da sabedoria assumem no modelo de Monika Ardelt, é indispensável que

as três estejam simultaneamente presentes para que uma pessoa seja

considerada sábia (Ardelt, 2003). E, de facto, embora com níveis diferentes,

estas três dimensões estão patentes na amostra em estudo, com valores

Page 34: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

30

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

tendencialmente mais próximos do que distantes de níveis elevados, o que vai

ao encontro da constatação de Kunzmann e Baltes (2005) de que são vários os

adultos que estão a caminho da sabedoria, mas muito poucos são aqueles que

efetivamente adquirem níveis elevados.

Delineámos como segundo objetivo para o nosso estudo a exploração

da presença de diferenças significativas ao nível da medida global de sabedoria

e ao nível das suas dimensões em função do género e do nível de escolaridade.

Os resultados obtidos revelam que ser homem ou mulher, ou deter um certo

grau de escolaridade não determina os níveis de sabedoria. Embora sem

diferenças estatisticamente significativas, apontamos o facto de a média mais

alta para o nível total de sabedoria pertencer aos homens, o que parece estar em

conformidade com o arquétipo “o velho homem sábio” que, na ótica de Orwoll

e Perlmutter (1990), predomina na maioria das culturas. Note-se ainda que,

enquanto os homens pontuam mais alto na dimensão cognitiva, as mulheres têm

uma média mais elevada na dimensão afetiva, o que poderá ser explicado pelos

papéis de género, oportunidades e constrangimentos provenientes dos processos

de socialização e de aculturação a que os indivíduos estão sujeitos. Como

defendem Orwoll e Achenbaum (1993), há uma tendência para que os aspetos

cognitivos sejam valorizados e prevaleçam na educação dos homens, o que

influencia o seu desenvolvimento rumo à sabedoria, ao passo que as mulheres

tenderão a desenvolvê-la através de vias fortemente marcadas por aspetos

afetivos, uma vez que as capacidades interpessoais (p.e., empatia), muitas vezes

associadas ao cuidar do outro, predominam na sua educação. Relativamente à

escolaridade, parece não haver um padrão de desenvolvimento e uma

progressiva diferenciação dos níveis de sabedoria à medida que a escolaridade

aumenta. Todavia, ainda que sem diferenças significativas, os sujeitos com o

nível superior de escolaridade apresentam pontuações mais elevadas tanto no

total de sabedoria, como nas três dimensões, o que parece apoiar a ideia de que

a escolaridade e as experiências de aprendizagem operam como contextos

facilitadores da aquisição e do desenvolvimento da sabedoria (Baltes, 1993;

Krzemien, 2012). De notar ainda que, independentemente do nível de

escolaridade, a dimensão afetiva é a que apresenta um valor médio mais

elevado, seguida das dimensões cognitiva e reflexiva. Julgamos que o

entendimento destes resultados, como já anteriormente assumimos, remete para

a elevada valorização dos aspetos interpessoais e afetivos que se afiguram

marcantes no quotidiano dos sujeitos em estudo.

Mobilizados pela vontade de cooperar com os esforços que têm vindo a

ser desenvolvidos na delimitação conceptual e na persecução das condições

associadas à sabedoria, propusemo-nos ainda a explorar a associação desta com

a O, com o BEE e com a QdV.

No que concerne à O, em conformidade com as investigações de Ardelt

(1998; 2000a, 2005), Clayton e Birren (1980), Holliday e Chandler (1986),

Kramer (2000), Le (2008, 2011), Staudinger e colaboradores (2005), Webster

(2003), Wink e Dillon (2003) e de Wink e Helson (1997), os resultados obtidos

provam a existência de uma relação moderada com o nível total de sabedoria.

Embora se verifique a predominância de níveis médios tanto de sabedoria como

de O, a associação entre ambas deve-se, essencialmente, ao facto de na amostra

Page 35: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

31

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

em estudo estarem presentes mais sujeitos com um nível elevado de sabedoria

e, concomitantemente, com um nível elevado de O do que o que seria esperado

se as variáveis fossem independentes. Para além disso, a O revelou ser o melhor

preditor da sabedoria no presente estudo. No nosso entendimento, estes

resultados revelam-se coerentes, pois, em oposição a um estilo de pensamento

conservador, a aceitação e a integração da incerteza/contradição inerentes aos

diversos acontecimentos de vida e a compreensão da sua complexidade – ações

estas implicadas no desenvolvimento da sabedoria – requerem não só uma

grande flexibilidade cognitiva, como abertura, exploração, recetividade e

adaptação a novas ideias, perspetivas e experiências. Para além disso, em

concordância com Staudinger, Dörner e Mickler (2005), consideramos que a

compreensão profunda dos fenómenos da vida, a capacidade de conceber

julgamentos excecionais e, consequentemente, a capacidade de resolver

problemas acerca de dilemas básicos da condição humana requerem, para além

de uma atitude de abertura, um certo potencial criativo, intimamente ligado à O.

Ora, estas informações induzem-nos na defesa de que os idosos em estudo, ao

revelarem, fundamentalmente, níveis médios e elevados de O – o que é

consonante com o facto de permanecerem abertos e de se envolverem em novas

experiências culturais e educativas, desenvolvidas nas universidades seniores

que frequentam – detêm, possivelmente, um elevado grau de criatividade que,

em conjunto com a disposição de abertura ao mundo, lhes permite desenvolver

uma compreensão profunda da realidade, refinar a sua reflexão pessoal,

autoconsciência e introspeção, bem como incrementar a sua descentralização e,

consequentemente, disponibilidade para os outros.

A relação da sabedoria com a QdV afirma-se igualmente na nossa

investigação, indicando os resultados que níveis mais elevados de sabedoria,

enquanto característica tridimensional da personalidade, se associam a um nível

global de QdV, também ele mais elevado. Da mesma forma, observa-se que a

sabedoria (tanto o nível total, como o das três dimensões) se correlaciona com o

funcionamento sensorial, com as atividades passadas, presentes e futuras, e

com a participação social. Considerando o papel essencial que a sabedoria

assume na resposta a dilemas básicos da condição humana, na satisfação com a

vida, por parte dos sábios anciãos, independentemente das circunstâncias

objetivas serem ou não as ideais, na condução do significado e propósito de

vida, bem como na coordenação e promoção do crescimento individual e social

(Ardelt, 2004a; Gonçalves et al., 2013; Kunzmann & Baltes, 2005), estas

associações parecem-nos lógicas e harmoniosas. A associação entre a dimensão

afetiva da sabedoria e a faceta morte e morrer afigura-se, no nosso

entendimento, igualmente consonante, na medida em que a descentralização do

sujeito de si mesmo e, consequentemente, a redução do posicionamento

egocêntrico favorece a aceitação e a compreensão não só das limitações

humanas, como da finitude da vida, encarando, desta forma, a experiência de

morte como uma parte integrante da existência humana (Alves, 2011; Ardelt,

1997, 2003, 2004a). Os resultados apontam ainda para a presença de uma

relação entre a dimensão reflexiva da sabedoria e as facetas intimidade e

família/vida familiar, o que pressupõe que uma maior reflexão pessoal e,

consequentemente, a superação da própria subjetividade e a consideração tanto

Page 36: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

32

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

das próprias motivações, como da dos outros, se associa não só a uma maior

capacidade para estabelecer relações pessoais e íntimas, como também a uma

satisfação mais elevada com as relações e atmosfera familiares. Mais do que

reconhecer, concordamos, assim, com a assunção de que os idosos sábios

tendem a relativizar o acessório e a valorizar o essencial (Barros, 2008),

constituindo a atividade de passar mais tempo com os amigos e com a família

um aspeto fundamentalmente valorizado por eles (Kensinger et al., 2009). Ao

atender a todas estas informações, não é de admirar que a QdV, tal como

percecionada pelo individuo, se assuma como fator preditivo dos níveis de

sabedoria, no nosso estudo.

Finalmente, dadas as abundantes indicações que fomos encontrando na

literatura que afirmam a existência de uma associação da sabedoria com a

espiritualidade (Ardelt, 2004b; Barros, 2006, 2008; Jason et al., 2001; Kramer,

1990; Wink & Dillon, 2003; Wink & Helson, 1997) e atendendo a que nenhum

estudo foi realizado com o propósito de estudar a relação entre a sabedoria e o

BEE, constituiu um dos nossos objetivos fazê-lo na presente investigação.

Interessantemente, embora os resultados apontem para uma associação

significativa entre ambos, o BEE não se afirma como preditor da sabedoria,

tendo-nos levado isto a questionar e a explorar a presença de outros fenómenos,

fatores ou condições influentes desta relação. E, de facto, os resultados indicam

que a correlação do BEE com a sabedoria decorre, em grande parte, da QdV dos

sujeitos em estudo, pois é anulada por completo quando esta última é

controlada, sugerindo isto a possibilidade de o BEE se sobrepor a outras

variáveis em estudo, nomeadamente à QdV. Na verdade, são vários os autores

que destacam a importância da dimensão espiritual na QdV, admitindo que o

BEE, enquanto estado dinâmico que se reflete na qualidade das relações que o

indivíduo estabelece consigo próprio, com os outros, com o ambiente e com o

Outro transcendente, se relaciona e tem um impacto considerável no modo

como o indivíduo estrutura a base do seu estilo de vida e comportamento, bem

como na perceção que tem da sua QdV (Fleck, Borges, Bolognesi, & Rocha,

2003; Panzini, Rocha, Bandeira, & Fleck, 2007). Parece-nos igualmente claro

que a relação entre ambos possa ser influenciada pela dimensão pessoal,

caracterizada pelo autoconhecimento, autoconsciência e introspeção, pela

dimensão interpessoal, pautada pelo estabelecimento de relações profundas,

compreensão do outro e desenvolvimento de ações que visam a maximização

do bem comum, e pela dimensão transcendental, marcada por uma visão

cósmica e pela relação com uma realidade sobre-humana – todas elas comuns

ao BEE e à sabedoria.

Em suma, os resultados encontrados indicam que os sujeitos em estudo

apresentam, na globalidade, níveis médios de sabedoria, verificando-se a

tendência para uma valorização mais marcada da dimensão afetiva. Não foram

encontradas diferenças significativas ao nível da sabedoria consoante o género e

o nível de escolaridade dos sujeitos. A relação da sabedoria com a O e com a

QdV afirmou-se empiricamente na presente investigação, contrariamente à sua

associação com o BEE, a qual não se confirmou, possivelmente devido à

influência de outras variáveis intermediárias (incluindo/nomeadamente a QdV).

Page 37: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

33

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

VI - Conclusões

O estudo e o esforço reflexivo despendidos e investidos na presente

investigação, que desta forma encerramos, conduziram-nos à constatação de que

a sabedoria, enquanto excelência do comportamento humano, assume um

carácter raro, sendo mais os idosos em estudo a alcançar níveis médios de

sabedoria do que a alcançar níveis representativos da sua mais elevada

expressão. Está em causa um conceito multidimensional que, alicerçado

sobretudo na capacidade afetiva, mas também na cognitiva e reflexiva, se

manifesta através de uma forma desenvolvida e rara de pensamento,

indissociável da emoção e da ação, capaz de promover um equilíbrio dinâmico

entre as perdas e os ganhos inerentes à velhice, potenciando estes últimos, uma

vez que envolve não só uma extraordinária capacidade de reflexão e de

compreensão da complexidade da vida, como o reconhecimento das limitações

individuais e do ser humano e, ainda, a aceitação e integração da incerteza e da

contradição intrínsecas à condição humana. Trata-se, ainda, como pudemos

averiguar, de um nível supremo de realização humana que, embora não se

relacione significativa e diretamente com o bem-estar espiritual do indivíduo, se

associa quer a uma atitude de abertura ao mundo e a novas ideias, perspetivas e

experiências, quer a uma perceção individual de melhor qualidade de vida.

Esta comprovação não só fortifica o nosso apoio ao movimento

manifestamente inverso ao de diversas abordagens da psicologia que, durante

um extenso período de tempo, deram especial relevo aos aspetos negativos do

envelhecimento humano, como, semelhantemente a outros autores (p.e., Paulo

Alves, Helena Marchand, Robert Sternberg), nos induz na defesa de que a

sociedade, em geral, e o sistema de ensino formal, em particular, devem investir

na promoção e educação da sabedoria ao longo do ciclo vital, orientados pelo

princípio de que o conhecimento intelectual, ainda que importante, não é

suficiente nem para o alcance da satisfação e da felicidade, nem para a criação

de um mundo mais agradável e harmonioso. Ainda, sentimo-nos em total

concordância com a perspetiva de Ardelt (2000b, 2011a) de que, embora se

demonstrem importantes em todas as faixas etárias, a educação e o

desenvolvimento da sabedoria assumem especial relevo na idade avançada,

devendo proporcionar aos idosos a oportunidade de se envolverem ativamente

na revisão da sua vida, no seu desenvolvimento pessoal e na reflexão de

questões existenciais ligadas ao significado e ao valor da vida. À semelhança da

autora, também nós entendemos que as universidades seniores assumem um

papel preponderante na estimulação e no desenvolvimento quer do

conhecimento intelectual, quer da sabedoria, uma vez que oferecem a

oportunidade, aos idosos que nelas participam, de adquirir novos

conhecimentos, de desenvolver o seu pensamento crítico, de ingressar em novas

relações interpessoais, de apreciar-se a si, aos outros e a outras culturas, de

expandir o seu autoconceito e ainda de incrementar a sua qualidade de vida.

Ancorados nas reservas inerentes à presente investigação e partindo da

consciencialização de que todo o trabalho desenvolvido no âmbito da sabedoria

é, até certo ponto, pouco permeável à investigação (Alves, 2011; Marchand,

2001); de que a definição consensual de sabedoria dificilmente será alcançada,

apesar das já duas décadas intensas de investigação e dos muitos séculos de

Page 38: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

34

Sabedoria em adultos idosos que frequentam universidades seniores: Um estudo correlacional com a abertura à experiência, a qualidade de vida e o bem-estar espiritual

Andreia Filipa Gabriel de Jesus ([email protected]) 2015

formulação filosófica e teológica; e de que este é um constructo que oferece um

vasto campo de labor científico à investigação psicológica, não poderíamos

deixar de recomendar outras trajetórias e metodologias futuras.

Em primeiro lugar, assinalamos como limitação do presente estudo o

facto de a dimensão da amostra ser relativamente pequena e de esta ter sido

selecionada por conveniência, o que impossibilita a generalização dos

resultados e das conclusões a que chegámos para outros grupos similares ao

estudado. Com efeito, de modo a obter dados com maior grau de generalização,

aconselhamos que estudos futuros concretizem as suas análises tendo por base

amostras maiores e selecionadas de modo aleatório. Em segundo lugar,

considerando que a nossa amostra é composta por sujeitos que detêm uma

disposição motivacional para, voluntariamente, participarem em atividades de

promoção de envelhecimento bem-sucedido e que, na generalidade, apresentam

uma rede social alargada, boas condições de saúde e uma perceção de qualidade

de vida elevada, torna-se pouco claro se o mesmo tipo de resultados seria

encontrado entre idosos que experienciam uma velhice pautada por condições

distintas e até mesmo inversas a estas. Consequentemente, consideramos que

estudos futuros no campo da sabedoria e do envelhecimento beneficiariam da

utilização de amostras mais heterógenas e abrangentes. Em terceiro lugar, à

semelhança do que vem sendo indicado por outros investigadores, o estudo da

sabedoria através do recurso a instrumentos de autoadministração levanta

algumas dificuldades na compreensão holística deste constructo, pois para além

de disponibilizar espaço à criatividade interpretativa de cada individuo aquando

do seu preenchimento, reconhecemos igualmente a sua natureza

comportamental não-verbal e social. Além disso, concordamos com a

perspetiva de Aldwin (2009), segundo a qual é pouco provável que as pessoas

sábias se descrevam como tal, uma vez que a sabedoria envolve autorreflexão e

conhecimento dos limites pessoais e do próprio conhecimento, ao passo que,

pessoas com um elevado índice de desejabilidade social podem apresentar-se

como sendo sábias, mais do que efetivamente são, obtendo, assim, pontuações

mais elevadas em medidas de autorrelato de sabedoria, comparativamente

àquelas. Neste sentido, recomendamos que estudos futuros complementem as

suas análises através da utilização de outras técnicas de avaliação da sabedoria

disponíveis, tais como o método narrativo e procedimentos que requerem

“pensar em voz alta” (thinking aloud) acerca de situações dilemáticas

respeitantes a problemas complexos e mal/pouco estruturados da vida. Por

último, convictos de que os estudos transversais dificilmente permitem apontar

relações de causalidade entre as variáveis e captar a essência e a dinâmica do

processo ontogenético da sabedoria e do processo de envelhecimento,

sugerimos a concretização de estudos futuros que recorram a outros desenhos

metodológicos, nomeadamente, a um desenho longitudinal.

Chegado o momento de encerrar esta investigação, restam-nos duas

certezas: a de que o envelhecimento é um processo contínuo, magnificamente

dinâmico e orientado para uma série de mudanças crescentemente diferenciadas

e integradas e para múltiplas adaptações; e a de que o estudo e delimitação do

constructo que substancia uma condição tão nobre e profunda da existência

humana – a sabedoria – constitui um imenso, inacabado e estimulante desafio.

Page 39: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

35

Bibliografia

Achenbaum, W., & Orwoll, L. (1991). Becoming wise: A psycho-

gerontological interpretation of the book of Job. International Journal of

Aging and Human Development, 32(1), 21-39.

Aldwin, C. M. (2009). Gender and wisdom: A brief overview. Research in

Human Development, 6(1), 1-8.

Alves, P. J. (2007). A sabedoria: Construção de uma nova escala. Psicologia,

Educação e Cultura, XI(2), 289-306.

Alves, P. J. (2011). A Sabedoria – definição, multidimensionalidade e

avaliação. Lisboa: Instituto Piaget.

Ardelt, M. (1997). Wisdom and life satisfaction in old age. Journal of

Gerontology: Psychological Sciences, 52B(1), 5-27.

Ardelt, M. (1998). Social crisis and individual growth: The long-term effects of

the great depression. Journal of Aging Studies, 12(3), 291-314.

Ardelt, M. (2000a). Antecedents and effects of wisdom in old age: A

longitudinal perspective on aging well. Research on Aging, 22(4), 360-

394.

Ardelt, M. (2000b). Intellectual versus wisdom-related knowledge: The case for

a different kind of learning in the later years of life. Educational

Gerontology, 26, 771-789.

Ardelt, M. (2003). Empirical assessment of a three-dimensional wisdom scale.

Research on Aging, 25(3), 275-324.

Ardelt, M. (2004a). Wisdom as expert knowledge system: A critical review of a

contemporary operationalization of an ancient concept. Human

Development, 47, 257-285. doi: 10.1159/000079154.

Ardelt, M. (2004b). Where can wisdom be found? (A reply to the commentaries

by Baltes and Kunzmann, Sternberg, and Achenbaum). Human

Development, 47, 304-307.

Ardelt, M. (2005). How wise people cope with crisis and obstacles in life.

ReVision, 28(1), 7-19.

Ardelt, M. (2011a). The measurement of wisdom: A commentary on Taylor,

Baltes, and Webster’s comparison of the saws and 3D-WS. Experimental

Aging Research, 37, 241-255.

Ardelt, M. (2011b). Wisdom, age, and well-being. In K.W. Schaie, & S.L.

Willis (Eds.), Handbook of the psychology of Aging (7th ed.; pp. 279-

291). Amesterdão: Elsevier.

Baltes, P. B. (1987). Theoretical propositions of life-spam developmental

psychology: On the dynamics between growth and decline.

Developmental Psychology, 23(5), 611-626.

Baltes, P. B. (1993). The aging mind: Potential and limits. The Gerontologist,

33, 580-594.

Baltes, P. B. (2004). Wisdom as an orchestration of mind and virtue. Livro não

publicado. Retirado de www.baltes-paul.de/overview.htm. Acedido a 15

de Janeiro de 2015.

Baltes, P. B., & Baltes, M. (1990). Psychological perspectives on successful

aging: The model of selective optimization with compensation. In P.

Page 40: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

36

Baltes, & M. Baltes (Eds.), Successful aging: Perspectives from

behavioral sciences (pp. 1-34). New York: Cambridge University Press.

Baltes, P. B., & Smith, J. (1990). Toward a psychology of wisdom and its

ontogenesis. In R. J. Sternberg (Ed.), Wisdom: Its nature, origins and

development (pp. 87-120). Cambridge: Cambridge University Press.

Baltes, P. B., & Smith, J. (2008). The fascination of wisdom: Its nature,

ontogeny, and function. Association for Psychology Sciences, 3(1), 56-

64.

Baltes, P. B., & Staudinger, U.M. (2000). Wisdom: A metaheuristic (pragmatic)

to orchestrate mind and virtue toward excellence. American Psychologist,

55, 122-136.

Baltes, P. B., Staudinger, U.M., & Lindenberger, U. (1999). Lifespan

psychology: Theory and application to intellectual functioning. Annual

Review of Psychology, 50, 471-507.

Barros, J. (2004). Desenvolvimento cognitivo e personológico do idoso.

Psicologia, Educação e Cultura, 8(2), 477-507.

Barros, J. (2006). Espiritualidade, sabedoria e sentido de vida nos idosos.

Psychologica, 42, 133-145.

Barros, J. (2007). Espiritualidade e religião: Tópicos de psicologia positiva.

Psicologia, Educação e Cultura, XI(2), 265-287.

Barros, J. (2008). Psicologia do envelhecimento e do idoso (3rd ed.). Porto:

Livpsic.

Barros, J. (2010). Psicologia positiva: Uma nova psicologia. Porto: Livpsic.

Bianchi, E. (2005). Living with elder wisdom. Journal of Gerontological Social

Work, 45(3), 319-329.

Birren, J., & Cunningham, W. (1985). Research on the psychology on aging:

Principles, concepts and theory. In J. Birren, & K.W. Schaie (Eds.),

Handbook of the psychology of aging (pp. 3-34). New York: Van

Nostrand.

Birren, J. E., & Fisher, L.M. (1990). The elements of wisdom: Overview and

integration. In R. J. Sternberg (Ed.), Wisdom: Its nature, origins, and

development (pp. 317-323). Cambridge: Cambridge University Press.

Canavarro, M. C. (2010). Qualidade de vida: Significado e níveis de análise. In

M. C. Canavarro, & A. Vaz Serra (Coords.), Qualidade de vida e saúde:

Uma abordagem na perspetiva da organização mundial de saúde (pp. 3-

21). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Carneiro, R. (2012). (Coord.). O envelhecimento da população: Dependência,

ativação e qualidade. Relatório final. Lisboa: CEPCEP.

Clayton, V. P., & Birren, J. E. (1980). The development of wisdom across the

life span: A reexamination of an ancient topic. In P. B. Baltes, & O. G.

Brim (Eds.), Life-span development and behavior (Vol. 3; pp. 103-135).

New York: Academic Press.

Cohen, G. D. (2005). The Mature Mind: The positive power of the aging brain.

New York: Basic Books.

Costa, P. T., & McCrae, R. R. (1989). The NEO-PI manual supplement.

Odessa: Psychological Assessment Resources.

Costa, P. T., & McCrae, R. R. (1991). NEO five-factor inventory. Odessa:

Page 41: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

37

Psychological Assessment Resources.

Costa, P. T., & McCrae, R. R. (1992). Revised NEO personality inventory

(NEO-PI-R) and NEO five-factor inventory (NEO-FFI) professional

manual. Odessa: Psychological Assessment Resources.

Costa, P. T., Yang, P., & McCrae, R. (1998). Aging and personality traits:

Generalization and clinical implications. In I. Nordhus, G. VandenBos, S.

Berge, & P. Fromholt (Eds.), Clinical geropsychology (pp. 33-48).

Washington: American Psychological Association.

Csikszentmihalyi, M., & Nakamura, J. (2005). The role of emotions in the

development of wisdom. In R. J. Sternberg, & J. Jordan (Eds.), A

handbook of wisdom: Psychological perspectives (pp. 220-242). New

York: Cambridge University Press.

Erber, J. T. (2013). Aging & older adulthood (3rd ed.). Chichester, West

Sussex: Wiley-Blackwell.

Erikson, E. (1963). Identidad, juventud y crisis. Madrid: Taurus Humanidades.

Erikson, E. (1985). El ciclo vital completado. Buenos Aires: Paidós.

Etezadi, S., & Pushkar, D. (2013). Why are wise people happier? An

exploratory model of wisdom and emotional well-being in older adults.

Journal of Happiness Studies, 14, 929-950. doi:10.1007/s10902-012-

9362-2.

Ferreira-Alves, J. (2010). Prática psicológica com pessoas idosas: Uma leitura

substanciada das orientações da APA. Revista de Psiquiatria do Hospital

Júlio de Matos, 22(3), 1-24.

Fisher, J. W. (1999). Helps to fostering student’s spiritual health. International

Journal of Children’s Spirituality, 4 (1), 29-49.

Fleck, M. P., Borges, Z. N., Bolognesi, G., & Rocha, N. S. (2003).

Desenvolvimento do WHOQOL, módulo espiritualidade, religiosidade e

crenças pessoais. Revista de Saúde Pública, 37(4), 446-455.

Fonseca, A. M. (2004). O envelhecimento: Uma abordagem psicológica.

Lisboa: Universidade Católica Editora.

Fonseca, A. M. (2006). “Transição-adaptação” à reforma em Portugal.

Psychologica, 42, 45-70.

Fowler, J. (1981). Stages of faith: The psychology of human development and

the quest for meaning. San Francisco: Harper & Row.

Fowler, J. (1994). Moral stages and the development of faith. In B. Puka (Ed.),

Fundamental research in moral development (pp. 344-374). New York:

Garland Publishing Inc.

Fragoso, V. (2012). Gerontoeducação: Um desafio para o século XXI. In R.

Pocinho, E. Santos, J.A. Ferreira, J. P. Gaspar, A.P. Ramalho, D. Soeiro,

& S. Silva (Coords.), Envelhecer em tempo de crise: Respostas sociais

(pp. 51-67). Porto: Legis Editora.

Gentzler, R. H. (2004). The graying of the church. Nashville: Discipleship

Resources.

Gomez, R., & Fisher, J. W. (2003). Domains of spiritual well-being and

development and validation of the spiritual well-being questionnaire.

Personality and Individual Differences, 35, 1975-1991.

Gomez, R., & Fisher, J. W. (2005a). Item response theory analysis of the

Page 42: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

38

spiritual well-being questionnaire. Personality and Individual

Differences, 38, 1107-1121.

Gomez, R., & Fisher, J. W. (2005b). The spiritual well-being questionnaire:

Testing for model applicability, measurement and structural

equivalencies, and latent mean differences across gender. Personality and

Individual Differences, 39, 1383-1393.

Gonçalves, R. (2012). Envelhecimento e sabedoria: Validação da escala de

medida 3D-WS. Dissertação de Mestrado não publicada. Viana do

Castelo: Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Viana do

Castelo.

Gonçalves, R., Lamela, D., & Bastos, A. (2013). Envelhecimento e sabedoria:

Só a idade não basta. Atas de Gerontologia, 1(1), 1-10.

Gouveia, M. J., Marques, M., & Pais-Ribeiro, J. (2009). Versão portuguesa do

questionário de bem-estar espiritual (SWBQ): Análise confirmatória da

sua estrutura fatorial. Psicologia, Saúde & Doenças, 10(2), 285-293.

Gouveia, M. J., Pais-Ribeiro, J. L., & Marques, M. (2008). Adaptação

portuguesa do questionário de bem-estar espiritual: Resultados

psicométricos preliminares. In I. Leal, J. Pais-Ribeiro, I. Silva, & S.

Marques (Eds.), Atas do 7º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde

(pp. 423-427). Lisboa: ISPA Edições.

Holliday, S. G., & Chandler, M. J. (1986). Wisdom: Explorations in adult

competence (Vol. 17). Basel: Karger.

Horn, J., & Cattell, R. (1967). Age differences in fluid and crystallized

intelligence. Acta Psychologica, 26, 107-129.

Ines, R. P. (2009). A aprendizagem experiencial e a sabedoria no adulto e no

adulto idoso. Dissertação de Mestrado não publicada. Lisboa: Faculdade

de Psicologia e de Ciências da Educação.

Instituto Nacional de Estatística. (2011). Censos 2011. Disponível em

http://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=censos2011_a

presentacao. Acedido a 28 de Março de 2015.

Jason, L. A., Reichler, A., King, C., Madsen, D., Camacho, J., & Marchese, W.

(2001). The measurement of wisdom: A preliminary effort. Journal of

Community Psychology, 29(5), 585-598.

Jordan, J. (2005). The quest for wisdom in adulthood – A psychological

perspective. In R. J Sternberg, & J. Jordan (Eds.), A handbook of wisdom:

Psychological perspective (pp. 161-188). New York: Cambridge.

Kekes, J. (1988). The examined life. Cranbury: Associated University Presses.

Kensinger, E. A., College, B., & Hill, C. (2009). Cognition in aging and age-

related disease. In P.R. Hof, & C. V. Mobbs (Eds.), Handbook of the

Neuroscience of Aging (pp. 249-255) . New York: Academic Press.

Kitchener, K., & Brenner, H. (1990). Wisdom and reflexive judgment:

Knowing in the face of uncertainty. In R. J. Sternberg (Ed.), Wisdom: Its

nature, origins, and development (pp. 212-229). Cambridge: Cambridge

University Press.

Koepke, D. R. (2005). Ministering to older adults. Binghamton: The Haworth

Pastoral.

Kramer, D.A. (1990). Conceptualizing wisdom: The primacy of affect-

Page 43: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

39

cognition relations. In R. J. Sternberg (Ed.), Wisdom: Its nature, origins,

and development (pp. 279-313). Cambridge: Cambridge University Press.

Kramer, D.A. (2000). Wisdom as a classical source of human strength:

Conceptualization and empirical inquiry. Journal of Social and Clinical

Psychology, 19, 83-101.

Krzemien, D. (2012). Sabiduría y envejecimiento: Una revisión conceptual y

operacional del constructo sabiduría y su relación con la edad. Anales de

Psicología, 28(1), 120-138.

Kunzmann, U. (2007). Adult development and emotional-motivational

dynamics. In R. Fernández-Ballesteros (Ed.), Geropsychology: European

perspectives for an aging world (pp. 225-238). Canada: Hogrefe.

Kunzmann, U., & Baltes, P. (2005). The psychology of wisdom – Theoretical

and empirical challenges. In R. J. Sternberg, & J. Jordan (Eds.), A

handbook of wisdom: Psychological perspectives (pp. 110-135). New

York: Cambridge.

Labouvie-Vief, G. (1990). Wisdom as integrated thought: Historical and

developmental perspectives. In R. J. Sternberg (Ed.), Wisdom: Its nature,

origins, and development (pp. 52-83). Cambridge: Cambridge University

Press.

Le, T. N. (2008). Cultural values, life experiences, and wisdom. International

Journal of Aging and Human Development, 66(4), 1104-1119.

Le, T. N. (2011). Life satisfaction, openness value, self-transcendence, and

wisdom. Journal of Happiness Studies, 12, 171-182.

Lima, M. P. (2004). Envelhecimento e perdas: Como posso não me perder?

Psychologica, 35, 133-145.

Lima, M. P. (2010). Envelhecimento(s).Coimbra: Imprensa da Universidade de

Coimbra.

Lima, M. P. (2013). Posso participar? Atividades de desenvolvimento pessoal

para pessoas idosas. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.

Lima, M. P., & Simões, A. (2000). A teoria dos cinco fatores: Uma proposta

inovadora ou apenas uma boa arrumação do caleidoscópio personológico.

Análise Psicológica, 2(18), 171-179.

Loevinger, J. (1976-1982). Ego Development. San Francisco: Jossey-Bass

Publishers.

Magalhães, E., Salgueira, A., Gonzalez, A. J., Costa, J. J., Costa, M. J., Costa,

P., & Lima, M. P. (2014). NEO-FFI: Psychometric properties of a short

personality inventory in portuguese context. Psicologia: Reflexão e

Crítica, 27(4), 642-657.doi:10.1590/1678-7153.201427405

Marchand, H. (2001). Temas de desenvolvimento psicológico do adulto e do

idoso. Coimbra: Quarteto.

Marchand, H. (2005). A idade da sabedoria: Maturidade e envelhecimento.

Porto: Âmbar.

Marchand, H. (2006). Por que a sabedoria dificilmente poderá ser ensinada nas

escolas – uma resposta a Robert Sternberg. In M. C. Simões, M. T.

Machado, M. L., Dias., & L. I. Lima (Eds.). Psicologia do

desenvolvimento: Temas de investigação (pp. 185-212). Coimbra:

Almedina.

Page 44: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

40

McCrae, R. R., & Costa, P. T. (2003). Personality in adulthood: A five-factor

theory perspective (2nd ed.). New York: The Guilford Press.

McCrae, R. R., & Costa, P. T. (2004). A contemplated revision of the NEO

five-factor inventory. Personality and Individual Differences, 36(3), 587-

596. doi:10.1016/S0191-8869(03)00118-1.

Meacham, J. A. (1990). The loss of wisdom. In R. J. Sternberg (Ed.), Wisdom:

Its nature, origins, and development (pp. 181-211). Cambridge:

Cambridge University Press.

Moberg, D. O. (2005). Research in spirituality, religion, and aging. Journal of

Gerontology Social Work, 45(1/2), 11-40.

Montorio, I., & Izal, M. (1999). Cambios asociados al proceso de

envejecimiento. In M. Izal, & I. Montorio (Eds.), Gerontología

conductual: Bases para la intervención y ámbitos de aplicación (pp. 33-

66). Madrid: Editorial Síntesis.

Myers, J. E., Sweeney, T. J., & Witmer, J. M. (2000). The wheel of wellness

counseling for wellness: A holistic model for treatment planning. Journal

of Counseling and development, 78(3), 251-265.

Novo, R. F. (2003). Para além da eudaimonia: O bem-estar psicológico em

mulheres na idade adulta avançada. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian.

Orwoll, L., & Achenbaum, W. A. (1993). Gender and the development of

wisdom. Human Development, 36, 274-296.

Orwoll, L., & Perlmutter, M. (1990). The study of wise persons: Integrating a

personality perspective. In R. J. Sternberg (Ed.), Wisdom: Its nature,

origins, and development (pp. 160-177). Cambridge: Cambridge

University Press.

Oser, F. (1994). The development of religious judgement. In B. Puka (Ed.),

Fundamental research in moral development (pp. 375-396). New York:

Garland Publishing Inc.

Oser, F., & Gmunder, P. (1991). Religious judgment: A developmental

approach. Birmingham: Religious Education Press.

Paldron, T. (2004). Dignidade e sentido da vida: Sentido da vida e valores

espirituais. Lisboa: Pergaminho.

Panzini, R. G., Rocha, N. S., Bandeira, D. R., & Fleck, M. P. (2007). Qualidade

de vida e espiritualidade. Revista de Psiquiatria Clínica, 34(1), 105-115.

Pascual-Leone, J. (1990). Na essay on wisdom: Toward organismic processes

that make it possible. In R. J. Sternberg (Ed.), Wisdom: Its nature,

origins, and development (pp. 244-278). Cambridge: Cambridge

University Press.

Pasupathi, M., Staudinger, U. M., & Baltes, P. B. (2001). Seeds of wisdom:

Adolescent’s knowledge and judgment about difficult life problems.

Developmental Psychology, 37(7), 351-361.

Pestana, M. H., & Gageiro, J. N. (2003). Análise de dados para ciências

sociais: A complementaridade do SPSS (3rd ed.). Lisboa: Edições Sílabo.

Pinto, L. (2008). Bem estar espiritual e satisfação com a vida. Paper presented

at the 7º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde, February,

University of Porto, Portugal.

Page 45: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

41

Pocinho, R., Abreu, M., Gaspar, J. P., Pais, A., & Santos, E. (2013). As

universidades Seniores como contributo para a qualidade de vida. In R.

Pocinho, E. Santos, A. Pais, & Pardo, E. N (Eds.), Envelhecer hoje:

Conceitos e práticas (pp. 75-87). Curibita: Appris.

Pocinho, R., Santos, E., Rodrigues, A., Pais, A., & Santos, G. (2013). Formação

e qualidade de vida das pessoas idosas. In R. Pocinho, E. Santos, A. Pais,

& Pardo, E.N (Eds.), Envelhecer hoje: Conceitos e práticas (pp. 15-45).

Curibita: Appris.

Fontaine, R. (2000). Psicologia do envelhecimento. Lisboa: Climepsi.

Power, M., Quinn, K., Schmidt, S., & The WHOQOL-OLD Group. (2005).

Development of the WHOQOL-OLD module. Quality of Life Research,

14, 2197-2214.

Salthouse, T. (1991). Theoretical perspectives on cognitive aging. Hillsdale,

New Jersey: Laerence Erlbaum Associates, Publishers.

Santos, E., Pocinho, R., Ferreira, C., Santos, G., & Pais, A. (2013).

Desequilíbrios demográficos e respostas sociais. In R. Pocinho, E.

Santos, A. Pais, & E. N. Pardo (Eds.), Envelhecer hoje: Conceitos e

práticas (pp. 89-123). Curibita: Appris.

Simões, A. (2002). Um novo olhar sobre os idosos. Revista Portuguesa de

Pedagogia, 1, 2 e 3, 559-569.

Simões, A. (2005). Envelhecer bem? – Um modelo. Revista Portuguesa de

Pedagogia, 1, 217-227.

Smith, J., Staudinger, U. M., & Baltes, P. B. (1994). Occupational settings

facilitating wisdom-related knowledge: The sample case of clinical

psychologists. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 62(5),

989-999.

Sousa, L., Figueiredo, D., & Cerqueira, M. (2006). Envelhecer em família: Os

cuidados familiares na velhice (2nd ed.). Porto: Ambar.

Spar, J. E., & La Rue, A. (2005). Guia prático de psiquiatria geriátrica. Lisboa:

Climepsi.

Staudinger, U. M. (1999). Older and wiser? Integrating results on the

relationship between age and wisdom-related performance. International

Journal of Behavioral Development, 23(3), 641-664.

doi:10.1080/016502599383739.

Staudinger, U. M. (2008). A psychology of wisdom: History and recent

developments. Research in Human Development, 5(2), 107-120.

Staudinger, U. M., Döner, J., & Mickler, C. (2005). Wisdom and personality. In

R. J Sternberg, & J. Jordan (Eds.), A handbook of wisdom: Psychological

perspective (pp. 191-219). New York: Cambridge.

Staudinger, U. M., Lopez, D. F., & Baltes, P. B. (1997). The psychometric

location of wisdom-related performance: Intelligence, personality, and

more? Personality and Social Psychology Bulletin, 23, 1200-1214.

Staudinger, U. M., Smith, L., & Baltes, P. B. (1992). Wisdom-related

knowledge in a life review task: Age differences and the role of

professional specialization. Psychology and Aging, 7, 271-281.

Staudinger, U. M., Smith, L., & Baltes, P.B. (1994). Manual for the assessment

of wisdom related knowledge. Berlim: Max Planck Institute for Human

Page 46: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

42

Development and Education.

Sternberg, R. (1985). Implicit theories of intelligence, creativity, and wisdom.

Journal of Personality and Social Psychology, 49, 607-627.

Sternberg, R. (1990a). Understanding wisdom. In R. J. Sternberg (Ed.),

Wisdom: Its nature, origins, and development (pp. 3-9). Cambridge:

Cambridge University Press.

Sternberg, R. (1990b). Wisdom and its relations to intelligence and creativity.

In R. J. Sternberg (Ed.), Wisdom: Its nature, origins and development

(pp.142-159). Cambridge: Cambridge University Press.

Sternberg, R. (1990c). Wisdom: Its nature, origins and development.

Cambridge: Cambridge University Press.

Sternberg, R.J. (1998). A balance theory of wisdom. Review of General

Psychology, 2(4), 347-365.

Sternberg, R.J. (2005). Foolishness. In R. J. Sternberg, & J. Jordan (Eds.), A

handbook of wisdom: Psychological perspectives (pp. 331-352). New

York: Cambridge University Press.

Takahashi, M., & Bordia, P. (2000). The concept of wisdom: A cross-cultural

comparison. International Journal of Psychology, 35(1), 1-9.

Takahashi, M., & Overton, W. F. (2005). Cultural foundations of wisdom: An

integrated developmental approach. In R. J. Sternberg, & J. Jordan,

(Eds.), A handbook of wisdom: Psychological perspectives (pp. 32-60).

New York: Cambridge University Press.

Tornstam, L. (2003). Gerotranscendence from young to old age. Online

publication from The Social Gerontology Group, Uppsala, Sweden.

Retirado de http://www.soc.uu.se/publications/fulltext/gtransoldold.pdf.

Acedido a 30 de Março de 2015.

Vaz-Serra, A. (2006). Que significa envelhecer?. In H. Firmino (Ed.),

Psicogeriatria (pp. 21-33). Coimbra: Psiquiatria Clínica.

Vilar, M., Simões, M. R., Sousa, L. B., Firmino, H., Paredes, T., & Lima, M. P.

(2010). Avaliação da Qualidade de Vida em Adultos Idosos: Notas em

torno do processo de adaptação e validação do WHOQOL-OLD para a

população portuguesa. In M. C. Canavarro, & A. Vaz Serra (Org.),

Qualidade de vida e saúde: Uma abordagem na perspectiva da

Organização Mundial de Saúde (pp. 229-250). Lisboa: F. C. Gulbenkian.

Vilar, M., Sousa, L.B., & Simões, M. R. (2009). WHOQOL-OLD: Versão

portuguesa para investigação. Material disponível no Laboratório de

Avaliação Psicológica e Psicometria, Faculdade de Psicologia e de C.E.,

Universidade de Coimbra.

Vilar, M., Sousa, L.B., & Simões, M. R. (2015). World Health Organization

Quality of Life-OLD Module (WHOQOL-OLD). In M. R. Simões, I.

Santana, & Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demência

(GEECD) (Coords.), Escalas e Testes na demência (3rd ed.; pp. 194-

1999). Lisboa: Novartis.

Villar, F. (2012). Successful aging and development: The contribution of

generativity in older age. Aging & Society, 32, 1087-1105.

Walker, A., & Mollenkopf, H. (2007). International and multidisciplinary

perspectives on quality of life in old age. In H. Mollenkopf, & A. Walker

Page 47: Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de ......2015 Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Sabedoria em adultos idosos que frequentam

43

(Eds.), Quality of life in old age: International and multi-disciplinary

perspectives (pp. 3-13). Dordrecht: Springer.

Webster, J. D. (2003). An exploratory analysis of a self-assessed wisdom scale.

Journal of Adult Development, 10(1), 13-22.

Wink, P., & Dillon, M. (2003). Religiousness, spirituality, and psychosocial

functioning in late adulthood: Findings from a longitudinal study.

Psychology and Aging, 18(4), 916-924.

Wink, P., & Helson, R. (1997). Practical and transcendent wisdom: Their nature

and some longitudinal findings. Journal of Adult Development, 4(1), 1-

15.

World Health Organization Quality of Life Group. (1994). Development of the

WHOQOL: Rationale and current status. International Journal of Mental

Health, 23(3), 24-56.

World Health Organization Quality of Life Group. (1995). The world health

organization quality of life assessment (WHOWOL): Position paper from

the world health organization. Social Science & Medicine, 41(10), 1403-

1409.

Yang, S.Y. (2001). Conceptions of wisdom among Taiwanese Chinese. Journal

of Cross-Cultural Psychology, 32(6), 662-680.