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Relações Familiares e Toxicodependência 1 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra relações familiares e toxicodependência Reprodução de “Several Circles (Einige Kreise)” de Vasily Kandinsky © (January- February 1926. Oil on canvas, 55 1/4 x 55 3/8 inches. Solomon R. Guggenheim Museum) Joana Margarida Correia Rebelo Coimbra 2008

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Relações Familiares e Toxicodependência 1

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

da Universidade de Coimbra

relações familiares e toxicodependência

Reprodução de “Several Circles (Einige Kreise)” de Vasily Kandinsky © (January- February 1926. Oil on canvas, 55 1/4 x 55 3/8 inches. Solomon R. Guggenheim Museum)

Joana Margarida Correia Rebelo Coimbra 2008

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Relações Familiares e Toxicodependência

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Dissertação de Mestrado em Psicologia, Especialização em Avaliação Psicológica pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, sob orientação da Professora Doutora Maria Madalena Santos Torres Veiga Carvalho Lourenço.

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As famílias dos toxicodependentes não são necessariamente

disfuncionais, são sistemas complexos e sofrem, apresentam

dificuldades comunicacionais e não conseguem descobrir os seus

próprios recursos para crescer (Relvas, 1998).

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Resumo

O contínuo estudo e interesse na área da psicologia da família, transformações ao longo do ciclo vital, relacionamento entre os seus membros e com os que os rodeiam, associa-se ao desenvolvimento de novos instrumentos de investigação psicológica, numa contínua busca por uma maior compreensão destes fenómenos. O presente estudo apresenta as propriedades psicométricas de uma versão traduzida da mais recente escala de avaliação das relações familiares de Olson, Gorall & Tiesel (2006) a FACES IV, aplicando no entanto os factores encontrados na versão americana, num estudo em que participaram 284 sujeitos, pertencentes a 66 famílias em cada uma das duas tipologias familiares – com e sem elemento toxicodependente (cada família composta por dois elementos). O objectivo de estudo centrou-se sobre as diferenças nas relações familiares, procurando perceber a influência da tipologia familiar e características dos indivíduos da amostra no nível da coesão, flexibilidade, comunicação e satisfação familiar (subescalas da FACES IV). Embora as conclusões vão de encontro às hipóteses formuladas, sendo confirmadas por diversos autores em investigações envolvendo o mesmo tipo de variáveis, confirmamos que a versão americana não traduz a realidade portuguesa, devendo esta escala ser aferida para a população portuguesa, para maior fiabilidade dos dados em estudos semelhantes ao que apresentamos. Palavras-chave: Família; Ciclo vital, Toxicidade, Relações familiares, FACES IV.

Abstract The continuous study and interest in the family psychology area, changes during the life cicle, relationship between the family membres and the ones around them, associates itself to the development of new psicological investigation instruments, in a continuous search for greater understanding of these phenomena. This study presents the psychometric properties of a translated version of the latest scale of assessment of family relationships from Olson, Gorall & Tiesel (2006) the FACES IV, however applying the factors found in the American version, in a study involving 284 subjects who participated, belonging to 66 families in each of the two family types - with and without addict element (each family composed of two elements). The purpose of study focused on differences in family relationships, seeking understand the influence of family types and characteristics of individuals in the sample level of cohesion, flexibility, communication and family satisfaction (subscales of FACES IV). Although the findings meet the assumptions made, and confirmed by several authors in investigations involving the same type of variables, confirmed that the American version does not reflect the reality Portuguese, this scale should be measured for the population to greater reliability of data on studies similar to that present. Keywords: Family; life cycle, Toxicit.y, family relations, FACES IV.

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Agradecimentos A concretização deste trabalho só foi possível com o apoio de várias pessoas.

Embora tenha consciência de que o acto aqui expresso encerra o risco de eventuais

esquecimentos, não seria justo deixar passar em claro a minha manifestação de agradecimento

para com essas mesmas pessoas.

Assim, e em primeiro lugar, gostaria de agradecer à orientadora de todo o trabalho, Prof.

Doutora Madalena Lourenço, a sua inteira disponibilidade, o constante acompanhamento e

cooperação, e as suas sugestões ao longo da investigação, que se revelaram fundamentais, para

além da força, confiança e carinho que permanentemente me transmitiu.

Aos meus pais, à minha irmã Luisa e ao meu namorado Zé, que incansavelmente estiveram ao

meu lado em todos os momentos, com toda a força e convicção de que seria capaz de fazer um

bom trabalho. Bem como aos bons amigos como a Sara, o Crespo, a Inês, a Lili, a Cá que me

ajudaram em momentos de maior ansiedade, preocupação, desânimo. Ainda aos colegas de

trabalho que sempre acreditaram e me deram força, espaço e tempo para me dedicar ao

mestrado que culmina com esta tese, como o José Ricardo, a Elsa, a Marta, a Sofia, a D. Clara.

A Todos um grande MUITO OBRIGADA.

Um agradecimento especial ao Rui, cuja ajuda foi preciosa, com todo o seu conhecimento de

nível mais técnico, tanto no SPSS como no acompanhamento e monitorização, mas também a

segurança e calma que permanentemente transmitiu.

Um obrigado a todos os que prontamente responderam ao questionário, se disponibilizaram a

ceder o seu tempo, bem como às instituições e seus técnicos que comigo colaboraram como a C.

T. CRATO, C. S. S. Projecto Homem, Clínica do Outeiro, C. T. do Norte Ponte da Pedra, C. T.

S. Francisco de Assis – Domus Fraternitas, Clínica RAN, C. T. Sempre a Crescer, C. T, António

Lopez Aragón, C. T. Sol por Hoje, C. T. Casa Grande e Centro Comunitário Espaço Aberto,

ART, Projecto Convívios Fraternos, C. T. R12, Comunidade Vida e Paz e Ass. A Minha Casa.

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Resumo ............................................................................................................................. 4

Agradecimentos .................................................................................................................. 5

Índice

Introdução .................................................................................................................... 10

A. Enquadramento Teórico ............................................................................................. 12

Capítulo I. A família como sistema ..................................................................................12

1. Tipologias familiares

2. Estrutura, funcionamento e desenvolvimento

3. Coesão, flexibilidade, satisfação e comunicação familiares

Capítulo II. Famílias com elemento toxicodependente ......................................................24

1. Toxicidade

1.1 Breve contextualização do fenómeno em Portugal

2. Toxicidade e família

Capítulo III. FACES IV .................................................................................................... 39

1. FACES IV versão original

1.1. Modelo Circumplexo

1.2. Análise factorial da FACES IV

1.3. Fidelidade das escalas

1.4. Correlação entre as escalas FACES IV e as escalas de validação

1.5. Análise discriminativa

1.6. Seis tipos familiares baseados na FACES IV

1.6.1. Descrição dos seis tipos de famílias

1.6.2. Nível de funcionamento dos seis tipos familiares

1.6.3. Rácios de pontuações para os seis tipos familiares

1.6.4. Famílias equilibradas versus famílias caoticamente desligadas

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B. Estudo Empírico .......................................................................................................... 53

1. Percurso metodológico

1.1. Instrumentos utilizados

1.1.1. QSD – Questionários Sociodemográfico

1.1.2. FACES IV

1.2. Variáveis

1.3. Modelo Conceptual

1.4. Procedimentos

1.5. Procedimento estatístico

2. Qualidades psicométricas da versão traduzida da FACES IV ................................ 59

2.1. Sensibilidade

2.2. Validade

2.3. Fidelidade

3. Relações familiares e toxicodependência ..................................................................64

3.1. Características da amostra

3.2. Análise inferencial

Capítulo IV. Discussão dos resultados .............................................................................. 87

Capítulo V. Conclusões .................................................................................................... 93

Referências Bibliográficas ............................................................................................... 95

ANEXOS

Anexo I: FACES IV (versão original) .................................................................. 103

Anexo II: Questionário Sociodemográfico e FACES IV (Protocolo adaptado). .. 106

Anexo III: Tabelas de cotação da FACES IV. ...................................................... 112

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Índice de Tabelas e Figuras Tabela 1: Análise factorial de todos os itens da FACES IV(adaptado de Olson, Gorall e Tiesel, 2006, 10).

Tabela 2: Fidelidade de Alpha na FACES IV e Escalas de Validação (adaptado de Olson, Gorall e Tiesel, 2006,

13).

Tabela 3: Matriz de correlação das escalas familiares (adaptado de Olson, Gorall e Tiesel, 2006, 14).

Tabela 4: Análise Discriminativa das famílias problemáticas e não problemáticas (adaptado de Olson, Gorall e

Tiesel, 2006, 15).

Tabela 5: Pontuações de validação para os seis tipos familiares (adaptado de Olson, Gorall, 2006, 9).

Tabela 6: Seis tipos familiares – Rácio de Coesão, Rácio de Flexibilidade e Rácio Total Circumplexo (adaptado de

Olson, Gorall, 2006, 11).

Tabela 7: Perguntas correspondentes a cada subescala da FACES IV (versão adaptada de Olson, Gorall, 2006).

Tabela 8: Grelha de cotação da FACES IV para a definição das pontuações nas suas subescalas (adaptada de Olson,

Gorall, 2006).

Tabela 9: Grelha de transformação dos resultados brutos das subescalas da FACEI em resultados padronizados

(adaptada de Olson, Gorall, 2006).

Tabela 10: Análise do coeficiente de Simetria e curtose da amostra.

Tabela 11: Análise factorial da nossa amostra, factores 1 a 7.

Tabela 12: Análise factorial da nossa amostra, factores 8 a 15.

Tabela 13: Resultados do alpha de Cronbach para a amostra da população em estudo.

Tabela 14: Cruzamento de variáveis independentes género, idade e habilitações literárias, com variáveis

independentes mediadoras (4 elementos das duas tipologias familiares).

Tabela 15: Teste do Qui Quadrado para a variável Idade.

Tabela 16: Teste do Qui quadrado para a variável sexo.

Tabela 17: Cruzamento de variáveis independentes estado civil e situação profissional, com variáveis

independentes mediadoras (4 elementos das duas tipologias familiares).

Tabela 18: Cruzamento de variáveis independentes com quem vive, lugar ocupado no seio da família e

problemas de saúde, com variáveis independentes mediadoras (4 elementos das duas tipologias familiares).

Tabela 19: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e idade de início de consumo.

Tabela 20: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e tempo de consumo.

Tabela 21: Médias na comparação entre tipologia familiar, obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tabela 22: Comparação de médias entre amostras independentes para cada um dos factores da FACES IV mediante

os factores encontrados na escala americana, através do teste t para amostras independentes.

Tabela 23: Médias na comparação entre sexo feminino e masculino, obtidas em cada subescala e rácios da FACES

IV.

Tabela 24: Estatísticas obtidas pelo teste t para amostras independentes, para comparação das diferenças entre

médias, para a variável sexo em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tabela 25: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às

médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tabela 26: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a faixa etária do inquirido.

Tabela 27: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às

médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

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Tabela 28: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a profissão do inquirido.

Tabela 29: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a escolaridade, no que respeita

às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tabela 30: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a escolaridade do inquirido

Tabela 31: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a situação profissional, no que

respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tabela 32: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a situação profissional do

inquirido.

Tabela 33: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as doenças de que padecem os

sujeitos, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV

Tabela 34: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo as doenças de que padecem os

sujeitos.

Tabela 35: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre o estado civil dos sujeitos, no

que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tabela 36: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo o estado civil dos sujeitos.

Tabela 37: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre com quem vivem os sujeitos, no

que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tabela 38: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo com quem vivem os sujeitos.

Tabela 39: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre estrutura da sua família, no que

respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tabela 40: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo estrutura da família dos

inquiridos.

Tabela 41: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre lugar que ocupa no seio da

família, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tabela 42: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo lugar que ocupa no seio da

família.

Figura 1: Perfil da FACES IV: seis tipos familiares (adaptada de Olson, Gorall, 2006,7).

Figura 2: Modelo Circumplexo e Pontuações da FACES IV(adaptada de Olson, Gorall, 2006,5).

Figura 3: Perfil da FACES IV: Equilibradas versus Caoticamente Desligadas (adaptada de Olson, Gorall, 2006,13).

Figura 4: Modelo Conceptual, base do presente estudo, contemplando a verificação da influência das variáveis

independentes e independentes mediadoras, nas variáveis dependentes.

Figura 5: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares (famílias com e

sem elemento toxicodependente).

Figura 6: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares.

Figura 7: Médias obtidas no “Nível de emaranhamento da relação familiar”, segundo a faixa etária dos inquiridos

Figura 8: Médias obtidas nas subescalas da FACES IV segundo a profissão dos inquiridos.

Figura 9: Médias observadas por factor de análise, segundo a escolaridade.

Figura 10: Médias observadas por factor de análise, segundo o estado civil.

Figura 11: Médias observadas por factor de análise, segundo o lugar ocupado pelo sujeito no seio da sua família.

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Introdução

Este estudo surge no âmbito do Mestrado em Psicologia, especialização em Avaliação

Psicológica pela Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade de

Coimbra, em que procuramos perceber a relação entre o funcionamento e relacionamento das

famílias em diferentes tipologias familiares.

Relativamente ao desenvolvimento familiar, Relvas (2000) refere que este passa pela

mudança da família enquanto grupo e em cada um dos seus membros, ao nível funcional,

interaccional e estrutural, de modo que os ciclos por que as famílias fluem e as mudanças

operadas em cada um deles permitem uma transformação e organização dentro do seu seio. Para

perceber o funcionamento familiar é importante compreender-se o ciclo em que a família se

encontra, as circunstâncias em que vive e os acontecimentos marcantes, quer em termos de

grupo, quer individualmente, pois são processos que influenciam e fazem com que o

funcionamento familiar esteja em constante mutação, oscilando entre extremos e o equilíbrio.

Neste seguimento, o principal objectivo que norteou a nossa investigação foi perceber se a

tipologia familiar (com ou sem elemento toxicodependente), bem como características

sociodemograficas e familiares (idade, sexo, habilitações literárias, profissão, situação face ao

emprego, número de filhos, estrutura familiar, lugar que ocupa no seio da família e problemas

de saúde), se correlacionam ou influenciam a forma de funcionamento e relacionamento

familiar, usando a FACES IV – Escala de Avaliação da Adaptabilidade e Coesão Familiar (nas

dimensões que esta avalia, tais como coesão, flexibilidade, comunicação e satisfação).

Optámos por esta escala pois um dos primeiros sucessos no desenvolvimento de escalas

capazes de avaliar o sistema familiar originou-se no grupo de pesquisa coordenado por Olson,

denominadas FACES: Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scales (Olson, Portner, &

Bell, 1982; Olson, Portner, & Lavee, 1985; Olson, Sprenkle, & Russel, 1979). De acordo com

este modelo teórico, a combinação de dois construtos – coesão (separação versus ligação) e

flexibilidade (qualidade e expressão da liderança e organização) – teria uma relação curvilinear

com o modo de funcionamento da família.

A pertinência de mais uma investigação acerca da problemática da dependência e família,

passa pela novidade deste instrumento, em cujo aperfeiçoamento os autores trabalharam mais de

uma década, nascendo assim um novo conjunto de seis escalas de avaliação da família para

efeitos de pesquisa e uso clínico que avaliam as dimensões da coesão e da flexibilidade, sendo

que as escalas, desenvolvidas na última pesquisa dos seus autores, medem separadamente

características equilibradas e desequilibradas dentro das famílias (Olson & Gorall, 2003).

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Este estudo mostra-se pioneiro na utilização desta escala, iniciando a autora do trabalho aqui

apresentado pela sua tradução (seguindo os trâmites requeridos) e aplicação, procurando

verificar se esta poderia medir fielmente o funcionamento familiar no contexto português. Foi

aplicado um inquérito por questionário (composto por um Questionários Sócio-Demográfico e a

Escala FACES IV traduzida para português) a uma amostra com duas tipologias familiares: 66

famílias com elemento toxicodependente e 66 famílias sem elemento toxicodependente (cada

família é composta por dois elementos, num total de 284 sujeitos). Encontrámos diferenças

entre ambas as tipologias familiares em todas as escalas, no entanto sem significância

estatística, sendo este o início do que o estudo vem trazer de novo. Pois embora se possa

mencionar o facto da reduzida dimensão da amostra, a grande questão passa pela incessante

vontade dos investigadores obterem uma correspondência fiel ao nível dos factores encontrados

e uma relevante significância estatística para uma escala aferida para uma população que em

tanto diverge da portuguesa, com toda a sua contextualização, cultura, princípios, valores e

tipologia familiar característicos. Uma vez que em vez dos cinco factores encontrados na análise

factorial da versão americana, encontrámos uma boa capacidade discriminativa com quinze

factores para a população portuguesa, o que requereria a criação de um instrumento adaptado às

características da população portuguesa. Temos ainda a hipótese (que não é nova, mas surge de

forma crescente) de cada vez se atenuarem mais as diferenças entre estas tipologias familiares.

Por fim, resta manifestar o quão gratificante foi este trabalho e ao mesmo tempo um

estímulo para lançarmos um novo olhar para a problemática da toxicodependência e levar por

diante o aprofundamento que se impôs. Alguns autores consideram que as teorias sistémicas,

sobre a família, serão um novo contributo para a nova conceptualização da problemática

“toxicodependência”, já que concedem pistas, explicativas e compreensivas, para a

complexidade deste fenómeno.

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A. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo I – A Família como Sistema

Um dos conceitos centrais de todo o nosso trabalho passa pela definição de família, que se

revela como a instituição fundamental do desenvolvimento humano, já que funciona como

padrão de referência para a vida de cada um.

Várias são as definições que podemos encontrar de “família”. Contudo, nota-se nessas

definições a orientação conceptual que é defina pelos diversos autores. Neste sentido, Sampaio e

Gameiro (1992, p.9) definem família como “um sistema, um conjunto de elementos ligados por

um conjunto de relações, em contínua relação com o exterior, que mantém o seu equilíbrio ao

longo de um processo de desenvolvimento percorrido através de estádios de evolução

diversificados”. Numa outra linha de orientação conceptual, Menezes (1989, p.53) percepciona

a família como uma “Instituição social, contexto de primordial importância no desenvolvimento

do ser humano, núcleo por excelência, da vinculação, da coesão e interdependência mútua,

promotora de sentimentos de separação e autonomia”.

O conceito de família tem-se modificado ao longo dos tempos (Menezes, 1989) e é neste

sentido que se fala do ciclo vital da família como um conjunto de estádios que demarcam

transformações que ocorrem no seio da mesma (Relvas, 1996).

O desenvolvimento familiar reporta-se à mudança da família enquanto grupo, bem como às

mudanças nos seus membros, ao nível funcional, interaccional e estrutural. Assim, é importante

identificar as sequências de transformações na organização da família, ciclo vital, de acordo

com o cumprimento de tarefas bem definidas, que vão caracterizar as etapas desse ciclo. Estas

tarefas relacionam-se, por sua vez, com as características individuais dos elementos da família, e

com a pressão social para o desempenho adequado das tarefas essenciais à continuidade

funcional do sistema familiar. Neste sentido, a família deve resolver com sucesso a criação de

um sentimento de pertença ao grupo e a individuação/autonomização dos seus elementos

(Relvas, 2000).

Olson e colaboradores (1983) definem sete estádios, usados nos seus estudos da família,

partindo do Modelo Circumplexo.

- No primeiro estádio fazem alusão a casais jovens sem filhos, em que as preocupações do

casal respeitam à reformulação e negociação dos objectivos individuais e do casal, e estilos de

vida mutuamente aceites. No entanto, estas famílias ainda não encontraram as necessidades e

exigências dos filhos pequenos.

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- Num segundo estádio, enquadram-se famílias com crianças pequenas e em idade pré-

-escolar. As famílias são idênticas neste estádio, pois as crianças passam a maior parte das horas

acordados em casa, e a família é orientada para o seu crescimento e nutrição. Os pais são as

fontes primárias de informação e controlo e a família é vista como centrada na criança.

- No terceiro estádio encontram-se as famílias com crianças em idade escolar, em que a

família é vista como estando focalizada na educação e socialização da criança. Aqui, a criança

mais velha tem entre seis e doze anos.

- Num quarto estádio, as famílias com adolescentes preocupam-se em preparar os seus

adolescentes para serem “lançados” de casa, existindo exigências consideráveis.

- No estádio cinco encontramos famílias lançadoras, ou seja, os adolescentes estão a deixar

a casa para estabelecer identidades e papéis fora da unidade familiar. Os papéis parentais e as

regras estão a mudar e a família é ocupada com a autonomização bem sucedida dos seus filhos.

- Num sexto estádio, são definidas as famílias como de ninho vazio, em que os filhos

abandonam o seu “ninho”, a casa dos seus pais. Os pais ainda mantêm algumas regras formais,

mas a família é largamente orientada para as necessidades do casal, estabelecendo

relacionamentos mais diferenciados com filhos e netos.

- Por fim, no sétimo estádio encontram-se as famílias na reforma, que completaram

largamente o crescimento e supervisão dos filhos. Concluíram as suas maiores contribuições na

carreira e estão ocupados com a manutenção do casal, assim como com os relacionamentos com

a família alargada e amigos.

Relvas (2000) refere que o grande objectivo da conceptualização do ciclo vital da família é

mostrar a relevância das relações humanas familiares contínuas, centrando-se na evolução

temporal das interacções (entre membros da família entre si, com outros e outras estruturas

sociais), fundamental para diagnosticar e planear a intervenção. A não consideração destes

aspectos (aplicação numa perspectiva simplista e linear) proporciona um estudo repartido e

descontínuo da vida familiar. A família torna-se crucial no desenvolvimento do ser humano por

duas razões: em primeiro lugar, porque não podemos pensar viver sem uma família (mesmo que

esta não seja a de origem); em segundo lugar, porque é a família que determina as primeiras

relações sociais e as primeiras aprendizagens que realizamos acerca das pessoas, das situações e

das nossas capacidades individuais, aquisições estas, que exercem grande influência na

construção da nossa personalidade (Sprinthall & Collins, 1994).

A partir dos anos 50, quando reflectimos sobre o sistema “família” e intervenção,temos que

falar da “terapia familiar” e do modelo sistémico. Este modelo surge nos E.U.A. num contexto

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de mudança de paradigma, do pensamento analítico ao pensamento sistémico, inerente à

complexidade (Morin, 1992). Falamos de um modelo que tem como ideia central que é “preciso

reunir para compreender”, acentuando o estudo das relações e interacções, em que a causalidade

se torna circular. Em consequência do corolário sistémico da totalidade, o indivíduo e o meio

evoluem em simultâneo e mudam reciprocamente, tornando a importância do contexto mais

clara, em que a noção de co-evolução é determinante (Bateson, 1987). No estudo da interacção

surge a teoria ecossistémica da comunicação, com um novo conceito de doença mental, em que

o sintoma é visto como um comportamento (comunicacional) lógico, coerente e com uma

função no contexto em que aparece (in Watzlawick et al., 1972; Marc & Picard, 1984). A

disfuncionalidade deve-se aos movimentos homeostáticos, que o “todo” utiliza tendo como

objectivo a sua manutenção (in Jackson, 1957; Palazzoli et al., 1978).

Por volta de 1950 inicia-se em Palo Alto o estudo da comunicação humana numa

perspectiva pragmática (in Watzlawick et al., 1972; Marc & Picard, 1984); em 1959 é fundado o

Mental Research Institute (MRI), primeiro centro da costa oeste consagrado à investigação,

formação de terapeutas e prática de trabalho clínico com famílias. A revista Family Process é

outro marco desta evolução, surgindo em 1961, e é a primeira publicação unicamente sobre

terapia familiar. Ao longo da década de 60, Salvador Minuchin e Murray Bowen, entre outros,

desenvolveram e apresentaram os seus próprios modelos sistémicos de compreensão e

intervenção familiares. Em 1967, Plazzoli funda em Milão o primeiro centro de terapia familiar

da Europa (Relvas, 1999). Passados dez anos, a terapia familiar sistémica chega a Portugal, e a

evolução que se passava noutros países foi influenciando o que aqui se fazia (Relvas, 2002).

A história da psicopatologia numa perspectiva sistémica passa por uma ruptura com o

paradigma individualista e analítico, em voga até metade do século. Em seguida desenvolve-se e

diversifica-se, a partir dos modelos criados pelas várias escolas de terapia familiar, estendendo-

-se, no final desta fase, à compreensão/explicação de outros sistemas. Nas últimas décadas, há

uma renovação da base construtiva e construcionista social, e a tónica é colocada no terapeuta e

na sua auto-referência (Relvas & Alarcão, 2001).

Os fundadores da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar associaram-se e procuraram

contactos com grandes mestres da perspectiva. Entretanto, Daniel Sampaio e José Gameiro

escreveram o primeiro livro sobre “terapia familiar” (com este mesmo título) (Sampaio &

Gameiro, 1985). E, “hoje em dia em Portugal, tentando olhar para o futuro, procuramos

(re)descobrir, através de uma visão sistémica, a ligação (possível) entre (…) saber-fazer/saber-

-pensar/saber-ser, nos vários contextos (possíveis) onde a nossa presença possa ser útil ou

benéfica” (Relvas, 2002, 21).

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1. Tipologias familiares

Sendo o conceito “família” crucial neste trabalho, importa compreendê-la nas suas

diferentes estruturas e configurações, respondendo às tensões que possam surgir, de acordo com

essas condições que detêm. Neste sentido, importa referir os diversos tipos de famílias com que

nos podemos deparar de acordo com Minuchin e Fishman (1990):

- Família ‘pas de deux’, onde reside uma relação simbiótica de dois elementos;

- De três gerações, em que coexistem várias gerações de forma concomitante;

- Com suporte ou com filho parental, que integra um elemento que toma sobre si funções de

criação dos demais;

- Acordeão, com um elemento que está ausente por longos períodos de tempo;

- Flutuante, quando a família está constantemente a mudar de domicílio;

- Hóspede ou adaptativa, que acolhe temporariamente um membro da mesma;

- Reconstituída, quando um padrasto é incluído na unidade da família;

- Com um fantasma, onde um elemento da família desaparece, morre ou se ausenta;

- Descontrolada, onde se enfatiza a existência de problemas na hierarquia familiar, da

implementação de funções e na proximidade dos membros; e

- Psicossomática, em que há uma superprotecção, fusão ou união excessiva entre os

membros da família.

Malpique (1997) e Alarcão (2000) falam de famílias que abrangem vários elementos, como

a família nuclear, composta por elementos unidos por laços afectivos e biológicos e realizam

actividades comuns; a extensa, com um conjunto de (des)ascendentes, e colaterais do grupo da

família nuclear; a de origem, com o grupo familiar original de cada um dos cônjuges; e a

monoparental, com apenas um dos cônjuges.

Olson e Gorall (2006) providenciam uma nova tipologia de famílias para o estudo e análise

das relações familiares, sistematizada no instrumento FACES IV – Family adaptability and

Cohesion Scales (composto por seis escalas que medem as relações familiares), e no Modelo

Circumplexo, em que identificam seis tipos de famílias:

- Equilibradas, caracterizadas por elevado funcionamento saudável, e baixo nível de

funcionamento problemático. Hipoteticamente, estas famílias lidam bem com os elementos

stressores do dia-a-dia, e com as mudanças relacionais na família ao longo do tempo.

- Rigidamente equilibradas, com níveis elevados de aproximação emocional e rigidez.

Hipoteticamente estas famílias funcionam bem a maioria das vezes, dado o seu nível de

proximidade; no entanto, podem ter dificuldades em realizar as mudanças requeridas pela

situação ou mudanças ao nível do desenvolvimento, devido à sua elevada rigidez.

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- Médias, por hipótese estas famílias funcionariam bem, não apresentando níveis extremos

de factores de força e protecção, nem de factores de risco.

- Flexivelmente desequilibradas, famílias, à partida, a indicar um funcionamento

problemático; no entanto, como demonstram níveis elevados de flexibilidade, teriam as

competências para alterar alguns níveis problemáticos quando necessário. Este é o tipo de

famílias considerado pelos autores como sendo o mais difícil de caracterizar.

- Caoticamente desligadas, têm por hipótese corresponder a famílias problemáticas, com

base numa falha de proximidade emocional e níveis baixos de flexibilidade, o que

demonstra uma grande dificuldade em promover mudanças.

- Desequilibradas, é o espelho exacto (imagem oposta) das famílias equilibradas e são as

mais problemáticas em termos de funcionamento, com grandes lacunas nos factores força e

protecção. São as mais prováveis de encontrar em terapia.

No entanto, Ausloos concorda com a ideia de Haley ao afirmar que “Não existe um tipo de

família que produza um tipo de paciente, mas produz-se numa família, em certo estádio, uma

perturbação seguida de uma intervenção externa que ocasiona um comportamento sintomático

num ou em vários dos seus membros” (Haley, cit.. in Ausloos, 1981, p.192).

Nas diversas classificações de tipos de famílias, Relvas (1999) destaca as interaccionais e

estruturais, sendo a mais conhecida elaborada por Salvador Minuchin (1990), colocando as

famílias disfuncionais em extremos opostos, definindo-as como “emaranhadas” e

“desmembradas”, sendo a família “emaranhada” caracterizada por um relacionamento centrado

nela própria, defendendo a unidade em prol da individualização. Nelas existem papéis rígidos e

sintomas por vezes psicossomáticos e é frequente um dos pais encontrar-se numa posição

hierárquica baixa (one down) e as fronteiras entre gerações e indivíduos serem difusas e mal

definidas, opostas à fronteira exterior geralmente rígida. São, assim, sistemas fechados e

isolados no que respeita ao contacto com o meio. No outro oposto, as famílias “desmembradas”

são excessivamente abertas, com um relacionamento que se afasta do centro da família, em que

tentam expulsar demasiado cedo os seus membros para a vida em sociedade, sem os munir de

competências adaptativas consistentes (pelo que a entrada das crianças na vida social se torna

conflitual). Os papéis parentais apesar de uma aparente rigidez são instáveis, e os sintomas são

frequentemente de carácter psicossocial (delinquência, prostituição, gravidez precoce…),

centrando em si a atenção do resto da família.

Nos resultados das suas investigações, Minuchin revela, ainda, que encontra estes dois tipos

de família em estratos socio-económicos muito baixos, transparecendo a ideia de se tratar de

uma questão cultural, nomeadamente da cultura organizacional de cada família.

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Na Teoria de Bowen (in Relvas, 1999, p.55) “a família emaranhada aproxima-se da família

definida pela fusão emocional, i.e., com um «Eu Familiar indiferenciado», enquanto a

desmembrada corresponderia ao sistema e cutt-off.

Guy Ausloos (1981, p.190) propõe uma tipologia que acrescenta o aspecto estrutural,

alargando o conceito de homeostase. Parte, assim, do princípio que a estabilidade homeostática

do sistema é constituída pela tendência para a mudança (morfogénese) e pela tendência para a

manutenção (morfostase), sendo o equilíbrio resultante da tensão entre as tendências opostas.

Assim, a noção de estabilidade dirige-se para um resultado, sendo a tendência um meio de o

atingir. Ausloos (idem, p.195) defende que um desequilíbrio nestas tendências tanto pode

conduzir à patologia, como à «normalização», o que permite dizer que o “aparecimento de uma

perturbação se associa ao grau de activação de uma das tendências, tanto quanto à adequação

dessa activação à situação problemática, “sendo a situação problemática percebida como o que

induz aos movimentos de equilíbrio (homeostase). Distingue então quatro tipos de famílias:

- Sistemas familiares flutuantes (movimento de fraca amplitude num sistema perto do

equilíbrio) ou com interacções flexíveis (mobilidade estrutural em termos de modalidades de

comportamento, bem como rígidas e caóticas) (famílias ditas normais);

- Sistemas familiares convergentes (evoluções diferenciáveis em função do reforço das

ligações entre o subsistema) ou com interacções rígidas (famílias nas quais em certas

condições surge um membro psicótico);

- Sistemas familiares divergentes (evoluções diferenciáveis em função do relaxamento das

ligações entre o subsistema) ou com interacções caóticas (nestas famílias surgem

essencialmente problemas de comportamento);

- Sistemas familiares alternantes ou pendulares. Famílias que alternam entre sistemas

convergentes e divergentes, de acordo com as situações, podendo referir-se como exemplo

grande parte das famílias com toxicómanos.

Beavers (in Relvas, 1999, p.59) defende um modelo que segue essencialmente uma «linha»

da patologia à saúde, a que corresponde um gráfico em flecha com duas dimensões, em cujos

cruzamentos assistimos à progressão das tendências psicopatológicas/sintomatológicas

(descendendo) até à saúde mental. Este modelo é organizado em três grandes níveis: 1) de

famílias na base da flecha, extremamente confusas ou caóticas, com limites precários e

hierarquia inexistente, 2) famílias extremamente autoritárias e 3) mais extremo, com famílias

mais flexíveis e adaptativas. O autor manifesta alguma preocupação no que respeita ao processo

evolutivo das famílias, procurando perceber ou antever a direcção da mudança.

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2. Estrutura, funcionamento e desenvolvimento da família

Da mesma forma se torna crucial neste trabalho a compreensão da estrutura, funcionamento

e desenvolvimento familiar, percebendo alguns destes conceitos através de um conjunto de

relações verbais e não verbais, a que Minuchin (1990) designa de “padrões transaccionais”, que

definem as trocas cognitivas, comportamentais e afectivas que se estabelecem com os seus

membros, bem como os seus papéis individuais. Estas relações estabelecem-se de acordo com o

subsistema onde se inserem e, por isso, podemos falar de quatro subsistemas familiares

(Minuchin & Fishman, 1990; Alarcão, 2000):

- O individual, respeitante ao indivíduo na sua individualidade;

- O conjugal, referente à relação entre marido e mulher;

- O parental, que se constitui como a relação pais-filhos existente, ocupando os adultos

funções executivas;

- E o fraternal, decorrente da relação entre os irmãos.

Em cada um destes subsistemas existem funções e tarefas que se encontram intimamente

relacionadas e os diversos elementos dos mesmos podem pertencer, ao mesmo tempo, a mais do

que um subsistema ao longo da sua vida, mostrando uma capacidade adaptativa e sendo

fundamental a inscrição de limites ou fronteiras (Alarcão, 2000).

Toda a vida pressupõe um princípio, um meio e um fim e na família este tipo de evolução é

designado de ‘ciclo vital da família’ (Alarcão, 2000). Este ciclo diz respeito a uma “sequência

previsível de transformações na organização familiar, em função de tarefas bem definidas que

caracterizam as suas etapas” (Relvas, 1996, p.16).

Fleming (1996, p.22) considera que a família deve desenvolver-se e crescer como se fosse

um organismo vivo, mudando à medida que os seus membros mudam, uma vez que “uma

família que se fixa em padrões rígidos e perenes e não é capaz de se adaptar a novas

necessidades ou exigências do desenvolvimento psicológico dos seus membros é como uma

‘camisa de forças’ que pode esmagar a individualidade de cada um e criar condições para a

eclosão de perturbação mental num ou mais membros”.

Da investigação realizada, Minuchin e Fishman, (1990) propõem-se alguns padrões de

interacção familiar que são particularmente rígidos e que funcionam como inibidores das

mudanças que devem naturalmente ocorrer no seio familiar. Exemplos destes padrões são:

- A fusão (tendência para dois membros da família se misturarem, não ficando claro os

limites entre os mesmos),

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- A triangulação (quando há uma relação estável intergeracional na maior parte das vezes,

ligada com o facto de um dos progenitores estar aliado ao filho e coligado contra o outro

progenitor).

- E a aliança entre os pais (quando esta é exagerada ou inexistente).

Minuchin (1990) reconhece quatro situações indutoras de pressão no seio familiar: (1)

problemas particulares; (2) períodos de transição do ciclo vital; (3) contacto de um membro da

família com a fonte externa de pressão; (4) contacto da família com uma fonte externa de

pressão. A família deverá ser capaz de desencadear mecanismos próprios, que lhe permitem

lidar e ultrapassar estas condicionantes no seu desenvolvimento.

Segundo Steinglass (1978), o significado de “todo” e relações interdependentes é o que

distingue a teoria dos sistemas das outras teorias, sendo assim importante referir os limites, os

subsistemas, as regras da família, a causalidade circular e a homeostase na compreensão do todo

(família) e do seu funcionamento (Thombs, 1999).

Os limites existem então para distinguir os elementos pertencentes ao sistema familiar dos

que não pertencem, assim como caracterizam a qualidade das relações entre o sistema e o meio

e a troca de informação com outros sistemas (Pearlman, 1998). As barreiras ou limites podem ir

de muito difusas a muito rígidas, estando o equilíbrio nos limites claros, que permitem a

individualidade dos indivíduos, mantendo, no entanto, a intimidade. As barreiras difusas

existem em relacionamentos de super envolvimento, em que as famílias não permitem que os

adolescentes se individualizem, o que leva muitos deles a manifestações de revolta pelo abuso

de álcool e drogas (Lawson, Peterson & Lawson, 1983).

A interacção dos vários subsistemas e hierarquias contribuem, também, para a organização

do sistema familiar. Nas famílias disfuncionais, os subsistemas permanecem estáticos e as

crianças/adolescentes assumem papéis inapropriados, como por exemplo os dos pais (Lawson et

al., 1983). As regras pelas quais o sistema se organiza são implícit.as, mais que explícit.as, e

vão definir as condutas apropriadas dentro do sistema.

Quando nos remetemos para famílias quimicamente dependentes, percebemos que contêm

algumas particularidades, existindo regras típicas, como o facto de ser proibido falar

abertamente sobre o abuso de substâncias (Deutsch, 1982); o existir “não sinto, não confio, não

falo”; a raiva só pode ser expressa quando o dependente está a consumir (Lawson et al., 1983);

“só me sinto confortável em expressar a minha afectividade depois de ter consumido”.

Na teoria dos sistemas a causalidade circular é enfatizada, ou seja, as relações entre

elementos de um sistema são influenciadas pelo feedback transmitido, não se tratando de uma

causalidade linear (Pearlman, 1988).

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De acordo com Stanton (1980), a homeostase numa família com um dependente químico,

existe com um equilíbrio patológico, em que os membros não dependentes, investem

emocionalmente no membro dependente, mantendo a sua adicção (Pearlman, 1988). O abuso de

químicos desempenha um papel fundamental na manutenção do equilíbrio da família. O

consumo mantém a família num equilíbrio embora patológico, mas relativamente estável, em

que estas famílias optam por um nível baixo de desconforto, mantendo o consumo, de forma a

evitar situações mais dolorosas.

Em suma, podemos dizer que a família não é uma estrutura rígida, mas vai-se moldando, ao

longo do ciclo vital, às novas situações e contingências que se lhe deparam, de forma a

proporcionar a sua adaptação e consequente homeostasia, sendo as diferenças na sua

estruturação, interacção e comunicação o que permite diferenciar os tipos de famílias.

3. Coesão, flexibilidade, satisfação e comunicação familiares1

Entre outros conceitos importantes na definição de famílias e relações familiares é

fundamental referir o Modelo Circumplexo, atendendo aos estudos e instrumentos que suporta,

e os quatro conceitos principais em que assenta: Coesão, Flexibilidade, Comunicação e

Satisfação

A Coesão familiar é definida como a barreira emocional que os membros da família têm

face uns aos outros. No Modelo Circumplexo, conceitos como ligação emocional, barreiras,

coligação, tempo, espaço, amigos, tomada de decisão, interesses, recriação, são usados como

medidas de diagnóstico e análise desta dimensão. A coesão centra-se em como os sistemas

oscilam entre separação versus ligação.

Podemos encontrar cinco níveis de coesão: desligada/desconectada (extremamente baixa);

de certo ponto ligada (baixa a moderada); ligada (moderada); muito ligada (moderada a alta);

emaranhada/altamente ligada (muito elevada). Os três intermédios estão associados a um

óptimo funcionamento familiar e os extremos (desligada e emaranhada) são vistos geralmente

como problemáticos para relações após um certo período de tempo.

Na área equilibrada da Coesão no modelo Circumplexo, as famílias são capazes de alcançar

o equilíbrio, moderando entre a separação e a ligação. Os indivíduos são capazes de ser

independentes e em simultâneo conectados com as suas famílias, e tendem a ser mais funcionais

no decorrer do ciclo de vida. Uma relação de certo ponto ligada, tem algum desligamento

emocional e o tempo isolado é mais importante; no entanto, há algum tempo em conjunto,

tomadas de decisão em conjunto e apoio. Apenas algumas actividades e interesses são

1 Para a construção deste ponto da dissertação baseamo-nos no estudo empírico realizado por Olson e Gorall (2003).

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partilhados, embora poucos. Uma relação ligada é caracterizada pelo maior nível de equilíbrio

entre ligação e separação. Uma relação muito ligada tem um proximidade emocional e lealdade

à relação. Há uma ênfase no “estar junto”, o tempo junto é mais importante que o tempo

sozinho. Não há apenas amigos separados, mas também amigos partilhados pelo casal ou

família. Os interesses partilhados são comuns em actividades separadas.

As famílias que comparecem em terapia tendem a posicionar-se num dos extremos ou áreas

de desequilíbrio, áreas de extrema separação ou ligação. Num dos extremos, quando há níveis

elevados de emaranhamento, há um enorme consenso/proximidade emocional no seio da família

e uma diminuta independência. Num outro extremo, sistema desligado, cada elemento da

família “trata da sua vida”, com níveis de ligação e comprometimento muito precários para com

a família.

Os níveis desequilibrados de coesão encontram-se nos extremos, quer seja extremamente

baixo (desligado) ou extremamente elevado (emaranhado). Uma relação desligada demonstra,

frequentemente, separação emocional. Há um envolvimento escasso entre os membros da

família e uma grande separação pessoal e independência. Os indivíduos fazem as suas próprias

tarefas, predomina um tempo, espaço e interesses separados, em que os membros são incapazes

de se apoiar uns aos outros e solucionar problemas em conjunto. Numa relação emaranhada há

um montante extremo de proximidade emocional, e é exigida lealdade. Os indivíduos são

extremamente dependentes de, e reactivos para, uns com os outros. Há uma falha de separação

pessoal e é permitida muito pouca privacidade. A energia dos diversos elementos é focada quase

em exclusividade para dentro da família, sendo raros os amigos individuais exteriores, assim

como os interesses.

Resumindo, níveis de coesão extremamente elevados (emaranhados) ou baixos (desligados)

tendem a ser problemáticos para os indivíduos e para o desenvolvimento de relacionamentos a

longo curso. Por outro lado, relações com níveis moderados tendem a oscilar entre a separação e

aproximação de forma mais funcional. Apesar de não haver em absoluto um nível ideal para um

relacionamento, muitos serão problemáticos se funcionarem nos extremos por longos períodos

de tempo. Também é esperado que os sistemas de casal e familiar oscilem entre os vários níveis

ao longo do tempo.

A Flexibilidade (definição revista) é definida como a qualidade e expressão da liderança e

organização, relação de papéis, relação de regras e negociações. Conceitos específicos

contemplam a liderança (controlo e disciplina) e estilos de negociação, atendendo à forma como

o sistema oscila entre a estabilidade e mudança.

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Os cinco níveis da flexibilidade variam entre rígido/inflexível (extremamente baixo), um

tanto flexível (baixo a moderado), flexível (moderado), muito flexível (moderado a elevado), e

caótico/excessivamente flexível (elevado). Aqui é hipotetizado que níveis centrais ou

equilibrados de flexibilidade (um tanto flexível, flexível e muito flexível) conduzem a um melhor

funcionamento familiar que dos extremos (rígido e caótico), sendo estes representativos de

famílias mais problemáticas ao longo do seu ciclo vital.

Basicamente, a flexibilidade focaliza-se na mudança operada no âmbito da liderança, papéis

e regras, numa família. As aplicações prévias da teoria sistémica da família enfatizavam a

rigidez da família e a sua tendência para manter o seu status quo. Subsequentemente, foi

percepcionada a importância do potencial para a mudança e a flexibilidade dos sistemas (Olson

& Olson, 2000). As famílias e os casais precisam de ambas - estabilidade e mudança -, pois a

capacidade de mudar, quando apropriada, é uma das características que distingue famílias

funcionais de famílias disfuncionais.

Os sistemas familiares flexivelmente equilibrados são capazes de gerir ambas: a estabilidade

e a mudança. Uma relação um tanto flexível tende a ter uma liderança com características

democráticas, incluindo as crianças em algumas negociações. Os papéis estão estáveis, com

alguma partilha de papéis, e as regras são firmemente implantadas, com poucas mudanças. Uma

relação flexível é caracterizada por uma liderança igualitária, com uma abordagem democrática

nas tomadas de decisão. As negociações são abertas, incluindo activamente os filhos. Os papéis

são partilhados e há uma mudança fluida quando é necessário. As regras podem ser alteradas e

são apropriadas à idade. Uma relação muito flexível tem uma tendência para a mudança

frequente na liderança e regras. Estas últimas são muito flexíveis e ajustadas prontamente

quando há uma necessidade para a mudança. Famílias desequilibradas tendem a estar em

extremos de muita estabilidade (rigidez) ou de muita mudança (caótica). Numa relação rígida

um indivíduo é responsável e é altamente controlador; as negociações são limitadas, sendo a

maior parte das decisões impostas pelo líder. Os papéis são estritamente definidos e as regras

são inalteráveis. Uma relação caótica tem uma liderança errática ou limitada, e as decisões são

tomadas impulsivamente e não devidamente reflectidas. Os papéis são pouco nítidos e

frequentemente deslocam-se de indivíduo para indivíduo.

Em suma, tal como acontece com os níveis de coesão, os níveis de flexibilidade

extremamente elevados (caótico) e extremamente baixos (rígido) tendem a ser problemáticos

para os indivíduos e para o desenvolvimento de relacionamentos a longo termo. Por outro lado,

relacionamentos com níveis moderados (estruturado e flexível) são capazes de oscilar entre

mudança e estabilidade de forma mais funcional.

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A Comunicação é a terceira dimensão no Modelo Circumplexo, e apela às competências

comunicacionais positivas, utilizadas no casal ou sistema familiar. A dimensão facilitadora é

considerada crítica no auxílio às famílias a alterar os níveis de coesão e flexibilidade. O uso de

qualidades comunicacionais positivas permite às famílias alterarem os seus níveis de coesão e

flexibilidade, de modo a responder às exigências desenvolvimentais ou situacionais.

A comunicação familiar (focada na família enquanto grupo), é medida atendendo às suas

capacidades de escrita, fala, auto divulgação (partilhar sentimentos sobre si e relação com

outros), transparência, continuidade do discurso (manter-se num tema/tópico), respeito e

consideração (aspectos afectivos da comunicação). As habilidades de escuta incluem empatia e

escuta atenta e as habilidades ao nível do discurso/fala contemplam falar por si próprio e não em

nome dos outros e pelos outros.

Diversos estudos, investigando as habilidades de comunicação e resolução de problemas nas

famílias, mostraram que sistemas equilibrados ao nível da coesão e flexibilidade tendem a ter

uma boa comunicação entre si, enquanto sistemas desequilibrados nesta dimensão tendem a ter

uma pobre comunicação.

A satisfação, por seu lado, é definida como o grau de felicidade sentido pelos membros da

família, e preenchidos uns com os outros. A definição operacional inclui três dimensões

relacionadas ao Modelo Circumplexo coesão, flexibilidade e comunicação. Por isso, os itens na

escala de satisfação vão medir esta dimensão nas restantes três.

A hipótese base do Modelo Circumplexo é de que as famílias equilibradas estarão mais

satisfeitas com o seu sistema do que as famílias desequilibradas. Consequentemente, as famílias

com níveis elevados de satisfação familiar terão uma comunicação familiar significativamente

melhor do que as famílias com níveis baixos de satisfação.

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Capítulo II – Família com elemento toxicodependente

1. Toxicidade

O termo “droga” é bastante vago e equívoco, levando a que se confundam expressões como

“uso”, “abuso” e “dependência” (Carvalho, 1989). Fernandes (1998) define droga como um

conjunto de substâncias químicas que são introduzidas voluntariamente no organismo, com a

finalidade de modificar as condições psíquicas provocadas por uma situação de dependência.

O “uso de drogas” refere-se ao consumo, quase nunca continuado, de determinada droga. O

indivíduo consome-a esporadicamente quando quer e esta não lhe produz problemas de saúde

nem sociais (Carvalho, 1989).

No DSM-IV2 (American Psychological Association - APA), (1996, p.186) reconhece-se que

o “abuso de substâncias é um padrão desadaptativo de utilização da substância manifestado por

consequências adversas, recorrentes e significativas, relacionadas com a utilização repetida das

substâncias”. Ainda no DSM-IV (idem, 180) se refere que a dependência de “substâncias é um

conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicativos de que o sujeito

continua a utilizar a substância apesar dos problemas significativos relacionados com esta.”

De acordo com a definição da Organização Mundial de Saúde, de 1969, a

toxicodependência é “um estado psíquico e às vezes físico, resultante da interacção entre um

organismo vivo e uma substância que se caracteriza por modificações do comportamento e por

outras reacções que compreendem sempre um impulso para consumir de modo contínuo ou

periódico, a fim de obter os seus efeitos psíquicos e por vezes para evitar o mal-estar devido à

privação. Este pode ou não acompanhar-se de tolerância e um mesmo indivíduo pode estar

dependente de várias drogas” (cit.. in Fernandes, 1990, p.13).

Segundo Patrício (1997, 45), a dependência que pode ser, psicológica e/ou física, indica a

necessidade tão intensa de consumir uma substância que, se não for satisfeita, se traduzirá por

fortes perturbações físicas e ou/emocionais, em que está sempre presente uma perda de controlo

no consumo do produto, ou seja, o indivíduo tem a sensação de não poder passar sem a

substância.

Alguns estudos cit.ados por Carvalho (1989), mostram o impacto que a droga tem no

indivíduo e no meio que o rodeia, traduzindo que o consumo de droga se encontra positivamente

relacionado com o rendimento escolar do indivíduo e, igual correlação positiva entre o consumo

de drogas e o envolvimento do indivíduo em actividades delinquentes e anti-sociais.

2 DSM-IV – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, da Associação Psiquiátrica Americana (tradução portuguesa, da IV edição).

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1.1 Breve contextualização do fenómeno em Portugal

Segundo Fernandes (1990, 1998), o mercado da droga estabelece-se nos chamados

“territórios psicotrópicos”, locais já marcados por uma forte estigmatização social, na medida

em que albergam populações com graves carências, aos quais se deslocam diariamente, os

consumidores, à procura da sua dose (diária).

Segundo Fernandes (1990), em Portugal, os primeiros contactos com drogas ilegais

começam no final dos anos 60 e efectuam-se em ambientes restritos. Em 1971 começam a

aparecer os primeiros cartazes anti-droga: campanha “Droga-Loucura-Morte” (Fernandes,

1990).

Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, e até ao fim da década de 70, dá-se o regresso

maciço dos ex-colonos a Portugal. Este foi um período de certa banalização do consumo de

drogas – haxixe e cannabis – pela facilidade com que entravam em Portugal. No entanto a nossa

sociedade não parecia dar conta desta vulgarização do consumo. A atenção parecia estar mais

virada para os acontecimentos políticos e para o problema relacionado com o acréscimo da mão-

-de-obra e dos desalojados.

A segunda campanha anti-droga, denominada “Flagelo da Liamba”, surge em 1976,

desajustada da extensão real do consumo de psicoactivos.

Face ao aumento real do consumo, o I Governo Institucional cria o Centro de Estudos e

Profilaxia da Droga (CEPD) e o Centro de Investigação e Controlo da Droga, sendo a questão

da droga equacionada em termos de doença e de delinquência.

Por volta dos anos 80 “desenvolve-se o mercado negro em torno da heroína” (Fernandes,

1990), mais lucrativo que as drogas anteriores e que fez inúmeros dependentes.

É, então, neste contexto político-social que surge o Decreto-Lei n.º 430/83 de 13 de

Dezembro, sob a influência da Convenção sobre as substâncias psicotrópicas, à qual Portugal

aderiu em 1979. Esta Convenção veio considerar a “desadequação de exercer direito de punir

sobre os utentes de psicotrópicos (…) sem que a mesma seja acompanhada de medidas

terapêuticas de cura pós-cura, de reinserção e readaptação social” (Poiares, 2000, p.13).

A população toxicodependente alterou-se: longe da imagem de “junkie”, trata-se agora de

indivíduos casados, com família, com domicílio, inseridos nas famílias de origem e com

ocupação profissional.

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2. Toxicidade e Família

Muitos têm sido os estudos que procuram analisar o papel da família na génese, manutenção

e tratamento do abuso de drogas. A maioria dos estudos mostra que as relações “positivas”

desencorajam o consumo de substâncias psicoactivas, enquanto a instabilidade familiar e o

divórcio podem promover esse mesmo consumo (Lawrence & Vellerman, 1974).

Já se aceitou a toxicodependência como um problema de desenvolvimento psicológico

iniciado na infância precoce, pelo que era indiscutível o papel desempenhado pelos factores

familiares, de tal forma, que Ganger e Shugart (1996) (in Fleming, 1996) se referiram à

toxicodependência como uma “doença familiogénica”. Num outro sentido, Rosenberg (1971,

cit.. in Fleming, 1996, p.66) diz-nos que “a dependência de droga não é só uma manifestação de

uma perturbação adolescente da personalidade mas é também sintomática de um problema

familiar mais vasto”.

Ainda nesta linha, considera-se que o consumo de droga poderá dar ao toxicodependente

uma imagem de ‘pseudo-individuação’ (Fleming, 1996), ou seja, dá-lhe a ilusão que se encontra

autonomizado e independente dos pais, mantendo-o, concomitantemente ligado, dependente e

fiel à família.

Weidman (1983) diz-nos que o consumidor de drogas é alguém que, desde a infância, nunca

se separou dos pais, mantendo uma relação simbiótica dependente, nunca tendo sido encorajada

a sua individuação na família.

Face ao exposto, a questão que norteia a investigação da família do toxicodependente, recai

na procura de elementos que a permitam diferenciar de outras famílias. Várias investigações têm

sido levadas a cabo, cada uma delas enfatizando determinado aspecto que se considera

diferenciador deste tipo de famílias (Fleming, 1996).

Pensou-se que um elemento diferenciador seria o nível socio-económico da família. Os

estudos preconizados evidenciam tendências divergentes e, por isso, pouco conclusivas. Em

França, Fréjaville, Davidson e Choquet (1977) mostram que a maior parte dos consumidores

regulares de droga pertencem ao extracto da população inactiva. Outros estudos (Pritchard,

Fielding, Choudry, & Cox, 1986) mostram a existência de correlações significativas entre a taxa

elevada de desemprego do pai e o consumo de drogas. Em Portugal estudos antigos,

preconizados por Amaral Dias (1980) e Fleming e Vaz (1981), evidenciam maior taxa de

consumo nos grupos socio-económicos mais elevados.

Outro elemento diferenciador considerado diz respeito à distorção do anel familiar, ou seja,

ao impacto da morte e da separação de membros da família. Estudos mostram (e.g. Amaral

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Dias, 1980) que a perda de um ou mais elementos da família (por morte ou separação) se

encontra frequentemente na história de vida de um consumidor. Fleming e Vaz (1981) e

Fleming e colaboradores (1988), demonstram que os adolescentes que revelaram maior contacto

com drogas ilícit.as eram aqueles cujos um ou ambos os pais estavam ausentes, por morte ou

separação. Rosch (1988) também encontrou nas famílias de toxicómanos uma taxa de

separação/divórcio superior à população em geral e, num outro achado, concorda com Angel

(1983), no respeitante ao número de pais e mães de toxicómanos que usam e abusam do álcool e

dos psicotropos, como sendo muito significativos: 15% dos pais abusam do álcool e 29% das

mães abusam de psicotropos.

A qualidade dos laços afectivos tem sido elemento considerado, já que a ausência destes

poderá desencadear um vácuo e isolamento entre os elementos da família (Fleming, 1996).

Relativamente à coesão familiar, vários autores defendem ser fraca e os membros pouco

valorizados e reconhecidos (Cannon, 1976). Vários estudos mostram que os indivíduos

utilizadores de marijuana possuem uma percepção de menor envolvimento afectivo com os seus

pais, do que os não utilizadores (Brook et al., 1981). Por sua vez, Graeven e Shaefer (1978)

mostram que os utilizadores de heroína relatam menos intimidade com os seus pais e mais lutas

entre eles.

Na revisão feita por Jurich e colaboradores (1985), que contemplaram famílias de

consumidores, os autores denotam uma falta de proximidade afectiva e de “mútua rejeição”,

esta última acentuada pela falta de competência parental no exercício dos seus papéis, por

imaturidade ou incapacidade de se adaptar a situações novas. A investigação e a teoria da

vinculação sugerem que os modelos internos da vinculação, do controlo percebido e das

orientações autónomas podem exacerbar ou proteger as reacções dos indivíduos face a

acontecimentos potencialmente ansiógenos.

Estes factores protectores poderão ser considerados como resilientes. Cichetti e Garmezy

(1993) sublinham que o grau de resiliência de um indivíduo é considerado uma função de

factores e processos protectores internos e externos. Neste âmbito, o estudo da vinculação nos

comportamentos aditivos envolve uma atenção sobre os factores que poderão, de alguma forma,

proteger o indivíduo do risco da toxicodependência. Sob o ponto de vista dinâmico, os

consumos aditivos visam proteger o indivíduo contra ameaças do mundo externo, contra a

instabilidade e a desorganização da vida emocional (Ribeiro, 1998), já que pode ser visto como

uma tentativa de reforçar as suas defesas contra as vivências da fragilidade do self.

Como tal, a necessidade de estabelecer vínculos afectivos no seio da família é a primeira

relação onde tudo ganha sentido. Assim, Soares (1992) considera que pais disponíveis e

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carinhosos contribuíam para a formação de um padrão seguro, sendo esta necessidade intrínseca

o motor do desenvolvimento da identidade e do auto-conhecimento da criança. Também

Guedeney e Guedeney (2004) realçam a importância da transmissão intergeracional dos

vínculos entre pais e filhos, e questionam a necessidade de se inovar na clínica da primeira

infância.

Já Bowlby (1998) argumentava, na sua teoria, que os padrões de vinculação se transmitem

mais ou menos fielmente de geração em geração, uma vez que as crianças tendem

involuntariamente a identificar-se com os pais e, portanto, quando se tornam pais adoptam os

padrões que tiveram experiência na infância. A formação de estilos e aptidões parentais

concretas devia desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de factores de protecção

contra a toxicodependência, mesmo na primeira infância (Burkhart, 2000).

A qualidade de vinculação é um factor importante na vida do toxicodependente, uma vez

que o desapego afectivo do indivíduo, face às infrutíferas tentativas de ‘reconciliação afectiva’

com a figura significativa, acaba por ser extensível a todos os objectos do meio, junto dos quais

o indivíduo poderia encontrar uma relação satisfatória. No entanto, a sua extrema sensibilidade

relativamente a todo o sistema de conflito ambivalente leva-o a procurar pessoas ou actividades

às quais possa aderir, sem que estabeleça, contudo, uma ligação afectiva verdadeira (Farate,

2000).

Duncan Stanton e colaboradores (1982) concluem, numa revisão da literatura, que a maior

parte dos trabalhos sobre a toxicomania masculina refere a existência de famílias em que a mãe

está envolvida com o jovem numa relação hiperprotectora, permissiva e aglutinada, enquanto o

pai estaria ausente, seria fraco e não envolvido na relação com o filho. Bravo e colaboradores

(1982, p.167-182) concordam com esta caracterização: “Geralmente o progenitor super-

envolvido e indulgente é do sexo oposto ao do toxicómano e verificam-se frequentemente

situações de incesto manifesto”. Se nos anos 70 os pais tinham estes papéis e implicações na

dinâmica familiar, de há uns 20 anos para cá, segundo a teoria dos sistemas familiares, cada

membro afecta e é afectado pelos outros, assumindo a noção de causalidade uma dimensão

circular (Angel & Angel, 2005).

Os resultados destas investigações sugerem um denominador comum, que é a existência de

fracos laços entre o sistema parental e os filhos consumidores. Inúmeros estudos mostraram a

influência de variáveis ligadas ao meio familiar no consumo de drogas na adolescência, sendo a

confiança nos pais (correlação negativa) e o progresso na escola (correlação negativa) os

factores altamente correlacionados com o uso de drogas. A vinculação aos pais ou as relações de

confiança no seio da família surgem como factores dissuasivos do consumo de drogas,

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demonstrando que a estabilidade e bom ambiente familiar, o diálogo entre pais e filhos, são

alguns factores de protecção eficazes relativamente ao consumo de drogas (Angel & Angel,

2005).

Stanton e Todd (1982), por outro lado, consideram que a dependência à droga pode

funcionar como um mecanismo estabilizador quando a homeostasia familiar se encontra em

ruptura. Outros estudos têm vindo a confirmar esta suposição (Reilly, 1975; Weidman, 1983;

Leyine, 1985) partindo da hipótese de que a função da toxicodependência é proteger o laço

marital, pois os conflitos do casal são evitados, quando a atenção se centra no comportamento

“incompetente” e “doente” do filho toxicodependente.

Os conflitos familiares são entendidos na relação entre os pais, pela autoridade; em termos

intergeracionais dos pais com os seus próprios pais, sendo que o motivo é o filho, ponto onde se

vão fixar e desenvolver os conflitos (Angel & Angel, 2005). Segundo os autores, estes pais

manifestam uma enorme incapacidade de se posicionarem como pais e o filho é

instrumentalizado nestas situações. Na origem de tudo isto são encontradas, muitas vezes,

carências afectivas sofridas pelos pais, daí surgir a sua vulnerabilidade e necessidade de

protecção, que vai aumentar a tendência conflitual. Assim, torna-se impossível a autonomização

do filho adolescente, pois este tornou-se um instrumento necessário aos pais para exprimir a sua

posição na estrutura familiar. O jovem pode, desta forma, procurar os consumos de droga como

uma solução para o seu sofrimento, aquele consumo, por sua vez vai transformar-se no motivo

do conflito e vai permitir ao jovem fazer-se reconhecer como uma pessoa. Esta situação ainda

pode funcionar como auxílio à não fragmentação da família, uma vez que esta se junta para lutar

em torno do problema do toxicómano.

Outro aspecto, ainda, diz respeito ao padrão de comunicação utilizado no seio da família.

Algumas investigações têm vindo a mostrar que as falhas na capacidade de comunicação entre

os membros se afiguram um aspecto disfuncional. Os adolescentes consumidores sentem que os

pais bloqueiam a comunicação e os pais negam esta falha para evitar ouvir coisas negativas ou

desagradáveis (Jurich, Polson, Jurich & Bates, 1985).

Stanton e Todd (1982) constatam que as famílias dos consumidores de heroína apresentam

papéis familiares rígidos e estereotipados, bem como padrões de comunicação mais rígidos.

Kirschenbaum, Leonoff e Maliano (1974) descrevem os padrões de comunicação e interacção

característicos de famílias de toxicodependentes, dos quais constam grandes níveis de conflito,

como estilo autoritário dos pais, falta de intimidade, crítica frequente ao filho, isolamento

emocional, falta de prazer na relação. A depressão é também frequente, assim como a tensão, a

coligação dos pais contra o jovem e os conflitos sexuais na díade parental (Ferros, 2003).

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Relativamente a fenómenos de co-dependência3, estes manifestam-se mais frequentemente

em sistemas rígidos, sendo esta rigidez sinalizada por uma recusa de autonomização do jovem

de sair do estado de adolescente e procurar ligações exogâmicas. Qualquer processo de

individuação é sentido como ameaçador da homeostasia familiar. Nas famílias mais flexíveis, o

processo terapêutico efectua-se em torno de conflitos de adolescência, insucessos escolares,

estados depressivos, que revelam sofrimento familiar. São flutuantes, modificam-se e

rearranjam-se as coligações entre pais e filhos. Os sistemas familiares rígidos caracterizam-se

pelo não questionamento acerca do seu modo de funcionamento, pela fraca adesão à estratégia

terapêutica proposta, por famílias que se apresentam de forma enredada, sem distâncias

intergeracionais, e pelo comportamento adolescentes dos pais a rivalizar com os próprios filhos,

tentando colocar os terapeutas na posição de “avós” e procurando nestes ajuda nas tomadas de

decisão respeitantes aos filhos (Angel & Angel, 2005).

Nesta sequência, ainda, são considerados os estilos de educação preconizados no seio

familiar, como potenciadores ou inibidores de comportamentos de consumo. Jurich e

colaboradores (1985) mostram a disfuncionalidade de uma disciplina inconsistente, quer seja

por parca definição das regras, quer pela rigidez de limites de comportamento ou, ainda, pela

utilização de práticas educativas que privilegiam estilo de educação ‘autoritários’ ou ‘laissez

faire’. Os mesmos autores mostram, igualmente, a importância e o efeito de modelagem dos

pais para filhos: os pais fogem às situações de stress, refugiando-se no álcool ou drogas, doença

física ou mental, veiculando modelos de evitamento de responsabilidade para os seus filhos.

De uma forma geral, se os filhos transgridem as normas – através da violência, delinquência,

consumos de produtos ilícit.os – é porque não conseguiram interiorizar a lei parental, pelo facto

destas normas não funcionarem no círculo familiar, sendo constantemente desrespeitadas pelo

meio envolvente no seu registo social e familiar (Angel & Angel, 2005).

Um último aspecto tido em conta prende-se com a personalidade dos pais e estilo de relação

que é preconizado no seio da família. Alguns estudos referidos por Fleming, (2006), mostram

que os pais dos consumidores apresentam, na grande maioria, dificuldade em compreender os

afectos e sentem ter um casamento infeliz, onde a mãe se mostra ambivalente para com o seu

filho consumidor e o pai é, fundamentalmente, passivo. Nota-se, ainda, um envolvimento

excessivo entre a mãe e o filho, que poderá ter como objectivo compensar a relação pobre entre

o casal (Fleming, 1996).

3 “Aparente perseverança com que alguns familiares, normalmente cônjuges e companheiros(as), se dedicam aos parentes com problemas de dependência, alcoolismo, jogo patológico ou outro transtorno grave da personalidade.” http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=392&sec=34 Psiqweb (01.06.2006)

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31

Por outro lado, o consumo de drogas nos jovens está directamente relacionado com o facto

de os pais consumirem ou não drogas e a frequência com que o fazem (Weiner, 1995).

A literatura demonstra que o beber excessivo por parte dos pais, e o vínculo familiar são

determinantes no consumo de álcool dos adolescentes (Kuntshe & Kuendig, 2006). O vínculo

familiar é definido como o sentimento de proximidade e intimidade de uns para com os outros

(filhos para com os pais) e reflecte-se na monitorização percebida, na comunicação, no

envolvimento e nas actividades realizadas em conjunto na família, que tem mostrado

repetidamente uma relação negativa com os consumos de álcool pelo adolescente (Bahr et al.,

1995; Vakalahi et al., 2001; Kuntshe & Kuendig, 2006). Há ainda uma expectativa em que os

adolescentes que percepcionem os seus pais como bebedores excessivos, bebam mais

frequentemente e se embebedem mais regularmente que os seus pares que não tenham essa

percepção (Smith et al., 1999; White et al., 2000; cit... in Kuntshe & Kuendig, 2006). Masten e

Powell (2003, cit.. in Kuntshe & Kuendig, 2006) referem o vínculo familiar como um indicador

de qualidade parental, aparentemente um mecanismo potencialmente poderoso no

desenvolvimento ou fortalecimento de recursos e competências adaptativas. Zhang, Welt,

Wiekzorek (1999) observaram que o consumo de álcool por parte dos adolescentes diminui com

o aumento do vínculo familiar, mesmo que a família demonstre níveis elevados de consumo de

álcool. No entanto, nenhuma relação foi encontrada em famílias com níveis baixos de

consumos. Os autores concluíram que um elevado nível de vinculação familiar contrabalança os

efeitos negativos do beber excessivo por parte dos pais.

Efectivamente, em alguns estudos (Gorsuch & Butler, 1976; Kandel, Kesseler, Margulies,

1978; Barret, 1990; Johnson, 1996; citados por Beman, 1995) é sugerido que em famílias onde o

uso de drogas é elevado e onde se verificam disfunções familiares, os indivíduos têm mais

probabilidade de se envolverem com esta substância.

Van der Vorst e colaboradores, (2006, in Chassin & Handley, 2006), num estudo

longitudinal afirmam não ter encontrado ligação parental como prospectiva e preditora de

hábitos de bebida ou como moderador do efeito do controlo parental no comportamento de

beber por parte do adolescente. Isto é surpreendente atendendo a que, teoricamente, a ligação

parental deveria aumentar o poder das mensagens de sociabilização parentais, pois as crianças

seguramente ligadas acreditam que os pais os conduzirão apropriadamente e são mais receptivas

ao controlo parental (Grusec & Goodnow, 1994; Grusec et al., 2000, in Chassin & Handley,

2006). Noutros estudos longitudinais, o suporte parental e coesão familiar servia como factor

atenuador dos efeitos de fumar e beber dos pais nos mesmos comportamentos nos filhos

(Doherty & Allen, 1994; Urberg et al., 2005, in Chassin and Handley, 2006). Andrews, Hops e

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Duncan (1997, in Chassin and Handley, 2006) verificaram que um relacionamento positivo com

os pais fortalecia o efeito do consumo de substâncias por parte dos pais e no consumo de

substâncias por parte dos adolescentes (com algumas combinações de idade e género). No

entanto, a ligação parental ou envolvimento aos pais pode reduzir a exposição ou o impacto do

uso de drogas pelos pares no consumo por parte do adolescente (Darling & Cumsille, 2003;

Marshal & Chassin, 2000, in Chassin e Handley, 2006). Portanto, quer a influência da ligação

dos pais sobre os consumos do adolescente seja positiva, quer seja negativa, dependerá do

próprio consumo dos pais, das suas mensagens de socialização, das influências dos pares e das

características individuais da criança. Patock-Peckham e Morgan-Lopez (2006, in Chassin e

Handley, 2006), demonstram que a influência da família continua a predizer o comportamento

de beber mesmo na passagem a adultos. Sugerem ainda que estes efeitos contínuos se devem,

em parte, às influências parentais no desenvolvimento da auto-regulação (impulsividade). É

uma ligação notória entre as influências familiares e o risco disposicional para o abuso de

substâncias.

Ainda comparado com o abuso do álcool, o abuso das drogas tende a ser mais fortemente

relacionado com o baixo controlo do comportamento (desinibição, McGue et al., 1999);

impulsividade e baixos valores de amabilidade (Chassin et al., 2004, cit. in, Chassin et al.,

2006). No entanto, o abuso de álcool, na ausência de abuso de drogas, tende a estar mais

fortemente relacionado com a emocionalidade negativa (McGue et al., 1999, in, Chassin et al.,

2006) e com o neuroticismo (Chassin et al., 2004, in, Chassin et al., 2006). Estes últimos

autores descobriram que a impulsividade servia de mediadora entre o alcoolismo parental e a

dependência de drogas, com ou sem dependência de álcool, mas sem ligação ao consumo de

álcool por parte dos pais à dependência de álcool por si só.

Relativamente às interacções familiares horizontais, inicialmente exploradas por Coleman

(1979, in Angel & Angel, 2005), é referida a importância do subsistema familiar constituído

pela fratria. Pesquisas clínicas demonstraram que os irmãos de cocainómanos e heroinómanos

são mais frequentemente alcoólicos ou toxicómanos do que os do grupo de controlo. Existe

ainda, neste subsistema familiar, uma forte prevalência de patologias psiquiátricas graves nos

irmãos de toxicómanos. Isto remete-nos para a noção de “contágio” familiar das perturbações

psicopatológicas, elegendo a fratria como alvo prioritário da prevenção primária (Angel &

Angel, 2005).

A este respeito, Tarter e Schneider (1976, in Lawson, 1992) identificaram catorze variáveis

que influenciam a iniciação, continuação e interrupção do consumo de drogas, entre as quais

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encontram algumas variáveis familiares, nomeadamente a quantidade/hábitos de consumo, a

atitude da família face às drogas e pais demasiadamente autoritários ou protectores.

Chabrol (1992) defende que alguns factores familiares podem estar na origem do consumo

de drogas: o uso de drogas pelos membros da família, atitudes dos pais face às drogas, a

existência de psicopatologias parentais, situações familiares, relações conjugais, relações

familiares, tipo de educação, e maus-tratos familiares.

Graham (1996) refere que nos últimos dez anos a pesquisa sobre factores preditivos do

abuso de drogas revelou que vários factores pessoais, sociais e ambientais podem prever o início

e a manutenção do uso de substância ilícit.as. O National Institute of Drug Abuse (NIDA, 2002)

apontou como factores de risco o ambiente familiar caótico, particularmente aqueles cujos pais

abusam de substâncias ou sofrem de doenças mentais; parentalidade ineficaz; falha na relação

pais-filhos; comportamento inadequado na escola (agressivo versus passivo); insucesso escolar;

fracas capacidades sociais; pares desviantes; percepção de aprovação do consumo de drogas na

família, no trabalho, na escola, nos pares e no ambiente comunitário. A importância do papel

dos pares no início e manutenção dos consumos de drogas está também documentada em

diversos estudos de investigação (Kandel & Andrews, 1987; Bailey & Hubbard, 1991; Aziz &

Shah, 1994; Adrados, 1995).

Num estudo de Frazão e colaboradores (2005) foram encontrados diversos factores

familiares preditivos do abuso de drogas como a existência de relacionamentos conflituosos

entre alguns membros da família (durante a infância/adolescência dos entrevistados),

principalmente entre os pais, irmãos, e entre pais e avós; a existência de violência verbal e física

entre o casal, em que por vezes o entrevistador era envolvido; bem como em situações de

divórcio/separação do casal. Segundo Ferros (2003), em famílias monoparentais ou de

recasamento, a mobilidade residencial aumenta e o esforço económico é superior, pelo que a

supervisão e suporte parental diminuem, potencializando-se a probabilidade de consumo

(Hoffman, 1985). A ausência física ou psicológica do pai e a falta de envolvimento dos pais na

vida dos filhos foram identificadas como geradoras de sentimentos de falta de protecção, de

atenção e controlo, bem como de desresponsabilização dos pais para com a educação dos filhos,

tendo servido o consumo de drogas para chamar a atenção dos pais. No estudo de Frazão e

colaboradores (2005, p.16), “As famílias, por um lado, caracterizavam-se por terem limites

difusos, variando entre a liberdade e rigidez excessiva, tendo dificuldade em definir limites e

regras; por outro lado, exercendo o seu papel com excesso de regras e rigidez”.

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Segundo Ferros (2003), alguns jovens de famílias com pais e irmãos consumidores são

testemunhas passivas desde a infância e descrevem os consumos como algo normal, tratando-se

de um comportamento modelado e associado a sentimentos de pertença.

Relativamente a eventos significativos, Ferros (2003) refere a mobilidade residencial como

prejudicial no estabelecimento e manutenção de laços sociais e comunitários, contribuindo para

o isolamento e marginalização social com risco de aproximação a pares marginais.

Murphy (1984, in Fleming, 1996) descreve dois tipos básicos de famílias disfuncionais onde

haveria probabilidade de ocorrência de comportamentos de consumo: (1) sistema familiar

dominante/submissivo (onde o controlo é assumido pelos pais, havendo crianças pouco

afectuosas, inibidas, com mínima proximidade, deixando-lhes pouco espaço para a sua

individualidade) e (2) sistema familiar conflitual crónico (onde os pais disputam abertamente o

poder, pelo que cada decisão torna-se inevitavelmente numa luta pelo controlo).

Em estudos desenvolvidos em famílias de toxicodependentes constata-se que estas se

relacionam através de um mecanismo que envolve pai, mãe e o filho toxicodependente, num

triângulo designado de “perverso”4 (Fleming, 1996). Ainda nesta linha de pensamento, Farate

(2000) considera que o gesto adictivo não é considerado uma manobra de rejeição interna do

afecto e de tudo aquilo que ele implica e é, por isso, um arranjo relacional perverso.

Pinheiro e colaboradores, (2006) encontraram grande percepção da existência de

mecanismos e triangulação entre três elementos da tríade familiar, indicando um grande risco de

disfuncionamento ao longo da proximidade emocional. Emaranhamento, fusão interoperacional

e triangulação são as três dimensões que numericamente contextualizam esta disfunção. Neste

seguimento foi encontrada uma disfunção familiar específica: as partições hierárquicas e de

poder não são claras, em que uma pode encontrar alianças intergeracionais que leva à formação

de fronteiras difusas, trazendo dificuldades no eixo emocional de proximidade-distância, mas

também no eixo da dominação-submissão, bem como nas dimensões da intimidação

interoperacional. Como postulado por Bowen (1978, cit. in Pinheiro et al, 2006) a relação

triangular entre pais e criança constitui uma unidade estrutural que contribui para a

determinação da autonomia individual. Separação e individuação pode ser arriscado e perigoso

para a homeostasia familiar, e ter um filho adicto à cocaína pode ser fundamental para a

4 Haley descreve “triângulo perverso” como “um disfuncionamento familiar específico (…) onde a hierarquia e a repartição do poder são confusas, conduzindo a inversões de posição relativamente às fronteiras intergeracionais” (Miermot, 1987, cit. in Fleming 1996, 76). Haley (1976, cit. in Fleming 1996) refere que as características deste triângulo são o facto das pessoas que nele interagem não serem todas da mesma geração, existindo transgressões na hierarquia estabelecida entre gerações. No processo de interacção, duas pessoas de gerações diferentes formam uma coligação (união de duas pessoas contra uma terceira), contra o seu próprio par ou cônjuge. Por fim, a coligação entre as duas pessoas é denegada desde que alguém procure revelá-la, ela está presente no plano de comunicação, mas índices metacomunicativos mascaram a sua importância e escondem a sua existência.

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manutenção (embora patológica) da coligação familiar (Friedman et al., 1987; Hoffman, 1981;

Mackensen e Cottone, 1992, & in Pinheiro et al., 2006).

Não são poucas as evidências que justificam o sublinhar das práticas parentais como

importantes na compreensão da etiologia do uso de substâncias aditivas na adolescência. Um

dos comportamentos parentais contra o uso de substâncias aditivas é o suporte (Needle, Glynn

& Needle, 1983; Simons & Robertson, 1989), que inclui o orgulho, encorajamento,

manifestação de afecto físico, acompanhamento, demonstração de aprovação, amor e aceitação

(Barnes, 1990).

Adlaf e Ivis (1996) mostram que as relações e interacções no seio da família têm um grande

impacto no uso de drogas, sendo os factores de risco familiar (i) os conflitos na família, (ii) uma

disciplina parental muito permissiva, severa ou inconsistente, (iii) uma fraca vinculação

parental, (iv) situações de violência conjugal ou familiar, (v) consumo de drogas pelos pais e/ou

irmãos e a presença nos pais de psicopatologia.

Para Clayton, um factor de risco é definido como um atributo individual, uma condição

substancial ou um ambiente ou contexto que incrementam a probabilidade do abuso de

substâncias psicoactivas. Um factor de protecção é aquele atributo individual, condição

situacional, ambiente ou contexto que reduz a probabilidade de tais circunstâncias (in Mejía

Motta, 1998). Para Kandel (1978) um dos principais factores protectores é o afecto e a

proximidade aos pais, especialmente à mãe, mais que o controlo da conduta e a adesão ao grupo

social convencional (in Mejía Motta, 1998).

Entre os predictores do abuso de drogas nos adolescentes encontram-se factores como o

grau de intimidade de relação com os pais (Brook et al., 1977, 1978), o volume da relação

(Gursuch & Butler, 1976) e a reacção ao controlo parental (Kandel et al., 1978) (in Motta,

1998).

Para Ledaer e Jackson (1992), a consistência, responsabilidade e segurança nas relações

familiares facilitam o desenvolvimento dos indivíduos sãos dentro do grupo, trazendo-lhes

estabilidade, previsibilidade nas reacções e consequências de diferentes comportamentos e

situações, sensações de entendimento e controlo do meio em que se vive e transparência nas

responsabilidades que cada um dos indivíduos desempenha na sua família (in Mejía Motta,

1998).

O estado de saúde física e psicológica do indivíduo encontra-se determinado, em grande

medida, pelas condições da realidade social que o rodeiam. Sendo a família o círculo social no

qual se dá maior número de relações de carácter afectivo e o principal contexto de

aprendizagem de um indivíduo, é possível afirmar que o comportamento deste depende, em

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grande medida, do bom funcionamento da situação familiar (Cusinato, 1992, in Mejía Motta,

1998).

Segundo Umbarger (1983), na família começa-se a construir uma série de significados que

vão ter influência sobre a maneira como o indivíduo interpreta a realidade. Ou seja, no consumo

de substâncias psicoactivas, a família pode ser o primeiro meio onde se geram formas de actuar

e entender a realidade, por isso, ao estudar a família, podem-se explicar muitos dos

comportamentos dos seus membros (in Mejía Motta, 1998).

Para Recio e colaboradores (1991), existe uma alta correlação entre o consumo de

substâncias psicoactivas e insatisfação nos jovens, face às relações familiares. A qualidade da

relação do adolescente com os seus pais é o factor protector mais eficaz contra o consumo de

drogas (in Motta, 1998).

De acordo com a Teoria Sistémica, “a família é considerada como o sistema relacional

primário no processo de individuação, crescimento e mudança do indivíduo, imerso no seio do

processo de individuação, crescimento e mudança de todo o sistema familiar” (Malagoli, 1983,

in Motta, 1998), processos esses que podem ser bloqueados.

A família organiza-se em torno dos consumos de uma forma em que a “cegueira familiar5”

mantém a homeostasia, não havendo grandes flutuações do sistema e não tendo este de se

deparar com algo que vem desequilibrar ou desorganizá-lo. A família usa o segredo tanto no seu

seio, como com o meio exterior, nomeadamente com o terapeuta, de forma a paralisar a história

familiar, ao mesmo tempo que impede a evolução da própria família (Alarcão, 2000).

Relativamente à evolução do consumo de drogas, Frazão e colaboradores (2005) referem

diversos factores com influência na manutenção e impulsionamento do comportamento adictivo.

Tais factores são um casamento precoce, não preparado e planeado, em que face ao seu

insucesso os consumos adquirem novas proporções. Da mesma forma que ao observar a

repetição do “modelo familiar” ao longo das gerações no que respeita à parentalidade e

conjugalidade, os padrões são recorrentes, certos autores explicam este mecanismo de

transmissão intergeracional por um processo e identificação. Segundo Faimberg, cit.ado por

Prieur (1999), esta identificação (que só se conheceu pela memória dos outros) é possível por

um processo denominado pelo autor de “visão telescópica geracional familiar”, exprimindo a

experiência de ver, quer de perto, quer de longe, o que pertenceu aos antepassados.

Os relacionamentos amorosos, vivência destes com uma componente de dependência

afectiva muito grande (possessividade, obsessão, compulsão para a morte se perde o

companheiro), relacionamentos que envolvem violência verbal e física, desilusões amorosas que

5 Este termo designa a incapacidade de um familiar de um toxicómano dar uma interpretação coerente às mudanças que ocorrem face a uma situação de dependência (Angel & Angel, 2005).

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levam os sujeitos a sentir insegurança e falta de confiança nos outros, bem como interrupções

voluntárias da gravidez e dependência de sexo (relacionamentos extraconjugais) foram factores

encontrados por Frazão e colaborares (2005) como potenciadores dos consumos.

No que remete à personalidade, Frazão e colaboradores (1995) encontraram factores como a

forma de lidar com o corpo e identidade sexual. Segal (1983), por sua vez, refere a importância

de construtos da personalidade que podem ser chamados rebeldia, procura de autonomia,

liberalismo, vontade de ter novas experiências e luta pela independência. Num estudo deste

autor, que pretendeu perceber quais as variáveis da personalidade que distinguiam jovens que

consomem dos que não consomem drogas, sendo preponderante nos jovens consumidores a

“procura de autonomia”, o “deixar-se ir”, “impulsividade, arriscar”, “não procurar e

aparentemente necessitar de aprovação social”, “não conformismo” e “tendência para a

extroversão”.

Para Duterte e colaboradores (2003) existem muitos grupos de jovens e subculturas que

idealizam o que vai contra a norma, principalmente se isso reflectir as suas percepções da sua

própria identidade.

Outro grupo de factores foi o que se relacionou com problemas associados à sexualidade

como a identidade sexual, iniciação da vida sexual, dificuldades em lidar com o próprio corpo,

violação sexual. Ainda relativamente à identidade, Frazão e colaboradores (2005) referem o

auto-conceito, a existência de uma baixa auto-estima, o sentimento de diferença, a insegurança,

a não-aceitação de si mesmo, a carência afectiva, o abandono, a solidão, a incompreensão, a

dificuldade de estabelecer amizades, como situações para as quais, os entrevistados afirmam ter

usando a droga como factor de integração.

Neste contexto, Duterte e colaboradores (2003) referem a associação entre o uso e abuso de

drogas e a depressão feita em inúmeros estudos, em que viver com uma visão fatalista da vida

poderá ter sido uma forma dos participantes, no seu estudo, darem significado e excit.ação às

suas vidas; de sentirem que se não causam impacte na vida, provavelmente poderão causar

impacte na morte.

Num estudo de Elkins e colaboradores (2006), as perturbações em criança envolvendo baixo

controlo comportamental, desordem de conduta, desordem oposicional desafiante, desordem de

hiperactividade ou défice de atenção, mostraram associações preditivas com um contexto

precoce de problemas com bebida (antes dos 15 anos; McGue et al., 2001, in Elkins et al. 2006),

níveis elevados de uso de substâncias na adolescência (Molina & Pelham, 2001, in Elkins et al.

2006), desenvolvimento de problemas com substâncias durante a adolescência (Boyle, et al.,

1992; Disney et al. 1999; King et al., 2004; in Elkins et al. 2006), bem como uso e abuso de

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substâncias em jovens adultos (Chassin et al., 1999, in Elkins et al. 2006). Indicadores da

personalidade de baixo controlo comportamental e impulsividade também mostraram predizer o

contexto do uso de substâncias e o seu crescimento e escalada para abuso patológico de

substâncias. Num estudo prospectivo, a procura de novidade com onze anos de idade, funcionou

como preditor para o abuso de álcool em jovens adultos (Cloninger et al.,1988, in Elkins et al.

2006).

Em síntese, podemos analisar alguns elementos da estrutura e do funcionamento da família

que integra um elemento toxicodependente e que nos permite ‘categorizar’ o setting familiar do

toxicodependente.

Em termos estruturais, encontramos fronteiras ou limites pouco claros entre os subsistemas

familiares, inversão da hierarquia familiar, ausência de ligação afectiva ou distante na díade pai-

-filho, existência de coligação entre um dos progenitores e o filho toxicodependente em

oposição ao outro progenitor (Fleming, 1996).

A nível de funcionamento, encontramos alcoolismo ou abuso de drogas nos pais, separação

precoce do meio familiar e incapacidade de resolução do luto, antecedentes psiquiátricos nos

pais, grandes conflitos intrafamiliares, problemas conjugais graves, padrões de comunicação

fracos ou ausentes, laços afectivos negativos, ausentes ou inexistentes (Fleming, 1996).

As famílias dos toxicodependentes não são necessariamente disfuncionais, são sistemas

complexos, apresentando dificuldades comunicacionais e não conseguindo descobrir os seus

próprios recursos para crescer (Relvas, 1998).

O tóxico tem assim um valor funcional para o sistema familiar, pois a droga faz

aparecer/desaparecer o que se quer mostrar ou esconder. A droga manifesta um valor

comunicacional que se pode descrever a nível semântico (o que é que o consumo significa para

cada um), a nível sintáctico (o que é ou não suportado pela família), e a nível pragmático

(implicações do comportamento adictivo) (Ausloos, 1981a). A função “sintomática” da

toxicodependência, nestas famílias, tem a ver com a separação/autonomização e a deslealdade

ao grupo que ela pode significar. O consumo do tóxico na adolescência contribui para o

evitamento (da família ou jovem) do cumprimento das tarefas desenvolvimentais desta fase e o

ciclo normativo não segue o caminho esperado (Relvas, 1998).

Apesar de conseguirmos encontrar alguns elementos de estrutura e funcionamento que

caracterizam a família com elementos toxicodependentes, devemos ter parcimónia na sua

categorização, já que muitos destes elementos são coincidentes com certas culturas existentes

(Gameiro, 1994).

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Capítulo III. FACES IV

A revisão bibliográfica efectuada a propósito desta problemática permitiu-nos apurar o

seguinte:

- Olson e Killorin (1984) encontraram diferenças significativas entre famílias dependentes e

famílias não dependentes, em que as primeiras tinham níveis mais elevados de famílias

extremas. Nos seus estudos, 21% de famílias dependentes eram de tipos extremos e 32% eram

equilibradas, enquanto apenas 4% das famílias não dependentes eram de tipos extremos e 65%

eram equilibradas.

- McGoldrick e Carter (1984) afirmam que em cada fase de vida, os membros da família

detêm papéis diferentes e complexos, logo, as transições para uma nova fase constituem-se

como desafios às definições feitas uns dos outros, o que implica uma nova circulação de

informação dentro da família, introduzindo diferenças na identidade de cada um, para que esta

se adapte.

- Barnes, Banerjee e Farrell (1995) mencionam o grau de coesão familiar como mediador

dos efeitos de uma situação de stress crónico no adolescente. Observaram que a evolução do

stress, mudanças de comportamento e consumo de álcool em adolescentes filhos de pais

alcoólicos, se apresentam mais frequentemente em famílias com baixa coesão e diminuem

quando a coesão aumenta.

- Bahr (1979) afirma que quanto maior for o apego à família menor é a probabilidade de

condutas desviantes.

- Westley e Epstein (1969) verificaram, num estudo com oitenta e oito famílias no Canadá,

usando o Modelo Circumplexo para medir a coesão e adaptabilidade, que a qualidade da

harmonia entre marido-mulher era crítica para a saúde emocional do adolescente; que crianças

com lares onde a mãe ou pai é “dominado” têm mais problemas emocionais e menos

forças/resistência a crises/problemas; e que famílias que encorajassem a autonomia, tinham

adolescentes significativamente mais saudáveis emocionalmente.

- Minuchin (1974) enfatizou a importância do contínuo entre desligado e enredado

(dimensão coesão) e da adaptação familiar. Indica que enquanto as famílias tendem para

subsistemas desligados ou enredados em momentos do ciclo vital familiar (como por exemplo

uma relação enredada entre a mãe e uma criança), os subsistemas deveriam mover-se em

direcção do desligamento à medida que a criança cresce. No entanto, os sistemas que continuam

a funcionar nos extremos desta dimensão apresentam-se frequentemente com problemas.

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- Matlack e colaboradores, (1994) usaram a escala FACES III num estudo, e a coesão

familiar foi definida por dois extremos. Alta coesão familiar parecia produzir uma super

identificação com a família resultando numa extrema integração. No outro extremo da escala

estava o desligamento, caracterizando a baixa integração. Um equilíbrio entre a estrutura e a

flexibilidade foi encontrado na origem de um óptimo funcionamento familiar, enquanto os

extremos de rigidez e caos determinaram um declínio no funcionamento familiar.

- Schill e colaboradores, (1991) concluíram que uma personalidade auto-derrotista estava

ligada ao ambiente familiar com falta de coesão.

1. FACES IV versão original

FACES IV é a versão a mais recente da avaliação de auto-diagnóstico desenhada para medir

a coesão e a flexibilidade da família, por David Olson e colegas (Olson, Gorall & Tiesel, 2006).

Esta versão é baseada nos estudos principais de Judy Tiesel e Dean Gorall que foram

projectados para melhorar a adequabilidade da avaliação e medir no global as dimensões do

modelo Circumplexo, capturando a relação curvilínea hipotética com o funcionamento da

família.

Foram realizados mais de mil e duzentos artigos e dissertações publicados, usando uma

versão FACES e o Modelo Circumplexo do Sistema Marital e Familiar (Kouneski, 2002, in

Olson & Gorall, 2006). O modelo estimulou também a discussão e o debate a respeito do

funcionamento familiar de forma geral, e os conceitos da coesão e da flexibilidade de forma

mais específica. A medição do modelo incluiu as escalas de auto-avaliação da Adaptabilidade e

Coesão familiares (FACES I, II e III) e a Escala Clínica Observacional de Avaliação (CRS)

(Olson, 2000, 1993; Olson, Russell, & Sprenkle, 1989; Olson, Sprenkle, & Russell, 1979;

Thomas & Olson, 1993, in Olson & Gorall, 2006) que são utilizadas para avaliar o modelo.

1.1 Modelo Circumplexo

No Modelo Circumplexo a coesão é definida como a ligação emocional que os membros da

família têm uns pelos outros. Indicadores específicos do nível de coesão, presentes num dado

sistema familiar, inclui ligações emocionais, limites, coligações, tempo, espaço, amigos, tomada

de decisão, interesses e recreação. A flexibilidade revista é definida segundo Olson e Gorall

(2006) como “a qualidade e expressão da liderança e organização, relacionamento de papéis,

regras e negociações.” Os indicadores específicos do nível de flexibilidade presentes no sistema

familiar incluem liderança (controlo e disciplina), estilos negociais, relacionamento de regras e

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papéis. Esta definição conceptual de flexibilidade é revista para reflectir mais correctamente o

que está a ser (e foi no passado) medido pelas escalas da flexibilidade em ambas – FACES IV e

Clinical Rating Scale (CRS). A terceira dimensão do Modelo Circumplexo, a comunicação, é

definida como competências comunicacionais positivas utilizadas no sistema de casal e familiar.

É uma dimensão facilitadora e é através do uso de competências de comunicação de forma

positiva que os casais e as famílias alteram os seus níveis de coesão e flexibilidade.

A hipótese central do modelo é que cada uma das dimensões, coesão e flexibilidade, tem

uma relação curvilínea com o funcionamento familiar (os valores extremos em cada dimensão

estão associados a funcionamentos familiares problemáticos, enquanto os níveis moderados

estão relacionados com o funcionamento familiar saudável), enquanto a dimensão comunicação

tem uma relação positiva linear com o funcionamento familiar (quanto maior for a comunicação

familiar melhor o funcionamento da mesma, e vice-versa).

Com base em críticas feitas ao modelo ao longo dos anos, foram feitas alterações nas

definições conceptuais e operacionais das dimensões coesão e flexibilidade, bem como no

instrumento de auto-diagnóstico FACES.

1.2 Análise Factorial da Escala FACES IV

A estrutura factorial hipotética para os itens que suportariam a estrutura proposta pelo

Modelo Circumplexo é composta por quatro factores. Nesta estrutura factorial, os valores da

dimensão coesão elevados e baixos iriam estar em pólos opostos de cada factor, a coesão

equilibrada seria representada por um segundo factor, flexibilidade com valores elevados e

baixos constantes em pólos opostos faria parte do terceiro factor, e a flexibilidade equilibrada

seria representada por um último e quarto factor. Os resultados da análise factorial de

probabilidade máxima com rotação oblíqua, incluindo todos os itens designados para abranger

os alcances globais das dimensões coesão e flexibilidade, estão contidos na Tabela 1.

A rotação oblíqua foi escolhida devido a resultados prévios, demonstrando correlações entre

escalas designadas para abranger regiões específicas das dimensões coesão e flexibilidade

(Craddock, 2001; Franklin, Streeter, & Springer; 2001; Tiesel, 1994, in Olson & Gorall, 2006).

A matriz padrão da rotação oblíqua foi analisada em todas as análises factoriais, conforme

sugerido por Klein (1994, in Olson & Gorall, 2006) de modo a alcançar factores cujas

correlações entre os mesmos estão presentes.

Na análise factorial existiam originalmente oitenta e quatro itens. Foram revelados sete

factores com valores superiores a 1, no teste utilizado para números dos factores a manter-se.

Uma análise do scree plot para a análise factorial mostrou desnivelamento após cinco factores,

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ficando o número de factores limitado a cinco. Os itens com valores abaixo de .30 e os que

cruzam foram removidos. O número de itens foi limitado a sete e este foi o número máximo

aceitável de itens para a escala emaranhada e foi desejado que tivesse um número uniforme de

itens para cada escala. Os itens de valores mais baixos remanescentes foram então removidos,

de modo a formar escalas uniformes de sete itens.

Tabela 1: Análise factorial de todos os itens da FACES IV (adaptado de Olson, Gorall e Tiesel, 2006,p.10)

Como podemos observar na Tabela 1, as percentagens de variância cotadas para cada um

dos cinco factores, foram as seguintes: factor 1 – 27%; factor 2 – 11%, factor 3 – 7%, factor 4 –

4%, e factor 5 – 4%. A distribuição de frequência para cada item foi examinada de modo a

assegurar a variabilidade apropriada em resposta a cada item, devido ao “fraseio” extremo de

Item Factor I Coesão/ Desligado

Factor II Rígido

Factor III Caótico

Factor IV Flexibilidade

Factor V Emaranhado

Coesão 1 -.84 Coesão 2 -.77 Coesão 3 -.73 Desligado 1 .72 Coesão 4 -.72 Desligado 2 .67 Desligado 3 .64 Coesão 5 -.63 Coesão 6 -.61 Desligado 4 .60 Desligado 5 .55 Coesão 7 -.53 Desligado 6 .52 Desligado 7 .47 Rígido 1 .83 Rígido 2 .74 Rígido 3 .63 Rígido 4 .63 Rígido 5 .58 Rígido 6 .54 Rígido 7 .51 Caótico 1 .69 Caótico 2 .69 Caótico 3 .68 Caótico 4 .67 Caótico 5 .63 Caótico 6 .59 Caótico 7 .43 Flexibilidade 1 .65 Flexibilidade 2 .63 Flexibilidade 3 .62 Flexibilidade 4 .53 Flexibilidade 5 .51 Flexibilidade 6 .49 Flexibilidade 7 .48 Emaranhado 1 .68 Emaranhado 2 -.58 Emaranhado 3 -.56 Emaranhado 4 -.54 Emaranhado 5 .52 Emaranhado 6 -.50 Emaranhado 7 -.50

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diversos itens. Nenhum item teve mais de 80% de índice de resposta para uma resposta de uma

só opção.

As escalas desenvolvidas para formar o instrumento FACES IV corresponderam

directamente a quatro destes cinco factores. A excepção foi o factor 1, que contém itens que

abrangem coesão elevada e muito baixa, tendo este sido dividido em duas escalas baseadas nos

itens positivos e negativos deste factor. As escalas foram rotuladas segundo os aspectos da

coesão e flexibilidade que foram concebidas para abranger. As escalas emaranhada, coesão e

desligada foram desenhadas para abranger níveis de coesão elevados, moderados e baixos,

respectivamente; as escalas caótica, flexível e rígida foram desenhadas para abranger valores de

flexibilidade elevada, moderada e baixa, respectivamente.

1.3 Fidelidade das Escalas

Uma análise da fiabilidade do Alpha de Cronbach foi conduzida para examinar a

consistência interna das seis escalas. A análise da fiabilidade do Alpha para a validação das

escalas é incluída com finalidades comparativas. A fiabilidade das seis escalas da FACES IV é

como segue: desligado =.87, emaranhado = .77, =.83 rígido, = .85 caótico, coesão equilibrada =

.89, flexibilidade equilibrada = .80. Assim a fiabilidade é aceitável para finalidades de pesquisa,

e talvez para a aplicação a indivíduos com outros pontos da informação disponíveis. A análise

de fiabilidade do Alpha de Cronbach também foi utilizada para as escalas de validação variando

entre .91 e .93.

Tabela 2: Fidelidade de Alpha na FACES IV e Escalas de Validação (adaptado de Olson, Gorall & Tiesel, 2006,

p.13)

Escala Alpha de Cronbach

Escalas da FACES IV --

Desiquilibradas --

Desligada .87

Emaranhada .77

Rígida .83

Caótica .85

Equilibradas --

Coesão equilibrada .89

Flexibilidade equilibrada .80

Escalas Validadas --

Satisfação Familiar 93

SFI .93

FAD .91

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44

1.4 Correlação entre as Escalas da FACES IV e as Escalas de validação

A maioria das correlações entre as escalas e com escalas de validação são significativas (ver

tabela 2). Entretanto, há determinados pares de relacionamentos de escalas que são excluídos

devido às suas correlações particularmente grandes ou pequenas. Os relacionamentos

hallmarked, pelas suas correlações abrangentes, incluem aqueles que se situam entre as escalas

da FACES IV da coesão/desligada (-.80), da coesão/flexibilidade (.60), do caos/desligadas (.59),

do caos/coesão (- .53), e desligadas/flexibilidade (.50). Os relacionamentos hallmarked, pelas

suas correlações baixas ou próximas de zero, são emaranhadas/desligadas (.26),

enredadas/coesão (- .14), flexibilidade/rígido (- .11), e caos/rígido (.12).

Tabela 3: Matriz de correlação das escalas familiares (adaptado de Olson, Gorall & Tiesel, 2006,p.14)

Escala I. II. III. IV. V. VI. IX. X. XI.

I. Desligada 1

II. Coesão -.80** 1

III. Emaranhada .26** -.14** 1

IV. Rígida .28** -.14** .38** 1

V. Flaxibilidade -.50** .60** .02 -.16** 1

VI. Caos .59** -.53** .36** .19** -.30** 1

IX. SFI -.81** .88** -.16** -.12** .68** -.62** 1

X. FAD (1) -.82** .85** -.27** -.20** .63** -.63** .90** 1

XI. Satisfação familiar -.73** .80** -.17** -.12** .66** -.58** .86** .84** 1

** Correlação significativa quando p < .01 (1) a pontuação do FAD foi revertida para simplificar interpretação, valores mais altos indicam melhor funcionamento.

Encontraram-se correlações relativamente elevadas entre as escalas da FACES IV e as

escalas da validação de SFI – Familiar Satisfaction Inventory, FAD – Family Assessment

Device e de Satisfação familiar à excepção das escalas rígidas e emaranhadas, que tiveram

correlações relativamente baixas com todas as escalas restantes (ver a tabela 3). A tendência

geral entre as escalas da FACES IV e as escalas da validação, é que as primeiras, projectadas

para medir as regiões moderadas ou saudáveis da coesão e da flexibilidade (coesão equilibrada e

flexibilidade equilibrada), tiveram grandes correlações positivas com as escalas de validação

(entre .63 e .88), quando as escalas da FACES projectadas para medir os extremos elevados e

baixos do funcionamento familiar (emaranhado, desligados, caos, rígidos) tiveram grandes

correlações negativas com as escalas de validação (entre -.58 e -.82, excluindo emaranhado e

rígido).

A pontuação da escala FAD foi invertida para facilitar a interpretação, para que os valores

mais elevados sejam interpretados como menos problemáticos, ou seja, o oposto das

interpretações mais usuais das escalas.

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Tabela 4: Análise Discriminativa das famílias problemáticas e não problemáticas (adaptado de Olson, Gorall &

Tiesel, 2006, p.15)

Escala Topo vs Fundo 50% em SFI e FAD

Topo vs Fundo 40% em SFI e FAD

Topo vs Fundo 50% na Satisfação familiar

Topo vs Fundo 40% na Satisfação familiar

N para cada grupo Topo = 199 Fundo = 192 Removidos = 76

Topo = 142 Fundo = 149 Removidos =178

Topo = 231 Fundo = 228 Removidos = 10

Topo = 211 Fundo = 177 Removidos = 81

Escalas desiquilibradas - - - - Desligada 86 89 76 82 Caótica 80 85 60 77 Emaranhada 64 65 53 61 Rígida 54 55 51 52

Escalas Equilibradas - - - - Coesão 89 94 80 87 Flexibilidade 74 80 72 76

Seis escalas juntas 94 99 84 87 Valores das dimensões - - - -

Rácio Coesão 87 91 75 79 Rácio Flexibilidade 78 86 75 77 Rácio Total 85 91 80 83

Escalas de Validação - - - - SFI # # 82 86 FAD # # 82 87 Satisfação Familiar 88 93 # #

# Não reportado pois os grupos para a análise discriminativa são baseados nas mês escalas.

1.5 Análise discriminativa

Para determinar a habilidade das escalas da FACES IV de discriminar entre sistemas

familiar sem famílias problemáticas e não problemáticas, foi realizada uma análise

discriminativa para as escalas e validação da FACES IV (ver tabela 4). Os resultados são

indicados para cada uma das seis escalas introduzidas como discriminados individualmente,

independentes dos grupos de famílias problemáticas/não problemáticas, bem como para uma

análise onde as seis escalas são introduzidas juntas como variável independente.

Uma vez que este estudo não teve quaisquer grupos clínicos/não-clínicos ou

problemáticos/saudáveis pré-determinados, a amostra foi dividida em grupos problemáticos/não

problemáticos baseados em diversos critérios. Os agrupamentos para a análise discriminativa

foram baseados nas cotações dos sujeitos em instrumentos familiares previamente estabelecidos

como medidas válidas do funcionamento familiar. Se os indivíduos marcassem acima de 50%

no SFI e abaixo de 50% no FAD (onde as pontuações baixas são indicativas de uma maior

saúde) seriam atribuídos ao grupo das famílias não problemáticas. Se fosse ao contrário seriam

atribuídos ao grupo das famílias problemáticas. Os resultados para a análise discriminativa

baseada neste método de agrupamento estão listados na coluna 1 na tabela 4. Os grupos

problemáticos/não problemáticos foram criados também com base nos respondentes com

valores acima (os mais saudáveis) versus abaixo (mais problemáticos) 40% no SFI e no FAD

(coluna 2, tabela 4). Os grupos similares problemáticos/não problemáticos foram criados usando

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o elevado contra o baixo em intervalos de 50 e 40%, baseados nas pontuações individuais no

Inventário de Satisfação Familiar (SFI) (colunas 3-4 na tabela 4). O método de agrupamento

problemático/não problemático resultou na grande habilidade das escalas em discriminar

pontuações elevadas contra baixas de 40% em escalas de validação do método do FAD e do

SFI. A escala de colocação correcta foi de 55% a 94%, com média para as escalas das FACES

IV de 78%. Estes resultados devem ser interpretados com cuidado, dado a natureza restritiva dos

agrupamentos problemáticos/não problemáticos.

1.6 Seis tipos familiares baseados na FACESIV

De forma a determinar se há padrões a ocorrer naturalmente na descrição dos sistemas

familiares ao longo das seis escalas da FACES IV, foi feita uma análise Cluster. Foi realizada a

análise de Cluster médias de K (Pereira, 2006) relevante para amostras inferiores a 200. Uma

limitação da análise de Cluster tem a ver com o facto de existirem apenas guias de orientação

gerais relativamente ao número de clusters a obter de qualquer análise. O número final de

clusters é definido manualmente, estando sob o controlo do investigador. A análise de cluster

foi conduzida usando pontuações percentuais para cada uma das seis escalas para cobrir

assuntos diferindo entre si de variabilidade e curtose das subescalas (ver figura 1). Após

diversas análises usando múltiplos critérios, um grupo de clusters com seis subescalas foi

finalmente escolhido. O número escolhido foi baseado no facto de que havia ainda um

suficiente número de casos presentes para cada cluster, de modo a serem significativos.

Também quando o número de clusters foi aumentado para sete, o cluster adicional foi um

cluster sombra com valores virtualmente idênticos a um cluster previamente existente.

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47

Figura 1: Perfil da FACES IV: seis tipos familiares (adaptado Olson & Gorall, 2006,p.7)

1.6.1 Descrição dos seis tipos de família

Olson e Gorall (2006) providenciam uma nova tipologia de famílias para o estudo e análise

das relações familiares, sistematizada no instrumento FACES IV, e no Modelo Circumplexo,

em que identificam seis tipos de famílias.

Os seis tipos e família variam do mais saudável e feliz para o mais problemático e não

saudável: equilibrada, rigidamente coesa, mediana, flexibilidade desequilibrada, caoticamente

desligada e desequilibrada (ver figura 1). O desenvolvimento dos seis tipos de famílias baseados

nas pontuações das escalas providencia uma nova tipologia familiar para o estudo e análise das

relações familiares. A versão anterior do modelo Circumplexo permite uma análise das famílias

que podem ser categorizadas como equilibradas, desiquilibradas e medianas. Esta nova tipologia

irá permitir uma comparação dos seis tipos de família, atendendo a uma grande variedade de

critérios e variáveis. Famílias individuais podem ser comparadas com estes seis tipos familiares

e a análise pode ser feita relacionada com outras características destes seis tipos familiares.

- Equilibradas, caracterizadas por um elevado funcionamento saudável e baixo nível de

funcionamento problemático. Hipoteticamente, estas famílias lidam bem com os elementos

stressores do dia-a-dia e com as mudanças relacionais na família ao longo do tempo.

PE

RC

EN

TAG

EM

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48

- Rigidamente equilibradas, com níveis elevados de aproximação emocional e rigidez.

Hipoteticamente, estas famílias funcionam bem a maioria das vezes, dado o seu nível de

proximidade; no entanto, podem ter dificuldades em realizar as mudanças requeridas pela

situação ou mudanças ao nível do desenvolvimento, devido à sua levada rigidez.

- Médias, por hipótese, estas famílias funcionariam bem, não apresentando níveis extremos

de factores de força e protecção, nem de factores de risco.

- Flexivelmente desequilibradas, famílias, à partida, a indicar um funcionamento

problemático; no entanto, como demonstram níveis elevados de flexibilidade, teriam as

competências para alterar alguns níveis problemáticos quando necessário. Este é o tipo de

famílias considerado pelos autores como sendo o mais difícil de caracterizar.

- Caoticamente desligadas, têm por hipótese corresponder a famílias problemáticas baseado

numa falha de proximidade emocional e níveis baixos de flexibilidade, o que demonstra uma

grande dificuldade em promover mudanças.

- Desequilibradas, são o espelho exacto das famílias equilibradas (oposto), caracterizadas

por pontuações elevadas nas quatro escalas desequilibradas e baixas pontuações nas duas

escalas equilibradas. São hipotetisadas como sendo as famílias mais problemáticas em

termos gerais de funcionamento, com grandes lacunas nos factores força e protecção. São as

mais prováveis de encontrar em terapia.

1.6.2 Nível de funcionamento dos seis tipos familiares

Numa tentativa de avaliar a validade dos tipos familiares desenvolvidos através da análise

de cluster, foi realizada uma análise de variância com análise tendência linear. A análise

examinou as pontuações tendenciais para as escalas de validação – self report family inventory

(SFI) Family assessment Device (FAD) e a Family Satisfaction Scale (FSS). Os resultados

indicaram uma tendência linear significativa quando as pontuações estão ordenadas “do mais

saudável para o mais problemático” baseados no nível de saúde ou problema (do equilíbrio para

o desequilíbrio (ver Tabela 5). A tendência linear, valor F, é consideravelmente maior que a

simples ANOVA entre grupos de valor F, indicando uma tendência linear presente nas

pontuações das escalas de validação quando comparando clusters. A presença de tendências

lineares suporta a contenção de que há de facto diferenças nos níveis de funcionamento ao longo

dos seis tipos familiares desenvolvidos. As diferenças nas escalas de validação espelham o

previsto baseado nas descrições dos tipos familiares sublinhados acima. Os tipos familiares

equilibrados foram mais funcionais no SFI, FAD e tinham os valores da satisfação familiar mais

altos (FSS), comparados com os tipos familiares desequilibrados.

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49

Tabela 5: Pontuações de validação para os seis tipos familiares (adaptado de Olson & Gorall, 2006,p.9)

Escalas de validação

Equilibrada n=99

Rigidamente eqibilbradas

n=103

Médias

n=72

Flexivelmente desiquilibrada

N=50

Caóticamente desligada

n=63

Desiquilibrada

n=57

Entre grupos

F

Termo Linear

F SFI 74.9 71.2 65.9 59 48 46 171.6* 828.7* (4.7)a (5.6) (6) (8.1) (10.2) (12.9) FAD** 15.8 18.6 21.5 29.1 32.5 35.5 139.8* 680.1* (3) (3.6) (4.4) (6.8) (7.6) (9.7)

43.6 41.4 37.4 34.1 28.3 25.8 112* 545.9* Satisfação familiat (4.2) (4.3) (5.3) (5.9) (7.3) (8.1) Desvios-padrão contidos entre parêntesis. * p < .001 ** Pontuações mais baixas indicam um funcionamento mais saudável

1.6.3 Rácio de pontuações para os seis tipos familiares

O rácio de coesão e flexibilidade e os rácios de pontuação totais do Modelo Circumplexo

foram calculados para cada um dos seis tipos familiares. Quanto mais os valores do rácio se

distanciam positivamente do valor 1 mais saudável é o sistema familiar, e quanto mais os

valores do rácio se distanciam negativamente do 1 mais problemático é o sistema familiar.

O rácio de cotação da coesão foi calculado dividindo o valor coesão pela média dos valores

das escalas desligada e emaranhada. O rácio de cotação da flexibilidade foi calculado dividindo

o valor flexibilidade pela média dos valores das escalas rígida e caótica. O rácio Circumplexo

total é designado como um sumário das características de equilíbrio familiar (saúde) e de

desequilíbrio (problema) num só valor. Este foi calculado pela divisão da média das escalas

equilibradas (coesão e flexibilidade) pelas desequilibradas (rígida, emaranhada, caótica e

desligada). Quanto mais alto o valor do rácio, mais equilibrado era o sistema familiar.

As descobertas vão no seguimento do que vem sendo dito, em que o tipo familiar

equilibrado tem o rácio mais elevado de 2,5, sendo definido como o mais “mutável”, seguido

pelo rigidamente balanceado com um rácio de 1,3; o desequilibrado, com um rácio de 0.24, e

caoticamente desligado, com um rácio de .38, foram os tipos menos saudáveis. O mediano,

como o próprio nome indica, encontrou-se entre estes dois extremos e teve um rácio perto de 1;

estando o desequilibrado flexível mais no desequilibrado com um rácio de .75. A validade

destes rácios é também suportada pelo facto de que estes valores são muito congruentes com os

de outras escalas de validação, como a SFI, FAD e FSS, presentes na tabela 5. Como com as

escalas de validação, há um decréscimo linear no rácio, quando nos movemos dos tipos

familiares equilibrados para os desequilibrados.

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Figura 2: Modelo Circumplexo e Pontuações da FACES IV (adaptado de Olson & Gorall, 2006,p. 5)

Uma das vantagens rácio de pontuação equilibrado/desequilibrado é a de providenciar uma

abordagem metodológica para avaliar a curvilinearidade da coesão e flexibilidade, como

podemos compreender pela figura 2. Quanto mais os valores do rácio se distanciam

positivamente do 1, mais equilibrado é o sistema. Contrariamente, quanto mais os valores do

rácio se distanciam negativamente do 1, mais desequilibrado é o sistema. Este rácio de

pontuação permite uma sumarização das áreas relativas às forças e problemáticas num só valor,

evitando, assim, algumas das complexidades das pontuações dos seis valores.

Tabela 6: Seis tipos familiares – Rácio de Coesão, Rácio de Flexibilidade e Rácio Total Circumplexo (adaptado de

Olson & Gorall, 2006,p.11)

Tipologia Familiar Rácio de Coesão (1) Rácio de Flexibilidade (2)

Rácio Circumplexo

Total (3)

Coesão equilibrada

Desligado Emaranhado

Rácio de Coesão

Flexibilidade Equilibrada

Rígifo Caótico

Rácio de Flexibilidade

Equilibrado 83 27/38 2.6 80 35/33 2.4 2.5 Rigidamente equilibrado

72 39/58 1.5 57 76/38 1 1.3

Mediano 47 55/53 .87 47 28/45 .77 .82 Flexivelmente desequilibrado

38 76/44 .63 68 74/81 .87 .75

Caoticamente desligado

18 81/44 .29 25 28/79 .47 .38

Desequilibrado 18 83/69 .24 19 81/75 .24 .24 (1) Rácio de Coesão = Coesão equilibrada / (Desligado + Emaranhado / 2) (2) Rácio de Flçaxibilidade = Flexibilidade equilibrada / (Rígido + Caótico / 2) (3) Rácio Circumplexo Total = Rácio de Coesão + Rácio de Flexibilidade / 2 ou (Coesão equilibrada + Flexibilidade equilibrada / 2) / (Desligado + Emaranhado + Rígido + Caótico / 4)

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51

1.6.4 Famílias equilibradas versus famílias caoticamente desligadas

Foram traçados dois tipos familiares contrastantes (representados na figura 3), que contém

os tipos familiares equilibrado e caoticamente desligado, que são traçados no perfil da FACES

IV. O tipo equilibrado tem valores elevados na coesão e flexibilidade equilibradas e baixa

pontuação nas restantes quatro desequilibradas. Contrastando, o tipo caoticamente desligado

tem básicos valores na coesão e flexibilidade equilibradas e valores elevados nas restantes

quatro desiquilibradas. Um novo sistema de cotação de perfil foi desenvolvido baseado nas seis

escalas da FACES IV. Este sistema permite que as pontuações das escalas sejam interpretadas

como avaliações separadas dos diferentes aspectos do funcionamento familiar. Ao mesmo

tempo, também permite a compilação e comparação destes valores para qualquer família.

Acreditam que quanto mais detalhada for a perspectiva oferecida pelo sistema de cotação do

perfil, mais útil será em ambiente clínico ajudando a guiar o trabalho terapêutico. Em conjunto

com este sistema de cotação do perfil, pode ser traçado um perfil familiar contra os seis tipos

familiares (da análise de cluster já discutida). Este sistema de cotação de perfil oferece uma

avaliação mais compreensiva e complexa do funcionamento familiar do que as versões das duas

escalas (coesão e flexibilidade) anteriores do instrumento FACES.

Figura 3: Perfil da FACES IV: Equilibradas versus Caoticamente Desligadas (adaptado de Olson & Gorall,

2006,p.12)

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52

A Faces IV permitiu alcançar muitos dos objectivos para a revisão do instrumento. A análise

de cluster foi conduzida a revelar seis tipos familiares baseados nas seis escalas familiares

desenvolvidas. Para além de providenciar uma base de comparação de dados familiares

individuais, o desenvolvimento destes seis tipos familiares baseados em pontuações da escala

providencia uma nova tipologia familiar para o estudo e análise das relações familiares. Os

autores acreditam que o resultado final é de um instrumento que será útil em ambos os campos,

da clínica e pesquisa. As hipótese testam que as famílias equilibradas são mais saudáveis e

funcionais que os sistemas familiares desequilibrados, através das seis escalas e dos valores dos

rácios.

Os clínicos quererão explorar as escalas individualmente, usando a especificidade oferecida

pela combinação das escalas equilibradas e desequilibradas para auxiliar a planear, seguir e

avaliar a terapia que realizam com as famílias.

A versão anterior do Modelo Circumplexo permitiu uma análise das famílias que podiam ser

categorizadas como equilibradas, desequilibradas ou medianas. Esta nova tipologia permite a

comparação de seis tipos familiares diferentes, atendendo a uma vasta variedade de critérios e

variáveis.

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53

B. ESTUDO EMPÍRICO

1. PERCURSO METODOLÓGICO

1.1 Instrumentos utilizados (QSD e FACES IV)

Para a recolha de dados para o nosso estudo recorremos a dois instrumentos, um

questionário sócio demográfico, e uma tradução para português da escala americana FACES IV.

1.1.1 QUESTIONÁRIO SOCIO-DEMOGRÁFICO (QSD)

O Questionário Socio-demográfico teve como objectivo caracterizar os sujeitos da amostra,

recolhendo os seus dados biográficos, no que respeita à faixa etária, habilitações literárias,

situação face a emprego, representados na Parte I do questionário, enquanto a história dos

consumos para os sujeitos toxicodependentes está compreendida na Parte II.

Os QSD aplicados são ligeiramente diferentes para os sujeitos toxicodependentes e para os

restantes sujeitos, sendo comum aos dois: uma breve explicação da confidencialidade dos dados,

instruções e data de preenchimento e identificação por número (para haver identificação com o

familiar correspondente). O QSD é composto, na primeira parte, de recolha de dados

biográficos, por 16 perguntas (igual para todos os sujeitos da amostra), a segunda parte existente

apenas nos QSD dos sujeitos toxicodependentes e remete para história dos consumos através de

sete questões (ver Anexo II).

1.1.2 FACES IV versão traduzida

Atendendo ao que pretendemos estudar, optámos pela utilização da escala FACES IV, cuja

versão original com todas as suas características apresentámos anteriormente. No entanto para

que pudesse ser aplicada à população portuguesa procedemos à tradução da mesma seguindo

todos os requisitos para que esta tivesse credibilidade e validade.6

Esta última versão (IV) da FACES é constituída por sessenta e dois itens, sendo que as

subescalas equilibradas coesão e flexibilidade, e as subescalas desiquilibradas desligada,

emaranhada, caótica e rígida são cada uma composta por sete itens; as subescalas comunicação

e satisfação contêm dez itens cada. Na tabela que se segue observamos quais as questões

correspondentes a cada subescala. 6 Entretanto tivemos conhecimento, no curo da redacção deste trabalho de investigação, da existência de uma outra versão portuguesa da FACES IV, realizada por Rolim, Rodrigues, Coelho e Lopes (2005,2006). Com essa mesma versão Rui Sá (2008) realizou um estudo exploratório para a população portuguesa. Sabemos também que na Universidade do Minho se tem realizado algum trabalho com a FACES IV, nomeadamente sob a orientação da Doutora Graça Pereira. Contudo, não temos conhecimento de publicações ou outros documentos escritos escritos já concluidos resultado desse trabalho.

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54

Tabela 7: Perguntas correspondentes a cada subescala da FACES IV (versão adaptada Olson & Gorall, 2006).

Coesão Equilibrada 1. Os membros da família estão envolvidos nas vidas uns dos outros. 7. Os membros da família sentem-se muito próximos uns dos outros. 13. Os membros da família apoiam-se uns aos outros, durante tempos difíceis. 19. Os membros da família consultam outros membros da família em decisões importantes. 25. Os membros da família gostam de passar algum do seu tempo livre uns com os outros. 31. Apesar dos membros da família terem interesses individuais ainda participam nas actividades da família. 37. A nossa família é equilibrada ao nível da separação e aproximação. Flexibilidade Equilibrada 2. A nossa família tenta novas formas de lidar com os problemas. 8.Os pais partilham igualmente a liderança na nossa família. 14. A disciplina é justa na nossa família. 20. A minha família é capaz de se ajustar a mudanças quando é necessário. 26. Nós alternamos as responsabilidades domésticas, de pessoa para pessoa. 32. Nós temos regras e papéis claros, na nossa família. 39. Os membros da família agem principalmente de forma independente. Escala Desequilibrada Desligada 3. Nós damo-nos melhor com pessoas fora da nossa família do que de dentro. 9. Os membros da família parecem evitar o contacto uns com os outros quando estão em casa. 15. Os membros da família sabem muito pouco acerca dos amigos dos outros membros da família. 21. Os membros da família estão por sua conta quando há um problema a ser resolvido. 27. A nossa família raramente faz coisas juntas. 33. Os membros da família raramente dependem uns dos outros. 39. Os membros da família agem principalmente de forma independente. Escala Desequilibrada Emaranhada 4. Nós passamos tempo demais juntos. 10. Os membros da família sentem-se pressionados para passar a maior parte do tempo livre juntos. 16. Os membros da família estão demasiado dependentes uns dos outros. 22. Os membros da família têm pouca necessidade de amigos fora da família. 28. Nós sentimo-nos demasiado ligados uns aos outros. 34. Na nossa família ressentimo-nos quando alguém faz coisas fora da família. 40. Os membros da família sentem-se culpados quando querem passar tempo afastados da família. Escala Desequilibrada Rígida 5. Há consequências rígidas para a quebra de regras na nossa família. 11. Existem consequências claras quando um membro da família faz algo de errado. 17. A nossa família tem uma regra para quase todas as situações possíveis. 23. A nossa família é altamente organizada. 29. A nossa família fica frustrada quando há uma mudança nos nossos planos ou rotinas. 35. É importante seguir as regras na nossa família. 41. Uma vez tomada uma decisão é muito difícil modificar essa decisão. Escala Desequilibrada Caótica 6. Nós nunca 12. É difícil saber quem é o líder na nossa família. 18. É difícil levar a cabo as coisas na nossa família. 24. Não é claro quem é responsável pelas coisas (pequena tarefa, actividades) na nossa família. 30. Não há liderança na nossa família. 36. A nossa família não tem consciência de quem faz as diversas tarefas domésticas. 42. A nossa família sente-se sempre sobre pressão e desorganizada. Escala do nível de Comunicação 43. Os membros da família estão satisfeitos com a forma de comunicar uns com os outros. 44. Os membros da família são muito bons ouvintes. 45. Os membros da família exprimem afecto uns pelos outros. 46. Os membros da família são capazes de pedir uns aos outros o que querem. 47. Os membros da família conseguem calmamente discutir os problemas uns com os outros. 48. Os membros da família discutem as suas ideias e convicções uns com os outros. 49. Quando membros da família fazem perguntas uns aos outros recebem respostas honestas. 50. Os membros da família tentam compreender os sentimentos uns dos outros. 51. Quando zangados, os membros da família raramente dizem coisas negativas sobre cada um dos outros. 52. Os membros da família expressam os seus verdadeiros sentimentos uns aos outros.

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55

Escala do nível de Satisfação 53. O grau de proximidade entre os membros da família. 54. A capacidade da família em lidar com o stress. 55. A capacidade da família em ser flexível. 56. A capacidade da família em partilhar experiências positivas. 57. A qualidade de comunicação entre os membros da família. 58. A capacidade da família para resolver conflitos. 59. A quantidade de tempo que passam em conjunto, como uma família. 60. A forma como os problemas são discutidos. 61. A justiça das críticas na família. 62. A preocupação dos membros da família uns com os outros.

Para melhor compreender a cotação das diferentes subescalas (A. Coesão; B. Flexibilidade;

C. Desligada; D. Emaranhada; E. Rígida; F. Caótica), apresentamos as tabelas 8 e 9, com as

grelhas para a cotação e instruções sistematizadas.

Tabela 8: Grelha de cotação da FACES IV para a definição das pontuações nas suas subescalas (versão adaptada

Olson & Gorall, 2006).

Grelha de Cotação da FACES IV 1.__ 2. __ 3. __ 4. __ 5. __ 6. __ 7. __ 8. __ 9. __ 10. __ 11. __ 12. __ 13__ 14. __ 15. __ 16. __ 17. __ 18. __ 19. __ 20. __ 21. __ 22. __ 23. __ 24. __ 25. __ 26. __ 27. __ 28. __ 29. __ 30. __ 31. __ 32. __ 33. __ 34. __ 35. __ 36. __

Coe

são

e Fl

exib

ilida

de

37.__ 38. __ 39.__ 40. __ 41. __ 42. __ Total A___ B___ C___ D___ E___ F__

43.__ 44.__ 45.__ 46.__ 47.__ 48.__ Comunicação

49.__ 50.__ 51.__ 52.__ 53.__ 54.__ 55.__ 56.__ 57.__ 58.__

Satisfação 59.__ 60.__ 61.__ 62.__

Colocar o valor de cada resposta no número correspondente. Somar na vertical obtendo o valor de A, B, C, D E, F, G. (subescalas da FACESIV). Somar todos os valores das escalas comunicação e satisfação. Somatório de valores da P.1 a P.52 1. Discordo; 2. Fortemente Discordo 3. Não concordo nem discordo 4. Concordo; 5. Concordo Fortemente Somatório de valores da P.53 a P.62 1. Muito Descontente; 2. Um tanto Descontente 3. Geralmente Satisfeito; 4. Muito Satisfeito 5. Extremamente Satisfeito

Devemos somar os valor das respostas correspondentes às perguntas pertencentes a cada

subescala e recorrer às tabelas constantes no Anexo III, para a conversão dos valores brutos em

valores percentuais.

Tabela 9: Grelha de transformação dos resultados brutos das subescalas da FACES IV em resultados padronizados

(versão adaptada Olson & Gorall, 2006).

Resultado bruto da escala Percentis Resultado bruto da escala Percentis

__________ A converte para ______ % __________ D converte para ______ %

__________ B converte para ______ % __________ E converte para ______ %

__________ C converte para ______ % __________ F converte para ______ %

Por fim, para a obtenção dos rácios da Coesão, Flexibilidade e Total da escala FACES IV,

podemos utilizar as seguintes fórmulas:

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Rácio de Coesão = Coesão equilibrada/ (Desligada+emaranhada/2)

Rácio de Flexibilidade = Flexibilidade equilibrada/(desligada+emaranhada/2)

Rácio Total Circumplexo = Rácio da Coesão + Rácio da Flexibilidade / 2.

1.2 Variáveis

No seguimento da escolha do instrumento surge a identificação das variáveis, tendo sido

identificadas como variáveis independentes: os tipos de família, com e sem elemento

toxicodependente e variáveis independentes mediadoras, tais como sexo, idade, estado civil,

escolaridade, profissão, situação face ao emprego, estrutura familiar, número de filhos, lugar

que ocupa no seio da família, com quem vive, quais os problemas de saúde, idade de início de

consumo, as substâncias inicialmente consumidas e as de eleição, bem como o tempo de

consumo e o de tratamento.

As variáveis dependentes são compostas pelas dimensões da FACES IV, contendo as

subescalas equilibradas coesão e flexibilidade, as subescalas desequilibradas desligada,

emaranhada, rígida, caótica e ainda as subescalas satisfação e comunicação. De acordo com a

versão original da escala FACES IV, os valores extremos traduzem um desequilíbrio familiar e

os valores moderados um equilíbrio familiar a nível das duas dimensões coesão e flexibilidade

(Olson, 1981).

1.3 Modelo Conceptual

Figura 4: Modelo Conceptual, das relações entre as variáveis do estudo empírico.

- Escala Equilibrada Coesão

- Escala Equilibrada Flexibilidade

- Escala Desequilibrada Desligada

- Escala Desequilibrada Emaranhada

- Escala Desequilibrada Rígida

- Escala Desequilibrada Caótica

- Escala Comunicação

- Escala Satisfação

- Escala Faces VI Total

Variáveis Dependentes – FACES IV

- Família Com elemento Toxicodependente - Família Sem elemento Toxicodependente

Variáveis Independentes

Variáveis Independentes (mediadoras)

- Sexo - Idade - Escolaridade/Habilitações Literárias - Profissão - Situação face ao emprego - Número de filhos - Estrutura da família - Lugar que ocupa no seio a família - Problemas de saúde - Historial de consumo e tratamentos

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57

Através do Modelo Conceptual procuramos definir as nossas hipóteses, tentando perceber se

as variáveis independentes teriam ou não alguma influência nas variáveis dependentes. Ou seja,

se a tipologia familiar, bem como as características individuais ao nível do sexo, escolaridade,

profissão, estrutura familiar, entre outras, influenciariam o relacionamento familiar medido pela

FACES IV.

1.4 Procedimentos

Com base no Modelo Conceptual, foi nossa opção ministrar um protocolo (com base num

instrumento de avaliação americano traduzido para português), recorrendo assim a uma técnica

de investigação quantitativa, de administração indirecta, no nosso caso em particular. O

inquérito foi ministrado num primeiro grupo a sessenta e seis sujeitos jovens e adultos

actualmente em tratamento, sem estar sob o efeito de substâncias alteradoras do estado de

consciência, internados em clínicas de recuperação de toxicodependentes e alcoólicos (num total

de vinte clínicas de norte a sul do país) e a um familiar de cada sujeito, perfazendo um total de

cento e trinta e dois inquiridos. A aplicação do inquérito foi feita indirectamente, dado que os

protocolos foram enviados por correio entre Fevereiro e Março de 2007 para as diversas

clínicas, após contacto telefónico com o psicólogo ou responsável terapêutico pelo grupo, em

que foram dadas todas as instruções de preenchimento e selecção da amostra. Foi solicitado

ainda que os respondentes tivessem idades superiores a doze anos, se encontrassem no seu

estado normal de consciência e fosse fácil o acesso a um familiar de modo a cruzar a

informação e percepcionar a dinâmica familiar. Foram recepcionados os protocolos entre Março

e Maio de 2007.

Num segundo grupo, foram entregues questionários a sessenta e seis sujeitos sem historial

de adicção (no seu percurso ou no percurso de um familiar) e a pelo menos um familiar seu,

obtendo assim a perspectiva de sessenta e seis famílias (por cada família respondem dois

elementos) sem historial de consumos. A entrega a esse segundo grupo incidiu maioritariamente

em sujeitos da rede laboral, familiar e de amigos da autora do trabalho que aqui é apresentado e

seus respectivos círculos, tendo estes sido entregues e recepcionados entre Fevereiro e Maio de

2007.

Os protocolos e respectivas instruções para cada um dos grupos foram ligeiramente

diferentes, não constando no segundo grupo as questões referentes ao historial de consumos,

uma vez que tal situação não se aplica àquelas pessoas. As instruções foram adaptadas para cada

grupo, atendendo ainda ao facto de que num primeiro grupo foram formados técnicos acerca das

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58

instruções a dar aos sujeitos que iriam responder ao questionário, e num segundo grupo todas as

informações deviam constar nas instruções, dada a inexistência de um elemento orientador junto

de cada inquirido.

No presente estudo, a amostra é aleatória simples, seleccionada randomicamente, já que

todos os sujeitos, supostamente, tiveram igual oportunidade de nela se integrar. Foi apenas

definida uma única condição, que se traduziu na necessidade em serem inquiridos apenas

sujeitos com idade superior a doze anos e no seu estado normal de consciência, sem influência

de substâncias alteradoras do mesmo.

1.5 Procedimento estatístico

Tendo em conta as variáveis definidas na presente investigação, foi realizado através do

Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), análise das qualidades psicométricas:

sensibilidade, permitindo verificar a dispersão de itens e variabilidade através de medidas de

tendência central como a média e coeficientes de simetria e curtose, que permitem ver o

achatamento e enviesamento; validade, através da análise factorial é verificada a força da

escala, que permite uma comparação com a versão original americana da FACES IV; fidelidade,

obtendo valores de consistência interna através do Alpha de Cronbach, correlação item total e se

item excluído.

Foram também feitas análises descritivas das diversas características da amostra e a relação

entre cada uma delas e o tipo de família (com e sem elemento toxicodependente). Por fim,

foram realizadas análises correlacionais através do Kruskall-Wallis e Post-hoc Tamhane. Os

resultados do teste Kruskall-Wallis são utilizados para comparar a diferença entre a média de

cada uma das dimensões da escala FACES IV em cada tipologia familiar, com as diferentes

características da família como a idade, sexo, habilitações literárias, profissão, estrutura da

família, etc. (que atingem uma significância estatística com valores inferiores a 0,05), o que vai

permitir explicar as diferenças nas diversas dimensões da escala.

Foram feitas as análises estatísticas tendo por base a nossa amostra. No entanto, os factores

da escala FACES IV usados, nas diferentes análises, foram os factores encontrados na versão

americana, com os dados da amostra do nosso estudo.

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59

2. QUALIDADES PSICOMÉTRICAS

Procedemos á avaliação das qualidades psicométricas da FACES IV na nossa amostra.

2.1 Sensibilidade7

Para analisar a sensibilidade do instrumento optou-se pela comparação de médias, a sua

variabilidade e dispersão de itens (Média, Desvio Padrão, Máximo e Mínimo), de modo a

conferir ao instrumento a capacidade para discriminar os sujeitos.

Tabela 10: Análise do coeficiente de Simetria e Curtose da amostra.

Simetria Curtose N Mínimo Máximo Média D.P. Variância Estats Erro Valor Estats Erro Valor

Nível da coesão familiar 256 10 95 50,57 22,536 507,885 -,067 ,152 -,4407 -,949 ,303 -3,13

Nível de flexibilidade 249 10 96 52,24 15,838 250,847 -,382 ,154 -2,48 ,121 ,307 ,394

Nível d desligamento da família 249 12 75 30,57 11,646 135,625 ,807 ,154 5,24 ,797 ,307 2,596

Nível de interligação emaranhada da família 243 13 64 34,13 11,305 127,806 ,779 ,156 5,058 ,534 ,311 1,717

Nível de Rigidez das relações na família 252 16 90 39,02 14,129 199,617 ,818 ,153 5,346 ,126 ,306 ,4117

Nível de uma relação caótica na família 248 13 75 31,34 12,387 153,439 1,160 ,155 7,48 1,212 ,308 3,935

Nível da Comunicação entre os elementos da família 256 10 99 53,43 23,948 573,485 -,241 ,152 -

1,585 -,877 ,303 -2,894

Nível da satisfação no seio da família 255 10 99 37,55 24,828 616,414 ,816 ,153 5,333 -,369 ,304 -

1,213

Rácio do nível de coesão familiar 231 1 3 1,56 ,430 ,185 ,831 ,160 5,19 ,910 ,319 2,852

Rácio do nível de flexibilidade familiar 231 1 3 1,29 ,293 ,086 1,469 ,160 9,18 10,15

3 ,319 31,82

Rácio total do nível familiar 212 1 3 1,44 ,323 ,104 ,425 ,167 2.544 ,363 ,333 1,09

Valid N (listwise) 205

A amostra manifesta valores maioritariamente superiores a 2 no que respeita à simetria,

demonstrando uma distribuição assimétrica. Relativamente à curtose, cinco subescalas da

FACES IV apresentam valores superiores a 2, sendo uma distribuição achatada enviesada,

outras cinco subescalas apresentam valores inferiores a 2, o que representa uma distribuição

mesocúrtica, e uma subescala é achatada com valores inferiores a -2 (tabela 10).

2.2 Validade8

7 Pela análise do coeficiente de simetria (enviesamento à direita ou esquerda mediante o valor obtido dividindo o valor estatístico pelo erro), se o valor for inferior a 2 significa que a distribuição é simétrica, pertencendo a um intervalo de confiança de 95%; se o valor for superior a 2, significa uma distribuição assimétrica, não pertencendo ao intervalo de confiança mencionado. Por fim, a curtose representa o grau de achatamento em relação à curva normal, à esquerda/negativo ou à direita/positivo, em que se os valores foram abaixo de -2 é uma distribuição achatada, enviesada à esquerda ou platicúrtica; se o valor for inferior a 2, denomina-se de mesocúrtica; se valor superior a 2, estamos perante uma distribuição achatada ou leptocúrtica. 8 Nos questionários e inventários, os itens não se encontram formulados no sentido de diferenciar os sujeitos de acordo com a suas dificuldades, pelo contrário, solicita-se que os sujeitos respondam a todos os itens, afirmando que não existem boas nem

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60

A validade interna ou poder discriminativo refere-se ao grau em que determinado item se

diferencia no mesmo sentido do teste global. O poder discriminativo é um coeficiente que pode

variar entre -1,0 e +1,0. Um coeficiente negativo significa que são os sujeitos com pior

desempenho no teste global que melhor realizam o item em causa (situação inversa da que é

esperada dos itens de um teste).

Podemos verificar na validade de uma escala a nitidez da sua estrutura factorial, por quantos

factores e itens é composta e se possui outliers que devem ser eliminados pela decomposição

factorial da escala.

Uma estrutura factorial nítida é indiciada quando, em cada factor, os coeficientes de

correlação dos itens são altos com o próprio factor e em geral baixas ou opostas a outros

factores. Um dos métodos utilizados para a análise factorial é o “método de componentes

principais com rotação varimax”.

más respostas. O cálculo do índice e discriminação dos itens nestas escalas (Likert) é feito correlacionando a pontuação do item e a nota total da escala ou subescala a que pertence (Reliability Analysis – SPSS). Aos valores mais elevados, de poder discriminativo, associam-se coeficientes mais elevados de fidelidade, pois vão no sentido da homogeneidade da prova.

A validade externa, consiste na relação que existe entre as respostas dos sujeitos a um item e o seu desempenho numa outra situação que não o próprio teste (variável critério). Múltiplos critérios podem ser utilizados dependendo muitas vezes da sua disponibilidade na prática, ou, eventualmente, de outras provas já existentes e bem apreciadas. Dado que a construção de uma prova envolve diversas aplicações e amostras, alguns autores defendem a realização de estudos cross-validação de resultados como forma de garantir a sua posterior generalização. As questões de validade das medidas psicossociais podem entender-se como um processo contínuo de apreciação da qualidade da informação recolhida, de acordo com o momento, o grupo e o contexto das próprias investigações. A validade interna relaciona-se com a consistência e homogeneidade, enquanto a externa se liga mais à prática com maior poder preditivo. Assim sendo, os melhores itens a incluir numa prova são os que apresentam níveis mais elevados de ambos os coeficientes; no entanto, nem sempre existe coincidência entre ambos.

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61

Tabela 11: Análise factorial da nossa amostra, factores 1 a 7.

Componentes Itens

F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7

48. Os membros da família discutem as suas ideias e convicções uns com os outros. ,713 49. Quando membros da família fazem perguntas uns aos outros recebem respostas honestas. ,713

46. Os membros da família são capazes de pedir uns aos outros o que querem. ,688 43. Os membros da família estão satisfeitos com a forma de comunicar uns com os outros. ,685 52. Os membros da família expressam os seus verdadeiros sentimentos uns aos outros. ,675 45. Os membros da família exprimem afecto uns pelos outros. ,669 44. Os membros da família são muito bons ouvintes. ,668 50. Os membros da família tentam compreender os sentimentos uns dos outros. ,664 37. A nossa família é equilibrada ao nível da separação e aproximação. ,522 47. Os membros da família conseguem calmamente discutir os problemas uns com os outros. ,518

23. A nossa família é altamente organizada. ,436 42. A nossa família sente-se sempre sobre pressão e desorganizada. -,425 7. Os membros da família sentem-se muito próximos uns dos outros. ,415 2. A nossa família tenta novas formas de lidar com os problemas. ,381 8.Os pais partilham igualmente a liderança na nossa família. ,378 55. A capacidade da família em ser flexível. ,779 61. A justiça das críticas na família. ,767 54. A capacidade da família em lidar com o stress. ,743 60. A forma como os problemas são discutidos. ,691 58. A capacidade da família para resolver conflitos. ,629 57. A qualidade de comunicação entre os membros da família. ,604 53. O grau de proximidade entre os membros da família. ,575 56. A capacidade da família em partilhar experiências positivas. ,558 51. Quando zangados, os membros da família raramente dizem coisas negativas sobre cada um dos outros. ,517

59. A quantidade de tempo que passam em conjunto, como uma família. ,456 62. A preocupação dos membros da família uns com os outros. ,429 17. A nossa família tem uma regra para quase todas as situações possíveis. ,765 32. Nós temos regras e papéis claros, na nossa família. ,631 11. Existem consequências claras quando um membro da família faz algo de errado. ,587 35. É importante seguir as regras na nossa família. ,553 1. Os membros da família estão envolvidos nas vidas uns dos outros. -,558 5. Há consequências rígidas para a quebra de regras na nossa família. ,549 18. É difícil levar a cabo as coisas na nossa família. ,510 21. Os membros da família estão por sua conta quando há um problema a ser resolvido. ,508 33. Os membros da família raramente dependem uns dos outros. ,486 ,459 6. Nós nunca parecemos ficar organizados na nossa família. ,472 25. Os membros da família gostam de passar algum do seu tempo livre uns com os outros. ,605 27. A nossa família raramente faz coisas juntas. -,590 31. Apesar dos membros da família terem interesses individuais ainda participam nas actividades da família. ,761

9. Os membros da família parecem evitar o contacto uns com os outros quando estão em casa. -,416

Alpha Cronbach ,875 ,926 ,646 ,417 -1,469 -,922 - Média 53,01 35,91 12,14 20,44 6,16 5,80 - Desvio-padrão 8,082 7,824 2,634 2,625 ,980 ,963 -

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Tabela 12: Análise factorial da nossa amostra, factores 8 a 15.

Componentes Itens

F8 F9 F10 F11 F12 F13 F14 F15

24. Não é claro quem é responsável pelas coisas (pequena tarefa, actividades) na nossa família. ,011

36. A nossa família não tem consciência de quem faz as diversas tarefas domésticas. ,352

39. Os membros da família agem principalmente de forma independente. -,072 22. Os membros da família têm pouca necessidade de amigos fora da família. -,06 34. Na nossa família ressentimo-nos quando alguém faz coisas fora da família. ,368

28. Nós sentimo-nos demasiado ligados uns aos outros. ,059 16. Os membros da família estão demasiado dependentes uns dos outros. ,043 29. A nossa família fica frustrada quando há uma mudança nos nossos planos ou rotinas. ,047

41. Uma vez tomada uma decisão é muito difícil modificar essa decisão. -,129 40. Os membros da família sentem-se culpados quando querem passar tempo afastados da família. -,209

30. Não há liderança na nossa família. ,748 19. Os membros da família consultam outros membros da família em decisões importantes. ,692

10. Os membros da família sentem-se pressionados para passar a maior parte do tempo livre juntos. ,538

15. Os membros da família sabem muito pouco acerca dos amigos dos outros membros da família. ,759

3. Nós damo-nos melhor com pessoas fora da nossa família do que de dentro. ,430 14. A disciplina é justa na nossa família. ,803 20. A minha família é capaz de se ajustar a mudanças quando é necessário. -,502 38. Quando os problemas surgem nós acomodamo-nos. ,576 Alpha Cronbach ,476 ,414 ,473 ,395 ,126 ,362 -,157 - Média 7,70 8,07 6,40 13,36 5,66 5,36 7,57 - Desvio-padrão 1,968 1,954 1,671 2,567 1,337 1,555 2,542 -

No que se refere à validade de constructo da escala, obtivemos uma estrutura factorial

composta por quinze factores e cinquenta e nove itens (tabelas 11 e 12). O primeiro factor

denominado “Comunicação” é constituído por quinze itens, com uma capacidade discriminativa

moderadamente alta, sendo o Alpha de Cronbach (a=.875); o segundo factor “Satisfação” é

constituído por onze itens e possui uma capacidade discriminativa alta (p=.926); o terceiro

factor “Rigidez/Regras” é composto por quatro itens e possui uma capacidade discriminativa

aceitável (p=.646); o factor 4, inicialmente composto por sete itens, não possui capacidade

discriminativa suficiente (p=.156); após retirado o item 13, sobe ligeiramente o valor de alpha

(a=.417) mas não atinge níveis estatisticamente significativos. Os factores 5 e 6, composto cada

um por dois itens, possuem valores de alpha negativos (p=-1.469) e (p=-.922) respectivamente.

Os factores 7 e 15 compostos cada um por um item não possuem capacidade discriminativa. Os

restantes factores não possuem capacidade discriminativa suficiente, estando todos valores de

alpha muito baixos (p<.5). Mesmo retirando no factor 9, o item 26, em que o alpha sobe de ,398

para ,414 não alcança valores de significância estatística, da mesma forma que ao retirar do

factor 11 o item 12, o alpha apenas sobe de ,375 para ,395. A percentagem acumulada de

variância explicada pelos quinze factores atinge 65,906% (>59%). Com base nestes resultados,

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63

podemos afirmar que a escala apresenta uma validade de constructo suficiente para assumir a

estrutura definida nos estudos originais da versão americana da FACES IV.

Assim cada constructo (factor) aparece como um constructo multidimensional constituído

por diversos itens. Comparando com a versão original da escala FACES IV, composta por cinco

factores, obtivemos com significância apenas três factores, o que explica 27,8% de variância

explicada da escala.

2.3 Fidelidade9

A Fidelidade do instrumento, ou seja, a qualidade psicométrica que implica que um

instrumento meça bem o que pretende medir (Pinto, 1990), é a forma de análise de consistência

interna através do procedimento estatístico Alpha de Cronbach, em que são seleccionados os

itens da escala com maior consistência interna.

Tabela 13: Resultados do alpha de Cronbach para a amostra da população em estudo.

Alpha Cronbach

Alpha Cronbach em itens estandardizados N Média Variância D.P. N

,792 ,818 62 192,92 266,320 16,319 62

Na nossa amostra podemos afirmar que a escala tem uma capacidade discriminativa bastante

aceitável (Alpha=,792), e os itens associados à escala tem suficiente capacidade discriminativa,

conforme se pode verificar na tabela 13.

9 Se o Alpha de Cronbach se encontra entre ,61 e ,73 considera-se que a escala tem uma capacidade discriminativa aceitável; se se encontra perto de ,81 bastante aceitável; quando se encontra em ,89 moderadamente alta e por fim maior ou igual a ,90 a escala possui uma capacidade discriminativa alta. Ou seja, a capacidade discriminativa é insuficiente se inferior a ,60, em que a análise dos resultados leva-nos a equacionar que os itens associado a esta escala não têm suficiente capacidade discriminativa. Quando superior a ,60 diz-se que os resultados nos levam a equacionar que os itens associados à escala têm suficiente capacidade discriminativa, aliada a uma estrutura factorial clara e coerente.

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3. RELAÇÕES FAMILIARES E TOXICODEPENDÊNCIA

3.1 Características da amostra

Tabela 14: Cruzamento de variáveis independentes género, idade e habilitações literárias, com variáveis

independentes mediadoras (quatro elementos das duas tipologias familiares)

PI10 toxicodependente

Familiar e PI toxicodependente

Elemento não toxicodependente1

Elemento não toxicodependente2 Total Variáveis

N % N % N % N % N % Masculino 60 90.9 20 32.3 21 31.8 21 31.8 122 46.9 Feminino 6 9.1 42 67.7 45 68.2 45 68.2 138 53.1 Género

Total 66 100 62 100 66 100 66 100 260 100 12-20 A 1 1.6 4 6.7 11 17.5 8 12.5 24 9.7 21-30 A 24 39.3 9 15 22 34.9 22 34.4 77 31 31-41 A 29 47.5 13 21.7 13 20.6 16 25 71 28.6 42-55 A 7 11.5 18 30 12 19 14 21.9 51 20.6

56 e mais A 0 0 16 26.7 5 7.9 4 6.3 25 10.1

Idade

Total 61 100 60 100 63 100 64 100 248 100 1º ciclo 9 14.5 16 25.4 12 18.5 6 9.2 43 16.9 2º ciclo 12 19.4 12 19 6 9.2 7 10.8 37 14.5 3ºciclo 23 37.1 10 15.9 10 15.4 18 27.7 61 23.9

Ensino secundário 13 21 15 23.8 17 26.2 11 16.9 56 22 Bacharelato 1 1.6 3 4.8 3 4.6 5 7.7 12 4.7 Licenciatura 3 4.8 7 11.1 14 21.5 17 26.2 41 16.1

PG, Mestrado, MBA, Doutora/ 1 1.6 0 0 3 4.6 1 1.5 5 2

Hab

ilita

ções

Lite

rária

s

Total 62 100 63 100 65 100 65 100 255 100

Foram realizados cruzamentos entre as variáveis independentes sexo, idade e habilitações

literárias com os quatro elementos representantes das duas tipologias familiares, de modo a

perceber se há associação entre as variáveis (tabela 14).

A nossa amostra é composta por 284 sujeitos, 142 pertencentes a famílias com elemento

toxicodependente e 142 sem elemento toxicodependente.

Relativamente à distribuição da amostra por sexo, 53,1% da amostra é do sexo feminino

(138 sujeitos) e 46,9% da amostra (122 sujeitos) é do sexo masculino, 1,5% da amostra não

respondeu. A maioria dos elementos toxicodependentes são do sexo masculino 90,9% (60

sujeitos).

A faixa etária com maior densidade é a de 21-30 anos, com 77 sujeitos (31%), seguida da de

31-41 anos, com 71 sujeitos (28,6%), com 51 sujeitos (20,6%) na faixa de 42-55 anos. As faixas

com menor afluência são a de 12-20 anos, com 24 sujeitos (9,7%), e a de 56 e mais anos com 25

sujeitos (10,1%). Os elementos toxicodependentes residem essencialmente nas faixas etárias 31-

-41 anos e 21-30 anos; os familiares de elementos toxicodependentes situam-se

maioritariamente nas faixas etárias 42-55 anos e 56 e mais anos.

10 Paciente Identificado (PI) - Portador do sintoma ou paciente “oficial”, tal como é identificado pela família e contextos psiquiátricos clássicos (Relvas, 1999, 161).

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65

Verifica-se que 37,1% dos elementos toxicodependentes possuem o 3º ciclo, 19,4%

possuem 2º ciclo e 21% o ensino secundário; os seus familiares possuem maioritariamente a 4ª

classe (25,4%), tendo os elementos não toxicodependentes escolaridades médias mais elevadas,

26,2% dos “elementos1” possuem ensino secundário e 21,5% licenciatura; dos “elementos2”

27,7% possuem 3º ciclo e 26.2% possuem licenciatura.

Tabela 15: Teste do Qui Quadrado para a variável Idade Tabela 16: Teste do Qui quadrado para a variável sexo

Teste de Qui Quadrado Idade Valor df p (bi caudal) Pearson Chi-Square 55,218(a) 12 ,000 Likelihood Ratio 58,019 12 ,000 Linear-by-Linear Association 1,238 1 ,266

N of Valid Cases 248 a 0 células (,0%) esperaram cotar menos de 5. A cotação minima esperada é de 5,81.

Teste de Qui Quadrado sexo Valor df p (bi caudal) Pearson Chi-Square 68,718(a) 3 ,000Likelihood Ratio 76,138 3 ,000Linear-by-Linear Association 42,233 1 ,000

N of Valid Cases 260 a 0 células (,0%) esperaram cotar menos de 5. A cotação minima esperada é de 29,09.

Para nos certificarmos da associação entre as variáveis que acabamos de descrever,

recorremos ao teste do Qui Quadrado. Em termos das análises de significância através deste

teste apenas se reuniram condições para a sua aplicabilidade relativamente às variáveis idade

(tabela 15) e sexo (tabela 16), com valores de significância <,001 em ambas, o que nos leva a

crer que há uma associação entre as variáveis de forma significativa. Contrariamente às variáveis

analisadas, para a variável habilitações literárias não foi possível a aplicabilidade do teste Qui

Quadrado, não estando reunidas as condições necessárias à sua aplicabilidade.

Tabela 17: Cruzamento de variáveis independentes estado civil e situação profissional, com variáveis

independentes mediadoras (quatro elementos das duas tipologias familiares)

PI toxicodependente

Familiar e PI toxicodependente

Elemento não toxicodependente1

Elemento não toxicodependente2 Total Variáveis

N % N % N % N % N % Solteiro 39 59.1 14 21.2 27 4.9 26 39.4 106 40.2

1ºcasamento 10 15.2 33 50 34 51.5 33 50 110 41.7 União de facto 3 4.5 5 7.6 3 4.5 3 4.5 14 5.3

Separado 3 4.5 2 3 0 0 0 0 5 1.9 Divorciado 11 16.7 7 10.6 1 1.5 3 4.5 22 8.3

Viúvo 0 0 5 7.6 1 1.5 1 1.5 7 2.7 Esta

do c

ivil

Total 66 100 66 100 66 100 66 100 264 100 E conta própria 3 5.3 7 12.5 6 12 2 3.6 18 8.3

E conta de outrem 22 38.6 22 39.3 31 62 40 72.7 115 52.8 Desempregado 31 54.4 9 16.1 8 16 9 16.4 57 26.1

Reformado 0 0 16 28.6 4 8 3 5.5 23 10.6 Pensionista 1 1.8 2 3.6 1 2 1 1.8 5 2.3 Si

tuaç

ão

prof

issi

onal

Total 57 100 56 100 50 100 55 100 218 100

Foram realizados cruzamentos entre as variáveis independentes situação profissional e estado

civil com os quatro elementos representantes das duas tipologias familiares, de modo a perceber

se há associação entre as variáveis (tabela 17).

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66

É possível verificar que 41,7% dos sujeitos da amostra são casados, primeiro casamento,

40,6% são solteiros e 8,3% são divorciados, havendo 14 elementos em união de facto, 5

separados e 7 viúvos. Os elementos toxicodependentes, relativamente ao estado civil, são

maioritariamente solteiros (59,1%), seguindo-se os divorciados (16,7%), encontrando-se os

restantes elementos familiares maioritariamente no 1º casamento; 21.1% dos familiares de

elemento toxicodependente (51,5%), dos elementos não toxicodependentes1 e 39.4% dos

elementos não toxicodependentes2.

Procedeu-se, ainda, ao cruzamento da profissão com a tipologia familiar, no entanto não se

obtendo qualquer resultado cujo significado estatístico seja passível de aqui ser apresentado.

54,4% dos elementos toxicodependentes encontram-se desempregados, 39,3 % dos seus

familiares respondentes estão empregados por conta de outrem. No que respeita às famílias sem

elemento toxicodependente, 62% dos elementos1 trabalham por conta de outrem, da mesma

forma que 72,7% dos elementos2.

63,5 % dos elementos toxicodependentes afirmam viver com os pais e apenas 14,5% vivem

sozinhos. Nas famílias sem elemento toxicodependente, verificamos que, quer nos elementos1,

quer nos elementos2, 41,3% afirma viver com parceiro e filhos, havendo ainda lugar para uma

percentagem elevada que viva com os pais (49,9 % para os elementos1 e 33,3% para os

elementos2).

Em termos das análises de significância através do teste do Qui Quadrado, nenhuma variável

(situação profissional e estado civil) reuniu as condições necessárias para a sua aplicabilidade, o

que nos leva a crer que não há uma associação com significância estatística entre as variáveis.

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67

Tabela 18: Cruzamento de variáveis independentes com quem vive, lugar ocupado no seio da família e problemas de

saúde, com variáveis independentes mediadoras (quatro elementos das duas tipologias familiares)

PI toxicodependente

Familiar e PI toxicodependente

Elemento não toxicodependente1

Elemento não toxicodependente2 Total Variáveis

N % N % N % N % N % Sozinho 9 14.3 4 6.3 2 3.2 5 7.9 20 7.9

Com Pais 40 63.5 11 17.2 22 34.9 21 33.3 94 37.2 Com parceiro 3 4.8 16 25 8 12.7 7 11.1 34 13.4 Com outros 2 3.2 1 1.6 2 3.2 3 4.8 8 3.2 Com filhos 1 1.6 9 14.1 3 4.8 1 1.6 14 5.5

Com parceiro e filhos

8 12.7 23 35.9 26 41.3 26 41.3 83 32.8

Com

que

m v

ive

Total 55 100 41 100 37 100 37 100 170 100 Pai 15 23.1 12 18.8 12 18.5 14 21.2 53 20.4 Mãe 2 3.1 32 50 20 30.8 19 28.8 73 28.1

1º filho 21 32.3 15 21.0 20 30.8 24 36.4 79 30.4 2ºfilho 19 29.2 5 7.8 8 12.3 4 6.1 36 13.8

3º ou + filho 6 9.2 1 1.6 5 7.7 5 7.6 17 6.5 Outro (tio, avós) 2 3.1 0 0 0 0 0 0 2 .8

Lugar ocupado no seio

da família

Total 63 100 65 100 65 100 66 100 258 100 Quistos, hérnias 0 0 1 11.1 3 33.3 2 22.2 6 12.2

Problemas cardíacos

0 0 0 0 2 22.2 1 11.1 3 6.1

Problemas digestivos/úlceras

0 0 0 0 2 22.2 2 22.2 4 8.2

Problemas tiróide/diabetes

0 0 1 11.1 1 11.1 2 22.2 4 8.2

Bronquite, asma, alergias

0 0 0 0 1 11.1 2 22.2 3 6.1

Problemas do sistema nervoso

1 4.5 2 22.2 0 0 0 0 3 6.1

DST 20 90.9 3 33.3 0 0 0 0 23 46.9 Reumatismo 1 4.5 2 22.2 0 0 0 0 3 6.1

Prob

lem

as d

e sa

úde

Total 22 100 9 100 9 100 9 100 49 100

Foram realizados cruzamentos entre as variáveis independentes com quem vive, lugar

ocupado no seio da família e problemas de saúde com os quatro elementos representantes das

duas tipologias familiares, de modo a perceber se há associação entre as variáveis (tabela 18).

Procedeu-se ainda ao cruzamento do número de filhos com a tipologia familiar, no entanto

não se obtendo qualquer resultado cujo significado estatístico seja passível de aqui ser

apresentado. Relativamente à estrutura da família, em todos os elementos familiares se

verificou uma percentagem elevada dos que afirmam ter dois pais biológicos, no entanto 18,2

% dos elementos toxicodependentes tem apenas um dos pais e 19,4 % dos familiares de

elemento toxicodependente afirmam ter também um dos pais na estrutura familiar.

No que respeita ao lugar ocupado no seio da família, 32,3% dos elementos

toxicodependentes ocupam o lugar de primeiro filho, 50% dos seus familiares respondentes

ocupa o lugar de mãe e nas famílias sem elemento toxicodependente 30,8% dos elementos1

ocupam o lugar de mãe e outros 30,8% o lugar de primeiro filho, ocupando 28,8% dos

elementos2 o lugar de mãe e 36,4% o lugar de primeiro filho.

Por fim, relativamente a problemas de saúde, verificamos que 90,9% dos elementos

toxicodependentes sofrem de doenças sexualmente transmissíveis, da mesma forma que 33,3%

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68dos seus familiares respondentes. Estes padecem ainda de problemas no sistema nervoso

(22,2%) e reumatismo (22,2%). 33,3% dos elementos1 das famílias não toxicodependentes

referem problemas de quistos e hérnias, bem como 22,2% de problemas cardíacos e 22,2% de

problemas digestivos. Dos elementos2, 22,2% queixam-se de quistos e hérnias bem como de

problemas digestivos (22,2%), problemas de tiróide/diabetes (22,2%) e bronquite, asma,

alergias (22,2%).

Para nos certificarmos da associação entre as variáveis que acabamos de descrever,

recorremos ao teste do Qui Quadrado. Em termos das análises de significância através deste

teste, nenhuma variável (com quem vive, lugar ocupado no seio da família e problemas de

saúde) reuniu as condições necessárias para a sua aplicabilidade, o que nos leva a crer que não

há uma associação com significância estatística entre as variáveis.

Tabela 19: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e idade de início de consumo.

10-13 anos 14-16 anos 17.20 anos 21-40 anos Total Idade de inicio de consumo N % N % N % N % N %

Haxixe 2 28.6 16 47.1 6 35.3 0 0 24 37.5 Álcool 1 14.3 1 2.9 0 0 0 0 2 3.1

Haxixe e álcool 2 28.6 5 14.7 1 5.9 0 0 8 12.5 Heroína 0 0 0 0 1 5.9 3 50.0 4 6.3 Cocaína 0 0 0 0 1 5.9 2 33.3 3 4.7

Haxixe, heroína, cocaína 2 28.6 11 32.4 8 47.1 0 0 21 32.8

Álcool, heroína e cocaína 0 0 1 2.9 0 0 1 16.7 2 3.1 Su

bstâ

ncia

inic

ial d

e C

onsu

mo

Total 7 100 34 100 17 100 6 100 64 100

Foi feito, ainda, o cruzamento das variáveis independentes substância de início de

consumo e idade de início de consumo, de modo a perceber se há associação entre o tipo de

substância consumida mediante a idade de início de consumo (tabela 19).

Relativamente aos consumos dos elementos toxicodependentes, 28,6% dos que iniciaram

os seus consumos entre os 10-13 anos experimentaram primeiramente haxixe, outros 28,6%

afirma ter iniciado com haxixe e álcool e ainda 28,6% refere ter começado com cocaína,

heroína e haxixe. Dos que iniciaram entre os 14-16 anos, 47,1% refere ter inicialmente

experimentado haxixe e entre os que iniciaram os consumos entre 17-20 anos, 47,1%

afirmam que haxixe, heroína e cocaína foram as drogas iniciais. Por fim, 50% dos que

iniciaram os seus consumos entre os 21-40 anos afirmam que o primeiro contacto foi com a

heroína.

Para nos certificarmos da associação entre as variáveis que acabamos de descrever,

recorremos ao teste do Qui Quadrado. No entanto, em termos das análises de significância as

variáveis analisadas não reuniram as condições necessárias para a aplicabilidade do teste, o

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69que nos leva a crer que não há uma associação com significância estatística entre as

variáveis.

Tabela 20: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e tempo de consumo.

1-5 anos 6-10 anos 11-15 anos 16-30 anos Total Tempo de consumo N % N % N % N % N %

Haxixe 3 33.3 10 52.6 6 30 4 36.4 23 39 Álcool 0 0 1 5.3 1 5 0 0 2 3.4

Haxixe e álcool 0 0 3 15,8 4 20 1 9.1 8 13.6 Heroína 1 11.1 0 0 1 5 2 18.2 4 6.8 Cocaína 0 0 1 5.3 1 5 0 0 2 3.4

Haxixe, heroína, cocaína 5 55.6 2 10.5 7 35 4 36.4 18 30.5

Álcool, heroína e cocaína 0 0 2 10.5 0 0 0 0 2 3.4 Su

bstâ

ncia

inic

ial

Total 9 100 19 100 20 100 11 100 59 100

Cruzando as variáveis independentes substância de início de consumo e tempo de consumo,

de modo a perceber se há associação entre o tipo de substância consumida inicialmente e o

tempo de consumo, verificamos os resultados presentes na tabela 20.

Ou seja, dos indivíduos que consumiram entre 1-5 anos, 55,6% tiveram os seus inícios com

haxixe, heroína e cocaína. Daqueles em que o tempo de consumo foi 6-10 anos, 52,6% iniciou

com haxixe. 35% dos que consumiram de 11- 15 anos tiveram os primeiros contactos com

haxixe, heroína e cocaína. Finalmente, 36,4% dos indivíduos cujo tempo de consumo foi de

16-30 anos tiveram o haxixe como substância de consumo inicial, outros 36,4 afirmam que o

primeiro contacto foi com haxixe, heroína e cocaína.

Para nos certificarmos da associação entre as variáveis que acabamos de descrever,

recorremos ao teste do Qui Quadrado. Em termos das análises de significância as variáveis

analisadas não reuniram as condições necessárias para a aplicabilidade do teste, o que nos leva

a crer que não há uma associação com significância estatística entre as variáveis.

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703.2 Análise Inferencial

Tabela 21: Médias na comparação entre tipologia familiar, obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Tipologia familiar N Média Desvio-Padrão Erro standardizado da média

Família com elemento toxicodependente 129 44,05 22,618 1,991

Nível de coesão familiar Família sem elemento toxicodependente 127 57,20 20,500 1,819

Família com elemento toxicodependente 124 49,55 17,881 1,606 Nível de flexibilidade

familiar Família sem elemento toxicodependente 125 54,92 13,041 1,166

Família com elemento toxicodependente 123 34,44 12,127 1,093 Nível de desligamento

familiar Família sem elemento toxicodependente 126 26,79 9,820 ,875

Família com elemento toxicodependente 119 36,12 11,969 1,097 Nível de interligação

emaranhada da família Família sem elemento toxicodependente 124 32,22 10,321 ,927

Família com elemento toxicodependente 129 40,26 16,175 1,424 Nível de Rigidez das

relações na família Família sem elemento toxicodependente 123 37,73 11,528 1,039

Família com elemento toxicodependente 127 34,62 13,590 1,206

Nível de caos familiar Família sem elemento toxicodependente 121 27,89 9,925 ,902

Família com elemento toxicodependente 131 45,00 22,458 1,962 Nível de comunicação

familiar Família sem elemento toxicodependente 125 62,26 22,293 1,994

Família com elemento toxicodependente 128 27,77 19,242 1,701 Nível de satisfação

familiar Família sem elemento toxicodependente 127 47,39 25,974 2,305

Família com elemento toxicodependente 113 1,40 ,347 ,033 Rácio do nível de coesão

familiar Família sem elemento toxicodependente 118 1,71 ,445 ,041

Família com elemento toxicodependente 117 1,22 ,283 ,026 Rácio do nível de

flexibilidade familiar Família sem elemento toxicodependente 114 1,37 ,283 ,026

Família com elemento toxicodependente 106 1,31 ,298 ,029 Rácio total do nível

familiar Família sem elemento toxicodependente 106 1,56 ,301 ,029

Tabela 22: Comparação de médias entre amostras independentes para cada um dos factores da FACES IV mediante

os factores encontrados na escala americana, através do teste t para amostras independentes.

Teste de Levene para Variâncias iguais Teste t para médias iguais

F Sig. t df p (bi

caudal) Diferença de médias

Diferença do erro padrão

95% Intervalo de confiança da diferença

Mais baixo

Mais elevado

Mais baixo

Mais elevado

Mais baixo

Mais elevado Mais baixo

Mais elevado Mais baixo

Nível da coesão familiar

Assumidas variâncias iguais 1,877 ,172 -4,875 254 ,000 -13,158 2,699 -18,474 -7,843Nível de flexibilidade

Assumidas variâncias diferentes 14,077 ,000 -2,707 224,926 ,007 -5,372 1,985 -9,283 -1,461

Nível d desligamento

Assumidas variâncias iguais 1,020 ,313 5,473 247 ,000 7,645 1,397 4,894 10,397Nivel emaranhado

Assumidas variâncias iguais 3,759 ,054 2,724 241 ,007 3,900 1,432 1,079 6,721Assumidas variâncias iguais 21,054 ,000 1,420 250 ,157 2,524 1,777 -,976 6,024Nível de

Rigidez Assumidas variâncias diferentes 1,432 231,715 ,154 2,524 1,763 -,950 5,998

Nível de caos Assumidas variâncias diferentes 6,886 ,009 4,468 230,660 ,000 6,729 1,506 3,762 9,697

Nível da Comunicação

Assumidas variâncias iguais 2,031 ,155 -6,167 254 ,000 -17,256 2,798 -22,766 -11,746Nível da satisfação

Assumidas variâncias diferentes 25,624 ,000 -6,850 232,256 ,000 -19,620 2,864 -25,264 -13,977

Rácio do nível de coesão

Assumidas variâncias iguais 3,296 ,071 -6,020 229 ,000 -,317 ,053 -,421 -,213Rácio do nível de flexibilidade

Assumidas variâncias iguais 1,479 ,225 -4,177 229 ,000 -,155 ,037 -,229 -,082Rácio total Assumidas variâncias iguais ,103 ,749 -5,891 210 ,000 -,243 ,041 -,324 -,161

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71

Tivemos como objectivo comparar as diferenças de médias entre amostras independentes

em cada um dos factores, para sustermos se as diferenças entre as médias são significativas

através do Independent Sample T Test (ou teste t para amostras independentes) (tabelas 21 e

22). Este teste é precedido pelo Teste de Levene, que nos permite perceber qual o valor do teste

t a analisar e, consequentemente, a hipótese a aceitar. Assim sendo, podemos verificar que há

diferenças estatísticas altamente significativas entre as médias de famílias com e sem PI

toxicodependente nas escalas desequilibrada desligada (t=5,473 e sig<.001); desequilibrada

caótica (t=4.435 e sig<.001); escala de comunicação (t=-6.168 e sig<.001), escala de

satisfação (t=-6.858 e sig<.001); rácio do nível de coesão (t=-6.020 e sig<.001), rácio de

flexibilidade (t-4.177 e sig<.001); rácio familiar total (t=-5.891 e sig<.001); e diferenças

estatisticamente significativas nas subescalas nível de coesão (t=-4,875 e sig=,007), nível de

flexibilidade (t=-2.707 e sig=.007) e subescala emaranhada (t=2.724 e sig=.007). Por outro

lado verificamos que não há diferenças significativas entre as médias das duas tipologias

familiares, na escala desequilibrada rígida (com t=1.432 e sig=.154).

Figura 5: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares (famílias com e

sem elemento toxicodependente)

Nível da satisfaçã no

seio da família

Nível da Comunicação

entre os elementos da

família

Nível de uma relação caótica

na família

Nível de Rigidez das relações na

família

Nivel de interligação

emaranhada da família

Nível d desligamento

da família

nível de flexibilidade

nível da coesão familiar

70

60

50

40

30

20

48,9

63,3

27,7

37,4

32,4

25,5

56,359,5

Nas figuras 5 e 6 podemos verificar os resultados que acima referimos relativamente às

diferenças encontradas nos factores em análise entre as duas tipologias familiares, com e sem

elemento toxicodependente. Os factores nos quais as diferenças se acentuam entre as duas

tipologias familiares são o nível de coesão, comunicação e satisfação familiar, onde a família

sem elemento toxicodependente apresenta, em qualquer uma delas, valores superiores ou seja

mais adaptados.

Família sem PI

Toxicodependente

Família com PI Toxicodependente

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72

Figura 6: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares

familia sem elemento toxicodependente

familia com elemento toxicodependente

Mea

n70

60

50

40

30

20

Nível da satisfaçã no seio da família

Nível da Comunicação entre os elementos da família

Nível de uma relação caótica na família

Nível de Rigidez das relações na família

Nivel de interligação emaranhada da família

Nível d desligamento da família

nível de flexibilidadenível da coesão familiar

Quisemos verificar as diferenças entre as médias da nossa amostra em cada uma das

subescalas e rácios da FACES IV, segundo o sexo dos nossos inquiridos. Sendo o sexo uma

variável dicotómica, optámos pela análise do teste t para amostras independentes. Tabela 23: Médias na comparação entre sexo feminino e masculino, obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV

Sexo do inquirido N Média Desvio padrão Erro standardizado da média

Masculino 118 48,97 22,886 2,107 Nível de coesão familiar

Feminino 134 52,19 22,449 1,939 Masculino 116 53,25 16,926 1,572 Nível de flexibilidade

familiar Feminino 129 51,57 14,850 1,307 Masculino 116 31,99 11,316 1,051 Nível de desligamento

familiar Feminino 130 29,14 11,867 1,041 Masculino 112 35,38 11,484 1,085 Nível de interligação

emaranhada da família Feminino 127 32,50 10,652 ,945 Masculino 118 41,97 15,355 1,414 Nível de Rigidez das

relações na família Feminino 131 35,82 11,842 1,035 Masculino 117 31,76 11,261 1,041

Nível de caos familiar Feminino 128 30,52 12,905 1,141 Masculino 119 51,91 23,276 2,134 Nível de comunicação

familiar feminino 133 54,86 24,679 2,140 masculino 120 35,23 23,026 2,102 Nível de satisfação familiar feminino 131 39,79 26,434 2,310

masculino 107 1,49 ,403 ,039 Rácio do nível de coesão familiar feminino 121 1,63 ,445 ,040

masculino 110 1,26 ,255 ,024 Rácio do nível de flexibilidade familiar feminino 119 1,33 ,316 ,029

masculino 101 1,38 ,294 ,029 Rácio total do nível familiar feminino 109 1,50 ,336 ,032

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73Tabela 24: Estatísticas obtidas pelo teste t para amostras independentes, para comparação das diferenças entre

médias, para a variável sexo em cada subescala e rácios da FACES IV

Teste de Levene para variâncias iguais Teste t para médias iguais

F Sig. t df

p (bi caudal)

Diferença de

médias

Diferença do erro padrão

95% Intervalo de confiança da

diferença

Mais baixo

Mais elevado

Mais baixo

Mais eleva

do Mais baixo

Mais elevado

Mais baixo

Mais elevado

Mais baixo

Nível da coesão

Assumidas variâncias iguais ,003 ,956 -1,123 250 ,262 -3,212 2,860 -8,845 2,421

nível de flexibilidade

Assumidas variâncias iguais 2,274 ,133 ,830 243 ,408 1,684 2,030 -2,315 5,683

Nível de desligamento

Assumidas variâncias iguais ,349 ,555 1,924 244 ,056 2,853 1,483 -,068 5,774

Nivel emaranhada

Assumidas variâncias iguais ,687 ,408 2,010 237 ,046 2,879 1,432 ,057 5,701

Nível de Rigidez

Assumidas variâncias diferentes

21,422 ,000 3,511 219,302 ,001 6,150 1,752 2,698 9,603

Nível de caos Assumidas variâncias iguais 2,413 ,122 ,796 243 ,427 1,237 1,554 -1,823 4,298

Nível da Comunicação

Assumidas variâncias iguais ,207 ,650 -,975 250 ,330 -2,957 3,032 -8,928 3,014

Nível da satisfação

Assumidas variâncias diferentes

7,536 ,006 -1,461 248,384 ,145 -4,561 3,123 -10,712 1,589

Rácio do nível de coesão

Assumidas variâncias iguais 1,069 ,302 -2,383 226 ,018 -,135 ,057 -,246 -,023

Rácio do nível de

flexibilidade familiar

Assumidas variâncias iguais

1,256 ,264 -1,878 227 ,062 -,072 ,038 -,147 ,004

Rácio total Assumidas variâncias iguais 1,179 ,279 -2,646 208 ,009 -,116 ,044 -,202 -,029

Segundo a leitura dos resultados obtidos pelo teste t para amostras independentes (tabelas

23 e 24), verificamos que existem diferenças nas médias das subescalas emaranhada (p=.047),

rácio do nível de coesão familiar (p=.017), rácio total do nível familiar (p=.008), e diferenças

altamente significativas na subescala rígida (p<.001), querendo isto dizer que o facto de ser do

sexo feminino ou masculino manifesta uma diferente influência nas subescalas acima referidas,

sendo sempre os valores das médias superiores no sexo feminino. Não há, porém, influência,

com significância estatística, da variável sexo relativamente às restantes subescalas.

Foi também nossa intenção apurar diferenças entre as características dos sujeitos da

amostra no que respeita às médias obtidas em cada um dos factores em análise, para o que

recorremos ao teste One-way Anova. Todavia, a aplicabilidade deste teste depende de algumas

condições, como a normalidade da distribuição e a homogeneidade de variâncias. Para o

primeiro caso, utilizámos o teste Kolmogorov-Smirnov. O nível de significância obtido foi

inferior a 0,001, levando-nos a considerar que não estamos perante uma distribuição normal.

No segundo caso, o teste de homogeneidade de variâncias mostrou também que existem

diferenças a esse nível. Perante este cenário, conclui-se que não estão reunidas as condições

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Relações Familiares e Toxicodependência

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra

74para a realização do teste One-way Anova, optando-se, com efeito, pelo teste não paramétrico

alternativo de Kruskal-Wallis.

Tabela 25: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às

médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV

Nível da

coesão familiar

Nível de

flexibilidade

familiar

Nível d desliga

mento na relação familiar

Nível de emaranhamento na relação familiar

Nível de Rigidez

na relação familiar

Nível de caos

na relação familiar

Nível de Comuni cação

Familiar

Nível da satisfação familiar

Rácio da

coesão familiar

Rácio da

flexibilidade

familiar

Rácio total do

nível familiar

Qui quadrado 2,083 3,205 1,469 10,545 3,649 1,995 6,801 6,916 4,585 5,553 6,192

df 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4

p ,720 ,524 ,832 ,032 ,456 ,737 ,147 ,140 ,333 ,235 ,185 a Teste de Kruskal Wallis b Variável agrupada: idade agrupada em classes

Através desse teste, cujos resultados se apresentam na tabela 25, concluímos que apenas no

“Nível de emaranhamento da relação familiar” existe pelo menos uma faixa etária com média

significativamente diferente da dos restantes grupos, dado que o nível de significância obtido

foi de 0,032. Em todos os restantes factores da nossa análise, os resultados obtidos levam-nos a

afirmar que as diferenças existentes entre as médias dos restantes grupos etários não são

estatisticamente significativas.

Tabela 26: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a faixa etária do inquirido

95% Intervalo de confiança V. Dependente

FACES IV Idade (i) Idade (j) Diferença

entre médias (i-j)

D.P. p Limite mínimo

Limite máximo

31-41 anos 12-20 anos 6,258 2,311 ,084 -,44 12,96 21-30 anos 5,636 2,113 ,083 -,38 11,66 42-55 anos 7,780 2,145 ,004 1,65 13,91 56 e + anos 5,130 2,381 ,304 -1,81 12,07

42-55 anos 12-20 anos -1,523 2,148 ,999 -7,81 4,76 21-30 anos -2,144 1,934 ,957 -7,67 3,38 31-41 anos -7,780 2,145 ,004 -13,91 -1,65

Escala desequilibrada

EMARANHADA

56 e + anos -2,650 2,223 ,935 -9,20 3,90

Para percebemos a que nível se situam as diferenças observadas no “Nível de

emaranhamento da relação familiar”, procedemos às comparações post hoc, designadamente ao

teste de Tamhane (tabela 26). A evidência estatística enunciada por este teste, que efectua

comparações múltiplas entre as diferentes faixas etárias, permite-nos concluir que as diferenças

com significância estatística estão entre os sujeitos de 31-41 anos e os de 42-55 anos, com a

média daqueles a ser superior à destes (com um nível de significância de 0,004). Por outras

palavras, no “Nível de emaranhamento da relação familiar”, o nível de emaranhamento nas

faixas etárias 31-41 anos é superior ao dos sujeitos das faixas etárias 42-55 anos, não se

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75verificando qualquer outra diferença entre médias digna de registo, tal como podemos ainda

visualizar na figura 7.

Figura 7: Médias obtidas no “Nível de emaranhamento da relação familiar”, segundo a faixa etária dos inquiridos.

idade agrupada em classes56 e mais anos42-55anos31-41anos21-30anos12-20anos

Mea

n N

ivel

de

inte

rliga

ção

emar

anha

da d

a fa

míli

a

40

30

20

10

0

Na mesma linha analítica, aprofundamos a influência que a existência de uma determinada

profissão exerce no panorama que traçamos atrás, ou seja, nas diferenças (ou igualdade) de

médias verificadas de acordo com a idade dos inquiridos. O teste One-way Anova foi

novamente o utilizado, para o que testamos a normalidade da distribuição e a homogeneidade

de variâncias. Contudo, tal como já havia acontecido na análise anterior, estas condições não se

verificaram, pelo que o teste de Kurskal-Wallis foi, mais uma vez, a solução recorrente.

Tabela 27: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às

médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV

Nível da

coesão familia

r

Nível de

flexibilidade

familiar

Nível de desliga

mento na relação familiar

Nível de emaranha mento na relação familiar

Nível de Rigidez

na relação familiar

Nível de caos

na relação familia

r

Nível de Comuni

cação Familiar

Nível da satisfaçã

o familiar

Rácio da

coesão familia

r

Rácio da

flexibilidade

familiar

Rácio total do

nível familiar

Qui quadrado 21,392 11,275 27,269 17,128 8,998 26,572 31,567 27,671 32,924 18,120 26,970

df 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 p ,045 ,506 ,007 ,145 ,703 ,009 ,002 ,006 ,001 ,112 ,008

A interpretação do teste (tabela 27) leva-nos a afirmar que a existência de diversas

profissões nos sujeitos da amostra origina, em diversas subescalas da FACES IV, diferenças na

relação familiar. Essas diferenças só são significativas no nível de coesão (p=.045), nível de

desligamento familiar (p=.007), nível de caos (p=.009), nível de comunicação (p=.002), nível

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76de satisfação (p=.006), rácio de coesão familiar (p=.001) e rácio total do nível familiar

(p=.008).

Tabela 28: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a profissão do inquirido.

95% Intervalo de confiança V. Dependente

FACES IV Profissão (i) Profissão (j) Diferença

entre médias (i-j)

D.P. p Limite mínimo

Limite máximo

Operários, Artífices e Trabs Similares 21,727 4,850 ,016 2,35 41,10 Nível de Coesão

Familiar

Agricultores e Trabalhadores

Qualificados da Agricultura e

Pescas Trabalhadores Não

Qualificados 18,926 4,161 ,009 2,83 35,03 QSips Admins

Public, Dirigentes e Q. Sups Empresa

Trabalhadores Não Qualificados -13,716 3,075 ,005 -25,09 -2,34 Desligamento

familiar Esp Profissões

Intelectuais e Científicas

Trabalhadores Não Qualificados -10,775 2,643 ,017 -20,56 -,99

Trabalhadores Não Qualificados 28,486 5,483 ,000 8,44 48,53 QSips Admins

Public, Dirigentes e Q. Sups Empresa Sem profissão 31,753 5,639 ,000 10,68 52,82

Trabalhadores Não Qualificados 27,286 4,839 ,012 4,55 50,02

Nível de comunicação

Agricultores e Trabs Qualific Agric e Pescas Sem profissão 30,553 5,015 ,007 6,81 54,29

Operadores Instals Máquinas e Trabs

Montagem 31,533 7,452 ,040 ,80 62,27 Nível de

satisfação Familiar

QSips Admins Public, Dirigentes e Q. Sups Empresa Trabalhadores Não

Qualificados 27,843 6,384 ,010 3,70 51,99 QSips Admins

Public, Dirigentes e Q. Sups Empresa

Trabalhadores Não Qualificados ,611 ,131 ,009 ,09 1,13

Agricultores e Trabs Qualific Agric e Pescas

Trabalhadores Não Qualificados ,243 ,051 ,005 ,04 ,44

Rácio de coesão familiar

Trabalhadores Não

Qualificados Estudante -,398 ,087 ,003 -,72 -,08

Afigura-se, pois, importante detectar a que níveis se dão essas diferenças, para o que

recorremos novamente ao teste de Tamhane. Uma das diferenças observadas dá-se entre

“Quadros Superiores da Administração Publica, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa”

e “Trabalhadores não Qualificados”. Estas diferenças são observadas em quase todos os

factores da nossa análise, com a média dos primeiros a ser sempre superior ao dos segundos.

Por conseguinte, existe evidência estatística que nos permite afirmar que os sujeitos com

categoria profissional “Quadros Superiores da Administração Publica, Dirigentes e Quadros

Superiores de Empresa” têm níveis inferiores de desligamento, superiores de comunicação,

satisfação e rácio de coesão que os “Trabalhadores não Qualificados” (com níveis de

significância de 0,005; <,001; 0,010; 0,009 respectivamente pela ordem dos factores

apresentada na tabela 28).

Encontramos ainda diferenças altamente significativas entre “Quadros Superiores da

Administração Publica, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa” e “Sujeitos sem

Profissão” (p<,001) no nível de comunicação familiar.

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77A evidência estatística gerada pelo teste de Tamhane aponta ainda para diferenças entre

“Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e Pescas” e “Trabalhadores Não

Qualificados” (p=,009), entre os primeiros e “Operários, Artífices e Trabalhadores Similares”

(p=,016), tendo a primeira categoria mencionada médias muito superiores às restantes duas,

significando níveis de coesão familiar superiores.

A nível da Comunicação familiar, a categoria profissional “Agricultores e Trabalhadores

Qualificados da Agricultura e Pescas” manifesta diferenças significativas, com médias

superiores às categorias “Trabalhadores Não Qualificados” (p=,012) e “Sem Profissão”

(p=,007).

Relativamente ao rácio de Coesão Familiar os “Agricultores e Trabalhadores Qualificados

da Agricultura e Pescas” revelam níveis superiores ao nível do factor em análise com

diferenças estatísticas relativamente aos “Trabalhadores Não Qualificados” (p=,005).

Figura 8: Médias obtidas nas subescalas da FACES IV segundo a profissão dos inquiridos.

fi d i i id

Trabalhadores Não Qualificados

Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros

Superiores de Empresa

Operadores de Instalações e Máquinas e

Trabalhadores da Montagem

Especialistas das Profissões Intelectuais e

Científicas

Agricultores e Trabalhadores Qualificados da

Agricultura e Pescas

80

70

60

50

40

30

20

33,4

38,7

45,5

23,3

20,2

27,5

36

38,5

53,5

40,4

52,9

59,7

39,6

42

49,2

67,5

55

70,4

29,4

25,7

28,2

37,4

28,2

33,5

27 26,6

23,7

44,8

55,659,8

41,2

46,7

38,3

60

54,4

57,7

Nível da satisfaçã no seio da família

Nível da Comunicação entre os elementos da família

Nível d desligamento da família

nível da coesão familiar

Nível da satisfaçã no seio da família

Nível da Comunicação entre os elementos da família

Nível d desligamento da família

nível da coesão familiar

A figura 8 compara as médias das subescalas da FACES IV em função da profissão dos

inquiridos, ajudando-nos a perceber o que acabamos de afirmar.

Méd

ia

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78 Tabela 29: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a escolaridade, no que respeita às

médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Nível da

coesão familia

r

Nível de

flexibilidade

familiar

Nível d desligamento na relação familiar

Nível de emaranhamento na relação familiar

Nível de Rigidez

na relação familiar

Nível de caos

na relação familia

r

Nível de Comunic

ação Familiar

Nível da satisfaçã

o familiar

Rácio da

coesão familia

r

Rácio da

flexibilidade

familiar

Rácio total do

nível familiar

Qui quadrado 13,603 4,475 28,660 23,650 8,894 30,407 7,189 20,138 31,913 23,970 27,093

df 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 p ,034 ,613 ,000 ,001 ,180 ,000 ,304 ,003 ,000 ,001 ,000

Para conseguirmos aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em

função da escolaridade, recorremos, uma vez mais, ao teste One-way Anova. Ao verificarmos

as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de normalidade da

distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, que assevera diferenças

significativas entre as médias de diversos graus escolares com Licenciatura, em diversas

subescalas da FACES IV, como podemos verificar na tabela 29.

Tabela 30: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a escolaridade do inquirido.

95% Interv. de confiança V. Dependente FACES IV Escolaridade (i) Escolaridade (j)

Diferença entre médias

(i-j) D.P. p Limite

mínimo Limite

máximo Nível de Coesão

Familiar 2ºciclo Lic. 16,867 4,930 ,021 -32,35 -1,39

1º ciclo Lic. 9,895 2,267 ,001 2,74 17,05 2ºciclo Lic. 10,630 2,331 ,001 3,26 18,00 3ºciclo Lic. 9,988 1,929 ,000 3,98 15,99

Desligamento familiar

E. Secund. Lic. 8,200 2,150 ,005 1,50 14,90 Nível de

Emaranhamento 3º ciclo Lic 8,511 2,358 ,011 1,12 15,91

Bach. 12,868 2,556 ,000 4,67 21,06 1º ciclo Lic. 8,866 2,576 ,021 ,75 16,98 Bach. 15,131 2,648 ,000 6,57 23,69 2º ciclo Lic. 11,128 2,667 ,002 2,64 19,61

3º ciclo Bach. 10,730 2,188 ,000 3,69 17,77

Nível de Caos Familiar

E. Secund. Bach. 9,193 9,193 ,070 ,002 2,48 1º ciclo 2ºciclo 15,065 4,339 ,020 1,34 28,79

3ºciclo -16,045 3,801 ,001 -27,90 -4,19 E. Secund. -15,891 4,118 ,005 -28,79 -2,99

Nível de satisfação Familiar 2ºciclo

Lic. -24,211 4,805 ,000 -39,45 -8,97 1º ciclo Lic. -,453 ,106 ,001 -,79 -,12 2º ciclo Lic. -,526 ,100 ,000 -,84 -,21 3º ciclo Lic. -,437 ,092 ,000 -,73 -,14

Rácio de coesão familiar

E. Secund. Lic. -,347 ,094 ,010 -,64 -,05 1º ciclo Lic. -,193 ,059 ,035 -,38 -,01 Rácio de

flexibilidade familiar 2ºciclo Lic. -,204 ,062 ,034 -,40 -,01

1º ciclo Lic. -,318 ,079 ,003 -,57 -,07 2ºciclo Lic. -,325 ,078 ,002 -,57 -,08 Rácio familiar

total 3º ciclo Lic. -,258 ,066 ,005 -,47 -,05

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79Mais uma vez recorremos às comparações post hoc – nomeadamente ao teste de Tamhane

– para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas nas subescalas Nível de

Coesão Familiar, Desligamento familiar, Nível de Emaranhamento Familiar, Nível de Caos,

Nível de satisfação familiar, Rácio de coesão familiar, Rácio de flexibilidade familiar, Rácio

familiar total no 1º, 2º, 3º ciclo e licenciatura (tabela 30).

Neste caso, a evidência estatística informa-nos que as diferenças com significância

estatística estão entre licenciatura e 2º ciclo (p=.021) no factor coesão familiar, sendo os

primeiros mais coesos. Por um lado, ao nível do desligamento familiar, apresentam valores

mais elevados o ensino secundário, 3º ciclo, 1º e 2º ciclos, comparados com a licenciatura

(p=,005,p<,001,p<,001 ,p<,001 respectivamente) (tabela 30). Quanto ao factor emaranhamento

familiar, o 3º ciclo apresenta valores médios mais elevados do que a licenciatura com uma

significância de .011. No factor caos familiar, comparando o bacharelato e licenciatura com o

1º, 2º, 3º ciclos e ensino secundário, as duas primeiras apresentam valores médios inferiores.

Sujeitos com 1º ciclo, com o 3º ciclo, ensino secundário e Licenciatura manifestam maior

satisfação familiar do que com o 2º (p=,020, p=.001, p=.005 e p<.001, respectivamente).

Encontramos significância estatística quando comparamos licenciatura com 2º e 3º ciclo

(p<.001), significando que sujeitos com licenciatura, manifestam rácios de coesão mais

adaptados.

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80Figura 9: Médias observadas por factor de análise, segundo a escolaridade.

l id d d i i id

PG, mestrado, MBA,

Doutoramento

LicenciaturaBacharelatoensino secundário

3ºciclo2ºciclo1ºciclo

70

60

50

40

30

20

36,2

49,450,9

38,438

23,7

38

33,2

25,8

21

30,5

30,7

36

33,8

30,229,730,331,9

37,3

39,1

36,6

32,6

21,6

2730

30,831,432,5

47,6

61,8

55,654,6

53

45,8

48

Nível da satisfação no seio da família

Nível de uma relação caótica na família

Nivel de interligação emaranhada da família

Nível de desligamento da família

Nível da coesão familiar

Nível da satisfação no seio da família

Nível de uma relação caótica na família

Nivel de interligação emaranhada da família

Nível de desligamento da família

Nível da coesão familiar

A leitura gráfica, dada pela figura 9, mostra claramente que as médias observadas

aumentam em simultâneo com o aumento da escolaridade nos factores satisfação e coesão

familiar, ao mesmo tempo que os valores do desligamento, emaranhada e caos diminuem

conforme aumenta a escolaridade.

Com a realização deste teste é, pois, possível atestar que a capacidade comunicativa e de

satisfação familiar dos sujeitos é maior quando estes têm níveis de escolaridade mais elevados.

Tabela 31: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a situação profissional, no que

respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Nível da

coesão familiar

Nível de

flexibilidade

familiar

Nível d desligame

nto na relação familiar

Nível de emaranham

ento na relação familiar

Nível de Rigidez

na relação familiar

Nível de caos

na relação familiar

Nível de Comunic

ação Familiar

Nível da satisfação familiar

Rácio da

coesão familiar

Rácio da

flexibilidade

familiar

Rácio total do

nível familiar

Qui quadrado 4,528 4,341 3,557 2,395 2,048 4,851 10,151 2,213 2,172 2,476 1,697

df 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 p ,339 ,362 ,469 ,664 ,727 ,303 ,038 ,697 ,704 ,649 ,791

Para conseguirmos aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em

função da situação profissional dos sujeitos, recorremos, uma vez mais, ao teste One-way

Méd

ia

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81Anova. Ao verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela

ausência de normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis,

(tabela 31) onde tentamos perceber se existem diferenças de tendência central entre a situação

profissional dos sujeitos e os vários factores em análise. Pela tabela 31, podemos observar na

Comunicação familiar, um nível de significância de .038, o que evidencia a diferença

estatística de médias, ou seja, pelo facto dos sujeitos estarem empregados (por conta de outrem,

por conta própria) ou desempregados influencia ao factor comunicação familiar.

Tabela 32: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a situação profissional do

inquirido.

95% Interv. de confiança V. Dependente

FACES IV Situação

profissional (i) Situação

profissional (j)

Diferença entre

médias (i-j) D.P. p

Limite mínimo

Limite máximo

Nível de Comunicação

Familiar

Emp. Conta de outrem Desempregado 12,528 4,079 .026 ,89 24,17

Mais uma vez recorremos às comparações post hoc – nomeadamente ao teste de Tamhane

– para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas na subescalas Comunicação

familiar na situação profissional dos sujeitos (tabela 32), tendo-se, neste caso, verificado que os

sujeitos empregados por conta de outrem manifestam níveis de comunicação superiores

relativamente aos sujeitos desempregados (p=.026).

Tabela 33: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as doenças de que padecem os

sujeitos, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Nível da

coesão familiar

Nível de

flexibilidade

familiar

Nível d desligame

nto na relação familiar

Nível de emaranham

ento na relação familiar

Nível de Rigidez

na relação familiar

Nível de caos

na relação familiar

Nível de Comunic

ação Familiar

Nível da satisfaçã

o familiar

Rácio da

coesão familiar

Rácio da

flexibilidade

familiar

Rácio total do

nível familiar

Qui quadrado 4,905 8,448 9,039 6,940 8,543 6,881 15,082 23,172 4,889 2,795 3,778

df 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 p ,672 ,295 ,250 ,435 ,287 ,441 ,035 ,002 ,674 ,903 ,805

Para aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em função das

doenças de que padecem os sujeitos, recorremos, uma vez mais, ao teste One-way Anova. Ao

verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de

normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, para

investigar a existência de alguma diferença estatística de médias entre as doenças de que

padecem os sujeitos da amostra e os factores em análise. Pela tabela 33, podemos observar que

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Relações Familiares e Toxicodependência

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82essas diferenças existem na comunicação e satisfação familiares com níveis de significância de

p=.035 e p=.002, respectivamente.

Tabela 34: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo as doenças de que padecem os

sujeitos

95% Intervalo de confiança V. Dependente

FACES IV Problemas de saúde (i)

Problemas de saúde (j)

Diferença entre

médias (i-j) D.P. p

Limite mínimo

Limite máximo

Nível de Satisfação Familiar

Problemas cardíacos DST 50,493 3,351 ,001 29,83 71,16

Recorrendo às comparações post hoc – teste de Tamhane – para deciframos a que nível se

situam as diferenças observadas na subescala Nível de satisfação Familiar, percebemos que

estas diferenças se encontram entre os problemas cardíacos e as DST (p=,001), tendo as

segundas uma maior influência na satisfação familiar, indiciado por valores médios.

Tabela 35: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre o estado civil dos sujeitos, no que

respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Nível da

coesão familiar

Nível de

flexibilidade

familiar

Nível d desligamento na relação familiar

Nível de emaranham

ento na relação familiar

Nível de Rigidez

na relação familiar

Nível de caos

na relação familiar

Nível de Comunic

ação Familiar

Nível da satisfação familiar

Rácio da

coesão familia

r

Rácio da

flexibilidade

familiar

Rácio total do

nível familiar

Chi-Square 6,121 3,223 16,340 7,348 15,423 6,161 7,642 8,881 15,862 8,145 14,983

df 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 p ,295 ,666 ,006 ,196 ,009 ,291 ,177 ,114 ,007 ,148 ,010

Mais uma vez, na tentativa de aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em

análise, em função do estado civil dos sujeitos, recorremos, ao teste One-way Anova. Ao

verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de

normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, podendo

perceber que as diferenças estatísticas de médias, no que respeita ao estado civil dos sujeitos da

amostra, são positivas ao nível do desligamento familiar (p=,006), rigidez (p=,009), rácio de

coesão familiar (p=.007) e total (p=.010) (tabela 35).

Tabela 36: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo o estado civil dos sujeitos.

95% Interv. confiança V. Dependente FACES IV estado civil (i) estado civil (j)

Diferença entre

médias (i-j) D.P. p Limite

mínimo Limite

máximo

Solteiro Divorciado ,246 ,073 ,029 ,02 ,48 Rácio de Coesão Familiar 1º Casamento Divorciado ,356 ,079 ,001 ,11 ,60

Solteiro Separado ,355 ,048 ,001 ,16 ,55 Separado ,403 ,053 ,000 ,21 ,60 Rácio Familiar

Total 1º Casamento Divorciado ,255 ,070 ,017 ,03 ,48

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83Através do teste de Tamhane, verificamos que as diferenças podem ser observadas na

subescala rácio coesão familiar entre solteiros e divorciados (p=.029), e primeiro casamento e

divorciados (p=.001), em que os primeiros têm médias superiores no rácio de coesão familiar

que os segundos. Percebemos ainda diferenças entre solteiros e separados (p=.001), primeiro

casamento e separado com diferenças de médias altamente significativa (<.001) e entre

primeiro casamento e divorciado (.017), obtendo, mais uma vez, os solteiros e os que se

encontram num primeiro casamento, valores médios superiores, ao nível do rácio familiar total,

aos restantes (tabela 36).

Figura 10: Médias observadas por factor de análise, segundo o estado civil.

viúvodivorciadoseparadounião de facto1ºcasamentosolteiro

1,8

1,6

1,4

1,2

1

1,55

1,229

1,08

1,427

1,483

1,435

1,791

1,291

1,111

1,517

1,647

1,556

Rácio familiar total

Rácio do nivel de coesão familiar

Rácio familiar total

Rácio do nivel de coesão familiar

A figura 10, vem confirmar os resultados acima mencionados, sendo de fácil leitura que os

indivíduos solteiros e os que se situam num primeiro casamento dispõem de valores médios

superiores, em ambos os factores em análise, do que ao sujeitos que se encontram separados e

divorciados.

Méd

ia

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Relações Familiares e Toxicodependência

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84Tabela 37: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre com quem vivem os sujeitos, no

que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Nível da

coesão familiar

Nível de

flexibilidade

familiar

Nível d desligamento na relação familiar

Nível de emaranham

ento na relação familiar

Nível de Rigidez

na relação familiar

Nível de caos

na relação familiar

Nível de Comunic

ação Familiar

Nível da satisfaçã

o familiar

Rácio da

coesão familia

r

Rácio da

flexibilidade

familiar

Rácio total do

nível familiar

Qui quadrado 10,008 5,464 11,507 2,788 5,750 8,660 6,479 11,437 14,255 4,775 11,061

df 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 p ,075 ,362 ,042 ,733 ,331 ,123 ,262 ,043 ,014 ,444 ,050

Uma vez mais, na tentativa de aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em

análise, em função de com quem vivem os sujeitos, recorremos, ao teste One-way Anova. Ao

verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de

normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, que nos

permitiu verificar que a variável “com quem vive o indivíduo”, manifesta diferenças

significativas entre médias ao nível do desligamento, satisfação e rácio total familiar (p=.042,

p=.043, p=.014 e p=.050 respectivamente) (tabela 37).

Tabela 38: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo com quem vivem os sujeitos

95% Intervalo de confiança V. Dependente

FACES IV com quem

vive (i) com quem

vive (j)

Diferença entre

médias (i-j) D.P. p

Limite mínimo

Limite máximo

Nível de Satisfação Familiar

Sozinho Com pais -17,006 5,109 ,030 -33,03 -,98

Para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas na subescala Nível de

satisfação familiar, recorremos ao teste post hoc Tamhane, percebendo que é entre os sujeitos

que moram sozinhos e os que moram com os pais que encontramos valores estatisticamente

significativos (p=.030), estando familiarmente mais satisfeitos os que vivem com os pais

(valores médios de 90 versus 20) (tabela 38).

Tabela 39: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre estrutura da sua família, no que

respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Nível da

coesão familiar

Nível de

flexibilidade

familiar

Nível d desligame

nto na relação familiar

Nível de emaranhamento na relação familiar

Nível de Rigidez

na relação familiar

Nível de caos familia

r

Nível de Comunic

ação Familiar

Nível da satisfação familiar

Rácio da

coesão familiar

Rácio da

flexibilidade

familiar

Rácio total do

nível familiar

Qui quadrado 2,130 4,474 6,317 13,629 6,980 10,961 ,832 3,084 3,873 7,487 4,149

df 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 p ,546 ,215 ,097 ,003 ,073 ,012 ,842 ,379 ,276 ,058 ,246

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85Na tentativa de aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em

função da estrutura familiar dos sujeitos, recorremos, ao teste One-way Anova. Ao verificarmos

as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de normalidade da

distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, através do qual verificamos

que a estrutura familiar manifesta maior influência ao nível do emaranhamento e caos familiar

(p=.003 e p=.012 respectivamente).

Tabela 40: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo estrutura da família dos inquiridos.

95% Intervalo de confiança V. Dependente

FACES IV

Estrutura da sua família

(i)

Estrutura da sua família

(j)

Diferença entre

médias (i-j) D.P. p

Limite mínimo

Limite máximo

Nível Familiar Emaranhado

Dois pais (padrastos)

Apenas um dos pais 14,138 2,394 ,000 21,20 7,08

Para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas nas subescalas Nível de

emaranhamento e caos familiar, recorremos ao teste post hoc Tamhane, em que as diferenças

são estatisticamente significativas (p<.001) ao nível de emaranhamento familiar, entre famílias

cuja estrutura familiar é composta por dois pais (padrastos) e famílias com apenas um dos pais

(valores médios de 29 versus 2), tendo as primeiras maior influência sobre o nível de

emaranhamento familiar.

Tabela 41: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre lugar que ocupa no seio da

família, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.

Nível da

coesão familiar

Nível de

flexibilidade

familiar

Nível d desligame

nto na relação familiar

Nível de emaranham

ento na relação familiar

Nível de Rigidez

na relação familiar

Nível de caos

na relação familia

r

Nível de Comunic

ação Familiar

Nível da satisfaçã

o familiar

Rácio da

coesão familiar

Rácio da

flexibilidade

familiar

Rácio total do

nível familiar

Chi-Square 3,615 5,856 9,190 5,465 10,487 13,915 8,558 13,454 7,113 4,646 4,925 df 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 p ,606 ,320 ,102 ,362 ,063 ,016 ,128 ,019 ,212 ,461 ,425

Tentando novamente aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise,

em função do lugar que os sujeitos ocupam no seio da família, recorremos, ao teste One-way

Anova. Verificámos as condições para a sua realização, tendo concluido novamente pela

ausência de normalidade da distribuição. Recorremos ao teste Kruskal-Wallis, salientando que

o lugar ocupado pelo sujeito, no seio da sua família, manifesta diferenças significativas entre

médias nas subescalas relativas ao nível de caos e nível satisfação familiar (p=.016 e p=.019

respectivamente).

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86 Tabela 42: Teste de Tamhane, comparação múltipla entre médias segundo lugar que ocupa no seio da família.

95% Intervalo de confiança V. Dependente

FACES IV

Lugar que ocupa no seio da

família (i)

Lugar que ocupa no seio da

família (j)

Diferença entre

médias (i-j) D.P. p

Limite mínimo

Limite máximo

Pai Outro 28,833 3,688 ,000 16,86 40,80 Mãe Outro 24,077 3,382 ,000 12,91 35,24

1º Filho Outro 31,097 3,263 ,000 20,18 42,01 2º Filho Outro 19,071 4,370 ,002 5,05 33,09

Nível de Satisfação Familiar

3º e mais Filho Outro 19,967 5,341 ,029 1,41 38,52

Recorremos ao teste post hoc Tamhane, e percebemos que as principais diferenças

encontradas são ao nível da satisfação familiar, em que verificamos diferenças altamente

significativas (p<.001) entre a posição de pai, mãe e primeiro filho face à posição de “outro”

(tio, avó, etc), e diferenças entre segundo, terceiro e mais filho face à posição de “outro”

(p=.002 e p=.029 respectivamente). O facto de ocupar o lugar de outro no seio familiar,

representa um factor de menor satisfação familiar do que ocupar o lugar de pai, mãe ou filhos,

funcionando estes como factores de protecção familiar ao nível da satisfação.

Figura 11: Médias observadas por factor de análise, segundo o lugar ocupado pelo sujeito no seio da sua família.

outro (tio, avó, etc)

3º ou mais filho

2ºfilho1ºfilhomãepai

50

40

30

20

10

11,5

28,4

30,9

42,6

36,2

41,1

45

35,5

32,7

27,7

33,6

30,3

Nível da satisfaçã no seio da família

Nível de uma relação caótica na família

Nível da satisfaçã no seio da família

Nível de uma relação caótica na família

A figura 11 vem confirmar os resultados acima mencionados, sendo fácil verificar, através

da linha azul, a satisfação familiar mediante o lugar ocupado no seio familiar, manifestando

valores médios mais elevados o pai, mãe e filhos do que o lugar “outro” no seio familiar.

Méd

ia

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87

Capítulo IV – Discussão dos Resultados

A versão final da FACES IV é baseada quase numa década de pesquisa e é a mais recente

de uma série de desenvolvimentos dos instrumentos das FACES, que remontam há quase 25

anos. Observamos o desenvolvimento das escalas com vista a alcançar os aspectos

equilibrados e desequilibrados do funcionamento familiar como um avanço no

desenvolvimento do instrumento e na avaliação da família no geral. Foi desenvolvido um novo

conjunto de seis escalas de avaliação da família para efeitos de pesquisa e uso clínico que

avaliassem as dimensões da coesão e da flexibilidade. A criação do rácio das pontuações

equilibradas e desequilibradas é uma ferramenta poderosa que fornece também uma maneira

de avaliar a Curvilinearidade (hipótese central do Modelo Circumplexo, que sustenta a

escala).A escala tem níveis de confiabilidade que a configuram apropriada para a pesquisa e a

avaliação da família, na população americana para a qual foi aferida.

Nesse sentido, no nosso estudo, procurámos medir a validade de constructo da tradução da

nossa escala aplicada à nossa amostra, tendo verificado uma estrutura factorial de quinze

factores, que corresponderia a uma percentagem acumulada de variância explicada de 65,9%;

no entanto, apenas obtivemos significância estatística em três factores, o que passou a explicar

27,8% da variância da escala (< 59%). Relativamente à fidelidade, a nossa escala apresenta um

alpha de Cronbach de .792, o que demonstra uma capacidade discriminativa aceitável da

mesma (quando remetida para os quinze factores inicialmente encontrados).

Em termos de caracterização da nossa amostra, a maior parte dos sujeitos

toxicodependentes (90.9%) são do sexo masculino, situando-se essencialmente nas faixas

etárias dos 21 a 41 anos, sendo as restantes categorias familiares maioritariamente do sexo

feminino. Ainda a maior parte dos sujeitos toxicodependentes afirma viver com os pais, e os

seus familiares afirmam viver com parceiro e filhos maioritariamente. O que vem de encontro

ao que afirmam Stanton e colaboradores (1982) que referem que pelo menos dois terços dos

heroinómanos do sexo masculino (que constitui 75 a 85% da população toxicodependente)

com pelo menos 35 anos vive com a família e a maior parte dos restantes (80 a 85%) mantém

ligações com as figuras parentais. Apesar de não ser possível traçar um perfil desta tipologia

familiar, existem características comuns que permitem apontar algumas modalidades de

interacção familiar e compreender de forma mais clara a grande resistência à mudança que

tendem a apresentar (Stanton et al., 1982). Angel e Angel (2005), realçam a enorme

incapacidade dos pais em se posicionarem como pais, tornando-se impossível a autonomização

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88do filho adolescente, pois este tornou-se um instrumento necessário aos pais para exprimir a

sua posição na estrutura familiar. Pinheiro e colaboradores (2006), por sua vez, encontraram

grande percepção da existência de mecanismos e triangulação entre três elementos da tríade

familiar, indicando um grande risco de disfuncionamento ao longo da proximidade emocional.

Stanton e Todd (1982) consideram, assim, que a dependência à droga pode funcionar como um

mecanismo estabilizador quando a homeostasia familiar se encontra em ruptura. Outros

estudos têm vindo a confirmar esta suposição (Reilly, 1975; Weidman, 1983; Leyine, 1985).

Weidman (1983) diz-nos ainda que o consumidor de drogas é alguém que, desde a infância,

nunca se separou dos pais, mantendo uma relação simbiótica dependente, nunca tendo sido

encorajada a sua individuação na família.

Outro resultado saliente no nosso estudo foi o facto dos sujeitos toxicodependentes

possuírem essencialmente o 3º ciclo e ensino secundário, tendo metade dos elementos de

famílias sem elemento toxicodependente licenciatura, ou seja, os primeiros apresentam níveis

de escolaridade inferiores. Neste seguimento, estudos mostraram a influência de variáveis

ligadas ao meio familiar no consumo de drogas na adolescência, sendo o progresso na escola

(correlação negativa) os factores altamente correlacionados com o uso de drogas (Angel &

Angel, 2005).

Relativamente ao estado civil, a maioria dos toxicodependentes da nossa amostra é

“solteiro”, e uma percentagem significativa de “divorciados” encontrando-se os seus familiares

bem como os elementos da família sem elemento toxicodependente maioritariamente num

primeiro casamento. Rosh (1988) encontrou nas famílias de toxicómanos uma taxa de

divórcios e separações superior à população geral, da mesma forma que Sousa e colaboradores

(cit. in Gameiro, 1993).

No que remete à estrutura familiar, a maior parte das famílias com ou sem elemento

toxicodependente afirma ter dois pais biológicos, mas uma percentagem das famílias com

elemento toxicodependente afirma ter apenas um dos pais, o que vai de encontro à observação

de Fleming (Figueiredo et al., 1988) em que a proporção de sujeitos que consomem droga é

significativamente maior nas situações de ausência de um ou ambos os pais por falecimento.

Remetendo para a situação profissional, a maioria dos toxicodependentes encontra-se

desempregada, contrariamente aos seus familiares e aos elementos da família sem elemento

toxicodependente que se encontram reformados, empregados por conta de outrem e alguns, por

conta própria. Corroborando esta informação, em França, Fréjaville, Davidson e Choquet

(1977) mostram que a maior parte dos consumidores regulares de droga pertencem ao extracto

da população inactiva. Por outro lado, Pritchard, Fielding, Choudry e Cox (1986) mostram a

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89existência de correlações significativas entre a taxa elevada de desemprego do pai e o consumo

de drogas.

Focando os problemas de saúde dos sujeitos na nossa amostra, verificamos que a maior

parte dos sujeitos toxicodependentes (90%) apresentam doenças sexualmente transmissíveis e

33% dos seus familiares também, manifestando, ainda, 22% problemas do sistema nervoso.

Neste contexto, Duterte e colaboradores (2003) referem que a associação entre o uso e abuso

de drogas e a depressão foi feita em inúmeros estudos. Na mesma medida em que, de acordo

com a teoria dos sistemas familiares, cada membro afecta e é afectado pelos outros, assumindo

a noção de causalidade uma dimensão circular, não ficando a família indiferente à situação dos

consumos (Angel & Angel, 2005).

Referindo-nos ao historial de consumos, alguns sujeitos da nossa amostra iniciaram os seus

consumos entre os 10-13 anos, outros entre os 14-16 anos, ainda entre os 17-20 anos e, por fim,

entre os 21 e 40 anos, começando os mais novos essencialmente por haxixe e álcool e estes

últimos pela cocaína. Estudos explicam o consumo do tóxico na adolescência como um

contributo para o evitamento (da família ou jovem) do cumprimento das tarefas

desenvolvimentais desta fase sendo que o ciclo normativo não segue o caminho esperado

(Relvas, 1998). Frazão e colaboradores (2005) relacionam o uso de droga como factor de

interacção perante a existência de uma baixa auto-estima, sentimento de diferença,

insegurança, não-aceitação de si mesmo, carência afectiva, abandono, solidão, incompreensão,

dificuldade de estabelecer amizades.

Comparando agora as diferentes formas de relacionamento entre as duas tipologias

familiares verificamos, no nosso estudo, que famílias sem elemento toxicodependente

apresentam valores mais adaptados de coesão e flexibilidade, indo de encontro a diversos

estudos anteriores, nomeadamente de Olson e Killorin (1984), que encontraram diferenças

significativas, com uma maior percentagem de famílias dependentes de tipos extremos do que

as famílias não dependentes, tendo estas últimas maiores percentagens de níveis equilibrados.

Minuchin (1974) defende que à medida que há alterações no ciclo vital, nomeadamente quando

uma criança cresce, os subsistemas deveriam mover-se em direcção ao desligamento. No

entanto, sistemas que continuam a funcionar nos extremos desta dimensão frequentemente se

apresentam com problemas. Da mesma forma que corroborando o que encontrámos

relativamente à coesão familiar, Cannon (1976) defende ser fraca em famílias com elementos

toxicodependentes, e os membros pouco valorizados e reconhecidos, ainda Barnes, Banerjee e

Farrell (1995) observam que a evolução do stress, mudanças de comportamento e consumo de

álcool em adolescentes filhos de pais alcoólicos, se apresentam mais frequentemente em

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90famílias com baixa coesão, e diminuem quando a coesão aumenta. Bahr (1979) afirma que

quanto maior for o apego à família, menor é a probabilidade de condutas desviantes. Westley e

Epstein (1969) verificaram, ainda, que as famílias que encorajavam a autonomia tinham

adolescentes significativamente mais saudáveis emocionalmente. Schill e colaboradores (1991)

encontraram ligada ao ambiente familiar com falta de coesão, uma personalidade auto

derrotista e foi ainda referida a estabilidade e bom ambiente familiar, o diálogo entre pais e

filhos, como alguns factores de protecção eficazes relativamente ao consumo de drogas (Angel

& Angel, 2005).

Da mesma forma que no nosso estudo encontrámos em famílias sem elemento

toxicodependente valores mais baixos de desligamento, emaranhamento, rigidez e caos,

Matlack e colaboradores (1994) defendem que um equilíbrio entre a estrutura e a flexibilidade

foi encontrado na origem de um óptimo funcionamento familiar, enquanto que os extremos de

rigidez e caos determinaram um declínio no funcionamento familiar. Também o National

Institute of Drug Abuse (NIDA, 2002) apontou como factores de risco o ambiente familiar

caótico. Relativamente à rigidez, um estudo de Frazão e colaboradores (2005) refere que as

famílias se caracterizavam, por um lado, por terem limites difusos e por outro, exercendo o seu

papel com excesso de regras e rigidez, e Stanton e Todd (1982) constatam que as famílias dos

consumidores de heroína apresentam papéis familiares rígidos e estereotipados, bem como

padrões de comunicação mais rígidos. Neste seguimento, Angel e Angel (2005) referem que os

sistemas familiares rígidos se caracterizam pelo não questionamento acerca do seu modo de

funcionamento, fraca adesão à estratégia terapêutica proposta, as famílias apresentam-se de

forma enredada, sem distâncias intergeracionais. Por sua vez Jurich e colaboradores (1985)

mostram a disfuncionalidade de uma disciplina inconsistente, pela parca definição das regras,

ou pela rigidez de limites de comportamento ou, ainda, pela utilização de práticas educativas

que privilegiam estilo de educação ‘autoritários’ ou ‘laissez faire’.

Verificámos, ainda, no nosso estudo, que famílias sem elemento toxicodependente

apresentam valores mais adaptados de comunicação e satisfação, verificando alguns autores

que a monitorização percebida, comunicação, envolvimento e actividades realizadas em

conjunto na família, têm mostrado repetidamente uma relação negativa com os consumos de

álcool pelo adolescente (Bahr et al.,1995; Vakalahi et al., 2001; Kuntshe & Kuendig, 2006).

Algumas investigações têm vindo a mostrar que falhas na capacidade de comunicação entre os

membros é um aspecto disfuncional. Adolescentes consumidores sentem que os pais

bloqueiam a comunicação e, os pais negam esta falha para evitar ouvir coisas negativas ou

desagradáveis (Jurich, Polon, Jurich, & Bates, 1985). Kirschenbaum, Leonoff e Maliano (1974)

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91descrevem, ainda, os padrões de comunicação e interacção característicos de famílias de

toxicodependentes, constando de grandes níveis de conflito, estilo autoritário dos pais, falta de

intimidade, crítica frequente ao filho, isolamento emocional, falta de prazer na relação. Para

Recio e colaboradores (1991), a insatisfação nos jovens, face às relações familiares, tem uma

alta correlação com o consumo de substâncias psicoactivas, sendo a qualidade da relação do

adolescente com os seus pais o factor protector mais eficaz contra o consumo de drogas (in

Motta, 1998). Chabrol (1992), por sua vez, defende que alguns factores familiares podem estar

na origem do consumo de drogas, nomeadamente as situações familiares, relações conjugais,

relações familiares, tipo de educação, os maus-tratos familiares, entre outras.

Pela análise de todos os elementos teórico-práticos apresentados, constatamos uma relação

intrínseca destes elementos, ou seja, verificamos diferenças nas relações entre as famílias em

ambas as tipologias familiares, no entanto sem significância estatística, por diversos factores:

- pela dimensão e limitações da amostra,

- pelo número de factores (15) encontrados na análise factorial para a nossa amostra com

uma percentagem significativa de variância explicada face aos (5) encontrados para a

população americana para descrever as relações familiares,

- pelas alterações que vêm surgindo nas relações no seio das famílias ao longo de gerações,

que vêm acompanhando o evoluir dos tempos, tecnologias, de uma sociedade em crescente

stress, consumo e falta de tempo,

- ainda pelas cada vez mais ténues linhas entre o funcional e o disfuncional, posicionando-

-se as relações e os relacionamentos a cada passo mais nos extremos. Atendendo a que estamos

num permanente contínuo ao longo do ciclo vital, onde surgem ambos os momentos de acerto

e desacerto, verificam-se, ao longo do tempo, mais escassos os momentos em equilíbrio.

Pudemos já observar indícios desta evolução num estudo longitudinal de Van der Vorst,

Engels, Meeus, Dekivíc e Vermulst (2006, in Chassin & Handley, 2006) que afirmam não ter

encontrado a ligação parental como prospectiva preditora de hábitos de bebida ou como

moderadora do efeito do controlo parental no comportamento de beber por parte do adolescente.

Isto é surpreendente atendendo a que, teoricamente, a ligação parental deveria aumentar o poder

das mensagens de sociabilização parentais, pois crianças seguramente ligadas confiam que os

pais os conduzirão apropriadamente e são mais receptivas ao controlo parental (Grusec &

Goodnow, 1994; Grusec et al., 2000, in Chassin & Handley, 2006).

Também Alarcão (2000, p.57) referindo Minuchin (1979), relativamente à tipologia

estrutural familiar, afirma que “as famílias podem ser escalonadas num contínuo que vai de um

pólo emaranhado (fronteiras difusas) a um pólo desmembrado (fronteiras rígidas). Ainda,

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92Minuchin (1979, in Alarcão, 2000) salienta que não existem diferenças qualitativas entre famílias

funcionais e disfuncionais, passando estas por períodos de maior emaranhamento ou

desmembramento mediante a sua forma de adaptação às etapas do ciclo vital, aos diferentes tipos

de limites verificados no seio de uma mesma família entre os vários elementos, atendendo ao

contexto cultural em que as famílias se inserem, da mesma forma que à história familiar,

atendendo sempre ao aspecto dinâmico desta tão complexa estrutura que é a familiar.

Remetendo agora para futuras investigações, para os autores da versão original, esta deve

examinar se a estrutura factorial, fidelidades, habilidades discriminativas do instrumento

FACES podem ser replicadas. É recomendado pelos mesmos, que análises futuras às estruturas

factoriais utilizem o modelo estrutural equacional como uma técnica factorial confirmatória da

apresentada na pesquisa presente. Também sugerem que as escalas desenvolvidas sejam

utilizadas com grupos de sujeitos clínicos e não clínicos para testar em maior profundidade a

habilidade discriminativa das mesmas. Há ainda planos de recolha de dados para usos futuros

da escala, pelos autores da escala, de modo a desenvolver um grupo de controlo mais

representativo.

Apesar das suas actuais limitações, esta última versão (IV) da Escala FACES é muito mais

refinada que as anteriores versões da FACES (I, II e III), com maior poder diferenciador e

discriminativo dos diferentes posicionamentos das famílias no enquadramento do seu

funcionamento e relações. É uma versão de simples aplicação, sendo um bom instrumento para

a aferição da coesão e flexibilidade familiar, devendo ser aferido para a população portuguesa,

a fim de permitir uma maior significância dos resultados obtidos e maior cientificidade dos

mesmos quer no âmbito da investigação quer na sua utilização na clínica.

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93

Capítulo V – Conclusões

Chegados a esta fase do trabalho, importa reter as principais conclusões a que chegámos,

após a análise e discussão dos resultados, feitos nos capítulos anteriores. Ao conceptualizar a

íntima relação entre família, relação intra familiar (coesão, flexibilidade, comunicação e

satisfação) em famílias com e sem elemento toxicodependente, surge este trabalho.

- Verificamos que, na sua maioria, os sujeitos toxicodependentes são do sexo masculino,

maioritariamente entre 21 e 41 anos, incidindo os seus familiares na faixa dos 56 e mais anos.

Os sujeitos toxicodependentes são na sua maioria solteiros e divorciados, vivendo grande parte

deles com os pais. Os seus elementos familiares e os elementos familiares sem sujeito

toxicodependente encontram-se mais frequentemente num primeiro casamento, vivendo

principalmente com parceiro e filhos. Os sujeitos solteiros e num primeiro casamento revelam

valores mais adaptados ao nível do rácio de coesão e rácio total familiar do que os sujeitos

separados e divorciados.

- Relativamente à escolaridade, as famílias com sujeito toxicodependente tendem a apresentar

níveis mais baixos do que as famílias sem elemento toxicodependente. Os níveis de satisfação

e coesão familiar aumentam à medida que a escolaridade aumenta, por outro lado diminuem os

níveis de caos, desligamento e emaranhamento familiar. Encontrámos ainda maiores taxas de

desemprego em elementos toxicodependentes do que nos restantes elementos da amostra,

estando ainda relacionado com os níveis de comunicação, sendo estes inferiores para sujeitos

desempregados.

- Ao abordar a questão da saúde, é notória a elevada percentagem de elementos

toxicodependentes que sofrem de doenças sexualmente transmissíveis, padecendo também os

seus familiares desta patologia bem como de problemas do sistema nervoso e reumatismo. Os

sujeitos padecentes de doenças sexualmente transmissíveis manifestam níveis inferiores de

satisfação familiar.

- No que remete para o lugar ocupado no seio da família, entendemos como factores

protectores ao nível da satisfação familiar, o facto de ocupar a posição de pai, mãe, ou filho.

- Pela análise de todos os elementos teórico-práticos apresentados, constatamos uma relação

intrínseca destes elementos, ou seja, verificámos diferenças nas relações familiares entre ambas

as tipologias familiares, no entanto sem significância estatística, por diversos factores

nomeadamente pelas características e dimensão da nossa amostra.

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94- Outro conjunto de resultados do nosso estudo, mostra-nos que o instrumento utilizado

(FACES IV) possui sensibilidade na discriminação dos sujeitos e boa consistência interna para

a escala na sua globalidade. No entanto, estes resultados espelham um conjunto de quinze

factores a que chegámos através da análise factorial de componentes principais para a nossa

amostra. Devemos aqui realçar o facto de tal não acontecer quando aplicado à realidade

americana,

- Embora os resultados encontrados no nosso estudo vão de encontro aos referidos por outras

investigações, persistem alguns handicaps que se prendem com a utilização parcial do

instrumento. É verdade que a FACES recebeu críticas relacionadas com o facto de ignorar as

peculiaridades existentes nas relações de cada díade ou subsistema (Cole & Jordan, 1989)

como, por exemplo, numa situação na qual uma filha percebe os seus relacionamentos com a

mãe (díade filha-mãe) e com o pai (díade filha-pai) como coesos e, ao mesmo tempo, note uma

baixa coesão entre os pais (díade pai-mãe). Neste caso, ao responder à FACES, o filho terá que

dar pontuações médias para toda a família, colocando em segundo plano as diferenças

existentes no relacionamento de cada díade em separado, diminuindo assim o poder da escala

em conhecer especificidades da família (Teodoro, 2005, in Teodoro, 2006).

- Do ponto de vista clínico, considera-se que a toxicodependência aponta para a necessidade de

se implementar uma abordagem sistémica nos programas de tratamento e, mais

especificamente, as terapias familiares, em complementaridade com outras abordagens

terapêuticas. O modelo terapêutico que mais se adequa, segundo Fleming (1996) é baseado na

escuta e na compreensão da pessoa na sua individualidade, numa intervenção de longa duração

e visando alterações na sua personalidade.

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ANEXOS

Anexo I: FACES IV (versão original)

Anexo II: Questionário Sociodemográfico e FACES IV (Protocolo adaptado).

Anexo III: Tabelas de cotação da FACES IV.

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Anexo I: FACES IV (versão original)

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FACES IV Questionnaire

Directions to Family Members: 1. All family members over the age 12 can complete FACES IV. 2. Family members should complete the instrument independently, not consulting or discussing their responses until they have been completed. 3. Fill in the corresponding number in the space on the provided answer sheet.

1 2 3 4 5 Strongly Disagree

Generally Disagree Undecided Generally

Agree Strongly

Agree 1. Family members are involved in each others lives. 2. Our family tries new ways of dealing with problems. 3. We get along better with people outside our family than inside. 4. We spend too much time together. 5. There are strict consequences for breaking the rules in our family. 6. We never seem to get organized in our family. 7. Family members feel very close to each other. 8. Parents equally share leadership in our family. 9. Family members seem to avoid contact with each other when at home. 10. Family members feel pressured to spend most free time together. 11. There are clear consequences when a family member does something wrong. 12. It is hard to know who the leader is in our family. 13. Family members are supportive of each other during difficult times. 14. Discipline is fair in our family. 15. Family members know very little about the friends of other family members. 16. Family members are too dependent on each other. 17. Our family has a rule for almost every possible situation. 18. Things do not get done in our family. 19. Family members consult other family members on important decisions. 20. My family is able to adjust to change when necessary. 21. Family members are on their own when there is a problem to be solved. 22. Family members have little need for friends outside the family. 23. Our family is highly organized. 24. It is unclear who is responsible for things (chores, activities) in our family. 25. Family members like to spend some of their free time with each other. 26. We shift household responsibilities from person to person. 27. Our family seldom does things together. 28. We feel too connected to each other. 29. Our family becomes frustrated when there is a change in our plans or routines. 30. There is no leadership in our family.

1 2 3 4 5 Strongly Disagree

Generally Disagree Undecided Generally

Agree Strongly

Agree

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10531. Although family members have individual interests, they still participant in family activities. 32. We have clear rules and roles in our family. 33. Family members seldom depend on each other. 34. We resent family members doing things outside the family. 35. It is important to follow the rules in our family. 36. Our family has a hard time keeping track of who does various household tasks. 37. Our family has a good balance of separateness and closeness. 38. When problems arise, we compromise. 39. Family members mainly operate independently. 40. Family members feel guilty if they want to spend time away from the family. 41. Once a decision is made, it is very difficult to modify that decision. 42. Our family feels hectic and disorganized. 43. Family members are satisfied with how they communicate with each other. 44. Family members are very good listeners. 45. Family members express affection to each other. 46. Family members are able to ask each other for what they want. 47. Family members can calmly discuss problems with each other. 48. Family members discuss their ideas and beliefs with each other. 49. When family members ask questions of each other, they get honest answers. 50. Family members try to understand each other’s feelings 51. When angry, family members seldom say negative things about each other. 52. Family members express their true feelings to each other.

1 2 3 4 5 Very

Dissatisfied Somewhat Dissatisfied

Generally Satisfied

Very Satisfied

Extremely Satisfied

How satisfied are you with: 53. The degree of closeness between family members. 54. Your family’s ability to cope with stress. 55. Your family’s ability to be flexible. 56. Your family’s ability to share positive experiences. 57. The quality of communication between family members. 58. Your family’s ability to resolve conflicts. 59. The amount of time you spend together as a family. 60. The way problems are discussed. 61. The fairness of criticism in your family. 62. Family members concern for each other.

Thank you for Your Cooperation!

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Anexo II: Questionário Sociodemográfico e FACES IV (Protocolo adaptado).

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107

Toda a informação recolhida através deste questionário é confidencial, não escreva o seu nome, ou algo que o identifique em parte nenhuma das folhas.

QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA (FAMÍLIA)

Data do preenchimento: ____/____/______

DADOS BIOGRÁFICOS

Identificação por número (igual à do familiar) __________ Nacionalidade Sexo: F___ M____ Idade ______ anos Local de residência Profissão: 0. Membros das forças armadas 1. Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e

Quadros Superiores de Empresa

2. Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas

3. Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio

4. Pessoal Administrativo e Similares

5. Pessoal dos Serviços e Vendedores 6. Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e

Pescas

7. Operários, Artífices e Trabalhadores Similares 8. Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da

Montagem

9. Trabalhadores Não Qualificados

10. Estudante

11. Doméstica

12. Sem profissão

Escolaridade/Educação: 1ºciclo (1ª a 4ª classe)

2ºciclo (5º e 6º)

3ºciclo (7º, 8º e 9º)

Secundário (10º, 11º, 12º)

Bacharelato

Licenciatura

Pós graduação/Mestrado

Doutoramento Situação profissional (profissão principal) Empregado(a) por conta própria

Empregado(a) por conta de outrem

Desempregado(a)

Reformado(a)

Pensionista

Problema(s) de saúde/doença(s)?_____ Qual ou quais? ________________________________________ _______________________________________________________________________________________ Estado civil: Solteiro

Casado É uma primeira relação de casal?

União de facto Sim Não

Separado

Divorciado

Viúvo

Tem filhos? ____ Quantos?____ De que idades?___anos; ____anos; ____anos; ____ anos; _____ anos.

Com quem vive: Sozinho

Com pais

Com parceiro/a

Com outros

Com filho(s)

Com parceiro/a e filho(s)

USE A SITUAÇÃO DA FAMÍLIA ACTUAL PARA RESPONDER. Qual a estrutura da sua família? Dois pais (biológicos)

Dois pais (padrastos)

Dois pais (adoptivos)

Dois pais (do mesmo sexo)

Apenas um dos pais

Que lugar ocupa no seio da sua família? Pai

Mãe

1º filho

2º filho

3º ou mais filho

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108Toda a informação recolhida através deste questionário é confidencial, não escreva o seu nome, ou algo que o identifique em parte nenhuma das folhas.

QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA (DEPENDENTE) Data do preenchimento: ____/____/______

DADOS BIOGRÁFICOS Identificação do sujeito (4 dígitos) __________ Nacionalidade Sexo: F___ M____ Idade ______ anos Local de residência Profissão:

0. Membros das forças armadas 1. Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores

de Empresa

2. Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas

3. Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio

4. Pessoal Administrativo e Similares

5. Pessoal dos Serviços e Vendedores

6. Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e Pescas

7. Operários, Artífices e Trabalhadores Similares

8. Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da Montagem

9. Trabalhadores Não Qualificados

10. Estudante

11. Doméstica

12. Sem profissão

Escolaridade/Educação:

1ºciclo (1ª a 4ª classe)

2ºciclo (5º e 6º)

3ºciclo (7º, 8º e 9º)

Secundário (10º, 11º, 12º)

Bacharelato

Licenciatura

Pós graduação/Mestrado

Doutoramento Situação profissional (profissão principal)

Empregado(a) por conta própria

Empregado(a) por conta de outrem

Desempregado(a)

Reformado(a)

Pensionista

Problema(s) de saúde/doença(s)?______ Qual ou quais? __________________ Problemas com a justiça? Sim__ Não __ Estado civil:

Solteiro

Casado É uma primeira relação de casal?

União de facto Sim Não

Separado

Divorciado

Viúvo

Tem filhos? ____ Quantos?____ De que idades?___anos; ____anos; ____anos; ____ anos; _____ anos.

Com quem vive:

Sozinho

Com pais

Com parceiro/a

Com outros

Com filho(s)

Com parceiro/a e filho(s)

Use a situação da família actual para responder. Se não tem, use a da família de origem. Qual a estrutura da sua família?

Dois pais (biológicos)

Dois pais (padrastos)

Dois pais (adoptivos)

Dois pais (do mesmo sexo)

Apenas um dos pais

Que lugar ocupa no seio da sua família?

Pai

Mãe

1º filho

2º filho

3º ou mais filho HISTÓRIA DE CONSUMOS Idade de início de consumos? _________ anos. Substâncias consumidas inicialmente? _______________; _______________; __________________; ______________.

Qual é a sua substância de eleição? ____ ___________________________________ Que consome há ____________ anos.

Quantas desintoxicações já realizou? ________________

Quantos tratamentos em comunidade terapêutica? _______________________

Há quanto tempo se encontra neste tratamento? _____dias, ______meses ______ anos

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109Agradeço a sua colaboração para este estudo, no âmbito da minha Tese de Mestrado, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, acerca das Relações Familiares. Os Questionários devem ser preenchidos um por si e outro por um elemento da sua família.

Toda a informação recolhida através deste questionário é confidencial. Não escreva o seu nome, ou algo que o identifique em parte nenhuma das folhas. Atribuímos um número/código igual ao seu questionário e ao do seu familiar para que ambos os questionários correspondam à mesma família.

Inteiramente ao vosso dispor para qualquer esclarecimento. Joana Rebelo (T:938284807)

QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DADOS BIOGRÁFICOS Data do preenchimento: ____/____/______ Identificação por número (igual à do familiar) __________ Sexo: F___ M____

Nacionalidade Idade ______ anos

Local de residência Profissão: 0. Membros das forças armadas 1. Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e

Quadros Superiores de Empresa

2. Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas

3. Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio

4. Pessoal Administrativo e Similares

5. Pessoal dos Serviços e Vendedores 6. Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e

Pescas

7. Operários, Artífices e Trabalhadores Similares 8. Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da

Montagem

9. Trabalhadores Não Qualificados

10. Estudante

11. Doméstica

12. Sem profissão

Escolaridade/Educação: 1ºciclo (1ª a 4ª classe)

2ºciclo (5º e 6º)

3ºciclo (7º, 8º e 9º)

Secundário (10º, 11º, 12º)

Bacharelato

Licenciatura

Pós graduação/Mestrado

Doutoramento Situação profissional (profissão principal) Empregado(a) por conta própria

Empregado(a) por conta de outrem

Desempregado(a)

Reformado(a)

Pensionista Problema(s) de saúde/doença(s)?_____ Qual ou quais? ________________________________________ Estado civil: Solteiro

Casado É uma primeira relação de casal?

União de facto Sim Não

Separado

Divorciado

Viúvo

Com quem vive: Sozinho

Com pais

Com parceiro/a

Com outros

Com filho(s)

Com parceiro/a e filho(s)

Tem filhos? ____ Quantos?____ De que idades?___anos; ____anos; ____anos; ____ anos; ____ anos.

USE A SITUAÇÃO DA FAMÍLIA ACTUAL PARA RESPONDER. Qual a estrutura da sua família? Dois pais (biológicos)

Dois pais (padrastos)

Dois pais (adoptivos)

Dois pais (do mesmo sexo)

Apenas um dos pais

Que lugar ocupa no seio da sua família? Pai

Mãe

1º filho

2º filho

3º ou mais filho

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FACES IV

Versão original:Gorall, Tiesel & Olson, 2004, 2006 Versão portuguesa: Rebelo, 2007

Indicações para os elementos da família: 1. Todos os elementos da família com idade superior a 12 anos podem completar o

questionário. 2. Os elementos da família devem completar o questionário de forma independente, sem

consultar ou discutir as suas respostas, até que o questionário esteja completo. 3. Escolha (assinalando com um X) a opção para cada afirmação que melhor corresponda ao

que acontece na sua família.

Discordo Fortemente Discordo Não concordo

nem discordo Concordo Concordo Fortemente

1. Os membros da família estão envolvidos nas vidas uns dos outros.

2. A nossa família tenta novas formas de lidar com os problemas.

3. Nós damo-nos melhor com pessoas fora da nossa família do que de dentro.

4. Nós passamos tempo demais juntos. 5. Há consequências rígidas para a quebra de regras na nossa família.

6. Nós nunca parecemos ficar organizados na nossa família. 7. Os membros da família sentem-se muito próximos uns dos outros.

8.Os pais partilham igualmente a liderança na nossa família. 9. Os membros da família parecem evitar o contacto uns com os outros quando estão em casa.

10. Os membros da família sentem-se pressionados para passar a maior parte do tempo livre juntos.

11. Existem consequências claras quando um membro da família faz algo de errado.

12. É difícil saber quem é o líder na nossa família. 13. Os membros da família apoiam-se uns aos outros, durante tempos difíceis.

14. A disciplina é justa na nossa família. 15. Os membros da família sabem muito pouco acerca dos amigos dos outros membros da família.

16. Os membros da família estão demasiado dependentes uns dos outros.

17. A nossa família tem uma regra para quase todas as situações possíveis.

18. É difícil levar a cabo as coisas na nossa família. 19. Os membros da família consultam outros membros da família em decisões importantes.

20. A minha família é capaz de se ajustar a mudanças quando é necessário.

21. Os membros da família estão por sua conta quando há um problema a ser resolvido.

22. Os membros da família têm pouca necessidade de amigos fora da família.

23. A nossa família é altamente organizada. 24. Não é claro quem é responsável pelas coisas (pequena tarefa, actividades) na nossa família.

25. Os membros da família gostam de passar algum do seu tempo livre uns com os outros.

26. Nós alternamos as responsabilidades domésticas, de pessoa para pessoa.

27. A nossa família raramente faz coisas juntas. 28. Nós sentimo-nos demasiado ligados uns aos outros.

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Discordo Fortemente Discordo Não concordo

nem discordo Concordo Concordo Fortemente

29. A nossa família fica frustrada quando há uma mudança nos nossos planos ou rotinas.

30. Não há liderança na nossa família. 31. Apesar dos membros da família terem interesses individuais ainda participam nas actividades da família.

32. Nós temos regras e papéis claros, na nossa família. 33. Os membros da família raramente dependem uns dos outros.

34. Na nossa família ressentimo-nos quando alguém faz coisas fora da família.

35. É importante seguir as regras na nossa família. 36. A nossa família não tem consciência de quem faz as diversas tarefas domésticas.

37. A nossa família é equilibrada ao nível da separação e aproximação.

38. Quando os problemas surgem nós acomodamo- -nos.

39. Os membros da família agem principalmente de forma independente.

40. Os membros da família sentem-se culpados quando querem passar tempo afastados da família.

41. Uma vez tomada uma decisão é muito difícil modificar essa decisão.

42. A nossa família sente-se sempre sobre pressão e desorganizada.

43. Os membros da família estão satisfeitos com a forma de comunicar uns com os outros.

44. Os membros da família são muito bons ouvintes. 45. Os membros da família exprimem afecto uns pelos outros.

46. Os membros da família são capazes de pedir uns aos outros o que querem.

47. Os membros da família conseguem calmamente discutir os problemas uns com os outros.

48. Os membros da família discutem as suas ideias e convicções uns com os outros.

49. Quando membros da família fazem perguntas uns aos outros recebem respostas honestas.

50. Os membros da família tentam compreender os sentimentos uns dos outros.

51. Quando zangados, os membros da família raramente dizem coisas negativas sobre cada um dos outros.

52. Os membros da família expressam os seus verdadeiros sentimentos uns aos outros.

Quão satisfeito(a) está(s) com: Muito Descontente

Um tanto Descontente

Geralmente Satisfeito

Muito Satisfeito

Extremamente Satisfeito

53. O grau de proximidade entre os membros da família. 54. A capacidade da família em lidar com o stress. 55. A capacidade da família em ser flexível. 56. A capacidade da família em partilhar experiências positivas.

57. A qualidade de comunicação entre os membros da família.

58. A capacidade da família para resolver conflitos. 59. A quantidade de tempo que passam em conjunto, como uma família.

60. A forma como os problemas são discutidos. 61. A justiça das críticas na família. 62. A preocupação dos membros da família uns com os outros.

Escala traduzida e adaptada cokm autorização dos autores (www.lifeinnovation.com). Para obter mais informações sobre a versão portuguesa contactar [email protected].

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Anexo III: Tabelas de cotação da FACES IV.

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113

Tabelas de conversão de resultados brutos das escalas equilibradas em

resultados percentuais.

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Tabelas de conversão de resultados brutos das escalas equilibradas em resultados percentuais.

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