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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL Comparação da dieta da lontra (Lutra lutra) e do visão-americano (Neovison vison) numa situação de simpatria no NO de Portugal Sofia Alexandra da Silva Gonçalves Dissertação Mestrado em Biologia da Conservação 2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Comparação da dieta da lontra (Lutra lutra) e do visão-americano

(Neovison vison) numa situação de simpatria no NO de Portugal

Sofia Alexandra da Silva Gonçalves

Dissertação

Mestrado em Biologia da Conservação

2012

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

Comparação da dieta da lontra (Lutra lutra) e do visão-americano

(Neovison vison) numa situação de simpatria no NO de Portugal

Sofia Alexandra da Silva Gonçalves

Dissertação

Mestrado em Biologia da conservação

Orientação científica:

PROFESSORA DOUTORA MARGARIDA SANTOS-REIS (CBA/DBA-FCUL)

2012

Esta tese foi desenvolvida no âmbito do Projeto “DILEMA – Espécies invasoras e

dilemas de conservação: efeito dos competidores nativos e presas exóticas na

dispersão do visão-americano em Portugal”, da responsabilidade do Centro de

Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CBA/FCUL)

e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT - PTDC/BIA-BEC/

102433/2008).

i

Agradecimentos

À Professora Doutora Margarida Santos-Reis pelo apoio, conselhos e ajuda na

identificação de algumas presas.

À minha família, pelo apoio. Em especial, agradeço à minha mãe por me "aturar" e ao

meu tio pelas boleias e por perguntar sempre se precisava de alguma coisa.

À Catarina e à minha mana porque me avisaram que se não lhes agradecesse ficavam

tristes.

À Professora Doutora Ana Isabel Correia pela ajuda na identificação das sementes.

À Raquel Mendes pela ajuda na análise laboratorial e esclarecimentos de dúvidas.

À Rita Duarte, Laura Kuipers, Luciana Simões e Diana Rodrigues pelos fantásticos

momentos no campo, ajuda laboratorial e sugestões. Ainda à Luciana pelo trabalho

sobre-humano na identificação genética.

À Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos pelo apoio no

trabalho de campo.

Ao Filipe e Inês por momentos de loucura partilhados.

Aos meus amigos por todo o apoio e piadas sobre análise de "cocós".

ii

Resumo

A introdução de espécies exóticas potencialmente invasivas pode causar efeitos

negativos graves nas comunidades nativas. O visão-americano, espécie nativa da

América do Norte, apresenta atualmente populações estabelecidas em vários países

europeus causando danos por predação excessiva de presas nativas e competição com

outros carnívoros. Considerando a expansão desta espécie no noroeste de Portugal,

pretendeu-se averiguar o potencial para competição alimentar entre o visão-americano e

outros carnívoros ripários, com enfoque na lontra, quando em simpatria. Foram

analisados 327 dejetos dos carnívoros ripários recolhidos na Paisagem Protegida das

Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos, divididos por sistemas dulciaquícolas e

estações do ano. A composição da dieta identificada pelos restos de presas detectados,

permitiu determinar a importância dos diferentes grupos de presas (expressa por

percentagens de ocorrência), estas foram comparadas entre amostras através do teste do

Qui-quadrado modificado para proporções binomiais. O nicho trófico foi avaliado

através dos índices de Shannon-Wiener, Levins, Pielou e Pianka, verificando-se que a

dieta dos carnívoros ripários, nos sistemas e estações do ano avaliados, difere apenas

para algumas categorias de presas, com diversidade de presas consumidas reduzida e

sobreposição elevada. As presas mais consumidas foram o lagostim, os peixes e os

mamíferos. Dos 327 dejetos recolhidos, utilizando marcadores moleculares (citocromo

b) foram identificados geneticamente 71 dejetos de lontra e 87 de visão usados para

comparar as respectivas dietas. O lagostim-americano foi a presa mais consumida por

ambas as espécies, mas a dieta, apesar de registar reduzida diversidade de presas e

elevada sobreposição trófica, diferiu relativamente aos peixes (mais consumidos pela

lontra) e mamíferos (mais consumidos pelo visão). Apesar do potencial de competição

resultante do uso de recursos comuns, este não aparenta ser um problema de

conservação por o recurso principal não ser limitante (elevada presença de lagostim-

americano) e o visão-americano registar maior consumo de presas terrestres.

Palavras-chave: Neovison vison, Lutra lutra, carnívoros ripários, espécies invasoras,

competição alimentar

iii

Abstract

The introduction of exotic species, potentially invasive, can cause severe negative

effects on native communities. The American mink, native species from North America,

currently has established populations on several European countries causing damages

by excessive predation of native prey and competition with other carnivores.

Considering the expansion of the species in the Northwest of Portugal, we intended to

ascertain the potential for feeding competition between the mink and other riparian

carnivores, focusing on the otter, when in sympatry. We were analyzed 327 scats from

riparian carnivores, collected in the Protected Landscape of the Lagoons of Bertiandos

and S. Pedro de Arcos and divided in freshwater systems and seasons. The composition

of the diet identified through the remains of consumed prey, allowed the determination

of the importance of the different prey groups (expressed by percentage of occurrence),

which were compared between samples through Chi-Squared test modified for binomial

proportions. The tropic niche was assessed through Shannon-Wiener, Levins, Pielou

and Pianka indexes, showing that the riparian carnivore diet, in the systems and seasons

evaluated, only differs for some prey categories, with reduced diversity of consumed

prey and high overlap. The most consumed prey were crayfish, fishes and mammals.

From the 327 collected scats, by means of molecular markers (cytochrome b) 71 otter

scats and 87 mink scats were genetically identified, which were used to compare their

respective diets. The crayfish was the most consumed prey for both species, but the diet,

despite presenting low prey diversity and high tropic overlap, differed regarding fishes

(more consumed by otter) and mammals (more consumed by mink). Despite the

potential for competition resulting from the use of common resources, it doesn't appear

to be a conservation problem because the main resource isn't limiting (high presence of

crayfish) and the mink has higher consumption of terrestrial prey.

Keywords: Neovison vison, Lutra lutra, diet composition, invasive species, feeding

competition

Índice

Agradecimentos .............................................................................................................................. i

Resumo .......................................................................................................................................... ii

Abstract ........................................................................................................................................ iii

1. Introdução ............................................................................................................................. 1

1.1 Lontra .................................................................................................................................. 2

1.2 Visão-americano ................................................................................................................. 4

1.3 Interação visão-americano e outros carnívoros ripários ...................................................... 6

1.4 Competição alimentar ......................................................................................................... 8

1.5 Objetivos ............................................................................................................................. 9

2. Metodologia ........................................................................................................................ 10

2.1 Área de estudo ................................................................................................................... 10

2.2 Recolha de amostras .......................................................................................................... 12

2.3. Análise laboratorial .......................................................................................................... 14

2.4. Tratamento de dados ........................................................................................................ 15

3. Resultados ........................................................................................................................... 17

3.1. Variação espacial e temporal da dieta dos carnívoros ripários ......................................... 17

3.2. Comparação entre a dieta do visão-americano e da lontra ............................................... 23

4. Discussão ............................................................................................................................. 29

4.1 Caracterização da dieta da comunidade de carnívoros ripários ......................................... 29

4.2. Interações tróficas entre o visão-americano e lontra ........................................................ 31

4.3. Limitações do estudo e perspectivas futuras .................................................................... 35

4.4 Considerações finais e implicações de conservação ......................................................... 36

5. Referências bibliográficas ................................................................................................... 38

6. Anexos ................................................................................................................................. 46

1

1. Introdução

A introdução de espécies exóticas com potencial invasivo em novos habitats é

considerada uma das maiores ameaças à biodiversidade global (Sala et al., 2000; Long,

2003 in Rey, 2008). Estas são espécies que, uma vez introduzidas fora do seu habitat

nativo através de ação humana, deliberada ou não, conseguem estabelecer-se, proliferar

e provocar danos à diversidade biológica (McNeely et al., 2001).

Estas introduções causam impactos significativos na fauna e flora de uma região

podendo modificar comunidades e ecossistemas inteiros ao provocar declínios

populacionais acentuados e até contribuir para o desaparecimento de espécies nativas

(e.g. Mooney & Hobbs, 2000; Jaksic et al., 2002; Gurevitch & Padilla, 2004), através de

processos como competição, predação ou transmissão de doenças (e.g. Mooney &

Cleland, 2001). As espécies invasoras podem ter impactos na saúde humana e causar

prejuízos económicos (e.g. Vié, 2009), e os seus efeitos podem fazer-se sentir a nível

evolutivo, através de processos de exclusão competitiva, hibridação e extinção (Mooney

& Cleland, 2001).

Os sistemas de água doce são muito sensíveis à introdução de espécies invasoras

(e.g. McNeely et al., 2001) devido à sua forte ligação com os humanos, às suas

actividades e à elevada capacidade de dispersão das espécies de água doce (e.g. Lodge

et al., 1998).

São exemplos de sistemas de água doce as zonas húmidas interiores, mares

interiores, lagos, lagoas, rios, ribeiras e águas subterrâneas (Wetzel, 2001). As zonas

ripárias são zonas de interface que se encontram adjacentes a estes corpos de água

(O’Connell et al., 2000) e apresentam uma importância elevada que se deve a vários

fatores, dos quais se destacam a proximidade da água que potencia a existência de

habitats favoráveis à presença de vida, a elevada humidade e circulação de vento que

permitem a formação de microclimas particulares e a presença de habitats complexos

com comunidades vegetais muito diversificadas (Oakley et al., 1985; O’Connell et al.,

1993; Naiman & Decamps, 1997; O’Connell et al., 2000).

Existem várias espécies animais que utilizam os habitats ripários, especialmente

durante as épocas mais quentes do ano. As águas superficiais dos habitats ripários são

necessárias para a alimentação de muitas espécies de hábitos ripários devido à sua

2

elevada produtividade vegetal (no caso dos herbívoros) e maior abundância de presas

(no caso dos predadores) (O’Connell et al., 1993). Nestes sistemas encontram-se várias

espécies que se alimentam de sementes, insetos, peixes, lagostim ou outros organismos

aquáticos e predadores de topo que aproveitam a abundância de presas dependentes

daqueles recursos (Oakley et al., 1985).

Os sistemas ripários fornecem ainda habitat para reprodução e criação dos

juvenis de muitas espécies devido à presença de alimento de qualidade e de zonas de

refúgio. Por exemplo, os anfíbios utilizam as zonas ripárias para reprodução devido à

sua elevada humidade (e.g. Oakley et al., 1985; Knopf et al., 1988) e várias espécies de

aves colocam os seus ninhos em plataformas flutuantes ou perto de rios e lagoas (e.g.

Knopf et al., 1988; O’Connell et al., 1993).

Para além de alimento e habitat de reprodução, a vegetação e água dos

ecossistemas ripários fornecem muitos locais onde os animais podem descansar,

esconder-se ou construir as suas tocas. Adicionalmente, esses ecossistemas

proporcionam aos animais refúgio térmico (Oakley et al., 1985; O’Connell et al., 1993).

As características lineares de algumas áreas ripárias, nomeadamente as

associadas a rios e ribeiras, possibilitam a sua utilização como corredores de passagem

para muitas espécies, sendo particularmente importantes nos processos de

migração/dispersão de algumas espécies (e.g. Knopf et al., 1988; O’Connell et al.,

1993; Naiman & Decamps, 1997).

As zonas ripárias são também utilizadas por vários mamíferos carnívoros para

muitos dos seus processos biológicos, incluindo alimentação, refúgio e reprodução (e.g.

O’Connell et al., 1993; Matos, 2006). Em Portugal, destacam-se a lontra (Lutra lutra) e

o toirão (Mustela putorius), existindo outras espécies como a fuinha (Martes foina), a

geneta (Genetta genetta) e a raposa (Vulpes vulpes) que utilizam as zonas ripárias mas

não estão estritamente dependentes deles (Matos 2006). O visão-americano (Neovison

vison) também é um carnívoro utilizador dessas zonas e, tratando-se de um dos

carnívoros exóticos invasores mais nefastos na Europa (Bonesi & Palazon, 2007), é

importante estudar os seus efeitos. Assim, as espécies-alvo do presente estudo são o

visão-americano e a lontra, uma vez que esta é uma espécie nativa Europeia cujo uso de

habitat preferencial (galerias ripícolas) e a sua dieta (e.g. Sidorovich, 2001; Rey, 2008)

poderão levar à existência de competição com o visão-americano.

1.1 Lontra

3

Com uma distribuição generalizada em Portugal (Trindade et al., 1998), a lontra

encontra-se classificada como em situação pouco preocupante (“LC"), embora o seu

estatuto europeu seja de espécie quase ameaçada (“NT") (Cabral et al., 2005).

As lontras são carnívoros semi-aquáticos que mostram preferência por habitats

pouco poluídos e com reduzida perturbação humana. Num estudo realizado em

Espanha, verificou-se que ocorriam em habitats fluviais com 2 a 20 metros de largura e

1 a 2 metros de profundidade, com pelo menos 25% de cobertura vegetal das margens,

não poluídos e com reduzida ou quase nula perturbação humana (Prenda et al., 2001).

A lontra é uma espécie principalmente piscívora que se alimenta

oportunisticamente de várias outras presas sendo as principais os crustáceos, os anfíbios

e outros invertebrados (e.g. Poledník et al., 2004; Salgueiro, 2010; Lanszki et al., 2010;

Almeida et al., 2012). Aves, répteis e mamíferos são consumidos mais raramente

(Clavero et al., 2003; Prigioni et al., 2006).

Os grupos de presas secundários são consumidos de acordo com a sua

disponibilidade sazonal o que significa que a lontra os consome oportunisticamente e

não apenas quando os seus principais recursos se encontram mais escassos (Prigioni et

al., 2006; Smiroldo et al., 2009). De facto, a dieta da lontra reflete os diferentes tipos de

presa presentes num habitat, o que demonstra a sua plasticidade no consumo das

mesmas (Smiroldo et al., 2009; Almeida et al., 2012).

O estudo da dieta da lontra poderá ser particularmente importante do ponto de

vista da conservação pois alterações na sua dieta ao longo do tempo podem indicar

alterações no ambiente, uma vez que estas geralmente se traduzem em mudanças nas

presas disponíveis (embora não tenham necessariamente que traduzir a abundância das

mesmas) (e.g. Almeida et al., 2012). Um exemplo destas alterações é a presença de

espécies não-nativas na dieta da lontra. Estas espécies, embora sejam potencialmente

prejudiciais para as presas nativas, podem ser vantajosas para os predadores como a

lontra devido à sua abundância e facilidade de captura (e.g. Mendes, 2011; Almeida et

al., 2012). O lagostim-americano (Procambarus clarkii) é o exemplo perfeito de como

uma espécie não-nativa, prejudicial para espécies nativas como, por exemplo, de peixes

e anfíbios (e.g. Cruz, et al., 2006; Ilhéu et al., 2007), pode no entanto ser benéfica para

as lontras ao tornar-se uma presa importante na sua dieta (Beja, 1996; Clavero et al.,

2003).

As mudanças sazonais no ambiente (e.g. disponibilidade de água) também

podem provocar alterações na dieta da lontra, visto poderem influenciar a

4

disponibilidade de presas (e.g. Clavero et al., 2003). Nos casos em que alguns cursos de

água congelam ou ocorrem cheias ou secas que dificultam a captura de peixe, as lontras

geralmente passam a consumir em maior quantidade as suas presas secundárias, com

especial ênfase no consumo de anfíbios em alturas de disponibilidade (Skaren, 1993;

Prenda et al., 2001; Clavero et al., 2003).

1.2 Visão-americano

O visão-americano é uma espécie nativa da América do Norte que terá invadido

a Europa através de fugas ou libertações deliberadas de quintas de criação para

comércio de peles, estabelecidas em vários países a partir dos anos 20 (Palazón & Ruiz-

Olmo, 1997; Bonesi & Palazon, 2007). Alguns dos indivíduos pioneiros conseguiram

sobreviver e formar populações estáveis em vários cursos de água europeus, embora não

tenham sido efetuados estudos sobre a distribuição do visão e os seus impactos na fauna

nativa em muitos países (Bonesi & Palazon, 2007).

Esta espécie encontra-se presente na região noroeste de Portugal, provavelmente

originária de indivíduos que escaparam de quintas de criação na Galiza, Espanha

(Vidal-Figueroa & Delibes, 1987; Bonesi & Palazon, 2007), pois enquanto que em

território nacional apenas existe uma quinta localizada em Valença do Minho, em

Espanha o seu número é bastante mais elevado e algumas das quintas têm registos de

fugas massivas (Vidal-Figueroa & Delibes, 1987).

Desde 2010 que se encontra em desenvolvimento o primeiro estudo centrado no

aumento do conhecimento sobre a distribuição e ecologia do visão-americano em

Portugal.

Segundo um estudo realizado numa ilha do Chile, as presas terrestres são

importantes para a dieta do visão, sendo os mamíferos e as aves os principais grupos de

presa, principalmente devido a elevada disponibilidade de aves migratórias no local e

maior dispêndio de energia na captura de presas aquáticas (Schüttler et al., 2008). No

entanto, existem estudos na Europa, incluindo Portugal, que revelam que as presas

aquáticas parecem ganhar importância na dieta do visão (e.g. Mendes, 2011).

A dieta do visão varia sazonalmente (e.g. Bartoszewic & Zalewski, 2003;

Melero et al., 2012), havendo grupos de presas que ganham importância apenas em

algumas estações do ano, possivelmente devido a uma maior disponibilidade sazonal

dessas presas (Bartoszewic & Zalewski, 2003).

5

As diferenças encontradas na dieta do visão, conforme o local de estudo e a

altura do ano, permitem verificar a elevada adaptabilidade do visão e o seu carácter

oportunista (e.g. Bravo & Bueno, 1999; Sidorovich, 2000), tal como observado

relativamente à lontra, traduzindo a disponibilidade e abundância de presas de cada

local (Schüttler et al., 2008). Tal como no caso das lontras, quando se regista reduzida

disponibilidade da(s) presa(s) geralmente mais importante(s), por exemplo devido a

factores ambientais, ocorre um aumento no consumo de outros grupos (Skierczyński et

al., 2008).

O visão parece ter impacto nas espécies por si predadas (Bonesi & Palazon,

2007), embora por vezes seja difícil averiguar a magnitude desses impactos, uma vez

que podem demorar vários anos para se manifestarem (Banks et al., 2008).

No Reino Unido, o impacto da introdução do visão-americano nas populações de

rato-dos-lameiros (Arvicola terrestris) parece ter sido significativo (e.g. Aars, 2001;

Bonesi & Macdonald, 2004a). De facto, um modelo populacional prevê que a presença

de visão duplique a probabilidade de extinção daquele pequeno mamífero (Rushton et

al., 2000). A predação por parte do visão poderá levar o rato-dos-lameiros a desaparecer

de habitats que previamente ocupava e que ainda mantêm as condições ecológicas

necessárias para a sua presença (Lawton & Woodroffe, 1991; Halliwell & Macdonald,

1996). Assim, para além da depleção populacional devido à predação directa, a presença

do visão pode causar a extinção local da espécie com consequências para o seu padrão

de distribuição e viabilidade futura.

Estudos realizados em arquipélagos no mar do Báltico, mostraram que a

diversidade e abundância de populações de aves eram superiores em ilhas mais isoladas,

sem a presença de visão e, que em ilhas em que este foi removido ocorreu um aumento

destas populações e até recolonização por parte de espécies que estavam extintas

localmente (Nordström et al., 2003; Banks et al., 2008). No caso dos pequenos

mamíferos, ocorreram modificações de uso de microhabitat em resposta à presença do

visão (Banks et al., 2008), o que sugere que o visão poderá ter influência ao nível da

estrutura e comportamento espacial de algumas das suas presas. O mesmo estudo sugere

contudo que existem presas que são afetadas pelo visão mas que este não será o único

fator a provocar o seu declínio pois, em locais onde a espécie foi erradicada, as

populações de presas só apresentam crescimento quando existem condições ambientais

propícias para o mesmo. Este facto sugere que a predação por parte do visão pode actuar

sinergeticamente com outros fatores de declínio de algumas presas nativas.

6

1.3 Interação visão-americano e outros carnívoros ripários

Ainda permanecem incertezas quanto ao impacto da introdução do visão-

americano sobre os carnívoros nativos na Europa.

A lontra e o visão-americano encontram-se em simpatria em vários países

europeus (Bonesi & Palazón, 2007) havendo vários registos de interacções entre as

espécies. Embora a expansão do visão-americano não pareça ter afetado o uso de habitat

por parte das lontras (Sidorovich & Macdonald, 2001) e a recuperação das suas

populações, este parece ser negativamente afetado pela lontra. Aliás uma das hipóteses

apontadas para o recente declínio das populações de visão em Inglaterra seria a

recuperação das populações de lontra (Bonesi & Macdonald, 2004a; Bonesi et al., 2006;

McDonald, 2007) pois estas poderiam oferecer resistência biótica ao ocuparem o

mesmo nicho utilizado pelos visões e terem vantagem competitiva nos confrontos

diretos que resultariam em perdas de fitness e aumento de mortalidade dos visões. A

lontra apresenta vantagens competitivas visto ser maior e melhor adaptada para a

exploração aquática que o visão-americano (Bonesi et al., 2004). Existem relatos de

interações agressivas entre as espécies, em que as lontras perseguem os visões (Bonesi

& Macdonald, 2004a; Brzeziński et al., 2008), o que confirma a sua superioridade

competitiva em caso de confronto direto. A presença de lontra pode diminuir o sucesso

da colonização do visão e mitigar o seu efeito nas presas nativas (McDonald et al.,

2007).

O visão americano apresenta contudo características de uma espécie generalista

(e.g. Jedrzeijewska et al., 2001; Bonesi & Macdonald, 2004b), o que lhe permite

explorar recursos alimentares alternativos quando na presença de lontra, podendo

afastar-se dos cursos de água e aumentar a possibilidade de coexistência. Este fenómeno

de mudança de nicho deverá ser particularmente visível em situações de escassez de

presas (Bonesi & Macdonald, 2004a; Garcia et al., 2009).

Para além da lontra, existem outras espécies com as quais o visão-americano

pode interagir devido a hábitos e uso de habitats semelhantes. As principais a

considerar, pelo seu estatuto de conservação e pelo nível de sobreposição de nicho com

7

o visão-americano, são o visão-europeu (Mustela lutreola) 1

, o toirão, o arminho

(Mustela erminea) e a geneta.

No caso do visão-europeu, foram documentados encontros agressivos com o

visão-americano, em que se verificou que estes perseguiam ativamente o congénere

europeu, podendo afastá-lo de alguns dos seus habitats de origem por serem fisicamente

mais fortes e agressivos (Sidorovich et al., 2000; Sidorovich, 2001).

Após a invasão do visão-americano, a dieta do visão-europeu modificou-se,

verificando-se um aumento no consumo de anfíbios e uma diminuição de presas mais

aquáticas (lagostim e peixes). Do mesmo modo, a dieta do visão-americano passou a

incorporar uma maior quantidade de pequenos mamíferos (Sidorovich et al., 2010).

A sobreposição das dietas das duas espécies está então dependente das

preferências do visão-americano, sendo que quando este consome maior quantidade de

anfíbios aumenta a probabilidade de competição entre ambas as espécies,

principalmente se a disponibilidade de anfíbios for reduzida. Assim, a coexistência entre

estes predadores torna-se possível através da divergência de habitats e presas

(Sidorovich et al., 2010). O visão-europeu não se encontra em Portugal (Cabral et al.,

2005).

O toirão também utiliza os sistemas ripários (Rondinini et al., 2005) embora

possua hábitos mais terrestres que a lontra e o visão-americano (Aulagnier et al., 2008).

Apresenta contudo uma grande similitude da dieta com o segundo (e.g. Sidorovich &

Macdonald, 2001; Rey, 2008), pelo que existe potencial para competição. Este potencial

será enfatizado quando também estiverem presentes lontras pois neste caso o visão

adota atividades mais terrestres (Bravo & Bueno, 1999).

Como o visão-americano é maior que o toirão, o primeiro apresenta vantagem

em caso de confronto direto (Sidorovich et al., 2000). A coexistência das duas espécies

parece ser possível quando no habitat estão presentes condições favoráveis para tal,

como uma elevada disponibilidade de presas e abrigos. Quando tal não se verifica,

existe maior probabilidade de competição interespecífica que poderá provocar declínio

populacional do competidor mais fraco, neste caso o toirão (Brzeziński et al., 2010). Em

Portugal, o estatuto do toirão é "DD" (informação insuficiente), sendo que se

desconhece o tamanho e a tendência das suas populações, embora existam algumas

1 Todas as referências a visão neste trabalho, sem contar com as que dizem especificamente visão-

europeu, referem-se ao visão-americano

8

evidências que apontam para a ocorrência de declínio populacional desta espécie

(Cabral et al., 2005).

Igualmente com estatuto de "DD" e desconhecimento sobre a ecologia e

tendência das suas populações (Cabral et al., 2005), o arminho também parece sofrer

impacto negativo a nível populacional por parte do visão-americano em particular

quando este se encontra em situação de elevado efectivo populacional (Sidorovich et al.,

2000).

A geneta, espécie alóctone com colonização histórica em Portugal (Cabral et al.,

2005), também parece ser negativamente afetada pela presença de visão-americano,

uma vez que apresenta decréscimo populacional quando as populações de visão

aumentam (Melero et al., 2012).

O arminho e a geneta, não sendo espécies semi-aquáticas, utilizam os habitats

ripários devido aos recursos que este lhes proporcionam (Matos, 2006).

1.4 Competição alimentar

O estudo da dieta por si só não prova definitivamente a existência de competição

entre espécies mas o nível de sobreposição de recursos pode ser um indicador eficaz da

existência de condições para competição interespecífica visto esta poder ocorrer devido

à exploração conjunta de recursos limitados (Tilman, 1987; Pianka, 1974 in Clode &

Macdonald, 1995; Wiens, 1989 in Melero et al., 2008), sendo a alimentação um recurso

essencial à sobrevivência.

A análise da dieta fornece contudo informação sobre vários aspectos da ecologia

das espécies, como a existência ou não de preferências alimentares (e.g. Miranda et al.,

2008), ou o efeito da disponibilidade de presas (e.g. Randa et al, 2009) ou do habitat

(e.g. Lanszki, 2009) no consumo. Assim, o estudo da dieta é uma ferramenta importante

para o estudo da ecologia das espécies e da verificação, ou não, de competição alimentar

entre espécies simpátricas.

A competição alimentar permite explicar que populações e espécies em

desvantagem competitiva, apresentam densidades, tamanhos corporais menores, menor

fitness reprodutiva (e.g. Jones, & Barmuta, 1998; Gurnell et al., 2004) e explicar

mudanças nos nichos alimentares quando existe desvantagem competitiva (Bonesi &

Macdonald, 2004b). A competição, se intensa, pode provocar diminuição do tamanho

9

da população em desvantagem e, a longo prazo, até causar extinção de populações ou

até de espécies (Gurnell et al., 2004).

1.5 Objetivos

O objectivo principal deste estudo é de aumentar o conhecimento da dieta da

comunidade de carnívoros ripários presentes na área de estudo, com particular enfoque

na comparação da dieta da lontra e do visão-americano, espécie invasora em Portugal,

pretendendo-se avaliar o potencial para competição alimentar ou mesmo predação e

respectivas implicações conservacionistas, ao identificar quais os recursos partilhados,

quais as presas que estão a promover o estabelecimento da espécie invasora e quais os

possíveis impactos que a sua expansão está a ter na fauna nativa, tanto a nível das

espécies que preda como a nível daquelas com as quais potencialmente compete por

recursos.

Para responder aos objectivos considerados foram então formuladas as seguintes

hipóteses:

H1) Os carnívoros ripários consomem presas aquáticas e terrestres mas o

consumo varia espacial e temporalmente;

H2) A lontra e o visão-americano partilham recursos comuns;

H3) Existem presas que estão a favorecer o estabelecimento do visão;

H4) O visão-americano está a causar impacto na fauna nativa;

10

2. Metodologia

2.1 Área de estudo

Este trabalho foi desenvolvido na Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos

e São Pedro de Arcos (PPLBSPA), localizada no noroeste português, estando inserida

na bacia do rio Lima, sub-bacia do rio Estorãos, no concelho de Ponte de Lima (Figura

1). A selecção da área de estudo baseou-se no trabalho prévio que avaliou a distribuição

do visão no NO de Portugal e que sugeriu ser uma área frequentemente utilizada por

este (no âmbito do projeto no qual se insere a tese) e pela lontra (Trindade et al. 1998), e

consequentemente indicada para o objetivo em questão.

Figura 1. Mapa da Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos (imagem

retirada e adaptada de http://www.lagoas.cm-pontedelima.pt/).

11

Com uma área de 350 ha, a PPLBSPA localiza-se na área envolvente à margem

do rio Estorãos e a duas lagoas, uma maior e localizada na margem direita, com área de

inundação permanente/ semi-permanente com cerca de 8,3 ha (lagoa de S. Pedro), e

outra menor, na margem esquerda, que apresenta inundação sazonal (lagoa do Mimoso)

(Beja, 2008). Segundo o sistema de classificação de habitats Medwet (Farinha et al.,

2005) a PPLBSPA pode ser dividida em sistema lacustre (16,23%), sistema palustre

(78,32%) e sistema fluvial (5,45%), estando o rio principal, os cursos de água

permanentes e temporários/ sazonais e cursos de água artificiais incluídos neste último

sistema e as lagoas nos dois primeiros (Oliveira, 2006).

A paisagem protegida insere-se na região do Minho onde clima é resultante da

sua posição geográfica na fachada ocidental da Europa e proximidade ao Atlântico, bem

como da forma e disposição das cadeias montanhosas dessa região. As características já

mencionadas originam uma elevada pluviosidade, sendo esta a região mais pluviosa de

Portugal (Rodrigues, 2006; Beja, 2008).

Entre 1958 e 2000 verificou-se uma tendência para a diminuição das áreas da

PPLBSPA dedicadas à atividade agrícola (especialmente zonas de pastagem), o que

permitiu um aumento das zonas de floresta devido à plantação de resinosas ou

regeneração de folhosas (Oliveira, 2006). Como a região onde se encontra inserida a

área apresenta forte presença humana, a paisagem de carvalhais, encontra-se

maioritariamente restrita a algumas manchas, geralmente em locais de difícil

reconversão como junto às linhas de água e locais declivosos, tendo dado lugar a uma

paisagem predominantemente dominada por povoamentos de exóticas com destaque

para o pinheiro bravo (Pinus pinaster) e/ou eucalipto (Eucaliptus globulus). Para além

das comunidades já mencionadas também é possível encontrar, nas áreas mais

ocidentais do vale do Lima formações densas de acácias (Acacia sp.), outra espécie

introduzida em Portugal (Beja, 2008).

Existem contudo dois tipos de bosques nativos na área de estudo, sendo estes os

bosques climatófilos e os higrófilos. Os primeiros são dominados pelo carvalho

alvarinho (Quercus robur). Também podem ser encontrados nestes bosques o loureiro

(Laurus nobilis) e o sobreiro (Quercus suber). Os bosques higrófilos são dominados

pelo amieiro (Alnus glutinosa) ou pelo salgueiro negro (Salix atrocinerea), podendo

incluir o freixo (Fraxinus angustifolia). Na área protegida os bosques higrófilos

encontram-se ao longo do rio Estorãos (Beja, 2008).

12

As condições ambientais e o estatuto de proteção da PPLBSPA permitem

encontrar no local uma elevada diversidade faunística da qual se destaca, para além da

presença das espécies de mustelídeos ripários em estudo e outros carnívoros como a

geneta e a fuinha (Martes foina), a presença da toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus)

e da salamandra lusitânica (Chioglossa lusitanica), ambas endemismos ibéricos (Cabral

et al., 2005), e de espécies ameaçadas, como a truta-marisca (Salmo truta) e a enguia

(Anguilla anguilla) (Cabral et al., 2005; Oliveira, 2006), que podem sofrer os efeitos da

presença do visão-americano.

2.2 Recolha de amostras

O estudo dos hábitos alimentares dos carnívoros é dificultado pela sua natureza

pouco conspícua, actividade maioritariamente noturna e reduzida densidade

populacional (Long, et al., 2008). Estas características aliadas, por razões éticas, à

necessidade de opção por técnicas de estudo não invasivas, que apresentam menos risco

para os animais em estudo, torna o uso de métodos indiretos essencial (e.g. Harrington

et al., 2008). A recolha e análise de dejetos para avaliação da dieta é uma técnica de

estudo indireta e não invasiva, uma vez que não requer contato com os animais

(Gompper et al., 2006), e possível pois algumas partes das presas, como ossos e

pedaços de carapaça, não são digeridos pelos animais (Carss & Parkinson, 1996).

Acresce ainda que esta técnica permite uma recolha de muitas amostras a custo reduzido

(Litvaitis, 2000), razão pela qual foi o método seleccionado para o presente estudo.

A recolha de dejetos dos carnívoros ripários realizou-se ao longo de transectos

nas margens do rio Estorãos, das duas lagoas, e das ribeiras presentes na área de estudo

(Figura 2) e em vários percursos terrestres no interior da área protegida, entre os meses

de Setembro de 2011 e de Agosto de 2012. A prospeção de dejetos em percursos mais

terrestres foi efetuada para garantir uma melhor cobertura de toda a área de estudo pois

embora o enfoque fosse nas espécies de hábitos ripários o visão-americano também

utiliza as zonas terrestres. Todos os percursos selecionados foram efetuados a pé e uma

vez por mês.

13

Figura 2.Transetos realizados nas margens dos planos e linhas de água (designados por "lagoas",

"ribeiras" e "rio") para recolha de amostras na Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e

São Pedro de Arcos (imagem retirada e adaptada de: http://www.lagoas.cm-pontedelima.pt/).

Os transetos ao longo dos corpos de água foram efetuados em toda a sua

extensão (no caso do rio Estorãos, em toda a extensão que se encontra na área

protegida) visto o objectivo ser um estudo intensivo de uma área em que o visão-

americano e a lontra se encontram em simpatria.

Os dejetos encontrados foram recolhidos individualmente e colocados em tubos

de plástico com etanol a 70% para que não houvesse degradação de DNA. Os tubos

foram etiquetados (Figura 3) com um número de registo, a informação da espécie

potencialmente produtora do dejeto (identificação no campo com base em

14

características morfológicas do dejeto - Anexo 1), local de recolha incluindo

coordenadas GPS, data de recolha e estado (fresco ou antigo, se estivesse seco).

Figura 3. Dejeto e tubo a ser utilizado para a recolha, com respectiva etiqueta.

2.3. Análise laboratorial

De forma a assegurar um elevado grau de confiança nos resultados apresentados

relativamente à interação alimentar entre a lontra e o visão-americano, previamente à

análise do conteúdo dos dejectos, estes foram identificados geneticamente, por outros

membros do projeto, através do uso de marcadores moleculares específicos (citocromo

b) desenvolvidos para as espécies em estudo (Fernandes et al., 2008; Harrington et al.,

2010). Os dejetos, após retirada porção para análise genética, foram seguidamente

colocados em água quente com algumas gotas de detergente, ficando assim durante uma

noite, de modo a separar as peças não digeridas das presas e dissolver as substâncias

mucilaginosas (Jenkins et al., 1979). Posteriormente, o dejecto foi passado por água fria

através de uma peneira de 0,5 mm de malha (e.g. Pedroso, 1997; Poledník et al., 2004).

Este processo permite a recolha, separação e identificação das peças anatómicas

características dos diferentes grupos de presas através do uso de lupa e microscópio.

Dentro de cada grupo, e sempre que possível, foram feitas identificações até ao nível de

espécie, fazendo recurso de diversas coleções de referência, consulta de especialistas e

chaves diagnosticantes. Os peixes foram identificados através de observação das

vértebras, escamas e ossos da cabeça e utilizando várias chaves disponíveis (e.g.

Miranda & Escala, 2002; Novais et al., 2010), os anfíbios através dos seus ossos,

15

utilizando a chave de identificação de Ferreira (2002), e as aves e mamíferos foram

identificados através de observações microscópicas das suas penas e pêlos com base

respectivamente nas chave de identificação de Brom (1986) e Pinto (1978). A

identificação dos insetos, através das peças quitinosas, baseou-se numa chave de

identificação (Chinery, 1997) e a das sementes foi possível com recurso a uma coleção

de referência e a ajuda de especialistas.

Como existe a possibilidade que os pêlos da ordem Carnívora encontrados nos

dejetos pertencerem ao predador e não à presa só foram considerados no estudo como

sendo de potencial presa aqueles dejetos que apresentavam uma quantidade

considerável de pêlos, de modo, a evitar uma sobrevalorização muito elevada desta

presa na dieta.

Relativamente aos invertebrados, existe risco da ocorrência de ingestão

secundária pelas presas de hábitos carnívoros (e.g. Poledník et al., 2004) pelo que só

foram considerados neste estudo o lagostim-americano (Procambarus clarkii) (único

crustáceo presente na área de estudo) e o grupo dos insetos, visto serem grupos que

revelaram uma importância significativa noutros estudos (e.g. Clavero et al., 2003;

Lanszki et al., 2010). No entanto, a ingestão secundária de insetos também pode ocorrer

por parte de algumas espécies de peixe (e.g. Farinha, 1995; Mendes, 2011) que são

presas habituais dos predadores ripários, pelo que só foram considerados os que

apresentaram comprimento maior que 1 cm.

A matéria vegetal é outro recurso cujo consumo pode suscitar dúvidas porque

existem alguns tipos que podem ocorrer nos dejetos não por terem sido verdadeiramente

consumidos mas por terem sido incorporados nestes no local de deposição (e.g. Mendes,

2011). De modo a minimizar estes erros, só foram consideradas sementes de frutos ou

leguminosas.

2.4. Tratamento de dados

Agruparam-se os dejetos da Primavera (n=29) e Verão (n=75) na estação seca

(n=104) e Outono (n=80) e Inverno (n=143) em estação húmida (n=223), de modo a

homogeneizar o número de amostra por estação.

A metodologia de análise utilizada é a habitual nos estudos da análise de dieta

(e.g. Mendes, 2011; Melero et al., 2012).

16

Para a análise do espectro alimentar foram calculadas percentagens de

ocorrência (PO) para cada grupo de presas, ou seja, o quociente entre o número de

ocorrências (NO) de cada categoria de presas (quantidade de dejectos em que ocorre

cada categoria de presa) e o número total de ocorrências de todas as categorias de presas

x 100. Adicionalmente foi feita uma lista das categorias de presas identificadas para

expressar qualitativamente a composição do espectro alimentar.

Os grupos de presas foram classificadas relativamente à sua importância no

espectro alimentar através das suas frequências de ocorrência relativas com base no

critério de Skuratowicz (1950 in Farinha, 1995). Assim, PO > 20% correspondem a

recursos básicos, 20% ≤ PO > 5% a recursos constantes, 5% ≤ PO ≥ 1% a recurso

suplementares e PO < 1% a recursos ocasionais.

As diferenças encontradas nos recursos partilhados pelos carnívoros em estudo

foram testadas quanto à sua significância através do teste Qui-quadrado (χ2) modificado

para proporções binomiais (Simpson et al., 1960). O nível de significância (valor crítico

de p) foi adequado ao número de comparações a efetuar utilizando a correcção de

Bonferroni (Quinn & Keough, 2002).

Para o cálculo da diversidade trófica foi utilizado o índice de Shannon-Wiener

(H') cujos valores variam entre 0 e n (número máximo das categorias de presas). Quanto

maior for o valor dado pelo índice, maior será a diversidade, o que se traduz num maior

número de presas com abundâncias relativas próximas entre si (Zar, 2010).

De modo a estimar a amplitude do nicho trófico foi utilizado o índice de Levins

padronizado (BA) (Krebs, 1989). O índice varia entre 0 e 1, sendo que valores mais

próximos de 0 indicam uma dieta com um nicho alimentar estreito (dieta mais

especialista) e valores elevados sugerem um nicho mais amplo (dieta mais generalista)

(Krebs, 1989). Para avaliar a equitabilidade, isto é, se a dieta é mais generalista ou mais

especialista, foi ainda utilizado o índice de Pielou (J') (Krebs, 1989), sendo este a

relação entre a diversidade real (H') e a máxima teórica e cujo valor varia entre 0

(uniformidade entre o uso dos recursos mínima) e 1 (uniformidade do uso de recursos

máxima).

A sobreposição dos nichos ecológicos foi verificada através do índice de Pianka

(Oij) (Pianka, 1974). Este índice varia entre 0 e 1, sendo a sobreposição maior para

valores mais elevados do índice. Segundo Sidorovich et al. (2001) são considerados três

classes de sobreposição: 0-0,49 reduzida; 0,50-0,74 moderada; 0,75-1 elevada.

17

Os programas usados para a análise de dados foram o Microsoft® Office Excel®

2007 e o Statistica versão10 (© StatSoft Inc., 2012).

3. Resultados

Foram recolhidos e analisados 327 dejetos nos três sistemas considerados

(lagoas de S. Pedro e Mimoso, rio Estorãos e ribeiras de alimentação às lagoas),

divididos por dois períodos de tempo (estação seca e estação húmida), de acordo com a

distribuição apresentada na tabela 1.

Tabela 1. Distribuição dos dejetos recolhidos na área de estudo (N=327) pelos três sistemas (lagoas, rio e

ribeiras) e dois períodos (estação seca e estação húmida) considerados.

Lagoas Rio Ribeiras Total

Estação seca 44 26 34 104

Estação

húmida 125 54 44 223

Total 169 80 78 327

O sistema lacustre compreende 51,7 % dos dejetos recolhidos, o rio 24,5% e as

ribeiras 23,8%. A estação seca corresponde a 31,8% e a húmida a 68,2% dos dejetos.

O sistema fluvial (rio e ribeiras) não foi considerado como um todo devido às

suas características físicas, nomeadamente a sua extensão e corrente (maiores no caso

do rio), que teriam implicações nos resultados obtidos.

3.1. Variação espacial e temporal da dieta dos carnívoros ripários

As presas identificadas nos dejetos analisados foram agrupados em 8 categorias

principais: lagostim, peixes, anfíbios, aves, répteis, mamíferos, insetos e matéria vegetal

(Figura 4).

18

Figura 4. Percentagem de ocorrência (PO - %) das diferentes categorias de presas encontradas

nos dejetos recolhidos na PPLBSPA, em função dos três sistemas considerados (lagoas, rio e ribeiras) e

da época do ano (estação seca e estação húmida).

Verificou-se que, à exceção dos répteis que só foram consumidos nas lagoas na

estação seca, todos os grupos de presas foram encontrados nos dejetos dos três locais

considerados, embora não durante todo o ano.

Em qualquer dos três locais, a categoria de presas mais consumida foi o

lagostim, correspondendo nas lagoas a 49,3% na ES (estação seca) e a 46,7% na EH

(estação húmida), nos rios a 42,9% na ES e a 33,7% na EH e nas ribeiras a 76,1% na ES

e a 44,3% na EH.

A segunda categoria varia conforme o local e a estação. Assim, nas lagoas a

segunda presa mais importante foram os insectos (12,3%) na ES e os peixes (24,0%) na

EH. No rio foram os mamíferos para a ES (26,2%) e para a EH os peixes (29,5%) e nas

ribeiras, respetivamente, os peixes (10,9%) e os mamíferos (16, 5%).

Com base nos critérios de Skuratowicz (1950 in Farinha 1995), as principais

categorias de presas foram classificadas quanto à sua importância na dieta (Tabela 2).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

ES EH ES EH ES EH

Lagoas Rios Ribeiras

Material Vegetal

Insectos

Mamíferos

Aves

Répteis

Anfíbios

Peixes

Lagostim

19

Tabela 2. Importância das categorias-presa, tendo como base os critérios de Skuratowicz (1950 in Farinha

1995) nos sistemas e épocas considerados. Do mais importante para o menos relevante: recurso básico

(B); recurso constante (C); recurso suplementar (S), recurso ocasional (O) e recurso não consumido (-).

Importância das categorias-presa

Lagoas Rios Ribeiras

ES EH ES EH ES EH

Lagostim B B B B B B

Peixes C B C B C C

Anfíbios S S - S S S

Répteis C - - - - -

Aves C S S S - C

Mamíferos C C B C C C

Insectos C C S C S C

Material Vegetal - S - C - C

Apenas três categorias-presa se evidenciaram como recursos básicos para os

carnívoros ripários (i.e. lagostim, peixes e mamíferos) e a sua importância relativa

variou significativamente com os fatores analisados (espaço e tempo). O lagostim-

americano representa um recurso básico nas três áreas, independentemente da estação

do ano, enquanto os peixes apenas o são nas lagoas e no rio na EH. Os mamíferos

apresentam-se como recurso básico no rio, na ES. Na tabela 3, encontram-se

representadas todas as categorias de presas que ocorreram nos dejetos dos três locais,

por época do ano, com as suas respetivas percentagens de ocorrência (PO).

Globalmente, foi possível identificar 34 taxa para as lagoas (24 na ES e 26 na

EH), 26 para o rio (13 na ES e 24 na EH) e 23 para as ribeiras (9 na ES e 21 na EH),

incluindo 13 espécies.

20

Tabela 3. Composição da dieta dos carnívoros ripários na PPLBSPA, nos três sistemas e épocas

considerados, expressa qualitativamente através da listagem dos diferentes grupos taxonómicos presentes

nos dejetos e quantitativamente através das percentagens de ocorrência (PO). A designação NI é atribuída

para as categorias não identificadas.

TAXA

PO (%)

Lagoas Rio Ribeiras

ES EH ES EH ES EH

Filo CHORDATA 49,32 61,78 45,21 67,37 28,26 60,27

Classe Actinopterygii 10,96 24,00 21,43 29,47 10,87 15,19

Teleostei NI 4,11 2,67 7,14 4,21 0,00 1,27

Família Anguillidae Anguilla anguilla 1,37 3,56 4,76 8,42 2,17 2,53

Família Cyprinidae

Cyprinidae NI 4,11 4,89 2,38 9,47 0,00 2,53

Carassius auratus 1,37 11,11 0,00 3,16 0,00 7,59

Luciobarbus bocagei 0,00 0,44 0,00 0,00 0,00 0,00

Squalius carolitertii 0,00 0,00 2,38 0,00 0,00 0,00

Família Salmonidae Salmo trutta 0,00 1,33 4,76 4,21 6,52 1,27

Família

Gasterosteidae Gasterosteus gymnurus 0,00 0,00 0,00 0,00 2,17 0,00

Classe Amphibia 4,11 2,67 0,00 4,21 4,35 2,53

Ordem Anura Anura NI 1,37 1,33 0,00 1,05 2,17 0,00

Família Bufonidae

Bufo NI 1,37 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Bufo bufo 0,00 0,44 0,00 0,00 0,00 0,00

Família Ranidae

Rana NI 0,00 0,00 0,00 2,11 0,00 1,27

Pelophylax perezi 1,37 0,89 0,00 1,05 2,17 1,27

Classe Reptilia 5,48 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Reptilia NI 1,37 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Família Lacertidae Timon lepidus/Lacerta schreiberi 4,11 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Classe Aves 6,85 4,00 4,76 2,11 0,00 5,06

Aves NI 1,37 0,89 0,00 0,00 0,00 0,00

Ordem

Accipitriformes Accipitriformes NI 1,37 0,00 2,38 0,00 0,00 0,00

Ordem

Anseriformes Anatidae NI 2,74 2,22 2,38 0,00 0,00 1,27

Ordem Galliformes Galliformes NI 0,00 0,44 0,00 1,05 0,00 0,00

21

Ordem

Passeriformes Passeriformes NI 1,37 0,44 0,00 1,05 0,00 3,80

Classe Mammalia 10,96 15,56 26,19 15,79 6,52 16,46

Mammalia NI 2,74 4,44 7,14 5,26 4,35 6,33

Ordem

Soricomorpha Soricomorpha NI 0,00 5,33 0,00 2,11 0,00 0,00

Ordem

Lagomorpha Oryctolagus cuniculus 1,37 0,44 0,00 3,16 0,00 0,00

Ordem Rodentia

Rodentia NI 2,74 0,00 0,00 1,05 0,00 2,53

Microtus sp. 1,37 0,00 2,38 0,00 0,00 1,27

Mus sp. 0,00 0,89 0,00 1,05 0,00 0,00

Apodemus sp. 0,00 0,44 0,00 1,05 0,00 1,27

Rattus sp. 0,00 0,44 9,52 2,11 0,00 0,00

Ordem Carnivora Carnivora NI 2,74 3,56 7,14 0,00 2,17 5,06

Filo ARTHROPODA 61,64 52,00 27,40 43,16 78,26 58,90

Classe Insecta 12,33 5,33 4,76 9,47 2,17 10,13

Insecta NI 2,74 2,67 2,38 4,21 0,00 5,06

Larva NI 0,00 0,44 0,00 0,00 0,00 1,27

Ordem Coleoptera Coleoptera NI 6,85 2,22 0,00 2,11 0,00 2,53

Ordem Hemiptera Heteroptera NI 0,00 0,00 0,00 1,05 0,00 0,00

Ordem

Thysanoptera Thysanoptera NI 1,37 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Ordem

hymenoptera Hymenoptera NI 1,37 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Ordem diptera Diptera NI 0,00 0,00 0,00 0,00 2,17 0,00

Ordem Odonata Anisoptera NI 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,27

Ordem Orthoptera Orthoptera NI 0,00 0,00 2,38 2,11 0,00 0,00

Classe Malacostraca 49,32 46,67 42,86 33,68 76,09 44,30

Ordem Decapoda Procambarus clarkii 49,32 46,67 42,86 33,68 76,09 44,30

Reino PLANTAE 0,00 1,78 0,00 5,26 0,00 6,33

Classe Magnoliopsida 0,00 1,78 0,00 5,26 0,00 6,33

Ordem Vitales Vitis vinifera 0,00 0,44 0,00 4,21 0,00 3,80

Ordem Fagales Alnus glutinosa 0,00 1,33 0,00 1,05 0,00 2,53

22

A presa que apresenta maiores valores de percentagem de ocorrência, sendo a

espécie mais frequente na dieta dos carnívoros ripários independentemente do local ou

época do ano.

Considerando os peixes, segunda categoria com maior importância na dieta dos

carnívoros ripários, verificamos que, das espécies identificadas as mais frequentes são o

pimpão (Carassius auratus) nas lagoas e ribeiras na EH, a enguia (Anguilla anguilla) no

rio (em ambas as épocas do ano) e a truta no rio e ribeiras na ES.

A terceira categoria-presa com maior importância são os mamíferos, dos quais

se destacam a ordem Soricomorpha e Rodentia como as mais frequentes. Esta última

apresenta Rattus sp. com elevada importância no rio na ES.

Adicionalmente, destacam-se como presas de importância secundária para os

carnívoros ripários a ordem Coleoptera (classe Insecta) e a família Lacertidae (classe

Reptilia) apresentando valores elevados nas lagoas, na ES, e a espécie Vitis vinifera

(Classe Magnoliopsida) com valores elevados no rio na EH.

Ao analisar a variação espacial e temporal na predação exercida pelos carnívoros

ripários da PPLBSPA (Tabela 4), apenas são de realçar as diferenças observadas no

consumo de lagostim e peixes. No referente ao lagostim este foi significativamente

inferior no rio, comparativamente com o observado nas lagoas e as ribeiras, e superior

na ES. Já no referente aos peixes, como expectável, o consumo foi significativamente

superior na EH e no rio comparativamente com as ribeiras. Não foram verificadas

quaisquer diferenças entre as lagoas e as ribeiras.

Tabela 4. Valores de Qui-quadrados modificados para proporções binomiais (χ2), fazendo comparações

entre os sistemas e épocas do ano considerados. Os resultados significativos encontram-se realçados a

azul. Ao valor de α (0,05) foi aplicada a correção de Bonferroni.

Lagoas Rio

Lagoas Ribeiras

Ribeiras Rio

ES EH

χ2 p-value χ2 p-value χ2 p-value χ2 p-value

Lagostim 13,315 0,000 1,708 0,132 16,047 0,000 3,14 0,000

Peixes 2,073 0,097 5,440 0,013 10,499 0,001 13,662 0,000

Anfíbios 0,012 0,590 0,004 0,608 0,001 0,626 0,047 0,532

Répteis 1,924 0,210 1,877 0,217 - - 8,683 0,010

Aves 1,755 0,145 0,787 0,273 0,177 0,486 0,000 0,583

Mamíferos 1,350 0,156 0,714 0,249 2,908 0,063 1,857 0,109

Insectos 0,085 0,354 0,039 0,512 0,411 0,343 0,139 0,430

Material Vegetal 2,350 0,123 2,485 0,115 0,002 0,611 6,821 0,004

23

A amplitude do nicho trófico dos carnívoros ripários na PPLBSPA varia

igualmente em função do espaço e do tempo (Tabela 5).

Dos valores obtidos através da aplicação dos diferentes índices é importante

destacar que, com a exceção das lagoas que apresentam valores de diversidade

semelhante nas duas épocas do ano, a época húmida apresenta maior diversidade. O rio

é o local com maior diversidade, nicho trófico mais amplo e com uma utilização de

recursos mais uniforme. Apenas nas ribeiras na época seca parece haver um consumo

menos uniforme dos recursos.

Tabela 5.Valores dos índices de Shannon-Wiener (H'), de Levins padronizado (BA) e de equitabilidade de

Pielou (J') para os três sistemas (lagoas, rio e ribeiras) e épocas (ES e EH) considerados.

Lagoas Rio Ribeiras

ES EH ES EH ES EH

H' 2,18 2,16 1,98 2,54 1,02 2,24

BA 0,12 0,12 0,30 0,26 0,09 0,18

J' 0,69 0,66 0,77 0,80 0,46 0,74

Tal como expectável observou-se uma sobreposição elevada entre todos os

sistemas e épocas do ano considerados (Tabela 6).

Tabela 6.Valores do índice de Pianka (Ojk) comparando os sistemas e épocas do ano considerados.

Ojk ribeiras vs rio 0,96

Ojk ribeiras vs lagoas 0,98

Ojk lagoas vs rio 0,97

Ojk ES vs EH 0,97

3.2. Comparação entre a dieta do visão-americano e da lontra

Dos 327 dejetos recolhidos, até à conclusão do presente estudo foi possível obter

a confirmação genética da identidade específica de 87 dejetos de visão-americano e 71

de lontra, o que permitiu fazer uma análise comparativa da dieta destes dois predadores

que, considerando a comunidade de carnívoros que faz uso do habitat ripário, são

aqueles relativamente aos quais a competição alimentar é potencialmente mais

expressiva.

24

Na figura 5, estão representados os diferentes grupos de presas consumidos pelo

visão-americano e pela lontra. O visão-americano apresenta maior diversidade de presas

(em particular presas terrestres, sendo que o grupo dos répteis e das aves apenas

aparecem nos dejetos de visão). Ambas as espécies apresentam o lagostim como recurso

básico (Tabela 6), com percentagens superiores a 50%. A segunda presa principal varia,

sendo mamíferos recurso básico no caso do visão (20,2%) e peixes (36,6%) recurso

básico no caso da lontra).

Figura 5. Percentagem de ocorrência (PO - %) das diferentes categorias de presas encontradas

nos dejetos de visão-americano e lontra recolhidos na PPLBSPA.

Tabela 7. Importância das categorias de presas, tendo como base os critérios de Skuratowicz

(1950 in Farinha 1995) para as espécies em análise. Do mais importante para o menos relevante: recurso

básico (B); recurso constante (C); recurso suplementar (S), recurso ocasional (O) e recurso não

consumido (-).

Importância dos grupos de presas

Visão Lontra

Lagostim B B

Peixes C B

Anfíbios S S

Répteis S -

Aves C -

Mamíferos B S

Insectos C S

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Visão-americano Lontra

PO

(%

)

Insectos

Mamíferos

Aves

Répteis

Anfíbios

Peixes

Lagostim

25

Na tabela 8, encontram-se representadas as categorias de presas presentes nos

dejetos das duas espécies, e respetivas percentagens de ocorrência, com destaque para as

8 espécies relativamente às quais foi possível a identificação específica.

A categoria-presa consumida mais frequentemente foi o lagostim, que

apresentou frequências superiores a 50% para ambas as espécies.

A segunda categoria mais importante para a lontra foram os peixes, dos quais se

destaca o consumo elevado de enguia e pimpão. Nesta categoria de presa destaca-se

igualmente, para o visão, o consumo de pimpão.

No caso do visão, a segunda categoria mais importante são os mamíferos,

destacando-se a ordem Carnivora, com importância elevada. A lontra não apresenta

frequências elevadas de nenhuma categoria de mamíferos.

Adicionalmente, destaca-se o consumo, por parte do visão-americano, de

membros da família Anatidae (Classe Aves).

26

Tabela 8. Composição da dieta do visão-americano e da lontra, expressa qualitativamente através da

listagem dos diferentes grupos taxonómicos presentes nos dejetos e quantitativamente através das

percentagens de ocorrência. A designação NI é atribuída para as categorias não identificadas.

TAXA PO (%)

Visão lontra

Filo CHORDATA 36,97 45,38

Classe Actinopterygii 6,72 36,59

Teleostei NI 1,68 4,07

Família Anguillidae Anguilla anguilla 0,00 11,38

Família Cyprinidae

Cyprinidae NI 0,84 6,50

Carassius auratus 3,36 10,57

Squalius carolitertii 0,00 0,81

Família Salmonidae Salmo trutta

0,84 3,25

Classe Amphibia 2,52 4,88

Ordem Anura Anura NI 1,68 1,63

Família Bufonidae Bufo bufo 0,84 0,81

Família Ranidae Pelophylax perezi 0,00 2,44

Classe Reptilia 1,68 0,00

Família Lacertidae Timon lepidus/Lacerta schreiberi 1,68 0,00

Classe Aves 5,88 0,00

Ordem Anseriformes Anatidae NI 3,36 0,00

Ordem Accipitriformes Accipitriformes NI 0,84 0,00

Ordem Passeriformes Passeriformes NI 1,68 0,00

Classe Mammalia 20,17 2,44

Mammalia NI 3,36 1,63

Ordem Soricomorpha Soricomorpha NI 5,04 0,81

Ordem Rodentia Rattus sp. 2,52 0,00

Ordem Carnivora Carnivora NI 9,24 0,00

Filo ARTHROPODA 63,03 57,98

Classe Insecta 5,88 4,88

Insecta NI 2,52 2,44

Larva 0,00 0,81

Ordem Coleoptera Coleoptera NI 1,68 0,81

Ordem Orthoptera Orthoptera NI 0,84 0,00

Ordem Diptera Diptera NI 0,84 0,00

Ordem Thysanoptera Thysanoptera NI 0,00 0,81

Classe Malacostraca 57,14 51,22

Ordem Decapoda Procambarus clarkii 57,14 51,22

27

Na comparação entre as dietas do visão-americano e da lontra (Tabela 9) é de

salientar diferenças no consumo de peixes, mais consumidos pela lontra e de

mamíferos, mais consumidos pelo visão.

Tabela 9.Valores de Qui-quadrados modificados para proporções binomiais (χ2), fazendo comparações

entre o visão-americano e a lontra. Os resultados significativos encontram-se realçados a azul. Ao valor

de α (0,05) foi aplicada a correção de Bonferroni.

Visão Lontra

χ2 p-value

Lagostim 3,084 0,060

Peixes 51,490 0,000

Anfíbios 1,821 0,158

Répteis 1,653 0,302

Aves 5,977 0,014

Mamíferos 15,058 0,000

Insectos 0,008 0,272

A dieta das duas espécies apresenta valores de diversidade semelhantes, um

nicho trófico pouco amplo, com idêntica uniformidade no consumo dos recursos e

sobreposição elevada. (Tabela 10).

Tabela 10. Valores dos índices de Shannon-Wiener (H'), de Levins padronizado (BA) e de

equitabilidade de Pielou (J') para o visão-americano e a lontra, bem como do índice de Pianka (Ojk) que

compara a dieta das suas espécies.

Visão Lontra

H' 1,72 1,73

BA 0,11 0,16

J' 0,58 0,62

Ojk 0,94

Na figura 6, ilustra-se a variação temporal da dieta do visão-americano, estando

os valores de percentagem de ocorrência em anexo (Anexo 2).

28

Figura 6. Percentagem de ocorrência (PO - %) das diferentes categorias-presa encontradas nos

dejetos do visão-americano, em função da estação do ano a que pertencem (ES ou EH).

Existem diferenças entre as épocas, sendo que o lagostim, os anfíbios e as aves

foram consumidos em maiores quantidades na época seca, e os peixes e os mamíferos

na época húmida. Os répteis apenas foram encontrados na ES.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

ES EH

PO

(%

)

Insectos

Mamíferos

Aves

Répteis

Anfíbios

Peixes

Lagostim

29

4. Discussão

4.1 Caracterização da dieta da comunidade de carnívoros ripários

A caracterização da dieta dos carnívoros permite criar uma imagem do

funcionamento da comunidade face ao recurso alimento e da respetiva resposta em

termos espaciais e temporais.

A presença na área de estudo de lagoas, rios e ribeiras permite distinguir os

sistemas lacustres ou lênticos (águas paradas, neste caso representados pelas lagoas) dos

lóticos ou fluviais (água corrente, representados pelo rio e ribeiras), sendo que cada um

destes sistemas apresenta geralmente comunidades de fauna e flora características (e.g.

Wetzel, 2001).

As lagoas e as ribeiras não apresentam diferenças significativas para nenhuma

das categorias de presas, o que poderá dever-se ao facto das ribeiras em estudo

derivarem das lagoas (Figura 1) e, consequentemente das semelhanças das suas

comunidades de fauna e flora. Também é possível que, dada a proximidade dos

sistemas, alguns dejetos encontrados num deles contenham espécies consumidas no

outro.

O elevado consumo de lagostim nas lagoas está de acordo com a biologia da

espécie, pois este prefere águas com menor corrente (e.g. Cruz et al., 2007). Entre as

ribeiras e o rio verificaram-se diferenças quanto ao lagostim e aos peixes, com maior

presença de lagostim nas ribeiras, o que é justificado por estas terem menos corrente

que o rio e por existirem mais peixes no rio, possivelmente por este ter maiores

dimensões, ligação ao rio Lima e apresentar caudal permanente (Beja, 2008).

As diferenças entre a estação seca e a húmida só são significativas nas presas

aquáticas (lagostim-americano e peixes). Isto deve-se certamente à maior quantidade de

água nos cursos de água na estação húmida e à maior disponibilidade de habitats para as

presas aquáticas, uma vez que alguns corpos de água são temporários/ sazonais,

incluindo algumas ribeiras e uma das lagoas (Oliveira, 2006; Beja, 2008).

A análise da composição da dieta da comunidade de carnívoros ripários pode

igualmente permitir inferir sobre a disponibilidade de presas (e.g. Smiroldo et al., 2009;

Randa et al., 2009) presentes na área de estudo, embora seja mais difícil inferir quais as

presas presentes em cada sistema considerado devido à sua proximidade. Assim, as

30

presas com maior disponibilidade na área de estudo foram o lagostim, os peixes e os

mamíferos. Ao contrário do lagostim, os peixes e os mamíferos não são recursos básicos

em todos os locais e estações, mas na elaboração de medidas de conservação que

tenham como objetivo a proteção dos carnívoros ripários estas categorias de presas

devem ser especialmente consideradas.

Os répteis só foram encontrados nas lagoas, na estação seca. No entanto, as

diferenças entre este sistema e os outros dois não são significativas, como também não o

são entre estações. A justificação poderá passar pelo pequeno número de répteis

encontrados (n=4), que provavelmente não permite ao teste detetar diferenças

estatisticamente significativas (Pestana, 2008). Assim, a presença desta presa nas lagoas

poderá ser apenas uma coincidência e não um padrão concreto, devendo ser uma

questão a considerar.

Qualquer dos três sistemas considerados, independentemente da estação do ano,

apresenta uma diversidade baixa. Considerando que os animais teoricamente tendem a

maximizar a obtenção de energia de acordo com a disponibilidade de recursos do local

(MacArthur & Pianka 1966), o consumo de espécies como o lagostim-americano ou o

pimpão (com percentagens de ocorrência elevadas) parece ser suficientemente rentável,

do ponto de vista energético, para que não haja um número muito elevado de categorias

de espécies e o consumo de outras presas não ganhe tanta importância na dieta.

Pode-se concluir ainda que na área de estudo o consumo das presas ocorre de

forma uniforme, com exceção das ribeiras na ES onde o lagostim-americano foi

consumido muito mais que qualquer outra presa. Estes resultados podem ser explicados

pela menor atividade do lagostim em baixas temperaturas (e.g. Anastácio et al., 1999), o

que dificulta a sua captura pelos carnívoros ripários. Adicionalmente, na ES poderá

haver uma diminuição na abundância de peixes que não se verifica no lagostim por este

ser mais tolerável a condições de stress hídrico (Basto et al., 2011). Observando os

resultados obtidos, verificamos que na ES o consumo de peixes parece ser menor que na

húmida e o de lagostim maior, o que parece confirmar esta hipótese. O consumo maior

nas ribeiras comparativamente aos outros sistemas poderá ser explicado devido às

próprias características dos sistemas presentes na área de estudo. As lagoas apresentam

vegetação nas margens e zonas interiores que poderão dificultar a captura dos lagostins

quando em repouso. Assim, a estrutura linear das ribeiras, aliada à sua menor largura e

extensão comparativamente ao rio poderão facilitar a captura dos lagostins neste

sistema.

31

A comunidade de carnívoros ripários na PPLBSPA, independentemente do

sistema e da estação do ano (embora existam algumas variações), apresenta uma dieta

mais especialista que generalista (sendo o rio o local com a dieta menos especialista).

Este facto deverá ser devido ao consumo elevado de alguns grupos em detrimento de

outros (em particular o consumo de lagostim-americano e peixes).

As diferenças na dieta dos carnívoros ripários entre os três sistemas e entre as

duas épocas do ano são mínimas o que poderá indicar comunidades de presas

semelhantes em toda a área de estudo ou preferências por parte dos carnívoros para

certos tipos de presa. Assim, os resultados confirmam o consumo tanto de presas

terrestres como aquáticas pelos carnívoros ripários, sendo a variação espacial e temporal

baixa mas existente (confirmando H1).

Os resultados obtidos para a área de estudo são concordantes com aqueles

averiguados por Mendes (2011) no NO de Portugal em que se verifica que o lagostim-

americano é a presa mais consumida quando este se encontra presente. Igualmente se

verifica concordância na elevada importância dos recursos aquáticos na dieta dos

carnívoros ripários.

4.2. Interações tróficas entre o visão-americano e lontra

A identificação genética dos dejetos foi essencial no desenvolvimento desta

componente do estudo uma vez que a identificação no campo se mostrou, por vezes,

errónea (Anexo 3), sendo um problema comum em estudos similares (Davison et al.,

2002; Birks et al., 2004). As identificações erradas são frequentes em ecossistemas onde

se encontram várias espécies comportamental e/ou morfologicamente semelhantes em

simpatria (Harrington et al., 2010) como se verifica na presente área onde coexistem

não só a lontra e o visão-americano, mas também outras espécies de mustelideos

(Oliveira, 2006). Adicionalmente, uma das espécies de carnívoros comuns na área de

estudo é a raposa (Beja, 2008), cujos dejetos, embora normalmente maiores que os de

visão, podem também ser confundidos com estes, principalmente se pertencerem a

juvenis (maioritariamente presentes na Primavera) e se as dietas no local forem

semelhantes (Harrington et al., 2010).

As dietas do visão-americano e da lontra na PPLBSPA apresentam uma elevada

percentagem de lagostim-americano. Este crustáceo, tal como já verificado noutros

32

estudos, tem ganho importância na dieta da lontra (e.g. Clavero et al., 2003; Mendes,

2011), sendo também importante para o visão-americano (e.g. Melero et al., 2012).

A elevada percentagem de lagostim na dieta da comunidade de carnívoros

ripários, associada a dados recolhidos na área de estudo para o projeto em que a tese se

insere (Kuipers, 2012), sugerem a existência de elevada disponibilidade deste crustáceo

na PPLBSPA, podendo este ser um fator chave para a sua coexistência e, esta será

promovida se na área onde as espécies se encontram em simpatria existir uma ou mais

espécies que funcionem como alternativa em períodos de escassez, ou seja, que

permitem ao visão mudar de nicho alimentar (e.g. Garcia et al., 2009).

Embora o lagostim seja a principal presa para ambas as espécies, a segunda

categoria de presa mais importante varia, sendo os mamíferos para o visão-americano e

os peixes para a lontra. De facto, o consumo de espécies de hábitos mais terrestres

(como mamíferos ou aves) indica que o visão incorpora na sua dieta uma maior

quantidade de presas alternativas em comparação à lontra, o que também poderá

promover a coexistência entre as duas espécies (e.g. Garcia, 2009). Em áreas onde a

abundância de presas é elevada, a coexistência é possível durante mais tempo (Bonesi &

Macdonald, 2004b). Não foi possível verificar se, relativamente aos mamíferos, o

consumo está a ser feito ao nível das espécies com hábitos aquáticos, como se verificou

no Reino Unido com a predação do rato-dos-lameiros (Rushton et al., 2000), ou se o

visão-americano está a explorar ambientes mais terrestres pois não foi possível

identificação até ao nível de espécie e as ordens consumidas apresentam tanto membros

de hábitos mais aquáticos como mais terrestres (Cabral et al. 2005).

Para além dos mamíferos, existem outras presas terrestres na dieta das espécies.

De facto, os répteis e as aves foram apenas consumidos pelo visão, embora as diferenças

não tenham sido estatisticamente significativas. Isto poderá ser devido à conjugação de

dois fatores: o baixo número amostral destas espécies que diminui a força da análise

(Pestana, 2008), verificado especialmente no caso dos répteis, e o uso da correção de

Bonferroni que, no caso das aves, tornaria as diferenças significativas caso este não

tivesse sido aplicado (para α=0,05). A correção de Bonferroni é conservativa e, embora

seja necessária para impedir que uma hipótese falsa seja aceite como verdadeira, torna

mais difícil aceitar uma hipótese verdadeira (Abdi, 2007 in Salkind, 2007). É possível

que tanto os répteis como as aves sejam realmente presas exclusivas ou, pelo menos,

mais importantes para o visão-americano.

33

Um indicador de potencial competição é a sobreposição entre dietas, sendo esta

elevada no caso do visão-americano e da lontra, suportando H2. No entanto, para existir

competição é necessário que ocorra sobreposição de nichos ecológicos e que uma das

espécies cause redução na disponibilidade de recursos por exploração ou por

interferência (Keddy, 2001 in Brzeziński et al., 2008). Se tivermos em atenção o

principio da exclusão competitiva (Hardin, 1960), que afirma que duas espécies

simpátricas ao partilharem o nicho ecológico podem competir e, se uma delas

prevalecer sobre a outra na presença de recursos finitos, a espécie mais fraca poderá ser

substituída ao longo do tempo, e sabendo que o visão é um predador generalista (e.g.

Jedrzeijewska et al., 2001), que se encontra em desvantagem competitiva com a lontra

(Bonesi et al., 2004) podemos, considerar que o visão poderá modificar o seu nicho

alimentar para minimizar a competição interespecífica com a lontra (Bonesi &

Macdonald, 2004b), já que existe o potencial competitivo entre as duas espécies.

A presença e elevada abundância na área de estudo (Kuipers, 2012) de uma

presa como o lagostim, que é consumido em percentagens elevadas pelos carnívoros

ripários em todos os sistemas (embora em maiores quantidades nas ribeiras e lagoas) e

de uma forma regular ao longo do ano (como verificado nos resultados da dieta dos

carnívoros ripários), evita que os recursos alimentares sejam limitativos e permite que

as espécies coexistam sem evidenciar competição por alimento uma vez que o consumo

desta presa por parte do visão-americano e da lontra não apresentou diferenças

significativas. Assim, podemos confirmar H3 e considerar que o lagostim-americano

apresenta um papel importante no estabelecimento bem sucedido do visão-americano

em Portugal, e que a sua elevada abundância (Kuipers, 2012) poderá ter permitido a

expansão, sobrevivência e estabelecimento do visão-americano (Melero et al., 2012).

Em menor escala, também os mamíferos apresentam importância no estabelecimento

desta espécie, uma vez que permite minimizar a competição com a lontra que apresenta

vantagem competitiva (Bonesi et al., 2004).

Considerando que o visão-americano é uma espécie invasora em Portugal

(Bonesi & Palazón, 2007), e que os efeitos de predadores invasores nas populações de

presas podem ser maiores do que aqueles causados por predadores nativos (Salo et al.,

2007) o seu impacto nas populações de espécies ameaçadas pode ser muito elevado.

Quanto ao pressuposto de que existem espécies ameaçadas na dieta do visão-

americano (H4), apenas a truta apresenta um estatuto de conservação elevado, encontra-

se criticamente ameaçada (Cabral et al., 2005) e o seu consumo pelo visão não foi muito

34

elevado, sendo contudo importante ter em conta que esta espécie apresenta populações

diminutas e que existem dados que indicam a existência de poucos indivíduos maduros

(Cabral et al., 2005) pelo que mesmo um consumo reduzido pode ter impactos elevados

ao nível da recuperação da espécie.

Existem outras espécies cujo potencial consumo pode ser preocupante. O visão-

americano consumiu membros da ordem Soricomorpha, cuja espécie que apresenta

estatuto de conservação mais elevado é a toupeira-de-água (Galemys pyrenaica),

endemismo ibérico. Suspeita-se que o visão-americano tenha contribuído para o

declínio desta espécie em Espanha (Bravo, 1999) pelo que esta espécie parece ser

sensível à predação pelo visão. Quanto à ordem Carnívora, a presença de toirão na área

de estudo (Oliveira, 2006) parece ser a mais preocupante visto já terem sido registados

confrontos entre as duas espécies e o toirão apresentar desvantagem nesses casos

(Sidorovich et al., 2000). Para além disso, ainda existe pouca informação sobre a

situação do toirão em Portugal (Cabral et al., 2005).

Alguns grupos de presas não foram identificadas até à espécie, sendo possível

que o visão se alimente de espécies ameaçadas que não foram identificadas.

Adicionalmente, existe potencial para que a importância de espécies ameaçadas possa

aumentar na dieta do visão, visto esta ser uma espécie oportunista (e.g. Sidorovich,

2000), cuja dieta geralmente depende da disponibilidade e vulnerabilidade das presas

(e.g. Aryal et al., 2010), podendo modificar a sua dieta e incorporar outras presas ou

maior quantidade de presas já consumidas atualmente, no caso de haver menor

disponibilidade das suas presas preferenciais (Skierczyński et al., 2008).

Considerando a vantagem competitiva da lontra, devido ao seu maior tamanho

corporal e melhor adaptação na exploração de recursos aquáticos (e.g. Bonesi et al.,

2004; Brzeziński et al., 2008), poderia ocorrer predação do visão por parte da lontra. Tal

não se verificou, uma vez que não foram encontrados pêlos de visão ou outros

carnívoros nos dejetos de lontra. O contrário também não se deverá verificar, pois,

embora tenham sido detetados pêlos de carnívoros em excrementos de visão, cuja

identificação específica não foi possível, a probabilidade deste predar a lontra é muito

reduzida devido à já mencionada desvantagem, especialmente existindo presas

alternativas na área de estudo.

A dieta das duas espécies apresenta valores semelhantes relativamente aos

índices utilizados, provavelmente devido ao elevado consumo de lagostim (a principal

presa) que é semelhante para ambas.

35

Embora a caracterização sazonal da dieta do visão-americano tenha sido feita de

modo preliminar (apenas gráfico), os resultados estão de acordo com outros estudos

(e.g. Clavero et al., 2003) e sugerem que a dieta poderá ser concordante com fatores

ligados à disponibilidade de presas (Schüttler et al., 2008).

4.3. Limitações do estudo e perspetivas futuras

O presente estudo apresentou alguns problemas de amostragem no terreno. O

número de amostras por mês difere muito entre si (Anexo 4), tendo o máximo de

dejetos recolhidos sido registado em Dezembro (n= 98) e o mínimo em Maio (n=4). As

condições climáticas adversas (SNIRH, 2012) impossibilitaram a realização de

transectos em Abril e causou um número reduzido de dejetos em alguns meses,

principalmente devido à precipitação e à geada, que humedecem os solo e vegetação,

desfazendo os dejetos.

Outra dificuldade na deteção de dejetos em alguns meses foi o desenvolvimento

da vegetação ripícola e a existência de folhagem a cobrir o solo nas margens dos cursos

de água. Ambas as situações comprometem a detetabilidade dos dejetos, diminuindo a

eficácia da amostragem.

O reduzido número de dejetos recolhidos nas lagoas durante os meses de Verão

comparativamente a outros meses (em Junho e Julho foram recolhidos 7 e em Agosto 2)

poderá ter a ver com a menor quantidade de água presente nos corpos de água, o que no

caso das lagoas que formam "ilhas" nas partes mais interiores pode levar a um

deslocamento dos animais para esses locais aos quais não nos foi possível ter acesso,

especialmente na lagoa de S. Pedro que apresenta maior profundidade e apresenta

massas de terra no seu interior durante todo o ano. Assim, poderia ser interessante que

se efetuassem transetos nessas "ilhas" de modo a verificar se serão utilizadas para os

animais e de que modo.

O método utilizado para estimar a importância das presas na dieta apresenta

limitações. No presente trabalho apenas foi possível utilizar a percentagem de

ocorrência. A quantidade elevada de peças partidas nos dejetos impossibilitou o recurso

a estimativas de biomassa que são mais informativas e realistas (e.g. Klare et al., 2011).

A frequência de ocorrência e outros métodos baseados em frequências

providenciam informação sobre a quantidade de vezes que um item é consumido,

enquanto que métodos volumétricos, como a volume da biomassa ingerida, dão

36

informação sobre a importância de cada categoria de presa na dieta em geral (Zabala &

Zuberogoitia, 2003). Assim, um uso combinado destes métodos seria o ideal para uma

análise mais precisa da dieta, evitando sobre ou subvalorizações de alguns recursos.

Seria fundamental no contexto da competição alimentar relacionar o consumo

com disponibilidade de presas, o que no presente estudo não foi possível. Foi efetuada

uma única amostragem na estação húmida (no âmbito do projeto em que a presente tese

se insere), fornecendo apenas dados preliminares sobre a disponibilidade de presas na

área de estudo (Kuipers, 2012). As variações observadas na disponibilidade de água ao

longo do ano sugerem flutuações das populações de presas como, por exemplo, devido a

fatores ambientais (e.g. Skierczyński et al., 2008), cujo efeito seria importante verificar,

num estudo continuado da dieta do visão.

É também importante efetuar uma análise sazonal da dieta das duas espécies

uma vez que estudos anteriores verificaram diferenças sazonais na importância dos

diferentes grupos de presas (e.g. Clavero et al., 2003; Melero et al., 2008). Tal não foi

feito avaliado no presente estudo porque na estação seca apenas foram identificados 17

dejetos de lontra, que em confronto com os 47 de visão, resultam numa diferença que

retiraria robustez estatística à análise (Pestana, 2008). Assim, efetuou-se apenas uma

comparação gráfica da dieta do visão-americano nas duas épocas do ano (número

amostral maior e semelhante nas duas épocas).

4.4 Considerações finais e implicações de conservação

Ao nível da comunidade de carnívoros da área de estudo a aparente elevada

abundância de lagostim resulta numa dieta pouco diversificada em que o elevado

consumo deste crustáceo, aliado ao aproveitamento diferencial de recursos, com o visão

a tirar partido de presas de hábitos terrestres e a lontra de presas aquáticas, permite a

coexistência entre estas duas espécies de carnívoros ripários. No entanto, o potencial

para que estas entrem em competição mantém-se, visto demonstrarem uma elevada

sobreposição nas dietas. Este factor poderá indicar que se, por alguma razão, a

abundância de lagostim-americano diminuir, o visão apresenta uma desvantagem

competitiva relativamente à lontra, apenas aliviada se a sua dieta demonstrar um

incremento no consumo de animais terrestres.

Assim, a disponibilidade do lagostim-americano para a dieta destes carnívoros

parece ser um fator fundamental, por um lado, para que o visão não necessite de predar

37

outros grupos de presas em grandes quantidades, mas também para o seu

estabelecimento sem a oposição da lontra, que noutros países poderá ter travado a sua

expansão por ser um competidor mais forte (e.g. McDonald et al., 2007).

Mesmo sem se ter demonstrado o consumo significativo, por parte do visão, de

presas com estatuto de ameaça, se as populações destas forem pequenas e fragmentadas

a pressão ambiental que o visão-americano lhes adiciona pode provocar danos graves, à

semelhança de outros estudos em que se demonstrou que o visão terá provocado ou

ajudado a provocar a extinção de populações presa (e.g. Halliwell & Macdonald, 1996).

Nesta vertente é importante considerar o visão-americano como um fator de perigo

quando este está em simpatria com potenciais presas com estatuto de ameaça.

O presente trabalho representa um dos primeiros contributos para o

conhecimento do visão-americano em Portugal, sendo importante que se continuem a

desenvolver estudos sobre esta espécie e os seu impactos e que se monitorize a sua

distribuição, de modo a verificar se prossegue a sua expansão e que efeitos poderá ter

futuramente nos ecossistemas/ espécies nativas.

38

5. Referências bibliográficas

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46

6. Anexos

Anexo 1. Descrição e aspecto dos dejetos de lontra e visão-americano (imagem retirada de Mendes, 2011)

47

Anexo 2. Composição da dieta do visão-americano, na estação seca e húmida, expressa qualitativamente

através da listagem dos diferentes grupos taxonómicos presentes nos dejetos e quantitativamente através

das percentagens de ocorrência (PO). A designação NI é atribuída para as categorias não identificadas.

TAXA PO (%)

Visão-americano

ES EH

Filo CHORDATA 31,25 34,38

Classe Actinopterygii 4,69 9,43

Teleostei NI 1,56 1,89

Família Cyprinidae Cyprinidae NI 1,56 0,00

Carassius auratus 1,56 5,66

Família Salmonidae Salmo trutta

0,00 1,89

Classe Amphibia 3,13 1,89

Ordem Anura Anura NI 3,13 0,00

Família Bufonidae Bufo bufo 0,00 1,89

Classe Reptilia 3,13 0,00

Família Lacertidae Timon lepidus/Lacerta schreiberi 3,13 0,00

Classe Aves 4,69 3,77

Ordem Anseriformes Anatidae NI 3,13 3,77

Ordem

Accipitriformes Accipitriformes NI 1,56 0,00

Ordem Passeriformes Passeriformes NI 0,00 3,77

Classe Mammalia 15,63 26,42

Mammalia NI 6,25 0,00

Ordem Soricomorpha Soricomorpha NI 0,00 11,32

Ordem Rodentia Rattus sp. 4,69 0,00

Ordem Carnivora Carnivora NI 4,69 15,09

Filo ARTHROPODA

68,75 48,44

Classe Insecta 3,13 9,43

Insecta NI 1,56 3,77

Ordem Coleoptera Coleoptera NI 0,00 3,77

Ordem Orthoptera Orthoptera NI 0,00 1,89

Ordem Diptera Diptera NI 1,56 0,00

Classe Malacostraca 65,63 49,06

Ordem Decapoda Procambarus clarkii 65,63 49,06

48

Anexo 3. Comparação entre a identificação morfológica e genética dos dejetos

ID Identificação

campo

Identificação

genética

367 mustelídeo visão

370 lontra visão

372 lontra visão

373 lontra lontra

374 lontra lontra

376 lontra visão

377 lontra visão

378 lontra visão

381 mustelideo visão

384 mustelideo visão

385 mustelideo visão

386 lontra visão

387 mustelideo visão

389 lontra lontra

390 lontra visão

395 lontra visão

396 lontra visão

399 lontra visão

400 lontra visão

402 lontra visão

403 lontra visão

406 mustelideo lontra

407 mustelideo lontra

411 lontra visão

412 lontra lontra

415 lontra visão

416 lontra visão

417 lontra lontra

418 lontra visão

419 mustelideo visão

420 lontra lontra

421 mustelideo lontra

423 lontra lontra

426 lontra lontra

427 mustelideo lontra

428 mustelideo visão

429 mustelideo visão

430 mustelideo visão

431 mustelideo visão

432 lontra lontra

49

433 lontra lontra

434 mustelideo visão

435 lontra visão

437 lontra lontra

438 mustelideo lontra

439 lontra lontra

440 mustelideo lontra

441 lontra lontra

444 mustelideo visão

446 mustelideo visão

447 mustelideo visão

451 mustelideo visão

454 mustelideo visão

458 mustelideo visão

462 mustelideo lontra

464 mustelideo lontra

465 visão lontra

467 visão/toirão lontra

470 lontra visão

471 lontra visão

474 lontra visão

475 lontra lontra

483 lontra lontra

488 lontra visão

500 lontra lontra

501 mustelideo visão

502 mustelideo visão

505 lontra lontra

506 lontra visão

507 mustelideo visão

508 mustelideo lontra

509 lontra lontra

510 lontra visão

512 lontra visão

513 lontra lontra

514 mustelideo lontra

517 lontra lontra

520 lontra visão

532 visão lontra

535 visão/ lontra visão

537 visão/ lontra visão

545 visão/ toirão visão

548 mustelideo visão

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550 visão/ lontra lontra

555 visão/ lontra lontra

556 visão/ lontra lontra

558 visão/ lontra visão

561 mustelideo visão

562 mustelideo lontra

566 mustelideo visão

567 visão/ toirão lontra

568 mustelideo visão

569 mustelideo visão

570 mustelideo visão

576 visão/ lontra lontra

577 visão/ lontra visão

637 visão/ lontra lontra

638 lontra lontra

639 mustelideo lontra

643 lontra lontra

655 lontra lontra

657 lontra lontra

668 lontra lontra

670 lontra visão

673 visão visão

677 visão visão

679 visão lontra

680 visão lontra

681 lontra lontra

686 lontra lontra

688 lontra lontra

690 visão/ toirão visão

692 lontra lontra

693 visão/ toirão lontra

694 lontra lontra

695 lontra lontra

696 lontra lontra

698 visão lontra

702 visão visão

703 lontra lontra

704 visão visão

707 lontra lontra

708 visão visão

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715 lontra lontra

716 visão lontra

718 visão visão

721 visão lontra

722 visão lontra

723 lontra lontra

726 lontra lontra

729 lontra lontra

730 visão visão

731 lontra lontra

732 visão/ lontra lontra

733 visão visão

735 visão visão

740 visão visão

741 visão visão

742 visão visão

743 visão visão

744 visão visão

745 lontra visão

746 visão visão

748 visão visão

750 visão visão

751 visão/ lontra visão

752 visão visão

753 fuinha visão

755 mustelideo lontra

756 visão visão

757 visão visão

758 visão/ lontra visão

759 mustelídeo visão

760 visão/ lontra visão

761 visão visão

762 lontra lontra

52

Anexo 4. Distribuição mensal dos dejetos recolhidos na área de estudo (N=327), entre Setembro de 2011

e Agosto de 2012

Meses S

ete

mb

ro

Ou

tub

ro

No

vem

bro

Dezem

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Ja

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Fevere

iro

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Ab

ril

Ma

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Ju

nh

o

Ju

lho

Ag

ost

o

Nº dejetos 38 98 23 22 13 18 49 0 4 25 16 21