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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRO PRETO
DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL
TILA ALEXANDRE TRAP
Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares e aspectos socioeconmicos
em adultos e idosos
Ribeiro Preto - SP 2012
1
TILA ALEXANDRE TRAP
Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares e aspectos socioeconmicos
em adultos e idosos
Dissertao apresentada ao Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, como requisito para a obteno do ttulo de Mestre.
rea de concentrao: Sade na Comunidade
Orientador: Prof. Dr. Laercio Joel Franco
Ribeiro Preto - SP 2012
2
Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a
fonte.
FICHA CATALOGRFICA
FOLHA DE APROVAO CAMILA MARIA SEVERI MARTINS
Trap, Atila Alexandre Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas
cardiovasculares e aspectos socioeconmicos em adultos e idosos / Atila Alexandre Trap; orientador: Larcio Joel Franco- Ribeiro Preto, 2012.
123 f.: il. 30cm. Dissertao (Mestrado)- Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto
da Universidade de So Paulo. Departamento de Medicina Social. rea de concentrao: Sade na Comunidade.
1. Envelhecimento. 2. Aptido Fsica. 3. Exerccio Fsico. 4. Fatores
de Risco para Doenas Cardiovasculares. 5. Aspectos Socioeconmicos
3
TRAP, A. A. Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares e aspectos socioeconmicos em adultos e idosos. Dissertao apresentada ao Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, como requisito para a obteno do ttulo de Mestre. rea de concentrao: Sade na Comunidade. Aprovado em:
Ribeiro Preto, ____ de ______________ de ______.
Banca Examinadora
_______________________________________________________
Prof. Dr. Laercio Joel Franco Universidade de So Paulo
Orientador
_______________________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Kokubun
Universidade Estadual Paulista Membro
_______________________________________________________
Prof. Dr. Sueli Marques Universidade de So Paulo
Membro
4
minha famlia, em especial minha me, pelo seu esforo e dedicao na minha criao e de meus irmos
5
AGRADECIMENTOS
Agradeo Deus pelo dom da vida, bem maior do ser humano. Ainda pela
presena constante em minha vida, permitindo-me caminhar com segurana,
hombridade e determinao.
minha famlia, pelo amor e apoio oferecido, alm da torcida que fazem a
cada batalha que tenho que enfrentar. Em especial a minha me, que mesmo diante
de todas as dificuldades enfrentadas no percurso da vida, sempre priorizou a
educao dos filhos. Obrigado por todo o esforo para permitir que eu estudasse e
realizasse meu sonho de ser atleta. Sou muito grato pela vida que a senhora me
proporciona e cada conquista minha tambm sua.
Ao meu grande amigo Rafael, por acreditar e apoiar todos os meus sonhos,
pela dedicao e amizade, alm de me acompanhar durante todo o mestrado.
A todos os participantes desta pesquisa, em especial para as idosas que hoje
compem a turma de treinamento funcional para a terceira idade no Centro de
Esportes da USP. Obrigado pelos sorrisos, abraos e troca de experincias.
Ao voleibol, que muito me ensinou e fez amadurecer no meu percurso de
atleta, alm de me proporcionar amizades que duram at hoje, alm da bolsa de
estudos no Colgio Campos Salles, etapa inesquecvel. Obrigado Prof. Lus
Fernando Butti por acreditar em mim.
Aos Prof. Srgio Rodrigues e Prof. Angelo Battaglion, meus superiores
durante este perodo, e demais companheiros de trabalho, pelo apoio e
compreenso oferecida na luta diria em conciliar as atividades acadmicas e
profissionais. Em especial, meus tambm amigos Prof. Leonardo de Souza, Prof.
Flvia Ntolo, Prof. Patrcia Silva e Prof. Filipe Oliveira, o apoio e ajuda de vocs foi
essencial para o desenvolvimento deste trabalho.
Aos pais e irm de corao, alm de companheiros da rea, Leopoldo
Hirama, Cassia Joaquim e Aline Modena, pelo apoio, ensinamentos e troca de
experincias.
Aos tambm amigos, Cau Ranzeiro, Cadu Boscariol, Marcelo Alves, Marcelo
Thomazin, Goreti Leite, Fred Roma, Ricardo Navas, Lus Pavan, Junior Costa,
Marcelo Zaneti, Jos Tiago, Hugo Cardoso, Igor Miranda, Renan Villarim, Nahim
6
Correa, Marcos Gonalves, Mauro Prato, Everton Padilha, Leandro Stefanelli e
Marcelo Piccinin pelo apoio e momentos de lazer.
A todos os funcionrios, docentes e companheiros de turma, do curso de
Educao Fsica da UNICAMP, por participarem do meu amadurecimento
profissional e acadmico.
s minhas orientadoras de iniciao cientfica, Prof. Elaine Prodcimo
(UNICAMP) e Prof. Maria Aparecida Nery (UNIITALO), pela pacincia e
ensinamentos nos meus primeiros passos na vida acadmica. Ao Banco Santander
pela Bolsa de Estudos durante a graduao e a oportunidade de estudar por um
semestre na Espanha e ao Prof. Juan Antonio Moreno (Universidad de Elche), pela
tutoria oferecida.
Aos meus supervisores de estgio e chefes dos lugares onde trabalhei por
participarem da minha formao profissional. A todos os meus alunos pela troca de
experincias diria.
Ao Departamento de Medicina Social, da Faculdade de Medicina de Ribeiro
Preto (USP). Em especial aos funcionrios da secretaria Srgio, Paula e Mnica,
sempre dispostos a ajudar e auxiliar e, ainda, pela pacincia.
Aos docentes do Departamento de Medicina Social, que de certa forma,
contriburam para o meu aprendizado e ampliao do conhecimento, ao longo do
mestrado.
Ao CNPq e FAPESP pelo auxlio financeiro na realizao desta pesquisa.
Ao Prof. Dr. Larcio Joel Franco da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto
(FMRP), pelo apoio e ateno que me ofereceu, sempre que solicitado. Prof. Dra.
Camila de Moraes da Escola de Educao Fsica e Esportes de Ribeiro Preto
(EEFERP) a quem recorri em busca de esclarecimentos em alguns momentos.
Aos estudantes de graduao do Grupo de Pesquisa Exerccio Fsico e o
Processo de Envelhecimento da EEFERP, em especial Adriele Franqui e Andr
Jacomini, pela participao em conjunto, troca de experincias e por confiarem em
mim.
Ao Laboratrio de Bioqumica da Faculdade de Cincias Farmacuticas de
Ribeiro Preto (FCFRP), em especial s funcionrias Lusa e Luciana. Tambm ao
Laboratrio de Farmacologia Cardiovascular da FMRP, sob coordenao do Prof.
Dr. Jos Eduardo Tanus dos Santos, em especial aos funcionrios Riccardo Lachini
7
e Sandra Conde, e os companheiros de ps-graduao Joice e Jonas, pela anlise
bioqumica das amostras dos participantes.
minha amiga e companheira de ps-graduao Elisngela Soares, pela
parceria e auxlio na anlise estatstica dos dados desta pesquisa, alm de toda a
pacincia e explicaes.
Prof. Dr. Sueli Marques, ao Prof. Dr. Eduardo Kokubun e Prof. Dr. Amaury
Lelis Dal Fabbro, pela participao e sugestes na minha banca de qualificao e
novamente aos Profs. Sueli e Eduardo pela participao e sugestes na minha
Banca Examinadora. Aos Profs. Renato Marques e Henrique Luiz Monteiro pela
suplncia na Banca Examinadora.
Ao Prof. Dr. Anderson Saranz Zago, pela oportunidade no mestrado e
sugesto dos caminhos do conhecimento, alm do empenho e apoio neste
processo. Aprendemos muito juntos e nem mesmo em meio a tantas mudanas e
dificuldades, o projeto parou.
Agradeo a todos aqueles que fizeram parte deste processo, direta ou
indiretamente, e que por ventura eu no tenha recordado de citar o nome, mas que
com certeza guardo um carinho especial.
8
A idade de ser feliz
Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma poca da vida de
cada pessoa em que possvel sonhar e fazer planos e ter energia bastante para
realiz-los a despeito de todas as dificuldades e obstculos.
Uma s idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e
desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida nossa prpria imagem e
semelhana e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e
entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio mais um convite luta que a gente enfrenta com toda disposio de
tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.
Esta idade to fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a durao
do instante que passa.
Mrio Quintana
9
RESUMO
TRAP, A. A. Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares e aspectos socioeconmicos em adultos e idosos. 123 f. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto/SP, 2012.
Introduo: A diminuio da aptido fsica e a maior vulnerabilidade para o surgimento de doenas crnicas, em especial para as doenas cardiovasculares (DCVs), destacam-se dentre as alteraes associadas ao processo natural de envelhecimento. Nesse contexto, a prtica regular de exerccios fsicos pode ser considerada como uma das principais medidas que contrapem esses fatores. Entretanto, a frequncia de sedentarismo elevada e parece estar associada com aspectos socioeconmicos, indicando que a escolha pelo estilo de vida ativo no depende somente de atitudes individuais. Objetivos: investigar a relao existente
entre a aptido fsica e os fatores de risco para DCVs; verificar se o tempo de prtica de exerccios fsicos e a superviso de um professor de educao fsica esto relacionados melhores resultados; e, investigar a relao entre as caractersticas socioeconmicas e demogrficas e a aptido fsica. Mtodo: Estudo transversal
realizado em Ribeiro Preto, SP, com adultos (50 a 59 anos) e idosos. As variveis estudadas foram: as relacionadas aos fatores de risco para DCVs; aspectos socioeconmicos e demogrficos; nvel habitual de atividade fsica (NHAF); aptido fsica de duas formas: VO2max indireto; e bateria de testes motores que permitiu o clculo ndice de aptido funcional geral (IAFG). O tratamento dos dados deu-se por estatstica descritiva; coeficiente de correlao de Pearson; ANOVA (tempo de prtica e superviso); modelo linear generalizado de comparao de grupos (NHAF e IAFG); e, modelo de regresso linear mltipla (variveis dependentes: IAFG e VO2max; variveis independentes: aspectos socioeconmicos). Resultados: 213 participantes com mdia de idade de 61,4 (8,4) anos. O coeficiente de correlao de Pearson evidenciou associao negativa entre o IAFG e IMC (r=-0,4*), PAS (r=-0,31*) e PAD (r=-0,3*); entre VO2max e IMC (r=-0,46*) e PAS (r=-0,31*); e, entre a idade e o IAFG (r=-0,44*) e o VO2max (r=-0,56*). E associao positiva entre IAFG e VO2max (r=0,7*). O modelo linear generalizado de comparao de grupos evidenciou diferena quanto ao NHAF para o IAFG e VO2max; e, quanto ao IAFG, para o IMC, TG, PAS e PAD. Os grupos com maior NHAF e IAFG apresentaram melhores resultados nestas variveis. Por meio da ANOVA foi evidenciada diferena entre os grupos quanto ao tempo de prtica e superviso com a renda, anos de estudos, IAFG, VO2max, IMC e PAD. Os grupos com tempo de prtica superior a 6 meses apresentaram melhores resultados, com alguns resultados ainda melhores para o grupo supervisionado. O modelo de regresso linear mltipla evidenciou associao do IAFG com a cor da pele, a escolaridade, a renda e a idade, bem como, associao entre o VO2max e renda, gnero e a idade. Consideraes finais: Os dados apontam para a existncia de relao entre aptido fsica e fatores
de risco para DCVs, e, indicam associao entre aptido fsica e aspectos socioeconmicos. O tempo de prtica e a superviso de um professor de educao fsica apresentaram associao com os fatores de risco para DCVs e os aspectos socioeconmicos. Desta forma, baseado nos resultados deste estudo, sugere-se o desenvolvimento de polticas pblicas visando a melhoria da sade deste segmento populacional.
Palavras-chaves: envelhecimento, aptido fsica, exerccio fsico, fatores de risco
para doenas cardiovasculares, aspectos socioeconmicos.
10
ABSTRACT TRAP, A. A. Relationship among physical fitness, risk factors for cardiovascular disease and socioeconomic aspects in adults and elderly. 123 f.
Dissertao (Mestrado) Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto/SP, 2012.
Introduction: Low levels of physical fitness and higher vulnerability to the emergence of chronic diseases, especially cardiovascular disease (CVD), stand out among the changes in the natural aging process. In this context, regular physical exercise can be considered the main factor against these changes. However, the sedentary lifestyle rate is high and can be associated with socioeconomic factors, indicating that the choice for the active lifestyle not only depends on individual attitudes. Objectives: Investigate the relationship between physical fitness and risk factors for CVD; check if different time of practice and supervision are related with better results; and, investigate the relationship among the socioeconomic and demographic characteristics and physical fitness. Methods: Cross-sectional study in
Ribeiro Preto, SP, Brazil, with adults (50 to 59 years old) and elderly. The variables studied were: related to risk factors for CVDs - blood pressure (BP), body mass index (BMI) and lipid profile; socioeconomic and demographic aspects (age, income, education, skin color and gender); usual level of physical activity (ULPA), assessed by IPAQ; physical fitness in two ways: indirect VO2max, and AAHPERD physical test battery. The general functional fitness index (GFFI) was obtained by the sum of score-percentile of each test, as described previously. Data analysis was performed by descriptive statistics, Pearson correlation coefficient, ANOVA (practice time and supervision), generalized linear model for comparison groups (ULPA and GFFI), and model of multiple linear regression (dependents variables: VO2max and GFFI; independents variables: socioeconomic and demographic aspects). Results: 213 participants with 61.4 (8.4) years old. The Pearson correlation coefficient showed a negative association between GFFI and BMI (r=-0,4*), SBP (r=-0,31*) and DBP(r=-0,3*); and between VO2max and BMI (r=-0,46*) and SBP (r=-0,31*); and between age and GFFI (r=-0,44*) and VO2max (r=-0,56*). Positive association was found between GFFI and VO2max (r=0,7*). The comparison groups generalized linear model showed difference in ULPA to GFFI and VO2max; and as for GFFI, BMI, TG, SBP and DBP. The greatest NHAF and GFFI groups showed better results in these variables. Through ANOVA showed difference among groups regarding practice time and supervision with income, years of study, GFFI, BMI and DBP. Groups with practice time more than six months showed better results, with some even better results for the supervised group. The model of multiple linear regression still showed association with GFFI and skin color, education, income and age. And yet, association between VO2max and income, gender and age. Final Thoughts: The
results of this study demonstrate the relationship between physical fitness and risk factors for CVDs, as well as indicate an association between physical fitness and socioeconomic aspects. Still time to practice and supervision of a physical education teacher were associated with risk factors for CVDs and socioeconomic aspects. Thus, based on the results of this study, it is suggested that the development of public politic is essential to improve the health of this population segment.
Keywords: aging, physical fitness, exercise, risk factors for cardiovascular disease, socioeconomic aspects.
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Estrutura relativa por sexo e idade Brasil 1940/2050 ..................... 20
Figura 2 Proporo de crianas, jovens e adultos, e de idosos em relao ao total da populao Brasil 1940/2050 ....................................................
21
Figura 3 Resumo das avaliaes em cada dia de coleta .................................... 49
Figura 4 Ilustrao grfica do teste de coordenao ............................................ 55
Figura 5 Montagem do teste de flexibilidade de alcanar sentado ....................... 55
Figura 6 Representao esquemtica do teste de agilidade e equilbrio dinmico ..................................................................................................
56
Figura 7 Matriz de grficos do coeficiente de correlao de Pearson com a varivel de referncia IAFG. *p
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade de idosos, avaliada pela declarao indicativa de dificuldades em ABVDs e AIVDs, Brasil 2000 .............................................................................
26
Tabela 2 Risco de morte, por 100 mil habitantes, por doenas isqumicas do corao (DIC) e cerebrovasculares (DCbV) por faixas etrias decenais a partir de 30 anos no Brasil, 2005 ........................................
29
Tabela 3 Mortalidade proporcional da populao com 60 anos ou mais de idade, por grandes regies, segundo algumas causas de morte 1996/2005 .............................................................................................
31
Tabela 4 Dados sobre inatividade fsica da populao mundial .......................... 36
Tabela 5 Dados sobre inatividade fsica da populao brasileira e os principais fatores associados ................................................................................
37
Tabela 6 Dados sobre sedentarismo e inatividade fsica da populao idosa brasileira e os principais fatores associados ......................................
38
Tabela 7 Valores Normativos para consumo mximo de oxignio (VO2max) por sexo e idade ..........................................................................................
53
Tabela 8 Resultados de uma participante de 50 anos e o procedimento para clculo do IAFG ....................................................................................
57
Tabela 9 Valores de referncia e classificao da presso arterial ..................... 58
Tabela 10 Valores de referncia e classificao do ndice de Massa Corporal (IMC), ajustado para idosos ..................................................................
59
Tabela 11 Valores de referncia e classificao dos lipdios plasmticos ............ 60
Tabela 12 Caractersticas socioeconmicas, demogrficas e relacionadas aptido fsica (qualitativas) dos participantes .......................................
65
Tabela 13 Caractersticas dos adultos e idosos participantes quanto s variveis quantitativas da aptido fsica e as relacionadas aos fatores de risco para DCVs ............................................................................................
66
Tabela 14 Comparao de grupos tendo como varivel independente a classificao no IPAQ ...........................................................................
69
Tabela 15 Comparao de grupos tendo como varivel independente o ndice de Aptido Funcional Geral (IAFG) .......................................................
70
Tabela 16 Comparao de grupos tendo como varivel independente o tempo de prtica de exerccio e a superviso de um professor de Ed. Fsica
71
Tabela 17 Caractersticas socioeconmicas e demogrficas que se associaram com o IAFG. Anlise Mltipla ................................................................
72
Tabela 18 Caractersticas socioeconmicas e demogrficas que se associaram
com o maxOV 2 . Anlise Mltipla ..........................................................
73
13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAHPERD American Alliance for Health, Physical Education, Recreation
and Dance
ABVDs Atividades Bsicas da Vida Diria
ACSM American College Sports Medicine
AHA American Heart Association
AIVDs Atividades Instrumentais da Vida Diria
CEFER Centro de Educao Fsica, Esportes e Recreao
CELAFISCS Centro de Estudos do Laboratrio de Aptido Fsica de So
Caetano do Sul
CEMEQ Centro de Mtodos Quantitativos
CESP Companhia Energtica de So Paulo
CIF Classificao Internacional de Funcionalidade
CT Colesterol Total
DCbVs Doenas Cerebrovasculares
DCNTs Doenas Crnicas No-Transmissveis
DCVs Doenas Cardiovasculares
DIC Doena Isqumica do Corao
EEFERP Escola de Educao Fsica de Ribeiro Preto
FCFRP Faculdade de Cincias Farmacuticas de Ribeiro Preto
FMRP Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto
HAS Hipertenso Arterial Sistmica
HDL-c High Density Lipoprotein Colesterol
IAFG ndice de Aptido Funcional Geral
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IGLA ndice Global de Limitao das Atividades
IMC ndice de Massa Corporal
IPAQ International Physical Activity Questionnaire
LDL-c Low Density Lipoprotein Colesterol
MET Equivalente metablico
NHAF Nvel Habitual de Atividade Fsica
NHC National Health Commitee (Nova Zelndia)
14
NIH National Institutes of Health
PA Presso Arterial
PAD Presso Arterial Diastlica
PAS Presso Arterial Sistlica
PES Programa de exerccios fsicos supervisionado
PIC Programa de Integrao Comunitria
PNAD Pesquisa Nacional de Amostras por Domiclio
QV Qualidade de Vida
SBH Sociedade Brasileira de Hipertenso
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TG Triglicerdeos
UNAERP Universidade de Ribeiro Preto
USP Universidade de So Paulo
maxOV 2 Consumo Mximo de oxignio
VIGITEL Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas
Crnicas por Inqurito Telefnico
WHO World Health Organization
15
DEFINIO DE TERMOS
ATIVIDADES BSICAS DA VIDA DIRIA (ABVDs): atividades de cuidado pessoal,
como alimentar-se, banhar-se, vestir-se, entre outras (AIJANSEPPA et al., 2005).
ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DA VIDA DIRIA (AIVDs): habilidades de
mobilidade ou de atividades para manuteno do ambiente; englobam tarefas mais
complexas muitas vezes relacionadas participao social do sujeito, como por
exemplo, realizar compras, atender ao telefone e utilizar meios de transporte
(ESPEJO et al., 1997).
ATIVIDADE FSICA: uma expresso genrica que pode ser definida como
qualquer movimento corporal, produzido pelos msculos esquelticos, que resulta
em gasto energtico maior do que os nveis de repouso (CARPENSEN; POWELL;
CHRISTENSON, 1985).
APTIDO: estrutura complexa de capacidades que difere de indivduo para
indivduo em magnitude e direo. vista pela maioria como predominantemente
gentica, mas as influncias ambientais so responsveis pelo nvel e qualidade da
aptido de um indivduo. H uma interao entre gentica e meio ambiente
(BARBANTI, 2003).
APTIDO FSICA: conjunto de atributos que as pessoas possuem ou podem
alcanar e que se relaciona com a capacidade de realizar atividade fsica.
composta pela agilidade, equilbrio, composio corporal, resistncia aerbia,
coordenao, flexibilidade, fora e resistncia muscular e velocidade. O grau em que
as pessoas possuem estes atributos pode ser medido com testes especficos. Pode
ser dividida em dois grupos: um relacionado sade e outro capacidade atltica
(CARPENSEN; POWELL; CHRISTENSON, 1985).
APTIDO FUNCIONAL: Envolve os componentes da aptido fsica para
desempenhar as demandas ordinrias e inesperadas da vida diria de forma segura
e eficaz (CLARK, 1989).
16
CAPACIDADE FUNCIONAL: pode ser definida como o potencial que o indivduo
apresenta para decidir e atuar em sua vida de forma independente, no seu cotidiano.
Inclui a capacidade de realizar atividades de vida diria e a independncia para
execut-las (MATSUDO, 2010).
CAPACIDADES MOTORAS: capacidades gerais para realizar uma variedade de
habilidades motoras. Acredita-se que so determinadas geneticamente e
influenciadas por experincia de aprendizagem. Termo genrico para as diferentes
capacidades, tais como: fora, velocidade, resistncia, agilidade, flexibilidade. No
Esporte, fatores pessoais que determinam o rendimento so categorizados
diferentemente. Outros termos genricos comuns so: caractersticas motoras,
caractersticas motoras bsicas, principais componentes da aptido motora, bases
fsicas do rendimento, atributos fsicos (BARBANTI, 2003).
ENVELHECIMENTO: a soma de todas as alteraes biolgicas, psicolgicas e
sociais que, depois do indivduo alcanar a idade adulta e ultrapassar a idade de
potencial mximo de desempenho, ocorre uma reduo gradual das capacidades
psicofsicas (WEINECK, 1991).
EXERCCIO FSICO: uma atividade fsica planejada, estruturada e repetitiva que
tem como objetivo final ou intermedirio aumentar ou manter a sade/aptido fsica
(CARPENSEN; POWELL; CHRISTENSON, 1985).
FATOR DE RISCO PARA DOENAS CARDIOVASCULARES: fatores comuns
entre os indivduos que apresentam um evento cardiovascular grave. Podem ser
classificados entre modificveis e no modificveis (LOTUFO, 2008).
HABILIDADES MOTORAS: atos motores que surgem dos movimentos da vida
diria do ser humano e dos animais; expressam uma qualidade de coordenao dos
movimentos. A habilidade motora encontra-se nos movimentos do dia-a-dia e do
trabalho, como tambm na rea dos esportes (BARBANTI, 2003).
17
SUMRIO
1. INTRODUO ................................................................................................ 19
1.1 O processo de envelhecimento populacional ............................................... 19
1.2 Processo de envelhecimento e aptido fsica ............................................... 23
1.3 Processo de envelhecimento, aptido fsica e fatores de risco para
doenas cardiovasculares ..................................................................................
28
1.4 Sedentarismo e Inatividade Fsica Mundial e da Populao Brasileira: um
olhar crtico a partir das esferas objetiva e subjetiva da Qualidade de Vida .......
36
2. PROBLEMATIZAO E JUSTIFICATIVA ..................................................... 43
3. OBJETIVOS ................................................................................................... 46
3.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 46
3.2 Objetivos Especficos .................................................................................... 46
4. MTODO ........................................................................................................ 47
4.1 Tipo de estudo .............................................................................................. 47
4.2 Participantes/Amostragem ............................................................................ 47
4.3 Procedimentos para a coleta de dados ........................................................ 48
4.4 Avaliao do nvel habitual de atividade fsica ............................................. 50
4.5 Avaliao da aptido fsica ........................................................................... 51
4.5.1 Teste para medida indireta do consumo mximo de oxignio maxOV 2 .... 52
4.5.2 Avaliao da aptido funcional geral ......................................................... 53
4.6 Avaliao dos fatores de risco para doenas cardiovasculares ................... 57
4.6.1 Presso Arterial ........................................................................................ 58
4.6.2 ndice de Massa Corporal ........................................................................ 58
4.6.3 Perfil Lipdico ............................................................................................ 59
4.7 Anlise Estatstica ......................................................................................... 60
4.7.1 Clculo do Tamanho Amostral ................................................................. 60
4.7.2 Anlise estatstica dos dados ................................................................... 61
18
5. RESULTADOS ............................................................................................... 65
5.1 Caractersticas socioeconmicas e demogrficas, relacionadas aptido
fsica e aos fatores de risco para doenas cardiovasculares dos participantes .
65
5.2 Relaes entre nvel habitual de atividade fsica, aptido fsica, fatores de
risco para doenas cardiovasculares ..................................................................
67
5.3 Relaes entre prtica de exerccio fsico regular supervisionada ou no
supervisionada, aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares
e aspectos socioeconmicos e demogrficos ..................................................
70
5.4 Relaes entre aptido fsica e aspectos socioeconmicos e demogrficos 71
6. DISCUSSO ................................................................................................... 74
6.1 Caractersticas gerais dos participantes ....................................................... 74
6.2 Relaes entre o nvel habitual de atividade fsica, aptido fsica e fatores
de risco para doenas cardiovasculares .............................................................
75
6.3 Relaes entre aptido fsica e fatores de risco para doenas
cardiovasculares .................................................................................................
79
6.4 Relaes entre tempo de prtica, superviso de um profissional de
educao fsica, aptido fsica e fatores de risco para doenas
cardiovasculares .................................................................................................
83
6.5 Relaes entre aspectos socioeconmicos e demogrficos, aptido fsica
e prtica regular de exerccios fsicos supervisionada ........................................
86
7. LIMITAES DO ESTUDO ............................................................................ 96
8. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................
97
REFERNCIAS .. 98
APENDICES ... 118
ANEXOS . 121
19
1. INTRODUO
1.1 O processo de envelhecimento populacional
Nos ltimos anos, estudos que abordam o processo de envelhecimento tm
recebido destaque, especialmente devido ao crescimento da expectativa de vida da
populao em ritmo acelerado (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATSTICA, 2008) e da constante preocupao em proporcionar um
envelhecimento saudvel e com melhores condies de vida aos adultos e aos
idosos.
Segundo Mazo, Lopes e Benedetti (2009), o envelhecimento populacional
vem ocorrendo nos pases em desenvolvimento em um espao de tempo mais curto
em relao aos pases desenvolvidos. As razes que esto levando a esta transio
demogrfica so:
Reduo da mortalidade, especialmente aps a Revoluo Industrial por meio
do desenvolvimento socioeconmico dos pases desenvolvidos; e,
aprimoramento tecnolgico dos pases de um modo geral, incluindo as
vacinas, antibiticos, equipamentos, entre outros (HOMMA et al., 2011);
Reduo da fecundidade e a consequente baixa natalidade (nmero de
nascidos vivos por mil habitantes). Nos pases em desenvolvimento, a
natalidade comeou a diminuir drasticamente nas dcadas de 60 e 70, no
ocorrendo reduo gradativa como nos pases desenvolvidos. A utilizao dos
mtodos contraceptivos, como a plula anticoncepcional e esterilizao
feminina, apresentada como varivel importante na determinao dos nveis
de fecundidade (TAVARES; LEITE; TELLES, 2007).
A queda nas taxas de mortalidade e fecundidade acompanhou os processos
de urbanizao e industrializao, os quais facilitaram a ampliao da cobertura dos
sistemas de proteo social e melhorias das condies de habitao, alimentao,
trabalho e saneamento bsico, alm do acesso educao, aos servios de sade,
aos programas de planejamento familiar e s mudanas no estilo de vida (IBGE,
2009; KALACHE; VERAS; RAMOS, 1987; VERMELHO; MONTEIRO, 2003).
20
O crescimento da populao idosa no Brasil, seguindo a tendncia mundial,
foi reflexo tambm do declnio das taxas de mortalidade e de fecundidade (DANTAS;
VALE, 2008; WONG; CARVALHO, 2006). As transformaes no padro demogrfico
comearam a ocorrer de forma tmida, sendo que a partir de 1940 foi possvel notar
um consistente declnio dos nveis de mortalidade, no acompanhada por um
processo concomitante nos nveis de natalidade. O quadro se acentuou a partir de
1960 quando a populao continuou apresentando diminuio na taxa de
mortalidade, e ocorreu reduo da fecundidade. Este fato desencadeou profundas
mudanas na distribuio etria, iniciando a caracterizao de uma nova pirmide
etria com o estreitamento da base e o consequente alargamento do topo (IBGE,
2009).
A Figura 1 ilustra a estrutura relativa por sexo e idade no Brasil, baseada nos
dados dos censos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
(IBGE, 2009) a partir de 1940, e as projees para 2020 e 2050.
Figura 1 Estrutura relativa por sexo e idade Brasil 1940/2050.
Fonte: IBGE (2009)
possvel observar no censo do ano 2000, a caracterizao da nova pirmide
etria e as projees para 2020 e 2050 nos levam a visualizar o novo formato, em
forma de barril perdendo o aspecto triangular apresentado anteriormente.
Em 1940, a vida mdia do brasileiro era de 45,5 anos, j em 2010 passou
para 73,1 anos. A diferena de idade entre os sexos em 2010 foi de 7,6 anos,
cabendo aos homens uma expectativa de vida de 69,4 anos ao nascer e s
21
mulheres, 77 anos (IBGE, 2010). De acordo com as projees do IBGE (2010), o
pas continuar envelhecendo ao longo dos anos, com uma expectativa de vida de
81,3 anos em 2050, basicamente o mesmo nvel que possui atualmente os pases
com melhores expectativas de vida do mundo como a Austrlia (81,20), Sua
(81,70), Islndia (81,80), Hong Kong1 (82,20) e o Japo (82,60).
Segundo o IBGE (2010), a populao idosa no Brasil, composta pelas
pessoas com 60 anos ou mais de idade, representada por cerca de 20 milhes de
habitantes ou 10,8% da populao total brasileira e at 2020, estima-se que a
populao idosa ir compor um contingente de 31,8 milhes de pessoas. Esse
segmento populacional, ao crescer quinze vezes no perodo entre 1950 e 2020,
situar o Brasil como o sexto pas do mundo em proporo de idosos (VERAS,
2002). A projeo para 2050 da pirmide etria (Figura 1) nos permite observar
ainda, o aumento da populao adulta com idade a partir dos 50 anos, nos
remetendo no somente aos cuidados de ateno para a populao idosa, como
tambm destes adultos de idade avanada.
A Figura 2 mostra a proporo de crianas, jovens e adultos, e idosos em
relao ao total da populao e nos permite realizar uma comparao a partir dos
dados dos censos realizados entre 1940 e 2000, e as projees para as prximas
dcadas (IBGE, 2009).
Figura 2 Proporo de crianas, jovens e adultos, e de idosos em relao ao total da
populao Brasil 1940/2050. Fonte: IBGE (2009)
1 A partir de 1 de julho de 1997, Hong Kong tornou-se uma Regio Administrativa Especial (SAR) da China
22
possvel observar que a faixa etria de 0 a 14 anos de idade diminui em
termos percentuais ao longo dos anos e a populao entre 15 e 59 anos se mantm
quase inalterada at 1980, quando apresenta um ligeiro aumento. Entretanto, pode-
se observar aumento importante no percentual de idosos, com variao de 4,1% em
1940 para 10% no ano 2000, e projeo de 29,8% para 2050.
Essa mudana na estrutura etria da sociedade resulta em mudanas
econmicas e no aumento dos problemas sociais, alm de maior vulnerabilidade
para algumas doenas, especialmente nos pases em desenvolvimento
(CHAIMOVICZ, 2006; GUIMARES et al., 2004; VERMELHO; MONTEIRO, 2003).
Por definio, entende-se o envelhecimento humano como um processo
contnuo que afeta progressivamente as funes no decorrer do ciclo vital (NERI,
2005; SHEPARD, 2003). O mesmo caracterizado por processos progressivos e
dinmicos, com alteraes funcionais, fisiolgicas, bioqumicas e comportamentais
que podem gerar dificuldades tanto na manuteno da capacidade de adaptao
homeosttica frente a situaes inesperadas quanto na adaptao s constantes
mudanas do ambiente, podendo comprometer o funcionamento de determinado
sistema do organismo, gerando um risco maior para o surgimento de doenas
(CHODZKO-ZAJKO et al., 2009; GUIMARES et al., 2004; JANI; RAJKUMAR, 2006;
PERES, 2003; PORTO, 2008; ZIMERMAN, 2000).
Dentre essas diversas alteraes, destacam-se a diminuio da aptido
fsica, que envolve prejuzos nas capacidades e habilidades motoras (fora
muscular, coordenao, resistncia aerbia, flexibilidade, agilidade e equilbrio) e
possui relao direta com a capacidade de desempenhar as demandas ordinrias e
inesperadas da vida diria de forma segura e eficaz, podendo levar perda gradual
de autonomia e independncia; e, uma maior vulnerabilidade para o surgimento de
doenas crnicas no transmissveis (DCNTs), com destaque para as doenas
cardiovasculares (DCVs) (BALTES; SILVERBERG, 1995; CLARK, 1989; McARDLE;
KATCH; KATCH, 2003; NASSER; PIUCCO, 2005; OTTO, 1987; PAULI et al., 2009;
SPIRDUSO, 2005; WEINECK, 1991), reconhecidas como doenas de maior
prevalncia e principal causa de morte em adultos e idosos aps a transio
epidemiolgica, responsvel por alteraes relevantes no quadro de morbi-
mortalidade, marcada pelo declnio das doenas infecto-contagiosas e aumento das
DCNTs (CHODZKO-ZAJKO et al., 2009; PITANGA, 2010). Atualmente, as doenas
infecto-contagiosas representam 10 % das mortes no Brasil enquanto que as DCVs
23
representam cerca de 30 a 40% (IBGE, 2009; SOCIEDADE BRASILEIRA DE
HIPERTENSO, 2010).
Normalmente, essas alteraes indesejadas que ocorrem com o processo
natural de envelhecimento, especialmente as citadas anteriormente, podem estar
relacionadas adoo de um estilo de vida sedentrio (DANTAS; VALE, 2008;
GEIS; RUB, 2003; PAPALO NETO, 1996; PORTO, 2008). Como consequncia,
cria-se um ciclo malfico que leva situao de dependncia e perda de autonomia,
haja vista que parece existir relao direta entre inatividade fsica e piores condies
de sade (BAKER et al., 1993; BLAIR; CHENG; HOLDER, 2001; GOBBI; VILLAR;
ZAGO, 2005).
1.2 Processo de envelhecimento e aptido fsica
O indivduo desenvolve sua aptido fsica at prximo dos 30 ou 35 anos de
vida, e aps esta idade, o seu desempenho funcional vai declinando at chegar a
patamares indesejveis, podendo diminuir a capacidade funcional e, desta forma,
comprometer a realizao de tarefas cotidianas, impossibilitando assim o indivduo
de desempenhar suas funes dirias de forma segura e eficaz, mesmo em simples
tarefas, como subir escadas, transportar objetos, atravessar ruas, amarrar os
cadaros dos sapatos, ultrapassar obstculos e mesmo caminhar, podendo levar
assim a um quadro de dependncia (PAPALO NETTO, 1996; ZAGO, 2002). Neste
contexto, Sanchez (2000) coloca que uma incapacidade orgnica no condio
necessria nem suficiente para a dependncia, j que em muitos casos possvel
reverter ou pelo menos amenizar tal incapacidade, por meio de um programa de
reabilitao, em que bastante comum a utilizao de exerccios fsicos. E, ainda,
pensando no idoso, algumas estratgias e adaptaes no ambiente e nas relaes
sociais podem preservar a independncia do mesmo. A autora chama ateno para
uma anlise mais profunda diante da tendncia de associar a dependncia fsica
com a perda total de autonomia, reforando que no existe uma relao direta entre
estas duas situaes, j que um idoso dependente, mas com preservao da
capacidade cognitiva, pode manter sua autonomia. Neste sentido, pode-se entender
24
a autonomia como a capacidade que o indivduo tem de ser responsvel pelos
prprios atos e tomar as prprias decises (ABREU; FORLENZA, BARROS, 2005).
O indicador de incapacidade funcional utilizado pelo IBGE (2009) para
avaliar as condies de sade de adultos e idosos, j que muitos desenvolvem
DCNTs que geram diferentes impactos sobre a vida cotidiana. A incapacidade
funcional definida como a dificuldade, devido a uma deficincia, para realizar as
atividades tpicas e pessoalmente desejadas na sociedade (CLASSIFICAO
INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, 2003). Neste sentido, avaliar a
incapacidade funcional importante para identificar as dificuldades para realizar
atividades bsicas da vida diria (ABVDs), relacionadas ao cuidado pessoal, como
comer, ir ao banheiro, tomar banho, caminhar, entre outras, e para atividades
instrumentais da vida diria (AIVDs), consideradas mais complexas, necessrias
para viver de forma independente na comunidade (IBGE, 2009). Esta avaliao
juntamente com o levantamento de outras informaes so relevantes para
estabelecer relaes entre o estado funcional, caractersticas socioeconmicas e
demogrficas e condio de sade (GURALNIK et al. 1995).
A partir de dados do IBGE (2009), observa-se que em mbito nacional, de
uma maneira geral, os estudos sobre a incapacidade funcional tm utilizado as
informaes do Suplemento Sade da Pesquisa Nacional de Amostras por
Domiclios (PNAD) de 1998 e 2003 e do Censo Demogrfico 2000.
O estudo de Costa (2006) avaliou a incapacidade funcional da populao
brasileira com idade igual ou superior a 14 anos, por meio dos dados da PNAD de
2003, baseando tais anlises em escalas de avaliao das ABVDs e AIVDs, e
ressaltando a importncia deste tipo de avaliao no mbito das consequncias das
doenas crnicas. A limitao das atividades foi menos frequente na faixa dos 14
aos 39 anos e mais elevada a partir dos 60 anos, independente da atividade
investigada. Entre os idosos, mais de 5% dos entrevistados relataram no conseguir
realizar as atividades investigadas, exceto a realizao de cuidados pessoais e
andar cerca de 100 metros atividades cujo comprometimento sugeriria limitaes
mais graves para as quais as prevalncias de limitao foram de 2,4% e 1,3%,
respectivamente. Dos 40 aos 59 anos, as prevalncias de alguma limitao de
atividades como correr, levantar objetos pesados, praticar esportes ou realizar
trabalhos pesados, subir ladeira ou escada e abaixar-se, ajoelhar-se e curvar-se
atingiram valores entre 20 e 30%. J as propores da populao nesta faixa etria
25
que relataram no conseguir realizar tais atividades variaram de 1% a 4%. A
distribuio do ndice Global de Limitao das Atividades (IGLA) foi mais favorvel
entre os homens, independentemente da idade. Os valores mdios do IGLA no sexo
masculino foram sempre superiores aos observados para as mulheres, aumentando
as diferenas com o avanar da idade. Entre os homens idosos, o escore mdio
encontrado foi de 79, que indica que 79% da capacidade funcional estariam
preservadas para eles, ou, inversamente, um grau de limitao das atividades
investigadas de 21%. Entre as mulheres idosas, o IGLA mdio foi igual a 70,5.
Em relao aos dados do Censo Demogrfico 2000, a Tabela 1 apresenta a
prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade dos idosos de 60 anos ou
mais de idade, por sexo, em ordem crescente, segundo os municpios das capitais,
demonstrando padro semelhante aos dados da PNAD 2003, apresentados
anteriormente.
26
Tabela 1 Prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade de idosos,
avaliada pela de declarao indicativa de dificuldades em ABVDs e AIVDs, Brasil 2000
Municpios das capitais
Prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade dos idosos com 60 anos ou mais de idade, por sexo, em ordem crescente (%)
Municpios das capitais
Prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade dos idosos com 60 anos ou mais de idade, por sexo, em ordem crescente (%)
Mulheres Homens
So Paulo
20,1
So Paulo
15,8
Curitiba 24,9 Rio de Janeiro 19,0 Florianpolis 25,4 Florianpolis 19,3 Cuiab 26,6 Belo Horizonte 19,5 Rio de Janeiro 26,7 Curitiba 20,0 Porto Velho 27,2 Palmas 20,1 Campo Grande 27,3 Vitria 20,4 Belo Horizonte 27,4 Porto Alegre 20,6 Porto Alegre 28,2 Braslia 20,9 Vitria 28,2 Porto Velho 21,1 Braslia 29,1 Salvador 21,4 Boa Vista 29,1 Campo Grande 21,8 Goinia 29,3 Goinia 22,4 So Lus 29,6 Belm 22,7 Fortaleza 30,5 So Lus 22,7 Belm 30,5 Fortaleza 22,7 Manaus 31,9 Boa Vista 23,0 Salvador 32,4 Recife 23,3 Natal 33,3 Cuiab 23,5 Recife 33,9 Aracaju 23,8 Joo Pessoa 34,7 Macap 25,2 Rio Branco 35,2 Natal 25,8 Macap 35,7 Joo Pessoa 25,9 Teresina 36,2 Manaus 25,9 Aracaju 37,3 Rio Branco 26,4 Macei 37,3 Teresina 27,2 Palmas 38,5 Macei 28,2
Fonte: IBGE (2009)
Os dados brasileiros apresentados na Tabela 1 so alarmantes se
comparados com os de pases desenvolvidos como a Alemanha, Holanda e Sucia,
que apresentam um percentual mdio de incapacidade funcional em torno de 8,4%,
11,6% e 12,1%, respectivamente (MONT, 2007); ainda, chamam a ateno para a
desigualdade regional dentro do territrio brasileiro, mostrando que os idosos
27
moradores das Regies Norte e Nordeste do Pas encontram-se em desvantagem
quanto condio funcional, quando comparados com as demais Regies,
indicando que fatores socioeconmicos podem influenciar negativamente para o
quadro de incapacidade funcional.
H na literatura diversos estudos que relacionam adequada capacidade
funcional e a sade geral da populao com a aptido fsica geral, mostrando que
polticas pblicas focadas em programas que melhorem a aptido fsica da
populao adulta e idosa, poderiam ser uma soluo para o processo de
envelhecimento saudvel, principalmente no que diz respeito manuteno e
melhora do desempenho funcional, j que aptido fsica e capacidade funcional
esto diretamente relacionadas (COSME; OKUMA; MOCHIZUKI, 2008;
GONALVES et al., 2010; MATSUDO, 2001; ZAGO; GOBBI, 2003).
Vrios so os fatores que podem contribuir para o declnio da aptido fsica
durante o processo natural de envelhecimento, por exemplo, decrscimos na fora
muscular, resistncia aerbia e coordenao (PORTO, 2008; SHEPARD, 2003;
SPIRDUSO, 2005), e, possivelmente grande parte deste declnio, ocorre devido ao
aumento da inatividade fsica ao invs das prprias mudanas ocasionadas pelo
envelhecimento.
Felizmente, o organismo mesmo em processo de envelhecimento no perde
seu potencial de adaptao ao exerccio fsico. Estudos demonstram que adultos e
idosos que praticam exerccios fsicos regularmente tendem a apresentar melhor
aptido fsica. Os efeitos positivos dos exerccios fsicos sobre a funcionalidade
fsica do adulto e do idoso so confirmados com a participao em um programa de
exerccio regular, j que esta uma modalidade de interveno efetiva para reduzir
e/ou prevenir um nmero de declnios funcionais associados ao envelhecimento,
incluindo melhora da fora muscular, da resistncia, do equilbrio, da sade ssea,
da estabilidade postural, da flexibilidade e da amplitude de movimento, reduzindo,
consequentemente, o risco de quedas, leses e fraturas associadas (CHODZKO-
ZAJKO et al., 2009; HASKELL et al., 2007; GARBER et al., 2011).
Tal afirmao ainda pode ser exemplificada pelo estudo de Dias et al. (2006)
que encontraram melhoras no quadro funcional (componente aerbio e de fora) de
mulheres adultas e com sobrepeso que foram submetidas a quatro semanas de
treinamento misto, composto de treinamento aerbio, de fora localizada e de fora
em circuito. Cosme, Okuma e Mochizuki (2008), em estudo transversal, traaram o
28
perfil funcional de idosas ativas, saudveis e fisicamente independentes, por meio
de testes que avaliaram a flexibilidade, agilidade, equilbrio esttico, fora abdominal
e de membros inferiores e superiores. As participantes foram divididas em quatro
grupos etrios: 60 a 64 anos; 65 a 69 anos; 70 a 74 anos; 75 anos ou mais. Os
resultados mostraram que no foram encontradas diferenas entre as faixas etrias
para todas as variveis com exceo da agilidade, pois o grupo 75 anos ou mais
apresentou pior desempenho em relao aos grupos de 60 a 64 anos e o de 65 a 69
anos, e o grupo 70 a 74 anos um desempenho pior que o grupo 60 a 64 anos,
evidenciando que o perfil funcional de idosas fisicamente ativas mantm-se em
condies timas at idades avanadas. Borges, Benedetti e Farias (2011), em
estudo com idosas fisicamente ativas e participantes de um grupo de convivncia,
encontraram associao entre o nvel habitual de atividade fsica (NHAF) e
capacidade funcional relatada, sendo que 83,7% foram classificadas como ativas ou
muito ativas; 81,5% com capacidade funcional muito boa e 14,1% com uma
capacidade boa.
Em suma, a prtica de exerccio fsico regular parece exercer papel
importante na aptido fsica diante do processo de envelhecimento, j que os
estudos encontrados, mesmo analisando a aptido fsica em diferentes contextos,
com variadas populaes, alm de formas de treinamento distintas, o resultado
encontrado foi sempre positivo.
1.3 Processo de envelhecimento, aptido fsica e fatores de risco para doenas
cardiovasculares
Atualmente as DCVs tm sido consideradas como as doenas de maior
prevalncia na populao adulta e idosa (SAVIOLI NETO; MAGALHES, 2005;
SBH, 2010). As DCVs so consideradas como as principais causas de morte em
adultos a partir dos 50 anos e idosos (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2005;
CARMO et al., 2010; MARAFON et al., 2003; MATHIAS; JORGE; LAURENTI, 2004;
STRONG et al., 2005), inclusive no Brasil (IBGE, 2009; LOTUFO, 2004; MANSUR et
al., 2009).
29
O estudo de Almeida et al. (2002), utilizando os dados da PNAD de 1998,
comprovaram o aumento da prevalncia das DCNTs com o avano da idade,
destacando-se neste contexto as DCVs. Neste estudo, a prevalncia variou, de
17,7% no grupo etrio de 15 a 24 anos, 37,5% no de 25 a 44 anos, 65,7% de 45 a
64 anos e 80,8% no grupo de 65 anos ou mais. Esses resultados foram
dependentes do nvel social, pois foi identificada a reduo da prevalncia de
DCNTs com o aumento da escolaridade e da renda.
Segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertenso, publicadas pela
Sociedade Brasileira de Hipertenso (SBH, 2010), em 2007 as DCVs foram as
principais causas de morte no Brasil (29,4% do total), tendo sido responsveis por
mais que o dobro das mortes resultantes da segunda causa, os cnceres.
Destacaram-se as doenas cerebrovasculares (DCbV) e a doena isqumica do
corao (DIC), que em 2007 compuseram mais de 60% dos bitos por DCVs,
grande parte delas atribudas elevao da presso arterial (PA), sendo a maioria
em pases de baixo e mdio nvel econmico e mais da metade em indivduos entre
45 e 69 anos.
A Tabela 2 apresenta dados sobre o risco de morte por DIC e DCbV no Brasil
no ano de 2005.
Tabela 2 Risco de morte, por 100 mil habitantes, por doenas isqumicas do corao (DIC) e cerebrovasculares (DCbV) por faixas etrias decenais a partir de 30 anos no Brasil, 2005.
Grupo Etrio DCbV DIC
Mulheres Homens Mulheres Homens
30 a 39 anos 1,93 2,11 0,95 2,35 40 a 49 anos 7,98 8,34 5,21 12,14 50 a 59 anos 13,62 19,35 12,43 29,23 60 a 69 anos 24,29 37,94 24,48 48,04 70 a 79 anos 29,54 41,62 25,78 40,74
Fonte: Adaptada de Mansur et al. (2009)
De acordo com os dados acima, possvel observar que no Brasil, a o risco
de morte por DIC maior do que as DCbV nos homens, com exceo da faixa etria
de 70 a 79 anos que apresentou comportamento semelhante. Nas mulheres, o risco
de morte por DCbV foi maior do que as DIC, com exceo do grupo etrio 60 a 69
anos que apresentou comportamento parecido para DCbV e DIC. Contudo, os
30
autores ressaltam que em mulheres das regies mais desenvolvidas do Brasil,
predomina o risco de morte por DIC.
Levando em considerao os dados da populao com 60 anos ou mais, a
Tabela 3 apresenta a mortalidade proporcional da populao, por grandes regies,
segundo algumas causas de morte, em 1996, 2000 e 2005. Os dados mostram que
a mortalidade por DCVs chegava a superar o valor de 40% em 1996, para aqueles
que viviam nas reas mais dinmicas do Pas (Sudeste e Sul), observando-se, no
entanto, tendncia de suave reduo desses percentuais quando observado
somente os dados de 1996 e 2005. Este fato pode estar ocorrendo em funo da
melhoria no atendimento pelos servios de sade e/ou da maior conscientizao, por
parte da populao, quanto aos hbitos saudveis de vida, mas os nmeros ainda
so preocupantes. No Norte e Nordeste, os percentuais, embora pouco menores, ao
contrrio, apresentaram tendncia de aumento nesses mesmos anos, podendo ser
reflexo, tambm, da melhoria da qualidade da informao em andamento nos
ltimos anos. Nota-se que nas Regies Norte e Nordeste as causas maldefinidas
ocupavam, em 1996, o primeiro lugar no agregado geral de causas de morte entre
os idosos, representando, respectivamente, 33% e 42% do total de bitos
declarados, e declinando para patamares em torno de 22%.
31
Tabela 3 Mortalidade proporcional da populao com 60 anos ou mais de idade,
por grandes regies, segundo causas de morte 1996/2005.
Algumas causas de morte
Mortalidade proporcional da populao 60 anos (%)
Brasil
Grandes Regies
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro Oeste
Total
100,0
1996
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0 Neoplasias Doenas do aparelho circulatrio Doenas do aparelho respiratrio
13,3 38,1 12,4
8,0 30,4 6,9
14,8 27,6 13,9
16,1 41,7 15,3
13,1 41,6 10,1
13,3 38,3 12,4
Sintomas e sinais mal definidos Outras
Total
Neoplasias Doenas do aparelho circulatrio Doenas do aparelho respiratrio Sintomas e sinais mal definidos Outras
Total
Neoplasias Doenas do aparelho circulatrio Doenas do aparelho respiratrio Sintomas e sinais mal definidos Outras
18,2 18,1
100,0 14,6 36,9 12,1 16,7 19,8
100,0 16,0 36,5 12,6 11,9 23,0
33,1 21,7
2000
100,0 11,3 29,5 9,6
31,6 18,0
2005 100,0 12,6 31,1 12,3 23,1 20,8
41,9 1,7
100,0 9,0
29,0 7,9
36,2 17,8
100,0 12,0 34,3 9,2
22,0 22,4
10,1 16,7
100,0 16,1 39,1 13,5 10,4 20,9
100,0 17,0 37,1 13,7 8,4
23,8
10,5 22
100,0 18,0 41,8 14,2 7,1 18,8
100,0 19,8 38,4 14,2 6,3 21,3
13,9 22,2
100,0 14,7 39,5 11,9 10,3 23,6
100,0 15,9 39,1 13,9 5,9 25,1
Fonte: IBGE (2009)
Vale destacar que piores condies socioeconmicas, incluindo educao,
renda per capita e aspectos da condio de vida (saneamento bsico, alimentao,
acesso servios de sade, entre outros) podem contribuir para quadros negativos
quanto prevalncia de DCVs e de seus fatores de risco associados (CAVALINI;
LEON, 2008; CREBER et al., 2010; ISER et al., 2011; ISHITANI et al., 2006). Ainda,
h a necessidade de ateno para as diferenas sociais relativas gnero e cor da
pele (LUNZ et al., 2010).
Mesmo com estes dados alarmantes, e com uma maior necessidade de
ateno para a elaborao de novas polticas pblicas objetivando o controle das
mortes por DCVs, historicamente, no foi possvel identificar uma causa especfica
para as DCVs e somente a partir de 1948 com o Framinghan Heart Study, comeou-
se a identificar os fatores comuns entre os indivduos que apresentavam um evento
32
cardiovascular grave, surgindo o conceito de fator de risco para DCVs (LOTUFO,
2008). At o incio dos anos 90, as aes de preveno eram direcionadas sobre um
nico fator de risco, com destaque para duas diretrizes de origem americana que
focalizavam sua aplicao para a Hipertenso Arterial Sistmica (HAS)
(CHOBANIAN et al., 2003) e para os valores elevados de colesterol total (CT)
(NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 2002). Apenas em 1993, o National Health
Commitee (NHC) da Nova Zelndia, publicou um documento introdutrio, sendo a
proposta de ao publicada em 1995, na qual se apresentou uma tabela
relacionando fatores de risco para DCVs (NATIONAL HEALTH COMMITEE, 1995).
Esta publicao foi importante para o entendimento de que a agregao desses
fatores est associada ao risco maior do que o esperado pela soma dos riscos
individuais de cada fator (EBRAHIM; MONTANER; LAWLOR, 2004).
Os fatores de risco para DCVs so classificados em modificveis, que podem
ser prevenidos, controlados e tratados, e no-modificveis. Dentre os modificveis
esto: a HAS, as dislipidemias, diabetes mellitus, obesidade, tabagismo,
sedentarismo, dietas inadequadas e uso de lcool. Histria familiar ou
hereditariedade, o sexo, a idade e a raa/etnia, so classificados como no
modificveis (BROOKS, 2007; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002).
Com o avanar da idade, ocorre aumento da incidncia de fatores de risco
para as DCVs destacando-se dentre os modificveis, a HAS, a obesidade e as
dislipidemias (DREA; LOTUFO, 2001; FERREIRA et al., 2010; ISER et al., 2011;
KRAUSE et al., 2008; REPETTO; RIZZOLLI; BONATTO, 2003).
Os resultados apresentados quanto mortalidade por DCVs podem refletir o
inadequado controle de seus fatores de risco. Em relao HAS, a SBH (2010)
aponta que o fator de risco mais prevalente na populao brasileira e nas camadas
menos favorecidas da populao, sendo que a prevalncia na populao adulta
ultrapassa os 30%. Estes valores aumentam ainda mais com o avanar da idade,
chegando a 50% entre 60 e 69 anos e 75% em indivduos acima de 70 anos. A
adoo de um estilo de vida sedentrio pode agravar ainda mais este quadro (SBH,
2010). Os dados brasileiros so semelhantes aos encontrados nos pases da
Amrica Latina (PASSOS et al., 2006) e Estados Unidos (EGAN et al., 2010).
A obesidade considerada atualmente um dos principais problemas de
sade pblica, tanto em pases desenvolvidos como em desenvolvimento, ocorrendo
concomitantemente diminuio progressiva do gasto energtico em atividades
33
laborais, no lazer, no cumprimento de afazeres domsticos e como decorrncia de
modificaes no padro alimentar (CATENACCI; HILL; WYATT, 2009; DUTTON;
McLAREN, 2011). Dados nacionais (VIGILNCIA DE FATORES DE RISCO E
PROTEO PARA DOENAS CRNICAS POR INQURITO TELEFNICO, 2012),
apontaram uma prevalncia de excesso de peso de 48,5% e de obesidade de
15,8%. Em ambos os sexos, a frequncia dessas condies tendeu a aumentar com
a idade. A maior frequncia de excesso de peso e obesidade, em homens, foi
observada no estrato de maior escolaridade e, em mulheres, no estrato de menor
escolaridade. Dentre os indicadores antropomtricos e de estado nutricional
utilizados para a realizao de estudos, vale destacar o ndice de Massa Corporal
(IMC), que uma medida utilizada para avaliar o estado nutricional, um parmetro
recomendado pela World Health Organization (WHO, 2000).
As dislipidemias aparecem como outro importante fator de risco, por sua
associao com o desenvolvimento das DCVs e devido progresso da
aterosclerose em adultos e idosos. Contudo, estudos referentes sua frequncia na
populao brasileira ainda so escassos, principalmente entre os idosos (KRAUSE
et al., 2008; SPOSITO et al., 2007). O estudo de Sposito et al. (2007) apresentou
dados de nove capitais apontando para a prevalncia de dislipidemias em adultos de
38% para os homens e 42% para as mulheres. A prevalncia foi maior no sexo
feminino e nas faixas etrias mais elevadas. Uma metanlise com 25 estudos
encontrou que o CT, o LDL-colesterol (LDL-c) e as concentraes de triglicerdeos
(TG) estavam todos relacionados com manifestaes clnicas de DIC em idosos.
Nas mulheres as concentraes plasmticas de HDL-colesterol (HDL-c) tambm
estavam inversamente relacionadas ao risco de DCVs (MANOLIO et al., 1992).
A principal forma que tem sido apontada para a preveno das DCVs a
mudana no estilo de vida (DANTAS; VALE, 2008; GEIS; RUB, 2003; MAZO;
LOPES; BENEDETTI, 2009; PORTO, 2008; ROS; VILA, 2004). Ter uma
alimentao saudvel e manter-se fisicamente ativo so atitudes que podem
melhorar praticamente todos os parmetros, contrapondo-se assim aos efeitos
deletrios do envelhecimento (GOTTLIE et al., 2007; SHEPARD, 2003),
O exerccio fsico realizado de forma regular e sob a superviso de um
educador fsico tem sido utilizado como abordagem auxiliar e como ferramenta no
farmacolgica na preveno primria em sade e mesmo para o controle dos fatores
de risco que predispem o indivduo ao desenvolvimento de DCNTs, destacando-se
34
as DCVs (BRASIL, 2006; CREBER et al., 2010; SBH, 2010). Os profissionais de
Educao Fsica foram reconhecidos pelo Conselho Nacional de Sade, em sua
resoluo n 218/1997 como profissionais da rea de sade. A construo da
integralidade da ateno sade, preceito constitucional do Sistema nico de
Sade (SUS), requer a atuao de equipes multiprofissionais e neste sentido, a
Educao Fsica reconhecida como rea do conhecimento e de interveno
acadmico-profissional envolvida com a promoo, preveno, proteo e
reabilitao da sade (CONSELHO FEDERAL DE EDUCAO FSICA, 2010).
Em posicionamento oficial, o American College of Sports Medicine (ACSM)
(CHODZKO-ZAJKO et al., 2009) aponta que baixos nveis de aptido fsica podem
estar associados a maior incidncia de DCVs e piora da condio de vida na
populao adulta e idosa.
Apesar de existir relao entre exerccio fsico, aptido fsica e fatores de
risco para DCVs, no h um consenso sobre qual o melhor tipo de exerccio fsico a
ser praticado levando em conta a preveno e auxlio no controle de alguns fatores
de risco, como a HAS, a obesidade e as dislipidemias. Observa-se que os estudos
(SUZUKI; MORAES; FREITAS, 2011; ZAITUNE et al., 2010) so desenvolvidos, de
uma maneira geral, utilizando questionrios que buscam avaliar o NHAF, ou ainda,
estudos de interveno, que utilizam um tipo de treinamento especfico, geralmente
treinamento aerbio ou de fora. Existem poucos estudos publicados que realizaram
interveno ou buscaram estabelecer algum tipo de relao, levando em
considerao a prtica multicomponente (MARQUES et al., 2009), envolvendo o
trabalho das diversas capacidades e habilidades motoras, ou a aptido fsica global.
Em alguns estudos, a PA apresentou melhora com diferentes tipos de
treinamento e, em outros, nenhum efeito aps o perodo de interveno. O estudo
de Zago et al. (2010) encontrou diminuio nos valores da presso arterial sistlica
(PAS) e presso arterial diastlica (PAD) em mulheres adultas e idosas pr-
hipertensas que apresentavam determinadas alteraes genticas (polimorfismos),
porm esta mesma melhora no foi evidenciada em mulheres adultas e idosas pr-
hipertensas sem essas alteraes genticas que realizaram o treinamento em
esteira ergomtrica, por seis meses, trs vezes por semana, intensidade de at 70%
do maxOV 2 e durao de at 40 minutos por sesso. Collier et al. (2011) estudaram
homens e mulheres pr-hipertensos (PAS entre 120 e 139 mmHg; PAD entre 80 e
35
89 mmHg) e hipertensos I (PAS entre 140 e 149 mmHg; PAD entre 90 e 99 mmHg),
que no tomavam nenhum tipo de medicamento anti-hipertensivo, com idade entre
40 e 60 anos. Homens e mulheres foram divididos em dois grupos separados. Cada
grupo foi dividido em dois, um que sofreu interveno com exerccio aerbio e outro
com treinamento de fora, realizados trs vezes por semanas, durante quatro
semanas, com intensidade moderada. A PAS e PAD entre as mulheres diminuram
mais no grupo treinamento de fora quando comparado ao grupo exerccio aerbio,
enquanto nos homens foi possvel observar diminuio parecida nos dois tipos de
exerccio.
Em relao obesidade e ao excesso de peso, observa-se que o mesmo
padro dos estudos relacionados HAS foi seguido, encontrando-se controvrsias
na anlise dos resultados. Marques et al. (2009) no encontraram diferena no IMC
e porcentagem de gordura corporal em idosas que foram submetidas a um programa
de treinamento de exerccios multicomponente (fora, resistncia aerbia,
flexibilidade, coordenao, agilidade e equilbrio) ou treinamento de fora, durante
oito meses, duas vezes por semana, durante uma hora. Uma limitao importante do
estudo foi a falta de avaliao ou controle da dieta. Por outro lado, o estudo de
Frank, Andersen e Schmidt (2004) mostrou uma relao positiva entre exerccio
fsico e composio corporal. Os autores analisaram 10.878 adultos e idosos, de
ambos os sexos, em 13 regies de Atlanta, Estados Unidos e concluram que cada
quilmetro de caminhada por dia estava associado diminuio de 8% no risco de
obesidade; e, em contraponto, constataram que cada hora de transporte de carro
por dia significava aumento de 6% no risco de obesidade.
Ainda, a mesma relao pde ser encontrada em estudos sobre o perfil
lipdico. O estudo de Dalacorte (2008), realizado com homens e mulheres idosos no
encontrou diferenas entre os grupos classificados pelo International Physical
Activity Questionnaire (IPAQ) como insuficiente, suficiente ou muito ativo para as
variveis analisadas relacionadas aos valores de TG e HDL-c, concluindo que no
havia associao entre NHAF e perfil lipdico. Por outro lado, o estudo de Guedes e
Gonalves (2007) associou o NHAF, a partir de informaes colhidas pelo IPAQ,
com o perfil lipdico de homens e mulheres adultos. Esses autores evidenciaram
diferena entre os grupos muito ativo e sedentrio para as variveis CT, LDL-c e TG,
com melhores resultados para o grupo muito ativo.
36
1.4 Sedentarismo e Inatividade Fsica Mundial e da Populao Brasileira: um
olhar crtico a partir das esferas objetiva e subjetiva da Qualidade de Vida
Mesmo com os benefcios relacionados prtica regular de exerccios fsicos
apresentados anteriormente, as Tabelas 4, 5 e 6 apresentam dados de estudos
indicando que a maior parte da populao mundial e brasileira ainda pode ser
considerada sedentria ou inativa e, por isso, h a necessidade de maior ateno
por parte das polticas pblicas para este problema, j que muitas das alteraes
relacionadas ao processo de envelhecimento, em especial a diminuio da aptido
fsica e maior vulnerabilidade para o surgimento de DCNTs, com destaque para as
DCVs, podem ser decorrentes de um estilo de vida menos ativo e menos saudvel
adotado desde a infncia (ZAGO, 2002).
A Tabela 4 apresenta os dados sobre inatividade fsica do estudo realizado
por Hallal et al. (2012) com a populao adulta e idosa em 122 pases membros da
WHO agrupados em seis regies. Os pases estudados representam 88,9% da
populao mundial. A avaliao da atividade fsica incluiu todos os domnios (tempo
de lazer, ocupao, transporte e trabalho domstico) e os dados mundiais
apontaram para o aumento da inatividade fsica com a idade e para maior frequncia
de inatividade fsica nas mulheres.
Tabela 4 Dados sobre inatividade fsica da populao mundial
Estudo Dado apresentado Populao
Hallal et al. (2012) 31,1% foram considerados inativosa Mundial 27,5% foram considerados inativosa frica 43,3% foram considerados inativosa Amricas 34,8% foram considerados inativosa Europa 43,2% foram considerados inativosa Mediterrneo Orientalb
33,7% foram considerados inativosa Pacfico Ocidentalc
17% foram considerados inativosa Sudeste da siad
a ativo aquele que cumpriu qualquer um dos trs critrios: (1) 30 minutos de atividade moderada pelo menos cinco dias/semana; (2) 20 minutos de atividade vigorosa pelo menos trs dias/semana; (3) combinao para alcanar 600
equivalentes metablicos (METs) por semana. 1 MET definido como a energia gasta quando um indivduo est em repouso. Neste ltimo critrio, o nmero de minutos/semana de atividade fsica foi multiplicado por oito METs (vigorosa) e por quatro METs (moderada). b Regio de pases membros da WHO que inclui Egito, Ir, Iraque, Lbano, Paquisto, Sria, Somlia, dentre outros pases.
c Regio de pases membros da WHO que inclui Austrlia, China, Japo, Nova Zelndia, dentre outros pases.
d Regio de pases membros da WHO que inclui ndia, Indonsia, Tailndia, Timor-Leste, dentre outros pases.
37
A Tabela 5 apresenta os dados de estudos realizados com a populao adulta
e idosa sobre inatividade fsica no Brasil e os principais fatores associados.
Tabela 5 Dados sobre inatividade fsica da populao brasileira e os principais
fatores associados
Estudo/Populao Dado apresentado Fatores associados
VIGITEL (2011) Capitais dos estados brasileiros mais o Distrito Federal
85,1% foram considerados inativos no tempo livrea (variao de 77,6% no DF a 88,7% em Rio Branco)
Prevalncia maior no sexo feminino (88,3%) do que no masculino (81,4%). Em ambos os sexos, a frequncia de ativos no tempo livre aumentou com a escolaridade.
Knuth et al. (2011) Dados PNAD 2008 Brasil
89,5% foram considerados inativos no tempo livrea
Homens e indivduos mais jovens foram mais ativos; relao direta entre escolaridade e atividade fsica no tempo livre.
VIGITEL (2012) Capitais dos estados brasileiros mais o Distrito Federal
69,7% foram considerados inativos no tempo livreb (variao de 58,6% em Florianpolis a 73,7% em Porto Velho)
Prevalncia maior no sexo feminino (77,6%) do que no sexo masculino (60,4%) O % de ativos tendeu a diminuir com o aumento da idade entre os homens. Em ambos os sexos, o percentual de ativos cresceu com a escolaridade.
Suzuki, Moraes e Freitas (2011) Ribeiro Preto/SP
Prevalncia de prtica insuficiente de atividade fsica em 62,5% dos homens e 67,9% das mulheresc
A prtica insuficiente nos homens apresentou associao com horas de trabalho/dia superior a dez horas e nas mulheres com um a trs anos de estudos e no possuir renda ou renda abaixo de R$ 520.
Hallal et al. (2003) Pelotas/RS
41,1% foram considerados inativosc
A inatividade fsica apresentou associao positiva com a idade e negativa com a renda e a escolaridade.
Monteiro et al. (2003) - Nordeste e Sul do Brasil
96,7% foram considerados inativos no tempo livred
A inatividade fsica apresentou associao negativa com a idade e a renda e a escolaridade.
a
ativo no tempo livre pelo critrio da WHO at 2011: aquele que praticava exerccio fsico vigoroso durante pelo menos trs dias por semana, com durao diria de 20 minutos ou mais; ou caminhada ou outra modalidade de exerccio fsico ou esporte moderado durante pelo menos cinco dias por semana, com durao diria de 30 minutos ou mais.
b ativo no tempo livre pelo critrio da WHO a partir de 2011: no estipula um nmero mnimo de dias na semana
para a prtica da atividade fsica suficiente no tempo livre, passando desta forma a considerar, pelo menos, 150 minutos semanais de atividade fsica de intensidade leve ou moderada ou, pelo menos 75 minutos semanais de atividade de
intensidade vigorosa. c
inatividade fsica ou prtica insuficiente de atividade fsica inclui, pela classificao do IPAQ, os insuficientemente ativos A e B, e sedentrios.
d ativo no tempo livre (critrio definido pelos prprios autores): aquele que realizou atividade fsica por cinco ou mais
dias da semana durante pelo menos 30 minutos.
38
A Tabela 6 apresenta os dados de estudos realizados com a populao idosa
brasileira sobre sedentarismo e inatividade fsica no tempo livre no Brasil e os
principais fatores associados.
Tabela 6 Dados sobre sedentarismo e inatividade fsica da populao idosa
brasileira e os principais fatores associados
Estudo/Populao Dado apresentado Fatores associados
Benedetti et al. (2008) Florianpolis/SC
74,3% foram considerados inativos no domnio lazer do IPAQa
Verificou-se associao inversa entre atividade fsica total e atividade fsica de lazer com a demncia e depresso.
Zaitune et al. (2010) Estado de So Paulo
26,1% foram considerados inativos na atividade fsica habituala e 71,6% inativos no tempo livreb
O percentual de ativos quanto ao NHAF foi maior em mulheres (78,5%) do que em homens (67,7%). Quanto ao tempo livre, o NHAF foi maior em homens (32,3%) do que nas mulheres (25,7%). Observou-se maior % de ativos quanto ao NHAF em idosos mais jovens. No tempo livre, a prtica mostrou-se mais frequente nos indivduos de cor da pele branca e com maior escolaridade e renda familiar.
Zaitune et al. (2007) Campinas/SP
70,9% foram considerados sedentrios no lazerb
A prevalncia de sedentarismo no lazer foi maior nos idosos de menor renda e do sexo feminino.
Barbosa e Lebro (2007) Municpio de So Paulo
78,7% das mulheres e 75,1% dos homens foram considerados inativosc
Em ambos os sexos, a proporo de inativos foi maior nos grupos etrios de idade mais avanada.
Pitanga e Lessa (2005) Salvador/BA
77,7% foram considerados sedentrios no lazerd
O sedentarismo foi mais frequente em pessoas com baixo nvel de escolaridade.
a
inatividade fsica ou prtica insuficiente de atividade fsica inclui, pela classificao do IPAQ, os insuficientemente
ativos A e B, e sedentrios. b ativo no tempo livre (critrio definido pelos prprios autores): aquele que realiza atividade fsica no contexto do
lazer pelo menos uma vez na semana.
c critrio definido pelos prprios autores: resposta dicotmica (sim, no) ao seguinte questionamento: Nos ltimos 12
meses, voc tem feito exerccios ou realizado atividades fsicas vigorosas regularmente, como esportes, caminhada rp ida, dana ou trabalho pesado, trs vezes por semana?
d critrio definido pelos prprios autores: Foi realizada a seguinte pergunta: Como voc classificaria sua atividade
fsica de lazer? Foram considerados como sedentrios no lazer aqueles que informaram no participar de atividades
fsicas nos momentos de lazer, considerando a semana tpica habitual.
39
Evidenciou-se que estudos sobre as prevalncias de inatividade fsica e
sedentarismo conduzidos no Brasil, utilizaram instrumentos e pontos de corte
distintos, indicando a necessidade de cuidado na interpretao e comparao destes
estudos. Observa-se de uma maneira geral, que os dados so preocupantes, e que
estes dados quando associados ao processo natural de envelhecimento, podem
estar relacionados aos altos ndices de limitaes funcionais e DCVs. A falta de
estratgias e programas que combatam a prevalncia de sedentarismo e outros
comportamentos de risco sade , em parte, decorrente da inexistncia de uma
poltica de vigilncia epidemiolgica focalizando a exposio de comportamentos de
risco (como a inatividade fsica) e no apenas os desfechos (morbidade e
mortalidade). Como exemplo, o estudo de Rauber (1999), analisando os gastos em
sade efetuados pelas organizaes administradoras de sade norte-americanas,
apontou para uma estrutura de gastos que destina 84% dos recursos para
tratamento e recuperao e apenas 16% para preveno dos agravos, sendo a
prtica de exerccio fsico regular, uma importante ferramenta preventiva de diversas
doenas.
Considerando as relaes existentes entre prevalncia de sedentarismo,
inatividade fsica e aspectos socioeconmicos, como sexo, cor da pele, escolaridade
e renda, por exemplo, entende-se que a escolha pela adeso e manuteno da
prtica de exerccios fsicos no depende apenas de deciso individual, mas sim, de
um quadro social amplo e complexo. Como forma de explorar dos componentes que
envolvem esta discusso tem-se o conceito de Qualidade de Vida (QV), que envolve
as complexidades contemporneas, o interesse pela vida e o desejo que as pessoas
sentem de viver bem, aparecendo no somente como uma questo individual, mas
tambm social e comunitria, em que os campos do cio e das atividades
produtivas, inclusive as novas tecnologias, influenciam as polticas e as prticas
(ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
A forma mais comum de QV aquela apresentada pela mdia que a trata
como algo a ser alcanado e que depende unicamente da boa vontade e da atitude
individual do sujeito em mudar seus hbitos (BARBOSA, 1998). Entretanto,
possvel estabelecer que a QV no seja algo a ser alcanado, que deve ser
incorporado vida a partir de esforo e dedicao individual. No existe uma
definio consensual de QV, mas os pesquisadores parecem concordar que a QV
um conceito dinmico, amplo, subjetivo e polissmico (LANDEIRO et al., 2011).
40
Apesar de no haver uma nica definio, a WHO (1994) define QV como a
percepo do indivduo de sua proteo na vida, no contexto da cultura e sistema de
valores nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas, padres e
preocupaes (WHO, 1994). Nessa definio, a WHO toma como base uma
natureza multifatorial da QV, considerando seis domnios que objetivam demonstrar
as diferentes dimenses do ser humano na determinao dos nveis de qualidade de
vida de cada indivduo. Domnios estes categorizados em sade fsica, sade
psicolgica, nvel de independncia, relaes sociais, meio ambiente e padro
espiritual (DANTAS; SAWADA; MALERBO, 2003).
Neste sentido, vale destacar as esferas objetiva e subjetiva da QV. A esfera
objetiva quantificvel e concreta, podendo ser transformada pela ao humana;
inclui as necessidades mais elementares da vida, como alimentao, moradia,
acesso sade, emprego, saneamento bsico, educao e transporte (MINAYO et
al., 2000). A esfera objetiva pode limitar ou permitir a esfera subjetiva, que inclui a
percepo da QV e diz respeito ao estilo de vida do sujeito, caracterizado como os
hbitos aprendidos e adotados durante toda a vida, relacionados com a realidade
familiar, ambiental e social. As aes relacionadas esfera objetiva possibilitam a
escolha do indivduo e a adoo ou no de prticas no seu cotidiano, relacionadas
ao estilo de vida (esfera subjetiva), como a nutrio equilibrada, o exerccio fsico
regular e os cuidados preventivos com a sade (GONALVES, 2004; NAHAS,
2001). Vale ressaltar que a definio proposta pela WHO, citada anteriormente,
contempla as concepes de subjetividade do indivduo e de objetividade das
condies materiais.
Considerando a ocorrncia das diferentes formas de consumo entre as
distintas estruturas sociais, entende-se que as chances de ao, geradas pelas
condies socioeconmicas, no so colocadas da mesma forma para todos, ou
seja, algum que tenha oramento e condies de subsistncia melhores ter
maiores possibilidades de escolhas em relao s prticas adotadas em seu estilo
de vida (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
De acordo, com Vilarta e Gonalves (2004), as possibilidades de escolhas so
criadas de acordo com a condio e o modo de vida do indivduo (esfera objetiva),
que permitiro o direcionamento do seu estilo de vida (esfera subjetiva).
Gonalves (2004) define modo de vida como a garantia das necessidades de
subsistncia do indivduo, por meio de sua condio econmica e, em parte, por
41
polticas pblicas; e condies de vida como os determinantes poltico-
organizacionais da sociedade como um todo, que norteiam a relao entre os
grupos de sujeitos e as variantes de saneamento, transporte, habitao,
alimentao, educao, cuidados sade, entre outros.
Estilo de vida o conjunto de aes habituais que refletem as atitudes, os
valores e as oportunidades na vida dos sujeitos (NAHAS, 2001). Entretanto, vale
destacar mais uma vez, que a esfera objetiva da QV (modo e condio de vida) pode
limitar a esfera subjetiva (estilo de vida). Sendo assim, a definio dos nveis de QV
dos sujeitos passa pela interao entre esses trs aspectos, sendo as prticas
pessoais (estilo de vida) com maior influncia direta, porm, com dependncia direta
das possibilidades permitidas pelos fatores objetivos, os determinantes
socioeconmicos (modo e condio de vida).
Gonalves (2004) aponta que nem sempre so criadas condies sociais
favorveis adoo de hbitos saudveis, que ainda dependem de uma rotina
apropriada. difundida, por meios de comunicao e algumas polticas pblicas, a
ideia de que para melhorar a vida algumas prticas devem ser incorporadas ao
cotidiano, como se isso dependesse exclusivamente da vontade do indivduo,
responsabilizando-o de forma integral por seu nvel de QV.
Tal processo denominado como culpabilizao da vtima, prtica que pode
esconder o funcionamento inadequado de alguns servios pblicos, levando o
prprio indivduo a se sentir culpado em um determinado contexto, mesmo sem que
as condies necessrias sejam oferecidas (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES,
2012). Logo, existe um limite de responsabilizao do sujeito frente a seus nveis de
QV, devido s suas reais possibilidades de escolha de hbitos e estilos de vida.
Sendo assim, como exigir estilo de vida ativo e saudvel de um indivduo,
que, por exemplo, possui dois empregos, trabalha cerca de catorze horas por dia e
leva cerca de 2 horas no trajeto de ida e volta para o trabalho? Ou ainda, daquele
que se sente inseguro para caminhar pela rua devido falta de estrutura fsica, por
medo da violncia e pela falta de segurana? Ser que a construo e adaptao de
espaos em parques pblicos e academias ao ar livre garantem a prtica do
exerccio fsico regular ou existe um contexto social mais complexo que influencia a
escolha pelo estilo de vida ativo?
Por exemplo, Florindo et al. (2011) mostraram que as pessoas com percepo
positiva de segurana apresentaram mais chances de serem ativas no
42
deslocamento. Essa percepo foi representada pelo escore geral composto pelos
itens segurana para caminhar, andar de bicicleta ou praticar atividade fsica durante
o dia ou durante a noite e boa iluminao das ruas prximas das residncias durante
a noite. Esse resultado ressalta que, para a promoo da atividade fsica, entre
outros fatores, pode ser interessante investir em segurana pblica e na preveno
da violncia.
O conhecimento de dados sobre a inatividade fsica, bem como os seus
determinantes e fatores associados, resultam em contribuies para a sade
pblica, porque podem embasar o gerenciamento de atividades de incentivo
prtica de atividades fsicas em subgrupos populacionais mais afetados por este tipo
de comportamento (PITANGA, 2010).
43
2. PROBLEMATIZAO E JUSTIFICATIVA
Em termos gerais, tem sido observado o aumento significativo do nmero de
idosos na populao e, infelizmente, este fenmeno est sendo acompanhado por
alguns fatores que podem comprometer a sade desta populao. Dentre estes
fatores destacam-se a diminuio da aptido fsica, que possui relao com a
capacidade de desempenhar de maneira satisfatria as ABVDs e AIVDs e, uma
maior vulnerabilidade para o surgimento de DCNTs, com destaque para as DCVs.
Neste sentido, a prtica regular de exerccios fsicos pode ser considerada
como uma das principais medidas que contrapem esses fatores associados ao
processo natural de envelhecimento, dentre elas, melhora da aptido fsica,
preveno e auxlio no controle dos fatores de risco para DCVs. Entretanto, alm da
prevalncia de sedentarismo e inatividade fsica ser extremamente elevada, a
variedade na prtica de exerccios fsicos muito ampla, o que leva falta de
consenso sobre qual a melhor combinao de tipo de exerccio, frequncia,
intensidade e volume e, ainda, resultados controversos na literatura quanto aos
efeitos benficos do exerccio fsico no organismo. Faz-se necessrio a realizao
de estudos que busquem estabelecer uma relao positiva mais direta entre
exerccio fsico, aptido fsica e fatores de risco para DCVs, principalmente no que
diz respeito ao processo de envelhecimento.
Apesar das controvrsias existentes e falta de consenso entre os estudos,
ainda prevalece o conceito de que indivduos ativos fisicamente tendem a apresentar
melhor aptido fsica e menor chance de desenvolver problemas relacionados
sade, principalmente em relao s DCVs (BLAIR et al., 2001).
A maioria destes estudos (COLLIER et al., 2011; FETT; FETT; MARCHINI,
2009) que utilizam qualquer um dos fatores relatados no presente estudo, o fazem
de forma independente, focalizando apenas em uma das capacidades motoras, em
especial, a capacidade aerbia ou a fora, avaliando o indivduo, de certa forma,
parcialmente. O mais comum a populao realizar principalmente caminhada ou
musculao. Contudo a