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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA EZEQUIEL MARCELINO DA SILVA Biodegradação de resíduo de eucalipto por linhagens de Lentinula edodes: Influência da adição de farelo de cereais na produção de enzimas e na eficiência biológica Lorena – SP 2007

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

EZEQUIEL MARCELINO DA SILVA

Biodegradação de resíduo de eucalipto por linhagens de Lentinula edodes: Influência da

adição de farelo de cereais na produção de enzimas e na eficiência biológica

Lorena – SP

2007

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EZEQUIEL MARCELINO DA SILVA

Biodegradação de resíduo de eucalipto por linhagens de Lentinula edodes: Influência da

adição de farelo de cereais na produção de enzimas e na eficiência biológica

Tese apresentada à Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Biotecnologia Industrial. Área de Concentração: Microbiologia Aplicada Orientadora: Dra. Adriane Maria Ferreira Milagres

Lorena – SP 2007

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Catalogação na Publicação

Biblioteca Universitária Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo

Silva, Ezequiel Marcelino da

Biodegradação de resíduo de eucalipto por linhagens de Lentinula edodes: influência da adição de farelo de cereais na produção de enzimas e na eficiência biológica / Ezequiel Marcelino da Silva; orientadora Adriane Maria Ferreira Milagres. -- 2007

93 f.

Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Industrial. Área de Concentração: Microbiologia Aplicada) – Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo

1. Biotecnologia 2. Lentinula edodes 3. Resíduo de eucalipto 4. Enzimas lignocelulolíticas 5. Farelo de cereais 6. Eficiência biológica 7. Proteínas. I. Título. 574.6 - CDU

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AGRADECIMENTOS

O autor agradece com sinceridade:

À orientadora desta tese de doutorado, Dra. Adriane Maria Ferreira Milagres, por

dispensar dedicada orientação durante as atividades de pesquisa em laboratório e

principalmente no auxílio à revisão crítica desta obra.

Aos alunos de graduação e pós-graduação, Michel Brienzo, Stella Forganes, Pérola

Magalhães, Joseana Rocha e Valdeir Arantes, pela amizade e auxílio em várias atividades de

pesquisa dentro do Grupo de Microbiologia e Bioquímica.

Aos técnicos de laboratório, Djalma Alves Primo, Jussara, Paulo, José Moreira e José

Carlos, que sempre mostraram disponibilidade em ajudar a resolver problemas técnicos

necessários para o bom andamento desta pesquisa.

Aos doutores do Departamento de Biotecnologia, Adriane Milagres, André Ferraz,

Maria das Graças, Inês Roberto, Maria Eleonora, Maria Bernadete de Medeiros e Adilson

Gonçalves, pelos esclarecimentos sobre biotecnologia, necessários à compreensão

aprofundada na área de microbiologia aplicada.

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RESUMO

SILVA, E. M. Biodegradação de resíduo de eucalipto por linhagens de Lentinula edodes: Influência da adição de farelo de cereais na produção de enzimas e na eficiência biológica. 2007. 93f. Tese (Doutorado em Biotecnologia Industrial). Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, São Paulo. A exploração das florestas de eucalipto pelas indústrias papeleiras gera um volume de resíduo constituído por folhas, galhos e casca. Como alternativa, a bioconversão deste resíduo permite reduzir o impacto ambiental. O cultivo de Lentinula edodes (Berkeley) Pegler utilizando este material lignocelulósico minimiza a poluição além de formar produtos de interesse comercial e industrial, como obtenção de enzimas e cogumelos comestíveis com alto valor nutricional. Para este propósito, resíduo de eucalipto foi empregado neste estudo para se analisar a produção de enzimas extracelulares responsáveis pela degradação de compostos lignocelulósicos e produção de cogumelos por duas linhagens de L. edodes. Sendo assim, meios de cultivo constituído por resíduo de eucalipto moído, suplementado com farelo de arroz ou soja a 10 e 20%, com umidade de 65% foram inoculados com micélio das linhagens desenvolvido em grãos de cevada. O crescimento da biomassa fúngica, consumo de matéria orgânica, efeito de pH e as atividades de enzimas hidrolíticas (xilanase, β-xilosidase, β-glicosidase, e endo-glicanase) e oxidativas (lacase e Mn-peroxidase) foram investigadas durante 30, 45, 60, 75 e 90 dias, compreendendo a fase vegetativa das linhagens. No final desta fase, as linhagens foram induzidas a frutificação para se determinar eficiência biológica e conteúdo de proteínas dos basidiomas produzidos pelas linhagens em diferentes composições dos substratos. Durante a fase vegetativa, foram observadas variações na produção de enzimas hidrolíticas e oxidativas pelas duas linhagens quando o resíduo de eucalipto foi suplementado com diferentes concentrações de farelo de cereais. Concentração mais elevada de farelo de soja aumentou a produtividade das enzimas hidrolíticas, mas as enzimas oxidativas foram produzidas em níveis mais baixos, principalmente Mn-peroxidase. Resíduo de eucalipto suplementado com farelo de arroz favoreceu a produção de enzimas hidrolíticas sem causar repressão na produtividade de enzimas oxidativas. A produção destas enzimas foi acompanhada com a redução de pH dos meios de cultivos durante todo o período investigado. O consumo de matéria orgânica chegou próximo a 50% pelas duas linhagens no final da fase vegetativa. A frutificação ocorreu apenas com a linhagem SJC cultivada em diferentes substratos, com exceção da adição de farelo de soja a 20%. Esta linhagem apresentou eficiência biológica variável, atingindo um máximo de 67% em um único ciclo de produção em resíduo suplementado com 10% de farelo de arroz. Verificou-se diferença significativa no teor de proteína dos basidiomas cultivados em diferentes substratos, variando de 17,3 a 22,7%. Como método alternativo à esterilização do substrato por autoclavagem, verificou-se a possibilidade do uso de peróxido de hidrogênio como agente de descontaminação. Por comparação dos dois métodos, investigou-se a produção de enzimas, efeito de pH e consumo de matéria orgânica das duas linhagens cultivadas em resíduo de eucalipto suplementado com concentrações variadas de farelo de arroz. Utilizando-se peróxido de hidrogênicio verificou-se maior produção de biomassa e enzimas para a linhagem SJC, mas o consumo de matéria orgânica não aumentou para nenhuma das linhagens.

Palavras-chave: Lentinula edodes, Resíduo de eucalipto, Enzimas lignocelulolíticas, Farelo de

cereais, Eficiência biológica, Proteínas.

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ABSTRACT SILVA, E. M. Biodegradation of eucalyptus residue by Lentinula edodes strains: Influence of cereal bran addition on enzymes production and biological yield. 2007. 93p. Thesis (Doctoral in Industrial Biotechnolgoy), Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, São Paulo. The exploration of eucalyptus forests by pulp industries generates large quantities of residues constituted of leaves, branches and bark. Alternatively, bioconversion of this residue allows reducing the environmental impact. The cultivation of Lentinula edodes (Berkeley) Pegler using this lignocellulosic material minimize pollution besides forming products of industrial and commercial interest, such as enzymes and edible mushrooms with high nutritional values. To this purpose, eucalyptus residue was employed in this study to analyze the production of extracellular enzymes responsible for the degradation of lignocellulosics and production of mushrooms by two strains of L. edodes. In this matter, cultivation media constituted of milled eucalyptus residue supplemented with 10 and 20% rice bran or soy bran, with 65% moisture were inoculated with mycelium grown on soybeans. Fungal growth, consume of organic matter, effect of pH and the hydrolytic (xylanase, β-xylosidase, β-glucosidase, e endo-glucanase) and oxidative (laccase e Mn-peroxidase) activities were investigated during 30, 45, 60, 75 e 90 days, regarding the vegetative phase. At the end of this phase, the strains were induced to fructification to determine the biological yield and the protein content of the basidiomes produced under different substrate compositions. During the vegetative phase, it was observed variations on production of hydrolytic and oxidative enzymes by both strains when the eucalyptus residue was supplemented with different concentrations of cereal bran. Higher concentration of soy bran increased hydrolytic enzymes yield, but the oxidative enzymes were produced at lower levels, especially Mn-peroxidase. Eucalyptus residue supplemented with rice bran favored the production of hydrolytic enzymes without causing repression of oxidative enzymes yield. The production of these enzymes was followed by reduction of pH of the media during all cultivation period investigated. Consume of organic matter reached about 50% by both strains at the end of the cultivation period. Fructification occurred only with the SJC strain cultivated in different substrates, except when 20% soy bran was added. This strain presented variable biological yield, reaching 67% in only one production cycle with residue supplemented with 10% rice bran. Significant difference was observed for the protein content of the basidiomes on different substrates, varying from 17.3 to 22.7%. As an alternative method to the substrate sterilization by autoclaving, it was verified the possibility of using hydrogen peroxide as a decontamination agent. By comparison of both methods, it was investigated the production of enzymes, effect of pH and consume of organic matter of both strains cultivated on eucalyptus residue supplemented with various concentrations of rice bran. When hydrogen peroxide was utilized, it was observed higher biomass and enzymes production for the SJC strain, but consume of organic matter was not increased.

Key words: Lentinula edodes, Eucalyptus residue, Ligninolytic enzymes, Cereal brans, Biological efficiency, Proteins.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................9

2 REVISÃO DA LITERATURA ..........................................................................................11

2.1 Lentinula edodes..........................................................................................................11

2.1.1 Compostos de L. edodes com valor medicinal .............................................................12

2.2 Cultivo de cogumelo “Shiitake”...................................................................................13

2.3 Etapas do desenvolvimento de L. edodes .....................................................................14

2.4 Sistema enzimático de fungo degradador de madeira ..................................................15

2.4.1 Sistema hidrolítico........................................................................................................15

2.4.2 Sistema oxidativo .........................................................................................................16

2.5 Nutrição e fisiologia .....................................................................................................17

2.6 Medida do crescimento de fungos em substrato sólido................................................20

2.7 Descontaminação dos meios de cultivo........................................................................21

2.7.1 Tratamento por via úmida em autoclave ......................................................................21

2.7.2 Tratamento com peróxido de hidrogênio......................................................................21

3 OBJETIVOS ........................................................................................................................24

4 MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................................25

4.1 Matéria-prima ...............................................................................................................25

4.1.1 Obtenção e preparo da matéria-prima ..........................................................................25

4.1.2 Caracterização da matéria-prima..................................................................................25

4.1.3 Determinação de metais ...............................................................................................26

4.2 Organismo ....................................................................................................................27

4.3 Produção do inóculo .....................................................................................................27

4.4 Crescimento em substrato sólido..................................................................................28

4.5 Cultivo das linhagens em substratos tratados com peróxido de hidrogênio.................29

4.5.1 Tratamento do farelo de arroz com peróxido de hidrogênio ........................................29

4.5.2 Descontaminação dos substratos com peróxido de hidrogênio ...................................30

4.6 Fase de colonização e frutificação................................................................................32

4.7 Colheita.........................................................................................................................33

4.8 Métodos Analíticos.......................................................................................................33

4.8.1 Plano de Amostragem e Extração Enzimática..............................................................33

4.8.2 Determinação das atividades enzimáticas ....................................................................33

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4.8.3 Determinação da biomassa fúngica .............................................................................36

4.8.4 Determinação de extrativos do meio de cultivo solúveis em etanol.............................37

4.8.5 Perda de componentes do resíduo de eucalipto............................................................37

4.8.6 Determinação da eficiência biológica ..........................................................................38

4.8.7 Determinação do teor de proteínas ...............................................................................38

4.8.8 Matéria orgânica ...........................................................................................................39

4.8.9 Determinação de pH .....................................................................................................39

4.8.10 Análise estatística .........................................................................................................40

4.9 Produção de LiP por Phanerochaete chrysosporium ...................................................40

4.9.1 Obtenção da solução de esporos de P. chrysosporium .................................................41

4.9.2 Condições de cultivo de P. chrysosporium ...................................................................41

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................41

5.1 Enzimas produzidas por L. edodes cultivado em substratos autoclavados...................42

5.1.1 Resíduo de eucalipto suplementado com farelos de cereais.........................................43

5.1.1.1 Endo-1,4-β-glicanase (CMCase) ..................................................................................44

5.1.1.2 β-glicosidase.................................................................................................................46

5.1.1.3 Xilanase ........................................................................................................................47

5.1.1.4 β-xilosidase..................................................................................................................48

5.1.1.5 Lacase ...........................................................................................................................50

5.1.1.6 Peroxidase.....................................................................................................................52

5.1.1.7 Manganês peroxidase (MnP)........................................................................................53

5.1.2 Variação de pH durante fase vegetativa de L. edodes...................................................56

5.1.3 Extrativos do meio de cultivo.......................................................................................58

5.1.4 Consumo de matéria orgânica (CMO)..........................................................................59

5.1.5 Biomassa fúngica..........................................................................................................61

5.1.6 Eficiência biológica ......................................................................................................62

5.1.7 Teor de proteína dos basidiomas ..................................................................................65

5.2 Efeito do farelo de soja na produção de enzimas .........................................................66

5.2.1 Endo-1,4-β-glicanase (CMCase) ..................................................................................67

5.2.2 β-glicosidase................................................................................................................67

5.2.3 Xilanase ........................................................................................................................68

5.2.4 β-xilosidase...................................................................................................................69

5.2.5 Lacase ...........................................................................................................................70

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5.2.6 Manganês-peroxidase ..................................................................................................70

5.2 Cultivo de L. edodes em substratos tratados com peróxido de hidrogênio ..................71

5.3.1 Estudo de inativação de catalase do farelo de arroz .....................................................72

5.3.2 Tratamento dos substratos com peróxido de hidrogênio ..............................................73

5.3.3 Produção de enzimas ....................................................................................................74

5.3.3.1 Endo-1,4-β-glicanase (CMCase) ..................................................................................74

5.3.3.2 β-glicosidase.................................................................................................................76

5.3.3.3 Xilanase ........................................................................................................................77

5.3.3.4 β-xilosidase...................................................................................................................78

5.3.3.5 Lacase ...........................................................................................................................80

5.3.3.6 Manganês peroxidase ...................................................................................................81

5.3.4 Consumo de matéria orgânica ......................................................................................82

5.3.5 Biomassa fúngica..........................................................................................................83

5.3.6 Variação do pH durante a fase vegetativa.....................................................................85

5.3.7 Frutificação de L. edodes em substratos tratados com peróxido de hidrogênio ...........86

6 CONCLUSÕES....................................................................................................................87

7 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................88

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1 INTRODUÇÃO

A atividade florestal fornece um volume de 20% de resíduo orgânico, como folhas,

galhos e cascas, provenientes principalmente de madeiras de pinus e eucalipto, o qual

contribui para a propagação dos incêndios florestais. Muitas alternativas têm sido

constantemente apresentadas e estudadas para o aproveitamento desses resíduos: produção de

energia através da queima, produção de materiais estruturais para a construção civil, produção

de polpas celulósicas incorporadas ou não a materiais sintéticos biodegradáveis para fins

comerciais e industriais, produção de xilitol, álcool, cogumelos comestíveis e outras

substâncias orgânicas utilizando os microrganismos como agentes dessas bioconversões.

O aproveitamento dos resíduos de eucalipto tem como proposta evitar seu acúmulo no

campo, pois apesar de poderem ser naturalmente decompostos, o processo é lento. A

extensão e a rapidez do processo de decomposição dos resíduos de eucalipto dependem do

tipo de microrganismo presente e das condições ambientais, principalmente a temperatura e a

umidade. Atualmente, as indústrias fazem a remoção destes materiais e os depositam em

locais fora da área de plantio.

O acúmulo destes resíduos causa sérias ameaças ao ambiente, pessoas, animais e na

sustentabilidade do ecossistema. Tudo isto, associado à necessidade de produção de alimento

com alto valor nutritivo e medicinal, tem levado ao aumento na produção e no consumo de

cogumelos. Adicionalmente, o sistema enzimático produzido pelos cogumelos comestíveis

converte os resíduos lignocelulósicos em materiais mais solúveis, possibilitando a sua

utilização como adubos para plantas, no condicionamento de solos ou obtenção de enzimas. O

uso de fungos de podridão branca na bioconversão de resíduos agrícolas confere um

subproduto final com alto valor nutritivo e de alta digestibilidade, podendo ser utilizado como

alimento para ruminantes.

Lentinula edodes, conhecido como shiitake, é o segundo cogumelo mais cultivado e

conhecido no mundo. Tradicionalmente seu cultivo é realizado em toras de carvalho,

castanheiras ou de eucalipto. Para o aproveitamento dos resíduos agrícolas e florestais, e

minimização da poluição, substratos alternativos como a serragem suplementada com farelos

de centeio, de soja, de arroz, de milho ou de trigo, palhas e sabugos de milho são muito

utilizados.

Para serem aproveitados na produção de cogumelos comestíveis, os resíduos agrícolas

devem passar por procedimentos de descontaminação. O tratamento térmico é atualmente a

técnica utilizada, a qual representa uma boa parte dos custos do processo, principalmente para

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10

pequenos produtores. Uma alternativa seria a aplicação de agentes químicos, como o peróxido

de hidrogênio, cuja eficácia tem sido demonstrada em meios de cultivo para produção de

cogumelos em sacolas (WAYNE, 2001) e também na extensão da vida de prateleira do

produto (FORNEY et al., 1991). A ação antimicrobiana do peróxido de hidrogênio se dá pela

habilidade em formar espécies reativas de oxigênio na presença de metais e em contato com

material orgânico, que podem interagir com o DNA e constituintes da membrana (JUVEN;

PIERSON, 1996). Embora a reação que converte o peróxido de hidrogênio em oxigênio e

água pareça muito simples, não está claro se uma atividade residual persistente venha afetar o

desenvolvimento do fungo e a ação de enzimas oxidativas que degradam a lignina, como

lignina peroxidase (LiP) e manganês peroxidase (MnP).

A combinação de farelos de cereais aos materiais lignocelulósicos tem sido objeto de

vários trabalhos, porém ainda há necessidade de novos estudos para o desenvolvimento de

meios de cultivo que favoreçam a produção das enzimas e também a degradação do substrato.

Após uma cuidadosa revisão na literatura, observou-se que existem muitas informações

conflitantes em relação a este assunto. Isto justificou uma investigação mais detalhada do

ponto de vista cinético.

A seguir será apresentada, uma revisão da literatura sobre Lentinula edodes, sua

fisiologia, nutrição e enzimas envolvidas na degradação de celulose, hemicelulose e lignina.

Será apresentada, também, uma revisão sobre as propriedades físico-químicas do peróxido de

hidrogênio.

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11

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Lentinula edodes

Lentinula edodes (Berkeley) Pegler, conhecido como shiitake (“shiia”, tipo de árvore;

“take”, cogumelo em japonês), é cultivado comercialmente em toras de carvalho, de

castanheiras e de eucalipto. É um basidiomiceto de podridão branca, decompõe todos os

constituintes da parede celular vegetal para utilizá-los como fonte de carbono e energia

durante as duas fases do seu ciclo de vida (Figura 1).

Figura 1. Diagrama representativo do ciclo de vida de um fungo típico da espécie tetrapolar.

Seu ciclo reprodutivo é relativamente simples quando comparado com o de outros

fungos. Os esporos, ou basidiósporos, formam-se nos basídios das lamelas, na parte inferior

dos carpóforos (“chapéus”), e ao caírem em substratos adequados desenvolvem as hifas que

formam o micélio primário. Estes micélios fundem-se formando os micélios secundários, que

em situações especiais, enovelam-se e direcionam novas hifas que vão, por sua vez, formar

um novo basidioma.

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São conhecidas duas fases do seu ciclo de vida: a fase vegetativa, a qual é de longa

duração, e a fase reprodutiva. A fase vegetativa está relacionada à fase micelial. A fase

seguinte, a de frutificação está relacionada à rápida atividade metabólica, a qual confere ao

cogumelo o grande valor nutritivo, com textura e sabor (KÜES; LIU, 2000).

A rápida atividade metabólica de L. edodes gera o corpo de frutificação rico em

proteínas, carboidratos, fibras, vitaminas e minerais, com baixo teor de gordura e colesterol. É

um alimento com alto valor protéico e baixo valor calórico, comparado a vegetais e animais,

podendo ser consumido diariamente, principalmente no combate à obesidade, quando

comparado com alimento animal, o qual apresenta alto teor de gordura (RAJARATHNAM et

al., 1998; KÜES, LIU, 2000).

O ”shiitake” desidratado contém em média 25% de proteína, 0,5-2% de lipídeos, 65% de

carboidratos, 2,6-6,5% de sais minerais, vitaminas B2 e C (LONGVAH; DEOSTHALE,

1998; RAJARATHNAM et al., 1998; MORAIS et al., 2000).

2.1.1 Compostos de L. edodes com valor medicinal

Além do valor nutricional, o shiitake é bastante utilizado pelo seu valor medicinal e

muitos de seus compostos foram purificados e identificados. A lentinana é um polissacarídeo

solúvel em água, composto de β-1,3 glicana, com ramificação β-1,6, que estimula o sistema

imunológico aumentando a resistência ao vírus da imunodeficiência humana (HIV). Atua

também como agente antiviral, antibacteriano, antifúngico, no controle de diabetes e do

crescimento de tumores cancerígenos (KUES; LIU, 2000). Resultados obtidos por Sugui et al.

(2003) mostram que o efeito antimutagênico de L. edodes pode variar entre as linhagens

obtidas de diferentes regiões, devido à variação na composição química do cogumelo e

conseqüentemente nos efeitos de modulação. Extrato metanólico de várias espécies de

cogumelos, entre eles L. edodes, produz uma inibição extremamente efetiva da peroxidação

de lipídios, mostrando alta atividade antioxidante, como também alto poder redutor, os quais

podem reagir com radicais livres, estabilizando-os e terminando com as reações em cadeia

(YANG; LIN; MAU, 2002). L. edodes produz a cortinelina que é aplicado como antifúngico.

Também foi verificada atividade antiviral em compostos obtidos do extrato da cultura

micelial (LEM) de L. edodes, em meio sólido, composto de bagaço de cana-de açúcar e farelo

de arroz (SUZUKI et al., 1989). A fração LEM contém como maior constituinte um

heteroglicano conjugado com proteínas, ácidos nucleicos e componentes vitamínicos. Chibata

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et al. (1969) identificaram no basidioma do cogumelo shiitake uma substância denominada

lentinacina (2 ®, 3 ®-dihidroxi-4-(9 adenil)-ácido butírico), também conhecida como

eritadenina (KUES; LIU, 2000), que possui atividades antivirais. Em estudos realizados por

Sugiyama, Arashi e Yamakawa (1993, 1995), a eritadenina apresentou fatores

hipocolesterolêmicos. A medicina popular indica que, em humanos, o “shiitake” é um

alimento com funções de fortificar e restaurar os organismos. Atualmente, é recomendado

para todas as doenças que envolvem diminuição das funções imunológicas.

2.2 Cultivo de cogumelo “Shiitake”

O interesse no cultivo do “shiitake” tem se expandido por muitos países e seu consumo

e produção mostram uma tendência de crescimento (MORAIS et al., 2000). No mercado

mundial, o “shiitake” é o segundo cogumelo mais cultivado e consumido (HATVANI;

MÉCS, 2002). A China é um grande exportador de várias espécies de cogumelo, incluindo

Agaricus bisporus, Lentinula edodes e Ganoderma lucidum (CHIU et al., 2000). No Japão,

China e alguns países da Europa, o cultivo de “shiitake” tem sido realizado em toras de

carvalho ou de castanheiras. No Brasil, o cultivo é feito principalmente em toras de eucalipto

e, esta prática, vem crescendo significativamente, principalmente nos estados de São Paulo e

Paraná, devido ao bom retorno econômico com baixo investimento (ROSSI; MONTEIRO;

MACHADO, 2001).

Os Estados Unidos, Taiwan, Canadá e Singapura produzem “shiitake” em cultivo

axênico com serragem suplementada com farelos de cereais, utilizando sacos plásticos de

polipropileno ou polietileno (ROYSE; SCHISLER; DIEHLE, 1985).

O cultivo axênico de shiitake em substratos naturais como a serragem ou outros resíduos

lignocelulósicos suplementados com farelos de centeio, soja, arroz, milho ou trigo, palhas e

sabugos de milho tem se destacado em vários países. Além disso, é mais fácil o controle de

variáveis do cultivo, tais como a temperatura e a umidade (KÜES; LIU, 2000; OHGA, 1992).

O uso desses substratos diminui o tempo de produção e aumenta a eficiência biológica do

fungo (ROSSI; MONTEIRO; MACHADO, 2001).

Os cogumelos produzidos em culturas axênicas são, geralmente, menores, mais claros e

apresentam estirpes alongadas, quando comparados aos produzidos em toras. O rendimento

dos cogumelos pode ser afetado por fatores como o tempo de crescimento micelial durante a

fase vegetativa, tipo do substrato lignocelulósico, tipo de suplementação nutricional, conteúdo

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de água e concentração de gases acumulados no ambiente, como CO2. Muitas das linhagens

disponíveis são apropriadas para o cultivo em toras ao ar livre e não são apropriadas para o

cultivo em substratos axênicos (OHGA, 1992; CHIU et al., 2000).

2.3 Etapas do desenvolvimento de L. edodes

A valorização de resíduos agroindustriais para o cultivo de cogumelos demanda

experimentação extensiva com várias espécies e com várias condições de crescimento. As

condições que favorecem a fase vegetativa são muito diferentes das condições que favorecem

a fase reprodutiva. Em geral, o tempo necessário para produção de cogumelos está associado

à velocidade de crescimento do micélio vegetativo (PHILIPPOUSSIS;

DIAMANTOPOULOU; ZERVAKIS, 2003). A duração desta fase é de importância

economicamente direta, pois o meio que não está completamente colonizado pelas hifas está

disponível às infecções fúngicas e bacterianas resultando na redução do rendimento de

cogumelo (ZERVAKIS et al., 2001).

Os cultivadores de “shiitake” geralmente acreditam que a serragem fina é mais aceitável

para o cultivo axênico porque podem ser mais facilmente hidrolisadas pelo fungo (ROYSE;

SANCHEZ-VAZQUEZ, 2001). A eficiência biológica de várias espécies de cogumelos

cultivados, em termos de rendimento de massa fresca do cogumelo sobre a massa seca do

composto utilizado, varia de 17 a 250% (CHIU et al., 2000). Royse e Sanchez-Vazquez

(2001) analisaram o rendimento do corpo de frutificação em diferentes tamanhos de partículas

de serragem e observaram que os substratos com tamanhos de partículas menores que 0,85

mm apresentaram uma eficiência biológica (EB) de 87,1%. Em contrapartida, partículas entre

0,85 e 1,7 mm apresentaram o melhor rendimento do corpo de frutificação com uma EB de

107,4%.

A espécie de madeira também influencia no rendimento do cogumelo. Dare; Clark e

Chu-Chou (1988) constataram que serragem de Pinus radiata (madeira mole) e Beilamieda

tawa (madeira dura) diferenciam-se na capacidade de degradação por L. edodes desses

materiais lignocelulósicos. Esses autores demonstraram que a extensão da degradação dos

componentes das serragens foi quase a mesma. No entanto, a deficiência de potássio em Pinus

radiata ocasionou um menor rendimento de cogumelo.

O acondicionamento do meio de cultivo para o crescimento micelial durante a fase

vegetativa é realizado no escuro por um período que varia de 50 a 80 dias. A temperatura e a

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15

umidade relativa de incubação depende da espécie ou até mesmo da linhagem de uma mesma

espécie. Certas linhagens de L. edodes são acondicionadas a 24 ± 2ºC com umidade relativa

de 60 – 70% por 80 – 90 dias (MORAIS et al., 2000).

A frutificação é tipicamente induzida, depois do crescimento vegetativo, pela redução

em mais de 5ºC na temperatura (KÜES; LIU, 2000; OHGA; ROYSE, 2001). Rotineiramente,

o choque térmico é realizado através da imersão dos blocos sintéticos em tanque de água

limpa e fria, o que facilita o abaixamento da temperatura e, conseqüentemente, o aumento da

umidade do meio, o qual é necessário para rápida atividade metabólica durante o

desenvolvimento do basidioma (CAMPBELL; RACJAN, 1999; OHGA, 1992; ROYSE;

RHODES; SANCHEZ, 2002). O tempo de imersão pode variar de 1 a 48 horas. Campbell e

Racjan (1999), durante a produção de L. edodes, utilizaram um tempo de 48 horas para a

imersão das toras de carvalho.

Após o choque térmico, as sacolas de polipropileno são removidas e os meios são

transferidos para a sala de frutificação, a qual se mantém em condições ambientais ótimas

para uma melhor produtividade. A umidade relativa deve ser elevada para 85 – 95%

(MORAIS et al., 2000; ROYSE; RHODES; SANCHEZ, 2002).

A luz é essencial para a morfologia normal e pigmentação do basidioma. Diariamente, 3

horas de luz pode ser fornecida por lâmpada branca fria (fluorescente) com ventilação para

manter o nível de CO2 em 1900 ppm (ROYSE; RHODES; SANCHEZ, 2002). Morais et al.

(2000) utilizaram intensidade de luz de 500 lux (400-750 ηm), 12 h por dia durante a fase de

frutificação de L. edodes. Outras condições usadas para estimular a frutificação foram:

redução da temperatura de 24ºC para 20ºC e a ventilação diária por 30 min para manter a

concentração de CO2 entre 0,1 e 0,5%.

A maturidade dos cogumelos é determinada pelo rompimento do véu, o qual leva a

exposição completa das guelras (brânquias) (MORAIS et al., 2000; ROYSE; RHODES;

SANCHEZ, 2002). Após a primeira colheita, as sacolas voltam a ser incubadas e após um

período de 30 dias podem receber novos choques térmicos para as colheitas subseqüentes, até

o esgotamento total dos nutrientes (DARE; CLARK; CHU-CHOU, 1988).

2.4 Sistema enzimático de fungo degradador de madeira

2.4.1 Sistema hidrolítico

Todos os microrganismos capazes de decompor celulose e hemicelulose produzem uma

série de enzimas com diferentes especificidades, que podem atuar em sinergia (BÉGUIN;

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16

HUBERT, 1994). A biodegradação da celulose ocorre pela ação de três grupos de enzimas

que atuam sinergicamente. Esses grupos de enzimas compreendem as endo-1,4-β-glicanases,

as exo-1,4-β-glicanases e as 1,4-β-glicosidases. A endo-1,4-β-glicanase hidrolisa as ligações

internas β-1,4-glicosídicas, nas regiões amorfas das microfibrilas de celulose. Essa ação leva

a formação de novos terminais redutores e não-redutores da cadeia de celulose. Nestes finais

redutores e não-redutores ocorre ação enzimática das exo-1,4-β-glicanases (celobiose

hidrolase I e celobiose hidrolase II), as quais hidrolisam a cadeia de celulose em unidades de

celobiose. Por fim, a enzima β-glicosidase cliva a ligação β-1,4 das unidades de celobiose

produzindo duas moléculas de glicose (KIRK; CULLEN, 1998).

A hidrólise de hemicelulose exige um conjunto complexo de enzimas extracelulares,

devido a sua estrutura de heteropolissacarídio ramificado. As enzimas que participam na

degradação da hemicelulose são denominadas hemicelulases e são classificadas dependendo

do substrato sobre o qual elas atuam. Sistema enzimático incluindo endo e exo-xilanases,

mananases, β-xilosidase, α-glucuronidase e α-arabinofuranosidase é necessário para a

hidrólise completa desse constituinte. Formas múltiplas de cada classe de enzimas podem

ocorrer e essas podem cooperar na hidrólise do substrato (WONG; TAN; SADDLER, 1988).

A enzima endo-1,4-β-xilanase atua aleatoriamente na clivagem das ligações internas β-

1,4 glicosídicas da cadeia principal de xilana. Acetilxilana esterases agem sobre a ligação

éster do grupo lateral acetil da cadeia principal da xilana. As α-glucuronidases clivam as

ligações α-1,2 do grupo lateral do ácido 4-O-metil-glucurônico ligado à unidade de xilose da

cadeia principal da xilana. Esta enzima age em xilooligômeros de baixa massa molecular, na

ligação entre a unidade de xilose do final não redutor da cadeia e o resíduo do ácido 4-O-

metil-glucurônico. As β-xilosidases hidrolisam as ligações β-1,4 das unidades de xilobiose,

liberando duas unidades de xilose até completa hidrólise da xilana.

2.4.2 Sistema oxidativo

A biodegradação da lignina ainda não foi completamente elucidada devido a sua

maior complexidade estrutural, mas supõe-se que um grupo amplo de enzimas esteja

relacionado à sua biodegradação. No entanto, existem ainda hoje, controvérsias sobre a real

participação de cada grupo de enzimas e a função que cada uma delas exerce no processo

global de oxidação que leva a lignina até dióxido de carbono e água. Essas enzimas podem

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17

ser agrupadas em pelo menos duas classes distintas: enzimas que atuam na oxidação do

polímero lignocelulósico que são dependentes de peróxido de hidrogênio em seus ciclos

catalíticos e enzimas que não necessitam desta substância para voltar a sua forma nativa. As

peroxidases que estão envolvidas na biodegradação da lignina são lignina peroxidase (LiP,

EC 1.11.1.14) e peroxidase dependente de manganês (MnP, EC 1.11.1.13). As lacases (EC

1.10.3.2, benzenediol oxigênio oxidoredutase), são cuproproteínas que não dependem de

peróxido para atuar (HATAKKA, 1994; HATAKKA et al., 1996). Existem evidências que

todas as três enzimas podem agir com mediadores de baixa massa molecular para ocasionar a

oxidação da lignina. Alguns fungos de podridão branca produzem todas as três enzimas,

alguns somente duas, e poucos, somente uma (ERIKSSON; BLANCHETE; ANDER, 1990;

HATAKKA, 1994). As enzimas que produzem peróxido de hidrogênio são acessórias às

atividades de peroxidases, gerando peróxido de hidrogênio ‘in situ’ e possibilitam que elas

atuem.

LiP contém ferro protoporfirínico como grupo prostético e é dependente de H2O2 para

sua atividade. As enzimas MnPs ocorrem nos fungos de podridão branca e a maioria de suas

propriedades estruturais é semelhante às de LiP (GLEN; GOLD, 1985). MnP é

cataliticamente dependente de H2O2 e íons Mn(II). MnP também possui um ciclo catalítico

(WARIISHI; AKILESWARAN; GOLD, 1988) semelhante as LiPs, mas tendo Mn(II) como

doador de elétron. As lacases são cuproproteínas que não dependem de peróxido de

hidrogênio para agirem. O ciclo catalítico da lacase envolve quatro íons Cu2+, normalmente

ligados a uma única proteína ou a duas cadeias protéicas acopladas, quatro substratos

fenólicos, quatro prótons e uma molécula de oxigênio (THURSTON, 1994).

2.5 Nutrição e fisiologia

A fase de colonização do substrato pela biomassa fúngica depois da inoculação e antes

da formação dos primórdios é essencial para o cultivo. Durante esta fase, o controle da

cinética do crescimento e da produção e consumo de metabólitos é essencial e contribui de

forma significativa para o sucesso do cultivo (ZERVAKIS et al., 2001).

Embora os materiais lignocelulósicos apresentam-se como material principal do meio de

cultivo, suplementações com farelos de centeio, de soja, de arroz, de milho ou de trigo, que

são ricos em proteínas e minerais, são comumente utilizadas (OHGA, 1992; MATA;

SAVOIE, 1998, ROYSE et al, 2001). O cultivo axênico em serragem de madeira ou outros

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18

resíduos agrícolas, como palha de arroz ou trigo, suplementados com várias fontes de carbono

e nitrogênio oferece importante vantagem sobre o método de cultivo em toras naturais com

respeito ao tempo e eficiência de produção (PHILIPPOUSSIS; DIAMANTOPOULOU;

ZERVAKIS, 2003). A combinação de diferentes resíduos lignocelulósicos com

concentrações variadas de nitrogênio de diferentes fontes altera as condições fisiológicas dos

fungos. Geralmente, a razão C/N é usada como indicador para compostabilidade do substrato,

com valor ótimo entre 25 e 30 (LÓPEZ et al., 2002). O aumento na concentração de

nitrogênio tende a aumentar o crescimento fúngico, entretanto, nitrogênio em excesso pode

também inibir a síntese de enzimas que degradam lignina (BISARIA; MADAN;

VASUDEVAN, 1997). Segundo esses autores, uma razão C/N menor proporciona maior

degradação de celulose e hemicelulose, enquanto a degradação da lignina é mais efetiva

quando a razão C/N é maior.

Por ser apto a utilizar lignina, celulose e hemicelulose, L. edodes produz uma série de

enzimas para degradar os substratos lignocelulósicos. Durante o crescimento vegetativo e

frutificação ocorrem mudanças nas atividades enzimáticas, indicando uma conexão entre a

produção de enzimas e a formação dos basidiomas. As atividades de lacase são mais altas

antes da formação do corpo de frutificação e declinam rapidamente com a formação dos

primórdios. O contrário normalmente ocorre com xilanase e celulase, as quais são mais altas

quando do desenvolvimento do basidioma (KÜES; LIU, 2000). As atividades enzimáticas

associadas à degradação dos materiais ligninocelulósicos foram examinadas, durante toda a

fase de frutificação de L. edodes cultivado sobre serragem (MATSUMOTO, 1988). As

atividades de fenoloxidase e lacase aumentaram no segundo dia após o choque térmico e

reduziram depois disso. As atividades de endo-1,4-glicanase (CMCase), β-glicosidase,

xilanase, β-1,3-glicanase e quitinase aumentaram nos primeiros estágios do desenvolvimento,

atingindo altos níveis durante o amadurecimento do basidioma.

A degradação de lignina pelos fungos decompositores da madeira, como L. edodes,

parece ser o primeiro passo para a colonização do substrato. O desenvolvimento de estratégias

para aumentar o rendimento na produção de cogumelos requer um profundo entendimento do

sistema ligninolítico e dos fatores fisiológicos que afetam a atividade deste sistema

(BUSWELL; CAI; CHANG, 1995). Estudos têm demonstrado que a produção de MnP é

dependente de concentrações limitantes de manganês e nitrogênio no meio de cultivo

(BUSWELL; CAI; CHANG, 1995; FIELD; KAAL; JOYCE, 1995; HADAR; KEREM, 1993;

HATVANI; MÉCS, 2002). Em meio líquido, com concentrações de nutrientes definidos, a

produção de MnP por L. edodes é favorecida em baixa concentração de nitrogênio (2,6 mM)

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19

e na presença de 1,1 ppm de Mn (BUSWELL; CAI; CHANG, 1995). Não foi detectada

atividade desta enzima na ausência de Mn ou acima de 30 ppm.

Comparações entre nitrogênio orgânico e inorgânico adicionados ao meio de cultura

revelaram que L. edodes e outros fungos de decomposição branca podem aumentar a

atividade de MnP em até 20 vezes quando o nitrogênio é de origem orgânica (FIELD; KAAL;

JOYCE, 1995; HATVANI; MÉCS, 2002). Altas atividades de lacase foram detectadas em 20

e 40 dias, em sistema de fermentação em estado sólido com L. edodes, quando cultivado em

subproduto do processo de cervejaria contendo malte (HATVANI; MÉCS, 2001).

Em relação à produção das enzimas hidrolíticas, a literatura indica que L. edodes produz

altas atividades de endoglicanases em 14 dias em palha de trigo, estabilizando-se em um valor

mais baixo de atividade durante todo o período restante da fase vegetativa, sendo este

resultado confirmado pela análise de açúcares redutores (MATA; SAVOIE, 1998). Ohga

(1992), observou que linhagem de L. edodes que frutifica em sistema axênico de cultivo

apresenta um significante aumento de carboidratos solúveis em água em 30 e 45 dias de

cultivo em serragem suplementada com farelo de arroz e trigo. Os resultados apresentados

por estes autores confirmam que a hidrólise de celulose, ocasionada pela alta atividade de

glicanases, gera grande quantidade de carboidratos, os quais podem ser absorvidos pelo

micélio e, assim, agir como uma fonte de energia para a formação do corpo de frutificação. Os

estudos realizados por Mata e Savoie (1998) mostraram que o pico de atividade de β-

glicosidase não coincidiu com o pico de atividade de endoglicanases após 14 dias de cultivo

de L. edodes em palha de trigo, mas indicaram um aumento crescente da atividade de β-

glicosidase durante todo o período da fase vegetativa, que se prolongou por 49 dias. Após

este período, altas atividades de β-glicosidase foram obtidas durante as duas primeiras

semanas da fase de frutificação. Segundo estes mesmos autores, alta atividade de xilanase foi

obtida em 14 dias de cultivo de L. edodes sobre palha de trigo, a qual declinou em 21 dias e

manteve-se constante até o final da fase vegetativa.

De acordo com Dare, Clark e Chu-Chou (1988), o cultivo de L. edodes em serragem de

madeira levou a um grande consumo de xilana e produção de altas atividades de

hemicelulases durante a fase vegetativa e frutificação. A produção de endo-xilanase por L.

edodes em palha de milho foi máxima em 11 dias de cultivo, indicando uma degradação da

hemicelulose neste período (SERMANNI et al., 1994).

L. edodes, quando cultivado sobre palha de milho, apresentou altas atividades de lacase

e hemicelulases depois de 11 dias de cultivo (SERMANNI et al., 1994). Segundo estes

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20

mesmos autores, as hemicelulases podem melhorar a acessibilidade das enzimas que oxidam a

lignina e, conseqüentemente, levar a uma maior extração da lignina, apresentando, então, um

sinergismo das enzimas hidrolíticas e oxidativas na degradação da parede celular das plantas

(SERMANNI et al., 1994; KANTELINEN et al., 1993).

Segundo Dare, Clark e Chu-Chou (1988), L. edodes é altamente ativo no consumo de

matéria orgânica proveniente de madeira dura e menos ativo em material lignocelulósico

proveniente de madeira mole. Uma explicação para este fato pode estar relacionada com as

unidades siringil de lignina presentes em maior quantidade em madeira dura, as quais são

degradadas mais rapidamente por L. edodes do que as unidades guaiacil, que estão presentes

quase que inteiramente na formação da macromolécula de lignina de madeira mole (DARE;

CLARK; CHU-CHOU, 1988).

2.6 Medida do crescimento de fungos em substrato sólido

Embora o estudo de atividades de enzimas extracelulares gerar muitas informações a

respeito do desenvolvimento dos fungos em substratos lignocelulósicos, esses resultados

ainda são escassos e há necessidade de se integrar os dados de enzimologia com a cinética do

crescimento em substratos sólidos (ZERVAKIS et al., 2001).

Alguns métodos são utilizados na determinação do crescimento micelial dos fungos

comestíveis em diferentes substratos. Os métodos podem ser diretos ou indiretos. Métodos

diretos consistem em verificar a velocidade do crescimento micelial em mm/dia (ROSSI;

MONTEIRO; MACHADO, 2001; ZERVAKIS et al., 2001) e os indiretos consistem em

analisar a concentração de certas substâncias existentes na parede ou membrana celular dos

fungos.

Técnicas indiretas de análise do crescimento da biomassa fúngica são utilizadas pela

determinação do conteúdo de quitina (OHGA, 1992), quantificação de ATP (OKEKE et al.,

1994), glicosamina (SANTOS et al., 2003) e de ergosterol (MONTGOMERY et al., 2000).

Determinação da biomassa fúngica através do conteúdo de ergosterol é considerada a mais

sensível e não está sujeita a interferências, devido à ausência deste composto nas membranas

das células vegetais. Este esterol é encontrado na bicamada de fosfolipídeo da membrana

celular, principalmente em estado livre e, em menor quantidade, esterificado com ácidos

graxos (MONTGOMERY et al., 2000; OKEKE et al., 1994; RICHARDSON; LOGENDRA,

1997).

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21

O método da extração de ergosterol com metanol, através de um sistema de refluxo,

apresenta resultado melhor que com etanol (RICHARDSON; LOGENDRA, 1997). Em

contrapartida, o método da saponificação com KOH (OKEKE et al., 1994) ou NaOH com

aquecimento em microondas, seguido pela extração com pentano, consegue extrair 9 vezes

mais ergosterol que os métodos rotineiros (MONTGOMERY et al.,2000).

A quantificação da biomassa fúngica (BF) pode ser determinada usando um fator que

correlaciona a massa micelial com o conteúdo de ergosterol, obtido através da medida do

crescimento do fungo em meio líquido (SILVA; MACHUCA; MILAGRES, 2005a).

2.7 Descontaminação dos meios de cultivo

2.7.1 Tratamento por via úmida em autoclave

O tratamento térmico por autoclavagem é o método mais utilizado para redução de

contaminantes de meios de cultura. O binômio tempo/temperatura com intervalos de

resfriamento e novo ciclo de autoclavagem é o mais usado para a redução da contaminação de

meios preparados em sacolas para produção de cogumelos (MORAIS et al., 2000; OHGA;

ROYSE, 2001; OHGA, 1992). Normalmente, o material deve ficar em autoclave

convencional durante 30 minutos em temperaturas de 121°C a 132°C. Tal procedimento

proporciona a eliminação de microrganismos e também a inativação de enzimas. Este

tratamento, mesmo não sendo totalmente eficiente, ainda é insuperável quanto à qualidade de

assepsia, possibilidade de monitoração do processo e rapidez. Porém, autoclaves de maior

tamanho que possam atender a demanda de uma produção comercial ainda são consideradas

muito caras. Além disso, o consumo de energia ou combustível torna este procedimento

muitas vezes inviável, principalmente pela necessidade de temperaturas mais elevadas por um

período de tempo maior.

2.7.2 Tratamento com peróxido de hidrogênio

As soluções aquosas de peróxido de hidrogênio, quando aciduladas, são relativamente

estáveis. Porém, a decomposição pode ser iniciada e acelerada pela luz, aquecimento ou pela

presença de vários tipos de impurezas, por exemplo, os íons metálicos de transição (LUCK;

JAGER, 1997).

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22

A ação antimicrobiana do peróxido de hidrogênio ocorre não pelas propriedades

oxidativas da molécula, mas pela produção de outros oxidantes, tais como o oxigênio singlete,

radicais superóxidos e radical peroxil (DAVIDSON; BRANEN, 1993). O peróxido de

hidrogênio na presença de íons metálicos como Fe2+ ou Cu+ é transformado em radical

hidroxila (YANG; LIN; MAU, 2002) e estes, por reações em cadeia, podem gerar várias

outras espécies de oxigênio reativo, como por exemplo, peróxidos orgânicos radicalares que

reduzem a atividade de enzimas necessárias ao funcionamento das células (ESCOBAR;

RUBIO; LISSI, 1996). Estas espécies de oxigênios reativos são oxidantes fortemente potentes

e capazes de oxidar certas substâncias orgânicas das células. Freqüentemente, exercem danos

pela destruição de membranas, enzimas e DNA, ocasionando a lise celular (BROCK et al.,

1994).

O peróxido de hidrogênio é produzido naturalmente por sistemas enzimáticos, e é

utilizado para destruição de bactérias pelos lisossomas de organismos durante a fagocitose

(BROCK et al., 1994). O peróxido de hidrogênio é usado desde 1800, na concentração de 3%

para limpeza de infecções da pele (DAVIDSON; BRANEN, 1993), e por algum tempo foi

usado na descontaminação de leite (LUCK; JAGER, 1997), porém seu uso em alimentos é

limitado.

O peróxido de hidrogênio tem sido associado à pasteurização como método para

descontaminar as matérias-primas lignocelulósicas usadas na produção de cogumelos

comestíveis. A presença de farelo de cereais no preparo destes meios reduz a sua eficácia,

pois em geral os farelos são ricos em catalase, podendo comprometer o processo de

descontaminação (WAYNE, 2001).

A catalase é uma heme proteína contendo porfirina como grupo prostético, que se

assemelha às enzimas lignina peroxidase e manganês peroxidase (LARDINOIS;

MESTDAGH; ROUXHET, 1996; VALDERRAMA; AYALA; VAZQUEZ-DUHALT, 2002).

O ciclo catalítico da catalase ocorre através da oxidação do seu estado nativo pelo H2O2

liberando uma molécula de H2O e levando a enzima ao complexo radicalar oxo-porfirina Fe4+,

a qual volta ao seu estado nativo pela redução de mais uma molécula de H2O2, liberando uma

molécula de O2 (LARDINOIS; MESTDAGH; ROUXHET, 1996; VALDERRAMA;

AYALA; VAZQUEZ-DUHALT, 2002).

Por outro lado, a inativação reversível e irreversível de catalase por excesso de H2O2

tem sido objetivo de vários estudos (ANDERSON, 2002; ESCOBAR; RUBIO; LISSI, 1996;

LARDINOIS; MESTDAGH; ROUXHET, 1996; VALDERRAMA; AYALA; VAZQUEZ-

DUHALT, 2002).

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23

Wayne (2001) avaliou o cultivo de Pleurotus ostreatus, Pleurotus eryngii, Agaricus

subrufescens, Hypsizygus, Lentinula edodes, Hericium erinaceus e Grifola frondosa. De

acordo com o autor, uma baixa concentração de peróxido de hidrogênio (3% v/v) pode ser

utilizada para umedecer e descontaminar o material lignocelulósico, antes da inoculação.

O uso do peróxido de hidrogênio como agente de esterilização do meio de cultivo, pode

ser uma alternativa para a produção de cogumelo, pois como mencionado anteriormente, a

autoclavagem do meio de cultivo apresenta alto consumo de energia. Apesar disto, ainda é

possível que esporos remanescentes de fungos indesejáveis possam germinar e comprometer

todo o processo de produção (ZERVAKIS et al., 2001).

Enfim, o processo de descontaminação do meio de cultivo com solução de peróxido de

hidrogênio para o cultivo de cogumelos pode se tornar viável, incentivando a prática de

cultura familiar.

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24

3 OBJETIVOS

Comparar a produção de enzimas, o consumo de matéria orgânica e a eficiência

biológica durante a biodegradação do resíduo de eucalipto por duas linhagens de L. edodes. A

abordagem experimental envolveu o estudo do processo biodegradativo em diversas

condições de cultivo com os seguintes objetivos específicos:

Verificar a viabilidade de cultivo utilizando resíduo de eucalipto como substrato único

e também suplementado com farelos de cereais para o cultivo de L. edodes;

Avaliar as diferenças existentes no crescimento das linhagens de L. edodes e nas

atividades das enzimas relacionadas à degradação de celulose, hemicelulose e lignina

em substratos sólidos;

Verificar a influência da adição de farelos de cereais, utilizados como suplemento do

resíduo de eucalipto, no consumo de matéria orgânica e na eficiência biológica das

linhagens de L. edodes;

Verificar se há diferenças no teor de proteínas dos cogumelos produzidos em função

do tipo e concentração dos farelos de cereais;

Verificar a eficiência do peróxido de hidrogênio na descontaminação do resíduo de

eucalipto suplementado com diferentes concentrações de farelo de arroz.

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25

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Matéria-prima

4.1.1 Obtenção e preparo da matéria-prima

O resíduo de eucalipto utilizado nos experimentos foi obtido das plantações da Cia

Suzano de Papel e Celulose – São Luis do Paraitinga – SP. Este resíduo, constituído por

folhas, galhos e casca, foi moído em moinho tipo martelo para obter partículas menores que 5

mm.

Os farelos de arroz e soja foram obtidos das indústrias de beneficiamento agroindustrial

para serem utilizados como suplementação protéica dos meios de cultivo sólidos. De acordo

com a literatura, farelo de arroz possui em média 13% de proteína (MILLER; CHURCHELL;

1986) e o farelo de soja, 37% de proteína (VALENTAS; LEVINE; CLARK, 1991).

4.1.2 Caracterização da matéria-prima

O resíduo de eucalipto moído foi caracterizado quanto ao teor de celulose, hemicelulose,

lignina e extrativos. Aproximadamente 1g de amostra foi extraída com etanol 95% em

extrator Soxhlet por 6 horas. Após a extração, as amostras foram secas em estufas a 60 ºC e

posteriormente a 105 ºC até massa constante, para a determinação dos extrativos (FERRAZ et

al., 2000).

Após remoção dos extrativos, o resíduo de eucalipto foi caracterizado quimicamente

quanto aos teores de celulose, polioses e lignina residual. Em tubo de ensaio, cerca de 300 mg

de amostra foram hidrolisadas com H2SO4 72 % (p/p) por 1 hora a 30 ºC. Em seguida, o

conteúdo do tubo foi transferido quantitativamente para um Erlenmeyer de 250 ml com o

auxílio de 79 ml de água destilada. Essa mistura foi, então, autoclavada a 121 ºC por 1 hora.

O conteúdo do Erlenmeyer foi filtrado em filtro de placa porosa nº 3, previamente seco a

105 ºC e pesado. O resíduo sólido foi lavado com 2 porções de 5 ml de água, seco em estufa a

105 ºC e pesado até peso constante para a determinação gravimétrica da lignina insolúvel

(Klason). A fração solúvel foi diluída para 100 ml em um balão volumétrico. Parte da fração

solúvel foi utilizada para a determinação dos teores de glicose, xilose e ácido acético por

cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). O sistema cromatográfico é composto por

uma coluna BIORAD HPX-87H eluída com H2SO4 50 mM a 0,6 ml/min e aquecida a 45 ºC.

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26

Utilizou-se um detector diferencial de índice de refração Shimadzu mod. RID-6A, bomba de

pistão Shimadzu mod. LC-10AD e forno para colunas Shimadzu mod. CTO-6A acoplado com

injetor de amostras mod. 7125.

Determinou-se a concentração dos açúcares através de curvas de calibração preparadas

com padrões de grau analítico secos em dessecadores com P2O5 e sob vácuo. A partir das

concentrações de glicose, xilose e ácido acético calcularam-se os teores de glucana, xilana e

acetil, multiplicando as porcentagens de cada composto por 0,9, 0,88 e 0,72, respectivamente.

Os fatores mencionados se referem à adição de água aos polímeros durante a hidrólise ácida.

Para esse cálculo supõe-se que os polímeros apresentam grau de polimerização infinito.

O teor de lignina solúvel em ácido foi determinado por medida de absorbância em 205

ηm de uma diluição 2:10 do hidrolisado. Para o cálculo da concentração de lignina solúvel

utilizou-se uma absortividade de 105 L/g.cm nesse comprimento de onda (FERRAZ et al.,

2000).

4.1.3 Determinação de metais

Resíduo de eucalipto foi moído para obter partículas menores que 0,5mm. Amostras de

500 mg de resíduo de eucalipto e de farelos de arroz e soja foram hidrolisados com 6 ml de

ácido sulfúrico (72%) em um digestor Digesdahl Hach aquecidas por 5 min a 440 °C. Depois,

3 ml de peróxido de hidrogênio 30% foram adicionados e a mistura aquecida a 440 °C por 3

min adicionais. Depois de esfriado, o volume de solução foi aumentado para 50 ml em balão

volumétrico com água deionizada. Esta solução foi analisada em equipamento de absorção

atômica ICP-GBC Integra XM para determinar o conteúdo de cálcio, ferro, cobre, manganês,

zinco, potássio, mercúrio, cádmio e chumbo (Tabela 1).

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27

Tabela 1 – Conteúdo de íons metálicos presentes no resíduo de eucalipto, farelo de arroz e farelo de soja em ppm.

Metal Resíduo de eucalipto Farelo de arroz Farelo de soja

Cálcio 1832 54 1522

Ferro 426 95 126

Cobre < 1 1,6 6,6

Manganês 183 144 34

Zinco < 10 < 10 < 10

Potássio 970 12914 23042

Mercúrio < 0,1 < 0,1 < 0,1

Cádmio < 0,02 < 0,1 < 0,05

Chumbo < 0,6 < 0,3 < 0,7

4.2 Organismo

As culturas de Lentinula edodes, identificadas como CCB-514 e SJC, sendo este último,

cultivado comercialmente, foram mantidas a 4 ºC em tubo inclinado contendo como meio de

manutenção batata-dextrose-ágar 2%.

As duas culturas de L. edodes foram repicadas em placas de Petri em meio de cultivo

BDA (batata-dextrose-ágar 2%) e incubadas a temperatura de 27 ± 2 ºC por 10 dias no escuro.

4.3 Produção do inóculo

Grãos de cevada foram imersos em água destilada e fervidos por 15 minutos. A água

em excesso foi escoada e 0,5% (m/m) de carbonato de cálcio e 2% (m/m) de sulfato de cálcio

foram adicionados para se evitar a aglomeração dos grãos de cevada (MORAIS et al., 2000).

Em frascos de vidro de 250 ml, foram acondicionados 100 g de grãos e autoclavados a 121 ºC

por 30 minutos. Após resfriamento, os grãos foram inoculados, em condições assépticas, com

dez discos de micélio (Ø = 8 mm), retirados das placas de Petri, preparadas conforme item

4.2. Os grãos de cevada inoculados foram incubados a 27 ± 2 ºC, por no mínimo 20 dias, no

escuro, até que todo o meio estivesse totalmente colonizado pelo micélio.

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28

4.4 Crescimento em substrato sólido

Prévio aos experimentos, resíduo de eucalipto foi mantido em água destilada por um

período de 12 horas. O excesso de água foi então drenado e 10 ou 20% dos farelos de arroz ou

soja foram adicionados, em experimentos separados, considerando-se a massa seca do resíduo

de eucalipto e dos farelos. A umidade do meio de cultivo foi ajustada para 65% e 750 g da

mistura úmida foi acondicionada em sacolas de polipropileno (25 x 30 cm) introduzindo-se

um tubo de ensaio no centro do meio de cultivo com o objetivo de formar um canal de

inoculação da semente (Fotografia 1).

B

D C

Fotografia 1. Preparo do meio de cultivo em sacolas de polipropileno. (A) introdução do tubo de ensaio para formação do canal de inoculação do micélio; (B) fechamento das sacolas com o auxílio de dois anéis concêntricos de PVC e papel impermeável; (C) inóculo preparado em grãos de cevada e (D) tubo de ensaio retirado após resfriamento do meio de cultivo esterilizado para a introdução do inóculo.

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29

As sacolas foram fechadas com o auxílio de dois anéis concêntricos de PVC e papel

impermeável. O conjunto todo foi autoclavado três vezes consecutivas a 115 ºC por 1 hora,

obedecendo a um intervalo de 24 horas. Após resfriamento, retirou-se o tubo de ensaio em

condições assépticas e cerca de 9 g do inóculo preparado conforme item 4.3 foram

introduzidos no canal. As sacolas foram novamente fechadas com anéis de PVC e papel

impermeável.

Neste experimento, dois diferentes controles foram efetuados. O primeiro controle foi

preparado apenas com o resíduo de eucalipto umedecido com água destilada e tratado da

mesma forma que as sacolas suplementadas com os farelos de cereais. O segundo controle foi

preparado somente com farelo de soja, utilizando vermiculita como material inerte. Para este

experimento, o farelo de soja foi misturado com vermiculita na proporção 20/80 em massa

seca. A umidade do meio foi ajustada para 65% e 250g de substrato foi acondicionado em

sacolas de polipropileno (10 x 15 cm). As sacolas foram fechadas com o auxílio de dois anéis

concêntricos de PVC e papel impermeável. Por fim, elas foram autoclavadas três vezes

consecutivas a 115 ºC por 1 hora, obedecendo a um intervalo de 24 horas. Após resfriamento,

cerca de 3 g, de inóculo preparado conforme item 4.3, foram adicionados ao substrato

controle. As sacolas foram novamente fechadas com anéis de PVC e papel impermeável.

4.5 Cultivo das linhagens em substratos tratados com peróxido de hidrogênio

Antes de proceder com o cultivo das linhagens em substratos descontaminados com

solução de peróxido de hidrogênio, o farelo de arroz foi previamente tratado com peróxido de

hidrogênio para que a catalase presente no farelo fosse inativada.

4.5.1 Tratamento do farelo de arroz com peróxido de hidrogênio

a) Inativação química de catalase

Ao farelo de arroz foram adicionados peróxido de hidrogênio nas concentrações de 50,

100, 150, 200 e 250 mM com o propósito de inativar as enzimas presentes, em especial a

catalase. As concentrações de peróxido usadas foram determinadas pela medida da

absorbância no comprimento de onda de 240 ηm (ε240 = 39,4 M-1 cm-1) (AEBI,1995).

Para cada tratamento, 3 ml de solução de H2O2 foram adicionados a 2g de farelo. Esta

mistura foi incubada a 60 ºC no escuro, por 15 min, baseando-se no estudo desenvolvido por

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30

Anderson (2002). Após o tratamento, 5% de polivinil polipirrolidona (PVPP) e 20 ml de

tampão fosfato (50 mM, pH= 7,0) foram adicionados ao farelo tratado.

O material foi homogeneizado em agitador de tubos por 2 minutos e centrifugado a 7000

rpm por 20 min. O sobrenadante foi filtrado em papel de filtro sob vácuo.

O uso de PVPP teve o propósito de eliminar cromóforos dos extratos dos farelos e assim

evitar interferência no ensaio de catalase, o qual é realizado na região do comprimento de

onda do ultra-violeta (240 ηm).

b) Determinação da atividade de catalase

O extrato aquoso (2 ml) foi fracionado em uma coluna de permeação em gel Sephadex

G-75 de 30 x 1,5 cm eluída com água a 0,5 mL/min para discriminar por massas molares as

proteínas dos compostos não protéicos que absorvem na região ultra-violeta do espectro. O

eluente da coluna foi coletado em frações de 2 mL que foram analisadas quanto à absorção

em 280 nm. As frações que absorveram neste comprimento de onda foram reunidas,

liofilizadas e diluídas em 2 ml de tampão fostato de sódio e potássio (50 mM, pH=7,0) para

análise da atividade de catalase.

Em cubetas de quartzo de 1 mL foram adicionados 500 μl de amostra de proteína do

farelo de cereal obtida por permeação em gel, 500 μl H2O2 (20 mM). A redução do peróxido

de hidrogênio foi acompanhada pela absorbância por até 2 min em um comprimento de onda

de 240 ηm (ε240 = 39,4 M-1 cm-1 ) (AEBI, 1995). Para o branco, substituiu-se o extrato aquoso

por água destilada.

4.5.2 Descontaminação dos substratos com peróxido de hidrogênio

Resíduo de eucalipto suplementado com 10 ou 20% de farelo de arroz foi colocado

dentro de um recipiente com tampa capaz de manter um ambiente hermeticamente fechado

(Fotografia 2). A umidade do meio foi ajustada para 65% por adição de solução de peróxido

de hidrogênio a 750 mM.

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Fotografia 2. Balde plástico com tampa capaz de manter ambiente hermeticamente fechado para descontaminação do substrato com peróxido de hidrogênio.

Após 24 horas, o recipiente foi destampado parcialmente para eliminar o peróxido

remanescente por mais 24 horas. Depois deste processo, 750 g de substrato úmido foi

acondicionado em sacolas de polipropileno, recebendo cerca de 9 g de inóculo. As sacolas

foram fechadas com o auxílio de dois anéis concêntricos de PVC e papel impermeável. Este

procedimento foi realizado em ambiente aberto, sem condições restritas de assepssia.

A análise de peróxido residual foi realizada pela oxidação de vermelho de fenol na

presença da peroxidase de rabanete (HRP). Para isto, 50 ml de água desionizada foram

adicionados a 10 g de substrato tratado com peróxido de hidrogênio, sob agitação de 100 rpm

por 30 min a temperatura ambiente. O sobrenadante foi recolhido por filtração e a

concentração do peróxido residual foi determinada utilizando uma curva de calibração

elaborada pela reação de oxidação de 100 μl de vermelho de fenol (0,1%) na presença de 100

μl de peroxidase (HRP 0,05%) e 100 μl de diferentes concentrações de H2O2 (0,05 – 3,0 mM)

durante um período de 30s em um meio tamponado com 700 μl de tampão fosfato (50 mM,

pH=7,0). A reação foi interrompida com 50 μl de NaOH (2N). Depois de manter o recipiente

parcialmente destampado por 24 h, 10 g do substrato tratado com peróxido de hidrogênio foi

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32

separado e submetido à análise de peróxido residual, substituindo o volume de solução de

peróxido utilizado para elaboração da curva de calibração pelo extrato obtido deste substrato

(PICK; KEISARI, 1980).

4.6 Fase de colonização e frutificação

As sacolas de polipropileno contendo os substratos inoculados foram mantidas no

escuro, em sala com temperatura controlada a 27 ± 2 ºC. Após 30, 45, 60, 75 e 90 dias de

incubação, as sacolas de polipropileno foram removidas e submetidas ao processo de extração

enzimática, conforme plano de amostragem.

Para a indução da frutificação, os substratos cultivados por 90 dias foram transferidos

para a câmara de frutificação com temperatura controlada a 20 ± 2 ºC com umidade relativa

do ar entre 85 e 95 % (Fotografia 3). Durante o desenvolvimento dos basidiomas, o ambiente

de frutificação foi mantido a uma intensidade de luz natural durante o dia.

Fotografia 3. Câmara de frutificação com temperatura controlada a 20 ± 2 °C com umidade relativa do ar entre 85 e 95 %.

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33

4.7 Colheita Os basidiomas foram colhidos durante 5 a 10 dias após a indução do corpo de

frutificação. Os cogumelos apresentaram ainda o chapéu fechado, mesmo após o rompimento

do véu. Os cogumelos colhidos foram pesados para determinação da eficiência biológica do

fungo. Este procedimento foi realizado em um único ciclo.

4.8 Métodos Analíticos

Com o objetivo de acompanhar as atividades enzimáticas relacionadas à degradação da

lignina, celulose e hemicelulose, bem como o crescimento da biomassa fúngica, foram

retiradas amostras dos meios de cultivo nos períodos de 30, 45, 60, 75 e 90 dias, conforme

descrito a seguir:

4.8.1 Plano de Amostragem e Extração Enzimática

Foi retirado, de cada sacola de polipropileno, cerca de 1/3 da parte superior do seu

conteúdo, transferindo-o para um béquer para homogeneização. O extrato enzimático foi

obtido após adição de100 ml de solução tampão acetato de sódio (50 mM; pH 5,0) a 20 g de

amostra de substrato biodegradado, considerado em massa seca. Após agitação a 100 rpm por

3 h e a 15 °C, o sobrenadante foi recuperado por centrifugação a 7000 rpm a 5ºC por 20 min

(Centrífuga refrigerada IEC-DAMON). Em seguida, o sobrenadante foi filtrado através de

filtro de cerâmica porosa sinterizada (nº. 4), sob vácuo. Os volumes de extratos enzimáticos,

obtidos em cada extração, foram acondicionados em frascos de vidro ou plástico e mantidos a

4°C. Dos extratos enzimáticos obtidos foram determinadas as atividades enzimáticas

relacionadas à degradação da lignina, celulose e hemicelulose A atividade foi expressa como

unidades internacionais (UI) por kg de substrato.

Outros 6 g de substrato biodegradado, também considerado em massa seca, foram

utilizados para determinação da biomassa fúngica e porcentagem de extrativos.

4.8.2 – Determinação das atividades enzimáticas

Xilanase: A atividade de xilanase foi determinada pela liberação de açúcares redutores a

partir do substrato xilana de bétula (Sigma–St. Louis, USA) (BAILEY; BIELY; POUTANEN,

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34

1992). Os açúcares redutores liberados durante a reação foram determinados pelo método do

DNS (MILLER, 1959).

A reção foi conduzida em tubos de ensaio de 10 ml contendo 900 μl de xilana 1% em

tampão acetato de sódio 50 mM (pH 5,0) e 100 μl de extrato enzimático. A reação foi mantida

em banho-maria a 50 °C. Após 5 minutos a reação foi interrompida pela adição de 1,5 ml de

reagentes DNS (ácido 3,5 dinitrosalicílico). A mistura reacional foi aquecida em banho-maria

a 100 °C por 5 min e depois de esfriar mediu-se a absorbância em 540 ηm. Para o branco,

substituiu-se o caldo enzimático por tampão de extração enzimática e o tampão acetato de

sódio sem a adição de xilana. Para descontar o teor de açúcares redutores presentes no caldo e

na solução contendo o substrato, um outro procedimento controle foi feito adicionando o

próprio caldo após a adição de DNS. Xilose (seca em P2O5 a vácuo) foi utilizada para

construção da curva de calibração.

β-xilosidase: Esta atividade foi determinada utilizando p-nitrofenil-β-D-xilopiranosídeo

(pNPX) (Sigma – St. Louis, USA) como substrato. O p-nitrofenol liberado após ação da β-

xilosidase foi determinado pela leitura da absorbância em 410 ηm (TAN; MAYERS;

SADDLER, 1987). Os valores de absorbância obtidos foram transformados em μmoles de p-

nitrofenol liberados em comparação à curva de calibração de p-nitrofenol.

A reção foi conduzida em tubos de ensaio de 10 ml contendo 800 μl de de pNPX 0,1%

em tampão acetato de sódio 50 mM (pH 5,0) e 200 μl de extrato enzimático. A reação foi

mantida em banho-maria a 50 °C. Após 30 minutos, a reação foi interrompida pela adição de

2,0 ml de bicarbonato de sódio a 10%.

Endo-glicanase: A atividade endo-1,4-β-glicanase (CMCase) foi determinada pela técnica

descrita por Tanaka et al. (1981), que consiste em conduzir a hidrólise de uma solução de

carboximetilcelulose 0,44 % (viscosidade média - Sigma – St. Louis, USA) em tampão

acetato de sódio (50 mM; pH 5,0). A quantidade de açúcares redutores é determinada pelo

método do DNS (MILLER, 1959).

A reção foi conduzida em tubos de ensaio de 10 ml contendo 900 μl de solução de

carboximetil celulose e 100 μl de extrato enzimático. A reação foi mantida em banho-maria a

50 °C. Após 60 minutos, a reação foi interrompida pela adição de 1,5 ml de reagentes DNS. A

mistura reacional foi aquecida em banho-maria a 100 °C por 5 min e depois de esfriar mediu-

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35

se a absorbância em 540 ηm. Para o branco, substituiu-se o caldo enzimático por tampão

acetato de sódio. Para descontar o teor de açúcares redutores presentes no caldo e na solução

contendo o substrato, fez-se o mesmo procedimento das xilanases. Glicose (seca em P2O5 a

vácuo) foi utilizada para construção da curva de calibração.

β-glicosidase: Esta atividade foi determinada com p-nitrofenil-β-Dglicopiranosídeo (pNPG)

(Switzerland) como substrato enzimático. O p-nitrofenol liberado após ação de β-glicosidase

foi determinado pela leitura da absorbância em 410 ηm (TAN; MAYERS; SADDLER, 1987).

Os valores de absorbância obtidos foram transformados em μmoles de p-nitrofenol em

comparação à curva de calibração de p-nitrofenol.

A reção foi conduzida em tubos de ensaio de 10 ml contendo 800 μl de de pNPG 0,1%

em tampão acetato de sódio 50 mM (pH 5,0) e 200 μl de extrato enzimático. A reação foi

mantida em banho-maria a 50 °C. Após 30 minutos, a reação foi interrompida pela adição de

2,0 ml de bicarbonato de sódio 10%.

Lacase: A atividade de lacase foi determinada pela oxidação de uma solução etanólica de

siringaldazina (Sigma – St. Louis, USA) 1,0 mM, medida a 525 nm (ε525 = 65 mM-1 cm-1). As

cinéticas foram acompanhadas em cubetas de quartzo de 1 ml contendo 100 μl do substrato,

300 μl de tampão citrato-fosfato (75 mM, pH 5,0), 100 μl de água destilada e 500 μl de

extrato enzimático. O aumento da absorbância, ocasionado pela oxidação do substrato, foi

acompanhado durante 10 min em espectrofotômetro (SZKLARZ et al., 1989).

A atividade de lacase também foi determinada pela oxidação de ABTS (ácido-2,2’-

azinobis-3-benzotiazolina-sulfônico) (Sigma – St. Louis, USA) 1,0 mM (NIKU-PAAVOLA

et al., 1988). Para este ensaio, as cinéticas foram acompanhadas em cubetas de quartzo de 1

ml contendo 100 μl do substrato, 300 μl de tampão citrato-fosfato (75 mM, pH 3,0), 100 μl de

água destilada e 500 μl de extrato enzimático. Para o branco substituiu-se o caldo enzimático

por tampão de extração enzimática. O aumento da absorbância, ocasionado pela oxidação do

substrato, foi acompanhado durante 10 min em espectrofotômetro e medida em 420 nm (ε420=

36 mM-1.cm-1).

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Peroxidase: Para verificar se a oxidação de siringaldazina ocorreu por uma fenoloxidase,

dependente de peróxido, os 100 μl de água destilada foram substituídos por 100 μl de H2o2

(1,0 mM) (SZKLARZ et al., 1989).

Manganês peroxidase: A atividade de manganês peroxidase (MnP) foi determinada

utilizando uma solução de vermelho de fenol a 0,1% como substrato fenólico (ε 610 = 22 mM-

1cm-1) (KUWAHARA et al., 1984). A reção foi conduzida em cubetas de quartzo contendo

100 μl de lactato de sódio 0,25M, 200 μl de albumina bovina 0,5%, 100 μl de vermelho de

fenol 0,1%, 50 μl de MnSO4 (2 mM) e 500 μl de extrato enzimático. A reação foi iniciada

com a adição de 50μl de H2O2 e interrompida pela adição de 50μl de NaOH 2 N. A

absorbância foi lida em 610 nm

Lignina peroxidase: Para a determinação de atividades de lignina peroxidase (LiP), utilizou-

se o corante Azure B como substrato (ARCHIBALD, 1992). A reação foi conduzida em

cubetas de quartzo de 1 ml contendo 100 μl de Azure B (0,32 mM), 500 μl do extrato

enzimático, 300 μl de solução tartarato de sódio (50mM, pH=4,5). A reação é iniciada com

100 μl de H2O2 (1 mM). Para o branco, substituiu-se o corante por água destilada. A cinética

foi lida em 651 nm por 10 min (ε 651= 48,8 mM-1cm-1).

4.8.3 Determinação da biomassa fúngica

Esta determinação foi realizada pela quantificação do teor de ergosterol extraído da

bicamada de fosfolípideo da membrana celular do fungo. Este método foi realizado conforme

procedimento proposto por Montgomery et al. (2000).

Em tubos de ensaio (27 ml) foram colocados 300 mg de amostra de substrato

biodegradado e 1,0 ml de NaOH 2N para promover a saponificação da membrana celular.

Após 30 minutos, foram adicionados 2,0 ml de metanol (p.a.). O tubo foi vedado com filme

de polietileno, colocado dentro de um recipiente de plástico com tampa e aquecido em forno

de microondas com 1150 W a uma irradiação de 40% desta potência por 20 segundos. Após o

resfriamento por 15 minutos, o material foi novamente irradiado por mais 10 segundos. O

material contido no tubo foi então neutralizado com 1,0 ml HCl 2N e tratado com 2 ml de

metanol (p.a.). Após neutralização, foram adicionados 2,0 ml de pentano e agitado

vigorosamente por 2 min. O pentano que restou no sobrenadante foi recolhido e o mesmo

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37

procedimento repetido por mais duas vezes. O volume total de pentano coletado foi

evaporado a frio com o auxílio de fluxo de nitrogênio e o resíduo foi resuspendido em 2 ml de

metanol (p.a.)

A análise cromatográfica utilizou uma coluna de fase reversa C18 eluída com metanol a

um fluxo de 1 ml/min. Foi utilizado um detector de UV operando em um comprimetno de

onda de 282 nm. A concentração de ergosterol presente na amostra foi determinada através de

uma curva de calibração construída com solução padrão de ergosterol em metanol nas

concentrações de 1, 2, 5, 10, 20, 50, 100 e 200 μg/ml.

A correlação entre o conteúdo de ergosterol e biomassa fúngica foi determinada

utilizando a biomassa micelial de L. edodes cultivada em caldo malte 2 %, por 5, 10, 15, 20 e

25 dias, a 25 °C, no escuro e sem agitação. A massa micelial foi coletada por filtração,

congelada a –50 ºC e liofilizada até peso constante. Cerca de 30 mg de massa micelial foram

submetidas ao mesmo processo de extração de ergosterol descrito acima.

4.8.4 Determinação de extrativos do meio de cultivo solúveis em etanol

Amostras dos meios de cultivo antes dos processos de esterilização, após os dois

métodos de esterilização e as amostras obtidas após os períodos de degradação de 30, 45, 60,

75 e 90 foram submetidas à extração de materiais solúveis em etanol 95%.

Estas amostras foram moídas em moinho de facas até passarem por uma malha de 30

mesh. Aproximadamente 1g de amostra moída foi extraída com etanol 95% em extrator

Soxhlet por 6 horas. Após a extração, as amostras foram secas em estufas a 60 ºC e

posteriormente a 105 ºC até peso constante, para o cálculo de material extraído do meio

cultivado (FERRAZ et al., 2000).

4.8.5 Perda de componentes do resíduo de eucalipto

O cálculo da perda de componentes (celulose, hemicelulose e lignina) e perda de

massa foi realizado como se segue:

Pc (%) = mci – mcf x 100 mci

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onde:

Pc: perda de componentes

mci: % componente inicial x massa inicial do resíduo de eucalipto (base seca)

mcf: % componente final x massa final do resíduo de eucalipto (base seca)

Pm (%) = mi – mf x 100 mi

onde:

mi: massa inicial (base seca) em gramas

mf: massa final (base seca) em gramas

4.8.6 Determinação da eficiência biológica

A eficiência biológica (EB) foi determinada como proposto por Morais et al. (2000),

utilizando a seguinte fórmula:

Error! Bookmark not defined. mc EB = x 100

ms Onde,

EB - eficiência biológica (%)

mc - massa de cogumelo fresco em gramas

ms - massa inicial do substrato seco em gramas

4.8.7 Determinação do teor de proteínas

Amostras de basidiomas foram congelados a –50 ºC por 24 horas e liofilizados até

massa constante. A amostra liofilizada (30 g) foi moída com o auxílio de um bastão de vidro

e 100 mg foram colocadas em tubo de centrífuga juntamente com cerca de 100 mg de pérolas

de vidro (0,5 mm). Foram adicionados 10 ml de tampão fosfato de sódio e potássio (50 mM,

pH= 7,0) e NaCl 500 mM. Esta mistura foi agitada durante 1 min em agitador de tubos e em

seguida centrifugada por 20 min a 7000 rpm. O sobrenadante foi separado (fração I) e ao

material insolúvel adicionou-se 5 ml de NaOH 0,5 M. Os tubos foram aquecidos em forno de

microondas por 20 s a uma potência de 460 W e esfriado em banho de gelo. Este

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39

procedimento foi repetido por mais 10s a 460 W e novamente esfriado em banho de gelo e

neutralizado com 5 ml de HCl 0,5 M. O material foi novamente centrifugado e o sobrenadante

recolhido e considerado como fração 2 (BRAAKSMA; SCHAAP, 1996). O precipitado foi

tratado mais uma vez com 10 ml de solução tampão fosfato de sódio e potássio (50 mM, pH=

7,0) e NaCl 500 mM, agitado por 1 min em agitador de tubos e centrifugado nas mesmas

condições descritas acima. Obteve-se o sobrenadante (fração 3). Esta última extração foi

realizada para recuperar proteína residual. Todas as frações foram analisadas quanto ao teor de

proteína (BRADFORD, 1976). Em tubos de ensaio, foram adicionados 0,1 ml de amostra

com 1 ml de reagente preparado com “Coomassie Brilliant Blue” G-250 (0,01% p/v), etanol

(4,7% p/v) e ácido fosfórico (8,5% p/v). A leitura de absorbância a 595 ηm foi realizada entre

30 e 60 minutos após início da reação a temperatura ambiente. O valor de absorbância foi

transformado em mg de proteína por g de cogumelo seco em comparação à curva de

calibração elaborada com soro de albumina bovina nas mesmas condições de ensaio.

Cada uma das frações foi precipitada com ácido tricloroacético (TCA) 15% na

proporção 1:1. A mistura de amostra e TCA foi homogeneizada em agitador de tubos por 2

min e centrifugada a 7000 rpm a 4 °C por 20 min. Nos sobrenadantes e nos precipitados

foram determinados os teores de proteína.

4.8.8 Matéria orgânica

O consumo de matéria orgânica (CMO) foi determinado de acordo com a fórmula

abaixo e expressa em porcentagem:

CMO (%) = x 100

mi – (mf – mm)

mi

Onde:

mi - massa inicial do substrato em massa seca (g)

mf - massa final do substrato em massa seca (g)

mm - massa micelial determinada pelo conteúdo de ergosterol (g)

Page 41: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

40

4.8.9 Determinação de pH

Em frascos Erlenmeyer de 125 ml, 1 g de substrato biodegradado foi acondicionado com

100 ml de água deionizada. Após agitação por 1 h a 150 rpm e 25 °C, o pH foi medido em

pHmetro MICRONAL.

4.8.10 Análise estatística

Os dados de eficiência biológica e teor de proteínas que foram obtidos pelo cultivo de L.

edodes em diferentes substratos foram submetidos à análise de variância. A análise dos dados

foi estudada utilizando o programa estatístico STATGRAPHICS - 6.0.

4.9 Produção de LiP por Phanerochaete chrysosporium

A produção de LiP por P. chrysosporium foi realizada em meio líquido em condição

limitada de nitrogênio (Tabela 2).

Tabela 2 – Composição do meio líquido para produção de LiP por P. chrysosporium em condição

estacionária.

Composição do meio de cultura Solução de elementos traços em g/L Cloreto de sódio 1,0 Sulfato de manganês•1H2O 0,5 Sulfato de zinco•7H2O 0,18 Sulfato de cobalto•7H2O 0,18 Sulfato ferroso•7H2O 0,10 Sulfato de alumínio e potássio•12H2O 0,02 Ácido bórico 0,01 Molibidato de sódio 0,01 Sulfato de cobre•5H2O 0,01 Itens adicionados para 1000 ml de meio de cultura Glicose (g) 10,0 Fosfato monobásico de potássio (g) 2,0 Sulfato de magnésio•7H2O (g) 0,5 Tartarato de amônio (g) 0,22 Cloreto de cálcio (g) 0,10 Tiamina (mg) 1,0 Solução de elementos traços (mL) 1,0 Tampão tartarato de sódio e potássio (10 mM; pH 4,5) Álcool veratrílico para concentração final de 2,5 mM

Page 42: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

41

As soluções para a elaboração do meio de cultura, bem como os frascos de 125 mL,

foram esterilizadas a 115 °C por 30 min antes de proceder com o cultivo.

4.9.1 Obtenção da solução de esporos de P. chrysosporium

Esporos de P. chrysosporium foram inoculados em tubos de ensaio inclinados contendo

como meio extrato de malte-ágar 2% e incubados a 37 °C por 5 dias para obtenção de mais

esporos. Os esporos foram então recolhidos com alíquotas de água destilada esterilizada e

filtrada em lã de vidro para eliminar micélio do meio. O filtrado foi centrifugado a 7000 rpm

por 20 min a 5 °C. O sobrenadante foi recolhido e a concentração de esporos foi determinada

por espectrofotometria a 650 ηm através da curva de calibração elaborada com soluções de

esporos com concentrações conhecidas por câmara de Neubauer (n° de esporos/mL= (Abs650 x

diluição / 0,1843) x 106).

4.9.2 Condições de cultivo de P. chrysosporium

Em frascos Erlenmeyers de 125 mL foram adicionados 20 mL de meio de cultura e

inoculados com 2,5 x 105 esporos/mL. Os frascos foram fechados com rolha de borracha

provido de dois tubos de vidro para entrada e saída de ar e incubados no escuro a 37 °C em

condição estacionária por 10 dias. Gás oxigênio (600 ml/min) foi introduzido no frasco após

inoculação por 3 min e este procedimento foi repetido a cada 2 dias. Um frasco foi retirado a

cada 2 dias e o conteúdo foi filtrado em papel de filtro Whatman n° 1 sob vácuo para a análise

de LiP.

Page 43: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

42

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

L. edodes produz várias enzimas para degradar os substratos lignocelulósicos das quais

celulases, xilanases, lacases e Mn-peroxidases foram avaliadas ao longo do cultivo em resíduo

de eucalipto. Durante a fase vegetativa do crescimento ocorreram mudanças nas atividades

enzimáticas e no consumo de matéria orgânica indicando o progresso da colonização do

substrato.

Os resultados das atividades enzimáticas de duas linhagens de L. edodes cultivadas em

resíduo de eucalipto foram comparados em função do tipo e concentração de farelos de

cereais. A seleção das duas linhagens usadas neste trabalho ocorreu em função de estudo

anterior em que se verificou o rápido desenvolvimento em resíduo de eucalipto (SILVA;

MACHUCA; MILAGRES, 2005a), porém um estudo minucioso da produção das enzimas

que evidenciasse serem estas espécies promissoras para a degradação do substrato, ainda não

havia sido realizado.

5.1 Enzimas produzidas por L. edodes cultivado em substratos autoclavados

A atividade biodegradadora de L. edodes SJC e CCB 514 cultivados em resíduo de

eucalipto (controle) foi determinada por análise do conteúdo de celulose, hemicelulose e

lignina e da perda de massa do resíduo durante o cultivo dos fungos (Tabela 2). A massa de

resíduo de eucalipto foi determinada nas sacolas antes de inocular os fungos e nos períodos de

tempo definidos no ensaio. Foi possível constatar diferenças visuais no crescimento dos

isolados SJC e CCB 514 no primeiro mês de cultivo, mas que foram ficando menos evidentes

com o tempo. Verificou-se que o isolado CCB 514 apresentou um crescimento micelial mais

rápido, que refletiu na perda de massa do resíduo. Embora a massa de micélio tenha

aumentado com o tempo, a perda de massa do resíduo foi bastante alta, justificando os

resultados positivos obtidos no cálculo da perda de massa (Tabela 3).

A perda de celulose e hemicelulose foi muito semelhante entre as linhagens, enquanto a

perda de lignina foi mais significativa para a linhagem CCB 514, sugerindo que há diferenças

entre as linhagens.

Page 44: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

43

Tabela 3: Porcentagem de celulose, hemicelulose e lignina do resíduo de eucalipto biodegradado pelos isolados de L. edodes

Tempo (mês)

mi (g) mf (g) % celulose % hemicelulose % lignina

0 39,5 13,97 32,3 1 319,2 304,7 36,1 12,4 30,1 2 322,8 264,7 36,8 12,5 28,1

SJC

3 314,9 229,4 39,3 12,8 29,1 0 39,5 13,97 32,3 1 318,1 284,9 37,1 12,8 27,0 2 316,8 253,4 37,1 12,3 19,1

CCB-514

3 314,1 235,5 40,3 12,4 19,4

Tabela 4: Perdas de componentes do resíduo de eucalipto.

Tempo (mês)

Perda de massa (%)

Perda de celulose (%)

Perda de hemicelulose (%)

Perda de lignina (%)

1 4,5 12,8 15,1 11,1 2 18,0 23,7 26,3 28,8

SJC

3 27,2 27,6 33,5 34,3 1 10,4 15,9 17,8 25,1 2 20,0 24,9 29,6 52,7

CCB 514

3 25,0 23,6 33,5 54,9

5.1.1 Resíduo de eucalipto suplementado com farelos de cereais

Nitrogênio é um importante elemento para o crescimento de todos os organismos. Ele é

essencial para a síntese de ácidos nucléicos, aminoácidos, proteínas e, no caso especial de

fungos, para a síntese de quitina, componente da parede celular. Os fungos de podridão branca

em seu ambiente natural, crescem em substratos que praticamente não contém nitrogênio.

Vários autores estudaram a influência de diversas fontes inorgânicas e orgânicas de nitrogênio

sobre o crescimento de espécies de L. edodes, obtendo resultados bastante variáveis quanto à

necessidade de se suplementar o substrato com fonte externa de nitrogênio (KAAL; FIELD;

JOYCE, 1995; BUSWELL; SHU-TING CHANG, 1995).

Leatham e Kirk (1983) mencionaram que, para a obtenção de rendimentos ótimos na

degradação de material lignocelulósico pobre em nitrogênio, a suplementação com este

elemento é essencial. Com espécies que não têm a atividade ligninolítica regulada por

Page 45: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

44

nitrogênio, este poderia ser adicionado ao substrato sem que houvesse interferência na

degradação de lignina, o que poderia resultar na rápida e eficiente utilização do substrato e no

aumento do rendimento em cogumelos.

De qualquer forma, diferenças metabólicas entre linhagens de uma mesma espécie

podem causar grandes diferenças na habilidade de utilização de sais como fonte de nitrogênio

(MATA; SAVOIE, 1998; MORAIS et al., 2001; MORAIS et al., 2000; OHGA, 1992). Como

os resultados da literatura não deixam claro qual o tipo e concentração da fonte de nitrogênio

que se deve utilizar para suplementar o substrato e como a influência deste elemento é

dependente da espécie de fungo utilizada, farelo de arroz e de soja em duas diferentes

concentrações foram acrescentados ao substrato.

A influência da adição de nitrogênio foi apresentada e discutida para cada uma das

enzimas relacionadas à degradação de celulose, hemicelulose e lignina. As duas linhagens de

L. edodes colonizaram o substrato após 30 dias, a partir do inóculo, em 100%, enquanto que

no controle, o substrato foi colonizado apenas parcialmente. Após noventa dias de cultivo, a

colonização foi total em todos os tratamentos. As atividades das enzimas foram medidas após

30, 45, 60, 75 e 90 dias de cultivo. Os diferentes níveis de farelo de arroz ou soja

acrescentados ao resíduo de eucalipto aumentaram o conteúdo de nitrogênio orgânico, e

proporcionaram mudanças na produção de enzimas, quando comparado com o cultivo

realizado somente em resíduo de eucalipto.

A produção das enzimas hidrolíticas pelas duas linhagens de L. edodes variou durante o

cultivo nos meios preparados com os diferentes farelos de cereais. A hidrólise de celulose e

hemicelulose, ocasionada pela alta atividade das enzimas produzidas, gera grande quantidade

de carboidratos, que absorvidos pelo micélio estimula a formação do corpo de frutificação

(MATA; SAVOIE, 1998; OHGA, 1992).

5.1.1.1 Endo-1,4-β-glicanase (CMCase)

As duas linhagens de L. edodes, CCB-514 e SJC apresentaram perfis bastante distintos

na produção de CMCase em função da adição de farelos de cereais ao resíduo de eucalipto

(Gráfico 1). A adição de 10 ou 20% de farelo de arroz ao substrato não proporcionou um

aumento significativo na produção de CMCase pela linhagem SJC, quando comparado com o

controle (Gráfico 1A). No entanto, a linhagem CCB-514 apresentou após 30 dias de cultivo

aproximadamente 1200 UI/kg de CMCase nas duas concentrações de farelo de arroz, e em 45

Page 46: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

45

dias obteve-se 1750 UI/kg de CMCase quando 20% de farelo de arroz foram combinados com

resíduo de eucalipto (Gráfico 1B).

A utilização de farelo de soja como suplemento do resíduo de eucalipto proporcionou

um aumento na produção de CMCase durante o cultivo das linhagens CCB-514 e SJC

(Gráficos 1C e 1D). Independente do meio de cultivo, a linhagem SJC produziu níveis

semelhantes de atividade de CMCase em 30 dias de incubação, porém com 10 % de farelo de

soja a maior atividade ocorreu em 60 dias (2000 UI/kg) (Gráfico 1C). Um pico de atividade

aconteceu em 45 dias no meio com 20% de farelo de soja. A linhagem CCB-514 produziu as

maiores atividades de CMCase em 30 dias quando o resíduo de eucalipto foi suplementado

com 20% de farelo de soja (Gráfico 1D).

0 15 30 45 60 75 900

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500SJC

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

CM

Cas

e (U

I/kg)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500SJC

10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

CM

Cas

e (U

I/kg)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500 CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500CCB-514

10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

(A) (B)

(C)

(D)

Gráfico 1. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelos de cereais sobre a produção de CMCase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C.

L. edodes CCB-514 apresentou maior produtividade de CMCase que a linhagem SJC

nos meios em que houve a adição de 20% de farelo de soja, ocasionado provavelmente pela

Page 47: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

46

menor razão C/N. Este comportamento foi observado anteriormente por SILVA; MACHUCA;

MILAGRES (2005b) para outros isolados de L. edodes em 30 dias de cultivo.

5.1.1.2 β-glicosidase

A produção de β-glicosidase pelas duas linhagens de L. edodes acompanhou a produção

de CMCase, evidenciando a função da β-glicosidase na conversão de celulose em glicose. O

perfil das atividades de β-glicosidase foi diferente entre CCB 514 e SJC (Gráfico 2).

80

60

40

200

0

0

0

1000

1200

Gráfico 2. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelos de cereais sobre a produção de β-glicosidase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C.

0 15 30 45 60 75 900

SJC 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

β-gl

icos

idas

e (U

I/kg)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

200

400

600

800

1000

1200

SJC 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

β-gl

icos

idas

e (U

I/kg)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

200

400

600

800

1000

1200

CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

200

400

600

800

1000

1200 CCB-514 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

(B)

(C) (D)

(A)

Page 48: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

47

No substrato controle, a atividade foi baixa para as linhagens, enquanto que nos meios

suplementados com os farelos, a atividade foi mais alta para CCB 514. As suplementações do

resíduo de eucalipto com diferentes níveis de farelo de arroz não propiciaram um aumento

significativo na produção de β-glicosidase pela linhagem SJC durante os primeiros 45 dias de

cultivo (Gráfico 2A). Entretanto, a linhagem CCB-514 superou a linhagem SJC quando 20%

de farelo de arroz foram adicionados ao meio controle, alcançando 600 UI/kg (Gráfico 2B).

A linhagem CCB-514 produziu um pico de atividade de β-glicosidase em 30 dias de

cultivo com adição de 10% de farelo de arroz, alcançando 400 UI/kg e mantendo-se

praticamente constante até o final do experimento (Gráfico 2B). A produção de β-glicosidase

pela linhagem SJC foi pouco favorecida pela adição de farelo de soja (Gráfico 2C), mantendo-

se praticamente constante durante 90 dias e não se diferenciando da linhagem CCB-514

quando 10% de farelo de soja foram utilizados na suplementação do resíduo de eucalipto

(Gráfico 2D). Por outro lado, a adição de 20% de farelo de soja estimulou a produção de β-

glicosidase pela linhagem CCB-514, alcançando 1000 UI/kg em 30 dias, com forte queda de

atividade após este período, mas sendo mais significativo que a adição de 10% de farelo de

soja durante todo o período investigado (Gráfico 2D).

5.1.1.3 Xilanase

A adição de farelo de arroz ao resíduo de eucalipto não aumentou a produção de

xilanase quando comparado com o substrato controle, para as duas linhagens (Gráfico 3A e

3B). A atividade desta enzima manteve-se praticamente constante durante todo o período de

cultivo.

Resultados mais relevantes de produção de xilanase pelas duas linhagens foram obtidos

pela adição de farelo de soja (Gráfico 3C e 3D). A adição de 20% de farelo de soja ao resíduo

de eucalipto proporcionou maior atividade de xilanase pela linhagem CCB-514, alcançando

110 000 UI/kg em 30 dias (Gráfico 3D), enquanto a linhagem SJC produziu 90 000 UI/kg em

45 dias (Gráfico 3C). Valores mais baixos de atividade de xilanase foram observadas pela

adição de 10% de farelo de soja ao resíduo de eucalipto. Os resultados das atividades

produzidas pelas duas linhagens quando do uso de diferentes concentrações de farelo de arroz

ou 10% de farelo de soja não diferiram entre si. Observou-se diferença significativa apenas

entre o meio suplementado com 20% de farelo de soja e o substrato controle.

Page 49: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

48

20000

8000

6000

2000

Gráfico 3. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelos de cereais sobre a produção de xilanase por linhage ns de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C.

5.1.1.4 β-xilosidase

As duas linhagens produziram β-xilosidase em todos os substratos usados neste estudo

durante 90 dias de cultivo. A linhagem CCB-514 foi extremamente ativa na produção de β-

xilosidase em 30 dias de cultivo quando comparada com a linhagem SJC, nas concentrações

de farelo de cereal usadas (Gráfico 4).

Baixos níveis de β-xilosidase foram observados com a linhagem SJC quando cultivada

em resíduo de eucalipto com concentrações variáveis de farelo de arroz, não apresentando

diferença significativa na produção desta enzima no substrato controle (Gráfico 4A). A adição

de farelo de arroz ao resíduo de eucalipto propiciou um aumento na atividade de β-xilosidase

em 30 dias de cultivo da linhagem CCB-514, alcançando 225 UI/kg (Gráfico 4B). Após este

período, uma a atividade desta enzima reduziu-se, mantendo-se constante até o fim do cultivo.

0 15 30 45 60 75 900

0

40000

0

0

100000

1SJC

10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Xila

nase

(UI/k

g)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

20000

40000

60000

80000

100000

120000SJC

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Xila

nase

(UI/k

g)

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000CCB-514

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

20000

40000

60000

80000

100000

120000CCB-514

10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

(B)

(C) (D)

(A)

Page 50: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

49

Uma maior produção de β-xilosidase foram alcançados pela adição de farelo de soja ao

resíduo de eucalipto. Quando 20% de farelo foram adicionados, a linhagem SJC produziu

cerca de 200 UI/kg em 45 dias de cultivo (Gráfico 4C), semelhante ao obtido com a linhagem

CCB-514 em farelo de arroz. Não houve diferença significativa na produção de β-xilosidase

pela linhagem SJC cultivada em resíduo de eucalipto suplementado com diferentes níveis de

farelo de soja após 60 dias de cultivo (Gráfico 4C). A linhagem CCB-514 produziu cerca de

325 UI/kg da enzima em 30 dias de cultivo (Gráfico 4D). Após este tempo, observou-se uma

queda da produção desta enzima, a qual manteve-se em patamar mais baixo e constante até o

final do experimento.

0 15 30 45 60 75 900

50

100

150

200

250

300

350

400

SJC 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

β-xi

losi

dase

(UI/k

g)

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

50

100

150

200

250

300

350

400

CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

50

100

150

200

250

300

350

400

CCB-514 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

(A) (B)

0 15 30 45 60 75 900

50

100

150

200

250

300

350

400

SJC 10% farelo de soja 20% farelo de soja

controle

β−xi

losi

dase

(UI/

kg)

Tempo (dias)

(C) (D)

Gráfico 4. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelos de cereais sobre a produção de β-xilosidase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C.

As linhagens cultivadas somente em resíduo de eucalipto produziram atividades de β-

xilosidase em níveis mais baixos do que quando cultivadas em resíduo de eucalipto

suplementado com concentrações variáveis de farelos de cereais.

Page 51: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

50

Em trabalho anterior, realizado com estas linhagens em resíduo de eucalipto

suplementado com farelo de soja a 20% em 30 dias de cultivo, observou-se que as atividades

de xilanase e β-xilosidase aumentaram seis vezes, enquanto atividades de CMCase e β-

glicosidase apenas duplicaram (SILVA; MILAGRES, 2006). Este resultado foi semelhante ao

obtido neste estudo para os períodos iniciais do cultivo. Resultado semelhante foi obtido por

Dare, Clark e Chu-Chou (1988) durante a fase vegetativa de L. edodes em serragem de

madeira suplementada com farelo de cereal, em que atividades de xilanases e mananases

foram também altas no início do cultivo. A presença de substâncias facilmente disponíveis no

meio, como açúcares solúveis, aminoácidos, podem estar agindo como repressores das

celulases, sem causar o mesmo efeito na produção de hemicelulases. De fato, as

hemicelulases de alguns fungos não são reprimidas pelos produtos de hidrólise do substrato

(xilose, arabinose e xilobiose) quando estes estão presentes em baixas concentrações no meio,

mas o contrário ocorre para as celulases, a qual é reprimida por glicose e celobiose (ARO;

PAKULA; PENTILLÃ, 2005). Geralmente a presença de hemicelulose e compostos derivados

deste polímero induzem as hemicelulases, mas há outros resultados mostrando que

concentrações altas de xilose no meio de cultura podem agir como fonte de carbono

repressora de hemicelulase, como já demonstrado em A. niger (ARO; PAKULA; PENTILLÃ,

2005).

O aumento na degradação de celulose e hemicelulose foi observado no início dos

cultivos, principalmente nos meios suplementados com os farelos. Resultado semelhante foi

observado durante o cultivo de Pleurotus sajor-caju em palha de arroz ou trigo suplementado

com farelo de soja. Neste meio, em que a razão C/N foi baixa obteve-se maior atividade de

enzimas hidrolíticas (BISARIA; MADAN; VASUDEVAN, 1997). A disponibilidade de

nitrogênio é um fator que sabidamente afeta a produção de celulases e hemicelulases. Estudos

recentes mostraram que uma proteína (fator Are A), presente em muitos fungos, ativa os

genes do metabolismo do nitrogênio e afetam positivamente a produção de celulases (ARO;

PAKULA; PENTILLÃ, 2005).

5.1.1.5 Lacase

A produção de lacase pelos dois isolados foi maior quando o resíduo de eucalipto foi

suplementado com os farelos (Gráfico 5). Para a linhagem SJC, a maior atividade de lacase

Page 52: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

51

ocorreu após 60 dias de cultivo (Gráficos 5A e 5C). Entretanto, o pico de produção de lacase

por CCB 514 ocorreu com 90 dias de incubação (Gráficos 5B e 5D).

0 15 30 45 60 75 900

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000SJC

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Laca

se (U

I/kg)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000SJC

10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Laca

se (U

I/kg)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

CCB-514 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 5. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelos de cereais sobre a produção de lacase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C.

Resultados mais significativos na produção de lacase foram obtidos com o cultivo das

duas linhagens em resíduo de eucalipto combinado com os diferentes níveis de farelo de soja

(Gráficos 5C e 5D). A linhagem SJC produziu atividades semelhantes nos meios de cultivo

com 10 ou 20% de farelo de soja, alcançando 3500 UI/kg em 60 dias (Gráfico 5C). Quando se

utilizou o farelo de arroz, que possui um conteúdo protéico mais baixo que o farelo de soja, a

atividade de lacase foi mais alta em 20% de farelo (Gráficos 5A e 5C). Resultados

semelhantes foram obtidos para a produção de lacase por L. edodes em meio líquido com

concentração alta de nitrogênio (26 mM), o qual foi cinco vezes maior quando comparado

com nível baixo de nitrogênio (2,6 mM) (BUSWELL; CAI; CHANG, 1995).

Page 53: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

52

A atividade de lacase foi detectada em níveis baixos no início do cultivo, aumentando a

atividade nos períodos finais provavelmente em função da indução da enzima por compostos

aromáticos provenientes da degradação do resíduo de eucalipto. De fato, a expressão de lacase

ocorre em estágios posteriores da colonização do substrato, principalmente durante a

formação de esporóforos, indicando que a expressão do gene da lacase seja importante para o

desenvolvimento do basidioma (CHEN et al., 2004).

Todos estes resultados de atividade de lacase foram obtidos pela oxidação de ABTS, um

substrato modelo de lignina fenólica. Outro substrato também utilizado para a determinação

de lacase foi siringaldazina, mas os extratos enzimáticos do cultivo das duas linhagens não

foram capazes de oxidá-lo. No entanto, ao adicionar peróxido de hidrogênio no meio

reacional observou-se a oxidação de siringaldazina, indicando que os extratos possuem uma

enzima dependente de peróxido.

5.1.1.6 Peroxidase

As atividades de peroxidase foram produzidas pelas linhagens de L. edodes durante todo

o período de cultivo analisado (Gráfico 6).

Atividades de peroxidases foram obtidas logo no início do cultivo de CCB-514,

alcançando atividade máxima em 60 e 75 dias, quando 20 ou 10% de farelo de arroz foram

adicionados ao resíduo de eucalipto, respectivamente (Gráfico 6B).

A adição de 20% de farelo de soja não aumentou a produção de peroxidase pela

linhagem SJC mostrando níveis de atividade comparáveis ao substrato controle (Gráfico 6C).

Nesta concentração de farelo de soja, a linhagem CCB-514 produziu uma atividade de lacase

superior ao controle, mas menor que o obtido em 10% de farelo de soja (Gráfico 6D). A

adição de 10% de farelo de soja proporcionou maiores atividades de peroxidase em 30 dias de

cultivo, com crescente aumento atingindo um patamar de atividade de 1750 UI/kg em 60 dias.

Porém, este pico de atividade não diferiu dos resultados alcançados com as diferentes

combinações de farelo de arroz para esta linhagem, apesar de apresentar o pico de atividade

em um tempo mais tardio quando 10% de farelo de arroz foram utilizados como suplemento

do resíduo de eucalipto.

A linhagem SJC produziu baixas atividades de peroxidase em resíduo de eucalipto e a

adição de concentrações crescentes de farelo de arroz aumentou a produção da enzima

(Gráfico 6A).

Page 54: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

53

500

Gráfico 6. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelos de cereais sobre a produção de

peroxidase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C.

5.1.1.7 Manganês peroxidase (MnP)

A linhagem SJC produziu 4000 UI/kg de MnP em 45 dias quando suplementado com

20% de farelo de arroz, a qual manteve-se praticamente constante durante 90 dias (Gráfico

7A). Este mesmo substrato foi mais favorável para a linhagem CCB-514, pois a mesma

atividade foi obtida em 30 dias, seguido de uma redução de atividade em 45 dias, voltando a

aumentar em 60 dias para 8000 UI/kg (Gráfico 7B).

A adição de farelo de soja ao resíduo de eucalipto proporcionou um aumento da

atividade de MnP pela linhagem SJC chegando a 6000 UI/kg em 75 dias de cultivo, quando se

utilizou 10% de farelo de soja (Gráfico 7C). A linhagem CCB-514 alcançou a máxima

atividade em 30 dias e manteve-se constante durante 90 dias (Gráfico 7 D).

Em resíduo de eucalipto com 20% de farelo de soja obteve-se uma menor produção de

MnP pelas duas linhagens. Durante quase todo o período analisado, a atividade manteve-se

0 15 30 45 60 75 900

1000

1500

2000

2500

SJC 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Pero

xida

se (U

I/kg)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

500

1000

1500

2000

2500

SJC 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Pero

xida

se (U

I/kg)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

500

1000

1500

2000

2500CCB-514

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

500

1000

1500

2000

2500 CCB-514 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

(B)

(C) (D)

(A)

Page 55: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

54

em nível semelhante ao do substrato controle, com tendência a aumentar no final (Gráficos 7C

e 7D). O resultado deste aumento foi alcançado com o cultivo de CCB-514, a qual produziu

8000 UI/kg em 90 dias (Gráfico 7D).

0 15 30 45 60 75 900

2000

4000

6000

8000

10000

SJC 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

MnP

(UI/k

g)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

2000

4000

6000

8000

10000

SJC 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

MnP

(UI/k

g)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

2000

4000

6000

8000

10000 CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

2000

4000

6000

8000

10000

CCB-514 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 7. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelos de cereais sobre a produção de

MnP por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C.

A adição de uma alta concentração de farelo de soja ou a ausência deste nutriente no

meio afetou a produção de MnP. Em geral, a expressão de MnP é ativada pela diminuição da

fonte de nitrogênio e a expressão de muitos genes ocorre em resposta à escassez de algum

nutriente (ARO; PAKULA; PENTILLÃ, 2005). No entanto, outros estudos revelaram que a

natureza e a concentração da fonte de nitrogênio disponível exerce uma grande influência

sobre a produção de enzimas ligninolíticas por basidiomicetos que degradam madeira

(BOYLE, 1998). Embora a concentração e a fonte de nitrogênio afetem a produção de

enzimas ligninolíticas, não existe uma relação estrita entre estes dois fatores. Muitas fontes de

nitrogênio inibem a degradação de lignina por vários fungos de podridão branca, mas esta

inibição pode variar entre gêneros, espécies ou até mesmo entre linhagens de uma mesma

Page 56: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

55

espécie (BOYLE, 1998). Várias espécies produzem altas atividades destas enzimas em

concentrações baixas de nitrogênio (2-3 mM). Entretanto, para outras espécies, a produção de

enzimas ligninolíticas é estimulada pela alta concentração de nitrogênio (25-60 mM)

(HATVANI; MÉCS, 2002).

A produção de manganês peroxidase (MnP) por L. edodes é bem estudada com relação à

concentração da fonte de nitrogênio, sempre avaliando a relação carbono/nitrogênio (C/N) dos

substratos (BUSWELL; CAI; CHANG, 1995; HATVANI; MÉCS, 2002; KAAL; FIELD;

JOYCE, 1995; SILVA; MACHUCA; MILAGRES, 2005b). Estudos realizados com Pleurotus

sajor-caju visando a degradação de lignina de palha de arroz suplementada com farinha de

soja, mostraram melhores resultados em uma razão C/N de 60 quando comparada a 74 ou 30

(BISARIA; MADAN; VASUDEVAN, 1997). Outro fator importante é o tipo da fonte de

nitrogênio, sendo que a atividade de MnP produzida por L. edodes na presença de nitrogênio

orgânico é mais alta do que na presença de nitrogênio inorgânico (HATVANI; MÉCS, 2002;

KAAL; FIELD; JOYCE, 1995). Nossos resultados mostram que as atividades de MnP

produzidas pelas duas linhagens de L. edodes foram reprimidas com alta concentração de

farelo de soja, não apresentando significativa diferença quando cultivadas somente em resíduo

de eucalipto. Estes resultados indicam que a produção de MnP por SJC e CCB 514 depende

da relação C/N. Sendo assim, as relações C/N alcançadas pela adição de farelo de arroz a 10

ou 20% e farelo de soja a 10%, apresentaram maior produtividade de MnP pelas duas

linhagens de L. edodes.

5.1.1.8 Lignina Peroxidase (LiP)

As linhagens de L. edodes não produziram LiP ou esta não foi detectada através do

ensaio com Azure B (ARCHIBALD, 1992). Esta metodologia é amplamente usada para a

determinação de LiP produzida em meios preparados com materiais lignocelulósicos. Cultivos

de P. chrysosporium, Trametes versicolor, Daedalea flavida, Irpex flavus e Polyporus

sanguineus em meio líquido, preparados com 1% de palha de trigo, palha de arroz e bagaço

de cana-de-açúcar, enriquecido com sais minerais, extratos de malte e álcool veratrílico não

apresentaram interferência no ensaio de oxidação de Azure B (ARORA; GILL, 2001). No

entanto, quando o ensaio da atividade de LiP foi realizado com álcool veratrílico e a leitura

da absorbãncia feita a 310 ηm, houve grande interferência por substâncias aromáticas,

presentes em extratos de cultivo de materiais lignocelulósicos, que absorvem neste

Page 57: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

56

comprimento de onda, assim como, a interferência da atividade de álcool veratrílico oxidase

(ARORA; GILL, 2001; ARCHIBALD, 1992).

Paralelamente aos ensaios de LiP realizado nos extratos de cultivo de L. edodes, foi feito

um cultivo com Phanerochaete chrysosporium ATCC 24.725-UMIST (University of

Manchester Institute of Science and Technology - Inglaterra) em meio líquido. Os resultados

mostram que o pH ótimo para a atividade de LiP foi 3,5 e que a enzima oxida os substratos,

Azure B e álcool veratrílico, porém a atividade de LiP foi menor com Azure B (Tabela 5).

Tabela 5: Atividade de LiP em extrato de P. chrysosporium pela oxidação de diferentes substratos. Atividade expressa em UI/L.

Tartarato de sódio

(pH) Azure B Álcool veratrílico

3,5 13,8 40,6

4,5 9,1 22,4

O filtrado de cultivo de P. chrysosporium, com atividade de LiP foi adicionado

combinando 100, 200, 300 ou 400 μl do filtrado de cultivo de com 500 μl de extratos de L.

edodes. Em seguida, fêz-se uma nova determinação de atividade enzimática, utilizando Azure

B como substrato, e observou-se que a atividade de LiP desapareceu. A presença de

compostos aromáticos, íons metálicos ou produtos de degradação do substrato podem ter

inibido a LiP de P. chrysosoporium. Sendo assim, pode-se especular que ausência da

atividade de LiP nos cultivos realizados com L. edodes não implica que este fungo seja

deficiente na produção desta enzima. É possível que esta enzima seja produzida e em seguida

inativada, como aconteceu com a LiP de Phanerochaete chrysosporium. Essa informação é

reforçada por resultados da literatura que mostram que em outros cultivos de L. edodes esta

enzima foi detectada (ARORA; GILL, 2001; LI et al., 2004).

5.1.2 Variação de pH durante fase vegetativa de L. edodes

O pH reduziu durante o período de incubação das linhagens de L. edodes (Gráfico 8).

Um menor pH (3,5) foi observado com o cultivo das linhagens somente em resíduo de

Page 58: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

57

eucalipto, enquanto nos meios suplementados com farelo de arroz o pH do meio de cultura

alterou de 5,5 para 4,5 após 30 dias de cultivo (Gráfico 8A e 8B).

0 15 30 45 60 75 90

2.53.03.54.04.55.05.56.06.57.0 CCB-514

10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 90

2.53.03.54.04.55.05.56.06.57.0 SJC

10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

pH d

e cu

ltura

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 90

2.53.03.54.04.55.05.56.06.57.0

SJC 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

pH d

e cu

ltura

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

2.53.03.54.04.55.05.56.06.57.0

CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

(C)

(A) (B)

(D)

Gráfico 8. Variação do pH durante o cultivo de linhagens de L. edodes em resíduo de eucalipto suplementado com concentrações variadas de farelo de arroz e de soja a 27 ± 2ºC.

Uma diminuição menos expressiva de pH foi observada no substrato com 20% de farelo

de soja, porém a adição de 10% de farelo de soja ao resíduo de eucalipto também

proporcionou redução no pH para valores semelhantes aos meios com farelo de arroz (Gráfico

8C e 8D).

Ohga (1992) durante o cultivo de L. edodes em serragem suplementada com farelo de

cereais associou a redução do pH do meio à produção de ácidos orgânicos. De fato, já está

bem registrado que ácidos orgânicos, como oxálico, fumárico e málico são produzidos por

basidiomicetos de podridão branca em substratos lignocelulósicos (HAKALA et al., 2005;

Page 59: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

58

HOFRICHTER et al.,1999). Por outro lado, Kalberer (1995) afirma que valor de pH baixo do

substrato é pré-requisito para formação de primórdios.

5.1.3 Extrativos do meio de cultivo

A porcentagem de extrativos do resíduo de eucalipto foi baixa, mas a adição dos farelos

de cereais aumentou a porcentagem de compostos solúveis, variando de 4 a 6% (Gráfico 9).

24

20

16

12

Gráfico 9. Porcentagem de extrativos solúveis em etanol 95% obtidos do cultivo de linhagens de L. edodes em resíduo de eucalipto suplementado com concentrações variadas de farelo de arroz e de soja a 27 ± 2ºC.

Durante o cultivo das duas linhagens no resíduode eucalipto suplementado com farelo

de arroz observou-se um aumento significativo dos compostos extraíveis do meio, alcançando

cerca de 12% em 45 dias e não ocorreu diferença entre as duas linhagens (Gráfico 9A e 9B).

Após este período, ocorreu um aumento significativo de extrativos com a combinação de 20%

de farelo de arroz e resíduo de eucalipto, alcançando cerca de 18% com as duas linhagens de

0 15 30 45 60 75 900

4

8

SJC 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Solú

veis

em

eta

nol (

%)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

4

8

24

12

16

20

SJC 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Solú

veis

em

eta

nol (

%)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

4

8

12

16

20

24 CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

4

8

12

16

20

24 CCB-514 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

(B)

(C) (D)

(A)

Page 60: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

59

L. edodes em 90 dias. O cultivo realizado somente com o resíduo de eucalipto apresentou

baixos teores de compostos solúveis em etanol 95% durante todo o tempo do cultivo.

As porcentagens de extrativos obtidas para as duas combinações de farelo de soja não

diferiram entre si em 30 dias (Gráficos 9C e 9D). No entanto, diferença significativa entre as

linhagens foi observada no final do experimento. Após 90 dias de cultivo, obteve-se cerca de

23% de compostos solúveis em etanol a partir do material biodegradado pela linhagem CCB

514 e 19% quando biodegradado pela linhagem SJC (Gráficos 9C e 9D).

Este aumento na porcentagem de compostos solúveis pode estar associado com a

degradação dos polímeros que compõem o substrato. Ohga (1992) mostrou resultados de

aumento dos compostos fenólicos e carboidratos solúveis em água durante a frutificação de L.

edodes, indicando diferença entre linhagens da mesma espécie. Posteriormente, Mata e Savoie

(1998) mostraram que a produção máxima de endo-glicanase e xilanase de seis linhagens de

L. edodes estava associada à liberação de açúcares redutores e fenóis solúveis em água.

5.1.4 Consumo de matéria orgânica (CMO)

O consumo de matéria orgânica durante o cultivo é um parâmetro pelo qual pode-se

avaliar a atividade de degradação do substrato de um determinado microrganismo. No cultivo

das linhagens SJC e CCB 514 em resíduo de eucalipto suplementado com a adição de

diferentes concentrações de farelos de cereais, observou-se alto consumo de matéria orgânica

seca (Gráfico 10).

As duas linhagens não diferiram entre si no CMO quando do uso de 10 ou 20% de farelo

de arroz até 45 dias de cultivo (Gráficos 10A e 10B). Entretanto, com 60 dias de cultivo, a

linhagem SJC consumiu cerca de 20% de matéria orgânica e CCB-514 consumiu cerca de

30%. No final do cultivo o consumo de matéria orgânica foi de 40% em resíduo de eucalipto

adicionado de 20% de farelo de arroz.

Nos meios contendo farelo de soja, o consumo de matéria orgânica pelas duas linhagens

foi praticamente o mesmo com os diferentes níveis de farelo de soja, alcançando cerca de

30% durante os primeiros 60 dias (Gráficos 10C e 10D).

A linhagem CCB-514 consumiu 45% da matéria orgânica para as duas concentrações de

farelo de soja testadas (Gráfico 10D).

As duas linhagens de L. edodes consumiram altos teores de matéria orgânica, mas pouca

diferença foi encontrada entre elas nos diferentes meios de cultivo. O consumo de matéria

orgânica (CMO) pela linhagem SJC foi praticamente a mesma usando qualquer combinação

Page 61: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

60

de farelo de arroz ou soja. Entretanto, uma tendência em maior consumo de matéria orgânica

foi observada com a linhagem CCB-514 no final do cultivo quando o meio foi suplementado

com farelo de soja.

0 15 30 45 60 75 900

10

20

30

40

50SJC

10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

CM

O (%

)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

10

20

30

40

50

SJC 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

CM

O (%

)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

10

20

30

40

50 CCB-514 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

10

20

30

40

50CCB-514

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

(A) (B)

(C)

(D)

Gráfico 10. Consumo de matéria orgânica seca por linhagens de L. edodes, cultivadas em resíduo de eucalipto suplementado com concentrações variadas de farelo de arroz e de soja a 27 ± 2ºC.

O consumo de matéria orgânica pelas linhagens correlaciona-se a com o conjunto de

enzimas hidrolíticas e oxidativas produzidas durante o cultivo e não com a produção de uma

enzima específica. Enquanto a linhagem CCB-514 produziu altas atividades de enzimas

hidrolíticas no início do cultivo e baixas atividades de lacase, nos ensaios com a linhagem

SJC, a atividade de lacase foi maior, apesar de apresentar menores atividades de enzimas

hidrolíticas neste período. Por outro lado, o fato da linhagem CCB-514 ter produzido maior

atividade de enzimas hidrolíticas que SJC, pode indicar que esta é uma linhagem com maior

potencial de gerar açúcares solúveis para produção de energia, formação de glicogênio e

Page 62: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

61

síntese da parede celular (BROCK et al., 1994). De fato, foi observado em estudo realizado

por OGHA (1992) que o micélio de L. edodes acumula glicogênio durante a fase vegetativa

do fungo, cuja concentração diminui após a formação do basidioma.

Os resultados de consumo de matéria orgânica, contrariamente aos obtidos com a

produção de enzimas, não evidenciam que a razão C/N do meio afeta a degradação do

substrato. Resultados da literatura revelaram que uma razão C/N de 30 é ideal para maior

consumo de matéria orgânica (CMO) por P. Sajor-caju (BISARIA; MADAN; VASUDEVAN,

1997). Estes autores observaram que em palha de trigo ou arroz suplementado com farinha de

soja, um menor consumo de matéria orgânica é observado nos meios com baixa concentração

de nitrogênio.

O monitoramento do consumo de matéria orgânica pelas duas linhagens não indicou

qual linhagem absorveu mais nutrientes solúveis no meio de cultivo quando da adição de

diferentes níveis de farelos de cereais. No entanto, um aumento contínuo de substâncias

solúveis do meio de cultivo em etanol 95% foi observado para as duas linhagens de L. edodes.

A linhagem CCB-514 parece mostrar maior capacidade em hidrolisar e oxidar o substrato,

tornando-o mais solúvel e de fácil absorção pelo micélio, devido às altas atividades de

enzimas.

5.1.5 Biomassa fúngica

O efeito da suplementação do resíduo de eucalipto com os farelos de cereais altera a

produção de enzimas, consumo de matéria orgânica e consequentemente o crescimento do

fungo (BOYLE, 1998). O aumento da biomassa foi significativo no resíduo de eucalipto

suplementado com as diferentes concentrações de farelos de cereais (Gráfico 11). Em 60 dias

de cultivo, as linhagens de L. edodes não diferiram entre si quando 10 ou 20% de farelo de

arroz foram adicionados ao resíduo de eucalipto (Gráficos 11A e 11B). As massas de micélio

obtidas no meio suplementado com farelo de soja foram semelhantes às obtidas com a

suplementação do meio com farelo de arroz (Gráficos 11C e 11D).

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62

0 15 30 45 60 75 900

1

2

3

4

5

6

7

8SJC

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Biom

assa

Fún

gica

(g)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

1

2

3

4

5

6

7

8

SJC 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Biom

assa

Fún

gica

(g)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

1

2

3

4

5

6

7

8 CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

1

2

3

4

5

6

7

8 CCB-514 10% farelo de soja 20% farelo de soja controle

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 11. Crescimento da biomassa fúngica durante o cultivo de linhagens de L. edodes em resíduo de eucalipto suplementado com concentrações variadas de farelo de arroz e de soja a 27 ± 2ºC.

5.1.6 Eficiência biológica

As duas linhagens de L. edodes foram induzidas à frutificação com 90 dias de fase

vegetativa nos diferentes substratos. Entre as duas linhagens, somente a linhagem SJC

apresentou capacidade de frutificação nas condições de temperatura e umidade estabelecidas

(Fotografia 4).

O fato da linhagem CCB-514 não ter frutificado nos substratos testados, não significa

que a linhagem não tenha se adaptado às condições de cultivo. Pelo contrário, a linhagem

CCB 514 apresentou um rápido desenvolvimento, porém este não é o único fator requerido

pelo fungo para induzir a frutificação. Para otimização da produção de cogumelos e eficiência

biológica é importante conhecer a fonte e o conteúdo de celulose e lignina dos substratos.

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63

Também é fato que não existe uma condição ambiental universal que leva a frutificação em

todos os fungos (KÜES; LIU, 2000). Um estudo mais amplo neste sentido foi apresentado por

Morais et al. (2000) com quatro linhagens de L. edodes em quatro substratos. Verificou-se que

o desenvolvimento de basidiomas ocorreu apenas em um dos substratos, sendo que uma das

linhagens não frutificou em nenhuma das formulações. Este resultado foi associado ao baixo

conteúdo de lignina e celulose em um dos substratos. Outro substrato que apresentou maior

conteúdo de lignina e celulose, mas com altos níveis de nitrogênio proveniente de farelo de

soja também inibiu a frutificação das linhagens de L. edodes.

3° dia2° dia

7° dia4° dia

Fotografia 4. Período de frutificação da linhagem de L. edodes SJC em câmara com temperatura controlada a 20 ± 2 °C com umidade relativa do ar entre 85 e 95%.

O início da frutificação da linhagem SJC ocorreu no 2° dia após indução da frutificação

e os cogumelos foram coletados entre o 6° e 7° dia. Não se observou diferença no tempo

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64

necessário para frutificação em função do tipo de suplementação e a eficiência biológica

obtida nos diferentes substratos foi determinada (Tabela 6).

A adição de diferentes concentrações de farelos de cereais propiciou diferenças

significativas na eficiência biológica em um único ciclo. Resíduo de eucalipto suplementado

com 10 ou 20% de farelo de arroz foram os substratos que propiciaram maior eficiência

biológica e não apresentaram diferença significativa em nível de 95% de confiança,

alcançando 67% e 62,8%, respectivamente.

Tabela 6 – Eficiência biológica da linhagem de L. edodes SJC em diferentes substratos

Substrato Eficiência biológica (%) P < 0,05 * RE (100%) 15,2 ± 2,6 a RE (90%) + FA (10%) 67,0 ± 9,0 b RE (80%) + FA (20%) 62,8 ± 11,1 b RE (90%) + FS (10%) 22,8 ± 1,2 a RE – resíduo de eucalipto FA – farelo de arroz FS – farelo de soja *mesmas letras denotam nenhuma diferença significativa entre as médias da eficiência biológica em nível de 95% de confiança.

A eficiência biológica de SJC no meio com 10% de farelo de soja foi muito próxima ao

controle, e com 20% de farelo de soja não induziu a formação de basidiomas. Este resultado

pode estar associado ao alto teor de nitrogênio presente no farelo de soja, evidenciando que a

relação C/N do substrato é um fator de grande importância no sucesso do cultivo de

cogumelos. Estudos realizados por Philippoussis, Diamantopoulou e Zervakis (2003)

indicaram que substratos como serragem de madeira dura com razão C/N de 20,38 e palha de

trigo com 25,10 asseguraram maior eficiência biológica que espiga de milho com razão C/N

de 47,55. Para alcançar as relações C/N os substratos foram suplementados com farelos de

cereais, os quais aumentaram a disponibilidade de nitrogênio.

Variação na eficiência biológica entre 9,2 e 121,2% também foi observada durante o

cultivo de Pleurotus ostreatus em palha de trigo e folhas de avelã (YILDIZ et al., 2002). Essa

dispersão nos resultados foi associada com a disponibilidade de nitrogênio de fácil

assimilação contida em cada substrato.

Além de diferentes substratos proporcionarem variação na eficiência biológica, outro

fator importante é o tempo de fase vegetativa. Royse (1985) observou que fases vegetativas

Page 66: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

65

longas, ou seja, o dobro da usual, aumenta significativamente a eficiência biológica, como

também o tamanho dos cogumelos.

5.1.7 Teor de proteína dos basidiomas

O conteúdo de proteína do basidioma de L. edodes depende da composição do meio de

cultivo, número de ciclos de frutificação, tempo de colheita e também da linhagem fúngica. L.

edodes apresenta em sua composição cerca de 10 a 17% (matéria seca) de proteína

(PRZYBYLOWICZ; DONOGHUE, 1990). Para o cogumelo Agaricus Blasei (cogumelo do

sol), o teor de proteínas é mais elevado, sendo encontrada principalmente no píleo com

55,16% (nos cogumelos menores) e 46,8% (nos maiores), confirmando seu potencial

nutricional (BRAGA et al, 1998). Geralmente, os métodos para determinar o conteúdo de

proteína são baseados na análise de aminoácidos e no uso de corantes que se ligam à proteína

(BRAKSMA; SCHAAP, 1996).

A extração das proteínas do basidiocarpo produzido pela linhagem SJC, cultivada em

diferentes substratos, foi feita em três etapas visando recuperar todo o seu conteúdo. A

primeira etapa consistiu na extração de proteínas solúveis em tampão, na segunda etapa foi

feita a saponificação da membrana celular com NaOH para extração de proteínas de

membrana e a terceira etapa foi novamente usado tampão para extração de proteína residual

no material que ainda permaneceu insolúvel (Tabela 7).

O total do conteúdo de proteínas obtido pela soma das três frações não apresentou

similaridade com a composição média apresentada na literatura (PRZYBYLOWICZ;

DONOGHUE, 1990). Pode-se verificar na Tabela 7 que o L. edodes linhagem SJC,

apresentou teores de proteínas superiores, principalmente quando suplementado com 20% de

farelo de arroz. De acordo com Braga et al. (1998), a idade, o ambiente, o local e a natureza

do substrato de cultivo também exercem grande influência em seu conteúdo protéico. Em

termos percentuais, geralmente, os cogumelos jovens são mais ricos em proteínas que os

maduros e que os cogumelos menores, apresentam maior teor de proteínas, principalmente na

região do píleo. Ao contrário dos tecidos animais, uma porção relativamente grande da

proteína existe, de fato, como aminoácidos livres nos tecidos vegetais e basidiomas. Este

valor pode, inclusive ultrapassar 50%.

Page 67: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

66

Tabela 7– Estimativa do teor de proteínas em mg/g de massa seca dos basidiomas obtidos em diferentes substratos com a linhagem de L. edodes SJC pelo método de Bradford.

substrato Fração 1 Fração 2 Fração 3 Total

RE (100%) 227,8 ± 4,3 275,6 ± 17,2 51,2 ± 3,5 554,6 ± 13,8 RE (90%) + FA (10%) 208,6 ± 20,5 243,8 ± 4,7 48,7 ± 6,0 501,1 ± 23,0 RE (80%) + FA (20%) 305,7 ± 39,9 328,4 ± 10,8 61,4 ± 4,1 695,5 ± 41,6 RE (90%) + FS (10%) 224,0 ± 11,0 271,2 ± 24,0 50,4 ± 5,9 545,6 ± 35,3 Interferentes após precipitação de proteína com TCA 15% Fração 1 + Fração 2 Fração 3 RE (100%) 174,6 ± 16,4 0,5 ± 0,2 175,1 ± 16,3 RE (90%) + FA (10%) 149,0 ± 21,6 1,5 ± 0,9 150,5 ± 22,3 RE (80%) + FA (20%) 205,6 ± 26,9 11,4 ± 5,5 217,0 ± 29,5 RE (90%) + FS (10%) 174,5 ± 15,5 1,0 ± 0,7 175,5 ± 16,2 Teor de proteínas precipitadas com TCA 15% mg/g p<0,05 RE (100%) 173,0 ± 10,0 a RE (90%) + FA (10%) 183,2 ± 16,3 ab RE (80%) + FA (20%) 226,9 ± 8,9 c RE (90%) + FS (10%) 196,1 ± 3,8 b Fração 1, fração 2 e fração 3 – análise de proteína nos sobrenadantes antes e depois da precipitação com TCA 15%. RE – resíduo de eucalipto FA – farelo de arroz FS – farelo de soja *mesmas letras denotam nenhuma diferença significativa entre as médias do teor de proteínas

A avaliação da proteína real foi feita extraindo-se as proteínas do material, precipitando-

as com TCA (ácido tricloroacético) e determinando o teor de proteína do precipitado e do

sobrenadante (BRAAKSMA; SCHAAP, 1996). Verificou-se que o sobrenadante de cada

fração interferiu com o método de Bradford. A análise de proteínas precipitadas das frações 1,

2 e 3, mostrou um valor próximo dos reportados na litertura para L. edodes.

Os resultados da proteína precipitada com TCA mostram que os basidiomas

desenvolvidos nos meios contendo farelo contêm um maior teor de proteína.

5.2 Efeito do farelo de soja na produção de enzimas

Para se verificar se as linhagens produzem enzimas hidrolíticas e oxidativas pelo

consumo somente de farelo de soja, foram preparadas sacolas com meio composto por 20%

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67

de farelo de soja e 80% de vermiculita. Os resultados foram comparados com a produção de

enzimas apenas em resíduo de eucalipto e no resíduo de eucalipto suplementado com 20% de

farelo de soja.

5.2.1 Endo-1,4-β-glicanase (CMCase)

O meio contendo somente farelo de soja proporcionou uma menor produção da enzima,

quando comparado ao controle com resíduo de eucalipto e principalmente com o resíduo

suplementado com o farelo de soja (Tabela 8). Portanto, maior produtividade desta enzima

para estar relacionada com a combinação do farelo de soja com o resíduo de eucalipto.

Tabela 8 – Produção de CMCase por duas linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto

suplementado com farelo de soja em comparação com substratos controle.

Linhagem Tempo Atividade de CMCase (UI/kg)

L. edodes (dias) VE + FS RE RE + FS

30 276 ± 6 723 ± 42 904 ± 62

45 470 ± 75 890 ± 70 2190 ± 363 SJC

60 320 ± 75 693 ± 118 1623 ± 178

30 194 ± 27 455 ± 42 1756 ± 138

45 248 ± 10 640 ± 127 980 ± 120 CCB-514

60 203 ± 17 157 ± 28 622 ± 85

VE + FS (80% vermiculita + 20% farelo de soja) RE – 100% residuo de eucalipto RE + FS (80% residuo de eucalipto + 20% farelo de soja)

5.2.2 β-glicosidase

A produção de β-glicosidase nos substratos controles foi diferente para as duas

linhagens quando comparada com a produção da enzima em resíduo de eucalipto

suplementado com 20% de farelo de soja (Tabela 9).

Page 69: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

68

A produção de β-glicosidase por SJC em vermiculita ou resíduo de eucalipto,

suplementados com farelo de soja, foi maior que a obtida em resíduo de eucalipto,

evidenciando a importância do farelo de soja para a produção da β-glicosidase. Entretanto, a

linhagem CCB 514 produziu maiores quantidades de β-glicosidase em resíduo de eucalipto

suplementado com farelo de soja.

Tabela 9 – Produção de β-glicosidase por duas linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto suplementado com farelo de soja em comparação com substratos controle.

Linhagem Tempo Atividade de β-glicosidase (UI/kg)

L. edodes (dias) VE + FS RE RE + FS

30 298 ± 38 87 ± 6 145 ± 6

45 231 ± 7 121 ± 26 192 ± 14 SJC

60 338 ± 36 86 ± 17 296 ± 14

30 137 ± 3 53 ± 4 974 ± 78

45 84 ± 3 74 ± 17 679 ± 32 CCB-514

60 84 ± 14 57 ± 2 644 ± 88

VE + FS (80% vermiculita + 20% farelo de soja) RE – 100% residuo de eucalipto RE + FS (80% residuo de eucalipto + 20% farelo de soja)

5.2.3 Xilanase

A produção de xilanase pelas duas linhagens foi maior no substrato elaborado com

resíduo de eucalipto e farelo de soja (Tabela 10). Em qualquer período analisado, a produção

da enzima foi mais baixa para as duas linhagens quando cultivado em vermiculita

suplementada com farelo de soja.

Como já mencionado, a razão C/N alcançada pela suplementação rica em proteína

aumenta a produtividade de celulases e hemicelulases. Portanto, resíduo de eucalipto

suplementado com 20% de farelo de soja alcança razão C/N ideal para produção desta

enzima.

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69

Tabela 10 – Produção de xilanase por duas linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto

suplementado com farelo de soja em comparação com substratos controle.

Linhagem Tempo Atividade de xilanase (UI/kg)

L. edodes (dias) VE + FS RE RE + FS

30 9644 ± 177 22608 ±749 62204 ± 8162

45 9703 ± 1091 29091 ± 3035 88049 ± 16506 SJC

60 9759 ± 1430 22073 ± 2668 45730 ± 10067

30 5037 ± 212 20255 ± 766 114407 ± 5733

45 6706 ± 160 17345 ± 1705 67210 ± 5407 CCB-514

60 6165 ± 563 16575 ± 1258 81202 ± 10667

VE + FS (80% vermiculita + 20% farelo de soja) RE – 100% residuo de eucalipto RE + FS (80% residuo de eucalipto + 20% farelo de soja)

5.2.4 β-xilosidase

Tabela 11 – Produção de β-xilosidase por duas linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto suplementado com farelo de soja em comparação com substratos controle.

Linhagem Tempo Atividade de β-xilosidase (UI/kg)

L. edodes (dias) VE + FS RE RE + FS

30 22,0 ± 0,3 18,8 ± 0,6 65,1 ± 5,6

45 14,1 ± 0,5 26,9 ± 5,3 199,5 ± 45,9 SJC

60 17,0 ± 0,9 20,1 ± 0,9 127,9 ± 27,5

30 6,6 ± 0,4 16,3 ± 1,6 314,7 ± 35,0

45 7,9 ± 0,5 23,4 ± 1,6 169,3 ± 35,1 CCB-514

60 7,0 ± 1,4 21,0± 1,8 97,2 ± 20,8

VE + FS (80% vermiculita + 20% farelo de soja) RE – 100% residuo de eucalipto RE + FS (80% residuo de eucalipto + 20% farelo de soja)

Page 71: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

70

A produção de β-xilosidase também foi mais significativa quando o resíduo de eucalipto

foi combinado com 20% de farelo de soja. Os meios controles não diferenciaram

significativamente e proporcionaram atividades mais baixas (Tabela 11).

5.2.5 Lacase

A produção de lacases, obtida no início do cultivo, foi induzida pelo farelo de soja.

Em períodos de cultivo mais longos a linhagem SJC continuou a produzir lacase, mas o

mesmo não é observado para a linhagem CCB 514 (Tabela 12). Somente em farelo de soja, a

enzima é produzida, mas observa-se que o resíduo de eucalipto suplementado aumenta a

produtividade em períodos mais longos quando comparado com o cultivo somente em resíduo

de eucalipto.

Tabela 12– Produção de lacase por duas linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto suplementado com farelo de soja em comparação com substratos controle.

VE + FS (80% vermiculita + 20% farelo de soja)

Linhagem Tempo Atividade de lacase (UI/kg)

L. edodes (dias) VE + FS RE RE + FS

30 1886 ± 216 469 ± 103 1214 ± 66

45 184 ± 6 583 ± 96 1171 ± 120 SJC

60 770 ± 141 589 ± 177 3729 ± 509

30 764 ± 78 0 774 ± 150

45 611 ± 63 0 1919 ± 327 CCB-514

60 207 ± 30 16 ± 5 220 ± 19

RE – 100% residuo de eucalipto RE + FS (80% residuo de eucalipto + 20% farelo de soja)

5.2.6 Manganês-peroxidase

O cultivo das linhagens somente em farelo de soja não induziu a produtividade de MnP.

De fato, a produção de MnP é induzida pela presença de íons Mn (II), e o farelo de soja

apresenta baixa concentração deste íon (34 ppm). Entretanto, maior produção foi observada

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71

com resíduo suplementado com a soja ou até mesmo somente em resíduo em que a

concentração do íon é maior, 153 e 183 ppm, respectivamente.

Tabela 13 – Produção de MnP por duas linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto

suplementado com farelo de soja em comparação com substratos controle.

VE + FS (80% vermiculita + 20% farelo de soja)

Linhagem Tempo Atividade de MnP (UI/kg)

L. edodes (dias) VE + FS RE RE + FS

30 0 13 ± 2 185 ± 52

45 66 ± 2 911 ± 58 780 ± 151 SJC

60 0 709 ± 100 346 ± 59

30 0 11 ± 2 151 ± 21

45 0 199 ± 33 583 ± 122 CCB-514

60 0 56 ± 16 1956 ± 305

RE – 100% residuo de eucalipto RE + FS (80% residuo de eucalipto + 20% farelo de soja)

O cultivo de Ceriporiopsis subvermispora em madeira de Pinus taeda, que possui uma

concentração de íons Mn(II) de 97 ppm apresentou atividade de MnP, mas o extrato dializado

não apresentou atividade da enzima, mesmo na presença de peróxido. Contudo, a atividade foi

restaurada com a adição de 111 μM de MnSO4 (Souza-Cruz et al, 2004).

5.2 Cultivo de L. edodes em substratos tratados com peróxido de hidrogênio

A ocorrência de fungos contaminantes e competidores é comum durante o cultivo de L.

edodes, pois a matéria-prima usada para o cultivo já vem com uma alta carga microbiológica.

Sabe-se que a incidência destes fungos em grandes proporções pode levar à improdutividade

do cultivo, e por isso várias formas de se tratar o meio para o cultivo de L. edodes tem sido

objeto de estudos. A escolha do método depende em boa parte, da eficiência e custo do

processo. Como anteriormente relatado, o tratamento térmico em autoclave é uma forma

eficiente de descontaminar o substrato, mas em contrapartida, necessita-se de equipamentos

que muitas vezes inviabilizam a produção em larga escala. Como uma alternativa aos

processos de descontaminação dos substratos usados na produção de cogumelos, foi feito um

Page 73: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

72

ensaio de avaliação do efeito do peróxido de hidrogênio no tratamento do resíduo de eucalipto

suplementado com farelo de arroz, para o controle de fungos contaminantes e sua resposta na

produção de shiitake. Foram analisadas as atividades das enzimas hidrolíticas e oxidativas, o

consumo de matéria orgânica durante a fase vegetativa das duas linhagens de L. edodes (SJC

e CCB-514) cultivadas em substratos tratados com peróxido de hidrogênio.

5.3.1 Estudo de inativação de catalase do farelo de arroz

O farelo de arroz foi tratado com peróxido de hidrogênio nas concentrações de 0; 50;

100; 150; 200 e 250 mM e observou-se uma redução na atividade da catalase com o aumento

da concentração de peróxido (Gráfico 12).

0 50 100 150 200 250

0

20

40

60

80

100

Ativ

idad

e de

Cat

alas

e (%

)

H2O2 (mM)

Gráfico 12. Inativação de catalase do farelo de arroz por peróxido de hidrogênio.

Foi realizada extração de proteínas de farelo de arroz com solução tampão e determinou-

se atividade de catalase de 1,1 UI.ml-1. A inativação completa da enzima ocorreu com 250

mM de H2O2. Mesmo sendo o peróxido de hidrogênio o substrato da enzima, estudos

relacionados à inativação irreversível da catalase têm demonstrado que catalase é bastante

sensível às altas concentrações de peróxido de hidrogênio (ANDERSON, 2002; ESCOBAR;

RUBIO; LISSI, 1996; VALDERRAMA; AYALA; VAZQUEZ-DUHALT, 2002).

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73

5.3.2 Tratamento dos substratos com peróxido de hidrogênio

Foi feito um primeiro ensaio em que o meio foi tratado com 250 mM de peróxido de

hidrogênio. Nos primeiros dez dias de incubação, foi possível observar uma grande

contaminação dos substratos por fungos que comprometeram o cultivo das duas linhagens de

L. edodes empregadas neste trabalho (Fotografia 5).

Fotografia 5. Contaminação dos substratos esterilizados com solução de peróxido de hidrogênio 250 mM após 10 dias de fase vegetativa de L. edodes.

Na tentativa de minimizar a contaminação, o resíduo de eucalipto suplementado com

diferentes níveis de farelos de arroz foi tratado com uma maior concentração de peróxido de

hidrogênio (750 mM). Verificou-se pouca contaminação durante o cultivo, (Fotografia 6),

pois nesta concentração, a solução de peróxido de hidrogênio foi capaz de inativar a catalase

presente no farelo de arroz, e também promover a descontaminação do meio de cultivo.

Page 75: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

74

Fotografia 6. Substratos tratados com peróxido de hidrogênio 750 mM e inoculados com linhagens de L. edodes. Os cultivos são de 10 dias e o resíduo ainda não foi totalmente colonizado pelo fungo.

5.3.3 Produção de enzimas

As atividades das enzimas relacionadas à degradação da celulose, hemicelulose e lignina

foram medidas após 30, 45, 60, 75 e 90 dias de incubação, em resíduo de eucalipto

suplementado com farelo de arroz. Os resultados apresentados referem-se aos substratos que

foram descontaminados com peróxido de hidrogênio (Gráficos A e B) e aqueles tratados em

autoclave (Gráficos C e D).

5.3.3.1 Endo-1,4-β-glicanase (CMCase)

Independentemente do método usado na descontaminação do substrato, a atividade de

CMCase foi detectada em 30 dias de incubação (Gráfico 13). Nos substratos tratados com

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75

solução de peróxido de hidrogênio (750 mM), pouca diferença foi observada na atividade de

CMCase quando 10 ou 20% de farelo de arroz foram adicionados ao resíduo de eucalipto

(Gráfico 13 A e 13B).

0 15 30 45 60 75 900

400

800

1200

1600

2000 CCB-514

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

400

800

1200

1600

2000 SJC

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

CMCa

se (U

I/kg)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

400

800

1200

1600

2000

CCB-514 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

400

800

1200

1600

2000 SJC 10% de farelo arroz 20% de farelo arroz controle

CMCa

se (U

I/kg)

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 13. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelo de arroz na produção de CMCase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C. Substrato esterilizado com peróxido de hidrogênio (A e B) e substrato esterilizado por autoclavagem (C e D).

Em 30 dias de cultivo, a linhagem SJC apresentou um pico de atividade de CMCase,

alcançando 1600 UI/kg com 20% de farelo de arroz (Gráfico 13A), enquanto a linhagem

CCB-514 produziu cerca de 1200 UI/kg de CMCase neste mesmo período, não se

diferenciando da linhagem SJC com a adição de 10% de farelo de arroz (Gráficos 13A e 13B).

Quando os substratos foram autoclavados, observou-se que a maior produção de

CMCase pela linhagem SJC ocorreu em 60 dias, independente da concentração de farelo de

arroz (Gráfico 13 C). Com a linhagem CCB-514 a maior atividade enzimática foi obtida com

Page 77: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

76

45 dias de cultivo quando o resíduo de eucalipto foi suplementado com 20% de farelo de

arroz (Gráfico 13D).

A produção de CMCase em tempos mais curtos nos meios tratados com o peróxido de

hidrogênio pode ter sido ocasionado por alterções na estrutura da celulose. O peróxido de

hidrogênio forma o íon hidroperóxido que em contato com metais de transição produz radicais

que podem causar a clivagem das cadeias de celulose. Desta forma, o tratamento do substrato

com peróxido pode reduzir o tempo para o fungo iniciar a produção das celulases por

disponibilizar um substrato parcialmente hidrolisado.

5.3.3.2 β-glicosidase

A atividade β-glicosidase foi bem mais expressiva quando as duas linhagens foram

cultivadas em substratos tratados com peróxido de hidrogênio (Gráfico 14).

Gráfico 14. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelo de arroz na produção de β-glicosidase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C. Substrato esterilizado com peróxido de hidrogênio (A e B) e substrato esterilizado por autoclavagem (C e D).

0 15 30 45 60 75 900

200

400

600

800

1000

1200

SJC 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

200

400

600

800

1000

1200

β-gl

icos

idas

e (U

I/kg) CCB-514

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

200

400

600

800

1000

1200

CCB-514 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

200

400

600

800

1000

1200 SJC

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)

(B)

(C) (D)

(A)

kg)

β-gl

icos

idas

e (U

I/

Page 78: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

77

A adição de 20% de farelo de arroz proporcionou alta atividade de β-glicosidase pela

linhagem SJC, alcançando 1000 UI/kg em 30 dias de cultivo, sendo que a linhagem CCB-514

alcançou um patamar menor desta atividade neste mesmo período, alcançando cerca de 700

UI/kg, independente da concentração de farelo de arroz (Gráfico 14A e 14B).

Considerando o mesmo período de 30 dias, a atividade de β-glicosidase pelas duas

linhagens foi significante menor nos mesmos substratos autoclavados. Enquanto a linhagem

SJC alcançou 400 UI/kg em 60 dias de cultivo, a linhagem CCB-514 alcançou este mesmo

patamar em 30 dias (Gráfico 14 C e 14D).

Quanto ao substrato controle, em que somente resíduo de eucalipto foi utilizado para o

cultivo das duas linhagens, nenhuma diferença significativa ocorreu na atividade de β-

glicosidase, independente do método de esterilização utilizado (Gráfico 14).

5.3.3.3 Xilanase

A atividade de xilanase também foi favorecida nos cultivos em substrato tratado com o

peróxido de hidrogênio (Gráfico 15).

A linhagem SJC produziu um pico de atividade de 50000 e 40000 UI/kg em 30 dias de

cultivo quando 10 ou 20% de farelo de arroz foram utilizados, respectivamente. A linhagem

CCB-514 produziu atividade menor neste mesmo período (30000 UI/kg), independente da

concentração de farelo de arroz (Gráfico 15 A e 15B). Nos substratos autoclavados, a

produção de xilanase neste mesmo período alcançou 20000 UI/kg, independente da linhagem

cultivada e da concentração de farelo de arroz adicionada ao resíduo de eucalipto (Gráfico 15

C e 15D).

Apesar da alta atividade alcançada no período de trinta dias quando os substratos foram

tratados com peróxido de hidrogênio, a produção da enzima manteve-se em nível mais baixo

durante toda a fase vegetativa. O mesmo ocorreu com a linhagem CCB-514 quando os

substratos foram tratados por autoclavagem.

Enfim, a linhagem SJC alcançou atividades mais altas ao longo do cultivo quando os

substratos foram tratados por autoclavagem, independente da concentração de farelo de arroz.

Page 79: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

78

0 15 30 45 60 75 900

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000 CCB-514 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000 SJC

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Xila

nse

(UI/k

g)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000 SJC

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Xila

nase

(UI/k

g)

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000 CCB-514

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 15. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelo de arroz na produção de xilanase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C. Substrato esterilizado com peróxido de hidrogênio (A e B) e substrato esterilizado por autoclavagem (C e D).

5.3.3.4 β-xilosidase

O tratamento químico exerceu pouca influência na atividade de β-xilosidase para as

duas linhagens de L. edodes em comparação ao método de esterilização por autoclavagem

(Gráfico 16).

A linhagem de L. edodes CCB-514 apresentou resultados semelhantes de atividade de β-

xilosidase, alcançando patamar de 225 UI/kg em 30 dias de cultivo, com redução expressiva

da atividade em 45 dias, mantendo-se constante até o final da fase vegetativa (Gráfico 16 B e

16D).

Page 80: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

79

0 15 30 45 60 75 900

50

100

150

200

250 SJC 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

β-xi

losid

ase

(UI/k

g)

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

50

100

150

200

250 CCB-514 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

50

100

150

200

250

SJC 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

β-xi

losid

ase

(UI/k

g)

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

50

100

150

200

250 CCB-514

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 16. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelo de arroz na produção de β-xilosidase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C. Substrato esterilizado com peróxido de hidrogênio (A e B) e substrato esterilizado por autoclavagem (C e D).

Resultado mais significante foi obtido com a linhagem SJC, em que o pico de atividade

de β-xilosidase alcançou um patamar de 100 UI/kg em 30 dias de cultivo quando 20% de

farelo de arroz foram combinados com resíduo de eucalipto, diferenciando da atividade de 50

UI/kg alcançada no substrato autoclavado (Gráfico 16A e 16C). Após 45 dias a atividade

reduziu drasticamente, assim como observado para a linhagem CCB-514.

Outro fator, que pode estar favorecendo a produção das enzimas hidrolíticas como

CMCase, β-glicosidase e xilanase nos substratos tratados quimicamente, é a disponibilidade

de oxigênio do meio. Sabe-se que a velocidade de miceliação não depende apenas da

formulação adequada do substrato, mas também do fornecimento de oxigênio que pode ser

melhorado com partículas de substratos menos compactadas (ZHANG; LI; FADEL, 2002).

De fato, foi observado neste estudo que o método de esterilização dos substratos por

autoclavagem proporciona um maior empacotamento das partículas que compõem o substrato

(Fotografia 1). Sendo que o contrário ocorre com o método de esterilização química,

Page 81: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

80

facilitando o processo de aeração natural com conseqüente liberação facilitada de gás

carbônico (Fotografia 6). Enfim, a maior porosidade do meio pode favorecer a troca de gás

do interior do substrato para a superfície, aumentando o crescimento do micélio e o

desenvolvimento de basidiomas (ROYSE; RHODES; SANCHEZ, 2002).

5.3.3.5 Lacase

O peróxido de hidrogênio influenciou a produção de lacase pelas linhagens de L. edodes

(Gráfico 17A e 17B).

0 15 30 45 60 75 900

50010001500200025003000350040004500

SJC 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Laca

se (U

I/kg)

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0500

10001500200025003000350040004500

CCB-514 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

50010001500200025003000350040004500

CCB-514 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0500

10001500200025003000350040004500 SJC

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Laca

se (U

I/kg)

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 17. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelo de arroz na produção de lacase por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C. Substrato esterilizado com peróxido de hidrogênio (A e B) e substrato esterilizado por autoclavagem (C e D).

Page 82: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

81

A produção enzimática foi significantemente mais baixa quando o substrato foi

inoculado com CCB 514, mesmo com a adição de diferentes concentrações de farelo de arroz

(Gráfico 17 B). Por outro lado, em substrato esterilizado por autoclavagem, a mesma

linhagem teve seu pico de produção deslocado, ocorrendo após 60 dias, com substancial

aumento de atividade em até 90 dias.

A produção de lacase pela linhagem SJC foi semelhante nos substratos tratados com o

peróxido de hidrogênio e autoclavado. Maior produção da enzima foi obtida em 90 dias

quando o substrato foi esterilizado pelo método químico, independente da concentração de

farelo de arroz (Gráfico 17A). Em comparação com o método de esterilização por

autoclavagem, a linhagem SJC alcançou um patamar de 3500 UI/kg em 60 dias em resíduo de

eucalipto com 20% de farelo de arroz (Gráfico 17C).

5.3.3.6 Manganês peroxidase

A atividade de MnP não foi estimulada quando o substrato foi tratado com peróxido de

hidrogênio (Gráfico 18), apesar da produção de MnP em geral ser regulada pela adição de

peróxido de hidrogênio e por condições de estresse do meio. Provavelmente, durante o longo

tempo necessário ao cultivo de L. dodes, o peróxido tenha se decomposto em oxigênio e água,

sem causar efeito na produção de MnP.

Li et al. (1995) examinaram o efeito do peróxido de hidrogênio na produção de MnP e

verificaram um aumento do número de cópias do RNA mensageiro para mnp quando o H2O2

foi adicionado juntamente com manganês. A transcrição de MnP ocorrreu com 1 mM de

H2O2, mas o mesmo efeito não foi observado com 2 mM do composto.

A adição de diferentes concentrações de farelo de arroz ao resíduo de eucalipto mostrou

um efeito positivo na atividade de MnP para as duas linhagens de L. edodes (Gráfico 18). A

adição de 20% de farelo de arroz ao resíduo de eucalipto proporcionou um aumento na

atividade de MnP, alcançando patamares mais elevados quando comparado com 10% de

farelo de arroz.

Verificou-se que o isolado CCB 514 apresentou atividade de MnP após 30 dias em todos

os meios de cultivo. Embora a produção de MnP pela linhagem SJC tenha sido mais

demorada, quando comparada ao isolado CCB 514, o mesmo apresentou atividade após 45

dias em todos os substratos.

Page 83: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

82

8

6

3

4

1

2

Gráfico 18. Efeito do tempo e da adição de diferentes níveis de farelo de arroz na produção de MnP por linhagens de L. edodes cultivadas em resíduo de eucalipto a 27 ± 2 °C. Substrato esterilizado com peróxido de hidrogênio (A e B) e substrato esterilizado por autoclavagem (C e D).

5.3.4 Consumo de matéria orgânica

Os resultados de consumo de matéria orgânica, para as linhagens SJC e CCB 514, estão

apresentados no gráfico 19. Observou-se pouca diferença no consumo de matéria orgânica do

substrato descontaminado com o peróxido de hidrogênio ou autoclavado, após incubação com

as duas linhagens.

Resultado um pouco mais significativo foi observado com o cultivo da linhagem SJC

quando o resíduo de eucalipto foi suplementado com 20 % de farelo de arroz (Gráfico 19A).

Verificou-se variação na CMO de 20% a 40%, após 75 dias de incubação (Gráfico 19 A e

19C).

0 15 30 45 60 75 900

000

000000

000

5000000

7000

000 SJC

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

MnP

(UI/k

g)

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

01000

20003000

40005000

6000

70008000

CCB-514 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

1000

003000

005000

00

700000

20

40

60

80 SJC

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

MnP

(UI/k

g)

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

01000

20003000

40005000

60007000

8000 CCB-514 10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)

(B)

(C) (D)

(A)

Page 84: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

83

O cultivo da linhagem CCB-514 em resíduo de eucalipto suplementado com diferentes

concentrações de farelo de arroz foi praticamente o mesmo com relação ao CMO (Gráfico

19B e 19D).

0 15 30 45 60 75 900

10

20

30

40

50CCB-514

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

10

20

30

40

50SJC

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

CMO

(%)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

10

20

30

40

50 SJC

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

CMO

(%)

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

10

20

30

40

50 CCB-514

10% Farelo de arroz 20% Farelo de arroz controle

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 19. Consumo de matéria orgânica seca por linhagens de L. edodes, cultivadas em resíduo de

eucalipto suplementado com concentrações variadas de farelo de arroz a 27 ± 2ºC. Substrato esterilizado com peróxido de hidrogênio (A e B) e substrato esterilizado por autoclavagem (C e D).

5.3.5 Biomassa fúngica

As duas linhagens apresentaram perfis diferenciados em biomassa fúngica quando

cultivadas em substratos tratados com peróxido de hidrogênio em comparação aos substratos

tratados por autoclavagem (Gráfico 20).

Embora a suplementação do resíduo de eucalipto com farelo de arroz proporcionar

maior crescimento, a linhagem SJC alcançou níveis mais altos depois de 60 dias de cultivo em

Page 85: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

84

resíduo de eucalipto suplementado com farelo de arroz, independente da concentração

utilizada (Gráfico 20A). Em comparação com substratos tratados por autoclavagem, a

linhagem alcançou níveis baixos de biomassa fúngica (Gráfico 20C).

O cultivo da linhagem CCB-514 em substratos suplementados e tratados com peróxido

apresentou, após 60 dias, pouca diferença em biomassa fúngica (Gráfico 20B), mas em

comparação com substratos suplementados e tratados por autoclavagem, nenhuma diferença

foi observada (Gráficos 20B e 20D).

0 15 30 45 60 75 900

2

4

6

8

10

12

14

CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

2

4

6

8

10

12

14 SJC

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Biom

assa

fúng

ica

(g)

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 900

2

4

6

8

10

12

14CCB-514

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

0

2

4

6

8

10

12

14 SJC

10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Biom

assa

Fún

gica

(g)

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 20. Crescimento da biomassa fúngica durante o cultivo de linhagens de L. edodes em resíduo

de eucalipto suplementado com concentrações variadas de farelo de arroz a 27 ± 2ºC. Substrato esterilizado com peróxido de hidrogênio (A e B) e substrato esterilizado por autoclavagem (C e D).

Page 86: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

85

5.3.6 Variação do pH durante a fase vegetativa

Embora a queda de pH ter ocorrido em todos os cultivos das duas linhagens, pouca

diferença significativa foi observada para os dois métodos de tratamento de descontaminação

dos substratos (Gráfico 21).

0 15 30 45 60 75 90

2.53.03.54.04.55.05.56.06.57.0

SJC 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

pH d

e cu

ltura

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

2.53.03.54.04.55.05.56.06.57.0

CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)

0 15 30 45 60 75 90

2.53.03.54.04.55.05.56.06.57.0

CCB-514 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

Tempo (dias)0 15 30 45 60 75 90

2.53.03.54.04.55.05.56.06.57.0

SJC 10% farelo de arroz 20% farelo de arroz controle

pH d

e cu

ltura

Tempo (dias)

(A) (B)

(C) (D)

Gráfico 21.Variação do pH durante o cultivo de linhagens de L. edodes em resíduo de eucalipto

suplementado com concentrações variadas de farelo de arroz a 27 ± 2ºC. Substrato esterilizado com peróxido de hidrogênio (A e B) e substrato esterilizado por autoclavagem (C e D).

O cultivo da linhagem SJC em substratos tratados com peróxido de hidrogênio

apresentou uma redução um pouco maior de pH em comparação ao cultivo em resíduo de

eucalipto suplementado com farelo de arroz e tratados por autoclavagem, atingindo um valor

de pH de 4,0.

Page 87: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

86

Normalmente, o crescimento micelial de várias espécies de basidiomicetos é menos

afetado pelo pH na região neutra, mas o desenvolvimento de basidiomas requer valores um

pouco mais baixos de pH, chegando em torno de 4,0 para L. edodes (OHGA, 1999).

5.3.7 Frutificação de L. edodes em substratos tratados com peróxido de hidrogênio

Experimentos em triplicata foram realizados para a indução da fruticação das linhagens

em substratos elaborados com resíduo de eucalipto com diferentes concentrações de farelo de

arroz para se comparar com os resultados obtidos anteriormente pelo processo de esterilização

dos substratos por autoclavagem. No entanto, devido à presença de contaminações por outros

microrganismos, não foi possível obter estes resultados, pois todas as outras amostras não

contaminadas foram coletadas e utilizadas durante a fase vegetativa para obtenção de dados

analíticos, os quais foram demonstrados e comparados com as análises realizadas com o

cultivo das linhagens em substratos esterilizados por autoclavagem.

Page 88: UNIVERSIDADE DE SO PAULO - Sistema de Autentica????o

87

6 CONCLUSÕES

Baseado nos resultados obtidos com o cultivo de duas linhagens de L. edodes em

resíduo de eucalipto, conclui-se que:

A regulação da produção de enzimas extracelulares de L. edodes é afetada pela

suplementação do resíduo comfarelo de cereais. Concentrações elevadas de farelo de

soja no meio de cultivo ocasiona uma repressão de enzimas oxidativas,

principalmente com MnP. No entanto, a produção de enzimas hidrolíticas é

estimulada pelo aumento da concentração de farelos de arroz e soja.

O efeito da suplementação do resíduo é positivo para o desenvolvimento de

biomassa e conseqüentemente maior consumo de matéria orgânica é observada.

A variação da concentração de farelo de cereais altera a eficiência biológica de L.

edodes. Concentração alta de farelo de soja não é propícia para frutificação. No

entanto, a concentração de farelo de arroz a 10% eleva a eficiência biológica de L.

edodes.

O acúmulo de proteínas nos basidiomas é regulado pelo cultivo de L. edodes em

resíduo suplementado, indicando que o tipo e a concentração de farelo de cereal

adicionado ao resíduo aumenta o teor de proteína.

As linhagens crescem bem no resíduo, suplementado ou não, produzem níveis altos

de enzimas extracelulares e apresentam alto consumo de matéria orgânica, mas

somente uma das linhagens produziu basidiomas, pelo menos nas condições de

temperatura e umidade estabelecidas para induzir a frutificação.

Como técnica alternativa de esterilização do substrato por autoclavagem, foi

avaliado a utilização de solução de peróxido de hidrogênio como agente de

descontaminação. Por comparação mostrou que: a produção de enzimas

extracelulares é favorecida pelo método químico de descontaminação, pois eleva a

níveis mais altos logo no início do cultivo; a produção de biomassa é diferenciada

entre as linhagens, sendo que uma delas apresentou maior crescimento, mas não

altera de forma significativa o consumo de matéria orgânica.

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