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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
GILDA SANTIAGO DA SILVA
MEMÓRIA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: A CONTRIBUIÇÃO DE IDOSOS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE
E A IMAGINAÇÃO DE ALUNOS DO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA MUNICIPAL ANTÔNIO EUZÉBIO
SALVADOR 2009
GILDA SANTIAGO DA SILVA
MEMÓRIA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: A CONTRIBUIÇÃO DE IDOSOS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE E A IMAGINAÇÃO DE
ALUNOS DO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA MUNICIPAL ANTÔNIO EUZÉBIO
Monografia apresentada ao curso de Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar, Departamento de Educação – Campus I, da Universidade Estadual da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia. Orientador: Prof. Dr. Gilmário Moreira Brito
SALVADOR 2009
GILDA SANTIAGO DA SILVA
MEMÓRIA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: A CONTRIBUIÇÃO DE IDOSOS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE E A
IMAGINAÇÃO DE ALUNOS DO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA MUNICIPAL ANTÔNIO EUZÉBIO
Monografia apresentada ao curso de Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar, Departamento de Educação – Campus I, da Universidade Estadual da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia.
Aprovado em 08 de setembro de 2009.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Gilmário Moreira Brito (Orientador)
Prof ª.Drª. Maria Antonia Coutinho
Prof.ª Andréia Betânia
Salvador 2009
FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEB Bibliotecária : Jacira Almeida Mendes – CRB : 5/592
Silva, Gilda Santiago da Memória e contação de histórias : a contribuição de idosos para estimular a criatividade e a imaginação de alunos do 4º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Antônio Euzébio / Gilda Santiago da Silva . – Salvador, 2009. 53f. Orientador: Gilmário Moreira Brito. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia . Campus I. 2009. Contém referências e anexos.
1. Idosos. 2. Contadores de histórias - Idosos. 3. Arte de contar histórias. 4. Ensino fundamental. 5. Ciatividade(Educação). I. Brito, Gilmário Moreira. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD: 305.235
À Toda minha família, que sonhou junto comigo. À meus amigos, pelo carinho e compreensão.
AGRADECIMENTOS
Este é um do momento ímpar, fase de realização de sonhos. Nessa
caminhada acadêmica, houve muitos obstáculos, mas como sou filha de Deus e
mulher de fé, de esperança, e otimista, pude contar com o incentivo de familiares e
amigos, para vencer os desafios, as dificuldades, e continuar a a busca pelos meus
ideais, o que me fez chegar fortalecida e vitoriosa.
Nomear a todos que de uma forma direta e indireta colaboraram nessa
jornada fica impossível, foram muitos, mas aos que de certa forma me suportaram, o
meu muito obrigado.
Agradeço primeiramente à Deus, meu amigo de fé.
À minha família, e àqueles que estiveram próximo, entenderam as minhas
ausências, principalmente a Ícaro e Ítalo, pelo incentivo para sempre continuar.
Aos que se encontram em outra dimensão, mas continuam a iluminar meus
caminhos: meus pais, Sinésio Catarino e Iracy Santiago, meu avô Saturnino
Santiago, e Zilda (sogra) – o exemplo les está presente em mim.
Aos colegas unebianos: Thiago, Regi, Geisa, Luciene, Marh, Fará...
Aos professores: Alba Guedes, Maria Antônia Coutinho, Patrícia Magris,
Antonio Amorim.
Ao orientador: professor Drº Gilmário Brito.
Às primas: Fafá e Olivia por entender as minhas dificuldades.
Aos funcionários e alunos da Escola Municipal Antônio Euzébio, espaço onde
coloquei as teorias em prática,e abriu as portas para a pesquisa de campo.
À turma da SEC, local em que estagiei, ganhei experiência e construí novas
amizades.
RESUMO
Por muito tempo, a cultura dos povos foi propagada por meio da contação de história. Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar de que maneira a contação de histórias por idosos pode contribuir para estimular a curiosidade, a criatividade e a imaginação dos alunos de uma turma de 4º ano do Ensino Fundamental. Para o desenvolvimento desse trabalho, foi promovido um encontro entre os alunos e uma idosa. Posteriormente, foram desenvolvidas as atividades de enriquecimento oral e de escrita, de dramatização além de questionários. Assim, promovem-se relações e embates de gerações, tradições, valores e costumes, viabilizando a troca de experiências, para que cada um possa sentir o prazer de refletir sobre seus conceitos e vivências, adquirindo consciência do seu papel social. .
Palavras-chave: Idoso; Contação de História; Criatividade; Imaginação.
RESUMEN Por mucho tiempo, la cultura de los pueblos fue propagada por medio de la narración de historia. Este trabajo de conclusión de curso tiene por objetivo analizar de cuál manera la narración de historias hecha por los viejos puede contribuir para estimular la curiosidad, la creatividad e la imaginación de los alumnos de una clase de 4º año de la Enseñanza Básica. Para el desarrollo de este trabajo, fue promovido un encuentro entre los alumnos y una vieja. Posteriormente, fueran desarrolladas las actividades de enriquecimiento oral y de escrita, de dramatización, además de los cuestionarios. Así, se promueven relaciones y embates de generaciones, tradiciones, valores y costumbres, posibilitando el cambio de experiencias, para que cada uno pueda sentir el placer de reflexionar sobre sus conceptos y vivencias, adquiriendo consciencia de su papel social. Palabras-llave: Viejos; Narración de Historias; Creatividad; Imaginación.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 9
2. CAPÍTULO I – ENTRE A MEMÓRIA, A ORALIDADE E A NARRATIVA 11
2.1 O papel social do Idoso 13
2.2 A performance do narrador 15
2.3 Oralidade e Memória 17
3. CAPÍTULO II – A ESCOLA E OS ALUNOS NO CONTEXTO
DO BAIRRO 19
3.1 O espaço escolar e a sua Gestão 19
3.2 Uma viagem do Kimbula ao Cabula 23
3.3 Sujeitos da Pesquisa 24
3.4 Agente de Transformação 26
4. CAPÍTULO III – A SESSÃO DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS PELA
IDOSA NA ESCOLA ANTONIO EUZÉBIO 27
4.1 A Contadora em Ação 28
4.2 Atividades Desenvolvidas após a Contação de Histórias 35
4.3 Análise de Dados 39
5. CONSIDERAÇÕES 46
REFERÊNCIAS 48
APÊNDICES 51
ANEXOS 52
9
MEMÓRIA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: A CONTRIBUIÇÃO DE IDOSOS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE E A IMAGINAÇÃO DE ALUNOS DO 4º ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA MUNICIPAL ANTÔNIO EUZÉBIO 1. INTRODUÇÃO
Narrar ou contar histórias é uma arte milenar. Antigamente era o contador de
histórias o detentor da experiência, do conhecimento e da sabedoria. No passado,
esse rito familiar criava um clima intimista entre as gerações nas sessões de
contação de histórias. A figura do avô ou da avó era ícone do faz-de-conta, agente
de introspecção imaginativa das crianças, jovens e adultos. Com o passar do tempo,
as brincadeiras entre crianças reproduziam simbologias de momentos mágicos
extraídos dos livros literários impressos. Atualmente, com a supremacia da imagem,
da televisão, do computador e da informação, as histórias contadas ou narradas por
um interlocutor, oferecem, apenas, um divertimento que está implícito em cada um,
com seus valores subjetivos.
Como os tempos mudaram, aquela relação intimista entre as gerações ficou
prejudicada pelo ritmo acelerado dos ritos da sociedade moderna e a nova figura do
contador de histórias dividiu o espaço com o monitor de TV. As brincadeiras, antes
coletivas, sem perder os momentos de introspecção, assumem agora o caráter de
um isolamento e, nos momentos coletivos, reproduzem imagens prontas de uma
trama estereotipada. Em um mundo sem tempo, torna-se importante o resgate do
instante mágico da contação de histórias e da leitura.
Por meio de dinâmicas e vivências pode-se despertar os contadores de
histórias que existem em cada um, estimulando, com técnicas elaboradas, a faceta
sensível e a poética inerente ao ser humano, aprimorando sua capacidade
expressiva e criativa, além de valorizar a relação com o livro como fonte de
inspiração na busca de disseminar o direito de formar não somente leitores, mas
antes de tudo, cidadãos sensíveis, mais humanizados.
Pretendeu-se com esse projeto identificar como está a integração entre
jovens e idosos em meio à dissolução dos laços afetivos que caracterizam a
sociedade contemporânea, na qual os indivíduos preocupam-se com o novo,
esquecendo do papel social que os idosos exercem sobre a geração mais nova.
Essa pesquisa permitiu colocar em prática os conhecimentos adquiridos na
Universidade do Estado da Bahia - UNEB e, somados ao trabalho que desenvolvo
10
em uma Organização Não Governamental – ONG – como voluntária, com um grupo
de idosos que vive em condições de exclusão social, mas que ao ser tratado como
cidadão, através de atividades, oficinas de artesanato e de palestra para levantar a
auto estima, possibilitar o exercício da cidadania, assim como a promoção de auto-
sustentabilidade.
Seria importante à escola trabalhar com o saber difuso e descentrado que
circula na sociedade, considerando a oralidade e a cultura popular num processo de
contextualização.
A sistematização dessa pesquisa será evidenciada em três capítulos. O
primeiro apresenta um breve comentário da importância de contar histórias, o papel
social do idoso na sociedade atual, a performance do narrador e uma reflexão sobre
a história oral, narrativa e memória.
O segundo capítulo destaca o perfil da Escola Municipal Antônio Euzébio
(EMAE) – local da pesquisa – no seu aspecto social, político e cultural, a
caracterização do bairro do Cabula e seu entorno, assim como o perfil dos alunos do
4º ano e da professora da turma.
O terceiro e último capítulo apresenta uma idosa que desenvolveu a sessão
de contação de histórias na escola, a descrição dos momentos da narração na
turma, e em seguida as análise de dados a partir das atividades do reconto oral e
escrito, da dramatização, e das respostas da pergunta motivadora: você mudaria ou
não o final da história?
Espera-se, com o resultado obtido e divulgado, uma significativa contribuição
para a melhoria das relações sociais entre idosos e jovens, além de gerar uma
discussão acadêmica na formação inicial e continuada dos docentes.
11
2. CAPÍTULO I – ENTRE A MEMÓRIA, A ORALIDADE E A NARRATIVA
Cresci ouvindo "causos" de meu avô Satu: “homem que nunca morreu, e nem
intenção tinha, e se tivesse outro, era contrabando”, assim dizia ele, homem que
disse que matou um cachorro a “grito” quando trabalhava de pintor em uma
residência de luxo e os cachorros soltaram-se da corrente. Pegou-lhe desprevenido
e, com seu grito, os cachorros ficaram estáticos e não os atacou. O cachorro ficou
doente e, no dia seguinte, quando voltou ao trabalho soube da notícia de que o
cachorro havia morrido. Será que a expressão “matei cachorro a grito” vem daí?
Homem que nasceu no início do século XX, precisamente em 1908, e tinha
uma visão futurista. Não foi à escola, mas quando foi receber seu primeiro salário
teve que pagar “a rogo”, que significa que quando alguém não pode assinar
documentos, por não saber ler e escrever, tem que pagar a uma pessoa para assinar
por ele, o equivalente a 10% do salário. Ao sair do banco, foi direto à casa de uma
senhora que “dava banca”, queria aprender a assinar seu nome. No mês seguinte,
voltou ao banco e o sujeito estava lá, pronto para “arrogar”. Ao chamar-lhe Saturnino
Gonçalves Santiago! Ele empinou o peito, levantou o nariz, olhou para o arrogo,
dirigiu-se ao caixa, assinou o recibo de pagamento e voltou satisfeito. Essa situação
tornou-se para ele uma questão de honra, como dizia ele, de “orgulho” e virou
mania. Todo papel que pegava assinava seu nome. A grafia era bonita, e então
prometeu que jamais permitiria que seus filhos não “tivessem estudos”.
Trabalhador de vários ofícios foi funcionário de um jornal de grande
circulação de Salvador, tendo contato com a escrita e com pessoas intelectuais.
Criou o hábito de ler o jornal de ponta a ponta, mas seu forte era contar "causos". Os
finais de festas eram todos em volta dele, ouvindo-o, a sua performance era
fantástica. Alguns “causos” eram longos, outros, às vezes, eu não entendia, a idade
não permitia, mas ria com os outros. Na maioria das vezes eu viajava no universo
do real e da ficção.
Foi nesse universo da oralidade, da narrativa e da valorização da educação
que cresci, ficando como marca registrada da família Santiago. As lembranças são
freqüentes, em alguns casos, levam-me a pensar e falar: “Como já dizia Satu”,
associando-o às situações vividas, de acordo com o que sugere Walter Benjamin:
A verdadeira narrativa tem sempre em si, às vezes de forma latente, uma
12
dimensão utilitária. Essa utilidade pode consistir seja num ensinamento moral, seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma de vida - de qualquer maneira, o narrador é um homem que sabe dar conselhos. Mas se “dar conselhos” parece hoje algo de antiquado, é porque as experiências estão deixando de ser comunicáveis. Em conseqüência, não podemos dar conselhos nem a nós mesmos nem aos outros. Aconselhar é menos responder a uma pergunta que fazer uma sugestão sobre a continuação de uma história que está sendo narrada. Para obter essa sugestão, é necessário primeiro saber narrar a história (sem contar que um homem só é receptivo a um conselho na medida em que verbaliza a sua situação). O conselho tecido na substância viva da existência tem um nome: sabedoria. A arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção. (BENJAMIN, 1996, p.200).
É nessa perspectiva que a figura do narrador deve ser passada para as novas
gerações, por meio dessa fascinante arte da contação de histórias e de “causos”.
Ao ingressar na Universidade, no curso de Pedagogia com habilitação em
Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar, tive o privilégio de estudar uma
disciplina de Literatura, com uma professora que possibilitou ter contato com o
mundo da contação de histórias, que me despertou a relevância dessa prática
pedagógica, e de que maneira pode-se utilizá-la como instrumento de reflexão das
relações entre crianças e idosos.
É importante levar em consideração que a contação de história é um
instrumento educacional, como um articulador para o processo de integração da
linguagem oral com a linguagem escrita, aproximando os alunos do mundo real,
favorecendo a reflexão e formação de valores e princípios éticos.
Através da contação de histórias, crianças e jovens podem resgatar e
valorizar a contribuição do idoso nessa arte de transmitir, formar e transformar
realidades.
Nesse ponto de vista, vale ressaltar a concepção e a relevância da história
oral. Conforme afirma Meihy (2007):
“A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Estimulam a professora e alunos a se tornarem companheiros de trabalho. Leva a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. Ela ajuda os menos favorecidos, especialmente aos idosos, a conquistarem dignidade e autoconfiança. Propicia o contato – e a compreensão- entre classes sociais e entre gerações. E para cada um dos historiadores e outros que partilhem das mesmas intenções, ela pode dar um sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época. Em suma, contribui para formar seres humanos mais completos. Paralelamente, à história oral propõe um desafio
13
aos mitos consagrado da história, ao juízo autoritário inerente à sua tradição. E oferece os meios para uma transformação radical no sentido social da história”. (THOMPSON, 1992 p.44 apud MEIHY 2007, p.83).
Nesse sentido, a contação de história por idosos conduz a uma reflexão sobre
as experiências individuais e coletivas, que possibilita a aquisição de vivências em
prol de uma ótica subjetiva, em contato com o registro integral e singular do
narrador.
Diante disso, o encontro entre crianças e idosos promove relações e embates
de gerações, tradições, valores e costumes, viabilizando a troca construtiva de
práticas cotidianas, nas quais cada um reflete sobre seus ideais assumindo o seu
papel na sociedade com respeito mútuo.
2.1 O papel social do idoso
Ao longo das últimas décadas, tornou-se notório o aumento da expectativa de
vida dos homens e, consequentemente, um aumento expressivo na população de
idosos que integra a nossa sociedade. Dentre outros fatores que contribuíram para
esse crescimento, podemos citar a evolução científica, a evolução da medicina, e a
melhoria das condições de vida.
Se houve um aumento significativo no número de idosos na sociedade, não
se pode dizer o mesmo a respeito da importância e do reconhecimento dado a estes
cidadãos. Apesar de exercerem um papel fundamental na transmissão oral dos
valores e da cultura de um povo, contribuindo também economicamente na
construção do seu país, os idosos vêm sendo relegados a segundo plano, em
detrimento aos meios de informação, comunicação e dos recursos tecnológicos, a
exemplo do computador e da internet, o que é lamentável, como já refletia Benjamin
(1996):
O saber que vem de longe encontra hoje menos ouvintes que a informação sobre acontecimentos próximos. O saber que vem de longe – do longe espacial das terras estranhas, ou do longe temporal contido na tradição -, dispunha de uma autoridade que era válida mesmo que não fosse controlável pela experiência. Mas a informação aspira a uma verificação imediata. Antes de mais nada, ela precisa ser compreensível “em si e para si”. Muitas vezes não é mais exata que os relatos antigos. Porém, enquanto esses relatos recorriam frequentemente ao miraculoso, é indispensável que a informação seja plausível. Nisso ela é incompatível com o espírito da narrativa. Se a arte da narrativa é hoje rara, a difusão da informação é
14
decisivamente responsável por esse declínio. (BENJAMIN, 1996, p. 202).
Sem querer minimizar a valiosa contribuição que os meios modernos de
comunicação e de informação oferecem à sociedade, é inegável que os idosos são
insubstituíveis nessa função de transmissores de conhecimentos, conhecimentos
esses obtidos graças à experiência e à vivência de longos anos na “escola da vida”,
e que não são encontrados em nenhum manual acadêmico ou site de internet.
Como bem sugere Marilena Chauí, na introdução do livro Memória e
Sociedade, de autoria de Bosi (1987, p. XVIII), “a função social do velho é lembrar e
aconselhar – memini, moneo – unir o começo e o fim, ligando o que foi e o por vir”.
No entanto, a sociedade atual, que visa a produtividade, à competitividade acima de
qualquer coisa, vem desprezando a importância dos idosos em todos os campos de
atuação. E isso acarreta numa perda inestimável para a construção e formação das
novas gerações. Segundo Bosi (1987, p.35), “a sociedade industrial é maléfica para
a velhice, pois rejeita o velho, não oferece nenhuma sobrevivência à sua obra e
afasta-o do trabalho tão logo a sua produtividade diminui”, reforçando o sentimento
de inútil.
Vale ressaltar que essa exclusão dos idosos gera efeitos danosos não só para
os jovens, mas para toda a sociedade, inclusive os próprios velhos, que se sentem
impotentes, improdutivos, com sentimentos que acarretam baixo nível de auto-
estima, ocasionando a patologia considerada hoje o mal do século: a depressão.
Para evitar a exclusão dos idosos e suas conseqüências maléficas diante do
crescimento da população de terceira idade, é preciso que eles sejam valorizados e
reconhecidos quanto à importância do seu papel social, contribuindo, sobretudo, na
formação das crianças e dos jovens, repassando conhecimentos e experiências de
vida, servindo de exemplos para todos.
Tardiamente, medidas têm sido tomadas no intuito de garantir o bem estar
social do idoso bem como: a legalização do Estatuto do Idoso, Lei de nº 10.741/2003
(Anexo A), que dispõe de mecanismos jurídicos a fim de garantir e preservar os
direitos de cidadãos dignos, como consta no Art. 2º;
O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
15
intelectual, espiritual, e social, em condições de liberdade e dignidade.(lei de nº 10.741/2003).
Diante dessa realidade, o governo, a iniciativa privada e a sociedade civil,
articulados, têm realizado ações de valorização e promoção do bem-estar físico
mental e social do idoso, legitimando a dignidade da pessoa humana, como
prioridade no que diz respeito a esse segmento importante da nossa sociedade. O
Art. 3ª do Estatuto do Idoso determina:
É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (Lei nº 10741/2003).
Compreende-se a importância que os idosos exercem perante a sociedade,
na qual são responsáveis pela difusão dos saberes e do papel que desempenham
para dar continuidade ao legado cultural. Para CHALITA (2003), nessa perspectiva, a
contação de histórias, se torna um aliado instrumento no processo do ensino-
aprendizagem para a formação do indivíduo, no intuito de disseminar valores
essenciais aos tempos de hoje como: respeito, afetividade, humanização, ética e
moral.
Segundo Betty (2008):
A arte de contar história também possui segredo e técnicas, sendo uma arte que lida com matéria-prima especialíssima, a palavra, prerrogativa das criaturas humanas, depende, naturalmente, de certa tendência inata, mas pode ser desenvolvida, cultivada, desde que se goste de crianças e se reconheça a importância da história para elas. (BETTY, 2008, p. 09).
Assim percebe-se que os instrumentos mencionados, dos quais os idosos
dispõem, são necessários para tornar a escola um espaço propício para essa
socialização, estabelecendo uma relação entre a memória e a prática de contar
histórias, aprendizagem e afetividade.
2.2 A performance do narrador
Contar uma história é dar um presente de amor. (Lewis Carrol, 1832-1898)
A expressão performance está fortemente marcada por sua prática, cujo
objeto de estudo é uma manifestação cultural lúdica de diversas ordens (conto,
16
canção, rito, dança). As regras da performance estão diretamente ligadas ao
tempo, lugar, finalidade da transmissão, ação do locutor e à resposta do
público. Todos esses elementos implicam em uma presença e uma conduta.
Para Zumthor (2000, p. 219), a performance "refere à realização de um
material tradicional conhecido como tal", ou seja: é o reconhecimento. A
performance realiza, concretiza, faz passar algo que se reconhece, da
virtualidade à atualidade.
A performance pode ser considerada de duas maneiras: cultural ou
situacional. Diante disso, ela aparece como um fenômeno que sai desse
conjunto, e do mesmo modo em que nele encontra lugar. O narrador é aquele
que atingiu a plenitude e, por aí mesmo, ultrapassa o curso comum dos
acontecimentos.
Já para Hymes (1993, p.230), performance é uma conduta na qual o sujeito
assume aberta e funcionalmente a responsabilidade. Essas distinções
recortam, em parte, o propósito do comportamento verbal dos indivíduos no
interior do grupo: certos comportamentos verbais podem ser "interpretados",
outros podem ser contados. A interpretação geralmente faz par com o relato,
mas não existindo um sem outro.
A leitura do texto poético é a escuta de uma voz. O leitor refaz em
corpo e em espírito o percurso traçado pela voz do poeta. O discurso
poético valoriza e explora um fato central, sem o qual é inconcebível, em
uma semântica que abarca o mundo, o corpo, é ao mesmo tempo, ponto de
partida, de origem e referente do discurso. O corpo dá a medida e a
dimensão do mundo. É por isso que o texto poético significa o mundo. É
pelo corpo que o sentido do texto é percebido. Ele leva ao conhecimento o
discurso que sustenta a poesia.
A performance, segundo Zumthor (2000, p. 240), é um jogo, espelho,
desdobramento do ato e dos atores, para além de uma distância gerada por
sua intenção, na qual a voz e o gesto propiciam uma adesão e convencem.
Na hora da performance, o texto se transforma em voz, uma mutação
global afeta suas capacidades significantes, modifica o seu estatuto
semiótico e gera novas semânticas.
17
2.3 Oralidade e Memória
Antes do surgimento da escrita, os conhecimentos eram transmitidos
oralmente. A memória auditiva e visual eram os únicos recursos de que se
dispunham as culturas orais para o armazenamento e a transmissão do
conhecimento para as próximas e futuras gerações. A inteligência estava
intimamente relacionada à memória. Os anciãos eram os mais sábios pelo acervo
cultural e eram considerados como um instrumento de recolhimento de informações
através de entrevistas com pessoas que vivenciaram algum fato ocorrido. Ferreira
(2006) corrobora que:
Ao abordar o fenômeno da oralidade é ver-se defronte e aproximar-se bastante de um aspecto central da vida dos seres humanos: o processo da comunicação, o desenvolvimento da linguagem, a criação de uma parte muito importante da cultura e da esfera simbólica humanas (FERREIRA 2006, p. 15).
A prática da pesquisa oral contemporânea está sendo valorizada nas diversas
áreas do conhecimento, ganhando ênfase nos meios da literatura popular, da
comunicação de massa, na linguística, em exposições de museus e nas
universidades para entender de que forma as tradições podem contribuir
historicamente com as diversidades culturais e assim investigar os elementos
simbólicos, metafóricos, e de relatos orais. Diante das abordagens históricas e suas
análises, Cruikshank (2006) estabelece a ambigüidade nas expressões:
Tradição oral e história oral continuam ambíguas, porque suas definições mudam no uso popular. Às vezes, a expressão “tradição oral” identifica um conjunto de bens materiais preservados do passado. Outras vezes, a usamos para falar do processo pelo qual a informação é transmitida de uma geração à seguinte. “História oral” é uma expressão mais especializada, que em geral se refere a um método de pesquisa, na qual se faz uma gravação sonora de uma entrevista sobre experiências diretas ocorridas durante a vida de uma testemunha ocular (Cruikshank 2006, p.151).
Na ótica de Frisch (1990, p.66), a história oral “assume seriamente a tarefa de
envolver as pessoas na exploração do significado de lembrar e no que fazer com as
memórias para torná-las ativas, e não menos objetos para colecionar e classificar”.
Contudo, para evitar o enfraquecimento dessa linha de pesquisa, Joutard
(2006, p. 25) lança cinco desafios, evitando, porém sua banalização, nos quais o
primeiro trata sobre “a rápida evolução das tecnologias de comunicação, com os
áudios-books e os vídeo-letters e agora a imagem numérica e a multimídia; o
segundo salienta a reflexão ligada aos debates com as disciplinas afins, sociologia,
18
etnologia ou linguística; o terceiro defende como articular melhor e fazer dialogar os
diversos projetos e produções da história oral; o quarto afirma o “descobrimento de
analfabetos” num mundo de civilizações escrita e o ultimo, as situações históricas
extremas que acarretam um profundo traumatismo da memória”.
Diante dessa perspectiva, discutir a importância da memória e do seu resgate
para estabelecer relações com a escola, a família e a comunidade onde a mesma
está inserida é imprescindível, como enfoca Rousso (2006):
A memória, no sentido básico de termo, é a presença do passado. (...) é uma reconstrução psíquica e intelectual que acarreta de fato uma representação seletiva do passado, um passado que nunca é aquele do indivíduo somente, mas de um individuo inserido num contexto familiar, social, nacional. Portanto toda memória é, por definição, “coletiva” (...) seu atributo mais imediato é garantir a continuidade do tempo e permitir resistir à alteridade, ao “tempo que muda”, às rupturas que são o destino de toda vida humana, em suma, ela constituí – eis uma banalidade – um elemento essencial da identidade, da percepção de si e dos outros (...) (ROUSSO 2006, p.94-95).
Bosi (1987) atribui outro conceito à memória dentro dessa perspectiva, que
vem a ser:
A memória é uma função decisiva no processo psicológico total: a memória permite a relação do corpo presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere no processo atual das representações. Pela memória, o passado não só vem à tona como das águas presentes, misturando-se com as percepções imediatas, como também empurra, desloca estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência. A memória aparece como força subjetiva ao mesmo tempo profunda e ativa, latente e penetrante, oculta e invasora. (BOSI, 1987, p.9).
De acordo com esses conceitos, é fundamental incentivar a prática de
contação de histórias na escola para que a partir das mediações e questionamentos,
os alunos conheçam que as histórias devem ser compartilhadas, estabelecendo
relação com a memória, a “história oral” e a história escrita. Com esse exercício,
pode-se compreender o passado, entender o presente e projetar-se ao futuro. Assim,
o ambiente escolar torna-se eficiente para uma aprendizagem significativa,
aproximando o sujeito do seu contexto social, dentre esta perspectiva.
19
3. CAPÍTULO II – A ESCOLA E OS ALUNOS NO CONTEXTO DO BAIRRO
3.1 O espaço escolar e a sua gestão
Pensar na escola como espaço sociocultural implica em resgatar o papel dos
sujeitos e verificar quais as relações que esses estabelecem com a instituição. Para
que se possa compreender esse espaço do ponto de vista cultural, a priori, deve-se
considerar a diversidade dos seus integrantes e as relações entre os atores
históricos e sociais, independente da etnia, gênero, bem como suas funções:
funcionários, professores, alunos e famílias. Enfim, a escola é um local no qual o
cotidiano deve ser entendido como um espaço de processo permanente de
construção social, como pensa Gadotti (1992):
A educação multicultural pretende analisar criticamente os currículos monoculturais atuais e procura formar criticamente os professores, para que mudem suas atitudes diante dos alunos mais pobres e elaborem estratégias próprias para a educação das camadas populares, procurando antes de tudo, compreendê-las na totalidade da sua cultura e da sua visão de mundo (GADOTTI, 1992, p. 22).
A escola Municipal Antônio Euzébio é um prédio de construção antiga com
arquitetura do início do século passado e está situada em rua pavimentada e
arborizada. Esta Instituição foi legalizada pela Secretaria Estadual de Educação
(SEC), Portaria 199 publicado no Diário Oficial de 06/02/81, municipalizada em
Dezembro de 2002, com registro do Regimento Escolar sob portaria de nº 040/03
publicado no Diário Oficial do Município em 03/02/2003 e inscrição do INEP/MEC, nº
29189292.
A escola possui cinco pequenas salas de aula mobiliadas com carteiras,
armário de ferro, mesa de professor, quadro branco, iluminação elétrica e um
ventilador. A ventilação não é satisfatória, apesar das janelas serem grandes (e tão
antigas quanto o prédio), mesmo com a reforma da escola no mês de agosto de
1991.
A escola também possui cozinha, secretaria, sanitários, pátio e uma área
interna, onde as crianças brincam. Na parte de infra-estrutura, observa-se luz
elétrica, telefone, água encanada e bebedouro. Quanto aos recursos técnicos, a
escola dispõe de retro-projetor, laboratório de informática, impressora, televisão,
som, DVD e livros. O corpo funcional é composto por: uma gestora, dez professores,
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uma secretária e uma auxiliar, dois funcionários de serviços gerais e um segurança
com função dupla de porteiro.
Ela atende à comunidade nos turnos matutino e vespertino, oferecendo a
Educação Infantil e as séries iniciais do Ensino Fundamental, totalizando 175 alunos
nas duas modalidades, sendo 23 alunos na Educação Infantil e 152 no Ensino
Fundamental I.
A escola está bem localizada no Cabula, em uma área mais próxima ao Bairro
de Pernambués, que também é um bairro populoso com o comércio intenso,
composto de clínicas médicas, laboratórios, lan houses, posto médico, dentre outros.
Existem pontos de ônibus próximos à escola e as empresas de transporte urbano
disponibilizam diversas linhas de coletivos que facilitam o acesso à mesma, para
alunos, professores e funcionários que moram no bairro e nas adjacências.
A escola recebe alunos de bairros do seu entorno, bairros esses com índices
marcantes de violência devido ao consumo e tráfico de drogas, que repercute na
mídia local e nos relatos e brincadeiras das crianças, durante a sua permanência na
escola, assim como nos relatos dos funcionários da instituição.
Consta na Proposta Política Pedagógica (PPP) dessa escola a sua função
cultural enquanto:
Centro gerador de conhecimento cabe a mediação entre o conhecimento e os saberes elaborados em outros espaços sociais. Esta operação demonstra-se fundamental no processo de construção de identidade que levem em conta as peculiaridades locais e regionais, relacionadas, simultaneamente, com diferentes grupos e nações. (EMAE, 2007).
Com isso, a missão da escola para a comunidade escolar é promover a
interação e a participação de todos nos projetos interdisciplinares, tornando a gestão
democrática e participativa.
Um exemplo disso são os projetos desenvolvidos nesta escola e que estão
disponíveis no site da SECULT (Secretária de Educação, Cultura, Esporte e Lazer),
e no Plano de Ação de 2009, (Anexo B), como “as oficinas que são realizadas com
os pais e alunos uma vez por mês”. Essas atividades contribuem para o
envolvimento da família na vida dos alunos fortalecendo o vínculo entre elas e a
escola. Também foi firmada uma parceria com uma escola de dança, com o objetivo
de estimular a expressão artística e corporal, oportunizando aos alunos em destaque
uma bolsa de estudo nessa instituição.
Outro projeto desenvolvido é referente à pluralidade cultural do universo do
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folclore, utilizando-se de práticas de linguagem e literatura das cantigas de roda,
quadras populares, trava-línguas, ditos populares, adivinhações, e parlendas que,
segundo o dicionário Aurélio Buarque, são “rimas infantis, em versos de cinco ou
seis sílabas, para divertir, ajudar a memorizar, ou escolher quem fará tal ou qual
brinquedo”. Ex.: “Amanhã é domingo / pé de cachimbo”; “Um, dois, / feijão com
arroz”. Além dos citados, há o projeto de Educação Ambiental, com visita ao Parque
de Sauípe, praticando caminhadas, trilhas, observando a fauna e com visitação aos
espaços com artesanatos, tendas, casa de farinha e olarias com direito a observar o
processo de produção. Ao final, os alunos assistiram palestras sobre o racionamento
de água e consumo de energia.
No período de 16 a 19 de outubro de 2008, na Unidade Escolar, aconteceu a
Mostra de Artes: fotografia, poesias, dança, colagens, teatro, painéis fotográficos,
esculturas e músicas, através de reprodução e criação de obras de artes
confeccionadas pelos alunos.
Ainda no PPP, a gestão procura trabalhar os princípios da Constituição
Federal do Brasil de 1988, que determina:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Art. 205).
Nesse sentido, a gestão da referida escola, busca respeitar os princípios das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que no Art. 3º, reza os
três Fundamentos norteadores: “princípios éticos, da autonomia, da
responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum; políticos, dos
direitos e deveres de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem
democrática; e princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e
da diversidade de manifestações artísticas e culturais”, tendo em vista contribuir para
o desenvolvimento psicossocial e afetivo da criança.
Além disso, atualmente, está em andamento o projeto da Construção do
Memorial da Escola, incentivando a pesquisa e promovendo eventos com alunos
antigos, para socializar suas experiências e descobrir há quantos anos, de fato, a
escola foi fundada, resgatando a sua história.
Preocupada com as condições estruturais, a direção elaborou uma lista para
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colher assinaturas e enviar à Prefeitura solicitando a desapropriação do terreno
vizinho, para reformar, ampliar ou até mesmo, construir um novo espaço físico que
atenda às suas necessidades.
Diante da atuação da comunidade escolar, a instituição Antônio Euzébio foi
contemplada, juntamente com mais trinta e oito escolas municipais, com o prêmio
Selo Solidário, concedido pelo Instituto Faça Parte. A obtenção do reconhecimento
de seu trabalho por esse instituto foi uma grande conquista para a Escola. Como
reconhecimento e gratidão por sua valorização acadêmica, divulgou-se a seguinte
nota:
Trinta e oito unidades de ensino da rede municipal receberam o SELO SOLIDÁRIO, concedido pelo Instituto Faça Parte. O Faça Parte acredita na força transformadora da educação e confia no potencial das escolas, no envolvimento do professor e, especialmente, na capacidade do jovem em ser um protagonista da sua própria história. O FAÇA PARTE investe na importância da ESCOLA SOLIDÁRIA, pois além da família, a escola é uma instituição presente na vida das crianças, trabalhando com ênfase no desenvolvimento dos saberes escolares e na formação de valores (SECULT, 2008).
A escola precisa contribuir no processo de transformação do homem e, como
conseqüência, colaborar com a emancipação e a conquista da autonomia,
possibilitando aos alunos exercício pleno da cidadania para que possam tornar-se
sujeitos históricos assumindo um papel ativo na sociedade.
Com essa concepção, a gestão da escola busca estar ciente da sua função
em assumir e preparar os alunos para dar continuidade ao processo de
aprendizagem, mesmo depois que deixarem a escola. Desenvolver a capacidade de
"aprender a aprender" torna-se indispensável na sociedade atual, na qual a ciência e
o conhecimento devem caminhar juntos.
Um dos fatores principais para o êxito educacional é conhecer a realidade
desses sujeitos e do local onde a escola está inserida, o que faz concordar com
Freire (2006):
A importância inegável que tem sobre nós o contorno ecológico, social, e econômico em que vivemos. E ao saber teórico desta influência teríamos que juntar o saber teórico-prático da realidade concreta em que os professores trabalham. Já sei, não há dúvidas, que as condições materiais em que vivem os educandos lhes condicionam a compreensão do próprio mundo, sua capacidade de aprender, de responder aos desafios. (Freire, 2006, p.137).
Nesse contexto, é necessário conhecer o bairro do Cabula, adjacências e o
entorno da escola, fator que influência diretamente na educação, no ensino e na
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aprendizagem dos alunos. Para a realização desse trabalho foi necessário pesquisar
este contexto social da escola, do bairro, dos alunos, da turma e da professora.
3.2 Uma viagem do Kimbula ao Cabula
Dra. Yeda Castro (2001), em sua tese de mestrado, discorre que o nome
Cabula ou Kimbula é uma palavra de origem banto das línguas kicongo.
Os primeiros ancestrais africanos que aqui chegaram a Salvador, no final do
século XVI e se estenderam até o século XVII, foram de origem banta. Foram
trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar do Recôncavo e nas aldeias de
Salvador. Estes eram oriundos do império Congo e do reino de Ndongo, os povos
bacongo e ambundo.
Muitos deles se rebelaram e formaram territórios de quilombos. E o Cabula,
por apresentar área montanhosa e com uma rica e densa mata atlântica,
apresentava depressões para fazer esconderijos e elevações para construir
vigilância. Atualmente o Cabula ainda apresenta esta topografia em quase todas as
comunidades que o constituem.
Não se pode afirmar em que século o Cabula começou a tomar feições
quilombola. A região serviu de esconderijo para escravos fugitivos que formavam o
chamado Quilombo do Cabula, o que explica a origem do nome do bairro, a forte
herança africana representada pelos inúmeros terreiros de candomblé existentes no
local e o chão resguarda relíquias patrimoniais.
No século XIX, o local também abrigava em suas matas várias roças,
fazendas produtoras de laranja e pouso de descanso dos barões, viscondes, menos
do negro que foi o primeiro a pisar neste solo, depois do indígena brasileiro.
Com a extinção das fazendas de laranja, teve início o processo de
crescimento do Cabula, a evolução do sistema de transportes e o aumento da
população na cidade de Salvador, exercendo forte influência sobre esse
crescimento. Na década 70, o processo de urbanização tornou-se mais intenso, as
antigas fazendas foram sendo vendidas e divididas em lotes menores e em pouco
tempo as áreas verdes do bairro foram substituídas por conjuntos habitacionais e por
invasões.
O Cabula é um dos maiores bairros populares de Salvador, com uma
população de 47 mil habitantes, e cerca de treze mil residências (ano 2000 - IBGE),
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limita-se ao Norte, com São Gonçalo do Retiro; ao Sul e Leste com o Pernambués e
a Oeste com Pau Miúdo, além de englobar as localidades de Tancredo Neves,
Engomadeira, Mata Escura, que também são considerados Cabula. Esses limites
foram fornecidos pelos próprios moradores já que não existe uma delimitação oficial
para o bairro.
A ladeira do Cabula, onde a escola encontra-se localizada, tem como
ramificações as três principais avenidas: a Avenida Antônio Carlos Magalhães, a
Avenida Tancredo Neves e a Avenida Paralela. Possui uma das áreas de Salvador
com maior extensão da Mata Atlântica. Neste bairro está localizada a estação
principal do Metrô de Salvador, que ainda está incompleta. Há grandes
empreendimentos no entorno destes bairros, como o Shopping Salvador, o Horto
Bela Vista, o Alphaville Salvador, o Shopping Paralela, a sede da Oi (antiga
Telemar), a sede da Vivo Nordeste.
O bairro possui o segundo maior pólo comercial de Salvador, que é a Estrada
das Barreiras, onde está localizada a Universidade do Estado da Bahia (UNEB). A
Estrada das Barreiras, uma longa avenida que percorre o bairro do Cabula, possui
quase metade da economia produzida no bairro, tornando-se, assim, um ponto de
suma importância.
Nesse panorama, os alunos atendidos nesta Unidade Escolar são filhos de
trabalhadores das classes populares: pedreiro, carpinteiro, empregada doméstica,
autônomo, gari, catador de material reciclado, funcionário de empresa privada, um
número reduzido de trabalhador liberal.
3.3 Sujeitos da pesquisa
A turma observada desde 2008, em um Projeto de Pesquisa “Aprendiz de
Contador: Histórias de Vida, Narrativas e Ficções no Ensino Fundamental”1, dentro
do qual se insere o Subprojeto “Memorial Antônio Euzébio”, que tem como objetivo
formar estudantes pesquisadores e divulgadores dos legados históricos e culturais
de sua comunidade, possibilitado pela construção da Memória escolar e, dessa
forma, constituir alternativas metodológicas para o letramento no Ensino
Fundamental. O projeto mencionado tem como referências os eixos temáticos
1 O Projeto “Aprendiz de Contador: Historias de vida, Narrativas e Ficções no Ensino Fundamental” é coordenado pela Profa. Dra. Maria Antonia Ramos Coutinho e Profa. Lucinete Chaves de Oliveira, ambas do DEDC-I, UNEB.
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escola, histórias de vida, narrativa e memória.
Os sujeitos dessa pesquisa cursam o 4º ano do Ensino Fundamental, no turno
vespertino, os quais compõem a turma de 17 alunos com faixa etária entre oito e
onze anos. Esse contato prévio colaborou para a escolha da escola e com o tema da
pesquisa, que pretende investigar a rede de relacionamentos entre a memória a
contação de histórias por idosos, e como a mesma pode ser instrumento para
desenvolver a curiosidade, a imaginação, a criatividade e a valorização dos idosos.
O contato entre os alunos e a escola foi fundamental para perceber e
desenvolver a escuta sensível, que Barbier (2003) define da seguinte forma:
A escuta sensível se apóia na empatia. O pesquisador deve sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro, para poder compreender de dentro de suas atitudes, comportamentos e sistemas de idéias, de valores, de símbolos, de mitos. A escuta sensível reconhece a aceitação incondicional de outrem, o ouvinte sensível, não julga, não mede, não compara. Entretanto, ele compreende, sem aderir ou se identificar às opiniões dos outros, ou ao que é dito ou feito. A escuta sensível pressupõe uma inversão de atenção. Antes de situar uma pessoa em seu lugar começa-se por reconhecê-la em seu ser. Ela é multireferencial. (BARBIER, 2003, p. 1).
Dessa maneira, acredita-se que a escuta sensível contribui para as análises
das questões levantadas sobre o desenvolvimento da memória, da curiosidade,
imaginação e da reflexão dos alunos acerca do que foi abordado.
Foi observado que as crianças possuem um nível de participação e de
relacionamento considerado bom, apesar das ocorrências de conflitos ocasionais
que envolvem os interesses e conduta da idade. Quanto ao nível de alfabetização,
todos sabem ler e escrever, cada um com seu jeito próprio de ser e de aprender. Isto
se evidencia quando as atividades desenvolvidas são coletivas: de produção textual
em grupo, dramatização, em que ocasiona a competição de quem escreve melhor,
ou quando a leitura acontece em voz alta, sempre vêm os comentários “ele não sabe
ler”, ou “lê baixo”.
Em uma dessas situações observadas, não houve intervenção para controlar
o grupo, para evitar que os alunos que sofreram com as “brincadeiras” ficassem
constrangidos e com baixa auto-estima. Faltou, por parte da educadora, uma postura
que envolvesse a turma na atividade, e refletisse sobre a sua conduta nesse caso, o
diálogo é um elemento indispensável como mediador das situações que envolvam
grupos e equipes, interferindo de maneira que minimize os conflitos sociais.
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3.4 Agente de transformação
A professora, regente da turma de 4º ano do Ensino Fundamental da Escola
Municipal Antônio Euzébio, é graduada pela Universidade Federal da Bahia, e atua
em sala aula há 10 anos, atualmente está fazendo pós-graduação.
Diante das observações realizadas em sala de aula, percebe-se que o
desempenho da professora é satisfatório. Por ela acompanhar essa turma em anos
anteriores, possui conhecimento quanto ao desempenho cognitivo e social de cada
um dos alunos. Dessa maneira, a mesma procura dar significado pedagógico ao que
é trazido pelas crianças, possibilitando aos alunos o direito à escolha do livro de
literatura porque demonstrem mais interesse, em uma prática denominada “roda da
leitura”. Por fim, os alunos indicam as obras lidas no mural com o “slogan”: “Li,
gostei, recomendo”, logo a contação de história dá-se através dos livros literários.
Conforme as datas comemorativas e os acontecimentos atuais que são
veiculados pelas mídias, essas temáticas são trabalhadas em sala de aula, além dos
conteúdos abordados, como por exemplo: a comemoração do dia do folclore, na
qual foi trabalhado o texto trazido pela professora. Mas, o ideal seria a escolha dos
textos pelos alunos para ressignificar a sua própria história. Em outro momento, a
escola realizou uma passeata pela paz, uma manifestação necessária porque traduz
a realidade dos alunos que residem em locais de alto índice de violência. Dessa
forma, a aprendizagem torna-se mais eficaz e significativa.
A docente realiza práticas leitoras diversificadas de textos que contribuem no
desenvolvimento da imaginação, da fantasia, itens fundamentais para despertar o
prazer e o incentivo à leitura. Ela realiza questionamentos dos conhecimentos
prévios dos alunos e do material a ser lido. Posteriormente, ocorrem a discussão, a
reflexão e o incentivo à produção de texto, explorando vários elementos textuais,
como a contextualização de problemas enfrentados no cotidiano dos alunos
referentes a valores morais e éticos. Outro recurso é a utilização de letra de música,
destacando os conteúdos por meio de pesquisa em dicionário, escrita no caderno e
apontar os diversos estilos musicais.
Diante das observações, percebe-se que a professora desenvolve suas
atividades de forma interdisciplinar, aproveitando as experiências dos alunos,
valorizando-os e respeitando-os.
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4. CAPÍTULO III – A SESSÃO DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS PELA IDOSA NA
ESCOLA ANTÔNIO EUZÉBIO
Esse capítulo tem como objetivo descrever as ações e analisar, por meios dos
dados obtidos na pesquisa, como a contação de histórias por uma idosa em sala de
aula pode contribuir no desenvolvimento da imaginação, criatividade e da
curiosidade, a partir da recepção dessas histórias, pelos alunos da Turma de 4º ano
do Ensino Fundamental I da Escola Municipal Antônio Euzébio no bairro do Cabula.
No início do projeto, foram muitas as dúvidas sobre o tema e o seu recorte. A
angústia e as dificuldades, com o passar do tempo e otimismo, transformei em
desafios que contribuíram para o meu aprendizado através das três fases mais
relevantes da vida: a criança, a vida escolar e a velhice. Aprendi com as crianças,
ganhei experiências com as idosas e o contacto com a escola foi necessário para
“ver para crer” e refletir sobre a união teoria e prática.
Essa práxis me proporcionou, nesse estágio em que me encontro, à luz de
Paulo Freire, no que se refere ao “aprendendo a aprender” gostar do processo de
pesquisa: ler e escrever, instrumentos indispensáveis para a construção dessa
monografia, que faço analogia a uma gestação seguida do parto.
Na proposta metodológica inicial, três idosas contariam histórias em dias
diferentes. Em seguida, após cada sessão, seriam aplicadas atividades como
dramatização, reconto oral e escrito acompanhado de uma pergunta final; você
sugere mudar ou não o desfecho da história? Conforme (Apêndice B). Todavia,
aconteceram imprevistos ao longo dessa pesquisa: os professores da rede municipal
de ensino entraram em greve, que perdurou aproximadamente sessenta dias e
prejudicou o roteiro que havia programado. Além disso, a turma do 4º ano foi
preparada nas duas aulas anteriores para receber a idosa D. Leonor, que iria
desenvolver na escola uma sessão de contação de história. Além de responderem a
dois questionários, um para conhecer a relação e sobre a convivência com idosos,
de acordo com o (Apêndice A) e um segundo questionário sociocultural para
conhecer o perfil da turma fora dos muros escolares.
No sábado, momento do estudo de caso, esta turma recebeu a companhia
inesperada de outra turma do vespertino. Portanto, realizamos a atividade com as
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duas turmas de 4º ano do turno matutino e vespertino que, no entanto, totalizavam
apenas doze alunos (as), dos quais apenas cinco estiveram presentes durante todos
os momentos (preparação prévia) e responderam aos questionários. Logo, foi nessa
amostra que fiz o estudo de caso. A baixa freqüência de alunos aos sábados dificulta
a reposição das aulas necessárias à contemplação dos dias letivos determinados
por lei.
Os alunos que não tiveram conhecimento do que iria acontecer, ao entrarem
na sala, ficaram surpresos com a nossa presença, os que sabiam ficaram curiosos,
outros alegres por não ter aula com a professora do dia a dia, alguns ansiosos pela
novidade e curiosos para começar a sessão de contação.
Como propõem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua
Portuguesa, deve-se observar o aluno ao recontar oralmente uma história que ouviu,
leu, presenciou e participou, obedecendo a uma seqüência cronológica dos fatos;
além de estabelecer a relação existente entre eles, e manter as características
lingüísticas de acordo com a situação sociocomunicativa em que está inserido.
De acordo com Bosi (1987, p.36), “o narrador conta o que ele extrai da
experiência – sua própria ou aquela contada por outros, e, de volta, ele a torna
experiência daqueles que ouvem a sua história”. Nesse aspecto, será necessário
ressaltar a importância da literatura, da linguagem oral e escrita para incentivar a
pesquisa por contadores de história na família e na comunidade, assumindo o seu
papel de narrador, como define Betty (2008):
A força da história é tamanha que narrador e ouvintes caminham juntos na trilha do enredo e uma vibração recíproca de sensibilidades, a ponto de diluir-se o ambiente real ante a magia da palavra que comove enleva. A ação se desenvolve e nós participamos dela, ficando magicamente envolvidos com os personagens, mas sem perder o senso crítico, que é estimulado pelos enredos. (BETTY, 2008, p.11).
Os narradores geralmente iniciam a contação de histórias descrevendo as
circunstâncias em que os fatos acontecem, além de preferirem atribuir a essa
história elementos de sua experiência autobiográfica.
4.1 A contadora em ação
Entra em ação a contadora de história D. Leonor, 78 anos, conhecida como D.
Nany, mãe de onze filhos, avó de 50 netos e bisavó de 22 bisnetos. Nasceu em Cruz
das Almas, interior da Bahia, de família simples, estudou até o 5º ano, e para dar
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continuidade aos estudos seria necessário ir à Feira de Santana ou Salvador, o que
não foi possível por falta de condições econômicas. Durante sua juventude,
enquanto morava em Cruz das Almas, cidade conhecida pelo cultivo do fumo, ela
trabalhava em uma importante fábrica de charutos, profissão relevante para
desenvolver habilidade para contar história. A esse respeito, são importantes as
considerações de Bosi (1987, p.392), quando sugere que “[...] os ofícios que exigiam
destreza é com gosto que se detenham para recordar seus gestos e sua perícia”, e é
com satisfação que ela recorda como trabalhava com o fumo, transformando-o em
charutos de sucesso nacional e internacional. Compreendemos que esse é um
ambiente e uma atividade propícia para esta arte, a contação de história.
Em outro momento, ela descreve o cenário familiar, o local, quem contava e
de que maneira acontecia essa prática milenar da contação de histórias. Portanto,
em sua tradição, era habitual ouvir casos e histórias em casa. Filha de costureira,
Dona Nany conta detalhadamente como sua mãe costurava na máquina manual e
simultaneamente cantava cantigas, contando histórias do tempo em que costurava
suas bonecas, situação que exigia atenção e habilidade que contribuíram para
herdar essa arte.
Durante a contação de suas histórias – História da Coca e do Rei – a
recordação foi aflorando como se ela estivesse vivendo aquele momento. Dona
Nany conta que foi tomada pela vontade de repetir os gestos e transmitir seus
conhecimentos para quem lhe escutava.
Nessa atuação, foi observado o desempenho oral e gestual do narrador e dos
alunos referente à voz, ao vocabulário, à entonação, à dialogicidade, além de
acompanhar a expressão, a gestualidade, a consciência corporal e as atitudes. A
dinâmica metodológica usada com os alunos foi o reconto oral e escrito, no qual
foram analisadas a estrutura textual, a coesão e a coerência e, através dos dados,
se verificou se os objetivos foram alcançados.
A pesquisa de campo, centrada nos objetos de estudo – a escola, a criança e
o idoso – pôde-se revelar a importância de investigar a realidade escolar, antes de
proceder a um julgamento sem conhecer o contexto que é fundamental para
compreender as relações que os sujeitos estabelecem diante da perspectiva ensino-
aprendizagem, no que concerne aos aspectos sociais, políticos e culturais.
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Durante a apresentação da contadora, os alunos começaram a interagir com
D. Nany durante a atividade proposta. Logo quando a contadora disse que tinha
onze filhos, os alunos se espantaram com a quantidade, porque em suas vivências,
as famílias têm de dois a quatro filhos, em média. Esses dados foram confirmados
no questionário aplicado aos alunos, após a apresentação. As respostas indicam
que, mesmo nas camadas de menor poder aquisitivo, a quantidade de filhos é
reduzida. Esse é o perfil da estrutura familiar dos alunos da turma do 4º ano. Um
exemplo é o comentário deles: “Ah! Eu prefiro ser sozinho, porque tudo que minha
mãe comprar vai ser para mim”; já outra menina falou: “Eu prefiro família de um ou
de dois filhos”. Percebe-se que a primeira resposta possibilita refletir sobre a
sociedade capitalista atual, da indústria e do consumo teleguiado pela mídia e pela
globalização, como aponta Milton Santos (2001, p.19), na introdução do texto “Por
outra globalização”, quando se refere ao mercado de consumo:
Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado. (SANTOS, 2001, p.19).
Esta questão do consumo está presente nos discursos dessas crianças,
principalmente no que se refere à produtos ligados à tecnologia e à valorização dos
modelos mais atuais, conhecidos como “ponta de linha”, cuja importância é dada às
novidades despejadas no mercado e divulgadas com rapidez pela mídia.
Quanto à segunda fala da aluna, que prefere uma família com um ou dois
filhos, é revelado um retrato da família contemporânea; o resultado da pesquisa do
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, nos últimos dez anos, aponta
que o índice de mulheres que continuam tendo filhos está cada vez menor2.
Embora o IBGE informe que as regiões Norte e Nordeste tenham sofrido um
aumento no número de filhos por família, a amostragem dessa pesquisa demonstrou
o contrário, uma vez que, de cinco famílias, apenas uma possui cinco filhos, duas
possuem dois filhos e as outras duas moram com pessoas de laços consangüíneos
2Segundo pesquisa do IBGE, PNAD-Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1996/2006, entre 1996 e 2006, praticamente se manteve em 63% a proporção de mulheres em idade reprodutiva (15 a 49 anos de idade) com filhos nascidos vivos. Por outro lado, a redução do número de filhos por mulher tem sido um aspecto marcante. Regionalmente, os indicadores apresentaram grandes variações: as Regiões Norte e Nordeste sofreram um aumento de 4,2 pontos percentuais e 2,2 pontos percentuais (p.p.), respectivamente, na proporção de mulheres com filhos, e para as demais regiões verificou-se uma queda, com destaque para o Sul, cuja redução foi de 2,7 p.p.
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que é denominada pelo IBGE como Arranjos familiares3.
Diante dessa realidade, é compreensível o espanto dos alunos ao ouvir D.
Nany dizer que tinha onze filhos.
Após a intervenção das crianças, ela comentou que mesmo assim gostava de
ter família grande, falou das reuniões de família nos finais de semana, em que
acontecem os encontros, as rodas que se formam para contar e ouvir histórias, que
Ricoeur (2001, p.290) comenta sobre a cultura viva:
Só a cultura viva, ao mesmo tempo fiel às suas origens e em estado de criatividade no plano da arte, da literatura, da filosofia, da espiritualidade, é capaz de suportar o choque das outras culturas, e não somente suportá-la, mas dar sentido a tal encontro (RICOEUR, 2001. p. 290).
A citação acima possibilita ampliar nossa compreensão sobre o prazer de D.
Nany quando fala do almoço em família durante os finais de semana, uma cena que
atualmente, em Salvador, não é comum nos lares, pois seus componentes tiveram
que entrar para o mercado de trabalho e os horários de que dispõem dificilmente se
combinam, já que a carga horária destinada ao trabalho não permite almoçar em
casa. Nos finais de semana, quando se tem algum tempo disponível, ele é usado
para organizar a próxima semana e o contato familiar vem diminuindo cada vez
mais. Nessa perspectiva, a redução do contato pessoal com os idosos é outro fator
que contribui para diminuir a tradição da contação de histórias nas residências.
Para Ricoeur, a tradição cultural não pode morrer, dependendo, então, da
presença de um sábio ou de um transmissor de conhecimento para propagá-la,
conforme vejamos:
Uma cultura morre a partir do instante em que deixa de renovar-se, de recriar-se; é preciso que se erga um escritor, um pensador, um sábio, um líder espiritual para tornar a dinamizar a cultura e pô-la de novo à prova em aventura e um risco total. (Ricoeur, 2001, p. 288).
Nessas circunstâncias, vale destacar a importância de valorizar e resgatar os
contadores de histórias para que essa arte não morra.
No decorrer da contação, os alunos permaneceram atentos, mas um dos
3 Arranjos familiares nos quais existam laços de consangüinidade, dependência econômica e/ou residência em um mesmo domicílio, e, também, grupos distintos de pessoas que habitam o mesmo domicílio.
32
fatores que tirou a atenção deles foram os ruídos externos, pois a parede da sala de
aula não se estende até o teto, por isso, qualquer barulho tira a atenção e a acústica
da sala não contribui para concentração dos alunos. Apesar dessas condições
desfavoráveis no desenrolar da história, a narradora foi aumentando o ritmo da voz,
retomando a atenção dos alunos e mesmo com o barulho externo, todos ficaram
atentos à história e o evento superou a expectativa. De repente, um dos alunos
tomou a iniciativa e transmitiu um recado, que passou de ouvido a ouvido, para, ao
final da contação, aplaudir Dona Nany.
Contação de Histórias, Dona Nany, Escola Municipal Antônio Euzébio. Fotografia Digital:
Gilda Santiago, em 06/2009 – Tamanho 1,78 MB – Imagem JPEG.
Quando ela terminou, os alunos perguntaram: – Quem contou para a senhora
essas histórias? – E ela respondeu: – É tradição de família, aprendi com a minha
avó e com minha mãe.
Os alunos mostraram-se ansiosos e entusiasmados pela história da Coca,
mesmo sendo uma história que já conheciam, demonstrando o prazer em ouvir D,
Nany. Essas expressões e atitudes são normais da idade como define Betty (2008,
p.16):
Os pequenos solicitam várias vezes a mesma história e a escutam sempre com encanto e interesse. É a fase do “conte de novo, conte outra vez”. Por que a mesma história? Da primeira vez tudo é novidade; nas seguintes, já sabendo o que vai acontecer, a criança pode se identificar mais ainda, apreciando os detalhes. Igual reação pode acontecer com o adulto ao ler um bom livro ou ao assistir a um filme que lhe agrade. Relê. Revê. O
33
prazer se renova (BETTY 2000, p.16).
Durante a sessão da contação, os alunos permaneceram atentos, procuraram
a melhor posição e foram se acomodando. Muitos se sentaram no chão, intervindo à
medida que a história era contada e cantada, diferente da versão que eles
conheciam.
Contação de Histórias, Dona Nany, Escola Municipal Antônio Euzébio. Fotografia Digital: Gilda Santiago, em 06/2009 – Tamanho 1,78 MB – Imagem JPEG.
A história citada conseguiu atingir alto nível de participação dos alunos, que
acompanharam a narradora, tornando-se um momento divertido e prazeroso. Antes
de iniciar e ao terminar de contar uma história popular, usa-se a expressão: “era uma
vez...”, no caso de D.Nany ela começou a narrar a história popular com:
Um dia, um dia se foi. Quem não tem cavalo monta num boi!
Era uma vez um menino pobre que morava com sua mãe. Uma vez ele chegou em casa e perguntou à mãe: – Minha mãe, o que tem aí para a gente comer ?
– Meu filho, não tem nada para a gente comer. Então ele respondeu: – Não se preocupe, pois eu vou aqui e volto já.
Ele foi caçar, caçou uma coca. Trouxe para casa e entregou a sua mãe para ela cozinhar. Então ela disse que não tinha tempero, ele saiu e foi providenciar os temperos. Então ela foi cozinhar a coca do jeito que sabia. Quando ela terminou de aprontar, provou e achou que estava gostosa então, ela foi comendo, comendo, provando. Quando o filho chegou para comer só tinha um bolinho de pirão, então ele perguntou:
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– Minha mãe, cadê a minha Coca? Ela disse: – Oh! Eu fui provando, provando, provando e já comi tudo, mas tenho esse pouquinho de andu. O menino ficou olhando a comida, daí então ele jogou o angu na parede e a parede comeu, então ele perguntou:
– Parede, me dê meu angu, angu que minha mãe me deu. Minha mãe comeu minha coca, coca ricoca que o laço me deu.
Coca ricoca que o laço me deu – Repete.
A parede, então deu um pedaço de sabão e ele saiu com o sabão, encontrou com uma senhora lavando roupa sem sabão, ofereceu o sabão e ficou esperando. A lavadeira lavou com o sabão e acabou. Então ele novamente perguntou:
– Lavadeira, me dê meu sabão, sabão que parede me deu. Parede comeu meu angu, angu que minha mãe me deu. Minha mãe comeu minha coca, coca ricoca que o laço me deu.
Coca ricoca que o laço me deu – Repete.
A lavadeira deu uma calça para ele. Quando saiu encontrou um senhor todo rasgado que fazia cesto, ele pegou a calça deu a calça ao homem e o mesmo vestiu, foi para o mato pegar cipó para fazer o cesto, quando ele voltou, veio todo rasgado. Novamente, o menino perguntou:
– Seu homem, me dê minha calça, calça que lavadeira me deu. Lavadeira, me dê meu sabão, sabão que parede me deu. Parede comeu meu angu, angu que minha mãe me deu. Minha mãe comeu minha coca, coca ricoca que laço me deu.
Coca ricoca que o laço me deu – Repete.
O homem deu um cesto. Ele sai com o cesto na mão e encontra com uma senhora vendendo pão na roupa, porque ela não tinha onde guardar os pães, daí ela colocava na blusa e vendia os pães. Então o menino dá a cesta à senhora, mas quando ela colocou os pães na cesta, o fundo soltou. E ele perguntou:
– Mulher, me dê meu cesto, meu cesto que o homem me deu. O homem rasgou minha calça, calça que lavadeira me deu. Lavadeira, me dê meu sabão, sabão que parede me deu. Parede comeu meu angu, angu que minha mãe me deu. Minha mãe comeu minha coca, coca ricoca que o laço me deu.
Coca ricoca que o laço me deu – Repete.
A mulher deu os pães e ele saiu, encontrou uns meninos e notou que eles estavam com fome. Então ele deu os pães, os meninos comeram e logo em seguida perguntou-lhes:
– Meninos, cadê meus pães? Pães que a mulher me deu. O pão que estava no cesto, cesto que o homem me deu. O homem rasgou minha calça, calça que lavadeira me deu. Lavadeira, me dê meu sabão, sabão que parede me deu. Parede comeu meu angu, angu que minha mãe me deu. Minha mãe comeu minha coca, coca ricoca que o laço me deu.
Coca ricoca que o laço me deu – Repete.
A mãe dos meninos deu um cacho de banana, ele encontra os macacos, e os macacos comem todas as bananas. Ele pergunta aos macacos:
– Macacos, me dê minhas bananas, bananas que a mulher me deu. Meninos me dêem meus pães, que a mulher me deu. Os pães estavam no cesto, cesto que o homem me deu. O homem rasgou minha calça, calça que lavadeira me deu. Lavadeira me dê meu sabão, sabão que parede me deu. Parede comeu meu angu, angu que minha mãe me deu. Minha mãe comeu minha coca, coca ricoca que o laço me deu.
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Coca ricoca que o laço me deu – Repete.
Então, o macaco estava com um bandolim e entregou ao menino, então ele saiu tocando.
Bingo, bingolino, acabou-se a história, bingo bigolino, acabou-se a história.
Mesmo com a entrada da professora na sala de aula, eles não desviaram a
atenção. O grupo permaneceu bastante “ligado”, com os olhos fixados na contadora
de histórias. Cantaram com entusiasmo o trecho musicado que foi memorizado
imediatamente. Ao final da história, bateram palmas. Essa narrativa conseguiu atingir
os quatro elementos da história: a introdução, o enredo, o clímax e o desfecho,
marcadores que Betty (2008) considera como estrutura da narrativa.
A atividade de enriquecimento e a dramatização aplicada após a história
contada funcionaram como eixo norteador para observar o desenvolvimento das
tarefas e das reflexões dos educandos sobre a prática da contação de histórias por
uma idosa em sala de aula. Segundo Betty (2008), “a história não acaba quando
chega ao fim, ela permanece na mente das crianças, que a incorpora como um
alimento de sua imaginação criadora”. Nesse clima de euforia, iniciou-se a
dramatização da história da Coca.
4.2 Atividades desenvolvidas após a contação de histórias
Alunos da Escola Municipal Antônio Euzébio dramatizam a “historia da coca” contada por
Dona Nany. Fotografia digital, Imagem JPEG, Gilda Santiago, 07/2009.
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Logo após a contação, perguntamos quem queria participar da dramatização.
A resposta foi unânime, todos se candidataram. Foi uma participação surpreendente.
Houve embate na escolha dos personagens. Depois dos acordos feitos, foram
anotados os nomes dos personagens no quadro. Os alunos permaneceram em pé,
não arredaram do lugar com receio de que alguém tomasse posse do seu
personagem. Então, falavam do papel que haviam escolhido e sinalizavam
escrevendo seu nome. Assim, decidiram escolher Gilda para ser a “Coca” e
D.Leonor continuava sendo a narradora que, algumas vezes, lembrava-lhes a
sequência dos personagens.
Alunos da Escola Municipal Antônio Euzébio dramatizam a “historia da coca” contada por Dona Nany,
fotografia digital, Imagem JPEG, Geisa Cândida, 07/2009.
O enredo dessa história contribuiu para uma boa dramatização, porque é uma
repetição musicada, facilitando a memorização dos fatos. Não precisou de ensaio,
nem roupas caracterizadas, os ouvintes assumiram papéis com os quais se
identificaram, criando estratégias para o desenrolar da peça teatral.
Com esses momentos, foi possível perceber como a contação de histórias por
uma idosa em sala de aula pode ser importante para desencadear a criatividade e a
reflexão, além de ser instrumento para lidar com alunos tímidos, retraídos,
hiperativos. Enfim, existem papéis para todos assumirem, mesmo que não sejam
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protagonistas, podem assumir a posição de figurante ou coadjuvante. O importante é
que eles interagiram entre si com harmonia. Em seu texto, BETTY (2008, p.61) cita
Alicia Prieto que reforçam algumas dessas observações:
A história contada tem a vantagem de oferecer, num plano de idealização estética, a oportunidade de um jogo emocional, que, ao lado da aprendizagem condicionadora da conduta, terá sua função terapêutica. A ocasião está dada e cada um faz sua própria terapia. Nunca saberemos que cargas emocionais perturbam nossos pequenos, nem atinaremos em medir as ressonâncias subjetivas que poderão ser provocados por esse jogo simbólico que, no fundo, toda história esconde (BETTY, 2008, p.61).
Assim, os relatos e as observações feitos após a contação de história são de
suma relevância para a análise, a sistematização e a avaliação dos materiais
recolhidos, como os depoimentos e os questionários, e comportamentos para
entender as ações de cada ouvinte.
A segunda história contada foi a do Rei, com a temática do preconceito racial,
selecionada com a intenção de discutir o que estava sendo veiculado na mídia
mundial com a morte do Astro Pop Star, Michael Jackson, o qual passou por
diversas cirurgias plásticas, modificando-se esteticamente.
Segundo Betty (2008), existem diversos indicadores para escolher a história,
dentre eles, um dos principais é o “conhecimento dos interesses predominantes em
cada faixa etária”. Essa é uma especificidade tratada por diversos autores, assim
como, pelas editoras, que oferecem catálogos para orientar o público que se utiliza
da prática da contação de história. Portanto, Betty destaca um quadro a partir do
qual se pode observar “o que contar” e a “quem contar”. Ela organizou uma seleção
na qual cruza idade e interesses:
Pré-escolares até 3 anos: fase pré mágica, histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza (humanizados) histórias de crianças. De 3 a 6 anos: fase mágica, história de repetição e acumulativas (Dona Baratinha, A forminguinha e a neve etc.) histórias de fadas. Escolares: 7 anos histórias de crianças, animais e encantamento, aventuras no ambiente próximo: família, comunidade, histórias de fadas; 8 anos, histórias de fadas com enredo mais elaborado, histórias humorísticas; 9 anos histórias de fadas, histórias vinculadas à realidade, 10 anos em diante aventuras, narrativas de viagens, explorações, invenções, fábulas, mitos e lendas. (BETTY, 2008 p.15)
O motivo de ter selecionado a história do rei foi seguindo a orientação de
Betty, ou seja, respeitando a faixa etária, os interesses da criança e o contexto
sociocultural e temporal.
Conheceremos a História do Rei e sua Esposa:
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História do Rei
O Rei ia passando por uma rua, ouviu uma voz de uma menina, ela disse:
� Minha mãe, o espinho da rosa me furou. O Rei se encantou com aquilo, achou que era uma pessoa muito
bonita, pela voz, e o espinho da rosa furou-a. O Rei então se encantou pela voz e mandou pedir a moça em casamento.
Ordenou: � Nêgo, vá naquela casa onde nós passamos e o espinho da rosa
furou a moça! Fale com a mãe dela que por pena de morte casarei com sua filha.
O empregado respondeu: � Vou, patrão. A mãe ficou contente que um rei queria casar com sua filha. O rei
preparou tudo para o dia do casamento. A moça estava em casa preparada e ele mandou buscá-la para o casamento. Quando a moça chegou, ele esperava que fosse uma moça bonita, mas não era. Era uma moça negra que não era o padrão de beleza em que ele estava acostumado, mas mesmo assim ele casou-se.
Na madrugada combinou com seu empregado em esconder a sua noiva em uma árvore e amarrá-la perto de uma janela do palácio para ninguém ver a sua feiúra. Pela manhã, o rei manda ir vê-la. Mas antes dele chegar ao destino, passaram três fadas sendo que uma era muda, outra era surda e outra gaguejava. Quando a fada muda olhou para cima e viu aquela mulher negra pendurada na árvore assustou-se com a situação, então passou a falar; a fada surda passou a ouvir e a outra passou a falar normal.
A fada que era muda falou as seguintes palavras mágicas: � Sabemos, sabemos manos que tanto bem nos fez, bem quero
ficar bonita como o sol e a lua. A que era surda repetiu e a que era gaga pediu para quando a
noiva falasse saísse ouro pela sua boca. Quando amanheceu o rei mandou seu empregado buscar sua
noiva, quando chegaram viu a mulher mais linda do mundo: a noiva estava toda transformada. Perguntou ao empregado o que teria acontecido, e ele contou, o rei ficou tão feliz que providenciou outra festa de casamento convidando a todos.
Quando falava, saía ouro pela boca e o casamento foi uma festança. Quando a mãe da noiva retornou para vê-la, não acreditou no que está vendo. Então perguntou o que havia acontecido:
– Oh! Minha fia, o que fez minha fia, para ficar bonita assim? – Foi a fada, minha mãe, que me enfadou! A mãe não entendia e pedia para a filha repetir. Ela entendia que o
ferreiro havia esfolado. A filha dizia que tinha sido as fadas que havia enfadado. E novamente a mãe repetia: “o ferreiro te esfolou?”. Então a mãe corre para o ferreiro e pede a ele para tirar sua pele pois ela quer ficar igual à “sua fia”, e diz: – Ela era feia e agora está bonita. O ferreiro diz que não faz esse serviço e ela implora, mas não consegue. Ele indica um senhor que mata carneiro para vender a carne e a lã. Ela foi ao senhor e então implorou. O senhor resistiu por um tempo, devido à insistência, ele aceitou o serviço. E o serviço foi feito e a senhora durante o processo dizia sem parar: – Ah! Que tanta dor, com tanta formosura. Que tanta dor, com tanta formosura. Foi falando até ficar baixinho e sumir a voz. Até que não resistiu.
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4.3 Análise de dados
O debate foi fortalecido a partir das falas espontâneas que estavam
acontecendo na sala. Mais uma vez, foi surpreendente porque surgiram diversas
perguntas referentes ao racismo e à auto-estima do negro. Foi empregado, como
suporte teórico, a Lei 10.639/03, de uso obrigatório nas escolas, na qual estabelece
o Art. 26-A:
Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileira. (BRASIL, 2003).
Para atender à questão supracitada, através da contação de história, a
dinâmica utilizou o seguinte questionamento: você mudaria o final da história? Por
quê?
No universo da amostragem, todos os alunos disseram que sim, confirmando
suas respostas no questionário, sinalizaram-se as marcas sobre a questão racial, a
sensibilidade, a relação entre o bem e o mal, do bonito e do feio, e de se aceitar
socialmente, como descrevem as falas dos alunos:
Aluno- 01: “Sim, Porque a mãe não deveria morrer. O rei era muito malicioso
e não devia matar a namorada dele só porque ela era feia. E ela também não
deveria namorar e nem casar com o rei”. Diante dessa resposta obtida, deve-se
analisar que este aluno, ao ouvir a história, teve aflorado os seus sentimentos de
medo, de alívio, de alegria, de tristeza e de ira. Nessa fala, pode-se estar discutindo
também sobre a questão da morte.
Aluno- 02: “Sim, porque a mãe não deveria morrer, pois ela é do bem, quem
deveria morrer era o rei, ele era muito ambicioso e gostava de mulher bonita, e Maria
não era”. O não ter gostado do final retrata que o aluno almejava uma justiça social.
Diante do repertório da contadora, essa contribuiu para trabalhar a criticidade
deixando a imaginação aflorar e apontar solução para criar um outro final.
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Aluno-03: “Eu mudaria, porque daria para aparecer uma fada para a mãe da
menina também. E também não gostei que tirasse a pele”. Percebe-se nessa
resposta a maneira como ele conseguiu ligar o real à fantasia, e, com criatividade,
refletiu sobre os fatos e, através das palavras e da escrita, apontou outro desfecho,
além de relacionar a história com o que estava noticiado pela mídia nacional e
internacional, no momento.
Aluno-04: “Sim, porque a gente não deve imitar a beleza dos outros e não
deve se arriscar. O rei não pode enforcar sua própria esposa, mas em recompensa
ganhou uma esposa linda. Mandou o empregado ir à casa da moça pedir em
casamento sem ver se ela é bonita ou não”. Esse aluno, em um pequeno texto,
demonstra o poder da síntese, da percepção. Ele conseguiu levantar várias
temáticas para discussão, a questão da aceitação de se assumir etnicamente, o
preço alto que se paga para mudanças estéticas, às vezes até com a própria vida;
além da questão ética e moral, ao praticar um ato ilícito, esperando uma
recompensa. Por último, a transferência de responsabilidade para uma situação de
suma importância na vida de uma pessoa que é o casamento.
Aluno-05: “A moça ficou bonita porque ela mandou um homem cortar a pele
dela e ela morreu. Eu acho errado porque todo mundo tem que se aceitar. Isso é
racismo, é errado”. Ele fez uma reflexão sobre o fato de se aceitar como é, como
uma questão da auto-estima, de ser consciente do seu papel na sociedade e
concluiu que a beleza física não é parâmetro para aceitar as pessoas. Devemos nos
preocupar com o ser e não com a aparência. O outro questionamento não condiz
com o que foi narrado, mas ele percebeu na essência da história o que ocorre na
atualidade: as pessoas estão cada vez mais cultuando a beleza, colocando-a acima
de qualquer valor humano. Sobre o racismo, ele atribui à mãe da noiva e não culpa o
rei pela morte dela.
Diante das respostas obtidas, foi possível discutir oralmente sobre as
questões levantadas anteriormente, mas, quanto à produção do texto, não se obteve
um resultado satisfatório. Existem várias dificuldades para a produção do texto:
gramatical, ortográfica, estrutural, de coesão/coerência e de vocabulário. Quando
solicitado, para escrever, a maioria não se concentrou e ficou agitada, não
proporcionando um clima favorável para a produção da escrita, atrapalhando
aqueles que queriam escrever.
41
Para entender e analisar esses dados faz-se necessário perceber e
diferenciar o processo de alfabetização e de letramento. Para isso buscou-se o texto
“As muitas facetas da alfabetização”, de Magda Soares (1984), para dialogar sobre o
fracasso escolar nas classes de alfabetização e de suas conseqüências ao longo da
vida escolar.
De acordo com Magda Soares, é indispensável reconhecer os elementos para
compreender o complexo processo de alfabetização e as multiplicidades de facetas
desse fenômeno. Tal processo possui quatro abordagens: a Psicológica, com
abordagem cognitiva, tendo o foco na relação entre aquisição da língua e a estrutura
psicológica na construção do conhecimento; a Psicolingüística, que procura
estabelecer a maturidade lingüística da criança e as relações entre linguagem e
memória; a Sociolingüística, que tem como objeto de estudo o uso social da língua e
os “problemas” quanto às diferenças dialetais e os diferentes usos e funções de
comunicação da língua oral e escrita e a Lingüística, através do estabelecimento de
relações grafema/fonema, todavia, como não há correspondência unívoca entre o
sistema fonológico e o sistema ortográfico, no caso da língua portuguesa, a
alfabetização é “um progressivo domínio de regularidades e irregularidades”.
Dessa forma, além de articular a contribuição de cada área do conhecimento,
é preciso que possibilite a compreensão de todas as facetas, seus condicionantes e
suas implicações, bem como, reconhecer como forma de pensamento, construção
do conhecimento e poder, o que perpassa pela delimitação do período para a
aquisição do código escrito
Após a atividade escrita os questionamentos surgiram como: as questões
referentes às cirurgias plásticas, à aplicação de silicones em pessoas que não tem
necessidade de utilizarem desse mecanismo, houve um comentário de uma aluna
quanto à questão do ser e da essência humana, ao revelar que “Não podemos julgar
o livro pela sua capa, sem ler o que tem no seu interior”, analogia perfeita para a
discussão. Outra aluna disse: “Esta frase estava escrita na prova”. Intervi, dizendo
que o importante é que ela utilizou no momento adequado.
Outro assunto abordado com a turma foi sobre a concepção de velhice
atrelada à idade. Um aluno informou que com 70 anos a pessoa é considerada
idosa, os outros disseram que consideram a partir dos 60 anos. Consta na proposta
da Secretaria Municipal da Educação, Cultura, Esporte e Lazer a implantação do
42
estatuto do idoso nas escolas municipais (Anexo C). A ONU – Organização das
Nações Unidas – classifica os idosos em três categorias: entre 55 e 64, pré-idosos;
entre 65 e 79 anos, idosos jovens; e com mais de 80 anos, idosos avançados.
Houve progresso na participação dos alunos durante e após a contação,
relacionando fatos da história com a realidade, e ainda surgiu uma aluna voluntária
para contar história.
Outro aspecto questionado foi a importância dos idosos para a sociedade
atual. A maioria respondeu que são importantes e acrescentaram as respostas
dizendo o porquê, observado nas falas dos alunos:
Aluno-01: Sim, “porque contam histórias”. Aluno-02: Sim, “porque a gente ouve histórias muito boas”. Aluno-03: Sim, “o idoso já passou por tudo”. Aluno-04: Sim, “Porque os idosos precisam da gente para ajudá-los”. Aluno-05: Sim, “Porque os idosos precisam dos familiares, e eles ajudam em casa.
O idoso tem mais idade e experiência por isso nos dar conselhos”.
No caso do aluno 05, ele é criado pela avó e sempre se expressa com os
conselhos dado por ela.
Em algumas situações em que age de forma indevida, ele tem consciência e
no mesmo instante ele fala “bem que minha avó disse”. Foi o único que falou nas
experiências e em dar conselho. São duas características inerentes ao idoso.
Os demais alunos (01, 02, 03 e 04) consideraram a convivência com os
idosos importante, por contarem boas histórias. Ao afirmar que “eles já passaram por
tudo”, está concordando com a experiência adquirida pela idade.
A transmissão dos acontecimentos históricos, a contação de histórias, se
torna um aliado instrumento no processo de ensino-aprendizagem para a formação
do indivíduo, no intuito de disseminar valores essenciais aos tempos de hoje, como:
respeito, afetividade, humanização, ética e moral (CHALITA, 2003).
Os alunos percebem que o idoso precisa do outro, da sua atenção, além dos
cuidados que a idade avançada necessita. Aí está a importância de trabalhar com as
crianças o papel relevante dessa população da terceira idade, utilizando como um
dos instrumentos a contação de história para que, de fato, possa, concomitante,
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lembrar, refazer, reconstruir, repensar pilares de sustentação para a memória, eixo
norteador para resgatar a arte de contar histórias e acolher o conselho no ato do
falar.
A atividade do reconto oral aconteceu cinco dias após a sessão de contação
de história pela D. Nany. Feita a reminiscência da sessão de contação, para
estimular a memória, foi perguntado quem gostaria de recontar a história da Coca,
poucos se manifestaram.
Um aluno que não estava presente se candidatou, conhecia a história da
Coca em outra versão. Então ao contar houve interferência da turma, que
contradizia: “Não é assim não”. Diante disso, ele esqueceu e parou de contar a
história, desculpando-se dizendo: ”Há muito tempo não escuto essa história”.
Benjamin expõe essa situação:
São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente, quando se pede num grupo que alguém narre alguma coisa, o embaraço se generaliza. É como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências (BENJAMIN, 1996, p.198).
Diante disso, os alunos 01 e 02 se ofereceram para contar a história em
dupla. A turma concordou, e acompanhou contando e cantando. Faz-se necessário
estimular a prática da narrativa, oportunizando os alunos a se manifestarem,
convidando-os a falar com os colegas, observando a oralidade, o movimento
corporal, a memória, enfim, a performance do contador.
Outro avanço surgiu quando uma aluna se ofereceu para contar duas
histórias, foi para frente e assumiu o papel de contadora, e nesse momento a turma
permaneceu concentrada, atitude que não lhe é comum.
Compreende-se que, com essa prática pedagógica, pode-se estar utilizando a
narração oral como mecanismo para estimular a criança a se expressar oralmente,
verificar a postura corporal, ficar atento aos vícios de linguagem e incentivar a
preservação essa arte da contação de história. Arte essa que diverte e ao mesmo
tempo transmite conhecimento.
Inclui-se aqui a história contada por uma das alunas, que tem um cunho de
incentivar a higiene pessoal para as crianças.
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Fotografia tirada da aluna do 4º ano da Escola Municipal Antônio Euzébio por Gilda Santiago,
em julho/2009.
História de Lilica
Contada pela aluna
Era uma vez, uma menina chamada Lilica, que não gostava de tomar banho. Ela estava brincando e chamou vários amigos. Quando os amigos chegaram, disseram assim: “Tem alguma coisa fedendo”, e foram se afastando de Lilica e não brincaram mais com ela, pois era Lilica que não cheirava bem. Eles não brincaram mais com Lilica. Então Lilica foi procurar outros amigos. Quando os amigos chegaram, saíram correndo. Ai ela foi à igreja, chegando lá, todas as pessoas saíram e só ficou o padre, porque estava com mascara de oxigênio. Aí disse: “Tira esse demônio de dentro dessa menina! Tira esse demônio de dentro dessa menina!” Ele mandou a menina tomar banho, e o mau cheiro saiu, ele mandou escovar os dentes e o mau hálito não saia. Ele mandou a menina ir ao dentista, chegando lá, o dentista desmaiou. Como o padre estava com outra máscara de oxigênio, deu para o dentista.
Durante a contação de história, observa-se que mesmo a história sendo
contada por uma aluna de dez anos, o clima continuou favorável para a continuidade
das atividades.
Considerou-se também um progresso, desta vez em relação à memória da
45
contadora que, após a aluna contar uma história de cunho religioso, D. Nany de
imediato lembrou-se também de uma história parecida e que há muito tempo não
ouvia e nem contava, mas quando ela começou a contar percebeu-se que era a
mesma história, porém sofreu modificações quanto ao tempo e ao espaço, idade, à
experiência de vida e todos os aspectos que envolvem essa arte, mas a essência
permaneceu. Essa história foi uma situação perfeita para finalizar a sessão da
contação, porque o enredo da história mostrou a presença de Jesus Cristo
disfarçado de outros personagens para testar a fé do povo, que dizia esperar ter um
encontro com ele, mas não o reconheceu em nenhuma situação. Essa mesma cena
acontece no filme “O Auto da Compadecida”, no qual Jesus Cristo aparece como um
negro e continua despercebido.
Com isso, percebi uma atitude positiva em contar histórias e “causos” para a
turma, contribuindo para o seu desenvolvimento, ajudando a organizar o
pensamento, proporcionando prazer, alegria, estímulos, viajando pelo universo
mágico.
46
5. CONSIDERAÇÕES Contar histórias e “causos” é uma arte que fascina, horroriza, alegra, enfim,
transmite emoções, mas também transmite conhecimentos, tradições, cultura e
preserva a história de uma comunidade, de uma civilização.
Com esse estudo de caso, percebi que a escola precisa abrir as portas para
contação de histórias, porque é uma prática importante, independente da idade,
tanto de quem conta, quanto de quem escuta. Portanto, deixar envolver-se pela
magia das palavras e viajar no mundo da imaginação são prazeres que não tem
idade.
Contar histórias para os alunos das Séries Iniciais é indispensável, mas
devemos romper barreiras referentes aos educandos do Ensino Fundamental,
mesmo diante dos avanços tecnológicos, da informática e do eletrônico.
Deve-se estar ciente de que as brincadeiras que as crianças faziam umas
com as outras como “roda”, “pega-pega”, “picula”, dentre outras, estão em extinção,
mas elas se encantam quando é anunciado: “senta que vou contar uma história”.
Para o contador de histórias é sempre bom ouvir o “conte outra vez” ou “conte mais
uma”.
Saber narrar histórias e “causos” também não tem idade, traz na sua essência
a sensibilidade, estimula a imaginação, a criatividade, e curiosidade, viaja sem sair
do lugar, constrói pontes entre o mundo da fantasia e a realidade, relaciona o
processo de aprendizagem mútua entre o narrador e os ouvintes.
Nessa pesquisa, a narradora foi uma idosa, trouxe consigo a experiência de
setenta e oito anos, assim como a experiência que passa de pessoa para pessoa,
fonte esta a que os narradores recorrem para resgatar e disseminar a sua arte.
No entanto, o contar histórias na escola não deve ser utilizada apenas como
conteúdo programático, preocupando-se com “a moral da história”, mas para
desenvolver o senso crítico, a reflexão, aguçar a criatividade e ter prazer na leitura.
Esse é o enigma de que o narrador dispõe, ter consciência: de que o importante é a
história. Ele narra dando vida aos acontecimentos, vai cativando, possibilitando aos
alunos o entrelaçamento da história narrada com os seus significados e sua
realidade.
Foi relevante presenciar esse encontro entre gerações num tempo em que os
valores que norteiam a sociedade andam esquecidos, a exemplo do respeito, da
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valorização dos idosos, da solidariedade e da amizade em tempos de competição.
Utilizar da pedagogia para sensibilizar os alunos foi prazeroso, como também
participar desse momento da narração e ver estampado nos rostos a curiosidade, os
olhares acompanhando a narradora, procurando acomodar o corpo para assimilar
melhor a história, o silêncio. A contação de histórias realmente foi um momento
mágico.
Este estudo reafirmou a minha pergunta de partida: se a efetiva participação
dos idosos na vida pessoal e escolar dos alunos é um importante fator no processo
da educação e como a contação de histórias por eles pode estimular a criatividade e
a imaginação dos alunos de 4º ano do Ensino Fundamental.
Durante a pesquisa, foi aprovado o projeto da SECULT com a proposta
pedagógica incluindo o “O Idoso no Currículo Escolar”, conforme documento em
anexo.
Portanto, acredito que essa pesquisa, assim como os trabalhos acadêmicos,
não podem ser considerados como acabados, prontos. Os obstáculos, nesse
semestre atípico, os entraves, como a greve de sessenta dias dos professores da
rede municipal de Salvador, e simultaneamente com as 270 horas de Estágio
Supervisionado, dentre outros obstáculos, fazem com que se apresentem novas
possibilidades não contempladas no presente trabalho.
Articular os objetivos, problemática, aspectos metodológicos, temporais e
contextuais sem perder as referências foram elementos essenciais, que
proporcionaram alguns dados para análise, reflexão e compreensão desse mundo
complexo da Educação, especificamente do ensino fundamental. A investigação e a
análise de dados dessa pesquisa poderão contribuir para conhecer e intervir no
processo de ensino e aprendizagem do Ensino Fundamental.
Conclui-se que, através das atitudes, dos comportamentos, da participação
nas atividades oral e escrita e dramatização, o sujeito faz emergir seus sentimentos
a partir da sua leitura de mundo, aflorando, assim, os medos, as angústias, a ira, a
timidez, a euforia, a solidariedade, o amor, a alegria, amizade, a empatia, enfim,
tornando-se um cidadão consciente e mais humano.
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REFERÊNCIAS
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50
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APÊNDICES
Apêndice A – Questionário de pesquisa direcionado aos alunos do 4º ano do ensino fundamental da escola municipal Antônio Euzébio.
1 – QUAL O SEU NOME? 2 - QUANTAS PESSOAS MORAM COM VOCÊ? 3- QUEM SÃO ESSAS PESSOAS? 4 – MORA ALGUM IDOSO NA SUA RESIDÊNCIA? SIM ( ) NÃO ( ) 5 - VOCÊ CONHECE ALGUM IDOSO QUE CONTE HISTÓRIA? SIM ( ) QUEM?________________ NÃO ( ) 6 - VOCÊ PREFERE: A) ( ) OUVIR HISTÓRIA/ “CAUSOS” B) ( ) LER HISTÓRIA/ “CAUSOS” 7 – ESCREVA UMA HISTÓRIA QUE VOCÊ CONHECE CONTADA POR ALGUM IDOSO. 8 – VOCÊ ACHA IMPORTANTE A CONVIVÊNCIA COM IDOSOS? POR QUE? 9 – A PARTIIR DE QUE IDADE VOCÊ CCONSIDERA UMA PESSOA IDOSA?
Apêndide A – Questionário aplicado aos alunos de 4º ano da escola municipal Antonio Euzébio. NOME: IDADE: QUAL A ESCOLA DOS SEUS SONHOS? FALE UM POUCO DA SUA ESCOLA QUAL LOCAL VOCÊ FREQUENTA, ALÉM DA ESCOLA? QUE TIPO DE TRANSPORTE VOCÊ SE UTILIZA PARA VIR À ESCOLA? O QUE VOCÊ FAZ NOS FINAIS DE SEMANA? COMO VOCÊ E SUA FAMÍLIA PARTICIPAM DOS EVENTOS DA SUA
ESCOLA? QUAIS EVENTOS COSTUMAM ACONTECER NA ESCOLA? O QUE VOCÊ APRENDE NESSA ESCOLA? QUAL A PROFISSÃO DOS SEUS PAIS? E ONDE ELES TRABALHAM?
Apêndice B – Pergunta sugestiva:
Você mudaria o final da História do Rei? Por quê?
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ANEXOS
ANEXO A
Estatuto do Idoso (Lei 10741/2003).
Presidência da República Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003.
Mensagem de veto
Vigência Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
TÍTULO I Disposições Preliminares
Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população;
II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas;
III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso;
IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações;
V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;
VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos;
VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;
VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais.
IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. (Incluído pela Lei nº 11.765, de 2008).
Art. 4o Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
§ 1o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.
§ 2o As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes dos princípios por ela adotados.
Art. 5o A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei.
Art. 6o Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.
Art. 7o Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos do idoso, definidos nesta Lei.
TÍTULO II Dos Direitos Fundamentais
CAPÍTULO I Do Direito à Vida
Art. 8o O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente.
Art. 9o É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.
CAPÍTULO II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.
§ 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos:
I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II – opinião e expressão;
III – crença e culto religioso;
IV – prática de esportes e de diversões;
V – participação na vida familiar e comunitária;
VI – participação na vida política, na forma da lei;
VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais.
§ 3o É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
CAPÍTULO III Dos Alimentos
Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil.
Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores.
Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de Justiça, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil.
Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de Justiça ou Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil. (Redação dada pela Lei nº 11.737, de 2008)
Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o seu sustento, impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social.
CAPÍTULO IV Do Direito à Saúde
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.
§ 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de:
I – cadastramento da população idosa em base territorial;
II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;
III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e gerontologia social;
IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano e rural;
V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das seqüelas decorrentes do agravo da saúde.
§ 2o Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
§ 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade.
§ 4o Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão atendimento especializado, nos termos da lei.
Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico.
Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por escrito.
Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.
Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será feita:
I – pelo curador, quando o idoso for interditado;
II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em tempo hábil;
III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para consulta a curador ou familiar;
IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar o fato ao Ministério Público.
Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e grupos de auto-ajuda.
Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso serão obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes órgãos:
I – autoridade policial;
II – Ministério Público;
III – Conselho Municipal do Idoso;
IV – Conselho Estadual do Idoso;
V – Conselho Nacional do Idoso.
CAPÍTULO V Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer
Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.
Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.
§ 1o Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna.
§ 2o Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação da memória e da identidade culturais.
Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.
Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinqüenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais.
Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados aos idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o processo de envelhecimento.
Art. 25. O Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual.
CAPÍTULO VI Da Profissionalização e do Trabalho
Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas.
Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.
Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada.
Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:
I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades regulares e remuneradas;
II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania;
III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.
CAPÍTULO VII Da Previdência Social
Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da Previdência Social
observarão, na sua concessão, critérios de cálculo que preservem o valor real dos salários sobre os quais incidiram contribuição, nos termos da legislação vigente.
Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados na mesma data de reajuste do salário-mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do seu último reajustamento, com base em percentual definido em regulamento, observados os critérios estabelecidos pela Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991.
Art. 30. A perda da condição de segurado não será considerada para a concessão da aposentadoria por idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data de requerimento do benefício.
Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto no caput observará o disposto no caput e § 2o do art. 3o da Lei no 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo salários-de-contribuição recolhidos a partir da competência de julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei no 8.213, de 1991.
Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, efetuado com atraso por responsabilidade da Previdência Social, será atualizado pelo mesmo índice utilizado para os reajustamentos dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, verificado no período compreendido entre o mês que deveria ter sido pago e o mês do efetivo pagamento.
Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1o de Maio, é a data-base dos aposentados e pensionistas.
CAPÍTULO VIII Da Assistência Social
Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, de forma articulada, conforme os princípios e diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política Nacional do Idoso, no Sistema Único de Saúde e demais normas pertinentes.
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas.
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.
Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada.
§ 1o No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é facultada a cobrança de participação do idoso no custeio da entidade.
§ 2o O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho Municipal da Assistência Social estabelecerá a forma de participação prevista no § 1o, que não poderá exceder a 70% (setenta por cento) de qualquer benefício previdenciário ou de assistência social percebido pelo idoso.
§ 3o Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu representante legal firmar o contrato a que se refere o caput deste artigo.
Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco social, por adulto ou núcleo familiar, caracteriza a dependência econômica, para os efeitos legais.
CAPÍTULO IX Da Habitação
Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou privada.
§ 1o A assistência integral na modalidade de entidade de longa permanência será prestada quando verificada inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de recursos financeiros próprios ou da família.
§ 2o Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso fica obrigada a manter identificação externa visível, sob pena de interdição, além de atender toda a legislação pertinente.
§ 3o As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei.
Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, o idoso goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte:
I – reserva de 3% (três por cento) das unidades residenciais para atendimento aos idosos;
II – implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso;
III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de acessibilidade ao idoso;
IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e pensão.
CAPÍTULO X Do Transporte
Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares.
§ 1o Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal que faça prova de sua idade.
§ 2o Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado preferencialmente para idosos.
§ 3o No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições para exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos no caput deste artigo.
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos da legislação específica: (Regulamento)
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos;
II – desconto de 50% (cinqüenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os idosos que excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos.
Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir os mecanismos e os critérios para o exercício dos direitos previstos nos incisos I e II.
Art. 41. É assegurada a reserva, para os idosos, nos termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas de forma a garantir a melhor comodidade ao idoso.
Art. 42. É assegurada a prioridade do idoso no embarque no sistema de transporte coletivo.
TÍTULO III Das Medidas de Proteção
CAPÍTULO I Das Disposições Gerais
Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento;
III – em razão de sua condição pessoal.
CAPÍTULO II Das Medidas Específicas de Proteção
Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta Lei poderão ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação;
V – abrigo em entidade;
VI – abrigo temporário.
TÍTULO IV Da Política de Atendimento ao Idoso
CAPÍTULO I Disposições Gerais
Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por meio do conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Art. 47. São linhas de ação da política de atendimento:
I – políticas sociais básicas, previstas na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994;
II – políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que necessitarem;
III – serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV – serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por idosos abandonados em hospitais e instituições de longa permanência;
V – proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos idosos;
VI – mobilização da opinião pública no sentido da participação dos diversos segmentos da sociedade no atendimento do idoso.
CAPÍTULO II Das Entidades de Atendimento ao Idoso
Art. 48. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, observadas as normas de planejamento e execução emanadas do órgão competente da Política Nacional do Idoso, conforme a Lei no 8.842, de 1994.
Parágrafo único. As entidades governamentais e não-governamentais de assistência ao idoso ficam sujeitas à inscrição de seus programas, junto ao órgão competente da Vigilância Sanitária e Conselho Municipal da Pessoa Idosa, e em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa, especificando os regimes de atendimento, observados os seguintes requisitos:
I – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
II – apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho compatíveis com os princípios desta Lei;
III – estar regularmente constituída;
IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.
Art. 49. As entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência adotarão os seguintes princípios:
I – preservação dos vínculos familiares;
II – atendimento personalizado e em pequenos grupos;
III – manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior;
IV – participação do idoso nas atividades comunitárias, de caráter interno e externo;
V – observância dos direitos e garantias dos idosos;
VI – preservação da identidade do idoso e oferecimento de ambiente de respeito e dignidade.
Parágrafo único. O dirigente de instituição prestadora de atendimento ao idoso responderá civil e criminalmente pelos atos que praticar em detrimento do idoso, sem prejuízo das sanções administrativas.
Art. 50. Constituem obrigações das entidades de atendimento:
I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço com o idoso, especificando o tipo de atendimento, as obrigações da entidade e prestações decorrentes do contrato, com os respectivos preços, se for o caso;
II – observar os direitos e as garantias de que são titulares os idosos;
III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e alimentação suficiente;
IV – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade;
V – oferecer atendimento personalizado;
VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos familiares;
VII – oferecer acomodações apropriadas para recebimento de visitas;
VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso;
IX – promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer;
X – propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças;
XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
XII – comunicar à autoridade competente de saúde toda ocorrência de idoso portador de doenças infecto-contagiosas;
XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público requisite os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem, na forma da lei;
XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens móveis que receberem dos idosos;
XV – manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do idoso, responsável, parentes, endereços, cidade, relação de seus pertences, bem como o valor de contribuições, e suas alterações, se houver, e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento;
XVI – comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de abandono moral ou material por parte dos familiares;
XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com formação específica.
Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos prestadoras de serviço ao idoso terão direito à assistência judiciária gratuita.
CAPÍTULO III Da Fiscalização das Entidades de Atendimento
Art. 52. As entidades governamentais e não-governamentais de atendimento ao idoso serão fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária e outros previstos em lei.
Art. 53. O art. 7o da Lei no 8.842, de 1994, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 7o Compete aos Conselhos de que trata o art. 6o desta Lei a supervisão, o acompanhamento, a fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito das respectivas instâncias político-administrativas." (NR)
Art. 54. Será dada publicidade das prestações de contas dos recursos públicos e privados recebidos pelas entidades de atendimento.
Art. 55. As entidades de atendimento que descumprirem as determinações desta Lei ficarão sujeitas, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos, às seguintes penalidades, observado o devido processo legal:
I – as entidades governamentais:
a) advertência;
b) afastamento provisório de seus dirigentes;
c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
d) fechamento de unidade ou interdição de programa;
II – as entidades não-governamentais:
a) advertência;
b) multa;
c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas;
d) interdição de unidade ou suspensão de programa;
e) proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público.
§ 1o Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer tipo de fraude em relação ao programa, caberá o afastamento provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade e a suspensão do programa.
§ 2o A suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas ocorrerá quando verificada a má aplicação ou desvio de finalidade dos recursos.
§ 3o Na ocorrência de infração por entidade de atendimento, que coloque em risco os direitos assegurados nesta Lei, será o fato comunicado ao Ministério Público, para as providências cabíveis, inclusive para promover a suspensão das atividades ou dissolução da entidade, com a proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público, sem prejuízo das providências a serem tomadas pela Vigilância Sanitária.
§ 4o Na aplicação das penalidades, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o idoso, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes da entidade.
CAPÍTULO IV Das Infrações Administrativas
Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as determinações do art. 50 desta Lei:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), se o fato não for caracterizado como crime, podendo haver a interdição do estabelecimento até que sejam cumpridas as exigências legais.
Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimento de longa permanência, os idosos abrigados serão transferidos para outra instituição, a expensas do estabelecimento interditado, enquanto durar a interdição.
Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimento de saúde ou instituição de longa permanência de comunicar à autoridade competente os casos de crimes contra idoso de que tiver conhecimento:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no caso de reincidência.
Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre a prioridade no atendimento ao idoso:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00 (um mil reais) e multa civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso.
CAPÍTULO V Da Apuração Administrativa de Infração às
Normas de Proteção ao Idoso
Art. 59. Os valores monetários expressos no Capítulo IV serão atualizados anualmente, na forma da lei.
Art. 60. O procedimento para a imposição de penalidade administrativa por infração às normas de proteção ao idoso terá início com requisição do Ministério Público ou auto de infração elaborado por servidor efetivo e assinado, se possível, por duas testemunhas.
§ 1o No procedimento iniciado com o auto de infração poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2o Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto, ou este será lavrado dentro de 24 (vinte e quatro) horas, por motivo justificado.
Art. 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para a apresentação da defesa, contado da data da intimação, que será feita:
I – pelo autuante, no instrumento de autuação, quando for lavrado na presença do infrator;
II – por via postal, com aviso de recebimento.
Art. 62. Havendo risco para a vida ou à saúde do idoso, a autoridade competente aplicará à entidade de atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e das providências que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais instituições legitimadas para a fiscalização.
Art. 63. Nos casos em que não houver risco para a vida ou a saúde da pessoa idosa abrigada, a autoridade competente aplicará à entidade de atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e das providências que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais instituições legitimadas para a fiscalização.
CAPÍTULO VI Da Apuração Judicial de Irregularidades em Entidade de Atendimento
Art. 64. Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedimento administrativo de que trata este Capítulo as disposições das Leis nos 6.437, de 20 de agosto de 1977, e 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
Art. 65. O procedimento de apuração de irregularidade em entidade governamental e não-governamental de atendimento ao idoso terá início mediante petição fundamentada de pessoa interessada ou iniciativa do Ministério Público.
Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente o afastamento provisório do dirigente da entidade ou outras medidas que julgar adequadas, para evitar lesão aos direitos do idoso, mediante decisão fundamentada.
Art. 67. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de 10 (dez) dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e indicar as provas a produzir.
Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na conformidade do art. 69 ou, se necessário, designará audiência de instrução e julgamento, deliberando sobre a necessidade de produção de outras provas.
§ 1o Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão 5 (cinco) dias para oferecer alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
§ 2o Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade governamental, a autoridade judiciária oficiará a autoridade administrativa imediatamente superior ao afastado, fixando-lhe prazo de 24 (vinte e quatro) horas para proceder à substituição.
§ 3o Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem julgamento do mérito.
§ 4o A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou ao responsável pelo programa de atendimento.
TÍTULO V Do Acesso à Justiça
CAPÍTULO I Disposições Gerais
Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições deste Capítulo, o procedimento sumário previsto no Código de Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos previstos nesta Lei.
Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas do idoso.
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.
§ 1o O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo, fazendo prova de sua idade, requererá o benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará as providências a serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do processo.
§ 2o A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, com união estável, maior de 60 (sessenta) anos.
§ 3o A prioridade se estende aos processos e procedimentos na Administração Pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento preferencial
junto à Defensoria Publica da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos Serviços de Assistência Judiciária.
§ 4o Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e caixas, identificados com a destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis.
CAPÍTULO II Do Ministério Público
Art. 72. (VETADO)
Art. 73. As funções do Ministério Público, previstas nesta Lei, serão exercidas nos termos da respectiva Lei Orgânica.
Art. 74. Compete ao Ministério Público:
I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso;
II – promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de designação de curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em condições de risco;
III – atuar como substituto processual do idoso em situação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta Lei;
IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou o interesse público justificar;
V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo:
a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas;
VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso;
VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;
IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho de suas atribuições;
X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos previstos nesta Lei.
§ 1o A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo não impede a
de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuser a lei.
§ 2o As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que compatíveis com a finalidade e atribuições do Ministério Público.
§ 3o O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções, terá livre acesso a toda entidade de atendimento ao idoso.
Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipóteses em que terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar documentos, requerer diligências e produção de outras provas, usando os recursos cabíveis.
Art. 76. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita pessoalmente.
Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
CAPÍTULO III Da Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Indisponíveis ou Homogêneos
Art. 78. As manifestações processuais do representante do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de:
I – acesso às ações e serviços de saúde;
II – atendimento especializado ao idoso portador de deficiência ou com limitação incapacitante;
III – atendimento especializado ao idoso portador de doença infecto-contagiosa;
IV – serviço de assistência social visando ao amparo do idoso.
Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, próprios do idoso, protegidos em lei.
Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores.
Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, consideram-se legitimados, concorrentemente:
I – o Ministério Público;
II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
III – a Ordem dos Advogados do Brasil;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre os fins institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia autorização estatutária.
§ 1o Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2o Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado deverá assumir a titularidade ativa.
Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ação pertinentes.
Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições de Poder Público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.
Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento.
§ 1o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, na forma do art. 273 do Código de Processo Civil.
§ 2o O juiz poderá, na hipótese do § 1o ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente do pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 3o A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado.
Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei reverterão ao Fundo do Idoso, onde houver, ou na falta deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando vinculados ao atendimento ao idoso.
Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas por meio de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados em caso de inércia daquele.
Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.
Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao Poder Público, o juiz determinará a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão.
Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória favorável ao idoso sem que o autor lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada, igual iniciativa aos demais legitimados, como assistentes ou assumindo o pólo ativo, em caso de inércia desse órgão.
Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas.
Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Ministério Público.
Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá, provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os fatos que constituam objeto de ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção.
Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tribunais, no exercício de suas funções,
quando tiverem conhecimento de fatos que possam configurar crime de ação pública contra idoso ou ensejar a propositura de ação para sua defesa, devem encaminhar as peças pertinentes ao Ministério Público, para as providências cabíveis.
Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de 10 (dez) dias.
Art. 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa, organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.
§ 1o Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil ou de peças informativas, determinará o seu arquivamento, fazendo-o fundamentadamente.
§ 2o Os autos do inquérito civil ou as peças de informação arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público ou à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público.
§ 3o Até que seja homologado ou rejeitado o arquivamento, pelo Conselho Superior do Ministério Público ou por Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público, as associações legitimadas poderão apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados ou anexados às peças de informação.
§ 4o Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público de homologar a promoção de arquivamento, será designado outro membro do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
TÍTULO VI Dos Crimes
CAPÍTULO I Disposições Gerais
Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985.
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
CAPÍTULO II Dos Crimes em Espécie
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.
§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou
responsabilidade do agente.
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.
Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 2o Se resulta a morte:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;
II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;
III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa;
IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.
Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em
outorgar procuração à entidade de atendimento:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso:
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida representação legal:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
TÍTULO VII Disposições Finais e Transitórias
Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante do Ministério Público ou de qualquer outro agente fiscalizador:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 110. O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, passa a vigorar com as seguintes alterações:
"Art. 61. ............................................................................
............................................................................
II - ............................................................................
............................................................................
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
............................................................................." (NR)
"Art. 121. ............................................................................
............................................................................
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
............................................................................." (NR)
"Art. 133. ............................................................................
............................................................................
§ 3o ............................................................................
............................................................................
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos." (NR)
"Art. 140. ............................................................................
............................................................................
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
............................................................................ (NR)
"Art. 141. ............................................................................
............................................................................
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
............................................................................." (NR)
"Art. 148. ............................................................................
............................................................................
§ 1o............................................................................
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge do agente ou maior de 60 (sessenta) anos.
............................................................................" (NR)
"Art. 159............................................................................
............................................................................
§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta)
anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
............................................................................" (NR)
"Art. 183............................................................................
............................................................................
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos." (NR)
"Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:
............................................................................" (NR)
Art. 111. O O art. 21 do Decreto-Lei no 3.688, de 3 de outubro de 1941, Lei das Contravenções Penais, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:
"Art. 21............................................................................
............................................................................
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos." (NR)
Art. 112. O inciso II do § 4o do art. 1o da Lei no 9.455, de 7 de abril de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 1o ............................................................................
§ 4o ............................................................................
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
............................................................................" (NR)
Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 18............................................................................
III – se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e um) anos ou a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou a quem tenha, por qualquer causa, diminuída ou suprimida a capacidade de discernimento ou de autodeterminação:
............................................................................" (NR)
Art. 114. O art 1º da Lei no 10.048, de 8 de novembro de 2000, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 1o As pessoas portadoras de deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas por crianças de colo terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei." (NR)
Art. 115. O Orçamento da Seguridade Social destinará ao Fundo Nacional de Assistência Social, até que o Fundo Nacional do Idoso seja criado, os recursos necessários, em cada exercício financeiro, para aplicação em programas e ações relativos ao idoso.
Art. 116. Serão incluídos nos censos demográficos dados relativos à população idosa do País.
Art. 117. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei revendo os critérios de concessão do Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, de forma a garantir que o acesso ao direito seja condizente com o estágio de desenvolvimento sócio-econômico alcançado pelo País.
Art. 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa) dias da sua publicação, ressalvado o disposto no caput do art. 36, que vigorará a partir de 1o de janeiro de 2004.
Brasília, 1o de outubro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Márcio Thomaz Bastos Antonio Palocci Filho Rubem Fonseca Filho Humberto Sérgio Costa LIma Guido Mantega Ricardo José Ribeiro Berzoini Benedita Souza da Silva Sampaio Álvaro Augusto Ribeiro Costa
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 3.10.2003
ANEXO B
Plano de ação (2009) da Escola Municipal Antonio Euzébio.
ANEXO C
Proposta da SECULT para inclusão do Estatuto do Idoso no currículo escolar da rede municipal de ensino de Salvador.
PREFEITURA MUNICIPAL DO SALVADOR SECRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO CULTURA, ESPORTE E LAZER COORDENADORIA DE ENSINO E APÔIO PEDAGÓGICO
O IDOSO NO CURRÍCULO MUNICIPAL DE SALVADOR
Com sorte, seremos todos idosos um dia. Dr. César Luiz
Correia 1. APRESENTAÇÃO Crescer, reproduzir e envelhecer, isto é a vida. Mas, se ela acontecer de forma saudável, respeitosa e digna será muito melhor para todos nós . É sabido que a população no mundo está ficando cada vez mais velha e, segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS - por volta de 2025, pela primeira vez na história, haverá mais idosos de que crianças no planeta. O Brasil que já foi celebrado como o país dos jovens, tem hoje cerca de 13,5 milhões de idosos que representam 8% de sua população. O avanço da medicina e a melhora na qualidade de vida são as principais razões dessa elevação da expectativa de vida em todo o mundo. Apesar disso, ainda há muita desinformação sobre as particularidades do envelhecimento e o que é pior, muito preconceito e desrespeito em relação às pessoas da terceira idade, principalmente nos países pobres ou em desenvolvimento. Salvador enquadra-se nesse perfil, razão pela qual o Ministério Público imbuído em fazer cumprir a lei, buscou junto a SMEC estratégias de atendimento ao artigo 22, da Lei 10731 de 01/10/03. Assim, apresentamos esse projeto a ser desenvolvido por todas as escolas municipais da Rede Pública de Ensino de Salvador. 2. JUSTIFICATIVA Em Salvador são muitos os problemas enfrentados pelos idosos em seu dia-a-dia: perda de contato com a força de trabalho, a desvalorização das aposentadorias e pensões, a depressão,o abandono da família,a falta de projetos e atividades de
lazer,além do preconceito que sofrem nos ônibus e nas ruas cotidianamente. Diante desse quadro, a SMEC através da CENAP, atenta ao desenvolvimento do currículo de 100% de suas unidades escolares elaborou este projeto com vistas à implementação de ações/ educativas transversais e permanentes que promovam o respeito e a dignidade dos idosos na sociedade,acreditando ser possível investir na sua promoção social,pois estes têm capacidade para interação,aprendizagem e participação ativa na sociedade. 3. FUNDAMENTAÇÃO LEGAL A Organização das Nações Unidas – ONU – divide os idosos em três categorias:
• Pré-Idosos (entre 55 e 64 anos); • Idosos Jovens (entre 65 e 79 anos); • Idosos Avançados (com mais 80 anos).
Através da Constituição de 1988, pela primeira vez o Brasil demonstra preocupação em relação ao idoso. A Política Nacional, lei nº 8842 de 04/01/1994, implementou os cursos de Geriatria (especialidade médica que trata da saúde do idoso) e Gerontologia (ciência que estuda o envelhecimento)e o Ministério da Saúde iniciou campanhas anuais de vacinação contra gripe.Também foi criado o CNDI – Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos ,órgão vinculado à Secretaria Especial dos Direitos Humanos que tem por objetivo supervisionar e avaliar as Políticas Nacionais do Idoso,estimular e apoiar tecnicamente a criação de conselhos de direitos para a pessoa idosa em todo o país. Para comemorar o dia das pessoas da terceira idade, a Comissão de Educação do Senado Federal, instituiu o dia 27 de setembro como o Dia Nacional do Idoso e pela lei nº 10741 /03 foi criado o Estatuto do Idoso que normatiza todos os seus direitos perante a sociedade,inclusive no que tange a educação,cultura,esporte e lazer,explicitados no Capítulo V – art. 22 :” nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento ao respeito e valorização do idoso,de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimento sobre a matéria”. 4. Metas
• Inserir de forma transversal nos currículos de todas as escolas públicas municipais conteúdos relevantes sobre a temática do idoso;
• Envolver 100% dos profissionais que atuam nas unidades escolares no
desenvolvimento de atividades curriculares relativas à temática;
• Observar mudanças comportamentais, de forma gradativa, em 100% dos alunos a partir do desenvolvimento das ações do projeto.
5. OBJETIVOS
� Geral: Promover ações de valorização e acolhimento dos idosos através da inserção no currículo de conteúdos que contemplem os temas transversais permanentes que possibilitem na prática social do aluno,professores e funcionários da escola, mudanças de comportamentos e atitudes no trato com pessoas da terceira idade.
� Específicos:
• Conhecer e divulgar o estatuto do idoso; • Aprender como e quando se inicia o processo de envelhecimento; • Participar de eventos e atividades sobre a temática, promovidos pela
escola; • Desenvolver atitudes de respeito, atenção e valorização ao idoso; • Acabar, de forma gradativa, com preconceitos sobre os idosos.
6. Ações
• Pesquisa sobre o idoso em diferentes contextos históricos; • Levantamento de dados sobre os idosos da comunidade (idade, naturalidade,
escolaridade, profissão, estado civil, filhos, preferências, doenças, etc) para elaboração
de registros e encaminhamentos; • Inclusão de textos, nas atividades de leitura e escrita, sobre a temática do
idoso; • Elaboração de tabelas e gráficos sobre os idosos da comunidade; • Promoção de campanhas de valorização e proteção ao idoso, na família e
comunidade; • Confecção de painéis fotográficos de idosos para exposição na UE; • Comemoração do Dia do Idoso com atividades diversas e a participação da
comunidade; • Encontros Culinários e confecção do livro de “Receitas da Vovó”; • Criação de oficinas de lazer ( música,dança,jogos,alongamentos etc); • Convite a idosos para contar histórias, recitar poemas etc, para os alunos da
escola; • Elaboração de cartilha ilustrada sobre o Idoso para distribuição na
comunidade; • Organização de palestras com especialistas em saúde, sobre a temática; • Arrecadação de alimentos para idosos carentes da comunidade; • Visitação a abrigos e asilos de idosos; • Realização de entrevistas com idosos que se destacaram na comunidade; • Organização de musical para apresentação aos idosos • Apresentação de peças teatrais sobre questões que envolvem a temática do
idoso; • Implantação de uma sala específica de alfabetização para Idosos; • Formação de coral dos idosos
7. Público Alvo
Todos os alunos, professores e funcionários das escolas que compõem a Rede Municipal de Ensino - da Educação Infantil à 8ª série do Ensino Fundamental. 7. AVALIAÇÃO As atividades realizadas sobre a temática deverão ser avaliadas pelo coletivo da escola através da observação das atitudes/comportamentos e participação dos alunos, professores e funcionários no desenvolvimento de suas ações. “Não é importante somente adicionar anos à vida. Mas, vida aos anos conquistados”.