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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ESCOLA DE ENFERMAGEM “MAGALHÃES BARATA” MESTRADO ASSOCIADO DE ENFERMAGEM UEPA - UFAM Zélia de Oliveira Saldanha O SENTIDO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA A MULHER COM CÂNCER DE MAMA EM SITUAÇÃO DE METÁSTASE ÓSSEA compreensão fenomenológica Belém 2017

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ESCOLA DE ENFERMAGEM “MAGALHÃES BARATA” MESTRADO ASSOCIADO DE ENFERMAGEM UEPA - UFAM

Zélia de Oliveira Saldanha

O SENTIDO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA A MULHER COM CÂNCER DE MAMA EM SITUAÇÃO DE

METÁSTASE ÓSSEA

compreensão fenomenológica

Belém 2017

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ZÉLIA DE OLIVEIRA SALDANHA

O SENTIDO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA A MULHER COM CÂNCER DE MAMA EM SITUAÇÃO DE

METÁSTASE ÓSSEA

compreensão fenomenológica

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Mestrado Associado da Universidade do Estado do Pará – UEPA e Universidade Federal do Amazonas – UFAM, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Linha de pesquisa: Educação e Tecnologia de Enfermagem para o Cuidado em Saúde a Indivíduos e Grupos Sociais Orientadora: Prof.ª Dr.ª Antônia Margareth Moita Sá

Belém 2017

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UEPA

Saldanha, Zélia de Oliveira O sentido do cuidado de enfermagem para a mulher com câncer de mama em situação de metástase óssea: compreensão fenomenológica. / Zélia de Oliveira Saldanha; orientadora Antônia Margareth de Moita Sá. -- Belém, 2018.

128 f. : il.

Dissertação (Mestre em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará / Universidade Federal do Amazonas, 2018.

1. Enfermagem. 2. Câncer de mama. 3. Saúde da mulher. 4. Lesão óssea

metastática. I. Sá, Antônia Margareth de Moita, Orientadora. II. Título.

CDD 22.ed. 610.73 ___________________________________________________________________

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ZÉLIA DE OLIVEIRA SALDANHA

O SENTIDO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA A MULHER COM CÂNCER DE MAMA EM SITUAÇÃO DE

METÁSTASE ÓSSEA

compreensão fenomenológica

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de

Pós-Graduação em Enfermagem, Mestrado Associado da

Universidade do Estado do Pará – UEPA e Universidade Federal

do Amazonas – UFAM, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Linha de pesquisa: Educação e Tecnologia de Enfermagem para

o Cuidado em Saúde a Indivíduos e Grupos Sociais

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Antônia Margareth Moita Sá

Aprovada em: _____/______/______

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________ - Orientadora Prof.ª Dr.ª Antônia Margareth Moita Sá Universidade do Estado do Pará - UEPA

_______________________________________________ - Examinador Interno Prof.ª Dr.ª Mary Elizabeth de Santana Universidade do Estado do Pará - UEPA _______________________________________________ - Examinador Interno - Suplente Prof.ª Dr.ª Iaci Proença Palmeira Universidade do Estado do Pará - UEPA _______________________________________________ - Examinador Externo Prof.ª Dr.ª Marília de Fátima Vieira de Oliveira Universidade Federal do Pará - UFPA _______________________________________________ - Examinador Externo - Suplente Prof.ª Dr.ª Aline Maria Pereira Cruz Ramos Núcleo de Pesquisas Oncológicas - NPO / UFPA

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Dedico este trabalho a Deus, que foi meu guia e minha força para chegar até aqui.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela oportunidade de poder chegar até aqui. Por ter conduzido cada

detalhe de toda essa jornada e por ter colocado anjos ao meu lado em cada momento.

Mesmo em todas as dificuldades, Ele JAMAIS me desamparou. A Ele, toda honra e

glória sejam dadas.

Aos meus pais. Obrigada por cada oração, cada abraço, cada conselho, cada

palavra de conforto. Obrigada por sempre acreditarem em mim e por depositarem toda

a confiança de vocês em mim. Essa vitória é de vocês e por vocês. Amo vocês.

Ao meu irmão, por ser, sempre, meu ajudante oficial. Por me socorrer nos mais

diferentes momentos. Essa vitória também é sua.

Ao meu amor, Deyvison. Obrigada por estar presente nos momentos de alegria

e também naqueles momentos tristes. Por estar sempre pronto para me ajudar no que

fosse possível. Por ser, muitas vezes, a voz que me acalmou, o ombro que enxugou

minhas lágrimas. Não estaria aqui sem o seu apoio e de sua família. Te amo.

Aos meus familiares: tios, tias, primos e primas. Obrigada por sempre estarem

ao meu lado durante esses anos. Essa vitória também é de vocês.

Aos professores do Mestrado Associado de Enfermagem UEPA - UFAM, em

nome da professora Laura Vidal, por sua colaboração e esforço para transformar este

projeto em realidade.

À professora Margareth Sá, obrigada pelas orientações, pela motivação e

convívio durante esses anos.

À Marcandra Nogueira, por ter sido meu anjo da guarda nos momentos de mais

aflição. Obrigada pelo conhecimento compartilhado, pela amizade, pela sensibilidade

e pela compreensão

Às amigas que o mestrado me deu de presente: Gisele, Ana Cláudia, Dianne,

Cláudia, Kamila e Samantha. A caminhada foi àrdua, mas a ajuda e o companherismo

de vocês deixaram-na leve. Obrigada por tudo!

Aos amigos do pequeno grupo “Letrados na Palavra”: Tia Ruth, Tio Martins,

Natália, Naiade, Tiago, Valério, Laís, Ana Ruth, Verena, Jheniffer e Leide. Obrigada

por acompanharem cada momento dessa jornada e por cada oração realizada. Essa

vitória também é de vocês.

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Às Katitas do meu coração: Amanda, Andresa, Anna Carolina, Jamille, Josy,

Camyla e Wanessa. Obrigada pelas orações, pela amizade, pela paciência e por me

escutarem, aconselharem e entenderem a minha ausência. Amo vocês.

Aos amigos que levo da faculdade para a vida: Cristina, Mara, Rosany, Rafael e

Caroline. Obrigada pelo apoio, pelo companheirismo e por sempre serem os

resposáveis pelos momentos de alívio durante os dias.

Aos profissionais da Universidade do Estado do Pará e do Hospital Ophir Loyola,

por contribuírem nessa jornada.

Às mulheres participantes dessa pesquisa, pela confiança e por compartilharem

as suas experiências.

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RESUMO

SALDANHA, Zélia do Oliveira. O sentido do cuidado de enfermagem para a mulher com câncer de mama em situação de metástase óssea: compreensão fenomenológica. Belém, 2017. 127f. Dissertação – Universidade do Estado do Pará.

Este estudo teve como objeto o cuidado à mulher portadora de câncer de mama com metástase óssea e como objetivo geral desvelar o cuidado de enfermagem para mulheres com câncer de mama em situação de metástase óssea. Optou-se nesta investigação pelo método fenomenológico de pesquisa e, para a análise compreensiva, pela fenomenologia hermenêutica de Martin Heidegger. Após as entrevistas com as mulheres em situação de metástase óssea, foi possível realizar a assimilação dos significados, a partir do que os sujeitos expressaram de suas vivências, posteriormente agrupados em Unidades de Significação. Estas foram divididas em três unidades, sendo a primeira delas a mulher e o ato de se descobrir com câncer, referindo à presença de comportamentos negativos; de pensamentos de morte, de isolamento social e de recusa da doença; e à utilização da fé como forma de enfrentar a vida após a confirmação do diagnóstico. A segunda unidade corresponde à mulher convivendo com a metástase óssea, mostrando as dificuldades, desconfortos e limitações do próprio corpo durante o dia a dia e que, quase sempre, geram sentimentos de inutilidade e impotência. A terceira e última unidade abrange o significado de cuidado para a mulher com câncer, compreendendo o cuidado como demonstrações de carinho, de amor, de atenção e de apoio e o cuidado de enfermagem por zelo e comportamento profissional. Na hermenêutica, o ser-mulher-com-câncer confrontando, no momento do diagnóstico, com o temor, a angústia e a sensação de finitude e de morte, enfrentados com modos próprios de seu cotidiano. Diante da facticidade, o ser-mulher compreende o sentido do cuidado de enfermagem pelo zelo nos procedimentos realizados, atenção, solicitude e corresponsabilidade nas adversidades e nas indagações em relação ao seu tratamento, tornando-se responsável pelo destino do outro. Este estudo traz uma reflexão sobre a compreensão do cuidado para as mulheres que enfrentam esse processo de adoecimento, como uma nova possibilidade para a enfermagem de assistência humanizada e integral. Palavras-chave: Metástase Neoplásica. Neoplasia da Mama. Cuidados de Enfermagem. Filosofia em Enfermagem. Pesquisa Qualitativa.

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ABSTRACT SALDANHA, Zélia do Oliveira. The meaning of nursing care for the woman with breast cancer in a situation of bone metastasis: phenomenological understanding. Belém, 2017. 127f. Dissertation - University of the State of Pará. This study had as object the care for women with breast cancer with bone metastasis and as general objective to unveil the nursing care for women with breast cancer in situation of bone metastasis. In this investigation the phenomenological method of research was choose and, for the comprehensive analysis, Martin Heidegger’s hermeneutic phenomenology. After the interviews with women carriers of bone metastasis was possible to perform the meanings' assimilation from what the subjects expressed of their experiences, later grouped in Units of Significance. These were divided in three units, being the first about woman and the act of discovering herself with cancer, referring to the presence of negative behaviors; thoughts of death, social isolation and refusal of illness; and the use of faith as a way of facing life after diagnosis confirmation. The second unit corresponds to the woman living with the bone metastasis, showing the difficulties, discomforts and limitations of the body during the daily routine and that often generate feelings of uselessness and impotence. The third and final unit covers the meaning of care for women with cancer, including care as demonstrations of affection, love, attention and support, and nursing care as diligence and professional behavior. In hermeneutics, the being-woman-with-cancer confronts, at the moment of diagnosis, with fear, anguish and the sense of finitude and death, faced with modes of their daily lives. Faced with facticity, the being-woman understands the sense of nursing care through the zeal in the procedures performed, attention, solicitude and co-responsibility in adversities and inquiries regarding their treatment, becoming responsible for the destiny of the other. This study brings a reflection on the understanding of care for women facing this process of illness, as a new possibility for the nursing of humanized and integral care.

Keywords: Neoplasm Metastasis. Breast Neoplasm. Nursing Care. Philosophy, Nursing. Qualitative research.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 24

2.1 Processo histórico dos cuidados à saúde da mulher no sistema

de saúde 23

2.2 O câncer de mama e metástase óssea 27

2.3 Cuidados de enfermagem à saúde da mulher com câncer de

mama fora de possibilidade terapêutica 31

3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO DO ESTUDO 35

3.1 Fenomenologia segundo pensamento Heideggeriano 35

3.2 O cuidado segundo o pensamento de Martin Heidegger 40

3.3 A hermenêutica de Heidegger 42

4 PERCURSO METODOLÓGICO 45

4.1 Método 45

4.2 Apresentando as participantes da pesquisa 46

4.3 Cenário de estudo 46

4.4 Coleta de dados 47

4.5 Análise fenomenológica 48

4.6 Riscos e benefício 49

4.7 Aspectos éticos 50

5 RESULTADOS 51

5.1 Compreensão vaga e mediana

5.2 Unidades de significação

51

51

5.2.1 Unidade 1 - A mulher e o descobrir-se com câncer 51

5.2.2 Unidade 2 - A mulher convivendo com a metástase óssea 56

5.2.3 Unidade 3 - O significado de cuidado para a mulher com câncer 58

6 HERMENÊUTICA 64

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 72

REFERÊNCIAS 76

APÊNDICES

APÊNDICE A

83

84

APÊNDICE B 86

APÊNDICE C 87

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ANEXOS 117

ANEXO A 118

ANEXO B 122

ANEXO C 123

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APRESENTAÇÃO DO ESTUDO

A metástase óssea mostra-se como um dos maiores desafios no manejo

clínico e no prognóstico do câncer, sendo um dos principais avanços da doença

para as mulheres que inicialmente apresentaram câncer de mama. E permanece

como um conteúdo ainda complexo quando buscamos entender uma forma de

sistematizar a assistência de enfermagem a esse público. Este estudo visa a

trazer, através da fenomenologia, a compreensão de como o fenômeno ocorre,

sendo o objeto o cuidado de enfermagem a mulher com câncer de mama em

situação de metástase óssea.

As seções deste estudo tentam apresentar ao leitor uma abordagem

reflexiva, mostrando à enfermagem o modo pelo qual o seu cuidado e suas

práticas são compreendidos. Para tal, o primeiro e segundo capítulo versam a

respeito da temática em questão e da aproximação da autora com as mulheres

com câncer de mama em situação de metástase óssea. O terceiro e o quarto

capítulo apresentam, respectivamente, a trajetória teórica e filosófica que

embasaram o desenvolvimento do estudo.

O quinto capítulo apresenta o primeiro momento metódico da análise

compreensiva, formado pela compreensão vaga e mediana. O sexto capítulo faz

referência ao desvelamento do fenômeno, propriamente à hermenêutica. E,

compondo o sétimo capítulo, as considerações e reflexões a respeito do estudo.

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), os tipos de neoplasia

que mais acometem as mulheres são: mama, colorretal, colo do útero, pulmão e

estômago. O número de casos novos de câncer esperado para o Brasil em 2016-

2017 é de 600 mil e, destes, estima-se 300.870 ocorrências para o gênero

feminino, sendo 57.960 casos novos de câncer de mama. Em específico para

este tipo de carcinoma, esperam-se, para a Região Norte, 1.810 novos casos:

para o estado do Pará um quantitativo de 830 ocorrências, sendo 410 previstas

para a capital, Belém (AZEVEDO; LOPES, 2010; INCA, 2015).

A mortalidade feminina apresenta perfil distinto da mortalidade masculina,

devido às diferenças biológicas, comportamentais, demográficas e sociais. As

causas de morte e a incapacidade entre mulheres variam conforme a etapa do

ciclo de vida. Entre as mulheres com idades mais avançadas sobressaem as

doenças crônicas não transmissíveis segundo os dados do Sistema de

Informações sobre Mortalidade (SIM), as neoplasias representaram a segunda

maior causa de óbitos feminino no Brasil em 2013, com um quantitativo de 1.925

ocorrências. Já para a população masculina, as neoplasias compõem a terceira

maior causa de mortalidade, com um quantitativo de 2.115 óbitos para o mesmo

ano (DEPARTAMENTO DE INFORMÁTICA DO SUS, 2013).

Perante este cenário, o câncer na população feminina torna-se uma das

grandes preocupações do sistema de saúde, principalmente pelos impactos

físicos, psicológicos e sociais que acarretam para a mulher. Viver com uma

doença ligada a estigmas e incertezas, um prognóstico geralmente desfavorável

e com a possibilidade de recorrência do câncer constituem algumas das

frequentes dificuldades enfrentadas no cotidiano feminino e que demandam

cuidados voltados a essas peculiaridades (AZEVEDO; LOPES, 2010).

Segundo Salci e Marcon (2008), a mulher apresenta-se como cuidadora

por excelência; é o ser que tem a capacidade de perceber, sentir e analisar as

situações, e acaba tornando-se uma fonte de apoio aos membros de sua família,

sendo responsável pela transmissão de ideais, conceitos de “família” e

preservação, e união deste núcleo. Essa mulher, ao enfrentar um processo de

adoecimento cujo tratamento requer vários períodos de afastamento ou de

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hospitalizações, pode acabar gerando sentimento de culpa por se ausentar do

lar e do cuidado para com a família. Com o possível agravamento do caso e a

possibilidade de morte, essa mulher acaba vivenciando uma inversão de papéis,

de pessoa cuidadora a um ser que necessita de cuidados.

A confirmação do câncer acarreta efeitos traumáticos; confrontam-se

intensas fases, que acabam por desenvolver um nível de sofrimento físico e

psíquico. O momento do diagnóstico; os tratamentos quimioterápicos, com

drogas citotóxicas e anti-inflamatórias; a exposição às radiações ionizantes; a

convivência com os efeitos adversos das modalidades terapêuticas; e o duvidoso

encontro com cura, recidiva ou perspectiva da morte são exemplos de situações

vivenciadas pela mulher com câncer, bem como também pela família e por toda

a rede de apoio envolvida no cuidado. Isso exige da equipe de enfermagem o

conhecimento científico e as habilidades no tocante ao reconhecimento de sinais

e/ou sintomas subjetivos próprios desses clientes (ARAÚJO, 2012; SOUZA;

VALADARES, 2011).

Diante deste complexo cenário de tratamento, conhecer a realidade dessa

clientela torna-se um desafio. Além das dificuldades impostas pela própria

doença, a mulher em tratamento oncológico é suscetível às complicações

provenientes do avanço da doença. E, dentre estas, a metástase óssea mostra-

se como um dos maiores desafios no manejo clínico e no prognóstico, pois suas

consequências influenciam diretamente e negativamente na qualidade de vida

de pessoas com câncer.

O termo "metástases" vem do grego (meta = além; stasis = parar), sendo

originalmente empregado no contexto da Teoria Fisiológica Humoral vigente 400

- 500 anos A.C.. Em 1889, Paget propôs a hipótese “semente e solo fértil” para

explicar o fenômeno de distribuição de sítios específicos de metástase, conforme

cada tipo de câncer. De acordo com essa teoria, as células malignas (sementes)

disseminam-se em sítios distantes (solo fértil) que forneçam um microambiente

favorável (bioquímico e fisiológico) para a sua implantação e colonização. Assim,

a metástase é uma sequência de eventos interdependentes, que, porém, ainda

não foram completamente esclarecidos (ARAÚJO et al, 2013; COLEMAN, 2011;

MEOHAS et al., 2005).

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As metástases ósseas ocorrem com maior frequência para os tumores

primários do câncer de mama, pulmão e próstata, sendo menos comum aos

demais tumores sólidos. Porém, a metástase do carcinoma de mama é a que

possui maior predileção pelo esqueleto. A lesão é osteolítica em

aproximadamente 80% das doentes. Antes do óbito, aproximadamente 70% das

mulheres com câncer de mama apresentarão alguma metástase nos ossos. Os

tumores primários da mama correspondem à principal fonte de metástases na

coluna, representando 16,5 a 21% de todos os tipos. Tal fato decorre de a

incidência e sobrevida das mulheres com câncer de mama serem maiores do

que nos demais tipos de cânceres, levando, assim, ao aumento de casos de

metástases para a coluna (ARAÚJO et al, 2013; MORAES; DAHER; FREITAS

JÚNIOR, 2008).

As pessoas com metástase óssea experimentam, além das transformações

advindas do próprio adoecimento, mudanças de estruturas ósseas, podendo

apresentar relatos de dor intensa, debilidade de locomoção, limitações do

autocuidado, compressão medular (disfunção sensorial e motora, alterações na

diurese e no trato gastrointestinal, dor), fraturas patológicas ou osteonecrose,

afastamento ocupacional, depressão e ansiedade. Somados a esta

sintomatologia, podem apresentar caquexia e a necessidade de utilização

constante de opióides. Por essas características, se faz relevante abordagem

assistencial específica para essa clientela, o que demanda uma discussão com

maior profundidade (PATRICK et al., 2015).

Uma vez diagnosticada a metástase óssea e iniciado o tratamento paliativo,

há necessidade de uma abordagem multidisciplinar, que vise à redução de

complicações ósseas e medidas que controlem a dor, como, por exemplo: a

radioterapia, cirurgia, quimioterapia, terapia alvo, radionucleofármacos,

analgésicos e anticorpos monoclonais humanos ou agentes antiabsorventes

(AGARWAL; NAYAK, 2015; BODY; CASIMIRO; COSTA, 2015; PATRICK et a.l,

2015).

A Portaria nº 874, de 16 de maio de 2013, que estabelece a Política

Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde

das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde

(SUS), apresenta como princípio um cuidado integral e, dentre suas diretrizes,

oportunizar um atendimento compatível a cada nível de atenção e evolução da

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doença, incluindo os cuidados paliativos para os casos em que houver

necessidade (BRASIL, 2013).

Observando esses aspectos, faz-se oportuna uma reflexão sobre o cuidado

para mulheres com câncer e que convivem com a metástase óssea,

principalmente para que o enfermeiro compreenda o cuidado para além da

doença e das manifestações físicas, inserindo ações em seu cotidiano que

expressem a compreensão em relação ao seu existir doente.

Mesmo com o avanço tecnológico em que o campo da oncologia e

oncogenética se encontram, observam-se lacunas significativas no tocante à

etiologia, tratamento e cura dessa doença que impacta cruelmente a população

mundial. Assim, a Enfermagem pode atuar de maneira significativa na

identificação de respostas humanas e no estabelecimento de estratégias que

proporcionem a recuperação da saúde ou a melhoria do bem-estar individual ou

coletivo. Além disso, a equipe de enfermagem está por mais tempo próxima do

paciente e de seus familiares (STUMM; LEITE; MASCHIO, 2008).

Os enfermeiros que atuam com pacientes oncológicos necessitam ter um

cuidado diferenciado com a assistência ofertada, por se tratar de uma área da

enfermagem complexa e que envolve uma abordagem transdisciplinar na

presença da insegurança, disparidade e imprevisto que ocorrem na difícil

realidade do estado de saúde dessas mulheres.

Para compreender melhor o cuidado, observamos o conceito apresentado

por Boff (2003) sobre o significado:

[...] é mais do que um ato singular ou uma virtude ao lado das outras. É um modo de ser, isto é, a forma como a pessoa humana se estrutura e se realiza no mundo com os outros. Melhor ainda: é um modo de ser-no-mundo que funda as relações que se estabelecem com todas as coisas. (BOFF, 2003, p. 473)

Dessa forma, a concepção de cuidado deixa de ser compreendida apenas

como algo inerente à existência humana e ultrapassa a noção de um momento

de atenção, de zelo e desvelo. Torna-se, então, uma atitude de dimensões

maiores, que acabam incorporando ocupação, preocupação, responsabilização

e envolvimento afetivo com o outro (BOFF, 2003).

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O cuidado precisa caracterizar como uma atitude e não apenas como um

ato que ocorre em determinado momento. Considerando isso, o cuidado passa

a ser observado como um fenômeno ontológico-existencial básico e, fazendo

parte da natureza e da constituição do ser humano, revela sua maneira concreta

de ser-no-mundo-com-os-outros (BOFF, 2003; HEIDEGGER, 2011).

Relevante ressaltar que, para o cuidado ser considerado como uma

atitude, é importante que os envolvidos nesse processo entendam as

modificações que o diagnóstico de câncer pode trazer. Diferentes eventos

estressores podem ser observados e podem ser compatíveis com o

enfrentamento de uma doença que ameaça à integridade física e exige cuidados

intensivos. Acrescentem-se ainda repercussões emocionais em relação a um

tratamento longo, invasivo, turbulento e com potenciais efeitos colaterais,

revelados pela angústia, insegurança e preocupação com a sobrevida ou

aparecimento de metástases (RAMOS et al., 2012).

Partindo dessa perspectiva, o cuidado de enfermagem para o

atendimento da mulher com câncer de mama em situação de metástase óssea

precisa ser diferenciado, em que possa haver maior aproximação com a pessoa,

por meio da comunicação verbal, para identificar suas necessidades e

proporcionar melhor qualidade de vida. Compreender a pessoa com câncer e

todas as suas complexidades deve ser primordial para aqueles profissionais que

se comprometem com o cuidado humano, que buscam cuidar por meio da

ocupação de estar-com-o-outro, responsabilizando por sua pessoa e não apenas

por sua doença ou tratamento.

Atualmente, é possível observar que o cuidado humano vem sofrendo

algumas influências da modernização, sendo desenvolvido, em muitos casos, de

forma mecânica e automatizada, acarretando a desumanização no cuidado aos

usuários de saúde. Pode ser percebido também, que as relações entre paciente

e profissional estão tornando-se, em muitos casos, frágeis e hostis (RAMOS et

al, 2012).

Para Carvalho et al (2015):

[...] fica evidente que a eficiência técnico-científica é de extrema importância para o sucesso das ações desenvolvidas nos serviços de saúde, porém, se estiver desacompanhada de princípios e valores humanos essenciais na relação entre

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profissionais e usuários, será insuficiente para a existência da qualidade na assistência à saúde. No campo das relações humanas que caracterizam qualquer atendimento de saúde, é essencial agregar a eficiência técnica e científica ao respeito à singularidade das necessidades humanas, tanto do usuário como do profissional (CARVALHO et al, 2015, p. 62).

Assim, proporcionar um cuidado humanizado e compreendê-lo perpassa

pelas experiências que advêm do cotidiano, que fazem do indivíduo doente um

ser único e especial nos mais variados espaços e situações, por meio de uma

assistência individualizada e com o foco neste ser que adoece, e não na doença

que o acomete (CARVALHO et al, 2015).

Apesar de todo o avanço do conhecimento científico e das pesquisas na

área da oncologia, ainda há uma sequela do passado de preconceitos em

relação à doença, que dificulta o vivenciar do paciente e o lidar do profissional e

da família. Para se compreender a atmosfera que envolve a pessoa em

tratamento oncológico, é importante conhecer os antecedentes históricos, os

estigmas sociais sofridos por ela e a forma como os enfrentou, principalmente

quando se observa essa realidade da perspectiva do adoecimento em mulheres.

As conquistas alcançadas atualmente pelas mulheres são fruto do

rompimento de vários tabus impostos pela sociedade ao longo da história social,

durante a qual elas vivenciaram, por muitos séculos, a submissão e a

discriminação. Porém, mesmo com todas as transformações ocorridas no papel

da mulher na sociedade, ela ainda continua sendo a principal responsável pela

criação dos filhos e, dentro do seio familiar, é a detentora do fazer e do saber

cuidar. Todavia, ao descobrir o câncer e com a possibilidade de morte, ela acaba

por adentrar um campo conflituoso, de efeitos indesejáveis (SALCI; MARCON,

2008; BARROS; MELO; SANTOS, 2014).

O diagnóstico de câncer tem, geralmente, um efeito devastador na vida da

mulher, seja pelo temor às mutilações e desfigurações que os tratamentos

podem provocar, seja pelo medo da morte ou pelas muitas perdas nas esferas

emocional, social e material que, quase sempre, ocorrem. A trajetória após a

descoberta do diagnóstico envolve, inicialmente, uma fase de conflito emocional,

originada pela descoberta da enfermidade. Nas fases seguintes, ocorre

mudanças e alterações relacionadas a diferentes aspectos da vida, decorrentes

da doença e dos tratamentos, e, por fim, uma fase de adaptação para viver no

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mundo como portadora de câncer, o que implica a adoção de um novo estilo de

vida (BARROS; MELO; SANTOS, 2014).

O convívio com a doença pode gerar diferente tipos de reações e

sentimentos, muitas vezes estressantes, tanto à paciente quanto aos familiares.

O tratamento proposto leva à realização de diferentes exames diagnósticos, o

que contribui para o aumento de sentimentos de ansiedade e de aflição por parte

da paciente. Em muitas situações, observa-se, também, o medo em relação ao

prognóstico; às possíveis alterações no corpo, advindas do processo patológico;

e à maneira como elas serão vistas pelas outras pessoas (SMELTZER; BARE,

2008).

Assim, diante de seu diagnóstico, a mulher com câncer de mama enfrenta

diferentes mudanças. Portanto, é imprescindível que haja assistência

humanizada, capaz de vê-la como pessoa que sofre, mas que não perdeu sua

essência. Deste modo, a assistência de enfermagem voltada a essa mulher,

além de conhecer a realidade de seu tratamento, deve oferecer um tratamento

que atenda às necessidades fisiológicas, além de apoio emocional, orientação,

respeito e ajuda em direção a um novo modo de viver a todos os envolvidos na

rede familiar e social dessa mulher (ARAÚJO et al., 2010).

A busca pela compreensão do cuidado sempre esteve inserida em minhas

intenções de estudos, mesmo durante a graduação em Enfermagem. De forma

ainda incipiente, no início de minha trajetória acadêmica sempre privilegiei a

sensibilidade como instrumento para a aproximação ao outro, para compreendê-

lo como possuidor de diferentes angústias, limitações, dores e desejos, como

forma de construção do meu entendimento sobre o cuidado.

Porém, essa busca se tornou uma prioridade maior quando tive o contato,

pela primeira vez, com um caso de câncer em minha família, minha mãe, que

teve câncer de mama. Ao enfrentar essa realidade, tentava compreender um

novo arranjo para a convivência familiar e um novo cenário de tratamento, até

então ainda desconhecido para uma recém-formada. Em muitas situações

durante o tratamento, eu observava, na presença de diferentes profissionais de

enfermagem, abordagens com impaciência ou certa rispidez, o que me

incomodava profundamente.

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Como forma de compreender, para cuidar com mais qualidade da saúde

de minha mãe, interessei-me pela área da oncologia. Dessa forma, ingressei na

Residência Multiprofissional em Oncologia, a fim não somente de conquistar

uma especialização, mas, também, de contribuir com um modo diferenciado para

a assistência, levando em consideração a pessoa humana e suas vivências e

atrelando a cientificidade do cuidado em enfermagem.

Durante o período de minha Residência, tive a oportunidade de lidar com

diferentes situações e pessoas, em diferentes fases de tratamento. Foi durante

o período de estágio nos Cuidados Paliativos que pude observar um olhar

diferente de atendimento por parte dos enfermeiros, principalmente por estarem

lidando com a procura de alívio da dor e a promoção da qualidade de vida para

um grupo de pacientes em que a cura não é mais prioridade, a exemplo da

condição de metástase óssea.

O primeiro contato que tive com pessoas com metástase óssea foi por meio

de uma mulher com câncer primário de mama. Minha aproximação com ela foi

acontecendo naturalmente, e as ações de cuidado paliativo se intensificaram

cada vez mais. No período final da Residência, mantive um contato maior com o

serviço de cuidados paliativos e, mesmo observando uma maneira diferente de

abordagem, ainda pairavam indagações sobre como a compreensão da

realidade de cada indivíduo e das transformações que o adoecer trazem e como

poderia auxiliar os profissionais de enfermagem na forma de cuidado mais

próprio, em especial com as mulheres em situação de metástase óssea.

Para a construção deste projeto de pesquisa, inicialmente realizei buscas

nos catálogos do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEn),

LILACS, BDENF e PubMed sobre as vivências do paciente oncológico em

situação de metástase, com o intuito de me aproximar da temática e elaborar o

Estado da Arte, seguindo como questão norteadora: quais as evidências

científicas referentes aos cuidados de enfermagem à paciente com câncer de

mama em estágio avançado de doença no período de 2005 a 2017?

Inicialmente a busca foi realizada por obras que retratassem a metástase

óssea; porém, por apresentar dificuldades para observar estudos somente sobre

a metástase óssea, foram selecionados os estudos que atendessem à temática

dos cuidados e às experiências do paciente oncológico metastático ou em

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situação de metástase óssea ou, ainda, às temáticas relacionadas com vivências

e experiências de pacientes fora de possibilidade terapêutica.

Foram definidos como critérios de inclusão: a) artigos, dissertações e teses,

produzidos no período de 2005 a 2017, que apresentem a versão completa do

estudo disponível on-line; b) artigos, dissertações e teses escritos em português,

inglês e espanhol. E, como critérios de exclusão, artigos, dissertações e teses:

a) não disponíveis na íntegra; b) repetidos; c) que retratassem os cuidados de

enfermagem a família e cuidadores ou com foco em crianças e adolescente ou

temática voltada para as vivências de profissionais ou problemas gerenciais de

enfermagem.

Para o levantamento nas bases de dados foram utilizados três Descritores

em Ciência da Saúde (DeCS): “câncer de mama”, “metástases neoplásicas” e

“cuidados de enfermagem”; para busca nos catálogos do CEPEn, foram

utilizadas as palavras: “mulher”, “cuidado”, “câncer avançado” e “metástases”.

Articulando-se os descritores (DeCS) e as palavras, foram encontrados 104

(cento e quatro) artigos e 80 (oitenta) estudos, entre dissertações e teses. Após

leitura minuciosa, e utilizando os critérios de inclusão e de exclusão, foram

selecionadas 10 (dez) publicações e 9 (nove) obras.

Em relação aos artigos encontrados, quatro (4) foram publicados em

periódicos específicos de enfermagem (International Journal

of Palliative Nursing, Nursing Standard, British Journal of Nursing e Seminars in

Oncology Nursing) e seis (6) publicadas em revistas especializadas no cuidado

a pacientes oncológicos. Quanto ao país de origem, um (1) foi publicado no

Brasil, quatro (4) na Inglaterra, três (3) nos Estados Unidos e dois (2) na

Alemanha. Quanto ao idioma, nove (9) estavam escritos em inglês e apenas um

(1) em português.

Em relação aos catálogos do CEPEn, foram encontradas oito (8)

dissertações de mestrado e uma (1) tese. Observou-se predomínio de estudos

nos anos de 2006, com três (3) pesquisas, seguido pelo ano de 2005, com duas

(2) pesquisas. Em relação às regiões onde essas produções se originaram, a de

maior destaque foi a Região Sudeste, com seis (6) obras (cinco dissertações de

mestrado e uma tese de doutorado); em seguida, a Região Sul (duas

dissertações de mestrado); e, finalizando, com uma (1) dissertação de mestrado,

aparece a Região Centro-Oeste. Não foram encontrados registros de obras das

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regiões Norte e Nordeste que se adequassem aos critérios de inclusão deste

estudo.

Em relação aos métodos utilizados nesses estudos, foram observadas

pesquisas com abordagens quantitativas, com estudos analíticos e protocolos

assistenciais, que objetivaram analisar o perfil, a qualidade de vida e a forma de

assistências prestadas às mulheres fora de possibilidade terapêutica. Dentre as

pesquisas qualitativas, foram observados estudos fenomenológicos,

etnográficos e de observação de campo, que apresentavam, como objetivos,

descrever aspectos sobre as experiências vivenciadas pelas mulheres no

decorrer do tratamento oncológico.

A análise dos estudos resultou em duas categorias, capazes de sinalizar

as evidências sobre “experiência do doente” e “análise dos pacientes”. Para a

primeira categoria, “experiência do doente”, os estudos objetivaram uma análise

sobre as experiências, significados e vivências do indivíduo ao enfrentar um

processo de adoecimento, de forma a ampliar o conhecimento sobre os

sentimentos dos pacientes, favorecendo aos profissionais um olhar mais próximo

da realidade vivenciada e desvinculando o cuidado apenas do “fazer”, voltando-

o para o “escutar” e, posteriormente, para o “fazer”.

A categoria 2, “análise dos pacientes”, configura uma observação do perfil

de pacientes que se encontram fora de possibilidade terapêutica, tendo em

comum a exposição dos principais aspectos que as modalidades de tratamento

aos quais são submetidos podem representar para o surgimento de diferentes

sinais e sintomas, como a dor, e como estes poderiam influenciar na qualidade

de vida dos indivíduos.

E, em especifico para a primeira categoria, “experiência do doente”, é

oportuno reiterar que a produção de estudos que objetivam uma abordagem para

o conhecimento a partir da perspectiva do paciente com câncer possibilita ao

enfermeiro, na prática de seu cuidado, um olhar diferenciado para as

necessidades específicas desse grupo, contribuindo para a prática de

enfermagem mais humanizada. Porém, como foi possível identificar pelo número

de pesquisas encontradas, essa forma de abordagem ainda é limitada.

Por isso, torna-se necessária uma ampliação de estudos sobre o cuidado,

principalmente às mulheres com câncer de mama, já que necessitam de uma

atenção que contemple a sensibilidade de olhá-las em sua fragilidade, como

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alguém dotado de consciência e que necessita que sua esfera existencial seja

considerada no processo de cuidado, e não somente o seu corpo físico e o

processo de tratamento.

A partir desses resultados, e dentre as linhas de pensamento com as quais

tive contato, a fenomenologia foi a que me despertou um grande interesse, por

possibilitar a compreensão do cuidado considerando a existência, a vivência e o

significado daquele que enfrenta um problema de saúde. E assim, com o intuito

de responder às minhas indagações, optei por estudar a mulher com câncer de

mama em situação de metástase e, por meio da fenomenologia, realizar uma

reflexão sobre o cuidado prestado a essas mulheres e oportunizar possibilidades

para ações de um cuidado próprio.

O enfermeiro tem, como uma de suas habilidades, uma maior aproximação

com esse paciente, alcançada por meio da comunicação verbal, para identificar

suas necessidades e proporcionar melhor qualidade de vida. A importância

desse relacionamento, paciente e equipe de enfermagem, e família, no processo

de cuidar, inclui a maneira como é dada a notícia, na clareza com que é abordado

o assunto, a abertura que é dada ao paciente e à sua família para que, assim,

se possa conversar sobre o seu sofrimento, sentimentos, dúvidas e recuperação.

A ajuda do profissional de enfermagem envolve sua contribuição na identificação

dos problemas desses pacientes, com o intuito de ajudar a enfrentá-los de forma

realista, de participar ativamente da experiência e, se possível, encontrar

soluções para eles (PEDRO; FUNGHETTO, 2005).

E, como forma de entender a particularidade desse processo de cuidar, é

importante conhecer como é, para essas mulheres, o significado de ter a doença

oncológica, de observar qual o significado do retorno dessa doença, como é o

seu dia a dia e como conseguem observar o cuidado de enfermagem para com

elas.

Para tanto, este estudo teve como objeto de pesquisa o cuidado à mulher

portadora de câncer de mama com metástase óssea e como questão

norteadora: como é revelado o sentido do cuidado de enfermagem para

mulheres com câncer de mama em situação de metástase óssea?

A partir das reflexões sobre o contexto problemático presente na vida da

mulher com câncer e da possibilidade de contribuição para o cuidado de

enfermagem com essa clientela diferenciada, justificou-se o desenvolvimento

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dessa pesquisa, que teve como objetivo geral desvelar o sentido do cuidado

de enfermagem para mulheres com câncer de mama em situação de

metástase óssea, e em específico: compreender a condição de estar no mundo

para as mulheres com câncer de mama em situação de metástase óssea e

contribuir para uma compreensão do cuidado como possibilidade para as

mulheres com câncer de mama em situação de metástases ósseas.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Processo histórico dos cuidados à saúde da mulher no Sistema Único de Saúde

A diferença entre os sexos existe desde o início da humanidade, não

somente no sentido biológico, mas também no sentido social. As conquistas

alcançadas pelas mulheres advêm do rompimento de vários tabus impostos pela

sociedade ao longo da história social, durante a qual elas vivenciaram, por

muitos séculos, a submissão e a discriminação. A mulher se distingue do homem

por meio de características que envolvem áreas biológicas (podendo estar nas

diferenças genéticas, ações hormonais e na atividade do sistema imunológico),

comportamentais, demográficas e sociais (FUMIS, 2013).

O processo histórico vem descrevendo que a supremacia masculina sobre

a feminina inicia-se nas sociedades de caça aos grandes animais, onde se

privilegiava a força física. Nessas sociedades, o papel que a mulher exercia era

de reproduzir a espécie, sendo considerada como um ser sagrado, detentora do

privilégio dado pelos deuses, enquanto os homens se sentiam à margem desse

processo e invejavam as mulheres, contrariando a realidade atual (FUMIS,

2013).

No período da Idade Média, as mulheres deixavam seus pais para se

tornarem-se posses de seus maridos, que passavam a ter o domínio sobre elas.

Nessa mesma época, era uma prática comum o comércio de mulheres, por meio

das ofertas de dotes e a morte de meninas recém-nascidas, prática baseada em

questão de cunho político da época, tornando as mulheres mercadoria rara e

cara para que os homens não fossem incentivados a se casar, devido ao alto

preço das noivas. Assim, eram estimulados a ir em busca de terras,

empenhando-se nas guerras (MURARO, 2002).

No final do século XVIII e no século XIX, a mulher assumia o lugar da boa

mãe, dedicada em tempo integral, e responsável pelo espaço privado, ou seja,

pelo cuidado da casa, dos filhos e do marido. Ao homem, passa a caber o espaço

público da produção, das grandes decisões e do poder. A posição que a mulher

ocupava na família moderna proporcionava-lhe um status especial. A

maternidade se tornou, para ela, ao longo da história, uma das únicas funções

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valorizadas socialmente, permitindo-a ser reconhecida. Esse fenômeno

provocou-lhe o sentimento de pertencimento a uma posição de aparente

prestígio dentro do âmbito social (BORSA; FEIL, 2008).

Historicamente, a mulher esteve sempre banida da cena pública e política,

sua força produtiva era desconsiderada. Os trabalhos domésticos não recebiam

valor produtivo; eram apenas justificados em razão da “natureza feminina”,

essencialmente relativa, existindo somente para o homem e para os filhos.

Porém, com o advento da era iluminista, a mulher começou a reivindicar acesso

à cena pública e, somente após a Revolução Francesa, ela deixa as atividades

domésticas para contribuir na produção em série, à custa de muita exploração,

com longas jornadas de trabalho, condições péssimas de trabalho e com baixas

remunerações. E, depois das duas guerras mundiais, estava quebrado um dos

pilares da submissão da mulher, que era a impossibilidade de seu acesso direto

ao mercado de trabalho (MURARO, 2002; OLIVEIRA, 2015).

Para Oliveira (2015), as reivindicações e as conquistas feministas no Brasil

tiveram sua gênese através da Constituição de 1934, quando foi estendido às

mulheres o direito ao voto - mesmo havendo o artigo 446 da Consolidação das

Leis do Trabalho (CLT) (já revogado pela Lei nº 7.855, de 24 de outubro de

1989), que estabeleceu que a mulher precisava de uma autorização realizada

pelo marido para ter acesso ao emprego, o que, na prática, não foi fator

impeditivo do trabalho das mulheres.

Em relação à atenção à saúde da mulher no Brasil, até a década de 1970

ainda voltava-se para um atendimento biologicista, com ações focadas no

período gravídico, parto e puerpério. Somente em 1984, com a criação do

Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), houve uma

ampliação dos critérios de prioridade para além do ciclo gravídico-puerperal,

tornando as mulheres de todas as faixas etárias sujeito do cuidado e

incorporando medidas educativas, preventivas, de promoção, diagnóstico e

tratamento também no âmbito da ginecologia, climatério, planejamento familiar,

doenças sexualmente transmissíveis e câncer de mama e de colo de útero

(PASQUAL; CARVALHAES; PARADA, 2015; FREITAS et al., 2009).

Tendo em vista a necessidade de acompanhar as mudanças no cenário

referentes às políticas voltadas para a saúde da mulher, como forma de

evolução, formulou-se a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher

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(PNAISM) em 2003. A PNAISM teve, entre seus objetivos, a melhoria das

condições de vida e saúde, em todas as fases do ciclo de vida, além de ampliar

o acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção e assistência integral à

saúde da mulher em todo o território brasileiro, sem discriminação de qualquer

espécie (PASQUAL; CARVALHAES; PARADA, 2015).

Segundo Freitas et al (2009), a PNAISM reforça a humanização da atenção

em saúde, concebendo que humanização e qualidade da atenção são aspectos

indissociáveis. Nesse sentido, é imprescindível considerar que humanizar é

muito mais do que tratar bem, com delicadeza ou de forma amigável, devendo

ser consideradas questões de acessibilidade ao serviço nos três níveis da

assistência, provisão de insumos e tecnologias necessárias, formalização de

sistemas de referência e contrarreferência, disponibilidade de informações e

orientação da clientela e a sua participação na avaliação dos serviços.

Esta nova política fora formulada a partir de avaliações das políticas

anteriores e oportunizou o preenchimento de lacunas antes observadas, como:

climatério/menopausa, queixas ginecológicas, infertilidade e reprodução

assistida, saúde da mulher na adolescência, doenças crônico-degenerativas,

saúde ocupacional, saúde mental e doenças infectocontagiosas, assim como um

olhar especialmente voltado às mulheres rurais, com deficiência, negras,

indígenas, presidiárias e lésbicas (BRASIL, 2004).

Porém, mesmo havendo esforços, segundo Pasqual, Carvalhaes e Parada

(2015) as políticas públicas nacionais para atenção à mulher ainda mantêm

ações voltadas à fase reprodutiva, o que constitui um grande desafio para a

ampliação do cuidado, especialmente quando se considera o período do

climatério, em que, além das alterações próprias, é comum o aparecimento de

doenças crônico-degenerativas, incluindo o atendimento oncológico a essas

mulheres.

Diante do cenário de atenção à mulher, um dos primeiros programas

criados para a detecção precoce do câncer, no final dos anos 1990, foi o

Programa Viva Mulher. De nível nacional, abrange o controle do câncer do colo

do útero e do câncer de mama e tem como objetivo a organização de uma

prestação de serviços para atender à demanda de mulheres que desejam se

submeter aos exames e tratamentos indicados (INCA, 2015; SILVA et al., 2014).

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Para Silva et al (2014), esse programa foi considerado um grande avanço

no que diz respeito ao controle do câncer ginecológico e de mama, pois

possibilitou um arcabouço de medidas mais estruturadas, que favoreceram o

estímulo e o acesso das mulheres aos serviços de saúde, em especial daquelas

que vivem em situações de maior risco para o desenvolvimento da doença.

Assim, esses autores também salientam que o programa representou o

desenvolvimento de ações para um controle mais amplo e efetivo do câncer,

promovendo a saúde e a detecção precoce, além de medidas de vigilância

epidemiológica, com vistas à redução dos índices de novos casos e de mortes.

Outros aspectos também reforçam a preocupação, por parte do governo,

com a atenção às mulheres, em especial ao câncer de mama e de colo do útero,

que se configuram como os mais incidentes nesse grupo. Porém, o cuidado

voltado à mulher com câncer de mama será abordado com maiores detalhes nos

tópicos seguintes.

2.2 O câncer de mama e a metástase óssea

O câncer é uma doença tão antiga que, durante o percurso histórico,

apresentou diferentes significados de sua real fisiopatologia. Teve como causa

a relação com fatores místicos, considerada uma doença advinda de castigos

divinos, e a pessoa acometida pelo câncer era responsabilizada pelo seu próprio

sofrimento; também estava relacionada como doença impura, associada a

precárias condições de higiene física e até moral, o que resultava em uma série

de constrangimentos aos que estavam doentes, diante da sociedade, por ser

caracterizado como uma doença contagiosa em que a pessoa era vista como

um cidadão que não seguia os preceitos de responsabilidade social, deixando

de seguir as regras de higiene (SILVA, 2008).

Atualmente, é considerada como um conjunto de doença com alterações

genéticas e mecanismos regulatórios epigenéticos, que resultam em um fenótipo

maligno com proliferação autônoma e elevada heterogeneidade molecular, o que

repercute no seu difícil manejo. Considerada como um grave problema de saúde

pública para o Brasil, estima-se, para o biênio 2016-2017, a ocorrência de cerca

de 600 mil casos novos de câncer. Excetuando-se o câncer de pele não

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melanoma (aproximadamente 180 mil casos novos), ocorrerão cerca de 420 mil

casos novos da doença (BRASIL, 2014; INCA, 2015).

Dentre os diferentes tipos de cânceres, o de mama é considerado como

uma doença heterogênea, com apresentação e acompanhamento clínico

bastante complexo. Em escala mundial, dentre os tipos de cânceres, é o

segundo mais incidente (1,7 milhão) e o mais frequente para a população

feminina, correspondendo a 25,2% dos casos mundiais. Para o Brasil, a

estimativa para o ano de 2016 foi de 58 mil casos, sendo o mais frequente para

as mulheres brasileiras (28,1%), seguindo o perfil previsto por dados mundiais

(BRASIL, 2014).

Histologicamente, a mama é uma glândula sudorípara, formada por

ramificações de ductos e lóbulos. Apresenta compostos acinares, formados por

células epiteliais e mioepiteliais, envoltos por um estroma de tecido adiposo e

tecido fibroso. Dentre o parênquima mamário, ainda é possível encontrar

linfonodos intraductais e suas respectivas ramificações para as axilas. Pelas

características morfológicas e unidades funcionais da mama, as lesões são

originadas principalmente dos ductos e lóbulos. E, uma vez desenvolvidas,

passam a ser classificadas como benignas (não neoplásicas e neoplásicas) e

malignas. Englobam uma extensão de subtipos histológicos e são classificadas

de acordo com o grau de diferenciação, proliferação e fenótipo celular

(DELMONICO; ALVES; AMARAL, 2015).

O seu desenvolvimento pode ocorrer devido às mutações genéticas dos

genes supressores BRCA-1 e BRCA-2. O primeiro gene é responsável por cerca

de 40% de todo câncer de mama hereditário e o BRCA-2 está relacionado com

85% de risco para o câncer de mama. O câncer de mama pode apresentar

diferentes tipos histológicos. Segundo Figueiredo et al (2009), os mais comuns

são:

• Carcinoma in situ: são carcinomas de origem tanto lobular como ductal,

que não apresentam invasão na membrana basal;

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• Carcinomas infiltrantes ou invasores: ocorrem quando as células

epiteliais malignas atingem a membrana basal, podendo invadir o estroma

mamário, podendo ser dos seguintes tipos histológicos: carcinoma ductal

invasor, carcinoma mucinoso, carcinoma medular, carcinoma tubular, carcinoma

lobular infiltrante, carcinoma papilar, carcinoma raro, carcinoma microinvasor,

carcinoma inflamatório e doença de Paget.

A idade é o principal fator de risco para o câncer de mama feminino, ao

qual podem também ser associados outros fatores de risco, como, por exemplo:

aqueles relacionados à vida reprodutiva da mulher (menarca precoce,

nuliparidade, idade da primeira gestação a termo acima dos 30 anos, uso de

anticoncepcionais orais, menopausa tardia e terapia hormonal), história familiar

de câncer de mama, alta densidade do tecido mamário, obesidade, urbanização

e elevação do status socioeconômico (BRASIL, 2014).

Após o diagnóstico confirmado, as opções terapêuticas podem incluir tanto

tratamento local, como a cirurgia do tumor primário, avaliação do acometimento

axilar e radioterapia; e o tratamento sistêmico, que traz a quimioterapia. Sendo

que este tratamento sistêmico pode acontecer de modo prévio, no qual

chamamos de neoadjuvante, ou pode ser realizado após a cirurgia e

radioterapia, chamado de tratamento adjuvante. As modalidades terapêuticas

combinadas podem ter o objetivo curativo ou paliativo, sendo observado que

todas elas podem ser usadas de maneira isolada ou com o intuito paliativo

(BRASIL, 2014).

É considerado um câncer que apresenta um bom prognóstico quando

diagnosticado e tratado o mais precocemente possível, sendo que a sobrevida

observada no Brasil é de aproximadamente 80%. No entanto, quando

diagnosticado em estágios avançados, com a presença de metástases

sistêmicas, a cura não é possível. Dentre os tipos de metástases que podem

surgir, está a metástase óssea. Esta, por sua vez, acarreta prejuízos para uma

qualidade de vida já afetada pela presença do câncer e torna-se ainda um grande

desafio para os profissionais que a atendem, já que devem procurar alternativas

em conjunto para aliviar os efeitos negativos dessa complicação advinda da

própria doença (BRASIL, 2014; GARBAYO et al., 2004).

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As metástases ósseas se desenvolvem a partir de êmbolos de células

malignas, que se desprendem do tumor primário e que são favorecidas pelo

crescimento e desenvolvimento tumoral; acabam por se desprenderem e

alcançar os vasos linfáticos e sanguíneos do tecido ósseo. Existem alguns

fatores quimiotáticos do próprio tecido do hospedeiro, que favorecem certa

predileção das células tumorais por órgãos específicos, como é o caso do câncer

de mama. De modo que, aliado a fatores anatômicos e bioquímicos, há a

probabilidade da criação de um ambiente favorável para a colonização e

crescimento de células tumorais (GARBAYO et al., 2004).

Essas metástases podem afetar em diferentes regiões ósseas e a invasão

pode provocar tanto uma destruição óssea localizada (lesões líticas) ou

crescimento ósseo excessivo (lesões blásticas). Dentre as regiões afetadas, a

coluna vertebral é o local mais frequentemente acometido no sistema

esquelético: cerca de 30-90% dos pacientes com câncer em estágio terminal

apresentam metástases comprometendo a coluna vertebral. Outras regiões

também podem ser afetadas: a região lombar, seguida por torácica, cervical e

do sacro, como também a região pélvica e costelas (ARAÚJO et al, 2013;

SMELTZER; BARE, 2012; GARBAYO et al., 2004).

As pacientes que apresentam metástases ósseas podem exibir uma

ampla variedade de manifestações clínicas associadas, como, por exemplo: dor,

fratura patológica, hipercalcemia e compressão medular. Em muitos casos,

esses sintomas se apresentam em quadros considerados de urgência

oncológica, por isso, o objetivo para o tratamento desse grupo em específico é

o de intervir diretamente sobre essa manifestação clínica (FONSECA; COELHO,

2014).

Ainda para estes autores, o principal objetivo do tratamento é o de

proporcionar alívio da dor, preservação da função e manutenção da integridade

do esqueleto. Assim, a condução do tratamento deve ser individualizada e

levando em consideração o prognóstico da paciente, pois, mesmo considerando

a sobrevida de pacientes com metástases ósseas ser geralmente curta, algumas

podem ter sobrevidas mais longas, tornando-se um público mais susceptível às

complicações relacionadas ao tratamento e requerendo alívio mais prolongado

da dor.

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Como formas de intervenções clínicas para essas pacientes, as principais

modalidades terapêuticas incluem o tratamento farmacológico (quimioterapia,

terapia hormonal, bifosfonatos), cirurgia, radioterapia e terapia com

radionuclídeos. Desse modo, torna-se relevante a presença da enfermeira

durante todo o processo, a fim de promover e avaliar tanto as condições clínicas

como os comportamentos de enfrentamento e incentivo e apoio para tal

(FONSECA; COELHO, 2014; SMELTZER; BARE, 2012).

2.3 Cuidados de enfermagem à saúde da mulher com câncer de mama fora

de possibilidade terapêutica

Ao longo do tempo, diferentes iniciativas buscaram a implementação de

políticas orientadas ao combate e controle do câncer. No ano de 1986, o

Ministério da Saúde expandiu a ação da Campanha Nacional de Combate ao

Câncer e, assim, foi criado o Programa de Controle do Câncer, o Pro-Onco,

responsável por desenvolver ações de controle do câncer para o país. Com a

promulgação da Lei Orgânica da Saúde, em 1991, o Pro-Onco foi transferido

para o Instituto Nacional de Câncer (INCA), e este, pelo artigo 41 da Lei nº 8.080,

tornou-se órgão referencial para o estabelecimento de parâmetros e avaliação

da prestação de serviços ao SUS. O Pro-Onco tinha como linhas básicas de

trabalho: a informação e a educação, com foco nos quatro tipos de câncer mais

incidentes, entre eles o do colo do útero e o de mama (SANTOS et al, 2014;

INCA, 2015).

Nos anos de 1991, 1998 e 2000, atos presidenciais confirmaram a missão

do INCA como órgão responsável por assistir ao Ministério da Saúde na

formulação da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC),

como seu respectivo órgão normativo, coordenador e avaliador. Desde então,

ele tem desempenhado um importante papel em todas as áreas técnico-

científicas de prevenção e controle do câncer no Brasil (SANTOS et al, 2014).

Com a Portaria nº 2.439, de 8 de dezembro de 2005, e a instituição da

Política Nacional de Atenção Oncológica, como ação e componente de planos

para estados e municípios, o controle dos cânceres do colo do útero e de mama.

Ainda neste ano, foi elaborado o Plano de Ação para o Controle dos Cânceres

de Colo do Útero e de Mama 2005-2007, que propunha seis diretrizes

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estratégicas, as quais envolviam qualidade da assistência, acesso aos serviços

e desenvolvimento de pesquisas. E, em 2006, o Pacto pela Saúde ressalta a

importância da detecção precoce dessas neoplasias, ao incluir como indicador

nas pactuações para melhoria das ações prioritárias da agenda sanitária

(BRASIL, 2006).

Porém, com o cenário do câncer no país, observa-se um crescimento

progressivo em todas as faixas etárias e gêneros, com diagnóstico muitas vezes

descoberto em estadiamento tardio, taxas de incidência crescentes e de

incapacidades de toda ordem para os pacientes, que acabam por gerar grandes

demandas ao sistema de saúde. Foi então que, em 2013, diante dessa situação

epidemiológica e da necessidade de redução da mortalidade e das

incapacidades, a política de atenção oncológica sofreu uma atualização. Foi

instituída, pela Portaria nº 874, de 16 de maio de 2013, a Política Nacional para

a Prevenção e Controle do Câncer, na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas

com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo

objetivo é contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos usuários com

câncer, por meio de ações de promoção, prevenção, detecção precoce,

tratamento oportuno e cuidados paliativos (MENDES; VASCONCELOS, 2015;

BRASIL, 2013).

De acordo com a Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer,

estabelecida na Portaria nº 874/2013, os cuidados paliativos estão inseridos em

todos os níveis de atenção na área de saúde, respeitando o conceito de

hierarquização da assistência no âmbito do SUS, que se traduz na atenção

básica de saúde, na média e na alta complexidade, garantindo, com isso, o

direito integral, de caráter universal e com equidade à saúde do cidadão.

Oportunizando, em grande parte dos casos, cuidados intensivos de conforto e

gestão do fim de vida (BRASIL, 2014).

Nessa perspectiva, é interessante ressaltar o papel da enfermagem nos

cuidados a essa mulher, diante de aspectos que envolvem um olhar sobre as

políticas públicas que incluam o cuidar do paciente oncológico e o papel do

profissional de enfermagem nesse contexto e, principalmente, no atender uma

mulher com câncer de mama em estágios avançados.

O paciente com câncer deve contar com uma ampla estrutura de apoio para

enfrentar as diferentes etapas do processo, pois requerem intensos cuidados,

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exigindo da equipe de enfermagem conhecimentos científicos e habilidades no

tocante ao reconhecimento de sinais e/ou sintomas subjetivos próprios desses

clientes (SOUZA; VALADARES, 2011).

Para se compreender a atmosfera que envolve o paciente oncológico, é

importante conhecer os antecedentes históricos, os estigmas sociais sofridos por

ele e a forma como os enfrentou. Mesmo com todo o avanço do conhecimento

científico e das pesquisas na área da oncologia, ainda há uma sequela de um

passado em que a doença era alvo de preconceito, que dificulta o vivenciar do

paciente e o lidar do profissional e da família. Esses antecedentes históricos

repercutem nas concepções que o homem e a sociedade atribuem ao câncer na

atualidade (INCA, 2008)

Diante de seu diagnóstico, o paciente oncológico enfrenta diferentes

mudanças, tanto nas suas relações sociais, familiares e até consigo mesmo.

Portanto, é imprescindível que haja assistência humanizada capaz, de vê-lo

como pessoa que sofre, mas que não perdeu sua essência. A assistência de

enfermagem para pacientes com câncer deve ser vista como cuidado pleno,

encorajador, afetuoso e comprometido em auxiliar na adaptação às novas

condições de vida (ARAÚJO et al, 2010).

Para Smeltzer e Bare (2012), o papel dos enfermeiros para pacientes com

presença de metástases ósseas vai além do atuar sobre a educação em saúde

e tratamento de seus sintomas, mas, também, o de fornecer suporte emocional.

Muitas pacientes acreditam que a recidiva da doença é mais angustiante que o

diagnóstico de câncer inicial, pois, além de se submeterem a novos tratamentos,

são confrontadas com uma incerteza maior sobre seu futuro e sua sobrevida em

longo prazo.

A ajuda do profissional de enfermagem envolve sua contribuição na

identificação dos problemas dessas pacientes, no intuito de ajudar a enfrentá-

los de forma realista, participar ativamente da experiência e, se possível,

encontrar estratégias para o enfrentamento dos mesmos, a fim de contribuir para

a melhoria na qualidade de vida. Partindo dessa concepção, a participação de

familiares e de outras pessoas que compõem o núcleo familiar deve ser incluída

no plano de tratamento e no cuidado de acompanhamento (SMELTZER; BARE,

2012; PEDRO; FUNGHETTO, 2005).

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Partindo dessa perspectiva, o cuidado de enfermagem para o

atendimento dessa clientela deve ser individualizado, pois cada fase da vida

apresenta transformações fisiológicas e psíquicas. O paciente se apresenta

fragilizado e com uma perspectiva de sobrevida reduzida; e, quando há um

diagnóstico de uma doença neoplásica, a sua perspectiva se torna bem reduzida

e ocorre um grau de sofrimento. O enfermeiro deve promover uma maior

aproximação com esse paciente, alcançado por meio da comunicação, para

identificar suas necessidades e proporcionar melhor qualidade de vida

(PETERSON; CARVALHO, 2011).

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3 REFERENCIAL TEÓRICO-FILOSÓFICO DO ESTUDO

O pensamento fenomenológico de Heidegger mostra-se propriamente

como o apelo de volta para as coisas em si mesmas. De modo que devem ser

retiradas dos próprios fenômenos as interpretações do pensamento tradicional

para que eles se manifestem por si mesmos, utilizando isso na interpretação da

existência humana (SANTOS; SÁ, 2014).

3.1 Fenomenologia segundo o pensamento Heideggeriano

Martin Heidegger nasceu em 26 de setembro de 1889, numa pequena

cidade da Alemanha chamada Messkirch, distrito de Baden. Proveniente de

família pobre e católica, recebeu formação religiosa até os primeiros anos de sua

juventude. Aos 17 anos, interessou-se pelos estudos da filosofia através da obra

de Franz Brentano (para alguns, considerado o precursor da fenomenologia,

antes mesmo de Husserl). Em 1915, aproximou-se de Husserl, dedicando-se à

fenomenologia, na busca da compreensão do ser (SALIMENA; SOUZA; MELO,

2015).

Heidegger desenvolveu um pensamento e um método próprio de

interpretação e análise na busca de compreender os entes dotados do ser da

presença e o seu sentido de ser em sua existência. Em sua obra “Ser e Tempo”,

Martin Heidegger anuncia sua adesão à fenomenologia como método de seu

fazer filosófico, considerando-a como “deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que

se mostra, tal como se mostra a partir de si mesmo”. Dentro de sua filosofia,

Heidegger substituíra a epistemologia da interpretação pela ontologia da

compreensão. O ser humano sempre terá uma compreensão do ser

(HEIDEGGER, 2011).

Heidegger, movido pelo “deixar e fazer ver” e “as coisas em si mesmas”,

no âmbito da fenomenologia, trazia o olhar para um referencial teórico decisivo

na ultrapassagem da subjetividade moderna, caracterizando uma atitude

fenomenológica, permitindo com que o fenômeno próprio se manifeste (SILVA,

2010).

Para Silva (2010), a fenomenologia de Heidegger seria o método do

autêntico pensar, de forma a diferenciá-lo do que até então Husserl, seu mestre,

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tinha proposto para a mesma como uma teoria da consciência. Ele não entendeu

que a fenomenologia lida com as estruturas dos modos de ser do homem e que

há mais em nós, seres humanos, a ser ressaltado do que atos ou atitudes

intencionais (SALIMENA; SOUZA; MELO, 2015).

A influência de Husserl em seus estudos gerou três instituições

fundamentais para o pensamento heideggeriano. A primeira tem relação com o

conceito grego de logos, no sentido de tornar manifesto; a segunda tem relação

com o significado de phainesthai, que traduziu por “mostrar-se”; e, por fim, tem

relação com o termo também grego aletheia, apontando para o sentido de

“desocultar”. Esta última tem a compreensão radical de desocultamento ou

desvelamento do ente como nada mais que a verdade, a qual diz respeito a todo

mostrar do ente. E, a partir desse entendimento, abrem-se novas possibilidades

de abordagem para o ser (SILVA, 2010).

Para Salimena, Souza e Melo (2015), podem ser observadas as

expressões “ôntico” e “ontológico” no pensamento de Heidegger. O ôntico faz

referência à dimensão e instância dos fatos, que são os objetos, as coisas; pode-

se dizer que todo nós seres humanos somos seres da dimensão ôntica. Já na

instância fenomenal, que é a ontológica, ocorre o despir-se do ser humano, que

se manifesta como ser da pré-sença e desvela-se a partir da visão prévia dos

significados que expressa ao ser questionado.

Suas reflexões acerca da diferença ontológica entre ser e ente o levaram à

busca da formulação da questão sobre o sentido do Ser. Em seus estudos,

propunha rever a questão do Ser no contexto da filosofia tradicional,

compreendendo que, durante séculos, este olhar tradicional não conseguiu

definir tal questão. Assim, ao revê-la, Heidegger encaminha sua reflexão de

maneira a mostrar que a filosofia tradicional foi incapaz de definir o Ser, pois, na

verdade, ela sempre o considerou como sendo o ente (CAMARGO, 2000;

DUBOIS, 2004).

A retomada desses questionamentos, oportunizada por Heidegger,

promove uma recolocação de conceitos filosóficos que, até então, eram visto

apenas por uma visão metafísica e que necessitavam de uma abordagem

diferenciada para a compreensão do Ser, com a utilização da fenomenologia em

sua análise. Heidegger não queria se opor ou destruir o que havia sido

estabelecido sobre essa temática. De certa forma, ele queria demonstrar que

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cada pensador havia contribuído de alguma forma para a compreensão do Ser

ou com uma compreensão mais apropriada do ente (que é o ser-aí); porém, isto

ofuscou a busca pela essência do Ser, sendo então preciso recolocá-la em cena

(CAMARGO, 2000).

O projeto de sua fenomenologia se fundamenta numa análise existencial

para a elaboração dessa questão. A descrição do que é o Ser é uma das

questões mais polêmicas e discutidas na fenomenologia de Heidegger. Para ele,

o Ser é indescritível, mas que está ligado à possibilidade, à existência ou àquele

que, enquanto abertura, pode ser desvelado como possibilidade, porém é aquilo

que não se mostra diretamente. Já o ente (ou fato) é aquilo que se mostra de

maneira direta, sendo algo que podemos conceituar e determinar, diferente do

Ser, que pode ser desvelado como possibilidade (CAMARGO, 2000; SANTOS,

2012; HEIDEGGER, 2011).

O termo Dasein, que vem do alemão Da (aí, aqui) e Sein (ser), surge como

o respondedor necessário da questão do ser. O Dasein é o ente a quem o ser

diz respeito. Ele não significa o ente humano, mas o homem pensado no

relacionamento com seu ser, ser de possibilidades, capaz de transcender limites

como nenhum outro. Assim, ele apresenta como significado “existir” ou “estar aí,

está aqui”; designa não somente a existência própria do homem, mas também

um modo privilegiado de ser (DUBOIS, 2004; HEIDEGGER, 2011).

E, para o desenvolvimento inicial desta pesquisa, faz-se necessária a

busca pela compreensão de alguns conceitos na fenomenologia Heideggeriana.

Tais conceitos foram construídos a partir dos estudos de Dubois (2004):

Fenômeno - apresenta-se como tudo aquilo que se manifesta em si, a sua

essência, e não apenas o que aparenta, pois estas aparências constituem o

fenômeno, mas não podem ser consideradas como tal;

Ex-sistência (presença) – Derivado do grego, significa “estar fora”. É o

modo como o ser liga o homem ao mundo. A natureza do ser do Dasein (ser-aí)

está relacionada à sua ex-sistência, à abertura às suas possibilidades. A ex-

sistência está relacionada à transcendência, à questão do projetar-se para o

mundo. Compreende-se como aquilo que emerge, que desvela, é o poder-ser;

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Ente - é tudo de que falamos, tudo que entendemos, com que nos

comportamos dessa ou daquela maneira; ente é também o que e como nós

mesmo somos;

Ser - está naquilo que é e como é na realidade. Voltado para análise do ser

simplesmente dado, no teor e recurso, no valor e validade, na pré-sença, no “há”;

Ser-com/Ser-junto – observando aspecto existencial, faz referências a

nossas relações com outros entes. Somente ao ente dotado do modo-de-ser da

presença (o Dasein) é possível “tocar” outro ente.

Ser-no-mundo – para Heidegger, o Dasein e o mundo são estruturas que

se complementam, pensadas a partir do fenômeno da unidade. Não se trata,

portanto, de pensar o ser do Dasein como um ser “dentro” do mundo, mas como

um ser que compõe o mundo e por ele é também composto. O modo de ser da

presença no mundo é chamado Mundano;

Intramundano – é o modo de ser dos outros entes, os quais Heidegger

denominou “entes simplesmente dados” dentro do mundo;

Cuidado – é o modo de ser-com do Dasein, ser-consigo mesmo, ser-com

outros Dasein e ser-com os demais entes intramundanos. Ele contempla o modo

positivo de cuidar dos entes; não é sinônimo de bondade, é entender

autenticamente o que é importante.

Pode ser compreendido da seguinte forma: como um ato, que ocupa o

sentido ôntico, ou apreendendo como possibilidades, tomando um sentido

ontológico, considerando uma atitude muito além de um simples ato, além

daquilo que pode ser compreendido (OLIVEIRA; CARRARO, 2011)

Cotidiano – em uma interpretação ontológica, o termo cotidiano está ligado

às situações em que, frequentemente, o homem se encontra “nos afazeres”

comuns da vida;

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Cura – uma característica do ser-aí, que diz respeito à forma com que ser-

aí pode cuidar e zelar. Do ponto de vista ôntico, todos os comportamentos e

atitudes do homem são dotados de cura e guiados por uma “dedicação;

Falatório – faz referência ao ato de repetir e passar adiante a fala oral ou

escrita, sem haver uma compreensão autêntica e crítica daquilo que se ouve,

resultando numa falta de compromisso com o que se fala;

Angústia – não é considerada apenas como um fenômeno psicológico e

ôntico, e, sim, sua dimensão é ontológica, pois nos remete à totalidade da

existência como ser-no-mundo. Heidegger pensa a angústia como apenas um

fenômeno existencial da finitude humana;

Ambiguidade – pode ser considerado como um movimento de oscilação,

sendo que este movimento não apresenta critérios para distinguir o existir

autêntico do inautêntico. Também considerada como o modo de ser do ser-no-

mundo, no qual revela possibilidade de interpretações duplas para os

fenômenos;

Ocupação – Nossa relação com o mundo acontece por meio do manuseio,

do uso, do contato com os entes que vêm ao encontro dentro do mundo com

instrumentos, sendo estes tudo aquilo com que nos deparamos em nosso mundo

e assume um sentido dentro dele;

Autenticidade – É o modo de ser si mesmo do Dasein, o seu modo próprio

de ser; é a apropriação de si, sendo uma real abertura às mais diferentes formas

e possibilidades;

Inautenticidade – É um modo de ser cotidiano, marcado pelo falatório, em

que nunca há um aprofundamento do que foi dito. É o modo impróprio de ser do

Dasein.

Partindo destes conceitos prévios, é importante salientar que as análises

se focam na questão do sentido do Ser, porém, para encontrar resposta para tal

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pergunta, ela necessariamente precisa ser questionada. E este questionamento

se desdobra em três polos: o questionado, aquilo que questionamos, o sentido

do ser; o perguntado, aquilo que perguntamos a respeito do questionado, a meta

de questionamento e aquilo que deve ser descoberto; e o interrogado, o ente

que compreende o ser, aquele que interrogamos para obter o perguntado

(HEIDEGGER, 2011; DUBOIS, 2004).

Como forma de desenvolver esses polos de questionamentos, as autoras

Salimena, Souza e Melo (2015) trazem dois momentos metódicos para o seu

desenvolvimento. O primeiro momento é onde existe a preocupação em explicar

o fato, o ente, ou seja, expor aquilo que se mostra diretamente na maioria dos

casos para todos; a isso Heidegger chama de compreensão vaga e mediana.

Num segundo momento, observa-se o des-velar do Ser/fenômeno/sentido que

estava até então velado e que necessitava então se de-construir a fim de o trazer

à luz.

Para Gonzalez et al (2012), por meio da fenomenologia de Martin

Heidegger criou-se um modo único de se expressar e definir situações no

mundo. Para o filósofo, o fenômeno se mantém velado frente ao que se mostra.

Ao mesmo tempo, mostra-se diretamente, de modo a constituir o seu sentido

para quem o vivencia. Deste modo, esse método permite chegar-se à

compreensão do ser, a partir de situações vivenciadas pelos indivíduos.

Esse método tem alcançado valiosas contribuições para o conhecimento

das diversas dimensões que envolvem o cuidado no processo de viver humano,

que, até então, encontravam-se inexploradas A fenomenologia poderia se tornar

uma importante ferramenta de investigação para que a Enfermagem pudesse

compreender os fenômenos que envolvem o processo de cuidar do outro

(DUARTE; ROCHA, 2011).

3.2 O cuidado segundo o pensamento de Martin Heidegger

Dentre as características mais primitivas do homem, o Cuidado é

considerado algo inerente ao ser humano e pode receber uma caracterização

como algo envolvido tanto no processo de formação do homem, quanto como

uma garantia de proteção e manutenção da vida. Deste modo, pode-se afirmar

que, desde bebê, o homem precisa de determinados tipos de cuidados que

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possam auxiliar sua sobrevivência e seu desenvolvimento enquanto ser humano

(LAVIOLA, 2013).

Quando o ser humano é observado em suas faculdades físicas e

biológicas, vê-se que não possui, em sua própria estrutura, capacidade de

manter-se vivo. Necessita, sempre, ir em busca de sua alimentação, de

vestuário, que lhe ensinem como falar e andar, por exemplo. Mesmo em

diferentes fases da vida, por diferentes circunstâncias, o Cuidado se torna uma

característica presente, onde pode se configurar em duas dimensões: naquela

que cuida e naquela que é cuidado (LAVIOLA, 2013).

Através da obra “Ser e Tempo”, Heidegger traz uma abordagem

diferenciada da tradição filosófica de Platão e Aristóteles sobre a questão do Ser.

E, consequentemente, trazendo questionamentos diferenciados sobre o sentido

do Ser, levando a descobrir o ente que questiona o sentido do Ser: o Dasein. E

este, ao se deparar com outros Dasein no mundo, desperta-o para uma atitude

de cuidado para com eles, levando a um cuidado que pode despertar nos demais

ser-aí a existência e escolhas (ALMEIDA, 2014).

E, por essa possibilidade, o Dasein é um poder-ser, ou seja, um conjunto

de possibilidades a serem realizadas a fim de que o homem possa assumir ou

não a sua existência. Assim, seu modo de ser não é o de uma realidade

objetivamente dada ou determinada. E essa configuração poderá gerar no

homem a angústia, a partir da qual, como “abertura de possibilidades e como um

encontrar-se a partir de si mesmo, Heidegger apresenta o Ser do Dasein como

cuidado” (LAVIOLA, 2013, p. 23).

O conceito de Cuidado (Sorge) é definido como o ser do ser-aí (Dasein),

ente principal da analítica existencial desenvolvida por Heidegger, e, de acordo

com seus estudos, o cuidado apresenta uma definição tripartida, que consiste

em três traços ontológicos fundamentais: existencialidade, facticidade e

decadência (DUBOIS, 2004).

Para Laviola (2013, p. 23), estas três dimensões estão diretamente ligada

e podem ser caracterizadas como:

Existencialidade: volta-se para o poder-ser do ser-aí, caracterizando o

cuidado como ser na antecedência de si;

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Factualidade: levando em consideração que o ser do Dasein é um poder-

ser do ser-aí, essa relação é determinada em algum lugar e, neste caso, é no

mundo. Então, a existencialidade é de fato determinada pela factualidade;

Decadência: é a fuga do Dasein diante do estranhamento dele mesmo,

motivado pela angústia.

E essas três dimensões configuram uma compreensão ontológica do termo

“preocupação”. E, observando através da seguinte perspectiva, a preocupação,

no sentido de um ser aberto a possibilidades, lançado num mundo em que

haverá relações, e o ser-aí, motivado pela angústia, não consegue encontrar um

significado pra si, e se observa junto “ao ente do interior do mundo que vem de

encontro”. E, dependendo do tipo de encontro, existe uma postura de cada

Dasein para o cuidado, marcado pela “ocupação” (Besorgen) e “solicitude” ou

“preocupação-com-o-outro” (Fürsorge) (LAVIOLA, 2013).

3.3 A hermenêutica de Heidegger

A palavra hermenêutica tem origem grega e apresenta, como significação,

esclarecer, traduzir, trazer a mensagem. Pode-se dizer que ela toma uma nova

possibilidade para a compreensão, toma o sentido de algo a revelar, a ser

descoberto e também desvelar os significados ocultos em um texto e na

linguagem. Seu uso permite que se chegue à compreensão do homem, de seu

mundo, de sua história e do próprio existir humano (ARAÚJO; PAZ; MOREIRA, 2012).

A hermenêutica na analítica existencial do Dasein é sempre baseada no

discurso, que é compreendido em quatro estruturas: o discurso é sempre sobre

algo (referência); discorre sobre alguma coisa acerca do que fala (significação);

partilha o ser para a coisa da qual fala (comunicação); e expressa o modo de

ser-no-mundo daquele que fala (expressão de sentido) (DUBOIS, 2004).

Em seu discurso em “Ser e Tempo”, Heidegger traz que a fenomenologia

deverá realizar a interpretação da existência do Dasein; deste modo, o filósofo

busca a existência para compreender as estruturas ontológicas fundamentais.

Assim, a fenomenologia se torna hermenêutica, tomando para si a tarefa de

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esclarecer e elucidar o conjunto das estruturas que compõem a existência. Como

Heidegger discorre em seu discurso:

A filosofia é uma ontologia fenomenológica e universal que parte da hermenêutica da presença, a qual, enquanto analítica da existência, amarra o fio de todo questionamento filosófico no lugar de onde ele brota e para onde retorna (HEIDEGGER, 2015, p.78).

Na fenomenologia hermenêutica Heideggeriana, o compreender dá-se em

um círculo que:

[...] exprime a estrutura prévia existencial própria da presença. O círculo não deve ser rebaixado a um vitiosum, mesmo que apenas tolerado. Nele se esconde a possibilidade positiva do conhecimento mais originário que, decerto, só pode ser apreendida de modo autêntico se a interpretação tiver compreendido que sua primeira, única e última tarefa é não se deixar guiar, na posição prévia, visão prévia e concepção prévia, por conceitos populares e inspirações. Na elaboração da posição prévia, visão prévia e concepção prévia, ela deve assegurar o tema científico a partir das coisas elas mesmas. Porque, de acordo com seu sentido existencial, compreender é o poder-ser da própria presença (HEIDEGGER, 2015, p. 214-215).

O estudo de Heidegger está baseado e estruturado pela posição prévia,

visão prévia e concepção prévia. Como pode ser observado no excerto acima, o

filósofo traz que aquilo que buscamos compreender, de certa forma já nos é

compreendido, ou seja, aquilo que já existe não pode ser ontologicamente

compreendido sem que, antes, sobre ele, já tenha algum tipo de inferência, sem

que ocorra uma antecipação, uma compreensão prévia de seu sentido

(HEIDEGGER, 2015).

Heidegger sustenta a hermenêutica como uma estrutura circular de

compreensão, de modo que a experiência de cada indivíduo do mundo só é

possível a partir do sentido do que é projetado, a partir das nossas práticas e do

contexto histórico em que estamos envolvidos. Esta estrutura favorece uma

inter-relação entre o todo significativo e as suas partes, os quais não se anulam

quando se completa a compreensão, mas, nela, alcançam uma realização

autêntica (SILVA, 2010; SANTOS, 2012).

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Dessa forma, em “Ser e Tempo”, Heidegger atribui à hermenêutica um

traço ontológico, de forma a mostrar e chamar atenção para que essa visão de

compreensão circular esclarecesse um traço constitutivo do Dasein enquanto

ente que existe sobre forma de compreensão e interpretação para a

promulgação de novas compreensões (SILVA, 2010; SANTOS, 2012).

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4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.1 Método

É uma pesquisa com abordagem fenomenológica, fundamentada na obra

“Ser e Tempo”, do filósofo Martin Heidegger (2015), para compreender o

fenômeno através do vivido por mulheres com câncer de mama em situação de

metástase óssea à busca do cuidado.

A fenomenologia surgiu na segunda metade do século XIX, como uma linha

de pensamento em contraposição à corrente de pensamento do Positivismo,

guiada pelos estudos do filósofo Edmund Husserl (1859 -1938). Essa vertente,

como suporte teórico e metodológico, em consonância ao referencial filosófico,

permite compreender, mostrar e descrever os fenômenos vivenciados, que se

mostram e se expressam por si mesmos (SALIMENA et al, 2015).

Assim, a fenomenologia permite que o fenômeno seja visto a partir dele

mesmo, o que resgata a questão existencial do ser que poderá estar obscurecido

pelo pensamento metafísico. Pode ser compreendida como a ciência do ser dos

entes, que é própria à ontologia. Somente esta pode se colocar diante da

questão sobre o sentido do ser e interpretá-la (PAIVA, 2017).

Heidegger mostra que, na maior parte das vezes, o ser está velado,

encoberto ou desfigurado, de modo que o significado do ser precisa ser

desvelado ou descoberto. O fenômeno que se busca explicar é o que forma o

ser, e ser é sempre ser de um ente, por isso é preciso apresentar um modo

correto de se aproximar desse ente que, na investigação, é a mulher

(HEIDEGGER, 2015).

Tendo como enfermagem uma profissão que busca, em sua ocupação, o

confortar, o ser com o outro, o dar segurança aos clientes, quer seja pelo

conhecimento técnico-científico, quer seja pela presença significativa,

respeitando suas pluralidades e singularidades, pode-se considerar a pesquisa

qualitativa, com abordagem fenomenológica, uma nova abertura à compreensão

dos diferentes significados que a mulher vivencia, em suas diferentes

possibilidades e potencialidades (PAIVA, 2017; SALIMENA et al, 2015).

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4.2 Apresentando as participantes da pesquisa

Participaram deste estudo 24 mulheres, que obedeceram aos critérios de

seleção definidos, que foram: mulheres, maiores de 18 anos, com diagnóstico

inicial para câncer de mama e que, atualmente, estivessem realizando algum

tratamento para metástase óssea; conscientes, mentalmente orientadas e em

condições de se comunicar verbalmente, sem limitações físicas que pudessem

conduzir a constrangimentos ou desconfortos. Para minimizar algum possível

desconforto, as entrevistas foram acompanhadas por uma psicóloga, segundo

orientação da própria instituição onde a pesquisa foi desenvolvida.

A composição do grupo, segundo a faixa etária, ficou distribuída entre 40 e

60 anos. E em relação à ocupação dessas mulheres: donas de casa,

aposentadas, agricultoras, professoras e pensionistas.

4.3 Cenário do estudo

Este estudo foi desenvolvido no Ambulatório de Quimioterapia de um

Hospital Público o qual é referência em oncologia do Estado do Pará, sendo

considerado um Centro de Alta Complexidade em Oncologia (CACON), e que

atende a clientela oriunda do Sistema Único de Saúde (SUS) de todo o Estado,

incluindo de estados vizinhos.

Atualmente, além da oncologia, o Hospital ainda atende outras 17

especialidades médicas, entre elas neurocirurgia e transplantes de córnea e rins.

Em 2013, foram 1.052.546 atendimentos, entre consultas ambulatoriais,

cirurgias, aplicações de radioterapia, sessões de quimioterapia, exames

anatomopatológicos e consultas de urgência e emergência (HOL, 2014).

A missão desse hospital de referência é oferecer assistência à saúde de

excelente qualidade, junto aos serviços de cuidados em oncologia, doenças

crônicas degenerativas e transplantes, no que diz respeito à prestação de

serviços de média e alta complexidade, ensino, pesquisa e extensão de forma

humanizada e articulada com as políticas públicas e em parceria com a

sociedade civil (HOL, 2014).

Sua história teve início no dia 6 de outubro de 1912, com a criação do

Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Pará. Inicialmente, tinha a

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finalidade de prover assistência médica à criança e, posteriormente, começou a

dedicar-se ao tratamento oncológico. Mas, em 2006, foi transformado em

autarquia, com o objetivo central de oferecer atendimento médico humanizado

de excelência em tratamento do câncer, doenças crônicas degenerativas,

fissuras lábiopalatal, transplantes de órgãos, entre outros serviços (HOL, 2014).

Em especial, o Ambulatório de Quimioterapia, localizado no segundo andar

do ambulatório do Hospital, com horário de funcionamento das 7h às 19h, todos

os dias, incluindo sábado, domingo e feriados. Dispõe de sete enfermarias,

atendendo às especialidades de oncologia clínica e hematologia. Atualmente, o

setor de quimioterapia conta com quatro enfermeiros e 23 técnicos de

enfermagem, distribuídos nos turnos da manhã e da tarde (HOL, 2016).

4.4 Coleta de dados

A técnica utilizada para a obtenção dos depoimentos foi a entrevista

fenomenológica. Segundo Paula et al (2016), este tipo de entrevista é utilizada

com o intuito de compreender as vivências do ser humano, por meio de uma

atitude fenomenológica, em que há foco no respeito à singularidade do ser, em

suas histórias e vivências que estão sendo compartilhadas.

Para Paiva (2017), a entrevista fenomenológica se constitui como uma

ferramenta que estabelece uma ligação com o sujeito investigado,

estabelecendo um diálogo aberto, tendo um olhar atento para as suas

manifestações, colocando-se no seu lugar para ver e sentir como está e, assim,

será mais fácil compreendê-lo. Muitas expressões ou até mesmo gestos e o

próprio silêncio podem significar aspectos importantes do seu ser pesquisado.

A coleta dos depoimentos iniciou após aprovação do projeto de pesquisa

pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), da Universidade do Estado do Pará

(UEPA), e após a autorização do Hospital Ophir Loyola. Após essa aprovação,

foi realizada uma aproximação com o setor do Ambulatório de Quimioterapia, na

qual tive a oportunidade de conhecer a estrutura e pude compartilhar com os

profissionais de saúde do setor a proposta deste estudo. Após esse primeiro

contato, foi feito um levantamento do quantitativo de mulheres que estavam

sendo acompanhadas pela equipe de saúde neste ambulatório e que atendesse

aos critérios de inclusão desta pesquisa.

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Posteriormente, foi realizada uma aproximação com as mulheres que

atenderam aos critérios de inclusão, quando foram apresentados os objetivos da

pesquisa e realizada uma leitura conjunta do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A), garantindo-lhes o direito de aceitar ou de

recusar participar da pesquisa de forma livre e voluntária. As entrevistas foram

posteriormente agendadas, conforme a data mais apropriada para a mulher,

como, por exemplo, em uma próxima visita ao hospital, e realizadas em sala

apropriada na própria instituição ou agendada em local mais conveniente para a

participante. Todas as entrevistas foram gravadas em sua íntegra e foi mantido

o anonimato e o direito de abandono da pesquisa a qualquer momento, se assim

fosse desejado.

As entrevistas foram dirigidas de acordo com o roteiro de entrevista que se

encontra no APÊNDICE B e tiveram como condutora a seguinte questão: qual o

significado do cuidado de enfermagem para as mulheres com câncer de mama

em situação de metástase óssea? E as seguintes perguntas: qual o sentido de

ter uma doença oncológica? Quais os sentimentos que você atribui ao retorno

da doença? Como está sendo seu dia a dia após saber do retorno da doença?

E como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante esse processo?

4.5 Análise fenomenológica

Segundo Melo (2015), a análise fenomenológica consiste na apreensão da

estrutura específica de cada unidade de significação, procurando revelá-las na

sua acepção mais geral, libertando-as de suas incertezas, a fim de facilitar uma

aproximação com a verdadeira essência do fenômeno que está sendo

pesquisado e estudado.

Para que seja alcançada essa apreensão, a análise deverá ocorrer em dois

momentos. Em relação ao primeiro momento, pode-se denominá-lo de dimensão

ôntica, onde será realizada uma aproximação com o fenômeno e foram

consideradas as experiências trazidas e vivenciadas por essas mulheres em

seus discursos, para que, dessa forma, possam ser construídas as unidades de

significação, sendo a base para a próxima etapa que é a construção da dimensão

ontológica, que deverá ser construída por meio da hermenêutica.

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Segundo Almeida (2014), Heidegger compreende a hermenêutica como o

método de pensar propriamente a filosofia, sendo ela o método de interpretação

da própria realidade, trazendo para um caminho que conduz à compreensão do

fenômeno. De tal forma, é entendida como uma compreensão interpretativa da

existencialidade da existência.

O método hermenêutico inclui diferentes fases. Dessa forma, a análise dos

discursos obtidos por meio das entrevistas foi inicialmente realizada a partir da

escuta dos relatos gravados, como tentativa de assimilar o significado das falas.

Em seguida, realizou-se a transcrição desses relatos e leituras atentivas e

repetidas para assimilação dos significados, a partir do que os sujeitos

expressaram de suas vivências e que, posteriormente, foram agrupados em

Unidades de Significação. Estas se referem à compreensão vaga e mediana,

sendo considerada a compreensão mais imediata dos sujeitos sobre o que

vivenciam e sobre o seu dia a dia. Mas pode-se dizer que esta etapa corresponde

às manifestações que encobrem o fenômeno vivido pelos sujeitos, porém não

apresentam sua essência, mas são os guias para o encontro desta (SÁ, 2007).

Após a realização desta etapa, seguiu-se para a redução fenomenológica,

com a descrição livre dos modos de ser do que se mostra e de como se mostra

(descrição fenomenológica). E, na sequência da descrição, a compreensão, fase

que teve como objetivo entender o sentido dado pelos sujeitos aos fenômenos

em que estão sendo envolvidos e vivenciados.

Em seguida, buscou-se o desvelar o sentido que fundamenta o existir para

as mulheres do estudo e a relação destas com a situação de adoecimento que

vivem, assim como com o cuidado de enfermagem que recebem.

4.6 Riscos e benefícios

A pesquisa em questão trouxe o mínimo de riscos às participantes, apesar

de todo o estudo ser passível de riscos. Porém, neste trabalho foi adotada a

postura de evitar qualquer possibilidade de ocorrência de dano às participantes.

Esta pesquisa não representou qualquer tipo de invasão de privacidade ou

quebra de confiabilidade, pois não houve, em nenhum momento, a identificação

ou exposição das participantes em questão. A adoção de posturas, como uma

equipe de pesquisa qualificada e de princípios éticos, reduz, consideravelmente,

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os riscos aos participantes. Todas as informações coletadas, interpretadas,

analisadas e catalogadas foram para a elaboração do estudo.

A pesquisa visa a trazer uma grande contribuição para os profissionais de

enfermagem e para a instituição, na medida em que traz, como proposta,

conhecer e contribuir com o sentido do cuidado para as mulheres que estão

enfrentando um processo de adoecimento, assim, contribuindo, de fato, com o

aprimoramento da assistência prestada.

4.7 Aspectos éticos

O estudo se fundamentou nos princípios básicos da bioética, presentes na

Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe sobre a

pesquisa envolvendo seres humanos. São eles: autonomia, beneficência, não

maleficência, justiça e equidade. O estudo foi submetido à avaliação do Comitê

de Ética e Pesquisa (CEP), da Universidade do Estado do Pará, aprovado sob o

parecer de número 1.894.982 (ANEXO A). Posteriormente, foi solicitada a

autorização institucional ao Hospital Ophir Loyola (ANEXO B) e submetido ao

CEP da instituição, aprovado sob o parecer de número 1.938.034 (ANEXO C).

Foi garantida total liberdade às mulheres para participar ou não da

pesquisa. Quando as participantes concordavam com a realização do estudo,

era realizada uma leitura, seguida de orientações verbais e por escrita, do Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido. Para o desenvolvimento das entrevistas,

foram utilizados nomes codificados para as entrevistadas, garantindo o

anonimato. Também foi garantido aos participantes desta pesquisa o direito de

abandonar o estudo a qualquer momento, sem acarretar quaisquer prejuízos

(individual ou coletivo

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5 RESULTADOS

5.1 Compreensão vaga e mediana

Este capítulo traz as falas das mulheres que enfrentaram o câncer de

mama e vivem com a metástase óssea, que teve como ponto de apoio a

compreensão vaga e mediana. Este momento não se configura como aquele em

que o fenômeno é desvelado, mas, sim, como uma análise mais simples das

respostas obtidas a partir das mulheres. Desta forma, é a compreensão das

entrevistadas a partir daquilo que elas compreendem e a que atribuem

significado.

5.2 Unidades de significação

5.2.1 Unidade 1 - A mulher e o descobrir-se com câncer

Subunidade 1.1 A mulher, ao descobrir-se com câncer, enfrenta comportamentos negativos na maioria das vezes, de espanto com o diagnóstico, de isolamento social e de recusa da doença

[...] é uma doença que mexe! Logo quando eu soube, eu pensei que não ia sair dessa, né? (Entrevistada 1).

Me isolei... Não falava com ninguém, eu chorava muito e não aceitava [paciente começa a chorar] [...] No início, meu sentimento era de muita tristeza, apesar que eu sabia que podia ser câncer [...] Mas eu não queria falar com as pessoas... Que elas fiquem perguntando, eu não queria estar falando a respeito, porque, quando descobri que tinha o caroço na minha mama, eu escondi de todo mundo. (Entrevistada 2).

Eu fiquei desesperada, quase enlouqueço. No momento quando descobri, fiquei num desespero... Eu achava que essa doença era as piores [sic] do mundo e que não tinha cura... (Entrevistada 3).

É difícil, muito difícil... Senti muito desespero... É desesperador [...] Às vezes, perguntava “Por quê?”, né? Porque às vezes acontece com outras pessoas, a gente pensa que não acontece com a gente. Aí a gente se pergunta assim, “Por quê? Por que eu?” (Entrevistada 7).

Para mim, ter câncer foi, assim, o maior desespero da minha vida. Porque isso é uma doença hereditária, né? Mas, na minha vida ou na minha família, nunca houve um caso de câncer de mama, e, quando eu tive um câncer de mama, vi sair o chão (Entrevistada 8).

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Horrível! Péssima...! Tanta doença por aí e eu ter que pegar logo essa! [...] (Entrevistada 9).

[...] Essa é uma doença para mim que não existe! [...] (Entrevistada 10).

Eu não aceitei esse diagnóstico! Ninguém aceita, né? E eu fui uma dessas pessoas que não aceita [...] Passei por muitas angústias. Não queria falar com ninguém […] Só crescia toda aquela revolta dentro de mim (Entrevistada 11).

Foi muito difícil, aquilo ali me acabou e eu desabei […] Sabe quando fica a casa, e ela desaba em cima da gente? A gente olha para o lado, olha para outro [...] não vê a solução! (Entrevistada 13).

Às vezes, traz muita dor. Traz muita dor, logo no início. Traz muita tristeza também. Tudo isso dói no início [...] (Entrevistada 16).

Eu não tenho [...] não tenho essa doença. Botei na minha cabeça que eu nunca tive essa doença [...] ela pode vir, mas ela não existe dentro de mim (Entrevistada 17).

Para mim, até hoje, eu não tenho essa doença. Nunca tive câncer. Não tenho câncer [...] (Entrevistada 19).

Subunidade 1.2 A mulher, ao descobrir-se com câncer, demostra preocupação e medo da morte

Um sentido... De rasteira que a vida me deu! Senti, sei lá... Que eu não posso fazer mais planos e, assim, tudo que a gente planejou que acabou ali. Mudou tudo na minha vida (Entrevistada 1).

[...] Minha preocupação é de deixar para alguém cuidar da minha filha [...] Ela tem 12 anos, apesar dela já ser uma mocinha! (Entrevistada 2).

Eu fiquei desesperada, pensei que já ia morrer... Que não tinha mais jeito... Fiquei muito triste mesmo! Tinha um dia que eu chorava [...] Eu pensava que já ia morrer (Entrevistada 6).

Senti que eu ia morrer. Eu pensei... Pronto, agora acabou. Papai do Céu tá me chamando, chegou a minha senha... Está na hora [...] Eu sinto, assim, medo... De deixar meus filhos [...] e eu tenho muito medo de morrer e eles depois não ter com quem contar, sabe? (Entrevistada 8). Quando soube aquilo, desabou de novo… Aí pronto! Já era um… Agora dois, e agora, meu Deus? Fiquei preocupada. Eu já tava doente… E, agora, tinha passado para os ossos e agora como é que eu ia aguentar toda essa situação? Eu acho que eu não ia dar conta... (Entrevistada 13).

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[...] veio [sic] os pensamentos da morte [...] a gente fica pensando que vai morrer e que não vai ter mais jeito, porque já tive a primeira... Segunda vez já tá voltando. Aí, a gente já fica mais para baixo um pouco, já fica mais deprimida [...] (Entrevistada 23).

Ah, eu tive muito medo! Muito medo... Meu Deus [...] para mim, eu ia morrer (Entrevistada 24).

Subunidade 1.3 Algumas mulheres, ao descobrirem o câncer, conseguem enfrentar e aceitar seu estado clínico, buscando cuidados e vendo a vida de um modo diferenciado

Olha, na verdade, quando eu descobri, para mim, tipo assim, foi tudo normal. No momento que eu descobri o câncer de mama, a minha mente só queria saber de me cuidar. Eu simplesmente não me questionei, como não questiono até hoje. Só tive a ideia de que tinha que me cuidar, porque tem tratamento [...] (Entrevistada 5).

[...] Minha reação foi de procurar me tratar. Seguir o que o médico mandasse. Aí, eu procurei logo um auxilio aqui, que era hospital de referência [...] Procurei me tratar (Entrevistada 14).

Foi o de aprender dar valor à vida. Também aprendi a amar o próximo. Que antes eu dizia que eu amava, mas, agora, realmente eu descobri muitas coisas boas. Aí, vai passando o momento difícil (Entrevistada 20).

Na verdade, foi uma preocupação [...] E fui correr para me tratar. (Entrevistada 21).

[...] Não me senti muito abalada [...] Para mim, tudo era normal. Porque sabia que tinha tratamento e fiz tudo como tinha que ser feito. (Entrevistada 23).

Subunidade 1.4 As mulheres com câncer também buscam apoio espiritual como base para o enfrentamento de sua situação de saúde

Me apeguei muito com o Senhor, né? Devido eu ser evangélica há muitos anos, o Senhor me deu força para eu vencer... Eu tô vencendo... Agora, hoje, me sinto 90% já curada, porque eu só tomo soro (Entrevistada 3).

[...] Eu fui bem forte até hoje... Não sei o que é depressão. Isso tudo eu devo a minha fé [...] (Entrevistada 4).

[...] a gente sabe que Deus tem um plano para cada um, né? Deus tem um projeto... E só Ele sabe, né? Mesmo em meio ao desespero, o que me alimentou muito foi a minha fé. Minha fé é a base de tudo! (Entrevistada 7).

Eu tenho muita fé em Deus, sabe? Eu creio, moça, que eu não vou morrer desta doença! Eu vou conseguir.... Em nome de Jesus, porque ele tá comigo, e isso significa muito (Entrevistada 8).

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Então eu creio, assim, que a pessoa que tá com esse tipo de doença nunca deve perder a esperança! Porque quem tem Deus tem tudo! Não se desespere! (Entrevistada 12). [...] eu nunca rezei tanto na minha vida. Mas eu só tenho uma coisa a dizer, o meu sensei1 venceu a tuberculose... E ele já tá bem do pulmão... Se ele não perdeu para doença, por que que eu não vou sair dessa? (Entrevistada 17).

[...] eu confio muito em Deus e acho que Ele que sabe, né? Ele que determina tudo e a gente vai para luta, a gente não pode ficar triste... (Entrevista 18).

[...] quando eu olho para Deus, eu vejo Deus maior do que todas as coisas. Mesmo que seja difícil, se eu olhar para o problema eu vou ver um grande problema, mas, se olhar para Deus, vou saber que eu posso superar os problemas (Entrevistada 20).

Porque, assim, eu determinei assim pra Deus e pra mim mesma: Deus, o homem me deu três meses, mas Deus não me deu, então eu vou lutar [...] (Entrevistada 24).

As falas descritas nesta primeira Unidade de Significação mostram as

dificuldades que a descoberta de uma doença oncológica e o seu retorno podem

gerar na mulher e como elas conseguem enfrentar a vida após o diagnóstico. A

doença oncológica ainda pode ser observada por muitas como uma doença fatal

e que vem acompanhada de incertezas.

Os comportamentos que surgem são os mais variados, mas predominam

os sentimentos negativos de tristeza, de desespero e de medo, por estarem

vivenciando uma situação inicialmente desconhecida e até mesmo inesperada.

Essas sensações, muitas vezes, são ocasionadas pela associação do câncer

com uma doença terminal e passam a conviver, constantemente, com

pensamentos de morte e de perdas. Outras mulheres reagem expressando

sentimento de revolta e de negação por não aceitarem a doença, como forma de

defesa para tentar esquecer que estão doentes.

A partir do momento em que há o diagnóstico do avanço da doença e

confirmação de metástase óssea, a mulher enfrenta uma situação de tratamento

um pouco conhecida, porém, com algumas peculiaridades a mais, como

1 Segundo o Dicionário Aurélio, sensei é uma palavra em japonês usada como um título honroso para tratar com respeito um professor ou um mestre, mas também pode ser usada em outros contextos, para se referir a uma pessoa que tem bastante conhecimento na sua área profissional (HOLANDA, 2010)

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limitações físicas e psicológicas diferentes das vivenciadas com o câncer

primário.

Os sentimentos negativos acabam sendo também observados quando há

a descoberta da metástase. O ressurgimento da doença de maneira inesperada

traz para a mulher a ideia de maior proximidade com o fim da vida. Ao se deparar

com esse diagnóstico, o planejamento de um futuro ou a criação de perspectivas,

foram deixados de lado por um momento, já que elas começam a se deparar

com um cenário de incertezas diante de como será o tratamento ou de como ele

será transcorrido.

Porém, o medo da morte é um sentimento que perpassa os momentos de

diagnóstico e que vem carregado de temores, rompimentos e preocupações.

Estas, muitas vezes, estão relacionadas a preocupações com terceiros e à

maneira como seria a vida dessas pessoas caso a paciente enfrentasse a morte.

Mostrando, nesse ponto, o papel da mulher como provedora e mantenedora de

vínculos, sejam eles afetivos ou econômicos.

Algumas mulheres, ao descobrirem o câncer de mama, não apresentam

um enfrentamento negativo. Algumas se mostram seguras e com uma boa

aceitação em relação ao diagnóstico. Essa forma de atitude se dá, muitas vezes,

por terem conhecimento de que o câncer em estágio inicial tem tratamento e,

por isso, sentem-se na responsabilidade de ir em busca de tratamento para a

garantia de sua saúde.

Muitas vezes, para enfrentar essa mistura de sentimentos, a mulher busca

conforto e orientação em sua fé para enfrentar os desafios a que o tratamento a

expõe. A força vinda pela fé em Deus ou em sua crença mostra-se como

combustível para enfrentar o medo e a morte e até mesmo ser a responsável por

trazer a cura.

O enfrentamento da doença, tendo o olhar da religiosidade, passa a ser

encarado como uma situação que teve a autorização de Deus para acontecer e,

assim, consideram como uma batalha que, com o auxílio divino, terão como

enfrentar e vencer.

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5.2.2 Unidade 2 - A mulher convivendo com a metástase óssea

Subunidade 2.1 As mulheres convivem e enfrentam dificuldade em manter as atividades do seu dia a dia, como as obrigações de mãe, mulher e profissional, muitas vezes gerando sentimento de impotência, desconfortos e limitações do próprio corpo

Sinto muita dor, muita dor. Dói [sic] os pés muito, muito, muito! E as pernas? É uma gastura nas minhas pernas, eu não sei explica... Essas dores incomodam muito. Das dores, as que eu sinto mais é nas costas, nas costelas, muita dor... (Entrevistada 1).

Me dá agonia de ficar só sentada e não poder fazer minhas coisas, tipo fazer peixe... Eu quero fazer... Mas, agora, não tá dando! [...] Me dá tristeza, eu choro... Porque era uma mulher ativa, né? Agora me vem essa situação (Entrevistada 2).

Não faço nada porque agora não consigo andar, por enquanto, né? (Entrevistada 4).

Eu sinto falta disso, de poder pegar minha filha e sair. Aí, chega, às vezes, época do carnaval, que, às vezes, pegava ela e ela ia olhar o movimento, e agora não posso (Entrevistada 5).

Que nem era antes, fazia tudo, gostava de cuidar da minha casa... Como eu tô morando com a minha irmã, não faço nada, porque que [sic] ela não deixa. Eu fico, tipo, deprimida [...] Não posso ficar inútil também, que não pode fazer mais nada.... Me sinto mal que só... [...] (Entrevistada 6).

Tipo carregar peso, andar muito... Fazer trabalhos domésticos, agora são reduzidos! (Entrevistada 7).

Para quem gosta de trabalhar e sempre trabalhou... Aí, ficar em casa, só deitada numa cama ou sentada numa cadeira, mana, isso é horrível! [...] E, agora, eu não posso, não consigo. Sinto-me muito inútil, enfermeira... Sinto-me muito inútil (Entrevistada 8).

Eu andava de bicicleta, coisa que eu não vou poder andar tão cedo… E nem sei se vou andar um dia só... Caminhar perfeitamente... Hoje em dia, eu preciso de ajuda até para ir no banheiro (Entrevistada 9).

Mas eu já tô cansada, não tô sentindo as pernas totalmente seguras [...] (Entrevistada 10).

“Porque eu não posso fazer nada, o meu corpo já não é mais o mesmo. Eu me olho no espelho, já vejo que não estou [...]” (Entrevistada 11).

O meu dia a dia é estressante, porque eu sempre fui uma pessoa que sempre gostei de fazer minhas coisas! Assim, dá vontade de fazer, mas e eu não posso mais ficar varrendo, limpando... Não posso pegar mais

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na beira de um fogo para fazer uma comida... O que dificultou muito a minha vida... (Entrevistada 12).

Ah, eu era muito ativa… Fazia tudo [...] Fazia pilates, já não posso mais fazer pilates... Não pode por causa dessa doença no osso. Então a gente vai ficando com reduzidas atividades. Pesa um pouquinho... Deixa a gente triste, com depressão… A gente se sente inútil (Entrevistada 15). Sinto-me impotente. E é por causa da metástase. Incomoda-me demais... É como se eu te dissesse, às vezes, a gente se sente impotente (Entrevistada 22).

“(...) tinham me proibido de andar... Meu Deus! Como é que eu vou para tua casa [igreja]? Como eu vou te servir, se eu não vou na igreja? (Entrevistada 24).

O processo de adoecimento pode gerar conflitos e mudanças na vida

daquelas que o enfrentam. Para as participantes deste estudo, a descoberta e

significado da metástase óssea é o de mudanças. As incapacidades que ela gera

fazem com que surjam a tristeza e o desespero por terem que enfrentar

modificações que irão interferir, de maneira significativa, em sua rotina, como

não poder mais ter vida social ou estar dependendo de outras pessoas para

realização de suas atividades.

Ainda no início da jornada dessas mulheres, é possível observar que há,

nelas, a preocupação em como realizarão os seus afazeres de dona de casa,

mãe, filha e em relação à sua ocupação profissional. Muitas vezes, as mulheres

são responsáveis por outras pessoas e, ao receberem o diagnóstico de câncer,

veem-se preocupadas em como cuidarão dos filhos ou de outros parentes ou

como terão força física para trabalhar e poder tirar o sustento para sua

sobrevivência.

A existência da metástase óssea toma significado de uma doença

incapacitante, e receber tal diagnóstico inclui proibições, pois, com os ossos

mais frágeis devido à essa condição, precisarão ter cuidado redobrado para

adquirir qualidade de vida e para a manutenção de sua integridade física.

Essa modificação corporal e limitação física podem ser geradoras de uma

alteração no reconhecimento dessa mulher para com o seu próprio corpo, pois,

como a doença gerou incapacidades, a mulher se afasta do que antes convivia

por não julgar ter as mesmas condições anteriores para enfrentar a vida.

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O dia a dia dessas mulheres acaba sofrendo interferência direta das

modificações que o retorno da doença acaba proporcionando. As

consequências, tanto físicas quanto as que surgem pelos procedimentos do

tratamento, terão relação com a maneira como elas conseguirão encarar a vida.

Uma das formas de modificações que surge é que as mulheres terão que

aprender a lidar com os sinais e sintomas que aparecem. Dentre eles, podemos

dizer que, na maioria das vezes, as mulheres relatam a dor como uma das

manifestações clínicas que mais interferem na sua rotina. Em muitas situações,

a dor é encarada como um incômodo para a realização de atividades da vida

diária.

Além desses incômodos, as manifestações clínicas podem gerar

sentimento de tristeza e sofrimento para essas mulheres, que precisam criar

formas para aprender a lidar com essa nova realidade. Porém, esse árduo lidar

cria uma espécie de desânimo e cansaço ao encarar, novamente, todo um

processo de tratamento.

A interferência também é notada em relação às atividades que antes

conseguiam fazer e que, depois, passaram a não executar. Estas envolvem um

cenário muito característico ao público feminino, que é o de se preocupar, na

ausência da realização das ditas “obrigações”, como a de ser dona de casa e

mãe, além da vida profissional e social. Esta situação provoca, na mulher, um

sentimento de impotência ou até mesmo de inutilidade, por encarar que ela não

se enquadra mais como pessoa que apresenta participação ativa numa

sociedade, como anteriormente o fazia.

5.2.3 Unidade 3 - O significado de cuidado para a mulher com câncer

Subunidade 3.1 O cuidado, na maioria das vezes, é compreendido pela manifestação de ações que denotem carinho, amor, atenção e apoio para com a mulher doente

Cuidado, primeiramente, que eu acho... Assim, é o apoio, carinho, né? Um cuidado maior, isso aí tem que ter apoio, carinho, né? (Entrevistada 1).

Acho que o cuidar vai de cada pessoa... Mas eu te digo, em termo de cuidado... Graças a Deus, minha família e amigos sempre me apoiaram [...] (Entrevistada 5).

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Acho que é se preocupar com alguém. Acho assim, por que que minha família se preocupa muito comigo? Quer que eu viva mais um tempo com eles, né? Não querem me perder, né? Acho que cuidado é isso... (Entrevistada 6).

Cuidado, para mim, eu acho que é o amor... O amor de um filho, de um parente, desses meus irmãos, é muito importante. [...] Mas o fato de você pegar um telefone, me ligar [...] É o amor da minha família! (Entrevistada 8).

Recebo cuidado dos meus filhos, da minha irmã... Eles nunca me abandonam [...] A pessoa tem aquele carinho [...] dar seu tempo, ficar do seu lado para isso. Isso, pra mim, já é um cuidado muito grande, né? Porque a gente sente que aquela pessoa tá preocupada com você (Entrevistada 10).

Ah... Cuidado é uma pessoa se preocupar com o outro, em ajudar. É ajudar, né? Tanto em casa como no hospital, tem gente que me cuida. Em casa, sou só eu, meu esposo e minhas duas filhas... (Entrevistada 13).

É atenção da minha família, das minhas irmãs… É tudo o que elas fazem […] Para mim, isso é cuidado (Entrevistada 15).

Cuidado, para mim, é a pessoa estar sempre atenta… É procurando alguma coisa, fazendo um suco, dando carinho, amor, atenção, entendeu? (Entrevistada 18).

Olha, cuidado, para mim, é a atenção, o carinho das pessoas que tão ao meu redor […] Tenho cuidado mesmo da minha família (Entrevistada 19).

Cuidado é uma palavra pequena, mas que tem um grande significado, como carinho, amor e zelo. E tudo isso eu tive pela minha filha. Eu olhava para ela e dizia “não vejo você como filha, eu vejo você como mãe” [...] (Entrevistada 20).

Eu acho que é a família. Família é tudo. Quando tem a família por perto, a gente se sente mais protegido, tem mais força de querer lutar quando se tem a família junto [...] (Entrevistada 24).

Subunidade 3.2 O cuidado de enfermagem é percebido no zelo e comportamento profissional de enfermagem, tanto na realização dos procedimentos invasivos, quanto na preocupação da oferta de uma assistência, preservando seu bem estar

“Olha, para mim, o cuidado [de enfermagem] é isso... Elas [as enfermeiras] têm muita atenção, paciência... Às vezes, sabe... elas têm muito cuidado de olhar nossa medicação, têm o cuidado de, às vezes, conversar com a gente, é isso. (Entrevistada 1).

“Mas ela [a enfermeira] sempre me trata bem quando eu chego, que eu falo para ela “Menina, minha veia tá assim... Esgotada, porque eu

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já tomei soro demais!”. Aí, elas [técnicas de enfermagem] dizem “pode ficar tranquila que a gente vai ter a maior paciência com você, nós não vamos furar muito.” (Entrevistada 3).

Com certeza, o cuidado da enfermagem é atenção. É tu ter [sic] todo o cuidado com paciente; tipo assim, “Tô tentando furar agora”, aí tenta a segunda, aí tenta muitas vezes... Tem uns que insistem em fazer três, cinco vezes em te furar... E tem umas que não... “Vou chamar outra pessoa para furar”. Entendeu? (Entrevistada 5).

Acho que também é de que enfermeiro se preocupa com a gente? Elas vinham conversar comigo, me dão muita força! [...]Também me tratam com muito carinho, com muito amor, eu acho que tudo isso é cuidado... Ter a preocupação com o paciente. E quando se tem amor na profissão, né? (Entrevistada 6).

Sei o que é o cuidado de olhar... De se preocupar se a gente tá bem, se tá tendo algum efeito ou não! Olha, tipo assim, agora a enfermeira me perguntou se deu alguma reação [...] Então eu vejo, assim, que é uma preocupação [...] (Entrevistada 7).

[...] no meu caso, eu não tenho a veia boa; ela [técnica de enfermagem] tem paciência em me furar, porque ela ficou com pena de mim e já tava [sic] reclamando de tanto levar furada. Assim, teve outra vez, eu não consigo ficar esperando na cadeira, porque me dói, aí, uma vez, uma enfermeira ficou vendo... Aí, ela uma vez me tirou da poltrona e me levou para outro lugar mais confortável... Acho que é isso! (Entrevistada 11).

Elas [técnicas de enfermagem] me medicando... Botam remédio pra eu tomar, né? [...] Se eu fiquei boa é porque eu vim para cá tomar minha quimio! E quem injetou? Foram elas [técnicas de enfermagem]. Quem botou agulha, com cuidado, aqui? Elas dizem assim: “tá doendo?”. Se tiver doendo, aviso pra elas, aí elas vão lá e põem de novo, do jeito que não vai me machucar, né? Pra eu poder tomar meu remédio confortável. Para mim, esse é o cuidado delas (Entrevistada 12).

Cuidado delas, para mim, é quando elas dão atenção... Ela faz as coisas com satisfação. Elas aqui são atenciosas, atendem a gente com paciência! [...] Mas, para mim, é isso, ter essa atenção (Entrevistada 14).

Elas mostram que cuidam da gente, dando carinho, atenção, conversando, explicando o que pode e o que não pode... E isso é importante, elas dão atenção, dão carinho… Se esforçam. Acho que isso é cuidado mesmo (Entrevistada 15).

Os enfermeiros... Vocês têm uma missão, que é tratar e cuidar do velho, dos pobres, dos doentes... É isso que vocês têm de missão aqui na terra… Olha, assim, cuidar da minha alimentação, se eu precisar tomar um banho, e, quando eu não pude tomar um banho, e me deram um banho. (Entrevistada 17).

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[...] pela maneira deles [enfermeiros] trabalharem com a gente, pela maneira deles tratarem a gente, deles chegarem perto da gente, deles chegarem perto de mim... Todo tempo com o sorriso... Até mesmo a maneira deles aplicarem o medicamento [...] de repente, a veia estourava, aí ela vinha com toda paciência e procurava outra, mas, em nenhum momento, eu senti que ela tava [sic] com raiva, chateada, coisa assim. Estava ali, o tempo todo, fazendo a mesma coisa (Entrevistada 22).

[...] já observei de gente ser amigo, de ser parente… E ser diferente o atendimento. Já aconteceu, aqui, de terminar o soro da medicação e eu ficar atrás da técnica, e ela sumir… Aí, eu chamava de outra enfermaria… Aí, esse dizer que não podia ir lá, porque não era a enfermaria dele (Entrevistada 9).

[...] mas tem uns enfermeiros que não entendem o que a gente pergunta, né? [...] Nem todas são iguais, tem umas pessoas muito boas, mas tem umas que deixam a desejar... (Entrevistada 18).

[...] tem outros [profissionais de enfermagem] que parece que não nasceram para aquilo. Porque eu acho que enfermeiro, essa profissão, está pra cuidar do paciente, e tem uns que não dão uma atenção maior pra ele. E o paciente que tá naquela situação, em vez de ele melhorar o quadro, ele piora e fica mais doente, porque não teve um retorno que esperava [...] (Entrevistada 21).

Esta Unidade de Significação vem retratando as falas das mulheres sobre

o entendimento em relação ao cuidado familiar e de enfermagem. Inicialmente,

o cuidado, de maneira geral, é significado por meio de ações que a mulher

observa partindo de outras pessoas, sejam elas próximas ou não.

O cuidado está vinculado a substantivos que denotam manifestações de

preocupação para com a mulher, seja em relação ao seu estado de saúde ou

apenas para saber como ela está encarando sua nova rotina. Nesse aspecto,

um dos pilares fundamentais para que a mulher consiga sentir que estão tendo

essa preocupação é a família. As demonstrações de carinho, de afeto e de apoio

por parte de familiares fazem com que a mulher consiga experienciar e significar

o que é o cuidado.

As transformações que elas sofrem, em decorrência do tratamento

oncológico inicial e para a metástase óssea, deixam-nas bastante fragilizadas,

tanto nos aspectos fisiológicos quanto no aspecto emocional. Por isso, a

participação e acolhida, sejam elas realizadas por familiares, por amigos ou até

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por vizinhos, é de suma importância para que a mulher doente possa sentir,

nesse apoio, a força para continuar sua difícil jornada.

Quando falamos em cuidado profissional, aquele que lida com essas

mulheres de maneira mais próxima é o da enfermagem. E esta unidade de

significação também traz, por meio do discurso dessas mulheres, o

entendimento delas em relação ao que compreendem como o cuidado de

enfermagem.

Para a maioria das participantes, o cuidado de enfermagem está vinculado

à preocupação e à atenção que a equipe tem em relação aos procedimentos aos

quais a mulher estará exposta. Como parte do tratamento, algumas mulheres

que tiveram câncer de mama são mastectomizadas e, em decorrência disto,

apresentam uma limitação quanto aos possíveis locais de punção ou de

manipulação no membro superior do lado operado. Por isso, uma das

observações foi a de que elas significavam o cuidado de enfermagem no

momento mais difícil e desgastante, que é o da punção do acesso periférico.

Mas, o significado para o cuidado de enfermagem não está somente em

relação aos procedimentos invasivos, mas, também, ao compartilhamento das

informações que serão utilizadas para a garantia de um viver melhor, como em

relação a esclarecimentos quanto às medicações, quanto à alimentação e

quanto às orientações gerais que possam interferir no dia a dia dessa mulher.

A atenção disponibilizada pela enfermeira, as demonstrações de afeto e de

carinho também são consideradas pelas mulheres como forma de cuidado. Pois

estas demonstrações carregam consigo o significado do querer bem, do se

importar e do querer ajudar para que essas mulheres possam ter melhores

condições de vida.

Pode-se observar que também há uma significação para o cuidado de

enfermagem como era visto em décadas anteriores, vendo a equipe de

enfermagem como profissionais que têm suas atividades voltadas para

benfeitorias para doentes e pobres, quando suas atividades eram

desempenhadas de acordo com o dom que você possuía para desempenhar tal

profissão.

Porém, há algumas observações negativas quanto ao significado para o

cuidado de enfermagem, este como sendo realizado de maneira seletiva ou com

demonstrações de descaso e irritação. O olhar diferenciado foi evidenciado por

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experienciarem situações onde a mulher observou um atendimento diferenciado

para alguns, em detrimento de aproximações afetivas.

Em outros momentos, esse cuidado negativo foi observado quando a

enfermeira acaba deixando o seu trabalho ser influenciado por motivos externos

ao que aquela mulher está vivendo, deixando transparecer um descaso no

momento do atendimento.

Diante dessas falas, é válido ressaltar que as mulheres atribuem o sentido

ao cuidado de enfermagem como missão e onde deve existir atenção, carinho,

amor e paciência, associados ao conhecimento que o enfermeiro detém. Esta

unidade vem demonstrando que o cuidar é mais que um ato, é uma atitude, e

compreende mais do que um momento de zelo, de atenção, de desvelo. O cuidar

implica numa demonstração de atitudes que trazem a ocupação, a preocupação,

a responsabilidade e o envolvimento com o outro.

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6 HERMENÊUTICA

Após a elaboração das Unidades de Significação, buscou-se desvelar o

sentido do cuidado de enfermagem para as mulheres com câncer de mama, em

situação de metástase óssea, de maneira a compreender a condição de estar

no mundo destas e contribuir para uma compreensão do cuidado como

possibilidade para as mulheres.

De acordo com Heidegger (2015), sentido vem ser o contexto pelo qual

se mantém a possibilidade de compreender alguma coisa, sem que ele seja

explicado, ou seja, traz, a partir de sua perspectiva, algo que possa ser

concebido como possibilidade, a partir do que ele é.

Para compreender o sentido do cuidado de enfermagem para as mulheres

que convivem com o câncer, em situação de metástase óssea, partiu-se em

busca da forma como enfrentam e interagem com o mundo. Por meio dos relatos

e pausas revelados por essas mulheres, vimos que o câncer é um diagnóstico

difícil de ser aceito. E vivenciar a descoberta do câncer e de seu avanço

proporciona um “desalojamento” do seu ser no mundo, onde enfrentam um

distanciamento daquilo que lhes era familiar e habitual.

O Ser-aí ou Dasein com câncer de mama, a partir do diagnóstico, passa

a viver uma ruptura da totalidade do ser, que pode ser observada na primeira

unidade de significação, com experiências demonstrando temor, angústia, dor e

pensamentos de morte. Ela teme pela finitude de seu ser-com os outros e ser-

junto aos demais entes do mundo. O temor é por não poder-ser si mesma, diante

das limitações físicas impostas pela doença.

Heidegger descreve ontologicamente o temor como uma forma de

disposição do Ser. Sendo “disposição”, onticamente mais conhecido no cotidiano

como “humor”, “estado de humor”, e somente nesse estado o Dasein pode ser

atingido pelas coisas ou tocado por algo. O fenômeno da disposição tem como

caráter essencial a abertura do Dasein em seu estar-lançado que, na maior parte

das vezes, escolhe por escapar de si mesmo (HEIDEGGER, 2011; PAIVA,

2017).

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O fenômeno do temor pode ser considerado sob três pontos de vista: o que

se teme, o temer e o pelo que se teme. Aquilo que é “temível”, tem como

característica se apresentar como forma de ameaça, representado pelo ente que

vem ao encontro no mundo e que possui o modo de ser do manual. Para a

mulher, o câncer é observado como um caráter de ameaça, e esta, torna-se mais

próxima quando ela se vê diante do diagnóstico positivo para a doença e dos

possíveis desdobramentos para seus afazeres no cotidiano, e por muitas vezes

gerando o isolamento social e até o processo de recusa da doença

(HEIDEGGER, 2011; PAIVA, 2017).

Heidegger (2015) traz que o temor é constituído de uma disposição anímica

que nos desvia ou nos afasta de algo que tememos. Para Dubois (2004), o temor

é “de” alguma coisa. Entende-se que o temor possa possibilitar a mulher, nas

suas relações com os outros, o sentir-se ameaçada e amedrontada em sua

tranquilidade cotidiana. Aquilo que nos é temível estará ligado a um ente

intramundano já determinado na relação com os outros e as coisas ao nosso

redor.

E por meio dessa ocupação cotidiana com os entes que se encontram no

mundo, é que podem proporcionar o encontro com o Dasein, e assim gerar o

temor – temor que deixa repercutir a possibilidade de outra possibilidade, a

angústia (diante do nada que propriamente constitui o mundo). Essa proximidade

entre temor e angústia, permite dizer que o temor é uma angústia, só que

imprópria e entregue à decadência.

Heidegger (2015) escreve que a “angústia já sempre determinada, de

forma latente, o ser-no-mundo, este, enquanto ser que vem ao encontro na

ocupação junto ao ‘mundo’, pode sentir temor” (p. 256). Assim, para ele o temor

pode ser considerado como uma angústia imprópria, onde a observa entregue a

decadência do mundo e como angústia, encontra-se velada.

Para Dubois (2004), a angústia pode ser compreendida como uma

disposição fundamental do ser-aí. Onde possibilita a mulher vivenciar uma

ruptura com a totalidade do ser e essa experiência a leva ao encontro do “nada”.

Na angústia, o ente intramundo desaba, ou seja, a experiência da angústia

provoca, nas mulheres que enfrentam o câncer, a observação de outros

aspectos da vida e a revisão dos conceitos, valores, visão de mundo e

principalmente da base existencial em que ancoram e têm seus pensamentos

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alicerçados. De modo que o ser-aí diante do mundo é uma angústia do homem

frente à sua própria solidão. (HEIDEGGER, 2015)

De certa forma, podemos dizer que o câncer se comporta como um ente

capaz de provocar uma ruptura com costumes, com certezas, de modo a fazer

com que o Dasein considere seu ser mais próprio – ser-para-o-fim. Para Silva

(2006), essa postura mostra que o ser-com-câncer está se preocupando com o

existir no mundo. Traz que ele está compreendendo-se ontologicamente, como

um ser de possibilidades, ainda que fugazmente, como um ser-aí-para-a-morte.

E, por essa antecipação da morte, o ser se vê diante de si próprio, obrigando a

assumir o papel de estar lançado no mundo. Nesse momento, observa-se a

presença que promove a angústia.

Para Heidegger (2015), a angústia não faz parte do mundo em que estamos

inseridos; o que a faz ter relação com o mundo é aquilo que é temido e que

acaba sendo projetado para o mundo. Quando algo acontece no mundo e se

relaciona com a mulher, o Dasein torna-se desamparado, e aquilo de que o

cotidiano a protegia torna-se menor. Assim, sem esta proteção, é que o nosso

próprio Dasein nos angustia.

É relevante compreender que a angústia traz, ao Ser da mulher, um abalo

em sua imediaticidade existencial, ao proporcionar uma experiência de certo

drama do homem, enquanto ser-aí, na medida em que ela vivencia essa nova

possibilidade em relação à sua existência com a transcendência, conformando

a necessidade da opção e da apropriação de si mesma.

A mulher-vivendo-com-câncer-e-metástase-óssea vive na busca em

construir um sentido para sua experiência, que pode ser compreendido como

uma perda total do controle de sua vida, trazendo angústia, e deparando-se com

a possibilidade de morte, como um ser-aí-para-a-morte. Assim, as mulheres

acabam por vislumbrar a morte como a única possibilidade após o diagnóstico.

Para Silva (2006) e Salimena e Souza (2010) a morte, mesmo sendo a

única experiência que o ser não pode experienciar por si mesmo – do outro se

antecipa à sua, e a mulher já a vivencia como destino e passa a reconhecer a

finitude mais próxima. A morte é vivenciada como possibilidade existencial que

pode ser intensificada em momentos de crise, como no caso de uma mulher que

já foi diagnosticada com câncer e se vê diante do agravamento de seu caso.

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Nesse momento, a angústia acaba por proporcionar certa introspecção a

mulher enquanto individuo, favorecendo um discurso longe de um falatório, mas

mostrando a autenticidade de ser-aí, e, a partir desse ponto, existem dois

caminhos: ou o ser segue a sua existência autêntica ou volta para sua existência

inautêntica. O modo de ser autêntico prediz manter-se presente à morte, como

algo que se espera e já está definido na existência antes de tudo. Porém,

observa-se que vivemos numa condição inautêntica, já que o a vida do cotidiano

nos favorece a fuga da morte (HEIDEGGER, 2015).

A maneira de ser cotidiana molda a forma da existência do Dasein no

mundo. É o modo como ele é na maioria das vezes, no seu dia a dia, vivendo de

maneira indefinida, não autônoma, não distintiva em relação aos outros, habitual,

comum, previsível, inevitável, pública e necessária, que caracteriza um estado

de dependência do Dasein em relação ao mundo, à monotonia da sequência de

fatos no passado, presente e futuro (HEIDEGGER, 2015).

De modo que o dia a dia do cotidiano não pode ser interpretado a partir de

datas pré-estabelecidas ou apenas reduzido à uma sequência cronológica de

acontecimentos, pois indica “um determinando como da existência que domina

a presença em seu tempo de vida” (HEIDEGGER, 2015, p. 460). É o modo de

ser com o qual possuímos maior proximidade, em que as relações com as coisas

e com os outros se manifestam publicamente, dia após dia, e estão alicerçadas

no modo de ser do impessoal (DUBOIS, 2004).

No cotidiano dessas mulheres, é possível observar relações onde elas se

veem “desprotegidas”, trazendo, em suas falas, sentimentos que revelam as

dificuldades em manter as atividades do seu dia a dia, diante dos processos de

tratamento que as impedem de realizarem as suas atividades habituais de mãe,

mulher e profissional. Isso gera um viver de modo impróprio, observando-se a

presença da angústia, em muitas vezes, impropriamente como o temor.

A condição de ser-no-mundo implica uma forma desafiadora de tomar a

responsabilidade de proporcionar a transcendência do fáctico, promovendo

como um projeto próprio, compreendendo-se e interpretando-se. A

compreensão, observada pela ótica como modo de ser, amplia as manifestações

do ser de possibilidades do ser-aí, na medida em que amplia as possibilidades

de significados de sua existência.

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Aplicando às mulheres com câncer em estágio de metástase óssea, pode-

se observar essa transcendência da facticidade quando elas conseguem

enxergar outras possibilidades, lançando uma nova possibilidade de existência

na condição de ser-no-mundo-com-câncer, aceitando a facticidade e projetando-

se no futuro, até mesmo o de seu cuidado como possibilidade de existência.

O cuidado é constituído pelos modos de ser da ocupação com as coisas e

da preocupação com os outros, por isso não é possível serem separados, mas,

dentre estes, o cuidado é o dominante, pois o ser do Dasein nele se desencobre.

Ele se torna o modo de ser autêntico do Dasein, como um ser de possibilidade

se relacionando com o passado, presente e futuro, ou seja, nas dimensões

existencialidade, decadência e factualidade (LAVIOLA, 2013).

Pode-se dizer que o cuidado unifica os três aspectos fundamentais do

Dasein em um único fenômeno, e é entendido como um fenômeno que aparece

como totalidade estrutural ou estrutura conjunta do Ser. Dependendo da forma

ou tipo de encontro, o Dasein pode tomar uma postura diferente, marcada pela

“preocupação”, pelo cuidado. “Se o Dasein se relacionar com entes utilizáveis,

será marcado pela ocupação; se for para com outros será a preocupação-com-

o-outro” (LAVIOLA, 2013, p. 24; SILVA, 2010).

A ocupação se refere à postura pela qual o Dasein se relaciona aos objetos,

como utensílios em função dele para com sua relação com o mundo, de forma

que são percebidos por ele, já que “vem de encontro” ao Dasein ao ocupar-se.

As possibilidades já estabelecidas pelo Dasein mediante o cotidiano percebem

a ocupação como um ser-para, de forma a designar como um instrumento com

uma finalidade (LAVIOLA, 2013).

Em muitas vezes, o instrumento se mostra e pode revelar um modo de ser

do Dasein, na medida em que passa a ser utilizado por ele. Assim, o homem

passa a se identificar com as ocupações, na medida em que utiliza esses

instrumentos com suas atividades (HEIDEGGER, 2015).

A outra atitude que o Dasein pode apresentar é perante a sua relação com

o outro, não o vendo como um instrumento ou objeto que possa ser utilizado em

alguma função e para alguma finalidade, mas o percebendo-os como os outros

no mundo, ou seja, percebendo-os como um ser-com. A preocupação é o modo

estrutural do Dasein, e é ela que projeta diferentes possibilidades no mundo, na

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medida em que envolve o seu ser na preocupação-com-o-outro (HEIDEGGER,

2015).

Para Laviola (2013, p. 26), “a solicitude do cuidado com o outro, ou seja, a

preocupação-com é um elemento constitutivo do homem”. Partindo dessa

perspectiva, pode-se dizer que faz parte de seu modo-de-ser, e ao observar a

relação do Dasein com os outros, há a percepção da preocupação, evidenciando

um aspecto do cuidado.

À medida que a mulher se vê diante de um diagnóstico sombrio de câncer,

das impossibilidades diárias ou da mudança em seu cotidiano, ela passa a

estabelecer relações que possam trazer a ela possibilidades diferentes, para que

consiga enfrentar a situação em que se encontra. Pode-se observar que um dos

instrumentos utilizados é a própria religiosidade. Muitas vezes, ela é utilizada

pelas mulheres entrevistadas como uma forma de fazer com que consigam

encontrar ou compreender um sentido para viverem e estarem no mundo.

É relevante também observar que, de modo geral, o apego à fé também é

uma forma de enfrentamento à facticidade de se ver lançada no mundo do

câncer, o que pode gerar uma possibilidade em que a mulher se vê frente a uma

possibilidade de fuga da angústia e da finitude de vida, evidenciando em falas

até de aceitação de sua situação de saúde.

Diante do cotidiano do ser-mulher-com-câncer-de-mama-e-metástase-

óssea, há uma relação muito forte do significado de cuidar quando a existência

do outro é atribuído um significado para o indivíduo que oferece esse cuidado.

Neste aspecto, observa-se este fenômeno tomando forma de ações que revelam

carinho, amor, atenção e apoio, sendo, principalmente, o elemento gerador deste

cuidado a própria família.

Quando é perguntado sobre o modo de ser-aí-com-a-equipe-de-

enfermagem, é compreendido que as mulheres entendem o cuidado quando

observam ações que denotem apoio, paciência, zelo nos procedimentos

realizados, atenção diante de situações difíceis e corresponsabilidade diante o

seu tratamento, tornando-se responsáveis pelo destino do outro.

A relação entre ser-mulher-com-câncer-de-mama-e-metástase-óssea e a

equipe de enfermagem existe por meio das conversas, das demonstrações de

afeto e da presença da enfermagem durante todo o processo de tratamento.

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Para Heidegger (2015) traz que a relação de Dasein para Dasein está no ser

com os outros e não ser em relação à outros.

Para Paiva (2014) o encontro da mulher com o profissional de

enfermagem, e onde há essa relação de Dasein para Dasein, pode ser

observada a partir da demonstração e disponibilidade da enfermagem em dar

atenção, ser carinhosa, ir à procura de soluções que visem a diminuição do

sofrimento humano e que possibilite o enfrentamento da nova condição de saúde

como uma forma autêntica de um ser-de-possibilidades.

Essa relação mulher-profissional de enfermagem, subsidia um melhor

enfrentamento a essa mulher que está lançada na facticidade ao oferecer um

cuidado pré-ocupado, que vai além do ato de desenvolver procedimentos

técnicos que visam o conforto físico e as necessidades básicas, mas aquelas

que envolvam um comprometimento com o desenvolvimento e recuperação do

outro (PAIVA, 2014).

Ao falar sobre o sentido dos cuidados de enfermagem, ao enfrentar o

câncer e seu avanço, o ser-mulher faz uma associação quase que imediata a

realização de procedimentos, dentre eles, o de punção de acesso venoso

periférico, sendo realizado com cautela e habilidade, sem produzir algum trauma

ou que venha a machucá-la. Ressaltado que a assistência prestada seja ofertada

com delicadeza, já que elas já se apresentam emocionalmente abaladas.

Contudo, nem sempre o ser-mulher-com-câncer-de-mama-e-metástase-

óssea vai vivenciar ou sentir um cuidado refletindo essa característica do Dasein

de preocupação com outros, mas acaba por visualizar um cuidado impróprio e

deficiente. Esta caracterização de cuidado é observado a partir dos relatos da

oferta de uma assistência realizada com desleixo, muitas vezes com atitudes

que demonstram uma certa irresponsabilidade e desprezo a essa mulher, muitas

vezes gerada pela falta de aproximação pessoal desta mulher com o profissional

de enfermagem que está a atendendo.

Muitas vezes estes profissionais ao estarem lançados no cotidiano de

normas e rotinas, com extensos horários de trabalho e acúmulo de várias

funções, geram cuidados deficientes, restritos ao fazer biológico, sem

demonstração de afeto, com indiferença, que acaba provocando um afastamento

da compreensão autentica da mulher-com-câncer (PAIVA, 2014).

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O modo de interpretação do cuidado de enfermagem é configurado

especialmente pela apropriação do conceito de preocupação, caracterizando o

modo de ser autêntico do Dasein e demonstrando a assistência de enfermagem

como possibilidade de demonstração de preocupação-com as necessidades

existenciais do Ser.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta investigação teve como objeto de estudo o cuidado à mulher com

câncer de mama em situação de metástase óssea e, como objetivo, de desvelar

o sentido do cuidado de enfermagem para esse público, partindo de minhas

inquietações profissionais relacionadas à assistência prestada a essas mulheres

dentro de uma especificidade de câncer avançado. A maior dificuldade que

encontrei para o desenvolvimento da pesquisa foram os entraves e protocolos

da própria instituição para o acesso a essas mulheres e primeiro contato tanto

com o próprio serviço quanto com as pacientes.

Atuar de maneira efetiva com as mulheres com câncer de mama em estágio

avançado sempre se configurou como um grande desafio. Uma das principais

formas de oferecer assistência é equilibrar entre o alívio dos sintomas e

promover a qualidade de vida dessas mulheres, e sempre pautou minha forma

de agir como enfermeira, mas como saber se, de fato, esse cuidado de

enfermagem prestado era vivenciado por essas mulheres? Como entender o que

para elas seria o cuidado?

Para tal, adentramos a dimensão ontológica em busca do Ser-aí com

câncer de mama em situação de metástase óssea, com o objetivo de

compreender o sentido do cuidado, enquanto possibilidades de sua existência,

incluindo as situações relativas ao seu cotidiano de adoecimento, observando

aspectos que pudessem contribuir para uma análise enriquecedora perante a

atenção a esse público.

A concepção fenomenológica de “Ser e Tempo”, de Martin Heidegger,

tornou-se o guia para a condução deste estudo e permitiu-nos elaborar uma

reflexão sobre o cuidado a partir das experiências daquelas que vivenciam o ser-

com-câncer. Os relatos obtidos das participantes se configuraram num material

que fora transcrito, lido e assimilado pela pesquisadora, como forma de

compreender, de fato, o fenômeno e de conseguir desvelar o sentido do cuidado

de enfermagem na existencialidade da mulher adoecida.

Com este estudo, pode-se observar que o Cuidado se apresenta como um

modo de ser e, por meio dele, o homem se estrutura e se realiza no mundo com

os outros. Vimos que a existência é o permanente movimento do cuidado, em

que o homem se vê diante de diferentes possibilidades de ser-no-mundo, sendo,

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uma delas, a do ser-com-câncer. Porém, através do Cuidado, o ser-doente pode

vivenciar outras maneiras de encontros e proporcionar possibilidades diferentes,

que possam garantir sua existência.

Ao descobrir-se com câncer, o ser da mulher se defronta com uma

realidade diferente da qual estava habituada. Vê sua existencialidade sendo

afrontada constantemente com pensamentos de que o destino do ser é o não-

ser; ela adentra a realidade da doença, do tratamento e das consequências que

afetarão seu ser-no-mundo. Pode-se dizer que a doença oncológica traz uma

ruptura com a totalidade do Ser.

Ao se observar um ser-doente, principalmente um ser-com-câncer, foi

possível observar que as mulheres relatam uma antecipação da morte, pois se

veem na condição de estar-lançado-no-mundo. A partir disso, configura-se a

participação da angústia como constituinte desse ser, implicando na aceitação

da facticidade da doença, em entendê-la como algo do qual não pode fugir.

Voltando-se para o fenômeno do Cuidado, vemo-lo como estrutura

ontológica que mantém o ser no mundo, e isso se pode observar na

coexistencialidade com outros seres. Podendo ser observado enquanto

ocupação, vendo, como possibilidade, algo em que a mulher possa identificar

como instrumento que dê sentido à sua existência como ser-com-câncer, como,

no visto, utilizando a fé e a religiosidade como busca de entendimento e

aceitação de seu estado de saúde. Mas, observando ainda outra relação deste

fenômeno, vemos o cuidado como possibilidade de preocupação do ser com sua

existência, no que diz respeito ao capacitar e preocupar-se com o ser do outro.

Vimos que a mulher-com-câncer, e que necessita de cuidados, não está

sozinha. A participação de familiares, de amigos e da própria equipe de

enfermagem é relatada como importante, pois são pessoas que se preocupam

e que demonstram o cuidado para com essa mulher. E, na condição de ser-no-

mundo-com-câncer, a mulher espera, daqueles com quem compartilha a sua

existência, manifestações de solicitude, que demonstrem carinho, atenção,

amor, apoio, zelo e respeito para com ela, e que a auxiliem no seu existir, agora

doente.

O Cuidado, como fenômeno, apresenta-se como possibilidade da

manifestação em solicitude, tolerância, paciência, atendendo a essa mulheres

com câncer de mama em situação de metástase óssea. Pois, dessa forma, o

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ser-doente sente-se acolhido e reconhecido em sua humanidade. A doença

torna-se como uma experiência geradora de novos aprendizados e que, mesmo

apresentando momentos difíceis, forma um enriquecedor momento para a vida

(SILVA, 2006).

A fenomenologia de Heidegger nos permite observar o homem como um

ser que busca, constantemente, a elaboração do cuidado. Com este estudo,

pode-se perceber que, sem o cuidado, deixamos de ser humanos, já que é dele

que surge permanentemente o ser do homem.

Diante de todo o processo de investigação, pode-se ficar frente a diferentes

problemas e dificuldades no atendimento à essa mulher, muitas vezes relatados

nos discursos durante as entrevistas, que envolviam dificuldades no acesso ao

Sistema Único de Saúde ou até mesmo na forma como eram atendidas e

oferecida a assistência nesses locais de serviços. Buscar a compreensão do que

é o cuidado e entendê-la como a base onde se desenvolve a existência humana

é primordial, para que se possa compreender e dar sentido às práticas de saúde.

Silva (2006) afirma que, se cuidamos e somos cuidados pelo simples fato

de existirmos no mundo, faz-se natural utilizarmos o Cuidado como norteador

das práticas em saúde, fundamentando e minimizando, ao máximo, todo e

qualquer tipo de sofrimento de quem cuida e de quem é cuidado.

No que tange à enfermagem, Laviola (2013) traz que ela apresenta, como

princípio básico de cuidado, atender o ser humano em sua totalidade e de acordo

com sua natureza, reconhecendo que é um ser de possibilidades, que apresenta

um potencial e capacidade de agir, decidir, pautando sua assistência na

observação da individualidade, de suas necessidades e realidades.

Compreender o sentido do cuidado a partir das vivências dos pacientes

possibilita desvelar sentimentos e ter acesso a situações vivenciadas por eles, a

fim de viabilizar maneiras concretas e efetivas de cuidados. De fato, o cuidado

torna-se muito além de um mero fazer mecânico, mas inclui, dentre diferentes

fatos, a participação emocional, aspectos cognitivos da percepção do

conhecimento e da intuição, como forma de agregar valores a fim de promover

um cuidado integral a essa mulher.

É importante que a equipe de enfermagem esteja preparada para

compreender essas manifestações expressivas por parte dos pacientes. Este

estudo trouxe uma oportunidade de reflexão para a busca e a prática de um

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cuidado voltado para o ser-no-mundo. Para que possam ser oferecidos cuidados

de enfermagem com qualidade, a fim de que as peculiaridades das mulheres

sejam observadas e que a atenção envolva não somente o alívio dos sinais e

sintomas visíveis e educação em saúde, mas que possa promover a

compreensão do seu ser-no-mundo-com-câncer.

Desta forma, como sugestão, pensamos ser importante o surgimento de

outras pesquisas que tenham, como objeto de estudo, a mulher com câncer de

mama em situação de metástase óssea, mas que as observem não apenas pelo

problema ou doença que apresentam, mas como um ser de possibilidades, com

características específicas e que necessitam de um atendimento individualizado

e integral.

Este estudo propõe-se a uma reflexão sobre o quanto, ainda, como

profissionais de enfermagem devemos observar a nossa forma de cuidar, de

maneira que reforce novas reflexões e discussões, onde os profissionais de

saúde possam ser mais sensibilizados a valorizar a fala e a escuta da mulher. E

essas discussões possam começar desde as universidades, a fim de formarem

futuros profissionais com capacidade de intervenções, que possam desenvolver

uma assistência mais planejada e humanizada na área da saúde da mulher.

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SILVA, L.C. Câncer de Mama e Sofrimento Psicológico: aspectos relacionados ao feminino. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 2, p. 231 - 237, abr./jun. 2008. SILVA, L.C. O sentido do cuidado na vivência da pessoa com câncer: uma compreensão fenomenológica. 2006. 187 f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. SOUZA, A.S.; VALADARES, G.V. Desvelando o Saber/Fazer sobre o Diagnóstico de Enfermagem: experiência vivida em neurocirurgia oncológica. Rev. Bras. Enferm., v. 64, n. 5, p. 890 - 897, 2011.

SMELTZER, S.C.; BARE, B.G. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 12 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

_____.Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 11 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

STUMM, E.M.F.; LEITE, M.T.; MASCHIO, G. Vivências de uma equipe de enfermagem no cuidado a pacientes com câncer. Cogitare Enferm., v. 13, n. 1, p. 75 - 82, 2008.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Mestrado Associado de Enfermagem UEPA/UFAM

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Zélia Saldanha, mestranda em enfermagem do mestrado associado UEPA/UFAM, venho convidá-la a participar da presente pesquisa intitulada “O sentido do cuidado para mulher com câncer de mama em situação de metástase óssea: compreensão fenomenológica” sob orientação da Doutora Antônia Margareth Moita Sá.

Esta pesquisa que tem como objetivo compreender o sentido do cuidado em mulheres com câncer de mama em situação de metástase óssea. Se aceitar participar você irá responder a perguntas sobre o que significa ter câncer, sobre o seu dia-a-dia e como você percebe o cuidado de enfermagem durante o seu processo de tratamento.

A sua participação não acarretará nenhum prejuízo de ordem física ou moral. Esclarecemos que a Sra. será informante da pesquisa participando de uma entrevista que só será gravada se você autorizar. Sua participação poderá ser interrompida a qualquer momento e caso não saiba alguma pergunta, ou se sinta constrangida, você tem liberdade para não responder. Você também poderá desautorizar a pesquisadora de fazer uso de suas informações, destruindo-as. Caso ocorra algum desconforto, será disponibilizado atendimento psicológico pela equipe de psicologia do hospital. Neste estudo será adotada como postura, evitar qualquer possibilidade de ocorrência de dano aos participantes.

Esta pesquisa não representará qualquer tipo de invasão de privacidade ou quebra de confiabilidade, pois não haverá em nenhum momento a identificação ou exposição dos sujeitos em questão. Para evitar preocupação de que seus dados sejam divulgados, deixamos claro que o sigilo de sua identidade será mantido, pois será utilizado código para sua identificação.

Os resultados obtidos a partir deste estudo, se apresentados em eventos ou publicados em Revistas cientificas, não trará identificação individual. Todo o material produzido será utilizado somente nesta pesquisa, será guardado por cinco anos e depois destruído.

A pesquisa não trará custos ou despesas para você e também não haverá qualquer tipo de pagamento por sua participação, assim como para os pesquisadores e as instituições envolvidas.

Sua participação na pesquisa é muito importante, pois o benefício perpassa pela possíveis contribuições que o estudo trará para melhoria das ações desenvolvidas pelos profissionais de saúde (enfermeiros e outros), que conhecerão outros aspectos relacionados as pacientes com câncer de mama em situação de metástases óssea, resultando em um cuidado mais direcionado e

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integral. Se você tiver dúvidas e desejar esclarecimentos sobre a pesquisa ou

mesmo sobre os seus direitos poderá fazer contato com o(s) pesquisador responsável ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Pará (CEP) conforme informações abaixo.

CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO.

Eu declaro que li e/ou ouvi o esclarecimento acima e compreendi as informações que me foram explicadas sobre a pesquisa. Conversei com pesquisadora do projeto sobre minha decisão em participar, autorizando a gravação da entrevista ficando claros para mim, quais são os objetivos da pesquisa, a forma como vou participar os riscos e benefícios e as garantias de confidencialidade e de esclarecimento permanente. Ficou claro também, que a minha participação não tem despesas nem receberei nenhum tipo de pagamento, podendo retirar o meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou prejuízos. Concordo voluntariamente participar desse estudo assinando este documento em todas as páginas junto com o pesquisador. Estou ciente que uma cópia ficará comigo e a outra com o pesquisador.

Data/Local: Belém, de 2017.

__________________________________ RG.:______________ Assinatura do voluntário

__________________________________ RG.:______________ Assinatura do responsável em obter consentimentimento __________ Assinatura do pesquisador responsável

Observação: Este termo encontra-se descrito em 02 laudas que serão

rubricadas pelo participante e pelo pesquisador responsável.

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APÊNDICE B – QUESTÕES NORTEADORAS DA ENTREVISTA

Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Mestrado Associado de Enfermagem UEPA/UFAM

I. Dados de identificação sociodemográficas

Pseudônimo:

Estado civil:

Idade:

Profissão:

Cidade/Local onde reside:

Com quem reside:

Tempo de tratamento/acompanhamento no hospital:

Aposentado:

Escolaridade:

Religião:

II. Questão de Pesquisa:

o Para você, qual o sentido de ter uma doença oncológica?

o Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

o Como está sendo seu dia-a-dia após saber do retorno da doença?

o Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de

enfermagem durante este processo?

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APÊNCIDE C - ROTEIRO DE ENTREVISTAS

ENTREVISTADA Nº 1

E: Pra você, qual foi o sentido de ter uma doença oncológica?

Olha, eu tinha pensava assim, quando fazia a biopsia já tava em estado terminal, para

mim era isso né. Aí eu quando eu pesquisei, que eu vi o sintoma, eu já sabia que era

um câncer. Aí quando eu fiz biopsia em Teresina, eu pesquisei na internet...eu chorei

tudo que tinha pra chorar, e fui pra médica e recebi o diagnóstico. E eu achava que eu

não vinha aqui no Pará, mas por que lá fiquei muito ruim! Ainda hoje, a gente vê muito

casos e sei lá... é uma doença, que mexe! Logo quando eu soube, eu pensei que não

ia sair dessa, né? Que pesquisei, aí eu vi que a perspectiva de vida era de dois anos a

5 anos e foi isso.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Aí foi terrível, né! Porque eu coloquei lá (internet) câncer de mama com metástase

óssea tem cura? Aí a resposta, infelizmente não! (paciente começa a chorar) Então

foi pior ainda do que o primeiro resultado! Um sentido... de rasteira que a vida me deu!

Senti sei lá... que eu não posso fazer mais planos e assim tudo que a gente planejou

que acabou ali. Mudou tudo na minha vida. (paciente novamente chora).

E: Como está sendo seu dia-a-dia após saber do retorno da doença?

Eu não faço mas as coisas, não consigo mais limpar uma casa, não consigo limpar meu

quarto, não consigo lavar a louça, lavar roupa, eu não consigo andar ultimamente, eu tô

andando sentindo a coluna travada. Sinto muita dor muita dor. Dói os pés, muito, muito,

muito! E as pernas? É uma gastura na minhas pernas, eu não sei explicar. Essas dores

incomodam muito. Das dores as que eu sinto mais é nas costas, nas costela, muita dor.

Esse diagnóstico da metástase saiu o antes da cirurgia. Eu tomei a primeira

quimioterapia aí eu vim embora. Quando eu cheguei em Parauapebas, eu sentia muita

dor na barriga, parecia que ia explodir e uma dor na virilha. Aí eu fui no médico, ele

pediu tomografia, e ele falou assim: Olha você tá com problema na coluna! Aí eu

perguntei, mas e aí, qual é o problema? Aí ele não falou...eu fui na internet de novo,

coloquei pra pesquisar: lesão na L1. Aí lá falava que poderia ser por causa do câncer.

E foi aí que eu descobrir o que era. Foi assim que eu vim para cá. E aí eu vim para cá

a mostrei para médica, aí ela falou: você tá mesmo com uma lesão na coluna...rompeu

uma vertebra e tá no osso. Foi uma tristeza maior (paciente novamente chora). Aí ela

passou esse remédio aqui (Bonefos) eu tomei três, aí depois ela passou o Zometa... aí

quando foi agora que não tinha o Zometa...e voltei pra o Bonefos.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Cuidado...aqui é muito bom! Elas têm muito cuidado...são bem atenciosas comigo. Olha

pra mim o cuidado é isso...elas tem muita atenção, paciência. Às vezes, sabe, eles

(técnico de enfermagem) tem muito cuidado de olhar nossa medicação, tem o cuidado,

de às vezes conversar com a gente. Aqui em Belém eu vi as enfermeiras com atitudes

mais humanas...eu peço informação e eu tenho, né!

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ENTREVISTADA Nº 2

E: Pra você, qual foi o sentido de ter uma doença oncológica?

Foi o pior. Minha reação? Me isolei... não falava com ninguém, eu chorava muito e não

aceitava (paciente começa a chorar). Ainda demorei uns 6 meses aguardando a

cirurgia. Fiz a cirurgia e tive que ir no psicólogo fazer tratamento...foi quando melhorei.

Ela conversou comigo. Não sei assim, se foi depressão... mas não falava com ninguém,

o telefone tocava, eu passava e não queira falar com ninguém, logo no primeiro

momento. Mas assim, eu não tinha medo de morrer não...só me isolei. Não queria falar

com ninguém, como se alguém tivesse culpa, mas eu sabia que ninguém tinha culpa.

Mas eu não queria falar com as pessoas...por que elas iam ficar perguntando e eu não

queria estar falando a respeito. Depois da cirurgia, foi que eu já vim aceitar. Mas ai voltei

a sofrer de novo com a “quimio”, com a perda de cabelo. No início meu sentimento era

de muita tristeza, apesar que eu sabia que podia ser câncer, por causa da minha família,

porque muita gente da minha família tem câncer... Mas eu achava que nunca ia

acontecer. Porque quando descobri que tinha o caroço na minha mama, eu escondi de

todo mundo. Depois de três meses, já estava grande, aí que eu vim falar, pra minha tia

e minhas irmãs. E foi aquele corre, corre!

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Acho que já estava mais conformada, não me isolei não. Conversei com a minha tia que

se acontecesse alguma coisa comigo, ficasse com minha filha. Minha preocupação é

de deixar pra alguém cuidar da minha filha. Ela tem 12 anos...apesar dela já ser uma

mocinha!

Eu comecei a sentir que não estava bem, porque eu comecei a sentir uma dor na perna.

Era muita dor... do nada muita dor muita dor. Aí fui na UPA, cheguei lá e conversei com

uma senhora e ela disse que era pra eu bater uma tomografia, aí fiz a tomografia.

Quando saiu o resultado, já deu que estava com metástase. Aí quando tava vindo pra

Ophir, acabei me acidentando. Na rua mesmo do hospital, eu caí perto do sinal. Por

cauda disso, acabei ficando um mês internada e aguardando a cirurgia. Operei e depois

disso não andei mais normal. Agora estou fazendo exames pra ver se não tem problema

na outra perna.

E: Como está sendo seu dia-a-dia após saber do retorno da doença?

Assim, como o meu marido ficou desempregado, agora ele que toma conta da casa, faz

tudo e eu fico sentada muitas das vezes. Me dá agonia de ficar só sentada e não poder

fazer minhas coisas tipo fazer peixe...Eu quero fazer...mas agora não tá dando! Me dá

tristeza porque não tomo conta da minha casa, quando não é meu marido, é minhas

tias... que iam lá pra casa e faziam as coisa pra mim! Porque fico sentada, não tenho

condição! Porque perdi a força nos braços também! Me dá tristeza, eu choro... por que

eu era uma mulher ativa, agora me vem essa situação. Mas depois que eu operei e eu

sentia dor na costa, mas graças a Deus depois que fiz radio, passou a dor.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Eu tenho muito cuidado, acho que é se preocupar no que vai comer, com o que vai

comer...eu tenho nas frutas quando eu vou comer, lavo bastante peço para meu marido

lavar bastante os legumes.

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E: E quando falamos do cuidado de enfermagem, a senhora teria mais alguma

coisa a comentar?

Olha, não tenho o que reclamar! Mas o significado mesmo... acho que eles fazem o que

podem. Por exemplo, estou toda furada... e estava faltando agulha adequada, mas só

que não tem outro tipo! Elas (equipe de enfermagem) tentam fazer o trabalho bem,

mas não tem condições. Olha eu fiquei feliz na semana passada, numa consulta uma

moça (enfermeira) encostou em mim e disse: oi tudo bem? Aí eu respondi pra ela, aí

ela perguntou: você vai pra consulta, eu disse vou pra consulta dos ossos. Aí fiquei

assim conversando, mas lembrando que conhecia ela de algum lugar... aí eu fiquei com

vergonha de perguntar, mas achava que era uma enfermeira. Aí eu perguntei se ela

estava de folga, pra tirar a bronca... aí ela disse que não tava! Mas ela lembrou de mim!

Ela veio falar comigo. Isso me deixou feliz. Me senti valorizada! Acho que se importar

com o paciente, é cuidar.

ENTREVISTADA Nº 3

E: Pra você, qual foi o sentido de ter uma doença oncológica?

Eu fiquei desesperada! Quase enlouqueço. No momento quando descobri, eu fiquei no

desespero... que achava que eu não ia resistir né? Eu achava, que essa doença era as

piores do mundo e que não tinha cura. Fiquei assim quase uma pessoa que não tem fé!

No momento a minha reação, foi a de achar que ia eu não ia ter cura, que ele (câncer)

ia terminar me matando. Só que eu passei pela quimioterapia, não sentir reação

nenhuma. Fiz a radioterapia e não senti nada. Assim, quando tava fazendo a radio, eu

senti só uma alergia depois na minha garganta. Mas depois, não sentia nada. Fiquei me

alimentando sempre normal. Nunca perdi peso. Sempre meu o meu corpo foi esse.

Agora eu tô tomando soro devido o caso da costa e da dor que eu fiquei sentindo nas

pernas, por causa dessa metástase.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Pois é, a gente ficou, como é que diz...vai endurecendo com os problemas que a vida

dá pra gente. Quando tive um primeiro problema, acabou me dando depressão. Isso foi

bem antes de eu descobrir que eu tava com câncer... já tinha me tratado de depressão,

já tava quase boa. Foi quando descobri que estava com câncer. Foi muita coisa na

minha cabeça... pra gente explicar, né? Porque é uma coisa difícil, uma enfermidade

terrível, né? Já tive a depressão e depois vem essa outra doença...a gente só pensa

que vai morrer! Aí só que me apeguei muito com Senhor, né? Devido eu ser evangélica,

há muitos anos, o Senhor me deu força para mim vencer. E eu tô vencendo. Hoje me

sinto 90% curada, por que eu só tomo soro. Mas posso dizer que eu já tava com mais

coragem, porque eu já tinha passado por outra luta, né? Duas lutas! E disse que quem

tem Deus, tem tudo na vida! E Deus me deu força bastante, me apeguei muito com Ele.

Mas foi difícil, fiquei com medo! Mas eu recebi uma benção muito grande, devido eu ser

uma mulher que há muito tempo trabalho na obra do senhor. Quando eu adoeci, eu fui

revelada na igreja. O pastor que veio de fora e me revelou, falou assim: você tá com

caroço alojado nas costas, vai passar por uma cirurgia, mas o senhor não vai deixar

esse caroço que tava na minhas costa, pois lhe falei que vai sumir! Então antes... antes

de tudo isso, eu tava em desespero. Não vou mentir...eu tava em desespero, porque eu

tinha medo de eu ficar paralítica... ficar de cadeira de roda ou então ficar sem poder

levantar da cama. Mas depois dessa benção, eu me peguei na fé, que eu vou me curar.

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E: E como ficou seu dia-a-dia, depois que descobriu a metástase?

Eu não faço as coisa em casa, quem faz são as minhas filhas. Tenho duas filhas jovens

em casa... elas que tomam conta da casa, porque eu fiquei com esse braço aqui... Eu

quase não mexeu esse braço, agora que ele voltou normal. Agora se eu toco nele, eu

sinto... mas antes eu beliscava assim, e não sentia. Eu não tinha firmeza nesse braço

devido a cirurgia que cortou dois nervos, né? Minha filhas que tomam conta da casa, a

única coisa que eu faço em casa é andar dentro de casa normalmente, dentro da minha

casa. Eu vou para o meu banheiro a hora que eu quero, eu volto do banho

tranquilamente sozinha, vou para meu quarto sozinha, me arrumo tranquilo. Só isso que

faço na minha casa. Mas quando ela atingiu os ossos... a pessoa perde peso totalmente,

né? Às vezes enfraquecia as pernas, enfraquecia o corpo todo. Mas Deus fez a obra, e

o médico passou um soro...Esse soro, no início, eu não me sentia muito bem! Mas

agora, já tô me sentindo bem com ele! Porque no primeiro dia que eu tomei, eu senti

muita dor... Mas agora me sinto bem melhor! Mas olha... eu fiquei numa situação, por

um tempo, que eu não podia nem sentar na cadeira e encostar minhas costas... que

doía. Era a dor muito forte...e doía pra eu ir viajar, não me sentava direito no banco. Eu

ficava em pé no ônibus. Não podia desviar o banco para trás porque eu não me

suportava... doía a coluna e eu tinha que levantar! Eu tinha que sentar aqui...e levantar!

Agora não... durmo a vontade, graças a Deus!

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Cuidado primeiramente, que eu acho...assim é o apoio, carinho, né? Um cuidado maior,

tem que ter apoio, carinho, né? Esse é o principal, né! As enfermeiras, as meninas...

não é porque eu quero elogiar.... Mas ela sempre me tratam bem! Sempre quando eu

chego, que eu falo para ela, menina minha veia tá assim... esgotada! Por que eu já tomei

soro demais. Aí elas dizem...pode ficar tranquila que a gente vai ter a maior paciência

com você, nós não vamos furar muito. Daí elas tem aquela maior paciência. Ás vezes

na primeira vez que elas me furam, elas não acertam! Não conseguem devido as veias

tarem muito fina .... Mas elas tem o maior carinho comigo. Todas as meninas que me

atendem, graças a Deus! Eu não sei com os outros, mas sei que comigo ela são

carinhosas. A gente vê o cuidado, na forma assim que enfermeira elas tratam. Não é só

fazer esse trabalho, que elas estudam...mas dar aquele apoio, ter carinho com o

paciente. Eu digo isso porque eu tenho uma filha que a enfermeira! Aí a gente sabe...

que você dá o que você pode, até às vezes o que não pode, né?

Porque tem que se esforçar, para fazer o trabalho de vocês, e ainda tem que fazer isso

também de ter carinho com a gente, que é uma das coisas principal, né? Se você tiver

alguém com o sorriso no rosto para um paciente, ele estando passando mal, aquilo ali

já traz uma alegria para ele! Mesmo que esteja ruim, se você tiver uma palavra amiga

ali, já faz se ele passar bem, né?

ENTREVISTADA Nº 4

E: Pra você, qual foi o sentido de ter uma doença oncológica?

Pois é eu não sei explicar quando eu descobri que tava com o tumor. Não senti nada...

era uma pessoa de fé. Primeiro que quando fui no meu médico ele fez uma ultrassom.

Fiz tudo no particular, aí ele examinou e disse que tinha um nódulo, mas ele não disse

se era benigno ou maligno. Eu fiz logo a biopsia, fiz tudo no particular. Quando chegou

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o resultado deu positivo, mas não tive medo, fiquei tranquila...até o meu médico brincou

comigo, que ele queria ter dez pacientes assim. Eu fui bem forte! Até hoje estou sendo

forte... não sei o que é depressão. Isso tudo eu devo a minha fé, que só tem aumentado

desde que eu vim pra cá. O meu médico disse que que eu ia fazer quimio. Iria passar

um monte de procedimentos. Perguntei logo pra ele como eram os procedimentos. Aí

ele disse que ia cair o cabelo, que ia acontecer isso e aquilo. Em momento algum fiquei

chocada com nada. Por isso que eu digo para as pessoas, até passo força... pra não se

desanimarem, não ter medo... enquanto tem o tratamento, você está salva!

Fiz quimio, comecei fazendo primeira, a segunda e na terceira quimio o tumor apareceu!

Ficou bem pequenino ... aí minha médica operou deu tudo tranquilo. Não senti reação.

Depois fiz duas vezes radio, fiz da coluna que deu um desviozinho na coluna e fiz da

mama.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Assim, tudo começou... quando eu acabei escorregando. Quando escorreguei, fui no

medico, tomei remédio, mais aí continuei trabalhando, andando e fazendo tudo

tranquilo, porque passava a dor. Mas aí depois de algum tempo, quando voltei no

médico e fiz uma ressonância, aí atestou... Mas eu não fiquei com medo, não! Não fiquei

mesmo! Só sei que estou fazendo o tratamento e espero que agora que tenho a volta

com médico, pra ver a possibilidade de tirar logo esses ferros! Porque estou com esse

ferro, porque pegou bem no tronco... mas ele me deu mais um mês e meio, se ele disser

que tem que passar mais, vou fazer! Mas assim, eu reagi muito tranquila, tranquila

mesmo! Pra que ter medo, se você tem Deus no coração e tem a sua fé? Você tudo

você supera ... não sou de tá chorando, não sou de tá pensando besteira... que isso

nem passa pela minha cabeça. Sou uma pessoa alegre, sou feliz!

E: E como ficou seu dia-a-dia, depois que descobriu a metástase?

Não faço nada, por que agora não consigo andar, por enquanto, né? Creio que vou

voltar andar. Mas assim, eu não sinto dor. Senti logo que foi colocado o ferro e depois

passou tudo. A única coisa que eu sinto, quando vira assim de lado incomoda, porque

como está cicatrizado lá, né? Assim, mas de dor, dor não sinto... Não sinto mesmo!

Eu não paro pra pensar no que eu tô sentido, nem passa pela minha mente isso. Penso

em coisas lá na frente, só coisas boas! Venho até achando graça. Fico tão feliz, que já

vai chegar o dia do soro! Eu sou muito feliz por causa disso, por que a gente chega aqui

e tem o que a gente quer, graças a Deus! Tenho mais que me segurar, com toda a força

da fé que eu tenho e ficar muito grata! Por que eu tô sendo bem medicada, bem tratada

e tudo! Só penso coisas positivas!

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Cuidado é que eles tão tratando bem e o remédio que a gente toma vai direto para o

nosso problema e onde ele tá. Tenho algumas reaçõezinhas, mas isso é o de menos!

Porque dizem que não sente reação, mas sente! Mas eu sou positiva... tudo que vou

fazer sempre coloco Deus na frente e eu fico atrás. Deus na minha frente do meu

tratamento, que vou ficar boa. É isso que eu penso, que eu não vou ficar assim muito

tempo com o aparelho, um dia ele vai sair dali. E no dia que ele sair, vou poder sentar

bem.... e como eu quero sentar! Mas como o médico diz, todo o cuidado é pouco! E eu

sou muito positiva...Mas as enfermeiras ajudam muito no meu cuidado, me medicando,

me orientando no que eu posso o que eu não posso fazer! Aí vou pelo que eles falam.

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Por isso que eu tenho uma vida assim, né? Não tenho dor, mas só o ferros que

incomodam. Mas creio que brevemente estaremos saindo disso, né!

ENTREVISTADA Nº 5

E: Pra você, qual foi o sentido de ter uma doença oncológica?

Olha na verdade quando eu descobri, pra mim tipo assim, foi tudo normal. No momento

que eu descobrir o câncer de mama a minha mente só queria saber de me cuidar. Eu

simplesmente não me questionei, como não questiono até hoje. Só tive a ideia de que

tinha que me cuidar, porque tem tratamento. Mas eu tive muito medo... mas assim, tive

muita fé em Deus, entende? Também por causa da minha filha, eu digo... não tive medo

de lutar, porque tenho um Deus e tenho uma filha pra cuidar...Inclusive hoje ela tá

fazendo 10 aninhos... e tá completando 2 anos hoje, desde que eu comecei o

tratamento. E de novo hoje tô aqui. Então isso me deu força. Mas quando recebi o

diagnóstico, enfermeira... na verdade eu levei tudo na tranquilidade. Porque na época

meu pai estava se cuidando da próstata, levei tudo na esportiva... por que na época

estava preocupada com outras pessoas, não comigo. Eu não tava preocupada por mim,

eu me preocupei muito com o papai e com a mamãe, em como eles estavam lidando

com isso tudo, né? Aí em seguida, veio minha doença... Inclusive quando a médica deu

o resultado pra mim, ela disse que tinha uma notícia bastante triste para me dar... eu já

tava preparada.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

A partir do momento que começou nos ossos, eu tive que evitar tá saindo, para não cair.

Porque tenho que ter todo cuidado para não cair, né? Justamente pra não quebrar os

ossos, porque ele hoje ele se torna frágil, né? Fica fraco os ossos. Mas aí assim, eu fui

seguindo e se não for ter fé em Deus, a gente não consegue nada... Vem aquela

angústia, mas devo superar porque eu sempre tive Deus. Sempre em todos os

momentos, coloco Deus na minha vida! Sempre fui de estar na igreja... Então eu coloco

sempre Deus em primeiro lugar e depois a minha filha, porque para mim lutar se fosse

só por mim já teria desistido, mas graças a Deus.... Deus não permitiu isso.

E: E como ficou seu dia-a-dia, depois que descobriu a metástase?

Eu era vendedora, de sair de porta em porta. Eu pegava a minha bicicleta e ia a tudo

quanto é lugar. Eu gostava de jogar bola, sempre tinha dia de segunda, quarta e sexta,

era sagrado eu ir para quadra! Fora quando eu jogava no campo, mas eu parei de jogar

bola por causa disso...

Eu trabalhava na casa dos outros, fazia as vendas de catálogo... Então era muito ativa!

Mas em relação a isso, até hoje, graças a Deus tô sabendo lidar. Porque se eu sentir

falta, é capaz de eu pegar até uma depressão... Então eu prefiro não meter isso na

minha cabeça, por que são coisas que realmente eu gostava de fazer... entendeu? Até

mesmo de ir para igreja eu sinto falta porque às vezes não dá para mim. Eu sinto falta

disso de poder pegar minha filha e sair. Aí chega às vezes época do carnaval, que às

vezes pegava ela e ela ia olhar o movimento, e agora não posso.

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E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Acho que o cuidar vai de cada pessoa, né? Porque nem todo mundo tem tratamento

igual... Mas eu te digo, em termo de cuidado... graças a Deus, minha família e amigos,

sempre me apoiaram, entendeu? Eu sempre tive apoio, inclusive do meu marido. Isso

eu não posso reclamar que ele até hoje, graças a Deus, tá comigo! Porque até hoje eu

não posso me deitar e nem me levantar só, e é ele que me ajuda. Mais a minha família...

eles sempre tiveram presente, entendeu? Os amigos... todo mundo! Com a certeza o

cuidado da enfermagem é atenção. É tu ter todo o cuidado com paciente tipo assim, tô

tentando furar agora, aí tenta a segunda, aí tenta muitas vezes tem uns que insistem

em fazer três, cinco vezes em te furar... E tem umas que não... Não vou chamar outra

pessoa para furar, entendeu... E tem umas que não... Vou chamar outra pessoa para

furar, entendeu? Então, eu acho assim, que a maioria das enfermeiras tem um maior

cuidado nessa parte! Quando eu entrei aqui pra fazer a quimio da mama, a enfermeira

chamou, aí ela começou e falou o que poderia acontecer comigo, o que não poderia!

Em termos de dizer: ah, seu cabelo pode cair por tantos dias. Mas tem de preparar... Aí

tem que usar umas coisas de criança. Então eu tive todo esse cuidado, tive todas as

informações necessárias da enfermeira, graças a Deus!

ENTREVISTADA Nº 6

E: Pra você, qual foi o sentido de ter uma doença oncológica?

Primeira vez... eu não senti ruim! Dizia que eu ira ficar curada... Que eu ira ficar curada!

Eu só senti assim, por que o médico falou na minha cara que eu tava com câncer. Aí eu

chorei muito na hora, mas depois eu me acalmei... As pessoas me deram muita força.

Diziam que eu ia ficar curada, aí eu tive muita força, fui curada. Mas cinco anos depois

voltou no pulmão e nos ossos. Aí eu fiz o tratamento do pulmão, e fiquei bem... Agora

tô fazendo o dos ossos.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Foi diferente. Porque eu quase morro nesse tratamento, me senti muito mal. No meu 1º

tratamento não senti nada, mas esse... Me abalou muito mesmo. Eu fiquei magra, perdi

muito peso, né? E fiquei muito doente mesmo... Aí só Deus mesmo ter misericórdia!

Fiquei desesperada essa segunda vez que eu soube, né? Eu fiquei desesperada, pensei

que já ia morrer... que não tinha mais jeito fiquei muito triste mesmo! Tinha um dia que

eu chorava que só! Eu pensava que já ia morrer né? Que me sentia muito mal, eu só

pensava que ia morrer. Mas graças a Deus eu tô bem agora, né? Fazendo tratamento,

tô bem! Mas senti que ia morrer, que eu não ia ver minha família, meus filhos, né? Senti

muito ruim mesmo. Minha família ficava desesperada.

E: E como ficou seu dia-a-dia, depois que descobriu a metástase?

As mesmas coisas que eu fazia antes, quero fazer agora, mas agora é delicado, né?

Por causa tratamento! Eu gosto de fazer minhas coisas dentro de casa. E médica disse

pra mim não fazer, né? Tem que ter um acompanhante do meu lado, porque eu já peguei

umas quedas por causa dos ossos, né? Agora eu tenho que andar com acompanhante,

mas às vezes ando sozinho... Algumas vezes vem acompanhante comigo. Não posso

andar como eu andava antes. Mas assim, não me sinto bem!

É ruim porque a gente não pode andar só, né? Mas aí tem que andar. Às vezes eu ando,

eu venho sozinha pro hospital, mas às vezes a médica diz olha, não fique andando só!

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Mas mesmo assim, eu ando. Mas agora me sinto mais presa, porque eu não posso tá

saindo. É um tratamento mais dedicado.... Não pode sair, não pode pegar sereno, não

pode pegar sol e chuva! Quando eu comecei o tratamento eu sentia muito enjoo, muitas

dores nas nos ossos...agora não sinto reação...me sinto bem! Eu tinha muita dor no

meus ossos, mas agora não! Me sinto bem graças a Deus! Mas queria fazer que nem

era antes... Fazia de tudo! Gostava de cuidar da minha casa...como eu tô te morando

com a minha irmã, não faço nada, porque que ela não deixa. Eu fico tipo deprimida...

Ela fica falando pra eu não fazer.... Mas eu tenho que fazer! Não posso ficar inútil,

também que não posso fazer mais nada.... Me sinto mal que só... eu estou acostumada

a limpar, fazer faxina na casa dos outros... eu gostava de fazer. Mas eu tenho mais é

que agradecer a Deus pela minha família que cuida bem de mim, meus filhos. Tenho 7

filhos homens. Tenho uma netinha que vai chegar, né? Agora eu tava dizendo para o

meu filho, como é que vou cuidar da nora que vai ter outra menina? Mas eu sinto tão

bem, porque sei que Deus me deu agora essa neta para eu cuidar, né? É para isso que

vou continuar vivendo! Só peço pra Deus me dá força pra ver meus netos e minha

família toda reunida. E aguentar o tratamento, né? Porque esse tratamento, não é muito

fácil. Quero cuidar da minha família também que precisa de mim muito importante.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Acho que é se preocupar com alguém. Acho assim, porque que minha família se

preocupa muito comigo, quer que eu viva mais um tempo com eles, né? Não querem

me perder, né? Acho que cuidado é isso! Eu acho também, que os enfermeiros se

preocupam com a gente! Eu também acho que é aquela relação, que eles também

querem que a gente viva mais uns dias também! Eu não tenho que falar dessas

enfermeiras daqui, que são muito legais! Cuidaram muito bem de mim. Elas vinham

conversar comigo, me dão muita força! Elas dizer assim: olha muito bem...olha como

ela tá forte, porque que eu era bem magrinha, né? Acho que elas tem que se preocupar

com o paciente! Querer que o paciente viva bem! Também me tratam com muito carinho,

com muito amor, eu acho que é tudo isso! É ter a preocupação com o paciente.... E

quando se tem amor na profissão, né? Aí consegue tratar a gente muito bem... né? Tem

enfermeiro que não trata. Pra mim eles tem que se preocupar...Acho assim meu ponto

de vista.

ENTREVISTADA Nº 7

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Deixa eu te contar a história, na verdade começou na mama, né? Mas como eu não

percebi a minha mama muito grande, e quando eu senti e fui investigar já estava nos

ossos. Foi numa queda de moto e depois disso, três meses... eu não quebrei nada, não

me ralei, mas comecei a sentir na minha coluna uma fisgada, na verdade nas pernas e

na coluna. Aí por conta da queda, comecei a ir ao hospital. Daí o médico me

diagnosticou com hérnia de disco em julho de 2013, só que cada sessão de fisioterapia

que eu fazia cada, eu piorava. Quando foi em agosto eu tive uma crise, e paralisei...

paralisei totalmente mesmo. Depois dessa crise, eu já fui no hospital particular lá em

Capanema. E aí lá o médico percebeu algo diferente, e ele pediu uma tomografia e uma

ressonância. E eu fiz a tomografia e a ressonância, ele me falou que era algo muito

sério, que tinha que fazer uma cirurgia, porque as vértebras da minha coluna estavam

comprometidas, mas ele não foi muito claro. Aí eu tive outra crise, levei pra outro médico

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particular e quando ele viu ele me disse na cara o que era. Me disse que era

provavelmente câncer e que já tinha chegado nos ossos... mas que não tinha começado

nos ossos, mas em outra parte do meu, aí eu vim parar aqui no hospital. Foi difícil muito

difícil...Senti muito desespero... é desesperador. A impressão que você tem...o que você

sente, é que você já vai morrer. Você passa a conviver com a morte é muito ruim, é

triste, mas é a verdade.

E: Mas em relação ao sentido de ter uma doença oncológica e da metástase óssea,

a senhora tem mais alguma coisa a falar a respeito disso?

É acho que é desespero, mas o que me ajudou também ao mesmo tempo, foi eu ser

católica e ter muita fé... Assim, eu sempre trabalhei na igreja, sempre tive uma vida

muito ativa assim na minha igreja. E ai a gente sabe que Deus tem um plano pra cada

um, né? Deus tem um projeto... e só Ele sabe né? Mesmo em meio ao desespero, o

que me alimentou muito foi a minha fé. Minha fé é a base de tudo! Assim amigos, as

orações...muitas orações, não só na igreja católica mas na igreja evangélica também.

Às vezes perguntava por que, né? Por que às vezes acontece com outras pessoas, a

gente pensa que não acontece com a gente. Aí a gente se pergunta assim, por que?

Por que eu? Então a gente faz todo esse questionamento. Dá medo... Medo de morrer...

de não andar mais, porque eu fiquei muito tempo sem andar. Passei 7 meses sem

andar. Então tinha muito medo de não andar, na verdade medo de muitas coisas, mas

talvez o medo de morrer.... tipo assim, de morrer imediatamente, não dá tempo nem de

nada né? Mas acho que o desespero, o medo e por você sofrer e fazer outras pessoas

sofrerem foi o mais ruim. Eu acho que para mim, o pior é você sofrer. Tipo se eu estou

com uma doença, convivo com essa doença. Mas de repente “pá” eu morro, pronto

passou...mas o medo que eu ainda tenho e não passou é que me faz sofrer muito.

E: E como ficou seu dia-a-dia, depois que descobriu a metástase óssea?

Tipo carregar peso, andar muito... Fazer trabalhos domésticos, agora são reduzidos!

Mas mesmo assim, lavo louça, pouquinha mesmo... porque a doutora me disse que eu

tinha que fazer alguns movimentos, mas não posso ficar também sem fazer movimento

nenhum, né? Mas assim, é tudo mais limitado! Não sinto dor, nem canseira e nem mal

estar e às vezes eu passo dias que eu não lembro que eu tenho essa doença! Mas aí,

o meu dia a dia é normal. De manhã quando tomo café, tomou banho eu faço

caminhada, faço uma meia hora a 20 minutos até. Eu faço caminhada, lavo louça...

parte da comida, por exemplo cozinhar e temperar uma carne, feijão, essas coisa assim

mais simples. Cortando um pedaço de carne, essas coisas eu faço normalmente. Lavar

a roupa eu lavo, assim quando eu vou tomar banho aí eu lavo. Mas eu não trabalho

mais em sala de aula... é muito estressante. Eu atribuo isso tudo que acontece comigo

a isso! Toda essa crise por conta de estresse de sala de aula. Não sei... alguma coisa

que tá aqui em mim, que eu acredito que tenha sido isso! Porque eu não tenho vontade

de voltar para sala de aula e também não senti saudade.

Eu faço assim, muitos trabalhos que me dá muito prazer, como trabalhar com EVA, criar

alguma coisa, trabalhar na igreja... Às vezes eu esqueço que tô com essa doença,

lembro mais quando eu chego aqui. Quando eu chego aqui, aí vem tudo à tona! Porque

você se depara com todas as pessoas que tão passando pela minha situação e

comentários... As pessoas comentando, falando cada um... falando da sua experiência,

suas dificuldades...Aí vem tudo à tona...aí parece que cai a ficha pra mim.

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E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Preocupar com outros, né? É Mais ou menos nesse sentido! De se preocupar, tipo

assim, durante esses três anos, as pessoas que eu tive mais convivência são as

pessoas daqui... Então sei o que é o cuidado de olhar... de se preocupar se a gente tá

bem, se tá tendo algum efeito ou não! Olha, tipo assim, agora a enfermeira me

perguntou se deu alguma reação. Ela poderia não perguntar... Aí eu perguntei, qual é o

teu tempo, aí ela falou que era de uma hora a uma hora e meia! Então eu vejo assim

que é uma preocupação .... Ela poderia muito bem só pôr o remédio lá em e pronto e ir

embora! E só voltar na hora de retirar e não... mas ela se preocupa em perguntar! É

meio que gratificante, você saber que alguém se preocupa... Porque tem tantas pessoas

com a mesmas dificuldades... mas tem que ter um olhar diferente para cada uma, né?

Eu acho que é isso... é ver que tem alguém que se preocupa também.

ENTREVISTADA Nº 8

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Olha meu amor para mim ter câncer foi assim o maior desespero da minha vida. Porque

isso é uma doença hereditária, né? Mas na minha vida ou na minha família nunca houve

um caso de câncer de mama, e quando eu tive um câncer de mama, vi sair o chão.

Porque você sabe com quem você tá lidando, com uma doença extremamente perigosa

e que dificilmente tem cura, né?

Aí para mim ter câncer foi a pior coisa na minha vida porque até hoje eu luto. Mas Deus

até hoje está me mantendo viva, né? Como diz a minha filha, eu já burlei as estatísticas

que até hoje eu tô lutando com essa doença, ainda tô aqui para contar a história!

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Senti que eu ia morrer. Eu pensei... pronto agora acabou. Papai do Céu tá me

chamando, chegou a minha senha está na hora. Mas aí, me apeguei mas minhas filhas,

na minha fé e muita oração... Sabe como é que né? Essa doença tem que ter muita fé,

muita força de vontade de sobreviver, sabe! Por que é uma luta... é muita luta! Você tem

que ter força, tirar a força da onde você não tem, para você conseguir batalhar contra

doenças, sabe? E aí agora eu tô muito debilitada... Tô me sentindo muito fraca, porque

eu não tô conseguindo me alimentar direito. Sentindo muito enjoo acho que devido as

minhas taxas! Mas assim, eu tenho muita fé em Deus! Eu creio, moça, que eu não vou

morrer desta doença! Sabe, eu não vou morrer... porque eu luto com todas minhas

forças, eu as vezes, não tenho vontade de comer... mesmo assim eu como! A comida

amarga na boca e eu vomito... mas depois eu tento de novo comer e assim vou levando.

Sabe por que? Por que eu tenho uma filha, e ela ainda depende de mim sabe? As outras

estão todas casadas, tem seus maridos, mas é só uma ela ainda depende de mim

agora... ela tem 18 vezes, acabou de terminar o ensino médio... Tá fazendo curso

profissionalizante... e eu quero deixar ele encaminhado, pra depois morrer. Eu vou

conseguir.... Em nome de Jesus, por que ele tá comigo, e isso significa muito. Eu sinto

assim, medo...de deixar meus filhos, porque eu e os meus filhos somos muitos ligados,

eles tem muita dependência de mim e eu tenho muito medo de morrer e eles depois não

ter com quem contar, sabe? Quando alguma coisa que acontece, ele me liga... mãe

aconteceu isso! E me dá muito medo! Mas Deus sabe, estamos nesse plano para

cumprir nossa missão e vai chegar o dia Deus te levar, mas quem quer que quer ir, né?

Ninguém que ir! E é como eu já falei, eu quero pegar última senha de lá...

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E: E como ficou seu dia-a-dia, depois que descobriu a metástase óssea?

Meu dia é só sofrimento.... Porque não tem um dia que eu não sinta dor. Não tem um

dia que eu não sinto fraqueza, não tem um dia que eu não sinta enjoo... A minha vida

tá sendo muito difícil, minha rotina de vida está muito difícil. Eu não consigo fazer nada,

minha filha não me deixa fazer nada. Mas mesmo assim eu me sinto muito fraca, muito

fraca até porque tudo que bate no estômago quer voltar...até água! Antes eu gostava

de trabalhar, minha vida era trabalho... me virava, trabalhava numa pousada, virava

serviço e começava de manhã e largava no outro dia de manhã e agora é difícil, porque

eu gosto muito de trabalhar e de fazer minhas coisas... E agora eu não posso, não

consigo. Me sinto muito inútil enfermeira... me sinto muito inútil.

Às vezes quero lavar uma louça, daí minha filha fala: saia daí mamãe deixa que eu lavo!

Aí isso pra mim é a morte, por que a gente se sente assim impotente de fazer as coisas,

porque quer fazer! Pra quem gosta de trabalhar e sempre trabalhou...aí ficar em casa

só deitado, numa cama ou sentada numa cadeira, mana isso é horrível! É horrível isso.

Tudo que eu queria nessa vida, era ter saúde pra fazer minhas coisas dentro de casa,

sem tá dizendo: vem aqui fazer isso ou olha tem que lavar aquele banheiro.

Praticamente todos os dias eu vivo com essa dor nos ossos e na cabeça mesmo. É

ataque dessa quimio, ela ataca com a muito a cabeça e a gente fica assim parece que

vai enlouquecer a qualquer minuto. As dores são muito fortes, principalmente quando o

cabelo tá para cair. Tinha hora que eu ia me virar, era como se meus ossos fossem

quebrar. Eu venho pra emergência quando eu sinto que já vou morrer.... Mas se eu

puder me tratar em casa, tomar remédio... Eu não sei eu não venho. Ali é a imagem do

terror... do desespero! Porque você já entra doente, ver pessoas assim, que estão piores

do que você... AÍ você vê o sofrimento de ouvir uma pessoa que tem a mesma doença,

que você saber que provavelmente você vai passar por aquilo... Isso aí mexe com o

psicológico de cada um ... é horrível!

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Cuidado para mim, eu acho que é o amor. É tipo de você tratar o seu paciente com

amor, com carinho com atenção. Esse é o maior cuidado que pode ter sabe, essa é uma

doença que te deixa muito pra baixo mesmo. E o amor de um filho, de um parente,

desses meus irmãos é muito importante. Eu falo pra meus irmãos, eu não quero que

vocês me deem cesta básica, eu não quero que você chegue aqui e deixem dinheiro

para mim, porque Deus supre as minhas necessidades!

Mas o fato de você pegar um telefone, me ligar...pra saber se tá bem, como é que você

tá hoje! Você não sabe como isso me revigora, sabe. Ou então ver um irmão entrando

pela porta da minha casa, pra saber da gente, é muito gratificante! Entendeu... isso é o

meu melhor remédio! É o amor da minha família! Minha mãe quando liga de Salinas...

uma vez ou duas na semana, é a mesma coisa me sinto outra sabe? Me sinto outra!

Mas eu vou te falar uma coisa, aqui no Ophir Loyola, graças a Deus... Deus é tão

maravilhoso comigo, que ele colocou só pessoas legais na minha vida. O meu médico

ele é um excelente profissional, ele me trata muito bem! A assistente social, me trata

super bem, as meninas, as enfermeiras, né? Elas me tratam maravilhosamente.... Essa

menina que vem aqui, elas brincam, elas tiram brincadeira com a gente, conversa com

a gente! Elas são maravilhosas, as meninas são anjos de Deus. Parece que elas

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nasceram para isso. Eu acho que para cuidar de pessoas que nem a gente, né? É dom

...E nisso elas são muitas boas!

Acho assim, que na profissão delas, elas tem que gostar daquilo, ela tem que ter amor

pela profissão delas. Porque é muito bonito você fazer aquilo que você ama fazer, né?

Não adianta você entrar numa profissão que você vai contra a sua vontade, só visando

o dinheiro né? Você tem que entrar numa profissão usando ou você gostar de fazer

aquilo e eu acho que elas gostam, por que não é fácil cuidar de gente doente.... Mas

elas são maravilhosas sabe graças a Deus! As meninas passaram perto de você e te

reconhecer, falar oi... Perguntar se você tá bem, como é que você tá, isso é muito

gratificante sabe? É revigorante pra gente, para o paciente, ser bem tratado pelo

profissional, né? Tem aquelas que estão fazendo por obrigação dela, estão sendo pagas

para isso, mas ela não tem obrigação de chegar lá e te dar um abraço, e de conversar!

Isso já é o amor mesmo, pelo trabalho dela e por tratar de gente assim! Acho que elas

até se apegam, com a gente! Acho que é isso.

ENTREVISTADA Nº 9

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Horrível! Péssima... Tanta doença por aí, e eu ter que pegar logo essa! Eu senti um

nódulo…. Na época tinha uns 34 anos e disseram que só fazia mamografia após aos

40...devida a essa informação eu não fui atrás. Então foi crescendo e quando eu

descobri o nódulo, aí que fui correr atrás. Fui na Casa da Mulher... lá que eu encontrei

um anjo que me encaminhou para cá... Lá eu fiz as biopsias e depois aqui eu já dei

início ao tratamento. Não fiz quimio da mama, porque depois de operar da mama, eu já

descobri que tava no fígado. Quando eu fiz a tomografia, já apareceu logo de cara uns

nódulos da mama e nos ossos. Senti que já ia morrer. Os dois logo junto! Eu sentia

muitas dores nas costas, só que como eu fazia academia e eu pensava que era da

academia, aí como já deu isso eu fiquei em cima da médica eu digo:

Olha doutora se tem alguma coisa no osso, só pode ser na coluna, porque é onde dói!

Foi aí que ela pediu outro exame. Foi que lá mostrou tudinho! Tava na coluna...lombar

e torácica.

E: E como ficou seu dia-a-dia, depois que descobriu a metástase óssea?

Eu andava de bicicleta, coisa que eu não vou poder andar tão cedo! E nem sei se vou

andar um dia só... Caminhar perfeitamente, hoje em dia eu preciso de ajuda até para ir

no banheiro. Agora assim, meus dias são com muitas dores. Quando eu tomo

bonefos…. Ele dói o corpo todinho, mas depois que vai passando…. Vai aliviando

também a dor da minha coluna, junto com a medicação que eu tomo quando dá uma

“queimaçãozinha”! Mas até hoje, graças a Deus, tá tudo bem!

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Cuidado, eu acho... que todas as enfermeiras que trabalham aqui deveriam ter! Cuidado

com o paciente. Dependendo se conhece ou não conhece, não pode ter tratamento “vip”

pra uns! Todo mundo tá doente igual! Tem gente que olha, vem aqui, te fura e coloca

aqui o negócio…. Aí pronto! Se tu não sentir nada, tu fica ali a tarde todinha! Eles não

vem ver se tu tá bem, se tu tá sentindo alguma coisa…. Pode até tá sentindo, mais a

obrigação era deles de vir perguntar! Não eu ter que ficar chamando… Tem dia aqui,

que a gente ficar doida... olha cadê o fulano... cadê o fulano? Ah espere aí! Tem que

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esperar o fulano de tal...ele que vem te atender! É ruim isso. Mas assim, eu gosto do

posto de enfermagem... A enfermeira chefa, ela já conhece meu caso, e quando eu

venho tomar meu remédio…. Então o que ela faz? Ela já deixa eu passar direto para

cá…. Já vem procurar se tem um leito para mim! Mas antes não era assim... Eu tinha

que lá reclamar, brigar. Elas (técnicas de enfermagem) ficavam com raiva e me

colocavam na marra. Consegui as coisas de tanto a gente insistir... se não? Não vinha

mesmo! Mas cuidado é assim, o carinho. Tem que vem ver como que tu tá, se tá

precisando de alguma coisa... Dar atenção e isso não se tem! Elas tem que ser mais

cuidadosa! Aqui já pede para o acompanhante vir aqui, acho que já é para ajudar a fazer

o serviço delas. Mas acima de tudo, acho que tem que ter respeito, porque assim como

é uma desconhecida delas poderia ser um conhecido! Já observei de gente ser amigo,

de ser parente… e ser diferente o atendimento. Já aconteceu aqui de terminar o soro

da medicação e eu ficar atrás da técnica, e ela sumir… Aí eu chamava de outro

enfermaria… aí esse dizer que não podia ir lá porque não era a enfermaria dele. Quando

chega o dia de vir pra cá… me dá uma tristeza! Em três anos tive quatro pessoas

queridas da família que faleceram aqui. Uma foi o meu irmão. Perdi um irmão doente

de câncer, perdi um primo, uma prima minha faleceu aqui... Pouco tempo, e muito

conhecido nosso, né? Aí eu penso, quer dizer né? Às vezes eu não quero ir pro Ophir

Loyola, porque lá eles não vão te dar esperança, eles matam a tua esperança! Eu só

queria finalizar aqui que através do seu trabalho que você tá fazendo… Nossa

esperança é que vocês façam um trabalho para melhorar, para ajudar as pessoas pra

contribuir para as pessoas que estão aqui … talvez as pessoas que estão aqui não

cheguem a receber! Mas os que vierem futuramente, né? Vão ficar agradecidas pelo

trabalho de vocês.

ENTREVISTADA Nº 10

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Eu senti uma força muito grande que Deus me deu, né? Porque lá onde eu descobrir foi

lá Metropolitano, aí a doutora falou para mim que era para mim voltar para minha casa

e esperar a hora de Deus me levar! Eu caí umas quatro vezes da rede, aí na última

queda que eu peguei, não andei mais! Eu só fazia gritar, né! Eu pensei que a dor era da

queda, né! Mas aí foi descoberto que eu tava com câncer avançado e que tava já nos

ossos, e que tinha sido no início na mama. Aí o médico falou para mim que a minha

coluna tava desmanchado. Falou que eu não ia mais andar, que a minha companheira

era minha cadeira de roda! Só que foi engano dele! Porque ele deu a palavra dele, mas

Deus não me descartou! Essa é uma doença para mim que não existe! Com toda

sinceridade quando eu recebi a notícia, eu reagi até bem, graças a Deus! Não reagi de

maneira nenhuma... de dizer assim, que eu fiquei triste ou entrar em depressão... Eu

não! Acho que a minha fé é muito importante, a fé move montanhas. Então quem tem

fé em Deus, é nEle que a gente tem que buscar.

E: Mas em relação ao que significado de ter câncer mama e a metástase óssea, a

senhora tem mais algum comentário a fazer?

Minha reação a primeira vez que eu recebi a notícia, porque já descobri o do osso, né?

Ele falou para mim, me mostrou o esqueleto no exame, ele disse ela tá vendo isso aqui...

seu caso não tem mais jeito! Eu disse doutor, não tem pra o senhor, mas para Deus

tem! Eu ainda tenho propósito aqui nessa terra, Ele vai me curar! Mas eu cheguei a

achar que não Ele não ia resolver quando eu descobri.

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E: E como ficou o seu dia-a-dia com o retorno da doença?

Eu tenho uma revenda que eu trabalho com um negócio de roupas. Meu dia a dia, eu

passo com meu marido, e de vez quando eu vou daqui para lá. Eu fico lá com ele, eu

faço a minha comida, eu saio, vou para missa, eu vou passear, tomo banho, eu ando...

Só quando eu venho para cá, venho na cadeira de roda, porque aqui demora muito!

Mas eu já tô cansada, não tô sentindo as pernas totalmente seguras. Sei que ainda vou

enfrentar uma batalha, mas pelo que eu tava, para mim agora, já é muita vitória! Para

quem foi condenada por todos os médicos, que disseram para mim que eu não tinha

mais cura, que não tinha mais jeito...mas a cura só quem dá é Deus. Foi o que eu falei

para ele.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Recebo cuidado dos meus filhos, da minha irmã... eles nunca me abandonam. Acho que

também cuidado é na hora das medicação, na hora do banho, não cair, na hora da

alimentação, de dar remédio, né! A pessoa tem aquele carinho, só Deus sabe o que

viver junto da pessoa e viver todo tempo para mim né... dar seu tempo, ficar do seu lado

para isso. Isso pra mim já é um cuidado muito grande, né? Porque a gente sente que

aquela pessoa tá preocupada com você. E a enfermagem é um serviço que tá ali no

nosso dia a dia, a gente tem que aceitar porque foi Deus que deixou né enfermeiras...

Elas são boas trato com a gente, com carinho, com amor! Mas tem umas né... porque a

gente nunca sabe o dia a dia das pessoas, como é lá fora! Aqui dentro é outra coisa!

Aqui dentro você tem que suportar coisas que você não quer mas tem que aceitar

porque é sua realidade.

Até agora nunca ninguém me tratou mal, ao contrário, as enfermeira me tratam muito

bem. Gosto delas porque são realista, né! Então eu não gosto assim que me escondam

nada... gosto que me fale a verdade, porque eu prefiro saber a realidade do que a

mentira! Mas acho que as enfermeiras são para cuidar de você. Na minha opinião, elas

tem que ser mais caridosa com o ser humano, é porque quando ela vai exercer uma

profissão delas, elas sabem o que a gente vai enfrentar...a batalha na vida, né! Então

acho que é um cuidado difícil, porque você tem que lidar com o ser humano, mas para

mim, eu ver e sentir ela me tratando bem para mim é o suficiente! A enfermeira sempre

me recebe com festa, conversa com a gente, vem explicar como vai ser o tratamento, o

que posso sentir. Isso aí é muito importante! Acho que o cuidado é isso, atenção nos

remédios, o carinho das pessoas. Porque quando você chega assim num ambiente

desse. O tratamento que elas dão aqui é muito importante para a gente levantar o astral

da gente. Ás vezes a gente em casa, porque tratamento deixa você lá no fundo do

poço... mas quando você recebe uma pessoa dessa doce, carinhosa você se levanta

um pouco na minha vida!

ENTREVISTADA Nº 11

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Eu não aceitei esse diagnóstico! Ninguém aceita, né?? E eu fui uma dessas pessoa que

não aceita. Até quando a gente conversava com a psicóloga, eu batia na mesa dela...

Foi uma coisa muito difícil para mim! Quando detectou tava no início, ai meu ex-marido

disse: procura uma assistência médica. E foi o que eu fiz. Eu nem sabia o que era

câncer! Fizeram o exame, mas não acreditaram, aí pediram pra mim fazer outros

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exames. O médico falou que não era nada…. Aí fui buscar a opinião de outros

médicos...então eu comecei a procurar! Só que assim foi uma questão de 6 meses pra

tudo se espalhar… Só que a médica que estava me atendendo, não fez muito caso. O

meu braço já nem sabe se movia…Aí peguei um doutor que disse na minha cara que

estava com 6 meses! Só crescia toda aquela revolta dentro de mim….

Passei por muitas angustias! Não queira falar com ninguém… nesse primeiro momento,

não queria aceitar a forma como eu tava... Foi muito difícil de me aceitar... Passei muito

tempo pra isso!

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Eu acho assim, que você assim não está normal! Não está normal. Até disse uma vez

pra psicóloga, porque eu não está mais normal? Por que eu não posso fazer nada, o

meu corpo já não é mais o mesmo. Eu me olho no espelho, já vejo que não estou…eu

me afastei de todo mundo. Quase três anos, eu já fazia caminhada, pensando que eu

tava curada né? Aí eu fazia caminhada nas praças, fazia exercícios! Daí um dia então

me deu uma dor insuportável…. Uma dor que nunca tinha sentido na minha vida. Pensei

que fosse algo no nervo, mas como nunca senti... Aí tive que ver no osso! aí eu peguei

procurei médico, e ele falou que poderia ser uma metástase! Aí ele pegou, providenciou

o exame e aí deu... um lado da minha bacia, mas era bem pouquinho e um pouquinho

da minha coluna, só que não melhorou! Ainda para completar o nódulo voltou a crescer!

Ai fiz quimioterapia de novo, caiu todo o meu cabelo de novo... já tava grande já ia fazer

quase 3 anos... Mas não adiantou, aumentou mais. Mas quando eu recebi essa notícia,

tentei não me desesperar, né? Ficar tranquila, esperar naquele lá de cima por que Ele

é mais. Mas hoje eu já estou bem mais tranquila!

E: E como ficou o seu dia-a-dia com o retorno da doença?

Hoje não posso carregar peso. Hoje em dia está focado aqui no ombro. Não carrego

normal mochila e cada vez tô sentido mais de não poder fazer essas coisas. Tenho uma

neta de 5 anos, mas não consigo carregar no colo. Só consigo carregar um pouquinho,

mas é sentado no sofá! É assim no meu dia a dia. Muito enjoo...Mas eu tô me sentindo

muito melhorar. Mas ainda continuo sentindo dores…Quando ela começa assim, essa

dor, fico com a sensação de febre…. Dói aqui no ombro, lateja, sabe? Aí a bacia começa

a doer... Aí tenho que tomar dipirona ou qualquer remédio pra dor! Minha vida agora é

conviver com a dor.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? O que é cuidado? Cuidado é estar com os tratamentos em dia, é isso! Quem cuida de

mim mesmo é minha família e os que me atendem aqui. Muitas das vezes, a equipe

torcem junto com gente. Como por exemplo, no meu caso eu não tenho a veia boa, ela

tem paciência em me furar, porque ela ficou com pena de mim e já tava reclamando de

tanto levar furada. Assim outras vez, eu não consigo ficar esperando na cadeira porque

me dói, aí uma vez uma enfermeira ela ficou vendo... aí ela eu uma vez ela me tirou da

poltrona e me levou pra outro lugar mais confortável... Acho que é isso!

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ENTREVISTADA Nº 12

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Quando eu descobrir, foi um caroço no meu seio né? Procurei um ginecologista pra

fazer exame, e ele pegou e me encaminhou para uma cirurgia. Dei entrada pela minha

cidade. Só que nunca deram andamento nessa cirurgia, nunca me encaminharam. Mas

aí começou a doer…daí mostrei para minha patroa e ela me arranjou pra eu vir aqui no

Ophir Loyola. Eu fiz todos os exames de osso, de imagem. Aí foi que atestou que era

metástase. Eu queria entrar em estado de depressão por causa de condições financeira

na época, eu não tenho marido e meus filhos, na época eram de menor, e eu fiquei aqui

apavorada por causa de dinheiro, de ter que fazer tratamento fora. E de eu não ter onde

ficar! Fiquei pensando no que eu ia fazer da minha vida…. Eu moro de aluguel e ia ficar

difícil nessa parte, né? Mas depois, eu tentei manter a calma, me apeguei a Deus.

Entreguei a minha vida no Senhor, e que Ele ia vai fazer da minha vida o que ele achava.

Me entreguei, me acalmei.

Então eu creio assim que a pessoa que tá com esse tipo de doença, nunca deve perder

a esperança! Porque quem tem Deus tem tudo! Não se desespere! Teve gente que

chegou para mim perguntando se eu tinha vontade de me matar! Eu digo não estou à

procura de morte estou à procura de viver, entendeu? Eu tenho dois filhos e eu ficava

pensando que eles dependem de mim entendeu? Tenho um de 15 e outro está com 18

anos, e como mãe... é responsável pela educação dos filhos... Aí eu sempre falava para

o meu Deus, Senhor acho que eu não quero morrer agora entende? Eu sozinha, acho

que não aguento aquilo ali, mas por causa dos meus filhos tive força! Vou passar por

causa dos meus filhos, que por eles vou suportar né? E aí eu sempre tô alegre, eu tô

me apegando a Deus.

Antes da doença eu pensava em comprar uma casa... Aí meu plano foi por água abaixo,

aí eu continuei fazendo tratamento até hoje... Aí eu penso, ai meu Deus... como é que

vou deixar meus filhos sem teto, né? Eles que me deram força.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Olha...essa doença para mim ela não significa nada. Porque quando eu descobri que

essa doença, entendi que ela só é curada com a sua força! E se você botar na cabeça

assim, que ela não é uma doença contagiosa, que ela não é uma doença alastrante, daí

a gente passa por cima dela. E foi o que eu fiz da primeira vez e tô fazendo de novo,

entendeu? Não significa nada para mim! Não significa nada! Basta ter coragem de

enfrentar, porque muita gente não tem aquela força, quando descobre aí que tá com

câncer aí ela mesmo põe o final na vida dela. Não deixa ninguém fazer nada por ela. E

eu fui correndo atrás daquilo que sabia que a matar essa doença.

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

O meu dia a dia é estressante, porque eu sempre fui uma pessoa que sempre gostei de

fazer minhas coisas! Assim dá vontade de fazer, mas e eu não posso mais ficar

varrendo, limpando... Não posso pegar mais na beira de um fogo para fazer uma

comida... O que dificultou muito a minha vida! Assim, não como mais o que eu podia,

entende? Hoje a minha dieta é grande. Eu fiquei curada também porque segui direitinho

dieta! Hoje praticamente minha comida é só um peixe e frango, que eu já nem como, e

a salada também. Arroz e feijão e quando dá minha filha. Quando não, é só mingau, um

leitinho, biscoito. Eu tô que nem uma criança, só comendo besteira. Mas para minha

saúde, eu prefiro assim…aí pronto né?

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E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Cuidado é a pessoa. O cuidado para mim que eu digo assim, porque, por exemplo... eu

tive nessa situação, né? Nem pegar um o sabão… eu não podia, mas tentava pegar! E

sempre tem alguém que fala: Larga isso... larga isso aí. Acho que isso é cuidar. Mas eu

tenho que aceitar aquilo. Porque tem muita gente que fica com raiva e xinga a pessoa.

Mas eu tento entender que aquela pessoa tá tendo cuidado comigo. Acho que também

é preocupação. Elas (técnicas de enfermagem) me medicando... botam remédio pra

eu tomar, né! (...) Se eu fiquei boa é porque eu vim para cá tomar minha quimio! E quem

injetou? Foram elas! Quem botou agulha com cuidado aqui? Elas dizem assim: tá

doendo? Se tiver doendo, aviso pra elas, aí elas vão lá e põe de novo, do jeito que não

vai me machucar né? Pra eu poder tomar meu remédio confortável. Pra mim esse é o

cuidado delas. Também recebi informações da enfermeira. Ela me chamou e passou o

que eu devia e o que eu não devia comer… o que devia fazer … o que não devia,

entendeu? Aí ela passou aí eu segui tudinho!

Isso é cuidado, né? Muitas vezes é minha nora me ajuda. Ela cuidou de mim até hoje!

Ela cuida de mim... Ela que lava a minha roupa, faz minha comida, limpa a minha casa

e cuida de mim!

ENTREVISTADA Nº 13

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Ah foi muito difícil, aquilo ali me acabou e eu desabei… Sabe quando fica a casa, e ela

desaba em cima da gente? A gente olha para o lado, olha para outro... não vê a solução!

Já pensa que até ali é o fim. Isso pra mim foi muito ruim, mas agora já tô encarando

normal! Na hora na hora que o médico disse… eu disse: meu Deus! Na minha família

não tinha né? Nenhum problema... mas aí depois eu fiquei me perguntando, porque eu

né? Mas aí, né? Não é a gente que permite... É Deus que concede tudo isso. Agora me

sinto mesmo normal. Só é difícil porque o preconceito das pessoas ainda é muito

grande, né? Às vezes eles não chegam perto da gente ou ficam de longe mesmo…

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Quando soube aquilo desabou de novo… aí pronto! Já era um… agora dois e agora

meu Deus? Fiquei preocupada. Eu já tava doente… e agora tinha passado pros ossos

e agora como é que eu ia aguentar toda essa situação? Eu acho que eu não ia dá conta.

Mas aí tomando os remédios, e com a ajuda do meu marido, que cuida de mim e é muito

bacana comigo. Ele conversa, dava conselhos... Aí eu consegui aguentar. Graças a

Deus! Outra coisa, sabe... eu tenho duas filhas, né? Aí me preocupava com elas. Eu

pensava, meu Deus, e agora? E minha filhas, ainda são de menor…. E aí como é que

vai ser se eu morrer? E aí eu ficava nessa agonia. Ficava muito triste … Só pensava,

agora pronto meu Deus! Eu fiquei lá, em depressão logo! Aí depois eu mesmo estava

andando com Deus… fui achando força e agora estou me recuperando!

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Muita coisa eu gostava de fazer! Gostava muito de lavar roupa, varrer a casa... mas aí

eu não consigo fazer essas coisas porque dói. Dá aquelas pontadas. Então tem uma

menina que faz as coisas para mim... Fico dependendo de uma outra pessoa. Eu me

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sinto assim... Uma coisa, uma pessoa imóvel…. Tipo assim, um parasita dependendo

dos outros. É muito ruim! Antes eu fazia tudo. Lavava, passava, cozinhava, cuidava das

minhas filhas! Hoje tenho essa dificuldade, não vou mais pro supermercado, lavar

roupa...aí eu já não faço mais! Minha família que ajuda, elas lavam, eles passam, eles

fazem tudo direitinho! Agora fico mais em casa. Vou pro hospital, venho pra igreja …

quando dá é que vou para igreja. Se não fico em casa. Às vezes eu fico triste em casa,

aí eu pego vou fazer uma caminhada me sinto muito melhor… Mas quando a gente tem

fé em Deus o que é triste a gente tenta melhorar. A gente busca força, pede direção a

Deus e aí consegue levar à frente.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Ah... cuidado é uma pessoa se preocupar com o outro em ajudar. É ajudar, né? Tanto

em casa, como no hospital tem gente que me cuida. Em casa, sou só eu, meu esposo

e minha duas filhas. E aqui, são as enfermeiras. Sempre que eu chego aqui, sou bem

atendida... E aí vou levando! Os enfermeiros aqui são bons, né? Graças a Deus, não

tenho nada o que dizer até agora. Eles atendem direitinho, não tem aquela ignorância.

Quando elas não conseguem furar... não tão conseguindo... aí vai chama outra. E isso

é uma grande ajuda, né? Elas tratam a gente com carinho. Geralmente eles são muito

carinhosos... Pra mim, cuidado é ter uma preocupação de ajudar a gente, levantar a

gente, gostar da gente! Para a gente ficar melhor, né? Se sentir melhor, porque quando

a gente está sendo furado... e tá tomando esse negócio não é bacana! Mas às vezes as

enfermeiras vêm brincando e conversando e aí a gente nem sente furar! E quando vê,

já foi! Para mim eu acho que é assim.

ENTREVISTADA Nº 14

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Foi de procurar tratamento. Procurar tratamento e aceitar. Minha reação foi de procurar

me tratar. Seguir o que o médico mandasse. Aí eu procurei logo um auxilio aqui que era

Hospital de referência. Não me revoltei nem nada e também não fiquei encucada não!

Procurei me tratar. O médico disse que se eu me tratasse, poderia ficar totalmente boa

um determinado tempo, mas que a doença era ingrata! E poderia apresentar em outros

órgãos! E foi como aconteceu, né? Eu nunca abandonei totalmente o tratamento!

Sempre me tratando... mas agora apareceu há uns três anos pra cá nos ossos...

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Aceitei naturalmente. Já tenho idade…. Eu já podia esperar, né? Na velhice! uma

doença pra morrer logo. É o que nos espera. Eu sou muito realista. Eu sentia muitas

dores nos ossos, mas nunca abandonei o tratamento. Procurei para fazer novos exames

e constatou na cintilografia. Depois do resultado fiquei pensando só num modo de me

tratar! Conversei muito com o médico…. Aí me explicou da maneira que eu poderia viver

muito tempo com ela, só que ela iria se esconder por determinado tempo. Mesmo com

a inovação de remédio, de tudo ele ia aparecer um dia! E apareceu… e nos ossos. Já

estava ciente que eu poderia ter de volta. A gente não quer, mas eu não me queixo. Não

reclamo de dor. Não grito com dor, tomo remédio, não perturbo ninguém, né?

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E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Mana, eu gostava muito de enfeitar, limpar a minha casa. Casa muito bem preparada,

com muitas plantas. Mas conforme o tempo foi se aproximando, e a idade... eu fui

abolindo essas coisas. Modificando tudo. Mas mesmo doente assim, eu gosto de ir

limpar minha casa, enfeitar por dentro. Mas agora não tenho mais condições. Mas eu

me distraio. Não dou, assim como diz o outro... uma oportunidade pra doença. Procuro

me distrair! Tenho um organismo fraco, mas eu tenho muita idade, né? Tô com 85 anos?

Mas quem é velho é o mundo! Procuro pelo menos arrumar, nem que seja uma gaveta,

arrumar um imóvel. Procuro fazer qualquer coisa que eu me distraia. Pra não ficar assim

encucada... impressionada. Mas não vou mentir, que a princípio senti uma mágoa.

Chorei tudo! Mais uma coisa, mais do que Deus... Ninguém! Tudo eu posso naquele me

fortalece... E eu vou vivendo mana. Tenho dores, mas eu não preciso de ninguém, né?

Então tomo o remédio e me deito. Mas procuro fazer qualquer coisa... mas para aquela

dor não ficar morando eternamente em mim! Procuro mandar embora... porque eu quero

viver ainda. Quero ver meus netos, meus bisnetos. Que são meu encanto! Eu sinto

dores mas não tô nem aí! Eu sinto incomodo…. Enjoo, eu baldeio mas não tem nada!

Eu tomo muita agua de coco. Mas eu não do muita confiança pra doença. Eu acho que

a gente deve reagir, né? Pra não se entregar!

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Eu mesma me cuido! Em primeiro lugar acho que é atenção na medicação, na dieta!

Todo este tempo, todos esses anos não sei o que é comer certos tipos de comida… Aí

tenho que usar a bengala! Olho pro lado e pro outro e só vejo: dois netos que ainda

existe na minha família e um bisnetinho... uma amiga que vem de muitos anos… e a

criatura que trabalha pra mim. Ela é muito atenciosa com a minha doença e tenho

amigos também que tem hora me acodem. Mas a enfermeira cuida, quando ela é

paciente e atenciosa. Eu fiz enfermagem, e foi meu primeiro emprego, fiz pela cruz

vermelha. Trabalhei durante quatro anos depois eu achei que a saúde só trabalha e

ganha muito pouco, e eu não nasci para ganhar pouco eu não queria isso, eu queria

ajudar os outros de outra forma. Fiz concurso e fui pra SEFA. A vida do enfermeiro é

muito sofrida e explorada por isso que eu não quis ficar nessa função. Ganha pouco e

trabalha muito. E muitas das vezes não é nem respeitada. Mas o cuidado delas pra mim

é quando elas dão atenção. Ela faz as coisas com satisfação. Eu dou valor a quem é

enfermeiro! Elas aqui são atenciosas, atendem a gente com paciência. Por que as vezes

a gente pega cada paciente... que eu vou te contar! Mas pra mim é isso, ter essa

atenção!

ENTREVISTADA Nº 15

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Eu senti um carocinho no seio e fui pesquisar…. E aí detectou. Na hora que o resultado

da biópsia saiu, eu fiquei calada e emudeci. Fui pra São Paulo fazer tratamento e passei

quase 3 anos em São Paulo, fiz o tratamento na mama, e foi muito mais difícil ficar longe

de casa, mas não pode perder a esperança!

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Ah foi horrível... Foi pior! Por que pensei que tinha encerrado aquela história, entendeu?

Aí de repente, a gente encontra uma nova história. E que a gente pensa que nunca mais

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passar por isso! (paciente começa a chorar) Tô até agora emocionada! Meche muito

comigo ainda. Ainda não aceitei isso comigo de novo.

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Ah eu era muito ativa… fazia tudo. Tudo eu participava, gostava muito! Agora eu tô

parada na verdade, é essa não sou eu, mas eu tenho que ficar assim! Eu não posso

fazer exercícios que eu fazia…. Não pode por causa dessa doença no osso. Então a

gente vai ficando com reduzidas as atividades. Pesa um pouquinho...deixa a gente

triste, com depressão… a gente se sente inútil (Paciente começa a chorar)

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? É atenção da minha família, das minhas irmãs…. É tudo o que elas fazem, até mais do

que elas podem. Pra mim isso é cuidado. As enfermeiras… aqui no Ophir elas atendem

da melhor maneira, dentro do que elas podem fazer, elas fazem. Só que não tem muita

estrutura, né? Mais da parte delas, elas fazem o que podem pra cuidar dos pacientes.

Elas mostram que cuidam da gente, dando carinho, atenção, conversando, explicando

o que pode e o que não pode... E isso é importante, elas dão atenção, dão carinho… se

esforçam. Acho que isso é cuidado mesmo.

ENTREVISTADA Nº 16

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Às vezes traz muita dor. Traz muita dor, logo no início. Traz muita tristeza também. Tudo

isso dói no início. Traz muita tristeza também. Tudo isso dói no início, que eu só pensava

assim.... Quando eu descobri que tinha câncer, achava que ia morrer no outro dia. Todo

mundo pensa assim, eu acho, quando faz os exames. Mas não é assim, aí depois

passou. Mas eu não tive depressão, essas coisas, nada. Aí hoje normal, como se não

tivesse. Só fiz o tratamento mas não tenho essa coisa assim de quando eu vou morrer,

de eu vou tá viva depois. Pra mim eu levo uma vida normal.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Ah, como eu falei, na primeira vez eu descobri foi um choque, mas hoje... É normal. Não

tem mais aquele abalo que a pessoa tem da primeira vez.

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Tá normal, normal. Levo minha vida normal, cozinho, e tenho uma vida normal. Não

varro muito a casa, mas faço comida... às vezes lavo uma roupa! Mas pra mim tá tudo

normal, como se não tivesse nada. Não fico triste, tento não pensar na doença e assim

ficar normal.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Cuidado, é carinho, amor. Isso é importante, né?! Ele (marido) que me acompanhou,

todo tempo. O apoio dele acho que foi o mais importante de tudo! Ah, aqui eu sempre

fui bem cuidada. Atendimento sempre bom. Só falta um exame pra mim fazer porque tá

escangalhada a máquina. Mas aqui assim, eu sempre fui muito bem atendida. Não tenho

do que reclamar. As enfermeiras são bem atenciosas aqui. Não tenho do que reclamar

deles. Porque fila a gente sempre enfrenta em qualquer lugar, né? Mas os cuidados

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deles aqui, são bem atenciosos sempre. É porque toda hora eles tão vindo aqui, toda

hora eles tão vendo o soro. São bem cuidadosos sim, não tem do que reclamar! Pelo

menos comigo, né? São bons, tem um bom atendimento.

ENTREVISTADA Nº 17

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Eu não tenho! Eu não tenho essa doença. Botei na minha cabeça que eu nunca tive

essa doença... ela pode vir, mas ela não existe dentro de mim! Você sabe por quê?

Porque o meu mestre, porque assim, eu sou budista, e ele tem meio pulmão, ele vai

fazer 90 anos, e ele tá vivo! Então eu botei na minha cabeça, se ele conseguiu, porque

eu também não posso conseguir. Então eu penso que não tenho uma doença

dessa…mas acho que se não fosse budista, eu tinha morrido! Mas, vou te falar... eu

nunca rezei tanto na minha vida. Mas eu só tenho uma coisa a dizer, o meu sensei

venceu a tuberculose, já operou o pulmão... E já tá tem bem no pulmão... Se ele não

perdeu pra doença porque que eu não vou sair dessa?

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Olha a minha doutora ficou assim... Ela se admirava, eu fazia exame, tudo que ela

mandava eu fazia e dava negativo. Eu não entendo... fiz todos os exames menina! Era

exame de sangue, eu fazia isso! Fazia ressonância e quando vinha o resultado nada...

tudo dava negativo! Eu só conversava com o sensei, olha eu estou vencendo, eu não

tenho essa doença, isso não vai me atingir! Mas depois de cinco anos eu não liguei

mais. Aí agora foi essa, que criou essa massa na minha coluna. Quando ela disse, eu

falei que eu não tinha nada e que eu ia vencer! Eu dizia pra minha filha, não posso

morrer, porque os deuses budistas estão segurando a minha mão aqui embaixo! Eu

ainda tenho uma missão. Não cumpri toda missão, só quando eu cumprir tudo, aí eu

vou me embora. Mas quando eu descobri, eu fiquei muito triste porque eu perdi a noção

da minha liberdade de andar, porque agora tem de levar a cadeira de roda pra onde eu

vou!

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Depois que descobri, tenho que ficar naquela cadeira de roda. Mas mesmo assim, eu

tentava ir para o banheiro sempre, mas eu já levei uma queda no banheiro. Depois disso,

toda vez quando eu vou sair, tem que pegar na cadeira de roda! Eu ando… mas é

perigoso. Mas eu ando devagarinho! Eu acho que os buda já tão com o ouvido cheio de

calo de tanto que eu rezo. Me sinto bem, mas só que agora não posso fazer quase nada

por causa desse negócio. Tem uma moça pra fazer a comida, varrer e limpar a casa. A

moça faz tudo. Agora eu não me sinto bem, sabe! Eu posso andar dentro de casa, mas

não ando só na rua, né? Meu maior medo é de não conseguir andar e ficar totalmente

dependente das pessoas. Isso mexeu muito com o meu psicológico. Então é muito

sofrimento! Hoje tem um pouco mais de restrição, só posso sair se tiver como ir de táxi

ou quando dá para o meu neto levar para algum lugar que eu queira ir!

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Pra mim é não me prender. Eu não gosto que ninguém me prenda! Eu sempre fui livre,

mesmo casada, meu marido nunca me prendeu e deixava fazer o que eu queria.

Quando ele dizia não faça, mas se você quebrar a cara eu vou lá consertar para você.

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Era assim que ele dizia, mas eu tinha a minha independência! Minha filha que mais

cuida de mim, mas ela vai mudar, aí ela quer que eu fique com a filha dela. Agora tenho

os meus netos... eles me telefonam: vovó, você tá bem? Esse aqui que me cuida! Ele

que me leva onde eu quero ir. Ele diz vamos dar uma volta. Acho que é isso o cuidado

é se preocupar. Já os enfermeiros daqui são maravilhosos! As enfermeiras nunca me

trataram mal. Eu me sinto bem com a enfermagem, elas são muito boas pra mim.

Não tenho o que queixar daqui dos enfermeiros. Tudo o que eu quero, eu peço com

amor e com carinho, aí elas me entendem, tá entendendo? É uma beleza uma pessoa

que cuida. Os enfermeiros... vocês têm uma missão que é tratar e cuidar do velho, dos

pobres, dos doentes... É isso que vocês têm de missão aqui na terra…. Olha assim

cuidar da minha alimentação, se eu precisar tomar um banho, e quando eu não pude

tomar um banho e me deram um banho! Eu agradeço isso, de coração. Eu acho que a

enfermagem é uma coisa linda. Elas são carinhosas é como eu tô dizendo, então me

sinto bem!

ENTREVISTADA Nº 18

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Horrível, né? Primeiro é a gente leva um tapa na cara e refaz toda nossa vida. Coisas

que a gente vê, a gente pensa que não vai acontecer com a gente, aí acontece! Eu acho

que uma reviravolta. Você começa a repensar sua vida, assim de um jeito que jamais

pensou que um dia ia pensar, né? Poderia acontecer e acontece… como é que a gente

fala? É um tapa que tu levas! Aí depois tu vai ter que fazer o que? Tu vai ter que levar

para frente! Você vai ter que ter coragem. Tu vai ter que ter vontade de combater

doença. Foi isso que aconteceu comigo em 2004 e 2003 quando eu tive…

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

E depois do tratamento da mama, veio acompanhamento, aí a gente fica tranquilo

porque sente o que era. Pensei que não tinha como voltar… fiquei tranquila! Mas quando

eu tive outros problemas, que aí o médico disse que tinha voltado... Eu desabei, chorei

como nunca tinha chorado. Mas eu nunca reclamei da vida! E como eu sou católica, eu

confio muito em Deus e acho que Ele que sabe, né? Ele que determina tudo e a gente

vai pra luta, a gente não pode ficar triste. A cada dia que vai passando, a gente vai

ficando fraco com a quimioterapia! A gente vai ficando fraca, mas sobrevive de uma

maneira que dá para gente sobreviver! E a gente tem que repensar muitas coisas, a

gente não dá valor em algumas coisas... A gente que reclama da vida, enquanto que

tem gente que tá morrendo por aí! No começo é difícil, mas não tem jeito, tem que

enfrentar! E enfrentar assim, com vontade de viver, de fazer tratamento! É muito difícil!

E como se diz, né? A gente leva um tapa, mas a vida continua, a gente tem que tá firme,

forte e olhar para frente! Eu vou fazer o tratamento, eu já me cuidei, já fiquei boa uma

vez, vou ficar a segunda! Eu não posso me entregar pra tristeza. Mas é ruim, é muito

difícil, porque a gente já sabe que vai passar, né? Porque já passou primeira vez... Mas

a gente tem que levar! Tu não pode parar, não pode dizer que vai parar de vez ou que

vai se isolar ou ficar triste! Tem que continuar se pegando na mão de Deus.

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Meu dia depois do retorno da doença tô praticamente parada, né? Não faço muita coisa

devidas as quimioterapias, fico mais deitada! Às vezes eu tô lendo, às vezes faço

palavras cruzadas, às vezes quando eu tô melhor, eu faço a comida. E vai passando!

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Assisto televisão… então é isso me di-a-dia! Por enquanto né? É difícil, mas não tem

outra opção. Só é essa mesma. As meninas que me convidam para sair às vezes, mas

eu não quero. Mas elas falam, bora mãe, você tá muito em casa. Mas a gente se sente

cansada, mas quando eu tô bem, eu saiu. Eu vou almoçar fora no final de semana, à

noite vou tomar um sorvete na orla... Vou fazer como dá! Mas é ruim porque não pode

comer quase nada, mas uma água de coco de vez em quando um sorvete. A gente vai

levando assim.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Cuidado para mim é a pessoa está sempre atenta... É procurando alguma coisa,

fazendo um suco, dando carinho, amor, atenção, entendeu? Para mim esse cuidado é

muito importante! Mas olha... ninguém é igual a ninguém, mas tem uns enfermeiros que

não entendem o que a gente pergunta, né? A gente fala e ele diz que sabe! Mas é

porque eu tomo assim, eu tomo um anti-alérgico antes de fazer a quimio, porque se eu

tiver no meio para tomar um antialégico, vou ter que ir ao banheiro com soro e dá muito

trabalho. Aí teve uma vez que o rapaz não me aplicou dessa forma, aí e ele disse para

mim que era assim desse jeito... assim mesmo sabe? Aí eu falei que tava no meio da

quimio, foi aí que ele veio me chamar para ir tomar injeção no banheiro. E foi aquele

trabalho. Meu amor desse jeito é muito difícil... Mas como eu disse, nem todo mundo é

igual, a moças dessa sala são maravilhosas, tem umas que tem cuidado quando vão

aplicar, né? Nem todas são iguais, tem umas pessoas muito boas mas tem umas que

deixam a desejar.

ENTREVISTADA Nº 19

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Ah, para mim foi muito triste, né? Por causa, que logo no começo, eu não queria aceitar!

Depois, eu tive que aceitar, porque não podia sair correndo e gritando. Botei Deus em

primeiro lugar! E pensando... tu vai encarar, se tiver medicamento para tratamento, vou

fazer! E eu graças a Deus consegui ir para o tratamento. Com o apoio da minha família

e de Deus, tô bem mesmo!

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Logo eu chorava muito... Chorava mesmo, mas tem que aceitar. Mas depois aceitei.

Não fiquei desesperada. Tenho que encarar de frente à realidade e hoje estou aqui!

Olha, quando eu soube, eu não fiquei até deprimida nem nada! Para mim até hoje eu

não tenho essa doença. Nunca tive câncer. Não tenho câncer. Para mim eu creio assim,

eu não me desesperei! Eu fiquei encarando a realidade de frente e eu estou aqui!

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Agora eu tenho que vir de cadeira de rodas, ficar na maca, né? Quebrou o meu fêmur.

Tem dia que eu venho de cadeira de roda, no outro de muleta. Tô bem, evoluindo o meu

tratamento, graças a Deus! Eu espero que daqui pra frente melhore muito mais ainda.

Mas eu achei difícil, porque eu só podia andar assim. O pior acho que depender da

minha família, das minhas filhas para me locomover, né! Porque quebrou meu fêmur.

Fico triste, porque eu sinto assim, de não sair com as minhas colegas... Significa muita

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coisa pra gente! Só quem passa com isso que sabe a dificuldade... Mas tem que botar

Deus em primeiro lugar e encarar.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Olha cuidado para mim é atenção, o carinho das pessoa é que tão ao meu redor. Do

meu lado tem, meu bem…Tenho cuidado mesmo da minha família. Mas olha, depois

que eu entrei no Ophir Loyola, fui muito bem recebida. Tenho um tratamento muito ótimo

aqui! Não tenho o que reclamar, não! Olha tem uns que olham e cuidam mesmo da

gente, mas tem uns que não tem paciência! Mas até agora, graças a Deus, todos são

bem pacientes. Olha eu enxergo assim, cuidado com o paciente ...não pode se

aborrecer o paciente e tem que ter carinho. É isso que eu acho!

ENTREVISTADA Nº 20

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Foi o de aprender dá valor à vida. Também aprendi a amar o próximo. Que antes eu

dizia que eu amava, mas agora realmente eu descobrir muitas coisas boas. Aí vai

passando o momento difícil. A gente passa mas a gente aprende. Muito é possível

vencer quando a gente confia em Deus né segue direitinha eu tratamento.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

No primeiro momento foi muito difícil. As três primeiras noite eu não dormi. Pensando

que não tinha mais jeito, sabe? Mexe muito com o psicológico da pessoa, mas aí depois

a gente volta a pensar! Aí tem um acompanhamento aqui no hospital com o psicólogo.

E todos aqui dão muita força para a gente. Pra mim ir na igreja também é muito

importante. Tive muita visita dos meus colegas do colégio, também do trabalho e da

faculdade. O que fazer no momento que eu descobri? Isso tudo serviu muito. Pra mim,

é o significado de mais uma batalha que eu teria certeza de vencer também. É porque

assim, quando eu olho pra Deus, eu vejo Deus maior do que todas as coisas. Mesmo

que seja difícil, se eu olhar para o problema, eu vou ver um grande problema, mas se

olhar para Deus, vou saber que eu posso superar os problemas.

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Ficou difícil porque eu não andava depois que afetou a minha coluna. Aí eu dependia

das pessoas para tudo! Pra tomar banho, pra me vestir, pra me alimentar. E eu comia

bem pouquinho, me alimentava só com alguma fruta. Coisinha pouca mesmo. Nesse

período, foi muito difícil... mas eu sempre acreditei, e nunca desisti. Agora pra mim, foi

de uma lição que eu tomei para mim! E que também serve para ajudar outras pessoas

que estão passando pelo mesmo que eu. Eu me vejo mais forte. É quando eu tenho

mais vontade de vencer a cada dia. Tudo o que eu sonhava pra mim e não consegui

mais fazer, agora sonho para o meu filhos, que é por meio deles que vai acontecer. Eu

tô investindo agora minha filha, já tá fazendo uma faculdade, faz pedagogia. Ela tá

fazendo por minha causa, porque esse era um sonho meu e ela pegou para ela e isso

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Cuidado é uma palavra pequena mas que tem um grande significado, como carinho

amor e zelo. E tudo isso eu tive pela minha filha. Eu olhava para ela e dizia não vejo

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você como filha eu vejo você como mãe. Aí eu falava mãezinha para ela, quando ela

me pegava no colo. Mas aqui no hospital tive um cuidado muito importante, porque teve

enfermeiras, que foram muito importantes na minha recuperação. Elas que cuidavam

de mim, assim, não só com a medicação, mas também com palavras doces, que até um

olhar... ele faz a diferença na nossa vida. E esses dias encontrei aqui dentro do Hospital

pessoas assim, como as enfermeiras daqui, que são usadas, porque ajudam muito pra

gente continuar até aqui.

ENTREVISTADA Nº 21

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Na verdade foi uma preocupação, por que foi uma coisa assim que apareceu assim,

apareceu grande, não foi nem pequeno, eu senti logo grande! E fui correr me tratar.

Porque sempre fazia auto exame, e o por que antes eu tive problema nos seios como

nódulos, cistos, displasia mamária e sentia muita dor, e eu vivia em tratamento. Cheguei

a fazer ainda mais umas duas cirurgias, pra tirar nódulos. Quando foi em 2012, eu deixei.

Não fiz a mamografia. Quando foi em 2013, eu na verdade já senti o nódulo grande.

Procurei logo a médica, aí já fez o exame e já detectou que seria aquilo. Mas o resultado

mesmo, já foi dado lá em Manaus, que foi feito a biópsia e tirou pedacinho. Aí fui pra

Manaus fazer tentar essa cirurgia, mas eles decidiram que eu ia começar com

quimioterapia, já que tava grande né! Tava bem grande... ele mandou fazer a

quimioterapia para diminuir o caroço pra depois operar. Aí eu fiz durante oito meses. Aí

voltei com a médica lá, ela marcou a cirurgia aí foi feita de foi feita. A cirurgia correu

tudo bem...graças a Deus! Aí eu voltei com ela, daí ela encaminhou para radioterapia

né! Para mim fazer para complementar o tratamento. Fiz a radioterapia e voltei vim

embora pra cá em novembro. Vim pra cá marquei, fui fazer o controle... aí tive que tomar

hormônio e aí quando teve esses resultados a medica suspendeu os remédios por que

não estava fazendo efeito que deveria fazer. Aí ela suspendeu meu remédio ele e

mandou direto pra quimioterapia.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Ai já fique mais triste, né? Porque pensei que já estava livre dessa doença. Eu fiquei

mais preocupada. Mais quem ficou mais preocupada foi minha irmã, como se fosse com

ela. Mas eu tava tranquila...tinha entregado pra Deus! Aí quando descobri que tinha

voltado, eu fiquei mais triste, porque não imaginava que voltasse mais! Quando foi fazer

esses últimos exames, a tomografia, que eu achava que já não ia dar em nada, mas

tava com essas canseiras, dor na costa tudo né! Daí que constatou na cintilografia,

mostrou algumas áreas dos ossos dos quadris e na cabeça...e essa dor de cabeça que

é constante! Aí isso me entristeceu mais ainda! Vivo chorando em casa e ainda mais

por que minha mãe sofreu fratura na lombar e eu tenho que cuidar! Aí tem outras

pessoas da família doentes. Aí a gente reúne todo a família para orar. A gente tem

certeza que Deus pode fazer o impossível, né! Ele pode fazer o impossível, assim como

ele pode matar, ele pode reconstruir a vida. Assim como ele ressuscitou Lázaro depois

de morto, imagina? Uma doença para Ele não é nada. Se Ele quiser sarar, ele sara! Se

não, né?

Então a nossa confiança está nEle...está depositando nEle. Aí a gente chora com dor e

começa a cantar de novo. É aquela coisa assim, que faz pra espantar a tristeza, pra não

deixar ela dominar! Porque diz que essa doença, ela se alimenta de tristeza...dessas

coisas assim! Mas ultimamente, estou muito triste mesmo, porque a gente tá numa

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situação que não pode nem ajudar um ao outro, porque tá todo mundo numa situação

triste...difícil! Por enquanto meu caso é mais grave por que é uma doença é invasiva ela

vai procurando áreas para se instalar...

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Quando eu tinha saúde, eu gostava de ir resolver minhas coisas... Aí agora, eu já fiquei

mais em casa. Isso tá me oprimindo na verdade! Fico muito cansada, se andar um

pouquinho, se conversar... sabe aquela coisa! Às vezes eu esqueço que eu tô doente,

pego peso é aquela coisa. Eu acabo me esquecendo que eu tô com essa doença... Aí

quando vem a dor, aí que eu lembro. Acabo me jogando ali, é uma coisa ruim! O que

me entristece mesmo são essas limitações. Me dá um aperto no peito, a dor nas

costelas e a falta de ar, é o que mais me incomoda. E agora esse problema na minha

cabeça, que dói meu pescoço, eu choro... Tenho que segurar a cabeça pra deitar, por

exemplo, aí eu grito de dor aqui na minha cervical! Aí tenho que segurar a cabeça e

deitar bem devagar! Não tenho liberdade pra dormir. No começo era só tosse, tinha que

colocar vários travesseiros, e dormia quase sentada. Ás vezes eu relaxava, as vezes

dormia assim. Agora já não é mais o problema da tosse e sim do pescoço que eu tenho

que ficar segurando ele...aí incomoda!

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem durante este processo? Cuidado, e ter mais atenção. Porque assim, a gente chega elas perguntam como foi a

semana e trata a gente com carinho, não é aquela coisa ríspida de como que brigou

com o marido e desconta com os pacientes. Na verdade não são todas, só algumas

aqui. Mas elas dão incentivo, direcionando o pensamento da gente, né? Pra gente não

ficar ruim! Mas varia de enfermeiro pra enfermeiro, por que nem todos tem carinho ou

trata como se o paciente fosse da família. Tudo é cuidado com o paciente e tem outros

que não parece que não nasceram para aquilo... Por que eu acho, que enfermeiro, essa

profissão está pra cuidar do paciente, e tem uns que não dão uma atenção maior pra

eles. E o paciente que tá naquela situação em vez dele melhorar o quadro eles pioram

e ficam mais doente porque não teve um retorno que esperava, que a gente vai contar

como se fosse um apoio, a gente vai contar pra pessoa como está sentindo e a pessoa

não dá a mínima importância? E mesmo que nada... A gente espera isso de um médico

ou enfermeiro, que ele tem que achar a solução pro problema da gente, né! Por que ele

não é um Deus, mas como ele estuda pelo menos tem uma noção daquilo que o

paciente está passando, pra que ele possa ajudar o paciente a melhorar a condição de

vida dele e não piorar que o paciente.

ENTREVISTADA Nº 22

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Dizer o que eu senti? Nada! Por exemplo o médico disse que era um carcinoma. Falou

que é câncer... e tudo mais. Não foi aquela coisa desesperadora, eu não me desesperei.

Eu fiquei calma, do jeito que estou falando contigo, foi o jeito que eu fiquei. Não tive

aquela coisa do desespero, como vejo muita gente que sente e sai chorando, se

batendo. Não tive isso... eu simplesmente tive uma reação normal! Teve só uma vez

que eu fiquei triste, foi quando eu sai da sala da médica, porque ela disse que ia tomar

remédio pro resto da vida. Aí eu fiquei triste nesse dia. Depois eu já tive problema nesse

braço, né. Começou drenar liquido no meu braço. Aí também não era desespero, era

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mais da dor que dava no braço, que doía demais. Quando ele começava a drenar,

parecia assim, que ficava puxando com alguma coisa assim.... doía demais. Mas em

todo o momento eu sempre tive calma. Agora já...que as vezes que dá um certo medo,

desespero... por que já vai chegando o cansaço, já são dois anos, né? A gente perde o

ânimo. Por que a dor na costa é constante, é o tempo todo tempo todo. Não para... Aí a

gente que ter liberdade, passar sem dor. Mas ela é constante.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Olha pra te dizer a verdade, nunca bateu o desespero mesmo. Até quando internei uma

vez, que era por causa fazer o cuidado do braço, a médica me falou o que eu não podia.

Que tinha que ter cuidado pra me levantar, pra deitar. Por que qualquer movimento meu

osso podia quebrar... Ela falou, aí do jeito que ela falou eu passei a fazer! Mas eu não

tive nenhum desespero, nem quando ela disse que qualquer movimento eu podia

quebrar os ossos. Eu não tive desespero nenhum, não sei nem te dizer o porquê bate

agora. Agora que eu sinto cansaço de já estar a dois anos com essa dor e não parar.

Me sinto impotente. E é por causa da metástase. Me incomoda demais... É como se eu

te dissesse, às vezes a gente se sente impotente! Quer fazer alguma coisa, quer circular

e não consegue...o meu tempo parece que é reduzido em 2h em 1h. Se eu ficar duas

horas em pé, se eu quero ficar na cozinha, se eu ficar duas horas na cozinha, eu tenho

correr pra fazer alguma coisa. Antes de começar a doer e começa a doer eu tomo um

banho e vou me deitar... Aí não é aquilo que eu quero, eu passo muito tempo deitada e

eu ficar muito tempo deitada e a gente se desgasta mais deitada do que eu fazendo

alguma coisa.

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Antes eu fazia bolo e estava disposta pra ir à igreja... lá eu trabalhava com o ministério

de louvor na igreja... E tem dois anos que eu não faço isso. Aí justamente agora bateu

um cansaço. Agora as vezes, falta de amigos e vem a solidão. Às vezes que eu

converso e digo pra Deus assim: Ah eu tô sozinha... aí rapidamente aquilo diz dentro de

mim que eu não estou só. Eu estou contigo... Aí eu digo: não Senhor, não era isso que

eu queria te dizer! Quero dizer assim que falta uma pessoa assim comigo, queria um

amigo... Mas escuto Deus dizer: Mas eu estou contigo... Eu sou o teu amigo. Como se

ele o tempo todo dissesse assim, não precisa eu tá me batendo querendo a companhia

de alguém...Aí vou vivendo.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Olha... cuidado é por exemplo, tratar bem. Por que a gente vem aqui, já tá com problema

e como a gente fica sensível a gente não aceita que alguém fale com a gente

grosseiramente. E são esses cuidados, que sejam amorosos. Sempre fui bem tratada

pelos enfermeiras, agora que eles estão trocando os enfermeiros... Os enfermeiros que

eu conhecia aqui tudinho... eram ótimos. A gente vê o cuidado pela maneira deles

trabalharem com a gente, pela maneira deles tratarem a gente, deles chegarem perto

da gente, deles chegarem perto de mim... Todo tempo com o sorriso... até a maneira

deles aplicarem o medicamento... Por exemplo, eu sempre tive essa dificuldade na veia,

né? Aí depois da quimio, comecei a ter essa dificuldade toda. A paciência que eles

tinham, quando eu tava internada, tinha uma enfermeira que tinha uma paciência muito

grande pra procurar uma veia... de repente a veia estourava, aí ela vinha com toda

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paciência e procurava outra, mas em nenhum momento eu senti que ela tava com raiva,

chateada coisa assim. Estava ali o tempo todo fazendo a mesma coisa.

ENTREVISTADA Nº 23

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

A primeira vez, eu não me senti assim muita abalada! Fiz direitinho os exames, a

cirurgia, tudo... Não senti muito abalada. Mas já quando veio a segunda vez, foi que eu

senti. Primeira vez, fiz tudo direitinho. Para mim tudo era normal. Porque sabia que tinha

tratamento e fiz tudo como tinha que ser.

E: Quais os sentimentos que você atribui pelo retorno da doença?

Quando retornou eu fiquei muito triste e veio os pensamentos de da morte, né? a gente

fica pensando que vai morrer e não vai ter mais jeito porque já tive a primeira... segunda

vez já tá voltando. Aí a gente já fica mais pra baixo um pouco, já fica mais deprimida. E

aí com a tristeza a gente chora por tudo, a gente vai se deprimindo. E se não cuidar

mesmo a gente entra numa depressão, aí vai ser o fim mesmo! Aí vai ser a morte

mesmo. Mas aí comecei a me pegar muito com Deus, a ir para a igreja, a ouvir as

palavras das pessoas de conforto e muita oração. Aí tudo aquilo vai confortando a gente.

E a gente vai voltando ao normal e com força. Com aquilo, eu vou passar por todo esse

tratamento, mas vou vencer eu vou ser curada, né? A gente fica pensando assim depois,

aí vai amenizando a tristeza tudo... por que é horrível!

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

Agora eu sinto muita dor, e atrapalha de fazer as coisas da gente. Em casa como por

exemplo: fazer uma limpeza na casa? Não faço mais! Lavar roupa? Não lavo mais! A

única coisa que eu lavo só as calcinha mesmo e só. Mas de outras coisas, eu tento dar

uma esfregadinha naquela roupinha bem fininha, né? Aí eu faço assim, mas eu me sinto

mal devido o sabão e às vezes de levantar o braço e jogar a roupa na corda, já me sinto

mal. Mas de limpeza de casa e cozinhar, também não faço mais, por que é quentura

também e me sinto mal! Mas sobre outras coisas, não! Eu ando, eu converso ainda...

mando em casa, no meu filho! Ainda bem, graças a Deus, por isso né? Dou as ordem

lá, o que é para fazer... e aquilo vai entretendo a gente no dia. A gente fica triste, porque

a gente vai deixando para outros a responsabilidade pelas coisas da casa da gente, né?

E hoje em dia, fico pensando, poxa...antes eu podia fazer tudo e hoje para ver a casa

limpa tem que pagar alguém. A gente fica pensando assim, mas ai a gente se conforma,

né?

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Cuidado é a gente fazer os tratamento direitinho, vir sempre no médico, não faltar em

uma consulta, nenhuma quimio...nem deixar de tomar medicação tudo na horinha certa

e também tem muita parte na parte higiene né? Não comer coisas pela rua, ser tudo

mais higiênico dentro da casa da gente ... tudo limpinho tanto a casa que nem a

alimentação né? Pra mim o cuidado é isso! Desde quando eu me trato eu não tenho que

dizer nada dos enfermeiros, porque a gente primeiramente passa com médico, né? É o

médico que indica o que a gente vai tomar, aí chega aqui, os enfermeiros vão só

aplicando injeção tudinho... não tem o que dizer nada deles. A gente chega, é atendido,

é medicado! Assim, os enfermeiros... eles não conversam muito com a gente. Eles

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fazem o trabalho deles, né? Vem aplica, mas ficar conversando... sobre isso aí não tem

muito! Não tem assim nessa parte, eu vejo mesmo o cuidado na parte de vir e aplicar a

medicação. Da enfermagem é isso... É o trabalho deles, eles vem nos aplicar o que já

mandado do médico. Tem aquelas que são mais simpáticas com a gente. Mas tem

outros... talvez eles perguntam alguma coisa e responde mal... Assim meio estressada,

mas vai levando... Eu acho que enfermeiro tinha que ser mais atencioso! Mas atencioso

assim.

ENTREVISTADA Nº 24

E: Pra senhora, qual foi o significado de ter uma doença oncológica?

Ah, eu tive muito medo! Muito medo... meu Deus. Na hora veio desespero, veio

desespero porque assim, eu pra mim eu ia morrer. Ainda mais quando eu fiz o exame,

uma ultrassom, o médico me deu três meses de vida. Meu Deus, eu acho que eu passei

uns dias sem nem levantar, só chorando. Assim, pra mim assim, eu ia morrer. Porque

assim, eu determinei assim pra Deus, pra mim mesma: Deus o homem me deu três

meses, mas Deus não me deu, então eu vou lutar. Você me deu essa neta pra mim

criar, não é justo. Eu achei assim ne?! Que então enquanto eu tiver força pra mim lutar,

eu vou lutar. Me dá medo, tenho muito medo, não vou lhe dizer pra você que eu não

tenho, né? Mas assim, tem gente que julga muito a gente, acha que essa doença é

contagiosa! Essa doença não escolhe classe, idade...mas a gente ainda encontra gente

que fala besteira. Na minha rua tem umas...mas a gente entende que são ignorantes e

que não entendem... acham que é castigo de Deus. Já passaram por mim achando

graça, mas eu peço ajuda de Deus pra passar essas coisas.

E: E pra você, qual o significado do retorno da doença?

Foi mais triste ainda. Quando médico disse que tava na minha coluna a doença e que

eu poderia ir pra cadeira de rodas, eu disse logo: ah doutor, tá amarrado essa tua

palavra. Ele até riu. Mas eu chorei muito, entrei em desespero, pra você ver, eu até

voltei de carro, porque eu não aguentei voltar de ônibus. Eu entrei em desespero tão

grande, minha angustia foi tão intensa, que eu pensei em largar minha crença. Ficava

falando que tinham me proibido de andar...meu Deus, como é que eu vou pra tua casa?

Como eu vou te servir, se eu não vou na igreja? Eu passei uma semana assim, só triste

em cima de uma cama. Mas eu me ajoelhava e pedia pra Deus, eu não posso fica em

cima de uma cama. E quando eu tô melhor, eu volto pra minha igreja. Os lugares que

eu mais vou é na igreja e no hospital. Eu cai, mas Deus me levantou.

E: E como está o seu dia-a-dia depois do aparecimento da metástase?

De manhã, às vezes, quando eu tô sem dor, eu vou na feira. Mas tem dias que eu

amanheço com o corpo mole, doído... Aí levanto tomo banho, tomo café e passo o dia

deitada. Já fui ao supermercado, mas me senti ruim, volto pra casa, tomo meu remédio

e me deito... Mas já não faço as coisas como antigamente.

E: Como você percebe o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem

durante este processo?

Eu acho que a família. Família é tudo. Quando tem a família por perto a gente se sente

mais protegido, tem mais força de querer lutar quando se tem a família junto. Meu

marido tá comigo em tudo. Se eu não tivesse apoio, eu teria tirado minha vida. Pelo

impacto que essa notícia dá na vida da gente. As enfermeiras me tratam com muito

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carinho. Quando eu conto o que eu tenho, todas me tratam muito bem, com carinho. Até

hoje eu só tenho encontrado gente boa na minha frente. Desde o dia em que eu cheguei,

aqui eu não tenho do que reclamar. Tive toda atenção, fui muito bem recebida. Só tenho

que agradecer.

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ANEXOS

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ANEXO A - Parecer Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do

Estado do Pará

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ANEXO A - Parecer Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do

Estado do Pará

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ANEXO A - Parecer Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do

Estado do Pará

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ANEXO A - Parecer Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do

Estado do Pará

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ANEXO B - Autorização Institucional ao Hospital Ophir Loyola

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ANEXO C - Parecer Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Ophir Loyola

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ANEXO C - Parecer Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Ophir

Loyola

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ANEXO C - Parecer Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Ophir

Loyola

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ANEXO C - Parecer Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Ophir

Loyola

7

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ANEXO C - Parecer Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Ophir

Loyola

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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem Magalhães Barata

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Mestrado Associado UEPA/UFAM

Av. José Bonifácio, 1289 – São Brás 66063-022 Belém – Pa

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