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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Instituto de Medicina Social
Geoprocessamento no SUS: O que é e como utilizar os sistemas atuais
José Américo Serafim
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração de Saúde, do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva – área de concentração em Gestão de Sistemas de Saúde do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Orientador: Prof Dr Cid Manso de Mello Vianna
Rio de Janeiro 2002
1
EPÍGRAFE
Quem nunca cometeu um erro nunca tentou algo novo.
Albert Einstein
2
DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Luciana e ao Andreas, que me ajudaram na hora em
que eu mais precisei para finalizar este trabalho, e tiveram a paciência e a boa
vontade em me ajudar.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, por existir, pois sem ele, nada seria
possível.
Agradeço a Secretaria de Assistência à Saúde, na figura de seu secretário,
Renilson Rehem de Souza, sem o qual não teria a chance de fazer esse mestrado.
E, finalmente, agradeço aos meus colegas de turma, pelo apoio que me deram,
não me deixando desistir, principalmente a Gisele, Tininha e a Fátima, que cada vez
que me viam, me cobravam por esse trabalho.
4
Resumo
Este trabalho tem o objetivo de demonstrar como o bom uso das informações
cadastrais, tanto de hospitais como o dos pacientes, podem ajudar os gestores de
saúde a fazer o bom uso na distribuição de recursos e na ajuda a tomada de
decisões sobre como distribuir melhor a sua rede assistencial de saúde.
Com isso, espera-se demonstrar como os pacientes do bairro de Campo
Grande no Rio de Janeiro, tem que se deslocar para outros bairros para terem
acesso a uma rede mais especializada de saúde.
Palavras-chave: Geoprocessamento, rede assistencial, fluxo de pacientes.
5
Abstract
This work has the objective to demonstrate as the good use of the information
registered in cadastre, as much of hospitals as of the patients, can help the health
managers to make the good use in the distribution of resources and the aid the taking
of decisions on as to better distribute its assistencial health net.
We expect to demonstrate as the patients of the quarter of Campo Grande in Rio
De Janeiro, have that to dislocate itself for other quarters to more have access to a
specialized health net.
Key words: geographical information, assistencial net, flow of patients.
.
6
Sumário TÍTULO: ...................................................................................................................... 9
1. Introdução ............................................................................................................... 9
1.1. Breve Histórico do Geoprocessamento ............................................................ 9
1.1.1. Evolução Internacional ............................................................................... 9
1.1.2. Desenvolvimentos no Brasil .................................................................... 11
1.2. Funções e Objetivos de um Sistema de Informações Geográficas ................ 13
2. Utilização do Geoprocessamento na área da Saúde ............................................ 16
3. Fontes Nacionais de Dados sobre Saúde ............................................................. 19
3.1. Fontes de Dados Não-Gráficos ...................................................................... 19
3.2. Fontes de Dados Cartográficos ...................................................................... 24
4. Metodologia utilizada............................................................................................. 25
4.1. Utilizando do SIH/SUS como fonte de dados ................................................. 25
4.2. Analisando o bairro de Campo Grande........................................................... 31
4.3. Análise dos procedimentos realizados............................................................ 34
4.3.1. Pacientes internados em Campo Grande ................................................ 34
4.3.2. Pacientes de Campo Grande atendidos em outros bairros...................... 37
5. Conclusão ............................................................................................................. 40
6. Bibliografia............................................................................................................. 41
ANEXO I.................................................................................................................... 43
7
Índice de tabelas
Tabela 1. Bases de dados dos sistemas nacionais de informações de interesse para
a saúde, instituições responsáveis e atualização............................................... 23
Tabela 2. Distribuição de hospitais por bairro do município do Rio de Janeiro. ........ 28
Tabela 3. Quantidade de pacientes atendidos no SUS segundo bairro de origem. .. 29
Tabela 4. Relação dos pacientes de Campo Grande com o local de atendimento ... 31
Tabela 5. Relação de pacientes atendidos em Campo Grande de acordo com o
bairro de origem ................................................................................................. 32
Tabela 6. Quantidade de pacientes atendidos em Campo Grande de acordo com o
grupo/especialidade ........................................................................................... 35
Tabela 7 Grupos/Especialidade realizados em pacientes de Campo Grande em
outros bairros do Rio de Janeiro ........................................................................ 38
Índice de figuras
Figura 1. Informações dos dados espaciais, adaptada de Scholten & Stillwell, 1990 14
Figura 2. Pacientes internados no Rio de Janeiro provenientes do Estado do Rio de
Janeiro ............................................................................................................... 26
Figura 3. Pacientes internados no município do Rio de Janeiro provenientes de todo
o território nacional............................................................................................. 27
Índice de Gráficos
Gráfico 1. Distribuição dos bairros dos pacientes atendidos em Campo Grande...... 33
Gráfico 2. Distribuição dos procedimentos realizados em Campo Grande de acordo
com o grupo/especialidade ................................................................................ 36
Gráfico 3. Procedimentos realizados em outros bairros por pacientes moradores de
Campo Grande................................................................................................... 39
8
TÍTULO:
Geoprocessamento no SUS: O que é e como utilizar os sistemas atuais
1.Introdução
Este estudo pretende mostrar como o geoprocessamento pode ajudar na
consolidação do SUS em seus diversos níveis e como ele pode ajudar no Controle e
Avaliação do SUS.
1.1. Breve Histórico do Geoprocessamento
1.1.1. Evolução Internacional
As primeiras tentativas de automatizar parte do processamento de dados com
características espaciais aconteceram na Inglaterra e nos Estados Unidos, nos anos
50, com o objetivo principal de reduzir os custos de produção e manutenção de
mapas. Dada a precariedade da informática na época, e a especificidade das
aplicações desenvolvidas (pesquisa em botânica, na Inglaterra, e estudos de volume
de tráfego, nos Estados Unidos), estes sistemas ainda não podem ser classificados
como “sistemas de informação”. Os primeiros Sistemas de Informação Geográfica
surgiram na década de 60, no Canadá, como parte de um programa governamental
para criar um inventário de recursos naturais. (Câmara, et al 1996),
Estes sistemas, no entanto, eram muito difíceis de usar: não existiam monitores
gráficos de alta resolução, os computadores necessários eram excessivamente
caros, e a mão de obra tinha que ser altamente especializada e caríssima. Não
existiam soluções comerciais prontas para uso, e cada interessado precisava
desenvolver seus próprios programas, o que demandava muito tempo e,
naturalmente, muito dinheiro. Além disto, a capacidade de armazenamento e a
9
velocidade de processamento eram muito baixas. Ao longo dos anos 70 foram
desenvolvidos novos e mais acessíveis recursos de hardware, tornando viável o
desenvolvimento de sistemas comerciais. Foi então que a expressão Geographic
Information System foi criada. Foi também nesta época que começaram a surgir os
primeiros sistemas comerciais de CAD (Computer Aided Design, ou projeto assistido
por computador), que melhoraram em muito as condições para a produção de
desenhos e plantas para engenharia, e serviram de base para os primeiros sistemas
de cartografia automatizada.
Também nos anos 70 foram desenvolvidos alguns fundamentos matemáticos
voltados para a cartografia, incluindo questões de geometria computacional. No
entanto, devido aos custos e ao fato destes proto-sistemas ainda utilizarem
exclusivamente computadores de grande porte, apenas grandes organizações
tinham acesso à tecnologia.
A década de 80 representa o momento quando a tecnologia de sistemas de
informação geográfica inicia um período de acelerado crescimento que dura até os
dias de hoje. Até então limitados pelo alto custo do hardware e pela pouca
quantidade de pesquisa específica sobre o tema, os GIS se beneficiaram
grandemente da massificação causada pelos avanços da microinformática e do
estabelecimento de centros de estudos sobre o assunto. Nos EUA, a criação dos
centros de pesquisa que formam o NCGIA –National Centre for Geographical
Information and Analysis (NCGIA, 1989) marca o estabelecimento do
Geoprocessamento como disciplina científica independente.
No decorrer dos anos 80, com a grande popularização e barateamento das
estações de trabalho gráficas, além do surgimento e evolução dos computadores
pessoais e dos sistemas gerenciadores de bancos de dados relacionais, ocorreu
uma grande difusão do uso de GIS. A incorporação de muitas funções de análise
espacial proporcionou também um alargamento do leque de aplicações de GIS. Na
década atual, observa-se um grande crescimento do ritmo de penetração do GIS nas
organizações, sempre alavancado pelos custos decrescentes do hardware e do
software, e também pelo surgimento de alternativas menos custosas para a
construção de bases de dados geográficas.
10
1.1.2. Desenvolvimentos no Brasil
A introdução do Geoprocessamento no Brasil inicia-se a partir do esforço de
divulgação e formação de pessoal feito pelo prof. Jorge Xavier da Silva (UFRJ), no
início dos anos 80. A vinda ao Brasil, em 1982, do Dr. Roger Tomlinson, responsável
pela criação do primeiro SIG (o Canadian Geographical Information System),
incentivou o aparecimento de vários grupos interessados em desenvolver tecnologia,
entre os quais podemos citar:
• UFRJ: O grupo do Laboratório de Geoprocessamento do Departamento
de Geografia da UFRJ, sob a orientação do professor Jorge Xavier,
desenvolveu o SAGA (Sistema de Análise Geo-Ambiental). O SAGA tem
seu forte na capacidade de análise geográfica e vem sendo utilizado com
sucesso com veículo de estudos e pesquisas. (Câmara, et al 1996),
• MaxiDATA: os então responsáveis pelo setor de informática da empresa
de aerolevantamento AeroSul criaram, em meados dos anos 80, um
sistema para automatização de processos cartográficos. Posteriormente,
constituíram empresa MaxiDATA e lançaram o MaxiCAD, software
largamente utilizado no Brasil, principalmente em aplicações de
Mapeamento por Computador. Mais recentemente, o produto dbMapa
permitiu a junção de bancos de dados relacionais a arquivos gráficos
MaxiCAD, produzindo uma solução para "desktop mapping" para
aplicações cadastrais.
• CPqD/TELEBRÁS: O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da
TELEBRÁS iniciou, em 1990, o desenvolvimento do SAGRE (Sistema
Automatizado de Gerência da Rede Externa), uma extensiva aplicação
de Geoprocessamento no setor de telefonia. Construído com base num
ambiente de um SIG (VISION) com um banco de dados cliente-servidor
(ORACLE), o SAGRE envolve um significativo desenvolvimento e
personalização de software;.(Câmara, et al 1996)
• INPE: Em 1984, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espacias)
estabeleceu um grupo específico para o desenvolvimento de tecnologia
de geoprocessamento e sensoriamento remoto (a Divisão de
11
Processamento de Imagens - DPI). De 1984 a 1990 a DPI desenvolveu o
SITIM (Sistema de Tratamento de Imagens) e o SGI (Sistema de
Informações Geográficas), para ambiente PC/DOS, e, a partir de 1991, o
SPRING (Sistema para Processamento de Informações Geográficas),
para ambientes UNIX e MS/Windows. O SITIM/SGI foi suporte de um
conjunto significativo de projetos ambientais, podendo-se citar:
(a) o levantamento dos remanescentes da Mata Atlântica Brasileira
(cerca de 100 cartas), desenvolvido pela IMAGEM Sensoriamento
Remoto, sob contrato do SOS Mata Atlântica; (b) a cartografia fito-
ecológica de Fernando de Noronha, realizada pelo NMA/EMBRAPA; (c) o
mapeamento das áreas de risco para plantio para toda a Região Sul do
Brasil, para as culturas de milho, trigo e soja, realizado pelo
CPAC/EMBRAPA; (Câmara, et al 1996),
(d) o estudo das características geológicas da bacia do Recôncavo,
através da integração de dados geofísicos, altimétricos e de
sensoriamento remoto, conduzido pelo CENPES/Petrobrás. Assad e
Sano (1998) apresentam um conjunto significativo de resultados do
SITIM/SGI na área agrícola.
O SPRING unifica o tratamento de imagens de Sensoriamento Remoto (ópticas
e microondas), mapas temáticos, mapas cadastrais, redes e modelos numéricos de
terreno. A partir de 1997, o SPRING passou a ser distribuido via Internet e pode ser
obtido através do website http://www.dpi.inpe.br/spring.
12
1.2. Funções e Objetivos de um Sistema de Informações Geográficas
Um Sistema de Informações Geográficas (SIG) pode ser definido a partir de três
propriedades: a capacidade de apresentação cartográfica de informações
complexas, uma sofisticada base integrada de objetos espaciais e de seus atributos
ou dados, e um engenho analítico formado por um conjunto de procedimentos e
ferramentas de análise espacial (Maguirre et al., 1991).
Para realizar as operações de georreferenciamento num SIG, é necessária a
presença de um indexador que permita associar informações dos arquivos de
atributos com os arquivos gráficos, denominado geocodificador. A variável
geocodificadora deve estar presente nos bancos de dados gráficos e nos bancos de
dados não gráficos, estabelecendo uma ligação entre eles.
Scholten & Stillwell (1990) definem três funções principais possibilitadas por um
SIG que requerem vários componentes, de acordo com o objetivo pretendido. A
primeira é o armazenamento, manejo e integração de grandes quantidades de dados
referenciados espacialmente. Um dado espacialmente referenciado pode ser
concebido como contendo dois tipos de informações, dados de atributos e dados de
localização (Figura 1). Dados cartográficos ou de localização são coordenadas de
pontos (nós) bi ou tridimensionais, linhas (arcos) ou áreas (polígonos). Dados
descritivos ou não-localizados são características ou atributos de pontos, linhas ou
áreas. Estes dados podem ser obtidos de uma variedade de fontes. Uma das
principais características do SIG é a facilidade de integrar dados, por exemplo, conv
erter valores dos dados a uma estrutura espacial comum.
13
Figura 1. Informações dos dados espaciais, adaptada de Scholten & Stillwell, 1990
A segunda função principal de um SIG é prover meios para realizar análises
relacionadas especificamente aos componentes geográficos dos dados. As
operações mais comuns são a pesquisa de dados e a busca de informações de
acordo com algum critério de seleção (por exemplo, pela localização, proximidade,
tamanho, valor), e análises espaciais que envolvem modelagem e análise de
padrões espaciais e de relacionamento de dados.
A terceira função principal envolve a organização e o manejo de grandes
quantidades de dados e a forma como estas informações podem ser facilmente
acessadas por todos os usuários. Um SIG precisa ser ágil para exibir dados em
mapas de boa qualidade. Os mapas inicialmente feitos à mão, são agora um produto
implícito de todo trabalho feito dentro do SIG. Entretanto, para diferentes propósitos,
outras formas de apresentação dos dados (gráficos e tabelas) algumas vezes são
necessárias para uso combinado com os mapas.
Alguns dos benefícios mais comuns de um SIG são:
• melhor armazenamento e atualização de dados;
• recuperação de informações de forma mais eficiente;
• produção de informações mais precisas;
14
• rapidez na análise de alternativas; e
• a vantagem de decisões mais acertadas.
De um modo geral, pode-se identificar os seguintes objetivos na implementação
de um SIG:
Visualização das informações: diversas formas de apresentação das
informações são possibilitadas pelo SIG.
Organização e georreferenciamento dos dados: o SIG se constitui em um
poderoso organizador das informações georreferenciadas. Permite combinar
vários tipos diferentes destas informações, por exemplo, limites de bairros,
localização pontual das unidades de saúde, volume do fluxo entre localidades,
entre outras.
Integração de dados vindos de diversas fontes, nos mais diversos formatos,
escalas e sistemas de projeção: o mapa armazenado no SIG pode ser sempre
associado a novas informações, provenientes de diversas fontes, permitindo
que se some o trabalho de diversos órgãos e instituições.
Análise dos dados: a disponibilidade de funções que permitam transformar os
dados em informações úteis no processo de tomada de decisões.
Predição de ocorrências: a partir da análise de séries históricas, mapeando os
eventos estudados em diferentes períodos.
15
2. Utilização do Geoprocessamento na área da Saúde
Conhecer as condições de vida e saúde dos diversos grupos populacionais é
uma etapa indispensável do processo de planejamento da oferta de serviços e da
avaliação de impacto das ações de saúde. A Norma Operacional Básica do Sistema
Único de Saúde (NOB-SUS) de 01/1996 expressa que “o enfoque epidemiológico
atende ao compromisso da integralidade da atenção, ao incorporar, como objeto das
ações, a pessoa, o meio ambiente e os comportamentos interpessoais” (Ministério da
Saúde, 1997, p. 15). Entretanto, Saúde Pública e ambiente estão intrinsicamente
influenciadas pelos padrões de ocupação do espaço: não basta descrever as
características das populações, mas é necessário localizar o mais precisamente
possível onde estão acontecendo os agravos, que serviços a população está
procurando, o local de potencial risco ambiental e as áreas onde se concentram
situações sociais vulneráveis.
Com a publicação de Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS-SUS) de
01/2001, é baseada “no reconhecimento da regionalização em saúde fundamental
para a consolidação dos princípios de universalidade, eqüidade no acesso e
integralidade da atenção, nesse momento específico da implementação do Sistema
Único de Saúde. Vale destacar que o aprofundamento do processo de regionalização
só é possível em face dos avanços decorrentes do intenso processo prévio de
descentralização, com ênfase na municipalização.” (Ministério da Saúde, 2001, p. 5)
A possibilidade de sobrepor informações e do uso desagregado de dados
contorna as dificuldades de trabalhar com diferentes unidades administrativas. A
visualização de informações é extremamente útil para gerar hipóteses, indagações
sobre associações entre os eventos estudados e possibilidades de análise
ecológicas (Por exemplo, estabelecer correlações entre fatores ambientais e
variáveis explicativas).
Os métodos de análise de distribuições espaciais são especialmente úteis nas
seguintes situações:
16
• quando o evento em estudo é gerado por fatores ambientais de difícil
detecção no nível do indivíduo (análise do padrão de distribuição dos
pontos);
• no estudo de trajetórias entre localidades (análise de rede);
• na delimitação de áreas segundo intervenção pretendida (buffers);
• quando o evento em estudo e os fatores relacionados têm distribuição
espacialmente condicionada (modelagem estatística, interpolação e
alisamento, de forma a permitir a análise de superfície).
As aplicações do geoprocessamento na área da saúde têm se destacado nos
seguintes campos:
Vigilância Epidemiológica A análise da distribuição espacial de agravos possibilita determinar padrões da
situação de saúde de uma área, evidenciar disparidades espaciais que levam à
delimitação de áreas de risco para mortalidade ou incidência de eventos mórbidos. É
possível mapear indicadores básicos de saúde, mortalidade, doenças de notificação
compulsória e analisar acidentes relacionados ao trabalho. Através de análise da
difusão geográfica e exposição a agentes específicos pode-se gerar e analisar
hipóteses de investigação. Também é possível planejar e programar atividades de
prevenção e controle de doenças em grupos homogêneos segundo determinado
risco, monitorar e avaliar intervenções direcionadas.
Avaliação de Serviços de Saúde Este campo pode ser dividido em: análise da distribuição espacial de serviços
de saúde; planejamento e otimização de recursos de saúde (modelos de locação-
alocação); estudo de acessibilidade (física, econômica, social, étnica, psicológica) e
utilização de serviços de saúde. Através de análise do fluxo de pacientes é possível
definir áreas de onde provém a demanda que busca determinado recurso de saúde.
17
Urbanização e Ambiente A urbanização tem sido um fator predominante no estabelecimento humano em
escala mundial. As cidades têm sido estudadas em termos da ecologia urbana de
doenças. Particularmente em países em desenvolvimento, os moradores de cidades
vivem em diferentes condições ambientais como moradia, emprego, estilo de vida,
dieta, entre outros. A poluição, superpopulação, estresse e pobreza afetam a saúde
humana nas cidades. O espaço, produzido socialmente, exerce pressões
econômicas e políticas sobre a sociedade, criando condições diferenciadas para sua
utilização por grupos sociais.
As relações entre saúde e ambiente podem ser evidenciadas através da análise
de características epidemiológicas das áreas próximas às fontes de contaminação e
pela identificação de fatores ambientais adversos em locais onde há concentração de
agravos à saúde. Além disso, é possível monitorar ações de saneamento e
tendências das doenças preveníveis após ações do meio e melhoria da qualidade de
vida em função de obras realizadas.
Na metodologia do enfoque de risco, proposta pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), o objetivo é a detecção de grupos populacionais prioritários para
alocação de recursos de saúde, aumentando a eficiência da aplicação de recursos
públicos em países não-desenvolvidos economicamente. As fontes do risco nesse
caso são amplas, envolvendo atributos individuais e aspectos socioecológicos
(Hayes, 1992; MS/OPAS, 1983). A identificação de grupos populacionais de maior
risco de adoecer ou morrer por determinados agravos vem sendo uma das questões
chaves da prevenção em saúde.
Planejamento, monitoramento e avaliação de programas, estudo do contexto
socioeconômico, vigilância em saúde e as demais atividades essenciais à
reorientação das ações do setor saúde são beneficiadas pela incorporação da
distribuição espacial dos eventos.
18
3. Fontes Nacionais de Dados sobre Saúde
3.1. Fontes de Dados Não-Gráficos
No Brasil, existem diversos sistemas nacionais de informação sobre saúde, sob
responsabilidade do Departamento de Informática do SUS – DATASUS e do Centro
Nacional de Epidemiologia – CENEPI, da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA),
órgãos do Ministério da Saúde. Carvalho (1997) apresenta uma revisão sobre estes
Sistemas e principais indicadores que podem ser construídos a partir das
informações que eles contém. Destaco a seguir os principais Sistemas que têm sido
utilizados para análise espacial em saúde.
As Estatísticas Vitais são fornecidas pelo Sistema de Informações de
Mortalidade – SIM, desde 1979, e pelo Sistema de Informações de Nascidos Vivos –
SINASC, desde 1994. Os dados do SIM e do SINASC, coletados pelos gestores
municipais e estaduais, são enviados ao gestor nacional, que os disponibiliza para o
público em geral, através de anuários e CD-ROM, disponível também na homepage
do DATASUS. As informações dos sistemas SIM e SINASC permitem analisar os
eventos relativos a nascimento e morte, na vigilância e análise epidemiológica, além
da construção de indicadores para uso de estatísticas demográficas e de saúde.
O Sistema de Informações Hospitalares – SIH-SUS, tema principal deste
trabalho, processa as Autorizações de Internação Hospitalar – AIH, desde 1981,
dispõe sobre recursos destinados a cada unidade de saúde hospitalar que integra a
rede do SUS, as causas de internação no Brasil, a relação dos procedimentos
realizados, o tempo de permanência do paciente internado, idade, o motivo da alta, a
origem do paciente, além de dados relativos a própria unidade hospitalar, como
localização e número de leitos, tudo isso podendo ser agregado por município e/ou
estado.
O Sistema de Informações Ambulatoriais – SIA-SUS, utiliza um subsistema de
Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade/Custo – APAC, em que os
pacientes submetidos a tratamentos de quimioterapia, radioterapia e terapia renal
substitutiva são identificados desde 1997, mostrando a procedência, idade, sexo e
tipo de tratamento que são submetidos, além dos recursos destinados a cada
19
unidade ambulatorial que realiza os procedimentos e os dados dos próprios
estabelecimentos.
O Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB, foi desenvolvido com o
objetivo de subsidiar município, estados e o Ministério da Saúde com informações
fundamentais para o planejamento, acompanhamento e avaliação das ações
desenvolvidas no âmbito do Programa de Agentes Comunitários de Saúde – PACS e
do Programa de Saúde da Família – PSF. Atualmente, estas informações só estão
disponíveis no nível local. O PACS atua na prevenção de doenças e na promoção da
saúde, com o compromisso de levantar dados sobre condições de vida da população
da área de atuação. A Unidade Básica de Saúde da Família, à qual estes programas
estão vinculados possui uma área de abrangência delimitada territorialmente com
uma clientela adscrita, que é dividida em sub-áreas sob responsabilidade de cada
agente de saúde.
O Sistema de Notificação de Agravos – SINAN, registra dados, de maneira mais
estruturada desde 1995, dados de doenças de notificação compulsória que são
coletados pelos gestores municipais e estaduais e, posteriormente, são enviados ao
gestor nacional. Este sistema é de responsabilidade do CENEPI. Para as doenças
cuja notificação é obrigatória em todo o território nacional, existe jma padronização
que permite a consolidação das informações nacionais. Entretanto, cada nível gestor
tem autonomia para acrescentar doenças relevantes na sua área de abrangência, de
acordo com as particularidades de cada local, o que gera uma variação importante
da cobertura e da qualidade das informações. Por isso, de acordo com a doença de
interesse, pode ser mais conveniente acessar as informações desse Sistema, junto
às Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde.
O Censo Demográfico é realizado de dez em dez anos coletando informações
sociodemográficas da população residente em todo o território nacional, sob
responsabilidade da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
São pesquisadas, cerca de 240 variáveis que após consolidação são disponibilizadas
na homepage do IBGE e através de CD-ROM. As informações referenciadas aos
setores censitários, podem ser obtidas por encomenda ao IBGE, enquanto os demais
20
consolidados podem ser acessados diretamente via Internet ou pela aquisição do
CD-ROM.
Os dados sociodemográficos são informações sobre a população e geralmente
incluem idade, escolaridade, condição de emprego, renda, condições de moradia
(abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo, número de banheiros
e cômodos do domicílio, entre outros). Apesar de coletados sobre indivíduos e
domicílios, os dados são consolidados por área. A área mínima é o setor censitário
(área sob responsabilidade de cada recenseador que abrange um conjunto médio de
300 domicílios) que são agregados em municípios, estados e país, sucessivamente.
Estas informações são extremamente úteis para se conhecer o perfil da população
de uma determinada área, além de constituírem a base de dados de muitos
denominadores populacionais usados para o cálculo de indicadores de saúde, como,
por exemplo, taxas de mortalidade.
O sistema de pesquisas domiciliares, implantado progressivamente no Brasil a
partir de 1967, com a criação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios -
PNAD, tem como finalidade a produção de informações básicas para o estudo do
desenvolvimento socioeconômico do País.
Trata-se de um sistema de pesquisas por amostra de domicílios que, por ter
propósitos múltiplos, investiga diversas características socioeconômicas, umas de
caráter permanente nas pesquisas, como as características gerais da
população,educação, trabalho, rendimento e habitação, e outras com periodicidade
variável, como as características sobre migração, fecundidade, nupcialidade, saúde,
nutrição e outros temas que são incluídos no sistema de acordo com as
necessidades de informação para o País.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios teve início no segundo trimestre
de 1967, sendo os seus resultados apresentados com periodicidade trimestral, até o
primeiro trimestre de 1970. A partir de 1971 os levantamentos passaram a ser anuais
com realização no último trimestre. A pesquisa foi interrompida para a realização dos
Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000.
A Pesquisa Assistência Médico-Sanitária é um levantamento que visa obter
dados cadastrais e gerais dos estabelecimentos de saúde no país.
21
Com base nos dados coletados é possível identificar as necessidades de
investimentos governamentais no setor saúde em determinadas áreas geográficas e
avaliar o seu desempenho, quer pela capacidade instalada (número de
estabelecimentos de saúde existentes), quer pela oferta de serviços à disposição da
população. Estes e outros indicadores obtidos através da AMS permitem às esferas
de governo federal, estadual e municipal, formular políticas de saúde, planejar suas
ações e implementar programas para suprir carências específicas do setor.
A tabela 1 demonstra as principais características destas bases de dados que
podem ser utilizadas nas análises espaciais na área de saúde.
22
Tabela 1. Bases de dados dos sistemas nacionais de informações de interesse para a saúde, instituições responsáveis e atualização.
BASES DE DADOS ATUALIZAÇÃOINSTITUIÇÃO
RESPONSÁVELUNIDADE DE REGISTRO
UNIDADE ESPACIAL DE REFERENCIA
Sistema de informações de Mortalidade
SIM anual CENEPI óbito município, endereço *
Sistema de informações de nascidos vivos
SINASC anual CENEPI nascimento município, endereço *
Sistema de informações hospitalares - autorização de internação hospitalar (AIH)
SIH/SUS mensal DATASUS procedimento médico CEP, endereço **
Sistema de informações ambulatoriais - autorização de procedimentos de alta complexidade/custo (APAC)
SIA/SUS-(APAC) mensal DATASUS terapia utilizada CEP, endereço **
Sistema de informação de atenção básica
SIAB mensal PACS/PSF família microárea
Sistema de notificação de agravos
SINAN mensal CENEPI agravo à saúde bairro, endereço *
Censo demográfico
CD decenal IBGE domicílio setor censitário
Pesquisa nacional por amostra de domicílios
PNAD anual IBGE domicílio setor censitário
Pesquisa assistência médico-sanitária
AMS trienal IBGE estabelecimentos de saúde CEP, endereço
* O registro de endereços nessas bases de dados é mantido em arquivo separado e sigiloso nas secretarias
municipais e estaduais de saúde.
** O registro de endereços na base de dados do sih/sus e do sia/sus(apac) é mantido em sigilo pelo DATASUS
com uma cópia na Secretaria de Assistência à Saúde (SAS) do Ministério da Saúde.
23
3.2. Fontes de Dados Cartográficos
Cada país possui uma ou mais organização governamental cuja
responsabilidade é o levantamento planialtimétrico sistemático, do território nacional
(Cruz & Pina, 1999).
No Brasil, é possível obter-se dados cartográficos nas seguintes instituições:
• Fundação IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): responsável
pelo mapeamento sistemático de todo o território nacional, em escalas
pequenas (1/25.000 e menores);
• DSG (Diretoria de Serviço Geográfico do Exército): divide com o IBGE a
responsabilidade pelo mapeamento sistemático;
• DHN (Diretoria de Hidrografia e Navegação): responsável pela geração de
cartas náuticas;
• ICA (Instituto de Cartografia da Aeronáutica): responsável pela geração de
cartas aeronáuticas;
• INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais): responsável pela
aquisição e distribuição de imagens de satélite LANDSAT; e
• Prefeituras: responsáveis pelo levantamento cadastral dos municípios.
24
4. Metodologia utilizada
A metodologia utilizada nesse estudo está baseada no Sistema de Informações
Hospitalares (SIH-SUS) como fonte de dados. Faremos análises comparativas entre
os dados informados durante a internação do paciente, como a sua origem, e os
dados cadastrais dos hospitais, através da Ficha Cadastral de Hospitais (FCH).
Nesta ficha, constam os dados cadastrais dos hospitais, como o nome, endereço e
quantidade de leitos.
4.1. Utilizando do SIH/SUS como fonte de dados
O Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS), como já foi dito
anteriormente, trabalha com as internações ocorridas no Brasil e, traz consigo, as
informações sobre a internação de cada paciente individualizada, bem como, os
dados dos próprios pacientes. Entre essas informações que estão disponibilizadas
ao público encontra-se o Código de Endereçamento Postal (CEP) dos pacientes.
Com base nessas informações podemos utilizar essa base de dados para fazermos
estudos geográficos sobre a procedência desses pacientes.
A Secretaria de Assistência à Saúde (SAS) do Ministério da Saúde é o órgão
responsável pela regulamentação dos sistemas de assistência do Ministério. Através
de portarias ela vem regulamentando os diversos sistemas que ela é a responsável.
Quanto ao correto preenchimento dos documentos necessários para a boa qualidade
das informações, a SAS publicou uma série de portarias que normatiza essa
atividade.
Uma dessas portarias é a Portaria MS/SAS 198/98 (Anexo I) que determina
inclusão de crítica no processamento de Autorização de Internação Hospitalar – AIH
relativa ao CEP – Código de Endereçamento Postal do paciente.
Pegando-se como base os arquivos reduzidos de AIH do Estado do Rio de
Janeiro do mês de agosto de 2002, vemos que o município do Rio de Janeiro
realizou 23.801 internações, sendo que dessas 4.057 são de pacientes de outros
25
municípios do Estado do Rio e 75 pacientes são de outros estados, ou seja, cerca de
17,36 % dos pacientes internados são de outros municípios.
Na figura 2 podemos observar que 89 % dos municípios do Estado do Rio de
Janeiro enviam pacientes para município do Rio de Janeiro.
Na figura 3 observamos que o afluxo de pacientes atendidos em hospitais do
Rio de Janeiro é bem amplo, existindo inclusive pacientes da região Norte do país.
(Acre)
Figura 2. Pacientes internados no Rio de Janeiro provenientes do Estado do Rio de Janeiro
Fonte: MS/DATASUS – Arquivos reduzidos de agosto/2002
26
Figura 3. Pacientes internados no município do Rio de Janeiro provenientes de todo o território nacional
Fonte: MS/DATASUS – Arquivos reduzidos de agosto/2002
Além desses dados, podemos também fazer uma verificação na distribuição dos
hospitais pelo município do Rio de Janeiro. Com ela podemos mensurar a
distribuição dos hospitais pelos diversos bairros do município e verificar se há um
balanceamento entre os bairros com maior quantidade de hospitais com os bairros
que mais enviam pacientes para o SUS.
Na tabela 2, verificamos a distribuição dos hospitais de acordo com os bairros
do Rio de Janeiro. O grande problema que enfrentamos é quanto à qualidade nos
dados informados. Como podemos notar existem, no cadastro de hospitais do Rio de
Janeiro, cuja fonte é a Ficha Cadastral de Hospitais (FCH), 22 hospitais cujo CEP
27
não se encontra no banco de dados dos Correios, não podendo, dessa forma, ser
identificado. Para se fazer um bom trabalho na área de controle e avaliação essas
informações são da maior relevância possível. Em um dado em que o responsável é
o gestor municipal ou estadual, não poderia haver esse tipo de falha. Como o
sistema de cadastramento está passando por mudanças, com a introdução da Ficha
Cadastral de Estabelecimentos de Saúde, espera-se que falhas como essa não
ocorram mais.
Tabela 2. Distribuição de hospitais por bairro do município do Rio de Janeiro.
Bairro Quantidade Bairro Quantidade
Bairro não cadastrado 22 ENGENHO NOVO 1
BOTAFOGO 7 ESTACIO 1
CENTRO 7 FLAMENGO 1
BANGU 5 GLORIA 1
CIDADE NOVA 5 HUMAITA 1
TAQUARA 4 JARDIM AMERICA 1
REALENGO 3 LEBLON 1
RIO COMPRIDO 3 MADUREIRA 1
BONSUCESSO 2 MAGALHAES BASTOS 1
ENGENHO DE DENTRO 2 MARECHAL HERMES 1
GALEAO 2 OSWALDO CRUZ 1
IPANEMA 2 PACIENCIA 1
JARDIM BOTANICO 2 PAQUETA 1
PIEDADE 2 PENHA CIRCULAR 1
SANTA TERESA 2 PRACA SECA 1
TANQUE 2 SANTA CRUZ 1
VILA ISABEL 2 SANTO CRISTO 1
ANDARAI 1 SAO CRISTOVAO 1
CAMPO GRANDE 1 SAUDE 1
CASCADURA 1 SEPETIBA 1
TIJUCA 1
Fonte: DATASUS/MS Arquivo de cadastro de hospitais
28
Analisando esses dados, verificamos que os bairros com maior número de
hospitais (que puderam ser identificados) são o Centro e Botafogo , com 7 hospitais
em cada um deles, seguido por Bangu e Cidade Nova, com 4 hospitais. Verificamos
também que há uma distribuição por quase toda a cidade. No entanto, quando
fazemos o levantamento da distribuição da origem da população assistida pelo SUS
(Tabela 3), os bairros com maior número de moradores que procuraram os hospitais
da rede SUS são os que tem apenas um hospital em sua região.
Tabela 3. Quantidade de pacientes atendidos no SUS segundo bairro de origem.
Bairro Quantidade Bairro Quantidade
CAMPO GRANDE 1011 SANTISSIMO 114
SANTA CRUZ 847 ENGENHO NOVO 113
REALENGO 843 SANTA TERESA 109
BANGU 711 VICENTE DE CARVALHO 108
CENTRO 631 COLEGIO 105
TAQUARA 517 JACARE 105
BONSUCESSO 445 VIGARIO GERAL 105
SAUDE 383 ROCHA MIRANDA 102
PIEDADE 358 SAO CRISTOVAO 98
ESTACIO 265 MARECHAL HERMES 96
PACIENCIA 264 OSWALDO CRUZ 96
PENHA 257 TANQUE 94
IRAJA 254 ANIL 89
SENADOR CAMARA 253 RECREIO DOS BANDEIRANTES 88
PADRE MIGUEL 237 LINS DE VASCONCELOS 86
RAMOS 234 PILARES 86
PENHA CIRCULAR 229 QUINTINO BOCAIUVA 86
MADUREIRA 227 VILA VALQUEIRE 86
CIDADE DE DEUS 205 JARDIM AMERICA 85
SEPETIBA 203 BARRA DA TIJUCA 84
INHAUMA 201 JARDIM GUANABARA 84
BOTAFOGO 191 MAGALHAES BASTOS 81
VILA ISABEL 191 COSTA BARROS 80
29
COPACABANA 190 TODOS OS SANTOS 80
GUADALUPE 172 COELHO NETO 78
GUARATIBA 172 MEIER 77
JACAREPAGUA 169 ACARI 76
ANCHIETA 168 FLAMENGO 75
TIJUCA 167 GARDENIA AZUL 75
CURICICA 164 VILA DA PENHA 75
OLARIA 158 BENFICA 67
CASCADURA 156 PECHINCHA 67
CORDOVIL 151 GAMBOA 66
PRACA SECA 136 PARADA DE LUCAS 66
BRAS DE PINA 133 FREGUESIA (JACAREPAGUA) 64
MANGUINHOS 127 PITANGUEIRAS 63
RICARDO DE ALBUQUERQUE 126 PEDRA DE GUARATIBA 61
CIDADE NOVA 125 ENGENHO DA RAINHA 59
COSMOS 123 PARQUE ANCHIETA 59
PAVUNA 123 BARROS FILHO 58
RIO COMPRIDO 120 IPANEMA 57
BENTO RIBEIRO 118 CACHAMBI 56
ENGENHO DE DENTRO 117 VARGEM GRANDE 53
INHOAIBA 115 Outros Bairros 1723
Fonte: DATASUS/MS Arquivos reduzidos de agosto/2002
30
4.2. Analisando o bairro de Campo Grande
Enquanto que Campo Grande é o bairro recordista no envio de pacientes para a
rede SUS com 1.011 atendimentos no mês de agosto, o bairro possui apenas 1 (um)
hospital identificável como sendo do bairro e, Santa Cruz, na segunda posição com
847 pacientes, também possui apenas 1 (um) hospital. No outro extremo, Botafogo,
como um dos bairros com maior concentração de hospitais, teve 191 pacientes
residentes no bairro com atendimento nos hospitais do SUS. Como podemos ver, um
bom trabalho de controle e avaliação pode contar com a ajuda de dados geográficos
sobre a saúde da população.
Na tabela 4, verificamos que quase a metade dos pacientes de Campo Grande
são atendidos dentro do próprio bairro e a outra metade tem que se deslocar para
receber o atendimento. Como este é um bairro afastado do centro do Rio e é porta
de entrada de uma região nobre do estado do Rio, embora sem grandes cidades, era
de se esperar que o bairro pudesse contar com uma estrutura um pouco melhor para
receber sua própria população assim como os de municípios vizinhos ao bairro.
Tabela 4. Relação dos pacientes de Campo Grande com o local de atendimento
Hospital Quantidade de pacientes
SES RJ HOSP EST ROCHA FARIA 509
Outros Hospitais 502
Fonte: DATASUS/MS – Arquivos reduzidos de agosto/2002
De acordo com a tabela 5, vemos que, mesmo enviando pacientes para outros
bairros, Campo Grande recebe uma quantidade muito grande de pacientes
provenientes de outras localidades, chegando quase ao mesmo número de pacientes
enviados a outros estabelecimentos com os pacientes recebidos.
31
Tabela 5. Relação de pacientes atendidos em Campo Grande de acordo com o bairro de origem
Bairro do paciente Quantidade
CAMPO GRANDE 509
Bairro não identificado 125
INHOAIBA 49
GUARATIBA 48
SANTA CRUZ 40
COSMOS 35
PACIENCIA 34
SANTISSIMO 27
PEDRA DE GUARATIBA 23
SENADOR CAMARA 17
BANGU 13
Outros bairros 73
Total de outros bairros 484
Fonte: DATASUS/MS – Arquivos reduzidos de agosto/2002
Mesmo com a portaria que institui a crítica com relação ao CEP do paciente,
ainda hoje vemos que muitas internações não são muito bem identificadas. De
acordo com o gráfico 1 vemos que em mais de 10 % das internações não foi
identificado o bairro do paciente.
32
Gráfico 1. Distribuição dos bairros dos pacientes atendidos em Campo Grande
Bairros dos Pacientes
51%
13%
5%
5%
4%4%3%3%
2%2%1% 7%CAMPO GRANDEBairro não identificadoINHOAIBAGUARATIBASANTA CRUZCOSMOSPACIENCIASANTISSIMOPEDRA DE GUARATIBASENADOR CAMARABANGUOutros bairros
Fonte: DATASUS/MS – Arquivos reduzidos de agosto/2002
33
4.3. Análise dos procedimentos realizados
A partir de agora, vamos ver como é feita a distribuição dos procedimentos
entre os pacientes internados em Campo Grande no Hospital Municipal Rocha Faria
e os pacientes residentes em Campo Grande e atendidos em outros
estabelecimentos distribuídos na rede assistencial do município do Rio de Janeiro.
Para facilitar os estudos, agrupar os procedimentos por grupos ou
especialidades, conforme veremos a seguir.
4.3.1. Pacientes internados em Campo Grande
De acordo com os arquivos reduzidos que estamos trabalhando, vemos que
quase 46 % dos atendimentos feitos no bairro são relativos a procedimentos de parto
e 14 % são relativos a cirurgias ginecológicas, ou seja, 60 % dos atendimentos são
realizados em mulheres e para serviços que não requerem alta complexidade.
Em terceiro lugar aparecem os procedimentos ortopédicos, mas apenas com 8
% das internações.
34
Tabela 6. Quantidade de pacientes atendidos em Campo Grande de acordo com o grupo/especialidade
Grupos/Especialidade Quantidade
Cirurgia Obstétrica (Partos) 461
Cirurgia Ginecológica 140
Cirurgia Ortopédica e Traumatológica 83
Pneumologia Clínica 73
Cirurgia Geral 68
Doenças do Recém Nascido 25
Cardiologia Clínica 22
Neurologia Clínica 20
Doenças Infecto-Parasitárias 18
Ginecologia e Obstetrícia Clínica 16
Afecções Genito-Urinárias 11
Distúrbios Nutritivos/Desidratação 10
Endocrinologia 10
Gastroenterologia Clínica 9
Doenças Músculo-esqueléticas 8
Cirurgia Múltipla 7
Neurocirurgia 4
Cirurgia Urológica 3
Hemopatias 2
Oncologia Clínica/Cuidados Prolongados 1
Acidentes, Envenenamentos e Intoxicações 1
Outras Clínicas 1
Total 993
Fonte: DATASUS/MS – Arquivos reduzidos de agosto/2002
35
Gráfico 2. Distribuição dos procedimentos realizados em Campo Grande de acordo com o grupo/especialidade
46%
14%
8%
7%
7%
3%
2%
2%10% Cirurgia Obstetrica (Partos)
Cirurgia Ginecologica
Cirurgia Ortopedica eTraumatologicaPneumologia Clínica
Cirurgia Geral
Doenças do Recém Nascido
Cardiologia Clínica
Neurologia Clínica
Outras Clínicas
Fonte: DATASUS/MS – Arquivos reduzidos de agosto/2002
36
4.3.2. Pacientes de Campo Grande atendidos em outros bairros
Em uma outra análise, vamos verificar o que os pacientes residentes em Campo
Grande estão procurando fora da sua área original, já que o bairro é assistido por um
grande hospital
Vemos que, apesar da grande quantidade de partos realizados no próprio
bairro, a maior causa de procura de atendimento em outras localidades também é o
parto.
Podemos observar que há um grande número de atendimentos psiquiátricos
(66) em apenas um mês, o que corresponde a 13 % da procura por atendimentos em
outros bairros.
Verificamos uma grande quantidade de cirurgias geral e de tratamentos
oncológicos, combinados entre cirurgia oncológica e oncologia clínica, o que
correspondem respectivamente a 9 % cada uma delas.
Com isso, verificamos uma possível falha na estrutura organizacional da rede
assistencial, pois, um bairro populoso como Campo Grande, não possui assistência
especializada para pacientes com problemas psiquiátricos.
Apesar de o Ministério da Saúde estar promovendo a desospitalização dos
pacientes psiquiátricos, deve haver um serviço de apoio aos mesmos para que se
possa promover a reintegração desses pacientes à sociedade.
37
Tabela 7 Grupos/Especialidade realizados em pacientes de Campo Grande em outros bairros do Rio de Janeiro
Grupos/Especialidade Quantidade
Cirurgia Obstétrica (Partos) 95
Psiquiatria 66
Cirurgia Geral 46
Cardiologia Clínica 33
Cirurgia Ginecológica 29
Oncologia Clínica/Cuidados Prolongados 29
Cirurgia Ortopédica e Traumatológica 28
Doenças Infecto-Parasitárias 25
Pneumologia Clínica 21
Cirurgia Oncológica 16
Outras Clínicas 15
Distúrbios Nutritivos/Desidratação 12
Cirurgia Oftalmológica 10
Cirurgia Plástica e Queimados 10
Neurocirurgia 8
Gastroenterologia Clínica 8
Endocrinologia 8
Cirurgia Urológica 7
Doenças do Recém Nascido 6
Cirurgia Cardiovascular 5
Ginecologia e Obstetrícia Clínica 5
Hemopatias 5
Afecções Genito-Urinárias 5
Cirurgia Otorrinolaringológica 4
Cirurgia Buco Maxilo Facial 2
AIDS 2
Cirurgia Múltipla 1
Outras Clínicas 1
Total 502
Fonte: DATASUS/MS – Arquivos reduzidos de agosto/2002
38
Gráfico 3. Procedimentos realizados em outros bairros por pacientes moradores de Campo Grande
19%
13%
9%
7%6%6%6%
5%
4%
3%
23%
Cirurgia Obstetrica (Partos)
Psiquiatria
Cirurgia Geral
Cardiologia Clínica
Cirurgia Ginecologica
Oncologia Clínica/CuidadosProlongadosCirurgia Ortopedica eTraumatologicaDoenças Infecto-Parasitárias
Pneumologia Clínica
Cirurgia Oncologica
Outras Clínicas
Fonte: DATASUS/MS – Arquivos reduzidos de agosto/2002
39
5. Conclusão
Com um bom preenchimento dos dados cadastrais dos pacientes e com um
bom serviço de controle e avaliação, os gestores podem usar o geoprocessamento
para uma análise mais profunda da situação de saúde em sua região, verificando a
existência de falhas na sua rede assistencial e, com isso, fazer uma nova
programação para que se possa evitar que uma parcela da população tenha que
ficar buscando assistência longe do seu local de moradia.
Neste trabalho pudemos notar que os atendimentos realizados em Campo
Grande são, na sua maioria, de procedimentos de baixa complexidade (partos)
enquanto que os pacientes que saem de Campo Grande para serem atendidos em
outros bairros procuram outros tipos de serviços, inclusive o próprio procedimento de
parto.
Isto é um exemplo de como podemos melhorar a qualidade e a capacidade
operacional no bairro para evitar o deslocamento de pacientes em trabalho de parto
para outros bairros, mesmo que vizinhos, já que trata-se de um bairro que fica
extremamente longe do centro e de outros serviços que possam prestar melhor
atendimento aos pacientes mais complicados.
A própria procura por serviços de psiquiatria, inexistente no bairro, é um indício
de como com um bom trabalho no referenciamento espacial dos pacientes podemos
estimular o aparecimento de novos serviços em determinadas áreas.
Com a entrada em funcionamento do Cartão Nacional de Saúde, que conterá os
dados cadastrais da população, os gestores terão uma visão mais clara do problema,
pois poderá identificar o fluxo dos pacientes que são atendidos ambulatorialmente no
sistema público de saúde e, com isso, fazer uma nova distribuição da sua
capacidade instalada.
40
6. Bibliografia
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Ottawa, WDI Publications, 1989.
CÂMARA, G. 1996 - Desenvolvimento de Sistemas de Informação Geográfica
no Brasil: Desafios e Oportunidades – Palestra proferida na Semana de
Geoprocessamento do Rio de Janeiro – outubro de 1996 -
http://www.dpi.inpe.br/gilberto/segeo.htm
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MAGALHÃES, G.Anatomia de Sistemas de Informação Geográfica. SBC, X
Escola de Computação, Campinas, 1996.
CÂMARA, G.; FREITAS, U.M.; SOUZA, R.C.M.; GARRIDO, J. SPRING:
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Sistemas de Informação Geográfica e Cartografia Aplicados à Saúde. 1: 14-
39. Organização Panamericana de Saúde
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Design. The Guilford Press, 1995
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NORMA OPERACIONAL DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE – 2001 - Portaria
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PINA, M. F., Potencialidades dos Sistemas de Informações Geográficas na área
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metodológicos e técnicas de análise, p. 125-133, Editora Fiocruz, 1998
41
REGIONALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE: APROFUNDANDO A
DESCENTRALIZAÇÃO COM EQÜIDADE NO ACESSO – 2001 – p. 5
SOUZA, D. S., TAKEDA, S. M. P., NADER, E. K., FLÔRES, R., SANTOS, S. M.,
GIACOMAZZI, M. C. G., 1996. Sistemas de Informações Georreferenciadas
no Planejamento dos Serviços de Saúde. Momentos e Perspectivas em
Saúde, 9(2): 10-15
SCHOLTEN, H.J., STILLWELL, J.C.H., 1990 – Geographical Information
Systems: The Emergin Requirements In: SCHOLTEN, HJ & STILLWELL,
JCH (org.) Geographical Information Systems for Urban and Regional
Planning, p.3-14. Kluwer Academic Publishers.
42
ANEXO I
MINISTÉRIO DA SAÚDE
SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE
Portaria nº 198 de 30 de outubro de 1998
O Secretário de Assistência à Saúde-Substituto, no uso de suas atribuições legais, e
Considerando a necessidade de acompanhamento da procedência dos usuários do
SUS em regime de internação, e Considerando a necessidade de avaliação da
Câmara de Compensação de Procedimentos Hospitalares de Alta Complexidade,
instituída pela PT/MS/GM 3.409 de 05 de agosto de 1998, resolve:
Art, 1º - Determinar a inclusão de crítica no processamento de Autorização de
Internação Hospitalar – AIH relativa ao CEP – Código de Endereçamento Postal do
paciente.
Parágrafo Único – O preenchimento de CEP inválido ou o não preenchimento deste
dado no campo de identificação do paciente, acarretará rejeição da AIH.
Art. 2º - A Secretaria de Assistência à Saúde e o Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde – DATASUS adotarão as medidas necessárias para a
efetiva operacionalização desta portaria.
Art 3º - Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação, com efeitos a partir
do processamento de AIH da competência novembro de 1998.
JOÃO GABBARDO DOS REIS
43