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Márcia Dias Lomba O IMPACTO DAS REDES SOCIAS NA CESSAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO: - LIBERDADE DE EXPRESSÃO VERSUS JUSTA CAUSA DE DESPEDIMENTO Outubro de 2015 UMinho | 2015 Universidade do Minho Escola de Direito Márcia Dias Lomba O IMPACTO DAS REDES SOCIAS NA CESSAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO: - LIBERDADE DE EXPRESSÃO VERSUS JUSTA CAUSA DE DESPEDIMENTO

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Márcia Dias Lomba

O IMPACTO DAS REDES SOCIAS NACESSAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO:- LIBERDADE DE EXPRESSÃO VERSUSJUSTA CAUSA DE DESPEDIMENTO

Outubro de 2015UM

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Dissertação de MestradoMestrado em Direito e Informática

Trabalho efetuado sob a orientação da

Professora Doutora Teresa Coelho Moreirae doProfessor Doutor César Analide

Universidade do MinhoEscola de Direito

Márcia Dias Lomba

O IMPACTO DAS REDES SOCIAS NACESSAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO:- LIBERDADE DE EXPRESSÃO VERSUSJUSTA CAUSA DE DESPEDIMENTO

Outubro de 2015

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DECLARAÇÃO

Nome: Márcia Dias Lomba

Endereço electrónico: [email protected]

Número de Identificação Civil: 13788960

Título dissertação: Impacto das Redes Sociais na Cessação do Contrato de Trabalho: Liberdade de

Expressão versus Justa Causa de Despedimento

Orientadores: Professora Doutoar Teresa Coelho Moreira e ProfessorDoutor César Analide

Ano de conclusão: 2015

Designação do Mestrado:

Mestrado em Direito e Informática

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA TESE/TRABALHO APENAS PARA EFEITOS DE

INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE

COMPROMETE;

Universidade do Minho, 30 de Outubro de 2015

Assinatura: ____________________________________________

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AGRADECIMENTOS

Aos meus orientadores, Doutora Teresa Coelho Moreira e Doutor César Analide,

por toda a disponibilidade, apoio e partilha de conhecimentos durante todo este percurso;

À minha avó, pela confiança cega que depositou em mim;

Aos meus pais, pelo amor;

À minha irmã, pela amizade;

Ao Hélder, pela paciência e encorajamento;

E aos meus amigos e amigas, por terem sempre acreditado em mim.

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RESUMO

O impacto das Redes Sociais na cessação do contrato de trabalho: liberdade de

expressão versus justa causa de despedimento. É analisada a eventual relevância

disciplinar dos atos de publicação de conteúdos relacionados com a relação laboral nas

Redes Sociais, no âmbito extralaboral. Ao longo de toda a dissertação, refletiremos sobre

quais os direitos e deveres do trabalhador para com o empregador, sendo o direito à

privacidade, a proteção de dados pessoais e o direito à liberdade de expressão, os direitos

com maior relevância ao longo do trabalho. Refletiremos também, sobre o impacto dos

comportamentos fora do âmbito da empresa, na publicação de opiniões e ideias nas

Redes Sociais, e as repercussões que poderão originar no seio da empresa. E por fim,

analisaremos o confronto entre a liberdade de expressão e o direito à reserva íntima do

trabalhador com uma possível justa causa de despedimento. Deverá o trabalhador

comprometer o seu direito à expressão? Será legítimo o controlo do empregador nestas

situações extra laborais?

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SUMMARY:

The impact of social networks on termination of the employment contract: freedom

of expression versus just cause for dismissal. It analyzed the possible disciplinary

relevance of content publishing events related to the employment relationship in Social

Media within extralaboral. Throughout the dissertation, we will reflect on what the worker's

rights and duties to the employer, and the right to privacy, personal data protection and

the right to freedom of expression, the rights of greatest relevance throughout the work. We

will reflect also on the impact of behavior outside the scope of the company, the

publication of opinions and ideas on Social Networks, and the repercussions that may

originate within the company. Finally, we will analyze the clash between freedom of

expression and the right to worker's intimate reserve with a possible just cause for

dismissal. Should the worker compromising their right to expression? Does the employer's

legitimate control these extra work situations?

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vii

Índice

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... IV

RESUMO .................................................................................................................................... V

SUMMARY: ............................................................................................................................... VI

LISTA DE ABREVIATURAS / SIGLAS ............................................................................... IX

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11

I CAPITULO – REDES SOCIAIS ONLINE .......................................................................... 16

1.1 Do Conceito à Evolução .................................................................................................................. 16

1.2 Elementos das Redes Sociais .......................................................................................................... 20

1.3 Privacidade e Segurança ................................................................................................................ 21

1.3.1- Agregação digital de dossiês ............................................................................................................. 21

1.3.2 - Retenção de dados secundários ....................................................................................................... 22

1.3.3- Reconhecimento facial ..................................................................................................................... 23

1.3.4- Content Based Image Retrieval ......................................................................................................... 24

1.3.5- Dificuldades na eliminação de um perfil ............................................................................................ 24

1.4- Vulnerabilidades ........................................................................................................................... 26

1.4.1- Relacionadas com a Identidade: ....................................................................................................... 26

1.4.1.1- Phishing: .............................................................................................................................. 26

1.4.1.2- Serviços distribuidores ......................................................................................................... 28

1.4.1.2.1- SPAM: ........................................................................................................................... 28

1.4.1.2.2- Agregadores das Redes Sociais: ................................................................................... 29

1.4.1.3- Cross Site Scripting (XSS), Vírus e Worms ............................................................................ 30

1.5- Síntese: ...................................................................................................................................... 32

1.6- Recomendações ............................................................................................................................ 33

1.7- Uma questão de marketing ........................................................................................................... 34

1.7.1- Marketing empresarial ..................................................................................................................... 34

1.8- Uma forma de recrutamento ........................................................................................................ 36

II CAPITULO- O CONTRATO DE TRABALHO ................................................................ 38

2.1- O Conceito .................................................................................................................................... 38

2.2 – O Trabalhador ............................................................................................................................. 42

2.2.1- Deveres .......................................................................................................................................... 42

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2.2.2- Direitos........................................................................................................................................... 43

2.2.2.1- Direito à Privacidade ............................................................................................................ 43

2.2.2.1.1- Evolução ....................................................................................................................... 45

2.2.2.1.2 - No Direito Internacional .............................................................................................. 49

2.2.2.1.3 – No Direito da União Europeia .................................................................................... 52

2.2.2.1.4- No Direito Interno ........................................................................................................ 55

2.2.2.2- Proteção de Dados Pessoais ........................................................................................... 60

2.2.2.3- Liberdade de Expressão ....................................................................................................... 68

2.3 – O Empregador ............................................................................................................................. 74

2.3.1 Poderes do Empregador ................................................................................................................... 74

III CAPITULO – IMPACTO DAS REDES SOCIAIS NA CESSAÇÃO DO CONTRATO

DE TRABALHO ...................................................................................................................... 87

3.1 Cessação do Contrato de Trabalho ................................................................................................. 87

3.2 Liberdade de Expressão e Redes Socias vs Justa causa de despedimento ....................................... 91

CONCLUSÕES: ..................................................................................................................... 100

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 103

Fontes digitais .................................................................................................................................... 106

Jurisprudência: .................................................................................................................................. 111

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LISTA DE ABREVIATURAS / SIGLAS

NTIC – Novas Tecnologias de Informação e Comunicação;

E.U.A – Estados Unidos da América;

UCE – Unsolicited Comercial E-mail;

CT – Código de Trabalho;

ss – Seguintes

CC – Código Cívil

CRP – Constituição da República Portuguesa

Séc. -Século

art - artigo

CNIL – Commission Nationale de l’informatique et des libertés

DUDH – Declaração Universal dos Direitos do Homem

CEDH – Convenção Europeia dos Direitos do Homem

PIDCP – Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos

PIDESC – Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais

U.E – União Europeia

TJUE – Tribunal de Justiça da União Europeia

CDFUE – Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia

LADA – Lei de Acesso aos Documentos da Administração

CNDP – Comissão Nacional da Proteção de Dados

TCA- Tribunal Central Administrativo

OIT – Organização Internacional do Trabalho

Ac - Acórdão

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x

nº – número

STJ – Supremo Tribunal de Justiça.

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INTRODUÇÃO

A evolução para a web 2.0 e a introdução de novas tecnologias de informação e

comunicação, que fomos assistindo ao longo dos anos, foi um processo irreversível e

contínuo, impulsionador de uma revolução nos meios de informação e comunicação.

Desta forma, os utilizadores destes serviços passaram a desempenhar um papel mais

ativo e significante do que até aí representavam, deixando de serem apenas consumidores

e espectadores 1.

As NTIC tiveram um impacto tremendo na nossa sociedade, e num curto espaço

de tempo, mudaram a mentalidade e a forma de viver e agir da população em geral.

Todos se renderam. E o mundo socio-laboral foi atrás, tendo revolucionado toda a

estrutura empresarial, todos os processos de produção e organização da atividade do

trabalho. As condições de vida, tanto materiais como morais, do trabalhador alteraram-se,

o que implicou uma mudança na relação entre empregador e trabalhador2.

A verdade é que, juntamente com as NTIC, surgiram inúmeros meios informáticos

que estão aptos para ameaçar a privacidade de qualquer pessoa e, por isso, aptos

também, a ameaçar e atacar a privacidade dos trabalhadores. Através destas novidades

tecnológicas, é possível recolher e tratar informações pessoais sem qualquer limite. Ou

seja, é possível recolher, tratar, armazenar e regular o maior número de informações

sobre a pessoa ou as pessoas que quiser e sem que esta dê por isso, acabando com

qualquer tipo de privacidade da mesma.

As Redes Sociais surgiram como um novo instrumento de controlo total, por parte

dos empregadores, o que vem fragilizar a posição dos trabalhadores e criar um novo tipo

de controlo, denominado por controlo eletrónico do empregador.3 E, embora sejam

1 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.42

2TERESA COELHO MOREIRA, “A Privacidade dos Trabalhadores e o Controlo Eletrónico da Utilização da Internet”, in Estudos de Direito do Trabalho, Almedina, 2011, p.85 3 TERESA COELHO MOREIRA, “A Privacidade dos Trabalhadores e o Controlo Eletrónico da Utilização da Internet”, in Estudos de Direito do Trabalho, Almedina, 2011, p.85

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inúmeras as vantagens provenientes na introdução das NTIC, vantagens organizativas e de

gestão, são também inúmeras as desvantagens que as mesmas acarretam4. MARIA

REGINA REDINHA 5,define as Redes Sociais como “uma designação tomada da sociologia,

antropologia e de outras ciências que empresta o nome a uma ciber-realidade: uma

aplicação internet, qualificável como medium social, que permite a criação de conteúdos

gerados pelos utilizadores e se destina a congregar, em regra, por multiplicação,

comunidades virtuais assentes na partilha de informações, interesses e atividades”, diz

ainda que “são um meio de comunicação em contínua expansão” e “os problemas

derivados da intersecção entre real e virtual e da regulação de uma realidade avessa a

qualquer controlo, como é a internet, têm também cada vez mais uma maior repercussão

laboral” 6.

São novos os riscos a que as pessoas estão sujeitas na sua vida socio-laboral e

que estão identificados, como o risco de violação do direito à privacidade, devido à quase

ilimitada recolha de informações pessoais a que estão sujeitos, afetando os seus direitos

fundamentais, e até dos direitos de personalidade. Estamos perante uma sociedade sem

espaço para a privacidade 7. E para TERESA COELHO MOREIRA 8, “o grande desafio que

se coloca à privacidade reside no facto de que uma grande parte da informação que é

colocada nas redes sociais resulta da iniciativa do próprio utilizador e baseada no seu

consentimento”.

A Internet, alterou o mundo laboral/ empresarial com uma maior competitividade

e criando um novo tipo de controlo, o controlo eletrónico do empregador na medida em

que tornaram o controlo por parte deste cada vez mais presente, destruindo a privacidade

do trabalhador, surgindo assim novas questões jurídicas.9

4 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 5 MARIA REGINA REDINHA, “Redes Sociais: Incidência Laboral”, in Prontuário de Direito do Trabalho -87, Coimbra Editora, p.33 6 MARIA REGINA REDINHA, “Redes Sociais: Incidência Laboral”, in Prontuário de Direito do Trabalho -87, Coimbra Editora, p.33

7 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.45 8 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.46 9 TERESA COELHO MOREIRA, “As novas tecnologias de informação e comunicação e o poder de controlo eletrónico do empregador”, in Estudos de Direito do Trabalho, Almedina, 2011, p.12

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Algumas das lacunas estão associadas a questões como o controlo por parte do

empregador ao trabalhador no e fora do local de trabalho, e por fim, outras associadas a

uma eventual cessação do contrato de trabalho.

Cabe-nos a nós perceber se a celebração do contrato de trabalho sujeita a

admissão pelo trabalhador da restrição do seu direito à privacidade e à proteção de dados

ou, muito pelo contrário, reservam o seu direito à defesa da sua privacidade no local de

trabalho e à liberdade de expressão, necessitando assim de limitar os poderes de controlo

do empregador.10

Na verdade, não há em Portugal dados certos sobre a força de utilização e a

frequência de litígios em contexto laboral e não são muitos os processos judiciais relativos

ao uso da Internet no local de trabalho, sendo que a maioria delas versa sobre os limites

do direito à liberdade de expressão. Isto não implica que haja falta de conflitos, que

poderiam ser evitados se a utilização destes meios fosse regularizada de forma a

equilibrar direitos e deveres do trabalhador para com o empregador, uma regulamentação

clara, esclarecedora e precisa 11.

Como foi supra mencionado, as “Redes Sociais” abrangem um leque enorme de

funcionalidades e possibilidades, o que dificulta a submissão das mesmas a uma só

solução. A disponibilidade de vários instrumentos ao mesmo tempo, como o Instant

Messaging 12, perfis de intervenção pública, grupos criados pelos utilizadores, entre

outros, condicionam a possibilidade de uma única proposta de solução, sendo

fundamental que o Direito crie mecanismos de conformação e regulação dos interesses

em causa, protegendo os legítimos interesses de ambas as partes 13.

10 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 11 Recorde-se o caso de um piloto da “TAP” que teceu alguns comentários no “facebook”, a que se seguiram alguns comentários dos colegas, tendo todos os envolvidos sido convidados para frequentar um “curso de ética”. E refira-se também, o caso de um trabalhador da empresa “Sapo” que colocou uma critica à empresa do grupo “TMN”, onde trabalhava, no “facebook”, acabando por ver rescindido o seu contrato de trabalho. Casos retirados de PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho- Algumas Questões, Dissertação de Mestrado, Universidade Lusófona Porto, 2011 12 O TRL , no acórdão de 7 de Março de 2012, considerou que o Instant messaging é um meio de comunicação privada, consideração que nós também acolhemos, in “Controlo do Messenger dos trabalhadores: anotação ao acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 7 de Março de 2012”, in Prontuário de Direito do Trabalho- 91-92, Coimbra Editora 13 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html

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14

Estamos a passar uma fase em que emerge mais um novo paradigma social, que

origina um novo paradigma jurídico, tendo repercussões quer ao nível do direito subjetivo,

com o surgimento de novas perspetivas, quer ao nível adjetivo. Além disso, há um dilema

cibernético, pelo medo de exclusão, por estar desligado da rede correndo o risco de

marginalização por não ter acesso à infraestrutura, havendo uma espécie de iliteracia

digital, versus às ameaças à privacidade e sentimento de opressão.14

Aliás, as nossas publicações nas Redes Sociais tendem a tornar-se definitivas e

irreversíveis, afinal como refere TERESA COELHO MOREIRA 15, “os computadores não

esquecem e não perdem a sua memória, deixando uma série de pistas digitais que

permitem a comparação à entrada de determinados locais de uma cópia digitalizada e a

imagem da pessoa em causa”, o que promove o tratamento de dados pessoais e a

criação de perfis de pessoas e dos trabalhadores em especial, podendo ser

completamente desatualizados graças à descontextualização total dos dados. 16 É então

evidente que já não existe um direito ao esquecimento, na medida em que para TERESA

COELHO MOREIRA17, “está ligado a um problema candente na era digital na medida em

que se torna muito difícil escapar ao passado na Internet pois cada fotografia, atualização

de estado ou tweet perdura para sempre na nuvem 18”.

Por isto, o impacto das Redes Socias e os ataques à privacidade permitido por

estas, consequentes das NTIC e da sua evolução, e em especial da utilização das mesmas

pelos trabalhadores em contexto de trabalho é o tema escolhido para ser abordado na

presente dissertação, apresentando assim, a vertente tecnológica e a vertente legal.

Por consequência, o primeiro capítulo será virado para a vertente tecnológica das

Redes Sociais, desde o seu conceito à sua evolução, vulnerabilidades tecnológicas, e

explorando a ideia de como poderão ser passíveis de serem utilizados como novos meios

de Marketing empresarial e de recrutamento para as empresas.

14 FRANCISCO ANDRADE 15 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.57 16 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.57 17 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.57

18 Cloud computing

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15

O segundo capítulo, por sua vez, irá incidir sobre a relação laboral, com base no

contrato de trabalho, e ainda explorar os direitos e deveres do trabalhador, como o direito

à privacidade, à proteção de dados pessoais e à liberdade de expressão. Será dada

atenção ainda, ao elemento fundamental caracterizador do contrato de trabalho, a

subordinação jurídica, como fundamento ao poder diretivo do empregador.

Por fim, no terceiro capítulo será analisada a possível cessação do contrato de

trabalho com base no justo despedimento por utilização das Redes Sociais como meio

para o exercício da liberdade de expressão do trabalhador, fora do âmbito profissional.

Dever de lealdade ou direito à liberdade de expressão.

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16

I CAPITULO – REDES SOCIAIS ONLINE

1.1 Do Conceito à Evolução

É habitual a utilização do termo de Rede Social online no sentido de descrever um

grupo de pessoas que interagem através de qualquer meio de comunicação. Assim,

aceitamos o conceito proposto por FABRÍCIO BENEVENUTO, JUSSARA M. ALMEIDA,

ALTIGRAN S. DA SILVA que definem como um “serviço Web que permite a um indivíduo

construir perfis públicos ou semipúblicos dentro de um sistema, articular uma lista de

outros usuários com os quais ele compartilha conexões, assim, como outras listas criadas

por outros usuários do sistema”19.

Foi na década de 90 que surgiram as primeiras Redes Sociais. Foi com a intenção

de se reencontrar com os amigos da faculdade que Randy Conrads desenvolveu o

ClassMates, em 1995, configurando-se como a primeira Rede Social online, que ao

contrário das atuais redes, era um modelo de serviço pago pelos seus utilizadores. O seu

auge de popularidade foi nos Estados Unidos da América e no Canada.20 Em 2010, Mark

Goldston procurou dar um novo impulso à popularidade da rede com o intuito de

conseguir uma maior adesão à mesma. Assim, o nome da rede modificou para Memory

Lane, uma rede que tem mais de 100 mil anuários escolares, uma rede desenvolvida para

reviver e relembrar momentos passados nos anos de escolaridade21.

Em 1997, a América Online marcou a popularização das Instant Messaging ao

criar a AOL Instant Messenger, estando restritas aos assinantes da América Online. Foi,

também em 1997, que surgiu o grande fenómeno das Redes Sociais online com o

Sixdegrees. As suas características possibilitavam a inclusão de utilizadores numa

comunidade. Estes apresentavam-se através de perfis próprios e comunicavam entre si22.

A Friendster foi desenvolvida no ano de 2002, sendo uma Rede Social que

conquistou muitos utilizadores e que ainda se mantém ativa hoje em dia, principalmente 19 FABRÍCIO BENEVENUTO, JUSSARA M. ALMEIDA e ALTIGRAN S. DA SILVA, “ Coleta e Análise de Grandes Bases de Dados de Redes Sociais Online”, Departamento de Ciência da Computação, Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Brasil, p.5 20 https://www.natanaeloliveira.com.br/a-historia-das-redes-sociais/ 21 https://pt.wikipedia.org/wiki/Classmates.com 22 https://www.natanaeloliveira.com.br/a-historia-das-redes-sociais/

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17

na Ásia. E tal como a Sixdegrees, possibilitava aos seus utilizadores a criação de perfis e

de listas de contactos, assim como a sua divulgação 23.

Mas foi o Myspace, em 2003, que chamou à atenção e que potenciou a vertente

comercial das redes. Além da criação de perfis próprios dos utilizadores, permitiu que os

mesmos publicassem músicas e fotos24.

Também em 2003, surgiu uma proposta totalmente inovadora e que se destacava

pela diferença em relação a todas as outras Redes Sociais até aí existentes. O Linkedin

apareceu com um objetivo totalmente diferente do que das outras Redes Sociais. Não

tinha como intenção desenvolver a vida social do utilizador, mas sim a vida profissional do

mesmo. Surge como um recurso para empresas que queiram estabelecer ligações com

outras, assim como com profissionais. Não se tratam de amigos mas de conexões25. São

os possíveis futuros patrões dos utilizadores que vão ver o perfil dos mesmos a

determinado momento, e por isso é importante e necessário que haja um cuidado

redobrado com as informações que lá são publicadas. É possível resumir o nosso

percurso profissional de uma forma breve e escrever por tópicos as nossas competências

que mais tarde poderão ser selecionadas e recomendadas por outros utilizadores com

quem tenhamos estabelecido uma conexão 26. O Linkedin, com base no nosso perfil,

ainda seleciona possíveis vagas de emprego que tenham sido por lá partilhadas. É assim,

uma rede a estar atento a nível laboral.

O Second Life, foi criado em 1999 mas desenvolvido em 2003, e distancia-se

muito das Redes Sociais existentes à data. Caracteriza-se por ser um ambiente virtual e

tridimensional capaz de simular alguns aspetos da vida real dos seus utilizadores 27. Os

seus utilizadores criam avatares aos seus gostos, muitos são imagens da sua aparência

real e outros como gostariam de ser. Os seus avatares criam vidas próprias e podem

23 https://www.natanaeloliveira.com.br/a-historia-das-redes-sociais/ 24 JOANA VERISSIMO, MARIA MACIAS e SOFIA RODRIGUES, Implicações Jurídicas das Redes Sociais na Internet: um Novo Conceito de Privacidade, acessível em www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/meg_MA_15609.docx, p.2 25 https://www.natanaeloliveira.com.br/a-historia-das-redes-sociais/ 26 ANA SANCHEZ, ANTÓNIO GRANADO e JOANA LOBO ANTUNES, Redes Sociais para Cientistas, in http://www.unl.pt/data/escola_doutoral/RedesSociaisparaCientistas.pdf, p.22 e 23 27 https://pt.wikipedia.org/wiki/Second_Life

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ganhar dinheiro e comercializar produtos virtuais. Venceu o Premio Emmy de Tecnologia e

Engenharia: Melhor Tecnologia e Aplicações para Videojogos.28

Em 2004, o desenvolvimento da web 2.0, revolucionou a maneira como os

utilizadores olhavam para a Internet, passaram a ser sujeitos ativos e não passivos da

mesma. Foram fundadas duas Redes Sociais com um grande impacto social, o Orkut e o

Facebook. O Facebook, Rede Social com maior número de utilizadores mensais29, foi

fundado por antigos alunos da Universidade de Harvard, sendo que um deles foi Mark

Zuckberg. Seria uma Rede Social de Harvard para Harvard, já que só alunos da

Universidade poderiam se registar na mesma. Porém, esta Rede Social não se manteve

isolada em Harvard por muito tempo, e rapidamente passou a ter registos de outras

Universidades. Em 2006,o Facebook tornou-se numa rede aberta a todos que tivessem

mais de 13 anos 30. Os seus fundadores conseguiram e ainda conseguem manter um

elevado número de utilizadores graças a todas as aplicações, como jogos, vídeo

chamadas, entre outras variadas atividades que mantêm uma diversidade enorme de

atividades dentro da própria Rede Social, um verdadeiro mundo virtual.31

Durante o ano de 2006, foi criado o Twitter, esta rede caracteriza-se por ser uma

conta totalmente pública, ao contrário do que acontece noutras Redes Sociais. Com esta

Rede Social, os utilizadores procuram outros utilizadores que sejam do seu interesse e

podem optar por os seguir ou não. Se optarem por os seguir, passam a ver as mensagens

que são partilhadas por estes e que apenas podem conter 140 caracteres.32

A nível académico, foi desenvolvido uma Rede Social, o ORCID, Open Researcher

and Contributor Identifier. Uma Rede Social gratuita para os investigadores, que possibilita

que os mesmos criem uma conta pessoal e assim identifique a sua publicação cientifica

nas bases referenciais disponíveis (ANDS, PubMed Central, ResearcherID, SCOPUS,

DataCite, CrossRef..)33. Desta forma, permite manter uma lista atualizada das publicações

28 http://secondlife.com/whatis/ 29 JOANA VERISSIMO, MARIA MACIAS e SOFIA RODRIGUES, Implicações Jurídicas das Redes Sociais na Internet: um Novo Conceito de Privacidade, acessível em www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/meg_MA_15609.docx, p.2 30 https://www.natanaeloliveira.com.br/a-historia-das-redes-sociais/ 31 JOANA VERISSIMO, MARIA MACIAS e SOFIA RODRIGUES, Implicações Jurídicas das Redes Sociais na Internet: um Novo Conceito de Privacidade, acessível em www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/meg_MA_15609.docx, p.2 32 ANA SANCHEZ, ANTÓNIO GRANADO e JOANA LOBO ANTUNES, Redes Sociais para Cientistas, in http://www.unl.pt/data/escola_doutoral/RedesSociaisparaCientistas.pdf, p.12 33 JOSÉ CARONA CARVALHO, in http://openaccess.sdum.uminho.pt/?p=3588

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desenvolvidas por investigadores, o que antigamente era muito difícil por toda a

diversidade de informação existentes, quer pela quantidade de publicações desenvolvidas

em coautoria 34. Em cada uma das fontes, terá o autor que autorizar a fonte, ou seja base

de dados, para associar ao seu perfil 35. É uma Rede Social bastante utilizada por

organizações como Hospitais, Institutos e Universidades, por serem organizações que

desenvolvem investigações. O ORCID possibilita a consulta de informação e introdução da

mesma nos sistemas internos das instituições36. Ainda a este nível, em 2008 foi fundada

uma Rede Social com o nome de ReseachGate. Os fundadores desta rede foram o Dr. Ijad

Madisch, o Dr. Sören Hofmayer, e Horst Fickenscher37. E conta com mais de 7 milhões de

membros38. É uma Rede que está ligada à área da ciência e investigação. É gratuita e

permite que os seus membros possam interagir e colaborar uns com os outros na busca

de mais informação e acesso a trabalhos científicos de outros colegas 3940 . Também em

2008 foi lançada a Academia.edu, uma Rede Social gratuita, focada para os estudantes, e

que pode ser utilizada para compartilhar artigos, dissertações académicas e monitorar seu

impacto de acesso41. Pretende, assim, acelerar e facilitar a pesquisa mundial42.

O Google+ foi criado em 2011, e tem uma média de 540 milhões de utilizadores

ativos por mês43. O perfil criado nesta Rede Social é reutilizado para outros serviços do

Google. Além desta característica distinta das outras Redes Sociais, o Google+ tem uma

forma diferente de organizar os contactos criados, estes são organizados em círculo que

possibilita dirigir uma publicação a apenas um círculo ou até mais.

O Instagram foi criado em 2010, mas foi em 2012 que foi comprado pelo

Facebook e só em 2013 é que foi lançado oficialmente. Nesta Rede Social, os utilizadores

podem partilhar fotografias e vídeos de apenas 15 segundos. Foi a Rede Social que

popularizou a moda das selfies e permite a aplicação de filtros nas fotografias publicadas

34 JOSÉ CARONA CARVALHO, in http://openaccess.sdum.uminho.pt/?p=3588 35 JOSÉ CARONA CARVALHO, in http://openaccess.sdum.uminho.pt/?p=3588 36 JOSÉ CARONA CARVALHO, in http://openaccess.sdum.uminho.pt/?p=3588 37 http://www.researchgate.net/about 38 http://www.researchgate.net/about 39 https://pt.wikipedia.org/wiki/ResearchGate 40 http://www.researchgate.net/about 41 https://pt.wikipedia.org/wiki/Academia.edu 42 https://www.academia.edu/about 43 ANA SANCHEZ, ANTÓNIO GRANADO e JOANA LOBO ANTUNES, Redes Sociais para Cientistas, in http://www.unl.pt/data/escola_doutoral/RedesSociaisparaCientistas.pdf, p.14

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pelos seus utilizadores.44E se antes o Instagram era apenas para utilizadores da Apple,

agora está ao alcance de sistemas Android e Windows.45

1.2 Elementos das Redes Sociais

Embora sejam variadas as aplicações e funcionalidades de cada Rede Social,

apresentadas na subsecção anterior, parece-nos relevante destacar apenas algumas que

serão comuns a todas elas e, por isso, merecedoras de uma maior atenção.

Com o registo do utilizador, na Rede Social pretendida, o mesmo terá a faculdade

de criar um perfil, perfil que poderá ser uma página pessoal ou então institucional,

conforme a intenção do utilizador. É com base no mesmo, que os utilizadores encontram

outros com interesses comuns e que entram em contacto com outros, tornando-se amigos

ou seguidores. Os perfis podem ser privados ou públicos, consoante o grau de privacidade

delineado pelo utilizador.46

As atualizações foram desenvolvidas no sentido de estimular os utilizadores a

partilharem mais informações e conteúdos nos seus perfis. Atualizações que podem ser

partilhadas, comentadas e seguidas por outros e que vão aparecendo no nosso feed

noticias ou time line.47

Como referimos, cada foto, cada conteúdo partilhado é possível de ser comentado

por outros, o que faz com que os comentários sejam considerados pelos autores

FABRÍCIO BENEVENUTO, JUSSARA M. ALMEIDA e ALTIGRAN S. DA SILVA como “o meio

primordial de comunicação em Redes Sociais online, e também podem ser interpretados

como expressão de relações sociais”48.

44 ANA SANCHEZ, ANTÓNIO GRANADO e JOANA LOBO ANTUNES, Redes Sociais para Cientistas, in http://www.unl.pt/data/escola_doutoral/RedesSociaisparaCientistas.pdf, p.16 45 https://www.natanaeloliveira.com.br/a-historia-das-redes-sociais/ 46 FABRÍCIO BENEVENUTO, JUSSARA M. ALMEIDA e ALTIGRAN S. DA SILVA, “ Coleta e Análise de Grandes Bases de Dados de Redes Sociais Online”, Departamento de Ciência da Computação, Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Brasil, p.6 47 FABRÍCIO BENEVENUTO, JUSSARA M. ALMEIDA e ALTIGRAN S. DA SILVA, “ Coleta e Análise de Grandes Bases de Dados de Redes Sociais Online”, Departamento de Ciência da Computação, Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Brasil, p.6 48 FABRÍCIO BENEVENUTO, JUSSARA M. ALMEIDA e ALTIGRAN S. DA SILVA, “ Coleta e Análise de Grandes Bases de Dados de Redes Sociais Online”, Departamento de Ciência da Computação, Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Brasil, p.6

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Além de serem alvos de comentários, também as publicações podem ser

avaliadas por outros utilizadores, que definem a popularidade de uma publicação e por

isso da sua relevância para os demais utilizadores. Redes Sociais como o Facebook e o

Instragram têm esta opção.49

Outro elemento caracterizador de muitas Redes Sociais é a lista de favoritos. Esta

lista facilita a organização dos seus conteúdos assim como o acesso a de outros mais

facilmente. Esta faculdade é prevista em redes como o Orkut ou Twitter. 50

Por fim, os metadados em forma de títulos ou tags, são associados a diversos

conteúdos pelos seus utilizadores, o que facilita a recuperação de conteúdos partilhados

nas Redes Sociais com determinados tags, e assim considerados como principal fonte de

dados 51.

1.3 Privacidade e Segurança

1.3.1- Agregação digital de dossiês

Ao acedermos e registarmo-nos em Redes Sociais disponibilizamos informações

que pensamos que só a Rede Social em causa é que vai ter acesso e que quando nos

apetecer podemos apagar a conta e com isso, todos os dados lá revelados. Mas na

verdade, essas informações podem vir ser armazenadas ao longo do tempo por outras

entidades que em nada se relacionam com a Rede Social em causa.

Essa possibilidade permite a essas entidades criarem dossiês digitais com todos

os dados que foram anexados e até eliminados por nós no nosso perfil, assim como as

ligações estabelecidas com outros utilizadores.52

49 FABRÍCIO BENEVENUTO, JUSSARA M. ALMEIDA e ALTIGRAN S. DA SILVA, “ Coleta e Análise de Grandes Bases de Dados de Redes Sociais Online”, Departamento de Ciência da Computação, Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Brasil, p.7 50 FABRÍCIO BENEVENUTO, JUSSARA M. ALMEIDA e ALTIGRAN S. DA SILVA, “ Coleta e Análise de Grandes Bases de Dados de Redes Sociais Online”, Departamento de Ciência da Computação, Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Brasil, p.7 51 FABRÍCIO BENEVENUTO, JUSSARA M. ALMEIDA e ALTIGRAN S. DA SILVA, “ Coleta e Análise de Grandes Bases de Dados de Redes Sociais Online”, Departamento de Ciência da Computação, Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Brasil, p.7 52 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais-

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O pior é que os dados disponibilizados por nós nas Redes Sociais podem e

costumam até, ser utilizados em contextos bastante diferentes do que era pretendido

inicialmente, o que pode originar desconforto e até ser prejudicial para o respetivo

utilizador. E mesmo sem estar registado na Rede Social onde estão os dados

disponibilizados é possível aceder aos mesmos por pesquisas feitas em qualquer motor de

pesquisa.53

A verdade, é que a informação armazenada numa Rede Social por muito que seja

apagada pelo próprio utilizador, se as informações estiverem associadas a outras

entidades não será possível as remover e o utilizador original perde totalmente o controlo

sobre elas.

1.3.2 - Retenção de dados secundários

O utilizador ao aceder às Redes Sociais permite que o serviço obtenha

informações como: o tempo e quando esteve conectado, a sua localização pelo endereço

IP, o que viu e as mensagens que trocou. Toda esta informação pode ser utilizada em

publicidade dirigida, discriminação (económica) ou até para venda a outras entidades e

empresas 54.

Embora não sendo uma vulnerabilidade só das Redes Sociais, é sem dúvida uma

das formas mais fáceis de encontrar toda a informação possível sobre um utilizador, no

sentido de que nestes casos, o utilizador terá todos os seus dados concentrados no

mesmo operador 55.

53 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais- 54 https://linhaalerta.internetsegura.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=61&Itemid=63&lang=pt 55 https://linhaalerta.internetsegura.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=61&Itemid=63&lang=pt

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1.3.3- Reconhecimento facial

É de conhecimento geral que maior parte das publicações nas Redes Sociais os

utilizadores colocam nas suas fotos de perfil, fotos individuais ou fotos em grupo. Nas

fotos do grupo podem estar conhecidos dos utilizadores como pode acontecer de

aparecerem enquadradas na foto outras pessoas que não são conhecidas do utilizador. Ao

publicarem fotos em que aparecem outras pessoas, e caso conheçam as mesmas, a

tendência é o utilizador identificar a pessoa com os denominados tags, que funcionam

como etiquetas e por isso facilitam a identificação dos indivíduos e possibilitam uma

melhor identificação das relações entre utilizadores. São cada vez mais os algoritmos que

aumentam a eficiência do reconhecimento facial 56.

Nos E.U.A foi criado um dispositivo de reconhecimento facial que é capaz de

identificar pessoas a partir de fotos publicadas em redes sociais. Uns pesquisadores da

Universidade de Camegie Mellon descobriram que é possível identificar pessoas na rua a

partir de fotos disponíveis em Redes Sociais. Usando o arquivo de dados de 25 mil fotos

retiradas de perfis do Facebook, os autores do software identificaram corretamente 31%

dos utilizadores 57. É um tipo de tecnologia que é do interesse da polícia, existindo até um

projeto para que os polícias usem óculos com máquinas fotográficas que enviará imagens

a uma central para fazer o reconhecimento dos criminosos 58.

Outro exemplo de um projeto em desenvolvimento é o chamado NameTag, que

deve ser lançado para Android, IOS e Google Glass e utiliza mais uma vez, o

reconhecimento facial para encontrar pessoas na internet. Basta tirar uma foto com o

telemóvel e enviar para os servidores do NameTag, que irão tentar combinar com milhões

de imagens na internet e encontrar os respetivos perfis de internet 59.

56 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais- 57 http://www.atheniense.com.br/noticias/dispositivos-de-reconhecimento-facial-privacidade-invadida-a-qualquer-custo/ 58 http://www.atheniense.com.br/noticias/dispositivos-de-reconhecimento-facial-privacidade-invadida-a-qualquer-custo/ 59 https://tecnoblog.net/148448/app-nametag-reconhecimento-facial-para-achar-pessoas/

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Embora as vantagens deste tipo de reconhecimento estejam à vista de todos, o

reconhecimento facial apresenta uma série de riscos à privacidade do indivíduo. Começa

a ser possível associar um perfil profissional com o pessoal ou com um anónimo ou

semianónimo utilizado noutro tipo de sites.

1.3.4- Content Based Image Retrieval

Content Based Image Retrieval é a aplicação de técnicas de visão computacional

para o problema de recuperação de imagem, ou seja, o problema da pesquisa de imagens

digitais em grandes bases de dados60. Ao referirmo-nos a “content based” significa que a

pesquisa analisa o conteúdo da imagem, em vez de palavras-chaves, tags ou descrições

associadas com a imagem61. O que é vantajoso porque não depende exclusivamente do

trabalho humano e da sua qualidade. Por sua vez, no Content Based Image Retrieval se

compararmos duas fotografias diferentes, em que ambas vão ter o mesmo

enquadramento/ cenário é possível determinar que aquela fotografia foi tirada naquele

local específico. E daí conseguimos retirar e pesquisar todas as fotografias em que tal

imagem aparece62. Acabando por ser possível descobrir a localização do utilizador e por

isso permitir e facilitar perseguições por demonstrar onde as pessoas se encontram no

seu dia-a-dia como a sua habitação e local de trabalho.

1.3.5- Dificuldades na eliminação de um perfil

Normalmente, para um utilizador eliminar o seu perfil numa Rede Social terá que

ir às definições da conta e dentro desse tópico irá aparecer uma opção a dizer

desativar/cancelar conta. Ao clicarmos vai aparecer uma questão sobre os motivos que

levam ao utilizador fazer essa opção. Bastará escolher o motivo e confirmar a decisão.

60 http://www.igi-global.com/dictionary/content-based-image-retrieval-cbir/5587 61 http://www.igi-global.com/dictionary/content-based-image-retrieval-cbir/5587 62 http://homes.cs.washington.edu/~shapiro/cbir.html

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Depois de todo este processo, vamos verificar que apesar de ter sido fácil eliminar a

página do perfil, não conseguirá eliminar os dados secundários, como por exemplo os

comentários e mensagens aos outros utilizadores.63 Todavia, hoje em dia, existem cada

vez mais programas direcionados para esse objetivo. Temos a versão inglesa, Delete Your

Account, e a versão brasileira Delete sua conta.64 O Delete Your Account oferece duas

opções: a opção de desativar temporariamente um perfil, e que para o reativar basta

aceder novamente ao site e por isso consegue preservar os dados, e a opção de eliminar

definitivamente e aí não terá como recuperar a conta.65

Também, o Accountkiller é um site que pode ajudar os utilizadores a eliminar os

dados pessoais nas Redes Sociais, proporcionando várias instruções para que possam

remover as suas contas na maior parte e nas mais populares Redes Sociais.66

Numa Rede Social como o Facebook, se desativarmos a conta é possível

voltarmos a aceder a qualquer momento e continuam a ser enviados convites e

mensagens para a mesma. Mas se quiser optar por excluir permanentemente também é

possível e aí não vai poder reativá-la nem recuperar qualquer conteúdo do seu perfil, se

bem que o Facebook dá a opção de ter uma cópia das informações antes de eliminar o

perfil 67. Pode ser preciso até um mês para que o perfil desapareça na totalidade e 90 dias

para que todos os dados sejam removidos completamente do sistema 68.

Um dos grandes riscos é o facto de o utilizador deixar de ter controlo dos seus

dados.

63 http://redessociaistic.blogspot.pt/2010/12/dificuldades-em-eliminar-um-perfil.html 64 http://ogestor.eti.br/saiba-como-encerrar-suas-contas-das-redes-sociais/ 65 http://ogestor.eti.br/saiba-como-encerrar-suas-contas-das-redes-sociais/ 66 http://www.maiswebmarketing.com/como-eliminar-as-suas-contas-nas-redes-sociais/ 67 http://www.ehow.com.br/eliminar-perfil-facebook-como_76485/

68 http://www.ehow.com.br/eliminar-perfil-facebook-como_76485/

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1.4- Vulnerabilidades

1.4.1- Relacionadas com a Identidade:

1.4.1.1- Phishing:

O Phishing é uma técnica informática que, através do recurso a sites e e-mails,

visa roubar dados ou informações pessoais, como números de cartão de crédito, senhas,

dados de conta ou outras informações69. Este tipo de ataques tendem a direcionar-se para

as Redes Sociais, pois como são amplamente divulgadas entre a sociedade abarcam um

grande número de utilizadores permitindo atingir mais facilmente um grande número de

vítimas, sem ter que manter muitos sites de phishing diferentes70.

Existem diversos riscos associados ao phishing como: dados de acesso

comprometidos, roubo de identidade, danos financeiros ou danos na reputação. E são

variados os tipos de ataque associados ao mesmo.

Um dos ataques mais populares é o roubo de dados através do uso de mensagens

instantâneas, sendo o meio mais usado o email. Mensagens sobre a necessidade de

verificar as informações da conta, falha do sistema, exigir que os utilizadores reinseriram

as suas informações, os encargos de contas fictícias, mudanças de conta indesejáveis,

novos serviços gratuitos que exijam uma intervenção rápida, são transmitidos a uma

grande grupo de destinatários, com a esperança que os incautos vão responder clicando

num link ou a assinatura num site falso, onde suas informações confidenciais podem ser

retiradas71.

Por sua vez, o Phishing-Based Malware é o uso de software malicioso no

computador dos utilizadores. O malware pode ser introduzida como um anexo de e-mail,

69 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais- 70 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais- 71 http://www.pcworld.com/article/135293/article.html

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como um arquivo para download a partir de um web site, ou através da exploração de

vulnerabilidades de segurança conhecidas72.

Os Keyloggers e os Screenloggers são variedades particulares de malware que

acompanham a entrada do teclado e enviam as informações relevantes para o hacker

através da Internet. Podem incorporar-se em navegadores dos utilizadores, como

pequenos programas utilitários conhecidos como objetos auxiliares que são executados

automaticamente quando o navegador é iniciado, bem como em arquivos de sistema,

como drivers de dispositivo ou monitores de tela 73.

Outro tipo de ataque será o sequestro da sessão, aqui as atividades dos

utilizadores são motorizadas levando a estabelecer, de boa fé, uma contra ou transação

desconhecendo este facto. O software malicioso assume e pode realizar ações não

autorizadas, como a transferência de fundos, sem o conhecimento do utilizador 74.

O envenenamento do arquivo de Hosts-técnica "DNS cache poisoning" dá-se

quando um utilizador digita uma URL para visitar um site, ele deve primeiro ser traduzido

num endereço IP antes de ser transmitido através da Internet. Com o "envenenamento"

do arquivo hosts, os hackers têm um endereço falso transmitido, levando o utilizador a

involuntariamente aceder a um site “fake” parecido com o verdadeiro onde as

informações podem ser roubadas 75.

Nos ataques de reconfiguração do sistema, são modificadas as configurações do

computador do utilizador com a finalidade de conseguir aceder às suas contas nas redes

sociais, ex: Facebook, Twitter.

O Phishing NS-base é um ataque que é mais conhecido por “Pharming”, e que

consiste na modificação do arquivo ou Domain Name System (DNS) à base de phishing.

Com este esquema, os hackers conseguem modificar arquivos hosts de uma empresa ou

sistema de nomes de domínio, de modo que os pedidos de URLs ou serviço de nome de

72 http://www.pcworld.com/article/135293/article.html 73 http://www.pcworld.com/article/135293/article.html 74 http://www.pcworld.com/article/135293/article.html 75 http://www.pcworld.com/article/135293/article.html

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retornar um endereço falso e comunicações subsequentes são direcionados para um site

falso 76.

Já o Content-Injection Phishing trata-se de uma situação em que hackers

substituem parte do conteúdo de um site legítimo com conteúdo falso projetado para

enganar ou desorientar o utilizador a desistir de suas informações confidenciais para o

hacker77.

Por último o Man-in-the-Middle o ataque que é mais difícil de detetar, pois nestes

ataques os hackers posicionam-se entre o utilizador e o site ou sistema legítimo. Eles

registram a informação que foi digitada, mas continuam a transmiti-la de modo que as

transações dos utilizadores não sejam afetadas 78.

1.4.1.2- Serviços distribuidores

1.4.1.2.1- SPAM:

O SPAM consiste no envio de publicidade não solicitada por e-mail ou outra

qualquer via eletrónica.Com o crescimento das Redes Socias os spammers começaram a

apostar nestes serviços para o desenvolvimento das suas atividades, o que veio aumentar

o raio de ação, transpondo um problema que era específico (ou quase) do e-mail para

outros meios 79.

O objetivo desta prática é fazer com que o maior número possível de pessoas

visualize algo, seja um site que está a promover um produto, uma notícia, ou para

qualquer outro fim. O problema é que muitas vezes os Spams vêm acompanhados de um

vírus, que acaba por infetar o computador ou smartphone do utilizador. Para este efeito as

técnicas de Spam mais utilizadas são: os Hoaxes que utilizam a engenharia social e

apelam para que o utilizador os envie "para todos os seus conhecidos" ou "para todas as

76 http://www.pcworld.com/article/135293/article.html 77 http://www.pcworld.com/article/135293/article.html 78 http://www.pcworld.com/article/135293/article.html 79 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais-

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pessoas especiais de sua vida". São histórias falsas, escritas com o intuito de alarmar ou

iludir aqueles que a leem e instigar sua divulgação o mais rapidamente e para o maior

número de pessoas possível 80. Os spams com conteúdo de propaganda são conhecidos

como UCE (Unsolicited Comercial E-mail). A publicidade pode envolver produtos, serviços,

pessoas, sites, etc 81.

O uso de um software especializado (ex: FriendBot) que automaticamente envia

pedidos de amizade e comentários com publicidade. Estas ferramentas utilizam ainda a

pesquisa para que a publicidade que enviam seja a mais dirigida possível 82.

O envio de comentários para perfis de amigos recorrendo à adição de o maior

número possível de amizades no seu círculo de amizade. Tipicamente as ferramentas de

spam angariam o máximo de amigos possíveis, enviando depois o máximo de mensagens

para esses amigos83.

Atualmente já existem diversos programas que ajudam à filtragem do spam

todavia, tendo em conta a quantidade de informação que circula nas Redes Sociais é

complicado fazer um controlo tão apertado.

Assim, são muitos os riscos associados ao spam, tais como a sobrecarga de

tráfego na ligação, perda de confiança no serviço, roubo de identidade ou ainda o próprio

perfil de um utilizador comum pode ser confundido com um perfil de um spammer.

1.4.1.2.2- Agregadores das Redes Sociais:

Os agregadores de Redes Sociais são aplicações que reúnem numa única

apresentação o conteúdo dos serviços das Redes Sociais como o Facebook, Twitter,

ajudando o utilizador a consolidar vários perfis de Redes Sociais num único perfil 84.

Servem para que os utilizadores consigam consolidar mensagens, acompanhar os amigos,

80 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais- 81 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais- 82 http://linhaalerta.internetsegura.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=61&Itemid=63&lang=pt 83 http://linhaalerta.internetsegura.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=61&Itemid=63&lang=pt 84 https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%ADdias_sociais

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combinar marcadores, pesquisar em vários sites de Redes Sociais, ver quando seu nome

é mencionado em vários sites, aceder aos seus perfis a partir de um único interface.85

Os agregadores das Redes Sociais funcionam através de interfaces aplicativos,

sendo que o utilizador terá de dar permissão para plataforma de agregação social,

especificando user-id e senha da Rede Social a ser distribuído. Estes agregadores são uma

técnica relativamente recente, sendo que os exemplos mais conhecidos são Snag, o

ProfileLinker ou o Spindex86.

São muitos as vulnerabilidades associadas a este tipo de software. Desde já o

facto de que para acedermos a todas as Redes Sociais agregadas ser apenas necessário

uma única password, o que pode levar a uma quebra da autenticação. Com esta quebra,

os perfis das Redes Sociais podem sofrer os mais diversos ataques como o phishing,

como a criação de zombies (em que as contas são controladas e utilizadas para atividades

maliciosas) e sobretudo a perda da privacidade.

1.4.1.3- Cross Site Scripting (XSS), Vírus e Worms

Grande parte das Redes Sociais permite aos seus utilizadores publicar, quer nos

seus perfis, quer nos comentários, conteúdos em HTML.

Como tal, as Redes Sociais são particularmente vulneráveis a ataques de Cross

Site Scripting (XSS). Esta vulnerabilidade é causada pela falha nas validações dos

parâmetros de entrada do utilizador e resposta do servidor na aplicação web. Este ataque

permite que código HTML seja inserido de maneira arbitrária no navegador do utilizador

alvo 87.

Tecnicamente, este problema ocorre quando um parâmetro de entrada do

utilizador é apresentado integralmente pelo navegador, como no caso de um código

85 https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%ADdias_sociais 86 http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/spindex-o-agregador-de-redes-sociais-da-microsoft-1435647 87 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais-

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javascript que passa a ser interpretado como parte da aplicação legítima e com acesso a

todas as entidades do documento.

O responsável pelo ataque executa instruções no navegador da vítima usando um

aplicativo web vulnerável, modificar estruturas do documento HTML e até mesmo utilizar o

golpe para realizar fraudes como phishing.

Já os vírus são pequenos programa de software que se propagam de um

computador para outro, interferindo com o seu funcionamento, podendo danificar ou

eliminar dados armazenados num computador, utilizar um programa de correio eletrónico

para propagar o vírus para outros computadores ou mesmo eliminar tudo o que está

armazenado no disco rígido 88.

Os vírus informáticos propagam-se frequentemente através de anexos em

mensagens de correio eletrónico ou através de mensagens instantâneas nos chats (ex:

Facebook) ou ainda através de transferências na Internet 89.

Os worms são códigos informáticos que se propagam sem interação com um

utilizador. O worm analisa o computador infetado quanto a ficheiros, tais como livros de

endereços ou páginas Web temporárias, que contenham endereços de correio eletrónico e

utiliza os endereços para enviar mensagens de correio eletrónico infetadas, e

frequentemente imita (ou comete fraude) dos endereços "De" em mensagens de correio

eletrónico posteriores, de modo a que essas mensagens infetadas aparentem ser de

alguém que conhece 90.

De seguida propagam-se automaticamente através de mensagens de correio

eletrónico, redes ou vulnerabilidade de sistemas operativos, frequentemente

manifestando-se nesses sistemas antes da causa ser conhecida. De mencionar que nem

sempre são destrutivos nos computadores, mas geralmente conduzem a problemas de

desempenho e estabilidade do computador e da rede 91.

88 http://www.webopedia.com/DidYouKnow/Internet/virus.asp 89 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais- 90 http://www.webopedia.com/DidYouKnow/Internet/virus.asp 91 http://www.webopedia.com/DidYouKnow/Internet/virus.asp

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Estas vulnerabilidades aparecem nas Redes Sociais devido ao mau

desenvolvimento, no que toca à segurança, deste tipo de serviço, muitas vezes

pressionado pelo lucro em que as etapas de desenvolvimento e teste têm prazos

extremamente curtos.

São muitas as consequências advindas destas vulnerabilidades como o sequestro

de sessão do utilizador; alteração do código HTML da aplicação (visível somente do lado

do cliente); redirecionar o utilizador para sites maliciosos; ou ainda a alteração do objeto

DOM para captura de dados ou envio de malware.

1.5- Síntese:

Embora, tenhamos enunciado variadas vulnerabilidades das Redes Sociais, as

mesmas terão consequências em nada favoráveis ao utilizador.

Nas Redes Sociais facilmente se cria um perfil falso, um perfil que não

corresponde à verdadeira identidade do seu utilizador/criador. Isto torna que seja

complicado verificar a autenticidade dos perfis existentes. Por exemplo, a mesma figura

pública pode ter variados perfis e nenhum corresponder à verdadeira pessoa. Os perfis

falsos criam diversos riscos à identidade das pessoas como a possível difamação,

sobretudo quando se tratam de figuras públicas, chantagem ou ainda ataques de

phishing. Este fenómeno tem tido um crescimento nos últimos anos, todavia há que ter

em conta que não existe um tipo legal de crime para este tipo de vulnerabilidade, podendo

estas situações serem enquadradas em tipos legais de crime como injúria/difamação,

devassa da vida privada por meio informático, falsidade informática e divulgação ilícita de

fotografias ou filmes.

Em muitas Redes Sociais temos a possibilidade de informações sensíveis poderem

estar apenas disponíveis para utilizadores que se concentram dentro de círculos de

amizade, como por exemplo os grupos “privados” e “secretos” do Facebook. Embora

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estes dados estejam neste círculo restrito, existe a possibilidade de algum utilizador

conseguir aceder a estes grupos, sob falsos pretextos. Existem outras técnicas nas Redes

Sociais, como o Friendbot ou o FriendBlasterPro, que através da utilização de scripts ou

software especializado, fazem convites de amizade automáticos e em grande escala.

Recentemente, foi feita uma experiência pela empresa SOPHOS, ligada à segurança das

IT, em que foi criado um perfil denominado ‘Freddi Staur’ (anagrama para ‘ID Fraudster’)

apenas com uma imagem com um sapo e sem qualquer outra informação e foi enviado

um pedido de amizade deste perfil para 200 utilizadores. Destes, 87 aceitaram o pedido e

82 divulgaram informações pessoais (72% divulgaram um ou mais endereços de email e

84% divulgaram a sua data de nascimento). Esta experiência demonstra que os

utilizadores das Redes Sociais não detêm cuidados acrescido quando se trata de adicionar

novos “amigos” que irão poder visualizar as suas informações pessoais, colocando em

risco os seus dados (ex: envio de spam, possível ataque de phishing)92.

É também, bastante comum, a utilização da ferramenta de pesquisa nas Redes

Socias para procurar funcionários ou antigos funcionários de uma empresa para que estes

revelem dados sobre as empresas em causa. Informações como cargos de um dado

utilizador, clientes ou potenciais negócios e até informações cobre a infraestrutura

informática da empresa são bastante habituais. O que pode originar à perda de

propriedade intelectual de uma empresa, ataques à rede empresarial e até chantagem ao

funcionário para que revele dados sensíveis de clientes ou até acesso informático e físico

da empresa.

1.6- Recomendações

Depois da análise feita das vulnerabilidade das Redes Sociais e dos riscos que daí

advêm torna-se necessário referir certas recomendações que serão fundamentais para a

prevenção do utilizador. Regras essas como: não fornecer inadvertidamente dados

pessoais, não aceitar pedidos de amizade se não conhecer a pessoa ou se o conteúdo da

92 http://fe02.cert.pt/index.php/recomendacoes/1225-cuidados-em-redes-sociais-

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página o deixar desconfortável, não responder a comentários ou conteúdos ofensivos,

relembrar sempre que os dados não são privados, colocar os perfis como privados, não

aceitar conhecer os amigos virtuais pessoalmente, ter cuidado com as fotografias, não

colocar informações sobre terceiros, não deixar que os serviços das redes sociais

percorram a lista de endereços dos utilizadores, introduzir o endereço do site da Rede

Social diretamente no browser ou então marcadores pessoais e não aceder ao perfil do

usuário no local de trabalho 93.

Por fim, e talvez o mais importante, consultar sempre os termos e as politicas de

privacidade da Rede Social que o utilizador aceder.

1.7- Uma questão de marketing

1.7.1- Marketing empresarial

HENRIQUE CESAR NANNI e KARLA VAZ SIQUEIRA CAÑETE apresentam no seu

trabalho “A Importância das Redes Sociais como Vantagem Competitiva nos Negócios

Corporativos”, uma definição de Marketing defendida por RICHERS diferente da

tradicional, define “marketing como sendo as atividades sistemáticas de uma organização

humana voltada à busca e realização de trocas para com o seu meio ambiente, visando

benefícios específicos.”, definição por nós também apoiada 94. Há ferramentas

indispensáveis para uma boa gestão de marketing. É preciso identificar um produto que

consideremos ideal para lançar no mercado, é ainda necessário saber a opinião do

público em geral, assim como saber as falhas que o mesmo terá na sua distribuição e

produção.95 É o público que determina o sucesso de uma empresa, marca ou produto.

Mas para isso é preciso fazer chegar o produto ao público. É com este intuito que as

empresas começam a apostar nas Redes Sociais como meio para celebrar negócios, 93 ANA PAULA TAVARES, LURDES XAMBRA, EDUARDO ROQUE, ”TecnIC – Tecnologias de Informação e Comunicação- 7º/8º anos”, Raiz Editora, 2015 94 HENRIQUE CESAR NANNI e KARLA VAZ SIQUEIRA CAÑETE, “A Importância das Redes Sociais como Vantagem Competitiva nos Negócios Corporativos”, VII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração in http://www.convibra.com.br/upload/paper/adm/adm_982.pdf 95 HENRIQUE CESAR NANNI e KARLA VAZ SIQUEIRA CAÑETE, “A Importância das Redes Sociais como Vantagem Competitiva nos Negócios Corporativos”, VII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração in http://www.convibra.com.br/upload/paper/adm/adm_982.pdf

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cultivar o interesse e curiosidade do público, criando um novo tipo de mercado online. O

facto de haver um feedback instantâneo torna tudo mais interessante e fácil, se até aqui o

tempo era um entrave deixou de o ser com esta possibilidade, o que torna as redes

sociais a serem ferramentas imperativas neste mundo cada vez mais competitivo 96.

Funcionando como uma espécie de focus group que poderá originar uma melhoria

significativa no produto, preço, e outros aspetos condicionantes para o consumidor 97.

Na verdade, outra vantagem é que se antigamente as empresas precisariam de

negociar contratos valiosos com empresas de cartões de crédito, agora eles conseguem

ter a seu dispor os mesmos dados sem qualquer custo apenas pelas informações

impostas nos perfis dos utilizadores 98. São os próprios clientes do produto que

disponibilizam as informações sem qualquer incómodo ou transtorno no seu quotidiano. É

o usuário que tem ao seu dispor a privacidade que pretende ter no seu perfil, os dados

pessoais devem ser analisados como padrões e não recolhidos individualmente 99.

A verdade é que, as pessoas tendem a confiar mais facilmente na opinião e nos

comentários de pessoas comuns que já usufruíram do produto do que de especialistas

contratados pela empresa, e as Redes Sociais tornam isso possível 100.

As Redes Sociais revolucionaram o marketing e o mundo do trabalho, sendo

preciosas ferramentas para estes dois mundos, e vistas como habilitações necessárias

para futuros trabalhadores 101.

E são notórios os benefícios que a utilização de Redes Sociais acarreta para as

marcas: menos despesa, maior exposição, na medida em que as empresas deixaram de

96 HENRIQUE CESAR NANNI e KARLA VAZ SIQUEIRA CAÑETE, “A Importância das Redes Sociais como Vantagem Competitiva nos Negócios Corporativos”, VII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração in http://www.convibra.com.br/upload/paper/adm/adm_982.pdf 97 NUNO GONÇALO HENRIQUES DA ROSA , “O impacto das redes sociais no marketing: perspetiva portuguesa”, i n http://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/2443/1/Main.pdf 98 HENRIQUE CESAR NANNI e KARLA VAZ SIQUEIRA CAÑETE, “A Importância das Redes Sociais como Vantagem Competitiva nos Negócios Corporativos”, VII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração in http://www.convibra.com.br/upload/paper/adm/adm_982.pdf 99 HENRIQUE CESAR NANNI e KARLA VAZ SIQUEIRA CAÑETE, “A Importância das Redes Sociais como Vantagem Competitiva nos Negócios Corporativos”, VII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração in http://www.convibra.com.br/upload/paper/adm/adm_982.pdf 100 HENRIQUE CESAR NANNI e KARLA VAZ SIQUEIRA CAÑETE, “A Importância das Redes Sociais como Vantagem Competitiva nos Negócios Corporativos”, VII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração in http://www.convibra.com.br/upload/paper/adm/adm_982.pdf 101 HENRIQUE CESAR NANNI e KARLA VAZ SIQUEIRA CAÑETE, “A Importância das Redes Sociais como Vantagem Competitiva nos Negócios Corporativos”, VII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração in http://www.convibra.com.br/upload/paper/adm/adm_982.pdf

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se limitar a simples localidades para passarem a expor-se globalmente, uma maior

conexão com os consumidores o que gerará um aumento de vendas.102

1.8- Uma forma de recrutamento

À medida que as Redes Sociais vão evoluindo, as empresas sentem a necessidade

de evoluir inevitavelmente. É imprescindível que as empresas passem por processos de

mudança para se manterem a par das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação

e consequentemente que introduzem as Redes Sociais nos seus processos de

organização. Há que acompanhar a evolução tecnológica e também social para manter a

competitividade da empresa.

As Redes Sociais têm vindo a criar e a manter uma relação de proximidade entre

futuros funcionários e por isso candidatos e as empresas, futuras entidades patronais 103.

Por isso, as empresas ao longo destes anos, tem-nos apresentado outra forma de

recrutamento. O recrutamento online realiza-se através da internet com sistemas de

comunicação capazes de receber candidaturas e realizar triagens dos candidatos com

base nos requisitos pretendidos no caso, e cria uma base de dados atualizada com

avaliação inserida 104. O facto de este tipo de recrutamento apresentar custos mínimos, e

de mesmo assim, ter uma maior repercussão a nível global do que um anúncio num

jornal local, e ainda conseguir selecionar candidatos através de uma pesquisa mais

especifica e selecionada devido a perfis mais concretos e precisos dos candidatos, assim

como os próprios candidatos receberem só as vagas adequadas consoante os seus perfis,

e o diminuto período de tempo em que o anúncio fica disponível ao público, leva com que

o recrutamento online se apresente como uma solução mais fiável e popular que o modo

tradicional. Porém, não se pode excluir o modo tradicional. Afinal, não são só vantagens

102 HENRIQUE CESAR NANNI e KARLA VAZ SIQUEIRA CAÑETE, “A Importância das Redes Sociais como Vantagem Competitiva nos Negócios Corporativos”, VII Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração in http://www.convibra.com.br/upload/paper/adm/adm_982.pdf 103 ANA FILIPA PINHO GOMES, “Recrutamento nas Redes Sociais Online”, Abril, 2011, in https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/3394/1/Recrutamento%20redes%20sociais%20on-line.pdf, p.33 104 ANA FILIPA PINHO GOMES, “Recrutamento nas Redes Sociais Online”, Abril, 2011, in https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/3394/1/Recrutamento%20redes%20sociais%20on-line.pdf, p.34

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que nos são apresentadas com o recrutamento online. Os candidatos no seu perfil não

dispõem de informações apenas profissionais, há muitos dados pessoais e que não

deveriam ser fatores para a concretização de um contrato de trabalho. É urgente, que os

utilizadores das Redes Sociais/ candidatos compreendam a importância de perceber

quais as informações devem estar presente no contrato de trabalho, ou então do grau de

privacidade do seu perfil, de forma a gerirem as suas reputações online.

O desenvolvimento das carreiras através da Redes Sociais tem sido notório, quer

seja pela formação de vários contactos profissionais, quer pelo facto de haver uma maior

interação entre os utilizadores das mesmas, o que permite uma maior troca de ideias e

informações, de entre e ajuda, o que os torna funcionários mais competentes.105106

E sem esquecer, que embora seja raro, ainda existem pessoas que não têm

acesso às Redes Sociais, e, que por isso, não podem ser marginalizadas dos outros. E por

isso, não ser visto como o único método de recrutamento possível.107

105 ANA FILIPA PINHO GOMES, “Recrutamento nas Redes Sociais Online”, Abril, 2011, in https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/3394/1/Recrutamento%20redes%20sociais%20on-line.pdf, 106 ANDREW SHIPILOV, GIUSEPPE LABIANCA, VALENTYN KALNYSH, YURI KALNYSH, “Network-building behavioral tendencies, range, and promotion speed”, in CrossMark 107 ANA FILIPA PINHO GOMES, “Recrutamento nas Redes Sociais Online”, Abril, 2011, in https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/3394/1/Recrutamento%20redes%20sociais%20on-line.pdf, p.34

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II CAPITULO- O CONTRATO DE TRABALHO

2.1- O Conceito

O Código Civil no seu artigo 1152º apresenta um conceito de contrato de trabalho

diferente do que o conceito apresentado pelo legislador no artigo 11º do Código de

Trabalho. Define assim, este tipo de contrato como “aquele pelo qual uma pessoa se

obriga, mediante retribuição, a prestar a sua atividade intelectual ou manual a outra

pessoa, sob a autoridade e direção desta”108, é um negócio jurídico bilateral, celebrado

normalmente entre o trabalhador e o empregador, podendo ser uma situação de

pluralidade de empregadores, nos termos do artigo 101º do CT109. Como qualquer

contrato, está sujeito ao regime geral do negócio jurídico, nos termos dos artigos 217º e

ss do CC, dos contratos em geral, artigos 405º e ss do CC, do cumprimento das

obrigações, artigos 762º e ss do CC e do não cumprimento das obrigações, artigos 798º e

ss do CC110. Mas com a definição apresentada pelo artigo 1152º do CC verificamos que

existem três elementos essenciais a este tipo de contrato que são: a prestação de uma

atividade, subordinação jurídica e retribuição111. Ou seja, é pressuposto do contrato de

trabalho a existência de uma retribuição, e uma subordinação jurídica, em que a atividade

exercida é sob a orientação, ordens e diretrizes do empregador112. Podemos definir como

objeto do contrato de trabalho a exigência de prestação de uma atividade, ou seja, o

trabalhador, em consequência do contrato estabelecido, obriga-se a prestar uma

atividade, seja a mesma intelectual ou manual113. Desta forma, o trabalhador terá que agir

em função do objetivo pretendido, cumprindo a sua atividade, conforme o artigo 1152º do

CC, quando remete todas as suas forças, físicas e intelectuais, em benefício do

108 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003 p. 96 109 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003 p. 96 110 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003 p. 96 111 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003 p. 96 112 AMADEU GUERRA, “As novas tecnologias e o controlo dos trabalhadores através de sistemas automatizados. As alterações do Código de Trabalho”, in A PRIVACIDADE NO LOCAL DE TRABALHO, Almedina, p.21 113 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003 p. 96

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empregador114. Esta atividade apresenta uma natureza contínua, e por consequência, o

trabalhador executa a mesma por um determinado período de tempo115. Não cabe ao

trabalhador garantir um resultado, mas sim cumprir com a sua atividade, cabendo por sua

vez ao empregador o risco de não vir a ter garantido um possível resultado mesmo com a

execução da atividade por parte do trabalhador116. Para que o trabalhador execute a sua

atividade, ao empregador é exigido que retribua como contrapartida pela mesma, no

sentido de o artigo 258º, n.º1 do CC117. Nos termos do artigo 259º nº1 do CC, a

retribuição deve ser pecuniária no seu todo ou parcialmente, referindo o nº2 do presente

artigo, que caso não seja, a parte não pecuniária deve ser avaliável em dinheiro, podendo

ser uma retribuição variável (artigo 261º do CT) mas sujeita a mínimos legais (artigo 273º

nº1)118. Também este elemento é considerado uma prestação duradoura, com natureza

periódica e que é renovável sucessivamente, de acordo com o artigo 258º nº2 do CC.

É do interesse da presente dissertação, abordar de uma forma sintética o terceiro

elemento essencial apresentado, que é a subordinação jurídica, sendo o elemento com

maior enfâse ao longo da mesma. Esta subordinação é resultado de o trabalhador estar

sob a autoridade e direção do empregador. A subordinação jurídica resume-se a uma

relação de dependência entre a conduta pessoal do trabalhador na execução do contrato e

as directrizes ditadas pelo empregador, limitadas pelo contrato de trabalho e as normas

que o regem 119.

O poder de obediência do trabalhador tem como principal objetivo, LUÍS MANUEL

TELES DE LEITÃO, “individualizar a prestação do trabalhador, concretizando a atividade a

desenvolver (artigo 97º) e um dever de obediência do trabalhador às ordens do

empregador (artigo 128,nº1, e))”120. Há ainda, um dever disciplinador do empregador, nos

termos do artigo 98º, podendo desta forma sancionar qualquer atividade contrária do

trabalhador em relação às orientações dadas pelo empregador ou em qualquer infração

114 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 115 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003 p. 97 116 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003 ,p. 96-97 117 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 97 118 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 97-100 119 MONTEIRO FERNANDES, “Direito do Trabalho”, Almedina, 16.ª ed., Coimbra, 2012, pp. 196-204

120 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 97

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disciplinar, nos termos do artigo 328º, sendo que a conjugação destes poderes origina a

subordinação jurídica relevante para o contrato de trabalho.

Para além, destes elementos apontados como essenciais, o contrato de trabalho

apresenta características qualificativas do mesmo. O contrato de trabalho é reconhecido

pela lei e regulado pelo Código de Trabalho, sendo assim, um contrato nominado e

típico121. Por outro lado, embora representado e reconhecido no CT, não é um contrato

formal, já que não é lhe carecida nenhuma forma especial, nos termos do artigo 110º do

CT que conjugado com o artigo 219º do CC, não necessita de qualquer forma para ser

considerado válido, o que não invalida que haja contratos de trabalho em especial que

demandem forma escrita, como por exemplo, os contratos com trabalhador estrangeiro

(artigo 5º, nº1 CT), o com pluralidade de empregadores (artigo 101º nº2), a termo (artigo

141º nº1), a tempo parcial (artigo 153º nº1), entre outros122.

É um contrato que origina obrigações para ambas as partes. O trabalhador tem a

obrigação de prestar atividade, nos termos dos artigos 115º e ss do CT, e o empregador

tem a obrigação de pagar a retribuição pelo trabalho realizados, artigos 127º, nº1, b) e

258º e ss do CT123. Não menos importantes, existem ainda obrigações acessórias de

conduta que têm como principio base, o principio da boa fé, nos termos do artigo 126º

nº1 do CT124. É reconhecida a importância do empregador respeitar o trabalhador,

tratando com urbanidade e probidade, no sentido do artigo 127º nº1 a), além de lhe

proporcionar boas condições para a prática da sua atividade, artigo 127º nº1 c), entre

outros reconhecidos e expressos no artigo 127º do CT125. Ao empregador cabe então

respeitar o trabalhador enquanto cidadão comum, e, assim, todos os direitos

fundamentais do mesmo. Não são retirados ao trabalhador, esses mesmos direitos

quando assina o contrato de trabalho, e por essa razão, é que o legislador sentiu essa

necessidade de expressar no Código de Trabalho isso mesmo. Esta obrigação também

será a do trabalhador para com os seus superiores hierárquicos (artigo 128º nº1 a)),

além de ter ainda a obrigação de obediência e lealdade para com o seu empregador

121 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 98 122 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 98 123 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 98 124 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 98 125 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 98

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(artigo 128 nº e) e f))126. São deveres imperativos para uma relação de respeito e

confiança entre as partes.

Como foi referido, pelo facto de o empregador pagar uma retribuição pelo trabalho

prestado pelo trabalhador, faz com que não seja possível caracterizar o contrato de

trabalho como gratuito, e nem isso seria permitido, sendo assim um contrato oneroso127.

E por isso, será também um contrato sinalagmático. Há obrigações reciprocas, que estão

ligadas entre si em termos causais no momento da celebração do mesmo, e no momento

de execução.128 É também um contrato de execução continuada, podendo ou não ser

estabelecido prazo ou termo, respeitando ainda o princípio da segurança no emprego e

assim o artigo 53º da CRP129.

Por fim, é um contrato intuitu personae, ou seja, as partes são vistas pelas suas

qualidades130. O empregador quando contrata o trabalhador em questão, avalia as suas

capacidades, o seu perfil pessoal e profissional, as suas qualidades profissionais e

pessoais que possam interessar para a atividade a desempenhar131. E por sua vez, o

trabalhador analisará o empregador e as condições de trabalho que ele assegura. Uma

das consequências desta característica é que o erro na pessoa gera a anulabilidade do

contrato, ou seja este erro incide sobre os motivos que levaram ao empregador contratar o

trabalhador que poderá originar a anulabilidade com fundamento nos artigos 251º e 247º

do CC132.Outra será o caracter infungível da prestação do trabalhador, que não poderá ser

substituída, nos termos do artigo 767º nº2 do CC, e assim a ausência do trabalhador não

poderá ser considerada falta ao serviço, pelo artigo 248º nº1 do CT133. Porém, salvo tenha

faltas justificadas, o trabalhador não terá direito a contrapartida financeira caso haja

impossibilidade subjetiva de prestar a sua atividade, nos termos dos artigos 791º e 795º

nº1 CC e 255º CT. Caso a impossibilidade seja absoluta e definitiva, há caducidade do

contrato, nos termos do artigo 343º b) do CT. Esta característica terá como exceção casos

em que o respetivo contrato se transmita para o adquirente, previsto no artigo 285º do

126 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 99 127 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 99 128 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p. 99 129 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 100 130 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 101 131 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 101 132 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 101 133 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003 p. 102

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CT, ou quando o empregador morra e tenha sucessores para continuarem a atividade ou

por transmissão do estabelecimento, artigo 346º nº1 do CT, ou em caso de trabalho

temporário se o contrato cessar ou o trabalhador se ausentar, artigo 188º do CT.134

2.2 – O Trabalhador

2.2.1- Deveres

Conjugando o artigo 1152º do C.C e o artigo 11º do CT, conseguimos perceber

que o trabalhador será alguém que presta uma atividade a outra ou outras pessoas, sob

direção das mesmas, em contrapartida de uma retribuição.135 Analisando ainda o artigo

11º do CT, é-nos indicado que só as pessoas singulares poderão celebrar contratos de

trabalho na qualidade de trabalhador, o que não é possível às pessoas coletivas136.

O principal dever de um trabalhador é a prestação do trabalho, prestação, essa

que é o objeto do contrato de trabalho e que corresponde à atividade para qual ele foi

contratado, e que se encontra regulada pelos artigos 115º e ss e 193º e ss 137. Não basta

que estejam presentes, é necessário que cumpra ao que foi contratado com todo o zelo,

cuidado e diligência possível, nos termos do artigo 128º, nº1 c), caso contrário é dado

como incumprimento do mesmo.138 E em concordância com o principio da boa fé existem

ainda deveres acessórios que zelam o cumprimento da prestação laboral139. Estes deveres

acessórios dividem-se em dois grupos segundo a classificação de ROSÁRIO RAMALHO140 e

será a classificação que iremos adotar. Um grupo denomina-se como deveres acessórios

integrantes e consideram o modo como essa prestação é realizada, são deveres como de

134 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 102 135LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 129 136 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p. 130 137. LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p.229 138LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p. 230 139LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 231 140 MARIA ROSÁRIO RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II – Situações Laborais Individuais, Almedina, 4.ª ed., Coimbra, 2012, p.411

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obediência, PAULO SOUSA E CUNHA141, ”respeitante à execução ou disciplina do

trabalho, bem como a segurança e saúde no trabalho que não sejam contrárias aos seus

direitos e garantias”, pontualidade e assiduidade, zelo e melhoria da produtividade.142O

outro grupo denomina-se por deveres acessórios autónomos da prestação principal e que

são independentes da realização da atividade laboral e que por isso mantêm-se mesmo

depois de extinta a relação laboral, são deveres como de informação, proteção e lealdade,

pela qual se traduz em deveres de não concorrência e de sigilo profissional143, e que tem

como expressão o principio da boa fé contratual144.

Porém, é importante realçar que se por um lado o trabalhador celebrou um

contrato de trabalho e por isso está à disposição do empregador no que toca à força de

trabalho, por outro lado, o trabalhador não colocou à disposição a sua pessoa, mantendo

assim os seus direitos, liberdades e garantias.145

2.2.2- Direitos

2.2.2.1- Direito à Privacidade

O direito à intimidade e vida privada estão intimamente ligados à personalidade,

sendo o direito que cada pessoa tem de conseguir decidir por si só o que deve ou não

deve ser partilhado com terceiros, permitindo ao indivíduo o controlo da sua vida e

experiências nas esferas em que não é permitida uma intromissão, nem por parte do

Estado, nem por parte de outrem. Este direito aparece no ordenamento jurídico português

nos artigos 26º CRP e 70º CC.

“A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da

personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à

141 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 142LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p. 233 143 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003, p. 237 144 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 145 AMADEU GUERRA, “As novas tecnologias e o controlo dos trabalhadores através de sistemas automatizados. As alterações do Código de Trabalho”, in A PRIVACIDADE NO LOCAL DE TRABALHO, Almedina, p.23

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palavra, à reserva da intimidade privada e familiar e à proteção legal contra quaisquer

formas de discriminação”146, artigo 26º, nº1 da CRP. Segundo GOMES CANOTILHO e

VITAL MOREIRA, o legislador resolveu reunir num só artigo nove direitos distintos,

sublinhando o carácter comum dos mesmos que consiste “ em todos eles estarem

diretamente ao serviço da proteção da esfera nuclear das pessoas e da sua vida,

abarcando fundamentalmente aquilo que a literatura juscivilista designa por direitos de

personalidade”147. Também de acordo com estes dois autores, o direito à reserva da

intimidade da vida privada e familiar divide-se em dois direitos menores: o direito a

impedir o acesso de estranhos a informações sobre a vida privada e familiar e o direito a

que ninguém divulgue as informações que tenha sobre a vida privada e familiar de

outrem148. E temos ainda outros direitos fundamentais que funcionam como segurança

deste: é o caso do direito à inviolabilidade do domicílio e correspondência (art. 34º da

CRP149, e o da proibição de tratamento informático de dados referentes à vida privada (art.

35º,n.º 3 da CRP)150. Também para estes autores, não é fácil separar a fronteira entre o

campo da vida privada e familiar, que desfruta de reserva de intimidade, e a fronteira da

vida pública. Há doutrina e jurisprudência151 que distinguem entre esfera pessoal íntima152

e esfera privada simples153, distinção que não parece relevante à face deste preceito da

CRP.

Ainda, “a proteção de intimidade da vida privada assume expressões ou

dimensões relevantíssimas no âmbito das relações jurídico-laborais”154. Deste modo, para

que o empregador tenha acesso a informações relativas à vida privada e familiar do

trabalhador tem que obedecer um procedimento justo de recolha dessas informações155 e

146 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora 147 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora 148 Conforme CC, art. 80º. 149 Direitos que irão ser analisados mais à frente. 150 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora 151 Conforme AcTC nº 454/93 152 Que segundo o AcTC nº454/93 é absolutamente protegida. 153 Que segundo o AcTC nº454/93 é apenas relativamente protegida, podendo ceder perante conflito com outro interesse ou bem público. 154 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora 155 Assim, o empregador para obter tais informações deve obtê-las através de um médico sujeito ao dever de sigilo, cfr. J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora

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à observância estrita do princípio da proibição do excesso156 para o exercício de

determinadas atividades157.

2.2.2.1.1- Evolução

Contudo, as referências a este princípio advêm já desde a Antiguidade Clássica.

Também nesta época existiam conflitos entre as duas esferas. Porém, o valor da

comunidade era de tal forma alto que se sobrepunha à esfera da reserva da vida

pessoal158.Autores clássicos, como JURGEN HABERMAS e ARISTÓTELES, definiam a

esfera da pólis como a esfera comum que era separada da oikos, onde cada pessoa tinha

uma esfera própria. Aristóteles, na sua obra Ética a Nicomano, afirmava, e agora nas

palavras de TERESA COELHO MOREIRA, a “repugnância que representava a intromissão

na vida privada de cada um”159.

Já no século XIII, SÃO TOMÁS DE AQUINO defendia que “a intimidade é o núcleo

mais oculto das pessoas, e só quando esta intimidade é tornada pública pela pessoa é

que pode ser julgada e valorada pelos outros; mas se é manifestada em segredo a outra

pessoa, há que continuar a respeitá-la”160.

O processo de Contra-Reforma, que conduziu à separação do poder político, e o

reconhecimento normativo da inviolabilidade do domicílio e o do segredo das

comunicações, foram marcos essenciais na evolução do direito à privacidade que

aconteceram na Idade Moderna161.

156 Nesse seguimento, o empregador só deve aceder às informações necessárias, adequadas e proporcionais para o exercício de determinada atividade., in J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora 157 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora 158 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.110 159 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.110 160 JOÃO TOMÁS DE AQUINO, citado em TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.111 161 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.112

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JOHN LOCKE, HOBBES E STUART MILL, concederam ao Homem, um conceito de

privacidade em que ele é soberano, o que levou a que muitos afirmassem a importância

do pensamento/ ideologia anglo-saxónica na elaboração da atual noção de intimidade.162

Foi em 1890, que surgiu a primeira designação do direito à privacidade. SAMUEL

D. WARREN e LOUIS D. BRANDEIS, com o estudo The Right to Privacy, estabeleceram um

limite jurídico às intromissões da imprensa na vida privada163. O “right to be let alone” foi

criado com o objetivo de, ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA E SUSANA DE CARVALHO

AMADOR, “proteger da curiosidade popular variadas dimensões da personalidade”164.

Sendo que é cada individuo que deve determinar os limites para a exposição da sua vida,

cabendo à lei proteger os mesmos, assegurando a privacidade e intimidade de cada

um165.

Ainda a evolução das NTIC não se tinha feito sentir, e ainda que fosse a imprensa

o principal ataque à privacidade, já SAMUEL D. WARREN e BRANDEIS, tinham tentado

prevenir para a repercussão que as evoluções e criações tecnológicas poderiam ter na

privacidade dos indivíduos166.

O séc. XX marcou a evolução tecnológica, com alterações verdadeiramente

impressionantes, que puseram em risco a privacidade e intimidade dos seus utilizadores.

Inovações que não passaram ao lado do quotidiano das pessoas, levando a reformularem

um novo conceito de privacidade. Para JANUÁRIO GOMES167, e nas palavras de TERESA

COELHO MOREIRA, “o século XX foi pródigo na criação e desenvolvimento de técnicas de

registo, comunicação e observação que colocaram em risco a salvaguarda da

privacidade”168.

162 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.113 163 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.43 164 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 165 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 166 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.119 167 JANUÁRIO GOMES, “O problema da salvaguarda da privacidade antes e depois do computador” , in BMJ, nº319, 1982, p.34 168 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.45

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Com os anos, a tecnologia foi evoluindo sensivelmente, e com isso alteraram-se

condições sociais, políticas e económicas, alterações difíceis de acompanhar pelo Direito,

e em especial o direito à privacidade que ficou exposto a diversas lacunas, necessitando

de reforçar a sua posição e proteção como direito fundamental. Há uma nova

reformulação do conceito deste direito.169

As NTIC contribuíram para uma privacidade mais frágil, estando exposta aos

ataques de terceiros, com a recolha, elaboração, tratamento e interconexão de dados, e

embora sejam bastantes populares e por isso utilizadas pelo cidadão comum, passaram a

ser temidas por aqueles que estavam cientes dos seus perigos. É perante este receio que

o Direito vai encontrar o seu papel de regularizador e apaziguador das massas170.

E com o surgimento e posterior aumento do número das Redes Sociais há uma

maior troca de informações podendo, TERESA COELHO MOREIRA; “falar-se quase de uma

transparência total, já que se trata quase de um contrato sinalagmático pois se as pessoas

têm acesso a esta rede mundial de forma gratuita, a contrapartida é que cedam um

enorme número de informação pessoa e acesso aos amigos e, a maior parte das vezes,

aos amigos dos amigos”171.

No entender de JOSÉ LUIS GOÑI SEIN172, o direito à privacidade comporta agora

um duplo âmbito de proteção: um mais reduzido, relativo à intimidade pessoal em strictu

sensu, implicando um poder de decisão sobre o seu próprio corpo e que fica afetado

quando por exemplo, se impõe a uma pessoa uma intervenção médica realizada sem que

o próprio sujeito tenha recebido informação prévia sobre a mesma e sem dar o seu

consentimento para a sua realização, e outro mais extenso que está relacionado com o

direito de manter o controlo sobre as próprias informações.173

Também TERESA COELHO MOREIRA, refere que ao status negativo, garantido

pelo direito à intimidade, há que juntar o status positivo, que permite que as pessoas

169 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.120 170 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.121 171 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.50-51 172 JOSÉ LUIS GOÑI SEIN, “Privacidade e proteção de dados pessoais na relação de trabalho”, in SCIENTIA IURIDICA, 2013, nº333, p.56 173 JOSÉ LUIS GOÑI SEIN, “Privacidade e proteção de dados pessoais na relação de trabalho”, in SCIENTIA IURIDICA, 2013, nº333, p.56

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possam controlar o fluxo de informação relativos a si próprios, ou seja, um direito de

controlo ativo sobre as suas informações e, TERESA COELHO MOREIRA; “não ser

instrumentalizado através do conhecimento adquirido sobre aspetos da sua personalidade,

isto é, o direito à autodeterminação informativa, consagrado constitucionalmente no

art.35º.”174

É notória a evolução do conceito, assim como do papel ativo que se fez sentir por

parte do cidadão. À medida que foi crescendo o papel do cidadão como utilizador das

NTIC, ou seja tornando-se sujeito ativo, também o papel deste na evolução do conceito de

privacidade foi-se destacando. O cidadão passou a desempenhar um papel ativo na defesa

do seu direito. O Direito além de proteger a vida intima perante intromissões de outros,

passou a defender também, um controlo por parte do ser humano na informação que lhe

diz respeito.175

Com a chegada das NTIC ao mundo laboral, a distinção entre a vida privada e a

vida profissional ficou de tal maneira ténue que como é referido no relatório da CNIL, e

pela autora TERESA CELHO MOREIRA, “o fenómeno da convergência não permite mais

distinguir claramente o que relevará da vida profissional e o que releva da intimidade da

vida privada: o disco duro do computador é igualmente usado num domínio como noutro;

a mensagem eletrónica enviada ou recebida é feita através das mesmas condições

técnicas, quer seja de ordem profissional ou pessoal, e a consulta de sites da Internet

opera-se do mesmo modo qualquer que seja a natureza do site ou o motivo da

conexão”176.

É necessário uma nova forma de organização do trabalho, o trabalhador consegue

gerir o seu tempo como melhor convém, o mesmo computador /e-mail, ou qualquer outra

NTIC permite resolver assuntos da esfera privada como da esfera profissional do

174 TERESA COELHO MOREIRA, “EVERY BREATH YOU TAKE, EVERY MOVE YOU MAKE: A PRIVACIDADE DOS TRABALHADORES E O CONTROLO ATRAVÉS DE MEIOS AUDIOVISUAIS”, in Prontuário de Direito do Trabalho- 87, Coimbra Editora, p.18 175 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.124 176 TERESA COELHO MOREIRA, “As novas tecnologias de informação e comunicação e o poder de controlo eletrónico do empregador”, in Estudos de Direito do Trabalho, Almedina, 2011, p.26

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trabalhador, o que leva a um maior ataque ao direito à privacidade por parte do

empregador, no entender de VICENTE PACHÉS177.

Contudo, concordamos com a autora TERESA COELHO MOREIRA, no sentido de “

o direito ao respeito pela vida privada adquire toda a sua plenitude na vida privada do

trabalhador, fora dos muros da empresa”178. Assim, deve-se restringir à execução da

prestação laboral que foi estipulada contratualmente, não podendo o empregador reger o

trabalhador por padrões de conduta extralaborais por si estabelecidos, respeitando assim

os tempos de descanso e repouso da família179.

Acreditamos, nesse sentido que, aspetos de personalidade do trabalhador, assim

como, comportamentos extralaborais e gostos pessoais, desde que não interfiram com o

exercício correto da sua prestação laboral, não devem carecer de qualquer importância

para uma possível contratação, manutenção ou extinção do contrato de trabalho,

partilhando assim da opinião de TERESA COELHO MOREIRA.180

2.2.2.1.2 - No Direito Internacional

São facilmente percetíveis as mudanças que as Redes Sociais tiveram no nosso

quotidiano e, por isso, o impacto que as mesmas tiveram nos diferentes panoramas da

vida dos cidadãos. 181 O que originou a que muitas questões fossem surgindo a par com a

evolução das Redes Sociais, carecendo uma legislação especial capaz de colmatar as

lacunas existentes à data. Analisaremos então, vários instrumentos legislativos

internacionais, que embora não digam respeito diretamente às Redes Sociais em

177 TERESA COELHO MOREIRA, “As novas tecnologias de informação e comunicação e o poder de controlo eletrónico do empregador”, in Estudos de Direito do Trabalho, Almedina, 2011, p.27 178 TERESA COELHMOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.408 179 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.322 180 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.409 181 “Em suma, a tecnologia passou a fazer parte da comunicação humana, e a participar da maioria das actividades desenvolvidas pela humanidade e a comunicação humana em larga escala ou comunicação de "massa" passou a utilizar meios auxiliares e potenciadores do processo produtivo.Estudos recentes estimam que os utilizadores da Internet em Portugal já ultrapassam os 4 milhões, ocupando 34 por cento do seu tempo online.”, in PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html

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específico em contexto laboral, permitem enquadrá-la à luz dos princípios vigentes, sendo

que iremos abordar mais precisamente a questão do direito à privacidade.

Mesmo não tendo carácter vinculativo, apenas moral e político, algumas das

normas consagradas pela DUDH integraram várias legislações de diferentes

ordenamentos jurídicos, sendo que um desses ordenamentos foi o nosso.182 Nesse

sentido, o seu artigo 12º ao consagrar que “ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na

sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem

ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem

direito à proteção da lei”183 e embora este artigo consagre o direito, a sociedade da

informação comporta riscos evidentes para estes direitos. Foi o início da

consciencialização da sociedade para os direitos fundamentais de todo o mundo,

independentemente de raças, religião, sexo ou qualquer outro fator.

Foi na “Convenção Europeia dos Direitos do Homem” que se versou pela primeira

vez ao direito à privacidade consagrando-o como um direito fundamental no seu art. 8º,

consagrando expressamente que “qualquer pessoa tem direito ao respeito da sua vida

privada, familiar, do seu domicílio e da sua correspondência”, tendo sido posteriormente

complementada por Protocolos adicionais. Tendo a forma de tratado internacional, a

CEDH, ao contrário da DUDH, tem força obrigatória para todos os Estados que a

assinaram, além de que as garantias judiciais internacionais permitem-lhe controlar o

respeito dos direitos que estabelece.

Para além da DUDH, o PIDCP e o PIDESC, de 16 de Dezembro de 1966, “formam

o que é designado por “Carta Internacional de Direitos”184, sendo que esta Carta não

estabelece um direito absoluto à privacidade e por isso, só podem haver intromissões com

a autorização da Lei, que terá que estar em conformidade com estes princípios

182 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.127 183 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.127 184 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.127

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enunciados. Foram estas Declarações que abriram a porta e que consagraram o direito à

privacidade como um direito fundamental a ser protegido com obrigações específicas.185

Todavia, com a evolução das NTIC, e com o perigo iminente de dano à privacidade

das pessoas foi percetível que nem as legislações nacionais e nem as internacionais

seriam suficientes para garantir a proteção deste direito e ainda harmonizar com a

liberdade de circulação transnacional de informação esteve na origem da Convenção nº

108 do Conselho da Europa, sendo o primeiro documento internacional a garantir o direito

à liberdade informática186. Logo no art. nº1 da Convenção é referido o objetivo da mesma

que é “garantir, no território de cada parte, a todas as pessoas singulares, seja qual for a

sua nacionalidade ou residência, o respeito pelos seus direitos e liberdades fundamentais,

e especialmente pelo seu direito à vida privada, face ao tratamento automatizado dos

dados de carácter pessoal que lhes digam respeito (proteção dos dados )”187, surgindo na

Recomendação R (89) 2, de 18 de Janeiro, a proteção de dados de carácter pessoal para

fins de emprego. A Recomendação R (89) 2, de 18 de Janeiro, foi este ano, 1 de Abril de

2015, substituída e por isso atualizada pela Recomendação CM/Rec (2015) 5, cientes da

evolução das NTIC e acreditando que o uso de métodos de processamento de dados por

parte dos empregadores devem ser regulados por princípios capazes de diminuir os riscos

da utilização das mesmas, e por isso, que a Recomendação anterior precisaria de ser

revista para proporcionar um nível competente de proteção das pessoas no contexto

laboral 188. A mesma deve ser analisada e fiscalizada para ser aplicada a nível interno dos

Estados-membros.189 Ainda a mesma Recomendação, refere que os empregadores devem

evitar interferir na vida privada dos trabalhadores injustificadamente, ou seja, sem razão

aparente. Devendo o trabalhador ser avisado com antecedência, conforme uma política de

185 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.128 186 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 187 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 188 Recommendation CM/Rec(2015)5 of the Committee of Ministers to member States on the processing of personal data in the context of employment, in https://wcd.coe.int/ViewDoc.jsp?id=2306625 189 Recommendation CM/Rec(2015)5 of the Committee of Ministers to member States on the processing of personal data in the context of employment, in https://wcd.coe.int/ViewDoc.jsp?id=2306625

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transparência da empresa. Indica ainda a preferência que deve o empregador tem em

regularizar o acesso à Internet por parte dos trabalhadores, em Cartas de Boa Conduta190.

Também a nível internacional, existem ainda dois meios que têm revelado grande

importância neste sector que são: a Convenção do Conselho da Europa para a Proteção

de Dados Pessoais Automatizados e as Guidelines da OCDE da proteção da vida privada e

dos fluxos de dados pessoais, que consagram a o direito à privacidade como um direito

fundamental191. Os textos apresentados pela OCDE, são, nas palavras de TERESA

COELHO MOREIRA, “reflexo de um diálogo permanente, não só entre os diversos países

membros, mas também os países não membros”192, reconhecendo a urgência de

proteger a privacidade no seu sentido mais amplo e dados pessoais com o

desenvolvimento das NTIC conciliando com outras medidas de proteção da privacidade e

das liberdades individuais193. São diretrizes que não se aplicam somente às pessoas

físicas, aplicando-se também ao responsável por um ficheiro que queira utilizar ou

recolher dados pessoais de outrem.

2.2.2.1.3 – No Direito da União Europeia

A base jurídica da União Europeia encontra-se nos seus tratados constitutivos.

Tratados que consagram objetivos a serem realizados pela U.E. e que têm mecanismos

jurisdicionais próprios, desde Diretivas194, a Regulamentos195 e decisões196.

A U.E distingue o “direito comunitário originário”, que se baseia no conteúdo dos

tratados que fundaram o perfil constitucional dos Estados-Membros, do “direito

190 Recommendation CM/Rec(2015)5 of the Committee of Ministers to member States on the processing of personal data in the context of employment, in https://wcd.coe.int/ViewDoc.jsp?id=2306625 191 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.129 192 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.130 193 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.128 194 As Diretivas vinculam o Estado-Membro destinatário quanto ao seu resultado a alcançar, deixando, no entanto, às instâncias nacionais a competência quanto à forma e aos meios. Além disso, as Diretivas harmonizam as normas aplicáveis, deixando margem de manobra aos Estados-Membros. 195 Os Regulamentos têm carácter geral, sendo obrigatório em todos os seus elementos e diretamente aplicável em todos os Estados-Membros, não deixando qualquer margem de discricionariedade na sua aplicação. 196 As decisões são obrigatórias em todos os seus elementos e quando designa destinatário, apenas é obrigatória para o mesmo.

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comunitário derivado ou secundário”, enquanto conjunto das normas emitidas pelos

órgãos comunitários dotados de competência para o efeito, as denominadas Diretivas e

Regulamentos.197O Conselho da Europa198, foi criado após a II Guerra Mundial, com

objetivo de promover uma maior união entre os Estados europeus e proteger os direitos

humanos e liberdades fundamentais, depois de todos os ataques que estas sofreram com

a II Guerra Mundial. A pensar nos objetivos para que foi criado, o Conselho inspirou-se na

DUDH e no projeto de 1949 do PIDCP e criou um documento que teria como finalidade a

proteção de certos direitos e liberdades considerados fundamentais, criou-se assim, a

Convenção Europeia dos Direitos Humanos, o primeiro texto europeu a consagrar a tutela

da privacidade.199

A defesa dos direitos fundamentais constitui um princípio fundador da U.E. e uma

condição imprescindível para a sua legitimidade. Este empenho da U.E foi confirmado e

formalizado na jurisprudência do TJUE como forma de reconhecer direitos fundamentais

como princípios gerais do Direito da U.E, elaborando uma espécie de catálogo com esses

mesmos direitos, tentando assim de uma certa forma colmatar lacunas existentes como

no Direito do Trabalho Europeu e no sistema de proteção de Direitos Fundamentais.200

Desde 1969, que o TJUE vem reconhecendo direitos fundamentais como: direito à vida

privada, o direito à inviolabilidade do domicílio e da correspondência, direito à liberdade de

expressão. E com a assinatura do Tratado da U.E, em Maastricht, a doutrina que defendia

a incorporação dos direitos fundamentais como parte do ordenamento da U.E, doutrina

defendida pelo TJUE, começou a fazer parte do direito originário comunitário.201 Porém,

impôs-se a elaboração de uma Carta dos Direitos Fundamentais, na qual fiquem

consignados, com toda a evidência a importância primordial de tais direitos e o seu

alcance para os cidadãos da U.E. Aprovada no Conselho Europeu de Nice em Dezembro

de 2000, como proclamação politica, a CDFUE só veio a ser dotada de força jurídica

197 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 198 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.165 199 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.165 200 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 201 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html

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vinculativa com o Tratado de Lisboa em 2007202. A CDFUE constituiu um marco na

história universal do reconhecimento e proteção da U.E e dos direitos fundamentais,

vinculando e defendendo os seus cidadãos e residentes contra os seus próprios atos

políticos, legislativos e administrativos.

No artigo 7º, refere-se que “todas as pessoas têm direito ao respeito pela sua vida

privada e familiar, pelo seu domicílio e pelas suas comunicações”, desta forma a CDFUE

codificou um direito fundamental que embora já tivesse sido reconhecido pelo TJUE, ainda

não teria sido codificado e podemos relacioná-lo com o artigo 1º da mesma, ou seja com

a dignidade da pessoa humana203.O objetivo é garantir que cada um possa viver a sua

vida de uma forma livre e digna fomentando assim a sua personalidade própria, ou seja

uma esfera privada, sem intromissões de outros e sem que lhes sejam concedidas

informações que não lhes são confiadas pela própria pessoa, tendo especial atenção para

o avanço tecnológico que permite corromper essa esfera da privacidade204.

O artigo 8º da CDFUE, que tem como epígrafe “proteção dos dados de carácter

pessoal” tem uma relação estrita tanto com o artigo anterior como com o artigo 1º da

mesma carta205. Como PAULO SOUSA E CUNHA refere “é um dos direitos fundamentais

que se explicita com maior amplitude e que aparece clarificado e distinto de outros, como

o respeito pela vida privada e família”206. Pelo que desta forma, a CDFUE estabeleceu o

direito à autodeterminação informativa.

A U.E tentou ainda regular o sector das tecnologias de informação e proteção da

privacidade no setor das telecomunicações com a Diretiva nº 97/66/CE, do Parlamento

Europeu e do Conselho, de 15 de Dezembro de 1997, que foi derrogada pela Diretiva

2002/58/CE207, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Julho de 2002, relativa

202 Tornando-se então a “bill of rights” da U.E. e da inicial comunidade de mercado a U.E. tornou-se numa “comunidade de direitos fundamentais”. Porém, tanto o Reino Unido como a Polónia fizeram declarações de “apting out” em relação a alguns dos seus aspectps. 203 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 204 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 205 Tal como iremos analisar mais à frente. 206 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 207 “A presente diretiva visa assegurar o respeito dos direitos fundamentais e a observância dos princípios reconhecidos, em especial, pela Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Visa, em especial, assegurar o pleno respeito pelos direitos consignados nos artigos 7.o e 8.o da citada carta.”, in EURLex 32002L0058 PT EURLex

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ao tratamento dos dados pessoais e à proteção da privacidade no sector das

telecomunicações eletrónicas208.Atualmente, está em vigor a Diretiva 2009/136/CE do

Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de Novembro de 2009209, no sentido de que “a

liberalização das redes de comunicações eletrónicas e dos mercados de serviços e a

rápida evolução tecnológica impulsionaram a concorrência e o crescimento económico e

deram origem a uma grande variedade de serviços para os utilizadores finais acessíveis

através de redes de comunicações eletrónicas públicas. É necessário que consumidores e

utilizadores ganhem do mesmo nível de proteção no que respeita à privacidade e aos

dados pessoais, independentemente da tecnologia utilizada para prestar um determinado

serviço”210. Assim, o Direito da União Europeia deverá impor deveres aos controladores de

dados pessoais, e deverão as autoridades nacionais fiscalizar as medidas, devendo ainda

promover um elevando nível de proteção da privacidade dos cidadãos.211

2.2.2.1.4- No Direito Interno

De acordo com o art. 8º nº2 da CRP, as regras constantes das convenções

ratificadas pelo Estado português, e publicadas no “Diário da República”, passam a

integrar o Direito interno independentemente da transposição do seu conteúdo para a lei

ordinária interna.212

Em relação ao direito da U.E, e como foi supra mencionado e, concordando com

a posição de GOMES CANOTILHO, defendemos que “o princípio de integração e o

princípio da capacidade funcional da Comunidade apontam para a preferência de

aplicação do direito europeu em relação ao direito interno dos estados membros”.213

208 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 209 http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:32009L0136 210 http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:32009L0136 211 http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:32009L0136 212 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora 213 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra

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Sem nunca esquecer o art. 16º nº2 da CRP que vincula que os preceitos

constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais devem ser interpretados

conforme a DUDH.214

A proteção da vida privada está sujeita ao regime dos Direitos, Liberdades e

Garantias no artigo 26º nº1 da CRP, sendo ainda possível completar o mesmo com os

artigos: 32º nº8 que confere nulidade à prova que seja adquirida por intromissão abusiva

na vida privada, o 34º que garante o direito à inviolabilidade do domicílio e da

correspondência e o 35º que determina o direito à autodeterminação informática. 215

Para autores como TERESA COELHO MOREIRA216, PAULO SOUSA E CUNHA217 e

ABILIO NETO218, o artigo 34º da CRP deve ser interpretado no seguimento da evolução e

desenvolvimento das NTIC e consequentemente deveremos garantir que as

correspondências mantidas por meios de telecomunicações privadas, como acontece com

o instant messaging, chat, e-mail que se utilizam nas Redes Sociais, tenham por objeto a

comunicação individual, estando assim protegidas pelo presente artigo. Não merece tal

posição as conversas mantidas por chatrooms abertos ou efetuadas nos perfis públicos

dos utilizadores das Redes Sociais, já que desta forma não há qualquer interesse do

utilizador em manter a conversa privada, se assim fosse não publicaria a mesma numa

página aberta ao público em geral.219 E mesmo que se possa considerar um perfil

particular, a verdade é que a conversa não será mantida apenas entre um grupo restrito,

mas sim entre todos os “amigos” que o utilizador tiver e até quem sabe ao público em

geral, consoante for o grau de privacidade do seu perfil que nunca será o suficiente para

tal publicação ser considerada privada. Esta posição é reforçada pelo acórdão do Tribunal

da Relação de Lisboa, de 7 de Março de 2012.220

214 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra 215 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora 216 TERESA COELHO MOREIRA, “O controlo das comunicações eletrónicas dos trabalhadores”, in SEPARATA DE DIREITO DO TRABALHO + CRISE = CRISE DO DIREITO DO TRABALHO? Actas do Congresso de Direito do Trabalho, Coimbra Editora,p. 182-183 217 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 218 ABÍLIO NETO, in “NOVO CÓDIGO DO TRABALHO E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR ANOTADOS”, 4ª Edição- Novembro 2013, p.146 219 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 220 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.88

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O artigo 35º da CRP tem como base direitos fundamentais, como por exemplo o

direito à dignidade da pessoa humana, do desenvolvimento da personalidade, da

integridade pessoal e da autodeterminação informativa221. É reservado a cada pessoa uma

esfera mínima de privacidade inviolável. O direito à autodeterminação informativa surge no

âmbito de proteção de dados de carácter pessoal, passando cada um a controlar e

conhecer os dados que sobre si estão mantidos em ficheiros, protegendo-os da

capacidade ilimitada de recolha e arquivo a que estão agora sujeitos.222 Dispondo

igualmente do direito de aceder, retificar e cancelar quando for necessário tais

informações, havendo uma espécie de livre acesso aos dados pessoais informatizado223.

Como refere GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, “o direito ao conhecimento dos

dados pessoais existentes em registo informático é uma espécie de direito básico nesta

matéria (habeas data já lhe chamaram) ”224. Cada pessoa tem o direito de conhecer os

dados existentes em registos informáticos, independentemente da sua natureza privada ou

pública, que exige que haja uma política clara e de transparência quanto aos fins a que os

dados se destinam, o direito de retificação, de corrigir e atualizar, e de ainda eliminar

aqueles cujo registo seja proibido.225 A proibição de acesso de terceiros a dados pessoais,

estabelecido no nº4 do presente artigo, demonstra a necessidade e o perigo que a

informática levanta para a esfera privada, com a rapidez com que terceiros possam utilizar

os dados de forma disfuncional e perigosa. 226

Por sua vez, no Código Civil, os direitos de personalidade227 estão explanados nos

artigos 70º e seguintes, sendo o artigo 80º o que consagra expressamente a reserva da

221 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 551 222 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 223 Este direito divide-se em vários direitos : “direito de acesso, ou seja, o direito de conhecer os dados constantes de registos informáticos, quaisquer que eles sejam (públicos ou privados); direito ao conhecimento da identidade dos responsáveis bem como o direito ao esclarecimento sobre a finalidade dos dados; o direito à contestação, ou seja, direito à retificação dos dados e sobre a identidade e endereço do responsável; direito à atualização e direito à eliminação.”, in PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 224 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 551 225 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 552 226 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 554 227 “Caracterizam-se por serem direitos privados, essenciais, gerais, absolutos, pessoais, indisponíveis, inalienáveis e irrenunciáveis e que traduzem uma excecional dignidade ética, não estando na disponibilidade do seu titular pelo que qualquer limitação voluntária ao exercício dos direitos de personalidade tem de ser conforme com os princípios de ordem pública como previsto no artigo 81.º n.º 1 do Código Civil.”, in PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html

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intimidade da vida privada e com a violação deste, o autor incorre em responsabilidade

civil nos termos do artigo 70º nº2 do CC228.

Na verdade, um cidadão não perderá os direitos fundamentais, conferidos pela

Constituição da República Portuguesa, apenas porque adquire o estatuto de trabalhador,

não podendo dessa forma, ser privado dos seus direitos pela entidade patronal e podendo

por isso. Até porque, é tarefa fundamental do Estado garantir os direitos e liberdades

fundamentais e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático, conforme o

artigo 9º, nº1 b)229. Além de que, o legislador ao dividir o Título II “direitos, liberdades e

garantias” em três capítulos e conferindo num deles uma especial atenção aos

trabalhadores, está precisamente a reforçar esta posição230.Assim carece de real

importância para o Direito do Trabalhado, assegurar que os direitos do trabalhador não

sejam violados com formas de controlo por parte do empregador que exponham a sua

dignidade e privacidade.

O Código de Trabalho aprovado pela Lei nº99/2003, de 27 de Agosto, vem

estabelecer direitos de personalidade aplicáveis à relação laboral concretamente, não

precisando assim de recorrer a esquemas de transposição direta ou indireta de normas

constitucionais e civis. Por sua vez, o Código de Trabalho aprovado pela Lei nº7/2009, de

12 de Fevereiro, destacou a reserva da intimidade da vida privada, a proteção de dados

pessoais e a inviolabilidade da correspondência.231

Segundo o nº1 do artigo 16º do C.T, ”o empregador e o trabalhador devem

respeitar os direitos de personalidade de contraparte, cabendo-lhes, designadamente,

guardar reserva quanto à intimidade da vida privada.” E o nº2 do mesmo artigo

estabelece que este direito abrange “quer o acesso, quer a divulgação de aspetos

atinentes à esfera intima e pessoal das partes, nomeadamente relacionados com a vida

familiar, afetiva e sexual, com o estado de saúde e com as convicções politicas e

228 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 229 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 274

230 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 312-313

231 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html

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religiosas.” ABILIO NETO 232 defende que, “a reserva da intimidade da vida privada

assume uma importante dimensão no âmbito das relações jurídico-laborais, uma vez que

a disponibilização da força de trabalho a favor de outrem implica sempre algum

envolvimento, senão mesmo restrição, da personalidade do trabalhador no vínculo

contratual.” De acordo com MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO “este direito veda as

ingerências do empregador em aspetos da vida privada do trabalhador não diretamente

relevantes para a atividade laboral por ele exercida”233. Partilhamos da opinião da autora

que afirma assim, que qualquer atividade que não tenha uma conexão relativa e direta

entre a esfera intima e a vida laboral e que dessa forma não tenha implicações na

execução do contrato de trabalho, não deve assumir qualquer importância ou relevo para

as decisões do empregador, não tendo assim o empregador legitimidade para as

controlar.234 Porém, quando os factos e comportamentos do trabalhador, que integrem a

esfera privada, forem permissíveis de pôr em causa ou o bom nome ou a honorabilidade

do empregador, e quando tais comportamentos tornem quase impossível a manutenção

da relação laboral, pode haver lugar a despedimento com justa causa e se estiverem

ainda preenchidos os requisitos dos artigos 351º e ss, questão que irá ser abordada em

capítulos futuros.235

E no sentido de haver um equilíbrio entre o interesse principal de cada parte, o

Acórdão do STJ, de 25 de Setembro de 2003, veio dar resposta a isso referindo que o

direito de resguardo não é um direito absoluto e dessa forma, há que contrapor o

interesse do individuo em manter privada a sua vida e o interesse de outro em revelar ou

conhecer a informação em causa e “desde que não contrariados por esse modo os

princípios da ordem pública interna é licita a limitação voluntária do exercício dos direitos

de personalidade, podendo em principio o exercício do direito ao resguardo, nas suas

várias manifestações, ser objeto de limitações voluntárias.236

232 ABÍLIO NETO, in “NOVO CÓDIGO DO TRABALHO E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR ANOTADOS”, 4ª Edição- Novembro 2013,p. 132 233 MARIA ROSÁRIO RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II – Situações Laborais Individuais, Almedina, 4.ª ed., Coimbra, 2012, p.364 234 MARIA ROSÁRIO RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II – Situações Laborais Individuais, Almedina, 4.ª ed., Coimbra, 2012, p.364-365 235 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 236 Cfr Acórdão STJ. De 25.9.2003, in ABÍLIO NETO, in “NOVO CÓDIGO DO TRABALHO E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR ANOTADOS”, 4ª Edição- Novembro 2013

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2.2.2.2- Proteção de Dados Pessoais

A Convenção nº108 do Conselho da Europa no seu artigo 2º determina qual o

conceito adotado de “dados pessoais”. Pelo que é considerado dado pessoal, qualquer

informação relativa a uma pessoa física identificada ou identificável.237238 Mas como é que

se determina se uma pessoa é identificável ou não? A resposta é consideravelmente

simples, sendo que basta considerar o conjunto dos mais suscetíveis de serem

razoavelmente utilizados, quer pelo responsável do tratamento dos dados ou quer por

qualquer outra pessoa para identificar a outra. É um conceito fundamental que

desencadeia a utilização das obrigações que dão aos responsáveis pelo tratamento dos

mesmos.

Por sua vez, a Diretiva 95/46/CE, tem outro conceito para dados pessoais. No

artigo 2º al. a), da presente Diretiva, é definido dados pessoais como “qualquer

informação relativa a uma pessoa singular ou identificável”.239 O artigo 4º da Propostade

Regulamento do Parlamento Europei e do Conselho, relativo à proteção das pessoas

singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses

dados, simplifica esta noção referindo, que “dados pessoais, é qualquer informação

relativa a um titular de dados”, aumentando assim o leque de possibilidade de definirmos

um dado como dado pessoal.

O conceito apresentado pela Diretiva95/46/CE não é um conceito que tenha sido

acolhido por todos, surgindo debates sobre a densificação do mesmo, estando presente,

como podemos ver, com a conciliação entre a Lei de Dados Pessoais (Lei nº 67/98) e a

LADA (Lei nº 65/93 alterada pela Lei nº8/95 e Lei 94/99)240. A LADA não considera que

237 “Uma pessoa física não é considerada identificável se a sua identificação requer tempo, custos ou atividades exageradas” in ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 238 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 239 Este conceito de dado pessoal que mesma incorpora viria a ser objecto de Acórdão do Tribunal de Justiça das Comunidades, que considerou em 6 de Novembro de 2003, que este conceito abrange “seguramente o nome de uma pessoa a par do seu contacto telefónico ou de informação relativas às suas condições de trabalho ou aos seus passatempos”. 240 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf

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nomes e moradas não sejam dados pessoais, gerando conflito ente o direito de acesso

aos documentos administrativos, artigo 268º da CRP, e os direitos à autodeterminação

informativa e à reserva da intimidade da vida privada, artigos 35º e 26º da CRP

correspondentemente. Face a este conflito, CATARINA SARMENTO E CASTRO considera

que enquanto não haja um esclarecimento legislativo deve “o regime específico e mais

exigente da Lei de Proteção de Dados será o regime aplicável aos documentos da

Administração Pública, sendo então competente a CNPD”.241

Tanto o quadro legal nacional, como o europeu e o internacional têm vindo a

regular a matéria de proteção de dados originando a ideia de que, se pretendia com elas

conciliar um direito à circulação da informação com um direito sobre a informação, que é

o direito à reserva da intimidade da vida privada.242

Durante todo o percurso de revisões constitucionais, é notória a preocupação em

proteger cada vez mais os dados pessoais, obrigando também o legislador a pronunciar-se

em leis extra constitucionais.

O artigo 35º da CRP, demonstra a tentativa árdua do nosso legislador em respeitar

a reserva da intimidade da vida privada, tornando-a até intocável. Para isso, é

imprescindível que cada um de nós, como cidadãos e detentores de direitos

fundamentais, tenhamos o poder de saber todas as informações que cada um tem no

ficheiro de dados, tendo ainda o poder de corrigir as incorretas, assim, na criação desta

norma constitucional é assegurada a não manipulação de dados referentes a informações

delicadas. Ao regular a forma de manipulação e o tempo que os dados mantêm-se nos

ficheiros está-se a ir de encontro com o direito ao esquecimento que cada cidadão tem

direito.243 Desta forma, ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA E SUSANA CARVALHO DE

241 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 242 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 243 O direito ao esquecimento/desaparecimento propõe-se ser um direito de defesa dos cidadãos, um direito de controlo dos seus dados pessoais, que lhes permitirá controlar a disponibilização online dos mesmos, independentemente de ter sido autorizada. Permitirá, assim, exigir a empresas como o Facebook que apaguem todos os seus dados pessoais ao cancelarem o serviço, o que passa pela remoção de todos os dados de páginas da Internet onde se encontrem incluídos, e pela eliminação de quaisquer referências aos mesmos feitas pelos motores de busca. Este direito teve origem no caso Max Schrems. Neste caso, um estudante processou o Facebook por guardar informações suas sem o seu consentimento e que já haviam sido, supostamente, por si apagadas. O jovem concluiu que todo o conteúdo online referente a si não tinha sido apagado, mas simplesmente armazenado nos servidores da rede social Este sucedido motivou a Comissão Europeia a propor uma reforma global das regras de proteção de dados para reforçar o controlo exercido pelos utilizadores sobre os seus dados, incluindo o direito ao desaparecimento na rede o «direito ao esquecimento», nos termos do artigo 17.º da Proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho relativo à

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AMADOR, “o Direito de Informação ganhou uma autonomia que vinha sendo reclamada e

merecida”.244

Contamos ainda com a CNPD, uma entidade administrativa autónoma e

independente, nos termos do artigo 21º da Lei 67/98, e responsável pela emissão de

pareceres com força obrigatória e passiveis de recurso e reclamação para o TCA, mesmo

que os pareceres passem pela Assembleia da República, tem poderes ainda de

investigação e inquérito, de autoridade e de carácter consultivo e não afasta a vida judicial,

embora seja menos exigente em termos formais que a via judicial e tem iniciativa própria,

nos termos do artigo 22º da Lei 67/98.245 Ainda assim, os seus atos estão sujeitos,

assim como as suas decisões, a controlo do contencioso administrativo. Trata-se de uma

entidade consagrada constitucionalmente e que controla a circulação de dados entre

países, membros ou não da U.E e no direito interno

JOSÉ ANTÓNIO BARREIROS, defende a criação de um sistema de alerta capaz de

notificar cada pessoa, sempre que exista um ficheiro novo ou qualquer alteração de um já

existente, sobre a sua pessoa. Sistema que já é possível de encontrar por exemplo, no

Brasil. 246 Este sistema leva-nos a pensar que falta pouco para termos o nosso nome ou

número do cartão único como nome de uma pasta, e à distância de um click para termos

lá presa a nossa vida, uma vida transformada em dados que deixam de ser histórias

vividas para serem apenas dados. Seremos ficheiros informatizados.

A Lei da Proteção de Dados Pessoais, ou seja a Lei 67/98, surgiu pela

transposição da Diretiva 95/46/CE para o ordenamento jurídico português. Uma Lei que

tem como referência o princípio da transparência no estrito respeito pela vida privada. Por

essa mesma razão é que se deve tratar os dados de forma licita, respeitando o principio

da boa fé, assim como os recolher para finalidades determinadas, explicitas e legitimas.

proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses dados. (ver qual o artigo em que aparece. Voltar a procurar) 244 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 245 A Comissão é a Autoridade Nacional de Controlo de Dados Pessoais Informatizados e a designação dos seus membros terá de exprimir também essa independência: a maioria deles é constituída por elementos eleitos pela Assembleia da Republica (o presidente e dois vogais); dois são designados pelos Conselhos Superior da Magistratura e do Ministério Público e duas personalidades de reconhecida competência são designados pelo Governo. 246 JOSÉ ANTÓNIO BARREIRO,citado em ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf

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Não deve haver um tratamento excessivo dos dados, nem desproporcional à finalidade a

que se propõe.247 Devem, ainda, ser sempre exatos e por isso atualizados assim como

apagados quando estejam inexatos ou incompletos tendo em conta para a finalidade a

que foram recolhidos, e nunca mantidos após o período necessário para a prossecução

das finalidades da recolha ou do tratamento posterior sempre com respeito pela pessoa.248

No entanto, mediante requerimento do responsável pelo tratamento e com a devida

autorização da CNPD com a responsabilização devida ao responsável pelo tratamento, os

dados podem manter-se após o período acordado para fins estatísticos ou científicos.

A Diretiva veio apoiar a norma constitucional vigente em Portugal249, embora, que

por outro lado a tenha fragilizado no momento em que permite que seja possível o

tratamento de tais dados, sempre com a autorização da CNPD, mesmo sem o

consentimento dos titulares do mesmo. Esta posição da Diretiva não nos parece a mais

acertada, concordamos assim, com ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE

CARVALHO AMADOR na posição, em que tal medida implica que não haja uma

consciencialização por parte do titular dos dados, da recolha que foi feita e do tratamento

sujeito, acabando por quebrar o princípio da lealdade da recolha de dados.250 Por outro

lado, parece-nos que com o artigo 14º a) da presente Diretiva, o legislador voltou a tentar

reforçar a posição do titular dos dados ao conceder-lhe o direito à oposição, salvo em

disposição contrária ao direito nacional251, esta é também a posição de MARIA EDUARDA

GONÇALVES252. Sendo a transferência de dados pessoais entre os membros da U.E., é

livre a sua circulação, com a exceção do disposto sobre os atos comunitários de natureza

fiscal e aduaneira. O mesmo não se pode dizer em relação à sua circulação fora da U.E

em que só se poderá realizar dentro das disposições da presente lei e se o Estado de

destino assegurar um nível de proteção adequado, cabendo à CNPD a avaliação de se o

247 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 554 248 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 249 Artigo 35º CRP 250 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 251 ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA e SUSANA DE CARVALHO AMADOR, “Proteção de Dados Pessoais em Portugal :a Doutrina da Comissão Nacional de Proteção de Dados” - Seminário Direito da Comunicação, in http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/MEG_MA_13237.pdf 252 MARIA EDUARDA GONÇALVES, Professora do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da empresa , “Novos direitos e formas de regulação na sociedade de informação”, in Direito da Informação , Alemedina, pag-100

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mesmo preencherá esse requisito, nos termos do artigo 25º do diploma em questão253.

Na avaliação em questão, a CNPD terá em consideração a natureza dos dados, assim

como, a finalidade e a duração do tratamento dos mesmos, além do país da origem e

destino e regras vigentes no país a que se destinam, para que não sejam sujeitos a um

tratamento mais gravoso que aquele que teriam dentro de um membro da U.E, caso não

se cumpra serão aplicadas as sanções previstas no artigo 43º do diploma em questão.254

Sobre isto, o TJUE decidiu, em 6 de Outubro de 2015, que a Decisão 2000/520 seria

inválida, por considerar que as autoridades norte-americanas não garantem a proteção

adequada aos dados europeus, o que confirma a posição de Schrems ao considerar que o

Facebook viola as leis da proteção existentes na Europa e que por isso a transferência de

dados para os EUA deve ser novamente avaliada, com base no artigo 25º da Diretiva

95/46/CE255 256. Schrems apresentou queixa à autoridade irlandesa de controlo, porque

em conformidade com o que acontece com os outros utilizadores da Rede Social

Facebook, os dados fornecidos por este à Rede Social em causa, são transferidos para

servidores situados nos E.U.A, onde são objeto de tratamento. Considerou assim, que os

E.U.A não oferecem uma proteção suficiente, contra as autoridades públicas. Em 26 de

Julho de 2000, a Comissão defendeu que os E.U.A asseguravam um nível adequado de

proteção de dados pessoais transferidos.257 Porém, para o TJUE ao não haver uma

diferenciação dos dados por parte dos E.U.A, e tendo os E.U.A uma regulação que permite

às autoridades públicas aceder ao contéudo das comunicações eletrónicas, viola o direito

ao respeito pela vida privada258. Além de que,os utilizadores devem ter a possibilidade de

acionarem as vias de direito para ter acesso aos dados, o que não acontece, por não

existir nenhuma regulamentação que prevaja isso 259. E a Comissão não tinha

competência para restringir os poderes das autoridades nacionais de controlo, assim, a

253 MARIA EDUARDA GONÇALVES, Professora do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da empresa , “Novos direitos e formas de regulação na sociedade de informação”, in Direito da Informação , Alemedina, pag-100 254 MARIA EDUARDA GONÇALVES, Professora do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da empresa – in Direito da Informação 255 In , http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/o-austriaco-que-venceu-a-batalha-europa-vs-facebook-1710428 256 In http://curia.europa.eu/juris/document/document.jsf?text&docid=169195&pageIndex=0&doclang=ES&mode=lst&dir&occ=first&part=1&cid=90379 257 http://curia.europa.eu/jcms/upload/docs/application/pdf/2015-10/cp150117pt.pdf

258 http://curia.europa.eu/jcms/upload/docs/application/pdf/2015-10/cp150117pt.pdf

259 http://curia.europa.eu/jcms/upload/docs/application/pdf/2015-10/cp150117pt.pdf

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autoridade irlandesa de controlo tem competência pa decidir se irá suspender a

transferência de dados dos utilizadores europeis 260.

No entanto, nada nos parece suficiente para acompanhar o ritmo frenético com

que a tecnologia está a evoluir e como refere PAQUETE DE OLIVEIRA “ o drama é que a

velocidade de legislar está sempre em deficit com a velocidade do avanço tecnológico”261,

existindo sempre uma necessidade diária de corresponder à inovação tecnológica com

uma evolução jurídico, capaz de conciliar as necessidades de abertura e utilização com o

núcleo essencial de direitos pessoais e fundamentais.262

Pelo facto de cada vez mais, os cidadãos/ trabalhadores, passarem um maior

período de tempo nas Redes sociais em contexto laboral, gera uma especificidade pelo

tipo de dados que são processados e um novo risco que prevê que em matéria de

privacidade uma regulação adequada das relações laborais ou seja, um tratamento

especificamente laboral.263

Foi neste seguimento que se criou o Código de Boas Práticas aprovado pela OIT,

em Outubro de 1996, numa Reunião de Peritos sobre a “Privacidade dos Trabalhadores”,

código sem qualquer valor vinculativo, que apenas delineava e emanava recomendações

sobre o assunto em causa, e tinha como objetivo a promoção o desenvolvimento de nova

legislação, e assim foram formulando os princípios gerais de defesa dos dados pessoais

dos trabalhadores.

Ainda com esse intuito, e sabendo que atualmente com a existência da Internet e

das Redes Sociais não há um direito ao esquecimento, na medida em que cada

informação colocada online em forma de tweet ou publicação, estado, entre outros,

perdura por muitos anos, podendo ser desatualizadas e descontextualizadas, que a

Comissão Europeia em Janeiro de 2012 criou uma Proposta de Regulamento sobre

Proteção de Dados Pessoais.264 É uma Proposta criada com o objetivo de alterar a Diretiva

260 http://curia.europa.eu/jcms/upload/docs/application/pdf/2015-10/cp150117pt.pdf

261 In Colóquio Direito à vida Privada e liberdade”, Auditório da Torre do Tombo, 25 de Novembro de 1997, CNPDPI. 262 In Colóquio Direito à vida Privada e liberdade”, Auditório da Torre do Tombo, 25 de Novembro de 1997, CNPDPI. 263 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 264 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.58

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95/46/CE, atualmente em vigor, e que no seu artigo 17º dá uma hipótese ao direito ao

esquecimento criando condições para que seja possível deixar de ter um perfil online.265

Um direito que permite que a pessoa controle os seus dados, embora não possa controlar

o que foi publicado sobre ela noutros meios, assim as empresas responsáveis pelas Redes

Sociais teriam que apagar os dados de cada pessoa sempre que uma cancele a sua conta

online, e que não os armazene em segredo, o que muitas vezes é o que leva a crer aos

cidadãos comuns.266 Podem ainda impor limites de tempo em que as mesmas possam

armazenar a informação sobre os utilizadores, e eliminar qualquer alusão a motores de

busca, podendo processar quem não cumpra com tal decisão do utilizador.267 268

Além de que, determina uma nova aplicação territorial, sendo que abrange

empresas, que embora não façam parte do território da U.E, oferecem bens e serviços e

vigiam comportamentos de cidadãos europeus269 270.Expressa e consagra princípios como

o de transparência e da responsabilidade do responsável pelo tratamento, sendo que

atribui-lhes mais obrigações e fortalece a proteção dos titulares dos mesmos, na medida

em que têm direito ao esquecimento e à portabilidade dos dados.271 272Torna obrigatório a

notificação de violações de dados pessoais, tendo a autoridade de controlo de cooperar

com a Comissão numa nova competência, denominada por balcão único.273 Cria também

o Comité Europeu para a Proteção de Dados Pessoais que vai substituir o “Grupo de

proteção das pessoas no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais”274. A

Comissão não faz parte do mesmo, e o artigo 65º demonstra a independência do Comité

Europeu para a Proteção de Dados Pessoais.275 O artigo 71º expressa que o secretariado

do Comité será a Autoridade Europeia para a Proteção de Dados, que tem como funções

265 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.60 266 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.60 267 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.60 268 In http://ec.europa.eu/justice/data-protection/document/review2012/com_2012_11_pt.pdf 269 INÊS OLIVEIRA ANDRADE DE JESUS, “O Novo Regime Jurídico de Proteção de Dados Pessoais na Europa”, Dezembro de 2012, in http://www.fd.unl.pt/Anexos/7039.pdf 270 In http://ec.europa.eu/justice/data-protection/document/review2012/com_2012_11_pt.pdf 271 INÊS OLIVEIRA ANDRADE DE JESUS, “O Novo Regime Jurídico de Proteção de Dados Pessoais na Europa”, Dezembro de 2012, in http://www.fd.unl.pt/Anexos/7039.pdf 272 In http://ec.europa.eu/justice/data-protection/document/review2012/com_2012_11_pt.pdf 273 INÊS OLIVEIRA ANDRADE DE JESUS, “O Novo Regime Jurídico de Proteção de Dados Pessoais na Europa”, Dezembro de 2012, in http://www.fd.unl.pt/Anexos/7039.pdf 274 In http://ec.europa.eu/justice/data-protection/document/review2012/com_2012_11_pt.pdf 275 In http://ec.europa.eu/justice/data-protection/document/review2012/com_2012_11_pt.pdf

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assegurar que as instituições e os órgãos da U.E respeitem o direito fundamental à

proteção de dados de carácter pessoal. 276

A Comissão adotou a Diretiva relativa ao tratamento de dados pessoais para

efeitos de aplicação da lei (5852/12). O Parlamento Europeu adotou a mesma em 12 de

Março de 2014.277Mas foi em 15 de Junho de 2015, que o Conselho chegou a uma

orientação geral sobre o presente regulamento.278

O artigo 7º do presente regulamento tem como título “Condições para o

consentimento”. Foi intenção do legislador que o consentimento do titular deverá ser

inequívoco de maneira a consistir numa manifestação de vontade livre, especifica e

informada, podendo apresentar a forma escrita ou oral, mas tem sempre que manifestar

sua vontade em aceitar o tratamento proposto dos seus dados pessoais.279 Por sua vez,

tanto o silêncio como a omissão não serão consideradas manifestações de vontade e por

isso não podem ser consideradas formas de consentimento por parte do titular.280 O titular

ao consentir estará a permitir variados tipos de tratamento que tenham a mesma

finalidade. Se por acaso o tratamento tiver mais que uma finalidade, o titular terá que dar

um consentimento para todos os fins a que se propõe.281 Em casos em que a execução de

um contrato dependa do consentimento, o que acontece no contrato de trabalho, ou seja

situações em que há subordinação jurídica e económica, e por isso uma relação

hierárquica entre o titular e o responsável pelo tratamento dos dados, não se presume que

o consentimento tenha sido dado de livre vontade.282Afinal, nas palavras de TERESA

COELHO MOREIRA, “se as consequências do consentimento comprometerem a liberdade

de escolha da pessoa, o consentimento não será livre”283. No entanto o artigo 82º, nº1

estabelece que “ Os Estados-Membros podem estabelecer, no seu ordenamento jurídico

ou em convenções coletivas, normas mais específicas para garantir a proteção dos

direitos e liberdades no que respeita ao tratamento de dados” e no nº3 “Os Estados-

276 In http://ec.europa.eu/justice/data-protection/document/review2012/com_2012_11_pt.pdf 277 In http://data.consilium.europa.eu/doc/document/ST-9565-2015-INIT/pt/pdf 278 In http://data.consilium.europa.eu/doc/document/ST-9565-2015-INIT/pt/pdf 279 http://data.consilium.europa.eu/doc/document/ST-9565-2015-INIT/pt/pdf 280 http://data.consilium.europa.eu/doc/document/ST-9565-2015-INIT/pt/pdf 281 http://data.consilium.europa.eu/doc/document/ST-9565-2015-INIT/pt/pdf 282 http://data.consilium.europa.doc//document/ST-9565-2015-INIT/pt/pdf 283 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.63, nota 50

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Membros podem determinar no seu ordenamento jurídico as condições em que os dados

pessoais podem ser tratados no contexto laboral com base no consentimento do

assalariado.”

No Código de Trabalho, o artigo 17º regula qual os campos de informação a que

os empregadores podem averiguar sobre os trabalhadores, sendo apenas os conexos com

a vida profissional, vedando assim todos os outros aspetos, um exemplo disso foi a

decisão do Tribunal Constitucional no Ac. nº 306/2003, referindo-se “a prestação das

referidas informações por parte do candidato a emprego ou do trabalhador constitui um

ónus relativamente a obtenção do emprego ou um verdadeiro dever jurídico de que pode

depender a própria manutenção da relação laboral” e que “tal restrição ao direito

fundamental à intimidade da vida privada só será constitucionalmente admissível se

observar as exigências impostas pelo principio da proibição do excesso” além de que

“podem existir outras exigências ligadas a especificidades da atividade”. Desta forma o

empregador não tem necessidade de saber dados relativos à vida íntima do trabalhador,

bastando saber as informações relacionadas diretamente com a atividade que

desempenha ou virá a desempenhar.

2.2.2.3- Liberdade de Expressão

O direito à liberdade de expressão está previsto na CRP, no artigo 37º nº1, “todos

têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela

imagem ou por qualquer outro meio”. Para esta liberdade não há qualquer dever de

verdade, afinal o facto de sermos livres para divulgarmos o nosso pensamento, implica

que a este pensamento se englobe opiniões, ideias ou juízos de valor sobre qualquer

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assunto que possa surgir.284 Não fazendo por isso, qualquer sentido falar em restrições ou

impedimentos a este direito.

Por outro lado, concordamos com GOMES CANOTILHO E VITAL MOREIRA, ao

referirem “ sem impedimentos não pode querer dizer sem limites, visto que, se o seu

exercício pode dar lugar a infrações é porque há limites ao direito”285. E para além dos

limites admitidos constitucionalmente, deverá haver uma ponderação por parte de cada

um de nós, tendo em conta outros direitos e bens constitucionais que entrem em conflito

com o direito à expressão, como por exemplo, o direito à dignidade da pessoa humana, os

direitos das pessoas à integridade moral ao bom nome e reputação, à palavra e à

imagem, à privacidade, previstos no artigo 26º da CRP 286.

É uma liberdade fundamental para um Estado de Direito, como sociedade

democrática e pluralista, e por isso, ao exercício desta liberdade é permitido também as

ideias e opiniões que chocam a sociedade, e que não são bem aceites por esta. Somos

livres de dizer o que nos vai na alma, sem perseguições, sem censura, e sem lápis azul

para nos “cortar” as palavras.

Quando o legislador refere “qualquer outro meio” está a permitir a utilização das

NTIC e a proteger essas novas formas de comunicação, reconhecendo assim a utilização

de chats e publicações ou comentários nas Redes Sociais, na difusão de opiniões, criticas

e ideias.287

Aliás, uma das fortes características da Internet é a possibilidade enorme de total

liberdade de informação e expressão, tudo pode ser publicado independentemente da

veracidade ou licitude/ ilicitude do conteúdo. Há cada vez mais instrumentos a possibilitar

a divulgação e difusão de ideias e pensamentos. E as Redes Sociais são dos instrumentos

mais utilizados por parte dos cidadãos/ trabalhadores. São as próprias que aliciam os

seus utilizadores a este comportamento, que acabam por rever as mesmas como diários

pessoais.

284 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 572 285 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 573 286 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 574 287 J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada artigos 1º a 107º, Coimbra Editora, p. 572

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O Código de Trabalho também faz referência a este direito no seu artigo 14º, “é

reconhecida, no âmbito da empresa, a liberdade de expressão e de divulgação do

pensamento e opinião, com respeito dos direitos de personalidade do trabalhador e

empregador, incluindo as pessoas singulares que o representam, e do normal

funcionamento da empresa”. Mas se antigamente os trabalhadores partilhavam opiniões

em cafés, cantinas ou por telefone num ambiente de segredismo, agora partilham nas

Redes Sociais.

Contudo, os utilizadores/ trabalhadores das Redes Sociais, parecem não ter

qualquer filtro no que respeita à partilha de opiniões. Há uma quantidade descomunal de

condutas inconscientes e inconsequentes, o que leva a caracterizar as Redes Sociais

como verdadeiros campos de batalha entre os interesses económicos da empresa e o

direito à imagem do empregador face ao direito e à liberdade de expressão do trabalhador

288. E por isso impõe-se a questão de saber se poderá o empregador impor ao trabalhador

limites, quando publique conteúdos relacionados com o trabalho.

Depois de cumprido o seu horário de trabalho, e fora do âmbito da empresa, e por

isso fora do âmbito laboral, o forte elemento caracterizador do contrato de trabalho, a

subordinação jurídica, desaparece. Aqui o trabalhador deixa de estar sob a alçada do

empregador, e deixa de ter que se submeter às diretrizes do mesmo.289

Porém, o direito à liberdade de expressão por parte dos trabalhadores terá como

limite o direito ao crédito, ao bom nome e a uma reputação positiva pretendida pelas

empresas e empregadores, o bom funcionamento da mesma 290 e ainda o dever de

lealdade por parte do trabalhador ao empregador.

288 SUSETE SOFIA MACHADO DE SOUSA, “As Redes Sociais e os Blogues no Contrato de Trabalho. Sobre a eventual relevância disciplinar dos comportamentos extralaborais”, in Dissertação de Mestrado em Direito Privado, 2013, http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/17634/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Susete%20Machado%20de%20Sousa.pdf 289 SUSETE SOFIA MACHADO DE SOUSA, “As Redes Sociais e os Blogues no Contrato de Trabalho. Sobre a eventual relevância disciplinar dos comportamentos extralaborais”, in Dissertação de Mestrado em Direito Privado, 2013, http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/17634/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Susete%20Machado%20de%20Sousa.pdf 290 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.83

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Tendo o trabalhador um dever de lealdade para com o empregador, consagrado

no artigo 128º, nº1 f) do CT, não deve praticar atos que produzam, ou possíveis de

produzir, prejuízos para a empresa, estando ou não no horário de trabalho291.

Sabemos da rapidez com que as informações são partilhadas no mundo virtual, e

sabemos o impacto que as Redes Sociais têm vindo a ter no quotidiano das pessoas. É

por isso fácil perceber que comentários, opiniões, ou avaliações por parte dos

trabalhadores nas Redes Sociais sobre produtos ou funcionamento da empresa ou da

entidade patronal afiguram um risco muito grande de prejuízo económico, no sentido de

que essa mesma opinião partilhada pelo trabalhador poderá facilmente ser vista por

clientes ou parceiros da empresa e com isso pôr em causa a relação entre empresa e

cliente, fornecedores ou parceiros de negócio 292.

A própria publicação de conteúdos ofensivos à imagem, honra ou reputação do

empregador ou de qualquer superior hierárquico e colega de trabalho, além de violar

direitos constitucionais consagrados no artigo 26º da CRP, origina um ambiente

conflituoso e hostil no seio laboral o que poderá originar possíveis repercussões no bom

funcionamento da empresa 293.

Contudo, o facto de o trabalhador atuar no âmbito extralaboral e por isso na esfera

da sua vida privada deve ser relevado. E apenas casuisticamente é que se poderá

determinar qual o equilíbrio entre os direitos e deveres do cidadão, tendo em conta a sua

relação laboral e os poderes de controlo e direção do empregador na defesa dos seus

interesses económicos294 .

Por isso, no âmbito laboral, é relevante a natureza da conversa ou publicação ou

qualquer outro meio utilizado pelo trabalhador para partilhar a sua opinião/ ideia/

pensamento. Partilhando da opinião de MARIA REGINA REDINHA, no sentido de se adotar

291 SUSETE SOFIA MACHADO DE SOUSA, “As Redes Sociais e os Blogues no Contrato de Trabalho. Sobre a eventual relevância disciplinar dos comportamentos extralaborais”, in Dissertação de Mestrado em Direito Privado, 2013, http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/17634/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Susete%20Machado%20de%20Sousa.pdf 292 SUSETE SOFIA MACHADO DE SOUSA, “As Redes Sociais e os Blogues no Contrato de Trabalho. Sobre a eventual relevância disciplinar dos comportamentos extralaborais”, in Dissertação de Mestrado em Direito Privado, 2013, http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/17634/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Susete%20Machado%20de%20Sousa.pdf 293 TERESA COELHMOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.248 294 TERESA COELHMOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.408

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algumas cautelas na tomada de posição sobre a natureza privada ou pública das Redes

Sociais, considerando o carácter destas bem, como a manifestação de vontade do

utilizador, que resulta das configurações de privacidade 295.

Nos termos da legislação laboral, os trabalhadores têm direito à reserva da

intimidade da vida privada, tendo ainda direito à confidencialidade quanto ao conteúdo

das mensagens de natureza pessoal, nos termos do artigo 34º CRP 296. De facto, é de

entendimento maioritário que este direito ao sigilo da correspondência abrange qualquer

tipo de correspondência, comunicação fechada, ou seja que, se destina a um recetor

individualizado ou a um grupo de destinatários anteriormente estabelecidos, assim

poderemos entender que protege também as mensagens transmitidas por Messenger,

chats ou qualquer funcionalidade do género que pertença às Redes Sociais297. O problema

será conseguir avaliar a natureza de uma publicação numa Rede Social como privada.

Defendemos, que o trabalhador deve ter um cuidado redobrado quanto à natureza

do meio utilizado na sua forma de expressão para evitar qualquer prejuízo à sua entidade

empregadora. Assim, não será abonatório para o trabalhador que utilize meios públicos

para a difusão das suas opiniões que estejam relacionadas com a entidade patronal direta

ou indiretamente, sendo por isso difícil a utilização das Redes Sociais, como meio de

divulgação.

Para MARIA ROSÁRIO RAMALHO é possível identificar três tipos de limites ao

exercício dos direitos de personalidade do trabalhador e que por isso terá todo o sentido

aplicarmos na esfera virtual. O Código Civil, nos seus artigos 334º e 335º, explanam

esses mesmos limites, no sentido de que a violação do princípio geral de boa fé origina

uma situação de abuso de direito, conforme artigo 334º, sendo limites imanentes; por sua

vez, os limites extrínsecos resultam de uma colisão de direitos que será resolvida

mediante o critério de concordância prática, correspondente ao artigo 335º e por fim, os

295 MARIA REGINA REDINHA, “Redes Sociais: Incidência Laboral (primeira aproximação)”, in Prontuário de Direito do Trabalho, nº87, 2010, p. 40-41 296 CLAUDIA SANTOS, “Conversas em Redes Sociais podem levar a sanção disciplinar..ou nem tanto”, in http://www.mirandalawfirm.com/uploadedfiles/25/20/0002025.pdf 297 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010,

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limites voluntários que dependem da vontade do trabalhador, do contrato de trabalho ou

de instrumentos de regulamentação coletiva 298

E dependendo do cargo e funções que o trabalhador desempenha na empresa,

poderá impor-se uma maior discrição por parte deste, já que há um maior perigo de haver

confusão entre a opinião pessoal e privada do cidadão e a posição da empresa 299 e o

melhor será nunca identificar a identidade da entidade empregador no seu perfil online.

Porém, se a divulgação de informação se incidir em questões de infrações de

normas de ordem pública e sobre a higiene ou qualidade dos produto, no seio da

empresa, no sentido de defesa de interesse público, os interesses da empresa serão

relegados para segundo plano. Todavia, devido ao dever de lealdade e boa fé, o

trabalhador deve esgotar primeiro as vias internas de reclamação antes da denúncia em

ambiente virtual 300.

A dificuldade de fixar um limite à liberdade de expressão numa Rede Social em

que é complicado avaliar a natureza pública ou privada dos conteúdos partilhados, o

direito de censura e crítica tem como limite o direito à honra e reputação do empregador e

entidade/ instituição patronal, por gozarem dos seus direitos de personalidade 301. Além

disso, adotamos a posição de que o único limite que o trabalhador deve ter na sua

atuação fora do âmbito laboral é na medida em que as suas ações não devem e não

podem causar prejuízo diretamente ou indiretamente à empresa. Uma possível violação

dos direitos consagrados pelo artigo 26º da CRP poderá gerar responsabilidade civil e

penal, já para não falar nas repercussões que poderão se fazer sentir na relação laboral,

298 MARIA ROSÁRIO RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II – Situações Laborais Individuais, Almedina, 4.ª ed., Coimbra, 2012, p.390-392 299 SUSETE SOFIA MACHADO DE SOUSA, “As Redes Sociais e os Blogues no Contrato de Trabalho. Sobre a eventual relevância disciplinar dos comportamentos extralaborais”, in Dissertação de Mestrado em Direito Privado, 2013, http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/17634/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Susete%20Machado%20de%20Sousa.pdf 300 SUSETE SOFIA MACHADO DE SOUSA, “As Redes Sociais e os Blogues no Contrato de Trabalho. Sobre a eventual relevância disciplinar dos comportamentos extralaborais”, in Dissertação de Mestrado em Direito Privado, 2013, http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/17634/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Susete%20Machado%20de%20Sousa.pdf 301 MARIA REGINA REDINHA, “Redes Sociais: Incidência Laboral (primeira aproximação)”, in Prontuário de Direito do Trabalho, nº87, 2010, p. 40-41

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nas relações entre colegas e empregador, ou entre clientes que também ficarão afetados

com a reputação eletrónica das empresas 302.

2.3 – O Empregador

Nos termos do artigo 1152º do CC, o empregador é aquele que a quem, e sob

cuja autoridade e direção, o trabalhador se obriga a prestar a sua atividade, obtendo

assim uma posição de supremacia. A posição de supremacia do trabalhador confere-lhe

uma série de poderes que deverão ser respeitados pelo trabalhador. É o elemento de

subordinação jurídica que vai conceder à entidade patronal o poder de delinear o âmbito e

conteúdo da prestação laboral e as diretrizes do trabalhador 303

2.3.1 Poderes do Empregador

Enquanto MONTEIRO FERNANDES 304, divide os poderes do empregador em dois

poderes distintos, um poder determinativo da função, ao trabalhador é dado um conjunto

de funções consoante as suas qualificações ou necessidades da empresa, e um poder

conformativo da prestação, que se caracteriza pelo comportamento do trabalhador que

tem como limite a sua função, TERESA COELHO MOREIRA305 defende uma divisão

quadripartida: poder regulamentar, poder disciplinador, poder directivo e poder de

controlo, este último autonomiza-se do poder diretivo, por força do surgimento das NTIC.

O artigo 99º do CT prevê o poder regulamentar do empregador que determina que

“ o empregador pode elaborar regulamento interno da empresa sobre organização e

302 SUSETE SOFIA MACHADO DE SOUSA, “As Redes Sociais e os Blogues no Contrato de Trabalho. Sobre a eventual relevância disciplinar dos comportamentos extralaborais”, in Dissertação de Mestrado em Direito Privado, 2013, http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/17634/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Susete%20Machado%20de%20Sousa.pdf 303 AMADEU GUERRA, “As novas tecnologias e o controlo dos trabalhadores através de sistemas automatizados. As alterações do Código de Trabalho”, in A PRIVACIDADE NO LOCAL DE TRABALHO, Almedina, p.22 304 MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, 11ª Edição, Almedina, Coimbra, 1999, p.250-251

305 TERESA COELHMOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004,p.245

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disciplina do trabalho”, ou seja o empregador tem liberdade para criar “regulamentos

gerais de empresa”, “ordens de serviço” ou instruções, o limite a este poder é a audição

dos representantes dos trabalhadores e a sua publicitação na empresa.306

Já o poder disciplinador do empregador encontra-se legitimado pelo artigo 98º do

CT, cedendo ao empregador o poder de punir de forma extrajudicial o trabalhador por

violação do contrato ou das regras que este se deve sujeitar. Este poder dura até o

momento em que o contrato de trabalho vigore, “sendo o controlo jurisdicional deferido

para um momento posterior, caso o trabalhador se proponha esse impulso”307.

O artigo 97º do CT, consagra o poder diretivo do empregador, referindo a

competência deste em delimitar em que termos o trabalho deve ser realizado, sempre em

atenção aos limites expostos no contrato, sendo o próprio contrato de trabalho o

fundamento desde poder, e das normas que o regem, reportando-se a este poder também

o artigo 128º, nº2 do CT.308 O trabalhador aceitou, no momento em que assinou o

contrato, trabalhar consoante as diretrizes e estrutura organizativa do empregador.

Cabendo assim ao empregador controlar e vigiar o trabalho prestado pelo seu funcionário,

limitado apenas pelos direitos e garantias dos trabalhadores.309 Também JORGE LEITE,

defende esta posição. Mas diz ainda que, este poder identifica-se também com funções de

controlo e vigilância, transformando o empregador em uma espécie de “credor da

prestação laboral”.310

Autores como MONTOYA MELGAR e CASTRO ARGUELLES, têm uma visão mais

extensiva do poder diretivo, acreditando que tanto o poder diretivo como o disciplinar “são

fases de uma mesma realidade”, na medida em que um origina o outro, ou seja, a

medida sancionatória do empregador será originado mediante um ato na prática do poder

306 in PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 307 in PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 308 TERESA COELHMOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.248 309 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 310 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.240

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diretivo do mesmo 311. JEAN RIVERO e JEAN SAVATIER admitem que “Se as ordens

individuais ou o regulamento interior não forem respeitados, uma sanção pode intervir,

doutro modo a regra não teria qualquer eficácia”.312

Contudo, para que haja obediência, as ordens têm que ser derivadas das

autoridades competentes, e além disso, terão que ter em conta as cláusulas do contrato

ou com a natureza do trabalho a prestar, como também não ser nem ilícita, nem imoral e

por isso contrárias aos seus direitos e garantias, nos termos dos artigos 127º CT e 70º CC 313. Se tal acontecer, o trabalhador terá legitimidade para desrespeitar a ordem que

recebeu.314 Nesse sentido, ALICE MONTEIRO DE BARROS defende que só há dever de

obediência para com as ordens licitas e não contrárias à vida ou dignidade do

trabalhador.315

É possível dividir este poder em várias faculdades que o constituem, faculdades

como a de dar ordens, de controlo e vigilância e por fim a de melhorar as condições de

trabalho. MONTOYA MELGAR apenas divide este poder em três faculdades: a de decidir

executivamente, de ditar ordens e instruções e a de controlo e vigilância316, assim,“a

vigilância é um aspeto do poder diretivo tendo com ele a relação como a parte face ao

todo; refere-se ao controlo fiscalizador que o empresário exerce sobre o cumprimento da

prestação laboral e é o necessário complemento do poder ordenador do empresário.”317

Baseada no desenvolvimento dos meios de controlo provenientes do surgimento

das NTIC e ainda na urgência em confirmar a posição do trabalhador, TERESA COELHO

MOREIRA distingue o poder de controlo dos restantes poderes que são tradicionalmente

311 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.241 312 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.241 313 TERESA COELHMOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.242 314 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.242 315 ALICE MONTEIRO DE BARROS, “A revista como função de controle do poder diretivo”, in http://www.genedit.com.br/2rdt/rdt66/estud-66/alice.htm 316 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.243 317 MONTOYA citado em, TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.244

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aceites pela doutrina portuguesa, e como foi referido anteriormente, vem tornar esta

divisão em quadripartida. 318

Enraizadas as NTIC no mundo empresarial, e assim na esfera laboral,

proporcionaram ao empregador um vasto leque de formas de controlo que antes não

eram possíveis. JEAN- EMMANUEL RAY319 acredita que “se o trabalho intelectual permite

a realização de um velho sonho poderá, graças às novas tecnologias, transformar-se num

pesadelo: a ubiquidade”. Reconhece ainda as NTIC como fontes de opostos extremos: se

por um lado são fontes de liberdade e autonomia, por outro compara-as com uma espécie

de “Big Brother” 320. LYON-CAEN não tem dúvidas em afirmar que devem ser as NTIC a

submeter-se ao Direito e não o contrário321. É neste seguimento que surgem as questões

relativas à privacidade e intimidade dos trabalhadores.322

O Organismo da União Europeia- Grupo de Trabalho do artigo 29º sobre a

proteção de dados pessoais, constituído nos termos do presente artigo na Diretiva

95/46/CE, com a finalidade de uniformizar a aplicação do mesmo nos Estados-

membros, instruiu no seu Parecer de 8/2001 que as disposições relativas sobre a

proteção de dados em contexto de trabalho são aplicadas também ao controlo efetuado

pelos empregadores também no acesso destes à Internet.323

E no caso de a propriedade dos meios informáticos pertencer ao empregador, tal

como a Internet, meios que estão disponíveis ao trabalhador como instrumentos de

trabalho para a sua execução? Nesta temática, TERESA COELHO MOREIRA 324, tende a

considerar, e nós concordamos com ela, que embora tais instrumentos tenham como

finalidade a execução da prestação laboral, por vezes, a utilização dos mesmos para fins

privados, desde que por pouco tempo, poderá ajudar o trabalhador em várias aspetos.

Parecendo assim mais vantajoso, até para a própria empresa, “permitir uma utilização 318 TERESA COELHMOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.245 319 JEAN-EMMANUEL RAY citado em, TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.293 320 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.293 321 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, in Studia Iuridica 78, Coimbra Editora, 2004, p.293 322 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 323 JOSÉ LUIS GOÑI SEIN, “Privacidade e proteção de dados pessoais na relação de trabalho”, in SCIENTIA IURIDICA, p.607 324 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.317

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comedida destes meios a uma proibição total que pode conduzir a um desmotivar dos

trabalhadores e até a uma quebra de produtividade.”325 Outros autores defendem, que o

empregador terá todo o direito de proibir a utilização dos mesmos para fins privados e por

isso estabelecer regras de conduta e controlar a utilização dos mesmos, no sentido de

garantir que tais ordens sejam cumpridas 326. Politica que tem como objetivo assegurar

que não haja tempos mortos do trabalhador, e até problemas de segurança do sistema e

responsabilidade, eles acreditam que a utilização da Internet poderá acarretar ainda mais

desvantagens como passar informações confidenciais da empresa a terceiros, assediar

um colega trabalho, ou seja todo o tipo de ações que podem vir a comprometer uma boa

imagem da empresa.327 Contudo, têm também em atenção que este controlo tem de

respeitar sempre tanto os princípios da proporcionalidade como da boa fé, daí ser sempre

exigida uma justificação objetiva para este controlo eletrónico.328 E mesmo estes autores,

como JÚLIO GOMES, compreendem também a necessidade e tolerância no uso pessoal

das NTIC, em situações urgentes, de foro familiar, o que por um lado será lucrativo para

os empregadores no sentido que desta forma conseguem impedir que o trabalhador falte,

na medida em que o mesmo poderá resolver os seus assuntos pessoais sem ter que

prescindir do dia de trabalho 329. Esta posição parece-nos um pouco desmedida no sentido

de que o artigo 22º do CT mesmo que permita ao empregador regularizar a utilização

destes meios, não constitui qualquer impedimento para a utilização destes instrumentos

para fins pessoais 330. Deve-se assim, conciliar os nº 1 e 2 do artigo 22º CT e assim o

empregador poderá estabelecer regas de utilização dos meios de comunicação somente

quanto ao tempo em que pode estar a consultar o correio eletrónico e navegar na

Internet.331

325 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.317 326 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.669 327 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p.670 328 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 620 329 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 623 330 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 623 331 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 623

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No que respeita, a um possível controlo por parte do empregador, não podemos

estar de acordo com GUILHERME DRAY, já que o mesmo defende que, perante uma

excessiva utilização destes meios pelo trabalhador é inadmissível que se invoque qualquer

direito de personalidade, desde que estejam preenchidos os requisitos do art. 334º CC,

quando o empregador controle mesmo sem a autorização voluntária do trabalhador,

considerando mesmo abuso de direito 332. TERESA COELHO MOREIRA não compartilha da

mesma opinião, para a autora, caso não haja uma utilização abusiva por parte do

trabalhador, este terá que dar sempre a sua autorização prévia e voluntária para um

possível controlo, nos termos do artigo 81º nº2 do CC.333

Assim, o empregador para ter qualquer legitimidade neste novo tipo de controlo é

preciso atender a diferentes situações e para que seja possível aplicar uma sanção há que

saber se foi por ter utilizado indevidamente ou somente pela utilização dos mesmos, na

medida em que só é admitido este tipo de controlo por parte do empregador em situações

fora de comum e ao contrário do que GUILHERME DRAY afirma, sempre com o

consentimento do trabalhador 334.

Compartilhamos da opinião da CNPD335 que julgou “ilógico, irrealista e

contraproducente que, no contexto da relação de trabalho se proíba- de forma absoluta- a

utilização de correio eletrónico e o acesso à Internet para fins que não sejam estritamente

profissionais”.

E tal como TERESA COELHO MOREIRA336 refere, “numa economia cada vez mais

informatizada e cada vez mais independente, são as ideias, as inovações e a inteligência

que se tornam fatores-chave para o sucesso das empresas e, por isso, parece preferível

permitir uma utilização comedida destes meios a uma proibição total que pode levar à

desmotivação dos trabalhadores e até à quebra da sua produtividade”. E se o empregador

conseguir aceder, e controlar os sites que o trabalhador visita, e principalmente as Redes

Sociais a que acede e o que publica nelas, consegue construir perfis sobre os mesmos, o

332 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p. 319 333 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p. 319 334 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p. 319 335 No seu Parecer sobre “Princípios sobre a privacidade no local de trabalho” de 29 de Outubro de 2002 336 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 625

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que deve ser proibido por infringir o direito à autodeterminação informativa, além de que

consegue também uma recolha de dados proveniente deste controlo e assim o conjunto

de dados integra-se num conjunto de dados pessoais do trabalhador, nos termos do artigo

2º, alínea a) da Diretiva da Proteção de Dados Pessoais e artigo 3º, alínea a) da Lei da

Proteção de Dados Pessoais.337 E como já foi referenciado, hoje em dia a linha que separa

a vida privada da vida profissional está cada vez mais desbastada, e se são muitas as

vezes que os trabalhadores acedem e respondem a e-mails de trabalho fora do horário de

trabalho, então torna-se difícil de considerar que os mesmos consigam distanciar a sua

vida pessoal no tempo de trabalho. É assim defendido que os trabalhadores consigam ter

uma qualidade razoável na vida profissional, não sendo por isso dispensado o direito à sua

privacidade, sem nunca comprometer a produtividade da empresa.338

Confiámos que o caminho a seguir será a elaboração de Códigos de Conduta, com

princípios razoáveis para ambas as partes 339.

Também o princípio da transparência serve como requisito para um poder de

controlo eletrónico do empregador, sendo que devem os trabalhadores ser informados de

como e quando, o controlo é realizado 340. Há que esclarecer com toda a lucidez e nitidez

sobre quais os limites impostos ao uso das NTIC, e por conseguinte o acesso à Internet e

Redes Sociais, que não devem ser excessivos e por isso razoáveis tendo em conta a

relação pretendida, originando assim uma proibição do controlo oculto.341 Devendo

descrever minuciosamente quais os meios de comunicação disponibilizados pela

empresa, e em que medida poderão ser usados para comunicações pessoais dos

trabalhadores, nomeadamente em relação ao tempo e as horas de uso 342.

É então de entendimento geral, que temos perante nós um verdadeiro conflito de

direitos, por um lado o direito à autodeterminação informativa do trabalhador versus o

337 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 673 338 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 627 339 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 627 340 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 629 341 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 629 342 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 630

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poder de controlo eletrónico do empregador, para uma correta prestação do contrato de

trabalho 343. No sentido de resolver este conflito, JOSÉ JOÃO ABRANTES, recorre ao artigo

18º, nº 2 e 3 da CRP e assim há que avaliar os direitos em causa, o que origina a que o

empregador só possa limitar o direito fundamental de liberdade do trabalhador em casos

especificamente permitidos, ou seja quando esteja em causa direitos merecedores de

uma tutela superior ao da liberdade em causa.344 Afinal, diante de comportamentos

contrários aos princípios de boa fé e de proporcionalidade por parte do trabalhador, o

empregador verá aí ser reconhecido a possibilidade de controlar, com vista a defender os

seus interesses empresariais e descobrir as utilizações abusivas feitas neste e por este

serviço.345

Os empregadores podem contar com variados instrumentos e aplicações para

controlar a utilização feita pelos trabalhadores. Quer com a visualização do histórico, quer

com as cookies346, ou quer com os ficheiros logs347, o empregador consegue saber com

precisão o perfil do trabalhador, perfil criado com os dados que o trabalhador foi deixando

à medida que ia acedendo a vários sites, entre eles as Redes Sociais, que são dos sites

onde os trabalhadores passam maior parte do seu tempo e onde deixam marcas maiores 348. Além de que os ficheiros log são considerados pela CNIL como dados pessoais, no

sentido em que permitem a identificação de uma pessoa, e que por essa razão, os

utilizadores, ou seja os trabalhadores, devem saber da existência de aplicações deste

género, e a duração, e o período de conservação, posição adotada pela Diretiva

2002/58/CE e Diretiva 95/46/CE.349

343 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 675 344 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 676 345 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 677 346 As cookies são “pequenos ficheiros de texto onde se guarda informação sobre o que se realizou ao visitar um determinado site, contendo um identificador permanente”, in TERESA COELHO MOREIRA, A Privacidade dos Trabalhadores e as NTIC, in Tese de Doutoramento, Universidade do Minho 347 “É uma expressão utilizada para descrever o processo de registro de eventos relevantes num sistema computacional. Esse registro pode ser utilizado para restabelecer o estado original de um sistema ou para que um administrador conheça o seu comportamento no passado. Um arquivo de log pode ser utilizado para auditoria e diagnóstico de problemas em sistemas computacionais”, in https://pt.wikipedia.org/wiki/Log_de_dados 348 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 682 349 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 680

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Os cookies por sua vez, não têm uma perceção tão fácil, e por isso há quem os

veja como dados pessoais e há quem não considere o mesmo, pois só consegue

identificar o IP e por isso identificar o computador em causa, mas não o utilizador 350.

Assim parece ser do entendimento maioritário que só os ficheiros log merecem a

regularização e segurança da Lei da Proteção de Dados Pessoais, e por isto, aplica-se

quer no tratamento de dados quer aos empregadores quer a terceiros.351

Analisemos ainda, o papel do administrador do sistema, que tem como função

assegurar a segurança do sistema e que por esse motivo tem todas as passwords

necessárias para aceder aos servidores de ficheiros. Porém, não lhe é permitido qualquer

exploração que seja dispensável para a prossecução dos fins a que se destina.352353 Deste

modo, deve ser pedido o consentimento prévio do trabalhador antes de o administrador

intervir e tendo sempre em atenção os direitos fundamentais do trabalhador que não

podem ser violados com a justificação de um eventual consentimento do trabalhador 354. O

artigo 17º, nº1 da Lei da Proteção de Dados Pessoais abrange aos administradores o

segredo profissional, e também GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA compadecem

dessa opinião355, não podendo por essa razão partilhar qualquer informação que tenham

obtido sobre esse colega.

Acreditamos então que, deve existir por parte do empregador um controlo indireto,

ou seja, devem ser analisados controlos estatísticos em relação ao tempo em que a

maioria dos trabalhadores passa nas Redes Sociais e assim conseguir auferir a

repercussão que esse tempo tem para com os interesses da empresa 356. Desta forma

está a proteger os seus interesses sem pôr em causa o direito à privacidade e à dignidade

350 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 681 351 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 681 352 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 683 353 Assim “a finalidade deve ser definida da forma mais precisa possível pois só a sua especificação pormenorizada podem provar a proporcionalidade dos dados registados.”, TERESA COELHO MOREIRA, “O controlo das comunicações eletrónicas dos trabalhadores”, in Estudos de Direito do Trabalho, Almedina, Coimbra,2011,p. 42 354 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 685 355 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 685, nota 2047 356 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 701

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dos trabalhadores, caso os vigiasse individualmente.357 E caso o faça de forma oculta será

uma intromissão ilegítima na privacidade do trabalhador358, a não ser que estejamos num

caso de um interesse constitucionalmente evidente e que não seja possível outro tipo de

controlo e aí entrará em campo o princípio da proporcionalidade que deve ser respeitado,

sendo o menos intrusivo possível e devendo ainda ser aplicada a Lei da Proteção de

Dados Pessoais, e por isso, o principio da proporcionalidade359, transparência, boa fé e

compatibilidade com o fim destinado, e até como vem determinado pelo artigo 22º CT,

que parece tutelar os mesmos princípios. 360 O empregador também não pode utilizar as

possibilidades de controlo que as novas tecnologias oferecem sem respeitar os princípios

supra mencionados e aí a melhor solução será mesmo a realização de Carta de Conduta 361, como já referimos anteriormente. Consegue-se conjugar assim o dever de informação

com uma possível desresponsabilização do empregador perante atos ilícitos do

trabalhador. Normalmente, a utilização de qualquer Rede Social e chat são objetos de

proibição total de acesso no horário do trabalho, muitas vezes são os próprios

empregadores que configuram os computadores da empresa para bloquear este tipo de

redes.

A utilização das Redes Sociais por parte dos trabalhadores acarreta alguns riscos,

riscos como a difusão de informações confidenciais, difusão de comentários menos

positivos sobre empresa ou empregador, perda de produtividade pelo tempo perdido pelos

mesmos, a própria segurança das redes informáticas da empresa e até a possibilidade de

responsabilidade do empregador.362 A adesão às Redes Sociais no local e tempo de

trabalho poderá configurar uma violação dos deveres dos trabalhadores, assim como a

publicação de opiniões ou ideias contra a entidade patronal ou colegas de trabalho, e em

especial o de zelo, de acordo com o artigo 128º, nº1, alínea c) do CT, assim como o dever

357 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 701 358 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 701 359 Principio previsto no art.6, nº1, alínea c) da Diretiva 95/46/CE, e no art.5º, nº1, alínea c) da Lei da Proteção de Dados Pessoais, assim deve o tratamento destes dados, adequado, pertinente e não excessivo em relação às finalidades para que os dados são recolhidos., TERESA COELHO MOREIRA, “O controlo das comunicações eletrónicas dos trabalhadores”, in Estudos de Direito do Trabalho, Almedina, Coimbra,2011,p. 40 360 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 703 361 TERESA COELHO MOREIRA, ”A privacidade dos trabalhadores e as novas tecnologias de informação e comunicação: contributo para um estudo dos limites do poder de controlo eletrónico do empregador”, Tese de Doutoramento, Almedina, Coimbra, Maio, 2010, p. 703 362 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.80

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de lealdade explanado no nº1, aliena f) do mesmo artigo363364. Porém como vimos, não é

legítimo aos empregadores controlarem o perfil e as publicações nas Redes Sociais dos

seus funcionários quando estes os têm como privados e vetam o acesso ao empregador

do mesmo 365. Exemplo disso foi a decisão da Cour d’appel de Rouen que em 15 de

Novembro de 2011, que decidiu que embora as criticas apontadas por uma funcionária

ao seu patrão fossem consideradas como faltas graves e por isso possíveis de

despedimento, o empregador é que teria o ónus da prova dos factos que justificavam o

despedimento, e este não conseguiu provar quais as definições que a funcionária tinha

estabelecido para a sua conta, e nem conseguiu precisar como obteve as páginas que

usou como provas para a calúnia, e por essa razão não conseguiu comprovar que o perfil

da funcionária era público e por isso encontra-se dentro da correspondência privada. 366

Em Setembro de 2010, foi divulgado um caso em que um trabalhador do grupo TMN,

aderiu ao Facebook e publicou um post negativo sobre a empresa, enquanto que colocava

em espera uma cliente pelo telefone para fazer a tal publicação O empregador teve acesso

à publicação porque tinham o seu computador monitorizado.367

Como podemos ver, o empregador não está livre de sofrer danos relativos a esta

utilização, principalmente o acesso ao perfil do trabalhador é público. É preciso atender

aos casos concretos para realmente perceber se houve um uso abusivo e excessivo do

seu direito à liberdade de expressão ou informação, e relevar ainda o nível de privacidade

363 Esta questão todavia relaciona-se com o conflito de direitos entre o direito à liberdade de expressão, consagrado na CRP no seu artigo 37º e

no CT no artigo 14º. Um exemplo disso foi a decisão apresentada na Acta de Audiência de Julgamento da providência cautelar nº 2926/97, do

Tribunal Cível da Comarca de Lisboa, 2º juízo, 3ª secção, que envolve questões relativas a difamações online, em que a requerente, a empresa

Ideias e Letras, traduções de legendagem, Lda. e as requeridas são a JCB, consultores de comunicação, Lda., responsável pelo sítio, e JMC,

coordenador do Ciberdúvidas. O litígio surgiu quando as requerentes criticaram a qualidade das legendas numa publicação naquele sítio da

internet. A requerente considerou difamatório o conteúdo do artigo e propôs uma ação judicial e uma providência cautelar contra as requeridas.

Para a resolução do litígio, as partes acordaram que as requeridas reconheciam que as expressões utilizadas poderiam causar danos à

requerente e que aceitariam retirar essas referências, pondo no seu lugar uma declaração de retratação. As partes reconheceram que a internet

é um lugar de livre acesso e expressão de ideias, mas que deve ser também um lugar de responsabilidade, não devendo estar alheado da lei.

364 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.82-83 365 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.84 366 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.84 367 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html

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da conta e a tipologia da rede social que é utilizada 368. É certo que, se o trabalhador

restringiu o seu perfil apenas para os seus amigos, sendo vedado a todos os outros

utilizadores, há então um grau maior de privacidade e por isso os dados partilhados serem

considerados dados da esfera privada. Não esquecendo que é o próprio trabalhador que

controla o nível de privacidade e proteção que quer estabelecer na sua conta. E como o

ónus da prova recai sobre o empregador num possível processo disciplinar, é a ele que

cabe provar a falta de privacidade da publicação em causa. Concluímos assim que é

necessário um critério personalizável a cada caso em concreto.369 Porém se a publicação

estiver marcada como pública, então será da esfera pública e será fácil ao empregador

justificar uma possível sanção ou despedimento. São muitos os ordenamentos jurídicos

que consideram que a partir do momento em que algo é publicado na Internet não há

qualquer tipo de privacidade e por isso não poderá esperar um tratamento protegido pela

mesma370.

Existem ainda outros fatores preponderantes para que seja possível caracterizar

um perfil social como público ou privado. É necessário então, analisar o perfil dos amigos

do utilizador em causa, por exemplo, se tem amigos jornalistas que podem passar a

informação para via pública, ou até se tem clientes da empresa como amigos, o que

poderá trazer repercussões negativas para a empresa 371. Mas claro que tudo girará

sempre em volta do controlo que o próprio trabalhador tem da sua conta, e do que torna

público ou não. Não podemos considerar que alguém que permite que amigos dos amigos

acedam ao seu perfil tenha o direito de invocar a privacidade do seu perfil, muito menos

quando é totalmente público, assim como o número de amigos for bastante elevado.

Mesmo assim preferimos a doutrina em que em nada será benéfico para o

empregador a proibição total da utilização das redes.

368 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.86 369 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.86 370 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.87, nota 96 371 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora,p.88

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III CAPITULO – IMPACTO DAS REDES SOCIAIS NA CESSAÇÃO

DO CONTRATO DE TRABALHO

3.1 Cessação do Contrato de Trabalho

Um contrato de trabalho pode cessar por variadas razões, como podemos

comprovar com o artigo 340º do CT. Pode ser por caducidade, revogação, despedimento

por facto imputável ao trabalhador, despedimento coletivo, despedimento por extinção do

posto de trabalho, por inadaptação, resolução pelo trabalhador e denúncia pelo

trabalhador.

No entendimento de PEDRO ROMANO MARTINEZ 372, “ o despedimento é uma

forma de cessação unilateral do contrato de trabalho em que a iniciativa cabe ao

empregador”. A presente vontade da entidade empregador não tem eficácia retroativa,

tendo o empregador de pagar todos os créditos vencidos até à data em que o contrato

cessa, independentemente da causa 373 . O efeito extintivo do contrato verifica-se no

momento em que o trabalhador receba a declaração de vontade, nos termos do artigo

244º do CC, e é uma declaração negocial irrevogável a partir desse momento, tal como

todas as declarações negociais, de acordo com o artigo 230º do CC374.

Para o tema em causa, interessa-nos analisar o despedimento por facto imputável

ao trabalhador e desta forma, interessa-nos o primeiro fundamento para a resolução do

contrato de trabalho por iniciativa por parte do empregador que é a justa causa de

despedimento. Conforme o artigo 53º da CRP, o despedimento tem que ter sempre justa

causa 375, e no entendimento de PEDRO ROMANO MARTINEZ, existem dois tipos de justa

372 PEDRO ROMANO MARTINEZ, “Apontamentos sobre a cessação do contrato de trabalho à luz do Código de Trabalho”, Associação Académica da Faculdade de Lisboa, Lisboa , 2004, p.85 373 PEDRO ROMANO MARTINEZ, “Apontamentos sobre a cessação do contrato de trabalho à luz do Código de Trabalho”, Associação Académica da Faculdade de Lisboa, Lisboa , 2004, p.88 e nota 144 374 PEDRO ROMANO MARTINEZ, “Apontamentos sobre a cessação do contrato de trabalho à luz do Código de Trabalho”, Associação Académica da Faculdade de Lisboa, Lisboa , 2004, p.85 375 PEDRO ROMANO MARTINEZ, “Apontamentos sobre a cessação do contrato de trabalho à luz do Código de Trabalho”, Associação Académica da Faculdade de Lisboa, Lisboa , 2004, p.91

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causa: uma subjetiva 376, que é o tipo de justa causa que iremos abordar, e uma

objetiva377.

O artigo 351º, nº1 do CT nas palavras de expõe que é um comportamento culposo

do trabalhador que, pela sua gravidade e consequências, tornará imediata e praticamente

impossível a subsistência da relação de trabalho. TERESA COELHO MOREIRA, distingue

três elementos que compõe a definição de justa causa de despedimento 378. O primeiro

será a violação culposa (dolo ou negligência)379 de deveres contratuais do contrato de

trabalho, que poderão ser principais, secundários ou acessórios, como o dever de

lealdade ou de não concorrência, e a violação não necessita de ter sido feita no local ou

horário de trabalho 380. Segundo o Acórdão do STJ, de 13 de Outubro de 2010, a culpa

deve ser apreciada pela diligência de um bom pai de família, consoante as circunstâncias

do caso 381. O segundo elemento será a impossibilidade prática de subsistência da relação

laboral, muitas vezes a impossibilidade será justificada pela quebra de confiança que

existe entre a entidade patronal e o trabalhador 382. Já o Acórdão do STJ, de 13 de Janeiro

de 2010, confirmou esta posição ao referir que “existe a impossibilidade prática e

imediata de subsistência da relação laboral quando ocorra uma situação de absoluta de

quebra de confiança entre a entidade empregadora e o trabalhador, susceptível de criar

no espirito da primeira a dúvida sobre a idoneidade futura da conduta do último” 383.

Porém a impossibilidade prática de subsistência da relação tem que derivar do

comportamento culposo da violação, e não de outro factor, e este será o terceiro

elemento384.

376 Segundo PEDRO ROMANO MARTINEZ, “que se funda num comportamento culposo do trabalhador”, in PEDRO ROMANO MARTINEZ, “Apontamentos sobre a cessação do contrato de trabalho à luz do Código de Trabalho”, Associação Académica da Faculdade de Lisboa, Lisboa , 2004, p.85 377 “ Depende de motivos relacionados com a empresa, que inviabilizam a prossecução da relação laboral” , PEDRO ROMANO MARTINEZ, “Apontamentos sobre a cessação do contrato de trabalho à luz do Código de Trabalho”, Associação Académica da Faculdade de Lisboa, Lisboa , 2004, p.85 378 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p. 388 379 ANA LAMBELHO e LUISA ANDIAS GONÇALVES, “Poder disciplinar e justa causa de despedimento”, Quid Juris- Sociedade Editora, 2012, p.29 380 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p. 389 381 ANA LAMBELHO e LUISA ANDIAS GONÇALVES, “Poder disciplinar e justa causa de despedimento”, Quid Juris- Sociedade Editora, 2012, p.30 382 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p. 389 383 Ac. STJ de 13.01.2010, citado em ANA LAMBELHO e LUISA ANDIAS GONÇALVES, “Poder disciplinar e justa causa de despedimento”, Quid Juris- Sociedade Editora, 2012, p.31 384 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p.389

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89

O nº2 do artigo 351º enumera uma série de comportamentos capazes de

exemplificar o que foi dito. O nº3, por sua vez revela quais os factores que devem ser

relevados e apreciados, sendo o grau da lesão dos interesses do empregador e o carácter

das relações laborais, entre outros, aspetos a serem considerados e ponderados 385. Por

essa razão, PEDRO ROMANO MARTINEZ 386, considera que, “apesar de o não

cumprimento do contrato constituir fundamento legal de resolução, o legislador,

normalmente, não concede ao lesado o direito de unilateralmente extinguir o contrato se o

dano causado pelo incumprimento for de escassa importância”, aplicando este principio

também ao contrato de trabalho 387.

A violação do dever de obediência é um dos exemplos tipificados no artigo 351º

nº2 do CT. Porém, caso as diretrizes do empregador seja ofensiva aos bons costumes, ou

ordem pública, violadoras do principio da boa fé, e por isso, possíveis de serem

consideradas ilícitas e ilegais388 Também poderão desrespeitar as ordens caso sejam

contrárias a regras gerais, como acontece com os direitos de personalidade dos artigos

70º e seguintes do CC 389. Desta forma, o trabalhador pode legitimamente desobedecer as

ordens recebidas, nos termos do artigo 120º do CT. Concordamos com MONTOYA

MELGAR390 em “como princípio moderador dos perigos que, inevitavelmente, suporia a

concessão de um direito absoluto à desobediência só estará justificada no caso de a

ordem impor uma conduta manifestamente ilícita ou danosa”. Contudo, em casos em que

as diretrizes sejam licitas, uma violação deste dever, constitui uma infração disciplinar

grave, no modo em que põe em causa o poder de direção do empregador 391 . O artigo

98º do CT, consagra ao empregador o direito de aplicar sanções disciplinadoras ao

385 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p. 389 386 PEDRO ROMANO MARTINEZ, “Apontamentos sobre a cessação do contrato de trabalho à luz do Código de Trabalho”, Associação Académica da Faculdade de Lisboa, Lisboa , 2004, p.92 387 PEDRO ROMANO MARTINEZ, “Apontamentos sobre a cessação do contrato de trabalho à luz do Código de Trabalho”, Associação Académica da Faculdade de Lisboa, Lisboa , 2004, p.92 388 ANA LAMBELHO e LUISA ANDIAS GONÇALVES, “Poder disciplinar e justa causa de despedimento”, Quid Juris- Sociedade Editora, 2012, p.13, e TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.243 389 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.243 390 MONTOYA MELGAR citado em, TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.243 391 LUÍS MANUEL TELES DE LEITÃO, Direito do Trabalho, Almedina, Julho, 2003,p. 389

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trabalhador, caso este não cumpra algum dos seus deveres.392 O empregador poderá

também delegar esse poder num superior hierárquico do trabalhador em causa, nos

termos do artigo 329º, nº4 do CT. Não está expresso no CT as várias situações em que o

trabalhador comete uma infração disciplinar, sabemos no entanto, que pressupõe que o

mesmo, por ação ou omissão, adote um comportamento que viole os seus deveres para

com a sua entidade patronal393. Sendo a relação jurídico-laboral uma relação complexa,

não se pode dizer que só o desrespeito das ordens origina uma infração disciplinar. Esta

relação tem deveres principais, laterais e acessórios de conduta. Deveres como o de

lealdade e de não concorrência 394.

Aparece, também, como fundamento a prática, no âmbito da empresa, de

violência física, injúrias ou outras ofensas punidas por lei sobre outros trabalhadores ou

empregador, nos termos do artigo 351º, nº2, i) do CT, fundamento que terá a sua

relevância na presente dissertação e que poderá ser consequente de uma utilização

inconsciente e inconsequente do direito de liberdade de expressão do trabalhador e das

Redes Sociais como meio de partilha.

Todavia, no momento em que o trabalhador assina o contrato de trabalho não está

a renunciar aos seus direitos fundamentais 395. E por isso, o trabalhador, fora do âmbito

laboral, é uma pessoa livre de decidir as suas ocupações nos seus tempos livres, o que

não implica que não lhe sejam aplicadas sanções disciplinares.

Uma das maiores preocupações que a utilização das Redes Socias nos trouxe, e

que originou um grande impacto na relação laboral, e que será a questão abordada, é

perceber se as consequências dos conteúdos publicados nas Redes Sociais, e facilmente

partilhados por todos, e por isso sujeitos a uma grande propagação on-line, com

repercussões na relação laboral, poderão ou não ser ignoradas, com base no princípio e

direito da reserva da intimidade da vida privada. Um verdadeiro combate entre a esfera da

liberdade de expressão do trabalhador com base no direito à vida privada e a possibilidade

392 ANA LAMBELHO e LUISA ANDIAS GONÇALVES, “Poder disciplinar e justa causa de despedimento”, Quid Juris- Sociedade Editora, 2012, p.11 393 ANA LAMBELHO e LUISA ANDIAS GONÇALVES, “Poder disciplinar e justa causa de despedimento”, Quid Juris- Sociedade Editora, 2012, p.12 394 ANA LAMBELHO e LUISA ANDIAS GONÇALVES, “Poder disciplinar e justa causa de despedimento”, Quid Juris- Sociedade Editora, 2012, p.13 395 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.396

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91

do exercício deste direito nos levar uma possível justa causa de despedimento, por

violação do dever de lealdade e até na prática de ofensas ao bom nome e honra da

entidade patronal ou de colegas de trabalho.

3.2 Liberdade de Expressão e Redes Socias vs Justa causa

de despedimento

No ordenamento jurídico português, é imperativa a ideia de que o poder diretivo

do empregador não poderá, em regra, preponderar em relação a comportamentos da

esfera pessoal do trabalhador e assim só aplicará sanções a comportamentos obtidos no

horário e local de trabalho.396

Porém, é defendido por PEDRO ROMANO MARTINEZ, que o empregador não

poderá ficar indiferente a atitudes do trabalhador que violem os deveres acessórios do

trabalhador e aí estaremos presentes a um cumprimento defeituoso do contrato de

trabalho, e nestes casos será importante ponderar a gravidade do incumprimento e a

possibilidade de manutenção do contrato de trabalho e as consequências jurídicas do

despedimento.397

Para BERNARDO XAVIER, não cabe ao empregador censurar os comportamentos

do trabalhador, contudo existem exceções no que toca a “interesses muito atendíveis da

entidade patronal ou exigências da particular natureza da prestação de trabalho”398. Há

comportamentos extralaborais passiveis de melindrar a esfera jurídicas das partes

outorgantes num contrato de trabalho, comportamentos violadores da boa fé e que por

isso justificam a cessação do contrato de trabalho399. Pode ainda ser exemplo de justa

causa de despedimento, quando um trabalhador na sua vida pessoal tiver

396 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.407 397 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.421 398 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p. 422 399 BERNADO XAVIER refere que “a conduta extralaboral das partes que se traduza na violação daqueles especiais deveres de boa fé que surgem para os estipulantes no contrato de trabalho, deveres que consistem no respeito devido à capacidade profissional do trabalhador e na consideração devida ao empreendimento e à pessoa da entidade patronal, pode, nos termos comuns, determinar uma situação de justa causa”, citado em TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.422

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comportamentos capazes de denegrir a imagem e o bom nome da empresa. E caso o

mesmo tenha um tipo de vida contrário ao que a função e o contrato laboral determinam

ou então possível de colocar em risco a relação de confiança entre as partes, pode ser

despedido com justa causa. Há determinado atos, que por muito que se mantenham na

esfera pessoal do trabalhador, podem inviabilizar qualquer hipótese de manutenção da

relação de confianças e por isso laboral400. Assim, nenhum ato que não revele ou origine

qualquer repercussão direta na relação de confiança entre trabalhador e empregador, ou

sobre as prestações contratuais e interesses da empresa, não parece ser justificativo de

ser levado em conta e em consideração para um possível despedimento do trabalhador.

Também, os casos em que um trabalhador ofenda outro colega de trabalho nas Redes

Socias, ofensa que poderá ser visível a clientes, outros colegas e até empregador,

dependente do grau de privacidade do seu perfil, poderá afetar o bom ambiente de

trabalho e produzir um reflexo negativo na produtividade da empresa e até denegrir a

imagem desta, o que poderá ser motivo para a cessação do contrato de trabalho. É esta a

opinião de BERNARDO XAVIER e que por nós é partilhada401. Concordamos com a autora

TERESA COELHO MOREIRA402, ao defender a manutenção do posto de trabalho ao

trabalhador que cometa um crime em que a vítima é um familiar do empregador caso não

haja repercussão ao nível laboral, afinal parece-nos ilusório que seja possível manter uma

relação de confiança entre as partes num caso destes. Acreditamos que não seja possível

ao empregador manter uma relação laboral pautada pela confiança com um trabalhador

que tenha partilhado, por exemplo fotos em que a filha do empregador se encontra nua ou

que difame a mesma nas Redes Sociais, mesmo que este ato não tenha repercussões

para a prestação de trabalho em si. Contudo parece-nos razoável o entendimento de

JORGE LEITE de que deve ser sancionado a perturbação causada na relação e prestação

laboral da conduta privada do trabalhador e não a conduta em si.403 Regrando desta

forma, o princípio da irrelevância disciplinar do comportamento extralaboral, “a não ser

400 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.423 401 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.424 402 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.424 403 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, 425

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quando se concretize num facto ilícito, em obediência ao direito à reserva sobre a vida

privada, sobre a liberdade deste e, em especial, ao direito a não ser controlado”.404

Serão os resultados destes comportamentos na esfera laboral que poderão

justificar o despedimento, nos termos do art. 351º, nº1 CT e PEDRO ROMANO

MARTINEZ405 considera “comportamento culposo do trabalhador que, pela sua gravidade

e consequências, torne imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de

trabalho”. Para justificar um despedimento basta a violação dos deveres do trabalhador,

quer sejam principais ou acessórios, e por isso não poderá violar o dever de lealdade e

urbanidade para com o empregador, nos termos do art.128º, nº1, al. a) do CT 406. Além

de se exigir um nexo de causalidade entre o comportamento ilícito com o vínculo

contratual, é também exigido que o mesmo comportamento seja considerado grave,

critério que não estará sujeito a ponderação por parte do empregador mas sim do critério

“do empregador razoável” e assim ser praticamente impossível a manutenção do contrato

laboral, havendo uma rutura sem ponto de remediação, tendo sempre em conta o

disposto no art. 351º, nº2 do CT407408. Caberá ao empregador provar que perante tais

ações a manutenção do posto de trabalho causaria prejuízos sérios para empresa. E

caberá ao juiz ponderar com base na natureza das funções exercidas, o tipo de

comportamento, a finalidade e tipo da empresa e todas as outras circunstâncias

envolventes.409

A verdade é que tudo o que publicamos nas Redes Sociais, desde fotos,

comentários, páginas de que gostamos, e até o que pensamos que sejam apenas

desabafos para os nossos amigos on-line, podem vir a trazer repercussões inesperadas.

Afinal, em apenas segundos conseguimos ver publicações que foram geradas no outro

lado do mundo e de pessoas que não fazemos a mínima ideia de quem sejam, para isso

basta clicar na opção de “Partilhar”. Um exemplo disso é a notícia do despedimento de

404 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.425 405 PEDRO ROMANO MARTINEZ, citado em TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora,2004, p.427 406 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.428 407 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.429 408 Este artigo “estabelece a necessidade de atender-se no quadro da gestão da empresa, ao grau da lesão dos interesses do empregador, ao carácter das relações entre as partes ou entre o trabalhador e seus companheiros e às demais circunstâncias que no caso se mostrem relevantes.”, TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.429 409 TERESA COELHO MOREIRA, “Da esfera privada do trabalhador e o controlo do empregador”, Studia Iuridica, Coimbra Editora, 2004, p.429

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dois professores na sequência da publicação, no Facebook, de uma fotografia de um

colega sentado em cima dos trabalhos dos alunos, seguida de vários comentários de

outros colegas a respeito do prémio “Professor do Mês” 410,é um caso em que o

empregador releva comportamentos extralaborais para fundamentar um despedimento de

justa causa. Aqui, o empregador justifica a sua decisão, por achar que o comportamento

dos professores revela desprezo pela profissão. Parece-nos ser uma sanção

desproporcional e excessiva, atendendo ao caso em concreto. A regra geral é a defesa da

vida privada em relação à vida profissional e por isso ser irrelevante um comportamento

extraprofissional para a relação laboral 411. Pareceu-nos que o entendimento do

empregador foi exatamente o contrário, não tendo respeitado a regra geral 412, no sentido

de que haja um nexo de causalidade entre o comportamento e a impossibilidade de

subsistência da relação laboral, com base em critérios de objetividade e proporcionalidade

413 e, por isso, que tais comportamentos afetem o bom nome da empresa e violem o

dever de lealdade de tal maneira que seja impossível continuar a relação laboral 414. Para

JÚLIO GOMES, a relevância laboral de um comportamento da vida pessoal pode resultar

da violação de deveres acessórios de conduta, que se traduz numa situação de

incumprimento ou de um cumprimento defeituoso do contrato de trabalho 415. É

indiscutível que se o trabalhador estiver identificado, assim como a entidade patronal, a

mesma poderá vir a sofrer variados danos e por isso há sempre que analisar o caso em

concreto e ver se o trabalhador ultrapassou o limite no exercício do seu direito de

informação ou de liberdade de expressão ou se agiu conforme e dentro dos parâmetros

legais. Contudo ainda outros dois fatores serão tomados em consideração, e esses fatores

são a parametrização da conta do trabalhador e qual o tipo de serviço da Rede Social416.

No entender de TERESA COELHO MOREIRA, opinião que também é partilhada por nós, se

o trabalhador teve o cuidado de restringir o seu perfil apenas aos seus amigos, o mesmo

410 MÁRIO DAVID CAMPOS; HÉLDER OLIVEIRA, “Apanhados na rede”, Revista Visão, n.º 1054, 16- 22 maio 2013, pp. 58-63 411 JORGE LEITE, Direito do Trabalho, Vol. II, reimp., Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1999, p. 97, 412 MARIA DO ROSÁRIO RAMALHO, “Sobre os Limites do Poder Disciplinar”, in I Congresso Nacional de Direito do Trabalho - Memórias, Almedina, 1998, p. 196 413 Ac. STJ de 13.01.2010, citado em ANA LAMBELHO e LUISA ANDIAS GONÇALVES, “Poder disciplinar e justa causa de despedimento”, Quid Juris- Sociedade Editora, 2012, p.31 414 GUILHERME DRAY, “Justa Causa e Esfera Privada”, in Estudos do Instituto de Direito do Trabalho, Vol. II, Almedina, Coimbra, 2001, p. 70 415 JÚLIO GOMES, Direito do Trabalho, Volume I. Relações Individuais de Trabalho, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, p. 975 416 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.86

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terá um grau de privacidade acrescido 417, o mesmo não acontecerá a alguém que não

tenha restringido o seu perfil apenas aos seus amigos, e assim amigos dos amigos e até

as pessoas no geral poderá ver o que foi partilhado, aqui estaremos presente a uma

esfera pública.

Porém, o nosso ordenamento jurídico não está isento de casos de despedimentos

com base no controlo feito pelo empregador que foram sujeitos à apreciação por parte do

juiz para decisão da justa causa dos mesmos. Serão alguns destes casos que iremos

analisar seguidamente e que serão como uma conclusão de tudo o que foi analisado ao

longo de toda a presente dissertação.

O Tribunal da Relação de Lisboa, de 7 de Março de 2012418, e o Tribunal da

Relação do Porto, de 8 de Fevereiro de 2010419, decidiram quanto à ilicitude da prova do

correio eletrónico no caso do Acórdão do TRP e quanto à ilicitude da prova do Messenger

no caso do Acórdão do TRL, devido à sua natureza privada e por isso protegida pelo art.

22º do CT e pelo art.14º também do mesmo código, pelo direito à liberdade de expressão

do trabalhador.

Por sua vez, o Acórdão do Tribunal da Relação de Évora, de 30 de Janeiro de

2014 420, considerou que, constituiria justa causa de despedimento, a divulgação feita

pelo trabalhador, através do Facebook, de mensagens em que o conteúdo das mesmas,

manchava o bom nome e a honra do representante legal da entidade patronal,

principalmente quando não conseguiu provar a veracidade das acusações feitas, assim foi

decidido que “ em face desta matéria de facto provada e tendo em consideração os

referidos aspetos jurídicos decorrentes do direito que, ao caso, é aplicável, também nós, à

semelhança do que se verificou na sentença recorrida, não podemos deixar de concluir

que os comportamentos assumidos de forma culposa – já que podia e tinha capacidade

para agir de modo diverso – pelo aqui autor, constituem grave violação dos seus deveres

417 TERESA COELHO MOREIRA, “A privacidade dos trabalhadores e a utilização das redes sociais online,” in Questões Laborais nº41, Janeiro Junho 2013, Coimbra Editora, p.86 418 TERESA COELHO MOREIRA, “Controlo do Messenger dos trabalhadores: anotação ao acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 7 de Março de 2012”, in Prontuário de Direito do Trabalho- 91-92, Coimbra Editora 419 TERESA COELHO MOREIRA, “Controlo do Correio eletrónico dos trabalhadores: comentário ao acórdão do Tribunal da Relação do Porto. De 8 de Fevereiro de 2010”, in Estudos do Direito do Trabalho, Almedina, Coimbra, 2011 420 Acórdão TRE, 30.01.2014, Processo nº 8/13.6TTFAR.E1 in http://www.dgsi.pt/jtre.nsf/134973db04f39bf2802579bf005f080b/70b93024fca4bc1480257de10056fe9c?OpenDocument&Highlight=0,despedimento,facebook

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laborais de respeito, urbanidade e mesmo de lealdade devidos ao legal representante da

sua entidade empregadora”. O trabalhador tinha a plena consciência que ao agir dessa

forma prejudicava e feria a honra e o bom nome da outra parte e dá ainda a crer que seria

esse o objetivo do trabalhador. O trabalhador tentou esconder a sua identidade, utilizando

um perfil falso, e ao fazer isso, o trabalhador demonstra que tinha consciência que os

seus atos poderiam ser sancionados pela entidade empregador e que estaria assim a

violar deveres laborais, tendo em conta o princípio da boa fé que deve se manter na

execução do contrato de trabalho.

O Acórdão do Tribunal de Relação de Lisboa, de 24 de Setembro de 2014 421,

analisou o grau de privacidade do perfil de um trabalhador que publicou um estado

ofensivo ao bom nome e dignidade do Presidente do Conselho da Administração da sua

entidade patronal. O Tribunal considerou que embora o perfil do trabalhador fosse restrito

a apenas aos amigos do mesmo, o trabalhador na sua mensagem pediu expressamente

que os seus amigos partilhassem a mesma publicação, e por isto deixou de ser possível

considerar tal publicação como esfera privada do mesmo, já que era intenção máxima do

trabalhador que fosse tornada pública e de conhecimento geral. Ao analisar esta questão,

o Tribunal considerou consensual a ideia de que, para maior parte dos cidadãos, têm uma

noção geral das funcionalidades do Facebook, noções que são possíveis retirar do próprio

Centro de Ajuda online da Rede Social em causa. A questão centra-se no conceito de

privacidade que o Facebook nos tenta induzir ao utilizar o conceito de “amigos” que em

nada se parece com o conceito mais íntimo da palavra. A verdade é que há uma

tendência de os utilizadores desta Rede, aceitarem pessoas que, normalmente não fazem

parte do nosso círculo de amizades. Se na vida real podemos contar pelos dedos da mão

os amigos com quem partilhamos a nossa vida íntima, nas Redes Sociais online isso não

acontece, sendo que há pessoas com mais de 500 amigos. No presente caso, o

funcionário não restringiu a sua publicação a um grupo restrito de amigos, além de que

mesmo que assim fosse, a verdade é que a publicação pode muito bem ser partilhada

pelos amigos do utilizador, e assim adiante. E foi através de um amigo do utilizador, que a

421 Acórdão do TRL, de 24.09.2014, Processo nº 431/13.6TTFUN.L1-4 in, http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/ecca98e591fa824780257d66004b4283?OpenDocument&Highlight=0,despedimento,facebook

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entidade patronal teve acesso à publicação. Para além disso, o trabalhador tentou dar a

ideia de que tentou manter a privacidade da sua publicação, ideia que não foi sustentada

até pelo texto em si. Afinal no próprio texto da publicação, o trabalhador promoveu à

partilha do mesmo ao pedir aos seus amigos que o fizessem. Esse mesmo incentivo

permitiu a que o Tribunal considerasse o conhecimento por parte do empregador oficioso,

sendo por isso fácil para o empregador tomar conhecimento do facto já que foi pedido

pelo trabalhador para que a publicação fosse partilhada por outros e por isso o

trabalhador não poderia ignorar a possibilidade de tal publicação chegasse ao

conhecimento do empregador, não podendo desta forma de beneficiar do artigo 22º do

CT.

Também o Tribunal da Relação do Porto, de 8 de Setembro de 2014 422,

considerou lícito o despedimento de um trabalhador que resolver publicar num grupo

“trabalhadores do …” do Facebook diversos temas relativos à vida interna da empresa

que seriam prejudiciais e ofensivos ao bom nome da empresa e que não corresponderiam

à verdade, além do que não se poderia considerar tais publicações como privadas pois o

grupo onde foram publicadas, era composto apenas por trabalhadores da empresa e que

por isso não havia qualquer expectativa de privacidade, como é referido neste excerto do

presente acórdão “Não havendo essa expectativa de privacidade, e estando o trabalhador

ciente de que publicações com eventuais implicações de natureza profissional,

designadamente porque difamatórias para o empregador, colegas de trabalho ou

superiores hierárquicos, podem extravasar as fronteiras de um “grupo” criado na rede

social Facebook, não lhe assiste o direito de invocar o carácter privado do grupo e a

natureza “pessoal” das publicações, não beneficiando da tutela da confidencialidade

prevista no artigo 22.º do Código do Trabalho.” Os Tribunais não têm reconhecido as

legítimas expectativas de privacidade dos perfis e publicações do utilizador das Redes

Sociais pela falta de garantias de privacidade que resulta dos Termos de Uso e Políticas

422 Acórdão do TRP, de 08.09.2014, Processo nº 101/13.5TTMTS.P1 in, http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/56a6e7121657f91e80257cda00381fdf/917c9c56c1c2c9ae80257d5500543c59?OpenDocument&Highlight=0,despedimento,facebook

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de Privacidade423 dos provedores de serviços e pelo facto de que terceiros, em qualquer

momento, podem partilhar o conteúdo sem necessitar de qualquer autorização da “fonte

da publicação. Também, o Grupo de Trabalho do Artigo 29º, sustenta esta opinião. No

Parecer 5/2009, o referido Grupo, refere alguns detalhes que sustentam a ideia da

natureza pública das páginas das Redes Sociais, detalhes como: a ausência de restrições

de acessoa o mural, o grande número de contactos que cada utilizador tem, que revela a

falta de critérios na aceitação dos seus “amigos online”. Para JEAN-EMMANUEL RAY424,

quando um utilizador autoriza que os amigos dos seus amigos acedam ao seu perfil, não

há como considerar que esse perfil seja um espaço privado, mas sim público.

Concordámos assim, com a posição deste autor.

Porém, o controlo e a vigilância das condutas extralaborais não são aceitáveis

tendo em conta o princípio da reserva da intimidade privada e da dignidade da pessoa

humana 425 .Competindo aos tribunais, em defesa destes princípios, inspecionar os meios

de obtenção de prova. Afinal, como já foi referido no 1º capítulo, uma das vulnerabilidades

das Redes Sociais é a possibilidade de criação de perfis falsos, pelo que não será justo

para com o trabalhador não haver uma fiscalização que verifique a veracidade do mesmo.

Além disso, o empregador pode ter tomado conhecimento dos factos através de outros

colegas, e é preciso saber se esses colegas sofreram qualquer espécie de coação ou

pressão pelo empregador, e se for o caso, estes meios de prova serão nulos.

As empresas ao criar os chamados “Códigos de Conduta” estão a adaptar-se às

novas realidades, com o objetivo de prevenir possíveis conflitos.

É essencial que cada caso seja analisado individualmente, e que haja uma

aproximação entre os direitos enquanto cidadão e enquanto trabalhador, havendo, porém,

sempre um equilíbrio entre o direito à liberdade de expressão e à privacidade e entre os

interesses do empregador. Não nos podemos esquecer que o trabalhador é um

representante da empresa para que trabalha, é muitas das vezes a imagem e o espelho 423 São os próprios utilizadores que autorizam ao Facebook a possibilidade de partilhar os conteúdos públicados, essa autorização termina só com a eliminação da conta, caso o conteúdo tenha sido partilhado pelo utilizador em causa, conforme podemos ver na Declaração de Direitos e Responsabilidades do Facebook, in http://ptpt.facebook.com/legal/terms

424 JEAN-EMMANUEL RAY, “Facebook, le salarié et l'employeur”, Droit Social, n.º 2,p.138

425 MARIA REGINA REDINHA, “Redes Sociais: Incidência Laboral ”, in Prontuário de Direito do Trabalho, nº87, 2010, p. 40

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da mesma, dependente da função que o trabalhador tenha na mesma, e por isso tudo,

isso deverá ser analisado.426 Porém, e tendo o trabalhador atuado no âmbito extralaboral,

e por isso na esfera da sua intimidade e liberdade, e pensando nos interesses, tanto da

entidade patronal como do trabalhador, apenas casuisticamente é que se poderá saber

qual o equilíbrio adequado entre os deveres e direitos de um cidadão/ trabalhador 427.

426 PAULO JORGE DE SOUSA E CUNHA, Utilização de “Redes Sociais” em contexto de trabalho , in http://paulo-cunha.blogspot.pt/2012/03/1.html 427 SUSETE SOFIA MACHADO DE SOUSA, “As Redes Sociais e os Blogues no Contrato de Trabalho. Sobre a eventual relevância disciplinar dos comportamentos extralaborais”, in Dissertação de Mestrado em Direito Privado, 2013, http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/17634/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Susete%20Machado%20de%20Sousa.pdf

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CONCLUSÕES:

I. A verdade é que, juntamente com as NTIC, surgiram inúmeros meios informáticos

que estão aptos para ameaçar a privacidade de qualquer pessoa e, por isso, aptos

também, a ameaçar e atacar a privacidade dos trabalhadores. Através destas novidades

tecnológicas, é possível recolher e tratar informações pessoais sem qualquer limite.

Sendo, assim, possivel de recolher, tratar, armazenar e regular o maior número de

informações sobre a pessoa ou as pessoas que quiser e sem que esta dê por isso,

acabando com qualquer tipo de privacidade da mesma.

II. Ao acedermos e registarmo-nos em Redes Sociais disponibilizamos informações

que pensamos que só a Rede Social em causa é que vai ter acesso, podendo, em

qualquer altura, apagar a conta e com isso, todos os dados lá revelados. Mas, na verdade,

essas informações podem vir ser armazenadas ao longo do tempo por outras entidades

que em nada se relacionam com a Rede Social em causa.

III. O direito à intimidade e vida privada estão intimamente ligados à personalidade,

sendo o direito que cada pessoa tem de conseguir decidir por si só o que deve ou não

deve ser partilhado com terceiros, permitindo ao indivíduo o controlo da sua vida e

experiências nas esferas em que não é permitida uma intromissão, nem por parte do

Estado, nem por parte de outrem.

IV. E qualquer atividade que não tenha uma conexão relativa e direta entre a esfera

intima e a vida laboral e que dessa forma não tenha implicações na execução do contrato

de trabalho, não deve assumir qualquer importância ou relevo para as decisões do

empregador, não tendo assim o empregador legitimidade para as controlar.

V. O direito à liberdade de expressão está previsto na CRP, no artigo 37º nº1, “todos

têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela

imagem ou por qualquer outro meio”. Para esta liberdade não há qualquer dever de

verdade, afinal o facto de sermos livres para divulgarmos o nosso pensamento, implica

que a este pensamento se englobe opiniões, ideias ou juízos de valor sobre qualquer

assunto que possa surgir.

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VI. Contudo, os utilizadores/ trabalhadores das Redes Sociais, parecem não ter

qualquer filtro no que respeita à partilha de opiniões. Há uma quantidade descomunal de

condutas inconscientes e inconsequentes, o que leva a caracterizar as Redes Sociais

como verdadeiros campos de batalha entre os interesses económicos da empresa e o

direito à imagem do empregador face ao direito e à liberdade de expressão do

trabalhador. E, consequentemente, impõe-se a questão de saber se poderá o empregador

impor ao trabalhador limites, quando publique conteúdos relacionados com o trabalho.

VII. Sabemos da rapidez com que as informações são partilhadas no mundo virtual, e

sabemos o impacto que as Redes Sociais têm vindo a ter no quotidiano das pessoas. É

por isso, fácil perceber que comentários, opiniões, ou avaliações por parte dos

trabalhadores nas Redes Sociais sobre produtos, funcionamento da empresa ou da

entidade patronal, afiguram um risco muito grande de prejuízo económico, no sentido de

que essa mesma opinião partilhada pelo trabalhador poderá facilmente ser vista por

clientes ou parceiros da empresa e com isso pôr em causa a relação entre empresa e

cliente, fornecedores ou parceiros de negócio.

VIII. Assim, nenhum ato que não revele ou origine qualquer repercussão direta na

relação de confiança entre trabalhador e empregador, ou sobre as prestações contratuais

e interesses da empresa, não parece ser justificativo de ser levado em conta e em

consideração para um possível despedimento do trabalhador. Os casos em que um

trabalhador ofenda outro colega de trabalho nas Redes Socias, ofensa que poderá ser

visível a clientes, outros colegas e até empregador, dependente do grau de privacidade do

seu perfil, poderá afetar o bom ambiente de trabalho e produzir um reflexo negativo na

produtividade da empresa e até denegrir a imagem desta, o que poderá ser motivo para a

cessação do contrato de trabalho.

IX. Porém, o controlo e a vigilância das condutas extralaborais não são aceitáveis

tendo em conta o princípio da reserva da intimidade privada e da dignidade da pessoa

humana. Competindo aos tribunais, em defesa destes princípios, inspecionar os meios de

obtenção de prova.

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X. É essencial que cada caso seja analisado individualmente, e que haja uma

aproximação entre os direitos enquanto cidadão e enquanto trabalhador, havendo, porém,

sempre um equilíbrio entre o direito à liberdade de expressão e à privacidade e entre os

interesses do empregador. Não nos podemos esquecer que o trabalhador é um

representante da empresa para que trabalha, e é muitas das vezes a imagem e o espelho

da mesma, e por isso tudo isso deverá ser analisado.

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