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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
CÉLIO ANTÔNIO
O ENSINO MÉDIO INOVADOR NOS ESTADOS DE SANTA CATARINA E RIO
GRANDE DO SUL: ADAPTAÇÕES À POLÍTICA NACIONAL E POSSIBILIDADES
À FORMAÇÃO INTEGRAL
Tubarão
2016
CÉLIO ANTÔNIO
O ENSINO MÉDIO INOVADOR NOS ESTADOS DE SANTA CATARINA E RIO
GRANDE DO SUL: ADAPTAÇÕES À POLÍTICA NACIONAL E POSSIBILIDADES
À FORMAÇÃO INTEGRAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado em Educação da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação.
Orientador: Prof. Gilvan Luiz Machado Costa, Dr.
Tubarão
2016
Antonio, Célio, 1966-
A63 O ensino médio inovador nos estados de Santa Catarina e
Rio Grande do Sul : adaptações à política nacional e
possibilidades à formação integral / Célio Antonio ; -- 2016.
134 f. ; 30 cm
Orientador : Gilvan Luiz Machado Costa.
Dissertação (mestrado)–Universidade do Sul de Santa
Catarina, Tubarão, 2016.
Inclui bibliografias.
1. Ensino médio. 2. Currículos - Mudança. 3. Educação e
Estado. 4. Educação humanística. I. Costa, Gilvan Luiz
Machado. II. Universidade do Sul de Santa Catarina – Mestrado
em Educação. III. Título.
CDD (21. ed.) 373
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
CÉLIO ANTÔNIO
O ENSINO MÉDIO INOVADOR NOS ESTADOS DE SANTA CATARINA E RIO
GRANDE DO SUL: ADAPTAÇÕES À POLÍTICA NACIONAL E POSSIBILIDADES
À FORMAÇÃO INTEGRAL
Esta dissertação foi julgada adequada à obtenção do título de Mestre em Educação e aprovada em sua forma final, pelo curso de Mestrado em Educação da Universidade do Sul de Santa Catarina.
Tubarão, 29 de abril de 2016.
______________________________________________________
Professor e orientador Gilvan Luiz Machado Costa, Dr.
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________
Profa. Céuli Mariano Jorge, Dra.
Conselho Estadual de Educação do Paraná
______________________________________________________
Profa. Letícia Carneiro Aguiar, Dra.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Dedico a quem busca formar professores à
altura de uma educação com qualidade.
AGRADECIMENTOS
À Assembleia Legislativa de Santa Catarina, por proporcionar aos seus
servidores um período de licença ou de ócio laborativo para o aperfeiçoamento e
qualificação profissional.
Aos meus familiares, que entenderam as opções feitas e os motivos pelos
quais as fiz, principalmente, no momento de procura de um novo caminho na
educação.
Ao estimado orientador Dr. Gilvan Luiz Machado Costa, por todo o tempo
dedicado na condução dos caminhos da leitura, e pela oportunidade de participar do
projeto de pesquisa “Ensino médio e trabalho docente em escolas públicas:
configurações e perspectivas”, dentro do Programa Observatório da Educação –
/CAPES/INEP/UNISUL, que me permitiram vivenciar as realidades educacionais no
Mestrado.
À coordenação e ao corpo docente do PPGE/UNISUL, por toda atenção
dispensada nesse período de novo aprendizado e de troca de experiências a que
somos levados.
Aos colegas de Mestrado, por toda a colaboração e incentivo, que foram
cruciais na tarefa de formulação e aprendizado com as teorias.
Na realidade, se é verdade que o progresso é dialética de conservação e inovação, e a inovação conserva o passado ao superá-lo, é igualmente verdade que o passado é uma coisa complexa, um conjunto de vivo e morto, no qual a escolha não pode ser feita arbitrariamente, a priori, por um indivíduo ou por uma corrente política (GRAMSCI, 1999).
RESUMO
O estudo aqui relatado problematiza o Programa Ensino Médio Inovador. O problema
de pesquisa está norteado na indagação: o Programa Ensino Médio Inovador,
implantado e adaptado nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, configura-
se com inovações capazes de promover uma formação humanista integral? Como
subsídio à resposta deste problema de pesquisa, o estudo parte da lógica histórica da
educação dentro do Estado, que influenciou o surgimento também do Programa no
nexo temporal do processo de redemocratização do Estado brasileiro (1985) à
atualidade (2015). As políticas educacionais desse período, em análises iniciais, foram
abstraídas a fim de demonstrar o papel de desconstrução da identidade do Ensino
Médio, os cenários de inovação educacional ou pedagógico e a relação com o
trabalho. Esse cenário remeteu a pesquisa a identificar e analisar as adaptações
desveladas no programa, que influenciaram o redesenho curricular nas escolas dos
Sistemas Estaduais de Educação da Região Sul. O currículo inovador, colocado como
objetivo do Programa Ensino Médio Inovador, é analisado nas evidências da
integração curricular e da capacidade de realizar a formação humanista integral no
Ensino Médio. A análise dos documentos oficiais dos estados de Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, orientadores do redesenho curricular de uma escola das capitais
Florianópolis e Porto Alegre, respectivamente, sob o confronto teórico e empírico,
revelam as possibilidades de formação integral dentro do Programa. O uso dos
instrumentos metodológicos de pesquisa foi dado pelo método dialético, utilizando a
pesquisa documental e entrevista semiestruturada numa perspectiva qualitativa,
observando um referencial teórico de estudo do Ensino Médio e da educação coerente
com o método. O estudo aponta currículos com adaptações complementares à
orientação do Ministério da Educação e disciplinares, cujo caminho da integração
curricular no Programa Ensino Médio Inovador apresenta-se diverso nos cenários dos
estados e configurando limites para o alcance de uma formação integral proposta no
Programa. A possibilidade da formação integral frente à existência da fragmentação
curricular, ainda não alcançada, representa um limite nesta possibilidade no Ensino
Médio.
Palavras-chave: Ensino Médio Inovador. Currículo. Formação Integral. Inovação.
ABSTRACT
The study reported here questions the High School Program Innovator. The research
problem is guided in question: the High School Program Innovator, implemented and
adapted in the states of Santa Catarina and Rio Grande do Sul, is configured with
innovations that promote a full humanistic education? As a subsidy to answer this
research question, the study of the historical logic of education within the state, which
influenced the emergence of the program also in the temporal nexus of
democratization process of the Brazilian State (1985) to the present (2015).
Educational policies that period in initial analyzes were abstracted in order to
demonstrate the role of deconstruction of identity of high school, the educational or
pedagogical innovation scenarios and the relationship to work. This scenario sent the
search to identify and analyze adaptations unveiled the program, which influenced the
curriculum in schools redesign of the State System of Education in the southern region.
The innovative curriculum, set the objective of Secondary Education Program
Innovator, is analyzed the evidence of curricular integration and the ability to realize
the full humanistic education in high school. The analysis of the official documents of
the states of Santa Catarina and Rio Grande do Sul guiding curriculum redesign of a
school of the capital Florianopolis and Porto Alegre, respectively, from the theoretical
and empirical confrontation reveal the possibilities of full training within the program.
The use of methodological tools of research was given by the dialectical method, using
documentary research and semi-structured interviews in a qualitative perspective,
watching a theoretical high school study reference and education consistent with the
method. The study points curricula with further adjustments to the guidance of the
Ministry of Education and disciplinary, whose way of curriculum integration in High
School Program Innovator presents diverse states in the scenarios and setting limits
to the scope of a comprehensive training proposal in the program. The possibility of
comprehensive training against the existence of the curriculum fragmentation, not yet
achieved, is a limit this possibility in high school.
Keywords: High School Innovator. Curriculum. Integral training. Innovation.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Linhas de conhecimento interdisciplinar da estrutura curricular .............. 92
Quadro 2 - Componentes da Grade Curricular do Ensino Médio .............................. 99
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Evolução da matrícula do Ensino Médio no Brasil 1995/2013 ................. 16
Tabela 2 - Evolução da matrícula do Ensino Médio no Brasil 1995/2013 ................. 47
Tabela 3 - Evolução das matrículas do Ensino Médio em Santa Catarina de 2007-
2013 .......................................................................................................................... 80
LISTA DE SIGLAS
ANPEd - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAIC - Centro de Atenção Integral à Criança
CIAC - Centro Integrado de Atenção à Criança e ao Adolescente
CNE - Conselho Nacional de Educação
CONAE - Conferência Nacional de Educação
DCNEM - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
EMP - Ensino Médio Politécnico
ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
FUNDEB - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação
FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IFES - Instituições Federais de Educação Superior
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
LDB - Lei de Diretrizes e Bases
LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC - Ministério da Educação
OBEDUC - Observatório da Educação
ONU - Organização das Nações Unidas
PAP - Plano de Ação Pedagógica
PDDE - Programa Dinheiro Direto na Escola
PDT - Partido Democrático Trabalhista
PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PNAC - Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania
PNAD - Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílios
PNE - Plano Nacional de Educação
PNFEM - Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio
PPGE - Programa de Pós-Graduação em Educação
PRC - Projeto de Redesenho Curricular
PROEMI - Programa Ensino Médio Inovador
PRONAICA - Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente
PT - Partido dos Trabalhadores
REE - Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul
RELEPE - Rede Latino-Americana de Estudo Epistemológico em Política Educativa
RH - Recursos Humanos
SAEB - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
SCIELO - Scientific Electronic Library Online
SEB - Secretaria de Educação Básica
SED - Secretaria Estadual de Educação
SEDUC/RS - Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul
SEE - Sistema Estadual de Educação
SIMEC - Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
1 EDUCAÇÃO A PARTIR DA DÉCADA DE 1980: O ENSINO MÉDIO NAS
POLÍTICAS EDUCACIONAIS ................................................................................... 29
1.1 ENSINO MÉDIO DO REGIME MILITAR À LEI DE DIRETRIZES E BASES DA
EDUCAÇÃO DE 1996 ............................................................................................... 30
1.1.1 Os significados latentes nos programas do governo Collor (1990-1992) e
Itamar Franco (1992-1993) ...................................................................................... 33
1.2 DA LDB AO PNE: PONTOS DE REFLEXOS NO ENSINO MÉDIO .................... 39
1.3 PROEMI E SEUS INTRUMENTOS DE RENOVAÇÃO DO ENSINO MÉDIO ..... 50
2 ADAPTAÇÕES E INOVAÇÕES DO PROEMI ....................................................... 63
2.1 O MEC E AS POSSIBILIDADES DE ADAPTAÇÃO ÀS NORMAS FEDERAIS DO
PROGRAMA ............................................................................................................. 64
2.2 O CONTEXTO DAS ADAPTAÇÕES ESTADUAIS NO PROEMI ........................ 71
2.2.1 O Ensino Médio Politécnico no Rio Grande do Sul: interfaces com
ProEMI ...................................................................................................................... 73
2.2.2 O Ensino Médio Integral em Santa Catarina: interfaces e adaptações no
ProEMI ...................................................................................................................... 78
2.3 O PROEMI E A INTEGRAÇÃO CURRICULAR NA ESCOLA: FORMAÇÃO
HUMANA INTEGRAL ................................................................................................ 87
2.3.1 Os princípios pedagógicos da formação humana integral ......................... 88
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 104
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 110
ANEXOS ................................................................................................................. 120
ANEXO A - Roteiro de entrevista semiestruturada para a Coordenação Geral do
Ensino Médio da SEB/MEC ................................................................................... 121
ANEXO B - Roteiro de entrevista semiestruturada para a Coordenação Geral do
Ensino Médio da SED ........................................................................................... 123
ANEXO C - Roteiro de entrevista semiestruturada para a Coordenação Geral do
Ensino Médio da SED ........................................................................................... 125
ANEXO D - Roteiro de entrevista semiestruturada para diretor, coordenador do
ProEMI, professor de Português e Matemática .................................................. 127
ANEXO E - Grade curricular do Ensino Médio da Escola 1 do estado do Rio
Grande do Sul ........................................................................................................ 129
ANEXO F - Matriz curricular do Ensino Médio da Escola 2 de Santa Catarina 130
14
INTRODUÇÃO
A busca da superação de indicadores preocupantes da etapa final da
Educação Básica, o Ensino Médio, tem-se constituído um grande desafio para a
educação brasileira na atualidade. As políticas educacionais têm configurado um
quadro de iniciativas inovadoras ou de arremedos advindos das diversas
competências administrativas, que intervêm de forma direta em fatores apontados
como determinantes à qualidade. A perspectiva de uma formação emancipadora,
humana e integral, persiste num quadro de vinculação da escola às novas práticas
societárias de relações flexíveis do trabalho, que configuram o cenário de disputa na
educação pública e o espectro político da qualidade a ser alcançada para formar os
filhos da classe trabalhadora.
Não obstante, este estudo1 analisa e discute o Ensino Médio desde o
período de redemocratização da sociedade brasileira, na década de 1980 e nas
diversas políticas educacionais federais selecionadas e subsequentes, que
constituíram as identidades configuradas no Ensino Médio entre uma educação geral
e propedêutica e a técnica. São, também, desse período as determinações
constitucionais que levaram à subjugação dessa etapa, como de importância
educativa, para a prioritária universalização do Ensino Fundamental. A opção do
Estado figurou como limitadora na aplicação de recursos no Ensino Médio, portanto,
a sua universalização, com a aplicação de dispositivo constitucional2 que obrigava a
aplicação de cinquenta por cento de todo o recurso da educação para a política de
universalização do Ensino Fundamental até ano de 1998.
No ano de 1996, com a Emenda Constitucional nº 14 (BRASIL,1996a), o
Congresso Nacional aumenta a vinculação constitucional para sessenta por cento da
arrecadação destinada à educação e dá o passo para a criação do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério (FUNDEF). A referida política de fundos foi implantada nacionalmente, em
1 Esta pesquisa está inclusa nos estudos realizados no contexto do Projeto de Pesquisa “Ensino
Médio e Trabalho Docente em Escolas Públicas: configurações e perspectivas”, dentro do Programa Observatório da Educação (OBEDUC), com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).
2 O art. 60 das Disposições Constitucionais e Transitórias fixou por dez anos, ou seja, até 1998 a aplicação de cinquenta por cento dos recursos da educação das diversas competências administrativas na universalização do Ensino Fundamental (BRASIL, 1988).
15
1º de janeiro de 1998, quando passou a vigorar a nova sistemática de redistribuição
dos recursos destinados ao Ensino Fundamental. Por mais dez anos o Ensino Médio
ficaria sem uma política de financiamento3, que seria superada com a nova vinculação
advinda com a Emenda Constitucional nº 53/2006, que aporta recursos para toda a
Educação Básica, apontando para criação do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (FUNDEB), em substituição ao FUNDEF, para vigorar no período de 2007
a 2020.
Os reflexos da política educacional de obrigatoriedade do Ensino
Fundamental e a prioridade no financiamento, analisada a partir da Constituição
brasileira de 1988, restringiram4 o processo de universalização e democratização do
Ensino Médio, todavia, não foi o suficiente para impedir que parcela da população
buscasse a matrícula dessa etapa. É observado um aumento da matrícula desde a
década de 1990 e a sua leve regressão atual, em um movimento da população, que,
atendida na universalização da segunda etapa da Educação Básica, busca o Ensino
Médio ultrapassando a barreira do Estado de acesso não obrigatório. A tabela 1
demonstra, nesta série histórica, de 1995 a 2013, a evolução da matrícula em 18 anos,
representando um intervalo de duas décadas. Em 1995 estavam matriculados no
Ensino Médio 5.375.000 jovens, passando para 9.031.000 em 2005, representando
um aumento de 68,01% em dez anos. O ano de 2004, com 9.169.000 matrículas, foi
o maior da série histórica e, comparado a 2013, com 8.313.000, houve uma queda de
9,33% no total de jovens matriculados. Os dados demonstram, também, que, de 2004
a 2009, o Brasil reduziu o número de jovens no Ensino Médio em, aproximadamente,
832.000, e, de 2009 a 2013, ocorreram, em dados aproximados, 24.000 matrículas.
3 Dourado (2007, p. 929) constatava que, em 2007, buscava-se articular “esforços dos entes
federados para garantir a regulamentação do FUNDEB, de natureza contábil, cujo desenho pode representar um avanço na dinâmica e lógica do financiamento da educação básica nacional, sobretudo quanto à sua caracterização (direcionado à educação infantil, ensino fundamental e médio)”.
4 Frigotto e Ciavatta (2003, p. 114), analisando a educação básica no Brasil na década de 1990, lembram que a educação de nível médio ficou relegada “a iniciativas tópicas”.
16
Tabela 1 – Evolução da matrícula do Ensino Médio no Brasil 1995/2013
BRASIL
ANO Matrícula
(x 1000)
1995 5.375
1996 5.739
1997 6.405
1998 6.969
1999 7.769
2000 8.193
2001 8.398
2002 8.711
2003 9.073
2004 9.169
2005 9.031
2006 8.907
2007 8.369
2008* 8.366
2009* 8.337
2010* 8.358
2011* 8.401
2012* 8.377
2013* 8.313
Fonte: Inep, 2015. *Os anos de 2008 a 2013 apresentam os dados do Ensino Médio, Normal/Magistério e Integrado.
Compelido a um movimento de respostas aos desafios do Ensino Médio do
século XXI, a partir dos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) da primeira década, o Estado recorre a políticas educacionais mais objetivas,
que sinalizam a integração do ensino profissionalizante ao Ensino Médio; a nova
política de fundos para o financiamento; a obrigatoriedade do período formativo dos 4
aos 17 anos na Educação Básica; Programa de indução à inovação curricular no
Ensino Médio; novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM)
(BRASIL, 2012); o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio (PNFEM); o
Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 (BRASIL, 2014a). No aparente
discurso governamental, todas essas políticas educacionais convergem
intencionalmente para a superação dos desafios educacionais atuais do Ensino
Médio, mas, no detalhe, observam-se prioridades estabelecidas no plano legal e,
17
como foi na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a previsão da progressiva
universalização dessa etapa. É o caso do PNE 2014-2024 (BRASIL, 2014a), que,
especificamente, para o Ensino Médio, traz, no contexto da meta 3, o desafio da
universalização e de alcançar o patamar de 85% de taxa líquida de matrícula entre os
jovens na faixa etária adequada para estar na escola média. Entre as doze estratégias
estabelecidas na meta 3, foi possível destacar, no detalhe das prioridades e não por
ser a de maior grau de importância, a de número 3.1, que aproxima o PNE ao único
programa nacional que interage diretamente com a escola de Ensino Médio na busca
de um novo currículo. A prioridade do Estado é “Institucionalizar programa nacional
de diversificação curricular do ensino médio” (BRASIL, 2014a) e, dadas as
convergências no decorrer da descrição da estratégia, colocam-na em sintonia com o
Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) (BRASIL, 2009a), que visa à inovação do
currículo na escola média.
O ProEMI, analisado como objeto da pesquisa, surge em 2009, antes do
PNE e das definições das recentes Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2012)
para a etapa final da Educação Básica, e é implantado em sistemas de ensino
majoritariamente orientados e geridos pelos governos estaduais, que detêm a oferta
de 85,9% das matrículas do Ensino Médio no Brasil (BRASIL, 2011b).
O Programa configura-se como uma política educacional do governo
federal, que é colocada no federalismo brasileiro para o regime de colaboração5 entre
o Ministério da Educação (MEC) e as Secretarias Estaduais de Educação e Distrital,
que “deverão desenvolver e ampliar as ações voltadas para a organização,
implementação e fortalecimento do Ensino Médio” (BRASIL, 2014c, p. 4). Essas ações
apontam para um movimento de redesenho do currículo escolar do Ensino Médio e,
para os alunos, “ampliando o tempo na escola, na perspectiva da educação integral e
a diversidade de práticas pedagógicas” (BRASIL, 2014c, p. 4). Como resultado o MEC
espera o surgimento de uma “cultura para o desenvolvimento de um currículo mais
dinâmico e flexível, que contemple a interface entre os conhecimentos das diferentes
áreas e a realidade dos estudantes, atendendo suas necessidades e expectativas”
(BRASIL, 2014c, p. 3), ou seja, sendo uma opção de obtenção, pelo currículo, de uma
etapa da “Educação Básica de qualidade” (BRASIL, 2014c, p. 3).
5 Com base nas funções administrativas da União, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN) 9.394/96, especialmente, no art. 9º, apresenta as atribuições, responsabilidades e a forma do regime de colaboração (BRASIL, 1996b).
18
Na prática o roteiro a ser seguido por estados e o Distrito Federal é de
adesão ao ProEMI, de escolha das escolas para o Programa e de recebimento de
recursos financeiros através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) e Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) (BRASIL, 2014c, p. 16). A
transferência de recursos financeiros à escola antecede um processo de constituição
de um Projeto de Redesenho Curricular, que prevê uma elaboração “de forma coletiva
e participativa” (BRASIL, 2014c, p. 14) na comunidade escolar. A constituição de um
Projeto de Redesenho Curricular ampara-se na “realidade da escola e dos estudantes”
(BRASIL, 2014c, p. 14) e em macrocampos delineados no documento orientador
(BRASIL, 2014c), que será avaliado e aprovado na Secretaria de Educação Básica
(SEB) do MEC.
O MEC lançou documentos orientadores em 2009 (BRASIL, 2009b), 2011
(BRASIL, 2011b), 2013 (BRASIL, 2013c) e 2014 (BRASIL, 2014c), a fim de esclarecer
os procedimentos organizativos e de funcionamento do Programa, que foram
recebendo aprimoramentos ou adaptações em suas estratégias de constituição do
Projeto de Redesenho Curricular, todavia, não modificando a sistemática do regime
de colaboração.
O Programa passou, e pode-se dizer, como se fosse uma diretriz
curricular6, por um período de vigência de duas contraditórias diretrizes curriculares
para o Ensino Médio, ou seja, vigoravam em 2009 os conceitos orientativos de
utilidade estabelecidos até então pelos princípios de “competência” e “habilidade”
(BRASIL, 1998), como esclarece Ramos (2011, p. 774): “A pedagogia das
competências no ensino médio teve como fundamento os princípios axiológicos
expostos nas diretrizes”. Esses princípios estão no contexto de um modelo societário,
que, na reflexão de Wood e Foster (1999, p. 13), expressam características dos
princípios pós-modernos de reforço à “ênfase na natureza fragmentada do mundo e
do conhecimento humano”, e a “impossibilidade de qualquer política libertadora
baseada em algum tipo de conhecimento ou visão ‘totalizante’” (1999, p. 13). As
competências e as habilidades como princípios ou fetiches remetem à “[...] ideologia
de uma educação funcionalista e cognitivista subordinada aos interesses do capital,
6 O ProEMI modifica o tempo de permanência do aluno na escola e as “formas de organização das
disciplinas articuladas com atividades integradoras, a partir das inter-relações existentes entre os eixos constituintes do ensino médio, ou seja, o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura” (BRASIL, 2009b, p. 7).
19
fundada na pedagogia do aprender a aprender, da sociedade do conhecimento ou da
sociedade da informação” (ALVES; BATISTA, 2010, p. 172-173).
Por outro lado, as novas DCNEM apresentam uma “mudança na linguagem
e nos referenciais teóricos presentes no documento aprovado, indicando uma sintonia
entre o texto das novas diretrizes e as principais críticas realizadas às antigas
diretrizes” (MOEHLECKE, 2012, p. 54). A mudança pode ser contextualizada na
superação da dualidade através da formação integrada, ou seja, onde a “perspectiva
do trabalho como princípio educativo tem por fim propiciar a compreensão dos
fundamentos científicos e tecnológicos dos processos sociais e produtivos” (RAMOS,
2011, p. 780). Moehlecke (2012, p. 54), todavia, explica que, devido ao fato da
existência de excessivos “conteúdos curriculares”, o processo de avaliação estaria
condicionado às “competências e habilidades [...] em praticamente todos os sistemas
nacionais de avaliação da educação”.
Observa-se que o caminho percorrido para a alteração dos marcos
regulatórios, políticas educacionais e dos princípios que instrumentalizam e interagem
com o Programa do Ensino Médio em análise foi trilhado na última década com
mudanças nos eixos orientadores no interior do Estado brasileiro que levaram,
finalmente, à adoção de um percurso de formação obrigatório na Educação Básica.
Com a inclusão do Ensino Médio e Educação Infantil na fonte de
financiamento do FUNDEB (BRASIL, 2007, p. 07), iniciava-se o rompimento com uma
opção do Estado em universalização prioritária do Ensino Fundamental em detrimento
das demais etapas da educação.
Outro passo decisivo para a universalização remete à mudança
constitucional (BRASIL, 2009c, p. 8), que tornou obrigatório ao Estado a garantia de
um percurso formativo gratuito dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade e
inclusive para aqueles alunos em distorção idade/série, com a extensão do direito aos
diversos programas suplementares ao Ensino Médio e à Educação Infantil. Esse
avanço na legislação e “o aumento do número de matrículas não [têm] sido
acompanhado por um correspondente esforço financeiro para garantir uma oferta com
os níveis de qualidade propostos por educadores e estudiosos (CLÍMACO et al., 2010,
p. 114). Nessa trajetória de aumento do número de matrícula do Ensino Médio nos
estados, surgem cenários de mudança no financiamento, a obrigatoriedade
estabelecida na legislação para que os diversos sistemas de educação garantam o
material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde que apoiam o acesso
20
e permanência dos alunos na escola. No caso do ProEMI, que tem um pequeno
aumento de investimento do custo/aluno, constituem-se um suporte para a expansão
da carga horária e as precondições para sua implantação e ampliação, haja vista que
o que era negado materialmente ao aluno do Ensino Médio passa a ser
disponibilizado.
Os cenários de alteração da visão conceitual do Estado para a educação
são essenciais para entender o rumo adotado para o currículo no ProEMI e sua
inserção com o objetivo de promover a formação integral no Ensino Médio com
qualidade, ou seja, não um “arremedo de educação, que, antes de ser geral e sólida,
é apenas genérica e superficial, com prejuízos irreparáveis para a classe
trabalhadora” (KUENZER, 2010, p. 864). Clímaco et al. (2010, p. 114), discutindo o
tema qualidade, lembra que ela está presente na “educação para a democracia, que
consiste em educar para o exercício do direito, da organização e da participação nos
processos decisórios”.
A partir desse enfoque, está claro no documento orientador do Programa
que a estratégia é, “dentro de um processo dinâmico, participativo e contínuo,
estimular novas formas de organização das disciplinas articuladas com atividades
integradoras” (BRASIL, 2009b, p. 7). Tal compreensão está evidenciada de forma
mais ampla no Parecer CNE/CEB nº 5/2011 (BRASIL, 2011c), de aprovação das
novas DCNEM, em que o currículo deva surgir integrado e orientado entre as
dimensões do trabalho, ciência, tecnologia e cultura. É nessa perspectiva que o
trabalho apresenta-se como princípio educativo e, em conjunto com as demais
dimensões, dá sentido novo à educação no Ensino Médio e “tem por fim propiciar a
compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos dos processos sociais e
produtivos” (RAMOS, 2011, p. 780).
A proposta de inovação curricular pretendida pelo ProEMI, observada no
documento orientador do MEC, relaciona-se com os conteúdos sólidos e as disciplinas
ou componentes curriculares que figuram integrados e referenciados nas áreas de
conhecimento de linguagem, matemática, ciências da natureza e ciências humanas
(BRASIL, 2012). A ressalva é que do ponto de vista da práxis, ou seja, o currículo que
surge na escola no programa, podem não coexistir a inovação e conteúdos sólidos se
a fragmentação curricular estiver de forma premente, o que é uma consideração
importante. Segundo Ramos (2011, p. 776), um currículo integrado, não fragmentado,
“é uma relação entre partes e totalidade”. A forma integradora dos componentes
21
curriculares entre si é o diálogo entre os componentes curriculares, de forma que os
conteúdos integrados sejam sólidos tais como os constituídos na disciplina e o
movimento de toda a integração seja construído sob a ótica dos eixos constituintes do
Ensino Médio.
É apropriado definir e analisar a composição curricular a partir da
conceituação de Saviani (2000, p. 323), ao afirmar que o “currículo é o conjunto das
atividades nucleares desenvolvidas pela escola” e as de característica extracurricular
devem estar em apoio às curriculares sem a pretensão de substituí-las. Nesta
perspectiva, o autor indica que existe na escola um único currículo e “é uma maneira
de não perdermos de vista a distinção entre o que é principal e o que é secundário”
(2000, p. 323). Esta conceituação sugere, inclusive, que as atividades integradoras
estejam no conjunto dos componentes curriculares, a fim de que a escola não perca
a sua função de promover o conhecimento, o que reforça o papel totalizante da
integração curricular orientada no ProEMI.
Talvez as inovações maiores no Programa, afora os eixos constituintes
interdisciplinares do Ensino Médio e a integração curricular que constam reavivados
para a práxis escolar, sejam as orientações de se constituir o redesenho curricular por
macrocampos. A orientação de se constituir o currículo, também, por macrocampos
somente aparece no documento orientador do MEC de 2011 e é uma lacuna da
Portaria que institui o Programa (BRASIL, 2009a, p. 52).
A definição que se atribuiu ao termo denominado por macrocampos
demonstra um entendimento diverso das definições de componentes curriculares
nucleares em caracterizá-los como “um campo de ação pedagógico-curricular no qual
se desenvolvem atividades interativas, integradas e integradoras dos conhecimentos
e saberes, dos tempos, dos espaços e dos sujeitos envolvidos com a ação
educacional” (BRASIL, 2014c, p. 08). No caso das orientações do Programa para
2014, os macrocampos a serem utilizados e escolhidos a fim de realização da
integração curricular são: Acompanhamento Pedagógico (Linguagens, Matemática,
Ciências, Humanas e Ciências da Natureza); Iniciação Científica e Pesquisa; Leitura
e Letramento; Línguas Estrangeiras; Cultura Corporal; Produção e Fruição das Artes;
Comunicação, Cultura Digital e Uso de Mídias; Participação Estudantil (BRASIL,
2014c).
Esta compreensão leva a analisar os macrocampos em sua caracterização
de integração curricular, de forma análoga à conceituação de Ramos (2011), em um
22
“método” ou preceitos da interdisciplinaridade, buscando reconstituir um currículo
entendido como totalidade, ou seja, “pela relação entre os conceitos originados a partir
de distintos recortes da realidade; isto é, dos diversos campos da ciência
representados em disciplinas” (RAMOS, 2011, p. 776). O caráter interdisciplinar
análogo ao conceito de macrocampo, latente na leitura do conteúdo proposto7, que
visa a atividades integradoras dos conhecimentos e saberes, aproxima-se do objetivo
da interdisciplinaridade ao “possibilitar a compreensão do significado dos conceitos,
das razões e dos métodos pelos quais se pode conhecer o real e apropriá-lo em seu
potencial para o ser humano” (RAMOS, 2011, p. 776).
Ressalva-se que as DNCEM não incorporaram tacitamente o termo
macrocampo como conceito de organização e integração curricular, contudo,
vislumbram o currículo circunscrito nas áreas de conhecimento (Linguagens,
Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza) e, por decorrência, suas
disciplinas ou componentes curriculares. O termo macrocampo, absorvido como
diretriz de integração curricular nas DNCEM, supriria a expectativa de inovação no
Parecer do Conselho Nacional de Educação, sobre o ProEMI, de que poderia “[...] vir
a induzir ou contribuir para uma atualização das atuais Diretrizes Curriculares
Nacionais [...] com uma nova organização curricular que possa fomentar as bases
para uma nova escola” (BRASIL, 2009d, p. 7).
Aqui vale orientação de Gramsci (1999) sobre os processos históricos, que
se pode utilizar no sentido de relativizar o movimento em que surge a inovação, “que
nenhuma força inovadora se realiza imediatamente, mas sim como racionalidade e
irracionalidade, arbítrio e necessidade” (1999, p. 394), que remetem ao seu alerta de
surgir um conjunto de contradições e antíteses em tais situações práticas da vida.
Também ressalta o cuidado que se deve ter com o sentido dado ao que é “inovador”,
ou seja, se usado de forma racionalista e iluminista, “quer destruir todo o existente
sem preocupar-se com o que acontecerá depois” (GRAMSCI, 1999, p. 257) e, desta
forma, o objeto inovador criado na sociedade surge com a destruição do velho em um
processo a-histórico. A pretensão de tais alusões advém das análises que realizamos
dos processos de criação e implantação das políticas educacionais e do surgimento
de adaptações a elas na dependência administrativa dos governos estaduais e, no
caso, nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O contexto em Gramsci
7 Significa a analogia entre o “documento orientador do ProEMI de 2014” (BRASIL, 2014c, p. 08) e o
que refere Ramos (2011, p. 776) sobre a interdisciplinaridade.
23
(1999) da categoria inovação proposto nessa perspectiva anunciada é um elemento
para, em abstração, analisar o tipo de educação inovadora que surge na escola ou
simplesmente um arremedo, dado ao enfoque dialético da pesquisa.
Seguindo o referencial de Saviani (1980, p. 17-26), em sua síntese da
categoria inovação, entre as linhas filosóficas de concepções de educação, aponta os
limites do processo de inovação educacional aplicado na escola. O referencial discute
o tema sob o olhar para a escola e revela, respectivamente, que quatro níveis de
inovações surgem na educação a partir de determinadas concepções pedagógicas e
são apropriadas para avaliar os limites e as adaptações da política educacional. Sem
esgotar o referencial, na concepção pedagógica tradicional, a inovação é algo
impossível de se materializar e as mudanças são consideradas acidentais; na
humanista moderna do movimento escolanovista, o inovador opõe-se à visão
tradicional, ou seja, desloca o foco do educador para o educando em movimentos
pragmáticos; no analítico, a caracterização da inovação passa pela análise da
linguagem; no dialético, inovar é colocar a educação como objeto de mudança
estrutural da sociedade ou emancipatória, ou seja, de formação humanista integral.
Tendo a formação humana integral como possibilidade nos mecanismos
indutores do processo ensino aprendizagem, a construção da pesquisa foi buscar os
elementos para entender, nas possíveis abstrações, o ProEMI como política
educacional consequente a essa formação. No problema da pesquisa ficou
estabelecido a seguinte indagação: O Programa Ensino Médio Inovador, implantado
nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul8, configura-se com inovações
capazes de promover uma formação humanista integral? O pressuposto a ser
apreciado no contexto empírico da pesquisa foi constituído na seguinte assertiva: as
adaptações no ProEMI e a utilização dos macrocampos representam um princípio
fragmentador do currículo na práxis do Projeto de Redesenho Curricular na escola e
limitam a formação humana integral.
Os objetivos investigatórios foram delineados de forma geral e específica
com a finalidade de dar parâmetros à pesquisa empírica, com lócus no ProEMI. No
geral, procura-se compreender o ProEMI sob o contexto das implementações
8 A pesquisa empírica no estado do Paraná foi suprimida no processo de orientação, caracterizando
um limite, dada as exigências para sua autorização estabelecidas na competência administrativa estadual, mesmo depois de demonstrado que estava no contexto do projeto de pesquisa do PPGE/UNISUL, no Programa OBEDUC da CAPES e instituído pelo Decreto Federal nº 5.803, de 08 de junho de 2006.
24
ocorridas no Sistema Estadual de Educação (SEE) e das diretrizes curriculares do
Ensino Médio, seus limites e possibilidades à formação integral. Na especificidade, os
objetivos buscam: a) analisar os documentos oficiais de Santa Catarina e Rio Grande
do Sul, orientadores do redesenho curricular, na práxis de uma escola da rede
estadual de educação nas capitais Florianópolis/SC e Porto Alegre/RS; b) identificar,
com base nos depoimentos obtidos através de entrevistas com dirigentes públicos do
Ensino Médio e de professores, as configurações e perspectivas da formação
oferecida no ProEMI nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul; c) analisar,
com base nos documentos oficiais orientadores do redesenho curricular das escolas
de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e nos depoimentos, o contexto e os limites do
ProEMI à formação integral.
Os critérios de seleção dos documentos oficiais, em pré-análise de leitura,
foram por sua pertinência e validação em publicação nos diários oficiais e que tinham
relação direta com o objeto, que estão disponíveis nos sites das Secretarias Estaduais
de Educação, e, quando não publicados, diretamente com os gestores, como o caso
dos Projetos de Redesenho Curricular e normas internas das secretarias. Acerca das
escolas que foram analisadas, o MEC colocou à disposição senha de acesso ao
Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (SIMEC), que permitiu
visualizar as informações disponíveis no sistema para adesão ao programa. As
análises dos conteúdos das fontes documentais e empíricas, em um movimento de
exploração do material, foram realizadas em recortes de texto por temáticas e por
categorização frente às categorias iniciais da pesquisa, que resultaram na
interpretação dos conteúdos manifestos a elucidar o objeto, e presentes no material
coletado (documentos oficiais e entrevistas), em confronto com o quadro teórico.
O horizonte de pesquisa foi dado pelo método dialético, utilizando os
instrumentos da pesquisa documental e entrevista semiestruturada, para dar uma
interpretação mais ampla do objeto de estudo (TRIVIÑOS, 1987). Os documentos
analisados foram as leis federais e estaduais, portarias e resoluções federais e
estaduais, documentos orientadores do ProEMI do MEC, documentos orientadores
dos estados para o ProEMI e Ensino Médio e os Projetos de Redesenho Curricular
das escolas.
As entrevistas semiestruturadas, orientadas por um roteiro preestabelecido
(Anexos A, B, C, D), foram direcionadas (observando a efetiva participação na
elaboração, implantação e aplicação do Programa) para: o gestor nacional do
25
Programa no MEC; dois gestores do Ensino Médio da Secretaria Estadual de
Educação do Rio Grande do Sul; um gestor do Ensino Médio da Secretaria Estadual
de Educação de Santa Catarina; o diretor da escola estadual em Porto Alegre; o
coordenador do ProEMI na escola estadual em Florianópolis; um professor de
Português e um de Matemática de cada escola estadual. A escolha dos professores
de Português e Matemática deu-se por serem eles possuidores de disciplinas com
maior carga horária na escola e com competências avaliadas nacionalmente pelo
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina são objeto de análise
na aplicação do programa por estarem no contexto da pesquisa “Ensino médio e
trabalho docente em escolas públicas: configurações e perspectivas”, dentro do
Programa Observatório da Educação – OBEDUC/CAPES/INEP/UNISUL. Na
Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul (SEDUC) a entrevista foi
realizada com dois gestores, por iniciativa da equipe pedagógica, em função dos
temas tratados no roteiro da entrevista semiestruturada. A entrevista, diferente para
cada esfera de competência administrativa, aplicada aos sujeitos responsáveis pela
condução do programa em escala vertical no aparelho do Estado, tem o intuito de
buscar dados relevantes à pesquisa em confronto com documentos oficiais, de
analisar as reais ações dos governos estaduais na aplicação da política educacional
e de desvelar as evidências da formação humana integral. O critério de escolha do
campo empírico restringiu-se aos temas atuais do Ensino Médio e justificadores da
elaboração do programa, e os atinentes aos objetivos a serem alcançados com sua
aplicação, que remontam uma base empírica para análise da constituição do currículo
da escola e do alcance para uma formação humana integral. A pré-análise (BARDIN,
1977) foi realizada no momento da transcrição integral das entrevistas gravadas em
meio digital, para destacar e decifrar os dados importantes e relevantes que foram
descritos no capítulo de análise da pesquisa. A transcrição integral segue as
orientações de Marcuschi (1986) e indica os entrevistados com a letra “E” e um
número arábico reportando à sequência da entrevista (Entrevistado 1: E1). A escolha
dos dados das entrevistas usados para desvelar o objeto da pesquisa foi realizada
levando em conta a relação da parte com a totalidade, ou seja, extraindo trechos onde
o entrevistado aponta dados novos referentes aos documentos oficiais analisados,
dados confirmadores do pressuposto, dados contraditórios aos objetivos
investigatórios e utilizados nos tópicos de discussão em que a síntese se desenvolve.
26
O objetivo desta pesquisa está direcionado ao Ensino Médio e visa a
entender a lógica histórica ou “testar hipóteses quanto à estrutura, causação etc., e
eliminar procedimentos autoconfirmadores” (THOMPSON, 1981, p. 49) que mistificam
ou confundem como real, ou seja, nesta pesquisa o currículo, e, ainda, analisa sob
um enfoque teórico-dialético “um diálogo de entre conceito e evidência, um diálogo
conduzido por hipóteses sucessivas, de um lado, e a pesquisa empírica, do outro,”
(THOMPSON, 1981, p. 49) para colocar em abstração o ProEMI na práxis da escola
e as adaptações ocorridas no Programa na rede estadual de educação. A mediação
para compreender os dados alicerça-se nos princípios epistemológicos do
materialismo histórico e dialético e nas categorias9, inovação, adaptação, currículo e
formação humana integral, que incidindo sobre os macrocampos estabelecidos no
movimento da escola de construção histórica da proposta de redesenho curricular,
como fenômeno, tende a evidenciar as manifestações das contradições dos
componentes curriculares criados e as determinações cognoscíveis do currículo.
A pesquisa, norteada pelos desafios da universalização, acesso e
permanência no Ensino Médio e da superação dos problemas na aprendizagem do
estudante a partir do redesenho curricular, no ProEMI, tratará de desvelar as
inovações educacionais em sua historicidade, totalidade e contradições10 na escola,
a ponto de possibilitar analisar o movimento em que surge o real como concreto, em
outras palavras, um novo currículo integrado e não fragmentado ou suas antíteses na
consolidação da formação integral.
A compreensão da lógica histórica da construção do Ensino Médio,
entendida como fundamental e alinhada ao pressuposto da pesquisa, foi trilhada por
uma releitura de “fontes de primeira mão” (GIL, 1989, p. 73), ou seja, os documentos
oficiais (Constituição Federal, Emendas Constitucionais, leis, decretos, portarias,
resoluções, instruções normativas, pareceres, relatórios, ofícios e memorandos) do
governo federal por adoção de políticas educacionais em detrimento da etapa final da
Educação Básica, a partir da redemocratização do Estado brasileiro e com lócus na
9 Wachowicz (2001, p. 175), analisando o método dialético, orienta que é correto chamar as
categorias simples de categorias de conteúdo, ou seja, “são aqueles elementos iniciais, determinados pelo conteúdo da análise crítica que fez o pesquisador, ao eleger seu objeto de estudo e ao se deparar com a dificuldade de tomá-lo por um ou mais aspectos que sua análise lhe indicou”.
10 São as categorias metodológicas que informam a maneira pela qual se abstraiu o objeto da pesquisa (WACHOWICZ, 2001, p. 175).
27
inovação. A justificativa é assegurar que os elementos históricos do período possam
desvelar os obstáculos e ideias educacionais do passado presentes na atualidade.
As análises das inovações ou dos arremedos nas políticas educacionais,
que influenciaram o Ensino Médio a partir de meados da década de 1980 do século
XX até o surgimento do ProEMI, requerem o uso de referencial ampliado teoricamente
no campo da educação e do Ensino Médio produzido por pesquisadores como Acácia
Kuenzer, Nora Krawczyk, Monica Ribeiro da Silva, Marise Ramos, Maria Ciavatta,
Gaudêncio Frigotto, Paolo Nosella e Sabrina Moehlecke. Com o intuito de orientar a
análise do enfoque societário e analisar as influências das teorias utilitárias no Ensino
Médio, buscou-se nos autores críticos (GRAMSCI, WOOD, MANACORDA,
MÉZÁROS, HARVEY, SAVIANI, SENNETT) os fundamentos para a crítica dos
referenciais liberais, neopragmáticos e pós-modernos, que no contexto da filosofia da
práxis permitirá a delimitação da realidade material das políticas educacionais a ser
desvelada em múltiplas determinações11 e expressada na síntese para esta
dissertação. Essa síntese tende a compreender as aproximações, limites,
contradições da realidade do Ensino Médio e, mais especificamente do ProEMI, que
se pressupõe envolto nas inovações pedagógicas e tecnológicas propostas no Projeto
de Redesenho Curricular.
Para as análises do ProEMI, inclusive sua aplicação nos estados, foram
utilizadas as teses de Doutorado, dissertações de Mestrado e os artigos produzidos e
publicados sobre o tema nos fóruns da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação (ANPEd), Rede Latino-Americana de Estudos
Epistemológicos em Política Educativa (RELEPE) e no site do Scientific Electronic
Library Online (SCIELO), considerando que este Programa possui aproximadamente
seis anos e apresenta pouca produção científica. Os documentos produzidos nas
secretarias estaduais de Educação, dada a importância do recorte estadual que
orientou a implantação do ProEMI nos estados do sul, constituem fonte de análise e
de reflexão sobre o Programa sob o lócus das adaptações.
A abordagem histórica do primeiro capítulo, inicialmente, retrata a
educação a partir da década de 1980 até a atualidade, em uma contextualização do
Ensino Médio nas políticas educacionais, visto que sua caracterização atual advém
11 Na teorização de Marise Ramos, no artigo “Filosofia da Práxis e Práticas Pedagógicas de
Formação de Trabalhadores”, publicado em 2012 na revista Trabalho & Educação, p. 202.
28
da reforma educacional desse período; contextualiza o Ensino Médio no regime militar
à LDB; aborda o ProEMI e seus instrumentos de renovação do Ensino Médio.
O segundo capítulo desvela as adaptações realizadas na competência
administrativa das secretarias estaduais de Educação no Programa, porém,
observando, a princípio, os limites da autonomia dos SEE frente ao governo federal
ou ao MEC. A partir dos documentos oficiais e das entrevistas, as adaptações passam
a ser analisadas e confrontadas por estado, com a proposta oficial do ProEMI e com
outras políticas educacionais. Aborda, também, a proposta de formação humana
integral e as inovações presentes nos documentos oficiais e no redesenho curricular
de uma escola da rede estadual de Educação nas capitais Florianópolis e Porto
Alegre, que optaram pelo ProEMI.
29
1 EDUCAÇÃO A PARTIR DA DÉCADA DE 1980: O ENSINO MÉDIO NAS
POLÍTICAS EDUCACIONAIS
O período de cinco anos, ou mesmo a década que antecedeu os anos de
1990, do século XX, é considerado como o da redemocratização do Brasil e foi
marcado por entraves e disputas de projetos que levaram à eleições diretas e a uma
Constituinte. Um período em que as visões opostas de mundo e de democracia
estabeleceram, com ou sem consenso, o conjunto de novas normas constitucionais e
legais para o funcionamento da sociedade brasileira num regime democrático e, em
especial, para o funcionamento da escola. Resulta daí, das normas constitucionais,
fatos importantes que influenciariam o cotidiano do Ensino Médio, de 1990 até a
atualidade, que refletem o jogo de interesses de classes e do tipo de formação a ser
assegurada.
Neste contexto, o capítulo faz referência a um relato histórico das
influências das políticas educacionais sobre o Ensino Médio resultantes do regime
militar até a edição, em 1996, da LDB, especialmente o tipo de escola que é resultado
desse processo. As abstrações aqui desenvolvidas buscam compreender os
significados dos programas federais que aludem universalização do Ensino
Fundamental, desse período, que levaram a distanciamentos da democratização do
Ensino Médio e de processos de inovação educacional para essa etapa formativa. Em
seguida, parte da LDB ao contexto do PNE de 2014, retratando as mudanças
significativas ocorridas no período e direcionadas ao financiamento, universalização,
estabelecimento das metas e estratégias do Plano para o Ensino Médio até 2024. No
recorte, destaca o objeto da pesquisa dado pelo ProEMI e o retrata nas interpretações
dos documentos orientadores em sua intencionalidade.
Em análises iniciais, os objetos do estudo foram os programas “Nacional
de Alfabetização e Cidadania” (BRASIL, 1990), “Minha Gente” (BRASIL, 1992), o
Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (PRONAICA)
(BRASIL, 1993c) e o Plano Decenal de Educação para Todos (BRASIL, 1993b), que
passaram a reproduzir nas reformas educacionais a opção constitucional por uma
universalização do Ensino Fundamental e o disciplinamento da estratégia do slogan
Educação para Todos e Programa Educação para Todos, com o apoio financeiro e
orientativo do Banco Mundial e da Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO). Neste capítulo, também, pretende-se refletir sobre
30
os significados adjacentes dessas políticas educacionais que levaram a uma ação
antidemocrática em relação à última etapa da Educação Básica.
Importa destacar que a ausência de uma nova LDB, até 1996, não deixou
claro o papel que o Ensino Médio tinha a desempenhar pós-constituinte. Com a edição
da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que “estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional” (BRASIL, 1996), o Ensino Médio passa a ser constituído como
etapa da Educação Básica, o que permite analisar e compreender sua trajetória
formativa até atualidade.
1.1 ENSINO MÉDIO DO REGIME MILITAR À LEI DE DIRETRIZES E BASES DA
EDUCAÇÃO DE 1996
A resignação do Ensino Médio ao capital no regime militar representou a
sua função social no período, que na sua caracterização cumpriu dois papéis, ou seja,
um político e ideológico de contenção do acesso da classe média à educação superior,
e outro técnico e político, em apoio à estruturação econômica do Brasil frente à
exigência de funções mais hierarquizadas e funcionais na divisão social do trabalho.
Segundo Shiroma, Moraes e Evangelista (2000, p. 40), o papel do Ensino
Médio foi traçado por uma
profissionalização descuidada e indiscriminada, aliada à expansão das vagas particulares do ensino superior, visava mais controlar a procura por esse nível de ensino do que propriamente a qualificação do nível médio. Diminuiu-se a carga horária das disciplinas de formação básica – afastou-se o ensino de Filosofia, Sociologia e Psicologia desse grau de ensino -, introduziu um grande número de disciplinas supostamente profissionalizantes, mas que longe estavam de qualificar alunos para a obtenção de um emprego.
Observou-se, nas análises de Kuenzer (1992) acerca das políticas
educacionais do regime militar, que da ruptura do passado autoritário permanece uma
escola média marcada, na dualidade estrutural, pela Teoria do Capital Humano12 e
pela resignação entre a educação e o princípio educativo do trabalho. Na concepção
da autora, a reforma do ensino secundário de 1982 provocou “a indefinição do papel
da escola média em relação ao mundo do trabalho [...] e, em decorrência, evidencia a
12 Kuenzer (1992) reflete a proposta educacional do período militar envolta na “proposta de
racionalização de todos os setores da vida social, [...] fundamentado na Teoria do Capital Humano” (1992, p. 15), que apontava a baixa produtividade e a inadequação da proposta educacional.
31
perda de significado social do ensino de 2° grau, [...] que extingue ao nível formal a
escola única de profissionalização obrigatória” (KUENZER, 1992, p. 19).
Precisamente o Ensino Médio, objeto desta análise, depois de uma passagem curta
por uma escola secundária única, parte de uma
[...] concepção vigente antes de 71, e referenda, mais uma vez, o compromisso da escola com a classe dominante, ao descompromissá-la do mundo do trabalho e reconhecê-la como predominantemente propedêutica. Como a Lei n° 5.692/71 e seus pareceres complementares não foram revogados, nada mudou, ao nível da prática, continuando a coexistir todas as opções possíveis desde a escola de formação geral exclusiva até as de formação profissional em nível técnico, passando por todas as formas intermediárias, cabendo a opção a cada escola (KUENZER, 1992, p. 20).
Os processos da Constituinte e da implantação do regime democrático
estabeleceram como resultado perspectivas de “reforma e inovação”13 para a
educação brasileira, no entanto, contraditórios na prioridade dada à determinada
etapa educacional no conjunto da legislação federal, e que orientaram, a partir das
regras constitucionais de 1988, a fixação de percurso formativo, o currículo, a
aplicação de recurso e a opção por universalizar o Ensino Fundamental. É neste
contexto de contradição e de interesses de classes que “a história da educação
contemporânea revela que, ao longo dos anos, o campo educacional tem sido uma
verdadeira arena de lutas em que seus atores vêm tratando de impor suas opções
políticas” (SANDER, 2007, p. 61), e é quando surgem as reformas educacionais a
partir da nova Constituição.
A perspectiva e expectativa do campo democrático e popular da sociedade
era uma reforma que promovesse uma educação emancipadora, que proporcionasse
condição de igualdade entre os filhos dos que viviam do trabalho e os filhos dos
detentores do capital. Saviani (2008a, p. 347), apresentando fatos da frustração dessa
expectativa, mostra que majoritariamente de 1964 a 2001 as políticas educacionais
brasileiras foram orientadas por “concepções pedagógicas produtivistas” que
13 Jorge (1994) aponta, usando referencial teórico de Gonçalez e Escudeiro, “a reforma educativa
como mudanças em larga escala que afetam a política educativa, os objetivos, as estratégias e as prioridades de todo um sistema educativo” (1994, p. 28). É importante contextualizar aqui as opções de escolhas de prioridades, pois, por muito tempo o Ensino Fundamental foi a escolha de universalização da década de 90, do século XX. Daí há que se entender que “as reformas e as inovações, de certo modo, vêm juntas, se considerarmos que são partes de uma mesma necessidade: mudança de em ensino/educação” (1994, p. 28) e, portanto, o Ensino Médio ficou restringido de oportunidades inovadoras pelo alcance da universalização.
32
demarcaram a intenção de colocar a última etapa da Educação Básica sob orientação
dos interesses do capital. Marca, assim, um período histórico, de governos militares e
depois democrático, em que essa matriz produtivista que o Brasil experimentou, e
experimenta, é representada majoritariamente por práticas pedagógicas tecnicistas,
crítico-reprodutivistas e analíticas.14
O Ensino Médio, na Constituição de 1988, passa a ser contextualizado de
forma inovadora em relação ao anterior segundo grau, com a expectativa da
progressiva extensão da gratuidade e obrigatoriedade15, o que remete às
possibilidades de analisar a universalização, a identidade, o currículo e as inovações
para garantir qualidade a partir desse contexto. Até 1988 a Educação Básica era o
primeiro grau, como consta no Plano para a Educação Básica Brasileira de 1985,
denominado “Educação para Todos - Caminho para Mudança” (BRASIL, 1985, p. 1)
da Nova República. Em outra perspectiva, determinante para as inovações e a
qualidade é o mesmo texto constitucional que, no artigo 60 das Disposições
Transitórias (BRASIL, 1988), “configura o quadro inicial de referência para o
delineamento das questões de financiamento” (BRASIL, 1991, p. 37) educacional,
constitucionalizando, sem um PNE, parte significativa do orçamento da Educação e
direcionando, prioritariamente, ao combate ao analfabetismo e à universalização do
Ensino Fundamental.
Nesse aspecto, foi assegurando aplicação, para os dez primeiros anos da
promulgação, de cinquenta por cento de todos os recursos vinculados para a
educação brasileira a essas duas prioritárias políticas educativas. A União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, mesmo sem a existência do FUNDEF
(BRASIL, 1996b), possuíam até o ano de 1998 uma vinculação orçamentária que
limitava a aplicação de recursos para o aprimoramento do Ensino Médio e a Educação
Infantil, ou seja, de início o contexto inovador da Constituição com a progressiva
extensão da gratuidade e obrigatoriedade foi postergada por dez anos.
A prioridade constitucional para com o Ensino Fundamental, dentro das
políticas sociais, em detrimento do Ensino Médio, já é perceptível no início da década,
14 É uma síntese, como referência, extraída do conjunto das concepções pedagógicas apresentadas
por Saviani (2008a) no livro “História das idéias pedagógicas no Brasil”, que retrata historicamente o período em que tais concepções influenciaram a educação brasileira.
15 O artigo de Cunha, Castro e Nascimento (1989, p. 55) retrata “a primeira e maior novidade da nova Carta em relação ao segundo grau é a progressiva extensão da gratuidade e obrigatoriedade do ensino fundamental ao ensino médio”.
33
no governo Collor/Itamar Franco, e as reformas educacionais iniciadas nesse período
“devem ser compreendidas no âmbito das transformações econômicas, geopolíticas
e culturais em curso no mundo capitalista contemporâneo” (CABRAL NETO;
RODRIGUES, 2007, p. 13).
Nesse contexto educacional, em Jomtien, Tailândia, o Brasil foi, em 1990,
o signatário do Programa Educação para Todos16, que estabeleceu metas
educacionais a serem cumpridas para o decênio seguinte que foram concebidas na
Conferência Mundial de Educação para Todos.17 A conferência de Jomtien foi o
mecanismo utilizado pelas agências internacionais para “reformar a educação em
todas as suas dimensões, tornando-a mais flexível e capaz de responder às
demandas contextuais para aumentar a competividade dos países” (CABRAL NETO;
RODRIGUES, 2007, p. 14), como no Brasil. Nesse cenário, os governos brasileiros,
em especial o governo Collor/Itamar, passam a adotar programas específicos e
atrelados a essa perspectiva educacional.
1.1.1 Os significados latentes nos programas do governo Collor (1990-1992) e
Itamar Franco (1992-1993)
Percebeu-se como relevantes para as análises os programas “Nacional de
Alfabetização e Cidadania” (BRASIL, 1990), “Minha Gente” (BRASIL, 1992), o
“PRONAICA” (BRASIL, 1993c) e o Plano Decenal de Educação para Todos (BRASIL,
1993b), que passam a reproduzir nas reformas educacionais a opção constitucional e
o disciplinamento da estratégia do Programa Educação para Todos com o apoio
financeiro do Banco Mundial.
Em 11 de setembro de 1990, alegando “cumprimento ao preceito
constitucional e ao ensejo do Ano Internacional da Alfabetização, o governo federal
lança os marcos do Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania” (PNAC)
(BRASIL, 1990, p. 7), que buscava uma educação para a cidadania orientada a
universalizar o percurso educativo fundamental na faixa etária de sete a quatorze
anos, e aos jovens acima de 15 anos e adultos não alfabetizados. O enfoque da
16 Segundo Cabral Neto e Rodrigues (2007, p. 15-16), essa é uma das “iniciativas internacionais de
educação para América Latina e Caribe” que foram formuladas para melhorar a educação. 17 Em Cabral Neto e Rodrigues (2007, p. 13) é apresentada uma síntese da Conferência Mundial de
Educação para Todos, de Jomtien, Tailândia.
34
educação para a cidadania, entendida aqui como alfabetização, que é dada como
“condição essencial para o exercício da cidadania numa sociedade democrática que
se deseja e se busca consolidar” (BRASIL, 1990), ancora-se nos limites
constitucionais da universalização do Ensino Fundamental, não adotando políticas
educacionais regulares aos que estão em outras faixas etárias ou nas duas outras
etapas da Educação Básica. No âmbito do Ensino Médio, o documento dos marcos
de referência (BRASIL, 1991) do PNAC, do MEC, em 1991, evidencia e sinaliza,
também, os fundamentos teóricos que passam a ideia governamental de separação
no Ensino Médio da educação profissionalizante, a saber:
A concepção do ensino médio como instância destinada a garantir o aprofundamento e a consolidação do saber - humanístico, científico, tecnológico e artístico - bem como a compreensão dos processos de formação sócio-econômico-cultural, da organização da sociedade brasileira e de seus mecanismos de participação política, vem se consubstanciando ao longo das duas últimas décadas. Assim, o fortalecimento da educação geral é prioridade que se impõe como condição indispensável à formação da cidadania consciente e participativa, pois é a sólida, duradoura e crítica educação multidimensional que deve sedimentar a profissionalização neste nível de ensino (BRASIL, 1991, p. 26-27).
O referido documento caracteriza os cenários de qualidade do Ensino
Médio diurno existente quase somente na escola particular, com orientação de forma
propedêutica e direcionada à camada social com maior poder aquisitivo e, de modo
crítico,
[...] a escola noturna, quase sempre pública, é destinada ao atendimento da clientela composta de jovens e adultos trabalhadores, oferece um ensino propedêutico ou pseudo profissionalizante limitado, sobretudo pela desqualificação pedagógica e física das escolas (BRASIL, 1991, p. 28).
Mesmo com essa caracterização, o que se percebe no próprio Programa é
o discurso oficial de reforço à norma constitucional de se “estabelecer a progressiva
obrigatoriedade e gratuidade do ensino médio” (BRASIL, 1991, p. 26), deixando
inócua a resposta à necessidade de universalização dessa etapa da Educação
Básica.
Madeira (1992, p. 63) faz outra análise do PNAC em seus limites e explica
que o mesmo “não omite uma percepção, ainda que atenuada, da relação da
educação com o dualismo estrutural da sociedade brasileira”. Essa análise última
35
materializa-se na observação empírica do autor da divisão do tipo de escola oferecida
aos que estão fadados a desempenhar, por sua condição financeira ou classe, o
trabalho intelectual e manual, e, “no discurso, a educação como mecanismo de
promoção da justiça social e distributiva” (MADEIRA, 1992, p. 63) na sociedade. Esse
discurso do governo é falho pelo tipo de escola antidemocrática oferecida aos que
dependem do trabalho, expresso na qualidade do ensino apresentada e na negação
da sua universalização nas diversas etapas da Educação Básica.
Kuenzer (1992) considera como uma ingenuidade as propostas
educacionais que pretendem resolver algo que não pode acontecer, o fim da
dualidade estrutural nas sociedades capitalistas reproduzida nos sistemas de ensino.
Neste sentido, a escola brasileira, antes de resolver a dicotomia educação/trabalho no seu interior referenda, através do seu caráter seletivo e excludente, esta separação, que é uma das condições de sobrevivência das sociedades capitalistas, uma vez que determinada pela contradição fundamental entre capital e trabalho (KUENZER, 1992, p. 20).
Não obstante, os programas “Minha Gente” (BRASIL, 1992) e o
“PRONAICA” (BRASIL, 1993c) seguem a mesma diretriz norteadora das análises do
PNAC. No âmbito do Ministério da Criança e da Secretaria de Projetos Especiais da
Presidência da República foram direcionadas “ações integradas de educação, saúde,
assistência e promoção social para crianças e adolescentes, como forma de
assegurar melhores condições de vida a este segmento da população” (AMARAL
SOBRINHO; PARENTE, 1995, p. 5) mais pobre, sob orientação da Organização das
Nações Unidas (ONU) assumida na “Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a
Proteção e o Desenvolvimento da Criança” (AMARAL SOBRINHO; PARENTE, 1995,
p. 5), que remeteram à instituição, “em 14 de maio de 1991, o Projeto Minha Gente”
(AMARAL SOBRINHO; PARENTE 1995, p. 6) com prioridade para:
[...] atendimento social integrado em um mesmo local; atendimento em tempo integral; envolvimento comunitário; desenvolvimento de programas de proteção à criança e à família; gestão descentralizada; e, como característica principal, a implantação de unidades físicas — o Centro Integrado de Atenção à Criança e ao Adolescente — CIAC. Este centro previa o atendimento em creche pré-escola e ensino de primeiro grau; saúde e cuidados básicos; convivência comunitária e desportiva (AMARAL SOBRINHO; PARENTE, 1995, p. 6, grifo nosso).
O governo Collor adota um programa de assistência social com ações
36
integradas, misturando políticas educacionais e assistenciais, provocando a
intersetorialidade18 em políticas públicas focadas exclusivamente para a população
trabalhadora desprovida de condições adequadas para manutenção da vida, isolando-
a em estruturas de tempo integral. Essa intersetorialidade e o isolamento em
estruturas físicas da clientela do Programa (os pobres) foram incorporadas ao
PRONAICA.
A intenção anunciada como “estratégia básica do programa é a
implantação gradativa da pedagogia da atenção integral” (AMARAL SOBRINHO;
PARENTE, 1995, p. 8), que, por sua característica, aproxima-se do ideário de Anísio
Teixeira, apoiado no pragmatismo americano e escolanovista de John Dewey, ou seja,
“uma concepção de educação escolar ampliada, que, ainda hoje, ecoa no pensamento
e nos projetos educacionais” (CAVALIERE, 2010, p. 250).
Saviani (2008b) considera uma proposta educacional como essa,
configurada e prevista nos programas em políticas intersetoriais, como educação
compensatória e não propriamente uma teoria educacional. Nas palavras do autor,
[...] educação compensatória compreende um conjunto de programas destinados a compensar deficiências de diferentes ordens: de saúde e nutrição, familiares, emotivas, cognitivas, motoras, linguísticas etc. Tais programas acabam colocando sob a responsabilidade da educação uma série de problemas que não são especificamente educacionais, o que significa, na verdade, a persistência da crença ingênua no poder redentor da educação em relação à sociedade (SAVIANI, 2008b, p. 28).
O PRONAICA (BRASIL, 1993c), como sucedâneo do Programa “Minha
Gente”, no governo Itamar Franco, segue com alterações legais e adaptações
realizadas no Ministério da Educação e Desporto (MEC), que o incorpora à sua
estrutura, direcionando-o “à pedagogia da atenção integral e às formas de
desenvolvê-la” (AMARAL SOBRINHO; PARENTE, 1995, p. 7). Uma segunda
mudança ocorre no nome das instalações de CIAC para a denominação de “Centro
de Atenção Integral à Criança — CAIC” (AMARAL SOBRINHO; PARENTE, 1995, p.
7), incorporando o “ensino fundamental” (BRASIL, 1993c) de forma integral. O objetivo
da formação profissional aparece no art. 2º da Lei nº 8.642/93 (BRASIL, 1993c), que
18 O termo intersetorialidade pode ser melhor compreendido nas políticas públicas na Matriz
Intersetorial de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que para “além de princípio ou paradigma norteador, é uma lógica de gestão que transcende um único setor da política social e estratégia política de articulação entre setores sociais diversos e especializados” (BRASIL, 2015a).
37
institui o Programa, direcionada aos jovens sem indicativo da integração com o Ensino
Médio. A descentralização do Programa é caracterizada “pela ação compartilhada
entre União, estados, municípios e entre os diversos setores sociais e a comunidade,
e o compartilhamento de responsabilidades” (AMARAL SOBRINHO; PARENTE, 1995,
p. 9).
As análises de Amaral Sobrinho e Parente (1995) apresentam o uso dos
pressupostos da inovação e da flexibilidade, dentro do Programa, como estratégia
para alcançar os objetivos de “reverter às precárias condições de vida de parte das
crianças e adolescentes brasileiros, nos posicionamentos e compromissos
internacionais e na Constituição Federal de 1988” (1995, p. 19). Como já mencionado,
não cabe à escola superar os problemas advindos do modo de produção e societário
do capitalismo, mesmo com soluções educacionais inovadoras e flexíveis. A formação
profissional, no Programa, de forma aligeirada e distante do Ensino Médio é uma das
formas de atender somente ao mercado e ao modo de produção flexível já presente
no Brasil nos anos de 1990, e aparece na estratégia governamental de abertura
econômica e da inserção do país na globalização neoliberal. Surgem novos
fundamentos nas políticas públicas educacionais retratando uma
[...] proposta de reforma, que acabou impondo-se no decorrer da década de 1990, na América Latina e no Caribe (em decorrência do financiamento e assessoria internacional, em especial do Banco Mundial), incluía, entre as suas principais recomendações, a descentralização, a autonomia escolar, a participação, a co-gestão comunitária e a consulta social (CABRAL NETO; RODRIGUES, 2007, p. 14).
O Plano Decenal de Educação para Todos, de 1993 a 2003 (BRASIL,
1993a), que já está claramente identificado com os ditames do Programa Educação
para Todos de Jomtien, é resultante dos compromissos assumidos na Conferência
Mundial de Educação para Todos pelo governo brasileiro junto à UNESCO (CABRAL
NETO; RODRIGUES, 2007, p. 16), em conjunto com outros nove países que
apresentaram baixa produtividade e altas taxas de analfabetismo do sistema
educacional. Analisando as “estratégias para a universalização do ensino fundamental
e erradicação do analfabetismo” (BRASIL, 1993a, p. 36-50), observa-se que a
inovação e a flexibilidade nos sistemas de ensino passam a ser orientações, pois há
uma evocação sobre o tema e as “estratégias educativas aptas a suplantar as
questões críticas do sistema, especialmente as que dizem respeito à “cultura da
38
repetência”, à avaliação da qualidade e à eficiência e democratização da gestão
escolar” (BRASIL, 1993a, p. 47). Shiroma, Moraes e Evangelista (2000, p. 62) afirmam
que “com esse plano, o Brasil traçava metas locais a partir do acordo firmado em
Jomtien e acenava aos organismos multilaterais que o projeto educacional por eles
prescritos seria aqui implantado”.
O Plano sinaliza um Programa de Apoio a Inovações Pedagógicas e
Educacionais, em seu contexto, como forma de “superar a limitação dos meios,
melhorar a gestão e o desempenho das unidades escolares e obter qualidade e
equidade de oportunidades de aprendizagem” (BRASIL, 1993a, p. 60) das escolas
fundamentais. A prioridade torna-se a gestão escolar e o padrão de qualidade total,
própria do meio produtivo, passa a nortear os caminhos da escola como se o problema
da escola não fosse de financiamento, mas de gestão. Quanto ao objetivo, Zibas
(2005, p. 1.070) explica que
na verdade, o projeto visava a transformar as relações entre os sujeitos da cena escolar de forma que os pais e alunos se tornassem clientes e os professores e gestores assumissem o papel de prestadores de serviços, inserindo, assim, na escola a lógica do mercado.
O Ensino Médio figura no Plano através de uma perspectiva de revisão e
atualização das concepções e normas, evidenciando o objetivo de preparação do
jovem para o contexto flexível do modo de produção com o “aprofundamento da
aquisição de competências cognitivas e sociais, e integradamente às várias
modalidades de educação no e para o trabalho” (BRASIL, 1993a, p. 37). A estratégia
de reforma educativa, orientada pela UNESCO, atinge o Ensino Médio focando no
pedagógico e “tendo a centralidade à reestruturação dos currículos e da gestão”
(CABRAL NETO; RODRIGUES, 2007, p. 24).
No documento apresentado pelo Brasil na Conferência Mundial de
Educação, em Genebra, intitulado “Desenvolvimento da Educação: relatório 1992-
1994” (BRASIL, 1994), a universalização do Ensino Fundamental é meta maior a ser
cumprida até 2003 e o “acesso universal à educação média é meta a ser alcançada a
médio e longo prazos” (1994, p. 50), fato que reforça o caráter antidemocrático como
é tratado o Ensino Médio como etapa final da Educação Básica, ao se limitar o acesso,
justificado por compromissos de combate ao analfabetismo presentes na sociedade
brasileira.
39
Essa orientação do governo federal é seguida de forma automática nos
SEE, que, por obrigação constitucional, seguem o enunciado de aplicação prioritária
de recursos na universalização do Ensino Fundamental. A LDB, com nova orientação
nacional, que poderia mudar essa orientação, ainda permanecia em discussão.
1.2 DA LDB AO PNE: PONTOS DE REFLEXOS NO ENSINO MÉDIO
A configuração do processo de elaboração da LDB, a constituição do
FUNDEF, a mais recente alteração da política de fundos de financiamento da
educação - o FUNDEB (BRASIL, 2007), e o PNE (2014-2024) orientam o movimento
que o Estado fez a fim de regular a universalização da Educação Básica no âmbito do
Ensino Médio e permitem compreender os formatos da escola ou as trajetórias
curriculares, bem como o de financiamento, gestão e avaliação a partir de 1996. Sem
a preocupação de um aprofundamento para o conjunto da Educação Básica, mas
olhando os reflexos no Ensino Médio, buscou-se, principalmente, trazer pontos nessas
políticas educacionais propostos para essa etapa formativa. No caso do PNE (2014-
2024), recorre-se a uma análise da meta 3, e do FUNDEF e FUNDEB, verificar a
relação direta com a obrigatoriedade e gratuidade prevista em caráter limitado
inicialmente na LDB e a ampliação posterior (BRASIL, 2009c, 2013a).
Como todas as políticas educacionais, nas trajetórias elas são marcadas
por interesses de classe e de indução de padrões sociabilidade19, não foi diferente
com a LDB, e o processo histórico desvela a dificuldade de garantir uma proposta de
lei pensada por educadores comprometidos com a qualidade da educação. A
dificuldade de construção de consensos para a educação brasileira, em função de
interesses diversos na sociedade, levou à construção de uma nova LDB questionada
por setores da sociedade. Esse quadro de dificuldades e questionamentos pode ser
retratado na análise de Saviani (1998) sobre a nova LDB e sua trajetória para que se
tornasse uma lei, em que apresenta a multiplicidade de propostas representadas na
disputa de projeto social e, ao mesmo tempo, o período longo desde os debates
19 Martins (2007, p. 1) esclarece que o conceito de “sociabilidade” é extraído do pensamento de
Antonio Gramsci: “O conceito nos ajuda a entender que os homens e as classes vêm produzindo e reproduzindo ao longo do processo histórico as condições objetivas e subjetivas de sua própria existência, sob a mediação das relações de produção, das relações sociais e do resultado das relações de poder, e que na atual fase do capitalismo essas condições objetivas e subjetivas foram significativamente alteradas, refletindo-se em novos preceitos de participação, cidadania e organização e, ainda, na concepção de sociedade civil.”
40
iniciais no conjunto dos movimentos sociais e a passagem de vários governos até
1996 com sua sanção. O grau de dificuldade da aprovação de um projeto de lei, que
nasce no Legislativo, desvelou o quadro de interferência, em quatro momentos, do
Poder Executivo na sua elaboração e aprovação, em que
[...] o primeiro corresponde à fase final do governo Sarney e se estende de dezembro de 1988 ao início de março de 1990; o segundo vai da posse de Collor de Mello em 15 de março de 1990 à sua queda em setembro de 1992; o terceiro momento é aquele do governo Itamar Franco, entre outubro de 1992 e dezembro de 1994; finalmente, o último momento corresponde ao governo de Fernando Henrique Cardoso, cobrindo o período que vai de janeiro de 1995 até a sanção da nova LDB em 20 de dezembro de 1996 (SAVIANI, 1998, p. 157).
Observa-se um período de maturação de oito anos da proposta de LDB, e
houve uma participação20 não decisória do Poder Executivo até o governo Fernando
Henrique Cardoso (1994-2002), que, não possuindo um projeto, demonstrou “repulsa
ao projeto de LDB construído a partir de mais de 30 organizações científicas, políticas
e sindicais congregadas no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública”
(FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 109), assumindo o elaborado por Darci Ribeiro. A
condução desse processo ficou a cargo dos parlamentares afeitos ao tema, que, em
sua maioria, representavam interesses societários para, de alguma forma, “preservar
os interesses dos grupos privatistas” (SAVIANI, 1998, p. 157). A representação maior
para a história desse espectro foi dada, então, ao Senador Darcy Ribeiro como último
ator nesse processo de elaboração da nova LDB, que ficou caracterizado no contexto
da cena política onde o relator, Deputado José Jorge
[...] mantém a mesma estrutura do substitutivo Darcy Ribeiro com praticamente o mesmo número de artigos e, fundamentalmente, o mesmo conteúdo tendo introduzido pequenas alterações que não chegaram a afetar o espírito geral do projeto aprovado no Senado. A ausência de vetos é fato raro na história da nossa política educacional, recordando-se que isto também se deu com a lei 5.692/71 durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici sob cujo autoritarismo a oposição estava inteiramente silenciada, não havendo espaço sequer para os ‘pálidos protestos’ ocorridos durante a votação da lei 5.540/68 no governo do marechal Arthur da Costa e Silva quando, no entanto, o texto foi sancionado com diversos vetos. Esse resultado é explicável uma vez que o MEC foi, por assim dizer, coautor do texto de Darcy Ribeiro e se empenhou diretamente na sua aprovação. E, como a iniciativa privada, ficou inteiramente satisfeito com o desfecho. Tanto
20 Saviani (1998) relata, em maior e menor grau, a participação de cada governo neste período de
oito anos, todavia nenhum deles remeteu ao Congresso Nacional a sua proposta de LDB. Isso não significa que o Poder Executivo não possuísse uma posição sobre a proposta de LDB.
41
que recomendou ao Presidente da República a sanção sem vetos. E assim foi feito (SAVIANI, 1998, p. 162, grifo do autor).
Com a edição da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional (BRASIL, 1996c), passou-se a ter, então,
uma norma geral de regulação da educação brasileira, em todas as dimensões,
atualizada e adequada à Constituição Federal de 1988. Uma das dimensões
importantes a se desvelar é em que contexto de orientações políticas as reformas do
Estado brasileiro são permeadas nesse período. Para Frigotto (2011, p. 240), o
governo Fernando Henrique Cardoso mostra que o “seu fundamento é o liberalismo
conservador redutor da sociedade a um conjunto de consumidores”, o que leva à
mercantilização das políticas sociais e, no caso da educação, à lógica produtivista de
um serviço comprometido com o capital. O modelo neoliberal adotado, sob a
orientação do Consenso de Washington21, agrega-se para o campo da educação ao
Relatório Delors22, que aponta para a ressignificação das políticas educacionais a
lógica do modo de produção flexível. É importante destacar, de forma detalhada,
seguindo essa ressignificação, que
[...] o Relatório faz recomendações de conciliação, consenso, cooperação, solidariedade para enfrentar as tensões da mundialização, a perda das referências e de raízes, as demandas de conhecimento científico-tecnológico, principalmente das tecnologias de informação. A educação seria o instrumento fundamental para desenvolver nos indivíduos a capacidade de responder a esses desafios, particularmente a educação média (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 99).
À luz dessas considerações não há de haver estranhamento se no texto da
LDB (BRASIL, 1996c) esteja garantida a lógica do mercado na educação, ou seja, a
consolidação do princípio basilar de flexibilidade que é orientado pelo modo de
produção flexível. Como um dos resultados, no caso do Ensino Médio, a volta da
dualidade no § 2º do art. 36, tipificando que “o ensino médio, atendida à formação
21 Em 1989, “o documento produzido pelos representantes dos países do capitalismo central,
conhecido como Consenso de Washington, balizou a doutrina do neoliberalismo ou neoconservadorismo que viria a orientar as reformas sociais nos anos de 1990” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 95).
22 “Entre 1993 e 1996, a Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, convocada pela UNESCO, composta de especialistas e coordenada pelo francês Jacques Delors, produziu o Relatório Delors, no qual se fez um diagnóstico do “contexto planetário de interdependência e globalização” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 99).
42
geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas”
(BRASIL, 1996c). Segundo Kuenzer (2000, p. 35),
[...] com a acumulação flexível, o capital prescinde de formação profissional para os postos crescentemente simplificados, passando a demandar do Estado apenas educação geral, mais ampliada, é verdade, porém não mais universalizada, em face da redução dos postos de trabalho.
A LDB deixa essa dualidade mais perniciosa quando permite a utilização
de recursos públicos para financiar a educação profissional, na rede de ensino
privada, com o instrumento da cooperação23 do poder público com instituições
especializadas em educação profissional e parcerias pública-privadas.
Essa volta da dualidade é marcante no debate pré e pós-aprovação da
nova LDB, pois se traduziu como uma nova organização do Ensino Médio desde 1981.
Para Kuenzer e Gonçalves (1995, p. 108), no movimento de crítica e alerta do meio
acadêmico das consequências da aprovação da LDB em 1996, ou seja, tendo como
referência a divisão social do trabalho24, a lei levaria à retomada da “velha dualidade
estrutural que, determinada pelo capitalismo em sua fase fordista prevê dois tipos
diferentes de educação, em diferentes instituições”. Essa dualidade materializou-se
no corpo da LDB e passou a configurar-se como política educacional através do
Decreto do governo federal n. 2.208, de 17 de abril de 1997 (BRASIL, 1997), que traça
as linhas gerais e os objetivos da educação profissional. De acordo com Zibas (2005,
p. 1071), houve uma desconfiguração da proposta do Fórum Nacional em Defesa da
Escola Pública para o Ensino Médio quando a LDB permitiu a coexistência de dois
tipos de formação “ambíguas” e “não enfatizou a instituição do trabalho como princípio
educativo e orientador de todo o currículo”. Nosella, apresentando o entendimento do
trabalho figurando como princípio educativo, lembra que ele
[...] foi pensado e proposto a partir do processo de industrialização, no qual os homens compreenderam que o conhecimento científico necessário à indústria era fruto da articulação entre as atividades práticas e os estudos teóricos, uma vez que a inteligência e as mãos executavam, conjuntamente,
23 Essa previsão aparece no § 4º do art. 36 da LDB (BRASIL, 1996c). 24 Manacorda (2011, p. 11, grifo do autor) contextualiza, no artigo “Marx e a formação humana”, a
educação, faz as críticas ao modelo de ensino unilateral profissionalizante e aponta a opção por uma formação com omnilateralidade. Afirma que “este é o destino do homem e para isso deve visar o ensino intelectual, físico e tecnológico para todos. Porque, divisão dos homens entre os destinados ao trabalho e outros à ciência, os à produção e outros ao consumo, uns ao cansaço ou outros ao gozo, é o nó das contradições da sociedade capitalista que Marx pretende cortar. Eis ‘o germe da educação do futuro’”.
43
operações segundo regras objetivas teóricas e práticas. Pela experiência científica, criava-se uma nova forma histórica de interação entre homem e natureza, um novo método de produção. Assim, o trabalho como princípio educativo passou a significar o objetivo geral de todo processo educativo, isto é, capacitar às gerações mais novas a transformar a natureza, de forma científica, humanizando-a (NOSELLA, 2011, p. 1.057).
Dado o viés produtivista expressado pela LDB, é importante ressaltar essa
análise, pois a falta desse princípio educativo centrado na categoria de trabalho
transformador da natureza, científico e humanista vai permitir outra inovação para o
currículo com a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(BRASIL, 1998) em 1998.
Essa inovação introduzida, que se fundamenta na pedagogia das
competências25 para o currículo, só existe em função das condições de alinhamento
das políticas educacionais às diretrizes dos organismos internacionais e da
perspectiva pedagógica assumida no MEC, não só pela falta do trabalho como
princípio educativo nas diretrizes. Na LDB, contudo, existe um campo aberto às
interpretações do tipo de “vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
práticas sociais” (BRASIL, 1998), e, como uma escolha, pode ser considerada uma
determinante passível de superação com outra perspectiva pedagógica. A opção do
MEC, que foi quem encaminhou a proposta de diretriz, fica mais clara quando se
interpreta da seguinte forma:
Trata-se de uma perspectiva pedagógica individualista, dualista e fragmentária coerente com o ideário da desregulamentação, flexibilização e privatização e com o desmonte dos direitos sociais ordenados por uma perspectiva de compromisso social coletivo. Não é casual que a ideologia das competências e da empregabilidade esteja no centro dos parâmetros e das diretrizes educacionais e dos mecanismos de avaliação (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 108).
O resultado dessa mudança conceitual, institucionalizada a partir da LDB e
da perspectiva pedagógica do MEC, provocou mudanças no Ensino Médio, até então
25 Ramos (2003, p. 88) faz uma abordagem sobre o tema e diz que, “quanto ao segundo pilar da
pedagogia – o processo de ensino-aprendizagem – já sinalizamos que a pedagogia das competências em sua versão contemporânea aporta-se predominantemente no construtivismo piagetiano, particularmente na teoria da equilibração. Segundo esta teoria, ocorre um desequilíbrio estruturalmente perturbador quando o sujeito se defronta com situações desconhecidas ou desafiadoras, diante das quais ele reorganiza seu pensamento em um nível mais elevado do que o previamente atingido, em um processo recursivo que conduz a um crescimento indefinido dos conhecimentos, quer no plano quantitativo, quer no plano qualitativo. As competências seriam as estruturas ou os esquemas mentais responsáveis pela interação dinâmica entre os saberes prévios do indivíduo – construídos mediante as experiências – e os saberes formalizados”.
44
não vistas desde 1981, como instrumento de uma política de uma nova sociabilidade.
Ramos (2011, p. 772) conclui na mesma direção e desvela o simbolismo buscado no
governo federal em caracterizar uma “suposta definição da finalidade do ensino
médio: formar para a vida”.
A superação dessa perspectiva pedagógica no marco legal do Estado
passa por momentos distintos e incompletos, que sua interpretação mereceria outros
estudos aprofundados a saber se foi completada ou não e que tipo de formação é
praticada na escola atual de Ensino Médio. A dualidade foi mitigada com o Decreto nº
5.154, de 23 de julho de 2004, que revogou o decreto nº 2.208 (BRASIL, 1997),
permitindo, assim, novamente, que “educação profissional técnica de nível médio”
(BRASIL, 2004) acontecesse na Educação Básica. Para Krawczyk (2011, p. 760), a
perspectiva pedagógica do “ensino médio integrado”, proposta pelo Decreto nº
5.154/2004, é uma alternativa à superação dessa dualidade, e explica que
[...] almejam uma profunda revisão de paradigmas e conceitos e a eliminação da indesejável oposição entre conhecimento geral e específico. Entretanto, esse não é um desafio fácil de responder nas condições do sistema de ensino brasileiro (KRAWCZYK, 2011, p. 760).
Em um caminho mais longo, as DCNEM de 1998 vigoraram como marco
legal da organização curricular até a edição da proposta do MEC, pelo Conselho
Nacional de Educação, da Resolução nº 2, de 30 de janeiro 2012, que definiu as novas
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2012). A
consequência dessa mudança é a redefinição dos princípios do Ensino Médio, que
passam a ser balizados por uma “formação integral do estudante” e o “trabalho e
pesquisa como princípios educativos e pedagógicos” (BRASIL, 2012) em uma
perspectiva ontológica humanista. Ramos (2003, p. 6) já apontava um aspecto
pedagógico que se aproxima das atuais DCNEM, que leva em conta o trabalho como
princípio educativo, ou seja, de uma pedagogia histórica e crítica ou da práxis; ela o
chama de “uma pedagogia das competências contra-hegemônicas” e levaria em
consideração
[...] um referencial teórico-metodológico centrado na práxis humana, mediada pelo trabalho, inicialmente na sua dimensão especificamente econômica – que ordena as finalidades da educação profissional – mas processualmente na sua dimensão ontológica, por tentar potencializar ações emancipatórias pelos trabalhadores (RAMOS, 2003, p. 6).
45
Anterior às DCNEM, e em sintonia, destaca-se a eliminação da trava legal
à obrigatoriedade que desaparece com a promulgação da Emenda Constitucional nº
59, que estabeleceu mudança no inciso I do art. 208, da Constituição Federal de 1988,
tornando a “educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 2009c). Entretanto, existe a combinação
com o art. 6º, da própria Emenda, com duas ressalvas, ou seja, a de que “deverá ser
implementado progressivamente até 2016” e “nos termos do Plano Nacional de
Educação” (BRASIL, 2009c). A Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o
PNE (BRASIL, 2014a), prevê duas ações na meta 3, que trata do Ensino Médio: a
primeira de “universalizar até 2016 o atendimento escolar para toda a população de
quinze a dezessete anos”, e a segunda, “elevar até 2024 a taxa líquida de matrículas
para 85% nesta faixa etária” (BRASIL, 2014a).
Na LDB, seguindo mesmo movimento da Constituição Federal, com a nova
redação dada pela Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013 (BRASIL, 2013a), ficou
estabelecido que a Educação Básica seria agora “obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
aos 17 (dezessete) anos de idade” e o “atendimento ao educando, em todas as etapas
da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-
escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. Ao agregar os programas
suplementares, a LDB reforça a nova regra de financiamento da Educação Básica,
que já vinha ocorrendo no Ensino Médio anteriormente à regra da obrigatoriedade.
Tais mudanças foram introduzidas na Carta Magna por meio da Emenda
Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006 (BRASIL, 2006b), instituidora do
FUNDEB em substituição ao FUNDEF. Até 2006 o FUNDEF arrecadava 60% dos
recursos que eram direcionados à educação, desde a sua criação em alteração à
Constituição Federal, que previa, inicialmente, na sua promulgação a obrigatoriedade
de aplicação de 50% desses recursos ao desenvolvimento do Ensino Fundamental.
Com o FUNDEF, o Ensino Médio e a Educação Infantil perderam mais 10% de suas
possíveis fontes de financiamento. A Medida Provisória nº 339, de 28 de dezembro
2006 (BRASIL, 2006a), convertida na Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007 (BRASIL,
2007), criando o FUNDEB, regulamentou o art. 60 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias alterado com a Emenda Constitucional nº 53, que corrige
essa distorção do financiamento da Educação Básica ao estabelecê-lo para todas as
etapas.
46
É interessante analisar uma necessidade de adoção dessa medida para
compor um quadro de receitas, ao Ensino Médio, frente a um número crescente de
matrículas nos SEE. A distorção do financiamento no Ensino Médio pode ser
examinada a partir do movimento crescente de matrículas nos SEE, que se
consolidaram nas duas últimas décadas e a prioridade ao Ensino Fundamental
imposta por vinculações de receitas na Constituição Federal até o ano de 2006 a essa
etapa. Com a adoção da obrigatoriedade na matrícula e o FUNDEB, consolidam-se
as pré-condições para a universalização do Ensino Médio.
A adoção do FUNDEB configura-se como uma necessidade colocada aos
governos estaduais por uma realidade provocada por um aumento crescente da
matrícula buscada pela população, que, atendida com a universalização do Ensino
Fundamental e sob influência de mudanças socioeconômicas e do mundo do
trabalho26, estava a exigir mais e constante formação27 ao indivíduo, aumentando
progressivamente o número de acesso e a permanência no Ensino Médio.
No âmbito do acesso ao Ensino Médio, Costa (2013, p. 187), ao analisar
dados da matrícula entre os anos 1990 e 2000, confirma essa configuração e aponta
que a falta de uma política governamental provocou “marginalmente a expansão do
ingresso [dos jovens] no ensino médio”. A expansão marginal do acesso ao Ensino
Médio deu-se em relação à obrigatoriedade imposta, exclusivamente, ao Ensino
Fundamental, que não impediu o aumento da matrícula. Esse entendimento de
marginalidade e de que o capital induz a uma nova sociabilidade, permite
compreender que, independentemente, do interesse governamental momentâneo e
sem financiamento próprio, ocorreu o movimento marginal do aumento da matrícula a
partir da década de 1990, ultrapassando as barreiras do financiamento e da
obrigatoriedade.
26 Alves e Batista (2010, p. 173), em uma discussão sobre “o fetiche do capital intelectual”, fazem a
seguinte constatação: “Na verdade, estamos vivendo uma época nebulosa e sombria para o trabalho, porém não a ponto de negarmos sua centralidade, pelo contrário, em decorrência da superexploração e precarização a que são submetidos milhões de homens, mulheres e crianças, sobretudo, na periferia do sistema do capital e nos países ditos emergentes. Afirma-se nessa época a eterna tendência do capital em sua insaciabilidade e incontrolabilidade na busca pela valorização”.
27 Os autores apontam as contradições da influência atual da ideologia imposta por uma formatação pedagógica no ideário para formação de uma nova sociabilidade neoliberal e facilitadora dessa superexploração do homem, através da sociedade do conhecimento, do slogan “Aprendizagem ao Longo da Vida”, da pedagogia do aprender a aprender que “ impõe a obrigatoriedade de cada indivíduo ser o principal responsável pela sua formação e inserção no mercado de trabalho, pela via da construção de competências para a empregabilidade” (ALVES; BATISTA, 2010, p. 173).
47
A tabela 2 ressalta esse movimento da população de ultrapassar as
barreiras, em saltos lentos e progressivos ou regressivos, porém, nesta série histórica
de 1995 a 2013, o número percentual mais representativo é a diferença da matrícula
existente em 1996 e o incremento para 1997, que representou um salto de 11,60 %.
Esses saltos progressivos aparecem até 2004 com um incremento de 1,05%, em
referência ao ano anterior, e representaria mais de nove milhões de jovens no Ensino
Médio. A partir de 2005 a 2013, em sinais de estabilização não tão segura da matrícula
no Ensino Médio, a tabela demonstra dados de regressão percentual da matrícula,
lenta e com oscilação positiva, mas não ao ponto de recompor os números de 2004.
O dado mais significativo dessa regressão dá-se em 2007, com um percentual
negativo 6,04% em relação a 2006, que também já vinha com queda de 1,37% de
matrícula em comparação a 2005. Os dados demonstram que, de 2004 a 2009, o
Brasil reduziu o número de jovens no Ensino Médio em aproximadamente 832.000, e,
de 2009 a 2013, foram também, em dados aproximados, 24.000 matrículas. Essa
regressão no número de matrícula apontada nos dados da tabela 2 merece ser
estudada com profundidade e tampouco ser mitigada no debate da atratividade do
currículo ou da identidade do Ensino Médio.
Tabela 2 – Evolução da matrícula do Ensino Médio no Brasil 1995/2013 (continua)
BRASIL
Ano Matrícula
(x 1000)
% de incremento de
matrícula ano/ano
1995 5.375 -
1996 5.739 6,77
1997 6.405 11,60
1998 6.969 8,80
1999 7.769 11,47
2000 8.193 5,45
2001 8.398 2,50
2002 8.711 3,72
2003 9.073 4,15
2004 9.169 1,05
2005 9.031 -1,50
2006 8.907 -1,37
2007 8.369 -6,04
2008* 8.366 -0,03
48
(conclusão)
BRASIL
Ano Matrícula
(x 1000)
% de incremento de
matrícula ano/ano
2009* 8.337 -0,34
2010* 8.358 0,25
2011* 8.401 0,51
2012* 8.377 -0,28
2013* 8.313 -0,76
Fonte: Inep, 2015. *Os anos de 2008 a 2013 apresentam os dados do Ensino Médio, Normal/Magistério e Integrado
A tabela 2 também demonstra os desafios de cumprimento da meta e das
estratégias previstas para o Ensino Médio no PNE frente a essa série histórica de
oscilação negativa e positiva das matrículas a partir do ano 2005. A meta 3, em sua
configuração, expressa o que vem se consolidando na última década principalmente:
o tema da obrigatoriedade do percurso formativo dos 15 (quinze) aos 17 (dezessete)
anos de idade já um direito, contudo, com as ressalvas do art. 6º da Emenda
Constitucional nº 59 à Constituição Federal de que a universalização do Ensino Médio
dar-se-á nos termos desse PNE como norma regulamentadora.
A implementação tipificada no PNE passa a ser aparentemente algo
distante de se alcançar em 2016, até porque compõem o universo de 85% de
matrículas previstas na taxa líquida. Segundo dados da Pesquisa Nacional de
Amostras por Domicílios (PNAD)28, o número de alunos matriculados na escola em
2013 registrou 83,3% em sua taxa bruta de matrícula, chegando a 8.338.198 de
jovens. Observou-se que a taxa líquida de matrículas do Ensino Médio ficou em 59,5%
no mesmo ano e, em valor absoluto, representa 5.796.273 de jovens de 15 a 17 anos
matriculados, fato que se apresenta distante de alcançar a meta estabelecida no PNE,
que prevê 85% para o ano de 2016.
A partir da data de 25 de junho de 2014, que marca a sanção da Lei nº
13.005 do PNE, começou a contagem regressiva para observar o surgimento de
ações que permitem uma escala progressiva da universalização. A meta é de chegar
ao ano de 2024 com 85% dos jovens de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos
matriculados no Ensino Médio em taxa líquida, ou seja, subentende-se que faltariam,
28 Dados da PNAD, de 2013, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disponíveis em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2013/>.
49
em 2024, ainda 15% de jovens na escola média para que a universalização seja
alcançada, ocorrendo, assim, uma autorização em aberto no aumento do período da
progressividade de fato até o ideal de 100% de matriculados no Ensino Médio na faixa
etária própria. Cury (2002, p. 260), discutindo o tema sob o parâmetro do “direito à
educação”, assinala que “o momento da universalização indica que aquela exigência,
já posta como direito, se torna generalizada para todos os cidadãos ou amplia os
níveis de atendimento”. Assim, o Estado reconhece, de forma transversa, a
incapacidade de alcançar a universalização do Ensino Médio mesmo com a
obrigatoriedade. No entanto, é um direito dos jovens terem acesso a esse nível de
ensino.
Ao todo, são doze as ações estabelecidas no PNE para garantir a
democratização do Ensino Médio, que, por seus conteúdos, retratam as mais diversas
tendências sobre o tema, tendo em vista a presença de indicativo de políticas que
detêm contradições, como: direitos e objetivos de aprendizagem; correção de fluxo do
Ensino Fundamental; a planificação de exames nacionais; Ensino Médio Integrado à
educação profissional; oferta de Ensino Médio nos turnos diurno e noturno; e políticas
de prevenção à evasão motivada por preconceito. As estratégias são:
3.1) institucionalizar programa nacional de renovação do ensino médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas com abordagens interdisciplinares estruturadas pela relação entre teoria e prática, por meio de currículos escolares que organizem, de maneira flexível e diversificada, conteúdos obrigatórios e eletivos articulados em dimensões como ciência, trabalho, linguagens, tecnologia, cultura e esporte, garantindo-se a aquisição de equipamentos e laboratórios, a produção de material didático específico, a formação continuada de professores e a articulação com instituições acadêmicas, esportivas e culturais; 3.2) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração com os entes federados e ouvida a sociedade mediante consulta pública nacional, elaborará e encaminhará ao Conselho Nacional de Educação - CNE, até o 2º (segundo) ano de vigência deste PNE, proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as) de ensino médio, a serem atingidos nos tempos e etapas de organização deste nível de ensino, com vistas a garantir formação básica comum; 3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5º do art. 7º desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum curricular do ensino médio; 3.4) garantir a fruição de bens e espaços culturais, de forma regular, bem como a ampliação da prática desportiva, integrada ao currículo escolar; 3.5) manter e ampliar programas e ações de correção de fluxo do ensino fundamental, por meio do acompanhamento individualizado do (a) aluno (a) com rendimento escolar defasado e pela adoção de práticas como aulas de reforço no turno complementar, estudos de recuperação e progressão parcial, de forma a reposicioná-lo no ciclo escolar de maneira compatível com sua idade;
50
3.6) universalizar o Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, fundamentado em matriz de referência do conteúdo curricular do ensino médio e em técnicas estatísticas e psicométricas que permitam comparabilidade de resultados, articulando-o com o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB, e promover sua utilização como instrumento de avaliação sistêmica, para subsidiar políticas públicas para a educação básica, de avaliação certificadora, possibilitando aferição de conhecimentos e habilidades adquiridos dentro e fora da escola, e de avaliação classificatória, como critério de acesso à educação superior; 3.7) fomentar a expansão das matrículas gratuitas de ensino médio integrado à educação profissional, observando-se as peculiaridades das populações do campo, das comunidades indígenas e quilombolas e das pessoas com deficiência; 3.8) estruturar e fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do acesso e da permanência dos e das jovens beneficiários (as) de programas de transferência de renda, no ensino médio, quanto à frequência, ao aproveitamento escolar e à interação com o coletivo, bem como das situações de discriminação, preconceitos e violências, práticas irregulares de exploração do trabalho, consumo de drogas, gravidez precoce, em colaboração com as famílias e com órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à adolescência e juventude; 3.9) promover a busca ativa da população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos fora da escola, em articulação com os serviços de assistência social, saúde e proteção à adolescência e à juventude; 3.10) fomentar programas de educação e de cultura para a população urbana e do campo de jovens, na faixa etária de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, e de adultos, com qualificação social e profissional para aqueles que estejam fora da escola e com defasagem no fluxo escolar; 3.11) redimensionar a oferta de ensino médio nos turnos diurno e noturno, bem como a distribuição territorial das escolas de ensino médio, de forma a atender a toda a demanda, de acordo com as necessidades específicas dos (as) alunos (as); 3.12) desenvolver formas alternativas de oferta do ensino médio, garantida a qualidade, para atender aos filhos e filhas de profissionais que se dedicam a atividades de caráter itinerante; 3.13) implementar políticas de prevenção à evasão motivada por preconceito ou quaisquer formas de discriminação, criando rede de proteção contra formas associadas de exclusão;
Vale destacar, entre as metas, o que determina a meta 3.1, que remete a
“institucionalizar programa nacional de renovação do ensino médio”, que já é foco de
ação experimental do MEC, aprovada por resolução do CNE que criou o ProEMI.
1.3 PROEMI E SEUS INTRUMENTOS DE RENOVAÇÃO DO ENSINO MÉDIO
No dia 11 de fevereiro de 2009, o ministro da Educação Fernando Haddad
encaminhou para o CNE “documento sintetizando aspectos essenciais de proposta
de experiência curricular inovadora no Ensino Médio” (BRASIL, 2009d, p. 1), que viria
a ser aprovada no Conselho através do Parecer CNE/CP nº 11/2009, de 30 de junho
de 2009 (BRASIL, 2009d). Foi dado, assim, um passo importante para iniciar um novo
debate no Ensino Médio, que padecia de políticas educacionais com vistas à melhoria
51
da qualidade. A motivação é o quadro em que se encontra o Ensino Médio e sua
identidade como etapa final de um percurso formativo na Educação Básica. A
justificava da proposta do ProEMI para uma intervenção nessa temática parte da
constatação que o
[...] Ensino Médio tem se constituído, ao longo da história da educação brasileira, como o nível de maior complexidade na estruturação de políticas públicas de enfrentamento dos desafios estabelecidos pela sociedade moderna, em decorrência de sua própria natureza enquanto etapa intermediária entre o Ensino Fundamental e a Educação Superior e a particularidade de atender a adolescentes, jovens e adultos em suas diferentes expectativas frente à escolarização (BRASIL, 2009b, p. 2).
Este parecer do CNE indica uma perspectiva pedagógica do MEC que vai
ao encontro de uma formação humana integral, quando relata que o ministério
pretende “articular as dimensões trabalho, ciência, tecnologia e cultura, na perspectiva
da emancipação humana” (BRASIL, 2009d, p. 2), no currículo, que passa a ser uma
inovação para o Ensino Médio, pois ainda vigoravam as diretrizes curriculares
vinculadas à pedagogia das competências de 1998. Ramos (2011, p. 777) elucida que
estão presentes no ProEMI “vários preceitos da concepção de ensino médio
integrado, ainda que não apareçam orientações diretivas quanto aos componentes do
currículo”. A inovação da proposta aponta que essa mudança de articulação dar-se-á
onde
[...] a nova organização curricular pressupõe uma perspectiva de articulação interdisciplinar. Nesse sentido, propõe estimular novas formas de organização das disciplinas, articuladas com atividades integradoras, a partir das inter-relações existentes entre os eixos constituintes do Ensino Médio, ou seja, o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, tendo o trabalho como princípio educativo (BRASIL, 2009d, p. 3).
Essa proposta é formulada e direcionada a ser implantada em regime de
cooperação com os sistemas estaduais de ensino, sob a responsabilidade da
SEB/MEC (BRASIL, 2009d, p. 1), que propõe mudanças nas escolas a partir do
projeto político-pedagógico de cada unidade escolar, com vistas atender à integração
curricular a partir da inovação dos eixos constituintes do Ensino Médio, agora
propostos, a fim de
Contemplar atividades integradoras de iniciação científica e no campo artístico-cultural; Incorporar nas práticas didáticas, como princípio educativo,
52
a metodologia da problematização como instrumento de incentivo à pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvimento do espírito inventivo; Promover a aprendizagem criativa como processo de sistematização dos conhecimentos elaborados, como caminho pedagógico de superação da mera memorização; Promover a valorização da leitura em todos os campos do saber, desenvolvendo a capacidade de letramento dos alunos; Fomentar o comportamento ético, como ponto de partida para o reconhecimento dos deveres e direitos da cidadania, praticando um humanismo contemporâneo, pelo reconhecimento, respeito e acolhimento da identidade do outro e pela incorporação da solidariedade; Articular teoria e prática, vinculando o trabalho intelectual com atividades práticas experimentais; Utilizar novas mídias e tecnologias educacionais, como processo de dinamização dos ambientes de aprendizagem; Estimular a capacidade de aprender do aluno, desenvolvendo o autodidatismo e autonomia dos estudantes; Promover atividades sociais que estimulem o convívio humano e interativo do mundo dos jovens; Promover a integração com o mundo do trabalho por meio de estágios direcionados para os estudantes do Ensino Médio; Organizar os tempos e os espaços com ações efetivas de interdisciplinaridade e contextualização dos conhecimentos; Garantir o acompanhamento da vida escolar dos estudantes, desde o diagnóstico preliminar, acompanhamento do desempenho e integração com a família; Ofertar atividades complementares e de reforço da aprendizagem, como meio para elevação das bases para que o aluno tenha sucesso em seus estudos; Ofertar atividades de estudo com utilização de novas tecnologias de comunicação e informação; Avaliar a aprendizagem como processo formativo e permanente de reconhecimento de saberes, competências, habilidades e atitudes (BRASIL, 2009d, p. 4).
Esse conjunto de ações induzidas e incentivadas financeiramente a sua
materialização, mesmo indicadas no documento do MEC, são colocadas no contexto
do SEE e da escola, que escolhe os mecanismos para o desenvolvimento do currículo
a ser formatado com o objetivo de realizar a integração disciplinar. Nesse pretexto, o
MEC também inova ao apontar diretrizes curriculares e não curriculares próprias para
o Programa voltadas ao desenvolvimento do percurso formativo:
a) Carga horária do curso com, no mínimo, 3.000 (três mil) horas; b) Centralidade na leitura enquanto elemento basilar de todas as disciplinas, com elaboração e utilização de materiais motivadores e orientação docente voltados para esta prática; c) Estímulo às atividades teórico-práticas apoiadas em laboratórios de ciências, matemática e outros que promovam processos de aprendizagem nas diferentes áreas do conhecimento; d) Fomento de atividades de artes de forma que ampliem o universo cultural do aluno; e) O mínimo de 20% da carga horária total do curso em atividades e disciplinas eletivas a serem escolhidas pelos estudantes; f) Atividade docente em tempo integral na escola; g) Projeto Político-Pedagógico implementado com participação efetiva da Comunidade Escolar e organização curricular articulada com os exames do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Médio (BRASIL, 2009d, p. 5).
O parecer do CNE também deixa claro que o ProEMI (BRASIL, 2009d, p.
7), não tem o alcance de uma diretriz curricular nacional, pois trata-se de um
programa experimental, mas aponta a sua condição de influenciar uma concepção de
53
diretriz de alcançar êxito. Conforme o relator Francisco Aparecido Cordão, o
Programa Ensino Médio Inovador não implica mudança da concepção de Ensino Médio da LDB, nem em formulação de novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Pode, evidentemente, como toda experiência exitosa, vir a induzir ou contribuir para uma atualização das atuais Diretrizes Curriculares Nacionais, até mesmo devido à intenção declarada de estabelecer mudanças significativas no Ensino Médio, com uma nova organização curricular que possa fomentar as bases para uma nova escola dessa etapa da Educação Básica, mais contemporânea e interessante para os seus alunos (BRASIL, 2009d, p. 7).
Aparecem aqui duas contradições: a pré-condição para o surgimento do
ProEMI é a aparente mudança de perspectiva pedagógica do MEC e,
independentemente do êxito ou não do Programa, ela é colocada em prática e sinaliza
sua existência, ou seja, o ProEMI é baseado nessa perspectiva pedagógica. Segunda,
não é fato que o ProEMI não provoque uma mudança da concepção de Ensino Médio
das DCNEM de 1998, pois acompanha o seu contexto uma mudança ao propor uma
matriz curricular integrada com os novos eixos constituintes do Ensino Médio, em
outras palavras, “articular as dimensões trabalho, ciência, tecnologia e cultura, na
perspectiva da emancipação humana, de forma igualitária para todos os cidadãos”
(BRASIL, 2009d, p. 2).
Aprovado o parecer, o MEC publica a Portaria nº 971, de 9 de outubro de
2009 (BRASIL, 2009a), que visa a instituir o ProEMI e é o instrumento legal da
cooperação federativa.
O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições legais que lhe foram conferidas pelo inciso II do parágrafo único do artigo 87 da Constituição Federal, resolve: Art. 1º Instituir, no âmbito do Ministério da Educação, o Programa Ensino Médio Inovador, com vistas a apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras nas escolas do ensino médio não profissional. Art. 2º O Programa visa apoiar as Secretarias Estaduais de Educação e do Distrito Federal no desenvolvimento de ações de melhoria da qualidade do ensino médio não profissionalizante, com ênfase nos projetos pedagógicos que promovam a educação científica e humanística, a valorização da leitura, da cultura, o aprimoramento da relação teoria e prática, da utilização de novas tecnologias e o desenvolvimento de metodologias criativas e emancipadoras. Parágrafo único. São objetivos do Programa Ensino Médio Inovador: I - expandir o atendimento e melhorar a qualidade do ensino médio; II - desenvolver e reestruturar o ensino médio não profissionalizante, de forma a combinar formação geral, científica, tecnológica, cultural e conhecimentos técnicos- experimentais; III - promover e estimular a inovação curricular no ensino médio; IV - incentivar o retorno de adolescentes e jovens ao sistema escolar e proporcionar a elevação da escolaridade;
54
V - fomentar o diálogo entre a escola e os sujeitos adolescentes e jovens; VI - promover uma escola média onde os saberes e conhecimentos tenham significado para os estudantes e desenvolvam sua autonomia intelectual; VII - desenvolver a autonomia do estudante por meio do oferecimento de uma aprendizagem significativa. VIII - criar uma rede nacional de escolas de ensino médio públicas e privadas que possibilite o intercâmbio de projetos pedagógicos inovadores. IX - promover o intercâmbio dos Colégios de Aplicação das IFES29, dos Institutos Federais e do Colégio Pedro II com as redes públicas estaduais de ensino médio. X - incentivar a articulação, por meio de parcerias, do Sistema S com as redes públicas de ensino médio estaduais. Art. 3º O Programa Ensino Médio Inovador prestará apoio técnico e financeiro a ações de desenvolvimento e estruturação do ensino médio mediante análise, seleção e aprovação de propostas, na forma de plano de trabalho, e posterior celebração de convênio, execução direta ou descentralização de recursos, na forma da legislação aplicável. Art. 4º Poderão apresentar propostas os Estados que tenham aderido formalmente ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, de que trata o Decreto Nº 6.094, de 24 de abril de 2007. Art. 5º A Secretaria de Educação Básica coordenará a implantação, o acompanhamento, o monitoramento, a supervisão e a avaliação do Programa. Art. 6º A Secretaria de Educação Básica expedirá normas e diretrizes, fixará critérios de operacionalização e adotará as demais providências necessárias à execução do programa de que trata esta Portaria. Art. 7º O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, coordenará avaliação externa que acompanhará o processo de implantação e os impactos na melhoria das escolas participantes do programa. Art. 8º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. FERNANDO HADDAD (BRASIL, 2009a).
Com o ProEMI, o MEC formaliza uma perspectiva pedagógica para o
Ensino Médio, que segue para a Secretaria Estadual de Educação (SED) e para as
unidades escolares num processo de adesão, adaptação e implantação. Essa
constatação advém do próprio parecer do CNE (BRASIL, 2009d), ao estabelecer que:
Programa Ensino Médio Inovador, o currículo e o decorrente percurso formativo serão organizados pelas unidades escolares envolvidas, apoiando-se na participação coletiva e nas teorias educacionais, seguindo a legislação em vigor, as Diretrizes Curriculares Nacionais e as dos respectivos sistemas de ensino, bem como as orientações metodológicas estabelecidas pelo programa (BRASIL, 2009d, p. 4, grifo nosso).
A primeira orientação metodológica, ou “documento orientador” (BRASIL,
2009b), do ProEMI é lançada em setembro de 2009, apresenta as normas gerais para
a “formulação de proposta com as diretrizes do programa” e faz o alerta para
reconhecer “as especificidades regionais e a diversidade de ideias já
29 Instituições Federais de Educação Superior.
55
operacionalizadas pelas redes de ensino” (BRASIL, 2009b, p. 2). Valem também para
o Programa os documentos formulados nas competências administrativas das SED e
dos Conselhos Estaduais de Educação, além da legislação local.
O MEC deixa clara a visão de identidade do Ensino Médio em buscar a
superação do dualismo, a recusa a práticas pragmáticas, e que “configure[m] um
modelo que ganhe identidade unitária para esta etapa da Educação Básica e que
assuma formas diversas e contextualizadas, tendo em vista a realidade brasileira”
(BRASIL, 2009b, p. 4). O documento orientador não demonstra a preocupação dos
possíveis contornos que o ProEMI pode assumir nos governos estaduais ou nas
escolas, dada “garantia da autonomia responsável dos Sistemas de Ensino e das
instituições escolares na formulação de seu projeto pedagógico, e de uma proposta
consistente de organização curricular” (BRASIL, 2009b, p. 7).
A indução da intervenção inovadora proposta no documento orientador de
2009, do ProEMI, para o currículo tem como pressupostos:
Essa perspectiva de organização curricular pressupõe a possibilidade de articulação interdisciplinar voltada para o desenvolvimento de conhecimentos - saberes, competências, valores e práticas. [...] Propõe-se, dentro de um processo dinâmico, participativo e contínuo, estimular novas formas de organização das disciplinas articuladas com atividades integradoras, a partir das inter-relações existentes entre os eixos constituintes do ensino médio, ou seja, o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura (BRASIL, 2009b, p. 7).
O MEC lançou documentos orientadores em 2009, 2011, 2013 e 2014, que,
com algumas variantes metodológicas, estratégias e elementos, propunham
reconfigurar o processo de integração curricular. Já em 2009, novas formas de
organização das disciplinas articuladas com atividades integradoras e a estratégia
inicial de elaboração da proposta curricular inovadora, depois da adesão da SED e da
escola, são instrumentalizadas:
O Plano de Ação Pedagógica (PAP) deverá contemplar ações de fortalecimento da Gestão Estadual e de desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras das unidades escolares selecionadas pela Secretaria de Educação, como etapa piloto de referência, estabelecendo prioridades para melhoria da qualidade de ensino nesta(s) unidade(s) de ensino (BRASIL, 2009b, p. 13).
O PAP passa a ser o conjunto de informações que resultarão na proposta
curricular inovadora, norteada por uma análise situacional, estratégica, e, por fim, uma
56
sistematização que compõe o conjunto de metas e os impactos desejados. O foco era,
no caso das escolas, “ações estratégicas relativas ao fortalecimento da gestão das
Unidades Escolares e ao desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras”
(BRASIL, 2009b, p. 16) construídas pela comunidade escolar.
Em 2011, a configuração da conjuntura da educação é diferenciada da
estabelecida em 2009 com a Emenda Constitucional nº 59 (BRASIL, 2009c) e o
governo federal já estabelecera suas metas para o Ensino Médio, dispostas no projeto
de lei do Plano Nacional da Educação em tramitação no Congresso Nacional. O
ProEMI recebe a sua mudança mais significativa do ponto de vista da organização
curricular, em que aparecem os conceitos de “Projetos de Reestruturação Curricular”
e de “macrocampos” (BRASIL, 2011b), e, ao mesmo tempo, a participação no
processo de inovação curricular de um professor de articulação e de uma equipe
pedagógica numa posição de supervisão e apoio. A orientação era a seguinte:
A equipe pedagógica da escola deverá participar de todo o processo de organização da reestruturação do currículo em conjunto com o professor(a) articulador(a) e os demais profissionais da escola, acompanhando o desenvolvimento das ações propostas no PRC30 (BRASIL, 2011b, p. 12).
O Projeto de Redesenho Curricular figura como o instrumento de
organização da proposta curricular, ainda precedido de análises de contexto do perfil
da escola e avaliação estratégica de potencialidades, que culminam com “ações em
diferentes formatos (disciplinas, oficinas, projetos interdisciplinares, aquisição de
materiais e tecnologias do Guia de Tecnologias atualizado, dentre outros) e poderão
incluir formação” (BRASIL, 2011b, p. 14) docente. Os macrocampos deverão ter
relação direta com o aluno, dialogar entre si e com o currículo. Foram definidos como
[...] o conjunto de atividades didático-pedagógicas que estão dentro de uma área de conhecimento percebida como um grande campo de ação educacional e interativa, podendo contemplar uma diversidade de ações que qualificam o currículo escolar (BRASIL, 2011b, p. 17).
Em 2011 os macrocampos, acompanhamento pedagógico e iniciação
científica e pesquisa eram considerados obrigatórios e também o mínimo para compor
um Projeto de Redesenho Curricular, que, somados a mais seis optativos, totalizavam
oito macrocampos. Os opcionais poderiam compor ações por interesse da
30 Projeto de Redesenho Curricular.
57
comunidade escolar e configuravam entre: “Cultura Corporal; Cultura e Artes;
Comunicação e uso de mídias; Cultura Digital; Participação Estudantil; Leitura e
Letramento” (BRASIL, 2011b, p. 13). Esta é a primeira configuração dos
macrocampos cujo foco do Programa era a integração curricular com ações
prioritárias de acompanhamento pedagógico em “uma ou mais áreas de
conhecimento, disciplinas ou conjunto de componentes curriculares” (BRASIL, 2011b,
p. 14) e de atividades de iniciação científica, “que integram teoria e prática,
compreendendo a organização e o desenvolvimento de conhecimentos científicos nas
áreas das ciências exatas, da natureza e humanas” (BRASIL, 2011b, p. 14). A escola
em sua organização do Projeto de Redesenho Curricular poderia destacar os demais
macrocampos para a composição da integração curricular. Essa opção nasceu,
também, no conjunto das orientações em 2011.
Em 2013 aparece uma mudança na formatação do Projeto de Redesenho
Curricular, que passa a configurar com acréscimos, formas de integração, mudando
um pouco o seu conceito:
[...] deverá apresentar ações que comporão o currículo e estas poderão ser estruturadas em diferentes formatos tais como disciplinas optativas, oficinas, clubes de interesse, seminários integrados, grupos de pesquisas, trabalhos de campo e demais ações interdisciplinares e, para sua concretização, poderão definir aquisição de materiais e tecnologias educativas e incluir formação específica para os profissionais da educação envolvidos na execução das atividades (BRASIL, 2013c, p. 13, grifo nosso).
As ações ampliam-se e passam a incorporar práticas curriculares e a
política educacional criada na SEE, configurando, assim, as primeiras adaptações no
Programa frente às realidades regionais, ou seja, ao colocar no contexto do Projeto
de Redesenho Curricular “seminários integrados”, o ProEMI adota uma ação de
organização da integração curricular do Ensino Médio Politécnico do Rio Grande do
Sul (RIO GRANDE DO SUL, 2011a, p. 16). Os Projetos de Redesenho Curricular são
reconfigurados e a “escola deverá contemplar os três macrocampos obrigatórios e
pelo menos mais dois macrocampos a sua escolha, totalizando ações em no mínimo
cinco macrocampos” (BRASIL, 2013c, p. 13). Os macrocampos Acompanhamento
Pedagógico nas Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza
passam a ser evidenciados, e, em conjunto com o macrocampo Iniciação Científica e
Pesquisa e o de Leitura e Letramento, passam a ser obrigatórios na composição do
Projeto de Redesenho Curricular. Como opção, a escola poderia escolher mais dois
58
macrocampos entre: Línguas Estrangeiras; Cultura Corporal; Produção e Fruição das
Artes; Comunicação, Cultura Digital e uso de Mídias; Participação Estudantil (BRASIL,
2013c, p. 13). Nessa configuração, o macrocampo Leitura e Letramento passa a ser
obrigatório, o que não acontecia em 2011, como, também, a introdução dos
macrocampos Língua Estrangeira e Produção e Fruição das Artes, com a junção dos
macrocampos de 2011 Cultura Digital e Cultura e Artes.
O ProEMI passa a se articular com as novas DCNEM editada pelo CNE, na
Resolução nº 2 (BRASIL, 2012), que dispõe as formas de oferta e organização do
Ensino Médio, e passa a orientar para uma “formação integral do estudante” e define
o “trabalho e pesquisa como princípios educativos e pedagógicos, respectivamente”
(BRASIL, 2012), dentre outras definições. A perspectiva pedagógica do MEC
concretiza-se agora com as aproximações entre ProEMI e as DCNEM. Os arts. 5º e
6º das DCNEM disciplinam:
Art. 5º O Ensino Médio, em todas as suas formas de oferta e organização, baseia-se em: I - formação integral do estudante; II - trabalho e pesquisa como princípios educativos e pedagógicos, respectivamente; III - educação em direitos humanos como princípio nacional norteador; IV - sustentabilidade ambiental como meta universal; V - indissociabilidade entre educação e prática social, considerando-se a historicidade dos conhecimentos e dos sujeitos do processo educativo, bem como entre teoria e prática no processo de ensino-aprendizagem; VI - integração de conhecimentos gerais e, quando for o caso, técnico-profissionais realizada na perspectiva da interdisciplinaridade e da contextualização; VII - reconhecimento e aceitação da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, das formas de produção, dos processos de trabalho e das culturas a eles subjacentes; VIII - integração entre educação e as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura como base da proposta e do desenvolvimento curricular. § 1º O trabalho é conceituado na sua perspectiva ontológica de transformação da natureza, como realização inerente ao ser humano e como mediação no processo de produção da sua existência. § 2º A ciência é conceituada como o conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos socialmente ao longo da história, na busca da compreensão e transformação da natureza e da sociedade. § 3º A tecnologia é conceituada como a transformação da ciência em força produtiva ou mediação do conhecimento científico e a produção, marcada, desde sua origem, pelas relações sociais que a levaram a ser produzida. § 4º A cultura é conceituada como o processo de produção de expressões materiais, símbolos, representações e significados que correspondem a valores éticos, políticos e estéticos que orientam as normas de conduta de uma sociedade. Art. 6º O currículo é conceituado como a proposta de ação educativa constituída pela seleção de conhecimentos construídos pela sociedade, expressando-se por práticas escolares que se desdobram em torno de
59
conhecimentos relevantes e pertinentes, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes e contribuindo para o desenvolvimento de suas identidades e condições cognitivas e sócio-afetivas (BRASIL, 2012).
As DCNEM passam a compor, em grau de superioridade, como regramento
legal, as orientações para o redesenho curricular na escola e também incorporam a
trajetória que o MEC vinha construindo de instituir eixos de princípios para o Ensino
Médio. Verifica-se que, no seu conjunto, não incorporou o termo macrocampo para a
organização da integração curricular e a fixação de “carga horária mínima de 3.000
(três mil horas), entendendo-se 2.400 horas obrigatórias, acrescidas de 600 horas a
serem implantadas de forma gradativa” (BRASIL, 2014c, p. 5). O art. 14 das DCNEM
não configura essas assertivas:
Art. 14. O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, concebida como conjunto orgânico, sequencial e articulado, deve assegurar sua função formativa para todos os estudantes, sejam adolescentes, jovens ou adultos, atendendo, mediante diferentes formas de oferta e organização: I - o Ensino Médio pode organizar-se em tempos escolares no formato de séries anuais, períodos semestrais, ciclos, módulos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar; II - no Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 (três) anos, com carga horária mínima total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, tendo como referência uma carga horária anual de 800 (oitocentas) horas, distribuídas em pelo menos 200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar; III - o Ensino Médio regular diurno, quando adequado aos seus estudantes, pode se organizar em regime de tempo integral com, no mínimo, 7 (sete) horas diárias; IV - no Ensino Médio regular noturno, adequado às condições de trabalhadores, respeitados os mínimos de duração e de carga horária, o projeto político-pedagógico deve atender, com qualidade, a sua singularidade, especificando uma organização curricular e metodológica diferenciada, e pode, para garantir a permanência e o sucesso destes estudantes: a) ampliar a duração do curso para mais de 3 (três) anos, com menor carga horária diária e anual, garantido o mínimo total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas (BRASIL, 2012).
O documento orientador do ProEMI de 2014 (BRASIL, 2014c), ainda mais
influenciado pelas DCNEM, ressalta uma ação conjugada que passou a ser realizada
no conjunto dos estados brasileiros no PNFEM (BRASIL, 2013b), através da
Portaria nº 1.140, de 22 de novembro de 2013, os Estados e o Distrito Federal firmaram compromisso com o MEC para garantir a oferta de Formação Continuada aos professores de Ensino Médio, ação articulada ao Redesenho
60
Curricular, proposto pelo Programa Ensino Médio Inovador – ProEMI (BRASIL, 2014c, p. 3).
Com o Pacto31, como o próprio documento traduz, o governo federal vem
reforçar o processo de integração curricular com ação de qualificação dos
professores. O Pacto
[...] representa a articulação e a coordenação de ações e estratégias entre a União e os governos estaduais e distrital na formulação e implantação de políticas para elevar o padrão de qualidade do Ensino Médio brasileiro, em suas diferentes modalidades, orientado pela perspectiva de inclusão de todos que a ele tem direito (BRASIL, 2015b).
A Portaria nº 1.140, do Pacto do Ensino Médio do MEC, indica objetivos
centrais mais amplos para além do atendimento à formação docente para o ProEmi,
haja vista que as DCNEM passam a compor a norma central da implementação da
perspectiva pedagógica do MEC, a ver:
Art. 3º As ações do Pacto têm por objetivos: I - contribuir para o aperfeiçoamento da formação dos professores e coordenadores pedagógicos do ensino médio; II - promover a valorização pela formação dos professores e coordenadores pedagógicos do ensino médio; e III - rediscutir e atualizar as práticas docentes em conformidade com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio – DCNEM (BRASIL, 2013b, grifo nosso).
A realidade para o MEC, em 2014, parece otimista quanto ao ProEMI, ao
considerar que ele “tem se mostrado instrumento fundamental para a elaboração do
redesenho curricular nas escolas de Ensino Médio” (BRASIL, 2014c, p. 3). Entretanto,
o problema do Ensino Médio não é somente de currículo. As condições materiais para
uma educação de qualidade passam por adoção de outros instrumentos estruturantes
da escola, ou seja, o ProEMI não deveria ficar limitado ao jogo de um currículo mais
flexível se a busca é pela qualidade. Neste âmbito, Dourado (2007, p. 940) enfatiza a
importância de medidas na direção do acesso, permanência e qualidade da
aprendizagem, contudo, salienta que se deve “identificar os condicionantes da política
de gestão e, por outro, refletir sobre a construção de estratégias de mudança do
quadro atual”. Nessa perspectiva inclui as condicionantes intra e extraescolares, que
31 O MEC mantém o site <http://pactoensinomedio.mec.gov.br/> para as informações atualizadas do
Programa, e também foi fonte dessas informações.
61
perpassam a vida do aluno e a sua realidade socioeconômica neste contexto de nova
sociabilidade capitalista.
O modelo de construção do Projeto de Redesenho Curricular, em 2014,
ocorreu sem alterações descritivas nos macrocampos e também no número a ser
utilizado para a configuração da integração curricular em relação a 2013, que
permaneceu em 5 (cinco) o mínimo com a mesma obrigatoriedade e opcionalidade de
escolha. Intrigante é a evolução semântica no tempo, entre 2009 até 2014, da
denominação do que é hoje Projeto de Redesenho Curricular. Em 2009, Projetos
Escolares (PE) (BRASIL, 2009b, p. 10); em 2011, Projetos de Reestruturação
Curricular (BRASIL, 2011b, p. 7), em 2013 e 2014 passa a ser Projeto de Redesenho
Curricular (BRASIL, 2013c, p. 11, 2014c, p. 5). Outras mudanças ocorreram no
“referencial de tratamento curricular e indica[m] as condições básicas” (BRASIL,
2009d, p. 10) para a construção da renovação curricular, que está presente em todos
os documentos orientadores. Em 2009 eram 8 (oito) tópicos (BRASIL, 2009d, p. 10-
11), em 2011 eram 11 (onze) (BRASIL, 2011b, p. 7-8), em 2013 e 2014 eram 14
(catorze) (BRASIL, 2013c, p. 11-12, 2014c, p. 5-6). Esses referenciais, além de fixar
a carga horária, indicam ações nos diversos campos de conhecimento e de gestão.
No âmbito do financiamento, está em vigor um sistema de aporte financeiro
dentro do PDDE (BRASIL, 2014c, p. 21), que leva em consideração a aprovação do
Projeto de Redesenho Curricular e “os intervalos de classe de número de alunos
matriculados no ensino médio da unidade educacional extraído do censo escolar do
ano anterior ao do repasse” (BRASIL, 2014c, p. 21). Os recursos financeiros para
custeio e investimento são repassados, em valores diferenciados por carga horária,
às “escolas com jornada escolar de 5 (cinco) horas diárias e/ou com oferta de Ensino
Médio no período noturno e para escolas com jornada escolar em tempo integral de,
no mínimo, 7 (sete) horas diárias” (BRASIL, 2014c, p. 22).
De 2009 a 2014 o ProEmi evoluiu na sua formatação configurada nos
documentos orientadores, inclusive com adaptação inspirada nas experiências dos
estados, aprimorou o campo conceitual seguindo as DCNEM, foi o precursor de uma
perspectiva pedagógica trazida pelo MEC ao Ensino Médio para que a escola média
possa ter um projeto que vá além do campo experimental. Oliveira (2010), refletindo
sobre o ProEMI como política para o Ensino Médio, desvela dificuldades nos SEE e
aponta que:
62
A ausência de políticas regulares que possibilitem diminuir as defasagens entre as condições oferecidas pela grande diversidade de redes públicas precisa ser superada. A obrigação constitucional dos Estados para com a oferta educativa no ensino médio deveria vir acompanhada de políticas estáveis que permitam tal oferta de forma digna a todos os cidadãos em condições de cursá-lo (OLIVEIRA, 2010, p. 276).
As adaptações na institucionalização do programa nacional de renovação
do Ensino Médio ou o ProEMI nos estados passam a ser objeto de análise sob um
enfoque de constituição de uma política educacional estadual.
63
2 ADAPTAÇÕES E INOVAÇÕES DO PROEMI
Os governos estaduais tendem a aderir, obrigatoriamente, às políticas
educacionais formuladas pelo MEC em um processo de descentralização das escolas,
muitas vezes, incentivadas por receitas orçamentárias que complementem os
recursos estaduais para a educação ou por permitir que se descomprometam da
parcela de suas obrigações constitucionais. Este movimento mostra-se reflexo da
reforma educacional da década iniciada em 1990, justificada por buscar “superar a
morosidade e ineficiência do Estado na gestão do cotidiano” (SHIROMA; SANTOS,
2014, p. 37) e, ao mesmo tempo, induzir a ideia privatista do Banco Mundial de escolas
eficazes.32 Quando as políticas educacionais surgem com este foco, a comunidade
escolar é chamada à participação para cumprir as orientações a serem seguidas,
como regras a confirmar o financiamento, em uma perspectiva “para se atingir a
eficiência e a eficácia” (SHIROMA; SANTOS, 2014, p. 34), que podem induzir a
posições acríticas à realidade educacional local. É a caracterização das políticas
transitórias ou experimentais que se utilizam do artifício financeiro com modus de
atratividade das escolas, instrumentalizadas, por exemplo, no PDDE.
Este capítulo analisa as adaptações no ProEMI, na sua trajetória curta de
implantação e orientação do MEC, ocorridas na esfera federal e nos estados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, observando o regime de colaboração.
Os estados usam o regime de colaboração para, em parceria, desenvolver
as ações conjuntas contratadas e sua autonomia para propor adaptações à realidade
regional. Algumas proposições conflitam legislações de modo a fazer uma das partes
alterarem o conjunto de normas para as adequações nas políticas educacionais. O
que não pode ser mudado é o regime de competências constitucionais já atribuídas
na execução de tais políticas, como é o caso do poder de elaboração de diretriz
nacional para a educação, que, via de regra, as diretrizes, depois de aprovadas e
publicadas, passam a ser adotadas em todos os estados e o Distrito Federal.
As adaptações regionais às políticas educacionais nacionais podem
ocorrer por influência de diretrizes estaduais para a educação, por similaridade ao
programa estadual, por interpretação errônea dos documentos, por mudança da
32 Shiroma e Santos (2014) esclarecem que essa denominação vem das orientações do Banco
Mundial e que inspiram políticas educacionais como o PDDE, no movimento de atender separadamente às escolas.
64
norma federal para assumir a política estadual ou por vontade da comunidade escolar
em realmente promover um debate sério sobre qualidade da educação.
O ProEMI, como política educacional, pode ser uma oportunidade para:
Focar aprendizagem como estratégia para responsabilizar escolas e formar consenso são ações que deixam de considerar que o processo de ensino aprendizagem socialmente relevante é aquele que permite compreender as contradições na realidade (SHIROMA; SANTOS, 2014, p. 41-42).
Assim, prossegue-se analisando as adaptações ocorridas no ProEMI, a
partir do MEC e nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que alteram o
Programa. Tais adaptações tornam-no reprodutivista? Alinham-se à formação
humana integral?
2.1 O MEC E AS POSSIBILIDADES DE ADAPTAÇÃO ÀS NORMAS FEDERAIS DO
PROGRAMA
O grau de autonomia dos sistemas estaduais de ensino é pleno e reflexo
da organização política e administrativa do Estado brasileiro e, ainda, pela ressentida
falta de um Sistema Nacional de Educação a fim de estabelecer regras para o regime
de colaboração entre os sistemas federal, estaduais e municipais. Cury (2007), em
sua discussão sobre o “federalismo político e educacional”, afirma que “nacional é a
educação, não o sistema” (CURY, 2007, p. 124) e, desta feita, decorre a minimização
do alcance das políticas educacionais nacionais. Nas instâncias das secretarias
estaduais de educação a formulação de legislação, pareceres, programas e
orientações são legitimadas e consequentes para a condução das políticas
educacionais direcionadas a 85,9%33 das escolas do Ensino Médio no Brasil. Da
mesma forma, a aplicação nacional de um programa federal para o Ensino Médio fica
sujeito à condução e a interpretações dos SEE, ou seja, não analisá-las por esse
recorte “pode-se deixar de tratar de modo procedente políticas educacionais que estão
sob responsabilidade de Estados” (CURY, 2007, p. 113). A condução dessas análises,
a partir desse momento, passa a ser subsidiada, também, por entrevistas
semiestruturadas realizadas com gestores dos sistemas de ensino nos âmbitos
33 Dados fornecidos pelo INEP no Censo Escolar do ano de 2010.
65
federal e estadual, que acrescentam elementos que desvelam o contexto das
adaptações.
Vale salientar, a título de clarificação da autonomia dos SEE, como ela é
entendida no MEC, por meio do depoimento sobre o papel indutor das políticas
educacionais do Ministério, de um gestor da Coordenação de Ensino Médio, da SEB,
aqui identificado como E1, que diz: “O MEC é orientador dessas políticas, mas o
estado tem sua autonomia. Nós sabemos que eles têm propostas curriculares. Mas a
ideia é que estejamos caminhando no mesmo rumo”. A fala de E1 explicita os limites
do MEC em propor uma política educacional sem a interferência do ente federado,
que interpreta ou a conduz dentro dos interesses de sua política educacional estadual.
No caso do Rio Grande do Sul, observou-se que o estado adotou sua forma
de organizar o Ensino Médio através da proposta de Ensino Médio Politécnico (RIO
GRANDE DO SUL, 2012) em 2012. Segundo o documento da SEDUC (RIO GRANDE
DO SUL, 2011b), explicando a reestruturação curricular do Ensino Médio, do governo
do estado, o Ensino Médio Politécnico
[...] é o Ensino Médio que, vinculado à realidade social e ao desenvolvimento científico-tecnológico, integra as áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas). Na prática, o estudante terá, além das aulas dos componentes curriculares do Ensino Médio, o desenvolvimento de projetos com atividades práticas e vivências relacionadas com a vida, com o mundo e com o mundo do trabalho. Contudo, isso não implicará na extinção das disciplinas, que serão fortalecidas no diálogo interdisciplinar (RIO GRANDE DO SUL, 2011a, p. 4).
Como ponto significativo da integração curricular é adotado o componente
curricular denominado Seminário Integrado, que passa a figurar no documento
orientador do MEC (BRASIL, 2013c, p. 13). O documento Proposta Pedagógica para
o Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio -
2011-2014 - tipifica que
[...] os Seminários Integrados constituem-se em espaços planejados, integrados por professores e alunos, a serem realizados desde o primeiro ano e em complexidade crescente. Organizam o planejamento, a execução e a avaliação de todo o projeto político-pedagógico, de forma coletiva, incentivando a cooperação, a solidariedade e o protagonismo do jovem adulto (RIO GRANDE DO SUL, 2011b, p. 4).
O documento “A Seduc debate reestruturação curricular do Ensino Médio”
(RIO GRANDE DO SUL, 2011b), dá o contorno e elucida que no estado rio-grandense,
66
[...] a proposta curricular elege a prática de elaboração de projetos em Seminários Integrados, como estratégia de trazer o mundo real e dar vida aos conhecimentos formais. Dessa forma, impregna de significado o conhecimento, uma vez que ele é utilizado para resolver problemas da realidade e, desta forma, apropriado pelo aluno. O currículo está disposto, na sua totalidade, com as áreas de conhecimento e suas disciplinas estabelecendo as relações com a comunidade local e as conexões universais. Os blocos que constituem o currículo apenas indicam a ênfase que será dada para o processo de complexidade dos temas e questões tratados. Em síntese, é a aplicação do conhecimento que propicia a aprendizagem (RIO GRANDE DO SUL, 2011b, p. 2).
Ao incorporar o termo Seminário Integrado do componente curricular
proposto no Ensino Médio Politécnico, no documento orientador do Programa de 2013
(BRASIL, 2013c, p. 13), o MEC interage aparentemente em movimentos de
aperfeiçoamento e adaptação da sua norma federal ao modelo de organização
curricular do Ensino Médio de um estado. Esse movimento permite que organizações
curriculares distintas ou com aproximações aos fundamentos do ProEMI, promovidas
por um estado da federação, passem a compor alternativas de integração curricular e
ultrapassem o território estadual, ou seja, em um movimento inverso à centralidade
federal, podendo influenciar a organização do Ensino Médio no Programa em outros
SEE. No caso, o Ensino Médio Politécnico, que passa a ser o ProEMI, pode ser
adotado em qualquer unidade da federação por exemplo, ou qualquer outra proposta
integradora com a anuência e recursos do MEC, em movimentos de aproximações.
E1 relata que deve haver um ponto de coesão, mesmo com aparente dúvida, entre as
propostas dos governos estaduais e o federal:
Nós sabemos que a maioria dos estados ou boa parte deles tem sua proposta curricular. A maioria acho que é articulada com as diretrizes curriculares nacionais do Ensino Médio, portanto com Ensino Médio Inovador. Aí ele entra como instrumento e isso tem ajudado muito boa parte dos estados.
Esse é um típico caso de interação, todavia, podem ocorrer adaptações
que não estejam de acordo com as DCNEM e, nesse caso, é importante a revelação
expressa no contexto da fala de E1, que, quando perguntado como o MEC vê as
adaptações que ocorrem pela Secretaria de Educação, respondeu que “nós temos
orientação no Programa que é para todo país. As escolhas que os estados fazem,
eles [sic] têm autonomia de fazer”. É indicativo do limite do alcance pleno das
orientações do Programa e de que o MEC deveria acompanhar a execução nos
estados em virtude de seu caráter experimental.
67
Neste contexto de análise, o documento do ProEMI (BRASIL, 2014c)
propõe que um processo de mudança curricular “deverá ser elaborado pelas escolas
indicadas pelas Secretarias de Educação dos Estados e do Distrito Federal” (BRASIL,
2014c, p.4), em reforço, também, à autonomia político-pedagógica do ambiente
escolar. Portanto, de pronto percebe-se que o modelo de escolha das unidades
escolares integradas ao ProEMI foi estabelecido independentemente dessa
autonomia político-pedagógica. Da mesma forma, como o Programa já direciona à
diretriz a ser seguida para a adesão, que condiciona o apoio técnico-financeiro “às
escolas de Ensino Médio estaduais e distrital que tenham seu Projeto de Redesenho
Curricular aprovado pelas Secretarias de Educação e pelo MEC” (BRASIL, 2014c, p.
4), essa autonomia escolar já vem condicionada a limites burocráticos. A definição da
escola poderia garantir o exercício da decisão autônoma do redesenho curricular, em
um processo que não permitisse “individualizar as ações de professores, [...] esvaziar
o sentido político do ensino e abordá-lo como uma questão meramente técnica”
(SHIROMA; SANTOS, 2014, p. 36).
Sendo o Programa formatado na esfera federal e executado em regime de
colaboração, o que se analisa é o conjunto de orientações estaduais para harmonizar,
como adaptações, aos sistemas próprios de educação, a sua adesão e implantação.
Ultrapassada a fase de adesão, a escola já constituiu o seu Projeto de Redesenho
Curricular e passa a executá-lo dentro do que determina o contratado com o MEC.
Alguns parâmetros até aqui eram de uma análise sobre o que estava se constituindo
como limites e aproximações entre os sistemas de ensino na implementação do
ProEMI. O outro parâmetro em elucidação é saber de que forma aparecem conflitos
entre a perspectiva pedagógica do MEC e a dos estados. Importa retratar a lógica
teórica da fala do gestor do ministério, que vai balizar o conjunto das análises que se
sucedem, se elas evidenciam a perspectiva pedagógica anunciada. A pergunta é se
a perspectiva do currículo supera o dualismo educacional. E se rompe com a matriz
pedagógica da competência das DCNEM de 1998.
Há indícios nos documentos elaborados pelos estados sobre o Programa,
que, como proposta orientadora, sugerem uma realidade distinta da construção
ontológica e dialética, crítica e reflexiva, que estarão reforçando os subjetivismos
típicos das teorias reprodutivistas do capital e existente no contexto da história da
educação brasileira (SAVIANI, 1998). Isso não significa que a perspectiva orientada
para os estados aponte efetivamente para uma direção dialética, critica e reflexiva de
68
formação e da realidade dos jovens. Ramos (2011), analisando as propostas de
inovação e organização curricular, no documento orientador do ProEMI de 2011
(BRASIL, 2011b), mesmo não os considerando negativos, eles levam a
[...] considerar que o desafio mais ardiloso de uma proposta curricular de ensino médio no sentido da formação integrada está na compreensão do significado do conhecimento científico, nos critérios de sua seleção e na forma de organizá-los e abordá-los (RAMOS, 2011, p. 779).
Essa consideração demonstra a dificuldade de colocar na práxis escolar
uma organização curricular a partir das inovações do Programa que garantam uma
formação integral, até porque a seleção do conteúdo da integração será uma escolha
da escola ou da Secretaria de Educação e pode caracterizar distanciamentos da
proposta de formação apontada. Por outro lado, o gestor do MEC (E1) retrata uma
preocupação constante em garantir uma formação integral:
A ideia é a seguinte. A gente fala de educação integral, tirando essa dimensão do tempo, da ampliação da jornada, essa formação humana integral se dá a partir do momento que você garante o direito ao conhecimento e isso dentro de todas as áreas. Quando nós falamos da integração, falamos dessa integração em que haja maior diálogo entre os diferentes componentes da mesma área e entre os componentes diferentes de outras áreas do conhecimento. A ideia é formar o cidadão e a parte profissional vai ser uma opção. Temos que fortalecer isso até no contexto da demanda da realidade socioeconômica, pois nós necessitamos de jovens não só na universidade, mais [sic] em outros cursos técnicos ou tecnológicos. Então, assim, não estamos optando por uma ou outra educação, temos que fortalecer ambas, seja ela educação Ensino Médio Profissional, ou seja, ela Ensino Médio Regular, que ela atenda a essas expectativas e seja fortalecida. Mas não só, não adianta a gente falar em jornada nucleada, Ensino Médio Integrado, Ensino Médio Profissionalizante, apresentando um currículo com mais carga horária e um currículo mais diferenciado, que realmente faça diferença para esse jovem. Quais são as condições que nós temos que garantir, seja no Ensino Médio Regular, ou seja, no Ensino Médio Integrado à educação profissional, tecnológico, concomitante, subsequente ou integrado não importa.
Alguns aspectos devem ser observados, pois o assento do ProEMI está na
formação, inovação e integração curricular propostas para o Ensino Médio regular, ou
seja, a relação do Programa com o trabalho não se atrela à educação profissional e
técnica. A integração curricular, no Programa, em relação com a categoria trabalho,
evidencia-se no campo ontológico, na apropriação objetiva de conhecimentos à
transformação e emancipação da vida humana. A profissionalização passa a ser uma
opção do jovem em seu percurso formativo e não um processo obrigatório. A
69
perspectiva de construção do conhecimento, objetivo para a vida humana, verificada
na fala do gestor do MEC (E1) e prevista nas DCNEM, passa por condicionantes locais
do SEE, que, necessariamente, devem figurar nas análises da representação do
ProEMI nos estados. É possível identificar as evidências de uma perspectiva de
formação integral na fala do gestor do MEC (E1) ao se referir ao ProEMI. Ele menciona
a construção de um
[...] currículo, [que] em todas suas dimensões e ações deverá ser elaborado de forma a garantir o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento dos estudantes por meio de ações e atividades que contemplem, nessa perspectiva de integração curricular, a abordagem de conhecimentos, o desenvolvimento de experiências e a promoção de atitudes que se materializam na formação humana integral, gerando a reflexão crítica e a autonomia dos estudantes (BRASIL, 2014c, p. 8).
Em reforço a essa análise dos objetivos do ProEMI, percebe-se que o MEC
ressalta a importância das DCNEM não só como nova diretriz mas, também, como um
desafio de instituição de uma nova cultura pedagógica.
E1 sugere que as DCNEM apontem uma nova perspectiva para o Ensino
Médio:
As diretrizes vêm apontando para essa formação humanista integral. O caminho é integração curricular e o que significa não eliminar componentes, mas dar outros pesos e medidas. Se eu tenho a impressão de carga horária olhando para as diretrizes, que fala para a sua formação humana integral, que fala no eixo ciência, cultura, tecnologia e trabalho, tudo isso eu tenho, dá mais tempo na escola para que tudo isso seja visto. Eu tenho mais tempo na escola, que eu vou fazer, vou pensar ações diferenciadas. É o que o Ensino Médio Inovador faz. Ele acaba sendo um instrumento que mobiliza os professores para pensar um modelo de redesenho curricular que se articule em áreas. Eu acho que isso tá [sic] bem apontado pelas diretrizes, descrita nas diretrizes essa integração. Repensar um trabalho diferenciado. Vamos sobrepor conteúdo em diferentes áreas do conhecimento, diferentes componentes ou não, e vamos avançar e pensar combinando o trabalho com esse conhecimento. Sendo mais efetivo e mais significativo ao mesmo tempo, vamos continuar só com laboratório de física e química ou podemos ter laboratório para as áreas das ciências humanas também. Porque geralmente as ciências da natureza, biologia, química e matemática, às vezes, nós deixamos para o outro lado. As diretrizes têm esse papel de ser implementadas, ser compreendidas e têm esse papel dessa formação e de dar mais peso. [...] As diretrizes vieram sim para melhorar, para ampliar a base nacional comum, quer queira quer não, tem que ser pensada a partir do que se tem nos estados, mas também em todas as diretrizes que são novas.
No âmbito das mudanças advindas nas DCNEM, o MEC recorre à outra
política transversal estabelecida a partir do PNFEM (BRASIL, 2013b), que tem foco
na atuação docente:
70
A Formação Continuada de Professores e Coordenadores Pedagógicos do Ensino Médio tem por objetivos contribuir para o aperfeiçoamento da formação dos professores e coordenadores pedagógicos e rediscutir e atualizar as práticas docentes em conformidade com as DCNEM (BRASIL, 2014b, p. 4).
Na concepção de Moehlecke (2012, p. 51), a formação desses profissionais
passa a ser necessária com a observação de “que as políticas curriculares têm sido
pouco assimiladas nos sistemas de ensino estaduais e municipais e nas escolas
brasileiras”.
A premissa do MEC para a formação no Pacto está embasada no debate
societário, que faz parte da longa caminhada da educação brasileira, onde se inserem
os projetos em disputa e potencializados com a adoção das políticas neoliberais no
Brasil, nos anos 1990. De um lado, em
[...] sintonia e a conexão entre a exaltação às forças de mercado - com a correspondente políticas de liberalização, desregulamentação e outras – e a hegemonia conservadora sobre as formas de consciência social e suas ressonâncias nas práticas educativas (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2000, p. 55).
De outro, da
[...] práxis humana, compreendida como processo por meio do qual os homens produzem socialmente sua existência mediados pelo trabalho. Nessa perspectiva, o conhecimento constrói-se pela busca histórica de compreensão da realidade em sua essência, ultrapassando suas aparências fenomênicas. Isso pressupõe conceber o conhecimento como possibilidade ontológica e como produção social e histórica (RAMOS, 2014, p. 110-111).
O debate apresentado no Caderno I da Formação de Professores do
Ensino Médio (BRASIL, 2013d) revela uma perspectiva de superação das
desigualdades e o professor é chamado a refletir sobre o quadro geral do Ensino
Médio e os indicadores sociais. De outro modo, se “tem plena consciência de que isso
é fruto dos projetos societários em disputa: uma sociedade igualitária ou a
permanência da desigualdade” (BRASIL, 2013d, p. 26). A discussão suscita uma
perspectiva de “direito à educação e à formação humana integral” (BRASIL, 2013d, p.
31), que pode ser adaptada ou mitigada no modelo de cooperação modulado pela
autonomia dos estados para com a União.
Assim, as análises seguintes refletem o contexto real encontrado, no
decorrer da pesquisa, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, frente a
71
essa perspectiva pedagógica e uma antecedente abstração nos documentos
orientadores de diretrizes educacionais nesses estados.
2.2 O CONTEXTO DAS ADAPTAÇÕES ESTADUAIS NO PROEMI
O modelo de gestão do sistema educacional adotado atualmente no Brasil
advém das orientações trazidas no contexto dos organismos internacionais, que
representam os interesses e necessidades do capital, a partir de 1990, que
introduziram uma forma gerencial de gestão34 e de descentralização administrativa da
educação. De acordo com Castro (2007, p. 133), uma das consequências desse
modelo foi a “transferência de responsabilidades e atribuições” que eram da
competência administrativa do governo federal para governos estaduais e municipais.
Como segunda e terceira resultantes, foram a “delegação (para as escolas) de
responsabilidades de atividades que tradicionalmente seriam desenvolvidas pelo
âmbito central; e na inclusão da comunidade local na gestão e no financiamento das
unidades escolares” (CASTRO, 2007, p. 133). É importante observar que não se trata
simplesmente de um típico caso de transferência de competência administrativa na
educação. “Vamos encontrar, como inovação desse processo, a descentralização
para a escola e a descentralização para o mercado”, vislumbra Krawczyk (2005, p.
804) no movimento de ressignificação do Estado à lógica neoliberal.
Essa caracterização é importante fazê-la, pois a gestão e o financiamento
do ProEMI passam pelo regime de colaboração entre os entes federados através do
modelo de descentralização, que foi moldado sob um ideário contrário “às demandas
por uma efetiva democratização do acesso ao conhecimento em todos os seus níveis”
(FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 97). Neste caso, o próprio sistema educacional
permite que sejam realizadas novas interpretações e adaptações no ProEMI,
intencionais ou não, que podem reproduzir pedagogicamente a “lógica unidimensional
do mercado” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 108), orientadora desse modelo de
gestão. Por outro lado, podem adotar políticas educacionais que apontam para uma
educação emancipadora, no entanto com os limites impostos pelo sistema capitalista,
34 Conforme as análises de Castro (2007, p. 132), fica claro que o objetivo era “estabelecer uma
cultura organizacional firmada nos princípios de gestão estratégica e do controle de qualidade orientada para a racionalização, a eficiência e a eficácia”.
72
em que a escola tenderia a cumprir, no movimento formativo, “a tarefa de romper com
a lógica do capital no interesse da sobrevivência humana” (MÉSZÁROS, 2005, p. 45).
Quanto à escolha do tipo de solução educacional a ser implantada no SEE
dentro do ProEMI, neste texto em análise, mesmo com o indicativo do Programa35 de
cumprimento dos eixos constituintes previstos nas DCNEM, segue a reflexão de
Ramos (2011):
Passados sete anos de defesa de uma concepção de ensino médio integrado, encontramo-nos hoje com perspectivas virtuosas trazidas pela aprovação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Ao mesmo tempo, as possibilidades de incentivo a propostas curriculares ‘inovadoras’ transitam entre o avanço conceitual da relação entre trabalho, ciência e cultura, e a reificação de atividades e métodos ativos para tornar o currículo interessante aos estudantes (RAMOS, 2011, p. 772, grifo do autor).
Com base em Mészáros (2005), como forma de tornar mais claras as
abstrações do movimento de aplicação de uma política educacional, como é o caso
do ProEMI nos estados, deve-se norteá-las entre os paralelos essenciais ou formais,
ou seja, essenciais quando “devem abarcar a totalidade das práticas educacionais da
sociedade estabelecida” (MÉSZÁROS, 2005, p. 45). Já as soluções educacionais
formais previstas no ProEMI, são limitadas a um recorte da realidade educacional no
Ensino Médio, em outras palavras, não permeiam todo o sistema educacional, e daí
resulta que:
As soluções educacionais formais, mesmo algumas das maiores, e mesmo quando são sacramentadas pela lei, podem ser completamente invertidas, desde que a lógica do capital permaneça intacta como quadro de referências orientador da sociedade (MÉSZÁROS, 2005, p. 45).
A orientação de Mészáros (2005) elucida claramente o que explica Ramos
(2011) sobre a reificação36 resultante dos processos indutivos de propostas
curriculares inovadoras, em que a aplicação, adaptada ou não, do Programa pode
estar alimentando a lógica do capital no movimento formativo e produzindo alienação.
As orientações dadas às escolas e formuladas nas SED passam a ter certo grau de
35 As análises utilizam o documento orientador elaborado pelo MEC do ano de 2014. 36 Segundo Trevisan (2011, p. 1.188, grifo do autor), interpretando Georg Lukács, citando Bottomore,
“reificação significa [...] a transformação dos seres humanos em seres semelhantes a coisas, que não se comportam de forma humana, mas de acordo com as leis do mundo das coisas. A reificação é um ‘caso especial’ de alienação, sua forma mais radical e generalizada, característica da moderna sociedade capitalista”.
73
importância nas análises do ProEMI em face da compreensão de que o mesmo
articula-se com as DCNEM e assenta o desenvolvimento do currículo na “integração
entre educação e as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura”
(BRASIL, 2012).
Esse debate teórico inicial é fundamental para a compreensão do sentido
que adquire o ProEMI e sua adaptação nos estados.
2.2.1 O Ensino Médio Politécnico no Rio Grande do Sul: interfaces com ProEMI
O cenário educacional no Rio Grande do Sul, em 2011, não é diferente da
realidade nacional e é a justificativa para a formulação da proposta de Ensino Médio
Politécnico, advinda do plano de governo do Governador Tarso Genro, “no qual está
prevista a construção de mudanças na educação, em especial na de nível médio”
(AZEVEDO; REIS, 2013, p. 32). Conforme os autores, “a Rede Estadual de Ensino do
Rio Grande do Sul (REE-RS), desde longa data, acumula um histórico de baixos
índices de aprovação e altos índices de reprovação e abandono no Ensino Médio”
(AZEVEDO; REIS (2013, p. 32).
O estado do Rio Grande do Sul monta a nova estratégia do Ensino Médio
em 2011, dando o contorno da configuração a ser seguida a partir de 2012 e
implantada até 2014, de forma gradual, iniciando pelos 1ºs anos do Ensino Médio e
denominada Ensino Médio Politécnico. A proposta pedagógica de reestruturação
curricular do Ensino Médio
[...] se constitui por um ensino médio politécnico que tem por base na sua concepção a dimensão da politecnia, constituindo-se na articulação das áreas de conhecimento e suas tecnologias com os eixos: cultura, ciência, tecnologia e trabalho enquanto princípio educativo. Já a educação profissional integrada ao ensino médio se configura como aquisição de princípios que regem a vida social e constroem, na contemporaneidade, os sistemas produtivos. O objetivo é socializar, esclarecer e aperfeiçoar a proposta de governo. A execução desta proposta demanda uma formação interdisciplinar, partindo do conteúdo social, revisitando os conteúdos formais para interferir nas relações sociais e de produção na perspectiva da solidariedade e da valorização da dignidade humana (RIO GRANDE DO SUL, 2011a, p. 4).
Trata-se de uma política pública que está sendo reavaliada pelo atual
governo de José Ivo Sartori (2015-2018), mesmo sendo uma política
institucionalizada. Segundo o gestor do Ensino Médio da SEDUC, E2, com a troca de
governo foi solicitado a:
74
Levantar os pontos onde ainda não houve. São três anos e a caminhada é curta e é para dar continuidade na caminhada. Levantar onde estão os desafios e retrabalhar o que não foi trabalhado. [...]. O partido que estava era o PT37. Quem assumiu o governo foi o PMDB.38 Quem assume a secretaria de educação, devido aos vários partidos do governo, é o PDT.39 São partidos com propostas bem diferenciadas. O que está, quando assumiu a pasta, reuniu seu grupo de trabalho. O que é que ele pediu? Que fosse feita uma análise criteriosa. Vamos ir [sic] ao Ensino Médio Politécnico e ver quais as possibilidades de continuidade ou não. [...] Desde fevereiro se vem fazendo uma caminhada desses estudos.
As considerações do depoimento demonstram que as inovações do Ensino
Médio Politécnico, como política educacional, estão sendo analisadas por critério
político, pois,
[...] na educação escolar, as inovações sempre aparecem vinculadas a questões ideológicas, sociais, e econômicas e que as inovações dependem, para ser consideradas como tais, da conjuntura em que emergem, de quem são seus promotores e da incidência e da extensão que adquirem (HERNÁNDEZ et al., 2000, p. 19-20).
Analisando o contexto da mudança de governo, compreende-se a vontade
do novo governante de implantar suas posições ideológicas na educação, contudo, se
a aceitação da ideia inovadora anterior já chegou ao nível de consciência coletiva,
existe a possibilidade de permanecer ou ser rompida por movimentos autoritários.
Destaca-se que o Ensino Médio Politécnico passou a ser a diretriz curricular própria
do Rio Grande do Sul com o Parecer do Conselho Estadual de Educação n° 310/2012,
ao aprovar o Regimento Padrão Ensino Médio Politécnico (RIO GRANDE DO SUL,
2012), tendo como justificativa da elaboração dessa política educacional
[...] o Plano de Governo para o Rio Grande do Sul no período 2011-2014, os dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394/96 – incluindo a concepção para o Ensino Médio no que diz respeito à sua finalidade e modalidades nela presentes –, além da Resolução sobre Diretrizes Curriculares para a Educação Básica emitida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). RIO GRANDE DO SUL, 2011, [...] O Plano de Governo 2011-2014, no que tange à Política Educacional, estabeleceu como prioridade a democratização da gestão, do acesso à escola, ao conhecimento com qualidade cidadã; à aprendizagem e ao patrimônio cultural, e a permanência do aluno na escola, além da qualificação do Ensino Médio e Educação Profissional. No entanto, a realidade que se apresenta está a exigir, urgentemente, mudanças e novos paradigmas para o Ensino Médio e para Educação Profissional. A qualidade cidadã da educação está ancorada em três fatores
37 Partido dos Trabalhadores. 38 Partido do Movimento Democrático Brasileiro. 39 Partido Democrático Trabalhista.
75
estruturantes: valorização profissional, diretamente relacionada à questão salarial, à carreira e à formação inicial e continuada; reestruturação física da rede estadual de ensino; e reestruturação do currículo da educação básica, em especial o ensino médio (RIO GRANDE DO SUL, 2011a, p. 3).
A proposta aponta para uma ação interdisciplinar do trabalho pedagógico,
entre as áreas do conhecimento (Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências
Humanas e suas Tecnologias; Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas
Tecnologias); na relação teoria e prática; na pesquisa como princípio pedagógico; no
trabalho como princípio educativo; na Politecnia como conceito estruturante do pensar
e fazer. Na interlocução com os eixos Cultura, Ciência, Tecnologia e Trabalho, tendo
como perspectiva a construção de conhecimento e a inserção social da cidadania
(AZEVEDO; REIS, 2013). O assento da concepção pedagógica no Rio Grande do Sul,
para o currículo, fica cristalizado no papel integrador da categoria trabalho e oposta
ao modo produtivista orientado pelas diretrizes curriculares de 1998, que,
sob a hegemonia da teoria do capital humano e em sintonia com os princípios da meritocracia, presumia-se que, com o prolongamento de uma base comum a todos os alunos, a escola poderia exercer uma função compensatória, igualando as oportunidades dos diferentes setores sociais. E a igualdade de oportunidades escolares se transformaria em igualdade de oportunidades sociais, dada a forte associação entre ocupação, salário e nível educacional (KRAWCZYK, 2011, p. 759).
Cabe ressaltar que Krawczyk (2011), em suas reflexões sobre o Ensino
Médio e a possibilidade de se construir uma proposta curricular com os fundamentos
teóricos da politecnia, concomitantemente, alerta para as dificuldades de aplicação
dada a complexidade de construção de tal perspectiva curricular no sistema de ensino
brasileiro. A autora reforça que existe a persistência de um movimento de rompimento
no processo de aprendizagem da aparente divisão entre o trabalho intelectual e o
manual que é típico do atrelamento da educação ao modo capitalista de produção.
Nas suas orientações, o Ensino Médio Politécnico apresenta aproximações
teórico-metodológicas com o ProEMI, no que tange aos eixos constituintes do Ensino
Médio, que são Cultura, Ciência, Tecnologia e Trabalho (RIO GRANDE DO SUL,
2011a), previstos nas DCNEM. E2, gestor da SEDUC/RS, salienta que, do ponto de
vista metodológico e pedagógico,
[...] nosso documento está muito articulado com as diretrizes curriculares da resolução 2. [...] A formação integral humana. Então professor e gestor
76
percebem que ele sim contempla o que está posto para ela é maior e que a [sic] precisamos enquanto grupo de educadores.
A primeira adaptação é evidenciada no modo como as duas políticas
educacionais, a federal e a estadual, aparecem no conjunto das instituições estaduais,
ou seja, na SEDUC/RS e na escola, que são as responsáveis pela adoção dos
instrumentos de adesão ao ProEMI. No caso do ProEMI, ambas as instituições,
reconhecem o Programa, todavia a nomenclatura ProEMI é desconsiderada enquanto
programa na práxis escolar, na comunidade escolar. E2, gestor da SED/RS, reporta
sua consideração historicizando que:
O ProEMi é anterior nas propostas nacionais, mas a proposta propriamente dita vem ter sua aplicação nos estados em 2012 e para o Rio Grande do Sul. Então tem 2012, 2013 e em 2014, sendo que nós já estávamos em reestruturação. Então, quando tu me fala [sic] assim: ‘escola ProEMI’, tu me assusta [sic], porque a minha é escola Ensino Médio Politécnico, o programa é um plus’. [...] Esse programa Ensino Médio Inovador, vinculado ao MEC, o que vem facilitar? O que a gente diz nas escolas é que é um programa que tem um recurso. É uma verba. Um valor que vai ser dado pelo número de alunos que tu tens na escola.
Com base neste depoimento, remete-se ao que preconiza o PNE, que tem
na estratégia 3.1 uma perspectiva de institucionalizar um programa nacional de
renovação curricular no Ensino Médio. Observa-se que o ProEMI esbarra nessa
perspectiva no Rio Grande do Sul, quando o estado desconsidera o Programa
nacional em sua nomenclatura, como proposta pedagógica, e na aplicação estadual
o reduz à questão do financiamento. O olhar do gestor estadual está muito mais na
oportunidade de receber recursos financeiros, neste caso, sem se preocupar
efetivamente em reconhecer o Programa e a qualidade do Projeto de Redesenho
Curricular traçado para apresentação ao MEC. O Projeto de Redesenho Curricular,
apresentado para avaliação no SIMEC como condicionante para receber recursos
financeiros, é resultado de um diagnóstico que a comunidade escolar deve ter feito a
partir da problemática da escola e vem relacionando um conjunto de ações e
componentes pedagógicos elaborados no contexto dos macrocampos. Aqui, verifica-
se que os macrocampos não são considerados na elaboração do Projeto de
Redesenho Curricular nem tampouco tal projeto existe na prática escolar.
Nesta direção, uma segunda adaptação é desvelada sobre a proposta de
redesenho curricular e revela que sua concepção foi estruturada no contexto da
estrutura superior da SEDUC/RS e levada à escola. O Ensino Médio Politécnico
77
apresenta uma configuração curricular disciplinar pré-estabelecida e o componente
de integração curricular apresenta-se como uma disciplina, ou seja, aparece na grade
curricular da escola com tempo e lugar determinado com objetivo de realizar os
projetos interdisciplinares. E3, diretor da escola analisada em Porto Alegre, faz
considerações sobre a proposta curricular flexível e anterior da escola, que, mesmo
sendo do estado, participava do projeto do
[...] Instituto Unibanco. Então, a escola assume o ProEMI, adota ProEMI, foi bem colocado. Na Secretaria de Educação tu não vê [sic] diferenciação numa escola com o ProEMI e sem o ProEMI. Diferenciação nenhuma, pois, nós todos tivemos que fazer o regimento, que é igual em todas as escolas. Ele nunca foi construído pela comunidade e ele foi colocado.
O redesenho curricular posto no estado do Rio Grande do Sul é realizado
com o Seminário de Integração, pensado na SEE/RS e institucionalizado no regimento
da escola (RIO GRANDE DO SUL, 2012), integrando, assim, a grade curricular a fim
de realizar o processo de integração com os campos de conhecimento. A inovação
pedagógica deve ocorrer nessa lógica nos projetos apresentados pelos professores
no Seminário Integrado, com a perspectiva de integração curricular entre as
disciplinas.
A terceira adaptação evidenciada, nesse processo vertical, é de que a
escola não teve oportunidade de discutir antecipadamente o modelo de integração
curricular a ser construído por ela, que é uma das premissas do ProEMI na elaboração
do currículo flexível. Conforme E3, um dos critérios utilizados pela SEDUC/RS foi fazer
um único Regimento Escolar para todas as escolas da rede, o que é denominado
“como um Regimento outorgado”. A proposta curricular aproxima-se do ProEMI
quando assinala dez “eixos temáticos transversais para a parte diversificada” (RIO
GRANDE DO SUL, 2011a, p. 24), com papel interdisciplinar: Acompanhamento
Pedagógico; Meio Ambiente; Esporte e Lazer; Direitos Humanos; Cultura e Artes;
Cultura Digital; Prevenção e Promoção da Saúde; Comunicação e Uso de Mídias;
Investigação no Campo das Ciências da Natureza; Educação Econômica e Áreas da
Produção. Observa-se que, por exemplo, a participação estudantil não figura entre as
estratégias interdisciplinares.
A política educacional para o Ensino Médio do Rio Grande do Sul passa a
ser instrumento uniformizador, que estabelece uma única política de currículo e é dada
78
identidade própria, com característica politécnica40, observando o referencial teórico41
que o acompanha. É de formato totalizante, porque tem em uma das suas
características o critério essencial, como ressalta Mészáros (2005), sendo aplicado
em todas as escolas de Ensino Médio, sem oportunidade de outro currículo e outra
organização de tempo para o Ensino Médio regular público estadual. Essa opção
sinaliza uma vontade real de superação dos desafios elencados para essa etapa da
educação e antagônica ao modo formal ou experimental estabelecido para o ProEMI
como programa.
2.2.2 O Ensino Médio Integral em Santa Catarina: interfaces e adaptações no
ProEMI
Santa Catarina possuía, segundo dado expressado na tabela 3, 266.269
jovens matriculados no Ensino Médio no ano de 2014 e, na série histórica, observa-
se um acréscimo, no decorrer dos anos de 2007 a 2014, de 37.988 novas matrículas
e representaram, aproximadamente, 16,64% de evolução positiva de novos alunos do
Ensino Médio para o período no estado. A preocupação no estado quanto à
universalização do Ensino Médio não está na deficiência em atender novas demandas
de matrículas, e, como relata E4, da coordenação do Ensino Médio da SED/SC, na
tentativa de identificar os principais desafios, descreve:
[...] Santa Catarina, quando a gente fala em termos de universalização, ou seja, garantia de espaço físico para esses alunos. Santa Catarina não tem grandes problemas para atender à demanda que tem. Tem algumas ações pontuais, como Joinville, Florianópolis, Criciúma e talvez Chapecó. Chapecó seria uma cidade que talvez tivesse algum problema no sentido de garantir espaço físico para atender toda a demanda, mas não é a maior preocupação nossa. A nossa maior preocupação não é ter que ampliar, ou seja, construir e ampliar. A nossa maior preocupação é fazer com que esse aluno vá para escola, porque o espaço tem e ele não tá [sic] indo. Porque que não tá [sic] indo por vários fatores.
40 Manacorda (2013), refletindo sobre o tema, lembra que Gramsci “observa que, para a formação de
dirigentes que sejam técnicos, exigida pela união da ciência e do trabalho, será necessária uma escola única intelectual-industrial e uma metodologia rigorosa e, ao mesmo tempo, democrática, também nas 'outras vias' e estruturas da ideologia” (2013, p. 177, grifo do autor).
41 Para o conceito de politecnia a proposta, também, utiliza-se da compreensão de Saviani, citado no documento Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio - 2011-2014 (RIO GRANDE DO SUL, 2011a, p. 14).
79
O relato de E4, em resposta à indagação sobre outros desafios do Ensino
Médio remete, também, a problemas sociais de ocupação dos jovens no “tráfico de
drogas na região de Florianópolis” e apresenta um segundo problema: o mercado do
trabalho a retirar o jovem da escola média em Santa Catarina. Tal relato retrata as
dificuldades na matrícula de acesso e com reflexo na permanência:
A segunda maior queda é do primeiro para o segundo ano do Ensino Médio. Tem uma leva e o que entra no primeiro ano e começa a estudar ainda no ritmo do Ensino Fundamental, mas daqui a pouco começa pela oportunidade de bolsas de estágio, de trabalho em Call Center e esse encanto com Canto da Sereia. E vão trabalhar naquilo ali. Começam a ganhar seu dinheiro e acham que não precisam mais estudar e se evadem do Ensino Médio. Do primeiro para o segundo ano a gente tem uma queda e para nós é o maior problema. São duas coisas: é garantir que eles terminem a oitava e sigam para frente, e a segunda é segurar eles [sic] no segundo ano do Ensino Médio.
A constatação inicial é de que, levado ao pé da letra o relatado, os
problemas de evasão escolar passam a ser um problema externo à escola, que a
oferta garantida com infraestrutura por si só são os estímulos necessários para o
acesso e permanência do aluno. De acordo com Krawczyk (2011), a evasão escolar
no Ensino Médio, analisada sob uma condição de “crise de legitimidade da escola”,
indica que:
Para alguns segmentos sociais, cursar o ensino médio é algo ‘quase natural’, tanto quanto se alimentar etc. E, muitas vezes, sua motivação está bastante associada à possibilidade de recompensa, seja por parte dos pais, seja pelo ingresso na universidade. A questão está nos grupos sociais para os quais o ensino médio não faz parte de seu capital cultural, de sua experiência familiar; portanto, o jovem, desses grupos, nem sempre é cobrado por não continuar estudando. É aí que está o desafio de criar a motivação pela escola (KRAWCZYK, 2011, p. 756, grifo do autor).
Essa problemática apresentada no estado de Santa Catarina pode ser
avaliada numericamente na representação da taxa bruta de matrículas42 entre jovens
de 15 a 17 anos matriculados na Educação Básica, que, em 2012, chegou a 86,6%.
A taxa líquida de matrículas para o Ensino Médio foi de 62,27%, considerando que a
rede estadual matriculou 50,59%; a federal, 1,20%; a municipal, 0,33% e a privada,
10,16%. Verifica-se que a universalização do ensino para os que estão em idade entre
42 Os dados aparecem em uma apresentação do diagnóstico do Ensino Médio, em Powerpoint, pela
SED/SC e estão disponíveis em <www.sed.sc.gov.br/secretaria/.../3729-diagnostico-do-ensinomedio-sc>.
80
os 15 e 17 anos deveria chegar, ainda em 2012, a 37,73% dos jovens. A tabela 3
demonstra um avanço no número de matrículas no estado de Santa Catarina, sinaliza
a procura da população por formação e, também, que muitos ainda não estão
motivados a buscá-la.
Tabela 3 - Evolução das matrículas do Ensino Médio em Santa Catarina de 2007-2013
Matrículas no Ensino Médio em Santa Catarina
ANO
Ensino Médio
regular/propedêutico
Magistério Ensino Médio
Integrado à educação
profissional
Ensino Médio
Inovador -
ProEMI
2007 228.281 6.331 2.599 -
2008 231.799 6.781 4.150 -
2009 232.356 6.460 5.351 -
2010 233.294 6.781 8.134 2.246
2011 234.294 6.011 9.902 3.087
2012 237.851 5.163 11.622 11.257
2013 254.264 5.992 12.200 13.060
2014 266.269 4.712 13.181 16.370
Fonte: Inep, 2015; Santa Catarina, 2014a.
Pela tabela 3, constata-se que o estado de Santa Catarina apresenta uma
evolução positiva das matrículas de 2007 a 2014, todavia, observa-se uma redução
de alunos no curso de Magistério, que no mesmo período apresentou uma evolução
em oscilação entre negativa e positiva. O dado mais expressivo para o Magistério é a
queda de 1.280 alunos de 2013 para 2014, porém essa modalidade representava, em
2014, aproximadamente, 1,56% da totalidade das matrículas apuradas nos dados do
INEP.43
O Ensino Médio Integrado à educação profissional apresenta um
crescimento estadual acentuado de 2007 a 2014, saindo de 2.599 para 13.181 de
alunos matriculados, em um salto em torno de 507,15%, que representam jovens
recebendo formação para o mercado do trabalho. Da mesma forma, verifica-se que
essa modalidade de Ensino Médio Integrado representa cerca de 4,38% da totalidade
das matrículas do Ensino Médio.
43 Trata-se da Sinopse da Educação Básica do ano de 2014 publicada pelo INEP e disponível no
portal da internet: <http://portal.inep.gov.br/basica-censo-escolar-sinopse-sinopse>.
81
Os dados da tabela 3 para o ProEMI revelam que o estado aderiu ao
Programa já no início de sua implantação nacional, com um universo de 2.246
matrículas, que representava “o desenvolvimento das atividades em 18 escolas da
rede pública estadual a partir de 2010” (SANTA CATARINA, 2013, p. 14).
Em 2011, o Programa apresentava 3.087 alunos e acumulou um aumento
841 alunos em relação ao ano anterior. O crescimento de 2011 para 2012 foi o mais
significativo numericamente, com 8.170 novos alunos no Programa e, em percentual,
algo entorno de 364,65% de incremento. Esse salto é explicado com a evolução do
número de escolas44 aderidas ao Programa apontado pela SED, que passou de 18
para 95 escolas.
A partir de 2012 até 2014 a evolução das matrículas ocorre de forma
gradativa e chega ao final do período com 16.370 alunos. O ProEMI, com esses
dados, representava em 2014, aproximadamente, 5,44% das matrículas do Ensino
Médio de Santa Catarina, em 130 escolas, o que demonstra o tratamento formal ou
experimental adotado na aplicação do Programa frente à existência, nesse ano, de
266.269 alunos cursando o Ensino Médio regular e propedêutico. Nessa perspectiva,
convivem na mesma escola os alunos do Programa e do Ensino Médio regular
propedêutico. Do ponto de vista de tornar o ProEMI um instrumento de motivação do
aluno pela escola, os dados demonstram o contrário, frente à reduzida oferta de
matrículas.
Na tabela 3 não aparecem os dados sobre um programa estadual para o
“Ensino Médio Integral” (SANTA CATARINA, 2011), que surge na rede pública
estadual em 2011 “com carga horária diária de nove (09) horas/relógio, iniciando às
08 horas, com término das atividades escolares às 17 horas, perfazendo o total anual
de 1.800 horas” (SANTA CATARINA, 2011, p. 6). Essa omissão, na prática, não existe
nas escolas, pois o Programa em execução é ainda denominado ProEMI e, como
proposta curricular, passa a adotar as orientações pedagógicas do Programa do
estado denominado Ensino Médio Integral. Em 2012, fica configurada essa adaptação
ao ProEMI, executada até 2011 seguindo as orientações próprias do MEC, que passa
a ter outras inovações (SANTA CATARINA, 2011) referendadas oficialmente de forma
vertical para o currículo escolar da escola de Ensino Médio Inovador catarinense.
44 Os dados aparecem em uma apresentação do diagnóstico do Ensino Médio, em Powerpoint, pela
SED/SC e estão disponíveis em <www.sed.sc.gov.br/secretaria/.../3729-diagnostico-do-ensinomedio-sc>.
82
A procura por oferecer motivação ao aluno buscar a educação dessa etapa
é latente na própria formulação da SED, que lançou mão da experiência do “Ensino
Médio Integral”, em reconhecimento das dificuldades por que passa o Ensino Médio
no estado com os seguintes argumentos:
O Ensino Médio em tempo integral rompe com o modelo tradicional e fragmentado, que hoje ocorre nas salas de aula do Estado de Santa Catarina e do país. É necessário, mais do que nunca, que os conhecimentos sejam significativos ao jovem. Ele precisa compreender a importância e a necessidade de apropriar-se dos conhecimentos sistematizados. Porém, isto só poderá acontecer de forma mais dinâmica e contextualizada à realidade local e global (SANTA CATARINA, 2011, p. 4).
A proposta de Ensino Médio Integral aliava-se ao “Programa Mais
Educação”45 do governo federal e, na intencionalidade, visava a buscar uma formação
integral e de tempo integral, mas, o que se observa como fundamento é o
direcionamento mercantilista e de visão liberal da cidadania na orientação do
Programa, tendo como
[...] eixos norteadores a sustentabilidade e o empreendedorismo, e, como base metodológica, o protagonismo, o currículo se desprenderá do modelo de aulas totalmente livrescas e sem sentido, para aulas contextualizadas e práticas, nas quais o jovem, ativo e participativo, desenvolverá ações de inserção social, e construirá o conhecimento de forma coletiva, com visão interdisciplinar, relacionando-a com sua vida, sua moradia, sua escola, seu bairro, sua cidade, seu planeta, permitindo, desta forma, colocar-se efetivamente como cidadão com direitos e deveres, porém, com participação ativa como agente de transformação da sociedade onde vive, exercendo efetivamente sua cidadania (SANTA CATARINA, 2011, p. 4, grifo nosso).
O Programa Ensino Médio Integral, do governo do estado de Santa
Catarina, passa ser o um instrumento apresentado pela SED, que direcionou o
currículo para o empreendedorismo e estabeleceu “três mecanismos de integração:
núcleo articulador/projetos, áreas de conhecimento e dimensões articuladoras”
(SANTA CATARINA, 2011, p. 6). O núcleo articulador/projetos é o responsável pela
integração curricular e apresenta-se como objetivos e atividades no processo de
aprendizagem e direcionados “[à] elaboração de planos e projetos, trabalho em
equipe, ações de desenvolvimento cultural, social e econômico da
comunidade/empreendedorismo e sustentabilidade, práticas e eventos esportivos,
45 O Decreto Federal nº 7.083, de 27 de janeiro de 2010, dispõe sobre o Programa Mais Educação.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7083.htm>.
83
produções artísticas, e outras” (SANTA CATARINA, 2011, p. 6). A proposta curricular
aponta a necessidade de professores para compor o quadro direcionado a disciplinas
ou ações nas áreas “cultura, artes, esportes, lazer, orientação vocacional e
pedagógica, inclusão digital, meio ambiente, ciência e tecnologia, empreendedorismo”
(SANTA CATARINA, 2011, p. 5). Numa comparação com o ProEMI, estas áreas de
conhecimento não atuariam como se fossem os macrocampos e, sim, componentes
“para a formulação, implantação de projetos” e para a formação continuada dos
professores (SANTA CATARINA, 2011, p. 5). Na prática desapareceu o projeto de
redesenho curricular elaborado na escola, com a possibilidade de escolher um
currículo flexível, a partir das áreas de conhecimento estabelecidas por macrocampos
obrigatórios e optativos.
As áreas do conhecimento do Programa são as mesmas estabelecidas nas
DCNEM, pois o estado acaba adotando também o documento orientador do MEC
(BRASIL, 2014c), figurando como acréscimo às disciplinas previstas nas áreas de
Linguagens, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e suas Tecnologias e da
Matemática, a disciplina de “Ações Inserção Social Sustentabilidade e
Empreendedorismo” (SANTA CATARINA, 2011, p. 8). Essa configuração para o
empreendedorismo tem uma explicação, pois, “dado o dinamismo do atual estágio do
desenvolvimento do capitalismo, constata-se que os seus adeptos buscam novas
formas de manter sua hegemonia (COAN, 2014, p. 141). Segundo o autor, educar
inovando sob as orientações para o empreendedorismo tem
[...] cunho pragmatista e que negligencia o caráter formativo da Educação, ao promover esvaziamento do sentido científico tecnológico da Educação formal, além de promover acentuada individualização da condição social dos sujeitos. O indivíduo é o único responsável por sua autorrealização, bastando ter sonhos e correr atrás de sua realização. Também a formação docente é atingida pela proposição quando é substituída pela ideia de uma pequena preparação para acompanhar desenvolvimento de projeto propostos pelos alunos (COAN, 2014, p. 164).
Esse cunho pragmatista vem das orientações46 buscadas pela SED com a
UNESCO, repassadas através do documento “Protótipos curriculares de Ensino
Médio e Ensino Médio Integrado: resumo executivo” (UNESCO, 2011), que serve de
46 O documento “Protótipos curriculares de Ensino Médio e Ensino Médio Integrado: resumo
executivo” (UNESCO, 2011) é uma das referências bibliográficas do Programa Educação Integral de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 2011, p. 21), que adota a mesma organização curricular e o nome do Programa propostos pela UNESCO.
84
base idêntica para essa nova reorganização curricular de Santa Catarina e visa a
induzir o currículo, com objetivo no aluno, a permitir e
[...] postergar a escolha profissional ou ajustá-la a novos interesses suscitados ainda durante o percurso do ensino médio. Tem a vantagem de possibilitar uma escolha profissional mais tardia, mais amadurecida, mais fundamentada em interesses pessoais testados na confrontação com o campo profissional e na análise objetiva de possibilidades e requisitos de emprego, de trabalho ou de empreendedorismo (UNESCO, 2011, p. 6).
A singularidade entre os programas é expressa, inclusive, pela apropriação,
por parte da SED, de conceitos modificados no seu sentido pedagógico na UNESCO
(escolanovista) e nos temas transversais, em que as “dimensões do trabalho, da
cultura, da ciência e da tecnologia são assumidas como categorias articuladoras das
atividades de diagnóstico (pesquisa) e das atividades de transformação (trabalho)”
(UNESCO, 2011, p. 12), que passam a se relacionar aos projetos com temas seriados
e anuais, sendo o primeiro ano “escola e moradia”; o segundo ano, “comunidade” e o
terceiro ano, “vida e sociedade” (SANTA CATARINA, 2011, p. 7; UNESCO, 2011, p.
15). O enfoque dado à dimensão trabalho no primeiro ano do Ensino Médio, sob o
projeto escola e moradia, ficou caracterizado como “levantar a ocupação dos
familiares e dos estudantes e caracterizar a divisão e organização do trabalho que
vivenciam” (UNESCO, 2011, p. 15), o que demonstra uma preocupação produtivista
no currículo em alinhamento à UNESCO, que orienta sobre “as atuais alternativas de
organização, divisão, relações, condições e oportunidades de trabalho” (UNESCO,
2011, p. 12).
Essa preocupação produtivista também é inerente à concepção
pedagógica assumida no Programa, que ressalta o pensamento escolanovista de
Anísio Teixeira47 e é expressa pela UNESCO, em que “são valorizadas as formas
didáticas que privilegiam a atividade do estudante no desenvolvimento de suas
capacidades e na construção do seu conhecimento” (UNESCO, 2011, p. 14). O
coordenador do Ensino Médio em Santa Catarina, E4, sem uma referência direta ao
Programa Educação Integral da SED e sim ao Programa Mais Educação, faz
considerações sobre a prática didática e pedagógica que influencia as escola na
conjuntura e esclarece
47 O referencial bibliográfico do Programa traz a “Coleção Os Pensadores: Anísio Teixeira e Paulo
Freire” (SANTA CATARINA, 2011, p. 21).
85
[...] que antes do ProEMI veio o Mais Educação. De manhã se trabalhava as disciplinas comuns e de tarde você trabalha oficinas: músicas e dança. Isso se impregnou muito destas escolas. O ProEMI, quando ele veio, ele veio numa perspectiva totalmente diferente do Mais Educação. Não é isso. Não é de manhã das aulas normais e de tarde da oficina. Não é isso. Mas como as escolas estavam impregnadas, enfim, com Mais Educação. O Mais Educação teve um papel muito importante como uma fase, mas ele, o ProEMI, não pode ser ele e tem que avançar ao Mais Educação. Ele tem que romper com essa coisa de ser oficina.
Como adaptações ao ProEMI, a reflexão de E4 apresenta a primeira
possibilidade real, pois a construção das inovações no currículo passa a compor as
mesmas estratégias do Programa Educação Integral, constituído paralelamente na
SED e análogo ao colocado para teste pela UNESCO (UNESCO, 2011), que o
direciona para ações pedagógicas com viés produtivista e para disciplinas já
existentes na escola. O viés produtivista, como segunda adaptação, pode inclusive
ser identificado no Plano Estadual de Educação 2015-2024 (SANTA CATARINA,
2015), que minimiza as possibilidades de inovação do Programa para uma formação
integral ao sinalizar um currículo vinculado a práticas mercantilistas do
empreendedorismo, ou seja, em Santa Catarina:
Este Programa tem como objetivo oportunizar ao adolescente e ao jovem a ampliação do tempo escolar, integrando à sua formação atividades de aprendizagem voltadas à cultura, à arte, ao esporte, ao empreendedorismo, à sustentabilidade e à tecnologia, com conteúdos curriculares organizados a partir de um planejamento interdisciplinar construído coletivamente (SANTA CATARINA, 2015, p. 40).
Observa-se que esta redação aproxima-se mais do pensamento
estabelecido no Programa Ensino Médio Integral, que formula projetos nas áreas de
“cultura, artes, esportes, lazer, orientação vocacional e pedagógica, inclusão digital,
meio ambiente, ciência e tecnologia, empreendedorismo, entre outras” (SANTA
CATARINA, 2011, p. 5-6). Essa constatação é corroborada por E5, que é professor
articulador do ProEMI da escola estadual em Santa Catarina, que, quando perguntado
como adotaram a integração curricular ou a interdisciplinaridade na perspectiva do
ProEMI, pois havia disciplinas do contraturno, esclarece:
Isso. A partir de 2012 foi a mudança. Porque, por exemplo, em 2010, como tem esse banner aqui, a gente fez todos esses projetos em 2010, no mesmo ano. No primeiro ano. Fizemos uma revista, um pequeno livro e simulado com os alunos. [...] Inclusive essa questão do PRC, ele surgiu a partir 2012, pois só tínhamos macrocampos e não tínhamos microcampos. Isso aqui tudo a gente fez sem ter um documento muito esclarecedor como tem agora. Na
86
verdade, em 2012, eles fizeram isso por causa do sistema de RH48 da escola, para poder organizar a questão de aula.
No contexto da fala do entrevistado fica claro que até a mudança de 2012
(instituição do Programa Ensino Médio Integral) as escolas tinham uma maior
liberdade de compor suas ações de integração curricular, dada a possibilidade de
utilização dos macrocampos para compor as atividades pedagógicas e os
componentes curriculares e, desta forma, aparecia como resultado a elaboração
inovadora de revista e livro no processo de integração curricular. Ramos (2011), em
sua avaliação das propostas de inovação do ProEMI, explica:
Encontram-se, aqui, vários preceitos da concepção de ensino médio integrado, ainda que não apareçam orientações diretivas quanto aos componentes do currículo. [...] incentivos a inovações curriculares nessa direção não podem ser considerados negativos. Ao contrário, trata-se de práticas pedagógicas que dinamizam o processo de ensino-aprendizagem. (RAMOS, 2011, p. 779).
A mudança a que E5 se refere é, portanto, uma terceira adaptação, em que
a SED estabelece uma grade curricular limitada a disciplinas preestabelecidas sem a
participação da comunidade escolar, onde “o aluno escolhe dentro daquilo que a
escola pode oferecer” (E5). Nessa direção, a SED, em 2015, definiu “as atividades de
Cultura e Esporte nos macrocampos Cultura Corporal e Produção e Fruição das Artes,
conforme Documento Orientador elaborado pelo Ministério da Educação/MEC (2014)”
(SANTA CATARINA, 2015, p. 5), que tornou obrigatórias para todas as escolas
aderidas ao ProEMI. Nessa recente
[...] organização curricular, foram incluídas na parte diversificada da matriz curricular do Ensino Médio Inovador Cultura e Esporte, com as seguintes modalidades/disciplinas: Basquetebol, Handebol, Atletismo, Futsal, Voleibol, Capoeira, Xadrez, Ioga, Tênis de Mesa, Judô, Dança, Teatro, Música, Canto Coral, Artesanato, Flauta, Violão, Piano, Poesia e Oratória, Ginástica, Natação e Língua Estrangeira (SANTA CATARINA, 2015, p. 5).
Os conjuntos das disciplinas ofertadas passaram a interagir com os
projetos também preestabelecidos com a temática do Programa Ensino Médio
Integral, e, na prática, foram minorados os demais macrocampos para a organização
48 Recursos Humanos.
87
curricular ou das atividades de integração curricular. E5 deixa isso evidenciado
quando questionado se a escola usou os macrocampos para definir as disciplinas:
Não. Dentro disso apenas que tem que fazer os projetos. Inclusive em 2012 ficou decidido [sic] a nível estadual os temas a serem trabalhados, que era escola e moradia no primeiro ano. Comunidade e no terceiro ano, [...] Os temas que teriam que ser trabalhados a partir dos anos de 2012 eram escola e moradia. [...] Aí, isso que eles chamam de projeto guarda-chuva e que aí dentro desse escopo se fariam [sic] os pequenos projetos na escola (E5).
A adoção dos temas do Programa Ensino Médio Integral passa a ser uma
sexta adaptação no ProEMI e, a partir de 2012, aparece desconfigurado na rede
estadual e, na prática, está a subsistir o programa em teste da UNESCO (UNESCO,
2011).
Na realidade, Santa Catarina adota o ProEMI com a mesma nomenclatura
e, com adaptações, leva à frente o Programa Ensino Médio Integral e incorpora na
rede estadual como programa federal. As orientações do ProEMI são absorvidas no
SEE, nas escolas a denominação permanece a mesma, ou seja, percebe-se a
existência do Programa dentro desse contorno estabelecido. A diferença é que o
Programa Ensino Médio Integral passa a compor a carga horária do ProEMI, deixa de
ser de tempo integral e aponta para um tipo de formação integral.
2.3 O PROEMI E A INTEGRAÇÃO CURRICULAR NA ESCOLA: FORMAÇÃO
HUMANA INTEGRAL
O ProEMI, como política educacional, é embasado numa modalidade de
formação e se orienta por diretrizes curriculares nacionais e estaduais, que em sua
aplicação nas escolas públicas dos estados deveria cumprir a função de promover um
currículo flexível e com indicativos de integralidade. Segundo Moehlecke (2012, p. 40),
analisando os recentes marcos normativos do Ensino Médio no Brasil, isso não ocorre
e o retrato é que, dentre as “funções que lhe foram atribuídas nos últimos tempos, não
há dúvida a respeito do caráter marcadamente propedêutico a ele associado”. Essa
característica é importante salientar, pois o Ensino Médio regular representa o maior
número de matrículas no território brasileiro e tem essa característica nas escolas
analisadas. O ProEMI não rompe essa perspectiva, porém o “seu objetivo central é
superar a dualidade do ensino médio, definindo-lhe uma nova identidade integrada,
88
na qual se incorporem seu caráter propedêutico e seu caráter de preparo para o
trabalho” (MOEHLECKE, 2012, p. 45).
A perspectiva propedêutica e de preparo ao trabalho passam a compor os
cenários da formação humana integral e das inovações presentes na organização
curricular das Escolas 1 e 2, respectivamente, do Rio Grande do Sul e Santa Catarina,
que são subsidiadas por diretrizes curriculares e orientações estabelecidas para
cumprimento escolar. A perspectiva propedêutica e do trabalho remetem, obviamente,
a princípios educativos e pedagógicos dispostos nas DCNEM, que passam a orientar
a organização curricular. No entanto, é importante ressaltar, como resignação, que,
“diante da autonomia dada aos estados e municípios pelo nosso sistema federativo, o
tom do texto das DCNEM é muito mais de sugestão e tentativa de convencimento do
que diretivo” (MOEHLECKE, 2012, p. 54). O resultado dessa autonomia pode ser
evidenciado nos princípios e concepções pedagógicas ressaltados nos sistemas
educacionais estaduais e induzidos por adaptações à proposta do ProEMI.
O princípio pedagógico49 adotado no currículo como forma de integração e
analisado, na forma da aplicação, é relevante porque sinaliza um tipo de formação a
ser ofertada. Neste caso, também, o processo de integração curricular leva à
formação do aluno para um viés produtivista ou não. O assento do processo de
integração no currículo, para uma formação humana integral, passa por diferenciar o
trabalho como princípio educativo e “a significar o objetivo geral de todo o processo
educativo, isto é, capacitar às gerações mais novas a transformar a natureza, de forma
científica, humanizando-a” (NOSELLA, 2011, p. 1.057).
As análises a seguir desvelam as possibilidades de formação humana
integral proposta nos programas estaduais e adaptações de ProEMI, observando as
características adotadas e o princípio pedagógico específico do Ensino Médio.
2.3.1 Os princípios pedagógicos da formação humana integral
A concepção de educação integral da escola unitária, idealizada por
Antonio Gramsci (1891-1937), em contraponto à utilitária, salienta a
formação para a capacidade de agir ao mesmo tempo intelectualmente e manualmente (isto é, no mundo contemporâneo, tecnicamente,
49 Nosella (2011) constrói uma análise da “busca do princípio pedagógico do ensino médio”.
89
industrialmente), em uma organização educativa unitária, vinculada às instituições produtivas e culturais da sociedade adulta (MANACORDA, 1990, p. 285).
Nas palavras de Nosella (2011, p. 1.059), nessa concepção, “o trabalho
produtivo ‘desinteressado’, como princípio educativo geral, embasa todo o sistema
escolar, a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio”. Observa-se que
o princípio do trabalho deveria interagir em todas as etapas da Educação Básica.
Kuenzer (1992, p. 130), interpretando Gramsci em sua proposta pedagógica de
formação humana integral, especificamente para o Ensino Médio, diz que “será o
trabalho tomado como princípio educativo, enquanto expressão do estágio do
desenvolvimento das relações sociais contemporâneas em que a ciência se faz
operativa e a técnica se faz complexa, reunificando cultura e produção”. Da mesma
forma, a autora afirma que, por causa deste princípio educativo do trabalho, a escola
média deve ter características estruturais sem a dualidade, com conteúdo politécnico,
organizada em método teórico e prático e envolta em uma gestão democrática
(KUENZER, 1992, p. 130). No entendimento de Kuenzer (1992, p. 130), o conteúdo
[...] será politécnico, enquanto propiciar o resgate entre conhecimento, produção e relações sociais, através da apropriação do saber cientifico-tecnológico através de uma perspectiva histórico-crítica, que permita a participação na vida social, política e produtiva, enquanto cidadão e trabalhador.
Nesse contexto de escola estariam às garantias de uma formação humana
integral, com a possibilidade de “mudança verdadeiramente radical, proporcionando
instrumentos de pressão que rompam a lógica mistificadora do capital” (MÉSZÁROS,
2005, p. 48) na educação. O trabalho, como princípio educativo, passa a ser
instrumento importante na integração de conteúdos e de forma a desvelar a
fragmentação curricular, visto que a sua presença no contexto do currículo deve
construir elementos para emancipação e diversos da perspectiva unilateral do capital.
Para Silva e Colontonio (2014), no caso das DCNEM e da legislação brasileira:
Nomear trabalho, cultura, ciência e tecnologia como centro das propostas curriculares para o ensino médio exige mais do que a busca pelos significados de cada um dos elementos que o compõem, e ultrapassa o sentido de justificá-los ou legitimá-los no discurso sobre o currículo. Sinalizamos para o necessário desafio de se buscar, juntamente com os sujeitos jovens e adultos aos quais essas proposições se destinam, os significantes desses conceitos como forma de desvelá-los e explorá-los na
90
história, nas relações de poder e nos interesses que circundam as relações sociais entre o trabalho, a ciência, a tecnologia na contemporaneidade. O texto normativo é expressão de uma prática social, o que torna igualmente relevante a compreensão das relações sociais que tensionam suas proposições, com vistas a superar sua limitação instrumental (SILVA; COLONTONIO, 2014, p. 624).
A integração curricular proposta no ProEMI está direcionada ao trabalho
como princípio educativo e à pesquisa como princípio pedagógico (BRASIL, 2014c, p.
7), que segue as orientações trazidas na Resolução nº 02, de 30 de janeiro 2012, que
define as “Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio” (BRASIL, 2012).
Ambos os princípios têm a finalidade construir, no Programa, o desafio dos novos
conhecimentos:
[...] deverão dialogar com a vida dos estudantes, na diversidade de contextos que compõem a realidade e os conteúdos dos componentes curriculares/disciplinas devem articular-se entre si, o que pressupõe um currículo elaborado a partir das quatro áreas de conhecimento (Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza) (BRASIL, 2014c, p. 8).
Nesse contexto, o diálogo que se pretende para com a vida do estudante
poderia ficar mais claro, no documento orientador do MEC (BRASIL, 2014c), a partir
da escolha do enfoque a ser dado ao princípio educativo “trabalho” em sua finalidade
ou definição, que, diferentemente do princípio pedagógico “pesquisa”, figurada no
macrocampo “iniciação científica e pesquisa”, tem o indicativo que:
As atividades de cunho científico deverão buscar a interface com o mundo do trabalho na sociedade contemporânea, com as tecnologias sociais e sustentáveis, com a economia solidária e criativa, com o meio ambiente, com a cultura e outras temáticas presentes no contexto dos estudantes (BRASIL, 2014c, p. 10).
O macrocampo iniciação científica e pesquisa, relacionado com o princípio
educativo trabalho, apresenta, também, uma interpretação produtiva dos objetivos da
integração desse campo com a vida do estudante, remetendo ao mercado
empreendedor, que é representado por simbolismos da economia solidária50 e
criativa. Dessa forma, a dualidade aparece no Programa direcionada para uma
concepção que “demonstra que a alienação no trabalho, que é típica da empresa
50 Na concepção de Singer (2008, p. 289), “nós costumamos definir economia solidária como um
modo de produção que se caracteriza pela igualdade. Pela igualdade de direitos, os meios de produção são de posse coletiva dos que trabalham com eles – essa é a característica central”.
91
capitalista, não é indispensável” (SINGER, 2008, p. 289). Entretanto, Singer (2008)
afirma a existência de empreendimentos de fachada e que funcionam como se fossem
empresas privadas no contexto do fetichismo da economia solidária. Assim, existem
indicativos de não haver seguramente um abandono da práticas pedagógicas que
reforçam a dualidade no Ensino Médio. Moehlecke (2012, p. 54) analisa:
[...] as pesquisas na área criticam duramente essa suposta ruptura da dualidade do ensino médio propalada pelas DCNEM. Por um lado, questiona-se a noção de trabalho presente nas diretrizes; por outro, observa-se a contradição entre o discurso presente na lei e as práticas políticas do governo federal para o ensino médio. No primeiro caso, parte-se da defesa de um projeto unitário para o ensino médio, superando a disputa com a educação profissional, que deveria ser integrada a esse nível de ensino, para se criticar a forma como o trabalho é definido no texto das diretrizes. Observa-se que há uma oscilação nas DCNEM ‘entre trabalho como princípio e trabalho como contexto; trabalho como mediação e trabalho como fim; trabalho como práxis humana e trabalho como práxis produtiva’ (Ramos, 2004, p. 41). Desse modo, em vez de se superar a dicotomia entre ensino propedêutico e ensino profissionalizante, o que as diretrizes fazem é reduzir a concepção geral de trabalho a uma função utilitária, onde este é assumido como princípio educativo na perspectiva do capital e não do trabalhador.
Essa dualidade é expressa na própria LDB, que para o Ensino Médio
aborda, no inciso II do art. 35 (BRASIL, 1996c), como finalidade “a preparação básica
para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a
ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores”. Aqui o viés neoliberal51 coloca o aluno no processo
formativo a se especializar de modo a se adaptar às relações flexíveis do mercado do
trabalho. Segundo Harvey (2005, p. 49), o resultado da adaptação com flexibilidade
ao modo de produção é que “o capital pode apropriar-se da especialização flexível
como maneira conveniente de buscar formas mais flexíveis de acumulação”.
Assim, o ProEMI, entre as políticas do governo federal para o Ensino
Médio, pode ter contornos na esfera estadual de que o princípio educativo do trabalho
reproduz a lógica produtivista em currículo de fragmentação por disciplinas, ações e
atividades pedagógicas curriculares e extracurriculares. Kuenzer (1992, p. 140)
considera que o currículo deva ser organizado em grandes áreas de conteúdo
politécnico e
51 Harvey (2005, p. 12) explica que “o neoliberalismo é em primeiro lugar uma teoria das práticas
político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos à propriedade privada, livres mercados e livre comércio”.
92
[...] concretizaria através de uma estrutura curricular que tenha a área de trabalho em questão como princípio organizador, de tal modo que os conteúdos se articulam enquanto totalidade, superando a já criticada fragmentação e autonomização de disciplinas consideradas em si mesmas, e que supostamente, por algum passe de mágica e em algum momento, recomponham a unidade do conhecimento (KUENZER, 1992, p. 140).
O quadro 1 demonstra o rol de áreas de conhecimento previstas nos
documentos oficiais para estruturar o currículo, pelo MEC e dos estados, que no
processo de integração ou de interdisciplinaridade terão que organizar e formar uma
totalidade. A possibilidade da formação humana integral passa por integrar, nas três
propostas, essas grandes áreas do conhecimento e práticas pedagógicas em uma
ação em busca da totalidade, que será alcançada com a relação entre as disciplinas
e os princípios educativos e pedagógicos no processo de ensino aprendizagem.
Quadro 1 - Linhas de conhecimento interdisciplinar da estrutura curricular
Macrocampos Eixos Temáticos Áreas de Conhecimento
ProEMI/MEC Ensino Médio
Politécnico/RS
ProEMI/SC
Acompanhamento
Pedagógico (Linguagens,
Matemática, Ciências
Humanas e Ciências da
Natureza)
Acompanhamento
Pedagógico
Orientação vocacional e
pedagógica
Iniciação Científica e
Pesquisa
Investigação no Campo das
Ciências da Natureza
Ciência e tecnologia
Leitura e Letramento Educação Econômica e
Áreas da Produção
Empreendedorismo
Línguas Estrangeiras Direitos Humanos Lazer
Cultura Corporal Esporte e Lazer Esportes
Produção e Fruição das
Artes
Cultura e Artes Artes
Comunicação, Cultura
Digital e uso de Mídias
Cultura Digital Inclusão digital
Participação Estudantil Comunicação e Uso de
Mídias
Cultura
Meio Ambiente Meio ambiente
Prevenção e Promoção da
Saúde
Fonte: Brasil, 2014c; Rio Grande do Sul, 2011a; Santa Catarina, 2011.
93
Observa-se, no quadro 1, um tratamento prioritário e diferenciado para a
escolha das grandes áreas de conteúdo52 nos programas estaduais, o que demonstra
a pouca homogeneidade terminológica (Macrocampos, Eixos Temáticos e Áreas de
Conhecimento) e uma diversidade de proposição de campos educacionais. No
ProEMI orientado pelo MEC, o “macrocampo” (BRASIL, 2014c, p. 8) absorve os
termos estaduais por sua abrangência, todavia os termos estaduais usados para
reunir as áreas de conhecimento diferem entre si e por sua aplicação na práxis
escolar. No caso do Rio Grande do Sul, os eixos temáticos transversais para a parte
diversificada53 do currículo representam atividades vinculadas à
[...] vida e [ao] mundo do trabalho, que se traduza por uma estreita articulação com as relações do trabalho, com os setores da produção e suas repercussões na construção da cidadania, com vista à transformação social, que se concretiza nos meios de produção voltados a um desenvolvimento econômico, social e ambiental, numa sociedade que garanta qualidade de vida para todos (RIO GRANDE DO SUL, 2011a, p. 22).
Nessa leitura o fator interdisciplinar na relação entre eixos transversais,
princípios educativos e pedagógicos e a base de formação geral do currículo é a
preparação do aluno para vida em uma relação entre a teoria e prática. Assim, a
proposta do Ensino Médio Politécnico canaliza as ações interdisciplinares para
projetos a serem desenvolvidos com o apoio de um componente curricular especifico,
ou seja, o Seminário Integrado, que potencializará a relação teoria e prática iniciada
no contexto aluno, professor e disciplina. Para um aprofundamento na análise, E2, da
Coordenação do Ensino Médio da SEDUC/RS, relata os desafios da proposta do
Ensino Médio Politécnico e faz uma reflexão sobre aplicação do Programa:
52 Os programas procuram trazer para o contexto escolar áreas de conhecimento prioritárias para a
integração curricular. Kuenzer (1992, p. 140) sinaliza que as “grandes áreas de conteúdo politécnico identificadas a partir dos processos de trabalho considerados socialmente relevantes, deverão ser traduzidas em uma proposta curricular que viabilize: a compreensão das relações sociais que dado processo de trabalho gera, em articulação com as relações sociais mais amplas, através de conteúdos histórico-críticos não tomados em si, mas à luz de processo de trabalho em questão; a aquisição dos princípios científicos subjacentes a cada forma tecnológica específica do processo de trabalho em discussão; a aquisição dos códigos e das formas de comunicação específicas de cada esfera produtiva; a discussão das formas de participação na vida social e política, a partir da participação no processo produtivo”.
53 Quanto ao Ensino Médio Politécnico, “entende-se por parte diversificada (humana – tecnológica – politécnica), a articulação das áreas do conhecimento, a partir de experiências e vivências, com o mundo do trabalho, a qual apresente opções e possibilidades para posterior formação profissional nos diversos setores da economia e do mundo do trabalho” (RIO GRANDE DO SUL, 2011a, p. 23).
94
[...] Para nós a leitura que nós fizemos do Ensino Médio Politécnico e as leituras que foram feitas nas regionais, elas [sic] nos fazem refletir e aprofundarmos no nosso trabalho pela avaliação emancipatória, que é o grande desafio e uma aplicabilidade do seminário integrado que seja mais profícuo para a formação desse aluno para uma visão de pesquisa. São dois eixos bem importantes que nós, enquanto SEDUC, temos que nos debruçarmos para respaldar as regionais para que elas possam nas escolas realmente aprofundar. E aí quando a gente fala em Seminário Integrado e avaliação emancipatória é a interdisciplinaridade. É o professor trabalhar na área do conhecimento buscando realmente articular o seu componente curricular com outros componentes que compõem essas áreas de conhecimento. Porque no papel, o papel aceita tudo, mas quando nós vamos pra [sic] prática, muitas das nossas escolas ainda têm a dificuldade de fazer esse diálogo entre as áreas. Respinga na avaliação quando o professor se reúne para fazer instrumentos de avaliação que sejam realmente de emancipação desse aluno e quando ele planeja o Seminário Integrado, abrindo possibilidade para que esse aluno possa buscar uma pesquisa não só teórica, mas, também, de campo. O que nós, enquanto mantenedora, podemos fazer para dar essa profundidade? Pra [sic] nós, o nosso maior desafio é que o professor consiga se sentir leve no seu planejamento por área de conhecimento, e que, aos poucos, a avaliação emancipatória vai sendo introjetada, trabalhando e o Seminário Integrado passa então a ser esse grande eixo articulador. Então, no momento, o nosso desafio é a interdisciplinaridade, a avaliação emancipatória e o Seminário Integrado como esse eixo articulador.
A fala de E2 ressalta o princípio pedagógico da pesquisa, o Seminário
Integrado, a avaliação emancipatória54 e a dificuldade do professor e da escola
trabalharem de forma interdisciplinar. E2 salienta, ainda, que
[...] existe [sic] muitas dificuldades e resistências daquele professor especialista. Eu não estou falando do professor de 30 anos de profissão mas sim aquele que tá [sic] saindo agora da universidade ou entrando agora no sistema e que tem uma visão disciplinar e não interdisciplinar. Ele é um especialista, aprendeu na universidade a trabalhar com sua especialidade. Esse professor é nosso desafio, também não é aquele de 30 anos que está na escola. Também, nós precisamos ainda crescer muito e nós temos escolas que trabalham de forma interdisciplinar, outras não tanto. A nossa ideia é manter essa ideia de formação continuada na escola.
Carbonell (2002, p. 36), analisando as resistências a mudanças na escola,
diz que é inaceitável culpar o outro se o processo de mudança apresenta obstáculos
e como resultado as reforma já nascem velhas, com falha na conceituação inicial de
54 A Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao
Ensino Médio (RIO GRANDE SO SUL, 2011a, p. 20), como conceito e metodologia, adota os mecanismos da avaliação emancipatória para aferir o rendimento escolar. Como característica, “o paradigma da avaliação emancipatória, tendo como referências teórico-metodológicas a avaliação democrática, a crítica institucional, a criação coletiva e a pesquisa participante, constituiu-se em matriz praxiológica que descreve, analisa e critica uma dada realidade, visando a transformá-la” (SAUL, 2008, p. 21).
95
mudança, excesso de regulamentação burocrática, condicionam a autonomia e a
criatividade do professor. O autor salienta:
[...] as inovações que vêm de baixo, do próprio coletivo docente, têm mais possibilidades de êxito e continuidade do que aquelas que emanam de cima. Também se diz, e não sem razão, que às vezes são necessários estímulos externos e propostas da administração para remover uma instituição ancorada em sua inércia e para despertar um professorado demais adormecido e preocupado unicamente em defender seus privilégios e interesses corporativos (CARBONELL, 2002, p. 28).
Como estímulo ou para superar as resistências à introdução de sua reforma
vertical55, o Rio Grande do Sul usou, como identificado, a formação continuada do
PNFEM (BRASIL, 2013b) do MEC para os estados, para fazer o professor sair da
inércia. Como esclarece E2:
[...] a segunda etapa do pacto e já estamos pleiteando uma moção no nosso seminário que será dia 23 de junho, para que possa abrir a terceira etapa do pacto. No Rio Grande do Sul finaliza agora em abril a última e a instituição de ensino superior termina o pacto com seminário estadual. Agora as escolas ficam com um longo período sem formação orientada pelo pacto. Aqui no Rio Grande do Sul nós temos a hora atividade em um terço da carga horária, ou seja, as regionais estão organizando nas escolas pra [sic] que esse pedido seja aproveitado para formação continuada dentro no contexto do pacto.
Sobre o desafio e a dificuldade do professor e da escola trabalharem os
conteúdos, para um retrato mais claro, observa-se um movimento interdisciplinar novo
na fala de E6, revelando que “antes eram disciplinas mais distantes, quando é que
agora a gente faz várias trabalhos comuns, onde cada professor trabalha, tenta
aplicar, digamos o tema gerador”. O fato novo, também, é o surgimento de um tema
gerador, que, criado na escola, não aparece como orientação de conteúdo nos eixos
transversais do quadro 1 e que é escolhido para nortear as atividades pedagógicas.
Nas palavras de Azevedo e Reis (2013, p. 41):
[...] no EMP56 a interdisciplinaridade surge para fazer leituras diversas e complementares, com métodos também diferentes, e compor uma visão do todo que não esteja restrita à de uma área de conhecimento ou do seu modo, embora relevante, mas particular de explicar e dar sentidos às realizações humanas, suas formas de ver, sentir e agir no mundo.
55 Carbonell (2002, p. 27) afirma que “as reformas verticais, concebidas de cima para baixo, assim
como os modelos de mudanças baseados no saber dos especialistas e nas prescrições legais, reproduzem na escola a divisão técnica e social do trabalho entre as pessoas que pensam e planejam e as que se limitam a receber instruções e executá-las mecânica e passivamente”.
56 Ensino Médio Politécnico.
96
O professor de Matemática da Escola 1, E6, sugere que, mesmo com
evidências de uma ação interdisciplinar, o processo de integração parece não se
completar:
A única coisa que eu vejo é que muitas disciplinas diminuíram as cargas horárias, porque foram introduzidos os projetos Seminários Integrados. Eu não sei até que ponto os Seminários Integrados são trabalhados efetivamente, porque os professores que trabalham esses projetos, eles [sic] não sabem o que trabalhar. Nós poderíamos ter mais disponibilidade de carga horária para sentarmos com esses professores que são responsáveis pelos projetos, para que realmente a gente pudesse desenvolver projetos em conjunto.
Se, de um lado, existe a percepção de um movimento interdisciplinar, de
outro, na Escola 1, a evidência é de que o Seminário Integrado, como componente
curricular, mesmo com tema gerador escolhido pela escola e com os eixos
transversais do quadro 1, ainda não conseguiu realizar a integração curricular. Como
objetivo, o Seminário Integrado deveria usar a pesquisa como estratégia pedagógica
para compor a totalidade curricular em interação com as quatro áreas do
conhecimento, sendo o elemento inovador da proposta do Ensino Médio Politécnico
(AZEVEDO; REIS, 2013, p. 235). Como exemplo de teoria e da prática inovadora no
Seminário Integrado, na história da proposta pedagógica do ambiente escolar
analisado, observa-se que não houve a destruição dos projetos do passado no
contexto atual das inovações pedagógicas na escola, como sinaliza GRAMSCI (1999),
que a inovação não destrói o passado com o surgimento do novo. Essa narrativa fica
clara na Escola 1, em argumentos do E6 relatado:
[...] dentro da nossa área que é Ciência da Natureza e Matemática. Nesse momento nós temos vários grandes projetos para nossa escola, que a gente já tinha antes, mas que nesse caso foi agregado ao Seminário Integrado. Nós estamos agora em vias de uma amostra científica. Então, o que acontece, amostra que abrange as áreas Ciências da Natureza e Matemática. Os alunos estão todos divididos em grupos e as aulas do Seminário são importante oportunidade dos alunos se reunirem em grupo e ir trabalhar em seus projetos nesse momento.
Outro exemplo de pesquisa através do Seminário Integrado é apresentado
por E2:
[...] nós tivemos uma apresentação a partir do Pacto do Fortalecimento do Ensino Médio, onde alguns alunos apresentaram projetos de pesquisas desenvolvidas dentro do Seminário Integrado, que era articulado com o lado
97
profissional. Tem uma escola do interior do estado que não tinha eletricidade, ou seja, até chegar à escola era muito escuro e eles produziram e pesquisaram grandes placas de energia solar. Fizeram toda uma pesquisa na área de Ciências da Natureza, buscando a parte teórica e com a parte prática reconstruíram todo o caminho até a escola com iluminação solar, com placas solares.
Saviani (2008b, p. 37), analisando as diferenças entre a escola tradicional
e a escolanovista no ensino e na pesquisa, refere que, como características da
estratégia pedagógica, a
Escola Nova buscou considerar o ensino como um processo de pesquisa; daí porque ela se assenta no pressuposto de que os assuntos de que trata o ensino são problemas, isto é, são assuntos desconhecidos não apenas pelo aluno como também pelo professor. Nesse sentido, o ensino seria o desenvolvimento de uma espécie de projeto de pesquisa, quer dizer uma atividade.
A importância desse referencial de Saviani (2008b), em que a pedagogia
da escola nova parte do desconhecido para a busca do conhecimento no ambiente
escolar e não o contrário, dá-se em contraponto ao que apregoa a proposta
pedagógica para o Ensino Médio Politécnico (RIO GRANDE DO SUL, 2011a, p. 21),
que segue, somente para a pesquisa dentro do Seminário Integrado, os preceitos dos
Protótipos Curriculares de Ensino Médio e Ensino Médio Integral formulados pela
UNESCO (2011), de caráter instrumental. De acordo com a UNESCO (2011, p. 12), a
pesquisa está no contexto em que
as dimensões do trabalho, da cultura, da ciência e da tecnologia são assumidas como categorias articuladoras das atividades de diagnóstico (pesquisa) e das atividades de transformação (trabalho). No diagnóstico, elas serão as categorias que organizarão questões, problemas ou variáveis de investigação que se originam dos objetivos das áreas e têm como contexto o projeto anual do Núcleo. Nas atividades de transformação, darão origem a grupos de trabalho que serão responsáveis por elas dentro dos projetos do Núcleo.
Segundo Saviani (2008b, p. 39), a proposta de pesquisa formulada através
da corrente pedagógica escolanovista teria cinco passos:
[...] o ensino seria uma atividade (l.° passo) que, suscitando determinado problema (2.° passo), provocaria o levantamento dos dados (3.° passo) a partir dos quais seriam formuladas as hipóteses (4.° passo) explicativas do problema em questão, empreendendo alunos e professores, conjuntamente, na experimentação (5.° passo), que permitiria confirmar ou rejeitar as hipóteses formuladas.
98
Percebe-se que, neste contexto, a pesquisa inicia sem o elemento
fundamental para seu desenvolvimento no processo de ensino aprendizagem e que é
a pré-condição para a mesma o conhecimento já adquirido. Como é possível
constatar, os conhecimentos serão adquiridos pelo aluno no processo de
experimentação, todavia, o correto no processo de ensino aprendizagem é que “o
desconhecido só se define por confronto com o conhecido, isto é, se não se domina o
já conhecido, não é possível detectar o ainda não conhecido, a fim de incorporá-lo,
mediante a pesquisa, ao domínio do já conhecido” (SAVIANI, 2008b, p. 38). Dentro
deste cenário não é difícil entender a fala de E6, que exorta uma realidade e expressa:
Eu teria várias ideias maravilhosas de tentar trabalhar aquilo que eu tento fazer dentro da minha disciplina. E é porque [...] Eu vejo muitas vezes questionamentos dos alunos em sala de aula, que as aulas do Seminário são uma ‘matação’, porque ninguém se interessa e ele não tem um conceito.
A proposta de Seminário Integrado57, como componente curricular, mesmo
com orientações e fundamentações, é que sofre a maior influência e definições da
comunidade escolar e está condicionando o seu êxito na integração curricular à
prática docente. Como E2 ressalta, no movimento interdisciplinar, “[...] às vezes
algumas escolas usam da sua autonomia e escolhem fazer a partir de um tema
gerador e outras não e fazem temáticas individualizadas a cada ano”. A prática
interdisciplinar é necessária dada a composição de uma grade curricular fragmentada,
pois, mesmo que o pretendido seja separar o currículo por áreas de conhecimento, a
práxis escolar ainda é disciplinar.
O quadro 2 apresenta a composição dos componentes curriculares das
escolas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Anexos E, F), demonstrando a
diferença de projeto de integração do currículo. O Rio Grande do Sul adota o
Seminário Integrado e Santa Catarina organiza a perspectiva interdisciplinar a partir
das áreas de conhecimento e do Ensino Médio Integral, distanciando-se dos
documentos orientadores do ProEMI. Em comum está a adoção das áreas de
57 Para Azevedo e Reis (2013, p. 36), o Seminário Integrado “é um espaço destinado à reflexão
interdisciplinar sobre temas escolhidos a partir do diálogo docente-discente proposto de acordo com os interesses de pesquisa e estudo a serem desenvolvidos”.
99
conhecimento propostas pelas DCNEM58, que norteiam a adoção de disciplinas na
parte comum e diversificada do currículo.
Quadro 2 - Componentes da Grade Curricular do Ensino Médio
Componente Curricular
Ensino Médio - Rio Grande do Sul Ensino Médio - Santa Catarina
Ensino Religioso; Seminário Integrado;
Ciências Humanas: Filosofia; Geografia;
História; Sociologia; Ciências da Natureza:
Biologia; Física; Química; Linguagens:
Arte; Educação Física; Literatura; Língua
Espanhola; Língua Inglesa; Língua
Portuguesa; Matemática
Teatro; Artesanato; Xadrez; Biologia;
Matemática; Geografia; História; Educação
Física; Língua Estrangeira – Inglês; Língua
Estrangeira – Espanhol; Língua
Estrangeira – Alemão; Língua Portuguesa
e Literatura; Sociologia; Física; Química;
Informática; Filosofia; Música; Arte;
Ginástica; Dança; Tênis de Mesa; Futsal;
Vôlei; Natação; Violão; Capoeira; Canto
Coral; Atletismo; Basquetebol; Handebol;
Ioga; Flauta; Piano; Judô; Poesia e
Oratória
Fonte: Santa Catarina, 2014b; Rio Grande do Sul, 2011a.
A estratégia de Santa Catarina para o Ensino Médio, em 2011, determinava
a estrutura curricular em:
[...] uma nova forma de organização das disciplinas articuladas com atividades integradoras, por meio do desenvolvimento de projetos integrados entre as áreas do conhecimento e as disciplinas constantes na matriz curricular, a partir das interfaces entre a ciência, cultura, tecnologia, e trabalho, tendo este último como princípio educativo. O objetivo maior das ações deve ser o envolvimento dos educandos nas etapas de elaboração e execução de pesquisas que abordem os problemas locais, com ampliação gradativa do espaço e da complexidade das alternativas de diagnóstico e de intervenções transformadoras. Para tanto, propõe um contexto de pesquisa e intervenção com atividades empreendedoras e socioambientais, que exigirão o protagonismo dos jovens na construção e no desenvolvimento de uma comunidade de aprendizagem (SANTA CATARINA, 2011, p. 6-7).
58 A Resolução CNE/CEB nº 2/ 2012 tipifica: “Art. 8º O currículo é organizado em áreas de
conhecimento, a saber: I - Linguagens; II - Matemática; III - Ciências da Natureza; IV - Ciências Humanas” (BRASIL, 2012).
100
Essa estratégia dentro do Ensino Médio Integral, de 2011, de articular as
disciplinas com atividades integradoras ainda persiste na práxis escolar, que
anteriormente estava ligada exclusivamente ao tema gerador proposto pelo Programa
(escola e moradia, comunidade e sociedade) (SANTA CATARINA, 2011). Conforme
E5, em 2015:
[...] a gente resolveu fazer de modo mais livre, pois no ano passado muitos professores diziam-se com dificuldades de montar projetos porque tem essa limitação de tema. Esse ano o que é que eu fiz? A coordenação que montou os projetos em diversas temáticas para os professores aplicarem durante suas aulas. A gente tem que trabalhar também com a questão que muitos professores, e isso é uma falha do curso de Licenciatura, não estão acostumados a trabalhar com projetos.
Observa-se que, com os projetos abordando tema gerador mais livre, a
escola busca o processo de integração entre as diversas disciplinas que estão
fragmentadas no currículo.
A proposta curricular do Ensino Médio Integral afasta-se mais do ProEMI
em Santa Catarina modifica-se, em 2015, com o lançamento do “Documento
Orientador Esporte e Cultura” (SANTA CATARINA, 2015), que passa a priorizar no
currículo do Ensino Médio “[...] as atividades de Cultura e Esporte nos macrocampos
Cultura Corporal e Produção e Fruição das Artes” (SANTA CATARINA, 2015, p. 4).
Desta forma, o quadro 2 apresenta o conjunto de disciplinas ressaltadas pela SED
dentro dos macrocampos escolhidos para as práticas integradoras na escola média
de Santa Catarina. A SED justifica esta iniciativa, que retira da escola a iniciativa de
propor o seu redesenho curricular:
Considerando que o Programa enfatiza a contextualizaçao do conhecimento e as interações disciplinares, as reflexões dos educadores devem convergir para a elaboração de ações integradoras por meio de diversas atividades relacionadas à pluralidade de disciplinas, bem como da corporeidade, suas expressões e das diferentes manifestações da Cultura Esportiva e Artística. As ações devem estar voltadas para a formação integral dos educandos devidamente articuladas entre as disciplinas da base nacional comum e da parte diversificada. [...] Considerando essa nova organização curricular, foram incluídas, na parte diversificada da matriz curricular do Ensino Médio Inovador, Cultura e Esporte, com as seguintes modalidades/disciplinas: Basquetebol, Handebol, Atletismo, Futsal, Voleibol, Capoeira, Xadrez, Ioga, Tênis de Mesa, Judô, Dança, Teatro, Música, Canto Coral, Artesanato, Flauta, Violão, Piano, Poesia e Oratória, Ginástica, Natação e Língua Estrangeira (SANTA CATARINA, 2015, p. 4).
A modificação do redesenho curricular das escolas no ProEMI, agora de
101
forma única para o estado, iguala o programa federal às diretrizes do Ensino Médio
Integral (SANTA CATARINA, 2011, p. 13), que prioriza as áreas de conhecimento
disciplinar da “Cultura e Esporte” e inclui como disciplinas a “dança, música, teatro,
coral, artes plásticas, cinema, voleibol, handebol, futebol, basquete, xadrez, tênis de
mesa, atletismo, ioga, tênis de campo, capoeira, judô”. Tal qual acontece nas escolas
atualmente, “estas atividades serão organizadas simultaneamente, e cada aluno fará
opções a respeito do grupo que prefere, de acordo com suas habilidades” (SANTA
CATARINA, 2011, p. 13). Assim, ocorre que alunos de uma mesma turma poderão
estar no contraturno em disciplinas diferentes no mesmo horário, o que inviabiliza
qualquer possibilidade de integração entre as áreas de conhecimento comum e a
parte diversificada do currículo.
Nessa configuração, de uma “relação das modalidades/disciplinas
contempladas na matriz do Ensino Médio Inovador” (SANTA CATARINA, 2015, p. 5),
a fragmentação foi ampliada ao contraturno escolar com a opção disciplinar adotada
pela SED para compor com os macrocampos Cultura Corporal e Produção e Fruição
das Artes, exclusivamente, as atividades integradoras. E5 descreve a realidade do
processo de integração curricular e o que está previsto no currículo escolar:
O aluno escolhe dentro daquilo que a escola pode oferecer. Por exemplo, é feito aqui: nós temos aqui esse pessoal que faz teatro. Esse é o professor da turma e o local. Isso consta, por exemplo, o sistema de gerenciamento da SED e sabe que nessa sala vai estar esse professor e nesse horário. Se teatro fosse fazer uma atividade com história, não podia. Não podia estar o professor de teatro e de história juntos. Cada um tem que ter seu espaço e não pode, por exemplo, eu fazer uma apresentação [...]
Outro esclarecimento de E5 é sobre o planejamento da integração de
conteúdos frente à deficiência da organização do sistema gestão de pessoal. Ele diz
que é uma
[...] questão da carga horária. O professor é obrigado a cumprir uma carga horária. Outro problema também que a gente enfrenta é que o professor, ele [sic] tem que ter 32 aulas se tem 40 horas. Muitas vezes no ProEMI ele não consegue chegar a 32 aulas, aí ele tem que pegar aula no Regular para completar a carga horária. E aí já complica porque toda semana nós temos reunião com os professores, mas nunca conseguimos botar 100% dos professores do Programa, porque ele tá [sic] dando aula e sempre tem um professor dando aula. Tem essa dificuldade. O projeto é maravilhoso, mas tem esse porém, e não foram encontradas as soluções para resolver isso.
O Projeto de Redesenho Curricular da Escola 2, de Santa Catarina, que
102
seria a materialização das intenções da comunidade escolar na organização do
currículo a ser seguido, formatado com autonomia para escolher os macrocampos
optativos adequados à realidade escolar desapareceu com a fixação de uma grade
curricular por disciplinas com prioridade nas áreas de conhecimento da cultura e
esporte, em detrimento de todos os macrocampos. Os macrocampos optativos
escolhidos, neste caso, passam a ser obrigatórios em Santa Catarina e suprimem
outras oportunidades educacionais existentes nos demais macrocampos optativos
para a composição de currículo com componentes eminentemente nucleares e
integrados. Seguindo esse pensamento, em uma análise mais atenta do quadro 2,
observa-se que o estado de Santa Catarina não prevê, mesmo que por meio de
disciplinas, atividades nos macrocampos Acompanhamento Pedagógico, Iniciação
Científica e Pesquisa, Leitura e Letramento e Participação Estudantil. É como um
caminho que leva a um tipo de formação integral:
Indivíduos privados de mediações entre a locução e o pensamento são automaticamente assimilados na totalidade racional, tornam-se indivíduos unidimensionais. A responsabilidade da crítica não faz mais sentido, e, mesmo quando faz, trata-se de imitações e reprodução de jargões panfletários (SILVA; COLONTONIO, 2014, p. 624).
No entender de Nosella (2011, p. 1.062), a oportunidade educacional do
currículo deve ser “estruturad[a] por um núcleo de ensinamentos rigorosos,
necessários para o jovem se tornar um homem moderno, e por um conjunto de
atividades livremente escolhidas”. A escolha, neste caso das atividades que são
oferecidas pela escola, foram previamente definidas por um processo de
verticalização da política educacional. Tal perspectiva afasta a estratégia de ação
pedagógico-curricular a ser seguida para a “formação do sujeito em múltiplas
dimensões, portanto, omnilateral – e da superação da dualidade estrutural da
sociedade e da educação brasileiras” (RAMOS, 2011, p. 775-776), dando distinção de
importância a dois macrocampos optativos.
As evidências, em Santa Catarina, são de que no estado, mesmo com o
ProEMI assumido como Programa, a adoção de estratégias de composição do
currículo de forma verticalizada como política educacional e fragmentada na práxis
escolar, indica distanciamento de uma formação humana integral com base unitária.
No Rio Grande do Sul, na essência, também existe uma política educacional
verticalizada e, embora a estratégia seja diferente, indicando uma formação
103
onmilateral, ainda persiste a fragmentação curricular que atua contra uma formação
humana integral.
Moehlecke (2012), sobre o Ensino Médio e as novas diretrizes curriculares
nacionais, que são a base atual de organização curricular no ProEMI, desvela que as
discussões atuais das políticas educacionais curriculares são representadas por:
Essa proposta de currículo e identidade definidas para o ensino médio, que lhe atribuem um caráter tanto unificado quanto diversificado, parece ser a principal mudança trazida pelas novas DCNEM em 2011, ao mesmo tempo em que seu maior desafio, especialmente em termos de sua consolidação nas ações efetivas dos sistemas de ensino e das escolas (MOEHLECKE, 2012, p. 55).
As análises do programa federal, no seu contexto de práxis, revelam essa
constatação de dificuldades de ações efetivas para uma formação humana integral
com base unitária e emancipatória nos dois estados. Dadas todas as considerações
do referencial teórico, o resultado é que a formação humana integral, nos dois
sistemas de ensino analisados, passa a ser utopia ou limitada, dada a referência numa
concepção restrita da função social da Educação Média e da inexistência de
determinadas condições objetivas para implantá-las.
104
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises desta pesquisa percorreram o objetivo de investigar a aplicação
da proposta de redefinição curricular do MEC, a fim de promover um currículo flexível
para o Ensino Médio, tendo como lócus as orientações do ProEMI, as adaptações na
aplicação do Programa e o redesenho curricular nas escolas estaduais de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. O resultado da aplicação do Programa foi analisado
como forma de identificar elementos que confirmassem movimentos para uma
formação humana integral, dadas as narrativas sobre o tema nos documentos oficiais,
na formulação teórica de pesquisadores e no objetivo proposto para a sociedade de
promover um Ensino Médio de qualidade.
Na lógica histórica, a identificação do papel do Ensino Médio foi algo
necessário para se observar o tratamento que essa etapa da educação teve, a partir
da redemocratização brasileira, nas políticas educacionais nacionais. Percebeu-se
que, com a superação da década da redemocratização, a Constituição Federal passa
a ser o marco definidor das prioridades educacionais a partir de 1988 que levaram o
Ensino Médio a ficar, por mais duas décadas, sem a garantia de recursos financeiros
e de movimentos de ordem legal para sua universalização. Decorre desse fato a
estratégia do Estado de priorizar o Ensino Fundamental, na Constituição, antes
mesmo do Acordo Internacional para a Educação aferido em Jomtien. O tratamento
observado a partir de 1988, nas políticas públicas, é de que a universalização do
Ensino Médio era algo secundário e para o futuro. Dessa forma, as expectativas de
setores do campo democrático e popular da sociedade de promover uma educação
emancipadora e universal ainda permanecem no campo das utopias.
A compreensão desse caminho elucida as identidades que hoje
contextualizam a realidade educacional do Ensino Médio, onde figura uma
organização curricular técnica e propedêutica remanescente da década de 1980, com
uma alteração significativa em 1998 nas DCNEM, a fim de introduzir as orientações
dos princípios de competência e habilidade, e separação do Ensino Profissional do
Ensino Médio. Nesse percurso, ocorre, em 2004, a integração do Ensino Médio com
a educação profissional de forma a corrigir uma política distante de uma escola
unitária, e as novas DCNEM surgem como a proposta de um currículo de caráter tanto
unificado quanto diversificado. Da mesma forma, mostram o contorno da disputa
na sociedade para com o Ensino Médio, entre as visões voltadas ao capital e para os
105
trabalhadores.
O início da década de 1990 é marcado por políticas educacionais que se
caracterizaram por um modelo de educação compensatória e formatada dentro de
estruturas físicas que se configuraram emblematicamente nos CAIC destinados à
educação fundamental e a projetos profissionalizantes. O Ensino Médio fica restrito à
possível expansão progressiva da matrícula sem obrigatoriedade e a uma retirada
ainda maior de sua fonte de financiamento com a criação do FUNDEF. A
universalização, desse modo, mesmo com a LDB em 1996, ficou relegada aos
movimentos da própria sociedade na busca crescente do Ensino Médio, que é
observada como consequência da democratização do Ensino Fundamental e por
exigência do mercado de trabalhadores com formação flexível.
A trajetória do Ensino Médio, da LDB ao PNE de 2014, é marcada por
perspectivas pedagógicas distintas, uma de reforço à dualidade estrutural e outra de
consolidação de uma formação integral, que nortearam as políticas educacionais do
Ensino Médio a partir de diretrizes curriculares, decretos, leis e emendas
constitucionais. O fato importante, além do FUNDEB, é a regulamentação da
obrigatoriedade constitucional do Ensino Médio, que passa a ser um desafio para o
PNE de 2014-2024 e onde estão estabelecidas as premissas da universalização. O
desafio passa a ser atacado com propostas de um Ensino Médio mais atrativo ao
acesso de forma a garantir a permanência dos jovens em uma educação para a
cidadania, princípios da universalização (CURY, 2002), que recebem uma formatação
com o ProEMI, levado ao CNE para sua institucionalização e é tratado como uma
experiência a induzir modificações nessa etapa da Educação Básica.
O ProEMI aponta para instrumentos de renovação do Ensino Médio e,
assim como a proposta de organização curricular de Ensino Médio e Ensino Médio
Integrado da UNESCO (UNESCO, 2011), evidencia-se como um Programa em teste
e suscetível a mudanças em sua orientação no transcurso de sua aplicação ou
adaptações decorrentes da autonomia da rede de ensino e da escola no âmbito
estadual. O constatado ressalta os movimentos de aprimoramento ocorridos de 2009
a 2014 nos documentos orientadores do MEC, que procuraram trazer elementos
novos para a prática da integração curricular e por adaptação conceitual, como
analisada, advinda do sistema de educação do Rio Grande do Sul. A lógica
encontrada era de introduzir novas atividades pedagógicas e de componentes
curriculares no ciclo de publicações dos documentos orientadores, que deram o
106
contorno da formatação do Projeto de Redesenho Curricular em sucessivas
modificações conceituais e de nomenclatura e concretizaram as grandes áreas de
conhecimento para a interdisciplinaridade no formato de macrocampos. No caso dos
macrocampos, elemento fundamental para compor o Projeto de Redesenho
Curricular, os testes levaram a modificações e unificações em movimentos de
mudança de enfoque e utilização, de não obrigatórios para obrigatórios e de
aproximação de mais de uma área de conhecimento.
Os movimentos dentro do ProEMI sugerem uma aparente mudança de
perspectiva pedagógica do MEC, em rompimento com as diretrizes curriculares
envoltas na globalização das concepções atreladas às competências e habilidades
produtivistas. Notadamente, são movimentos que vão além e permeiam a identidade
atual do Ensino Médio, e, na conjuntura, são expressos por um conjunto de
modificações legais que tentam amenizar os efeitos da dualidade estrutural ou a
dicotomia entre ensino regular propedêutico e profissional, regulamentação da
obrigatoriedade e universalização, financiamento e a organização curricular.
No campo pedagógico, o Programa incorpora as novas DCNEM, que
reforçam a utilização de princípios educativos e pedagógicos na organização
curricular, como já vinha sendo sugerido nos documentos orientadores do MEC, com
base no trabalho e pesquisa. Novamente, são movimentos que sugerem uma
perspectiva pedagógica para uma formação humana integral, que, em função da
autonomia de organização do SEE, pode ser adotada, ou ainda, pela fragilidade do
próprio funcionamento da educação brasileira, sem um sistema nacional de educação,
que permite a pouca assimilação de políticas curriculares (MOEHLECKE, 2012). Essa
assimilação suscitou outro movimento do MEC, que propôs um pacto para a formação
docente, no intuito de atualizar os conhecimentos e aproximar a nova realidade das
diretrizes curriculares nacionais às escolas.
Nesse contexto de fragilidade do funcionamento da educação, ocorrem
adaptações e inovações na organização do currículo escolar com a adesão dos
governos estaduais e do Distrito Federal aos programas ofertados pelo ente federal.
No entanto, essa oferta, no ProEMI, ocorre, na conjuntura, por consequência de dados
estatísticos nada animadores do Ensino Médio e por disputa do modelo de formação
que se pretende ofertar. O MEC, em virtude da adesão, indica, no documento
orientador do Programa, as estratégias pedagógicas a serem seguidas, que
invariavelmente sofrem adaptações e dão um contorno próprio para o SEE em sua
107
aplicação nas escolas estaduais. Como analisado nesta pesquisa, existe um
reconhecimento dessa realidade pelo governo federal, que pouco pode fazer haja
vista a sua incapacidade legal de obrigar os estados a seguirem, tacitamente, os
documentos orientadores, por critério de autonomia administrativa dos entes
federados. No uso da mesma autonomia, os governos estaduais fazem valer suas
propostas curriculares em programas organizados na esfera estadual, que, no caso
desta pesquisa, foram identificados em cada estado e de forma diferenciada.
Especificamente, no caso do Rio Grande do Sul, o Ensino Médio Politécnico
influenciou, inclusive, a incorporação de sua inovação na organização curricular
representada nos Seminários Integrados, no documento orientador do MEC para o
Programa em um movimento de adaptação.
Acerca das adaptações analisadas na esfera estadual do ProEMI, elas
ocorrem também em um modelo de gestão educacional orientada na década de 1990
sob o paradigma neoliberal, que não foi modificado e persiste com os movimentos de
transferência de responsabilidade aos governos estaduais e às escolas, em uma
perspectiva de privatização. Como se constata, é nesse modelo de gestão da
educação que são instrumentalizadas as atuais propostas de políticas educacionais,
e não é diferente em Santa Catarina, onde o estado aderiu ao Programa e está
ofertando-o em número reduzido de matrículas, em um movimento de aparente teste.
O Rio Grande do Sul, de forma mais essencial (MÉSZÁROS, 2005), aderiu ao ProEMI
e implantou o Ensino Médio Politécnico como identidade em quase a totalidade das
matrículas do Ensino Médio, coexistindo com o Ensino Médio Integrado.
O fato de existirem adaptações no ProEMI nos estados, como desvelado
no objeto da análise e nas entrevistas, reforça o uso da autonomia dos estados em
propor propostas curriculares que se aproximam ou divergem da norma federal do
Programa, como o uso do programa federal para aportar recursos nas escolas
estaduais, ou consolidar, como no caso de Santa Catarina, um teste de organização
curricular idêntica ao que orienta a UNESCO (UNESCO, 2011). Assim, observam-se
aproximações do Ensino Médio Politécnico no Rio Grande do Sul ao ProEMI com a
incorporação do Seminário Integrado como forma de integração curricular, no
documento orientador do Programa, e uma caracterização, em Santa Catarina, do
Ensino Médio Integral com o proposto pelo organismo internacional que engessa e
fragmenta o currículo escolar.
As adaptações no Rio Grande do Sul apontam para o não reconhecimento
108
do ProEMI como política educacional no SEE e na verticalização da organização
curricular com a adoção do Seminário Integrado como componente curricular para a
integração disciplinar, que, diferentemente das orientações do Programa, deveriam
ocorrer no contexto da escola. Na prática, a escola não concebe o seu Projeto de
Redesenho Curricular, como orientado no Programa, ou seja, apresenta ao MEC um
Projeto de Redesenho Curricular e conduz a organização curricular sem os
macrocampos para subsidiarem as atividades pedagógicas. No campo pedagógico
ficam evidentes as aproximações do Programa com Ensino Médio Politécnico, que
interage claramente com os eixos constituintes do Ensino Médio e com assento na
categoria trabalho e na pesquisa. Tais contextos pedagógicos configuram o cenário
construído para uma escola politécnica e, com as devidas ressalvas, essa proposta
apresenta dificuldades no êxito frente à realidade brasileira da presente dualidade
educacional (KRAWCZYK, 2011). Essa assertiva de dificuldades é confirmada com o
tipo de organização curricular, por disciplinas, que inclui como componente curricular
o Seminário Integrado, e este se desloca para sua individualidade disciplinar,
descumprindo o papel de integração e reproduzindo a fragmentada divisão social do
trabalho no capitalismo.
A trajetória de Santa Catarina para a implantação do ProEMI fica mais clara
nas escolas, pois não só o estado adotou o Programa com o mesmo nome, como, de
fato, ele existe no SEE. Assim, os desafios educacionais do Ensino Médio passam a
ser discutidos sob a órbita também do Programa, que é usado para cumprir os
objetivos, traçados pelo MEC e da SED, de tornar o Ensino Médio mais atrativo com
um currículo flexível. A análise dos dados mostra que o estado trata o Programa de
maneira formal como indica MÉSZÁROS (2005) para a abrangência das políticas
educacionais, por não atender à totalidade dos alunos dessa etapa educacional, o que
restou demonstrado pelo reduzido número de matrículas no Programa em
comparação com o Ensino Médio regular. O estado, também, caminhou na busca de
uma identidade para o Ensino Médio, instituindo o Programa Ensino Médio Integral,
que foi referenciado nas orientações da UNESCO para uma intervenção na
organização curricular com temas transversais e com disciplinas por áreas de
conhecimento. Assim, o ProEMI passa a receber influência do Programa estadual e
da UNESCO, que redesenha uma proposta curricular que trata de macrocampos,
porém adota disciplinas no campo da cultura e esportes para construir a parte
diversificada do currículo no contraturno, minorando os demais campos de
109
conhecimento para orientar a integração curricular. A fragmentação curricular, dessa
forma, continua a persistir na práxis escolar e a interdisciplinaridade aparenta-se
distante entre as disciplinas obrigatórias e as diversificadas, sem um diálogo de
integração com os demais macrocampos. A lógica produtivista é identificada com o
tema transversal dito como prioritário do empreendedorismo, que orienta práticas
pedagógicas com a categoria “trabalho” na lógica do capital. Do ponto de vista das
aproximações com o ProEMI, o Programa estadual de Santa Catarina referencia-se,
também, nas DCNEM e na práxis escolar utiliza-se o aumento da carga horária.
Do ponto de vista do alcance dos programas para uma formação humana
integral, ambos foram analisados, e o fato é que é difícil propor uma educação
emancipadora com práticas curriculares, disciplinares ou não, que ainda se colocam
à mercê da fragmentação do conhecimento. Um caso analisado e emblemático foi do
Seminário Integrado do Rio Grande do Sul, cujo referencial teórico para sua
constituição advém também da matriz de orientação da UNESCO (UNESCO, 2011)
para o Ensino Médio, que tem como foco a educação voltada para o aluno e a
possibilidade de apropriação de conhecimento por processos de experimentação. Tal
orientação produtivista é questionada por quem tem a formação humana integral como
instrumento de emancipação, e a pesquisa, como princípio pedagógico, tem que
necessariamente partir do conhecimento já adquirido pelo aluno (SAVIANI, 2008b).
A proposta curricular flexível, que deveria ser algo articulado com as
escolas e figurando em um Projeto de Redesenho Curricular, como orienta o ProEMI,
foi descartada em ambos os estados e nas escolas analisadas. Assim, sem
configuração do Projeto de Redesenho Curricular de forma democrática, o estado
passa a controlar o currículo de forma vertical (CARBONELL, 2002). O que se analisou
é que, em ambos os estados, não existem Projetos de Redesenho Curricular. O
currículo, como instrumento de uma formação humana integral, agora sai totalmente
da influência da comunidade escolar, e a autonomia da escola reduz-se à utilização
dos recursos financeiros no desenvolvimento de projetos pedagógicos e na
infraestrutura escolar.
O processo de inovação curricular, sem a garantia de uma formação
humana integral e verticalizado, como analisado, passa por temas transversais, novos
componentes curriculares, disciplinas no contraturno e projetos de pesquisa, dada a
ênfase para diversas áreas de conhecimento tanto do ProEMI quanto dos programas
estaduais, que dialogam entre si por adaptações e simetrias.
110
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120
ANEXOS
121
ANEXO A - Roteiro de entrevista semiestruturada para Coordenação Geral do
Ensino Médio da SEB/MEC
Dados pessoais (idade, tempo de magistério, tempo na função atual, formação
acadêmica).
1. Quais os principais desafios que estão colocados na atualidade para o Ensino
Médio brasileiro?
2. Como romper com o dualismo educacional no Ensino Médio no Brasil?
3. Quais os principais desafios para a garantia da universalização do Ensino Médio
até 2016, considerando-se os indicadores atuais de acesso e permanência?
4. Quais os limites e as possibilidades das políticas para o Ensino Médio num cenário
em que esta etapa da Educação Básica é predominante nos estados e Distrito
Federal, e considerando, ainda, que grande parte das propostas de sua mudança
e reforma decorre do governo federal?
5. Que fatores contribuem para a evasão e a repetência no Ensino Médio brasileiro?
6. Que políticas, programas e ações contribuem para a universalização do Ensino
Médio com qualidade social no país?
7. De forma as DCNEM respondem aos desafios atuais?
8. O que as DCNEM propõem/estabelecem em termos curriculares?
9. Qual a identidade do Ensino Médio? E a opção do MEC pelo ProEMI?
10. Quais indicadores foram os que determinaram a formulação do ProEMI? Por quê?
É a continuidade do Promed?
11. Por meio do ProEMI é possível garantir sólida formação teórica mais o preparo
dos alunos para o mundo do trabalho?
12. Do ponto de vista da teoria ou das concepções pedagógicas, onde o ProEMI situa-
se?
13. A frequência às atividades de lazer e cultura interfere no processo formativo dos
estudantes da Educação Básica? Por que e em que medida?
14. Os macrocampos apresentados no ProEMI configuram as inovações? São os
indutores de um novo redesenho do currículo na escola?
15. O que é o ProEMI na sua visão? Ele induz ações extracurriculares? Ele induz à
fragmentação do currículo na escola?
122
16. Qual o lugar das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como
instrumentos de inovação no ProEMI?
17. O trabalho, cultura, ciência e tecnologia são os princípios da integração curricular
ou da interdisciplinaridade no ProEMI? Quais aproximações e distanciamentos do
ProEMI em relação ao crescente consenso nos meios educacionais de vanguarda
e na sociedade civil organizada no sentido do Ensino Médio Integrado, na sua
perspectiva teórica, política e ideológica incorporada nos documentos da
Conferência Nacional de Educação (CONAE)?
123
ANEXO B - Roteiro de entrevista semiestruturada para Coordenação Geral do
Ensino Médio da SED
Dados pessoais (idade, tempo de magistério, tempo na função atual, formação
acadêmica):
1. Quais os principais desafios que estão colocados na atualidade para o Ensino
Médio no estado do Rio Grande do Sul?
2. Como romper com o dualismo educacional no Ensino Médio no estado do Rio
Grande do Sul?
3. Quais os principais desafios para a garantia da universalização do Ensino Médio
até 2016, considerando-se os indicadores atuais de acesso e permanência no Rio
Grande do Sul?
4. Quais os limites e as possibilidades das políticas para o Ensino Médio num cenário
em que esta etapa da Educação Básica é predominante executada na
dependência administrativa dos estados, e considerando, ainda, que grande parte
das propostas de sua mudança e reforma decorre do governo federal?
5. Que fatores contribuem para a evasão e a repetência no Ensino Médio no Rio
Grande do Sul?
6. Que políticas, programas e ações contribuem para a universalização do Ensino
Médio com qualidade social no Rio Grande do Sul?
7. De forma as DCNEM respondem aos desafios atuais?
8. Qual a identidade do Ensino Médio? E a opção da SED pelo ProEMI foi por essa
perspectiva?
9. A SED adotou algumas adaptações na implantação do ProEMI? Alguma outra
norma ou documento orientador?
10. Quais indicadores foram os que determinaram a adoção do ProEMI? Por quê? O
Programa é a única proposta (a reorganização do tempo, dos espaços, do
currículo, das práticas pedagógicas; o acompanhamento dos dados do fluxo
escolar e dos recursos financeiros) no Rio Grande do Sul para o enfrentamento
do abandono e da reprovação escolar?
11. Por meio do ProEMI é possível garantir sólida formação teórica mais o preparo
dos alunos para o mundo do trabalho?
124
12. Do ponto de vista da teoria ou das concepções pedagógicas, onde Ensino Médio
e o ProEMI se alicerçam no Rio Grande do Sul?
13. A SED analisou o interesse dos jovens por conteúdos no processo formativo no
Rio Grande do Sul? Possui algum dado de pesquisa?
14. Os macrocampos apresentados no ProEMI configuram as inovações? São os
indutores de um novo redesenho do currículo na escola?
15. O que é o ProEMI na sua visão? Ele induz ações extracurriculares? Ele induz à
fragmentação do currículo na escola?
16. Qual o lugar das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como
instrumentos de inovação no ProEMI?
17. O trabalho, cultura, ciência e tecnologia são os princípios da integração curricular
ou da interdisciplinaridade no ProEMI? Quais aproximações e distanciamentos do
ProEMI em relação ao crescente consenso nos meios educacionais de vanguarda
e na sociedade civil organizada no sentido do Ensino Médio Integrado, na sua
perspectiva teórica, política e ideológica incorporada nos documentos a CONAE?
125
ANEXO C - Roteiro de entrevista semiestruturada para Coordenação Geral do
Ensino Médio da SED
Dados pessoais (idade, tempo de magistério, tempo na função atual, formação
acadêmica):
1. Quais os principais desafios que estão colocados na atualidade para o Ensino
Médio em Santa Catarina?
2. Como romper com o dualismo educacional no Ensino Médio em Santa Catarina?
3. Quais os principais desafios para a garantia da universalização do Ensino Médio
até 2016, considerando-se os indicadores atuais de acesso e permanência em
Santa Catarina?
4. Quais os limites e as possibilidades das políticas para o Ensino Médio num cenário
em que esta etapa da Educação Básica é predominante executada na
dependência administrativa do estados, e considerando, ainda, que grande parte
das propostas de sua mudança e reforma decorre do governo federal?
5. Que fatores contribuem para a evasão e a repetência no Ensino Médio em Santa
Catarina?
6. Que políticas, programas e ações contribuem para a universalização do Ensino
Médio com qualidade social em Santa Catarina?
7. De que forma as DCNEM respondem aos desafios atuais?
8. Qual a identidade do Ensino Médio? E a opção da SED pelo ProEMI foi por essa
perspectiva?
9. A SED adotou algumas adaptações na implantação do ProEMI? Alguma outra
norma ou documento orientador?
10. Quais indicadores foram os que determinaram a adoção do ProEMI? Por quê? O
Programa é a única proposta (a reorganização do tempo, dos espaços, do
currículo, das práticas pedagógicas; o acompanhamento dos dados do fluxo
escolar e dos recursos financeiros) em Santa Catarina para o enfrentamento do
abandono e da reprovação escolar?
11. Por meio do ProEMI é possível garantir sólida formação teórica mais o preparo
dos alunos para o mundo do trabalho?
126
12. Do ponto de vista da teoria ou das concepções pedagógicas, onde Ensino Médio
e o ProEMI se alicerçam em Santa Catarina?
13. A SED analisou o interesse dos jovens por conteúdos no processo formativo no
Santa Catarina? Possui algum dado de pesquisa?
14. Os macrocampos apresentados no ProEMI configuram as inovações? São os
indutores de um novo redesenho do currículo na escola?
15. O que é o ProEMI na sua visão? Ele induz ações extracurriculares? Ele induz à
fragmentação do currículo na escola?
16. Qual o lugar das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como
instrumentos de inovação no ProEMI?
17. O trabalho, cultura, ciência e tecnologia são os princípios da integração curricular
ou da interdisciplinaridade no ProEMI? Quais aproximações e distanciamentos do
ProEMI em relação ao crescente consenso nos meios educacionais de vanguarda
e na sociedade civil organizada no sentido do Ensino Médio Integrado, na sua
perspectiva teórica, política e ideológica incorporada nos documentos a CONAE?
127
ANEXO D - Roteiro de entrevista semiestruturada para diretor, coordenador do
ProEMI, professor de Português e Matemática
Dados pessoais (idade, tempo de magistério, tempo na função atual, formação
acadêmica):
1. Como você identifica o contexto educacional no Ensino Médio da escola antes do
ProEMI? É um contexto somente dessa escola ou pode ser retratado no sistema
estadual? Era essencialmente curricular? Provocava a evasão e a repetência no
Ensino Médio aqui na escola?
2. Que visão você tem do ProEMI? (aqui, deve-se buscar extrair do professor se ele
tem uma visão de “desconfiança, como algo injustificado, incomum ou até
perigoso” (JORGE, 1994, p. 21). É uma visão a partir de análise bibliográfica, de
formação continuada ou do processo de elaboração do Projeto de Reestruturação
Curricular (documento orientador)? Você fez uma leitura do documento orientador
do ProEMI?
3. O Projeto de Reestruturação Curricular elaborado pela escola é uma proposta que
inova no currículo em que ponto? Foi um processo democrático de construção e
incorporou propostas da comunidade escolar? Você teve acesso ao PRC de que
forma? Você o usa na elaboração do plano de curso?
4. Os macrocampos escolhidos para o Projeto de Reestruturação Curricular atendem
à interdisciplinaridade e à integração curricular com disciplina (Português ou
Matemática) em que você atua? Os componentes curriculares criados (novas
disciplinas, atividades curriculares ou ações complementares) melhoram o
desempenho do aluno na sua disciplina? De que forma a interdisciplinaridade e a
integração curricular são conceituadas e praticadas na escola? É o que você
pensa e pratica como ação interdisciplinar com outros componentes curriculares
criados?
5. Quais os resultados (a reorganização do tempo, dos espaços, do currículo, das
práticas pedagógicas; o acompanhamento dos dados do fluxo escolar e dos
recursos financeiros) que você observa, na escola, com a implantação do ProEMI?
Existem limites que podem ser superados e de que forma?
128
6. Você consegue identificar o novo currículo na escola? Quais as atividades
extracurriculares que você identifica? O componente curricular dos macrocampos
............................(aqui temos que ver as escolhas de macrocampos optativos e a
grade curricular criada) interage com sua disciplina? De que forma?
7. Dos eixos constituintes do Ensino Médio previstos nas DCNEM (trabalho e
pesquisa como princípios educativos e pedagógicos; educação em direitos
humanos como princípio nacional norteador; sustentabilidade ambiental como
meta universal; indissociabilidade entre educação e prática social) a escola
prioriza qual? Como você introduz na disciplina conteúdos de integração das
dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura? É uma orientação
dada dentro do ProEMI?
8. Por meio do ProEMI é possível garantir sólida formação teórica mais o preparo
dos alunos para o mundo do trabalho?
9. Do ponto de vista da teoria ou das concepções pedagógicas (aqui o referencial
teórico é o dado por Saviani), onde o ProEMI se situa? Você utiliza que
instrumentos pedagógicos para sua mediação da aprendizagem e transferência
do conjunto de conhecimentos sistematizados? Você segue que pedagogo na
formulação do plano de curso ou das suas aulas?
10. Voltando aos macrocampos apresentados no ProEMI, pode-se dizer que eles
configuram as inovações? São os indutores de um novo redesenho do currículo
na escola? Ele induz ações extracurriculares? Ele induz à fragmentação do
currículo (aqui o referencial é o dado por Saviani, Ramos e Kuenzer) na escola?
11. Qual o lugar das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como
instrumentos pedagógicos de inovação no ProEMI aqui na escola? São os mais
valorizados?
12. O ENEM é um instrumento de avaliação da qualidade na escola? Qual a
orientação que você recebe sobre o ENEM?
129
ANEXO E - Grade curricular do Ensino Médio da Escola 1 do estado do Rio
Grande do Sul
130
ANEXO F - Matriz curricular do Ensino Médio da Escola 2 de Santa Catarina
131
132