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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
ANA CAROLINA SILVA PEREIRA
(IN) CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 11.705/2008 NA COMPROVAÇÃO DE SUAS INFRAÇÕES
Uma análise frente aos princípios e garantias fundamentais
Biguaçu
2010
2
ANA CAROLINA SILVA PEREIRA
(IN) CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 11.705/2008 NA COMPROVAÇÃO DE SUAS INFRAÇÕES
Uma análise frente aos princípios e garantias fundamentais
Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Msc. Rita de Cássia Pacheco
Biguaçu 2010
3
ANA CAROLINA SILVA PEREIRA
(IN) CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 11.705/2008 NA COMPROVAÇÃO DE SUAS INFRAÇÕES
Uma análise frente aos princípios e garantias fundamentais
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e
aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas.
Área de Concentração:
Biguaçu, 31 de maio de 2010.
Prof. Msc. Rita de Cássia Pacheco UNIVALI – Campus de Biguaçu
Orientador
Prof. Msc. Eunice Anisete de Souza Trajano UNIVALI – Campus de Biguaçu
Membro
Prof. Msc. Celso Wiggers UNIVALI – Campus de Biguaçu
Membro
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a minha mãe Márcia Pereira que sempre foi fonte de
inspiração e que foi meu alicerce nos momentos mais difíceis sempre me fazendo
ver que algumas coisas são passageiras, mas que aprendemos e crescemos muito
com elas.
Ao meu pai Edson Pereira e a minha avó Elvira Campos da Silva pela ajuda,
carinho, pois sem isto certamente não estaria aqui.
Ao meu padrasto Joel Antonio Pereira Muniz pelos conselhos, apoio e
principalmente paciência por tudo que aconteceu até este momento.
A minha orientadora Rita de Cássia Pacheco pela paciência e
disponibilidade para ministrar o conteúdo a ser defendido neste trabalho.
A Universidade do Vale do Itajaí, instituição ao qual passei os últimos sete
anos estudando.
E principalmente a Deus, por mais esta etapa da minha vida que se encerra
depois de uma longa caminhada, abrindo-se novos horizontes.
6
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Biguaçu, 31 de maio de 2010.
Ana Carolina Silva Pereira
7
RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo verificar se as
alterações introduzidas no CTB pela chamada Lei Seca (Lei nº 11.705/2008) são
admissíveis em nosso ordenamento jurídico frente aos princípios e garantias
constitucionais. A hipótese que deflagrou a pesquisa que serviu de base para a
monografia consistiu na idéia de que as mudanças decorrentes da Lei 11.705/2008
seriam inconstitucionais na medida prevista no art. 277, §3º e na infração tipificada
no art. 306 do CTB, estaria por afrontar os princípios da proporcionalidade, da
razoabilidade, da ampla defesa e da presunção de inocência, além das garantias
constitucionais do direito ao silêncio e do direito de não produzir provas contra si. No
entanto, sua aceitação resulta da análise mais aprofundada, vez que foi introduzida
em nosso ordenamento jurídico com o intuito de assegurar o direito à vida, em razão
do elevado número de acidentes automobilísticos causados por condutores de
veículos automotores em estado de embriaguez. Ao mesmo tempo a Lei Seca é
considerada rigorosa, pois, ao estabelecer a quantidade de seis decigramas de
álcool por litro de sangue, acabou por gerar alguns equívocos, pois, por exemplo, se
uma pessoa consumiu dois bombons de licor ou mesmo utilizou enxaguante bucal
com álcool, poderia o teste de alcoolemia acusar a incidência de teor alcoólico.
Assim, visando esclarecer o dilema, trataram-se dos princípios e garantias
constitucionais, infrações e poder de polícia, além do problema propriamente dito,
discorrendo sobre as mudanças realizadas no CTB com a vigência da Lei nº
11.705/2008, destacando-se os posicionamentos favoráveis e desfavoráveis a
mesma. A problemática ora levantada continua vez que, alguns autores defendem a
constitucionalidade da Lei Seca, pois esta foi elaborada para garantir o direito à vida
e outros autores defendem sua inconstitucionalidade visto que atinge aos princípios
e outras garantias elencados em nossa Carta Magna.
Palavra-chave: princípios constitucionais – garantias – infração de trânsito – poder
de polícia – lei nº 11.705/2008.
8
ABSTRACT
This conclusion of course works aims to verify whether the amendments made by
calling the CTB Prohibition (Law No. 11.705/2008) are permitted in front of our legal
principles and constitutional guarantees. The hypothesis that sparked the research
that formed the basis for the monograph was the idea that the changes arising from
Law 11.705/2008 would be unconstitutional to the extent provided in Art. 277 and in
violation typified in Art. 306 of CTB in the sense of what was to defy the principles of
proportionality, rationality, legal defense, the adversarial and the presumption of
innocence, beyond the constitutional guarantees of the right to remain silent and the
right not to give evidence against himself. However, their acceptance results from
further analysis, since it was introduced into our legal system in order to ensure the
right to life, due to the high number of car accidents caused by drivers of motor
vehicles while intoxicated. While Prohibition is considered accurate, because, in
setting the amount of six decigram of alcohol per liter of blood, eventually generate
some mistakes, because if a person consumed two chocolate liquor or even use
mouthwash with alcohol, may exceed the percentage set out in art. 306 of the CTB.
Thus, in order to clarify the dilemma, this was the principles and constitutional
guarantees, infringements and police power, beyond the problem itself, discussing
the changes made in the CTB with the enactment of Law No. 11.705/2008,
highlighting the positions favorable and unfavorable to it. The issue now raised is still
time, some authors defend the constitutionality of Prohibition, because it was
designed to guarantee the right to life and others defend their unconstitutional
because it reaches to the principles and other securities listed in our Constitution.
Keyword: constitutional principles - security - traffic infraction - police powers – Law
nº 11.705/2008.
9
ROL DE ABREVIATURAS OU SIGLAS
Art. – Artigo
ABRASEL – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
CP – Código Penal
CPP – Código de Processo Penal
CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito
CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
CTB – Código de Trânsito Brasileiro
DETRAN – Departamento Estadual de Trânsito
ONU – Organização das Nações Unidas
STF – Supremo Tribunal Federal
TRF – Tribunal Regional Federal
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 12
1 PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS ........................... 15
1.1 PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE .......................................................... 15
1.2 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE ................................................. 19
1.3 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA ......................... 23
1.3.1 Princípio do Contraditório ................................................................ 23
1.3.2 Princípio da Ampla Defesa ............................................................... 26
1.4 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA......................................... 27
1.5 DIREITO AO SILÊNCIO ....................................................................... 30
1.6 DIREITO À VIDA ................................................................................. 33
1.7 DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVAS CONTRA SI................................ 36
2 INFRAÇÃO E PODER DE POLÍCIA .................................................. 39
2.1 INFRAÇÃO ........................................................................................ 39
2.1.1 Infração Penal................................................................................. 39
2.1.2 Infração de Trânsito ........................................................................ 42
2.2 PODER DE POLÍCIA ........................................................................... 47
2.2.1 Conceito ........................................................................................ 48
2.2.2 Características................................................................................ 52
2.2.3 Polícia Administrativa...................................................................... 54
2.2.4 Polícia Judiciária............................................................................. 57
3 (IN) CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 11.705/2008 NA COMPROVAÇÃO DE SUAS INFRAÇÕES - UMA ANALISE FRENTE AOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS........................... 60
3.1 MODIFICAÇÕES AO CTB, INTRODUZIDAS PELA LEI Nº 11.705/2008 ........ 60
11
3.2 CONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº 11.705/2008 NA COMPROVAÇÃO DE
SUAS INFRAÇÕES .................................................................................. 67
3.3 INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº 11.705/2008 NA COMPROVAÇÃO DE
SUAS INFRAÇÕES .................................................................................. 71
CONCLUSÃO. .......................................................................................79
REFERÊNCIAS.......................................................................................81
12
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso terá como objetivo verificar se as
alterações introduzidas no CTB pela Lei nº 11.705/2008, no tangente à suas
infrações fere princípios e garantias importantes do ordenamento jurídico pátrio.
Sua relevância para a ciência jurídica consiste na possibilidade de confrontar
princípios e garantias constitucionais com as medidas e infrações da Lei nº
11.705/08 para que, ao final possa se verificar a constitucionalidade ou
inconstitucionalidade destas. Inobstante tal lei tivesse contribuído para a redução de
acidentes automobilísticos, como demonstram estatísticas realizadas quando da sua
entrada em vigor, aponta-se que, para tanto atropelou garantias e princípios que
estão intrínsecas em nosso ordenamento jurídico. Por tais controvérsias, há a
necessidade de realmente se averiguar a legitimidade ou não da chamada “Lei
Seca”, como ficou popularmente conhecida a Lei nº 11.705/2008 na comprovação de
suas infrações.
A problemática da presente monografia consiste em responder o
questionamento ora levantado para que ao final possa se concluir se as alterações
decorrentes da Lei nº 11.705/2008 em relação à Lei de Trânsito quando
confrontados aos princípios e garantias importantes ao ordenamento jurídico pátrio,
poderão ser consideradas inconstitucionais.
A hipótese deste trabalho de conclusão de curso parte da ideia de que a Lei
Seca fere o princípio da proporcionalidade, pois não estaria atingindo a sua
finalidade social e estaria violando o princípio da razoabilidade, pois não se encontra
em consonância com os costumes e regras sociais já estabelecidas, pois, segundo
estabelecido, o legislador pressupõe que todas as pessoas sejam consideradas em
estado de embriaguez ao ingerir bebida alcoólica mesmo que em quantidade
socialmente aceitável. Busca-se ainda verificar se ferem garantias constitucionais
como a do direito ao silêncio e a da não obrigatoriedade de produzir provas contra
13
si, pois nenhuma pessoa poderá ser considerada culpada até sentença transitada
em julgado e ninguém é obrigado a fazer provas contra si mesmo.
Neste sentido nenhum indivíduo que pretenda dirigir um veículo automotor
poderá ingerir um alimento que contenha álcool, pois já estará superando a marca
de seis de decigramas de álcool por litro de sangue e estará infringindo a lei, ou não
poderá recusar-se a realizar o teste de alcoolemia, pois o agente de trânsito poderá
aplicar-lhe uma punição. Recorre-se ao princípio do “in dúbio pro réu”, uma vez que
não é pelo simples fato de haver ingerido uma pequena quantidade de álcool, que a
pessoa perde a capacidade de conduzir um veículo com segurança, devendo ser
analisado cada situação isolada (o caso concreto).
Há que se ressaltar, todavia, que as inovações trazidas pela Lei nº
11.705/2008 visam proteger o bem maior elencado em nossa Constituição, que
corresponde no direito à vida, visto que é elevado o número de acidentes causado
por indivíduos embriagados, além do fato de que os agentes de trânsito possuem
poder de polícia o que os autoriza a fiscalizar e autuar, sempre que se depararem
com situações que possam por em risco os bens protegidos pelo Estado.
O método utilizado para a confecção da presente monografia será o
dedutivo.
Para uma melhor compreensão do tema, o presente trabalho foi divido em
três capítulos assim distribuídos: princípios e garantias constitucionais; infração e
poder de polícia; (in) constitucionalidade da Lei nº 11.705/2008 (Lei Seca) na
comprovação de suas infrações frente aos princípios e garantias constitucionais.
No primeiro capítulo serão abordados os princípios e garantias
constitucionais relacionados ao tema, sendo apresentado o conceito, bem como sua
aplicação no campo jurídico, visto que serão importantes para o entendimento do
tema, pois no terceiro capítulo serão confrontos com as alterações trazidas pela Lei.
11.705/2008.
No segundo capítulo tratar-se-á das infrações no tocante a seu conceito
propriamente dito, além das infrações penais a fim de entender a aplicação dos
14
crimes de trânsito tais como o tipificado no art. 306 do CTB, bem como de infração
de trânsito sendo demonstrado seu conceito, aplicação, bem como as
consequências ao condutor de veículo automotor que inobservar as regras
elencadas no CTB. Outro ponto estudado é o poder de polícia a respeito de seu
conceito, características, bem como os tipos de polícia como a administrativa e a
judiciária, vez que serão os agentes de polícia, os fiscalizadores e aplicadores das
sanções quando se defrontarem com o cometimento de uma infração.
No terceiro capítulo se buscará desvendar o tema central da pesquisa que
consiste na verificação da constitucionalidade ou não das mudanças ao CTB
introduzidas pela da Lei 11.705/2008 (Lei Seca) na comprovação de suas infrações
frente aos princípios e garantias constitucionais antes abordados, destacando-se as
alterações levadas a efeito e ressaltando-se os posicionamentos doutrinários
contrários e favoráveis às inovações em questão. Em seguida se dá prosseguimento
à problemática ora levantada tratando da constitucionalidade e da
inconstitucionalidade visando ao final deste capítulo responder o questionamento
inicialmente proposto.
15
1 PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS
A fim de melhor compreender o debate que ensejou a presente pesquisa e
para a melhor compreensão do tema, especialmente da controvérsia que resultou na
elaboração desta monografia, no presente capítulo serão abordados os princípios
constitucionais que fundamentam os direitos em discussão. Assim serão estudados
princípios como os da proporcionalidade, da razoabilidade, da ampla defesa e da
presunção de inocência e por outro lado, serão vistos os direitos e as garantias
constitucionais como o direito à vida, a não produção de provas contra si mesmo e a
permanecer em silêncio fazendo-se menção a seus conceitos e aplicação no Direito.
Em termos conceituais, os princípios seriam as normas reguladoras do
direito, desempenhando função importante e fundamental no ordenamento jurídico.
Enquanto que, por garantia, entende-se a proteção de um interesse a ser
defendido de certo perigo iminente.
Assim, visando introduzir a matéria objeto do presente trabalho tratar-se-á
de definir os princípios e de demonstrar em que aspectos interessam ao deslinde da
problemática que ensejou esta pesquisa.
1.1 DO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE
Seria este o princípio que conduz o administrador a fazer ponderações
diante de algumas situações, visto que são proibidas ações despropositadas por
parte do Estado. Determina certa discricionariedade, evitando que haja apenas uma
única solução, ficando a cargo do administrador julgar a mais adequada.
16
Nesta direção Marcio Fernando Elias Rosa1 diz que o administrador, nas
providências a serem tomadas, deverá levar em conta valores ordinários,
pertencentes a toda comunidade e não de acordo com valores pessoais deste.
Afirma Lucia Valle Figueiredo:
[...] só se sacrificam interesses individuais em função de interesses coletivos, de interesses primários, na medida da estrita necessidade, não se desbordando do que seja realmente indispensável para a implementação da necessidade pública.2
Podendo ainda ser definido de acordo com Alexandre Moraes3 como aquele
em que o Poder Público quando da utilização de seus meios terá de agir com a
devida proporcionalidade, justiça e adequação, devendo ainda contar com critérios
racionais e coerentes quando da efetivação de suas atividades.
Menciona Paulo Magalhães da Costa Coelho:
A outorga de discricionariedade assenta no interesse público de evitar sempre em qualquer caso uma solução única, deferindo ao administrador a possibilidade de eleger uma solução ideal para ocaso concreto. Evidentemente que uma solução desarrazoada não é desejável, nem autoriza pela competência discricionária, ofendendo a própria finalidade da lei.4
Ainda a razoabilidade se torna necessária no sentido de deve ter uma
harmonização entre as pessoas em seu perfeito juízo e que ao mesmo tempo,
devem respeitar as finalidades das competências exercidas por elas, para que ao
final a Administração venha acatar a critérios respeitáveis do ponto de vista racional,
atuando, assim, com discrição em seus atos, conforme Celso Bandeira de Mello5.
1 ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito Administrativo. 6a Ed. São Paulo: Saraiva. 2004. p.
22. 2 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. 6a Ed. São Paulo:
Malheiros. 2003. p. 50. 3 MORAES, Alexandre. Direito Constitucional Administrativo. 4ª ed. São Paulo: Atlas.
2007. p. 97. 4 COELHO, Paulo Magalhães da Costa. Manual de Direito Administrativo. 1a Ed. São
Paulo: Saraiva. 2004. p. 46. 5 DE MELLO, Celso Antonio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 21a Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p. 105.
17
O doutrinador José Eduardo Martins Cardoso, em referência ao assunto
discorre:
[...] o princípio que determina à Administração Pública, no exercício de faculdades discricionárias, o dever de atuar em plena conformidade com os critérios racionais, sensatos e coerentes, fundamentados nas concepções sociais dominantes. 6
Entende Maria Sylvia Zanella7, que a razoabilidade agiria como um limite na
avaliação dos motivos tendo que ser adequado, compatível e proporcional, para que
em seu término o ato atinja sua finalidade pública específica, devendo ainda
restringir a discrição quanto à escolha do objeto, tendo de ser fiel à finalidade e para
ajudar de maneira eficaz no intuito que tal objeto seja alcançado.
Celso Antonio Bandeira de Mello8 ressalta que mesmo havendo a
discricionariedade para indicar ao administrador qual a melhor solução para o fato,
não se terá a certeza de que tal decisão seja a mais correta, ficando a encargo tão
somente de este descobrir qual é a mais adequada.
São palavras de Diógenes Gasparini:
A lei, ao conceder ao agente público o exercício da discricionariedade, não lhe reservou, em absoluto, qualquer poder para agir a seu gosto, ao contrário, impôs-lhe o encargo de agir tomando a melhor providência à satisfação do interesse público a ser conseguido naquele momento. A lei, portanto, não lhe permite, sob pena de ilegalidade, qualquer conduta não desejada pela lei, que somente aceita as coerentes.9
Assim, na produção das normas jurídicas, o Estado agirá em conformidade
com situações concretas, em que o fim a ser alcançado dependerá apenas dos
meios a serem utilizados. Tornando-se deste modo, fato de extrema importância
para a criação de direito, estando envolvidos os motivos, os fins e os meios, além de 6 CARDOSO, José Eduardo Martins. Os 10 anos da Constituição Federal. Princípios
constitucionais da administração pública (de acordo com a emenda constitucional nº 19/98). São Paulo: Atlas. 1998. p. 182. 7 PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20 ed. São Paulo: Atlas. 2007. p.
72. 8 DE MELLO, Celso Antonio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 21a Ed. São
Paulo: Malheiros. 2006. p. 106. 9 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 11a Ed. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 24.
18
outros fatores como os direitos fundamentais, a organização social, a paz, sendo a
razoabilidade a exata precisão de tais elementos, nas palavras de Luis Roberto
Barroso10.
Ainda na visão do referido doutrinador, a razoabilidade encontra seus pilares
fundados nos mesmos preceitos do princípio da legalidade e da finalidade, sendo
estes encontrados na Carta Magna em seu art. 5º.
No mesmo sentido, Alexandre de Moraes11 afirma haver uma íntima ligação
com o princípio da legalidade no que se refere ao seu aspecto material, haja vista
que os dois teriam como preceito proteger os direitos fundamentais de atos
irrazoáveis, irracionais e arbitrários por parte da Administração Pública tanto na
esfera administrativa, quanto na legislativa.
Contudo, assim como a proporcionalidade (a ser visto no item 1.2), a
razoabilidade é um princípio essencial da Constituição, não estando, porém
elencado em nenhum de seus artigos, visto ser intrínseco na mesma.
Entretanto a Lei nº 9.784/1999 que diz respeito ao processo administrativo
no âmbito da Administração Pública faz referência ao princípio explicitamente em
seu artigo 2º:
“Art. 2º - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios
da legalidade, finalidade, razoabilidade, proporcionalidade, (...)” 12 (grifou-se).
Concorda o doutrinador Diógenes Gasparini13, no sentido de que seria o
princípio da razoabilidade decorrente dos princípios da legalidade e da finalidade, e
que ainda este estaria implícito na CRFB/1988, observando ainda que se encontra
expressamente descrito na Constituição do Estado de São Paulo em seu art. 111.
Mais recentemente, com o advento da Emenda Constitucional nº 45, o Poder
Judiciário num seguimento à tradição do Pacto de São José da Costa Rica, veio por 10 BARROSO, Luiz Roberto. Principio da razoabilidade e proporcionalidade. BuscaLegis. Set. 2009. Disponível em: < http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index. php/buscalegis/article/viewFile/13898/13462>. Acesso em: 13.09.2009. 11
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 20ª ed. São Paulo: Atlas. 2007. p. 96; 12 BRASIL. Constituição Federal, Legislação Administrativa e Legislação Ambiental. 4ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico. 2006. p.790. 13
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 11a Ed. São Paulo: Saraiva. 2006, p. 25.
19
glorificar a razoabilidade como um de seus alicerces, e o art. 5º, inciso LXXVIII da
Constituição passou a conter o seguinte texto: “... a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação”, como lecionado por Luiz Augusto
Coutinho14. (grifo do autor)
Em resumo, a razoabilidade orienta que o Estado em seus atos deverá atuar
com discricionariedade em prol de uma coletividade e não em benefício de um único
indivíduo.
1.2 DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
O princípio da proporcionalidade apresenta-se com a finalidade de uma
adequada relação entre um ou vários fins determinados, surgindo um confronto
entre o fim e o meio, para que se torne possível o controle de excessos, é por esta
razão que alguns doutrinadores denominam este princípio como “controle dos
excessos”.
Um pensador neste sentido é Paulo Magalhães da Costa Coelho15 ao
afirmar que pelo princípio da proporcionalidade não será permitido o sacrifício dos
direitos individuais, a menos que em prol da necessidade de implantação dos
direitos coletivos, devendo a Administração Pública não ter atos desproporcionais,
que acabem por se tornar violadores da finalidade da lei.
É entendimento de Marcio Fernando Elias Rosa:
14
COUTINHO, Luiz Augusto. Principio da razoabilidade e a Emenda Constitucional nº 45. Jusnavegandi. Ago. 2005. Disponível em: < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7272>. Acesso em: 19.10.2009. 15
COELHO, Paulo Magalhães da Costa. Manual de Direito Administrativo. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2004. p. 47.
20
“O princípio obriga permanentemente adequação entre os meios e os fins,
banindo-se medidas abusivas ou de qualquer outro modo com intensidade superior
ao estritamente necessário”. 16
Os meios utilizados pelo Estado e os fins públicos perseguidos terão de
manter certa medida entre os mesmos, porque os poderes da Administração devem
ser empregados nos seus exatos limites, necessários aos fins a serem alcançados,
segundo Nestor Sampaio Penteado Filho17 sobre a referida matéria.
Na busca por um tratamento mais rigoroso, deverá a proporcionalidade ser
empregada como parâmetro de coibir tratamentos excessivos e inadequados, como
leciona Alexandre de Moraes.18
No âmbito do Direito Constitucional tal princípio decorre da variedade dos
direitos fundamentais, pois na ordem social foi necessária, a implantação dos
chamados direitos da segunda e da terceira geração, tais como os direitos
econômicos e culturais, sociais, além de direitos comunitários, no intuito de que tais
garantias fossem asseguradas defronte ao Estado, fazendo com que assim
nascesse um novo Estado de Direito, de acordo com os ensinamentos de Paulo
Bonavides19.
No ramo do Direito Processual Penal surge a proporcionalidade, como
equilíbrio para uma pena justa a ser aplicada para o agente do delito, não podendo
esta ser mais dura que o mal causado.
Nesse sentido ensina Julio Fabbrini Mirabete:
[...] cada crime deve ser reprimido com uma sanção proporcional ao mal por ele causado. Essa característica, entretanto, é abrandada no direito positivo: a Constituição Federal determina que “a lei regulará a individualização da pena” (art. 5º, XLVI), e o Código Penal refere-se,
16
ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito Administrativo. 6a Ed. São Paulo: Saraiva. 2004. p. 22. 17
FILHO, Nestor Sampaio Penteado. Manual de Direito Administrativo. 1a Ed. Campinas: Millennium. 2006. p. 19. 18
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional Administrativo. 4ª ed. São Paulo: Atlas. 2007. p. 98. 19
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 14ª ed. São Paulo: Malheiros. 1999. p. 394.
21
quando da aplicação da pena, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente (art. 59), à reincidência (art. 61, I) etc.20
Muito embora não seja elencado em nenhum artigo da CFRB/1988, se
encontra intrínseco na mesma, pois segundo Hely Lopes Meirelles21, agiria como
princípio norteador, que exerce grande influência no ramo do Direito Administrativo e
além de atuar no exame das atividades da Administração Pública.
Contudo, assim como a razoabilidade (visto no item 1.1), a
proporcionalidade é um princípio essencial da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, não estando, porém elencado em nenhum de seus artigos, visto
ser intrínseco na mesma. Entretanto é citado na Lei nº 9.784/99 em seu art. 2º
(conforme apresentado no item anterior).
A proporcionalidade deverá ser aplicada, de acordo com caso concreto, não
apenas pelas leis, tendo para tanto que observar os padrões em que vive a
sociedade, conforme pensamento de Maria Sylvia Zanella di Pietro22, mesmo que as
normas legais permitam ao administrador o livre arbítrio para suas decisões, estas
devem seguir critérios de oportunidade e conveniência, ajudando na elaboração de
uma melhor solução.
Assim, ocorrendo divergências entre os direitos fundamentais, será o
mencionado princípio utilizado no intuito de buscar solução com o fim de conciliar tal
conflito, sendo usado com frequência deste modo pelo Tribunal de Justiça da
Comunidade Européia, segundo o mestre Paulo Bonavides23.
20
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. I. 17ª ed. São Paulo: Atlas. 2001. 21
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito Administrativo Brasileiro. 33 ed. São Paulo: Malheiros. 2007. p. 93. 22 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª ed. São Paulo: Atlas. 2007. p. 72. 23 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 9a Ed. São Paulo: Malheiros. 2000. p. 237.
22
No entanto, certos autores fazem referência ao princípio da
proporcionalidade, como um dos principais elementos do princípio da razoabilidade
(item 1.1 deste capítulo), sendo Celso Bandeira de Mello um deles:
Em rigor, o princípio da proporcionalidade não é senão faceta do princípio da razoabilidade. Merece um destaque próprio, uma referência especial, (...) Posto que se trata de um aspecto específico do princípio da razoabilidade, compreende-se que sua matriz constitucional seja a mesma.24
Maria Sylvia Zanella di Pietro25 também é adepta da mesma corrente ao
dizer que apesar de mencionados distintamente na Lei nº 9.784/1999, a
proporcionalidade seria apenas um dos elementos que constituem o princípio da
razoabilidade, visto que a Administração para alcançar seus objetivos, necessita
para outros meios à proporcionalidade.
Outro defensor desse entendimento é Nestor Sampaio26 ao falar que o
princípio da proporcionalidade decorre do princípio da razoabilidade, pois este que
limita a discricionariedade administrativa vindo a causar divergências no âmbito
processual quando a parte derrotada é o Estado.
Já Hely Lopes Meirelles27 se refere a estes dois princípios, no sentido de
terem o mesmo significado ao dizer que tais se complementam, uma vez que o
objetivo desses é haver compatibilidade entre os meios e os fins, com intuito de
coibir restrições desnecessárias ou abusivas. Sendo este também o posicionamento
do Supremo Tribunal Federal.
De acordo com Celso Bandeira de Mello:
Ora, já se viu que a inadequação à finalidade da lei é inadequação à própria lei. Donde atos desproporcionais são ilegais e, por isso,
24 DE MELLO, Celso Antonio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 21a Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p. 107-108. 25 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª ed. São Paulo: Atlas. 2007. p. 72. 26 FILHO, Nestor Sampaio Penteado. Manual de Direito Administrativo. 1a Ed. Campinas: Millennium. 2006. p. 19. 27
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito Administrativo Brasileiro. 33 ed. São Paulo: Malheiros. 2007. p. 93.
23
fulmináveis pelo poder Judiciário, que, sendo provocado, deverá invalidá-los quando impossível anular unicamente a demasia, o excesso detectado.28
Em síntese seria o princípio da proporcionalidade, a devida proporção entre
as necessidades administrativas e os atos realizados pela Administração, segundo
Lúcia Valle Figueiredo29.
1.3 DO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA
Os princípios da ampla defesa e do contraditório estão elencados no art. 5º,
LX da Constituição Federal da república Federativa do Brasil de 1988 que dispõe:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.30
Contudo, tais princípios seriam uma variação do princípio do devido
processo legal, sendo que por tal razão encontram-se intimamente ligados,
entretanto possuem aspectos diversos, expostos a seguir.
1.3.1 Princípio do Contraditório
28
DE MELLO, Celso Antonio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 21a Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p. 107. 29
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. 6a Ed. São Paulo: Malheiros. 2003. p. 50. 30
BRASIL. Constituição Federal, Legislação Administrativa e Legislação Ambiental. 4ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico. 2006. p.17.
24
O denominado princípio do contraditório, também chamado pela doutrina
pelo binômio ciência e participação, tem como uma de suas principais características
a bilateralidade, de modo que as partes são colaboradoras igualitárias do processo,
devendo o juiz manter-se equilibrado e a certo distanciamento das partes, apenas
direcionando a cada situação o direito a estas de manifestarem-se em vista do que
está sendo alegado, bem como produzir provas que julgarem necessárias contra o
fato apresentado, na visão de Fernando Capez31.
Tal princípio decorre da regra contida no brocardo romano audiatur et altera
pars, significando que o magistrado deverá ser imparcial, ouvindo as duas partes do
processo igualmente, para consequentemente julgar e decidir o litígio, segundo José
Frederico Marques32.
Salienta Nelson Nery Júnior:
O princípio do contraditório, além de fundamentalmente constituir-se em manifestação do princípio do Estado de Direito, tem íntima ligação com o da igualdade das partes e o do direito de ação, pois o texto constitucional, ao garantir aos litigantes o contraditório e ampla defesa, quer significar que tanto o direito de ação, quanto o direito de defesa são manifestação do princípio do contraditório.33
Conforme destaca Julio Fabbrini Mirabete34, as partes terão igualdade de
direito, por tal razão diz-se que o referido princípio decorre da igualdade e da
liberdade processual, pois o acusado poderá apresentar as provas lhe foram
convenientes, nomear o advogado que lhe convir, além de permanecer em silêncio
quanto aos fatos apresentados pela acusação. Entretanto, conforme a lei processual
que regulamenta o contraditório, mesmo ausente ou foragido, o réu terá que ser
citado no processo, notificado dos atos transcorridos nos autos, intimado para todas
as decisões, arrolar quantas testemunhas entender que lhe forem necessárias, além
de não poder ser julgado sem ter um advogado legalmente constituído para sua
31
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 14a Ed. São Paulo: Saraiva. 2007. p. 19. 32
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. Vol. 1. 2a Ed. Campinas: Millennium. 2003. p. 90. 33
NERY JR., Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 2a Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1995, p. 127. 34
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 24-25.
25
defesa, sendo causa de nulidade quando inobservados qualquer desses direitos do
acusado.
Sobre o assunto ressalta Tourinho Filho:
Aliás, em todo processo do tipo acusatório, como o nosso, vigora esse princípio, segundo o qual o acusado, isto é, a pessoa em relação à qual se propõe a ação penal, goza do direito ‘primário e absoluto’ da defesa. O réu deve conhecer a acusação que se lhe imputa para poder contrariá-la, evitando, assim, possa ser condenado sem ser ouvido.35
Entretanto, não incidirá o contraditório quando se tratar de inquérito policial,
vez que este é procedimento inquisitivo, ao qual é imputada a prática de um delito
ao acusado, mas nenhuma pena lhe será aplicada por tratar-se o inquérito de uma
fase de investigação preliminar quando ainda não há litigantes, atuando apenas
nesse sentido o princípio da ampla defesa, pois o indivíduo deverá ter a devida
ciência da instauração de tal procedimento administrativo.
Nesse sentido leciona Alexandre de Moraes:
O contraditório nos procedimentos penais não se aplica aos inquéritos policiais, pois a fase investigatória é preparatória da acusação, inexistindo, ainda, acusado, constituindo, pois, mero procedimento administrativo, de caráter investigatório, destinado a subsidiar a atuação do titular da ação penal, o Ministério Público.36
Finalmente será o princípio do contraditório aquele que se caracteriza por
sua bilateralidade, vez que concede às partes o direito de se manifestarem
igualmente nos autos, devendo o juiz agir com equilíbrio em sua decisão visando à
imparcialidade. No entanto, não poderá ser aplicado ao inquérito policial, devido
este ser procedimento administrativo que serve como alicerce para denúncia
realizada pelo Ministério Público.
35
FILHO, Fernando da Costa Tourinho. Manual de Processual Penal. 9a Ed. São Paulo: Saraiva. 2007. p. 21. 36
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2007. p. 102.
26
1.3.2 Princípio da Ampla Defesa
Para Fernando Capez37, por tal princípio, será a defesa do acusado a última
a se manifestar, seguindo corretamente a ordem do processo. O Estado tem a
obrigação de ofertar a mais completa defesa ao acusado, podendo prestar uma
assistência jurídica ou mesmo uma defesa pessoal, sendo assegurado tal direito no
Pacto Internacional dos Direitos Civis quando faz menção de que todo acusado,
quando lhe faltar recursos, fará jus a um advogado constituído pelo Judiciário ou
ainda obtendo o direito da autodefesa.
São palavras de Fauzi Hassan Choukr, com relação à ampla defesa:
Provavelmente, de todas as salvaguardas previstas em textos supranacionais ou constitucionais, a acima mencionada e seu correlato mais próximo, a ampla defesa, encerre o espírito máximo da luta contra o arbítrio do Estado e a supressão injusta do direito à liberdade, daí porque ser altamente sedutora a proposta de inclusão desde o momento em que se ergue a mão do poder persecutório estatal para a apuração da ocorrência de uma conduta criminalmente relevante.38
A ampla defesa seria o direito sem restrições de uma defesa no processo,
assegurando assim a igualdade entres as partes, segundo Julio Fabbrini Mirabete39
e ressalta ainda que o referido princípio como uma das vertentes do princípio do
contraditório (visto no item 1.3.1).
Na mesma direção, Alexandre de Moraes40 afirma que o princípio do
contraditório é a própria exteriorização da ampla defesa, vez que o acusado quando
de sua defesa em seus atos, poderá da mesma forma apresentar sua versão do
ocorrido ou mesmo opor-se a esta e ainda diversificar a interpretação jurídica dada
pelo autor, de forma que se torne mais convincente.
37
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 14a Ed. São Paulo: Saraiva. 2007, p. 20. 38
CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias Constitucionais na Investigação Criminal. 2a Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p. 111. 39
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 24. 40
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2007. p. 102.
27
É saber de Celso Antonio Bandeira de Mello:
Estão aí consagrados, pois a exigência de um processo formal regular para que sejam atendidas a liberdade e a propriedade de quem quer que seja e a necessidade de que a Administração Pública, antes de tomar decisões gravosas a um dado sujeito, ofereça-lhe oportunidade do contraditório e da ampla defesa, no que se inclui o direito a recorrer das decisões tomadas.41 (grifo do autor)
Portanto seria o princípio da ampla defesa aquele que garante a parte
acusada a ciência de todos os fatos ocorridos no processo, visando assim que tenha
mais elementos para a confecção do que alegar quando do mérito da defesa,
observando-se que segundo os doutrinadores citados neste item, faz parte do
princípio do contraditório, vez que ambos se completam.
1.4 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
Tem suas bases no art. 9º da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789, onde está disposto que toda pessoa seria presumida inocente até
ter sido declarada culpada, conceito consagrado ainda no art. 26 da Declaração
Americana de Direitos e Deveres datada de 02 de maio de 1948 e ainda no art. 11
da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU.
Nesse sentido declara Luís Paulo Sirvinskas:
Vê-se, pois, que há muitos textos internacionais acerca dos direitos humanos realçando o princípio da presunção da inocência, com ‘regra que determina, em matéria probatória, que o ônus da prova da culpabilidade do imputado recaia sobre aquele a quem cabe a acusação.42
41
DE MELLO, Celso Antonio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 21a Ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 106. 42
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Introdução ao Estudo do Direito Penal. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. p.152.
28
Ressalta Alexandre Moraes43 que a presunção de inocência seria uma
garantia processual penal que tem por objetivo a tutela da liberdade pessoal,
consistindo num dos princípios de base do Estado de Direito. Portanto, como o
indivíduo deve, por motivo constitucional, ser considerado inocente, caberá ao
Estado comprovar sua culpa.
Na CFRB/1988 encontra-se disposto no art. 5º, LVII:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.44
Sendo ainda decorrente do princípio do devido processo legal, de acordo
com Julio Fabbrini Mirabete45, antes da sentença que condenou o indivíduo se torne
irrecorrível, será presumida sua inocência. Porém, começaram a surgir indagações
sobre tal princípio, que levado ao seu grau máximo não permitiria uma ação mais
rígida contra o acusado, uma vez que tal princípio trata de uma presunção relativa
(juris tantum).
Por tal fato alguns doutrinadores, um deles o acima citado, começaram a
denominá-lo de Princípio do Estado de Inocência, que seria o parâmetro jurídico
segundo o qual o acusado é considerado inocente até que uma sentença irrecorrível
o considere culpado pela prática do delito.
Deverá ainda ser considerado um princípio que tem o papel de orientar,
além de ser fundamental, todo o processo penal, segundo Luis Flávio Gomes46.
Para Fauzi Hassan Choukr47, em termos processuais será a presunção de
inocência um vetor cultural que agirá não só na classificação do acusado, como
43
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2007. p. 112. 44
BRASIL. Constituição Federal, Legislação Administrativa e Legislação Ambiental. 4ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico. 2006. p.17. 45
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 23. 46
GOMES, Luís Flávio. Estudo de Direito Penal e Processo Penal. 1a Ed. São Paulo: Revista dos tribunais. 1999. p.103.
29
também como deve ser indicado o sistema em que atuará o processo, procedendo-
se ao acusado não apenas uma defesa formal e sim substancial, trazendo deste
modo um tratamento ao indiciado, que passa a ser visto como sujeito de direitos
dentro da relação processual e não apenas como um objeto da mesma.
Em ato contínuo o citado doutrinador afirma que a presunção asseguraria
toda a tutela jurisdicional, garantindo ao acusado apresentar manifestações tais
como o direito à prova e ao duplo grau de jurisdição dentre outros.
Na defesa criminal atuará o princípio citado até o deslinde da causa sendo,
portanto, o acusado considerado presumidamente inocente até que a sentença
tenha transcorrido em julgado, para que no fim o juiz decida se baseando nas provas
apresentadas, não vigendo assim a verdade formal, mas sim a realidade dos fatos e,
no caso de dúvida por parte do magistrado, deverá ser aplicado o princípio do in
dubio pro reo, na visão de Luís Paulo Sirvinskas48.
Quanto à prisão processual, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula
nº 09 afirmando que não há violação do princípio da presunção de inocência quando
ocorre este tipo de prisão.
São palavras de Fernando da Costa Tourinho Filho:
A expressão ‘presunção de inocência’ não pode ser interpretada ao pé da letra, literalmente, do contrário os inquéritos e os processos em relação a uma pessoa inocente. Sendo o homem presumidamente inocente, sua prisão antes do trânsito em julgado da sentença condenatória implicaria antecipação da pena, e ninguém pode ser punido antecipadamente, antes de ser definitivamente condenado, a menos que a prisão seja indispensável a título de cautela.49
No tocante a sua natureza, estaria a presunção de inocência encaixada no
rol dos direitos e garantias fundamentais quando analisada sob uma visão mais
formal, entretanto de forma mais substancial terá incidência quanto aos fatos
47
CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo Penal à luz da Constituição. 1a Ed. São Paulo: Edipro, 1999, p. 27-28. 48
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Introdução ao Estudo do Direito Penal. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 151-152. 49
FILHO, Fernando da Costa Tourinho. Manual de Processual Penal. 9a Ed. São Paulo: Saraiva. 2007. p. 28.
30
probatórios das garantias e tratamento do acusado, possuindo, assim, natureza
inteiramente processual, além de tal princípio tratar-se na realidade de uma
presunção iuris tantum, o que significa que se admite prova em sentido contrário,
conforme ensinamentos de Luis Flávio Gomes50.
Ensina Julio Fabrinni Mirabete nesse sentido:
Em decorrência do princípio do estado de inocência deve-se concluir que: (a) a restrição à liberdade do acusado antes da sentença definitiva só deve ser admitida a título de medida cautelar, de necessidade ou conveniência, segundo estabelece a lei processual; (b) o réu não tem o dever de provar sua inocência; cabe ao acusador comprovar a sua culpa; (c) para condenar o acusado, o juiz deve ter a convicção de que ele é responsável pelo delito, bastando, para a absolvição, a dúvida a respeito da sua culpa (in dúbio pro reo). Com relação à adesão do Brasil à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), conforme Decreto nº 678, de 6-11-1992, vige no país a regra de que “toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa” (art. 8º, 2, da Convenção).51
Outro ponto relevante a mencionar é que a presunção de inocência só
deixará de existir a partir do momento em que se tornem comprovados os fatos
apresentados pelo Ministério Público no momento da acusação, devendo ser levado
em consideração o princípio da verdade real e o do in dubio pro reo, ressalta Luís
Paulo Sirvinskas52 e desde que irrecorrível a decisão.
1.5 DIREITO AO SILÊNCIO
Inicialmente o Direito ao Silêncio encontrava-se implícito na Declaração
Universal dos Direitos do Homem de 1948, mais tarde com o advento do Pacto de 50
GOMES, Luís Flávio. Estudo de Direito Penal e Processo Penal. 1a Ed. São Paulo: Revista dos tribunais. 1999. p.108. 51
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 24. 52
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Introdução ao Estudo do Direito Penal. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 153.
31
San José da Costa Rica foi reconhecido como uma das garantias a toda pessoa
acusada da prática de um crime, conforme ensinamento de Eduardo Muniz
Machado53.
Encontra-se consagrado no art. 5º, inciso LXIII da CRFB/1988:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.54
Portanto, ao permanecer em silêncio, o acusado está utilizando um direito
que lhe é assegurado, sendo perfeitamente lícito, mormente pelo fato do
interrogatório constituir eventualmente como meio de prova, de acordo com Celso
Ribeiro Bastos55.
Segundo Maria Elizabeth Queijo56, é o direito de não se manifestar às
perguntas elaboradas pela autoridade, consistindo no reconhecimento da liberdade
moral da pessoa que está sendo acusada por cometer algum delito.
A mesma garantia encontra-se elencado no art. 186 do CPP que menciona:
Art. 186 – Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas. [...] Parágrafo único – O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.57
53
MACHADO, Eduardo Muniz. Delimitação do sentido e alcance do direito ao silêncio. Jusnavegandi. Ago.2004. Disponível em:<http://www.jusuol2.com.br/doutrina/texto.asp?id=6153>. Acesso em: 16.03.2010. 54
BRASIL. Constituição Federal, Código Penal e Código de Processo Penal. 4ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico. 2006. p.18. 55
BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil. Vol. 2. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 295. 56
QUEIJO, Maria Elizabeth. O Direito de Não Produzir Prova Contra si Mesmo. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 190. 57
BRASIL. Constituição Federal, Código Penal e Código de Processo Penal. 4ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico. 2006. p.150.
32
Como visto mesmo que o acusado se recuse a falar no interrogatório isso
não poderá ser usado em seu prejuízo, uma vez que o silêncio é garantia
fundamental.
Nesse sentido Celso Spitzcovsky58 menciona que o direito ao silêncio
poderá beneficiar o acusado, podendo contribuir para a formação do convencimento
do juiz, não podendo ser este usado em seu prejuízo.
Ocorre que é uma reação natural do ser humano, ao lhe ser imputado um
delito, se proclamar inocente, podendo se reservar a não declarar esclarecimentos,
nas palavras de Ernesto Lippmann59.
O doutrinador em questão faz referência de que o direito ao silêncio poderá
ser utilizado em qualquer procedimento, inclusive Comissão Parlamentar de
Inquérito, além de que poderá assegurá-lo mediante a impetração de habeas
corpus.
Na visão de Maria Elizabeth Queijo60, o direito ao silêncio é um direito do
acusado, compreendendo como um exercício da autodefesa, não podendo ser
considerado como confissão ficta e muito menos de falta de defesa, poderá ainda
ser adotado pela defesa como estratégia, respeitando, assim, o direito de liberdade
e dignidade do ser humano.
Anota-se, por fim, que é uma exigência decorrente do princípio do devido
processo legal, não sendo o indivíduo obrigado a gerar provas que lhe incriminem,
pois, o interrogatório é indispensável à defesa não podendo haver constrangimento,
devido o fato de o acusado ter o poder sobre suas próprias palavras, no
entendimento de Ernesto Lippmann61.
58
SPITZCOVSKY, Celso. O direito constitucional ao silêncio e suas implicações. Jusnavegandi. Set.2005. Disponível em:<http://www.jusuol2.com.br/doutrina/texto.asp?id=7361>. Acesso em: 16.03.2010. 59
LIPPMANN, Ernesto. Os Direitos Fundamentais da Constituição de 1988. 1ª Ed. São Paulo: LTr. 1999. p. 260. 60
QUEIJO, Maria Elizabeth. O Direito de Não Produzir Prova Contra si Mesmo. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 193-194. 61 LIPPMANN, Ernesto. Os Direitos Fundamentais da Constituição de 1988. 1ª Ed. São Paulo: LTr. 1999. p. 259.
33
1.6 DIREITO À VIDA
O direito à vida encontra-se elencado no art. 5º, caput da CRFB/88, que
menciona:
“Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida (...)”.62
Todos são iguais perante a lei, não havendo diferenças de qualquer tipo de
natureza sendo garantida pela Constituição Federal de 1988, aos brasileiros e
mesmo aos estrangeiros residentes no Brasil a inviolabilidade à liberdade, à
igualdade, à segurança, à propriedade e à vida, conforme ensinamentos de
Alexandre de Moraes63.
Continuando, o doutrinador menciona que o direito à vida é proclamado na
CRFB/1988, tendo o Estado o dever de assegurar uma vida digna ao cidadão no
que tange a sua subsistência e o direito de manter-se vivo.
Assim, o direito à vida engloba o direito de continuar vivo e o direito de ter
uma vida digna.
De nada adiantaria a Constituição elencar outras garantias individuais, não
mencionando o direito à vida, o mais importante dos preceitos, pois se trata do bem
mais precioso para o ser humano. A vida, como a entendemos, começa da
fecundação do óvulo e já partir deste momento, se torna a garantia individual de
maior relevância da CRFB/1988.
Nesse sentido, são palavras de José Afonso da Silva:
Sua riqueza significativa é de difícil apreensão porque é algo dinâmico, que se transforma incessantemente sem perder sua própria identidade. É mais um processo (processo vital), que se instaura a concepção (ou germinação vegetal), transforma-se, progride, mantendo sua identidade, até que muda de qualidade,
62
BRASIL. Constituição Federal, Legislação Administrativa e Legislação Ambiental. 4ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico. 2006. p.15. 63
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2007. p. 30.
34
deixando, então de ser vida para ser morte. Tudo que interfere em prejuízo deste fluir espontâneo e incessante contraria a vida.64
O direito à vida constitui o de maior relevância entre o rol dos direitos
fundamentais, pois seria essencial de todos os demais no que tange à existência e
exercício destes, aparecendo sob tríplice aspecto. Tal direito numa primeira visão
seria o de não ser morto e de não ser privado de sua vida e por tal fato é a pena de
morte proibida no Brasil, observadas as ressalvas trazidas na Constituição em seu
art. 5º, XLVII, segundo visão de Leda Pereira Mota e Celso Spitzcovsky65.
Expõe Luiz Alberto David Araujo66 que cabe ainda ressaltar que há outras
formas de interromper a vida que são de todo vedadas pela Constituição, tais como
o aborto e a eutanásia, uma vez que o direito à vida é considerado cláusula pétrea
da Carta Magna, não podendo ser modificada por emenda.
Em seus ensinamentos, José Afonso da Silva67 divide o direito à vida em
três categorias, a saber:
A primeira delas consiste no direito à existência que seria o direito de
defender a própria vida, de tê-la interrompida somente por morte natural e de forma
espontânea sendo assegurada pelo Direito Penal a devida punição para aqueles que
atentarem contra a vida de outrem ou mesmo quando esta venha a ser ceifada.
A segunda categoria a ser elencada é o direito à integridade física, pois ao
agredir-se o corpo estar-se-ia, de certo modo, ferindo a vida constituindo-se assim
em direito fundamental, sendo por esta razão é punido penalmente quem causa
lesões corporais.
A última categoria mencionada por José Afonso da Silva é o direito à
integridade moral que vem a ser os valores imateriais que fazem parte do indivíduo,
64
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 19ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2001. p. 200. 65
MOTA, Leda Pereira; SPITZCOVSKY, Celso. Curso de Direito Constitucional. 5ª Ed. São Paulo: Juarez de Oliveira. 2000. p. 321. 66
ARAUJO, Luiz Alberto David; JUNIOR, Vidal Serrano Nunes. Curso de Direito Constitucional. 1ª Ed. São Paulo: Saraiva. 1998. p. 72. 67
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 19ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2001. p. 201-204.
35
significando sua honra e outras com a mesma valoração, sem as quais o ser
humano torna-se insignificante, justificando-se, assim, a tutela da honra pela
legislação penal vigente, que pune os ataques ao referido bem jurídico.
A doutrina faz ainda referência às condições mínimas para a sobrevida do
ser humano tal como direito de habitação, alimentação, educação, lazer, entre
outros, dispõe Leda Pereira68.
No entendimento de Celso Spitzcovsky69, a análise dos conceitos de vida,
dignidade humana e saúde, no que tange à interpretação das normas constitucionais
são fundamentais para a apuração dos limites de atuação e responsabilidade do
Poder Público, cabendo ainda mencionar que o direito à vida é cláusula pétrea e
possui Íntima ligação com a dignidade da pessoa humana, tendo como
consequência de o Poder Público assegurar a eficiente prestação de serviços
obrigatórios à garantia de condição para se levar uma vida digna, sob pena de ser
responsabilizado pelo não atendimento.
Nas palavras de Celso Spitzcovsky70, a vida é o dom maior e seu
reconhecimento carrega por si a legitimidade constitucional, assim demonstra-se a
relevância de tal direito, não podendo o Estado deixar de fazer esforços para a
manutenção do mesmo como assegurado na CRFB/1988.
68
MOTA, Leda Pereira; Celso Spitzcovsky. Curso de Direito Constitucional. 5ª Ed. São Paulo: Juarez de Oliveira. 2000. p. 323. 69
SPITZCOVSKY, Celso. O direito à vida e as obrigações do Estado em matéria de saúde. Jusnavegandi. Abr.2006. Disponível em:<http://www.jusuol2.com.br/doutrina/texto.asp?id=8382>. Acesso em: 18.03.2010. 70
SPITZCOVSKY, Celso. O direito à vida e as obrigações do Estado em matéria de saúde. Jusnavegandi. Abr.2006. Disponível em:<http://www.jusuol2.com.br/doutrina/texto.asp?id=8382>. Acesso em: 18.03.2010.
36
1.7 DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVAS CONTRA SI
Também chamado pela doutrina como princípio do nemo tenetur se
detegere principalmente no que tange ao direito processual penal conceituando-se
como o direito garantido ao indivíduo de não produzir provas contra si mesmo,
segundo Eduardo Muniz Machado71.
Ainda de acordo com o referido, o princípio acima mencionado foi
consagrado pelo Pacto de San José da Costa Rica para configurar, entre as
garantias fundamentais no tangente a toda pessoa que possa ter cometido um
delito. Também o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos referiu-se
expressamente ao princípio determinando que o acusado tenha o direito de não se
incriminar.
A CRFB/1988 dispõe sobre tal princípio implicitamente em seu art. 5º, II que
diz:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei.72
Nas palavras de Maria Elizabeth Queijo73, pela interpretação do artigo citado
acima, foi inserido o direito de não produzir provas contra si mesmo, no rol de
direitos fundamentais por estar disciplinado em tratados internacionais que versam
sobre os direitos humanos, ganhando assim status de normal constitucional.
Leciona Eduardo Muniz Machado:
71
MACHADO, Eduardo Muniz. Delimitação do sentido e alcance do direito ao silêncio. Jusnavegandi. Ago.2004. Disponível em:<http://www.jusuol2.com.br/doutrina/texto.asp?id=6153>. Acesso em: 16.03.2010. 72
BRASIL. Constituição Federal, Legislação Administrativa e Legislação Ambiental. 4ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico. 2006. p.15. 73
QUEIJO, Maria Elizabeth. O Direito de Não Produzir Prova Contra si Mesmo. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 65.
37
O nemo tenetur se detegere é direito do indivíduo de não oferecer provas que lhe possam ser desfavoráveis, acarretando sua incriminação, quer seja em processo penal ou extrapenal, mas, frise-se, desde que haja a instauração de procedimento investigativo, ou real possibilidade investigatória. Nesse sentido, conclui-se que deve haver a solicitação da autoridade ao indivíduo no intuito de se descobrir determinado fato, penal, tributária, civil, etc., sob pena de estar imprimindo efeitos absolutos a um princípio, e como é sabido, não há direitos fundamentais absolutos, pois estes “não podem ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas, nem tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob pena de total consagração ao desrespeito a um verdadeiro Estado de Direito”.74
O direito de não produzir provas contra si mesmo configura-se como um dos
princípios que garantem a legitimação da jurisdição numa visão ética do processo
penal, estando inserido nas garantias que compõem o devido processo legal, no
saber de Maria Elizabeth Queijo75.
Ainda segundo a autora em comento, o referido direito garante ao indivíduo
a preservação de sua integridade física e moral, vez que tutela a dignidade humana,
não podendo ser aplicadas ações que atentem contra estes.
Neste sentido tem se posicionado o egrégio STF:
O princípio constitucional da não-culpabilidade, em nosso sistema jurídico, consagra uma regra de tratamento que impede o Poder Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao réu, como se estes já houvessem sido condenados definitivamente por sentença do Poder Judiciário.76
Na visão de Eduardo Muniz Machado77 tal direito esta bem presente no
âmbito do direito processual, principalmente com o advento da CRFB/1988, uma vez
74
MACHADO, Eduardo Muniz. Delimitação do sentido e alcance do direito ao silêncio. Jusnavegandi. Ago.2004. Disponível em:<http://www.jusuol2.com.br/doutrina/texto.asp?id=6153>. Acesso em: 16.03.2010. 75
QUEIJO, Maria Elizabeth. O Direito de Não Produzir Prova Contra si Mesmo. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 72-73. 76 BRASIL.Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 79.812-8. Brasília. DF. 8 de novembro de 2000. Relator Ministro Celso de Mello. Lex: D.J. 16.02.2001. 77
MACHADO, Eduardo Muniz. Delimitação do sentido e alcance do direito ao silêncio. Jusnavegandi. Ago.2004. Disponível em:<http://www.jusuol2.com.br/doutrina/texto.asp?id=6153>. Acesso em: 16.03.2010.
38
que modificou o art. 186 do CPP, pois veio a resguarda o direito ao silêncio sendo
aplicado assim o princípio de nemo tenetur se detegere, pois ficando calado às
indagações realizadas pela autoridade tal fato não poderá ser utilizado em prejuízo
do mesmo.
Maria Elizabeth Queijo78 refere-se ao direito ao silêncio como uma
decorrência do nemo tenetur se detegere, no entanto o mesmo não está restrito
apenas a este direito sendo mais abrangente e manifestando-se em outros
princípios de grande relevância, além de o mesmo colocar o silêncio do indiciado na
esfera da autodefesa.
Citando ainda que o direito de não culpabilidade está intimamente ligado ao
princípio da ampla defesa e da presunção de inocência.
Divergindo desta colocação Eduardo Muniz Machado diz que o nemo tenetur
se detegere seria o sinônimo do direito ao silêncio que será dado ao indivíduo na
persecução investigativa, pois visa a proteger a liberdade e dignidade do mesmo.
Verificados os princípios e garantias relacionados, será mencionado no
capítulo seguinte sobre poder de polícia e infração, necessários há um maior
entendimento do tema abordado nesta monografia.
78
QUEIJO, Maria Elizabeth. O Direito de Não Produzir Prova Contra si Mesmo. 1a Ed. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 190.
39
2 INFRAÇÃO E PODER DE POLÍCIA
Estudados os princípios que se relacionam ao tema, cabe agora fazer
comentários sobre as infrações de trânsito e penais, bem como sobre o poder de
polícia, uma vez que este estudo tem como objetivo analisar as sanções previstas
pela a chamada “Lei Seca” (Lei nº 11.705/2008), que serão aplicadas pelos agentes
públicos, no exercício do poder de polícia que estes possuem.
2.1 INFRAÇÃO
Em sentido latu sensu, infração é: “Violação; ato de infringir; desrespeito;
transgressão a uma norma; prática de ato ilícito”. 79 que se exterioriza com a
chamada transgressão da norma, seja ela de trânsito, administrativa ou mesmo
penal, dando ensejo às sanções respectivas, desde que devidamente previstas em
lei.
Especificamente busca-se trabalhar os conceitos de infração de trânsito e
penal, importantes para o desenvolvimento do tema objeto desta monografia.
2.1.1 Infração Penal
Por infração penal entende-se pelo disposto no art. 1º da Lei de Introdução
do Código Penal:
79
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico Universitário. São Paulo: Saraiva. 2010. p. 326-327.
40
Art. 1º. Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, sob pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.80 (grifou-se)
Ressalta Luiz Regis Prado81 que as legislações penais costumam classificar
as infrações de acordo com sua gravidade e principalmente em dois sistemas, a
saber: o tripartido e o bipartido. O primeiro refere que as infrações penais serão
classificadas em crimes, delitos e contravenções, e, já pelo segundo, crimes (ou
delitos) e contravenções.
De acordo com o citado autor o Direito Penal Brasileiro adotou a divisão
bipartida, portanto crime ou delito e contravenção. Sendo esta divisão apenas
quantitativa, quer dizer considera-se a gravidade da pena.
Os crimes ou delitos são punidos com as penas privativas de liberdade,
restritivas de direitos e multa (art. 32 do CP), no tocante a contravenção é aplicada
prisão simples e multa (art. 5º, Decreto Lei 3688/1941).
Já no que se refere aos sujeitos envolvidos na infração, serão eles ativos ou
passivos. Aquele que praticar a conduta elencada na norma jurídica como
incriminadora será considerado sujeito ativo, podendo agir sozinho ou ainda
associado a outros, podendo ser praticado por qualquer indivíduo bastando apenas
ter capacidade, como ensina Julio Fabbrini Mirabete82.
Já o sujeito passivo seria o titular do bem jurídico ameaçado de lesão ou
lesado, ou seja, da ofensa que constitui o delito. Podem figurar como vítimas, o
80
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.914 de 9 dezembro de 1941. Lei de introdução do Código Penal (decreto-lei n. 2.848, de 7-12-940) e da Lei das Contravenções Penais (decreto-lei n. 3.688, de 3 outubro de 1941) . Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del3914.htm>. Acesso em: 26.05.2010. 81
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. I. 8ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2008. p. 235. 82
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. I. 23ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 417.
41
indivíduo, conjunto de indivíduos, pessoa jurídica e o Estado conforme a natureza do
delito, segundo Luiz Regis Prado83.
Nas palavras de Fernando Capez84, a sanção penal é imposta pelo Estado
com a finalidade de aplicar a retribuição punitiva ao infrator com o intuito de
promover sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação
dirigida à sociedade.
Tem finalidade preventiva, pois visa evitar a prática de novas infrações,
podendo ser esta prevenção geral (quando o fim intimidativo da pena dirige-se a
todos os destinatários da norma penal, tendo como razão impedir que outros
membros da sociedade pratiquem delitos) e especial (quando a pena visar apenas o
autor da infração retirando-o do meio social, procurando corrigi-lo e ainda
impedindo-o da prática de novos crimes), como esclarece de Damásio de Jesus85.
Observa Fernando Capez86 que a sanção penal abrange duas espécies, a
saber: a pena e a medida de segurança.
Sobre pena, conceitua Luiz Regis do Prado:
A pena é a mais importante das conseqüências jurídicas do delito. Consiste na privação ou restrição de bens jurídicos, com lastro da lei, imposta por órgãos jurisdicionais competentes ao agente de uma infração penal.87
Ressalta Julio Fabbrini Mirabete88, que na pena devem existir diversas
características tais como: legalidade (existência prévia de lei para aplicação da
pena), personalidade (impossibilidade de a pena se estender a terceiros que não
83
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. I. 8ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2008. p. 235. 84
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. I. 11ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2007. p. 358-359. 85
JESUS, Damásio E. Direito Penal. Vol. I. 28ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2007. p. 519. 86
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. I. 11ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2007. p. 358. 87
PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. I. 8ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2008. p. 489. 88
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. I. 23ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 247.
42
participaram da pratica da infração), proporcionalidade (entre o crime e a pena) e
inderrogabilidade (praticado o delito, a imposição deverá ser certa e a pena
cumprida).
Como destaca o autor acima mencionado, a doutrina classifica a pena em
privativas de liberdade, restritivas de liberdade, pecuniárias (multa) e privativas e
restritivas de direitos.
Assim, após verificar o conceito de infração penal, se passará a discorrer
sobre infração de trânsito, salientando a importância do estudo da infração na área
penal, vez que dependendo da irregularidade cometida pelo motorista este poderá
responder criminalmente.
2.1.2 Infração de Trânsito
O conceito legal de infração de trânsito encontra-se disposto no art. 161 do
CTB que menciona:
Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito deste Código, da legislação complementar ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às penalidades e medidas administrativas indicadas em cada artigo, além das punições previstas no Capítulo XIX.89
Ainda, segundo Alessandro Samartin de Gouveia90, consistiria a infração de
trânsito em ato jurídico ilícito, sendo conceituado como uma conduta que poderá ser
tanto comissiva ou omissiva, praticada por qualquer indivíduo, condutor,
transportador ou proprietário de veículo que venha a ser prevista pelo Código de
89 BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: < http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75726>. Acesso em: 19.05.2010. 90
GOUVEIA, Alessandro Samartin. Do julgamento do auto de infração de trânsito. Jusnavegandi. Abr. 2005. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/Doutrina/texto.asp?id=9894>. Acesso em: 17.04.2010.
43
Trânsito Brasileiro, nas resoluções do CONTRAN e nas legislações complementares
como infração de trânsito.
Os agentes de trânsito serão os aplicadores das sanções previstas para as
infrações de trânsito, através do exercício de sua atividade fiscalizadora, ostensiva e
repressiva dentro do que preceitua a lei, no entendimento de Arnaldo Rizzardo91.
Ainda, na visão do referido doutrinador, as autuações e lançamentos das
infrações, como aplicações de multa, remoções, retenções, apreensões de veículos
e outras espécies deverão ter amparo legal na lei de trânsito.
Conforme disposição do DETRAN de Santa Catarina92, o infrator ficará
sujeito às penalidades e medidas administrativas de acordo com o que dispõe cada
artigo, bem como das punições elencadas no Capítulo XIX – Crimes de Trânsito.
Observando-se ainda que a infração deverá ser comprovada por declaração
expedida pela autoridade policial ou de agente da autoridade de trânsito através de
aparelho eletrônico ou equipamento audiovisual, reações químicas ou qualquer outro
meio tecnologicamente disponível que esteja previamente regulamentado pelo
CONTRAN.
O infrator, portanto, ficará sujeito às penalidades administrativas descritas
nos artigos 162 a 255 do CTB, bem como às sanções penais indicadas nos artigos
291 a 312 do CTB, ficando asseverado que a aplicação das penalidades previstas
no Código Brasileiro de Trânsito não elide as punições originárias de ilícitos penais
decorrentes dos crimes de trânsito, como leciona Bruno César Fonseca93.
Salienta Eron Veríssimo Gimenes:
Se para determinada conduta traduzida em infração de trânsito for cominada especificamente pena de multa, o agente público de trânsito não poderá exceder-se e arbitrariamente remover, apreender
91
RIZZARDO, Arnaldo. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2010. p. 369. 92 DETRAN SANTA CATARINA. Sobre infração de trânsito. Disponível em: < http://www.detran.sc.gov.br/infracoes/sobre.htm>. Acesso em: 24.04.2010. 93 FONSECA, Bruno César. Novo processo administrativo de trânsito - A defesa do infrator na Lei nº 9.503/1997. Jusnavegandi. Jul. 2005. Disponível em: < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6065>. Acesso em: 17.04.2010.
44
ou reter veículo e nem reter ou apreender a Carteira Nacional do motorista infrator por falta de respaldo legal, devendo restringir-se exclusivamente ao capitulado na legislação.94
O CTB em diversos dispositivos trata das infrações de trânsito classificando-
as em gravíssimas, graves, médias e leves. Cabe observar ainda que o mesmo
critério servirá para dimensionar o montante da multa, conforme esclarece Arnaldo
Rizzardo95.
Citando ainda o referido doutrinador, será infração gravíssima aquela que
representa desobediência aos princípios constituídos como pilares do trânsito ou
que ofende as principais normas de direção, fazendo-se acompanhar, geralmente,
de outra penalidade tal como apreensão do veículo ou da carteira de motorista.
Já na infração grave não se terá teor tão ofensivo, seguindo-se na ordem
decrescente para médias e leves, incidindo unicamente multa sobre estas, conforme
observa o referido autor.
De acordo com Bruno César Fonseca96, será de responsabilidade do
DETRAN a identificação do autor da infração, sendo que no tocante a
responsabilização da prática de infração de trânsito e para a devida pontuação na
CNH pode ser tanto do condutor, do proprietário do veículo e ainda do transportador,
de acordo com o disposto do art. 257, §3º do CTB.
Averiguada a infração, será lavrado o Auto de Infração de Trânsito que terá
que conter os requisitos míninos exigidos pelo art. 280 do CTB, como dispõe o
DETRAN de Santa Catarina97, em seu informativo.
Segundo Alessandro Samartin de Gouveia98, o Auto de Infração de Trânsito
é o instrumento cabível para responsabilizar um indivíduo pelo cometimento de uma 94
GIMENES, Eron Veríssimo. Prática das Infrações de trânsito. 1ª Ed. São Paulo: Edipro. 1996. p. 313. 95
RIZZARDO, Arnaldo. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2010. p. 370. 96 FONSECA, Bruno César. Novo processo administrativo de trânsito - A defesa do infrator na Lei nº 9.503/1997. Jusnavegandi. Jul. 2005. Disponível em: < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6065>. Acesso em: 17.04.2010. 97
DETRAN SANTA CATARINA. Sobre infração de trânsito. Disponível em: < http://www.detran.sc.gov.br/infracoes/sobre.htm>. Acesso em: 24.04.2010.
45
penalidade. Logo após ser constituído, terá o auto de infração de trânsito descrição
de qual norma jurídica de trânsito foi infringida com o fato, surgindo assim o fato
jurídico da infração de trânsito.
Sobre o Auto de Infração de Trânsito é posicionamento jurisprudencial do
TRF da 4ª Região:
ADMINISTRATIVO. MULTA DE TRÂNSITO. AUTUAÇÃO. NOTIFICAÇÃO DE AUTUAÇÃO. AMPLA DEFESA. IMPOSIÇÃO DE PENALIDADE. CARÁTER DA INFRAÇÃO. ESTABELECIMENTO DA RESPONSABILIDADE. Após a autuação por cometimento de infração de trânsito, a autoridade de trânsito deve encaminhar as notificações de autuação e aplicação de penalidade, em momentos distintos, respeitado o direito à ampla defesa, ao responsável pelo cometimento da infração, podendo ser, de acordo com o tipo de infração constatada, de responsabilidade do proprietário ou condutor do veículo, conforme prevê o Código Brasileiro de Trânsito. Ressalte-se que a expedição do auto de infração de trânsito diretamente ao responsável pela infração, por meio de abordagem do agente de trânsito, é válida como notificação de autuação, sendo desnecessária seu reprocessamento.99
Institui o DETRAN de Santa Catarina100 que as penalidades serão aplicadas
a quem infringir as leis de trânsito, conforme as punições ou sanções administrativas
indicada em cada um dos tipos descritos no capítulo XV e no art. 95 do CTB, sendo
competência da autoridade de trânsito a sua devida aplicação.
As penalidades a serem aplicadas são: advertência por escrito, multa,
suspensão do direito de dirigir, apreensão do veículo, cassação da CNH, cassação
da Permissão para Dirigir e freqüência obrigatória em curso de reciclagem.
98
GOUVEIA, Alessandro Samartin. Da inconsistência e irregularidade do auto de infração de trânsito. Jusnavegandi. Nov. 2002. Disponível em: < http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3704>. Acesso em: 24.04.2010. 99
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação Cível nº 32015. Porto Alegre. RS. Outubro de 2008. Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/topicos/301691/infracao-de-transito >. Acesso em: 24.04.2010. 100
DETRAN SANTA CATARINA. Sobre infração de trânsito. Disponível em: < http://www.detran.sc.gov.br/infracoes/sobre.htm>. Acesso em: 24.04.2010.
46
Segundo Arnaldo Rizzardo101 será imposta advertência por escrito nas
infrações médias ou leves puníveis com multa, não havendo reincidência do infrator
na mesma infração num período compreendido de um ano.
Já a multa é aplicada de acordo com a Resolução nº 108/99 do
CONTRAN102, ao proprietário do veículo independente da infração que venha a ser
cometida, acarretando o bloqueio do registro ou licenciamento de veículo se não for
efetuado seu pagamento por este.
A suspensão do direito de dirigir acontece em infrações mais graves sendo
aplicada quando o infrator atingir a contagem de vinte pontos na CNH pelo prazo
mínimo de um mês até o máximo de um ano ou, no caso de reincidência durante o
período de cumprimento da suspensão, o prazo aumentará para o mínimo de seis
meses a dois anos, na interpretação de Arnaldo Rizzardo103.
Explica ainda o mesmo autor que ao ser imposta a suspensão, o infrator
necessariamente terá que se submeter a curso de aprendizagem ou reciclagem na
forma prevista pelo CONTRAN.
A apreensão de veículo consiste na retirada da posse do mesmo do seu
proprietário ou condutor pelo prazo de até trinta dias, em virtude de cometimento de
certas infrações e prevenindo resultados desastrosos suscetíveis de acontecer,
observa o autor acima citado.
A cassação da CNH e da permissão para dirigir será aplicada no caso em
que for suspenso o direito de dirigir do infrator e este for flagrado dirigindo qualquer
veículo; também no caso que for motorista reincidente num período que compreende
prazo de 12 meses nas infrações previstas no inciso III do artigo 162 e nos artigos
163, 164, 165, 173, 174 e 175 do CTB; quando no caso de for condenado
101
RIZZARDO, Arnaldo. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2010. p. 371. 102 BRASIL. Conselho Nacional de Trânsito. Resolução n° 108 de 21 de dezembro de 1999. Disponível em: < http://www.denatran.gov.br/deliberacoes_contran.htm>. Acesso em: 18.05.2010. 103
RIZZARDO, Arnaldo. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2010. p. 371.
47
judicialmente por delito de trânsito, informa o DETRAN de Santa Catarina104. Um
exemplo que poderá acarretar na cassação é dirigir embriagado.
No tocante ao curso de reciclagem dispõe afirma ainda o DETRAN que
acontecerá quando o infrator for contumaz, e a reciclagem for necessária à sua
reeducação; quando ocorrer a suspensão do direito de dirigir; quando o condutor
envolver-se em acidente grave para o qual haja contribuído, independentemente de
processo judicial; quando o condutor for condenado judicialmente por delito de
trânsito; quando for constatado, a qualquer tempo, que o condutor está colocando
em risco a segurança no trânsito; em outras situações regulamentadas pela
Resolução 160/04 do CONTRAN.
2.2 PODER DE POLÍCIA
Poder de Polícia é atividade do Estado que condiciona a liberdade e a
propriedade em prol do interesses coletivos.
Na visão de José Cretella Júnior:
“De um modo geral, polícia é o termo genérico com que se designa a força
organizada que protege a sociedade livrando-a de toda ‘vis inquietativa’ ”. 105
A seguir serão abordados o conceito de poder de polícia, suas
características, bem como os conceitos de polícia administrativa e polícia judiciária.
104
DETRAN SANTA CATARINA. Sobre infração de trânsito. Disponível em: < http://www.detran.sc.gov.br/infracoes/sobre.htm>. Acesso em: 24.04.2010. 105
JÚNIOR, José Cretella. Curso de Direito Administrativo. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. p. 521.
48
2.2.1 Conceito
Compreende-se o poder de polícia, numa concepção liberal advinda do
século XVIII, como sendo atividade estatal que visa a limitar o exercício dos direitos
individuais em prol da segurança, possuindo como fundamento o princípio da
predominância do interesse público sobre o particular, como preceitua Maria Sylvia
Zanella di Pietro106 em uma de suas obras.
É concepção de José Cretella Júnior sobre poder de polícia:
O poder de polícia, em geral, sempre existiu no Estado, qualquer que tenha sido sua natureza e funções, no que diz respeito aos fins da sociedade a ele referida, quer tenha sido um caráter amplo de política interna (concepção originária da polícia como governo), quer tenha sido concebido como instituição essencialmente administrativa, ou como administração jurídica, ou administração social do Estado. A ideia de Estado é inseparável da de polícia. (grifo do autor) 107
Resultante da executoriedade das leis, sendo este o seu objetivo, devendo
ser exercido com autoridade por quem o detiver. Pretende-se com o seu exercício
evitar um dano, entretanto leciona Celso Bandeira de Mello108 que por tal motivo
tende-se a caracterizá-lo como um poder negativo, mas na realidade tudo é questão
do ponto de vista, pois por meio deste pode tanto evitar um mal quanto fazer algo
que tenha utilidade ao público.
No art. 78 do Código Tributário Nacional, consta o seguinte conceito de
poder de polícia:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder
106 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 102-103. 107
JÚNIOR, José Cretella. Curso de Direito Administrativo. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. p. 537. 108 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p. 787-788.
49
Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.109
Na visão de Odete Medauar110, o Estado ao exercê-lo terá que ao mesmo
tempo impor e conciliar o conflito existente entre direitos e liberdades de indivíduos
ou ainda grupo de indivíduos, consistindo ainda num conjunto de procedimentos,
atos e fatos realizados pela Administração, sendo neste passo uma atividade
administrativa.
O poder de polícia pressupõe autorização legal implícita ou explícita com a
finalidade de autorizar a determinado órgão ou agente a escolha de agir, concepção
esta de José Cretella Júnior111.
De acordo Hely Lopes Meirelles112 cabe à entidade competente policiar, por
esta razão cabe à União regulamentar e policiar matérias que versem sobre
interesse nacional, bem como no tangente a matérias de interesse regional ficam
sob égide das normas e polícia estadual e ao policiamento municipal cabem os
assuntos locais. Sendo, portanto o poder de polícia um ato administrativo que se
subordina ao ordenamento jurídico e inclusive ao controle da legalidade exercido
pelo Poder Judiciário.
Leciona Diógenes Gasparini113 que o bem-estar social e o interesse público
são as bases para atribuição do poder de polícia, sendo competente para exercê-lo
o órgão ao qual é dado pela Lei Maior o poder sobre o mesmo.
Sendo predominante no referido poder o impedimento de um
comportamento, desta forma poderá ser garantido pelo Poder Público que a 109 BRASIL. Código Tributário Nacional. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5172.htm. Acessado em: 26.05.2010. 110
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2003. p. 358. 111
JÚNIOR, José Cretella. Curso de Direito Administrativo. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. p. 537. 112 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 32ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p.130. 113
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 10ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p.123 -125.
50
consequência da ação individual não resultará um dano social, menciona Celso
Bandeira de Mello114.
De acordo com Maria Sylvia Zanella di Pietro115, o poder de polícia será
dividido entre os Poderes Legislativo e Executivo baseando-se no princípio da
legalidade para atuação de seus atos, vez que este impossibilita à Administração,
senão em virtude de lei, impor obrigações e proibições, por tal razão será o poder de
polícia a faculdade que visa limitar o exercício dos direitos individuais, sendo que
referida limitação encontra-se embasada em lei.
Nesse sentido são palavras de Hely Lopes Meirelles:
O objeto do poder de polícia é todo bem, direito ou atividade individual que possa afetar a coletividade ou pôr em risco a segurança nacional, exigindo, por isso mesmo, regulamentação, controle e contenção pelo Poder Público. Com esse propósito, a Administração pode condicionar o exercício dos direitos individuais, pode delimitar a execução das atividades, como pode condicionar o uso de bens que afetem a coletividade em geral, ou contrariem a ordem jurídica estabelecida ou se oponham aos objetos pertencentes à Nação.116 (grifo do autor)
Terá ainda incidência em várias áreas, como segurança de pessoas e bens,
saúde e tranqüilidade públicas, até combate do poder econômico, preservação do
meio ambiente natural e cultural, entre outros, de acordo com Odete Medauar117.
Ainda, segundo a referida doutrinadora, a Administração, com respaldo legal
poderá manifestar o poder de polícia através da edição de decretos, resoluções,
deliberações, portarias, instruções, fiscalização, autuação, etc.
Cabe ressaltar que, como atividade que está submetida à lei, não será o
poder de polícia arbitrário, sendo este ainda sujeito às regras legais dentro de seu
limite de atuação. A ser constatado que no seu exercício houve abuso, o controle
114
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p. 791. 115
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 104. 116
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 32ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p.133-134. 117
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2003. p. 361-362.
51
jurisdicional e da Administração Pública poderá impor responsabilização por tal ato,
mesmo que o agente público tenha atuado com culpa, vez que tal responsabilidade
é tríplice, significa que será averiguada na esfera administrativa, civil ou patrimonial
e criminal, conforme entendimento de Diógenes Gasparini118.
No mesmo posicionamento, Álvaro Lazzarini:
Resumo tal posicionamento sustentando que, ao certo, as barreiras do exercício do poder de Polícia pela Administração Pública estão na estrita observância dos direitos humanos, pois, no regime democrático, repetindo o que anteriormente dissertei, todas as pessoas devem ter garantido seus direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais. Os Estados, pelos seus agentes públicos, não podem violar tais direitos humanos nem a pretexto do exercício do poder de polícia.119 (grifo do autor)
Observa, José Cretella Júnior120 que a polícia poderá ser vista sob
diversificados prismas, sendo esta dividida em três ramos principais: a) polícia
administrativa ou preventiva (a ser vista no item 2.2.3); b) polícia repressiva ou
judiciária (a ser tratada no item 2.2.4); c) polícia mista.
A polícia pode ser denominada, no entender de Álvaro Lazzarini121, como o
conjunto de instituições criadas pelo Estado, para seguir as prescrições legais e
regulamentos já estabelecidos, garantir a ordem pública e assegurar o bem estar
coletivo através de sua vigilância, mantendo-se a propriedade e outros direitos.
As medidas de polícia são efetivadas através da aplicação de sanções,
fixadas em lei, conforme anota Diógenes Gasparini122.
Diante do que foi elencado, se define poder de polícia como sendo ato do
Estado onde se prima pelos interesses coletivos, tendo que atuar no limite do que
preceitua a lei, sob pena da responsabilização da Administração Pública quando o
118
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 10ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p.127. 119
LAZZARINI, Álvaro. Temas de Direito Administrativo. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2005. p. 269. 120
JÚNIOR, José Cretella. Curso de Direito Administrativo. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. p. 523. 121
LAZZARINI, Álvaro. Temas de Direito Administrativo. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2005. p. 265. 122
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 10ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p.132.
52
agente público agir com dolo ou mesmo culpa, cabendo à polícia, seja ela
administrativa ou judiciária, a responsabilidade para a atuação devida deste.
2.2.2 Características
Ao poder de polícia serão atribuídos especificamente: 1) discricionariedade,
2) auto-executoriedade e 3) coercibilidade.
No entendimento de Álvaro Lazzarini123, se compreende por
discricionariedade quando, na aplicação das sanções administrativas, fica o agente
público obrigado a aplicar a quem comete infração o disposto na lei, entretanto não
podendo ultrapassar o limite por esta preceituado, pois caracterizaria arbitrariedade.
Por tal atributo, diante do cometimento de uma sanção, a Administração, por
critérios de oportunidade e conveniência de quem detiver o poder de polícia, aplica
os meios necessários para atingir o fim almejado visando à proteção do bem público,
não se reconhecendo de nenhum modo qualquer poder arbitrário, preceitua Hely
Lopes Meirelles124.
Considerando ainda uma atribuição que se torna efetivada através de atos
administrativos exercidos dentro de uma competência que por vezes poderá ser
vinculada e por vezes discricionária, de acordo com Diógenes Gasparini125.
Menciona Maria Zanella di Pietro, sobre o assunto:
Quanto à discricionariedade, embora esteja presente na maior parte das medidas de polícia, nem sempre isso ocorre. Às vezes, a lei deixa certa margem de liberdade de apreciação quanto a determinados elementos, como o motivo ou o objeto, mesmo porque ao legislador não é dado prever todas as hipóteses possíveis a atuação de polícia. Assim, em grande parte dos casos concretos, a
123
LAZZARINI, Álvaro. Temas de Direito Administrativo. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2005. p.266. 124
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 32ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p.136. 125
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 10ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p.127.
53
Administração terá que decidir qual o melhor momento de agir, qual o meio de ação mais adequado, qual a sanção cabível diante das previstas na norma legal. Em tais circunstancias, o poder de polícia será discricionário.126
A segunda característica é a auto-executoriedade significando que terá a
Administração Pública a liberdade de executar e deliberar sobre suas próprias
decisões, não necessitando de autorização judicial para tanto, na visão de Álvaro
Lazzarini127.
No mesmo sentido, Hely Lopes Meirelles128 afirma que é esta a faculdade do
Estado de por meios próprios, definir e executar sua decisão, impondo desta forma
as medidas ou sanções que se façam necessárias para obtenção da ordem pública,
cessando deste modo uma ação anti-social.
Menciona ainda o doutrinador referido que assim independe-se de mandado
judicial, sendo a Administração autorizada à prática do ato de polícia.
Já o terceiro atributo do poder de polícia consiste na autoexecutoriedade
onde será obstada materialmente a ação do individuo que está praticando atos anti-
sociais, o que se fará através de meios diretos de coação, segundo Maria Zanella di
Pietro129. Entretanto resta ressaltar, que nem todas as medidas de polícia são auto-
executórias, sendo necessária a existência de dispositivo legal que autorize
expressamente a Administração Pública a fazer uso desta faculdade ou ainda que
seja uma medida urgente na qual, sem a devida coação do Estado, poderá haver
prejuízo maior ao interesse público.
Ressalte-se que a Administração Pública poderá responder por qualquer
abuso que venha a ser cometido, principalmente quando forem casos de natureza
patrimonial, pois a autoexecutoriedade no poder de polícia só será legítima quando
126
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 106. 127
LAZZARINI, Álvaro. Temas de Direito Administrativo. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2005. p.267. 128
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 32ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p.136. 129
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 107.
54
não ultrapassar limites que dependam de determinação judicial, de acordo com
Diógenes Gasparini130, afirmando não ser a auto-execução válida nas medidas de
polícia, pois há certas medidas que dependem de autorização judicial para que se
faça valer a determinação estatal.
Por fim, em relação à coercibilidade, explica Hely Lopes Meirelles131 que o
poder de polícia por sua atuação não será uma faculdade para o particular, tendo
em vista que admite a coerção estatal para sua aplicação, nem sempre
necessitando de autorização judicial para que tal coerção ocorra. Tal atributo justifica
a utilização da força física quando o infrator demonstrar resistência, devendo ser
observado que isto não autoriza a violência desnecessária podendo tal fato ser
considerado abuso de poder por parte do agente público. Cabendo ainda ressaltar
que todo ato de polícia é imperativo.
Atuará a coercibilidade juntamente com a auto-executoriedade, uma vez que
o poder de polícia só se tornará auto-exercutório por ser dotado de força coercitiva
de acordo com Maria Sylvia Zanella132.
Portanto, como se pode perceber o poder de polícia contará com três
atributos para uma melhor e correta atuação.
2.2.3 Polícia Administrativa
A polícia administrativa é aquela que tem por objetivo garantir as regalias
que os habitantes não teriam como exigir por seu próprio esforço individual, devendo
fazê-lo de modo a propiciar a utilidade pública. Busca ainda garantir o repouso
130
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 10ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p.130. 131
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 32ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p.138. 132
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 108.
55
público e particular, coibindo atos que possam causar desordem, no entendimento
de José Cretella Júnior133.
Incidirá esta sobre os bens, direitos e atividades sendo ainda inerente e se
difundindo por toda a Administração Pública, conforme Hely Lopes Meirelles134.
Terá como característica ser executora das leis administrativas, entretanto
para cumpri-las não poderá exceder dos limites estabelecidos pela própria lei,
exercendo autoridade indistintamente sobre os indivíduos que estejam sujeitos ao
ordenamento jurídico, cabendo-lhe assim a supremacia geral, que compreende
senão a própria supremacia das leis concretizadas por meio de atos da polícia
administrativa, na concepção de Celso Bandeira de Mello135.
Explica Diógenes Gasparini136 que a polícia administrativa será
essencialmente preventiva, e, ainda que quando se faça necessário, seus agentes
ajam repressivamente, o seu exercício é realizado por meio de órgãos e agentes da
Administração Pública. Consiste o objeto desta a propriedade e a liberdade,
predispondo-se ainda a impedir atividades anti-sociais, tendo como regimento as
normas administrativas, ou seja, o Direito Administrativo.
Nesse sentido, são palavras de Maria Sylvia Zanella di Pietro:
[...] a polícia administrativa tanto pode agir preventivamente (como, por exemplo, proibindo o porte de arma ou a direção de veículos automotores), como pode agir repressivamente (a exemplo do que ocorre quando apreende a arma usada indevidamente ou a licença do motorista infrator). No entanto, pode-se dizer que, nas duas hipóteses, ela está tentando impedir que o comportamento individual cause prejuízos maiores à coletividade; nesse sentido, é certo dizer que a polícia administrativa é preventiva. 137 (grifo do autor)
133
JÚNIOR, José Cretella. Curso de Direito Administrativo. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. p. 534. 134
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 32ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p.131. 135
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p. 781. 136
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 10ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2005. p.127. 137
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 105.
56
Na visão de Odete Medauar138, cabe à polícia administrativa restringir o
exercício de atividades lícitas, atingindo direitos dos particulares, tanto individuais
quanto em grupos reconhecidos pelo ordenamento, sendo regida por princípios
constitucionais tais como: a legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade.
Atuará ainda a priori, ou seja, antes da concretização do dano, procurando
prevenir que os crimes ocorram, defendendo imediatamente os direitos dos
indivíduos e do Estado, sendo considerada, deste modo, como a polícia que visa
guardar a boa ordem da coisa administrativa, como exalta José Cretella Júnior139.
Citando ainda o mesmo doutrinador, o objeto primordial deste tipo de polícia
será o serviço público, tendo ainda por finalidade impedir preventivamente as
infrações das leis e assegurando a ordem pública com a prevenção dos delitos por
meio de determinações e ordens dirigidas para tal fim.
De acordo com Celso Bandeira de Mello140, a polícia administrativa se
manifestará por meio de atos normativos e que possuam alcance geral, bem como
de atos concretos e específicos, como regulamentos ou portarias, ou mesmo normas
administrativas que, por exemplo, disciplinem sobre o horário e condições de vendas
de bebidas alcoólicas. Envolvendo ainda atos fiscalizadores, através dos quais a
Administração Pública previne eventuais danos que poderiam advir da ação de
particulares.
Quanto a sua divisão, será a polícia administrativa repartida entre diversos
órgãos da Administração, incluindo a polícia militar, os vários órgãos de fiscalização
em que a lei lhe dê tal atribuição, tais como da área da saúde, educação, trabalho,
previdência e assistência social, segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro141.
138
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2003. p. 359-361. 139
JÚNIOR, José Cretella. Curso de Direito Administrativo. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. p. 533-534. 140
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p. 794-795. 141
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 105.
57
Assim, pode-se dizer que será a polícia administrativa, preventiva atuando
de modo a garantir a ordem pública, evitando deste modo danos futuros.
2.2.4 Polícia Judiciária
No entendimento de José Cretella Júnior142, a polícia judiciária, também
chamada de polícia de segurança, atuaria a posteriori, quer dizer após o
cometimento do delito, da segurança ter sido violada. Teria ainda um tríplice objetivo
a ser compreendido, sendo estes: ordem, segurança e tranquilidade.
Sobre a denominação de polícia judiciária faz referência Plácido e Silva:
“Polícia Judiciária: denominação dada ao órgão policial, a que se comete a missão de averiguar a respeito dos fatos delituosos ocorridos ou das contravenções verificadas, a fim de que sejam os respectivos delinqüentes ou contraventores punidos pela prática das infrações cometidas. A polícia judiciária é repressiva, porque, não tendo podido evitar o mal, por não ter sido previsto de modo efetivo, ou por qualquer outra circunstancia, procura, pela investigação dos fatos, recolher provas que os demonstram, descobrir os seus autores, entregando-os às autoridades judiciárias para que cumpram a lei.” 143
A asseguração da ordem pública é dever da Administração Pública e em
especial no aspecto segurança pública caberá à polícia fazê-lo. Designa-se esta
como o conjunto de instituições criadas pelo Estado e que de acordo com as
regulamentações legais estabelecidas, exercem vigilância com o intuito de que seja
mantida a ordem pública garantindo assim, o bem-estar coletivo, ressalta Álvaro
Lazzarini144.
142
JÚNIOR, José Cretella. Curso de Direito Administrativo. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. p. 534. 143
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Vol. III. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Forense. 1990. p. 387. 144
LAZZARINI, Álvaro. Temas de Direito Administrativo. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2005. p.264-266.
58
Na mesma direção, Odete Medauar145 afirma que a polícia judiciária tem a
finalidade de impedir o exercício de atividades vedadas pelo ordenamento jurídico,
portanto consideradas ilícitas. Além disso, ajudará o Estado e o Poder Judiciário no
sentido de prevenir e reprimir os delitos e ainda auxiliar o Judiciário no tocante ao
cumprimento de sentença.
Assim, a polícia judiciária possui um caráter repressivo, visando punir os
infratores da lei penal, sendo regida pelo direito processual penal, incidindo sobre
pessoas. Será ainda privativa de corporações especializadas tais como: polícia civil
e militar, segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro146.
Neste sentido é concepção de Celso Bandeira de Mello:
“Esta última seria a atividade desenvolvida por organismo – o da polícia de segurança – que cumularia funções próprias da polícia administrativa com a função de reprimir a atividade dos delinqüentes através da instrução policial criminal e captura dos infratores da lei penal, atividades que qualificariam a polícia judiciária. Seu traço característico seria seu cunho repressivo, em oposição ao preventivo, tipificador da polícia administrativa.” 147
Tal instituição encontra-se prevista no art. 144, IV da CRFB/1988, onde se
terá uma visão geral da Instituição, delineando-se aí seus contornos básicos, como
mencionam Rogério Antonio Lopes e Joel Bino de Oliveira148.
Constatam ainda os referidos autores que à polícia militar cabe naturalmente
a função de polícia preventiva, significando que com sua presença ostensiva tenta
evitar a ocorrência do delito e a polícia civil é o conjunto de autoridades que o
governo designa para que cumpram, os preceitos estabelecidos em lei visando
ambos manter a ordem pública.
145
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2003. p. 359. 146
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 105. 147
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21ª Ed. São Paulo: Malheiros. 2006. p. 791. 148
LOPES, Rogério Antonio; OLIVEIRA, Joel Bino de. Teoria e Prática da Polícia Judiciária. 2ª Ed. Curitiba: Juruá. 2006. p. 15.
59
A polícia judiciária consiste em órgão auxiliar do Poder Judiciário, terá como
uma de suas funções investigar as ocorrências delituosas, devendo ainda oferecer
ao Ministério Público embasamento para a propositura da ação penal. Será esta que
terá os primeiros contatos com a infração e tendo o dever de resguardar os
vestígios, de modo que estes não desapareçam, exalta Ismar Estulano Garcia149.
O doutrinador mencionado afirma também que a sua principal finalidade é a
confecção do Inquérito Policial e ressalta que apesar da denominação polícia
judiciária, não exerce atividade jurisdicional, contudo tem a função de preparar a
ação através de Inquérito Policial.
Nas palavras de José Cretella Júnior150 a polícia judiciária, senão mera
ordenação necessitada pelo processo judiciário penal consiste em atividade
administrativa da polícia de segurança em que de alguma forma se superpõe ao
invés de afastá-la.
Possui esta ainda o fim de realizar a investigação dos delitos e desvendar
quem o cometeu, antecipando deste modo a instrução preparatória dos respectivos
processos e prevenindo a criminalidade, principalmente aqueles que são praticados
de forma habitual.
Assim, de acordo com o levantamento bibliográfico realizado, pode-se
concluir que se trata a polícia judiciária de órgão repressivo, o qual faz parte da
segurança pública, que tem como atividade a repressão das infrações penais, além
de realizar procedimento investigatório com o fim de descobrir o autor do fato.
149
GARCIA, Ismar Estulano. Procedimento Policial. 10ª Ed. Goiânia: AB. 2006. p. 06. 150
JÚNIOR, José Cretella. Curso de Direito Administrativo. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. p. 535.
60
3 INCONSTITUCIONALIDADE OU CONSTITUCIONALIDADE DA LEI
11.705/08 (LEI SECA) NA COMPROVAÇÃO DE SUAS INFRAÇÕES –
FRENTE AOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS
Após destacar os princípios que aludem ao tema, os conceitos de infrações,
bem como quem detém o poder para a aplicação das sanções decorrentes das
mesmas, será abordado agora sobre tema propriamente dito, visando ao final
responder ao questionamento inicialmente levantado, sobre a constitucionalidade ou
não das inovações decorrentes da Lei nº 11.705/2008, popularmente chamada Lei
Seca, no tangente à apuração de suas infrações sob o prisma dos princípios e
garantias, objetos do primeiro capitulo do presente trabalho.
3.1 MODIFICAÇÕES AO CTB, INTRODUZIDAS PELA LEI 11.705/08
A Lei n° 11.705/2008 introduzida em nosso ordenamento jurídico em 19 de
junho do ano de 2008 que passou a ser conhecida popularmente por Lei Seca
trouxe modificações significativas ao Código de Trânsito Brasileiro.
O art. 5º da citada lei, assim estabelece, alterando algumas infrações
estabelecidas na legislação então em vigor:
“Art. 5o. A Lei. 9.503, de 23 de setembro de 1997, passa a vigorar com as
seguintes modificações.” 151
151
BRASIL. Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008. Altera a Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997, que ‘institui o Código de Trânsito Brasileiro’, e a Lei no 9.294, de 15 de julho de 1996, que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4o do art. 220 da Constituição Federal, para inibir o consumo de bebida alcoólica por condutor de veículo automotor, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11705.htm>. Acesso em: 08.05.2010.
61
Cabe ressaltar que a referida lei surgiu a partir da Medida Provisória nº
415/2008, convertida em lei, e que sua aplicação foi imediata, não prevendo período
de tempo para entrar em vigor.
Como já citado esta lei alterou a Lei Federal nº 9.503/1997 (o chamado CTB
– Código de Trânsito Brasileiro) com fins de trazer uma nova realidade ao trânsito
brasileiro e vindo ainda atender ao apelo popular no sentido de buscar a redução
dos acidentes causados nas estradas e rodovias do país, de acordo com Alessandro
Buarque Couto152.
Na visão do Diretor-Assistente de Fiscalização do DETRAN de São Paulo –
Arnaldo Luis Theodosio Pazetti, tal lei veio com o propósito de inaugurar uma nova
era no que diz respeito ao trânsito brasileiro, vindo a garantir a preservação das
vidas humanas.153
Segundo Wagner Martins Carrasco de Oliveira154, a Lei Seca inicialmente
veio por gerar uma grande repercussão nacional, pela razão das inúmeras notícias
veiculadas pelos meios de comunicação acabando por dar a impressão de que a
violência no trânsito ocorre apenas pela combinação “bebida e direção” e que isto
estaria por acabar, bem como a impunidade dos que viessem por trafegar em tais
condições.
Sobre o fato da lei não ter tido a vacatio legis (período decorrente do dia da
publicação de uma lei até a data em que esta entra em vigor) como anteriormente
152 COUTO, Alessandro Buarque. Explicando a Lei Seca de Trânsito (Lei nº 11.705/2008). DireitoNet. Ago. 2008. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4553/Explicando-a-Lei-Seca-de-Transito-Lei-11705-2008 >. Acesso em: 07.05.2010. 153 PAZETTI, Arnaldo Luis Theodosio. As nem tão boas alterações do CTB trazidas pela Lei 11.705/08. DireitoNet. Ago. 2008. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4532/As-nem-tao-boas-alteracoes-do-CTB-trazidas-pela-Lei-11705-2008 >. Acesso em: 07.05.2010. 154 OLIVEIRA, Wagner Martins Carrasco de. Aplicação do artigo 306 do Código de Trânsito Nacional diante das alterações trazidas pela Lei nº 11.705/08 (“Lei Seca”). JusBrasil. Jun. 2009. Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/noticias/1250744/aplicacao-do-artigo-306-do-codigo-de-transito-nacional-diante-das-alteracoes-trazidas-pela-lei-11705-08-lei-seca-wagner-martins-carrasco-de-oliveira>. Acesso em: 05.05.2010.
62
citado, Karyna Rocha Mendes da Silveira155 diz que, com o rigor que esta possui foi
de causar certa estranheza este fato, vez que a vacatio legis permitiria aos
condutores conhecer a lei e serem educados por ela.
José Carlos de Oliveira Robaldo156, afirma que a Lei Seca trouxe grandes
alterações ao Código de Trânsito, tanto no que diz respeito a sua parte
administrativa, como em sua parte penal, ficando mais rigoroso e tentando uma
maior efetividade no sentido de diminuir os acidentes de trânsitos muitas vezes
causados por motoristas embriagados.
Entretanto, cabe salientar, como conclui André Abreu de Oliveira157, que
algumas regras já se encontravam estabelecidas no CTB, foram apresentadas como
novidades advindas com a Lei nº 11.705/2008, quando não houve modificação
alguma.
Já Edgar Godoes Almada158 informa que a citada lei repercutiu no âmbito
das diversas doutrinas, por alterar os artigos 165, 276, 277, 291, 296 e 306 da Lei nº
9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro).
Antes de analisar as mudanças ocorridas com o advento da lei, Luiz Flávio
Gomes159 ressalva que foi vetado pelo Gabinete de Segurança Institucional e pelo
155
SILVEIRA, Karyna Rocha Mendes da. Lei Federal nº 11.705/08 (lei seca): punir, arrecadar, não educar e lucrar. DireitoNet. Set. 2008. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4552/Lei-Federal-no-11705-lei-seca-punir-arecadar-nao-educar-e-lucrar>. Acesso em: 05.05.2010. 156
ROBALDO, José Carlos de Oliveira. Mudanças no Código de Trânsito Brasileiro: Algumas Reflexões. Jusbrasil. Set. 2008. Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/noticias/39191/mudancas-no-codigo-de-transito-brasileiro-algumas-reflexoes-jose-carlos-de-oliveira-robaldo>. Acesso em: 05.05.2010. 157
OLIVEIRA, André Abreu de. Lei nº 11.705/08: novidades no combate à embriaguez ao volante. Jusnavegandi. Jul. 2008. Disponível em: < http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11497>. Acesso em: 06.05.2010. 158
ALMADA, Edgar Godoes. As recentes Modificações no Artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro Trazidas pela Lei 11.705 e sua Aplicação Diante da Sistemática Jurídica Nacional. Artigonews. Jul. 2009. Disponível em: < http://www.artigosnews.com.br/artigo.php?id_artigo=788>. Acesso em: 07.05.2010. 159
GOMES, Luiz Flávio. Lei nº 11.705/2008 – Tolerância zero aplicada ao Código de Trânsito Brasileiro. Jusbrasil. Jun. 2008. Disponível em: <
63
Ministério da Justiça o inciso VII do art. 5º que viria por alterar o art. 301 da Lei
9.503/97.
O citado inciso apresentava três exceções quando nos casos em que
motorista presta socorro às vítimas e em decorrência disto não seria realizada a
prisão em flagrante. Contudo, no texto encaminhado ao Presidente da República,
indicava-se o veto do citado art. 5º VII da Lei nº 11.705/2008 pela explicação de que
poderia acabar estimulando a não prestação de socorro, tornando-se, assim, um
perigo ressaltado.
A partir deste momento se passará a conferir as mudanças realizadas com o
advento da Lei nº 11.705/2008.
O art. 165 do CTB continha a seguinte redação:
Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool, em nível superior a seis decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica. Infração - gravíssima; Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir; Medida administrativa - retenção do veículo até a apresentação de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitação. Parágrafo único. A embriaguez também poderá ser apurada na forma do art. 277.160
Foi acrescentado ao citado artigo o gênero “substância psicoativa” no
sentido de não haver possibilidade de interpretações restritivas, não fazendo mais
menção às espécies físicas e psíquicas, menciona Alessandro Buarque Couto161.
Ainda segundo este, a infração continuou a ser considerada gravíssima, bem
como no tangente à medida administrativa cabível que seria a retenção do veículo
http://www.jusbrasil.com.br/noticias/34500/lei-n-11705-2008-tolerancia-zero-aplicada-ao-codigo-de-transito-brasileiro>. Acesso em: 06.05.2010. 160 BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: < http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral. action?id=75726>. Acesso em: 19.05.2010. 161
COUTO, Alessandro Buarque. Explicando a Lei Seca de Trânsito (Lei nº 11.705/2008). DireitoNet. Ago. 2008. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4553/Explicando-a-Lei-Seca-de-Transito-Lei-11705-2008 >. Acesso em: 07.05.2010.
64
até que se apresente condutor habilitado, além da aplicação de multa no valor de
cinco vezes 180 UFIR (correspondendo a R$ 957,90).
Outro fator que merece destaque é que na redação anterior era permitido até
seis decigramas de álcool por litro de sangue, entretanto como agora vige a
tolerância zero não poderá haver nenhum rastro de álcool no sangue, não sendo,
portanto permitido nenhuma quantidade, menciona Luiz Flávio Gomes.162
Entretanto Arnaldo Rizzardo163, afirma que tal imposição foi imposta pela Lei
nº 11.275/2006, que anteriormente havia modificado alguns artigos do CTB.
O art. 276 do CTB antes da Lei nº 11.705/08 possuía a seguinte texto:
Art. 276. A concentração de seis decigramas de álcool por litro de sangue comprova que o condutor se acha impedido de dirigir veículo automotor. Parágrafo único. O CONTRAN estipulará os índices equivalentes para os demais testes de alcoolemia.164
Com a nova redação dada pela lei 11.705/08, o citado artigo já não faz
menção aos seis decigramas de litro por sangue, passando a vigorar que qualquer
concentração de álcool encontrada no sangue sujeitará o condutor às penalidades
previstas no art. 165 do CTB, nas palavras de Edgar Godoes Almada.165
O parágrafo único do art. 276 do CTB, passou a informar que nos casos
específicos o Órgão do Poder Executivo Federal disciplinará as margens de
162
GOMES, Luiz Flávio. Lei nº 11.705/2008 – Tolerância zero aplicada ao Código de Trânsito Brasileiro. Jusbrasil. Jun. 2008. Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/noticias/34500/lei-n-11705-2008-tolerancia-zero-aplicada-ao-codigo-de-transito-brasileiro>. Acesso em: 06.05.2010. 163
RIZZARDO, Arnaldo. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2010. p. 380. 164 BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: < http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral. action?id=75726>. Acesso em: 19.05.2010. 165
ALMADA, Edgar Godoes. As recentes Modificações no Artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro Trazidas pela Lei 11.705 e sua Aplicação Diante da Sistemática Jurídica Nacional. Artigonews. Jul. 2009. Disponível em: < http://www.artigosnews.com.br/artigo. php?Id_artigo=788>. Acesso em: 07.05.2010.
65
tolerância, ressalta Alessandro Buarque Couto166, assim não fazendo mais menção
ao CONTRAN.
Era redação do art. 277 e seguintes parágrafos:
Art. 277. Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de haver excedido os limites previstos no artigo anterior, será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia, ou outro exame que por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado. §1º Medida correspondente aplica-se no caso de suspeita de uso de substância entorpecente, tóxica ou de efeitos análogos. §2º No caso de recusa do condutor à realização dos testes, exames e da perícia previstos no caput deste artigo, a infração poderá ser caracterizada mediante a obtenção de outras provas em direito admitida pelo agente de trânsito acerca dos notórios sinais de embriaguez, excitação ou torpor, resultantes do consumo de álcool ou entorpecentes, apresentados pelo condutor.167
Como observa Luiz Flávio Gomes168, o art. 277 do CTB teve o segundo
parágrafo alterado e foi acrescido um terceiro parágrafo. Sendo ainda, com a
alteração, será permitido ao agente de trânsito obter a comprovação da ingestão de
bebida alcoólica por qualquer meio de prova admitido em direito, como “acerca dos
notórios sinais de embriaguez, excitação ou torpor apresentados pelo condutor”.
Conforme o citado autor, o parágrafo terceiro do referido artigo foi
introduzido com a Lei Seca e veio por aplicar penalidade a quem se recusar a se
submeter a qualquer procedimento previsto com o fim de constatar a embriaguez.
O art. 291 do CTB continha a seguinte redação:
Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código
166
COUTO, Alessandro Buarque. Explicando a Lei Seca de Trânsito (Lei nº 11.705/2008). DireitoNet. Ago. 2008. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4553/Explicando-a-Lei-Seca-de-Transito-Lei-11705-2008 >. Acesso em: 07.05.2010. 167
RIZZARDO, Arnaldo. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2010. p. 535. 168
GOMES, Luiz Flávio. Lei nº 11.705/2008 – Tolerância zero aplicada ao Código de Trânsito Brasileiro. Jusbrasil. Jun. 2008. Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/noticias/34500/lei-n-11705-2008-tolerancia-zero-aplicada-ao-codigo-de-transito-brasileiro>. Acesso em: 06.05.2010.
66
Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. Parágrafo único. Aplicam-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa, de embriaguez ao volante, e de participação em competição não autorizada o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.169
Informa Edgar Godoes Almada170 que, com relação ao art. 291 do CTB
apenas foi modificado o tratamento ao condutor de veículo que dirige embriagado,
pois deixa de ser processado no Juizado Especial que trata dos crimes de menor
potencial ofensivo.
Possuía o art. 306 do CTB o seguinte texto:
Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.171
Na visão de Alessandro Buarque Couto172, a nova redação dada ao art. 306
do CTB, determina que o motorista que conduzir veículo na via pública estando com
concentração de álcool no sangue igual ou mesmo superior a seis decigramas de
álcool por litro de sangue ou ainda sob a influência de qualquer outra substância
psicoativa implicará em pena criminal, vez que o citado artigo encontra-se inserido
no rol dos crimes em espécies trazidos pelo CTB.
169 BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: < http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral. action?id=75726>. Acesso em: 19.05.2010. 170
ALMADA, Edgar Godoes. As recentes Modificações no Artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro Trazidas pela Lei 11.705 e sua Aplicação Diante da Sistemática Jurídica Nacional. Artigonews. Jul. 2009. Disponível em: < http://www.artigosnews.com.br/artigo. php?id_artigo=788>. Acesso em: 07.05.2010. 171
RIZZARDO, Arnaldo. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. 7ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2010. p. 600. 172
COUTO, Alessandro Buarque. Explicando a Lei Seca de Trânsito (Lei nº 11.705/2008). DireitoNet. Ago. 2008. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4553/Explicando-a-Lei-Seca-de-Transito-Lei-11705-2008 >. Acesso em: 07.05.2010.
67
Já Edgar Godoes Almada diz que as alterações não foram muito
significativas, podendo afirmar que estas foram de natureza formal. Sendo a primeira
delas que a concentração de álcool no sangue, em qualquer quantidade, passa a
configurar conduta ilícita, fazendo surgir um maior rigor na atuação e aplicação nas
fiscalizações realizadas pela polícia, vindo tal rigor a instituir a conhecida Lei
Seca.173
Com a nova redação dada ao art. 306 não é mais exigida à comprovação de
que a vítima tenha sido exposta a algum perigo concreto, ressalta Luiz Flávio
Gomes174.
Entretanto o citado autor menciona que no tocante às penas estas não foram
alteradas, permanecendo as mesmas.
Após verificar as mudanças ocorridas com o advento da Lei nº 11.705/2008
que em seu art. 5º modificou as infrações tipificadas no CTB, se passará ao tema
propriamente dito analisando-o em relação à problemática decorrente dos
posicionamentos em prol da constitucionalidade ou inconstitucionalidade da mesma.
3.2 CONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº 11.705/2008 NA COMPROVAÇÃO DE
SUAS INFRAÇÕES
Neste item serão verificadas as opiniões dos doutrinadores que se
posicionam a favor da constitucionalidade da Lei nº 11.705/2008, no que diz respeito
a suas infrações, no sentido de que esta não estaria por ferir princípios e garantias
173
ALMADA, Edgar Godoes. As recentes Modificações no Artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro Trazidas pela Lei 11.705 e sua Aplicação Diante da Sistemática Jurídica Nacional. Artigonews. Jul. 2009. Disponível em: < http://www.artigosnews.com.br/artigo. php?id_artigo=788>. Acesso em: 07.05.2010. 174
GOMES, Luiz Flávio. Reforma do Código de Trânsito (Lei 11.705/2008): novo delito de embriaguez ao volante. Jusbrasil. Jun. 2008. Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/noticias/35596/reforma-do-codigo-de-transito-lei-n-11705-2008-novo-delito-de-embriaguez-ao-volante>. Acesso em: 05.05.2010.
68
constitucionais. Pelo contrário visaria proteger o maior bem jurídico disposto na
CRFB/1988 que corresponderia ao direito à vida.
Cássio Mattos Honorato175 afirma que a relevância das atividades de
fiscalização e do policiamento no que diz respeito ao trânsito são fatores de
prevenção de eventos culposos e devendo atingir o objetivo prioritário observado no
Código de Trânsito Brasileiro que seria a proteção à vida e à incolumidade da
pessoa física.
Na mesma direção a Advocacia Geral da União176 considerou que a Lei nº
11.705/2008, popularmente conhecida como Lei Seca é constitucional, visto que é
necessária para a realização do exercício público, ou seja, para reduzir o número de
mortes na estrada. Inclusive encaminhou parecer ao STF na data de 24 de julho do
ano de 2008 recomendando que este considere a constitucionalidade da referida lei,
visto que a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) ingressou
com Ação Direta de Inconstitucionalidade requerendo que seja declara a
inconstitucionalidade da lei (a ser visto no item 3.3).
Na concepção de Leon Fredja Szklarowsky:
Impõe restrições que a própria Constituição admite. O artigo 5º é expressivo, quando afirma que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:...". Vale dizer: o direito não é absoluto, está sujeito às restrições impostas pela lei e pela própria Carta. O direito à vida, à segurança e à incolumidade são valores fundamentais que se superpõe a qualquer outro direito. Regis de Oliveira, magistrado e deputado, em alentado artigo, sobre a religião e a transfusão de sangue, defende esta tese com inequívoco brilho e incontestáveis argumentos. O Supremo Tribunal Federal, em memorável julgamento, sufragou o mesmo entendimento.177
175 HONORATO, Cássio Mattos. O Trânsito em Condições Seguras. 1ª Ed. Campinas: Millennium. 2009. p. 21. 176
CONSULTOR JURÍDICO. AGU vai ao Supremo defender a constitucionalidade da Lei Seca. Conjur. 25. Jul. 2008. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2008-jul-25/agu_stf_defender_constitucionalidade_lei_seca>. Acesso em: 05.05.2010. 177
SZKLAROWSKY, Leon Fredja. A Lei Seca e o valor a vida. Jusnavegandi. Jul. 2008. Disponível em: < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11499>. Acesso em: 05.05.2010.
69
Entretanto, há alguns complicadores, como o princípio da presunção da
inocência disposto no art. 5º, LVII da CRFB/88 (visto no item 1.4) que informa que
um indivíduo não poderá ser considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença condenatória. Deste modo, a prova de embriaguez ao volante terá que ser
convincente, séria e consistente o suficiente para afastar um princípio constitucional,
menciona Cássio Mattos Honorato178.
É posicionamento do TRF da 4ª região179:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. ANULATÓRIA DE MULTA. DEVOLUÇÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO. LEI Nº 11.705/2006. RESOLUÇÃO Nº 206/06 DO CONTRAN. Processo: 2009.04.00.019443-0. MARGA INGE BARTH TESSLER. 1. A autuação seguiu os parâmetros determinados na lei nº 11.705/2006 e na Resolução nº 206/06 do CONTRAN. A submissão ao teste pelo etiliômetro foi espontânea. Não há como em juízo sumário da lide se reconhecer verdadeira a alegação de que houve erro de medição pelo equipamento utilizado para aferir o teor alcoólico da autora. 2. Quanto à alegação de inconstitucionalidade das inovações trazidas pela Lei nº 11.705/2006, deve prevalecer à presunção de constitucionalidade das leis.
Em seu voto diz a Relatora, que para conter a violência que ocorre em nosso
trânsito é necessária a adoção de medidas capazes de atender aos apelos da
sociedade por um trânsito mais seguro. A restrição de acesso do motorista a
bebidas alcoólicas e o patrulhamento ostensivo, com certeza inserem-se nos
deveres do Poder Público.
De acordo com Leon Fredja Szklarowsky180, não procede dizer que a Lei nº
11.705/2008 seria inconstitucional por obrigar o condutor de veículo automotor a
realizar prova contra si mesmo.
178
HONORATO, Cássio Mattos. O Trânsito em Condições Seguras. 1ª Ed. Campinas: Millennium. 2009. p. 21. 179 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Agravo de instrumento nº 2009.04.00.019443-0. Porto Alegre. RS. 13 de outubro de 2008. Disponível em: < http://www.trf4.jus.br/trf4/jurisjud/resultado_pesquisa.php >. Acesso em: 27.05.2010.
70
Ainda na concepção do doutrinador acima citado, o que existe é a proibição
de dirigir veículo após ingerir bebida alcoólica ou estar sob efeito de outras
substâncias ilícitas.
No tocante ao art. 277, §3º do CTB, menciona Cássio Mattos Honorato181
que a recusa à realização do teste de alcoolemia precisa ser analisada em confronto
com os princípios constitucionais com intuito de evitar prisões que venham a ser
ilegais, proporcionando, assim, a eficácia das regras que integram o trânsito.
Conforme o doutrinador anteriormente citado, considerando a natureza
jurídica da Carteira Nacional de Habilitação e por ser possível a suspensão ou
retirada desta, o art.277, §3º do CTB é constitucional, encontra-se em consonância
com a legislação pátria.
Quanto ao crime de embriaguez ao volante descrito no art. 306 do CTB,
informa ainda, o referido doutrinador que, considerando os meios de provas para a
confirmação da embriaguez do motorista, tem apenas meros indícios que seriam
incapazes de fundamentar a sentença condenatória e romper o princípio da
presunção de inocência. Contudo se tais meios de provas forem apresentados em
um conjunto harmônico, com caráter científico certamente já se terá elementos
suficientes para embasar uma condenação.
Agora, vistos os argumentos em favor da constitucionalidade na
comprovação das infrações da chamada Lei Seca, serão estudados os fundamentos
apontados pelos autores que se posicionam quanto à inconstitucionalidade desta.
180
SZKLAROWSKY, Leon Fredja. A Lei Seca e o valor a vida. Jusnavegandi. Jul. 2008. Disponível em: < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11499>. Acesso em: 05.05.2010. 181
HONORATO, Cássio Mattos. O Trânsito em Condições Seguras. 1ª Ed. Campinas: Millennium. 2009. p. 31-44.
71
3.3 INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº 11.705/2008 NA COMPROVAÇÃO DE
SUAS INFRAÇÕES
Desde sua entrada em vigor, a Lei nº 11.705/2008 veio por trazer muita
discussão no meio jurídico, pois alguns doutrinadores defendem que a referida lei
seria inconstitucional, vez que desobedeceria a alguns preceitos constitucionais
resguardados pela CRFB/1988.
E atingindo tais princípios estar-se-ia violando diretamente a mesma, visto
que princípios como os da razoabilidade e da proporcionalidade, observados no
primeiro capítulo nos itens 1.1 e 1.2, que apesar de não estarem dispostos em
nenhum artigo, encontram-se intrínsecos nesta.
Os agentes de trânsito por sua vez, possuem o chamado poder de polícia
como foi verificado no segundo capítulo e por tal razão tem o poder de fiscalizar e
punir quem pratica as infrações de trânsito, entretanto como será demonstrado, isso
não lhes dá o direito de não respeitar princípios como o da presunção da inocência
em que se encontram englobadas garantias como o direito ao silêncio e o direito de
não produzir provas contra si mesmo.
Nesse sentido são palavras de Sacha Calmon:
E que o Estado não se conscientize de que deve agir com persuasão com melhores condições de tráfego e não apenas pelo exercício da violência, seja ela legislativa ou administrativa, na hora que os funcionários públicos, que dotamos de poder de polícia, aplicarem a lei aos casos concretos.182
182
CALMON, Sacha. Lei seca não respeitou princípio da proporcionalidade. Conjur. Nov. 2008. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2008-nov-22/lei_seca_nao_respeitou_principio_proporcionalidade >. Acesso: 05.05.2010.
72
Conforme Vlamir Costa Magalhães183 foi sob grande aplauso da mídia e na
contramão da história que foi sancionada a Lei nº 11.705/2008, desprezando o
legislador diversos aspectos jurídico-constitucionais importantes.
Na visão de Luiz Flávio Gomes184, desde a vigência da Lei nº 11.705/2008
estão ocorrendo muitos exageros, equívocos e abusos, um exemplo disto é que uma
pessoa foi flagrada no teste de alcoolemia, após ingerir dois bombons de licor. Por
mais que se queria evitar as inúmeras mortes que vem ocorrendo no trânsito
brasileiro isso se caracteriza um exagero e não pode a Administração Pública atuar
com falta de razoabilidade
A Lei nº 11.705/2008 trouxe a noção de que é proibido ingerir bebida
alcoólica, vez que trouxe uma nova realidade a respeito do direito de fazer uso de
bebidas alcoólicas no Brasil, diz César Augusto Maragon185.
Ainda segundo o mesmo doutrinador, o legislador infraconstitucional fez
modificações no texto legal, no entanto demonstrou completo desconhecimento da
Constituição Federal, pois diversos artigos alterados pela Lei nº 11.705/08 se
tornaram inconstitucionais.
E Como visto anteriormente no primeiro capítulo (no item 1.2) o princípio da
proporcionalidade deve ser a exata proporção entre as necessidades e os atos
realizados pela Administração, visando o interesse do bem coletivo sobre o interesse
individual, no entanto não poderá legitimar atos descabíveis e que venham por se
tornar desproporcionais e consequentemente violadores da lei.
Na visão de Yordan Moreira Delgado186, a Lei Seca é um claro desrespeito
ao princípio da proporcionalidade, percebendo-se tal desrespeito no sentido de que 183
MAGALHÃES, Vlamir Costa. A produção obrigatória de prova acusatória pelo réu: uma aberração aplaudida e legislada. Jusnavegandi. Jul. 2008. Disponível em: < http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11605>. Acesso em: 05.05.2010. 184
GOMES, Luiz Flávio. Lei Seca (Lei nº 11.705/2008). Exageros, equívocos e abusos das operações policiais. Jusnavegandi. Jul. 2008. Disponível em: < http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11496>. Acesso em: 05.05.2010. 185
MARAGON, César Augusto. A inconstitucionalidade da Lei nº 11.705/08 e seus efeitos. Direitonet. Jan. 2009. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4818/A-inconstitucionalidade-da-Lei-11705-08-e-seus-efeitos>. Acesso em: 05.05.2010.
73
basta a pessoa ingerir, por exemplo, dois bombons de licor e já ultrapassariam a
quantidade estabelecida pela lei. Sendo-lhe aplicada a multa disposta no art. 165 do
CTB, bem como cometeria crime de trânsito estabelecido no art. 306 do CTB por
estar dirigindo embriagado em quantidade superior a seis decigramas de álcool por
litro de sangue. Podendo-se perceber num exemplo como este, que não houve bom
senso e muito menos tolerância por parte do legislador.
O art. 277, § 3º do CTB absurdamente “obriga” o cidadão a se submeter ao
bafômetro, pois na recusa deste estará a condutor do veículo sujeito às penalidades
previstas no art. 165 do CTB. Bem como o art. 306 do CTB, que com as
modificações advindas pela lei se estiver com a taxa de alcoolemia igual ou superior
a seis decigramas, responderá também criminalmente. Deste modo a mesma
infração de trânsito pode tanto ser considerada na esfera administrativa quanto na
esfera criminal, leciona Tiago Augusto de Macedo Binati187.
Menciona o referido autor que a boa intenção da nova lei, fez com que o
legislador ou seus intérpretes esquecessem os princípios constitucionais seculares,
tais como, o do contraditório, ampla defesa e presunção de inocência.
Nessa direção segue o Juiz Ricardo Teixeira Lemos:
Conforme esses dispositivos, toda pessoa deverá ser submetida a bafômetro, exame de sangue e outros. Dessa forma, ela não tem escolha, uma vez que terá de produzir prova contra si ou levará multa, com pontuação gravíssima, apreensão da CNH e do veículo e ainda suspensão da carteira por 12 meses. Em direito processual quem é acusado não produz prova contra si, mas defesa.188
186
DELGADO, Yordan Moreira. Lei Seca pode reduzir acidentes, mas provoca injustiças graves. Conjur. Jul. 2008. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2008-jul-16/lei_seca_reduzir_acidentes_provoca_injusticas_graves?pagina=3>. Acesso em: 05.05.2010. 187
BINATI, Tiago Augusto de Macedo. Intérpretes da lei seca esqueceram-se da Constituição. Conjur. Ago. 2008. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2008-ago-02/interpretes_lei_seca_esqueceram-se_constituicao>. Acesso em: 26.05.2010. 188
JUSBRASIL. Juiz declara a inconstitucionalidade da Lei Seca. JusBrasil. 27.06.2009. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/noticias/105424/juiz-declara-inconstitucionalidade-da-lei-seca>. Acesso: 26.05.2010.
74
Para Luiz Flávio Gomes189, quem está embriagado, mas não vem ocasionar
perturbação a segurança viária, não está cometendo crime, portanto não poderá ser
preso em flagrante, no entanto, deve sofrer as infrações administrativas elencadas
no art. 165 do CTB. E no caso de o condutor de veículo automotor ser surpreendido
em blitz policial e se recusar a fazer o teste do bafômetro, não estará o sujeito
obrigado a ceder seu corpo ou parte dele para fazer prova, tendo em vista que não
será obrigado a produzir provas contra si mesmo. Entretanto, alguns delegados de
polícia pela recusa do condutor, querem realizar prisão em flagrante por
desobediência, isto é equivocado, porque tal recusa não pode sujeitá-lo a nenhuma
sanção, visto que conta com a garantia constitucional de não se auto-incriminar.
No mesmo sentido Vlamir Costa Magalhães190, leciona que em nenhuma
hipótese se pode forçar a confissão, a prova obrigatória do motorista ou ainda extrair
da legítima recusa deste qualquer presunção que não o favoreça. Por mais nobre
que tenha sido a intenção do legislador, mas em respeito ao brocardo nemo tenetur
se detegere, definitivamente tem-se um exemplo de que o fim não justificaria os
meios, razão em que procede a violação do princípio da razoabilidade.
Afirma ainda o referido autor, que o princípio da não obrigatoriedade de
produção de provas pelo acusado, consistiria em consectário lógico e inseparável do
direito de permanecer em silêncio (art. 5º, LXIII da CRFB/1988) e do princípio da
presunção da inocência (art. 5º, LVII, CRFB/1988).
Faz referência ao assunto Sacha Calmon:
[...] pelos tratados sobre direitos humanos assinados pelo Brasil e por derivação dos princípios constitucionais, agora e sempre, ninguém está obrigado a fazer prova contra si próprio, nem tampouco ser condenado sem arrimo de prova, por mera presunção.
189
GOMES, Luiz Flávio. Lei Seca (Lei nº 11.705/2008). Exageros, equívocos e abusos das operações policiais. Jusnavegandi. Jul. 2008. Disponível em: < http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11496>. Acesso em: 05.05.2010. 190
MAGALHÃES, Vlamir Costa. A produção obrigatória de prova acusatória pelo réu: uma aberração aplaudida e legislada. Jusnavegandi. Jul. 2008. Disponível em: < http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11605>. Acesso em: 05.05.2010.
75
Quando isso ocorre, a teoria jurídica das provas terá ido à breca e o Estado de direito volverá ser Estado policial.191
Não há na Lei Seca a proporcionalidade cabida para a imposição de uma
penalidade, tanto no que diz respeito ao âmbito administrativo, quanto no penal. Os
abusos, evidentemente devem ser contidos pela autoridade policial e judiciária, mas
dentro da devida razoabilidade e proporcionalidade, sob pena de regressar no
tocante à evolução penal, afirma Tiago Augusto de Macedo Binati192.
Na visão de Yordan Moreira Delgado193, a intervenção do Estado por meio
do direito penal, só deveria ser necessária para impor um crime, se o motorista, além
de ter ingerido bebida alcoólica, viesse a causar perigo concreto à segurança viária
através de conduta de direção perigosa.
Na concepção de César Augusto Maragon194, a partir do momento que a Lei
nº 11.705/2008 sinaliza como obrigatória a passagem pelo teste de alcoolemia,
exames clínicos, perícia ou qualquer outro exame que constate a quantidade de
álcool no sangue, nota-se um texto contrário a todo organograma constitucional,
pautado nos princípios da ampla defesa, da presunção da inocência e no direito de
permanecer calado. Ficando deste modo, evidente a agressão ao texto
constitucional no art. 277, §3º do CTB, devendo coibir que tais absurdos legislativos
tenham seus efeitos inconstitucionais efetivamente produzidos.
191
CALMON, Sacha. Lei seca não respeitou princípio da proporcionalidade. Conjur. Nov. 2008. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2008-nov-22/lei_seca_nao_respeitou_principio_proporcionalidade >. Acesso: 05.05.2010. 192
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76
O art. 277,§3º do CTB, em tese, originaria uma inconstitucionalidade informa
Alessandro Buarque Couto195, concordando assim com o que outrora foi
mencionado por outros autores que ninguém será obrigado a produzir provas contra
si. Mesmo que a prova não seja produzida, será o condutor multado.
Observa Vlamir Costa Magalhães196, que na recusa do condutor em
participar da produção de provas contra si, restará esta ser produto da quase
sobrenatural habilidade criada pela lei em prol das autoridades de trânsito.
Ainda de acordo com o autor acima citado, deverá haver responsabilização
penal, cível e administrativa dos agentes de trânsito que atuam na fiscalização do
cumprimento da Lei nº 11.705/2008.
No tocante ao art. 306 do CTB, generaliza a condição para que cada
indivíduo seja considerado em estado de embriaguez, contrariando deste modo os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade, segundo César Augusto
Maragon197.
Ainda conforme o referido autor, a partir do momento em que a CRFB/1988
consolida a individualização da pena (art. 5º, XLVI, caput), deixa implícito que estas
devem ser proporcionais ao delito cometido. Sendo ainda o princípio da
proporcionalidade observado em diversos momentos dentro da CRFB/1988, pelo
qual será o mencionado princípio a exata adequação entre a finalidade social de
determinada norma e a forma encontrada para atingi-la.
Já no que diz respeito ao princípio da razoabilidade o mencionado autor,
informa que se faz necessário sua observação para que se possa analisar a redação
195
COUTO, Alessandro Buarque. Explicando a Lei Seca de Trânsito (Lei nº 11.705/2008). DireitoNet. Ago. 2008. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4553/Explicando-a-Lei-Seca-de-Transito-Lei-11705-2008 >. Acesso em: 07.05.2010. 196
MAGALHÃES, Vlamir Costa. A produção obrigatória de prova acusatória pelo réu: uma aberração aplaudida e legislada. Jusnavegandi. Jul. 2008. Disponível em: < http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11605>. Acesso em: 05.05.2010. 197
MARAGON, César Augusto. A inconstitucionalidade da Lei nº 11.705/08 e seus efeitos. Direitonet. Jan. 2009. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4818/A-inconstitucionalidade-da-Lei-11705-08-e-seus-efeitos>. Acesso em: 05.05.2010.
77
e aplicação da Lei Seca, ou seja, que ela se encontra em razoabilidade com os
costumes e regras sociais estabelecidas na sociedade, constando-se que a referida
lei não se encontra na mesma direção social e cultural da sociedade brasileira.
Segundo Yordan Moreira Delgado198 é fácil perceber que o novo tipo penal
de embriaguez ao volante disposto no art. 306 do CTB não é proporcional, portanto
constituindo em clara violação ao princípio constitucional da proporcionalidade. Bem
como, haja uma política de conscientização da população e fiscalização mais
rotineira por parte do Estado.
Recentemente em notícia publicada no Site Consultor Jurídico, em 16 de
janeiro do corrente ano199, os desembargadores da 8ª Câmara Criminal do Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro entenderam que para existir conduta típica e o
motorista ser processado criminalmente, não é suficiente que a denúncia afirme que
foram encontrados seis decigramas de álcool por litro de sangue no exame do
condutor de veiculo automotor que for submetido em blitz policial, deve-se
demonstrar ainda que o motorista dirigia de forma anormal.
Em seu voto o desembargador Gilmar Augusto Teixeira afirmar que para a
existência do crime, além de ter ingerido bebida alcoólica em quantidade maior,
precisa o condutor se comportar de forma anormal enquanto dirige o veículo.
Sendo citado ainda pelo desembargador o Recurso Especial 608.078,
julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, em que os ministros entenderam que o
crime disposto no art. 306 do CTB demanda a demonstração de potencial lesão,
assim, apesar das modificações implementadas pela Lei nº 11.705/2008, os
elementos identificadores do referido delito não se alteraram, portanto, não houve
alteração da estrutura normativa do tipo penal ou da sua constituição ontológica.
198
DELGADO, Yordan Moreira. Lei Seca pode reduzir acidentes, mas provoca injustiças graves. Conjur. Jul. 2008. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2008-jul-16/lei_seca_reduzir_acidentes_provoca_injusticas_graves?pagina=3>. Acesso em: 05.05.2010. 199
CONSULTOR JURÍDICO. TJ do Rio tranca Ação Penal contra motorista. Conjur. 16.01.2010. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2010-jan-16/dirigir-efeito-alcool-nao-necessariamente-crime-diz-tj-rj>. Acesso: 26.05.2010.
78
Cabe ressaltar ainda, que a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(ABRASEL) 200 na data de 04 de julho de 2008 ingressou no Supremo Tribunal
Federal com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra alguns artigos da Lei
nº 11.705/2008, pois estes estariam desrespeitando princípios constitucionais tais
como o da razoabilidade, proporcionalidade, individualização e isonomia, todos
previstos na CRFB/1988.
Alega a entidade que a lei seria inconstitucional e argumenta que ninguém é
obrigado a fazer prova contra si mesmo, além de que o condutor não pode ser
criminalizado sem direito de defesa por se negar a realizar o bafômetro. Afirma ainda
que a legislação excedeu os objetivos de sua criação, vindo por ultrapassar os
limites impostos pelo estado democrático de direito, ferindo assim, diversos
princípios constitucionais.
A referida ação interposta pela Abrasel, ainda está pendente de julgamento
pelo STF.
Com todos os fatos e argumentos expostos neste trabalho, pode-se dizer
que a controvérsia ora pesquisada ainda esta longe de ser respondida,
permanecendo ainda o problema se a Lei nº 11.705/2008 é constitucional ou
inconstitucional no que diz respeito à aplicação de suas infrações frente aos
princípios e garantias constitucionais, pois como se pode perceber no discorrer
desta monografia há posicionamento juridicamente aceitáveis de ambos os lados.
200
CONSULTOR JURÍDICO. Lei Seca é contestada no STF por Associação de Bares. Conjur. 04.07.2008. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2008-jul-04/lei_seca_contestada_stf_associacao_bares>. Acesso: 26.05.2010.
79
CONCLUSÃO
O primeiro capítulo desta monografia teve como objeto a abordagem sobre
os princípios e garantias constitucionais, mencionando-se conceitos, bem como a
utilização destes no meio jurídico, sendo importante tal enfoque para se ter uma
melhor compreensão sobre a relação dos mesmos em confronto com as inovações
trazidas pela Lei nº 11.705/2008.
O segundo capítulo teve como objeto as infrações e o poder de polícia,
abordando-se especificamente a infração penal para se ter um melhor entendimento
desta, vez que a infração praticada no art. 306 do CTB consiste em crime de
trânsito, além do que pode ser caracterizado como tal e sua relevância se dá no
sentido de que em seu art. 5º, a Lei 11.705/2008 veio alterar as infrações dispostas
no CTB. Já sobre o poder de polícia foi dito sobre o conceito, suas características,
bem como o que seria polícia administrativa e polícia judiciária e uma vez que os
agentes públicos (seja polícia administrativa ou judiciária) detêm tal poder, podendo
e devendo fiscalizar o cumprimento da lei e autuar quem não obedece aos preceitos
estabelecidos por esta. É a polícia que fiscaliza e pune os motoristas, portanto, será
o órgão detêm o poder de aplicar as sanções impostas pela Lei nº 11.705/2008.
O terceiro capítulo tratou das mudanças advindas da Lei Seca, visto que
esta alterou as infrações dispostas na lei nº 9.503/1998 sendo necessário abordar
sobre tais mudanças para um melhor entendimento do porque surgiu o
questionamento sobre a constitucionalidade ou não da Lei nº 11.705/2008. A seguir
foram apresentados posicionamentos doutrinários e julgados favoráveis a referida lei
afirmando que a mesma surgiu no intuito de reduzir o grande número de acidentes
causados por motoristas embriagados, garantindo assim o direito à vida consagrada
no texto constitucional. Foi mencionado ainda o posicionamento dos autores que
consideram a Lei nº 11.705/2008 inconstitucional, vez que a mesma afronta a vários
princípios e garantias constitucionais, bem como da Ação Direta de
80
Inconstitucionalidade proposta pela ABRASEL no STF questionando sobre a
constitucionalidade da lei.
Assim, o questionamento ora proposto para realização do presente trabalho
de conclusão de curso dos meios previsto para a comprovação das infrações de
trânsito não se esgota, uma vez que há autores que defendem tanto a
constitucionalidade da Lei nº 11.705/2008 por esta garantir o maior bem previsto na
CRFB/1988 que seria o direito à vida, quanto os que defendem sua
inconstitucionalidade pela razão de que esta legitimaria atos desproporcionais e
seria irrazoável vez que não estaria em consonância com a cultura brasileira, não
respeitando a ampla defesa, a não obrigatoriedade de produção de provas e o
direito ao silêncio. Os arts. 277, §3º e 306 do CTB visam obrigar os condutores a
realizar o teste do bafômetro ou outros tipos de exames, bem como do princípio da
presunção de inocência, pois até o trânsito em julgado de sentença, o indivíduo deve
ser considerado inocente.
81
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83
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