152
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - PMGPP OS IMPACTOS DO ANTEPROJETO DE REFORMA UNIVERSITÁRIA DO GOVERNO LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA SOBRE O ENSINO SUPERIOR PRIVADO, SEGUNDO A IMPRENSA BRASILEIRA, ENTRE AGOSTO DE 2004 E DEZEMBRO DE 2005 MARA ISA BATTISTI RAULINO Orientador: Dr. Carlos Eduardo Sell Itajaí - 2006

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

0

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - PMGPP

OS IMPACTOS DO ANTEPROJETO DE REFORMA UNIVERSITÁRIA DO GOVERNO LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA SOBRE O ENSINO SUPERIOR

PRIVADO, SEGUNDO A IMPRENSA BRASILEIRA, ENTRE AGOSTO DE 2004 E DEZEMBRO DE 2005

MARA ISA BATTISTI RAULINO

Orientador: Dr. Carlos Eduardo Sell

Itajaí - 2006

Page 2: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

1

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – PROPPEC CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - PMGPP

OS IMPACTOS DO ANTEPROJETO DE REFORMA UNIVERSITÁRIA DO GOVERNO LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA SOBRE O ENSINO SUPERIOR

PRIVADO, SEGUNDO A IMPRENSA BRASILEIRA, ENTRE AGOSTO DE 2004 E DEZEMBRO DE 2005

MARA ISA BATTISTI RAULINO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora no Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, sob a orientação do Professor Dr. Carlos Eduardo Sell, como exigência para obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas/ Profissionalizante.

Itajaí - 2006

Page 3: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

2

Esta Dissertação foi julgada APTA para a obtenção do título de Mestre em Gestão

de Políticas Públicas / Profissionalizante e aprovada, em sua forma final pela

Coordenação do Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas

Públicas – PMGPP/UNIVALI.

_______________________________________

Professor Dr. Carlos Eduardo Sell Orientador

Apresentada perante a Banca Examinadora composta pelos Professores

__________________________________________________

Doutor Carlos Eduardo Sell (UNIVALI) – Presidente

___________________________________________________

___________________________________________________

Itajaí (SC), de 2006.

Page 4: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

3

DEDICATÓRIA

Dedico este estudo aos meus amados

pais, Balduino e Marister, e às minhas

irmãs Cintia e Cinara, que sempre me

apoiaram, me compreenderam e me

incentivaram.

Page 5: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me dar força, coragem, fé e perseverança.

Ao pesquisador, amigo e orientador Dr. Carlos Eduardo Sell, pela confiança e

ensinamentos importantes no decorrer do curso e na minha vida profissional.

Aos professores do Programa de Mestrado Profissionalizante em Gestão de

Políticas Públicas.

Aos funcionários do PMGPP, pelo auxílio e amizade no decorrer do curso.

A todos os colegas do Programa de Mestrado, em especial aos amigos Eggon,

Maria Ivone e Maiquel, que tornaram mais prazeroso e motivante todo este

aprendizado.

A amiga Eliane Cristina Gomes, pela disponibilidade em sempre me ajudar.

Aos meus pais Balduino e Marister por acreditarem na minha capacidade e por me

incentivarem a concluir este trabalho com amor e paciência.

As minhas irmãs Cintia e Cinara por serem minhas queridas irmãs.

E, por fim, a todos aqueles que, mesmo não citados, de alguma forma muito

especial me incentivaram e colaboraram para a conclusão deste estudo.

Page 6: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

5

Todas as graças da mente e do coração se escapam

quando o propósito não é firme.

William Shakespeare.

Page 7: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

6

DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito e sob as penas da lei, que assumo total

responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o Programa de Mestrado

Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas – PMGPP, a Banca

Examinadora, o Professor Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do

mesmo.

Por ser verdade, firmo a presente.

Itajaí (SC), de 2006.

MARA ISA BATTISTI RAULINO

Mestranda

Page 8: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

7

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS....................................................................................ABREVIATURAS UTILIZADAS....................................................................RESUMO....................................................................................................... ABSTRACT...................................................................................................INTRODUÇÃO..............................................................................................CAPÍTULO I – A HISTÓRIA DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E EM SANTA CATARINA.......................................................................................1.1 A HISTÓRIA DO ENSINO SUPERIOR E DO ENSINO SUPERIOR PRIVADO NO BRASIL..................................................................................1.1.1 DADOS DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL...................................1.2 ENSINO SUPERIOR NO ESTADO DE SANTA CATARINA.................. CAPÍTULO II – ESTADO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO........2.1 ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS NOS ANOS 80 E 90.........................2.1.1 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E O NEOLIBERALISMO.........2.1.2 O GOVERNO LULA: NEOLIBERALISMO OU SOCIALISMO?..........2.2 POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL DOS ANOS 80 E 90: DEBATES E TENDÊNCIAS..........................................................................2.2.1 POLÍTICA EDUCACIONAL DE FHC...................................................2.2.2 POLÍTICA EDUCACIONAL DE LULA.................................................2.2.3 ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: POLÍTICAS PÚBLICAS............... CAPÍTULO III – AS TRÊS VERSÕES DOS ANTEPROJETOS DE REFORMA UNIVERSITÁRIA........................................................................3.1 TÍTULO I – DA EDUCAÇÃO SUPERIOR...............................................3.2 TÍTULO II – DO SISTEMA FEDERAL DA EDUCAÇÃO SUPERIOR.....3.3 APRECIAÇÃO GLOBAL........................................................................ CAPÍTULO IV – A REFORMA UNIVERSITÁRIA NA ESFERA PÚBLICA..4.1 UNIVERSO E PERÍODO DA PESQUISA...............................................4.2 ARGUMENTOS A FAVOR DA PROPOSTA..........................................4.2.1 A MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO..................................................4.2.2 A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO.................................................4.2.3 A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO.................................................4.3 ARGUMENTOS CONTRA A PROPOSTA..............................................4.3.1 A MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO..................................................4.3.2 A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO.................................................4.3.3 A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO................................................. CONSIDERAÇÕES.......................................................................................REFERÊNCIAS.............................................................................................

8 9 12 13 14 17 17 28 32 41 41 41 44 47 47 52 55 73 74 86 99 101101107107111115119119125129 136142

Page 9: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

8

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Números e Percentual de Instituições, por Organização Acadêmica – Brasil – 2003..........................................................................TABELA 2 – Número e Percentual de Instituições, por Categoria Administrativa – Brasil – 2003....................................................................TABELA 2.1 – Número e Percentual de Instituições, por CategoriaAdministrativa – Brasil – 2003....................................................................TABELA 3 – Número e Percentual de Instituições Privadas – Brasil – 2003 ..............................................................................................................TABELA 4 – Evolução do Número de Instituições por CategoriaAdministrativa – Brasil – 2003....................................................................TABELA 5 – Número de Instituições por Categoria Administrativa e Região Geográfica – Brasil – 2003.............................................................TABELA 6 – Tipos de Publicação..............................................................TABELA 7 – Material escrito entre Agosto 2004 e Dezembro 2005,classificado por especificidade e período................................................TABELA 8 – Material escrito pelo governo e pela sociedade.................TABELA 9 – Dados referentes à aprovação ou reprovação do Anteprojeto de acordo com o material apresentado na imprensa.........

28 29 29 30 30 31 101 102104 105

Page 10: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

9

ABREVIATURAS UTILIZADAS

ABE – Associação Brasileira de Educação

ABMES – Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior

ACAFE – Associação Catarinense das Fundações Educacionais

AMPESC – Associação das Mantenedoras Particulares de Educação Superior de

Santa Catarina

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CFM – Conselho Federal de Medicina

CFE – Conselho Federal de Educação

CE – Constituição Estadual

CF – Constituição Federal

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CNE – Conselho Nacional de Educação

CNI – Confederação Nacional da Indústria

CREDUC – Crédito Educativo

ENADE – Exame Nacional de Estudantes

ENEM – Exame Nacional de Ensino Médio

FATECS – Faculdades Tecnológicas

FIES – Financiamento Estudantil

FHC – Fernando Henrique Cardoso

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FUNCITEC – Fundação de Ciência e Tecnologia

FUNDEB – Fundos de Manutenção de Desenvolvimento da Educação Básica

Page 11: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

10

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IES – Instituição de Educação Superior

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias

LULA – Luiz Inácio Lula da Silva

MEC – Ministério da Educação

MP – Medida Provisória

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONG – Organização não Governamental

PICDT – Programa Institucional de Capacitação Docente e Técnica

PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional

PIB – Produto Interno Bruto

PROUNI – Programa Universidade para Todos

PIS – Programa de Integração Social

PUC/RJ – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

RCT – Rede Catarinense de Tecnologia

SAEM – Sistema de Avaliação do Ensino Médio

SEMESP – Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimento de Ensino

Superior do Estado de São Paulo

SESu – Secretaria de Ensino Superior

SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

SUS – Sistema Único de Saúde

UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina

Page 12: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

11

UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UFBA – Universidade Federal da Bahia

UNB – Universidade de Brasília

UNE – União Nacional dos Estudantes

UNIFESP – Universidade Federal do Estado de São Paulo

UNICAMP – Universidade de Campinas

Page 13: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

12

RESUMO

Este estudo objetiva analisar o debate a respeito do Anteprojeto de Reforma Universitária do governo Luiz Inácio Lula da Silva sobre o Ensino Privado, ocorrido na imprensa brasileira no período entre Agosto de 2004 e Dezembro de 2005. A motivação para tal pesquisa surgiu da convicção da importância de se discutir o processo de formação do ensino superior do país sob a ótica das políticas públicas e não apenas sob o aspecto pedagógico ou meramente histórico. Neste contexto, buscou-se apresentar o histórico do Ensino Superior no Brasil e em Santa Catarina, bem como o Ensino Superior Privado, focando suas origens, demonstrando seus objetivos e apresentando dados numéricos acerca do tema. Posteriormente, ressaltou-se a atuação do Estado e suas políticas educacionais, nos anos 80 e 90, bem como as ideologias predominantes daquele período, abordando os debates e as tendências acerca da expansão do Ensino Superior Brasileiro. Em seguida, apresentou-se as três versões do Anteprojeto de Reforma Universitária, discorrendo sobre as mudanças ocorridas em cada um deles. Finaliza-se o trabalho com uma análise dos debates na mídia em torno do tema evidenciado nas características gerais, demonstrando a intensidade e o teor do debate entre o governo e a sociedade civil. A parte empírica do projeto destaca as diferentes concepções ideológicas que permearam o debate sobre a reforma universitária no período estudado.

Page 14: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

13

ABSTRACT

This study aims at analyzing the discussion concerning the Pre-Project of University Reform in the government Luiz Inácio Lula da Silva about the Private Higher Education which occurred in the Brazilian press within the period of August 2004 and December 2005. The reason for such research came from the conviction of the importance of discussing the process of formation of the Brazilian Higher Education under the public politics view and not only under the pedagogical or merely historical aspect. In this context, it was sought to present the history of the Higher Education in Brazil and in Santa Catarina as well as the Private Higher Education focusing their origins, demonstrating their objectives and presenting numerical data about the theme. After that, it was emphasized both the State and its educational politics actions in the eighties and nineties and its dominant ideologies in that period dealing with the debates and the trends related to the expansion of the Brazilian Higher Education. Following, the three versions of the Pre-Project of University Reform were gotten into details, more specifically their changes, and each one of them was reported individually. Finally, it was carried out an analysis of the media debates about the theme outlining its general characteristics demonstrating the intensity and the content of the debate between the government and the civil society. The empirical side highlights the different ideological conceptions that were present throughout the discussion about the University Reform in the period mentioned previously.

Page 15: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

14

INTRODUÇÃO

O propósito deste trabalho acadêmico é analisar os impactos do Anteprojeto

de Reforma Universitária do governo Lula sobre o Ensino Superior Privado, segundo

a imprensa brasileira, no período entre Agosto de 2004 e Dezembro de 2005.

Para tanto, demonstrar-se-á a evolução histórica do Ensino Superior e do

Ensino Superior Privado no Brasil e em Santa Catarina. Por conseguinte, discutir-se-

á teoricamente a relação entre Estado e Educação, identificando as diferentes

concepções ideológicas implícitas no discurso dos atores sociais a respeito da

Educação.

Serão apresentados os principais elementos jurídicos dos três Anteprojetos

de Reforma Universitária, identificando os argumentos positivos em torno dos

reflexos do Anteprojeto sobre o Ensino Privado, bem como, destacando os

argumentos negativos e os reflexos do debate público sobre a Reforma Universitária

do governo Lula em suas diferentes versões.

A escolha do tema deve-se à pertinência e à urgência de uma reestruturação

da educação superior, pois o Brasil precisa ampliar e qualificar suas instituições de

ensino. A educação com qualidade é a melhor forma para evitar a alienação e

consolidar a democracia. Portanto, discutir as transformações por que passa a

educação superior no contexto do sistema educativo brasileiro, é primordial.

Atualmente é sabido que a educação é um processo contínuo e permanente.

Entende-se que somente a capacidade de criar, trabalhar e transformar com o

conhecimento pode garantir um indispensável papel crítico no desenvolvimento do

ser humano, pois agrega a este uma visão global e uma maior compreensão do

mundo à sua volta. Acreditamos que a atividade principal da universidade é educar,

em todos os sentidos. Se os seres humanos não compartilharem do conhecimento e

da cidadania, impediremos a democracia. Na Declaração Universal dos Direitos

Humanos está expresso, de forma categórica, que todo ser humano tem direito à

instrução.

A educação é, indiscutivelmente, a melhor via proliferadora para o

conhecimento e para a prática da conduta dos valores universais.

Page 16: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

15

Sabemos que o desafio é imenso e exige a construção de políticas públicas

que incorporem tal iniciativa. O desenvolvimento cultural, o econômico e o da

sociedade como um todo, têm estreita ligação com o papel da universidade.

Vivemos uma época em que é valorizada a chamada “sociedade do conhecimento”

e que está grandemente associada a um maior poder e riqueza.

Tomando como base dados que demonstram que o número de instituições

privadas cresce rapidamente, enquanto o número de instituições públicas

permanece estável, ressaltamos no primeiro capítulo a evolução de ambas através

da história, bem como perpassamos os modelos adotados e o número de

instituições presentes no Brasil por categorias. Nossa intenção será demonstrar a

evolução do setor educacional no Brasil.

Posteriormente, no capítulo II, há uma abordagem do Estado, Educação e

Políticas Públicas no Brasil, apresentando as políticas sociais nos anos 80 e 90 e a

discussão do caráter ideológico dos governos neste período, pois se pretende

verificar em que medida a política educacional dos governos refletem suas

concepções ideológicas. Em seguida, trataremos do perfil das políticas públicas para

o Ensino Superior existentes no Brasil. Para tanto, serão apresentados dados e

visões de pessoas relacionadas ao setor educacional.

O capítulo III é destinado à descrição das propostas de Lei de Reforma do

Ensino Superior, discorrendo sobre as mudanças em cada uma delas, tendo como

base o primeiro projeto, apontando quais foram as modificações que ocorreram,

tanto na segunda quanto na terceira versão. A análise será meramente descritiva.

Por fim, o capítulo IV procura realizar uma “análise de conteúdo” dos debates

que se sucederam na mídia em torno do tema proposto. Inicialmente, busca-se

apresentar o material empírico de nossa pesquisa de forma global. Posteriormente,

são apresentados os principais argumentos do governo e da sociedade civil, em

especial, os argumentos do ensino privado acerca do tema.

A abordagem do objeto de pesquisa demandou a utilização dos métodos

quantitativo e qualitativo, concentrando-se na pesquisa documental e na análise de

conteúdo. Com dados quantitativos, analisou-se o crescimento de informações a

respeito da problemática proposta no decorrer do período estipulado. Os dados

Page 17: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

16

qualitativos foram examinados através do discurso (pró-reforma ou contra-reforma)

dos autores dos artigos e livros.

O despertar do interesse da autora por este tema tem estreita ligação com a

sua trajetória profissional, representada pela sua dedicação exclusiva à área

educacional, tendo em vista que instrução, conhecimento e educação são

expressões entendidas como semelhantes e positivas e, portanto, um direito de

todos.

Page 18: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

17

CAPÍTULO I - A HISTÓRIA DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E EM

SANTA CATARINA

Este capítulo tratar-se-á da história do Ensino Superior no Brasil e em Santa

Catarina, ressaltando o surgimento das primeiras universidades, faculdades, IES,

bem como a expansão das mesmas, as reformas e o cenário atual.

1.1 A HISTÓRIA DO ENSINO SUPERIOR E DO ENSINO SUPERIOR PRIVADO NO BRASIL

A trajetória do ensino superior no Brasil teve uma evolução lenta. É

importante assinalar que as universidades são parte, e não a totalidade, de um

sistema nacional de ensino superior. Não existe país nenhum no mundo onde a

educação superior funcione somente com universidades. As faculdades isoladas,

operando ou não de maneira integrada, também são parte do sistema.

O esquema estritamente acadêmico é aquele formado por universidades que

englobam faculdades ou escolas de vários campos do conhecimento para oferecer

aos seus alunos ensino e pesquisa e para manter relações com a comunidade local

por meio de cursos ou qualquer outra atividade de extensão.

De acordo com Souza,

O real significado do termo “Ensino Superior” vai muito além do de ensino de terceiro grau, como ficou popularizado principalmente após as reformas das décadas de 60 e 70. O saber superior deve ser adquirido mediante o uso de codificações, sistemas, modelos e símbolos da semântica científica e, por isso, foge à praticidade do dia-a-dia e se reserva aos que se disponham de condições especiais para abordá-lo. Por isso, como muitos querem, não pode ser democraticamente acessível a todos. É um ensino, por natureza, elitista, para uma minoria capacitada intelectual e culturalmente e não no sentido trivial de pessoas sócio-economicamente bem postas na comunidade (SOUZA 2002, n.p).

Page 19: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

18

A citação, apesar de discriminatória, é um retrato da história do ensino

superior no Brasil. Curioso foi o fato de na virada para o século XX o Brasil ser o

único país da América Latina a não possuir universidade. Ao contrário das América

Espanhola e Inglesa, que tiveram acesso ao ensino superior já no período colonial, o

Brasil teve que esperar o final do século XIX para ver surgir as primeiras instituições

culturais e científicas deste nível, quando da vinda da Família Imperial ao país. Já a

primeira universidade surgiu somente em 1912.

Durante trezentos anos, as únicas iniciativas na área da educação vieram dos

Jesuítas, mais voltados para a catequese religiosa. Os altos funcionários da Igreja e

da Coroa e os filhos dos grandes latifundiários tinham que ir à Europa para obter

formação universitária, e o destino era principalmente Coimbra. Iniciativas isoladas,

como o curso superior de Engenharia Militar do Rio de Janeiro, que surgiu no final

do século XVII, não podem ser consideradas como o ingresso do Brasil no ensino

superior já que, para todos os efeitos, era um estabelecimento português. E com a

vinda da família Real, é que surgiu o interesse de se criar escolas médicas na Bahia

e no Rio de Janeiro: em 1808 surge o Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia e em abril

do mesmo ano a cadeira de Anatomia é criada no Hospital Militar do Rio de Janeiro.

Em 1810, é criada a Academia Real da Corte, que anos mais tarde se converteria na

Escola Politécnica; no mesmo ano foi assinado um decreto, criando uma cadeira de

ciência econômica; e o Decreto de 1820, que organizou a Real Academia de

Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, depois convertida em Academia de

Artes.

Por esse passado, o ensino superior se firmou como um modelo de institutos

isolados, de natureza profissionalizante e elitista, pois somente atendia aos filhos da

aristocracia colonial que, devido ao bloqueio de Napoleão, não podiam mais estudar

na Europa. O fato dos cursos que surgiram terem se voltado ao ensino prático,

marcou de forma contundente o ensino superior no Brasil.

Mesmo no século XIX, a partir da Proclamação da Independência, há um

crescimento de escolas superiores no país, mas sempre no modelo de unidade

desconexa e voltada para a formação profissional. Algumas tentativas de criar a

primeira universidade no Brasil surgiram, como o projeto de 1843 que visava criar a

Universidade de Pedro II, o de 1847 para a criação do Visconde de Goiânia, entre

outras. Porém, nenhuma se concretizou.

Page 20: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

19

A República chega ao Brasil, mas a Constituição de 1891 omite-se em

relação ao compromisso do governo com a universidade. Em 1912, surge a primeira

universidade brasileira, no estado do Paraná, que durou somente três anos. Em

1920, surge a Universidade do Rio de Janeiro, hoje Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

Importante ressaltar que em 1924, fundou-se a Associação Brasileira de

Educação (ABE). Em 1927, realizou-se no Rio de Janeiro um Congresso do Ensino

Superior comemorativo ao centenário dos cursos jurídicos no Brasil, no qual foi

proposto que,

Todo ensino no Brasil deve ser organizado de forma universitária e, para isso, deve ser elaborada uma lei regulamentando a criação de universidades, inclusive de universidades livres; a formação das universidades deve partir de duas faculdades destinadas ao ensino profissional [...] às quais se acrescentaria uma faculdade de letras e outra de ciências e altos estudos, sendo ensino gratuito nestas últimas. (TRINDADE, 2004, p. 825)

Em 1928, nesta mesma conferência acima descrita foi proposto pelo reitor da

URJ (Universidade do Rio de Janeiro), Tobias Moscoso, que para o bem do país não

poderia haver um único estilo de universidade, pois cada uma deveria se adequar a

sua região e focar em suas peculiaridades.

Importante ressaltar que em 1931, o decreto número 19.851, de 11 de abril,

instituiu o Estatuto das Universidades Brasileiras, indicando que o ensino superior

obedecerá, de preferência, ao sistema universitário, podendo ainda ser ministrado

por institutos isolados.

De acordo com Trindade (2004, p. 828), em 1930 havia somente duas

universidades no país: a do Rio de Janeiro (1920) e a de Minas Gerais (1927), mas,

em 1946, esse número ampliou-se para seis instituições universitárias: a

Universidade Técnica do Rio Grande do Sul (1932), posteriormente a Universidade

de Porto Alegre (1934), a Universidade de São Paulo (1934), a Universidade do

Distrito Federal (1935) e as “Faculdades Católicas” (1940), como embrião da PUC-

RJ (1946).

Nas décadas de 50 a 70 criou-se universidades federais em todo o Brasil, ao

menos uma em cada estado, além de universidades estaduais, municipais e

Page 21: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

20

particulares. A descentralização do ensino superior foi a vertente seguida pela Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em vigor a partir de 1961.

Até 1950 os concluintes dos cursos médios normal e técnico não tinham

direito de pleitear acesso ao ensino superior. A partir de então, foi proporcionada

uma abertura no sentido de que os cursos normal e técnico também pudessem

permitir o acesso à universidade, através de um exame de adaptação que dava, aos

bem sucedidos, o direito de inscrição do exame vestibular.

A Lei nº. 4.024, de dezembro de 1961, concedeu equivalência automática aos

diversos ramos de ensino médio. Já no ensino técnico esta abertura e tentativa de

democratização do acesso ao ensino superior poucos efeitos positivos surtiu, pois as

provas dos exames vestibulares ofereciam um grau de complexidade, somente para

estudantes dos cursos médios científico e clássico (mais humanistas), que eram

tradicionais na época, não oferecendo possibilidades de sucesso aos estudantes de

outros ramos de cursos médios que não se dedicavam á formação acadêmica.

A Lei mencionada acima, em seu artigo 69, letra “a” determinava que para a

matrícula nos cursos de nível superior, os candidatos tivessem concluído o ciclo

colegial equivalente e obtido classificação em concurso de habilitação.

No período de 1960 a 1965 foi considerado como uma fase do predomínio da

iniciativa pública no ensino superior brasileiro, uma vez que teve crescimento de

26,7% enquanto a participação das IES particulares diminuiu cerca de 4,3%. Com o

desenvolvimento econômico e industrial do país, a educação começou a ser

valorizada pela sociedade, ampliando o mercado de trabalho para os habilitados e a

promoção social para os que freqüentavam o ensino superior.

Mas a explosão do ensino superior ocorreu somente nos anos 70. Durante

esta década, o número de matrículas subiu de trezentos mil (1970) para um milhão e

meio (1980). A concentração urbana e a exigência de melhor formação para a mão-

de-obra industrial e de serviços forçaram o aumento de vagas e o Governo,

impossibilitado de atender a demanda, permitiu que o Conselho Federal de

Educação aprovasse centenas de cursos novos. Mudanças também aconteceram no

exame de seleção. As provas dissertativas e orais passaram a ser de múltipla

escolha.

Page 22: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

21

Esse aumento expressivo e sem adequado planejamento, resultou em uma

insuficiência de fiscalização por parte do poder público, uma queda da qualidade de

ensino e a imagem “mercantilista” e negativa da iniciativa privada, que persiste até

hoje, ao contrário do que prega a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Superior,

de 1968 (Lei nº. 5.540/68), já citada anteriormente.

As novas universidades advêm de um conjunto de procedimentos legais que

normalizaram a transformação das Instituições de Ensino Superior (IES) em

universidades, com destaque para a Resolução CFE 3/83 e seus vários

desdobramentos, que, ao contrário dos procedimentos genéricos anteriores,

representou um marco legislativo ao dispor, de modo específico e sistemático, sobre

as exigências para autorização e reconhecimento de universidades.

Antes desta resolução, as universidades brasileiras regiam-se por dois

instrumentos básicos. A Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961, fixando as diretrizes

e bases da educação nacional, exigia, para a constituição de uma universidade, a

existência de cinco ou mais estabelecimentos de ensino superior sob administração

comum. Com a edição da Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, definem-se as

normas de organização e funcionamento do ensino superior.

Entre os procedimentos legais para a criação de uma universidade, a

Resolução CFE 3/83 exige, inicialmente, o encaminhamento de uma “carta-consulta”

ao Conselho Federal de Educação, apresentando informações e dados sobre a

entidade mantenedora e o projeto da universidade pretendida, em que a instituição

se mostra como um todo e no seu todo como realidade em desenvolvimento e

potencial de futuras realizações. O CFE designará, então, uma comissão de

consultores, sob a coordenação de um conselheiro relator, para acompanhar todo o

processo, que pela via do reconhecimento, transformará uma determinada

instituição de ensino superior em universidade.

A atual realidade do ambiente global é o surgimento de uma nova era em

termos de competição, não apenas a partir de concorrentes conhecidos em

mercados tradicionais ou de outras organizações que entram em determinados

setores econômicos, mas também a partir da desintegração de barreiras de acesso

a mercados anteriormente isolados e protegidos.

Page 23: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

22

As instituições de ensino superior (IESs), não podem mais sentir-se

confiantes com as fatias de mercado e as posições competitivas conquistadas. Para

as instituições de ensino superior que estão se defrontando com a necessidade de

melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem, com o problema da baixa

margem de lucro, com a necessidade de diminuir custos unitários operacionais e

melhorar o overhead (despesas) nestes mercados competitivos o equacionamento

de tais questões constitui hoje uma preocupação-chave.

A missão de cada instituição de acordo com Franco (1994) apud Almeida

(2001) define suas diferenças, demonstrando suas necessidades sociais e

identificando os alunos que a instituição de ensino superior procura servir, além de

refletir suas tradições e sua visão de futuro. Ainda de acordo com Franco, três

fatores são importantes para bem definir a missão de uma instituição de ensino.

• Definir o desempenho de uma instituição por aquilo que ela sabe fazer

melhor, para realmente fazer bem feito, é condição elementar da IES;

• Olhar para fora, para divisar oportunidades e necessidades, a fim de que a

missão da IES venha ao encontro dessas oportunidades e necessidades;

• É preciso que a IES reconheça com muita precisão, aquilo em que realmente

crê; portanto, “... neste sentido a missão é algo impessoal” e fruto da crença coletiva

daqueles que fazem a instituição de ensino.

Uma instituição de ensino, em essência, é uma junção de pessoas com suas

respectivas atividades e a interação entre elas. A instituição, em sua escala mais

simples, pode ser resumida na figura do gestor contratando professores e

funcionários de apoio, com os quais vai trabalhar para gerar os conhecimentos

demandados pelos alunos, que quando formados, passam a ser os profissionais

pretendidos pelos clientes. Isto representa a cadeia de agregação de valores ou o

fluxo produtivo da instituição de ensino.

O período colonial, segundo Cunha (1986 apud Hawerroth, 1999),

Caracterizava-se a princípio, por estruturas ideológicas legitimadoras da exploração colonial. Essa exploração era voltada para o reforço dos membros integrantes do aparelho repressor que garantia ao dominador sua aceitação pelo dominado e o reconhecimento inconteste da figura do rei de Portugal. [...] E a doutrinação dos índios com o intuito de torná-los força de trabalho servil de importante papel na economia da colônia.

Page 24: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

23

Com o primeiro governador geral do Brasil, em 1549, vieram os primeiros

jesuítas que dominaram o cenário educacional brasileiro até sua expulsão pelo

Marquês de Pombal, em 1759. Observa-se que os jesuítas, através de suas escolas

iniciáticas, seu colégios e seminários, trabalharam na catequese dos índios e na

educação dos brancos.

Para Teixeira (1989 apud Hawerroth, 1999), “a estrutura social vigente no

Brasil colônia era basicamente dual. [...] De um lado formado pela elite branca [...] e

do outro a classe dos dominados formada pelos aborígines, escravos e demais

indivíduos”.

Podemos citar que todos os pedidos para fundar uma universidade no Brasil

foram negados, pois para exploração da colônia uma universidade era

desnecessária.

O Brasil até os primórdios do século XIX não possuía ensino superior, as

primeiras escolas superiores foram instaladas com a chegada da Corte Portuguesa

ao Brasil onde seguiram o modelo pombalino de universidade, ou seja, voltaram-se

para a formação técnica e para as atividades profissionais, tendo, desta forma,

influenciado diretamente os rumos do ensino superior nos séculos XIX e XX. O

período imperial caracterizou-se pela quase completa estagnação do sistema

educacional ao longo do século XIX, onde muito pouco se acrescentou com relação

às condições educacionais do Brasil-colônia, determinando um ensino superior

limitado às profissões liberais em meia dúzia de instituições nacionais isoladas e de

tempo parcial.

Segundo Teixeira (1989 apud Hawerroth, 1999), a proclamação da República

evidenciou um período de mudanças sociais que propiciaram a quebra das

estruturas educacionais e objetivou a manutenção da imobilidade social, dando,

assim, início a expansão do sistema educacional, de forma comedida, tanto através

das escolas públicas quanto através do incentivo às instituições privadas.

Teixeira (1989 apud Hawerroth, 1999) ressalta que o desenvolvimento do

ensino superior no Brasil ocorreu em dois períodos distintos. O primeiro,

caracterizado pelas grandes escolas profissionais de medicina, direito e engenharia.

O segundo, pela expansão das escolas de filosofia, ciências e letras, de economia e

das outras que lhe seguiram, resultando, pela nossa inexperiência nestas, em

Page 25: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

24

simples escolas de pré-graduação, lembrando os “liberal arts colleges” anglo-

saxônicos.

A partir da Reforma Rocha Vaz, em 1925, o ensino superior sofreria

mudanças significativas do ponto de vista de sua utilização político-ideológica,

principalmente, como reação do governo central às tendências de organização

autônoma do aparelho escolar, apresentando assim, uma política educacional que

se tornaria peculiar na era varguista.

A Reforma Francisco Campos, instituída pelo Decreto nº 19.851, de 11 de

abril de 1931, define o Estatuto da Universidade Brasileira que permite, de forma

inovadora, a substituição de uma das três escolas tradicionais por uma de letras,

ciências e educação quando de sua constituição. Para Romanelli (1991 apud

Hawerroth, 1999), “a exigência dos cursos para criação de universidades consagra a

falta de diversificação deste nível de ensino e reforça a velha concepção

aristocrática de ensino”.

Reis (1990 apud Hawerroth, 1999) afirmou que “o primeiro Estatuto da

Universidade Brasileira, ora instituída, estabelecia que o ensino superior deveria

pautar-se, preferencialmente, no modelo universitário. Porém, indicava a

possibilidade de vir a ser ministrado em institutos isolados de ensino superior”. Reis

(1990 apud Hawerroth, 1999) ainda observa que “a Reforma Francisco Campos foi

extremamente significativa, pois norteou por quase 30 anos este nível de ensino,

sendo substituída apenas com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional – LDB, em 1961”.

Ressalta Romanelli (1991 apud Hawerroth, 1999), numa crítica ao modelo

utilizado até então no Brasil, que a universidade moderna objetiva tanto a

investigação científica quanto o preparo para o exercício profissional. Contudo, a

universidade brasileira perseguiu desde sua criação, salvo raríssimas exceções,

apenas os objetivos relacionados com a formação profissional. A Reforma Francisco

Campos caracterizou-se como o primeiro exemplo de omissões de nossa legislação

quanto à regulamentação do trabalho de pesquisa em nossas universidades.

A expansão do ensino superior no Brasil aconteceu a partir da década de 30,

marcou um aumento da defasagem entre educação e desenvolvimento, motivado

pelo ritmo e características da expansão da demanda e por fatores de ordem política

Page 26: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

25

e econômica. Esta defasagem ocorreu pelo desequilíbrio entre o que as instituições

formavam e o que mercado necessitava. Em 1945, a queda do Estado Novo

proporcionou o predomínio de uma nova percepção no relacionamento entre a

instituição educacional e a sociedade, voltada para a ampliação das oportunidades

educacionais. Era priorizada a destinação dos níveis educacionais mais altos para

as elites, passando-se a defender mudanças que ampliassem estas oportunidades

de acesso para as camadas sócio-econômicas menos favorecida.

O almejado desenvolvimento econômico era posto em segundo plano diante

da ascensão social que pautava a realização pessoal da grande maioria que

procurava as instituições de ensino superior. O sistema educacional adequava-se,

sobretudo em dois objetivos: adaptação ao processo de industrialização e

minimização das desigualdades sociais. O primeiro, buscando suprir as exigências

do setor produtivo com a ampliação e diversificação dos quadros necessários e

adequados às transformações que se vislumbravam no horizonte. O segundo,

buscando oferecer uma oportunidade de ascensão social única, pois dificilmente

poderia ocorrer de outra forma diante do processo crescente de acumulação de

capital que ocorria no país.

Na década de cinqüenta, discutiu-se ampla e longamente a lei de Diretrizes e

Bases da Educação que viria a ser implantada em 1961. Ressalta-se esta como

necessária para o ajustamento do sistema de ensino ao modelo de desenvolvimento

requerido então. Assim, a década de 60 é marcada, inicialmente, pela promulgação

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1961. A referida lei atribuía ao

Conselho Federal de Educação, através de medidas fiscalizadoras, dependentes em

grande parte do Ministro da Educação para homologação, decidir sobre o

funcionamento de instituições isoladas de ensino superior federais ou privadas, o

reconhecimento de universidades, o estabelecimento da duração e do currículo

mínimo exigidos nos cursos superiores que garantissem o diploma e o exercício de

profissões liberais.

Para Romanelli (1991 apud Hawerroth, 1999), “o governo parecia

teoricamente conhecer o significado da educação para o desenvolvimento, contudo,

na prática demonstrou sua importância somente a partir de 1968”. A Reforma do

Ensino Superior praticada em 68 coincidiu com a necessidade de adequar o sistema

educacional ao modelo de desenvolvimento que então se intensificava. Com a

Page 27: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

26

integração do planejamento educacional ao Plano Nacional de Desenvolvimento, a

educação recebe a merecida importância tornando-se doravante uma área

prioritária. As novas condições econômicas da sociedade caracterizadas pela

acumulação de capital com crescente internacionalização e um rápido processo de

sofisticação tecnológica das atividades relacionadas à produção, torna necessário

responder a demanda do processo de assimilação da tecnologia importada.

O planejamento educacional conforme Canuto (1987 apud Hawerroth, 1999),

“objetivou um aumento quantitativo de vagas para atendimento à demanda de

ensino superior existente e sua reestruturação com vistas a formação técnico-

profissional requerida pelo projeto desenvolvimento traçado”. Além disso, com o

aumento de procura do nível médio no período de 1947 a 1964 em pouco mais de 4

vezes pressionou a demanda por ensino superior. Destacam-se a ascensão social,

numa forma simplista, como resultante de um processo que busca adaptar a mão-

de-obra às exigências do sistema produtivo em constante transformação. Essa

demanda é notada ao verificarmos que, de 1960 a 1964, o número de inscritos no

vestibular teve um aumento de 50% enquanto as vagas aumentaram 64%.

Diante dos excedentes que se aumentavam ao sistema de ensino superior e

da visível insatisfação social pelo número insuficiente de vagas oferecidas pelo

ensino público superior, entre outras pressões, surgiu a necessidade de

reformulação do sistema de ensino superior vigente. Para tanto, editou-se a Lei

5.540, em 1968, que introduziu um novo sistema de ensino superior. A Lei 5.540

determinou que o “ensino superior será ministrado em Universidades e,

excepcionalmente, em estabelecimentos isolados”. Esses deverão sempre que

possível, incorporar-se em Universidades ou congregar-se em federações de

escolas (CANUTO, 1987 apud HAWERROTH, 1999).

Canuto (1987 apud Hawerroth, 1999) observa ainda que,

Apesar do caráter excepcional dos estabelecimentos isolados, o Conselho Federal de Educação, órgão responsável pelas autorizações para funcionamento de novas instituições de nível superior, embora não respaldado de forma unânime por seus integrantes, passou a autorizar a criação de novos cursos em áreas não saturadas, buscando, assim, atender a crescente demanda por ensino superior e as necessidades do sistema produtivo.

Page 28: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

27

Assim, a reforma viabilizava e institucionalizava a interferência de interesses

privados nas Instituições de Ensino Superior, determinando o papel assumido por

estas na formação de mão-de-obra para a expansão do parque industrial, em

detrimento de outras de caráter essencialmente social. Com isso a reforma facilitou

a interferência política no funcionamento das universidades, obrigando a sua

subordinação aos fins econômicos a que serve, portanto todas as medidas tomadas

para o controle de sua expansão pautadas tanto em qualidade quanto em

quantidade pelo sistema produtivo.

Segundo Vahl (1980 apud HAWERROTH, 1999) ocorreu,

A partir de 1968, considerando-se a pressão exercida pela crescente demanda e a decisão governamental por uma política de maior participação da iniciativa privada neste nível de ensino, uma explosão das instituições isoladas de ensino superior. Esta explosão foi em muito facilitada pela diminuição, determinada pelo governo federal, do rigor nos processos para autorização do funcionamento de novos cursos.

O sistema educacional que precedeu a reforma de 1968 caracterizou-se,

segundo Schwartzman (1988 apud Hawerroth, 1999), “pela federalização das

universidades estaduais criadas a partir dos anos 30, com exceção da Universidade

de São Paulo, pela existência de uma rede de universidades católicas e pela

existência de um grande número de instituições isoladas de ensino superior, na

maioria privadas”. O sistema de ensino superior englobava em torno de 280 mil

alunos, isso representava 5% da população entre 20 e 24 anos. Quase metade

deste montante em instituições de ensino superior isoladas e privadas que sequer

possuem status de universidade.

Já a reforma educacional de 1968, buscou atender diversos anseios que

exigiam o fim da universidade tradicional. A maior dificuldade enfrentada pela

reforma foi subestimar a grande expansão do ensino superior brasileiro nos anos

que a precederam. Essa expansão caracterizou-se como um fenômeno de âmbito

mundial, sendo quase que impossível contê-lo nos despretensiosos limites da

universidade tradicional. Em 1970, 5,2 % da população entre 20 e 24 anos achava-

se matriculada no ensino superior, houve uma expansão rápida que ainda

representava aproximadamente metade da média encontrada em países europeus

nesse mesmo ano. Com essa expansão houve o surgimento de nova clientela no

Page 29: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

28

sistema, como: surgimento das mulheres como porção significativa do alunado,

também houve o surgimento do alunado com faixa etária acima da média.

Vahl (1980 apud Hawerroth, 1999) ressalta que, a rede privada absorveu, em

suas instituições de ensino superior, uma população ávida por ascender socialmente

através do ensino. Essa seria uma importante participação na solução de um dos

grandes problemas educacionais do país. Porém, Vahl (1980 apud Hawerroth, 1999)

denomina esta fase de oportunismo. Foram muitos os interessados em aproveitar as

facilidades dadas pelo governo e pela crescente demanda ingressando no campo da

comercialização do ensino superior investindo na abertura de novas escolas. Essa

expansão se deu de forma quantitativa e seguiu critérios do mercado, com interesse

em cursos de baixo investimento e baixo custo operacional, que não estavam

voltados para fatores de desenvolvimento nacional ou regional. Fato esse que

ocorreu em regiões de maior progresso sócio-econômico que davam maiores

garantias ao investimento, mas aumentavam as disparidades regionais de

desenvolvimento.

Assim, percebeu-se que a expansão ocorreu desprovida de um planejamento

adequado, destacando que a referida explosão destas instituições aconteceu

segundo critérios econômicos, pelo simples interesse em atuar em áreas

geográficas economicamente atrativas para as universidades.

1.1.1 DADOS DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

De acordo com o Censo da Educação Superior de 2003, a exemplo dos anos

anteriores, faz uma radiografia das universidades, centros universitários, faculdades

integradas, faculdades isoladas, institutos superiores de educação, escolas e

centros de educação tecnológica – instituições que compõem o sistema nacional de

educação superior do País.

Participaram do Censo de 2003 todas as IES que, até outubro, totalizavam

1.859 instituições. Deste total, 163 são universidades e as demais não são

universidades nos termos da legislação vigente, em especial nos termos do Artigo

Page 30: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

29

207 da Constituição Federal/88, que atribui às universidades autonomia didática,

administrativa e de gestão financeira e patrimonial, devendo realizar atividades de

ensino, pesquisa e extensão de forma indissociável. Ou seja, além das atividades de

ensino de graduação as universidades devem ter espaço para mestrados e

doutorados, para a pesquisa e estudo avançados.

Além das universidades, o Brasil tem 81 Centros Universitários que

representam 4,3% das IES e 12,9% das matrículas - instituições que, nos termos da

legislação vigente, gozam de autonomia didática e administrativa e podem criar

cursos sem autorização prévia do MEC.

Os demais tipos de instituições representam a maior fatia do sistema. As

faculdades isoladas, escolas e institutos de educação superior, em geral instituições

de pequeno porte, somam 1.403 instituições, representando 75,5% do total das IES.

E dessas instituições, a maioria é do setor privado.

Conforme o que foi descrito acima, demonstrar-se-á o mesmo em tabela.

TABELA 1 – Números e Percentual de Instituições, por Organização

Acadêmica – Brasil – 2003 Instituições Número %

Universidades 163 8,8

Centros Universitários 81 4,3

Faculdades Integradas 119 6,4

Faculdades, Escolas e Institutos 1.403 75,5

Centros de Educação Tecnológica 93 5,0

Total 1.859 100,0

Fonte: Deaes/Inep/MEC

É importante destacar que 88,9% das instituições são privadas e que o

sistema de educação superior brasileiro está entre os mais privatizados do mundo,

ficando atrás de alguns poucos países.

Page 31: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

30

TABELA 2 – Número e Percentual de Instituições, por Categoria Administrativa – Brasil – 2003

Instituições Número %

Pública 207 11,1

Privada 1.652 88,9

Total 1.859 100,0

Fonte: Deaes/Inep/MEC

Entre as IES públicas, 40% são federais, 31,5% são estaduais e 28,5% são

Municipais.

TABELA 2.1 - Número e Percentual de Instituições, por Categoria Administrativa – Brasil – 2003

Instituições Número %

Federal 83 4,5

Estadual 65 3,5

Municipal 59 3,1

Privada 1.652 88,9

Total 1.859 100,0

Fonte: Deaes/Inep/MEC

Ainda que 88,9% das IES sejam privadas, o Censo da Educação Superior

classifica estas instituições em dois grupos: as particulares, ou com fins lucrativos e

as comunitárias, filantrópicas ou confessionais, sem fins lucrativos. Vista sob esta

ótica, verifica-se que 1.302 (78,8%) das IES privadas são particulares, com fins

lucrativos, enquanto que 350 (21,2%) são comunitárias, confessionais ou

filantrópicas, sem fins lucrativos, como observa a tabela 3.

Page 32: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

31

TABELA 3 - Número e Percentual de Instituições Privadas – Brasil – 2003

IES Privadas Número %

Particular 1.302 78,8

Comunitárias, Confessionais, Filantrópicas. 350 21,2

Total 1.652 100,0

Fonte: Deaes/Inep/MEC

É importante observar que, não obstante o acelerado processo de

privatização da educação superior como um todo, no setor público predomina a

universidade como forma de organização acadêmica.

TABELA 4 – Evolução do Número de Instituições por Categoria Administrativa – Brasil – 2003

Ano Pública % Privada % Total %

1997 211 - 689 - 900 -

1998 209 -0,9 764 10,9 973 8,1

1999 192 -8,1 905 18,5 1.097 12,7

2000 176 -8,3 1.004 10,9 1.180 7,6

2001 183 4,0 1.208 20,3 1.391 17,9

2002 195 6,6 1.442 19,4 1.637 17,7

2003 207 6,2 1.652 14,6 1.859 13,6

Fonte: Deaes/Inep/MEC

Em relação ao número de instituições por região geográfica, nota-se maior

concentração na região sudeste com 938 instituições. Em seguida, a região Sul com

306 instituições, a Nordeste com 304, o Centro-Oeste com 210 e a Região Norte

com 101 instituições. A tabela 5 apresenta a distribuição regional das instituições de

Page 33: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

32

educação superior. Mostra-nos o predomínio das instituições privadas em todas as

regiões do Brasil.

Tabela 5 – Número de Instituições por Categoria Administrativa e Região Geográfica – Brasil – 2003

Categoria

Administrativa

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

Oeste

Total

Pública 15 52 81 36 23 207

Privada 86 252 857 270 187 1.652

Total 101 304 938 306 210 1.859

Fonte: Deaes/Inep/MEC

1.2 ENSINO SUPERIOR NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Piazza (1997 apud Hawerroth, 1999) destaca que, “durante o período colonial

(1500 - 1822), as características econômicas existente e as peculiaridades do

sistema educacional vigente à época não proporcionariam aos catarinenses o

acesso ao ensino superior”. A vinda da Família Real para o Brasil, em 1808, e a

posterior criação de instituições isoladas de ensino superior proporcionou acesso

aos catarinenses às mesmas, uma pequena minoria que foi privilegiada.

Santa Catarina só teve acesso ao ensino superior no início do século XX. Por

volta do ano de 1917, foi instalada na capital a primeira instituição de ensino superior

do Estado, que ficou conhecido como Instituto Politécnico, com cursos de

odontologia, farmácia, engenharia e de comércio, tendo como grande incentivador

José Arthur Boiteux que mais tarde veio a se tornar o “patriarca do ensino superior”

em Santa Catarina (HAWERROTH, 1999).

Page 34: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

33

Pela Lei 3.849, de 18 de dezembro de 1960, foi criada a Universidade de

Santa Catarina, reunindo as Faculdades de Direito, Medicina, Farmácia,

Odontologia, Filosofia, Ciências Econômicas, Serviço Social e Escola de Engenharia

Industrial, sendo oficialmente instalada em 12 de março de 1962.

Posteriormente, iniciava-se a construção do "campus" na ex-fazenda modelo

"Assis Brasil", localizada no Bairro da Trindade, doada à União pelo Governo do

Estado (Lei 2.664, de 20 de janeiro de 1961).

Com a reforma universitária, foram extintas as Faculdades e a Universidade

adquiriu a atual estrutura didática e administrativa (Decreto 64.824, de 15 de julho de

1969).

Entre os anos de 1940 e 1960, outras instituições de ensino superior

surgiram. Hawerroth destaca: “as Faculdades de Ciências Econômicas, Odontologia

e Farmácia, Filosofia, Medicina e Serviço Social, criando-se desta forma, condições

para a instalação da Universidade Federal de Santa (UFSC), em 18 de dezembro de

1960” (HAWERROTH, 1999, p.39).

No entanto, a polarização do ensino superior na Capital do Estado restringia o

acesso das comunidades interioranas ao mesmo, devido às dificuldades financeiras

da população que via na educação um fator de desenvolvimento econômico e, desta

forma, julgava-se excluído do processo de desenvolvimento estadual.

Na década de 60 surgiu no Estado de Santa Catarina um novo modelo, que

segundo Hawerroth (1999), talvez seja o único no país no que se refere ao Ensino

Superior. Criaram-se as fundações municipais com o intuito de descentralizar o

ensino superior catarinense, proporcionando que a população residente no interior

do Estado tivesse maiores possibilidades de acesso a um curso superior.

Com o incentivo do governo estadual e municipal na estruturação do ensino

superior e para atender as exigências da população interiorana, Lückmann (2003)

destaca que em 1974 foi fundada a Associação Catarinense das Fundações

Educacionais - ACAFE, a qual contava com dezoito instituições.

O Sistema ACAFE destaca-se no Ensino Superior no Estado de Santa

Catarina, baseado no modelo de sistema fundacional municipal, no qual as

instituições que fazem parte deste sistema são de cunho comunitário, ou seja,

privadas, porém sem fins lucrativos.

Page 35: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

34

As universidades vinculadas a ACAFE localizam-se em sua maioria nas

regiões interioranas do Estado de Santa Catarina, facilitando o acesso da população

ao Ensino Superior. No ano de 2003, as 15 (quinze) instituições que fazem parte do

sistema ACAFE atingiram o número de 123.810 estudantes regularmente

matriculados nos cursos de graduação. A UDESC – Universidade do Estado de

Santa Catarina, também está vinculada a rede ACAFE.

A iniciativa das comunidades locais amparadas pelo poder público municipal,

propiciou que a oferta de vagas para o acesso ao Ensino Superior fosse

interiorizada, garantindo à população local a permanência dos jovens nos seus

locais de residência e de trabalho ou a instalação de um núcleo central de formação

de recursos humanos, incentivando o desenvolvimento econômico e social local.

Devido às características peculiares que tão bem definem os pólos

econômicos regionais de nosso Estado, criam-se e desenvolvem-se em todas as

regiões Instituições Isoladas de Ensino Superior, sendo a maioria universidades que

deram, indiscutivelmente, sua grande contribuição para que Santa Catarina

alcançasse um desenvolvimento avançado e economicamente uniforme, que a

difere dos demais estados da federação (HAWERROTH, 1999, p.40).

No entanto, tais instituições devem restringir-se geograficamente aos limites

de sua região geoeducacional, mas a referida Resolução não impedia a criação e

implantação de cursos fora da sede, desde que autorizados pelo Conselho Estadual

de Educação. Nesse sentido Hawerroth (1999, p. 44) comenta:

O Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina, um dos poucos no país com prerrogativas sobre o ensino superior, obrigou-se a publicar uma Resolução com vistas a regulamentar a preconizada autonomia universitária. Ressaltando os seguintes aspectos nela evidenciados: Primeiro determinou que as Instituições Isoladas de Ensino Superior deveriam uma vez autorizadas, restringir-se geograficamente aos limites de uma mesma região geoeducacional. Segundo estabeleceu uma normatização em consonância com a ensejada autonomia universitária, onde se definia que toda universidade plenamente reconhecida estaria livre de quaisquer amarras legais que restringissem a expansão dentro de sua sede e na área de abrangência definida em seus estatutos.

Page 36: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

35

É possível perceber, que mesmo o Ministério da Educação buscando conter o

avanço indiscriminado e de baixa qualidade do ensino superior, não restringiu as

atividades das Instituições de Ensino Superior ao simples ensinar, deu-lhes

autonomia para buscar o ensino, pesquisa, extensão e expansão. Para desta forma

auxiliar o crescimento e desenvolvimento da região da qual faz parte.

O crescimento e o desenvolvimento das regiões onde estão localizadas as

Instituições de Ensino Superior é de vital importância para a manutenção e

sobrevivência da mesma, pois não basta oferecer um ensino de qualidade, é preciso

fornecer condições para que a população possa usufruir desse benefício.

A problemática da educação brasileira é histórica, desde a colonização do

país pelos portugueses a educação superior é elitizada, comprovando as

dificuldades de acesso e permanência de grande parcela da população nas

Instituições de Ensino Superior, a qual também é vivenciada pelos cidadãos

catarinenses, que buscam uma maneira de amenizar esta situação.

O cenário do Ensino Superior em Santa Catarina é completamente outro. Nos

últimos anos foram credenciadas pelo MEC quatro novas universidades. Somadas

com as já existentes há mais anos e com a Universidade Federal de Santa Catarina

– UFSC e a Universidade do Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina –

UDESC, são onze instituições universitárias, quatro centros universitários e uma

Fundação com seus campi estrategicamente distribuídos no Estado.

Aspirar ao status de universidade com o único propósito de alcançar a

autonomia para criar novos cursos e atender às “demandas de mercado” é reduzir a

idéia de universidade à pobreza da concepção napoleônico-francesa de ensino

meramente profissionalizante, perfil ultrapassado para os dias de hoje.

Para Luckmann (2003, p. 161),

Os grandes desafios das universidades catarinenses passam nesse momento: pela superação do modelo carreirocêntrico de universidade; pelo difícil compromisso da produção do conhecimento, que passa pela pós-graduação e pelo desenvolvimento da pesquisa, da cultura e da tecnologia; pela sua inserção atuante no processo de integração e do desenvolvimento regional.

Page 37: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

36

Luckmann (2003, p. 162) relata que “os caminhos para lograr êxito a esses

desafios estão aí. Somos um modelo organizacional, não privativista, com forte e

comprometido vínculo com as comunidades e regiões que o conceberam e o criaram

pelo poder público”.

Para o autor, o que nos falta é a capacidade de inovar, interagir

articuladamente, de repensar as universidades e a ACAFE para o novo momento do

Ensino Superior em nosso Estado e de conjugar forças para exigir o que é de direito

aos jovens catarinenses: uma educação de qualidade.

A Associação Catarinense das Fundações Educacionais – ACAFE foi

concebida e fundada nos idos dos anos 70, quando era muito forte, em Santa

Catarina e no país, o desejo da interiorização do Ensino Superior, até então

concentrado na orla litorânea e nos grandes centros, através das universidades

públicas federais e algumas estaduais, mais especificamente em São Paulo. Ao

enfrentar os desafios da política governamental ao Ensino Superior vigente nos anos

60 e 70, Santa Catarina foi a única unidade da federação a promover a expansão da

oferta de matrículas a partir de iniciativas das comunidades locais, fortemente

amparadas pelos poderes públicos municipais, coadjuvados por importantes aportes

de recursos dos governos do Estado e da União. Já no início da década de 70 eram

em número de dezoito as fundações mantenedoras de instituições de Ensino

Superior interiorizadas, garantindo assim a permanência dos jovens em suas

cidades, com a instalação de um núcleo central de formação de recursos humanos,

de estudos da legislação do Ensino Superior e de suporte à iniciativas de

desenvolvimento econômico e social local.

A legislação do Ensino Superior propiciou que os quadros formados

pudessem manter-se incorporados à economia e à cultura local, alavancando novos

projetos de desenvolvimento e de melhoria da qualidade de vida, destacando o

baixo custo de formação, a multiplicação de empreendimentos de caráter científico,

cultural e assistencial e a integração entre as instituições de Ensino Superior, os

governos municipais e as empresas privadas.

Os objetivos estratégicos da ACAFE são: instalar uma infra-estrutura ajustada

aos projetos de desenvolvimento de cada instituição e comunidade próxima;

contribuir para com o aperfeiçoamento dos quadros docente e técnico-

administrativos, tanto das instituições de Ensino Superior quanto das instituições de

Page 38: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

37

educação fundamental e das empresas; melhorar a qualidade do ensino em todos

os níveis; programar atividades de pesquisa e extensão voltadas para os interesses

e necessidades locais; buscar o financiamento da expansão da oferta de vagas e a

diversificação da oferta de oportunidades de estudo.

As Instituições espalhadas pelo interior do Estado de Santa Catarina

enfrentaram alguns obstáculos como: falta de pessoal qualificado ao exercício do

magistério superior; ausência de pessoal técnico-administrativo especializado em

gestão de atividades acadêmicas; capacidade restrita de financiamento das

instituições municipais, relativamente ao volume de investimentos necessários à

consolidação e melhoria das Instituições de Ensino Superior; isolamento das cidades

do interior, tanto dos centros de decisão do Estado, quanto dos órgãos centrais de

administração da educação, localizados em Brasília.

A ACAFE tem como finalidade: congregar as fundações educacionais e as

instituições de Ensino Superior por elas mantidas; representar, quando para tal fim

solicitada, as entidades filiadas junto aos órgãos municipais, estaduais e federais ou

perante terceiros, no país ou no exterior; promover o intercâmbio administrativo,

técnico e científico entre as entidades filiadas, e entre elas e outras entidades,

através de eventos como congressos, seminários e outros similares, bem como

edição de publicações; assessorar as entidades filiadas na busca de soluções para

problemas comuns nas áreas de ensino, pesquisa, extensão e administração;

realizar estudos e pesquisas com vista à melhoria, qualitativa do Ensino Superior, à

plena utilização do potencial existente nas entidades filiadas, à satisfação das

demandas por ensino, pesquisa e extensão, ao constante aprimoramento do

desempenho institucional de cada entidade e do sistema de ensino Superior

fundacional, como um todo; cooperar com órgãos federais, estaduais e municipais e

assessorar-lhes na formulação e implementação da política de Ensino Superior em

Santa Catarina; elaborar programas conjuntos, executar projetos e realizar

atividades de interesse comum, passíveis de ação unificada ou cooperativa;

promover a avaliação do sistema de ensino Superior no Estado de Santa Catarina,

coordenar e apoiar a avaliação do sistema fundacional e desenvolver estudos para a

fixação de indicadores padronizados nas áreas de desenvolvimento institucional,

desempenho gerencial e qualidade do ensino; promover o desenvolvimento de

sistemas de informação e de redes de comunicação de dados e construir, manter e

Page 39: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

38

assegurar acesso a bancos de dados de interesse e uso comum no sistema

fundacional.

O Sistema fundacional catarinense integra hoje dezesseis Instituições de

Ensino Superior, onde onze são universidades, quatro Centros Universitários e uma

Fundação Isolada.

O Governo do Estado dispõe de alguns mecanismos institucionais para

assegurar a sustentação econômica e financeira das Instituições filiadas à ACAFE,

quais sejam: legislação que assegura o repasse de recursos para manutenção e

desenvolvimento da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC;

dispositivo constitucional e regulação inscrita na LDO que assegura o repasse de

recursos para o desenvolvimento das Instituições de Ensino Superior criadas por lei

municipal, em seu artigo 170; dispositivo constitucional e regulação inscrita na LDO

que assegura o repasse de recursos para a manutenção e desenvolvimento das

atividades da Fundação de Ciência e Tecnologia – FUNCITEC, de fomento à

pesquisa científica e tecnológica (artigo 193, CE); programa de bolsas de estudo

para estudantes dos cursos de formação para o magistério (Lei 8.436/92); lei que

institui o crédito educativo para estudantes carentes de cursos superiores;

programas orçamentários dos órgãos da administração direta e indireta para

estimular, dentre outras, de atividades de formação e desenvolvimento de recursos

humanos, modernização administrativa e reforma do Estado, incentivos ao

desenvolvimento de micros, pequenas e médias empresas; projetos especiais e

projetos prioritários voltados à promoção de melhorias nas áreas de saúde e

saneamento básico; educação, cultura e desporto; turismo; desenvolvimento rural,

regional e microrregional; hidrobacias; agroindústria e indústria de alta tecnologia.

Alguns programas, ações e parcerias das universidades de Santa Catarina:

Programa Institucional de Capacitação Docente e Técnica – PICDT: coordenado

pela ACAFE, é fruto de convênio com a Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior – CAPES. Desde 1976 vem sendo desenvolvido,

contribuindo assim para a titulação de mais de um milhar de docentes. Atualmente, o

programa atende um total de 309 docentes, assim distribuídos: 149 doutorandos e

106 mestrandos, nas mais diversas áreas de conhecimento. As Instituições do

Sistema ACAFE participam do Plano Sul de Pós-Graduação e Pesquisa, plano esse

originado de gestões políticas do Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-

Page 40: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

39

Graduação da região Sul. Esse plano financiou em Santa Catarina a oferta de

dezenove cursos de Pós-Graduação strictosensu, contribuindo para a capacitação

de mais de 240 docentes das universidades catarinenses. O Plano encaminhou ao

CNPq 262 projetos que serão analisados e contratados no futuro; quanto ao

vestibular unificado a ACAFE é responsável, em todas as suas etapas, pelo

vestibular das Instituições associadas, desde 1975. Nos últimos cinco anos

constatou-se um aumento de 80% nas vagas oferecidas; Sistema de Avaliação do

Ensino Médio o SAEM é um programa continuado de avaliação ao longo dos três

anos do Ensino Médio, que se soma ao tradicional vestibular enquanto mecanismo

para o acesso ao Ensino Superior. Trata-se de um processo para orientar a política

de governo no que diz respeito ao Ensino Fundamental e Médio; o programa de

bolsas de estudo, trata-se de um programa destinado a estudantes, amparado na

Constituição Estadual, em seu artigo 170, regulamentado pela Lei nº 180. Em 99 o

governo possibilitou em torno de doze mil bolsas de estudo e de pesquisa; a Rede

Catarinense de Tecnologia – RCT trata-se uma rede de informática que conecta as

universidades à internet. Existe um projeto em andamento para criar a Universidade

Virtual dos Catarinenses, com o objetivo de implantar a Educação a Distância; existe

também o Programa de requalificação de trabalhadores, desenvolvido em parceria

com a Secretaria de Desenvolvimento Social e da Família, com recursos do Fundo

de Apoio ao Trabalhador, do Ministério do Trabalho; a ACAFE organiza-se em

Câmaras Setoriais, com o objetivo de integrar as universidades do Sistema em torno

de projetos/programas de interesse conjunto.

Alguns desafios do futuro a serem superados, o centro das atenções da

comunidade dirigente e acadêmica das instituições filiadas à ACAFE enfoca

preocupações voltadas para a consolidação e o fortalecimento do Sistema

Catarinense de Ensino Superior. Há necessidade de melhoria da qualidade do

ensino de graduação, paralelamente à expansão e consolidação de programas de

formação pós-graduada, de incorporação da pesquisa científica e tecnológica na

rotina das atividades acadêmicas e à expansão das atividades de extensão

universitária e de prestação de serviços à empresa, ao governo e à comunidade;

qualificação do pessoal docente e ampliação do seu regime de trabalho;

institucionalização de mecanismos regulares de financiamento do Sistema

Catarinense de ensino Superior, com ênfase sobre a criação e regularização de

Page 41: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

40

fluxos de recursos destinados prioritária e diretamente ao aluno e a projetos de

pesquisa e de extensão; ampliação e melhoria da infra-estrutura de ensino e

pesquisa, com ênfase na expansão e atualização dos acervos bibliográficos e na

ampliação e modernização dos recursos informáticos; expansão das atividades de

cooperação e intercâmbio entre as instituições filiadas e os organismos do Estado e

da União, bem como com outros organismos e instituições congêneres, nacionais,

estrangeiras e internacionais.

A superação de tais desafios deverá estar articulada com a melhoria dos

processos de seleção para o ingresso no Ensino Superior.

Importante salientar que no debate sobre a expansão do ensino superior

privado no Brasil, não podemos ignorar um dado fundamental: a expansão se faz

para atender à forte demanda, como atestam os números do crescimento neste

setor.

Em Santa Catarina destacam-se aproximadamente 48 Instituições de Ensino

Superior Privadas credenciadas, segundo dados da Associação das Mantenedoras

Particulares de Educação Superior de Santa Catarina (AMPESC) de 2005,

perfazendo um número aproximado de 37.120 alunos.

Em virtude das mudanças ocorridas nas últimas décadas, o ensino médio

libera um número cada vez maior de jovens que buscam seu espaço na graduação.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio

Teixeira (Inep) de 1990 a 2002, a quantidade de alunos nos cursos de graduação

aumentou 126%, passando de 1,5 milhões para 3,5 milhões de estudantes.

Page 42: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

41

CAPÍTULO II - ESTADO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO

Este capítulo discute, do ponto de vista teórico, a ação do Estado Brasileiro

na área da educação. Depois de algumas considerações de caráter conceitual,

lançamo-nos à discussão do perfil de políticas públicas no Brasil dos anos 90 e início

do século XXI, particularmente nos governos Fernando Henrique Cardoso (1995 –

2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003 – 2006).

2.1 ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS NOS ANOS 80 E 90

Para compreender o perfil ideológico das políticas estatais de educação no

Brasil dos anos 80 e 90, precisamos discutir o caráter ideológico geral dos governos

deste período. Embora políticas específicas não sejam sempre reflexos diretos das

ideologias dos governantes, há uma forte tendência de que reflitam estas

orientações. Qual o caráter político dos governos de Fernando Henrique Cardoso e

Luiz Inácio Lula da Silva? É o que pretendemos discutir neste tópico.

2.1.1 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E O NEOLIBERALISMO

Tanto na linguagem política prática, como na linguagem filosófica, sociológica

e político-científica, não existe nenhuma outra palavra que possa ser comparada à

Ideologia, pela freqüência com a qual é empregada e, sobretudo, pela gama de

significados diferentes que lhe são atribuídos. (BOBBIO 1997 p. 585).

A palavra ideologia foi criada por Antoine de Tracy, no século XVIII e foi

concebida, inicialmente, como uma ciência de ideais.

De acordo com Lakatos e Marconi (1999, p. 197), “a ideologia, como visão de

mundo ligada aos interesses de um grupo ou estrato claramente determinado na

Page 43: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

42

sociedade, atuando como mola propulsora para a ação conservadora (manutenção

do status quo) ou a inovadora (transformação), fundamentou e justificou, na história

da humanidade, várias formas de sociedade e seu sistema de poder político”.

Desta forma, pretende-se aproveitar a ideologia do discurso do ex-presidente

Fernando Henrique Cardoso, pois esta se apresenta como uma ferramenta preciosa

para a análise das contradições da sociedade brasileira.

Segundo alguns autores, a política neoliberal começou a ser implantada por

Fernando Collor de Mello, em 1989 e continuada, em dois mandatos, por Fernando

Henrique Cardoso.

De acordo com Giddens (2000, p. 24), “o neoliberalismo é uma teoria

globalizante, e contribui muito diretamente para forças globalizantes. Os neoliberais

aplicam em nível mundial a filosofia que os orienta em seus envolvimentos mais

locais. O mundo caminhará melhor se os mercados puderem operar com pouca ou

nenhuma interferência”.

Lakatos e Marconi (1999, p. 336) ressaltam que em 1973, quando o mundo

capitalista avançado caiu em grande recessão (com baixas taxas de crescimento e

altas taxas de inflação), após a crise do modelo econômico pós-guerra, tudo mudou.

Desde então, as idéias neoliberais ganharam terreno contra o poder decisório dos

sindicatos, pois estes reivindicaram maiores salários e pressionavam o Estado para

que aumentasse os gastos sociais.

Consequentemente, os lucros das empresas baixaram, desencadeando

processos inflacionários, levando a uma crise da economia de mercado. A solução

para resolver tal questão foi romper com os sindicatos, visando à estabilidade

monetária.

A defesa das “reformas” para modernização do Estado se concentra na

defesa do processo de privatização das empresas estatais, ideologia da

liberalização do mercado e na austeridade fiscal, baseada em uma tese de que o

mercado seria a única instituição que poderia estruturar e coordenar as decisões de

produção e investimentos.

A ideologia neoliberal questiona o tamanho da estrutura estatal e o caráter

intervencionista do Estado na sociedade, mas ressalta que necessita da mão forte

do Estado no que diz respeito à manutenção da lei e da ordem.

Page 44: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

43

Segundo Lakatos e Marconi (1999, p. 337), “a adoção de políticas neoliberais

como programas de governo está associada às condições políticas partidárias, ou

seja, não tem ocorrido simultaneamente nem seguido a mesma trajetória e o mesmo

ritmo nos diversos países”.

Há alguns pontos tidos como essenciais em que repousa a plataforma

econômica liberal: reforma e redução do Estado; privatização das empresas estatais,

produtivas ou não; debilidade do governo; redução dos encargos sociais; abertura

ilimitada dos mercados; intervenção econômica; redução do superávit comercial e

investimentos diretos estrangeiros, entre outros.

Segundo os neoliberais, o objetivo fundamental da política econômica é

propiciar o funcionamento flexível do mercado, eliminando os obstáculos que se

levantam à livre concorrência, mas assevera-se que o mais grave disso tudo tem

sido a persistência do desemprego e a formação de uma sociedade dual.

Importante ressaltar alguns pontos do governo FHC, segundo sua ideologia

neoliberal: Elaboração do Plano Diretor da Reforma do Estado, de acordo com o

qual seria priorizado o investimento em carreiras estratégicas para a gestão pública,

adotou a terceirização em várias áreas consideradas não essenciais, bem como

convênios com organismos internacionais para suprir lacunas em determinadas

áreas, aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal, o que caracterizou a sua natureza

neoliberal, pondo fim à prática de endividamento dos governos estaduais e

municipais; iniciou a privatização dos sistemas de telefonia e distribuição e geração

de energia, das rodovias e portos.

Page 45: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

44

2.1.2 O GOVERNO LULA: NEOLIBERALISMO OU SOCIALISMO?

Já ressaltamos anteriormente que o neoliberalismo preconiza que o mercado

seria a única instituição a coordenar socialmente os problemas sociais, fossem eles

de natureza econômica ou política.

Desta forma, detemo-nos em demonstrar a ideologia socialista.

De acordo com Bobbio (1997, p. 1196), em geral, “o socialismo tem sido

historicamente definido como programa político das classes trabalhadoras que se

foram formando durante a Revolução Industrial”.

Segundo Lakatos e Marconi (1999, p. 201) “este é, ao mesmo tempo uma

teoria sócio-econômica e uma prática política, tendo por finalidade abolir esse

conflito”.

Tal afirmação encontra-se amparada no princípio da propriedade pública, ou

seja, coletiva dos instrumentos materiais de produção e troca, em uma sociedade

social na qual o direito de propriedade deve ser fortemente limitado e os principais

recursos econômicos devem estar sob a tutela da classe trabalhadora. Na realidade,

o socialismo não pressupõe a abolição total da propriedade privada, mas somente a

dos meios de produção, que passariam ao domínio público, mantendo-se a

propriedade individual dos bens de consumo e de uso, como já ressaltado

anteriormente, bem como, objetiva promover a igualdade social.

De acordo com Giddens (2000, p. 13), “o socialismo começou como um corpo

de pensamento que se opunha ao individualismo; sua preocupação em desenvolver

uma crítica do capitalismo veio mais tarde”.

O autor ainda ressalta que foi Karl Marx que forneceu ao socialismo uma

teoria econômica elaborada e assevera que, “o socialismo procura enfrentar as

limitações do capitalismo para humanizá-lo ou derrubá-lo por completo”.

O socialismo no ocidente começou no século XIX dominado pela social-

democracia, fundamentado na consolidação do Welfare State. Corroborando com tal

pensamento, Giddens (2000, p. 14) esclarece que “sucessivos governos americanos

na década de 1960 levaram a sério a legação de que a União Soviética poderia

superar os Estados Unidos no prazo de trinta anos”.

Page 46: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

45

Para Giddens (2000, p.14) a teoria econômica do socialismo sempre foi

inadequada, subestimando a capacidade do capitalismo de inovar, adaptar e gerar

uma produtividade crescente e esclarece que o socialismo foi incapaz de

compreender o significado dos mercados como fontes de informação que fornecem

dados essenciais para compradores e fornecedores e finaliza reiterando que, pelo

menos como um sistema de administração econômica, o socialismo não existe mais.

Nas décadas de 1970 e 1980, a ideologia que perpassava os discursos de

Luiz Inácio Lula da Silva era baseada em princípios marxistas que traziam

questionamentos a respeito do planejamento econômico executado pelos governos,

este contestava as relações entre capital e trabalho e defendia a igualdade em um

mundo sem dominantes e dominados.

Corroborando com tal pensamento, Luciana Panke (Observatório da Imprensa

– 26.04.2005 – Lula de sindicalista a presidente), observa que:

O mercado e suas leis eram tidos como injustos e passíveis de modificações estruturais com a proposta de dissolução do sistema vigente para implantação de um modelo socialista. “(...) sentimos na própria carne, e queremos, com todas as forças, uma sociedade que, como diz o nosso programa, terá que ser uma sociedade sem explorados e exploradores. Que sociedade é essa senão uma sociedade socialista?” (LULA, 1981).

Com a retomada da democracia no Brasil, aconteceram as eleições diretas à

presidência da República, abrindo caminho para Luiz Inácio Lula da Silva, que

disputou, representando o pensamento de esquerda, contra Fernando Collor de

Mello. De acordo com Panke (2005) “Lula ainda mantinha características do perfil

operário, tanto por sua postura ideológica como pelo seu visual”.

Lula perdeu as eleições para Fernando Collor de Mello que posteriormente

veio a sofrer impeachment, colocando o PT de Lula, em 1994, como aposta certa

para o pleito federal. Mas naquele ano, Fernando Henrique Cardoso, lança o Plano

Real, política esta que estabilizou a moeda. Em 1998, FHC é reeleito e Lula nem

sequer chega ao segundo turno.

Corroborando com tal pensamento, Panke (2005, n.p.) ressalta que,

O período foi considerando de transição apontando para o amadurecimento político do PT, que conseguiu projeção nacional, conquistando prefeituras e vagas nas Câmaras Municipais e no Congresso Nacional. (...) Nesse

Page 47: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

46

momento há uma reformulação da imagem do candidato, passando a apresentar um perfil mais conciliador, moderno e plural.

A campanha de 2002 trouxe um candidato ponderado e estadista que

cogitava o cumprimento de acordos com os credores internacionais.

A gestão de Lula optou por manter um modelo de política econômica e fiscal

similar ao do governo FHC. O governo Lula caracterizou-se pela baixa inflação, taxa

de crescimento do PIB, redução do desemprego e recordes na balança comercial.

Este trouxe como sua principal plataforma o Programa Fome Zero, bem como a

criação do FUNDEB (ainda não aprovado) e do ProUni. Em contrapartida, os juros

continuam altos e o dinheiro que deveria ser investido em obras públicas de grande

impacto econômico é totalmente drenado ao setor financeiro. A principal diferença

entre o governo Lula e o governo FHC é o fim de um poderoso ciclo de

privatizações.

Desde 2004, o governo Lula vem enfrentando diversas crises políticas que

atingiram seu ápice em julho de 2005 depois que fontes do próprio partido

denunciaram um forte esquema de corrupção envolvendo financiamento de

campanhas por caixa dois.

Luiz Carlos Bresser - Pereira (Jornal Folha de São Paulo – 08.01.2006 – O

paradoxo da esquerda) assevera que,

O caso do PT é mais grave porque, embora seu perfil fosse mais claramente de esquerda, seu governo aprofundou a incrível transferência de renda dos pobres para os ricos por meio da elevação do nível real das taxas de juros que o Estado paga aos rentistas. Nesses termos, fez um governo de direita. O fato de ter aumentado os gastos com o Bolsa-Família não muda o quadro, pois faz parte do próprio Consenso de Washington promover programas focados de renda mínima”.

Seguindo este mesmo pensamento, Ruy Fausto (Jornal Folha de São Paulo –

22.01.2006 – As perspectivas da esquerda) observa:

Mas, e o PT? O PT se perdeu por quê? Por mais de uma razão, mas principalmente porque, partindo de um modelo de revolução violenta, ele não abandonou o que estava por trás desse projeto, a justificação dos meios pelos fins. Limitou-se a trocar a violência pela corrupção. A falta de respeito pela legalidade (que não é só “burguesa”) continuou a mesma.

Page 48: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

47

2.2 POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL DOS ANOS 80 E 90: DEBATES E TENDÊNCIAS

A literatura que trata das orientações governamentais para a educação no

Brasil dos anos 80 e 90 não chega a ser abundante. De forma geral, são os textos

de caráter mais pedagógico que se destacam e são poucos os pesquisadores que

abordam o tema sob o enfoque do Estado em ação, ou seja, da política pública.

Mesmo assim, é possível distinguir na literatura existente uma diferenciação entre

três recortes. O primeiro está fortemente vinculado ao governo FHC e as discussões

sobre a validade e os limites da LDB, aprovada em 1996. O segundo, mais recente,

aborda as propostas de reforma universitária do governo Lula. O terceiro, mais

abrangente, não se prende a este ou aquele governo, mas discute a educação no

ensino superior de forma geral.

Com base neste quadro geral, a intenção neste tópico será apresentar e

comentar esta literatura destacando em que medida ela nos aponta (ou não) para a

conexão das políticas governamentais de educação com seu perfil ideológico amplo.

2.2.1 POLÍTICA EDUCACIONAL DE FHC

Neves (2002, p. 401) nos assegura “que o sistema de ensino superior

continuou sendo objeto de ampla discussão da perspectiva da política educacional

na década de 1990, pois houve uma época de expansão nos anos de 1970, uma

estagnação na década seguinte e recuperação do crescimento de matrículas nos

anos de 1990”. Neves (2002, p. 398) ainda salienta:

Que é partir daí que a produção de conhecimento se diversifica. O significado e o alcance das políticas educacionais certamente continuam sendo temas de interesse dos estudiosos. [...] é possível distinguir, no contexto dos estudos sobre o Ensino Superior, pelo menos três recortes temáticos principais: as instituições públicas, especialmente as federais, o sistema como tal, sua expansão e suas especificidades, também em comparação com outros sistemas nacionais e o segmento privado no Ensino Superior que, hoje é amplamente dominante.

Page 49: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

48

Nos anos 90, ocorre a aprovação da nova LDB, sob a Lei 9.394/96. Assim

como as de 1931 e 1961, a configuração desta LDB (ainda vigente) também foi lenta

e controversa, com muitas articulações, comissões, debates e medidas provisórias.

De acordo com a SEMESP (2004, p. 96),

Em outubro de 2004, por exemplo, o governo baixava a MP 661, que extinguia o Conselho Federal de Educação (CFE), órgão instituído pela LDB de 1961. [...] Além da motivação jurídica, a extinção do CFE foi a realização de um anseio do próprio MEC, que pretendia centralizar as decisões educacionais, além disso, na época, o CFE estava às voltas com denúncias de corrupção.

Em novembro de 1995, com a Lei 9.131, o CFE volta à cena, intitulado CNE

(Conselho Nacional de Educação).

Em 17 de dezembro de 1996 foi votada na Câmara Federal a nova LDB, com

349 votos a favor, 37 votos contra 4 abstenções. A nova LDB estabeleceu que, nas

universidades, um terço dos professores deve ter título de mestre ou doutor, e

determinou ainda, que um terço do quadro de docentes das universidades fosse

contratado em regime de tempo contínuo por 40 horas semanais. Outra mudança foi

regulamentar o ano letivo em 200 dias efetivos de trabalho.

As instituições de ensino superior ainda teriam que informar aos interessados,

antes de cada período do curso, os programas e demais componentes curriculares,

sua duração, requisitos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e critério

de avaliação. Alunos de aproveitamento excepcional poderiam abreviar os anos de

estudo, passou a ser obrigatória a freqüência de alunos e professores, exceto em

programas de educação a distância, além de que, as IES deveriam oferecer no

período noturno os mesmos cursos oferecidos no período diurno, e com igual

qualidade.

A partir da LDB de 1996, as IES no Brasil puderam ser: autônomas

empresariais, religiosas, técnicas. As IES privadas, que são mantidas e

administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, agora podem ser

classificadas em particulares, confessionais, comunitárias e filantrópicas.

Page 50: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

49

A proposta do governo FHC foi elaborada por uma equipe coordenada pelo

economista Paulo Renato Souza. Vale destacar as mudanças nos mecanismos de

acesso ao ensino superior, que, ao eliminar a obrigatoriedade dos exames

vestibulares pretendia sanar dois problemas: o primeiro seria estabelecer um padrão

de qualidade do ensino médio em rápido crescimento, influenciando assim,

conseqüentemente, o ensino superior. O segundo problema seria reduzir os custos

de seleção dos candidatos aos cursos superiores, especialmente das instituições de

ensino superior privadas.

Silva Júnior (2005) escrevera que a discussão sobre a esfera educacional no

governo de Lula revestia-se de enorme complexidade e de imprevisibilidade em face

do pouco tempo de Lula na Presidência da República do Brasil, tendo herdado um

complexo jurídico-institucional bastante consolidado, produzido ao longo do governo

FHC, no qual se destacavam as reformas do Estado e da educação cujo processo

de implementação tinha início.

Uma das limitações da LDB é a inexistência de definição dos modelos de

instituições de ensino superior, não estabelecendo suas áreas de abrangência,

missões específicas ou competências. Embora faça referência, no Título V, Capítulo

IV, “Da Educação Superior” à existência de universidades, inclusive as

“especializadas por campo do saber” e às instituições não-universitárias, esta Lei

limita-se a separar as universidades das demais IES.

O Decreto nº. 2.207/97, cuja função é regulamentar dispositivos relativos à

educação superior, e em particular ao caráter das instituições que integram o

Sistema Federal de Ensino, as nomeia e elenca como: universidades; centros

universitários; faculdades integradas; faculdades; e institutos superiores ou escolas

superiores. Mesmo sendo bem mais claro no que concerne às universidades, e

apresentando alguns elementos definidores dos centros universitários, deixa as

demais categorias de IES sem definição.

Mesmo que no texto do Decreto não se estabeleça um making entre os cinco

modelos do IES, o fato de prever o rebaixamento das universidades a centros

universitários demonstra que existe, de fato, uma relação hierárquica entre eles.

Tal perspectiva não se encontra, no escopo da LDB, mas pode ser adotada

em razão da excessiva flexibilidade de seu texto, neste particular.

Page 51: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

50

Neste caso específico, o Decreto exprime uma visão tradicional de

Universidade como sinônimo de Centro de Excelência, alicerçada numa diretriz de

pesquisa puramente científica, o que contrasta não só com a diversidade das IES,

bem como com o discurso oficial.

O acesso às universidades acaba por evidenciar que o processo de seleção

tradicional, o vestibular, é marcadamente limitado por condicionantes de origem

social e econômica do candidato. Assim, nas instituições de ensino superior

públicas, os aprovados no vestibular para os cursos cuja relação candidato-vaga é

mais alta, dificilmente são oriundos do ensino médio oficial, restando-lhes cursar

este nível de ensino em estabelecimentos particulares.

Assim, o processo seletivo nas universidades públicas deve estabelecer

mecanismos que garantam a diversificação de seu corpo discente; definindo

estratégias de melhoria do ensino médio oficial e garantir oportunidades para alunos

oriundos das escolas públicas. De acordo com a LDB, é fundamental que os alunos

e a sociedade em geral possam conhecer as características e os indicadores de

qualidade dos serviços oferecidos pelas instituições de ensino superior.

As instituições devem oferecer ao candidato uma série de informações de

caráter interno da Instituição, como programas, duração e procedimentos de

avaliação dos cursos, critérios de seleção, qualificação dos professores e recursos

disponíveis.

Com a edição do Decreto nº. 2.207/97 as IES ficam obrigadas a tornar público

outros indicadores de qualidade de seus cursos de graduação, como laboratórios,

computadores e os acessos às redes de informação e acervo das bibliotecas; o

elenco de cursos reconhecidos e em processo de reconhecimento; o resultado das

avaliações realizadas pelo Ministério da Educação e do Desporto; bem como o valor

dos encargos financeiros e as normas de reajuste aplicáveis ao período a que se

refere o processo seletivo.

Portanto, no momento em que um candidato se inscrever para a seleção,

conhecerá e poderá avaliar a conveniência de disputá-la em determinada instituição,

a partir de indicadores previamente conhecidos. Onde o Edital de Seleção passa a

constituir-se em verdadeiro contrato entre IES e o candidato e o mesmo é amparado

pela legislação que trata dos direitos e garantias dos consumidores.

Page 52: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

51

Importante ressaltar que uma das questões que ainda cercam o

funcionamento das entidades privadas de ensino diz respeito aos lucros que elas

conseguem auferir com suas atividades. Até agora, aos empresários do ensino

superior parecia mais interessante assumir finalidade não lucrativa para gozar de

benefícios fiscais e acesso aos recursos públicos. Desta forma, a filantropia, a ação

confessional ou comunitária encobriam a atividade comercial praticada.

O Decreto nº. 2.207/97, avança mais quando prevê a possibilidade de que as

instituições assumam sua finalidade lucrativa. Do artigo 1º ao 3º estabelece a

diferença entre instituições públicas federais e privadas; e distingue características

das entidades que visam ao lucro daquela cuja finalidade seja não-lucrativa. Mas a

simples enunciação de tal possibilidade não serviria de argumento para estimular os

empresários do ensino superior a assumir a característica comercial de seus

empreendimentos. Aquelas que optaram pela finalidade lucrativa, estarão sujeitas à

legislação mercantil, especialmente na parte relativa aos encargos fiscais,

parafiscais e trabalhistas.

De acordo com Cunha (2003, p. 56-57)

No que diz respeito à proposta de governo de 1994, relativa ao primeiro mandato do presidente FHC, ficou patente que a conexão entre o desenvolvimento científico e tecnológico (no qual a universidade teria papel estratégico), de um lado, e o desenvolvimento econômico, de outro, não foi estabelecida. Este, ao contrário, dependeu da importação de capital financeiro e tecnologia embutida em equipamentos e em processos licenciados.

Necessário salientar que a efetiva autonomia, que seria a base da reforma

administrativa, não foi realizada, embora tivesse sido tentada. Em 1996 um projeto

de emenda constitucional oriundo do MEC pretendeu especificar os termos da

autonomia das universidades federais. Estas deixariam de ter uma carreira

unificada, passariam a contratar e a dispensar pessoal, bem como estabelecer os

níveis de remuneração de seus funcionários técnico-administrativos e dos docentes.

Segundo Cunha (2003, p. 57)

Page 53: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

52

Antes da apreciação do projeto de emenda constitucional pelo Congresso, a LDB adiantou-se ao determinar mudanças em tudo convergentes com aquela. Contrariando a legislação vigente, a LDB abriu a possibilidade de planos de cargos e salários diferenciados, além de competência para as universidades admitirem e demitirem seu pessoal docente e técnico administrativo. Um projeto de lei, também elaborado no âmbito do MEC, de mais tramitação no Congresso que uma emenda constitucional, foi submetido à discussão no campo universitário. [...] Tanto o projeto de emenda constitucional quanto o projeto de lei baseado na LDB foram prontamente rejeitados pelos docentes e pelos funcionários técnicos administrativos. Sem condições políticas para tramitar no Congresso, ambos foram retirados de modo que a “revolução administrativa” nas universidades federais foi abandonada pelo governo. A privatização do ensino superior, isto sim, foi acelerado no período em análise. [...] O número de instituições privadas aumentou consideravelmente, em especial na categoria universidades e nas dos centros universitários, o que resultou na ampliação do alunado abrangido pelo setor.

Como deixar de pensar que o sucateamento do setor público do ensino

superior correspondia a um intento deliberado se, de um lado, as instituições de

ensino superior federais padeciam de recursos para continuarem a operar, de outro,

as IES privadas recebiam os benefícios visíveis?

Este foi o pensamento dominante do octanato FHC.

Conforme Cunha (2003, p. 58)

O protagonismo de agentes do setor público e do setor privado, eficaz a ponto de se refletir na legislação federal, produziu pelo menos duas mudanças profundas no campo de ensino superior brasileiro: a diferenciação das instituições privadas com fins lucrativos, que ficaram excluídas dos benefícios dos recursos públicos, e a diferenciação das instituições dotadas de autonomia universitária, tanto pública quanto privada, a maioria delas tendencialmente “rebaixadas” à nova categoria dos centros universitários, onde o princípio constitucional da indissociação entre ensino, pesquisa e extensão deixa de prevalecer.

2.2.2 POLÍTICA EDUCACIONAL DE LULA

Em 2000, o sistema de ensino superior brasileiro era formado por 1.180

instituições de ensino superior, das quais 1.004 eram privadas.

Page 54: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

53

No início do segundo ano do governo Lula, com a mudança de Cristovam

Buarque para Tarso Genro no Ministério da Educação, a reforma universitária foi

trazida para a agenda das prioridades do governo depois de várias décadas.

Em meados de 2003, a Secretaria de Educação Superior, órgão do Ministério

da Educação criou a Comissão Especial de Avaliação que elaborou a proposta de

um novo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) aprovado

pelo Congresso por intermédio da Lei 10.861 de 14 de abril de 2004.

Apesar da complexidade da metodologia adotada, o processo de discussão

está se desenvolvendo num ritmo regular e há discussões regionais acerca da

matéria.

Para Trindade (2004, p. 834)

A priorização do tema da reforma universitária é, de um lado, um ato de ousadia política diante da complexidade de sua elaboração participativa num contexto democrático, já que as leis universitárias anteriores foram elaboradas em situações autoritárias; e, de outro, um desafio de alto risco político diante das tendências restritivas da economia brasileira para ampliar os níveis de financiamento público, das resistências tradicionais às mudanças nas instituições públicas e da capacidade de pressão sobre o Congresso.

Um dos desafios centrais dos dias atuais para o ensino superior brasileiro é

formular uma política não direcionada apenas para uma das partes do sistema, é

necessário um conjunto de atos que priorizem as instituições do sistema de ensino e

sua totalidade. Trata-se, portanto, de criar mecanismos reais que qualifiquem

academicamente o sistema como um todo. A partir de 1995, a política educacional

desenvolvida através de determinadas medidas, criou condições favoráveis para

diversificação institucional do ensino superior e estabeleceu mecanismos capazes

de orientar sua expansão. Importante destacar que, na maioria das vezes, a ação

governamental procurou equacionar problemas específicos, parecendo ações

fragmentadas. Um dos pontos de partida para colocar em prática uma política

voltada ao conjunto do sistema é o reconhecimento de que ele não é apenas

desigual na qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão oferecida pelas

diferentes instituições. Ele é também um sistema multifacetado composto por

instituições públicas e privadas, com diferentes formatos organizacionais, com

Page 55: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

54

múltiplos papéis e funções locais e regionais, de abrangência nacional e

internacional. (MARTINS, 2000, n.p.)

Apesar dessa limitação entendia-se ser relevante tornar claro o que pareciam

ser o lugar e as finalidades da educação no governo de Luiz Inácio Lula da Silva,

levando em consideração a herança política deixada pelo presidente Fernando

Henrique Cardoso e a orientação do atual governo, concretizada pelo seu propalado

pacto social. Assim dada, a ausência de mais elementos históricos sobre o tema em

tela e posto que a herança de FHC como continuidade no pacto social poderia ser

um fim ou uma estratégia de governabilidade do atual presidente.

Para Sguissardi e Silva Júnior (2005, p. 20),

O governo de FHC teve no centro de suas propostas políticas a construção e o fortalecimento da cidadania, o aumento das possibilidades de emprego e da participação política e social nos rumos do país, contraditoriamente em meio a uma intensa mudança institucional e à construção de uma nova organização social, isso induzido por um novo paradigma de Estado, cuja racionalidade encontrava-se vazada por valores mercantis e uma sociedade civil que cada vez mais assumia as responsabilidades e deveres do Estado e direitos sociais e subjetivos do cidadão por meio de um movimento de transferência daqueles deveres para a sociedade civil, especialmente assumidos por ONGs e pelo emergente “terceiro setor”.

Segundo a política educacional do governo Luiz Inácio Lula da Silva, seriam

exigidos uma nova cultura da instituição universitária e um sistema de pós-

graduação, com respostas eficazes e rápidas, dada a natureza imposta pela

necessária competitividade no mercado mundial. Já por outro lado, tal lugar e

finalidades da educação brasileira afetariam de chofre todas as áreas de suas

especificidades, pondo como vilãs da história as ciências humanas que não

apresentassem resultados aplicáveis à realidade, com o objetivo de realizar o projeto

político nacional proposto pela coligação centrada em Luiz Inácio Lula da Silva.

Algumas justificativas sustentam a afirmativa de que, dentre todos os níveis

de ensino regulados pela LDB, certamente um dos que suscita maiores polêmicas é

o do ensino superior. Durante as últimas décadas, o Poder Público investiu na

formação de um parque universitário minimamente consolidado, em especial no que

tange à pós-graduação. Esse investimento, no entanto, não se traduziu em

substancial melhoria da Educação Básica, cujo sistema mantém, ainda, fora da

Page 56: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

55

escola um considerável contingente da população, quase sempre oriundo das

classes populares.

Podemos dizer que o ensino superior do Brasil esteja passando por um

momento de profundas mudanças, principalmente no setor público, que exigirão dos

diferentes segmentos de cada instituição atitudes maduras de autocrítica e

discussão a respeito de sua missão, afim de que possa criar mecanismos capazes

de fazer com que suas atividades produzam efeitos mais diretos sobre a

comunidade em que se insere, evitando, assim, o desmonte de uma massa crítica

que levou muitos anos para ser construída.

O maior problema conceitual da LDB, no que tange à Educação Superior,

reside na perspectiva de caracterizar a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e

extensão como uma prerrogativa única das universidades.

Antes de qualquer comentário, há que se considerar o caráter de que se

reveste cada uma dessas três atividades, em sua mais ampla abrangência: a

pesquisa como produção de um determinado saber; o ensino como a transmissão

desse saber; e a extensão como a devolução desse saber à sociedade, sob a forma

de serviço/atendimento prestado, fora o âmbito das atividades eminentemente

acadêmicas.

2.2.3 ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: POLÍTICAS PÚBLICAS

Em 23 de julho de 1996, o Jornal Folha de São Paulo (Caderno 3, p.1)

estampava a manchete “País pode ter inflação de faculdades”, mostrando que, até o

final daquele ano, estariam sendo analisados 32 pedidos de transformação de

faculdades privadas em universidades e 2.919 solicitações para criação de cursos

de graduação. A matéria acima aponta que o grande interesse das instituições em

se tornarem universidades ampara-se pela autonomia garantida no artigo 207 da

CF/88, prevendo que as universidades obedecerão ao princípio de indissociabilidade

Page 57: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

56

entre ensino, pesquisa e extensão e gozarão de autonomia didático-cientifíca,

administrativa e de gestão financeira e patrimonial.

As novas universidades particulares reconfiguraram o cenário do ensino

superior brasileiro, cuja ascensão se deu a partir da segunda metade da década de

1980.

Helena Sampaio apud Almeida (2001, p. 20), diz que as universidades

particulares “... nunca foram objeto de maior pesquisa e estudo. Apesar da idéia

generalizada de que elas não têm qualidade e podem ser até mesmo prejudiciais, o

fato é que elas vendem um serviço que é consistentemente procurado e comprado,

e isto deve ter algum valor para os compradores”.

A preocupação não é a de se opor, numa relação dual e maniqueísta, ensino

superior público versus ensino superior privado, mas procurar compreender a

dinâmica própria dessas novas instituições – que conseguiram obter cunho

universitário pela via do reconhecimento federal – e examinar em que medidas

tenderiam a estabelecer um novo papel no ensino superior brasileiro.

A expansão do ensino privado foi responsável pelo aumento do ensino

superior no Brasil como observa Lúcia Klein (1992) apud Almeida (2001, p. 42),

tendo registrado, entre 60 e 80, um significativo aumento na sua participação no total

de alunos matriculados, que passou de 44,3% para 63,3%. A sua maioria era

formado por instituições isoladas que se mantinham com as anuidades cobradas dos

alunos.

Para Durham e Sampaio (1995) apud Almeida (2001, p. 42), esse

crescimento do ensino superior privado desenvolveu-se dentro de um processo com

três características principais: a disputa de mercado por uma clientela restrita em

função da estagnação da população universitária brasileira; a articulação e

expansão de IES pelo interior dos estados; e a articulação de instituições isoladas e

suas transformações em universidades.

Com a liberalização da expansão do ensino de 3º grau para o setor privado

não-confessional, favorece-se a entrada em cena de empresários da educação e o

ensino público vai perdendo espaço para a iniciativa privada. As escolas foram

construídas em bairros que abrigavam escritórios, bancos, comércio, facilitando

assim a locomoção desses alunos. E foi para atender a esse mercado potencial que

Page 58: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

57

surgiram em grande número cursos de ciências contábeis, administração e comércio

exterior.

Brunner (2001, p. 43) oferece-nos uma ampliação do olhar sobre as

diversificações institucionais dos estabelecimentos de ensino superior, classificando-

os em quatro categorias:

1. Complexas: combinam atividades sistemáticas e variadas de pesquisa e

docência de graduação e pós-graduação em um número significativo de áreas de

conhecimento;

2. Completas: oferecem carreiras na maioria das áreas de conhecimento;

3. Incompletas: oferecem programas em um número limitado de áreas do

conhecimento;

4. Especializadas: concentram atividades docentes em uma só área.

Daniel C. Levy (2001, p. 44) complementa essa caracterização ao apresentar

uma diferenciação institucional e hierárquica das clientelas educativas em outras

quatro categorias:

1. Absorção de demanda: recebe estudantes caracterizados por baixo capital

escolar que não conseguem ingressar nas IES públicas e nas privadas católicas ou

seculares de elite, tendo que optar por carreiras curtas;

2. Seculares de elite: recebe estudante que buscam instituições mais

adequadas a seu papel de elite, com maior contato com o setor empresarial e o

mercado de trabalho.

3. Comunitária: busca ocupar um espaço entre as universidades estatais e as

empresariais, com perfil básico orientado para o social.

4. Confessional: o modelo hegemônico é o católico, que, se antes se

aproximava do público, vai se tornando cada vez mais próximo ao secular de elite

pela imagem de eficiência e qualidade acadêmica que procura proporcionar.

Os estudos realizados pela Cátedra Unesco de Educação Superior (2001, p.

47) também demonstram que a maioria das instituições de ensino superior do setor

privado orientou-se para carreiras em áreas de pouco risco e de baixa

Page 59: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

58

representação em termos de recrutamento de elites, como ciências sociais,

educação e humanidades, com especial destaque para o curso de Administração.

A expansão do ensino superior privado no país também foi marcada por fortes

diferenças regionais, a par com o desenvolvimento econômico e populacional de

cada região, e nessa distribuição desigual o setor privado continuou ocupando um

papel importante. A expansão ocorreu especialmente no sudeste e no sul do país,

regiões com melhor desempenho econômico, e assim, com uma porcentagem das

mensalidades pagas pelos alunos, vai se expandir em regiões de maior demanda

por qualificação de 3º grau, de graduação, e com condições de pagar por este

serviço/produto.

Para Panisset (2002), uma lei para a época, efetivamente revolucionária, criou

os conselhos de educação, ou seja, o Conselho Federal e os Conselhos Estaduais.

Como já salientado anteriormente, em 1968, veio a Lei nº. 5540, que reformou o

ensino superior no Brasil. Era um pouco focada no modelo das universidades

americanas e que, por isso mesmo, teve certos problemas na sua implementação,

pois criava um modelo praticamente único no ensino superior no País. Em 1971,

houve a reforma Jarbas Passarinho (Lei nº. 5692) que transformou o ginasial em

primeiro ciclo e o colegial em primeiro e segundo grau e esteve em vigor até muito

recentemente. Curiosamente, a Lei nº. 9394, de recente aprovação, foi aprovada no

dia 20 de dezembro de 1996, trinta e cinco anos depois da aprovação da primeira

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, de nº. 4024. Já no ano anterior,

em 1995, pela Lei nº. 9131, havia sido criado o Conselho Nacional de Educação. Ao

mesmo tempo em que se criava o Conselho Nacional de Educação, estabelecia-se

um sistema de avaliação da educação brasileira e instituía-se o Provão.

De acordo com Schwartzman (2002), “penso que a graduação tem algumas

questões que ainda permanecem preocupantes. Gostaria de mencioná-las como

temas que precisam de uma reflexão maior”.

O autor esclarece que o primeiro tema é toda a questão da gestão do sistema

federal, por parte do Governo Federal. Esta é a grande área onde o Ministério não

conseguiu dar um passo à frente muito importante. Houve o projeto da autonomia

universitária, que ficou pelo meio do caminho. O custo per capita do ensino superior

brasileiro, público, federal, continua sendo altíssimo. Ele é dez vezes superior ao da

Page 60: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

59

maioria dos países da América Latina – do que o do Chile, por exemplo, e de

qualquer outro país latino-americano que tenha um sistema razoável.

Segundo Schwartzman (2002), outro problema muito complexo, como se

sabe, é o uso inadequado de recursos, pois as instituições não têm incentivos

adequados para tirar o que é ruim e investir no que é bom. No Peru, por exemplo,

30% da população em idade escolar, de 18 a 24 anos de idade, estão no ensino

superior. O Brasil tem, efetivamente, 7% ou 8%.

Conforme o autor, um outro tema que não foi abordado – evidentemente, por

causa de seu conteúdo político – é o do pagamento do ensino por quem possa

pagar. Esta questão precisa ser novamente discutida, talvez no contexto da

autonomia das universidades, dando-lhes condições de buscarem recursos. Sem

dúvida, esta proposta tem que estar associada a um sistema de crédito educativo

que de fato funcione, para apoio às pessoas que não têm condições de pagar o

estudo, mas têm condições intelectuais de fazê-lo. Uma combinação bem pensada

de crédito educativo e a cobrança de uma anuidade seria muito mais justo, do ponto

de vista social, e muito mais eficiente do que a atual situação, em que o Governo

financia o ensino público e praticamente não financia quem estuda no setor privado.

Esta questão precisa ser revista. É um ponto importante.

Para Castro (2002), há um problema crônico de falta de diferenciação entre o

topo e a base. O ensino para a superelite é exatamente o mesmo que o ensino

voltado para pessoas que mal sabem ler e escrever e que conseguem entrar no

terceiro grau. Qualidade é definida como se fosse uma dimensão única. Mas há que

se entender que qualidade, para o aluno bom, ou para o aluno super bom, não é o

mesmo que qualidade para o aluno mal preparado. A qualidade, para o melhor

aluno, é o professor brilhante, inspirado e, em geral, péssimo em sala de aula.

Qualidade para o aluno menos preparado é a capacidade de criar aquela mágica

que faz com que o aluno aprenda. É muito mais pedagógica, é muito mais ser capaz

de fazer com que as coisas entrem na cabeça do aluno e muito menos haver

publicado “não sei quantos” artigos. É fazer com que os alunos mais fracos

aprendam. É outra dimensão de qualidade, é muito mais na pedagogia, na mágica

de sala de aula.

Castro (2002) assevera que estamos engatinhando no caso da diversificação.

Os cursos agora é que estão começando. Ninguém parou para pensar no que é

Page 61: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

60

essa ligação tumultuosa entre ensino e pesquisa. Todo mundo repete fórmula, todo

mundo repete chavão. Mas, vamos perguntar: em nossa experiência de aluno, o que

significou o fato de o professor ser ou não pesquisador? Em que circunstâncias isso

resultou em avanço da nossa compreensão? Em que matérias isto é importante?

Que professor de Matemática é pesquisador? De que adianta demonstrar um

teorema que nenhum aluno pode entender e ser ruim na sala de aula de

Matemática?

Consoante o autor, há uma diferença, da qual se perdeu a memória a partir

de 1980, entre democracia representativa e reunião de condomínio do prédio. Na

reunião de condomínio de um prédio, as pessoas se encontram para decidir o que

fazer com o que é seu. Quando os professores se encontram para decidir o que

fazer, eles não estão decidindo o que fazer com o que é seu, mas estão decidindo o

que fazer com o que é do povo, com o que é dos outros. Portanto, não pode haver

um sistema de democracia representativa que seja compatível com um condomínio.

Reunião de universidades e congregação de reitores não é reunião de condomínio,

em que estes são os donos. Este é um problema fundamental que contaminou e que

não se consegue resolver. A política partidária entrou na eleição de reitores. Em

outras palavras, onde o chefe não manda, boa coisa não pode sair.

Castro (2002) ressalta o grande problema: o MEC é mantenedor e

fiscalizador, mas gosta muito mais de ser dono de escola do que de fiscalizar a

escola. Trata-se de um conflito de interesses. Ele deveria ser muito mais duro na

fiscalização do público, já que somos nós que estamos pagando. O privado é um

acordo entre partes, soberanas, voluntárias e bem informadas.

O autor indaga: O que é que as pesquisas mostram? Que os alunos que

recebem esse serviço têm sua renda aumentada em quase três vezes e sua

probabilidade de desemprego reduzida em quase três vezes. É uma boa

mercadoria. Eles não estão comprando gato por lebre. É uma mercadoria bastante

benigna.

Segundo o autor, em conseqüência, o ranço antiprivado é uma perda de

tempo que vem se arrastando e se propagando. É preciso cuidar do abuso e não

acusar o uso. Obviamente, há abuso. Grande parte do abuso é monopólio, e grande

parte do monopólio é devido ao gargalo da SESu, para abrir curso. A SESu não teria

nenhuma razão para facilitar; pelo contrário, tem de dificultar substantivamente, mas

Page 62: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

61

tem que agir de forma igual para todos. O que aconteceu é que as universidades

têm uma reserva de mercado. Enquanto isso, o pequenininho, lá de longe, chega em

Brasília e não consegue encontrar o MEC. Este, coitado, está mal de vida. Então, o

sistema é maldito. As regras para abrir uma faculdade ainda são horríveis, apesar de

estarem melhorando muito.

Para terminar, Castro (2002) assinala, que o problema mais sério é o de

estarmos diante de uma clientela que sai do ensino médio de nível social cada vez

mais baixo. E isto é inevitável. Não eram os ricos que não estavam conseguindo se

formar no ensino médio, no ensino de segundo grau; eram os pobres. E agora os

pobres estão conseguindo se formar. Então há uma nova geração emergente, que

está chegando ao ensino superior e encontra as portas das universidades públicas

fechadas. Isto, em virtude da alta competitividade dos vestibulares, que são, em

grande medida, absorvidos pelos menos pobres e, sobretudo, pelos que vêm de

escola privada, tem que pagar um curso privado, mas não tem dinheiro,

especialmente um curso de quatro anos.

Para o autor, este constitui o maior obstáculo dos cursos privados: como

conseguir mecanismos de financiamento, seja através de bolsas, seja através de

crédito educativo. O fato é que, se não houver um mecanismo eficiente para

melhorar a situação, para dar algum tipo de apoio financeiro aos alunos, haverá um

estrangulamento sério no ensino superior e, principalmente, uma tendência muito

forte a uma queda na qualidade, já que é impossível baixar custo, baixar

mensalidade sem sacrificar, em certa medida, a qualidade. Sobretudo pelas

exigências, mecanicamente definidas, de número de alunos em sala de aula. Se não

houver um apoio financeiro por meio de bolsas e de crédito educativo, o sistema

será estrangulado muito rapidamente.

Panisset (2002) nos coloca que: vivemos, realmente, uma situação de

extrema dificuldade, no que diz respeito ao financiamento da educação para alunos

do sistema privado. Existia o Crédito Educativo, com recursos extremamente

limitados e sem retorno, praticamente, já que não havia instrumentos de segurança

capazes de garantir o retorno do financiamento dado aos alunos. Mudou-se para

esse sistema do FIES, que supre a parte da segurança do retorno, pela

apresentação de financiadores, mas que permanece com a mesma limitação de

recursos.

Page 63: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

62

Para Macedo (2002), o processo de expansão vem no bojo da LDB. A LDB é

a principal responsável pelo processo de expansão, que era absolutamente

necessário, em termos de ensino superior brasileiro. É evidente que ele teria que ser

feito com determinado padrão de qualidade. Eis o grande desafio. Era necessário

fazer a expansão, uma expansão que teria que ser grande, e a curto prazo, ao

mesmo tempo sendo acompanhada de qualidade. Antes desse processo, há oito

anos, por exemplo, nossa cultura da avaliação era incipiente. Tínhamos, portanto,

que desenvolver um processo de expansão com qualidade. E esta só poderia ser

aferida por um sistema de avaliação abrangente, isento e, evidentemente, confiável.

E nós não tínhamos, ainda, a cultura da avaliação.

O autor esclarece que se observarmos por esse prisma, veremos que o

Conselho procurou normatizar a LDB e, além disso, dar curso a esse processo de

expansão, que vinha no bojo da referida Lei, já que a LDB criava os centros

universitários, com autonomia para criação de cursos, diversificava programas de

ensino, introduzia a educação a distância e uma série de fatores, que, por certo,

iriam promover uma expansão.

Já para Gusso (2002), gestava-se, aí, de certa maneira, nesse processo de

transformação, o que hoje constituí, praticamente, dois terços do aparato da

educação superior no Brasil e que é o setor privado, além do que vamos chamar

agora de um enorme “mercado de educação”. O que é um pouco o tema, um

pouquinho exagerado, mas de modo algum não verdadeiro – ou que fuja dos

parâmetros básicos da realidade – em relação à reportagem de capa da revista

“Exame”. Fala-se que há um negócio fabuloso no Brasil, da ordem de 90 bilhões de

reais, e que é a educação como um todo: 9% do PIB em educação deve dar, mais

ou menos, isso. O mercado está comprando trabalho, remunerando professores,

adquirindo livros didáticos – é um enorme mercado – bem como materiais para as

universidades, não só públicas como privadas... É um impulso tremendo para a

indústria gráfica editorial brasileira, que hoje é uma das de ponta, no mundo, e

bastante globalizada. Dentro desse mercado há um nicho, o da educação superior,

com cerca de 1 milhão e 800 mil alunos nas universidades, nos centros

universitários, nas escolas etc.

Gusso (2002) observa que educação não deve ser medida somente em

termos de reais, mas esses dados nos dão uma boa medida comum. Existe uma

Page 64: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

63

cesta extremamente heterogênea de bens e serviços dentro da expressão

“educação superior”, dentro do chamado mercado educacional. E a perspectiva de

crescimento é bastante grande.

De acordo com Gomes (2002), a educação, portanto, tem um significado real

que ultrapassa em muita as centenas de milhares que atuam no sistema das

universidades brasileiras e das escolas de primeiros e de segundo graus, na

denominação antiga, das escolas de nível médio e das escolas profissionalizantes. A

educação é responsável por milhões de postos de trabalho colocados em todas as

regiões de nosso país. E é determinante para o desenvolvimento de todos os

municípios e dos estados da Federação.

Gomes (2002) ressalta que a educação assume uma relevância muito maior

porque deve ser considerada o elemento decisivo para eliminação das disparidades

regionais e das disparidades sociais. Isso passou a ser um clamor da sociedade.

Nas várias páginas destinadas à Universidade é ressaltada a importância da

educação como um meio de transformar a sociedade e eliminar as disparidades. E é

um fator de crescimento da competitividade da empresa brasileira. O Brasil, hoje,

tem 14,5 milhões de micro e pequenas empresas, as quais são responsáveis por

outros tantos milhões de postos de trabalho. Elas só poderão ser inseridas no fluxo

de comércio internacional se nós lhes dermos a competitividade necessária. E essa

competitividade só se consegue com educação, com qualificação profissional.

O autor ainda ressalta que no documento da CNI é citado o seguinte dado: a

escolaridade média do trabalhador no Japão, hoje, é de onze anos, nos Estados

Unidos e na Europa é de doze anos, enquanto no Brasil essa escolaridade é de

cinco anos. O que é inferior aos níveis observados nos países desenvolvidos em

1913. Então, vejam que um dos aspectos decisivos da elaboração das políticas

públicas em educação é, efetivamente, a articulação com a empresa, não apenas no

que se refere à questão da inovação tecnológica, mas à da qualificação profissional.

Segundo Gomes (2002) o cenário da educação – mostra também alguns

dados muito importantes. Nós crescemos? Crescemos. Caminhamos no esforço da

universalização? Sem dúvida nenhuma! O total do crescimento de matrículas foi de

62%, em oito anos. Isso é significativo, é importantíssimo!

Page 65: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

64

Para o autor, construir novas políticas de financiamento é mais importante

ainda. Há a necessidade de começar a defender uma bandeira, qual seja, a de

utilização do FGTS para o pagamento das mensalidades, pois se estará, primeiro,

dando à educação a prioridade que saúde e habitação têm no cenário nacional. E

elas podem ser financiadas com o FGTS. Se alguém tem um problema e vai para o

hospital, pode utilizar o FGTS. A casa própria é adquirida com o FGTS. Então, por

que a educação, que vai permitir ao indivíduo não usar o FGTS para comprar a casa

própria ou pagar o seguro-saúde e se liberar disto, já que a educação gera emprego,

educação gera qualidade de trabalho, não pode usar o FGTS? Esta é uma questão

determinante e o carro-chefe do problema do financiamento às universidades.

Gomes (2002) ressalta um outro aspecto que também é fundamental no

financiamento e está diretamente ligado com a relação entre o público e o privado. E

aí é preciso acabar, definitivamente, com essa dicotomia e com essa alergia que

muitos públicos têm ao privado e que muitos privados têm ao público. Talvez mais

no sentido público para o privado do que do privado para o público.

Portanto, distinguir não pelo mérito, mas pela forma de organização. É um

equívoco que tem, definitivamente, de ser cortado num sistema educacional em que

o público e o privado têm de aprender a conviver. Por duas razões: não adianta dizer

que as universidades federais vão ampliar o seu número de vagas. Os recursos são

os mesmos. De onde se vai tirar recursos para isto? Vamos diminuir os recursos,

anular a produção científica das universidades brasileiras, principalmente das

federais, ou das próprias universidades estaduais, que têm seus recursos limitados a

orçamentos de Estados ou do próprio Governo Federal? É claro que não! Não se

pode sair criando mais e mais universidades federais, senão se estará incorrendo no

erro de reduzir a taxa de participação delas na produção nacional.

De acordo com Sánchez (2002), para facilitar essa igualdade na escolha, não

há dúvida de que os auxílios governamentais devem ser estabelecidos em função

das necessidades da família, não da cor, da origem, ou disto, ou daquilo. E, neste

sentido, uma vez mais, o sistema do FIES não é realmente favorecedor de uma

política de igualdade. Exclui os mais carentes ao exigir fiadores.

Para o autor, igualdade de oportunidades é igualdade de encargos

proporcionalmente também às possibilidades de cada um. Não só isso de que quem

quer economizar dinheiro procura uma única opção, mas é que quem não consegue

Page 66: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

65

entrar nessa opção gratuita e quer, contudo, estudar, acaba pagando duas vezes.

Porque todos nós somos contribuintes e todos estamos pagando o ensino chamado

gratuito, já que é gratuito para os que recebem, sim, mas é caro para nós. Todos

estamos pagando esse ensino. Usufruamos ou não dele. E só alguns usufruem.

Pagamos esse ensino. Se a família que não conseguiu que o filho entrasse numa

universidade pública envia seu filho a uma universidade necessariamente paga, por

não ter outra possibilidade, o que acontece? Paga duas vezes: paga o imposto que

sustenta a universidade pública e paga a anuidade da sua universidade. Duas

vezes. Uma dupla carga impositiva. O que fere um outro princípio constitucional,

inclusive.

Para Maia (2002), a educação superior é aquela que, em meio a toda essa

diversidade e adversidade, aos desafios e oportunidades, é capaz de em nós incutir

o dom da esperança, orientando nossas perspectivas para o futuro. Ao invés de

oferecer aos alunos quantidade de conhecimentos, os docentes devem procurar

desenvolver em seus alunos aptidões dinâmicas, as quais vão permitir que lidem

com o fluxo do conhecimento, aprendendo a aprender. Os egressos de nossas IES

devem estar aptos a viver em um mundo de rápidas mudanças e ter condições de

manter sua empregabilidade e sua versatilidade dentro de um campo de atuação

profissional, configurado a partir das necessidades sociais. O engesso do ensino

superior deve reforçar seu papel de serviço extensivo à sociedade, especialmente as

atividades e o compromisso voltada para a eliminação da pobreza, intolerância,

violência, analfabetismo, fome, deterioração do meio ambiente e enfermidades.

No tocante ao acesso, segundo Maia (2002), há uma clareza de que o

sistema de ensino superior já está acelerando a expansão e precisa continuar se

expandindo, mas com acompanhamento e controle de qualidade acadêmica.

O autor esclarece que pretende-se prover, ao final de 2005, a oferta de ensino

pós-médio para pelo menos 30% da faixa etária de 18 a 24 anos. O Censo

Populacional de 2001 indicou que há 10.224.399 pessoas nessa faixa etária.

Portanto, consideradas as vagas atualmente existentes, seriam necessárias pelo

menos mais 7 milhões de vagas no sistema, o que é um dado impressionante.

O Brasil é ainda um dos países com menor taxa de atendimento no ensino

superior, a população na faixa etária de 18 a 24 anos de idade: 12%. Da população

como um todo, apenas 8% possui a formação em nível superior. E o patamar de

Page 67: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

66

desenvolvimento industrial e tecnológico do país exige um maior, e urgente,

aumento desses percentuais.

A expansão do ensino superior brasileiro precisa de maior ordenamento. Nos

últimos quatro anos, o Ministério da Educação autorizou a abertura de 117.584

vagas, porém existem distorções, tais como a concentração das novas vagas em

alguns cursos específicos – 27,7% delas foram para o curso de Administração -, e a

concentração em regiões específicas – boa parte das vagas foram criadas na região

sudeste, já com percentuais altos de matrícula no ensino superior. Um país de

dimensões continentais como o Brasil deve voltar-se para o atendimento às

necessidades educacionais do conjunto da população, sem considerar as

peculiaridades de cada uma das diferentes unidades da federação e do conjunto dos

municípios. Isso significa que a política e o planejamento educacional devem deixar

espaço para a diversidade.

Desses dados, extrai-se uma primeira conclusão, que deve fazer parte da

agenda de qualquer futuro governante do país: o sistema de ensino superior precisa

crescer mais, com acompanhamento e controle de sua qualidade acadêmica.

Os estudantes, em grande percentual, por sua vez, enfrentam dificuldades

conjunturais sem poder contar com uma política pública efetiva de apoio, a despeito

da reformulação do CREDUC e da criação do FIES. Não se trata de desmerecer o

papel do FIES como instrumento de financiamento ao estudante, mas reconhecer

que, dado o seu caráter mais econômico que social, deixa de atender a uma parcela

da comunidade carente que, mesmo após a conclusão do curso superior, terá

dificuldades em fazer a restituição dos valores utilizados.

Como já enfatizado anteriormente, Maia (2002) ressalta que: há iniciativas

interessantes, em tramitação no Congresso e em algumas Assembléias Legislativas,

na direção de apoiar o estudante que cursa o ensino superior. Uma delas diz

respeito à possibilidade de utilização do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

(FGTS) para financiamento dos estudos próprios ou dos dependentes. O objetivo do

projeto é incentivar a educação e propiciar ao cidadão trabalhador a oportunidade de

fazer cursos que vão contribuir para seu crescimento pessoal e profissional.

O autor esclarece que, conforme indicado no Plano Nacional de Educação, a

matrícula no ensino médio deverá crescer nas redes estaduais. Sendo provável que

Page 68: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

67

o crescimento seja oriundo das camadas mais pobres da população, podendo-se

depreender que haverá uma quantidade crescente de alunos dessas camadas nas

universidades. Isso reforça a necessidade de se estabelecer políticas que venham a

garantir a concessão de bolsas de estudo aos alunos de famílias carentes nas IES,

aplicando-se o art. 70, Inciso VI, da LDB.

Para isto, é preciso adotar um conjunto de medidas, como mudar a legislação

das mensalidades. Outra medida seria que o candidato ao ensino superior pudesse

ter o seu voucher antes de ingressar na instituição e pudesse escolher o curso ou a

instituição e que houvesse um socorro para aquele que se evade por não ter

condições de prosseguir em seus estudos.

Sánchez (2002) relata outra dificuldade, pois sabemos perfeitamente que só

se pode interromper o serviço ao terminar o contrato, que é semestral, no caso das

universidades. Pode-se dizer “não renovaremos a matrícula, se você não pagar”.

Neste sentido, vê-se que a curva da inadimplência começa muito baixinha, vai

subindo ao longo do semestre, chega ao mês de julho e, aí, cai. Por isso, o maior

problema, atualmente, é o do último semestre. No último está se tornando moda não

pagar, já que aí não há mais como dizer “você não se matricula de novo”. E não há

possibilidade de se reter o diploma, ou o histórico escolar.

Para o autor, este é um ponto fundamental. Devemos lembrar que há uma

sentença recente, do Superior Tribunal de Justiça, declarando que as mensalidades

escolares prescrevem em um ano. Assim, a ação de cobrança deve ser interposta

antes de um ano. E como as mensalidades vencem mês a mês, para cobrar a

primeira mensalidade do semestre nós temos que entrar, na realidade, não mais

tarde que seis meses após o aluno ter concluído o curso.

Para Roitman (2002), em vez de se pensar em privatizar a universidade

pública, vamos publicizar um pouquinho a universidade privada. Esse sistema de

financiamento, inventado pelo governo e agora com a FIES, é hipócrita, porque o

indivíduo não vai pagar. Ele vive numa condição de inadimplente. Nós não podemos

pagar as nossas dívidas. Não é possível! E vamos cobrar do estudante, vamos

cobrar do fiador? É totalmente irrealístico!

O autor esclarece que o Estado, que fornece o ensino público gratuito nas

universidades públicas, deveria bancar a fundo perdido – ou até a fundo ganho, não

Page 69: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

68

perdido – mediante bolsas, que estariam relacionadas com a avaliação feita por

essa agência independente. Uma universidade privada com um ranking muito bom,

em termos de qualidade, receberia, por exemplo, 30% de seus estudantes

financiados, através de bolsas, pelo Estado. E isto incentivaria a que se tivesse uma

tendência para uma qualidade superior.

Sánchez (2002) ressalta os princípios fundamentais se quisermos promover

uma política justa: liberdade de ensino, o da igualdade de oportunidades e o da

isonomia fiscal. Isto porque, as famílias são penalizadas ao enviarem seus filhos a

uma instituição particular. E, aí, evidentemente, os mecanismos podem ser

diferentes. O financiamento não deve ser um financiamento da instituição, mas do

aluno, pois não estamos buscando um interesse particular, mas, sim, o interesse

público. Quer dizer, dar ao aluno a possibilidade e a igualdade de oportunidades.

O autor observa que pode ser mediante cheque-educação, mediante bolsa de

estudo, ou mediante financiamento a longo prazo, seja o que for... Os mecanismos

podem ser diversificados. Não é um único mecanismo. A bolsa pode ser total ou

parcial e o financiamento também, em certas condições ou em outras. Mas temos

que insistir, muito nisto, porque sem esse mecanismo não se conseguirá a expansão

necessária do ensino superior.

Maia (2002) nos relata que a educação de qualidade tem custos,

comprometidos para todo um tempo de uma instituição, de uma universidade. Não

trabalhamos com linha de produção, onde se não houve mais mercado para o

produto, liquida-se com ele. Educação não é isto. Não existe escola pública gratuita,

existe gratuidade para o aluno da escola pública. Estes conceitos têm que ficar bem

claros.

Para Durham (2002), a introdução das universidades, que se faz no Brasil

muito tardiamente, foi feita para introduzir a pesquisa no ensino superior. A autora

nos faz um pequeno relato ao ressaltar que, a grande bandeira dos pioneiros da

educação foi a questão do que se chamava então da “pesquisa desinteressada”.

Embora o termo não seja mais usado, a visão de universidade, a visão inovadora da

criação de universidades no Brasil, esteve sempre associada a este ideal. Diga-se

de passagem que este ideal se chocou com uma realidade muito diferente, a da

existência de escolas profissionais, tendo-se implantado muito gradualmente no

País. Pode-se dizer que no começo da década de 60 não havia, mais do que umas

Page 70: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

69

três universidades que satisfaziam efetivamente a esse ideal, praticamente todas

públicas nessa época, posteriormente surgem as universidades católicas que são as

primeiras universidades privadas no País.

Durham (2002) assinala que a idéia toda que embasa a criação da

universidade brasileira é que a universidade deve associar ensino e pesquisa e deve

ser uma instituição pública e gratuita. Isso remete à reforma de 61, da primeira LDB,

na qual se tornou a tentar implantar o modelo da universidade com a pesquisa no

país e em que se valorizou, a noção de universidade. De tal forma que toda a

ideologia formada nessa década e um pouco na década anterior transformava a

universidade na única instituição legítima. Todo o resto era tolerado como

instituições de segunda categoria. Quando houve a grande reforma educacional de

61 até 68, o ideal continuou capengando. Quer dizer, a realidade ficava muito atrás.

Havia muito poucas universidades, muitas delas públicas, e a maioria delas tinha

muito pouca pesquisa.

A reforma de 68 novamente reforçou o mesmo ideal, o ideal da universidade

pública e organizou todo o sistema público do País no sentido de realizar esse ideal

de universidade. Foi um modelo que funcionou em parte para o sistema público e

começou a ser exigido do sistema privado também.

Até a década de 70, o ensino público cresceu muito. Deu um salto de 44%,

que era a média de ensino privado no Brasil. Aliás, o ensino privado, no Brasil,

cresceu de uma média de 64% para 65%, em uma década, e se manteve mais ou

menos nesta proporção após essa década. A grande mania deles não era

universidade, eram faculdades isoladas ou eram faculdades integradas, havendo

muito poucas instituições de fato universitárias.

Com a Constituição, há uma mudança radical no panorama do País. Na

medida em que a Constituição consagrou à autonomia das universidades, houve um

movimento muito grande de criação de universidades privadas.

Já na década de 90, foi a demonstração da exaustão do modelo da reforma

de 68. Há uma série de crises, que se manifestam no conjunto do sistema e que

vêm, em grande parte, de descompassos entre orientações políticas, de um lado,

ideologia, de outro, e a realidade educacional, de um terceiro lado. A década de 90

Page 71: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

70

foi terminada com algumas crises muito graves, tanto no setor público quanto no

privado. E com modificações que são muito complicadas.

Ao contrário da estagnação do setor privado, na década de 80, houve um

grande crescimento, na década de 90, especialmente a partir de sua segunda

metade. Houve o que se chama de um crescimento explosivo e descontrolado do

setor privado, em grande parte estimulado pela liberação das vagas, em função da

autonomia das universidades.

A autora nos coloca que é importante ampliar o acesso. E isto, por meio de

uma ampliação do tipo de curso, do tipo de instituição. É preciso alterar o sistema de

avaliação, de tal forma que as instituições sejam avaliadas em função dos seus

objetivos educacionais e não de um ideal de universidade que associe ensino e

pesquisa. Há a necessidade de se ter instrumentos para medir o valor agregado. E

isto está sendo construído, sob a forma do Exame Nacional do Ensino Médio. O

ENEM, exame de final de curso, possibilita, evidentemente, medir o valor agregado.

Mas é algo que ou é realizado nacionalmente ou não constitui nenhum indicador

razoável do que as instituições estão fazendo. E é preciso diversificar. O que há são

os instrumentos de estímulo à diversificação. Mesmo porque, como nosso sistema

de avaliação de qualidade é muito restrito e muito voltado para a universidade de

pesquisa, todo o sistema de avaliação, de fato, vai no sentido de valorizar o tipo de

instituição e de não valorizar os demais aspectos. É importante que essa

diversificação se dê por meio de mecanismos efetivos de estímulo para diferentes

áreas de instituição e, inclusive, da ampliação de uma área, por exemplo, em que o

Serviço Nacional da Indústria e o do Comércio foram muito importantes, que é a

área de formação profissional, ou profissionalizante. Esta é uma área na qual o

retorno, para o aluno, é imediato e que ele tem possibilidade de cursar com muito

mais vantagem.

Lopes Neto (2002) questiona sobre qual a imagem que nós temos das

universidades particulares, historicamente falando. O autor relata sobre a imagem

que existe nos Estados Unidos. John Sperling, na obra Rebelde sem causa – ele é o

criador da universidade on line Phoenix... Para terem uma idéia, segundo o próprio

testemunho dele, iniciou seu trabalho em educação com 26 mil dólares. Hoje, seu

conjunto de empresas vale na bolsa Nasdaq, 3 bilhões e 200 mil dólares. Ele conta a

sua saga, as suas dificuldades, e diz que a iniciativa privada, nos Estados Unidos, o

Page 72: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

71

titã do liberalismo, é encarada com hostilidade quando não com raiva. E, quando um

empreendimento educacional chega a ser lucrativo, esta é a abjeção extrema. São

as aversões tradicionais, socialistas, ao lucro.

Para Durham (2002), esclarece que “nem todas as instituições são boas, nem

as públicas, nem as privadas. E nós temos instituições que não têm qualidade, tanto

num setor quanto no outro”.

De acordo com Souza (2002), o desenvolvimento da sociedade brasileira tem

como um dos requisitos fundamentais o equacionamento das questões educacionais

do país. Não será possível construir uma economia competitiva e que garanta o

crescimento desse país com uma população semi-alfabetizada, uma educação de

nível médio que requer significativa melhoria e um sistema universitário que ainda

absorve taxas tão pequenas de estudantes.

O autor observa que ampliar o acesso e a permanência de um maior

contingente de jovens no ensino superior brasileiro representa um desafio para os

responsáveis pelas políticas públicas. É reconhecido por todos que a educação

superior brasileira desempenha inúmeros papéis na sociedade, sendo de sua

responsabilidade a formação de estudantes para exercer as profissões clássicas e

para as chamadas “novas profissões” até a atual e necessária formação de

tecnólogos e técnicos em cursos de curta ou média duração, voltados para a

qualificação profissional em atividades técnicas e aplicadas.

Souza (2002) esclarece que apesar de um desafio a ser vencido internamente

pelas IES, estas devem encontrar eficientes alternativas educacionais ajustadas às

condições de aprendizagem dos estudantes que chegam com uma educação

precária e com poucas possibilidades indispensáveis ao sucesso em seus estudos e

para atender as exigências do competitivo mercado de trabalho. As políticas

públicas devem estar voltadas para reforçar a formação de professores para a

educação básica e criar condições, cada vez mais favoráveis, à formação de

docentes para o ensino superior.

Para Gomes (2002), “a educação superior no Brasil deu um salto significativo

no acesso, que tende a prosseguir, com o aumento progressivo da proporção de

alunos de 18 a 24 anos de idade. Porém, as conquistas, em termos quantitativos,

Page 73: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

72

ainda não foram suficientes para situar o Brasil ao mesmo nível de outros países

latino-americanos, como o Chile e a Argentina”.

Souza (2002) relata que,

Nunca se falou tanto em educação, nunca se ofereceu tantas oportunidades na rede particular, como está acontecendo atualmente. A qualidade de muitas IES melhorou, e o interesse dos indivíduos na busca de uma formação superior é altamente significativo. Sabemos que a maior dificuldade é o alto custo do ensino privado, porém, se o governo não deseja investir nas universidades públicas, se não é viável a abertura de novas unidades, então, é hora de reavaliar o financiamento estudantil, ou seja, oferecer uma melhor política para a obtenção do “crédito educativo”. O modelo de financiamento atual é altamente perverso e discriminatório, pois somente quem tem bens ou avalista é que pode requerê-lo; além disso, algumas instituições são prejudicadas com o longo tempo que tem de aguardar os repasses por parte do governo.

Alunos socialmente menos privilegiados, oriundos de escolas médias

públicas, estudando na educação superior particular; alunos socialmente mais

privilegiados, provenientes de escolas médias particulares, matriculados na

educação superior pública e gratuita. Conforme a expressão feliz de Fernando

Henrique Cardoso, ao abrir um congresso científico, esse cruzamento é um dos nós

da educação brasileira. É possível que a dualidade tenha se abrandado nos últimos

anos. Sem dúvida, há alguns alunos menos privilegiados nos setores público e

particular. Independente da dependência administrativa, é preciso que se obtenham

recursos adequados para proporcionar-lhes bolsas de estudo restituíveis, a fim de

assegurar uma democratização satisfatória e não em conta-gotas. Para tanto,

importa buscar fontes de recursos convencionais e não convencionais.

Page 74: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

73

CAPÍTULO III - AS TRÊS VERSÕES DO ANTEPROJETO DE REFORMA UNIVERSITÁRIA

Neste capítulo, far-se-á uma descrição das propostas de Lei de Reforma do

Ensino Superior do Governo Luiz Inácio Lula da Silva discorrendo sobre as

mudanças em cada uma dos três Anteprojetos apresentados.

O Ministério da Educação apresentou à comunidade educacional a primeira versão do Anteprojeto da Lei de Educação Superior, em 06 de Dezembro de 2004,

pelo então ministro Tarso Genro. Trata-se de um extenso texto, contendo cem

artigos divididos em três blocos, chamados de Títulos. O primeiro Título discorre,

genericamente, sobre aspectos globais de educação superior (Artigos 1° a 29). O

segundo trata do Sistema Federal de Educação Superior (Artigos 30 a 83); por fim,

as Disposições Finais e Transitórias (Artigos 84 a 100) apresentam os aspectos de

aplicabilidade da Lei.

Todos os interessados puderam enviar suas propostas modificativas até o dia

30 de março de 2005. Após esta primeira rodada de manifestações, que resultou no

envolvimento direto de professores, estudantes, técnico-administrativos,

pesquisadores e representantes de entidades acadêmicas, da comunidade científica

e do movimento social foi apresentado um novo documento, que sofreu novas

modificações, criando assim, a segunda versão do Anteprojeto de Reforma

Universitária, no dia 30 de Maio de 2005. Uma terceira versão foi apresentada,

ainda, no dia 29 de Julho de 2005, mas desta vez, apenas com mudanças de ordem

técnica, dando assim uma formatação mais adequada ao texto e elucidando

conceitos que não estavam tão precisos na versão anterior de Maio de 2005. A

tabela abaixo apresenta ao leitor o número de artigos de cada versão, para que se

tenha uma idéia, ainda que genérica, das mudanças ocorridas.

NÚMERO DE ARTIGOS DOS ANTEPROJETOS

Versão Número de artigos

Primeiro Anteprojeto 100

Segundo Anteprojeto 72

Terceiro Anteprojeto 67

Page 75: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

74

Importante ressaltar que após esta terceira versão, o Ministério da Educação

encaminhará o Projeto de Lei para que o Presidente da República envie ao

Congresso Nacional. Segundo a sistemática legislativa brasileira, primeiro a Câmara

dos Deputados aprecia a proposição e, sendo aprovada, remete ao Senado que

novamente vota o Projeto de Lei. Não ocorrendo alterações no que foi aprovado

pelos Deputados, a matéria vai ao Presidente da República para ser transformada

em Lei. Eventualmente ocorrendo mudanças, o assunto retorna à Câmara que

analisa as modificações do Senado e, então, remete ao Chefe do Estado e é editada

a Lei.

A metodologia para análise do conteúdo destes Anteprojetos é a seguinte: em

vez de descrever cada versão do projeto de forma separada (o que redundaria em

muitas repetições), vamos partir do primeiro Anteprojeto e, com base nele, apontar

quais foram às modificações que foram sendo feitas tanto na segunda, quanto na

terceira versão. Também é importante lembrar que esta análise é meramente

descritiva e não será nossa intenção “avaliar” as razões e o significado destas

mudanças, análise que ficará reservada para o próximo capítulo.

Dada a estrutura jurídica adotada pelos redatores, adotaremos como critério

de diferenciação do capítulo a própria estrutura redacional do projeto que se divide

em dois grandes títulos.

3.1 TÍTULO I – DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Alguns dos pontos que merecem destaque na versão preliminar do

Anteprojeto são os seguintes.

Em primeiro lugar, o Anteprojeto prevê que as instituições de ensino superior

passam a ser apenas de três tipos: Universidades, Centros Universitários e

Faculdades. Acabam os Institutos Superiores de Educação e Centros de Educação

Tecnológica. Esta deliberação aparece nas três versões do Anteprojeto, na primeira

versão em seu Artigo 10; e na segunda e na terceira versões no Artigo 15:

Page 76: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

75

Artigo 10. Quanto à sua organização acadêmica, as instituições de educação

superior, públicas e privadas, classificam-se em:

I – universidades;

II – centros universitários;

III – faculdades.

Todos os cursos de graduação terão um mínimo de três anos. Com isso são

afetados os cursos seqüenciais de formação específica que normalmente têm um

prazo menor de integralização, conforme o Artigo 7° da primeira versão do

Anteprojeto, sendo ressaltado na segunda e terceira versões do Anteprojeto em seu

Artigo 6°.

Artigo 7°. A educação superior compreenderá:

§ 3° Os cursos de graduação deverão ter o prazo mínimo de duração de três

anos, sem prejuízo do estabelecimento de prazos mínimos mais extensos para

cursos específicos e à exceção dos cursos que atenderem ao disposto no inciso I do

Art. 2°, caso em que o prazo mínimo de duração deverá de ser de quatro anos.

O Artigo 2° trata da função social e da educação superior como bem público

por meio das atividades de ensino, pesquisa e extensão, sendo apresentado nas

segunda e terceira versões do Anteprojeto em seu Artigo 3°.

Artigo 2°. A educação superior cumpre função social quanto às atividades de

ensino, pesquisa e extensão, desenvolvidas e prestadas em seu âmbito.

O Plano de Desenvolvimento Institucional passa a ser obrigatório, inclusive

para as instituições públicas. Este dado consta do Artigo 28 da primeira versão do

Anteprojeto, Artigo 26 da segunda versão do Anteprojeto e Artigo 25 da terceira

versão. Apresentaremos o Artigo 28 da primeira versão do Anteprojeto da Reforma

Universitária.

Page 77: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

76

Artigo 28. As instituições de educação superior deverão elaborar, tendo por

base seu planejamento estratégico, Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI, a

cada período de cinco anos, que conterá:

I – apresentação das perspectivas de evolução da instituição no período de

vigência do plano;

II – o projeto pedagógico da instituição;

III – o projeto de desenvolvimento regional e local da instituição, conforme o

disposto na Lei n° 10.861 de 2004, de modo a que a instituição alcance:

a).........................

b).........................

c).........................

IV – os instrumentos de integração com a sociedade em geral, e com as

comunidades locais e regionais de sua inserção, bem como a comunidade

acadêmica e científica, de modo a viabilizar pleno conhecimento público de suas

atividades estruturais. [...]

A educação superior compreenderá os cursos de graduação, os programas

de pós-graduação (mestrado e doutorado), as atividades de extensão e os

programas de formação continuada (cursos de estudos superiores, cursos

seqüenciais, especialização e aperfeiçoamento e treinamento). A versão preliminar

do Anteprojeto, demonstrada em seu Artigo 7° na primeira versão, já citado

anteriormente, em seu Artigo 6°; na segunda e terceira versões, estabelece que os

cursos de graduação e os programas de pós-graduação ministrados pelas

instituições públicas serão gratuitos. Desta forma, há a possibilidade de que sejam

cobradas as atividades de extensão e os programas de formação continuada. Há de

se questionar se princípio é inconstitucional, pois todo o ensino público é

necessariamente gratuito.

Ficam fixados critérios para que as IES sejam enquadradas como

Universidades, Centros Universitários e Faculdades e a falta de atendimento a

Page 78: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

77

determinados padrões as obriga a uma mudança de status. Alguns itens devem ser

evidenciados:

a) As Universidades terão de oferecer pelo menos três mestrados e um

doutorado, conforme seu Artigo 13, II da primeira versão do Anteprojeto, e Artigo 18,

II da segunda versão e Artigo 18, I da terceira versão.

b) Admite a extensão às Faculdades da autonomia didático-científica para

ampliação do número de vagas e o registro dos diplomas, conforme Artigo 27 da

primeira versão do Anteprojeto. Mas, a segunda e terceira versões não abordam

esse assunto.

Artigo 27. As faculdades poderão exercer as prerrogativas dispostas no Artigo

16 desta Lei, com exceção das constantes dos incisos I, IV e VIII.

Parágrafo único. Poderão ser estendidas às faculdades, quanto aos cursos de

graduação nos quais houver obtido avaliação positiva, na forma do Artigo 12, caput,

desta Lei, no ato de reconhecimento e nas renovações de reconhecimento

posteriores, as seguintes atribuições didático-científica próprias das universidades:

I – ampliar o número de vagas, até o limite máximo de 50% (cinqüenta por

cento) das vagas existentes, em cada etapa de renovação;

As IES são obrigadas a disponibilizarem espaços físicos e proporcionar

condições de funcionalidade para entidades sindicais, de estudantes, professores,

servidores e pessoal técnico-administrativo. Este pensamento encontra amparo no

Artigo 5°, VII da primeira versão do Anteprojeto. Já na segunda e terceira versões

não é tratada a questão do espaço físico e a representação por categorias.

Importante ressaltar que existirá processo de gestão democrática (o

Anteprojeto não fala apenas em instituições públicas) e, por estar inserido no

primeiro bloco da Lei, conclusivamente, aplica-se o princípio às instituições privadas

também. Esta citação está amparada pelo Artigo 5°, III da primeira versão do

Anteprojeto, sendo alterada na segunda e na terceira versões, apresentadas no

Artigo 5°, II e III, respectivamente.

Page 79: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

78

Artigo 5°. As instituições de educação superior exercerão sua

responsabilidade social pela observância dos seguintes princípios, sem prejuízo do

atendimento às demais disposições aplicáveis:

I - ..........................

II - .........................

III - gestão democrática das atividades acadêmicas, mediante organização

colegiada das instituições, de modo a promover e garantir a cooperação das

categorias integrantes e de suas comunidades;

IV - ........................

V - .........................

VI - ........................

VII - garantia de liberdade de associação, organização e manutenção de

professores, estudantes e servidores, técnicos e administrativos, por entidades

próprias, para representação de suas respectivas categorias, inclusive sindicais,

quando couber, assegurando-lhes condições físicas de funcionamento a suas bases

de representação.

Os atuais Centros Federais de Educação Tecnológica passam a Centros

Universitários e Faculdades Tecnológicas, Faculdades. Tal pensamento encontra-se

no Artigo 11 da primeira versão do Anteprojeto, nos Artigos 59 e 60 da segunda

versão e Artigo 56 da terceira, do Anteprojeto da Reforma Universitária.

Artigo 11 – As instituições de educação superior, para fins de determinação

das prerrogativas que lhes são por esta Lei atribuídas, serão classificadas como

universidades, centros universitários e faculdades, conforme o efetivo cumprimento

dos requisitos pertinentes a cada tipo de instituição, especialmente os constantes

nos Artigos 13, 25 e 27 e seu parágrafo único, respectivamente, e

independentemente da sua denominação anterior à publicação desta Lei.

Page 80: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

79

Os Institutos Superiores de Educação, mesmo que permaneça sua

constituição, ficam considerados como Faculdades, Artigo 11 § 1° e 2°, além do

Artigo 12 da primeira versão do Anteprojeto. A segunda e terceira versões do

Anteprojeto tratam desse assunto em seu Artigo 15, mas não esclarecem a questão

dos Institutos Superiores de Educação.

Artigo 11 – As instituições de educação superior, para fins de determinação

das prerrogativas que lhes são por esta Lei atribuídas, serão classificadas como

universidades, centros universitários e faculdades, conforme o efetivo cumprimento

dos requisitos pertinentes a cada tipo de instituição, especialmente os constantes

nos Artigos 13, 25 e 27 e seu parágrafo único, respectivamente, e

independentemente da sua denominação anterior à publicação desta Lei.

§ 1° A instituição de educação superior cujas prerrogativas de autonomia

forem reduzidas em função de enquadramento, nos termos do caput, firmará

protocolo de compromisso na forma do art. 10, da Lei n° 10.861, de 14 de abril de

2004.

§ 2° Findo o prazo estipulado pelo protocolo de compromisso, a instituição

passará a gozar das prerrogativas a que fizer jus e terá uma denominação alterada,

conforme o cumprimento efetivo dos requisitos previstos por esta Lei.

Artigo 12 – Sem prejuízo dos critérios utilizados pelo Ministério de Educação,

na supervisão das instituições de educação superior, considera-se avaliação

positiva, em especial para os efeitos dos artigos 13, 25 e 27 e seu parágrafo único, a

obtenção de conceitos satisfatórios de qualidade, situados nos dois níveis superiores

da escala estabelecida com base na Lei n° 10.861 de 2004, em cada uma das

dimensões e no conjunto das dimensões avaliadas.

O Artigo 15, § 1°, § 2° e § 3°, esclarece sobre autonomia das universidades,

bem como o Artigo 16. A segunda versão do Anteprojeto trata do tema em seu

Artigo 21, I, II e III e parágrafo único de modo mais simplificado. A terceira salienta

tal assunto em seu Artigo 20, I, II e III e parágrafo único.

Page 81: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

80

Artigo 15. Sem prejuízo das atribuições asseguradas pelo art. 53 da Lei n°

9.394, de 1996, a autonomia universitária compreende a autonomia didático-

científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial.

§ 1° A autonomia administrativa consiste na capacidade de auto-organização

e de edição de norma próprias, no que concerne à escolha de seus dirigentes e à

administração de recursos humanos e materiais.

§ 2° A autonomia de gestão financeira e patrimonial consiste na capacidade

de gerir recursos financeiros e patrimoniais, postos à sua disposição pela União ou

recebidos em doação, bem como os gerados pela própria instituição.

§ 3° A autonomia administrativa e a autonomia de gestão financeira e

patrimonial decorrem e estão subordinadas à autonomia didático-científica, como

meios de assegurar a sua efetividade.

Artigo 16. A fim de garantir o exercício da autonomia didático-científica,

administrativa e de gestão, são asseguradas às universidades as seguintes

prerrogativas:

I – criar, organizar e extinguir, em sua sede ou campus autorizado, cursos e

programas de educação superior, obedecendo às normas gerais da União, e quando

for o caso, do respectivo sistema de ensino;

II – fixar os currículos de seus cursos e programas, observadas as diretrizes

gerais e pertinentes;

III – fixar seus objetivos pedagógicos, científicos, tecnológicos, artísticos,

culturais e sociais, bem como de educação para a democracia e cidadania;

IV – fixar o número de vagas em seu cursos e programas, de acordo com a

capacidade institucional e as exigências do meio de seu entorno e área de

influência;

V – estabelecer periodicamente o calendário acadêmico, observada a

duração mínima do período letivo determinada pela lei;

VI – estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica e

tecnológica, de produção artística e cultural e de extensão;

Page 82: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

81

VII – conferir graus, diplomas, certificados e outros títulos acadêmicos;

VIII – registrar diplomas;

IX – estabelecer normas e critérios para seleção, admissão e exclusão de

seus estudantes, assim como para aceitação de transferências;

X – promover a avaliação, interna e externa, de seus cursos e programas,

com a efetiva participação de professores, estudantes e demais profissionais da

educação;

XI – firmar contratos, acordos e convênios.

Artigo 21. As universidades gozam de:

I – autonomia didático-científica, que consiste em definir seu projeto

acadêmico, científico e de desenvolvimento institucional, e alcançar reconhecimento

de sua qualidade universitária e relevância social;

II – autonomia administrativa que consiste na capacidade colegiada de auto-

organização, para edição de normas próprias, de escolha de seus dirigentes e de

administração e valorização de seu pessoal docente, discente, técnico e

administrativo, e de gestão de seus recursos materiais;

III – autonomia de gestão financeira e patrimonial, que consiste na

capacidade de gerir recursos financeiros e patrimoniais, próprios, recebidos em

doação ou gerados por suas atividades finalísticas.

Parágrafo único. A autonomia administrativa e a autonomia de gestão

financeira e patrimonial decorrem e estão subordinadas à autonomia didático-

científica, como meios de assegurar a sua plena realização.

São permitidas IES tendo como mantenedor uma pessoa física. Cabe

ressaltar que esta prática torna impossível o disposto no item 13, pois nas chamadas

firmas individuais não há como contemplar conselhos ou órgãos colegiados. Este

argumento encontra-se no Artigo 9°, II, da primeira versão do Anteprojeto e no Artigo

14, III, na segunda e terceira versões.

Page 83: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

82

Artigo 9° - As instituições de educação superior classificam-se nas seguintes

categorias:

I - ...........................

II – privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas

físicas ou jurídicas de direito privado.

O Anteprojeto de Reforma Universitária abrange não só as instituições

regulares de ensino superior mantidas pela União, Estados, Distrito Federal e

Municípios, como também as de livre iniciativa. Prevê também a subordinação das

instituições de pesquisa científicas e tecnológicas públicas e privadas e entidades de

fomento, bem como as fundações de apoio e congêneres, conforme Artigo 1°, I, II, III

e IV da primeira versão do Anteprojeto; Artigo 2°, I, II e III da segunda e terceira

versões. Importante saber que na segunda e na terceira versões as fundações de

apoio e suas congêneres não estão elencadas:

Artigo 1° - Esta Lei estabelece normas gerais para a educação superior,

regula o Sistema Federal de Educação Superior e dá outras providências.

Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei, sem prejuízo do

disposto nos arts. 16 e 17 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996:

I – as instituições públicas de educação superior mantidas pela União, pelos

Estados, Distrito Federal e Municípios, constituídas como pessoas jurídicas de

direito público, ainda que detenham estrutura de direito privado;

II – as instituições de educação superior criadas ou mantidas pela iniciativa

privada;

III – as instituições de pesquisas científicas e tecnológicas, públicas ou

privadas, e as entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e

tecnológica, no que couber;

IV – as fundações de apoio, constituídas na forma da Lei n° 8.958, de 20 de

dezembro de 1994, bem como as suas congêneres, públicas ou privadas, no que

couber.

Page 84: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

83

Há inserção de dispositivo que prevê que a rede pública deve atender, até

2011, 40% (quarenta por cento) do alunado. Este pensamento consta do Artigo 3°,

VII, não sendo apresentado na segunda e terceira versões.

Artigo 3° - A educação superior atenderá os seguintes objetivos:

I - ...........................

II - ..........................

III -.............................

IV -............................

V - ............................

VI - ...........................

VII – expansão da rede pública de instituições de educação superior, pela

criação de universidades, centros universitários e faculdades, e pelo aumento da

oferta de vagas, de modo a garantir a igualdade de oportunidades educacionais,

com a meta de alcançar o percentual de 40% (quarenta por cento) das vagas do

sistema de ensino superior até 2011.

Todas as Instituições de Ensino Superior deverão contar com o programa de

responsabilidade social, aplicação de políticas afirmativas e participação da

sociedade civil, de acordo com o Artigo 5°, I, II, III e IV da primeira versão do

Anteprojeto de Reforma Universitária, bem como Artigo 5° da segunda e terceira

versões, mas estes não tratam da participação da sociedade civil e das políticas e

planejamento públicos.

Artigo 5°. As instituições de educação superior exercerão sua

responsabilidade social pela observância dos seguintes princípios, sem prejuízo do

atendimento às demais disposições aplicáveis:

I – compromisso com a liberdade acadêmica, de forma a garantir a livre

expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação;

Page 85: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

84

II – atendimento das políticas e planejamento públicos para educação

superior, em especial quanto à criação e autorização de cursos de graduação e

programas de pós-graduação;

III – gestão democrática das atividades acadêmicas, mediante organização

colegiada das instituições, de modo a promover e garantir a cooperação das

categorias integrantes de suas comunidades;

IV – participação da sociedade civil;

V – implantação de políticas públicas nas áreas de saúde, cultura, ciência e

tecnologia, avaliação educacional, desenvolvimento tecnológico e inclusão social;

VI - ..................................

VII - .................................

VIII - ................................

IX - ..................................

Foram definidos na primeira versão do Anteprojeto de Reforma Universitária,

em seu Artigo 8°, sete campos do saber, mas na segunda e terceira versões nada

consta a respeito.

Artigo 8°. Os campos do saber abrangidos pelas instituições de educação

superior são:

I – Educação;

II – Ciências Exatas e da Terra;

III – Engenharia e Ciências Tecnológicas;

IV – Ciências Biológicas e da Saúde;

V – Ciências Agrárias;

VI – Ciências Humanas e Sociais;

VII – Letras e Artes.

Page 86: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

85

Quanto ao corpo docente, foram estabelecidos critérios diferenciados por

tipo de instituição de ensino superior, a saber: as universidades contarão com pelo

menos um terço em regime de tempo integral ou dedicação exclusiva e, pelo menos

a metade com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado. Os Centros

Universitários deverão ter um quinto do corpo docente em regime de tempo integral

ou dedicação exclusiva e pelo menos um terço com titulação acadêmica de

mestrado ou doutorado. Não constam exigências desta natureza para as faculdades.

Tal pensamento encontra amparo no Artigo 13, IV e Artigo 25, III da primeira versão

do Anteprojeto de Reforma Universitária, bem como no Artigo 18, IV e Artigo 23, III e

IV da segunda versão e ainda no Artigo 18, IV e Artigo 22, III e IV da terceira versão.

Artigo 13. Considera-se universidade, para os efeitos desta Lei, a instituição

de educação superior que atenda, no mínimo, os seguintes requisitos:

I - ...............................

II - ..............................

III - .............................

IV – pelo menos um terço do corpo docente em regime de tempo integral ou

dedicação exclusiva, e pelos menos a metade com titulação acadêmica de mestrado

ou doutorado.

Parágrafo único -.................................

Artigo 25. Considera-se centro universitário, para os efeitos desta Lei, a

instituição de educação superior que atenda, no mínimo, os seguintes requisitos:

I - .....................................

II - ....................................

III – um quinto do corpo docente, pelo menos, em regime de tempo integral ou

dedicação exclusiva, e pelo menos um terço com titulação acadêmica de mestrado

ou doutorado,

Parágrafo único - ............................

Page 87: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

86

A segunda e terceira versões do Anteprojeto de Reforma Universitária, em

seu Artigo 8°, § 2° esclarecem sobre o aproveitamento nos estudos por parte dos

alunos e salienta a forma como os mesmos poderão abreviar seus cursos. A

primeira versão do Anteprojeto não trata do referido tema:

Artigo 8°. Na educação superior, o ano letivo regular, independente do ano

civil, tem, que no mínimo duzentos dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o

tempo reservado aos exames finais.

§ 1°................................

§ 2° os estudantes que tenham extraordinário aproveitamento nos estudos,

demonstrando por meio de prova e outros instrumentos de avaliação específicos,

aplicados por banca examinadora especial poderão ter abreviada a duração dos

seus cursos, de acordo com as normas da respectiva instituição de educação

superior.

§ 3° ...............................

3.2 TÍTULO II – DO SISTEMA FEDERAL DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

As entidades mantenedoras autorizadas pelo MEC deverão ter o aval do

governo para todas as suas alterações societárias, não sendo permitida a

participação de capital estrangeiro acima de 30% (trinta por cento), de acordo com o

Artigo 64, § 2° da primeira versão do Anteprojeto da Reforma Universitária e não

explicitado na segunda e terceira versões. De acordo com este mesmo Artigo, as

mantenedoras deverão contar com pelo menos com 30% (trinta por cento) de

doutores ou profissionais de competência reconhecida. Acentua-se que nos

documentos constitutivos das entidades mantenedoras devem constar condições

para que existam, nos estatutos ou contratos sociais das mesmas, conselhos e

órgãos colegiados e de gestão:

Page 88: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

87

Artigo 64. As entidades mantenedoras de instituições de educação superior

terão personalidade jurídica própria e serão instituídas, na forma de seus atos

constitutivos, como associações, sociedades ou fundações, cuja finalidade principal

deverá ser a oferta de educação.

§ 1° - ...................................

§ 2° - As entidades mantenedoras de instituições de ensino superior deverão

contar, em seus conselhos, órgãos colegiados ou de gestão superior, com a

participação de pelo menos 30% (trinta por cento) de doutores ou profissionais de

comprovada experiência educacional.

§ 3° - ....................................

§ 4° - ....................................

§ 5° - ....................................

§ 6° - Em qualquer caso, pelo menos 70% (setenta por cento) do capital total

e capital votante das entidades mantenedoras de instituição de ensino superior,

quando constituídas sob a forma de sociedade com finalidades lucrativas, deverá

pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de

dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão de suas atividades.

O Artigo 30, § 1°, da primeira versão do Anteprojeto da Reforma

Universitária estabelece que o Conselho Nacional de Educação será órgão

normativo e o Ministério da Educação, órgão executivo. Atualmente o CNE integra o

MEC, mas uma interpretação aprofundada da redação do texto identifica que o CNE

deixará de ser um setor do MEC, para se tornar uma outra esfera político-

administrativa. A segunda e terceira versões não tratam de assunto nestes moldes.

Artigo 30. O Sistema Federal de Educação Superior compreende as

instituições de educação superior, públicas federais e privadas, e os órgãos,

entidades e serviços públicos de caráter normativo, administrativo e de apoio técnico

existentes no âmbito da União.

Page 89: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

88

§ 1° - O Sistema Federal de Educação Superior tem como órgão normativo o

Conselho Nacional de Educação, na forma da lei, e como órgão executivo o

Ministério da Educação.

§ 2° - O Sistema Federal de Educação Superior contará com o Fórum

Nacional da Educação Superior, órgão consultivo da Câmara de Educação Superior

do Conselho Nacional de Educação, como instância de articulação com a sociedade.

§ 3° - O Fórum Nacional da Educação Superior se reunirá periodicamente, por

convocação da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação,

a quem cabe a sua coordenação, e será obrigatoriamente ouvido durante a

elaboração dos Planos Nacionais de Educação.

§ 4° - ..................................

Consoante o Artigo 30, § 2° da primeira versão do Anteprojeto de Reforma

Universitária será criado um Fórum Nacional de Educação como órgão consultivo da

Câmara de Educação Superior do CNE, já citado anteriormente. Na segunda e

terceira versões não há tal argumento.

Os cursos da área da saúde, definidos segundo o Artigo 32, § 2°,

perfazendo um total de dez, terão seus projetos analisados pelo Conselho Nacional

de Saúde e este organismo terá cento e vinte dias de prazo para se manifestar

sobre os mesmos, de acordo com a primeira versão do Anteprojeto em seu Artigo

32, § 1° e § 2°. A segunda e terceira versões não tratam do tema.

Artigo 32. O Sistema Federal da Educação Superior será articulado com o

Sistema Único de Saúde – SUS, de modo a garantir orientação intersetorial ao

ensino e à prestação de serviços de saúde, mediante decisão compartilhada quanto

às normas regulatórias aplicáveis, resguardados os âmbitos de competência do

Ministério da Educação e do Ministério da Saúde.

§ 1° A criação de cursos de graduação em medicina, odontologia, psicologia,

enfermagem, farmácia, fonoaudiologia, nutrição, terapia ocupacional, fisioterapia e

Page 90: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

89

biomedicina por universidades e por demais instituições de ensino superior, deverá

ser submetida à manifestação do Conselho Nacional de Saúde.

§ 2° O Conselho Nacional de Saúde deverá manifestar-se no prazo máximo

de cento e vinte dias, contados da data do recebimento do processo remetido pela

Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação.

Outro fator interessante a ser ressaltado é que a União poderá delegar aos

Estados a competência para a autorização e a supervisão das Instituições de Ensino

Superior privadas não universitárias (faculdades). De acordo com o Artigo 33, caput,

há o subentendimento de que são entidades universitárias as Universidades e

Centros Universitários. A segunda e terceira versões não esclarecem o referido

tema:

Artigo 33. A União, mediante convênios, poderá delegar aos Estados

competência para autorização e supervisão do funcionamento de instituições

privadas de educação superior não-universitárias, cabendo a definição de diretrizes

complementares ao sistema de ensino estadual correspondente.

Quanto ao financiamento das IES da rede federal de ensino, a primeira

versão do Anteprojeto salienta em seu Artigo 41, que pelo menos, 75% (setenta e

cinco por cento) dos recursos orçamentários (excluídos os originários do FUNDEB -

Fundos de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, pois este é voltado

ao ensino básico), serão gastos com o ensino superior. Na segunda versão do

Anteprojeto, tal assunto encontra amparo no Artigo 52, bem como na terceira versão

do Anteprojeto no Artigo 49, ambos tratando da mesma forma:

Artigo 41. A União aplicará, anualmente, nas instituições federais de

educação superior, nunca menos de 75% (setenta e cinco por cento) da receita

constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino.

Parágrafo único. Fica deduzida da base de cálculo a que se refere o caput a

complementação da União aos Fundos de Manutenção e Desenvolvimento da

Page 91: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

90

Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, nos termos do

art. 60, incisos IV e V, das disposições transitórias da Constituição Federal, com a

redação dada pela Emenda Constitucional n°.........

Artigo 52. A União aplicará, anualmente, nas instituições federais de

educação superior, nunca menos de 75% (setenta e cinco por cento) da receita

constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino.

§ 1° Excluem-se do cálculo a que se refere o caput:

I – os recursos alocados às instituições federais de educação superior pelas

entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica e por

suas congêneres privadas;

II – os recursos alocados às instituições federais de educação superior, por

força de convênios, contratos, programas e projetos de cooperação, por órgãos e

entidades públicos federais não participantes do sistema federal de educação

superior, por outros órgãos e entidades públicos, federais ou não, bem como por

organizações internacionais;

III -......................

IV - .....................

V - ......................

VI - .....................

VII - ....................

Outro ponto interessante, é que fica inserido na Lei de Educação aspecto

ligado a outras disposições governamentais, como Leis de Primeiro Emprego,

Assistência Estudantil e Políticas Afirmativas, de acordo com o Artigo 41 da primeira

versão, bem como o Artigo 52 da segunda versão e o Artigo 49 da terceira versão do

Anteprojeto de Reforma Universitária, conforme tratado anteriormente.

A primeira versão do Anteprojeto em seu Artigo 48 trata da reserva de 50%

(cinqüenta por cento) das vagas para quem tenha cursado integralmente o ensino

Page 92: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

91

médio em escolas públicas, bem como o Artigo 49 trata da proporção mínima de

autodeclarados negros e indígenas. Em seguida, o Artigo 50 trata do prazo máximo

para implementação das políticas públicas acima mencionadas. A segunda versão

do Anteprojeto apresenta em seu Artigo 56, § 1° as medidas de democratização do

acesso, mas não trata da porcentagem, não expressa a questão de negros e índios

e também não esclarece a questão temporal. A terceira versão do Anteprojeto volta

a mencionar a questão dos afrodescendentes e indígenas, em seu Artigo 53, § 1°,

mas não ressalta o prazo máximo:

Artigo 48. As instituições federais de educação superior reservarão, a título

geral, em cada concurso de seleção para ingresso nos cursos de graduação, no

mínimo, cinqüenta por cento de suas vagas para estudantes que tenham cursado

integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Artigo 49. Em cada instituição federal de educação superior, as vagas de que

trata o art. 48 serão preenchidas por uma proporção mínima de autodeclarados

negros e indígenas igual à proporção de pretos, pardos e indígenas na população da

Unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último Censo do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Parágrafo único. No caso do não preenchimento das vagas segundo os

critérios do caput, as remanescentes deverão ser completadas por estudantes que

tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Artigo 50. No prazo máximo de dez anos, as instituições federais de educação

superior, deverão progressivamente haver alcançado o atendimento pleno dos

critérios de proporção estabelecidos nos arts. 48 e 49 desta Lei, em todos e cada um

de seus cursos de graduação, segundo etapas fixadas em cronograma constante de

programa de ação afirmativa promovido pela instituição com esse objetivo

específico.

§ 1° ..........................

Page 93: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

92

§ 2° A implantação de programas de ação afirmativa, direcionados a cursos

de graduação específicos, e hipótese alguma servirão para restringir a reserva geral

de vagas fixadas nos arts. 48 e 49 desta Lei.

Artigo 56. As medidas de democratização do acesso devem considerar as

seguintes premissas, sem prejuízos de outras:

I – condições históricas, culturais e educacionais dos diversos seguimentos

étnico-raciais e sociais;

II – importância da diversidade social, étnico-racial e cultural no ambiente

acadêmico;

III – condições acadêmicas dos estudantes ao ingressarem, face às

exigências dos respectivos cursos de graduação.

§ 1° Os programas de ação afirmativa e inclusão social deverão considerar a

promoção das condições acadêmicas de estudantes egressos do ensino médio

público oriundos de segmentos sociais e étnico-raciais historicamente prejudicados.

§ 2° ............................

§ 3° ............................

Artigo 53. As medidas de democratização do acesso devem considerar as

seguintes premissas, sem prejuízos de outras:

I – condições históricas, culturais e educacionais dos diversos segmentos

sociais;

II – importância da diversidade social e cultural no ambiente acadêmico;

III – condições acadêmicas dos estudantes ao ingressarem, face às

exigências dos respectivos cursos de graduação.

§ 1° Os programas de ação afirmativa e inclusão social deverão considerar a

promoção das condições acadêmicas de estudantes egressos do ensino médio

público especialmente afrodescendentes e indígenas.

Page 94: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

93

Outro ponto interessante é no que se refere à assistência estudantil. A Caixa

Econômica Federal realizará concurso anual com destinação de renda líquida para

os estudantes de baixa renda do sistema federal da educação superior, observando

a proporção mínima de autodeclarados negros e indígenas segundo o Artigo 52,

parágrafo único da primeira versão do Anteprojeto. A segunda versão trata do

referido tema em seu Artigo 63, mas não expressa a proporção mínima para negros

e índios, bem como o Artigo 59 da terceira versão do Anteprojeto de Reforma

Universitária:

Artigo 52. A Caixa Econômica Federal fica autorizada a realizar concurso

anual especial com destinação da renda líquida exclusivamente para o

financiamento de programas de assistência estudantil a estudantes de baixa renda

do sistema federal da educação superior, referente a todas as modalidades de

Loterias Federais existentes, regidas pelo Decreto-Lei n° 204, de 27 de fevereiro de

1967, e pelas demais normas aplicáveis, e mediante aprovação das respectivas

regras pelo Ministério da Fazenda.

Parágrafo único. Na seleção dos estudantes beneficiários a que se refere o

caput deverá ser observada proporção mínima de autodeclarados negros e

indígenas igual a proporção de preto, pardos e indígenas na população, segundo o

último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Artigo 63. A Caixa Econômica Federal fica autorizada a realizar extração

anual especial com destinação da renda líquida exclusivamente para o

financiamento da educação superior pública federal, referente a todas as

modalidades de Loterias Federais existentes, regidas pelo Decreto-Lei n° 204, de 27

de fevereiro de 1967, e pelas demais normas aplicáveis, e mediante aprovação das

respectivas regras pelo Ministério da Fazenda.

As Universidades Federais poderão contratar seus alunos com idade entre 16 e

24 anos para atividades de extensão e programas que tenham ligação com a

graduação do estudante, respeitando certos requisitos, conforme Artigo 57, I, II e III

da primeira versão. A segunda versão do Anteprojeto não trata do assunto nestes

Page 95: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

94

moldes, e a terceira, apresenta as medidas de assistência estudantil, mas não indica

a idade.

Artigo 57. Serão empregados os estudantes com idade entre dezesseis e

vinte e quatro anos, em situação de desemprego involuntário, que atendam

cumulativamente aos seguintes requisitos:

I – não tenham tido vínculo empregatício anterior;

II – sejam membros de famílias com renda mensal per capita de até um

salário mínimo e meio, incluídas nessa média eventuais subvenções econômicas de

programas congêneres e similares, nos termos do disposto pelo art. 11 da Lei n°

10.748, de 2003.

III – estejam matriculados e freqüentando regularmente curso de graduação e

programas de pós-graduação em estabelecimento de instituição de educação

superior pública do sistema federal de ensino ou do sistema de ensino dos Estados

e do Distrito Federal, ou cursos de educação de jovens e adultos, nos termos dos

arts. 37 e 38 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

As Universidades e Centros Universitários Privados deverão contar com pelo

menos um dirigente eleito pela comunidade, que pode ser um Pró-Reitor ou alguém

equivalente, de acordo com o Artigo 73 da primeira versão do Anteprojeto de

Reforma Universitária. A segunda e terceira versões não tratam do referido tema:

Artigo 73. As universidades e centros universitários privados devem contar

com pelo menos um dirigente, no nível de pró-reitor ou equivalente, escolhido

mediante eleição direta pela comunidade.

As Instituições de Ensino Superior deverão adaptar seus estatutos e regimento

no prazo de um ano contado de primeiro de janeiro do primeiro ano subseqüente à

aprovação da Lei, de acordo com o Artigo 86 da primeira versão do Anteprojeto de

Reforma Universitária. O Artigo 58 da segunda versão do Anteprojeto de Reforma

Page 96: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

95

Universitária salienta que o prazo para adaptação de estatutos e regimentos será de

cinco anos e o Artigo 55 da terceira versão fala em dois anos:

Artigo 86. As instituições de educação superior adaptarão seus estatutos e

regimentos aos dispositivos desta Lei no prazo de um ano, contado de primeiro de

janeiro do primeiro ano subseqüente ao de vigência desta Lei.

Artigo 58. As instituições de educação superior deverão adaptar seus

estatutos e regimentos ao disposto nesta Lei no prazo de cinco anos, contatos a

partir de primeiro de janeiro do ano subseqüente ao de sua publicação.

Artigo 55. As instituições de educação superior deverão adaptar seus

estatutos e regimentos ao disposto nesta Lei no prazo de dois anos, contados de

primeiro de janeiro do primeiro ano subseqüente ao da publicação desta Lei.

Os estudantes dos atuais cursos seqüenciais terão assegurado a expedição

dos diplomas, desde que naturalmente matriculados antes da entrada em vigor do

novo texto legal, conforme Artigo 95 da primeira versão e Artigo 61 da segunda

versão. A terceira versão não trata do tema:

Artigo 95. Aos estudantes matriculados em cursos seqüências de formação

específica até a data da publicação desta Lei, fica assegurada a expedição de

diploma desta modalidade.

Importante frisar que as Universidades terão de oferecer, obrigatoriamente,

doze cursos de, no mínimo, três áreas diferentes com avaliação positiva do SINAES,

conforme Artigo 13, I, da primeira versão do Anteprojeto, bem como Artigo 18, I, da

segunda versão e o Artigo 18, I, da terceira versão, tratando do referido tema de

forma diferente, sob pena de perder o título e se transformarem em Centros

Universitários, de acordo com o Artigo 25, I, da primeira versão do Anteprojeto. A

Page 97: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

96

segunda versão do Anteprojeto trata dos requisitos em seu Artigo 23, I, de forma

diferente, bem como a terceira versão em seu Artigo 22, I. Estes terão de oferecer

seis cursos, em pelo menos duas áreas. Caso a avaliação seja negativa, estes

passam a ser faculdades.

Artigo 13. Considera-se universidade, para os efeitos desta Lei, a instituição

de educação superior que atenda, no mínimo, os seguintes requisitos:

I – estrutura pluridisciplinar, com oferta regular de no mínimo doze cursos de

graduação em pelo menos três campos do saber, todos reconhecidos e avaliação

positiva pelo Ministério da Educação.

II -.........................

III -........................

IV -.......................

Parágrafo único - ........................

Artigo 18. As instituições de educação superior poderão ser classificadas

como universidade por atenderem, no mínimo, aos seguintes requisitos:

I – estrutura pluridisciplinar, com oferta regular, em diferentes campos do

saber, de pelo menos de doze cursos de graduação, todos reconhecidos e com

avaliação positiva pelas instâncias competentes.

Artigo 18. Classificam-se como universidades as instituições de ensino superior que

atendam aos seguintes requisitos mínimos:

I - estrutura pluridisciplinar, com oferta regular, em diferentes campos do

saber, de pelo menos dezesseis cursos de graduação ou de pós-graduação stricto

sensu, todos reconhecidos e com avaliação positiva pelas instâncias competentes,

sendo, pelo menos, oito cursos de graduação, três cursos de mestrado e um curso

de doutorado.

Artigo 25. Considera-se centro universitário, para os efeitos desta Lei, a

instituição de educação superior que atenda, no mínimo, aos seguintes requisitos:

Page 98: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

97

I - estrutura pluridisciplinar da instituição, com oferta regular de no mínimo

seis cursos de graduação, em no mínimo, dois campos do saber específicos, todos

reconhecidos e avaliação positiva do Ministério da Educação.

Artigo 23. As instituições de educação superior poderão ser classificadas

como centro universitário por atenderem, no mínimo, aos seguintes requisitos:

I - estrutura pluridisciplinar, com oferta regular, em diferentes campos do

saber, de pelo menos, oito cursos de graduação, todos reconhecidos e com

avaliação positiva pelas instâncias competentes.

Artigo 22. Classificam-se como centros universitários as instituições de ensino

superior que atendam aos seguintes requisitos mínimos:

I - estrutura pluridisciplinar, com oferta regular, em diferentes campos do

saber, de pelo menos, oito cursos de graduação, todos reconhecidos e com

avaliação positiva pelas instâncias competentes.

O Artigo 71 da primeira versão do Anteprojeto de Reforma Universitária

destaca que a organização das instituições privadas deve levar em consideração as

peculiaridades locais e regionais para definirem seus estatutos e regimentos. A

segunda e terceira versões não tratam do referido tema:

Artigo 71. A organização das instituições privadas de educação superior será

definida na forma de seus estatutos e regimentos, considerando padrões de

qualidade e as peculiaridades regionais e locais, atendido o disposto nesta Lei.

Quanto à constituição do Conselho Superior, este deverá ser composto de

forma colegiada e será responsável pela elaboração das normas e novas diretrizes

acadêmico-administrativas não podendo exceder um total de 10% (dez por cento) da

representação total, conforme Artigo 72, III da primeira versão do Anteprojeto. A

segunda versão trata do tema em seu Artigo 32, parágrafo único, salientando um

Page 99: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

98

total de 20% (vinte por cento), porém não indica a exclusividade da atividade. A

terceira versão do Anteprojeto salienta tal assunto em seu Artigo 31, parágrafo

único:

Artigo 72. As instituições privadas de educação superior deverão constituir um

conselho superior composto de forma colegiada, responsável pela elaboração das

normas e diretrizes acadêmico-administrativas.

Parágrafo único. Na sua composição, as instituições deverão observar:

I - .............................

II - ............................

III – os integrantes da instituição de educação superior que exerçam,

exclusivamente, atividade administrativa não poderão exceder a 10% (dez por cento)

da representação total.

IV - ..........................

Artigo 32. A organização da universidade e do centro universitário será

definida por seus colegiados superiores, na forma de seus estatutos e regimentos,

assegurada a participação no colegiado superior de representantes dos docentes,

dos estudantes do pessoal técnico e administrativo e da sociedade civil, observada a

participação majoritária de docentes em efetivo exercício na instituição, sendo pelo

menos cinqüenta por cento destes de mestres e doutores.

Parágrafo único. A universidade e o centro universitário, comunitário ou

particular, quanto à composição do colegiado superior de que trata o caput, deverão,

adicionalmente, observar que os integrantes indicados pela entidade mantenedora,

independentemente do cargo ou atividade que exercem na instituição de educação

superior, não poderão exceder a 20% (vinte por cento) da representação total.

Page 100: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

99

3.3 APRECIAÇÃO GLOBAL

A flexibilização e a redução de alguns pontos na 2ª versão do Anteprojeto de

Lei de Reforma Universitária foi tema do Jornal Folha de São Paulo, do dia 05 de

Junho de 2005. Importante apresentar esta tabela, pois os pontos elucidados na

mesma confirmam os aspectos trabalhados anteriormente.

A 2ª VERSÃO DO ANTEPROJETO DA REFORMA UNIVERSITÁRIA COMO ERA NA 1ª VERSÃO COMO FICOU NA 2ª VERSÃO

ACESSO Inclui projeto e, trâmite no Congresso que prevê a obrigatoriedade de instituições federais de ensino superior destinarem, no mínimo, metade das vagas a alunos da rede pública, inclusive cotas para afrodescendentes e índios. Implementação imediata. ......................................................................Cite apenas a necessidade de democratização do acesso com oferta de cursos noturnos.

Fica mantida a necessidade das medidas de democratização do acesso, também incentivando reforço ao ensino médio. Cai, porém, artigo reproduzindo projeto que está no Congresso. Universidades terão prazo até 2015 para atingir a meta. .............................................................Deixa claro que as instituições federais deverão oferecer pelo menos um terço de seus cursos e matriculas à noite

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Autoriza a Caixa Econômica Federal a realizar concurso anual especial com destinação da renda para o financiamento de programas de assistência estudantil na rede federal. ......................................................................Autoriza as instituições federais estaduais a adotar o programa Primeiro Emprego ......................................................................Não deixa clara no texto a vinculação de parte dos recursos das instituições federais para programas de assistência a estudantes ......................................................................Não fala em isenção de inscrição nos vestibulares

Fica mantido o artigo que autoriza a CEF a realizar o concurso com renda destinada a programas estudantis na rede federal. .............................................................Artigo caiu . ............................................................ Inclui artigo destinado pelo menos 5% da verba de custeio das federais para assistência estudantil. Como bolsa de fomento, moradia, restaurante, auxílio transporte e outros .............................................................Deixa claro que será gratuita a inscrição de candidatos de baixa renda nos processos seletivos

REDE PARTICULAR

Traz artigos criando regras para disciplinar o conselho administrativo das instituições privadas. Diz, inclusive, como esses conselhos devem ser formados ......................................................................Limita em até 30% o capital total e votante das mantenedoras nas mãos de estrangeiros

Caem os artigos que tratam dos conselhos administrativos das particulares. Foi incluído, porém, um artigo que trata das instituições sem fins lucrativos, criando regras para evitar a aplicação de recurso fora dessas unidades .............................................................Artigo foi mantido, mas obriga o dono da mantenedora a exercer as atividades de gestão

Page 101: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

100

EDUCAÇÃO ARTÍSTICA

Não há trechos específicos sobre essa modalidade de ensino

A instituição interessada em oferecer a modalidade deve solicitar credenciamento à União, e os cursos serão submetidos à avaliação

SISTEMA ESTADUAL

Texto não faz referência aos sistemas estaduais e municipais de educação superior

Traz uma seção específica para o assunto, mas diz que compete aos sistemas estaduais a definição de normas de funcionamento das instituições. União pode participar do financiamento das instituições estaduais e municipais por meio de convênios ou consórcios públicos

FUNDAÇÃO DE APOIO

Praticamente acabava com a figura das fundações de apoio ligadas às instituições federais

Mantém as fundações de apoio, mas elas passam a ser subordinadas ao conselho superior da instituição federal

CORPO DOCENTE

Exigência de contar com 50% de mestres ou doutores

Mantém a exigência de 50% dos docentes com mestrado ou doutorado, mas, desse grupo, metade deve ter obrigatoriamente o doutorado

CICLO BÁSICO

As instituições devem destinar os dois primeiros anos dos cursos para formação geral

Texto deixa a prática opcional

CONSELHO SOCIAL

Criação do conselho comunitário social, integrado por entidades corporativas, associações de classe, sindicatos e membros da sociedade civil

Nome muda para conselho de desenvolvimento social, com atividades explicitamente consultivas

OUVIDORIAS Não são citadas Universidades ficam obrigadas a criar o cargo, que será exercido por pessoa eleita, diretamente, pelos segmentos da comunidade universitária

Page 102: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

101

CAPÍTULO IV – A REFORMA UNIVERSITÁRIA NA ESFERA PÚBLICA

Este capítulo busca realizar uma “análise de conteúdo” dos debates na mídia

em torno do tema do Anteprojeto de Reforma Universitária do governo Lula sobre o

Ensino Privado no período entre Agosto de 2004 e Dezembro de 2005. Conforme

Weber apud Roesch (1999, p. 170). “Os procedimentos da análise de conteúdo cria

indicadores quantitativos. Cabe ao pesquisador interpretar e explicar esses

resultados, utilizando teorias relevantes”.

O capítulo está divido em duas partes. Na primeira, busca-se apresentar de

forma global o material empírico da pesquisa, evidenciando suas características

gerais. Neste caso, trata-se de destacar a quantidade e os tipos de materiais aos

quais tivemos acesso e que revelam a intensidade e o teor do debate entre governo

e sociedade civil. A segunda parte do capítulo, por sua vez, seleciona e analisa,

dentre o material coletado, de forma intencional, quais os principais argumentos do

governo e da sociedade civil (particularmente dos setores ligados ao ensino privado)

quais os “argumentos” apresentados, seja para defender o projeto, para criticá-lo ou

rejeitá-lo, seja ainda para aperfeiçoá-lo e melhorá-lo.

A garantia de um maior tempo e de vários segmentos da sociedade estarem

envolvidos para examinar e debater a proposta foi uma conquista que possibilitou

maior qualidade nas discussões, pois não se pode esquecer que, dado o inédito

papel do conhecimento nas sociedades contemporâneas, ao se discutir a

universidade, discute-se, em um mesmo movimento, o País, seu futuro e sua

soberania.

4.1 UNIVERSO E PERÍODO DA PESQUISA

Como já mencionado, a proposta da Reforma da Educação Superior, que ao

longo de 2004 e continuamente em 2005 produziu um debate amplo e diversificado

entre as entidades representativas das instituições (reitores, sindicatos, estudantes),

da comunidade acadêmica – científica, da sociedade civil, e do próprio governo,

Page 103: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

102

repercutiu amplamente na mídia. Consultando-se os veículos da mídia impressos ou

escritos (na forma de revistas, jornais ou mesmo na internet), podemos ver que o

tema perpassou as mais diversas publicações como, entre outros, os jornais (Folha

de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo, Correio Braziliense, Valor

Econômico, Folha Dirigida, Jornal do Commércio, Jornal da Tarde, A Notícia),

revistas (Veja, Isto É, Ensino Superior, Época, Caros Amigos), internet (Site do MEC,

Jornal Eletrônico da Ciência, Fórum Nacional da Livre Iniciativa na Educação), além

de livros e CD-ROM/ DVD.

A tabela 6, apresentada abaixo, mostra os diferentes tipos de material aos

quais a autora teve acesso, discriminando-os conforme o tipo de publicação.

TABELA 6 – Tipos de Publicação

Tipo de Material Quantidade Percentual

Artigos de Jornais 61 31,3%

Artigos de Revistas 51 26,2%

Artigos da Internet 80 41,0%

Livros 02 1,0%

CD-ROM/ DVD 01 0,5%

TOTAL 195 100%

Fonte: A própria pesquisa

Como se observa, há um percentual muito equilibrado entre os vários meios

de comunicação no que concerne à discussão do Projeto de Reforma Universitária.

Daí, a ampla gama de materiais encontrados. Evidentemente, não foi a intenção

desta pesquisa resgatar “todo” material existente nos mais diversos setores da

mídia; tarefa obviamente inviável. A tabela acima apresenta apenas os veículos aos

quais a autora teve acesso. Não obstante, eles revelam a enorme quantidade e

variedade de intervenções e constitui o universo empírico do qual parte a pesquisa.

A discussão sobre as diferentes versões do Anteprojeto de Reforma

Universitária do governo Lula variou muito ao longo do tempo. Seu período mais

Page 104: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

103

intenso foi entre agosto de 2004 e dezembro de 2005 que compreende o período

entre a primeira versão, a segunda versão e a terceira versão. Desta forma, pode-se

supor que foi justamente na segunda versão que os impactos do debate que ocorreu

na sociedade mais se fizeram sentir sobre o texto governamental:

TABELA 7 – Material escrito entre Agosto 2004 e Dezembro 2005, classificado por especificidade e período

Período Artigos Jornais

Artigos Revistas

Artigos Internet

Livro CD-ROM DVD

Total

Ago/2004 - 1 1 - - 2

Set/2004 - 1 - - - 1

Out/2004 - 3 - - - 3

Nov/2004 - 3 - - - 3

Dez/2004 1 5 2 - - 8

Jan/2005 31 3 2 1 1 38

Fev/2005 5 7 14 1 - 27

Mar/2005 1 9 8 - - 18

Abr/2005 1 7 5 - - 13

Mai/2005 2 1 12 - - 15

Jun/2005 6 4 10 - - 20

Jul/2005 7 1 11 - - 19

Ago/2005 5 2 13 - - 20

Set/2005 1 1 - - - 2

Out/2005 - 2 - - - 2

Nov/2005 1 1 - - - 2

Dez/2005 - - 2 - - 2

Fonte: A própria pesquisa

Page 105: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

104

Pode-se perceber a evolução das discussões com o passar dos meses

conforme gráfico 1.

GRÁFICO 1: Material escrito no período de Agosto de 2004 a Dezembro de 2005

2 1 3 3

8

38

27

18

1315

20 19 20

2 2 2 2

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1

Material escrito no período deAgosto de 2004 a Dezembro de 2005

ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05mai/05 jun/05 jul/05 ago/05 set/05 out/05 nov/05 dez/05

Fonte: A própria pesquisa

Como se observa, a discussão iniciou de forma amena e foi ganhando força

com o lançamento da primeira versão do Anteprojeto, bem como perto da segunda

versão e da terceira. O ponto alto das discussões foram os meses de junho, julho e

agosto de 2005. Depois, o debate esfriou rapidamente, pois ele voltou à fase de

elaboração técnica do governo. Foi por este motivo que esta pesquisa resolveu

concentrar-se neste período, tendo em vista que entre Dezembro de 2004 e Agosto

de 2005 aconteceram os debates mais acalorados, particularmente nos segmentos

não-governamentais da sociedade brasileira. Há ainda que se salientar que este

material foi divulgado tanto pelo governo, expondo assim suas razões e aspirações,

como pela sociedade, questionando, argumentando e em muitas ocasiões,

colocando-se contra o Anteprojeto de Reforma Universitária, como mostra a tabela

seguinte:

Page 106: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

105

TABELA 8 – Material escrito pelo governo e pela sociedade

Tipo de material Governo Sociedade

Artigos de Jornais 4 57

Artigos de Revistas 8 43

Artigos da Internet 41 39

Livros - 2

CD-ROM/ DVD - 1

Fonte: A própria pesquisa

Comparando-se estas tabelas, não restam dúvidas que a sociedade civil

debateu intensamente o Projeto de Reforma Universitária, diante da urgente

necessidade de se modificar o sistema educacional superior brasileiro. Percebe-se

pela tabela 8 que a sociedade civil tratou de discutir mais, pelo menos no que tange

à quantidade, do que o governo. Foram consideradas manifestações do governo

tanto os órgãos de comunicação estatal (site, publicações, etc.) quanto o

pronunciamento de autoridades públicas (Presidente, ministros, etc.), sendo todo

restante configurado como pertencente à sociedade. Isto explica porque o número

de manifestações da sociedade civil é bem maior, afinal, os setores extra-estatais

são muito mais numerosos que o setor governamental.

Esta tabela também é importante porque manifesta claramente a dinâmica

política do debate. Podemos notar que o meio mais utilizado pelo governo para

expor suas idéias foi à internet, particularmente os sites governamentais. Já os

argumentos da sociedade estiveram mais presentes nos meios impressos. Ou seja,

os veículos privados de mídia deram muito mais destaque para os setores sociais

críticos e contrários ao projeto de reforma universitária.

Verificou-se também, de acordo com a tabela 9, que a avaliação geral dos

materiais coletados foi predominantemente contrária à aprovação do Anteprojeto de

Reforma Universitária proposto pelo governo nos moldes apresentados. Neste caso,

o critério para diferenciar as manifestações “contra” ou a “favor” estavam

relacionadas com a ênfase dos materiais analisados, seja evidenciando seus limites,

seja evidenciando seus méritos. De forma geral, pode-se dizer que o conjunto do

Page 107: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

106

material não tinha nada de descritivo e uma análise superficial mostra claramente

que os artigos e manifestações já apresentavam nitidamente seu posicionamento.

Ressalta-se que foi possível classificar, facilmente, o teor valorativo dos materiais

encontrados. É importante salientar também que a pressão por mudanças foi maior

no que tange a apresentação da segunda versão do Anteprojeto em relação à

primeira versão, pois alguns pontos foram melhores esclarecidos, o que possibilitou

discussões mais direcionadas. As modificações da segunda versão para a terceira

versão do Anteprojeto foram, em sua maioria, de ordem técnica, dando uma

formatação mais adequada ao texto, elucidando conceitos que não estavam tão

claros anteriormente.

TABELA 9 – Dados referentes à aprovação ou reprovação do Anteprojeto de acordo com o material apresentado na imprensa

Avaliação Quantidade de Artigos Percentual

A Favor da Reforma 75 38,5%

Contra a Reforma 120 61,5%

Fonte: A própria pesquisa

Importante ressaltar que os vários segmentos da sociedade se colocaram

contra a aprovação deste projeto da forma como o mesmo foi apresentado; pois

acreditam que a reforma deva contemplar as reivindicações de amplos setores da

sociedade, de maneira a incluir novas políticas para os ensinos fundamental e

médio.

A segunda parte deste capítulo, (incluindo os tópicos segundo e terceiro)

realiza uma análise qualitativa do material coletado. A técnica utilizada para analisar

o material empírico disponível será a “análise de conteúdo”. Para viabilizar a análise,

a autora selecionou, de forma intencional e aleatória, dentre o material disponível,

aqueles meios que apresentassem, de forma clara e incisiva, as representações dos

atores sociais (governo e sociedade civil) sobre o conteúdo da reforma universitária.

Analisando-se o teor do debate, foi possível perceber que três temas se destacaram:

Page 108: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

107

1) a mercantilização do ensino, 2) democratização da gestão, e, 3) democratização

do acesso. Nos tópicos seguintes, os argumentos apresentados em relação a cada

um destes itens serão demonstrados e analisados em maiores detalhes.

4.2 ARGUMENTOS A FAVOR DA PROPOSTA

Esta parte do capítulo IV é destinada à apresentação dos argumentos a favor

da Proposta de Reforma Universitária. Para tanto, analisar-se-ão os textos colhidos

no site do governo (MEC) e nos jornais de grande circulação (Folha de São Paulo, O

Estado de São Paulo, O Globo, Correio Braziliense, Valor Econômico, Folha

Dirigida, Jornal do Commércio, Jornal da Tarde, A Notícia), pois foram estes os que

suscitaram maiores discussões conforme as tabelas apresentadas anteriormente.

Desta forma, abordar-se-ão três assuntos muitos discutidos pelas várias camadas da

sociedade: a mercantilização do ensino, a democratização da gestão e a

democratização do acesso.

4.2.1 A MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO

A Educação é um elemento de vital importância para que haja um rompimento

com a história de dependência cultural, científica e tecnológica do nosso país. O

governo ressalta que o processo de globalização colocou o Brasil e a universidade

diante de uma encruzilhada. Este salienta que de um lado há a desregulamentação

e a mercantilização do ensino, pois desta forma há a retirada do Estado na definição

e gestão das políticas educacionais.

Por outro lado “há um projeto que percebe a educação superior como um

direito público a ser ofertado pelo Estado gratuitamente, com qualidade, com

democracia e comprometido com a dignidade do povo brasileiro, com as expressões

multiculturais que emergem do interior da sociedade, com a sustentabilidade

Page 109: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

108

ambiental e com desenvolvimento tecnológico de sua estrutura produtiva” (Cartilha

da Reforma da Educação Superior, Nov. 2004).

Para o Ministério da Educação, a universidade tem papel fundamental na

construção de um novo projeto de desenvolvimento, desta forma, o governo atual

optou pelo segundo caminho, que prega a valorização da universidade pública e a

defesa do ensino superior como um direito de todos os brasileiros, demonstrando

que as instituições públicas têm papel indutor e regulador no processo de

conhecimento e consequentemente, no de crescimento.

Com a liberalização do ensino superior, nos últimos dez anos, houve uma

proliferação acentuada de instituições privadas. Hoje, 71% (setenta e um por cento)

da vagas são não estatais e apenas 29% (vinte e nove por cento) são estatais

(Cartilha da Reforma da Educação Superior, Nov. 2004).

De posse destes dados, o governo federal pretende ampliar a participação do

setor público na educação superior. A meta é criar novas universidades públicas,

expandir novos pólos e abrir 400 mil (quatrocentas mil) novas matrículas em quatro

anos nas instituições federais. Outro argumento do governo é que fortalecendo o

ensino público, haverá mais recursos em investimentos em pesquisa e extensão,

resultando assim em uma educação de maior qualidade.

Corroboram com tal pensamento, Gustavo Balduíno e Oswaldo Baptista

Duarte Filho (Folha de São Paulo: 24.02.2005 – Uma discussão necessária):

A educação é um bem público e uma questão de Estado. Em nosso jovem país, com o um sistema de ensino superior ainda mais jovem, muito poderia ter sido feito para instituir um sistema inclusivo, de alta qualidade e que fosse reconhecido pelo papel que desempenha na formação dos produtos de conhecimento científico, de tecnologia e de professores para os níveis fundamental e médio. Pouco se fez nesta direção. As ações de governo, particularmente ao longo dos últimos anos, propiciaram a disseminação indistinta e predatória de escolas de terceiro grau, às quais, por artifícios diversos, se atribuíram às denominações de centros universitários, universidades, etc.

Neste mesmo contexto, Tarso Genro e Hélgio Trindade (Site MEC -

19.02.2005 – Quem teme a Reforma?) afirmam:

Page 110: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

109

Na sociedade contemporânea, conhecimento e poder se interpenetram em todos os níveis, da esfera pública ao mercado, redefinindo o significado de espaço público nas universidades e afetando na raiz sua “missão social”. A resposta a este processo tem de vir no bojo de uma reforma que aponte nessa direção e que tenha a capacidade de articular os anseios da comunidade acadêmica por uma reestruturação universitária com as demandas legítimas das instâncias representativas da sociedade. E o caminho é o estabelecimento de uma política de Estado que preserve e recomponha a missão pública do nosso sistema de educação superior público e privado e o articule com o projeto de uma nação democrática, justa e soberana.

A proposta do governo federal ressalta que o ensino não é mercadoria, é um

bem público. A Constituição Federal garante a educação como dever do Estado,

mas prevê também a iniciativa privada. No entanto, o governo salienta que ao

exercer uma função pública delegada, o setor privado deve buscar a qualidade como

caminho central.

Nos últimos anos a abertura de faculdades, centros e universidades no Brasil,

nem sempre veio acompanhada da devida avaliação e preocupação com a

qualidade de ensino. Para o governo, não basta abrir vaga, mas se faz necessária a

garantia de um ensino-aprendizagem condizente com as necessidades e

expectativas da Nação.

O governo esclarece que existem ainda 4.420 (quatro mil quatrocentos e

vinte) processos de autorização nas diferentes modalidades e credenciamento de

instituições privadas tramitando no Ministério da Educação, e que, em 2002, a média

de pedidos de abertura de novos cursos, chegou a quatro por dia (Cartilha da

Reforma da Educação Superior, Nov. 2004).

De acordo com Daltro José Nunes (Jornal da Ciência -17.02.2005 - A função

social das Instituições de Ensino Superior):

Quando a Constituição estabelece que a educação é livre à iniciativa privada, significa que o Estado concede a ela o direito de desenvolver a educação, mas não significa que ela é livre para explorar a educação como se fosse mercadoria. A reforma universitária não está intervindo na iniciativa privada como dizem alguns segmentos ligados à educação, muito pelo contrário, a iniciativa privada é que está fazendo o papel do Estado, pois esta está apenas resgatando a responsabilidade pela educação, principalmente para evitar que instituições possam praticar desvios de conduta, falta de ética, ao fazer da educação uma mercadoria.

Page 111: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

110

Tal pensamento encontra amparo no texto publicado pelo jornal Folha de São

Paulo em 30.07.2005, em que Tarso Genro assevera: “cabe ao Estado proteger a

sociedade da ação perniciosa de instituição de educação superior que não formam

bons egressos. Os serviços prestados por graduados de nível superior, quando de

má qualidade, causam riscos à sociedade e prejuízos aos cidadãos”.

Corroborando com tal entendimento, manifesta-se José Monserrat Filho

(Jornal da Ciência - 04.02.2005 - Começa o embate entre interesses públicos e

privados na educação):

A intervenção estatal na iniciativa privada, como a experiência revela, aparece como nome respeitoso que se procura criar, no caso, para dar combate à ação perfeitamente legal, legítima e justa – prevista no Anteprojeto – de avaliar o ensino nas universidades privadas com o mesmo rigor utilizado com relação ao ensino nas universidades públicas. O avanço assustador do ensino privado no Brasil – cerca de 80% (oitenta por cento) dos nossos universitários estão hoje matriculados em instituições privadas – gerou uma situação inédita no mundo: o predomínio absoluto do ensino privado – com algumas áreas dignas de louvor, mas também com amplas outras áreas submetidas a lógicas mercantis as mais deploráveis.

Neste mesmo pensamento, José Luiz Quadros (FÓRUM – Curso de Direito

Izabela Hendrix – 11.2005), esclarece que “a educação não comporta a relação de

consumo”.

Percebe-se que um dos pontos principais da formulação apresentada pelo

MEC trata da regulamentação do ensino privado, com regras mais rígidas para a

abertura de cursos e controle social da qualidade da educação. Seguindo este

pensamento, Gustavo Balduíno e Oswaldo Baptista Duarte Filho (Folha de São

Paulo: 24.02.2005 – Uma discussão necessária) afirmam que:

Os governos apostaram na transformação do público em privado, com o que a educação se transformou em bem passível de ser negociado, em mercadoria que é alvo inclusive de disputa entre grandes grupos internacionais. Diante deste quadro, para retomar a educação como parte de uma política de Estado, cabe ao governo, em consonância com os princípios constitucionais que regem a Nação, instituir um marco regulatório que organize o funcionamento e a expansão de todo o sistema de educação superior, bem como garantir definitivamente a autonomia e financiamento do sistema público.

Page 112: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

111

Luciano Rezende Moreira (Jornal da Ciência - 25.02.2005 - Pós-graduandos

defendem exigência do MEC para as particulares), esclarece que “educação não é

mercadoria! Embora o ensino particular tenha cumprido importante papel

complementar à educação pública, hoje, a grande maioria quer funcionar como

qualquer outra empresa sob a égide do capitalismo. A autonomia (ou soberania) que

defendem é apenas a do deus-mercado”.

Gustavo Balduíno e Oswaldo Baptista Duarte Filho (Folha de São Paulo:

24.02.2005 – Uma discussão necessária), asseveram: “que a sociedade deve dizer

claramente ao governo, às corporações e aos mantenedores privados que a

responsabilidade com investimentos é inerente aos resultados e que o Brasil não

pode se submeter aos interesses de poucos em detrimento de uma educação

superior inclusiva e de qualidade”.

Para o governo federal, a grande maioria da sociedade acadêmica:

professores, estudantes, trabalhadores da educação de um modo geral, sabem da

importância de se discutir a universidade e convida a todos a unirem-se em prol da

construção de uma nova universidade brasileira.

4.2.2 A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO

Outro aspecto do Anteprojeto de Reforma Universitária que suscitou

contínuos debates foi a democratização da gestão, ou seja, a proposta de incluir a

participação da comunidade. A reforma instituiu o Conselho Social de

Desenvolvimento, órgão consultivo que terá como função principal apresentar à

instituição de ensino demandas dos mais diversos setores da comunidade em que

esta está inserida, bem como debater as finalidades e a ação da instituição na

comunidade. Este pensamento encontra amparo no Artigo 5°, da terceira versão do

Anteprojeto de Reforma Universitária.

Segundo Tarso Genro (Jornal da Ciência – 04.07.2005 - Para o MEC, reforma

universitária garante gestão democrática), o Conselho “é um instrumento de

transparência de relações que já existem e se dão de maneira oculta e não

Page 113: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

112

deliberada. Ele vai, na verdade, ser a mesa de negociação e avaliação onde a

sociedade se comunica com a universidade sem intervir na sua administração, na

autoridade do reitor e do conselho superior”.

As universidades e os centros universitários também serão organizados por

um órgão colegiado, com a participação de docentes em efetivo exercício da função,

estudantes, pessoal técnico e administrativo e até pessoas de fora da instituição. As

mantenedoras das instituições privadas só poderão indicar 20% (vinte por cento) dos

representantes dos colegiados superiores, pois desta forma, acredita-se que se

assegurará a autonomia da instituição.

A reclamação principal das instituições privadas era de que o texto da

Reforma não deixava claro qual seria a função deste Conselho e que tipo de

interferência teria na instituição. Tarso Genro rebate tal afirmação em texto

publicado no jornal A Notícia (Universidade Estadual fortalecida) em 31.05.2005,

“agora foi acrescentada a expressão “de caráter consultivo” à proposta. Para nós já

era claro que o conselho tem apenas um caráter consultivo, mas decidimos tornar

ainda mais claro”.

Segundo o pensamento do governo federal, democratizar é construir de

maneira participativa um projeto de educação não mercantilista, ou seja, de

qualidade social que promova o exercício pleno da cidadania. A inserção do homem,

através da educação no contexto social, estabelece princípios sociais do processo

civilizatório, tais como solidariedade, justiça, igualdade, alteridade, cooperação, bem

como o respeito à pluralidade e à dignidade humana.

Daltro José Nunes (Jornal da Ciência -17.02.2005 - A função social das

Instituições de Ensino Superior), esclarece que:

Para que as instituições cumpram seus objetivos, principalmente na formação democrática e na formação do espírito crítico dos seus alunos, o exemplo tem de começar dentro de casa. As instituições devem praticar uma administração democrática e devem estimular professores, alunos e funcionários a questionar criticar a qualidade da educação e os processos decisórios, pedagógicos, avaliativos, etc.

O pensamento dominante do governo é o de que as instituições públicas e

privadas devem estar profundamente inseridas na sociedade civil, tendo uma gestão

Page 114: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

113

democrática e participativa, para produzirem, de forma concreta, uma nova estrutura

organizativa que dê sustentação para os desafios presentes e futuros do ensino

superior no Brasil.

Antônio Ibañez Ruiz (Site MEC – O Conselho Comunitário Social na Reforma

da Educação Superior – 20.02.2005), esclarece que o conselho comunitário social é

apenas consultivo e salienta que a decisão sobre os assuntos ali discutidos

continuará sendo da universidade, do reitor dos colegiados, ou de quaisquer outros

órgãos superiores da sua organização que venham a ser criados pelas

universidades.

Ressalta ainda que:

A composição desse conselho também cabe à universidade. E isso não significa que a sua composição tenha que ser corporativa, de uma maioria sindical. Justamente o que se pretende é que haja uma maior integração entre as universidades e seu entorno local e regional, bem seja na área científica (representações científicas, fundações, institutos, agências), de política (poderes executivos e legislativos), de desenvolvimento econômico, social e cultural (empresários, trabalhadores urbanos e rurais, movimentos sociais e artistas). Isto significa dar oportunidade às comunidades para conhecer, de forma institucional e não fragmentada, o trabalho da universidade, na localidade e na região. É necessário que a comunidade se aproprie com maior facilidade das informações, do conhecimento, dos problemas, das dificuldades e conheça os êxitos e os erros das universidades.

Diante do exposto, percebe-se que a intenção do governo ao instituir os

Conselhos comunitários é que haja democratização da gestão do ensino superior e

que esta deve submeter-se ao controle da sociedade.

Corroborando com tal pensamento, José Luiz Quadros (FÓRUM – Curso de

Direito Izabela Hendrix – 11.2005), salienta que o “Anteprojeto estabelece três

categorias: faculdades, centros universitários e universidades. Para alcançar o

próximo nível, a instituição precisa atender a determinadas exigências, entre elas, a

democratização da gestão, com participação da comunidade”.

Na concepção de Jorge Almeida Guimarães e Renato Janine Ribeiro (site

MEC – 03.03.2005 – Uma Reforma série e aberta),

Page 115: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

114

Nas instituições de ensino privadas, a comunidade acadêmica – isto é, os docentes e alunos – passará a exercer um poder que até hoje não teve, no respectivo Conselho Superior. Isto é mais do que justo. Os alunos pagam os seus cursos, mas não são ouvidos na contratação ou demissão dos professores. Os docentes são quem faz a qualidade, boa ou má, dos cursos, mas nem sempre têm voz – nem quando chefiam departamentos ou dirigem unidades – na definição de seus rumos. O aluno que se matricula em uma faculdade, se perceber que ela está ruim ou que piorou, não muda de escola com a mesma facilidade com que troca de posto de gasolina ou cancela a assinatura de TV a cabo. As mantenedoras respeitáveis nada têm a recear.

De acordo com o Ministério da Educação, já lhe cabe a função de avaliar e

supervisionar as instituições de ensino superior, bem como de acompanhar o

cumprimento de quase dois milhares de PDIs (Plano de Desenvolvimento

Institucional). Segundo este pensamento, Tarso Genro (Jornal O Globo – 10.03.2005

- Reforma Universitária) ressalta que:

Não entendo a razão de tanta preocupação com a forma de organização dos colegiados superiores das universidades, ou com a obrigatoriedade de eleição de um dirigente no sistema privado. Muitas universidades já têm em seus Conselhos Superiores os representantes da comunidade e nem por isso atuam com mais eficácia no plano local. Outras que não têm, constituem-se em belíssimos exemplos de articulação com a sociedade. A excessiva formalização conduz a um “burocratismo” desnecessário e nocivo ao trabalho acadêmico.

O pensamento do governo federal quando fala em reformar para construir

uma gestão democrática pressupõe a garantia da liberdade de associação entre as

categorias da comunidade acadêmica, construindo este Conselho Comunitário

Social com a participação da sociedade civil, garantindo a eleição direta, o fim da

lista tríplice e liberdade de escolha no interior de cada instituição pública. Além

disso, da ponderação entre os segmentos na eleição para reitor, eleição de um pró-

reitor acadêmico e a garantia de participação dos estudantes, docentes e técnicos

no Conselho Superior de Gestão, bem como a realização a cada quatro anos da

Conferência Nacional da Educação Superior.

Page 116: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

115

4.2.3 A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO

A terceira versão da proposta da Reforma Universitária, apresentada em 29

de Julho de 2005, prevê que as novas universidades federais, que venham a ser

criadas após a aprovação da Lei, deverão reservar 50 % (cinqüenta por cento) das

vagas de todos os cursos de graduação para alunos que tenham cursado o ensino

médio em escola pública, observando os índices da composição da população de

cada região, segundo o IBGE, que deverão ser alcançados em todos os cursos, em

dez anos, através de políticas afirmativas. Importante ressaltar que estas deverão

preencher uma subcota com negros e índios equivalente ao percentual étnico em

cada Estado. Tal pensamento é respaldado pelo Artigo 5°, na terceira versão do

Anteprojeto de Reforma Universitária.

Importante elucidar que há um projeto nos mesmos moldes tramitando no

Congresso.

De acordo com Marcelo Gavião (site do MEC – 17.02.2005 – O fim dos

privilégios):

Esta proposta tem sido o principal alvo das elites. Para eles, a possibilidade de dividir o conhecimento dando oportunidade a estes estudantes é algo fora do comum, e para fortalecer sua opinião eles se utilizam dos mais desqualificados argumentos, como a queda do nível da universidade e a defesa da meritocracia, e chegam a defender que a universidade pública não deve ser um espaço para pobres.

O governo federal rebate tais pensamentos salientando que a sociedade

responde por meio de mobilizações em torno da democracia do acesso à educação

superior pública e assegura que estes tipos de argumentos são preconceituosos e

não podem mais ser aceitos.

Corroborando com tal pensamento, Tarso Genro (site do MEC – 26.02.2005 –

A favor da elite plural) esclarece:

Há críticas que vêm de uma determinada elite das instituições estatais que é contra a política de cotas. Na verdade, parte dos integrantes desta elite frequentemente estabelece relações com a iniciativa privada, muitas delas, através de fundações. São relações legais, mas privilegiadas, inclusive do

Page 117: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

116

ponto de vista do financiamento da sua própria identidade. Esses setores vocalizam uma visão de universidade pública estatal que não esta subordinada, na nossa visão, àquilo que se coloca como princípios fundamentais que caracterizam a República. Têm direito de fazê-lo, mas subordina uma reforma da universidade a uma visão que compreende a universidade como propriedade de uma elite e confundir isto com qualidade é um atraso medieval. Nós temos de fazer uma justa mediação entre autoridade e a função da universidade dentro de um projeto nacional democrático e pluralista de incorporação da universidade na vida pública. Mas as contribuições que esses grupos estão dando são boas, pois chamam a atenção para uma questão: a expansão da universidade, a abertura cada vez maior das suas portas à população, não pode ser em detrimento da qualidade. Para nós, não há nenhum conflito em relação a isso. Queremos expansão com qualidade.

De acordo com dados do governo (Cartilha da Reforma da Educação

Superior, Nov. 2004), hoje, apenas 9% (nove por cento) dos jovens brasileiros entre

18 e 24 anos estão cursando o ensino superior. Número este, abaixo da Argentina,

que tem 32% (trinta e dois por cento) e do Canadá, com 62% (sessenta e dois por

cento).

Ao constatar tal fato, o Estado brasileiro pretende promover políticas efetivas

que garantam o acesso de jovens de baixa renda ao ensino superior. O Plano

Nacional de Educação, prevê para 2010 uma taxa de escolarização de 30% (trinta

por cento) da população, e para tanto, pretende expandir as instituições federais

para regiões que careçam de escolas superiores, criando vagas nas universidades

não estatais e privadas, e, além disto, ampliar os cursos noturnos nas universidades

públicas já instaladas.

Tal pensamento encontra amparo no Ministro da Educação, Fernando

Haddad (Jornal Folha de São Paulo – 23.03.2005), quando afirma que “é uma

violência segregar negros e pardos na questão educacional”.

A mesma opinião é compartilhada pelo Frei Davi Santos, coordenador da

Educafro, ONG que realiza pré-vestibulares para alunos negros e carentes. (Jornal

Folha de São Paulo – 05.04.2005 – Caderno Cotidiano), “a ação afirmativa não é

para beneficiar os parecidos, mas sim os excluídos”. Segundo Santos (2005),

“mesmo que sejam aprovados os alunos com notas baixas nos vestibulares, a

qualidade do ensino não cairá: Se você der ao pobre, condições iguais, como

professores e aulas, ele se sobressai à classe média”.

Seguindo este mesmo pensamento o reitor da UFBA, (Universidade Federal

da Bahia), Naomar Monteiro de Almeida Filho (Folha de São Paulo – 12.03.2005 –

Page 118: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

117

Caderno Cotidiano), ressalta que os mesmos alunos que se inscreveram por meio

das cotas poderiam ter entrado na universidade com as notas que obtiveram no

vestibular. Este assevera que “86% (oitenta e seis por cento), dos aprovados do

último vestibular tinham nota suficiente. Apenas 14% (quatorze por cento)

precisaram das cotas, mostrando que a reserva de vagas não reduz a qualidade. O

fato de ter cotas, incentiva os alunos de escolas públicas a prestarem o vestibular

principalmente em cursos mais concorridos. Antes eles não entravam por que nem

ousavam prestar a prova. Ou então buscavam cursos menos concorridos”.

O juiz da 4ª Vara Federal de Curitiba, Fabiano Bley Franco (Jornal Folha de

São Paulo – 15.02.2005 – Caderno Cotidiano), sai em defesa da inclusão dos

negros e mais pobres à universidade gratuita pela via das cotas, e ressalta que “o

sistema educacional do Brasil é perverso por retirar dos carentes a possibilidade de

cursar o nível superior gratuitamente, quando confere a freqüência, em instituições

públicas, a quem tem condições financeiras de pagar por curso privado”.

Este pensamento encontra amparo em um texto publicado pelo jornalista

Fábio Takahashi (Jornal Folha de São Paulo – 05.04.2005 – Caderno Cotidiano) que

apresenta as conclusões com base em questionários sócio-econômicos,

respondidos pelos vestibulandos aprovados na UNIFESP (Universidade Federal de

São Paulo). Dos ingressantes cotistas, 62,1% (sessenta e dois vírgula um por cento)

afirmam ter computador e 48,3% (quarenta e oito vírgula três por cento) disseram ter

acesso à internet em casa. A porcentagem dos matriculados não-cotistas são 93,3%

(noventa e três vírgula três por cento) e 88,6% (oitenta e oito vírgula seis por cento),

respectivamente.

Além deste dado, outro chama a atenção, a renda familiar média mensal dos

cotistas foi de R$1.800,00, ante R$4.000,00 dos não-cotistas.

Segundo dados da UNIFESP (Jornal Folha de São Paulo – 05.04.2005 –

Caderno Cotidiano), os vestibulandos aprovados pelo sistema de cotas tiveram

desempenho semelhante aos do sistema universal. A diferença entre a nota do

último matriculado não-cotista, segundo o coordenador de ações afirmativas, Marcos

Ferraz e o cotista, foi de 10% (dez por cento) em medicina, o curso mais concorrido.

Page 119: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

118

Outro exemplo apresentado por Ferraz mostra semelhança no desempenho

entre os dois grupos, é que tanto em medicina como em enfermagem, o melhor

cotista teria nota suficiente para ser aprovado no sistema universal.

Para o juiz Fabiano Bley Franco, citado anteriormente, a reserva de vagas

“abre oportunidade aos excluídos de galgar degraus na pirâmide social e escapar da

miséria e da marginalidade”.

Importante salientar que o governo federal, em seus discursos, deixa claro a

sua defesa em favor dos melhores alunos, pois em sua concepção, estes devem

entrar na universidade pública. O governo esclarece que não pode ocorrer que os

melhores alunos das escolas públicas não tenham sequer o direito de concorrer a

uma vaga em direito, medicina ou odontologia, por estes cursos serem considerados

de elite.

Quanto ao mérito, Tarso Genro (site do MEC – 26.02.2005 – A favor da elite

plural) considera preconceituosa a posição das pessoas que dizem que as cotas

atacam a meritocracia. Este assevera que:

Dizem que o Programa Universidade para Todos (ProUni) iria deformar a estrutura meritória das instituições privadas, porque dentro do ProUni há a política de cotas e 36% (trinta e seis por cento) das bolsas foram concedidas à afro-descendentes, ante 25% (vinte e cinco por cento) de afro-descendentes na totalidade das universidades. Agora, pasme: a média dos alunos que entram pelo Exame Nacional de Ensino Médio para o ProUni é uma média superior àquela obtida pelos alunos tanto das escolas públicas como das privadas no mesmo exame. Por quê? Porque aqueles que se inscreveram para fazer o Enem são alunos mais preocupados com a sua carreira e com a qualidade de seu aprendizado, já que o exame não é obrigatório. Como conseqüência, aqueles que apresentaram pontuação maior e foram aproveitados no ProUni estão entre os melhores alunos. Então, essa idéia de que haveria uma baixa qualidade com a política de cotas é completamente descabida do ponto de vista estatístico.

Finalizando tal pensamento, Tarso Genro (site do MEC – 26.02.2005 – A

favor da Elite) ainda esclarece que a “política de cotas tem que estar vinculada a

uma formação social determinada e, no Brasil, negritude e pobreza são um par

constante, originário da nossa sociedade escravocrata. Então, o que nos

perguntamos é o seguinte: devemos constituir alguns mecanismos, ainda que

moderados, para promover a coesão social ou não?”.

Page 120: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

119

Na concepção do governo federal, sim. Este ressalta que falar em

rebaixamento de qualidade é ofensivo à população brasileira, além de demonstrar

uma profunda ignorância. Esclarece ainda que todos os argumentos no sentido

contrário são bem vindos, desde que bem fundamentados.

4.3 ARGUMENTOS CONTRA A PROPOSTA

Com base nas tabelas apresentadas anteriormente, percebe-se que a

sociedade civil discutiu, e muito, a Proposta de Reforma Universitária nos moldes

apresentados. Nesta etapa faremos uma explanação acerca dos argumentos

apresentados pela sociedade civil contrários à Reforma Universitária, utilizando os

artigos publicados nas revistas e jornais de maior circulação nacional.

Trabalharemos os mesmos tópicos vistos no item 4.1: a mercantilização do ensino, a

democratização do acesso e a democratização da gestão.

4.3.1 A MERCANTILIZAÇÃO DO ENSINO

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1°, IV, estabelece como

fundamento da República Federativa os valores sociais da livre iniciativa. Ao tratar

da ordem econômica, no artigo 170 e em seu parágrafo único reafirma a liberdade

de iniciativa, para em seguida, no artigo 174, estabelecer que na regulação da

atividade econômica o planejamento estatal é indicativo para o setor privado.

No entanto, quando se refere ao ensino, a Constituição Federal não deixa

dúvidas no claro enunciado do artigo 209, I e II: ele é livre à iniciativa privada, desde

que observadas as normas gerais da educação nacional, a autorização e a

avaliação de qualidade pelo poder público.

Desta forma, ressalta-se que a educação formal se realiza por meio do ensino

ministrado em instituições públicas ou privadas, sendo assim as públicas um dever

Page 121: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

120

do Estado e as particulares no exercício da livre iniciativa, princípio este, assegurado

pela Constituição Federal, conforme salientado anteriormente.

De acordo com dados do Fórum Nacional da Livre Iniciativa na Educação –

Considerações e recomendações sobre a versão preliminar do Anteprojeto de Lei e

Reforma da Educação Superior - (Mar. 2005), o sistema privado de educação

brasileira é responsável por 71% (setenta e um por cento) das matrículas no ensino

superior, com mais de 2,7 milhões de alunos, mais de 170 mil professores e cerca

de 140 mil funcionários administrativos. Oferece 86% (oitenta e seis por cento) das

vagas no ensino superior brasileiro, em mais de 10 mil cursos nas diferentes áreas

de conhecimentos, absorvendo 79% (setenta e nove por cento) dos ingressantes a

cada ano e ministrando cerca de 22 milhões de aulas anualmente. Com mais de 23

milhões de metros quadrados ocupados por suas 1.652 instituições (que

representam 89% das IES brasileiras) e cerca de 15 milhões de metros quadrados

de áreas construídas, o Sistema dispõe de bibliotecas dotadas de infra-estrutura e

acervos de qualidade com mais de 22 milhões de exemplares: possui cerca de 10

mil laboratórios modernos e bem equipados, além de parques gráficos, estruturas

tecnológicas e informatizadas de inestimável valor, áreas desportivas, de

convivência e lazer.

O significado econômico do Sistema Privado da educação brasileira está

expresso por uma participação de R$ 9,5 bilhões no PIB, representando 0,8% (zero

vírgula oito por cento) do total da economia. O setor gera adicionalmente uma renda

indireta de mais de R$ 720 milhões anuais por meio de inúmeras atividades que,

direta ou indiretamente, estão ligadas ao setor educacional, como moradia,

transporte, alimentação, equipamentos, material escolar e livros.

Do ponto de vista social, o setor privado de educação superior abriu

oportunidades de estudo para jovens para os quais o Poder Público não encontrava

meios de prover vagas.

Consoante tal pensamento, Cláudio de Moura Castro (Revista Ensino

Superior – Dez. 2004 –Graduação para a maioria) ressalta, “se fosse o caso de o

ensino público absorver o privado, o MEC teria de duplicar o orçamento nos custos

das escolas privadas, ou mesmo triplicar, considerando os custos das públicas”.

Page 122: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

121

Seguindo este pensamento o senador Jorge Bornhausen (Revista Ensino

Superior – Nov. 2004 – Novos caminhos para o ensino) assevera:

Entre os desafios a serem enfrentados inclui-se o Plano Nacional de Educação, cuja meta para ensino superior prevê a inclusão, até 2010, de 30% (trinta por cento) dos jovens entre 18 e 24 anos no ensino superior. O Poder Público dificilmente poderá arcar com parcelas significativas desta extensão, por razões bastante conhecidas. O alcance da meta dependerá, portanto, da presença maciça e do esforço da iniciativa privada. Pelo crescimento da oferta no ensino superior ocorrida nos últimos oito anos, tinha-se a perspectiva que a meta seria atingida, ainda que, com enorme esforço. No entanto, esse crescimento poderá ser inviabilizado em decorrência da reforma pretendida, na medida em que novos procedimentos e controles vierem a ser adotados.

O pensamento da sociedade civil, em especial, do ensino privado é de que

ocorra uma mudança democrática para o ensino no país e contemple as

reivindicações de amplos setores da sociedade, incluindo o privado. A proposta do

setor é que a reforma seja a mais abrangente possível, de maneira a incluir novas

políticas para os ensinos fundamental e médio.

Corroborando com tal pensamento, Gabriel Mário Rodrigues, presidente da

Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) (Revista Ensino

Superior – Abr. 2005 – Começar pelo básico) esclarece, “que a reforma é

necessária, desde que concebida de forma ampla, envolvendo todos os graus e

modalidades de ensino”.

De acordo com Paulo Antônio Gomes Cardim (Revista Ensino Superior – Fev.

2005 – Em defesa da livre iniciativa) apresenta:

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – a Lei 9.394, de 1996 – é flexível e presta-se às adaptações que as mudanças políticas e da sociedade possam exigir. O que falta é ação governamental para a melhoria da qualidade do ensino público, em todos os níveis, é uma supervisão isenta e democrática das instituições privadas de ensino superior.

Ao setor privado, cabe em primeiro lugar assegurar a oferta capaz de atender

à demanda não satisfeita pelo setor público, e neste sentido, atuar como parceira do

governo. Cabe ainda, atuar com presteza necessária para prover oportunidades de

formação que, por qualquer razão não sejam oferecidas pelo governo. De acordo

Page 123: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

122

com as Propostas do Fórum Nacional da Livre Iniciativa na Educação -

Considerações e recomendações sobre a versão preliminar do Anteprojeto de Lei e

Reforma da Educação Superior - (Mar. 2005) - “apenas no Estado de São Paulo, as

instituições de ensino particulares prestam anualmente mais de seis milhões de

atendimentos de natureza assistencial”.

Milton Linhares, integrante do Conselho Nacional de Educação (Revista

Ensino Superior – Out. 2004 – Ensino exige novo desenho) ressalta que:

Em todos os níveis de ensino, a iniciativa privada, no Brasil, tem participação relevante. No ensino fundamental e médio, a escola pública, há muitos anos, não consegue convencer a sociedade sobre seu desempenho qualitativo, salvo raríssimas exceções. Talvez a minha geração tenha sido a última a ter freqüentado a boa escola pública de educação básica que o país um dia teve. Há décadas os colégios particulares remuneram melhor os professores e têm instalações mais modernas e atualizadas. No ensino superior existe a questão da insuficiente oferta de vagas públicas, o que fez crescer a participação das entidades particulares, principalmente nos cursos oferecidos no período noturno. Esse crescimento, por representar hoje mais de 70% (setenta por cento) das matrículas do sistema nacional, acabou dando ao segmento privado, uma importância vital para o atendimento da demanda. Existe, também, o fator da empregabilidade. As pesquisas indicam que mais de 75% (setenta e cinco por cento) dos cargos de gerência e de diretoria em empresas paulistas são ocupados por pessoas formadas pela iniciativa particular. É um real indicador da importância do setor para o país.

Consoante tais pensamentos, há um dado que não pode ser ignorado: a

expansão se faz para atender à forte demanda, como atestam os números de

crescimento no setor. Em virtude das mudanças ocorridas nas últimas décadas, o

ensino médio libera um número cada vez maior de jovens que correm atrás da

formação superior.

Se houve um crescimento desenfreado da oferta do setor privado, foi porque

havia, e ainda há uma demanda não atendida. Segundo o pensamento das

entidades de ensino superior privadas, o que existe não é um crescimento

desenfreado da oferta e sim uma demanda latente reprimida e cabe ao governo

incentivar a satisfação dessa demanda, e não restringir seu suprimento pela livre

iniciativa.

Page 124: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

123

Hermes Figueiredo assevera (Revista Ensino Superior – Abr. 2005 – Uma

reforma democrática) que “não se pode criar obstáculos à livre iniciativa e à livre

circulação do conhecimento, sem que se incorra em grave erro”.

É sabido que o ensino superior desempenha um papel central na qualificação

dos cidadãos e das sociedades, contribuindo para o desenvolvimento social,

econômico e cultural na vida ativa e no fortalecimento dos valores éticos.

A demanda pelo aumento da relevância do ensino superior deve seguir

juntamente com a preocupação pelo aumento da qualidade.

Qualidade no ensino superior é um conceito multidimensional, que depende,

em grande parte, do contexto de um determinado sistema e da missão da instituição.

Segundo texto publicado pela Abmes (A Reforma da Educação Superior –

princípios e diretrizes – Ago. 2004):

A oferta dos serviços é maior do que nunca e sua qualidade, antes atestada pelas avaliações oficiais, passa a ser uma exigência da sociedade. O aprendizado permanente, a utilização cada vez mais intensa da tecnologia, os cursos de curta duração e a volta aos bancos escolares de outras gerações constituem alguns elementos que impõe mudanças radicais na estrutura e nas ações institucionais, para permanência no cenário daqueles que consigam um perfeito equilíbrio entre a lógica do gasto eficiente e a qualidade.

O pensamento das instituições de ensino superior privadas é de que a

melhoria da qualidade da educação tem previsão constitucional e é meta a ser

perseguida em todos os níveis, graus e modalidades de ensino, respaldada na

preservação de diversidade como as diferenças regionais, as especificidades de

cada sistema, público e privado, e tipologia das instituições, as peculiaridades dos

projetos pedagógicos, os objetivos dos programas acadêmicos associados às

demandas sociais, científicas e tecnológicas.

A melhoria da qualidade do ensino deve ser movida, ainda, pela necessidade

de avançar em direção ao futuro, acompanhando a evolução do conhecimento

científico e tecnológico e ajustando a formação de recursos humanos à satisfação

das demandas sociais e dos diversos setores da economia.

Page 125: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

124

Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e da

Sociedade (Revista Ensino Superior – Dez. 2004 – Graduação para maioria) ressalta

que:

É certo que os mecanismos de tipo meritocrático terminam por discriminar pessoas com menos recursos e menos oportunidades de acesso a bens materiais e culturais. Mas é certo também que as universidades bem sucedidas no mundo de hoje são aquelas que, bem ou mal, preservam os valores da ciência, são geridas com forte presença de lideranças acadêmicas e culturais, controlam o ingresso de estudantes em seus cursos e são regidas, fundamentalmente, por critérios de qualidade.

De acordo com o mesmo autor, não podemos voltar às costas para um

fenômeno mundial que leva cada vez mais jovens e adultos a buscar educação em

instituições de ensino superior.

Hermes Figueiredo (Revista Ensino Superior – Set. 2005 – Custos e

qualidade do ensino) corrobora com tal pensamento, salientando que:

As instituições privadas têm feito uso sistemático da combinação entre titulação, regime de trabalho e experiência profissional de seus professores, sempre com resultados satisfatórios, quando esses fatores são associados a um alunado capaz de responder a estímulos. Mais importante ainda: tem sido mais fácil combinar titulação, regime de trabalho e experiência profissional do corpo docente do que associar essa composição com turmas uniformes preparadas para corresponder a um equivalente esforço de aprendizagem. Esse é um fator limitante raras vezes considerado pelos críticos do setor privado de ensino superior, pois é muito difícil fazer a crítica do que é atualmente o padrão médio de qualidade dos egressos do ensino fundamental e médio, do ponto de vista educacional, bem como do desemprego e da péssima distribuição de renda que temos no país, do ponto de vista da economia das famílias para arcar com a educação de qualidade oferecida pela rede privada naqueles dois níveis de ensino.

O que a educação superior necessita, tanto a pública quanto a mantida pela

livre iniciativa, é de liberdade de agir, criar, inovar, atender às mudanças rápidas e,

às vezes, radicais, em segmentos sociais e econômicos, especialmente no mercado

de trabalho.

Para que a instituição de nível superior possa responder com a qualidade

necessária aos desafios da inclusão social dos jovens e adultos, cabe ao MEC

supervisionar, para assegurar padrões de qualidade compatíveis com as

necessidades de formação profissional e do desenvolvimento nacional.

Page 126: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

125

Paulo Antônio Gomes Cardim (Revista Ensino Superior – Fev. 2005 – Em

defesa da livre iniciativa), demonstra que se o governo quer contribuir com a

melhoria da qualidade do ensino, na graduação e na pós-graduação, deve encontrar

mecanismos legais e orçamentários para viabilizar o fomento da pesquisa e dos

programas de mestrado e doutorado, com ênfase para as áreas do conhecimento

humano mais importantes para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade.

Este ressalta que, talvez, seja o maior desafio para o ensino superior brasileiro neste

início do terceiro milênio.

4.3.2 A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO

Outro ponto que suscitou discussões acaloradas foi a democratização da

gestão. As diferentes versões do Anteprojeto de Lei do Ensino Superior

incorporaram as sugestões de diversos setores da sociedade, evoluindo com o

decorrer das mesmas no sentido de modernização e melhoria dos níveis das

propostas, mas guardou ainda alguns pontos controvertidos. Entre eles, incluem-se

os chamados conselhos sociais, agora com a função “consultiva”, e a eleição de

ouvidores para atuar nas instituições, conforme Artigo 5° da terceira versão do

Anteprojeto de Reforma Universitária.

A figura do ouvidor, “eleito diretamente pelos segmentos da comunidade

institucional”, com estabilidade assegurada pelo mesmo tempo de duração do

mandato, representa uma interferência na gestão acadêmico-administrativa das

instituições mantidas pela livre iniciativa, na opinião de representantes do setor.

De acordo com Carlos Taquari (Revista Ensino Superior – Abr. 2005 – Em

defesa do mérito),

A criação de conselhos comunitários também não parece ser um mecanismo institucional adequado para estimular a maior inserção da sociedade na universidade, podendo ser criada uma instância de poder afastada das melhores tradições acadêmicas. Nos termos em que se encontra, essa proposta pode vir a prejudicar os critérios de mérito a favor do assistencialismo.

Page 127: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

126

Consoante tal pensamento, Ives Granda Martins (Revista Ensino Superior –

Abr. 2005 – A degradação do ensino) esclarece:

Pior do que isso. Com o projeto de Lei de Diretrizes e Bases, que pretende apresentar ao Legislativo, retira, por inteiro, a autonomia das escolas superiores, garantida pelo Artigo 207 da Constituição Federal, substituindo o “mérito acadêmico” pelo “patrulhamento governamental” e a “liberdade de ensino” pelas “preferências ideológicas dos ocupantes do poder”. Isso porque, nos Conselhos Consultivos – que, no Anteprojeto, são bem mais do que meros Conselhos de opinião -, haverá uma menor participação das mantenedoras (únicos responsáveis pelo estabelecimento e capazes de assegurar a sua autonomia).

Ao estabelecer que “o ensino é livre à iniciativa privada”, a Constituição

Federal condiciona este exercício a duas exigências: o cumprimento das normas

gerais da educação nacional e a autorização e a avaliação de qualidade pelo Poder

Público. Nos dois casos, assume-se que elas são precedidas por um processo

fundamentado na “avaliação pelo Poder Público”.

A pretensão de introduzir novos critérios fora deste contexto representa o

estabelecimento de condições não permitidas pela Constituição Federal.

É preciso ressaltar que o MEC já desenvolve os elementos necessários e

suficientes para a avaliação e a regulação do Sistema educacional. A Secretaria de

Ensino Superior (SESu) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio

Teixeira (Inep) já dispõe, dentre outros dos seguintes órgãos e procedimentos: O

Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), Exame Nacional de

Estudantes (Enade), Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), auto-avaliação,

análise de Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), exame das condições

fiscais e parafiscais, verificação das condições de ensino (realizada in loco por

comissões de especialistas), censo educacional, procedimentos para autorização,

credenciamento, reconhecimento e renovação de cursos e instituições. Estes são

instrumentos e procedimentos conhecidos, analisados e aprovados pelo Conselho

Nacional de Educação (CNE).

Finalmente, deve ser dito, que o sistema privado de educação superior paga

ao MEC para que ele exerça a sua função constitucional de acompanhamento da

educação superior, segundo Hermes Figueiredo, presidente do Semesp e membro

do grupo Executivo do Fórum Nacional da Livre Iniciativa na Educação (Revista

Ensino Superior – Mar. 2005 – Mudanças por etapas).

Page 128: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

127

De acordo com a revista Veja (26/01/2005 – pg. 46-57):

A reforma propõe mudanças que ao inibir a iniciativa privada, eliminarão milhares de vagas. O projeto asfixia as instituições particulares, submetendo-as ao “controle da sociedade” – que já se tornou o eufemismo preferido do petismo para expressar sua desconfiança para com a atividade empresarial e com o capitalismo. Ou seja, em vez de incentivar a criação de mais vagas nas universidades e cuidar para que ela seja de boa qualidade, com inspeção rigorosa e incentivos ao mérito e punições severas às arapucas, o projeto simplesmente dá vazão a sua ideologia antinegócio e procura afogar as instituições privadas em regras e proibições. Obviamente, o trabalho diuturno de fiscalizar é árduo, incógnito e não tem nenhum charme revolucionário. Atraente mesmo é promover com alarde a intervenção branca nas instituições privadas de ensino superior em nome dos excluídos, entregando o seu controle à “representantes da comunidade.

A Constituição Federal fala em gestão democrática, mas o Anteprojeto impõe

uma gestão democrática colegiada.

Ali Kamel, (Jornal O Globo, 25.01.2005 – A Constituição, segundo Tarso)

ressalta de forma didática tal pensamento:

A gestão pode ser democrática, sem eleição direta e sem ser colegiada. O Presidente da República é eleito por voto direto, mas não governa de maneira colegiada: indica pessoalmente seus ministros que podem ou não ser ouvidos para tomada de decisões. Por que obrigar as universidades a ter uma gestão colegiada? Por que impor eleições diretas com voto de funcionário administrativo e aluno? No caso das federais, deixar o presidente escolher entre os que constem de uma lista sêxtupla ou tríplice é pratica absolutamente democrática, já que o presidente foi escolhido pelo povo. No caso das privadas, a forma de administrá-las deve ser a que a mantenedora achar conveniente.

O Brasil é um país de, aproximadamente, quarenta profissões

regulamentadas, dada a quantidade de Conselhos de ordem profissional existentes,

e esse aspecto da conjuntura nacional relaciona-se diretamente às instituições de

ensino superior.

Há uma nuance que complica esta questão: a dos critérios de necessidade

social que o MEC vem tentando estabelecer no país.

Corroborando com tal pensamento, o ex-Ministro da Educação, Paulo Renato

(Jornal O Estado de São Paulo – 23.01.2005 – Na contramão da história) assevera:

A criação de cursos superiores passa a ser subordinada ao chamado “interesse social”, conceito vago a ser arbitrado por burocratas do ministério,

Page 129: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

128

abrindo as portas para ações subjetivas marcadas por conveniências políticas. Isso já foi amplamente praticado durante o regime militar. As reservas de mercado que foram então criadas induziram o sistema à mediocridade e à falta de qualidade. Ao eliminarmos esse resquício autoritário no governo passado, abrimos as portas para a expansão do sistema e substancial melhoria em todos os indicadores de qualidade acadêmica.

O problema da proposta é que a imposição de limites à iniciativa privada não

vai proporcionar aumento de vagas nem facilidade no acesso ao ensino. Se for

colocada em prática na íntegra, poderá eliminar milhares de vagas, conforme

salientado anteriormente.

De acordo com o Anteprojeto, as universidade só poderão implementar novos

cursos para atender “a necessidade social do país”, uma definição que precisa, e

muito, ser aprofundada, além de conferir à corporações profissionais o poder de

impedir a criação de novos cursos.

Consoante tal pensamento, Gabriel Mário Rodrigues, presidente do Semesp

(Revista Ensino Superior – Out. 2004 – Para que e para quem a reforma

universitária) esclarece:

O maior problema da iniciativa privada é a crescente asfixiante subordinação aos controles e trâmites burocráticos que, na maioria das vezes, induzem o abortamento ou o retardamento de projetos institucionais, quando o mercado exige celeridade máxima. Inúmeras ações do governo demonstram a implicância contra a ação privada, seja pelas contradições nos depoimentos pela mídia ou pelas ações regulatórias que só infernizam o setor por meio de esdrúxulas normas inibidoras.

Na avaliação de Lauro Zimmer (Revista Ensino Superior – Out. 2004 – Para

vencer os desafios), “a proibição por portaria ministerial, da criação de cursos de

graduação, da ressurreição do critério de necessidade para abertura de novos

cursos e credenciamento de novas instituições, a forte influência de corporações

como a OAB, CFM e outras, deixa cada vez mais distante o alcance das metas do

Plano Nacional de Educação”.

A proposta do governo, quando ressalta a necessidade social, ampara-se na

concepção de que esta necessidade é nacional, especialmente com vista à redução

de desigualdades sociais e regionais e ao incentivo do desenvolvimento sustentável,

em termos ambientais e econômicos.

Page 130: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

129

Maria Helena de Castro (Jornal O Estado de São Paulo – 23.01.2005 – Para

especialista, projeto vai cria o neocorporativismo) indaga: “quem define que há

necessidade social? Pelo projeto serão as corporações profissionais. Ou seja,

estamos inaugurando, com o projeto do MEC, um neocorporativismo, que o Brasil

está inventando para definir o que é demanda social”.

Seguindo este mesmo pensamento, Milton Linhares (Revista Ensino Superior

– Out. 2004 – Ensino exige novo desenho) sustenta que:

Acho temerário. Quem vai decidir se uma cidade precisa ou não de mais um curso superior? Como ponderar se os já existentes atendem ou não satisfatoriamente a demanda? Penso que o critério da qualidade é insubstituível. Se a proposta para um novo curso for bem avaliada, é bom que seja autorizado, mesmo que seja num município onde já existam cursos idênticos. Um bom novo curso pode provocar os antigos a se reciclarem.

Magno de Aguiar Maranhão (Revista Ensino Superior – Out. 2004 – O

controle do ensino superior) apresenta outro exemplo interessante:

O MEC deve-nos uma explicação por também vincular a autorização às “reais necessidades” da região. Necessidade de quê? De profissionais x ou y? Vejamos o caso da saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) não fixa a proporção ideal de médicos por habitantes, mas estima-se que um por mil seja o mínimo. Então, deveríamos abrir escolas de medicina em todo o Norte e Nordeste, com urgência em estados como Rondônia (0,43 médico/mil habitantes) ou Maranhão (0,38 médico/mil habitantes). Quem garante, porém, que os recém-formados não partiram de lá, em busca de melhores oportunidades? Ou o governo planeja instalar novos hospitais nesses locais, estimulando a permanência dos profissionais? Pois essa seria a melhor maneira de contemplar as “reais necessidades sociais”.

Democratizar a autorização de funcionamento para novos cursos no ensino

de terceiro grau, promovendo mais agilidade na abertura de novas instituições,

reduzir os custos e incentivar a proliferação de ofertas onde existe demanda, eis

alguns dos pensamentos do Sistema Privado de Educação Superior.

4.3.3 A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO

Alguns dos pontos abordados pela Reforma Universitária já estão colocados

em prática em diversas instituições sem as amarras de um projeto polêmico,

Page 131: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

130

conforme apresentado pelo Ministério da Educação. É o caso da discussão das

cotas.

O Anteprojeto prevê que as universidades federais reservem, em cada

processo seletivo, pelo menos metade das vagas a alunos oriundos de escolas

públicas. As vagas seriam divididas entre negros, pardos e indígenas, na proporção

da sua presença naquela unidade federativa, consoante os dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com Cyro Queiroz Fiúza (Revista Ensino Superior – Abr. 2005 –

Choque com a realidade), “os dados mostram, por exemplo, que há um número

significativo de egressos de escolas públicas nas universidades federais, ao

contrário do que afirmam os defensores das cotas”.

O autor ressalta que foram avaliadas informações por amostragem

perfazendo um total de 33.958 alunos matriculados no segundo semestre de 2003 e

no primeiro semestre de 2004 em quarenta e sete instituições federais. Ana Maria

Nogales (Revista Ensino Superior – Abr. 2005 – Choque com a realidade),

professora de estatística da Universidade de Brasília (UnB) avaliou os números e

questionou o mito de que apenas alunos ricos conseguem estudar em universidades

gratuitas, pois 84,5% (oitenta e quatro vírgula cinco por cento) deles, têm renda

familiar de até R$2.804,00; 60% (sessenta por cento) dependem de transporte

público para chegar à instituição e apenas 19,7% (dezenove vírgula sete por cento)

utilizam veículo próprio para chegar aos locais de estudo.

A pesquisa (Revista Ensino Superior – Abr. 2005 – Choque com a realidade)

ainda mostrou de 65% (sessenta e cinco por cento) dos estudantes são de família

com renda mensal entre R$207,00 e R$1.600,00, sendo que 42,8% (quarenta e dois

vírgula oito por cento) têm renda familiar de até R$927,00. Ainda segundo a

pesquisa 46,2% (quarenta e seis vírgula dois por cento) dos estudantes

entrevistados chegaram à universidade depois de passar pelo ensino médio na rede

pública, incluindo-se neste percentual os que fizeram todo o período nestas escolas

ou apenas parcialmente.

De acordo com a revista Veja (26.01.05 – pgs. 46 – 57):

Page 132: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

131

A inclusão do regime de cotas nas universidades públicas prevista no projeto do MEC é igualmente uma jogada para a platéia. O governo quer reservar 50% (cinqüenta por cento) das vagas nessas instituições a alunos vindos de escolas públicas, negros e indígenas. Da maneira como foi apresentada, a proposta pode até abrir espaço na universidade para pessoas que de outra maneira não conseguiram cursar o ensino superior. A experiência mundial em iniciativas deste tipo, porém, mostra que o mais lógico – mas, de novo, o mais difícil, complexo, anônimo e politicamente neutro e, por isso, pouco atraente para a militância – é universalizar o ensino básico e secundário gratuito de modo a dar chances iguais a quem quer tentar a aventura intelectual de cursar uma universidade de alto nível.

Este é um tópico que vem sendo discutido com exaustão. Na ótica da

sociedade civil, em especial, das instituições privadas, uma política efetiva de

inclusão deveria se dar pela melhoria do ensino básico e não, simplesmente, por

facilitar o acesso à universidade de pessoas que, por uma ou outra razão, não

conseguem ser classificadas nos exames vestibulares.

Consoante tal pensamento, o consultor educacional Leão Lobo (Jornal O

Estado de São Paulo – 23.01.2005) assinala:

Num país onde um aluno universitário custa dez vezes mais que o ensino básico (a média do exterior é três vezes mais) a apresentação de um documento ignora a importância de uma boa gestão e denuncia, na verdade, uma estratégia política. O governo, no Brasil, abandona o ensino fundamental para investir no superior. É começar a casa pelo telhado. E por quê? Porque é no ensino superior que esta a pressão política organizada - o ensino médio não existe politicamente. A universidade é o segmento mais loquaz, mais visível. Essa atitude de ceder ao político e adiar o estratégico gera tais deformações.

Seguindo este mesmo pensamento, o ex-Ministro da Educação, Cristovam

Buarque (Jornal Valor Econômico - 20.01.2005) ressalta “que é favorável às cotas,

mas acha que elas devem ser mecanismos temporários e não constar de um projeto

para durar décadas. As cotas devem ser usadas até que o ensino fundamental

melhore de qualidade e permita o acesso indiscriminado”.

Gabriel Mário Rodrigues, Presidente da Associação das Mantenedoras de

Ensino Superior (Abmes) (Revista do Ensino Superior – Abr. 2005 – Começar pelo

básico), evidencia que “tudo começa pelo básico. Não se pode pensar em reforma

sem pensar em um ensino básico de qualidade para todos”.

Page 133: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

132

Ali Kamel, (Jornal O Globo – 11.01.2005) assevera que “o Anteprojeto torna

obrigatório à adoção de políticas de ação afirmativas e põe um fim à meritocracia.

Cria um programa de monitores, mas determina que os escolhidos não serão os

melhores, mas os melhores entre os mais pobres”.

A preocupação com medidas de ações afirmativas é um ponto extremamente

positivo. A sociedade civil entende que não há uma única solução para resolver tal

conflito, pois desta forma não há espaço para a experimentação e a diversidade.

De acordo com Rogério L. Furquim Werneck (Jornal O Estado de São Paulo –

28.01.2005), “a presunção de que todo aluno de escola pública é pobre e todo aluno

da escola privada é rico, é primitiva e infundada”.

Há outras formas de fazermos a inclusão social sem depreciar a qualidade do

ensino e do mérito acadêmico. A Unicamp começou a fazê-lo em 2005 mediante um

programa de ação afirmativa que não deixa de levar em conta a qualificação do

estudante. José Tadeu Jorge, reitor da Unicamp (Jornal O Estado de São Paulo –

04.07.2005 – Reforma universitária e inclusão social) esclarece,

O programa da Unicamp, cujo princípio o governo paulista acaba de aplicar em seu sistema de faculdades tecnológicas, as Fatecs, consiste em atribuir um bônus de 30 pontos – numa média de 540 – ao vestibulando que tenha cursado todo o ensino médio em escola pública, e um bônus extra de 10 pontos aos candidatos autodeclarados negros ou indígenas que igualmente tenham vindo de escola pública.

O reitor enaltece que este bônus funciona como um critério de desempate,

favorecendo o aluno da escola pública, num quadro de desempenhos equivalentes,

mas cujas condições originárias apresentam-se desiguais.

O professor ainda ressalta que “encontrar formas apropriadas de realizar a

inclusão social começa pela compreensão histórica das diferenças, mas pode ser

também uma questão de método e de congruência”.

Há que se levar em consideração outro ponto: ao colocarmos em uma mesma

sala estudantes aprovados com as melhores notas e alunos beneficiados pelas

cotas, serão criadas condições para uma perigosa tensão que pode levar a um

conflito no meio discente, independente da capacidade destes para acompanhar o

curso.

Page 134: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

133

Para que estes alunos pobres que estão tendo uma série de incentivos para

que entrem no ensino superior possam manter-se nas instituições durante os seus

estudos, outro questionamento precisa ser melhor esclarecido: o financiamento.

Gustavo Petta, Presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) (Jornal

Correio Braziliense – 25.01.2005) ressalta que “a UNE defende a criação de um

Plano Nacional de Assistência Estudantil, com garantia de recursos especificados no

orçamento das universidades federais”.

A entidade também solicita a regulação e garantia de recurso para ampliação

de moradias universitárias no sentido de vincular a democratização do acesso às

condições de permanência.

Consoante tal pensamento, Hermes Figueiredo (Revista Ensino Superior –

Abr. 2005 – Uma reforma democrática) sustenta que:

O Anteprojeto não trata de forma clara do financiamento de estudos de alunos carentes e das demais formas de apoio aos estudantes. É preciso abrir novos caminhos e de alguma forma articular políticas de apoio ao estudante economicamente carente com uma maior liberdade para estabelecimento de preços, com respeito à relação entre custos e qualidade de ensino.

Seguindo este mesmo pensamento, Roberto Cláudio Frota Bezerra (Revista

Ensino Superior – Nov. 2004 – Os desafios da inclusão) esclarece que a proposta

atual de promover a expansão com qualidade esbarra na exaustão do modelo atual

se as condições econômicas do setor continuarem as mesmas. “Não vejo

possibilidade de se pensar em política afirmativa e em política de inclusão social

sem se pensar na base do financiamento, tanto estudantil quanto institucional. Do

setor público, observa-se uma incapacidade de responder a qualquer pressão por

expansão, tendo em vista toda a base do financiamento”.

Importante ressaltar que a defesa do processo de democratização da

educação superior e da inclusão social, foram promovidas, na prática, pelas

instituições particulares.

Hermes Figueiredo (Revista Ensino Superior – Mar. 2005) questiona “onde

estariam hoje os milhões de estudantes que ingressaram, obtiveram a sua formação

e os seus diplomas em instituições particulares de ensino privado?”. A grande

Page 135: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

134

reclamação das instituições privadas é a de que o governo federal enaltece

programas como, por exemplo, o Programa Universidade para Todos (ProUni), sem

ressaltar que o mesmo jamais teria saído do papel sem não fosse pelo setor privado,

hoje, o grande responsável por 80% (oitenta por cento) das matriculas no ensino

superior, conforme ressaltado anteriormente.

Seguindo tal raciocínio, o texto Propostas do Fórum Nacional da Livre

Iniciativa na Educação assevera que:

Investindo maciçamente e oferecendo cada vez mais aperfeiçoados, o setor privado é parceiro fundamental para a oferta de educação superior no país. Prova disso é que, para promover a expansão das vagas por meio do ProUNi, o MEC recorreu ao setor, que mais uma vez demonstrou maturidade, equilíbrio e espírito público, respondendo ao chamado do governo.

O Programa Universidade para Todos prevê a concessão de bolsas integrais

para alunos com renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo e bolsa parciais

para famílias com renda per capita que não exceda a 3 salários mínimos, ou seja R$

525,00 e R$1.050,00 respectivamente. A preferência para bolsa do ProUni é para os

alunos que fizeram todo o ensino médio em escolas públicas, bem como para os

professores da rede pública que tenham interesse em cursar as licenciaturas ou

pedagogia.

Pela Constituição Federal, as instituições filantrópicas já estão isentas de 50%

(cinqüenta por cento) do pagamento de impostos federais em troca de oferecer 20%

(vinte por cento) de sua receita em gratuidade, este seguimento do setor privado

hoje, representa 50% (cinqüenta por cento).

Com o ProUNi estas instituições devem ampliar anualmente 20% (vinte por

cento) da sua receita bruta em bolsas de estudo e assistência social em programas

extracurriculares. As instituições sem fins lucrativos podem optar por aderir ou não

ao programa. As que aderirem disponibilizarão 10% (dez por cento) de suas vagas

em bolsas de estudo e ficam isentas do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, da

Contribuição Social sobre Lucro Líquido, do PIS e COFINS.

Page 136: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

135

Nem todo o setor privado despendeu apoio ao projeto. O advogado Sérgio

Roberto Back (Revista Ensino Superior – Out. 2004 – Escolas apóiam MEC no

ProUni) afirma que:

Atualmente, os recursos são recolhidos da quota patronal ficam com a própria instituição educacional, como compromisso desta de prestar serviços assistenciais à comunidade. Com isso, a população recebe atendimento especial em áreas nas quais o setor público ainda não conseguiu solucionar as carências. A intenção do governo é obrigar as instituições filantrópicas a aderirem ao programa deixando a condição de isentas e, dessa forma, passarem a recolher a contribuição social (quota patronal). Isso pode resultar na redução substancial de atendimento à pessoas carentes, já que o dinheiro que seria destinado à assistência social teria que ser redirecionado para o pagamento de tributos.

O autor ainda adverte “que o ensino pode sofrer grandes perdas se o

conteúdo da medida provisória não sofrer importantes alterações”.

Page 137: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

136

CONSIDERAÇÕES

O objetivo global deste estudo foi analisar o debate em torno da elaboração

de uma política pública, no caso, uma política pública educacional (referente ao

ensino superior). O que este debate nos revela em torno dos conteúdos e das

ideologias de fundo foram as questões norteadoras deste estudo.

Para compreender este processo, fizemos não apenas o resgate histórico da

evolução do ensino superior no Brasil e em Santa Catarina (trabalho comum em

trabalhos sobre educação), mas também analisamos a bibliografia disponível que

trata das políticas educacionais de ensino superior dos últimos dois governos (FHC

e Lula). Fizemos tal análise sempre levando em consideração o caráter ideológico

destes governos, fortemente “neoliberal” no caso do primeiro, e bastante

contraditório no caso do segundo (neoliberal ou socialista?).

Na parte empírica do trabalho, descrevemos as três versões do Anteprojeto

de Reforma Universitária apresentadas pelo Ministério da Educação, evidenciando

as mudanças ocorridas no processo. E, finalmente, na parte final, identificamos os

argumentos mobilizados pelos atores sociais para posicionar-se diante do projeto,

seja na defesa e promoção do mesmo (tarefa do governo), seja na crítica ou na

afirmação de interesses (tarefa dos setores ligados ao ensino privado).

Sob o aspecto do “conteúdo” do debate, os temas mobilizadores da discussão

foram: 1) mercantilização da ação, 2) democratização da gestão e, 3)

democratização do acesso.

Para o governo Lula, o ensino não é mercadoria, é um bem público. Este

ressalta que a educação é um dever do Estado e não comporta a relação de

consumo, pois retira do Estado a definição e gestão das políticas educacionais.

Outro aspecto que suscitou contínuos debates foi a democratização da gestão, cujo

pensamento é o de incluir a participação da comunidade em um conselho

denominado Conselho Social de Desenvolvimento, órgão consultivo incumbido de

apresentar à instituição as demandas de diversos setores da comunidade para

debater as suas finalidades e ações.

Page 138: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

137

Ainda na visão do governo atual, há a previsão para as novas universidades

federais (que venham a ser criadas após a aprovação da Reforma) a reserva de

50% (cinqüenta por cento) das vagas de todos os cursos de graduação para os

alunos que tenham cursado o ensino médio em escola pública e uma subcota que

deverá ser preenchida por negros e índios, proporcionalmente ao seu Estado.

Na ótica da sociedade civil, a Constituição Federal não deixa margem de

dúvidas ao elencar que o ensino é livre à iniciativa privada. A sociedade civil (setor

privado) assevera que a expansão se deu para suprir a demanda não satisfeita pelo

setor público e esclarece que desempenha um papel primordial na qualificação da

sociedade. Outra questão divergente foi a democratização da gestão. Na opinião de

representantes do setor, esta cria uma interferência na gestão acadêmica e

administrativa das instituições privadas, pois as submete ao controle da sociedade e

à imposição de limites para a implementação de novos cursos sob a égide da

“necessidade social”. A questão das cotas evidenciou novas discussões. A

sociedade civil entende que uma política efetiva de inclusão deveria contemplar o

ensino fundamental e não utilizar mecanismos facilitadores de acesso à

universidade para pessoas que, por uma razão ou outra, não conseguem ser

classificadas nos exames vestibulares.

Porém, mais do que identificar o conteúdo do debate, importa agora

esclarecer o “padrão ideológico”, ou seja, as visões de mundo e os interesses que

permearam o debate.

A primeira observação que cabe fazer é que o rumo do debate foi dado pelo

governo. Foi ele que construiu a agenda temática (e os pressupostos ideológicos)

em torno da Reforma. Na verdade, a sociedade civil (setores empresariais e

educacionais) não criou uma agenda alternativa. Apenas limitou-se a responder aos

argumentos do governo sobre a mercantilização e democratização (da gestão e do

acesso).

A segunda observação é que o Anteprojeto de Reforma Universitária do

governo Lula revela que este governo não é amorfo do ponto de vista ideológico

(pode até ser contraditório, mas ele possui um padrão ideológico). No caso da

proposta de Reforma Universitária ficam claros os pressupostos ideológicos de

esquerda que guiam sua visão da educação. Duas idéias ficam claras. A primeira é

uma visão negativa sobre o mercado e o capitalismo consubstanciada na crítica ao

Page 139: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

138

caráter “mercantilista” do ensino privado. A concepção do governo é claramente

socialista, na medida em que advoga a idéia de que ensino é uma questão pública.

A segunda idéia está ligada à democratização, seja ela política ou social. Consoante

sua visão democratizante (democracia direta ou participativa), o governo defende a

participação social na gestão (entidades de sociedade civil) e, de acordo com sua

visão igualitarista, defende que a universidade seja aberta para os “carentes” e os

“segmentos marginalizados” (alunos de escola pública, negros, índios, etc.).

Portanto, fica claro que o Anteprojeto de Reforma Universitária mostra que o

Ministério da Educação é um dos setores mais fortemente “ideológicos” do governo

Lula. Se o mesmo não se pode dizer da área econômica, o fato é que a política de

ensino superior proposta revela pressupostos políticos explícitos.

Do lado da sociedade civil (especialmente dos setores ligados ao ensino

privado) surpreende o fato de que a reação não foi contra-ideológica. Ao invés da

proclamação da propriedade privada, do capitalismo e da defesa do mercado, o que

se viu foi uma reação pragmática. O padrão pragmático dos setores privados

mobilizou argumentos empíricos e práticos para contrapor-se ao governo. No caso

da mercantilização, alegando que o governo não consegue atender a demanda, no

caso da gestão democrática fatores de ordem legal e no caso da democratização do

acesso defendendo a idéia de que o problema não é de acesso, mas de incentivo

para a manutenção. É como se os setores empresariais tivessem escolhido jogar no

terreno do governo, mas com argumentos práticos.

Portanto, do ponto de vista do padrão ideológico, o governo orientou-se

claramente por uma visão de esquerda (fortemente socialista), enquanto os setores

privados mantiveram uma atitude pragmática.

Além destas questões centrais, é importante destacar também alguns

aspectos particulares, referentes ao conteúdo da proposta.

No decorrer deste estudo, verificou-se que o governo Luiz Inácio Lula da Silva

segue um caminho distinto, pelo menos no que tange à Educação, de seu

antecessor, o ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso.

A opção pela iniciativa privada que se expandiu fortemente nos oito anos do

governo de Fernando Henrique Cardoso é uma opção ideológica daquele governo,

Page 140: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

139

como bem se apresentou a concepção ideológica do Presidente Lula pela

universidade pública.

O atual governo acredita que a expansão do setor educacional privado

compromete a educação de qualidade. Dessa forma, pretende expandir até 2010 o

porcentual de matrículas do ensino superior em 40% (quarenta por cento),

ampliando assim a participação do ensino público.

O objetivo principal do governo Lula com a Reforma Universitária é ampliar o

acesso de cidadãos à universidade pública, em especial em regiões que careçam de

escolas superiores, interiorizando as ofertas e desregulamentando o que o governo

entende como mercantilização do ensino, que retirou do Estado o protagonismo das

políticas públicas educacionais nos últimos anos. Um outro objetivo fortemente

apresentado foi a questão da qualidade.

O ensino privado deu a sua resposta concordando com o governo atual na

preocupação com a qualidade do ensino e assegurou que não é o ensino privado,

por si só, que não possui qualidade, e reiterou ao governo uma maior fiscalização

em todos os níveis de ensino, pois assegura que se quisermos qualidade no ensino

superior, as mudanças devem focalizar os ensinos médio e fundamental,

começando com uma boa base.

No decorrer destes vários meses de debates, muitos foram os pontos que

receberam críticas e sugestões da sociedade, entre os pontos mais conflitantes

destacam-se: a criação do Conselho Comunitário Social, que propunha ser

organizado dentro das universidades e seria formado por representantes da

sociedade civil, da própria instituição e da administração pública, para supervisionar

as atividades da entidade.

Outro ponto que suscitou muitas críticas foi a reserva de cotas (50% -

cinqüenta por cento), em universidades federais para alunos da rede pública, com

proporção mínima para negros, pardos, indígenas, na proporção da população de

cada estado. Um terceiro item foi a questão da eleição do reitor e do vice-reitor nas

instituições federais. A eleição deveria ocorrer na comunidade universitária, já as

universidades e os centros universitários privados deveriam contar com pelo menos

um dirigente, no nível de pró-reitor, eleito diretamente pela comunidade.

Page 141: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

140

Também houve uma forte discussão acerca do ensino básico versus ensino

superior, especificamente, no aumento de verba para o ensino superior, pois desta

forma, havia o temor de que a verba destinada para os outros níveis de ensino

diminuísse.

Acatando sugestões de várias entidades, o Ministério manteve a previsão de

cotas para alunos de escolas públicas e afrodescendentes nas federais, mas excluiu

o porcentual de reserva, previsto na primeira versão. Houve alteração também no

artigo que tratava dos Conselhos Comunitários Sociais, passando estes a serem

apenas de caráter consultivo.

A exclusão da necessidade de eleição direta para reitor pela comunidade e de

pelo menos um dirigente das universidades e centros universitários particulares, foi

outro ponto alterado. No entanto, foi acrescentada a existência de ouvidoria nas

instituições, cargo a ser ocupado por professor ou técnico com mandato e eleito

diretamente. No caso das federais, ficou mantida a eleição direta do reitor e do vice-

reitor, de acordo com o estatuto de cada universidade.

Entendemos que os avanços foram positivos nas modificações da primeira

versão para a segunda e, consequentemente, para a terceira, pois ambas são muito

parecidas, tornando-a mais clara, objetiva e congruente. Mas ainda percebe-se uma

forte pressão sobre a livre iniciativa na educação superior, especialmente no que

tange às declarações dos integrantes do governo.

Ao longo deste estudo percebeu-se que a expansão do Ensino Superior,

particularmente, o Ensino Superior Privado, deu-se para atender à forte demanda,

como atestaram os números de crescimento do setor.

O ensino médio libera um número cada vez maior de jovens em busca da

graduação a cada ano. Contando com aproximadamente 70% (setenta por cento)

das matrículas, o bom desenvolvimento do setor educacional privado depende da

manutenção da qualidade. O Brasil configura em sétimo lugar entre as nações do

mundo com maior número de instituições de ensino privadas.

A princípio, o Anteprojeto de Reforma Universitária foi veementemente

contrário às Instituições de Ensino Superiores Privadas. As discussões (seminários,

painéis, mesas redondas) envolvendo inúmeras entidades acadêmicas, científicas e

da sociedade civil organizada estimularam o debate e enriqueceram a elaboração

Page 142: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

141

das versões subseqüentes. A discussão acerca do Anteprojeto foi tema de

programas de TV, de um fórum criado pelo MEC, debates em sala de aula, canal

direto de comunicação entre o Ministério da Educação e a sociedade, o Fala Brasil,

e até em comunidades do Orkut. Da primeira versão para a segunda, houve

mudanças significativas, mas da segunda versão para a terceira, poucas foram as

alterações.

As duas Reformas da Educação anteriores, a de 1931, Reforma esta

assinada por Francisco Campos e a de 1968, pelo então Ministro da Educação,

Tarso Dutra, foram postas à sociedade “goela abaixo”, portanto, a possibilidade de

discussões acerca do tema, em suas três versões, foi um caminho inédito trilhado

pela sociedade brasileira, pois foi trazida para a agenda de prioridades de um

governo federal após várias décadas.

Por fim, há que se ressaltar que a autora embasou suas idéias em jornais,

revistas, sites, etc. O trabalho de coleta de todo o material foi árduo e, por vezes,

dificultoso, bem como demorado, pois o período proposto para a pesquisa permeou

as discussões acerca dos três Anteprojetos.

Page 143: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

142

REFERÊNCIAS

ABMES. Políticas públicas de educação superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. ABMES. A Reforma da Educação Superior – princípios e diretrizes. Brasília. 13 ago., 2004. ALMEIDA, Cleide Rita Silvério de. O Brasão e o logotipo – Um estudo das novas universidades na cidade de São Paulo. Petrópolis - R.J.; Vozes, 2001. ALMEIDA FILHO, Naomar Monteiro de. Cotistas obtêm nota em 37 dos 61 cursos de graduação da UFBA. Jornal Folha de São Paulo. Caderno Cotidiano. São Paulo: 12 mar., 2005. A Segunda Versão do Anteprojeto da Reforma Universitária. Jornal Folha de São Paulo. 05 de jun. de 2005. AZEVEDO, Janete Maria Lins de. O estado, a política educacional e a regulação do setor educação no Brasil: uma abordagem histórica. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto; AGUIAR, Márcia Ângela da S. Gestão da educação – impasses, perspectivas e compromissos. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2001, p. 17-40. BACK, Sérgio Roberto. Escolas apóiam MEC no ProUni. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 73, p. 22-25, out. 2004. BALDUÍNO, Gustavo; DUARTE FILHO, Oswaldo Baptista. Uma discussão necessária. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, 24 de fev., 2005. BEZERRA, Roberto Cláudio Frota. Os desafios da inclusão. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 74, p. 34-35, nov. 2004. BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. 9. ed. Brasília: UnB, 1997. BORNHAUSEN, Jorge. Novos caminhos para o ensino. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 74, p. 28-32, nov. 2004. BUARQUE, Cristovam. A Refundação da Universidade. Série Grandes Depoimentos. Brasília: Abmes Editora. 2005. __________________. Reforma injetaria R$1 bi em universidades. Jornal Valor Econômico. São Paulo, 20 jan., 2005. p. A-10. BRASIL, Anteprojeto da Lei de Educação Superior – Primeira Versão. 06 de dezembro de 2004. BRASIL, Anteprojeto da Lei de Educação Superior – Segunda Versão. 30 de maio de 2005.

Page 144: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

143

BRASIL, Anteprojeto da Lei de Educação Superior – Terceira Versão. 29 de julho de 2005. BRASIL, Constituição do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, Assembléia Legislativa/ IOESC, 1989. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 1997. BRASIL. Decreto-Lei n° 2.207, de 15 de abril de 1997. Regulamenta, para o sistema Federal de Ensino as disposições contidas nos arts. 19, 20, 45, 46 e § 1º, 52, parágrafo único, 54 e 88 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996 e dá outras providências. BRASIL. Decreto-Lei n° 19.851, de 11 de abril de 1931. Define o estatuto da universidade brasileira. BRASIL. Decreto-Lei nº. 64.824, de 15 de julho de 1969. Regulamenta a atual estrutura didática e administrativa da universidade. BRASIL. Lei nº. 180, de 16 de julho de 1999. Constituição Estadual de Santa Catarina. Regulamenta o Artigo 170, e os Artigos 46 a 49 do ADCT e dispõe sobre a assistência financeira aos estudantes de graduação das Instituições de Ensino Superior de Santa Catarina. BRASIL. Lei nº. 2.664, de 20 de janeiro de 1961. Estabelece a doação da ex-fazenda modelo “Assis Brasil” para a construção do campus da Universidade de Santa Catarina. BRASIL. Lei nº. 3.849, de 18 de dezembro de 1960. Cria a Universidade de Santa Catarina. BRASIL. Lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. BRASIL. Lei nº. 5.540, de 28 de novembro 1968. Estabelece as normas de organização e funcionamento do ensino superior. BRASIL. Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de primeiro e segundo graus, e dá outras providências. BRASIL. Lei nº. 8.436, de 25 de junho de 1992. Institui o crédito educativo para estudantes carentes de cursos superiores. BRASIL. Lei nº. 9.131, de 24 de novembro de 1995. Altera dispositivos da Lei nº. 4.024/61, e da dá outras providências. BRASIL. Lei nº. 9.394, de 17 de dezembro de 1996. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Page 145: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

144

BRASIL. Lei nº. 10.861, de 14 de abril de 2004. Instituí a Comissão Especial de Avaliação que elaborou a proposta do novo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. BRUNNER, José J. Montando o cenário da universidade-univercidade. In: ALMEIDA, Cleide Rita Silvério de. O Brasão e o logotipo – Um estudo das novas universidades na cidade de São Paulo. Petrópolis - R.J.; Vozes, 2001, p. 33- 48. CANUTO. Ensino Superior no Brasil, da proclamação da República à promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. In: HAWERROTH, Jolmar Luís. A Expansão do Ensino Superior nas Universidades no Sistema Fundacional Catarinense. Florianópolis: Insular, 1999. CARDIM, Paulo Antônio Gomes. Em defesa da livre iniciativa. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 77, p. 28-31, fev. 2005. Cartilha da Reforma da Educação Superior. Ministério da Educação. Brasília: Nov. 2004 CASTRO, Cláudio de Moura; SCHWARTZMAN, Simon. Reforma da Educação Superior: Uma Visão Crítica. Brasília: Funadesp, 2005. CASTRO, Cláudio de Moura. Graduação para a maioria. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 75, p. 30-34, dez. 2004. CASTRO, Maria Helena de. Para especialista, projeto vai cria o neocorporativismo. Jornal O Estado de São Paulo. São Paulo, 23 jan., 2005. p. A-10. __________. Ameaça ao Setor Privado. Revista Ensino Superior. Ano 7. nº. 77, São Paulo , fev. 2005, p. 16-17. __________. Balanço de oito anos de políticas públicas de educação superior: realizações e lacunas. In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. CUNHA, Luiz Antônio. O Ensino Superior no Octênio FHC. Revista Educação e Sociedade. Vol. 24, nº. 82, Campinas, Abr. 2003, p. 41-43. ________._________. Revista Educação e Sociedade. Vol. 24, nº. 82, Campinas, Abr. 2003, p. 56-58. DURHAM, Eunice Ribeiro; SAMPAIO, Helena. O ensino privado no Brasil. São Paulo: Nupes/USP, 1995. ___________. Esboço de uma política de governo para o ensino superior: linhas básicas de uma proposta (perspectivas da comunidade acadêmica). In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

Page 146: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

145

FAUSTO, Ruy. As perspectivas da esquerda. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, 22 jan., 2006. Tendência/Debate, Opinião: A-3. FERREIRA, Naura Syria; AGUIAR, Márcia Ângela da S. Gestão da Educação - Impasses, perspectivas e compromisso. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. FIGUEIREDO, Hermes. Mudanças por etapas. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 78, p. 10-11, mar. 2005. ___________________. Uma reforma democrática. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 79, p. 12-13, abr. 2005. ___________________. Custos e qualidade do ensino. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 84, p. 10-11, set. 2005. FIÚZA, Cyro Queiroz. Choque com a realidade. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 79, p. 22-25, abr. 2005. FORSTER, N. In: ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 166. FÓRUM Nacional da Livre Iniciativa na Educação. Considerações e recomendações sobre a versão preliminar do Anteprojeto de Lei e Reforma da Educação Superior. Brasília, mar. 2005. FREITAG, Bárbara. Escola, Estado & Sociedade. 6. ed. Revisada. São Paulo: Moraes, 1986. FRANCO, Edson. Montando o cenário da universidade-univercidade. In: ALMEIDA, Cleide Rita Silvério de. O Brasão e o logotipo – Um estudo das novas universidades na cidade de São Paulo. Petrópolis - R.J.; Vozes, 2001, p. 33 - 48. FRANCO, Fabiano Bley. Juiz questiona política de cotas no Paraná. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo: 15 fev., 2005. Caderno Cotidiano. GAVIÃO, Marcelo. O fim dos privilégios. www.mec.gov.br/reforma - acessado em: 17 fev., 2005. GENRO, Tarso. Com Lula, ensino privado mantém expansão. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo: 30 jul., .2005. ____________. Universidade estadual fortalecida. Jornal A Notícia. Florianópolis: 31 mai., 2005. ____________. Reforma Universitária. Jornal O Globo. Rio de Janeiro: 10 Mar., 2005. GENRO, Tarso. Para o MEC, reforma universitária garante gestão democrática. www.jornaldaciencia.org.br – acessado em: 04 jul., 2005.

Page 147: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

146

____________. A favor da elite plural. www.mec.gov.br/reforma - acessado em: 26 fev., 2005. GENRO, Tarso; TRINDADE, Hélgio. Quem teme a Reforma? www.mec.gov.br/reforma - acessado em: 19 fev., 2005. GIDDENS, Anthony. A terceira via. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. GOMES, Paulo Alcântara. Desafios e Propostas para uma Agenda de Políticas de Educação Superior na Primeira Década do Milênio. In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. GUADILLA, Carmem García. Cátedra Unesco de Educação Superior. In: ALMEIDA, Cleide Rita Silvério de. O Brasão e o logotipo – Um estudo das novas universidades na cidade de São Paulo. Petrópolis - R.J.; Vozes, 2001, p. 47. GUIMARÃES, Jorge Almeida; RIBEIRO, Renato Janine. Uma Reforma série e aberta. www.mec.gov.br/reforma - acessado em: 03 mar., 2005. GUSSO, Divonzir Arthur. Arcabouço político-institucional: o MEC e o exercício da função regulatória de acompanhamento e de avaliação do ensino superior. In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. HADDAD, Fernando. MEC divulga pesquisa que mostra desigualdade racial em universidades. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo: 23.03.2005. HAWERROTH, Jolmar Luís. A Expansão do Ensino Superior nas Universidades no Sistema Fundacional Catarinense. Florianópolis: Insular, 1999. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da Educação Superior 2003 – resumo técnico. Brasília: Instituto Nacional de Estudos Educacionais Anísio Teixeira, 2004. JORGE, José Tadeu. Reforma universitária e inclusão social. Jornal O Estado de São Paulo. São Paulo. 04 jul., 2005. KAMEL, Ali. Vocação para a Tutela. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 77, p. 13, fev. 2005. _________. A Constituição, segundo Tarso. Jornal O Globo. Rio de Janeiro, 25 jan., 2005. Coluna: Opinião, p. 7. _________. Tutelando a universidade. Jornal O Globo. Rio de Janeiro, 11 jan., 2005. Coluna: Opinião, p. 7. KLEIN, Lúcia. Política e políticas de ensino superior no Brasil: 1970-1990. São Paulo: Nupes/USP, 1992.

Page 148: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

147

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia geral. 7. ed. Revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 1999. _________________. Fundamentos de metodologia científica. 4. ed. Revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 2001. LEVY, Daniel C. Montando o cenário da universidade-univercidade. In: ALMEIDA, Cleide Rita Silvério de. O Brasão e o logotipo – Um estudo das novas universidades na cidade de São Paulo. Petrópolis - R.J.; Vozes, 2001, p. 33- 48. LINHARES, Milton. Ensino exige novo desenho. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 73, p. 28-32, out. 2004. LOBO, Leão. Críticos vêem ideologia e pouco conteúdo na reforma universitária. Jornal O Estado de São Paulo. São Paulo, 23 jan., 2005. Coluna: Nacional, p. A-10. LOPES, Silvino Neto. Esboço de uma política de governo para o ensino superior: linhas básicas de uma proposta (perspectivas da comunidade acadêmica). In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. LÜCKMANN, Luis Carlos. Caminhos do ensino superior no oeste de Santa Catarina: plenitude e contradições de uma universidade. Joaçaba: UNOESC, 2003. MACEDO, Arthur Roquete de. Arcabouço político-institucional: o MEC e o exercício da função regulatória de acompanhamento e de avaliação do ensino superior. In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. MAIA, Almir de Souza. Esboço de uma política de governo para o ensino superior: linhas básicas de uma proposta (perspectivas dos mantenedores). In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. MARANHÃO, Magno de Aguiar. O controle do ensino superior. Revista Ensino Superior. São Paulo, n.73, p. 38-39, out. 2004. MARTINS, Carlos Benedito. O Ensino superior brasileiro nos anos 90. Revista São Paulo em Perspectiva. São Paulo, V. 14, nº. 1, Jan./Mar. 2000, n.p. MARTINS, Ives Granda. A degradação do ensino. Revista Ensino Superior. São Paulo, n.79, p. 20-21, abr. 2005. MONSERRAT FILHO, José. Começa o embate entre interesses públicos e privados na educação. www.jornaldaciencia.org.br – acessado em: 04 fev., 2005. MOREIRA, Luciano Rezende. Pós-graduandos defendem exigência do MEC para as particulares. www.jornaldaciencia.org.br – acessado em: 25 fev., 2005.

Page 149: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

148

NEVES, Clarissa Eckert Baeta. Estudos Sociológicos sobre Educação no Brasil. In: MICELI, Sérgio (org.) V. IV. ANPOCS. Brasília: Sumaré, 2002, 397- 401. NOGALES, Ana Maria. Choque com a realidade. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 79, p. 22-25, abr. 2005. NUNES, Daltro José. A função social das Instituições de Ensino Superior. www.jornaldaciencia.org.br – acessado em: 17 fev., 2005. O risco da involução. Revista Veja. São Paulo, p. 46-57, 26 jan., 2005.

País pode ter inflação de faculdades. Folha de São Paulo. São Paulo, 23 jul., 1996, p. 1, c. 3. In: ALMEIDA, Cleide Rita Silvério de. O Brasão e o logotipo – Um estudo das novas universidades na cidade de São Paulo. Petrópolis - R.J.; Vozes, 2001, p. 18-19. PANISSET, Ulysses. Balanço de oito anos de políticas públicas de educação superior: realizações e lacunas. In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. PANKE, Luciana. Lula: de sindicalista a presidente. Observatório da Imprensa. São Paulo. 26 abr., 2005. PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. O paradoxo da esquerda. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, 08 jan., 2006. Tendências/Debates, Opinião: A-3. PETTA, Gustavo. UNE sugere mudanças na reforma. Jornal Correio Braziliense. Brasília, 25 jan., 2005. Coluna: Brasil, p.15. PIAZZA. Sistema Fundacional Municipal – uma experiência catarinense. In: HAWERROTH, Jolmar Luís. A Expansão do Ensino Superior nas Universidades no Sistema Fundacional Catarinense. Florianópolis: Insular, 1999. QUADROS, José Luiz. Reforma Universitária: o que muda para as instituições não-estatais? FÓRUM – Curso de Direito Izabela Hendrix. Nov., 2005. nº. 29 Ano 6. REIS. Ensino Superior no Brasil, da proclamação da República à promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. In: HAWERROTH, Jolmar Luís. A Expansão do Ensino Superior nas Universidades no Sistema Fundacional Catarinense. Florianópolis: Insular, 1999. RENATO, Paulo. Na contramão da história. Jornal O Estado de São Paulo. São Paulo, 23 jan., 2005. Coluna: Espaço Aberto, p. A-2. RODRIGUES, Gabriel Mário. Começar pelo básico. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 79, p. 14-15, abr. 2005. _______________________. Para que e para quem a reforma universitária. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 73, p. 10-11, out. 2004.

Page 150: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

149

ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. ROITMAN, Isac. Esboço de uma política de governo para o ensino superior: linhas básicas de uma proposta (perspectivas dos mantenedores). In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. ROMANELLI. Ensino superior no Brasil, até a proclamação da República. In: HAWERROTH, Jolmar Luís. A Expansão do Ensino Superior nas Universidades no Sistema Fundacional Catarinense. Florianópolis: Insular, 1999. RUIZ, Antônio Ibañez. O Conselho Comunitário Social na Reforma da Educação Superior. www.mec.gov.br/reforma - acessado em: 20 fev., 2005. SAMPAIO, Helena. Segundo Movimento: O Objeto. In: ALMEIDA, Cleide Rita Silvério de. O Brasão e o logotipo – Um estudo das novas universidades na cidade de São Paulo. Petrópolis - R.J.; Vozes, 2001, p. 20. SÁNCHEZ, Padre Jesus Hortal. Esboço de uma política de governo para o ensino superior: linhas básicas de uma proposta (perspectivas dos mantenedores). In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. SANTA CATARINA. Constituição, 1989. Constituição do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, Assembléia Legislativa/IOESC, 1989. SANTOS, Frei Davi. Cotista tem nota parecida com de não-cotista. Jornal Folha de São Paulo. Caderno Cotidiano. São Paulo: 05 abr., 2005. SCHWARTZMAN, Simon. Ensino Superior no Brasil, da proclamação da República à promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. In: HAWERROTH, Jolmar Luís. A Expansão do Ensino Superior nas Universidades no Sistema Fundacional Catarinense. Florianópolis: Insular, 1999. ____________________. Balanço de oito anos de políticas públicas de educação superior: realizações e lacunas. In: ABMES. Políticas Públicas de Educação Superior: desafios e proposições. Brasília: FUNADESP, 2002. ____________________. Graduação para maioria. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 75, p. 30-34, dez. 2004. SEMESP. Ensino superior particular – Um vôo histórico. São Paulo; Segmento, 2004. SGUISSARDI, Valdemar et al. Universidade: Reforma e/ou rendição ao mercado? Mercantilização do conhecimento e deserção do estado. Revista Educação e Sociedade. Vol. 25, nº. 88, Campinas, Out. 2004, p. 650.

Page 151: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

150

SILVA JÚNIOR, João dos Reis. Pragmatismo e populismo na educação superior nos governos FHC e Lula. São Paulo: Xamã, 2005. SOUZA, Paulo Nathanael P. História do ensino superior. 2002. In: www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia - acessado em 29.05.2005. TACHIZAWA, Takeshy; ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de. Gestão de instituições de ensino. 2º ed. Revisada. Rio de Janeiro. FGV Ed., 2001. TAKAHASHI, Fábio. Cotista tem nota parecida com de não-cotista. Jornal Folha de São Paulo. Caderno Cotidiano. São Paulo: 05 abr., 2005. TAQUARI, Carlos. Em defesa do mérito. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 79, p. 28-30, abr. 2005. TEIXEIRA. Ensino superior no Brasil, até a proclamação da República. In: HAWERROTH, Jolmar Luís. A Expansão do Ensino Superior nas Universidades no Sistema Fundacional Catarinense. Florianópolis: Insular, 1999. TRINDADE, Hélgio. A República em tempos de reforma universitária: o desafio do governo Lula. Revista Educação e Sociedade. Campinas, n. 88, Vol. 25 , out. 2004, p. 825. __________.____________. Revista Educação e Sociedade. Campinas, n. 88 Vol. 25, out. 2004, p. 831-834. TRUJILLO, F.A. Pesquisa. In: LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 4. ed. Revisada e Ampliada. São Paulo: Atlas, 2001. VAHL. Ensino Superior no Brasil, da proclamação da República à promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. In: HAWERROTH, Jolmar Luís. A Expansão do Ensino Superior nas Universidades no Sistema Fundacional Catarinense. Florianópolis: Insular, 1999. VELLOSO, Jaques, MELLO, Guiomar Namo de; WACHOWICZ, Lílian. Estado e educação. São Paulo: Anped, 1992. VILLARDI, Raquel; OLIVEIRA, Carlos Alberto Pereira de. Políticas para a Educação Superior. In: Múltiplas Leituras da Nova LDB. ZABALZA, Miguel A. O Ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004. ZIMMER, Lauro. Para vencer os desafios. Revista Ensino Superior. São Paulo, n. 73, p. 12-15, out. 2004. WEBER, R. P. In: ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 169-170.

Page 152: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Mara Isa Battisti Raulino.pdf · do governo luiz inÁcio lula da silva sobre o ensino superior

151

WERNECK, Rogério L. Furquim. Um projeto sem qualidades. Jornal O Estado de São Paulo. São Paulo, 28 jan., 2005. Coluna: Economia, p. B-2. http://www.ampesc.com.br - acessado em 08.set.2005.