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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA FERNANDA ALVES INFLUÊNCIAS DOS ASPECTOS BIOLÓGICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIAIS NA OBESIDADE INFANTIL: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO BIGUAÇU 2005

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

FERNANDA ALVES

INFLUÊNCIAS DOS ASPECTOS BIOLÓGICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIAIS

NA OBESIDADE INFANTIL:

UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

BIGUAÇU

2005

2

FERNANDA ALVES

INFLUÊNCIAS DOS ASPECTOS BIOLÓGICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIAIS

NA OBESIDADE INFANTIL:

UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Projeto apresentado para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso ao Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Mauro José da Rosa.

BIGUAÇU

2005

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 5

2 OBESIDADE INFANTIL................................................................................................. 8

2.1 DEFINIÇÃO.................................................................................................................... 8

2.2 ETIOLOGIA.................................................................................................................... 9

2.3 DIAGNÓSTICO............................................................................................................ 10

2.4 CONSEQÜÊNCIAS DA OBESIDADE INFANTIL..................................................... 13

3 ASPECTOS PREDISPONENTES DA OBESIDADE INFANTIL............................. 15

3.1 BIOLÓGICOS................................................................................................................ 15

3.2 PSICOLÓGICOS........................................................................................................... 18

3.3 SOCIAIS........................................................................................................................ 21

3.3.1 DINÂMICA FAMILIAR............................................................................................ 23

3.3.2 ATIVIDADE FÍSICA................................................................................................. 24

3.3.3 CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA E CULTURAL................................................. 25

4 METODOLOGIA........................................................................................................... 27

5 DISCUSSÃO.................................................................................................................... 29

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 32

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 34

OBRAS RECOMENDADAS............................................................................................ 37

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RESUMO

ALVES, F. Influências dos aspectos biológicos, psicológicos e sociais na obesidade

infantil: um estudo bibliográfico. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Psicologia), Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Biguaçu, 2005.

Este trabalho de conclusão de curso trata-se de um estudo conduzido com base em uma

pesquisa bibliográfica sobre obesidade infantil. Busca-se através deste, investigar a

influência dos aspectos biológicos, psicológicos e sociais na obesidade infantil. Ficou

constatado que a obesidade infantil é, em grande parte, o produto da vulnerabilidade

genética mediada por um ambiente promotor da doença, o que sugere que aspectos sócio-

culturais e psicológicos podem interferir em seu início e sua manutenção, confirmando o

caráter multifatorial.

Palavras-chave: obesidade infantil, aspectos biológicos, psicológicos e sociais.

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1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o interesse sobre os efeitos do ganho de peso excessivo na

infância tem aumentado, sendo considerável o número de crianças com obesidade em todo

o mundo. Segundo Mancini (2001), a obesidade é uma doença crônica que afeta cada vez

mais crianças e adultos, sendo que na última década sua prevalência aumentou 32%.

Nos países desenvolvidos, onde os alimentos ricos em energia são abundantes e

baratos e os estilos de vida são cada vez mais sedentários, a obesidade, há algum tempo já é

um problema significativo. Os países em desenvolvimento têm a desnutrição como um dos

maiores problemas, mas a obesidade vem crescendo assustadoramente e já é também

considerada uma grave questão de saúde pública. No Brasil, 40% dos adultos e 20% das

crianças têm excesso de peso. (HALPERN et al., 2002).

A principal causa do aumento da prevalência da obesidade não parece ser o aumento

da ingestão calórica, e sim a modificação dos hábitos de vida, com alterações na

composição da dieta e redução da atividade física. O peso do ser humano nas diversas

etapas de vida é determinado pela interação entre o patrimônio genético herdado dos

genitores, o macro ambiente socioeconômico, cultural e educativo e o micro ambiente

individual e familiar. Sendo que o equilíbrio entre estes fatores que determinará a produção

do peso saudável. (OLIVEIRA et al., (2202).

As variáveis biológicas, psicológicas e sociais sobre a obesidade têm sido

constantemente investigadas, porém, os dados de literatura em relação à ação destes fatores

são ainda conflitantes. Enquanto alguns dados os apontam como sendo independentemente

6

implicados no processo de ganho excessivo de peso, outros estudos indicam uma

associação entre eles.

Sendo a obesidade infantil uma doença bastante comum, tornou-se pertinente a

escolha desse tema para compreender os mecanismos subjacentes dos componentes

biológicos da obesidade, que possivelmente parece ser induzida por influências culturais,

ambientais e psicológicas.

Uma das possíveis contribuições da área da psicologia neste tema, seria identificar

de que forma ocorre as influências citadas anteriormente, além de descrever quais são as

principais alterações causadas na obesidade infantil.

Como relevância social, a referida pesquisa tem como intuito contribuir para o

esclarecimento da obesidade infantil. Além disso, poderá servir como subsídio teórico para

posteriores pesquisadores do tema, profissionais da saúde, da educação e psicólogos.

Sendo a obesidade infantil um fator que pode envolver vários aspectos, tem-se como

o pressuposto dessa pesquisa que a mesma não se constituirá de uma forma isolada, mas

influenciada por aspectos biológicos, psicológicos e sociais. E neste sentido, surge a

importância de ser abordada a seguinte pergunta: Quais as influências dos aspectos

biológicos, psicológicos e sociais na obesidade infantil?

Assim, a presente pesquisa, apoiada em uma revisão bibliográfica tem como

objetivo principal identificar as influências dos aspectos biológicos, psicológicos e sociais

na obesidade infantil. E para tanto objetivou-se também:

- Definir obesidade infantil.

- Investigar a possibilidade da vulnerabilidade genética para a obesidade infantil.

- Pesquisar a influência do vínculo familiar sobre o desenvolvimento da obesidade infantil.

- Discutir a influência de aspectos sociais na prevalência da obesidade infantil.

7

Com o intuito de contribuir para o preenchimento de lacunas entre esses aspectos, que

possibilitem um melhor entendimento sobre a obesidade infantil.

8

2 OBESIDADE INFANTIL

2.1 DEFINIÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO, 1998) associa o significado da

obesidade com suas conseqüências: “Doença na qual o excesso de gordura corporal se

acumulou a tal ponto que a saúde pode ser afetada”.

A obesidade é uma doença crônica em expansão, com prevalência crescente em

todas as faixas etárias, nas últimas décadas, tanto em países desenvolvidos quanto em

desenvolvimento, o que a torna epidêmica. É, assim, característica de populações e não

apenas de indivíduos, acontecendo mesmo em países onde doenças de escassez representam

importantes problemas de Saúde Pública (MANCINI, 2001).

O sobrepeso deve ser entendido como uma proporção relativa de peso maior que a

desejável para a altura, sem que tenha ocorrido, no entanto, alterações significativas na

composição corpórea (COUTINHO, 1999).

Conforme Fisberg (1995), a obesidade é a mais comum e a mais antiga doença

metabólica humana registrada. Desenhos rupestres mostram o homem pré-histórico com

aspectos de peso excessivo para a sua altura. O homem ingeria enormes quantidades de

alimentos com o objetivo de armazenar energia para a sua sobrevivência em um meio

inóspito. Refeições nababescas, orgias alimentares eram o atributo do excesso e do poder.

Segundo Carvalho (apud Silva, 2000), Hipócrates identificou a obesidade como

uma condição doentia. Somente no século XX a obesidade ficou conhecida como uma

grande quantidade de células gordurosas ou desarranjo metabólico. A partir da década de

9

30, a obesidade passou a ser entendida como um distúrbio de glândulas endócrinas e, após

as década de 40 e 50 os fatores psicológicos passaram a ser considerados na etiologia da

obesidade.

2.2 ETIOLOGIA

A obesidade é uma doença crônica e multifatorial, em que fatores genéticos, ao

lado de outros fatores biológicos, interagem com fatores ambientais, através de mecanismos

não inteiramente conhecidos, na determinação e manutenção deste fenótipos, que,

freqüentemente, se acompanha de complicações (COUTINHO, 1999). No entanto,

independente da importância dessas diversas causas, o ganho de peso está sempre associado

a um aumento da ingesta alimentar, e a uma redução do gasto energético correspondente a

essa ingesta.

A obesidade é causada por um não balanceamento entre as calorias que são

consumidas e as calorias que são gastas para o organismo funcionar. O excesso de calorias

é depositado no organismo, sendo que boa parte deste depósito se faz sob a forma de

gordura.

Os aspectos multifatoriais vão desde os orgânicos, biológicos, hormonais metabólicos, e

ou nutricionais, até os fatores psicológicos, pois podem provocar no indivíduo estados de

tensão capazes de converter conteúdos latentes em manifestos, tais como:

• Fatores biológicos: enfermidades diversas; tratamentos inadequados, etc.

• Fatores psicológicos: nascimento de um irmão; início da vida escolar, etc.

10

• Fatores sociais: campanhas publicitárias que promovem o consumo de alimentos

hipercalóricos; o “conforto”, facilidades do dia-a-dia, etc.

2.3 DIAGNÓSTICO

Diagnosticar obesidade implica no conhecimento da composição corporal, o que é

muitas vezes difícil, pois, a diferença entre o que é considerado normal e alterado é

arbitrária, no entanto, um indivíduo é considerado obeso quando a quantidade de tecido

adiposo aumenta a tal ponto que a saúde física e psicológica sofre influência negativa,

reduzindo assim a expectativa de vida (MANCINI, 2001).

Apesar de existirem métodos mais apurados para diagnosticar a obesidade infantil, o

índice de Quetelet ou o Indice de Massa Corporal (IMC) é o método mais prático (peso

dividido pelo quadrado da altura). Na infância os valores médios de IMC variam

marcadamente em função da idade, apresentando um aumento nos primeiros 12 a 18 meses

seguindo uma gradual e sustentada queda até 6 ou 7 anos, evoluindo então com o aumento

gradual (HALPERN; MANCINI, 2002).

Conforme os mesmos autores pode ser usado também o IMC percentual. O cálculo

do IMC percentual (%IMC), que independe da altura e da idade da criança e se apóia em

tabelas de percentis de peso e de altura, é mais adequado (Quadro 1.1).

11

QUADRO 1.1 - Diagnóstico de obesidade em crianças e adolescentes

Índice de massa corporal percentual (%IMC)

%IMC = (peso/altura²): (50° percentil para a idade peso/50° percentil altura) x 100%

>110%: sobrepeso; >120%: obesidade

O quadro¹ abaixo mostra o índice de massa corporal a partir do qual é identificado

sobrepeso ou obesidade conforme o sexo e a idade da criança e adolescente:

Acima do peso Obeso Idade

(anos) IMC

Meninos

IMC

Meninas

IMC

Meninos

IMC

Meninas

2 18,4 18 20,1 20,1

5 17,4 17,1 19,3 19,2

7 17,9 17,8 20,6 20,5

10 19,8 19,9 24 24,1

12 21,2 21,7 26 26,7

15 23,3 23,9 28,3 29,1

O IMC transforma-se com a idade, e apresenta aumento de modo constante, em

ambos os sexos, desde a infância até a idade de 55 anos, quando começa a diminuir, sendo

então importante um maior controle do peso em fases ditas mais vulneráveis ao

desenvolvimento da obesidade. São identificados três períodos críticos para o início da

obesidade. O primeiro corresponde ao primeiro ano de vida, durante o qual o tamanho das

células adiposas quase duplica. Um segundo período, ocorre entre os 5-7 anos de idade

12

quando ocorre um aumento progressivo do número de células adiposas. Obesidade de início

nestes períodos gera alterações anatomopatológicas que provocam hiperplasia dos

adipócitos, o que torna a obesidade infantil um fator de risco importante para o distúrbio na

vida adulta. O terceiro período é a adolescência, na qual se observam alterações hormonais

que determinam aumento do tamanho das células gordurosas. Na vida adulta, existem dois

momentos também importantes: a gestação para as mulheres e a transição entre

adolescência e esta nova fase no sexo masculino, onde há, muitas vezes, substituição do

estilo de vida ativo para o sedentário (OLIVEIRA et al., 2002).

Há tentativas de estabelecimentos de parâmetros de circunferência abdominal para

crianças. Um estudo recente demonstrou que crianças com circunferência abdominal acima

de 71cm são mais propensas a doenças cardiovasculares que aquelas com circunferência

inferior a 61cm. É importante ressaltar que estes valores tendem ser determinados para a

nossa população (HALPERN; MANCINI, 2002).

2.4 CONSEQÜÊNCIAS DA OBESIDADE INFANTIL

O aumento da prevalência da obesidade infantil faz com que programas de

prevenção sejam necessários. “Cerca de 22 milhões de crianças abaixo de 5 anos de idade

estão acima do peso no mundo” (HALPERN; MANCINI, 2002 p.261).

De acordo com Mello et al. (2004), a obesidade na infância está relacionada a várias

complicações, como também a uma maior taxa de mortalidade. E, quanto mais tempo o

indivíduo se mantém obeso, maior é a chance das complicações ocorrerem, assim como

mais precocemente. A tabela abaixo mostra as possíveis complicações da obesidade:

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Articulares Maior predisposição a artroses

Cardiovasculares Hipertensão arterial sistêmica

Hipertrofia cardíaca

Cirúrgicas Aumento do risco cirúrgico

Crescimento Idade óssea avançada, menarca precoce

Cutâneas Maior predisposição a micoses, dermatites e

piodermites

Endócrino-metabólicas Resistência à insulina e maior predisposição

ao diabetes

Gastrointestinais Aumento da freqüência de litíase biliar

Mortalidade Aumento do risco de mortalidade

Neoplásticas Maior freqüência de câncer de endométrio,

mama, vesícula biliar, cólon/reto, próstata

Psicossociais Discriminação social e isolamento,

afastamento de atividades sociais e

dificuldade de expressar seus sentimentos

Respiratórias Tendência à hipóxia, devido ao aumento da

demanda ventilatória, aumento do esforço

respiratório, diminuição da eficiência

muscular, diminuição da reserva funcional,

apnéia do sono, infecções, asma

A quantidade de perda de peso recomendada e o cronograma para determinar esta

perda poderão variar, dependendo do grau de obesidade e da natureza e gravidade das

complicações. As crianças com complicações que potencialmente envolvem risco de morte

são candidatas à perda de peso mais rápida. Os dados de pesquisa disponíveis são limitados

para sugerir uma taxa segura na qual as crianças e os adolescentes possam perder peso em

desaceleração da velocidade de crescimento. Em geral, quanto maior o número e a

14

gravidade das complicações, maior a probabilidade de que esta criança necessite de

avaliação e tratamento, talvez medicamentoso, em um centro de obesidade pediátrico

especializado (MELLO et al., 2004).

15

3 ASPECTOS PREDISPONENTES DA OBESIDADE INFANTIL

3.1 BIOLÓGICOS

A obesidade deriva de um desequilíbrio crônico entre a energia ingerida e a energia

gasta. Neste desequilíbrio podem estar implicados diversos fatores relacionados com o

estilo de vida, alterações neuro-endócrinas, juntamente com um componente hereditário.

Diversos estudos demonstram de forma evidente a participação do componente genético na

incidência da obesidade. Estima-se que entre 40% e 70% da variação do fenótipo associado

à obesidade tem um caráter hereditário. A influência genética como causa da obesidade

pode manifestar-se através de alterações do apetite ou no gasto energético. (LOPES et al.,

2004).

Segundo os mesmos autores, os gene da obesidade intervêm na manutenção de peso

e gordura corporal através da sua participação no controle de vias eferentes (leptina,

nutrientes, sinais nervosos, entre outros), de mecanismos centrais (neurotransmissores

hipotalâmicos) e de vias aferentes (insulina, catecolaminas, sistema nervoso autônomo

(SNA). O componente genético constitui um fator determinante de algumas doenças

congênitas e um elemento de risco para diversas doenças crônicas como diabetes,

osteoporose, hipertensão, câncer, entre outras.

O peso ao nascimento apresenta relação importante entre os genes presentes no

indivíduo e as características do micro ambiente materno, sendo muito mais variável que a

altura. As crianças com peso adequado para a idade gestacional, têm seu peso duplicado aos

quatro meses após o nascimento e triplicado aos doze meses pós-parto, ocorrendo um

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aumento, nos primeiros dois anos de vida, de quatro vezes em relação ao peso ao

nascimento. Quando existe desnutrição intrauterina, sobretudo a partir de trigésima semana

de gestação, e até 1 ano de idade, ocorre aumento da sensibilidade para a proliferação das

células adiposas. Nesta situação, se as crianças recebem um aporte maior do que o

necessário na etapa pós-natal e, sobretudo, durante os dois primeiros anos de vida, haverá

maior susceptibilidade ao desenvolvimento da obesidade (DIETZ, 1990).

Havendo a presença de fatores favoráveis à manutenção do aumento de peso, inicia-

se então a produção da obesidade que é uma enfermidade crônica, progressiva, recorrente

capaz de gerar complicações a curto e longo prazo, caracterizada por excesso de tecido

adiposo. Com alta freqüência, tem como fator causal, a ingestão excessiva de calorias que

supera o gasto energético determinado pelo metabolismo basal, crescimento celular,

atividade física e ação termogênica dos alimentos (COUTINHO, 1999).

O aumento mundial da prevalência da obesidade atribui-se principalmente às

mudanças nos estilos de vida (aumento do consumo de alimentos ricos em gordura, redução

da atividade física, etc.), que incidem sobre uma certa susceptibilidade ou predisposição

genética para ser obeso. Neste contexto, também o fenótipo da obesidade, do qual se

distinguem quatro tipos em função da distribuição anatômica da gordura corporal (global,

andróide, ginóide e visceral), é influenciado pela base genética e por fatores ambientais.

Além disso, desde o ponto de vista evolutivo, os indivíduos com genes "austeros" ou

"poupadores" podem ter sido favorecidos, já que a função reprodutora está dependente das

reservas energéticas e as pessoas mais resistentes à desnutrição podem ter sobrevivido em

maior proporção, durante as épocas de falta de alimentos (LOPES et al., 2004).

A co-existência de obesidade em vários membros da mesma família confirma a

participação da herança genética na incidência da obesidade. A probabilidade de que os

17

filhos sejam obesos quando os pais o são, foi estimada em alguns estudos obtendo-se

percentagens entre 50% e 80%. Confirmam essa hipótese tanto o fato de existirem

indivíduos com uma alteração na termogénese, no metabolismo basal ou na activação

simpática, como a constatação de poderem os fatores genéticos modificar os efeitos da

atividade física sobre o peso e a composição corporal. (LOPES et al., 2004).

Segundo Fisberg (1995), a obesidade pode ter início em qualquer época da vida,

especialmente nos períodos de aceleração do crescimento. Na infância, alguns fatores são

determinantes para o estabelecimento da obesidade: desmame precoce e introdução de

alimentos inadequados, emprego de fórmulas lácteas inadequadamente preparadas,

distúrbios do comportamento alimentar e relação familiar conturbada.

Existem algumas normas gerais a serem seguidas para o tratamento da criança

obesa: uma dieta balanceada que determine crescimento adequado e manutenção de peso;

exercícios físicos controlados e apoio emocional individual e familiar. Além disso, a

Educação Nutricional é essencial, pois visa a modificação e melhorias dos hábitos

alimentares a longo prazo, e torna-se um elemento de conscientização e reformulação das

distorções do comportamento alimentar, auxiliando a refletir sobre a saúde e qualidade de

vida. A imposição de regimes rígidos ou pré-estabelecidos de forma generalizada são

contra indicados pela própria ineficiência comprovada, devido a dificuldade de aderência,

ou por representar um fator gerador de maior angústia nesses pacientes, que tem a

alimentação como forma de compensação emocional (DOBROW et al., 2002).

A história familiar é muito importante na determinação da prevalência da obesidade.

Crianças com pais obesos terão chance maior de serem adultos obesos quando comparadas

às crianças obesas cujos pais são magros (WHITAKER et al., 1997; MAGAREY et al.,

2001). Gurney (1975) estimou que quando os pais são obesos há uma chance de 73% da

18

criança vir a ser obesa; esta probabilidade cai para 41,2% quando apenas um dos dois é

obeso e para 9% quando os dois são magros.

Para melhores resultados no tratamento, os mesmos autores elucidam a importância

da cooperação dos pais, que devem estar informados que a obesidade é um risco que gera

problemas na vida adulta. Valorizando a importância das contribuições genéticas para o

início e manutenção da obesidade, e não considerando as crianças obesas com falta de

motivação e vontade, mas como portadoras de uma vulnerabilidade biológica inata.

3.2 PSICOLÓGICOS

A vivência mais primordial e fundamental do ser humano é ser amamentado pela mãe.

Para Winnicott (1990), apud Peres & Romano, não existe isso que chamam de bebê, vemos

também um cuidado materno, e sem o cuidado materno não haveria bebê. O bebê tem um

potencial para vir a ser, mas depende da mãe, que ela possa atender suas necessidades

sincronicamente, criando assim condições para que ele possa se desenvolver e constituir

seu self.

Assim, considerando que a célula do desenvolvimento psíquico está na relação do

bebê com a mãe e, portanto com o seio materno, incluir as relações familiares, parece ser

uma forma mais abrangente de abordar a questão.

De acordo com Winnicott (1990), apud Peres & Romano, para qualquer indivíduo,

situado no início de seu desenvolvimento emocional, existem três campos: num polo

encontra-se a hereditariedade; no outro, encontra-se o ambiente que apóia, ou que falha e

traumatiza; no campo intermediário entre os dois, está a capacidade individual de viver,

19

defender-se e crescer. E será nesse campo intermediário que se constituirão os laços

afetivos, a família, bem como a obesidade como um sintoma.

Vamos ressaltar alguns fatores do vínculo mãe-filho que tem íntima relação com o

desencadeamento e a manutenção da obesidade.

Ter um filho, segundo Fisberg (1995), é uma questão muito importante para a

maioria das mulheres. Mas isso não quer dizer que não haja dificuldades, sentimentos

ambíguos com relação a maternidade, os quais se originam e se desenvolvem na relação

inicial da futura mãe com seus próprios pais, principalmente se existem ressentimentos e

raivas não resolvidas contra eles. Isto pode acarretar insegurança quanto a capacidade de vir

a ser boa mãe.

Diante deste quadro, a mãe pode sentir-se motivada a superalimentar o filho, seja

para compensar a rejeição inicial, seja porque a aparência “saudável” tranqüiliza a mãe,

pois, tanto perante si própria como aos olhos dos outros, atesta a sua condição de boa mãe.

O bebê que come e engorda, valoriza a imagem que a mãe tem de si mesma num momento

em que é vital para ela sentir-se a mãe perfeita. O alimento é, então, oferecido de forma

indiscriminada, ao menor sinal de necessidade manifestada pela criança. Isso ocorre porque

pais ansiosos e pouco atentos à real necessidade da criança não percebem que ela chora,

além da fome, por outros motivos, como frio, calor, cansaço, sono, etc. Com isso, a criança,

ainda sem um aparelho psíquico maduro, começa a associar uma frustração ou desconforto

à ingestão alimentar. Forma-se a associação: estímulo desagradável = alimento = conforto =

estímulo agradável dos pais (FISBERG, 1995).

Esta associação persiste até a idade adulta, quando surgem dificuldades para o

indivíduo encontrar seu estado de saciedade, de tal forma que a pessoa não sabe se come

muito ou pouco.

20

Segundo Fisberg (1995), isso se agrava quando o alimento é o substituto de afetos

que a família não pode exprimir de outro modo. A criança aprende, por ensinamento da

mãe, que o alimento é a solução para todos os conflitos, angústias, ansiedades e dores e,

com isso, leva pela vida a necessidade de comer para resolver ou compensar problemas dos

quais ás vezes não se dá conta, ficando com um desenvolvimento primitivo de

personalidade.

Em meio a tais dificuldades, se a mãe não puder ser tranqüilizada, orientada, a

relação se complica, a amamentação não é satisfatória para ambos os elementos da dupla, o

que pode apressar o desmame. Sentimentos de que a mãe lhe nega algo, tão desejado, de

que está sendo privado de algo tão precioso, acarretam uma sensação de perda, de vazio,

que justamente por fazer parte da fase na qual a boca, o sugar e o alimento são muito

importantes, adquire o significado de que tem sempre de se tentar encher com comida. O

que pode ser generalizado para toda perda que a criança vier a sofrer na vida (nascimento

de irmãos, perda de um ente querido, separação dos pais, etc) (FISBERG, 1995).

Na infância o desmame precoce, a introdução de alimentos impróprios, e o emprego

de fórmulas lácteas inadequadamente preparadas são determinantes para o estabelecimento

da obesidade infantil. Do ponto de vista nutricional, o leite materno é superior aos outros

leites, pois, na sua composição encontram-se elementos essenciais às crianças, além de ser

de fácil digestão. Por este motivo, nos primeiros quatro a seis meses de vida, é

recomendada a utilização do leite materno como único alimento para a criança.

(OLIVEIRA et al., 2002).

A avaliação e tratamento da obesidade infantil não serão adequados se não houver

também uma avaliação do perfil familiar em seus aspectos psicológicos.

21

Famílias conturbadas podem ser agentes desencadeadores de depressão e o

tratamento nestes casos deve ser muito cuidadoso, pois muitas vezes é a família que precisa

encontrar a maneira mais adequada de tratar seus problemas e, conseqüentemente, agir de

maneira mais apropriada com seus filhos (HALPERN; MANCINI, 2002).

É importante ressaltar também, padrões que se repetem de geração a geração, como

valorização da quantidade de alimentos, criando-se um problema e uma relação antinatural

da criança com a alimentação.

3.3 SOCIAIS

No meio social contemporâneo, o que temos: a sociedade de consumo, onde “ser é

ter”. Vivemos no domínio do imaginário e não do simbólico. Parece haver uma relação

entre a lógica cultural do consumismo e o aumento da prevalência de obesidade. Existe

uma pressão social para consumir de tudo, inclusive alimentos. E, além disso, a sociedade

de consumo se propõe, para induzir o consumo, a superar as expectativas do consumidor.

Antecipa-se aos desejos do consumidor, oferecendo cada vez mais, e mais rápido. Promete

um mundo sem frustrações, de prazer contínuo (PERES; ROMANO, 2002).

Os erros alimentares ocorrem em todas as classes sociais. As mais privilegiadas, por

terem acesso fácil a fast-foods e nas escolas, as cantinas vendem salgados fritos, sanduíches

altamente calóricos, doces e refrigerantes. As menos favorecidas, porque os alimentos

energéticos e calóricos (carboidratos e gorduras, como pão, arroz, macarrão, óleo) são mais

baratos que os alimentos reguladores (frutas, verduras e legumes) e os construtores (leite,

carne e ovos) (CASTRO, 2004).

22

O avanço da tecnologia, possibilitando maior oferta de alimentos industrializados,

juntamente com maior freqüência, como mencionados acima, a fast-foods, vêm ao longo

dos anos contribuindo com o aumento da ingestão de gorduras e, conseqüentemente, maior

consumo calórico. Ao se analisar a composição do lanche escolar consumido por crianças,

observa-se que possui alto teor energético, fornecendo em média 500 a 700 kcal, sendo,

aproximadamente, metade das calorias na forma de gordura (HALPERN; MANCINI,

2002).

Uma cultura que se propõe a atender a todas as demandas cria a ilusão de que a

vivência do limite não faz parte da condição humana e deve ser evitada. Nesta lógica, os

pais negarem aos filhos o consumo de uma guloseima qualquer, significa dizer não, para si

mesmo, no apelo ao consumo. Implica poder suportar a frustração do filho, adiar a

satisfação no sentido de estar podendo impor o limite hoje, para que ele possa lidar com

seus limites, quando adulto (FISBERG, 1995).

Levando em consideração os referidos aspectos, podemos pensar que este ambiente

cultural consiste num terreno bastante favorável para a manifestação da carga genética da

obesidade. A cultura da sociedade de consumo induz ao consumo de alimentos, não para

saciar uma necessidade fisiológica, mas para consumir, ou seja, temos um ambiente social

que subverte o comer, de uma necessidade fisiológica, para um ato social (PERES;

ROMANO, 2002).

Alguns aspectos referentes ao meio social podem estar associados a prevalência da

obesidade infantil. São eles:

3.3.1 DINÂMICA FAMILIAR

23

A obesidade infantil é fortemente influenciada pelo ambiente em que a criança vive,

e o seu estilo de vida adotado pela família é fator determinante de seu desenvolvimento. As

preferências alimentares das crianças são fortemente influenciadas pelos hábitos familiares,

e quando desenvolvidos na infância, tendem a persistir na vida adulta. De forma

semelhante, a criança aprende a ser ativa ou inativa com seus pais (OLIVEIRA et al.,

2002).

Segundo Fisberg (1995), a postura cultural de algumas famílias frente ao alimento

também favorece a preservação da doença. Os hábitos inadequados, seus horários sem

controle, a supervalorização do alimento como o único prazer que ainda se pode comprar.

A dinâmica familiar que quando alterada facilita desajustes, o encontro para as refeições no

qual foi abolido o diálogo, substituídos pela TV, tornando o comer uma atitude automática,

na qual até mesmo a noção de saciedade pode passar despercebida.

A educação e idade dos pais, assim como tamanho da família, também são variáveis

importantes na determinação da obesidade infantil. Trabalho realizado por Kaufman (1999)

mostrou que a chance de uma criança ser obesa em sendo filho único é de 19,4%, tendo 1

irmão a chance cai para 13,4%, e para 8,8% quando a irmandade é de 5 ou mais crianças.

Os mecanismos específicos desta associação, que pode ser uma conseqüência da situação

econômica, ainda não estão completamente esclarecidos.

Dietz et al. (1990) mostraram que pais idosos têm maior chance de apresentarem

crianças obesas. Este fenótipo acontece mais comumente no filho mais novo da família. O

nível educacional da família representa mais um fator de risco para o desenvolvimento da

obesidade, mas, por estar ligado intimamente ao nível socioeconômico, é difícil sua análise

como fator de risco independente.

24

3.3.2 ATIVIDADE FÍSICA

A influência da atividade física na regulação do peso corporal é complexa, mas não

há dúvidas de que o sedentarismo se constitui em uma das principais causas para o

favorecimento e manutenção do excesso de peso (OLIVEIRA et al., 2002).

As crianças estão cada dia mais paradas na frente do computador, videogame e

televisão. Com controles remotos a mão, ficam sentadas ou deitadas, acompanhadas por

“baldes” de pipoca e refrigerantes. Em muitos casos, devido a violência urbana, os pais têm

medo de deixar os filhos brincar na rua, ficando estes condicionados aos pequenos

apartamentos das grandes cidades. Além disso, hoje em dia, geralmente pai e mãe

trabalham fora. Os saudáveis passeios do parquinho ficaram resumidos aos fins de semana

e, muitas vezes, substituídos pelo “engordativo” programa dos shoppings (NEGREIROS,

2004).

A atividade física regular, combinada com uma boa alimentação, representa a forma

mais eficiente e saudável para manter ou reduzir o peso corporal. Para tanto, é preciso que

estes comportamentos sejam incluídos no estilo de vida das crianças e não apenas por um

determinado período (NAHAS, 1999).

A criança e o adolescente tendem a ficar obesos quando sedentários, e a própria

obesidade poderá fazê-los ainda mais sedentários. A atividade física, mesmo que

espontânea, é importante na composição corporal, por aumentar a massa óssea e prevenir a

osteoporose e a obesidade (MELLO et al., 2004).

Ainda não é possível precisar se a redução da atividade física realmente precede a

obesidade ou é uma conseqüência da mesma, no entanto, existem estudos que sugerem que

25

uma atividade física diminuída representa um importante fator no desenvolvimento da

obesidade e que indivíduos que participam de práticas esportivas e programas de exercício

são menos propensos a desenvolverem sobrepeso (OLIVEIRA et al., 2002).

3.3.3 CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA E CULTURAL

O nível socioeconômico, que pode ser definido com base na renda, educação,

ocupação e área de residência, dentre outros critérios, interfere na prevalência de obesidade

de forma diretamente proporcional, apresentando deste modo os países em

desenvolvimento uma prevalência menor que os desenvolvidos, embora, apresentando

crescimento progressivo, sobretudo na população feminina. Por outro lado, a baixa

prevalência de obesidade no Japão, Suécia e Holanda, países desenvolvidos, sugere que o

desenvolvimento econômico e o aparecimento de obesidade não são fenômenos

necessariamente relacionados, e que nestes, a influência de fatores culturais é decisiva,

como acesso à informação sobre saúde, sobre os benefícios da prática regular de exercícios

físicos, dentre outros (OLIVEIRA et al., 2002).

Confirmando a cultura como fator importante a ser analisado, Kinra et al.(2000) em

estudo realizado na Inglaterra, país desenvolvido, analisaram 20.973 crianças entre 5 e 14

anos, em uma cidade conhecida por apresentar nível socioeconômico e cultural inferior à

média nacional. Foi detectada prevalência de obesidade 2,5 vezes maior que a esperada

nacionalmente, taxa esta, que aumentava com a idade.

Apenas os países muito desfavorecidos economicamente, parecem consistentemente

protegidos da obesidade. Nestas sociedades, o balanço energético está condicionado por

fatores econômicos: o consumo de energia pelo poder aquisitivo e o gasto energético pelas

26

características da ocupação, que geralmente despende grande quantidade de energia

(OLIVEIRA, et al.; 2002).

Conforme a mesma autora, no Brasil, país em desenvolvimento, inquéritos

nacionais realizados em 1974 e 1989 pelo Instituto Brasileiro de geografia e Estatística

(IBGE), demonstraram que a obesidade infantil estava presente em maior freqüência nas

famílias de maior renda.

27

4. METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, destinando-se ao levantamento do

material necessário para a realização da mesma. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a

partir de material já elaborado, abrangendo todas as fontes secundárias já tornadas públicas,

constituído principalmente de livros, artigos científicos, revistas, dissertações.

Segundo Fachin (2001), a pesquisa bibliográfica diz respeito ao conjunto de

conhecimentos humanos reunidos nas obras. Tem como base fundamental conduzir o leitor

a determinado assunto e a produção, coleção, armazenamento, reprodução, utilização e

comunicação das informações coletadas para o desempenho da pesquisa.

Embora todas as pesquisas se utilizem de documentos bibliográficos, na pesquisa

bibliográfica para encontrar respostas aos problemas formulados, seu recurso fica restrito à

consulta de referenciais teóricos publicados em documentos (CERVO; BERVIAN, 1983).

Gil (1995), pontuando as vantagens da pesquisa bibliográfica, considera de

fundamental importância a investigação de uma gama de fenômenos muito mais ampla do

que seria possível pesquisar diretamente. Entretanto, cabe ao pesquisador assegurar-se das

condições em que os dados coletados foram obtidos e de sua fidedignidade, para que a

qualidade e o sucesso da pesquisa não seja comprometida.

De posse das obras consultadas e do material coletado, inicia-se a redação da

pesquisa, integrando e relacionando todas as informações obtidas. “Dessa forma, a pesquisa

bibliográfica não é uma mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto,

mas propicia o exame de um tema sob um novo enfoque ou abordagem, chegando a

conclusões inovadoras” (MARCONI; LAKATOS, 1999 p.73).

28

Há uma variedade de enfoques e estilos de trabalho para a realização de pesquisas

bibliográficas, porém algumas etapas são fundamentais para o desenvolvimento da

pesquisa, dentre elas: exploração das fontes bibliográficas, leituras do material (com caráter

seletivo que possibilite reter o essencial de artigos científicos, dissertações, e outras fontes

utilizadas), elaboração das fichas (aspectos que mais interessam na pesquisa), ordenação e

análise das fichas, e por fim, as conclusões que serão feitas a partir da análise dos dados

(GIL, 1995).

Para a redação final foi feita uma copilação de dados bibliográficos sobre os

aspectos biológicos, psicológicos e sociais, e uma discussão dos mesmos no que se refere à

obesidade infantil.

29

5. DISCUSSÃO

Esta revisão teve como objetivo geral, investigar a obesidade infantil e sua

complexidade, influenciada por condições biológicas, psicológicas e sociais. Ao discutir

obesidade infantil com toda a sua multicausalidade e todas suas conseqüências orgânicas e

psíquicas, é preciso pensar no indivíduo obeso, com todas as suas particularidades, que são

ímpares a cada um, para que se consiga ajudá-lo a alcançar uma boa qualidade de vida.

Como nos aponta Mello et al., (2004) é consenso que a obesidade infantil vem

aumentando de forma significativa e que ela determina várias complicações na infância e

na vida adulta. Na infância, o manejo pode ser ainda mais difícil que na fase adulta, pois

está relacionada a mudanças de hábitos e disponibilidade dos pais, além de uma falta de

entendimento da criança quanto aos danos da obesidade.

Em relação aos aspectos biológicos da obesidade infantil, diversos estudos

evidenciam a participação do componente genético na incidência da obesidade. Estima-se

que entre 40% e 70% da variação do fenótipo associado à obesidade têm um caráter

hereditário. A influência genética como causa de obesidade infantil pode manifestar-se

através de alterações no apetite ou no gasto energético. (LOPES et al., 2004).

Conforme Oliveira et al (2002), o apetite é o “desejo de um determinado alimento”,

se constituindo na expressão de diferentes comportamentos, podendo ser intensificado pela

fome e associado a aspectos prazerosos da escolha e da ingestão dos alimentos,

determinando possivelmente a ingestão de calorias para satisfazer déficits energéticos.

Os mesmos autores consideram que quando iniciada a refeição, uma série de

respostas psicológicas e fisiológicas vai acontecendo culminando no estado de saciedade,

30

que leva à interrupção da ingestão de alimentos. A quantidade de alimento ingerida de

forma semelhante sofre influência de fatores fisiológicos e cognitivos além dos conteúdos

energético e nutricional dos alimentos.

A cultura, os costumes e convenções sociais modificam os determinantes

metabólicos e fisiológicos. Fatores como local, circunstância em que a refeição está

ocorrendo, crenças religiosas, demanda de prazer e o estado emocional alteram o limiar da

saciedade e conseqüentemente a ingestão de alimentos. (FONSECA, 2001).

Sendo assim, a população infantil é dependente do ambiente onde vive, que na

maioria das vezes é constituído pela família, sendo que suas atitudes são, freqüentemente,

reflexo deste ambiente. Segundo Kaufmam (1999), quando o ambiente é desfavorável,

poderá propiciar condições que levem ao desenvolvimento de distúrbios alimentares que,

uma vez instalados, poderão permanecer e desencadear a obesidade, caso não aconteça

mudanças neste contexto.

Muitos familiares e profissionais da saúde têm idéias pré-estabelecidas da criança

obesa, caracterizando-a como preguiçosa, relapsa e sem força de vontade. A expressão

destas idéias torna ainda mais difícil o processo de mudança comportamental iniciado pela

criança. Diante disso, assumem atitudes auto defensiva “de não fazer”, para não correr o

risco de errar, atitude esta entendida equivocadamente como um descompromisso com seus

afazeres e com falta de força de vontade. Estas definições preconcebidas são fatores

geradores de ansiedade e de aumento do fracasso terapêutico. (FONSECA, 2001).

É preciso ter em mente que há necessidade de um certo tempo para que as mudanças

se estabeleçam, portanto, cada criança e sua família devem ser compreendidas em seu

contexto biológico-cultural-emocional, e somente a partir disto, ou seja, da situação

31

específica da criança e de sua dinâmica familiar será possível iniciar uma proposta e

alcançar sucesso.

Segundo Mancini (2001), para obtenção de resultados significativos no controle do

sobrepeso e obesidade infantil é fundamental que estas condições sejam reconhecidas como

doenças e tratadas como tal. A obesidade é uma doença crônica, com etiologia

multifatorial, em constante evolução. Assim, não há modelo padrão de tratamento que

possa ser generalizado, porém, os pilares fundamentais no tratamento são modificações

comportamentais no estilo de vida. Portanto, o tratamento mais adequado a este tipo de

enfermidade, será aquele que associe intervenções no estilo de vida da população aliado,

quando indicado, ao uso adicional de terapias medicamentosas.

Para o tratamento da obesidade infantil faz-se necessário a presença de uma equipe

multiprofissional, que consiste de médico, nutricionista, educador físico e psicólogo. Além

disso, é importante ressaltar a importância da cooperação dos pais, que devem estar

conscientes que a obesidade é um risco e que gera problemas na vida adulta.

Este crescente aumento do número de crianças obesas podem estar mais

relacionados às mudanças no estilo de vida e aos hábitos alimentares. Aumento no consumo

de alimentos ricos em açúcares simples e gordura, com alto valor energético, e a

diminuição da prática de exercícios físicos.

Segundo Peres et al., (2002), é na relação humana que o ser humano se constitui. E

a partir da relação humana também que o sintoma vai se constituir. Por esta razão, nem

sempre é possível para a família apoiar e colaborar com o tratamento da criança obesa.

Muitas vezes, a família é um elemento que sustenta o sintoma obesidade, e por vezes é um

elemento que participa na própria constituição deste sintoma.

32

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Trabalho de Conclusão de Curso consistiu em um importante passo para minha

graduação e formação enquanto futura profissional da Psicologia.

A partir do estudo realizado na presente pesquisa, constatou-se que a influência

genética, claramente tem seu papel no desenvolvimento da obesidade infantil e que fatores

psicológicos e sociais podem modificar estas influências genéticas para aumentar ou limitar

o ganho de peso em crianças suscetíveis.

Assim, o pressuposto de que a obesidade infantil não se constitui de uma forma

isolada, mas influenciada por aspectos biológicos, psicológicos e sociais pode ser

comprovada através das inúmeras pesquisas isoladas. Deste modo, sendo um tema tão

complexo, entende-se porque a obesidade infantil é tão discutida, visto a abrangência de

fatores associados a mesma.

O alcance dos objetivos foi concretizado, reconhecendo que é fato notório que o

meio ambiente e o estilo de vida são fatores fundamentais para a gênese da obesidade, e

muito ainda resta a ser discutido a respeito de como se processa esta interação,

principalmente em relação a hábitos e composição alimentar. Embora os aspectos

relacionados à etiologia da obesidade infantil não estejam totalmente esclarecidos, a

associação de fatores genéticos, metabólicos e ambientais pode contribuir no

direcionamento da melhor conduta terapêutica.

Pode-se compreender que a obesidade infantil é fortemente influenciada pelo

ambiente familiar e que o estilo de vida adotado pela família é fator determinante de seu

desenvolvimento. Sendo assim, as preferências alimentares das crianças são fortemente

33

influenciadas pelos hábitos alimentares, e quando desenvolvidos na infância, tendem a

persistir na vida adulta. De forma semelhante a criança aprende a ser ativa ou inativa com

seus pais.

As medidas de correção dos maus hábitos alimentares e de combate ao

sedentarismo, mais que simples auxiliares na perda de peso, são hoje consideradas um dos

objetivos primordiais de qualquer tratamento de obesidade infantil.

Pode-se constatar também que a maioria das complicações típicas de adultos está

surgindo em crianças. Isolamento, depressão e baixa auto estima são, geralmente,

conseqüências precoces da obesidade, enquanto que os fatores de risco de doenças

cardiovasculares e diabetes são, em geral, complicações em longo prazo do excesso de

peso.

A partir da pesquisa bibliográfica realizada em torno do tema obesidade infantil,

verificou-se que são inesgotáveis as possibilidades de investigação, visto a importância e

relevância das variáveis biológicas, psicológicas e sociais envolvidas neste contexto.

Portanto, muitos trabalhos são necessários, e os enfoques devem ser direcionados a todas as

condições envolvidas na obesidade infantil, de forma que se possa evidenciar a interação

dessas variáveis nas respostas dos indivíduos envolvidos.

34

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