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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA ALINE CRUZ INOUE O HOMEM CONTEMPORÂNEO: UMA VISÃO SOCIAL E PSICANALÍTICA BIGUAÇU 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

ALINE CRUZ INOUE

O HOMEM CONTEMPORÂNEO: UMA VISÃO SOCIAL E

PSICANALÍTICA

BIGUAÇU 2009

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ALINE CRUZ INOUE

O HOMEM CONTEMPORÂNEO: UMA VISÃO SOCIAL E PSICANALÍTICA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os requisitos parciais

para obter o grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí no Curso de

Psicologia.

Banca Examinadora

Prof. __________________________________________ M.Sc. Henry Dario Cunha Ramiréz – Orientador

Profª. _________________________________________ Dra.Sc. Luciana Martins Saraiva – Membro

Profª. __________________________________________ M.Sc. Maria Suzete Salib – Membro

BIGUAÇU 2009

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ALINE CRUZ INOUE

O HOMEM CONTEMPORÂNEO: UMA VISÃO SOCIAL E

PSICANALÍTICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do grau de Bacharel no Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Sob orientação do professor Henry Dario Cunha Ramiréz.

BIGUAÇU

2009

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RESUMO

INOUE, Aline. Cruz. O Homem Contemporâneo: uma visão social e psicanalítica. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia – Bacharel em Psicologia) – Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2009. A presente pesquisa pretende promover uma reflexão sobre a visão social e psicanalítica do homem contemporâneo. Como metodologia de pesquisa utilizou-se a pesquisa bibliográfica. Procurou-se com este estudo descrever a concepção psicanalítica sobre o processo civilizatório, e caracterizar na visão de autores contemporâneos a sociedade atual. A partir dessas concepções foi realizada uma análise da relação que o sujeito estabelece com a contemporaneidade e com isso identificou-se as influências do modo de vida atual na constituição da identidade do sujeito. Os resultados sugerem alguns traços desse homem contemporâneo, entre outros, uma volta para o narcisismo, um enfraquecimento dos limites, e uma identidade construída a partir de vínculos tênues. Palavras-chave: Homem contemporâneo; Sociedade; Identidade.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................8 2.1 CONCEPÇÃO PSICANALÍTICA FREUDIANA SOBRE O PROCESSO CIVILIZATÓRIO.....................................................................................................................8 2.1.1 A família como mediadora entre indivíduo e sociedade............................................13 2.2 A CIVILIZAÇÃO NOS TEMPOS ATUAIS: MUDANÇAS SOCIAIS E COMPORTAMENTAIS.........................................................................................................15 2.3 REFLEXÕES SOBRE O HOMEM CONTEMPORÂNEO............................................19 2.3.1 Discurso sociológico.......................................................................................................19 2.3.2 Discurso Psicanalítico....................................................................................................22 3. METODOLOGIA.......................................................................................................25 3.1 TIPO DE PESQUISA........................................................................................................25

3.2 LEVANTAMENTO DOS DADOS..................................................................................26

3.3 ANÁLISE DOS DADOS..................................................................................................26

4. DISCUSSÃO..................................................................................................................27

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................30

REFERÊNCIAS................................................................................................................32

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1 INTRODUÇÃO

“O que sabemos de nós próprios, o que a nossa memória reteve, é menos decisivo do

que se pensa para a felicidade da nossa vida. Chega um dia em que surge nela aquilo que,

sabem os outros (ou julgam saber), de nós: damo-nos então conta de que a sua opinião é

mais poderosa. Arranjamo-nos melhor com a má consciência do que com a má reputação”

Friedrich Nietzsche

Independente do momento em que se vive, a sociedade parece influenciar de forma

significativa na vida do homem. As características sociais de cada época impulsionam para

um modo de ser, o que possibilita pensar numa padronização de um modelo de felicidade. O

que se pode dizer então de um sujeito inserido numa sociedade em que as transformações

estão num ritmo acelerado, em que o contato passa do pessoal para o virtual, onde a mídia

parece já ter alcançado um papel decisivo na vida das pessoas e os objetos de consumo se

apresentam para preencher os vazios dessa vida moderna.

Freud, ao publicar “O mal-estar na civilização” em 1930, propôs uma reflexão crítica

sobre a relação do homem na sociedade ao supor a existência de um mal-estar e a civilização

como responsável por grande parte das desgraças da humanidade. Essa responsabilidade pode

ser pensada a partir dos limites impostos pela civilização e de como o homem vive nessa

sociedade onde o controle dos instintos e a renúncia à satisfação pulsional são condições para

se inserir nos grupos sociais.

Ao pensar na civilização atual e sua relação com o sujeito, é possível se perguntar

quem é o homem da sociedade contemporânea. Quais são seus limites, seu modo de vida, sua

identidade. Será que o homem de hoje vive as mesmas limitações e questões existenciais da

época de Freud? Podemos falar dos mesmos mal-estares que Freud propôs em 1930? Quais

são as principais características dessa sociedade contemporânea? Como o modo de vida social

da atualidade influi na constituição da identidade do sujeito?

Para Setton (2005) na sociedade contemporânea, a cultura alcançou um nível de

produção e circulação nunca antes visto. O pressuposto aqui, portanto, é o surgimento de um

universo cultural plural e diversificado. Nesse sentido, é necessário buscar contribuições que

assegurem o diálogo e as relações de interdependência entre indivíduo e sociedade. Segundo

Giddens (2002) as mudanças em aspectos íntimos da vida pessoal estão diretamente ligadas

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ao estabelecimento de conexões sociais de grande amplitude. A modernidade altera a natureza

da vida social cotidiana e afeta os aspectos mais pessoais de nossa existência.

Pelo antes exposto, os aspectos sociais parecem estar diretamente ligados a forma de

vida do sujeito e influenciar de maneira significativa na constituição da identidade. Por essa

razão se torna relevante uma análise dos aspectos da sociedade atual, para poder perceber o

que vem sendo discutido por autores contemporâneos e assim pensar na relação entre

sociedade atual e sujeito.

Ao pensar o homem contemporâneo, é possível relacionar saberes da Sociologia e da

Psicanálise. Para Enriquez (2005) Freud manifestou bem cedo seu interesse pela junção das

disciplinas psicológicas e sociais. Ele sublinhava a originalidade da abordagem psicanalítica e

as contribuições que esta nova perspectiva científica poderia oferecer às ciências sociais.

Segundo Ferrari (2008) dizer que a psicanálise se ocupa do social como uma realidade

não é sem conseqüências, porque significa admitir certa objetividade social, ou seja, admitir a

idéia de que o social não é uma ilusão individual. Enriquez (2005) afirma que a psicanálise

não é apenas a ciência da psique individual, mas também aquela das interações, dos processos

de projeção e identificação, e da formação de fantasias ativadas nas inter-relações e que

influenciam a realidade psíquica dos indivíduos.

Diante do antes exposto, o presente estudo objetiva interrogar a seguinte pergunta:

qual a visão do homem contemporâneo privilegiando autores psicanalistas e autores sociais?

Para responder essa pergunta traçou-se como objetivo geral refletir sobre a visão social e

psicanalítica do homem contemporâneo. Especificamente pretende-se descrever a concepção

psicanalítica freudiana sobre o processo civilizatório; identificar as mudanças sociais e

comportamentais na contemporaneidade; e caracterizar a noção de homem contemporâneo

dentro do discurso sociológico e psicanalítico. Para atender a tal objetivo utilizou-se uma

pesquisa bibliográfica, por entender que resultaria apropriada para propor uma reflexão sobre

esse homem contemporâneo.

A relevância científica dessa pesquisa consiste em propor reflexões que contribuam

para pensar o homem na sua contemporaneidade, contribuindo para uma leitura psicanalítica e

tomando como ponto de partida o pensamento de Freud em sua obra “O mal-estar na

civilização”, dentre outras obras freudianas, enriquecendo o estudo acadêmico com a inclusão

de autores sociais.

A respeito da relevância social pode-se dizer que embora essa pesquisa tenha um viés

teórico e não se caracterize por uma pesquisa aplicada, é possível pensar numa reflexão social

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sobre que tipo de interação se estabelece entre homem e sociedade, e como o social se insere

nessa relação homem e civilização, para assim produzir esse homem contemporâneo.

A relevância profissional consiste em repensar esse homem contemporâneo, embora

não se pretenda esgotar o tema nem muito menos as abordagens sobre o assunto, que reflete

na atuação profissional não exclusivamente de psicólogos e que atuam em diversos contextos

(educacional, organizacional, jurídico, clínico, dentre outros), resulta relevante pensar este

homem contemporâneo, que certamente não é o mesmo que promoveu em Freud uma

reflexão sobre o mal-estar.

O presente trabalho se organizou da seguinte forma: o capítulo 2, intitulado revisão

bibliográfica compreende um apanhado de material bibliográfico sobre a temática em questão;

o capítulo 3 metodologia, se refere ao tipo de pesquisa escolhida para confecção deste

trabalho; o capítulo 4 discussão, consiste em uma análise crítica do que foi estudado e faz

referência a possíveis conclusões e hipóteses sobre o referido assunto; e por último o capítulo

5 considerações finais, identifica se objetivos traçados foram alcançados e como foi de um

modo geral a realização desta pesquisa.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Com o intuito de atingir os objetivos propostos da presente pesquisa, foi necessário

desenvolver alguns tópicos referentes ao assunto em questão. O primeiro deles consiste na

concepção psicanalítica freudiana sobre o processo civilizatório.

2.1 CONCEPÇÃO PSICANALÍTICA FREUDIANA SOBRE O PROCESSO

CIVILIZATÓRIO

Em “Totem e tabu” (1913) Freud ao fazer um resgate dos aborígenes australianos,

identifica que o lugar das instituições religiosas e sociais nessa tribo é ocupado pelo sistema

do totemismo. As tribos australianas subdividem-se em grupos menores, ou clãs, cada um dos

quais é denominado segundo o seu totem. Um totem é um animal (comível e inofensivo, ou

perigoso e temido) e mais raramente um vegetal ou um fenômeno natural (como chuva ou

água), que mantém relação peculiar com todo o clã. O totem é antepassado comum de todo o

clã, é o seu espírito guardião e auxiliar, que lhe envia oráculos e embora perigoso para os

outros, reconhece e poupa os seus próprios filhos. Em compensação os integrantes do clã

estão na obrigação sagrada de não matar nem destruir seu totem.

Para Freud (1913) o que atraiu o interesse dos psicanalistas em relação ao sistema

totêmico diz respeito a uma lei contra as relações sexuais entre pessoas do mesmo totem, e

conseqüentemente, contra seu casamento. Esta proibição é notável por sua severa

obrigatoriedade. Assim, esses selvagens têm um horror intenso ao incesto, ou são sensíveis ao

assunto num grau fora do comum. O aspecto social do totemismo se expressa principalmente

por uma junção feita respeitar severamente e uma ampla restrição.

Segundo Freud (1913) a Psicanálise revelou que o animal totêmico é, na realidade, um

substituto do pai e isto entra em acordo com o fato contraditório de que, embora a morte do

animal seja em regra proibida, sua matança, no entanto, é uma ocasião festiva. A atitude

emocional ambivalente, que até hoje caracteriza o complexo-pai nos filhos e com tanta

freqüência persiste na vida adulta, parece estender-se ao animal totêmico em sua capacidade

de substituto do pai. A refeição totêmica, que é talvez o mais antigo festival da humanidade,

seria assim uma repetição, e uma comemoração desse ato memorável e criminoso, que foi o

começo de tantas coisas: da organização social, das restrições morais e da religião. O pai

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morto tornou-se mais forte do que fora vivo, e um sentimento de culpa surgiu, o qual

coincidia com o remorso de todo o grupo. O sistema totêmico foi desse modo, um pacto com

o pai, no qual este prometia tudo o que uma imaginação infantil pode esperar de um pai,

proteção, cuidado, e indulgência, enquanto que, por seu lado comprometiam-se a respeitar-lhe

a vida, isto é, não repetir o ato que causara a destruição do pai real.

Em “Psicologia de grupo e a análise do ego” (1921) Freud retoma a teoria de Darwin

segundo a qual a forma primitiva da sociedade humana era uma horda governada

despoticamente por um macho poderoso. O desenvolvimento do totemismo, como

mencionado no parágrafo anterior, está ligado ao assassinato do chefe pela violência e à

transformação da horda paterna em uma comunidade de irmãos. O grupo nos aparece como

uma revivescência da horda primeva. Os membros do grupo achavam-se sujeitos a vínculos,

tais como percebemos atualmente. O pai da horda primeva, porém parecia possuir poucos

vínculos libidinais, ele não amava ninguém, a não ser a si próprio, ou outras pessoas, na

medida em que atendiam às suas necessidades. Os membros de um grupo permanecem na

necessidade da ilusão de serem iguais e amados por seu líder, ele próprio, porém, não

necessita amar mais ninguém, pode ser de uma natureza dominadora, absolutamente

narcisista, autoconfiante e independente.

Freud em “Psicologia de grupo e a análise do ego” (1921) refere-se a conceitos de

autores sobre a mente grupal. Um desses autores, Mc Dougall, afirma que uma multidão

ocasional só se torna uma massa no sentido psicológico quando há algo em comum uns com

os outros, um interesse comum num objeto, uma inclinação emocional semelhante numa

situação ou noutra. Isto tem como resultado a exaltação da emoção produzida em cada

membro. A massa não é organizada e sim emocional, impulsiva, violenta, influenciável. O

indivíduo numa massa esta sujeito à alteração em sua atividade mental através da influência

que a mesma exerce sobre ele. A submissão do indivíduo à emoção torna-se intensificada e

sua capacidade intelectual é reduzida. Essa massa exige ilusões, não tem como objetivo a

busca pela verdade e possui anseio de obediência, portanto, submete-se a alguém que se

indique como “chefe”, um líder. É necessário destacar também que existe a submissão, mas

ao mesmo tempo a massa possibilita a expressão de determinados afetos que normalmente

ficam reprimidos.

Freud (1921) menciona a descrição de Le Bon sobre a mente grupal, onde o autor

indaga sobre a psicologia pensada apenas no indivíduo, uma vez que essa não consegue

explicar porque, quando em grupo, as pessoas se comportam de maneira diferente. Para ele o

que leva o agir diferente do sujeito pode ser identificado em três fatores: o sentimento de

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poder, que permite ao indivíduo render-se a instintos que sozinho teria mantido sob coerção; o

contágio, que intervêm para determinar nos grupos a manifestação de suas características

especiais e a tendência que devem tomar; e a sugestionabilidade que pode ser exemplificada

por um indivíduo que ao perder sua personalidade consciente obedece a todas as sugestões e

comete atos em contradição com seu caráter e hábitos.

Segundo Freud (1921) um indivíduo que faz parte de um grupo psicológico, assim

como um sujeito hipnotizado, ao mesmo tempo em que certas faculdades são inibidas, outras

podem ser conduzidas a um alto grau de exaltação. Sob a influência de uma sugestão,

empreenderá a realização de certos atos com irresistível impetuosidade. Dessa forma, o

desaparecimento da personalidade consciente, a predominância da personalidade

inconsciente, a modificação por meio da sugestão e do contágio de sentimentos e idéias numa

direção idêntica, e a tendência a transformar as idéias sugeridas em atos, são as características

principais do indivíduo que faz parte de um grupo.

Na mesma obra supracitada “Psicologia de grupo e a análise do ego” (1921) Freud

menciona Trotter (1916) que descreve os fenômenos mentais ocorrentes nos grupos derivados

de um instinto gregário. Biologicamente, esse gregarismo constitui uma analogia à

multicelularidade, sendo uma continuação dela. Em termos da teoria da libido, trata-se de

outra manifestação da tendência proveniente da libido e sentida por todos os seres vivos da

mesma espécie, a de combinar-se em unidades cada vez mais abrangentes.

Também é possível observar esse instinto gregário na obra “Além do princípio do

prazer” (1920) onde Freud afirma que de acordo com a teoria de Hering dois tipos de

processos estão constantemente em ação na substância viva, operando em direções contrárias,

uma construtiva e assimilatória, e a outra destrutiva ou dissimilatória. Freud (1920)

considerou a união de uma série de células numa associação vital, e que o caráter multicelular

dos organismos se tornou um meio de prolongar a sua vida. Uma célula ajuda a conservar a

vida de outra, e a comunidade de células pode sobreviver mesmo que as células individuais

tenham de morrer. Freud (1920) aplicou a teoria da libido à relação mútua das células e supôs

que os instintos de vida ou instintos sexuais ativos em cada célula tomam as outras células

como seu objeto, que parcialmente neutralizam os instintos de morte, preservando assim sua

vida, ao passo que as outras fazem o mesmo para elas e outras ainda se sacrificam no

desempenho dessa função libidinal. Dessa maneira, a libido de nossos instintos sexuais

coincidiria com o Eros dos poetas e dos filósofos, o qual mantém unidas todas as coisas vivas.

Ao pensar nos instintos individuais Freud em “Os instintos e suas vicissitudes” (1915)

afirma que a finalidade de um instinto é sempre satisfação, mas embora a finalidade última de

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cada instinto permaneça imutável, poderá haver diferentes caminhos conducentes à mesma

finalidade, de modo que se pode verificar que um instinto possui várias finalidades mais

próximas ou intermediárias, que são combinadas ou intercambiadas umas com as outras. Para

Freud (1915) a experiência permite falar de instintos que são inibidos em sua finalidade, no

caso de processos aos quais se permite progredir no sentido da satisfação instintual, sendo

então inibidos ou defletidos.

Em “Além do princípio de prazer” (1920) Freud coloca que o curso tomado pelos

eventos mentais está automaticamente regulado pelo princípio de prazer, ou seja, o curso

desses eventos é invariavelmente colocado num movimento em que o resultado final coincide

com uma evitação de desprazer ou uma produção de prazer. O princípio de prazer é próprio de

um método primário de funcionamento por parte do aparelho mental, mas do ponto de vista

da autopreservação do organismo entre as dificuldades do mundo externo, ele é, desde o

início, ineficaz e até mesmo perigoso. Sob a influência dos instintos de autopreservação do

ego, o princípio de prazer é substituído pelo princípio de realidade. Esse último princípio não

abandona a intenção de obter prazer, mas exige e efetua o adiamento da satisfação, o

abandono de possibilidades de obtê-la, e a tolerância temporária do desprazer como uma etapa

no caminho para o prazer.

Na obra “O mal-estar na civilização” (1930) Freud afirma que assim como a

satisfação do instinto equivale para nós à felicidade, assim também um grave sofrimento

surge em nós, caso o mundo externo se recuse a satisfazer nossas necessidades. Podemos ter

esperanças de nos libertarmos de uma parte de nossos sofrimentos, agindo sobre os impulsos

instintivos. A forma extrema disso é o aniquilamento dos instintos. Assim, o indivíduo

abandona todas as outras atividades: sacrifica a sua vida e atinge a felicidade da quietude.

Seguimos o mesmo caminho quando os nossos objetivos são menos extremados e

simplesmente tentamos controlar nossa vida instintiva. Nesse caso, os elementos

controladores são os agentes psíquicos superiores, que se sujeitaram ao princípio da realidade.

No ano de 1927 em “O futuro de uma ilusão” Freud apontou o fato de estarem

presentes em todos os homens tendências destrutivas e anti-sociais, e que num grande número

de pessoas, essas tendências são suficientes para determinar o comportamento delas na

sociedade. Assim, a fim de se tornar possível a vida comunitária, a civilização impõe

sacrifícios aos homens. Freud descreve esses sacrifícios como sendo um pesado fardo para o

homem, e a civilização, portanto, tem de ser defendida contra o indivíduo, e seus

regulamentos, instituições e ordens dirigem-se a essa tarefa.

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Freud em “O mal-estar na civilização” (1930) descreve a palavra “civilização” como a

soma integral das realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos

antepassados animais, e que servem a duas finalidades: a de proteger os homens contra a

natureza e a de ajustar os seus relacionamentos mútuos. Há uma dificuldade de admitir que os

regulamentos estabelecidos por nós mesmos não representam proteção e beneficio, ao

contrário, o que chamamos de nossa civilização é em grande parte responsável por nossa

desgraça e que seríamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos às

condições primitivas.

Ao pensar na inserção do sujeito na civilização Birman (2005) aponta que as idéias de

Freud sofreram alterações. Na primeira versão freudiana foi enunciada a hipótese de que a

psicanálise poderia oferecer uma resposta resolutiva ao mal-estar na civilização, e que seria

possível uma harmonia entre o registro do sujeito e o registro do social. Na segunda versão

essa resposta foi interrogada, isto é, a primeira versão freudiana foi colocada em questão de

maneira que a problemática do desamparo do sujeito no campo social foi a marca decisiva na

leitura sobre a inserção deste sujeito na modernidade.

Segundo Moreira (2005) quando a leitura sobre a relação entre o eu e o outro

privilegiar o conceito de desamparo, a dependência entre estes é irremediável. O desamparo

faz com que o Eu perceba a importância inquestionável do outro para sua sobrevivência,

instaurando, pois, a possibilidade de uma reflexão ética. Porém, o encontro com a alteridade é

bastante complicado. Isto porque o Eu, na sua sede de poder, deseja reduzir o outro ao

mesmo, contudo a alteridade mostra-se irredutível, produzindo um sofrimento sem saída no

interior da relação, mesmo porque o sujeito não pode abstrair deste encontro. Diante da

iminência do sofrimento, via frustração, o princípio de prazer transforma-se em princípio de

realidade. A frustração anuncia limites para o prazer, introduzindo a idéia de adiamento e até

de não realização do desejo, e a felicidade, que antes se concentrava na realização tirânica do

desejo, passa a buscar a esquiva do sofrimento.

Segundo Albertini (2003), Freud em relação ao tema sexualidade aponta que a função

sexual humana estaria em processo de involução e a civilização seria produto da restrição

sexual, sem a mesma não haveria desvio de energia para a sua construção. O modelo é o de

uma quantidade fixa de energia que, se for gasta inteiramente de uma forma, impossibilita

outra maneira de emprego.

Em outras palavras, a civilização exige um montante de energia direcionada para o

trabalho, este como um dos motores de desenvolvimento das diferentes áreas de ação do

homem. Dessa forma, a restrição sexual acaba possibilitando uma quantidade de energia

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disponível para atividades valorizadas socialmente, como por exemplo, cuidado com a

família, trabalho, educação, ciência, esporte, dentre outros.

2.1.1 A família como mediadora entre indivíduo e sociedade

Ao pensar nas instituições que mediam a relação do sujeito com o social, a família

aparece como primordial nesse processo de mediação. Portanto cabe aqui analisar de forma

sucinta como o sujeito se insere na civilização desde a infância, a partir da relação familiar.

Segundo Reis (2004) é na família, mediadora entre indivíduo e sociedade, que o

indivíduo aprende a perceber o mundo e a situar-se nele. É a formadora da primeira

identidade social. A autonomia da organização familiar é determinada por uma interação de

diversos fatores relativos à organização interna do grupo familiar e pelos aspectos

econômicos, sociais e culturais que o circunscrevem. A família não é algo natural, biológico,

mas uma instituição criada pelos homens em relação, que se constitui de formas diferentes em

situações e tempos diferentes, para responder às necessidades sociais.

Para Reis (2004) a primeira exigência feita à criança no ambiente familiar corresponde

ao controle do próprio corpo. Deve, portanto, renunciar ao prazer corporal em troca do afeto

dos pais. Essa situação vivida pela criança culmina com o aparecimento da ambivalência e do

sentimento de culpa. A negação dos prazeres corporais provoca cólera dirigida a quem

impede sua satisfação, no caso, a mãe, porém esta também é seu principal objeto de amor.

Assim, fica complicado transformar em ação o sentimento de ódio contra a mãe, isso produz

ambivalência e sentimento de culpa e fornece as bases para a formação do superego.

Zoja (2005) afirma que Freud considerava a família nuclear estruturada sobre a figura

paterna. Cabia ao pai converter a criança dominada pelo instinto em um ser social, isso pela

ruptura da ligação com a mãe possibilitando a inserção da figura do pai. Dessa forma que

surge na criança o superego, como autoridade interior referida tanto ao pai pessoal como a

outra figura hierárquica. A presença do pai é fundamental para o desenvolvimento do filho,

apesar da mãe ser a figura de maior apego no início da vida, o relacionamento com o pai é

indispensável, pois segundo Zimmerman (2000) esta relação que vai marcar a saída do estado

narcisista a partir da entrada em cena de um pai respeitado e valorizado, o que vai possibilitar

ao filho o ingresso nas relações sociais.

Para Araújo (2005) a inserção no mundo humano é marcada pela despedida da

onipotência infantil, além de ressaltar para a criança o contato com os próprios limites, com a

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alteridade e com a morte. Winnicott (1996) aponta que o desenvolvimento do indivíduo

compreende a passagem da dependência para a independência. A dependência se dá a partir

da formação de um vínculo, formado entre o bebê e os pais, no desenvolvimento saudável

esse vínculo vai se rompendo aos poucos possibilitando a independência da criança.

Segundo Reis (2004) o processo de socialização da criança é concretamente

determinado pela sua condição histórico-social. Enquanto sujeito da história, a criança tem a

possibilidade de recriar seu processo de socialização e através dele interferir na realidade

social. Esse processo só pode ser tratado como evolutivo da condição social da criança,

considerando a sua origem de classe. No convívio com a família, a criança internaliza padrões

de comportamento, normas e valores de sua realidade social, isso ocorre necessariamente pela

mediação do outro que estabelece vínculos básicos e essenciais entre criança e mundo social

onde ela passa a se reconhecer e a reconhecer o outro numa relação de reciprocidade.

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2.2 A CIVILIZAÇÃO NOS TEMPOS ATUAIS: MUDANÇAS SOCIAIS E

COMPORTAMENTAIS

A partir da concepção psicanalítica sobre o processo civilizatório, foi possível

identificar como a sociedade se constitui desde as teorias sobre as fases mais primitivas da

organização social. Pode-se também perceber como o sujeito se insere na civilização e quais

são as conseqüências dessa inserção. Assim, as contribuições freudianas no que se refere ao

processo civilizatório são de extrema importância para refletir sobre o homem

contemporâneo. Porém, para se conseguir pensar sobre o homem da sociedade dos dias de

hoje é preciso identificar o momento histórico atual, ou seja, o que vem sendo discutido sobre

essa sociedade contemporânea.

Pós-modernidade, juntamente com outros termos como mundo contemporâneo, era

pós-industrial, sociedade da informação e era do capitalismo tardio são algumas

denominações dadas aos tempos atuais. O mundo pós-moderno se inicia a partir da chamada

crise da modernidade, da percepção de que as grandes visões filosóficas, políticas e religiosas

típicas da modernidade perderam a legitimidade, a hegemonia e foram, portanto, invalidadas,

postas em xeque (PORTELA, 2008).

Para Menezes (2005) a modernidade alterou a ordem social com suas conquistas

tecnológicas, científicas, culturais e políticas, e algo semelhante ocorreu no século XX,

sobretudo nas últimas décadas. Vimos surgir novos estilos, costumes de vida e diferentes

formas de organização social. É evidente o declínio da esfera pública e política, a mistura

entre o público e o privado, as novas formas de identidade social, o impasse histórico do

socialismo, a expansão dos fundamentalismos, os tribalismos, as conseqüências que a

informatização gerou na produção material e no cotidiano, a crise ecológica e as dimensões da

globalização.

Adelman (2009) refere-se às idéias de autores a respeito dos tempos atuais. Segundo o

autor Anthony Giddens, para quem a reflexividade1 é característica da sociedade "pós-

tradicional" marca sua diferença e só se realiza com o avanço da História ocidental moderna;

Habermas insiste na modernidade como projeto inacabado; e para Bauman, a modernidade se

estabelece inicialmente como uma época de hierarquias, de padrões normativos, e de sonhos

de pureza e de controle "totalizante" sobre a natureza e sobre a "natureza humana". 1 Para Giddens a reflexividade da modernidade significa que as práticas sociais modernas são enfocadas, organizadas e transformadas, à luz do conhecimento constantemente renovado sobre estas próprias práticas. Nas condições da modernidade reflexiva o conhecer não significa estar certo, ou seja, o conhecimento está sempre sob dúvida e incide sobre as práticas sociais e estas sobre o mesmo.

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Para Adelman (2009) a tendência que prevalece no discurso sociológico é aquela que

entende o pós-modernismo monoliticamente como cultura afirmativa, e associa a

sensibilidade pós-moderna à manipulação "hipermoderna" do mundo das imagens, prazeres

consumistas imediatos e ilimitados, e desejos que se satisfazem sem sequer implicar em

qualquer tensão para sua realização. Como não fornece bases institucionais para a

reconstrução dos laços que unem as pessoas ao mundo, ao contrário, abre um espaço cada vez

maior para a "livre ação" do mercado, a pós-modernidade aparece como a idade dos vínculos

tênues e das "comunidades imaginadas”.

Segundo Fridman (1999) a sociedade da imagem e a indispensável onipresença da

mídia é o ambiente em que se processa uma nova expansão do capitalismo. Assim como a

industrialização e a urbanização mudaram o ritmo e as feições da vida no século XIX, as

linguagens midiáticas alteraram decisivamente os modos de vida atuais. A cultura baseada na

imagem, dispondo de meios como a televisão, os computadores, a publicidade etc., suplantou

a cultura literária anteriormente predominante. O que se vê é a "estetização da realidade" em

que a arte se mistura indissoluvelmente à compra e venda de produtos através da criação de

narrativas que favorecem investimentos imaginários e libidinais dos consumidores em torno

das mercadorias.

Birman (2003 apud BENTO; STACECHEN 2008) afirma que o que caracteriza

fundamentalmente a pós-modernidade é uma cultura do narcisismo e do espetáculo, na qual o

individualismo e o autocentramento do sujeito adquirem proporções enormes. Vive-se

atualmente uma época marcada essencialmente pelo consumo exacerbado. Este traço da pós-

modernidade acaba por permear todo o modo de vida atual. Os autores mencionam Santos

(2002) que afirma estar havendo nos tempos atuais a sedimentação de um sistema econômico

que afeta a todos e permeia as relações humanas. O ritmo cultuado e estabelecido para o

consumo acaba por criar falsas necessidades que alimentam o desejo do sujeito na busca pelo

objeto do consumo. Assim, os desejos de consumo, uma vez satisfeitos, são rapidamente

substituídos por outros através do ritmo incessante do consumismo.

Adelman (2009) afirma que as novas condições sociais trazem novas formas de

controle social (a dupla "sedução/repressão" de uma sociedade de consumo) que independem

da "legitimação". Além de perder sua centralidade na elaboração desse tipo de discurso, os

intelectuais também perdem seu papel no desenvolvimento e sustento da cultura. O

capitalismo agora engaja as pessoas na sua condição de consumidores. Desenvolve-se um

novo esquema de controle, integração e dominação sociais, baseado na oposição "sedução"

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(ligada à dependência das pessoas em relação ao mercado) e repressão (ligada à "penetração

crescente da esfera privada").

Segundo Boudon e Bourricaud (1993 apud ALVAREZ 2004) a expressão "controle

social" geralmente é caracterizada nos dicionários como circunscrevendo uma temática

relativamente autônoma de pesquisa, voltada para o estudo do conjunto dos recursos materiais

e simbólicos de que uma sociedade dispõe para assegurar a conformidade do comportamento

de seus membros a um conjunto de regras e princípios prescritos e sancionados.

Segundo Foucault (1987) em qualquer sociedade o corpo está preso no interior de

poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. Esses

métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição

constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que

podemos chamar as “disciplinas”. Muitos processos disciplinares existiam há muito tempo:

nos conventos, nos exércitos, nas oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer

dos séculos XVII e XVIII fórmulas gerais de dominação.

Alvarez (2004) se refere ao autor Deleuze (1992) que apontava para uma ruptura dos

mecanismos de regulação dos comportamentos na atualidade, ao considerar que as sociedades

contemporâneas não seriam mais "sociedades disciplinares", tal como pensadas por Foucault,

mas sim "sociedades de controle", nas quais os mecanismos de confinamento estariam sendo

substituídos por novas tecnologias eletrônicas e informacionais de supervisão e controle dos

indivíduos e das populações.

Segundo Alvarez (2004) Anthony Giddens (1991) chama a atenção para os

mecanismos de vigilância como uma das principais dimensões institucionais da modernidade.

Para esse autor, a concentração administrativa que caracteriza os estados modernos em geral

depende do desenvolvimento de condições de vigilância voltadas para a supervisão das

atividades da população súdita, por meio da supervisão direta em instituições como as prisões,

as escolas, os locais de trabalho, etc. ou por meio indireto, sobretudo a partir do controle da

informação.

Segundo Giddens (2002) na alta modernidade a influência de acontecimentos distantes

sobre eventos próximos, e sobre as intimidades do eu, se torna cada vez mais comum. A

mídia impressa e eletrônica desempenha um papel central. A experiência canalizada pelos

meios de comunicação, desde a primeira experiência da escrita, tem influenciado tanto a auto-

identidade quanto a organização das relações sociais. Na ordem pós-tradicional da

modernidade, e contra o pano de fundo de novas formas de experiência mediada, a auto-

identidade se torna um empreendimento reflexivamente organizado. O projeto reflexivo do

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Eu, que consiste em manter narrativas biográficas coerentes, embora continuamente revisadas,

tem lugar no contexto de múltipla escolha filtrada por sistemas abstratos.

Segundo Melucci (1996, p.201 apud PORTELA 2008) um aspecto importante na pós-

modernidade é o da produção e utilização da informação como principal recurso mediador e

guia das relações: "A maior parte de nossa experiência cotidiana é experiência em enésimo

grau, o que significa que ela se situa em contextos que são cada vez mais construídos por

informação, transmitidos pela mídia e internalizados pelos indivíduos." O autor menciona as

idéias de Thompson (2004), ao afirmar que as amizades e relações já não se restringem nem a

locais e nem a tempos determinados, mas sim, aos instrumentos de mediação como internet,

celular, televisão, que determinam formas diferentes de relações, face a face e mediadas.

As transformações que estão ocorrendo no mundo contemporâneo têm sido discutidas

por diversos pensadores, esses autores destacam a fragilidade das relações interpessoais, a

transitoriedade das posições identitárias e as mudanças significativas ocorridas nas

instituições sociais. A perda dos referenciais pessoais e institucionais ou a dificuldade em

atender as novas demandas faz com que as pessoas construam uma nova forma de ser e estar

no mundo (GUARESCHI; HENNIGEN, 2002).

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2.3 REFLEXÕES SOBRE O HOMEM CONTEMPORÂNEO

2.3.1 Discurso sociológico

Bauman (1998) aborda os conceitos de Freud em “O mal- estar na civilização”

(1930), trazendo-os para a pós-modernidade. Segundo o autor, Freud parte do princípio que o

sujeito ganha alguma coisa mas, habitualmente, perde em troca de alguma coisa. Assim como

“cultura” ou “civilização”, modernidade é mais ou menos beleza (“essa coisa inútil que

esperamos ser valorizada pela civilização”), limpeza (“a sujeira de qualquer espécie parece

incompatível com a civilização”) e ordem (“ordem é uma espécie de compulsão à repetição

que, quando regulamentada, decide quando, onde e como uma coisa deve ser feita”).

Nada predispõe “naturalmente” os seres humanos a procurar ou preservar a beleza,

conservar-se limpo e observar a rotina chamada ordem. Sua liberdade de agir sobre seus

próprios impulsos deve ser controlada. Bauman (1998) reflete sobre os conceitos de Freud

(1930) e coloca que o princípio de prazer está reduzido à medida do princípio da realidade

que é a medida do realista. Freud falou em termos de “compulsão”, “regulação”, “supressão”

ou “renúncia forçada”. Esses mal-estares da modernidade resultaram do “excesso de ordem” e

da escassez de liberdade. Dentro da estrutura de uma civilização concentrada na segurança,

mais liberdade significa menos mal-estar. E dentro da estrutura de uma civilização que

escolheu limitar a liberdade em nome da segurança, mais ordem significa mais mal-estar.

Para Bauman (1998) os ganhos e as perdas mudaram de lugar: os homens e as

mulheres pós-modernos trocaram um quinhão de suas possibilidades de segurança por um

quinhão de felicidade. Os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de

segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os

mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade de procura do prazer

que tolera uma segurança individual pequena demais.

O interesse pela pureza, também colocado por Bauman (1998) tem uma relação mais

do que acidental com a fragilidade da ordem. “Ordem” significa um meio regular e estável

para os nossos atos; um mundo em que as probabilidades dos acontecimentos sejam altamente

prováveis, outros menos prováveis e alguns virtualmente impossíveis. Assim, é só nessas

circunstâncias que podemos realmente “saber como prosseguir” e selecionar apropriadamente

nossos atos. O interesse pela pureza e a obsessão com a luta contra a sujeira emergem como

características universais dos seres humanos. Os modelos de pureza, os padrões a serem

conservados mudam de época e cultura para outra.

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Bauman (1998) afirma que no mundo pós-moderno de estilos e padrões de vida

livremente concorrentes, há ainda um severo teste de pureza. O sujeito tem de mostrar-se

capaz de ser seduzido pela infinita possibilidade e constante renovação promovida pelo

mercado consumidor, de vestir e despir identidades e de passar a vida na caça interminável de

cada vez mais intensas sensações. Aqueles que não passam por este teste são considerados a

“sujeira” da pureza pós-moderna. São consumidores falhos, pessoas incapazes de serem

“indivíduos livres” conforme o senso de “liberdade” definido em função do poder de escolha

do consumidor.

Bauman (2008) ao falar da sociedade atual como uma sociedade de consumidores

afirma que ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode

manter segura a subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as

capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável.

O dicionário de economia conceitua a palavra mercadoria como todo o produto que se

compra ou que se vende, tudo que se produz para troca e não para o consumo do produtor.

Karl Marx em sua obra “O Capital” (1867) fala em o fetichismo da mercadoria, conceituado

como sendo uma ilusão ou representação ideológica de que as mercadorias são dotadas de

propriedades inatas, forças extra-humanas que terminam por influir no destino das pessoas.

Dentro da sociedade de produtores, as mercadorias não se apresentam como resultado do

trabalho humano, mas como coisas dotadas de vida própria.

Considerando o fetichismo da mercadoria como o hábito de esconder a interação

humana por trás do movimento das mercadorias, Bauman (2008) resgata este conceito para

exemplificar o que pode ser chamado hoje de fetichismo da subjetividade. Segundo o autor o

destino do fetichismo da mercadoria resulta de ocultar das vistas a substância demasiado

humana da sociedade de produtores, é papel do fetichismo da subjetividade ocultar a realidade

demasiada codificada da sociedade de consumidores.

Dando continuidade à idéia do autor antes mencionado, a subjetividade na sociedade

de consumidores, consiste em comprar e vender os símbolos empregados na construção da

identidade. Colocando a “representação” no lugar daquilo que ela deveria representar, a serem

eliminados da aparência do produto final. A “subjetividade” dos consumidores é feita de

opções de compra, opções assumidas pelo sujeito e seus potenciais compradores. O que se

supõe ser a materialização da verdade interior do self é uma idealização dos traços materiais,

“objetificados”, das escolhas do consumidor. Porém o autor ressalta que o fetichismo da

subjetividade, tal como, o fetichismo da mercadoria baseia-se numa mentira. Ambas as

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variações tropeçam diante do mesmo obstáculo, a teimosia do sujeito humano, que resiste

bravamente às repetidas tentativas de objetificá-lo.

Setton (2005) afirma que a identidade social e individual, na contemporaneidade, não

se realizaria mais a partir de uma correspondência contínua entre indivíduo e sociedade, entre

papéis propostos pelas instituições e sua integral identificação pelos indivíduos. O que se

observa é uma tendência à articulação e à negociação constante entre valores e referências

institucionais diferenciados e as biografias dos sujeitos.

É possível observar o deslocamento das relações sociais de contextos locais de

interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço. Essa nova

arquitetura do social tende a determinar outra forma de percepção do indivíduo em relação ao

mundo, potencializando sua capacidade reflexiva, aumentando sua capacidade de articular a

multiplicidade de informações a que tem acesso (GIDDENS, 2002).

Fridman (1999) aprofunda a idéia de reflexividade, onde afirma que esta é a

cognoscitividade dos atores sociais assim como uma postura ativa com relação às condições

de existência. Isso significa, primeiramente, rejeição à concepção de que o comportamento

humano é resultado de forças que os atores não controlam nem compreendem, como na

teleologia e nas correntes deterministas de teoria social.

Segundo Portela (2008) com o desenvolvimento das sociedades modernas, o processo

de formação do self se torna mais reflexivo e aberto, no sentido de que os indivíduos

dependem cada vez mais dos próprios recursos para construir uma identidade. Ao mesmo

tempo, o processo de formação do self é cada vez mais alimentado por materiais simbólicos

mediados. Desse modo, a mídia exerce um papel fundamental na construção do self, por

intermédio do que Giddens (2002) denomina "efeito colagem". Esse efeito se refere à

justaposição de histórias, notícias, curiosidades e itens que nada têm em comum, exceto serem

oportunos. O efeito colagem faz com que nunca se tenha uma visão completa dos fatos e

fenômenos. O sujeito tem que se contentar com os fragmentos e recortes, e completar as

lacunas com sua experiência, imaginação, e com o sentido compartilhado que constrói em

suas relações.

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2.3.2 Discurso Psicanalítico

Com o declínio da tradição, a sociedade passa a ser regida cada vez menos pelo

princípio da renúncia pulsional e cada vez mais pela busca do prazer imediato. Para Azeredo

(2003) o declínio da tradição representa o declínio do ideal paterno que sustentava o princípio

do adiamento da satisfação pulsional. Assim, a pós-modernidade, com seu capitalismo

avançado, promove a flexibilização dos vínculos.

Sob o prisma freudiano, a construção da identificação e dos ideais é marcada por

processos subjetivos que devem ser desenvolvidos para que seja mantida tanto a organização

individual quanto a social, tendo como referencial central e organizador simbólico, a ordem

paterna. Esses processos se dão entre duas formas de existência da subjetividade: entre os

registros do narcisismo (ego ideal/amor de si) e da alteridade (ideal de ego, superego/amor de

outro). Os ideais orientam os laços sociais sustentados pelo desejo e pelas identificações,

assim, a construção dos laços sociais é um efeito da problemática do indivíduo em relação aos

ideais e às identificações, portanto, em relação aos processos narcísicos e alteritários

(MENEZES, 2005).

Dentro da teoria psicanalítica o conceito de narcisismo segundo Laplanche e Pontalis

(2001) aparece como a captação amorosa do sujeito por sua própria imagem adquirida a partir

do modelo do outro. A idéia de um narcisismo contemporâneo da formação do ego por

identificação com outrem é denominado narcisismo secundário. Diferente do narcisismo

primário identificado por um estado em que a criança investe toda a libido em si mesma, o

narcisismo secundário designa um retorno ao ego da libido retirada de seus investimentos

objetais.

Para Menezes (2005) a cena social atual oferece poucas possibilidades para

experiências de alteridade. Os ideais contemporâneos incitam o sujeito para o pólo do

narcisismo, da subjetividade autocentrada. Em conseqüência disso, as relações sociais são,

predominantemente, regidas pelo imaginário, constituindo-se uma subjetividade em que há o

deslocamento da ordem paterna como referencial central. O efeito provocado no sujeito se

relaciona à fragilização dos vínculos sociais, dos laços mútuos e da constituição e

permanência dos grupos. Certas formas de sofrimento psíquico podem ser consideradas

psicopatologias da atualidade, no sentido de expressões dos modos de subjetivação

promovidos pela sociedade contemporânea.

O homem contemporâneo segundo Lasch (1987 apud LAZZARINI 2006, p.42) sofre

de um narcisismo patológico, mostrando-se indiferente com o que não é de seu interesse e

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“intransigente e tirânico em relação a tudo e a todos que possam opor-se à gratificação

imediata de seus desejos.” Enfatiza uma situação paradoxal do homem moderno, pois se por

um lado vive para si próprio, por outro se mostra dependente do olhar e a aprovação dos

outros.

Segundo Bento e Stacechen (2008) o indivíduo da atualidade procura a exaltação do

Eu e, para isso, utiliza-se de todo e qualquer modo de aparecer no cenário social, seja através

da estetização de sua aparência, ou do uso do outro como fonte do próprio prazer. Com o

desaparecimento gradual do outro, o prazer do sujeito pós-moderno ficará reduzido ao

investimento narcísico, a uma economia psíquica marcada pelo excesso narcísico. O sujeito

da contemporaneidade projeta a imagem dos papéis que ele próprio interpreta no cenário

social com o objetivo de atingir a "inflação" do Eu. Assim, os mesmos papéis assumidos pelos

indivíduos nos meios sociais adquirem a função de "máscaras a serem vestidas" em massa

para capturar uma espécie de admiração padronizada do outro. Todos passam a cultuar a

admiração coletiva de uma máscara padronizada enquanto ideal social. Dessa forma o que

está em jogo na vida do sujeito pós-moderno é a sua exterioridade. Aquele que não se

enquadra neste meio de sociabilidade sofrerá por não alcançar esta exaltação da imagem de si

tão valorizada pelo outro.

Para Lazzarini (2006) o homem atual apresenta dificuldades para aceitar sua

imperfeição e sua incompletude, e para fugir desse estado de insatisfação o indivíduo tenta

eliminar os afetos humanos básicos como a angústia e a tristeza do luto, recorrendo ao uso de

drogas lícitas ou ilícitas. Quanto maior o sentimento de incompletude maior será a busca do

perfeito: o corpo, o status, o trabalho, o estilo e o modo de vida. Há segundo Zimmerman

(2000) uma dificuldade para lidar com as verdades como o envelhecimento, a doença e a

morte, assim como reconhecer limites e limitações, a hierarquia na atribuição de papéis e de

funções e a impossibilidade de uma plena completude.

Lazzarini (2006) aponta uma mudança no perfil da demanda clínica nos tempos atuais.

Hoje diferente dos tempos de Freud marcado por uma sociedade repressiva, autoritária e

puritana, acontece as chamadas patologias do narcisismo: queixas vagas e difusas, com uma

sensação de vazio; futilidade; relações afetivas e sociais superficiais; baixa auto-estima;

depressão; lipofobia; sociofobia; drogadição; transtornos alimentares; doenças

psicossomáticas e outras síndromes.

Birman (2001 apud MENEZES 2005) coloca que a psicopatologia da pós-

modernidade se caracteriza por certas modalidades privilegiadas de funcionamento

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psicopatológico, nas quais é sempre o fracasso do indivíduo em realizar a glorificação do Eu e

a estetização da existência que está em pauta.

Assim, Menezes (2005) aponta que a modernidade não promoveu a superação do mal-

estar, resultado do excesso de ordem e da escassez de liberdade. Ao contrário, o que fez foi

apenas "re-configurar" o mal-estar. O mal-estar contemporâneo é efeito da desregulamentação

e do excesso de liberdade individual, é fruto do excesso pulsional e da fragilidade de

simbolização. Nesse sentido, tem uma marca essencialmente traumática, o que aponta para a

vulnerabilidade psíquica do homem contemporâneo.

Diante do desamparo, o sujeito contemporâneo abre mão de sua liberdade, em troca de

uma segurança ilusória ele se oferece como escravo. Essa posição de servidão caracteriza uma

condição de extrema miséria psíquica, na medida que o sujeito está inserido na proteção da

onipotência narcísica, no registro do ego ideal, não arrisca o imprevisível, ou seja, não se

aventura na experiência da castração (MENEZES, 2005).

Pelo antes exposto, de acordo com Portela (2008) tudo se passa como se o homem

pós-moderno se deparasse com a condição existencial de não possuir um núcleo identitário

central estável, contínuo e linear, e sim um vazio que ele precisa preencher. Para Berta,

Carignato e Rosa (2006) a psicanálise aposta em um mais-além das ilusões, em um trabalho

de remissão do sujeito à verdade de seu desejo que o remete a uma historicização de seu

desejo, à constatação de sua fantasia fundamental e à conseqüente abertura para a criação de

novos sentidos da existência.

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3 METODOLOGIA

A problemática que orientou esta pesquisa teve como objetivo promover uma reflexão

sobre a visão social e psicanalítica do homem contemporâneo. Para isso foi necessário fazer

um levantamento da produção científica desenvolvida em revistas de psicologia, psicanálise e

sociologia, como também em livros dentro dessa temática.

3.1 TIPO DE PESQUISA

A presente pesquisa é uma pesquisa bibliográfica do tipo qualitativa. Segundo Chizzotti

(1998) a pesquisa qualitativa é uma designação que abriga correntes de pesquisa muito

diferentes. A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o

mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e objeto, um vínculo

indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. Para Bicudo e Martins (1994) a

pesquisa qualitativa busca uma compreensão particular daquilo que estuda, não se preocupando

com generalizações, princípios e leis. De acordo com Minayo (2004), a pesquisa qualitativa se

preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, pois, esta envolve um

universo de significados que corresponde a um espaço mais profundo da realidade.

Segundo Gil (2008) a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já

elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. A principal vantagem da

pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de

fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Para Marconi e

Lakatos (2007) a pesquisa bibliográfica consiste no levantamento de toda a bibliografia já

publicada em forma e livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita, sua finalidade é

colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado

assunto. De acordo com Bervian e Cervo (1996) este tipo de pesquisa busca conhecer e analisar

as contribuições culturais e científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema

ou problema.

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3.2 LEVANTAMENTO DOS DADOS

Com o objetivo de mapear a produção científica sobre o tema, foi realizada uma busca

online no Scielo e no banco de teses da Capes. Os resumos encontrados foram impressos e

através deles foram identificadas as produções científicas publicadas em revistas de psicologia,

psicanálise e sociologia sobre o tema em questão. Foram utilizados para a pesquisa online os

seguintes campos fixos:

-autor: não preenchido.

-assunto: psicanálise; sociologia; sociedade; cultura; indivíduo; contemporaneidade;

modernidade; pós-modernidade.

Os artigos que citaram os assuntos mencionados acima foram impressos e lidos. Foram

excluídos aqueles que não se referiam ao tema, porém mantidos os que citaram pelo menos um

dos assuntos supracitados.

Os livros utilizados foram escolhidos de acordo com o tema da pesquisa. Foram

selecionadas obras de autores da Psicanálise e Sociologia. Dentro dessas obras foram escolhidos

os capítulos que abordassem a relação homem e sociedade. Após essa seleção a pesquisadora fez

o fichamento dos capítulos selecionados. Segundo Marconi e Lakatos (2007) a ficha é um

instrumento de trabalho imprescindível, sendo de fácil manipulação permite a ordenação do

assunto e possibilita uma seleção constante da documentação e de seu ordenamento.

3.3 ANÁLISE DOS DADOS

A partir da leitura dos artigos e dos textos selecionados, foi realizada uma análise crítica

entre a teoria e o objeto de investigação.

Segundo Marconi e Lakatos (2007) a primeira fase da análise e da interpretação é a

crítica do material bibliográfico, sendo considerado um juízo de valor sobre determinado

material científico. Divide-se em crítica externa, que é feita sobre o significado, a importância e

o valor histórico de um documento; e crítica interna, que aprecia o sentido e o valor do conteúdo.

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4 DISCUSSÃO

Este tópico se refere à análise da forma de pensar o homem contemporâneo através de

autores citados na presente pesquisa, com o objetivo de mostrar algumas conclusões e hipóteses

sobre os traços desse homem contemporâneo. A partir do antes desenvolvido foi possível fazer

uma distinção das idéias dos autores, e assim identificar distanciamentos como também

tendências e coincidências na forma de conceber esse sujeito.

No que se refere à constituição da identidade na sociedade atual, autores como Portela

(2008) e Menezes (2005) acreditam que o homem pós moderno se depara com um vazio

existencial, para Portela (2008) isso acontece porque o homem dos dias de hoje não possui um

núcleo identitário central e estável. Menezes (2005) afirma que as condições atuais do mal-

estar na civilização dizem respeito ao vazio existencial produzido pela solidão e pelo vazio.

Giddens (2002) acredita em um projeto reflexivo do eu, pois as transições nas vidas

dos indivíduos demandam a reorganização psíquica do sujeito. Nos ambientes da

modernidade, o Eu tem que ser explorado e construído como parte de um processo reflexivo

de conectar mudança pessoal e social. Portela (2008) reforça a idéia de Giddens ao afirmar

que com o desenvolvimento das sociedades modernas o processo de formação do self se torna

mais reflexivo e aberto, e ao mesmo tempo cada vez mais alimentado por materiais

simbólicos e mediados.

Dessa forma, o sujeito depende mais de si próprio para constituir sua identidade,

elaborando essa constituição diante de uma infinita possibilidade e multiplicidade de

informação, e a partir de uma consciência, ou seja, de uma reflexão prática com materiais do

cotidiano. Esses materiais são em sua maioria simbólicos e mediados, que pode ser

exemplificado pelo que Giddens (2002) chama de “efeito colagem”. Esse efeito é a

justaposição de histórias, notícias e curiosidades, como em uma página de jornal ou o guia de

programação da televisão. Com esse efeito o sujeito nunca tem a visão completa dos fatos e se

contenta com fragmentos. E é a partir desse recortes que o sujeito vai construir sua identidade.

Com os instrumentos de mediação das relações sociais, como a internet, a televisão e o

celular, o indivíduo não tem muitas oportunidades de experimentar o contato direto com o

outro, o que parece influenciar na constituição da sua identidade. Menezes (2005) ao afirmar

que a cena social atual oferece poucas possibilidades para experiências de alteridade,

identifica que os ideais contemporâneos incitam o sujeito para o pólo do narcisismo. Isso se

deve a um deslocamento da ordem paterna, pois como vimos de acordo com as teorias

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freudianas o pai é figura fundamental no processo de socialização do indivíduo. Assim, para

Menezes (2005) a subjetividade do sujeito contemporâneo é autocentrada, constituindo-se

uma subjetividade em que há o deslocamento da ordem paterna como referencial central.

Já Bauman (2008) ao falar em identidade e subjetividade do sujeito, faz referência à

sociedade atual caracterizando-a como sociedade de consumidores. Identifica que neste tipo

de sociedade não existe uma separação bem delimitada entre mercadorias e consumidores. O

sujeito precisa se tornar uma “mercadoria”, e manter segura sua subjetividade recarregando as

capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável.

Assim, os sonhos de “ser famoso” nada mais é como diz Bauman (2008), do que

aparecer nas primeiras páginas de milhares de revista e em milhões de telas, ser visto, ser

notado, comentado e, portanto desejado por muitos, assim como sapatos, saias ou acessórios

exibidos em revistas luxuosas e nas telas de TV. É possível pensar também nas redes sociais

da internet como Orkut2 e MySpace3 que além de se apresentarem como um tipo de controle

social, mais parecem páginas de revistas onde o sujeito através de comunidades e fotos

pessoais, tentam moldar uma imagem de si mesmo a ser comercializada. Pode-se pensar que o

sujeito ao ingressar nessas redes visa à aceitação alheia e aparece como um “produto” a ser

escolhido diante de inúmeras opções.

Dando continuidade a essas idéias, Bento e Stacechen (2008) colocam que o indivíduo

da atualidade procura a exaltação do Eu e utiliza-se de todo e qualquer modo de aparecer no

cenário social. O que exemplifica um pouco a crescente aparição das pessoas nos meios

virtuais como a internet, e o tão conhecido sonho de “ser famoso”. Para os mesmos autores

supracitados o sujeito da contemporaneidade projeta a imagem dos papéis que ele próprio

interpreta que o cenário social valoriza com o objetivo de atingir a "inflação" do Eu. Esses

papéis assumidos pelos indivíduos adquirem a função de "máscaras a serem vestidas" em

massa para capturar uma espécie de admiração padronizada do outro.

Dessa forma, é possível pensar a identidade e a subjetividade formadas no sujeito

contemporâneo a partir do que Bauman (2008) se refere como tentativas de objetificar o

sujeito. Adelman (2009) fala em mundo das imagens, prazeres consumistas imediatos e

ilimitados, e de relações caracterizadas por vínculos tênues. Ao pensar num sujeito que

caminha para o pólo do narcisismo, é possível relacionar a falta de limites do sujeito

contemporâneo com o declínio da função paterna, e os vínculos tênues aparecem pela

2 Serviço de rede social que utiliza a internet para a comunicação online, criado em 2004. É a rede social com maior participação de brasileiros, com mais de 23 milhões de usuários no Brasil. 3 Serviço de rede social que utiliza a internet para comunicação online, criado nos Estados Unidos em 2003.

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fragilidade dos contatos sociais, uma vez que são regidos principalmente por laços mediados e

imaginários.

Para exemplificar essa discussão e se referir ao que aparece nas revistas da atualidade,

o psicanalista francês Charles Melman, colaborador de Jacques Lacan (1901-1981) em

reportagem à revista Veja (revista não científica) aponta que o que aparece hoje é uma

tendência das pessoas em se distanciar da realidade, isso porque esta implica sempre em um

limite. Com a existência de um mundo virtual proporcionado pela internet as pessoas

conseguem essa distância, pois esses exercícios virtuais não pressupõem nenhuma identidade,

nem perspectiva além de derrubar todos os limites impostos pela realidade. Melman aponta

que a maior procura pela psicanálise atualmente é pelos jovens entre 18 e 30 anos. Há uma

procura não por reprimirem seus desejos, mas porque não sabem o que desejam. O motivo

disso está no fato deles terem sido criados em condições que promovem a busca rápida do

prazer máximo e sem obrigações. A idéia é proteger-se de uma relação de compromisso,

porém, a grande questão é se existe realmente um aproveitamento pleno desta maneira.

A partir do que foi discutido até aqui, pode-se observar alguns traços desse homem

contemporâneo entre outros, uma volta para o narcisismo, um enfraquecimento dos limites, e

uma identidade construída a partir de uma relação frágil com o mundo, portanto, uma

identidade que não se mostra estável nem duradoura. O homem contemporâneo está inserido

numa sociedade que valoriza a imagem, onde o que se percebe é uma padronização de um

jeito de ser, e o valor está na exterioridade, ou seja, o que aparece e o que é retratado como

um ideal. Dessa forma, o sujeito com todas as mudanças e novas tecnologias que avançam

num ritmo acelerado, precisa construir uma forma de ser que integre os diferentes aspectos

antes mencionados. Como conseqüência disso, a identidade do sujeito parece tomar uma

forma “volátil”, e assim como objetos de desejo que quando satisfeitos são logo substituídos

por outros, assim também sua identidade tende a acompanhar todas essas transformações.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa objetivou refletir sobre a visão social e psicanalítica do homem

contemporâneo, a partir da descrição da concepção psicanalítica freudiana sobre o processo

civilizatório, da identificação das mudanças sociais e comportamentais na contemporaneidade

e da caracterização do homem contemporâneo dentro de um discurso sociológico e

psicanalítico. Através de um levantamento da produção científica desenvolvida em revistas e

livros de psicologia, psicanálise e sociologia, foi possível chegar a resultados que alcançaram

os objetivos propostos. Como o objetivo foi promover uma reflexão, a pesquisadora pode

refletir com a presente pesquisa sobre a visão social e psicanalítica do homem

contemporâneo.

Descrever a concepção psicanalítica sobre o processo civilizatório permitiu ter as

bases de como a sociedade se originou dentro da visão da psicanálise, e assim foi possível

pensar na sociedade atual relacionando o que foi proposto por Freud com o que está sendo

discutido nos dias de hoje. Analisar o comportamento do sujeito diante dos grupos sociais, e o

processo de socialização do sujeito por uma visão psicanalítica, foi importante para refletir

sobre o homem e sua relação com a sociedade. É partir dessa relação que podemos pensar na

cultura de cada época e suas influências no modo de vida e constituição da identidade do

sujeito.

Ao identificar as mudanças sociais e comportamentais na contemporaneidade foi

possível caracterizar o momento histórico-social no qual o sujeito vive atualmente, e quais

foram as mudanças coletivas em relação ao comportamento do indivíduo. Foi realizada uma

busca por autores contemporâneos que discutem a sociedade dos dias atuais, e assim, a partir

dessas idéias foi possível relacionar os aspectos mais marcantes da contemporaneidade com a

identidade, subjetividade e comportamento do sujeito.

A caracterização do homem contemporâneo foi dividida em duas etapas, a primeira

parte se orientou a partir de um discurso sociológico e a segunda a partir de um discurso

psicanalítico. Através de alguns autores e suas respectivas linhas de pesquisa foi caracterizada

a noção de homem contemporâneo dentro dos dois discursos. Isso foi realizado por meio de

uma relação da sociedade atual com a identidade e a subjetividade do sujeito.

Com os objetivos propostos alcançados, pode-se refletir sobre a resposta da questão

principal da pesquisa, “qual a visão do homem contemporâneo privilegiando autores

psicanalistas e autores sociais?”. Embora o presente estudo não tivesse a pretensão de esgotar

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o assunto devido à amplitude do tema, pode-se pensar como possível resposta a pergunta de

pesquisa, que o homem contemporâneo é marcado por um narcisismo acentuado, uma

dificuldade em reconhecer limites, e uma identidade frágil que não se mostra estável nem

duradoura. Isso a partir de uma sociedade ligada à valorização da imagem, ao consumo

ilimitado, aos vínculos tênues, e a novas formas de controle social que sugerem a sensação de

“liberdade”.

Para pensar o homem contemporâneo foi necessária uma análise do contexto em

que o sujeito esta inserido, partindo de um olhar crítico aos valores sociais, à relação homem e

sociedade, e a constituição da identidade considerando as características do meio social.

Assim, promover uma reflexão requer aprofundar as concepções existentes, isso através de

questionamentos que impulsionem a pesquisa e amplie o modo de ver das pessoas. Dessa

forma, sugere-se novas pesquisas que valorizem esse olhar crítico. Aproveitando a temática

homem e sociedade, é possível pensar em dois temas de pesquisa: a constituição da identidade

durante os períodos de guerra; e a construção de psicopatologias vinculadas a identidade na

atualidade.

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