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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI-BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA VIVIAM AGATTI “COMUNIDADE” mIRC(Scoop-Script), CANAL BRASIL: UM ESTUDO SOBRE SOCIABILIDADE E COMUNIDADES VIRTUAIS. BIGUAÇU, 2007.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI-BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

VIVIAM AGATTI

“COMUNIDADE” mIRC(Scoop-Script), CANAL BRASIL:

UM ESTUDO SOBRE SOCIABILIDADE E COMUNIDADES

VIRTUAIS.

BIGUAÇU,

2007.

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VIVIAM AGATTI

“COMUNIDADE” mIRC(Scoop-Script), CANAL BRASIL:

UM ESTUDO SOBRE SOCIABILIDADE E COMUNIDADES

VIRTUAIS.

Projeto apresentado

para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso no curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – CE. Biguaçu.

BIGUAÇU, 2007.

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VIVIAM AGATTI

“COMUNIDADE” mIRC(Scoop-Script), CANAL BRASIL:

UM ESTUDO SOBRE SOCIABILIDADE E COMUNIDADES

VIRTUAIS.

O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado,

atendendo os requisitos parciais para obter o grau de Bacharel em Psicologia

na Universidade do Vale do Itajaí no curso de psicologia.

Biguaçu, 2007

Banca Examinadora

Prof. ____________________________________

Prof. Msc. Marcelo José Oliveira – Orientador.

Prof._____________________________________

Prof. Msc. Leandro Castro Oltramari– Membro.

Prof._____________________________________

Prof. Msc. Mirella Alves de Brito – Membro.

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Dedico a presente monografia aos

meus pais Ivaldino e Nair, que através de

muito esforço me proporcionaram este

momento; a minha afável amiga Samia, que

sempre esteve ao meu lado

incondicionalmente; e a minha amiga

Marta, mesmo longe nunca deixou de estar

presente.

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AGRADECIMENTOS

À Universidade do Vale do Itajaí por fazer parte da minha formação acadêmica.

Ao meu orientador Marcelo José Oliveira por estar sempre presente, com competência

profissionalismo, pontualidade, respeitando as dificuldades com compreensão e

discernimento.

À banca examinadora, Mirella Alves de Brito e Leandro Castro Oltramari, pessoas que

sempre admirei, e que contribuíram com seus conhecimentos para o andamento desse

trabalho.

Aos colegas que ao longo dessa jornada acadêmica estiveram sempre presentes, e

impreterivelmente a Samia Cherem, que sempre esteve ao meu lado em todas as

circunstâncias e provou ser muito mais que uma amiga, uma companheira. E, como não

poderia esquecer-me da “Nine”, que contribuiu de forma significativa não só para o

andamento das entrevistas, mas também se fez um apoio nas horas que sempre precisei de

ajuda.

Aos sujeitos da pesquisa, sem eles seria impossível a conclusão desta

E finalmente a todos e a todas, que direta ou indiretamente contribuíram para essa

pesquisa.

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"Para ter sentimentos nobres não é necessário nascer nobre.” Charles Lamb.

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RESUMO

A revolução tecnológica possibilita a interconexão mundial de computadores, e promove

alterações significativas, tanto econômicas como culturais. Pensando o sujeito implicado

nesse processo, entendendo que a vida não é algo estagnado, mas sim, um eterno devir, o

ciberespaço propicia que o individuo amplie o número de relações e escolha qual ou quais ele

deseja se envolver. Nesta perspectiva, a presente pesquisa teve como objetivos: levantar dados

sobre os motivos pelos quais os sujeitos freqüentam os canais virtuais (on-line) de interações

sociais, conhecidos como Chat; verificar a importância dos Chats na vida social de seus

freqüentadores; como se dá interação dentro do Chat e como se definem os grupos

específicos; e verificar se a participação em uma comunidade virtual amplia ou reduz o leque

de relações face-a-face. A partir disto foi delimitado o problema de pesquisa com foco, a

saber, se na vivência de uma comunidade virtual essa se torna substitutiva ou suporte das

interações sociais fora do recurso mediado pelo computador. A pesquisa caracterizou-se como

qualitativa exploratória, utilizou-se entrevista semi-estruturada, e da etnografia. Foram

entrevistados nove sujeitos. Foi constatado que a utilização do veículo computador é um

suporte das interações sociais, pois, promove um prolongamento destas.

Palavra-chave: relações sociais, identidade, comunidade virtual.

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ABSTRACT

The technological revolution enables the interconnection of computers worldwide, and promotes significant changes, both economic and cultural. Thinking the person involved in the process, understanding that life is not something stagnant, but rather, a perennial become, cyberspace provides that the individual expand the number of interfaces and choose what or whom he wants to get involved. Therefore, this research aimed at: raising data on the reasons the for subjects attend the virtual channels (on-line), social interactions, known as Chat; verify the importance of the Chats in the social life of their visitors, as gives interaction within the Chat and how to define the specific groups, and determine if participation in a virtual community expands or reduces the range of relations face-to-face. Since this was delimited the problem with the search focus, namely, whether living in a virtual community that becomes replacement or support of social interactions outside of the action mediated by the computer. The survey characterized them as qualitative exploratory, it is used semi-structured interview, and ethnography. Nine subjects were interviewed. It was found that the use of the vehicle computer is a medium of social interactions, therefore, promotes an extension of these.

Keyword: social relations, identity, virtual community.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1-- Portal do de um dos Canais do mIRC(Scoop-Script). Figura 2 -- mIRC(Scoop-Script), lista de canais. Figura 3 -- Interface de diálogo dos participantes. Figura 4 – Trecho de um início de interação entre a pesquisadora e um dos participantes. Figura 5 --Trecho de um diálogo com um dos participantes. Figura 6 – Desabafo de um dos participantes. Figura 7 – Trecho de conversa com um dos participantes. Figura 8 – Diálogo onde fica exposto o uso da web can. Figura 9 – Trecho de uma ciberconversa. (Recursos de hipertexto). Figura 10 -- Emoticon afetivo. Figura 11 -- Hipertexto (emoticon). Figura 12 – Conversa onde o participante fornece seu telefone para maior proximidade. Figura 13 – Desabafo do participante. Figura 14 -- Interface de diálogos dos participantes do Canal, coletados pela pesquisadora.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 10

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 13 2.1 NAVEGA COMIGO: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A INTERNET. .............. 13 2.2 COMUNIDADES VIRTUAIS. ...................................................................................... 14 2.3 ESTAR AQUI, ESTAR LÁ: FLUIDEZ DE FRONTEIRAS. .......................................... 16 2.4 SUBJETIVIDADE E VIRTUALIDADE. ....................................................................... 17

3 METODOLOGIA ......................................................................................... 20

4 CATEGORIAS DE ASSUNTO ................................................................... 22

5 DA ETNOGRAFIA: ENTRANDO NO CAMPO, [E NA TEORIA]. ............ 23

6 CONSIDERACÕES FINAIS ....................................................................... 44

7 GLOSSÁRIO. ............................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 49

APÊNDICE 1 ................................................................................................... 51

APÊNDICE 2 ................................................................................................... 52

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1 INTRODUÇÃO

Todos nós reconhecemos que inovações tecnológicas dos mais variados tipos

introduzem transformações em nossas vidas. Além das transformações que presenciamos em

primeira mão, somos capazes de ter acesso a inúmeras outras quando estabelecemos contato,

por meio de relatos dos mais velhos, livros, filmes, viagens, etc., com os modos de vida de

épocas e lugares em que uma ou outra tecnologia ainda era desconhecida. Esse tipo de contato

com o antes de determinada tecnologia, torna fácil perceber as transformações por ela geradas

no depois.

Sabe-se que, antes da energia elétrica, muitas famílias se reuniam ao redor do livro

para ouvir histórias. Depois da energia elétrica, o contar histórias foi substituído pelo rádio, e

ainda mais recentemente pela televisão. Alguém que tenha uma geladeira enguiçada pode

imaginar as transformações que os eletrodomésticos geraram na nossa relação com o mercado

de suprimentos. E o quanto o microondas transformou nossa rotina. Quantos de nós,

acostumados que estamos às calculadoras de bolso, ainda sabemos fazer contas de cabeça ou

na ponta do lápis?

Não parece haver dúvidas de que nossos comportamentos e hábitos podem sofrer

alterações em função do desenvolvimento de novas tecnologias. Embora seja fácil detectar

que novas tecnologias têm o poder de alterar nossos hábitos e nossas formas de agir, é bem

mais difícil detectar que algumas tecnologias também podem alterar radicalmente nossos

modos de ser (como pensamos, organizamos e percebemos o mundo externo e interno, como

nos relacionamos com os outros e com nós mesmos, como sentimos).

Desde a difusão da Internet em meados da década de 1990, a sociabilidade virtual vem

gerando muita discussão. De acordo com Dornelles (2004), sociabilidade virtual é a interação

social realizada pela comunicação sincrônica e com contato interpessoal mediado pela tela do

computador.

O espaço que foi privilegiado com esta pesquisa denomina-se chat mIRC(Scoop-

Script), canal (comunidade virtual) BRASIL. Este espaço caracteriza-se pela quantidade de

participantes. São num total de aproximadamente duzentos Nicks1 registrados no mesmo

canal, onde cada integrante escolhe com quem quer “tc” que é uma sigla nativa, para

estabelecimento de contato. É composto por pessoas do Brasil inteiro, que ali se 1 Os termos técnicos utilizados estarão especificados no glossário ao final deste trabalho.

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correspondem e usam desse meio para chegar num contato mais direto, que se daria pelo

Messenger ou “MSN”. Qualquer pessoa pode criar um canal e tornar-se um “OP”, que

significa ser o operador do canal, este “OP” escolhe a que conteúdo o canal se destina, se

deve ser somente de bate-papo ou ter público e assunto específico.

O sujeito não tem uma identidade fixa, pois compartilha simultaneamente de diversos

pontos de vista, posicionamentos e opiniões, sejam eles permanentes, temporários ou mesmo

contraditórios. Suas posições e relacionamentos são constantemente configurados a partir de

cada personagem criado pelo seu interlocutor, assim cada um pode ser o que quiser, dentro do

espaço que quiser. O internauta é ativo numa rede de relações em constante alteração.

O sujeito se vê dentro de um espaço que é preenchido por uma liberdade que ele

próprio habita. As relações são carregadas de afeto, sentimento de proximidade e calor

humano. Quem está disposto a dizer que não é real? É tão real quanto às próprias interações

face-a-face, pois é sentido tanto quanto. O sentimento descritivo é vivido intensamente, onde

cada palavra se incumbe de uma proporção jamais imaginada de significado, definitivamente

o virtual é real. É nesse sentido que uma ficção tem caráter de autenticidade.

Realizar um estudo a respeito desse recurso tecnológico denominado chat, pode

representar uma contribuição para a compreensão das novas identidades que a revolução

tecnológica nos proporciona. Esse estudo é de importância para as diversas áreas de

conhecimento humano, tanto sociológicas, como antropológicas ou psicológicas, no intuito de

investigar a relação do indivíduo-máquina, repensando as formas como se dão as redes de

interação e sociabilidade.

As novas tecnologias da informação estão integrando o mundo em redes globais de

instrumentalidade. A comunicação mediada por computadores gera uma gama enorme de

comunidades virtuais. Sabemos que a Psicologia, (tal como outras ciências humanas), surgiu

no século XIX. Sabemos também, que isso aconteceu em função da necessidade de

compreender uma nova organização subjetiva, a do indivíduo, que havia emergido em

decorrência dos novos espaços, modos de produção e estilos de vida instaurados pela

Revolução Industrial. Com o passar do tempo, parece, no entanto, que muitos se esqueceram

disso e passaram a acreditar que a rede de possibilidades do ser humano é imutável.

Se, como profissionais de Psicologia, acreditarmos que o ser humano não está sendo

tocado pelas transformações radicais que o mundo tecnológico vem sofrendo, corremos o

risco de perder nossa capacidade de estudá-lo, descrevê-lo, interpretá-lo, compreendê-lo

dentro de seu contexto e, conseqüentemente, ajudá-lo.

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Pensar a relação mediada pelo computador, na vivência de uma comunidade virtual,

como substitutiva ou suporte das interações sociais cotidianas, foi uma tarefa que nos

proporcionarmos a realizar, bem como também, suas intenções e motivos que levam a

participar do Chat, entendendo também a percepção dos entrevistados acerca da importância

desse veículo na vida social. Outro ponto levantado foi como se dá a interação dentro do Chat

e como se definem em comunidades especificas, enfim compreender se a participação em

uma comunidade virtual amplia ou reduz o leque de relações que podem ser estabelecidas

face-a-face.

O hipertexto viabiliza demonstrações de afeto através de configurações e animações

gráficas. As pessoas ficam horas preparando mensagens com todos os detalhes para encantar

o interlocutor que está do outro lado da tela. O internauta está “tecendo” e de repente recebe

graficamente uma “chuva de estrelas”. Hipertexto para Lévy (1999) é um texto em formato

digital animado, ilustrativo, reconfigurável e fluído, que pode expressar os mais variados

sentimentos. Esses recursos de contato acabam prodigalizando ao sujeito um ambiente

arraigado de símbolos, que nada mais são que representações dos recursos cotidianos já

utilizados nas interações.

Com base nesses e outros aportes, na revisão bibliográfica abordamos as idéias de

alguns autores que são fundamentais para o entendimento do tema investigado. Na

metodologia, procuramos deixar claro qual o aporte e a maneira que efetivamos esta pesquisa.

Em categorias de assunto, nos preocupamos em elencar algumas expressões de sentido,

devido à grande pertinência com que estas apareceram nesta pesquisa. Na discussão dos

dados, optamos por um modelo que permitisse ao leitor observar os dados etnográficos

juntamente com o aporte teórico discutido pelos autores.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 NAVEGA COMIGO: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A INTERNET.

“...quando eu percebi que o OP me bloqueou, e daí me dei conta que não poderia navegar em mais nenhum canal, fiquei desesperada, praticamente chorei na frente do computador, me deu vontade de quebra tudo, eu não ia mais poder falar com ninguém aquilo era a minha área, eu ia me sentir um nada, imagina todo mundo entrando e eu fora. Sabe eu tenho meus contatos diários, pensei meu Deus eu tenho que achar esse OP. Sabe ele me queimou2”.

No trecho acima, coletado em uma das inserções do pesquisador no campo o qual nos

propomos a investigar, podemos perceber, na fala de uma freqüentadora do canal, o quanto o

virtual pode ser real.

Muitos de nós estamos sendo reconstituídos por essas variadas formas discursivas que

usamos na Rede, e que também são usadas para nós. “Navega comigo?” Essa expressão

nativa, na qual o internauta ao entrar no “canal” é deparado, é posta por outro interlocutor que

fica a princípio somente na imaginação e no simples toque do teclado. Esse novo meio de

interação possibilita a expansão das relações sociais pelo espaço e pelo tempo, como também

aprofunda a interconexão global, anulando a distância entre as pessoas e os lugares, lançando-

os em um contato intenso e imediato entre si, em um “presente” instantâneo, onde o que

ocorre em um lugar pode ocorrer em qualquer parte.

Parto da premissa de que a Internet não pode mais ser vista como um local apenas de

troca, de busca de informações ou ainda encontros superficiais entre pessoas, mas, também,

como um local de produção de conhecimento. Stuart Hall (1997) afirma que nossa

participação na Internet é sustentada pela promessa de que ela nos possibilite em breve

assumirmos ciberidentidades, substituindo a necessidade de algo tão complicado e fisicamente

constrangedor como a relação real.

Efetivamente, a velocidade com que o ciberespaço se transforma está fazendo com

que as pessoas e discursos estejam em muitos lugares ao mesmo tempo, distâncias sejam 2 Trecho traz a fala de uma freqüentadora do “canal Brasil”, coletado pelo pesquisador em uma de suas

inserções.

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abreviadas, imagens e sons circulem vertiginosamente, capitais se reúnam, pessoas se

“aproximem” virtualmente e, por que não dizer “realmente”; isto que Hall (1997) denomina

de deslocamentos. Deslocamentos aqui relacionados com o fato de que o mesmo artefato, o

mesmo discurso pode se deslocar de maneiras diferentes, ao mesmo tempo, e estar em

diversos lugares. A mídia eletrônica, Internet, se apresenta como um avanço tecnológico

capaz de modificar nosso comportamento, compondo um campo de novas possibilidades, em

novos espaços e em novas formas que ele assume.

2.2 COMUNIDADES VIRTUAIS.

De acordo com Nisbet (1974 apud RECUERO, 2005. P.50) “A comunidade é a fusão

do sentimento e do pensamento, da tradição e da ligação intencional, da participação e da

volição”. Nisbet (1974) ainda salienta que uma comunidade engloba as mais variadas formas

de relacionamento, contudo num alto grau de intimidade pessoal, profundeza emocional,

engajamento moral e continuado no tempo. Porém, aqui se faz um destaque, a relação face-a-

face e o espaço geográfico não se mostram fundamentais na configuração de uma

comunidade, mas, pode-se dizer, de acordo com Castells (2000), que são sua base cotidiana

de objetivação.

Sabemos que interações sociais, segundo Castells (Ibidem), consistem em formas de

comunicação, e são baseadas na produção e consumo de sinais. Portanto, não há separação

entre “realidade” e representação simbólica. Em todas as sociedades, a humanidade tem

existido em um ambiente simbólico e atuado por meio dele. O que é então historicamente

específico ao novo sistema de comunicação (ciberespaço), não é indução à realidade virtual,

mas a construção da realidade virtual. Virtual é o que existe na prática, embora não é estrita

ou nominalmente, e real é o que existe de fato. Portanto a realidade, como é vivida, sempre foi

virtual porque sempre é percebida por intermédio de símbolos formadores da prática com

algum sentido que escapa a sua rigorosa definição semântica.

Hoje no meio globalizado em que vivemos presenciamos a ruptura de todas as

fronteiras tradicionais que separavam homens e nações com o surgimento da Internet e mais

especificamente das comunidades virtuais. A comunicação mediada por computadores pode

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ser vista como um tipo de comunidade, a virtual “real”, justamente por entender-se, como já

foi citado anteriormente, que comunidade não implica, necessariamente, uma aproximação

geográfica entre pessoas ou uma relação face to face, basta sentimento comunitário de

proximidade. Muitas pessoas só conseguem sentir-se verdadeiros membros de uma

comunidade neste espaço (ciberespaço).

De acordo com Waltzalavick, Beavin e Jackson (2000 apud RECUERO, 2005, p.5) a

interação representa um processo sempre comunicacional. Assim, a interação é aquela ação

que tem um reflexo comunicativo entre indivíduo e seus pares, como reflexo social. Quando

falamos em comunidade virtual, a interação social dá-se de uma maneira particular, pois se

trata de uma interação mediada pelo computador. Para Primo (1998 e 2003 apud RECUERO,

2005, p.6) a interação social mediada pelo computador será sempre uma interação mutua, pois

a “interação mutua é aquela caracterizada por relações e processos de negociação, em que

cada integrante participa da construção inventiva e cooperada da relação, afetando-se

mutuamente; já a interação reativa é limitada por relações determinísticas de

estímulo/resposta.”

Rheingold (1996, p. 20 apud RECUERO, 2005. p. 13), foi um dos primeiros autores a

efetivamente utilizar o termo comunidade virtual, define-a:

“[...] as comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da rede (Internet), quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no espaço cibernético (ciberespaço)”.

A partir de Recuero (Ibidem) podemos considerar que os elementos que formam uma

comunidade virtual são:

discussões públicas;

pessoas que se encontram e reencontram;

tempo, no que diz respeito à comodidade de acesso a internet;

sentimentos.

Esses elementos combinados junto ao ciberespaço podem ser formadores de redes de

relações sociais, constituindo-se em comunidades. Ou seja, “comunidade virtual é um grupo

de pessoas que estabelece entre si relações sociais que permanecem um tempo suficiente para

constituir um corpo organizado, através da comunicação mediada por computador”. (Ibidem,

p. 13).

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De acordo com Castells (2005), as comunidades são constituídas pelas escolhas e/ou

intenções dos “atores sociais”, isto significa que os laços sociais estabelecidos são mais

seletivos e são formados de acordo com interesses interpessoais. Desta forma são constituídos

os chats, blogs, comunidades do Orkut, dentre outros.

Breton (2005) chama as comunidades virtuais em geral, de espaço cibernético, no qual

afirma ser um “modo de existência completo” (p. 141), onde encontramos linguagens,

culturas e utopias. As comunidades, segundo o autor, desenvolvem ao mesmo tempo um

mundo real e imaginário com sentimentos e valores que só se constituem por meio da Rede

(conexão entre milhões de computadores). Além disso, os diálogos, imagens e interrogações

de dados, discussões em chats, etc. também fazem parte do mundo virtual como constituintes

dele.

2.3 ESTAR AQUI, ESTAR LÁ: FLUIDEZ DE FRONTEIRAS.

Uma das principais características do ciberespaço é a transposição dos limites

estabelecidos pelas fronteiras geográficas e também entre “o real e o virtual”. Conforme

Castells (2000), à distância, cada dia que passa, está significando menos neste universo das

novas tecnologias e a possibilidade de uma conversa sem imagens reais da visão e da audição,

mas em tempo simultâneo, poderia apontar para a fluidez potencial de invenção de

identidades.

Este novo sistema de interação transforma radicalmente o espaço e o tempo, as

dimensões fundamentais da vida cotidiana. Localidades ficam despojadas, e reintegram-se em

redes funcionais ou em colagens de imagens, ocasionando um espaço de fluxo que substitui

espaços e lugares. O tempo é apagado, já que passado, presente e futuro podem ser

programados para interagir entre si na mesma mensagem. O espaço de fluxos e o tempo

intemporal são bases principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos

sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, aonde o

faz-de-conta vai se tornando realidade.

Muitas da conversas nos chats se parecem com jogos típicos de uma conversa face-a-

face, que transcorrem como se os internautas estivessem ao vivo, onde perguntas reiteradas

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como “de onde você tecla (tc)?” apontam para a manutenção de tópicos de conversa

descontraída e próxima, ao mesmo tempo que distantes geograficamente, inclusive, distantes

internacionalmente.

2.4 SUBJETIVIDADE E VIRTUALIDADE.

“(...) o homem é a medida de todas as coisas, da existência das que existem e da não existência das que não existem”, ou seja, a “verdade” não é objetiva, mas há tantas verdades quanto os sujeitos cognoscentes”. Protágoras (485 aC.- 410 aC.

O intenso desenvolvimento das tecnologias contemporâneas, principalmente a

expansão da Internet e das comunidades virtuais, penetram na malha social, influenciando

cada vez mais as formas de relacionamento entre os sujeitos, produzindo processos de

subjetivação subsidiados pela lógica dos ciberespaços. A criação de um novo espaço de

valores e representações dependentes destes recursos respalda novas subjetividades que

determinam, conseqüentemente, configurações inéditas das relações do sujeito com seu

entorno.

A subjetividade para Foucault (1984) envolve um processo de subjetivação, não existe

constituição do sujeito moral sem este desenrolar, ou seja, toda experiência que concretiza

uma subjetividade envolve modos historicamente de se fazer experiências do si

(subjetivação).

Segundo Foucault (1984), a subjetividade é uma expressão de nossa relação com as

coisas, através da história, então, o modo mais imediato por qual essa relação se expressa é o

corpo.

Não entendido apenas como corpo orgânico, mas também como corpo construído

pelas relações com as coisas que encontra durante sua existência. Afirmamos que o corpo é

um corpo de relações, isso significa que o corpo envolve, portanto, o encontro com as coisas,

ficando subentendido que uma coisa pode ser um outro corpo, orgânico ou inorgânico, uma

idéia, uma imagem, uma inovação. Portanto, se a subjetividade é a expressão do que em nós,

em nosso núcleo de subjetividade, se relaciona com as coisas, com o mundo e com os outros,

então podemos dizer que envolve uma relação também com o tempo histórico. Para Foucault

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(1984) articula-se com o tempo, pois é uma maneira de abandonar a idéia de uma

subjetividade imóvel.

Considerando que os modos de existência, ou de subjetivação, são históricos, isto é,

envolvendo tempo, e mantêm estreitas relações com uma conjuntura específica, contextual,

pode-se afirmar que, no mundo contemporâneo, o encontro de “subjetividades” com a

variedade de estimulações trazidas pelos recursos tecnológicos, principalmente os chats,

somadas às demandas flexíveis advindas de diversos campos da vida, tem povoado as

“subjetividades”, com uma miscelânea de alternativas, conseqüentemente as possibilidades

subjetivas se multiplicam.

No ambiente virtual se dá a repartição das singularidades, os saberes, os gostos, as

percepções. As pessoas procuram seus pares, priorizando um discurso descritivo num inter-

relacionamento “instantâneo e perpétuo”, no sentido de o ato em si ser imediato, mas o

sentimento que este acarreta pode ser duradouro, modificando-se a cada instante on line.

Segundo Chauí (1994, p. 66), o filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso (480 Ac.) já

nos dizia que o tempo é como um rio, nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não

somos, em um rio não se entra duas vezes. Este paradoxo do tempo é extremamente relevante,

nesta associação com o tempo e o corpo. O rio é o mesmo, mas não pára de passar, portanto, o

rio nunca é o mesmo, nem aqueles que se banham no rio, pois eles também são por ele

levados. A todo tempo somos modificados pelas inconstâncias da vida, do mundo, e das

coisas.

A ligação da subjetividade com o tempo e o corpo é que a envolve em um processo de

subjetivação, visto ser o corpo o elemento que se inclui na heterogeneidade de elementos cuja

relação se faz e se desfaz com o tempo.

Para Rey (2003), a subjetividade é um complexo e plurideterminado sistema, afetado

pelo próprio curso da sociedade e das sociedades que a constituem dentro do contínuo

movimento das complexas redes de relações que caracterizam o desenvolvimento social.

Somos afetados pelas mudanças que ocorrem ao nosso redor, e através delas a cada dia somos

diferenciados. O autor da ênfase ao sentido subjetivo, que segundo sua abordagem, “[...]

representa a forma essencial dos processos de subjetivação”. (Ibidem, 2003, p. IX). Com essa

formulação entendendo a subjetividade como “[...] dimensão dialética, sistêmica, dialógica e

dialética, definida como espaço ontológico” (Ibidem, 2003, p. 75), e afirmando a capacidade

criadora do homem que produz sentidos subjetivos, ela pode ser atravessada e transformada.

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O corpo se transforma, a subjetividade se diferencia por causa da relação com o

tempo. O corpo é co-extensivo à subjetividade nos remansos do rio do tempo, parafraseando o

filósofo Heráclito de Éfeso.

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3 METODOLOGIA

O presente trabalho priorizou a pesquisa qualitativa exploratória, a qual “fundamenta-

se em dados coligidos nas interações interpessoais, na co-participação das situações dos

informantes, analisadas a partir da significação que estes dão aos seus atos”. (Chizzotti, 1995.

P.52). De acordo com Minayo (1994 p. 21 e 22), “[...] [a pesquisa qualitativa] se preocupa

com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o

universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a

um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser

reduzidos à operacionalização de variáveis.”.

O universo delimitou-se nas interações on-line no ambiente da Internet, com foco nos

freqüentadores do chat mIRC(Scoop-Script), canal (comunidade virtual) BRASIL.

Duas técnicas foram utilizadas: A observação participante (caracterizando a inserção

etnográfica) e entrevista semi-estruturada. A observação participante consiste, segundo

Haguette (1999), em experienciar e compreender a dinâmica dos atos e eventos, e recolher as

informações a partir da compreensão e sentido que os atores dão a seus atos, implicando na

participação do pesquisador nas atividades do grupo pesquisado. A descrição e a compreensão

podem estar compostas em uma observação compreensiva dos participantes, descrevendo suas

ações no contexto natural dos atores. A observação participante representa um processo de

interação entre teoria e métodos dirigidos pelo pesquisador na busca de conhecimento sobre

formas de comportamento. A etnografia de acordo com Minayo (1994) implica em entender

as pessoas como seres embutidos em redes de significados, é pensar nas pessoas da mesma

maneira como elas se identificam. O pesquisador entende os aspectos de outra cultura

vivenciando-a, estando lá, e fazendo as coisas que eles fazem, “vestindo a tanga do índio”,

como afirma o mentor deste método, B. Malinowski (1978 [1908]).

A entrevista semi-estruturada é caracterizada pela “(...) formulação da maioria das

perguntas previstas com antecedência e sua localização é provisoriamente determinada”.

(Minayo, 1994). Na entrevista semi-estruturada o entrevistador tem uma participação ativa,

apesar de observar um roteiro, ele pode fazer perguntas adicionais para esclarecer questões

para melhor compreender o contexto.

O computador foi o principal instrumento de coleta de informações, devido à coleta no

ambiente virtual, e o mesmo permitir a gravação de todas as conversas. A pesquisadora usou

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um Nick Name, interagindo com os participantes do chat. Outro recurso utilizado foi o roteiro

de entrevista. Foram feitas cinco perguntas abertas, norteadoras a respeito do tema e na

direção dos objetivos de pesquisa.

A população amostra foi de nove pessoas. Todas participantes do chat mIRC(Scoop-

Script), canal (comunidade virtual) BRASIL: oito identificaram-se como sendo do sexo

masculino e uma do sexo feminino. Dos participantes, dois bolivianos, dois peruanos, três

portugueses, e dois brasileiros. A idade dos freqüentadores do canal virtual pesquisado varia

de acordo com o período do dia que é freqüentado. Trata-se de grupos mistos, variando de 17

a 40 anos. Compreende estudantes, profissionais de diferentes áreas e diferentes classes

sociais, desde que possuam recursos para acessar a rede.

A forma de análise utilizada foi à análise de conteúdo. De acordo com Lakatos (2001),

este tipo de análise, trabalha as falas em seu contexto de enunciado. Leva em consideração as

significações (conteúdo), forma e a distribuição dos conteúdos. A análise implica relacionar

categorias significativas e representativas para os informantes, de maneira que se possa

proceder à interpretação dos dados, a partir da “fala” do próprio entrevistado; no nosso caso,

falas escritas na interação on-line. O anonimato dos informantes foi garantido, pela própria

característica da interação no canal on-line pesquisado, no qual as pessoas revelam somente

um codinome.

Uma das dificuldades na coleta de dados está relacionada ao fluxo de entendimento

nas interações, no que diz respeito à língua e aos valores ligados a cada cultura, pois a maioria

dos entrevistados era de outras nacionalidades e isso dificultava á principio não só a

comunicação escritiva, mas a comunicação relacionada aos teores de afeto durante os

diálogos.

O estabelecimento de uma conversa “íntima e próxima” (num canal restrito que

permite a conversa à dois) facilitou a coleta de dados, e fez com que a pesquisadora

experimentasse a sensação de realmente fazer parte da comunidade, interagindo fluentemente

com os sujeitos, envolvendo-se de tal forma que a interação fosse descontraída e aberta,

facilitando a pesquisa.

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4 CATEGORIAS DE ASSUNTO

A seguir abordaremos cinco categorias de assunto que foram estabelecidas de acordo

com a pertinência de cada uma delas na experiência do campo. As mesmas serão melhor

esplanadas conceitualmente no próximo tópico, no qual abordaremos os aspectos etnográficos

de interação.

Afetividade: implica na nas relações que expressam a aspiração de construção de um laço

social próximo com forte carga de emoção e de conteúdo subjetivo. Tipo de relacionamento

que não seria fundado nem sobre aspectos territoriais, nem sobre relações institucionais, mas

sobre a reunião de interesses comuns, no compartilhamento de valores de cooperação e troca.

Erotismo: implica na possibilidade na forma de apelo sexual embutido nas conversações e

nas relações on-line, caracterizando muitas vezes são os relacionamentos afetivo-virtuais, ou

namoros virtuais, denotando as mensagens com forte teor afetivo e por vezes chegando a um

conteúdo um tanto quanto erotizado.

Identidade: implica naqueles nas relações de identificação que construímos o outro e a nós

mesmos, em uma interação que os sujeitos se montar e desmontar conforme os interesses de

trocas e interações.

Gênero: implica no estilo de discurso em diálogo assumido pelo sujeitos, definindo campos

de afetividade seja de homossociabilidade ou heterossociabilidade, de homoafetividade ou

heteroafetividades.

Ambiente Virtual: implica nos recursos de hipertexto, imagens e sons da cibercultura,

característicos de um espaço que otimiza as relações sociais criando um ambiente

descentralizado e rizomático, propício á troca e a reciprocidade.

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5 DA ETNOGRAFIA: ENTRANDO NO CAMPO [E NA TEORIA].

Neste tópico serão abordados concomitantemente os dados obtidos etnograficamente,

a reflexão dos autores, assim como, a própria análise do material coletado. Os interlocutores

dos diálogos serão identificados por letras: L denominará a pesquisadora e as demais letras os

sujeitos de pesquisa.

Primeiramente remeto à idéia de cibercultura à noção de cultura, na tradição

interpretativa da antropologia, como um conjunto de valores, crenças, formas de pensar de um

grupo, entendidos na sua lógica simbólica e de sujeitos em relações de tensão, negociação,

disputas e enfrentamentos (GEERTZ, 1989), relações e sentimentos que vivenciei nas

interações com meus informantes.

Apesar de reduzida a mobilidade física do sujeito, o mesmo conhece uma

plenitude sensorial que a sociedade não lhe prodigaliza com tanta largueza. Segundo Breton

(2005, p.142) os pesos do corpo são eliminados, qualquer que seja a idade, a posição social, a

condição física, todos se encontram num plano de igualdade, justamente pelo fato de esse

espaço colocar o corpo entre parênteses sem estorvantes e empecilhos. No espaço cibernético

cada um pode se sentir a estrela do espetáculo que quiser.

O espaço cibernético representa um mundo em que as fronteiras se misturam, é uma

forma de comunicação e interação social que possibilita a “construção de vários eus3”, tem-se

uma realidade subjetivamente dotada de sentido, na medida em que se podem transpor as

barreiras do corpo. A partir do momento que o internauta se denomina on-line, tem o poder de

experimentar o “eu” que desejar, sem grandes riscos de censura, assim cada um assumindo o

papel que almeja, mesmo que seja fictício, e fica por vezes no anonimato o “eu” cansado das

imposições do ambiente off-line.

As nossas relações mais próximas nos exigem justificativas e persuasão nas atitudes.

Para Bauman (2004), diferentemente dos “relacionamentos reais”, é fácil entrar e sair dos

relacionamentos virtuais. Em comparação com a “coisa autêntica”, pesada, lenta e confusa,

3 “Construção de vários eus”: o autor David Le Breton, usa este termo no seu livro “Adeus ao Corpo”,

para referir-se que no ciberespaço, cada um pode experimentar o eu que desejar, isto é, a identidade que desejar.

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eles parecem inteligentes e limpos, fáceis de usar, compreender e manusear. Sempre se pode

apertar a tecla de deletar.

A soberania pessoal que o corpo encarna com constância na vida comum é nesse

espaço radicalmente suprimida. O ambiente virtual permite uma liberdade simbólica, cujo

fundo se exprime na inter relação através do teclado, do ato de teclar ou, como na linguagem

cibernética, “tc”, a vida naquele dado momento está ali na ponta de seus dedos, e próximos

aos olhos, isto proporciona o que Breton (2005) denomina sensação perturbadora de presença.

Sensação intensamente real a ponto de o indivíduo sentir-se face-to-face.

Essa sensação perturbadora de presença denuncia a afetividade intrínseca nessas

relações que muitas vezes ultrapassam o próprio ambiente virtual. Segundo Breton (2005), no

ambiente da rede o indivíduo livra-se das coerções da identidade, metamorfoseia-se provisória

ou duradouramente no querer sem temer o desmentido do real, desaparece corporalmente para

se transformar segundo uma profusão possível de máscaras, para se tornar pura informação,

cujo conteúdo e cujos destinatários ele controla com cuidado.

Nos dias atuais, um dos veículos do espaço cibernético são os chats. Segundo

pesquisa4 feita pela Faculdade de Psicologia da PUC-SP, de 275 respostas válidas 48,4% dos

entrevistados respondeu que freqüentam Chat. Esse número é considerado grande e sugere a

necessidade de novos estudos nesta área.

Segundo Dornelles (2003), o chat, como ambiente de interações sociais on-line, é um

sistema de comunicação com especialidades e lógica própria, é um intenso modo de conversa.

Ele simula gráfico e virtualmente o ato de se estar em uma “sala” (ambiente) com outras

pessoas. Os criadores de interface gráfica enfrentavam um dilema: ou tornavam os softwares

amigáveis e reproduziam tudo do mundo real (até defeitos e problemas), ou criavam uma

mistura entre algo que lembrasse o mundo analógico, mas que na plataforma digital tivesse

uma lógica própria, que expandisse a funcionalidade. A partir daí podemos pensar a respeito

dos chats de internet e como eles estimulam a sociabilidade “real”, pois se tornou através

desse processo de criação, uma sala de estar, onde todos se comunicam, interagindo

mutuamente.

No chat a comunicação é dinâmica e lembra a conversação. A troca de mensagens

ocorre rapidamente entre emissores e receptores, o que se chama de “tempo real”, ou melhor,

sincronia. O autor Levy (1996), salienta que no ciberespaço cada um é potencialmente

emissor e receptor num espaço qualitativamente diferenciado, não fixo, disposto pelos

4Pesquisa encontrada em http://www.netpesquisa.com/textos/texto1.htm.

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participantes, explorável. Aqui, não é principalmente por seu nome, sua posição geográfica ou

social que as pessoas se encontram, mas segundo centros de interesse, numa paisagem comum

do sentido ou do saber.

Os chats, tem tido grande profusão, têm reunido milhares de pessoas em situações de

conversa on-line, em tempo real, dando margem à formação de vários grupos de pessoas

conforme interesses, gostos e aspirações, em constante mudança.

De acordo com CHAUÍ (1994. p.67), Heráclito de Éfeso 480 Ac. chamou a atenção

para a perene mobilidade de todas as coisas. Segundo ele, nada permanece imóvel e nada

permanece em estado de fixidez e estabilidade, mas tudo se move, tudo muda, tudo se

transforma, sem cessar e sem exceção "tudo flui", recordando a futura e famosa afirmação de

Lavoisier. Para ele, só o devir das coisas é permanente, no sentido de que as coisas não têm

realidade senão justamente no perene devir.

Esse constante devir enunciado pelo filósofo Heráclito, apresenta bastante relevância

no que diz respeito às mudanças que o ciberespaço proporciona, principalmente na profusão

do cenário novas identidades.

Minha primeira inserção no chat mIRC(Scoop-Script), canal (comunidade virtual)

BRASIL, se deu no dia 19 de setembro de 2007, exatamente às 15 hrs e 24 min. Estava eu em

casa, em frente ao computador, pronta para a abrir o portal do canal. Dia chuvoso como

aqueles que água escorre intensamente pela janela. Com uma caneca de café ao meu lado, e

um tanto quanto ansiosa com a situação. Aliás, é minha primeira inserção nas relações de

pesquisa, e já me parecia fecundo.

Abro o portal (Figura 1).

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Figura 1.

Ao clicar, automaticamente sou surpreendida por uma interface extremamente

constituída de sons e imagens “excitantes”, chamativas e contemplativas. A música toma

conta do espaço e foi interessante o modo como me senti atraída pelo ambiente e, de certa

forma, invadida pelo mesmo; pois, na primeira vez, surgem coisas inesperadas.

Lévy (1999) aponta que o sujeito através das interfaces e dos hipertextos abre-se em

uma imersão contínua. O som, o desenho, a foto, ganham profundidade, acolhem o explorador

ativo de um modelo digital, em uma construção cooperativa de um universo de dados. A

interação e a imersão ilustram um principio de imanência da mensagem ao seu receptor que

pode ser aplicado a todas as modalidades do digital: a obra não está distante, e sim ao alcance

da mão. Participamos dela, somos invadidos por ela e também somos seus autores.

Continuando minha navegação articulando o cursor do mouse, chego onde estão os

Canais registrados. (Figura 2).

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Figura 2.

E escolho o Canal a que me propus investigar, denominado “Canal Brasil”.

Finalmente chego à interface de diálogo onde estão relacionados os nomes dos participantes

que permanecem on-line naquele momento. (Figura 3).

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Figura 3.

Ao chegar a esta plataforma meu entusiasmo é vivido com mais intensidade, como se

entrado em um ambiente e todos estivessem me observando. Clico no Nick Name de meu

primeiro contato, ele não responde, aguardo alguns minutos e nada.

A utilização de Nick Names é um dos maiores marcadores identitários deste local.

Considerado uma das principais características, o Nick Name que o internauta utiliza tem sido

associado à questão das identidades “virtuais reais” e podem ser vistos como uma das

principais marcas.

Hall (1997) argumenta que a Internet é um elemento do computador que contribui para

encararmos a identidade como multiplicidade. Através da tela de um computador tem-se a

possibilidade de construir uma “personalidade” alternando entre muitas outras, e isso não

significa que não sejam reais, pois o internauta vive intensamente cada uma.

Hall (2000) afirma que as velhas identidades responsáveis pela estabilidade do mundo

social estão entrando em declínio e sendo substituídas pelas novas identidades, caracterizadas,

entre outras coisas, por um sujeito fragmentado, promovendo grandes alterações estruturais

nas sociedades modernas. Para o autor existe três tipos de identidades. A identidade do sujeito

do Iluminismo, dispondo de um individuo unificado e dotado de razão, o centro essencial do

“eu” era a identidade de uma pessoa. A do sujeito sociológico, reiterando a idéia de que o

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núcleo interior do indivíduo não era auto-suficiente, mas formado nas relações com outras

pessoas: “[...] a identidade, então, costura o sujeito à estrutura, estabiliza tanto os sujeitos

quanto os mundos que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e

predizíveis”. (Ibidem, p. 12). E a identidade do sujeito pós-moderno, resultado de mudanças

estruturais e institucionais que torna o processo de identificação estável e provisório, tornando

a identidade pouco fixa e permanente. “O sujeito assume identidades diferentes em diferentes

momentos”. (Ibidem, p. 13). A isso estaria ligado o caráter mutativo das sociedades modernas

ligado diretamente ao fenômeno da globalização.

“[...] quanto mais a vida se torna mediada pelos sistemas de

comunicação globalmente interligados, as identidades se tornam desvinculadas, desalojadas, de tempos, histórias, lugares e tradições específicos e parecem flutuar livremente. Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual fazendo seus apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha” (HALL, 2000, p. 75).

A globalização acaba tendo um efeito de contestar e deslocar as identidades centradas,

fechadas numa cultura nacional, exercendo uma influencia pluralizante sobre as identidades,

tornando-as, portanto, mais diversas. Hall (2000) conclui que:

“[...] em toda parte, estão emergindo identidades culturais que não são fixas, mas que estão suspensas, em transição, entre diferentes posições; que retiram seus recursos, ao mesmo tempo, de diferentes tradições culturais; e que são o produto desses complicados cruzamentos e misturas culturais que são cada vez mais comuns num mundo globalizado” (Ibidem, p. 88).

Parto então, para um próximo Nick Name: Quer “tc”? Essa é uma fórmula já corrente

de abertura de espaço, indicando as demandas que as pessoas se envolvem, no convite de

alguém para conversar on-line, onde o teclado é o instrumento para registros das falas: “tc” é

a abreviatura da palavra teclar, convencionada pelos internautas a partir de suas práticas nos

chats de interação. O objetivo destas abreviaturas é ganhar tempo na digitação, no intuito de

otimizar em tempo as conversas.

Do outro lado, outra pessoa pode dizer “sim”, questionando o recém-chegado: “Quer

tc?”; “Tc de onde?”; “Qts anos vc tem?”; “Ql teu nome?”; “Como vc é?”; “Vc tem namorada

(o)?”, “Vc tem foto?”; “Tem MSN?”. Como observamos no diálogo abaixo. (Figura 4).

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L. diz: o queh tc????????????

S. diz: oi

S. diz: oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

S. diz: de onde e vc?

L. diz: oh ateh q enfim heim

L. diz: eu sou de sc e vc?

S. diz: sc onde e?

S. diz: santa cruz?

L. diz: não Santa Catarina Brasilllllllllll

S. diz: qtos anos vc tem?

L. diz: 22 e vc?

S. diz: eu 18 Figura 4.

Quem nunca teve de responder a essas perguntas não entrou numa sala de bate papo na

vida. Esses são os primeiros passos de um internauta na hora da iniciação de uma conversa no

canal. Praticamente todas as pessoas fazem estas perguntas, já consideradas de praxe. Isso se

dá devido à ausência da imagem. As perguntas acima são relacionadas a busca dos internautas

em detectar o perfil pessoal de seu interlocutor, tentando reconhecer aparência e já

anunciando interesses afetivos.

Assim que fui atendida prontamente, começo minha imersão neste mundo “virtual

real”.

Percebo que o ambiente configura-se semelhante a um espaço público, como uma

festa ou um barzinho, por exemplo. Só que neste espaço ocorre algumas pequenas diferenças

referentes a estes contextos da vida fora do campo virtual. Ao invés de perguntar seu celular,

o interlocutor pergunta seu MSN. Se este for fornecido, o interlocutor considera que você o

achou agradável, e gostaria de manter um contato mais próximo. (Figura 5).

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S. diz: acresente vc!!!!!!!

L. diz: vc quer me perguntar o que eu faço?

S. diz: vc é muito simpatica gostei de te conocer, podia continuar o

contato, falando nós, Pode me dar seu msm?

L. diz: sim claro....([email protected])

S. diz: vou te adicionar!!!!!!

L. diz: ok bleza@@@@@@!

S. diz: seo msm ta fechado

L. diz: tah, ms vou abrir agora

L. diz: queres q eu o abra o msn?

S. diz: sim

Figura 5.

Numa ocasião de uma de minhas inserções uma participante do canal disse-me que o

canal é como uma festa, ou como estar na rua: você entra, vê varias pessoas desconhecidas

dentro de uma mesma sala, como numa “balada”, entreolham-se, avaliam a beleza, lêem os

Nick Names (apelidos), tomam coragem e se aproximam para conversar. Os apelidos

representam as pessoas no canal, como uma espécie de “corpo”, por isto a importância de

perceber a grande utilização de apelidos como “peitudinha”, “gato-sem-gata”, “solo”, ou,

“mau love”, que muito mais do que falar sobre um corpo que se tem, dão a impressão de falar

sobre um corpo que se deseja, são corpos sustentados pelo desejo e fantasia mútuas.

A criação de um Nick Name possibilita aos usuários a utilização de diferentes

configurações de gêneros, de etnias, de estéticas, de sexualidades, construindo este corpo

virtual real com personalidades fragmentadas, que podem ser constantemente reconstruídas,

conforme seus desejos e necessidades de novas experiências e existências (HALL, 2000). “Se

antes o corpo encarnava o destino da pessoa, a sua identidade intangível, hoje é uma

proposição a afirmar e a restaurar permanentemente”. (BRETON, 2004, p. 67). O que torna

interessante é que a constituição de todas essas identidades permite manobras e acomodações.

Nesse sentido “o Ciberespaço é uma magnífica instituição da máscara, que multiplica as

identidades sem recear ter de prestar contas” (BRETON, 2004, p. 73).

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Segundo Mafessoli (1998), nesse tipo de sociabilidade o sujeito representa papéis e

muda o seu figurino conforme seus gostos e momentos têm a chance de participar de assumir

o papel que desejar, sua motivação é afetiva, subjetiva, é o estar junto que se torna relevante.

Afinal o paradigma estético permite se pensar numa configuração social alternativa e em um

momento em que o “eu” vive em meio a um turbilhão de “incertezas imediatas”, e são essas

incertezas de varias espécies, incluindo a incerteza sobre a existência de uma identidade, que

fundamentam as culturas dos sentimentos. Há um deslize de uma lógica da identidade,

individualista, para uma lógica da identificação, que é muito mais coletiva.

Construídos sobre a tecnologia da palavra escrita, os interlocutores deste espaço

cibernético, vão construindo novas identidades como implicadores no próprio processo

hipertextual, pois, de acordo com Lévy (1996), o texto implica significações que cada leitor

constrói a partir de seus próprios códigos de leitura, quando ele recebe ou se apropria desse

texto de forma determinada. Cada indivíduo torna-se autor da própria fala; o que delineia

traços de identidade. Se “fala”, se “grita”, se “chora”, se “canta”; enfim, existe toda uma

manifestação discursiva que se transforma em marcadores escritos e muito mais do que isso,

se transforma em puro sentimento difuso no meio de palavras que se contrapõe no toque do

teclado. Com acessos permitidos, sem barreiras o ambiente amplia as formas de expressão,

privilegiando o exercício da mobilidade de identidades. Como observamos abaixo. (Figura 6).

P. diz: n aguento ms to de saco cheio ela só fica cuidando do filho do irmaao

dela.

L. diz: ms vc tem q entender tem q ter paciência!!!

P. diz: paciênciaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa@@@@@@@@@@

L. diz: sim pq e p ganhar o dinheiro dela....etc ESQUECEU??????

L. diz: e alem do mais fz tempo pelo q vc me falou q vcs estao juntos...

P. diz: é fz tmpo eu acho q já to enjoado de briga sempre pelas mesmas

coisas...sabe como é isso....enche uma hora....to pensando em dar um tempo..fica

casado é complicado...as vezes...mas eu gosto dela..sabe eu acho as vezes q eh

soh uma faze.

L. diz: antes de tomar um decisão precipitada ´´eh melhor pensar antes

principal,mente nisso q vc ta me falando!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Figura 6.

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A ausência do contato visual relacionada com o comportamento humano de

autopromoção, no sentido de falar sobre si, provoca reações em cadeia, como o desejo de se

reinventar para outra pessoa. Como o ciberespaço possibilita essa reinvenção, se torna

potencialmente propício para o aparecimento de novas formas de identidades, novos

comportamentos e de pessoas na busca pelo outro, da sua “metade perfeita”. Figura 7.

L. diz: oi A. e daí bleza@@@@@@?

A. diz: oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii belza!!!! E vc?

L. diz: indooooooooooooo

A. diz: desde a nossa ultima conversa fiquei pensando, vc naO me disse com

era..

L. diz: eu sou norm@l ehheheheheheheheh

A. diz: n é isso heheheheheh

A. diz: eu sou moreno, tenho olhos castanhos, sou muito romântico....curso

engenharia mecânica...etc.

L. diz: ok isso sim n te falei de eu....., minhas características....

A. diz: como vc é?

L. diz: sou loira, tenho olhos claros e faço psicologia...

A. diz: ahhhhhhhhhhh bonita, estou em busca de uma menina bem assim.

Hehehehehhee

L. diz: engraçadinho vc heim..hehehehehehhehe.

Figura 7.

Aproprio-me da idéia de Hall (2000), pela sua validade, quando aborda sobre o sujeito

que assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são

unificadas ao redor de um "eu" coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias,

empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo

continuamente deslocadas. Se sentirmos que temos uma identidade unificada desde o

nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda história sobre nós mesmos

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ou uma confortadora narrativa do eu. Ao invés disso, à medida que os sistemas de

significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma

multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais

poderíamos nos identificar - ao menos temporariamente.

Na interação com os informantes, a categoria afetividade assumiu grande valoração. O

Canal5 cobre-se por vezes de uma certa intimidade, as pessoas revelam seus segredos mais

profundos, se libertam da “repressão sexual” imposta pela sociedade. A utilização da web can,

faz com que o individuo saia do anonimato corpóreo permitindo que o outro o veja

demonstrando certa confiança no indivíduo que está do outro lado da tela. Isto colabora para

uma relação mais íntima. Como se você estivesse deixando entrar na sua casa alguém

próximo, da sua própria comunidade. (Figura 8).

S. diz: L. vc quer me ver e ver onde eu estou, ONDE EU VIVO?

L. diz: por mim tudo bem, soh q eu n tenho web pra fzer o mesmo!!!

S. diz: tudo bem!!!

L. diz: ok então!!!!

S. diz: então aceita a transmisao tah?

L. diz: beleza!!!

Figura 8.

Ali, como em qualquer outro lugar, tudo gira em torno das necessidades de cada um.

Procuram amigos, companheiros, namorados, e até mesmo alguém só para desabafar, falar

que seu relacionamento não anda bem, falar que discutiu com a mãe, brigou com o pai, que os

pais se separaram, e sempre encontram com quem compartilhar seus gostos, seus anseios,

enfim alguém que os escute. (Figura 9).

5 Refere-se aqui ao local de pesquisa chat mIRC(Scoop-Script), canal (comunidade virtual) BRASIL.

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V. diz: tudo mal aqui em casa. Queria falar

com . Podemos conversar agora@@@@@@@@?

Figura 9.

A partir da figura acima, também podemos perceber a criatividade em torno de ênfases

que definem o tom do caráter afetivo no limite da comunicação mediada pela máquina. Cada

imagem carrega consigo um significado simbólico. A imagem do gato vista na frase acima,

tem toda uma desenvoltura simbólica que corrobora com o próprio viés do animal gato, que é

um animal doméstico, acaba se constituindo como carinhoso, interpretando consigo o “oi”,

que se torna mais próximo e amigável. O modo descritivo sincopado que é característica deste

espaço, é contribuído nas abreviaturas com cores e com recursos hipertextuais. A palavra

você abreviada acima “vc”, ganha um estilo próprio onde o interlocutor se sente alguém

especial ao receber esse recurso de hipertexto.

Quando os internautas começam a freqüentar o canal acabam criando laços na forma

de “rede”. Existem os freqüentadores regulares, e os que acessam eventualmente. Os

freqüentadores eventuais criam laços pouco estabelecidos, mas mesmo assim a cada acesso

criam laços com os demais internautas, que estão regularmente ou eventualmente no canal.

Com os freqüentadores regulares, a “rede” é mais estabelecida e se reproduz diariamente.

“Rede” é um conceito adequado para tratar da organização social em meio urbano.

Barnes (1987) utiliza a “rede social” como um recurso analítico capaz de dar conta de

processos sociais onde a conexão não se dá via limites de grupos ou categorias. Os processos

estruturadores das redes sociais têm por origem as interações sociais estabelecidas pelos

indivíduos. Implica na estrutura de sociabilidade presente em cada um dos atores de uma

interação, e que surge com base em “certos impulsos ou em função de certos propósitos, e é

organizada em campos sociais, elementos de uma identidade, de uma geografia social que

permite, por exemplo, a localização dos indivíduos em uma estrutura social e as

potencialidades interativas entre eles (SIMMEL, 1993, p. 179).

Dentre os sujeitos que fizeram parte desta pesquisa, oito eram freqüentadores regulares

e apenas um era freqüentador eventual. Os freqüentadores estabelecem suas “redes”, e as

cultivam de forma cotidiana. Muitas vezes esses relacionamentos se transformam em um

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sentimento muito mais profundo e intenso, regrados de emoticons de cunho romântico com

dizeres clássicos da representação amorosa. No exemplo abaixo encontramos rosas,

borboletas, a expressão inglesa universalizada de amor (Figura 10).

Figura 10.

A conquista do outro é otimizada com os recursos de hipertexto, o interlocutor pode

receber uma declaração amorosa animada com variadas interfaces. O mesmo possui

movimentos de estrelas caindo, muito brilho e sincronizações, entre outros efeitos que são

elaborados de acordo com o sentimento, ilustrando de maneira semiótica a conversa on line.

(Figura 11).

Figura 11.

Cada emoticon traz uma reprodução caricatural do que se quer exprimir para a pessoa

que está do outro lado da máquina, na outra ponta da conexão. Estes recursos são utilizados

para pedidos de desculpas, ou simplesmente para demonstrar o quanto a outro é especial.

Os indivíduos assumem uma variedade de posições de sujeito dentro de diferentes

discursos. Nick Name, cor do apelido, fonte e uso de emoticons, formam uma espécie de

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matriz corporal onde se construirão, nos processos relacionais na sala on-line, corporalidades,

subjetividades e identidades de gênero.

Na minha primeira inserção percebi que a escolha do Nick Name era algo que poderia

me exigir um pouco mais de reflexão: os apelidos, mais do que um enunciado de palavras,

funcionam no Canal como uma espécie de corpo. Queria naquele momento um apelido que

chamasse a atenção dos participantes, mas, que fosse ao mesmo tempo sem nenhuma

caracterização específica, com termos apelativos, e resolvi utilizar um nome comum.

De qualquer forma, procurei construir um corpo sem exuberâncias, que não

despertasse apelo sexual; mesmo assim, fui abordada por um de meus interlocutores com

perguntas um tanto quanto íntimas:

___So. diz: vc gosta de meninas ou de meninos?

Não vi problema em responder:

___L. diz: de meninos.

Existe certa ânsia em se saber a preferência sexual ou saber se quem está teclando é do

sexo masculino ou feminino. Tive a experiência de conversar com So. que dizia ser bissexual.

O jogo de sedução dela frente a mim foi paulatinamente enriquecido com estratégias de

relacionamento. A mesma articulava fantasias com conteúdo altamente erotizado, o que

dificultou, de minha parte, a conversação. Porém, propiciou momentos de conhecimento,

apesar do meu constrangimento diante da situação.

___ So. diz: que número d sotien vc usa?

___ So. diz: e tua v.g. [vagina] como eh?

Diante disto, não sabia mais como conduzir a conversa. A vontade foi de fechar o

“PVT”, e sair do canal, entretanto, depois de algum tempo, consegui retomar a conversa, e

continuar a interação. Mas, não posso omitir a sensação de estar face-a-face com a “nativa”.

Sobre este sentimento, Breton (2005) chama de sensação perturbadora de presença, que é tão

intensa que parece se ouvir a respiração do outro a partir do ouvir sua própria respiração.

Conforme o autor, “A sedução é aqui radical na medida em que elimina

completamente a carne para se entregar como uma trama de aparência, um repertorio de

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sinais que apanham, em sua rede, homens prontos a acreditar que a carne nada é e que faz

parte da necessidade do outro no desejo de não transgredir essa simples condição sinal”.

(BRETON 2005, p. 170).

O erotismo no ciberespaço é uma relação de satisfação recíproca com o corpo do

outro. Implica uma confiança mútua suficiente para evitar perder-se no outro e para com ele

viver um momento intenso de intimidade. A brincadeira erotizada vivida numa ciberconversa

é um confronto simbólico com a morte de um corpo e ressuscitado um prazer altamente

descritivo. O desnudamento é um equivalente simbólico, da descoberta por traz do verniz das

roupas, da infinita fragilidade do outro. A nudez já implica em estar moralmente nu diante

dos olhos do outro (Ibidem).

Baitaille (1965, apud BRETON, p. 164), diz que o erotismo ou a sexualidade implica

na provação do corpo do outro. Como um desvendar descritivo que torna o corpo despido

pelo toque do teclado, e pela ferramenta denominada mouse, que também não se contempla

somente como uma simples ferramenta, mas como um meio simbólico de prolongarmos a

extensão do nosso corpo. Permite “[...] o sexo transformar-se em texto, aguardando as

combinações sensoriais que permitem estimular à distância, o corpo do outro, sem tocá-lo”.

(Ibidem, p. 164).

Manter um relacionamento amoroso ou sexual é um dos motivos pelo qual muitos dos

internautas freqüentam o canal. A possibilidade de fabricar mundos de fantasias, viver

fantasias e também satisfazer desejos on-line, em ambientes coletivamente acessíveis, faz da

Internet não apenas um espaço distinto do espaço físico, como também um espaço em que a

fantasia de sermos algo ou alguém que desejamos ser pode ser satisfeita sem grandes

dificuldades ou demandas emocionais que encontraríamos por ventura no espaço físico.

Outra experiência interessante foi a que tive com o sujeito M. M era do sexo

masculino, de Portugal, solteiro. Na segunda conversa que mantivemos pelo “PVT”, me

passou seu telefone, interpelando-me, que se eu sentisse vontade de conversar com alguém ou

até mesmo desabafar poderia entrar em contato com ele. Como podemos observar na figura

abaixo. (Figura 12).

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M. diz: vc quer vir aqui amanhã??

L. diz: amanha n vai dar, tenho q estudarrrrrrrrrrrrrrrrrrr

M. diz: ok

M. diz: bem!!

M. diz: em todo o caso vou lhe dar novamente o meu e-mail

M. diz: [email protected]

M. diz: e o meu nº de telefone, sempre q vc sentir vontade de conversar ou desabafar pode me lig@@@ar!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

M. diz: 00333 288

M. diz: uma coisa lhe digo adorei convers@@@@r com vc

M. diz: vc parecer ser uma boa menina

M. diz: agora vou ter que sair

L. diz: ok

M. diz: ADOREI FALAR COM VC

M. diz: beijos

L. diz: vamos continuar nos falando ok!!!

L. diz: beijos

M. diz: ok

M. diz: apareça

L. diz: ok, combinado

M. diz: -----<---<---@

M. diz: -----<---<---@

M. diz: -----<---<---@

M. diz: -----<---<---@

M. diz: -----<---<---@

M. diz: -----<---<---@

M. diz: -----<---<---@

Figura 12.

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Fiquei um tanto surpresa pelo grau de intimidade já posto em tão pouco tempo, porém

isso demonstra o quanto esse espaço acaba se concretizando como qualquer outro, pois

quando conversamos com alguém no mundo da carne, no sentido do físico, também

oferecemos nosso celular que é um meio de estabelecimento de proximidade. Já o fato de meu

interlocutor se propor a conversar, ouvir o outro, no caso, me ouvir, denota a cumplicidade

existente nessas relações. O espaço virtual acaba se concretizando como um veículo que tem

a possibilidade de fornecer prolongamentos sociais além do próprio espaço virtual da

máquina, para outros virtuais e não virtuais (no caso o telefone e a possibilidade de um

encontro).

Como diz Wertheim (2001), este novo espaço parece surgir como um lugar que está

além do espaço físico, na medida em que ele permite às pessoas o exercício de alguns

aspectos humanos que não encontram morada na imagem física do mundo. Diversamente dos

perigos vivenciados no espaço físico, o ciberespaço aparece como um local seguro para as

pessoas experimentarem suas fantasias e desejos sem medos e angústias. É nesse contexto que

se dá o “virtual real”, na medida em que cria coletivamente novas experiências, este domínio

digital repercute neste espaço, imbricando-se no mundo físico. Afinal, mente e corpo não são

entidades separadas, nem mesmo quando assim queremos. Tudo que é sentido é real.

Assim, passa-se a viver uma realidade diferente, na qual as barreiras espaciais,

temporais e geográficas já não são tão significativas, quando as redes globais de intercâmbios

conectam e desconectam indivíduos, grupos, regiões e até países sob os efeitos globalizantes

provenientes da pós-modernidade e/ou modernidade tardia (HALL, 2000), ou alta

modernidade (GIDDENS, 2002).

Diante desse cenário, o indivíduo sai à procura de pessoas com as quais possa

compartilhar interesses em comum, ação que se repete, uma vez que é da natureza humana se

relacionar socialmente. Nos últimos tempos, porém, tal prática parece ter sido intensificada

com a presença das redes mundiais de computadores, que aproximam os indivíduos e

possibilitam o surgimento de novas formas de relações sociais, entre as quais se destacam as

comunidades virtuais, espécie de agrupamentos humanos constituídos no ciberespaço ou no

ambiente virtual (RHEINGOLD, 1996, Apud RECUERO 2005).

A afetividade intrínseca no sentido de estar embutida nessas relações, muitas vezes, é

carregada paro o mundo da carne (mundo físico), então os internautas acabam conhecendo

seus interlocutores, e formando prolongamentos de relações, que continuam se constituindo

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ao longo do tempo. Todos se unem num coletivo, em uma profusão de sentimentos, saberes e

sensações transformando-se em algo maior: uma comunidade.

Minhas inserções eram diárias para que eu pudesse realmente estabelecer um vínculo

com os participantes do Canal, e também entender de fato como se configurava

cotidianamente aquele espaço, muitas vezes parecendo uma sala comum do ambiente off-line.

Em um destas inserções conheci P. P era do sexo masculino, casado, morava no Rio de

Janeiro. O que me chamou atenção na sua conversa, foi a franqueza com que relatava suas

dificuldades tanto na relação conjugal, como na sua vida financeira, era um diálogo aberto.

(Figura 13).

P. diz: o pior de tudo é q eu to tentando arrumar um emprego p minha esposa

e n tah dando.....

L. diz: isso é bem complicado..

P. diz: por causa disso nossa vida tmbm n tah legal....

L. diz: é q as coisas acabam refletindo..

P. diz: eu n sei mais o q fzer???????????!!!!!!!!!!!!!

P. diz: a situação ta muito ruim...

L. diz: eu nem sei oq te dizer, nunca passei por isso, p te dar um

conselho sei lá

L. diz: ms acho melhor vc agir com calma, p n fazer nda de cabeça

quente....

P. diz: pode deixar, isso eu vou tomar cuidado

L. diz: belez@@@@@@@@@@@@@@@@ então!!!!

Figura 13.

Como podemos observar esse espaço se constitui como um lugar de mútuo sentimento

comunitário, entretanto, não coíbe os participantes de manterem relações fora do Canal. A

partir de trechos do diálogo seguinte podemos perceber o quanto que o Canal virtual permite

estabelecimento de relações para fora do ciberespaço. Não foram expostas as falas

correspondentes a todos os participantes, porém, foi mantida a autenticidade dos diálogos

apresentados. (Figura 14).

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Trecho 1:

A.: Oi blza? Como foi ontem????? Eu saí foi

d !!!!!!!!!!!!!!!!!! Hehehehhehehe fiquei com uma garota muitcho linda

ehheheh....vô te conta tudo!!!!!!!!!!!!

Trecho 2:

P. diz: Vou sair p jogar futebol agora rsrsrsrrsrsrsrsr tenho q mante a

forma!!!!!!!!!!! volto. Depois nós conversa. fui”””” xau. Espera acho q vo

demora um pouco pq vai ter cervejada depois rsrsrrsrsrsr

Trecho 3:

S. diz: vou caí n nigt semana passada não fiz nda de hoje n

passa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Trecho 4:

M. diz: Vou passar teu Nick p um amigo aqui da loja p vcs conversarem

tmbm...acho q vc vai achar ele legal...mas vc q sabeeeeeeeeee.. beleza@@@?

Figura 14.

Nisbet (1974, apud RECUERO, 2005. P.50) em seu conceito de comunidade, afirma

que comunidade apresenta o componente sentimento como algo forte, e também com uma

fusão e ligação que gira em torno da intencionalidade. Os participantes do Canal tinham o

componente sentimento, como algo de grande relevância. Isso pôde ser percebido nos

diálogos de cada sujeito.

Outro tipo de afeto também foi observado. Certo dia, ao abrir o portal do Canal em

mais uma de minhas inserções, me deparo com uma declaração de um participante. Em letras

garrafais ele dizia: “[V]: estou enamorado de sua personalidade, estou expondo para todos

verem o que sinto”. Surpreendi-me. Foi neste momento que decidi deletar meu Nick Name,

preocupada com o grau de ficção que isto poderia gerar de minha parte, preocupada também

com questões éticas.

Entretanto, fazendo uma releitura do fato, podemos perceber como a ênfase do público

e do privado possui no ciberespaço sua importância, entendendo que dentro deste ciberespaço

o público se constitui como um espaço em que o internauta digita suas mensagens e todos os

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participantes do canal têm acesso imediato, assim que entram no mesmo; e o privado se

constitui no espaço denominado “PVT”, que é local onde se tecla com o interlocutor, sendo

que somente ele tem acesso às mensagens. Quando o sujeito expõe seu sentimento num lugar

onde todos podem ver, seria a mesma coisa que alguém sair gritando pela rua exacerbando

seus sentimentos. O que torna tudo tão real e reprodutor das próprias relações estabelecidas

fora dos recursos da máquina.

Depois de dois meses de campo, encerrei minhas inserções neste dia, entendendo que

este espaço precisa de mais explorações num outro caráter de pesquisa e de interações, o que

não seria possível no tempo e no âmbito deste trabalho.

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6 CONSIDERACÕES FINAIS

A partir do que foi explicitado, reitero a sugestão de compreender o estudo da

cibercultura não como a exploração de um admirável mundo novo, mas sim como um

contínuo processo de inovação e reapropriação de signos e símbolos já arrolados no cotidiano

sócio-cultural, mas agora recombinados também com o recurso tecnológico da máquina, que

propicia alterações, reproduções, renovações, tornando um processo contínuo e à medida que

vai se alterando e permitindo modificações.

O ciberespaço, ao construir-se como espaço comunicativo da cibercultura, permite a

constituição de múltiplos “caldos” sociais que não se explicam por leis genéricas. Devemos

evitar os eventuais tropeços na direção determinista, onde a tecnologia é pensada como

produzindo necessariamente certos efeitos, sejam eles positivos ou negativos.

Respondendo minha questão de pesquisa, verifiquei que a máquina acaba se tornando

um co-extensivo do corpo, pois os sujeitos além de levarem muitas dessas relações

estabelecidas dentro do Canal para fora do mesmo, ainda mantinham outras fora do recurso

mediado pelo computador. O que contraria algumas confabulações que se apropriam de um

discurso que intitula os freqüentadores dos Chats como portadores de algum tipo de

“isolamento” social, por estar só na frente da máquina. Estar só na frente da máquina

necessariamente não significa teclar solitariamente. Imaginar hoje a constituição desse espaço

além de ser estagnadora é considerar o sujeito como algo mutante que é atravessado pelos

processos de inovação.

O virtual real que afirmo, designa um espaço que é dotado de sentimento real, sentido

da forma mais autêntica, e por se conceder dessa maneira não difere de qualquer outro campo

que envolva pessoas em relações. Entendo esse espaço como algo muito além de um simples

veículo tecnológico da globalização. Percebo este, como um ambiente que prodigaliza a

imersão do sujeito em um mundo onde o determinante fatorial essencial é próprio sujeito,

assumindo assim o “eu” que desejar.

Devemos pensar em modos de “ser” que possam “desontologizar” e

“dessubstancializar” as tradicionais noções de um “eu”, um sujeito fixo, de uma corporalidade

apenas material, de uma identidade de gênero fixa e permanente, de uma subjetividade já

constituída e que apenas fica se atualizando, para se pensar em corpos dotados de um

sentimento e que não são apenas matéria, mas que são relação, com subjetividades no plural,

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efêmeras, ou duradouras, engendradas, ou polimorfas, sujeitos que são relação e não sujeitos

que previamente são, para depois fazerem relações. Assim, pensar nessa apropriação social do

ciberespaço como privilegiado de vivência dessa pluralidade dos sujeitos na

contemporaneidade.

O ciberespaço deve ser visto como um lugar alternativo para “ser”. Seja pensando na

possibilidade de viver o que não se pode viver em outros espaços, facilitado pelo anonimato,

seja pensando numa vivência de uma ética de possibilidades reais. Aproveitando ao máximo o

presente e o prazer, potencializando “novas formas de estar junto e estar no mundo”

(MAFFESOLI, 2005, p. 61), onde o ciberespaço abre caminho para se pensar em uma

engendração de construções, vivências de subjetividades, identidades de gênero e

corporalidades. Enfim, de constituição de pessoas que em outros espaços da vida social e em

outros tempos deveriam ser adequados a regimes hetero-normativos de identidades gênero,

penso em espaços múltiplos para sujeitos múltiplos, inventando-se de mil maneiras e

cotidianamente, muitas das quais, nas salas de bate-papo.

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7 GLOSSÁRIO.

Descrevemos aqui alguns dos principais termos utilizados neste trabalho, com o

intuito de facilitar a leitura. Não temos a intenção de esgotar todas as terminologias, mas pelo

menos proporcionar um melhor entendimento do texto.

Blogs: é um substituto do tradicional diário, o blog fica on-line e todos têm acesso ao

que o usuário coloca nessa interface. São relatos cotidianos.

Ciberidentidades: É o nome dado as identidades, muitas vezes fictícias que os

usuários do ciberespaço utilizam;

Ciberespaço ou espaço cibernético: espaço virtual criado pela conexão em rede dos

computadores mundiais;

Comunidades do Orkut: São agregados sociais, formado por opiniões, gostos em

comum, dentro do site de relacionamento denominado Orkut;

Emoticon: são códigos que se juntam a fala escrita de modo a reforçar a

expressividade dessa fala descritiva. Também podem ser caracterizados como recursos de

hipertexto

Hipertexto: texto em formato digital, reconfigurável e fluido.

Interface gráfica: plataforma visual do sistema operacional do computador;

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Linguagem cibernética: conteúdo de escrita, utilizada para comunicar-se on-line. Tal

escrita é abreviada, sincopada, com repetição de letras, com códigos próprios e recheada de

emoticons (bonequinhos, que denominam uma expressão facial);

Messenger ou “MSN”: local onde os usuários trocam mensagens em tempo real;

Nickname: Um dos grandes marcadores identitários da Internet, funciona como um

nome fictício. Através do nickname que o usuário entra nas comunidades.

Off-line: é aquele mundo que medeia à interação entre indivíduos sem o equipamento

computador/Internet;

On-line: é aquele que medeia à interação entre indivíduos virtualmente a partir da

mídia digital;

“OP”: Aquele que cria e opera o canal (comunidade virtual);

“PVT”: Modo de conversação e comunicação entre usuários de Canais de bate-papo

na Internet que exclui outros participantes da conversa.

Rede: rede mundial de computadores, Internet;

Softwares amigáveis: foi o nome dado aos softwares que reproduziam o cotidiano

“real” do usuário.

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“tc”: sigla usada no ciberespaço que significa teclar digitar.

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APÊNDICE 1

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1) Dados pessoais (idade, profissão, escolaridade, estado civil, entre outros);

2) Com qual freqüência entra no canal;

3) Por que motivo este canal foi o privilegiado com a entrada do determinado usuário;

4) Que tipo de assunto são mais corriqueiros;

5) Se já conheceu alguém com quem se relaciona no canal, ou em outros

pessoalmente;

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APÊNDICE 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO.

Esclarecemos para os devidos fins que o(a) Sr.(a) participará desta pesquisa na condição de

entrevistado(a). A mesma intitula-se: “COMUNIDADE mIRC(Scoop-Script), CANAL

BRASIL:UM ESTUDO SOBRE SOCIABILIDADE E COMUNIDADES VIRTUAIS.”;a

qual está vinculada ao desenvolvimento de um Trabalho de Conclusão de Curso no Curso de

Psicologia da UNIVALI – Centro de Educação Biguaçu. A mesma está sendo realizada pela

acadêmica Viviam Agatti (Telefone: (48) 88139434), sob orientação do Professor Marcelo

José de Oliveira (Telefone (48) 91217523). A pesquisa tem como objetivo geral:

Compreender se a relação mediada pelo computador, na vivência de uma comunidade virtual,

é substitutiva ou suporte das interações sociais cotidianas que ocorrem distante do recurso da

máquina computador; Levantar dados sobre as intenções, motivos que levam a participar de

um chat; Verificar como se dá a interação dentro do chat, e como se definem em comunidades

específicas. Verificar se a participação em uma comunidade virtual amplia ou reduz o leque

de relações face-a-face; Informamos ainda que a mesma está com previsão para término em

novembro de 2007. Será garantido (a) o senhor (a) sigilo que assegure sua privacidade e

anonimato; que os dados obtidos nesta pesquisa não serão utilizados para outros fins senão os

previstos no protocolo e/ou neste consentimento. O (a) senhor (a) tem plena liberdade de

interromper sua participação caso considere que a pesquisa não venha sendo do seu interesse

ou não venha cumprindo os termos propostos, sem nenhuma pena e/ou prejuízo ao seu

cuidado.

.............................,.......de ...................................de 2007.

Nome do entrevistado: _________________________.

Assinatura (de acordo): _________________________.