99
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O INSTITUTO DA FALÊNCIA NO DIREITO BRASILEIRO: os novos rumos do Direito Falimentar à luz da Lei nº 11.101/2005 REGINA BONETTI Itajaí [SC], maio de 2006.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITOsiaibib01.univali.br/pdf/Regina Bonetti.pdf · LICC Lei

  • Upload
    dangdan

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O INSTITUTO DA FALÊNCIA NO DIREITO BRASILEIRO: os novos rumos do Direito Falimentar à luz da Lei nº 11.101/2005

REGINA BONETTI

Itajaí [SC], maio de 2006.

i

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O INSTITUTO DA FALÊNCIA NO DIREITO BRASILEIRO: os novos

rumos do Direito Falimentar à luz da Lei nº 11.101/2005

REGINA BONETTI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito

parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Profº. MSc. Adilor Danieli

Itajaí [SC], maio de 2006.

ii

Meus Agradecimentos:

A Deus, pela liberdade de pensar, de desejar, de optar!

Por ter guiado meus passos na realização de mais um

objetivo e por ter sido suporte necessário nos

momentos difíceis para que não desistisse no meio do

caminho;

Ao meu Orientador, Professor MSc. Adilor Danieli, pela

exortação e conhecimentos recebidos, sem o qual tal

empreitada não teria sido concretizada;

Aos meus familiares por possibilitarem através de seus

esforços, compreensão e companheirismo esta fase

especial da minha vida;

Por fim, aos meus amigos pela

colaboração e apoio nas horas em que mais precisei

para a finalização desta monografia!

iii

Dedico este trabalho:

Aos meus familiares e amigos por

demonstrarem em seus olhares o quanto

torcem por mim e pelo inabalável apoio

recebido, os quais não mediram esforços em

me incentivarem a sempre persistir na busca

de meu ideal: o da carreira jurídica!

Dedico esta monografia, também, ao meu

orientador Adilor Danieli, que desde o

princípio me incentivou, mostrando minha

capacidade de realizar e concluir este

trabalho, alcançando um bom resultado.

iv

“Falir é praticar a ação mais degradante entre todas que podem desonrar um homem. É um furto, que infelizmente a lei coloca sob a sua proteção. Algumas pessoas confiaram

seus bens a Guillaume Grandet, pela sua reputação de honra e probidade. Mas ele consumiu tudo e só lhes deixou os olhos

para chorar”. [Pai Grandet, de Honoré de Balzac]1.

1 Cf. citação extraída de FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro das falências e

concordatas. 19. ed. rev. e atual. de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 3.

v

DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total

responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando

a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca

do mesmo.

Itajaí [SC], 29 de maio de 2006.

Regina Bonetti Graduanda

vi

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Regina

Bonetti, sob o título O INSTITUTO DA FALÊNCIA NO DIREITO BRASILEIRO:

os novos rumos do Direito Falimentar à luz da Lei nº 11.101/2005 foi

submetida em 29 de maio de 2006 à Banca Examinadora composta pelos

seguintes Professores: MSc. Adilor Danieli [Orientador e Presidente da Banca],

MSc. Aparecida Correia da Silva [Membro] e MSc. Marcelo Petermann [Membro]

e aprovada com a nota 10,00 [dez].

Itajaí [SC], 29 de maio de 2006.

Profº. MSc. Adilor Danieli Orientador e Presidente da Banca

Profº. MSc. Antônio Augusto Lapa Profº. Responsável pelo NPJ

vii

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a. ano a.C. antes de Cristo Ampl. ampliada Ap. Cív. Apelação Cível Art. Artigo Arts. Artigos Atual. Atualizada BTN Bônus do Tesouro Nacional caput Cabeça do artigo CC Código Civil CCB Código Civil Brasileiro CEJURPS Centro de Ciências Jurídicas Políticas e Sociais Cf. conforme CF/88 Constituição Federal de 88 CLT Consolidação das Leis Trabalhistas Colab. Colaborador Coord. Coordenador CPC Código de Processo Civil CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 CTN Código Tributário Nacional Dec. Decreto Des. Desembargador DJU Diário da Justiça da União ed. edição FGTS Fundo de Garantia por tempo de Serviço inc. inciso incs. incisos INSS Instituto Nacional da Seguridade Social in verbis abaixo ipso facto Por isso mesmo IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbano ITCMD Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação LICC Lei de Introdução ao Código Civil LF Lei de Falências LSA Lei das Sociedades Anônimas nº número

viii

NCC Novo Código Civil omissis lacuna; hiato; vazio Org. Organizador ORTN Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional p. Página p. ex. Por exemplo PL Projeto de Lei QGC Quadro Geral de Credores Rel. Relator rev. Revisada STF Supremo Tribunal Federal Tir. Tiragem TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina Trad. Tradução UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí v. volume

ix

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias2 que a Autora considera estratégico à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais3.

Administrador judicial:

“Pessoa nomeada pelo juiz e escolhida entre os maiores credores da empresa ou

pessoa de confiança do magistrado para co-gerir os negócios da empresa em

recuperação e também quando for declarada a liquidação judicial do devedor para

administrar os bens compreendidos na liquidação judicial”.4

Assembléia de Credores:

“[...] é o órgão colegiado e deliberativo responsável pela manifestação do

interesse ou vontade predominante entre os que titularizam crédito, diante da

empresa em processo de falência”.5

Ato da Falência:

“[...] é aquela que tipifica condutas que, em geral, são as de empresários em

insolvência econômica”.6

2 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia”

[PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 8. ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003, p. 40].

3 “Conceito operacional [=cop] é uma definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos” [PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 56].

4 DANIELI, Adilor. Limite da discricionariedade judicial e dicotomia peremptória do pedido de concordata preventiva: contribuição político-jurídica. Dissertação de Mestrado em Direito. UNIVALI/Itajaí, 2003, p. 5.

5 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005). 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 137.

6 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências. São Paulo: IOB Thomson,

x

Concordata:

“[...] é um favor legal consistente na remissão parcial ou dilação do vencimento

das obrigações devidas pelo comerciante. Somente o profissional exercente de

atividade mercantil tem acesso, no direito vigente, a este favor legal”.7

Credores Quirografários:

“Categoria de credores atingidos pela concordata e que no processo falimentar não possuem preferência nenhuma na ordem de pagamento”.8

Direito Comercial:

“[…] é o ramo da ciência do Direito destinado a disciplinar as relações e os atos jurídicos decorrentes da atividade mercantil e dos comerciantes, seja entre si mesmos; seja entre esses e os não comerciantes”.9

Direito Falimentar:

“É o complexo de normas protetoras do crédito no caso de insolvência do comerciante. Supõe a insolvência, ou seja, a impossibilidade de o patrimônio do comerciante garantir seus débitos. No estado falencial, é liquidado o patrimônio do falido para atender aos credores que se habilitarem na falência. Compõe-se de normas asseguradoras de direitos e de preferências dos credores (direito privado), de normas que regem o processo de falência (direito processual falimentar) e de normas penais (direito penal falimentar). Compondo-se de normas de direito privado, de normas processuais (direito público) e de normas penais (direito público), o direito falimentar é direito misto”.10

2005, p. 324.

7 ARAÚJO, José Francelino de. Manual de falências e concordatas. Porto Alegre: Sagra-Luzzatto, 1996, p. 241.

8 DANIELI, Adilor. Limite da discricionariedade judicial e dicotomia peremptória do pedido de concordata preventiva: contribuição político-jurídica. Dissertação de Mestrado em Direito, p. 6.

9 ESTRELA, Hernani. Curso de direito comercial. 5. ed. Rio de Janeiro: Konfino, 1993, p. 09. 10 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 18. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 1995, p. 210-211.

xi

Empresa:

“[...] organização de capital e de trabalho destinada à produção ou mediação de bens ou serviços para o mercado”.11

Falência:

“[...] a falência se caracteriza como um processo de execução coletiva, decretado judicialmente, dos bens do devedor comerciante ao qual concorrem todos os credores para o fim de arrecadar o patrimônio disponível, verificar os créditos, liquidar o ativo, saldar o passivo, em rateio, observadas as preferências legais”. 12

Insolvência:

“[…] é um estado de fato de ordem econômica. Pode ser real ou aparente. É real

quando o ativo é menor do que o passivo. É aparente uando, ainda que maior o

ativo, o devedor não dispõe, ainda que eventualmente, de recursos financeiros ou

creditícios, para cumprir no vencimento uma obrigação líquida assumida”.13

Liquidação:

“[...] encerramento de uma atividade econômica, com a venda do ativo para

pagamento dos credores, no todo ou em parte”.14

Massa Falida:

“[…] é o acervo ativo e o passivo de bens e interesses do falido que passa a ser

administrado e representado pelo síndico. Embora seja apenas uma

universalidade de bens, e não uma pessoa jurídica, a massa falida tem

capacidade de estar em juízo como autora ou ré. A massa falida divide-se em

11 BULGARELLI, Waldirio. Sociedades comerciais: sociedades civis e sociedades cooperativas

empresas e estabelecimento comercial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 23. 12 LACERDA, J. C. Sampaio de. Manual de direito falimentar. 14. ed. Rio de Janeiro: Freitas

Bastos, 1999, p. 28. 13 RAMALHO, Roberto. Curso teórico e prático de falência e concordata. 3. ed. São Paulo:

Saraiva, 1993, p. 48 14 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 34.

xii

massa ativa e massa passiva. Forma-se no momento em que é decretada a

falência”.15

Natureza Jurídica:

“[...] é a afinidade que um instituto jurídico tem, em diversos pontos, com uma

grande categoria jurídica, podendo nela ser incluído a título de classificação”.16

Síndico:

“[…] é o representante legal e o administrador da massa falida, sob a direção e superintendência do juiz. Entre as suas inúmeras atribuições, contam-se as seguintes: representar a massa falida, arrecadar os bens e os livros do falido, prestar informações aos interessados, verificar os créditos, elaborar relatórios, organizar o quadro geral de credores, promover a liquidação, etc”.17

15 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 28. 16 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. v. 3. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 337. 17 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev.

atual. de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 3.

xiii

SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................XV INTRODUÇÃO......................................................................................1

CAPÍTULO 1

NOTAS INTRODUTÓRIAS AO DIREITO FALIMENTAR

1.1 APONTAMENTOS INICIAIS.............................................................................6

1.2 ELEMENTOS INFORMADORES DO DIREITO FALIMENTAR .......................7

1.2.1 Origem etimológica e conceito de Falência...............................................7

1.2.2 Histórico da Falência [direito romano, Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea] ........................................................................................12

1.2.2.1 Experiência no direito romano...............................................................12

1.2.2.2 Experiência na Idade Média ...................................................................16

1.2.2.3 Experiência na Idade Moderna e Contemporânea ...............................18

1.2.2.4 Experiência no direito português ..........................................................19

1.2.3 Esboço histórico da Falência no direito brasileiro .................................20

1.2.3.1 Gênese no período colonial [Ordenações Afonsinas, Manuelinas e

Filipinas] ..................................................................................................20

1.2.3.2 Gênese no período imperial ...................................................................23

1.2.3.3 Gênese no período republicano ............................................................24

CAPÍTULO 2

ASPECTOS GERAIS DO DECRETO-LEI Nº 7.661/1945 2.1 NOTAS PRELIMINARES AO TEMA ..............................................................27

2.2 APORTE HISTÓRICO DO SURGIMENTO DO DECRETO-LEI Nº 7.661/45 ATÉ A PROMULGAÇÃO DA LEI Nº 11.101/2005 ........................................27

xiv

2.3 PARTICULARIDADES ATINENTES AO INSTITUTO DA FALÊNCIA SOB O ENFOQUE DO DECRETO-LEI Nº 7.661/45...................................................32

2.3.1 Natureza jurídica da Falência....................................................................32

2.3.2 Pressupostos imprescindíveis para a caracterização da Falência........35

2.3.3 Os passos do processo falimentar à luz do Decreto-lei nº 7.661/45......38

2.3.4 Ordem de preferência dos créditos na Falência .....................................44

2.3.5 A sistemática da administração da Falência ...........................................50

CAPÍTULO 3

INOVAÇÕES ADVINDAS COM A LEI Nº 11.101/05 AO INSTITUTO DA FALÊNCIA

3.1 NOTAS INTRODUTÓRIAS AO TEMA ...........................................................53

3.2 PRINCIPAIS INOVAÇÕES DO INSTITUTO FALIMENTAR...........................55

3.2.1 A decretação da Falência, o rito falencial e os recursos sob o enfoque da nova Lei Falimentar..............................................................................55

3.2.2 A nova ordem de classificação dos créditos...........................................58

3.2.2.1 A limitação dos créditos trabalhistas....................................................62

3.2.3 Realização do ativo [a venda dos bens do falido]...................................64

3.2.4 Os novos órgãos de administração da Falência .....................................67

3.2.4.1 O administrador judicial .........................................................................67

3.2.4.2 A assembléia de credores ......................................................................69

3.2.5 Resumo das principais inovações advindas com a Lei nº 11.101/2005 ao instituto da Falência.............................................................................69

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 73

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ........................................ 79

xv

RESUMO

A presente monografia evidencia os aspectos legais,

doutrinários e jurisprudenciais que gravitam em torno do instituto da Falência,

mais especificamente, do cotejo analítico entre a Nova Lei de Falências [Lei nº

11.101/05] e Decreto-lei nº 7.661/45. Para uma melhor compreensão da matéria,

a pesquisa foi dividida em três capítulos. O primeiro capítulo tece notas

introdutórias ao Direito Falimentar, objetivando uma melhor explicitação do tema;

o segundo trata de aspectos gerais do antigo Decreto-lei nº 7.661/45; já o terceiro

capítulo, reporta-se às principais inovações advindas ao instituto da Falência, de

acordo com os estudiosos do assunto, trazidas pela nova Lei Falimentar. Para

encetar a investigação foi utilizado o método indutivo, a ser operacionalizado com

as técnicas do referente, das categorias, dos conceitos operacionais e da

pesquisa de fontes documentais. Portanto, esta monografia se direciona ao

estudo comparativo entre o Decreto-lei nº 7.661 de 1945 e a nova Lei de

Falências e Recuperação de Empresas, sancionada em 09 de fevereiro de 2005,

com o intuito de demonstrar quais as alterações mais relevantes produzidas por

esta não só à Falência, propriamente dita, mas sobretudo ao meio societário.

1

INTRODUÇÃO

A presente monografia tem por escopo estudar, de forma

genérica, o instituto da Falência à luz da Lei nº 11.101/2005 que institui a

nominada “Nova Lei de Falências”.

O seu objetivo institucional atende para a produção de

monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI. Tem, ainda, como objetivo geral demonstrar que a

nova Legislação [Lei nº 11.101/05] trouxe avanços ao instituto da Falência

através da introdução de mecanismos que possibilitam a preservação da

empresa viável ou um procedimento mais otimizado da Falência, de modo que

seja vislumbrado em primeiro lugar a função social da atividade empresarial e

suas repercussões sociais. Em se tratando dos objetivos específicos, esta

pesquisa busca: 1) Obter dados históricos do instituto da Falência, no contexto

geral e no brasileiro; 2) Analisar o Direito Falimentar na fase do Decreto-lei nº

7.661 de 1945; e 3) Investigar, com base, principalmente, na legislação e

doutrina brasileiras, as principais inovações advindas à Falência com a

promulgação da Lei nº 11.101/05.

Portanto, como desafio e fundamento dos referidos

objetivos investigatórios [geral e específicos], a autora deste trabalho enfrentou

três problemas, com suas respectivas hipóteses abaixo destacadas, que

serviram de ânimo para a efetivação da pesquisa relatada nesta monografia:

Primeiro problema: A legislação falimentar anterior

[Decreto-lei nº 7.661/45] em comparação com a Lei nº 11.101/05, preocupava-

se tão-somente com aspectos formais para declarar a Falência da empresa?

Primeira hipótese: A Lei nº 11.101/05, em comparação ao

antigo Decreto-lei nº 7.661/45, preocupa-se mais com a função social da

empresa dentro do seu meio de atuação do que com aspectos meramente

formais destinados à decretação da Falência da empresa devedora.

Segundo problema: A Lei nº 11.101/2005 regula tão-

2

somente a questão da extinção do patrimônio da empresa insolvente?

Segunda hipótese: A nova Lei Falimentar que regula o

instituto da Falência não cuida apenas de liquidar e extinguir o patrimônio da

empresa insolvente a benefício dos credores concorrentes, mas prioriza pela

viabilidade de sua recuperação.

Terceiro problema: Com a nova legislação Falimentar

quais foram as inovações advindas ao instituto da Falência?

Terceira hipótese: As inovações relevantes ao instituto da

Falência são: a nova Legislação Falimentar abrange como sujeitos passivos da

Falência o empresário e a sociedade empresária; altera-se, significativamente,

a ordem de classificação dos créditos na Falência; a verificação dos créditos,

na Falência, passa a adotar procedimento diverso relativamente à lei de 1945,

ou seja, o próprio falido deve apresentar a lista de seus credores; a atual

legislação uniformizou o prazo para defesa em 10 dias, tanto na citação

pessoal quanto por edital; na Lei nº 11.101/2005 pode haver a antecipação

parcial da realização do ativo, principalmente quando a falida possuir

mercadorias deterioráveis ou de fácil desvalorização, ate o limite dos créditos

já declarados; outra inovação trazida pela Lei nº 11.101/2005 é que o período

do termo legal, que antes era de 60 dias, passou para 90 dias; o síndico, agora

pela nova Lei Falimentar, passa a se denominar de administrador judicial da

Falência; a nova Lei de Falências cria mais um órgão para auxiliar

administrativamente: a Assembléia Geral de Credores; conforme determina a

Lei nº 11.101/2005, o Ministério Público somente poderá intervir

facultativamente no processo; por fim, pela nova Legislação, o processo de

Falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual, não

estipulando a Lei qual o prazo para seu encerramento.

Assim sendo, a investigação ao longo desta monografia

estará direcionada, sobretudo, na busca de respostas a estas assertivas.

Frisa-se, outrossim, que a escolha do tema da nova Lei

de Falências e Recuperação Empresarial deu-se em detrimento de se tratar de

Lei recente e, portanto, ainda pouco explorada pela comunidade acadêmica;

3

porém, há muito tempo esperada pelos estudiosos do assunto, pois na

sociedade contemporânea, surge a necessidade de acompanhamento desta

legislação atinente à matéria da Falência, diante da dinamicidade social, que

sujeita, não somente as leis, mas a própria doutrina, na imprescindibilidade de

reformulação a respeito de certas formulações e, principalmente, o encontro de

algumas soluções que atendam às carências que, de um lado a empresa, de

outro a própria sociedade, possuem.

Desta forma, entendeu-se ser necessário o estudo das

inovações importantes introduzidas pela Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de

2005 ao instituto da Falência, objetivando apreender um conhecimento maior

sobre o assunto.

Nesse passo, frisa-se que o ideal seria que em uma

monografia sobre o instituto da Falência fossem referenciados todos os

assuntos relativos ao tema. Porém, não há menor possibilidade para tal

estudo, já que a exigüidade do tempo e a natureza deste trabalho de pesquisa

tornam necessárias algumas delimitações.

Por conseguinte, não serão estudados os temas da

persecução penal falimentar, bem como a Concordata como instrumento de

preservação da empresa em razão de que, muito embora possuam ligação ao

tema, não influenciam diretamente na investigação que se busca.

Nessa linha de raciocínio, a presente monografia estará

calcada em pilares doutrinários que gravitam em torno da Nova Lei de

Falências e, sobretudo, no esmiuçar das inovações advindas com a

promulgação desta Lei em comparação com o antigo Decreto-lei nº 7.661/45

que são, justamente, os temas a que se propõe investigar nesta monografia.

Quanto à Metodologia18 empregada, registra-se que na

Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo19; na Fase de Tratamento

18 “Na categoria metodologia estão implícitas duas categorias diferentes entre si: método de

investigação e técnica” [PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 87]. [Destaque conforme o original].

19 Referido método se consubstancia em “pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral” [PASOLD, Cesar Luiz.

4

dos Dados o Método Cartesiano20 e, no Relatório dos Resultados, expresso na

presente Monografia, utilizou-se, mais uma vez, o Método Indutivo. Nas

diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do Referente21, da

Categoria22, dos Conceitos Operacionais23 e como técnica de pesquisa,

essencialmente a Bibliográfica24.

Ressalta-se, outrossim, que devido ao elevado número

de Categorias fundamentais à compreensão desta pesquisa, optou-se por listá-

las em rol próprio, contendo seus respectivos Conceitos Operacionais.

Informa-se, em específico, que a técnica utilizada para

suporte do tema será a pesquisa bibliográfica de documentos como leis, livros,

artigos e periódicos jurídicos que versem sobre a matéria proposta.

Tem-se, ainda, que a área de concentração desta

monografia é o Direito Comercial. A linha de pesquisa é o Direito Privado.

Para seu desenvolvimento lógico, o presente trabalho

apresenta-se dividido em três capítulos.

Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 104].

20 O referido método pode ser resumido em quatro preceitos que são: 1. “[...] nunca aceitar, por verdadeira, cousa nenhuma que não conhecesse como evidente [...]”; 2. “[...] dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas pudessem ser e fossem exigidas para melhor compreendê-las”; 3. “[...] conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelo objeto mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo certa ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros”; 4. “[...] fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais, que ficassem certo de nada omitir” [grifo no original] [PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 106-107].

21 “Explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa” [PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas para o operador do direito, p. 62].

22 “Palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia” [PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 31].

23 “Definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas” [PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 56].

24 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais” [PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 67].

5

O primeiro capítulo enfoca alguns apontamentos

introdutórios ao Direito Falimentar, partindo-se do seu estudo etimológico e da

menção a alguns conceitos doutrinários mais clássicos e outros mais atuais

para, em um segundo momento, descrever sobre sua evolução histórica desde

a Antigüidade aos tempos atuais, para tão-somente passar ao tracejo da

gênese deste instituto no direito pátrio.

No segundo capítulo, com fito de desenvolver um estudo

comparativo com a legislação atual, tece-se um estudo do Decreto-lei nº 7.661

de 1945, apontando os pontos que mais receberam críticas da doutrina

durante os seus 60 anos de vigência. São abordados, também, os seguintes

assuntos: o surgimento do Decreto; alguns aspectos sobre a Falência, dentre

os quais sua natureza jurídica; os pressupostos imprescindíveis para a sua

caracterização; as fases do processo falimentar; a ordem de preferência dos

créditos e, por fim, a sistemática da administração da Falência.

No terceiro e último capítulo estuda-se, de modo

particularizado, através de pesquisa doutrinário-legal, as principais inovações,

de acordo com os estudiosos do assunto, trazidas pela nova Lei nº 11.101 de

09 de fevereiro de 2005, ao instituto da Falência, quais sejam: o limite de valor

para a decretação da Falência; a nova ordem de preferência dos créditos; a

limitação dos créditos trabalhistas; a realização antecipada do ativo; os novos

órgãos de administração e, por fim, resumo das principais inovações advindas

ao instituto da Falência com a Lei nº 11.101/05.

Nas considerações finais, remetem-se breves análises do

presente trabalho monográfico e algumas considerações sobre as hipóteses

outrora elencadas, no sentido de demonstrar se foram ou não confirmadas ao

longo do estudo procedido, seguida da estimulação à continuidade dos

estudos e de reflexões sobre as novas tendências do instituto da Falência no

direito brasileiro.

6

CAPÍTULO 1

NOTAS INTRODUTÓRIAS AO DIREITO FALIMENTAR

1.1 APONTAMENTOS INICIAIS

O objeto do presente capítulo será retratar os principais

contornos do Direito Falimentar.

Nesse sentido, informa-se que o estudo introdutório de

alguns tópicos atinentes à Falência faz-se imprescindível, uma vez que nada

pode ser construído nesta pesquisa, dentro dos limites a que se propõe, sem

suas necessárias bases doutrinárias.

Cumpre ressaltar, ainda, que os tópicos em apreço,

embora estudados separadamente, estarão direcionados ao estudo da origem

etimológica da Falência; alguns conceitos doutrinários mais clássicos e outros

mais atuais; sua evolução histórica, desde os seus primórdios no direito

romano, quando a Falência possuía caráter predominantemente personalista,

passando pela Idade Média25, época em que surge uma execução de caráter

coletivo, indo até a Idade Moderna26 marcada por grande influência da

legislação francesa, quando a Falência adquire uma feição mais econômico-

social.

Ainda, neste capítulo, estuda-se a evolução do instituto

no direito brasileiro que se inicia com as Ordenações do Reino Português

25 A Idade Média: “Abrange o período que vai do século V da era cristã, a partir da queda do

império romano no ocidente (ano de 476) e termina no século XV, com a queda de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, em 1453. Principais marcos: a expansão dos reinos bárbaros na Europa, a transformação do escravismo em feudalismo, o surgimento dos impérios feudais, a expansão do cristianismo e do islamismo, o renascimento do comércio e das cidades medievais e o apogeu da civilização maia, na América” [LOPES, Adriana. História das civilizações. v. 1. São Paulo: Ática, 1994, p. 503].

26 “Idade Moderna [1453-1789] - Período entre a queda do Império Romano do Oriente e a evolução Francesa, em 1789. Principais marcos: o fortalecimento dos Estados nacionais monárquicos, a expansão marítima e colonial, o fortalecimento e expansão do capitalismo - que se torna a forma de produção predominante -, o renascimento cultural e científico, a fermentação revolucionária do iluminismo e a independência norte-americana” [LOPES,

7

[Manuelinas, Afonsinas e Filipinas] até ser introduzida no ordenamento pátrio

na fase imperial e, por fim, fazendo uma abordagem das legislações que se

seguiram após a proclamação da República até o advento do Decreto-lei nº

7.661 de 194527.

Delineadas estas considerações preliminares, inicia-se a

presente investigação.

1.2 ELEMENTOS INFORMADORES DO DIREITO FALIMENTAR

1.2.1 Origem etimológica e conceito de Falência

Antes de ingressar no estudo comparativo entre o

Decreto-lei nº 7.661/45 e a Lei nº 11.101/05 [Nova Lei de Falências], ora tema

central desta monografia, há que se ter noção da categoria operacional

“Falência”, propriamente dita.

Sua origem etimológica encontra raízes no direito

romano, iniciando-se, sinteticamente, como uma forma de o devedor

inadimplente ser castigado através de severas penas, dentre as quais destaca-

se aquela na qual o devedor pagava com seu próprio corpo diante de seus

credores28.

Neste norte, Lacerda29 é quem retrata a gênese

etimológica do instituto falimentar ao assim lecionar que:

Adriana. História das civilizações. v. 2. São Paulo: Ática, 1994, p. 46].

27 BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 28 nov. 2005.

28 Sobre a explicação da penalidade somática do devedor comerciante que não satisfizesse suas dívidas para com seus credores discorre MOTTA, Walter Ramos. Falência, concordata e insolvência: sucesso na prática forense. São Paulo: Ícone, 1995, p. 54: “[...] primitivamente, respondia o devedor pelo inadimplemento da dívida com corpo, a honra, a liberdade e até com o próprio cadáver. Esses credulíssimos costumes perduraram por muito tempo, ora mais, ora menos acentuados. E mesmo na vigência da Lex Duodecium Tabularum (Lei das 12 Tábuas) ainda se fizeram sentir odiosas medidas que permitiam ao credor conservar o devedor em ‘cárcere privado’, vendê-lo como escravo e até matá-lo e dissecá-lo em partes”.

8

A palavra falência deriva do verbo falir que, por sua vez, se originado verbo latino fallere, significando faltar, enganar (fallo, is, felli, falsum, fallere). Outrora, usava-se também da expressão quebra para significar a mesma coisa. Essa, era, por exemplo a denominação dada à terceira parte do nosso código comercial, segundo a tradição das Ordenações. A falência ou quebra criminosa era conhecida em outros tempos por bancarrota, termo originário do italiano banco rotto, banco quebrado, de acordo com antigo costume que tinham os credores de quebrarem o banco no qual o devedor negociava em praça pública, expondo sobre ele o que tinha para vender.

Insta observar que o termo “Falência”, sob o seu enfoque

etimológico, ainda hoje é tido por “quebra” ou “bancarrota”, esta última no

sentido de Falência fraudulenta. Tal expressão é proveniente de um antigo

costume medieval italiano no qual os credores insatisfeitos quebravam, em

praça pública, a banca de exposição de mercadorias dos comerciantes que

não conseguiam honrar com seus compromissos30.

Já os ingleses traduzem por bankruptcy e bankrupted

para o falido ou quebrado. No entanto, para os franceses, a Falência é

representada pela expressão banqueroute.31

De modo análogo, Francisco Raitani apud Motta32

esclarece sobre a etimologia da categoria operacional intitulada “Falência”:

29 LACERDA, Jose cândido Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 18. 30 Cf. REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, v. 1. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 3. 31 Cf. entendimento doutrinário de ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e

concordata. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 15-16: “A expressão falência, do verbo latino fallere, tinha, pois, um sentido pejorativo, para significar falsear, faltar, ou, como diz Ercole Vidari ‘inganarre, mancare alla promessa, allá parola, allá fede, cadere’, ou seja, enganar, faltar com a palavra, com a confiança, cair, tombar, incorrer em culpa, cometer uma falha. Utilizava-se igualmente a expressão bancarrota, banco rotto, a que os franceses chamavam banque en foute (banco quebrado) para definir a falência criminosa e/ou punível, denominação que provém do antigo costume de os credores quebrarem o banco em que o falido exibia suas mercadorias. [...] a bancarrotta também se subdividia, dependendo da situação de gravidade (ou culpabilidade) envolvida, distingui-se entre a bancarrotta semplice, isto é, a menos grave, decorrente da negligência ou imprudência do comerciante, e a bancarrotta fraudolenta, ou seja, aquela decorrente de dolo ou má-fé”.

32 MOTTA, Walter Ramos. Falência, concordata e insolvência: sucesso na prática forense, p. 54.

9

[...] o termo falência origina-se do latim faller, designação que exprimia o fato de o devedor enganar o credor faltando satisfação dos seus compromissos. [...] na Idade Média, em algumas obras, aparece sob os nomes fallite ou fallentes, segundo o tratadista Bonne; Cessanti, chamada por Firenzi, que também a chamou de fallita ou bancarrota; que após a Idade Média surgiu com o nome de decoctio, que quer dizer decocção ou cozimento, sendo explicado por Stracca, que significaria a redução dos valores patrimoniais da empresa, como ocorre com a redução dos elementos nutritivos quando cozidos. [...].

Após o permear da origem etimológica da categoria operacional “Falência”, necessário se faz uma análise dos conceitos postulados por alguns doutrinadores pátrios a respeito deste instituto. Tais ensinamentos são necessários, antes de tudo, para se observar a diferenciação havida entre os diversos entendimentos, bem como semelhanças e complementações que alguns conceitos revelam aos outros, quando analisados comparativamente.

Em linhas gerais, a Falência pode ser conceituada tanto econômica como juridicamente. Ao conceituar o instituto no seu aspecto jurídico, os doutrinadores o fazem tanto de uma ótica de direito material quanto processual, dependendo da orientação que seguem33.

No entender de Lacerda34:

[...] a falência é, pois, a condição daquele que, havendo recebido uma prestação a crédito, não tenha à disposição, para a execução da contraprestação, um valor suficientemente realizável no momento da contraprestação [...]. Assim, a falência se caracteriza como um processo de execução coletiva, decretada judicialmente, sobre os bens do devedor comerciante ao qual concorrem todos os credores para o fim de arrecadar o patrimônio disponível, verificar os créditos, liquidar o ativo, saldar o passivo, em rateio, observadas as preferências legais.

33 Cf. orientação de REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 4. 34 LACERDA, Jose cândido Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 25.

10

Seguindo esta mesma linha, Motta35 estabelece os seguintes conceitos para a Falência através do permear de uma seqüência casuística, ou seja, complementando um primeiro conceito com outras situações relevantes para sua caracterização, ao assim se manifestar:

[...]: a) Falência é o estado de insolvência do comerciante que, sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação líquida e certa, constante de título que legitime a ação de execução forçada; b) Falência é o estado de insolvência do comerciante que, sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação líquida e certa que legitime a ação de execução forçada e que, por negligência ou falta de condições jurídicas, deixou de, no devido tempo, propor concordata preventiva; c) Falência é o estado de insolvência do comerciante que, sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação líquida e certa que legitime ação de execução forçada, e que, por negligência ou falta de condições jurídicas, deixou de, no devido tempo, propor concordata preventiva, ou que durante o processo falimentar não teve possibilidades de converter a falência em concordata suspensiva.

Interpretando os ensinamentos descritos, aduz-se que a Falência, do ponto de vista jurídico, é um processo de execução coletiva contra o devedor comerciante como instrui Lacerda36:

[...] a falência se caracteriza como um processo de execução coletiva, decretado judicialmente, dos bens do devedor comerciante ao qual concorrem todos os credores para o fim de arrecadar o patrimônio disponível, verificar os créditos, liquidar o ativo, saldar o passivo, em rateio, observadas as preferências legais.

Da mesma forma, Sant’Anna37 concebe a Falência como um instituto de natureza processual, pois na sua concepção é: “[...] processo de execução coletivo instaurado contra o devedor comerciante que não teve condições de satisfazer no vencimento obrigação líquida e certa”.

35 MOTTA, Walter Ramos. Falência, concordata e insolvência: sucesso na prática forense,

p. 50-51. 36 LACERDA, Jose cândido Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 28.

11

Campinho38, por sua vez, acrescenta em seus estudos que: "Falência é a insolvência do devedor comerciante que tem seu patrimônio submetido a um processo de execução coletiva. A falência, antes de ser um fato jurídico, é um fato econômico [...]”.

Sob um prisma mais simplista, traduz-se a Falência como a solução jurídica do devedor/comerciante que não paga no vencimento obrigação líquida39.

Por seu turno, para Valle40:

[...] falência é simplesmente processo, é modalidade de execução forçada aplicável à determinada categoria social - o comerciante. É a versão comercial da execução contra devedor insolvente que o sistema jurídico brasileiro, seguindo a linha de outros ordenamentos, resolveu separar da insolvência civil, a quem não pode mais ser negado sua inserção no direito processual, como execução concursal que também é, tal como falência.

Portanto, de um modo geral, a Falência é um estado jurídico instaurado por um provimento jurisdicional, para solucionar as relações oriundas da insolvência do comerciante, “[...] tendo em vista o tratamento eqüitativo de seus créditos”, como sustenta Fazzio Júnior41.

Analogamente, Pacheco42 entende que:

A falência é processo através do qual se apreende o patrimônio do executado, para extrair-lhe valor com que atender à execução coletiva universal, a que concorrem todos os credores. Falência é execução. Se nem toda execução é

37 SANT’ANNA, Rubens. Falências e concordatas. São Paulo: Aide, 1985, p. 26. 38 CAMPINHO, Amauri. Manual de falência e concordata: comentários à Lei de falência –

doutrina, prática e jurisprudência. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 19. 39 Cf. observação de REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar. v. 1, p. 04. 40 VALLE, José da silva. Processo de falimentar: fase pré-falencial. Rio de Janeiro: Idéia

Jurídica, 1998, p. 07. 41 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas. São Paulo:

Atlas, 2005, p. 23-24. 42 PACHECO, José da Silva. Comentários à lei de falência: doutrina, prática e jurisprudência.

7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 12.

12

falência, toda falência é execução: execução coletiva universal abrangente de todos os bens e de todos os credores.

Dos conceitos delineados, constata-se que a Falência,

em linhas gerais, é uma ação de execução coletiva, onde todos os bens do

falido são arrecadados para uma venda judicial forçada, distribuindo o ativo

proporcionalmente entre todos os credores que forem habilitados no processo

falimentar.

1.2.2 Histórico da Falência [direito romano, Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea]

O instituto da Falência tem vários antecedentes

históricos, de forma que ao longo dos séculos foi se modulando às

necessidades e idéias da época até chegar ao que hoje se tem conhecimento

por “Falência”, como será demonstrado no decorrer deste subtítulo.

1.2.2.1 Experiência no direito romano

A origem da Falência é muito antiga. Supõe-se que as

primeiras manifestações deste instituto encontram-se no direito romano, mais

especificamente, no direito quiritário43, que surge a partir da fundação de Roma

e se estende até a codificação da Lei das XII Tábuas44, caracterizando-se por

ser um direito lendário, consuetudinário e exclusivo dos cidadãos45.

43 Fase mais primitiva do direito romano como leciona OLIVEIRA, Celso Marcelo de.

Comentários à nova lei de falências, p. 25: “O direito quiritário (período mais primitivo do direito romano) admitia a adjudicação do devedor insolvente que, por 60 (sessenta) dias, permanecia em estado de servidão para com o credor. Não solvido o débito, podia vendê-lo como escravo no estrangeiro (Trans Tiberim, que do latim significa além do rio Tibre; fora da cidade), e até mesmo matá-lo”.

44 “Lei das XII Tábuas: primeiro direito escrito romano, elaborado em razão das secessões da plebe e surgido do imperativo de limitar o poder dos cônsules” [LOPES, Adriana. História das civilizações, v. 1, p. 351].

45 Instrui SANT’ANNA, Rubens. Falências e concordatas, p. 01-02 que: “Pela Lei da XII Tábuas (Lex Duodecim Tabularum), e pelo processo da maanus injectio, que era uma das cinco leges actiones, o devedor era levado pelo credor à presença do magistrado e, por um gesto solene de colocar a mão sobre o ombro do devedor, ficava o credor com o direito de mantê-lo preso pelo prazo de trinta (30) dias, até que houvesse a possibilidade de aparecer alguém, assumindo a responsabilidade pelo pagamento da dívida. Se ninguém se apresentasse, o prazo de trinta dias era prorrogado por mais sessenta (60) dias, e, caso ainda não houvesse a intervenção de terceiros (vindex), era o devedor levado e apregoado durante três feiras consecutivas e, finalmente, vendido como escravo, trans Tiberim, além

13

Sobre esta fase noticia Mendonça46:

O Direito Falimentar teve suas origens históricas no direito romano, onde a obrigação era essencialmente pessoal, isto é, na falta de cumprimento, o devedor respondia com o seu próprio corpo e não com o patrimônio. Não se exigia a intervenção do Estado, todo problema era resolvido pelas próprias mãos dos credores. A fase mais primitiva do Direito romano foi a do Direito quiritário, época em que a pessoa do devedor era adjudicada ao credor e reduzida a cárcere privado.

Do acima anotado, denota-se que no direito antigo as obrigações do devedor eram respondidas com sua liberdade e até mesmo com a sua vida, posto que a obrigação recaía sobre o indivíduo e não sobre seus bens. Desta forma, existia nesta época [direito quiritário – fase mais primitiva do direito romano], no instituto da Falência, uma clara preocupação em punir o devedor que não saldasse suas dívidas para com os seus credores47.

Adverte-se, no entanto, que com o passar do tempo, todas as atrocidades cometidas contra o devedor levaram ao consenso de que a responsabilidade pelas dívidas não mais deveria ser pessoal, e sim, patrimonial, surgindo, desta forma, novas modalidades de cobrança e finalizações aos devedores, como descreve Lacerda48:

A rigidez e a impiedade das regras do antigo direito romano determinaram a formação de uma espécie de contrato, de caráter costumeiro e que teve até bastante aceitação. Era o

da cidade de Tibre ou do Rio Tibre, porque em Roma, já nessa época, não se admitia a escravidão. Como também podia o credor sacrificar pela morte a pessoa do devedor, caso não houvesse licitante na venda pública. Se houver mais de um credor, estabelecia-se o concurso de credores no preço da arrematação, ou na pessoa do devedor, no caso de morte. Neste caso, o cadáver era esquartejado e as partes do corpo eram entregues aos credores como satisfação proporcional de seus créditos”.

46 MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. v. I. Atual. Ricardo Negrão. Campinas: Bookseller, 2002, p. 37.

47 Nesse sentido, expressivas são as colocações de IHERING, Rudolf von. A evolução do direito. 23. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 151: “O caráter pessoal da primitiva execução romana é atribuída pelo sentimento da reação do credor que o levava como a se vingar do devedor faltoso. Nesse sentido, a vida e não os bens é quem, no velho direito quiritário, respondia pelas dívidas legalmente reconhecidas”.

48 LACERDA, José Cândido Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 25-26.

14

nexum, pelo qual o devedor, sem recursos, poderia solver sua dívida, antes de se iniciar contra ele a execução, obrigando-se voluntariamente a prestar serviços ao credor como escravo, a fim de, com o seu trabalho, satisfazer a dívida, eximindo-se da responsabilidade contraída. Esse sistema, todavia, gerou abusos insanáveis que muito concorreram para que se produzisse uma reação violenta contra a forma de execução pessoal.

Com a promulgação da Lex Poetelia Papiria49, em 428 a.C., que fora introduzido no direito romano a execução patrimonial, em detrimento da pessoal, determinando: “[...] a proibição do encarceramento, a venda como escravo e a morte do devedor”50. Esta foi uma fase de grande evolução do instituto da Falência, vez que, o instituto tornou-se mais humano.

Mas foi somente com a vigência da lei Lex Aebutia51 em 643 a.C., promulgada pelo pretor Rutilio Rufo, que surgiu a bonorum venditio52, prevendo o desapossamento dos bens do devedor, evidenciando, novamente, significativo avanço do instituto. Neste sistema, o magistrado nomeava um curador para os bens [curator bonorum] que, além de administrar o patrimônio do devedor, deveria dar publicidade ao ato para que os demais credores, no prazo de 30 dias, concorressem aos bens. Se, decorrido o prazo, o devedor não tivesse pago a dívida, o curador poderia alienar todo o patrimônio para quem tivesse a melhor oferta e este se responsabilizava em pagar a dívida aos credores de forma proporcional.53

Vale lembrar, outrossim, que o Direito Pretoriano encarregava-se de modificar esse estado de coisas, levando-se em 49 “Lex Poetelia Papiria: lei que extinguiu o instituto do nexum ou escravidão do devedor

insolvente. Marca ela o divisor das concepções obrigacionais, antiga, ou perseguição do corpo do devedor e só por extensão o patrimônio, e moderna, perseguição dos bens do devedor e só por extensão o corpo” [OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 26].

50 Cf. TZIRULNIK, Luiz. Direito falimentar. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 36. 51 “Lei Aebutia: Direito romano. Por extenso: Lex Aegutia de formalis. Lei de organização

judiciária de data incerta, que se aponta como marco inicial do procedimento mediante fórmulas escritas, em substituição ao primitivo sistema oral das legis actiones” [OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 27].

52 “Bonorum venditio: venda dos bens” [CALDAS, Gilberto. Novo dicionário de latim forense. 5. ed. São Paulo: Leud, 1994, p. 19].

53 Cf. ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata, p. 20.

15

consideração para caracterizar o instituto falimentar o seu caráter patrimonial, o qual perdura até os dias atuais, desencadeando, com isso, uma segunda fase, denominada de “Sistema das Fórmulas” que, na concepção de Oliveira54: “[...] era àquela execução que se processava pela via comum, caracterizada pela bonorum venditio ou ainda execução rutiliana; e as vias especiais, identificadas pela bonorum distractio e a pignoris capio”.

Lima55 discorre sobre estas duas vias especiais [bonorum distractio56 e pignoris capio57], ao assim dizer que:

Nesta via, havia a venda em hasta pública da totalidade dos bens apreendidos do devedor, enquanto no bonorum distractio havia a venda por detalhe, ou singular, dos bens do devedor, realizada por um curator bonorum, em visível benefício daquele. E, por último, numa situação mais cômoda ainda para o vendedor, aparece a per pignoris capionem, onde a penhora ocorria por determinação do magistrado, apenas em bens que satisfizessem à solução da dívida.

Bem se vê, do anteriormente exposto, que a venditio bonorum acarretava para o devedor a nota de infâmia, da qual só se livrava pagando integralmente aos seus credores ou recorrendo à cessio bonorum58. Em contrapartida, se os bens do devedor não fossem suficientes para o total pagamento de seus credores, e ainda não se decidisse pela cessio bonorum, que era uma faculdade deixada ao arbítrio do devedor, então se instaurava o concursus creditorum [concurso do crédito]59.

Vislumbra-se, portanto, que no direito romano houve a evolução da pena corporal como objeto de pagamento do devedor 54 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 27. 55 LIMA, Alvino. A fraude no direito civil. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 152. 56 “Bonorum distractio: separação dos bens” [CALDAS, Gilberto. Novo dicionário de latim

forense, p. 16]. 57 “Bonorum cessio: cessão dos bens” venda dos bens” [CALDAS, Gilberto. Novo dicionário

de latim forense, p. 15-16]. 58 “Pignoris capio: apreensão do penhor” [CALDAS, Gilberto. Novo dicionário de latim

forense, p. 49]. 59 Cf. doutrina de BEZERRA FILHO, Manoel Justino Bezerra. Nova lei de recuperação e

falências comentada: Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, comentário artigo por artigo. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 32.

16

inadimplente [pagando com o seu próprio corpo a dívida realizada], para a execução patrimonial. No próximo subtítulo, apresenta-se outra parte da evolução do instituto da Falência, na Idade Média, época esta em que se passou de um sentido individualista para uma socialização do instituto falimentar.

1.2.2.2 Experiência na Idade Média

A Idade Média, para a Falência, é uma época que, ao contrário dos tempos anteriores, caracteriza-se, principalmente, pela maior ingerência da tutela estatal no processo de execução do devedor. O Direito Falimentar deste período foi organizado e sistematizado pelos italianos que utilizaram o direito romano como fonte fundamental como aponta Fazzio Júnior60:

O instituto da falência surgiu nos estatutos corporativos das cidades italianas, provavelmente em Verona, no início de século XIII, onde afloraram as primeiras normas que mais tarde comporiam a falência como típica execução patrimonial.

Similarmente sustenta Abrão61, ao assim descrever que: “Unânime são os autores em fixar nos estatutos das cidades medievais italianas o surgimento da falência”.

Cumpre ressaltar, neste passo, que na Idade Média, a iniciativa dos próprios credores dá lugar à tutela estatal. Tal tutela assume um papel especial, condicionando a atuação dos credores à disciplina judiciária como instrui Magalhães62:

O concurso creditório é rigidamente disciplinado com a obrigatoriedade de os credores se habilitarem em juízo, por onde se processa a arrecadação dos bens do devedor, atribuindo-se ao juiz a função de zelar 'por que se guardasse e vendesse, partilhando-se o produto entre os credores’. É nessa época que o concurso de credores se transforma na falência,

60 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, p. 23. 61 ABRÃO, Nelson. Curso de direito falimentar. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 171. 62 MAGALHÃES, José Hamilton do. Direito falimentar brasileiro. 3. ed. São Paulo: Saraiva,

1994, p. 05.

17

quando o comércio, sobretudo o marítimo, atinge extraordinária expansão nas cidades italianas.

Para Almeida63, a importância do Direito Italiano foi

fundamental na consolidação do direito falimentar tal qual se tem

conhecimento hoje, ao assim enfatizar que:

O direito estatutário italiano lançou os fundamentos do moderno direito falimentar até nossos dias. Ampliou-se o poder estatal; tutelado foi o crédito; firmou-se o princípio do seqüestro sobre os bens do devedor. Sobre o devedor, comerciante ou não, podia incidir a falência, em três hipóteses: a requerimento do credor, a pedido do devedor ou em caso de fuga deste.

No que concerne a esta última hipótese de incidência, a

fuga chegou a ser considerada pressuposto do instituto falimentar, pois

presumia insolvência64. Contudo, conforme Fazzio Júnior65, “[...] no século XV

surgiram as primeiras tendências em evitar a falência”. Arregimentou-se uma

espécie de Concordata66 na qual a autoridade pública homologava acordos

realizados com os credores.

Conforme doutrina de Bezerra Filho67:

Já na idade média [...] estabelecem-se aí os primeiros delineamentos do direito falimentar, estendendo-se a falência tanto ao devedor comercial quanto ao devedor civil, sendo o falido coberto de infâmia, tido como fraudador, sujeito a severas medidas penais, além da perda total do seu patrimônio.

63 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata, p. 04. 64 “Insolvência: estado daquele que não tem com que pagar o que deve” [DICIONÁRIO

ELETRÔNICO. Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Objetiva Ltda., [2005]. 1. CD-ROM. Windows 3.1.].

65 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, p. 23-24. 66 “[...] é um favor legal consistente na remissão parcial ou dilação do vencimento das

obrigações devidas pelo comerciante. Somente o profissional exercente de atividade mercantil tem acesso, no direito vigente, a este favor legal” [ARAÚJO, José Francelino de. Manual de falências e concordatas, p. 241].

67 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova lei de recuperação e falências comentada: Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, comentário artigo por artigo, p. 33.

18

Assim, observa-se a evolução da Falência do sentido

pessoal/individual, para o aspecto social já na Idade Média, dando-se outras

vistas às situações de quebra até então existentes. Portanto, observa-se a

intervenção estatal em uma situação que, até então, era tida como

exclusivamente de caráter privado.

1.2.2.3 Experiência na Idade Moderna e Contemporânea

A sistemática falimentar utilizada nos estatutos da Itália foram largamente dispersas em outras nações, aparecendo também na França, nas nominadas Ordenações de 167368.

De acordo com Ronconi69, parafraseando Sant’Ana:

[...] a importância do Direito Italiano foi fundamental, pois abriu suas portas ao mundo, possibilitando as mais diversas alterações de acordo com a necessidade da Sociedade na qual as normas do instituto falimentar passou a reger [...].

Contudo, foi o Código Comercial francês de 1807, de Napoleão Bonaparte, que teve grande importância no desenvolvimento do instituto falimentar e profunda influência no Direito Comercial70 brasileiro. Apesar deste Código ainda impor enérgicas restrições ao falido, as penas foram sendo minoradas de forma gradual, adquirindo características econômico-sociais e contribuindo para as intensas modificações no Direito Comercial que levaram ao entendimento atual do conceito de empresa71 como

68 Segundo BATALHA, Wilson de Souza Campos; BATALHA, Silvia Marian Labate. Falência e

concordatas: comentários à lei de falências, doutrina, legislação e jurisprudência. São Paulo: LTr, 1996, p. 52: “O instituto da Falência foi introduzido no direito francês por intermédio de Lyon com a instituição de seu regulamento de câmbio em 1667. Porém, tal regulamento só cuidava da Falência fraudulenta impondo duras penas aos culpados de bancarrota. Somente, a partir das Ordenações de 1673 que se instituiu um sistema de liquidação coletiva e possibilitaram-se as concordatas. Entretanto, apenas para os devedores honestos”.

69 RONCONI, Diego Richard. Falência e recuperação de empresas: análise da utilidade social de ambos os institutos. Itajaí: Univali, 2002, p. 28.

70 “Direito comercial é o ramo da ciência do Direito destinado a disciplinar as relações e os atos jurídicos decorrentes da atividade mercantil e dos comerciantes, seja entre si mesmos; seja entre esses e os não comerciantes” [ESTRELA, Hernani. Curso de direito comercial, p. 09].

71 “[...] organização de capital e de trabalho destinada à produção ou mediação de bens ou serviços para o mercado” [BULGARELLI, Waldirio. Sociedades comerciais: sociedades

19

sendo uma instituição social.72

Neste passo, segue-se a observação de Arnoldi73:

A falência passa a ter cunho eminentemente comercial a partir do Código de Comércio de 1807 da França, mais conhecido como Código Napoleônico, que serviu de inspiração para as legislações falimentares de grande parte dos países da Europa Continental e dos latino-americanos.

Portanto, evoluindo da responsabilidade personalista do

direito romano, para a maior ingerência do estatal durante o período medieval

e o significativo progresso impulsionado pela legislação francesa, chega-se

aos tempos atuais com a necessidade de encarar a empresa como um instituto

indispensável ao progresso econômico e social. Distante de como se via, o

crédito não interessa mais apenas ao credor e ao devedor. Uma empresa

produtiva e em dia com seus compromissos ou mesmo um crédito melhor

protegido, interessa a todos, mesmo que de forma indireta, pois se percebe

que hoje, os efeitos de uma Falência são catastróficos para a sociedade74.

1.2.2.4 Experiência no direito português

Não são muitas as notícias históricas da Falência no

Direito comercial português reveladas pela doutrina brasileira, em virtude de

que poucos autores têm discorrido acerca da História e do desenvolvimento do

Direito Comercial em Portugal. Ademais, as escassas informações têm-se

concentrado quase que apenas no Direito Falimentar. Entretanto, Arnoldi75

discorre de modo detalhado sobre o aparecimento do instituto da Falência na

legislação comercial portuguesa, ao assim enfatizar que:

civis e sociedades cooperativas empresas e estabelecimento comercial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 23].

72 Cf. ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata, p. 5. 73 ARNOLDI, Paulo Roberto Colombo. Direito comercial: falências e concordatas. São Paulo:

Editora de Direito, 1997, p. 29. 74 Cf. entendimento de ABRÃO, Nelson. O novo direito falimentar: Nova disciplina da crise

econômica da empresa. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 47. 75 ARNOLDI, Colombo. Direito comercial: falência e concordata, p. 136.

20

Em meados de março de 1597, em Portugal, foi promulgada a primeira lei relativa a direito comercial, cuja finalidade era fortalecer o crédito com a introdução de matéria sobre a quebra de comerciantes. Dessa forma, o soberano promovia forma de fortalecer e estimular as operações creditícias, até então, carentes das garantias indispensáveis ao seu desenvolvimento em Portugal. Em 13 de novembro de 1756 é editado alvará disciplinando as falências, contendo no seu texto a expressão até hoje usada. Criando a função de Governador-Geral da Junta de Comércio, com atribuição de julgar processos relativos à falência, o diploma é reconhecido como o mandamento básico do direito falimentar português. [...].

Portanto, observados os primórdios e o desenvolvimento do instituto falimentar em linhas anteriores, passa-se, então, ao estudo do fenômeno no ordenamento jurídico brasileiro, dando enfoque às suas raízes históricas até o que atualmente se conhece por “Falência”.

1.2.3 Esboço histórico da Falência no direito brasileiro

1.2.3.1 Gênese no período colonial [Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas]

O Direito Falimentar no Brasil-colônia desenvolveu-se dentro de uma trajetória de três etapas: a primeira, inicia-se com as Ordenações Afonsinas76; a segunda, dá-se com as Ordenações Manoelinas77 e; a terceira e última, com as Ordenações Filipinas78 como postula Bezerra

76 “Ordenações Afonsinas: compilação de leis anteriores a Dom Afonso V, de Portugal, por ele

mandada formular atendendo a pedido das Cortes, no sentido de ser consolidado o direito então vigente, e que, aprovada em 1447, vigorou até a publicação das Ordenações Manuelinas, em 1521. Também denominado, sem muita precisão técnico-legislativa, de Código Afonsino” [OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 31].

77 “Ordenações Manuelinas: corpo de leis em atualização das Afonsinas, mandado elaborar por Dom Manuel, o Venturoso, em 1521. Também chamado, sem maior precisão técnico-legislativa, Código Manuelino” [OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 31].

78 “Ordenações Filipinas: corpo de leis editado em 1603 por Felipe II, de Espanha, e Felipe I de Portugal, e que vigeu no Brasil-Colônia e após a Independência, somente definitivamente afastado em 1917, com promulgação do Código Civil brasileiro” [OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 31].

21

Filho79:

De forma bastante resumida, o exame do histórico do direito brasileiro inicia-se com as Ordenações Afonsinas que, promulgadas em 1446, estavam vigendo quando da descoberta do Brasil, em 1500; as Afonsinas foram substituídas pelas Ordenações Manuelinas, em 1521, e, posteriormente, pelas Filipinas, em 1603. No entanto, o primeiro diploma que cuidou da matéria falimentar foi a Lei de 08.03.1595, promulgada por Felipe II, que veio a influenciar as Ordenações Filipinas, promulgadas oito anos depois, em 1603.

O Brasil, enquanto colônia de Portugal, sujeitava-se à legislação portuguesa e como em Portugal vigoravam as Ordenações Afonsinas, foram essas normas estabelecidas no país.

Segundo lição de Magalhães80:

Apesar das Ordenações Afonsinas não cuidarem de forma específica da quebra do comerciante, estabeleciam a preferência ao credor que tivesse dado início ao concurso creditório, extinguiram a prisão por dívida simples ao permitir a concessão de moratória do devedor até o prazo de 5 anos, e previam duras penas quando a falência era fraudulenta.

Neste sentido, as Ordenações foram revistas por D.

Manuel e em 1521 substituídas pelas Ordenações Manuelinas que se

caracterizaram pelo agravamento da punição ao devedor, prevendo que este

seria preso até pagar aos credores caso fosse constatada uma Falência

fraudulenta. Porém, como a legislação portuguesa era fortemente influenciada

pelo Direito Estatutário italiano, havia a possibilidade de o falido impedir sua

prisão cedendo seus bens aos credores.81

Em 1603 passaram a vigorar as Ordenações Filipinas,

normas de nacionalidade espanhola, contudo aplicadas em Portugal, que,

nesta época, estava submetido ao Reino de Castela. A quebra do comerciante

79 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova lei de recuperação e falências comentada: Lei

11.101, de 9 de fevereiro de 2005, comentário artigo por artigo, p. 33. 80 MAGALHÃES, José Hamilton de. Direito falimentar brasileiro, p. 5.

22

passou a ser tratada de forma mais específica na Lei de 8 de março de 1595,

promulgada por Filipe II. Lei esta que inspirou o Título LXVI do Livro V das

Ordenações Filipinas que tratava dos mercadores que quebram, diferenciando

os devedores em mercadores criminosos, comparando-os aos ladrões públicos

que eram punidos com o degredo ou a morte, e os mercadores que faliam sem

culpa e podiam compor-se com os credores.82

Conforme observação de Oliveira83:

É importante ressaltar que nessa ordenação ficou delineado o Direito Falimentar. Nessa fase, seno o devedor condenado por sentença que transitasse em julgado, eram, automaticamente, executados e penhorados os seus bens. Caso não achasse os bens, ele seria recolhido a cárcere privado, até que pagasse, cabendo ao devedor optar por fazer a cessão de seus bens, sendo assim, seria libertado.

Informa-se, entretanto, que na vigência das Ordenações

Filipinas, inúmeros alvarás84 foram expedidos, sobressaindo-se o editado pelo

Marquês de Pombal, pois foi desse Alvará de 13 de novembro de 1756 que

finalmente o Brasil pôde contar com um autêntico processo falimentar “[...],

pois não só regulava a punição penal do crime falimentar, como também a

falência culposa e a inocente”, como acentua Oliveira85.

Conforme descreve Almeida86, o comerciante tinha que

se apresentar à Junta Comercial, jurar a causa da Falência, declarar todos os

seus bens, entregar as chaves da fazenda e o Livro Diário. Em seguida, era

feito o inventário87 e a convocação dos credores. A subsistência do falido e de

81 Cf. REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, v. 1, p. 16. 82 Cf. ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata, p. 5. 83 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 32. 84 “Alvará: instrumento expedido em favor de alguém, por autoridade administrativa ou

judiciária, autorizando ou ordenando a prática de determinado ato” [DICIONÁRIO ELETRÔNICO. Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Objetiva Ltda., [2004]. 1. CD-ROM. Windows 3.1.].

85 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 32. 86 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata, p. 5. 87 “Inventário: relação discriminatória de coisas de qualquer natureza” [DICIONÁRIO

23

sua família era garantida com 10% da arrecadação. Como nas Ordenações

precedentes, constatada a Falência fraudulenta, o devedor também era punido

com a prisão.

Segundo Requião88, o Alvará de 1756 já demonstrava tendências de preservação da empresa por meio da Falência. Fato inferido da regra VIII constante do sistema pombalino, que assim determinava:

[...] os que caírem em pobreza sem culpa sua, por receberem grandes perdas no mar, ou na terra, em seus tratos e comércios lícitos, não constante de algum dolo ou malícia, não incorrerão em pena algum crime. E neste caso serão os atos remetidos ao Prior e Cônsules do Consulado, que os procurarão concertar e compor com seus credores, conforme o seu Regimento.

Portanto, este Alvará foi promulgado no ano após um

grande terremoto em Lisboa, que provocou desordem e a derrocada do

comércio e local e por isso revisou esta parte das Ordenações anteriores com

tanta significância.89

1.2.3.2 Gênese no período imperial

A independência do Brasil modificou pouca coisa na

normatização da Falência, visto que continuou a ser regida pelas leis

portuguesas.

Foi na fase imperial que o instituto falimentar, pela

primeira vez, insurgiu na história do direito brasileiro, posto que, em 1850,

foram promulgados o Código Comercial que regulamentou o instituto da

Falência no Livro III, intitulado “Das quebras” e o Decreto nº 738 que cuidou da

ELETRÔNICO. Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Objetiva Ltda., [2004]. 1. CD-ROM. Windows 3.1.].

88 Cf. REQUIÃO, Rubens. A Crise do Direito Falimentar Brasileiro: a reforma da lei de falências. Revista de Direito Mercantil, nº 14, p. 23-33, São Paulo, set./out. 2000, p. 24.

89 Cf. REQUIÃO, Rubens. A Crise do Direito Falimentar Brasileiro: a reforma da lei de falências. Revista de Direito Mercantil, p. 24.

24

parte processual em seus art. 102 a 187, como registra Lobo90:

Em 1850, o Código Comercial Brasileiro disciplinou a matéria sob o título ‘DAS QUEBRAS’, inaugurando-se a primeira fase histórica do instituto no Direito Brasileiro, onde a falência se caracterizava pela cessação de pagamentos, como no Direito Francês.

Daí se pode perceber a primeira manifestação da Falência no Código Comercial brasileiro, havendo, no entanto, normas complementares que se seguiram como retrata Magalhães91:

Posteriormente, foram baixados os Decretos nº 737 e 738, de 25 de novembro de 1850, o primeiro regulamentando as causas comerciais e cíveis e o segundo regulamentando o processo da falência. [...]. A falta de adaptação daqueles decretos às necessidades brasileiras tomou necessária a elaboração de leis de emergência, procurando melhorar o Regulamento nº 738, de 25 de novembro de 1850. Todavia sem resultado positivo, até a proclamação da República.

Do exposto, constata-se que o Código Comercial de 1850

inaugurou a primeira fase história do instituto da Falência no direito brasileiro e

que se estendeu até o advento do regime republicano como será demonstrado

a seguir.

1.2.3.3 Gênese no período republicano

Após a proclamação da República, o instituto falimentar

passou por intensa reelaboração legislativa. Começou com o Decreto nº 917

de 24 de outubro de 1890, idealizado por Carlos de Carvalho que revogou toda

a terceira parte de Código de 1850.

Sobre este Decreto, instrui Lacerda92, ao assim sustentar

que:

90 LOBO, Jorge. O Moderno Direito Falimentar. Revista de Direito Mercantil, p. 85-97, São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 87. 91 MAGALHÃES, José Hamilton do. Direito falimentar brasileiro, p. 06-07. 92 LACERDA, J. C. Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 32.

25

Este Decreto, de grande importância para a evolução da normatização da falência, caracterizou o estado falitário em atos e fatos previstos na legislação e pela impontualidade no pagamento de obrigações. Além disso, instituiu como meios preventivos a moratória, a cessão de bens, o acordo extrajudicial e a concordata preventiva, que posteriormente, foram alvos de diversas críticas por facilitar abusos e fraudes.

Apesar das graves críticas, Requião93 admite que: “[...] sem dúvida o Decreto n° 917 foi um passo à frente na modernização do instituto falimentar na época [...]”.

Em seguida, com o intuito de prevenir tramas entre

credores de devedores, foi promulgada a Lei nº 859 de 16 de agosto de 1902

sem, contudo, obter êxito. A previsão da criação de uma lista com nomes de

fora dos quadros da Falência, organizada pelas Juntas Comerciais, de onde

seria escolhido um síndico pelo juiz, causou tanto escândalo que o Congresso

foi obrigado a substituí-la.

Entrou em vigor, então, a Lei nº 2.024, de 17 de

dezembro de 1908, obra de Carvalho de Mendonça que, conforme Lacerda94:

“[...] representava uma síntese bem formulada dos princípios que nortearam o

Dec. 917, de 1890, embora com o aproveitamento de algumas normas

colhidas do direito estrangeiro novo”. Esta lei extinguiu a concordata

extrajudicial e a moratória, consolidando o sistema da concordata judicial na

forma preventiva e suspensiva. Entretanto, apesar de haver perdurado por um

certo tempo, devido a alguns defeitos da Lei, em 9 de dezembro de 1929

promulgou-se o Decreto nº 5.746 que previu a diminuição do número de

síndicos e determinou percentagem para a proposta de concordata. Esta lei

permaneceu em vigor até o advento do Decreto-Lei nº 7.661 de 1945 como

será tratado no próximo capítulo.

Realizou-se, neste capítulo, estudo sobre alguns

aspectos do instituto falimentar como sua etimologia, conceituação e

93 Cf. REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 20. 94 Cf. LACERDA, J. C. Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 32.

26

desenvolvimento histórico, desde os seus primórdios no direito romano até a

promulgação do Decreto-lei nº 7.661 de 1945, que após sessenta anos de

vigência, acaba de ser revogado.

No próximo capítulo serão enfocadas algumas

características deste Decreto-lei e que foram alvo da reforma promovida pela

Lei n° 11.101 de 2005, hoje em vigor; destacando-se, para tanto, o histórico do

surgimento do Decreto-lei nº 7.661/45 até a promulgação da nova lei

falimentar; passando-se ao estudo da natureza jurídica da Falência; dos

pressupostos imprescindíveis para a sua caracterização; os passos do

processo falimentar; da ordem de preferência dos créditos na Falência e, por

fim, da sistemática da sua administração.

27

CAPÍTULO 2

ASPECTOS GERAIS DO DECRETO-LEI Nº 7.661/1945

2.1 NOTAS PRELIMINARES AO TEMA

A questão cujo estudo se propõe, neste capítulo, refere-

se ao Decreto-Lei nº 7.661/45 [antiga Lei de Falências], objetivando destacar

os pontos que mais receberam críticas da doutrina durante os seus 60 anos de

vigência, até a promulgação da Lei nº 11.101/2005.

Nessa esteira, pretende-se apresentar neste capítulo,

breve tracejo histórico do surgimento deste Decreto no ordenamento pátrio;

prosseguindo-se ao enfoque dos principais aspectos do instituto falimentar

retratado neste Decreto-lei: na; a ordem de preferência dos créditos; a

concordata como instrumento de preservação da empresa para, ao final deste

capítulo, discorrer sobre a administração da Falência.

Expostas estas considerações, prossegue-se ao estudo

pretendido.

2.2 APORTE HISTÓRICO DO SURGIMENTO DO DECRETO-LEI Nº 7.661/45 ATÉ A PROMULGAÇÃO DA LEI Nº 11.101/2005

Há que se informar, de antemão, que de 1914 a 1918,

instaurou-se um quadro clínico econômico no Brasil em virtude da 1ª Grande

Guerra. Portanto, em virtude das inúmeras crises originadas pela corrida

bélica, a lei vigente sobre a Falência [Decreto nº 917/1890] foi revista pelo

Decreto nº 5.746, de 09.12.1929, com o propósito de aperfeiçoar os

mecanismos que se encontravam obsoletos às novas exigências comerciais95.

95 Cf. observação doutrinária de OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de

falências, p. 37.

28

Em face do advento do Estado Novo e da preocupação

em ajustar a legislação nacional com a nova política de fortalecimentos dos

poderes do Estado, cogitou-se a reestruturação da Lei Falimentar96.

Neste prisma, Lacerda97 relata que:

Em 31 de outubro de 1939, encarregado pelo Ministro da Justiça na época, Trajano Miranda Valverde apresentou um anteprojeto de lei de Falência, que, dentre outras inovações, instituía que a concordata dependesse da vontade dos credores, limitaria a administração da Falência ao síndico, eliminando o liquidatário, e que sua escolha ficasse a cargo do juiz. Contudo, depois de publicado, o andamento do anteprojeto não obteve êxito, sendo exposto a sugestões e críticas.

Foi então que em 21 de outubro de 1943, Alexandre

Marcondes Filho, Ministro da Justiça na época, ofereceu outro anteprojeto

elaborado por uma comissão composta por Filadelfo Azevedo, Hahnemann

Guimarães, Noé Azevedo, Joaquim Canuto Mendes de Almeida, Sílvio

Marcondes e Luís Lopes Coelho. O anteprojeto, que trouxe algumas inovações

já constantes do anteprojeto de Miranda Valverde, transformou-se no Decreto-

lei nº 7.661 de 21 de junho de 194598.

Referido diploma legal apresentou muitas inovações,

dentre as quais destacam-se as elencadas por Oliveira99:

[...]: a) começou-se a abolir as assembléias dos credores, diminuindo a influência destes, reforçando os poderes dos magistrados; b) a concordata (preventiva e suspensiva) deixou de ser um contrato para ser um benefício concedido pelo Estado, através do juiz ao devedor infeliz e honesto; c) extinção da figura do liquidatário e, também, of ato de que a concessão da concordata preventiva não ficava mais à mercê

96 Cf. REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 21. 97 LACERDA, J. C. Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 33. 98 Cf. lição de LACERDA, J. C. Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 33. 99 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 37.

29

dos credores; d) instaurou-se, também, a marcha paralela do processo falimentar como processo criminal.

Sant’Anna100 destaca ainda como inovações do Decreto-lei nº 7.661 os seguintes:

[...] a faculdade de o devedor ou o credor requererem a falência; o princípio de defesa do devedor quando requerida a falência pelo credor; a decretação da falência mediante sentença; a habilitação dos credores; a verificação dos créditos; a arrecadação, avaliação e venda dos bens, para a realização do ativo e pagamento dos credores, através de rateios; a extinção das obrigações do falido; o direito de o falido impetrar concordata suspensiva.

Apesar de todas as novidades adotadas pelo Decreto-lei

este sofreu, posteriormente, inúmeras alterações por diversas normas101, sem,

entretanto, alterar sua substância. Mas, estas mudanças não foram suficientes

para modernizar seus aspectos extremamente formais e processuais.

Portanto, vigente há quase 60 anos e apesar de diversos

de seus dispositivos terem sido reformulados pelas leis constantes na nota 79,

não é novidade afirmar que a legislação falimentar era grande merecedora de

uma reforma integral, pois Sant’Anna102, já em 1986 ressaltava o grande

abismo existente entre o ambiente político-econômico vivido em 1945 e o da

década de 80, ao assim se manifestar:

100 SANT’ANNA, Rubens. Falências e concordatas, p. 23. 101 “Dentre estas normas, destacam-se as seguintes: Lei nº 3.726/60 (dispõe sobre a

preferência dos créditos trabalhistas); Lei nº 4.839/65 (dispõe sobre a preferência dos créditos trabalhistas); Decreto-lei nº 192/67 (fixa o entendimento da expressão ‘indenizações trabalhistas’); Decreto-lei nº 669/69 (exclui do benefício da concordata empresas que exploram serviços aéreos ou de infra-estrutura aeronáutica); Lei nº 6.014/73 (promove adaptações por força no novo CPC); Lei nº 6.024/73 (dispões sobre a intervenção e liquidação de instituições financeiras); Lei nº 6.458/77 (promove adaptações e razão do CPC); Lei nº 4.983/83 (dispõe sobre o rito sumário, aplicável as falências cujo passivo for inferior a 100 salários mínimos); Lei nº 7.274/84 (dispõe sobre várias alterações na concordata); Lei n 8.131/90 (dispõe sobre várias alterações na concordata); e lei n. 8.639/93 (dispõe sobre várias alterações na concordata)” [CRUZ, Carlos Alberto de Oliveira. Falência e Concordata – A Interpretação Sistemática no Direito Concursal Brasileiro. Revista Jurídica, nº 248, p. 15-29, São Paulo, jun. 1998, p. 17].

102 SANT’ANNA, Rubens. A Falência da Empresa. Realidade Contemporânea e Perspectivas Futuras. Revista de Direito Mercantil, nº 64, São Paulo, 1986, p. 43.

30

Nos distantes dias de 1945, quando foi decretada a Lei de Falências, o Brasil praticamente não conhecia inflação, inexistia a correção monetária e a base do crédito do comércio em geral era mantida pelos fornecedores, a rede bancária não formava os grandes conglomerados que existem atualmente, a incipiente noção de empresa não correspondia à que se afirma nos dias correntes, a carga tributária era muitíssimo inferior à de agora.

Neste diapasão, Fazzio Júnior103 explica que o caráter

formalista da antiga Lei de Falências e Concordatas incentivava a morosidade,

deixava desprotegidos os créditos que não fossem públicos e dava grande

importância ao elemento punitivo do instituto. Desta forma, não era mais capaz

de suportar os problemas engendrados pelos processos de Falência ou

Concordata que se mostravam “[...] cada vez mais complexos, burocratizados

e inócuos”.

Insta mencionar, neste norte, que na Câmara dos

Deputados foi proposto em 1993 o Projeto de Lei nº 4.376-A, originado da

mensagem 1014/93, do Poder Executivo e subemendada pelo Projeto de Lei

nº 205, de 1995, apresentando-se como uma proposta de reforma da antiga

Lei de Falências [Decreto-lei nº 7.661/45], como substitutivo mais condizente à

realidade sócio-econômica vivenciada pelas empresas brasileiras, atualmente,

como noticia Danieli104:

[...] resta evidente que a legislação falimentar não mais atende às necessidades da evolução social e da conjuntura econômica vivenciada. [...]. Ditando os atos processuais de falências e concordatas desde a primeira metade do século passado, o Decreto-lei 7.661 de 21.6.45, já não atende mais os anseios da empresa moderna, na atual conjuntura econômica onde as regras da globalização exigem mais eficácia. Isso porque a lei de falências e concordatas atualmente é utilizada, em muitos casos, como meio extremo e coativo de cobrança, fazendo com que o credor deixe de lado a opção pelo

103 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, p. 17. 104 DANIELI, Adilor. Limite da discricionariedade judicial e dicotomia peremptória do pedido de

concordata preventiva: contribuição político-jurídica. Dissertação de Mestrado em Direito, p. 74/78.

31

processo executivo individual ou no que se refere à concordata, como meio de locupletamento indevido por parte de alguns empresários mal intencionados, que tiram proveito das falhas na legislação para prejudicar seus credores e, via de conseqüência, aumentar sua receita financeira própria.

Sob este enfoque, constata-se que em razão do

desvirtuamento dos objetivos pretendidos pelo legislador de 1945 ao processo

falimentar e concordatário, elaborou-se o Projeto de nova Lei Falimentar como

“freio” aos desvios de finalidade desta lei105.

Isto posto, o então Projeto de nova Lei de Falências, no

que concerne, em específico ao instituto da Falência, trazia em seu bojo como

a mais significativa das alterações propostas, a nova ementa da Lei de

Falências que passará a se chamar de “Recuperação judicial, extrajudicial e

falência de empresas e pessoas físicas que exerçam atividades econômicas”.

Portanto, como enfatizou Oliveira106:

[...] o projeto mantém a falência no ordenamento jurídico brasileiro, conserva também o instituto da concordata preventiva, abole a concordata suspensiva e introduz essa nova ferramenta chamada ‘recuperação judicial’. [...]. O PL nº 4.376-A/93, na forma do Substitutivo apresentando pelo relator da matéria, cria as recuperações extrajudicial e judicial como procedimentos para se tentar evitar a falência, estabelecendo regras que preservam a existência de empresas em dificuldades. Pelo texto aprovado, para que um processo de recuperação extrajudicial seja iniciado, o empresário em situação de insolvência deverá apresentar a seus credores, excluídos os trabalhadores e o Fisco, uma proposta de recuperação, que, se aceita pela maioria dos credores em Assembléia Geral, será levada ao Judiciário para homologação. [...]. A recuperação da empresa, na verdade, preenche o vácuo deixado pelo desaparecimento da concordata suspensiva.

105 Cf. comentário de DANIELI, Adilor. Limite da discricionariedade judicial e dicotomia

peremptória do pedido de concordata preventiva: contribuição político-jurídica. Dissertação de Mestrado em Direito, p. 77.

106 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 38-39.

32

Outrossim, conforme descreve Bezerra Filho107:

De 1993 até mais ou menos o ano 2000, o projeto trazia uma séria de preposições que demonstravam preocupação efetiva com a situação da sociedade empresária, com institutos que teriam, talvez, condições de propiciar recuperação. A partir de 2000/2001, as pressões que passaram a se fazer cada vez mais presentes na elaboração da lei trouxeram a correção de rumo que levou a uma verdadeira mudança do ponto de vista filosófico, e tal forma que o texto foi cada vez mais e distanciando das metas originais. Tanto que no meio jurídico passou-se a comentar, de forma jocosa certamente, que a Lei não seria mai ‘Lei de Recuperação de Empresas’ e sim ‘Lei de Recuperação de crédito bancário’, ou ainda ‘Lei Febraban’. [...].

Finalmente, em 09.02.2005 foi promulgada a Lei nº

11.101, originária do Projeto de Lei nº 4.376-93, que tramitou durante 12 anos

no Congresso Nacional e sofreu uma série de “[...] desvios de rumos ou

correções de rota”, como afirma Bezerra Filho108, até chegar ao diploma objeto

central desta monografia.

2.3 PARTICULARIDADES ATINENTES AO INSTITUTO DA FALÊNCIA SOB O ENFOQUE DO DECRETO-LEI Nº 7.661/45

2.3.1 Natureza jurídica da Falência

A Falência, de um modo geral, é um instituto complexo

que constitui um direito concursal, envolvendo regras de diferentes ramos do

Direito, portanto, existe um grande dissenso doutrinário no que tange à sua

natureza jurídica109.

107 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova lei de recuperação e falências comentada: Lei

11.101, de 9 de fevereiro de 2005, comentário artigo por artigo, p. 44. 108 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova lei de recuperação e falências comentada: Lei

11.101, de 9 de fevereiro de 2005, comentário artigo por artigo, p. 44. 109 Natureza jurídica, em linhas gerais, significa a: “[...] afinidade que um instituto jurídico tem,

em diversos pontos, com uma grande categoria jurídica, podendo nela ser incluído a título de classificação [DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. v. 3. São Paulo: Saraiva, 1998,

33

Neste viés, interessante ser frisado que, muito embora se

entenda o Direito Falimentar inserido no Direito Comercial, há entendimentos

que o consideram como sendo um direito “misto”, ou seja, de normas

pertencentes tanto ao direito público, quanto ao direito privado.

Sobre este caráter misto do Direito Falimentar, comenta

Gusmão110:

É o complexo de normas protetoras do crédito no caso de insolvência do comerciante. Supõe a insolvência, ou seja, a impossibilidade de o patrimônio do comerciante garantir seus débitos. No estado falencial, é liquidado o patrimônio do falido para atender aos credores que se habilitarem na falência. Compõe-se de normas asseguradoras de direitos e de preferências dos credores (direito privado), de normas que regem o processo de falência (direito processual falimentar) e de normas penais (direito penal falimentar). Compondo-se de normas de direito privado, de normas processuais (direito público) e de normas penais (direito público), o direito falimentar é direito misto.

Sendo assim, estabelece-se o ponto de partida da

natureza jurídica do Direito Falimentar, permanecendo, inicialmente, como

instituto integrante do Direito Comercial, mas como norma de caráter público,

as quais o transformam num direito misto, como melhor explica Almeida111:

Com efeito, conquanto para ela concorram diferentes regras de diversos ramos do direito, com nenhum deles se confunde nem por eles é absorvida, possuindo, outrossim, princípios e diretrizes que lhes são próprios, formando um sistema que inquestionavelmente a distingue de outras disciplinas, razão por que denominada direito falimentar.

Do lecionado por Almeida, pretende-se neste subtítulo

verificar se a Falência é um instituto de direito processual e/ou de direito

p. 337].

110 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito, p. 210-211. 111 ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata, p. 14.

34

substancial e, ainda, de caráter administrativo112.

Parte da doutrina comunga do entendimento de que a

Falência tem caráter processual. Dentre os doutrinadores que se filiam a esta

corrente, destaca-se Ferreira citado por Ramalho113 ao assim defender que:

“Tem-se, pois, como um instituto de nítida e inconfundivelmente processual, de

imensa complexidade. Ora contencioso. Ora, é administrativo”.

De modo similar, postula Sant’Anna114 a respeito do

tema: “É, sem dúvida, um instituto processual, de natureza complexa”.

De igual forma, manifesta-se Requião115 sobre o assunto:

Sendo o procedimento falimentar, no consenso dos juristas, por definição uma execução concursal, não resta dúvida de que nos deparamos no arcabouço de seu sistema com regras evidentemente processualísticas; [...].

Pacheco116 atribui, também, ao estudo da Falência o

caráter processual, inserindo que: “[...] seria mais razoável enquadrar o estudo

da falência no direito processual”.

Noutro norte, posiciona-se parte da doutrina no sentido

112 Neste sentido, colhe-se o ensinamento de PORTO, Fábio da Silva. A jurisdição no processo

de falência. A teoria do ato ultra vires. Âmbito Jurídico, mar/01 [Internet]. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/aj/dcom0006.htm>. Acesso em: 20 mar. 2006, p. 3: “O debate sobre a natureza jurídica do instituto da Falência no âmbito da doutrina não tem sido pacífico, diversas sendo as concepções a respeito da matéria, existindo três teses fundamentais que podem ser resumidas nas seguintes teorias: a) Teoria administrativista: Desencadeada por D’Avack, essa tese apregoa o caráter administrativo do instituto falencial, sustentando que sua realização sempre se dará por interesse público na exclusão da empresa em dificuldade do universo negocial, visando a preservação do conjunto empresarial e da credibilidade do sistema econômico; b)Teoria substancialista: Para essa concepção a cerca da Falência, as regras falimentares são de direito material, por conseqüência, o fato de existir processo falimentar serviria somente para instrumentalizar a realização das normas de direito substantivo, assumindo uma feição meramente de acessório; e c) Teoria processualista: A compreensão mais moderna do instituto aponta para o reconhecimento de natureza processual, estabelecido que trata-se de execução coletiva que recai sobre devedor comerciante”.

113 RAMALHO, Roberto. Curso teórico e prático de falência e concordata, p. 42. 114 SANT’ANNA, Rubens. Falências e concordatas, p. 33. 115 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar. v. 1, p. 28. 116 PACHECO, José da Silva. Processo de falência e concordata. Comentários à lei de

falência: doutrina, prática e jurisprudência, p. 16.

35

de que a Falência nada mais é do um direito autônomo, ou seja, com

características próprias, independente do Direito Comercial e do direito

processual. Dentre os autores que defendem este entendimento, sublinha-se

Álvares citado por Ramalho117, o qual assim apregoa que: “[...]. Assim, o direito

não é comercial, nem administrativo, nem processual. É um direito com plena

autonomia. É Direito Falimentar”.

Por fim, há que se informar que o processo falimentar é

um processo especial e complexo que abrange, de maneira variada, o

processo geral, mas não absorve nenhum deles, podendo ser chamado de

processo sui generis118, ou seja, regulado por lei própria. No entanto, mesmo

que com as divergências de opiniões, os juristas defendem um ponto

convergente: de que o instituto é de interesse coletivo, posto que visa garantir

os credores, assegurando-lhes a efetiva execução da lei119.

2.3.2 Pressupostos imprescindíveis para a caracterização da Falência

Como mencionado no primeiro capítulo, a Falência é um

procedimento de execução coletiva, em que todos os bens do falido são

arrecadados e liquidados até o pagamento de seus débitos, tendo em vista que

o devedor descumpriu uma obrigação firmada com o credor, tornando-se

insolvente e originando a chamada impontualidade que, segundo Führer120:

“[...] faz presumir o estado de insolvência”.

No entanto, através do conceito de Falência exposto no

primeiro capítulo deste estudo, extrai-se que esta possui três pressupostos

imprescindíveis, conforme enumera Ramalho121: “No Brasil, três são os

pressupostos da falência: 1) ser comerciante; 2) ser insolvente; 3) sentença

judicial”.

117 RAMALHO, Roberto. Curso teórico e prático de falência e concordata, p. 43. 118 “Sui generis: de gênero próprio; que não se enquadra numa classificação preexistente”

[CALDAS, Gilberto. Novo dicionário de latim forense, p. 56]. 119 Cf. OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 320. 120 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev.

atual. de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 33.

36

No que tange ao primeiro pressuposto [ser comerciante],

esclarece-se que o direito brasileiro vinculado ao sistema latino só admite a

Falência do comerciante, do industrial, pessoa jurídica, jamais do civil, pessoa

física, havendo, neste sentido, o instituto da insolvência para o devedor civil122.

Todavia, o Decreto-lei nº 7.661/45 exclui alguns empresários da Falência como

leciona Campinho123:

A lei exclui do direito falimentar alguns empresários. A exclusão é absoluta, se a sociedade empresária nunca puder falir (sociedade de economia mista e operadoras de planos privados de assistência à saúde), ou relativa, e não puder falir apenas em determinas hipóteses (seguradoras e instituições financeiras).

Com relação ao segundo pressuposto [ser insolvente], cumpre mencionar que esta deve ser entendida como uma insolvência econômica, isto é, quando o ativo patrimonial se encontra inferior ao passivo124, ou como uma insolvência jurídica, que é a estabelecida pela Lei Falimentar de 45, caracterizada pela impontualidade injustificada ou pela prática de ato de falência. No entanto, instrui Coelho125 que:

Para declarar a falência da sociedade empresária, é irrelevante a ‘insolvência econômica’, caracterizada pela insuficiência do ativo para solvência do passivo. Exige a lei a ‘insolvência jurídica’, que se caracteriza, no direito falimentar brasileiro,

121 RAMALHO, Roberto. Curso teórico e prático de falência e concordata, p. 47. 122 Conforme explicação de OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de

falências, p. 323: “É necessário esclarecer que todo sujeito que o Direito julga empresário ou comerciante é considerado sujeito passivo da falência, não se admitindo extensão aos devedores não comerciantes. Portanto, todos os comerciantes são, pois, sujeitos à falência, quer sejam nacionais ou estrangeiros, quer matriculados ou não, quer sejam pessoas naturais ou pessoas jurídicas.É bastante que exerçam o comércio, isto é, façam da mercancia profissão habitual. Mas só os realmente comerciantes podem falir. [...] poderá falir tanto o comerciante individual como a sociedade comercial, isto é, aquela que tem por objeto a prática de ato de comércio”.

123 CAMPINHO, Amauri. Manual de falência e concordata: comentários à Lei de falência – doutrina, prática e jurisprudência, p. 46.

124 No entender de RAMALHO, Roberto. Curso teórico e prático de falência e concordata, p. 48: “Insolvência é um estado de fato de ordem econômica. Pode ser real ou aparente. É real quando o ativo é menor do que o passivo. É aparente uando, ainda que maior o ativo, o devedor não dispõe, ainda que eventualmente, de recursos financeiros ou creditícios, para cumprir no vencimento uma obrigação líquida assumida”.

125 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 132.

37

pela impontualidade injustificada ou pela prática de ato de falência.

No entanto, cumpre esclarecer que a insolvência é o

último estágio da impontualidade126, diferindo, contudo desta. O devedor pode

ser impontual sem, no entanto, ser insolvente. A insolvência do devedor pode

se dar momentaneamente quando suas disponibilidades financeiras são

insuficientes, apesar de possuir, ainda, alguma força econômica para o

pagamento das dívidas. A insolvabilidade, ao contrário, como conceitua

Arnoldi127:

[...] é aquela situação em que o devedor não dispõe de condições econômico-financeiras para saldar suas dívidas. É a impossibilidade total, ou seja, a Falência em seu mais puro estado.

Como terceiro e último pressuposto tem-se a declaração judicial da Falência ou sentença declaratória como comenta Estrela128:

Inexiste falência sem sentença judicial que a declare, razão pela qual a doutrina e a jurisprudência chamam-na sentença declaratória. Mesmo sendo a falência judicial, não pode o juiz declará-la de ofício, mas só a pedido do credor (art. 1º), ou do próprio devedor confessando sua quebra (art. 8º). O único caso em que se poderia dizer que a falência foi decretada de ofício é no pedido de concordata preventiva mal formulado, quando o juiz examinando que o devedor não preencheu os requisitos do art. 140 e 158 poderá decretar a falência na concordata, na forma do art. 161; e quando o devedor deixa de depositar as prestações ou pagar as custas nos prazos legais (art. 175).

126 “Impontualidade, provada com o protesto do título por falta de pagamento. O protesto do

título executivo por falta de pagamento caracteriza a mora solvendi (retardamento na execução da obrigação por culpa do devedor). O simples protesto por falta de aceite ou de devolução não é aconselhável para o pedido de falência, porque o devedor pode alegar em defesa uma das relevantes razões de direito do art. 4º, informando ao juiz que deixou de aceitar o título ou de devolvê-lo por estar amparado pelos arts. 7º e 8º da Lei nº 5.474 de 18/07/68. Ora, havendo prova da relevante razão de direito, o juiz não declarará falência” [CAMPINHO, Amauri. Manual de falência e concordata: comentários à Lei de falência – doutrina, prática e jurisprudência, p. 49].

127 ARNOLDI, Paulo Roberto Colombo. Direito comercial: falências e concordatas, p. 58. 128 ESTRELA, Hernani. Curso de direito comercial, p. 118.

38

Pela análise efetuada, tem-se como pressupostos

imprescindíveis à caracterização da Falência: a) a existência de uma

impontualidade no pagamento de obrigação líquida, constante de título que

legitima a ação executiva; ou a prática de certos atos ou fatos que revelam a

insolvência ou denunciam o propósito do devedor em prejudicar os credores; b

a existência de credores como sujeitos ativos do processo concursal; c) a

existência de um devedor comerciante, pessoa natural ou jurídica, como

sujeito ao processo falencial; e d) a existência de uma sentença declaratória de

Falência, transformando aquele estado de fato em estado de direito.

2.3.3 Os passos do processo falimentar à luz do Decreto-lei nº 7.661/45

O processo falimentar comporta três fases129: A primeira

é a fase preliminar ou declaratória; a segunda é a fase de sindicância e a

terceira é a de liquidação130.

A primeira fase vai da petição inicial até a sentença

declaratória da Falência. Anteriormente a esta fase, quem poderá requerer a

Falência, segundo Führer131, será: “a) o credor, comerciante ou não. [...]; b) o

próprio devedor comerciante (autofalência). [...]; c) o sócio ou acionista (art. 9º,

II, da LF); d) o cônjuge sobrevivente, pelos herdeiros do devedor ou pelo

inventariante”.

Outrossim, quem poderá ser requerido como sujeito

passivo da Falência será o comerciante, pois como enfatiza Führer132: “[...] a

falência é um instituto privativo do comerciante”. Pode também ser requerida a

Falência do espólio do devedor comerciante, do menor comerciante, dos que

129 Cf. observação doutrinária remetida por CAMPINHO, Amauri. Manual de falência e

concordata: comentários à Lei de falência – doutrina, prática e jurisprudência, p. 63. 130 “Liquidação: encerramento de uma atividade econômica, com a venda do ativo para

pagamento dos credores, no todo ou em parte” [OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 34].

131 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev. atual. de acordo com o novo Código Civil, p. 33/34/35.

132 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev. atual. de acordo com o novo Código Civil, p. 32.

39

exercem comércio, embora proibidos [art. 3º, do Decreto-lei nº 7.661/45]133,

bem como do devedor que cessou o exercício do comércio há menos de dois

anos [art. 4º, VII, do Decreto-lei]134. Ainda, como apregoa Führer135: “A

sociedade comercial irregular ou de fato pode falir, pois possui capacidade

processual ativa e passiva, sendo representada em juízo pela pessoa a quem

couber a administração dos seus bens”.

Esclarecido quem poderá requerer a Falência e quem

poderá ser considerado como sujeito passivo desta, informa-se que para

requerer a Falência do devedor com base na impontualidade [art. 1º do

Decreto-lei nº 7.661/45]136, deve o credor juntar título líquido e certo137,

devidamente protestado [art. 11 do referido Decreto-lei]138, que legitime ação

executiva139, independente do valor de seu crédito, bastando para isso que o

133 “Art. 3° Pode ser declarada a falência: I - do espólio do devedor comerciante; II - do menor,

com mais de dezoito anos, que mantém estabelecimento comercial, com economia própria; III - da mulher casada que, sem autorização do marido, exerce o comércio, por mais de seis meses, fora do lar conjugal; IV - dos que, embora expressamente proibidos, exercem o comércio” [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

134 Art. 4° A falência não será declarada, se a pessoa contra quem fôr requerida, provar: [omissis]; VII - cessação do exercício do comércio há mais de dois anos, por documento hábil do registro de comércio o qual não prevalecerá contra a prova de exercício posterior ao ato registrado;” [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

135 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev. atual. de acordo com o novo Código Civil, p. 32.

136 “Art. 1º Considera-se falido o comerciante que, sem relevante razão de direito, não paga no vencimento obrigação líquida, constante de título que legitime a ação executiva. [omissis]” [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

137 “Título líquido e certo: caráter ou estado da obrigação que é certa, conhecida, exata” [OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 325].

138 “Art. 11. Para requerer a falência do devedor com fundamento no art. 1º, as pessoas mencionadas no art. 9º devem instruir o pedido com a prova da sua qualidade e com a certidão do protesto que caracteriza a impontualidade do devedor. [omissis]” [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

139 Segundo doutrina de FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev. atual. de acordo com o novo Código Civil, p. 35: “Títulos executivos são os enumerados nos arts. 584 e 585 do CPC, bem como outros previstos em

40

devedor esteja em mora no pagamento. Outrossim, o requerimento com base

no ato de Falência140 [art. 2º do Decreto-lei]141, independe da existência de

título vencido ou de protesto, bastando que o requerente prove sua qualidade

de credor.142

Neste sentido, esclarece Champinho143 que:

Se a falência for requerida pelo próprio devedor, atendidos os pressupostos legais, proferirá o juiz desde logo a sentença. Mas se o pedido for apresentado por credor, determinará o juiz a citação do devedor para que este, dentro de 24 horas, apresente a sua defesa. O prazo para defesa conta-se da juntada do mandado citatório cumprido. Se o devedor não for encontrado, far-se-á a citação por edital, com prazo de três dias para a defesa. [...]. O devedor pode ilidir desde logo a

leis especiais. Também é título executivo a obrigação provada por conta extraída dos livros comerciais e verificado judicialmente (art. 1º, § 1º, da LF), bem como a duplicata sem aceite, acompanhada de prova da entrega da mercadoria (art. 1º, § 3º, da LF). Mesmo os títulos não sujeitos a protesto necessário, como por exemplo uma sentença judicial, ou a obrigação de um avalista, ou de um endossante, devem ser protestados para fins falimentares (art. 10, LF – protesto especial)”.

140 “Ato de falência: tipifica condutas que, em geral, são as de empresários em insolvência econômica. Não se exige, contudo, para a decretação da falência, a demonstração do estado patrimonial de insolvência. É suficiente a prova de que o devedor incorreu na conduta tipificada” [OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 324].

141 “Art. 2º Caracteriza-se, também, a falência, se o comerciante: I - executado, não paga, não deposita a importância, ou não nomeia bens à penhora, dentro do prazo legal; II - procede a liquidação precipitada, ou lança mão de meios ruinosos ou fraudulentos para realizar pagamentos; III - convoca credores e lhes propõe dilação, remissão de créditos ou cessão de bens; IV - realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o fito de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócios simulado, ou alienação de parte ou da totalidade do seu ativo a terceiro, credor ou não; V - transfere a terceiro o seu estabelecimento sem o consentimento de todos os credores, salvo se ficar com bens suficientes para solver o seu passivo; VI - dá garantia real a algum credor sem ficar com bens livres e desembaraçados equivalentes às suas dívidas, ou tenta essa prática, revelada a intenção por atos inequívocos; VII - ausenta-se sem deixar representante para administrar o negócio, habilitado com recursos suficientes para pagar os credores; abandona o estabelecimento; oculta-se ou tenta ocultar-se, deixando furtivamente o seu domicílio. Parágrafo único. Consideram-se praticados pelas sociedades os atos dessa natureza provenientes de seus diretores, gerentes ou liquidantes” [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

142 Cf. observação doutrinária de RAMALHO, Roberto. Curso teórico e prático de falência e concordata, p. 89.

143 CAMPINHO, Amauri. Manual de falência e concordata: comentários à Lei de falência – doutrina, prática e jurisprudência, p. 64-65.

41

falência, dentro do prazo para a defesa, depositando a quantia reclamada, para pagamento ou para discutir a legitimidade ou a importância do crédito. Feito o depósito a falência não pode mais ser declarada. [...]. Pode a defesa ser apresentada sem o depósito. Qualquer motivo apontado no art. 4º, da LF será relevante para a defesa (falsidade do título, prescrição, nulidade, pagamento, etc.).

Expostas estas considerações, informa-se que a

sentença declaratória da Falência conterá os requisitos do art. 14, parágrafo

único, do Decreto-lei144, consignando o nome do devedor, a hora da

declaração, o termo legal, a nomeação do síndico, o prazo para as habilitações

de crédito e demais diligências, podendo inclusive ordenar a prisão preventiva

do falido.

Portanto, na sentença declaratória, o juiz nomeia o

síndico escolhido entre os maiores credores do falido para desempenhar

fielmente o cargo e assumir todas as responsabilidades inerentes à qualidade

de administrador145. As principais atribuições do síndico estão expressas no

144 “Art. 14. Praticadas as diligências ordenadas pela presente lei, o juiz, no prazo de vinte e

quatro horas, proferirá a sentença, declarando ou não a falência. Parágrafo único. A sentença que declarar a falência: I - conterá o nome do devedor, o lugar do seu principal estabelecimento e o gênero de comércio; os nomes dos sócios solidários e os seus domicílios; os nomes dos que forem, a êsse tempo, diretores, gerentes ou liquidantes das sociedades por ações ou por cotas de responsabilidade limitada; II - indicará a hora da declaração da falência, entendendo-se, em caso de omissão, que se deu ao meio dia; III - fixará, se possível, o têrmo legal da falência, designando a data em que se tenha caracterizado êsse estado, sem poder retrotraí-lo por mais de sessenta dias, contados do primeiro protesto por falta de pagamento, ou do despacho ao requerimento inicial da falência (arts. 8° e 12), ou da distribuição do pedido de concordata preventiva; IV - nomeará o síndico, conforme o disposto no art. 60 e seus parágrafos; V - marcará o prazo (art. 80) para os credores apresentarem as declarações e documentos justificativos dos seus créditos; VI - providenciará as diligências convenientes ao interêsse da massa, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou dos representantes da sociedade falida, quando requerida com fundamento em provas que demonstrem a prática de crime definido nesta lei” [SIC] [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

145 “Ao decretar a falência, o juiz nomeia um síndico, escolhido entre os maiores credores (art. 60, LF). Poderá também ser nomeada pessoa estranha (síndico dativo) se três credores, sucessivamente nomeados, não aceitarem o cargo (art. 60, § 2º). Ninguém pode ser obrigado a ser síndico. [...]. O síndico é o representante legal e o administrador da massa falida, sob a direção e superintendência do juiz. Entre as suas inúmeras atribuições, contam-se as seguintes: representar a massa falida, arrecadar os bens e os livros do falido, prestar informações aos interessados, verificar os créditos, elaborar relatórios, organizar o quadro geral de credores, promover a liquidação, etc.” [FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev. atual. de acordo com o novo

42

art. 63 do Decreto-lei nº 7.661/45.

Adverte-se que da sentença que não declarar a Falência

cabe apelação [art. 19 do Decreto-lei nº 7.661/45]146. Em contrapartida, da

sentença que declarar a Falência com fundamento no art. 2º cabe somente

agravo de instrumento147 [art. 17, do Decreto-lei]148, com o intuito de se

agravarem os despachos interlocutórios proferidos pelo juízo falimentar no

transcorrer do processo. Mas na sentença com base no art. 1º, cabe tanto o

agravo de instrumento [art. 17], como embargos [art. 18]149. Neste caso, os

dois recursos podem ser interpostos ao mesmo tempo. Esclarece, ainda,

Führer150 que:

O fundamento dos dois recursos poderá até ser o mesmo. Mas o agravo de instrumento tratará de questões já abordadas no processo. Os embargos, ao contrário, dão oportunidade para argumentos novos, de fato ou de direito, ainda não lançados. Nem o agravo de instrumento, nem os embargos têm efeito

Código Civil, p. 42-43].

146 “Art. 19. Cabe apelação da sentença que não declarar a falência. (Redação dada pela Lei nº 6.014, de 27.12.1973). Parágrafo único. A sentença que não declarar a falência não terá autoridade de coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 6.014, de 27.12.1973)” [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

147 “Os embargos declaratórios têm por finalidade provocar o pronunciamento do mesmo órgão jurisdicional prolator da decisão, quando esta contiver obscuridade, contradição ou for omitido , na sentença ou no acórdão, ponto sobre o qual deveria pronunciar-se o Juiz ou o Tribunal, com vistas a livrar de defeito de forma e, por conseguinte, possibilitar maior segurança na execução do título judicial (art. 535 do CPC)” [GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. v. 2 (Atos processuais a recursos e processo nos tribunais). 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 263].

148 “Art. 17. Da sentença que declarar a falência, pode o devedor, o credor ou o terceiro prejudicado, agravar de instrumento. Parágrafo único. Pendente o recurso, o síndico não pode vender os bens da massa, salvo no caso previsto pelo art. 73” [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

149 “Art. 18. A sentença que decretar a falência com fundamento no art. 1° pode ser embargada pelo devedor, processando-se os embargos em autos separados, com citação de quem requereu a falência, admitindo-se à assistência o síndico e qualquer credor. [omissis]” [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

150 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev. atual. de acordo com o novo Código Civil, p. 56.

43

suspensivo. Tem-se obtido porém efeito suspensivo através de mandado de segurança.

A segunda fase é a de sindicância, também é chamada informativa ou investigatória, que vai da sentença até o início da realização do ativo.

Conforme doutrina de Führer151:

Na fase de sindicância, apuram-se o ativo e o passivo, arrecadam-se os bens, investiga-se a conduta do falido, declaram-se os créditos existentes, apuram-se eventuais crimes falimentares, etc. Nesta fase processa-se a falência em três autos paralelos e simultâneos: os autos principais, os autos de declarações de crédito e os autos de inquérito judicial, todos interdependentes, mas cada um com andamento próprio e finalidade específica.

A terceira e última fase é a de liquidação, que é

processada nos autos principais da Falência e na qual os bens arrecadados

são vendidos e os credores são pagos. Nesta fase esgota-se a finalidade dos

autos paralelos das declarações de crédito e do inquérito judicial152, que

auxiliaram os autos principais na verificação do ativo e do passivo, bem como

da conduta do falido, além de por fim ao processo de Falência. Assim,

encerrada a Falência, devolvem-se os livros ao falido se não estiver

respondendo por crime falimentar e as sobras do ativo.153

Por fim, vale acrescer que nem sempre o andamento do

processo falimentar percorre todas as três fases, podendo o processo ser

151 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev.

atual. de acordo com o novo Código Civil, p. 51-52. 152 “Destina-se o inquérito judicial à apuração ou circunstância que possam servir de

fundamento à ação penal por crime falimentar. Os autos de inquérito judicial correm paralelamente aos autos principais da falência, a partir do primeiro relatório do síndico, o qual não poderá apresentar o seu segundo relatório enquanto o inquérito judicial não tiver solução definitiva. Por isso, o retardamento do inquérito prejudicará fatalmente o andamento dos autos principais, prejudicando inclusive o falido, que não poderá obter concordata suspensiva enquanto não estiver definida a sua situação no inquérito” [FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev. atual. de acordo com o novo Código Civil, p. 81].

153 Cf. doutrina de LACERDA, J. C. Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 137.

44

interrompido e encerrado a qualquer momento, levantando-se a Falência.154

2.3.4 Ordem de preferência dos créditos na Falência

Quando ocorre a decretação da Falência de uma

sociedade em dificuldade, o patrimônio da falida torna-se garantia comum aos

credores nos recebimentos dos seus créditos. Entretanto, como se tratam de

créditos concursais, ou seja, concorrem ao pagamento através de recursos

proveniente da liquidação dos ativos da devedora, o direito concursal, mesmo

objetivando colocar os credores em pé de igualdade, teve que estabelecer uma

ordem de preferência de recebimento dos créditos que atendesse à ordem de

preferência constante dos contratos e da lei155.

A igualdade, portanto, fica revelada apenas entre os

credores da mesma classe – é a par condicio creditorum. Neste viés, pugna

Requião156 que: “[...] os créditos com maior preferência devem ser pagos antes

dos créditos mais fracos e, ao final, devem-se pagar os que não gozam de

nenhuma preferência, que se classificam como créditos quirografários”.

Segundo análise da Lei feita por Führer157, a ordem de

preferência de pagamentos dos créditos158, de acordo com que estabelecia o

art. 102 do Decreto-lei nº 7.661/45159 e demais legislações, era disposta da

154 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro das falências e concordatas, p. 69. 155 Cf. SANT’ANNA, Rubens. Falências e concordatas, p. 110. 156 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, v. 1, p. 326. 157 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro das falências e concordatas, p. 188-

189. 158 De modo diverso é a ordem de classificação dos créditos para REQUIÃO, Rubens. Curso

de direito falimentar, v. 1, p. 326: “a) créditos por acidente de trabalho (art. 102, § 1º); b) créditos trabalhistas, compreendendo todos os pagamentos devidos pela sociedade empresária a seus empregados (CLT, art. 499, § 1º); nessa mesma classificação estão os créditos dos representantes comerciais (Lei n. 4.886/65, art. 44, incluído pela Lei n. 8.844/94) e os da Caixa Econômica Federal, pelo FGTS (Lei n. 8.844/94, art. 2º, § 3º, com redação dada pela Lei n. 9.467/97); c) dívida ativa de natureza tributária ou não tributária (art. 186 do CTN e 4º, § 4º, da Lei n. 6.830/80); k) d) crédito da Fazenda Nacional decorrente de multas e penas pecuniárias devidas pela falida (Dec.-Lei n. 1.893/81, art. 9º; LF, art. 124); e) créditos por encargos da massa (art. 124, § 1º); f) créditos por dívidas da massa (art. 124, § 2º); g) credores com garantia real (art. 102, I); h) com privilégio especial (art. 102, II); i) com privilégio geral (art. 102, III); j) quirografários (art. 102, IV); subquirografários (LSA, art. 58, § 4º)”.

159 “Art. 102. Ressalvada a preferência dos credores por encargos ou dívidas da massa (art.

45

seguinte forma:

1) salários e indenizações trabalhistas, inclusive aquelas oriundas de acidentes de trabalho que tenham ocorrido antes de decretada a falência; 2) créditos que gozem de igual prioridade, em virtude de lei especial, como é o caso dos créditos tributários e dos parafiscais; 3) créditos com direitos reais de garantia; 4) créditos com privilégio especial sobre determinado bem; 5) créditos da massa; 6) créditos com privilégio geral; 7) créditos quirografários. Tal ordem classificatória dos créditos é direcionada ao

síndico160 que tem, ou pelo menos deveria, satisfazer os pagamentos de acordo com o que a Lei estabelece. Porém, várias questões com relação a essa ordem devem ser ponderadas, como noticia Coelho161:

Primeiramente, apesar da ordem de prioridades ter que ser seguida pelo síndico na hora do pagamento do passivo, não está descartada a possibilidade de alguns credores terem seus

124), a classificação dos créditos, na falência, obedece à seguinte ordem: I - créditos com direitos reais de garantia; II - créditos com privilégio especial sôbre determinados bens; III - créditos com privilégio geral; IV - créditos quirografários. § 1º Preferem a todos os créditos admitidos à falência, a indenização por acidente do trabalho e os outros créditos que, por lei especial, gozarem essa prioridade. § 2° Têm privilégio especial: I - os créditos a que o atribuírem as leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta lei; II - os créditos por aluguer do prédio locado ao falido para seu estabelecimento comercial ou industrial, sôbre o mobiliário respectivo; III - os créditos a cujos titulares a lei confere o direito de retenção, sôbre a coisa retida; o credor goza, ainda, do direito de retenção sôbre os bens móveis que se acharem em seu poder por consentimento do devedor, embora não esteja vencida a dívida, sempre que haja conexidade entre esta e a coisa retida, presumindo-se que tal conexidade, entre comerciantes, resulta de suas relações de negócios. 3º Têm privilégio geral: I - os créditos a que o atribuírem as leis civis e comerciais, salvo disposição contrárias desta lei; II - os créditos dos Institutos ou Caixas de Aposentadoria e Pensões, pelas contribuições que o falido dever; III - os créditos dos empregados, em conformidade com a decisão que fôr proferida na Justiça do Trabalho; 4º São quirografários os créditos que, por esta lei, ou por lei especial não entram nas classes I, II e III dêste artigo, os saldos dos créditos não cobertos pelo produto dos bens vinculados ao seu pagamento e o restante de indenização devida aos empregados” [SIC]” [BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 23 abr. 2006].

160 Segundo FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata, p. 3: “O síndico é o representante legal e o administrador da massa falida, sob a direção e superintendência do juiz. Entre as suas inúmeras atribuições, contam-se as seguintes: representar a massa falida, arrecadar os bens e os livros do falido, prestar informações aos interessados, verificar os créditos, elaborar relatórios, organizar o quadro geral de credores, promover a liquidação, etc”.

161 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 308.

46

créditos satisfeitos antes mesmo de outros que, de acordo com a Lei, possuam créditos que preferem àquele. É o que ocorre com os créditos fiscais – nestes compreendidos os de natureza tributária e não tributária – que, por força do art. 187162, da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (CTN), gozam de superprivilégios por estarem excetuados da concorrência de credores e da exigência de suspensão das execuções individuais contra a falida, não precisando a Fazenda Pública se sujeitar à habilitação para cobrar suas dívidas.

Neste caso, como os créditos públicos não precisam

concorrer com os demais, se a execução fiscal tramitar de forma mais rápida

do que o processo falimentar, o bem penhorado em favor da Fazenda Pública

pode ser vendido antes da liquidação da massa, podendo o fisco receber antes

mesmo dos credores trabalhistas163. Quanto a essa possibilidade, pondera

Lacerda164 que: “[...] se os bens da falida já estivem arrecadados, só restará à

Fazenda Pública pedir reserva ao juízo da falência, a fim de lá receber,

obedecendo à preferência legal dos créditos trabalhistas”.

Em interessante prisma, ao analisar esta prerrogativa dos

créditos públicos, assevera Lacerda165 que:

A nova lei de falências em França (13.7.1967) restringiu as prerrogativas da Fazenda Pública e reforçou o privilégio dos credores trabalhistas. A Fazenda Pública tem que se habilitar na falência como qualquer outro credor. Disposição sensata que deveria ser adotada sem tardança pelo legislador pátrio, como pondera Fábio Konder Comparato. Não se compreende, com efeito, que o soi-disant ‘juízo universal da falência’ não abranja os créditos fazendários, cuja satisfação costuma ser, afinal de contas, decisiva para o pagamento dos credores quirografários. Por outro lado, se o soerguimento da grande empresa combalida é de interesse público, por razões de

162 “Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores ou

habilitação em falência, concordata, inventário ou arrolamento” [BRASIL. Código comercial, código tributário nacional e código comercial. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 347].

163 Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 308. 164 LACERDA, J. C. Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 208. 165 LACERDA, J. C. Sampaio de. Manual de direito falimentar, p. 208.

47

ordem social e econômica, é inevitável o sacrifício relativo do Fisco e imprescindível a sólida proteção dos assalariados.

A justificativa para tantas vantagens e privilégios

concedidos aos créditos públicos seria a preservação do bem-estar social, isso

porque aqueles são os responsáveis por seu financiamento. Porém, por outro

lado, deve ser analisado também o fato de que as prerrogativas cedidas à

Fazenda Pública podem provocar, além de prejuízo aos trabalhadores, efeitos

muito danosos à sociedade. Como exemplo, cita-se o elencado por Tebet166:

Tem-se como exemplo, o aumento do risco de recebimento de créditos em um processo falimentar por um credor privado, o que conseqüentemente provoca a retração na oferta de créditos e elevação dos juros dos empréstimos, ou ainda, o prejuízo ou mesmo Falência de credores menores que dependem crucialmente do recebimento de dívidas; e por conseqüência, diminuição do bem-estar social.

Insta observar, neste sentido, que a ordem preferencial

de pagamento dos créditos estabelecida pelo Decreto-lei nº 7.661/45 e pela Lei

nº 6.830/80 [Lei de Execuções Fiscais]167 foi objeto de rigorosas críticas por

parte da doutrina e dos credores como noticia Castro168:

A experiência forense revela que a maioria dos credores que se localizam em ordem menos privilegiada, raramente, conseguem receber seus créditos, pois os recursos provenientes da liquidação dos bens da falida geralmente se esvaem na satisfação das dívidas trabalhistas, não suportando nem as dívidas fiscais. Essa situação de iniqüidade provém do fato do legislador, nos últimos anos, ter se preocupado unicamente em aumentar a proteção dos créditos trabalhistas e fiscais de forma excepcional e absoluta, desvirtuando o verdadeiro sentido do processo falimentar. A maior prova disso

166 Cf. observação doutrinária de TEBET, Ramez. Parecer da Comissão de Assuntos

Econômicos sobre o Projeto de Lei da Câmara nº 70, de 2003. Senado. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/web/senador/ramez/2003>. Acesso em: 10 mar. 2006, p. 1.

167 BRASIL. Lei nº 6.830, 28 de setembro de 1980. Dispõe sobre a Cobrança Judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília, 23 set. 1980. Disponível: <http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 23 mar. 2006.

168 CASTRO, Alberto Farracha de. Colonialismo Jurídico e a Reforma do Direito Falimentar. Revista de Direito Mercantil, nº 12, p. 92-105, São Paulo, out/dez 2002, p. 75.

48

pode ser verificada no descrédito em que caiu o direito real em garantia. Mesmo se resguardando de possíveis inadimplências por meio de hipotecas de imóveis, alienação fiduciária, penhor de máquina ou mercadorias, dentre outras, os credores com garantias reais, dificilmente conseguem receber, uma vez que o produto da alienação dos bens gravados deverá pagar primeiramente os volumosos créditos trabalhistas e depois os fiscais.

Portanto, na grande maioria dos países, em caso de

Falência, os créditos com garantia real preferem aos fiscais. São poucos

também os países onde os créditos trabalhistas têm prioridade sobre aqueles,

e quando tem, é limitado. Este padrão justifica-se como uma forma de manter

“[...] um ambiente institucional favorável ao crédito, procurando privilegiar a

empresa produtiva com a possibilidade de acesso a empréstimos e

financiamentos fartos e baratos”, como instruem Araújo e Lundberg169.

Desta forma, constata-se que as vantagens legais de que

gozam as dívidas fiscais, na forma como vigorava no Decreto-lei nº 7.661/45 e

o CTN, dificultavam a formação de uma conjuntura econômica e institucional

que favorecesse o desenvolvimento. Portanto, via-se, desde já, a necessidade

definir novamente a função do crédito tributário no processo falimentar, e

promover alteração na ordem preferencial de pagamento das dívidas.

Outra questão levantada pela doutrina refere-se à ordem

de preferência dos encargos e dívidas da massa que englobam as despesas

com a administração da Falência [massa falida]170. Da análise da Lei, como

exposto acima, percebe-se que esses créditos deveriam ser pagos apenas

depois das restituições em dinheiro e após terem sido satisfeitas todas as

dívidas trabalhistas e fiscais. Porém, essa ordem de pagamento era

169 ARAÚJO, Aloísio; LUNDBERG, Eduardo. A Nova Lei de Falências – Uma Avaliação.

Working paper – Banco Central do Brasil. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 18 mar. 2006, p. 1.

170 “Massa falida: é o acervo ativo e o passivo de bens e interesses do falido que passa a ser administrado e representado pelo síndico. Embora seja apenas uma universalidade de bens, e não uma pessoa jurídica, a massa falida tem capacidade de estar em juízo como autora ou ré. A massa falida divide-se em massa ativa e massa passiva. Forma-se no momento em que é decretada a falência” [OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 28].

49

incompatível com um dos objetivos da Falência: o de viabilizar uma

administração profissional da massa, como justifica Coelho171:

O juiz apenas pode contar com a colaboração de síndicos honestos, competentes, empenhados e experientes se eles forem remunerados de forma satisfatória. Nenhum depósito ou seguradora, por outro lado, concordaria em contratar com a massa para ser eventualmente pago, após os credores trabalhistas e fiscais, se sobrar dinheiro.

Registra-se, neste viés, que este entendimento levou os

juízes a determinarem que antes de qualquer outro crédito sejam pagas as

despesas provenientes da administração da massa falida172.

Expostas estas considerações sobre a ordem de

preferência dos encargos e dívidas da massa falida, há que discorrer, mesmo

que brevemente, sobre os créditos trabalhistas.

Neste norte, adverte-se que pela redação original do

Decreto-lei nº 7.661 de 1945, os créditos trabalhistas eram classificados em

último lugar na dos privilégios reais, ou seja, só seriam satisfeitos após os

créditos fiscais, os por dívidas e encargos da massa, os com garantia real e os

com privilégio especial. Tal posição, como apregoa Requião173: “[...] era muito

injusta e desprezava a natureza falimentar da remuneração empregatícia, e a

proteção que é devida pela sociedade moderna à condição da classe

proletária”.

Conforme registra Requião174:

[...]. A correção deste despropósito legislativo só ocorreu em 1960, com a vigência da Lei nº 3.726, que passou a dar classificação bem mais privilegiada e protetora aos salários e indenização dos empregados da empresa falida, colocando o

171 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. v. 3. 5. ed. rev. atual. de acordo com

o novo Código Civil e a nova Lei de Falências. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 341. 172 Cf. observação de COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 3, p. 341. 173 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 328. 174 Cf. REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 329.

50

crédito trabalhista como o primeiro a ser satisfeito no processo de liquidação.

Desta forma, os créditos trabalhistas, formados por

salários e indenizações de qualquer origem175 e sem qualquer limitação,

passaram a preterir todos os demais créditos na ordem preferencial de

pagamento, inclusive os fiscais, ficando após apenas dos créditos resultantes

de indenização por acidente de trabalho.

2.3.5 A sistemática da administração da Falência

De acordo com o Decreto-lei nº 7.661, sendo declarada a

Falência, o falido era desapossado do seu patrimônio perdendo qualquer

direito de administração e disposição sobre ele [art. 40]. Desta forma, diante da

necessidade de alguém ter que substituí-lo na administração e conservação da

massa falida, a Lei designou três órgãos para tal tarefa: o juiz, o síndico e o

promotor de justiça.

De acordo com Requião176:

[...] poderia ser adicionada a essa lista a coletividade de credores, porque, sendo eles os maiores interessados no sucesso da liquidação, além de ser exigida sua deliberação por meio de assembléia, para realização de diversos atos, possuíam o direito e dever de fiscalizar a administração do síndico e, se necessário, requerer sua destituição (art. 66), ou mesmo, na omissão do síndico, impetrar ação revocatória de atos do devedor (art. 55).

O juiz era autoridade maior na condução do concurso de

credores. Cabia a ele, em última análise [apesar de possuir formação jurídica e

não administrativa] a administração da Falência, porém com o auxílio do

síndico, que ficava sob sua superintendência, e do membro do Ministério

Público, que também atuava no processo falimentar como fiscal da lei ou como

175 “Saldo salarial, férias não gozadas, décimo terceiro proporcional ou integral, aviso prévio,

hora extra e todos os demais valores devidos aos empregados, conforme apurados pela Justiça do Trabalho, devem ser pagos pelo síndico no atendimento a essa ordem de classificação” [COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 3, p. 346].

176 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 242.

51

parte, no caso de denúncia de crime falimentar177.

Competia ao juiz, também, a nomeação do síndico. Para

isso, o estatuto falimentar de 45 determinava três critérios para nortear o juiz

na sua escolha: tinha o síndico que ser escolhido entre os maiores credores da

massa falida; tinha que residir ou ser domiciliado no foro da Falência; e possuir

reconhecida idoneidade moral e financeira. Ocorre que essas exigências

dificultavam sobremaneira a escolha de um bom síndico.

Ao estabelecer que o síndico teria que ser um dos

maiores credores, presumia a lei que dentre eles se encontraria os maiores

interessados numa boa e regular tramitação do processo falimentar. Porém,

como instrui Coelho178:

[...] na prática, tal hipótese mostrou-se diferente, pois, geralmente, os titulares dos maiores créditos são os bancos, que não demonstram muito interesse pela sindicatura, porque se resguardam da insolvência por meio de cobrança de juros elevados ou porque fazem utilização de direitos reais em garantia.

Desta forma, era mais fácil encontrar interessados num

bom andamento do processo falimentar entre os credores menores. “Isso

porque o recebimento da dívida era fundamental a sua sobrevivência ou

porque cobiçavam obter vantagens pessoais com o processo”, como afirma

Requião179.

Diante disso, se houvesse a recusa consecutiva de três

credores nomeados, a lei autorizava a escolha do síndico fora do quadro geral

de credores [QGC], desde que fosse pessoa idônea e preferencialmente

comerciante. Porém, o que na realidade ocorria era a nomeação de um síndico

dativo, normalmente um advogado falencista conhecido do juiz. Segundo

177 Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 3, p. 258. 178 Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 3, p. 259. 179 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, v. 1, p. 248.

52

Coelho180, tratava-se “[...] de procedimento de escolha não previsto na lei, mas

que se revela o mais interessante e ágil para a defesa dos interesses da

comunidade de credores”.

Por fim, informa-se quanto à ordem legal de preferência

da remuneração do síndico, que este só deveria ser pago após a satisfação de

três classes creditícias com preferências superiores aos encargos da massa,

classe que abrange as despesas de administração da massa. Como uma

administração satisfatória da massa seria impossível sem que o síndico tivesse

garantia de receber justa indenização, os juízes já vinham autorizando o

pagamento do síndico antes de qualquer desembolso, até mesmo antes das

restituições em dinheiro181.

Com base nas disposições doutrinárias acima referidas,

tendo como escopo abordar os aspectos gerais do Decreto-lei nº 7.661/45,

conduz-se esta pesquisa ao capítulo seguinte, no qual serão enfocadas as

inovações trazidas pela nova legislação falimentar [Lei nº 11.101, de 9 de

fevereiro de 2005] ao instituto da Falência, destacando-se, para tanto, os

temas da decretação da Falência, o rito falencial e os recursos sob o enfoque

da nova Lei Falimentar; a nova ordem de classificação dos créditos; a limitação

dos créditos trabalhistas; a realização do ativo [venda dos bens do falido]; os

novos órgãos de Administração da Falência [o Administrador Judicial e a

Assembléia de Credores] e, como ponto fulcral, as inovações atribuídas ao

instituto da Falência, propriamente ditas.

180 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 3, p. 259. 181 Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 3, p. 260.

53

CAPÍTULO 3

INOVAÇÕES ADVINDAS COM A LEI Nº 11.101/05 AO INSTITUTO DA FALÊNCIA

3.1 NOTAS INTRODUTÓRIAS AO TEMA

Chega-se, portanto, ao tema central desta monografia no

qual serão investigadas as alterações relevantes trazidas pela Lei nº 11.101/05

ao instituto da Falência.

Portanto, este capítulo tem como objetivo primordial

reunir elementos dispersos no universo jurídico, com a finalidade de investigar

como a doutrina e a legislação pertinente à matéria retratam estas inovações.

No entanto, para que se possa proceder à uma análise

mais detalhada da Lei Falimentar em vigor no Brasil, é imprescindível que se

inicie este capítulo pelo tracejo da nova sistemática do Direito Falimentar após

a vigência da Lei nº 11.101/2005 para que, com isso, tenha-se um panorama

geral dos novos rumos tomados por este Direito, posto que o papel da

empresa na sociedade contemporânea vai além da sua noção primária de

mera produtora ou transformadora de bens e serviços que coloca no mercado

com o espoco de lucro.

Neste viés, a atividade empresária é tida, hoje, como uma

das instituições de maior relevância devido à função social182 que carrega. Isso

porque é a maior responsável pela distribuição de riquezas, desenvolvimento

econômico e bem-estar social183. Sobre o assunto, comenta Danieli184:

182 “[...] consiste na qualidade a que toda empresa deve estar adstrita, consistindo no

posicionamento social perante a sociedade, ou seja, com função eminentemente socializadora e buscando a realização da justiça social” [PANTOJA, Teresa Cristina. A Empresa no novo código civil: estudos na perspectiva civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 26].

183 Cf. SANT’ANNA, Rubens. A Falência da Empresa. Realidade Contemporânea e Perspectivas Futuras. Revista de Direito Mercantil, p. 38.

54

Independente do tipo de empresa, seja de grande, médio ou pequeno porte, todas essas organizações, umas em maior escala e outras em menor, desempenham uma função social, com geração de rendas, riquezas, fonte de trabalho, alavancando a economia nacional. O que temos de mais real é que o legislador necessita reconhecer a função social da empresa, assim como se fez com a propriedade através da Constituição Federal e com o contrato, pelo Código Civil, [...].

Assim, uma vez constituída, cabe à empresa atender

diversos interesses públicos e privados que gravitam no seu entorno: pagar

salários aos trabalhadores; recolher tributos para manter o Estado; distribuir

lucros aos investidores; comprar dos fornecedores; atender consumidores.

Desta forma, em momentos de crise, não devem ser privilegiados os

interesses instantâneos do erário ou dos credores insatisfeitos, deve-se sim

analisar a sua importância no contexto em que se encontra para que seja

tomado o melhor caminho: dissolvê-la ou recuperá-la e mantê-la.185

Este é o entendimento de Requião186 ao afirmar que: “[...]

se a empresa insolvente tem condições de recuperação ou restauração, esse

deve ser o desiderato do Estado, através do instituto falimentar”.

Diante da relevância social que possui, este é o objetivo principal do novo sistema falimentar: criar mecanismos que possibilitem a recuperação econômico-financeira da empresa viável que passa por um momento de desequilíbrio. Não sendo possível sua recuperação, a Falência tem que ser expedita, sem procrastinações legais, de forma que os recursos sejam otimizados e os credores garantidos.

Portanto, como será visto no transcorrer deste capítulo, a Falência deixa de ser o ponto principal da legislação falimentar para dar ênfase

184 DANIELI, Adilor. Limite da discricionariedade judicial e dicotomia peremptória do pedido de

concordata preventiva: contribuição político-jurídica. Dissertação de Mestrado em Direito, p. 104.

185 Cf. REQUIÃO, Rubens. A Crise do Direito Falimentar Brasileiro: a reforma da lei de falências. Revista de Direito Mercantil, p. 24.

186 REQUIÃO, Rubens. A Crise do Direito Falimentar Brasileiro: a reforma da lei de falências. Revista de Direito Mercantil, p. 24.

55

aos mecanismos de soerguimento da empresa. Nota-se essa mudança até mesmo na estrutura da nova Lei que disciplina em seu Capítulo V sobre o instituto da Falência: enquanto a anterior direcionava apenas 47 artigos para normatizar a concordata, reservava 217 artigos ao disciplinamento da Falência; na lei atual, dos seus 201 artigos, 85 disciplinam a Falência e 115 os processos de recuperação187. Todavia, por se tratar esta monografia do estudo detalhado do instituto da Falência, não serão tecidos quaisquer apontamentos sobre a recuperação judicial e a extrajudicial e tampouco à Concordata [nomenclatura utilizada no Decreto-lei nº 7.661/45].

Expostas estas colocações, prossegue-se à investigação

pretendida.

3.2 PRINCIPAIS INOVAÇÕES DO INSTITUTO FALIMENTAR

3.2.1 A decretação da Falência, o rito falencial e os recursos sob o enfoque da nova Lei Falimentar

Assim como na legislação anterior, a nova Lei de

Falências e Recuperação Empresarial condiciona a decretação da Falência

forçada à insolvência presumida do devedor.

Sobre isto, explica Coelho188:

[...]. Neste caso, não se caracteriza a insolvência por um estado patrimonial de crise econômico-financeira, onde o passivo é maior que o ativo, e sim pela ocorrência de um dos fatos elencados na lei que autorizam o pedido da quebra, quais sejam: a impontualidade injustificada (art. 94, I); a execução frustrada (art. 94, II); e a prática de atos de falência (art. 94, III).

Com o fito de coibir a utilização do processo de execução

concursal como meio judicial de cobrança de empresas inadimplentes, a

187 Cf. GABRIEL, Sérgio. O Projeto Substitutivo da Lei de Falências. Lei de Recuperação de

Empresas – Uma mudança de concepção. Jusvi. Disponível em: < http://jusvi.com/doutrinas_e_pecas/list/24>. Acesso em: 08 abr. 2006.

56

legislação inovou e fixou valor mínimo para os pedidos de Falência. Agora, o

título executivo que instruir o pedido de decretação da quebra, além de ser

protestado, tem que corresponder a valor acima de 40 salários-mínimos como

instrui Fazzio Júnior189:

Ao mesmo tempo em que o legislador procurou inibir a multiplicação de ações falimentares impondo tal limitação, por outro lado acabou facilitando, pois em seu art. 94, § 1º, admite que os credores se reúnam em litisconsórcio com a finalidade de alcançarem juntos o total mínimo exigido, ou seja, de 40 salários-mínimos.

Complementando o exposto por Fazzio Júnior, manifesta-

se Coelho190:

O pedido de falência perde, em parte, a características de medida coercitiva utilizável na cobrança de dívida. Diversas alterações o indicam, entre elas: a) na nova lei, só é cabível o pedido de falência se o valor da dívida em atraso for superior ao mínimo estabelecido em lei (40 salários mínimos); b) pela nova lei, a simples apresentação de plano de recuperação, no prazo da contestação, impede a decretação da falência com base na impontualidade injustificada; c) amplia-se o prazo para a contestação (ou depósito elisivo) de 24 horas para 10 dias.

Verifica-se, do exposto, que a modificação, em especial,

quanto ao valor mínimo da dívida para a decretação da Falência foi muito

positiva porque impede que processos de Falência sejam instaurados como

meio coercitivo de cobrança de valores irrisórios, que não justificariam a

quebra da empresa, desviando a moderna finalidade do instituto.191

188 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 251. 189 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, p. 202. 190 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de

empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005). 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 14. 191 Conforme elucida OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p.

325: “Na antiga Lei Falimentar, qualquer credor, independente do valor de seu crédito, poderia entrar com o pedido de falência do devedor, bastando para isso que ele esteja em mora no pagamento. Como ponto positivo, a nova Lei Falimentar, estabelece-se um limite mínimo de 40 salários mínimos para o valor do crédito devido pela empresa para que ela possa ter sua falência decretada a pedido do credor”.

57

Quanto ao rito falencial, o legislador preocupado em

simplificar o processo, extinguiu os vários procedimentos192 da lei anterior que

dependia da fundamentação do pedido – se por impontualidade ou atos de

Falência – unificando-os no rito contencioso193 previsto nos art. 94 a 96194 e 98.

Somente no caso de Autofalência, o rito é diferente, seguindo o previsto nos

arts. 105 a 107195, pois possui natureza não contenciosa196.

192 “O modo de o processo se formar e se desenvolver chama-se procedimento. O

procedimento tem idéia de forma e marcha do processo. À simples marcha reserva-se o nome de rito. Portanto, para que se forme a relação jurídica processual, é necessário um procedimento ou uma formalização. Em outras palavras, o procedimento é o conjunto de normas que estabelecem as condutas a serem observadas no desenvolvimento da atividade processual pelos sujeitos do processo: juiz, autor e réu e, bem assim, pelos auxiliares da justiça e terceiros que, eventualmente, sejam chamados a participar da atividade processual” [COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral e ajuizamento da ação. vol. 1. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 34].

193 “As ações relativas às pretensões resistidas são conhecidas como ações de jurisdição contenciosa, que se caracterizam pela existência de partes com interesses contrapostos. A jurisdição contenciosa se destina à composição dos interesses em conflitos, não obtida de forma amigável, fazendo-se necessário pedido da tutela jurisdicional e a conseqüente intervenção do Poder Judiciário, para obtê-la definitivamente” [SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta, objetiva e atual. Livro 1. Florianópolis: Momento Atual, 2002, p. 152].

194 “Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência; II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal; III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial: [omissis]; Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial. Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será decretada se o requerido provar: I – falsidade de título;II – prescrição; III – nulidade de obrigação ou de título; IV – pagamento da dívida; V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de título; VI – vício em protesto ou em seu instrumento; VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação, observados os requisitos do art. 51 desta Lei; VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado. § 1º Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor. § 2º As defesas previstas nos incisos I a VI do caput deste artigo não obstam a decretação de falência se, ao final, restarem obrigações não atingidas pelas defesas em montante que supere o limite previsto naquele dispositivo” [BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e a sociedade empresária. [Diário Oficial da União]. Brasília, 10 fev. 2005. Disponível: <http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 14 abr. 2006].

195 Assim determinam estes artigos: “Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos: I – demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável

58

Assim, como enfatiza Oliveira197:

[...] quando o empresário, cessando o pagamento de seus débitos, se mostra impotente para satisfazer os credores, deve o juiz declará-lo em falência e dar começo ao processo necessário para que o seu patrimônio seja liquidado para pagamento dos débitos, que o oneram.

Outrossim, visando maior celeridade ao processo

falimentar, a nova Lei afastou a possibilidade de impetração de uma infinidade

de recursos cabíveis da sentença declaratória de Falência, antes permitidos

[apelação, agravo e embargos]. Mais precisamente, suprimiu os embargos

falimentares cabíveis quando o requerimento da quebra fosse por

impontualidade, mantendo apenas o agravo de instrumento198 e a apelação.

3.2.2 A nova ordem de classificação dos créditos

A ordem de preferência dos créditos ditada pela Lei

anterior [Decreto-lei nº 7.661/45] foi alvo de muitas críticas nos últimos anos.

Conforme lição de Castro199:

e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório do fluxo de caixa; II – relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos; III – relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva estimativa de valor e documentos comprobatórios de propriedade; IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus bens pessoais; V – os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por lei; VI – relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respectivos endereços, suas funções e participação societária. Art. 106. Não estando o pedido regularmente instruído, o juiz determinará que seja emendado. Art. 107. A sentença que decretar a falência do devedor observará a forma do art. 99 desta Lei. Parágrafo único. Decretada a falência, aplicam-se integralmente os dispositivos relativos à falência requerida pelas pessoas referidas nos incisos II a IV do caput do art. 97 desta Lei” [BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e a sociedade empresária. [Diário Oficial da União]. Brasília, 10 fev. 2005. Disponível: <http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 14 abr. 2006].

196 Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 264. 197 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 325. 198 Cf. FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, p. 278. 199 Cf. CASTRO, Alberto Farracha de. Colonialismo Jurídico e a Reforma do Direito Falimentar.

Revista de Direito Mercantil, p. 76.

59

O legislador se preocupou, por longo tempo, em proteger demasiadamente os créditos públicos em detrimento dos privados. E o que se percebe nos processo falimentares é que, geralmente, os créditos trabalhistas absorviam todo o produto da alienação da empresa, não restando nada nem mesmo ao erário.

Diante desta conjectura, a nova legislação produziu

relevante alteração na ordem de prioridade no pagamento dos créditos, pois

como apregoa Coelho200:

Altera-se a ordem de classificação dos credores. As vítimas de acidente de trabalho passam a concorrer com os empregados titulares de direitos trabalhistas (estes últimos limitados a 150 salários mínimos por credor). Os titulares de garantia real passam a ter preferência sobre os credores fiscais. As despesas com a administração da falência, incluindo a remuneração do administrador judicial, bem como as restituições em dinheiro são atendidas antes dos credores (‘créditos extraconcursais’). Também são atendidos antes dos demais credores do falido aqueles que lhe outorgaram crédito (não quirografário) enquanto tramitava a recuperação judicial. Se o crédito concedido é quirografário, ele é reclassificado, na convolação em falência, para privilegiado. Define-se, por fim, como crédito subordinado o titularizado por administrador sem vínculo trabalhista ou sócio.

Assim, por força do art. 83 da Lei nº 11.101/05201, a nova

200 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de

empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 16. 201 “Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I – os créditos

derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; IV – créditos com privilégio especial, a saber: a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia; V – créditos com privilégio geral, a saber: a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei; c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; VI – créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive

60

classificação dos créditos na Falência obedece a seguinte ordem: I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 salários mínimos por credor e os decorrentes de acidentes de trabalho; II – créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; IV – créditos com privilégio especial, como os assim definidos em outras leis civis e comerciais e os aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia; V – créditos com privilégio geral, como os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei e os assim definidos em outras leis civis e comerciais; VI – créditos quirografários dentre os quais os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento e os dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem 150 salários-mínimos; VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias; VIII – créditos subordinados como os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.

Inovação tida como uma das mais importantes segundo

os doutrinadores, é a enumerada por Castro202:

Tem-se como relevante inovação a sobreposição dos créditos com garantia real sobre os fiscais, até o limite do valor do bem gravado. Agindo assim o legislador mitigou os privilégios concedidos ao fisco e atendeu aos reclamos das instituições financeiras por maiores garantias na restituição de seus créditos com a promessa de que reduziriam as taxas de juros cobradas dos tomadores de empréstimo e aumentariam suas

as multas tributárias; VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato; b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício. § 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado. § 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade. § 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência. § 4º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários” [BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e a sociedade empresária. [Diário Oficial da União]. Brasília, 10 fev. 2005. Disponível: <http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 08 abr. 2006].

202 Cf. CASTRO, Alberto Farracha de. Colonialismo Jurídico e a Reforma do Direito Falimentar. Revista de Direito Mercantil, p. 79.

61

linhas de crédito, e por conseqüência, estimular o desenvolvimento econômico.

Outra inovação atribuída pela nova Legislação Falimentar

é que o legislador reuniu os créditos por encargos e dívidas da massa e as

restituições em uma só classe: na dos créditos extraconcursais, conforme

previsão do art. 84203. Sendo que os créditos relativos às despesas com

administração da massa devem ser satisfeitos antes das restituições. Com

estas alterações a nova Lei nada mais fez do que normatizar dois objetivos e

tendências do sistema falimentar que é o da profissionalização da Falência e o

da coibição da má-fé presumida da falida204.

Vale ressaltar, ainda, que estas alterações só foram

possíveis porque foi sancionada, junto com a Lei nº 11.101 de 2005, a Lei

Complementar nº 118, que altera alguns dispositivos do CTN para adaptá-lo ao

novo diploma de recuperação empresarial e Falência205, mais especificamente

em seu art. 186206.

203 “Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência

sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a: I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência; II – quantias fornecidas à massa pelos credores; III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência; IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida; V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei” BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e a sociedade empresária. [Diário Oficial da União]. Brasília, 10 fev. 2005. Disponível: <http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 08 abr. 2006.

204 Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 359. 205 Cf. TEBET, Ramez. Parecer da Comissão de Assuntos Econômicos sobre o Projeto de Lei

da Câmara nº 70, de 2003. Senado, p. 2-3. 206 Dispõe o art. 186 da Lei Complementar nº 118, com nova redação que: “Art. 186. O crédito

tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho. Parágrafo único. Na falência: I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcrusais ou às importâncias passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos créditos com garantia real, no limite do valor do bem gravado; II – a lei poderá estabelecer limites e condições para a preferência dos créditos decorrentes da legislação do trabalho; e III – a multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados” [BRASIL. Lei Complementar nº 118, de 09 de fevereiro de 2005. Altera e acrescenta dispositivos à Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1996 – Código Tributário Nacional, e dispõe sobre a

62

Portanto, não será mais permitido também, incluir as

multas tributárias na classe dos créditos fiscais. Estas, assim como as multas

contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou

administrativas – que não poderiam ser cobradas na Falência do regime

anterior –, classificam-se pela nova Legislação Falimentar como créditos

subquirografários, ou seja, serão contemplados somente após a integral

satisfação dos quirografários.207

Sobre este tema, manifesta-se Coelho208:

Passam a ser reclamáveis, na falência, as penas pecuniárias por infração à lei penal ou administrativa, inclusive as multas tributárias municipais e estaduais, créditos que se classificam agora como subquirografários com preferência sobre os subordinados.

Contudo, a Lei complementar não alterou a prerrogativa

mais criticada dada aos créditos públicos: a referente à dispensa de habilitação

dos seus créditos no concurso de credores. A reforma do Código Tributário

não atingiu o teor do art. 187 e foi mantida a exceção ao princípio da

universalidade da Falência quando se tratar da Fazenda Pública.209

3.2.2.1 A limitação dos créditos trabalhistas

A simples alteração na ordem de preferência dos

créditos, por si só, não teria o condão de transmitir maior segurança aos

credores com garantia real e um tratamento equânime no concurso creditório,

pois se tem o conhecimento de que os créditos trabalhistas, na maioria das

interpretação do inciso I do art. 168 da mesma lei. [Diário Oficial da União]. Brasília, 10 fev. 2005. Disponível em: <http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 12 de abr. de 2006].

207 Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 374. 208 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de

empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 16. 209 Segundo REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar, p. 332: “O quadro geral de

credores deveria abranger todos os créditos que serão cobrados da falida, inclusive os fiscais, pois ‘o síndico sobre ele prestará suas contas e os credores, ou terceiros interessados, tomam conhecimento do volume real do passivo apenas examinando seis elementos’”.

63

vezes, consomem todo o produto da liquidação da falida.210

Diante disso, a Lei Falimentar teve que se valer de mais

uma novidade para evitar que os parcos recursos da Falência se esvaíssem na

primeira classe de credores: limitou a 150 salários mínimos por credor, ou seja,

só goza do privilégio da classe dos créditos trabalhistas o total que não

ultrapassar este teto e as indenizações por acidente do trabalho. O restante,

torna-se crédito quirografário privado de qualquer privilégio.211

Explica Coelho212 que a intenção da limitação imposta é

também evitar que os recursos da massa não sejam consumidos para pagar

os elevados salários dos altos executivos da empresa falida, que muitas vezes

têm grande culpa na derrocada da mesma, pois “[...] a preferência da classe

dos empregados e equiparados é estabelecida com vistas a atender os mais

necessitados, e os credores por elevados salários não se consideram nessa

situação”.

Em sentido contrário, Fazzio Júnior213 alerta que: “[...] é

enganosa a interpretação dessa limitação a pretexto de que não prejudica o

interesse dos trabalhadores, mas, ao contrário, garante sua preferência”, posto

que, no entendimento deste autor, a limitação deveria ser feita apenas aos

altos funcionários e não aos hipossuficientes.

Segundo Castro214:

Tal alteração, longe de diminuir ou suprimir direito dos trabalhadores, procura evitar que ex-administradores da empresa debilitada consigam se beneficiar com preferência da classe para obter proveitos exorbitantes e às vezes fraudulentos por meio de ações trabalhistas milionárias contra

210 Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de

empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 213. 211 Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 363. 212 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 363. 213 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, p. 92. 214 Cf. CASTRO, Alberto Farracha de. Colonialismo Jurídico e a Reforma do Direito Falimentar.

Revista de Direito Mercantil, p. 78.

64

a devedora, alijando os trabalhadores assalariados que são os que realmente devem ser protegidos, de sua parte na massa e também os demais credores.

Outra inovação da Lei, visando proteger os direitos dos

trabalhadores, foi a antecipação prevista no art. 151. A nova norma dispõe

que, havendo disponibilidade de recursos em caixa, o administrador judicial

deverá pagar os créditos trabalhistas de natureza exclusivamente salarial que

estejam vencidos nos três meses anteriores à decretação da Falência e que

não ultrapasse o limite de 5 [cinco] salários-mínimos por trabalhador.

Sobre esta inovação, registra Oliveira215:

Pela Lei no 11.101, de 09 de Fevereiro de 2005, os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos três meses anteriores à decretação da falência, até o limite de cinco salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa.

Há que se observar, ainda, que a antecipação será feita

antes mesmo das restituições; porém, o valor pago será descontado quando

forem satisfeitos integralmente os créditos trabalhistas, na forma do art. 83.

3.2.3 Realização do ativo [a venda dos bens do falido]

Frustradas as tentativas de preservação da empresa, o

poder legiferante buscou mecanismos que oferecessem maior proteção aos

direitos dos credores e tornassem o processo falencial o mais objetivo e

rentável possível, no sentido de maximização do valor dos ativos destinados

ao pagamento do passivo. Para isso, afastou diversos empecilhos que

prejudicavam a alienação dos bens da massa falida, como será visto neste

subtítulo.

Instaurado o processo de Falência, um dos itens cruciais

para o seu sucesso ou fracasso é a agilidade na venda dos ativos da

215 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Nova Lei de Falências: principais alterações. Boletim

Jurídico, Uberaba/MG, a. 3, nº 114. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=517>. Acesso em: 12 abr. 2006, p. 2.

65

empresa216, seja para liquidar o patrimônio da sociedade falida da forma mais

vantajosa, seja para auferir capital para injetar forças na atividade produtiva da

empresa em recuperação.217

No entender de Coelho218:

Na falência, assim que forem arrecadados os bens do devedor, eles devem ser imediatamente vendidos ou porque se deterioram rapidamente, ou porque podem ser roubados, ou por possuírem custos de manutenção muito elevados, causando grande prejuízo aos credores e correndo o risco de se desvirtuar da verdadeira intenção da concorrência de credores.

Neste viés, ao contrário do que ocorria no regime

anterior, agora, por força do art. 140, § 2º da nova Lei, a alienação de bens

pode ser feita logo após a arrecadação e avaliação. Isso quer dizer que não é

mais necessário esperar anos pela complicada e complexa formação do

quadro geral de credores, para que o síndico comece a vender os bens da

falida no interesse dos credores como registra Coelho219:

A venda dos bens do falido (realização do ativo) pode ser feita desde logo. Não está, como na lei de 1945, condicionada à conclusão da fase cognitiva (verificação dos créditos e investigação dos crimes falimentares). A venda dos bens perecíveis, sujeitos a considerável desvalorização, de conservação arriscada ou dispendiosa pode ser feita antecipadamente.

216 Cf. ARAÚJO, Aloísio e LUNDBERG, Eduardo. A Nova Lei de Falências – Uma Avaliação.

Working paper, p. 2 advertem que: “Levando em consideração também a rapidez com que os bens de capital, a clientela, a marca, o ponto comercial, além de outros intangíveis se desvalorizam quando estão por trás de uma sociedade que apresenta dificuldades em se manter no mercado, o legislador criou mecanismos que desburocratizassem e facilitassem a alienação dos ativos. Assim, por exemplo, se uma moderna rede de computadores ficar parada por um período de um ano, pode reduzir drasticamente seu valor de venda”.

217 Cf. doutrina de ALVES, Rui Fernando Ramos. Recuperação de Empresas, Falências e Concordatas no Brasil – A realidade da recuperação de créditos. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, nº 24, p. 77-91, São Paulo, mar. 2001, p. 81.

218 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 345. 219 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de

empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 14-15.

66

Segundo Paiva220, havendo a colaboração dos

interessados, esta oportuna alteração gera eficiência podendo diminuir o

tempo da realização dos ativos para até um ano, propiciando diversas

vantagens aos credores.

Apesar da legislação anterior já prever a possibilidade de

venda englobada ou separada dos ativos, a nova Lei traz agora uma lista em

ordem preferencial e exemplificativa de formas de alienação dos bens,

constante em seus incisos I, II e III do art. 140221, como registra Coelho222:

Ainda sobre a venda dos bens do falido, prevê a nova lei uma ordem de preferência: alienação da empresa com a venda de seu estabelecimento em bloco; alienação da empresa, com a venda de unidades isoladamente; alienação em bloco dos bens que integram o estabelecimento; alienação parcelada ou individual dos bens. Cria-se, também, uma nova modalidade de venda, além das já existentes (leilão ou propostas), que é o pregão. A escolha da melhor forma e da modalidade de venda cabe ao juiz e não mais ao administrador judicial.

Fazzio Júnior223 salienta que tal rol não é exaustivo, pois o juiz poderá autorizar outra modalidade de alienação, desde que vantajosa à massa falida, pois que:

[...] procurando estimular a participação e fiscalização por parte dos credores no processo liquidatário, a nova Lei incumbiu a assembléia geral de credores, e não exclusivamente o síndico, como outrora, de analisar e votar a melhor forma de realização do ativo, além de propor alternativas de meios de alienação.

220 PAIVA, J. A. Almeida. Após 09/06/05 todos os bens das falências em curso já podem ser

vendidos antes da formação do QGC. Advocacia Almeida & Paiva. Advocacia Almeida & Paiva. Disponível em: < http://www.almeidapaiva.adv.br/>. Acesso em: 12 abr. 2006, p. 2.

221 “Art. 140. [omissis]: I – alienação em bloco dos estabelecimentos da sociedade falida; II – alienação isolada das filiais ou unidades produtivas da sociedade; III – alienação em bloco dos bens de cada estabelecimento da sociedade falida; IV – alienação parcelada ou individual dos bens” [BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e a sociedade empresária. [Diário Oficial da União]. Brasília, 10 fev. 2005. Disponível: <http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 14 abr. 2006].

222 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 15.

223 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, p. 351.

67

Cabe, portanto, aos órgãos da Falência identificar a

melhor maneira de maximizar os recursos da massa falida. Porém, assim

como ordena a Lei, deve-se sempre dar preferência à venda do

estabelecimento no seu conjunto.

3.2.4 Os novos órgãos de administração da Falência

No Decreto-lei nº 7.661/45, os órgãos de administração

da Falência eram o juiz, o representante do Ministério Público224 e o síndico.

Agora, sob a égide da nova Lei, o síndico passa a ser chamado de

administrador judicial, tendo sido introduzido mais um órgão: a Assembléia de

Credores, como será discorrido a seguir.

3.2.4.1 O administrador judicial

A administração da Falência foi alterada sensivelmente

de forma que fossem estimulados a sua profissionalização e maior participação

e interesse dos credores.

Primeiramente, a nova Lei substituiu a figura do síndico

pela do administrador judicial como assevera Coelho225:

O síndico passa a chamar-se administrador judicial. Alteram-se os critérios de sua remuneração e define-se que ela é extraconcursal (será paga antes dos credores). A autonomia do administrador judicial é menor que a do síndico. A definição da forma pela qual será feita a realização do ativo (que, na lei anterior, cabia ao síndico) passa a ser atribuição do juiz. [...].

Similarmente, comenta Oliveira226: “A norma falimentar

224 Chama-se esta nota para informar que: “Muda substancialmente a participação do

Ministério Público na falência. Agora, ele não precisa intervir em todos os processos de que seja parte interessada a massa falida. Também não participa do pedido de falência. Salvo algumas intervenções específicas (impugnação à venda, rescisão de crédito admitido etc.), quando houver fatos como indício de crime, desobediência à lei ou ameaça de lesão ao interesse público” (COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 15).

225 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 15.

226 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências, p. 332.

68

revogada determinava que o síndico era o representante da massa falida. Pela

nova legislação falimentar, o representante é o administrado judicial”.

Assim, diferentemente do que ocorria no antigo Decreto-

lei quanto à nomeação do síndico que deveria ser escolhido dentre os maiores

credores da falida, além de ter que possuir domicílio ou residir no foro da

Falência, o administrador judicial tem que ser um profissional, da confiança do

juiz e que possua experiência e condições técnicas para gerir os bens da

Falência ou dirigir a empresa que teve seu administrador afastado até que se

instaure o plano de recuperação. O art. 21 determina que este profissional

deve ser “preferencialmente um advogado, economista, administrador de

empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada”.

Quanto a esta questão, avalia Fazzio Júnior227:

[...] em boa hora o direito brasileiro abandonou o critério de escolha do administrador judicial entre os credores, com maior montante a receber, pois esses geralmente são os que já estão com seus créditos respaldados por preferências e garantias e por isso não espelham o interesse da maioria.

Em segundo, procurando melhorar a qualidade do

trabalho do administrador judicial e dos demais profissionais que o assessoram

importante missão de auxiliar o juiz na otimização dos recursos da falida, e a

representar a comunhão de interesse dos credores, a Lei avançou e introduziu

prerrogativas quanto à sua remuneração. Antes, autorizado a receber somente

após credores com preferência, correndo o risco de não receber nada , agora

manda o sistema que o remunere em duas parcelas: sendo que a primeira de

40% do total da remuneração antes de qualquer outro crédito extraconcursal,

ou seja, antes de qualquer desembolso da massa e, os 60% restante, após a

aprovação de contas.228

227 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas, p. 181. 228 Cf. comentário de GRANDE, João Teixeira. A Nova Lei de Falências e Concordatas.

Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, nº 1, p. 35-49, São Paulo: Revista dos Tribunais, jan./jun. 1998, p. 40.

69

De acordo com Coelho229, a justificativa para essa

vantagem está no fato de que a diligência e competência desses profissionais

aumentam proporcionalmente à atratividade de sua recompensa.

3.2.4.2 A assembléia de credores

Na busca de incentivar o envolvimento dos credores na

fase liquidatária na Falência, a nova Lei de Falências criou mais um órgão para

auxiliar administrativamente: a Assembléia Geral de Credores como enfatiza

Coelho230: “Cria-se novo órgão na falência: a Assembléia dos Credores”.

Na lição de Coelho231: “Assembléia de Credores é o

órgão colegiado e deliberativo responsável pela manifestação do interesse ou

vontade predominante entre os que titularizam crédito”, diante da empresa em

processo de Falência.

As funções da Assembléia se resumem às seguintes

atribuições: deliberar sobre a substituição do administrador judicial; aprovar a

constituição do Comitê de Credores e eleger seus membros; aprovar, por 2/3

dos créditos, modalidades alternativas de realização do ativo; deliberar sobre

qualquer matéria do interesse dos credores.232

3.2.5 Resumo das principais inovações advindas com a Lei nº 11.101/2005 ao instituto da Falência

Não há dúvidas que o novo diploma legal traz

substanciais mudanças e inovações visando a modernizar os procedimentos

de Falência, dentre os quais destacam-se as seguintes alterações:

A nova Legislação Falimentar abrange como sujeitos

passivos da Falência o empresário e a sociedade empresária, exceto a

empresa pública e a sociedade de economia mista, instituições financeiras

229 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 276. 230 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de

empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 15. 231 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 280. 232 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, p. 280.

70

públicas ou privadas, cooperativa de crédito, consórcios, entidade de

previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à

saúde, seguradoras e sociedades de capitalização e outras legalmente

equiparadas.233

Altera-se, significativamente, a ordem de classificação

dos créditos na Falência: I - os créditos trabalhistas limitados a 150 salários-

mínimos por credor e os decorrentes de acidentes de trabalho; II - créditos com

garantia real até o limite do valor do bem gravado; III - créditos tributários,

independentemente da sua natureza e tempo de constituição, exceto as multas

tributárias; IV - créditos com privilégio especial como os assim definidos em

outras leis civis e comerciais e os aqueles a cujos titulares a lei confira o direito

de retenção sobre a coisa dada em garantia; V - créditos com privilégio geral,

como os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei e os assim definidos

em outras leis civis e comerciais; VI - créditos quirografários, dentre os quais

os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens

0vinculados ao seu pagamento e os dos créditos derivados da legislação do

trabalho que excederem 150 salários-mínimos; VII - as multas contratuais e as

penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as

multas tributárias; VIII - créditos subordinados como os créditos dos sócios e

dos administradores sem vínculo empregatício.234

Ainda, a verificação dos créditos, na Falência, passa a

adotar procedimento diverso relativamente à lei de 1945. O próprio falido deve

apresentar a lista de seus credores. O credor que discordar do valor ou

classificação do seu crédito e aquele que não teve seu crédito incluído

Por conseguinte, a alienação dos bens será realizada de

uma das seguintes formas, observada a seguinte ordem de preferência:

alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;

alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas

233 Cf. BEZERRA FILHO, Manoel Justino Bezerra. Nova lei de recuperação e falências

comentada: Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, comentário artigo por artigo, p. 11. 234 Cf. entendimento doutrinário de FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e

recuperação de empresas, p. 19.

71

isoladamente; alienação em bloco dos bens que integram cada um dos

estabelecimentos do devedor; alienação dos bens individualmente

considerados.235

Na legislação anterior, o prazo para defesa, na citação

pessoal era de 24 horas e de 3 dias na citação por edital. A atual legislação

uniformizou o prazo para defesa em 10 dias, tanto na citação pessoal quanto

por edital.

No antigo Decreto-lei nº 7.661/45, a realização do ativo

somente poderia ser feita após a formulação do quadro de credores. Na atual,

pode haver a antecipação parcial da realização do ativo, principalmente

quando a falida possuir mercadorias deterioráveis ou de fácil desvalorização,

ate o limite dos créditos já declarados.

Outra inovação trazida pela Lei nº 11.101/2005 é que o

período do termo legal, que antes era de 60 dias, passou para 90 dias.

Outrossim, o síndico, no antigo Decreto-lei nº 7.661/45,

agora, pela nova Lei Falimentar, passa a se denominar de administrador

judicial da Falência, devendo ser profissional idôneo, preferencialmente

advogado, economista, administrador de empresa, contador ou pessoa jurídica

especializada.236

Por conseguinte, como relevante novidade advinda com a

Lei nº 11.101/2005, tem-se a Assembléia Geral de Credores [AGC], que

deverá deliberar sobre a continuação das atividades da empresa falida em

qualquer outra matéria de interesse dos credores.237

Pela Lei nº 11.101, de 09 de Fevereiro de 2005, em

qualquer hipótese, o total pago ao administrador não excederá 5% do valor

235 Cf. observação de COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de

recuperação de empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 16. 236 Cf. doutrina de COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de

recuperação de empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 16. 237 Cf. lição de COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de

recuperação de empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 17.

72

devido aos credores submetidos ao valor de venda dos bens na Falência,

sendo, contudo, reservados 40% do montante devido ao administrador para

pagamento após a prestação de contas e o relatório final de Falência.238

Outrossim, conforme determina a Lei nº 11.101/05, o

Ministério Público somente poderá intervir facultativamente no processo. 239

Por fim, pela nova Legislação, o processo de Falência

atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual, não

estipulando a Lei qual o prazo para seu encerramento. 240

238 Segundo ensinamentos de FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação

de empresas, p. 20. 239 Cf. doutrina de BEZERRA FILHO, Manoel Justino Bezerra. Nova lei de recuperação e

falências comentada: Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, comentário artigo por artigo, p. 12.

240 Cf. lição de COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005), p. 17.

73

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização desta pesquisa, chega-se a algumas

considerações acerca do tema proposto.

Destaca-se, todavia, que a presente investigação

bibliográfica é apenas o início de um estudo que certamente merece maior

aprofundamento, em face da Falência da empresa e o fim de suas atividades

poderem trazer conseqüências desastrosas de repercussão local, regional ou

até nacional, posto que a tendência do Direito Falimentar atual demonstra

preocupação maior em preservar empresas que passam por momento de

desequilíbrio econômico-financeiro, porém que se demonstrem capazes de se

reestruturar e se manter no mercado. Não havendo chances de recuperação,

deve-se primar pela celeridade, eqüidade e segurança do processo falimentar,

de forma que seus efeitos sejam menos danosos possíveis.

No entanto, para se chegar a esta confirmação, o objeto

desta monografia de conclusão de Curso teve como delimitação os seguintes

temas: estudo histórico-descritivo da Falência através dos tempos [do remoto

ao atual]; enfoque jurídico-doutrinário dos aspectos gerais do Decreto-lei nº

7.661/45 e a análise das inovações retratadas pela nova legislação falimentar

ao instituto da Falência.

Nesse sentido, a presente monografia não procurou

esgotar os temas em sua totalidade. Para tal, afastaram-se alguns assuntos,

outrora elencados na introdução, que não influenciavam diretamente na

construção a que se buscou.

Por conseguinte, dentre outros pontos tracejados ao

longo da pesquisa, constatou-se que os doutrinadores, a classe empresária, e

demais interessados há muito tempo reclamavam pela reforma da legislação

falimentar que regulava o instituto da Falência desde 1945, quando foi

promulgado o Decreto-lei nº 7.661. Procurando então coadunar as diretrizes do

Direito falimentar à realidade econômica e social atual e promover total reforma

74

do sexagenário diploma Falimentar, após 11 anos de tramitação foi finalmente

sancionada a Lei nº 11.101/05, denominada agora de Lei de Falências e

Recuperação de Empresas.

Por seu turno, a análise do tema procedido nos três

capítulos desta monografia resultou nas seguintes constatações com relação

aos objetivos previamente estabelecidos para a realização desta pesquisa: 1)

antes de chegar ao princípio atual que prima pela preservação da empresa, o

instituto falimentar passou, no decorrer de seu desenvolvimento histórico, por

vários estágios evolutivos e reformulações; 2) no decorrer da pesquisa

constatou-se que a Falência, em sua origem, era usada como meio de punição

do devedor que não conseguia pagar suas dívidas. Em seguida passou a

adquirir caráter mais sócio-econômico, porém, ainda privilegiava sobremaneira

os interesses privados dos credores; 3) o instituto falimentar foi introduzido no

ordenamento jurídico brasileiro pelo Código Comercial de 1850. Todavia, o

sistema enfatizou demais a apuração da responsabilidade da Falência, o que

procrastinava o início do processo falimentar, prejudicando, a um só tempo,

credores e devedores. Apesar de já se constatar a preocupação com a

manutenção da empresa, pois o ordenamento previa o benefício da

concordata, detectou-se que esta era regulamentada de forma que a tornava

totalmente ineficaz; 4) após a proclamação da República, a legislação

falimentar fora reformada diversas vezes, porém sua substância permanecera

intacta. Com o advento do Decreto-lei nº 7.661 de 1945, constatou-se que o

legislador procurou impedir que o processo falimentar fosse vulnerável às

fraudes. Porém, o Decreto-lei se mostrara demasiadamente formalista, e ainda

guardava resquício de utilizar o instituto como forma de punição ao devedor

inadimplente; 5) a Lei de Falências de 1945, que perdurou durante 60, foi alvo

de fortes críticas por parte dos estudiosos no assunto, pois este Diploma se

tornara ineficaz para solucionar os problemas econômico-financeiros das

sociedades empresárias dos tempos atuais que são muito mais complexas dos

que as sociedades dos idos da década de 40; 6) primeiramente, visando

impedir que o instituto falimentar fosse utilizado como meio coercitivo de

cobrança, foi estipulado um valor mínimo para o pedido de quebra de uma

75

empresa. Objetivando promover a celeridade e simplicidade do processo

falimentar, e, portanto, reduzir os prejuízos da quebra na sociedade, foi

diminuído o número de recursos e de ritos processuais, além de possibilitar a

venda de bens, antes mesmo da formação do quadro geral de credores, fator

que minimiza a desvalorização dos ativos da empresa; 7) com o fito

proporcionar maior otimização dos recursos da massa e de preservar os ativos

intangentes da empresa e mesmo a própria empresa, afastou-se a previsão de

sucessão das obrigações trabalhistas e tributárias por parte do adquirente de

bens da sociedade em processo falimentar ou de recuperação; 8) detectou-se,

também, que a antiga Lei Falimentar preocupava-se em garantir maior

segurança ao mercado de crédito e, por conseguinte, propiciar ambiente

favorável à diminuição dos juros dos empréstimos e aumento de oferta de

capital, fatores imprescindíveis ao desenvolvimento econômico e social,

através da alteração da ordem de preferência dos créditos, estabelecendo que

os credores com garantia real tem prioridade no pagamento com relação aos

credores tributários; 9) com o intuito de proteger os trabalhadores, limitou-se

também o valor dos créditos trabalhistas que podem integrar esta classe, que

goza do mais alto privilégio. Desta forma, procurou-se evitar que os

funcionários dos mais altos postos da empresa prejudicassem os rateio dos

recursos dentro da classe. E ainda, a lei estabelece que sejam pagos os

salários dos 3 [três] meses anteriores a decretação da quebra, que totalize no

máximo 5 [cinco] salários-mínimos, tão logo haja dinheiro em caixa; 10) o

Decreto-Lei nº 7.661 de 1945 foi totalmente reformulado pela Lei nº 11.101 de

2005 que pretende adotar como novo escopo a preservação da empresa e sua

função social.

Diante desta nova concepção de empresa, vista a partir

da função social que carrega, e do novo escopo da legislação falimentar,

procurou-se fazer um estudo comparativo entre a diploma anterior e o atual

para verificar se esta proporcionou, ou não, os avanços necessários aos fins

aos quais se propõe: uma Falência mais expedita, quando inviável sua

recuperação.

A colheita de informações, nesse sentido, intentou a

76

colocação da temática da nova Lei de Falências, objetivando evidenciar que a

discussão doutrinária em torno deste assunto é relevante e atual, pois na seara

do Direito Falimentar, reveste-se de transcendental importância o instituto da

Falência, na medida em que, embora regulada por lei que trata de relevantes

temas de direito material, este instituto é, sobretudo, um remédio processual

concebido para enfrentar o grave problema da insolvência do devedor, quando

esta afeta não o interesse individual de um ou outro credor, mas atinge o

universo todo dos credores do inadimplente, gerando um abalo social, pela

impossibilidade de satisfação completa de todos eles.

Outrossim, em resposta aos problemas apresentados na

introdução e em face da investigação realizada ao longo desta monografia,

pôde-se chegar à confirmação das hipóteses, nos seguintes termos:

Primeiro problema: A legislação falimentar anterior

[Decreto-lei nº 7.661/45] em comparação com a Lei nº 11.101/05, preocupava-

se tão-somente com aspectos formais para declarar a Falência da empresa?

Primeira hipótese: A Lei nº 11.101/05, em comparação ao

antigo Decreto-lei nº 7.661/45, preocupa-se mais com a função social da

empresa dentro do seu meio de atuação do que com aspectos meramente

formais destinados à decretação da Falência da empresa devedora.

Análise da hipótese: O novo diploma não é formalista

como o Decreto-lei de 45 que só se preocupava com aspectos formais para

declarar a Falência da empresa, quando não preenchidos determinados

requisitos, como meio coativo de cobrança. Ao contrário, é mais

“humanizante”, pois prioriza a manutenção das atividades das empresas, sem

ter que fechá-las, com o escopo de consolidar a função social da empresa

através da geração de rendas, riquezas, fonte de trabalho e, por conseguinte,

alavancando a economia nacional. Restando confirmada, portanto, a presente

hipótese em todos os seus termos.

Segundo problema: A Lei nº 11.101/2005 regula tão-

somente a questão da extinção do patrimônio da empresa insolvente?

77

Segunda hipótese: A nova lei falimentar que regula o

instituto da Falência não cuida apenas de liquidar e extinguir o patrimônio da

empresa insolvente a benefício dos credores concorrentes, mas prioriza pela

viabilidade de sua recuperação.

Análise da hipótese: Do estudo procedido, compreendeu-

se que esta Lei promoveu total reformulação no instituto falimentar brasileiro,

uma vez que não visa mais pura e simplesmente regular os interesses

privatistas de devedores, credores e do erário ou punir o empresário

insolvente, pois ao preservar a função social exercida pelas sociedades

empresárias - tida hoje como a atividade econômica mais importante para o

desenvolvimento econômico e social de uma nação -, a nova Lei criou

mecanismos modernos que priorizam a manutenção das empresas viáveis, ao

invés da decretação da quebra. Como se infere, a hipótese restou confirmada.

Terceiro problema: Quais as principais inovações

advindas com a Lei nº 11.101/2005 ao instituto da Falência?

Terceira hipótese: As inovações relevantes ao instituto da

Falência são: a nova Legislação Falimentar abrange como sujeitos passivos da

Falência o empresário e a sociedade empresária; altera-se, significativamente,

a ordem de classificação dos créditos na Falência; a verificação dos créditos,

na Falência, passa a adotar procedimento diverso relativamente à lei de 1945,

ou seja, o próprio falido deve apresentar a lista de seus credores; a atual

legislação uniformizou o prazo para defesa em 10 dias, tanto na citação

pessoal quanto por edital; na Lei nº 11.101/2005 pode haver a antecipação

parcial da realização do ativo, principalmente quando a falida possuir

mercadorias deterioráveis ou de fácil desvalorização, ate o limite dos créditos

já declarados; outra inovação trazida pela Lei nº 11.101/2005 é que o período

do termo legal, que antes era de 60 dias, passou para 90 dias; o síndico, agora

pela nova Lei Falimentar, passa a se denominar de administrador judicial da

Falência; a nova Lei de Falências cria mais um órgão para auxiliar

administrativamente: a Assembléia Geral de Credores; conforme determina a

Lei nº 11.101/05, o Ministério Público somente poderá intervir facultativamente

78

no processo; por fim, pela nova Legislação, o processo de Falência atenderá

aos princípios da celeridade e da economia processual, não estipulando a Lei

qual o prazo para seu encerramento.

Análise da hipótese: Ainda que o enfoque principal da Lei

Falimentar seja os instrumentos de recuperação judicial e extrajudicial, as

principais inovações advindas com a Lei nº 11.101 de 2005 ao instituto da

Falência são resumidas nas seguintes: o processo falimentar sofreu uma

revitalização através de modificações que procuram incutir mais celeridade ao

processo, como a venda antecipada de bens; melhor otimização dos recursos;

garantir a segurança do mercado, com a nova ordem preferencial e limitação

dos créditos trabalhistas; e maior participação dos credores no processo, com

a criação de novos órgãos de administração. Como se infere, a hipótese restou

confirmada em todos os seus termos.

Desta forma, as hipóteses elencadas na introdução, ao

longo da investigação realizada, restaram confirmadas em sua totalidade.

A título de considerações finais, o assunto relativo ao

instituto da Falência à luz da Lei nº 11.101/2005 é instigante, tendo

importantes desdobramentos que não podem ser deixados de lado e que

sugerem que as pesquisas devem continuar. Em razão disto, este tema, não

só pela sua importância acadêmica mas, sobretudo, àqueles operadores do

Direito que militam nesta área, mereceu um estudo mais aprofundado nesta

monografia.

79

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS

ABRÃO, Nelson. Curso de direito falimentar. São Paulo: Saraiva, 1998.

ABRÃO, Nelson. O novo direito falimentar: Nova disciplina da crise econômica da empresa. São Paulo: Saraiva, 1999.

ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata. São Paulo: Saraiva, 2001.

ALVES, Rui Fernando Ramos. Recuperação de Empresas, Falências e Concordatas no Brasil – A realidade da recuperação de créditos. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, nº 24, p. 77-91, São Paulo, mar. 2001.

ARAÚJO, José Francelino de. Manual de falências e concordatas. Porto Alegre: Sagra-Luzzatto, 1996.

ARAÚJO, Aloísio; LUNDBERG, Eduardo. A Nova Lei de Falências – Uma Avaliação. Working paper. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 18 mar. 2006.

ARNOLDI, Paulo Roberto Colombo. Direito comercial: falências e concordatas. São Paulo: Editora de Direito, 1997.

BATALHA, Wilson de Souza Campos; BATALHA, Silvia Marian Labate. Falência e concordatas: comentários à lei de falências, doutrina, legislação e jurisprudência. São Paulo: LTr, 1996.

BEZERRA FILHO, Manoel Justino Bezerra. Nova lei de recuperação e falências comentada: Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, comentário artigo por artigo. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

BRASIL. Código comercial, código tributário nacional e código comercial. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

BRASIL. Código de processo civil. Organização de textos, notas remissivas e índices por Juarez de Oliveira. 48. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 jul. 1945. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del7661.htm>. Acesso em: 28 nov. 2005.

BRASIL. Lei nº 6.830, 28 de setembro de 1980. Dispõe sobre a Cobrança Judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília, 23 set. 1980. Disponível:

80

<http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 23 mar. 2006.

BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e a sociedade empresária. [Diário Oficial da União]. Brasília, 10 fev. 2005. Disponível: <http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 14 abr. 2006.

BRASIL. Lei Complementar nº 118, de 09 de fevereiro de 2005. Altera e acrescenta dispositivos à Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1996 – Código Tributário Nacional, e dispõe sobre a interpretação do inciso I do art. 168 da mesma lei. [Diário Oficial da União]. Brasília, 10 fev. 2005. Disponível em: <http://www1.planalto.gov.br>. Acesso em: 12 de abr. de 2006.

BULGARELLI, Waldirio. Sociedades comerciais: sociedades civis e sociedades cooperativas empresas e estabelecimento comercial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

CALDAS, Gilberto. Novo dicionário de latim forense. 5. ed. São Paulo: Leud, 1994.

CAMPINHO, Amauri. Manual de falência e concordata: comentários à Lei de falência – doutrina, prática e jurisprudência. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.

CASTRO, Alberto Farracha de. Colonialismo Jurídico e a Reforma do Direito Falimentar. Revista de Direito Mercantil, nº 12, p. 92-105, São Paulo, out/dez 2002.

COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas: (Lei nº 11.101, de 9-2-2005). 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2000.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. v. 3. 5. ed. rev. atual. de acordo com o novo Código Civil e a nova Lei de Falências. São Paulo: Saraiva, 2005.

COSTA, José Rubens. Manual de processo civil: teoria geral e ajuizamento da ação. vol. 1. São Paulo: Saraiva, 1994.

CRUZ, Carlos Alberto de Oliveira. Falência e Concordata – A Interpretação Sistemática no Direito Concursal Brasileiro. Revista Jurídica, nº 248, p. 15-29, São Paulo, jun. 1998.

DANIELI, Adilor. Limite da discricionariedade judicial e dicotomia peremptória do pedido de concordata preventiva: contribuição político-jurídica. Dissertação de Mestrado em Direito. UNIVALI/Itajaí, 2003.

DICIONÁRIO ELETRÔNICO. Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Objetiva Ltda., [2004]. 1. CD-ROM. Windows 3.1.

81

DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. v. 3. São Paulo: Saraiva, 1998.

ESTRELA, Hernani. Curso de direito comercial. 5. ed. Rio de Janeiro: Konfino, 1993.

FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas. São Paulo: Atlas, 2005.

FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Roteiro de falências e concordata. 19. ed. rev. atual. de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

GABRIEL, Sérgio. O Projeto Substitutivo da Lei de Falências. Lei de Recuperação de Empresas – Uma mudança de concepção. Jusvi. Disponível em: < http://jusvi.com/doutrinas_e_pecas/list/24>. Acesso em: 08 abr. 2006.

GRANDE, João Teixeira. A Nova Lei de Falências e Concordatas. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, nº 1, p. 35-49, São Paulo: Revista dos Tribunais, jan./jun. 1998.

GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. v. 2 (Atos processuais a recursos e processo nos tribunais). 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995.

IHERING, Rudolf von. A evolução do direito. 23. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

LACERDA, J. C. Sampaio de. Manual de direito falimentar. 14. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999.

LIMA, Alvino. A fraude no direito civil. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

LOBO, Jorge. O Moderno Direito Falimentar. Revista de Direito Mercantil, p. 85-97, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.

LOPES, Adriana. História das civilizações. v. 1. São Paulo: Ática, 1994.

LOPES, Adriana. História das civilizações. v. 2. São Paulo: Ática, 1994.

MAGALHÃES, José Hamilton do. Direito falimentar brasileiro. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1994.

MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. v. I. Atual. Ricardo Negrão. Campinas: Bookseller, 2002.

MOTTA, Walter Ramos. Falência, concordata e insolvência: sucesso na prática forense. São Paulo: Ícone, 1995.

82

OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova lei de falências. São Paulo: IOB Thomson, 2005.

OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Nova Lei de Falências: principais alterações. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 3, nº 114. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=517>. Acesso em: 12 abr. 2006.

PACHECO, José da Silva. Processo de falência e concordata. Comentários à lei de falência: doutrina, prática e jurisprudência. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

PAIVA, J. A. Almeida. Após 09/06/05 todos os bens das falências em curso já podem ser vendidos antes da formação do QGC. Advocacia Almeida & Paiva. Disponível em: < http://www.almeidapaiva.adv.br/>. Acesso em: 12 abr. 2006.

PANTOJA, Teresa Cristina. A Empresa no novo código civil: estudos na perspectiva civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 8. ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003.

PORTO, Fábio da Silva. A jurisdição no processo de falência. A teoria do ato ultra vires. Âmbito Jurídico, mar/01 [Internet]. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/aj/dcom0006.htm>. Acesso em: 20 mar. 2006.

RAMALHO, Roberto. Curso teórico e prático de falência e concordata. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1993.

REQUIÃO, Rubens. A Crise do Direito Falimentar Brasileiro: a reforma da lei de falências. Revista de Direito Mercantil, nº 14. p. 23-33, set./out. 2000.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar. v. 1. São Paulo: Saraiva, 1995.

RONCONI, Diego Richard. Falência e recuperação de empresas: análise da utilidade social de ambos os institutos. Itajaí: Univali, 2002.

SANT’ANNA, Rubens. A Falência da Empresa. Realidade Contemporânea e Perspectivas Futuras. Revista de Direito Mercantil, nº 64, p. 37-43, São Paulo, 1986.

SANT’ANNA, Rubens. Falências e concordatas. São Paulo: Aide, 1985.

SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta, objetiva e atual. Livro 1. Florianópolis: Momento Atual, 2002.

TEBET, Ramez. Parecer da Comissão de Assuntos Econômicos sobre o Projeto de Lei da Câmara nº 70, de 2003. Senado. Disponível em: <

83

http://www.senado.gov.br/web/senador/ramez/2003>. Acesso em: 10 mar. 2006.

TZIRULNIK, Luiz. Direito falimentar. 5. ed. Revista e atualizada, com Súmulas dos Tribunais Superiores. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

VALLE, José da silva. Processo de falimentar: fase pré-falencial. Rio de Janeiro: Idéia Jurídica, 1998.