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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO – SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA Sistema Sindical Brasileiro: um Estudo sobre a Legalidade das Centrais Sindicais Monografia apresentada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí. ACADÊMICA VIVIANE DE SOUZA PHILIPPI São José (SC), maio de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE EDUCAÇÃO – SÃO JOSÉCURSO DE DIREITOCOORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

Sistema Sindical Brasileiro: um Estudo sobre a Legalidade das Centrais Sindicais

Monografia apresentada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí.

ACADÊMICA VIVIANE DE SOUZA PHILIPPI

São José (SC), maio de 2008

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE EDUCAÇÃO – SÃO JOSÉCURSO DE DIREITOCOORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

Sistema Sindical Brasileiro: um estudo sobre a legalidade das Centrais Sindicais

Monografia apresentada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí, sob a orientação de conteúdo da professora Dirajaia Esse Pruner.

ACADÊMICA VIVIANE DE SOUZA PHILIPPI

São José (SC), maio de 2008

Meus Agradecimentos:

A Deus, que meu caminho iluminou, que saúde me proporcionou e pela paz de espírito que tive para superar todos os obstáculos.

Àqueles de quem herdei, acima de tudo, a força de vontade e capacidade de ver no estudo uma forma de enobrecer a existência humana: meus pais: Jaime e Terezinha.

Às minhas irmãs, que me ajudaram, incentivaram, deram muito apoio.

Ao meu namorado, Israel, por todo amor, paciência, compreensão, amizade e atenção dispensados em todos os momentos.

À Professora Dirajaia, por atender ao convite de ser minha orientadora, pela amizade durante a elaboração do presente trabalho, e pela contribuição a essa pesquisa.

E, finalmente, a todos os demais que participaram, direta ou indiretamente, da minha vida durante esta importante etapa.

2

Dedico este trabalho:

Aos meus pais, os quais, por toda a minha

vida, me incentivaram pela procura do

conhecimento, pelo apoio irrestrito, prestado a

todas as minhas decisões e pelas constantes

demonstrações de que, com perseverança, se

atinge a plenitude da vitória, e, por fim, ao

grande amor deles, no qual fui criada.

3

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Fernando Pessoa

4

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Viviane de Souza Philippi, sob o título SISTEMA SINDICAL BRASILEIRO: UM ESTUDO SOBRE A LEGALIDADE DAS CENTRAIS SINDICAIS, foi submetida em ___ de ___________ de 2008 à Banca Examinadora composta pelos seguintes Professores: MSc. Dirajaia Esse Pruner (Orientadora e Presidente da Banca), _________ (Membro) e __________________ (Membro) e aprovada com a nota 0,00 (_________).

São José (SC), ____ de ____________ de 2008.

Prof. MSc. Antônio Augusto LapaCoordenação de Monografia

Profa. MSc. Dirajaia Esse PrunerUNIVALI – Itajaí

Orientadora

Prof. (Membro)

Prof. (Membro)

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DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

São José (SC), ____ de ______________ de 2008.

Viviane de Souza PhilippiGraduanda

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LISTA DE ABREVIATURAS

CAT Coordenação Autônoma de Trabalhadores

CCT Coordenação Confederativa de Trabalhadores

CGT Confederação Geral dos Trabalhadores

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CNTI Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias

CNTTT Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Terrestres

CNTEEC Confederação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações

CNPL Confederação Nacional dos Profissionais Liberais

CNTA Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação

CONTRATUH Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade

CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas

CNES Cadastro Nacional de Entidades

CSD Central Social Democrática Sindicais

Constituição também será denominada de Constituição Federal; Carta; Constituição da República; Lei Maior

Coord. Coordenação

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CUT Central Única dos Trabalhadores

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

EUA Estados Unidos da América

FMI Fundo Monetário Internacional

FSDS Frente Social Democrata de Sindicatos

FS Força Sindical

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

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n. número

OIT Organização Internacional do Trabalho

PCB Partido Comunista Brasileiro

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

SDS Social Democracia Sindical

STF Supremo Tribunal Federal

USI União Sindical Independente

8

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................ 10 RESUMÉN .............................................................................................. 11 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 12 CAPÍTULO 1 .......................................................................................... 16 LIBERDADE SINDICAL ......................................................................... 16 1.1 BREVE RESENHA HISTÓRICA DA LIBERDADE SINDICAL NO MUNDO ............. 16 1.2 BREVE RESENHA HISTÓRICA NO BRASIL .................................. 19 1.3 O PRINCÍPIO DA LIBERDADE SINDICAL .................................. 23 1.4 SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO SINDICAL ................................... 28

1.4.1 Unicidade Sindical .............................................................................................. 28 1.4.2 Pluralidade Sindical ............................................................................................ 30 1.4.3 Unidade Sindical ................................................................................................ 32 CAPÍTULO 2 .......................................................................................... 34 ORGANIZAÇÃO SINDICAL BRASILEIRA ............................................ 34 2.1 O SISTEMA CONFEDERATIVO ........................................... 34

2.1.1 Base Territorial ................................................................................................... 35 2.1.2 Categoria ............................................................................................................ 35 2.2 ENTIDADES SINDICAIS ................................................ 37

2.2.1 Sindicato ............................................................................................................. 38 2.2.2 Federação e Confederação ............................................................................... 39 2.3 NATUREZA JURÍDICA DAS ENTIDADES SINDICAIS .......................... 41 2.4 CRIAÇÃO DAS ENTIDADES SINDICAIS .................................... 43 2.5 REGISTRO DAS ENTIDADES SINDICAIS ................................... 44 2.6 RECEITA DAS ENTIDADES SINDICAIS .................................... 47

2.6.1 Contribuição sindical .......................................................................................... 47 2.6.2 Contribuição Confederativa ................................................................................ 50 CAPÍTULO 3 .......................................................................................... 51 CENTRAIS SINDICAIS .......................................................................... 52 3.1 CONSENSO DE WASHINGTON ............................................. 52 3.2 BREVE HISTÓRICO DA CENTRAIS SINDICAIS .............................. 55 3.3 CARACTERÍSTICAS .................................................... 58 3.4 DA REGULARIZAÇÃO DAS CENTRAIS SINDICAIS ........................... 61 3.5 NATUREZA JURÍDICA DAS CENTRAIS SINDICAIS ........................... 62 3.6 CRIAÇÃO ............................................................ 63 3.7 FUNCIONAMENTO ...................................................... 64

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 70 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ............................................... 76

9

RESUMO

Tendo em vista o respeito ao princípio da unicidade sindical, que se insere no

âmbito do Direito Sindical brasileiro, este trabalho destina-se a demonstrar que a

previsão legal da unicidade sindical é ineficiente, posto que as entidades sindicais

possuem, pela Constituição Federal, legitimidade para lutar por melhores condições

para a categoria que representam. Com este propósito, fez-se uso do método de

investigação dedutivo. Como resultado da pesquisa, concluiu-se que a liberdade

sindical tem sido discutida no mundo desde 1919, quando da criação da

Constituição da OIT, na qual previa, em seu preâmbulo, a afirmação de tal instituto,

que era um dos objetivos a ser alcançado. Já no sistema do sindicalismo brasileiro,

a liberdade sindical é sufocada pelo sistema corporativista, ao prever a unicidade

sindical, a categoria definida em lei, a base territorial mínima. O sistema da

unicidade é totalmente incompatível com a liberdade sindical porque importa em

negar a livre escolha de filiação. As entidades sindicais, no Brasil, organizam-se com

base no sistema confederativo. Referido sistema é uma estruturação vertical (por

ramo e grupo de categorias), representada graficamente por uma pirâmide que

agrega, como entidade de base, o sindicato e, posteriormente, as entidades de grau

superior, como as federações e confederações. A CRFB/88 pretendeu implantar a

liberdade sindical; todavia, não o fez de forma ampla, em razão de continuar a

consagrar, em seu art.8°, II, a unicidade sindical. Desse modo, vedou a criação de

mais de uma organização sindical, em qualquer grau, preservando o sistema

confederativo hierarquizado. Assim, negou-se, de forma indireta, mas taxativa, a

possibilidade de incorporação das centrais sindicais à estrutura sindical brasileira.

Porém, com a aprovação da Lei 11.648/2008, as centrais foram formalmente

regularizadas como entidades gerais de representação dos trabalhadores e

passaram a receber uma parcela de 10% do total da contribuição sindical. No

entanto, o sistema sindical brasileiro continua sendo o confederativo, pois não foi

alterado o texto constitucional em seu artigo 8°, II, no qual prevê a unicidade

sindical.

Palavras-chave: Legalidade. Unicidade. Liberdade Sindical. Centrais Sindicais.

10

RESUMÉN

Teniendo en vista el respeto al principio de la unicidad sindical, que cae

dentro del Derecho Sindical brasileño, este trabajo se destina a demostrar que la

previsión legal de la unicidad sindical es ineficiente, ya que coexisten en el escenario

nacional entidades que respetan los dictados de unicidad y entidades que no

atienden a sus requisitos. Con este propósito, se hizo uso del método de

investigación deductiva. Como resultado del estudio, se concluyó que la libertad

sindical se ha discutido en el mundo desde 1919, en la creación de la Constitución

de la OIT, en la que se preveía, en su preámbulo, la afirmación de tal instituto, que

era uno de los objetivos a ser alcanzados. Ya en el sistema de sindicalismo

brasileño, la libertad sindical es asfixiada por el sistema corporativista, al prever la

unicidad sindical, la categoría definida en ley, la base territorial mínima. El sistema

de unicidad es totalmente incompatible con la libertad sindical porque niega la libre

elección de miembros. Las entidades sindicales, en el Brasil, se organizan con base

en el sistema confederativo. Este sistema es una estructuración vertical (por ramo y

grupo de categorías), representada gráficamente por una pirámide que agrega como

entidad base el sindicato y posteriormente las entidades de grado superior, como las

federaciones y confederaciones. La CRFB/88 pretendió implantar la libertad sindical;

sin embargo, no lo hizo de forma amplia, en razón de continuar y consagrar, en su

Art. 8°, II, la unicidad sindical. De esta manera, prohibió la creación de mas de una

organización sindical, en cualquier grado, preservando el sistema confederativo

jerarquizado. Así, se negó de forma indirecta, pero taxativa, la posibilidad de

incorporación de centrales sindicales a la estructura sindical brasileña. Sin embargo,

con la aprobación de la Ley 11.648/2008, las centrales fueron formalmente

regularizadas como entidades generales de representación de los trabajadores y

pasaron a recibir una parcela de 10% del total de la contribuición sindical. No

obstante, el sistema sindical brasileño continua siendo el confederativo, pues no fue

modificado el texto constitucional en su Art. 8°, II, en el cual prevé la unicidad

sindical.

Palabras clave: Legalidad. Unicidad. Libertad Sindical. Centrales Sindicales.

11

INTRODUÇÃO

O objetivo institucional da presente pesquisa é produzir uma monografia para

a obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, Campus de São José.

O presente trabalho tem, como tese nuclear, a busca do conhecimento sobre

o respeito ao princípio da unicidade sindical, que se insere no âmbito do Direito

Sindical brasileiro.

A justificativa da escolha do tema consubstancia-se no fato de que as

entidades sindicais possuem, pela Constituição Federal, legitimidade para lutar por

melhores condições para a categoria que representam. Desta forma, estes entes

têm significativa importância para os trabalhadores, tendo em vista que suas

conquistas possuem ligação direta com as melhorias de vida dos trabalhadores.

Assim, uma pesquisa monográfica que propõe estudar uma nova forma de

organização destas entidades, com o reconhecimento legal de algumas instituições

de destaque, como as centrais sindicais, prova sua justificativa social.

A partir da vigência da Carta Maior de 1988, instaura-se um marco

institucional com o reconhecimento no seu art. 8º, da liberdade sindical e da

autonomia frente ao Estado; porém, os sindicatos foram obrigados a cumprirem

algumas restrições, entre elas, a da unicidade sindical, a sindicalização por categoria

e a base territorial mínima e há não interferência do Estado na organização e

administração nos sindicatos.

A despeito das boas intenções do Constituinte de 1988, que visa estabelecer

um regime de efetiva democracia sindical, ao proclamar a liberdade de associação,

ao proibir a intervenção do Estado na concessão de autorizações prévias para a

fundação de sindicatos, ao garantir a autonomia das entidades de classe, ao

conceder ao sindicato amplo poder de representação, e assim por diante, ele

esbarra em duas normas adotadas pela própria Constituição Federal, que afrontam

a democracia sindical, ao estabelecer a unicidade sindical e a contribuição sindical.

Dessa forma, a unicidade sindical representa uma violação aos princípios

democráticos e, mais especificamente, da liberdade sindical, ao impedir que os

trabalhadores de determinada categoria tenham a livre escolha de qual sindicato se

filiarem, pois a liberdade sindical significa a não interferência do Estado na

12

organização e administração dos sindicatos, a liberdade de escolher qual sindicato

se filiar, qual o modelo sindical a ser seguido e, principalmente, a liberdade para

criar novos sindicatos, segundo critérios que devem ser estabelecidos pelos

próprios.

É certo que a liberdade sindical causa uma importante e saudável competição

entre as entidades, ao evitar a acomodação de lideranças sindicais, advinda da

exclusividade de representação classista. Com isto, a maioria dos sindicatos

nacionais encontra-se num estado de paralisia que apenas beneficia o lado mais

forte da relação de emprego. Como se pode perceber, isto é resultado da unicidade

sindical, que causa um comodismo de seus dirigentes, apenas preocupados em

manter a prerrogativa da estabilidade, que tem causado um desvio de finalidade

desse instituto.

E, na atual conjuntura, onde as práticas sindicais são mais defensivas do que

reivindicativas, e a fragilidade da relação de emprego tem provocado a debilidade do

movimento associativo, os vários sindicatos existentes, porém, pouco atuantes, com

a construção de um sistema constitucional pluralístico realizariam uma revolução, já

que deveriam cuidar melhor dos interesses de seus associados, pois estes poderiam

trocar por outro mais atuante.

E, além do mais, não é pelo fato de se impor a possibilidade de sindicalização

a apenas um sindicato, que se vai conseguir a união de forças. Pelo contrário,

encontra-se sindicatos divididos, o que leva a grande parcela de uma determinada

profissão a se ausentar da vida sindical; encontra-se a criação de entidades

sindicais, as quais não possuem registro sindical, ou seja, não possuem

personalidade de entidade sindical, mas atuam como tal, possuindo legitimidade

concedida pelo grande número de pessoas que a elas se filiam.

Se há um órgão que deva representar os trabalhadores, é evidente que este

órgão deve ser o mais representativo; representatividade esta decorrente da

preferência que estes trabalhadores lhe dêem; e que os sindicatos trabalhem com

êxito na promoção dos interesses e na defesa dos direitos de seus representados.

Diante de todas essas circunstâncias, o que se espera é que a democracia

chegue ao âmbito do sindicalismo, pois não se justifica mais o modelo vigente da

unicidade sindical. Sendo certo que a pluralidade sindical não enseja só a

concorrência entre os sindicatos, mas, principalmente, a solução da questão da

representatividade, em contraponto à inércia em que se encontra o modelo atual.

13

Nesse contexto, e mediante o amparo da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 e das legislações infraconstitucionais, coloca-se a

seguinte pergunta de pesquisa, a qual norteia o desenvolvimento do trabalho: “A

unicidade prevista na Constituição Federal é absolutamente aplicada?”

Para responder a esse questionamento, elaborou-se a seguinte hipótese:

A unicidade prevista na Constituição Federal, acredita-se ser absolutamente

aplicada por aquelas entidades que possuem Registro Civil de Pessoa Jurídica, que

atribui, à entidade, personalidade jurídica civil, além do obrigatório Registro no

Ministério do Trabalho e Emprego, que é o órgão competente para atribuir à

entidade personalidade jurídica sindical.

Entretanto, acredita-se que a unicidade prevista na Constituição Federal não

é absolutamente aplicada por aquelas entidades sindicais que não respeitam o

princípio previsto na Constituição Federal, mas que logram de legitimidade em

virtude do grande número de filiados, vindo a estabelecer um novo parâmetro para a

estruturação do sistema sindical brasileiro, onde está no caminho a liberdade

sindical autêntica, alicerçada sobre o pluralismo associativo.

Como objetivo geral, dedica-se a demonstrar que a previsão legal da

unicidade sindical é ineficiente. No tocante aos objetivos específicos, elaborou-se os

seguintes:

1. Analisar a organização sindical brasileira;

2. Verificar como as entidades sindicais conseguem o registro sindical e assim

legalizam sua existência;

3. Estudar as centrais sindicais como entes que possuem legitimidade e não

legalidade para atuar como entes sindicais.

No desenvolvimento deste trabalho, adota-se o método dedutivo, ou seja,

aquele que procede do geral para o particular, do princípio para a conseqüência,

cujo objetivo é “estabelecer uma formulação geral e, em seguida, buscar as partes

do fenômeno de modo a sustentar a formulação geral”.1

No que diz respeito à investigação, são utilizados documentos como fonte

primária e secundária. Desta maneira, foram consultados livros, documentos

eletrônicos e a legislação que preceitua sobre a matéria.

1 PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. OAB/SC, 2001, p. 87.

14

Cabe mencionar que o rol de categorias e conceitos operacionais estão

listados, no início deste trabalho, onde os conceitos operacionais das categorias têm

a opção de estar contidos na introdução ou no decorrer do trabalho. Pretende-se,

com isso, estabelecer um acordo semântico em torno das palavras utilizadas,

permitindo, assim, uma melhor compreensão das idéias expostas no conjunto da

pesquisa.

Para beneficiar o desenvolvimento do presente estudo, o percurso teórico

realizado foi distribuído em três capítulos, e estes em subcapítulos, fazendo com que

a abordagem da temática proposta siga uma seqüência lógica.

Para tanto, discorre-se, no primeiro capítulo, sobre a liberdade sindical, em

que foram fixados os momentos históricos da evolução deste instituto, subdividindo-

os em dois itens: o primeiro trata da evolução história da liberdade sindical no

mundo e o segundo apresenta a evolução histórica no Brasil.

Neste capítulo, ainda, apresenta-se um breve panorama em relação ao

princípio da unicidade sindical, bem como dos sistemas de organização sindical, que

abrange: a unicidade sindical, a pluralidade sindical e a unicidade sindical.

No segundo capítulo, o assunto tratado refere-se ao estudo da organização

sindical brasileira. Em um primeiro momento, aborda-se a questão do sistema

confederativo, para, em seguida, discorrer-se sobre a base territorial, seguida da

categoria e das entidades sindicais, este abrangendo o sindicato, a federação e

confederação.

Este capítulo também analisa a natureza jurídica das entidades sindicais,

evoluindo o estudo na busca da compreensão da criação das entidades sindicais,

bem como de seu registro, finalizando-se com questões pertinentes às receitas das

entidades sindicais.

O terceiro capítulo abordou a questão das Centrais Sindicais, iniciando-se

pelo estudo do Consenso de Washington, seguido da apresentação de um breve

histórico das Centrais Sindicais, assim como de suas características, da

regularização das mesmas, da natureza jurídica, da criação e do seu funcionamento.

Encerra-se o trabalho com a Conclusão, na qual foram apresentados pontos

essenciais destacados no decorrer da pesquisa, seguidos da estimulação à

continuidade dos estudos e das reflexões sobre a unicidade sindical prevista na

Constituição frente ao sistema pluralístico.

15

CAPÍTULO 1

LIBERDADE SINDICAL

Neste capítulo, não se pretende apresentar o tema de forma extensa, mas

apenas fixar, dentro da História, a evolução da liberdade sindical. Para isso, foi

dividido o tema em dois itens: a evolução histórica da liberdade sindical no mundo e

no Brasil, partindo do geral para o particular, ou seja, primeiro apreciando o tema

sob o prisma no mundo para, depois, apreciar no Brasil.

1.1 BREVE RESENHA HISTÓRICA DA LIBERDADE SINDICAL NO MUNDO

O objetivo deste tópico é apontar as origens da liberdade sindical, tentando

montar seu conceito, bem como descrever os principais acontecimentos que

levaram os trabalhadores a adquirirem tal liberdade.

O texto original da Constituição da Organização Internacional do Trabalho2,

aprovado pela Conferência da Paz, em 1919, ao término da Primeira Guerra

Mundial, já previa, em seu preâmbulo, a afirmação do princípio genérico da

liberdade sindical, que era um dos objetivos a ser alcançado.3

Esse princípio foi reafirmado em 10 de maio de 1944, quando a Conferência

Geral da OIT, reunida na Filadélfia, aprovou um texto que redefiniu as finalidades e

os objetivos da organização, o qual ficou conhecido como a Declaração de

Filadélfia.4

No item I, alínea “b”, da referida Declaração, o princípio da liberdade sindical

era reafirmado como um de seus postulados: “a liberdade de expressão e a de

associação são essenciais à continuidade do progresso”.5

2 A Organização Internacional do Trabalho é uma agência especializada da ONU (Organização das Nações Unidas), cuja finalidade primordial reside em uma ação legislativa internacional sobre questões de trabalho, com tríplice justificação, a saber: a) política (assegurar bases sólidas para a paz universal); b) humanitária (denunciar condições de trabalho que gerem injustiça, miséria e privações); e c) econômica (em relação à concorrência internacional). (Cf. ALKMIM, Edilson. (tradutor). A Liberdade Sindical. São Paulo: LTr, 1994, p . 2).3 Cf. ROMITA, Arion Sayão (Coord.). Sindicalismo. São Paulo: LTr, 1986, p 83.4 Cf. ROMITA, Arion Sayão. (Coord.) Sindicalismo. São Paulo: LTr, 1986, p 83.5 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 614.

16

Da mesma forma, no item III, alínea “e”, da Declaração de Filadélfia, estavam

os postulados que visavam:o efetivo reconhecimento do direito da negociação coletiva, a cooperação entre os empregadores e trabalhadores para o contínuo melhoramento da eficiência produtiva, e a colaboração de trabalhadores e empregadores na preparação e aplicação de medidas sociais e econômicas.6

Em 9 de julho de 1948, foi realizada a Conferência Geral da OIT, na cidade de

São Francisco, nos Estados Unidos, da qual foi adotada uma convenção que trata

de liberdade sindical e da proteção do direito sindical. Tal Convenção veio a ter o

número 877, denominada convenção sobre Liberdade Sindical e a Proteção do

Direito Sindical. Esta norma é a que traça os principais parâmetros a respeito de

liberdade sindical.8

Numa apreciação resumida sobre os pontos de maior relevância, ressaltam

quatro garantias sindicais universais, que proclamam: a de fundar entidades

sindicais; administrar as entidades sindicais, garantir a atuação das entidades

sindicais; e a de assegurar o direito de se filiar ou não a uma entidade sindical. É

conveniente aduzir que o Brasil não ratificou esta Convenção.9

A primeira garantia prevê o direito de constituir, sem necessidade de prévia

autorização do Estado, entidades sindicais, julgadas convenientes pelos

trabalhadores ou empregadores. A segunda faculta às entidades sindicais o direito

de redigir os próprios estatutos e regulamentos administrativos, de eleger seus

respectivos representantes. A terceira é uma garantia contra a extinção ou a

suspensão das entidades sindicais pelo Estado. A quarta assegura o direito das

associações sindicais de filiar-se às organizações internacionais.10

A liberdade sindical prevista pela Convenção implica o direito de determinar a

estrutura, composição e a organização das entidades sindicais. Fundamenta-se no

princípio da democracia, pois a liberdade sindical não pode coexistir com a proibição

da livre organização pelos grupos, segundo suas deliberações.11

6 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 614.7A Convenção 87 é considera pela OIT o mais importante texto já aprovado por seus dirigentes. Esta Convenção assegura o exercício da liberdade sindical em face do Estado. (Cf. PEREIRA, Armand (organizado). Reforma sindical e negociação coletiva. Brasília: OIT, 2001, p. 23).8 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 614.9 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 97.10 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.97-98.11 Cf. BARBOSA, Renato Lima; BESSA, César. Alguns aspectos da democracia interna sindical. Revista LTr. Vol. 69, n°12, dezembro de 2005, p.1.466.

17

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembléia

Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, em Paris – França, e

assinada pelo Brasil no mesmo ano, também trata a respeito da liberdade sindical ao

prescrever, em seu artigo XXIII, n. 4, in verbis: “Todo homem tem direito a organizar

sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses”.12

O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, adotado

pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, em Nova

York - EUA, com vigência a partir de 3 de janeiro de 1976, foi ratificado pelo Brasil,

em 24 de janeiro de 1992, bem como o Pacto sobre Direitos Civis e Políticos,

adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966,

com vigência a partir de 23 de março de 1976.13

Na verdade, tais Pactos Internacionais adaptam quase que integralmente as

disposições da Convenção n. 87, da OIT, sobre liberdade sindical e proteção aos

direitos sindicais. O artigo 8° do Pacto sobre Direitos Econômicos, Sociais e

Culturais dispõe que os Estados-partes comprometem-se a garantir:a) o direito de toda pessoa de fundar, com outras, sindicatos e filiar-se ao sindicato de sua escolha, sujeitando-se unicamente aos estatutos da organização interessada, com o objetivo de promover e de proteger seus interesses econômicos e sociais. O exercício desse direito só poderá ser objeto das restrições previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades alheias;b) o direito dos sindicatos de formar federações ou confederações nacionais e os direitos destas de formar organizações sindicais internacionais ou de filiar-se às mesmas;c) o direito dos sindicatos de exercer livremente suas atividades, sem quaisquer limitações além daquelas previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger os direitos e liberdades das demais pessoas;d) o direito de greve, exercido de conformidade com as leis de cada país.14

Resulta, assim, que os Estados-partes do Pacto Internacional de Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais, incluindo-se o Brasil, comprometem-se a garantir o

direito de toda pessoa de filiar-se à entidade sindical de sua escolha, sujeitando-se

unicamente aos estatutos da organização interessada, com o objetivo de promover e

de proteger seus interesses econômicos e sociais, observadas as restrições

12 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p.614.13 Cf. SIQUEIRA NETO, José Francisco. Liberdade sindical e representação dos trabalhadores nos locais de trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 72.14 SIQUEIRA NETO, José Francisco. Liberdade sindical e representação dos trabalhadores nos locais de trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 73.

18

previstas em lei que sejam necessárias ao interesse da segurança nacional ou da

ordem pública.15

Também merece destaque a Convenção 98, a qual dispõe sobre a aplicação

dos princípios do direito de sindicalização e de negociação coletiva, ao dispor que

“os trabalhadores deverão gozar de adequada proteção contra todo ato de

discriminação tendente a menoscabar a liberdade sindical em relação com seu

emprego”.16

A diferença entre a Convenção 87 e a 98 reside no fato de que esta protege

os trabalhadores contra atos de ingerência ou de discriminação anti-sindical por

parte dos empregadores; ao passo que aquela protege os trabalhadores contra

ingerências ilegais e abusivas do Poder Público.17

Estas duas Convenções instituem as bases para se conceber o verdadeiro

regime de liberdade sindical e constituem, junto com as Convenções ns. 29 e 105

(proibição do trabalho forçado), 100 e 111 (igualdade de remuneração e proibição de

discriminação) e 138 (erradicação do trabalho infantil), o conjunto de normas

fundamentais em matéria de direitos humanos.18 Como se verifica, a liberdade

sindical é um direito básico defendido pela OIT.19

Assim sendo, pode-se verificar que, desde 1919, se fala em liberdade sindical

no mundo.

Cumpre, desse modo, discorrer sobre a evolução histórica da liberdade

sindical no Brasil, conforme se pode apreciar no tópico a seguir.

1.2 BREVE RESENHA HISTÓRICA NO BRASIL

De início, é muito importante indagar a evolução da liberdade sindical no

sistema brasileiro, na medida em que o exame do contexto histórico, social e

15 Cf. GOMES, Dinaura Godinho Pimentel. A necessidade da reforma sindical à luz da Constituição Federal e dos Tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil. Revista LTr. Vol. 68, no 7, julho de 2004, p. 816.16 AZEVÊDO, Jackson Chaves de. Curso de direito do trabalho. São Paulo: Ltr, 2001, p. 302.17 GIUGNI, Gino. Direito Sindical, p. 47-48 (apud GUARNIERI, Bruno Marcos. Liberdade sindical: necessidade de reforma constitucional como imperativo de uma organização sindical democrática. São Paulo: LTr, 2002, p. 31).18 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 79.19 Cf. LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p.121.

19

político, em cada uma de suas fases, revela-se fundamental para a correta

compreensão do instituto.

Durante o período colonial, iniciado em 1822 e findo em 1889, não havia

referência à liberdade sindical, posto que o regime de trabalho adotado no país era a

escravidão; talvez por este motivo é que a Constituição Imperial tenha apenas feito

referência à garantia de inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos

brasileiros.20

Com o advento da primeira Carta Republicana, em 1891, foi assegurado o

direito de associação e de reunião em seu artigo 72, parágrafo oitavo, no qual

dispunha que “a todos é lícito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas;

não podendo intervir a polícia, senão para manter a ordem pública”.21 Portanto,

verifica-se uma idéia de garantia de associação sindical.

Nesse período, já existiam sindicatos, que se denominavam ligas operárias,

surgidas por volta de fins do século XIX e começo de 1900, com a influência de

trabalhadores estrangeiros que vieram a prestar serviços em nosso país. Os

primeiros sindicatos que foram criados no Brasil contam de 1903; eram ligados à

agricultura e à pecuária, reconhecidos pelo Decreto n. 979, de 6 de janeiro de

1903.22

O Decreto n. 979 possibilitou que os profissionais da agricultura e indústrias

rurais organizassem sindicatos para o estudo, custeio e defesa de seus interesses.

O Decreto n. 1.637, de 5 de junho de 1907, criou as sociedades corporativas,

facultando a qualquer trabalhador, inclusive de profissões liberais, associar-se aos

sindicatos, com o objetivo de estudo e defesa dos interesses da profissão e de seus

membros.23

Mascaro Nascimento acentua ter o decreto garantido o direito de acesso e

saída dos indivíduos dos sindicatos (liberdade sindical individual) e seu caráter

assistencial, com a criação de cooperativas de crédito e vendas dos seus produtos.24

20 Cf. FREDIANI, Yone; ZAINAGHI, Domingos Sávio (coord.). Relações de direito coletivo Brasil – Itália. São Paulo: LTr, 2004, p. 47.21 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 622.22 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 622.23 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 622.24 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 60.

20

O movimento sindical alcança dimensão nacional com o 1° Congresso

Operário Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro, em 1906, quando é fundada a

Confederação Sindical Brasileira. Em 1907, surge o primeiro sindicato urbano.25

A partir de 1930, inicia-se um novo período para o sindicalismo, no Brasil, de

traços marcantes até hoje. Do ponto legislativo, esse período começa com o Decreto

n. 19.770, de 19 de março de 1931, que implantou a estrutura rígida, no tocante à

organização sindical, que se distancia de um modelo de liberdade sindical.26

Além do mais, estabeleceu a sindicalização por categoria, estruturou o

sistema confederativo, transformando o sindicato em órgão de colaboração com o

Estado, negou-lhe função política e lhe deu função assistencial.27

Luiz Werneck Vianna expõe que, na nova ordem estabelecida, deveria o

sindicato atuar como amortizador dos conflitos trabalhistas, colaborando com o

Estado, que passava a deter um rígido controle das entidades sindicais.28

A Constituição de 1934 usava a expressão pluralidade sindical. O artigo 120

mencionava que “os sindicatos e associações profissionais serão reconhecidos de

conformidade com a lei.” O parágrafo único do mesmo artigo trazia que “a lei

assegurará a pluralidade sindical e a completa autonomia dos sindicatos”.29

Este modelo foi de curtíssima duração, por força da implantação, por Getúlio

Vargas, de um regime conhecido como Estado Novo, a saber, em 1937. Diante

25 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 622.26 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 62.27 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 62.28 VIANNA, Luiz Wernek (apud BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 62).29 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 623.

21

desse novo modelo, voltou então, a unicidade sindical e toda a ostentação do

corporativismo que vem caracterizando o nosso modelo sindical atual.30

A Constituição de 1946, que se estendeu até 1964, não trouxe nenhuma

alteração significativa com referência ao sistema oriundo do Estado Novo,

preservando a mesma organização sindical.31

Durante o regime militar, implantado no país no período de 1964 a 1985,

embora mantida a organização até então vigente, o sistema sindical passou por

sensíveis alterações, pois o regime autoritário reprimiu os movimentos coletivos dos

trabalhadores em geral, com cassação e prisão de inúmeros líderes sindicais. A

intenção dos governos militares era controlar o movimento sindical, não destruí-lo.32

Nos anos que se seguiram, o pleito popular, visando à redemocratização do

País, tomou proporção vultosa, surgindo nesse período as centrais sindicais, que

passaram a exercer importante papel junto aos movimentos trabalhistas em geral.33

Por fim, o último marco concreto do sistema sindical brasileiro é a

promulgação da Constituição Federal de 1988. Esta, atendendo aos reclamos dos

que buscavam menos interferência do Estado nas organizações sindicais, concede

liberdade, de forma autônoma, para a administração interna dessas entidades, além

de impedir a interferência e a intervenção do Estado.34

Entretanto, pouco mudou no sistema do sindicalismo brasileiro, pois, ao lado

dessas liberdades concedidas, são mantidas as bases do sistema corporativista: a

unicidade sindical, a categoria definida em lei, a base territorial mínima, além de

outras restrições de um regime de liberdade sindical35 (esses conceitos serão vistos

no capítulo 2).

30 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 63.31 Cf. FREDIANI, Yone; ZAINAGHI, Domingos Sávio (coordenação). Relações de direito coletivo Brasil – Itália. São Paulo: LTr, 2004, p. 48.32 Cf. FREDIANI, Yone; ZAINAGHI, Domingos Sávio (coordenação). Relações de direito coletivo Brasil – Itália. São Paulo: LTr, 2004, p. 48.33 Cf. FREDIANI, Yone; ZAINAGHI, Domingos Sávio (coordenação). Relações de direito coletivo Brasil – Itália. São Paulo: LTr, 2004, p. 4834 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 66.35 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 66-67.

22

1.3 O PRINCÍPIO DA LIBERDADE SINDICAL

O termo liberdade apresenta diversos significados, o que poderá dificultar o

estudo acerca do que seja liberdade sindical.

Assim, primeiramente, deve-se verificar o significado gramatical da palavra

liberdade, que, para Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, encontram-se os

seguintes significados:LIBERDADE. [Do lat.libertate] 1. Faculdade de cada um de se decidir ou agir segundo a própria determinação: Sua liberdade, ninguém a tolhia. 2.Poder de agir, no seio de uma sociedade organizada, segundo a própria determinação, dentro dos limites impostos por norma definidas: liberdade civil; liberdade de imprensa; liberdade de ensino. 3. Faculdade de praticar tudo quanto não é proibido por lei.36

Mas poderia argumentar que se está partindo de uma concepção leiga do que

seja liberdade sindical. Para contrapor esta argumentação, veja-se o significado de

um dicionário técnico-jurídico a respeito do termo “Liberdade” e “Liberdade Sindical”.

O Dicionário Jurídico da Academia Brasileira de Letras Jurídica apresenta:LIBERDADE. S.f. (Lat.libertas) Faculdade que tem cada um de agir em obediência apenas a sua vontade. OBS. Este conceito lato sofre restrições no estádio do homem coletivizado, sendo peculiar tão-somente ao estádio da horda.LIBERDADE SINDICAL. Dir. Trab. Conjunto de preceitos de âmbito internacional, asseguradores, a todo trabalhador, da faculdade de, sem autorização prévia, constituir as organizações julgadas convenientes à defesa de seus interesses e filiar-se a elas, com a única condição de observância de seus estatutos. CF, art. 8o., OIT, Conv.87/1948 e 98/1949.37

Voltando, no entanto, ao tema de estudo, verifica-se, inicialmente, que

construir o significado da expressão liberdade sindical implica em “montar um corpo

de regras que garantam aos trabalhadores (e, conseqüentemente, aos sindicatos) a

viabilização da luta coletiva em busca dos interesses da coletividade”.38

Para Alice Monteiro de Barros, a liberdade sindical constitui o “alicerce sobre

o qual se constrói o edifício das relações coletivas de trabalho com características

próprias”; ela se “sobrepõe ao indivíduo isolado e implica em restrições à liberdade

36 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986, p.1028 (apud PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Pluralidade sindical e democracia. São Paulo: LTr, 1997, p. 29-30).37 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS JURÍDICAS. Dicionário Jurídico. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995, p.465/466 (apud PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Pluralidade sindical e democracia. São Paulo: LTr, 1997, p.30).38 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Pluralidade sindical e democracia. São Paulo: LTr, 1997, p. 32.

23

individual, quando submete esse homem isolado à deliberação do homem-massa

que é a assembléia”.39

Por sua vez, para que haja liberdade sindical efetiva, é necessário a

existência de um ordenamento jurídico que viabilize o exercício da liberdade sindical

sem qualquer tipo de restrição, seja em relação à organização, seja em relação à

negociação coletiva e também em relação ao direito de greve, consoante o

entendimento do doutrinador Siqueira Neto.40

Portanto, o conceito de liberdade sindical nada mais é do que uma junção de

várias liberdades, as quais estão previstas nas Convenções da OIT e tratam sobre

os seguintes assuntos:

a) n.87 – liberdade sindical e a proteção ao direito sindical.41

b) n.98 – aplicação dos princípios do direito de sindicalização e de negociação

coletiva.42

c) n.135 – proteção e facilidades aos representantes dos trabalhadores.43

d) n.141 – organização de trabalhadores rurais e seu papel no

desenvolvimento econômico social.44

e) n.151 – proteção ao direito de sindicalização e relações de trabalho no

serviço público.45

f) n.154 – sobre negociação coletiva.46

Essas liberdades, conforme dispõe José Cláudio Monteiro de Brito Filho, são:

liberdade sindical coletiva e liberdade sindical individual. A liberdade sindical coletiva

39 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p .1157.40 Cf. SIQUEIRA NETO, José Francisco. Liberdade sindical e representação dos trabalhadores nos locais de trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 81.41 Atualmente ratificada por mais de cem Estados-membros, dentre os quais não se inclui o Brasil, ao passo de o Brasil ter sido um dos signatários. (LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p.124).42 Ratificada pelo Brasil em 18.11.52 com vigência interna a partir de 18.11.53 (Decreto n.33.196/53). (LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p.121).43 Ratificada pelo Brasil em 18.05.90 com decreto de promulgação n.131 de 22.05.91 (LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p.124).44 Ratificada pelo Brasil em 27.04.94 (LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p.124).45 Ainda não ratificada pelo Brasil. (LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p.124).46 Ratificada pelo Brasil em 10.07.92, Decreto Legislativo n.22 de 12.05.92. (LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p.124).

24

compreende: liberdade de associação, liberdade de organização, liberdade de

administração, liberdade de exercício das funções e liberdade sindical individual.47

A liberdade de associação é o princípio que autoriza o direito de associar-se e

de criar entidades sindicais livremente. Essa liberdade está prevista em nosso texto

Constitucional no art. 8º, I, ao dispor:Art.8o.É livre a associação profissional ou sindical, observando o seguinte:I – a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressaltado o registro no órgão competente, vedadas ao poder público a interferência e a intervenção na organização sindical.48

Assim, referido texto garante o direito dos trabalhadores e empregadores de

criar organizações sindicais sem a autorização estatal, com a ressalva do registro no

órgão competente. Pode-se concluir que a liberdade coletiva existe, pois o direito de

associação sindical depende, apenas, da vontade dos interessados, sem que o

Estado possa, de forma discricionária, decidir por esta criação ou não.49

Eduardo Lebre afirma:Liberdade sindical é o direito assegurado aos trabalhadores e empregadores de associarem-se livremente, constituindo sindicatos, os quais não poderão sofrer intervenções estatais ou privadas, com a finalidade de realizar interesses próprios. 50

No entanto, compreender a liberdade sindical apenas como garantia de

existência das entidades sindicais é insuficiente. Num país podem existir entidades

sindicais, mas pode não haver liberdade sindical se estas forem, pelos Estados,

controladas.51

Com relação à liberdade coletiva de organização, pode-se identificar todas

aquelas condições e garantias necessárias para assegurar a chamada autonomia

sindical, ou seja, a elaboração dos estatutos e regulamentos internos, eleições,

47 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 81.48 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.141.49 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 82.50 LEBRE, Eduardo Antonio Temponi. Direito Coletivo do Trabalho. Porte Alegre: Síntese, 1999, p.45.51 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.141.

25

impossibilidade de dissolução das entidades por ordem do Estado, autonomia na

gestão financeira e proteção dos bens sindicais.52

Nessa liberdade de organização, pode-se dizer que no Brasil é onde menos

existe liberdade, pois a estrutura do sistema de representação sindical é

completamente rígida ao estabelecer, no art. 8º, incisos II e IV, a unicidade sindical,

base territorial mínima, sindicalização por categoria e sistema confederativo.53

Na liberdade de administrar, não pode haver qualquer ingerência do Estado

na vida da entidade sindical no plano administrativo. Isto significa que as entidades

sindicais poderão definir seus regulamentos internos, podendo: definir o teor de seus

estatutos sociais; fixar seus órgãos de administração e fiscalização.54

Gozam as entidades sindicais, no Brasil, do que denomina a democracia

interna e a autonomia externa. A democracia interna é condição de legitimidade da

vida da entidade, princípio que deve inspirar a prática dos principais atos da sua vida

interior, cabendo a ela escolher o tipo de eleições que adotará. Na autonomia

externa, significa a liberdade de administrar sem interferências exteriores.55

A liberdade coletiva de exercício das funções consiste em possibilitar às

entidades sindicais definirem seu plano de atuação. No Brasil, essa liberdade sofre

restrições de duas ordens: pela obrigatoriedade do sindicato participar das

negociações coletivas de trabalho e pela manutenção da competência normativa da

Justiça do Trabalho.56

A primeira porque limita a busca, por outras entidades constituídas para a

defesa de interesses classistas, de soluções para os conflitos de trabalho, fazendo

com que – salvo exceções – o nível de negociação fique limitado ao espaço

52 Cf. LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p.142.53 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 83-84.54 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 93.55 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.143.56 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 94.

26

ocupado pelo sindicato. A segunda desestimula a solução de conflitos pelos meios

autocompositivos57; interfere no livre exercício do direito de greve.58

A liberdade sindical individual desdobra-se em positiva e negativa,

constituindo a primeira basicamente prerrogativa do segmento interessado em

organizar-se e se filiar à entidade que considere mais representativa de seus

interesses, e a segunda na de não se filiar a nenhuma organização sindical.59

No Brasil, a regra é a do art. 8o, V, prescrevendo que “ninguém será obrigado

a filiar-se ou manter-se filiados a sindicato”.60 Para que exista liberdade sindical

individual, então, é necessário que trabalhadores e empregadores possam, sem

restrições, adotar qualquer das condutas indicadas pela Constituição.61

Entretanto, com a unicidade sindical, a liberdade de escolha de trabalhadores

e empregadores, na hora de optar pelo aspecto positivo desta liberdade, a filiação é

totalmente reduzida, pois se limita ao ingresso na única entidade sindical existente.62

Mas, a liberdade sindical individual, embora de forma reduzida, existe,

importando um avanço ao patamar constitucional, vindo a impedir a manutenção,

dentro do ordenamento jurídico brasileiro, de regras que restringem a liberdade dos

indivíduos, considerando a condição de uma pessoa de ser associada ou não.63

Conclui-se, assim, que a chamada:[...] conquista da liberdade sindical resulta na consagração do direito dos trabalhadores de livremente organizar sindicatos com autonomia perante o Estado e os empregadores, assim como de exercitar os direitos inerentes à atuação das ditas organizações, quais sejam, os direitos sindicais.64

57 A autocomposição consiste em uma técnica que os litigantes, de comum acordo e sem emprego da força, fazem-se concessões recíprocas mediante ajuste de vontades. (LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2005, p.90)58 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 94.59 Cf. GUARNIERI, Bruno Marcos. Liberdade Sindical: necessidade de reforma constitucional como imperativo de uma organização sindical democrática. São Paulo: LTr, 2004, p.106.60 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 95.61 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 95.62 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 95.63 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 96.64 SIQUEIRA NETO, José Francisco. Liberdade sindical e representação dos trabalhadores nos locais de trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 81.

27

1.4 SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO SINDICAL

De acordo com a organização sindical, existem três sistemas de organização,

quais sejam: o da unicidade, da pluralidade e da unidade. O sistema da unicidade é

totalmente incompatível com a liberdade sindical porque importa em negar a livre

escolha de filiação. No sistema da pluralidade sindical, há a possibilidade de

convivência de várias entidades em disputa de representação. Isto decorre de uma

mudança substancial no sistema, ao passar da representação formal (legal) para,

nos casos de concorrência de representação, a representação legítima. Já o sistema

da unidade sindical decorre da livre e voluntária opção dos interessados, não

contrariando, assim, o princípio da liberdade sindical.65

1.4.1 Unicidade Sindical

Nesse sistema, não há a possibilidade de criação de mais de uma

organização sindical em qualquer grau na mesma base territorial.66 Assim, a

unicidade sindical limita o direito de liberdade sindical. Este sistema não deixa de ser

uma forma de controle, por meio do Estado.67

Para o autor, Rodolfo Pamplona Filho, a unicidade sindical consiste “no

sistema em que há uma única entidade representativa dos trabalhadores, de acordo

com a forma de representação adotada (seja por categoria, base territorial, profissão

ou empresa)”. 68

O doutrinador Mauricio Godinho Delgado define o sistema da unicidade

sindical como sendo: À previsão normativa obrigatória de existência de um único sindicato representativo dos correspondentes obreiros, seja por empresa, seja por profissão, seja por categoria profissional. Trata-se da definição legal imperativa do tipo de sindicato passível de organização na sociedade, vedando-se a existência de entidades sindicais concorrentes ou de tipos sindicais. É, em síntese, o sistema de sindicato único, com monopólio de representação sindical dos sujeitos trabalhistas. 69

José Brito Filho demonstra, com clareza, as três características básicas da

unicidade sindical, como sendo: 65 Cf. LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical: da legalidade á legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p. 131.66 Base territorial é a área geográfica em que o sindicato atua, ou melhor dizendo, na qual ele exerce sua representação. (PEREIRA, Armand (organizado). Reforma sindical e negociação coletiva. 1. ed. Brasília: OIT, 2001, p.25).67 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 632.68 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Pluralidade sindical e democracia. São Paulo: LTr, 1997, p. 42.69 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p.1307.

28

1) a representação de um grupo por uma única entidade sindical; 2) que isto ocorra dentro de uma determinada base, ou seja, região geográfica – que pode ser de qualquer tamanho e 3) que isto ocorra por imposição do Estado, quer por um ato discricionário, quer por previsão do ordenamento jurídico. 70

No Brasil, é de se notar que a defesa do sindicato único não decorre de um

viés ideológico uniforme. Na doutrina, os defensores do sistema da unicidade

sindical71, ou monismo, sustentam, em geral:[...] que o sindicato nasceu da proximidade e não representa apenas os seus associados, mas toda a coletividade profissional, cujos interesses, e, em conseqüência, os objetivos são os mesmos, impondo-se a unidade de representação.72

Os defensores argumentam, basicamente, que a unicidade sindical permite

uma estreita união dos trabalhadores entre si e uma maior unidade de grupo e

uniformidade de entendimento entre os empregadores; permite maior abrangência e

assegura maior solidariedade.73

Já os críticos74 afirmam que ela representa uma violação aos princípios

democráticos e, mais especificamente, à liberdade sindical, impedindo aos

componentes de determinada categoria escolher qual sindicato se filiarem.

“Sublinham a importância da saudável competição entre as entidades, evitando a

acomodação de lideranças sindicais, advinda da exclusividade de representação

classista”.75

A unicidade sindical foi introduzida, em nosso ordenamento jurídico, em 1939,

pelo Decreto-lei n.1.402, de 05 de julho de 1939, nos seguintes termos: “Não será

reconhecido mais de um sindicato para cada profissão”. A Consolidação das Leis do

Trabalho de 1943 (art. 516) a recepcionou, assim dispondo: “Não será reconhecido

mais de um sindicato representativo da mesma categoria econômica ou profissional,

70 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 84.71 Oliveira Viana, José Martins Catharino, Segadas Vianna, Evaristo de Moraes Filho e Orlando Gomes.72 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p .1159-1160.73 Cf. CUÓCO, Ubiracy Torres. Pluralidade sindical será que ainda se justifica? Revista LTr, Vol. 68, n° 02, fevereiro de 2004, p.149.74 Mozart Victor Russomano, João Régis Fassbender Teixeira, Délio Maranhão e Roberto Barretto Prado.75 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p .1159-1160.

29

ou profissão liberal, em uma dada base territorial”. A Constituição de 1988 a

manteve no seu art. 8o, inciso II.76

É por isso que a unicidade sindical elimina a liberdade individual de escolher o

próprio sindicato. Inclusive, prejudica a conscientização dos trabalhadores a respeito

da necessidade de auto-organização voltada à defesa de suas reivindicações.77

1.4.2 Pluralidade Sindical

Esse modelo é oposto ao da unicidade sindical, pois possibilita a existência

de mais de uma entidade sindical representativa do mesmo grupo, criando-se e se

mantendo as organizações sindicais em decorrência da vontade dos interessados,

sem que o Estado possa interferir. O sistema de liberdade sindical, adotado pelo

pluralismo, prepondera na maioria dos países ocidentais desenvolvidos.78

Nesse sentido, a pluralidade sindical não se resume na possibilidade de

criação de mais de uma entidade sindical e na concorrência de representação; ela

pressupõe instrumentos que permitam a defesa dos direitos fundamentais, como por

exemplo, a negociação coletiva.79

Segundo Cássio Mesquita Barros, na pluralidade sindical:[...] é facultada a criação simultânea ou não, numa mesma base territorial, de mais de um sindicato representativo de trabalhadores ou de empresários da mesma profissão. A França, a Suíça e a Itália admitem este sistema.80

Já o doutrinador Rodolfo Pamplona Filho, elabora um conceito mais

adequado à nossa realidade, do que é aceito do ponto de vista global, eis que a

maioria dos países estrangeiros não adota (ao contrário do Brasil), a representação

da categoria por base territorial, assim veja-se:A pluralidade sindical é entendida como a liberdade total dos trabalhadores de se organizarem, constituindo as entidades representativas da forma que

76 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.164-165.77 Cf. GOMES, Dinaura Godinho Pimentel. A necessidade da reforma sindical à luz da Constituição Federal e dos Tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil. Revista LTr. Vol. 68, n° 7, julho de 2004, p. 816.78 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 85.79 Cf. LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical braisleiro. São Paulo: LTr, 2000, p.135.80 BARROS, Cássio Mesquisa. “Pluralidade, unicidade e unidade sindical”. In FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa. Curso de direito coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 1998, p.77 (apud BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 85).

30

considerem convenientes, com a única condição de observância dos seus estatutos, o que é regra básica do Estado de Direito para a formação de organizações civis.81

Esse conceito acima descrito afina com a tendência internacional, promulgado

pela Convenção 87 da OIT, sobre liberdade sindical e a proteção do direito sindical,

“em que seria livre à criação de tantos sindicatos quantos fossem os interessados,

sem quaisquer restrições”.82 O referido diploma da OIT está estabelecido no art. 2o,

in verbis:Trabalhadores e empregadores, sem nenhuma distinção e sem prévia autorização, têm o direito de constituir as organizações que acharem convenientes, assim como de a elas se filiarem, sob a única condição de observar seus estatutos.83

Dentro dessa concepção, vale destacar que a Convenção 87 da OIT não

determina que a lei deva impor a pluralidade sindical, mas defende que não cabe à

lei regular a estruturação e organização interna das entidades sindicais, cabendo a

estas eleger, sozinhas, a melhor forma de se instituírem.84

O pluralismo sindical consiste na possibilidade de várias organizações

sindicais representarem concorrencialmente uma mesma coletividade de

trabalhadores e de empregadores, na proporção de seus respectivos associados, ou

de acordo com o critério de representatividade estabelecido pela legislação.85

Ressalta-se que nos países aos quais as reivindicações são mais expressivas

adotam o sistema da pluralidade sindical, “na qual não devera ser obrigatória, mas

facultativa, de modo que os trabalhadores, se assim pretenderem, podem reunir-se

em representações unitárias, quando então estaremos diante do ideal: a unidade na

pluralidade”.86

Mozart Victor Russomano, embora admita as dificuldades do pluralismo,

afirma que “o que seduz na tese da pluralidade é que, graças a ela, se pode chegar

a um sistema sindicalista organizado em termos realmente democráticos, com base

na liberdade integral”. 87

81 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Pluralidade sindical e democracia. São Paulo: LTr, 1997, p. 45.82 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 632.83 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 632.84 Cf. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p.1308.85 Cf. SIQUEIRA NETO, José Francisco. Liberdade sindical e representação dos trabalhadores nos locais de trabalho. São Paulo: LTr,1999, p.104.86 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p .1159-1160.87 RUSSOMANO, Mozart Victor. Princípios gerais de direito sindical. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p.77 (apud BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.87).

31

E é esta a questão que deve ser observada, ainda que no pluralismo “possam

surgir dificuldades na representação e em outros aspectos, nada supera a liberdade

que o modelo apresenta, sendo que ele que conduz à unidade – que é o ideal a ser

almejado”.88

1.4.3 Unidade Sindical

Unidade sindical é o sistema no qual as entidades sindicais se unem, não por

imposição legal, mas em decorrência da própria opção. A unidade não contraria o

princípio da liberdade sindical.89

Nos países onde vigora este sistema, como na Alemanha, ele é resultado da

experiência histórica do sindicalismo, e não de determinação legal.90

O princípio da liberdade sindical, como ressalta a OIT:[...] aceita as unidades fáticas de representação, exigindo apenas a possibilidade de pluralidade de associações, em qualquer nível; admite também, a designação do sindicato mais representativo como porta-voz do grupo em determinadas questões.91

A doutrinadora Thereza Christina Nahas conceitua unidade sindical como

sendo:A manifestação de vontade e encontro de idéias; isto é, por meio da união de propósitos busca-se um objetivo uniforme, mas não imposto pela ordem legal, e sim pelo encontro de vontade das partes que possuem um único objetivo.92

Nesse modelo, existe uma “única entidade sindical representando

determinado grupo em determinada base, mas, agora, não por imposição do Estado

e, sim, em razão da vontade livre dos interessados, trabalhadores e

empregadores”.93

88 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.87.89 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.161.90 Cf. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p.1308.91 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Pluralidade sindical e democracia. São Paulo: LTr, 1997, p.47.92 NAHAS, Thereza Christina. Legitimidade ativa dos sindicatos: a defesa dos direitos e interesses individuais homogêneos no processo do trabalho, processo de conhecimento. São Paulo: Atlas, 2001, p.58.93 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 85.

32

Os doutrinadores Arnaldo Süsssekind e Segadas Vianna prevêem que a

unidade sindical constitui uma meta a ser alcançada. Mas ela deve resultar da

conscientização dos trabalhadores e dos empresários, a qual se irradia na medida

em que os sindicatos trabalhem com êxito na promoção dos interesses e na defesa

dos direitos de seus representados. Na Alemanha e no Reino Unido, vigora este

sistema.94

94 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Pluralidade sindical e democracia. São Paulo: LTr, 1997, p.47.

33

CAPÍTULO 2

ORGANIZAÇÃO SINDICAL BRASILEIRA

2.1 O SISTEMA CONFEDERATIVO

No Brasil, as entidades sindicais organizam-se com base no sistema

confederativo. Referido sistema é uma estruturação vertical (por ramo e grupo de

categorias, representada graficamente por uma pirâmide, que agrega, como

entidade de base, o sindicato e, posteriormente, as entidades de grau superior,

como as federações e confederações).95

Respeitada esta forma, é preciso, ainda, obedecer a determinadas restrições

constitucionais existentes à liberdade de organização, ou seja, unicidade sindical, a

base territorial mínima e a sindicalização por categoria.96

A Constituição Federal, no seu art. 8o, II, manteve a unicidade sindical

também para as federações e confederações, ao vedar a criação de mais de uma

organização sindical em qualquer grau, na mesma base territorial.97

Entretanto, esse sistema revela total descompasso com o modelo proposto

pela OIT, em sua Convenção n. 87, pois esta prevê a liberdade plena de

associação.98 Esta convenção determina que a liberdade sindical é o princípio maior

a reger a união dos trabalhadores e empregadores e, por isto, toda e qualquer

restrição imposta pelo Estado é incompatível se não for razoável e decorrente do

interesse público.99

95 Cf. LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical. São Paulo: LTr, 2000, p. 53.96 Cf. GUARNIERI, Bruno Marcos. Liberdade Sindical: necessidade de reforma constitucional como imperativo de uma organização sindical democrática. São Paulo: LTr, 2004, p. 53.97 Cf. DUBUGRAS, Regina Maria Vasconcelos. Substituição processual no processo do trabalho. São Paulo: LTr, 1998, p. 59.98 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 99.99 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 99.

34

2.1.1 Base Territorial

A base territorial é o espaço geográfico de representação legal das entidades

sindicais.100

Com o advento da Constituição de 1988, o artigo 517 da CLT perdeu eficácia,

pois facultava a criação de sindicatos distritais, municipais, intermunicipais,

estaduais e interestaduais, excepcionalmente nacionais. E a delimitação da base

territorial competia ao Ministro do Trabalho.101

A partir da Constituição Federal de 1988, em seu artigo 8º, II, a base territorial

passou a ser definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não

podendo ser inferior à área do Município. Assim, a base territorial deixou de ser

determinada e fixada pelo Ministro do Trabalho.102

Com isso, houve um avanço e um retrocesso. Um avanço por não mais poder

o Ministro do Trabalho impor a base territorial das entidades sindicais, o que era feito

anteriormente, consoante o art. 517, §1º, da CLT. E um retrocesso, por ter sido

ampliada a base territorial mínima, de distrital para municipal. Porém, o avanço é

praticamente anulado pela unicidade sindical, pois a livre vontade fica condicionada

à inexistência, na base pretendida, de outra entidade sindical que reúne o mesmo

grupo, profissional ou econômico.103

2.1.2 Categoria

O artigo 8°, incisos II, III e IV, da CF/88, menciona que a organização sindical

brasileira é feita sob o sistema de categorias. O parágrafo único, do artigo 7°, da

CRFB/88, também emprega a palavra categoria. Verifica-se, assim, que a

organização sindical brasileira é feita por categorias, como dispõe a Constituição, e,

portanto, acolheu as disposições da CLT, ao usar as expressões categoria

profissional e econômica.104

100 Cf. LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade Sindical. São Paulo: LTr, 2000, p.54.101 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.256.102 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.256.103 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 89.104 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p.265.

35

A legislação consolidada não traz um conceito jurídico de categoria, havendo

referências e regras no artigo 511 e seus parágrafos.105 Por esse artigo, percebe-se

que a regra geral, no Brasil, é a sindicalização vertical por atividade, formando-se as

categorias econômicas e profissionais de acordo com o ramo de atividade onde

estão inseridos os empregadores, sendo considerada exceção a sindicalização por

profissão – quando ocorre a formação do que se denomina categoria profissional

diferenciada.106

Na definição de Amauri Mascaro Nascimento, sindicalização por categoria “é

o que representa os trabalhadores de empresas de um mesmo setor de atividade

produtiva ou prestação de serviços. As empresas, do mesmo setor, por outro lado,

formam a categoria econômica correspondente”.107

A categoria econômica é caracterizada por um grupo de pessoas que tenha

por vínculo social básico interesses econômicos por empreenderem atividades

idênticas108, similares109 ou conexas110, conforme definido no parágrafo 1°, do artigo

511, da CLT.111

Por sua vez, na categoria profissional, verifica-se quando os trabalhadores

têm como expressão social elementar, na união, a similitude de condições de vida,

oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na mesma

atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas, conforme

definido no parágrafo 2°, do artigo 511, da CLT.112

A categoria profissional é também denominada de categoria dos empregados

ou dos trabalhadores. É o conjunto de trabalhadores que têm, permanentemente,

105 Cf. SCUDELER NETO, Julio Maximiano. Negociação coletiva e representatividade sindical. São Paulo: LTr, 2007, p. 69.106 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2, ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 92.107 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.172.108 Idênticas são as atividades iguais. (JORGE NETO, Francisco Ferreira. Estudos dirigidos: direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 235.109 Similares são as atividades que se assemelham, como as que numa categoria pudessem ser agrupadas por empresas que não são do mesmo ramo, mas de ramos que se parecem, como hotéis e restaurantes. (MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p. 265-266).110 Conexas são as atividades que, não sendo semelhantes, complementam-se, como as várias atividades existentes na construção civil. (MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p. 266.111 Cf. NAHAS, Thereza Christina. Legitimidade ativa dos sindicatos: defesa dos direitos e interesses individuais homogêneos no processo do trabalho. São Paulo: Atlas, 2001, p. 48.112 Cf. NAHAS, Thereza Christina. Legitimidade ativa dos sindicatos: defesa dos direitos e interesses individuais homogêneos no processo do trabalho. São Paulo: Atlas, 2001, p. 48.

36

identidade de interesses em relação à sua atividade laboral. Já a categoria

econômica é o conjunto de atividades empresariais.113

O parágrafo 3°, do artigo 511, da CLT, define categoria diferenciada como “é

a que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas

por força do estatuto profissional especial ou em conseqüência de condições de vida

singulares”. A categoria diferenciada é a formação da entidade sindical por

profissão, pois só os trabalhadores podem formá-la.114

Esses trabalhadores, que integram a categoria diferenciada, constituem

exceção à regra supramencionada, e caracterizam-se, principalmente, nos casos de

serem profissionais liberais, que exerçam profissões ou ofícios diferenciados por

estatutos ou regulamentos especiais, ocasião que não dependerá da atividade

econômica que desempenhe a empresa.115

Dessa forma, no Brasil, há entidades sindicais de categorias profissionais,

que representam os trabalhadores de um setor de atividade; há outros de categorias

profissionais diferenciadas, que reúnem trabalhadores de uma mesma profissão; e

ainda entidades de categorias econômicas, que são os empregadores.116

Concluindo este tópico, cumpre observar que a sindicalização por categoria

restringe a livre organização das entidades, não combinando com o princípio da

liberdade sindical, ao impedir a mobilidade dos trabalhadores de uma entidade para

outra, bem como sua união de forma mais espontânea.117

2.2 ENTIDADES SINDICAIS

Na estrutura do sistema sindical Brasileiro, a organização sindical é

representada graficamente por uma pirâmide, composto pelo sindicato em sua base,

posteriormente a federação, e no topo a confederação. Deste modo, existe na base

do sistema um sindicato único, organizado por categoria profissional ou categoria

diferenciada, em se tratando de trabalhadores, ou por categoria econômica, em

113 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p.266.114 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p.266.115 Cf. NAHAS, Thereza Christina. Legitimidade ativa dos sindicatos: defesa dos direitos e interesses individuais homogêneos no processo do trabalho. São Paulo: Atlas, 2001, p. 48.116 Cf. ALEXANDRINO, Marcelo. Direito do trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006, p. 396.117 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 92.

37

relação aos empregadores. Já as federações e as confederações são entidades

sindicais de grau superior.118

2.2.1 Sindicato

Como dito, na base do sistema confederativo tem-se o sindicato, o qual é a

única entidade constituída de pessoas, físicas ou jurídicas, tendo a incumbência de

representar, defender e coordenar os interesses da categoria que representa.119

Segundo Wilson de Souza Campos Batalha, “os sindicatos compõem a

estrutura sindical de base, o primeiro grau, com os privilégios de representatividade

exclusiva na base territorial”.120

No Brasil, inexiste, de forma direta, o conceito legal de sindicato, não obstante

traga o art.511 da CLT elementos norteadores a tal tarefa. Consoante a dicção legal

pátria, ao dispor que:É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos, ou profissionais liberais, exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas.121

Entretanto, o doutrinador Wilson de Souza Campos Batalha elaborou um

conceito com os elementos norteadores do art. 511, da CLT, ao definir que o

“sindicato é a associação destinada ao estudo, defesa e coordenação dos interesses

econômicos ou profissionais de todos [...] que exerçam a mesma atividade ou

profissão ou atividade ou profissões similares ou conexas”.122

O sindicato é uma forma de organização de pessoas físicas ou jurídicas que

figuram como sujeitos nas relações coletivas de trabalho. A sua característica

principal é ser uma organização de um grupo existente na sociedade. Esta

118 Cf. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p.1314.119 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 101.120 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 101.121 PONTE NETO, José Júlio da. O Direito Sindical na Ordem Constitucional Brasileira. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 1998, p. 40.122 PONTE NETO, José Júlio da. O Direito Sindical na Ordem Constitucional Brasileira. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 1998, p. 40-41.

38

organização reúne pessoas físicas, os trabalhadores, ou pessoas jurídicas, as

empresas, uma vez que estas também se associam em sindicatos.123

Na clássica definição do jurista francês PAUL DURAND:[...] o sindicato é um agrupamento no qual várias pessoas, exercentes de uma atividade profissional, convencionam pôr em comum, de maneira duradoura e mediante organização interna, em vista a assegurar a defesa e a representação de sua profissão e de melhorar suas condições de existência.124

2.2.2 Federação e Confederação

Como acima mencionado, na organização sindical, há unidades menores e

maiores, isto é, órgãos que ficam na base e outros mais elevados que se sobrepõem

a estes e que são chamados de associações de grau superior.125

De acordo com os arts. 533 e 562, da CLT, as expressões “federação” e

“confederação”, seguidas da designação de uma entidade econômica ou

profissional, constituem denominações privativas das entidades sindicais de grau

superior.126

As federações são entidades sindicais de grau superior – logo acima dos

sindicatos, na pirâmide – organizadas nos Estados-membros, que congregam pelo

menos cinco sindicatos da categoria, desde que representem a maioria absoluta de

um grupo de atividade ou profissão, com o fim de coordenar seus interesses (art.

534 da CLT).127

Nas federações, pode-se agrupar sindicatos de determinado Município ou

região a eles filiados, para fins de lhes coordenar os interesses regionais.

Normalmente, a base territorial da federação é o Estado.128

Por isso, é que o número de Federações é bem maior do que o de

Confederações, mesmo porque são constituídas por Estados-membros da nossa

organização política. Em cada Estado, há diversas Federações, conforme o

agrupamento que se processam.129

123 Cf. JORGE NETO, Francisco Ferreira. Estudos dirigidos: direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p.234-235.124 BATALHA, Wilson de Souza Campos. Sindicatos, sindicalismo. 2. ed. São Paulo: LTr, 1994, p.56.125 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito sindical. São Paulo: LTr, 1982, p.181.126 Cf. GUARNIERI, Bruno Marcos. Liberdade Sindical: necessidade de reforma constitucional como imperativo de uma organização sindical democrática. São Paulo: LTr, 2004, p.60.127 Cf. PRADO, Roberto Baretto. Curso de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 1991, p. 299.128 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 646.129 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito sindical. São Paulo: LTr, 1982, p. 183.

39

Acima das federações, e no ápice do sistema confederativo, tem-se as

confederações, que são formadas pela união das primeiras.130 As confederações são

entidades sindicais de grau superior, representantes de categoria profissional ou

econômica, de âmbito e representação nacional. São constituídas de, no mínimo,

três federações, com sede em Brasília. Como acontece com os sindicatos, tanto a

classe dos trabalhadores quanto a de empregadores podem formar federações e

confederações. (art. 535 da CLT).131

As confederações se formam por ramo de atividade (indústria, comércio,

transporte, etc.). Exemplos: Confederação Nacional da Indústria, Confederação

Nacional dos Trabalhadores na Indústria, Confederação Nacional do Comércio,

Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio.132

O objetivo da Confederação é coordenar os interesses das federações,

agrupando, nacionalmente, as atividades ou profissões, ou seja, enquanto a

federação coordena interesses, via de regra, regionais, a confederação o faz

nacionalmente.133

As federações e confederações podem celebrar, em certos casos,

convenções coletivas (art. 611, §2o, da CLT), acordos coletivos (art. 617, §1o, da

CLT) e instaurar dissídios coletivos (art. 857, parágrafo único), quando as categorias

profissionais não forem organizadas em sindicatos. Com a ressalva de que, na

confederação, não podem existir os sindicatos tampouco as federações.134 135

A Constituição Federal, no seu artigo 8°, inciso II, também manteve a

unicidade sindical para as Federações e Confederações, ao vedar a criação de mais

de uma organização sindical em qualquer grau, na mesma base territorial.136

130 Cf. JORGE NETO, Francisco Ferreira. Estudos dirigidos: direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 233.131 ALEXANDRINO, Marcelo. Direito do Trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006, p. 398.132 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 647.133 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.108.134 A legitimação para negociar e fazer convenções coletivas de trabalho em nossa lei é dos sindicatos. As federações e confederações só poderão fazê-las em nome das categorias não organizadas em sindicatos. Isto quer dizer que, quando não há sindicato de uma atividade ou profissão, a federação representativa, segundo o quadro do Ministério do Trabalho, de quantos façam parte dessa atividade ou profissão, terá poderes para negociar, representando esse pessoal ou essas empresas. Havendo sindicato, insto não será possível. (NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito sindical. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 146).135 Cf. ALEXANDRINO, Marcelo. Direito do Trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006, p. 398.136 Cf. DUGUGRAS, Regina Maria Vasconcelos. Substituição processual no processo do trabalho. São Paulo: LTr, 1998, p. 59.

40

2.3 NATUREZA JURÍDICA DAS ENTIDADES SINDICAIS

As entidades sindicais são sujeitos coletivos, como organização destinada a

representar interesse de um grupo, na esfera das relações trabalhistas. Têm direitos,

deveres e responsabilidades, patrimônio, filiados, estatutos, tudo como uma pessoa

jurídica.137

Quanto à natureza jurídica das entidades sindicais, isto é, quanto à sua

morfologia jurídica, a preocupação da doutrina está em saber se a personalidade

jurídica é de direito público ou de direito privado, uma vez que os contornos de suas

funções, amplas ou limitadas, dependem do ordenamento jurídico de cada país.138

Como pessoa jurídica, a entidade sindical é o centro de referência de relações

jurídicas, seja no campo do Direito Privado ou no Direito Público. Tem, portanto, a

capacidade de agir como parte, sendo uma capacidade de direito, assim, como

sujeito é a entidade sindical titular de direitos e obrigações.139

A entidade sindical brasileira, segundo doutrina predominante, é de direito

privado, sendo este o entendimento, entre outros, de Russomano, Catharino,

Waldemar Ferreira, Segadas Vianna, Délio Maranhão, Orlando Gomes, Élson

Gottschalk, etc.140

Isso porque a doutrina majoritária atribui, aos laços jurídicos que ainda

subsistem entre a entidade sindical e o poder público, critério não suficiente para

deslocar aquele para a esfera pública. É que o fato determinante para tal

classificação é justamente a qualidade de iniciativa dos que desejam praticar

determinado ato jurídico, no caso, fundar uma entidade sindical. Deste modo, por

mais restritivo que seja o modelo utilizado, não há como negar a natureza privada

destas entidades, porquanto, ninguém é obrigado a criar ou se filiar a uma entidade

sindical.141

Segadas Viana, como acima descrito, é um dos doutrinadores que sustenta a

entidade sindical como pessoa jurídica de direito privado, acrescentando que:

137 Cf. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa. (coordenador). Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTr, 1998, p. 45.138 Cf. PONTE NETO, José Júlio da. O Direito Sindical na Ordem Constitucional Brasileira. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 1998, p. 42.139 Cf. GOMES, Orlando; GOTTSSCHALK, Élson. Curso de direito do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 562.140 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p. 1063.141 Cf. DUARTE, Bento Herculano (coord). Manuel de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998, p. 723-724.

41

[..] o Estado não tem poder de criar sindicatos apenas estabelece condições para que sejam registrados para o exercício de direitos que as leis lhes conferem. Os sindicatos nascem da vontade de um grupo profissional homogêneo, para a defesa de direitos e de reivindicações desse grupo. Pessoas jurídicas de direito privado, os sindicatos podem assumir obrigações e respondem por elas perante a Justiça.142

Entretanto, no Brasil, durante o sistema constitucional de 1937, e mesmo

depois, estas entidades representavam características que, embora a conservavam

como pessoa jurídica de direito privado, cercaram de fortes conotações publicísticas,

como o exercício de funções delegadas pelo Poder Público. Contudo, após a

Constituição de 1988, os vínculos jurídicos com o Estado foram efetivamente

rompidos, com a autonomia de organização e de administração, realçando sua

natureza privada e sua função de defesa dos interesses coletivos e individuais dos

seus representados.143

E, como sendo uma entidade de direito privado, a entidade sindical deve ser

considerada como uma associação de empregados ou de empregadores. A entidade

sindical é espécie do gênero associação, mas uma espécie com características

especiais e finalidade específica. Acha-se investida no poder de reivindicar, celebrar

instrumentos normativos e representar os interesses de um segmento.144

No entanto, há registros doutrinários de outras correntes, como a que define

personalidade sindical como sendo de direito social, defendida por Mario de La

Cueva e Cesarino Júnior. Este último doutrinador sustenta que a entidade sindical é

uma autarquia, isto é, um ente jurídico que não se pode classificar exatamente nem

entre as pessoas jurídicas de direito privado nem entre as pessoas jurídicas de

direito público, parecendo lógico classificar como pessoa jurídica de direito social.145

A explicação teórica fundada na noção de direito social, contudo, é

caracterizada por inúmeros problemas. Na versão dos dois autores citados, estes

problemas agravaram-se, por estar sendo influenciada pela natureza pública.146

Todavia, a entidade sindical, em seu passado e presente, é constituída

livremente pelos seus integrantes para servir como instrumento reivindicatório e

142 GUARNIERI, Bruno Marcos. Liberdade sindical: necessidade de reforma constitucional como imperativo de uma organização sindical democrática. São Paulo: LTr, 2004, p. 58.143 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p.1063.144 Cf. GUARNIERI, Bruno Marcos. Liberdade sindical: necessidade de reforma constitucional como imperativo de uma organização sindical democrática. São Paulo: LTr, 2004, p. 59.145 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito sindical. São Paulo: Saraiva, 1989, p.156.146 Cf. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p.1328.

42

negociador. Sem ele, o trabalhador estaria desprotegido e o empresário não teria

como se defender das massas operárias organizadas.147

Por fim, a representação não poderia ser outra que não pertinente ao âmbito

das relações privadas, fruto da vontade individual, manifestando-se sem imposição

legal. À vista disto, a entidade sindical permanecerá como fruto da união solidária

daqueles que possuem interesses coletivos profissionais semelhantes; interesses

estes que, mesmo não sendo iguais aos individuais, continuam a gravitar no sistema

privado.148

Então, diante da maioria dos posicionamentos, as entidades sindicais são

pessoas jurídicas de direito privado, espécie do gênero associação.

2.4 CRIAÇÃO DAS ENTIDADES SINDICAIS

Para a criação válida de uma entidade sindical, na atual conjuntura nacional,

é preciso respeitar a unicidade sindical, a base territorial mínima e a sindicalização

por categoria. Além disso, só pode ser constituída organização sindical que integre o

sistema confederativo, que são: sindicatos, a federação e a confederação. Qualquer

outra entidade, como se verificará no terceiro capítulo, no caso das centrais

sindicais, não será considerada como tendo personalidade jurídica de Direito

Sindical e, portanto, não gozará das prerrogativas das entidades sindicais.149

Contornados estes obstáculos, é livre a criação das entidades, o que se dará

hoje em dia, com a realização de assembléia geral, convocada pelo grupo que

deseja a fundação do sindicato, assembléia esta em que a categoria deliberará

sobre a criação ou não da entidade sindical. Em caso da deliberação ser positiva, o

passo seguinte é o registro da entidade, condição indispensável para a aquisição da

personalidade jurídica, pelo sindicato.150

147 Cf. PONTE NETO, José Júlio da. O Direito Sindical na Ordem Constitucional Brasileira. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 1998, p. 43.148 Cf. CHIARELLI, Carlos Alberto. O trabalho e o sindicato: evolução e desafios. São Paulo: LTr, 2005, p. 222.149 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.114.150 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 114.

43

2.5 REGISTRO DAS ENTIDADES SINDICAIS

Tendo em vista o texto constitucional vigente (art.8º, I), não pode mais o

Estado vedar a autonomia organizativa dos sindicatos, podendo estes serem

constituídos independentemente de sua autorização, a partir da manifestação dos

interessados que deverão, reunidos em assembléias, aprovar o respectivo estatuto

constitutivo151.152

Para a OIT, a exigência de registro, desde que não implique autorização

prévia e não interfira no direito dos trabalhadores e empregadores de criar as

entidades, não configura atentado à liberdade sindical, como se observa do art. 7°,

da Convenção n.87, e da seguinte decisão do Comitê de Liberdade Sindical:Se as condições para conceder o registro equivalessem a exigir uma autorização prévia das autoridades para constituir o funcionamento de um sindicato, estar-se-ia frente a uma manifestação da convenção 87. Não obstante, não parece ser este o caso quando os registros dos sindicatos consistem unicamente numa formalidade cujas condições não são de natureza que ponham em perigo as garantias previstas pela convenção.153

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembléia

Geral das Nações Unidas, em 1948, proclama, no art. 23, n.4, que “toda pessoa tem

direito de fundar, com outras, sindicatos e de filiar-se em sindicatos para defesa dos

seus interesses”.154

Atualmente, o ato que regula o registro das entidades sindicais é a Portaria

n.343, de 4 de maio de 2000, que dispõe que o pedido de registro deve ser feito ao

Ministro de Estado do Trabalho e Emprego, fixa os documentos necessários e prevê

151 A ata da assembléia geral de fundação é documento indispensável, sem o qual não será admitido registro pela Portaria n. 343, de 2000, art.2°, II, do MTE. A ata é retrato escrito da assembléia sindical, da qual constará a descrição fidedigna dos principais atos ocorridos, servindo como documentação da sua realização e prova da regularidade da fundação do sindicato. A sua redação deve mencionar dia, hora e local da assembléia, relatar os acontecimentos em ordem seqüencial, as propostas apresentadas, as respectivas deliberações, o quorum e a forma das votações, o nome e a assinatura dos presentes e o que mais houver de importante a documentar. (NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 234).152 Cf. DUARTE, Bento Herculano. (coordenação). Manual de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998, p. 728. 153 A liberdade sindical: recopilações de decisões e princípios do comitê de liberdade sindical do desejo de administração da OIT. Curta duração. Genebra: Oficina Internacional de Trabalho, 1996, p.56 (in BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.117).154 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.235.

44

a possibilidade de impugnação, por entidade do mesmo grau, e que tenha

representatividade que coincida com a associação que pretende o registro.155

Segundo o entendimento do STF, o registro no Ministério do Trabalho foi

recebido pela atual Constituição apenas para fins cadastrais e de verificação da

unicidade sindical, sem qualquer interferência, intervenção ou autorização do Estado

em relação às atividades do sindicato, tendo por finalidade o reconhecimento de sua

personalidade como entidade sindical (STF, Pleno, MI n°144-8-SP, Rel. Min.

Sepúlveda Pertence, j. 03.8.92, DJU 28.5.93, p. 10.381).156

Infere-se, desse modo, que o registro é efetivado perante o Ministério do

Trabalho e Emprego, tendo o Supremo Tribunal Federal firmado entendimento,

segundo o qual a competência desse órgão é apenas para o registro, subordinado

apenas à verificação de pressupostos legais, e não de autorização ou de

reconhecimento discricionário.157

O registro no Ministério do Trabalho é obrigatório, pois o mero registro do

sindicato no cartório não confere personalidade jurídica de entidade sindical, ficando

esta pendente até o momento do competente registro perante o Ministério do

Trabalho.158

O pedido de registro, de acordo com a Portaria n. 343, pode ser remetido por

via postal com aviso de recebimento ou entregue em protocolo geral do Ministério, e

deve ser instruído com documentos autênticos, que são os seguintes: I – edital de convocação dos membros da categoria para a assembléia geral de fundação da entidade, publicado com antecedência mínima de dez dias de sua realização, prazo que será majorado para trinta dias quando a entidade interessada tiver base territorial interestadual ou nacional, sendo divulgado nos seguintes veículos de comunicação:a) em jornal diário de grande circulação no Estado ou Estados abrangidos pela base territorial, e, também, se houver, em jornal de circulação no Município ou Região da pretendida base territorial;b) no Diário Oficial dos Estados ou União;II – ata da assembléia geral;III – cópia do estatuto social, aprovado pela assembléia geral, que deverá conter elementos identificadores da representação pretendida, em especial:a)a categoria ou categorias representadas, nos termos do art.511 da CLT;b) a base territorial;

155 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.116.156 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p.264-265.157 Cf. ALEXANDRINO, Marcelo. Direito do Trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006, p. 397.158 Cf. ALEXANDRINO, Marcelo. Direito do Trabalho. 9. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006, p. 397.

45

IV- recibo de depósito, em favor do Ministério do Trabalho e Emprego, relativo ao recolhimento da importância correspondente ao custo das publicações no Diário Oficial da União.159

Com efeito, remetido o pedido ao Ministério do Trabalho e Emprego, dispõe a

Portaria n. 343 que a Secretaria de Relações do Trabalho terá sessenta dias, para

cumprir eventuais exigências, logo após será examinado, preliminarmente, se o

requerente atende, quanto à representatividade no disposto nos arts. 511, 534 e

535, da CLT, sob pena de arquivamento.160

O Ministério do Trabalho e Emprego não examina o mérito do pedido. Limita-

se à verificação do cumprimento das exigências formais, que, se desatendidas,

implicarão o arquivamento do pedido, e se cumpridas habilitarão o Ministério a

prosseguir com a publicação do pedido no Diário Oficial.161

Em seguida ao pedido de registro ser publicado no Diário Oficial da União, a

entidade sindical de mesmo grau, cuja representatividade coincida, no todo ou em

parte, com a do requerente, terá o prazo de trinta dias para apresentar impugnação,

que deverá ser protocolada no Ministério do Trabalho e Emprego. A impugnação é

meio de assegurar a manifestação de outras entidades sindicais que se sintam

prejudicadas; é uma defesa contra a violação do princípio da unicidade sindical.162

A impugnação é administrativa, perante a Secretaria das Relações de

Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego. No caso de ser aceita, cria uma

pendência a ser dirimida perante o Judiciário. Caso contrário, será expedida a

Certidão de registro sindical, previsto no art. 6° da Portaria n. 343, que é o

documento expedido pelo MTE, certificando da regularidade do registro da nova

entidade sindical no Cadastro Nacional das Entidades Sindicais163.164

159 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.241.160 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.242.161 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.242.162 SANTOS, Enoque Ribeiro dos; PINTO E SILVA, Otávio (coord). Temas controvertidos do direito coletivo do trabalho no cenário nacional e internacional. São Paulo: LTr, 2006, p. 170.163 O Cadastro Nacional das Entidades Sindicais é o órgão integrante da estrutura da Secretaria das Relações de Trabalho do MTE, perante a qual está vinculado, tendo como finalidade promover, como o nome indica, o registro sindical. Passou a exercer as atribuições antes conferidas ao denominado Arquivo Brasileiro de Entidades Sindicais. (NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 239).164 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.243.

46

Depois de a entidade sindical cumprir com os requisitos do registro, a mesma

adquire a personalidade jurídica sindical, pois, para ser entidade sindical, é

necessário a verificação de pressupostos legais, como a base territorial, a categoria,

por parte do MTE. Porém, a competência desse órgão é apenas a verificação dos

pressupostos.

2.6 RECEITA DAS ENTIDADES SINDICAIS

Antes da promulgação da CRFB/88, o Ministério do Trabalho controlava a

atuação financeira dos entes sindicais, desde a arrecadação até a aplicação da

receita, através da homologação da previsão orçamentária e da prestação de

contas.165

Este controle não é mais possível, pois é vedada a interferência do Ministério

do Trabalho na entidade sindical (art.8°, I), devendo, hoje em dia, ser feito,

basicamente, pelos próprios integrantes das referidas entidades, na forma definida

por estes em Assembléia Geral e por meio dos estatutos da entidade.166

Com a Constituição de 1988, aumentaram as fontes de recursos dos

sindicatos, principalmente, no que diz respeito às contribuições, já que antes havia

apenas a contribuição sindical, a contribuição assistencial e a mensalidade dos

associados. As contribuições sindicais podem ser divididas, da seguinte forma: a) a

contribuição sindical (arts. 548, a, c/c 545 e 578 ss da CLT); b) a contribuição

confederativa (art.8°, IV, da CF).167

2.6.1 Contribuição sindical

A contribuição sindical é, atualmente, a principal fonte de custeio dos entes

sindicais. Sua origem foi no início da década de 40, quando instituído o então

chamado imposto sindical, atualmente chamado de contribuição sindical.168

165 Cf. AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical. São Paulo: LTr, 2006, p. 197.166 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.126.167 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Contribuições sindicais: direito comparado e internacional; Contribuições assistencial, confederativa e sindical. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 54.168 SANTOS, Enoque Ribeiro dos; PINTO E SILVA, Otávio (coord). Temas controvertidos do direito coletivo do trabalho no cenário nacional e internacional. São Paulo: LTr, 2006, p. 18.

47

Contribuição sindical é a prestação pecuniária169, compulsória, tendo por

finalidade o custeio de atividades essenciais dos entes sindicais. Esta envolve uma

obrigação de dar, de pagar. Tem natureza compulsória, visto que independe da

pessoa ter ou não interesse de contribuir para os sindicatos, porque o vínculo

obrigacional decorre da previsão da lei (art.8, IV, da CF), que determina o seu

recolhimento. Logo, o desconto da contribuição sindical em folha de pagamento não

está sujeita à anuência dos trabalhadores.170

A natureza jurídica da contribuição sindical é tributária, pois se encaixa na

orientação do art. 149, da Constituição, como uma contribuição de interesse das

categorias econômicas e profissionais, pois tal comando se inclui na Constituição no

capítulo I (Do Sistema Tributário Nacional), do Título VI (Da Tributação e do

Orçamento).171

Indica o artigo 579, da CLT, que a contribuição sindical é devida por todos os

que participarem de determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma

profissão liberal, em favor da entidade representativa da mesma categoria ou

profissão. É, portanto, imperativo tal dispositivo, pois basta a pessoa pertencer à

categoria, que a contribuição será devida, independentemente de ser ou não

filiado.172

Corresponde, a contribuição sindical, a um dia de trabalho para os

empregados (art. 580, I, da CLT); para os empregadores é calculada sobre o capital

da empresa (art.580, III, da CLT); e, para os trabalhadores autônomos e

profissionais liberais, toma-se por base um percentual fixo (art. 580, II, da CLT).173

Aponta o artigo 582, da CLT, que os empregadores são obrigados a

descontar da folha de pagamento de seus empregados, relativa ao mês de março de

cada ano, a contribuição sindical devida aos sindicatos profissionais. As empresas

deverão recolher sua contribuição no mês de janeiro de cada ano.174

169 Verifica-se da redação do artigo 3° do Código Tributário Nacional, que tributo é a prestação pecuniária, compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Art.3° do CTN.170 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Contribuições sindicais: direito comparado e internacional; Contribuições assistencial, confederativa e sindical. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 58.171 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Contribuições sindicais: direito comparado e internacional; Contribuições assistencial, confederativa e sindical. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 59.172 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Contribuições sindicais: direito comparado e internacional; Contribuições assistencial, confederativa e sindical. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 63.173 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p.275.174 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Dialética, 2005, p.276.

48

Se o empregado não estiver trabalhando no mês de março, por motivo de

acidente do trabalho ou doença, o desconto será feito no primeiro mês subseqüente

ao do retorno do trabalhador (art. 602 da CLT).175

A contribuição do trabalhador avulso é recolhida pelo sindicato da respectiva

categoria profissional, sendo descontada da remuneração recebida. O recolhimento

será efetuado no mês de abril de cada ano, e o relativo aos agentes ou

trabalhadores autônomos realizar-se-á em fevereiro.176

A contribuição sindical é alvo de acirradas críticas considerando a sua

contrariedade aos princípios consagrados no próprio texto constitucional, o da

liberdade de associação e da autonomia das entidades sindicais, sem intervenção e

interferência Estatal.177

Com a aprovação da Lei n. 11.648/2008, a central sindical passará a receber

10% da contribuição sindical. Pelo aprovado, a Conta Especial perderá parte de

seus recursos, passando a receber 10%, quando garantia 20%, conforme o seu

artigo 5°, in verbis:Art. 5º Os arts. 589, 590, 591 e 593 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passam a vigorar com a seguinte redação:

Art. 589. (antiga redação)a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;b) 15% (quinze por cento) para a federação;c) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; ed) 20% (vinte por cento) para a 'Conta Especial Emprego e Salário';Para:a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;b) 10% (dez por cento) para a central sindical;c) 15% (quinze por cento) para a federação;d) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; ee) 10% (dez por cento) para a “Conta Especial Emprego e Salário178;III - (revogado);IV - (revogado).179

175 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Contribuições sindicais: direito comparado e internacional; Contribuições assistencial, confederativa e sindical. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 65.176 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Contribuições sindicais: direito comparado e internacional; Contribuições assistencial, confederativa e sindical. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 64.177 Cf. SCUDELER NETO, Julio Maximiano. Negociação coletiva e representatividade sindical. São Paulo: LTr, 2007, p. 73.178 Os valores destinados à "Conta Especial Emprego e Salário" integram os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O FAT é um fundo especial, de natureza contábil-financeira, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, destinado ao custeio do Programa do Seguro-Desemprego, do Abono Salarial e ao financiamento de Programas de Desenvolvimento Econômico. A principal fonte de recursos do FAT é composta pelas contribuições para o Programa de Integração Social (PIS). Montou-se, portanto, em torno do Fundo de Amparo ao Trabalhador, um arranjo institucional que procura garantir a execução de políticas públicas de emprego e renda de maneira descentralizada e participativa. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Contribuição sindical. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/cont_sindical/default.asp>. Acesso em: 27 mai. 2008).

49

Se não houver sindicato, o montante de 60% da arrecadação da contribuição,

tanto dos trabalhadores como dos empregadores, ficará com a federação

correspondente à mesma categoria econômica ou profissional. Ainda dentro desta

hipótese, inexistindo federação, o seu percentual ficará com a confederação.

Quando inexistir Confederação, o seu percentual caberá à Federação representativa

do grupo. E, nos casos onde não houver sindicato, nem entidade sindical de grau

superior ou central sindical, a contribuição sindical será creditada, integralmente, à

Conta Especial Emprego e Salário.180

Segundo dados de deputados, com esta nova lei, a estimativa de arrecadação

da contribuição sindical, para o ano de 2008, é de R$ 1,250 bilhão, ou seja, as

centrais ganharão em torno de R$ 125 milhões.181

Dessa forma, mesmo com a nova lei, permanece a imposição da contribuição

sindical legal obrigatória, criada pelo sindicalismo sob a tutela do Estado.182

2.6.2 Contribuição Confederativa

A Contribuição Confederativa está amparada pelo disposto no art.8°, IV, da

CF, cabendo à assembléia geral fixá-la, que, em se tratando de categoria

profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo,

independentemente da contribuição prevista em lei (contribuição sindical). A

assembléia geral do sindicato profissional ou econômico é que irá estabelecer a

referida contribuição, o valor e a forma de recolhimento.183

Por essa razão, a repartição das receitas entre os entes sindicais dos

diversos níveis deve, necessariamente, ser fixada pela assembléia geral que institui

a Contribuição Confederativa, que nunca deve destinar-se exclusivamente ao

sindicato.184 Como as centrais estão à margem do sistema confederativo, dela não

179 BRASIL. Lei n. 11.648/2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 27/05/2008.180 BRASIL. Lei n. 11.648/2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 27/05/2008.181 ESTADÃO.COM.BR. Câmara aprova regulamentação das centrais sindicais. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac66486,0.htm>. Acesso em: 27/05/2008182 Cf. SCUDELER NETO, Julio Maximiano. Negociação coletiva e representatividade sindical. São Paulo: LTr, 2007, p. 73-74.183 Cf. SCUDELER NETO, Julio Maximiano. Negociação coletiva e representatividade sindical. São Paulo: LTr, 2007, p. 74.184 Cf. SANTOS, Enoque Ribeiro dos; PINTO E SILVA, Otávio (coord). Temas controvertidos do direito coletivo do trabalho no cenário nacional e internacional. São Paulo: LTr, 2006, p. 183.

50

se beneficiam diretamente, nada impedindo, porém, que as assembléias destinem-

lhe uma parcela.185

A Contribuição Confederativa é prestação pecuniária, porque exigida em

dinheiro. É espontânea, facultativa, pois como se pretende demonstrar, depende da

vontade da pessoa em contribuir, já que não é compulsória.186

A respeito da auto-aplicabilidade, o Supremo Tribunal Federal uniformizou a

questão, por intermédio da Súmula 666: A contribuição confederativa de que trata o art. 8°, IV, da Constituição, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo (DJU de 10.10.2003).187

Sendo assim, trata-se de imposição constitucional e não simplesmente

estatutária. Portanto, para os associados é compulsória, mas é vinculada ao

comando da assembléia, que poderá ou não estabelecê-la, determinar sua

periodicidade.188

Para José Cláudio Monteiro de Brito Filho, a contribuição confederativa “é

devida, apenas, pelos associados, visto que a liberdade sindical prevista no art.8°, V,

da CF, ao trazer a liberdade de não filiação, trouxe, também, a liberdade de não

contribuição”.189

CAPÍTULO 3

185 Cf. AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical. São Paulo: LTr, 2006, p. 222.186 Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Contribuições sindicais: direito comparado e internacional; Contribuições assistencial, confederativa e sindical. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 91.187 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.130.188 Cf. AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical. São Paulo: LTr, 2006, p. 222.189 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.130.

51

CENTRAIS SINDICAIS

3.1 CONSENSO DE WASHINGTON

Neste tópico, a pesquisa busca descobrir o contexto histórico-político em que

se insere a reforma da organização sindical. Partindo destas considerações, será

possível identificar as bases que nortearam a aprovação da Lei 11.648/2008, que

regularizou as centrais sindicais.

Em 1989, o economista inglês, John Williamson, na conjuntura máxima do

neoliberalismo190 em ação, reuniu-se em Washington com diversos economistas

latino-americanos de perfil liberal, funcionários do Fundo Monetário Internacional

(FMI), Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do

governo norte-americano. O tema do encontro visava avaliar quais seriam as

reformas econômicas e sociais necessárias para o crescimento da América Latina.191

A reunião acima citada foi chamada “Consenso de Washington”, na qual

Williamson listou políticas que o governo dos Estados Unidos preconizava para a

crise econômica dos países da América Latina, mas podem ser resumidas em

quatro resoluções:1) a “abertura econômica”, isto é, o fim das barreiras protecionistas entre as nações, cujo objetivo básico era abrir mercados mundiais, particularmente os da América Latina, para as quinquilharias e sucatas produzidas pelos decadentes cartéis estadunidenses; 2) a “desestatização”, isto é, a privatização das empresas estatais, cujo objetivo básico era passar para o controle das transnacionais estadunidenses os recursos minerais e setores estratégicos da América Latina, a fim de suprir de matérias-primas abundantes e baratas a economia

190 O neoliberalismo é o novo caráter do velho capitalismo. Este adquiriu força hegemônica no mundo a partir da Revolução Industrial do século 19, no qual com o aprimoramento de máquinas capazes de reproduzir em grande escala o mesmo produto não em função de necessidades humanas, mas sobretudo visando ao aumento do lucro das empresas. O excedente da produção e a mercadoria supérflua obtiveram na publicidade a alavanca de que necessitavam para induzir o homem a consumir mais do que precisa. Após a Segunda Guerra Mundial (1940-1945) com o fortalecimento do movimento sindical e do socialismo real, sobretudo do capitalismo liberal, tratou-se de disciplinar o mercado através dos chamados Estados de Bem-Estar Social (previdência, leis trabalhistas, subsídios à saúde e educação etc.)Esse caráter "social" do capitalismo durou até fins da década de 1970 e início da década seguinte, quando os EUA se deram conta de que era insustentável a conversibilidade do dólar em ouro.Nasceu, assim, o neoliberalismo, tendo como parteiro o Consenso de Washington - a globalização do mercado "livre" e, segundo conveniências, do modelo norte-americano de democracia. (BETTO, Frei. O que é o neoliberalismo. Disponível em: <http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=15768>. Acesso em: 12 maio de 2008.191 GEOCITIES. Consenso de Washington. Disponível em: <http://www.geocities.com/sociedadecultura/consenso.html>. Acesso em: 12 maio de 2008

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dos EUA, cujos recursos minerais e fósseis estão em fase final de esgotamento, bem como favorecer sua capacidade competitiva; 3) a “desregulamentação”, isto é, o fim das regras que limitavam o movimento do capital em nível internacional e no interior de cada país, particularmente o especulativo, com o objetivo básico de viabilizar campos de aplicação rentáveis e seguros para os excedentes financeiros que escaparam do processo produtivo e circulavam na esfera puramente especulativa; 4) a “flexibilização das relações de trabalho”, isto é, o fim dos direitos sindicais, trabalhistas e previdenciários, sobretudo no países da América Latina, a fim de que os cartéis estadunidenses pudessem instalar nesses países determinadas etapas do processo produtivo, particularmente as de mão-de-obra intensiva, à moda das “maquiladoras” mexicanas, com vistas a baratear os custos de seus produtos e melhorar suas condições competitivas no mercado internacional; visava, também, abrir novos campos de investimento, em especial na previdência complementar privada, para os capitais excedentes nos EUA. 192

Como pode ser observado, os pontos acima mencionados não tratam apenas

de economia, mas também de temas de cunho social, como a redução da legislação

laboral. Em síntese, pode-se dizer que o Consenso de Washington faz parte do

conjunto de reformas neoliberais que, apesar de distintas práticas nos diferentes

países, está centrado basicamente na desregulamentação dos mercados,

liberalização comercial e financeira e redução do tamanho e papel do Estado. A

liberalização comercial, por sua vez, que tanto facilitou a expansão do comércio

internacional, das finanças e da produção constitui aquilo que hoje se chama a

globalização da economia mundial.193

Em suma, o que visava o governo dos EUA com o “Consenso de Washington”

era, de um lado, encontrar mercados para as mercadorias e capitais excedentes e,

de outro, suprir-se de força de trabalho e matérias-primas baratas a fim de melhorar

sua capacidade de competir no mercado internacional.194

Em princípio, estes pontos seriam apenas recomendações; ocorre que, na

prática, foram adotadas como imposições na negociação das dívidas externas dos

países latino-americanos. Acabaram se tornando o modelo do FMI e do Banco

Mundial para todo o planeta. De outro lado, movimentos nacionalistas e de esquerda

criticam essa política e protestam contra sua aplicação.195

192 UMES. Consenso de Washington. Disponível em: <http://www.umes.org.br/umes/noticias.php?ID=287>. Acesso em: 12 maio de 2008.193 Cf. HISSA, Hélio Barbosa. Neoliberalismo, globalização, plano real e desemprego: a exclusão social causada pela estabilização de preços a partir do 1º mandato de FHC. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/4048/1/neoliberalismo-globalizacao-plano-real-e-desemprego-a-exclusao-social-causada-pela-estabilizacao-de-precos/pagina1.html>. Acesso em: 27 abril de 2008194 UMES. Consenso de Washington. Disponível em <http://www.umes.org.br/umes/noticias.php?ID=287>. Acesso em: 27 abril de 2008.195 BRUNO, Arthur. O que é o Consenso de Washington? 8/7/2004. Disponível em: <http://www.arturbruno.com.br/atualidades/mundo/texto.asp?id=990>. Acesso em: 27 de abril de

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Como conseqüência, as conclusões do Consenso acabaram tornando-se

medidas impostas por agências internacionais para a concessão de créditos: os

países que quisessem empréstimos do FMI e do Banco Mundial, por exemplo,

deveriam adequar suas economias às novas regras. Desse modo, os países que

necessitam de créditos continuam seguindo a receita internacional, a qual

recomenda, em um de seus pontos, a redução da legislação trabalhista.196

Quanto às conseqüências do “Consenso de Washington” para o Brasil, vale

destacar que o "Plano Real", embora tenha sido instituído em 1994, pelo então

ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, foi consolidado efetivamente a

partir de julho de 1995, ano em que Fernando Henrique tornou-se presidente do

Brasil, tendo, como ministro da fazenda, o economista Pedro Malan, que havia

representado o Brasil na reunião do Consenso de Washington. O Plano, então, foi

elaborado e inspirado nas medidas neoliberais, fase esta em que o Brasil não só

adotou as medidas neoliberais discutidas na capital americana, como também aderiu

à globalização da economia mundial.197

Essas medidas neoliberais, aprovadas pelo Presidente Fernando Henrique,

permitem a flexibilização de direitos pela via negocial, como: banco de horas,

contratação a tempo parcial, suspensão temporária do contrato, contratação por

tempo determinado, participação nos lucros, comissões de conciliação prévia.198

Essa não é primeira iniciativa do executivo federal em flexibilizar direitos

trabalhistas e sociais no Brasil. Em desacordo com a imensa maioria do movimento

sindical brasileiro, o governo Federal propôs alterações no artigo 618, da CLT, para

2008.196 GEOCITIES. Consenso de Washington. Disponível em: <http://www.geocities.com/sociedadecultura/consenso.html>. Acesso em: 27 de abril de 2208.197 Cf. HISSA, Hélio Barbosa. Neoliberalismo, globalização, plano real e desemprego: a exclusão social causada pela estabilização de preços a partir do 1º mandato de FHC. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/4048/1/neoliberalismo-globalizacao-plano-real-e-desemprego-a-exclusao-social-causada-pela-estabilizacao-de-precos/pagina1.html>. Acesso em: 27 maio de 2008.198 SANTOS, Tony Coelho. Ensaio sobre a flexibilização da legislação trabalhista brasileira. 4.10.2007. Disponível em: <http://www.trinolex.com/artigos_view.asp?icaso=artigos&id=3767>. Acesso em: 27 de maio de 2008.

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estabelecer que só se aplicam os direitos previstos em lei quando não houver

acordo ou convenção coletiva dispondo de outro modo.199 200

Dessa forma, as diretrizes do Consenso de Washington, dentre outras coisas,

também prevêem o afastamento do Estado das relações sindicais, por meio da

desregulamentação da legislação laboral e o conseqüente estabelecimento da

liberdade sindical.

Ante a todas estas considerações, fica explicada a motivação do governo em

reformar a legislação sindical brasileira; afinal, o Brasil precisa adequar-se às

normas da Organização Internacional do Trabalho, bem como respeitar as regras do

Consenso de Washington, para não ter seus empréstimos prejudicados.

3.2 BREVE HISTÓRICO DA CENTRAIS SINDICAIS

O movimento sindical, no Brasil, permite identificar duas vertentes: a primeira

é composta pelo chamado sistema confederativo e é a única prevista pela

Constituição Federal de 1988; a segunda é representada pelo movimento iniciado

nos fins dos anos de 1970, resultante das greves ocorridas na região do ABC de

São Paulo.201

A primeira vertente caracteriza-se por um sindicalismo de Estado, exercendo

funções basicamente assistenciais. A segunda vertente é representada pelos

sindicatos filiados às centrais sindicais.202

A Central Única dos Trabalhadores nasceu em meados de 1983, durante a

realização, em São Bernardo do Campo-SP, do I Congresso Nacional da Classe

Trabalhadora (I CONCLAT), defendendo a contestação e a participação político-

partidária.203

199 Porém o projeto foi alterado em seu texto original, restando da seguinte forma: As condições de trabalho ajustadas mediante convenção ou acordo coletivo prevalecem sobre o disposto em lei, desde que não contrariem a Constituição. (Cf. SANTOS, Tony Coelho. Ensaio sobre a flexibilização da legislação trabalhista brasileira. 4.10.2007. Disponível em: <http://www.trinolex.com/artigos_view.asp?icaso=artigos&id=3767>. Acesso em: 27 de maio de 2008).200 DIEESE. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. A ameaça à redução de direitos sociais de todos os trabalhadores. Texto da CUT para a Audiência Pública sobre o PLC 134/01 no Senado Federal. 26.02.2002. Disponível em: <http://www.dieese.org.br/esp/segdes/cut.xml>. Acesso em: 24 abril de 2008.201 Cf. FREDIANI, Yone; ZAINAGHI, Domingos Sávio (coord.). Relações de direito coletivo Brasil-Itália. São Paulo: LTr, 2004, p.127-128.202 Cf. FREDIANI, Yone; ZAINAGHI, Domingos Sávio (coord.). Relações de direito coletivo Brasil-Itália. São Paulo: LTr, 2004, p.127-128.203 Cf. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTR, 1998, p. 121.

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Nos estatutos aprovados, foram definidos os princípios que deveriam reger o

caráter da CUT: afirmar-se como um sindicalismo representativo, democrático e

independente do Estado, dos patrões e dos partidos políticos, como uma central que

luta pelos objetivos dos trabalhadores, garantindo a mais ampla liberdade de

expressão e lutando por sua independência econômica, política e a organização de

base dos trabalhadores nos seus locais de trabalho.204

Em novembro de mesmo ano de 1983, outro congresso de trabalhadores foi

realizado em São Paulo, na Praia Grande, sob a bandeira do “sindicalismo de

resultado”. Neste congresso, foi criada a Coordenação Nacional da Classe

Trabalhadora, que recebeu a sigla do congresso, CONCLAT.205

Em março de 1986, a CONCLAT passou a chamar-se Central Geral dos

Trabalhadores – CGT – que, por divergências internas, desmembrou-se em dois

grupos. O primeiro, liderado pelos defensores do “sindicalismo de resultado” foi

denominado Confederação Geral dos Trabalhadores, e o segundo continuou a

denominar-se Central Geral dos Trabalhadores.206

Antes da Constituição de 1988, precisamente em 1985, surgiu, ainda, a USI –

União Sindical Independente, criada em São Paulo, com a participação expressiva

de federações e confederações ligadas aos trabalhadores do comércio. Em meados

do ano de 2001, passou, com seus filiados, quase todos do setor comerciário, para a

Força Sindical.207

Em meados de 1990, surgiu a Força Sindical, que, sob a liderança de Luiz

Antônio de Medeiros, concluiu o seu processo de criação no Congresso, realizado

no Memorial da América Latina, em São Paulo/91, congregando metalúrgicos,

trabalhadores na Indústria da Alimentação e aposentados.208

A Força Sindical propõe, como maior princípio, a participação dos

trabalhadores nas principais decisões, econômicas e sociais do Governo, e defende,

204 Cf. ARAÚJO, Silvia Maria de; FERRAZ, Marcos (organizadores). Trabalho e sindicalismo: tempos de incertezas. São Paulo: LTr, 2006, p.188.205 Cf. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTR, 1998, p.121.206 Cf. LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p. 73.207 Cf. LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p. 73.208 Cf. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTR, 1998, p. 121.

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ainda, a política salarial oficial, como patamar mínimo para evitar grandes perdas

salariais, e a livre negociação, sem participação do Estado.209

A Social Democracia Sindical (SDS), dissidência da Força Sindical, deveu-se

a seu secretário, Enilson Simões, que foi do PCB e, antes, talvez o mais expressivo

ativista da base de apoio de Lula. Assumiu-se como braço político do PSDB,

expressão da Social Democracia. A Frente Social Democrata de Sindicatos (FSDS)

foi fundada em 30 de abril de 1996.210

Em 2005, foi fundada a central das Confederações, batizada como Nova

Central, com a adesão da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias

(CNTI), Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Terrestres

(CNTTT), Confederação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações

(CNTEEC), Confederação Nacional dos Profissionais Liberais (CNPL),

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade

(CONTRATUH) e Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da

Alimentação (CNTA).211

O aparecimento natural das Centrais correspondeu a uma necessidade de

modificação do sistema sindical, que se mostrou insuficiente. O período de maior

criação das centrais inicia-se no fim dos governos militares e início da tolerância do

Estado, que não as reprimiu como parte de uma perspectiva de redemocratização

reclamada pelo País.212

O Censo Sindical de 2002, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), revelou a representatividade das centrais, conforme Tabela 1:213

209 Cf. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTR, 1998, p.122.210 Cf. AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical. São Paulo: LTr, 2006, p.115.211 Cf. AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical. São Paulo: LTr, 2006, p.115-116.212 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3 ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 201.213 Os espaços em branco significam que o IBGE não tem informações (AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical. São Paulo: LTr, 2006, p.116).

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Tabela 1. Representatividade das Centrais Sindicais, segundo o IBGECentrais Filiados Sindicatos

filiados

Trabalhadores

filiados (%)

Crescimento

1991 2001CUT 1.688 2.834 65,85% 62,21 70FS 294 839 19,49% 22,42 185

CGT 102 238 5,53% 3,94 133SDS 287 8,70% 8,70

CGTB 163USI 35CAT 2,00% 1,21

Fonte: AROUCA (2006, p. 116).

As Centrais CUT e FS não aceitaram os números, dando os seus, conforme

demonstrado na Tabela 2:

Tabela 2. Representatividade das Centrais Sindicais, segundo a CUT e FSCentrais Entidades filiadas Trabalhadores filiados

(milhões)CUT 3.321 22.200FS 1.842 16

Fonte: CUT (2008)

Atualmente, são diversas as centrais, por exemplo: a CUT – Central Única

dos Trabalhadores, a CGT – Central Geral dos Trabalhadores, a USI – União

Sindical Independente, a FS – Força Sindical, a CGT – Confederação Geral dos

Trabalhadores. Posteriormente, surgiram a CAT – Coordenação Autônoma de

Trabalhadores, a CSD – Central Social Democrática, a CCT – Coordenação

Confederativa de Trabalhadores e a SDS – Social Democracia Sindical, pouco

mencionadas nas doutrinas.214

3.3 CARACTERÍSTICAS

A CRFB/88 pretendeu implantar a liberdade sindical; todavia, não o fez de

forma ampla, em razão de continuar a consagrar, em seu art.8°, II, a unicidade

sindical. Deste modo, vedou a criação de mais de uma organização sindical, em

qualquer grau, preservando o sistema confederativo hierarquizado, que tem as

categorias econômicas e profissionais como base de toda a sua organização. Com

214 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.201-202.

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isto, negou-se, de forma indireta, mas taxativa, a possibilidade de incorporação das

centrais sindicais à estrutura sindical brasileira.215

As centrais sindicais, também chamadas uniões ou confederações, são as

entidades que possuem maior representatividade de trabalhadores na organização

sindical. São entidades de cúpula. Situam-se, na estrutura sindical, acima das

confederações, federações e sindicatos.216

Porém, do ponto de vista do modelo sindical brasileiro - organização vertical,

a criação das centrais sindicais é um rompimento do modelo atual vigente, previsto

na Constituição. Esta organização estabeleceu uma competição de cúpula, de índole

pluralista, e em competição de legitimidade, na organização sindical brasileira. Elas

agrupam e identificam diversas categorias profissionais por laços de solidariedade

não previamente previstos pela legislação.217

As centrais sindicais são organismos de coordenação de entidades sindicais

ou não, de atividades ou de categorias profissionais diversas, que não integram a

hierarquia das associações sindicais. Por isso, além de não serem elas uma espécie

de confederação, podem, as centrais sindicais, multiplicarem-se com base no

princípio da liberdade de associação.218

São organizações intercategorias, numa linha horizontal, abrangentes de

diversas categorias. Delas são aderentes não os trabalhadores diretamente, mas as

entidades de primeiro grau que os representam ou as de segundo grau que integram

os sindicatos. Portanto, representam sindicatos, federações, confederações de mais

de uma categoria. Atuam numa base territorial ampla, quase sempre todo o país.219

Destarte, não se configuram como entidade sindical em conformidade com o

sistema sindical brasileiro. Porém, constituem uma realidade nacional, com maior

força que diversos sindicatos, fomentando e comandando greves, atuando com

215 Cf. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTR, 1998, p.128.216 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3 ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 195.217 Cf. LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade sindical: da legalidade à legitimidade no sistema sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000, p.174.218 Cf. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTR, 1998, p.122.219 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 197.

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muito mais eficácia e discutindo as questões trabalhistas com maior ênfase, do que

qualquer confederação.220

Ela é, para Amauri Mascaro Nascimento, “a maior unidade representativa na

organização sindical, uma união de cúpula, expressando uma ação integrativa das

unidades menores”.221

Ocorre que, do ponto de vista da atuação, o sindicato congrega, diretamente,

trabalhadores e empregadores de determinado setor, e pauta sua atuação na defesa

dos interesses destes, seus representados, no mais das vezes sem visão de

conjunto, enquanto as centrais sindicais formulam sua política em termos mais

amplos e, via de regra, por meio de visão macro, que privilegia o geral e não o

particular, não que isso não possa levar, em certos casos, a uma atuação

localizada.222

Atualmente, o movimento sindical dos trabalhadores tem sua maior expressão

na atuação das centrais sindicais, que, todavia, não podem representar legalmente

as diversas profissões que reúnem, pois não estão investidas dessa representação,

em face do vigente sistema confederativo e da unicidade prevista na Carta Maior.223

O certo é que a sua existência não oficial como entidade sindical constitui

fator de perplexidade: são muito mais representativas do que as confederações

oficiais, mas não gozam das prerrogativas asseguradas às entidades de cúpula. As

centrais sindicais não são entidades sindicais, mas, sim, sociedades civis,

desprovidas de investidura sindical. São organismos de coordenação de entidade

sindical e não de atividades ou categorias profissionais, e, assim, não integram a

hierarquia das associações sindicais.224

Além do mais, outra diferença, existente no modelo brasileiro, é o fato das

centrais sindicais não estarem presas à organização sindical por ramo de atividade

ou profissão, o que se explica pelo motivo de que, como sua finalidade é defender

220 Cf. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTR, 1998, p. 125-126.221 BRITO FILHO, José Claudio Monteiro de. Direito sindical. 2 ed. São Paulo: LTr, 2007, p.109 In: NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito sindical. São Paulo: Saraiva,1989, p.137.222 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.109.223 Cf. FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Curso de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTR, 1998, p.129.224 Cf. PEREIRA, Armand. Reforma sindical e negociação coletiva. Brasília: OIT, 2001, p. 27.

60

interesses classistas, de maneira geral, não é coerente a constituição de uma

organização limitada em termos de setor ou setores.225

Isso porque, no modelo brasileiro – rígido no tocante à organização sindical -

apenas é possível a existência de uma entidade sindical respeitando as restrições

constitucionais da unicidade sindical e da representação por categoria.226

3.4 DA REGULARIZAÇÃO DAS CENTRAIS SINDICAIS

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou, no dia 11 de março de 2008,

o Projeto de Lei 1990/07, do Poder Executivo, que reconhece as centrais sindicais

como entidades de representação geral dos trabalhadores, especificando

atribuições, prerrogativas e critérios para sua participação em fóruns e conselhos

públicos.227

O projeto legitima a representatividade das centrais e é resultado de um

acordo destas com o governo. Caberá às centrais participar de negociações em

fóruns, colegiados de órgãos públicos e outros, nos quais estejam em discussão

assuntos de interesse geral dos trabalhadores.228

A Medida Provisória n. 293, sancionada pelo presidente Lula, foi transformada

na Lei 11.648/2008, publicada no Diário Oficial da União no dia 31 de março. Em 17

de abril, o Ministério do Trabalho e Emprego aprova a Portaria n. 194, a qual contém

as instruções para a aferição dos requisitos de representatividade das centrais

sindicais, exigidos pela Lei n. 11.648/2008.229

Com a publicação da Lei 11.648/2008, legaliza-se uma situação que, na

prática, já era fato. As centrais sindicais existem e atuam há muitos anos, mas

faltava o instrumento legal para o reconhecimento dessa atuação.230

225 Cf. BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical: análise do modelo brasileiro de relações coletivas de trabalho à luz do direito comparado e da doutrina da OIT: proposta de inserção da comissão de empresa. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p.110.226 Cf. GUARNIERI, Bruno Marcos. Iniciação ao direito sindical: necessidade de reforma constitucional como imperativo de uma organização sindical democrática. São Paulo: LTr, 2004, p.62.227 NOTADEZ. Centrais Sindicais: Legalização: Aprovação do Projeto de Lei. 18.10.2007. Disponível em: <http://www.notadez.com.br/content/noticias.asp?id=46211>. Acesso em: 28 abril de 2008.228 NOTADEZ. Centrais Sindicais: Legalização: Aprovação do Projeto de Lei. 18.10.2007. Disponível em: <http://www.notadez.com.br/content/noticias.asp?id=46211>. Acesso em: 28 abril de 2008.229 RESUMO SEMANAL. Agenda Econômica do Congresso. Disponível em: <http://resumosemanal.blogspot.com>. Acesso em: 28 abril de 2008.230 CONTRATHU. Pacote trabalhista reconhece centrais e cria Conselho Nacional de Relações de Trabalho. Ano VIII. N. 104. Maio de 2006. Disponível em: <http://www.contratuh.com.br/Contratuh_informa/2006/informe0506/Cont_maio_%202006.pdf>. Acesso em: 28 abril de 2008.

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Em reunião do secretariado da CUT, realizada no dia 26/04/06, a secretária

sindical da CUT, afirmou que: "o reconhecimento das centrais não muda em nada a

legislação sindical". Isso ocorre, porque o reconhecimento das Centrais ocorreu por

meio de medida provisória231 e não através de emenda constitucional.232 Desse

modo, pode-se afirmar que a legislação sindical não mudará, pois o sistema

continuará sendo confederativo, conforme a Constituição do país. 233

3.5 NATUREZA JURÍDICA DAS CENTRAIS SINDICAIS

Na atualidade, a própria Constituição inviabiliza a criação de centrais sindicais

dotadas de investidura sindical.234 Porém, com a promulgação da Lei nº 11.648,

publicada no Diário Oficial no dia 31.03.2008, as centrais sindicais passaram a ser

formalmente regularizadas como entidades gerais de representação dos

trabalhadores.235

De acordo com o artigo 1°, parágrafo único, da Lei n. 11.648/2008, reputa-se

central sindical a entidade associativa de direito privado formada pela organização

sindical dos trabalhadores, ao prescrever:Art. 1º A central sindical, entidade de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito nacional, terá as seguintes atribuições e prerrogativas:Parágrafo único. Considera-se central sindical, para os efeitos do disposto nesta Lei, a entidade associativa de direito privado composta por organizações sindicais de trabalhadores.236

231 O artigo 62 da Constituição de 1988 determina que, em caso de relevância e urgência o Presidente da República, mediante ato unipessoal, poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 15.ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 571).232 A emenda importa em estruturar um procedimento mais dificultoso, para modificar a Constituição. Pelo citado artigo 60, I, II e III, vê-se que a Constituição poderá ser emendada por proposta da iniciativa: (1) de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; (2) do Presidente da República; (3) de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Apresentada a proposta, será ela discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando se obtiver em ambos, três quintos dos votos dos membros de cada uma delas. (SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 64).233 MIRANDA, Lujan. Lula e as Centrais Sindicais: 'Reconhecimento pela Metade e Atrelamento Total'. 1º junho de 2006. Disponível em: <http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=22793>. Acesso em: 28 abril de 2008.234 Cf. PEREIRA, Armand. Reforma sindical e negociação coletiva. Brasília: OIT, 2001, p. 27.235 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20072010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.236 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20072010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.

62

As associações são entidades de direito privado, conforme prescreve o artigo

44, I, do CC, formadas pela união de indivíduos com fins não-econômicos. O Código

Civil de 2002, em seu artigo 53, expressamente dispõe que: “Constituem-se as

associações pela união de pessoas que se organizem para fins não-econômicos”.237

O traço peculiar das associações, portanto, é justamente a sua finalidade

não-econômica. Resulta da união de pessoas, geralmente em grande número (os

associados), e na forma estabelecida em seu ato constitutivo, denominado

estatuto.238

Note-se que, pelo fato de não perseguir fins lucrativo, a associação não está

impedida de gerar renda que sirva para a manutenção de suas atividades e

pagamento do seu quadro funcional. Pelo contrário, o que se deve observar é que,

em uma associação, os seus membros não partilham os lucros ou dividendos. A

receita gerada deve ser revertida em benefício da própria associação visando à

melhoria de sua atividade.239

Nesse sentido, discorre a doutrinadora Maria Helena Diniz:Tem-se a associação quando não há fim lucrativo ou intenção de dividir o resultado, embora tenha patrimônio, formado por contribuição de seus membros para a obtenção de fins culturais, educacionais, esportivos, religiosos, recreativos, morais, etc.240

Assim, cumpre observar que as centrais sindicais são associações de direito

privado, as quais, com a promulgação da Lei 11.648, passaram a ser formalmente

legalizadas como entidades gerais de representação dos trabalhadores. No entanto,

o sistema sindical brasileiro continua sendo o sistema confederativo, pois não foi

alterado o texto constitucional em seu artigo 8°, II, no qual prevê a unicidade

sindical. Note-se que, apenas as centrais sindicais, passaram a ser formalmente

legalizadas e a receber uma parcela de 10% do total da contribuição sindical,

recolhida anualmente dos trabalhadores.

3.6 CRIAÇÃO

237 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p.213-214.238 Cf. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p.214.239 Cf. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p.214.240 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p.214 in Maria Helena Diniz. Curso de Direito Civil Brasileiro – Teoria Geral do Direito Civil. 15.ed. São Paulo: Saraiva, 1999, v.1, p.146

63

As centrais sindicais, conforme o artigo 1°, parágrafo único, da Lei

11.648/2008, são consideradas entidades associativas de direito privado, e como

tais deverão ser registradas no cartório de registro de pessoas jurídicas. Porém, a

lei em nenhum artigo menciona qual o órgão responsável pelo registro. Assim, pelo

fato de a Lei ser recente, fica a dúvida qual o órgão que fará o registro.

Embora a Lei n. 11.648/08 não mencione, explicitamente, em qualquer

dispositivo, qual o órgão responsável para o registro das centrais, o artigo 5°, da

Portaria n. 194, determina que: “a aferição dos requisitos de representatividade [...]

será realizada pelo MTE”241, além de, anualmente, divulgar a relação das centrais

sindicais que atendem aos requisitos de representatividade, indicando seus índices.

Ademais, para a central sindical receber a contribuição sindical deverá

atender aos requisitos de representatividade emitidos pelo MTE, resulta daí que,

necessariamente, a central sindical deverá submeter ao Ministério do Trabalho seu

pedido de registro ou reconhecimento.

Embora as Centrais Sindicais sejam constituídas por categorias de todos os

grupos profissionais, a Lei 11.648 não menciona sobre a mudança no sistema de

organização sindical brasileira, permanecendo, assim, o atual sistema da unicidade

sindical. E os trabalhadores, com a aprovação desta legislação, passam a ter

representação oficial nos fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços

de diálogo social, que possuam composição tripartite, nos quais estejam em

discussão assunto de interesse geral dos trabalhadores.

Toda essa representação será controlada pelo Governo que, através do MTE,

mediante consulta às centrais sindicais, poderá baixar instruções para disciplinar os

procedimentos necessários à aferição dos requisitos de representatividade, bem

como para alterá-los, com base na análise dos índices de sindicalização dos

sindicatos filiados às centrais sindicais.242

3.7 FUNCIONAMENTO

A Lei 11.648 estabelece, no artigo 1°, que são atribuições e prerrogativas das

Centrais Sindicais, a representação geral dos trabalhadores por intermédio das

241 BRASIL. Portaria n. 194. Disponível em: <http://www.revistajuridica.com.br/content/legislacao.asp?id=62365>. Acesso em: 28 abril de 2008.242 MIRANDA, Lujan. Lula e as Centrais Sindicais: 'Reconhecimento pela Metade e Atrelamento Total'. 1º junho de 2006. Disponível em: <http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=22793>. Acesso em: 28 abril de 2008.

64

organizações a ela filiadas, e a participação de negociações em fóruns, colegiados

de órgãos públicos e outros espaços, que discutam assuntos gerais dos

trabalhadores que possuem composição tripartite.243

A participação de representantes da Central, nos fóruns, conselhos e

colegiados tripartites, será proporcional ao número de trabalhadores filiados aos

sindicatos que integram a sua estrutura organizativa, na forma prevista do inciso IV

do artigo 2°, caput, da Lei 11.648, salvo acordo, dispondo de modo distinto,

celebrado entre as centrais sindicais, na forma prevista no artigo 3°244.245

O critério de proporcionalidade, bem como a possibilidade de acordo entre as

centrais, previsto no caput do artigo 3°, da Lei 11.648, não poderá prejudicar a

participação de outras centrais sindicais que atenderem aos requisitos estabelecidos

no artigo 2° desta Lei, a qual prevê a participação em fóruns, colegiados de órgãos

públicos e demais espaços de diálogo social, que possuam composição tripartite.246

A Portaria 194, no seu artigo 7°, parágrafo único, traz a fórmula para a

obtenção da taxa de proporcionalidade, devendo utilizar:TP = TFS / TSC * 100, onde:TP= Taxa de ProporcionalidadeTFS = total de trabalhadores filiados aos sindicatos integrantes da estrutura organizativa da Central Sindical, comprovado nos termos do art. 5º; TSC = total de trabalhadores filiados aos sindicatos integrantes da estrutura organizativa das centrais sindicais que atenderem aos requisitos do art. 2º da Lei nº 11.648, de 2008, comprovado nos termos do art. 5º.247

No seu artigo 2°, da Lei 11.648, são estabelecidos alguns requisitos que as

Centrais Sindicais deverão cumprir para participarem em espaços de composição

tripartite, a saber:I - filiação de, no mínimo, 100 (cem) sindicatos distribuídos nas 5 (cinco) regiões do País;II - filiação em pelo menos 3 (três) regiões do País de, no mínimo, 20 (vinte) sindicatos em cada uma;

243 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.244 Art. 3º A indicação pela central sindical de representantes nos fóruns tripartites, conselhos e colegiados de órgãos públicos a que se refere o inciso II do caput do art. 1º desta Lei será em número proporcional ao índice de representatividade previsto no inciso IV do caput do art. 2º desta Lei, salvo acordo entre centrais sindicais. (BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008).245 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.246 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.247 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.

65

III - filiação de sindicatos em, no mínimo, 5 (cinco) setores de atividade econômica; eIV - filiação de sindicatos que representem, no mínimo, 7% (sete por cento) do total de empregados sindicalizados em âmbito nacional.248

Para a verificação da observância dos requisitos estabelecidos nos incisos I e

II, utilizará, como parâmetro, as declarações de filiação de sindicatos a centrais

sindicais informadas no Cadastro Nacional de Entidades Sindicais – CNES249,

conforme prevê o artigo 3° da Portaria 194.250

Segundo o artigo 4°, da Portaria 194, para a análise do cumprimento do

previsto no inciso III, serão utilizados, como parâmetros de pesquisa, os dados do

CNES e da Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE251 apurados

pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos -

DIEESE.252 Na impossibilidade de apuração dos dados, serão utilizados, como

parâmetros de pesquisa, os dados do CNES e da CNAE informados na Relação

Anual de Informações Sociais - RAIS253 correspondente.254

248 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20072010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.249 O Sistema de Cadastro Nacional de Entidades Sindicais abriga e mantém atualizadas todas as informações sobre as entidades sindicais registradas. Para a realização desta atribuição o Ministério do Trabalho e Emprego mantêm esse sistema. A competência do Ministério do Trabalho e Emprego para o registro de entidades sindicais é uma decorrência natural da manutenção do sistema da unicidade sindical, que visa impedir que mais de um sindicato represente o mesmo grupo profissional ou econômico na mesma base territorial, cumprindo a este Ministério zelar pela observância do princípio da unicidade sindical, em atuação conjunta com os terceiros interessados. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Cadastro Nacional de Entidades Sindicais. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/cnes/default.asp>. Acesso em 29 abril de 2008.250 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20072010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.251 A CNAE é o instrumento de padronização nacional dos códigos de atividade econômica e dos critérios de enquadramento utilizados pelos diversos órgãos da Administração Tributária do país. (MINISTÉRIO DA FAZENDA. Receita Federal. Apresentação. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaJuridica/CNAEFiscal/txtcnae.htm>. Acesso em: 29 abr. de 2008.252 O DIEESE, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, é uma criação do movimento sindical brasileiro. Foi fundado em 1955 para desenvolver pesquisas que fundamentassem as reivindicações dos trabalhadores. Ao longo de 50 anos de história, a instituição conquistou credibilidade, nacional e internacionalmente. Reconhecido como instituição de produção científica, O DIEESE atua nas áreas de: assessoria, pesquisa e educação. (DIEESE. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Disponível em: <http://www.dieese.org.br/fol/oQueDieese.xml>. Acesso em: 29 abril de 2008.253 A gestão governamental do setor do trabalho conta com o importante instrumento de coleta de dados denominado de Relação Anual de Informações Sociais – RAIS. A RAIS tem por objetivo: o suprimento as necessidades de controle da atividade trabalhista no país, o provimento de dados para a elaboração de estatísticas do trabalho e a disponibilização de informação do mercado de trabalho às entidades governamentais. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. O que é a RAIS. Disponível em: <http://www.rais.gov.br/RAIS_SITIO/oque.asp>. Acesso em: 29 abril de 2008).254 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20072010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.

66

Já para a aferição do índice previsto no inciso IV, será realizada anualmente

pelo MTE, utilizando-se das informações da RAIS do ano-base correspondente a

dois anos anteriores, outros dados de órgãos oficiais e do CNES do dia 31 de

dezembro do ano anterior ao do ano-base de referência. Excepcionalmente, para o

ano-base de 2008, serão utilizados os dados constantes do CNES, atualizados com

as declarações de filiação de sindicatos com cadastro ativo, transmitidas para o

sistema do MTE, na forma prevista do artigo 5°, da Portaria 194.255

Sob esses aspectos, as centrais sindicais e o Ministério do Trabalho e

Emprego acertaram a data de 22 de abril de 2008, como referência para medir a

representatividade de cada central sindical neste ano. As exigências serão

atualizadas anualmente, mas, a partir do ano que vem, valerá a data de 31 de

dezembro. A central que não alcançar esses requisitos perderá sua parte da

contribuição sindical e esta parcela será repassada à conta do Ministério do

Trabalho.256

Segundo técnicos do governo, as entidades mais antigas - como Central

Única dos Trabalhadores, Força Sindical e Nova Central - devem conseguir cumprir

todos os requisitos da lei.257 Das entidades já recadastradas, 42,3% são filiadas à

Central Única dos Trabalhadores. A Força vem em segundo lugar, com 19% e a

CTB tem 4,5%, segundo dados da CUT.258

O MTE divulgará anualmente, no mês de fevereiro do correspondente ano, a

relação das centrais sindicais que atenderem aos requisitos do artigo 2°, da Lei n.

11.648, indicando seus índices de representatividade. Já às centrais sindicais, que

atenderem aos requisitos legais, será fornecido Certificado de Representatividade

(CR), contendo a taxa de proporcionalidade, e, a partir de então, deverão publicar

seus balanços contábeis no Diário Oficial da União e no sítio eletrônico do MTE,

segundo o artigo 8°, da Portaria 194.259

255 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.256 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.257 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.258 CUT. Central do Mundo do Trabalho. Oficina sobre Organização Sindical faz diagnóstico da disputa na base. Disponível em: <http://www.cut.org.br/site/start.cut?infoid=18138&sid=6>. Acesso em: 29 abr. 2008.259 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abril de 2008.

67

Ademais, a Portaria n. 194 instituiu as instruções para a aferição dos

requisitos da representatividade das centrais sindicais, exigidos pela Lei 11.648, na

qual prescreve que as centrais sindicais deverão se cadastrar no Sistema Integrado

de Relações do Trabalho (SIRT)260, devendo, seu cadastro, ser atualizado

constantemente, de acordo com as instruções expedidas pela Secretaria de

Relações do Trabalho, tendo como requisitos:Parágrafo único. Para o cadastramento e atualização do cadastro no SIRT, a central sindical deverá protocolizar, na sede do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os seguintes documentos:I - atos constitutivos, registrados em cartório;II - comprovante de posse da diretoria e duração do mandato;III - indicação dos dirigentes com nome, cargo e número do Cadastro Pessoa Física - CPF;IV - informação do representante legal junto ao Ministério do Trabalho e Emprego;V - indicação do tipo de diretoria, se singular ou colegiada;IV - Certidão do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ, do Ministério da Fazenda; eVII - Comprovante de endereço em nome da entidade.261

O artigo 4°, da Lei 11.648, fixa que a aferição dos requisitos de

representatividade, prevista no artigo 2° desta Lei, ficará a cargo do Ministério do

Trabalho e Emprego, mediante consulta às centrais sindicais, expedir instruções,

disciplinados os procedimentos de aferição da representatividade, bem como alterá-

los com base na análise dos índices de sindicalização dos sindicatos filiados às

centrais sindicais.262

O artigo 6°, da Portaria n. 194, indica como será calculado o índice de

representatividade (IR), para o qual se utiliza da seguinte fórmula:IR = TFS / TSN * 100, onde:IR = índice de representatividade;TFS = total de trabalhadores filiados aos sindicatos integrantes da estrutura organizativa da central sindical, comprovado nos termos do art. 5º;

260 A medida provisória 294, que cria o Conselho Nacional de Relações de Trabalho, traz no seu artigo primeiro que fica instituído no âmbito do MTE, o Conselho Nacional de Relações do Trabalho, órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa, de composição tripartite e paritária. Já o artigo segundo contem as finalidades do CNRT, as quais: I - promover o entendimento entre trabalhadores, empregadores e Governo Federal, buscando soluções acordadas sobre temas relativos às relações do trabalho e à organização sindical;II - promover a democratização das relações de trabalho, o tripartismo e o primado da justiça social no âmbito das leis do trabalho e das garantias sindicais; e III - fomentar a negociação coletiva e o diálogo social. (ADUNESP. Disponível em: <http://www.adunesp.org.br/reformas/sindical/MP%20294-06%20%20Conselho%20Nacional%20de%20Rela%C3%A7%C3%B5es%20do%20Trabalho.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2008).261 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abr. de 2008.262 COMISSÃO MISTA. Medida Provisória N. 293 de 2006. Disponível em: <http://www.ncstpr.org.br/Arquivos/RELATORIO%20MP%20293-2006.doc>. Acesso em: 29 abr. 2008.

68

TSN = total de trabalhadores sindicalizados em âmbito nacional, comprovado nos termos do art. 5º.263

A Central Sindical, para atender ao índice de representatividade, relativo aos

exercícios de 2008 e 2009, deverá apresentar o índice de, no mínimo, 5% (cinco por

cento). Para os exercícios seguintes, o percentual deverá ser de, no mínimo, 7%

(sete por cento), segundo o artigo 5°, parágrafos terceiro e quarto, da Portaria 194.

Esse percentual será usado para calcular, proporcionalmente, quantos

representantes cada central sindical poderá indicar para os fóruns tripartites.264

O índice de representatividade será usado para calcular, proporcionalmente,

quantos representantes cada central sindical poderá indicar para os fóruns

tripartites. Outra possibilidade é a realização de acordo entre as centrais para essas

indicações, contanto que não haja prejuízo a outras centrais que não participaram.265

Por fim, cabe esclarecer que, para as centrais sindicais participarem de

negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e outros espaços que

discutam assuntos gerais dos trabalhadores que possuem composição tripartite,

estas deverão observar os requisitos para a aferição dos índices de

representatividade que ficará a cargo do MTE.

O presente trabalho teve como objetivo demonstrar que a unicidade sindical,

prevista na Constituição, não é absolutamente aplicada. Isso se deve ao fato de que,

desde 1983 (ano de criação da primeira central), tem-se a existência, no Brasil, das

Centrais sindicais, as quais, com a aprovação da Lei 11.648/2008, foram

formalmente regularizadas como entidades gerais de representação dos

trabalhadores e passarão a receber uma parcela de 10% do total da contribuição

sindical, recolhida anualmente pelos trabalhadores.

No entanto, o sistema sindical brasileiro continua sendo o confederativo, pois

não foi alterado o texto constitucional em seu artigo 8°, II, no qual prevê a unicidade

sindical. A nova Lei, em seu artigo primeiro, parágrafo único, considerou a central

sindical como entidade associativa de direito privado, composta por organizações

sindicais de trabalhadores, sem determinar se se tornou uma entidade sindical ou

não, mas lhe concedendo um grande estímulo, o monetário.

263 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abr. de 2008.264 BRASIL. Lei 11.648. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11648.htm>. Acesso em: 28 abr. de 2008.265 NOTADEZ. Centrais Sindicais: Legalização: Aprovação do Projeto de Lei. 18.10.2007. Disponível em: <http://www.notadez.com.br/content/noticias.asp?id=46211>. Acesso em: 28 abril de 2008.

69

Como se pode observar, há uma incoerência entre a Lei 11.648, que

regularizou as centrais, e a Constituição, ao passo que as centrais sindicais

passaram a receber a contribuição sindical, que é fonte de custeio dos entes

sindicais que possuem personalidade jurídica de direito sindical, uma vez que,

conforme a Lei, elas não fazem parte sistema confederativo brasileiro, sendo

consideradas entidades associativas compostas por organizações sindicais.

Para as centrais sindicais fazerem parte do sistema confederativo brasileiro, a

nova Lei deveria ter sido aprovada através de Emenda à Constituição, e não por

meio de Medida Provisória. Além disso, todo o modelo de organização sindical

brasileiro deveria ser mudado, como: o sistema da unicidade sindical, base territorial

mínima e categoria definida em lei, o que não ocorreu.

Isso levar a dizer que a regularização das centrais sindicais foi pela metade,

pois não se conferiu à mesma personalidade jurídica de direito sindical. Todavia,

desde a sua criação, até hoje, as centrais sindicais têm buscado apoiar as ações

que visem à conquista de melhores condições de vida e trabalho, para o conjunto da

classe trabalhadora da cidade e do campo, bem como buscar esforços para a

implantação da organização sindical baseada na liberdade e autonomia sindical.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Far-se-á agora um momento reflexivo sobre os alcances do tema investigado

e da própria pesquisa, tendo em vista o objetivo geral, qual seja: demonstrar que a

previsão legal da unicidade sindical é ineficiente.

70

O início da pesquisa trouxe um universo histórico sobre o surgimento da

liberdade sindical no mundo e no Brasil, partindo-se do geral para o particular, ou

seja, primeiro apreciando o tema sob o prisma no mundo para, depois, apreciar no

Brasil. Isso se fez necessário diante importância do tema e visando facilitar o

entendimento do trabalho.

Inicialmente, foi analisado o surgimento da liberdade sindical no mundo, no

qual tem sido discutida desde 1919, quando da criação da Constituição da OIT, na

qual previa em, seu preâmbulo, a afirmação de tal instituto, que era um dos objetivos

a ser alcançado. Os dois mais importantes tratados emanados da OIT, que adotam

explicitamente o princípio da liberdade sindical, são a Convenção 87, denominada

convenção sobre Liberdade Sindical e a Proteção do Direito Sindical. Essa norma é

a que traça os principais parâmetros a respeito de liberdade sindical.

E a Convenção 98, da OIT, a qual dispõe sobre a aplicação dos princípios do

direito de sindicalização e de negociação coletiva ao dispor que “os trabalhadores

deverão gozar de adequada proteção contra todo ato de discriminação tendente a

menoscabar a liberdade sindical em relação com seu emprego”.

Essas duas Convenções instituem as bases para se conceber o verdadeiro

regime de liberdade sindical. Constatou-se, assim, que a liberdade sindical é um

direito básico defendido pela OIT.

No Brasil, o sistema sindical tem fortes raízes no modelo corporativo,

implantado no Estado Novo, no qual a liberdade sindical é sufocada, ao prever a

unicidade sindical, a categoria definida em lei, a base territorial mínima.

Durante o período colonial, iniciado em 1822 e findo em 1889, não havia

referência à liberdade sindical, posto que o regime de trabalho adotado no país era a

escravidão.

A partir de 1930, inicia-se um novo período para o sindicalismo, no Brasil, de

traços marcantes até hoje. Do ponto legislativo, esse período começa com o Decreto

n. 19.770, de 19 de março de 1931, que implantou a estrutura rígida, no tocante à

organização sindical, que se distancia de um modelo de liberdade sindical.

Além do mais, estabeleceu a sindicalização por categoria, estruturou o

sistema confederativo, transformando o sindicato em órgão de colaboração com o

Estado, negou-lhe função política e lhe deu função assistencial.

O corporativismo, consumado institucionalmente somente na Constituição de

1937, de fato, inicia-se a partir da Revolução de 1930, e prolonga-se com maior ou

71

menor intensidade de acordo com a temperatura política – até a promulgação da

Constituição de 1988. Esta atendendo aos reclamos dos que buscavam menos

interferência do Estado nas organizações sindicais, concede liberdade, de forma

autônoma, para a administração interna destas entidades, além de impedir a

interferência e a intervenção do Estado.

Entretanto, esse sistema revela total descompasso com o modelo proposto

pela OIT, em sua Convenção n. 87, pois esta prevê a liberdade plena de

associação. Esta convenção determina que a liberdade sindical seja o princípio

maior a reger a união dos trabalhadores e empregadores e, por isto, toda e qualquer

restrição imposta pelo Estado é incompatível se não for razoável e decorrente do

interesse público.

Foi verificado, portanto, que o princípio da liberdade sindical se contrapõe

nitidamente ao do sistema corporativo – pelo qual o enquadramento das entidades

sindicais é realizado pelo Estado, submetendo-as a rígido controle estatal.

Contudo, com a promulgação da Constituição de 1988, não houve a

passagem do sistema corporativista para o da liberdade sindical. Mas, também, não

foi preservado totalmente o sistema corporativista, não obstante tenham sido

mantidas algumas de suas estruturas fundamentais suficientes para mantê-lo, por

assim dizer, intacto. Estas estruturas corporativas, ainda vigentes, são

consubstanciadas no princípio da unicidade sindical, na noção de categoria, e na

contribuição obrigatória.

No que concerne ao conceito de liberdade sindical, nada mais é do que uma

junção de várias liberdades, as quais estão previstas nas Convenções da OIT.

Concluiu-se, assim, que a chamada “conquista” da liberdade sindical resulta na

consagração do direito dos trabalhadores de livremente organizar sindicatos com

autonomia perante o Estado e os empregadores, assim como de exercitar os direitos

inerentes à atuação das ditas organizações, quais sejam: os direitos sindicais.

No decorrer dessa monografia, buscou-se demonstrar que a forma ideal de

sistema sindical, no nosso entender, é a unidade sindical, que decorre da livre e

voluntária opção dos interessados, não contrariando, assim, o princípio da liberdade

sindical. Todavia, o sistema sindical brasileiro é o da unicidade sindical, no qual é

totalmente incompatível com a liberdade sindical, porque importa em negar a livre

escolha de filiação.

72

O oposto desse modelo é o da pluralidade sindical, pois possibilita a

existência de mais de uma entidade sindical representativa do mesmo grupo,

criando-se e mantendo as organizações sindicais, em decorrência da vontade dos

interessados, sem que o Estado possa interferir, sendo que este sistema conduz à

unidade – que é o ideal a ser almejado.

As entidades sindicais, no Brasil, organizam-se com base no sistema

confederativo. Referido sistema é uma estruturação vertical (por ramo e grupo de

categorias), representada graficamente por uma pirâmide, que agrega, como

entidade de base, o sindicato e, posteriormente, as entidades de grau superior,

como as federações e confederações.

As entidades sindicais, segundo doutrina predominante, são de direito

privado. E, como tal, deve ser considerada como uma associação de empregados

ou de empregadores. A entidade sindical é espécie do gênero associação, mas uma

espécie com características especiais e finalidade específica. Acha-se investida no

poder de reivindicar, celebrar instrumentos normativos e representar os interesses

de um segmento.

Para a criação válida de uma entidade sindical, na atual conjuntura nacional,

é preciso respeitar a unicidade sindical, a base territorial mínima e a sindicalização

por categoria. Estes pressupostos legais são verificados pelos MTE. Além disso, só

pode ser constituída organização sindical que integre o sistema confederativo, que

são: os sindicatos, a federação e a confederação. Qualquer outra entidade, como no

caso das centrais sindicais, não será considerada como tendo personalidade jurídica

de Direito Sindical e, portanto, não gozará das prerrogativas das entidades sindicais.

Da mesma forma, a contribuição sindical compulsória, a nosso ver, é uma

violação aos direitos sindicais. Ao passo que as entidades sindicais, que precisam

de renda, devem procurar aumentar o número de filiados com uma adequada

política social e não se utilizar de medidas coercitivas para garantir direitos. O

Constituinte de 1988 não só manteve a contribuição sindical, como ela continua

sendo compulsória, totalmente incompatível com um sistema de liberdade sindical.

Assim, ao contrário do que se proclama, o fim das contribuições compulsórias

não ensejará o fim das entidades existentes. Isto apenas ocorrerá em relação às

entidades sindicais que não tenham, na verdade, condições de sobrevivência em um

regime democrático, por lhes faltar representatividade autêntica.

73

A CRFB/88 pretendeu implantar a liberdade sindical; porém, não o fez de

forma ampla, em razão de continuar a consagrar, em seu art.8°, II, a unicidade

sindical. Deste modo, vedou a criação de mais de uma organização sindical, em

qualquer grau, preservando o sistema confederativo hierarquizado. Com isto, negou-

se, de forma indireta, mas taxativa, a possibilidade de incorporação das centrais

sindicais à estrutura sindical brasileira.

Todavia, desde 1983 (ano de criação da primeira central), tem-se a

existência, no Brasil, das Centrais sindicais, as quais, com a aprovação da Lei

11.648/2008, foram formalmente regularizadas como entidades gerais de

representação dos trabalhadores e passarão a receber uma parcela de 10% do total

da contribuição sindical. No entanto, o sistema sindical brasileiro continua sendo o

confederativo, pois não foi alterado o texto constitucional em seu artigo 8°, II, no qual

prevê a unicidade sindical.

Para as Centrais sindicais fazerem parte do sistema confederativo brasileiro,

a nova Lei deveria ter sido aprovada através de Emenda à Constituição e não por

meio de Medida Provisória. Além disto, todo o modelo de organização sindical

brasileiro deveria ser mudado, como: o sistema da unicidade sindical, base territorial

mínima e categoria definida em lei, o que não ocorreu.

No que concerne à natureza jurídica da central, a nova Lei, em seu artigo

primeiro, parágrafo único, considerou a central sindical como entidade associativa de

direito privado, composta por organizações sindicais de trabalhadores, sem

determinar se se tornou uma entidade sindical ou não, mas lhe concedendo um

grande estímulo, o monetário.

Como foi possível se observar, há uma incoerência entre a Lei 11.648 que

regularizou as centrais e a Constituição, ao passo que as Centrais sindicais

passaram a receber a contribuição sindical, que é fonte de custeio dos entes

sindicais que possuem personalidade jurídica de direito sindical, ao passo que,

conforme a Lei, elas não fazem parte do sistema confederativo brasileiro, sendo

consideradas entidades associativas compostas por organizações sindicais.

Dessa forma, a nova Lei não conferiu às centrais sindicais personalidade

jurídica de direito sindical. Todavia, desde a sua criação até hoje, as centrais

sindicais têm buscado apoiar as ações que visem à conquista de melhores

condições de vida e trabalho para o conjunto da classe trabalhadora da cidade e do

74

campo, e buscando esforços para a implantação da organização sindical, baseada

na liberdade e autonomia sindical.

No decorrer dessa monografia, buscou-se descobrir o contexto histórico-

político em que se insere a reforma da organização sindical. Partindo destas

considerações, foi possível identificar as bases que nortearam a aprovação da Lei

11.648/2008, que regularizou as centrais sindicais.

Em 1989, na conjuntura máxima do neoliberalismo em ação, foram listadas,

no “Consenso de Washington”, políticas que o governo dos Estados Unidos

preconizava para a crise econômica dos países da América Latina. Uma destas

resoluções era a flexibilização das relações de trabalho.

Como conseqüência, as conclusões do Consenso acabaram tornando-se

medidas impostas por agências internacionais para a concessão de créditos: os

países que quisessem empréstimos do FMI e do Banco Mundial, por exemplo,

deveriam adequar suas economias às novas regras. Deste modo, os países que

necessitam de créditos continuam seguindo a receita internacional, a qual

recomenda, em um de seus pontos, a redução da legislação trabalhista.

Ante a todas essas considerações, fica explicada a motivação do governo em

reformar a legislação sindical brasileira; afinal, o Brasil precisa adequar-se às

normas da Organização Internacional do Trabalho, bem como respeitar as regras do

Consenso de Washington, para não ter seus empréstimos prejudicados.

Diante de todas essas circunstâncias, o que se espera é que a democracia

chegue ao âmbito do sindicalismo, pois não se justifica mais o modelo vigente da

unicidade sindical, sendo certo que a pluralidade sindical não enseja só a

concorrência entre os sindicatos, mas, principalmente, a solução da questão da

representatividade, em contraponto à inércia em que se encontra o modelo atual.

Isto posto, é possível se afirmar, então, que tanto o objetivo geral quanto os

objetivos específicos foram alcançados. Assim, este trabalho se encerra, propondo

que o tema abordado, de grande importância, não só para os operadores do direito,

mas para toda a sociedade, seja estudado com mais profundidade, acreditando-se

que venha a servir de importante instrumento para aqueles que se propuserem a dar

continuidade a uma pesquisa com o referencial teórico e os instrumentos aqui

utilizados.

75

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