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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL JONATHAN DOS PASSOS FAGUNDES ITAJAÍ , SC JUNHO/2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

JONATHAN DOS PASSOS FAGUNDES

ITAJAÍ , SC JUNHO/2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

JONATHAN DOS PASSOS FAGUNDES

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Esp. Fabiano Oldoni

ITAJAÍ,SC, JUNHO/ 2007

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AGRADECIMENTO

Agradeço ao meu pai, João José Fagundes, a minha mãe, Vera Lúcia dos Passos, aos meus irmãos, Juliani dos Passos Fagundes e Alexandre dos Passos Fagundes pelo incentivo que me deram à elaboração deste trabalho e, também, ao meu orientador, Fabiano Oldoni, o qual muito me ajudou no decorrer da pesquisa.

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DEDICATÓRIA

Dedico, com todo amor e carinho, esta monografia aos meus pais e aos meus irmãos.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, SC, 19 de junho de 2007.

Jonathan dos Passos Fagundes Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Jonathan dos Passos Fagundes,

sob o título Valor Probatório do Inquérito Policial, foi submetida em 19 de junho de

2007 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Fabiano

Oldoni, Orientador e Presidente da Banca, Renato Massoni - Examinador e

Rogério Ristow - Examinador, sendo aprovada com a nota 9.50 (nove e meio).

Itajaí, SC, 19 de junho de 2007.

Fabiano Oldoni Orientador e Presidente da Banca

Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CPP/1941 Código de Processo Penal

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil

CP Código Penal

HC Hábeas Corpus

Nº Número

§ Parágrafo

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

INQUÉRITO POLICIAL

“Um procedimento de investigação administrativa, em sentido estrito que,

mediante a atuação da polícia judiciária, guarda finalidade de apurar a

materialidade da infração penal, cometida ou tentada, e a respectiva autoria, ou

co-autoria para servir ao titular da ação penal condenatória”.1

PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

“Por ampla defesa entende-se o asseguramento que é dado ao réu de condições

que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a

esclarecer a verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se, se entender

necessário...”2

PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

o contraditório é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo a condução

dialética do processo (par conditio), pois a todo ato produzido pela acusação

caberá igual direito de defesa de opor-se-lhe ou de dar-lhe a versão que melhor

apresente”.3

PERSECUÇÃO PENAL

“Persecução Penal significa, portanto, a ação de perseguir o crime. Assim, além da idéia

da ação da justiça para punição ou condenação do responsável por infração penal, em

processo regular, inclui ela os atos praticados para capturar ou prender o criminoso [...]

1 TUCCI, Rogério Lauria. Prescrição Penal, Prisão e Liberdade. Ed.Saraiva, 1980. 2 MORAES, Alexandre de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo : Atlas, 2006.p.93. 3 MORAES, Alexandre de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo : Atlas, 2006.p.93.

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Com ela se procura tornar efetivo o jus puniendi resultante da prática de crime a fim de se

impor a seu autor a sanção penal cabível”.4

POLÍCIA JUDICIÁRIA

“A polícia judiciária não tem mais que função investigatória. Ela impede que

desapareçam as provas do crime e colhe os primeiros elementos informativos da

persecução penal, com o objetivo de preparar a ação penal”.5

4 MIRABETE, Júlio Fabbrini Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São Paulo: Atlas, 2005.p.78. 5 MARQUES, José Frederico Elementos de direito processual penal.v 1. 2. ed. Campinas: Millennium, 2003.p.160.

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SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................................. XI

INTRODUÇÃO........................................................................................................1

CAPÍTULO 1...........................................................................................................3

PERSECUÇÃO PENAL..........................................................................................3 1.1A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PERSECUÇÃO PENAL .................................3 1.2 FASE PRELIMINAR .........................................................................................8 1.3 POLÍCIA .........................................................................................................10 1.3.1 DIVISÃO .........................................................................................................12 1.3.2 POLÍCIA DE SEGURANÇA .................................................................................13 1.3.3 POLÍCIA JUDICIÁRIA ........................................................................................14

CAPÍTULO 2.........................................................................................................20

DO INQUÉRITO POLICIAL ..................................................................................20 2.1 CONCEITO .....................................................................................................20 2.2 NATUREZA ....................................................................................................22 2.3 FINALIDADE ..................................................................................................24 2.4 CARACTERÍSTICAS ......................................................................................26 2.5 INSTAURAÇÃO..............................................................................................30 2.6 INSTRUÇÃO...................................................................................................36 2.6.1 APREENSÃO DOS OBJETOS E INSTRUMENTOS DO CRIME ...................................36 2.6.2 DA BUSCA E APREENSÃO ...............................................................................36 2.6.3 INQUIRIÇÃO DO OFENDIDO...............................................................................38 2.6.4 INQUIRIÇÃO DO INDICIADO ...............................................................................40 2.6.5 DO RECONHECIMENTO ....................................................................................43 2.6.6 DA ACAREAÇÃO.............................................................................................44 2.6.7 DA PERÍCIA ....................................................................................................45 2.6.8 REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS ..............................................................47 2.6.9 A IDENTIFICAÇÃO ...........................................................................................48

CAPÍTULO 3.........................................................................................................51

O VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL........................................51 3.1 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA ..................................................................51 3.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO ................................................................53 3.3 DA CONDENAÇÃO CALCADA EM PROVAS PRODUZIDAS APENAS NO INQUÉRITO POLICIAL ........................................................................................56 3.4 A NULIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL E SEUS EFEITOS NO PROCESSO PENAL ..................................................................................................................61

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................67

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS..............................................................71

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RESUMO

A presente Monografia tem como objeto o Valor Probatório do

Inquérito Policial, sendo o seu objetivo geral conceber a origem, finalidade e

peculiaridades do inquérito policial e, especificamente, perquirir o seu valor como

prova no processo-crime, tratando-se, em seu primeiro capítulo, sobre A Evolução

Histórica da Persecução Penal, Fase Preliminar, Polícia de Segurança e Polícia

Judiciária.No capítulo segundo, abordando o conceito do Inquérito Policial,

analisando sua natureza, finalidade, suas características, como também, a

instauração e instrução do mesmo. No capítulo terceiro, tratando do Princípio da

Ampla Defesa, do Contraditório, da Condenação Calcada em Provas no Inquérito

Policial e A Nulidade do Inquérito Policial e seus Efeitos no Processo Penal.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o Valor Probatório do

Inquérito Policial.

O seu objetivo geral é conceber a origem, finalidade e

peculiaridades do inquérito policial e, especificamente, perquirir o seu valor como

prova no processo-crime.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando sobre A

Evolução Histórica da Persecução Penal, Fase Preliminar, Polícia de Segurança e

Polícia Judiciária.

No Capítulo 2, tratando do conceito do Inquérito Policial,

analisando sua natureza, finalidade, suas características, como também, a

instauração e instrução do mesmo.

No Capítulo 3, tratando do Princípio da Ampla Defesa, do

Contraditório, da Condenação Calcada em Provas no Inquérito Policial e A

Nulidade do Inquérito Policial e seus Efeitos no Processo Penal.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados sobre o Valor Probatório do Inquérito Policial.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

� Os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório não se aplicam ao inquérito policial.

� A sentença penal condenatória não pode basear-se exclusivamente em provas produzidas no inquérito policial.

� A nulidade do inquérito policial anula o processo-crime.

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Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e o Relatório dos Resultados expresso, na presente

Monografia, é composto na base lógica Indutiva6.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente7, da Categoria8, do Conceito Operacional9 e da Pesquisa

Bibliográfica10.

6 “Método é a forma lógico-comportamental na qual se baseia o Pesquisador para investigar, tratar

os dados colhidos e relatar os resultados”. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. 8 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002. p. 104); sobre os métodos nas diversas fases da Pesquisa Científica, vide (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 99-107).

7“explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 241) 8 “Palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia”. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 229). 9 “definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas”. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 241). 10 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 240).

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CAPÍTULO 1

PERSECUÇÃO PENAL

1.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PERSECUÇÃO PENAL

Antes de adentrar à evolução histórica da persecução penal, é,

preliminarmente, necessário perquirir o significado do termo persecução, o qual é

derivado do latim persecutio, que significa perseguir o crime. Na esfera do

processo penal vem a ser a ação de seguir o crime com o propósito final de

capturar o infrator da norma penal e lhe processar para que seja punido na forma

da lei.

De acordo com o autor De Plácido e Silva, persecução é

concebida da seguinte forma:

Derivado do latim persecutio, de persequi (seguir sem parar, ir ao enlaço, perseguir), é tomado na acepção jurídica como a ação de seguir ou perseguir em justiça [...] Perseguição. No sentido penal, além de idéia de ação da justiça para punição ou para condenação do responsável por um delito ou crime, em processo regular, entende-se a ação para capturar ou para prender o criminoso, a fim de se veja processar e venha a sofrer a pena que lhe for aplicada1.

Na Grécia, os atenienses classificavam os crimes que atingiam

a coletividade, como sendo crimes públicos e, por isso, a punição não podia ficar

a cargo do ofendido. Já os delitos que não afetavam a sociedade, ou seja, os que

1 SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico, 24 ed. Rio de Janeiro, 2004.p.1054.

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eram de menos importância, dependiam, exclusivamente, da parte lesada para

ter-se encetada a investigação e, posteriormente, a acusação.

Os cidadãos participavam, de forma direta, na perseguição do

crime, sendo que, quando se tratava de delitos graves, os quais eram

classificados como atentatórios para a cidade, os mesmos eram levados ao

conhecimento da Assembléia do Povo ou ao Senado, pelos denominados

Tesmotetas, assim, o Senado ou a Assembléia designava um cidadão, o qual

ficava incumbido de ser acusador do delito.

O acusador, no dia do julgamento, era o primeiro a falar,

inquirindo as suas testemunhas, depois, a defesa.Não havia nenhum tipo de

garantia ao acusado.

Os juízes se cingiam, tão-somente, às funções de árbitros e

votavam sem deliberar. A decisão era tomada por maioria dos votos e, sempre,

que dava empate, o acusado era absolvido.

No que concerne ao relato acima, Tourinho Filho esclarece:

Os atenienses, como os romanos, faziam distinção entre os crimes públicos e os crimes privados. Os primeiros prejudicavam a coletividade, e, por isso, sua repressão não podia ficar à mercê do ofendido; quanto aos segundos, a lesão produzida era de somenos importância para o Estado, e, assim, a repressão dependia da exclusiva iniciativa da parte. Entre os atenienses, o Processo Penal se caracterizava ‘pela participação direta dos cidadãos no exercício da acusação e da jurisdição, e pela oralidade e publicidade dos debates’. Alguns delitos graves, que atentavam contra a própria cidade, eram denunciados ante a Assembléia ou o Senado indicava o cidadão que devia proceder à acusação. Apresentada a acusação, as provas e prestado o juramento, o Arconte procedia à prelibação da seriedade da acusação e designava o Tribunal competente, convocando as pessoas que deveriam constituí-lo.No dia do julgamento, falava,

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por primeiro, o Acusador, inclusive inquirindo suas testemunhas. Em seguida a defesa.2

Da mesma forma, Mirabete:

Considerando a distinção então corrente entre crimes privados e crimes públicos, na Grécia a repressão dos primeiros, que se caracterizavam pela pouca relevância e por atingirem bens essencialmente particulares, ficava à mercê do ofendido.Os demais, mais graves por atingirem direitos sociais, eram apurados com participação direta dos cidadãos e o procedimento primava pela oralidade e publicidade dos debates. Quanto aos delitos que atentavam contra o próprio Estado, após a denúncia perante a Assembléia ou Senado, era indicado o acusador, e o Arconte designava e compunha o tribunal popular para julgamento. Perante este se manifestava o causador, apresentando testemunhas, e em seguida a defesa3.

Em Roma, em se tratando de processo penal privado, o

magistrado cingia-se às provas apresentadas pelas partes e, com base nelas,

decidia. Na esfera pública, o juiz agia, concomitantemente, como investigador e

julgador, especialmente, na fase monárquica, quando bastava a notitia criminis

para que ele enveredasse para as investigações preliminares que consistiam

numa fase chamada de inquisitio.

Em tal fase, dispensava-se a acusação, visto que o

magistrado, logo após as investigações, impunha uma pena ao acusado sem lhe

conferir sequer uma garantia.

É o relato de Tourinho Filho:

No começo da Monarquia, não havia nenhuma limitação ao poder de julgar. Bastava a notitia criminis para que o próprio Magistrado se pusesse em campo, a fim de proceder às necessárias investigações. Essa fase preliminar chamava-se inquisitio. Após

2 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São Paulo

: Saraiva, 2005.p.79-80. 3 MIRABETE, Júlio Fabbrini. processo penal. 17.ed.rev. e atual. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.78

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as investigações, o Magistrado impunha a pena. Prescindia-se da acusação. Nenhuma garantia era dada ao acusado...4

No tempo da República, foi criado um novo procedimento

designado de accusatio, Neste, todo o cidadão tinha o direito de acusar,

excetuando-se os magistrados, as mulheres, os menores de idade e pessoas

indignas de fé pública.

O acusador dava início ao processo através da postulatio, a

qual era dirigida ao quaesitor, este decidia se tal fato constituía crime ou não.

Aceito o pedido da acusação, a mesma era registrada para ser julgada pelo

Tribunal, sendo que, depois de inscrita a peça acusatória, o acusador não tinha

como desistir, sendo que tinha que proceder, primeiramente, às investigações

para, depois, em juízo, fazer a acusação.

A cognitio extra ordinem, no Império Romano, tomou o lugar

do procedimento acusatio e, aos poucos, fora tirando as atribuições do acusador

na esfera privada e aumentando os poderes do juiz, o qual exercia, ao mesmo

tempo, a função de julgar e acusar, esta última assemelhava-se, hodiernamente,

com o poder do Ministério Público, titular da ação penal pública.

Procedia-se, no novo procedimento, a uma inquisição

preliminar e, de forma análoga à da Polícia Judiciária atual, havia funcionários

encarregados de apurar as particularidades do delito. Contudo, depois de findada

as investigações, o magistrado atuava por conta própria, assim, dispensava a

acusação e a denúncia.

Também, havia o emprego de tortura para que os réus e

testemunhas falassem a verdade.

Ainda, com base no mesmo autor:

No último século da República, surgiu nova forma de procedimento: a accusatio. Qualquer cidadão tinha o direito de acusar, exceto os Magistrados, as mulheres, os menores e as

4 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.80 -81.

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pessoas ‘que por seus antecedentes não oferecessem garantias de honorabilidade’. Iniciava-se o processo com a postulatio dirigida pelo acusador ao quaesitor – quem decidia se o fato alegado constituía crime e se não havia nenhum obstáculo para que a demanda fosse admitida. Aceita a postulatio, dava-se a incriptio, isto é, inscrevia-se a postulatio no registro do Tribunal, e, uma vez inscrita, já não podia o acusador desistir e, ao mesmo tempo, nascia para ele o direito de proceder às necessárias investigações para demonstrar em juízo a acusação [...] Ao tempo do Império, a acusatio foi, pouco a pouco, cedendo lugar a outra forma de procedimento: a cognitio extra ordinem [...] em determinada época, se reuniam no mesmo órgão do Estado (magistrado) as funções que hoje competem ao Ministério Público e ao Juiz [...] Com o novo procedimento, procurou-se evitar aquela degeneração. Procedia –se a uma inquisição preliminar, e havia, à semelhança da nossa Polícia Judiciária, funcionários encarregados de proceder a tais investigações...5

No começo do século XIII, no Processo Penal Eclesiástico,

fora abolido o sistema acusatório, sendo que passou a viger, fortemente, o

sistema inquisitivo. Nesta época, em decorrência do resgate do referido sistema,

o qual nascera em Roma, a tortura foi regulamentada pelos cânones6.

Na Europa, embora, no sistema inquisitivo, coubesse ao juiz

acusar e julgar. Em meados do século XIV, “surgiu, na França, um corpo de

funcionários cuja função era promover a persecução em nome do poder social”.

Todavia, continuou a competir, também, aos juízes a função da persecução

penal7.

A tortura durou até o século XVIII, quando então, fora criado

um movimento contra o sistema inquisitivo. Montesquieu engrandecia a Instituição

do Ministério Público e criticava a tortura8.

5 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.81 -82 - 83. 6 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.81 –84. 7 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.93.

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Após a Revolução Francesa, fora criado um sistema misto, o

qual derivou da soma do sistema inquisitivo e acusatório. Neste, havia três fases,

a saber: investigação preliminar; instrução preparatória e julgamento9.

Atualmente, no Brasil, o sistema é o acusatório. O Ministério

Público é titular da ação penal pública e, por isso, exerce, exclusivamente, a

persecutio criminis in judicio, a qual é a segunda fase da persecução penal. No

caso de ação penal privada, compete à vítima proceder à persecução penal.

A primeira fase da persecução penal é a fase preliminar, a

qual compete à polícia judiciária averiguar com o fim de preparar a acusação.

1.2 FASE PRELIMINAR

O Estado, como o detentor do jus puniendi, tem a

incumbência de fazer cumprir a norma penal infringida. Havendo crime, poderá

iniciar um inquérito policial e uma posterior ação penal.

O instrumento, de praxe, mais usado para obtenção dos

referidos dados de investigação é o inquérito policial o qual, com base no artigo

4º. do CPP, é instaurado pela polícia judiciária e serve de sustentáculo para

providências cautelares e a competente ação penal .

A união desse procedimento investigatório com a eventual

ação penal promovida pelo Ministério Público ou a queixa-crime pelo ofendido

tem-se denominado pela doutrina como uma espécie de persecução penal que

consiste na perseguição do crime a fim de punir o infrator que violou a lei penal.

É, a investigação preliminar, de suma importância, pois para

que o Estado possa punir o infrator da norma penal, é preciso que o mesmo,

8 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São Paulo

: Saraiva, 2005.p.89. 9 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São Paulo

: Saraiva, 2005.p.89.

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antes do início do contraditório, já tenha, de antemão, provas para que seja

possível o ajuizamento da ação penal.

Segundo Mirabete:

Nos termos do artigo 4o do CPP, cabe à polícia judiciária, exercida pelas autoridades policiais, a atividade destinada à apuração das infrações penais e da autoria por meio do inquérito policial, preliminar ou preparatório da ação penal. À soma dessa atividade investigatória com a ação penal promovida pelo Ministério Público ou o ofendido se dá o nome de persecução penal (persecutio criminis). Com ela se procura tornar efetivo o jus puniendi resultante da prática de crime a fim de se impor a seu autor a sanção penal cabível. Persecução Penal significa, portanto, a ação de perseguir o crime. Assim, além da idéia da ação da justiça para punição ou condenação do responsável por infração penal, em processo regular, inclui ela os atos praticados para capturar ou prender o criminoso...10

Para Pessina:

o dever de punir do Estado sai de sua abstração hipotética e potencial para buscar existência concreta e efetiva. A aparição do delito por obra de um ser humano tornar imperativa sua persecução por parte da sociedade (persecutio criminis), a fim de ser submetido o delinqüente à pena que tenha sido prevista em lei11.

Tourinho Filho ensina da seguinte forma:

O Estado realiza essa tarefa ingente por meio de órgãos por ele criados. O órgão do Ministério Público incumbe-se de ajuizar a ação penal e acompanhar o seu desenrolar até final. É o que se chama persecutio criminis in judicio. Mas, para o órgão do Ministério Público poder levar ao conhecimento do Juiz a notícia sobre um fato infringente da norma, apontando-lhe o autor, é intuitivo tenha em mãos os elementos comprobatórios do fato e da respectiva autoria [...] Para tanto, o Estado criou outro órgão,

10 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.78. 11 Apud MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v 1. 2. ed. Campinas:

Millennium, 2003.p.160.

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incumbido precipuamente dessa missão. É a polícia Civil, como denomina o § 4o do art.144 da Carta Política (mais conhecida como Polícia Judiciária), cuja finalidade é investigar o fato infringente da norma e quem tenha sido o seu autor, colhendo os necessário elementos probatórios a respeito. Feita essa investigação, as informações que a compõem são levadas ao Ministério Público, a fim de que este, se for o caso, promova a competente ação penal12.

Com base no exposto pelos autores, infere-se que a fase

inicial da persecução penal consiste nas informações auferidas pela Polícia

Judiciária, as quais mesmo não tendo valor contundente, em virtude de, nesta

fase, não vigorar o princípio do contraditório, precipuamente, em se tratando das

provas testemunhais sobre a autoria do delito, é, tal indício prova imprescindível

para que o Estado-juiz tenha supedâneo para decretar medidas cautelares no

combate à violação à ordem pública, conveniência da instrução criminal e

aplicação penal, como também, ao representante do Ministério Público de propor

a ação penal, permitindo, por esta forma, ao Estado exercer com o seu jus

puniendi.

1.3 POLÍCIA

O termo polícia, derivado do latim politia que, por sua vez, é

oriundo do grego politéia (cidade), conotou, naqueles tempos, a organização

política, o governo da cidade, o que, em Roma, passou a ter o sentido específico

de ser a ação governamental com o fim de assegurar a ordem pública e,

conseqüentemente, a segurança dos cidadãos e a paz interna.

No que tange ao termo polícia, De Plácido e Silva diz o

seguinte:

Derivado do latim politia, que procede do grego politeia, originariamente traz o sentido de organização política, sistema de governo e, mesmo governo. Assim, por sua derivação, em amplo

12 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.189.

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sentido, quer o vocábulo exprimir a ordem pública, a disciplina política, a segurança pública, instituídas, primariamente, como base política do próprio povo.13

Tourinho Filho:

.O vocábulo polícia, do grego politéia – de polis (cidade) – significou, a princípio, o ordenamento jurídico do Estado, governo da cidade e, até mesmo, a arte de governar. Em Roma, o termo politia adquiriu um sentido todo especial, significando a ação do governo no sentido ‘de manter a ordem pública, a tranqüilidade e a paz interna’; posteriormente, passou a indicar ‘o próprio órgão estatal incumbido de zelar sobre a segurança dos cidadãos.14

O mesmo autor, sobre o sentido do vocábulo polícia atual, diz

que:

A Polícia, com o sentido que hoje se lhe empresta – órgão do Estado incumbido de manter a ordem e a tranqüilidade públicas –surgiu, ao que parece, na velha Roma. À noite, os larápios, aproveitando a falta de iluminação, assaltavam a velha urbs, e seus crimes ficavam impunes, porque não eram descobertos. Para evitar essa situação, criaram os romanos um corpo de soldados que, além das funções de bombeiros, exerciam as de vigilantes noturnos, impedindo, assim, a consumação de crimes. Ao tempo do Império, quando se desenvolveu a cognitio extra ordinem, havia, em Roma, funcionários incumbidos de levar as primeiras informações sobre a infração penal aos Magistrados.Eram os curiosi, os irenarche, os stationarii, os nuntiadores, os digiti duri, que desempenhavam papel semelhante ao da nossa Polícia Judiciária.15

Cabe finalizar, que a polícia, em seus primórdios (Antiga

Grécia), consistia num sistema de governo, ou mesmo o governo de uma cidade,

que no decorrer do tempo, na velha Roma, por azo de furtos praticados durante a 13 SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico, 24 ed.Rio de Janeiro, 2004.p.1054. 14 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.189-190. 15 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.190.

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noite, passou a significar a ordem pública, isto é, órgão do Estado encarregado de

manter a segurança pública e prevenir o crime.

1.3.1 Divisão

A atividade da polícia é exercida em vários lugares,

abrangendo a esfera marítima, terrestre e área, conforme os tipos de polícias

existentes no ordenamento jurídico brasileiro, as quais são: Polícia Administrativa,

de Segurança e Judiciária.

De acordo com o autor Tourinho Filho, “a primeira é aquela

que tem por objeto ‘as limitações impostas a bens jurídicos individuais’, limitações

essas que visam assegurar ‘completo êxito da administração”.16

Hodiernamente, a função da Polícia é, simultaneamente,

servir a dois Poderes: o Executivo e o Judiciário, sendo que em relação ao

primeiro, o qual é de cunho preventivo, a mesma age, como um instrumento da

Administração Pública, para garantir a ordem pública e proteger a sociedade de

fatos atentatórios à vida e à integridade física, já o segundo, de natureza

repressiva, vem a ser a atividade da polícia judiciária no combate ao crime, com o

escopo de coletar dados probatórios sobre a materialidade e autoria dos crimes e

contravenções elencados na lei penal.

No mesmo sentido, Mirabete:

Segundo o ordenamento jurídico do País, à Polícia cabem duas funções: a administrativa (ou de segurança) e a judiciária. Com a primeira, de caráter preventivo, ela garante a ordem pública e impede a prática de fatos que possam lesar ou pôr em perigo os bens individuais ou coletivos; com a segunda, de caráter repressivo, após a prática de uma infração penal recolhe elementos que o elucidem para que possa ser instaurada a competente ação penal contra aos autores do fato.17

16 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.190. 17 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.79.

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13

Na Constituição Federal de 88, em seu artigo 144, incisos

I,II,III, IV e V, estão esculpidos os órgãos competentes, os quais são

encarregados da segurança pública, a saber:

“A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I – polícia federal;

II – polícia rodoviária federal;

III – polícia ferroviária federal;

IV – polícias civis;

V – polícias militares e corpos de bombeiros militares”.

Portanto, o Estado, através do rol de polícias acima, ora tem

o dever de punir o infrator da norma penal, ora tem o dever de assegurar à

coletividade a segurança.

1.3.2 Polícia de Segurança

A Polícia de Segurança, conforme o ensinamento de

Mirabete18 vem a ser aquela que exerce atividade de caráter preventivo ao crime,

visando a manter a ordem pública. Por outras palavras, é o tipo de polícia, por

assim dizer, que tem o dever de proteger ao cidadão, repelindo a possibilidade da

prática de crimes contra si.

A ordem pública vem a ser as atribuições exercidas, de um

modo geral, pelas autoridades, as quais os cidadãos respeitam e obedecem sem

resistência, encontrando-se, em seu contexto, a segurança pública a qual visa

18 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.79.

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prevenir o crime, observada as normas penais inerentes às ações policiais

repressivas.

Neste sentido, leciona, Lazzarini:

A ordem pública encerra, porém, um contexto maior, no qual se encontra a noção de segurança pública, como estado anti-delitual, resultante da observância das normas penais, com ações policiais repressivas ou preventivas típicas, na limitação das liberdades individuais.19

Já Tourinho Filho:

A função da Polícia de Segurança, conforme adverte Sabatini, exterioriza-se em meios preventivos que se realizam para evitar toda possível causa de turbação da ordem jurídica, ou dano, ou de perigo às pessoas ou às coisas [...] a Polícia de Segurança visa impedir a turbação da ordem pública, adotando medidas preventivas, de verdadeiras profilaxia do crime, a Polícia Civil intervem quando os fatos que a Polícia de Segurança pretendia prevenir não puderam ser evitados... ou, então, aqueles fatos que a Polícia de Segurança nem sequer imaginava poderem acontecer...20

Portanto, enquanto a Polícia de segurança garante a ordem

pública, coibindo os cidadãos de praticarem crimes, a Polícia Judiciária age, como

um instrumento do Estado, buscando os indícios de provas suficientes para que

ele possa punir o infrator da norma incriminadora.

1.3.3 Polícia Judiciária

É, no âmbito repressivo, onde atua a polícia judiciária, a qual,

mediante o chamamento da autoridade judiciária ou do Parquet, na área de sua

circunscrição, auxilia a justiça penal, mas não exerce função jurisdicional, senão

19 Apud MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004.

São Paulo: Atlas, 2005.p.79. 20 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.191.

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atividade investigatória de natureza cautelar, no sentido de preparar a ação penal,

ou seja, colhe as informações inerentes ao delito, após de findada as

perquirições, envia ao destinatário do inquérito policial, que é o Ministério Público,

para este propor a competente ação penal pública.21

Conforme o § 4º do referido artigo 144 da Constituição de

1988, as polícias civis são encarregadas de exercer, por delegados de polícia de

carreira, as funções da polícia judiciária e a apuração de infrações penais.

Assim preceitua o referido parágrafo: “às polícias civis,

dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a

competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações

penais, exceto as militares”.

De acordo com Mirabete:

Não há realmente diferença entre essas funções, de apuração de infrações penais e de polícia judiciária, mas, diante da distinção estabelecida na norma constitucional, pode-se reservar a denominação de polícia judiciária, no sentido estrito, à atividade realizada por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público ou direcionada ao Judiciário (representação quanto à prisão preventiva ou exame de insanidade mental do indiciado, restituição de coisas apreendidas, cumprimento de mandados de prisão etc.).22

Para Tourinho Filho:

A polícia civil tem, assim, por finalidade investigar as infrações penais e apurar a respectiva autoria, a fim de que o titular da ação penal disponha de elementos para ingressar em juízo. Ela desenvolve a primeira etapa, o primeiro momento da atividade repressiva do Estado, ou, como diz Vélez Mariconde, ela desempenha uma faze primária da administração da Justiça

21 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v 1. 2. ed. Campinas:

Millennium, 2003.p.160. 22 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.79-80.

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Penal. A função precípua da Polícia Civil consiste em apurar as infrações penais de sua autoria.23

Já Marques:

Na justiça penal, há também processos cautelares. Mas a polícia judiciária não exerce função jurisdicional. Órgão, que é, da Administração pública, embora a serviço da Justiça Penal, a sua atividade investigatória dá origem a simples procedimento cautelar, resultante do poder dessa natureza, de que está investida. A polícia judiciária não tem mais que função investigatória. Ela impede que desapareçam as provas do crime e colhe os primeiros elementos informativos da persecução penal, com o objetivo de preparar a ação penal. Estamos, pois, em face de atividade puramente administrativa, que o Estado exerce, no interesse da repressão ao crime, como preâmbulo da persecução penal. A autoridade policial não é juiz: ela não é inter partes, e sim como parte. Cabe-lhe a tarefa de coligir o que se fizer necessário para a restauração da ordem jurídica violada pelo crime, em função do interesse punitivo do Estado.24

Com base no magistério de Barbosa:

A polícia judiciária e a judicatura criminal se integram, uma é nervo da outra. Suas características são a iniciativa, a atividade, a investigação. Rasteja o crime. Corre após ele. Dele tem a primeira notícia. Colhe provas. Começa quando o homem dá o primeiro passo na consumação do delito, e acaba quando o juiz toma conhecimento do fato. A polícia judiciária técnica dispõe de funcionalismo especializado, recursos em pessoal, laboratórios, transportes. Utiliza os ensinamentos e as experimentações da química legal, da taxicologia, da medicina legal, da psiquiatria jurídica, da fotografia estereométrica, da antropologia radiográfica.A polícia exerce suas funções básicas através dos atos de polícia judiciária, visando a apuração da verdade real. Ante a notítia criminis deve comprovar a materialidade do delito, as circunstâncias em que ocorreu e levantar os indícios de sua autoria. É o inquérito policial o principal instrumento que dispõe a

23 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.191. 24 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v 1. 2. ed. Campinas:

Millennium, 2003.p.160.

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polícia civil para a consecução de seus fins. O aprimoramento de sua execução constitui exatamente o aperfeiçoamento da segurança pública e a melhoria da garantia da comunidade social.25

A jurisprudência, por sua vez, tem determinado o seguinte:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO NÃO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA DECLARAÇÕES POSTERIORES DA VÍTIMA PRESUNÇÃO INDÍCIOS CONSISTENTES AUSÊNCIA.Inexistindo indícios consistentes de ter o recorrido sido mandante do crime, insuficiente a circunstância de responder como o denunciado por outro homicídio e as declarações tardias em juízo.Necessárias investigações, função da polícia judiciária para formar admissível a acusação, mesmo em fase de opinio delicti.NEGADO PROVIMENTO.26

APELAÇÃO CRIMINAL. RECEPTAÇÃO DOLOSA (ART. 180, CAPUT, DO C.P.B.) E FALSA IDENTIDADE (ART. 307 DO C.P.B.). 1. Materialidade do fato receptação comprovada. Autoria do réu-apelante não demonstrada, pois, o simples ato de ter sido flagrado na posse dos bens não conduz a um juízo de segurança de que ele os adquiriu, mormente diante da circunstância dos bens terem sido encontrados no interior de automóvel tripulado por outras pessoas, dentre as quais os dois acusados da prática do crime antecedente (roubo). Absolvição que se impõe com força no princípio humanitário do in dubio pro reo (art. 386, inc. VI, do C.P.P.). 2. Atipicidade da imputação de falsa identidade quando o flagrado declina nome falso para a autoridade policial, cujas obrigações de ofício subsumem a averiguação da sua identidade verdadeira, dispondo de meios e métodos eficazes para buscar e atingir este desiderato. Se a Polícia Judiciária não se desincumbe da sua obrigação, por negligência e/ou falta de instrumentos adequados, o Judiciário não pode punir o cidadão, até porque o flagrado, sem prejuízo do seu direito de calar, não tem o dever de dizer a verdade no ato flagrancial (nemo tenetur se detegere), em típico exercício do seu direito de autodefesa. Absolvição que se

25 BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial :doutrina prática, jurisprudência. 4 .ed.rev., atual.

e ampl. São Paulo: Editora Método, 2004.p.16 -17. 26 Recurso em Sentido Estrito Nº 70014340384, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do

RS, Relator: Elba Aparecida Nicolli Bastos, Julgado em 01/06/2006.

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impõe com força no art. 386, inc. III, do C.P.P. APELOS PROVIDOS.27

Em conformidade com as jurisprudências citadas, é de suma

importância a atividade investigatória da Polícia Judiciária, pois não há como se

requerer ao Poder Judiciário a acusação tardiamente de um suposto delituoso

sem antes de a referida Polícia Judiciária ter coligido as provas necessárias para

o Judiciário poder incriminá-lo.

Neste decorrer, não tendo a Polícia Judiciária se

desencarregado da sua missão de colher as provas do crime por negligência, ou

por falta de instrumentos adequados, o Judiciário não pode incriminar o suposto

criminoso.

Por isso, que é de fundamental importância, que antes do

oferecimento da denúncia, ou ação penal privada, o órgão acusador (Ministério

Público ou querelante) já tenha consigo elementos probatórios fornecidos pelo

próprio ofendido, mesmo quando da ausência do inquérito. Ou, então, a Polícia

Judiciária já tenha auferido provas válidas para a futura incriminação do suposto

criminoso e não informações obtidas através de depoimento falso deste.

Conquanto a Polícia Judiciária tenha a legitimidade direta

para a apuração de infrações penais, conforme previsão expressa da Constituição

Federal, o Ministério Público também pleiteia esta função, cuja constitucionalidade

está sendo discutida no Supremo Tribunal Federal.28

27 Apelação Crime Nº 70009275942, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

Aymoré Roque Pottes de Mello, Julgado em 10/11/2005. 28 Vale lembrar que o Supremo já decidiu pela impossibilidade do Ministério Público dirigir

investigação policial, conforme decisão proferida nos recursos extraordinários nº 205.473-9 e 233.072-4, o primeiro com a seguinte ementa: “Constitucional. Processual penal. Ministério público. Atribuições. Inquérito. Requisição de Investigações. Crime de desobediência. C.F., art. 129, VIII; art. 144, § 1º e 4º. I - Inocorrência de ofensa ao art. 129, VIII, da C.F., no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisição de membro do Ministério Público no sentido da realização de investigações tendentes à apuração de infrações penais, mesmo porque não cabe ao membro do Ministério Público, diretamente, tais investigações, mas requisitá-las à autoridade policial competente para tal (C.F., art. 144, § 1º e 4º). Ademais, a hipótese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instância superior. II - R. E. não conhecido”. Contudo, o Pleno do STF está para decidir sobre a constitucionalidade da matéria, processo este que está parado desde 2004. O julgamento foi suspenso por pedido de vista do

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Já o controle externo da Polícia Judiciária, por parte do

Ministério Público, está previsto no artigo 129, VII da Constituição Federal de 88

cuja regulamentação é imprescindível para a atuação do Parquet, uma vez que a

referida norma constitucional é de eficácia limitada, por conseguinte, não tem

aplicação imediata, destarte, carecendo de regulamentação através de lei

complementar, a qual, também, deverá regulamentar a fiscalização da Polícia

Judiciária pelo Ministério Público.Todavia, não há superioridade de hierarquia

entre este e aquele, pois o objetivo da referida fiscalização é no sentido de se

utilizar um meio mais seguro, lícito e eficaz de colheita de provas a fim de se ver

instaurado o devido processo legal sem nulidades.

Portanto, a Polícia Judiciária é um órgão da Administração

Pública, mas a serviço da justiça penal, com o fito de coligir provas sobre o crime,

para fundamentar a ação penal cujo titular é o representante do Ministério

Público, o qual tem o controle externo da atividade da Polícia Judiciária e,

juntamente com esta, embora de forma indireta, tem legitimidade para a

deflagração de inquérito policial, visto que o inciso VIII, artigo 129 da CRFB/88,

lhe confere poder de requisitar diligências investigatórias.

No capítulo seguinte, tratar-se-á sobre o inquérito policial.

Ministro Cezar Peluso com o placar de três a dois a favor do Ministério Público conduzir a investigação criminal. Disponível em: www.Conjur.estadão.com.br/estatic/text.

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CAPÍTULO 2

DO INQUÉRITO POLICIAL

2.1 CONCEITO

O Inquérito Policial é um procedimento administrativo, feito

através de um relatório, com o objetivo de ajuntar dados sobre a materialidade e

autoria de um crime. Na verdade, pela dificuldade em se conseguir elementos

informadores do delito na fase do contraditório, como auto de prisão em flagrante,

exames periciais, o inquérito policial tem essa utilidade, a qual é de preparar a

persecutio criminis, para que o Estado-juiz possa julgar, com fundamentos, o

infrator da norma penal.

A autoridade policial, ao tomar conhecimento de um crime,

compete à mesma instaurar inquérito policial para averiguar se tal delito,

realmente, ocorreu e, também, se o indiciado é o autor do ilícito penal.

Para isso, várias providências como: declarações da vítima,

exames periciais, depoimentos de testemunhas que assistiram o crime, são

tomadas para a formação do inquérito policial, tanto é que o artigo 12 do CPP diz

que: “o inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir

de base a uma ou outra”.

Sobre o tema, Mirabete:

Inquérito policial é todo procedimento policial destinado a reunir os elementos necessários à apuração da prática de uma infração penal e de sua autoria. Trata-se de uma instrução provisória, preparatória, informativa, em que se colhem elementos por vezes difíceis de obter na instrução judiciária, como auto de flagrante, exames periciais etc. Seu destinatário imediato é o Ministério

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Público (no caso de crime que se apura mediante ação penal pública) ou o ofendido (na hipótese de ação privada), que com ele formam sua opinio delicti para a propositura da denúncia ou queixa. O destinatário mediato é o juiz, que nele também pode encontrar fundamentos para julgar29.

Tucci comenta o seguinte:

Um procedimento de investigação administrativa, em sentido estrito que, mediante a atuação da polícia judiciária, guarda finalidade de apurar a materialidade da infração penal, cometida ou tentada, e a respectiva autoria, ou co-autoria para servir ao titular da ação penal condenatória30.

Ensina Barbosa:

A doutrina ensina, quase de modo unânime, que o inquérito policial consiste na investigação do fato, de sua materialidade e da autoria, ultimada pela denominada polícia judiciária. Assim, se ostentando como um procedimento administrativo persecutório de instrução provisória, destinado a preparar a ação penal31.

Thomé traz o seguinte entendimento:

O Inquérito Policial é a formalização de toda a investigação levada a efeito pela Polícia Civil; é o procedimento legal que se destina a reunir todos os elementos e circunstâncias de um fato delituoso, com conclusão clara e possível de autoria e materialidade32.

Portanto, a doutrina conceitua o inquérito policial como um

procedimento policial, de caráter administrativo e inquisitório, o qual é elaborado

pela Polícia Judiciária de forma escrita, com o fito de apurar a materialidade do

29 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal.17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.82. 30 TUCCI, Rogério Lauria. Prescrição Penal, Prisão e Liberdade. Ed.Saraiva, 1980. 31 BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial :doutrina prática, jurisprudência. 4 .ed.rev., atual.

e ampl. São Paulo: Editora Método, 2004.p.24. 32 THOMÉ, Ricardo Lemos, 1961. Contribuição à prática de polícia judiciária. Florianópolis : Ed do

Autor, 1997.p.87.

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delito e indícios de sua autoria, para que o representante do Ministério Público,

com fundamentos consistentes, promova a competente ação penal pública.

2.2 NATUREZA

A instrução provisória marca a natureza do inquérito policial,

haja vista que este é um procedimento administrativo o qual não se confunde com

o poder instrutório do juiz que é de âmbito jurisdicional e regido pelo princípio do

contraditório.

O referido procedimento não é processo, pois este nasce com

a citação válida do denunciado, enquanto aquele prepara, mediante todas as

provas coligidas inerentes ao delito, para que tanto o órgão acusador, como o

julgador não se deixem persuadir por frágeis indícios na instrução criminal, o que

resulta, sem dúvidas, conclusões precipitadas e errôneas.

Marques, da mesma forma, preceitua:

Entre nós, a polícia judiciária prepara a ação penal, não apenas praticando os atos essencias da investigaçao, mas também organizando uma instruçao provisória, a que se dá o nome de inquérito policial. Lê-se, assim, na Exposiçao de Motivos do Código de processo Penal, que o ‘inquérito policial, como instrução provisória, antecedendo à propositura da ação penal’, constitui uma garantia contra apressados e errôneos juízos, formados quando ainda persite a trepidação moral causada pelo crime ou antes que seja possível uma exata visão de conjunto de fatos, nas suas circunstâncias objetivas e subjetivas33.

Para Mirabete:

Não é o inquérito ‘processo’, mas procedimento administrativo informativo, destinado a fornecer ao órgão da acusação o mínimo de elementos necessários à propositura da ação penal. A investigação procedida pela autoridade policial não se confunde com a instrução criminal, distinguindo o Código de Processo Penal

33 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v 1. 2. ed. Campinas:

Millennium, 2003.p.162.

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o ‘inquérito policial’ (arts. 4 a 23) da ‘instrução criminal’ (arts. 394 a 405)34.

Ainda, cabe ressaltar que o inquérito policial é peça de cunho

informativo e, por isso, não pode ser confundida com o processo administrativo, o

qual tem a natureza de sanção. Ademais, neste referido processo, conforme

menciona o inciso LV, do artigo 5º da CRFB de 1988, “aos litigantes, em processo

judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o

contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”, o que

não tem a ver com o inquérito policial, pois neste não se tem um acusado, mas

sim indiciado, já naquele, chamado de sindicância, há as partes litigantes.

Sobre o assunto em tela, Tourinho Filho leciona da seguinte

maneira:

Certo que o art.5o ,LV, da Lex legum proclama que aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, se permite a ampla defesa; então, por conseguinte, não se pode dizer que “o processo administrativo” aí compreenda o inquérito, sob pena de transmudarmos os indiciados em litigantes... o que sabe a disparate.Ademais, quando o dispositivo constitucional fala em processo administrativo com ampla defesa refere-se, iniludivelmente, àquele procedimento que pode culminar com alguma sanção, como ocorre nas administrações públicas. Às vezes são denominados sindicâncias. E, às escâncaras, tal não se dá no inquérito, peça meramente informativa35.

Sobre a natureza do inquérito policial, a Jurisprudência tem

entendido que:

PROCESSO PENAL – TRÁFICO DE ENTORPECENTES – FLAGRANTE – INQUÉRITO CERCEAMENTO DE DEFESA – INOCORRÊNCIA.Como é sabido, o inquérito policial é um procedimento administrativo investigatório, de natureza inquisitorial, destinado à orientação do titular da ação penal, e, em

34 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.82. 35 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.207.

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razão de sua própria natureza, não se efetiva sob o crivo do contraditório. Diante disso, o fato do defensor nomeado não ter tido conhecimento dos depoimentos do condutor e das testemunhas antes do interrogatório feito pela autoridade policial, não constitui cerceamento de defesa. Precedentes.Ordem denegada36.

Destarte, o inquérito policial tem natureza provisória,

informativa, distinta da instrução criminal, a qual se norteia por meio de seu

conteúdo, para que o Estado-Juiz possa punir o réu, o qual, na referida fase

provisória, era apenas indiciado.

2.3 FINALIDADE

O inquérito policial tem, por finalidade precípua, a apuração

da existência do crime e a sua autoria, para que o titular da ação penal pública

tenha subsídios para inbtentá-la em juízo e, posteriormente, servir a instrução

criminal como fonte incriminadora até o trânsito em julgado da sentença

condenatória.

A autoridade policial, ao receber o notícia do crime,

imdiatamente, instaura o inquérito policial a fim de reunir provas a despeito do

mesmo e para tal, procede à inquirição de testemunhas que presenciaram o fato

delituoso ou dele tiveram ciência por intermédio de outras pessoas, toma o

depoimento da vítima, subemetento esta a exames de corpo de delito, exames de

instrumento do crime, realizando diligências como: buscas e apreensões,

acareações, reconhecimentos, ouve o suposto infrator da norma penal (indiciado),

enfim, aufere todas as informaçoes inerentes às circusntancias do fato tido como

ilícito penal, com o fim de esclarecê-lo.

Outro requisito fundamental para que ação penal seja

recebida e atinja a sua finalidade é a comprovação da autoria do delito. A

36 Julgado em13/02/2001 T5 - QUINTA TURMA do STF Relator Ministro JORGE SCARTEZZINI

processo (1113) HC 14487 / RS; HABEAS CORPUS 2000/0101678-4. http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=(('HC'.clap.+ou+'HC'.clas.)+e+@num='14487')+ou+('HC'+adj+'14487'.suce.)

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Autoridade Policial tem o dever de, ao menos, obter indícios suficientes do autor

do crime, pois se não tem a prova da autoria e, sequer alguma pista que seja tal

pessoa o autor do delito, neste caso, não há como se promover a referida ação

penal, por causa de patente inépcia formal37.

No mesmo entendimento, Nucci ensina:

Sua finalidade é a investigação do crime e a descoberta do seu autor, com o fito de fornecer elementos para o titular da ação penal promovê-la em juízo, seja ele o Ministério Público, seja o particular, conforme o caso. Esse objetivo de investigar e apontar o autor do delito sempre teve por base a segurança da ação da justiça e do próprio acusado, pois, fazendo-se uma instrução prévia, através do inquérito, reune a polícia judiciária todas as provas preliminares que sejam sufucientes para apontar, com relativa firmeza a ocorrência de um delito e o seu autor38.

Para Marques:

Como a denúncia deve conter a exposição do fato criminoso, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a qualificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas (art 41), segue-se que o Ministério Público, para iniciar a ação penal, necessita de uma informação do crime que lhe forneça todos esses elementos; e é essa a função do inquérito como instrumento que habilita a instauração da instância no juízo criminal, pelo Ministério Público39.

O ensinamento de Tornaghi:

O inquérito policial assegura uma ação penal bem fundada.Como seria possível movê-la sem a prova da materialidade do fato e, pelo menos, indícios de autoria? Como cogitar-se da responsabilidade de alguém sem o pressuposto da imputação física do fato típico ao acusado? O acautelamento do local da

37 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.244. 38 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 3.ed.rev., atual. e ampl.

São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2004.p.66. 39 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v 1. 2. ed. Campinas:

Millennium, 2003.p.169.

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infração para que não se perca ou desvirtue o corpo de delito; a apreensão dos instrumentos do crime e dos objetos que lhe estejam ligados; a audição do ofendido e do indiciado; o reconhecimento das pessoas e coisas; a acareação entre aqueles cujas declarações divergem; a realização de perícias; a identificação do indiciado; a averiguação de sua vida pregressa; a reprodução simulada dos fatos e todas as demais diligências feitas durante o inquérito servem de alimento à propositura da ação penal a ao desenvolvimento do processo40.

Por tudo que fora exposto, conclui-se que a finalidade do

inquérito policial é de levar para ao Ministério Público ou ao particular a prova da

materialidade e, ao menos, indícios da autoria do crime, mas para que tal

finalidade seja atingida, a Polícia Judiciária, a encarregada pela a instauração do

inquérito policial, realiza diversas diligências a fim de instruir o referido inquérito

de informações necessárias para que o querelante, no caso de ação privada,

sustente a queixa-crime e o Ministério Público fundamente a denúncia e, depois

destas recebidas pelo juiz, sirvam como fontes de provas até o final do processo-

crime.

2.4 CARACTERÍSTICAS

É, o inquérito policial, um procedimento escrito ou

datilografado, pois não há como se enviar elementos sobre o delito ao Parquet

verbalmente, devendo, as peças do referido inquérito serem, num só processado,

consoante ensina o artigo 9o do CPP: “Todas as peças do inquérito policial serão,

num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,

rubricadas pela autoridade”.

Sobre o assunto, ensina, Mirabete:

O inquérito policial é um procedimento escrito, já que destinado a fornecer elementos ao titular da ação penal. Dispõe o artigo 9 do CPP que ‘todas as peças do inquérito policial serão, num só

40 Apud BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial :doutrina prática, jurisprudência. 4 .ed.rev.,

atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2004.p.27.

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processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade’. Embora não esteja sujeito a formas indeclináveis, como pode servir de base para a comprovação da materialidade do delito, a decretação da prisão preventiva etc. exige-se algum rigor formal da peça investigatória nas hipóteses do interrogatório (art. 6o, V), da prisão em flagrante (arts. 304 e ss) etc41.

Capez, por sua vez, explica:

Tendo em vista as finalidades do inquérito (item 10.4), não se concebe a existência de uma investigação verbal. Por isso, todas as peças do inquérito policial serão, num só processo, reduzidas a escrito ou datilografadas e, no caso, rubricadas pela autoridade42.

Já Tourinho Filho leciona:

Em muitos Estados da Federação, até há pouco tempo, as peças do inquérito eram simplesmente reduzidas a escrito. Hoje, não só no Estado de São Paulo, como os demais, todas as peças do inquérito são datilografadas. Datilografando-se, ganha tempo; não haverá necessidade de se ‘interpretar’ a caligrafia dos Escrivães de Polícia, e, além dessas vantagens, as peças datilografadas sujeitam-se menos a borrões motivados por água ou substância análoga. Atendendo à sua finalidade, que outra não é senão prestar as devidas informações ao titular da ação penal, e informações que irão dar-lhe arrimo, não se concebe a existência de inquérito policial oral43.

Outra peculiaridade do inquérito policial é que o mesmo é

sigiloso, haja vista em ser esta característica, em muitas investigações,

imprescindível para a busca da verdade real, visto que, sem o “sigilo”, não haveria

como obstar a destruição e sumiço das provas e objetos utilizados na prática do

41 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev.e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.83. 42 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12.ed. rev. E atual. São Paulo : Saraiva,

2005.p.72. 43 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.203 -204.

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crime pelos cúmplices dos autores diretos do crime, disfarçados de colaboradores

da Justiça.

Com a expansão da macrocriminalidade, o tráfico de

entorpecentes, crimes praticados por organizações criminosas contra o sistema

financeiro e outros do gênero, majora, mais ainda, a necessidade do sigilo no

inquérito policial, o qual a doutrina tem concebido em ser a essência deste por

razões de tal característica resguardar a atuação da Polícia Judiciária para

desvendar a autoria e a materialidade do delito.

O sigilo do inquérito policial, embora seja indispensável para

apuração do delito, não se aplica às partes, tanto a vítima como o réu, pois

consoante o artigo 7o, XIII a XV, e § 1 do Estatuto da Ordem dos Advogados do

Brasil, permite ao advogado a consulta aos autos do inquérito, mesmo no caso de

decreto judicial de sigilo, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal abaixo:

INQUÉRITO POLICIAL. REGIME DE SIGILO. INOPONIBILIDADE AO ADVOGADO CONSTITUÍDO PELO INDICIADO. DIREITO DE DEFESA. COMPREENSÃO GLOBAL DA FUNÇÃO DEFENSIVA. GARANTIA CONSTITUCIONAL.PRERROGATIVA PROFISSIONAL DO ADVOGADO (LEI Nº 8.906/94, ART. 7º, INCISOS XIII E XIV). OS ESTATUTOS DO PODER NÃO PODEM PRIVILEGIAR O MISTÉRIO NEM COMPROMETER, PELA UTILIZAÇÃO DO REGIME DE SIGILO, O EXERCÍCIO DE DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS POR PARTE DAQUELE QUE SOFRE INVESTIGAÇÃO PENAL. CONSEQÜENTE ACESSO AOS ELEMENTOS PROBATÓRIOS JÁ DOCUMENTADOS, PRODUZIDOS E FORMALMENTE INCORPORADOS AOS AUTOS DA INVESTIGAÇÃO PENAL. POSTULADO DA COMUNHÃO OU DA AQUISIÇÃO DA PROVA. PRECEDENTES (STF). DOUTRINA. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA44.

Ainda, Tourinho Filho no que tange ao sigilo do inquérito,

pondera o seguinte:

44 Habeas Corpus 87.725-7Distrito Federal. Min.Celso De Mello. Relator Do Inquérito Nº 2248 Do

Supremo Tribunal Federal. Diponível em:www.http://conjur.estadao.com.Br/static/text/51233,1 acesso em: 06/02/2007.

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Além de escrito, ele ainda é sigiloso. Se o inquérito policial visa à investigação, à elucidação, à descoberta das infrações penais e das respectivas autorias, pouco ou quase nada valeria a ação da Polícia Civil se não pudesse ser guardado o necessário sigilo durante a sua realização. O princípio da publicidade, que domina o processo, não se harmoniza, não se afina com o inquérito policial [...] O art 486 do CPP não faz assegurar o sigilo da votação? Na apreciação do pedido de reabilitação, o Juiz não pode ordenar as diligências necessárias, cercando-se do sigilo possível, como salienta o art. 745 do CPP? O que diz o § 1o do art. 792 do mesmo diploma? Apenas isto: ‘se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o Juiz, ou o Tribunal, Câmara, ou Turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes’. Ora, se em juízo o princípio da publicidade sofre restrições, não é de estranhar deva haver sigilo na fase do inquérito policial, na fase em que se colhem as primeiras informações, os primeiros elementos de convicção a respeito da existência da infração penal e sua autoria45.

Capez explica:

A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade (CPP), art.20). O direito genérico de obter informações dos órgãos públicos, assegurado no art 5 , XXXIII, da Constituição Federal, pode sofrer limitações por imperativos ditados pela segurança da sociedade e do Estado, como salienta o próprio texto normativo. O sigilo não se estende ao representante do Ministério Público, nem à autoridade judiciária. No caso do advogado, pode consultar os autos de inquérito, mas, caso seja decretado judicialmente o sigilo na investigação, não poderá acompanhar a realização de atos procedimentais (Lei n. 8.906/94, art. 7o, XIII a XV, e § 1o – Estatuto da OAB). Não é demais afirmar, ainda, que o sigilo no inquérito policial deverá ser observado como forma de garantia da

45 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo: Saraiva, 2005.p.204.

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intimidade do investigado, resguardando-se, seu estado de inocência46.

Segundo Magalhães Noronha, o sigilo da investigação é a

essência do inquérito. Não guardá-lo é, muitas vezes, fornecer armas e recursos

aos delinqüentes, para frustrar a atuação da autoridade na apuração do crime e

de sua autoria47.

Para Barbosa:

O indiciado, enquanto objeto da ação investigatória, deve ser protegido, para que não ocorra o seu aniquilamento moral ou material pelo sistema repressivo. O sigilo dos atos investigatórios precisa ser mantido, quando necessário, pois, se não o for, interferências estranhas podem impedir ou dificultar a busca da verdade, ficando a sociedade desprotegida em decorrência de um falso conceito de liberdade. De nada valerá a conclusão de que a polícia pode ser discricionária, se estiver assegurada ao suspeito a sua interferência nos autos do inquérito policial48.

2.5 INSTAURAÇÃO

Em casos de ação penal pública, de acordo com o artigo 5º

do CPP, a autoridade policial poderá dar início ao inquérito policial através das

seguintes formas:

I – de ofício;

II – mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

46 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. ver. E atual. São Paulo : Saraiva,

2005.p.72. 47 Apud BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial :doutrina prática, jurisprudência. 4 .ed.rev.,

atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2004.p.42. 48 BARBOSA, Manoel Messias. Inquérito policial:doutrina prática, jurisprudência. 4 .ed.rev., atual. e

ampl. São Paulo: Editora Método, 2004.p.42.

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Para a instauração do inquérito policial, o artigo 100 do CP é

a norma regente para se saber se determinado delito pertence à seara da ação

penal pública ou privada. Pois o mesmo diz que a ação penal é pública, salvo

quando a lei penal a declara privativa do ofendido. Sendo assim, é evidente que a

regra geral é que a ação seja pública, com a exceção dos delitos, nos quais,

estiver aludido que, em tal crime, a ação é privada, logo, nesses casos, a

autoridade policial não poderá deflagrar o inquérito.

Também, não competirá à autoridade policial a instauração

do inquérito, conforme § 1º, do artigo 100 do CP, quando a ação depender de

uma condição, sendo tal condição a representação do ofendido ou requisição do

Ministro da Justiça.

Por esta forma, é de fundamental importância que a

autoridade policial, antes de tomar qualquer iniciativa, verifique se o delito fica a

cargo do ofendido (ação privada) ou se é caso de ação penal pública

condicionada à representação do ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça.

Destarte, se a ação não depender de nenhuma condição,

como também, não for privativa do ofendido. A autoridade policial, ao tomar

conhecimento de uma infração penal, deve, de ofício, instaurar, através de uma

peça chamada de portaria, o inquérito policial.

A portaria é instrumento usado pela autoridade policial, no

qual, a mesma, dependendo do caso, pode determinar diversas diligências a

serem cumpridas pelos seus subordinados. Por via de praxe policial, a portaria

tem sido usada para a realização de inquirição da vítima e submissão desta ao

exame de corpo de delito. Contudo, se a autoridade tiver o conhecimento de

outras provas, também, poderá, na portaria, requerê-las sem impedimento.

Sobre o assunto até aqui aludido, ensina Tourinho Filho:

Quando se trata de crime de ação pública incondicionada – e constitui a regra no Direto pátrio –, o inquérito é iniciado de ofício, isto é, por iniciativa da própria Autoridade Policial. Nesse caso, a peça inaugural do inquérito é a ‘portaria’. Na portaria, a Autoridade Policial pode determinar quantas diligências julgar necessárias.

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De regra, limita-se à realização da ouvida da vítima e do exame do corpo de delito. Nada obsta. Entretanto, que, tendo ciência de outras provas, determine, na própria portaria, sejam elas colhidas49.

Já Mirabete leciona da seguinte forma:

Tomando conhecimento da ocorrência do ilícito, ou seja, de um fato que constitui crime em tese (cognição imediata), a autoridade policial deve instaurar o procedimento respectivo, não constituindo tal fato constrangimento ilegal sanável pela via do habeas corpus [...] Deverá, assim, baixar a competente portaria, descrevendo o fato delituoso de que tomou conhecimento, esclarecendo as circunstâncias conhecidas (local, dia, hora, autor e vítima etc.) e classificará legalmente o ilícito penal50.

O segundo meio de encetar o inquérito policial é o ofício do

Promotor de Justiça. Tratando-se de ação penal pública incondicionada, o

inquérito policial poderá ser deflagrado através da requisição do Parquet à

autoridade policial, a qual dará, no próprio ofício requisitório, despacho ordenando

que o mesmo seja autuado e, depois de registrado, que o auto lhe seja devolvido

para determinar novas diligências as quais entender necessárias51.

No caso de o inquérito já estiver sido instaurado e o

representante do Parquet requisitar a instauração do inquérito, a autoridade

deverá prolatar despacho no corpo do ofício, mandando juntá-lo nos autos do

inquérito e, também, por meio de ofício, comunicar ao Promotor de Justiça que o

inquérito já fora instaurado52.

49 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 27. ed. rev., atual. e aum.

São Paulo : Saraiva, 2006.p.15. 50 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado : referências doutrinárias,

indicações legais, resenha jurisprudencial : atualizado até julho de 2003. 11. ed. São Paulo : Atlas, 2003.p.94.

51 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 27. ed. rev., atual. e aum.

São Paulo : Saraiva, 2006.p.18. 52 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 27. ed. rev., atual. e aum.

São Paulo : Saraiva, 2006.p.18.

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Quando a ação penal for pública condicionada à

representação e esta for endereçada ao Ministério Público. Este, também, poderá

requisitar a instauração do inquérito, devendo, por conseguinte, remeter,

juntamente com o ofício, a representação que lhe foi submetida. Da mesma forma

conferida ao promotor de requisitar a instauração do inquérito, dá-se à autoridade

judiciária53.

O inquérito policial, também, é instaurado por meio do

requerimento da vítima, mesmo em se tratando de ação penal pública

incondicionada, pois, conforme, precedentemente, aludido, o inciso II do artigo 5

do CPP permite a instauração nesses casos.

De acordo com o que, até aqui, foi redigido sobre a

instauração do inquérito policial. Para que a atividade da Polícia Judiciária tenha

eficácia, ou seja, forneça ao Parquet elementos, os quais comprovem a

materialidade do delito e indícios de sua autoria.A autoridade policial, ao tomar

conhecimento da infração penal, deve deslocar-se ao local do crime com o fito de

manter a conservação das coisas e impedir que se desapareça os objetos usados

no crime até a chegada dos peritos criminais.

O artigo 6º do CPP, no que concerne ao assunto, diz o seguinte:

Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá :

I – dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado de conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II – apreender os objetos que tiveram relação como fato, após liberados pelos peritos criminais;

III – colher todas as provas que servirem para esclarecimento do fato e suas circunstâncias...

53 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 27. ed. rev., atual. e aum.

São Paulo : Saraiva, 2006.p.19.

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34

A respeito, Noronha:

Inicialmente, a autoridade deve proceder de acordo com o artigo 6 do CPP, embora não preveja a lei um rito formal nenhuma ordem prefixada para diligências que devem ser empreendidas pela autoridade, Ela indica, porém, as diligências que, regra geral, devem ser efetuadas para que “ a autoridade possa colher ao vivo aos elementos da infração, devendo por isso agir com presteza, antes quer mude o estado das coisas no local do crime ou desapareçam armas, instrumentos ou objetos do delito, enfim, colhendo as provas que sirvam para a elucidação dos fatos e as circunstâncias54.

Mirabete, por sua vez, aduz:

Deve a autoridade policial, obrigatoriamente, de início ‘dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado de conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais’ (art. 6o, II, do CPP, com a redação da Lei nº 8.862, de 28-03-1994). Tal providência é importante em vários delitos (homicídio, roubo, furto e etc.), para que se possa efetuar o exame do lugar do crime e outras diligências (colheita de impressões digitais, exame de manchas e etc.) que podem revelar provas ou indícios úteis à elucidação do fato. Entretanto, ‘em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou a gente policial que primeiro tomar conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente do exame do local, a imediata remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o tráfego’. (artigo 1o da Lei nº 5.970, de 11-12- 1973). Deve também a autoridade ‘apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais” ( art. 6,II, do CPP, com a redação da Lei nº 8.862, de 28-03-1994). Esses objetos devem, a final, acompanhar aos autos do inquérito (art. 11).Os instrumentos empregados para a prática de infração serão submetidos a exames a fim de se lhes verificar a natureza e eficiência (art. 175)55.

Já esta é a lição de Tourinho Filho:

54 NORONHA, E. Magalhães. Curso de direito processual penal. São Paulo: Saraiva, 1964.p. 25. 55 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.92-93.

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Quando a Autoridade Policial tomar conhecimento da prática de uma infração que deixa vestígios – delicta factis permanentis -, como homicídio, roubo, furto qualificado etc., deverá, se possível e conveniente, dirigir-se ao local, providenciando para que se não alterem o estado e conservação das coisas, enquanto necessário. Na verdade, é de suma importância a presença da Autoridade Policial no lócus delicti, isto é, no lugar em que ocorreu a infração, devendo levar consigo o Escrivão, Médico-Legista (se for o caso e se possível) e até mesmo Fotógrafo. O exame do lugar do crime é de interesse inestimável na elucidação das infrações e descoberta da autoria. Proibindo a alteração do estado e conservação das coisas, até terminarem os exames e perícias, a Autoridade Policial visa, com tal atitude, impedir a possibilidade de desaparecerem certos elementos que possam esclarecer o fato até mesmo determinar quem tenha sido o seu autor. Um simples objeto de insignificante valor encontrado no locus delicti pode ser uma pista segura para a determinação do autor do crime. Uma impressão digital, deixada no instrumento do crime, ou mesmo em objetos que estejam por ali, poderá desaparecer, se a Autoridade Policial não se houver com a devida cautela, deixando de tomar a providência apontada no inc. I do art. 6, ora em estudo56.

De acordo com o inciso III do artigo 6º do CPP, a autoridade

policial deve coligir as provas que forem inerentes ao crime, desde de que

observados os direitos e garantias individuais prescritos na Carta Magna, como

também, nas leis infraconstitucionais.

O envolvido na investigação policial, sem espeque nos

referidos direitos e garantias individuais, não tem como se eximir da obrigação de

acatar as determinações da autoridade policial para a elucidação dos fatos,

devendo, em caso de recalcitrância, ser conduzido coercitivamente, conforme o

artigo 218 do CPP. Os artigos 202 até o 221 do mesmo Código são aplicáveis no

que tange às testemunhas no inquérito policial.

56 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev.e atual. São Paulo

: Saraiva, 2005.p.239-240.

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2.6 INSTRUÇÃO

2.6.1 Apreensão dos Objetos e Instrumentos do Crime

A autoridade policial, com a devida cautela, deve determinar

a busca e apreensão dos instrumentos do crime e todos os objetos que, por certa

forma, tiverem ligação com o fato logo após da liberação efetuada pelos peritos

criminais.

Assim, menciona, o artigo 11 do CPP: “os instrumentos do

crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos

do inquérito”.

O artigo 91, inciso II, alínea “a”, do CP, alude que os

instrumentos do delito, os quais, por fabricação, alienação, uso, porte ou detenção

constituam fato ilícito, serão integrados ao patrimônio da União, salvo o direito do

lesado ou de terceiro de boa fé.

Por fim, conforme pondera Tourinho Filho, da interpretação

dos referidos dispositivos, nota-se a importância da apreensão dos instrumentos

do crime, como também, todos os objetos que tiverem relação com o mesmo,

prescindindo-se qualquer comentário a despeito da necessidade da medida em

comento57.

2.6.2 Da Busca e Apreensão

A busca e apreensão dos instrumentos do delito, bem como

dos objetos, os quais tiverem relação com este, será efetuada no lugar da

infração penal, em domicílio e até as pessoas serão objetos da referida medida58.

Tratando-se do local do crime, a busca e apreensão, a via de

regra, não demandará muitos esforços por parte do encarregado dessa tarefa59,

57 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.241. 58 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.241.

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porém, quando o cerne da diligência for a busca domiciliar ou pessoal, a

autoridade policial, nesses casos, deverá ser meticulosa para não infringir direitos

fundamentais como a inviolabilidade do domicílio esculpido no artigo 5, inciso XI

CRFB/88, o qual alude o seguinte:

A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.

O que se infere, pelo expendido acima, é que a busca

domiciliar, sem o consentimento do morador, não poderá ser, mesmo com o

mandado judicial, realizada durante a noite, salvo no caso de flagrante delito,

desastre ou para prestar socorro, sendo aplicadas estas hipóteses, também,

durante o dia, período, no qual, qualquer domicílio poderá ser invadido por

determinação judicial.

Para tanto, cabe mencionar o magistério de Moraes:

Assim, violação de domicílio legal, sem consentimento do morador, é permitida, porém somente nas hipóteses constitucionais: Dia: flagrante delito ou desastre ou para prestar socorro, ou ainda, por determinação judicial.Somente durante o dia, a proteção constitucional deixará de existir por determinação judicial. Noite: flagrante delito ou desastre ou para prestar socorro60.

A respeito, o Ministro Celso de Mello já afirmou o seguinte:

nem a Policia Judiciária, nem o Ministério Público, nem a administração tributária, nem a Comissão Parlamentar de Inquérito ou seus representantes, agindo por autoridade própria, podem invadir domicílio alheio com o objetivo de apreender, durante o período diurno, e sem ordem judicial, quaisquer objetos que possam interessar ao Poder Público. Esse comportamento estatal representará inaceitável afronta a um direito essencial

59 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27. ed.rev. e atual. São

Paulo: Saraiva, 2005.p.241. 60 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo : Atlas, 2006.p.49.

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assegurado a qualquer pessoa, no âmbito de seu espaço privado, pela Constituição da República61.

No caso de busca pessoal, esta poderá, sem mandado, ser

efetuada quando houver fundada suspeita de que determinada pessoa esteja

portando arma proibida ou papéis e objetos que constituam o corpo do delito

(artigo 214 do CPP). A referida medida consiste na inspeção das vestes e do

corpo da pessoa, a qual seja a suspeita da prática de um crime, abrangendo,

além disso, todos os seus pertences como: malas, bolsas e etc62.

A busca poderá ser realizada à noite, desde que haja a

anuência do morador, porém, se a mesma for, com mandado judicial, efetuada,

durante o dia, no domicílio do morador e este se opuser a ela, será arrombada a

porta do imóvel e, em seguida, apreendido o que for necessário para

comprovação da materialidade e autoria do crime, conforme o artigo 245, caput, §

2 do CPP.

Portanto, a busca e apreensão seja ela determinada, de

ofício, pela autoridade policial ou autorizada pelo Poder Judiciário é, sem dúvida,

um meio eficaz de se colher provas e objetos, os quais, embora sejam de valor

ínfimo, podem comprovar a consumação de um crime e imputar quem o cometeu.

2.6.3 Inquirição do Ofendido

Na instrução do inquérito policial, a autoridade policial deve

ouvir o ofendido sempre que possível, pois quando há o cometimento de um

delito, ninguém melhor a relatar os fatos do que o sujeito passivo, o qual é o mais

interessado em apurar a infração penal, entretanto, o seu depoimento tem valor

probatório relativo, em razão das exceções em que a autoridade policial se

depara na persecução penal, ou seja, vítimas falsas, as quais dissimulam a

verdade.

61 Apud MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo : Atlas, 2006. p. 50. 62 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.349.

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Em certos tipos de crimes, especificamente, naqueles contra

os costumes, a palavra do ofendido é de extraordinária probabilidade, uma vez

que os referidos delitos são, na maioria dos casos, praticados, muito longe, dos

olhares das testemunhas. Por conseguinte, é necessário que a palavra da vítima

seja de tamanha valia, para que seja possível a condenação de quem comete

esses crimes, pois, não sendo desta forma, não há como se punir, por exemplo,

autores de crimes repugnantes como o Estupro e o Atentado Violento ao Pudor,

este tipificado no artigo 214 e aquele no artigo 215 do CP.

Assim ensina Tourinho Filho:

Deverá a autoridade, quando possível, ouvir o ofendido. O sujeito passivo do crime, de regra, é quem melhor poderá fornecer à Autoridade Policial elementos para esclarecimento do fato. Certo que a palavra do ofendido apresenta valor probatório relativo em face do interesse que tem na relação jurídico-material. Mas, às vezes, sua palavra é de extraordinária valia, pois constitui o vértice de toda a prova, como sucede nos crimes contra os costumes. Tais crimes se cometem longe dos olhares de testemunhas e, por isso mesmo, se não se atribuir à palavra da vítima excepcional valor, dificilmente se conseguirá punir os autores dessas infrações63.

Nucci dá o seguinte entendimento:

É de praxe e importância invulgar ouvir a pessoa afetada diretamente pelo delito. Ela pode fornecer dados preciosos para a descoberta da autoria e mesmo para a formação da materialidade. Naturalmente, nem sempre a autoridade policial consegue ouvir a vítima logo após tomar conhecimento da prática do delito, pois, como já se disse, o excesso de serviço e a carência de recursos podem ser fatores de complicação. O ideal é procurar ouvir o ofendido no menor espaço de tempo possível, até para que sua

63 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.244.

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memória não apresente falhas, impossibilitando, por vezes, o reconhecimento do autor da infração penal64.

Para Mehmeri:

As declarações do ofendido constituem, em regra, o ponto inicial dos trabalhos policiais, porque é ele que vai dar os primeiros elementos – e os fundamentos – para as investigações. Consciente disso, o legislador, no artigo mencionado, entendeu que a autoridade policial deve – sempre que possível – ouvir primeiramente o ofendido, ao iniciar a parte dinâmica [...] A expressão sempre que possível, com que se inicia o dispositivo, tem explicação lógica: nem sempre é possível ser tomada essa declaração. Algumas situações justificam essa impossibilidade: a morte do ofendido, seu desaparecimento, perturbação de sua saúde mental, ou ainda casos de pessoas que não possam exprimir-se, como crianças da primeira infância65.

No caso de o ofendido ser notificado para comparecer na

Delegacia a prestar depoimento, caso o mesmo não venha a atender a

determinação da autoridade policial, esta pode, com supedâneo no artigo 201,

parágrafo único, do CPP, conduzi-lo, coercitivamente.

Ante a tudo o que foi exposto, a inquirição do ofendido, logo

após a prática do crime, é de importância imensurável, pois, conforme já fora dito,

o ofendido é o mais interessado na apuração do delito, assim, a ouvida do

mesmo, sem dúvida, é informação valiosíssima para a autoridade policial

comprovar a materialidade e capturar o autor do crime.

2.6.4 Inquirição do Indiciado

O indiciado, também, deverá ser ouvido pela autoridade

policial, desde que ele não se encontre foragido ou quando a autoria do crime

seja inexistente.

64 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 3.ed.rev., atual. e ampl.

São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2004.p.83. 65 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial : dinâmica / Adilson Mehmeri. São Paulo : Saraiva,

1992.p.84.

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É, o interrogatório, no inquérito policial, similar ao em juízo,

devendo ser respeitado o direito fundamental do indiciado de permanecer calado

diante das indagações feitas pela autoridade policial, não podendo, por isso,

sofrer nenhum tipo de pressão.

Nesse sentido, Tourinho Filho:

A Autoridade Policial, no momento da elaboração do inquérito, deverá, se não for impossível (caso de fuga, de autoria desconhecida etc.), ouvir o indiciado, vale dizer, a pessoa contra quem foi instaurado o inquérito. Como acentua o inc. V do art. 6o do CPP, deverá a Autoridade Policial observar o disposto no Capítulo III do Título VII do Livro I, isto é, os arts. 185 e s. do CPP. Com tal expressão quer o legislador dizer que o interrogatório do indiciado deverá ser realizado dentro daquelas mesmas normas e garantias que norteiam o interrogatório levado a efeito pela Autoridade Judiciária (arts. 185 a 196), no que for aplicável. A advertência quanto ao seu direito de não responder a qualquer pergunta da Autoridade Policial é de rigor, não só porque se trata de norma a ser observada em Juízo como também por ser direito fundamental do indiciado ou réu. Não pode o indiciado sofrer qualquer pressão quando do seu interrogatório policial66.

Como o inquérito policial é um procedimento administrativo,

de caráter inquisitivo, no qual, não vigora o princípio do contraditório, não há a

necessidade da presença do advogado quando da inquirição do indiciado.

Destarte, não há ilegalidade, portanto, de a autoridade policial proceder, sem a

assistência de um advogado, ao interrogatório do indiciado. Porém, a autoridade

policial não pode, mediante tortura, obter a confissão do réu, sob pena de ser

responsabilizada penal e administrativamente67.

Para tanto, o indiciado goza de proteção constitucional

quanto a tratamento que importe violação de sua dignidade no artigo 5º, III, da

66 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.245. 67

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2005.p.246.

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Carta Magna, o qual alude o seguinte: “ninguém será submetido a tortura nem a

tratamento desumano ou degradante”.

A respeito, pondera Moraes:

O art. 5o da Constituição Federal prevê que ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante (inc. III); bem como que a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura68.

Capez ensina:

O indiciado deve ser interrogado pela autoridade policial, que poderá, para tanto, conduzi-lo coercitivamente à sua presença, no caso de descumprimento injustificado de intimação (CPP, art. 260). Deverão ser observados, no interrogatório policial, os mesmos preceitos norteadores do interrogatório a ser realizado em juízo (CPP, arts. 185 a 196), anotando-se que o indiciado não estará obrigado a responder às perguntas que lhe forem feitas, pois tem o direto constitucional de permanecer calado (art. 5o, LXIII), sem que dessa opção se possa extrair qualquer presunção que o desfavoreça. A autoridade policial não está obrigada a providenciar para o indiciado advogado legalmente habilitado com o fim de acompanhar o seu interrogatório, pois o que a constituição Federal quis, em seu art. 5o, LXIII, foi simplesmente abrir a possibilidade para o preso, querendo, entrar em contato com o seu advogado. Do mesmo modo, o delegado de polícia não é obrigado a intimar o defensor técnico para assistir ao ato, inexistindo qualquer vício no interrogatório realizado sem a sua presença69

Cabe, ainda, ressaltar que o termo do interrogatório deverá

ser firmado pela autoridade policial, pelo escrivão, pelo interrogado e por duas

testemunhas (CPP, artigo 6,V). As testemunhas não precisam presenciar o

interrogatório, bastando, tão-somente, que ouçam a leitura do mesmo. Caso o

indiciado se recusar, não puder ou não saber assinar o referido termo do

68 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo : Atlas, 2006.p.38. 69 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed.rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2005.p.

86.

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interrogatório, consignar-se-á tal particularidade no referido termo, conforme o

artigo 195 do CPP, parágrafo único70

Por derradeiro, a autoridade policial, quando possível, deve

ouvir o indiciado, desde que comprovada a materialidade do delito, como também,

exista fundados indícios de que o mesmo é o autor do crime e, sempre,

advertindo o indiciado, antes de começar a ouvi-lo, de seu direito assegurado pela

Carta Magna de permanecer calado.

2.6.5 Do Reconhecimento

O reconhecimento, no inquérito policial, consiste em uma

pessoa reconhecer coisas e pessoas, as quais lhe são mostradas. Este ato é

presidido pela autoridade policial ou, em juízo, pelo juiz.

Também, o reconhecimento é, na verdade, um testemunho, o

qual se baseia no fato de o reconhecedor ter visto o indiciado em tal lugar,

praticando o crime ou que determinado objeto usado no crime pertence ao

mesmo.

O relato acima é calcado nas palavras de Mirabete e Mansini:

O reconhecimento é o ato pelo qual alguém verifica e confirma a identidade de pessoa ou coisa que lhe é mostrada, com pessoa ou coisa que já viu, que conhece, em ato processual praticado diante da autoridade policial ou judiciária71 [...] “o reconhecimento é observação que fornece o objeto de prova pelo testemunho do identificador”72

70 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed.rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2005.p.

86. 71 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.333. 72 Apud MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004.

São Paulo: Atlas, 2005.p.349.

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2.6.6 Da Acareação

A acareação vem a ser a divergência entre os depoimentos

das testemunhas, dos indiciados como também, entre testemunhas e vítimas,

devendo, a autoridade policial, nesses casos, fazer a comparação dos

depoimentos confrontantes, pondo, para dirimir os pontos relevantes do fato

criminoso, as testemunhas cara a cara, com o escopo de descobrir qual delas

está falando a verdade.

Nesse sentido, Mehmeri:

Ocorre, porém, não raro, no cotejo dos depoimentos colhidos, que há entre eles divergências significativas, sobre pontos relevantes do fato propriamente, ou de suas circunstâncias elementares. Em assim ocorrendo, surge um novo procedimento, dentro do inquérito, ou do processo, chamado de acareação. Trata-se de um eventual confronto de declarantes ou depoentes, nos pontos de divergência [...] Diga-se de passagem, esse projeto também avançou nesse particular, permitindo o debate entre os acareados, ou seja, a sustentação dos divergentes, cara a cara. Isso naturalmente para que a autoridade sinta de que lado está a verdade73...

Para Tourinho Filho:

A Autoridade Policial deverá, também, quando necessário, proceder a acareações. Estas poderão ser feitas sobre fatos ou circunstâncias relevantes, entre indiciados, entre indiciados e testemunhas, entre testemunhas, entre indiciado ou testemunha e a pessoa ofendida, entre os ofendidos, sempre que divergirem em suas declarações. Os acareados serão reperguntados sobre os pontos de divergência, reduzindo-se a termo o ato de acareação. Repita-se: a acareação é cabível quando a divergência entre depoimentos, declarações, interrogatórios ou entre uns e outros versar sobre fato ou circunstância relevante74.

73 MEHMERI, Adilson. Inquérito policial : dinâmica / Adilson Mehmeri. São Paulo : Saraiva,

1992.p.84. 74 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.245.

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Destarte, a acareação é um instrumento, o qual a autoridade

policial tem, em mãos, para pôr fim entre os depoimentos divergentes de

testemunhas, como também, em todos aqueles casos elencados no artigo 229 do

CPP.

Por derradeiro, as declarações das testemunhas, das vítimas,

dos indiciados, os quais, por divergência entre si, forem reinquiridos sobres os

pontos divergentes do fato tido como crime, serão reduzidas a termo, conforme

preceitua o parágrafo único do artigo, precedentemente, mencionado.

2.6.7 Da Perícia

A perícia é um meio de prova apurado através de um exame

feito por pessoa que possua conhecimentos técnicos, científicos sobre fatos

necessários à descoberta da causa75.

Em se tratando de crimes que deixam vestígios, a autoridade

policial terá a obrigação de determinar que se faça a perícia denominada de

exame de corpo delito sob a égide dos artigos 158 e 184 do CPP.

O exame do corpo de delito não pode ser concebido como

sendo um exame que se faz, tão-somente, no corpo da vítima, pois o referido

exame significa o conjunto dos vestígios materiais deixados pelo crime.Tanto é,

que ele pode ser feito em um cadáver, numa pessoa viva, numa janela, numa

estante, num documento.

O que se mencionou, nos parágrafos anteriores, é confirmado

por Tourinho Filho:

Se for o caso de se proceder a exame de corpo de delito ou a quaisquer outras perícias, a Autoridade Policial deverá determiná-las, de conformidade com os artigos 158 usque 184 do CPP. Procede-se a exame de corpo de delito todas as vezes que a infração deixar vestígios. Quando se fala em corpo de delito, a

75 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed.rev. e atual. São Paulo : Saraiva,

2005.p.294 -295.

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primeira idéia que se tem é a do corpo da vítima. Nada mais errado. Corpo de delito ou corpus delicti, ou ainda corpus criminis, é o conjunto dos vestígios materiais deixados pelo crime. Assim, o exame de corpo de delito pode ser feito num cadáver, numa pessoa viva, numa janela, num quadro, num documento76...

Além do exame de corpo de delito, o qual é pressuposto de

validade processual quando o crime deixar vestígios (artigo 564, III, b, do CPP),

outras perícias, também, poderão ser realizadas durante a colheita de provas no

inquérito policial, para ajudar esclarecer as circunstâncias relevantes do fato

criminoso.

A autoridade policial pode determinar todo o tipo de perícia,

exceto a de insanidade mental do indiciado, pois, neste caso, a referida

autoridade, conforme o § 1 do artigo 149 do CPP, deverá fazer representação ao

juiz para que este determine o referido exame.

Já os demais tipos de exames podem ser classificados como:

a análise da composição química de algum objeto, o exame caligráfico, o exame

realizado numa arma para saber se ela foi usada recentemente, o exame de

sanidade mental da vítima, dentre outros que, sempre, serão realizados por

pessoas especializadas, isto é, que tenham conhecimento técnico, científico,

artístico.

Sobre o que fora dito acima, Tourinho Filho expõe:

Porém não apenas os exames de corpo de delito que podem ser realizados durante a feitura do inquérito policial, mas também quaisquer outras perícias. Certo que a lei guindou o exame de corpo de delito à categoria de pressuposto processual de validade, a salientar, no artigo 564, III, b, do CPP, que haverá nulidade se não for feito o exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalva a hipótese do artigo 167 [...] Pode, pois, a Autoridade Policial determinar a realização de quaisquer perícias, menos o exame para constatação da saúde mental do indiciado. Nesse caso, cumpre à autoridade representar ao Juiz

76 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.250.

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competente no sentido de que se faça como determina o § 1o do artigo 149 do CPP77.

Com supedâneo no artigo 276 do CPP, os peritos oficiais ou

não, jamais poderão ser indicados pelo ofendido ou o indiciado, uma vez que a

nomeação deles fica a cargo exclusivo da autoridade policial ou judiciária.

Os peritos, de acordo com o que diz o artigo 277 do CPP, não

poderão desatender a determinação de responder os quesitos formulados pela

autoridade e, em conformidade com o artigo 159, §1, do mesmo Código, deverão

ser, sempre, no mínimo, dois peritos a atuarem, sob pena de invalidade da

perícia78, salvo se desaparecido os vestígios do crime, podendo suprir o exame

do corpo de delito, a prova testemunhal, conforme o artigo 167 do já mencionado

Código.

Portanto, a prova pericial, no inquérito policial, é, a via de

regra pelo que se pode inferir do escrito acima, a prova de maior valor probatório

a comprovar o delito em juízo, mormente, o exame do corpo de delito, por meio

do qual se apura a materialidade do crime, sendo, a autoridade policial, obrigada

a determinar que o façam, os peritos, quando a infração deixar vestígios, salvo

em caso de desaparecerem os vestígios do crime, quando então, o referido

exame será suprido pela prova testemunhal.

2.6.8 Reprodução Simulada Dos Fatos

A reprodução simulada dos fatos é uma forma, pela qual, a

autoridade policial, com o intuito de analisar a possibilidade de o fato criminoso

ser praticado de outra forma, procede à reprodução simulada dos fatos, desde

que não contrarie a moralidade ou a ordem pública79. Esta, por exemplo, seria

uma reprodução que viesse a suscitar uma inundação, desabamento ou

77 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p. 251. 78 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. rev.e atual. São Paulo : Saraiva, 2005.p.

85. 79 Artigo 7 do Código de Processo Penal.

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desmoronamento, já aquela viria a ser uma reprodução simulada de crimes como:

estupro, atentado violento ao pudor80.

O indiciado pode, no máximo, ser coagido a comparecer,

consoante determina o artigo 260 do CPP, perante a autoridade policial, mas não

terá a obrigação de participar da reprodução simulada dos fatos (reconstituição do

crime), que embora seja um meio de prova importante para compreensão e

apuração do crime, só será reproduzida por livre e espontânea vontade do

indiciado, o qual tem o seu direito de permanecer calado assegurado no inciso

LXIII, artigo 5o da CRFB de 8881.

2.6.9 A Identificação

A identificação é tida como um processo usado para delimitar

a identidade, ou seja, é um conjunto de dados e sinais, os quais caracterizam o

indivíduo. Para isso, é feita a sua qualificação, na qual, deve constar seu nome,

filiação, naturalidade, bem como, qualidades físicas, morais e sociais como:

profissão, alcunha, defeitos corporais, sinais visíveis dentre outros que facilitem a

sua identificação.

Sobre o que fora aludido, confirma Mirabete:

A identificação é o processo usado para se estabelecer a identidade, conjunto de dados e sinais que caracterizam o indivíduo. Procede-se então a sua “qualificação” citando o nome, filiação, naturalidade etc., bem como todas as outras qualidades físicas, morais, sociais que possam ajudar a identificar o indiciado, v.g., profissão, alcunha, defeitos corporais, sinais visíveis e assim por diante (art. 259)82.

80 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado : referências doutrinárias,

indicações legais, resenha jurisprudencial : atualizado até julho de 2003. 11. ed. São Paulo : Atlas, 2003.p.94.

81

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed.rev.e atual. São Paulo : Saraiva, 2005.p. 85.

82 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.333.

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Hodiernamente, a identificação é realizada através de um

processo dactiloscópico, o qual consiste na tomada das impressões digitais do

indiciado.Tal sistema é calcado na impossibilidade de duas pessoas terem as

mesmas saliências papilares, pois, por meio de letras e números, são tipificadas,

as impressões digitais, em arquivos, para posteriores equiparações com as

colhidas de qualquer pessoa ou em qualquer objeto83.

O artigo 5º, LVIII, da CRFB/88, diz que “o civilmente

identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses

previstas em lei”.

Assim, de acordo com Lei 10.054 /2000, o indiciado, quando

não identificado civilmente, deverá ser identificado criminalmente, da mesma

forma, todos aqueles que forem presos em flagrante delito, em inquérito policial,

aquele contra o qual tenha sido expedido mandado judicial e os que cometeram

infração de menor potencial ofensivo84.

Contudo, o artigo 3º da lei acima preceitua as exceções à

regra imposta pela Carta Magna. Destarte, será identificado criminalmente,

independentemente do cível: os indiciados e acusados pela prática de homicídio

doloso, crime contra o patrimônio praticado mediante violência ou grave ameaça,

crime de receptação qualificada, crimes contra a liberdade sexual ou crime de

falsificação do documento público; fundada suspeita de falsificação ou

adulteração de documento de identidade; mal estado de conservação ou distância

temporal da carteira de identidade, quando impossibilitar a leitura dos dados

essenciais; quando constar outros nomes ou apelidos dos registros policiais;

quando houver registro de extravio da carteira de identidade; quando o acusado

não provar em 48 horas a sua identificação civil85.

83 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado : referências doutrinárias,

indicações legais, resenha jurisprudencial : atualizado até julho de 2003. 11. ed. São Paulo : Atlas, 2003.p.94.

84 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.333. 85 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2005.

p.87

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50

Além da identificação criminal do indiciado, deve, outrossim, a

autoridade policial providenciar para que seja, nos autos do inquérito, juntada a

folha de antecedentes criminais do indiciado86.

Também, deve ser analisada a vida pregressa do indiciado,

tanto do ponto de vista individual, familiar e social, bem como sua condição

econômica, sua atitude e estado de ânimo antes, depois e durante o crime, como

também, outros elementos que, de uma certa forma, venham a contribuir para a

apreciação do seu temperamento e caráter.

Para finalizar, cabe ponderar que a identificação

datiloscópica, além de ser um sistema, no qual, todos os dados do cidadão são

cadastrados para que ele seja diferido dos demais na sociedade, é um meio super

eficaz, o qual a polícia utiliza, por exemplo, para identificar se um suspeito pela

prática de determinado crime é, realmente, o autor do crime que lhe é imputado.

No capítulo seguinte, será abordado a valor probatório do

inquérito policial.

86 artigo 6,VIII do Código de Processo Penal.

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CAPÍTULO 3

O VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

3.1 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

A ampla defesa é o direito que o acusado tem de defender-se

de toda e qualquer acusação que lhe seja imputada, pois lhe é dado oportunidade

de levar, ao processo, provas que venham a comprovar a sua inocência, como

também, de exercer o seu direito de permanecer calado. Entretanto, a ampla

defesa não abrange, tão-só, a técnica (realizada por defensor habilitado), mas,

também, a pessoal, a qual vem a ser a sua autodefesa.

Nesse sentido, ensina Moraes:

Por ampla defesa entende-se o asseguramento que é dado ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se, se entender necessário, enquanto o contraditório é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo a condução dialética do processo (par conditio), pois a todo ato produzido pela acusação caberá igual direito de defesa de opor-se-lhe ou de dar-lhe a versão que melhor apresente87.

Complementa Capez:

Implica o dever de o Estado proporcionar a todo o acusado a mais completa defesa, seja pessoal (autodefesa), seja técnica (efetuada por defensor) (CF, art. 5o, LV)[...] Desse princípio também decorre a obrigatoriedade de se observar a ordem natural do processo, de modo que a defesa sempre por último. Assim,

87 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo : Atlas, 2006.p.93.

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qualquer que seja a situação que dê ensejo a que, no processo penal, o Ministério Público se manifeste depois da defesa88.

Conforme expendido acima, do princípio da ampla defesa,

decorre a necessidade de se observar a ordem natural do processo, isto é, não se

pode, por exemplo, permitir que as testemunhas de defesa, após a audiência do

interrogatório do réu, sejam inquiridas antes das de acusação, vez que as

testemunhas arroladas pela defesa devem contrariar as alegações feitas pela

acusação, podendo, em caso de não obediência ao que normatiza o artigo 396 do

CPP, advir grande prejuízo ao acusado89

Ainda sobre a ampla defesa, o magistério de Bastos:

O conteúdo da defesa consiste em o réu ter iguais possibilidades às conferidas ao autor para repelir o que é contra ele associado.Essa igualização não pode ser absoluta porque autor e réu são coisas diferentes. Uma mesma faculdade conferida a um e a outro poderia redundar em extrema injustiça. A própria posição específica de cada um já lhes confere vantagens e ônus processuais. O autor pode escolher o momento da propositura da ação. Cabe-lhe, pois, o privilégio da iniciativa, e é óbvio que esse privilégio não pode ser estendido ao réu, que há de acatá-lo e a ele submeter-se. Daí a necessidade de a defesa poder propiciar meios compensatórios da perda da iniciativa. A ampla defesa visa pois a restaurar um princípio de igualdade entre as partes que são essencialmente diferentes. A ampla defesa só estará plenamente assegurada quando uma verdade tiver iguais possibilidades de convencimento do magistrado, quer seja ela alegada pelo autor, quer pelo réu. Às alegações, argumentos e provas trazidos pelo

88 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 12. ed. rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2005.

p.87 89 “TJSC: Ação penal. – Nulidade – Inocorrência – Prova – Testemunhas de defesa ouvidas antes

das de acusação – Admissibilidade, desde que não tenha representado efetivo prejuízo à defesa – Interpretação do art. 396 do CPP. (...) De acordo com o previsto no artigo 396 do CPP, as testemunhas de acusação deverão ser ouvidas antes das de defesa em respeito ao princípio do contraditório; porém, a inversão da prova somente poderá anular a ação penal se demonstrado efetivo prejuízo à defesa”. Apud MIRABETE, Julio Fabbrini Código de processo penal interpretado: referências doutrinárias, indicações legais, resenha jurisprudencial : atualizado até julho de 2003. – 11. ed. – São Paulo : Atlas, 2003.p.1052.

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autor é necessário que corresponda uma igual possibilidade de geração de tais elementos por parte do réu90.

Com fulcro nas palavras de Bastos, o acusado deve ter as

mesmas possibilidades, as quais são conferidas ao autor, pois o autor da ação

penal, no caso de ser o Ministério Público ou o querelante, tem a prerrogativa de

submeter o réu ao contraditório, não podendo, o mesmo desvencilhar-se de tal

coação, sob pena de se ver frustrado o direito de punir do Estado. Por

conseguinte, seria de tamanha injustiça que se impedisse o réu de utilizar,

igualmente como o autor, das possibilidades de convencer o magistrado.

Com isso, infere-se que o princípio da ampla defesa não se

aplica ao inquérito policial, haja vista o mesmo ser, com espeque na ponderação

de Moraes, a exteriorização do contraditório, princípio este que não vigora na fase

de investigação policial, senão perante o Estado-Juiz.

3.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

O contraditório é garantia constitucional fundamental do

cidadão, a qual, conforme fora aludido precedentemente, não se aplica na fase

investigatória do inquérito policial, uma vez que, neste, não se acusa, mas,

somente, se investiga, sendo que é, na fase do julgamento, que o princípio do

contraditório passa a vigorar.

A Constituição de 1988, em seu artigo 5º, VL, normatiza o

seguinte: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados

em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e

recursos a elas inerentes”.

Diante do preceito constitucional, o contraditório é

assegurado “aos litigantes” e não ao indiciado, o qual, ainda, está em fase

anterior ao processo judicial, logo, não se podendo falar em contraditório na

investigação preparatória da ação penal, pois se o mesmo vigorasse, nesta fase, 90 BASTOS, Celso Ribeiro.Direito Constitucional. 18 ed.Editora Saraiva:São Paulo,1997.p.227.

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não haveria necessidade da ação penal para se ver punido o criminoso, em razão

de o Estado já ter exercido o seu jus puniendi.

Quanto ao processo administrativo, este não consiste em

procedimento administrativo de cunho preventivo, o qual é o inquérito policial,

senão em processo instaurado pela Administração Pública com fito de apurar

ilícitos administrativos e tributários, naquele, por exemplo, é aplicada uma multa

por infração de trânsito e neste, livros apreendidos pelo fisco...Em ambos os

casos têm o contraditório e a ampla defesa, visto que, na esfera administrativa,

não haveria justiça, se um administrado não tivesse assegurado o seu direto de

defesa.

Para corroborar tudo o que fora dito acima, Tourinho Filho:

Nem mesmo no sistema misto, uma vez que, na fase da investigação policial e na fase da instrução, o processo se desenvolve com caracteres inquisitivos. Apenas na fase de julgamento é que aparece o contraditório, e, em conseqüência, surge também a regra da igualdade processual [...] Não obstante a Magna Carta disponha no artigo 5,LV, que ‘Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a elas inerentes’, o certo é que expressão ‘processo administrativo’ não se refere à fase do inquérito policial, e sim ao processo instaurado pela Administração Pública para a apuração de ilícitos administrativos ou quando se tratar de procedimentos administrativos fiscais, mesmo porque, nesses casos, haverá a possibilidade da aplicação de uma sanção: punição administrativa, decretação de perdimento de bens, multas por infração de trânsito, por exemplo. Em face da possibilidade de inflição de uma ‘pena’, é natural deva haver o contraditório e a ampla defesa, porquanto não seria justo a punição de alguém sem o direito de defesa91.

Ainda, sobre o tema, a lição de Frederico Marques:

A investigação policial, ou inquérito, tem mesmo de plasmar-se por um procedimento não contraditório, porque ali ainda não

91 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal, volume 1. 27.ed.rev. e atual. São

Paulo : Saraiva, 2005.p.48-49.

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existe acusado, mas apenas indiciado. O individualismo exagerado de alguns é que pretende o absurdo de adotar sistema diverso, como o dizia Astolfo de Resende, deixando, assim,”ao desamparo o interesse superior da coletividade e estabelecendo o que não se encontra em parte nenhuma, e é absolutamente impraticável – a investigação contraditória, ou seja – a investigação acompanhada, perturbada, aniquilada, pela intervenção, à luz do sol, do malfeitor que a sociedade precisa punir92.

Lenza explica:

Em relação ao inquérito, devem tais princípios ser assegurados? Não, pois não há ainda acusação. Fala-se em indiciado, já que o inquérito policial é um mero procedimento administrativo que busca colher provas sobre o fato infringente da norma e sua autoria93.

Bechara e Campos expõem:

Ocorre, todavia, que muito embora não se fale na incidência do princípio durante o inquérito policial, é possível visualizar alguns atos típicos de contraditório, os quais não afetam a natureza inquisitiva do procedimento. Por exemplo, o interrogatório policial e a nota de culpa durante a lavratura do auto de prisão em flagrante94.

Diante de tudo que fora mencionado sobre o contraditório,

este, somente, é aplicado no início do processo-crime, não sendo utilizado na

persecutio criminis, em virtude de esta ser uma etapa, na qual, se tem um

indiciado e não um acusado.

Por conseguinte, o contraditório, como sendo um direito e

garantia fundamental do cidadão, não pode, em hipótese alguma, vigorar na fase

92 Apud MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v 1. 2. ed. Campinas:

Millennium, 2003.p.160. 93 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:

Editora Método, mar./2006.p.566. 94 Apud LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 10. ed. rev., atual. e ampl. São

Paulo: Editora Método, mar./2006.p.566.

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de investigação realizada pela polícia judiciária, sob pena de violar, visceralmente,

a Constituição de 88 e, conseqüentemente, restar-se inútil a prestação

jurisdicional penal.

3.3 DA CONDENAÇÃO CALCADA EM PROVAS PRODUZIDAS APENAS NO

INQUÉRITO POLICIAL

No inquérito policial, todas as provas produzidas servem de

apoio para que o representante do Ministério Público ofereça a denúncia.Todavia,

embora as referidas provas sejam de tamanha valia para que se obstem

condenações injustas, mormente, por serem colhidas logo após a consumação do

delito, vindo a impedir que desapareçam, destarte, os vestígios do ilícito penal, as

mesmas não podem ser utilizadas como fonte legítima da condenação do réu, em

razão do direito que este tem, através do princípio do contraditório e da ampla

defesa, de se defender com “os meios e recursos a ela inerentes” (artigo 5, VL).

Por esta forma, dando-se vênia para que a condenação do

réu seja calcada, tão-somente, em provas produzidas no inquérito policial é, sem

sombra de dúvidas, permitir que o mesmo seja julgado precipitadamente, o que

representa preterição total à Constituição Federal.

A despeito, Nucci:

Se nítida é a sua função de garantir o indivíduo contra acusações injustificadas, servindo à sociedade como meio célere de busca e colheita de provas perecíveis – via de regra, as periciais –, torna-se preciso registrar que não se deve utilizá-lo como fonte legítima de produção de provas, passíveis de substituírem o efetivo contraditório, que somente em juízo será realizado. A Constituição Federal, através dos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, seria maculada, quando uma prova, possível de ser concretizada em juízo, fosse antecipada para a fase extrajudicial, valendo, posteriormente, como meio de prova contra o réu. Logo, cremos despropositada a corrente de pensamento que sustenta serem válidas todas as provas coletadas pela polícia judiciária, muito embora não sejam elas

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realmente renovadas diante do juiz [...] É verdade que muitos sustentam, em nosso País, ser a natureza do inquérito um procedimento meramente preparatório, formador da opinião do representante do Ministério Público, porém, na prática, terminam conferindo validade e confiabilidade àquilo que foi produzido pela polícia judiciária [...] Trata-se de um sério erro, pois o que se apregoa na teoria não é seguido na prática, desacreditando o sistema processual e tornando letra morta as garantias fundamentais, previstas na Carta Magna. Portanto, se a prova merece ser colhida com rapidez, outras formas de desenvolvimento do inquérito, alheado às modificações aos princípios que o regem, precisam ser empreendidas95.

Capez aduz:

O inquérito policial tem conteúdo informativo, tendo por finalidade fornecer ao Ministério Público ou ao ofendido, conforme a natureza da infração, os elementos necessários para a propositura da ação penal. No entanto, tem valor probatório, embora relativo, haja vista que os elementos de informação não são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, nem tampouco na presença do juiz de direito. Assim, a confissão extrajudicial, por exemplo, terá validade como elemento de convicção do juiz apenas se confirmada por outros elementos colhidos durante a instrução processual96.

Para Aranha:

Certamente, o inquérito serve para colheita de dados circunstancias que podem ser comprovados ou corroborados pela prova judicial e de elemento subsidiário para reforçar o que for apurado em juízo. Não se pode, porém, fundamentar uma decisão condenatória apoiada exclusivamente no inquérito policial, o que contraria o princípio constitucional do contraditório97.

95 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 3.ed.rev. atual. e ampl.

São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2004.p. 68. 96 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.12. ed.rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2005. p.87 97 Apud MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.85.

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É patente que a condenação do réu não pode,

exclusivamente, ser fundamentada nos autos do inquérito policial, pois, como já

se viu, no capítulo anterior, o inquérito policial não é processo, senão

procedimento administrativo de natureza inquisitiva, o qual forma a opinio delicti

do Parquet, logo, somente, as provas coligidas nesta fase não bastariam para

fundamentar a condenação do réu.

No mesmo entendimento, as jurisprudências do STF:

Não se justifica decisão condenatória apoiada exclusivamente em inquérito policial pois se viola o princípio constitucional do contraditório98.

O inquérito policial é mera peça informativa destinada à formação da apinio delicti do Parquet, simples investigação criminal, de natureza inquisitiva, sem natureza de processo judicial, mesmo que existisse irregularidade nos inquéritos policiais, tais falhas não contaminariam a ação penal. Tal entendimento é pacífico e tão evidente que se torna até mesmo difícil discuti-lo99.

É de se notar que mesmo sendo, o inquérito policial, um

procedimento no qual não vigora o princípio do contraditório e da ampla defesa,

conforme com o que já fora demonstrado nos capítulos anteriores. O mesmo, em

certas ocasiões, tem valor probante como as provas produzidas em juízo, haja

vista da impossibilidade de se reiterar, no contraditório, a produção de provas de

crime cuja materialidade ou a autoria tenha sido calcada em exames periciais.Por

conseguinte, levando, em conta, o objeto efêmero destes, ou seja, os vestígios do

delito que se exaurem logo após a consumação do mesmo, a Suprema Corte já

decidiu que tais provas são irrepetíveis no contraditório, quando não mais

possível a realização da perícia por ocasião do desaparecimento dos elementos

comprovadores do crime.

Acerca do tema já se manifestou o STF, da seguinte forma:

98 Apud CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.12.ed.rev.e atual. São Paulo : Saraiva,

2005.p.80. 99 Apud CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.12.ed.rev.e atual. São Paulo : Saraiva,

2005.p.80.

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O dogma deriva do princípio constitucional do contraditório de que a força dos elementos informativos colhidos no inquérito policial se esgota com a formulação da denúncia tem exceções inafatáveis nas provas - a começar pelo exame de corpo de delito, quando efêmero o seu objeto, que, produzidas no curso do inquérito, são irrepetíveis na instrução do processo, porque assim verdadeiramente definitivas, a produção de tais provas, inquérito policial há de observar com vigor as formalidades legais tendentes a emprestar-lhe maior segurança sob pena de completa desqualificação de mera idoneidade probatória100.

Assim, é viável o entendimento acima do eminente Ministro,

porém, desde que as referidas provas periciais sejam corroboradas em juízo por

outras fontes de prova e não suscitem prejuízo ao réu, sob pena de violação

integral do princípio do contraditório e da ampla defesa.

Neste sentido, determinam as jurisprudências do Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul:

PROVA. OBTIDA NO INQUÉRITO POLICIAL.VALOR CONDENATÓRIO. A prova policial só deve ser desprezada, afastada, como elemento válido e aceitável de convicção quando totalmente ausente prova judicial confirmatória ou quando desmentida, contrariada ou nulificada, pelos elementos probatórios colhidos em juízo através de regular instrução. Havendo, porém, prova produzida no contraditório, ainda que menos consistente, pode e deve ser considerada e chamada para, em conjunto com esta, compor quadro probante suficientemente nítido e preciso. No caso em tela, a declaração da ofendida, vítima de abusos sexuais por parte do pai, dada no inquérito policial (não foi ouvida em juízo porque se suicidou), encontrou apoio nos depoimentos judiciais de seus irmãos e da Assistente social que a ouviu na ocasião. A versão do recorrente, acusação por vingança, não abalou a convicção surgida com as palavras da menor, até porque foi pobre em argumentação (vingança porque a surrou, uma vez que se relacionava com outra pessoa)101.

100 HC 74751/RJ, 1º Turma, Relator Min. Sepúlveda Pertence. Data:04.11.97.Disponível em: www.

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1049.Acesso em 06/02/2007.

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FURTO QUALIFICADO MATERIALIDADE COMPROVADA. DÚVIDA SOBRE A AUTORIA. PROVA ORAL DO INQUÉRITO POLICIAL. A prova oral colhida na fase do inquérito policial, destituída de publicidade e de fiscalização e sem a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa, presta, apenas, para fornecer elementos para o oferecimento da denúncia, não servindo como suporte de juízo de reprovação. Apelação ministerial improvida. Apelação defensiva provida102.

Por existirem certos paradigmas de crime como: atentado

violento ao pudor, estupro, roubo, os quais são praticados longe dos olhares das

testemunhas. A validade da prova do inquérito não deve ser preterida por azo de

outras produzidas em juízo. Destarte, na fase policial, todos os elementos

colhidos inerentes aos referidos delitos, desde que confrontados com outras

particularidades dos mesmos, devem ser aceitos em juízo, sob pena de se tornar

os artigos que tipificam os referidos crimes em meros preceitos utópicos.

Por esta forma, a jurisprudência tem decidido o seguinte:

A prova constante do inquérito policial, em regra, não deve ser desprezada, principalmente nos casos de furto, delito que sempre ocorre na clandestinidade. E as confissões colhidas nesta fase, desde que postas em confronto com as demais circunstâncias ocorridas no caso, às quais se ajustam, têm alto valor probante e devem ser aceitas se não elididas na fase judicial103.

ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR CONTRA MENOR DE QUATORZE ANOS - PRÁTICA DE ATO LIBIDINOSO DIVERSO DA CONJUNÇÃO CARNAL -PLEITO ABSOLUTÓRIO - INVIABILIDADE - PALAVRAS DA OFENDIDA COERENTES, DESCREVENDO COM RIQUEZA DE DETALHES A CONDUTA DELITUOSA - CORROBORAÇÃO POR OUTROS INDÍCIOS

101 Apelação Crime Nº 70017620543, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

Sylvio Baptista Neto.Julgado em18/ 01/2007.www.tj.rs.gov.br/site_php/jprud2/ementa.php. Acesso em 04/02/2006.

102 www.tj.rs.gov.br/site_php/jprud2/ementa.php. Acesso em: 04/06/2007. 103 TACrimSP.AC877. 079.Rel..Passos de Freitas RT717/417.Disponível em:www.tj.sc.gov.br.

Acesso em 04/02/2007.

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COLIGIDOS NA INSTRUÇÃO CRIMINAL, COMO A PRÓPRIA CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL DO ACUSADO104.

Portanto, a condenação do réu não pode ser calcada apenas

em provas constantes dos autos do inquérito policial, por razão de infringirem os

princípios do contraditório e da ampla defesa, os quais são direitos fundamentais

imprescindíveis para que o réu se defenda do fato criminoso que está sendo

imputado. No máximo, permitir-se-á, desde que não reste prejuízo ao réu, que

meio de prova como o exame de corpo de delito não seja reiterado em juízo em

decorrência dos vestígios, comprovadores da materialidade do crime, já terem se

exaurido.

3.4 A NULIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL E SEUS EFEITOS NO PROCESSO

PENAL

O termo nulidade deriva do latim medieval, com o significado

de nulo, nenhum, ou seja, sem eficácia. No sentido jurídico, é um ato que não

produz efeito, em face ao não atendimento do comando emanado da regra legal.

Assim, não preenchidos os requisitos de fundo e de forma, os quais são

imprescindíveis para a validade do ato, acontece a denominada nulidade.

Para anuir o que fora aludido acima, Silva:

No latim medieval nullitas, de nullus (nulo, nenhum), assim se diz, na linguagem jurídica, da ineficácia de um ato jurídico, em virtude de haver sido executado com transgressão à regra legal, de que possa resultar a ausência de condição ou de requisito de fundo ou de forma, indispensável à sua validade. Nulidade, pois, em realidade, no sentido técnico-jurídico, quer exprimir inexistência, visto que o ato ineficaz, ou sem valia, é tido como não tendo existência legal. Falta-lhe a força vital, para que possa, validamente, procedentemente, produzir os efeitos jurídicos desejados. A rigor, a nulidade mostra vício mortal, em virtude do

104 Apelação Criminal 2005.010917-6.Rel.Juiz José Carlos Kolher.Disponível em: www.tj.sc.gov.br.

Acesso em 09/02/2007.

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que o ato não somente se apresenta como ineficaz ou inválido, como se mostra como não tendo vindo105.

Vê-se, então, que a nulidade invalida o ato jurídico, como se

o mesmo não tivesse existido.No inquérito policial, a referida nulidade pode, no

máximo, gerar a invalidade e a ineficácia do auto de prisão em fragrante como

também, o reconhecimento pessoal, busca e apreensão e outros meios de prova.

Todavia, a nulidade, no inquérito policial, não se estende ao

processo, pois o caderno indiciário, embora sirva, em muitos casos, de base para

o magistrado decretar uma custódia cautelar106, é um procedimento administrativo

de cunho informativo, no qual, como já fora visto, não vigora o princípio do

contraditório, nem da ampla defesa.Por assim dizer, o que é coligido na fase

investigativa tem que ser reiterado em juízo, sob pena de violação aos referidos

princípios.

Neste sentido, Capez:

Não sendo o inquérito policial ato de manifestação do Poder Jurisdicional, mas mero procedimento informativo destinado à formação da opinio delicti do titular da ação penal, os vícios por acaso existentes nessa fase não acarretam nulidades processuais, isto é, não atingem a fase seguinte da persecução penal: a da ação penal. A irregularidade poderá, entretanto, gerar a invalidade e a ineficácia do ato inquinado, v. g., do auto de prisão em flagrante como peça coercitiva; do reconhecimento pessoal, da busca e apreensão etc107

Mirabete explica:

Sendo o inquérito policial mero procedimento informativo e não ato de jurisdição, os vícios nele acaso existentes não afetam a

105 SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico, 24 ed. Rio de Janeiro, 2004.p.1054. 106 Os elementos constantes do inquérito policial não se destinam apenas a informar. Destinam-se,

também, a convencer, quanto à viabilidade ou não da ação penal, ou quanto às condições necessárias para a decretação de qualquer medida ou provimento cautelar no curso do inquérito policial:Prisão na fase do inquérito policial e garantia constitucional do contraditório.Autor: Aristides Medeiros.Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7690.Acesso em: 26/02/2006.

107 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.12.ed.rev.e atual. São Paulo: Saraiva, 2005.p.80.

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ação penal a que deu origem. A desobediência a formalidades legais pode acarretar a ineficácia do em si (prisão em fragrante, por exemplo), mas não influi na ação já iniciada, com denúncia recebida. Eventuais irregularidades podem e devem diminuir o valor dos atos a que se refiram e, em certas circunstâncias, do próprio procedimento inquisitorial globalmente considerado, merecendo consideração no exame do mérito da causa. Contudo, não se erigem em nulidades, máxime para invalidar a própria ação penal subseqüente108.

Rangel traz seu entendimento:

Conclusão: pode haver ilegalidade nos atos praticados no curso do inquérito policial, a ponto de acarretar seu desfazimento pelo judiciário, pois os atos nele praticados estão sujeitos à disciplina dos atos administrativos em geral. Entretanto, não há que se falar em contaminação da ação penal em face de defeitos ocorridos na prática dos atos do inquérito, pois este é peça meramente de informação e, como tal, serve de base à denúncia. No exemplo citado, o auto de prisão em flagrante, declarado nulo pelo judiciário via habeas corpus, serve de peça de informação para que o Ministério Público, se entender cabível, ofereça denúncia109.

Cabe ponderar, também, que é de se inferir que a nulidade,

no inquérito policial, pode se dar através de uma concessão de ordem de habeas

corpus, declarando existir, no caso de prisão em flagrante, falta de justa causa

quando o fato investigado for, evidentemente, atípico ou quando já estiver extinta

a punibilidade do indiciado110.

108 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 17.ed.rev. e autal. Até dezembro de 2004. São

Paulo: Atlas, 2005.p.85. 109

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. V 8. Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. Apud www.direitonet.com.br/artigos.

110 ...justa causa é a existência de fundamento jurídico e suporte fático do constrangimento à

liberdade ambulatória. A hipótese trata da falta de justa causa para a prisão, para o inquérito e para o processo. Só há justa causa para a prisão no caso de flagrante delito ou ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão ou crime militar (CF, art.5o, LXI). A prisão administrativa, prevista no art. 650, § 2o, do CPP, não é cabível diante da nova Constituição. Falta justa causa para o inquérito policial quando se investiga fato atípico ou quando já estiver extinta a punibilidade do acusado. Apud CAPEZ, Fernando Curso de processo penal.–12.ed.ver.e atual.– São Paulo: Saraiva, 2005.p.521.

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Ainda sobre a nulidade do inquérito policial, Medeiros:

O inquérito policial que contém irregularidades, no processo dos crimes que se inicia mediante denúncia, não acarreta nunca nulidade do processo. E por um motivo bastante simples: o inquérito nestes processos (iniciados por meio da denúncia) não é peça processual, e sim peça meramente informativa. Ora, não há de se falar em nulidade de processo devido a vícios de peças não processuais. O inquérito só é peça processual no processo das contravenções e dos crimes de lesões e homicídio culposo; neste caso, as nulidades do inquérito incidem sobre o processo111.

Da mesma forma a jurisprudência do Tribunal do Estado do

Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO-CRIME. ROUBO QUALIFICADO. EMPREGO DE ARMAS E CONCURSO DE AGENTES. 1. PRELIMINARES. NULIDADE. AUSÊNCIA DE CURADOR. Apesar da exigência do art. 15 do CPP, a nulidade do inquérito policial não contamina o processo porquanto mera peça informativa. Não há qualquer exigência legal de nomeação de curador para o interrogatório, se o réu é maior de 21 anos de idade. Ademais, negado os fatos, não há prejuízo, viga mestra das nulidades no Direito Processual Penal. 2. ASSALTO À COLETIVO. INSUFICIÊNCIA DE PROVA. IMPROCEDÊNCIA. Reconhecível a prática do delito de roubo qualificado, quando as testemunhas comprovam a atuação criminosa, aliada à não-comprovação de álibi apresentado pelo réu. Preliminares rejeitadas, apelo improvido112.

No mesmo sentido a Jurisprudência do Tribunal do Estado de

Minas Gerais:

O Juiz, ao proferir a sentença de pronúncia, pode dar capitulação diversa daquela emprestada pela acusação aos fatos, ainda que mais gravosa, sem aditamento da peça acusatória, se a circunstância que indique essa nova capitulação está descrita, implícita ou explicitamente, na denúncia. - Eventual irregularidade

111MEDEIROS, Flávio Meirelles. Nulidades do Processo Penal. 2. Ed. Rio de

Janeiro.1987:www.direitonet.com.br/artigos/x/29/10/2910/+exemplo+de+v%C3%ADcio+no+inqu%C3%A9rito&hl=pt-br&ct=clnk&cd=4&gl=br&lr=lang_pt.Acesso em 21/02/2007.

112 Apelação Crime Nº 70003266459, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

Roque Miguel Fank, Julgado em 14/11/2001.Disponível em: www.tj.rs.gov.br.

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verificada no inquérito policial, que se constitui apenas em uma fonte de informações para o oferecimento da denúncia, não importa na nulidade da ação penal, ficando eventuais vícios superados com o recebimento da peça acusatória. - Uma vez anulado o primeiro julgamento, perante o Tribunal do Júri, em face de apelação interposta com base no art. 593, III, "d", do Código de Processo Penal, outro recurso, com o mesmo fundamento, não é cabível113.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no mesmo

norte:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. NULIDADES. AUSÊNCIA DE NOMEAÇÃO, NA FASE INQUISITORIAL, DE CURADOR ESPECIAL AO PACIENTE. EVENTUAL VÍCIO INQUISITORIAL, DE CURADOR ESPECIAL AO PACIENTE. EVENTUAL VÍCIO OCORRIDO NO INQUÉRITO POLICIAL NÃO CONTAMINA A AÇÃO PENAL OCORRIDO NO INQUÉRITO POLICIAL NÃO CONTAMINA A AÇÃO PENAL.Contando o paciente, na data do delito, com exatos 21 (vinte e um) anos e 01 (um) dia, não há como subsistir a alegada nulidade, pois o indiciado não gozava da menoridade penal, o que afasta a necessidade da nomeação do curador especial. Eventual nulidade ocorrida na fase inquisitorial não tem o condão de contaminar a instrução criminal, principalmente quando proferida sentença penal condenatória114.

No mesmo sentido o entendimento do Supremo Tribunal

Federal:

A jurisprudência dos Tribunais Superiores já assentou o entendimento no sentido de que, enquanto peça meramente informativa, eventuais nulidades que estejam a agravar o inquérito

113 Processo nº 0084.04.910564-0/001 1.Relator: José Antonino Baía Borges.Data da decisão:

25/08/2005.Publicação: 06/09/2005.Disponível em: www. tj.mg.gov.br. 114 HC 32708 / RJ ; HABEAS CORPUS 2003/0234436-9 Relatora Ministra LAURITA VAZ (1120)

T5- QUINTA TURMA. Data: 01/06/2004. DJ 02.08.2004 p.448.Disponível em:www.stj.gov.br.Acesso 22/02/2007.

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policial em nada repercutem no processo do réu, momento no qual, afirme-se, será renovado todo o conjunto da prova115

Por esta forma, a nulidade, a qual vicia o inquérito, pode

ensejar que o indiciado, preso ilegalmente em fragrante, venha a ser posto em

liberdade, mas, jamais vir a comprometer o processo-crime por tal vício, em razão

de o inquérito ser um procedimento administrativo, o qual não se confunde com o

poder instrutório do juiz que é de cunho jurisdicional e regido pelos princípios do

contraditório e da ampla defesa. Portanto, todas as provas coligidas na fase

extrajudicial, terão, em juízo, que ser reiteras, sob pena de violação do referidos

princípios.

115 STJ, 6a T., RHC 11.600/RS, rel.Min. Hamilton Carvalhido, j. 13-11-2001, Dj, 1 set.2003.Apud

CAPEZ, Fernando Curso de processo penal.–12.ed.ver.e atual.– São Paulo: Saraiva, 2005.p.81.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sobre a persecução penal, ficou evidenciado que, na Grécia,

os cidadãos participavam de forma direta na perseguição do crime. Já em Roma,

o juiz era, ao mesmo tempo, investigador e julgador, exceto na esfera privada,

onde o mesmo cingia-se, apenas, para as provas apresentadas pelas partes,

sendo que ao tempo do Império, o juiz, além do poder de julgar, lhe era conferido

os poderes que, hoje, são do Ministério Público.

Assim, concebe-se o porquê a persecução penal,

hodiernamente, consiste na junção da fase de investigação policial, a qual é

presidida pela Polícia Judiciária com a ação penal encetada pelo representante do

Parquet, como também, o papel que desempenha a Polícia de Segurança, no

sentido de prevenir o crime, assim, garantindo a segurança dos cidadãos.

No que tange à Polícia judiciária, esta é quem tem a

legitimidade para deflagração de inquérito policial com a finalidade de coligir

provas sobre materialidade e a autoria do delito a serviço da Justiça Penal.

Em se tratando do inquérito policial, este, conforme fora visto,

é um procedimento administrativo de cunho inquisitório e sigiloso, o qual visa a

apuração de provas para que o representante do Ministério Público ofereça a

denúncia, assim, dando início ao processo-crime, o qual é inconfundível com o

inquérito policial, visto que neste, há um mero indiciado, já, naquele, um réu,

validamente, citado com as garantias constitucionais do contraditório e da ampla

defesa.

Foi, também, abordado sobre a instauração do inquérito

policial, a qual, nos casos de ação penal pública incondicionada, incumbe à

autoridade policial, de ofício e através de portaria, a sua instauração, podendo, a

mesma, também, instaurar por meio de requisição da autoridade judiciária e do

Ministério Público, exceto nos casos de ação penal pública condicionada à

representação do ofendido e requisição do Ministro da Justiça, em que a

autoridade policial não poderá deflagrar inquérito policial por conta própria.

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Quando se tratar de ação penal privada, esta ficará a cargo

do ofendido.

Quanto ao conhecimento da infração penal pela autoridade

policial, deve, esta, de imediato, deslocar-se até o local do crime, para resguardar

o estado das coisas até a chegada dos peritos criminais, de forma, a obstar que

os vestígios do delito desapareçam, sendo que após concluído o trabalho dos

referidos expertos, cabe à autoridade policial mandar apreender todos os objetos

inerentes ao delito.

A Busca e apreensão quando for domiciliar, somente, será

legal quando for por determinação judicial durante o dia, exceto no caso de prisão

em flagrante ou para prestar socorro e, à noite, com o consentimento do morador,

sendo ilegal que seja executada a busca e apreensão durante a noite, mesmo

com o mandado judicial, sob pena de violar o princípio constitucional da

inviolabilidade do domicílio.

Quanto à instrução do inquérito policial, demonstrou-se a

importância de a autoridade policial, sempre que possível, ouvir a vítima, pois é, a

via de regra, a vítima a pessoa mais proba a relatar a verdade do fato criminoso,

exceto aqueles casos, no quais, as vítimas dissimulam a verdade e que, por isso,

tornam o depoimento do sujeito passivo com valor probatório relativo.

O indiciado, também, deverá ser ouvido, desde de que não

esteja foragido, não sendo obrigatório a presença de advogado no seu

interrogatório, visto em ser o inquérito mero procedimento administrativo.Todavia,

goza, o indiciado de direitos e garantias constitucionais como: o direito de

permanecer calado e de não ser submetido à tortura nem a tratamento

desumano, os quais violem a sua dignidade.

O reconhecimento, como meio de prova no inquérito policial,

é a identificação do indiciado feita pela vítima ou quem presenciou a prática da

infração penal.

Já a acareação vem a ser a contra-senso entre os

depoimentos das testemunhas, dos indiciados como também, entre testemunhas

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e vítimas, devendo, a autoridade policial, nesses casos, fazer a comparação dos

depoimentos confrontantes, pondo, para dirimir os pontos relevantes do fato

criminoso, as testemunhas cara a cara, com o escopo de descobrir qual delas

está falando a verdade.

Como importantíssimo meio de prova no inquérito policial, a

perícia é um meio de prova apurado através de um exame feito por pessoa que

possua conhecimentos técnicos, científicos sobre fatos necessários à descoberta

da causa, precipuamente, se o crime tiver deixado vestígios, o que será

obrigatória a produção de prova pericial na fase policial.

A reprodução simulada dos fatos é um meio, o qual é

utilizado pela autoridade policial para compreender melhor a prática do ilícito

penal e, para isso, faz um simulado do que realmente ocorreu, mas tal

reconstituição fica adstrita ao quesito de não atentar à moralidade e os bons

costumes e também, à vontade do indiciado, pois este não poderá ser obrigado a

participar da mesma.

A identificação, por sua vez, é um processo usado para

identificação do indivíduo, consistindo-se num conjunto de dados e sinais, os

quais o caracterizam. Para isso, é feita a sua qualificação, na qual, deve constar

seu nome, filiação, naturalidade, bem como, qualidades físicas, morais e sociais

como: profissão, alcunha, defeitos corporais, sinais visíveis dentre outros que

facilitem a sua identificação.

Atualmente, a identificação vem sendo realizada por meio de

um processo datiloscópico, no qual, são tomadas as impressões digitais do

indiciado.

No que tange ao valor probatório do inquérito policial, fora

abordado que o princípio constitucional da ampla defesa vem a ser o direito que o

acusado tem de se defender de toda a acusação que lhe é imputada, não se

resumindo, tão-somente, na defesa feita por advogado, senão à sua autodefesa.

A despeito do princípio do contraditório, este é a

exteriorização do princípio da ampla defesa, o qual é garantia dada aos litigantes

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e não aos indiciados.Por isso, tanto o princípio da ampla defesa, como do

contraditório, ambos não se aplicam ao inquérito policial, vez que este não é

processo, mas sim um procedimento administrativo de cunho inquisitório, o qual

tem, por finalidade, apurar a materialidade e indícios da autoria do delito, para que

o representante do Ministério Público ofereça a denúncia, dando início ao

processo-crime onde vigora os referidos princípios. Portanto, a primeira hipótese

restou confirmada.

Também a segunda hipótese foi confirmada, pois, como visto

no capítulo terceiro, a sentença penal condenatória não pode, exclusivamente, se

basear em provas produzidas no inquérito policial, uma vez que violaria os

referidos princípios do contraditório e da ampla defesa, através dos quais,

conforme já aludido, o acusado tem o direito de se defender de tudo aquilo que

lhe fora imputado, Por conseguinte, a sentença que for prolatada apenas em

provas constantes do inquérito policial restar-se-á, sem dúvida, em usurpação dos

direitos fundamentais do acusado.

Por fim, a terceira hipótese não foi confirmada, eis que a

nulidade, nos autos do caderno indiciário, pode invalidar uma prisão em fragrante,

por azo, por exemplo, de falta de justa causa ou o fato, o qual se funda a prisão,

for atípico. Porém, a nulidade, nele suscitada, não se estende ao Processo Penal,

haja vista, conforme já ponderado, em ser, o referido inquérito policial, um mero

procedimento administrativo, o qual não se confunde com o poder de jurisdição do

magistrado. Logo não há que falar em nulidade do processo-crime, por ocasião de

meras nulidades na persecução penal.

Por derradeiro, com base em tudo que fora aludido nesta

monografia, só resta concluir que o Valor Probatório do Inquérito Policial é

relativo, pois a sentença penal condenatória que é, tão-somente, calcada em suas

provas fere os princípios do contraditório e da ampla defesa. Portanto, as provas

coligidas na fase policial devem ser reiteradas em juízo, para que possam ter a

validade necessária para embasar uma sentença condenatória.

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