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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FRENTE À IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ANGÉLICA PASQUALI Itajaí, maio 2006.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FRENTE À IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA

ANGÉLICA PASQUALI

Itajaí, maio 2006.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FRENTE À IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA

ANGÉLICA PASQUALI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc. Natan Ben-Hur Braga

Itajaí, maio 2006.

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AGRADECIMENTO

Agradeço em primeiro lugar a DEUS, luz do meu caminho e fiel companheiro em minha jornada.

Aos meus pais, Dalério e Marli, gênese da minha vida e patrocinadores da minha conquista.

Ao meu namorado Jonathan, por compreender que muitas vezes não pude estar ao seu lado, por

estar buscando a realização de meu sonho.

Ao meu Orientador, Prof. Msc. Natan Ben-Hur Braga por aceitar me orientar e assim

compartilhar seu grande conhecimento.

Aos Promotores de Justiça da Comarca de Joinville: Sérgio Ricardo Joesting, Affonso Ghizzo

Neto e Assis Marciel Kretzer, pela solicitude e disponibilidade nas horas de dúvida.

E finalmente à minha companheira de curso, Flávia Rigoni Gonçalves, pela companhia,

paciência e calma comigo, desde o 1º dia de aula até o derradeiro.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, ao meu namorado e aos meus primos Gelásio Lussoli e

Rosineide Junkes Lussoli, com muito amor e reconhecimento por tudo o que fizeram para que

eu chegasse até aqui.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 23 de maio de 2006.

Angélica Pasquali Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Angélica Pasquali, sob o título

Breves Considerações Acerca da Atuação do Ministério Público Frente à

Improbidade Administrativa, foi submetida em 23/05/2006 à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: Professor Msc Natan Bem-Hur Braga

(Membro Presidente), Professora Msc Roseana M. A. de Araújo e Professor

Norival Acácio Engel e aprovada com a nota 9,5 (nove e meio).

Itajaí, 23 de maio de 2006.

Prof. Msc. Natan Ben-Hur Braga Orientador e Presidente da Banca

Prof. Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF/88 Constituição da República Federativa do Brasil - 1988

LIA Lei de Improbidade Administrativa

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias1 que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2.

Ação Civil Pública: (...) sob o aspecto doutrinário, ação civil pública é a ação

não-penal proposta pelo Ministério Público.

Sem melhor técnica, portanto, a LACP usou essa expressão para referir-se à

ação para defesa de interesses metaindividuais, proposta por diversos co-

legitimados ativos, entre os quais o próprio Ministério Público.3

Administração Pública:

No aspecto funcional, (...), significa um conjunto de atividades do Estado que

auxiliam as instituições políticas de cúpula no exercício de funções de governo,

que organizam a realização das finalidades públicas postas por tais instituições e

que produzem serviços, bens e utilidades para a população, (...).

Sob o ângulo organizacional (...), representa o conjunto de órgãos e entes

estatais que produzem serviços, bens e utilidades para a população, coadjuvando

as instituições políticas de cúpula no exercício das funções de governo.4

1 Denominamos Categoria a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 8ª ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003. p. 31. 2 Conceito operacional (= Cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos. (PASOLD, op. cit. p. 56). 3 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo – Meio Ambiente, Consumidor e outros interesses difusos e coletivos. 11ª ed. São Paulo: 1999. p. 51. 4 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 10ª ed. São Paulo: RT, 2006. p. 44.

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Democracia:

[...] se caracteriza pelo governo da maioria e pelo sufrágio universal. Distingue-se,

ainda, por fundar-se no princípio de igualdade política. Sobressai-se nela:

autogoverno do povo, separação de poderes, legislação resultante da vontade da

maioria, eleições periódicas e livres, controle parlamentar e jurisdicional do

governo. É acima de tudo, o sistema governamental em que impera o primado do

direito.5

Improbidade Administrativa:

Do latim, improbitate, com o sentido de desonestidade.6 [...] sinônimo jurídico de

corrupção e malversação administrativas, exprime o exercício da função pública

com desconsideração aos princípios constitucionais expressos e implícitos que

regem a Administração Pública.7

Inquérito Civil:

(...) investigação prévia, presidida pelo Ministério Público que se destina

basicamente a colher elementos de convicção para que o próprio órgão ministerial

possa identificar se ocorreu circunstância que enseje eventual propositura de

ação civil pública. 8

5 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 35ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 370. 6 BITENCOURT NETO, Eurico. Improbidade Administrativa e Violação de Princípios. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. p. 102. 7 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa Comentada. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 18. 8 MAZZILLI, Hugo Nigro. O Inquérito Civil; Investigações do Ministério Público, compromissos de ajustamento e audiência pública. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 53.

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Interesses Coletivos:

Em sentido lato, ou seja, de maneira mais abrangente, a expressão interesses

coletivos refere-se a interesses metaindividuais de grupos, classes ou categorias

de pessoas. 9

Interesses Difusos:

(...) como conceitua o CDC – são interesses ou direitos “transindividuais, de

natureza indivisível de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por

circunstâncias de fato”.Compreendem grupos menos determinados de pessoas,

entre as quais inexiste vinculo jurídico ou fático preciso. São como um conjunto de

interesses individuais, de pessoas indetermináveis, unidas por pontos conexos.10

Instituição:

(...) é um núcleo de regras jurídicas, unificadas por valores e princípios comuns,

tendo a mesma finalidade, compreendendo ampla e perene matéria jurídica.11

Ministério Público:

É o órgão do Estado (não do governo, nem do Poder Executivo), dotado de

especiais garantias para desempenhar funções ativas ou interventivas, em juízo

ou fora dele, em defesa dos maiores interesses da coletividade, como combate ao

crime, a fiscalização dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública, a

defesa do meio ambiente, do consumidor, do patrimônio público e social. Em

suma, zela por interesses indisponíveis ou de larga abrangência social.12

9 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo – Meio Ambiente, Consumidor e outros interesses difusos e coletivos. 11ª ed. São Paulo: 1999. p. 41. 10 MAZZILLI, op. cit. p. 40. 11 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 35ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 9/10. 12 MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução O Ministério Público. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 35.

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Moralidade Administrativa:

(...) indica correto uso de competências, dentro do padrão moral-administrativo

vigente, para obtenção da finalidade pública.13

Probidade:

(...) significa honestidade no desempenho da atividade administrativa do Estado.14

Sociedade:

(...) é a reunião permanente ou persistente de seres da mesma espécie,

submetidos à obediência de normas de conduta, habitando um dado território,

compondo uma organização caracterizada pela repartição de funções e

perseguindo um determinado fim. 15

13 BITENCOURT NETO, Eurico. Improbidade Administrativa e Violação de Princípios. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. p. 102. 14 BITENCOURT NETO, op. cit. p. 105. 15 SIQUEIRA JÚNIOR. Paulo Hamilton. Lições de Introdução ao Direito. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998. p. 20/21.

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SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................... XIII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ......................................... ............................................. 4

O MINISTÉRIO PÚBLICO: BREVES – HISTÓRICO E EVOLUÇÃO .. 4 1.1 HISTÓRICO ......................................................................................................4 1.1.1 ORIGENS: BREVES CONSIDERAÇÕES .................................................................4 1.1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA FASE COLONIAL .......................................................6 1.1.3 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA FASE IMPERIAL ........................................................8 1.1.4 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA FASE REPUBLICANA ...............................................10 1.1.5 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1934 .........................................12 1.1.6 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1937 .........................................14 1.1.7 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1946 .........................................16 1.1.8 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1967 .........................................18 1.1.9 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 01 DE 1969 ...............20 1.1.10 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 .......................................21 1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA ATUALIDADE: SUA ATUAÇÃO ...................22 1.2.1 INSTITUIÇÃO PERMANENTE ..............................................................................22 1.2.2 ESSENCIAL À FUNÇÃO JURISDICIONAL .............................................................24 1.2.3 DEFESA DA ORDEM JURÍDICA ..........................................................................24 1.2.4 DEFESA DO REGIME DEMOCRÁTICO .................................................................25 1.2.5 DEFESA DOS INTERESSES SOCIAIS E INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS ........................26 1.3 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS......................................................................27 1.3.1 UNIDADE ........................................................................................................28 1.3.2 INDIVISIBILIDADE .............................................................................................28 1.3.3 INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL ............................................................................29 1.4 GARANTIAS E PRERROGATIVAS ...................... .........................................30

CAPÍTULO 2 ........................................ ........................................... 33

VISÃO PANORÂMICA DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA..... . 33

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2.1 DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA....................... ............................................33 2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS REGULADORES DA ADMIN ISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................ ..................................................................34 2.2.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ..............................................................................34 2.2.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE .......................................................................36 2.2.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE .............................................................................37 2.2.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE .............................................................................38 2.2.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ................................................................................40 2.3 SUJEITOS DA IMPROBIDADE........................ ..............................................42 2.3.1 SUJEITO PASSIVO ...........................................................................................42 2.3.2 SUJEITO ATIVO...............................................................................................43 2.4 ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ............. .................................45 2.4.1 ATOS DE IMPROBIDADE QUE IMPORTAM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO ................46 2.4.2 ATOS QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO .......................................................50 2.4.3 ATOS QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .......55 2.5 SANÇÕES ......................................................................................................59 2.5.1 SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS .............................................................62 2.5.2 MULTA CIVIL ..................................................................................................63 2.5.3 PROIBIÇÃO DE CONTRATAR COM O PODER PÚBLICO E RECEBER BENEFÍCIOS OU INCENTIVOS FISCAIS OU CREDITÍCIOS........................................................................64 2.5.4 PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA ...........................................................................65 2.5.5 RESSARCIMENTO INTEGRAL DO DANO ..............................................................66 2.5.6 PERDA DOS BENS OU VALORES ACRESCIDOS ILICITAMENTE AO PATRIMÔNIO .....66

CAPÍTULO 3 ........................................ ........................................... 67

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FRENTE À IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA........ ...... 67 3.1 O PROCEDIMENTO DE INVESTIGAÇÃO DOS ATOS DE IMPR OBIDADE ADMINISTRATIVA ..................................... ..........................................................67 3.1.1 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO ....................................................................67 3.1.2 INQUÉRITO CIVIL .............................................................................................70 3.2 MEDIDAS CAUTELARES ............................. .................................................74 3.3 A AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ........... ...............................76 3.4 O MINISTÉRIO PÚBLICO E A AÇÃO CIVIL PÚBLICA.... .............................79 3.5 MINISTÉRIO PÚBLICO: LEGITIMIDADE PARA PROPOSITU RA DA AÇÃO..............................................................................................................................81 3.6 O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO FISCAL DA LEI........ ................................84 3.7 O MINISTÉRIO PÚBLICO E O TRIBUNAL DE CONTAS.... ..........................86

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 90

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 93

ANEXOS........................................................................................... 98

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma

pesquisa acerca da Improbidade Administrativa e a atuação do Ministério Público

nesses casos. O capítulo 1 tem seu ponto de partida nas origens do Ministério

Público, sendo abordado a figura do Ministério Público no Brasil desde a Fase

Colonial culminando na Constituição Federal de 1988, onde restou consignado

que o Ministério Público é uma Instituição permanente, essencial à função

jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime

democrático e dos Interesses Sociais e Individuais Indisponíveis (art. 127 CF/88),

bem como seus princípios institucionais, previstos no §1º do artigo 127 da CF/88.

O capítulo 2 vem tratar da Improbidade Administrativa propriamente dita, aborda

os atos de Improbidade que importam enriquecimento ilícito, que causam prejuízo

ao erário e os atos que atentam contra os princípios da Administração Pública,

todos previstos na Lei nº 8429/92, bem como as sanções previstas na mesma lei.

Por fim, o capítulo 3 trata da atuação do Ministério Público frente à Improbidade

Administrativa, iniciando com o procedimento administrativo e o Inquérito Civil,

aborda também as duas modalidades de ação, quais sejam: Ação Civil de

Improbidade Administrativa e a Ação Civil Pública, expondo quanto à legitimidade

do Ministério Público para a propositura da ação, como também o litisconsórcio

entre Ministérios Públicos e os co-legitimados, e, por fim, a ação conjunta com o

Tribunal de Contas.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia intitulada: Breves Considerações

Acerca da Atuação do Ministério Público Frente à Improbidade Administrativa tem

como objetivo institucional produzir uma monografia para obtenção do grau de

bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; como

objetivo geral, pesquisar sobre os atos de Improbidade Administrativa,

enfatizando a atuação do Ministério Público nos referidos atos, especialmente no

que tange aos procedimentos de investigação, bem como na ação civil

propriamente dita.

No Capítulo 1, tratar-se-á do histórico da Instituição do

Ministério Público desde suas origens mais remotas até sua chegada no Brasil,

fazendo uma abordagem sucinta da Instituição desde a Fase Colonial até a

Constituição de 1988, momento no qual se começa a falar dos seus princípios

institucionais, bem como de suas garantias e prerrogativas conferidas pela

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

No Capítulo 2, abordar-se-á acerca da Improbidade

Administrativa propriamente dita, inicia-se o estudo pela Administração Pública,

bem como expõe-se seus princípios norteadores, trazendo uma breve definição

de cada um deles. Revelam-se, também, os sujeitos da Improbidade

Administrativa, bem como dos atos que importam enriquecimento ilícito, que

causam prejuízo ao erário e os que atentam contra os princípios da Administração

Pública. Por fim, ainda neste capítulo, expõe-se sobre as sanções aplicáveis,

quais sejam: suspensão dos direitos políticos, perda da função pública,

ressarcimento integral do dano, a perda dos bens adquiridos ilicitamente, a multa

civil e a proibição de contratar com a Administração Pública e receber benefícios.

No Capítulo 3, tratar-se-á da atuação do Ministério Público

frente aos atos de Improbidade Administrativa, iniciando a abordagem com os

procedimentos administrativos de investigação, que são: o Procedimento

Administrativo e o Inquérito Civil que é presidido pelo Ministério Público. Após,

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passa-se a tratar da Ação de Improbidade Administrativa bem como a Ação Civil

Pública, e em seguida se expõe acerca da legitimidade do Ministério Público para

a propositura da ação, bem como sua atuação como custus legis. Por fim, far-se-á

uma breve abordagem sobre a atuação conjunta do Ministério Público e o

Tribunal de Contas.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre a atuação do Ministério Público nos atos de Improbidade Administrativa.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

� Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Ministério Público adquiriu verdadeira autonomia, bem como lhe foi outorgado a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

� Tanto a legislação brasileira, quanto a doutrina e a jurisprudência entendem que os atos de Improbidade devem ser punidos de forma a intimidar os agentes públicos e servidores a não mais agirem de forma ímproba.

� O Ministério Público tem a legitimidade para atuar nos casos de Improbidade Administrativa, atuando desde a fase investigatória, no procedimento administrativo ou no Inquérito Civil, bem como durante o processo judicial, tanto como parte ativa ou como fiscal da lei.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo16, na Fase de Tratamento de

Dados o Método Cartesiano17, e, o Relatório dos Resultados expresso na

presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

16 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral: este é o denominado método indutivo;” PASOLD, op.cit. p. 104. 17 “Base lógico-comportamental proposta por Descartes, muito apropriada para a fase de Tratamento dos Dados Colhidos, e que pode ser sintetizada em quatro regras: 1. duvidar, 2. decompor, 3. ordenar, 4. classificar e revisar. Em seguida, realizar Juízo de Valor.” PASOLD, op.cit. p. 237.

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Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas18, do Referente19, da Categoria20, do Conceito Operacional21 e da

Pesquisa Bibliográfica.

18 “Técnica é um conjunto diferenciado de informações, reunidas e acionadas em forma instrumental, para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas de pesquisa”.PASOLD, op. cit. p. 107. 19 “[...] explicação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”.PASOLD, op.cit. p. 62. 20 “[...] denominamos Categoria a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou á expressão de uma idéia”.PASOLD, op cit. p. 31. 21 Conceito operacional (= Cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos. (PASOLD, op. cit. p. 56).

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CAPÍTULO 1

O MINISTÉRIO PÚBLICO: BREVES – HISTÓRICO E EVOLUÇÃO

1.1 HISTÓRICO

1.1.1 Origens: Breves Considerações

Não há um consenso sobre as origens do Ministério Público,

há autores que atribuem o surgimento da Instituição aos magiaí, do Egito antigo,

há mais de 4.000 anos antes de Cristo, “os quais estavam incumbidos de

denunciar as práticas criminosas aos magistrados legalmente constituídos para tal

desiderato.”22

Outros autores23 acreditam que seu surgimento se deu na

Grécia, com os thesmotetis, que detinham a função de acusar, por meio da notitia

criminis os delitos à assembléia do povo ou ao senado.

Uma outra corrente24 reporta-se aos Éforos de Esparta, que

detinham a função moderadora entre o poder real e senatorial, além de serem

acusadores.25

Na literatura pátria, (neste sentido estão evidenciadas as

obras de Gabriel de Rezende Filho, Amaral Santos, Sérgio de Andréa)26

encontram-se várias referências aos procuradores dos imperadores romanos

como os precursores do Ministério Público: eram os procuratores caesaris.

22 KAC, Marcos. O Ministério Público na Investigação Penal Preliminar. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2004. p. 07. 23 José Lisboa da Gama Malcher, José Damião Pinheiro Machado Cogan. 24 Marcellus Polastri Lima, entre outros. 25 LIMA, Marcellus Polastri. Ministério Público e Persecução Criminal. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2002. p. 01

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Sem oposição a tudo o que foi exposto até aqui, grande

parte dos doutrinadores, como Hugo Nigro Mazzilli, aponta a França como origem

do Ministério Público.

Na lição de Kac: 27

Com efeito, o Ministério Público, como Órgão Institucional organizado, surgiu na França em 25 de março de 1302, quando Felipe, O Belo, através de sua conhecida ordonnance, reuniu tanto seus procurateus, encarregados da administração de seus bens pessoais, quanto seus advocatos, que defendiam seus interesses privados em Juízo e que, em conjunto, eram conhecidos pelo nome genérico de les gens du roi, em uma única instituição.

Com o passar do tempo, a Instituição deixou de zelar apenas pelos interesses privados do soberano, vindo exercer funções de interesse próprio do Estado.

Lima28 também entende que:

[...] a origem mais próxima, e nisto estão de acordo os doutrinadores, está na ordenance, de 25/3/1302, de Felipe “o Belo”, na França, e nas posteriores ordenances de 28/12/1335, de 20/7/1367 e de 22/11/1371, que conferiram aos procurateurs atributos que, indubitavelmente, os assemelham aos promotores de Justiça de hoje, sendo que, após a Revolução Francesa foram conferidas ao “Ministério Público” francês maiores garantias.

Em relação à expressão “Ministério Público”, no sentido hoje utilizada, surgiu no século XVIII, na França, onde escritos passaram a designar a função dos procuradores como verdadeiro

26 KAC, Marcos. O Ministério Público na Investigação Penal Preliminar. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2004. p. 10. 27 KAC, Marcos. Op. cit. p. 17. 28 LIMA, Marcellus Polastri. Op. cit. p. 02.

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ministério em defesa dos interesses públicos, já que defendiam os interesses do Rei e da Coroa.

Para Mazzili29, sofre-se até hoje a influência da doutrina

francesa na história do Ministério Público, tendo em vista até hoje o uso da

expressão parquet, (assoalho), onde Tourinho Filho30 bem leciona que:

[...] na França antiga os procuradores e advogados do Rei não se sentavam sobre o mesmo estrado onde ficavam os Juízes, mas sobre o soalho (parquet) da sala de audiência, como as partes e seus representantes.

Como se pode observar, não é fácil saber precisamente

quando e onde se deu o surgimento do Ministério Público, tendo em vista a

escassez de fontes acerca de sua origem.

Outrossim, pode-se afirmar que se trata de uma Instituição

milenar, que teve sua trajetória ascendente e cada vez firma-se como um órgão

de suma importância na defesa dos Interesses Difusos e Coletivos.

1.1.2 O Ministério Público na Fase Colonial

Como é de conhecimento geral e de acordo com a história

oficial, em 22 de abril de 1500 o Brasil foi descoberto, pelos portugueses, mais

precisamente por Pedro Álvares Cabral, tendo aportado em Porto Seguro na

Bahia.

Conforme lição de Martins Filho: 31

29 MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução Ao Ministério Público. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 36. 30 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Manual de processo Penal. 5ª ed. São Paulo: Saraiva. 2003. P. 317. 31 MARTINS FILHO. Ives Granda. 500 anos de História do Brasil – Resumo Esquemático. São Paulo: LTR, 2000. p. 21.

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Não tendo a Coroa portuguesa recursos de capital para promover diretamente a exploração comercial do Brasil, estabeleceu o sistema de distribuir a terra entre nobres e navegadores que se comprometessem a colonizá-la, sob a forma de capitanias hereditárias, mediante pagamento do dízimo real. Ao todo foram doadas 14 capitanias, entre 1534 e 1536, [...].

O sistema de Capitanias Hereditárias, porém não logrou

êxito, tendo então, a Coroa portuguesa resolvido nomear um Governador-Geral

para administrar a Colônia, sendo designado para tanto Tomé de Souza, que

fundou Salvador, cidade na qual se instalou o governo.

Sob o prisma jurídico, aplicaram-se ao Brasil, como Colônia portuguesa, as ordenações do Reino, que eram as compilações de todas as leis vigentes. Além dessa lei geral, os Governadores-Gerais e os Vice-Reis do Brasil estiveram submetidos aos regimentos, que traçavam normas específicas para o Brasil (medidas a serem tomadas nas Capitanias, tratamentos dos índios, organização da defesa, disciplinamento do comércio, organização da Justiça, normas de arrecadação, cuidados com os hospitais e igrejas, etc...).

Pode-se dizer que o Regimento de 17 de dezembro de 1548 (com 41 artigos e 7 suplementares) foi como que a “Primeira Constituição Brasileira”, organizando, sob o império da lei, a vida na Colônia.32

Quanto ao Ministério Público, pode-se observar sua

presença no Brasil desde 1609, ano em que foi criada a Relação do Brasil, que

era um Tribunal, “tendo sido criado o cargo de procurador dos Feitos da Coroa e o

Promotor da Justiça” 33

Pela observação de Mazzili: 34

32 MARTINS FILHO. Ives Granda. Op. cit. p. 21. 33 KAC, Marcos. Op. cit. p. 95. 34 MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit. p. 38.

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No Brasil-Colônia e no Brasil-Império, o procurador-geral ainda centralizava o ofício, não se podendo falar da instituição do Ministério Público nem de independência ou garantia dos promotores públicos, que eram meros agentes do Poder Executivo.

Nota-se que no Brasil-Colônia, a Instituição do Ministério

Público ainda não começou a despontar, sendo apenas um embrião, começando

o seu surgimento na figura dos Procuradores da Coroa e dos Promotores de

Justiça, já que não possuíam autonomia, nem tampouco garantias.

1.1.3 O Ministério Público na Fase Imperial

O Império teve início a partir da Independência do Brasil,

que foi proclamada por D. Pedro I em 7 de setembro de 1822, às margens do rio

Ipiranga. Com este ato D. Pedro I foi declarado o “Imperador e Defensor Perpétuo

do Brasil.”35

[...] os juízes não tinham a garantia da inamovibilidade, o que levou o Imperador, em 1850, a determinar a aposentadoria compulsória de juízes que inocentaram traficantes de escravos.36

Na fase Imperial o Ministério Público adquire, com a

Constituição de 1824, a prerrogativa37 da acusação nos processos criminais,

nesta época, também, suas atribuições são elencadas no Código de Processo de

1832.

A Constituição Imperial de 25 de março de 1824 determinava ainda o funcionamento de um Promotor de Justiça, junto a cada

35 DIVALTE. Série Novo ensino Médio – História. São Paulo: Ática, 2000. p. 265. 36 MARTINS FILHO. Ives Granda. Op. cit. p. 65. 37 PRERROGATIVA: Regalia; privilégio; direitos garantidos. (BUENO, Francisco da Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 1996. p. 525).

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uma das Relações, inclusive na da Corte, e ainda em cada Comarca, junto aos Juízos.

O recrutamento de pessoal se dava de forma rudimentar. Diante do escasso número de bacharéis, as fileiras do Ministério Público contavam com leigos, sem quaisquer condições técnicas para o exercício dos misteres, o que muito contribuía para sua ineficiência.

Com a edição da Lei nº 261, de 3 de dezembro de 1841, surge finalmente a figura do Promotor de Justiça do qual era exigida a qualidade de bacharel idôneo aos pertencentes ao cargo.38

Ocorre que, no Império os Membros do Ministério Público

eram subordinados aos Juízes, pois eram nomeados por estes, dando azo a

conclusões de que “os Promotores eram servidores dos Juízes”39

Acresce, por outro lado, que os Promotores Públicos podiam ser nomeados livremente pelos Juízes de Direito “na falta ou impedimento dos existentes”, criada então a figura do Promotor de Justiça ad hoc.

A subordinação dos Promotores Públicos aos Juízes de Direito resta evidente diante do artigo 23 do referido diploma legal, dando razão ao pensamento de que Promotores eram servidores dos Juízes antes de órgãos de atuação independentes.40

No Brasil-Império, a figura do Ministério Público começa a

surgir, de forma lenta e tímida, mas com suas atribuições já aparecendo no

ordenamento jurídico, lhe cabendo a acusação criminal.

38 KAC, Marcos. Op. cit. p. 95/96. 39 KAC, Marcos. Op. cit. p. 96. 40 KAC. Marcos. Op. cit. p. 96.

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Porém, o Ministério Público é ainda fraco e subordinado ao

Poder Judiciário, ainda nesta fase não lhe são conferidas as garantias previstas

ao Ministério Público nos dias atuais, como se verá oportunamente.

1.1.4 O Ministério Público na Fase Republicana

A República brasileira deu-se aos 15 de novembro de 1889,

e foi proclamada por marechal Deodoro da Fonseca, com um golpe militar,

começando então, com um governo militar41

Em 1891 foi promulgada a 1ª Constituição da República, que

Martins Filho42 assim descreve:

Convocada e eleita em 1890 uma Assembléia constituinte, que escolheu Prudente de Morais como seu Presidente, elaborou uma Constituição republicana, federativa, democrática, presidencialista e liberal para o Brasil, promulgada em 24 de fevereiro de 1891. Seu principal autor foi Rui Barbosa, deputado baiano de notável conhecimento jurídico.

Foi nesta fase também que, no governo de Venceslau Braz,

foi instituído o Código Civil, escrito por Clóvis Beviláqua, no ano de 1916.

A Constituição de 1891 trouxe também, uma novidade: a

possibilidade dos Estados elaborarem suas leis.

Com a constituição de 1891 mudou profundamente a estrutura da Justiça brasileira. Antes, havia uma justiça única e a partir daí passamos a ter a Justiça Federal e a dos Estados. A Constituição instituiu a dualidade de Justiças, atribuindo aos Estados competência para organizar a Estadual.43

41 DIVALTE. Op. cit. p. 303. 42 MARTINS FILHO. Op. cit. p. 100. 43 BRÜNING, Raulino Jacó. História do Ministério Público Catarinense. 2ª ed. Florianópolis: Habitus, 2002. p. 103.

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Foi só a partir da proclamação da República que o Ministério

Público começou a crescer, sendo que com o Decreto nº 848 de 11 de outubro de

1890, do então Ministro da Justiça, Campos Salles, assim “o Ministério Público

brasileiro passou a ter contornos de Instituição autônoma.”44

O Ministério Público é instituição necessária em toda a organização democrática e imposta pelas boas normas da justiça, a qual compete: velar pela execução das leis, decretos e regulamentos que devam ser aplicados pela Justiça Federal e promover a ação pública onde ela convier. (exposição de motivos do Decreto nº 848 de 1890).

Por outro lado, em 1890, Campos Salles assinou o Decreto

nº 1030, que deu mais independência para o Ministério Público exercer suas

atribuições com liberdade.

[...] o Ministério Público perante as justiças constituídas, o advogado da lei, o procurador dos interesses gerais do distrito Federal e o promotor da ação pública contra todas as violações do direito. (art. 162 do Dec. Nº 1030/1890).45

Corroborando as afirmações anteriores sobre a ampliação

das funções do Ministério Público, registra-se:

Em 1891, a primeira Carta Política do período Republicano, prevê o Ministério Público da União, na pessoa do Procurador-Geral da República, designado pelo Presidente, dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal. Deste modo, o Ministério Público era exercido pelo Judiciário, mas com designação do Presidente da República.46

44 KAC, Marcos. Op. cit. p. 97. 45 BRÜNING, Raulino Jacó. Op. cit. p. 113. 46 GONÇALVES, Edílson Santana. O Ministério Público no Estado Democrático de Direito. Curitiba: Juruá, 2000. p. 38.

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Apesar das novidades que surgiram com a República, bem

como com a Constituição de 1891, o Ministério Público começa a se estruturar

institucionalmente, porém sem autonomia e sem liberdade para exercer suas

atribuições como nos dias atuais.

1.1.5 O Ministério Público na Constituição de 1934

Em 1930, Getúlio Vargas, assumiu o poder e suspendeu a

Constituição de 1891, dissolvendo o Congresso Nacional. Desse modo, em 1933,

instalou-se a Assembléia Constituinte, e somente no próximo ano, em 16 de julho

de 1934, foi promulgada a Constituição de 1934.47

Foi a partir deste marco constitucional que o Ministério

Público foi finalmente institucionalizado, adquirindo estabilidade aos seus

membros, bem como ingresso por meio de concurso público.

O Ministério Público foi introduzido na Constituição de 1934

no Capítulo VI – “Dos órgãos de cooperação nas atividades governamentais”.

É de grande valia a transcrição do Capítulo VI da

Constituição de 1934:48

“CAPÍTULO VI – DOS ÓRGÃOS DE COOPERAÇÃO NAS ATIVIDADES GOVERNAMENTAIS”

SEÇÃO I – DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Art. 95 – O Ministério Público será organizado na União, no

Distrito Federal e nos Territórios por lei federal, e, nos Estados, pelas leis locais.

47 DIVALTE. Op. cit. p. 340. 48 VIEIRA, Judivan Juvenal. Ministério Público. O 4º Poder. Porto Alegre: Síntese, 2003. p. 128/129.

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§1º - O Chefe do Ministério Público Federal nos Juízos comuns é o Procurador Geral da República, de nomeação do Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, dentre cidadãos com os requisitos estabelecidos para os Ministros da Corte Suprema. Terá os mesmos vencimentos desses Ministros, sendo, porém, demissível ad nutum.

§ 2º - Os Chefes do Ministério Público no Distrito Federal e nos Territórios serão de livre nomeação do Presidente da República dentre juristas de notável saber e reputação ilibada, alistados eleitores e maiores de 30 anos, com os vencimentos dos Desembargadores.

§ 3º - Os membros do Ministério Público Federal que sirvam nos Juízos Comuns, serão nomeados mediante concurso e só perderão os cargos, nos termos da lei, por sentença judiciária, ou processo administrativo, no qual lhes será assegurada ampla defesa.

Art.96 – Quando a Corte Suprema declarar inconstitucional

qualquer dispositivo de lei ou ato governamental, o Procurador Geral da República comunicará a decisão ao Senado Federal para os fins do art. 91, nº IV, e bem assim à autoridade legislativa ou executiva, de que tenha emanado a lei ou o ato.

Art. 97 – Os Chefes do Ministério Público na União e nos Estado não podem exercer qualquer outra função pública, salvo magistério e os casos previstos na Constituição. A violação deste preceito importa perda do cargo.

Art. 98 – O Ministério Público, nas Justiças Militar e Eleitoral, será

organizado por leis especiais, e só terá na segunda, as incompatibilidades que estas prescreverem.

Cumpre salientar que os Ministérios Públicos dos Estados

seriam organizados por leis locais, o que, dessa forma ocorreu no Estado de

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Santa Catarina. Em 1935, a Constituição Estadual destinou ao Ministério Público

um capítulo só para a instituição.

De todo o exposto, conclui-se que a Constituição de 1934 foi

a pedra fundamental da institucionalização do Ministério Público brasileiro, pois foi

a partir dela que o Ministério Público ganhou uma certa autonomia,

desvinculando-se do Poder Judiciário e conseguindo, também, a “igualdade de

seus membros em relação ao Juízes”.49

1.1.6 O Ministério Público na Constituição de 1937

O mandato de Getúlio Vargas deveria terminar no começo

de 1938, quando haveria novas eleições presidenciais. No decorrer de 1937,

surgiram três candidatos à disputa: Armando de Sales Oliveira, ex-governador de

São Paulo; José Américo de Almeida, apoiado por Getúlio Vargas; e Plínio

Salgado, líder integralista. Embora simulasse apoio a José Américo, Getúlio

Vargas pretendia na verdade continuar no poder. Para isso, contava com o apoio

do alto-comando militar, do qual faziam parte os generais Eurico Gaspar Dutra e

Góis Monteiro. Em setembro de 1937, os aliados de Getúlio Vargas anunciaram a

descoberta de um plano terrorista atribuído aos comunistas. Conhecido como

Plano Cohen, o documento previa a eclosão de uma revolução comunista seguida

do assassinato de centenas de pessoas. O plano era falso, mas se transformou

no pretexto de que Getúlio Vargas precisava para dar o golpe de Estado que

instituiu o Estado Novo, em 10 de novembro de 1937.50

No mesmo dia em que anunciou a implantação do novo

regime, Getúlio Vargas comunicou, também, que o país passava a ter uma nova

Constituição. Inspirada nas constituições fascistas da Itália e da Polônia, a

Constituição de 1937 suprimiu o que restava da autonomia dos Estados e

substituiu a Democracia representativa por um sistema de governo autoritário e

49 KAC, Marcos. Op. cit. p. 98. 50 DIVALTE. Op. cit. p. 340.

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centralizado. Os partidos foram extintos e a imprensa passou a sofrer censura.

Entretanto, a legislação trabalhista foi mantida.51

Dessa forma, nada de novo surgiu em relação ao Ministério

Público com a Constituição de 1937, como bem descreve Brüning: 52

[...] a constituição de 1937 praticamente nada disse a respeito do Ministério Público, de suas prerrogativas, organização, garantias ou outras conquistas eventuais que poderiam ter sido concedidas. Apenas referiu-se, de relance, ao Procurador-Geral, no art. 99, verbis:

Art. 99. O Ministério Público Federal terá por chefe o Procurador-

Geral da República, que funcionará junto ao Supremo Tribunal Federal, e será de livre nomeação e demissão do Presidente da República, devendo recair a escolha em pessoa que reúna os requisitos exigidos para Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Porém, na lição de Kac53, o Ministério Público ganhou duas

referências importantes neste período de ditadura:

Foi ainda neste regime ditatorial que o parquet ganhou duas referências de suma importância, sendo a primeira na alínea “b” do artigo 101, consagrando a competência privativa do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar originariamente o Procurador-Geral da República nos crimes de responsabilidade, equiparando desta forma, o chefe do Ministério Público aos Ministros daquela Corte e ao próprio Presidente da República. A segunda, insculpida na forma do §1º do artigo 109, que permitia fosse cometida ao Ministério Público a função de representar em Juízo a Fazenda Federal, nas ações para cobrança da dívida ativa da União, cuja disciplina remetia à lei federal.

51 DIVALTE. Op. cit. p. 341. 52 BRÜNING, Raulino Jacó. Op. cit. p. 139. 53 KAC, Marcos. Op. cit. p. 100.

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Não se pode esquecer, que além de toda a privação em

decorrência do Estado Novo, foi nesta época, em 1941, com o advento do Código

de Processo Penal, que o Ministério Público pôde, requisitar o “Inquérito Policial e

diligências nos procedimentos administrativos na investigação de ilícitos penais”54

, adquirindo desta forma a titularidade para promover a ação penal pública.

1.1.7 O Ministério Público na Constituição de 1946

O ano de 1945 foi marcado por grandes manifestações pelo

retorno do Estado Democrático de Direito. Cedendo às pressões, Getúlio Vargas

convocou eleições presidenciais e uma Assembléia Constituinte. Porém, em

outubro, antes da data marcada para o pleito, Getúlio obrigou-se a deixar o poder.

Um golpe de Estado liderado por militares o destituiu da Presidência. Os golpistas

achavam que o ditador estava se articulando para permanecer no cargo.55

A nova Constituição de 1946 levou oito meses para ficar

pronta e foi promulgada em 18 de setembro daquele ano. Preservou-se a divisão

do poder em três instâncias autônomas: Legislativo, Executivo e Judiciário. O

poder Executivo se fortaleceu, pois manteve muita das atribuições adquiridas

durante a ditadura Vargas, e o direito de voto se estendeu aos brasileiros

alfabetizados, de ambos os sexos, maiores de dezoito anos. Até então, essa foi a

Constituição mais democrática que o país já tivera, porém, revelava ainda muitos

aspectos conservadores. O direito de voto, por exemplo, foi negado aos

analfabetos, o que excluía do exercício da cidadania mais da metade da

população. A Constituição de 1946 impunha também restrições ao direito de

greve e á organização sindical, e criava obstáculos à realização da reforma

agrária, ao dificultar a desapropriação de terras.56

54 KAC, Marcos. Op. cit. p. 101. 55 DIVALTE. Op. cit. p. 378. 56 DIVALTE. Op. cit. p. 378/379.

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Em relação ao Ministério Público, a Constituição de 194657,

dedicou - lhe um título exclusivo, que é interessante trazer à baila:

TÍTULO III - Do Ministério Público

Art 125 - A lei organizará o Ministério Público da União, junto a

Justiça Comum, a Militar, a Eleitoral e a do Trabalho.

Art 126 - O Ministério Público federal tem por Chefe o

Procurador-Geral da República. O Procurador, nomeado pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal, dentre cidadãos com os requisitos indicados no artigo 99, é demissível ad nutum.

Parágrafo único - A União será representada em Juízo pelos Procuradores da República, podendo a lei cometer esse encargo, nas Comarcas do interior, ao Ministério Público local.

Art 127 - Os membros do Ministério Público da União, do Distrito

Federal e dos Territórios ingressarão nos cargos iniciais da carreira mediante concurso. Após dois anos de exercício, não poderão ser demitidos senão por sentença judiciária ou mediante processo administrativo em que se lhes faculte ampla defesa; nem removidos a não ser mediante representação motivada do Chefe do Ministério Público, com fundamento em conveniência do serviço.

Art 128 - Nos Estados, o Ministério Público será também

organizado em carreira, observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoção de entrância a entrância.

Da leitura do texto da Constituição de 1946, pode-se

observar que o Procurador-Geral da República não dispunha da mesma

estabilidade que o Promotor de Justiça, pois ele poderia ser demitido ad nutum58.

57 BRASIL. Presidência da República. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946.

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Também, a partir desta Constituição de 1946, o ingresso na

carreira foi admitido somente por meio de concurso público (art. 127).

Para Kac59:

Sob o império dessa Constituição foi que o Ministério Público ganhou extremado relevo e cunho organizacional consistente, estruturado em lei especial, que muito contribuiu para seu avanço como Instituição essencial que é à função jurisdicional, à correta aplicação das leis em geral, como defensora do ordenamento jurídico e guardiã do regime democrático de direito.

Dessa forma, no regime instituído pela Constituição de 1946,

o Ministério Público adquiriu as garantias constitucionais de estabilidade e

inamovibilidade, com um título à parte, sendo estabelecido também o ingresso na

carreira, mediante concurso, assim, a partir da Constituição de 1946 foi que o

Ministério Público adquiriu sua independência como Instituição.

1.1.8 O Ministério Público na Constituição de 1967

Foi nesta época que se instalou a ditadura no país, em 1964

os militares tomaram o poder e os direitos constitucionais foram suspensos e

substituídos por várias medidas de exceção. Os novos donos do poder ignoraram

a existência do poder Legislativo e da Constituição de 1946 e passaram a emitir

decretos, chamados Atos Institucionais, para regulamentar o novo regime.60

No dia 11 de abril de 1964, o Congresso Nacional elegeu o

novo Presidente da República, o general Humberto de Alencar Castello Branco,

Disponível em: < http:// www.presidencia.gov.br> Acesso em: 04 de setembro de 2005. 58 Ad nutum – À vontade. O Presidente da República pode nomear e demitir os Ministros de estado ad nutum, isto é, com inteira liberdade. ( LUIZ, Antônio Filardi. Dicionário de Expressões Latinas. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 30.) 59KAC, Marcos. Op. cit. p. 102. 60 DIVALTE. Op. cit. p. 385.

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que foi um dos articuladores do golpe militar. Castello Branco submeteu ao

Congresso Nacional o texto de uma nova Constituição, que foi promulgada em 2

de fevereiro de 1967.61

A Constituição de 1967 mantinha o Brasil como federação, o

poder Executivo saiu fortalecido e as eleições presidenciais continuariam sendo

realizadas indiretamente.

Brüning62, em relação ao Ministério Público entende que:

[...] em 1967, nova Constituição brasileira foi promulgada, pouco de substancial acrescentando. Nela, a Instituição estava inserida no Capítulo relativo ao Poder Judiciário, mas mantinha em linhas gerais as características anteriores. Apenas assegurou aos seus membros as mesmas prerrogativas dos juízes, de aposentadoria após 30 anos de serviço, com vencimentos integrais. Instituiu pela primeira vez o concurso público de provas e títulos para ingresso na carreira.

É válido elencar aqui, os artigos relativos ao Ministério

Público, nesta Constituição de 196763, in verbis:

SEÇÃO IX - Do Ministério Público

Art 137 - A lei organizará o Ministério Público da União junto aos

Juizes e Tribunais Federais.

Art 138 - O Ministério Público Federal tem por Chefe o

Procurador-Geral da República, o qual será nomeado pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal, dentre cidadãos com os requisitos Indicados no art. 113, § 1º.

61 DIVALTE. Op. cit. p. 386. 62 BRÜNING, Raulino Jacó. Op. cit. p. 189. 63 BRASIL. Presidência da República. Constituição do Brasil de 1967. Disponível em: <http:// www.presidencia.gov.br> Acesso em: 10 de setembro de 2005.

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§ 1º - Os membros do Ministério Público da União, do Distrito Federal e dos Territórios ingressarão nos cargos iniciais de carreira, mediante concurso público de provas e títulos. Após dois anos de exercício, não poderão ser demitidos senão por sentença judiciária, ou em virtude de processo administrativo em que se lhes faculte ampla defesa; nem removidos, a não ser mediante representação do Procurador-Geral, com fundamento em conveniência do serviço.

§ 2º - A União será representada em Juízo pelos Procuradores da República, podendo a lei cometer esse encargo, nas Comarcas do interior, ao Ministério Público local.

Art 139 - O Ministério Público dos Estados será organizado em

carreira, por lei estadual, observado o disposto no parágrafo primeiro do artigo anterior.

Parágrafo único - Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 108, § 1º, e art. 136, § 4º.

Após a análise dos artigos que se referem ao Ministério

Público, conclui-se que há uma separação entre o Ministério Público da União e o

Ministério Público Estadual. No que tange ao ingresso na carreira, o §1º do artigo

138 determina o concurso público de provas e títulos, sendo garantido a

inamovibilidade e estabilidade como prerrogativas.

1.1.9 O Ministério Público na Emenda Constitucional nº 01 de 1969

A Emenda Constitucional nº 01 de 1969, reformulou a

Constituição de 1967 e foi outorgada pelos Ministros da Marinha de Guerra, do

Exército e da Aeronáutica Militar. Formalmente, porém, continuava em vigor a

Constituição de 1967, com as manutenções e alterações da Emenda nº 01.64

64 DIVALTE. Op. cit. p. 387.

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No concernente ao Ministério Público, Mazzilli65 leciona que:

Em virtude de mais um golpe, uma junta militar, sob a forma de “emenda constitucional” nº 1/69, decretou a Carta de 1969, cujos arts. 94 a 96 colocaram o Ministério Público no Capítulo do Poder Executivo. Houve notável crescimento das atribuições do chefe do Ministério Público da União, porque nomeado e demitido livremente pelo presidente da República.

Também, na lição de Brüning66:

Com ela perderam seus membros certas garantias, como a aposentadoria voluntária aos 30 anos de serviço, além do que, em muitos aspectos, passaram a reger-se pelas normas do funcionalismo em geral.

Outrossim, com o advento da Emenda Constitucional 01/69,

o Ministério Público Federal passou a ter seu chefe nomeado diretamente pelo

Presidente da República, retirando da Instituição sua independência.

1.1.10 O Ministério Público na Constituição de 1988

O ano de 1984 foi marcado pelo movimento das Diretas-Já,

que reivindicava a aprovação no Congresso Nacional de uma emenda que

restabelecesse as eleições diretas para presidente. As Diretas-Já e a vitória de

Tancredo Neves no colégio Eleitoral deram aos brasileiros a esperança de novos

tempos.67

A partir da Constituição de 1988, a Instituição do Ministério

Público passou a ter autonomia em relação aos outros poderes, como bem dispõe

o art. 127 da Constituição de 1988:

65 MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit. p. 41. 66 BRÜNING, Raulino Jacó. Op. cit . p. 190. 67 DIVALTE. Op. cit. p. 389.

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Art. 127. Instituição permanente, essencial à função jurisdicional

do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Na observação de Kac68:

Ao Ministério Público foram deferidos iniciativa legislativa, criação e extinção de cargos, fixação de vencimentos e leis complementares, poder auto-organizacional, listar atribuições através de estatuto próprio, elaboração de proposta orçamentária, administrativa e financeira, passando, inclusive, a prover seus próprios cargos de forma direta.

Sem dúvida que com o advento da Constituição de 1988 o

Ministério Público tomou uma nova conotação, sendo, nas palavras de Gomes69,

“uma autêntica divisora de águas, [...] que conferiu um novo perfil ao Ministério

Público [...]. Este perfil será explorado mais pormenorizadamente na seqüência

desse trabalho.

1.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA ATUALIDADE: SUA ATUAÇÃO

1.2.1 Instituição Permanente

Conforme o disposto na Constituição de 1988, o Ministério

Público é uma “instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,

incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos

interesses sociais e individuais indisponíveis.”

Antes de tecer qualquer comentário acerca do Ministério

Público como uma Instituição permanente, torna-se necessário ter em mente uma

definição de Instituição.

68 KAC, Marcos. Op. cit. p. 106. 69 GOMES, Luís Roberto. O Ministério Público e o Controle da Omissão Administrativa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. p. 11.

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Para Gusmão70, uma instituição se define como sendo:

[...] modelos de ações sociais básicas, estratificados historicamente, destinados a satisfazer necessidades vitais do homem e a desempenhar funções sociais essenciais perpetuados pela lei, pelo costume e pela educação.

Na definição de Kac71, o Ministério Público é uma Instituição

permanente porque,

A Instituição possui um regramento próprio listado desde o texto constitucional até as leis complementares, ordinárias e orgânicas que lhe dá a feição e agentes como: Procuradores da República, de Justiça e Promotores de Justiça, corpo funcional auxiliar e mobiliário, para o escorreito desempenho das suas tarefas.

O Ministério Público é quem defende os interesses da

Sociedade72, para tanto, a Constituição de 1988, lhe deu o status, de Instituição

permanente, podendo ser considerado “os olhos e a fala da sociedade”73, sem

que haja a possibilidade do poder constituinte derivado74 o extinguir.

70 GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito. 35ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 36. 71 KAC, Marcos. Op. cit. p. 114. 72 SOCIEDADE: é a reunião permanente ou persistente de seres da mesma espécie, submetidos à obediência de normas de conduta, habitando um dado território, compondo uma organização caracterizada pela repartição de funções e perseguindo um determinado fim. (SIQUEIRA JÚNIOR. Paulo Hamilton. Lições de Introdução ao Direito. São Paulo: Editora Oliveira Mendes, 1998. p. 20/21). 73 KAC, Marcos. Op. cit. p. 114. 74 PODER CONSTITUINTE DERIVADO: (...) pressupõe uma Constituição já em vigor, que lhe dá os limites e lhe impõe os modos de atuação. É um poder essencialmente jurídico, de exercício contido, que sofre as restrições definidas na própria Constituição e deixadas nela pelo Poder Constituinte Originário, que lhe é superior. (CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do Direito Constitucional. 1ª ed. Curitiba: Juruá, 2002. p. 62).

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1.2.2 Essencial à Função Jurisdicional

Ao dizer que o Ministério Público é essencial à função

jurisdicional do Estado, subentende-se que ele é indispensável, necessário e

importante, pois a ele incumbe o dever de zelar pela Ordem Jurídica75.

Valter Foleto Santini76, muito bem definiu esta função

essencial do Ministério Público na defesa da ordem jurídica:

O caráter essencial do órgão deve ser visto em consonância com a incumbência de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, para não dar errônea interpretação de que o Ministério Público deva funcionar em todas as causas que compõem a prestação da jurisdição estatal. O Ministério Público não funciona em todas as ações que tramitam no Judiciário.

Nesse sentido, a Sociedade restou beneficiada com esta

prerrogativa de essencialidade que foi destinada ao Ministério Público, visto que,

a partir de então, a Sociedade tem visto seus direitos e garantias preservados

pelo Ministério Público, que tem a árdua missão de defendê-los.

1.2.3 Defesa da Ordem Jurídica

“A defesa da ordem jurídica é o objetivo da atuação do

Ministério Público”77, e em sendo assim, cabe ao Ministério Público verificar se a

75 ORDEM JURÍDICA: pode ser definida como o complexo de normas jurídicas vigentes em dado momento histórico, numa sociedade determinada, garantido coercitivamente por sanções eficazes, que garante a cada um o que é seu e o que pode fazer. Nesse sentido, ordem jurídica e ordenamento jurídico se confundem, tendo o mesmo sentido e a mesma significação jurídica. Fica desde logo esclarecido que o conceito de ordem jurídica compreende não só normas legislativas (lei, decreto-lei, regulamento, códigos, Constituição, etc...), como também normas consuetudinárias, standards jurídicos, jurisprudência dos Tribunais, tratados internacionais e princípios gerais do direito vigentes em momento histórico. (GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 35ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 60). 76 SANTINI, Valter Foleto. O Ministério Público na Investigação Criminal. São Paulo: Edipro, 2001. p. 191. 77 MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit. p. 64.

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legislação está sendo cumprida, do contrário, ele pode – por meio do Judiciário –

provocar os órgãos do Estado, dotados da incumbência de obrigar seu

cumprimento.

É este o entendimento de Kac:78:

Na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos direitos sociais e individuais indisponíveis, o Ministério Público pode e deve utilizar toda a gama de recursos que lhes são inerentes ao correto desempenho de suas atribuições.

Desse modo, cumpre ao Ministério Público, zelar pelo efetivo

cumprimento da lei, promovendo a aplicação das leis, com os recursos que estão

ao seu alcance, para a efetiva defesa da ordem jurídica.

1.2.4 Defesa do Regime Democrático

Do grego demokratia, a Democracia79 é um regime político

no qual o povo detém a soberania, cabendo ao Ministério Público, como uma de

suas finalidades constitucionais80, a defesa desse regime democrático.

Para Gonçalves81, a Democracia,

[...] sempre foi entendida como sendo a forma de Governo em que a titularidade do poder soberano pertence ao povo, ou seja, cujo poder político é exercido por ele, estando a exigir um permanente

78 KAC, Marcos. Op. cit. p. 118. 79[...] se caracteriza pelo governo da maioria e pelo sufrágio universal. Distingue-se, ainda, por fundar-se no princípio de igualdade política. Sobressai-se nela: autogoverno do povo, separação de poderes, legislação resultante da vontade da maioria, eleições periódicas e livres, controle parlamentar e jurisdicional do governo. É acima de tudo, o sistema governamental em que impera o primado do direito. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 35ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 370. 80 Art. 127. da CF/88. 81GONÇALVES, Edílson Santana. Op. cit. p. 43.

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diálogo entre o Estado e a Sociedade, para que os detentores do Poder se convertam em verdadeiros benfeitores da cidadania.

Kac82 visualiza o regime democrático pela:

[...] soberania popular, eleição direta e secreta dos representantes do povo pelo sufrágio universal, tripartição dos Poderes, respeito aos direitos e garantias fundamentais e a ordem jurídica vigente, enfim, toda uma gama de princípios, oriundos de uma nação democrática em que todo o poder emana do povo e em seu nome será exercido.

Desse modo, em todos os casos em que a Administração

Pública, por ação ou omissão, ferir os postulados do regime democrático, deverá

o Ministério Público agir, através da Ação Civil Pública, com o intuito de

restabelecer a ordem estatal.

1.2.5 Defesa dos Interesses Sociais e Individuais I ndisponíveis

No citado art. 127 da CF/88 está prevista a defesa dos

interesses sociais, que segundo Santini83, podem ser entendidos como

“interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos”

Em relação aos interesses individuais homogêneos, Santini84

observa que:

A defesa dos interesses individuais homogêneos não consta especificamente do texto constitucional, porque a modalidade de interesse social foi criada em 1990, pelo código de Defesa do Consumidor, posterior à Constituição Federal de 1988. Entretanto, a sua defesa pode ser incluída na cláusula constitucional aberta que lhe permite exercer outras funções, porque perfeitamente

82 KAC, Marcos. Op. cit. p. 118. 83 SANTINI, Valter Foleto. Op. cit. p. 196. 84 SANTINI, Valter Foleto. Op. cit. p. 196.

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compatível com a finalidade institucional do Ministério Público, segundo assinala o inciso IX, do art. 129, da CF, com a defesa dos interesses sociais e da ordem jurídica (art. 127 CF), especialmente porque a defesa do consumidor pelo Estado é garantia fundamental do cidadão (art. 5º, XXXII, CF), corporificada nas normas estabelecidas no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/1990), diploma que expressou claramente a vontade do legislador de defender e proteger o consumidor, por sua característica de ordem pública e interesse social, conforme assinala o seu art. 1º.

No ensinamento de Gomes85:

Caso a omissão da Administração Pública ou de serviço ameace a incolumidade de interesse indisponível, legitimado estará o parquet para agir, na via processual ou extraprocessual, para sanar a lesão em curso.

Dessa forma, o Ministério Público deverá sempre agir de

forma a proteger os interesses individuais indisponíveis, zelando pelo interesse da

coletividade e em conformidade com a lei.

1.3 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS

Na lição de Cretella Júnior86, princípios são as proposições

básicas, fundamentais, típicas que condicionam todas as estruturações

subseqüentes. Princípios, neste sentido, são os alicerces, os fundamentos da

ciência.

De acordo com o art. 127, §1º da CF/88:

Art. 127 . (...)

85 GOMES, Luís Roberto. Op. cit. p. 49. 86 CRETELLA JÚNIOR, José. Direito Administrativo Brasileiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 44.

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§1º. são princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.”

Passa-se a seguir a uma descrição de cada um dos

princípios institucionais do Ministério Público.

1.3.1 Unidade

Este princípio quer dizer que os membros do Ministério

Público fazem parte de um órgão só, ou seja, “um ente único”87.

De fácil compreensão é a explicação do já citado Kac:88

[...] unidade é o não fracionamento da Instituição, constituindo-se a mesma em um só todo e, independentemente do órgão ou membro que está se manifestando judicial ou extrajudicialmente, será sempre o Ministério Público a emitir o seu posicionamento.

Ou seja, o Ministério Público é único, independente da

diversidade que a Instituição possua (Ministério Público do Trabalho, Ministério

Público da União, Ministério Público Federal, etc), a função é a mesma, todos

possuem as mesmas prerrogativas, funções e garantias.

1.3.2 Indivisibilidade

Muito semelhante ao princípio da unidade “a indivisibilidade

significa que a instituição é um todo indivisível, é único o ofício de Ministério

Público”.89

87 KAC, Marcos. Op. cit. p. 124. 88 KAC, Marcos. Op. cit. p. 124. 89 SANTINI, Valter Foleto. Op. cit. p. 198.

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Pode-se dizer então, que quem se manifesta é o órgão do

Ministério Público e não seu membro, podendo um ser substituído por outro, sem

que com isso haja quebra do princípio da indivisibilidade.

1.3.3 Independência Funcional

Este pode ser considerado um dos maiores princípios da

Instituição, significando que seus membros podem oficiar livremente, conforme

sua consciência e a lei, sem estar ligado à orientação de ninguém.

Na definição de Mazzilli90

Independência Funcional é o princípio segundo o qual cada membro e cada órgão do Ministério Público gozam de independência para exercer suas funções em face dos outros membros e órgãos da mesma instituição. Isso significa que, no exercício da atividade-fim do Ministério Público, cada qual deles pode tomar as decisões últimas afetas à instituição, sem se ater a ordens de outros membros ou órgãos da mesma instituição.

No entender de Kac91, “o chefe institucional, exerce,

portanto, funções de direção e de organização dos serviços administrativos, nos

limites dos poderes que lhe são conferidos por lei”.

Dessa forma, os membros do Ministério Público podem

trabalhar, cumprindo seu ofício, sem preocupar-se com o que lhe pode acontecer,

posto que “nenhum governante pode direcionar a atuação do Ministério Público”.92

90 MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit .p. 67. 91 KAC, Marcos. Op. cit. p. 126. 92 SANTINI, Valter Foleto. Op. cit. p. 200.

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1.4 GARANTIAS E PRERROGATIVAS 93

A Constituição de 1988 destinou algumas garantias e

prerrogativas aos membros do Ministério Público, que são imprescindíveis ao bom

desempenho das funções ministeriais.

Tais garantias são: inamovibilidade, irredutibilidade de

subsídios, independência funcional, vitaliciedade e o foro por prerrogativa de

função, e estão todos previstos no artigo 128, § 5º, inciso I, alíneas a,b e c da

CF/88:

Art. 128 . O Ministério Público abrange:

[...]

§ 5º - Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:

I - as seguintes garantias:

a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado;

b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

93 Garantias são atributos que se destinam a assegurar o exercício das funções; Prerrogativas são os privilégios, as vantagens e as imunidades funcionais. As prerrogativas são destinações ou vantagens que se ligam ao cargo; já as garantias são da pessoa, do órgão, do ofício ou da instituição, para assegurar o exercício funcional. (MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit .p. 87/88).

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c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Gonçalves94 define que:

A vitaliciedade dos membros do parquet é primordial para combater a ingerência, mandos e desmandos de outros Poderes no âmbito do Ministério Público. Evita a destituição do cargo por motivos políticos e garante, por outro lado, o bom desempenho institucional, em face dos governantes.

A inamovibilidade assegura a inafastabilidade desmotivada ou ilegal do Promotor ou Procurador de Justiça de suas funções institucionais. Diz respeito ao princípio do promotor Natural. Por esta garantia, somente em casos específicos se pode remover o agente político de seu cargo, preservando incólumes as condições necessárias ao pleno exercício de suas funções.

Em relação à irredutibilidade de subsídios, Gonçalves95 vem

citando Mazzilli:

[...] visa a assegurar padrão remuneratório condigno para os integrantes do Ministério Público. Podem-se vislumbrar finalidades múltiplas nessa garantia, tais como: busca-se não só recrutar bons Promotores de Justiça e mantê-los na carreira como também assegurar condições condignas, para que os membros e a própria instituição não comprometam seu ofício, em barganhas remuneratórias com as autoridades governamentais, nem tão pouco levem os membros do Ministério Público a uma atuação politicamente comprometida.

94 GONÇALVES, Edílson Santana. Op.cit. p. 70. 95 GONÇALVES, Edílson Santana. Op. cit. p. 70.

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Por fim, tais garantias e prerrogativas devem ser entendidas

como uma forma de proteger os membros do Ministério Público, para que possam

bem exercer suas funções sem estar de mãos atadas diante de alguma ameaça

ou

chantagem que possa advir dos outros poderes constituídos ou por qualquer

meio influente da Sociedade privada.

No próximo capítulo passar-se-á a uma abordagem mais

detida no que se refere à Improbidade Administrativa, no âmbito da Administração

Pública, bem como as sanções àqueles que cometem os crimes definidos na Lei

de Improbidade Administrativa.

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CAPÍTULO 2

VISÃO PANORÂMICA DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

2.1 DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Administração Pública representa um dos objetos do

Direito Administrativo e compõe-se de órgãos destinados a atingir os fins

pretendidos pelo Estado96, sendo estes estruturados de forma hierárquica.

Para Meirelles97, a Administração Pública é:

Em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do governo; em sentido material, é o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral; em acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da coletividade. Numa visão global, a Administração é, pois, todo o aparelhamento do Estado preordenado à realização de seus serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas.

Dessa forma, a Administração Pública é compreendida pelo

conjunto de órgãos que desempenham as atividades necessárias ao

funcionamento dos serviços do Estado, com a finalidade de beneficiar a

coletividade.

Para tanto, é necessária a observância dos princípios que

regulam as atividades da Administração Pública, princípios tais que estão

previstos no art. 37 da CF/8898.

96 “A ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território” (DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 21a ed. São Paulo: Saraiva. 2000.p. 118). 97 MEIRELLES, Helly Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 20a ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 60.

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2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS REGULADORES DA ADMIN ISTRAÇÃO

PÚBLICA

Os princípios constituem proposições embasadoras do

ordenamento jurídico, podendo ser classificados como gerais e específicos, estes

atinentes a um determinado ramo de uma ciência, aqueles, aplicáveis a toda

ciência jurídica.99

Tratando-se da Administração Pública, em especial a CF/88

determinou seus princípios no art. 37, ao dispor que:

Art. 37 . A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte [...].

Porém, além dos princípios expressamente mencionados no

artigo em comento, outros princípios regem o direito administrativo.100

2.2.1 Princípio da Legalidade

O princípio da legalidade significa que o administrador

público só pode fazer aquilo que estiver previsto em lei, ou seja, tem que estar

expressamente autorizado pela lei.

98 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...). 99 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Sumário de Direito Administrativo. 2ª ed. São Paulo: Rideel, 2004. p. 11. 100 Princípio da Finalidade, Princípio da Continuidade, Princípio da Indisponibilidade, Princípio da Autotutela, Princípio da Supremacia do Interesse Público, Princípio da Igualdade, Princípio da Motivação, Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade, Princípio da Segurança Jurídica, Princípio da Especialidade, Princípio da Presunção de Legitimidade ou Veracidade.

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O princípio da legalidade, no entender de Bandeira de

Mello101: “é específico do Estado de Direito, é justamente aquele que o qualifica e

que lhe dá a identidade própria.”

Este princípio determina a submissão da Administração às

leis, devendo então, obedecê-las, cumpri-las e pô-las em prática.102

Registra-se três momentos nos quais é possível identificar

este princípio na CF/88:

Art. 5º [...]

II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

Art. 37 . A administração pública direta e indireta de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, [...];

Art. 84 [...]

IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;

Extrai-se da doutrina de Gasparini:103

O princípio da legalidade significa estar a Administração Pública, em toda a sua atividade, presa aos mandamentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilidade de seu autor. Qualquer ação estatal sem o

101 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo”17a ed. São Paulo: Malheiros, 2004. 91. 102 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Op. cit. p. 92. 103 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 7/8.

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correspondente calço legal, ou que exceda ao âmbito demarcado pela lei, é injurídica e expõe-se à anulação. Seu campo de ação, como se vê, é bem menor que o do particular. De fato, este pode fazer tudo que a lei permite e tudo que a lei não proíbe; aquela só pode fazer o que a lei autoriza e, ainda assim, quando e como autoriza.

Assim, percebe-se que a Administração Pública está

estritamente ligada à lei, devendo agir somente nos limites estabelecidos pela lei,

ou seja, qualquer atividade estatal que não esteja apoiada na lei é passível de

anulação, prevendo a CF/88 “remédios específicos contra a ilegalidade

administrativa, como a ação popular, o habeas corpus, o habeas data, o mandado

de injunção, [...].104

2.2.2 Princípio da Impessoalidade

Este princípio norteia a Administração Pública no sentido da

igualdade e da isonomia, pois qualquer atividade da Administração Pública deve

ser destinada a todos os administrados em geral, sem distinção de qualquer

natureza.

Na esfera constitucional, este princípio garante a isonomia,

havendo referências no texto Magno, no art. 37, II105, o qual consagra que o

ingresso em carreira pública depende de concurso, isto com o intuito de garantir a

todos o acesso ao cargo com igualdade. Também em relação aos contratos com

a Administração Pública, impera o princípio da igualdade, como dispõe o art. 37,

XXI da CF/88106, onde prevê a exigência de licitação pública para garantir a

igualdade entre os concorrentes.107

104 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 68. 105 Art. 37[...] II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão, nomeação e exoneração; 106 Art. 37[...] XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de

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Já no campo da atuação da Administração Pública,

Moraes108 entende que:

Esse princípio completa a idéia já estudada de que o administrador é um executor do ato, que serve de veículo de manifestação da vontade estatal e, portanto, as realizações administrativo-governamentais não são do agente político, mas sim da entidade pública em nome da qual atuou.

Do acima exposto, percebe-se que há dupla interpretação

deste princípio, já que exigir impessoalidade da Administração Pública tanto pode

significar que esse atributo deve ser observado em relação aos administrados

como à própria Administração Pública, ou seja, significa que a atividade

administrativa deve ser dirigida à toda a coletividade, sem discriminação, assim

como, significa também que os atos administrativos serão imputados ao órgão

que o executou não ao funcionário que o teria praticado.

2.2.3 Princípio da Moralidade

A Moralidade tem como conteúdo, regras morais que devem

ser aplicadas no exercício da função administrativa.

Di Pietro109 resume a ofensa a este princípio sempre que:

[...] em matéria administrativa se verificar que o comportamento da Administração ou do administrado que com ela se relaciona juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral, os bons costumes, as regras de boa administração, os princípios

condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações; 107 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Op. cit. p.104. 108 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 299. 109 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit. p. 79.

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de justiça e de eqüidade, a idéia comum de honestidade, estará havendo ofensa ao princípio da moralidade administrativa.

Também sobre a violação deste princípio, leciona Moraes110:

A conduta do administrador público em desrespeito ao princípio da moralidade administrativa enquadra-se nos denominados atos de improbidade, previstos pelo art. 37, §4º da Constituição Federal, e sancionados com a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível, permitindo ao Ministério Público a propositura de ação civil pública por ato de improbidade, com base na Lei nº8429/92 para que o Poder Judiciário exerça o controle jurisdicional sobre lesão ou ameaça de lesão ao patrimônio público.

Neste sentido vislumbra-se a legitimidade do Ministério

Público na propositura da ação por Improbidade Administrativa, já que ao mesmo

cabe a defesa dos interesses difusos e coletivos, que são feridos quando da não

observância ao princípio da Moralidade, como se verá mais adiante.

2.2.4 Princípio da Publicidade

A finalidade deste princípio é a informação, proporcionando

o controle externo da população em face da Administração Pública, tornando,

desta forma, obrigatória a divulgação de atos, contratos e outros instrumentos

celebrados pela Administração Pública, direta, indireta e fundacional.

O cerne deste princípio é a transparência na realização dos

atos da Administração Pública, sendo que a omissão deste princípio é sancionada

como Improbidade Administrativa, de acordo com o art. 11, inciso IV da Lei nº

8429/92, verbis:

110 MORAES, Alexandre de. Op. cit. p. 301.

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Art. 11 . Constitui ato de improbidade administrativa que atenta

contra os princípios da Administração Pública, qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:

[...]

IV – negar publicidade aos atos oficiais;

Na lição do mestre Moraes111:

A publicidade se faz pela inserção do ato no Diário Oficial ou por edital afixado no lugar próprio para divulgação de atos públicos, para conhecimento do público em geral e conseqüentemente, início da produção de seus efeitos, pois somente a publicidade evita os dissabores existentes em processos arbitrariamente sigilosos, permitindo-se os competentes recursos administrativos e as ações judiciais próprias.

Gasparini112 elenca algumas exceções ao princípio da

publicidade:

A essa regra escapam os atos e atividades relacionados com a segurança nacional (art. 5º, XXXIII, da CF), os ligados a certas investigações, a exemplo dos processos disciplinares, de determinados inquéritos policiais (art. 20 do CPP) e dos pedidos de retificação de dados (art. 5º, LXXII, b, da CF), desde que prévia e justificadamente sejam assim declarados pela autoridade competente. Para esses pode-se falar em sigilo.

[...]

Declarado o sigilo, só algumas pessoas, como os interessados e seus procuradores e os servidores que devem atuar nos processos assim caracterizados, podem ter vista e examiná-los. A qualquer outra pessoa esses atos estão vedados.

111 MORAES, Alexandre de. Op. cit. p. 301. 112 GASPARINI, Diogenes. Op. cit. p. 11.

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Gasparini113 vislumbra ainda, os efeitos da publicação:

Entre outros, são efeitos da publicação oficial: I – presumir o conhecimento dos interessados em relação ao comportamento da Administração Pública direta, indireta e fundacional; II – desencadear o decurso dos prazos de interposição de recursos; III – marcar o início dos prazos de decadência e prescrição; IV – impedir a alegação de ignorância em relação ao comportamento da Administração Pública direta e indireta.

Há que se levar em conta também que é vedada a

publicidade de atos como forma de autopromoção pessoal, como bem descreve

Pazzaglini Filho114:

Logo, é proibida a propaganda ou autopromoção pessoal do agente público, incluída em publicidade oficial, como v.g., a menção a seu próprio nome ou de símbolos ou imagens a ele relacionados. E quem desacata tal vedação comete [...] ato de improbidade administrativa.

Com este princípio torna-se obrigatório a publicação de

todos os atos da Administração Pública, não só para fins de controle, mas

também para servir de demarcação do início da produção dos efeitos dos atos

administrativos, bem como os seus efeitos.

2.2.5 Princípio da Eficiência

Rapidez, perfeição e rendimento, é o que significa este

princípio que foi inserido no art. 37, da CF/88 com a Emenda Constitucional nº

19/98.

Para Martins Júnior115:

113 GASPARINI, Diogenes. Op. cit. p. 13. 114 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa comentada. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 34.

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O princípio da eficiência é lógico na medida em que a Administração Pública deve satisfazer o interesse público, mas sua concepção indica que o agente público não tem o dever de administrar, senão o de melhor administrar, voltando a face de sua conduta para os meios mais adequados e coerentes para a satisfação da finalidade cuja competência confere. No fundo, a eficiência tem raízes no conhecimento do dever de boa administração, igualmente importante para a compreensão dos princípios da moralidade e da probidade administrativas.

O objetivo deste princípio é a satisfação dos interesses da

coletividade, cabendo indenização por parte do Estado em caso de violação do

citado princípio, sendo este o entendimento de Gasparini116:

O desempenho deve ser rápido e oferecido de forma a satisfazer os interesses dos administrados em particular e da coletividade em geral. Nada justifica qualquer procrastinação. Aliás, essa atitude pode levar a Administração Pública a indenizar os prejuízos que o atraso possa ter ocasionado ao interessado num dado desempenho estatal. É o que ocorre se solicitada a instalação de um pára-raios numa escola. O Estado procrastina a instalação. Nesse tempo, ocorre a queda de raio que causa prejuízo aos alunos. O Estado, apurada a culpa, deve indenizar os prejudicados.

É de bom alvitre lembrar que há a possibilidade da perda do

cargo pelo servidor público, no caso de ineficiência da função, como bem

descreve Moraes117:

[...] o princípio da eficiência veio reforçado pela possibilidade de perda do cargo pelo servidor público, mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.

115 MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Probidade Administrativa. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 87. 116 GASPARINI, Diogenes. Op. cit. p. 20/21. 117 MORAES, Alexandre de. Op. cit. p. 309.

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[...]

O princípio da eficiência vem reforçar a possibilidade do Ministério Público, com base em sua função constitucional de zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promover as medidas necessárias, judicial e extrajudicialmente, a sua garantia (CF, art. 129, II).

Do exposto, é fácil perceber que o princípio da eficiência

deita raízes no bom desempenho do agente público, de forma a agir nos seus

atos e atitudes com o objetivo de melhor exercer a sua função pública.

2.3 SUJEITOS DA IMPROBIDADE

2.3.1 Sujeito Passivo

Previsto no art.1º da LIA118, os sujeitos passivos são as

vítimas dos atos de Improbidade Administrativa:

Art. 1º. Os atos de improbidade praticados por qualquer agente

público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou receita anual, serão punidos na forma desta Lei.

Parágrafo Único. Estão também sujeitos às penalidades desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita anual, limitando-

118 LIA – LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (Lei nº 8429/92);

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se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

Por meio da leitura do art. 1º da LIA, verifica-se que serão

punidos na forma desta lei todo e qualquer ato de Improbidade Administrativa

praticado por qualquer agente público, servidor ou não, contra a Administração

direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do

Distrito Federal, dos Municípios, do Território, de empresa que, de alguma forma

tenha sido incorporada ao patrimônio público, e, ainda, de entidade para cuja

criação ou custeio o Poder Público tenha concorrido com mais de 50% do

patrimônio ou da receita anual.

Já o parágrafo único refere-se às penalidade por atos de

Improbidade Administrativa contra o patrimônio de entidades que recebam

subvenção, benefício ou incentivo fiscal ou creditício, de órgão público,

(empresas, creches, hospitais, entidades filantrópicas), assim, isentos de

pagamentos de impostos, também aquelas entidades cuja criação ou custeio o

erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% do patrimônio ou da

receita anual.

2.3.2 Sujeito Ativo

Os sujeitos ativos dos atos de Improbidade Administrativa

estão previstos nos arts. 2º e 3º da LIA.

O art. 2º refere-se como autor da Improbidade

Administrativa, o agente público:

Art. 2º. Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo

aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

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Gomes de Mattos119 ensina que:

São abrangidos não só os agentes de serviços públicos, como os agentes políticos, pessoal contratado, servidores militares, enfim, a Lei de Improbidade abrange, de uma forma ampla, todos os que direta ou indiretamente se relacionam com o Poder Público, com o objetivo de não deixar ninguém excluído do campo de ação das sanções que ela dispõe.

No mesmo norte, Pazzaglini Filho120 define agente público

como sendo:

[...] todas as pessoas físicas que, de qualquer modo, com ou sem vínculo empregatício, definitiva ou transitoriamente, exerçam alguma função pública ou de interesse público, remunerada ou não, nos órgãos e entidades das administrações direta ou indireta dos entes da Federação; nos Poderes Judiciário e Legislativo nas esferas de sua atuação; nos Ministério Públicos Federais, Estaduais e Distritais; nos Tribunais de contas da União, Estados e Municípios; nas empresas incorporadas ao patrimônio público; nas empresas privadas dependentes de controle direto ou indireto do Poder Público; e nas entidades privadas de interesse público.

O art. 3º da LIA refere-se ao “terceiro”, que não é agente

público, mas que de alguma forma concorre para a prática do ato de Improbidade

Administrativa:

Art. 3º. As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,

àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Pazzaglini Filho121 bem explica o disposto neste artigo:

119 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. O Limite da Improbidade Administrativa. 2ª ed. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2005. p. 16. 120 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 25. 121 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 28.

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Indução é o ato de instigar, sugerir, estimular, incentivar agente público a praticar ou omitir ato de ofício caracterizador de improbidade administrativa. O concurso é atividade de auxílio, de participação material na execução por agente público de ato de improbidade administrativa. Auferir benefício é tirar proveito patrimonial, direto ou indireto, de ato ímprobo cometido por agente público, seja ajustado previamente com este, seja sem associação ilícita, agindo nesse caso, o terceiro, de má-fé, ciente da improbidade cometida, dela se locupletando.

Pelo exposto, é fácil perceber que é correto este dispositivo

da lei, pois não existiria o corrupto sem a figura do corruptor, devendo então,

ambos serem punidos nos termos da lei.

2.4 ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

De acordo com a Lei nº 8429/92, há três modalidades de

atos de Improbidade Administrativa:

a) Atos que importam em enriquecimento ilícito;

b) Atos que causam prejuízo ao erário;

c) Atos que atentam contra os princípios da Administração Pública.

Di Pietro122 conceitua atos de Improbidade Administrativa

como sendo:

O ato de improbidade pode corresponder a um ato administrativo, a uma omissão, a uma conduta.

Esse ato tem que ser praticado no exercício de função pública, considerada a expressão em seu sentido mais amplo, de modo que abranja as três funções do Estado; mesmo quando praticado por terceiro, que não se enquadre no conceito de agente público, o ato tem que ter algum reflexo sobre uma função pública exercida por agente público. Difícil conceber ato de improbidade praticado

122 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit. p. 711.

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por terceiro que não esteja em relação de cumplicidade com agente público.

Os atos de Improbidade Administrativa estão definidos nos

arts. 9º, 10 e 11 da Lei nº 8429/92, e serão melhor abordados na seqüência.

2.4.1 Atos de Improbidade que Importam em Enriqueci mento Ilícito

O art. 9º da Lei 8429/92 dispõe que:

Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa importando

enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º desta lei, e notadamente:

I – receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

II – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1º por preço superior ao valor de mercado;

III – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;

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IV – utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

V – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;

VI – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

VII – adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público;

VIII – aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade;

IX – perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;

X – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;

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XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

XII – usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei.

Para Pazzaglini Filho123:

Trata-se da modalidade mais grave e ignóbil de improbidade administrativa, pois contempla o comportamento torpe do agente público que desempenha funções públicas de sua atribuição de forma desonesta e imoral.

Gomes de Mattos124 dispõe que, para a tipificação da

conduta descrita no art. 9º é necessário estar presentes três requisitos:

a) Dolo do agente público ou do terceiro; b) Vantagem patrimonial oriunda de um comportamento ilegal do agente público

ou do terceiro; c) Nexo de causalidade entre a ilicitude da vantagem obtida e o exercício

funcional do agente público ou do terceiro.

Dessa forma, resta fixado no caput deste artigo, que

constitui ato de Improbidade Administrativa importando em enriquecimento ilícito

obter qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão de ocupação de

cargo, mandato, função, emprego ou atividade em qualquer um do Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa

que de alguma forma tenha sido incorporada ao patrimônio público.

Observa-se que a expressão notadamente, ao final do caput,

indica de forma clara que o rol é exemplificativo, devendo-se considerar que as

123 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 59. 124 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 170.

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hipóteses serão adequadas à situação de fato, demonstrada pelo autor da ação,

decorrente do ato de inobservância do dever constitucional de Moralidade.

Gomes de Mattos125 também advoga deste entendimento:

[...] são apenas exemplificativas, decorrente de desdobramentos legais, que não excluem outras que possam estar interligadas ao tipo do presente dispositivo legal, que é a obtenção de vantagem ilícita em razão do munus público, pois a fonte é a Constituição Federal (art. 37, §4º).

O mesmo autor126 lembra que existe divergência quanto a

esse posicionamento:

Essa discussão se torna interessante, divergindo do nosso posicionamento os ilustres Pedro Silva Dinamarco e Francisco Otávio de Almeida Prado, que sustentam que os art. 9º, 10 e 11 e seus incisos da Lei de Improbidade Administrativa estabelecem hipóteses taxativas, ou seja, os fatos que não se encaixarem nas respectivas previsões legais estariam imunes ao controle administrativo e judicial, por falta de reserva legal (art. 5º, XXXIX, da CF).

Os defensores da taxatividade da norma e seus incisos invocam o princípio da reserva legal ou da legalidade, a que alude o art. 5º, XXXIX da Lei Maior, pois nullum crimen, nulla poena sine proevia lege.

Apesar das divergências, comunga-se da opinião de que o

rol do art. 9º é exemplificativo, ou seja, se a conduta do agente público constituir-

se em enriquecimento ilícito pela aferição de vantagem patrimonial indevida,

caracterizada estará a Improbidade Administrativa prevista no art. 9º da LIA.

125 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 168. 126 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 169.

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2.4.2 Atos que Causam Prejuízo ao Erário

O art. 10 da Lei de Improbidade Administrativa prevê os

casos de Improbidade Administrativa que causam prejuízo ao erário, in verbis:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseja perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: 127

I – facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei;

II – permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

III – doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistenciais, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;

IV – permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no

127 Dentro do contexto da norma, perda patrimonial quer dizer decréscimo, privação, desfalque de bens e haveres públicos. Desvio significa descaminho, desvirtuamento do destino legal de coisa pública. Apropriação consiste no assenhoramento, tomar como própria (apoderar-se de) coisa pública. Malbaratamento expressa a dissipação, a venda por preço irrisório de bem público. Dilapidação é desperdício, esbanjamento, desbarate de recursos públicos. (PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 79).

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art. 1º desta Lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;

V – permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;

VI – realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;

VII – conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;

IX – ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;

X – agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público;

XI – liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;

XII – permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

XIII – permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho

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de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei;

XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei. 128

Esta modalidade de ato de Improbidade Administrativa é

aquela que lesa o erário, que no entender de Pazzaglini Filho:129

O Erário é a parcela do patrimônio público de conteúdo econômico-financeiro direto. Enquanto o conceito de patrimônio público é mais abrangente, pois compreende o complexo de bens e direitos públicos de valor econômico, artístico, estético, histórico e turístico, o de Erário, como parte integrante do patrimônio público, limita-se aos bens e direitos de valor econômico, ou seja, aos recursos financeiros do Estado, ao “Tesouro Público”.

Da doutrina de Garcia130:

No art. 1º da Lei nº 8.429/92, o vocábulo “erário” é utilizado como substantivo designador das pessoas jurídicas que compõem a administração direta e indireta, contribuindo para a identificação do sujeito passivo dos atos de improbidade, podendo ser enquadradas sob tal epígrafe as entidades para as quais o “erário” haja concorrido para a formação do patrimônio ou da receita anual, no percentual ali previsto.

128 Incisos XIV e XV acrescentados pela Lei 11.107, de 6 de abril de 2005. 129 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 78. 130 GARCIA, Emerson. ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. p.205.

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Para a configuração dos atos de Improbidade Administrativa

que causam lesão ao erário Pazzaglini Filho:131 elenca os requisitos necessários:

a) Ação ou omissão ilegal do agente público no exercício funcional;

b) Dano econômico efetivo ao Erário;

c) Ação ou omissão funcional dolosa ou culposa; d) Relação de causalidade entre o comportamento funcional ilícito e o efetivo

dano patrimonial daí resultante.

E continua dizendo que:

A ilegalidade da conduta funcional do agente público é conditio sine qua non para caracterizar-se o ato de improbidade em exame. É mister que sua ação ou omissão seja antijurídica, viole o Direito por excesso de poder ou desvio de finalidade (transgressão do conteúdo da norma).

Outrossim, da leitura do caput do art. 10 da LIA, há que se

observar um detalhe: “Constitui ato de improbidade administrativa que causa

lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou CULPOSA [...]”, dizendo,

desta forma que quem age com “culpa” também será punido com as sanções

previstas na presente Lei.

Sobre a expressão “culposa” Gomes de Mattos132 tem a

dizer que:

A expressão culposa é inconstitucional, ferindo o que vem estatuído no art. 37, da CF, pois a “gradação da lei” não pode inovar e considerando todo e qualquer ato involuntário ou de boa-fé como de improbidade.

A partir do momento em que o ato de improbidade é aquele que se correlaciona com a consumação de um desvio de conduta ilegal ou imoral do agente público, visando ao fim proibido pela lei,

131 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 78. 132 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 256.

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a atuação culposa sem o dolo fica fora do presente contexto, pois a finalidade da lei é responsabilizar e punir o administrador desonesto e não o inábil ou desastrado.

Em relação à modalidade “culposa”, Pazzaglini Filho133

entende que:

É indiferente que tenha agido com dolo ou culpa para a configuração do ato ímprobo em tela. O elemento subjetivo terá influência na dosimetria das sanções, isto é, tanto na imposição total ou parcial das reprimendas previstas no art. 12, II, da LIA, quanto na fixação das sanções graduadas (suspensão dos direitos políticos, multa civil e proibição de contratar com o Poder Público e receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios).

Gomes de Mattos134, com propriedade traz à baila um

exemplo de Improbidade Administrativa previsto no art. 10 da LIA:

Como exemplo do presente enquadramento legal, o desvio de mais de R$ 20 milhões de reais da União, de dezembro de 1997 a janeiro de 2001, feito por agentes públicos no sistema de informática da Procuradoria da Fazenda Nacional do Espírito Santo. A fraude consistiu no uso de senhas de cinco servidores da seção da Dívida Ativa para incluir pagamentos inexistentes, reduzindo valores de débitos e até mesmo extinguindo dívidas. O valor desviado corresponde ao dobro do arrecadado em 2001 pela Procuradoria da Fazenda Nacional no estado: R$ 10,88 milhões. O rombo foi descoberto por duas servidoras do setor que notaram modificações em processos de contribuintes. Em algumas contas devedoras de empresas houve diminuição dos valores feita com senhas das próprias servidoras, sem o conhecimento delas. Esse desvio de valores do erário constitui ato de improbidade administrativa, causando lesão ao patrimônio público.

133 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 80. 134 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 251.

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No que se refere ao rol dos incisos do art. 10, Pazzaglini

Filho135 dispõe que:

A técnica legislativa aqui adotada é idêntica à do artigo anterior, que trata dos atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento ilícito. Assim, no caput do art. 10, conceitua-se a improbidade lesiva ao Erário e seus incisos trazem o elenco das espécies mais freqüentes, que, em face do advérbio notadamente, como já assinalado, é meramente exemplificativo (e não taxativo).

Em geral, as condutas ímprobas narradas nos incisos do art. 10 da LIA são semelhantes às do art. 9º do mesmo diploma legal, distinguido-se no tocante ao beneficiário da improbidade administrativa, que, nesta modalidade, é terceiro, enquanto na anterior é o próprio agente público.

Deste modo, pode-se concluir que os atos de Improbidade

Administrativa que causam lesão ao erário geralmente beneficiam terceiro,

havendo divergência no tocante à modalidade “culposa”, e os incisos do art. 10

são exemplificativos, não havendo necessidade de aprofundar-se em cada um

deles.

2.4.3 Atos que Atentam contra os Princípios da Admi nistração Pública

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta

contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:

I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto na regra de competência;

135 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 81.

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II – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III – revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;

IV – negar publicidade aos atos oficiais;

V – frustrar a licitude de concurso público;

VI – deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

VII – revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.

Essa última modalidade de atos de Improbidade

Administrativa trata especificamente dos atos que atentam contra os princípios da

Administração Pública, apesar de parecer evidente que qualquer ato de

Improbidade Administrativa atenta contra os princípios da legalidade, moralidade,

impessoalidade, finalidade e da publicidade.

Este também é o entendimento de Di Pietro136:

A rigor qualquer violação aos princípios da legalidade, da razoabilidade, da moralidade, do interesse público, da eficiência, da motivação, da publicidade, da impessoalidade e de qualquer outro imposto à Administração Pública pode constituir ato de improbidade administrativa. No entanto, há que se perquirir a intenção do agente, para verificar se houve dolo ou culpa, pois, de outro modo, não ocorrerá o ilícito previsto na lei [...].

E também na dicção de Garcia137:

136 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit. p. 712.

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[...] referidos dispositivos da lei nº 8.429/92 apresentam-se como verdadeiras normas de integração de eficácia da Constituição da República, pois os princípios por eles tutelados há muito foram consagrados nesta.

O art. 11 da LIA possui a mesma técnica dos arts. 9º e 10,

quanto aos seus incisos, já que apresenta a conceituação “notadamente” em sua

redação, observando-se desta forma que o rol dos incisos são exemplificativos e

não taxativos.138

Pazzaglini Filho139 conclui que o dispositivo em comento é

residual em relação ao art. 9º e 10 já que:

Assim, se do ato violador de princípio constitucional administrativo resultar enriquecimento ilícito do agente público que o praticou, há absorção da regra do art. 11 (subsidiária), contida no art. 9º (principal), por esta. E, da mesma forma, se da afronta a princípio constitucional decorrer lesão ao Erário, configura-se somente ato ímprobo de lesividade ao patrimônio público que, em face do princípio da subsidiariedade, absorve aquela (Lex primaria derogat legi subsidiariae).

[...] o preceito do art. 11 é residual e só é aplicável quando não configuradas as demais modalidades de improbidade administrativa.

Outrossim, é necessário atentar-se para o detalhe de que se

não houver má-fé, ou seja, se a violação de princípio da Administração Pública for

por culpa, não há que se falar em ato de Improbidade Administrativa.

Sob este prisma Pazzaglini Filho140 traz uma decisão do

STJ:

137 GARCIA, Emerson. ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. p.208. 138 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 110. 139 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 110.

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AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMNISTRATIVA. AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ DO ADMNISTRADOR PÚBLICO.

1. A Lei 8.429/92 da Ação de Improbidade Administrativa, que explicitou o cânone do art. 37, §4º da Constituição Federal, teve como escopo impor sanções aos agentes públicos incursos em atos de improbidade nos casos em que: a) importem em enriquecimento ilícito (art. 9º); b) que causem prejuízo ao erário público (art. 10); c) que atentem contra os princípios da Administração Pública (art. 11), aqui também compreendida a lesão à moralidade administrativa.

2. Destarte, para que ocorra o ato de improbidade disciplinado pela referida norma, é mister o alcance de um dos bens jurídicos acima referidos e tutelados pela norma especial.

3. No caso específico do art. 11, é necessária cautela na exegese das regras nele insertas, porquanto sua amplitude constitui risco para o intérprete induzindo-o a acoimar de ímprobas condutas meramente irregulares, suscetíveis de correção administrativa, posto ausente a má-fé do administrador público e preservada a moralidade administrativa. (RESP nº 480387 – São Paulo. Relator Ministro Luiz Fux – DJ 24-5-2004, p. 163).

Gomes de Mattos141 também advoga neste sentido:

Após toda a reflexão anterior, os atos administrativos ou omissões que atentam contra os princípios da Administração Pública deverão ser dolosos, movidos pela vontade do agente público em violar princípios pelos quais ele está obrigado a cultuar para obter qualquer tipo de vantagem pessoal para si ou para outrem.

Desta forma, conclui-se que o contido no art. 11 da LIA, trata

de uma norma de reserva, pois se a conduta do agente não tiver causado dano

ao patrimônio público ou ocasionado o enriquecimento ilícito do agente, poderá

140 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 112. 141 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 399.

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ser configurado a Improbidade Administrativa por inobservância dos princípios

reguladores da Administração Pública.142

2.5 SANÇÕES

A LIA prevê as seguintes sanções para os agentes que

cometerem atos de Improbidade Administrativa:

a) A suspensão dos direitos políticos;

b) A perda da função pública;

c) O ressarcimento integral do dano;

d) A perda dos bens adquiridos ilicitamente;

e) A multa civil; e

f) A proibição de contratar com a Administração Pública e receber benefícios.

Tais sanções estão previstas no art. 12 da LIA:

Art.12. Independentemente das sanções penais, civis e

administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações:

I – na hipótese do art. 9º, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 8 (oito) a 10 (dez) anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 10 (dez) anos;

II – na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se

142 GARCIA, Emerson. ALVES, Rogério Pacheco. Op. cit. p. 211.

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concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 5 (cinco) anos;

III – na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 3 (três) a 5 (cinco) anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 (três) anos.

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como proveito patrimonial obtido pelo agente.

Estas sanções também estão previstas no §4º do art. 37 da

CF/88:

Art.37 [...].

§4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Sobre este dispositivo constitucional Di Pietro143 tece o

seguinte comentário:

Note-se que o dispositivo constitucional, ao indicar as medidas cabíveis, não se refere a elas como sanções. E, na realidade, nem

143 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. OP. cit. p. 715.

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todas têm essa natureza. É o caso da indisponibilidade dos bens, que tem nítido caráter preventivo, já que tem por objetivo acautelar os interesses do erário durante a apuração dos fatos, evitando a dilapidação, a transferência ou ocultação dos bens, que tornariam indisponível o ressarcimento do dano.

Dessa forma, da leitura da citação acima, entende-se que a

indisponibilidade de bens trata-se sim de medida cautelar, devendo ser

demonstrado o fumus boni iuris e o periculum in mora, antes do deferimento do

pedido de indisponibilidade dos bens, pois esta medida tem por objetivo de evitar-

se a dilapidação do patrimônio durante a instrução processual, garantido desta

forma, uma possível execução.

A LIA elencou três espécies de sanções aplicáveis

graduadamente:144

a) Suspensão dos direitos políticos; b) Multa civil; c) Proibição de contratar com o Poder Público e receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

Pazzaglini Filho145 traz uma tabela exemplificativa de

graduação dessas sanções conforme a classificação do ato:

Atos de

Improbidade

Administrativa

Suspensão dos

Direitos Políticos

Multa Civil Proibição de

Contratar com o

Poder Público e

Receber

Benefícios ou

Incentivos

Fiscais ou

Creditícios

144 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 144. 145 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 145.

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Enriquecimento

Ilícito (art. 9º)

8 a 10 anos Até três vezes o

valor do acréscimo

patrimonial

10 anos

Lesivos ao Erário

(art. 10)

5 a 8 anos Até duas vezes o

valor dano

5 anos

Atentatórios aos

Princípios da

Administração

Pública (art. 11)

3 a 5 anos Até 100 vezes o

valor da

remuneração

percebida pelo

agente público

3 anos

A LIA também definiu três modalidades de sanções

aplicadas sem graduação: 146

a) Perda da função pública;

b) Ressarcimento integral do dano;

c) Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio (cabível no art. 9º).

2.5.1 Suspensão dos Direitos Políticos

A cassação dos direitos políticos147 está prevista no art. 15

da CF/88, in verbis:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

146 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 145. 147 DIREITOS POLÍTICOS: direito de sufrágio; alistabilidade (direito de votar em eleições, plebiscitos e referendo); elegibilidade; iniciativa popular de lei; ação popular; organização e participação de partidos políticos. (MORAES, Alexandre. Op. cit. p. 221.)

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I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

II – incapacidade civil absoluta;

III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, §4º.

Esta sanção varia de 8 (oito) a 10 (dez) anos, conforme o

inciso I do art. 12 da LIA.

Assim, cabe destacar que tal sanção só se “efetua com o

trânsito em julgado da sentença referida e subsiste no prazo nela fixado”.148

2.5.2 Multa Civil

Esta é uma modalidade de sanção civil pecuniária, tem sua

graduação de acordo com a espécie do ato de Improbidade Administrativa

praticado.

Segundo o entendimento de Pazzaglini Filho: 149

Trata-se de sanção pecuniária, graduada conforme a espécie do ato de improbidade administrativa, objeto da persecução civil, e imposta na sentença que julga procedente a ação civil respectiva,

148 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 147. 149 PAZZAGLINI FILHO, Marino Op. cit. p. 150.

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motivadamente entre os limites mínimo e máximo previstos nos incisos do art. 12 da LIA. Ela é paga pelo agente público condenado; seu valor é revertido à entidade pública vítima de improbidade em questão.

Assim, a que se levar em conta no momento da aplicação da

multa, os limites estabelecidos em lei, levando em consideração os danos

causados ao erário e a capacidade financeira do agente.

2.5.3 Proibição de Contratar com o Poder Público e Receber Benefícios ou

Incentivos Fiscais ou Creditícios

Esta sanção não está prevista no §4º, art. 37 da CF/88,

porém é “decorrente do princípio da moralidade, pois o ímprobo não poderá, por

óbvio receber privilégios do Poder Público e ser contratado pelo prazo máximo de

10 anos”.150

Para Pazzaglini Filho: 151

Essas medidas punitivas administrativas devem constar expressa e motivadamente graduadas na sentença que julgar procedente a ação civil por improbidade administrativa, e sua extensão extrapola o âmbito do ente lesionado, estendendo-se a todos os entes da Federação, seus Poderes e seus organismos da administração direta e indireta.

Claro que a proibição de contratar com a Administração Pública implica a proibição de participar de licitação que é, geralmente, antecedente imprescindível da contratação futura (Lei 8.666/93).

Entende-se assim, que só poderá receber benefícios ou

incentivos fiscais, aquele que possui idoneidade suficiente para tanto.

150 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 505. 151 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 150.

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2.5.4 Perda da Função Pública

Na lição de Pazzaglini Filho152, função pública é toda

atividade que:

[...] é exercida por pessoa física, ainda que transitoriamente e sem remuneração, investida na categoria de agente público por eleição, nomeação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função, na administração pública direta, indireta ou fundacional dos entes da Federação e dos poderes estatais, em empresas incorporadas ao patrimônio público ou em entidades para cuja criação ou custeio o Erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual.

A punição de perda da função pública consiste na ruptura ou cessação compulsória do vínculo jurídico do agente público com o órgão ou entidade pública (ou assemelhada) decorrente de sentença condenatória em ação civil por improbidade administrativa que a decretou.

Existe neste caso, a possibilidade de afastamento cautelar

do agente, conforme preconiza o parágrafo único do art. 20 da LIA:

Art. 20. [...].

Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.

Desta forma o afastamento só poderá ocorrer quando

comprovados a possibilidade do servidor público prejudicar a produção de provas

e a apuração dos fatos.153

152 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 147.

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Esta sanção está prevista no §4º do art. 37 da CF/88, bem

como no art. 132, IV, da Lei 8112/90154 (Regime Jurídico dos Servidores Públicos

Civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais).

2.5.5 Ressarcimento Integral do Dano

Esta é uma sanção de natureza material e preconiza que

deverão ser devolvidos ao órgão ou entidade lesada pelo ato de Improbidade

Administrativa.

Sua natureza é de caráter indenizatório com o objetivo de

reparar o dano ao erário.

2.5.6 Perda dos Bens ou Valores Acrescidos Ilicitam ente ao Patrimônio

Com esta sanção existe a possibilidade do Estado reaver o

seu patrimônio que foi tomado indevidamente pelo agente ímprobo.

Outrossim, a perda de bens a que se refere esta sanção é

somente sobre os bens e valores que foram adquiridos indevidamente, e que,

desta forma não fazem parte do patrimônio do agente.

Após esta abordagem, em que foram descritas todas as

características da Improbidade Administrativa, passa-se a partir de agora a

abordagem da atuação do Ministério Público na Improbidade Administrativa

propriamente dita.

153 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 496. 154 ART.132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: [...] IV – improbidade administrativa;

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CAPÍTULO 3

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FRENTE À IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

3.1 O PROCEDIMENTO DE INVESTIGAÇÃO DOS ATOS DE IMPR OBIDADE

ADMINISTRATIVA

3.1.1 Procedimento Administrativo

O artigo 14 da Lia trata do procedimento administrativo nos

atos de Improbidade Administrativa previstos na Lei 8429/92, in verbis:

Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade

administrativa competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade.

§ 1º. A representação, que será escrita ou reduzida a termo e assinada, conterá a qualificação do representante, as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha conhecimento.

§ 2º. A autoridade administrativa rejeitará a representação, em despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades estabelecidas no §1º deste artigo. A rejeição não impede a representação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei.

§ 3º. Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata apuração dos fatos que, em se tratando de servidores federais, será processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e em se tratando de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos disciplinares.

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O artigo exposto diz que qualquer pessoa155, cidadão156,

agente público ou não, poderá representar à autoridade administrativa

competente, requerendo a instauração de uma investigação com o objetivo de

apurar a prática de ato de Improbidade Administrativa.

A representação deverá ser feita por escrito ou reduzida a

termo e assinada pelo representante, deve conter a qualificação do autor da

representação, bem como as informações sobre o fato e sua autoria, indicando as

provas de que tenha conhecimento, conforme o disposto no § 1º do artigo em tela.

O preceito do artigo 14 disciplina o direito de petição aos

poderes públicos, assegurado pela Constituição, conforme o entendimento de

Pazzaglini Filho157:

Essa norma disciplina, no âmbito da LIA, o direito de petição junto aos Poderes Públicos, assegurado pela Carta Magna (art. 5º, XXXIV) a qualquer pessoa, física ou jurídica, nacional ou estrangeira, ‘em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder’. E, no que tange à matéria normativa da LIA, de ‘peticionar’ à autoridade pública, noticiando fato que em tese, caracteriza improbidade administrativa, a instauração de investigação com o objetivo de apurá-lo.

O direito de petição, exercido na LIA mediante representação, é dotado de eficácia plena, obrigando a autoridade pública que recebê-la, no âmbito de sua competência, pronunciar-se sobre o que foi representado, após seu exame em período razoável, seja indeferindo-a fundamentadamente, seja acolhendo-a comunicando o acolhimento ou a rejeição ao peticionário.

155 PESSOA: Sentido Geral – ser humano consciente de si mesmo e dos valores morais e responsável por si mesmo. Direito - sujeito jurídico, a que se vinculam direitos e deveres que competem à lei. (RUSS, Jacqueline. Dicionário de Filosofia – os conceitos, os filósofos, 1850 citações. Tradução: Alberto Alonso Muñoz, São Paulo: Scipione, 2003. p. 218). 156 CIDADÃO: indivíduo membro do corpo político, que desfruta de direitos políticos e, portanto, participa do poder. (RUSS, Jacqueline. Op. cit. p. 35). 157 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 172.

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Já no entendimento de Mattos158, o direito de petição

funciona como um modo de fiscalização:

O direito de petição funciona, também, como instrumento político-fiscalizatório dos negócios do Estado, onde o cidadão apresenta reclamação aos Poderes Públicos contra ilegalidade ou abuso de poder que deverão ser averiguados, por quem de direito, no prazo legal.

Cabe aqui lembrar que o Ministério Público tem papel

secundário, já que conforme o artigo 15 da LIA, ele tomará conhecimento do

Procedimento Administrativo, podendo designar representante para acompanhar

o procedimento:

Art. 15. A Comissão processante dará conhecimento ao Ministério

Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo para apurar a prática de ato de improbidade.

Parágrafo Único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar representante para acompanhar o procedimento administrativo.

Para Mattos159:

Esse preceito visa à transparência da apuração administrativa, permitindo ao Ministério Público (...) que se manifeste sobre a apuração de irregularidades ou até mesmo fiscalize a retidão da Comissão Processante, visando à busca da verdade e ao combate de ilícitos.

Nessa condição, o Ministério Público não funciona como órgão acusador e sim com a função de fiscalizar a correta apuração dos atos administrativos.

158 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 538. 159 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 557.

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Observa-se que a expressão dará significa uma

obrigatoriedade e não uma faculdade, ou seja, a comissão processante é

obrigada a comunicar o fato ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de

Contas, por sua vez, estes poderão, a requerimento da comissão processante,

designar representante para acompanhar o Procedimento Administrativo.

Pazzaglini Filho160 salienta que “a maioria das

representações sobre improbidade administrativa é direcionada ao Ministério

Público”.

Desta forma, passar-se-á a analisar a investigação do

Ministério Público por meio do Inquérito Civil, procedimento que cabe

exclusivamente ao Ministério Público.

3.1.2 Inquérito Civil

O Inquérito Civil, de competência do Ministério Público está

previsto no artigo 129, III da CF/88:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

[...]

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

Mazzilli conceitua o inquérito civil como sendo161:

160 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 173. 161 MAZZILLI, Hugo Nigro. O Inquérito Civil; Investigações do Ministério Público, compromissos de ajustamento e audiência pública. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 53.

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[...] uma investigação prévia, presidida pelo Ministério Público, que se destina basicamente a colher elementos de convicção para que o próprio órgão ministerial possa identificar se ocorre circunstâncias que enseje eventual propositura de ação civil pública.

Dessa forma, observa-se que o objetivo principal do

Inquérito Civil é a coleta de dados que sirvam de elementos de convicção para

que o representante do Ministério Público esteja convencido da necessidade da

ação civil.

Há que se destacar que a instauração do Inquérito Civil pelo

Ministério Público é facultativa, pois não se trata de pressuposto obrigatório à

propositura da Ação Civil Pública ou de Improbidade Administrativa, conforme a

lição de Pazzaglini Filho162, o Inquérito Civil:

[...] pode ser desnecessária quando o Ministério Público já dispuser de elementos de convicção suficientes para instruir a petição inicial da ação civil, em especial quanto a autoria, ao fato, aos fundamentos jurídicos do pedido, com suas especificações (art. 282, II, III e IV do CPC), tais como peças de informações remetidas por autoridades judiciárias, administrativas e legislativas extraídas de processos civis e criminais; de procedimentos administrativos promovidos pela Administração Pública, no exercício da autotutela do controle da atuação de seus agentes; de autos dos Tribunais de contas; e de inquérito parlamentar conduzido por Comissão Parlamentar de Inquérito.

Pazzaglini Filho ressalta ainda que o Inquérito Civil é

promovido de ofício ou por provocação163:

De ofício, quando o Promotor de Justiça, com atribuições de atuar na área da cidadania ou na de defesa do patrimônio público, toma conhecimento por meio de peças judiciárias ou documentos que lhe são enviados, por informações que lhe são comunicadas verbalmente ou por notícia assentada em dados veiculados na

162 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 175. 163 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 175.

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imprensa, de fato ou ato administrativo ilícito que tem perfil de violador do princípio constitucional da probidade administrativa.

Por provocação, quer acolhendo representação ou petição de interessado direto ou de qualquer pessoa física ou jurídica, quer cumprindo determinação do Procurador – geral de Justiça nas hipóteses de delegação de sua atribuição originária, de solução de conflito de atribuições ou de designação quando o Conselho Superior do Ministério Público não homologar promoção de arquivamento de inquérito civil feita por outro órgão do Ministério Público.

No que se refere à instrução do Inquérito Civil, a Lei

Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei 8625/93, dispõe aos seus membros

os meios de investigação disponíveis:

Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público

poderá:

I – instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-los:

a) expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar, ressalvadas as prerrogativas previstas em lei;

b) requisitar informações, exames periciais e documentos de autoridades federais estaduais e municipais, bem como dos órgãos e entidades da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do distrito Federal e dos Municípios;

c) promover inspeções e diligências investigatórias junto às autoridades, órgãos e entidades a que se refere a alínea anterior.

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Apesar dos meios disponíveis aos membros do Ministério

Público para a instrução do Inquérito Civil, é preciso assinalar que o Ministério

Público não pode requerer o levantamento do sigilo bancário do investigado sem

autorização judicial, conforme prevê o art. 3º da Lei Complementar nº 105/01:

Art. 3º. Serão prestadas pelo Banco Central do Brasil, pela Comissão de Valores Mobiliários e pelas instituições financeiras as informações ordenadas pelo Poder Judiciário, preservado o seu caráter sigiloso mediante acesso restrito às partes, que delas não poderão servir-se para fins estranhos à lide.

Após todas as investigações, o representante do Ministério

Público observar que todos os atos apurados não são suficientes para concluir se

houve ato de Improbidade Administrativa, o membro do Ministério Público deve

remeter os autos do Inquérito Civil ao Conselho Superior do Ministério Público,

para rever o arquivamento, conforme o art. 30 da Lei 8625/93:

Art. 30. Cabe ao Conselho Superior do Ministério Público rever o

arquivamento do inquérito civil, na forma da lei.

Pazzaglini Filho elenca as possíveis decisões do Conselho

Superior do Ministério Público164:

1 – homologar a promoção de arquivamento;

2 – converter o julgamento em diligência para novas investigações de maior alcance que entender necessárias a seu convencimento;

3 – reformar o arquivamento e determinar a propositura da ação de improbidade administrativa, que será ajuizada por outro membro do Ministério Público designado pelo Procurador – geral de Justiça e, tratando-se de delegação, o Promotor de Justiça designado não pode recusar-se ao encargo, invocando sua

164 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 185.

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convicção em contrário, devendo ajuizá-la nos termos da designação.

Por fim, há que se entender que, homologado o

arquivamento do Inquérito Civil, os terceiros co-legitimados poderão propor a

ação de Improbidade Administrativa, o que não pode é o outro membro do

Ministério Público propor a ação, pois a homologação “é vinculante em relação a

essa Instituição, cabendo somente seu desarquivamento para procedimento de

outras investigações perante notícia de novas provas.”165

3.2 MEDIDAS CAUTELARES

O art. 7º e 16 da LIA tratam das medidas cautelares na

Improbidade Administrativa e dispõem o seguinte:

Art. 7°. Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio

público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.

Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a

comissão representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do seqüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

§ 1º O pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil.

165 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 186.

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§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investi gação, o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.

No que se refere à medida cautelar, Pazzaglini166 leciona

que:

A tutela jurisdicional cautelar é medida processual, de natureza provisória e instrumental, que tem por propósito antecipar ou assegurar, total ou parcialmente, a viabilidade da satisfação da obrigação deduzida no processo principal. Trata-se, pois, de provimento sumário que visa garantir, em face da demora (normal ou anormal) do processo principal mediante a indisponibilidade ou o seqüestro de bens, o resultado útil da tutela jurisdicional futura, ou seja, os efeitos práticos, ainda incertos, do julgamento meritório em processo de conhecimento ou de execução.

Na lição de Neiva167:

Cogita-se no âmbito da improbidade, da validade de demandas cautelares garantidoras de futura execução, como a de indisponibilidade (art. 7º da LIA) e de seqüestro de bens (art. 16 da LIA), que intentariam garantir um eventual ressarcimento da pessoa jurídica lesada ou a reversão dos bens adquiridos ilicitamente, em prol desta última, ou de demandas cautelares preparatórias com objetivos probatórios, como a exibição de um documento relevante, pertencente à Administração, para a prova da improbidade, e que se encontra indevidamente em poder de pessoa envolvida na irregularidade (artigo 839), ou a produção antecipada de provas, em caso de testemunha gravemente enferma ou que está prestes a se ausentar do país, ou diante da necessidade de requisição de elementos documentais envolvendo movimentação bancária, de cartão de crédito, de aplicação em mercado mobiliário, ou de declarações de rendimentos e bens apresentadas à Receita Federal, no intuito de fazer prova de

166 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 186. 167 NEIVA, José Antonio Lisboa. Improbidade Administrativa: estudo sobre a demanda na ação de conhecimento e cautelar. Niterói: Impetus, 2005. p. 131.

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recebimento de quantias indevidas ou de situação patrimonial incompatível com os rendimentos do cargo, função ou emprego.

O art. 7º refere-se à indisponibilidade dos bens do indiciado.

A indisponibilidade deve recair sobre aqueles bens que assegurem o

ressarcimento integral do dano, ou recair também a indisponibilidade nos bens

que foram acrescidos ao patrimônio do indiciado em virtude de enriquecimento

ilícito.

Já o art. 16 dispõe que no caso de fundados indícios de

responsabilidade, a comissão processante representará ao Ministério Público

para que requeira a decretação do seqüestro de bens do agente ou do terceiro

que haja enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.168

De todo o exposto, é possível observar que o Ministério

Público poderá requerer as medidas cautelares previstas na LIA, desde que

presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, para que haja um resultado

útil na Ação de Improbidade Administrativa,

3.3 A AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

A ação de conhecimento que está prevista no artigo 17 da

LIA está apta a desconstituir o ato de Improbidade Administrativa, bem como a

viabilização da aplicação das sanções e as indenizações previstas nesta lei.

Assim dispõe o art. 17 da LIA:

Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta

pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.

168 NEIVA, José Antonio Lisboa. Op. cit. p. 133.

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Após a leitura do artigo acima, conclui-se que o Ministério

Público é legítimo para propor a ação de Improbidade Administrativa, como se

verá a seguir em abordagem específica.

Pacífico também na jurisprudência a legitimidade do

Ministério Público:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. DIÁRIAS. VIAGEM AO EXTERIOR. INTERESSE PÚBLICO. PRESTAÇÃO DE CONTAS DOS RESULTADOS DA VIAGEM. RESTITUIÇÃO AO ERÁRIO DOS VALORES EXCEDENTES. CERCEAMENTO DE DEFESA. Não há como se reconhecer a alegada nulidade diante da desistência tácita da inquirição de testemunha. Preliminar de nulidade da sentença não reconhecida. Ministério Público. Legitimidade. Desde a Constituição Federal de 1988, diante da redação de seu art. 128, não há mais dúvida sobre a legitimidade do Ministério Público para o ajuizamento da ação civil pública nos casos de prejuízo ao Erário.(...) Apelação Cível Nº 70002844686, Relator Adão Sérgio do Nascimento Cassiano. 169

A ação de conhecimento vem sendo denominada como

Ação de Improbidade Administrativa, havendo por sua vez a possibilidade de ser

chamada de Ação Civil Pública.

Porém, não há que se levar em conta o nome da ação,

conforme a lição de Pazzaglini Filho170:

[...] sua denominação não tem relevância jurídica maior, pois o direito de ação independe da titulação para sua existência e formulação. Ao invés, é genérico e irrestringível segundo a norma constitucional que resguarda proteção a todos os direitos

169 BRASIL. Tribunal de Justiça do rio Grande do sul. Apelação Cível nº 70002844686, Apelação cível. Ação Civil Pública. Improbidade Administrativa. Ministério Público. Legitimidade. Relator. Adão Sérgio do Nascimento Cassiano. Disponível em: <http:// www.tj.rs.gov.br> . Acesso m: 15 de março de 2006. 170 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 194

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individuais coletivos e difusos, não excluindo da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a eles. (art. 5º XXXV).

Quanto à competência, observa-se que a LIA não tem regra

específica a respeito desse tema, desta forma deve-se aplicar o artigo 2º da Lei

7347/85:

Art. 2º. As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

Busca-se na ação de Improbidade Administrativa, com base

no §4º do artigo 37 da CF/88, a suspensão dos direitos políticos, a perda da

função pública, o ressarcimento do ente público ou privado lesado e a perda dos

bens obtidos ilicitamente.

Há que se levar em conta também que o § 1º do artigo 17 da

LIA veda a transação:

Art. 17. [...]

§ 1º. É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o caput.

Pazzaglini Filho171, explica o porquê desta vedação:

Tal transação, caso fosse permitida, abortaria a persecução civil e, em conseqüência, frustraria a aplicação das demais sanções previstas na LIA.

171 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 210

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Após o exposto, pode-se ter uma noção sucinta do que vem

a ser a ação de Improbidade Administrativa. Na seqüência, passar-se-á a uma

abordagem da legitimidade do Ministério Público para propositura da ação de

Improbidade Administrativa.

3.4 O MINISTÉRIO PÚBLICO E A AÇÃO CIVIL PÚBLICA

A Ação Civil Pública é um instrumento jurídico que tem por

objetivo à responsabilização por danos a qualquer interesse ou direito difuso ou

coletivo, tal ação é regida pela Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.

No que se refere à legitimação do Ministério Público na Ação

Civil Pública, a CF/88, em seu art. 129, inciso III, cominou ao Ministério Público a

proteção do patrimônio público mediante a promoção do Inquérito Civil e Ação

Civil Pública:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

Nesse sentido, Moraes172, ensina que:

A ação civil pública é o instrumento processual adequado conferido ao Ministério Público para o exercício do controle popular sobre os atos dos poderes públicos, exigindo tanto a reparação do dano causado ao patrimônio público por ato de improbidade, quanto a aplicação das sanções do artigo 37, §4º, da Constituição Federal, previstas ao agente público, em decorrência de sua conduta irregular.

E continua dizendo que:

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Assim, não se poder negar que a ação civil pública constitui via processual adequada para a proteção do patrimônio público, dos princípios constitucionais da Administração Pública e para repressão de atos de improbidade administrativa ou simplesmente atos lesivos, ilegais ou imorais, conforme expressa previsão no artigo 12 da Lei 8.429/92 (de acordo com o artigo 37, §4º da Constituição Federal) e artigo 3º da Lei Federal nº 7.347/85.

A Ação Civil Pública possui princípios que devem ser

observados pelo Ministério Público, dentre eles o da obrigatoriedade e o da

indisponibilidade.

No que tange ao princípio da obrigatoriedade, Carneiro173

leciona que:

Ocorrendo uma das hipóteses em que a lei determina ao Ministério Público a promoção da ação civil pública, e desde que haja fundamento para tal, o órgão com atribuição do parquet deve, obrigatoriamente, promovê-la.

[...]

Tratando-se, como se trata, de função institucional prevista na Constituição Federal (art. 129, III) e na Lei Complementar (art.25 da Lei nº 8.625/93) e por força da norma imperativa do art. 81 do Código de Processo Civil, não é dado ao órgão do Ministério Público, desde que a hipótese apresente fundamento legal e prático, indagar da oportunidade e da conveniência de promover ou não a ação civil pública.

Já em relação ao principio da indisponibilidade, Carneiro174

continua ensinando que:

172 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional Administrativo. São Paulo: Atlas, 2002. p. 343. 173 CARNEIRO, Paulo Cezar de Pinheiro. O Ministério Público no Processo Civil e Penal. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p.24. 174 CARNEIRO, Paulo Cezar de Pinheiro. Op. cit. p.24.

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O segundo princípio, da indisponibilidade da ação civil pública, é conseqüência e corolário do próprio principio da obrigatoriedade. Se o Ministério Público é obrigado a promover a ação, não pode, uma vez iniciada a mesma, dela dispor, até porque a fonte da atuação do Ministério Público se compõe de direitos indisponíveis e de interesses públicos sociais que pela sua própria natureza, não podem ser objeto de disposição. Nesta linha, novamente a Lei nº 7.347 determina ao órgão do Ministério Público assumir a titularidade da ação civil pública na hipótese de desistência ou abandono da mesma por associação legitimada (§3º, nº III, art. 5º).

Para concluir, é preciso ter em mente, que a Lei 7.347/85 é

de natureza processual, pelo que a hipótese motivadora da ação e possibilitadora

da condenação por ato de improbidade administrativa se baseia nas disposições

da Lei 8.429/92, norma substantiva de direito material.175

3.5 MINISTÉRIO PÚBLICO: LEGITIMIDADE PARA PROPOSITU RA DA AÇÃO

Como já referido, na defesa da Probidade Administrativa, o

artigo 17 da LIA legitima o Ministério Público para a propositura da ação de

Improbidade Administrativa:

Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta

pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de 30 (trinta) dias da efetivação da medida cautelar.

Observa-se deste modo, que o Ministério Público é

legitimado ativo para propor a demanda relacionada à Improbidade

Administrativa, já que é “portador do interesse difuso vinculado à tutela da

probidade e do patrimônio público.”176.

175 MORAES, Alexandre de. Op. cit. p. 338/339. 176 NEIVA, José Antônio Lisboa. Op. cit. p. 64.

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A respeito da legitimidade do Ministério Público, Salles177

ensina que:

A atividade do Ministério Público é fundamentalmente processual, ou seja, voltada para funções realizadas em procedimentos judiciais, seja na condição de agente, dando inicio a ações cíveis e criminais, seja como interveniente, atuando na defesa de um determinado interesse em processos que se desenvolvem entre outras partes.

E diz mais:

Entretanto, é preciso ter claro que o exercício de suas funções institucionais não está limitado a tarefas desenvolvidas perante o judiciário. A instrução do Inquérito Civil, por exemplo, é iniciada e concluída dentro de sua própria esfera de atribuições, podendo resultar, pelo arquivamento, na modificação de situações concretas, sem a prática de qualquer ato judicial.

Há que se lembrar que existe a possibilidade de haver

litisconsórcio facultativo entre Ministérios Públicos Federal e Estadual, com base

no que preceitua o §5º do artigo 5º da lei 7.347/85:

Art. 5º. A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo

Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública, fundação, sociedade de economia mista ou por associação que:

[...]

§ 5º. Admitir-se-á o litisconsórcio entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.

177 SALLES, Carlos Alberto. Legitimidade para Agir: Desenho Processual da Atuação do Ministério Público. In: Ministério Público: Instituição e Processo. São Paulo: Atlas, 1999. p. 228.

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Há também a possibilidade de haver o litisconsórcio entre

co-legitimados, conforme a previsão do §3º do art. 17 da LIA:

Art. 17 . [...].

§3º No caso da ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, a pessoa jurídica interessada integrará a lide na qualidade de litisconsorte, devendo suprir as omissões e falhas da inicial e apresentar ou indicar os meios de prova de que disponha.

Gomes de Mattos178 ensina que:

[...] o ente lesado pode, em conjunto com o Ministério Público, ingressar no pólo ativo e buscar o manto protetor do Poder Judiciário para ressarcir-se do que foi vilipendiado por agentes públicos inescrupulosos.

Pazzaglini Filho179 no mesmo sentido diz que:

A LIA estende a legitimação ativa às entidades públicas elencadas em seu art. 1º, quando forem pacientes de atos de improbidade administrativa praticados por qualquer agente público servidor ou não.

Desta forma, observa-se que é possível litisconsórcio ativo

entre a pessoa jurídica e o Ministério Público, podendo a pessoa jurídica

interessada suprir as omissões e falhas da inicial, e também apresentar ou indicar

os meios de prova de que dispuser.

Do Supremo Tribunal Federal extrai-se a seguinte decisão

em relação à legitimidade do Ministério Público180:

178 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 604. 179 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 204. 180 AI-ED 497618 / SP – São Paulo, Em. Decl. No Agravo de Instrumento. Relator: Min. Carlos Velloso. Julgamento: 17/05/2005. Órgão Julgador: Segunda Turma. Publicação: DJ 17-06-2005,

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PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS DE DECISÃO DO RELATOR: CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. CONSTITUCIONAL. MINISTÉRIO PÚBLICO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. CF, art. 129, III. I. - Embargos de declaração opostos à decisão singular do Relator. Conversão dos embargos em agravo regimental. II. - Somente a ofensa direta à Constituição autoriza a admissão do recurso extraordinário. No caso, o acórdão limita-se a interpretar normas infraconstitucionais. III. - O entendimento da Corte é no sentido de que o Ministério Público está legitimado à propositura de ação civil pública em defesa do patrimônio público. Precedentes. IV. - Embargos de declaração convertidos em agravo regimental. Não provimento desse.

Conclui-se dessa forma que o Ministério Público tem a

legitimidade para em nome próprio defender interesse que não lhe é próprio, uma

vez que é instituição essencial e permanente, criada para proteger interesses da

sociedade, nos termos do artigo 127 da CF/88.

3.6 O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO FISCAL DA LEI

Determina o §4º do art. 17 da LIA que, se o Ministério

Público não intervier no processo como parte, deverá fazê-lo, obrigatoriamente,

como fiscal da lei (custus legis)181, sob pena de nulidade do processo:

Art. 17. [...].

§4º. O Ministério Público se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.

pp. 00072. Ement. 02196-12. Fonte: www.stf.gov.br 181 Custus Legis - Fiscal da Lei. O Ministério Público pode funcionar como “parte” ou como fiscal da lei, tanto no processo civil como no penal. Nesse caso, ou seja, quando fiscal da lei, compete-lhe verificar da exata aplicação do comando legal, tomando as providências necessárias para o exato cumprimento de sua função. (LUIZ, Antônio Filardi. Op. cit. p. 78).

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É de se levar em conta que, quando o Ministério Público

atua como fiscal da lei, ele não é o acusador, e sim o defensor da ordem jurídica,

dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127 da CF/88).

Gomes de Mattos182 ilustra que:

Como fiscal, o Ministério Público pode ter vista dos autos depois das partes, sendo intimado dos atos necessários da lide. Também poderá juntar documentos e certidões, produzir prova em audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao descobrimento da verdade.

A intervenção do Ministério Público, como fiscal da lei é de

tal importância que é considerada obrigatória sob pena de nulidade do processo,

como determinam os arts. 84 e 246 do CPC:

Art. 84. Quando a lei considerar obrigatória a intervenção do

Ministério Público, a parte promover-lhe-á a intimação sob pena de nulidade do processo.

Art. 246. É nulo o processo, quando o Ministério Público não for

intimado a acompanhar o feito em que deva intervir.

Quanto à ação de Improbidade Administrativa, Pazzaglini

Filho traz o seguinte ensinamento183:

Se é fiscal da lei, se é guardião da ordem jurídica dotado de autonomia, nada mais natural que seja “custus” da Administração Pública, visando preservar-lhe a integridade material, legal e moral, mediante o exercício responsável e amplo da investigação (procedimento administrativo ou inquérito civil) e da propositura de ação civil de improbidade administrativa.

182 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 608. 183 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Op. cit. p. 201.

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A atuação fiscalizadora do Ministério Público sobre as condutas adotadas no âmbito do Executivo e sobre os atos administrativos do Legislativo e do Judiciário, na defesa da probidade administrativa e do patrimônio público, assenta-se, em última análise, no principio da legalidade.

De todo o exposto, observa-se que o Ministério Público,

como defensor da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis, prerrogativa constitucional que lhe é conferida deverá sempre que

não for o autor da ação de Improbidade Administrativa, atuar como fiscal da lei.

3.7 O MINISTÉRIO PÚBLICO E O TRIBUNAL DE CONTAS

A função do Tribunal de Contas está prevista no art. 71 da

CF/88:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será

exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;

II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;

III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias,

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reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório;

IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;

V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;

VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;

VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;

VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;

IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;

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XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.

No que tange à atuação do Ministério Público e do Tribunal

de Contas nos atos de Improbidade Administrativa, pode-se verificar esta previsão

no art. 15 da LIA:

Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo para apurar a prática de ato de improbidade.

Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar representante para acompanhar o procedimento administrativo.

Este preceito diz respeito à possibilidade de o Ministério

Público ou o Tribunal de Contas designar representante para acompanhar a

apuração no Procedimento Administrativo.

Para Gomes de Mattos184 essa exigência decorre:

[...] da ampliação das funções do Tribunal de Contas, que engloba a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das pessoas estatais e das entidades e órgãos da sua administração direta e indireta, no âmbito da atuação de cada Tribunal.

Continua dizendo mais adiante que185

[...] nos casos graves que exijam a fiscalização rigorosa na apuração do ilícito, tanto o Ministério Público como a Corte de contas possuem a legitimidade para acompanhar de perto o procedimento administrativo.

184 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 559. 185 MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Op. cit. p. 561.

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Mais uma medida que visa proteger o patrimônio público, punindo os responsáveis por desvios ou irregularidades tipificados como ilícitos.

Desta forma o Ministério Público e o Tribunal de Contas

atuarão na fase do Procedimento Administrativo, designando representante para

acompanhar o feito.

Há que se ressaltar a existência de um Ministério Público

junto ao prédio do Tribunal de Contas, sendo sua atuação restrita a esses

tribunais dando pareceres e oficiando como custus legis nos procedimentos e

processos respectivos.

Por fim, pode-se observar que o presente tema é de grande

relevância, posto que os atos de Improbidade Administrativa não devem ficar

impunes, devendo sempre ser levado ao conhecimento do superior hierárquico do

agente ímprobo ou ao Ministério Público, o qual possui a legitimidade para a

respectiva ação de Improbidade Administrativa ou Ação Civil Pública,

acarretando, dessa forma a sanção de acordo com o ato configurado na LIA.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Administração Pública é composta de órgãos estruturados

de forma hierárquica, com o objetivo de atingir os fins pretendidos pelo Estado, e

beneficiar a coletividade.

No desempenho destas atividades é necessário a

observância dos princípios norteadores da Administração Pública que estão

previstos no artigo 37 da CF/88, quais sejam: princípio da legalidade, da

impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência.

Deste modo, em 1992, foi editada a Lei 8.429/92 – Lei de

Improbidade Administrativa (LIA). Ela veio regulamentar o artigo 37, parágrafo 4º

da CF/88, e em seus artigos 9º, 10 e 11 trouxe a definição do ato de Improbidade

Administrativa, bem como as sanções correspondentes.

O artigo 1º da LIA prevê os sujeitos passivos, que são as

vítimas dos atos de Improbidade Administrativa.

Já os sujeitos ativos dos atos de Improbidade Administrativa

estão previstos nos artigos 2º e 3º da LIA.

O artigo 3º da LIA menciona o “terceiro”, que não é agente

público, mas concorre para a prática do ato ímprobo.

Observou-se também que a LIA prevê as sanções para os

agentes que cometem atos de Improbidade Administrativa: suspensão dos

direitos políticos, a perda da função pública, o ressarcimento integral do dano, a

perda dos bens adquiridos ilicitamente, a multa civil e a proibição de contratar

com a Administração Pública e receber benefícios, tais sanções estão previstas

no artigo 12 da LIA.

A LIA prevê dois procedimentos de investigação dos atos de

Improbidade Administrativa: o procedimento administrativo e o Inquérito Civil.

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O Procedimento Administrativo está previsto no artigo 14 da

LIA, em que dispõe que qualquer pessoa poderá representar à autoridade

administrativa para que se apure a prática de ato de Improbidade.

O Ministério Público e o Tribunal de Contas tomarão

conhecimento do procedimento administrativo por meio da Comissão

Processante, podendo, a requerimento, designar representante para acompanhar

o procedimento administrativo, conforme o disposto no artigo 15.

No que se refere ao Inquérito Civil é de competência

exclusiva do Ministério Público, com previsão legal no artigo 129, inciso III da

CF/88, tendo como objetivo a coleta de dados que sirvam de elementos de

convicção para que o Ministério Público proponha ação civil competente.

O artigo 7º e 16 da LIA prevêem a possibilidade de imporem-

se medidas cautelares com o objetivo de assegurar-se a viabilidade do

provimento jurisdicional, podendo o Ministério Público requerer tais medidas

desde que presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora.

Na existência de fundados indícios da ocorrência de atos de

Improbidade Administrativa o Ministério Público ajuizará a ação de Improbidade

Administrativa, posto que é legitimado para tanto, conforme o disposto no artigo

17 da LIA.

Observou-se também que o que se busca na ação de

Improbidade Administrativa, baseando-se no §4º do artigo 37, é a suspensão dos

direitos políticos, a perda da função pública, o ressarcimento do ente público ou

privado lesado e a perda dos bens obtidos ilicitamente.

Há também a possibilidade de haver o litisconsórcio entre

co-legitimados, de acordo com o § 3º do artigo 17 da LIA.

No que se refere a Ação Civil Pública, observou-se que

trata-se de um instrumento jurídico que tem por fim a responsabilização por danos

a qualquer Interesses ou direito Difuso ou Coletivo, sendo esta ação regida pela

Lei 7.347/85.

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Ação Civil Pública é regida por princípios que devem ser

observados pelo Ministério Público, quais sejam, o da obrigatoriedade e o da

indisponibilidade. O primeiro determina que o Ministério Público deverá

obrigatoriamente promover a Ação Civil Pública, havendo qualquer das hipóteses

em que a lei determina a propositura da ação. O segundo princípio determina que

uma vez iniciada a ação, não pode o Ministério Público dela dispor.

Ademais, se o Ministério Público não intervier no processo

como parte, deverá atuar como custus legis, sendo desta forma, o defensor da

ordem jurídica, dos interesses sociais e individuais indisponíveis, tal intervenção é

de tal importância que a sua falta pode gerar a nulidade do processo.

Por fim, a que se ressaltar a função do Tribunal de Contas,

que está prevista no artigo 71 da CF/88, assim como a atuação conjunta do

Ministério Público e do Tribunal de Contas está prevista no artigo 15 da LIA, onde

ou um ou outro designará representante para acompanhar a apuração dos atos

de Improbidade Administrativa, no procedimento administrativo.

De todo o exposto observou-se que o Ministério Público tem

autonomia total no que se refere a apuração dos aos atos de Improbidade

Administrativa, podendo atuar desde o procedimento de investigação, requerendo

medidas cautelares, bem como ajuizando ação com o objetivo de responsabilizar

o agente ímprobo, ou se for o caso atuar como fiscal da lei, ou seja, de uma forma

ou de outra, o Ministério Público estará sempre presente na defesa dos interesses

da coletividade.

Após a exposição dos pontos conclusivos, é preciso

destacar que o presente trabalho tratou de forma breve acerca da Improbidade

Administrativa, bem como da atuação do Ministério Público frente a esses atos,

restando, dessa forma, o estímulo à continuidade dos estudos e das reflexões

acerca do presente tema.

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ANEXOS

LEI N° 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992

Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos

nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou

função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras

providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA ,

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I

Das Disposições Gerais

Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer

agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou

fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal,

dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de

entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com

mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na

forma desta lei.

Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades

desta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que

receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público

bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou

concorra com menos de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual,

limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a

contribuição dos cofres públicos.

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Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei,

todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por

eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de

investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades

mencionadas no artigo anterior.

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que

couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a

prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou

indireta.

Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou

hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que

lhe são afetos.

Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou

omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral

ressarcimento do dano.

Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o

agente público ou terceiro beneficiário os bens ou valores acrescidos ao seu

patrimônio.

Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao

patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade

administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a

indisponibilidade dos bens do indiciado.

Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o

caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do

dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao

patrimônio público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta

lei até o limite do valor da herança.

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CAPÍTULO II

Dos Atos de Improbidade Administrativa

Seção I

Dos Atos de Improbidade Administrativa que

Importam Enriquecimento Ilícito

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa

importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial

indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade

nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e n otadamente:

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel

ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de

comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto

ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente

das atribuições do agente público;

II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para

facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a

contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao

valor de mercado;

III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,

para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento

de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos,

máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à

disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como

o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas

entidades;

V - receber vantagem econômica de qualquer natureza,

direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de

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lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra

atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;

VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza,

direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em

obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida,

qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das

entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de

mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor

seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público;

VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de

consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse

suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das

atribuições do agente público, durante a atividade;

IX - perceber vantagem econômica para intermediar a

liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;

X - receber vantagem econômica de qualquer natureza,

direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que

esteja obrigado;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio

bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades

mencionadas no art. 1° desta lei;

XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou

valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1°

desta lei.

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Seção II

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam

Prejuízo ao Erário

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que

causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje

perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens

ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a

incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens,

rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades

mencionadas no art. 1º desta lei;

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou

jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo

patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância

das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente

despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, rendas,

verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art.

1º desta lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis

à espécie;

IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação

de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º

desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de

mercado;

V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação

de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;

VI - realizar operação financeira sem observância das

normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;

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VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a

observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-

lo indevidamente;

IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não

autorizadas em lei ou regulamento;

X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou

renda, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público;

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das

normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se

enriqueça ilicitamente;

XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular,

veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de

propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1°

desta lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros

contratados por essas entidades.

Seção III

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Aten tam

Contra os Princípios da Administração Pública

Art. 11 . Constitui ato de improbidade administrativa que

atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão

que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às

instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento

ou diverso daquele previsto, na regra de competência;

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II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de

ofício;

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em

razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;

IV - negar publicidade aos atos oficiais;

V - frustrar a licitude de concurso público;

VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a

fazê-lo;

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de

terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou

econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.

CAPÍTULO III

Das Penas

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e

administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de

improbidade sujeito às seguintes cominações:

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores

acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando

houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez

anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial

e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos

fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano,

perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer

esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de

cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e

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proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos

fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do

dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três

a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração

percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber

benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que

por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três

anos.

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei

o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito

patrimonial obtido pelo agente.

CAPÍTULO IV

Da Declaração de Bens

Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam

condicionados à apresentação de declaração dos bens e valores que compõem o

seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal competente.

§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis,

semoventes, dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie de bens e valores

patrimoniais, localizado no País ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os

bens e valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de outras

pessoas que vivam sob a dependência econômica do declarante, excluídos

apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.

§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e

na data em que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego

ou função.

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§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do

serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público que se

recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a

prestar falsa.

§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da

declaração anual de bens apresentada à Delegacia da Receita Federal na

conformidade da legislação do Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer

natureza, com as necessárias atualizações, para suprir a exigência contida no

caput e no § 2° deste artigo .

CAPÍTULO V

Do Procedimento Administrativo e do Processo

Judicial

Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade

administrativa competente para que seja instaurada investigação destinada a

apurar a prática de ato de improbidade.

§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a

termo e assinada, conterá a qualificação do representante, as informações sobre

o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha conhecimento.

§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação,

em despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades estabelecidas

no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a representação ao Ministério Público,

nos termos do art. 22 desta lei.

§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a

autoridade determinará a imediata apuração dos fatos que, em se tratando de

servidores federais, será processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei

nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de

acordo com os respectivos regulamentos disciplinares.

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Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao

Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de

procedimento administrativo para apurar a prática de ato de improbidade.

Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou

Conselho de Contas poderá, a requerimento, designar representante para

acompanhar o procedimento administrativo.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade,

a comissão representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para

que requeira ao juízo competente a decretação do seqüestro dos bens do agente

ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio

público.

§ 1º O pedido de seqüestro será processado de acordo

com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil.

§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a inv estigação, o

exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas

pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.

Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será

proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de

trinta dias da efetivação da medida cautelar.

§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas

ações de que trata o caput.

§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as

ações necessárias à complementação do ressarcimento do patrimônio público.

§ 3º No caso da ação principal ter sido proposta pelo

Ministério Público, a pessoa jurídica interessada integrará a lide na qualidade de

litisconsorte, devendo suprir as omissões e falhas da inicial e apresentar ou

indicar os meios de prova de que disponha.

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§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo

como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.

Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de

reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará

o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa

jurídica prejudicada pelo ilícito.

CAPÍTULO VI

Das Disposições Penais

Art. 19. Constitui crime a representação por ato de

improbidade contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da

denúncia o sabe inocente.

Pena: detenção de seis a dez meses e multa.

Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante

está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem

que houver provocado.

Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos

direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença

condenatória.

Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa

competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do

cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se

fizer necessária à instrução processual.

Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei

independe:

I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público;

II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de

controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.

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Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o

Ministério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou

mediante representação formulada de acordo com o disposto no art. 14, poderá

requisitar a instauração de inquérito policial ou procedimento administrativo.

CAPÍTULO VII

Da Prescrição

Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções

previstas nesta lei podem ser propostas:

I - até cinco anos após o término do exercício de

mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança;

II - dentro do prazo prescricional previsto em lei

específica para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço

público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.

CAPÍTULO VIII

Das Disposições Finais

Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de

junho de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições em

contrário.

Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da

Independência e 104° da República.

FERNANDO COLLOR

Célio Borja

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