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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
DA ADOÇÃO NA UNIÃO ESTÁVEL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
ANA PAULA MONNERAT
Itajaí, 20 de novembro de 2008
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
DA ADOÇÃO NA UNIÃO ESTÁVEL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
ANA PAULA MONNERAT
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em
Direito. Orientador: Professor MSc. Marcelo Petermann
Itajaí, 20 de novembro de 2008
AGRADECIMENTO
A Deus, pela saúde e energia na minha vida.
Ao professor orientador Marcelo Petermann e
aos meus amigos e colegas de turma pelo
carinho ao longo desta caminhada
acadêmica.
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia aos meus queridos e
amados familiares, em especial ao meu pai
Maurício Monnerat, à minha mãe Rosemary
Monnerat e às minhas filhas Bruna e Maria
Eduarda Monnerat
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a
Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade
acerca do mesmo.
Itajaí, 20 de novembro de 2008
Ana Paula Monnerat Graduanda
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Ana Paula
Monnerat, sob o título Da Adoção na União Estável no Ordenamento
Jurídico Brasileiro, foi submetida em 20 de novembro de 2008 à banca
examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. Marcelo
Petermann, orientador e presidente; Esp. Eduardo Erivelton Campos,
membro.
Itajaí, 20 de novembro de 2008
Professor MSc. Marcelo Petermann Orientador e Presidente da Banca
Professor MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que a autora considera estratégicas
à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos
operacionais.
Adoção
Adoção é o ato solene pelo qual se cria entre o adotante e o adotado
relação de paternidade e filiação. Trata-se, pois, de atribuição da
condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres,
inclusive sucessórios, com o desligamento de qualquer vínculo paternal,
maternal e parental, salvo os impedimentos matrimoniais (Lei n. 8.069, III e
V)1.
Adotado
Em geral, todas as pessoas (físicas) podem ser adotadas. A lei não
distingue sexo (masculino ou feminino), raça, nacionalidade (brasileiro ou
estrangeiro)2.
Adotante
Atualmente, o art. 42, caput, da Lei 8.069/90, permite a adoção por
qualquer pessoa maior de vinte e um anos de idade, sem qualquer
exigência quanto ao estado civil. E, na adoção conjunta, o Estatuto da
Criança e do Adolescente expressamente prevê que a adoção pode ser
feita por ambos os cônjuges ou “concubinos”, exigindo tão somente que
1 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. Campinas: Bookseller, 2000, p. 220.
2 SZNICK, Valdir. Adoção: direito de família, guarda de menores, tutela, pátrio poder e adoção internacional. 3. ed. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito, 1999, p. 127.
um deles tenha completado vinte e um anos de idade, devendo ser
comprovada a estabilidade da família (art. 42, § 2º)3.
Casamento
O casamento civil é ato solene em que o Estado intervém desde a
habilitação, para o controle da inexistência de impedimentos, até a
celebração por autoridade competente. Caracteriza-se como contrato,
porque resultante do necessário consentimento dos contraentes, mas
depende, ainda, da final declaração do celebrante, de que se acham
casados na forma da lei. Para ter eficácia erga omnes, efetua-se o registro
do casamento no Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais,
extraindo-se certidão que constitui prova do ato4.
Companheiros
Expressão que denomina o homem ou a mulher que, embora não
casados, vivem maritalmente5.
Direito de Família
Setor do Direito Civil que regula as relações de família6.
Família
Família é uma unidade grupal onde se desenvolvem três tipos de relações
pessoais – aliança (casal), filiação (pais/filhos) e consangüinidade (irmãos)
– e que a partir dos objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e
proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de
suas identidades pessoais, desenvolver através dos tempos funções
3 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O companheirismo: uma espécie de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 246.
4 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: Do Concubinato ao casamento antes e depois do Novo Código Civil. 6. ed. São Paulo: Método, 2003, p. 37-38.
5 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário acadêmico de direito. 2. ed. São Paulo: Jurídica Brasileira, 2001, p. 183-184.
6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 467.
diversificadas de transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e
culturais7.
Filho Adotivo
É a denominação dada ao filho que foi instituído pela adoção, criando
uma relação civil de parentesco, de pai e filho, entre adotante e
adotado, que o equipara ao filho legítimo ou legitimado, em certos efeitos
jurídicos, notadamente na sucessão8.
Filho legítimo
Assim se entende aquele que é concebido ou nascido na vigência de
casamento válido ou putativo9.
União Estável
União estável é a relação íntima e informal, prolongada no tempo e
assemelhada ao vínculo decorrente do casamento civil, dentre sujeitos de
sexo diverso (conviventes ou companheiros), que não possuem qualquer
impedimento matrimonial entre si10.
7 OSORIO, Luiz Carlos. Família hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, p. 16.
8 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, 2004, p. 614-615. 9 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, 2004, p. 616.
10 LISBOA, Roberto Senise. Manual elementar de direito civil. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 135.
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................. X
INTRODUÇÃO .................................................................................. 11
CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 15
A FAMÍLIA ........................................................................................ 15 1.1. CONCEITO DE FAMÍLIA ................................................................................ 15 1.2 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE A FAMÍLIA ....................................... 17 1.3 O INSTITUTO DA FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ....... 29
CAPÍTULO 2 ...................................................................................... 38
DA ADOÇÃO ................................................................................... 38 2.1 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS ........................................................ 38 2.2 CONCEITO ..................................................................................................... 46 2.3 DA NATUREZA JURÍDICA ............................................................................... 47 2.4 REQUISITOS PARA A ADOÇÃO ..................................................................... 49 2.5 DOS EFEITOS DA ADOÇÃO ........................................................................... 54 2.6 DAS ESPÉCIES DE ADOÇÃO .......................................................................... 59
CAPÍTULO 3 ...................................................................................... 62
DA ADOÇÃO NA UNIÃO ESTÁVEL ENTRE HOMEM E MULHER NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .......................................... 62 3.1 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO CONCUBINATO .................................... 62 3.2 APRECIAÇÃO HISTÓRICA DA UNIÃO ESTÁVEL ENTRE HOMEM E MULHER . 67 3.3 DA LEGISLAÇÃO DISCIPLINADORA DA UNIÃO ESTÁVEL NO BRASIL ......... 72 3.4 DA ADOÇÃO NA UNIÃO ESTÁVEL ENTRE HOMEM E MULHER NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .............................................................. 78
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 83
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ................................................ 88
RESUMO
A presente monografia tem por objeto a investigação
doutrinária e legal a respeito de três importantes institutos previstos na
legislação constitucional, infraconstitucional e civilista, a saber, o instituto
da família, da adoção e da união estável. A pesquisa procura discorrer de
maneira sucinta a respeito de cada um destes institutos, focando o
trabalho para a previsibilidade, dentro do ordenamento jurídico brasileiro,
da adoção por casais heterossexuais que vivam em união estável. O
trabalho não pretende esgotar plenamente a matéria, visto à sua
amplitude, mas sim, abordar os principais aspectos de cada um dos
institutos e a importância de cada qual para a sociedade, assim como
para o Estado, uma vez que a família é reconhecidamente como sendo a
célula mãe da sociedade. No tocante à adoção é consenso geral de que
a mesma, principalmente nos dias de hoje, possui um caráter sócio-afetivo
de grande significado social, uma vez que a colocação do adotado em
uma família substituta repercute tanto no meio familiar como na
sociedade e, por fim, a união estável sempre foi pratica habitual em todas
as civilizações, sendo em dados momentos aceita, tolerada e proibida. No
Brasil, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, a união
estável passou a ser reconhecida como uma espécie de núcleo familiar,
vindo posteriormente a ser regulamentada por normas infraconstitucionais,
assim como inserida no Capítulo da Família no atual Código Civil.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem por objeto o estudo da
família, da adoção e da união estável à luz do ordenamento jurídico
brasileiro e dos doutrinadores que estudam a temática.
O objetivo institucional desta pesquisa consiste na
elaboração deste trabalho monográfico como um dos requisitos para a
colação de grau de Bacharela em Direito, pela Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI.
O objetivo geral da pesquisa é investigar e analisar a
previsibilidade legal para que casais heterossexuais, que vivam em união
estável, venham a se habilitarem e posteriormente figurarem como
adotantes.
Já os objetivos específicos da pesquisa investigatória
são: 1) desenvolver um estudo relativo à família desde os seus primórdios
até os dias atuais, tanto no que concerne à família em geral, como
também a formação da família brasileira; 2) discorrer sobre o instituto da
adoção sob o ponto de vista histórico, legal e doutrinário e, 3) abordar a
união estável como entidade familiar e a previsibilidade legal para casais
heterossexuais que a tenham escolhido como forma de união marital
poderem adotar sob o ponto de vista legal.
De antemão, chama-se a atenção, em razão da
solidez e pacificação do assunto no Direito brasileiro de que a pesquisa se
ateve somente à doutrina e à legislação que versam a respeito dos três
institutos abordados no presente trabalho monográfico e, que, portanto,
não os abordou sob o ponto de vista jurisprudencial.
12
Assim sendo, o primeiro Capítulo iniciar-se-á
conceituando-se o que vem a ser o instituto da família, apresentando-se
conceitos doutrinários e jurídicos para este tão importante alicerce da
sociedade desde os mais remotos tempos da existência humana na face
da Terra. Faz-se, também, uma abordagem a respeito da evolução
histórica da família e, por conseguinte, do próprio Direito de Família como
a proteção institucionalizada pelo Estado para regular as relações
familiares. Finaliza-se o primeiro capítulo discorrendo-se a respeito da
formação da família brasileira, sua evolução desde o descobrimento até a
atualidade, assim como da legislação regulou e regula o instituto no Brasil.
O segundo Capítulo dedicar-se-á ao estudo do
instituto da adoção, fazendo-se inicialmente, uma abordagem histórica
do tema, para então, apresentar os seus conceitos doutrinários e jurídicos.
Posteriormente, discorre-se a respeito dos requisitos exigidos pela norma
jurídica para que a adoção seja aprovada mediante sentença judicial e
quais os efeitos jurídicos que tal decisão provoca na vida do(s)
adotante(s) e do adotado e, por fim, apresenta-se as espécies de adoção
previstas no ordenamento jurídico brasileiro.
O Capítulo 3, tem como objeto de estudo a Sucessão
Hereditária, seu conceito e fundamentos, assim como sua evolução
história nos sistemas jurídicos dos povos ao longo do tempo, entre eles na
sociedade brasileira cujo instituto sofreu forte influência do direito romano.
Finaliza-se este capítulo, abordando-se a sucessão em geral e seus
principais aspectos, assim como os seus efeitos na União Estável entre
homem e mulher.
O objeto de estudo do Capítulo terceiro é a união
estável entre homem e mulher e a possibilidade de casais que convivam
nesta modalidade de relação, reconhecida pela Constituição Federal de
1988 como entidade familiar e posteriormente regulamentada pela
13
legislação infraconstitucional e pelo atual Código Civil viram a adotar.
Inicialmente se faz uma abordagem a respeito do concubinato,
procurando-se demonstrar a diferenciação entre esse e a união estável,
uma vez, que ates da promulgação da Carta Magna era comum se
designar os casais heterossexuais que conviviam em união estável como
concubinos. Feita esta primeira abordagem, discorre-se, a seguir, sobre a
evolução histórica da união estável entre homem e mulher até os dias de
hoje, adentrando-se, posteriormente à legislação regulamentadora da
mesma no sistema jurídico brasileiro, finalizando-se o presente capítulo,
com a previsibilidade legal para a adoção por casais heterossexuais que
convivam em união estável.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das
reflexões sobre a matéria abordada, ou seja, da adoção na união estável
entre homem e mulher no ordenamento jurídico brasileiro.
Para a presente monografia foram levantados os
seguintes problemas e hipóteses:
Formulação Dos Problemas:
01- No que diz respeito à pessoa ou às pessoas
interessadas em proceder a adoção, quais são os principais requisitos
exigidos pela legislação brasileira que regula matéria, no Brasil? 02- Quais
os dispositivos legais que regulam a adoção no ordenamento jurídico
brasileiro e que permitem a adoção por casais heterossexuais que vivam
em união estável?
Formulação Das Hipóteses:
01- A Constituição Federal de 1988, o Código Civil de
2002 e O Estatuto da Criança e do Adolescente prevêem que os requisitos,
14
no tocante à pessoa do adotante são os seguintes: a maioridade, ou seja,
18 (dezoito anos completos), que o adotante seja no mínimo 16 (dezesseis)
anos mais velho que o adotado e, em se tratando de tutor ou curador
estes somente poderão adotar depois de prestadas contas da
administração dos bens do pupilo ou curatelado, ou ainda após saldar
possíveis débitos que venha a ter para com o pupilo ou curatelado. 02-
De acordo com a legislação supra citada, os casais heterossexuais que
vivam em união estável comprovada podem, desde que obedecidos
requisitos anteriormente apontados fazerem uso do instituto da adoção.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na
Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo11 e, o Relatório dos
Resultados expresso na presente Monografia é composto também na
base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, acionou-se as
Técnicas12, do Referente13, da Categoria14, do Conceito Operacional15 e
da Pesquisa Bibliográfica.
11 O método indutivo pesquisa e identifica as partes de um fenômeno e coleciona-os de modo a ter uma percepção ou conclusão geral. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 3. ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2000, p. 199.
12 Técnica é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas investigativas. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, 2000, p. 86.
13 Referente é a explicitação do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa. COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico. Curitiba: Juruá, 2001, p. 51.
14 Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, 2000, p. 37.
15 Conceito operacional é uma definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos. COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico. Curitiba: Juruá, 2001, p. 47.
15
CAPÍTULO 1
A FAMÍLIA
1.1. CONCEITO DE FAMÍLIA
A tratativa do tema família exige, em um primeiro
momento, uma abordagem da palavra família sob o ponto de vista
terminológico, ou seja, deve-se observar a origem do termo, isto porque, a
palavra família possui um amplo espectro de significados no mundo
jurídico16.
Sob o ponto de vista da sua origem, a palavra família
tem sua raiz no termo latino famel, significando escravo ou doméstico e
em um sentido estrito significa ou expressa a união conjugal entre homem
e mulher abrangendo também sua prole quando existente, que
tradicionalmente se constituía através do casamento. Em um sentido mais
amplo, a família significa a reunião de todos os sujeitos que possuam um
mesmo vínculo de consangüinidade, ou seja, são todas as pessoas que
descendem de um único tronco ancestral comum17.
Não restam dúvidas de que a família é a célula que
alicerça praticamente todas as sociedades e, por esta razão, desperta o
interesse de todos os povos, desde os mais primitivos até os tempos atuais,
já que entendê-la representa a preservação, a organização e a
continuidade das próprias sociedades, assim como dos Estados, uma vez
16 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil: direito de família. V. 5. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 08.
17 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, 2004, p. 597.
16
que em sendo a família a célula mater da sociedade e esta o alicerce do
Estado18.
De acordo com a lição de Osório, a:
Família é uma unidade grupal onde se desenvolvem três
tipos de relações pessoais – aliança (casal), filiação
(pais/filhos) e consangüinidade (irmãos) – e que a partir dos
objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger
a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição
de suas identidades pessoais, desenvolver através dos
tempos funções diversificadas de transmissão de valores
éticos, estéticos, religiosos e culturais19.
Por sua importância para as sociedades e, porque não
dizer para a humanidade, muitos organismos internacionais, em nome do
consenso entre os povos e as nações; editaram documentos nos quais a
família merece destaque, como bem se pode observar na Declaração
Universal dos Direitos do Homem, que em seu artigo 3º assim dispõe a
respeito da família: “A família é o núcleo natural e fundamental da
sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado”20.
Outro dispositivo internacional que estende proteção à
família é a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos que em seu
artigo 17 assim dispõe a respeito da família: “A família é o elemento
natural e fundamental da sociedade e deve ser protegida pela
sociedade e pelo Estado”21.
A respeito da família Gama Leciona que:
18 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e união estável. 6. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 05.
19 OSÓRIO, Luiz Carlos. Família hoje, 1996, p. 16.
20 OSÓRIO, Luiz Carlos. Família hoje, 1996, p. 36.
21 OSÓRIO, Luiz Carlos. Família hoje, 1996, p. 36.
17
É a família a entidade na qual o homem recebe sua
primeira formação ética, religiosa, moral e comportamental;
que o habilita ao convívio social. Não obstante a entidade
família, desde os primórdios da humanidade, sofreu e vem
sofrendo, várias alterações impostas por novos conceitos
políticos e econômicos que o mundo vem experimentando
ao longo das últimas décadas22.
Como bem se pode observar a família é reconhecida
universalmente por sua importância para os povos e para as nações
merecendo reconhecimento como uma das mais importantes instituições
sociais e, por este motivo deve ser protegida tanto pela sociedade como
pelo Estado.
1.2 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE A FAMÍLIA
Em uma análise histórica do instituto da família,
segundo os estudiosos do assunto, a mesma teve seu surgimento lá nos
primórdios da pré-história, tendo como raiz, os primeiros agrupamentos de
seres humanos que ao longo dos tempos evoluiu formando as primeiras
sociedades e, por esta razão se faz necessária uma abordagem a respeito
desta evolução histórica da família, desde a sua origem, até os tempos
atuais23.
Pode-se dizer, assim, que a família é a primeira e mais
importante forma de reunião ou agrupamento que os seres humanos
experimentaram, de tal modo, que a família transcende em sua existência
à própria organização jurídica da vida em sociedade e, por esta razão, é
se têm a família como a célula mater de todas as sociedades. Sua 22 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O companheirismo: uma espécie de família, 1998, p. 19-20.
23 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e depois do novo código civil, 2003, p. 23.
18
composição ocorre inicialmente e primordialmente das normas do direito
natural, isto porque, tratava-se e ainda trata-se, de um fenômeno relativo
ao instinto de sobrevivência, de preservação e de perpetuação da
espécie humana24.
De acordo com Gama:
A origem da família, como entidade formada por grupo de
seres humanos, é até os dias de hoje muito discutida, uma
vez que não existem registros históricos adequados que
definam e delimitem no tempo e no espaço, qual a data,
mesmo que para referência, do surgimento da família,
embora existam estudos a este respeito25.
Além do prisma histórico do instituto da família, ela
também pode ser observada sob a ótica sociológica, isto porque, em
sendo a família a célula mater da sociedade ela também é objeto de
análise sociológica e, sob este aspecto pode-se dizer que a família é um
fenômeno social e até mesmo político, ou seja, a família expressa
momentos específicos da sociedade, assim como político, no que
concerne ao Estado26.
Pessoa ao abordar a questão sociológica da família
leciona que:
A família, em uma perspectiva sociológica, é uma
instituição permanente, mutável em suas características
estruturais em face do tempo, e hoje integrada por pessoas
cujos vínculos derivam da união estável, da procriação e do
parentesco. O conceito de família é mais sociológico do
que propriamente jurídico; a própria entidade familiar, aliás,
modifica-se no decorrer do tempo e em função dos meios 24 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e depois do novo código civil, 2003, p. 23.
25 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O companheirismo: uma espécie de família, 1998, p. 23.
26 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e depois do novo código civil, 2003, p. 23.
19
sociais nos quais observada. Através da história, de fato, a
organização do instituto experimentou uma evolução
quanto à sua conformação essencial (passível de
acompanhamento a partir de investigações arqueológicas
e antropológicas), evolução, entretanto, a respeito da qual
se travam diversas controvérsias e se apresentam por vezes
concepções impregnadas de motivações ideológicas27.
Nos agrupamentos sociais mais primitivos, os indivíduos
se reuniam com o objetivo primordial de sobrevivência do grupo, assim
como e, naturalmente, visando a perpetuação da espécie; estes
agrupamentos geravam facilidades na obtenção de alimentos e ainda,
garantia a proteção de cada indivíduo que nela estivesse inserido, pois
todos defendiam o seu grupo. Estes primeiros agrupamentos de seres
humanos com o passar dos tempos foram dando origem às primeiras
sociedades e, por conseguinte, às primeiras sociedades28.
O ser humano, apesar de toda sua inteligência, sempre
foi um ser dependente dos outros, esta dependência se nota desde às
famílias mais primitivas, nas quais os filhos ao nascerem são totalmente
dependentes de seus pais e necessitam de toda uma gama de cuidados
e, por esta razão é que a família, desde os tempos mais remotos se tornou
na mais importante forma de perpetuação da espécie humana, visto que
os mais velhos defendem os mais novos para que estes possam dar
continuidade à espécie e à família. É a família, o primeiro ponto de
referência do ser humano, uma vez que ao nascer o filho é alimentado
por sua mãe, passando mais tarde, a família, a servir como forma de
integração social para o filho de tal modo que a família representa não
27 PESSOA, Claudia Grieco Tabosa. Efeitos patrimoniais do concubinato. São Paulo:
Saraiva,1997, p. 04.
28 FERNANDES, Taisa Ribeiro. Uniões homossexuais: efeitos jurídicos. São Paulo: Método, 2004, p. 41.
20
somente uma proteção, mas também um fator de dependência sobre o
ponto de vista biológico, afetivo e principalmente psicológico29.
Embora não se tenham precedentes históricos que
determinem precisamente quando o estudo histórico a respeito do
instituto da família tenha iniciado é, possível afirmar que um dos primeiros
trabalhos a discorrer a respeito da matéria foi a obra Direito Materno, de
Bachofen editada em 1861, que produziu os primeiros alicerces para o
estudo do tema. Nesta obra o autor defende a idéia de que inicialmente
a humanidade mantinha uma vida sexual na qual a promiscuidade era o
traço mais marcante, principalmente por parte das mulheres que
copulavam com vários homens tal posicionamento é perfeitamente
aceitável uma vez nos primórdios da humanidade o filho era identificado
pela maternidade, se tornado difícil identificar a paternidade. Este
comportamento humano foi ao longo dos tempos sofrendo alterações de
tal modo que os seres humanos deixaram a poligamia e adotaram a
monogamia como forma de relacionamento conjugal e deste modo as
mulheres passaram a ter um único parceiro sexual30.
Em seus estudos, Bachofen identificou e encontrou
provas que demonstravam os seus apontamentos a respeito do
comportamento poligâmico das sociedades primitivas em obras da
literatura clássica da antiguidade. Segundo a análise do autor esta
transição entre a poligamia e a monogamia ficou mais marcante na
civilização grega, principalmente com a solidificação da religião entre os
seres humanos, cujos dogmas sempre se voltaram para uma vida sexual
monogâmica31.
29 OSORIO, Luiz Carlos. Família hoje, 1996, p. 16.
30 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Trad. de Leandro Konder. 16. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002, p. 07.
31 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado, 2002, p. 09.
21
O instituto da família não foi um fenômeno que se
formou de uma hora para a outra, pelo contrário, se solidificou através de
um processo lento no delinear da evolução humana. Nos primórdios havia
uma espécie de casamento coletivo entre os membros de um mesmo
grupo, ou seja, a união grupal poderia ocorrer entre irmãos
consangüíneos. Esta espécie de união foi aos poucos desaparecendo,
principalmente com o surgimento das primeiras gens32 quando se passou
da união entre os membros de um mesmo grupo, para a união entre
membros de grupos diferentes33.
A respeito deste período da evolução histórica da
família Pessoa ensina que:
Um número considerável de estudiosos pondera que, em
uma época primitiva, resultaria razoável admitir que o grupo
familiar não se assentaria em relações individuais, de
caráter exclusivo entre determinados sujeitos, mas que as
relações sexuais, das quais, em última instância, derivam a
organização da família, existiriam, indiscriminadamente,
entre todos os homens e mulheres que compunham uma
tribo. Isso determinaria, forçosamente, que desde o
nascimento de uma criança saber-se quem era sua mãe,
mas não, em troca, quem seria seu pai34.
Pode-se dizer que nos primórdios da vida humana a
mulher servia como único ponto de referência no tocante aos filhos, uma
vez que mantinha relações sexuais com diversos homens que por sua vez
não participavam da criação destes filhos ficando os mesmos à cargo
32 GENS. Gente. Foram três as tribos fundadoras de Roma: rameneses, tirienses e lúcreres (ou latinos, sabinos e etruscos). Cada tribo formava uma família, a gens. A reunião dessas constituía as gentes e estas formavam as cúrias. Os membros da gens eram descendentes de um tronco comum e deveria existir entre seus componentes o necessário espírito de solidariedade. O nome romano era composto de três elementos: o prenome, o nome da gens (gentílico) e o cognome. LUIZ, Antônio Filardi. Dicionário de expressões latinas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 131.
33 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado, 2002, p. 31.
34 PESSOA, Claudia Grieco Tabosa. Efeitos patrimoniais do concubinato, 1997, p. 04.
22
exclusivamente da mãe que acabava formando uma espécie de família
matriarcal35.
Para efeitos didáticos e de coerência no apresentar a
temática da evolução histórica da família ao longo dos tempos, tomar-se-
á por base, as famílias gregas e romanas que com seus costumes e,
porque não dizer legislação, influenciaram em muito a idéia de família no
transcorrer dos tempos.
É inegável que historicamente a civilização grega foi
uma das mais importantes da humanidade. Na Grécia, em seus tempos
mais antigos, a família se alicerçava numa sociedade paternalista, na qual
os traços familiares eram identificados com base nas pessoas que
descendiam de um mesmo pai e que ainda cultuassem a mesma religião
que seu pai. Assim sendo, na Grécia daqueles tempos a família se ligava a
um ancestral comum, da qual faziam parte o marido e a esposa, os filhos,
os enteados, os cunhados, os genros e as noras, ou seja, a família
abrangia um grande número de pessoas ligadas a um mesmo ascendente
e que em razão da sua abrangência era comparada como uma
pequena polis36.
Para Osório:
Já na Grécia clássica, a partir do século V a.C., vamos
encontrar uma estrutura familiar melhor definida, com a
supremacia do homem sobre a mulher, o direito paterno
estabelecido e a instituição da propriedade privada
transmitida de geração a geração. As esposas eram
inteiramente submetidas aos maridos, geralmente bem mais
velhos do que elas. Privadas de direitos políticos ou jurídicos,
as mulheres viviam praticamente reclusas aos gineceus, dos
35 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 1999, p. 17.
36 OSORIO, Luiz Carlos. Família hoje, 1996, p. 36.
23
quais só se afastavam na companhia de escravos ou por
ocasião de festas comunais e grandes eventos familiares37.
Na Grécia Antiga, como se sabe, o Estado era
formado por pequenos outros Estados denominados de cidade-estado ou
polis, sendo que as mais se destacavam era Esparta e Atenas. Em Esparta,
predominava a idéia de culto ao corpo perfeito, sadio e forte, isto porque,
esta cidade-estado era essencialmente militarizada e um corpo em
perfeitas condições físicas significava soldados com maior potencial para
a guerra. Assim, o casamento em Esparta objetivava principalmente a
reprodução e a perpetuação dos seus cidadãos, na qual havia a
fidelidade conjugal, principalmente por parte da mulher que era tida mais
como um objeto de procriação38.
Como dito, em Esparta, o matrimônio tinha como
principal função a procriação, ou seja, a função da mulher no casamento
era o de gerar filhos, de preferência homens e totalmente sadios. A
afetividade, o amor entre os cônjuges não possuía praticamente valor
algum, sendo muito comum a prática do homossexualismo tanto entre os
homens como entre as mulheres e era aceito e incentivado como sendo
uma forma elevada da expressão da condição sentimental do ser
humano39.
Quanto à educação dos filhos, em Esparta, por suas
características militares, as crianças eram desde cedo recrutadas pelo
Estado, isto já a partir dos sete anos de idade para receberem os primeiros
treinamentos militares visando a sua formação, como soldado, sob um
forte regime de atividades físicas que resultavam em um desenvolvimento
físico. Por outro lado, em Atenas, cidade-estado menos militarizada, a
educação dos filhos era desempenhada pela família que lhes dava as 37 OSORIO, Luiz Carlos. Família hoje, 1996, p. 36.
38 OSORIO, Luiz Carlos. Família hoje, 1996, p. 36.
39 OSORIO, Luiz Carlos. Família hoje, 1996, p. 36.
24
condições necessárias para o seu desenvolvimento, somente a partir dos
dezoito anos que os jovens eram recrutados pelo Estado para também
receberem o treinamento militar, uma vez na Grécia daquela época o
militarismo era um traço marcante40.
Em Roma, a família girava em torno do pai, ou seja,
eram famílias patriarcais cujo chefe do grupo familiar recebia a
denominação de pater famílias41, tratava-se do poder por meio do qual o
ancestral mais idoso que ainda estivesse vivo, exercia sobre os seus
descendentes que ficavam sob sua autoridade42.
Nesta estrutura baseada no pater famílias, o
ascendente mais velho possuía uma gama de poderes e autoridade sob
os membros do grupo familiar visando à manutenção do grupo familiar,
de tal modo que esta autoridade do se estendia a todos os descendentes
que a ela se submetiam irrestritamente43.
Destaca-se que esta autoridade do pater famílias era
ilimitada, na qual o mesmo exercia, ao mesmo tempo, as funções de pai,
de sacerdote, de juiz e de chefe político da sua família. Este domínio do
pater lhe conferia, inclusive, o poder de impor aos filhos castigos físicos,
vendê-los, e até mesmo decidir sobre a vida ou a morte dos filhos. Nesta
estrutura familiar a mulher, assim como os demais membros da família, era
totalmente subordinada à autoridade do pater, isto porque a mesma
passava da condição de filha para o de esposa e com isto não possuía
40 OSORIO, Luiz Carlos. Família hoje, 1996, p. 36-37.
41 PATER FAMILIAS. Pai de família; chefe de família. Luiz, Antônio Filardi. Dicionário de expressões latinas, 2002, p. 225.
42 DANTAS, San Tiago. Direito de família e das sucessões. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 18.
43 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 1999, p. 18.
25
qualquer espécie de direito, podendo inclusive ser repudiada pelo marido
em ato unilateral44.
Ao longo da evolução do Estado Romano, muitas
transformações foram ocorrendo de tal modo que os poderes autoritários
do pater foram, aos poucos, diminuindo gerando para os filhos e para a
esposa maiores liberdades e independência, inclusive sob o ponto de vista
da política e social45.
Ainda, sobre a família romana, pode-se dizer que a
solidificação do Cristianismo e o surgimento da Igreja Católica Apostólica
Romana, a idéia de família passou a sofre alterações. A Igreja passou a
influenciar o legislador romano que passou a editar leis com traços do
Direito Canônico46 que introduziu o casamento religioso na sociedade
romana, como uma da formas de organização familiar47.
Com declínio e queda do Império Romano surgiu um
período histórico denominado de Idade Média, no qual se teve, a
princípio, uma miscelânea de direitos, ou seja, aplicava-se o Direito
Romano ao Direito Canônico dando origem ao um Direito Bárbaro
primitivo que com o tempo, em razão da predominância do Cristianismo,
o Direito Canônico passou a influenciar por demais a sociedade e, por
conseguinte a instituição da família48.
44 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 1999, p. 18.
45 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O companheirismo: uma espécie de família, 2003, p. 26.
46 Assim se designa o corpo ou coleção de leis que regem a Igreja Católica. Diz-se canônico, derivado do grego cânon (regra), porque, notadamente, se formou dos Cânones dos Apóstolos e dos Cânones dos Concílios. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, 2004, p. 463.
47 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O companheirismo: uma espécie de família, 2003, p. 28.
48 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O companheirismo: uma espécie de família, 2003, p. 30.
26
Ainda na idade média, os Estados foram se
solidificando. Nesta época, destacou-se o Direito Germânico, no qual a
família baseava-se no pátrio poder, similar ao pater famílias romano, onde
o pai exercia o poder familiar, porém, diferentemente da família romana,
este poder era exercido em parceria com a esposa49.
Na Europa do século XVI, onde os Estados já haviam
solidificado seus ordenamentos jurídicos, o instituto da família se fazia
presente em leis que a disciplinavam. Em Portugal, por exemplo, regiam
neste período, as Ordenações Filipinas que davam o norte para o Direito
Português. Foi neste século que o Brasil foi descoberto e, com o início da
colonização brasileira, aos poucos ocorreu o povoamento da Colônia na
qual prevaleceu, em razão do domínio português, a legislação lusitana,
assim como os usos e costumes peculiares à família portuguesa
transferidos às famílias brasileiras50.
Sobre o período colonial brasileiro, Fachin leciona que:
A família colonial brasileira reproduz, em boa parte, aquela
sociedade: numa sociedade desigual, tende a família a
espelhar desigualdades; numa sociedade violenta, as
relações familiares podem não destoar desse mesmo traço.
E, nessa linha, nas relações coloniais vai se tecendo um
arranjo familiar que deixa marcas na história do Direito e da
sociedade, em seu tríplice vértice: político, social e
econômico. É inegável que a História do Brasil, nos três
primeiros séculos, está intimamente ligada a da expansão
49 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O companheirismo: uma espécie de família, 2003, p. 30.
50 FACHIN, Rosana Amara Girardi. Em busca da família do novo milênio: uma reflexão crítica sobre as origens históricas e as perspectivas do Direito de Família brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 20.
27
comercial e colonial européia na época moderna. E neste
contexto se produz o desenho da família51.
A estrutura familiar brasileira, desde seu início sofreu as
influências da família portuguesa que se adaptou às condições brasileiras.
Prevalecia, àquela época, a família patriarcal, na qual o pai era o chefe
do grupo familiar e mantinha sua autoridade sobre a esposa e os filhos, e,
em alguns casos sobre os demais membros da família dependendo,
principalmente das condições econômicas de que gozava52.
Pode-se dizer que a família brasileira colonial possuía
três características básicas: a) constituía-se através do casamento
religioso; b) era uma estrutura na qual prevalecia uma hierarquia e, c) era
extremamente patriarcal, ou seja, a chefia da família cabia ao pai, à mãe
ficava delegada a criação dos filhos e a organização do lar. Nesta
época, a religiosidade se fazia muito presente e, por conseguinte a Igreja
Católica exercia uma forte influência nos assuntos relacionados à família53.
No contexto social colonial brasileiro, o casamento era
uma instituição reconhecidamente como sendo a mais importante forma
de constituição dos núcleos familiares. Tal importância se dava em razão
da hierarquização baseada na idéia patriarcal das famílias, era, assim por
dizer, uma disputa quase que vaidosa, na qual pertencer à determinada
família tradicional representava um status social que muitos almejavam54.
51 FACHIN, Rosana Amara Girardi. Em busca da família do novo milênio: uma reflexão crítica sobre as origens históricas e as perspectivas do Direito de Família brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 20.
52 SAMARA, Eni de Mesquita. Tendências atuais da história da família no Brasil: pensando a família no Brasil: da colônia à modernidade. Ângela Mendes de Almeida organizadora. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: UFRRJ, 1987. p 28.
53 FACHIN, Rosana Amara Girardi. Em busca da família do novo milênio: uma reflexão crítica sobre as origens históricas e as perspectivas do Direito de Família brasileiro contemporâneo, 2001, p. 34.
54 FACHIN, Rosana Amara Girardi. Em busca da família do novo milênio: uma reflexão crítica sobre as origens históricas e as perspectivas do Direito de Família brasileiro contemporâneo, 2001, p. 37.
28
Por óbvio que as sociedades evoluem ao longo do
tempo, fato este constatado ao se lançar o olhar para a história da
humanidade. Tais evoluções afetam e também afetaram a estrutura
familiar principalmente com o desenvolvimento da sociedade brasileira
desde o início da colonização portuguesa, de tal modo que as alterações
sejam elas políticas, religiosas, legais, econômicas etc., também se
refletem nas famílias que vão se amoldando às realidades sociais nas
quais estão inseridas, inclusive sob o ponto de vista da sua estruturação55.
As transformações ocorridas na sociedade brasileira
fizeram com que a estrutura familiar deixasse de se basear nos moldes
tradicionais, ou seja, nas famílias onde o poder e autoridade eram
exercidos pelo pai que chefiava o grupo familiar e na qual prevalecia a
idéia da família consangüínea, para também se estruturar sob o ponto de
vista psicológico, afetivo, econômico e motivo de todos os sujeitos que
compõem a entidade familiar56.
Leite destaca que:
Atualmente, o fato de o casamento não ser mais
reconhecido como a única instituição legítima para
organizar uma vida comum durável entre duas pessoas
provoca uma série de dificuldades jurídicas. Sempre
existiram, ao lado do casamento legal, outras uniões,
apresentando uma certa estabilidade e quase semelhantes
ao casamento, mas pouco tempo, essas uniões eram
consideradas anormais pela opinião, desaprovadas de fato
e, como conseqüência, combatidas pelo Direito; na melhor
das hipóteses, elas eram toleradas como manifestação de
caráter excepcional57.
55 FACHIN, Rosana Amara Girardi. Em busca da família do novo milênio: uma reflexão crítica sobre as origens históricas e as perspectivas do Direito de Família brasileiro contemporâneo, 2001, p. 43.
56 LEITE, Eduardo de Oliveira. Temas de direito de família. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 20.
57 LEITE, Eduardo de Oliveira. Temas de direito de família, 1999, p. 23.
29
Assim sendo, com a evolução da sociedade brasileira,
a concepção da entidade familiar, embasada unicamente na idéia da
existência do casal e dos filhos deu lugar a novos conceitos a respeito da
composição da unidade familiar, tanto do ponto de vista social e
econômico, como do ponto de vista legal, isto porque, em toda nova
ordem social surgem necessidades e interesses que a própria sociedade
reivindica, cabendo ao Estado atendê-las mediante à adequação do
sistema jurídico disciplinador das relações sociais e, neste contexto a
família, que não deixou de ter a sua importância de outrora, mas que
atualmente se adequou às realidades sociais, requer uma merecida
atenção.
1.3 O INSTITUTO DA FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Em razão da sua grande importância para a formação
da sociedade, a família em todos os momentos da evolução humana
recebeu alguma forma de proteção. Com a solidificação das sociedades
e dos Estados como reflexo das mesmas, a defesa da família passou dos
costumes para a proteção jurídica dos interesses e direitos dos membros
formadores das entidades familiares. Em via de regra, a proteção da
família se insere nos sistemas jurídicos dentro do Direito Civil e dada a sua
importância e, no caso do Direito brasileiro, o legislador civilista destinou
um ramo especifico denominado Direito de Família58.
A par das influências que o instituto da família tenha
sofrido nos primeiros tempos de Brasil, onde prevaleceu a legislação
portuguesa e a predominância religiosa da Igreja Católica, no decorrer do
tempo a instituição da família mereceu proteção, não somente na esfera
civil, mas também constitucional e infraconstitucional, como, por exemplo,
58 BITTAR, Carlos Alberto. Direito de família. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993, p. 01.
30
o Estatuto da Criança e do Adolescente que também regula as relações
familiares, principalmente dos filhos59.
Para Diniz:
O direito de família é, o direito das pessoas projetado no
grupo doméstico, tendo aspectos patrimoniais que se
encontram em função dos interesses pessoais e familiares,
uma vez que se organiza em razão de seus membros e
opera através da atuação deles, individualmente
considerados, tendo sempre em vista o interesse do
Estado60.
Vale ressaltar que o Direito de Família, que regula as
relações conjugais e disciplina os requisitos necessários para a vida marital
como fidelidade, ajuda mutua criação dos filhos etc., figure na esfera do
Direito Privado, há que se ressaltar que o legislador, ao redigir o texto legal,
procurou limitar a autonomia de vontades tão peculiar a outros ramos do
Direito Civil, isto porque, a preservação dos interesses familiar está aquém
dos interesses somente dos cônjuges, uma vez que a família diz respeito à
própria sociedade61.
A respeito desta limitação da autonomia das vontades
dos cônjuges Gomes ensina que:
As relações de família travam-se, realmente, entre
particulares. Os direitos e deveres que compreendem
exprimem interesses que, embora tutelados pelo Estado e
sujeitos à sua fiscalização e controle, são de ordem
individual. À vista da importância que a organização da
família tem para a comunidade, o Estado restringe a
autonomia privada, limitando o poder da vontade dos
indivíduos, mas com essa intervenção não sacrifica o
propósito primeiro da disciplina, que é o de propiciar e
59 GOMES, Orlando. Direito de família. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 10.
60 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 20.
61 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 20.
31
fomentar o desenvolvimento da personalidade dos
indivíduos. O ordenamento jurídico da família conforma-se,
pois, às finalidades essências do direito privado, ainda
sobrepondo a interesses particulares os do grupo que
protege e tutela62.
O Direito de Família tem por objetivo regular ou
regulamentar juridicamente a relação entre os cônjuges, cujas normas
visam disciplinar os direitos e deveres de cônjuge, assim como as
obrigações de ambos para com o sustento e a criação da prole63.
Deve-se ressaltar que as normas de Direito de Família
disciplinam as relações dos sujeitos formadores da entidade familiar sob o
ponto de vista pessoal entre os cônjuges, destes para com os filhos, assim
como com os demais níveis de parentescos (sogros, cunhados etc.)
regulando ainda as questões relativas ao caráter assistencial que permeia
a entidade familiar, não somente por uma questão do parentesco em si,
mas por uma questão humanitária advinda do aspecto biológico e de
sobrevivência inerentes à própria idéia de família64.
Sob o ponto de vista mais técnico-jurídico, pode-se
conceituar o Direito de Família como sendo uma gama de normas que se
aplicam aos sujeitos unidos inicialmente pelo casamento, pela afinidade,
pelo grau de parentesco ou ainda, pela adoção65.
Para Varjão o Direito de Família é o:
Complexo dos princípios que regulam a celebração do
casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as
relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a
dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vinculo de
62 GOMES, Orlando. Direito de família, 2001, p. 07.
63 BITTAR, Carlos Alberto. Direito de família, 1993, p. 01.
64 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 1999, p. 22.
65 GOMES, Orlando. Direito de família, 2001, p. 01.
32
parentes e os institutos complementares da tutela, da
curatela e da ausência66.
Durante muito tempo o casamento civil se
fundamentava como um dos mais importantes fundamentos do Direito
Civil e, por conseguinte, da própria instituição da família, isto porque, a
sociedade entendia que apenas o casamento civil era capaz de garantir
a legitimidade da união marital, assim como, dar-lhe origem67.
Embora o casamento civil sempre representou uma
fundamental importância para as relações relativas ao Direito de Família,
há que se salientar que sempre existiu na dinâmica da sociedade outras
formas de uniões entre homem e mulher, tidas por muito tempo como
informal, ou seja, não atendiam aos ditames da regulamentação impostas
aos cônjuges pelo casamento civil, muito embora os conviventes
apresentassem o comportamento de pessoas casadas, inclusive no que
concerne a assistência mútua e a criação e educação dos filhos havidos
nestas maneiras informais de união que não pelo casamento civil e, muito
embora esta modalidade de união se fizesse presente no meio social, em
via de regra eram tidas como ilegal e reprovável por boa parte dos
membros da sociedade68.
Dentre tantos assuntos relativos à família disciplinados
pelo Direito Civil brasileiro, um é de fundamental importância e diz respeito
à filiação, regulamentando o relacionamento entre os pais e seus filhos.
Por muito tempo o Direito de Família estendia direitos somente aos filhos
tidos como legítimos, ou seja, àqueles havidos na constância do
casamento civil, não reconhecendo como legítimos os filhos que fossem
66 VARJÃO, Luiz Augusto Gomes. União estável: requisitos e efeitos. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999, p. 08.
67 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 1999, p. 23.
68 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e depois do novo código civil, 2003, p. 25.
33
gerados fora do casamento, os denominados de filhos tidos em relações
extraconjugais69.
Vale ressaltar que até bem poucas décadas imperava
no Direito de Família boa parte das concepções do revogado Código
Civil de 1916, ou seja, com profundos traços de uma sociedade
conservadora, o que era normal para a época em que referido diploma
civil fora editado, pois prevaleciam naqueles tempos valores irraigados em
princípios de ordem moral e religioso presentes não sociedade ainda
muito paternalista. Porém, e como é normal, a dinâmica social se altera
constantemente com o advento de novos costumes, novos momentos
políticos, econômicos etc., que consequentemente provocaram
alterações nas concepções a respeito do Direito de Família70.
Somente trinta e três anos após a edição do Código
Civil de 1916 é que o Direito de Família passou por alguma alteração, que
ocorreu com a entrada em vigor da Lei nº 883, que regulamentou o
reconhecimento dos filhos havidos em relações extraconjugais através da
propositura da ação de reconhecimento de paternidade. Posteriormente,
já na década de sessenta foi editada a Lei nº 4.121/62, que ficou
conhecida como sendo o Estatuto da Mulher Casada, inovou ao dar
maiores liberdades às mulheres, que a partir de então passaram a exercer
plenamente a sua cidadania e a sua vida civil. A Lei nº 6.515 de 26 de
dezembro de 1977 traria novas alterações ao Direito de Família ao permitir
que a dissolução da relação matrimonial poderia ocorrer mediante o
divórcio71.
69 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 1999, p. 23-24.
70 BARSTED, Leila Linhares. Permanência ou mudança? O discurso legal sobre a família: pensando a família no Brasil: da colônia à modernidade. Ângela Mendes de Almeida organizadora. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: UFRRJ, 1987, p 105.
71 VARJÃO, Luiz Augusto Gomes. União estável: requisitos e efeitos, 1999, p. 08-09.
34
Entre os anos setenta até a segunda metade dos anos
oitenta praticamente não ocorreram alterações no Direito de Família.
Com o fim do Regime Militar em 1985 havia a necessidade da elaboração
de nova Constituição que atendesse à nova ordem social o que ocorreu,
sendo promulgada a nova Constituição Federal no ano de 1988. O
legislador Constituinte inovou o sistema jurídico brasileiro em muitas
matérias que até então não mereciam o respaldo constitucional e, no que
concerne o Direito de Família, algumas importantes alterações foram
introduzida, tais como: o reconhecimento da união estável entre homem e
mulher e sua equiparação ao casamento civil; o reconhecimento da
família monoparental, ou seja, aquela que é composta somente por um
dos cônjuges e seus filhos; a igualdade entre homens e mulheres no que
concerne a direitos e deveres na constância, tanto do casamento como
da união estável, pondo fim à idéia de que somente o homem exerceria o
pátrio poder sobre sua família; e, principalmente no que diz respeito à
pessoa dos filhos, passando a garantir os mesmo direitos a todos os filhos,
ou seja, equiparou os direitos entre os filhos naturais, adotados e os havidos
fora da relação, antes tidos como incestuosos72.
A respeito das alterações e inovações trazidas ao
Direito de Família pela Constituição Federal de 1988 Bittar assim disserta
que:
Diferentes relações são envolvidas no âmbito do Direito de
Família, entendida a família como instituição essência da
vida em sociedade e, portanto protegida juridicamente
(Constituição Federal, art. 226). As relações centrais são as
decorrentes do casamento e do parentesco que se forma
entre os cônjuges, a prole e os respectivos ascendentes e
descendentes. Compõe, ainda, esse Direito as relações
derivadas de adoção (parentesco civil), as de tutela e de
curatela e, na codificação vigente, as relativas à ausência.
Por fim, integram-se a esse campo as relações entre pais e 72 VARJÃO, Luiz Augusto Gomes. União estável: requisitos e efeitos, 1999, p. 09.
35
filhos, mas com alcance e sob premissas diversas, dentro da
noção de “entidade familiar” que, para a proteção estatal,
a Constituição de 1988 instituiu (art. 226, §§ 3º e 4º)73.
Por outro lado Viana aprofunda-se mais a respeito da
Família no texto da nova Carta Política, identificando uma gama de novos
direitos antes não privilegiados pelas constituições anteriores e leciona
que:
Transpondo as noções alinhadas para o âmbito da
Constituição Federal de 1988, vislumbramos, nos arts. 226 e
227, a presença dos seguintes direitos integrantes do
primeiro grupo: direito à celebração do casamento, o
direito de constituir família, a natureza civil do casamento, a
sua dissolução pelo divórcio, a isonomia conjugal, a
paridade entre os filhos, ou seja, o fim da discriminação
entre os nascidos no casamento e fora dele, a
responsabilidade dos pais em relação à prole, aos quais a
lei impõe o dever de assistir, criar e educar os filhos, e o
dever de os filhos maiores em relação aos pais na velhice,
carência ou enfermidade. No segundo grupo de direitos
temos a proteção da família, a proteção da paternidade e
da maternidade, a tutela do bem do menor, assegurando-
se à criança e ao adolescente direitos fundamentais,
deixando eles de ser objeto de direito para se tornarem
sujeitos de direitos74.
Como bem se pode observar, o texto constitucional de
1988 adequou-se à verdadeira realidade da sociedade brasileiro,
principalmente ao reconhecer outras formas de núcleo familiar que não
somente àquelas famílias constituídas mediante as normas do casamento
civil, que há muito já eram praticadas no Brasil, como a união estável
entre homem e mulher, por exemplo, assim como àquelas entidades
familiares, também muito comum no Brasil, formada geralmente pela mãe
73 BITTAR, Carlos Alberto. Direito de família, 1993, p. 10.
74 VIANA, Marco Aurélio da Silva. Viritas et jus. Belo Horizonte, junho/julho/97, ano I, n. 2, p. 09.
36
e seus filhos em face do abando dos maridos ou por outros motivos que
levassem a sua ausência no seio familiar75.
Percebe-se também, que um dos objetivos do
legislador constituinte não foi de explicar a família como sendo uma célula
essencial em uma sociedade pluralista, mas que a mesma nesta
condição, deve caminhar a passos largos no sentido de proporcionar uma
maior coesão entre seus membros formadores, sem, no entanto, suprimir as
liberdades de seus membros nem mesmo as suas habilidades e aptidões
pessoais. Outrossim, a maior liberdade e igualdade de direitos introduzidos
pela Carta Política de 1988 se traduz e reproduz valores sociais que foram
ao longo do tempo se aprimorando e avançando juntamente com a
sociedade76.
Foi justamente frente à pluralidade do contexto social
que os legisladores constituintes não se furtaram da responsabilidade de
atenderem às novas e velhas necessidades da coletividade,
regulamentando práticas sociais que por muito tempo se fizeram
presentes na coletividade brasileira e, que nem por isto, deixaram de
alicerçar a sociedade como um todo77.
Percebe-se que o texto constitucional, talvez em razão
do próprio momento histórico em que foi elaborado, impregnou-se de
valores de fundamental importância para a sociedade e para a família,
principalmente no tocante aos direitos fundamentais inerentes à
dignidade da pessoa humana, pois ao reconhecer, por exemplo, a união
estável entre homem e mulher e, principalmente a equiparação de
75 LEITE, Eduardo de Oliveira. A família monoparental como entidade familiar. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 44-45-46.
76 OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 276.
77 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. As famílias não fundadas no casamento e a condição feminina. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 112.
37
igualdade entre todos os filhos, primou justamente pela dignidade do ser
humano78.
Este reconhecimento da união estável como entidade
familiar extrapolou os preceitos constitucionais, vindo mais tarde a
também ser inserida e reconhecida pela legislação civilista brasileiro,
principalmente porque o legislador infraconstitucional ao elaborar atual
Código Civil, observou os preceitos constitucionais da dignidade da
pessoa humana e introduziu, no Livro destinado à família, a união estável
como uma espécie de família e estendeu a mesma os mesmos direitos
que anteriormente eram exclusivos de quem se casava civilmente (artigos
1.723 a 1.727 do Código Civil).
Por fim, o presente capítulo procurou fazer uma
abordagem geral, sem a pretensão de esgotar a matéria, a respeito da
família e sua importância para o corpo social, assim como, que a união
estável entre homem e mulher com o objetivo de forma uma entidade
familiar foi finalmente reconhecida como tal. Salienta-se que este assunto,
ou seja, a união estável votará à luz no decorrer deste trabalho
monográfico, uma vez que o mesmo pretende abordar a adoção por
casais heterossexuais que convivam em união estável, abordagem esta
que se dará no terceiro e último capitulo desta monografia. Em seguida
discorrer-se-á, no segundo capítulo, a respeito do instituto da adoção.
78 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. As famílias não fundadas no casamento e a condição
feminina, 2000, p. 114.
38
CAPÍTULO 2
DA ADOÇÃO
2.1 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
Como demonstrado no capítulo anterior, a família é
uma das mais importantes referências para os seres humanos, tanto do
ponto de vista pessoal como social, afetivo, psicológico, econômico etc.
As famílias se constituem de várias maneiras, podendo ser formada, por
exemplo, somente pelos cônjuges quando estes optam por não terem
filhos. Entretanto e, em via de regra, um dos objetivos maiores dos casais
ao se unirem é o da procriação, até mesmo por uma questão implícita da
perpetuação da espécie e da continuidade do seu núcleo familiar.
Por outro lado, nem sempre este desejo de procriação
se concretiza e, isto ocorre principalmente por fatores de ordem biológica
na qual um dos cônjuges possui alguma anormalidade genética que
impeça, dificulte ou torne uma gravidez possível. Este tipo de óbice à
formação não é fenômeno da atualidade e se faz presente desde que os
seres humanos existem.
Assim sendo, o ser humano com sua capacidade
afetiva acabou por criar mecanismos, a princípios rudimentares, e com a
sua própria evolução mais aprimorados e normatizados para preencher
esta lacuna na formação dos grupos familiares denominado de adoção,
garantindo assim, a perpetuação das famílias, mesmo sem o aspecto da
consangüinidade, permitindo assim, que os costumes, a memória, o
39
patrimônio e as tradições daquele núcleo familiar se mantenham junto à
coletividade79.
Sob o ponto de vista histórico, a respeito do instituto da
adoção, as pesquisas e estudos sobre o assunto, apontam como
referência da utilização desta forma de filiação o Código de Manu80 que
continham fortes traços religiosos e que já previa a possibilidade da
adoção como uma das formas de se perpetuar a história da família
Indiana81.
Silva Junior ensina que a adoção:
[...] constitui um dos institutos mais antigos do Direito, pois o
acolhimento de menores, como se fossem filhos biológicos
da família, é detectado em, praticamente, todas as
sociedades, das mais pregressas às atuais. Nas pré-romanas,
por exemplo, a idéia de adoção surgiu com a necessidade
de perpetuação do culto doméstico. As leis de Manu
fixavam, como pré-requisito, que o adotado conhecesse os
rituais religiosos. Somente era possível, a adoção, entre
homem e um rapaz da mesma classe, exigindo-se deste que
tivesse todas as qualidades desejadas em um filho82.
79 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. v. 6. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 379.
80 O Código de Manu, surgiu na Índia, e foi elaborado durante o período de II a .C. e II d.C. Trazia conteúdo não só de Direito, mas também de ordem moral, ética e religiosa. O caráter religioso era muito forte dentro desse código, motivo que garantia o cumprimento de suas normas, pois os indivíduos obedeciam em nome da fé. Salienta-se, por fim, que o código não concebia os ideais de igualdade, havendo extrema distinção de classes. Disponível em: http://www.jurisway.org.br/v2/cursoonline.asp?id_curso=197&pagina=13&id_titulo=2120 > Acesso em 28 mar 2008.
81 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, v. 5., 2004, p. 387.
82 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais. Curitiba: Juruá, 2005, p. 78-79.
40
Outra codificação regulamentadora do instituto da
adoção na antiguidade foi o Código de Hamurabi83. Trava-se de
codificação regulamentadora das relações da sociedade Babilônica, que
trazia normas gerais penais e civis, entre as quais onze artigos que
versavam a respeito das possibilidades para que uma pessoa fosse
adotada84.
Fazendo-se o acompanhamento cronológico da
história do instituto da adoção, chega-se ao período da Grécia Antiga, na
qual a adoção também era utilizada, principalmente na cidade-estado
de Atenas, uma das que mais se destacou politicamente e juridicamente
no mundo grego, onde a adoção, embora prevista, sofria certas
restrições, pois somente poderia ser utilizada pelos cidadãos atenienses.
No princípio a normas para a adoção eram formais e rigorosas nas quais
havia o consentimento dos sacerdotes e de uma assembléia formada por
um grupo de cidadãos atenienses. Este rigor foi com o tempo diminuindo,
de tal modo que a adoção passou a ficar mais simplificada entre o povo
ateniense85.
Como dito anteriormente, a família, no sistema jurídico
romano orbitava em torno da do pater familiae e o instituto da adoção
estava justamente inserido no Direito de Família e, portanto, subordinado
83 O código de hamurabi é um dos mais antigos conjuntos de leis já encontrados . Estima-se que tenha sido elaborado por volta de 1.700 a.C.. O legal que de algumas leis são tão basicas que mesmo um rei não pode modificá-las. As leís, (numeradas de 1 a 282) estão gravadas em um monolito de diorita preta de 2,5 m de altura . Disponível em: http://www.relativa.com.br/livros_template.asp?Codigo_Produto=71177#200 > Acesso em 28 mar 2008.
84 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 79.
85 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 79.
41
ao poder do ascendente mais velho existindo três possibilidades ou
espécies de adoção, a) a testamentária, b) a ad rogatio e c) a adoptio86.
Na adoção testamentária como o próprio nome induz
à compreensão, a adoção ocorria como a manifestação de ultima
vontade de quem elaborasse um testamento, na qual o adotado somente
passaria a integrar o grupo familiar após a morte do testador e, ainda,
dependeria da aprovação duma assembléia denominada de cúria87, não
se tratava de modalidade de adoção muito praticada entre os romanos,
isto porque era extremamente formal e envolvia um grande número de
exigências88.
A adoção pela ad rogatio, ocorria quando o adotado
deixava a sua família consangüínea para ser adotado por outra família,
entretanto dois aspectos eram de fundamental importância para que esta
espécie de adoção se tornasse possível, uma que o adotado possuísse
capacidade jurídica e a outra que a adoção tivesse como cunho religioso
entre as partes envolvidas (adotante que geralmente era um sacerdote e
o adotado que passaria a ser seu discípulo.
A adoção denominada de adoptio ocorria sem o
critério religioso, e era possível quando o adotado, ainda incapaz
juridicamente era acolhido pela família adotante sob a autoridade do
pater familiae e poderia advir do fato do adotado se encontrar na
86 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais
homossexuais, 2005, p. 79.
87 CÚRIA. Os patrícios, reunidos em cúrias, votavam as leges curiatae, ao passo que os plebeus votavam as leges centuriate, porque reunidos em centurias. LUIZ, Antônio Filardi. Dicionário de expressões latinas, 2002, p. 77.
88 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 2004, p. 387-388.
42
condição e órfão ou ainda, se a sua família natural não tivesse condições
de mantê-lo89.
A adoção para os romanos, assim como tal no
decorrer da evolução das sociedades, sempre se apresentou como uma
maneira ou uma alternativa para que os grupos familiares não se
extinguissem, se tornando uma opção para os cônjuges que não podiam
ter filhos naturais. Em Roma a adoção era cercada de questões religiosas
muito profundas, uma vez que cada família possuía seu culto religioso
próprio e, por esta razão o adotado deveria obrigatoriamente adotar o
culto religioso da família que o adotasse. Com o passar do tempo e com o
declínio do culto religioso familiar esta regra foi se tornando mais branda
facilitando o processo de adoção90.
Seguindo a cronologia histórica, o Império Romano aos
poucos foi declinando e acabou por ruir frente aos povos denominados
de bárbaros dando origem ao período histórico conhecido como a Idade
Média, onde a adoção continuou sendo utilizada, porém, em razão das
constantes batalhas por conquistas de territórios os adotados eram, na
verdade recrutados para comporem as famílias mais pela questão das
lutas do que com o objetivo de perpetuação das mesmas. Com o
decorrer da Idade Média e com a predominância do Cristianismo e a
solidificação da Igreja Católica, que reconhecia como família legítima
aquela originada pelo casamento religioso, o instituto da adoção ficou
latente por muito tempo91.
Com a solidificação dos Estados na Europa, a adoção
foi aos poucos sendo novamente praticada, destacando-se algumas
89 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 2004, p. 387-388.
90 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 79-80.
91 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 2004, p. 388.
43
legislações, tais como, o Código Dinamarquês editado em 1683, o Código
Prussiano de 1751, Código Maximilianus da Bavária de 1756 e o Código
Napoleônico que disciplinava o instituto da adoção entre os artigos 343 a
360, sendo que este último em muito influenciou as legislações posteriores
a respeito da adoção em vários outros países92.
Em Portugal, antes do século XX o instituto da adoção
não era praticado, mas sim um instituto similar denominado de
perfilhação93, de tal modo que o Código Civil português de 1867 não
disciplinava a matéria. A adoção em terras lusitanas somente encontrou
respaldo jurídico após a segunda metade do século XX (1966) quando
passou-se adotá-la sob duas modalidades, uma denominada de plena e
outra denominada de restrita94.
Sob o ponto de vista da evolução histórica do instituto
da adoção, no que diz respeito ao Brasil, inicialmente quando da
descoberta e posterior colonização, o mesmo não era praticado, isto
porque, imperava em solo brasileiro a legislação portuguesa que não
disciplinava a matéria como apontado anteriormente. Com o avançar do
tempo e desvinculação do território brasileiro de Portugal, após a
proclamação da independência, em 7 de setembro de 1822, havia a
necessidade da implantação do sistema jurídico pátrio, o que não ocorreu
prontamente, entretanto, entre os anos de 1860 e 1865 discutiu-se a
Consolidação das Leis Civis, que mais tarde embasaria o Código Civil
92 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais
homossexuais, 2005, p. 80.
93 PERFILHAÇÃO. Derivado do baixo latim perfiliare (ter como filho ou por filho), na terminologia jurídica é o vocábulo jurídico é o vocábulo aplicado como reconhecimento do filho. A perfilhação, assim, é o ato pelo qual a pessoa vem formalmente declarar sua qualidade de pai ou de mãe de outra pessoa. Revela, por isso, a demonstração da filiação. É a confissão da filiação, a que se deve seguir a legitimação. Neste aspecto, pois, a adoção não pode ser compreendida como ato de perfilhar, ou como perfilhação. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, 2004, p. 1029.
94 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 80.
44
brasileiro de 1916, na qual havia a previsão da possibilidade da adoção
como forma de legitimar os filhos incestuosos95.
Como apontado anteriormente, a Consolidação das
Leis Civis alicerçaram o Código Civil de 1916, que por sua vez, tratou
especificamente a respeito do instituto da adoção, principalmente sob o
aspecto sucessório ao diferenciar os filhos naturais dos filhos adotivos. Em
meados dos anos cinqüenta, em 1957, foi editada a Lei nº 3.133, que ficou
popularmente conhecida como o Estatuto da Adoção, que passou a
disciplinar especificamente a matéria voltada à adoção, cuja maior
inovação foi o nivelamento dos direitos dos filhos naturais e dos adotivos.
Posteriormente editou-se a Lei nº 4.655/65 que teve como principal marco
permitir que os filhos adotados fossem efetivamente inseridos à nova
família que passassem a integrar96.
Silva Junior ressalta que:
Seguindo, felizmente, a trilha aberta pelo constituinte em
1988 – com as inovações em matéria de família, filiação e
acolhendo o princípio da prioridade absoluta (CF/88, art.
227, caput e § 6º, por exemplo) -, o Estatuto da Criança e
do Adolescente, Lei 8.069/90, provocou a grande mudança
no instituto da doação, pois, além de revogar a legislação
pátria que a essa era pertinente, eliminou todas as
diferenças entre filhos adotivos e biológicos, definindo,
claramente, que tal medida definitiva para a colocação de
menores em famílias substitutas – deve priorizar as reais
necessidades, interesses e direitos da criança e do
adolescente97.
95 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais
homossexuais, 2005, p. 80.
96 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 81.
97 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 81.
45
Com a entrada em vigor da Constituição Federal de
1988, muitos direitos foram alçados ao status constitucional, ente eles os
direitos das crianças e dos adolescentes. Para garantir que tais direitos
fossem efetivamente aplicados, o legislador infraconstitucional elaborou e
editou a Lei 8.069/90 denominada de Estatuto da Criança e do
Adolescente que, além de instituir um a gama de direitos, também tratou
da adoção ao igualar plenamente os filhos naturais e adotados no que
concerne aos seus direitos e deveres, assim como incluir de vez, os filhos
adotivos na linha sucessória98.
Após a edição do Estatuto da Criança e do
Adolescente, passou a existir no sistema jurídico brasileiro duas
modalidades de adoção, a simples, cuja regulamentação ficava sob a
égide do Código Civil de 1916, em vigor àquela época que continha
alterações especificadas pela Lei nº 3.133/57); e a adoção plena, que por
sua vez passou a ser disciplinada pelo referido Estatuto. Estas modalidades
de adoção não foram revogadas pelo atual Código Civil, mantendo-se,
assim as regulamentações anteriores a sua edição em 2002 e posterior
vigência em 200399.
No que concerne o instituto da adoção e, a par da
aplicabilidade desta ou daquela norma jurídica, por certo que a adoção
é um instituto de caráter eminentemente social e humanitário, isto porque,
em um Estado Democrático de Direito deve sempre prevalecer os ideais
da dignidade da pessoa humano, a adoção deve, acima de tudo ter
justamente o caráter social voltado aos atendimentos da dignidade da
pessoa humana, em especial, das crianças e dos adolescentes, daí a
98 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais
homossexuais, 2005, p. 81.
99 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 81-82.
46
relevância do instituto da adoção, tanto para a coletividade como para o
próprio Estado100.
2.2 CONCEITO
Sob o ponto de vista conceitual e jurídico, a adoção se
traduz como sendo um ato formal, por meio do qual e respeitados os
requisitos legais, uma determinada pessoa, independente de laço
consangüíneo, gera uma relação abstrata de filiação de caráter afetivo,
através da qual, uma determina criança ou adolescente é inserida no
convívio familiar daquela pessoa que a tratará como se filho fosse,
independentemente se outros filhos naturais também já façam parte deste
núcleo familiar101.
Já, sob o ponto de vista doutrinário, merece destaque
a lição de Miranda para quem a:
Adoção é o ato solene pelo qual se cria entre o adotante e
o adotado relação de paternidade e filiação. Trata-se, pois,
de atribuição da condição de filho ao adotado, com os
mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, com o
desligamento de qualquer vínculo paternal, maternal e
parental, salvo os impedimentos matrimoniais (Lei n. 8.069, III
e V)102.
Assim, pode-se perfeitamente verificar que a adoção
se traduz no “ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe outra, como filho,
100 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais
homossexuais, 2005, p. 82.
101 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, V. 5., 1999, p. 346.
102 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado, 2000, p. 220.
47
independentemente de existir entre elas qualquer relação de parentesco
consangüíneo ou afim”103.
Como visto, a adoção é um ato formal e, portanto, um
ato jurídico, através do qual, certa pessoa com capacidade jurídica
plena, admite como seu filho, de acordo com as exigências previstas na
norma jurídica, outra pessoa, geralmente uma criança ou um adolescente
que será inserida no seio familiar, adquirindo direitos e deveres recíprocos,
assim como, um grau de parentesco entre todos os sujeitos envolvidos
denominado de primeiro grau de parentesco em linha reta104.
Por se tratar de um ato de interesse social e
humanitário, a adoção, tem por principal aspecto os interesses do
adotado, isto porque envolvem também, questões de ordem psicológica,
educacional, afetiva e emotiva, tanto que este interesse está previsto no
Estatuto da Criança e do Adolescente, quando o legislador definiu que a
adoção somente será permitida quando representar vantagens reais para
a pessoa do adotado (art. 43 do Estatuto da Criança e do
Adolescente)105.
2.3 DA NATUREZA JURÍDICA
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988,
a adoção passa a ser um ato imbuído de complexidade, se
concretizando mediante decisão judicial, sendo obrigatória, de acordo
com o artigo 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente em se tratando
de adotado maior de dezoito anos106.
103 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 2004, p. 392.
104 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 346.
105 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 381.
106 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 2004, p. 393.
48
Sob a ótica da natureza jurídica da adoção, um
momento marcante para este instituto foi a promulgação da Constituição
Federal de 1988, isto porque a adoção passou a ser revestida de maiores
formalidades jurídicas cuja efetivação somente poderá ocorrer após
homologação de sentença judicial107.
A Constituição Federal de 1988 determina que toda
adoção necessariamente ou obrigatoriamente deverá merecer a
assistência dos órgãos públicos em conformidade com o previsto no
parágrafo 5º do artigo 227 da Carta Magna, retirando, assim, o caráter
meramente civilista do instituto da adoção, entretanto, este dispositivo
não define em sua plenitude quais os requisitos que deverão ser levado
pelo Poder Público, deixando a cargo do legislador infraconstitucional a
regulamentação, através de lei apropriada, inclusive no diz respeito a
adoção, por estrangeiros que não vivam no território brasileiro108.
Por sua vez, o legislador infraconstitucional, seguindo as
evoluções promovidas pela recém promulgada Constituição Federal de
1988, introduziu no Estatuto da Criança e do Adolescente o princípio da
proteção integral visando atender mais as questões do vínculo afetivo
peculiar à adoção, isto porque, não se pode conceber a maternidade,
nem a paternidade, mesmo a consangüínea, sem se tenha o elemento da
afetividade, ou seja, não se pode concebê-la sem o amor familiar109.
A adoção, como bem se pode perceber, em razão da
sua atual importância e caráter social, recebe a tutela jurídica na esfera
constitucional, civilista e infraconstitucional (Estatuto da Criança e do
Adolescente).
107 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 2004, p. 393.
108 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 2004, p. 396.
109 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 84.
49
A adoção é reconhecidamente como um instituto de
fundamental importância sob o ponto de vista social e humanitário e, por
esta razão merecedora de toda atenção e proteção do Estado e da
própria sociedade, cuja proteção jurídica estende-se entre a Constituição
Federal, o Código Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
2.4 REQUISITOS PARA A ADOÇÃO
Um dos requisitos inerentes ao instituto da adoção diz
respeito às pessoas do adotante e do adotando, ou seja, da pessoalidade
da relação jurídica que dela advém, como se pode observar com a
simples leitura do caput do artigo 42110 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, esta pessoalidade fica perfeitamente configurada em razão
da vedação da adoção por procuração (parágrafo único do artigo 39111
do Estatuto da Criança e do Adolescente)112.
A respeito da pessoalidade disposta no Estatuto da
Criança e do Adolescente Gama ensina que:
Atualmente, o art. 42, caput, da Lei 8.069/90, permite a
adoção por qualquer pessoa maior de vinte e um anos de
idade, sem qualquer exigência quanto ao estado civil. E, na
adoção conjunta, o Estatuto da Criança e do Adolescente
expressamente prevê que a adoção pode ser feita por
ambos os cônjuges ou “concubinos”, exigindo tão somente
que um deles tenha completado vinte e um anos de idade,
110 Art. 42. Podem adotar os maiores de vinte e um anos, independentemente de estado
civil.
111 Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei. Parágrafo único. É vedada a adoção por procuração.
112 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 381.
50
devendo ser comprovada a estabilidade da família (art. 42,
§ 2º)113.
No que diz respeito ao disposto no artigo 42, do
Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê que pode adotar
qualquer pessoa maior de 21 anos, cabe lembrar que o Estatuto da
Criança e do Adolescente foi editado antes da vigência do atual Código
Civil que reduziu a capacidade jurídica para a vida civil para 18 anos de
idade, assim como, determina, em seu artigo 1618114 que somente os
maiores de dezoito anos poderão adotar115.
Outro requisito importante para que se conceda
plenamente a adoção diz respeito ao fato de que o ato jurídico da
inclusão do adotando em uma família realmente lhe será vantajoso e lhe
trará benefícios sob o ponto de vista afetivo, psicológico, educacional
etc., e, por serem critérios objetivos e subjetivos, cabe ao juiz analisar todo
o contexto social do adotando e, principalmente a estrutura sócio-
econômica e moral da estrutura familiar do adotante, agindo com
discricionariedade pautando seu juízo de valor de acordo com o previsto
no artigo 43116 do Estatuto da Criança e do Adolescente117.
Rodrigues leciona que:
Algumas inovações foram trazidas no referente à
legitimidade para adotar, destacando-se entre elas a 113 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O Companheirismo: uma espécie de família,
1998, p. 246.
114 Art. 1.618. Só a pessoa maior de dezoito anos pode adotar. Parágrafo único. A adoção por ambos os cônjuges ou companheiros poderá ser formalizada, desde que um deles tenha completado dezoito anos de idade, comprovada a estabilidade da família.
115 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito de família e o novo código civil: da adoção. (coord.) Maria Berenice Dias e Rodrigo da Cunha Pereira. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 159.
116 Art. 43. “A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos”.
117 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 86-87.
51
possibilidade de a pessoa casada ou concubinada adotar
o filho do seu consorte, ou companheiro, sem afetar o liame
de parentesco, e, portanto, o pátrio poder de seus
ascendentes consangüíneos. Esse era um problema que no
passado se propunha com alguma contundência, pois, não
raro, a mulher, com filho de uma ligação anterior, queira tê-
lo adotado pelo novo marido, ou novo companheiro118.
O legislador brasileiro, ao editar as normas referentes às
pessoas envolvidas no processo de adoção, usou do bom senso, ao
estipular um lapso temporal entre a idade do adotante e do adotando,
exigindo que entre ambos exista uma diferença de idade de no mínimo
dezesseis anos (artigos 1.619119 do Código Civil e artigo 42120, § 3º do
Estatuto da Criança e do Adolescente). Determina ainda o Estatuto da
Criança e do Adolescente, em seu artigo 40121, que a idade máxima para
figurar como adotando será a de dezoito anos completos ao tempo do
pedido da adoção, requisito esse, dispensável se o adotando já estiver
sob a guarda ou a tutela do adotante122.
A respeito do processo de adoção Pereira assevera
que:
O artigo 1.620 acolheu a regra do artigo 44-ECA ao exigir do
tutor ou curador a prestação de contas de sua
administração para adotar o pupilo ou curatelado. Cabe
ao ministério Público, por força do artigo 82-II-CPC intervir,
obrigatoriamente, nos procedimentos pertinentes, sob pena
118 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2202, p. 381.
119 Art. 1.619. O adotante há de ser pelo menos dezesseis anos mais velho que o adotado.
120 Art. 42. Podem adotar os maiores de vinte e um anos, independentemente de estado civil. § 2º A adoção por ambos os cônjuges ou concubinos poderá ser formalizada, desde que um deles tenha completado vinte e um anos de idade, comprovada a estabilidade da família.
121 Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.
122 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 87.
52
de nulidade. O artigo 1.621 corresponde ao artigo 45 e §§
do ECA, ao determinar o consentimento dos pais ou
representante legal do adotando, menores de 18 anos. A
dispensa do consentimento está vinculada às duas
condições previstas no § 1º: “sejam os pais desconhecidos
ou tenham sido destituídos do poder familiar”, exigindo o
artigo 24-ECA procedimento contraditório. Portanto, esta
dispensa está vinculada ao instituto da representação e ao
poder familiar123.
Atendidos os primeiros requisitos anteriormente
apontados, o processo de adoção segue para uma segunda etapa,
talvez a mais importante, que é denominada de estágio de convivência,
no qual o Poder Público, através dos seus órgãos competentes,
acompanharão a compatibilidade entre o adotante e o adotando,
principalmente quando o adotando já está com mais de um ano de vida.
O estágio se faz necessário justamente para mensurar a capacidade de
convivência do adotante em relação às responsabilidades inerentes à
paternidade e maternidade, assim como verificar se realmente as
condições de convivência representam reais vantagens e benefícios para
o adotando. Vale lembrar que em se tratando de adotante estrangeiro, o
estágio de convivência será indispensável e exigido com todo o rigor, uma
vez que envolve interesses de um cidadão brasileiro, no caso, o
adotando124.
A respeito deste período de convivência entre o
adotando e os pretendentes à adoção Silva Junior ensina que:
A estabilidade familiar, exigida tanto no parágrafo único do
art. 1.618, CC, como no art. 42, § 2º, ECA, refere-se ao
conjunto de elementos objetivos e subjetivos que formam
uma base afetiva sólida ou já referido ambiente familiar
123 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito de família e o novo código civil: da adoção, 2003, p.
160.
124 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 384.
53
adequado ao equilibrado desenvolvimento do adotando –
principalmente, sendo esse menor. É livre o convencimento
do juiz sobre a situação do lócus da família, mas resultado
do estudo psicosocial é de relevância imprescindível neste
particular125.
Observa-se que a intenção da norma jurídica ao
disciplinar o estágio de convivência é, senão outra, a de proteger a
integridade do adotado, ou seja, verificar se o núcleo familiar do
pretendente à adoção oferece as condições necessárias ao
desenvolvimento educacional, afetivo, emocional, moral, econômico
etc., do adotado, caso contrário, a adoção não será autorizada,
conforme disposto no artigo 29126 do Estatuto da Criança e do
Adolescente e no artigo 1.625127 do Código Civil brasileiro128.
Outro requisito legal exigido para a adoção diz
respeito ao fato de quando o adotando ainda está sob a
responsabilidade da sua família natural ou sob a guarda ou tutela de seu
representante legal, havendo a necessidade de prévio consentimento
desses, assim como do adotando quando este for maior de doze e menor
de dezoito anos. A autorização dos pais naturais ou responsável legal
somente será dispensada quando os mesmos forem destituídos do pátrio
poder129.
125 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais
homossexuais, 2005, p. 90.
126 Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.
127 Art. 1.625. Somente será admitida a adoção que constituir efetivo benefício para o adotando.
128 SILVA JUNIOR, Enézio de Deus. A Possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais, 2005, p. 88.
129 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 385.
54
Um aspecto importante disciplinado no artigo 1.623130
do Código Civil é que toda a adoção, inclusive as de adotandos maiores
de dezoito anos, somente será concluída mediante e após o desenrolar
de processo judicial, cuja sentença final, além de declarativa, será
constitutiva de direito real do adotante para concretizar a adoção em sua
plenitude131.
2.5 DOS EFEITOS DA ADOÇÃO
Por ser tratar de ato jurídico solene e formal, cuja
previsão está regulamentada e fundamentada na legislação
constitucional e infraconstitucional, a adoção, quando plenamente
efetivada gera diversos efeitos na esfera jurídica envolvendo a pessoa do
adotado e do ou dos adotantes, tais efeitos têm por objetivo gerar direitos
e deveres jurídicos na nova relação familiar entre os envolvidos e fazer
cessar quaisquer vínculos entre o adotado e sua família natural ou seu
responsável legal que detinham o pátrio poder antes de efetivada a
adoção em sua plenitude132.
Vale lembrar que anteriormente à promulgação da
atual Constituição Federal, do Estatuto da Criança e do Adolescente e,
do Código Civil em vigor, os efeitos jurídicos produzidos pela adoção não
integrava completamente o adotado na família substituta, nem tão
pouco eliminavam totalmente os vínculos com sua família natural, isto
porque, seus pais naturais conservavam direitos hereditários e, também,
130 Art. 1.623. A adoção obedecerá a processo judicial, observados os requisitos
estabelecidos neste Código. Parágrafo único. A adoção de maiores de dezoito anos dependerá, igualmente, da assistência efetiva do Poder Público e de sentença constitutiva.
131 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família, 2004, p. 397.
132 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 386.
55
não concorriam para com os direitos sucessórios dos seus novos
ascendentes da família adotiva133.
Desta feita, de acordo com a legislação anterior, o
adotado se via excluído da concorrência com os demais filhos naturais
após sua integração ao grupo familiar. Esta exclusão prevista no sistema
jurídico de então, muitas vezes tinha como conseqüência a utilização de
meios fraudulentos quando do registro do adotado em se tratando de
recém nascidos, uma vez que os pais adotivos ao efetuarem o registro
declaravam o filho como sendo natural134.
Esta prática fraudulenta adotada por muitos pais
adotivos, diante da não desvinculação total do adotado com sua família
natural, não raras vezes resultava em ações judiciais visando anular o
registro efetuado de maneira ilícita, isto porque, como dito anteriormente,
conforme a legislação reguladora do instituto da adoção, no passado,
mantinha o pátrio poder da família natural sobre o filho adotado135.
Esta incoerência da norma referente à adoção
somente foi corrigida com a edição da Lei nº 4.655/65, que passou a ser
denominada de lei da adoção plena, que passou a determinar que o
pátrio poder seria exercido pela família adotante, desvinculando-se, assim,
qualquer traço de parentesco do adotado com sua família natural136.
A respeito do pátrio poder pleno conferido à família
adotiva Diniz ensina que:
A transferência, definitiva e de pleno direito, do pátrio poder
para o adotante, com todos os direitos e deveres que lhe
são inerentes; companhia, guarda, criação, educação,
133 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 386.
134 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 386.
135 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 387.
136 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 387.
56
educação obediência, respeito, consentimento para o
casamento, nomeação de tutor, assistência e
representação, administração, usufruto dos bens etc. isto é
assim porque o pátrio poder é o núcleo da relação de
filiação. O pátrio poder mesmo com a morte, interdição ou
ausência do adotante não se restaura em favor do pai
natural, pois o adotado, sendo menor ficará sob tutela137.
Pode-se dizer que o pátrio poder é um dos
fundamentos do instituto da adoção, isto porque, o Poder Público
somente aprovará o processo de adoção quando os adotantes
demonstrarem estarem aptos a promoverem sobre todas as formas o bem
estar do adotado, provendo-lhe alimentação, educação, conceitos
morais, culturais, sentimentos de afetividade e emotividade, assim como o
equilíbrio psicológico para a convivência em família e em sociedade,
principalmente quando o adotado estiver nas faixas etárias menores, o
que não isenta o adotante de dar as mesmas condições aos adotados
com mais de dezoito anos, isto porque, conforme previsto na legislação e,
abordado anteriormente, a adoção de maiores de dezoito anos só pode
ocorrer quando o adotado estiver sobre a guarda ou a tutela do
adotante138.
Realizada a adoção em sua plenitude, os efeitos
jurídicos produzidos deste ato formal se traduzem em direitos e deveres
para o adotante e o adotado, passando esse a integrar o grupo familiar
como se fosse filho natural e, em havendo outros filhos, naturais ou
também adotados, os direitos serão iguais a todos sem qualquer forma de
discriminação ou distinção139.
A adoção produz, como um de seus efeitos jurídicos, o
direito do adotante à administração dos bens patrimoniais (materiais ou 137 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 352.
138 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 353.
139 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 387.
57
imateriais) que, por ventura o adotado, em se tratado de incapaz para a
vida civil, venha a possuir ao tempo da adoção, podendo o adotante
fazer uso dos mesmos visando promover as condições necessárias para o
seu bom desenvolvimento e crescimento em todos os sentidos, justamente
por ser esta, a maior obrigação dos pais adotivos para com seus filhos,
sejam naturais ou adotados140.
Como bem se sabe a adoção é ato formal, ou seja,
depende de processo judicial, cujo término se dá com o trânsito em
julgado da decisão que decide pela adoção, de modo que os seus
efeitos serão produzidos neste momento. Não obstante, a esta
determinação, em ocorrendo o falecimento do adotante, os efeitos do
processo adotivo, retroagirão ao tempo do falecimento do adotante141.
Vale salientar que os efeitos jurídicos resultantes da
adoção somente serão reconhecidos após o trânsito em julgado da
decisão que homologou a adoção mediante o devido processo
judicial142.
Um outro efeito jurídico da adoção é o fato de que o
adotado poderá unilateralmente requerer, por meio processo judicial, a
extinção da adoção ao completar a maioridade civil ou ainda pelo
adotante, quando o filho der justo motivo para sua deserção, como atos
imorais, ilícitos etc., assim como, quando se verificar que o adotado não
está cumprindo para com suas obrigações assistências de filho para com
os pais que se encontrem enfermos. Vale lembrar que em todos os casos
de extinção da adoção, a mesma somente ocorrerá mediante processo
140 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 354.
141 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 388.
142 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família, 2002, p. 388.
58
judicial e seus efeitos jurídicos anulatórios serão produzidos após o trânsito
em julgado da sentença143.
Existem situações em que se anulará a adoção
quando se constatar que o adotado fora anteriormente adotado por
outra pessoa; quando existirem dois adotantes pretendendo adotar a
mesma pessoa; salvo se estes adotantes estiverem casados ou viverem em
união estável; quando se verificar que a diferença de idade entre o
adotante e o adotando for inferior a dezesseis anos ou, ainda, quando o
tutor ou curador não prestar contas das suas ações em relação ao
tutelado ou curatelado antes de formalizada a adoção; ressalta-se que a
anulação da adoção será processada de acordo com trâmite previstos
para as ações de anulação de ato jurídico144.
A referida ação visando ver anulada a adoção deve
ser proposta pelos pais naturais, pelo curador ou tutor do adotando, com
a devida anuência de todos aqueles que exercem o pátrio poder em
relação ao adotando145.
Em sendo válido o processo de adoção, o falecimento
do adotante não coloca fim ao parentesco produzido pela adoção em
relação ao adotado, porém se este não tiver deixado outros herdeiros que
preencham as condições necessárias para manterem o pátrio poder
sobre o adotado, esse poderá perfeitamente ser adotado novamente por
outro adotante que atendam aos requisitos previstos na legislação146.
A legislação brasileira não coloca impedimento para
que o adotante possa vir a adotar mais de um filho adotivo, entretanto, o
mesmo deve comprovar possuir condições sócio-econômicas, moral e
143 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 357-358.
144 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado, 2000, p. 245.
145 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado, 2000, p. 247.
146 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado, 2000, p. 247.
59
psicológica para tal, uma vez que a adoção se demonstra como uma
opção de caráter social, através da qual se pretende atender às
necessidades afetivas daquelas pessoas, geralmente crianças, que por
algum motivo ficaram à mercê da vida sem um amparo familiar que lhes
possam proporcionar uma vida digna através do amor, mesmo que de
pais adotivos que lhes possam propiciar condições de crescimento físico,
educacional, cultural, emotivo etc147.
2.6 DAS ESPÉCIES DE ADOÇÃO
O sistema jurídico brasileiro, ao disciplinar a matéria
voltada à adoção, prevê que a mesma poderá ser simples, plena e ainda
regula as condições e requisitos para que os estrangeiros possam adotar
cidadãos brasileiros148.
Denomina-se adoção simples ou restrita, a espécie de
adoção que tem haver com a relação de filiação que se fortalece entre
as partes envolvidas, ou seja, entre adotante e o adotado. Pode-se dizer
que um dos principais requisitos para a adoção simples está no fato de
que o candidato à adotante deve possuir, ao tempo do processo de
adoção, no mínimo trinta anos de idade, isto porque, na adoção simples o
adotado deve ser maior de dezoito anos e, assim, requer a legislação a
diferença mínima de dezesseis anos entre o adotante e o adotado. Tal
exigência se dá em razão da maturidade psicológica e sócio-econômica
do adotante para que o mesmo possa proporcionar ao adotado todas as
condições necessárias ao seu desenvolvimento149.
147 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado, 2000, p. 248.
148 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 347.
149 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 347.
60
Já a adoção denominada de plena é aquela através
da qual o laço sócio-afetivo entre o adotante e o adotado perpetuam
para toda a vida em todos os seus efeitos legais, inclusive no que diz
respeito à igualdade de direitos com os filhos naturais do adotante
quando existirem, ressalvado os impedimentos ligados ao matrimônio
previstos na lei150.
A adoção plena é a espécie mais utilizada no sistema
jurídico brasileiro, cujos impactos sociais são de fundamental importância,
tanto para o adotado como para os adotantes, geralmente casais que
não podem ter filhos naturais ou que mesmo tendo, ainda necessitam de
dar afeto, carinho, educação etc., às crianças que necessitam
cumprindo, assim, um papel social de suma importância para a
coletividade151.
No que concerne à adoção na qual figure como
pretendente a adotante, pessoa ou pessoas estrangeiras, mas que vivam
ou estejam radicadas no Brasil, ou ainda de estrangeiros não residentes no
país, mantêm-se o princípio da territorialidade, ou seja, prevalece as
regras do direito brasileiro independentemente da existência ou não de
norma jurídica disciplinadora da adoção no país de origem do interessado
na adoção, esta regra se aplica de acordo com o artigo 7º da Lei de
Introdução ao Código Civil. Outro aspecto legal a ser levado em
consideração a respeito da adoção por estrangeiros é que a mesma, por
força do § 5º do artigo 227 da Constituição Federal de 1988, deverá ser
assistida obrigatoriamente pelo Poder Público que deverá observar com
rigor a aplicação de todos os requisitos jurídicos, uma vez que se trata dum
ato jurídico de exceção152.
150 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 359.
151 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 360.
152 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, 1999, p. 364.
61
O presente capítulo discorreu a respeito do instituto da
adoção visando trazer subsídios sobre a temática, isto porque, o referido
instituto é um dos objetos de estudos deste trabalho monográfico
justamente por que se pretende verificar, sob o ponto de vista legal e
doutrinário, quais os requisitos necessários para que os casais
heterossexuais que vivam em união estável possam efetivamente
adotarem.
62
CAPÍTULO 3
DA ADOÇÃO NA UNIÃO ESTÁVEL ENTRE HOMEM E MULHER NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
3.1 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO CONCUBINATO
Como se sabe perfeitamente, com base em estudos
históricos e antropológicos, os seres humanos desde seus primórdios
agrupavam-se. Inicialmente com objetivos de auto-proteção, uma vez
que um grupo se mostrava muito mais eficaz no tocante à obtenção de
alimentos, assim como para a proteção individual de cada ser e, ainda,
com o objetivo da copulação visando a procriação e a perpetuação da
espécie, atitude mais instintiva do que propriamente afetiva153.
É possível dizer que com certeza que os primeiros
grupos de seres humanos se formaram de maneira desorganizada sem
muitos critérios objetivos, mas sim, com vistas à perpetuação da espécie e
a preservação de cada indivíduo. Com o decorrer do tempo e com a
evolução da espécie humana, diga-se de passagem, que na sua origem
o homem se assemelhava a um animal mais instintivo do que um ser
pensante; as formações humanas foram se aprimorando, de tal modo que
foram surgindo primeiramente os clãs que deram origem aos primeiros
núcleos familiares. Vale ressaltar que nesta época, os grupos familiares
eram extremamente fechados e as uniões ocorriam entre os sujeitos do
mesmo grupo, ou seja, eram uniões entre parentes154.
153 PIRES, Francisco Eduardo Orcioli. União Estável no sistema jurídico brasileiro. Francisco
Eduardo Orcioli Pires/ Albuquerque Pizzolante. São Paulo: Atlas, 1999, p. 17.
154 PIRES, Francisco Eduardo Orcioli. União Estável no sistema jurídico brasileiro, 1999, p. 17.
63
A respeito das primeiras uniões familiares Oliveira,
disserta que:
Como decorrência da origem natural da família, as
primeiras uniões de homem e mulher faziam-se de maneira
informal, sem interferência maior das comunidades grupais
a que pertenciam os indivíduos. Eram relações familiares
que hoje seriam qualificadas como puramente
concubinárias. Com a evolução dos costumes e a
organização da sociedade é que se deu a formalização da
união conjugal pelo casamento, primeiro religioso, e depois
de natureza civil. Paralelamente a essa oficialização da
entidade familiar pelo casamento, subsistem os casos de
uniões informais, “sem papel passado”, como natural fruto
do afeto que leva as pessoas à coabitação, visando à
realização de projetos de vida a dois e o alcance de filhos
que lhes perpetue a espécie155.
Observa-se que, historicamente, as primeiras uniões
entre homens e mulheres com o objetivo de formarem grupos familiares
ocorriam de maneira informal, ou seja, simplesmente se juntavam, até
mesmo porque no início não havia regras ou normas regulando a união
entre homens e mulheres, nem mesmo as de cunho religioso. Somente ao
longo da história é que foram surgindo os primeiros preceitos religiosos e
legais e, assim, começaram, também, as primeiras proibições da união
informal ou estável entre homens e mulheres156.
A par das antigas discussões a respeito da união
estável entre homem e mulher como uma espécie de núcleo familiar, fato
este consolidado nos dias de hoje, o estudo desta temática requer, antes
de mais nada, que se faça uma distinção entre o que venha a ser uma
união estável e o concubinato, justamente porque ambos dizem respeito
155 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e
depois do novo código civil, 2003, p. 71.
156 ROSA, Patrícia Fontanella. União estável. Florianópolis: Diploma Legal, 1999, p. 19.
64
à relacionamentos entre homens e mulheres, entretanto, apresentam
algumas diferenças. A união estável possui como traço marcante a
intenção do homem e da mulher em manterem uma relação amorosa,
afetiva, sexual, patrimonial visando a formação de um núcleo familiar
construído do esforço mútuo e demonstrado à sociedade. Por outro lado,
o concubinato possui apenas o fito da relação sexual, ou seja, há um
relacionamento entre um homem, geralmente um homem casado, e uma
mulher na qual se deseja pura e simplesmente a satisfação sexual do
homem e patrimonial da mulher, uma vez que, geralmente o homem
sustenta a mulher e esta figura como sua concubina sem que haja entre
ambos a publicidade de tal relação157.
A respeito do concubinato Pereira ensina que o:
[...] concubinato é a comunhão de leito. Vem do latim cum
(com); cubare (dormir): concubinatus. [...] é a união
ilegítima do homem e da mulher. E, segundo o sentido de
concubinatus, o estado de mancebia, ou seja, a
companhia de cama sem aprovação legal. Concubina é a
mulher que tem vida em comum com um homem, ou que
mantêm, em caráter de permanência, relações sexuais
com ele. Concúbito, do latim concubitus, significa cópula,
coito. O elemento etimológico primário do concubinato é o
concúbito contínuo exclusivo da mulher com um homem
com quem habita e/ou mantém relações sexuais. Esse é o
conceito original de concubinato, ou melhor, o mais
primário. Entretanto, esse conceito tem evoluído bastante e,
na verdade, há até uma certa dificuldade entre os autores
em delinear precisamente esta idéia158.
No Brasil, por uma questão cultural, religiosa e social, o
concubinato sempre foi visto de maneira geral, como sendo uma relação
adúltera, ou seja, aquela em que geralmente um homem casado,
157 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, 2004, p. 332.
158 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e união estável, 2001, p. 26.
65
mantinha uma relação meramente sexual com um mulher sem maiores
pretensões de torná-la pública e nem tão pouco com o caráter
duradouro dado que na maioria das vezes tais relações, em geral eram
passageiras159.
Há que se ressaltar que no meio social qualquer forma
de relacionamento entre um homem casado e uma mulher solteira são
tidos como concubinato, poder-se-ia dizer que em sentido amplo,
entretanto, os autores civilistas entenderam por bem classificar esta
espécie de relacionamento entre homem e mulher em concubinato puro,
que é aquele, segundo a doutrina, no qual se tem, além das
características da afetividade e sexualidade da relação, mas também a
sua durabilidade, ou seja, a relação se estende por vários e vários anos
sem, no entanto tornar-se pública; e, concubinato impuro, que é aquele
no qual se tem como característica principal a eventualidade da relação
visando meramente uma satisfação sexual160.
A respeito do concubinato puro e impuro Pedrotti
leciona que:
Entendemos que deve de considerar-se puro o concubinato
quando ele se apresenta [...] como uma união duradoura,
sem casamento, entre homem e mulher, constituindo-se a
família de fato, sem qualquer detrimento da família legítima.
Assim, acontece, quando se unem, por exemplo, os solteiros,
os viúvos, os separados judicialmente, desde que respeitada
outra união concubinária. Tenha-se, por outro lado, que o
concubinato será impuro se for adulterino, incestuoso ou
desleal (relativamente à outra união de fato), como o de
um homem casado ou concubinado, que mantenha,
paralelamente ao seu lar, outro fato. A união livre e pura
pode se verificar quando as pessoas não se encontrem
impedidas para o casamento, solteiros, viúvos, separados,
159 VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 19-20.
160 VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável, 1999, p. 20.
66
divorciados. A união livre e não pura pode se dar quando
existir obstáculo matrimonial para um ou ambos dos
interessados161.
Segundo a doutrina civilista o concubinato pode ser
ainda classificado em sentido amplo e restrito. O primeiro diz respeito tanto
ao concubinato puro como às uniões estáveis entre homem e mulher, já o
segundo, diz respeito ao concubinato impuro, que como visto nada mais é
do que uma relação passageira ou eventual, diferentemente dos puro
que como visto se perdura, embora não publicamente, por um certo
lapso temporal e, mais ainda, da união estável que se fundamenta na
expressão pública da relação entre o homem e a mulher que se
comportam como se casados fossem. Por uma questão terminológica,
adotou-se no texto constitucional de 1988 do termo “união estável” para
designar principalmente as relações entre homem e mulher com o animus
de casados, identificando esta forma de relação como um núcleo
familiar162.
Esta designação introduzida pela Constituição Federal
de 1988 se traduziu em uma inovação a respeito do conceito dado, tanto
pela sociedade em geral como pela doutrina, à união entre homem e
mulher, uma vez que até a promulgação do texto constitucional os casais
que viviam em união estável eram denominados de concubinos
(concubina para a mulher e concubino para o homem). Seguindo a
inovação constitucional, o legislador infraconstitucional optou por adotar
os termos companheiros e conviventes para designar os casais que vivam
em união estável, os referidos termos foram introduzidos nas Leis nº
8.971/94 e Lei 9.278/96 respectivamente163.
161 PEDROTTI, Irineu Antonio. Concubinato e união estável. 4. ed. São Paulo: Universitária
do Direito, 1999, p. 03.
162 VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável, 1999, p. 20.
163 VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável, 1999, p. 20.
67
3.2 APRECIAÇÃO HISTÓRICA DA UNIÃO ESTÁVEL ENTRE HOMEM E MULHER
Em se analisando os apontamentos históricos a respeito
da união entre homem e mulher pode-se dizer que a principal referência
que se têm a respeito da união estável, como forma de constituição de
núcleos familiares é o Direito Civil Romano que em muito influenciou e
contribuiu para a formação dos ordenamentos jurídicos de muitos países,
principalmente os países ocidentais164.
Segundo estudos históricos a respeito da união entre
homem e mulher na Roma Antiga é possível verificar a existência da
confarreatio165, que era uma cerimônia religiosa cheia de formalidades e
realizada na presença de dez testemunhas destinada à união matrimonial
dos patrícios que figuravam como a classe mais alta da sociedade
romana e geralmente ocupavam o poder social em face dos demais
sujeitos sociais.
Havia também, a coemptio166 que era uma união mais
simples própria e usual dos plebeus, na qual havia uma compra fictícia da
mulher pelo homem através da realização de uma celebração chamada
de mancipatio167. Assim como, a união entre homem e mulher
164 VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável, 1999, p. 20.
165 CONFARRETIO. Era o casamento solene e religioso, privativo dos patrícios. Toda a solenidade tinha por fim preparar os deuses para aceitar a presença de uma pessoa estranha na família. O termo confarreatio provém de farreum, trigo, significando, piis, “compartilhar o trigo” (pão). LUIZ, Antônio Filardi. Dicionário de expressões latinas, 2002, p. 68.
166 COEMPTIO. Coempção; compra em comum. Era o casamento dos plebeus, solene, consubstanciado pela compra fictícia da mulher. Em verdade, a compra, irreal, era recíproca. LUIZ, Antônio Filardi. Dicionário de expressões latinas, 2002, p. 61.
167 MANCIPATIO. Compra: aquisição. Era o ato jurídico solene só utilizável pelo cidadão romano ou pelos latinos e peregrinos detentores do jus commercii. LUIZ, Antônio Filardi. Dicionário de expressões latinas, 2002, p. 187.
68
denominada de usus168, que se tratava da real aquisição da mulher pelo
homem, através da qual o homem tornava-se senhor e proprietário da
mulher. Vale a observação que para os romanos prevalecia o in manu
matiti169, ou seja, a mulher e seu patrimônio eram agregados ao
patrimônio do homem que passava a administrá-los170.
Azevedo ao abordar a matéria leciona que:
No Direito Romano, ao lado das iustae nuptiae cum ou sine
manu, de que se valiam os cidadãos romanos, pelos ius
civile, para constituírem suas famílias legítimas, existiam mais
de três formas de união, constitutivas de famílias; a dos
peregrinos, que passavam a conviver sine connubio, a dos
escravos e, finalmente, a dos concubinos, que se uniam,
livremente, sem o chamado consensus nuptialis. O
casamento entre os romanos e peregrinos, ou entre estes,
era iniustum (contrário ao ius, ao direito dos cidadãos),
sendo certo que era regulado pelo ius gentium ou pelo
direito nacional dos estrangeiros que o contraíam. A união
de fato, entre os escravos ou de pessoas livres com
escravos, não produzia quaisquer efeitos jurídicos e era
conhecida com o nome de contubernium. Só à época do
Imperador Justiniano reconheceram-se alguns efeitos a ele
no tocante ao parentesco, a cognatio servilis171.
Vale ressaltar que na Roma Antiga, assim como em
muitas civilizações ocidentais, nao se admitia as relações adulterinas, ou
seja, concubinárias, de tal modo que toda e qualquer relção extra-
conjugal era tida como delituosa com sanções tanto para o homem
168 USUS. Uso. Uso vem a ser um dos direitos da propriedade, vale dizer, o direito de usar
da coisa. É igualmente uma espécie de usucapião no casamento pelo usus. LUIZ, Antônio Filardi. Dicionário de expressões latinas, 2002, p. 318.
169 IN MANU MARITI. Sob a mão (poder) do marido. Diz do casamento legítimo romano, quando a mulher ficava sob o poder do marido. LUIZ, Antônio Filardi. Dicionário de expressões latinas, 2002, p. 146.
170 VARJÃO, Luiz Augusto Gomes. União estável: requisitos e efeitos, 1999, p. 12.
171 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Estatuto da família de fato: de acordo com o novo código civil, Lei nº 10.406, de 10-01-2002. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p.151.
69
quanto para a mulher, inclusive quando esta cometesse o adultério
poderia ser presa ou até morta pelo marido172.
O Império Romano não se sustentou para sempre
como bem se sabe e declinou e ruiu por inúmeros motivos de ordem
política, econômica, social e em razão de constantes guerras entre os
romanos e os povos denominados de bárbaros. O fim da hegemonia
romana deu lugar ao que historicamente ficou denominado de Idade
Média, onde o Cristianismo predominou como religião através da forte
atuação da Igreja Católica que passou a proibir qualquer forma de união
entre homens e mulheres senão as regidas pelo casamento religioso ou
católico, sendo punidas com severidade as relações extraconjugais ou
concubinárias173.
Sobre a influencia da Igreja Católica na Idade Média
Azevedo disserta que:
A Igreja católica, em todos os tempos, tem estabelecido
sanções contra a convivência concubinária, se bem que, a
princípio, com certa suavidade, dado que o concubinato
era considerado como um casamento nos moldes
simplificados do Direito Natural, omitindo-se as solenidades
do Direito Positivo. Todavia, essas sanções foram mais
severas quando o concubinato degenerou em uniões
desabonadoras. [...] desde sua elaboração, o Direito
Canônico captou o sentido da realidade social do
concubinato, tratando de regulá-lo e de conceder-lhe
efeitos, com critério realista, procurando, com isso, assegurar
a monogamia e a estabilidade do relacionamento do
casal, mas sem ratificá-lo174.
172 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Estatuto da família de fato: de acordo com o novo código
civil, Lei nº 10.406, de 10-01-2002, 2002, p.151-152.
173 VARJÃO, Luiz Augusto Gomes. União estável: requisitos e efeitos, 1999, p. 15.
174 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Estatuto da família de fato: de acordo com o novo código civil, Lei nº 10.406, de 10-01-2002, 2002, p.155.
70
Durante o decorrer da Idade Média, quaisquer uniões
entre homens e mulheres que não seguissem os dogmas e as normas do
casamento religioso eram profundamente criticadas, pois outra forma de
união senão a pelo casamento implicavam em ofensa à fé católica e esta
críticas e o combate à outras formas de união entre homem e mulher
eram definidas pelos representantes do chamado alto clero quando
reuniam-se nos Concílios. Um dos mais famosos Concílios, o de Trento,
ocorrido em 1563, a igreja Católica proibiu qualquer forma de casamento
presumido, ou seja, somente seriam validas as uniões regidas pela
formalidade do matrimônio realizado em cerimônia pública, na presença
do representante local da igreja e, na presença de pelo menos duas
testemunhas cujo ato passaram a ser registrados nas paróquias175.
Como bem leciona Azevedo:
Esse mesmo Concílio proibiu genericamente aos clérigos a
convivência com qualquer mulher de que pudesse surtir
alguma suspeita, com aplicação de penas gradativas ao
desobediente; e, ao mesmo tempo, agravou as
penalidades contra os concubinos leigos. O Código
Canônico atual, de 1983, estabelece, em seu cânone 1.093,
com texto semelhante ao cânone 1.078 do antigo Código
de 1917, o impedimento de pública honestidade,
originando-se de um casamento inválido, “depois de
instaurada a vida em comum”, ou “de um concubinato
notório e público”, tornando nulo o matrimonio “no primeiro
grau da linha reta entre o homem e as consangüíneas da
mulher, e vice-versa”176.
Vale ressaltar que o Concílio de Trento estendeu suas
decisões a respeito de que o casamento era a única forma legal para a
união entre homem e mulher, entretanto, em Portugal, mesmo antes da
175 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Estatuto da família de fato: de acordo com o novo código civil, Lei nº 10.406, de 10-01-2002, 2002, p.156-157.
176 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Estatuto da família de fato: de acordo com o novo código civil, Lei nº 10.406, de 10-01-2002, 2002, p. 157.
71
entrada em vigor das determinações do referido Concílio, já se punia as
relações extraconjugais ou as relações estáveis (concubinárias até então)
conforme a legislação lusitana da época (Ordenações) que
“estabeleciam diferenças entre o comércio carnal e o concubinato,
sendo punido o adultério cometido com mulher casada e também a
prática de relações sexuais com mulher casada de feito, e não de direito,
ou que está em fama de casada”177.
Sobre a união entre homem e mulher no Brasil, Pessoa
ensina que:
O casamento civil foi instituído pelo Decreto n. 181, de 1890,
dispondo, no art. 53, sobre a posse do estado de casados,
como forma suficiente da existência do casamento,
permanecendo, entretanto, as disposições referentes às
ordenações. A importância do casamento civil,
preconizada em todas as Constituições da República, deu
impulso à progressiva marginalização do concubinato. No
Código Civil brasileiro de 1916, o concubinato não foi
tratado como instituto, tendo havido, tão-somente,
previsões quanto ao impedimento absoluto para o
casamento do cônjuge adultero com o seu co-réu
condenado (art. 183, VII), à possibilidade de reivindicação
de bens transferidos à concubina (art. 248, IV), ao
reconhecimento da filiação em relação à prole havida das
uniões concubinárias (art. 363, I), à proibição de doação
(art. 1.177), à declaração da ilegitimidade passiva
testamentária à concubina (art. 1.719, III) e à proibição de
instituição de seguro de vida (art. 1.474)178.
No que concerne ao ordenamento civilista brasileiro,
muitas alterações foram sendo introduzidas ao longo do tempo visando
regular as relações ou uniões entre homens e mulheres que não aquela
regida pelo formalismo do casamento civil e religioso, como, por exemplo,
177 VARJÃO, Luiz Augusto Gomes. União estável: requisitos e efeitos, 1999, p. 15-16.
178 PESSOA, Claudia Grieco Tabosa. Efeitos patrimoniais do concubinato, 1997, p. 17-18.
72
o Decreto-Lei n. 4.737/42 e as Leis n. 883/49 e 6.515/77 que em seus textos
introduziram o reconhecimento, na condição de filhos naturais, daqueles
nascidos de relações fora do casamento, assim como disciplinando
direitos de ordem patrimonial e sucessório para àqueles que convivessem
em união estável179.
Mais tarde, a Constituição Federal de 1988, elevou as
relações tidas como uniões estáveis à condição de entidades familiares,
vindo o texto constitucional a ser regulamentado definitivamente com
através da Lei n. 8.971/94 que disciplinou direitos referente à alimentos e
sucessões e, a Lei n. 9.278/96, que por sua vez disciplinou a respeito dos
direitos patrimoniais daqueles conviventes em união estável, ambas as
foram editadas visando regulamentar o parágrafo terceiro do artigo 266
da Constituição Federal de 1988180.
A par do texto constitucional e das referidas
legislações, outro marco importante para reconhecimento da união
estável entre homem e mulher como uma entidade familiar é a
introdução da matéria no corpo do atual Código Civil vigente desde o
ano de 2003, no qual a união estável mereceu um destaque nos artigos
1.723 e seguintes.
3.3 DA LEGISLAÇÃO DISCIPLINADORA DA UNIÃO ESTÁVEL NO BRASIL
Não restam dúvidas que a união estável, entre homem
e mulher é um traço marcante na historia humana e como demonstrado
anteriormente, foi a primeira forma utilizada pelos seres humanos para
constituírem os primeiros núcleos familiares e, mesmo com a evolução das
179 PESSOA, Claudia Grieco Tabosa. Efeitos patrimoniais do concubinato, 1997, p. 18.
180 PESSOA, Claudia Grieco Tabosa. Efeitos patrimoniais do concubinato, 1997, p. 18.
73
sociedades e civilizações nas quais a religiosidade e o positivismo jurídico
regularam e regulam a união entre homem e mulher, a união estável,
embora por muito tempo tenha sido reprovada como espécie de família,
perdurou e se manteve como prática em muitos países, inclusive no
Brasil181.
A sociedade evolui fazendo surgir novas realidades
sociais às quais o Estado deve atender e, o faz, editando normas
reguladoras e disciplinadoras dos interesses sociais, assim sendo, diante da
realidade de que a união estável era e ainda é uma das formas bastante
usuais de relacionamentos entre homem e mulher com a finalidade da
formação de núcleos familiares é que o Estado regulamentou a união
estável, a reconhecendo como uma entidade familiar182.
Como se sabe, os sistemas jurídicos são constituídos de
acordo com as necessidades das sociedades e acompanham o
momento histórico, econômico, social, moral que prevalecem no meio
social, assim sendo, é possível afirmar que uma determinada codificação
se amolda aos fenômenos sociais predominantes no momento da sua
elaboração. Assim sendo, o Código Civil de 1916 foi editado em um
momento histórico no qual prevaleciam princípios de ordem religiosos e
morais muito marcantes, de tal modo que prevalecia a idéia de que o
casamento somente seria válido se fosse o matrimônio civil ou religioso,
para qual o legislador daquela época estendeu uma gama de direitos
relativos à família, não dedicando praticamente nenhum à famílias
formadas sob a forma da união estável183.
181 PELLIZZARO, André Luiz. A sucessão hereditária na união estável. Curitibanos, SC:
Edipel, 2000, p. 27.
182 PELLIZZARO, André Luiz. A sucessão hereditária na união estável, 2000, p. 27.
183 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e depois do novo código civil, 2003, p. 74-75.
74
A par de uma proteção regulamentada no diploma
civil anteriormente em vigor, a união estável entre homem e mulher
sempre mereceu a atenção dos autores civilistas e também dos Tribunais,
uma vez que muitos casos em concreto envolvendo casais que viviam em
união estável, principalmente versando sobre direitos patrimoniais e
filiação, necessitavam de soluções por parte do Poder Judiciário, inclusive
da corte suprema brasileira, o Supremo Tribunal Federal que editou
algumas Súmulas regulando e disciplinando direitos de casais que viviam
em união estáveis, tais como: a) direitos ao recebimento de seguros
acidentários (Súmula 35); b) o reconhecimento da dissolução judicial da
união estável disciplinando a partilha do patrimônio construído no
decorrer da união (Súmula 380); c) o reconhecimento do concubinato e
da união estável mesmo não havendo a convivência sobre o mesmo teto
(Súmula 382); d) o reconhecimento de direitos hereditários ao filho
adulterino (Súmula 447)184.
Neste sentido Pires, leciona que:
Antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, e a
despeito das alterações sentidas na sociedade, a
orientação doutrinária acerca da união estável ainda se
prendia à teoria que dividia as relações entre os
companheiros, regulamentada pela Súmula 380 do
Supremo Tribunal Federal, que textualmente declina:
“Comprovada à existência de sociedade de fato entre
concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a
partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum”. Era
dado, portanto, à união estável cunho societário que muitas
vezes não a revestia, cuidando-se de seu aspecto
meramente patrimonial, tendo o judiciário os companheiros
por sócios e olvidando do conteúdo emocional de suas
relações, sendo solução também muito adotada a da
indenização à companheira pelos serviços prestados ao
companheiro, a tramitarem, em ambos os casos, como
184 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e
depois do novo código civil, 2003, p. 76-77.
75
dissolução de sociedade e indenização que constituíram,
em varas cíveis185.
Por muitos anos o assunto voltado aos direitos
referentes aos casais que viviam em união estável, assim como dos filhos
havidos dentro destas uniões foram motivos de várias discussões
doutrinárias, jurisprudenciais e políticas, vindo alguns anteprojetos de lei a
serem elaborados nos quais previam o reconhecimento da união estável
como entidade familiar quando demonstrada que a união existia por pelo
menos cinco anos que mais tarde seria diminuído para quatro anos, assim
como pretendiam ver reconhecidos os direitos patrimoniais dos
conviventes sobre os bens adquiridos no decorrer da união estável,
entretanto tais anteprojetos de leis não foram efetivamente implantados,
ficando a cargo do Poder Judiciário dirimir e solucionar os conflitos
decorrentes dos relacionamentos dos casais que viviam em união
estável186.
Com o fim do regime militar no Brasil e com a
devolução do Poder Político à sociedade civil em 1985, o novo Congresso
Nacional foi chamado a elaborar a nova constituição da República,
agora com fortes traços sociais. Formou-se assim, a Comissão Parlamentar
Constituinte que em seus trabalhos procurou atender a uma gama de
necessidades da sociedade brasileira há muito reivindicadas. Os
legisladores constituintes procuraram observar os fenômenos sociais que
prevaleciam naquele momento no seio da sociedade brasileira e, assim
uma gama de direitos foram inseridos no texto da nova Carta Política,
entre eles, o disposto no parágrafo 3º do artigo 226 no qual, in verbis, assim
dispõe: “§ 3º Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre homem e mulher como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento”, de tal modo que, ao reconhecer
185 PIRES, Francisco Eduardo Orcioli. União Estável no sistema jurídico brasileiro, 1999, p. 55.
186 VARJÃO, Luiz Augusto Gomes. União estável: requisitos e efeitos, 1999, p. 64-65.
76
a união estável como uma entidade familiar na esfera constitucional, o
legislador pois ponto final às discussões sobre a sua validade jurídica ou
não, tornando-a uma forma legal de família a ser protegida pelo Estado e
pela própria sociedade187.
Assim sendo depreende-se do dispositivo constitucional
que a união estável passou a ser admitida como uma entidade familiar,
sendo a mesma inserida no capítulo destinado à garantia e proteção dos
direitos da família, uma vez a família é reconhecida como a base da
sociedade e do Estado e, portanto, merecedora de toda a proteção.
Vale lembrar e isto fica claro no texto constitucional que a Lei Maior não
equiparou a união estável ao casamento civil, mas sim a reconheceu
como uma espécie de família, determinando inclusive que o Estado
venha facilitar a sua conversão em casamento188.
Não obstante às discussões que também existem no
meio social, doutrinário, jurisprudencial e político a respeito das uniões
estáveis entre pessoas do mesmo sexo, há que se observar que, embora
estas formas de relacionamentos se apresentem mais frequentemente nos
dias atuais e que também requerem uma atenção por parte do Estado, o
texto constitucional faz menção somente à união estável entre homens e
mulheres reconhecendo-as como entidade familiar, assim como
estendendo direitos e deveres aos conviventes189.
A união estável, para ser reconhecida como uma
entidade familiar deve ser duradoura e estável, na qual fique evidenciado
o desejo dos conviventes em formar uma família, prevalecendo a ajuda
mútua na construção do patrimônio familiar, baseada na fidelidade de
187 PIRES, Francisco Eduardo Orcioli. União Estável no sistema jurídico brasileiro, 1999, p. 61.
188 VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável, 1999, p. 13-14.
189 VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável, 1999, p. 14.
77
ambos os conviventes, no esforço comum em educar e criar os filhos, ou
seja, deve configurar a existência do animo próprio ao matrimonio190.
Como visto o texto constitucional não somente
reconhece a união estável entre homem e mulher como um fenômeno e
uma realidade social, como também a incorpora ao ordenamento
jurídico como uma espécie de família, entretanto, também determina que
o legislador ordinário editasse norma jurídica visando regulamentar a
matéria, assim como, facilitar a sua conversão em casamento visando
ampliar a gama de direitos dos conviventes, o que de fato mais tarde
ocorreu191.
A este respeito vale trazer à luz os ensinamentos de
Azevedo ao discorrer que:
[...] a Lei nº 8.971/94 estabelece alguns elementos
conceptuais da união estável, com reprovável atecnia.
Esses elementos são, conforme demonstra, principalmente o
art. 1º dessa lei: (a) a convivência entre homem e mulher,
não impedidos de casarem-se ou separados judicialmente;
(b) por mais de cinco anos192; c) ou tendo filho; (d)
enquanto não constituírem nova união. A lei concede,
especificamente, a esses casais direitos recíprocos a
alimentos, a quem deles necessitar, e sucessórios, como ali
mencionados [...] Nessa lei, portanto, a união estável é a
convivência, por mais de cinco anos ou até a existência de
filho comum, entre homem e mulher, não impedidos de
casarem-se ou separados judicialmente, mantendo uma
única família193.
190 VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável, 1999, p. 14.
191 VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável, 1999, p. 14.
192 Segundo o atual Código Civil não há prazo mínimo de convivência para o reconhecimento da união estável, mas sim que se demonstre o ânimo de matrimonio, ou seja, que os conviventes vivam publicamente como se casados fossem.
193 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Estatuto da família de fato: de acordo com o novo código civil, Lei nº 10.406, de 10-01-2002, 2002, p. 326-327.
78
Outra norma jurídica que veio a regular direitos dos
conviventes em união estável, é a Lei nº 9.278 de 10 de maio de 1996, cuja
edição visou, também regulamentar o dispositivo previsto no artigo 226,
parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988, disciplinando direitos de
ordem patrimonial e referentes à obrigação da prestação alimentícia,
tanto para a mulher como para os filhos havidos durante o período de
convivência em união estável194.
Por fim, no tocante à legislação regulamentadora da
união estável no Brasil, vale ressaltar que a mesma, após a edição do
Código Civil em vigor atualmente, foi finalmente inserida no Capitulo
destinado ao Direito de Família, disciplinada pelos artigos 1.723 a 1.727,
assim como, merecendo proteção no que diz respeito aos direitos
sucessórios e alimentares195.
3.4 DA ADOÇÃO NA UNIÃO ESTÁVEL ENTRE HOMEM E MULHER NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
A Constituição Federal de 1988, além de reconhecer a
união estável entre homem e mulher como uma entidade familiar,
também inovou ao igualar, em direitos e deveres, os filhos naturais e os
filhos sócioafetivos (adotivos) inibindo que qualquer forma de
discriminação seja praticada, principalmente contra os filhos adotivos (§
6º, do artigo 227 da Constituição Federal de 1988196)197.
194 VARJÃO, Luiz Augusto Gomes. União estável: requisitos e efeitos, 1999, p. 71.
195 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e união estável, 2001, p. 114.
196 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. [...] § 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão
79
Discorreu-se em vários momentos deste trabalho que a
união estável sempre foi praticada no meio social sendo recriminada em
certos momentos históricos, tolerada em outros e, no Brasil, atualmente é
reconhecida como uma das formas de constituição de núcleos familiares
sem o preenchimento das formalidades do casamento civil. Atualmente,
como já se tratou anteriormente, a união estável é reconhecida e
regulamentada pelo texto constitucional, pela legislação
infraconstitucional e pelo Código Civil, que além de várias garantias e
direitos relativos às pessoas dos conviventes, também estende a
capacidade, desde que exigidos os requisitos legais, da adoção por parte
dos casais heterossexuais que convivam em união estável.
O Congresso Nacional, depois de muitos anos de
discussões para a elaboração do atual Código Civil, entendeu por bem,
seguindo a filosofia constitucional, inserir no texto do diploma civilista, no
Capítulo destinado ao Direito de Família, a união estável, reconhecendo
esta modalidade de entidade familiar sob o ponto de vista do Direito Civil,
assim como disciplinando direitos e deveres dos conviventes ou
companheiros (as duas terminologias são perfeitamente aceitas) e, por
esta razão, as pessoas que vivam em união estável também passaram a
estarem aptas para fazerem uso do instituto da adoção como forma de
inserir no seio familiar um filho não biológico desde que preencham os
requisitos legais como um casal que seja casado no civil, tal previsão legal
está disposta no artigo 1.618198 do atual Código Civil199.
os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
197 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e depois do novo código civil, 2003, p. 108.
198 Art. 1.618. A adoção por ambos os cônjuges ou companheiros poderá ser formalizada, desde que um deles tenha completado 18 (dezoito) anos de idade, comprovada a estabilidade da família.
199 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e depois do novo código civil, 2003, p. 108.
80
Além do artigo anteriormente mencionado, existe,
ainda, no texto do Código Civil outro artigo no qual se verifica e
consubstancia-se a possibilidade para que casais que vivam em união
estável possam adotar e, neste caso encontra-se tal autorização no artigo
1.622200 do diploma civil brasileiro201.
Além do Código Civil brasileiro que permite a adoção
por casais que vivam em união estável, há também o Estatuto da Criança
e do Adolescente, legislação editada anteriormente ao atual diploma
civil, que já previa, por uma questão social, já regulava a matéria e cujos
dispositivos não foram revogados após a entrada em vigor do Código
Civil, de tal modo que o referido Estatuto já previa, em seu artigo 42202, §
2º, que a adoção poderia e, ainda pode ser realizada por casais que
vivam em união estável, desde que comprovem e demonstrem estarem
aptos para o exercício da paternidade e maternidade sócio-afetiva,
conforme previsto no ordenamento jurídico203.
A respeito da possibilidade da adoção por casais que
vivam em união estável, Liberati discorre que:
A adoção poderá ser requerida por ambos os cônjuges ou
concubinos, desde que um deles tenha completado 21
anos e seja comprovada a estabilidade da família (art. 42, §
2º). Com o advento da Carta Magna de 1988, a situação
jurídica do concubinato teve seu assentamento definitivo no
§ 3º do art. 226, que dispõe: Para efeito da proteção do
200 Art. 1.622. Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e
mulher, ou se viverem em união estável.
201 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento antes e depois do novo código civil, 2003, p. 109.
202 Art. 42. Podem adotar os maiores de vinte e um anos, independentemente de estado civil. [...] § 2º A adoção por ambos os cônjuges ou concubinos poderá ser formalizada, desde que um deles tenha completado vinte e um anos de idade, comprovada a estabilidade da família. Vale ressaltar que o atual Código Civil reduziu para dezoito anos completos a capacidade para o pleno exercício da vida civil.
203 TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 49.
81
Estado, é reconhecida a união estável entre homem e
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua
conversão em casamento”. A união concubinária deve ser
aquela caracterizada pela estabilidade, pela notoriedade
(não publicidade) e pela fidelidade, apresentando-se à
comunidade como uma união como entidade familiar204.
Um aspecto muito importante no tocante ao
reconhecimento da união estável, tanto na esfera constitucional como
infraconstitucional, como uma entidade familiar, contribuiu e facilitou em
muito a adoção por ambos os conviventes ou companheiros, já que esta
possibilidade não era permitida nas legislações anteriores, cuja adoção
estava restrita somente às pessoas que fossem casadas civilmente e tal
possibilidade ficou muito bem evidenciada, tanto no texto constitucional,
como no Estatuto da Criança e do Adolescente como no Código Civil205.
Desta feita, observa-se que de acordo com a
legislação brasileira há a possibilidade dos casais que vivem em união
estável procederem a adoção nos mesmos moldes dos casados
civilmente, desde que obedeçam aos requisitos previstos na legislação,
como demonstrado anteriormente.
Finalizando o presente trabalho monográfico, ficou
demonstrado que a união estável passou a ser reconhecida como uma
entidade familiar após a promulgação da atual Constituição Federal, que
alçou ao status de família as relações entre homem e mulher que
publicamente se comportavam como se casados fossem, reconhecendo
uma prática social comumente adotada no Brasil, que posteriormente foi
regulamentada, tanto pela legislação infraconstitucional, como pelo
204 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 5. ed.
São Paulo: Malheiros, 1997, p. 32.
205 CHAVES, Antônio. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 2. ed. São Paulo: LTr, 1997, p.180.
82
Código Civil, colocando fim, assim, às duvidas e discussões a respeitos dos
direitos e deveres dos conviventes ou companheiros.
Como se sabe, no Brasil, em razão da desigualdade
social promovida ao longo dos tempos, muitas famílias se formaram
simplesmente pelo “ajuntamento” do homem e com a mulher (união
estável), entretanto, muitas e muitas destas famílias não possuem
condições sócio-econômicas resultado, em geral, da baixa escolaridade,
mas, que, no entanto, acabam por gerarem filhos sem o devido
planejamento familiar, que geralmente acabam abandonados à própria
sorte, ou que vivem em entidades familiares sem a menor estrutura
econômica e psíquica necessárias para a boa formação de todo e
qualquer cidadão.
Diante destas mazelas sociais, cuja realidade não se
furta em mostrar a cada dia, o instituto da adoção se traduz em uma
solução para a sociedade, uma vez que o Estado, ao regular a matéria e
permitir que, tanto casais que tenham se unido por meio da matrimônio,
assim como aqueles que simplesmente se uniram sem tais formalidades,
venham a adotar, está concretizando uma das suas principais funções, ou
seja, o de promover o bem-estar social.
83
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se sabe, desde os mais primitivos tempos, o
homem procurou conviver em grupos, fato este que inicialmente tinha
como principais objetivos o da procriação da espécie, já os primeiros
ancestrais do homem estavam mais para animais irracionais do que para
o ser inteligente de hoje, assim como o de oferecer facilidades na procura
por comida e proteção diante das adversidades que a natureza impunha
aos seres vivos nos remotos tempos da caverna.
Somente com o passar dos tempos e com a evolução
humana, onde os sentimentos também passaram a fazer parte da vida do
homem e da mulher é que as relações sexuais foram deixando de ocorrer
meramente por uma questão de procriação da espécie, mas passando a
uma questão afetiva, na qual os seres humanos se agrupavam não mais
somente para a proteção e perpetuação da espécie, mas também por
uma questão de afinidades e afetividades.
Neste novo contexto foram surgindo as primeiras
famílias originárias dos clãs (grupos fechados de seres humanos cujas
relações matrimoniais se davam somente os próprios membros do grupo).
A família, desde então, passou a ser a entidade mais importante para
todo e qualquer ser humano, pois é nela que a pessoa encontra, desde o
seu nascimento, todas as condições necessárias de alimentação, carinho,
afeto, educação etc., para crescer e desenvolver-se, formado-se para a
vida em sociedade.
Os agrupamentos de famílias foram dando origem às
primeiras sociedades, que desde as mais antigas civilizações até os dias de
hoje é tida como o alicerce da vida social. Com o surgimento do Estado,
reflexo da própria sociedade e por esta criado para administrar os
84
interesses, as necessidades e os conflitos ocorridos no meio social, passou-
se a ter a proteção jurídica da família, cabendo, também ao Estado em
nome e em conjunto com a sociedade garantir os direitos para que a
família continue sempre a base de sustentabilidade da própria sociedade.
Por muito tempo se teve como família legitima
somente aquela havida sob o formalismo do casamento civil cujos direitos
e deveres dos cônjuges e sua prole eram regulados principalmente pela
legislação civil. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a
união entre homem e mulher, desde que estável e com o animo de
formação de entidade familiar, passou a ser reconhecida como tal e,
assim, merecedora da proteção da sociedade e do Estado.
Apesar de se ter a família como o mais importante
instituto da sociedade, nem sempre a mesma se perpetua, podendo
ocorrer desencontros entre os sujeitos que as formam pelos mais variados
motivos, de ordem econômica, psicológica, social que não raras vezes se
refletem nos filhos, chegando ao ponto de muitas crianças acabarem
sendo retiradas do convívio de seus pais biológicos ou ainda, o que é
muito mais perverso, são deixadas ao um completo abandono.
Para proteger estes filhos do acaso, o Estado, em nome
do bem-estar da coletividade, criou o instituto da adoção que ao longo
dos tempos foi se evoluindo com vistas a proteger os filhos do abandono
através da colocação dos mesmos em famílias substitutas, desde que
estas preencham todos os requisitos exigidos pela norma jurídica.
Até a entrada em vigor da atual Carta Política,
somente os cônjuges que se uniam mediante o casamento civil poderiam
habilitarem-se para os processos de adoção, uma vez que o antigo
Código Civil e a legislação espaça da época assim previam. Entretanto, a
Constituição Federal de 1988, pois fim a esta exclusividade ao reconhecer
a união estável como espécie de familiar, garantindo direitos e obrigações
85
aos conviventes e, entre eles, o de também participarem em conjunto, na
condição de adotantes, dos processos de adoção assim como os casais
que tenham sua relação regida pelo casamento civil.
Desta maneira, tanto a Constituição Federal, como o
Estatuto da Criança e do Adolescente e, mais recentemente o Código
Civil brasileiro, em vigor desde 2003, além de reconhecerem a união
estável entre casais heterossexuais como entidade familiar, também
garantiu e estendeu aos conviventes o direito de exercerem a
maternidade e a paternidade adotiva, desde que os convivente
preencham os requisitos previstos nas legislações que regulam a matéria
anteriormente abordadas.
Por fim, volta-se aos problemas e às hipóteses
levantadas na introdução do presente trabalho monográfico, que, a
saber, são:
Formulação Dos Problemas:
01- No que diz respeito à pessoa ou às pessoas
interessadas em proceder a adoção, quais são os principais requisitos
exigidos pela legislação brasileira que regula matéria, no Brasil?
Os principais requisitos no tocante à pessoa ou pessoas
dos candidatos à adotantes, são a capacidade para o exercício da vida
civil (maioridade de dezoitos anos completos ao tempo do pedido da
adoção) e a diferença mínima de dezesseis anos entre o adotante e o
adotado.
02- Quais os dispositivos legais que regulam a adoção
no ordenamento jurídico brasileiro e que permitem a adoção por casais
heterossexuais que vivam em união estável?
Como apontado nesta monografia o ordenamento
jurídico brasileiro garante aos casais heterossexuais que vivam em união
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estável a possibilidade de exercerem a maternidade e a paternidade
através da adoção, previsibilidade esta, disposta na Constituição Federal
de 1988, no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código Civil.
Formulação Das Hipóteses:
01- A Constituição Federal de 1988, o Código Civil de
2002 e O Estatuto da Criança e do Adolescente prevêem que os requisitos,
no tocante à pessoa do adotante são os seguintes: a maioridade, ou seja,
18 (dezoito anos completos), que o adotante seja no mínimo 16 (dezesseis)
anos mais velho que o adotado e, em se tratando de tutor ou curador
estes somente poderão adotar depois de prestadas contas da
administração dos bens do pupilo ou curatelado, ou ainda após saldar
possíveis débitos que venha a ter para com o pupilo ou curatelado.
Como demonstrado e requerido pelas legislações
apontadas o candidato à adotante terá que possuir capacidade jurídica
plena e ser no mínimo dezesseis anos mais velho que o adotado.
02- De acordo com a legislação supra citada, os casais
heterossexuais que vivam em união estável comprovada podem, desde
que obedecidos requisitos anteriormente apontados fazerem uso do
instituto da adoção.
Sim, com o reconhecimento constitucional da união
estável entre homem e mulher como entidade familiar, os conviventes
podem perfeitamente exercer o direito à filiação substituta, ou seja,
figurarem como adotantes.
Assim sendo, verifica-se que, diante da argumentação
doutrinária e legislativa trazidas ao presente trabalho monográfico que os
problemas e as hipóteses levantadas inicialmente restaram comprovadas.
Vale lembrar que o presente trabalho limitou-se a uma
pesquisa de cunho acadêmico e científico sem, no entanto, pretender
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esgotar a matéria em razão da sua complexidade, servindo de base e
abrindo espaço para estudos futuros e mais aprofundados da temática.
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