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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI MESTRADO EM TURISMO E HOTELARIA VIVIAN GERTRUDES BUCHHOLZ GUIMARÃES TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS DECORRENTES DA EXPANSÃO DO TURISMO CULTURAL: O CASO DE TREZE TÍLIAS - SC BALNEÁRIO CAMBORIÚ – SC 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

MESTRADO EM TURISMO E HOTELARIA

VIVIAN GERTRUDES BUCHHOLZ GUIMARÃES

TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS DECORRENTES DA EXPAN SÃO DO

TURISMO CULTURAL: O CASO DE TREZE TÍLIAS - SC

BALNEÁRIO CAMBORIÚ – SC

2008

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VIVIAN GERTRUDES BUCHHOLZ GUIMARÃES

TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS DECORRENTES DA EXPAN SÃO DO

TURISMO CULTURAL: O CASO DE TREZE TÍLIAS - SC

Trabalho de dissertação apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de mestre no programa de Pós-graduação em Turismo e Hotelaria, ministrado pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI de Balneário Camboriú, SC. Orientação: Professora Doutora Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira.

BALNEÁRIO CAMBORIÚ – SC

2008

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TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS DECORRENTES DA EXPAN SÃO DO

TURISMO CULTURAL: O CASO DE TREZE TÍLIAS - SC

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em

Turismo e Hotelaria e aprovada pelo Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e

Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Balneário

Camboriú.

Área de concentração: Planejamento e gestão do turismo e da hotelaria.

Balneário Camboriú, 25 de fevereiro de 2008.

_________________________________________ Profª. Drª. Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira

UNIVALI – CE Balneário Camboriú Orientadora

_________________________________________ Profª. Drª. Dóris Van de Meene Ruschmann

UNIVALI – CE Balneário Camboriú

_________________________________________ Prof. Dr. Dario Luiz Dias Paixão

UNICENP – PR

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Dedicatória Este trabalho é dedicado à memória da Professora Roselys Izabel Corrêa dos Santos, que iniciou a orientação desta pesquisa e que, apesar do pouco convívio que tivemos, demonstrou a importância de vivermos cada dia em sua plenitude.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter-me dado a oportunidade de nascer e

viver.

Agradeço à querida Professora Raquel, que me acolheu e se dedicou a me

orientar na difícil trajetória de conclusão deste trabalho.

Aos meus pais, Matilde e Helmuth, pelo apoio e incentivo em toda a minha

jornada acadêmica.

Agradeço ao meu querido esposo, por ser tão companheiro e partícipe em

todas as idas e vindas necessárias para a realização deste trabalho.

A minha filha Bianca, minha fonte de amor incondicional, que ainda é tão

pequena, porém tão compreensiva.

Agradeço a minha mãe Matilde e a minha sogra, D. Márcia, por terem cuidado

com tanto carinho da minha filha, enquanto eu me dedicava a esta pesquisa.

Agradeço ao Reitor do Centro Universitário de União da Vitória, Professor

Jairo Vicente Clivatti, por ter acreditado em meu potencial e por ter investido

integralmente recursos financeiros para a realização deste curso.

Agradeço também à comunidade de Treze Tílias, que me recebeu com muito

carinho, todas as vezes que precisei de auxílio.

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GUIMARÃES, Vivian Gertrudes Buchholz. Transformações socioeconômicas decorrentes da expansão do turismo cultural: o caso de Treze Tília s, SC. 138 f. Dissertação de Mestrado. Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI, 2008.

RESUMO

A atividade turística vem-se apresentando como possibilidade de desenvolvimento para grandes e pequenas localidades com potencial turístico. Muita atenção tem sido dispensada aos recursos naturais, artificiais, históricos e culturais, com o intuito de transformar locais em produtos turísticos formatados. O desenvolvimento do turismo pode trazer benefícios para a comunidade receptora, como o aumento da qualidade de vida, a preservação dos bens naturais e culturais, maior qualificação da mão-de-obra, incremento de renda, melhoria da infra-estrutura básica e turística e ainda o aumento das possibilidades de emprego. Esses benefícios são percebidos em Treze Tílias, SC, objeto de estudo do presente trabalho, que possui como objetivo geral analisar as transformações ocorridas no município de Treze Tílias, em decorrência da expansão do turismo cultural. Para atingir o objetivo proposto no presente trabalho, caracterizado como estudo de caso de caráter qualitativo, foi necessário utilizar os seguintes procedimentos metodológicos: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e entrevista dirigida. Como resultado da presente pesquisa, constatou-se que entre as transformações ocorridas em Treze Tílias, por ocasião do desenvolvimento da atividade turística, as que mais se destacam são as transformações positivas, principalmente relacionadas ao aumento do número de empreendimentos turísticos e à conservação dos usos e costumes dos munícipes. Palavras-chave: Turismo cultural. Desenvolvimento turístico. Transformações. Treze Tílias.

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GUIMARÃES, Vivian Gertrudes Buchholz. Socioeconomic change arising from the expansion of cultural tourism: the case of Treze Tílias, SC. 138 f. Master’s Degree Dissertation. University of Vale do Itajaí, UNIVALI, 2008.

ABSTRACT

Tourism activity presents a development opportunity for locations with tourism potential, both large and small. Much attention has been directed towards the natural, artificial, historical and cultural resources, with the aim of transforming these places into clearly-formatted tourism products. Tourism development can bring benefits to the host community, such as an improvement in quality of life, the preservation of natural and cultural wealth, greater qualification of the workforce, increased income, an improvement in basic and tourism infrastructure, and an increase in job opportunities. These benefits have been observed in Treze Tílias, in the State of Santa Catarina, the object of study of this work, which seeks to analyze the changes that have taken place in the town, due to the expansion of cultural tourism. In order to achieve the objective of this study, which is characterized as a case study with qualitative characteristics, the following methodological procedures were used: a bibliographic review, document research, and interviews. As a result, it was found that of the changes in Treze Tílias caused by the development of tourism activity, the main ones were positive, particularly those related to the increase in the number of tourism enterprises and the conservation of the uses and customs of the local population. Key words: Cultural tourism. Tourism development. Change. Treze Tílias.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Quadro demonstrativo da entrada de imigrantes no Brasil................ 20

Figura 2 – Terras compradas pelo governo da Áustria para a instalação dos

imigrantes ...........................................................................................................

23

Figura 3 – Residência e cantina da Linha Pinhal................................................ 24

Figura 4 – Produção artesanal da Linha Pinhal................................................... 25

Figura 5 – Localização do Estado do Tirol na Áustria ........................................ 25

Figura 6 – Informações sobre os grupos de imigrantes austríacos .................... 26

Figura 7 – Proveniência dos maiores contingentes de imigrantes austríacos .... 26

Figura 8 – Capela de Babenberg (frente) ........................................................... 27

Figura 9 – Capela de Babenberg (lateral) .......................................................... 27

Figura 10 – Irmãs Vicentistas ............................................................................. 28

Figura 11 – Mapa de projeção de localização de Treze Tílias ........................... 32

Figura 12 – Distâncias das capitais da região Sul do Brasil ............................... 33

Figura 13 – Mapa rodoviário de acesso à Treze Tílias ....................................... 33

Figura 14 – Bandeira do município de Treze Tílias ............................................ 34

Figura 15 – Gráfico do PIB per capita ................................................................ 35

Figura 16 – Gráfico do número de turistas domésticos (2003/2006) .................. 41

Figura 17 – Vista parcial da área central da cidade de Treze Tílias ................... 51

Figura 18 – Primeira casa construída em estilo típico tirolês ............................. 52

Figura 19 – Prédio da Prefeitura Municipal ........................................................ 54

Figura 20 – Consulado da Áustria de Treze Tílias ............................................. 55

Figura 21 – Mapa do perímetro urbano de Treze Tílias ..................................... 56

Figura 22 – Prédio localizado na Rua Ministro João Cleophas .......................... 57

Figura 23 – Prédio localizado na Rua Leoberto Leal .......................................... 58

Figura 24 – Panfleto ........................................................................................... 59

Figura 25 – Mapa da Zona de Expansão Turística de Treze Tílias .................... 60

Figura 26 – Mapa da Zona de Interesse Turístico de Treze Tílias ..................... 61

Figura 27 – Condomínio Áustria Residencial ..................................................... 62

Figura 28 – Vista parcial do Termas Internacional Vale das Tílias ..................... 64

Figura 29 – Parque dos Sonhos ......................................................................... 65

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Figura 30 – Parque Lindendorf ........................................................................... 66

Figura 31 – Minicidade ....................................................................................... 66

Figura 32 – Restaurante Lindendorf ................................................................... 67

Figura 33 – Parque do Imigrante ........................................................................ 68

Figura 34 – Prato típico da culinária austríaca ................................................... 71

Figura 35 – Imagem do desfile durante a Tirolerfest .......................................... 73

Figura 36 – Grupo Família Moser em apresentação no Hotel Tirol .................... 76

Figura 37 – Grupo de danças Lindental ............................................................. 77

Figura 38 – Miniaturas esculpidas por José Dalla Costa .................................... 78

Figura 39 – Escultura em madeira esculpida por Conrado Moser ..................... 79

Figura 40 – Espaço para exposição permanente de esculturas ......................... 79

Figura 41 – Pedestal com informações .............................................................. 80

Figura 42 – Monumento em homenagem aos agropecuaristas ......................... 82

Figura 43 – Monumento em homenagem ao agropecuarista ............................. 82

Figura 44 – Monumento em homenagem ao imigrante austríaco ...................... 83

Figura 45 – Monumento em homenagem à Andréas Thaler .............................. 84

Figura 46 – Museu Andréas Thaler .................................................................... 86

Figura 47 – Museu Andréas Thaler .................................................................... 87

Figura 48 – Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo .................................. 90

Figura 49 – Painel eletrônico dos meios de hospedagem .................................. 91

Figura 50 – Trenzinho ......................................................................................... 94

Figura 51 – Mapa de localização dos empreendimentos de hospedagem de

Treze Tílias .........................................................................................................

96

Figura 52 – Hotel Áustria .................................................................................... 98

Figura 53 – Hotel Tirol ........................................................................................ 99

Figura 54 – Hotel Dreizenlinden ......................................................................... 101

Figura 55 – Hotel Schneider ............................................................................... 102

Figura 56 – Hotel Alpenrose ............................................................................... 103

Figura 57 – Bristol Multy Treze Tílias Park Hotel …………………………………. 105

Figura 58 – Pousada Adler …………………………………………………..…… 107

Figura 59 – Cabana do Sítio das Palmeiras Bauernhof ..................................... 108

Figura 60 – Chalés do Camping Felder .............................................................. 109

Figura 61 – Piscina do Camping Felder ............................................................. 109

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Figura 62 – Pousada Europa .............................................................................. 110

Figura 63 – Cabanas Vale das Tílias .................................................................. 111

Figura 64 – Gráfico da abertura de hotéis e pousadas em Treze Tílias ............. 112

Figura 65 – Kandlerhof Bar e Restaurante ......................................................... 114

Figura 66 – Área interna do restaurante do Hotel Tirol ...................................... 116

Figura 67 – Restaurante e Pizzaria Edelweiss ................................................... 117

Figura 68 – Microcervejaria Bierbaum ................................................................ 118

Figura 69 – Restaurante Felder .......................................................................... 119

Figura 70 – Área para comercialização das bebidas da Adega Tirolesa ........... 120

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11

CAPÍTULO I - TREZE TÍLIAS: CARACTE RÍSTICAS GEO-HISTÓRICAS. 16

1.1 GÊNESE E EVOLUÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO..................................... 16

1.2 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS ATUAIS............................................. 34

CAPÍTULO II - CULTURA E DESENVOLVIMENTO DO TURISMO ........... 39

2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS DE TURISMO............................................... 39

2.2 A CULTURA COMO ELEMENTO PROPULSOR PARA O

DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE TURÍSTICA..................................

43

CAPÍTULO III - OS RECURSOS TURÍSTICOS DE TREZE TÍLIAS E AS

TRANSFORMAÇÕES DECORRENTES DA EXPANSÃO

DO TURISMO CULTURAL .....................................................

50

3.1 ATRATIVOS NATURAIS E ARTIFICIAIS................................................... 50

3.2 ATRATIVOS HISTÓRICO-CULTURAIS .................................................... 68

3.2.1 Gastronomia ............................................................................................ 69

3.2.2 Festividades, musicalidade e danças ...................................................... 72

3.2.3 Esculturas em madeira e monumentos ................................................... 78

3.2.4 Museu Municipal ...................................................................................... 86

3.3 INFRA-ESTRUTURA TURÍSTICA ............................................................. 90

3.3.1 Equipamentos de Hospedagem .............................................................. 95

3.3.2 Empresas de Alimentos e Bebidas.......................................................... 114

3.3.3 Comércio ................................................................................................. 121

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 122

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 126

ANEXO A - LEI MUNICIPAL 931/93 .............................................................. 134

ANEXO B - LEI MUNICIPAL 1312/99 ............................................................ 137

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INTRODUÇÃO

A atividade turística vem-se apresentando como oportunidade de

desenvolvimento para grandes e pequenas localidades com potencial turístico. Muita

atenção tem sido dispensada aos recursos naturais, artificiais, históricos e culturais,

entre outros, com o intuito de transformar locais em produtos turísticos formatados.

O desenvolvimento do turismo poderá trazer benefícios, como o aumento da

qualidade de vida da comunidade, preservação de bens naturais e culturais, maior

qualificação da mão-de-obra, incremento de renda, melhoria da infra-estrutura

básica e turística e aumento das possibilidades de emprego.

Contudo, ao considerarmos o termo desenvolvimento, é necessário entender

que não se trata apenas de indicadores econômicos, mas que pode ser entendido

como um “processo de superação de problemas sociais, em cujo âmbito uma

sociedade se torna, para seus membros, mais justa e legítima” (SOUZA, 1997, p.

18). Por isso se torna relevante analisar fatores relacionados ao desenvolvimento do

turismo.

Porém, quando se trata de exploração turística de bens culturais, deve-se ter

um cuidado relacionado à conservação desses bens, de forma que não sejam

alterados ou modificados para agradar ao turista. Por isso uma das grandes

preocupações dos estudiosos do turismo é a preservação dos recursos naturais e

culturais (sendo estes, materiais ou imateriais), resultando em estudar e descobrir

formas de gerenciar os recursos de maneira que não haja modificações com o

decorrer do desenvolvimento da atividade turística no local.

Em alguns casos percebe-se que os valores culturais locais se modificam e

se tornam cada vez mais semelhantes aos daqueles que visitam a localidade, como

turistas. Já em outros casos, percebe-se que a comunidade não permite que estes

costumes sejam influenciados por fatores externos. Essa particularidade em

preservar o que lhe pertence, atribuindo valor a isto, é um fator de destaque para o

desenvolvimento do turismo. Então, o turismo pode ser um estímulo para que haja

maior interesse em preservar esses recursos naturais e culturais.

Considerando que o principal fator que caracteriza o município em estudo são

as características culturais, é importante perceber que a cultura está diretamente

relacionada com a comunidade. Entretanto, torna-se evidente para a presente

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pesquisa, analisar a comunidade e sua cultura, ressaltando que as transformações

decorrentes da exploração da atividade turística podem ser fatores positivos para a

economia e para a valorização dos aspectos culturais de determinada localidade.

Tulik e Roque afirmam que “a utilização da cultura como recurso turístico vem

mostrando que a sua valorização econômica pode trazer benefícios, gerando

emprego e renda e que se refletem em vantagens sociais” (2003, p. 90).

Complementando a afirmação que o turismo cultural pode ajudar no processo de

fortalecimento de certas tradições e costumes, é importante citar Gallicchio, que

afirma: “a atividade turística pode conformar uma maneira de enfatizar e disseminar

a importância de uma região, um local e seus respectivos registros, enquanto fontes

de conhecimento” (2001, p. 57).

Porém a atividade deve ser planejada e, antes de tudo, é necessário ter

conhecimento sobre os envolvidos nessa atividade; além disso, é preciso saber se a

comunidade local deseja conviver com o turismo. A participação da comunidade,

além de favorecer o aspecto social, pode estar relacionada ao fator econômico do

turismo.

Analisando o atual contexto do município de Treze Tílias, localizada no meio-

oeste do Estado de Santa Catarina e com pouco mais de cinco mil habitantes,

verifica-se que o desenvolvimento turístico vem colaborando para que se perpetuem

as características do espaço, paisagem e costumes, originários de outra região

geográfica do mundo. Depois de completar 74 anos de imigração austríaca,

percebe-se que há valorização dos aspectos da cultura, principalmente por meio das

festividades, musicalidade, gastronomia e arquitetura.

Alguns espaços criados para turistas podem ser usados pela comunidade,

denotando a preocupação em envolver a comunidade no processo turístico e não

fazer com que ela se sinta parte isolada do processo.

Não se percebe, na área central do município, nenhuma apropriação de locais

públicos que possa ferir a forma de viver da comunidade local. O que acontece é

uma expansão urbana lenta, com predominância de empreendimentos turísticos de

pequeno e médio porte.

Portanto, o objetivo geral da presente pesquisa é analisar as transformações

ocorridas no município de Treze Tílias, em decorrência da expansão do turismo

cultural. Considerando o município de Treze Tílias como objeto de estudo,

principalmente por se tratar de um local ainda pouco estudado e que apresenta

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características bastante peculiares e relevantes, o que poderá resultar em uma

contribuição significativa para a comunidade acadêmica do Turismo.

Para tal, torna-se necessário contextualizar as características geo-históricas

de Treze Tílias, levando em consideração o processo imigratório que ocorreu no

Brasil no século XX; pesquisar sobre os recursos turísticos de Treze Tílias; e, por

fim, analisar o desenvolvimento do turismo no município, considerando como foco

para o estudo a ênfase dos aspectos relacionados à cultura austríaca, que é hoje o

principal atrativo do município.

O nível de abrangência para a presente pesquisa está concentrado na área

central do município de Treze Tílias, com recorte temporal compreendendo o

período de 1948, que corresponde à data de fundação do primeiro empreendimento

de hospedagem, até os dias atuais.

A pesquisa caracteriza-se principalmente pela abordagem qualitativa. Para

Chizzotti (1991, p. 89) “os dados são colhidos, iterativamente, num processo de idas

e voltas (...) os dados colhidos em diversas etapas são constantemente analisados e

avaliados”. O método do procedimento da pesquisa é o estudo de caso, que para Gil

(1999, p. 72-73) trata-se de um “estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos

objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado”.

A coleta de dados se deu de três formas: pesquisa bibliográfica, desenvolvida

a partir de material já elaborado e constituída principalmente por meio de livros e

artigos científicos (GIL, 1999); documental, tendo sido consultados documentos

oficiais, fotografias, relatórios e dados estatísticos; e a entrevista não-diretiva, cujas

informações são coletadas mediante discurso livre do entrevistado, em que o

pesquisador vai recolhendo os dados que o levam à elucidação do problema

(CHIZZOTTI, 1991).

A pesquisa bibliográfica tornou-se indispensável neste trabalho,

principalmente pela necessidade de estudos históricos relacionados à imigração de

austríacos ao Brasil, bem como pela busca por maior aprofundamento teórico sobre

cultura e turismo.

Paralelamente, a pesquisa documental foi importante para descobrir dados

estatísticos atuais, buscados principalmente junto ao Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística – IBGE; nos Planos Nacionais de Turismo 2003/2006 e 2007/2010,

elaborados pelo Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR; no Serviço Brasileiro

de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, bem como para conhecer as

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Leis Municipais que regulamentam os aspectos relacionados à ocupação territorial

do município de Treze Tílias, tais como o Plano Diretor, o Plano de Zoneamento e as

Leis 931/93 e 1312/99, que tratam especificamente sobre as questões arquitetônicas

na área central da cidade.

Já a entrevista foi fundamental para conhecer a realidade em que vivem os

atores sociais que possuem ligação direta com a atividade turística, sendo eles, o

poder público, representado por alguns funcionários da Prefeitura Municipal e da

Secretaria da Indústria, Comércio e Turismo de Treze Tílias; dos empresários do

ramo e dos prestadores de serviços, sendo entrevistados proprietários ou gerentes

de hotéis, pousadas, bares, restaurantes, parque temáticos, serviço de transporte,

entre outros.

O resultado deste trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro

deles, intitulado como Treze Tílias: características geo-históricas, faz-se uma relação

entre o surgimento do município e o processo imigratório que aconteceu no Brasil no

século XX, especificamente no meio-oeste catarinense. São apresentados também

dados atuais que revelam as condições socioeconômicas do município. O conteúdo

desse capítulo teve como fontes principais a obra de Walter F. Piazza, sob o título A

colonização de Santa Catarina e duas obras de Luiz J. Gintner que retratam fatos

históricos de Treze Tílias.

No capítulo II, sob o título Cultura e desenvolvimento do turismo, faz-se uma

reflexão sobre teorias que sustentam a presente pesquisa. Para o desenvolvimento

dele, foram consultadas diversas fontes, entre elas as mais citadas são: Turismo e

identidade local, de autoria de Margarita Barretto, e A noção de cultura nas ciências

sociais, de Denys Cuche.

No capítulo III, intitulado Os recursos turísticos de Treze Tílias e as

transformações decorrentes da expansão do turismo cultural, são apresentados

dados sobre os atrativos naturais, artificiais, histórico-culturais e sobre a infra-

estrutura turística existente no município. Paralelamente, nesse mesmo capítulo, as

informações são analisadas de forma aprofundada, com o intuito de constatar quais

foram as transformações decorrentes da expansão da atividade turística em Treze

Tílias. Para buscar as informações constantes nesse capítulo, foram necessárias

uma série de visitas in loco para registrar os locais por meio de fotografias e também

para buscar informações atualizadas sobre cada um dos empreendimentos

visitados. Posteriormente à coleta de dados, tornou-se necessário estudar as

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informações para diagnosticar a atual situação do município em relação à expansão

da atividade turística.

Por fim, o terceiro e último capítulo apresenta-se com substanciais

contribuições, tendo em vista que, além de inventariar os recursos turísticos de

Treze Tílias, apresenta informações analisadas criticamente, de forma a destacar

quais foram as transformações ocorridas em decorrência da expansão da atividade

turística no município.

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CAPÍTULO I - TREZE TÍLIAS: CARACTERÍSTICAS GEO-HIST ÓRICAS

1.1 GÊNESE E EVOLUÇÃO

Para compreender a gênese e a evolução da formação socioespacial do

município de Treze Tílias, é necessário que se verifique o contexto histórico dos

fluxos migratórios que ocorreram no Brasil a partir de meados do século XIX e sua

relação com a ocupação do território catarinense. A grosso modo, podemos

distinguir em Santa Catarina duas formações socioespaciais definidas, a partir da

primeira grande divisão regional que é imposta pela dupla conformação do seu

relevo: litoral e planalto. Essa característica geral do relevo, “combinada a outros

elementos naturais (vegetação, hidrografia e solos), foi decisiva para o povoamento

do território e para o desenvolvimento das atividades humanas do estado de Santa

Catarina” (VIEIRA e PEREIRA, 1997, p. 457). De um modo geral, pode-se dizer que

a exploração das terras situadas no planalto teve início com a chegada de paulistas

no século XVIII, instalados nas manchas de campo natural de Lages, Curitibanos e

Campos Novos. Ao lado ou associado ao latifúndio pastoril, nos trechos de floresta

se espalha a atividade extrativa, aproveitando a existência dos ervais nativos,

encontrados em combinação com as matas de araucária do planalto.

Já na faixa litorânea onde os açorianos, chegados no século XVIII, sucederam

os vicentistas fundadores dos primeiros povoados catarinenses (São Francisco,

Desterro e Laguna) em meados do século XVII, dominaram as pequenas

propriedades “policultoras familiares que forneceram, nos fins do século XVIII e início

do XIX, importantes excedentes alimentares (farinha de mandioca, arroz, feijão,

melado, etc.) que se destinaram ao abastecimento do Rio, Salvador, Recife e até

mesmo Montevidéu” (MAMIGONIAN, 1966, p. 34). Os vales atlânticos foram

ocupados principalmente a partir da segunda metade do século XIX, por pequenas

explorações policultoras de alemães (Joinville e maior parte do Vale do Itajaí) e

italianos (especialmente no sul do estado). Estes agricultores independentes tinham

origem em uma Europa “em processo de industrialização” (MAMIGONIAN, 1986, p.

104), uma conjuntura socioeconômica distinta daquela vivida pelos imigrantes

oriundos dos Açores.

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Finalmente, já no início do século XX, a ocupação do território catarinense

completou-se “a partir da comercialização de glebas – situadas na porção oeste do

planalto – para imigrantes originários dos núcleos coloniais alemães e italianos do

estado do Rio Grande do Sul” (VIEIRA e PEREIRA, 1997, p. 459).

Quanto à imigração européia no Brasil, houve vários fluxos, sendo que o

primeiro deles ocorreu ainda durante o 1º Império1. Para Adas (1976, p.100), durante

o Império (até 1889), o governo custeava o transporte para a vinda destes

imigrantes, que lentamente passavam a substituir a mão-de-obra escrava nas

grandes fazendas de café. Por outro lado, no sul do Brasil – e esse é o caso de

Santa Catarina – levas de imigrantes se instalaram em regiões ainda pouco

povoadas. Nas regiões emissoras desses imigrantes, especialmente na Alemanha e

Itália, havia desemprego decorrente do desenvolvimento tardio do capitalismo e os

conflitos na Europa que causavam intranqüilidade social na população. Em 17 de

junho de 1874, Joaquim Caetano Pinto Junior celebrou junto ao Governo Imperial

um importante contrato de introdução de imigrantes europeus no Brasil. Para Piazza

(1994, p. 181-184) esse pode ter sido o maior contrato havido na história do Brasil,

em termos de política imigratória:

Decreto nº 5663 – de 17 de junho de 1874 Autoriza a celebração do contrato com Joaquim Caetano Pinto Junior para importar no Império 100.000 imigrantes europeus. Atendendo ao que Me requereu Joaquim Caetano Pinto Júnior, Hei por bem autorizar a celebração do contrato para, por si ou por meio de uma sociedade ou companhia que organizar, introduzir no Império (exepto na Província do Rio Grande do Sul) cem mil (100.000) imigrantes europeus, de conformidade com as cláusulas que com este baixam assinadas, por José Fernandes da Costa Pereira Júnior, do Meu Conselho, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, que assim o tenha entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro em dezessete de junho de mil oitocentos e setenta e quatro, qüinquagésimo terceiro da Independência e do Império. Com a rubrica de Sua Mejestade o Imperador. José Fernandes da Costa Pereira Júnior. Contrato entre o Governo Imperial e Joaquim Caetano Pinto Júnior para, por si ou por meio de uma companhia, introduzir no Brasil, dentro de 10 anos 100.000 imigrantes, debaixo das seguintes condições: I. Joaquim Caetano Pinto Júnior obriga-se, por si ou por meio de uma companhia ou sociedade que poderá organizar, a introduzir no Brasil (exepto na Província do Rio Grande do Sul) dentro do prazo de 10 anos,

1 A 1ª Colônia alemã em Santa Catarina foi a de São Pedro de Alcântara, fundada em 1829. Na segunda metade do Século XIX, novas colônias alemãs foram fundadas em Santa Catarina, entre elas a de Blumenau (em 1850) e a de Joinville (1851). Os imigrantes italianos chegaram mais tarde e dirigiram-se em parte para o Vale do Itajaí e, especialmente, para o Sul do Estado, a partir de 1875.

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100.000 imigrantes Alemães, Austríacos, Suíços, Italianos do norte, Bascos, Belgas, Suecos, Dinamarqueses e Franceses, agricultores, sadios, laboriosos e moralizados, nunca menores de dois anos, nem maiores de 45, salvo se forem chefes de família. Desses imigrantes 20 por cento poderão pertencer a outras profissões. II. O prazo de 10 anos começará a correr depois de 12 meses, contados da data de elaboração do contrato; o empresário, porém, poderá dar começo à introdução de imigrantes antes de findos os 12 meses, se o Governo permitir. III. O número de imigrantes não excederá de 5.000 no primeiro ano, podendo ser elevado a 10.000 se o Governo assim determinar; mas nos anos subseqüentes o empresário será obrigado a introduzir até 10.000, ficando qualquer excesso dependendo de prévio consenso do mesmo Governo. IV. O empresário receberá por adulto, as seguintes subvenções: 125$000 pelos primeiros 50.000 imigrantes, 100$000 pelos 25.000 seguintes. 60$000 pelos últimos 25.000, e a metade destas subvenções pelos que forem menores de 12 anos e maiores de dois. V. Estas subvenções serão pagas na Corte, logo que for provado que os imigrantes foram recebidos pelo funcionário competente no porto de desembarque da Província a que se destinarem. VI. Nem o Governo, nem o empresário poderá haver dos imigrantes a título algum, as quantias despedias com subsídios, socorros, transportes e alojamento dos mesmos imigrantes. VII. O Governo concederá gratuitamente aos imigrantes hospedagem e alimentação durante os primeiros oito dias de sua chegada, e transporte até as colônias do Estado a que se destinarem. VIII. Igualmente garantirá aos imigrantes que se queiram estabelecer nas colônias do Estado a plena propriedade de um lote de terras, nas condições e preços estabelecidos no Decreto nº 3748 de 19 de janeiro de 1876, e obrigar-se-á, além disso, a não elevar o preço das terras de suas colônias sem avisar o empresário com 12 meses de antecedência. IX. Os imigrantes terão plena e completa liberdade de se estabelecerem como agricultores nas colônias ou em terras do Estado, que escolherem para sua residência, em colônias ou terras das Províncias particulares; assim como de se empregarem das cidades, vilas ou povoações. X. Os imigrantes virão espontaneamente, sem compromisso, nem contrato algum, e por isso nenhuma reclamação poderão fazer ao Governo, tendo, apenas, o direito aos fatores estabelecidos nas presentes cláusulas, do que ficarão plenamente cientes. XI. O Governo designará, com a precisa antecedência, as Províncias onde já tem ou vier a formar colônias, a fim de que os imigrantes conheçam desde a Europa os pontos onde poderão estabelecer-se. XII. O Governo nomeará, nos pontos que tiver de efetuar o desembarque dos imigrantes, agentes intérpretes, que aos mesmos forneçam todas as informações de que careçam. XIII. Todas as expedições de imigrantes serão acompanhadas de listas, contendo o nome, idade, naturalidade, profissão, estado e religião de cada indivíduo. XIV. No transporte dos imigrantes, o empresário é obrigado a fazer observar as disposições do Decreto nº. 2168, de 1º de maio de 1858. XV. O Governo pagará ao empresário a diferença do preço da passagem entre o Rio de Janeiro e as Províncias para as quais forem enviados emigrantes diretamente da Europa, quando estas províncias não estiverem em comunicação direta e regular por meio de vapores com a Europa, e o empresário tenha de fazer tocar nos respectivos portos e vapores de outras linhas, ou por ele fretados. XVI. As questões que se suscitarem entre o Governo e o empresário, a respeito de seus direitos e obrigações, serão resolvidos por árbitros. Se as partes contratantes não acordarem no mesmo árbitro, nomeará cada uma o

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seu, e estes designarão terceiro, que decidirá, definitivamente, no caso de empate. Se houver discordância sobre o árbitro desempatador, será escolhido à sorte um Conselheiro de Estado, que terá voto decisivo. XVII. O empresário ficará sujeito a repatriar, à sua custa, os imigrantes que introduzir fora das condições da cláusula 1ª. e que assim o exijam, cabendo-lhe igualmente aloja-los e sustenta-los até que se dê a repatriação, além de perder o direito de subsídios correspondentes a tais imigrantes. XVIII.Igualmente, não poderá transferir este contrato senão à companhia ou à sociedade que organizar, na forma da clausula 1ª. Em fé do que se lavrou o presente contrato, que é assinado pelo Ilmº. E Exmº. Sr. Conselheiro José Fernandes da Costa Pereira Júnior, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, por Joaquim Caetano Pinto Júnior e pelas testemunhas abaixo declaradas. Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas em 30 de junho de 1874.

Como conseqüência desse acordo, iniciou-se a partir da década de 70 do

século XIX, um verdadeiro êxodo imigratório, registrando-se a chegada ao Brasil do

maior contingente de imigrantes da história do país. Para a região Sul do Brasil, o

contingente imigratório que mais se destacou foi o de descendência italiana. Entre

estes, muitos eram de Trentino2, formado em sua maioria por pessoas procedentes

das áreas rurais3, camponeses que trabalhavam na agricultura ou em atividades

relacionadas a ela. A distribuição da terra era extremamente desigual, pois a maior

parte das terras agriculturáveis eram de propriedade da nobreza ou do clero. Diante

disso, o maior desejo da população trentina era possuir o seu próprio pedaço de

terra onde pudessem explorar a agricultura de subsistência (PIAZZA, 1994).

A Itália e a Alemanha, nesse período histórico, faziam a sua transição do

feudalismo para o capitalismo, razão pela qual era intenso o processo de

expropriação dos camponeses que até então eram servos ligados a um senhor

feudal.

Para Piazza (1994), outros fatores também contribuíram para agravar a

situação dos trentinos, como a crise nas produções de: seda, tecidos em geral,

curtumes, chapéus de lã, peças em argila e cerveja. Essa crise fez com que muitos

trentinos migrassem sazonalmente para regiões vizinhas em busca de trabalho para

aumentar a renda familiar. Além da crise econômica, a população sofria ainda com

pressões fiscais e militares, impostas pela Áustria, que dominava politicamente a

2 Trentino é uma região de língua italiana de Trento. 3 Em 1870 Trento possuía população de 341.519 habitantes, sendo aproximadamente 25.000 da área urbana e os demais da área rural (GROSSELLI apud PIAZZA, 1994).

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região. Todos os fatores mencionados contribuíram para acentuar a pobreza do local

e também para expulsar os camponeses de sua terra natal. Porém, Petrone (1987,

p. 274) salienta que:

A emigração constituiu para a Itália uma verdadeira válvula de escape, coisa reconhecida aliás pela própria administração [...] cerca de um sexto dos agricultores cultivavam a própria terra; para os outros havia pouquíssimas esperanças de se tornarem um dia proprietários. Esse proletariado do campo, junto com o das cidades, cujos níveis de vida eram bastante baixos e que não tinham muita probabilidade de melhorá-lo, eram os visados pela propaganda dos países necessitados de mão-de-obra, entre os quais aparece o Brasil, onde o braço escravo estava destinado a desaparecer mais cedo ou mais tarde.

Na figura 1 é possível observar a entrada de imigrantes no Brasil no período

de 1831 a 1920. Entre todos os imigrantes, o contingente que mais se destaca é o

italiano:

Década Italianos Total de i migrantes 1831/1840 180 502.838 1841/1850 5 556.795 1851/1860 24 121.747 1861/1870 4.923 97.571 1871/1880 60.029 219.128 1881/1890 295.063 530.906 1981/1900 678.761 1.143.902 1901/1910 215.891 698.159 1911/1920 134.017 818.231

1.388.893 4.689.277 Figura 1 – Quadro demonstrativo da entrada de imigrantes no Brasil. Fonte: Nash (1939 apud PIAZZA 1994, p. 177), adaptado pela autora.

A partir de 1930, a realidade passa a ser outra, havendo uma redução

drástica de imigrantes, causada principalmente pela Revolução de 1930, época em

que o governo brasileiro estabelece medidas restritivas à imigração e também pela

Constituição de 1934, que estabeleceu uma cota máxima de entrada de imigrantes

no Brasil.

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A criação das condições institucionais do mercado livre de trabalho (propriedade capitalista da terra e abolição da escravatura) associou-se, portanto, a uma política de imigração, trazendo para o País o agente humano da realização da ideologia da transformação do trabalhador em proprietário (MARTINS, 1973, p. 17).

A ocupação das terras onde hoje se localiza Treze Tílias aconteceu quando o

fundador da cidade, Andréas Thaler4, veio à América do Sul com o objetivo de

encontrar terras para oportunizar novas condições de vida aos imigrantes. Por ser

filho de agricultores e também por trabalhar com a agricultura, Thaler5 sempre

esteve envolvido com atividades relacionadas à agricultura. Durante a Primeira

Guerra Mundial foi prefeito em sua cidade natal, e em 1919, chegou a ser eleito para

o parlamento do Estado do Tirol, em que, durante dez anos, defendeu os interesses

dos agricultores e, paralelamente, foi presidente do Conselho de Cultura Estadual.

Mais tarde, entre os anos de 1926 e 1929 e também de setembro de 1930 a março

de 1931, ocupou o cargo de Ministro da Agricultura da Primeira República da

Áustria. Como Ministro, preocupado com o futuro dos filhos dos agricultores, que já

não conseguiam sobreviver da produção da terra, e que muitas vezes procuravam

em outras atividades o seu sustento, Thaler viu na emigração e na fundação de uma

colônia na América do Sul, a possibilidade de incentivar os jovens para que não

abandonassem o trabalho agrícola. Afastou-se do cargo de Ministro e criou uma

Cooperativa de Colonização, com contribuição financeira do Estado. De acordo com

entrevista realizada com Bernardo Moser6, o ministro buscava terras produtivas para

que as famílias pudessem construir suas casas e utilizar a terra fértil como fonte de

subsistência. Thaler, em sua viagem, passou pela Argentina e norte do Paraná,

porém, as terras que foram oferecidas para compra tinham características muito

diferentes das que haviam na Áustria. O Cônsul alemão que residia nessa época em

Joinville7 tomou conhecimento da visita de Andréas Thaler ao Brasil e se

correspondeu com ele oferecendo as terras existentes na região de Treze Tílias, as

quais pertenciam a uma empresa alemã. As terras foram do agrado do governo

4 Nascido em 10 de setembro de 1883, na comunidade de Oberau, município de Wildschönau, no estado do Tirol, Áustria. 5 Informações coletadas na exposição permanente do Museu Andréas Thaler de Treze Tílias, em 16 de setembro de 2007. 6 Bernardo Moser foi Secretário Municipal de Turismo de Treze Tílias, durante 17 anos. A entrevista foi realizada em 11 de outubro de 2005. 7 Na época existia um consulado alemão em Joinville e um subconsulado em Cruzeiro do Sul (hoje Joaçaba).

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austríaco, que acabou comprando a área que seria destinada aos imigrantes

daquele país.

Foi assim que aquelas terras acabaram sendo compradas, mediante um

empréstimo com juros baixos, concedido pelo governo da Áustria, destinados à

compra da área e das máquinas. Inicialmente foram comprados 51.500.000 m² de

terras em São Bento, próximo ao Vale do Rio do Peixe, interior do município de

Cruzeiro do Sul, atual Joaçaba. Outra parte do dinheiro emprestado pelo governo da

Áustria foi destinado ao financiamento da viagem para aqueles que não tinham

condições de pagar as despesas e nem se manter na colônia durante os primeiros

dias (THALER, 2003).

As terras não foram doadas aos imigrantes. Cada família deveria pagar o

valor equivalente ao governo, de forma facilitada, em prestações, e o dinheiro

arrecadado com a venda das terras seria revertido em infra-estrutura básica para a

população residente (escolas, energia, entre outros benefícios).

A figura 2 mostra a demarcação (na cor clara) das terras que foram

compradas pelo governo da Áustria e destinadas aos imigrantes.

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Figura 2 – Terras compradas pelo governo da Áustria para a instalação dos imigrantes. Fonte: Reiter, 1993.

No dia 9 de setembro de 1933, Andréas Thaler acompanha a vinda do

primeiro grupo de imigrantes que chega ao Brasil em 13 de outubro de 1933. No ano

seguinte, Thaler retorna à Áustria e organiza a vinda do segundo grupo, que chega

ao Brasil em 29 de julho de 1934. Dessa vez, Thaler traz também sua numerosa

família e não mais retorna à Áustria.

Na época em que os grupos de imigrantes austríacos chegaram ao Brasil,

imigrantes italianos, que haviam chegado ao Sul do Brasil com apoio das agências

de imigração, já estavam residindo na região. Os italianos adquiriram lotes de terras

que hoje equivalem a região do interior de Treze Tílias. Esse fato deu origem a

algumas colônias italianas no interior, como a Linha Pinhal, que atualmente, apesar

de estar distante da área central do município, possui considerável importância no

contexto turístico municipal.

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Conforme dados fornecidos pela Prefeitura Municipal (2006), hoje, o número

de famílias de origem italiana no município é maior do que o das que possuem

origens austríacas. A população da cidade se divide basicamente em descendentes

de austríacos, que ocupam a área central, e descendentes italianos, que ocupam

principalmente o interior do município.

A comunidade da Linha Pinhal é referência quanto à cultura italiana, por ser

formada exclusivamente por famílias cujos ancestrais vieram da Itália. O principal

atrativo dessa comunidade são as casas em madeira e os produtos artesanais feitos

pelas famílias (bolachas, doces, queijos, vinhos, cachaças, sucos e salames),

comercializados em suas próprias residências. Os grupos de turistas, quando

acompanhados de um guia cadastrado pela Secretaria Municipal de Turismo, são

conduzidos até a Linha Pinhal, sendo recepcionados nas residências (Figura 3),

geralmente nos porões das casas, em que são convidados a degustar os vários

produtos produzidos pelas famílias de origem italiana (Figura 4).

Figura 3 – Residência e cantina da Linha Pinhal.

Fonte: Prefeitura Municipal de Treze Tílias, 2005.

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Figura 4 – Produção artesanal da Linha Pinhal. Fonte: Folder turístico de Treze Tílias, 2004.

Em 13 de outubro de 1933, chegou à região de Treze Tílias o primeiro

contingente de imigrantes austríacos, formado principalmente por pequenos

agricultores, artesãos e comerciantes. O primeiro grupo era composto por

aproximadamente 84 tiroleses, oriundos principalmente de Wildschonau, Alpbachtal,

Worgl e de outras localidades do estado do Tirol Central e do Tirol do Sul (Figura 5).

A partida desse primeiro grupo de imigrantes aconteceu em 8 de setembro de 1933,

do porto de Gênova, no transatlântico Princepessa Maria (GINTNER, 2003, p. 14).

Figura 5 - Localização do Estado do Tirol na Áustria. Fonte: Almanaque Abril, 2001, adaptado pela autora.

Na figura 6, é possível observar o registro da vinda de outros grupos de

imigrantes, totalizando 14 saídas, desde 1933 até o ano de 1938. O número total

aproximado de imigrantes vindos nessa época foi de 700 pessoas, incluindo

crianças, jovens e adultos (GINTNER, 1993, p.14).

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Data de partida Transporte utilizado Local de partida Número de pessoas 10/10/1933 Principessa Giovanna Gênova 8 01/02/1934 Neptunia Trieste 5 14/06/1934 Oceania Trieste 61 31/07/1934 Principessa Maria Gênova 257 15/11/1934 Oceania Trieste 51 22/03/1935 Principessa Maria Gênova 62 10/07/1935 Neptunia Trieste 31 16/10/1935 Neptunia Trieste 23 12/03/1936 Neptunia Trieste 29 11/11/1936 Neptunia Trieste 45 03/04/1937 Neptunia Trieste 8 10/07/1937 Principessa Giovanna Gênova 87 01/01/1938 Monte Pascoal Hamburgo 37

Figura 6: Informações sobre os grupos de imigrantes austríacos. Fonte: Gintner, 2003.

Os maiores contingentes de imigrantes eram provenientes do estado do Tirol,

conforme pode ser observado na figura 7:

Estado Cidade Número de pessoas Tirol do Sul Welschnofen 38

Tirol Wörgl 39 Tirol Oberau 27 Tirol Kirchbichel 21 Tirol Schlaiten 17 Tirol Innsbruck 30 Tirol Hopfgarten 19

Salzburg St. Johann-Pongau 17 Capital do país Viena 32

Bludenz Vorarlberg 26 Figura 7: Proveniência dos maiores contingentes de imigrantes austríacos. Fonte: Gintner, 2003.

Fundou-se então a Colônia Dreizehnlinden, que traduzida para o português

significa Treze Tílias. Logo após a chegada, os imigrantes iniciaram a construção de

uma capela (Figuras 8 e 9), localizada na Linha Babenberg, que foi inaugurada em

1934 e restaurada em 1998.

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Anualmente, no mês de outubro, os fiéis realizam uma romaria até a gruta de

Nossa Senhora Aparecida, que se localiza na Linha Babenberg, onde há também

uma via-sacra (com peças entalhadas em madeira).

Figura 8 – Capela de Babenberg (frente), inaugurada em 1934.

Fonte: da autora, 2006.

Figura 9 – Capela de Babenberg (lateral). Fonte: da autora, 2006.

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Após a chegada do primeiro grupo de imigrantes, que aportou no Rio de

Janeiro e posteriormente seguiu para o porto de São Francisco, onde tomou um trem

e desembarcou na estação ferroviária de São Bento (hoje Ibicaré), foi necessário

transportar a bagagem com o auxílio de mulas e de carros de boi, isso com muita

dificuldade, tendo em vista que não havia estradas até a colônia (THALER, 2003).

Por se tratar de uma região isolada, diante do contexto estadual, outras

dificuldades também estavam sendo encontradas, como a falta de atendimento

médico. Para auxiliar no atendimento aos doentes, Thaler, ao retornar à Áustria para

organizar o segundo grupo de imigrantes, tratou de solicitar a vinda de religiosas que

pudessem se dedicar aos necessitados e também auxiliar na educação das

crianças. Vieram ao Brasil três irmãs Vicentistas: Heriberta Kirsche, Alacoque

Christadler e Maria Cássia Windmeur (Figura 10).

Figura 10: Irmãs Vicentistas. Fonte: Pichler, 2006.

De acordo com a Irmã Tereza8, as três irmãs vicentistas, que faziam parte da

Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paula, com sede no estado

do Tirol, Áustria, vieram ao Brasil com funções já determinadas. Uma delas seria

responsável por atender aos doentes, a outra seria responsável pelos afazeres

gerais da casa onde iriam morar e a terceira cuidaria da educação das crianças e

jovens. As aulas eram dadas somente em alemão, o que foi proibido durante a

8 Irmã Tereza (Atália Francnier), em entrevista concedida à autora, a 17 de setembro de 2007.

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Segunda Guerra Mundial. Em decorrência, foi necessário solicitar a vinda de uma

religiosa brasileira que pudesse lecionar as aulas em português, chegando, então, a

Irmã Cecília Ribeiro.

Muitas famílias, ao estabelecerem residência ali não conseguiam retirar da

agricultura a renda necessária para a sua manutenção. Thaler (2003) afirma que

muitos procuraram melhores condições nas cidades da região, com a finalidade de

exercer as atividades em que eram especialistas, pois não viam perspectivas de

ascender profissionalmente na colônia.

Pelas dificuldades da época (derrubada da mata virgem, falta de maquinário agrícola, fracas colheitas, isolamento, desconfiança mútua entre imigrantes e nativos, decorrentes da anexação da Áustria à Alemanha) muitos buscaram melhores condições de vida em Joaçaba, Curitiba e São Paulo (GINTNER, 2003, p. 20).

Essa situação afastou muitos jovens casais e os filhos mais velhos das

famílias, os quais partiam em busca de melhores condições de vida em capitais que

já se apresentavam mais industrializadas e com maiores alternativas de

empregabilidade, tendo em vista que isso ocorreu em meados da década de 30,

quando o Brasil começa a despertar para a expansão capitalista, decorrente da

aceleração do processo de industrialização brasileira, quando o Brasil passa de uma

economia agro-exportadora para a urbano-industrial (PEREIRA, 2003, p. 112-114).

Outro problema que veio a dificultar a vida desses imigrantes foi a morte do

fundador da cidade, que aconteceu em 27 de junho de 1939, quando Thaler, ao

tentar salvar uma ponte sobre o Rio Papuan, acaba morrendo afogado, deixando a

comunidade de imigrantes sem orientação no que tange à legalização das terras

adquiridas pela Sociedade Austríaca de Colonização, criada por Thaler. Os

agricultores, com o tempo, foram deixando de trabalhar em comunidade e se

espalharam para as suas próprias terras. Esse foi um fator negativo, pois dificultou a

administração da colônia. As terras distribuídas pela Sociedade Austríaca de

Colonização não estavam legais. Todas estavam escrituradas em nome de Andréas

Thaler, procurador da Sociedade. Essa Sociedade não pôde ser legalizada no Brasil,

pois se tratava de uma empresa estrangeira. Outro fator que dificultou a legalização

das terras foi que os imigrantes não respeitaram as divisões feitas nas escrituras

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originais, mas, sim, remapearam pela própria comunidade, de acordo com a

necessidade de cada membro (THALER, 2003). Portanto, com a morte do fundador

da cidade, foi necessário rever a documentação e fazer nova distribuição das terras.

No ano de falecimento de Andréas Thaler (1939), já não era mais possível a

vinda de estrangeiros ao Brasil, em conseqüência do início da Segunda Guerra

Mundial. Além de não ser permitida a saída de emigrantes da Áustria, também não

era mais possível utilizar o alemão como idioma na Colônia Dreizehnlinden, que teve

que receber outro nome: Colônia Papuan, pertencente inicialmente a Ibicaré, SC. A

emancipação política de Treze Tílias aconteceu em 29 de abril de 1963, com a Lei

882 da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina (THALER, 2003).

De acordo com Martins (1973, p. 19), o imigrante não é apenas uma unidade

física, um número ou um objeto, mas é alguém que se vincula a uma nova

sociedade, participa de uma nova cultura apoiada em um outro sistema de valores,

vivenciados em uma localidade geográfica diferente. Os dois grandes contingentes

de imigrantes (austríaco e italiano) apresentam hoje em Treze Tílias uma mistura

étnica, sendo representada por 40% de italianos, 30% de austríacos e o restante de

alemães e outras representações.

Aproximadamente 10% da população de Treze Tílias reside atualmente na

Áustria, através do programa de intercâmbio existente entre o município e o governo

austríaco. O principal destino para essas pessoas é o estado de Vorarlberg, onde os

homens normalmente trabalham com serviços brutos, relacionados à construção civil

e as mulheres ocupam cargos relacionados à assistência de pessoas idosas9. Para

realizar os trâmites necessários para a regularização dos documentos para a dupla

cidadania dos brasileiros descendentes de austríacos, o município possui um

consulado honorário10. Muitos jovens se dirigem à Áustria para trabalhar durante

alguns anos e auxiliam a sua família que permanece no município. Alguns retornam

e investem no município. Outros acabam fixando residência na Áustria. Aos

brasileiros que possuem dupla cidadania são assegurados os mesmos direitos dos

nascidos em território austríaco.

Tendo em vista o programa de intercâmbio, a partir do ano de 1988, na

Escola Estadual de Educação Básica São José, o alemão foi inserido oficialmente

9 Informação disponibilizada pela Cônsul Honorária da Áustria no Brasil, Anna Lindner von Pichler, em 17 de setembro de 2007. 10 Consulado honorário: todas as despesas com manutenção, salários e outras despesas são de responsabilidade da Cônsul, Anna Lindner von Pichler, sem auxílio do governo do Brasil e da Áustria.

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da Grade Curricular do Ensino da Pré-escola à oitava série. Anteriormente o idioma

já era ensinado informalmente pelas irmãs Vicentinas, o que foi proibido durante a

Segunda Guerra Mundial. Na Escola Municipal Irmã Filomena Rabelo, o idioma

alemão também faz parte da Grade Curricular do ensino do Pré-escolar à oitava

série. O objetivo principal dessa estratégia é preparar os jovens para realizar

intercâmbio na Áustria11.

No contexto estadual, o município de Treze Tílias está inserido na

microrregião geográfica de Joaçaba, localizada no meio-oeste do Estado de Santa

Catarina, no Vale do Rio do Peixe, com área total de 9.146 km². A região foi

povoada por descendentes de europeus, vindos, em maioria do Rio Grande do Sul.

Essa microrregião possui economia diversificada, não tendo nenhum dos

setores se destacando sobre os demais12. É constituída por 21 municípios: Água

Doce, Arroio Trinta, Caçador, Capinzal, Catanduvas, Erval Velho, Fraiburgo, Herval

d´Oeste, Ibicaré, Jaborá, Joaçaba, Lacerdópolis, Lebon Régis, Matos Costa, Ouro,

Pinheiro Preto, Rio das Antas, Salto Veloso, Tangará, Treze Tílias e Videira. Entre

eles, o município de Caçador é o maior em extensão territorial e também em

população. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008), a

área total de Caçador é de 982 km² e a população estimada para o ano de 2007 é

de 67.624 habitantes.

O município de Treze Tílias possui área total13 de 185 km², fazendo divisa, ao

norte, com Salto Veloso e Água Doce, ao sul com Ibicaré, a leste com Salto Veloso,

Arroio Trinta e Iomerê e a oeste, com Água Doce (Figura 11).

11 Informação oral coletada em 10 de setembro de 2005, com a Helga Zeisler Feilotrecker, diretora da Escola Estadual de Educação Básica São José. 12 Atlas Escolar de Santa Catarina (1991). 13 IBGE Disponível em <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/defaul.php>. Acesso em: 4 jan. 2008.

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Figura 11 – Mapa de projeção de localização de Treze Tílias. Fonte: Atlas Escolar, 1991 e www.ibge.gov.br (adaptado pela autora), 2007.

Do ponto de vista climático, apresenta as quatro estações bem definidas, com

temperatura mínima de 0ºC no inverno e máxima de 40ºC no verão. A temperatura

média anual é de 20ºC. A altitude em relação ao nível do mar é de 840 metros14. O

município está localizado próximo às cidades de Concórdia e Chapecó,

14 Prefeitura Municipal de Treze Tílias, 2005.

BRASIL SANTA CATARINA

MICRORREGIÃO DE JOAÇABA

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consideradas grandes centros industriais na fabricação de produtos alimentícios do

oeste de Santa Catarina. Também se encontra próximo a Videira e Fraiburgo,

municípios que se destacam na produção de maçãs.

As principais distâncias da cidade de Treze Tílias, em relação às capitais dos

estados do Sul do Brasil, estão apresentadas na figura 12.

Cidade Distância em km Curitiba 400 Florianópolis 470 Porto Alegre 550

Figura 12 – Distâncias das capitais da região Sul do Brasil. Fonte: www.trezetilias.com.br , 2006.

A principal rodovia que dá acesso ao município de Treze Tílias é a Rodovia

Estadual SC 454, que possui conexão com a Rodovia Estadual SC 452 e com a

Rodovia Federal BR 282 (Figura 13).

Figura 13 – Mapa rodoviário de acesso a Treze Tílias.

Fonte: www.maplink.com.br, 2005.

As cores da bandeira da cidade (Figura 14) são semelhantes às da Áustria.

No centro da bandeira foi colocado o Brasão da cidade e relembra os pioneiros

vindos do estado do Tirol (Áustria). A figura do castelo é o símbolo do poder público

ESCALA: 1cm = 10 Km

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municipal. A cor amarela significa prosperidade e a cor verde lembra as cores

nacionais. A videira representa as frutas do município e o milho, os cereais. A data

que está no brasão, 13 de outubro de 1933, refere-se à fundação do município.

Figura 14 - Bandeira do município de Treze Tílias. Fonte: Prefeitura Municipal de Treze Tílias, 2005.

1.2 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS ATUAIS

Treze Tílias apresenta atualmente uma população estimada de 5.49415

habitantes. É um município de pequeno porte, mas possui boa infra-estrutura básica

para atender à comunidade local e aos turistas. Em relação aos serviços públicos, a

área central do município é abastecida de água pela Companhia Catarinense de

Águas e Saneamento – CASAN. A energia elétrica é fornecida pela Companhia

Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. – CELESC; possui serviço de telefonia fixa

por meio dos serviços da Brasil Telecom e também o serviço de telefonia móvel.

Possui posto de combustíveis, farmácias (com telentrega), supermercados, bancos,

agência dos correios, hospital, posto de saúde e comércio em geral. A segurança da

cidade é coordenada pela Polícia Civil e Militar. O aeroporto mais próximo da cidade

é o de Videira, distante aproximadamente a 60 quilômetros.

O serviço de transporte pode ser feito por serviço de táxi ou pelos ônibus do

terminal de transporte. Para o transporte intermunicipal, a única empresa a operar na

15 Estimativa de população para o ano de 2007, concedida pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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35

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

1999 2000 2001 2002 2004

cidade é a Reunidas S.A. Transportes Coletivos, que possui uma agência instalada

na rodoviária da cidade. Faz as linhas para as cidades próximas: Joaçaba, Caçador,

Videira, Luzerna, Água Doce, Ibicaré, Salto Veloso, Iomerê, Bom Sucesso,

Gramados Leite, Estreito Vila Kennedy e Fraiburgo. De acordo com a

administradora16 da agência de Treze Tílias, as linhas atendem à necessidade da

população. Caso haja necessidade de viajar para uma localidade mais distante, é

preciso fazer uma conexão em Joaçaba. Em relação ao transporte municipal, a

Prefeitura de Treze Tílias oferece um ônibus com serviço de transporte gratuito a

todos. O ônibus circula pelo centro e bairros da cidade, diariamente, com exceção

dos sábados.

No ano de 2002, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE

publicou dados relativos ao Produto Interno Bruto - PIB per capita dos municípios

brasileiros. Para aquele ano o índice de Treze Tílias era de R$ 22.167, merecendo o

quarto lugar no ranking estadual, perdendo apenas para os municípios de Seara (R$

30.864), Vargem Bonita (R$ 25.661) e Capinzal (R$ 22.605). O PIB per capita vem

apresentando constante crescimento, desde o ano de 1999, conforme pode ser

observado na Figura 15:

Figura 15 – Gráfico do PIB per capita (1999 – 2002) Fonte: IBGE, adaptado pela autora, 2005 e 2008.

Dados mais recentes publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, referentes ao ano de 2004, revelam que o valor de contribuição do setor

de serviços, onde se enquadra a atividade turística, é de 14,73%. A atividade

16 Nelci de Jesus Alves, em entrevista realizada pela autora, a 16 de setembro de 2007.

PIB per capita

Ano

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agropecuária é a segunda em arrecadação, apresentando índice de 18,35% e a

atividade que mais se destaca no município é a industrial, responsável pelo maior

montante do valor, 65,58%. A alta participação da atividade industrial no valor do

PIB justifica-se pela existência de três grandes empresas com sede na cidade. São

elas:

a) Incotril Indústria de Conservas Treze Tílias Ltda17: Iniciou suas atividades

sob a administração da família Klotz, no ano de 1969. No início produzia apenas

doces de frutas. Dez anos mais tarde, em 1979, foi comprada pela família

Weschenfelder, com o propósito inicial de oferecer produtos diferenciados para o

consumo da própria comunidade local. Com o bom andamento dos negócios, a

família ampliou o leque de produtos e atualmente fabrica doces de frutas, doce de

leite, conservas em geral e atomatados. Possui em seu quadro funcional 40

empregados fixos, e, na época das safras, são gerados aproximadamente 100

empregos diretos e 100 indiretos. A localização da fábrica em Treze Tílias é hoje

fator fundamental para o escoamento da produção, que se destina principalmente à

região Sul do país, e, com menor intensidade, para os Estados do Mato Grosso, São

Paulo e Mato Grosso do Sul;

b) Baterias Pioneiro18: A empresa foi criada em 1989, com a iniciativa de

Silvério Barbieri. Mais tarde entraram na sociedade os irmãos Sirivaldo e Dorival

Barbieri, residentes em Treze Tílias e que são os atuais proprietários da empresa.

Produz baterias automotivas e, em seu quadro funcional possui 200 colaboradores

fixos. A produção é destinada principalmente a Santa Catarina, Paraná e Rio Grande

do Sul, além de outros estados brasileiros;

c) Laticínios Tirol19: É a maior empresa existente no município. Foi fundada

em 26 de setembro de 1974. Atualmente possui no mercado cerca de 76 itens

derivados do leite. Para a produção destes itens é abastecida por cerca de 800 litros

de leite ao dia, vindos da bacia leiteira do oeste do Estado. Recentemente ampliou

as instalações com o intuito de produzir leite em pó. A venda dos demais produtos

está concentrada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil e, com a alternativa da

produção do leite em pó, pretende atingir as regiões Norte e Nordeste do país,

17 Informação oral repassada pelo gerente da empresa, Luiz Augusto Perondi Weschenfelder , em 17 de setembro de 2007. 18 Informação oral repassada pelo proprietário da empresa Sirivaldo Barbieri, em 17 de setembro de 2007. 19 A empresa se recusou a disponibilizar informações para a presente pesquisa.

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inclusive o mercado externo, o que antes não era possível, pois o custo para

transportar o leite Longa Vida era muito elevado e não compensava o frete20.

Atualmente possui em seu quadro funcional cerca de 600 funcionários21.

A existência dessas três empresas em Treze Tílias, proporciona ao município

a primeira colocação em arrecadação do PIB entre os 21 municípios que compõem a

Microrregião de Joaçaba. Apesar de Treze Tílias estar entre as menores em

extensão territorial e em população, o valor arrecadado pelo PIB per capita foi de R$

32.218, referente ao ano de 2004.

Outro fator relevante a ser considerado é o número total de funcionários das

três empresas. São aproximadamente 840 colaboradores fixos em 2007. Os dados

mais recentes divulgados pelo IBGE são de 2000, quando a população de Treze

Tílias era de 4.840 habitantes. Nessa mesma publicação, 2.774 pessoas residentes

no município declararam ter rendimento fixo, o que, para a época, significava que

57,3% da população estava empregada ou possuía outro tipo de renda, como a

aposentadoria.

Pela indisponibilidade de informações mais recentes, façamos uma análise

utilizando o mesmo percentual de pessoas que declararam rendimentos (57,3%) o

que significaria hoje que aproximadamente 3.148 pessoas podem ter rendimentos

fixos. Somente as três maiores empresas existentes no município detêm juntas um

quadro funcional de cerca de 840 colaboradores. Diante do exposto, pode-se

analisar que aproximadamente 27% dos habitantes que possuem renda fixa no

município podem estar empregadas em uma das três empresas.

Outro indicador de desenvolvimento é o IDH – Índice de Desenvolvimento

Humano22. Para a elaboração dos resultados do IDH são analisadas três

informações consideradas primordiais, sendo elas renda, educação e longevidade.

O resultado é um índice com variação de 0 a 123. De acordo com os dados

apresentados no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, pode ser verificada

uma melhoria nos resultados do município de Treze Tílias, cujo IDH médio, em 1991,

correspondia a 0,73 (classificado como Índice de Desenvolvimento Humano Médio).

No ano de 2002, o município passa a apresentar melhores resultados, atingindo 20 Informação coletada em http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u108161.shtml, 2008. 21 Informação coletada em www.crossing.com.br/clipp, 2007. 22 O parâmetro foi desenvolvido em 1990, pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq e é utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (www.pnud.org.br/idh, acesso em 1º de outubro de 2007). 23 0 a 0,5 baixo IDH, 0,5 a 0,8 médio IDH e 0,8 a 1 alto IDH.

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0,813, passando, então, a se enquadrar no grupo de municípios com o Índice de

Desenvolvimento Humano Alto. O crescimento desse índice aponta que a sua

população vem conquistando maior qualidade de vida no que tange à educação,

renda e saúde.

De acordo com dados coletados no IBGE, o município possui três escolas

públicas, sendo duas municipais. Uma delas disponibiliza o ensino fundamental e a

outra oferece o ensino pré-escolar e fundamental. A terceira escola é estadual e

oferece do pré-escolar ao ensino médio. O número de matrículas em 2003 foi de 41

matrículas no ensino pré-escolar, 861 no ensino fundamental e 213 no ensino

médio. Analisando as informações dos indicadores formadores do IDH, a educação

é que apresenta os melhores resultados. Verifica-se, ainda, de acordo com

informações do IBGE, que jovens residentes no município, com idade entre 7 e 17

anos, somam um total de 1.123 pessoas24. No ano de 2003, matricularam-se no

ensino fundamental e médio 1.074 pessoas, o que indica que quase cem por cento

dos jovens de Treze Tílias freqüentam a escola. Esses dados contribuem para que o

indicador referente à educação se destaque, diante de outros considerados para a

elaboração do IDH.

24 Dado referente ao ano de 2001.

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CAPÍTULO II – CULTURA E DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS DE TURISMO

Para conceituar turismo, é preciso inicialmente discutir a evolução dessa

atividade. O ato de praticar turismo é muito mais complexo do que o ato de viajar.

No século XVI, teve início na França a realização de dois tipos de viagens: o Petit

Tour e o Grand Tour. O primeiro consistia em uma viagem ao Vale do Loire e retorno

a Paris. Já o Grand Tour era uma grande viagem realizada com a finalidade de

complementar a formação de jovens ingleses, que na ocasião eram acompanhados

por cicerones, profundos conhecedores da história dos locais visitados. O circuito

compreendia a França, a Suíça e a Itália, especialmente as cidades de Paris, Roma,

Genebra, Florença, Milão, Bolonha, Veneza e Nápoles (OLIVEIRA, 2001). Tratava-

se, porém, de uma viagem totalmente voltada para a elite, pois somente jovens da

alta aristocracia tinham condições de viajar por um longo período, com o intuito de

conhecer pessoalmente aquilo que estava nos livros.

Para Barretto (1999), o início da atividade turística dos tempos modernos,

semelhante à que conhecemos hoje, só se deu após o advento da Revolução

Industrial25, quando começaram as primeiras viagens organizadas com o auxílio de

um agente de viagens.

A primeira pessoa a organizar uma viagem foi Thomas Cook. Ele foi

missionário de um movimento contra o consumo de bebidas alcoólicas, chamado

Temperança. Para realizar a primeira viagem planejada, em 1941, Cook persuadiu

os proprietários da estrada de ferro Midland Railway a disponibilizarem um trem

especial para o trajeto de Leicester a Loughborough, com o intuito de transportar

pessoas para um encontro dos membros da Liga da Temperança (CAMARGO,

2001). A partir de então, Thomas Cook passa a agenciar comercialmente diversas

viagens.

25 A Revolução Industrial teve início em meados do século XVIII, na Grã-Bretanha. Uma das invenções mais importantes as 1ª Revolução Industrial foi a máquina a vapor, utilizada inicialmente na produção de têxteis e logo adaptada no setor de transporte (locomotivas e navios a vapor), alterando profundamente os meios de transporte e dando um grande impulso às viagens

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Aliado a alguns acontecimentos do século XIX, como o surgimento de

transportes coletivos (ônibus e trem); o advento da industrialização e o trabalho

assalariado, o empenho de Cook favoreceu a ascensão da atividade turística para

as empresas que atuam no ramo do turismo e também para as camadas menos

favorecidas da população, quando o sistema de pacotes “permitiu que as viagens

ficassem mais acessíveis” (BARRETTO, 1999, p. 52). Para que o turismo se

desenvolvesse ainda mais, foi de suma importância a instituição da legislação

trabalhista, regulamentando as férias remuneradas e o descanso semanal. Outro

aspecto importante para o desenvolvimento do turismo foi a evolução dos meios de

transporte e o barateamento das despesas de locomoção que acabaram

estimulando o turismo de massa.

A partir da metade do século XX, especificamente após o período da Segunda

Guerra Mundial, é criada a International Air Transport Association – IATA,

associação reguladora do direito aéreo, proporcionando a inserção do avião como

meio de transporte comercial (BARRETTO, 1999). Atrelado a isso, os meios de

transporte coletivos já existentes, tornam-se mais modernos e seguros. A partir daí,

a atividade turística começa a prosperar comercialmente.

No Brasil, a atividade turística é bem mais recente. Somente a partir da

segunda metade do século XX é que o turismo começou a se desenvolver. A criação

da CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, no ano de 1943, no governo de Getúlio

Vargas, favoreceu o crescimento do número de pessoas viajando pelo Brasil, pois os

trabalhadores registrados passaram a ter direito ao décimo terceiro salário,

descanso semanal remunerado e principalmente a férias pagas.

A partir de 1950, grandes contingentes populacionais passam a viajar, mas,

apesar de ser principalmente um turismo de massa, nunca atingiu toda a população.

As classes mais abastadas consomem um turismo mais elitista e as classes médias

consomem o turismo de massa (BARRETTO, 1999).

Ainda que tardiamente, apenas no ano de 1968 o governo brasileiro criou os

primeiros órgãos reguladores da atividade turística, ao instituir o CNTUR – Conselho

Nacional de Turismo, o FUNGETUR – Fundo Geral de Turismo e a EMBRATUR26 -

26 Desde 1996, a EMBRATUR deixa de ser Empresa Brasileira de Turismo e passa a ser Instituto Brasileiro de Turismo. A mudança acontece porque o termo empresa tem finalidade lucrativa e o termo instituto tem campo de atuação mais amplo, vigência permanente. Além de não possuir finalidades lucrativas, tem como responsabilidade as funções promocionais, de fomento e de apoio para o desenvolvimento do setor (BENI, 2001).

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Empresa Brasileira de Turismo (IGNARRA, 1999). Apesar da criação de órgãos

reguladores, não havia ainda uma política nacional de turismo. Somente no ano de

1996, foi criada a Política Nacional de Turismo, no governo de Fernando Henrique

Cardoso, sob a responsabilidade do antigo Ministério da Indústria, Comércio e

Turismo, estabelecendo estratégias, diretrizes, objetivos e metas para o turismo

brasileiro da época (BENI, 2001).

A partir de então, com o objetivo de fomentar a atividade turística no País,

cria-se, a cada quatro anos, um novo Plano Nacional do Turismo - PNT. A última

versão foi lançada em 13 de junho de 2007 e terá vigência para o quadriênio

2007/2010. Denominado como “Uma viagem de inclusão”, visa principalmente

estimular o turismo doméstico, promovendo a ampliação de empregos,

desenvolvimento e inclusão social, abrindo oportunidades para que os cidadãos

menos favorecidos possam conhecer o País27. No Plano Nacional do Turismo para

2003/2006, a meta referente ao aumento para 65 milhões de chegadas de

passageiros nos vôos domésticos foi alcançada. A figura 16 se refere aos dados

publicados no PNT 2007/2010 e apresenta informações sobre o aumento gradativo

do turismo doméstico para o quadriênio 2003/2006, cuja somatória é de 156,7

milhões de turistas, ou seja, 41% além da meta estipulada para o período.

Figura 16 – Gráfico do número de turistas domésticos (2003/2006) Fonte: PNT (2007, p. 23)

27 Plano Nacional de Turismo, mensagem do Presidente da República, 2007.

30,736,6

43,146,3

0

10

20

30

40

50

2003 2004 2005 2006 Ano

Nº. de turistas (em milhões)

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Os objetivos gerais do Plano Nacional do Turismo para o quadriênio

2007/2010 (2007, p. 16) são:

Desenvolver o produto turístico brasileiro com qualidade, contemplando nossas diversidades regionais, culturais e naturais; Promover o turismo com um fator de inclusão social, por meio da geração de trabalho e renda e pela inclusão da atividade na pauta de consumo de todos os brasileiros; Fomentar a competitividade do produto turístico brasileiro nos mercados nacional e internacional e atrair divisas para o País.

Diante desse contexto, percebe-se a relevância que as políticas

governamentais têm ao planejar, coordenar e principalmente orientar o

desenvolvimento do turismo nos municípios, principalmente por se tratar de uma

atividade relativamente jovem e ainda alvo de estudos de pesquisadores de várias

áreas do conhecimento.

Para entender porque é tão complexo definir turismo, de uma forma que seja

amplamente aceita e que não gere controvérsias, é necessário saber que se trata de

uma atividade que engloba grande variedade de setores da economia, além de

várias disciplinas acadêmicas. Trata-se, então, de uma atividade bastante complexa,

com ausência de definições conceituais claras que a delimitem e a distingam de

outros setores. Na tentativa de contribuir com os estudos turísticos, muitos

estudiosos da área apresentam, sob suas perspectivas, conceitos dessa atividade,

porém, ainda não se tem um marco referencial único e padronizado, capaz de dar

sustentação a uma definição universal de turismo (OMT, 2001).

A primeira contribuição de que se tem conhecimento, a respeito da definição

da atividade turística, foi dada em 1910, pelo economista austríaco Herman von

Schüller. Tal definição consistia na “soma das operações, principalmente de

natureza econômica, que estão diretamente relacionadas com a entrada,

permanência e deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país,

cidade ou região” (apud BENI, 2003, p. 34).

Mais tarde, no ano de 1942, elaborada por dois professores da Universidade

de Berna, W. Hunziquer e K. Krapf, surge uma nova definição para a atividade

turística. Trata-se de uma definição mais detalhada, porém ainda incompleta. Para

eles, o turismo era a “soma de fenômenos e de relações que surgem das viagens e

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das estâncias dos não-residentes, desde que não estejam ligados a uma residência

permanente e nem a uma atividade remunerada” (OMT, 2001, p. 37).

Ambas as definições são relativamente amplas e não especificam os termos

“soma de operações” e “soma de fenômenos e de relações”. Subentende-se que os

estudiosos dão sentido econômico aos termos, que podem se referir às empresas de

transporte, hospedagem, alimentação e entretenimento.

No ano de 1994, a Organização Mundial do Turismo – OMT reuniu as

principais definições de turismo existentes no mundo, com a finalidade de sugerir

uma nova, que melhor determinasse a atividade. Na ocasião, adotou-se que “o

turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e

estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo

inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras” (OMT, 2001, p. 38).

Trata-se então de uma definição mais complexa, à qual se inserem duas condições

especiais, uma sobre o tempo de permanência e a outra sobre a motivação da

viagem28.

Portanto, por se tratar de uma atividade econômica bastante jovem e alvo de

estudos de várias áreas do conhecimento, como a sociologia, a economia, a

geografia, a história e a antropologia, considerando a sua jovialidade, é natural que o

processo de maturação do conhecimento do turismo ainda esteja se desenvolvendo.

Para Barretto (2000, p.13) “na área do turismo, como em qualquer outra área do

conhecimento (...) o processo de desenvolvimento está estreitamente ligado à

pesquisa e ao ensino”, sendo a pesquisa a “mola-propulsora” do sistema técnico-

científico, por estabelecer um fluxo contínuo de conhecimento.

2.2 A CULTURA COMO ELEMENTO PROPULSOR PARA O DESENVOLVIMENTO

DA ATIVIDADE TURÍSTICA

O que tornou a cidade de Treze Tílias um pólo receptor de turistas foram

exatamente as características da cultura de um povo originário da Europa. Ribeiro

28 Para finalidades estatísticas, a EMBRATUR considera como motivações turísticas: lazer; negócios, congressos e convenções; visitas a familiares e amigos; tratamento de saúde; estudo, ensino e pesquisa; religião, peregrinação e outros (EMBRATUR, 2007).

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44

(1995, p. 242) escreve que “o papel do imigrante foi muito importante como

formadores de certos conglomerados regionais nas áreas sulinas em que mais se

concentrou, criando paisagens caracteristicamente européias e populações

dominantemente brancas”.

Porém, aos imigrantes era impossível continuar com todos os seus hábitos e

costumes trazidos do país de origem, tendo em vista as características diferentes do

país que os acolheu. Restou-lhes então, adaptarem-se às novas condições,

buscando preservar as tradições, costumes, traços culturais

mais “exóticos” (como por exemplo, no que se refere aos norte-africanos, a proibição de comer carne de porco, o sacrifício do carneiro, a circuncisão, etc.). A “cultura dos imigrantes” é definida a partir de toda uma série de sinais exteriores (práticas alimentares, religiosas, sociais, etc.) cujo significado profundo ou coerência não são compreendidos, mas que permitem situar o imigrante enquanto imigrante (...) o que é uma maneira de “colocá-lo em seu lugar” (CUCHE, 1999, p. 230).

Dessa forma buscam fortalecer ou preservar as lembranças de uma terra

distante à qual não mais pertencem, dando continuidade aos costumes trazidos de

seu local de origem. Conforme Cuche

os imigrantes se apegam a estes fragmentos de cultura, pois isto lhe permite afirmar uma identidade específica e provar sua fidelidade à comunidade de origem. Permite também manter um mínimo de coesão no grupo dos imigrantes que reconhece assim uma origem comum (1999, p. 231-232).

Para entender qual é o significado de cultura, é preciso que se analise a

origem epistemológica da palavra. O antropólogo britânico Edward Burnett Tylor

(1832-1917) descreve a origem da palavra, afirmando que

Cultura e civilização, tomadas em seu sentido etnológico mais vasto, são um conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e as outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade (apud CUCHE, 1999, p. 35).

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Tylor, ao descrever cultura e civilização, aborda aspectos importantes sobre a

conceituação, porém não faz referência à possibilidade de transformação e evolução

dos aspectos culturais, tendo em vista que podemos entender a cultura como parte

de um processo evolutivo dos povos, estando ela em constante evolução.

Para Neves (2003) o senso comum identifica cultura como conhecimentos e

habilidades que determinadas pessoas possuem para compreender e usufruir de

bens chamados superiores (obras de arte, peças teatrais, entre outros), ou até

mesmo define uma pessoa culta como aquela que possui informações e

conhecimentos formais. Já para a antropologia, a noção deixa de ser elitista e se

estende a todos os homens, independendo do grau de conhecimento formal. Para a

antropologia, a cultura pode ser entendida como um conjunto de ações

desenvolvidas por todos os seres humanos em busca de sobrevivência.

É interessante lembrar que os imigrantes, ao se instalarem em outro país,

vêem-se diante de mudanças geográficas, econômicas e sociais, às quais precisam

se adaptar. Cuche (1999, p. 232-233) faz referência à resistência cultural dos

imigrantes ao escrever que

Os imigrantes fazem uma resistência cultural na medida de suas possibilidades. No entanto, queiram ou não, seu sistema cultural evolui. Mesmo quando eles se consideram totalmente fiéis à sua tradição, mudanças são produzidas nas suas referências culturais. É impossível que eles se mantenham completamente impermeáveis à influência cultural da sociedade que os cerca. Quanto mais longa for a sua estada nesta sociedade, mais decisiva será a sua influência. As culturas dos imigrantes não podem então ser confundidas de maneira redutora com suas culturas de origem. São culturas vivas e dinâmicas que animam os grupos de imigrantes, compostos de várias gerações. Os que são chamados de “imigrantes de segunda geração” (expressão inadequada, pois eles próprios não “imigraram”) contribuem muito para a transformação da cultura de seu grupo, considerando sua dupla socialização, no interior da família, por um lado, e na escola e no contato com jovens (...) por outro lado.

Outra questão relevante a ser considerada é a possibilidade de ocorrer a

inibição da cultura, fato constatado em estudo realizado por Savoldi, apresentado na

obra de Barretto (2001, p. 89), intitulado “A Reconstrução da Italianidade no Sul do

Estado de Santa Catarina”, no qual, através de depoimentos de pessoas da

comunidade, pôde verificar que os imigrantes eram vistos como pessoas grotescas e

com hábitos diferentes. Segundo depoimento de uma moradora de Urussanga,

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cidade tipicamente italiana, “quando a gente saía de Urussanga, o pessoal nos

tratava assim: “italiano polenteiro”, ou então imitavam o sotaque italiano” (2001, p.

96). O trabalho de resgate e de valorização da cultura italiana acabou alterando essa

situação, pois “nos últimos anos a descendência italiana ganha nova roupagem –

valores que serviram para depreciar são ressignificados; o que no passado

significava ser grosso, colono, agora denota sinônimo de status” ( 2001, p. 93).

A influência dos visitantes sobre as comunidades receptoras de turistas pode

promover a aculturação dos imigrantes. A aculturação corresponde a um “conjunto

de fenômenos que resultam de um contato contínuo e direto entre grupos de

indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças nos modelos (patterns)

culturais iniciais de um dos dois grupos.” (CUCHE, 1999, p.115).

Existem estudiosos que afirmam que “sem cultura não há turismo”

(HUNZIKER e KRAPF apud BENI, 1998, p. 85). Pensando nessa afirmação, pode-se

entender que a cultura de um povo é forte atrativo para o desenvolvimento do

turismo. Para Barretto (2000, p. 30), devido à

crença generalizada de que o turismo pode transformar drasticamente as economias locais, a tendência tem sido explorar todos os recursos, naturais, culturais ou históricos, da forma mais lucrativa possível. Isso tem levado à degradação de alguns lugares em diversos níveis e aspectos.

A atividade deve ser planejada e antes de tudo é necessário ter

conhecimento sobre os indivíduos envolvidos. Além disso, é preciso saber se a

comunidade local deseja conviver com o turismo. Krippendorf (2000, p. 148) afirma

que

O turismo só deve ser encorajado na medida em que proporcionar à população local uma vantagem de ordem econômica antes de tudo sob a forma de lucros e empregos. Que a mesma tenha desejado que essa vantagem seja de natureza duradoura e que não traga prejuízos aos outros aspectos da qualidade de vida.

Outra consideração a ser feita é que a atividade turística pode ser fator

positivo na economia e na valorização dos aspectos culturais de determinada

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localidade. Tulik e Roque (2003, p. 91) afirmam que “a utilização da cultura como

recurso turístico vem mostrando que a sua valorização econômica pode trazer

benefícios, gerando emprego e renda que se refletem em vantagens sociais”.

Complementando a afirmação de que o turismo cultural pode ajudar no processo de

fortalecimento de certas tradições e costumes, é importante citar Gallicchio (2001, p.

57) ao afirmar que “a atividade turística pode conformar uma maneira de enfatizar e

disseminar a importância de uma região, um local e seus respectivos registros,

enquanto fontes de conhecimento”.

E aquela cultura que o turista busca conhecer ao visitar uma localidade?

Como pode ser classificada ou definida? Conforme Barretto (2000, p.29) “há

também uma enorme variedade de manifestações da cultura imaterial, chamada

simbólica pela antropologia, entre as quais podem ser citadas as danças, a culinária,

o vestuário, a música [...]”. O turista que viaja motivado por atrativos culturais busca

interação com a comunidade receptora, não quer assistir a espetáculos criados

exclusivamente para ele, mas que realmente façam parte do modo de vida da

comunidade receptora. “Muitas destinações turísticas se especializam na recepção

de turistas e as manifestações culturais são produzidas exclusivamente para serem

mostradas aos visitantes” (IGNARRA, 1999, p. 119). Cada vez mais percebe-se que

o turista busca interagir com a comunidade, por isso, tanto o espaço físico quanto as

pessoas que nele vivem passam a fazer parte da experiência turística. Tal fato pode

ser complementado com o que afirma Ciaffone:

Estudos realizados pela Organização Mundial do Turismo (OMT) indicam a busca por interatividade como uma das tendências para as próximas décadas. Cada vez mais, os viajantes querem envolver-se com a realidade do lugar que visitam. O mesmo estudo aponta que, nos próximos anos, os turistas vão preferir locais onde as culturas autênticas estejam preservadas. Conforme se acentua a uniformização como uma das tendências da globalização, a possibilidade de vivenciar culturas locais tende a tornar-se um diferencial poderoso (apud DIAS, 2003, p. 19)

Analisando esse contexto, percebe-se que a imagem muitas vezes passada

ao turista é percebida como artificial. Ao querer atender bem o turista, a comunidade

pode passar por uma mutação dos seus próprios traços culturais, gerando sua

descaracterização. O aspecto cultural do município de Treze Tílias mostra-se como

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fator indutor para o turismo local, mas a sua exploração turística pode produzir

impactos negativos, pois conforme afirma Ignarra

[...] existe um comportamento psicossocial em que as comunidades mais tradicionais ao terem contato com povos de países mais desenvolvidos procurarem imitá-los. O jovem da cidade pequena do interior, ao se deparar com muitos jovens turistas vindos das cidades grandes, tem a tendência de procurar imitar suas roupas, suas músicas, seus hábitos enfim (1999, p.121-122).

Em alguns casos específicos, podem acontecer alterações dos valores

culturais tradicionais, principalmente pelos mais jovens, pertencentes à segunda ou

terceira geração de imigrantes. Daí porque, para que a atividade turística se

desenvolva, são necessárias a aceitação e a participação da comunidade. O próprio

conceito da palavra comunidade já deixa claro que a participação dos residentes é

imprescindível. Page e MacIver (1973) conceituam comunidade como um

povoamento de pioneiros, uma aldeia, uma cidade, uma tribo ou até mesmo uma

nação. É qualquer lugar onde membros de um grupo, seja ele pequeno ou grande,

vivam juntos e de forma que partilhem das condições básicas de uma vida em

comum. Para eles, o que caracteriza uma comunidade é “que a vida de alguém pode

ser totalmente vivida dentro dela” (1973, p. 122) e nela também se encontram todas

as relações sociais de alguém.

É também importante esclarecer o significado da palavra participação. De

acordo com Mamede (2003, p. 22), o conceito de participação foi usado pela

primeira vez em 1960, como atributo de processo decisório, sendo entendida como o

elo que uniria a esfera do indivíduo com a esfera da sociedade, sendo a participação

assumida como a força capaz de abrir novas formas de interação entre a sociedade.

Para que a participação seja algo que faça parte do cotidiano da comunidade,

Mamede (2003, p. 24) afirma que ela “deve ser buscada e incentivada como o

veículo que permitirá à comunidade alcançar o pleno exercício da cidadania”. A

participação da comunidade torna necessário o estabelecimento de objetivos

comuns, cujo alcance dependerá do trabalho conjunto dos membros da comunidade.

Page e MacIver (1973) afirmam que para existir o senso de comunidade deve haver

vida em comum, para os autores não basta residir na mesma localidade.

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Mamede (2003, p. 29) ainda afirma que participar é partilhar, é criar, garantir

uma identidade coletiva que estabeleça um vínculo capaz de manter o grupo unido.

Pela da participação, as comunidades poderão enfrentar dificuldades, passando a

ser protagonistas do seu próprio bem-estar. Além de favorecer o aspecto social, a

participação da comunidade poderá assegurar o desenvolvimento do turismo e fazer

com que os membros da comunidade aceitem com mais facilidade os aspectos

negativos a serem enfrentados. Mamede (2003, p. 34) escreve que “o envolvimento

da população local induz a idéia de que é possível administrar o destino, a atividade,

os impactos e os recursos”. Portanto, em uma destinação turística em que a

comunidade é partícipe do processo que envolve o turismo, existem maiores

propensões para o desenvolvimento do turismo sustentável.

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CAPÍTULO III – OS RECURSOS TURÍSTICOS DE TREZE TÍLI AS E AS

TRANSFORMAÇÕES DECORRENTES DA EXPANSÃO DO TURISMO

CULTURAL

3.1 ATRATIVOS NATURAIS E ARTIFICIAIS

Os atrativos turísticos naturais do município são poucos, destacando-se

apenas algumas cachoeiras e trilhas. Nos últimos anos foram realizados alguns

investimentos relacionados a construções de atrativos turísticos artificiais,

principalmente visando a maior permanência do turista no município. Grande parte

desses investimentos são feitos por pessoas da própria comunidade, como o Parque

Lindendorf, Minicidade, Termas Internacional Vale das Tílias e Parque dos Sonhos.

Em muitos casos, são firmadas parcerias com os hoteleiros, sendo a infra-estrutura

disponibilizada para os hóspedes. A comunidade também pode desfrutar do lazer

nesses locais criados para o turista, basta que pague o ingresso para tal. Os

atrativos que se destacam no município são:

a) Arquitetura: a predominância da arquitetura tirolesa, na área central do

município, constitui um dos principais atrativos, sendo o município conhecido como o

“Tirol Brasileiro”. Os prédios da área central devem obedecer às Leis Municipais

931/93 e 1312/99 (ANEXOS A e B) que estabelecem normas para a construção das

casas ou espaços de comércio. A figura 17 permite constatar a predominância de

construções em estilo tirolês.

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Figura 17 – Vista parcial da área central da cidade de Treze Tílias. Fonte: www.trezetilias.com.br, 2006.

Não se percebe a predominância de edificações elevadas, mas a presença de

várias construções em estilo tirolês. O predomínio das características tirolesas na

arquitetura dominante foi-se dando de forma lenta. Em 1978, o Governador do Tirol,

em visita a Treze Tílias, percebeu que os costumes austríacos estavam se

perdendo. Nomeou, então, uma equipe composta por três pessoas, as quais seriam

responsáveis pelo resgate e sensibilização da comunidade sobre o assunto29. No

ano de 1980, Bernardo Moser30 foi convidado pelo Prefeito Municipal a assumir toda

a responsabilidade sobre questões relacionadas à cultura. Naquele momento, o

convite foi aceito, porém Moser solicitou um estágio na Áustria, custeado pela

Prefeitura Municipal, para que pudesse se aprofundar em suas pesquisas sobre a

cultura austríaca. Ao retornar ao Brasil, Moser iniciou um trabalho de estímulo a

edificações com características tirolesas no município, iniciado de modo informal,

sem apoio de legislação específica. A partir de maio de 1981, Moser, que ocupava o

cargo de Secretário Municipal de Turismo e era também responsável pela liberação

de alvarás de construção civil no município, firmou um acordo com a Prefeitura

Municipal, para que fossem concedidos cinco anos de isenção de impostos para as

construções semelhantes às que se encontram no Tirol. Muitos projetos foram

reestruturados para que pudessem se beneficiar dessa isenção. A figura 18 mostra a

imagem da primeira casa, construída no ano de 1982, em estilo típico tirolês e

29 Informação oral coletada em 10/10/05 com o Bernardo Moser. 30 Formado em filosofia, pela UFPR e em música pela Faculdade de Educação Musical do Paraná.

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beneficiada pela isenção fiscal. Hoje apresenta alterações no piso térreo (colocação

de vitrines), onde se localiza a loja Multi Itens, que comercializa artesanato,

brinquedos, calçados, confecções, presentes e utilidades domésticas.

Figura 18 – Primeira casa construída em estilo típico tirolês. Fonte: da autora, 2005.

Em 24 de agosto 1993, a proposta até então informal, tornou-se Lei Municipal

de número 931/93 (ANEXO A), estabelecendo que:

Art. 1º - Deverão obedecer o estilo “TÍPICO TIROLÊS”, as construções nas seguintes ruas do perímetro urbano do Município: - Rua Leoberto Leal; - Rua Ministro João Cleophas; - Rua Anita Garibaldi; - Rua José Bonifácio; - Rua Presidente Kennedy; - Rua Tirol; - Rua Antônio Carlos Konder Reis; - Rua Carlos Gomes; - Rua Monsenhor João Reitmeier; - Rua Prefeito José Waldomiro Silva; - Rua Oscar Rodrigues da Nova; - Rua Videira (até o Park Hotel); - Rua Brasílio Celestino de Oliveira; - Rua São Vicente de Paulo; - Rua João Miterer; - Rua Notburga Reiter; - Rua Jacob Reiter; - Rua Gisela Thaler; - Rua Gardina Knolseisen;

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- Rua Três Barras (até a CASAN); - Rua Gaspar Coutinho; - Rua Caçador (até o Armazenamento); - Rua Oscar von Hohenbruck; - Rua Anton Altenburger; - Rua Caron; - Rua Ivo Daquino; - Rua Ministro Andréas Thaler; - Rua Francisco Lindner; - Rua dos Pioneiros; - Rua Rudolf Rofner; - Loteamento Iva Koroll; - Outras ruas centrais sem denominação; - Rodovia dos Pioneiros. Parágrafo único: As construções previstas no caput deste artigo, deverão apresentar as seguintes características: II – Edificações com 02 (dois) andares, aba mínima com 120 (cento e vinte) centímetros e pestanas molduradas, com sacada; III – Edificações com 03 (três) andares, ou mais, aba mínima com 140 (cento e quarenta) centímetros, pestanas molduradas, com sacadas; IV – A inclinação mínima da cobertura será de 36º (trinta e seis graus) ou 20% (vinte por cento), com telhas de barro.

Em dezembro de 1999, essa Lei sofreu algumas alterações no que tange à

cor das edificações, que devem, obrigatoriamente, ser de cor branca, para

construções situadas no perímetro urbano da cidade (ANEXO B).

Por essa razão, os traços da arquitetura dos Alpes estão presentes em

grande parte das construções do centro urbano de Treze Tílias, onde se tem a

impressão de estar em uma cidade européia. A figura 19 apresenta a imagem da

Prefeitura Municipal de Treze Tílias, localizada na Praça Ministro Andréas Thaler,

número 25, área central da cidade, inaugurada em 1988, cuja construção segue o

estilo Tirolês.

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Figura 19 – Prédio da Prefeitura Municipal de Treze Tílias. Fonte: da autora, 2007.

A sede do Consulado Honorário da Áustria de Treze Tílias (Figura 20) é

considerada a construção mais autêntica com estilo tirolês do município, tanto

interna, como externamente. Inaugurada em 1993, está localizada na área urbana

central de Treze Tílias. O prédio foi construído com recursos próprios do primeiro

Cônsul Honorário Austríaco de Treze Tílias31, Ricardo Pichler Ritter von Tennenberg,

que continuou no cargo e Cônsul até o ano de 1998, quando sua esposa, Anna

Lindner von Pichler assumiu como titular (Pichler, 2006). Trata-se de um consulado

honorário austríaco, onde as despesas com salário de funcionários e manutenção

são de responsabilidade da Cônsul. O principal objetivo desse consulado é auxiliar

os moradores de Treze Tílias e região na obtenção da cidadania austríaca.

31 O Cônsul Honorário de Treze Tílias desempenhou atividades como Cônsul, desde 13 de outubro de 1988 a 5 de março de 1999, quando o cargo foi repassado para a esposa mediante nomeação do então Presidente da República da Áustria, Thomas Klestil, como Cônsul Honorária da Áustria.

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Figura 20 – Consulado da Áustria de Treze Tílias. Fonte: da autora, 2005.

Inicialmente, percebe-se que houve preocupação em formatar algo que

futuramente poderia ser utilizado para fins turísticos, tendo em vista que o município

já era detentor de forte apelo cultural, em virtude da imigração austríaca. As

primeiras ações aconteceram ainda no início da década de 80 do século XX, quando

Bernardo Moser iniciou o processo de conceder benefícios fiscais aos que

construíssem residências ou pontos comerciais, respeitando as características do

estilo típico tirolês. Apesar da informalidade desta ação, ela surtiu resultados e foi

transformada na Lei Municipal número 931/93 (ANEXO A) e posteriormente

complementada pela da Lei Municipal número 1312/99 (ANEXO B).

Para melhor ilustrar o espaço do perímetro urbano de Treze Tílias, onde as

leis acima citadas determinam que todas as edificações devem obrigatoriamente ser

construídas respeitando o estilo típico tirolês, apresenta-se o mapa do traçado

urbano do município (Figura 21), em que as ruas e avenidas destacadas na cor

vermelha correspondem às constantes nas Leis 931/93 e 1312/99.

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Figura 21: Mapa do perímetro urbano de Treze Tílias Fonte: Prefeitura Municipal, 2008, adaptado pela autora.

Apesar do esforço em proibir construções que distingam das do estilo típico

tirolês nas áreas determinadas pelas Leis Municipais, destacam-se duas situações.

Trata-se de duas construções no perímetro urbano. A primeira delas está localizada

na Rua Ministro João Cleophas (Figura 22) e é utilizada de forma mista. No piso

térreo e primeiro pavimento localizam-se pontos comerciais e nos demais andares o

espaço é destinado para residências. O mesmo está em desacordo com as

especificações das Leis nos seguintes quesitos:

a) A largura mínima da aba deve ser de 1,40m: nesse caso é menor de

1,20m;

ESCALA: 1cm = 187m

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b) A cor das paredes externas deve ser branca: percebe-se que a cor das

paredes é amarelo-queimado e amarelo-claro;

c) Pestanas molduradas: nesse caso não há pestanas no prédio.

Figura 22 – Prédio localizado na Rua Ministro João Cleophas.

Fonte: da autora, 2007.

Já o segundo prédio (Figura 23), localizado ao lado da Prefeitura Municipal,

na Rua Leoberto Leal, e, até setembro de 2008, apenas o piso térreo é utilizado

como ponto comercial para uma lanchonete. Está em desacordo nos seguintes

aspectos:

a) As paredes externas foram pintadas nas cores branco e verde-claro;

b) Não há pestanas molduradas no prédio.

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Figura 23 – Prédio localizado na Rua Leoberto Leal. Fonte: da autora, 2007.

Para o secretário de administração de obras de Treze Tílias, Francisco José

Klotz32, os dois prédios estão em desacordo com as diretrizes das Leis. Apesar de o

poder público divulgar aos munícipes, por meio de rádio, placas e panfletos (Figura

24), a comunidade ainda parece não estar totalmente sensibilizada para a

importância de construir respeitando os parâmetros estabelecidos por lei. Para ele, o

fato ocorreu pela dificuldade em fiscalizar as obras no município, por falta de

funcionários para visitarem o andamento delas. A providência tomada foi solicitar,

junto à Prefeitura Municipal, a realização de concurso público para o provimento de

vagas para fiscal, que foi realizado em 2007, e o resultado homologado em janeiro

de 2008, sendo classificados seis fiscais de obras e tributos.

32 A entrevista foi realizada em 18 de setembro de 2007.

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Figura 24 – Panfleto. Fonte: Prefeitura Municipal de Treze Tílias, 2007.

Ainda no ano de 2007, estava em tramitação na Prefeitura Municipal a

elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Físico-Territorial de Treze Tílias.

Ele foi publicado e registrado em 28 de dezembro de 2007. O novo Plano apresenta

informações mais aprofundadas sobre a ocupação do espaço em território do

município. Em relação ao zoneamento urbano, foram divididos em treze zonas, entre

elas, duas que abordam especificamente o tema turismo como prioritário para o

local.

Na figura 25 é possível observar as áreas grifadas, que representam a ZET –

Zona de Expansão Turística. Nessa zona o objetivo é incentivar a expansão das

atividades turísticas, comércio e prestação de serviços, nos corredores demarcados

com faixa de 30 metros para cada lado.

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Figura 25 – Mapa da Zona de Expansão Turística de Treze Tílias. Fonte: Plano Diretor de Treze Tílias, 2007.

Já na ZIT – Zona de Interesse Turístico, que aparece identificada em amarelo,

na figura 26. O objetivo é preservar essa área com suas características históricas,

culturais, incentivando nelas o fortalecimento do comércio e prestação de serviços.

ESCALA: 1cm = 187m

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Figura 26– Mapa da Zona de Interesse Turístico de Treze Tílias. Fonte: Plano Diretor de Treze Tílias, 2007.

De acordo com Verônica Sommer da Silva33, assessora de planejamento e

legislação da Prefeitura Municipal de Treze Tílias, somente na ZIT e na ZET

continuará sendo obrigatório construir residências ou espaços comerciais

respeitando o estilo típico tirolês, porém será nomeada uma comissão para

pesquisar quais são efetivamente as características do chamado estilo típico tirolês.

Após o término desta pesquisa, as Leis Municipais número 931/93 e 1312/99, que

ainda servem de parâmetro para as construções, serão alteradas e o termo usado

será “estilo Austríaco”.

Em um espaço de 93.600m², com entrada localizada na Rua Dileto Dalla

Costa, próximo à área central do município, está localizado o Condomínio Áustria

Residencial (Figura 27). 33 Informação oral repassada a 22 de janeiro de 2008.

ESCALA: 1cm = 187m

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Figura 27 – Condomínio Áustria Residencial. Fonte: da autora, 2008.

Criado em 2004, por iniciativa de Wilson Thölken e seu antigo sócio, o local

tem capacidade para receber até 70 casas. Atualmente são 8 residências com

moradores, 2 casas em construção e outras 3 estão com o início das obras previstas

para fevereiro de 2008. As Leis Municipais 931/93 e 1312/99 não têm vigência no

local, portanto as construções não devem obedecer, obrigatoriamente, ao estilo

típico tirolês. Para Wilson, esse é um fator importante, tendo em vista que se fosse

obrigatório construir respeitando as leis citadas anteriormente, a venda dos terrenos

se tornaria algo difícil. Algumas das regras constantes no Regimento Interno do

Condomínio são: todas as casas deverão ter, no mínimo, 200m²; não deverão ser

construídos muros ou cercas na frente das casas, e, a altura máxima do pé direito

nas construções deverá ser de 7,20m34.

A área do Condomínio Áustria Residencial não aparece destacada como área

de interesse em nenhuma das 13 zonas do zoneamento urbano constante no Plano

Diretor de Treze Tílias.

b) Termas Internacional Vale das Tílias35: localizado próximo à área central do

município, o parque aquático (Figura 28) dispõe de piscinas com água termo-mineral

34 Informação oral repassada por Wilson Thölken, a 27 de janeiro de 2008. 35 Informações repassadas pelo gerente do Termas Internacional Vale das Tílias, Rogério Prado, em entrevista à autora, a 18 de setembro de 2007.

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com temperatura de 35,8º C, praça de alimentação, lojas, bar molhado, boliche,

quadra poliesportiva, tobogãs, rio de correntezas, cancha de bocha e sauna. A área

total do parque é de aproximadamente 15.000 m² e tem capacidade para cerca de

2.500 pessoas. Iniciou as atividades em outubro de 2002 e foi idealizado

inicialmente por um grupo de sócios. Hoje o empreendimento pertence a um único

dono, o Dr. Amilton Carvalho Gamba.

No início da construção, foram vendidos aproximadamente 600 passaportes

vip´s. O sócio adquiria o passaporte mediante o pagamento do equivalente a R$

1.000,00, que lhe dava o direito de freqüentar o parque por cinco anos, sem pagar a

taxa de anuidade. A venda dos passaportes foi uma estratégia empregada para

angariar fundos para a construção do empreendimento.

Atualmente, são vendidos títulos para sócios, mediante o pagamento de uma

anuidade de R$ 400,0036, que dá direito a freqüentar o parque, pagando somente o

exame médico. A maioria dos títulos foi adquirida por residentes de Treze Tílias e

região. Em 2008 estão registrados 3.000 sócios e 10.000 usuários37.

Outra forma de usufruir do parque é o chamado título empresarial, pelo qual

os empreendimentos de hospedagem são associados, e todos os hóspedes dos

hotéis da cidade de Treze Tílias poderão adquirir o passaporte no próprio hotel

pagando uma taxa de R$ 13,00 por pessoa38. O título empresarial foi criado por dois

motivos principais: o primeiro deles, estimular as pessoas a utilizar os

empreendimentos hoteleiros da cidade e o outro é evitar o turismo de massa, pois,

no parque, não é permitida a entrada de pessoas que não sejam hóspedes dos

empreendimentos de hospedagem do município, ou, então, que não tenham o título

de sócios. Para os grupos de excursões, a administração do parque possui uma

política mais rígida: recebe apenas grupos acima de 50 pessoas, e somente de terça

a sexta-feira. Excursionistas pagam o exame médico e o ingresso no valor de R$

27,00, que inclui almoço39.

36 Valor correspondente ao ano de 2007. 37 Cada sócio titular possui o direito de agregar em seu título até cinco pessoas. 38 Valor correspondente ao ano de 2007. 39 Valor correspondente a setembro de 2007.

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Figura 28 – Vista parcial do Termas Internacional Vale das Tílias. Fonte: da autora, 2007.

c) Parque dos Sonhos40: está localizado no centro da cidade, em uma área de

26.000 m². No mesmo terreno também está localizada a casa dos proprietários,

Gertrudes Auer Concatto e seus quatro filhos, José Carlos, Ana Carla, Vanessa e

Robson. A possibilidade de trabalhar com a atividade turística surgiu de uma

necessidade da família, cujos membros utilizavam o terreno para a criação de

animais e também para a agricultura. Por se tratar de um terreno localizado na área

central de Treze Tílias, porém, tornou-se impróprio dar continuidade às mesmas

atividades. A família pensou, então, em aproveitar a área explorando-a

turisticamente. Assim surgiu, no ano de 2001, o Parque dos Sonhos (Figura 29). Foi

construído com recursos próprios. Ele emprega dois funcionários, além dos cinco

membros da família, os sócios-proprietários, que também desempenham funções na

pequena fábrica de sorvetes, de propriedade da família Concatto.

Na estrutura da lanchonete e sorveteria do Parque podem ser atendidas até

40 pessoas. Outras 160 podem utilizar as demais áreas que incluem um lago

artificial com peixes ornamentais, um labirinto verde, espaço aberto com exposição

de equipamentos antigos de traçado animal, além da loja de produtos artesanais,

onde são vendidos doces, licores, strudel, pães de frutas secas e vinhos, tudo feito

pelos proprietários, com exceção dos vinhos que são fabricados na cidade de

Pinheiro Preto, SC.

40 Informação oral repassada por Gertrudes Auer Concatto, proprietária do empreendimento, a 16 de setembro de 2007.

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Figura 30 – Parque dos Sonhos. Fonte: da autora, 2007.

d) Parque Lindendorf e Minicidade41: a iniciativa surgiu de uma família de

descendentes de austríacos, especificamente de irmãos e seus cônjuges, formando

hoje a sociedade composta por três casais: Vitor e Renate Koroll, Vilson e Rosalinda

Koroll e Valter e Danielly Felder.

O terreno, de aproximadamente 45.000 m², já era de propriedade da família.

Para construir o empreendimento foi necessário buscar recursos, equivalente a 20%

do total, através de financiamento bancário.

O parque (Figura 30) foi inaugurado em 18 de setembro de 2004. Em sua

estrutura existem diferentes tipos de atrativos:

- Minicidade (Figura 31): trata-se de uma réplica em miniatura da cidade de

Treze Tílias, considerada pelos proprietários do Parque como o seu principal

atrativo, pois a média mensal anual é de 1.100 visitantes. A réplica ainda está

incompleta e é atualizada com freqüência, sendo responsável pelas miniaturas o

Valter Felder, um dos sócios do empreendimento. O valor do ingresso para visitar a

Minicidade é de R$ 5,00 por pessoa42;

41 Informação oral repassada por Valter Felder, sócio do Parque Lindendorf e Minicidade, a 16 de setembro de 2007. 42 Valor equivalente a setembro de 2007.

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Figura 30 – Parque Lindendorf . Fonte: da autora, 2005.

Figura 31 –Minicidade. Fonte: da autora, 2008.

- Trilha: o percurso é de 700 metros e no caminho é possível ver animais tais

como avestruz, ovelhas e capivaras. No final da trilha está o lago artificial, com

extensão de 10.000 m², e que abriga peixes ornamentais;

- Loja de produtos artesanais: nesse local são comercializados diversos tipos

de souvenires43, como bebidas, camisetas, trabalhos artesanais, chocolates, ímãs

de geladeira, brinquedos de madeira, entre outros;

43 Pequenos presentes, lembranças.

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- Restaurante Lindendorf (Figura 32): é um espaço amplo, com capacidade

para até 200 pessoas sentadas. Atende em média, entre 1000 a 1500 pessoas por

mês na alta temporada, considerada pelos proprietários, como os meses de julho e

de setembro até fevereiro. Atende, diariamente, no mesmo horário do parque, das

9h30min às 18h, servindo apenas almoço. Os serviços são buffet, quando há maior

demanda, ou então refeições a la carte, sendo oferecidos três tipos diferentes de

pratos: dois da culinária austríaca: o goulash com spätzle e o chucrute com knödl e

salsichão. De acordo com um dos proprietários, não aconteceu nenhuma adaptação

dos pratos típicos austríacos para a culinária brasileira, eles são produzidos da

mesma maneira como eram feitos pelos seus avós, naturais da Áustria. O principal

doce da culinária austríaca também é oferecido como sobremesa nesse restaurante,

trata-se do strudel44. A família proprietária do restaurante já fabricava o doce

artesanalmente, para vendê-lo na tradicional festa de comemoração da emigração

austríaca, a Tirolerfest, as irmãs, hoje sócias do empreendimento, comercializavam

o strudel no próprio restaurante do Parque. Aos sábados, o empreendimento é

aberto também no período da noite, sendo o espaço utilizado para eventos artístico-

culturais, que expressam a cultura austríaca. O grupo que realiza apresentações

musicais e de dança é o Lindental, coordenado por Valter Felder, que também é um

dos sócios do empreendimento.

Figura 32 – Restaurante Lindendorf. Fonte: da autora, 2007.

44 Doce típico austríaco feito com massa doce e maçã.

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e) Parque do Imigrante45: está localizado no centro do município, em uma

área de 45.000 m², de propriedade da Igreja Católica. A data de inauguração está

prevista para o ano de 2008. O parque (Figura 33) foi construído com o intuito de

preservar a área verde, espaço urbano do município, e também para proporcionar

uma área de lazer aos turistas, visitantes e moradores. No seu projeto, constam os

seguintes equipamentos: pedalinho, capela, sala de aula ecológica, quiosque, lago e

trilhas. Para utilizar a infra-estrutura do parque não será cobrado ingresso.

Figura 33: Parque do Imigrante.

Fonte: da autora, 2007.

3.2 ATRATIVOS HISTÓRICO-CULTURAIS

Os atrativos histórico-culturais constituem a maioria dos atrativos no município

de Treze Tílias. Entre eles, porém, não estão somente aqueles que podem ser

vistos, ou seja, aqueles que têm forma material e estática, mas também estão

aqueles que fazem parte da cultura do povo e que nem sempre são visíveis, mas

que podem ser sentidos, experimentados ou ouvidos. Para Schlüter,

45 Informação oral repassada pelo Secretário Municipal de Turismo, Indústria e Comércio de Treze Tílias, Armindo Ansiliero Junior, a 18 de setembro de 2007.

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não só o legado monumental arquitetônico ou artístico visível constitui um foco de atenção. Os aspectos tradicionais da cultura, como as festas, as danças e a gastronomia, ao conter significados simbólicos e referirem-se ao comportamento, ao pensamento e à expressão dos sentimentos de diferentes grupos culturais, também fazem parte do consumo turístico, sejam por si mesmas ou como complemento de outras atrações de maior envergadura (2003, p.10).

Para Barretto (2000), os recursos histórico-culturais devem possuir

considerável relevância histórica e cultural para o local onde estão inseridos,

independentes de serem tombados. Possuem duas características: alguns são

tangíveis e outros não. Entre os tangíveis estão os prédios, os monumentos, os

bairros, as cidades e marcos arquitetônicos. E, entre os intangíveis estão as

variadas manifestações da cultura imaterial, podendo ser definidas como a dança, a

culinária, o vestuário, a música, a literatura popular e a medicina caseira. Para a

autora, todos esses recursos despertam interesse no turista, por visitar e conhecer o

local e tudo o que diz respeito à história daquele povo.

Para o presente estudo, serão apresentados como atrativos histórico-culturais

intangíveis a gastronomia, as festividades, a musicalidade e as danças folclóricas.

Como atrativos histórico-culturais tangíveis serão apresentadas as esculturas em

madeira, os monumentos, o Museu Municipal Andréas Thaler e ainda serão

registrados aspectos referentes ao entorno do município, que se enquadram tanto

nos bens tangíveis quanto nos intangíveis.

3.2.1 Gastronomia

A gastronomia pode não ser o principal atrativo de uma localidade turística,

mas está assumindo uma importância cada vez maior, diante de sua transformação

em mais um produto aliado ao turismo cultural. A comida e a bebida possuem papel

importante na sociedade de forma geral, pois caracterizam momentos de reunião

familiar ou de congraçamento entre amigos, promovendo a interação social. Os

turistas buscam uma inter-relação direta entre o prazer que se obtem ao realizar a

viagem e ao degustar a comida típica do local. Essa degustação consiste numa

tentativa de buscar raízes culinárias e, ao mesmo tempo, entender a cultura do lugar

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visitado. Assim, a busca pelo autêntico favorece o resgate de antigas tradições que

podem estar prestes a desaparecer (SCHLÜTER, 2003).

A imigração austríaca para o Brasil aconteceu recentemente, portanto, muito

da culinária mais antiga já havia sofrido algumas alterações no próprio país de

origem. No período da Primeira Guerra Mundial, os países europeus sofreram com a

falta de alimentos, o que fez com que eles se tornassem caros. Tal fato pode ter

resultado em substituição de alguns itens utilizados para a elaboração dos pratos.

Posteriormente, após o término da Guerra, as facilidades decorrentes do avanço

tecnológico provocaram novas alterações na cozinha mundial, desde a forma de

preparo (que então contava com pequenas máquinas elétricas ou a gás) até a de

conservação dos alimentos. A facilidade de transporte e de comunicação fez

também com que um número maior de produtos fosse comercializado em diferentes

partes do mundo (SENAC, 2004). Apesar disso, muitas características da culinária

continuaram presentes, pois os imigrantes que se estabeleceram no Brasil não eram

abastados financeiramente, razão pela qual não dispunham de muitos recursos para

possuir produtos com tecnologia de ponta para utilizar no preparo da sua

alimentação diária.

Os reflexos da culinária alemã são encontrados na gastronomia típica de

Treze Tílias, apesar da Áustria, ainda no século XVIII, cultivar maior variedade de

alimentos do que a Alemanha (FRANCO, 2004). Em conseqüência dos rigorosos

invernos alemães, os pratos dessa nação caracterizavam-se por ser fortes,

substanciosos e ricos em gordura e molhos grossos, sendo a carne de porco, o

repolho e a batata alguns dos principais ingredientes utilizados. A batata, por

exemplo, está presente nas refeições diárias dos alemães até os dias atuais

(SENAC, 2004).

De acordo com os proprietários de dois empreendimentos de alimentação que

servem pratos típicos da culinária austríaca no município de Treze Tílias, não houve

alterações nas receitas e no modo de preparo dos pratos. Entre os principais pratos

quentes salgados servidos nos restaurantes típicos da cidade46 estão: o Eisbein

(joelho de porco assado), o Sauerkraut (chucrute feito com o repolho azedo), o

Knödl (bolinho típico que mistura pão amanhecido, lingüiça de porco com carne

46 Informação coletada pessoalmente, em visita realizada a dois dos principais restaurantes que servem comidas típicas no município, que são o Restaurante Lindendorf e o restaurante do Hotel Tirol, em 16 e 17 de setembro de 2007.

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moída, ovos e temperos), o Knödelsuppe (sopa com os bolinhos de pão), a Spätzle

(massa formando pequenos nhoques feitos de ovos, farinha, leite e sal), o

Käsespätzle (nhoque frito na manteiga, cebola e queijo), o Goulasch (ensopado de

músculo de gado com molho de páprica doce e picante) e o Wurst (salsicha caseira).

Quanto ao principal doce típico servido na cidade, há autores que defendem

que a sua origem também é alemã, destacando-o como um prato preparado com

massa folhada e recheio de maçã, denominado como Strudel (SENAC, 2004). Já

para Franco (2004), o doce parece ter vindo da Hungria47 e antes da Turquia e o

denomina como Apfelstrudel.

As comidas típicas podem ser mais facilmente encontradas nos cardápios dos

restaurantes e hotéis (Figura 34). Nas residências não se tem o hábito de comer os

pratos típicos diariamente, pois o clima do Brasil difere do clima europeu, fazendo

com que, em algumas estações, a alimentação seja mais leve e equilibrada. Outro

fato a ser considerado é que esses pratos são feitos especialmente para as

festividades. Nessas celebrações consomem-se alimentos que raras vezes estão

presentes no cardápio diário das famílias ao longo do ano (SCHLÜTER, 2003).

Figura 34 – Prato típico da culinária austríaca. Fonte: Folder turístico de Treze Tílias, 2004.

47 A Áustria, em 1867, se uniu à Hungria para formar o império Austro-Húngaro.

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3.2.2 Festividades, musicalidade e danças

As festividades normalmente se fazem presentes nos mais diferentes tipos de

sociedade. Bakhtin (1987) explica que as festividades, independente do tipo, são

formas primordiais e marcantes da civilização humana e que sempre tiveram um

sentido profundo, uma relação forte com o tempo (natural, biológico e histórico), bem

como com períodos de crise ou de transtorno.

As festividades acontecem para celebrar ou lembrar algo de grande

importância para o povo que as comemoram. Já para o turismo (FERREIRA, 2001),

a festa pode ser entendida como um dos aspectos mais significativos da cultura,

como instrumento privilegiado para o entendimento dos fenômenos da comunicação

e como “mercadoria” para estimular a expansão do próprio turismo. Porém pode

transformar-se em algo não autêntico, mas algo fabricado para turistas. Tal fato

pode acarretar uma aculturação decorrente das influências externas, o que acaba

descaracterizando o evento. Todas as festas relacionam-se, de uma maneira geral,

com o passado cultural de determinado grupo, e expressam a verdadeira face de

sua cultura, o que não significa dizer que elas mantenham sempre as suas

características originais.

Antigamente, sem os modernos recursos tecnológicos de hoje, as festas

representavam oportunidades para as pessoas se afirmarem e se identificarem com

os integrantes do seu grupo social. Era o momento mais importante de afirmação da

identidade coletiva, em que valores e crenças eram veiculados em um momento

único, que parecia ter sido recortado da atualidade e vivido em uma outra época,

reafirmando as origens do indivíduo (FERREIRA, 2001).

Esse momento de reafirmação proporcionado pelas festas é importante

principalmente quando se trata do turismo, pois é nessa ocasião que a comunidade

pode reencontrar seus valores culturais e históricos que, muitas vezes, podem estar

ameaçados por influências externas.

No caso de Treze Tílias, o evento que mais se destaca é a Tirolerfest,

conhecida como a festa em comemoração à imigração austríaca para o Brasil. A

primeira edição aconteceu no ano de 1934, um ano após a vinda do primeiro grupo

de imigrantes austríacos. Desde aquela época, acontece anualmente na avenida

principal do município, em frente à Prefeitura. É uma festa que atrai cerca de 12.000

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pessoas a cada edição. O perfil dos turistas que vem para Treze Tílias com o intuito

de participar da programação do evento, de forma geral, são pessoas com idade

acima dos 40 anos, hospedam-se em hotéis e pousadas, e são originários,

respectivamente, dos estados de Santa Catarina, São Paulo, Paraná e Rio Grande

do Sul48. Já o público que freqüenta especificamente os bailes do evento são jovens

provenientes das cidades vizinhas.

Os atrativos da festa são danças, músicas e gastronomia típica austríaca,

além de músicas germânicas. O principal enredo da festa é a representação da

história vivida pelos imigrantes desde o momento em que chegaram ao Brasil. A

comunidade do município vem conseguindo resgatar seus valores sociais e culturais

trazidos e vividos pelos imigrantes. De acordo com Ferreira (2001), ao analisar uma

festa, deve-se considerar dois aspectos: um deles é a capacidade que a festa tem

de trazer para a atualidade as experiências culturais vivenciadas por determinada

população e, o segundo, é a possibilidade de mostrar a verdadeira origem de um

povo, por mais que esses costumes já tenham sido alterados parcial ou totalmente.

Um evento festivo é capaz de atrair demanda especificamente para a sua

apreciação, como é o caso de Treze Tílias, já que durante a Tirolerfest (Figura 35),

que acontece anualmente, sempre no mês de outubro, os hotéis possuem a mais

elevada taxa de ocupação do ano.

Figura 35 – Imagem do desfile durante a Tirolerfest Fonte: www.trezetilias.com.br, 2006.

48 Informação oral repassada em pelo Secretário Municipal de Turismo, Indústria e Comércio de Treze Tílias, Armindo Ansiliero Junior, a 17 de setembro de 2007.

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A dança e a música se fazem presentes em todas as festividades culturais.

São as representações da alegria da comunidade que canta e dança para

comemorar algo especial. Por meio da dança se exprime a arte, que desde os

primórdios da humanidade esteve presente, quando se dançava para comemorar a

boa colheita, a fertilidade, as núpcias, o nascimento e muitas outras datas (ARAÚJO,

1973).

Em relação à musicalidade, o município de Treze Tílias possui uma banda

denominada Banda dos Tiroleses49. A banda surgiu durante a viagem de navio que

trouxe o primeiro grupo de imigrantes austríacos, em 1933. A iniciativa foi de Georg

Thaler, irmão de Andréas Thaler. Em sua bagagem, havia trazido uma harpa, um

violão e baixo tuba e incentivou os demais companheiros a desempacotarem seus

instrumentos, com o propósito de montar uma pequena banda. A iniciativa deu certo

e a primeira apresentação aconteceu com 8 integrantes, na Ilha das Flores, no Rio

de Janeiro, quando o embaixador na Áustria no Brasil, Anton Retscheck, foi dar as

boas vindas aos imigrantes recém chegados. Desde o início das atividades até o

ano de 1934, a banda foi regida pelo maestro Johann Mitterer. De 1934 até 1938, a

banda foi regida pelo maestro Johann Völgyfy, sucedido por Gabriel Hausberger,

ficando responsável pela banda nos 43 anos seguintes.

Atualmente possui 48 integrantes, é regida, desde nove de maio de 1981,

pelo maestro Bernardo Moser. Todos os componentes são autônomos e músicos

amadores, exceto o maestro. A banda é particular, possui estatuto e Cadastro Geral

de Contribuinte - CGC próprios. O salário do maestro é pago pela Prefeitura

Municipal, por meio da Sociedade Cultural e Artística Papuan – SOCAP, e, para a

manutenção da banda, os músicos cobram uma taxa para se apresentar.

O principal repertório musical da Banda dos Tiroleses são músicas austríacas,

principalmente as do Tirol. O grupo realiza apresentações no próprio município, no

Estado de Santa Catarina e também já se apresentou no Rio Grande do Sul,

Paraná, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Aproximadamente na mesma época de criação da Banda dos Tiroleses surgiu

o Coral Tiroler Echo que participou durante muitos anos das missas dominicais da

cidade, incluindo em seu repertório músicas austríacas. Anualmente, o grupo de

coral participava dos Festivais da Liga Cultural Artística Alto Uruguai, conquistando

49 Informações repassadas por Bernardo Moser, em entrevista à autora, a 18 de setembro de 2007.

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muitas vezes a primeira colocação. O Coral parou suas atividades em 1978 e foi

reativado três anos mais tarde, existindo até os dias atuais, com 26 integrantes,

presidido por Maria Elizabeth Boff e regido por Bernardo Moser.

Outro grupo de coral existente no município é o Coral Hobbysänger, que

iniciou suas atividades em 1993, com um pequeno grupo de cantores, que se reunia

nas residências dos integrantes, apenas com a intenção de cultivar a música.

Posteriormente, as atividades foram-se tornando mais formais e, hoje, o coral

participa ativamente da vida da comunidade, apresentando-se em eventos culturais,

folclóricos e religiosos50.

O grupo de canto, chamado Grupo Edelweiss, é o que mantém um contato

mais direto com os turistas que visitam o município de Treze Tílias. Seus

componentes se apresentam esporadicamente nos hotéis, cantando músicas

austríacas, italianas e brasileiras, acompanhadas pelo violão e pelo instrumento de

várias cordas, dispostas em um arco de madeira, chamado cítara. O grupo é

formado por cinco componentes e foi criado em 1991, em decorrência do fluxo

turístico que o município possuía e também por conseqüência da novela Ana Raio e

Zé Trovão51, que trouxe um número significativo de turistas para a cidade52.

Há um grupo de canto formado exclusivamente por integrantes de uma

mesma família (três irmãos, cunhado e sobrinhos). Trata-se do Grupo de Canto da

Família Moser, fundado em 1995 com o objetivo de levar aos visitantes um pouco de

música austríaca. No Natal o grupo realiza encenações do “Auto de Natal”, seguindo

as tradições do Tirol. O grupo já tem três CD’s gravados e realiza apresentações no

Hotel Tirol (Figura 36), sempre nos horários das refeições (almoço ou jantar),

aproveitando a oportunidade para comercializar seus discos53.

50 Prefeitura Municipal de Treze Tílias, 2006. 51 Novela dirigida por Jaime Monjardim e exibida em 1990 a 1991, pela extinta Rede Manchete, que teve capítulos gravados em Treze Tílias. 52 Informações repassadas à autora pela responsável pelo grupo Edelweiss, Elisabeta Boff a 18 de setembro de 2007. 53 Informação oral repassada por Bernardo Moser, a 17 de setembro de 2007.

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Figura 36 – Grupo Família Moser em apresentação no Hotel Tirol. Fonte: da autora, 2007.

Um grupo criado com a finalidade de animar festas, bailes, saraus, shows e

eventos é o Grupo Musical Los Alpinistas, que iniciou suas atividades em 1968.

Atende a diversos tipos de eventos e inclui também em seu repertório músicas

austríacas. A instrumentação consiste em três trompetes, acordeão, guitarra,

contrabaixo, bateria e dueto musical. A equipe de sete integrantes é coordenada por

Bernardo Moser54.

Como representantes das danças da cultura austríaca, o município possui

seis grupos folclóricos55, sendo:

a) Grupo de danças Tiroler Platter: esse grupo foi fundado em 2000 e inclui no

seu repertório, além de passos tradicionais de danças austríacas, materiais como

sinos, arcos, bancos, lanternas e canhão. As roupas típicas foram confeccionadas

no Brasil, seguindo padrões tradicionais tiroleses;

b) Grupo de Danças Folclóricas Tirolesas Lindental: fundado em 1995, por

Valter Felder, que morou durante seis anos na Áustria, e trouxe para Treze Tílias

conhecimento suficiente para conduzir o grupo, que se apresenta especialmente

para os turistas nos hotéis da cidade. Do repertório constam especificamente danças

de estilo austríaco, principalmente o sapateado. Os trajes foram confeccionados

respeitando os modelos originais da Áustria, em que as moças se apresentam com

um vestido tirolês completo que traz um bordado com três flores austríacas:

54 Informação oral repassada por Bernardo Moser, a 17 de setembro de 2007. 55 Informações repassadas pela Prefeitura Municipal de Treze Tílias, 2006.

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Edelweiss, Alpenrose e Enzian e os rapazes usam a calça de couro, vestuário típico

da região do Tirol (Figura 37);

Figura 37 – Grupo de danças Lindental. Fonte: www.trezetilias.com.br, 2006.

c) Grupo de danças Schuhplatter: é o grupo de danças mais antigo do

município. Foi fundado no ano em que se iniciou a imigração austríaca em Treze

Tílias (1933). O repertório inclui representações da cultura austríaca e os trajes

mostram costumes e tradições de alguns estados austríacos;

d) Grupo de danças Kinder Platter: esse grupo foi fundado por iniciativa do

poder público municipal e tem como objetivo ensinar e difundir a cultura tirolesa,

especialmente pela dança, para as crianças e jovens da cidade. O grupo possui

subdivisões, de acordo com as faixas etárias, sendo o Grupo Mirim (para crianças de

três a sete anos de idade), o Grupo Infantil (para crianças de sete a onze anos de

idade) e o Grupo Juvenil (para jovens de onze a quinze anos de idade);

e) Grupo de danças Alpen Master: esse grupo de danças foi criado em 2001,

objetivando resgatar o prazer em expressar a dança folclórica austríaca. Atualmente

a maioria dos casais que fazem parte do grupo possui mais de 40 anos de idade;

f) Grupo de danças Alegria: é um grupo que também foi criado por iniciativa

do poder público, em parceria com a Escola Municipal Irmã Filomena Rabelo, porém,

com o objetivo de difundir entre as crianças e jovens, não só a cultura austríaca

como a alemã, italiana, portuguesa, gaúcha e brasileira.

Com exceção dos grupos de música e dança que foram fundados por

imigrantes austríacos, ainda na década de 30 do século XX, pode-se perceber que

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os demais surgiram a partir de 1991. Gradativamente o número de grupos musicais

e de danças foram sendo fundados. Tal fato ocorreu devido ao aumento do fluxo de

turistas na cidade, após a exibição da novela “A História de Ana Raio e Zé Trovão”.

O trabalho realizado pelos grupos era voluntário. Em geral, os integrantes dos

grupos se ocupavam com outras atividades remuneradas e dedicavam-se à música

e à dança com o objetivo de difundir a cultura austríaca aos turistas e visitantes.

3.2.3 Esculturas em madeira e monumentos

O município de Treze Tílias é conhecido como a Capital Catarinense da

Escultura em Madeira56. Na área central da cidade encontram-se vários ateliês de

artistas locais, que vendem suas artes, desde miniaturas (Figura 38) até peças em

tamanho natural (Figura 39). Em muitos desses ateliês é possível acompanhar o

trabalho do artista na confecção da peça. A produção das peças maiores

normalmente é feita somente sob encomenda, já as peças menores são feitas em

maior quantidade para venda no varejo. Na maioria das vezes, as peças são

vendidas para turistas no próprio local ou, então, por encomenda.

Figura 38 – Miniaturas esculpidas por José Dalla Costa. Fonte: da autora, 2007.

56 Fonte: Prefeitura Municipal de Treze Tílias, 2005.

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Figura 39 – Escultura em madeira esculpida por Conrado Moser.

Fonte: da autora, 2007.

Na Central de Informações ao Turista de Treze Tílias, há uma área reservada

exclusivamente para os escultores, em que cada um dos artistas cadastrados,

dispõe de um espaço para expor, permanentemente, a sua obra (Figura 40).

Figura 40 – Espaço para exposição permanente de esculturas. Fonte: da autora, 2007.

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Cada escultor deixa uma obra sua e, ao lado da sua escultura, há um

pedestal (Figura 41) contendo informações sobre o artista (fotografia, breve

histórico, nome, endereço e telefone para contato). A iniciativa foi pioneira, tendo

em vista que até o ano de 2006, quando o local foi aberto, não havia sido feita

nenhuma atividade que unisse todos os escultores. Até então, cada artista

trabalhava, divulgava e vendia o seu produto de forma independente.

Figura 41 – Pedestal com informações (escultura de Werner Thaler). Fonte: da autora, 2007.

Folliet (1968) afirma que o trabalho das mãos é uma grande experiência de

solidariedade humana, já que o trabalho e o ofício não se separam da cultura, pois o

artista aplica conhecimentos da sua própria cultura em sua obra, fazendo com que

ela permaneça viva e renovada.

Convém citar o posicionamento de Kowalski57 (1977 apud MORAES, 2000, p.

173) a respeito dos trabalhos manuais. O artista explica que

O equilíbrio físico e mental, o sentido do real, da matéria e da duração, a objetividade, a seriedade são qualidades de cultura – e a base comum de

57 Escultor francês, de origem polonesa, expôs sua arte em vários países, inclusive no Brasil, faleceu no ano de 2004.

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todos os trabalhos manuais na qual cada profissão está bem ou mais ou menos assentada. A arte é uma hipótese pessoal que é a seguir verificada pela sociedade. Se esta não se interessa, o artista permanece isolado e não tem público. O artista cria coisas e as coloca no mundo. Estas coisas podendo ou não se transformar em necessidade para o público, dependendo de seu maior ou menor interesse. O que quero dizer é que a arte tem uma função social desde o início. Mas que é o público que permitirá à arte cumprir sua destinação social (...) são os espectadores que fazem a arte.

Em uma comunidade que possui a cultura como atrativo turístico principal,

unir a arte e seus apreciadores torna-se mais um aspecto positivo relacionado à

integração dos residentes e à valorização dos aspectos culturais do município. Há

dezenove escultores cadastrados no município, alguns com especialização na

Alemanha ou na Áustria58, passam seu conhecimento de pais para filhos, dando

continuidade a este costume. Entre os escultores cadastrados estão59 Ivo Boesing,

Werner Thaler, Rudi Moser, Christian Moser, Mariana Thaler, Luiz Hentz, Conrado

Moser, Conrado Michael Moser, Katharina Moser, Godofredo Thaler, Ingrid Thaler,

Bruno Thaler, Suzi Thaler Perondi, Guinther Thaler, José Dalla Costa, Ellen Thaler,

Starbak Schneider,Taísa Moser, Raimundo Moser, Germano Pattis, Ludwig

Blahowetz e Evandro Ferronatto.

Também como reflexo de uma comunidade em que se destacam artistas, o

município possui vários monumentos, que foram criados por escultores locais e que,

de alguma forma, ilustram a história do município, além de fazer também referência

à atividade econômica de destaque na cidade. Não são considerados atrativos

turísticos, mas fazem parte do city tour60 com os grupos de turistas.

O monumento da “Vaquinha” (Figura 42), de autoria do escultor Conrado

Moser, está localizado na rótula das Ruas Oscar R. da Nova, José Bonifácio e Rua

Videira. Foi inaugurado a 25 de julho de 1982 e construído com o propósito de

homenagear os agropecuaristas do município de Treze Tílias. Como atrativo para os

turistas e visitantes, foi colocado um registro de água no jardim e, quando um

condutor de turismo local pára com o grupo nesse ponto, aciona o registro que jorra

água dos úberes da vaca, simulando a saída de leite.

58 Fonte: Prefeitura Municipal de Treze Tílias, 2006. 59 Fonte: Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Turismo, 2007. 60 Passeio na área central da cidade e arredores, conduzido por um guia ou condutor turístico.

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Figura 42 – Monumento em homenagem aos agropecuaristas. Fonte: da autora, 2007.

Outro monumento que ilustra a atividade leiteira do município, já que a

pecuária tem forte participação no Produto Interno Bruto - PIB do município, devido a

presença da empresa de Laticínios Tirol, é o monumento em homenagem aos

agricultores e pecuaristas do município (Figura 43). Foi também esculpido por

Conrado Moser e inaugurado em dezembro de 2000. Está localizado na Rua

Ministro João Cleophas, em frente a Laticínios Tirol.

Figura 43 – Monumento em homenagem ao agropecuarista.

Fonte: da autora, 2007.

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O monumento em homenagem ao imigrante austríaco (Figura 44) está

localizado em frente ao prédio da Prefeitura Municipal, na Praça Ministro Andréas

Thaler e representa uma família de imigrantes, em que se vê o pai, a mãe e dois

filhos pequenos, sendo um deles ainda de colo. Percebe-se também uma ferramenta

de trabalho (machado), representando o esforço para retirar do local sua fonte de

sustento. Foi esculpida por Conrado Moser, em comemoração aos 55 anos da

imigração austríaca (1988), quando os bravos e pioneiros desbravadores foram

lembrados. Nos anos de 1993 e 2003, o Rotary de Treze Tílias fixou, na base da

escultura, placas em homenagem à comemoração dos 60 e 70 anos de imigração,

respectivamente.

Figura 44 – Monumento em homenagem ao imigrante austríaco.

Fonte: da autora, 2007.

O monumento Andréas Thaler (Figura 45) está localizado na praça central da

cidade e é uma homenagem ao fundador da cidade. Foi esculpida por Werner Thaler

e entregue na comemoração dos 70 anos de imigração austríaca (comemorada a 13

de outubro de 2003).

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Figura 45 – Monumento em homenagem à Andréas Thaler. Fonte: da autora, 2007.

Apenas dois escultores do município foram os responsáveis por elaborar os

monumentos descritos anteriormente, são Conrado Moser e Werner Thaler.

Conforme dados repassados pela Secretaria Municipal de Turismo, apenas esses

escultores esculpem suas obras também em concreto, material utilizado para a

confecção dos monumentos mencionados.

Conrado Moser é filho de imigrantes austríacos e começou a esculpir em

1957, aos 13 anos de idade. De 1974 até 1976, permanceu em Oberammergau,

Alemanha, onde buscou especializar-se em esculturas. Somente em 1981 mudou-se

para Treze Tílias e montou um ateliê com exposição permanente de suas obras. Sua

linha de trabalho é voltada para a confecção da arte sacra.

Werner Thaler nasceu em uma família com tradição em escultura. Iniciou-se

no aprendizado ainda criança, aos 8 anos de idade. Ao residir na Áustria, freqüentou

a Escola de Escultura de Elbigenalp, com o objetivo de aprofundar seus

conhecimentos na área. Quando retornou ao Brasil, montou em Treze Tílias seu

ateliê, onde trabalha com diversos tipos de esculturas em madeira, pedra, bronze e

concreto.

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De maneira geral, todos os escultores cadastrados já venderam peças para

clientes residentes em outros países, porém a forma como a venda aconteceu foi

diretamente ao turista. Nenhum dos escultores do município possui a documentação

necessária para exportar produtos.

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3.2.4 Museu Municipal

Os museus são a representatividade da história e da cultura de um povo ou

de uma comunidade. De acordo com ICOM – International Council of Museums,

o museu é uma instituição permanente, sem finalidade lucrativa, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que realiza pesquisas sobre a evidência material do homem e do seu ambiente, adquire-a, conserva-a, investiga-a, comunica e exibe-a, com a finalidade de estudo, educação e fruição (1986 apud BARRETTO 2001, p. 55).

Por representarem parte da história da evolução do homem, os museus se

tornam um atrativo para o turismo, já que por meio deles os turistas podem conhecer

o passado histórico do local em que estão visitando (OLIVEIRA, 2002).

O Museu Andréas Thaler de Treze Tílias (Figura 46) está localizado na área

central da cidade e ocupa o prédio que foi originalmente a residência do fundador do

município, Andréas Thaler.

Figura 46 – Museu Andréas Thaler. Fonte: da autora, 2005.

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O prédio foi construído no ano de 1936 e inaugurado em 1937, para servir de

residência da família do fundador (Figura 47). A característica arquitetônica do

prédio lembra um castelo, pois foi a primeira construção em alvenaria do município e

é considerado um marco da colonização austríaca. A partir de 13 de outubro de

2002, o local passa a ser a sede do Museu61.

Figura 47 – Museu Andréas Thaler. Fonte: Ingrid Thaler, 2003.

Andréas Thaler foi o principal responsável pelo surgimento da atual cidade de

Treze Tílias e por isso foi homenageado com a abertura do Museu Municipal.

Andréas Thaler nasceu em 10 de setembro de 1883, na comunidade de

Oberau, município de Wildschönau, no estado do Tirol, Áustria. Chegou a estudar

para ser padre, mas optou por seguir a mesma atividade dos seus pais, a

agricultura. Teve intensa vida política, durante o período da Primeira Guerra

Mundial, chegou a ser prefeito do município onde nasceu. Mais tarde ocupou outros

cargos, foi eleito para o parlamento do Estado do Tirol, em que defendeu o interesse

61 Prefeitura Municipal de Treze Tílias, 2005.

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dos agricultores, presidiu também o Conselho de Cultura Estadual e por fim,

assumiu o cargo de Ministro da Agricultura da Primeira República.

Casou-se com Gisela Thaler (nascida a 12 de dezembro de 1894 e falecida

em 1962), em 9 de fevereiro de 1914, em Oberau, Áustria. Juntos tiveram 14 filhos62:

a) Andréas: nascido em 1914. Casou-se com Maria Zimmermm e teve 10

filhos. Residia em Treze Tílias e hoje é falecido;

b) Gisela: nascida em 1916. Casou-se com Thomas Praxmarer e teve 5 filhos.

Residia em Treze Tílias e hoje é falecida;

c) Hermann (1): Nasceu em 1918 e faleceu ainda lactente;

d) Hermann (2): nasceu em 1919. Casou-se com Hani Steinwandter e teve 7

filhos. Hoje é falecido;

e) Winfried: nasceu em 1921, casou-se com Maria Hohbieder e teve 6 filhos.

Reside em Campo Grande, MS;

f) Hildegard: nasceu em 1922. Casou-se com Fritz Kanfmann e teve 4 filhos.

Reside em Curitiba, PR;

g) Raimund: nasceu em 1922 e faleceu ainda criança;

h) Rudolf: nascido em 1926. Casou-se com Grett Kranz e teve 8 filhos

homens. Reside em Palmas, PR;

i) Frieda: nascida em 1927, casou-se com Friedrich Gwiggner e teve 9 filhos.

Reside em Oberau, na Áustria;

j) Ernest: Nasceu em 1929. Casou-se com Nairda Andrade, não tem filhos e é

o único descendente direto de Andréas Thaler que reside em Treze Tílias;

k) Bernhard: nascido em 1931, faleceu ainda criança;

l) Walter: nascido em 1932, casou-se com Helena Schupenlehner e teve 3

filhos. Faleceu em 2005;

m) Hedwimg: nasceu em 1932, é solteira e reside em Oberau, Áustria;

n) Otto: nascido em 1936, faleceu ainda lactente.

Apenas o último filho do casal nasceu em Treze Tílias, todos os demais

nasceram na Áustria. Em julho de 1934, Andréas Thaler, juntamente com sua

esposa e filhos embarcam no Navio Princepessa Maria, acompanhados do maior

grupo de imigrantes austríacos com destino ao Brasil (257 pessoas). Após essa

62 Informação coletada na exposição do Museu Municipal Andréas Thaler, em 16 de setembro de 2007.

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data, Thaler não retorna mais a sua terra natal. Alguns anos depois, na tentativa de

salvar a ponte do rio Papuan durante uma enchente, o fundador da cidade morre

afogado.

No Museu Municipal é possível conhecer parte da vida de Andréas Thaler. A

visitação é exclusivamente realizada na parte interna do prédio e o acesso somente

é permitido a cinco salas, onde se encontra o chamado Espaço Ministro Andréas

Thaler, que foi o escritório do ministro, e ainda é possível encontrar alguns de seus

pertences (livros, escrivaninha e cadeira). Em outra sala, chamada de Sala da

Imigração Austríaca, existem imagens iconográficas dos imigrantes a bordo dos

navios e também logo da sua chegada ao Brasil. Na cozinha da casa encontram-se

utensílios e objetos da época, além de fogão, mesa, banco de canto e uma máquina

de lavar roupas (movida a força do homem). Na parte superior do prédio, pode-se

visitar o quarto do casal, com mobiliário, roupas e fotos da família e também uma

sala com objetos que lembram a religiosidade e a musicalidade dos imigrantes.

No segundo piso do prédio, dois espaços são reservados para o Ernest

Thaler (filho do fundador), onde estão um banheiro e um quarto para dormir. Essa foi

a condição por ele imposta para permitir a utilização do prédio tombado pelo

patrimônio municipal, como Museu63. Duas pessoas trabalham no local, uma realiza

a limpeza e a outra presta informações aos turistas e recebe o valor da taxa de

manutenção do prédio, que para o ano de 2007 é de R$ 1,00.

O museu abre suas portas diariamente, exceto às terças-feiras. Não há

nenhum programa específico para receber grupos, apenas descontos no valor do

ingresso. Também não se percebe nenhuma inovação em relação à forma de

conduzir as visitações, para despertar nos visitantes um maior interesse em

conhecer o que o museu oferece.

De acordo com algumas tendências de mudanças para a melhor utilização

dos museus, Barretto (2000) destaca o fato de que atualmente eles estão se

adaptando a uma nova realidade64, pois encontraram no turismo uma fonte de

sustentação. Além da venda de ingressos, os museus podem oferecer a

possibilidade para o visitante produzir algo no local, por meio de oficinas; participar

de cursos ou palestras; apresentações teatrais, ou então comprar souvenires,

63 Informação oral repassada pela estagiária do Museu, Vanessa Carina Concatto, a 16 de setembro de 2007. 64 Ao interpretar Barretto, presume-se que “nova realidade” diz respeito à interatividade que o visitante procura ao estar em um Museu.

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reproduções, réplicas e catálogos. A autora ressalta que o Museu também deve

estar equipado com infra-estrutura para a alimentação do visitante.

Paralelamente ao cuidado com a conservação das características

arquitetônicas, percebe-se também a preservação das tradições culturais por meio

da gastronomia, verificada pelo número de restaurantes que servem pratos típicos;

pela música e da dança, percebida por meio da criação de grupos de dança e canto

e também pela preservação da arte em madeira. Ainda, além das festividades, a

existência do Consulado Honorário Austríaco de Treze Tílias, por meio do programa

de intercâmbio, favorece para que o elo cultural dos munícipes com as tradições

austríacas seja fortalecido.

3.3 INFRA-ESTRUTURA TURÍSTICA

A seis de outubro de 2006, foi inaugurado, em Treze Tílias, um novo prédio

público, com 300m², localizado a Rua Leoberto Leal, 195. O prédio abriga a Câmara

de Vereadores, a Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio e a Central de

Informações Turísticas de Treze Tílias (Figura 48).

Figura 48 – Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo. Fonte: da autora, 2007.

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Nos setores de Turismo e Informações Turísticas da Secretaria de Turismo,

Indústria e Comércio de Treze Tílias atuam 5 pessoas. São elas: o Secretário, o seu

Chefe de Gabinete, dois atendentes e um estagiário (que realiza suas atividades no

Museu Municipal Andréas Thaler). O atendimento é realizado de segunda a sexta-

feira, no horário comercial, aos sábados, das 9h às 12h e das 14h às 17h e aos

domingos, das 9h às 12h. Nesses horários, os turistas e visitantes que chegam até o

local, são convidados a assistir um vídeo promocional do município, em um auditório

equipado com recursos de projeção visual, com capacidade para receber até 50

pessoas. Os visitantes também podem conhecer a exposição permanente de

esculturas, localizada no saguão do prédio. Ao término da visita, as pessoas são

convidadas a assinar o livro de visitantes. Mediante (nome e local de procedência), é

realizado o levantamento do número estimado de visitantes ao município65.

No departamento de Informações Turísticas, são prestados todos os tipos de

informações sobre o município. Há também, no lado de fora do prédio, funcionando

24 horas ao dia, um painel eletrônico (Figura 49) que contém as imagens dos

empreendimentos de hospedagem do município, endereço e telefone de contato.

Figura 49 – Painel eletrônico dos meios de hospedagem. Fonte: da autora, 2007.

65 Informação oral repassada pelo Secretário de Turismo, Indústria e Comércio de Treze Tílias, Armindo Ansilieiro Jr, a 17 de setembro de 2007.

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Abaixo de cada foto, há um botão verde e outro vermelho. Caso esteja

piscando o botão verde, significa que aquele empreendimento ainda possui

unidades habitacionais para locação e, caso esteja piscando o botão vermelho,

significa que o empreendimento já está lotado. No centro do painel, há um pequeno

quadro eletrônico, onde é possível selecionar o meio de hospedagem desejado para

saber maiores detalhes sobre a infra-estrutura e valor das diárias. Esse painel

eletrônico facilita a escolha do turista, que pode visualizar nele todos os hotéis e

pousadas ao mesmo tempo, e optar por aquele que mais lhe convier, mesmo em

horários em que o serviço de informações turísticas está indisponível.

Há no município, uma Associação Comercial, presidida por Adair Zuffo, que

possui um Núcleo de Turismo. Este, por sua vez, é presidido por Roberto Koler e

promove reuniões mensais com associados representantes de todos os hotéis,

pousadas, parques e alguns restaurantes, para discutir temas relativos à atividade

turística. Além da mensalidade que é paga à Associação, todos os

empreendimentos de hospedagem do município cobram uma taxa66 de R$1,00 de

cada hóspede (taxa turismo), que repassam à Associação Comercial.

Em relação à inserção do município no contexto regional do turismo, algumas

ações estão sendo realizadas. Atualmente, a cidade participa do roteiro turístico

denominado como Arranjo Produtivo Local - APL Turismo Rota da Amizade e da

Uva, o qual é resultado do Plano Nacional do Turismo 2003/2006, que tinha como

diretrizes políticas a redução das desigualdades regionais, a geração e distribuição

de renda, a geração de empregos e ocupação e o equilíbrio no balanço de

pagamentos. Um dos Macro-programas foi a “Estruturação e Diversificação da

Oferta Turística”, sendo meta que cada estado da federação e o Distrito Federal

estruturassem pelo menos três novos produtos turísticos de qualidade até o ano de

2007. Para tal, foi criado o Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do

Brasil, apresentado em 29 de abril de 2004, pelo Presidente Luiz Inácio Lula da

Silva, o então Ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia e os parceiros

estratégicos do Programa. Um desses parceiros é o Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, que lançou o Programa Arranjo Produtivo

Local – APL para Treze Tílias e região. O programa denominado de APL Rota da

Amizade e da Uva tem por objetivo que todos os envolvidos trabalhem em sintonia e

66 Valor equivalente para o ano de 2007.

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se qualifiquem. O programa fortalece a empresa, pois as empresas juntas formam

um grupo articulado e importante para a região. Essa união facilita a troca de

informações, o surgimento de novas idéias, a interação com o governo, associações

empresariais, associações de produtores, órgãos públicos e instituições de crédito,

ensino e pesquisa (SEBRAE, 2008).

Os empresários dos ramos relacionados ao turismo que participam da APL

são:

- Categoria Hotéis: Hotel Dreizehnlinden, Hotel Tirol Ltda, Hotel Schneider,

Bristol Multy Treze Tílias Park Hotel e a Pousada Adler;

- Categoria Restaurantes e Lanchonetes: Parque dos Sonhos e Restaurante e

Pizzaria Edelweiss;

- Categoria Comércio: Edelweiss Malhas Ltda;

- Categoria Lazer e Entretenimento: Parque Lindendorf e Minicidade e Termas

Internacional Vale das Tílias;

- Categoria Artesanato: Casa do Artesanato;

- Categoria Turismo Rural: Colônia Italiana – Afalpi;

- Categoria Indústria: Cervejaria Bierbaum Ltda e Chocolate Caseiro Treze

Tílias;

- Categoria foto e filmagem: Rádio Tropical FM.

Entretanto nem todas as empresas diretamente ligadas à atividade turística

no município fazem parte da APL. Entre os municípios participantes da APL Rota da

Amizade e da Uva estão Piratuba, Joaçaba, Treze Tílias, Tangará, Pinheiro Preto,

Videira e Fraiburgo. O valor investido no projeto é de R$ 1.661.000,00 (a fundo

perdido) e esse valor será direcionado para o marketing da promoção e venda

desses destinos, em pesquisas de mercado, visitas técnicas, viagens de

familiarização, participações em feiras para a captação de negócios, bem como na

capacitação dos recursos humanos que atuam diretamente nas empresas

participantes da APL67.

De acordo com dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Turismo68, a

infra-estrutura turística existente no município é suficiente para atender à demanda

atual. O único inconveniente é que o município não possui agência de viagens. Aos

67 Fonte: www.rotadaamizade.com.br. Acesso em 26 de janeiro de 2008. 68 Informação oral repassada em 11 de setembro de 2005, pelo atual Secretário Municipal de Turismo de Treze Tílias, Armindo Ansilieiro Júnior.

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grupos que chegam a Treze Tílias, com ônibus próprio, é oferecido um serviço

privado de condutores locais, cadastrados no setor de Informações Turísticas69 . Os

condutores, trajados tipicamente, acompanham o grupo durante todo o passeio,

explicando fatos ligados à história e ao turismo local. As guias locais não são

cadastradas pela Prefeitura, nem possuem contrato.

Para facilitar o transporte dos turistas que desejam conhecer os atrativos da

área central do município, há o serviço oferecido pelo “trenzinho” (Figura 50), de

propriedade particular do professor aposentado Luiz Boff70, que conduz o passeio

conforme a solicitação dos passageiros. Em geral, são visitados os atrativos da

cidade. O valor é de R$ 5,00 para adultos, R$ 3,00 para crianças e R$ 1,00 para

moradores do município. Esse serviço passou a ser oferecido aos turistas em 1992,

quando Luiz Boff percebeu um aumento do número de visitantes em decorrência da

gravação da novela “A História de Ana Raio e Zé Trovão”. Em relação aos atrativos

da área do interior do município, há o serviço de passeios programados e

acompanhados pelos condutores locais.

Figura 50 – Trenzinho. Fonte: da autora, 2007.

69 Em 2008 são três condutoras que trabalham de forma autônoma e cobram cerca de R$ 50,00 por grupo. 70 Luiz Boff comprou um caminhão usado e o adaptou para servir aos turistas. Ele próprio faz a manutenção e os reparos, quando necessário.

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De dezembro de 1990 a outubro de 1991, o município de Treze Tílias foi

cenário de algumas gravações da novela “A História de Ana Raio e Zé Trovão”,

exibida pela extinta Rede Manchete de Televisão, atual Rede TV. A novela itinerante

foi um dos grandes sucessos da emissora, alcançando 16 pontos de audiência em

São Paulo e 23 no Rio de Janeiro, por isso foi reprisada de forma compacta, de 29

de março a 31 de maio de 199371. Analisando o ano de abertura de muitos

empreendimentos turísticos em Treze Tílias, percebe-se que aconteceram

paralelamente ao ano da primeira exibição da novela ou logo após. Isso demonstra

que a inserção do município na mídia televisiva foi positiva, resultando no aumento

do fluxo de turistas e refletindo em resultados econômicos favoráveis, graças à

abertura das empresas do ramo turístico e conseqüente aumento do número de

empregos para a população local.

Como a novela retratava uma história de peões, era preciso cenários externos

no meio rural. Porém é curioso refletir que nos capítulos exibidos na novela, não

aparecem imagens da área urbana do município, onde se concentra hoje um dos

maiores atrativos da cidade e também o maior número de empresas do ramo

turístico.

3.3.1 Equipamentos de Hospedagem

Em relação à hospedagem, o município possui seis hotéis, cinco pousadas e

outros meios alternativos de hospedagem (camping, cabanas e sistema bed and

breakfast72). Conforme informações colhidas junto à Prefeitura Municipal, Treze

Tílias dispõe de 265 unidades habitacionais e 735 leitos, distribuídos entre os hotéis

e pousadas (Figura 51):

71 Fonte: www.wikipedia.org, acesso em 25 de janeiro de 2008. 72 Alojamento em casas de famílias, com estrutura adequada para receber um pequeno número de hóspedes. Seus serviços se resumem a ceder cama e café da manhã para o visitante, conforme o padrão familiar do anfitrião.

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Figura 51: Mapa de localização dos empreendimentos de hospedagem de Treze Tílias. Fonte: Plano Diretor de Treze Tílias (2008), adaptado pela autora.

1 2

3 4

5

6

7

8

9

10

11

LEGENDA: 1 Hotel Áustria 2 Hotel Tirol 3 Hotel Dreizenlinden 4 Hotel Schneider 5 Hotel Alpenrose 6 Bristol 7 Pousada Adler 8 Sítio Palmeiras Bauernhof 9 Camping Felder 10 Pousada Europa 11 Cabanas Vale das Tílias

ESCALA: 1cm = 187m

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a) Hotel Áustria: sua inauguração aconteceu no mês de outubro de 1948,

sendo o primeiro empreendimento hoteleiro do município, de propriedade de João

Schölh. Criado inicialmente com o intuito de atender caixeiros viajantes, a partir da

década de 90 passou a atender também turistas de lazer. Desde a sua inauguração

teve várias administrações e passou por várias reformas. Desde 1994 pertence a

Gecelina Klotz, professora aposentada e gerente do Hotel, e a seu filho, Eduardo

Klotz, estudante. Sua administração é familiar e possui apenas uma funcionária.

Está localizado no anel central da cidade e destaca-se das demais construções por

sua edificação ter três pavimentos em madeira (Figura 52). Devido às características

de sua construção, é beneficiado pelo desconto no Imposto Predial Territorial

Urbano, concedido pela Prefeitura Municipal de Treze Tílias. É um hotel simples e

de pequeno porte, possui apenas 33 leitos distribuídos em nove unidades

habitacionais, cada uma com banheiro privativo, televisor e minibar. Não possui

nenhum equipamento para lazer do hóspede e oferece serviços básicos, como

serviço de lavanderia, estacionamento, espaço para acesso a internet e café da

manhã incluso na diária. Não dispõe de restaurante, pois de acordo com a

administração do hotel, é preciso deixar o hóspede livre para conhecer outros

empreendimentos da cidade. Em média, os hóspedes que freqüentam esse

empreendimento permanecem apenas uma noite, são na maioria turistas a negócios

e a maior taxa de ocupação é registrada nos períodos de férias escolares e no mês

de outubro, quando se realiza a festa comemorativa da imigração austríaca: a

Tirolerfest73.

73 Informação oral repassada por Gecelina Klotz, proprietária do Hotel, a de 16 de setembro de 2007.

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Figura 52 – Hotel Áustria.

Fonte: da autora, 2007.

b) Hotel Tirol74: está entre os hotéis mais requintados da cidade, tendo sido

inaugurado a 9 de junho de 1984, porém em outro local. A iniciativa de abrir um hotel

surgiu de um dos atuais sócios-proprietários, João Klotz75 e esposa, ambos

descendentes de austríacos e que viam no município certa vocação para o turismo.

Inicialmente o casal arrendou a casa de um médico que residia na Alemanha para

alugar os oito quartos como forma de hospedagem. Como o negócio prosperou, a 14

de janeiro de 1985, foi iniciada a escavação de um terreno comprado pelo casal,

com a finalidade de construir o Hotel Tirol, inaugurado a 13 de outubro de 1987.

Com 20 unidades habitacionais, o hotel era administrado pela família, contava ainda

com três funcionários. O Hotel Tirol localiza-se na área central do município, na Rua

São Vicente de Paulo, 111. Pelo fato de os proprietários serem descendentes de

austríacos, o empreendimento foi construído de acordo com as características da

arquitetura tirolesa (Figura 53), embora até o ano de 2007 não tenha sido, conforme

informações obtidas de João Klotz, beneficiado com a Lei de Isenção Fiscal

concedida pela Prefeitura Municipal.

74 Informação oral repassada pelo sócio-proprietário do Hotel Tirol, João Klotz, a 17 de setembro de 2007. 75 Antes de se dedicar à hotelaria, João Klotz trabalhou na agricultura até os 26 anos de idade. De 1972 até 1983 foi proprietário da Empresa Incotril Indústria de Conservas Treze Tílias Ltda e após vendê-la trabalhou em uma pedreira (de 1983 a 1987).

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Figura 53 – Hotel Tirol. Fonte: da autora, 2007.

A construção do empreendimento exigiu recursos obtidos por meio do

financiamento concedido pela Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina

S.A. – Badesc. Já as ampliações realizadas posteriormente foram feitas com verbas

próprias. Atualmente o Hotel Tirol conta com 40 unidades habitacionais, entre as

quais 11 suítes. Todas as unidades possuem sistema de calefação, refrigeração,

banheiro privativo, televisor, minibar e café da manhã incluso na diária. Conta com

uma variedade de opções de lazer, tais como piscina aquecida, loja, espaço para

acesso a internet, parque infantil, minizoológico, bar, sauna, sala de ginástica e

quadra poliesportiva, auditório para 250 pessoas, três salas de apoio, duas delas

com capacidade para 40 pessoas e a terceira com capacidade para 56 pessoas,

além de serviços básicos, como lavanderia e garagem coberta. Atualmente o

empreendimento está sendo ampliado e vai dispor de mais 12 unidades

habitacionais. Os proprietários também oferecem mais cinco unidades habitacionais

para hospedagem na sua casa particular, localizada na mesma área do Hotel Tirol,

porém com diárias mais econômicas.

A gastronomia é também um dos atrativos desse empreendimento, tendo em

vista que o restaurante é aberto, inclusive para o público externo, para almoço e

jantar. Esses fatores acabam contribuindo para o aumento da permanência do

hóspede no hotel, que nesse caso é de duas noites.

A administração do empreendimento é familiar, trata-se de uma sociedade

entre pais e filhos, em que João Klotz e esposa possuem 20% das ações, e cada um

dos filhos (Marina, Cristina, Roberto e Sabrina), 20% das ações cada. As funções

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são divididas e todos os sócios ocupam cargos de gerência. Além da família, o

quadro de recursos humanos é formado por 21 colaboradores fixos e, quando a taxa

de ocupação do hotel está elevada, são contratados colaboradores temporários,

conforme a necessidade, na maioria para auxiliar na produção de alimentos e/ou na

higienização das unidades habitacionais.

A maior taxa de ocupação acontece nos meses de janeiro e julho, sendo a

maioria dos hóspedes (cerca de 70%) representados por turistas de lazer.

c) Hotel Dreizenlinden76: inaugurado em 13 de outubro de 1993, no dia em

que se comemora a fundação do município. Seu nome, traduzido, significa Hotel

“Treze Tílias”, e pertence ao casal de escultores Katharina e Conrado Moser, que já

tinham experiência com a hotelaria antes de inaugurar o empreendimento. Katharina

é austríaca e filha de hoteleiros. Já trabalhava em hotéis na Áustria, desde os 16

anos de idade. A mãe de Conrado Moser foi também pioneira nesse setor, pois

desde 1920, quando ainda residia em Oberal, na Áustria, recebia hóspedes em sua

casa.

Localizado na área central da cidade, na Rua Leoberto Leal, 392, possui

características arquitetônicas tirolesas (Figura 54), sendo beneficiado pela Lei de

Isenção Fiscal concedida pela Prefeitura Municipal. Iniciou as atividades em 1993,

com 20 unidades habitacionais. Além de algumas reformas, foi ampliado em 1996

para receber mais 12 unidades habitacionais e uma piscina; em 1997 foi construído

o restaurante; em 2003 foram ampliadas mais 32 unidades habitacionais e existem

planos para ampliar o restaurante e uma sala. A construção do Hotel, bem como

todas as reformas foram realizadas com recursos próprios.

76 Informação oral repassada pelos proprietários do Hotel Dreizenlinden, Conrado Moser e Katharina Moser, a 16 de setembro de 2007.

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Figura 54 – Hotel Dreizenlinden. Fonte: da autora, 2007.

Todas as unidades habitacionais, entre suítes e apartamentos, possuem

minibar, ar refrigerado, banheiro privativo e café da manhã incluso na diária. Oferece

ao hóspede serviço de lavanderia, garagem, restaurante, bar, piscina térmica,

espaço para acesso a internet, loja, galeria de arte e uma sala de jogos. Os serviços

de alimentação como almoço e jantar são oferecidos somente por encomenda ou

então para grupos de excursão.

A administração do empreendimento é familiar, cinco pessoas da família

trabalham no Hotel, que é gerenciado pela filha do casal, Cláudia Moser, bacharel

em Turismo e Hotelaria. O empreendimento possui também dois funcionários fixos.

A maioria dos hóspedes são turistas a lazer e a maior taxa de ocupação

acontece desde o mês de setembro até o período de carnaval.

d) Hotel Schneider77: está localizado na rodovia que dá acesso ao município,

a SC 454, km 12. No ano de 1993, era apenas a residência da família Schneider e

possuía em anexo uma loja para a venda de esculturas e trabalhos artesanais. Em

1998, com o propósito de investir o capital da família em algum negócio, o escultor

Schneider, descendente de austríacos, ampliou a residência para dar origem ao

Hotel, oferecendo inicialmente dez unidades habitacionais e 27 leitos. Desde a sua

concepção é beneficiado pela Lei de Isenção Fiscal concedida pela Prefeitura

Municipal de Treze Tílias.

77 Informação oral concedida pelo gerente do Hotel, Starback Schneider, a 17 de setembro de 2007.

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Em 2004, em decorrência do aumento da taxa de ocupação hoteleira, o

gerente do empreendimento decidiu buscar recursos junto ao Banco do Brasil, para

financiar a ampliação de mais 5 unidades habitacionais, passando a ter capacidade

de hospedagem para 49 pessoas (Figura 55). Todas as unidades habitacionais

possuem banheiro privativo, televisor e café da manhã incluso na diária.

Figura 55 – Hotel Schneider. Fonte: da autora, 2007.

Caracteriza-se por ser um empreendimento de pequeno porte, administrado

pela própria família. Starback Schneider gerencia o Hotel e sua mãe, Lisolete

gerencia a área de alimentos e bebidas. Possui apenas um funcionário fixo,

responsável pela higienização do empreendimento e, quando há necessidade, são

contratados colaboradores diaristas para auxiliar nas atividades.

Oferece aos hóspedes serviços de lavanderia, garagem, bar, espaço para

acesso a internet, loja e galeria de arte. A maior taxa de ocupação acontece no

período de dezembro, até o término do carnaval.

e) Hotel Alpenrose78: está localizado na área central do município, na Rua

João Cleophas, 340. A proposta inicial era construir apenas apartamentos para

moradia. Os proprietários da construção estavam trabalhando na Áustria, guardando

dinheiro com o propósito de investir em Treze Tílias, e mandavam o dinheiro para

78 Informação oral repassada pela proprietária do empreendimento, Cláudia Felder Stary, a 16 de setembro de 2007.

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que a irmã da proprietária aplicasse na construção. Após retornarem definitivamente

a Treze Tílias, os apartamentos ainda não estavam prontos e, então, tomaram a

decisão de transformá-lo em um hotel, por dois fatores, a cidade já possuía certo

fluxo de turistas e o outro é que os proprietários precisavam de uma ocupação no

Brasil e tinham experiência em empresas hoteleiras durante o período em que

trabalharam na Áustria. Foi inaugurado em 1992, e em 2000 passou por reformas,

quando foram construídas mais 15 unidades habitacionais, piscina, elevador e

restaurante. Em 2004 a cozinha do empreendimento foi ampliada. Para as

ampliações, foi necessário recorrer ao financiamento de 50% do valor investido.

Esse hotel foi também construído com características arquitetônicas tirolesas (Figura

56), sendo por isso beneficiado pela Lei de Isenção Fiscal.

Figura 56 – Hotel Alpenrose.

Fonte: da autora, 2007.

Possui 30 unidades habitacionais, entre elas duas suítes, totalizando 72

leitos. Todas as unidades estão equipadas com banheiro privativo, televisor, minibar

e o café da manhã está incluso na diária. Oferece aos hóspedes serviços de

lavanderia, bar, estacionamento, piscina térmica, espaço para acesso a internet e

uma mesa de sinuca. O Hotel não dispõe de restaurante aberto ao público, somente

atende a grupos com reserva antecipada. Hospeda sobretudo turistas a lazer e

registra maior taxa de ocupação em feriados prolongados, no mês de julho e no

período de outubro até o carnaval.

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O Hotel Alpenrose é um empreendimento de propriedade de descendentes de

austríacos, e é administrado por três membros da mesma família. Durante o ano

possui um quadro funcional de quatro colaboradores. No período de maior taxa de

ocupação, os administradores do hotel contratam até três funcionários temporários,

para auxiliar na cozinha e limpeza das unidades habitacionais.

f) Bristol Multy Treze Tílias Park Hotel: o empreendimento foi concebido com

o propósito de trabalhar com o sistema de condomínio. Cada associado pagaria uma

cota inicial, que seria utilizada na construção do empreendimento e depois passaria

a pagar uma taxa anual que permitiria utilizar a unidade habitacional, sempre que

quisesse. Inaugurado em 1994, era de propriedade de Virton Shefer. Porém, logo

nos primeiros seis meses de operação, constatou-se que a proposta inicial não

prosperou e a alternativa foi transformá-lo em um hotel convencional. Para os que já

haviam adquirido o título, cerca de 30 pessoas, é permitido usufruir do

empreendimento pagando apenas a taxa de limpeza da unidade habitacional. Mais

tarde, o empreendimento foi vendido para investidores da cidade de Curitiba, que

logo venderam o empreendimento para o Sr. Afonso Dresch, que tinha sido

Secretário da Agricultura de Santa Catarina e prefeito de Treze Tílias79.

Em 2006, o Treze Tílias Park Hotel foi arrendado para a Rede Bristol de

Hotéis e Resorts80 e passou a receber o nome fantasia de Bristol Multy Treze Tílias

Park Hotel. Essa negociação aconteceu por iniciativa de Afonso Dresch, proprietário

do prédio, que entrou em contato com a gerência do grupo que realizou um estudo

de viabilidade e acabou por aceitar a proposta. De acordo com a classificação

interna da Rede Bristol, o termo “multy” agregado ao nome fantasia do

empreendimento significa “Categoria Superior”. Trata-se do hotel com maior

capacidade de hospedagem em Treze Tílias e o único do município cuja

administração não é familiar81.

Sua localização é considerada central, porém fica um pouco afastado do anel

viário central, o que permite uma vista panorâmica da cidade. Esse foi o último

empreendimento hoteleiro de porte construído no município, inaugurado em 1994. A

79 Informação oral repassada pelo Coordenador de Hospedagem e Chefe de Recepção do Hotel, Gean Barbieri, a 17 de setembro de 2007. 80 Trata-se de uma rede brasileira que iniciou as atividades em 1994 e em 2008 administra 20 empreendimentos de hospedagem no Brasil. 81 Informação oral repassada pelo Gerente Geral, Marcelo Augusto da Silva, a 17 de setembro de 2007.

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construção é imponente (Figura 57) e também está de acordo com as

especificações da Lei Municipal número 1312/99 (ANEXO B).

Figura 57 – Bristol Multy Treze Tílias Park Hotel. Fonte: Folder do hotel, 2006.

Possui 77 unidades habitacionais, sendo quatro suítes. Os serviços

disponibilizados ao hóspede são lavanderia e estacionamento. O empreendimento

oferece várias alternativas de lazer: três piscinas térmicas, bar, restaurante aberto

ao público, espaço para acesso a internet, loja, quadra poliesportiva, sauna, sala de

ginástica, trilha ecológica, auditório e centro de convenções para eventos. As diárias

incluem pensão completa em unidades habitacionais equipadas com minibar,

televisor, banheiro privativo e ar refrigerado.

O empreendimento está passando por melhorias: colocação de ar

condicionado e camas do tipo box spring nas unidades habitacionais, reforma das

piscinas, área de lazer e sauna. Muitas dessas reformas estão acontecendo para

buscar atingir um público diferenciado dos demais hotéis da cidade, trata-se do

público corporativo82. A gerência procura atender às necessidades dos dois tipos de

públicos, sendo o turista de lazer, que costuma freqüentar o Hotel de quinta-feira a

domingo, e o turista a negócios (corporativo), que deverá freqüentar o Hotel nos

períodos de baixa ocupação por hóspedes de lazer. Até o presente momento, a

82 O gerente do empreendimento denomina público corporativo aqueles que se hospedam no hotel para participar de eventos e convenções.

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maior taxa de ocupação é dos turistas de lazer e o período de maior fluxo são os

meses de outubro e de dezembro até o carnaval.

Trabalham no empreendimento 28 funcionários efetivos e, quando a taxa de

ocupação é maior, são contratados até quatro funcionários temporários para auxiliar

na área de governança, na produção de alimentos e na recreação.

g) Pousada Adler83: de propriedade de Elisabeth Margreiter e seu filho, Robert

Kohl. A primeira é dona de casa e seu filho, metalúrgico. Os dois residiram na

Áustria durante alguns anos, com o objetivo de conseguir fundos para investir em

Treze Tílias84. Em outubro de 1997, anexo à residência, abriram a pousada que

oferecia apenas a hospedagem, sem o serviço de café da manhã. A proposta inicial

era a de oferecer um meio de hospedagem econômico aos turistas.

Em 1998, foi construída a recepção e mais uma unidade habitacional. Em

2004, o empreendimento foi novamente ampliado, sendo construídas sete unidades

habitacionais e, a partir dessa data, iniciou-se o serviço de café da manhã incluso na

diária. A construção e as ampliações foram feitas sempre com recursos próprios.

Todas as unidades têm banheiro privativo, televisor e café da manhã incluído

na diária. A pousada (Figura 58) oferece também piscina e churrasqueira. Por se

tratar de um empreendimento de pequeno porte, não são contratados funcionários.

Robert Kohl e sua esposa são responsáveis pelas atividades gerais, enquanto

Elisabeth é responsável pela produção dos alimentos servidos no café da manhã.

Esporadicamente é contratada uma diarista para auxiliar na limpeza geral. Por estar

localizada na área central da cidade, as características da construção do

empreendimento também estão de acordo com a Lei Municipal número 1312/99,

mas não é beneficiada pela Lei de Isenção Fiscal.

83 Informação oral repassada pelo sócio-proprietário Robert Kohl, a 17 de setembro de 2007. 84 Robert morou na Áustria de 1998 até 1994 e sua mãe Elisabeth morou de 1991 até 1994 e de 1995 até 2002.

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Figura 58 – Pousada Adler.

Fonte: da autora, 2007.

A maior taxa de ocupação da Pousada é de turistas a lazer e o maior fluxo

acontece nos feriados prolongados e entre os meses de setembro a março. Por

tratar-se de um empreendimento de pequeno porte, muitas vezes acontece de não

haver leitos suficientes para atender aos ônibus de excursão. Para essas ocasiões

foi firmada uma parceria entre a Pousada Adler e os administradores do Hotel

Áustria e do Hotel Schneider, com o intuito de hospedar os passageiros

sobressalentes, em um desses empreendimentos. Essa parceria também acontece

quando há necessidade de comprar enxoval, pois, os três empreendimentos

conseguem preços mais baixos, devido à maior quantidade de itens comprados.

h) Sítio Palmeiras Bauernhof85: iniciou as atividades no ano 2002, atendendo

exclusivamente turistas a lazer. Sempre foi administrado por Nelson Paulo Zieher,

filho do proprietário do terreno. Nelson é descendente de austríacos e morou na

Áustria durante alguns anos, onde trabalhou na construção civil e pôde angariar

fundos para ampliar o empreendimento. Além dele, outros três componentes da

família trabalham no Sítio desempenhando funções diversas. O fluxo de visitantes 85 Informação oral repassada por Adelheid Pfitscher, irmã do administrador e ajudante, a 17 de setembro de 2007.

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teve início quando muitos vinham até a propriedade para passar o dia e

demonstravam interesse em pernoitar. Depois de passar por algumas reformas e

ampliações, hoje disponibiliza aos turistas dois chalés, cada um com duas unidades

habitacionais, totalizando 16 leitos. Cada unidade (Figura 59) possui banheiro

privativo, minibar e televisor. Os hóspedes têm como espaço para lazer um campo

de futebol suíço, um campo de areia, piscina para adultos e infantil, lago com

pedalinho, trilha e restaurante, que também é aberto ao público em geral, porém

somente com reserva antecipada. Como diferencial, possui um estábulo da família

proprietária do empreendimento, onde os hóspedes podem acompanhar a rotina de

trabalho dos pecuaristas.

Figura 59 – Cabana do Sítio das Palmeiras Bauernhof. Fonte: da autora, 2007.

i) Camping Felder86: o empreendimento está localizado no centro da cidade,

na Rua Ministro Andréas Thaler, 16, e é caracterizado como acampamento turístico

(camping), embora quase não esteja sendo utilizado para esse fim. Iniciou suas

atividades em 1980, por iniciativa da proprietária, Elfrida Felder, descendente de

86 Informação oral repassada pela proprietária, Elfrida Felder, a 17 de setembro de 2007.

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austríacos. Hoje ela trabalha no empreendimento, com o auxílio de seus dois filhos,

Alberto e Erwin Felder, que desempenham atividades variadas no empreendimento.

Possui duas funcionárias fixas, que são responsáveis pela limpeza do local.

Disponibiliza aos hóspedes três chalés (Figura 60), com três leitos cada um,

equipados com minibar, banheiro privativo, televisor e café da manhã incluso na

diária. Possui restaurante aberto ao público, quadra de esporte, churrasqueiras e

duas piscinas construídas em cimento bruto (Figura 61).

Figura 60 – Chalés do Camping Felder. Fonte: da autora, 2007.

Figura 61 – Piscina do Camping Felder. Fonte: da autora, 2007.

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i) Pousada Europa87: localizada na área central do município, difere dos

demais empreendimentos de hospedagem de Treze Tílias, porque o público é, na

grande maioria, mensalista e está no município a trabalho. Por essa razão, a sua

ocupação é elevada durante o ano todo. É administrada atualmente por Celi Lucia

Farizen Conceição, que também é a arrendatária do prédio (Figura 62), que possui

no piso superior seis unidades habitacionais, com capacidade para duas pessoas

cada, equipadas com banheiro privativo, televisor com parabólica e café da manhã

incluído na diária. No piso térreo existem duas salas independentes, em uma delas

funciona uma oficina mecânica, de propriedade do esposo da administradora da

Pousada e na outra funciona a sala para café da manhã, que também é utilizada

para servir almoço e jantar, porém somente mediante reserva antecipada. No

empreendimento trabalham somente pessoas da família, sendo a administradora e

seu filho.

Figura 62 – Pousada Europa.

Fonte: da autora, 2007.

j) Cabanas Vale das Tílias88: empreendimento localizado anexo ao parque

aquático Termas Internacional Vale das Tílias, que foi concebido pelo mesmo

sistema de cotas. Iniciou suas atividades no ano de 2005, dois anos após a abertura

87 Informação oral repassada por Alvino Rodrigues Conceição, esposo da administradora, a 18 de setembro de 2007. 88 Informação oral repassada por Rogério Prado, gerente do empreendimento, a 18 de setembro de 2007.

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do parque aquático. No total serão quatro cabanas, cada uma com dois

apartamentos e duas unidades habitacionais. Os apartamentos poderão ser

ocupados por até cinco pessoas, sendo equipados com banheiro, ar condicionado,

lareira, varanda, churrasqueira, dois televisores, minicozinha com fogão, pia, minibar

e armário. Já as unidades habitacionais são equipadas com cama de casal,

banheiro, ar condicionado e televisor. Porém apenas dois dos apartamentos estão

prontos para locação (Figura 63). Não existem funcionários contratados

exclusivamente para trabalhar nas cabanas. Os funcionários do parque aquático é

que são deslocados para desempenhar o trabalho necessário nas cabanas.

Figura 63 – Cabanas Vale das Tílias. Fonte: da autora, 2007.

Entre os meios de hospedagem apresentados anteriormente, somente a

Pousada Europa e a Cabana Vale das Tílias não fazem parte do painel eletrônico

fixado no prédio da Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo de Treze Tílias. De

acordo com a atendente da Central de Informações Turísticas, Denise Gratt89, os

atuais administradores da Pousada Europa não demonstraram interesse em

participar e, também, pelo fato de alugar as unidades habitacionais para

mensalistas, está quase sempre lotada. A Cabana Vale das Tílias, por sua vez,

estava com todas as unidades habitacionais alugadas permanentemente quando o

89 Informação repassada via e-mail, a 10 de outubro de 2007.

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painel foi montado. Futuramente, quando alterações forem feitas no painel

eletrônico, os dois empreendimentos serão incluídos.

Além dos empreendimentos apresentados, também existe a possibilidade de

hospedagem alternativa, em casas particulares cadastradas junto à Secretaria de

Indústria, Comércio e Turismo de Treze Tílias, caracterizadas como Bed and

Breakfast, sendo as principais:

a) Maria Pattis Scharf: um apartamento com quatro leitos;

b) Hilda Pattis: três apartamentos com sete leitos;

c) Luíza Klotz: três apartamentos com cinco leitos;

d) Elizabeth Boff: um apartamento com dois leitos;

e) Camilo Turmina: três apartamentos com seis leitos.

Esses meios alternativos de hospedagem são acionados pelo município

principalmente durante a realização da Tirolerfest, quando os leitos dos hotéis e

pousadas são insuficientes para atender à demanda.

Ao observarmos a Figura 64, podemos perceber o gráfico que ilustra o

aumento da abertura de novos empreendimentos de hospedagem no município.

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8

10

12

1950 1960 1970 1980 1990 2000

Figura 64 – Gráfico da abertura de hotéis e pousadas em Treze Tílias. Fonte: empreendimentos consultados, 2007.

Em 1950 havia apenas um empreendimento de hospedagem. Em 1980 eram

três e em 1990 percebe-se o maior crescimento de empresas desse ramo, o que

coincide com o aparecimento da cidade de Treze Tílias como cenário para a novela

“A História de Ana Raio e Zé Trovão”, exibida nos anos de 1991 e 1992, pela extinta

Ano

Nº. de hotéis/pousadas

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Rede Manchete de Televisão. A partir da década de 90, houve um aumento

significativo do fluxo de turistas na cidade. Não há registros disponíveis para analisar

esse fato com maior propriedade, porém, em entrevista com os empresários do

ramo, todos afirmam que após a inserção da cidade na mídia televisiva, o fluxo de

turistas cresceu consideravelmente.

O aumento gradativo do número de turistas favoreceu para que mais três

empreendimentos fossem construídos após o ano 2000. Atualmente são onze, entre

hotéis e pousadas. Desses, seis (54%) já realizaram ou realizam ampliações do

número de unidades habitacionais, confirmando que o número de leitos

disponibilizados não era suficiente para atender à demanda de hóspedes.

Durante o ano, os meses em que se registram as maiores taxas de ocupação

nos empreendimentos de hospedagem são outubro, por ocasião da Tirolerfest,

quando todos os hotéis e pousadas registram 100% de ocupação, julho, mês de

férias escolares e o período entre os meses de setembro a março. Alguns fatores

explicam a elevada ocupação nesses períodos: a abertura do parque aquático do

Termas Internacional Vale das Tílias, que acontece no mês de setembro ou outubro,

a partir dessa época muitos grupos de jovens realizam viagens de encerramento de

ano letivo. Já no mês de dezembro, as férias escolares, as festividades de fim de

ano e o início da estação do verão são responsáveis por aumentar o fluxo turístico

na alta temporada. Devido ao fato de que o principal atrativo turístico de Treze Tílias

é o turismo cultural, muitos turistas da Melhor Idade sentem-se atraídos para visitar o

local. Muitos deles já são aposentados e independem do período de férias para

realizar suas viagens, por isso, o mês de março se destaca com elevada taxa de

ocupação nos empreendimentos de hospedagem do município. Os feriados

prolongados também foram citados pelos hoteleiros, principalmente o feriado de

carnaval. De acordo com a Organização Mundial do Turismo, a tendência é que a

pessoas passem a viajar com maior freqüência durante o ano, porém para destinos

mais próximos do seu local de residência e também com menor duração do tempo

de permanência. Observando a origem da maioria dos turistas que se dirigem a

Treze Tílias, percebe-se que residem em cidades não muito distantes, o que

favorece a realização da viagem durante um feriado ou até mesmo em um fim de

semana. Outro fator que também contribui para aumentar a taxa de ocupação nos

demais meses do ano é o valor especial para hóspedes de negócios. Todos os

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hotéis e pousadas aplicam valores diferenciados na diária para aqueles que estão

viajando a trabalho.

Entre os hotéis e pousadas do município, cinco deles fazem parte da Rota da

Amizade, sendo eles o Hotel Alpenrose, o Hotel Dreizehnlinden, o Hotel Schneider,

o Hotel Tirol e a Pousada Adler.

3.3.2 Empresas de Alimentos e Bebidas

Prestando o serviço de alimentação e fabricação de bebidas, são 21

empresas cadastradas no Inventário Turístico Municipal, incluindo restaurantes,

pizzarias, churrascarias, lanchonetes, cafés, sorveterias, cervejaria, adega e

cantinas. Os principais são:

a) Kandlerhof Bar e Restaurante (Figura 65), que possui capacidade para 93

pessoas, serve pratos da culinária austríaca como Knödel, Spatzle, Salsichão,

Chucrute, Schweintzbraten e Apfelstrudel. A decoração do ambiente lembra a

Áustria, com mobiliário em madeira, coleção de canecos de Chopp e quadros com

figuras da Áustria. Possui quatro funcionários fixos e dois temporários.

Figura 65 – Kandlerhof Bar e Restaurante. Fonte: da autora, 2007.

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b) Parque Lindendorf90, restaurante situado no Parque Lindendorf e

Minicidade. Possui capacidade para até 270 pessoas, é o maior do município. A

decoração do ambiente segue os padrões das casas de shows da Áustria, com

mobiliário em madeira. Nesse local são realizadas todos os sábados apresentações

de grupos folclóricos, principalmente do Grupo Lindental, que é dirigido por um dos

sócios do empreendimento.

O restaurante é aberto diariamente, com exceção das quartas-feiras, das 9h

às 18h para almoço; aos sábados funciona também à noite, para o jantar e o show.

Atendem também em horários distintos, porém com reservas antecipadas.

Além de nove pessoas da família, trabalham no empreendimento quatro

funcionários fixos e dois temporários, contratados somente em caso de necessidade.

Quando o número de clientes é maior, é servido o buffet, do contrário os

pratos são servidos a la carte. Nos dois tipos de serviço são oferecidos pratos típicos

da culinária austríaca, sendo:

- Spätzle: pequenos nhoques feitos com ovos, farinha, leite e sal;

- Knödel: bolinhos feitos de lingüiça de porco com carne moída, pão, ovos e

temperos;

- Goulasch: músculo de gado ao molho de páprica doce e picante;

- Chucrute: repolho curtido e temperado;

- Strudel: massa doce com recheio de maçã.

A família é de ascendência austríaca e duas sócias-proprietárias já possuíam

tradição em produzir o strudel, que era vendido em uma barraca durante a

Tirolerfest.

c) Hotel Tirol91, restaurante que fuciona anexo ao Hotel Tirol, sendo também

administrado pela família Klotz. Possui dois ambientes: área para fumantes e não-

fumantes. Juntos, os ambientes oferecem a possibilidade de atender até 200

pessoas. Entre os pratos servidos estão o buffet completo, com comida caseira e

típica, onde são servidos o Knödel, Spätzle, Goulasch, Chucrute e o Strudel.

O restaurante (Figura 66) abre diariamente para servir café da manhã, almoço

e jantar. Além de atender aos hóspedes do Hotel Tirol, tem como clientes,

principalmente nos dias de semana, pessoas da própria comunidade e, aos finais de

90 Informação oral repassada pelo sócio-proprietário Valter Felder, a 16 de setembro de 2007. 91 Informação oral repassada por João Klotz, sócio-proprietário do empreendimento, a 17 de setembro de 2007.

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semana, os principais clientes são pessoas da região, que vêm em busca de pratos

típicos da culinária austríaca.

Figura 66 – Área interna do restaurante do Hotel Tirol. Fonte: da autora, 2007.

d) Restaurante e Pizzaria Edelweiss e Microcervejaria Bierbaum92,

empreendimentos de propriedade dos irmãos Ricardo e Marcos Bierbaum, sendo

um responsável pela administração do restaurante e o outro pela administração da

Microcervejaria. Ambos estão localizados na área central do município, na Rua

Gaspar Coutinho, 441. O restaurante (Figura 67), inaugurado em 1991, tem

capacidade para atender até 235 pessoas e abre apenas para o jantar. O cardápio

servido somente a la carte, inclui pizzas, empratados (carne, fritas, arroz e saladas),

porções e lanches e alguns pratos típicos como o knödel, goulasch, o salsichão e o

schweinschnitzel. Os principais clientes são pessoas da região e turistas com carros

particulares.

92 Informação oral repassada por Magda Ansilieiro, gerente do Restaurante, a 16 de setembro de 2007.

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Figura 67 – Restaurante e Pizzaria Edelweiss. Fonte: da autora, 2007.

A família, descendente de austríacos, apesar de não ter tradição nas áreas de

alimentos e bebidas, buscou financiamento para ampliar os negócios e, em 2004,

inaugurou a Microcervejaria Bierbaum (Figura 68), que produz três tipos diferentes

de cerveja (pilsen, frutada e escura) e vende a sua produção somente em barris,

para as cidades de Jaborá, Joaçaba, Videira, Caçador, Concórdia, Curitibanos,

Lages, Água Doce, Piratuba e em cinco pontos da cidade de Treze Tílias, além de

atender a solicitações especiais para festas e eventos. A partir de outubro de 2007,

os administradores têm previsão de atender outros cinco pontos no município.

Anexo à Microcervejaria também há espaço para a realização de eventos,

onde o cliente pode visualizar o processo de fabricação da cerveja.

Trabalham nos dois empreendimentos três pessoas da família, oito

funcionários fixos, dois estagiários e até oito funcionários temporários, dependendo

da necessidade.

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Figura 68 – Microcervejaria Bierbaum. Fonte: da autora, 2008.

e) Restaurante Felder93, localizado na Rua Ministro Andréas Thaler, 16, anexo

ao Camping Felder; iniciou as atividades em 1980. Sua proprietária, Elfrida Felder,

também descendente de austríacos. Atende diariamente94 servindo a la carte e

quando há encomendas é servido o buffet. Oferece também pratos típicos da

culinária austríaca, entre eles o knödel, goulasch, spatzle, strudel, käsneppler (ovos,

farinha e leite cozidos na água, servido com chucrute e goulasch) e o pffer stäk (filé

mignon com molho picante e purê de batata). A decoração é rústica (Figura 69) e

tem capacidade para até 60 pessoas. Além da proprietária, trabalham no

empreendimento seus dois filhos e duas funcionárias fixas, que desempenham

atividades diversas, tanto no Camping como no restaurante.

93 Informação oral repassada por Elfrida Felder, proprietária do empreendimento, a 17 de setembro de 2007. 94 Essa informação não condiz, pois, na tentativa de coletar dados para a pesquisa, visitei o local durante três dias consecutivos e encontrei o estabelecimento fechado.

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Figura 69 – Restaurante Felder. Fonte: da autora, 2007.

f) Adega Tirolesa95: está localizada na área central, na Rua Gaspar Coutinho,

número 634. É de propriedade de descendentes de austríacos, Ilse Ungericht e seus

filhos Alexandre e Sabrina Ungericht. Começou a funcionar em 1999 e todos os

produtos produzidos na adega são feitos de forma artesanal (Figura 70). A iniciativa

de produzir bebidas para comercializar aconteceu pelo fato de a família ter o hábito

de fabricar bebidas para o consumo próprio. A produção atual, feita conforme a

demanda, está entre destilados alcoólicos de frutas (Obstler), destilado alcoólico de

cerveja (Bierbrand), licores de frutas (Fruchtliköre), licores de chocolate, cachaça

(Zuckerrohrschnaps) e Grappa. Toda a infra-estrutura foi construída com recursos da

família. O local é aberto diariamente e trabalham na Adega somente os três

proprietários. Em 2007, iniciou-se a ampliação dos canais de venda dos produtos,

que são vendidos nos pontos turísticos de Treze Tílias e região e também na cidade

de Chapecó, SC.

95 Informação oral repassada por Ilse Ungericht, a 17 de setembro de 2007.

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Figura 70 – Área para a comercialização das bebidas da Adega Tirolesa. Fonte: da autora, 2007.

g) Kaffee Haus Maria Ana Unterberger, localizado no interior do município,

especificamente na linha Babenberg. Serve pratos das culinárias austríaca e italiana,

somente sob encomenda, podendo atender até 40 pessoas.

Há ainda outros empreendimentos, tais como o Restaurante e Churrascaria

Bier Haus, a Churrascaria e Restaurante JR, o Restaurante e Lanchonete Concatto

e o Restaurante e Pizzaria Alpenhaus que atendem diariamente, servindo refeições

e lanches, sem contudo servir pratos típicos da culinária austríaca. Há também o

Café Alpino, a Lanchonete Sewald e a Sorveteria Alpeneis, que servem lanches,

doces e sorvetes. O Sítio Palmeiras Bauernhof, o Restaurante Lago Schaupenlehner

e o restaurante Hubert Felder, com capacidade para 70, 110 e 150 pessoas

respectivamente, atendem somente sob encomenda, e o cliente é que define o

cardápio.

No entorno do município existe uma cachaçaria, Tato Destilados, com

fabricação, degustação e venda de cachaças, licores e graspa e há também

algumas cantinas italianas, sendo as principais a Cantina do Vete, com capacidade

para 48 pessoas; a Cantina do Biaggio, com capacidade para 45 pessoas; a Cantina

Itália Bella, com capacidade para 50 pessoas; e o Ristorante Cillo Brotto, também

com capacidade para 50 pessoas. Todas servem somente comidas típicas italianas,

já que foram os italianos que ocuparam inicialmente a área do entorno da atual

cidade de Treze Tílias e, hoje, seus descendentes constituem a maioria da

população do município.

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Entre os empreendimentos listados acima, seis deles fazem parte da Rota da

Amizade. São eles: Restaurante do Hotel Tirol, Parque dos Sonhos, Restaurante e

Pizzaria Edelweiss, Restaurante do Parque Lindendorf e Microcervejaria Bierbaum.

3.3.3 Comércio

A maioria dos estabelecimentos comerciais de Treze Tílias está concentrada

no anel central do município. Predominam as galerias de arte, que representam

onze pontos comerciais, nos quais são expostas e comercializadas as esculturas em

madeira, feitas por artesãos do município. Em algumas delas é possível visitar o

ateliê e acompanhar a produção das peças.

Existem também outros tipos de comércio, em que é possível adquirir

presentes, lembranças, trabalhos manuais, artesanato e chocolates. As principais

são:

a) Chocolate Caseiro Sabor dos Alpes: casa especializada na venda de

chocolate caseiro artesanal, artesanatos e presentes;

b) Chocolate Caseiro Treze Tílias: loja especializada na venda de chocolate

caseiro artesanal, com embalagens próprias. Vende também artesanato em geral,

artigos de vestuário e souvenires;

c) Casa do Artesanato: vende trabalhos artesanais e artesanatos em geral,

além de malhas com motivos da região;

d) Linden Haus Lembranças: vende pequenas lembranças da cidade de Treze

Tílias e presentes em geral;

e) Neiva Artesanato e Esculturas: vende esculturas de pequeno porte e

trabalhos artesanais em geral;

f) Malharia Tannenbaum: os principais produtos comercializados são

camisetas com motivos de Treze Tílias;

g) Malharia Edelweiss: a maioria dos produtos vendidos são moletons e

camisetas com motivos do município e,

h) Confecções Thaler: vende camisetas e pequenas lembranças da cidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade turística é uma das forças econômicas mais importantes do

mundo. De acordo com Oliveira (2001, p. 44) no turismo “ocorrem fenômenos de

consumo, originam-se rendas, criam-se mercados nos quais a oferta e a procura

encontram-se. Os resultados dos movimentos financeiros decorrentes do turismo

são por demais expressivos”. Tal afirmação dá noção sobre a importância da

atividade turística não apenas no Brasil, mas no mundo todo.

Apesar de essa atividade gerar inúmeros benefícios, não se deve ignorar a

preocupação com a sustentabilidade e com o desgaste do local oriundos da

atividade turística mal planejada.

Quando se estuda os benefícios, pode-se citar a geração de divisas de uma

exportação diferenciada, onde o produto é consumido no local de compra. Ao

analisar a contribuição do turismo, percebe-se o efeito multiplicador, onde os lucros

são redistribuídos em escala secundária e terciária, tal efeito se aplica da mesma

forma para a questão da geração de empregos, diretos ou indiretos, onde se

necessita de cargos gerenciais e de mão-de-obra capacitada para funções

operacionais. O efeito multiplicador ainda se aplica no aumento da construção civil,

consumo de alimentos, energia elétrica, água, produtos de limpeza, equipamentos,

utensílios, roupas de cama e banho e inúmeras outras. Um dos benefícios para a

comunidade local, resultado da exploração da atividade turística, pode ser a

melhoria da infra-estrutura básica para suprir as necessidades de turistas e também

dos residentes.

Não se pode, porém, deixar de avaliar os aspectos negativos que a

exploração da atividade turística pode causar em uma localidade receptora. Entre

eles, e certamente um dos mais importantes, está o cuidado ao explorar

turisticamente os recursos naturais e culturais de uma localidade, tendo em vista que

os mesmos normalmente são limitados e podem se tornar escassos.

Nesse sentido, no presente trabalho de pesquisa buscou-se analisar as

transformações ocorridas em Treze Tílias em decorrência da expansão do turismo

cultural. A atividade turística no município é ainda uma realidade bastante recente,

com início marcado na década de 90 do século XX.

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Apesar de ser um destino turístico relativamente jovem, Treze Tílias

apresenta-se como um produto turístico formatado, com atrativos, de ordem natural,

cultural e artificial, capazes por si só de atrair demanda turística; facilidades, como

meios de hospedagem, restaurantes e outros que dão suporte ao turista durante a

sua permanência no local; e acessos que permitem ao turista chegar ao destino com

segurança.

A exploração do turismo cultural no município surgiu como alternativa de

negócio para muitas famílias da comunidade. Alguns investidores obtiveram

recursos, ao trabalhar temporariamente na Áustria, e, ao retornar para Treze Tílias,

puderam investir recursos próprios em empresas do ramo turístico. As empresas

pioneiras foram de hospedagem que, mais tarde, por iniciativa da própria

comunidade foram se diversificando. Alguns atrativos que hoje propiciam maiores

opções de lazer são artificiais, construídos para aumentar o período de permanência

do turista na cidade.

Com exceção das empresas de hospedagem, todas as demais servem ao

turista e também à própria comunidade. Alguns restaurantes possuem preços

menores para os residentes no município. Todos os parques e espaços de lazer

foram criados pensando também no uso pela própria comunidade. No município não

se percebe nenhum tipo de apropriação do espaço público. No caso do parque

aquático Termas Internacional Vale das Tílias, que está entre os maiores espaços

privados para lazer que o município possui, a comunidade pode adquirir títulos de

sociedade. Por isso o espaço não foi criado exclusivamente para o uso do turista, e

a comunidade se beneficia com o aumento das opções de lazer.

Dos empreendimentos turísticos do município, apenas um empreendimento

de hospedagem e o parque aquático não possuem administração familiar. Todos os

demais hotéis, pousadas, restaurantes e empresas de lazer e entretenimento são

administradas pela família proprietária, permitindo que a renda angariada com a

exploração da atividade turística permaneça circulando na própria cidade. Através

da presente pesquisa constatou-se que em 2008 são 44 empresas relacionadas

diretamente com a atividade turística. Para Treze Tílias, cuja população é de 5.494

habitantes, tem-se a média de uma empresa do ramo turístico para cada 124

habitantes, e, dentre as empresas citadas, apenas duas não são administradas pela

família proprietária.

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O desenvolvimento da pesquisa permitiu constatar que os fundadores das

empresas voltadas ao turismo, na época da abertura, possuíam pouca ou nenhuma

experiência no ramo, porém, os filhos de alguns dos proprietários buscam

aprimoramento profissional na área, em escolas de turismo, hotelaria e gastronomia.

O resultado dessa capacitação é a melhoria da qualidade na prestação dos serviços.

Aliado à essa busca por aprimoramento, algumas ações do Arranjo Produtivo Local -

APL Rota da Amizade e da Uva visam melhorar ainda mais a capacitação daqueles

que trabalham com a atividade turística.

O orgulho da etnia e grande valorização da herança cultural são percebidas

na comunidade através da vontade de mostrar aos turistas e visitantes, fatores

relacionados à cultura austríaca, por meio do uso de trajes típicos, da dança, música

e canto, por meio da culinária e da arquitetura típica tirolesa. A comunidade é

valorizada, aos olhos do turista, pelo que é e pela forma como vive, razão pela qual,

está integrada com a atividade turística. Além do mais, muitas famílias inteiras

dedicam-se exclusivamente aos negócios relacionados ao turismo, por isso

dependem do turista para se manter.

Percebe-se no município a intenção do poder público em planejar melhor a

atividade turística através de metas e ações que envolvem parcerias entre a

Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo e órgãos competentes e conhecedores

do turismo, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –

SEBRAE.

O Plano Diretor de Treze Tílias, contempla no capítulo III o Programa de

fortalecimento do turismo e expressões culturais, que tem por objetivos consolidar a

vocação turística; preservar o patrimônio histórico; manter a arquitetura típica

austríaca; delimitar áreas de interesse turístico; incentivar as empresas que

operacionalizem a integração turística regional; e apoiar e incentivar as expressões

artísticas culturais. Além disso, o Plano Nacional de Turismo, com vigência para

2007/2010 “Uma viagem de inclusão” têm como uma das metas promover a

realização de viagens no mercado interno.

Como recomendação, sugere-se que o poder público realize em parceria com

o Órgão Oficial de Turismo de Santa Catarina – SANTUR, uma pesquisa de

demanda turística, sob os moldes adotados pelo Estado, realizada atualmente

somente em 15 municípios de Santa Catarina. Essa informação possibilitaria traçar

corretamente o perfil do turista que visita o município e também poderia ser utilizada

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em diferentes pesquisas, servindo inclusive de base para que os órgãos públicos e

empresas privadas tomem decisões acerca da exploração da atividade turística no

município.

O presente trabalho alcançou os objetivos definidos e, por fim, constatou-se

que dentre as transformações ocorridas em Treze Tílias por ocasião do

desenvolvimento das atividades turísticas, as que mais se destacaram foram as

transformações positivas, acontecidas na área central da cidade, decorrentes da

aplicação das Leis Municipais 931/93 e 1312/99. Sem elas, o município certamente

não possuiria como diferencial as características da arquitetura típica tirolesa.

Esse trabalho possui relevância para a comunidade acadêmica, pois enfoca

um município onde foram desenvolvidas poucas pesquisas sobre o turismo, razão

pela qual sugere-se que se realizem futuras investigações relacionadas ao perfil

profissional das famílias proprietárias dos empreendimentos turísticos; a relação

entre a inserção do município na mídia televisiva e o aumento do número de turistas;

e sobre também sobre o ciclo de vida da destinação, tendo em vista que ainda não

se percebe a presença de turistas de massa na cidade.

É importante ressaltar ainda que o poder público deve estar atento, para atuar

como órgão fiscalizador, impedindo que aconteçam novas infrações relacionadas ao

não-cumprimento das Leis Municipais número 931/93 e 1312/99. Situações como a

descrita no presente trabalho podem acarretar a descaracterização do centro

urbano, que hoje pode ser considerado como um diferencial para o município. Por

isso, a única ressalva é que haja fiscalização efetiva para que casos como os

citados não se repitam, pois, podem descaracterizar a área urbana do município.

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