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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PRÓ - REITORIA DE ENSINO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA BIGUAÇU ARIANE SILVA ENTRE VAMPIROS E HUMANOS: Uma análise dos aspectos psico-sociais implicados na identificação do público da saga Crepúsculo BIGUAÇU 2011

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

PRÓ - REITORIA DE ENSINO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA BIGUAÇU

ARIANE SILVA

ENTRE VAMPIROS E HUMANOS:

Uma análise dos aspectos psico-sociais implicados na identificação do

público da saga Crepúsculo

BIGUAÇU

2011

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ARIANE SILVA

ENTRE VAMPIROS E HUMANOS:

Uma análise dos aspectos psico-sociais implicados na identificação do

público da saga Crepúsculo

Trabalho de Iniciação Científica apresentado como

requisito para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia

na Universidade do Vale de Itajaí no Curso de Psicologia.

Orientado pela professora Ilma Borges.

BIGUAÇU

2011

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IDENTIFICAÇÃO

ÁREA DE PESQUISA: Psicologia Social.

TEMA: Trata-se de uma análise dos aspectos psico-sociais implicados na identificação do

público da saga Crepúsculo.

TÍTULO DE PROJETO: Entre Vampiros e Humanos: Uma análise dos aspectos psico-

sociais implicados na identificação do público da saga Crepúsculo.

ACADÊMICA

Nome: Ariane Silva.

Código de Matrícula: 07.1.1608.

Centro: Biguaçu.

Curso: Psicologia.

Semestre: 2011/1.

ORIENTADORA

Nome: Ilma Borges.

Categoria Profissional: Professora.

Titulação: Mestrado em Engenharia de Produção – Área de Concentração Inteligência

Artificial.

Curso: Psicologia.

Centro: Biguaçu.

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Pai, mãe, Lella e Leo, mestres e amigos

que estiveram presente, sendo os meus

presentes.

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É com alegria que, após a finalização de mais um ciclo em minha vida, agradeço o

momento, representado por este trabalho, às pessoas que fizeram parte desta construção.

Agradeço meus mestres, queridos professores que me ensinaram a dar os primeiros passos

nesse mágico caminho do conhecimento.

Agradeço meus pais por acreditarem no meu sonho e, por isso, o financiaram e me

apoiaram com amor, paciência e palavras de otimismo.

Agradeço aos professores Almir Pedro Sais e Paulo César Nascimento por aceitarem

participar do desenvolvimento deste trabalho com suas ricas colaborações.

Agradeço minha orientadora, professora Ilma Borges, pessoa querida e profissional

admirável que com sua sabedoria e paciência, foi fundamental para o delineamento e

construções de meus devaneios neste trabalho.

Agradeço Andrea Corrêa, famosa e requisitada no curso de Psicologia da Univali, e

que foi muitas vezes a solução prática que eu precisava.

Por fim, agradeço a escritora Stephenie Meyer que, com seu sonho, me possibilitou e

me inspirou a escrever também, ainda que de forma tímida e sem pretensão de criar

crepúsculos ou luas novas.

Obrigada pela contribuição tão significativa e que, de algum modo, foi fundamental

para me trazer, assim como sou agora, ao lugar que cheguei.

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O mal da ficção é que ela faz sentido demais. A realidade nunca faz sentido.

Aldous Huxley

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................8

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................................19

2.1 PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E MÍDIA................................................................19

2.2 FICÇÃO, FANTASIA/REALIDADE...............................................................................35

2.3 ENTRE A LITERATURA E A CINEMATOGRAFIA, UM OLHAR PARA OS

FÃS...........................................................................................................................................52

2.4 COMUNIDADES VIRTUAIS..........................................................................................59

3. METODOLOGIA...............................................................................................................66

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................70

REFERÊNCIAS

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1. INTRODUÇÃO

“Entre Vampiros e Humanos: Uma análise dos aspectos psico-sociais implicados na

identificação do público da saga Crepúsculo” teve como justificativa o fato de que a presença

de recursos midiáticos na vida das pessoas é constante, assim como afirma Oliveira (2006), a

conexão entre cinema e ciência é antiga e, antes mesmo de os irmãos Lumière encantarem o

público parisiense, em 1895, as técnicas de criar imagens em movimento com sequência de

fotografias serviram a propósitos científicos, afirmando portanto, que os filmes vêm

participando, contribuindo e, até mesmo influenciando a construção da história da

humanidade.

A pesquisa tratou de uma análise que visou identificar o interesse do público da Saga

Crepúsculo, composta pelos filmes e livros da autora norte-americana Stephenie Meyer, cujo

tema principal é o relacionamento entre um vampiro e uma adolescente. A saga também

contém personagens vampiros que são objetos de admiração dos humanos, como Edward,

Alice, Jasper, Esme, Carlisle, Emmet e Rosalie.

O estudo do tema proposto fez-se necessário uma vez que, como fenômeno mundial

e de ampla dimensão, as proporções que o sucesso dos livros, filmes, atores e o que envolve o

tema vampiros vêm obtendo destaques nas mais diferentes ferramentas de comunicação e

meios sociais, seja em grupos de amigos, escolas e até mesmo universidades internacionais

como Cambridge1 e California State University San Marcos

2 recentemente promoveram

discussões acerca da saga.

A importância social deste estudo deu-se a partir da premissa de que a presença de

meios culturais, no caso desta pesquisa, filmes e livros, é relevante e constante nos mais

diversos povos, através dos anos. Segundo Gomide (2000), os filmes/livros fazem parte do

processo global de socialização e os efeitos que causam precisam ser reconhecidos, uma vez

que os filmes/livros podem ainda, auxiliar escolas e famílias na educação. Também segundo

Gomide (2000), os filmes/livros podem ser empregados para disponibilizar exemplos

adequados ou atípicos para uma ampla variedade de situações sociais, além de poder fornecer

modelos apropriados ou inapropriados em uma larga variedade de situações.

1 http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/education/8500657.stm

2 http://www.examiner.com/twilight-in-national/first-full-length-college-course-on-twilight-approved-and-other-

fans-will-be-able-to-participate

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A presença dos filmes/livros nas sociedades, como citado anteriormente por Gomide

(2000), também acresce em modelos gerados que são posteriormente copiados por seus

leitores e espectadores, sendo que estes reproduzem em comportamentos e atitudes. As ideias

tradicionais de revolução e mudança na sociedade já estão póstumas, onde não se permite

mais a “tradicionalidade ideológica”, porém, o maior problema da sociedade atual se encontra

na ausência de se auto-questionar e se posicionar, de forma que os indivíduos preferem não

tentar se reconhecer neste mundo contemporâneo. (BAUMAN, 2001 apud FRANCISCO,

2005).

O não questionamento e a falta de posicionamento presentes nos sujeitos da

atualidade, citados anteriormente, correlacionam-se com o fato de que num mundo no qual

notícias de diversos países chegam rapidamente às casas, assim como filmes e livros são

lançados constantemente, o desejo de viver esse mundo de fantasia em contrapartida ao seu

verdadeiro mundo, é algo característico da atualidade. Fugacidade, herois anônimos,

superficialidade das experiências, culto à imagem, comunicação de massa, dentre outras, são

algumas características dessa época em que se vive - ou que se tenta sobreviver e, para

Bauman (2001 apud Francisco 2005) essa sociedade na qual encontra-se hoje é uma

sociedade imediatista, onde o que conta é o tempo, mais do que o espaço que estes possam

ocupar, espaço este que preenchem apenas por um momento.

A infância e a juventude da atualidade transcorrem, com algumas exceções, em

frente à televisão e ao computador (ROSA, 2008), assim como a fugacidade da sociedade na

qual se vive hoje leva os jovens cada vez mais a buscarem por objetos de identificação nos

meios midiáticos que os cercam. Essas características com as quais se está frequentemente

tentando se adaptar refletem nos relacionamentos interpessoais, na educação, nas famílias, no

trabalho, no modo como se pensa a vida e como se projeta expectativas no futuro. Segundo

Bauman (2001 apud Francisco, 2005), esses indivíduos não possuem controle acerca de suas

decisões e a pseudo-liberdade é uma ilusão gerada como probabilidade de fuga e

incapacidade.

A influência da mídia e a contribuição desta para formação de opiniões e geração de

modelos ditados para serem seguidos reflete na sociedade e na estruturação de seus sujeitos.

Segundo Gomide (2000), para se construir um país e com consonância entre as pessoas é

imprescindível que os exemplos fornecidos às crianças e jovens sejam embasados por valores

éticos, morais e solidários compatíveis com a cidadania, com a solidariedade e justiça social.

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A Psicologia como ciência atua nos meios sociais e tem como objeto de estudo o

sujeito humano. Tem assim na sociedade um campo rico para atuar, pesquisar e analisar tudo

o que envolve este sujeito. Um destes aspectos importantes é a mídia e o papel da Psicologia

na compreensão desta relação. No caso da presente pesquisa a discussão tratou do

envolvimento das pessoas com a saga Crepúsculo, o que então, pode vir a desenvolver

discussões para esta ciência, tais como as questões envolvendo a presença cada vez mais

constante da mídia, no caso os filmes e os livros veiculados por novos meios como internet e

televisão, como modelos de comportamento a serem seguidos por seu público. Referente à

Saga Crepúsculo, comportamentos como os apresentados pelo personagem vampiro Edward,

influenciado pela época em que viveu como humano - 1901 - demonstrando educação,

cordialidade, altruísmo e cavalheirismo, além dos comportamentos representados pela

adolescente Bella, tímida e deslocada socialmente em sua escola, romântica, em busca de seu

príncipe encantado e, ainda a questão familiar presente entre os personagens vampiros,

vivendo como adotados e mantendo laços familiares que são modelos de bons exemplos

copiados pelos moradores da cidade de Forks, dentre outros, são apresentados ao longo do

drama vivido pelos personagens principais, ou seja, uma adolescente humana e um vampiro

com mais de cem anos, mas que representa também um adolescente.

A iniciação em pesquisas e as possibilidades de futuros projetos na área que envolve

mídia, artefatos culturais e análise de comportamento são os aspectos que caracterizam o

interesse pessoal para a autora desta pesquisa. Trabalhar e estudar futuramente nesta área

relacionada a adolescentes e comportamentos gerados a partir de modelos disponíveis na

mídia também se apresentam como possibilidades de atuação que instigam a acadêmica

autora deste trabalho a realizar pesquisas e estudos na área.

Tendo como escopo dar início ao acima apresentado, a acadêmica na qualidade de

pesquisadora entende que a crescente presença de dispositivos midiáticos no cotidiano de

pessoas de diversas idades leva à reflexão referente ao modo como esta invasão de

informações, notícias, lançamentos, personagens, histórias, modas, dentre tantas outras

novidades tecnológicas e midiáticas deveriam estar presentes nas vidas de pessoas de variadas

classes sociais, mas que se permitem ter em seus lares aparelhos de televisão e computadores.

Dentro deste contexto, surgiu Crepúsculo, uma saga moderna de contos de fada com

vampiros. E é esta saga na interface entre conto e ficção que se estabelece o problema da

pesquisa que aqui se apresenta como objeto para o estudo da influência da mídia na

construção de um determinado modo de ser um fã.

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Desta forma, pode-se caracterizar a saga Crepúsculo como sendo composta por

quatro livros de uma história sequente - Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer

(Twilight, New Moon, Eclipse e Breaking Dawn, lançados, respectivamente, em 2005, 2006,

2007 e 2008) - sendo adaptada também para a cinematografia, com os filmes de mesmos

títulos, e que retratam os livros da autora norte-americana Stephenie Meyer.

Dentre os personagens da saga, Edward, Bella, Jacob, Charlie, Alice, Jasper, Rosalie,

Emmet, Esme, Carlisle, James e Aro são alguns dos principais do enredo ao longo dos quatro

livros. No cinema, estes personagens foram, respectivamente, interpretados por Robert

Pattinson, Kristen Stewart, Taylor Lautner, Billy Burke, Ashley Greene, Jackson Rathbone,

Nikki Reed, Kellan Lutz, Elizabeth Reaser, Peter Facinelli, Cam Gigandet, Michael Sheen,

dentre outros. Os quatro livros da saga foram publicados pela editora Intrínseca e, os filmes,

foram produzidos pela Summit Entertainment, sendo que os três primeiros filmes já foram

lançados.

Entre os números referentes aos quatro livros estão: publicações em 43 países, com

mais de 55 milhões de exemplares vendidos. No Brasil, as três primeiras obras somam 1,3

milhão de cópias comercializadas. Também no Brasil, a primeira tiragem do romance foi de

400 mil exemplares3. Segundo dados apresentados pela edição do mês de novembro da revista

Veja4, faltando uma semana da estreia mundial, o filme Lua Nova bateu recorde de venda

antecipada de ingressos no Brasil e, de acordo com a assessoria de imprensa da rede

Cinemark, foram comprados cerca de 95.700 ingressos antecipados.

A Saga Crepúsculo: Eclipse, terceiro filme baseado na série de livros de Stephenie

Meyer, também estreou batendo recordes. Foi o filme em mais cinemas num lançamento dos

EUA - 4.416 locais, totalizando quase 8 mil salas (todo o circuito exibidor brasileiro tem

pouco mais de 2 mil salas) - e foi a maior estreia para uma quarta-feira na história do país.

Eclipse fez US$ 68,5 milhões. O número fica abaixo, porém, do primeiro dia de Lua Nova,

que arrecadou US$ 72,2 milhões numa sexta-feira.

No Brasil a situação também não foi diferente, Eclipse teve a maior pré-estreia já

registrada (foram 200 mil espectadores nas primeiras sessões, em 500 salas). O filme também

dominou o circuito, com 692 cópias que foram exibidas em 780 salas de cinema.

Mundialmente, segundo estimativa do website Box Office Mojo5 em julho de

3 http://migre.me/52Agb

4 http://migre.me/52AgF

5 http://migre.me/52Akd

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2010, Eclipse fez cerca de US$ 21 milhões na quarta-feira de estreia. De acordo com

informações publicadas no website Folha Online6, Eclipse superou a marca de US$ 100

milhões no terceiro dia de exibição na América do Norte. O último filme da saga que foi

lançado, Eclipse, tem um total mundial de US$677,249,934 de dólares7.

Os números também são relevantes quando relacionados aos prêmios e nomeações

para importantes categorias, como estas citadas pela revista Veja8 de junho: em 2010, o

segundo filme da saga lançado, Lua Nova, conquistou os prêmios de melhor filme, melhor

atriz (Kristen Stewart), melhor ator (Robert Pattinson), melhor beijo (Kristen Stewart e Robert

Pattinson, como Bella e Edward) e superastro (Robert Pattinson) na premiação do MTV Movie

Awards. Segundo a revista Veja de janeiro de 20109, no 36º People's Choice Award,

premiação na qual a escolha dos vencedores é feita pelo público e pela internet, Crepúsculo

foi o eleito como melhor filme, que também recebeu os prêmios de melhor franchise e melhor

equipe no cinema, para o trio de atores protagonistas, Taylor Lautner, Robert Pattinson e

Kristen Stewart. Lautner também foi eleito ator revelação.

O filme Crepúsculo também recebeu prêmios, segundo dados da mesma revista, na

publicação de agosto de 200910

, do Teen Choice Awards 2009, que aconteceu em Los

Angeles. O longa-metragem levou onze troféus, inclusive o de melhor drama, melhor

romance, melhor beijo e melhor briga. O protagonista Robert Pattinson foi premiado em duas

categorias: melhor atuação dramática e ator mais bonito. Kristen Stewart recebeu o troféu de

melhor atriz de drama, assim como o ator Cam Gigandet, que recebeu o prêmio de melhor

vilão, por sua interpretação do vampiro James. O conjunto da obra foi reconhecido na

premiação de Catherine Hardwicke, que venceu o prêmio de melhor direção. A votação do

Teen Choice Awards 2009 recebeu mais de 83 milhões de votos on-line para reconhecer o

trabalho de celebridades da TV, do cinema, da música e dos esportes11

.

Tendo como objeto principal de sua narrativa os vampiros, a autora Stephenie Meyer

busca retratar alguns deles de forma diferenciada do que aconteceu até então nos livros e

filmes feitos sobre o tema. Alguns dos vampiros principais da saga gostam e convivem

naturalmente com humanos, buscando camuflarem-se entre eles, com o desejo de viver

normalmente, seguindo profissões e tendo como diferencial ainda maior, sua alimentação

6 http://migre.me/52Ajx

7 http://migre.me/52AjO

8 http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/saga-crepusculo-grande-vencedor-mtv-movie-awards

9 http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/vampiros-sao-destaque-36o-people-s-choice-award

10 http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/crepusculo-leva-11-premios-teen-choice-awards

11 http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/crepusculo-leva-11-premios-teen-choice-awards

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baseada em sangue animal, sendo esta nomeada por eles de “vegetariana’’. Os vampiros

representantes desse estilo e que destacam-se como alguns dos principais do enredo são os da

família Cullen.

O que destaca a saga Crepúsculo das outras são os personagens vampiros que

buscam se misturar entre os humanos e, dentre estes humanos, está a adolescente comum – de

seu ponto de vista – Isabella Swan. Bella, como prefere ser chamada, vai morar em uma

cidade pequena e chuvosa, sob a custódia de seu pai, uma vez que seus pais são separados e

sua mãe encontra-se em um novo relacionamento. Ao mudar-se para Forks, Bella passa a

observar e a interessar-se por Edward Cullen, o vampiro pelo qual apaixona-se mas que até

então, antes de saber o que ele realmente é, é seu objeto constante de observações curiosas e

de questionamentos acerca de sua singularidade e todo o mistério que o envolve.

O fascínio por vampiros, por mitos que envolvem tal temática, a curiosidade pelo

desconhecido e, até então impossível, é o que faz Bella buscar cada vez mais, na saga, fazer

parte deste mundo novo. O ideal de beleza, eternidade, força e poderes são alguns dos

motivos pelos quais Bella quer tornar-se vampira, mesmo que esta escolha a faça abdicar dos

aspectos positivos de ser humana, além de colocá-la em uma situação de dualidade por ter de

esconder tal segredo de seus pais e amigos.

Em comparação com outra saga também de relativo destaque, Harry Potter, da

escritora J.K. Rowling, que teve o primeiro de sete livros lançado em 199712

, destaca-se tendo

como enredo o menino bruxo que vai crescendo e aprendendo a lidar com a magia e esta parte

de sua vida que até então lhe era desconhecida. Segundo Rosa (2008), em Harry Potter e a

Pedra Filosofal, primeiro dos sete livros da saga, o heroi é apresentado como um bruxinho

que cresceu sem conhecimento de sua condição. Segundo a revista Veja de novembro de

2009, Lua Nova deixou para trás o então recordista Harry Potter e o Enigma do Príncipe, que

havia vendido 87 mil ingressos antecipados, em julho de 200913

.

A mobilização que a saga Crepúsculo causa em seu público também o leva a

acampar do lado de fora dos teatros nos quais os filmes são exibidos nos dias de suas estreias.

Em junho de 2010, segundo a Revista Veja14

, cerca de 550 pessoas ficaram acampadas por

cinco dias em Los Angeles (EUA), aguardando a pré-estreia de Eclipse, terceiro filme da

saga. Os grupos ficaram em barracas em uma praça em frente ao teatro, mas a espera, no

12http://www.harrypotter.rocco.com.br/Default.aspx

13 http://migre.me/52Apt

14 http http://migre.me/52ApJ

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entanto, não era para assistir ao filme, e sim, para ver os atores principais passarem pelo

tapete vermelho do teatro, mesmo que de longe.

Levando em consideração o que foi anteriormente apresentado, convém estudar e

pesquisar aqui, no campo da ciência Psicologia, quais aspectos psicológicos e sociais

presentes na saga Crepúsculo são alvos de identificação dos leitores e espectadores dos livros

e filmes da autora Stephenie Meyer.

Tendo em vista o exposto referente ao sucesso e aos números da saga Crepúsculo,

convém citar que a pergunta norteadora que embasou as reflexões e buscas teóricas sobre o

tema indagou sobre quais aspectos sociais e psicológicos estão implicados na identificação do

público denominado fã da saga Crepúsculo composta pelos livros e filmes da autora

Stephenie Meyer. Para responder tal pergunta, a pesquisadora partiu dos objetivos:

compreender os aspectos sociais e psicológicos implicados na identificação do público

denominado fã da saga, caracterizar a relação entre fenômeno de massa, o contexto mídia,

educação e saúde por meio da identificação gerada pelos livros e filmes de Crepúsculo em seu

público. Além disso, investigar o aspecto psicológico e midiático que a saga produz em seus

fãs, por meio de recortes de sites de relacionamento social, além de descrever a relação

fantasia/realidade a partir do ponto de vista relatado pelos fãs da saga Crepúsculo, também

por meio de recortes de sites de relacionamento social.

A partir disto, convém aqui introduzir os conteúdos que caracterizam o enredo, os

personagens e estórias contidas nos livros e filmes da Saga Crepúsculo.

Em Crepúsculo, a narrativa do romance entre o vampiro Edward Cullen e a

adolescente Isabella Swan é o tema principal da saga composta por quatro livros que vem

sendo retratados também no cinema. A autora da saga vampiresca, a norte-americana

Stephenie Meyer, formada em letras pela Brigham Young University15

, começou a escrever a

saga após um sonho, como narrado pela autora, sendo que não pensava na proporção do

sucesso que seus livros atingiriam, em diferentes países, classes sociais e faixas-etárias.

No primeiro livro da saga, Crepúsculo (Meyer, 2008), Bella, Edward, a família

Cullen e a história dos vampiros são apresentados ao público. Edward é um vampiro de 109

anos, mas que representa um adolescente de 17. Ele vive com Carlisle e Esme, conhecidos

como seus pais adotivos. Na casa dos Cullen também vivem Alice, Jasper, Rosalie e Emmet,

todos filhos adotivos do casal Cullen. Bella, humana, 17 anos, mudou-se de Phoenix, Arizona,

para a pequena Forks, no estado de Washington, EUA, para morar com seu pai, uma vez que

15 http://www.stepheniemeyer.com/bio.html

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sua mãe encontrava-se em um novo relacionamento e a adolescente decidiu que morar com

seu pai seria o melhor para a mãe poder viajar com o novo namorado. Em Forks, Bella

conhece os Cullen e começa a sentir-se interessada e curiosa por eles, conhecidos na cidade

por serem “diferentes”. Com o tempo, Edward e Bella começam a se relacionar e Bella

descobre a condição de Edward, que faz de tudo para manter-se longe dela como uma forma

de protegê-la, uma vez que o sangue da adolescente é apelativo para ele, embora ele já a ame.

Em nome da proteção de sua amada, Edward tenta afastar-se de Bella, mas ambos já

encontram-se demasiado envolvidos. Mesmo sabendo que Edward é um vampiro, apesar de

manter hábitos diferentes dos demais de sua espécie – Edward e sua família alimentam-se

apenas do sangue de animais, pois preocupam-se com os humanos e buscam viver

normalmente na sociedade – Bella decide continuar próxima a ele e tentar manter um

relacionamento amoroso, apesar das dificuldades que pode enfrentar. O que não sabiam era

que vampiros nômades e que se alimentam de sangue humano apareceriam e traçariam uma

caçada em busca de Bella. Edward então, salva-a e o primeiro livro termina com o casal

tentando acreditar que poderão continuar juntos, apesar do receio e dos riscos que Bella corre

convivendo com vampiros.

Em Lua Nova (Meyer, 2008), segundo livro da saga, Bella completa 18 anos e

começa a preocupar-se com a sua idade e envelhecimento, uma vez que Edward resiste em

transformá-la em vampira por acreditar que vampiros são seres sem alma – uma vez que não

são humanos - e por não querer tirar de Bella sua “humanidade”, as oportunidades e

privilégios aos quais precisa ter, tais como ritos de passagem. Na festa de seu aniversário,

Bella é atacada por Jasper, o membro mais recente da família Cullen e, portanto, não tão

acostumado com a condição de “vegetariano”. Após este acontecimento, Edward decide que o

melhor para Bella é viver longe dele e dos vampiros, pois isto oferece muitos riscos para sua

vida, resolvendo então, ir embora de Forks. Bella acredita que com esta atitude, Edward não a

ama e entra em um estado de depressão profunda por meses, mudando este quadro apenas

quando passa a relacionar-se com Jacob, antigo amigo de sua família e também portador de

alguns segredos míticos.

Eu parecia uma lua perdida – meu planeta destruído em algum cenário desolado de

cinema-catástrofe - que continuava, apesar de tudo, a rodar numa órbita muito

estreita pelo espaço vazio que ficou, ignorando as leis da gravidade (...). Não

acompanhava os dias que passavam - não havia motivo para isso, já que eu tentava

viver o máximo possível no presente, sem passado se desvanecendo, nem futuro

iminente (Personagem Isabella Swan, Lua Nova, 2008, p. 148).

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Com Jacob, Bella passa a desenvolver uma forte amizade, mas não deixa de sofrer

por sentir falta de Edward. Em determinado momento do livro, Bella percebe que quando

encontra-se em situação de risco, visualiza a imagem de Edward pedindo para que ela tenha

cuidado, o que a faz procurar constantemente por tais situações que envolvam risco e perigo,

com o objetivo de continuar tendo as visões de Edward. Em um desses momentos, Bella

resolve pular de um penhasco, no mar revolto, o que quase lhe custa a vida. Alice, uma das

Cullen e que possui a habilidade de ter visões, interpreta que Bella pulou para suicidar-se, por

não aguentar o abandono de Edward, o que faz a vampira voltar a Forks. Quando percebe o

engano, Alice também visualiza que sua interpretação errônea causou um impacto em

Edward, que decidiu então, desafiar os Volturi em busca da morte. Os Volturi são

apresentados no livro como o clã vampiresco que vive em Volterra, na Itália, e que é

responsável pelas leis dos vampiros, sendo uma delas, a condição de manter em sigilo a

existência deles. A partir da descoberta que Bella está viva e que Edward encontra-se em

perigo, ela e Alice partem para Itália para desfazer o engano e salvar Edward. Após salvá-lo,

Alice, Edward e Bella são convidadas para uma reunião com os Volturi, na qual uma luta

acontece e o clã italiano decreta que Isabella precisa morrer ou tornar-se vampira, uma vez

que é humana e sabe do segredo deles. Edward e Alice resolvem então dizer que

transformarão Bella em vampira em breve, apesar de ser mentira. O fim deste livro narra uma

votação na casa dos Cullen na qual Bella a convoca com o objetivo de decidir seu futuro, uma

vez que quer se tornar vampira, mesmo isto sendo o contrário da vontade de Edward. A

família Cullen decide, por maioria dos votos, que Bella será transformada em vampira em

breve. É neste livro também, que os lobos entram para o enredo, representados por Jacob e

seus amigos da reserva indígena na qual vivem, também em Forks. Bella descobre em Lua

Nova que seu melhor amigo é lobo e que lobisomens são inimigos mortais dos vampiros.

Em Eclipse (Meyer, 2009), terceiro livro, Bella tenta manter seu relacionamento com

Edward e sua amizade com Jacob, que na verdade declara-se apaixonado por ela. O livro

prossegue com as tentativas de Bella de conciliar ambos e de fazer Edward e Jacob amigos.

Em Eclipse, os lobos também aparecem mais na trama, assim como uma personagem do

primeiro livro reaparece, com o objetivo de vingar a morte de seus companheiros, derrotados

no primeiro e segundo livro. Victoria, a vampira com cabelos longos e cor de fogo, é uma

ameaça constante para Bella, e isto faz mobilizar vampiros e lobos para manter a segurança da

adolescente e destruir a vampira. Lobos e vampiros passam a treinar lutas e golpes,

preparando-se para quando conseguirem pegar Victoria, que começa a criar um exército de

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vampiros recém-nascidos, conhecidos por seu descontrole, força e de sede por sangue

humano. Com o desenrolar da trama, Bella percebe-se dividida entre Edward e Jacob, apesar

de negar inicialmente que pode sentir algo por seu amigo lobo, porém, Bella acaba admitindo

que ama ambos, mas que não poderia viver sem Edward. O fim do livro é com a luta contra

Victoria, que encerra-se com a vitória dos vampiros e lobos, que derrotam também todo o

exército dos vampiros recém-nascidos. Apesar disto, os Volturi, que vinham monitorando a

situação de longe, aparecem em Forks para destruir o exército e para comprovar que Bella

ainda encontra-se humana. Mais uma vez, o clã italiano reafirma que Bella precisa tornar-se

vampira o quanto antes, caso contrário, eles intervirão. É em Eclipse ainda, que Edward

propõe casamento a Bella, e em troca, caso ela aceite, ele o transformará em vampira,

realizando o sonho de Bella, que aceita a condição de Edward, mas preocupa-se com a

opinião de seus amigos e familiares.

Mas eu sabia que ele se prenderia nesse esquema de casamento como uma cola -

porque ele claramente queria adiar e até agora estava funcionando. Tentei

imaginar dizer aos meus pais que eu me casaria nesse verão. Contar a Angela, Ben

e Mike. Eu não podia. Não conseguia pensar no que dizer. Seria mais fácil dizer a

eles que estava me tornando uma vampira. E tinha certeza de que pelo menos minha

mãe – eu ia contar a ela cada detalhe da verdade - se oporia mais fortemente a meu

casamento do que a me tornar vampira. Fiz uma careta enquanto imaginava a

expressão horrorizada dela (Personagem Isabella Swan, Eclipse, 2009, p.234).

Amanhecer (Meyer, 2009), quarto e último livro da saga, é o maior deles e divido em

três partes, das quais uma é narrada por Jacob e as outras duas, por Bella, que é também quem

narra os outros três livros. Na primeira parte de Amanhecer, Bella narra os preparativos de seu

casamento com Edward, o qual foi acertado como condição imposta no acordo para que Bella

possa torna-se vampira. Preocupada com a opinião da sociedade, Bella teme os boatos que

possam surgir de que esteja grávida e que, portanto, este seria o motivo para estar se casando

na adolescência, contudo, Bella tem o consentimento de seus pais e da família de Edward,

sendo este o mais empolgado com a situação. Após o casamento, o qual Bella consegue

visualizar com mais empolgação, ela e Edward partem para a lua-de-mel, em uma ilha no Rio

de Janeiro. É nesta ilha que o casal tem sua primeira noite de amor, a qual Bella tanto

esperava, e é também nesta ilha que Bella descobre que está grávida, o que ninguém esperava

que acontecesse. Contudo, não havia o registro na história dos vampiros de que alguma vez

existiu um casal formado por um vampiro e uma humana, então não poderiam saber que uma

gravidez seria possível. Após a descoberta e sem saber exatamente o que pode acontecer com

Bella e com o bebê que desenvolve-se rapidamente, os Cullen decidem que retirar a criança

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que cresce em Bella é o melhor a se fazer, apesar dela não concordar com a decisão e resolver

ir até o fim da gravidez, contando com o apoio de Rosalie Cullen. Nesta parte do livro, Jacob

é o narrador e percebe-se a diferença no estilo de contar os fatos. Jacob também narra seu

sofrimento por ver sua amada em desespero e não poder fazer nada. Todos resolvem então

apoiar a escolha de Bella, apesar do sofrimento que ela passa enquanto a criança se

desenvolve rapidamente, tornando-se um mistério e consideravelmente forte com o passar dos

dias, fazendo todos perceberem que o bebê é, portanto, metade humano e metade vampiro.

Durante o parto, Bella, que já estava muito debilitada em função da gravidez, perde muito

sangue e encontra-se entre a vida e a morte, quando Edward decide então que o melhor a fazer

para salvá-la, é transformá-la em vampira. Assim, Bella finalmente vira vampira e passa a

narrar o livro novamente, contando as mudanças que ocorrem sua transformação em vampira,

tendo de enfrentar a sede por sangue humano e tentando controlar-se na presença das pessoas

que ama, sem oferecer ameaça a elas, assim como também precisa contar para seu pai o que

tornou-se. Em Amanhecer, os Volturi reaparecem na trama com o objetivo de matar a filha de

Edward e Bella – Renesmee – por acreditarem que trata-se de uma criança imortal, o que

ofereceria riscos para o segredo dos vampiros, sendo que crianças imortais possuem um

histórico de conflitos para os Volturi e os envolvidos com sua criação. Para tentar impedir os

Volturi, Cullen e lobos convocam vampiros de diversas partes do mundo, inclusive da

Amazônia, com o objetivo de se fortalecerem caso precisem lutar contra os Volturi, contudo,

a saga encerra-se com a compreensão do clã italiano e a felicidade dos Cullen e sua mais nova

integrante, Renesmee. Nas últimas páginas de Amanhecer, algo que vinha intrigando leitores

durante a saga é revelado quando Edward finalmente consegue ler a mente de Bella, que ao

descobrir seu dom como vampira, descobre também que este já se manifestava enquanto ela

era humana, o da proteção. Os dois finalizam, então, com declarações de amor e com a

promessa do para sempre, a qual tanto buscaram durante a saga.

Após a apresentação dos conteúdos que caracterizam a Saga Crepúsculo, convém

relacionar com o fato de que as temáticas envolvidas e apresentadas pelos livros e filmes da

saga são materiais que estão constantemente presentes em meios midiáticos e de publicidade,

atingindo diferentes públicos, lugares e fazendo-se presente em discussões acerca da

relevância que novos personagens e artistas surgem e são rapidamente introduzidos ao

universo dos meios de divulgação de informações.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E MÍDIA

O crescente avanço de tecnologias, assim como as mídias estando cada vez mais

presentes no cotidiano das pessoas e, como objeto desta pesquisa, a Saga Crepúsculo, que

possui consideráveis números relacionados aos seus livros e filmes, diversas premiações

foram conquistadas por seus atores e diretores, caracterizando-se como um fenômeno de

destaque presente na mídia recente, deste modo, então, as questões vinculadas à presença da

mídia no cotidiano das pessoas levam a refletir a respeito do que Bock (2009) cita referente ao

papel do psicólogo no que diz respeito à importância dos meios de comunicação.

No mundo atual, a comunicação em massa leva os indivíduos a abdicar dos

acontecimentos reais da vida e se transportarem para um mundo movido pelas aparências e

pelo consumo. Segundo Bock (2009), os psicólogos, tantos aqueles que atuam na área

relacionada à mídia, como aqueles que estão em outros campos de atuação, sabem “o quanto

os meios de comunicação têm uma presença forte, intensa, na vida de nossas crianças, jovens,

adultos, idosos” (BOCK, 2009, p.19).

Diante da afirmação de influência da mídia na vida dos sujeitos, pode-se mencionar

que a mesma tem a capacidade de criar a celebridade, assim como também pode demover

esta, onde a encenação e simulação teatral da vida mostram a superficialidade desses

indivíduos, criando assim, a “sociedade do espetáculo” (ANTUNES, 2008). A sociedade do

espetáculo caracteriza-se por comportamentos que visam a exposição e a exaltação da figura

comum, do sujeito simples e seu cotidiano, do voyeurismo, assim como também ditam os

novos herois, denominados por Antunes (2008) de herois anônimos, caracterizados por

pessoas que não cantam, não são artistas e não representam e sim, são pessoas do dia-a-dia.

Deste modo, caracterizar a relação entre fenômeno de massa, o contexto mídia,

educação e saúde por meio da identificação gerada pela saga Crepúsculo composta pelos

livros e filmes da autora Stephenie Meyer, em seu público faz-se necessário uma vez que,

assim como citado por Bock (2009) e Antunes (2008), a mídia faz parte da vida das pessoas e,

assim, faz-se constantemente presente no cotidiano, seja com suas notícias sensacionalistas,

seja com suas apresentações de novos famosos e herois que surgem a cada instante nas

mídias, como também retratando notícias diversas. Assim, a educação e a saúde das pessoas

que estão em contato com as mídias são citados aqui como objeto de estudo uma vez que em

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alguns casos, crianças e adolescentes, por exemplo, acabam por direcionar sua atenção para o

que vem sendo vinculado nas mídias, priorizando esta relação com seus ídolos e notícias de

famosos ao invés de sua educação, escola ou questões relacionadas à saúde e bem-estar.

Como exemplo desta situação, convém citar comentários que foram extraídos dos

sites Foforks (uma junção da palavra fofoca com o nome Forks, cidade na qual se passa

grande parte dos acontecimentos ao longo da saga) e Orkut, em relação ao modo como o

público da Saga Crepúsculo se relaciona com esta temática, bem como a relação que existe

com a presença de aspectos referentes à educação e saúde:

Minha amiga lia crepúsculo na escola 16

Essa saga é meu melhor passatempo. Quando tenho 3 horinhas pra me divertir

durante o dia vou logo assistir meus filminhos queridos. 3 horas porque em 2 horas

vejo um filme e levo mais 1 hora pra me desligar parcialmente e voltar pro mundo

real… sem Edward, Jacob, Bella…como é doloroso. Ps: fora a boa parte do dia que

passo aqui nesse site.17

Não tem um dia que eu não venha aqui *-* descobrir o foforks foi a melhor coisa

que aconteceu nessa „febre twilight‟ (sic) 18

Do mesmo modo, outros depoimentos, também extraídos do site Foforks19

,

exemplificam a presença e a relação que o público da saga faz com escola e temáticas

relacionadas à educação que envolvem os conteúdos disponibilizados nos livros e filmes da

autora Stephenie Meyer, contudo, nestes depoimentos as relações se configuram de forma

oposta ao que foi citado nas falas anteriores.

Se na minha escola caísse questões de New Moon eu ia gabaritar… e provavelmente

ia todo mundo colar de mim… de tanto q eu li o livro… já sei de trás pra frente

Cara, por que minha escola não adota isso?

Ahh . . . Se na escola que estudava as provas fossem sobre Twilight eu tinha tirado

uma nota muuuuitooo (sic) melhor em literatura. Imagina se não fosse Dom

Casmurro e sim Eclipse como leitura obrigatória!!! A minha sala iria muito bem no

simulado, eu viciei metade das meninas em Twilight .(sic)

Muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitooo fácilllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll! (sic)

Quem dera isso na minha escola…….. SOU UMA VICIADA MESMO! (sic)

16 http://migre.me/52Axf

17 http://foforks.com.br/2010/04/balanco-final-da-bilheteria-de-lua-nova/#comments

18http://foforks.com.br/2009/02/top-10-foforks-2008/

19 http://foforks.com.br/2009/04/lua-nova-em-simulado-de-escola

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A partir destas falas, convém abrir aqui para uma reflexão referente ao modo como a

educação tem sido percebida neste contexto. Quando uma pessoa cita que conheceu a saga por

meio de colegas de escola, bem como quando fala da vontade de uma inserção dos conteúdos

de Crepúsculo em sua escola, pode-se pensar então, o motivo disto não acontecer. Neste

sentido, pode-se refletir também nesta situação como um possível preconceito e, assim que

algo mudar neste aspecto, os alunos poderiam tornar-se mais interessados nas aulas uma vez

que os conteúdos passarem a ser mais próximo daquilo que os alunos gostam e têm

vivenciado atualmente. Como exemplo, focando nos novos meios midiáticos bem como nos

materiais de relevância que surgem constantemente nas mídias, assim como Crepúsculo.

Assim, percebe-se a influência e a presença das mídias nos relacionamentos do

público da Saga Crepúsculo, tanto nas questões que dizem respeito à educação, como no

depoimento Minha amiga lia crepúsculo na escola, e também nas falas que exprimem a

quantidade de tempo que estas pessoas passam com a saga, seja em momentos de lazer, seja

em outros momentos não especificados. Do mesmo modo, também surge a questão do

interesse pela saga como sinônimo de vício, como nas falas: sou uma viciada mesmo!; minha

sala iria muito bem no simulado, eu viciei metade das meninas em Twilight. Esta

característica apresentada pelo público em questão leva a uma reflexão que se faz relevante

para a acadêmica, pois trata-se de um interesse demasiado exposto e exemplificado pelas falas

das pessoas que leem os livros e notícias da saga, bem como assistem com frequência filmes e

entrevistas relacionadas ao tema, demonstrando até mesmo um certo orgulho por fazer parte

destas comunidades e de ser o tipo de pessoa que gosta e sabe tudo o que diz respeito aos

conteúdos sobre Crepúsculo, inclusive repassando esse conhecimento para outras pessoas.

A partir do exposto, convém relacionar com o que Raitz (2007 apud Antunes, 2008)

afirma que desde os primórdios o ser humano possui a necessidade de representar

teatralmente sua cotidianidade e suas vicissitudes existenciais, e ainda há o fato de que vive-

se em um tempo cada vez mais miscigenado de espetáculos naturais e artificiais. Com o

aumento das tecnologias e a presença constante dos meios de comunicação de massa percebe-

se que o “homem passa a viver cada vez mais uma vida sonhada e idealizada, onde a ficção

mistura-se à realidade e vice-versa” (s/p). Na opinião de Raitz (2007 apud Antunes, 2008), é

por esta razão que prevalecem a aparência das coisas e das pessoas, a reflexão e a crítica do

espetáculo.

Particularmente, referimo-nos às chamadas “tecnologias do espetáculo”, aquelas que

se singularizam por promover a “espetacularização da vida cotidiana”, que não se

restringem às mídias de massa - como, por exemplo, em programas do tipo Big

Brother –, mas sobretudo as que emergem num domínio diferenciado, próprio às

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novas tecnologias de comunicação e de informação, colocadas em cena pelos

weblogs, fotologs e webcams que se apresentam na internet, em particular aqueles

que expõem o espaço privado e a intimidade (CALVINO, 2009, p.45).

Assim como Calvino (2009) traz a questão das novas tecnologias de comunicação,

cabe aqui, deste modo, mencionar que a Saga Crepúsculo, como outros fenômenos da mídia,

surgiu também nestes meios, obtendo destaque e alcançando números de vendas e público.

Do mesmo modo, Calvino (2009, p. 47) refere-se ainda à mudança que vem se fazendo

frequente, aquela de “um espetáculo do comum e uma subjetividade exteriorizada, onde as

esferas de cuidado e controle de si se fazem na exposição pública”. A partir desta afirmação,

convém ressaltar que de acordo com a história humana, esses novos comportamentos da

sociedade moderna – interesse por dinheiro, fama, sucesso, mundo de aparências - não se

tratam de um embrutecimento, muito pelo contrário, de acordo com Bauman (2001 apud

Francisco 2005, s/p):

Essa sociedade é tão pitoresca quanto era a caracterização da sociedade do início do

século XX, todavia, é evolutiva a seu modo, é de forma voraz e a passos cada vez

mais largos, velozes, opressivos e normalmente destrutivos para a desmontagem,

remodelagem e reconhecimento de crenças.

Na análise de Bauman (2001 apud Francisco 2005), a atualidade em geral tem

características superficiais e imediatistas, onde o relacionamento das pessoas resume-se em

individualismo e egocentrismo, importando então, o momento presente, contribuindo assim,

para as relações de interesse e a desvalorização do bem estar alheio. Desta maneira, o autor

faz uma analogia entre sociedade e características circenses, de forma que define as pessoas

como atores sem papel, repletos de vaidade, atuação e interpretações de uma vida superficial

priorizando o consumo e a satisfação individual. Da mesma forma, Antunes (2008), também

se refere à vida na contemporaneidade como uma encenação e simulação teatral da vida,

mostrando assim, a superficialidade das experiências vividas por esses indivíduos. A partir

disto, a acadêmica pensa ser relevante questionar os modos pelos quais têm se construído os

relacionamentos, sejam eles virtuais ou presenciais, bem como esta questão que Antunes

(2008) traz referente à encenação e a superficialidade das vivências atuais, uma vez que a

constante presença de meios midiáticos, personagens, livros e filmes, por exemplo, acabam

por se misturar com o que os sujeitos vivem em seu cotidiano. O que se faz relevante trazer

aqui é justamente esse ponto entre realidade, ficção, o que realmente é superficialidade, até

onde é permitido – se é que existe limites postos quanto a poder ou não poder – já que para

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aqueles que vivem este mundo de fantasia, o imaginário muitas vezes faz-se mais real do que

a realidade dita verdadeira, além disso, convém ressaltar que esta temática fantasia/realidade

não possui, de fato, uma separação e, portanto, não se poderia falar ou tratar este tema como

algo que se distancia um do outro ou se opõe, nem mesmo que se assemelha, uma vez que o

que se tem na teoria não supre por completo as questões que esta temática traz quanto às suas

diferenças ou semelhanças. Do mesmo modo, a pesquisadora pensa ser importante destacar

que o fato de as pessoas estarem constantemente em contato com inúmeras fontes de

informações e notícias sendo vinculadas a todo instante, faz-se constituinte deste processo de

viver ou não relações de superficialidade e encenação, como anteriormente Antunes (2008)

citou.

Na atualidade, as pessoas são colocadas constantemente diante de um grande número

de informações, divulgadas nos mais diversos meios de comunicação (ROSA &

FERNANDES, 2008). Esta colocação remete ao que foi anteriormente mencionado referente

à afirmação de Bock (2009), quando esta cita a força dos meios de comunicação. Do mesmo

modo, cabe aqui a reflexão quanto ao fato de ser relevante esta discussão uma vez que o tema

deste trabalho, a saga Crepúsculo, ganhou grandes proporções a partir de divulgações

realizadas por meios midiáticos que constantemente atualizavam o público com notícias

referente à saga, levando para cada vez mais pessoas as informações acerca dos personagens,

filmes, atores e livros de Crepúsculo.

Assim, a velocidade como as notícias correm pelo mundo, atingem inúmeras pessoas

e, fazendo-se aqui uma relação com o fato de que a rapidez com a qual as pessoas têm acesso

a tecnologias, notícias, filmes, novelas, livros, e percebe-se, reflete no modo como desejam

viver, de forma que personagens e notícias acabam por influenciar a maneira como agir,

fazendo-os querer participar mais do mundo que identificam como fantasia, fato este que é

característico e presente, com algumas exceções, em várias faixas-etárias. Segundo Bock

(2009), sabe-se, o quão é necessário pensar sobre a questão referente à comunicação quando

fala-se, estuda-se e passa-se a entender a construção da subjetividade. “Essa relação

subjetividade e mídia está estabelecida, e os psicólogos, sendo profissionais da subjetividade,

têm-na estudado, mas pouco” (BOCK, 2009, p.19).

Tal velocidade dos meios de comunicação, bem como a quantidade de informações

que são divulgadas nesses meios reflete ainda no modo como o público absorve, reflete,

assimila acerca do que foi publicado nessas redes, de modo que todas essas características

com as quais se está frequentemente tentando adaptar-se refletem nos relacionamentos

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interpessoais, na educação, nas famílias, no trabalho, no lazer, no modo como se pensa a vida

e como projeta-se expectativas no futuro. Bauman (2001 apud Francisco 2005) cita o termo

derretimento, onde nessa nova sociedade maleável o que vigora é a ascensão de um objetivo

individual, ou seja, a mutabilidade das relações acaba por promover um desprendimento,

tanto afetivo, quanto financeiro, onde os bens se tornam altamente perecíveis e rapidamente

rotacionados.

Calvino (2009), afirma que os filhos de hoje recebem mais influência da mídia do

que de suas famílias e escola. Crianças e jovens, na pós-modernidade, crescem em frente à

televisão, onde a mídia os influencia, e este fato, segundo Rosa (2008) dá-se pela ausência de

referências sociais, de herois como exemplos de bons comportamentos, altruísmo,

cavalheirismo, dentre outras formas positivas de se portar e agir que valorizem a boa

educação, a solidariedade e amizade.

O mundo parece estar carente de histórias (...) segundo Corso e Corso (2006), o que

impele a nova geração a preferir o vídeo-game, o computador e a televisão, em

oposição aos livros, é a falta de qualidade. Completaríamos dizendo que não apenas

a qualidade da escrita da história faz a diferença, mas também a necessidade de

novos mitos e de histórias que façam com que as crianças e jovens, mesmo sem

saber, se sintam compreendidos e identificados com as personagens, histórias que

falem de nós, da nossa época e de nossas questões (ROSA, 2008, p. 482).

O que Calvino (2009) e Rosa (2008) trazem para discussão referente à falta de

histórias com as quais o mundo poderia se identificar, a carência de herois, de novos mitos,

assim como a relação que há atualmente com videogames e computadores, o modo como tais

mídias podem influenciar no comportamento das pessoas, remete, para a acadêmica, ao modo

como a Saga Crepúsculo surgiu e o que tem causado na mídia. Assim, alguns dos motivos

pelos quais Crepúsculo atingiu consideráveis destaques nas mais diversas mídias estão

relacionados ao fato de que a saga criou os herois que faltavam no momento, as histórias com

as quais o público queria se identificar. Transformou-se, deste modo, em um fenômeno,

justamente por ter sanado, ainda que em parte, a necessidade posta quanto aos novos herois,

fazendo seu público se sentir compreendido e identificado nos personagens.

Concomitantemente com a afirmação de Calvino (2009) acerca da influência da

mídia nas pessoas, os trechos a seguir, retirados do site Foforks20, reforçam esta discussão,

uma vez que as falas retratam a presença da mídia e da saga na vida dessas pessoas,

enfatizando a adoração pelo filme e os possíveis conflitos que isto poderia acarretar: Alô mãe

20 http://foforks.com.br/2008/09/crepusculo-se-antecipa-nos-cinemas-brasileiros/

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suspende o peru! Não vai ter mais ceia no cinema; Não vai ter mais discórdia na família por

causa de Twilight.

Do mesmo modo, alguns fãs também expressam em sites de relacionamento a

quantidade de vezes que foram ao cinema para assistir aos filmes da saga, tal como aparece

nos seguintes comentários:

Fui cinco vezes ver new moon. (Depoimento extraído do site Foforks)21

.

Digo mais uma vez, new moon foi maravilhoso! Vi 3 vezes por enquanto, muito

pouco. (Depoimento extraído do site Foforks)22

.

Estes comentários levam a refletir relacionando ao que Calvino (2009) cita acerca da

mídia como influência nos meios sociais, uma vez que tais comentários revelam, dentre

outros fatores, modos de se relacionar com familiares e amigos a partir do grau de

importância que o sujeito dá à saga, preferindo, em certos momentos, assistir aos filmes e

discutir em sites de relacionamento os temas relacionados a Crepúsculo ao invés de estar na

presença de familiares, por exemplo, durante datas festivas como o natal. Em contrapartida,

outros comentários, também retirados do site Foforks são relacionados à presença de

familiares nesta relação com a saga:

Acabo de ver o filme pela terceira vez!! Sim, fui ver com minha vó!! (Depoimento

extraído do site Foforks 23

)

Amei o filme, como assisti com meu marido, não gritei… (Depoimento extraído do

site Foforks24

)

Assim, cabe refletir quanto ao fato de que parece não existir uma definição

relacionada ao modo como o público de Crepúsculo se relaciona com seus familiares, pois, ao

mesmo tempo em que existe a presença de pais, avós e maridos na construção deste

relacionamento de fã com os livros e filmes, também existe o oposto, quando a saga torna-se

divisora neste relacionamento entre o fã e sua família. Há ainda situações quando a saga

torna-se, como alguns fãs citam em sites e comunidades de relacionamento que Crepúsculo

tornou-se um tipo de família para eles.

Relacionando então com o que foi anteriormente citado referente à presença dos

conteúdos da saga no cotidiano de seu público, além da relação que estes formam com outros

21 http://foforks.com.br/2010/04/balanco-final-da-bilheteria-de-lua-nova/

22 http://foforks.com.br/2009/11/20-diferencas-que-funcionaram-entre-lua-nova-filme-e-livro/

23 http://foforks.com.br/2010/04/balanco-final-da-bilheteria-de-lua-nova/

24 http://foforks.com.br/2010/04/balanco-final-da-bilheteria-de-lua-nova/

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fãs, convém citar que a mídia como fator constitutivo de novas formas de sociabilidade, assim

como cita Calvino (2009, p.44), é decorrente da “crescente presença das tecnologias de

informação e de comunicação em todas as esferas da vida social contemporânea, rearticulando

experiências sociais e possibilitando novas formas de interação social”. O mesmo autor

refere-se ainda às inúmeras maneiras pelas quais as tecnologias estão presentes na vida das

pessoas, “redesenhando limites que antes pareciam bastante nítidos, tais como o público e o

privado, o íntimo e o social” (CALVINO, 2009, p.44).

Assim, visando ressaltar um dos objetivos propostos por esta pesquisa, que era

caracterizar a relação entre fenômeno de massa, o contexto mídia, educação e saúde por meio

da identificação gerada pela saga Crepúsculo em seu público, convém destacar que, do

mesmo modo como citado anteriormente por Calvino (2009), percebe-se que a saga enquanto

fenômeno recente e assim feito a partir da divulgação realizada pela mídia, faz parte desta

relação entre fenômeno de massa, bem como das relações que a mídia cria. Neste sentido,

convém relacionar ainda com a proposta de investigar o aspecto psicológico e midiático que

os personagens e enredos desenvolvidos por Stephenie Meyer incitam em seus leitores e

espectadores, uma vez a saga passou a ter espaços antes não preenchidos no cotidiano de seu

público, ou ainda, ocupados por outros enredos. Deste modo, com a chegada – ou a

divulgação – de Crepúsculo nos veículos de comunicação, relações sociais se reconfiguraram

a partir do que surgiu. A presença de Edward, Bella e Jacob, por exemplo, nas rodas de

conversas em escolas ou em fóruns de debates em sites como Orkut passou a ser constante e,

assim como Calvino (2009) refere-se, redesenhou-se limites, possibilitou-se novas formas de

interação social. Percebe-se então, como a saga, por meio da presença também da mídia, pode

influenciar e refletir nessas novas configurações de relacionamentos sociais, tais como

aqueles citados em comentários do público que acompanha Crepúsculo, referente à escola e

família, por exemplo.

Deste modo, dado a significativa ênfase alcançada pela Saga Crepúsculo na

publicidade mundial, convém destacar questões relacionadas à presença da mídia como

produtora de personagens, modas, conceitos, dentre outros aspectos, e a relação destes com os

sujeitos que são os espectadores, as reflexões que estes fazem, o modo como estas

informações refletem em suas percepções, bem como em seus meios sociais, família, amigos,

trabalho etc.

Dentro dessa perspectiva relacionada à presença de amigos, familiares e internet no

relacionamento do público com a saga, convém citar alguns depoimentos de membros de uma

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comunidade ligada à saga em um site, sendo que o tópico era referente ao modo como cada

pessoa havia conhecido Crepúsculo. Nos depoimentos a seguir, fãs citam os amigos e a

internet como alguns dos principais fatores influenciadores neste processo de conhecer e

passar a acompanhar a saga:

Eu conheci Twilight na Internet mesmo. Um monte de gente dizia que era bom, um

monte de garotas estavam apaixonadas pelo Edward (e eu perguntava: quem é esse

cara?), toda hora eu via tópicos falando disso, e o pior, em comunidades que não

tinham nada há ver com o assunto. Toda hora via alguém falando que era o sucesso

do momento, e eu, de tanta curiosidade, pesquisei no Google, e descobri que era um

livro, que já tinham feito um filme etc. Então eu fiquei olhando um tempão as

imagens do filme no Google, e aí descobri que minha irmã já tinha o Crepúsculo e o

Lua Nova. Li esses dois, pegando emprestado dela, amei os dois, e aí recebi de

presente da minha avó Eclipse e Amanhecer. O atual, o da Bree Tanner, minha mãe

comprou pra mim e antes disso eu baixei Sol da meia- noite! Um tempo depois de

terminar de ler Amanhacer, comecei a acompanhar o Foforks, viciei na Saga e aqui

estou eu, com vários pôsters do Robert Pattinson e do Taylor Lautner no meu

quarto! (Depoimento extraído do site Orkut)25

.

Convém ressaltar deste depoimento o modo como rápida e constantemente os

conteúdos envolvendo a saga foram surgindo nos meios vinculados à internet, bem como no

relacionamento com familiares, neste caso, a irmã, a mãe e a avó, que contribuíram de certa

forma para que a fã tivesse acesso aos livros. Como a própria pessoa cita, ela passou também

a visitar um website conhecido entre os fãs como um dos principais divulgadores e meio de

comunicação entre o público que acompanha a saga, além de haver neste caso, a presença da

internet como uma das ferramentas utilizadas como fonte que possibilitou o conhecimento de

Crepúsculo.

Além do depoimento supracitado, os seguintes, também extraídos do site Orkut

expressam o modo como os membros da comunidade obtiveram conhecimento sobre a saga

Crepúsculo, ainda reforçando a presença de amigos e internet e, em outras falas, a escola,

enfatizando ainda a maneira como tornaram-se leitoras e espectadoras assíduas, ou viciadas,

como os fãs se denominam:

Baixei o filme do Crepúsculo da internet a pedido da minha prima, mas nem tive

interesse em ver por um bom tempo... Mas, resolvi ver, e gostei. Demorei a ver Lua

Nova no cinema, mas já tinha visto umas 5 vezes a cópia que baixei da internet 2

dias depois do lançamento. Aí, comecei a pesquisar sobre os livros e comprei os

quatro de uma só vez, pela internet, e li todos em cerca de 10 dias. Terminei de ler

25 http://migre.me/4xyMj

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28

Amanhecer e o reli umas 4vezes. E viciei na Saga. (Depoimento extraído do site

Orkut 26

)

O depoimento exemplifica o modo como a internet possibilitou a transmissão de

informações relacionadas à saga, divulgando assim, para diversas pessoas que, por meio de

downloads e compras pela internet, passaram a fazer parte do público que acompanha a saga.

Os dois depoimentos a seguir ainda estão relacionados não somente à familiares, amigos e

internet, mas também com a escola, inclusive em momentos do aprendizado de conteúdos

didáticos. As falas expressam como este conjunto de fatores esteve envolvido durante o

processo de conhecimento da saga, enfatizando como os meios midiáticos e sociais

influenciaram neste processo e também são comentários extraídos do site Orkut27

Minha amiga lia crepúsculo na escola, falava do Edward, mas eu nem ligava! Eu

assisti crepúsculo na casa dela e continuei não achando nada demais. Ficava

falando eu se fosse a Bella sairia correndo na hora que eles estão sozinhos na

floresta. Mas ai ela me emprestou o livro (crepúsculo) e juro foi amor à primeira

vista! Me apaixonei, me viciei ... DEMAIS! (sic) E desde então, sou viciada.

Foi no cursinho da escola... Minha profª de biologia estava ensinando uma matéria

relacionada à briófitas (árvores), então de acordo com ela, no filme Twilight, Forks

é um lugar cheio de briófitas, então ela passou o filme pra gente, explicando a

matéria. Daí em diante sigo a saga fielmente, pois fiquei perdidamente apaixonada

pela estória. Ah, e também nunca mais vou esquecer o que é briófita.

A próxima fala expressa o modo como um conteúdo também divulgado na mídia

acabou por direcionar para outro, Crepúsculo. A fã explica que ao assistir o videoclipe de uma

banda que fez parte da trilha sonora da saga e, por este motivo desenvolveu um vídeo com

cenas do filme, passou a se interessar pela saga. Além disso, a fã revela que antes mesmo de

ler o livro já se considerava viciada:

Eu ouvi falar que era um filme e vi o clipe Decode do Paramore... Aí me interessei

demais. Fiquei apaixonada pelo livro mesmo antes de ler... É meio louco... Nem

conhecia muito e já estava viciada. (Depoimento extraído do site Orkut)28

.

Deste modo, a partir dos depoimentos e reflexões anteriormente apresentados,

convém refletir que a mídia possui potenciais consideráveis de influência em seus

espectadores e estes, por sua vez, acabam por imergir no mundo de personagens de livros,

filmes, seriados, atores e atrizes famosos, sinônimos de vidas perfeitas, sem conflitos,

complicações e tantos outros fatores que são como sonhos de consumo dessas pessoas por trás

26 http://migre.me/4xyMj

27 http://migre.me/4xyMj

28 http://migre.me/4xyMj

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de aparelhos de televisões, computadores ou páginas amareladas de livros de sucesso. Assim,

a Saga Crepúsculo, mídia escolhida aqui como objeto de reflexões e discussões, constitui-se

como uma destas mídias pelas quais seus espectadores e leitores passam a sonhar acordados

com seus Edwards, Bellas, vampiros que não bebem sangue humano, famílias sem conflitos e

escolas com as quais gostariam de frequentar e, portanto, é fator que demanda atenção quando

se trata de meios midiáticos como influenciadores e formadores de opiniões. Do mesmo

modo, percebe-se e torna-se necessário reforçar mais uma vez o modo como a mídia é capaz

de estar presente em diversos momentos e situações, influenciando e refletindo nas ações e

opiniões daqueles que estão em contato com o que por ela é divulgado. É neste sentido que se

faz relevante refletir acerca da influência da mídia e dos conteúdos que são divulgados

referente aos aspectos sociais e psicológicos que estão implicados nesta relação, e que esta

pesquisa propõe como um dos objetivos de discussão e compreensão.

A partir disto, convém relacionar mais uma vez com comentários de fãs extraídos de

sites de relacionamentos e comunidades relacionadas à saga Crepúsculo. Por meio destes sites

fãs se relacionam e tecem comentários referente às notícias sobre Crepúsculo e expressam

suas opiniões no que diz respeito às temáticas que envolvem os atores, livros e filmes. Alguns

exemplos destes comentários podem ser aqui representados pelos seguintes recortes de falas

dos fãs quando estes debatem o relacionamento pessoal dos atores principais da saga, em um

tópico de comunidade do site Orkut29:

Mas whatever, se estão namorando que bom, se não, que bom também, não vai

mudar muita coisa na minha vida.

Hoje em dia, pouco me importa o pseudo-namoro deles. Se eles assumiram, legal,

desejo que sejam felizes, mas se não, tanto faz.

Estes comentários expressam os pontos de vista dos membros da comunidade quanto

ao fato de os atores Robert Pattinson e Kristen Stewart estarem ou não namorando, contudo,

tais falas representam um outro tipo de fã, que é diferente daquele que idealiza e expressa

constantemente seu desejo de ver acontecer de fato o namoro entre os atores da saga, e,

portanto, estes fãs afirmam que estão mais preocupados com suas vidas, e não mais com a de

seus ídolos. Outros membros da comunidade expressam sentimentos contrários às falas

anteriores, mostrando-se positivos em relação ao namoro dos atores. Os recortes a seguir

29 http://migre.me/4xA7w

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30

foram retirados do mesmo tópico de mensagens no fórum de discussão relacionado à saga30:

Hoje devia ser feriado, mano. #RobstenExiste (sic); ROBSTEN (sic), eu acredito, e sempre

acreditei. Muito fofos.

Assim, estes são exemplos dos diferentes pontos de vista que os fãs da saga

expressam quanto às notícias relacionadas ao tema e, partir disto, convém esclarecer que a

expressão “Robsten” é a junção dos nomes dos atores Robert Pattinson e Kristen Stewart,

uma forma que os fãs criaram para apelidá-los e citá-los durante os comentários referentes às

notícias a respeito de ambos.

Os comentários anteriormente citados remetem às questões acerca dos processos de

subjetivação e mídia, bem como dos materiais expostos nos veículos da mídia que se têm

atualmente e, ainda nesta relação, convém aqui expor a descrição de uma comunidade em um

site de relacionamentos sobre a saga:

O dia que deveria ser feriado mundial. O dia em que todos os twihards sempre

sonharam. F#%*-se se você não gosta de Robsten. O dia que sempre ficará

marcado em nossa memória. O dia do primeiro beijo Robsten. O melhor dia da

minha vida. (Depoimento extraído do site Orkut) 31

.

A fala anterior exemplifica como determinados veículos da mídia podem estar

presente na vida dos sujeitos, bem como exercendo certa influência sobre eles, quando estes

citam questões referentes as suas vidas mescladas com os elementos da saga e com a vida dos

atores. Deste modo, a partir das questões apresentadas referente à presença de amigos,

familiares, escola e internet no relacionamento do público com a Saga Crepúsculo, bem como

estes se relacionam e acabam por mesclar suas vidas com os conteúdos da saga e a vida dos

atores e personagens, pode-seaqui correlacionar com o que Pino (1991 apud Molon, 2003)

cita referente à relação entre homem e sociedade, e os processos de subjetivação e mídia.

As tecnologias e as mídias também se fazem presente na constituição da

subjetividade e Pino (1991 apud Molon, 2003, p. 6) discorre sobre a relação entre o homem e

a sociedade, afirmando que:

No mundo sócio-histórico não se pode ignorar nem a ordem imaginária nem a

ordem simbólica. Sendo a ordem simbólica uma produção do imaginário social da

sociedade, é, também, constituinte do homem como indivíduo social, dessa forma,

as representações da ordem imaginária são constitutivas da subjetividade, sendo que

há representações do sujeito e, principalmente, representações no sujeito.

30 http://migre.me/4xA7w

31 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=105421864

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31

Neste sentido, assim como a sociedade é um dos fatores constituintes do homem,

novas formas de produção de si e novos processos de subjetivação são gerados em

decorrência da constante presença da mídia no cotidiano das pessoas. Assim, convém integrar

aqui com um dos objetivos desta pesquisa, referente aos aspectos psicológicos e midiáticos

que a Saga Crepúsculo produz nas pessoas caracterizadas como seu público, uma vez que a

combinação mídia e Crepúsculo compõe-se como fatores influenciadores nesse processo

constitutivo de subjetivação no que se diz respeito aqueles caracterizados fãs da mídia em

questão. Assim, pode-se complementar com o que Calvino (2009) cita que as tecnologias

atuam em rede, significando que cada uma delas engendra diversas outras. (...) “elas invadem

e pervadem nosso cotidiano, de tal modo que falar em sociedade contemporânea ou em

subjetividade contemporânea é falar em tecnologia” e o autor complementa afirmando que

“nossa sociedade se tece com a tecnologia. Nós nos subjetivamos já hibridados com a

tecnologia. De modo provocativo, poder-se-ia dizer: não há sociedade fora da tecnologia, não

há sujeito fora da tecnologia” (CALVINO, 2009, p. 44). A partir desta relação entre

sociedade, mídia e sujeito, e de como este envolvimento reflete na formação do homem, bem

como reflete em suas relações sociais, a presente acadêmica na qualidade de pesquisadora

entende ser relevante citar e relacionar aqui com o depoimento de um fã da saga Crepúsculo,

discorrendo sobre sua opinião em um site relacionado à saga, em uma notícia sobre o fim das

gravações do último filme, Amanhecer:

Imagina a saudade que eles vão sentir das gravações dos filmes da saga! Todos os

atores sempre falam que eles são como uma família… Pra nós, fãs, tá sendo super

difícil… Imagino que o mesmo acontece com eles! (Depoimento extraído do site

Foforks)32

.

Deste modo, a partir do que Calvino (2009) cita referente às relações entre mídia,

sociedade e a influência destas na constituição do homem, e relacionando com o depoimento

do fã de Crepúsculo quando este cita a saga como uma forma de família, afirmando que o fim

das gravações acarretaria em sofrimento para o elenco e para o público que os acompanha,

convém citar e relacionar ainda com o que Pino (2003, p. 285) discorre acerca das

tecnologias, informação e conhecimento. Segundo o autor:

32 http://foforks.com.br/2011/04/clima-de-despedida-agradecimentos-e-expectativa-para-amanhecer/

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Apesar das grandes afinidades semânticas existentes entre os termos informação e

conhecimento e da estreita dependência que existe entre eles, não são dois termos

sinônimos. Se o acesso à informação é condição da aquisição de conhecimento e se

ela constitui já uma primeira forma de conhecimento, é porém insuficiente para

fazer de alguém um ser pensante. A informação, para tornar-se conhecimento, deve

ser previamente processada pelo indivíduo, ou seja, interpretada para descobrir sua

significação; assim, saber que existem buracos negros no universo não é suficiente

para saber o que eles são.

Referente à constituição da subjetividade, Molon (2003, p. 6) cita a importância da

contribuição do outro, “que acontece num cenário de agitação, conflito, produção permanente,

diferenças, semelhanças e tensões, ou seja, num cenário constituinte e constituído de

significações”, e a autora faz referência aos mundos por ela denominados “mundo de

significação privado e mundo público de significação”.

Zuwick (2010, p. 1) cita González Rey, segundo o qual a subjetividade permanece

em constante processo de interação com o social, e “para o autor, a subjetividade constitui-se

na relação dialética entre o sujeito e seu meio social atual que possibilitaria o surgimento de

reciprocidade entre o que é real e o que é subjetivo”. Gomes & Cecílio (2008, p. 9), acerca do

conceito de subjetividade, citam que “em Rey (2005), ela é produto do indivíduo e da

sociedade, para Freud apud Bock (2002) ela é a autoconsciência. Husserl apud Terra (2006) a

considera como sendo filosófica e Lacan apud Rey (2005, p.38) já a define como resultante da

falta”.

Segundo o livro “Mídia e Psicologia: produção de subjetividade e coletividade”,

publicado pelo Conselho Federal de Psicologia (2009), a partir de um seminário referente ao

tema, o questionamento acerca da influência que os meios de comunicação e suas

transformações exercem sobre a formação da subjetividade dos sujeitos é relevante uma vez

que no Brasil, as casas que possuem acesso a Rádio e TV representam 98%. Além disso, a

mesma publicação afirma que cada vez mais vem sendo facilitado o acesso à informação por

meio de celulares e computadores, significando a necessidade de maior atenção para a forma

como estas mudanças e facilidades podem afetar “os modos de existir, a cidadania, a

democracia”

A partir das afirmações anteriores acerca da influência da mídia na constituição da

subjetividade, convém mencionar Novaes (2009), segundo o qual a expressão “produção de

subjetividade” foi criada na filosofia francesa, afirmando que a subjetividade significa modos

de “perceber, de representar, de reagir afetivamente e de agir no mundo, o que antes o

pensamento tradicional chamava de personalidade, sujeito, pessoa; indivíduo” (p. 21). As

subjetividades são geradas socialmente e o autor compara essa produção a máquinas e à

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produção de alimentos, roupas, automóveis, etc, sendo que hoje há uma tendência para que

um dos mais importantes meios de produção de subjetividade seja a mídia. Por outro lado, o

referido autor também cita os meios de comunicação e a mídia em geral como instrumentos

geradores capazes de formar sujeitos críticos dispostos à mudança.

Do mesmo modo, Calvino (2009) afirma que é preciso pensar que a subjetividade

se forma na junção com dispositivos midiáticos, de tecnologia e comunicação, “um efeito de

rede, na qual nos agenciamos com as tecnologias para nos produzir como sujeitos” (p. 47).

Neste sentido, de acordo com um dos objetivos desta pesquisa que é caracterizar a relação

entre fenômeno de massa, o contexto mídia, educação e saúde por meio da identificação

gerada pela saga Crepúsculo, é possível vincular com o que Calvino (2009) afirma que se faz

necessário refletir sobre a relação entre subjetividade e mídia. Assim, a acadêmica pensa ser

relevante refletir acerca do conjunto composto por mídia, tecnologia e, aqui, Crepúsculo,

neste processo que, conforme observado em alguns depoimentos extraídos de comunidades

ligadas à saga percebe-se a influência das mídias no cotidiano, refletindo em suas opiniões e

formações. Portanto, também é preciso refletir quanto ao fato de que cada vez mais tem-se

construído subjetivamente nos enlaces da tecnologia e das mídias e, neste processo, refletindo

nas relações sociais, bem como nos aspectos que dizem respeito à saúde e educação nos mais

variados sentidos.

Para a acadêmica, a mídia como fator constituinte e presente na vida das pessoas

requer atenção cada vez mais constante visto que conforme a crescente presença desta no

cotidiano de crianças, adolescentes, adultos e idosos, os conteúdos publicados e apresentados

nas mais variadas formas de mídia e informação acabam por refletir no modo como as

pessoas desejam viver e escrever suas histórias de vida. Crianças acabam por passar mais

tempo na presença e companhia de aparelhos de televisão e computadores do que com seus

familiares e colegas, o que faz destes meios de informação muitas vezes os modelos que se

tem e, consequentemente, passam a ser copiados. A subjetividade, como anteriormente citada

por autores aqui mencionados, também é algo levado em consideração quando a temática

mídia é trazida à tona como fator de constituição de sujeitos e ditadora de conceitos ou

modas, também no sentido de que a mídia tem sido apontada, como já citado, formadora de

subjetividades.

Crepúsculo é considerado então, para a acadêmica, como um destes fatores com

capacidade de influenciar, criar modelos, sujeitos, devido ao sucesso e exposição mundial de

seus livros, filmes, atores e elementos vinculados à saga. Assim, convém integrar ainda com

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os aspectos ligados à ficção, fantasia/realidade, uma vez que estas temáticas estão presentes

nos livros e filmes da saga.

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2.2 FICÇÃO, FANTASIA/REALIDADE

Presente nesta relação entre mídia e a constituição da subjetividade e formação de

opiniões, a questão referente à ficção, fantasia/realidade está presente na discussão

apresentada por Bezerra (2009), que introduz a temática citando as revoluções tecnológicas do

século XXI que atingem grandes números de pessoas através “de informática e telefonia,

conectados por internet, via fibras óticas, satélites, microondas e um turbilhão de aparatos e

potencialidades digitais ao qual estamos chamando de convergência tecnológica”. A referida

autora complementa afirmando que:

As ferramentas de comunicação são unificadas e rompe-se a relação espaço-

temporal. Pode-se fazer tudo com a mesma ferramenta: telefona-se, vê-se TV, ouve-

se rádio, enviam-se mensagens eletrônicas, capta-se e edita-se texto, imagem

estática e em movimento, transmite-se, virtualiza-se a realidade (BEZERRA, 2009,

p. 323).

Do mesmo modo, Araújo (2005, p. 7) afirma que as pessoas vivem entre mundos que

se inter-relacionam e atuam mutuamente um sobre o outro, não havendo rupturas

significativas entre suas fronteiras, e “um deles é o da realidade, em que predomina a

objetividade e os compromissos que temos com o nosso dia-a-dia. E outro é o da fantasia, em

que predomina a subjetividade, dentro de um mundo de sonhos, ilusões e desejos”.

Neste contexto, a autora traz aqui como questionamento as temáticas relacionadas à

ficção/realidade, como uma forma de complemento para a discussão iniciada pelos autores

anteriormente citados, pois cabe, neste sentido, reafirmar que tais mundos parecem estar cada

vez mais ligados e constituintes de uma só realidade, e se existe algo que os separa, parece ser

uma linha um tanto quanto tênue. As pessoas passam horas dedicando-se à leitura de livros de

romances e ficção, desejando estar naquele mundo, naquela realidade, almejando que sua

realidade fosse aquela dos filmes e livros, buscando em suas vidas, encontrar os personagens

e acontecimentos que encontraram nas páginas dos livros e nas cenas dos filmes que mais

gostam. Em alguns casos, o contato com estas mídias acaba por ser maior também por meio

de ebooks, os livros virtuais disponibilizados na internet para serem lidos em computadores

portáteis, desktops, celulares, tablets etc., facilitando e promovendo um contato mais

constante com as mídias, independente do lugar que a pessoa estiver. Tais desejos acabam por

gerar também o que atualmente, com o avanço das tecnologias e das mídias está ainda mais

generalizado, comunidades e sites nos quais o público de livros, filmes, seriados e

personagens de considerável sucesso se encontram, discutem as temáticas relacionadas àquilo

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que têm em comum ali, expressam seus pontos de vista, fazem amizades baseados nesta

convivência – que certas vezes existem apenas na internet, mas que nem por isso tem menos

importância ou valor do que aquelas ditas presenciais – e assim constroem seus cotidianos,

suas histórias e passam a ter mais conhecimento do que acontece com seus atores preferidos

do que com familiares, por exemplo.

Neste sentido, pensando no modo como as pessoas se espelham na literatura e na

cinematografia como uma forma de construírem suas vidas, como exemplos a seguirem,

convém citar Zanotto (2005) quando este refere-se à cultura de massa citando as produções

cinematográficas como sendo o lugar no qual as pessoas podem se ver representadas “como

uma experiência de subjetividade”. A mesma cita ainda, que “os astros do cinema viraram

mitos, e os indivíduos se identificavam com eles; os astros lançaram modas e despertaram

sonhos”, o que pode-se relacionar com as citações anteriores referentes à fantasia/realidade,

uma vez que o cinema e os filmes como reprodutores de ficção acabam por influenciar, de

modo geral, para a constituição de fantasias, mitos e a proximidade de seus espectadores, em

uma mescla tênue.

Os principais temas identificadores da cultura de massa: o amor, a felicidade, os

valores privados e o individualismo, são considerados por Morin (1997), como os

mitos da modernidade. O autor identifica esses temas, entre outros, como os mais

recorrentes nas mercadorias dos produtos culturais (ZANOTTO, 2005, p. 17).

Neste contexto, a acadêmica pensa ser relevante relacionar a citação de Zanotto

(2005) com as temáticas apresentadas na Saga Crepúsculo, que envolvem relações amorosas,

questões familiares, laços de amizade, e que, de certa forma, foram alguns dos ingredientes

que fizeram a saga se destacar nos meios midiáticos e conquistar o público, além de tratar,

basicamente, de uma estória de contos de fada. A mesma autora anteriormente mencionada

também cita a cultura de massa como fornecedora de referenciais da sociedade, sendo que

estes modelos de beleza e conduta, por exemplo, encontram-se presentes em revistas, cinema

e televisão.

As grandes estrelas (do cinema, dos esportes, da moda) ganharam status de

“divindades”, ao mesmo tempo que também são humanizadas pela cultura de massa,

pois poderão assim, estar mais próximas da vida real mais condizente com as

pessoas comuns. Essas pessoas, por sua vez, irão buscar os ingredientes da

felicidade em seus ídolos, seus modelos e, por meio deles, viverão situações que na

vida real não seria possível, promovendo corrente de projeção e identificação

(ZANOTTO, 2005, p. 26).

Neste sentido, pode-se relacionar aqui com a temática desta pesquisa, por exemplo,

com os atores e personagens da saga, uma vez que grande parte do que é divulgado nos meios

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de comunicação e nas mídias em geral, torna-se assunto em sites de relacionamento social e

comunidades relacionadas à saga. Os atores de Crepúsculo são, assim como mencionado por

Zanotto (2005), tidos como divindades por alguns grupos de fãs, que passam a segui-los –

metafórica ou literalmente – e estes fãs também passam a viver a vida de seus ídolos,

buscando cada vez mais informações e notícias referentes a eles. Cria-se comunidades e sites

como meios de agrupar as pessoas que possuem o mesmo tema em comum, dentre outros

meios de promover discussões e estar cada vez mais próximo, de certo modo, de seus ídolos.

Esta aproximação entre público e atores, em certos casos, acaba por influenciar na formação

de opiniões e conceitos que os leitores e espectadores produzem a partir dos modelos que lhes

são apresentados.

Deste modo, a identificação com os modelos fornecidos pelas mídias, assim como a

repetição de modelos e a conexão com a realidade, requer, salvo exceções, atenção referente

ao que diz respeito à formação de opiniões. Segundo Nassif (2009, p. 325), “a tensão entre

realidade e ficção, no que diz respeito aos meios de comunicação de massa, existe e pode ser

traduzida por falta de clareza sobre o que se refere a um e o que se refere a outro”. A autora

cita também que está cada vez mais elevada a frequência com a qual “elementos de realidade

e ficção são apresentados de forma misturada, ou, pior, um se apresenta travestido do outro”

(NASSIF, 2009, p. 325).

De forma explicativa, Nassif (2009) exemplifica a proximidade entre

realidade/fantasia através da reflexão de que atualmente, diferentemente de décadas atrás, a

experiência que se possui hoje é aquela referente à ficção e aos filmes. Assim, uma vez que

algo distinto da realidade vivenciada acontece, a referência é a ficção, o que, segundo a

autora, produz certa confusão entre o que é real e o oposto. “A experiência agora é virtual,

mediada pela técnica, e o padrão de realidade acaba sendo cada vez mais o simulacro, que nos

parece mais real do que a própria realidade” (NASSIF, 2009, p. 327). Para exemplificar o que

Nassif (2009) cita referente ao modo no qual se encontra atualmente os conteúdos de

ficção/realidade, faz-se relevante citar aqui um fato que vem acontecendo com certa

frequência nas comunidades e sites relacionados a Crepúsculo, por iniciativa dos membros

dessas comunidades e do público que acessa os sites. Ao entrar na maioria destas

comunidades, percebe-se uma crescente publicação de contos escritos pelos próprios fãs e

membros desses grupos virtuais, sendo que estes contos, denominados fiks ou fanfics (junção

de fã com a palavra ficção), são relacionados aos conteúdos de Crepúsculo e aos seus atores,

mesclando a ficção dos livros e filmes com a realidade, representada pelos atores, em uma só

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temática. Os escritores destas fanfics baseiam-se nos acontecimentos relacionados aos atores e

os enredos dos livros e filmes da saga, divulgados pelas mídias, mas também utilizam de sua

imaginação. Os escritores acabam por colocar nessas estórias o que comentam em outros

tópicos das comunidades e sites, seja no modo como gostariam que os atores principais da

saga namorassem também fora das telas, seja no modo como levam os contos a finais com os

quais gostariam que tivessem sido escritos pela autora de Crepúsculo, Stephenie Meyer.

Ainda referente à presença da mídia na vida das pessoas e no modo como

ficção/realidade têm se mesclado, convém citar Guareschi (2009), uma vez que este discorre

sobre a presença constante da mídia na vida das pessoas, e exemplifica afirmando que “a

mídia hoje é como o ar que respiramos, como a água para o peixe. É a alma da nossa

sociedade”. Deste modo, cabe aqui a reflexão referente à forma pela qual tal presença pode,

em certos momentos, influenciar, ditar ou fundir-se com aquele que recebe a informação, o

que poderia gerar também fusão e possíveis dificuldades para distinguir

realidade/fantasia/ficção. A forma como tais informações são recebidas são as mais variadas

possíveis, e não há como prever como serão as reações dos espectadores ao entrarem em

contato com o que os diversos meios de comunicação estão constantemente transmitindo, uma

vez que a interpretação destas também não pode ser conhecida previamente. Segundo

Guareschi (2009, p. 81), “mídia” significa, em parte, “os processos de produção, circulação e

recepção de mensagens e conteúdos informacionais nas diferentes plataformas e suportes

tecnológicos”. O autor complementa citando radiodifusão, imprensa e também as atividades

relacionadas a telecomunicações e à indústria cinematográfica como meios pelos quais tais

informações são transmitidas. Deste modo, pode-se considerar que a diversidade e a

fugacidade com a qual os dados são compartilhados podem, em certos casos, influenciar na

geração de fantasias, deslumbramentos e desejo de vivenciar o que está sendo mostrado na

ficção.

Neste sentido, pensando a presença da mídia e a questão fantasia/realidade, sendo

esta temática um dos objetivos desta pesquisa no intuito de promover reflexões e descrever

esta relação a partir do ponto de vista relatado pelo público caracterizado como fã de

Crepúsculo, convém citar aqui comunidades criadas no site Orkut que são ligadas à saga.

Dentre os grupos desenvolvidos e frequentados por membros que são leitores, espectadores e

fãs da saga em geral, alguns possuem em suas descrições pontos que merecem destaque.

Além disso, a quantidade de pessoas que fazem parte dessas comunidades também se faz um

aspecto relevante para discussões. Por outro lado, existem também comunidades nas quais

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39

seus títulos, descrições e membros são contrários aos conteúdos da saga, àqueles que gostam

dos livros, filmes e atores.

A maior comunidade no Orkut relacionada à saga é nomeada Crepúsculo - Twilight

Brasil33

, possui 503.443 mil membros e em sua descrição há uma breve apresentação.

Algumas comunidades expressam que são contra o fim do enredo, como em duas de mesmo

nome: Contra o fim de Crepúsculo, sendo que cada uma possui 10.30034

mil e 20.20235

mil

membros. Em uma delas, a descrição possui uma referência ao sucesso da saga e finaliza com

a frase e com certeza irá cativar seu coração.

The Twilight Saga escrita por Stephenie Meyer é um best-seller mundial, aclamado

por inúmeras pessoas. A história trata de um romance entre uma humana e um

vampiro, e com certeza irá cativar seu coração (Depoimento extraído do site

Orkut36

).

Na comunidade Crepúsculo Não Pode Acabar37

, que possui 34.673 mil membros, a

descrição remete à duração do sucesso da saga, expressando ainda vontades pessoais de quem

criou a comunidade, pois esta cita no pequeno texto o desejo de passar os livros para suas

futuras gerações.

Crepúsculo/Twilight não pode simplesmente acabar no Midnight Sun. Crepúsculo

veio para ser algo eterno, algo que eu levarei por toda a minha vida e passarei de

geração em geração cada livro da série, Crepúsculo - Lua Nova - Eclipse -

Breaking Dawn - Midnight Sun. São esses livros que fizeram eu me apaixonar por

leitura, me apaixonar pela vida... Série Twilight Forever.

A partir deste texto, a autora propõe aqui uma reflexão quanto ao fato de surgir, nesta

comunidade, a questão da eternidade, de que o sujeito em questão – e de certa forma

compartilhado pelas pessoas que entram na comunidade também – gostaria de levar isto para

a vida toda, bem como da vontade de querer compartilhar os livros com outras gerações.

Assim, percebe-se que a relação construída por parte das pessoas que se caracterizam como

público da saga constitui-se como algo, de certa forma, instituído e criado por influência da

relação que a mídia faz com o público. Aspectos psicológicos, como a vontade explicitada na

comunidade de passar os livros de geração em geração, compartilhando dessa forma com

membros de sua família, exemplificam a relação e a influência que a mídia tem no modo de as

33 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=27820649

34 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=84295917

35 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=7254691

36 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=84295917

37 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=38782795

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40

pessoas construírem suas vidas e como acabam por colocar a mídia, nesse caso a Saga

Crepúsculo, em suas relações e construções e planejamentos para o futuro, por exemplo.

Ainda objetivando pensar esta temática entre aspectos psicológicos e midiáticos

presentes nos relacionamentos sociais e construções realizadas e ressignificadas pelos

sujeitos, outras comunidades também representam assuntos que contribuem para a reflexão

aqui proposta. Quanto ao fato de que alguns fãs consideram-se viciados na saga, certos grupos

virtuais vinculados ao tema expressam as opiniões desse público. Com o nome Um vício

chamado Crepúsculo, a comunidade que possui 171.622 mil membros e se reconhece por

uma sigla com as iniciais da comunidade (UVCC) está descrita desta maneira:

Não existe amor igual ao de amar Crepúsculo, amar a UVCC, pela história, pelas

brigas, pelos amigos, Crepúsculo mudou a minha forma de viver, e acho que mudou

a de todos também, UVCC! A comunidade que mudou a minha forma de ler, de

escrever. Tudo que se passa aqui é especial. AMOR não se compra, mas se

participa. Então faça parte você também, e venha desfrutar de tudo que há de bom

na UVCC (Depoimento extraído do site Orkut38

).

O texto apresentado na comunidade expressa a forma como a presença de

Crepúsculo mudou a vida da pessoa que criou a descrição, além de ter mudado a sua forma de

ler e de escrever. Deste modo, a autora propõe aqui uma reflexão quanto ao fato da

intensidade, da grandeza que são apresentados, em geral, nas falas e comunidades

relacionadas à saga e que aparece aqui também. Percebe-se isto na comunidade citada, por

exemplo, quando leva-se em consideração que a descrição foi criada por uma menina que aos

doze anos fala de sua relação com Crepúsculo de forma exagerada, mas que, de certa forma, é

a sua verdade, seu modo de ver suas relações e sua vida neste momento.

Mais duas comunidades do mesmo tipo, ligadas à saga como um vício podem ser

encontradas no site Orkut. Com 25.091 mil membros, a comunidade Crepúsculo, meu eterno

vício39

faz referência à saga como um dos maiores fenômenos do século XXI. A descrição

ainda cita que o eterno vício a que o nome da comunidade remete, é o que Crepúsculo tornou-

se para jovens e adultos de todas as idades:

Quem diria que um sonho poderia se tornar em um dos maiores fenômenos

literários do século XXI. Stephenie Meyer, enquanto dormia, criou uma história que

vendeu cerca de 116 milhões de cópias ao redor do mundo. Traduzido para dezenas

de línguas, reescreveu o modo de ver os vampiros. Repleto de aventura, suspense e

38 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=385595

39 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=78939045

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seres sobrenaturais, Crepúsculo virou, para jovens e adultos de todas as idades, um

eterno vício.

A comunidade Sou viciado em Crepúsculo40

também está relacionada, segundo seus

membros, à saga como um vício. Um detalhe a ser destacado aqui diz respeito à quantidade de

membros, uma vez que em sua descrição, há um agradecimento sem data, pelos 12 mil

membros, sendo que atualmente a comunidade conta 17.985 mil pessoas.

O site Orkut possui outros grupos que dizem respeito a Crepúsculo, seus atores,

atrizes e variados conteúdos semelhantes, inclusive algumas são sinônimos de declarações do

amor que sentem como fã, outras são destaques para frases dos livros e filmes, tais como Amo

a saga Crepúsculo41

, que conta com 65.678 mil membros e Frases Crepúsculo/Twilight42

,

com 39.791 mil membros. A comunidade Se não fosse Twilight...43

, que possui atualmente

9.834 mil membros tem em sua descrição um pequeno texto destacando possíveis benefícios,

segundo a criadora da comunidade, de ter conhecido a saga e a série de acontecimentos

decorridos a partir disto:

Se não fosse Twilight...

Não estaria tão ansioso para assistir Amanhecer Parte I (18-11-11)

Não teria conhecido tanta gente especial

Não teria feito viagens inesquecíveis;

Não teria se enfiado nos piores lugares pra ir ao cinema;

Não gastaria todas as moedinhas por revistas, pôsteres;

Não teria a trilha sonora mais perfeita;

Não conheceria aquele CARA ou aquela GAROTA; (sic)

Não seria obrigado a ouvir a pergunta: Você não enjoa não?

Assim, percebe-se mais uma vez a ligação que é feita entre a mídia Crepúsculo e os

acontecimentos que surgiram a partir do contato com a saga, influenciando em redes de

relacionamento, como em Não conheceria aquele cara ou aquela garota e também em Não

teria conhecido tanta gente especial. O fato de ter conhecido Crepúsculo também é associado

a viagens e aspectos econômicos, como em Não gastaria todas as moedinhas por revistas,

pôsteres.

Por outro lado, é possível encontrar na internet também comunidades que

demonstram o oposto daquelas anteriormente citadas. São grupos que fazem referência à

aversão e são contrárias aos conteúdos de Crepúsculo e algumas também às pessoas que são

40 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=3630319

41 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=91471720

42 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=54391960

43 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=51424100

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42

positivas à saga. Com 34.978 mil membros, a comunidade intitulada Eu Odeio Crepúsculo –

(EOC) 44

é descrita da seguinte maneira:

Comunidade para todos aqueles que não gostam de Crepúsculo. Sobre Crepúsculo:

Uma série criada com o propósito de virar modinha e arrecadar dinheiro à custa

das pessoas que se dedicam a desperdiçar dinheiro com isso.

Também criada por pessoas que não gostam de Crepúsculo e conteúdos relacionados,

a comunidade Eu odeio Crepúsculo e afins45

, que possui 12.211 mil membros, faz referência

em sua descrição ao fato da saga ser algo passageiro quando diz: Para você que acha que

Crepúsculo não passa de uma modinha tosca. Com 25.402 mil membros, 10 Coisas que você

precisa saber sobre Crepúsculo46

faz parte ainda das comunidades criadas para aqueles que

não gostam da saga. Esta, no entanto, possui em sua descrição elementos um tanto quanto

ofensivos e discriminatórios referentes aos conteúdos de Crepúsculo e a possíveis razões para

não se gostar da saga, numeradas de um a dez:

1° Para todos que querem perder a virgindade depois dos 25 anos o filme é ótimo.

2° Toda menininha pensa que existe um Edward na sua vida (IDIOTAS) (sic).

3° Se seu filho está em duvida da sua sexualidade nunca deixe assistir esse filme, ele

vai vira menininha.

4° Se você é fã, doida por crepúsculo, viciada ou viciado, pode ter certeza, você tem

a mentalidade de uma criança.

5° Homem que é homem prefere mulher gostosa, BELA (sic) é acabada.

6° Meninas, nunca pensem que vão achar um grande amor na escola, meninos hoje

em dia só pensam em comê-las.

7° Outra coisa, VAMPIROS (sic) não se apaixonam porra, vampiros já estão mortos

e bebem sangue CARALHO (sic)

8° Um vampiro se apaixonar por um humano é a mesma coisa de você se apaixonar

por uma vaca.

9° Cuidado, se achar um Edward aqui no Brasil pode ser um pedófilo ou um

estuprador

10° Vampiro não brilha no sol PORRA! (sic)

As comunidades aqui citadas exemplificam, de certa forma, os extremos que a mídia

pode gerar, uma vez que se grupos positivos ou negativos a um determinado tema são criados,

isto acontece em decorrência, muitas vezes, da influência produzida pelos veículos de

comunicação.

Assim, estes grupos, dentre outros que podem ser encontrados nos sites de

relacionamento social e que aumentam seus números de membros rapidamente, demonstram

44 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=24548818

45 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=80392965

46 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=103865156

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43

para a autora, o fenômeno que é a Saga Crepúsculo, tanto de forma positiva quanto negativa.

As comunidades, em sua maioria, são criadas com o intuito básico que toda comunidade

virtual em um site com o objetivo de promover relacionamentos sociais tem, que é o de

debater e discutir os temas propostos pelas pessoas que criam as comunidades bem como os

tópicos que são criados por seus membros. O fato de haver público dito como positivo à saga,

como também haver aqueles caracterizados como opostos aos conteúdo vinculados a

Crepúsculo demonstra ainda certa influência das mídias e do que é disponibilizado na

internet, uma vez que a partir do momento que uma comunidade é criada, por exemplo,

dezenas, centenas e até mesmo milhares de pessoas passam a fazer parte dela, compartilhando

ou discordando das ideias ali apresentadas.

Pode-se pensar então no modo como a mídia, por meio de variados veículos de

comunicação, possui habilidades e ferramentas capazes de promover discussões e de criar

grupos, sejam eles positivos ou negativos. O cuidado que se deve ter, para a autora que aqui

propõe uma reflexão acerca desta temática relacionada à mídia, é que em certos casos as

discussões acabam por se tornarem ofensivas e discriminatórias. É por meio de uma

comunidade criada, por exemplo, que algumas pessoas têm a oportunidade de reunirem-se em

torno de debates negativos, preconceituosos e alimentados pela força da mídia como

possuidora do papel de expor e divulgar os conteúdos que lhe são oportunos. Portanto, a

reflexão aqui é referente a esse papel da mídia, seja como criadora de herois e vilões, seja

como uma ferramenta que pode ser usada de diversos modos, mas que acaba, em certos

momentos, sendo utilizada de forma exacerbada e negativa.

As ideias criadas e apresentadas nas comunidades são modelos do que a mídia, em

geral, acaba por fazer. As comunidades em sites de relacionamentos são representantes do

papel das mídias, pois o que é criado nessas comunidades reflete as opiniões de diversas

pessoas que, ao entrar e fazer parte desses grupos estão compartilhando das mesmas ideias

neles contidos. Assim, pode-se fazer uma analogia ao que a mídia promove, uma vez que,

quando uma pessoa lê, compartilha e divulga as ideias apresentadas por sites, jornais, rádio e

televisão, por exemplo, da mesma forma acontece quando uma comunidade é criada. Ela é

desenvolvida para representar uma ideia, uma vontade ou a opinião de uma única pessoa, mas

acaba por agregar diversas pessoas que compartilham da idéia e, em tópicos das comunidades,

debatem e promovem discussões acerca do tema e de assuntos semelhantes. Comunidades

fazem parte, então, de uma parcela que representa o papel das mídias em geral, pois são

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ferramentas que criam ideias, promovem discussões, compartilham opiniões, agregam pessoas

e espalham notícias.

Assim, a partir desta discussão, questões relacionadas à fantasia são próximas

daquelas que envolvem cinematografia e literatura, por tratarem de temáticas relacionadas e,

por conta disto, a pesquisadora pensa ser relevante as discussões que cercam tais temáticas.

Na Saga Crepúsculo, por exemplo, existem temas vinculados à realidade, como escola,

família, dentre outros, mas também há os vampiros, lobisomens e enredos relacionados a

lendas. O público que entra em contato com a Saga, portanto, está entrando em contato com o

que os livros e filmes expõem sobre realidade, mas também sobre questões de fantasia. O que

esse público fará a partir do que absorveu precisa, então, ser tomado para discussões.

Reflexões que envolvem esta temática são relevantes, como por exemplo, destacando o modo

como os fãs de Crepúsculo estão interpretando as mensagens passadas nos filmes e livros da

saga. Do mesmo modo também, como e até que ponto estas mensagens, sendo fatores de

influência na vida e nos relacionamentos dessas pessoas que estão em contato com a saga,

podem acarretar em prejuízos ou benefícios para os envolvidos.

Ainda acerca desta discussão, Bezerra (2009, p. 322) refere-se ao cinema e à

fotografia como ferramentas relacionadas a um novo olhar sobre a representação da realidade

e que o cinema “traz fascínio da reprodução virtual do mundo e dá início ao novo aprendizado

visual da humanidade.” A autora também refere-se ao cinema não como modo de pensar,

porém, algo que “dita tendências de moda, costumes, comportamentos e prepara as pessoas

para a leitura de novas linguagens em novos textos”. Assim, o contato com a ficção e a

fantasia também passou a ser por meio das telas e dos enredos nelas retratadas, de modo que

vem sendo até os dias de hoje, em geral. Para Damasceno & Valente (2006, p. 1), “mitos e

fantasias sempre povoaram o pensamento humano”, passando desde os contos de fada até,

atualmente, filmes e livros de grande sucesso.

Souza (2005), citando Bettelheim (1978/1980), afirma que necessita-se do reconforto

gerado pela imaginação para que possa-se viver na realidade do dia-a-dia, “as quais, sem a

contribuição dos sonhos noturnos e diurnos nos pareceriam talvez muito penosas para

poderem ser suportadas” (p. 273). A autora ainda complementa com a afirmação de

Bettelheim de que os contos, fábulas e livros são também tão modernos quanto outros gêneros

literários, pois continua-se a criá-los hoje, como acontecia desde o início da história da

humanidade. Os contos de fada, fábulas e estórias dos dias de hoje podem ser comparados, em

parte, com filmes e livros, sendo alguns destes criados a partir das características atuais da

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sociedade, suas necessidades, desejos, assim como também tais contos modernos continuam a

acrescentar aspectos de fantasia e mitos, parte deles com a realidade.

A partir disto, convém relacionar também com as questões que envolvem os meios

de comunicação e de informações, fontes de conteúdos constantes, novas histórias e

personagens que são lançados continuamente, assim como herois criados por estas mídias,

também acabam por refletir no modo como espectadores e leitores se relacionam com as

questões que envolvem ficção, realidade/fantasia. A Saga Crepúsculo possui em seu enredo,

ao longo dos quatro livros publicados e de seus filmes lançados, diversas temáticas que

mexem com o imaginário de seu público que certas vezes prefere passar mais tempo

mergulhado neste universo de vampiros e romances, do que propriamente envolvidos com

questões de seu cotidiano. Assim, convém citar outros aspectos relacionados à temática

fantasia/realidade, pois este tema pode não ser tão distinto um do outro como certas vezes é

considerado, e que realidade/fantasia possam estar mais próximas e conectadas do que tem-se

discutido. Quanto à subjetividade dos sujeitos que se relacionam com contos, enredos, filmes

e livros ditos como ficção/fantasia, faz-se necessário considerar a repercussão e o impacto que

isto pode causar no comportamento e em suas relações sociais, bem como em suas escolhas,

planejamentos, reflexões e projetos de vida, por exemplo.

Assim, dando continuidade ao acima exposto, as temáticas que envolvem

ficção/realidade presentes em livros e filmes lançados em diferentes épocas também estão

visíveis nas discussões criadas pela mídia, quando esta produz e reproduz as informações

relacionadas aos lançamentos de novos herois e personagens da literatura e do cinema. Além

disso, convém relacionar aqui ainda a questão do romance e do típico “conto de fadas”, uma

vez que a temática presente na Saga Crepúsculo também está relacionada a isto, sendo

Edward Cullen, apesar de vampiro e nascido no ano de 1901, e Isabella Swan, uma

adolescente que se considera comum e sem grandes destaques, nada mais são que

personagens de contos de fada, ainda que envolvidos em outros temas e enredos. O público

que se relaciona com os livros, filmes e demais aspectos do universo da Saga Crepúsculo, não

se distingue muito, ao que parece, do público de décadas atrás que lia Romeu e Julieta, A

Branca de Neve, A Bela e a Fera e outros enredos de contos de fada e estórias de príncipes e

princesas em busca de um amor perfeito, de uma alma gêmea. Assim, a Saga Crepúsculo,

caracteriza-se como mais um enredo de conto de fadas, apesar do diferencial apontado pelos

fatores relacionados a vampiros.

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Como todo conto de fada, por trás há leitores e espectadores vivenciando tais

fantasias/realidades e se constituindo neste relacionamento unilateral, de mão única, no qual o

leitor/espectador é o único a receber, refletir, modificar seu modo de se relacionar com a

realidade do cotidiano. Neste processo, vai se caracterizando, se construindo, absorvendo

aspectos diferenciados vivenciados nos livros e filmes e captados para sua subjetividade, sua

vida. E nisto tudo, está presente a mídia, que divulga, leva para horizontes distantes

informações e histórias, personagens, enredos e romances lançados continuamente,

alcançando diferentes povos e sujeitos que terão de saber e aprender o que fazer com o que

estão recebendo da mídia e como aproveitá-la de forma produtiva.

De forma ainda a contribuir para a discussão que envolve tais temáticas, convém

citar os conceitos relacionados à literatura relacionada a contos, fábulas e livros e também a

trajetória destas temáticas ao longo dos anos, bem como sua relação com o público. Acerca da

relação entre o passado e o presente, quando trata-se de contos, fábulas e livros, Rosa (2009,

p.2) cita que

Novas histórias podem estar fazendo hoje o mesmo efeito dos contos de fadas

relatados por Bettelheim, enquanto novas leituras e novos dizeres possíveis partem

dos contos tradicionais, como é o caso de História sem fim (Ende, 2000), As

crônicas de Nárnia (Lewis, 2002) e Harry Potter (Rowling, 2000).

Segundo Rosa (2009), portanto, é possível relacionar e identificar nas histórias de

hoje, semelhanças com os contos, fábulas e livros de décadas atrás, uma vez que o leitor, em

parte, continua buscando na ficção, identificação e herois com os quais se espelharem, terem

sonhos, etc. Além disso, os livros de hoje continuam a compor mistos de realidade/fantasia,

dependendo de seus enredos, contendo mais realidade ou mais fantasia, mas pode-se dizer que

a combinação destas continua repercutindo efeitos, identificações e gerando discussões. A

referida autora complementa afirmando que “a literatura infanto-juvenil contemporânea tem

encontrado outras formas de descrever os anseios humanos de uma forma protegida, afastada”

(ROSA, 2009, p.3).

Camargos (2009) cita o pensamento do crítico brasileiro Antonio Candido para

referir-se à necessidade do homem de buscar fantasias e imaginações: “sempre estamos

fabulando, imaginando, inventando, contando, criando, seja em sonhos, no dia a dia, nas

brincadeiras e rimas que fazemos desde crianças” (p. 217). Desta forma, o autor faz referência

ao fato de que a imaginação e as fantasias podem não ser apenas características das crianças,

mas dos homens em geral.

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Em seu estudo comparando os leitores brasileiros de literatura infanto-juvenil da

década de 1980 com os dos dias atuais, Biasioli (2007) cita a fantasia como um dos temas que

obteve destaque em sua pesquisa, tanto pelo público infantil quanto pelo juvenil. A autora

também cita a saga Harry Potter como exemplo de destaque entre o público por ela

pesquisado. Segundo Biasioli (2007), a narrativa de Harry Potter merece especial atenção por

tratar-se de um fenômeno literário que abrangeu, e continua abrangendo, crianças, jovens e

adultos também. Além disso, a autora ainda faz referência à influência da mídia na divulgação

e vendas dos livros e produtos relacionados ao bruxinho.

Com o processo de divulgação, a mídia cria, no leitor, uma grande expectativa a

cada novo volume que é lançado, bem como a cada lançamento da série no cinema,

o que é outra conseqüência do enorme sucesso dos livros da autora J. K. Rowling. O

sucesso da série de Harry Potter se dá por, basicamente, um fator, que engloba

vários outros: a questão da identificação do leitor com a personagem. “Harry Potter,

antes de ser um bruxo com poderes mágicos, é um pré-adolescente que vive um

processo de aprendizagem. Nesse sentido, é igual a qualquer criança a quem o texto

parece, inicialmente, estar se dirigindo” (Cortina 2004: 180). A autora consegue

abordar temas comuns aos pré-adolescentes, como amizade, namoro, descobrimento

de si mesmo, de forma mágica, o que causa uma profunda identificação do leitor

com as personagens, além de encantar seu público, que tem sua imaginação

estimulada a cada página. (BIASIOLI, 2007, p 103).

A partir da fala de Biasioli (2007) referente ao papel desempenhado pela mídia no

processo de expectativas geradas pelo público que acompanha notícias de atores e

personagens, convém relacionar aqui com o trecho de uma entrevista realizada com o ator

Robert Pattinson e divulgada pelo site Foforks47

, quando o ator cita a fama que conquistou em

função do sucesso alcançado pela saga, contudo, o mesmo ressalta que esta fama é de seu

personagem na saga, Edward, e não dele.

TZ: Você acha que a febre Twilight vai parar depois de Breaking Dawn?

Robert Pattinson: Todo o bla bla bla que me cerca tem algo a ver com Twilight. E é

por isso que vai parar depois disso, espero. Porque eu tenho uma vida entediante.

TZ: Você não vai ter nenhum sintoma de abstinência quando as garotas pararem de

te seguir e perseguir?

Robert Pattinson: O amor delas não pertence a mim, mas a um personagem fictício.

E essa confusão vale para todas as idades. Não muito tempo atrás, uma mulher me

seguiu no aeroporto com seu bloco de autógrafos. Ela ficou firme: “Robert, eu te

amo. Robert, eu te amo de verdade. Robert, você não faz ideia do quanto eu te

amo”. Eu perguntei a ela: “Quantos anos você tem?” A resposta dela: “92″.

TZ: Não foi engraçado?

Robert Pattinson: Sério. Mas as garotas de 12 anos dizem o mesmo.

47 http://foforks.com.br/2011/05/entrevista-rob-confirma-robsten/

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48

Assim, este depoimento expressa a influência que a mídia desempenha nesta relação

entre um ator, por exemplo, e seu sucesso, no sentido de que, assim como destacado pelo ator,

sua fama poderá acabar assim que o sucesso da saga também acabar. Percebe-se então, que a

mídia é, em parte, condutora constante e fator que delineia os caminhos que serão construídos

por uma saga, por exemplo. Sem a presença da mídia, o sucesso do tamanho que se fez até

então pelos atores da saga, não seria alcançado, uma vez que, assim como citado

anteriormente por Biasioli (2007), a mídia constrói esse processo de expectativas constantes

entre os leitores e espectadores, fazendo-os cada vez mais envolvidos com seus atores, atrizes

e filmes preferidos. Consequentemente, isto reflete em mais sucesso para a temática que está

sendo divulgada.

Neste sentido de sucessos e participação das mídias nesse processo, pode-se fazer

relação com a saga Crepúsculo, uma vez que, assim como Harry Potter, a saga envolve

conteúdos de fantasia/ficção – vampiros, lobisomens – mas também engloba adolescência,

família, relacionamentos, casamento, gravidez e temáticas da realidade, do cotidiano,

presentes na vida de parte do público leitor da saga de Stephenie Meyer. Do mesmo modo, a

presença de fantasia/realidade pode ser observada na saga Crepúsculo por meio do processo

de composição realizado pela autora, sendo que esta acrescentou aspectos reais, fatos e dados

que realmente aconteceram, tendo sido vivenciados por ela ou por amigos e familiares

próximos. Características e gostos pessoais, além de influências religiosas também estão

presentes nos livros e filmes da saga, que foram então, acrescidos de aspectos de

fantasia/ficção, resultando na combinação entre realidade e mitos.

Assim, a partir do que foi apresentado referente aos livros, contos e fábulas, convém

citar que a saga Crepúsculo, uma vez caracterizada por conteúdos dos gêneros literários e de

ficção, cabe aqui mencionar tais conceitos. Acerca da literatura, Almeida (2008, p. 270) cita:

Svenbro (1998), ao situar a prática da leitura e da escrita na Grécia Antiga, marca-a

com seu caráter eminente de produção de kléos (Glória). Fala-se, ou escrevesse, na

Grécia, para se produzir a glória incontestável dos heróis, e a sua propagação nada

mais é do que um modo de imortalização, ou melhor, de perpetuação do herói, para

além de sua própria morte.

Segundo Rancière (1995 apud Camargos, 2009, p.218), a noção de literatura passou

por um deslizamento histórico de sentido, afirmando que ela passa de um saber para uma arte

e que “até o século XVIII, considerava-se literatura o que era conhecido como belas-letras que

eram bem definidas, a poesia e a eloqüência (...)”. O mesmo autor ainda pontua que literatura

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no século XIX “não é mais um saber que se permite apreciar um conjunto de textos (greco-

latinos), mas sim, um objeto. Ela passa a ser a atividade daquele que se dedica ao trabalho de

escrever” (p. 218).

Almeida (2008, p. 277) faz uma análise dos conceitos apresentados por Foucault

sobre literatura, afirmando que para o autor, esta “é uma forma de atualização do movimento

repetitivo da linguagem derivado de uma nova experiência: a experiência moderna”. Almeida

(2008) ainda retoma a afirmação de Foucault sobre a relação entre literatura e loucura,

também citando a linguagem neste contexto:

Foucault retorna à distinção entre obra de linguagem e literatura. Ele caracteriza a

primeira por um enunciado derivado de uma “língua dada” (Foucault, 1999b, p.

196), cujo princípio de decifração preexiste a ele. Em contraposição, a literatura

consiste de uma atividade que possui seu próprio princípio de decifração. A

literatura, como linguagem transgressiva, utiliza-se de palavras comumente em uso

no dia-a-dia, inserindo-as em uma teia de relações, cuja decifração de significado

está nela própria, não fora dela. Daí seu parentesco com a loucura, pois ela também

tem seu próprio princípio de decifração (ALMEIDA, 2008, p. 276).

O despertar de emoções pode ser um componente presente na literatura e que a

distingue de outros meios culturais, sendo característico deste gênero (CAMARGOS, 2009).

Acrescento ainda a condição que a literatura tem de atravessar o curso do tempo,

dialogar com culturas diferentes, renovar e retornar com mais dinamismo, mais

força, abrindo novos espaços e guardando a memória viva da sua arte plural e

complexa que permanece no mundo. Há de considerar-se ainda que uma obra

literária nunca se esgota em sua análise, pois está sempre aberta a novas leituras e

relações com outros enunciados (CAMARGOS, 2009, p. 219).

Percebe-se assim, a importância e as características presentes nos gêneros literários e,

sendo a saga Crepúsculo exemplo de uma nova fase pela qual a literatura está passando, por

ter sido escrito e lançada em uma época de fugacidade e diversidade de conteúdos midiáticos,

fez-se necessário a apresentação de tais conceitos acerca da literatura, suas transformações e

conceituações.

Deste modo, sendo a Saga Crepúsculo uma mídia recente e de considerável

relevância nos meios de publicidade, além de ter alcançado consideráveis índices de

premiações, vendas de livros e produtos relacionados à sua temática, convém destacar

também esta relação entre os assuntos abordados no enredo da autora Stephenie Meyer com

sua divulgação nos ambientes de mídia, passando por essa construção que a mesma faz do

sucesso dos novos conteúdos que surgem. Do mesmo modo, faz-se necessário ainda esta

relevância da mídia, do modo como é capaz de construir modelos e herois, por exemplo, bem

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como dos reflexos que tais identificações do público podem gerar na construção de sua

subjetividade e convívio social, além da presença ainda nos dias atuais do interesse em contos

e fábulas, por mais que Crepúsculo seja algo novo em seu conteúdo, ainda assim pode ser

considerado e comparado com clássicos contos de princesas e príncipes, histórias de amor e

construção de fantasias.

Portanto, as questões envolvendo fantasia/realidade também se fazem presentes na

Saga Crepúsculo e, de certa maneira, o público que compra os livros e vai ao cinema também

acaba por entrar em um mundo que considera como um misto de fantasia/realidade, muitas

vezes preferindo a fantasia por perceber esta como mais tolerável em relação ao enredo da

vida da cotidiana. Contudo, fantasia/ficção/realidade parecem estar constantemente

conectadas, seja nos filmes e livros da saga, como no cotidiano do público da mesma e, assim,

faz-se aqui como temática para reflexão, relacionando ainda as questões da relação entre a

literatura, a cinematografia e voltar um olhar para o público denominado fã.

Dentro deste contexto, convém citar Lévy (1999, p. 225) quando este refere-se ao

fato de confundir-se ou não com o mundo virtual e ficcional:

É correto que a realidade virtual promete um progresso na ilusão em relação à

imagem do cinema e da televisão. Não temos, contudo, nenhum testemunho de que

alguém jamais tenha confundido um mundo virtual interativo com a “verdadeira”

realidade. Podemos achá-lo interessante, querer voltar, mas é impossível esquecer a

característica ficcional que não pára de se afirmar ao explorador (...). Não se pode

dizer o mesmo das notícias televisionadas nem dos vídeos difundidos por

determinado serviço de comunicação das forcas armadas francesas, que se mostram

como imagens da realidade e são muitas vezes tomadas como tais.

A partir da citação de Lévy (1999), convém refletir sobre essa interação entre

ficção/realidade, pois, em contrapartida ao que o autor traz, alguns depoimentos do público da

saga Crepúsculo em certos casos citam esta proximidade ou desejo de vivenciar a fantasia

apresentada pelos livros e filmes da saga. Em outros casos, entretanto, os depoimentos

também exprimem percepção e diferenciação daquilo que tratam como real/ficção.

Assim, como exemplo de fantasia/realidade, bem como também visando reforçar e

descrever a relação fantasia/realidade a partir do ponto de vista relatado pelos fãs da saga por

meio de recortes de sites de relacionamento social convém trazer aqui como proposta de

reflexão os seguintes comentários extraídos do site Orkut48

referentes a esta temática:

48 http://migre.me/4ysmG

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Sou fã, porém enxergo a realidade.

Os fanáticos podem elogiar a vontade, mas, FATOS SÃO FATOS!!!! (sic)

Em relação aos livros, Eclipse arrebenta, e consegue ser sim um dos melhores...

Mas o filme decepcionou e acabou enfraquecendo a saga.

Estes depoimentos, além de exemplificar a questão que envolve realidade, também

trazem à luz a temática que envolve o fato de ser um fã que enxerga a realidade, que de certa

forma está consciente da qualidade dos filmes e livros da saga e que estes em certos

momentos são inferiores a outros materiais, surgindo também a questão da rivalidade presente

em alguns casos com outros fãs.

Outros comentários, porém, retratam questões diferenciadas das apresentadas

anteriormente, mas também envolvem ficção/realidade, como em: Eu também quero um

Edward, mas acho que só existe na ficção ou fantasia mesmo; É mais fácil existir vampiros

do que homens tão românticos assim. Ambos foram extraídos do site Foforks49

.

Do mesmo modo, os próximos depoimentos também citam ficção/realidade, fazendo

referência a personalidade de Edward e seu romantismo, bem como discutindo quem seria o

melhor, Edward ou o ator que o interpreta, Robert Pattinson. O tópico no fórum de discussão

do site foi nomeado Quem realmente nós amamos, o Robert ou o Edward? e foram extraídos

do site Orkut50

: Os dois são lindos... Mas com certeza eu prefiro o real né... É melhor; É claro

que é Robert, pois Edward é só na ficção, mas Robert por mais impossível é nosso sonho de

consumo...

Assim, percebe-se como as questões que envolvem ficção/realidade estão presentes

também nas discussões entre o público da saga em sites relacionados a Crepúsculo, bem como

os questionamentos sobre essa temática os fazem refletir sobre aquilo que eles têm estado em

contato, como no próprio nome do tópico de discussão (Quem realmente nós amamos, o

Robert ou o Edward?)

49 http://foforks.com.br/2010/09/edward-cullen-no-top-10-de-personagens-mais-romanticos-da-ficcao

50 http://migre.me/4yt6y

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2.3 ENTRE A LITERATURA E A CINEMATOGRAFIA, UM OLHAR PARA OS

FÃS

A partir do exposto, convém relacionar ainda com o fato de que a saga enquanto

representante do gênero ficção e tendo sido adaptada para a cinematografia, também faz-se

necessário aqui, a apresentação destes conceitos e da relação existente entre a construção da

literatura e o processo da adaptação para os cinemas, quando esta ocorre, o que é o caso de

Crepúsculo. Os livros de Stephenie Meyer vêm sendo apresentados também em filmes, o que

ocasionou, de forma determinante, o sucesso da saga vampiresca e dos atores e diretores

envolvidos com as superproduções, divulgações e viagens por todo o mundo para realizar

convenções sobre os filmes. Cristófano (2010, p. 253) corrobora o acima exposto quando diz:

Existem diversos estudos em torno das relações e diferenças existentes entre as artes

literárias e cinematográficas, com o objetivo de analisar como se executa a

adaptação da literatura para a tela de cinema. Assim, as informações que compõem

as duas narrativas mostram-se para características específicas e no mesmo momento

incompatíveis às duas construções: os personagens e suas sensibilidades, o espaço, a

narrativa, além da adaptação.

Continua a mesma autora:

Temos também que levar em consideração, que, a motivação do que representar está

relacionada com as teorias que prevalecem no momento em que o filme está a ser

produzido e não somente os entusiasmos, as curiosidades pessoais do produtor, mas

também em manifestar o imaginário do que o mesmo esteja expressando. Portanto, é

fundamental destacar que os temas interpelados nas telas do cinema, por vezes,

variam conforme as necessidades e interesses da sociedade. Os produtores

cinematográficos constroem suas artes fílmicas relacionando com a época e

respectivos interesses (p. 253).

O processo de adaptação dos filmes da saga Crepúsculo foi acompanhado de perto

pelos fãs por meio de notícias divulgadas por websites criados para informar e reunir os

interessados nos filmes e escolha dos atores, diretores, roteiristas e produtores. A seleção dos

atores principais, que dariam vida aos personagens Edward e Bella foram provavelmente as

mais comentadas e até mesmo polêmicas, uma vez que a opção por escolher o jovem ator

inglês Robert Pattinson, não foi inicialmente aceita pelos fãs, que criticaram a decisão da

produtora Summit Entertainment.

As notícias referentes à pré-produção bem como os atores que eram definidos para os

personagens de Crepúsculo, primeiro filme da saga a ser adaptado para o cinema, eram

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também divulgadas no site oficial da escritora Stephenie Meyer51

, que, além disso, tecia

comentários acerca das decisões da produtora. Sobre a escolha de Robert Pattinson, um

representante da Summit declarou que é sempre um desafio encontrar o ator certo para dar

vida a um personagem que deu lugar a vívidas imaginações dos leitores, houve

responsabilidade e a produtora encontrava-se segura com Robert, e eles acreditavam ter

encontrado o Edward perfeito para a Bella em Crepúsculo52

. Deste modo, cabe citar

Cristófano (2010, p. 254), quando esta afirma que “tanto os interessados e apaixonados pela

arte literária, quanto os que apreciam e se interessam pela arte cinematográfica, têm em

comum o interesse sobre a construção e como se procede a adaptação de uma produção

literária para a arte fílmica”.

De fato, a presença do quase desconhecido ator foi fundamental para o sucesso da

saga e, juntamente com Kristen Stewart, que deu vida à Bella Swan, o casal representou os

personagens de Stephenie Meyer em Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e em Amanhecer, este

último ainda não lançado. E, os leitores e admiradores dos livros da autora norte-americana,

que já acompanhavam em razão de sua saga, passaram a acompanhar também a construção e

o desenvolvimento dos filmes, ocasionando no sucesso reconhecido em diferentes países.

Acerca do gênero ficção, do qual trata a saga Crepúsculo, Oliveira (2001) inicia seu

texto com uma frase de J. G. Ballard, sendo esta: “o equilíbrio entre ficção e realidade mudou

na última década. Seus papéis estão invertidos. Somos dominados pela ficção. O papel do

escritor é inventar a realidade”. Deste modo, percebe-se a presença do gênero fictício nos

elementos da saga, contudo, há também muito da realidade, e também da atualidade. Nos

filmes, procurou-se retratar os conteúdos míticos concomitantemente com os da realidade,

sendo eles lobos, vampiros, adolescência, escola, faculdade, entre outras temáticas.

Após a estreia do primeiro filme da saga, o sucesso foi marcante e determinante para

a sequência das criações e adaptações dos livros para o cinema, mas ainda havia certo receio

quanto à permanência da temática vampiros mesclados com a realidade e até que ponto

Crepúsculo continuaria fazendo sucesso. A diretora do primeiro filme, Catherine Hardwicke,

não permaneceu na direção do segundo filme, Lua Nova, assim como a vampira Victoria

51 http://www.stepheniemeyer.com

52 Tradução da autora para o trecho original: "It is always a challenge to find the right actor for a part that has

lived so vividly in the imaginations of readers but we took the responsibility seriously and are confident, with

Rob Pattinson, that we have found the perfect Edward for our Bella in TWILIGHT." Erik Feig. Disponível em

<http://www.stepheniemeyer.com/twilight_movie.html> Acesso em 23 de outubro de 2010.

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também teve sua atriz representante trocada. Tais mudanças geraram, mais uma vez,

polêmicas entre os fãs e até mesmo movimentos de mobilização a favor da permanência de

Catherine, Rachelle Lefevre (Victoria) e Taylor Lautner (o lobisomen Jacob), tendo este

último uma pequena participação no primeiro filme, mas por não ser exatamente como o

personagem apresentava-se no segundo livro, quase foi cortado do elenco. Mais uma vez, a

mobilização dos fãs foi fundamental para a saga, e Taylor permaneceu na sequência dos

filmes. Lua Nova obteve ainda mais sucesso do que seu antecessor, Crepúsculo, e a saga

definiu-se de vez como um grande sucesso de bilheteria, refletindo também em vendas de

produtos relacionados à saga e na vendagem dos livros, que mantiveram altos números.

A adição de novos personagens em Lua Nova e Eclipse representou novamente, mais

atenção para a saga e mais ansiedade para os fãs, que acompanharam a escolha dos novos

atores e teciam comentários em redes sociais e veículos de comunicação/mídia. Em Lua

Nova, foram os lobos que entraram para a lista de personagens, assim como os vampiros

recém-nascidos entraram em Eclipse. As locações para as gravações também eram

acompanhadas por sites de fofocas e por aqueles que buscavam por qualquer notícia que

envolvesse a saga. Dentre os lugares escolhidos para as gravações, Vancouver e Itália foram

alguns deles, assim como Forks, que passou a ser cidade turística após toda a atenção que

recebeu da mídia cinematográfica, fansites, e sites de fofoca.

Sobre literatura e cinema, Cristófano (2010, p. 259) afirma que “as relações

existentes são de inúmeras as possibilidades: em determinados momentos o cinema faz uso da

literatura, e em outros a literatura se utiliza do cinema”. Na saga Crepúsculo, percebe-se esta

relação entre literatura e cinema e a aproximação estabelecida entre ambos os gêneros

culturais, por meio também do que foi criado a partir da adaptação dos livros para o cinema,

sendo que a todo momento estava presente a ligação entre os livros e os filmes.

É a literatura que, muitas vezes, realiza a expressão artística através dos recursos

estilísticos e literários necessários para passar ao leitor toda a essência e intenção da

obra. Portanto, a arte cinematográfica vai buscar na arte literária toda a inspiração

para retratar não somente factos históricos, mas também ficcionais. Quando o

cinema retrata a ficção literária, o diálogo entre ambas as artes não se restringem a

um único ponto da construção da arte, mas o autor concentrado para os elementos

estruturais da obra dão base tanto para o leitor, quanto para o director no momento

de (re) ler, traduzir, e reconstituir a narrativa escrita num outro apoio

(CRISTÓFANO, 2010, p. 260).

Neste contexto referente à produção dos filmes, a preocupação em criar um roteiro

original e fiel aos livros, bem como a escolha de lugares para gravações, atores, diretores,

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trilha sonora, dentre outros aspectos presentes no universo de Crepúsculo, a mídia constituiu

certa influência no que diz respeito ao modo como as notícias acerca deste fenômeno

rapidamente foram divulgadas. Certas vezes, refletindo negativamente na forma como esta

atenção excessiva repercute nas vidas dos atores, por exemplo. Por outro lado, a mídia

também se constitui como fator importante na forma como a exposição dos assuntos

relacionados à saga são constantemente levados e discutidos em diferentes lugares do mundo.

Assim, convém relacionar aqui com o conceito de fã quando Monteiro (2010, p. 2)

cita que o termo é derivado do latim – fanaticus – significando “devoto, pertencente a um

templo”, e que o sentido da palavra fã constantemente foi relacionado a uma série de

estereótipos. Como exemplos, os nerds, “sem vida social, obcecados pelos ídolos e muitas

vezes psicóticos (habitualmente comparados a Mark David Chapman, fã que assassinou John

Lennon), os fãs pertenciam ao underground”. A autora ainda cita que aqueles denominados

fãs eram “marginalizados tanto pela sociedade em geral, como pelas grandes mídias.”

Contudo, Monteiro (2010, p. 2) discorre das mudanças, e que, “atualmente, como observa

Jenkins (2006) a realidade dos fandoms, os grupos de fãs, mudou, e eles não somente fazem

parte do mainstream, como são considerados o centro das atenções dos grandes

conglomerados midiáticos.”

A partir da relação entre mídia e o contato por esta estabelecida com os fãs, convém

citar Cristófano (2010, p. 261), quando esta afirma que a presença do leitor/espectador é

fundamental e que:

a dialética entre o texto ficcional e o leitor/espectador possui um aspecto essencial.

O leitor/espectador para ter crer no que assiste ou lê necessita se transportar no

universo da narrativa seja esta literária ou fílmica, viver num outro mundo, e assim

construir em seu imaginário a sua vivência em tal realidade, passando a fazer parte

da história da narrativa; atribuindo verossimilhança a ficção. De acordo com Bilen

(2000) “ler é morrer para si próprio e para o mundo profano, a fim de atingir o

mundo sagrado dos mitos e símbolos”.

Acerca das relações de fã, Benelli & Costa-Rosa (2006, p. 355) afirmam que este,

“independente do campo em que se manifeste (religioso, esportivo, político, ideológico, etc.),

tende geralmente à fuga da realidade”. Os autores tratam especificamente sobre o fanatismo

religioso (não sendo este o caso da saga Crepúsculo), mas, são possíveis aqui, algumas

correlações teóricas deste com a saga Crepúsculo e seus fãs. Assim, pode-se estabelecer tal

relação uma vez que os fãs da saga Crepúsculo, em certos casos, fazem-se presentes em

estreias e eventos relacionados à saga, bem como demonstram seu interesse pelos atores e

personagens dos filmes e livros através de cartas, emails, websites, etc.

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Costa (2006, p.6) estabelece também relações acerca de fanatismo, religião e astros

musicais, sendo que:

Embora muitos fãs não percebam ou mesmo não admitam, costumam tratar seus

ídolos como se fossem deuses, seguindo seus valores, modo de conduta e também

imitando seu modo de vestir (...). Muitos fãs conseguem até mesmo se sacrificar em

prol do astro musical de sua preferência, chegando a ficar acampado durante dias em

frente a um estádio apenas no intuito de conseguir um ingresso para um show ou

apenas para ser o primeiro da fila na ordem de entrada da apresentação do seu ídolo.

Dessa forma, cada músico parece ser líder de uma verdadeira seita, onde uma legião

de fiéis seguidores também precisa fazer sacrifícios para serem aceitos. Qualquer

semelhança com os dogmas da maioria das religiões não é mera coincidência.

Não é possível afirmar que a relação de fã, do interesse, se manifesta na questão do

mistério dos vampiros ou pelos atores que os representam em Crepúsculo. Acerca da relação

entre os leitores e espectadores da saga, mais propriamente dito, percebe-se que os fãs da saga

fazem-se presentes em estreias dos filmes, bem como em discussões envolvendo as notícias

sobre os atores, filmes e livros da saga. Fã-clubes e fansites são criados constantemente, assim

como comunidades em redes sociais e sites de relacionamento, visando a aproximação

daqueles que se interessam pelo tema, no caso a relação entre vampiros e humanos. Deste

modo, Metz (1952 apud Cristófano, 2010, p. 261), faz referência aos filmes e a forma na qual

estes refletem nos espectadores, citando ainda a linguagem nesta relação:

Outro importante fator é a própria constituição da linguagem, seja escrita ou fílmica.

A palavra ou a imagem nunca são o objeto representado e sim o manifesto de sua

ausência, do imaginário, da fantasia (...). Na arte fílmica, esta ideia é tão forte que

conduz o espectador à fantasia da realidade e a um esquecimento maior do devaneio,

e assim, mais do que as outras artes, ou de forma mais singular, o cinema nos engaja

no imaginário: ele faz erguer-se em massa a percepção, mas para tão logo levá-la em

sua própria ausência, que é contudo o único significante presente.

A referida autora também discorre sobre a construção dos elementos referentes à

literatura e à cinematografia, sendo estas influenciadas pela presença dos leitores e

espectadores.

Portanto, é pelo esquecimento, pela exploração do imaginário e (re) construção de

um novo universo, que originam a arte, composta por tudo que o homem já produziu

e que é deslumbrado e capturado pelo domínio criador e transformado em novas

obras, vozes que se apresentam como numa nova recordação. O que é lido numa

obra são palavras, denominadas “Arte literária” ou discurso, e, o que é assistido no

cinema são imagens em movimento e técnicas, o qual denominados “Arte Fílmica”.

Ambas compondo um universo ficcional com a participação imaginária do leitor ou

espectador que atuam de forma significativa a partir da memória, dos devaneios e

fantasias: esquecendo, construindo, reconstruindo e des(re)construindo

(CRISTÓFANO, 2010, p. 262).

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A saga de Stephenie Meyer pode ser considerada um exemplo desta temática então, a

partir do acima exposto, uma vez que trata-se de obras literárias e adaptações

cinematográficas, e que tais construções vem contando com a participação constante de seus

leitores e espectadores. Deste modo, percebe-se a presença dos fãs também delineando e

auxiliando a compor os elementos da saga, ainda que de forma não tão demarcada. Mas uma

vez que há atenção por parte dos produtores de filmes em saber o que causará mais ou menos

impacto, mais ou menos sucesso, por exemplo, esta é uma forma de perceber a influência dos

fãs da saga no sucesso desta, de seus filmes, atores e equipe envolvidos, bem como se

utilizam das mídias nestas relações e construções.

Neste contexto, pode-se aqui, relacionar tais características dos fanáticos religiosos

com aqueles denominados fãs da saga Crepúsculo, uma vez que, parte deles, comporta-se de

maneira a protegerem seus ídolos, defendendo suas verdades e permanecendo em contato com

este universo diariamente.

A partir desta discussão referente ao fã e ao interesse desenvolvido por este em

relação a um objeto, convém uma reflexão a respeito do universo que envolve a saga de um

modo geral. A Saga Crepúsculo, que é um conto de fadas, ainda que um tanto quanto

diferente dos contos tradicionais por conter a temática vampiros, é constantemente divulgada

e discutida na mídia. Esta por sua vez, possui a capacidade de criar personagens, herois e

vilões, e isto pode vir a refletir em subjetividades e modos de pensar, assim como também

abre para a discussão que envolve o fã, também exposto em diferentes mídias. Dentro do

universo da Saga Crepúsculo, o sujeito denominado fã aparece como aquele que possui forte

influência e participação no modo como o sucesso da saga, por exemplo, se delineou, mas a

partir disto, a acadêmica pensa ser necessária a seguinte reflexão referente ao surgimento

desta relação. Afinal, não se sabe se o fã é exatamente como os veículos midiáticos e de

comunicação apontam ou se a mídia é a criadora do fã. Estas reflexões surgem aqui uma vez

que assim como os artistas e herois são de certa forma construídos pela mídia, o sujeito que é

denominado fã também passa por esse processo. A mídia tem o papel de divulgar, noticiar,

mas também de, em certos casos, criar, de inventar, aumentar, contar um fato de modos

diferentes daquilo que realmente aconteceu, afinal, é um de seus modos de chamar atenção do

público e vender o que cria. Não cabe aqui, contudo, julgar este processo desenvolvido pela

mídia, nem pontuar se é algo correto ou não a se fazer. Porém, uma vez que se trata de uma

temática envolvendo discussões relevantes, que engloba também diferentes contextos e

tratando de fã como aquele certas vezes comparado ao fanatismo religioso, convém refletir

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sobre o modo como isto vem sendo colocado pela mídia e questionar tais criações e modelos

de fã que estão sendo divulgados.

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2.4 COMUNIDADES VIRTUAIS

A respeito dessa relação entre mídia e uma possível criação do modelo de fã, convém

citar Pierre Lévy (1999, p. 203), quando este discorre sobre a mídia e sua influência, bem

como seus interesses em vender e promover o que lhe convém: “O ponto de vista propagado

pelas mídias é ditado por seu interesse. Para interessar, devem anunciar notícias sensacionais,

mostrar imagens espetaculares.” Assim, as mídias, no geral, retratam aquilo que vende e, por

exemplo, se Robert Pattinson e Kristen Stewart estão namorando ou não, o que irá surgir nas

mídias é que os atores principais da Saga Crepúsculo estão apaixonados e namorando

escondido porque querem evitar exposição na mídia – e de fato é o que tem sido divulgado. A

partir disto, faz-se pertinente exemplificar a influência da mídia neste contexto com uma

notícia nomeada Pattinson diz que namoro com Kristen Stewart é traumático, que foi

divulgada pelo site Terra53

em Março de 2011, a respeito da vida particular dos atores da saga:

Em entrevista à revista Vanity Fair, da qual estampa a capa de abril, Robert

Pattinson falou sobre a atenção que seu relacionamento com a atriz Kristen

Stewart, com quem co-estrela a Saga Crepúsculo, atrai. "É tudo muito traumático",

reclamou. "Quando acabar, a mídia vai perder o interesse. Não terão mais nada

para dizer. Não vai mais servir de manchete", disse.

A partir disto, percebe-se que os próprios sujeitos envolvidos nas manchetes

anunciadas pelos meios de comunicação, como no caso do ator Robert Pattinson, percebem

que a mídia exerce certa influência em suas vidas e carreiras neste sentido da exposição.

Assim como também percebem que o interesse das mídias é passageiro, ou enquanto durar o

sucesso e a procura por notícias daqueles envolvidos. Deste modo, esta reflexão faz-se

necessária uma vez que inúmeros fatores estão relacionados ao sujeito denominado fã, seu

objeto de interesse, bem como as mídias que a divulgam, os reflexos e consequências que a

exposição gera. A mídia vem atingindo consideráveis pontos quando se diz respeito à

comunicação, divulgação e criação de herois e vilões, o que, portanto, poderia também ser

pensado na questão da mídia como criadora do fã e caberia ainda a discussão relacionada a

constante presença da mídia no cotidiano dos sujeitos.

53 http://migre.me/4y8xc

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Em contrapartida à influência da mídia na vida dos atores, Robert Pattinson também

é destaque no site Ego em Maio de 201154

em uma notícia intitulada Robert Pattinson nega

que romance com Kristen Stewart seja 'fabricado':

Em uma matéria da revista "Elle UK" chamada "O Garoto Perdido", Robert

Pattinson fala sobre seu romance com Kristen Stewart e nega que eles estejam

juntos apenas para promover a saga "Crepúsculo". "Não. Ah, não. Se o estúdio

começasse a interferir na minha vida pessoal, eu também poderia zoar com ele",

disse o ator. Questionado sobre porque, então, ele raramente é fotografado em

momentos mais íntimos, ele diz que apenas não gosta de se expor. "Eu só não gosto

de pessoas tirando fotos minhas. Não é legal quando a sua vida vira notícia... As

pessoas pensam que há gente por trás organizando tudo, que é tudo publicidade.

Não é", disse.

Percebe-se, assim, que se por um lado há influência da mídia na vida dos atores, na

construção de herois, vilões e um determinado tipo de fãs, por outro lado há também, por

parte destes, como no exemplo o ator que interpreta Edward Cullen na Saga Crepúsculo, uma

certa percepção de que a mídia é capaz de influenciar o que é divulgado, que é preciso

precaução e cuidado com o que se quer mostrar na mídia e aquilo que se quer preservar, não

expor, como o próprio ator cita. Além disso, o ator também demonstra uma preocupação em

esclarecer e até mesmo justificar que nem tudo o que é divulgado a seu respeito é verdadeiro,

como fala em As pessoas pensam que há gente por trás organizando tudo, que é tudo

publicidade. Não é, alertando ainda para o fato de que a publicidade não está presente a todo

momento em sua vida.

Neste sentido, convém relacionar com o que é frequentemente encontrado no site

Orkut, que são as comunidades que vinculam a saga com vício/mania, como em Viciei em

Twilight/Crepúsculo55

(7.227 mil membros), Crepúsculo mania56

(3.824 mil membros) e

Robert Pattinson meu vício57

(55.618 mil membros).

Comunidades que fazem referência a ódio também podem ser encontradas e, como

exemplo, pode-se citar: Motivos para odiar Crepúsculo58

(6.679 mil membros), Odeio a

modinha Crepúsculo59

(7.134 mil membros) e Odeio Crepúsculo, é um lixo!60

(1.782 mil

membros).

54 http://migre.me/4yceG

55 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=19717897

56 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=19199862

57 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=38703099

58 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=104435763

59 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=96145936

60 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=25212910

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61

Relacionadas a Bella e Edward/Robert e Kristen, os grupos acerca deste tema

possuem descrições com informações referentes a eles, assim como também expressam as

opiniões de quem as criou, fazendo referência a trauma como um tipo de sentimento: Viciados

em Edward e Bella61

(14.915 mil membros), Bella e Edward forever62

(486 membros). Com

652 membros, Beijo Robsten63

reúne aqueles que, segundo a descrição da comunidade,

surtaram quando uma foto divulgada pela mídia mostrou os atores Robert Pattinson e Kristen

Stewart se beijando, ainda que nada tenha sido pronunciado oficialmente pelos atores: Para

quem SURTOU (sic) quando finalmente viu a foto que comprova a existência de: ROBSTEN!

(sic). Bella e Edward; Beward64

possui 3.971 mil membros e em sua descrição há uma

referência ao fanatismo, como sinônimo do que sentem pelos personagens Bella e Edward:

Para todos os apaixonados, fãs, amantes, fanáticos por esse casal, que faz nossos olhos

brilharem. Do mesmo modo, Quem é traumado entende é a descrição da comunidade

nomeada Robert e Kristen – Robsten65

, que possui 21.558 mil membros e utiliza a expressão

traumado para designar aqueles que se dizem fãs de Robert e Kristen, bem como do namoro

não confirmado dos atores.

Assim, pode-se estabelecer uma relação com o fato de que comunidades e sites são

desenvolvidos e promovidos com a finalidade de formarem teams (times), denotando

possíveis separações entre aqueles que acreditam que os atores namoram e aqueles que não

acreditam e, portanto, não fazem parte do Team Robsten. Referente ao mesmo tema, a

comunidade I do believe in Robsten66

, com 1.256 mil membros também representa o público

que, segundo a comunidade, acredita no romance dos intérpretes de Edward e Bella:

Para você que acredita que o romance entre Kristen Stewart e Robert Pattinson é

real, torcem por esse casal. Por que negar o óbvio? Acho que já tivemos muitas

provas de que é sim verdade. Team Robsten assumidos.

Uma comunidade cujo nome é a junção de Robert e Kristen, conta atualmente com

621 membros e sua descrição, um texto em plural, remete à expressão de uma opinião

compartilhada, representando de fato, o que uma comunidade significa, mas que em outras, o

texto da descrição é feito em primeira pessoa, significando a vontade de um sujeito. Percebe-

61 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=35040879

62 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=55308968

63 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=105407712

64 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=53991774

65 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=5818412

66 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=38848192

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se, então, como esta diferença no modo de escrever acaba por influenciar, de certa forma, no

modo como a comunidade e a opinião nela colocada, são percebidas. A mesma comunidade

ainda traz elementos que convém serem destacados, como quando é citada a torcida não

somente pelo casal, como também pelos atores, independente de suas escolhas. A comunidade

em questão chama-se Robsten forever67

:

Robsten é real!!! Ser Robsten pra nós não é somente torcer por um casal, e sim

torcer pelo individual Robert e individual Kristen, é querer o bem deles

independente de suas escolhas, é segui-los aonde eles forem e aonde os caminhos da

vida os levarem! Ah, é claro, torcemos muito pra que eles fiquem juntos

FOREVER... (sic)

Dentre as comunidades criadas com o tema Edward Cullen, pode-se destacar:

Traumadas em Edward Cullen (51.54568

mil membros), Eu te amo, Edward Cullen (42.605

mil membros69

) e Eu quero um Edward Cullen (36.56270

mil membros). Outras, ainda

vinculadas ao vampiro principal da saga, têm em seus títulos referências à vontade de serem

mordidas pelo personagem: Edward Cullen, me morda (18.39971

mil membros).

Questões referentes a envolvimentos amorosos, bem como comparações entre o

personagem Edward Cullen e garotos também surgem nas comunidades, como em: Edward

Cullen, namora comigo?72

(18.435 mil membros), Todas merecem o Edward Cullen73

(15.845

mil membros), Caras normais versus Edward Cullen74

(10.239 mil membros) e Me ame como

Edward amou Bella75

(1.002 mil membros).

Robert Pattinson igualmente é tema de grupos no site Orkut: Robert Pattinson –

Eclipse76

(250.508 mil membros), Robert Pattinson lovers77

(70.267 mil membros) e Se o Rob

tá solteiro... É porque tá me esperando78

(13.257 mil membros).

Os contos criados pelo público da saga também estão presentes em comunidades no

mesmo site já citado, nas quais os autores publicam suas criações, recebem comentários e

compartilham com outros membros do grupo suas opiniões e ideias para as chamadas fanfics.

67 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=95187534

68 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=20501294

69 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=11113217

70 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=54598908

71 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=23341317

72 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=41921732

73 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=57562077

74 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=73066033

75 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=41766604

76 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=19536870

77 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=22185609

78 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=49519313

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Crepúsculo fanfics79

possui 5.828 mil membros e sua descrição remete ao fato de que, por

meio destes contos, é possível criar o que gostariam, como na passagem do texto: O beijo que

nunca aconteceu, a frase que nunca foi dita:

A arte de escrever, a arte de inovar. O beijo que nunca aconteceu, a frase que

nunca foi dita. Imaginem, viagem, transpassem limites, explorem as palavras.

Comunidade destinada para leitores e escritores de fanfics da Saga Crepúsculo. De

fã para fã.

A comunidade Crepúsculo mudou minha vida (5.623 mil membros) remete, a partir

de sua descrição, às mudanças ocorridas em consequência do contato que o sujeito passou a

ter com a saga. Neste mesmo texto, pode-se destacar também a passagem na qual a autora da

comunidade sugere que esta foi criada para aqueles que nunca mais serão os mesmos após

terem conhecido Crepúsculo:

Crepúsculo - Twilight mudou minha vida! Para você que nunca mais foi o mesmo

depois dos Livros/Filmes da Stephenie Meyer: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e

Amanhecer. (Depoimento extraído do site Orkut80

)

Algumas comunidades possuem, além de suas descrições, frases que denotam a sua

identidade, vinculando ainda a um sentimento de exclusividade, como uma forma de

demonstrar que aquela foi a primeira comunidade criada referente ao tema, o que remete e

reforça o fato de que a criação destes tipos de grupo também demonstra as opiniões de quem

as cria, além de serem, neste sentido, significados de identidade como o primeiro fã que criou

uma comunidade acerca do tema em destaque. Viajo em Crepúsculo81

(4.882 mil membros)

além de ser exemplo disto, também possui dados que merecem destaque, pois o texto cita a

saga como elemento que suscita viagem num sentido figurado, e há ainda uma menção de

adoração à autora Stephenie Meyer:

A PRIMEIRA, VERDADEIRA E OFICIAL (sic). Recuse Imitações. Comunidade

para as pessoas que não ficam só na leitura e sim viajam na história vampiresca

mais famosa de todos os tempos, Crepúsculo - Twilight. Até se imagina a própria

Bella! Livros: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse, Amanhecer e Sol da Meia-Noite. E

viva Stephenie Meyer!

Dentre as comunidades encontradas no site Orkut, estas podem ser destacadas como

objetos aqui de reflexão e análises segundo os objetivos propostos por esta pesquisa uma vez

79 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=73105073

80 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=9475392

81 http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=20816651

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que, em geral, as comunidades bem como suas descrições e a quantidade de membros

possuem elementos que proporcionam discussões acerca dos temas aqui propostos. Dentre os

objetivos deste estudo, as relações que as comunidades desempenham nos relacionamentos

dos membros, caracterizando assim a presença da mídia como aspecto de influência em suas

decisões, escolhas, opiniões etc, fazem parte desta reflexão.

A análise dos materiais disponibilizados pelas comunidades também contribui para a

compreensão dos aspectos psico-sociais implicados nesta relação que se configura entre o

público da saga e o constante contato com diferentes mídias, uma vez que a identificação, um

dos fatores percebidos durante as análises presentes nos comentários, colaboram para esta

aproximação entre os membros da comunidade. Assim, a identificação com os conteúdos

expostos nos livros e filmes da saga acabam por aproximar esse público que se vê nas

comunidades dos sites de relacionamentos e páginas da internet criados sobre o tema. Estes,

seguem promovendo conversas e gerando identificações, não apenas com o tema da saga, mas

também com o que outras pessoas acabam por levar para os debates nos grupos e sites

semelhantes.

Neste sentido, cabe ainda caracterizar a relação entre fenômeno de massa, o contexto

mídia, educação e saúde por meio da identificação gerada pela saga uma vez que é a partir do

que a mídia disponibiliza que as identificações acabam por acontecer. A Saga Crepúsculo,

sendo caracterizada como um fenômeno da atualidade reflete nos relacionamentos daqueles

que fazem parte do público que acompanha a saga, o que, neste sentido, inclui

relacionamentos sociais como os familiares, escola, trabalho etc. Em alguns casos, como

exemplificados por meio de comentários de fãs, o contato com os conteúdos de Crepúsculo,

sejam eles os livros, filmes ou informações dos atores, tornaram-se constante a ponto de

refletir ainda nos aspectos relacionados à saúde. Convém citar, contudo, que esta reflexão não

é algo que se possa afirmar a priori, nem que seja algo presente em todos os casos. Assim,

percebe-se que, de certa forma, o contato frequente com os conteúdos disponibilizados por

diferentes mídias pode refletir na saúde daqueles envolvidos no sentido de que, propondo aqui

uma reflexão e objetivando instigar esta temática, a saúde como é citada aqui diz respeito

àquela sinônimo de bem-estar. Seja esse bem-estar relacionado ao social, emocional e/ou

psicológico. É proposto aqui instigar esta temática uma vez que, partindo do principio de que,

segundo o exposto nos comentários dos fãs de Crepúsculo, este público, em parte, considera

mais interesse o personagem vampiro do que, por exemplo, estar em contato com pessoas de

seu cotidiano, vizinhos, colegas de escola, familiares. Assim, compete uma reflexão referente

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sentido que vem sendo dado às relações sociais, que em certos casos acabam por serem

trocadas por personagens fictícios, acarretando, salvo exceções, em prejuízos para o bem-estar

daqueles envolvidos.

Deste modo, investigar o aspecto psicológico e midiático presente na relação entre o

público da saga, bem como descrever a relação fantasia/realidade é possível por meio dos

comentários e comunidades relacionadas a Crepúsculo uma vez que, em contato com estes

conteúdos, os membros das comunidades acabam por compartilhar das mesmas opiniões, em

certos casos citando fantasia/realidade e as questões que envolvem mídia.

Assim, o público da saga faz uso destas ferramentas disponibilizadas pela mídia, cria

comunidades com isto, promove suas opiniões, suas ideias e, assim, constroem debates e

grupos a partir daquilo que lhes é dado.

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3. METODOLOGIA

Quanto ao tipo desta pesquisa, cabe destacar que uma pesquisa psicológica pode ser

elaborada em vários campos de trabalhos com diversos pesquisadores e em muitos cenários

em que a prática da Psicologia tem lugar. A partir deste contexto, a pesquisa não está separada

da atuação profissional, e de acordo com González-Rey (2002, p. 103):

Na produção do conhecimento psicológico concentram às idéias produzidas em

todos os âmbitos da vida profissional, as quais passam a um nível teórico mais geral

à medida que começa a ser utilizada em construções que abrangem muito além no

qual as análises foram produzidas. Permitindo então articular as informações

procedentes das fontes empíricas ao núcleo vivo de produção conceitual,

desenvolvendo então ao longo do tempo um processo de construção do

conhecimento.

A presente pesquisa consistiu em um projeto de cunho exploratório e de análise

qualitativa, e de acordo com Minayo (2007) ela se ocupa, nas ciências sociais com um nível

de realidade, isto quer dizer que trabalha com a natureza dos significados, dos motivos, das

crenças, dos valores e das atitudes. Caracterizou-se como qualitativa, pois tem o ambiente

natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu fundamental instrumento, e

exploratória, porque tem como objetivo principal proporcionar uma maior familiaridade com

o problema, com a intenção de torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses (Gil, 2002).

Esta metodologia serve para esta proposta de pesquisa então, preenchendo as demandas para

que a finalidade seja atingida, sendo que os objetivos de uma pesquisa qualitativa são

direcionados para a descoberta, a identificação e a geração de esclarecimentos, por exemplo,

correspondendo ao que propõe este projeto de pesquisa.

Dentro deste contexto, a presente pesquisa foi designada como sendo pesquisa

bibliográfica, desenvolvida a partir de fontes bibliográficas, tendo como material exploratório:

livros, revistas, periódicos, internet, jornais e artigos científicos. (Gil, 2002). Através do

método de Análise de Conteúdo de trechos dos filmes e livros da saga, assim como recortes

de sites de relacionamento, então, foi realizada a análise dos dados obtidos com os

levantamentos bibliográficos.

As investigações que se voltam para uma análise qualitativa têm como artefato

situações complexas ou estritamente particulares sendo que os estudos que empregam uma

metodologia qualitativa podem descrever o enredamento de determinada situação, avaliar a

interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por

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grupos sociais, contribuir no processo de transformação de determinado grupo e proporcionar,

em maior nível de profundidade, a compreensão das particularidades do comportamento dos

sujeitos (RICHARDSON, 1999).

Segundo Clemente (2007, s/p), uma pesquisa caracteriza-se como de natureza

exploratória quando houver levantamento bibliográfico, como se fez a presente pesquisa e,

além disso, este tipo de pesquisa tem o intuito básico de “desenvolver, esclarecer e modificar

conceitos e idéias para a formulação de abordagens posteriores”.

Dessa forma, este tipo de estudo visa proporcionar um maior conhecimento

para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular

problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser pesquisadas por

estudos posteriores (GIL, 1999, p. 43). As pesquisas exploratórias, segundo

Gil (1999, p. 43) visam proporcionar uma visão geral de um determinado

fato, do tipo aproximativo (CLEMENTE, 2007, s/p).

Assim, acerca da pesquisa exploratória, percebe-se que este tipo de metodologia tem

como escopo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de entendimentos, sendo

que seu planejamento é bastante flexível, possibilitando a consideração dos mais diversos

aspectos do fato investigado. Kerlinger (1980), afirma que a pesquisa exploratória tem como

foco identificar a variável de estudo tal como se apresenta, seu significado e a situação onde

ela se insere neste tipo de pesquisa pressupõem-se que o comportamento humano é melhor

compreendido no contexto social onde acontece.

Uma das vantagens de uma pesquisa bibliográfica está no fato de permitir ao

pesquisador desvendar uma gama de fenômenos mais amplos do que aquela na qual se

poderia pesquisar diretamente. Por outro lado, pode-se comprometer a qualidade da pesquisa

quando, por vezes, as fontes secundárias apresentam dados coletados de forma equivocada,

gerando erros. Convém ao pesquisador, portanto, garantir-se das condições em que os dados

são obtidos, analisar em profundo toda informação para encontrar possíveis equívocos ou

contradições e utilizar fontes variadas, analisando-as atenciosamente.

Referente aos procedimentos e instrumentos de coleta de dados, o campo

investigado e analisado foi o universo que envolve “A Saga Crepúsculo”, sendo que esta será

uma análise do universo Crepúsculo como um todo, não visando uma análise específica de

cada livro e/ou filme. O foco deste trabalho foi a relação dos leitores e público da saga, assim

como o reflexo que esta produz em suas relações interpessoais, educação e saúde, assim como

identificar os aspectos psicológicos e sociais que são alvo de identificação do público da saga.

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A mídia escolhida é composta por quatro livros: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e

Amanhecer (Twilight, 2008; New Moon, 2008; Eclipse, 2009; Breaking Dawn, 2009). Nesta

análise, incluíram-se como material de pesquisa também, as adaptações cinematográficas para

os três primeiros livros (Twilight, 2008; The Twilight Saga: New Moon, 2009; The Twilight

Saga: Eclipse, 2010). Tratou-se de uma análise envolvendo levantamentos bibliográficos, no

caso, os livros e filmes da saga Crepúsculo, da autora norte-americana Stephenie Meyer. Para

realizar a análise sobre o universo da saga Crepúsculo e o relacionamento do público

denominado fã então, foi utilizado como metodologia, os quatro livros da saga lançados até

2009, bem como as adaptações cinematográficas de três dos quatro livros, sendo que o

terceiro filme – Eclipse - foi lançado em junho 2010.

Foram analisados no levantamento bibliográfico alguns dispositivos psicológicos

compreendidos de categoria de análise. São eles: analisar os aspectos sociais e psicológicos

implicados na identificação do público denominado fã da saga Crepúsculo, compreender a

relação entre fenômeno de massa, o contexto mídia, educação e saúde através da identificação

gerada pelos livros e filmes, investigar o aspecto psicológico que a saga produz em seus fãs.

Além destes, descrever a relação fantasia/realidade, a partir do ponto de vista relatado pelos

fãs de Crepúsculo por meio de sites de relacionamento social, e identificar possíveis

consequências relacionadas aos contextos educação, saúde e relacionamentos sociais do

publicado da saga.

Após a coleta dos dados recolhidos através dos livros e filmes da saga Crepúsculo,

bem como do recorte de sites de relacionamento social, realizou-se a análise e considerações

foram elaboradas a partir do referencial teórico para maior entendimento dos dados

adquiridos.

Segundo Amaral (2007), uma pesquisa bibliográfica requer atenção quanto ao

material que é utilizado e pesquisado, uma vez que nem todo ele pode ser caracterizado como

científico ou considerável para o trabalho em questão. Assim, Amaral (2007, p. 2) cita que

A revisão da literatura deve ser crítica, baseada em critérios metodológicos, a fim de

separar os artigos que têm validade daqueles que não tem. Constitui perda de tempo

ler um artigo que não segue esses padrões, pois sua leitura apenas confundirá as

respostas ao problema a ser pesquisado, a não ser para sua própria crítica posterior

ou pelo seu valor histórico. Isso não quer dizer que tais artigos não são importantes,

na realidade são frutos de um trabalho que está em constante evolução.

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Convém aqui citar algumas questões referentes ao plágio, uma vez que se faz

necessário estar atento quanto ao material utilizado em pesquisa e projeto. Assim, Silva

(2008, p.357) afirma que:

Essa é uma questão relevante, uma vez que a informação e os textos, nos tempos

atuais, se encontram cada vez mais à mão, como um convite ao sujeito para

mergulhar nos labirintos hipertextuais, para o exercício e a difusão da escrita ou para

forjar como seu apenas um excerto, um parágrafo ou mesmo todo um texto,

mediante cópia não autorizada.

Silva (2008, p.358) cita ainda, referente ao plágio, que este trata-se de “apropriação

de linguagem e de idéias do outro; caracterizando violação da propriedade intelectual.”

Portanto, é preciso estar atento quanto ao material que utiliza-se ao longo do processo de

pesquisa e análises, uma vez que um estudo está baseado, dentre outros aspectos, na qualidade

e fidedignidade das referências utilizadas, assim como o resultado final pode vir a ficar

comprometido de acordo com o percurso realizado através do material utilizado na pesquisa.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção deste trabalho, partindo da escolha e definição do tema, bem como da

professora que seria a orientadora, me proporcionou desenvolver um olhar diferenciado para

esta área tão rica da Psicologia e que até então me era desconhecida. A Psicologia relacionada

à mídia, como estudei durante esta pesquisa, me permitiu perceber, ainda mais, o papel

importante que, como profissional, posso desempenhar.

Considero relevante citar que a escolha inicial deu-se a partir de um interesse ainda

um tanto quanto permeado pelo “eu-fã”, mas foi em razão deste estudo que pude entrar no

papel de quem passa a olhar de fora. Considero riquíssima essa experiência, tanto por essa

transformação, quanto pelos conhecimentos profissionais adquiridos. Assim, percebo que os

eventos iniciais foram fundamentais para construir o olhar que consegui ter. Percebi que,

diferente daqueles com os quais estive em contato durante a pesquisa por meio de

depoimentos e comentários em sites de relacionamentos, pude fazer parte e desfrutar como

leitora e espectadora da Saga Crepúsculo, mas também foi possível sair desta relação mediada

pelo papel da mídia neste contexto. A alienação e o exagero presentes nas comunidades do

Orkut e comentários no Foforks são pontos fundamentais que pude observar a partir desta

pesquisa e que destaco aqui, pois tornou-se recorrente durante a leitura dos materiais

encontrados.

Assim, isso me faz perceber de modo ainda mais relevante, como a atuação do

psicólogo se faz fundamental nessa construção que a mídia tem feito, mas que acaba não

sendo percebida a todo o momento, por já estar demasiadamente presente no cotidiano e na

vida das pessoas. Foi a partir deste trabalho que pude perceber a alienação que a mídia, de um

jeito ou de outro, acaba por causar em seus receptores. Meu olhar sobre essa temática mudou

consideravelmente, assim como minha vontade de atuar nesta área. Percebo que este trabalho

foi um divisor de águas em minha carreira profissional, e fico contente em ter feito as

escolhas que fiz no início do desenvolvimento desta pesquisa, pois me trouxeram até aqui.

Deste modo, considero fundamentais também os estudos e pesquisas relacionadas a

esta área da Psicologia, uma vez que um dos pontos principais de nossa atuação, a

subjetividade, tem se encontrado imensamente atrelada nesta relação com a mídia. É preciso

que os sujeitos se tornem mais críticos, que se percebam, que atuem, se façam presentes.

Penso ser relevante instigar reflexões, questionamentos vinculados a este tema, e o que quero

propor neste sentido, é o modo como as pessoas poderiam usar mais de suas capacidades, uma

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vez que conseguissem se perceber nesta relação com a mídia. Não proponho aqui que nos

desliguemos por completo da mídia, pelo contrário, penso ser fundamental que um equilíbrio

seja encontrado, pois assim, poderíamos desfrutar de forma positiva e construtiva tudo o que a

mídia tem a oferecer. Portanto, considero relevante destacar que minha percepção acerca da

mídia não é, de fato, contrária, negativa. Os meios de comunicação são fundamentais para as

nossas construções, representações, ressignificações, mas é preciso que estejamos menos

alienados e seduzidos pelas mídias, e mais formadores de opiniões e críticos, percebendo

nosso papel e fazendo bom uso disto tudo.

Assim, reforço mais uma vez a relevância que este trabalho teve para mim, tanto

como pessoa como profissional em constante formação. Percebo na mídia um campo rico para

atuação e, a partir desta pesquisa, quero continuar a fazer parte desta construção que tem-se

feito, com reflexões e instigações acerca de nossas relações com a mídia. Considero, por fim,

fundamental destacar que a Psicologia está bem representada por autores, filósofos e

profissionais que têm questionado e proporcionado trabalhos tão significativos relacionados a

esta área, demonstrando preocupação em desenvolver sujeitos mais críticos e alertar para o

poder da mídia em nossa formação.

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REFERÊNCIAS

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ARAÚJO, Luís Fernando. A mediação entre a ficção e a realidade dentro da telenovela.

2005. Disponível em < http://www.dominiosdelinguagem.org.br/pdf/d5-8.pdf > acesso em 03

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baseado em livro de Stephenie Meyer. Produção: Wyck Godfrey e Mark Morgan.

Distribuidora: Summit Entertainment / Paris Filmes. EUA, cor, 130 min., 2009.

THE TWILIGHT SAGA: ECLIPSE. Direção: David Slade. Roteiro: Melissa Rosenberg,

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