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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO E SISTEMAS DÉBORA OLIVEIRA DA SILVA PROPOSTA PARA ANÁLISE DA GESTÃO DA INOVAÇÃO EM SERVIÇOS HOSPITALARES: UM ESTUDO NO HOSPITAL MÃE DE DEUS – PORTO ALEGRE, RS São Leopoldo 2011

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  • UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM

    ENGENHARIA DE PRODUO E SISTEMAS

    DBORA OLIVEIRA DA SILVA

    PROPOSTA PARA ANLISE DA

    GESTO DA INOVAO EM SERVIOS HOSPITALARES:

    UM ESTUDO NO HOSPITAL ME DE DEUS PORTO ALEGRE, RS

    So Leopoldo

    2011

  • DBORA OLIVEIRA DA SILVA

    PROPOSTA PARA ANLISE DA

    GESTO DA INOVAO EM SERVIOS HOSPITALARES:

    UM ESTUDO NO HOSPITAL ME DE DEUS PORTO ALEGRE, RS

    Dissertao apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre, pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo e Sistemas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos.

    Orientador: Prof. Dr. Guilherme Lus Roehe Vaccaro Co-Orientador: Prof. Dr. Jos Antnio Valle Antunes Jnior

    So Leopoldo

    2011

  • Catalogao na publicao: Bibliotecrio Flvio Nunes - CRB 10/1298

    S586p Silva, Dbora Oliveira da.

    Proposta para anlise da gesto da inovao em servios

    hospitalares : um estudo no Hospital Me De Deus, Porto Alegre,

    RS / Dbora Oliveira da Silva. 2011.

    193 f. : il. ; 30 cm.

    Dissertao (mestrado) Universidade do Vale do Rio dos

    Sinos, Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo e

    Sistemas, 2011.

    Orientador: Prof. Dr. Guilherme Lus Roehe Vaccaro ; co-

    Orientador: Prof. Dr. Jos Antnio Valle Antunes Jnior.

  • DBORA OLIVEIRA DA SILVA

    PROPOSTA PARA ANLISE DA GESTO DA INOVAO EM SERVIOS

    HOSPITALARES: UM ESTUDO NO HOSPITAL ME DE DEUS PORTO ALEGRE, RS

    Dissertao apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre, pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo e Sistemas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos.

    Aprovado em 18/02/2011.

    BANCA EXAMINADORA

    Mario Sergio Salerno Pro/Poli/USP

    Gustavo Severo de Borba UNISINOS

    Miriam Borchardt - UNISINOS

    Prof. Dr. Guilherme Lus Roehe Vaccaro (Orientador)

    Visto e permitida a impresso.

    So Leopoldo, ______/______/______.

    Prof. Dr. Ricardo Augusto Cassel

    Coordenador Executivo PPG em

    Engenharia de Produo e Sistemas

  • Para minha av Adelina (in memorian),

    com muito amor e gratido.

  • AGRADECIMENTOS

    Fazer uma dissertao um processo complexo, repleto de incertezas e totalmente

    dependente do componente humano. Nesse processo, as relaes interpessoais contribuem

    fortemente para a qualidade e volume dos resultados gerados, pela gerao de idias,

    participao no processo de desenvolvimento e difuso das alegrias provenientes das muitas

    conquistas parciais que ocorrem durante esta caminhada. Ao menos para mim, foi assim que

    aconteceu.

    Agradeo em primeiro lugar a Deus, por sempre ter iluminado os meus caminhos, me

    dando fora para continuar nos momentos mais difceis especialmente quando perdi minha

    querida av Adelina. A falta dela, a qual alm de av foi minha me, fez com que muitas

    vezes eu tivesse que escrever com os olhos repletos de lgrimas. A certeza de que ela

    compreendia minha ausncia me fez ter paz, mas no menos saudade. Em homenagem ela,

    minha maior incentivadora, nunca desisti.

    Agradeo muito ao Rodrigo, meu grande companheiro, que sempre esteve ao meu lado

    me incentivando e auxiliando em tudo que era possvel. A pacincia, carinho e confiana que

    ele sempre me dedicou foram fundamentais para que eu conseguisse vencer esta etapa.

    Agradeo ao meu av Anderson, por sempre ter me incentivado a estudar e aceitar

    novos desafios profissionais, contribuindo de todas as formas para que isso fosse possvel.

    Agradeo minha me Egla, por suas oraes em minha inteno, as quais me deram

    fora para seguir em frente.

    Agradeo ao meu amigo e orientador, desde os tempos da graduao, Guilherme

    Vaccaro. Por ter exigido o mximo de mim, por ter respeitado o meu ritmo e por sempre ter

    me feito acreditar que tudo daria certo.

    Agradeo ao meu amigo e co-orientador, Junico Antunes, pelos muitos ensinamentos

    de sobre o tema, pela parceria e pelas oportunidades que me disponibilizou.

    Agradeo aos meus amigos, que se tornaram colegas de trabalho: Thaciane, Carol e

    Rafael. Sem a parceria de vocs durante o projeto Negcio a Negcio eu no teria conseguido.

    Agradeo aos colegas que se tornaram grandes amigos: Luciana Curra, Luis Felipe e

    Christopher. As conversas com vocs foram sempre fonte de inspirao e coragem.

    Agradeo Deo, pelas muitas conversas que me trouxeram clareza em momentos de

    dificuldade, de cunho acadmico e pessoal, sempre me motivando a seguir em frente.

    Agradeo aos colegas de mestrado, pela parceria na construo dos trabalhos e

  • momentos de descontrao, em especial, Thiago Viaro e Andr Dupont.

    Agradeo equipe da secretaria, a equipe de performance superior, pela alegria da

    convivncia, pelos cafezinhos que me mantinham acordada durante os muitos momentos de

    leitura, pelos lanchinhos gostosos que me davam energia. Mas, principalmente, pela amizade

    e carinho especial que sempre tiveram comigo, me ajudando em tudo que podiam. Fao um

    agradecimento especial Antnia e Ana Zilles, duas pessoas que tenho profunda admirao e

    carinho.

    Agradeo aos profissionais do Hospital Me de Deus, por terem se disponibilizado a

    participar deste estudo, fazendo ricas contribuies que foram fundamentais para os

    resultados deste trabalho. Em especial, agradeo ao Marcelo Sonneborn, por seu apoio e

    disponibilidade, os quais foram fundamentais para a realizao deste estudo.

    Obrigada Luciana Grimaldi, nossa bolsista de apoio tcnico, pela extrema dedicao

    e competncia na transcrio das entrevistas.

    Aos professores que, direta ou indiretamente, contriburam para a construo deste

    trabalho, em especial: Miriam Borchardt, Daniel Lacerda, Achyles Costa, Amarolinda Saccol

    (Mar), Cludia Bitencourt e Ely Paiva.

    Agradeo aos profissionais que colaboraram na avaliao do quadro conceitual, pela

    disponibilidade e contribuies.

    Agradeo ao pessoal do projeto Pr-engenharias, pelos muitos ensinamentos sobre

    inovao e sobre a vida acadmica.

    De modo geral, agradeo aos amigos e familiares pela compreenso durante os

    momentos em que no me fiz presente, em funo da dedicao demandada por esta pesquisa.

    Enfim, agradeo a todos que, em maior ou menor grau, contriburam para que esta

    importante etapa de minha formao fosse concluda.

    A todos, MUITO OBRIGADA!!!

  • RESUMO

    Este trabalho trata da temtica da gesto da inovao em ambientes hospitalares. O entendimento da inovao como um meio para o incremento da competitividade das organizaes suscita o desenvolvimento de mtodos e modelos que permitam gerenci-la. Esse movimento, originrio da indstria de manufatura, vem se desenvolvendo tambm na indstria de servios, inclusive nos servios hospitalares. No contexto hospitalar a inovao age no somente como um critrio competitivo, mas como uma forma de aprimorar a qualidade e segurana dos servios prestados por estas instituies, contribuindo assim para o bem estar geral da populao. O presente estudo fez uso de uma abordagem qualitativa exploratria para analisar os elementos relacionados gesto da inovao em um ambiente hospitalar. Parte-se da proposio de um quadro conceitual, o qual foi construdo com bases na literatura sobre inovao e gesto da inovao, inovao em servios e inovao em ambientes hospitalares. O quadro conceitual proposto, aps ter sido avaliado por especialistas, foi ento aplicado em um ambiente hospitalar especfico o Hospital Me de Deus, localizado em Porto Alegre, RS por meio da realizao de entrevistas semi-estruturadas com profissionais desta organizao. Os dados provenientes das entrevistas foram analisados com uso da tcnica de anlise de contedo e, posteriormente, triangulados com dados originrios de anlise de documentos e observao no participante realizada no ambiente sob estudo. Os resultados da aplicao do quadro conceitual no Hospital Me de Deus foram ento discutidos, emergindo elementos para a proposio de refinamentos no referido quadro. Os resultados apontam para a aderncia do instrumento proposto como um elemento aplicvel para a compreenso da gesto da inovao em ambientes hospitalares. Como resultado desta anlise, foi verificada a forte influncia das relaes interorganizacionais do hospital com outros atores do sistema de sade no desenvolvimento de inovaes. Dentre essas, tem destaque o papel dos organismos de certificao e acreditao, mdicos e universidades e centros de pesquisa (pesquisa cientfica). Palavras-chave: Gesto da Inovao. Inovao em Servios. Hospitais.

  • ABSTRACT

    This work deals with the themes of innovation management in hospital settings. The

    understanding of innovation as a means to increase the competitiveness of organizations

    raises the development of methods and models to manage it. This movement, originating in

    the manufacturing industry, is developing also in the service industry, including hospital

    services. In the hospital context innovation not only acts as a competitive criterion, but as a

    way to improve the quality and safety of services provided by these institutions, thus

    contributing to the general welfare of the population. This study uses a qualitative

    exploratory approach to analyze the aspects of innovation management in a hospital

    environment. It starts with the proposition of a conceptual framework, which was constructed

    with bases in the literature on innovation and innovation management, innovation in services

    and innovation in hospital environments. The conceptual framework proposed, after being

    evaluated by specialists, was applied in a specific hospital environment - the Hospital Me de

    Deus - by conducting semi-structured interviews with professionals in this organization. Data

    from interviews were analyzed using the technique of content analysis and then triangulated

    with data originating from document analysis and non-participant observation conducted in

    the environment under study. The results of applying the conceptual framework Hospital Me

    de Deus were then discussed, emerging evidence for the proposition of refinements in this

    framework. The results point to the adherence of the proposed instrument as an element apply

    to the understanding of innovation management in hospital settings. As a result of this

    analysis, there was the strong influence of interorganizational relationships with other actors

    of the hospital health system in developing innovations. Among these, has highlighted the role

    of certification bodies and accreditation, and medical universities and research centers

    (scientific research).

    Key-words: Innovation Management. Service Innovation. Hospitals.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Etapas do mtodo de trabalho .................................................................................. 27

    Figura 2 - O espao da inovao .............................................................................................. 40

    Figura 3 - Modelo stage-gate. .................................................................................................. 44

    Figura 4 - Modelo do funil de desenvolvimento de produtos .................................................. 45

    Figura 5 - Pentathlon Framework ............................................................................................. 46

    Figura 6 - Cadeia de Valor da Inovao ................................................................................... 47

    Figura 7 - Representao de um produto baseado em caractersticas I .................................... 56

    Figura 8 - Transio entre o diagrama de Saviotti-Metcalfe e Gallouj-Weinstein ................... 57

    Figura 9 - Representao de um produto baseado em caractersticas II ................................... 58

    Figura 10 - Alinhamento entre as tipologias de inovao de Gallouj e Weinstein e Tidd,

    Bessant e Pavitt. ........................................................................................................................ 65

    Figura 11 - Framework proposto por Windrum e Garca-Goi................................................ 78

    Figura 13 - Framework proposto por Windrum e Garca-Goi operacionalizado ................... 82

    Figura 14 - Diagrama - verso 1 ............................................................................................... 88

    Figura 15 - Diagrama - verso 2 ............................................................................................. 103

    Figura 16 - Projetos Analisados pelo CEP/HMD - 2002/2010 .............................................. 115

    Figura 17 - Diagrama - verso 3 ............................................................................................. 174

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Resultados Busca base SciELO Brasil ................................................................... 20

    Quadro 2 - Tipos de inovao em servios............................................................................... 64

    Quadro 3 - Diviso funcional para sadas de servios hospitalares .......................................... 72

    Quadro 4 - O nvel interorganizacional de anlise da inovao em hospitais .......................... 76

    Quadro 5 Quadro de referncia verso 1 ............................................................................ 96

    Quadro 6 - Caracterizao dos especialistas............................................................................. 99

    Quadro 7 Quadro de referncia verso 2 .......................................................................... 105

    Quadro 8 Roteiro de coleta .................................................................................................. 106

    Quadro 9 - Misso, Viso e Valores do HMD ....................................................................... 112

    Quadro 10 - Frases que referenciam o perfil inovador do HMD............................................ 112

    Quadro 11 - Caracterizao dos entrevistados ....................................................................... 116

    Quadro 12 - Casos de inovao identificados em campo ....................................................... 117

    Quadro 13 Conceitos fundamentais sntese dos achados ................................................. 128

    Quadro 14 Estratgia de inovao sntese dos achados .................................................... 133

    Quadro 15 Cadeia de valor da inovao sntese dos achados........................................... 147

    Quadro 16 Aprendizagem e gesto do conhecimento sntese dos achados ...................... 152

    Quadro 17 - Contingncias identificadas nos casos analisados .............................................. 154

    Quadro 18 Contingncias sntese dos achados ................................................................. 157

    Quadro 19 Compilado dos achados da pesquisa ................................................................. 161

    Quadro 20 - Nmero de referncias - Anlise de Contedo................................................... 162

    Quadro 21 - Casos de inovao identificados em campo ....................................................... 170

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABDI Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial

    AESC Associao Educadora So Carlos

    ANAHP Associao Nacional dos Hospitais Privados

    ANS Agncia Nacional de Sade Suplementar

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    ATS Avaliao de Tecnologias em Sade

    BSC Balance Scorecard

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CEP Comit de tica em Pesquisa

    CIENTEC Fundao de Cincia e Tecnologia

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    CONEP Comisso Nacional de tica em Pesquisa

    COR Centro de Oncologia Radioterpica

    CPC Centro de Pesquisa Clnica

    CRP Ciclo Reverso do Produto

    CT Computed Tomography

    FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

    HMD Hospital Me de Deus

    IC Instituto do Cncer

    IHI Institute for Healthcare Improvement

    IMV Instituto de Medicina Vascular

    INT Instituto Nacional de Tecnologia

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas

    JCI Joint Commission International

    KIBS - Knowledge Intensive Business Services

    LGI Laboratrio de Gesto da Inovao

    MCT Ministrio da Cincia e Tecnologia

    MEC Ministrio da Educao e Cultura

    MS Ministrio da Sade

    OMS Organizao Mundial de Sade

  • ONA Organizao Nacional de Acreditao

    P&D Pesquisa e Desenvolvimento

    PACS Picture Archival and Communication System

    PAEP - Pesquisa sobre a Atividade Econmica Paulista

    PDP Processo de Desenvolvimento de Produto

    PET Positron Emission Tomography

    PIB Produto Interno Bruto

    PPGEPS Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo e Sistemas

    PSS Product Service System

    RBS Rede Brasil Sul de Comunicaes

    RH Recursos Humanos

    SEADE - Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados

    SEGER Servio de Epidemiologia e Gesto de Risco

    SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    SSMD Sistema de Sade Me de Deus

    SUS Sistema nico de Sade

    TICs Tecnologias da Informao e Comunicao

    UCMD Universidade Corporativa Me de Deus

    UFPE Universidade Federal de Pernambuco

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos

    USP Universidade de So Paulo

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................................ 14

    1.1 DEFINIO DO PROBLEMA ......................................................................................... 17

    1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 19

    1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 20

    1.4 DELIMITAO DO ESTUDO ......................................................................................... 22

    1.5 ESTRUTURA .................................................................................................................... 23

    2 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 24

    2.1 MTODO DE PESQUISA ................................................................................................ 24

    2.2 MTODO DE TRABALHO .............................................................................................. 26

    2.3 SELEO DA UNIDADE DE ESTUDO ......................................................................... 34

    3 REFERENCIAL TERICO .......................................................................................................... 37

    3.1 INOVAO E GESTO DA INOVAO ..................................................................... 37

    3.1.1 Conceitos gerais .......................................................................................................... 37

    3.1.2 A gesto da inovao .................................................................................................. 43

    3.2 INOVAO EM SERVIOS ........................................................................................... 50

    3.2.1 Abordagem tecnicista ................................................................................................ 51

    3.2.2 Abordagem orientada a servios .............................................................................. 52

    3.2.3 Abordagem integradora ............................................................................................ 54

    3.3 INOVAO EM AMBIENTE HOSPITALARES ........................................................... 66

    3.3.1 O framework proposto por Dejllal e Gallouj ........................................................... 71

    3.3.2 O framework proposto por Windrum e Garca-Goi ............................................. 77

    3.4 CONSIDERAES SOBRE O REFERENCIAL PESQUISADO ................................... 83

    4 PROPOSIO DO QUADRO CONCEITUAL ........................................................................... 87

    4.1 QUADRO CONCEITUAL E ROTEIRO VERSO 1 ................................................... 87

    4.2 AVALIAO DOS ESPECIALISTAS ............................................................................ 98

    4.3 QUADRO CONCEITUAL E ROTEIRO VERSO 2 ................................................. 101

    5 APLICAO DO QUADRO CONCEITUAL EM UM CONTEXTO HOSPITALAR ......... 108

    5.1 AMBIENTAO DO ESTUDO ..................................................................................... 108

    5.2 ANLISE DO CONTEXTO ........................................................................................... 116

    5.3 ESTRATGIA DE INOVAO ..................................................................................... 129

    5.4 CADEIA DE VALOR DA INOVAO ......................................................................... 133

  • 5.4.1 Ideao ...................................................................................................................... 133

    5.4.2 Desenvolvimento ....................................................................................................... 137

    5.4.3 Difuso ....................................................................................................................... 142

    5.5 APRENDIZAGEM E CONHECIMENTO ...................................................................... 148

    5.6 CONTINGNCIAS ......................................................................................................... 153

    5.7 DISCUSSO E CONTRIBUIES DO CASO AO QUADRO REFERENCIAL

    PROPOSTO ............................................................................................................................ 157

    5.7.1 Discusso ................................................................................................................... 158

    5.7.2 Contribuies do caso ao quadro referencial proposto ........................................ 172

    6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................................ 176

    6.1 LIMITAES DA PESQUISA ....................................................................................... 178

    6.2 SUGESTO PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................. 178

    REFERNCIAS ................................................................................................................................ 180

  • 14

    1 INTRODUO

    A discusso sobre inovao tem se intensificado ao longo do sculo XX, e, mais

    recentemente, vem permeando diversos setores da economia mundial. A necessidade de

    inovar passa a ser tida como uma premissa sobrevivncia da maioria dos negcios e como

    um meio de fomentar diferenciais competitivos. Nesse sentido, surge a necessidade das

    empresas se estruturarem com vistas inovao, desenvolvendo sistemas de gesto que sejam

    capazes de promover as prticas inovadoras em todas as suas dimenses.

    Conforme Bessant e Tidd (2009), a teoria sobre o processo de inovao foi construda,

    essencialmente, com base em inovaes de cunho tecnolgico, particularmente relacionadas

    ao setor industrial. Com a crescente importncia dos servios na economia mundial, contudo,

    surge a necessidade de discutir as prticas inovativas em ambientes de servios. Sobre esta

    temtica, alguns autores presumem que as prticas de inovao vigentes nos setores

    industriais so igualmente aplicveis ao setor de servios (BARRAS, 1986, 1990; SOETE;

    MIOZZO, 1989; MIOZZO; SOETE, 2001; EVANGELISTA, 2000; EVANGELISTA;

    SAVONA; 2003). Outros, por sua vez, defendem que os servios so essencialmente distintos

    da indstria no tocante ao processo de inovao (NIEHANS, 1983; DESAI; LOW, 1987;

    GADREY; GALLOUJ, 1998; GALLOUJ, 2002b; DJELLAL, 2002).

    Dessa forma, pensar no processo de inovao em operaes de servio exige alguns

    questionamentos: a inovao em servios fundamentalmente diferente da inovao em

    manufatura ou existem caractersticas comuns? necessrio desenvolver novas teorias,

    explicaes e modelos? Para responder essas questes necessria uma criteriosa avaliao

    do conhecimento existente para, ento, desenvolver e testar novas teorias e modelos

    (GALLOUJ; WINDRUM, 2009; BESSANT; TIDD, 2009).

    Dentre as diferenas existentes entre os servios e a manufatura, dois aspectos

    merecem destaque por sua influncia no processo de gesto da inovao: a intangibilidade e a

    simultaneidade. Enquanto bens tendem a ser tangveis, passveis de uma avaliao objetiva

    sobre o seu desempenho, servios no o so. A intangibilidade requer que o processo de

    identificar e controlar a qualidade dos servios contemple, alm dos aspectos tangveis

    (instalaes, equipamentos, etc.), aspectos subjetivos de avaliao por parte do cliente

    (atendimento, compromisso, competncia, empatia). Em outra dimenso, a distncia temporal

    entre produo e consumo de bens manufaturados tende a ser significante, possibilitando clara

  • 15

    definio entre as atividades de processamento e o produto final. J nas atividades de servio,

    a produo e o consumo se do de forma quase que instantnea, tornando difcil distinguir

    inovaes de processo (como) de inovaes de produto (o que), requerendo a integrao das

    operaes de retaguarda e de frente (BESSANT; TIDD, 2009).

    Levando em considerao esses aspectos, Sebastiani e Paiola (2010) enfatizam a

    necessidade de destacar o lado soft da inovao no setor de servios. Conforme postulam

    esses autores, as inovaes soft so inovaes que esto especificamente relacionadas com as

    pessoas e a organizao, os mercados e as relaes, o conhecimento e a integrao, os

    significados e experincias (SEBASTIANI; PAIOLA, 2010, p. 80). Entretanto, as teorias de

    inovao provenientes da manufatura parecem no ser suficientes para tratar dessas formas

    menos tangveis de inovao.

    Gallouj e Savona (2009) argumentam que existe certa polaridade sobre a classificao

    dos servios como retardatrios no processo de inovao ou propulsores da nova economia

    baseada em conhecimento. Segundo eles, essa ambiguidade fruto da rigidez empregada para

    definir, medir e analisar os servios, bem como quanto a equvocos na definio do produto

    do servio. Alm disso, os autores argumentam que a distino entre produtos manufaturados

    e servios de maneira estritamente materialista tem causado erros na medio do desempenho

    econmico da atividade de servios.

    Nas ltimas duas dcadas, economias antes predominantemente baseadas na atividade

    industrial tm se transformado em economias de servio, como o caso dos Estados Unidos e

    do Reino Unido, onde os servios representam cerca de 75% da riqueza e 85% do emprego

    (GALLOUJ; WINDRUM, 2009). No Brasil, o setor de servios representa cerca de 60% do

    Produto Interno Bruto (PIB), alm de ser o setor que mais emprega no Pas (IBGE, 2010;

    MALDONADO et al., 2009; ZAGHENI et al., 2009). Apesar disso, sabe-se pouco sobre a

    gesto da inovao nesse setor (BESSANT; TIDD, 2009).

    Um dos fatores destacados em relao aos estudos sobre o setor de servios sua

    heterogeneidade, abarcando desde atividades de comrcio at a prestao de servios de sade

    (HOWELLS, 2006; TETHER, 2005; MEIRELES, 2006; BASTOS; PETROBELLI; SOUZA,

    2009). Em meio aos diversos segmentos do setor de servios, o setor da sade requer especial

    ateno, dada sua complexidade e importncia social (BORBA, 1998; GONALVES et al.,

    2005; KLEN, GUIMARES; PEREIRA, 2008; ANUNCIAO; ZOBOLI, 2008; AHLERT

    et al., 2009; RIBEIRO et al., 2009).

    Os servios de sade apresentam um desempenho inovador de relativo destaque, se

    comparados com os demais segmentos do setor de servios. Em pesquisa sobre o desempenho

  • 16

    inovador das empresas de servio do Estado de So Paulo a Pesquisa sobre a Atividade

    Econmica Paulista (PAEP) 2001 realizada pela Fundao Sistema Estadual de Anlise de

    Dados (SEADE), o setor de sade figura como terceiro colocado em relao taxa de

    inovao (7%), em meio aos nove segmentos de servio pesquisados. O segmento com maior

    taxa de inovao foi o de informtica (30%), seguido pelo de telecomunicaes (15%), ambos

    ligados gerao de produtos de tecnologia (SO PAULO, 2001).

    Dentre os servios de sade, os servios hospitalares merecem destaque, posta sua

    relevncia para os sistemas de sade e, consequentemente, para a sociedade (GALLOUJ;

    SAVONA, 2009; DJELLAL; GALLOUJ, 2005). Conforme Djellal e Gallouj (2007), hospitais

    so organizaes complexas, com uma vasta gama de possibilidades para estudo da inovao,

    como, por exemplo, as inovaes em servios.

    Djellal e Gallouj (2005) defendem que os esforos inovadores dos hospitais so

    subestimados e, muitas vezes, no reconhecidos. Segundo eles, esse fato reflexo da forte

    ateno dada s inovaes mdicas (no sentido tcnico) nestes ambientes. O desenvolvimento

    humano se deu em conjunto com o desenvolvimento de conhecimento e inovaes na rea da

    sade. O aumento da expectativa de vida da populao mundial foi impulsionado pelo

    desenvolvimento de cura e tratamento para as mais diversas enfermidades. Esse fato explica,

    de certa forma, a tendncia histrica pelo foco na discusso sobre inovaes mdicas,

    principalmente as de cunho tecnolgico, como a fonte tpica de inovao em ambientes

    hospitalares. Todavia, hospitais so ambientes com grande potencial para o desenvolvimento

    de diversos tipos de inovao, que no somente as inovaes mdicas, conforme viso de

    Djellal e Gallouj (2007), corroborada por Salge e Vera (2009). Nesse sentido, surge a

    necessidade de se estudar este constructo em ambientes hospitalares de forma mais ampla,

    abarcando as diversas oportunidades de inovar e a forma de gerir essas oportunidades nesses

    ambientes.

    A concepo de hospitais como organizaes provedoras de servios e elemento

    central do sistema de sade reflete uma mudana na perspectiva tecnicista da inovao para

    uma abordagem baseada em servios, considerando as relaes internas e externas de servio.

    Sob esse ponto de vista, os pacientes no se apresentam apenas como pessoas que necessitam

    de tratamento, mas como clientes de uma complexa organizao provedora de servios. Alm

    disso, destaca a necessidade em satisfazer no s o paciente, mas tambm sua famlia e

    parentes (GALLOUJ; SAVONA, 2009; DJELLAL; GALLOUJ, 2005). No entanto, os

    hospitais so organizaes de servios complexos que fornecem uma gama extensa de

    servios de apoio que suportam e influenciam na qualidade do atendimento assistencial

  • 17

    (MIRSHAWKA, 1994; BORBA, 1998; GONALVES et al., 2005; KLEN; GUIMRES;

    PEREIRA, 2008; AHLERT et al., 2009; RIBEIRO et al., 2009).

    Dessa forma, a satisfao dos clientes em organizaes hospitalares toma padres

    distintos das demais organizaes. Conforme argumentos de Borba e Kliemann Neto (2008),

    a qualidade nestes ambientes mensurada de acordo com os benefcios gerados sade do

    paciente. Dada a complexidade das relaes cliente-fornecedor em ambientes hospitalares,

    esta definio de qualidade feita em conjunto por mdico e paciente, sendo ainda afetada

    por uma extensa gama de servios de apoio (BORBA; RODRIGUES, 1998). Borba e Lisboa

    (2006) corroboram essa viso e acrescentam ainda que o fator emotivo-afetivo tem grande

    influncia sobre a qualidade dos servios em sade, fator este que diferencia a prestao do

    servio hospitalar dos demais tipos de servios.

    neste contexto que se insere a presente pesquisa.

    1.1 DEFINIO DO PROBLEMA

    Conforme enfatizam Tidd, Bessant e Pavitt (2008), a inovao um processo

    complexo e repleto de incertezas, por esse motivo, de difcil gerenciamento. Somando-se a

    isso a complexidade inerente aos ambientes hospitalares, pensar a gesto da inovao nesse

    contexto parece algo ainda mais complexo. Todavia, dada a importncia dos hospitais para a

    sociedade, desenvolver inovaes nestes ambientes pode ser uma forma de contribuir para a

    melhoria dos servios prestados por estas instituies populao.

    Nesse sentido, este trabalho se prope a discutir a temtica da gesto da inovao em

    ambientes hospitalares, como forma de compreender como se do os processos de inovao

    nestes ambientes. Sob este contexto, a gesto da inovao compreendida como um conjunto

    de prticas que, de forma planejada e contnua, fomentam a atividade inovativa na

    organizao. Para isso, est baseada em processos, indicadores e avaliao ao longo das

    etapas de busca de oportunidades, desenvolvimento e difuso de inovaes (PANTALEO;

    ANTUNES JNIOR; PELLEGRIN, 2007; GIBSON; SKARZYNSKY, 2008; TIDD;

    BESSANT; PAVITT, 2008).

    Ainda que a gesto da inovao seja uma atividade complexa, sabe-se que algumas

    empresas parecem ter desenvolvido maneiras de organizar e gerenciar a inovao de modo

    eficaz, em funo disso, obtendo vantagem sobre os concorrentes. Todavia, identificar as

  • 18

    configuraes que determinam o desempenho inovador das empresas no uma questo

    simples, dadas as variaes existentes entre as tipologias de negcio e a complexidade e

    incertezas inerentes aos processos de inovao.

    Para tratar dessa complexidade, modelos tm sido propostos ao longo dos anos,

    sobretudo focados nas atividades diretamente ligadas ao desenvolvimento de produtos. Os

    modelos, como simplificaes da realidade, tm a finalidade de simplificar os processos

    relativos gerao de inovaes nas organizaes de modo a viabilizar o gerenciamento

    destas atividades. Entretanto, dado que a teoria sobre inovao foi construda tendo por base

    as atividades de manufatura, os modelos destinados a gerir tal atividade, naturalmente,

    tambm o foram.

    No entanto, os modelos existentes, de modo geral, ignoram os aspectos

    organizacionais e as caractersticas intrnsecas firma (SALERNO et al., 2009). Nesse

    sentido, Tidd, Bessant e Pavitt (2008) destacam que o desenvolvimento de uma gesto da

    inovao eficaz perpassa a compreenso das estruturas e comportamentos gerenciais que

    melhor se ajustem configurao do negcio. Outros autores corroboram esta viso,

    enfatizando a necessidade de considerar os aspectos relativos ao projeto organizacional como

    de grande relevncia no processo de gesto da inovao (GOFFIN; MITCHELL, 2005;

    ANTUNES JNIOR et al., 2009; SALERNO et al., 2009).

    Outro ponto a se destacar em relao literatura sobre gesto da inovao o enfoque

    quanto ao tipo de empresa/produto predominante nos estudos. Em sua maioria, so baseados

    em empresas de grande porte, com um Processo de Desenvolvimento de Produto (PDP) ou

    Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) bem estruturado e sem problemas quanto a recursos

    disponveis para tais atividades. Alem disso, focalizam produtos estruturados, sem grandes

    incertezas e com longos ciclos de vida e desenvolvimento. Por consequncia, apresentam-se

    modelos lineares e estruturados, com exigncia de grande estrutura decisria ao longo das

    etapas de desenvolvimento (SALERNO et al., 2009).

    Todavia, conforme posto na seo anterior, atividades de servio e, particularmente,

    servios de sade, apresentam peculiaridades que demandam teorias e modelos capazes de

    tratar de outras formas de inovao, que no somente as inovaes de produto. Assim sendo,

    ainda que a teoria de gesto da inovao proveniente da manufatura oferea elementos

    aplicveis ao setor de servios e aos servios hospitalares, outros elementos devem ser

    incorporados para que seja vivel compreender como se do os processos de gesto da

    inovao nestes contextos.

    De acordo com Vargas (2006), a anlise dos impactos da inovao sobre as prticas e

  • 19

    os processos de deciso em organizaes hospitalares algo complexo, tipicamente

    dependente do componente humano e sujeito a diferentes fontes de variabilidade, tanto

    processual como de percepo. Nesse contexto, variveis como relao mdico-paciente,

    influncia de reguladores legais, aspectos ticos e competncias dos usurios passam a ser

    relevantes. Por esse motivo, analisar a dinmica da inovao em ambientes hospitalares exige

    um ferramental distinto dos modelos de gesto da inovao estritamente focados em

    inovaes de produto.

    Pensar a gesto da inovao dentro do contexto hospitalar surge como uma forma de

    contribuir para o aprimoramento contnuo da produtividade, qualidade e competitividade

    destas organizaes. Para isso, entretanto, conforme posio defendida por Quintella e Rocha

    (2006), so indispensveis esforos focados e sustentados no sentido de construir uma infra-

    estrutura de processos que possibilite o efetivo desenvolvimento de inovaes. Surge, ento, a

    necessidade de ter em vista os tipos de composies organizacionais, processos e mecanismos

    de coordenao que fomentam a inovao em ambientes de servios hospitalares.

    Sob este contexto, a presente pesquisa foca-se na busca pelos elementos de gesto da

    inovao presentes em um ambiente hospitalar. Dessa forma, apresenta como questo de

    pesquisa: Como se d a gesto da inovao em um ambiente hospitalar?

    1.2 OBJETIVOS

    O objetivo geral do presente trabalho analisar os elementos relacionados gesto

    da inovao em um ambiente hospitalar.

    Para sua realizao, so colocados os seguintes objetivos especficos, tambm

    norteadores da presente pesquisa:

    (i) propor um quadro conceitual para anlise da gesto da inovao em ambientes

    hospitalares;

    (ii) discutir a aplicabilidade do quadro conceitual delineado, a partir dos dados de um

    contexto hospitalar especfico.

  • 20

    1.3 JUSTIFICATIVA

    A crescente importncia dos servios no cenrio econmico mundial tem despertado o

    interesse por pesquisas neste setor. Entretanto, embora o nmero de publicaes que discutem

    a atividade de servios tenha sido incrementado, alguns assuntos ainda so pouco abordados,

    como caso da gesto da inovao em servios (SEBASTINI; PAIOLA, 2010; GALLOUJ;

    WINDRUM, 2009; GALLOUJ; SAVONA, 2009). Considerando a importncia da inovao

    como elemento mantenedor da competitividade das organizaes, torna-se necessrio ampliar

    o debate sobre a inovao e a gesto da inovao em servios.

    Os servios de sade, posta sua importncia para a sociedade, merecem destaque

    dentro dessa discusso. Os hospitais configuram-se como importantes elementos dos sistemas

    nacionais de sade, sendo um ambiente rico para o desenvolvimento de pesquisas na rea de

    inovao. A complexidade dos sistemas hospitalares (AHLERT et al., 2009; BORBA, 1998;

    GONALVES et al., 2005; KLEN; GUIMARES; PEREIRA, 2008; RIBEIRO et al., 2009),

    em consonncia com a tendncia pela profissionalizao da gesto hospitalar (HAVRENNE;

    MESQUITA, 2009; FRIESNER et al., 2009; HELFERT, 2009; VECINA; MALIK, 2007),

    motiva o desenvolvimento de pesquisas sobre a gesto da inovao em hospitais.

    Entretanto, a literatura consultada elucida a carncia de estudos que focalizem a gesto

    da inovao nestes ambientes (DJELLAL; GALLOUJ, 2005; VARGAS, 2006; DJELLAL;

    GALLOUJ, 2007; SEBASTIANI; PAIOLA, 2010). Essa escassez se acentua quando o

    universo de pesquisa se restringe a trabalhos de cunho nacional. Sob esse ponto de vista, a

    presente pesquisa pretende contribuir para a diminuio da lacuna terica sobre gesto da

    inovao em ambientes hospitalares. Essa escassez explicitada pelos resultados de buscas

    realizadas na base SciELO Brasil, em maio de 2010 (Quadro 1):

    Termos de busca Local de busca Resultados Resultados relevantes

    inovao and hospitalar Todos os campos 6 artigos No encontrado

    inovao and hospital Todos os campos 16 artigos No encontrado

    inovao and hospital and gesto

    Todos os campos No encontrado No encontrado

    Quadro 1 - Resultados Busca base SciELO Brasil Fonte: Elaborado pela autora.

  • 21

    Com intuito de verificar a existncia de teses e dissertaes sobre o tema inovao

    em ambientes hospitalares, foram acessadas as bases de teses e dissertaes das seguintes

    instituies: UNISINOS, USP, UFRJ, UFPE e UFRGS. As buscas ocorreram em junho de

    2010, utilizando como termos de busca: hospitais, hospital, hospitalar e hospitalares. Foram

    encontrados somente dois trabalhos - uma dissertao e uma tese sobre este tema: o

    primeiro descreve os processos de inovao em hospitais de Porto Alegre (VARGAS, 2002);

    o segundo, uma continuidade do primeiro, analisa a dinmica da inovao em hospitais do

    Brasil e da Frana (VARGAS, 2006). Ambos basearam-se na abordagem integradora de

    inovao em servios. Os demais estudos sobre inovao encontrados com os referidos termos

    de busca tratavam de inovaes tcnicas (inovaes mdicas). Todavia, nenhum destes

    estudos abordou os processos de gerao de inovaes, tampouco o seu gerenciamento,

    enfocando na caracterizao das inovaes provenientes de ambientes hospitalares.

    Outro aspecto que justifica o presente trabalho o cunho social, haja vista a

    importncia dos hospitais para o sistema de sade nacional. A questo da sade no Brasil

    carece de melhorias estruturais, para dirimir os problemas de falta de capacidade de

    atendimento, bem como incrementar a qualidade do servio assistencial prestado populao.

    No somente no setor pblico, mas tambm em hospitais de administrao mista ou privada, o

    problema da falta de capacidade um dificultador da atividade mdica (ANUNCIAO;

    ZOBOLI, 2008; BITTAR, 1996; BORBA, 1998; HELFERT, 2009; JOAQUIM; VIEIRA,

    2009). Fomentar o desenvolvimento de inovaes em ambientes hospitalares , tambm, um

    meio de fomentar a melhoria no atendimento mdico prestado a populao pelos hospitais.

    Neste sentido, a compreenso dos elementos associados gesto da inovao nestes

    ambientes pode contribuir para a estruturao de processos e indicadores que sinalizem

    formas mais adequadas de melhorar as atividades associadas a esse contexto.

    Do ponto de vista pessoal, este trabalho se insere no mbito do grupo de pesquisa

    MOSES-m Modelagem, Otimizao, Simulao e Experimentao em Sistemas e

    Mercados, do qual a presente pesquisadora membro. No mbito deste grupo, j foram

    desenvolvidos dois projetos com a aplicao de simulao computacional para auxlio

    tomada de deciso em duas centrais de diagnstico por imagem, ambos em um hospital de

    Porto Alegre, RS. Como fruto destes dois projetos, outra dissertao de mestrado foi

    desenvolvida no PPGEPS/UNISINOS. No obstante, o presente estudo alinha-se a um projeto

    que estuda a aplicao de conceitos de engenharia de produo em ambientes hospitalares,

    intitulado Modelagem, Design e Inovao em Sistemas Hospitalares (Edital MEC/CAPES e

    MCT/FINEP, Programa Nacional de Ps-Doutorado - PNPD/2009) que prev a realizao de

  • 22

    dez estudos de caso em cinco anos, todos com a aplicao de conceitos de Engenharia de

    Produo e de Design Estratgico em hospitais da regio metropolitana de Porto Alegre, RS.

    Este estudo contribuir com os esforos desse projeto e do grupo de pesquisa, com vistas ao

    aprimoramento da gesto hospitalar por meio da utilizao dos princpios, mtodos e tcnicas

    associadas Engenharia de Produo.

    Alm do grupo de pesquisa e projeto supracitados, a pesquisadora membro do

    projeto Gesto de Operaes em Organizaes Inovadoras, desenvolvido no mbito do

    programa Pr-engenharias da CAPES. Este projeto consiste em uma rede de programas de

    Ps-Graduao com vistas ao desenvolvimento e consolidao de conhecimento acerca da

    gesto operaes em organizaes inovadoras, de forma que a gerao de inovaes esteja

    incorporada s suas prticas cotidianas. Nesse sentido, o presente trabalho contribuir para a

    composio do conhecimento acerca de modelos de gesto da inovao, focalizando os

    servios hospitalares. Vale ressaltar que este o nico trabalho desenvolvido no mbito deste

    grupo, at o momento de sua escrita, que versa sobre gesto da inovao em servios.

    1.4 DELIMITAO DO ESTUDO

    Como mencionado anteriormente, este trabalho ter por objeto de estudo o hospital. A

    anlise restringe-se ao nvel organizacional, no englobando anlises sobre outros atores dos

    sistemas regionais ou nacionais de inovao ou de sade. Uma anlise mais ampla sobre esses

    atores sugerida, no entanto, como objeto de estudos futuros, aos quais se deseja que esta

    pesquisa possa ser contributiva. Todavia, sero consideradas as relaes da organizao sob

    anlise com estes atores, restringindo-se ao ponto de vista da organizao estudada.

    Dado que o estudo contou com a aplicao do quadro conceitual proposto em somente

    um caso de estudo, no inteno obter, a partir da presente pesquisa, uma viso ampla do

    tema estudado. No possvel, portanto, tambm por este motivo, generalizar os resultados

    dessa pesquisa.

    Sero focalizados os aspectos relativos ao planejamento das atividades, processos

    definidos, indicadores e sistemtica de avaliao das atividades envolvidas diretamente com a

    gerao de inovaes, desde as idias iniciais at difuso das inovaes geradas. Ainda que

    outros elementos se relacionem com este processo, com maior ou menor intensidade, estes

    no sero abordados ou sero abordados superficialmente. Portanto, aspectos como cultura

  • 23

    organizacional, aprendizagem organizacional e gesto do conhecimento, gesto de marca,

    entre outros, ainda que tangenciados, no fazem parte o escopo desta pesquisa.

    H ainda que se ressaltar que o quadro conceitual ora proposto direcionado a

    aplicao em ambientes hospitalares. Embora se trate de um ambiente de servios, aplicaes

    em outros ambientes de servios, que no os de servios hospitalares, devero ser previamente

    avaliadas e avalizadas pela comunidade cientfica e tcnica. Avaliar a aplicabilidade destes

    em demais ambientes de servio configura-se tambm como uma oportunidade para estudos

    futuros.

    1.5 ESTRUTURA

    Este trabalho est estruturado em seis captulos. O primeiro captulo, que aqui

    finalizado, apresentou a introduo ao tema, a definio do problema, os objetivos, a

    justificativa e as delimitaes da pesquisa, alm da estrutura do trabalho.

    O segundo captulo tratar da metodologia empregada para conduo da pesquisa,

    apresentando o mtodo de pesquisa e o mtodo de trabalho adotados.

    O captulo trs apresenta a reviso dos principais conceitos tericos sobre os temas

    inovao e gesto da inovao, inovao em servios e inovao em hospitais.

    O captulo quatro apresenta o quadro conceitual e roteiro de coleta de dados proposto,

    a etapa de avaliao dos especialistas sobre o quadro e o roteiro e, por fim, as verses do

    quadro conceitual e do roteiro de coleta revisados com base nas sugestes dos especialistas.

    No captulo cinco apresentada a aplicao do quadro conceitual proposto em um

    ambiente hospitalar especfico, iniciando-se pela caracterizao da unidade de anlise e, em

    seguida, os resultados encontrados. Alm disso, as discusses sobre os achados da pesquisa.

    Finalmente, as consideraes finais, limitaes da pesquisa e as proposies para

    continuidade deste trabalho so trazidas no captulo seis.

  • 24

    2 METODOLOGIA

    Neste captulo ser apresentada a metodologia utilizada para conduo desta pesquisa.

    Inicia-se pela apresentao da fundamentao terica do mtodo de pesquisa adotado. Em

    seguida, apresenta-se o mtodo de trabalho que ser utilizado para operacionalizar a pesquisa.

    Por fim, apresenta-se a seleo da unidade de estudo.

    2.1 MTODO DE PESQUISA

    De acordo com Mattar (1996), o conhecimento cientfico, o qual pode ser obtido por

    meio da pesquisa cientfica, uma das formas buscadas pelo homem para sanar sua

    necessidade de procura constante por conhecimento. Conforme postulam Kuhn (1962) e

    Lakatos (1978), a pesquisa cientfica pode ser definida como uma atividade que contribui para

    o entendimento de um dado fenmeno. Fachin (2001) caracteriza o mtodo cientfico como a

    escolha de procedimentos sistemticos para descrio e explicao de uma determinada

    situao sob estudo. Neste sentido, a metodologia da pesquisa descreve como o pesquisador

    responder a sua questo de pesquisa.

    A gesto da inovao em um contexto hospitalar um tema pouco desenvolvido e

    estruturado, tanto em termos de literatura disponvel quanto na prtica das organizaes

    hospitalares, conforme evidenciado no captulo anterior. Em funo disso, optou-se por

    realizar uma pesquisa de carter exploratrio, j que segundo argumentos de Gil (1999) e

    Collis e Hussey (2005), a pesquisa exploratria utilizada quando h pouco ou nenhum

    estudo anterior sobre o tema em questo. Nesse sentido, a carncia de referencial terico

    consolidado sobre gesto da inovao em ambientes hospitalares justifica a opo por uma

    pesquisa exploratria.

    Malhotra (2006) argumenta que pesquisas exploratrias so caracterizadas pela

    versatilidade flexibilidade em relao ao mtodo, dado que no exigem o emprego de

    procedimentos formais. Tipicamente, pesquisas exploratrias fazem uso de abordagens

    qualitativas (GIL, 1999; COLLIS; HUSSEY, 2005). Conforme Flick (2004, p. 28), a

    pesquisa qualitativa orientada para anlise de casos concretos em sua particularidade

  • 25

    temporal e local, partindo das expresses e atividades das pessoas em seus contextos locais.

    Ainda conforme Flick (2004), este tipo de pesquisa busca a compreenso de um dado

    fenmeno a partir de sua essncia, por meio da opinio de um ou mais sujeitos sobre um tema

    em questo. Para conduo de pesquisas qualitativas, diversas estratgias de pesquisa podem

    ser adotadas, de forma individual ou combinada.

    Optou-se por conduzir este trabalho por meio de uma pesquisa exploratria de carter

    qualitativo. Esta teve duas grandes etapas: a primeira, que envolveu a construo do quadro

    conceitual; e a segunda, envolvendo a aplicao do quadro desenvolvido em um contexto de

    uma organizao. Nesse sentido, entende-se que a pesquisa qualitativa adequada para

    compreenso do objeto de estudo, dada a complexidade inerente aos processos de gesto da

    inovao (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008) e aos ambientes hospitalares (AHLERT et al.,

    2009; BORBA, 1998; GONALVES et al., 2005; KLEN; GUIMARES; PEREIRA, 2008;

    RIBEIRO et al., 2009).

    De acordo com Flick (2009), os mtodos utilizados para conduzir a pesquisa

    qualitativa devem ser adequados questo em estudo e abertos o suficiente para permitir ao

    pesquisador percorrer os caminhos que levam resposta de sua questo de pesquisa. Os

    mtodos para coleta e anlise do material emprico, bem como o processo de amostragem dos

    dados devem ser definidos de forma a proporcionar uma melhor compreenso do fenmeno

    de interesse. A amostragem, nesse contexto, est ligada ao processo de busca e seleo de

    material emprico (casos, entrevistas, documentos, etc.) que permitam responder a questo de

    pesquisa, dentro de um horizonte de tempo administrvel para a realizao da pesquisa.

    As entrevistas e a observao so tpicas fontes de dados em estudos qualitativos.

    Dentre os tipos de entrevista existentes, as entrevistas semi-estruturadas so de larga

    utilizao, uma vez que mais provvel que o os pontos de vista dos entrevistados sejam

    expressos em uma entrevista com um planejamento relativamente aberto, frente a outras

    formas padronizadas, como a utilizao de questionrios (FLICK, 2004; 2009; GODOI;

    MATTOS; 2006).

    Neste estudo, a entrevista semi-estruturada foi utilizada em dois momentos da

    pesquisa: (i) entrevista com especialistas (classificadas por Flick (2004) como um tipo

    particular de entrevista semi-estruturada), com intuito de aprimorar e avaliar o quadro

    conceitual proposto; e (ii) coleta de dados verbais, durante a realizao do estudo de campo.

    Alm disso, duas outras tcnicas foram utilizadas: (i) observao direta, a qual ocorreu

    durante a realizao das entrevistas em campo; e (ii) anlise de documentos, realizada sobre

    os documentos fornecidos pela organizao e provenientes de fontes indiretas (stios, jornais,

  • 26

    etc.). Foram utilizadas trs fontes distintas de dados, de modo a permitir a posterior

    triangulao de dados, contribuindo assim para a qualidade da pesquisa (FLICK, 2004).

    As entrevistas realizadas em campo foram analisadas com o uso da tcnica de anlise

    de contedo, a qual, segundo Flick (2004) um mtodo clssico para anlise de dados

    provenientes de entrevistas. Esta tcnica, conforme Bardin (1995) est baseada na codificao

    e categorizao de dados. Dessa forma, buscou-se comparar o contedo das entrevistas com

    os conceitos provenientes do quadro conceitual, verificando assim a relevncia destes

    conceitos no ambiente estudado.

    A seguir, sero detalhadas as etapas percorridas durante a execuo desta pesquisa.

    2.2 MTODO DE TRABALHO

    Esta seo apresentar o delineamento do mtodo de trabalho utilizado para

    operacionalizar esta pesquisa, com base nos conceitos do mtodo de pesquisa apresentados na

    seo anterior. A pesquisa est estruturada em sete etapas, conforme apresenta a Figura 1 e

    detalhado a seguir.

  • 27

    Figura 1 - Etapas do mtodo de trabalho Fonte: Elaborado pela autora.

    Etapa 1 construo do referencial terico

    A primeira etapa consistiu na construo do referencial terico. Para isso, foram

    realizadas buscas em bases de dados como SciELO, CAPES, Science Direct, EBSCOHost,

    entre outras. As buscas ocorreram no perodo de novembro de 2009 at junho de 2010. Alm

    de buscas s bases de dados, foram pesquisadas bibliotecas digitais de teses e dissertaes da

    UNISINOS, USP, UFRJ, UFPE e UFRGS. Ao passo em que o material pesquisado ia sendo

    estudado, outras fontes passaram a ser acessadas, como livros, stios, anais de congressos e

    peridicos especficos da rea (European Journal of Innovation Management, Research

    Policy, European Journal of Health Economics, etc.).

    As pesquisas foram agrupadas segundo trs tpicos: (i) inovao e gesto da inovao,

    contendo os conceitos provenientes da indstria de manufatura; (ii) inovao em servios,

    trazendo as especificidades e semelhanas existentes entre a inovao na indstria de bens e

    de servios; e (iii) inovao em ambientes hospitalares, como um caso particular de inovao

    Pesquisa Qualitativa Exploratria

    Finalizao

    Proposio do Quadro Conceitual

    Etapa 1 Construo do referencial terico

    Etapa 2 Construo do quadro conceitual

    Etapa 3 Avaliao com especialistas:

    (i) entrevistas com especialistas.

    Aplicao do Quadro Conceitual

    em um Ambiente Hospitalar

    Etapa 4 Coleta de dados em campo:

    (i) entrevistas semi-estruradas;

    (ii) anlise de documentos;

    (iii) observao direta.

    Etapa 5 Anlise dos resultados do campo:

    (i) anlise de contedo;

    (ii) triangulao de dados.Entrega do 1 objetivo especfico

    Ent

    rega

    do

    2

    obje

    tivo

    es

    pec

    fico

    Etapa 7 Consideraes Finais

    Etapa 6 Discusso da aplicabilidade do quadro conceitual com base no estudo de campo

  • 28

    em servios, agregando a complexidade inerente aos ambientes hospitalares aos conceitos de

    inovao. A construo do referencial terico fez emergir elementos tericos que permitiram

    a proposio do quadro conceitual, conforme descrito na etapa seguinte.

    Etapa 2 construo do quadro conceitual

    A partir dos conceitos visitados na construo do referencial terico foi elaborado um

    quadro conceitual, o qual composto de um diagrama e de um quadro de referncia. O

    diagrama apresenta os elementos que representam a gesto da inovao em ambientes

    hospitalares, abarcando desde os aspectos contextuais at os diretamente ligados ao processo

    de inovao nestes ambientes. O quadro de referncia apresenta os conceitos que suportam os

    elementos que compem o diagrama, juntamente com os respectivos referenciais. Para isso,

    foi delineada uma estrutura onde o ponto de partida o referencial de inovao e gesto da

    inovao provenientes da indstria de manufatura. Em seguida, foram agregados os conceitos

    relativos inovao em servios e inovao em ambientes hospitalares, trazendo para o

    quadro os elementos que distinguem a gesto da inovao em ambientes hospitalares da que

    ocorre nos demais ambientes de servios e de manufatura.

    Para operacionalizar o quadro conceitual delineado, foi elaborado um roteiro de coleta

    de dados, o qual agregado ao quadro de referncia e possui a forma de um roteiro de

    entrevista qualitativas semi-estruturadas (FLICK, 2004; GODOI; MATTOS, 2006). De

    acordo com Flick (2006), as entrevistas semi-estruturadas baseiam-se na narrativa de uma

    histria pelas palavras do entrevistado, ao invs de buscar o preenchimento de lacunas de

    informao previamente estabelecidas. Dessa forma, o objetivo do roteiro de entrevista foi

    nortear a busca pelos elementos que compem o quadro conceitual sobre gesto da inovao

    em ambientes hospitalares, durante as narrativas de casos de inovao feitas pelos

    entrevistados.

    Etapa 3 - Avaliao com especialistas

    O produto da etapa 2 (quadro conceitual e roteiro de coleta) foi validado por meio de

    entrevistas com especialistas. Conforme preconizado por Flick (2004), as entrevistas com

    especialistas so um tipo particular de entrevistas semi-estruturadas e visam analisar e

    comparar o contedo do conhecimento do especialista. O autor ainda enfatiza que os

    especialistas no so integrados ao estudo como casos nicos, mas representativos de um

  • 29

    grupo (o grupo de especialistas de determinado tpico). Dessa forma, pretendeu-se acessar

    dois especialistas em inovao e um especialista da rea da sade, escolhidos segundo os

    seguintes critrios: (i) formao estrito senso em nvel de mestrado ou, preferencialmente,

    doutorado; (ii) produo acadmica relativa ao tema de sua especialidade; (iii) experincia

    prtica em sua rea de especialidade.

    Os especialistas foram contatados previamente por e-mail, verificando assim sua

    disponibilidade em participar do estudo. Dos quatro especialistas contatados, trs aceitaram

    avaliar o trabalho. A partir da aceitao destes, foi enviado por e-mail o resumo da dissertao

    e o material a ser avaliado. Buscou-se coletar suas percepes em relao aos seguintes

    aspectos do quadro conceitual e roteiro de coleta: (i) adequao terico-prtica; (ii) clareza do

    instrumento de coleta; (iii) relevncia para atender os objetivos desta pesquisa.

    Das trs avaliaes realizadas, duas foram presenciais e uma ocorreu distncia, em

    funo de restries fsicas. Nas avaliaes presenciais, a pesquisadora fez uma breve

    apresentao da pesquisa, do quadro conceitual e do roteiro de coleta. Em seguida, os

    especialistas foram questionados sobre a adequao terico-prtica, clareza e relevncia do

    material. O relato dos especialistas foi registrado por meio de anotaes realizadas durante a

    conversa. Cada um dos encontros teve durao aproximada de 60 minutos. No caso da

    avaliao realizada distncia, enviou-se por e-mail ao especialista o resumo da dissertao e

    o material para anlise, bem como os pontos que deveriam ser avaliados. O especialista

    respondeu, tambm por e-mail, relatando suas percepes sobre os trs aspectos que foram

    questionados. Buscou-se, assim, apesar da diferena miditica, assegurar que o contedo da

    avaliao percorresse os mesmos elementos das entrevistas realizadas presencialmente.

    As sugestes proferidas pelos especialistas concentraram-se em aspectos relativos ao

    refinamento do material. No foi sugerida complementao terica pelos especialistas, dessa

    forma, no houve necessidade de retornar etapa 1 (construo do referencial terico), bem

    como, no foi apontada pelos especialistas a necessidade de ressubmeter o instrumento

    avaliao dos mesmos. Os resultados da avaliao dos trs especialistas foram analisados de

    forma qualitativa, de modo a congregar as sugestes por eles proferidas, viabilizando assim a

    converso destas sugestes em aprimoramento do quadro conceitual e roteiro de coleta. Assim

    sendo, aps realizar os refinamentos propostos pelos especialistas no quadro conceitual e

    roteiro de coleta, fez-se a entrega do primeiro objetivo especfico desta pesquisa.

    Seguiu-se, ento, para a etapa 4, iniciando assim a coleta dos dados em campo.

  • 30

    Etapa 4 coleta de dados em campo

    A coleta de dados em campo ocorreu na etapa 4, incluindo documentos, observao

    direta e dados verbais.

    Os documentos analisados foram o stio do hospital e documentos disponibilizados

    pela equipe do hospital, fornecidos em meio digital. A observao direta ocorreu

    concomitante as visitas para coleta de dados verbais. O principal objetivo da observao

    direta foi melhor compreender a dinmica dos processos de inovao na organizao, bem

    como perceber a cultura da empresa em relao ao tema estudado. Foram visitados diferentes

    ambientes do hospital e observados processos que potencialmente apresentavam conexo com

    os elementos de gesto da inovao propostos no quadro conceitual. As percepes da

    pesquisadora durante os momentos de observao direta foram anotadas para posterior

    triangulao com as demais fontes de evidncia coletadas.

    Os dados verbais foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas. Flick

    (2004) argumenta que entrevistas semi-estruturadas so amplamente utilizadas em pesquisas

    qualitativas. Segundo este autor, a utilizao deste tipo de entrevista aumenta as chances do

    pesquisador em captar, de forma mais completa, os pontos de vista dos sujeitos da pesquisa,

    frente a outras formas de coleta de dados verbais. Dessa forma, buscaram-se, no discurso dos

    entrevistados, subsdios para compreender como a gesto da inovao se apresenta no hospital

    estudado.

    Sob a tica de Flick (2009), a amostragem para realizao de entrevistas qualitativas

    tem por objetivo acessar as pessoas realmente envolvidas com a questo de estudo, sendo que

    na maioria dos casos definida de forma intencional. Patton (2002) apud Flick (2009)

    defende que uma das formas de se definir a amostra segundo a intensidade que as

    caractersticas de interesse se do (ou se supe existirem) em uma dada populao.

    Dado que o presente estudo est inserido dentro de um projeto de pesquisa em

    andamento no hospital sob estudo, o primeiro contato ocorreu com a pessoa responsvel por

    este projeto na instituio. O contato ocorreu por email, em abril de 2010, quando foi

    concedida autorizao para realizao do trabalho. A partir disto, partiu-se para a pesquisa de

    dados secundrios sobre o hospital. Iniciou-se pelo stio da instituio, o qual contm rico

    material sobre a instituio, desde dados histricos do hospital e sua mantenedora, trajetria

    da organizao, estrutura diretiva com os respectivos currculos dos diretores, entre outras

    informaes. Alm disso, foram acessados stios que contivessem notcias sobre a instituio

    e teses e dissertaes onde a instituio fosse utilizada como caso de estudo, das mais diversas

  • 31

    reas. Esse material foi analisado antes de iniciar as coletas em campo, de modo a garantir

    melhor compreenso do contexto da organizao, o que permitiu melhor direcionamento das

    entrevistas.

    O processo de definio da amostra para a realizao das entrevistas ocorreu de forma

    intencional. O objetivo principal foi acessar as pessoas diretamente envolvidas com casos

    reconhecidos pela instituio como inovaes, para que estas, por meio de narrativas,

    pudessem relatar como cada um desses casos foi desenvolvido. A primeira entrevista ocorreu

    com o Gerente de Gesto de Pessoas, durante a qual foram identificados casos de inovao

    que ocorreram no hospital. A partir disso, buscou-se, com o auxlio deste gestor, acessar as

    pessoas que maior envolvimento tivessem com cada um dos casos identificados. Inicialmente,

    foram identificadas cinco pessoas, as quais foram previamente contatadas pelo Gerente de

    Gesto de Pessoas para verificar se as mesmas aceitariam participar do estudo. Todas

    aceitaram. Ao passo em que as entrevistas foram realizadas, identificaram-se outras pessoas

    que poderiam contribuir com a pesquisa, por meio de relatos de outros casos de inovao que

    emergiram dos relatos. Essas pessoas foram tambm contatadas e aceitaram participar do

    estudo. Dessa forma, a amostra totalizou onze entrevistados, sendo dois de nvel estratgico,

    cinco de nvel ttico e quatro de nvel operacional.

    As entrevistas foram realizadas nas dependncias do hospital, no perodo de dezembro

    de 2010 a janeiro de 2011, durante o horrio de trabalho dos entrevistados e com

    agendamento prvio. A durao mdia das entrevistas foi de 84,5 minutos, tendo a mais longa

    durado 108 minutos e a mais curta 47 minutos. Todos os entrevistados receberam de antemo

    informaes acerca dos objetivos da entrevista, bem como da durao aproximada da mesma.

    Ainda assim, os encontros iniciaram com uma breve apresentao da pesquisadora, da

    pesquisa e dos objetivos do encontro. Em seguida, solicitou-se a permisso dos entrevistados

    para gravao, as quais foram posteriormente transcritas. Alm da gravao, foram feitas

    anotaes sobre os principais pontos do discurso dos entrevistados.

    Em relao conduo de entrevistas, Flick (2004, p. 106) esclarece que o

    pesquisador pode e deve decidir, durante a entrevista, em que sequncia fazer quais

    perguntas. O autor salienta que o entrevistador deve conduzir a entrevista com foco na

    questo de pesquisa do estudo. Godoy (2006) corrobora essa viso, destacando trs aspectos

    essenciais: (i) o entrevistado deve expressar-se de seu modo diante dos estmulos do

    entrevistador; (ii) a fragmentao e ordem das perguntas no devem prejudicar a essa

    expresso livre; e (iii) o entrevistador pode optar por inserir outras perguntas ou participar do

    dilogo, conforme o contexto e as oportunidades, mas sempre tendo em vista o objetivo maior

  • 32

    da entrevista. Nesse sentido, em alguns momentos da entrevista optou-se por explorar em

    maior profundidade algum ponto especfico ou, quando necessrio, auxiliar o entrevistado a

    retornar ao foco, quando ocorreram desvios da temtica investigada.

    Aps a introduo da entrevista e incio da gravao, o entrevistado foi convidado a

    relatar a histria de algum caso ou projeto que o mesmo julgasse associado a uma inovao e

    tivesse ocorrido no hospital, preferencialmente com o qual tivesse tido envolvimento desde o

    incio at a concluso. Dessa forma, a investigao se deu a partir de um relato detalhado do

    entrevistado sobre algum projeto que o mesmo julgasse uma inovao. A pesquisadora evitou

    interromper a narrativa do entrevistado, de modo a facilitar a fluncia do relato.

    Durante a narrativa, a pesquisadora buscou identificar os pontos constantes no roteiro

    de coleta, medida que os temas eram trazidos tona por meio das narrativas. Em alguns

    casos, o entrevistado discorreu espontaneamente sobre os temas de interesse, sem a

    necessidade de questionamentos por parte da pesquisadora. Em outros, foi necessrio realizar

    perguntas para que o aspecto de interesse viesse a ser relatado. A seguir so exemplificadas

    algumas das perguntas que foram utilizadas para dar suporte durante o relato do entrevistado:

    Qual a importncia da inovao para a organizao?

    Como surgiu o projeto?

    Como se deu o desenvolvimento do projeto, desde as idias iniciais at que o

    mesmo fosse considerado pronto?

    Como foi feita a difuso do projeto, dentro e fora da organizao?

    Como o projeto se relaciona com a estratgia da organizao?

    Como foram tratadas as questes relativas aprendizagem ao longo do

    projeto?

    Ressalta-se que nem todas essas questes foram feitas a todos os entrevistados. Nos

    casos em que o entrevistado discorreu espontaneamente sobre algum destes itens, a pergunta

    relativa no foi feita.

    Etapa 5 - anlise dos dados coletados em campo

    A etapa 5 foi destinada anlise dos dados coletados em campo, sendo dividida em

    duas etapas principais: (i) anlise de contedo das entrevistas; (ii) triangulao de dados.

  • 33

    O arquivo de udio das entrevistas foi transcrito e posteriormente analisado com uso

    da tcnica da anlise de contedo, a qual foi baseada na codificao e categorizao de dados

    (BARDIN, 2004; MATTOS, 2006; FLICK, 2009). De acordo com Flick (2009), a codificao

    e categorizao so tcnicas de anlise aplicveis a todos os tipos de dados, sendo

    especialmente indicadas para anlise de dados resultantes de entrevistas. Esta tcnica consiste

    em buscar partes relevantes dos dados e analis-los, conferindo-lhes nomes e classificaes

    para ento compar-los com outros dados. A partir disso, os dados so estruturados e

    possvel uma viso ampla do tema.

    Aps uma leitura criteriosa das transcries das entrevistas, partiu-se para a

    codificao dos dados, onde os trechos das entrevistas receberam cdigos segundo a relao

    destes com o quadro conceitual. Em seguida, os trechos codificados foram agrupados segundo

    categorias, de modo a reduzi-los segundo os tpicos de interesse da pesquisa. O objetivo

    dessa anlise foi identificar, no contedo das entrevistas, as partes correlatas com o marco

    referencial utilizado para construo do roteiro de entrevista, bem como o surgimento de

    possveis pontos no previstos no quadro conceitual. As anlises de contedo foram realizadas

    com o auxilio do software QSR NVivo, verso 9.

    Posteriormente, foram triangulados os dados coletados, buscando a preservao do

    rigor de pesquisa. Por meio do cruzamento das distintas fontes de dados coletados, Buscou-se

    integrar as diferentes perspectivas provenientes das fontes de dados sobre o assunto de

    interesse, de modo a promover maior grau de confiabilidade pesquisa (FLICK, 2009).

    Foram triangulados os seguintes dados: (i) entrevistas; (ii) documentos; e (iii) observao

    direta. O primeiro nvel de triangulao ocorreu entre os diferentes entrevistados, procura de

    semelhanas e diferenas entre as respostas obtidas. Em seguida, os achados das entrevistas

    foram cruzados com os documentos coletados e a observao direta.

    As anlises finais foram ento realizadas tendo por base as triangulaes de dados e o

    marco referencial da pesquisa.

    Etapa 6 Discusso da aplicabilidade do quadro conceitual com base no estudo

    de campo

    Na etapa 6 foi feita a discusso da aplicabilidade do quadro conceitual com base no

    estudo de campo. Para isso, o produto das anlises realizadas sobre os dados coletados foi

    contraposto com o quadro conceitual, verificando-se quais as convergncias e divergncias

    entre o previsto no quadro conceitual e os achados do campo. Como fruto desta discusso,

  • 34

    refinamentos no quadro conceitual proposto foram gerados. A concluso da etapa 6 consolida

    a entrega do segundo objetivo especfico do trabalho.

    Etapa 7 consideraes finais

    A elaborao das consideraes finais ocorreu na stima e ltima etapa do trabalho.

    Tratou-se da consolidao do estudo de campo na forma da redao final desta dissertao,

    comparando-se os resultados provenientes do campo com os preconizados pela teoria

    consultada. Nesta fase, foi avaliado o atendimento dos objetivos deste trabalho, as limitaes

    do mesmo, bem como foram feitas proposies para a continuidade desta pesquisa.

    2.3 SELEO DA UNIDADE DE ESTUDO

    Em estudos qualitativos, conforme enfatizado por Eisenhardt (1989) e corroborado por

    Yin (2001), a escolha da unidade de estudo tem grande importncia. Isto porque a unidade de

    estudo deve contribuir com detalhes sobre os constructos enfocados na pesquisa, permitindo

    estabelecer uma argumentao consistente e suficientemente profunda para atender aos

    objetivos de pesquisa estabelecidos. Como forma de atender ao segundo objetivo especfico

    deste estudo, faz-se necessrio definir previamente uma unidade de estudo. Nesse sentido,

    buscou-se definir alguns critrios norteadores da escolha da unidade de anlise, conforme

    segue:

    a) ser um hospital de mdio ou grande porte, de modo que seja provvel a existncia

    de um maior nmero de dimenses de inovao;

    b) ser reconhecido como um hospital de referncia, pela qualidade e volume dos

    servios prestados;

    c) possuir histrico de interesse no desenvolvimento de estudos sobre inovao, bem

    como no desenvolvimento de pesquisas, de forma independente ou em associao

    com instituies de ensino.

    Conforme elucidado no Captulo 1, por meio de projetos e grupos de pesquisa, a

    pesquisadora j havia participado de estudos em um hospital da Grande Porto Alegre, o

  • 35

    Hospital Me de Deus (HMD). Buscou-se, ento, identificar se esse hospital, por j ter

    mostrado abertura para o desenvolvimento de pesquisas, se adequaria aos critrios

    estabelecidos. Alm disso, a UNISINOS parceira deste hospital para o desenvolvimento de

    ensino e pesquisa. Ainda que a pr-seleo tenha sido realizada intencionalmente, dada a

    convenincia gerada pelas relaes anteriores com a Universidade, todos os critrios de

    seleo foram atendidos pelo HMD, conforme explicitado a seguir:

    ser um hospital de mdio ou grande porte, de modo que seja provvel a existncia

    de um maior nmero de dimenses de inovao: o Hospital Me de Deus um

    hospital de grande porte, com mais de 370 leitos, mais de 4 mil mdicos

    credenciados e 51 mil m de rea construda. Conta com mais de 45 especialidades

    mdicas, mais de 30 servios de sade, alm de estrutura de convenincia a

    disposio dos clientes hospital-lder do um Sistema de Sade Me de Deus

    (SSMD), composto por uma rede de oito hospitais, um centro de oncologia

    radioterpica, um centro clnico, alm de servios em sade mental e ateno

    bsica sade;

    ser reconhecido como um hospital de referncia, pela excelncia e volume dos

    servios prestados: o Hospital Me de Deus referncia nacional em servios de

    sade, fato evidenciados pela obteno do Certificado Acreditao em Excelncia

    - Nvel III, conferido pela ONA (Organizao Nacional da Acreditao) e

    Ministrio da Sade, premiaes do Programa Gacho de Qualidade e

    Produtividade (PGQP), entre outras premiaes que atestam seu reconhecimento

    pela populao e instituies privadas e governamentais. O HMD possui

    atendimento em 46 especialidades mdicas, alm de 9 Institutos Mdicos. No ano

    de 2009, realizou cerca de 243 mil atendimentos;

    possuir histrico de interesse no desenvolvimento de estudos sobre inovao, bem

    como no desenvolvimento de pesquisas, de forma independente ou em associao

    com instituies de ensino: o Hospital Me de Deus, enquanto lder do Sistema de

    Sade Me de Deus, responsvel pela transferncia de tecnologia aos demais

    hospitais do sistema, bem como responsvel pelo aporte de conhecimento tecno-

    cientfico para regies carentes destes recursos. Esse fato impulsiona o Hospital

    Me de Deus na busca por inovaes, fato este evidenciado pela Misso da

    organizao, onde a busca pelo desenvolvimento cientfico e tecnolgico

    pontuada. Alm disso, dentre os princpios e valores do HMD a inovao figura

  • 36

    com destaque em relao gesto e s atividades de ensino e pesquisa.

    Dessa forma, o Hospital Me de Deus foi selecionado como caso de estudo que

    forneceu subsdios para a anlise da gesto da inovao em ambientes hospitalares, por meio

    da coleta e posterior anlise de dados com uso do quadro conceitual e roteiro de coleta

    propostos nesta pesquisa.

    Apresentados os objetivos, o mtodo de pesquisa e de trabalho e o ambiente

    selecionado para o estudo de campo, no captulo seguinte sero apresentados os conceitos que

    fundamentaram a elaborao desta pesquisa.

  • 37

    3 REFERENCIAL TERICO

    Este captulo apresentar o marco conceitual que norteou a realizao desta pesquisa.

    Inicia-se pela seo 3.1, com a apresentao dos conceitos relativos inovao e gesto da

    inovao. Em seguida, na seo 3.2, apresenta-se um referencial sobre inovao em servios,

    apresentando as principais correntes tericas sobre esse tema. Posteriormente, na seo 3.3,

    colocam-se os principais conceitos relativos discusso sobre inovao em ambientes

    hospitalares, enfocando os trabalhos que discutem a inovao de forma ampla nestes

    ambientes, relativamente ao desenvolvimento de uma gesto para inovao no sentido maior,

    sem que sejam restringidas as inovaes de cunho tcnico, ou inovaes mdicas. Por fim, a

    seo 3.4 traz as consideraes sobre o referencial pesquisado.

    3.1 INOVAO E GESTO DA INOVAO

    3.1.1 Conceitos gerais

    A discusso sobre a temtica da inovao no recente. Como aponta Freeman

    (1995), em meados do sculo IX, Friedrich List j discutia a relao entre desenvolvimento

    econmico e a necessidade de articulao entre indstria, cincia e ensino (implicitamente,

    tratando da importncia de um Sistema Nacional de Inovao). Posteriormente, no sculo XX,

    surgem os trabalhos de Schumpeter, o qual concentrou grande parte de sua carreira de

    economista escrevendo sobre este tema.

    Conforme preconizado por Schumpeter (1984), os empresrios utilizam a inovao

    tecnolgica para obter vantagem estratgica. Enquanto a inovao for nica, o empresrio

    obter altos lucros, o que o autor chama de lucros de monoplio. medida que a inovao for

    sendo imitada pelos concorrentes; os ganhos diminuem, at que o mercado entre novamente

    em equilbrio; que permanece at que surja uma outra inovao, que desencadear novamente

    este ciclo. A esse processo Schumpeter (1984) intitula destruio criadora, onde novas

    formas de negcio surgem e destroem antigos paradigmas, sempre impulsionados pela

  • 38

    busca de novas fontes de lucro.

    Sob a tica de Schumpeter (1982), a inovao origina-se nos produtores, embora o

    autor reconhea a importncia dos consumidores para o processo de adoo e difuso de

    inovaes. Segundo Schumpeter (1982), a atividade de pesquisa e desenvolvimento papel

    dos produtores, portanto, so eles os responsveis pelas novas combinaes. Nesse sentido o

    autor destaca que as inovaes no surgem por presses dos consumidores em relao a novas

    necessidades percebidas por esses. Pelo contrrio, muitas vezes os consumidores so

    educados por ele [produtor], se necessrio; so, por assim dizer, ensinados a querer coisas

    novas, ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hbito de usar

    (SCHUMPETER, 1982, p. 48).

    Dosi (1982) considera que as mudanas tecnolgicas podem ocorrer: puxadas pelas

    necessidades do mercado/consumidor; ou empurradas pela firma, com base, principalmente

    nas atividades de pesquisa e desenvolvimento. Christensen (2001) corrobora essa viso,

    acrescentando que as inovaes disruptivas no se beneficiam da proximidade com os

    clientes, posto que so direcionadas para necessidades futuras destes nos termos de

    Schumpeter (1982) ignoradas pelos clientes no momento atual. Conforme Christensen

    (2001), as demandas dos clientes colaboram para o surgimento de inovaes incrementais,

    dentro dos padres tecnolgicos existentes.

    Na viso de Schumpeter (1982) as inovaes surgem atravs de novas formas de

    combinar os fatores de produo, ou seja, modos totalmente novos de dispor materiais e

    foras. A estes novos arranjos Schumpeter (1982, p. 48-49) chamou de inovao ou novas

    combinaes, referindo-se :

    introduo de um novo bem, ou seja, um bem com que os consumidores ainda no

    estejam familiarizados ou de uma nova qualidade de um bem;

    introduo de um novo mtodo de produo, ou seja, um mtodo que ainda no

    tenha sido testado pela experincia no ramo prprio da indstria de transformao,

    que, de modo algum, precisa ser baseado numa descoberta cientificamente nova, e

    pode consistir tambm em nova maneira de manejar comercialmente uma

    mercadoria;

    abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado em que o ramo particular

    da indstria de transformao do pas em questo no tenha ainda entrado, quer

    esse mercado tenha existido antes ou no;

  • 39

    conquista de uma nova fonte de matrias-primas ou de bens semimanufaturados,

    mais uma vez independentemente do fato de que essa fonte j existia ou teve que

    ser criada;

    estabelecimento de uma nova organizao de qualquer indstria, como a criao

    de uma posio de monoplio (por exemplo, pela trustificao) ou a fragmentao

    de uma posio de monoplio.

    Freeman e Perez (1988) diferenciam os tipos de inovao quanto intensidade da

    mudana provocada. A inovao radical refere-se a uma quebra de paradigma, a introduo de

    algo totalmente novo que rompe com os padres conhecidos. J a inovao incremental

    relativa ao processo de aprimoramento contnuo e gradual, no qual pequenas modificaes so

    realizadas ao longo do tempo.

    De acordo com o Manual de Oslo (OECD, 2004), inovao uma mudana

    significativa, feita de forma planejada, que se traduz em melhoria no desempenho da

    organizao. A inovao deve ser uma novidade para a empresa, podendo ter sido

    desenvolvida por esta ou fruto da adoo de inovaes provenientes de fontes externas. No

    obstante, necessria a efetiva implementao desta novidade, seja pela introduo desta no

    mercado ou pela efetiva utilizao da mesma pela empresa.

    Sob a tica de Tidd, Bessant e Pavitt (2008), inovao basicamente uma mudana.

    Estes autores destacam as tipologias de inovao propostas por Francis e Bessant (2005, p.

    172), as quais so chamadas de os 4 Ps da inovao:

    P1 - inovao para introduo ou melhoria de Produtos: uma mudana nos

    produtos/servios oferecidos por uma organizao;

    P2 - inovao para introduo ou melhoria de Processos: uma mudana na forma

    como os produtos/servios so criados e entregues;

    P3 - inovao para definio ou redefinio do Posicionamento da firma ou dos

    produtos: uma mudana no contexto em que produtos/servios so introduzidos; e

    P4 - inovao para definio ou redefinio do Paradigma dominante da firma:

    uma mudana nos modelos mentais subjacentes que orientam o que a empresa faz.

    Conforme destaque de Francis e Bessant (2005, p. 172), essas quatro categorias no

    apresentam barreiras estanques entre si, pelo contrrio, so permeveis. Tambm no so

  • categorias excludentes, possvel atuar em mais de uma delas simultaneamente. Alm disso,

    possvel estabelecer relaes entre estas categorias. Segundo defesa dos autores, os 4 Ps

    proporcionam uma abordagem estruturada para avaliar o espao de oportunidades de inovao

    das organizaes (Figura 2

    uma dimenso relativa ao grau de novidade envolvido na mudana

    de modo semelhante classificao previamente delineada por Freeman e Perez (19

    Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008), a maioria das inovaes do tipo incremental, sendo

    as inovaes radicais somente

    Gibson e Skarzynski (2008) defendem que se deve ampliar a definio de inovao, de

    modo a abarcar um nmero maior de oportunidades. Os autores elencam nove possveis

    formas de inovao: (i) inovaes tecnolgicas; (ii) inovaes em produtos; (iii)

    servios; (iv) inovaes operacionais; (v) inovaes de custo; (vi) inovaes de experincia;

    (vii) inovaes gerenciais; (viii) inovaes no modelo empresarial; e (ix) inovaes no setor

    de insero da organizao. A idia central atentar p

    evitando o que os autores chamam de miopia quanto inovao (

    SKARZYNSKI, 2008, p. 94).

    categorias excludentes, possvel atuar em mais de uma delas simultaneamente. Alm disso,

    relaes entre estas categorias. Segundo defesa dos autores, os 4 Ps

    proporcionam uma abordagem estruturada para avaliar o espao de oportunidades de inovao

    2). Tidd, Bessant e Pavitt (2008) ainda adicionam a essa definio

    uma dimenso relativa ao grau de novidade envolvido na mudana radical ou incremental

    de modo semelhante classificao previamente delineada por Freeman e Perez (19

    Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008), a maioria das inovaes do tipo incremental, sendo

    as inovaes radicais somente uma pequena parcela das demais.

    Figura 2 - O espao da inovao Fonte: Tidd, Bessant e Pavitt (2008).

    Gibson e Skarzynski (2008) defendem que se deve ampliar a definio de inovao, de

    modo a abarcar um nmero maior de oportunidades. Os autores elencam nove possveis

    formas de inovao: (i) inovaes tecnolgicas; (ii) inovaes em produtos; (iii)

    servios; (iv) inovaes operacionais; (v) inovaes de custo; (vi) inovaes de experincia;

    (vii) inovaes gerenciais; (viii) inovaes no modelo empresarial; e (ix) inovaes no setor

    de insero da organizao. A idia central atentar para toda forma possvel de inovao,

    evitando o que os autores chamam de miopia quanto inovao (

    p. 94).

    40

    categorias excludentes, possvel atuar em mais de uma delas simultaneamente. Alm disso,

    relaes entre estas categorias. Segundo defesa dos autores, os 4 Ps

    proporcionam uma abordagem estruturada para avaliar o espao de oportunidades de inovao

    . Tidd, Bessant e Pavitt (2008) ainda adicionam a essa definio

    radical ou incremental

    de modo semelhante classificao previamente delineada por Freeman e Perez (1988).

    Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008), a maioria das inovaes do tipo incremental, sendo

    Gibson e Skarzynski (20