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Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras e Ciências Socais Departamento de Ciência Política e Administração Pública Contribuição do Fundo de Desenvolvimento Distrital no Âmbito Do Distrito Pólo de Desenvolvimento: Caso do Distrito de Marracuene, 2007-2010 Licenciando: Fernando Domingos Machava Supervisor: Dr. Alex Nhambir Maputo, 2011

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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciências Socais

Departamento de Ciência Política e Administração Pública

Contribuição do Fundo de Desenvolvimento Distrital no Âmbito

Do Distrito Pólo de Desenvolvimento: Caso do Distrito de

Marracuene, 2007-2010

Licenciando: Fernando Domingos Machava

Supervisor: Dr. Alex Nhambir

Maputo, 2011

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Fernando Domingos Machava

Contribuição do Fundo de Desenvolvimento Distrital no Âmbito

Do Distrito Pólo de Desenvolvimento: Caso do Distrito de

Marracuene, 2007-2010

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para a obtenção do

grau de Licenciatura em Administração Pública, pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais

da Universidade Eduardo Mondlane.

Supervisor: Dr. Alex Nhambir

Maputo, 2011

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Contribuição do Fundo de Desenvolvimento Distrital no Âmbito

Do Distrito Pólo de Desenvolvimento: Caso do Distrito de

Marracuene, 2007-2010

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para a obtenção do

grau de Licenciatura em Administração Pública, pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais

da Universidade Eduardo Mondlane.

Presidente

__________________________________________________

Supervisor

_________________________________________________

Oponente

________________________________________________

Maputo, 2011

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DECLARAÇÃO DE HONRA

Declaro que este trabalho nunca foi apresentado na essência para obtenção de qualquer grau

académico, é resultado de uma investigação individual, sendo apresentadas as referências

bibliográficas e as respectivas fontes.

O Licenciando

_________________________________________________

(Fernando Domingos Machava)

Maputo, 2011

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DEDICATÓRIA

À memória dos meus pais

Domingos Machava e Paulina Sitoe

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AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Alex Nhambir, por me ter orientado na efectivação dos objectivos almejados ao longo

da pesquisa; pela paciência e atenção que predispôs ao meu favor.

Ao Governo distrital de Marracuene pelas informações prestativas e fundamentais para a

efectivação do trabalho e cumprimento dos objectivos desejados.

Ao Sr. Francisco Mauelele, funcionário da Secretaria Distrital de Marracuene e membro da

ETD, pela ajuda na recolha de dados e paciência em esclarecer-me alguns pontos

indispensáveis à realização da pesquisa.

Aos meus pais que conduziram-se aos primeiros caminhos concernente à vida académica,

pelos esforços que empreenderam e por terem reconhecido o potencial académico que

albergava.

À Actionaid de Marracuene, e todos os participantes do seminário realizado desde 27 de

Junho a 01 de Julho de 2011, denominada troca de experiencia entre os membros dos CCL e

de ETD dos distritos de Marracuene, Manhiça, Eráti, Maganja da Costa, Namarrói e Pebane.

Aos meus tesouros (Luzidia e Sheyza), que me acompanharam incondicionalmente.

Aos meus irmãos, principalmente a Alcida Machava que foi sempre uma mãe para mim.

À todos os meus amigos e colegas que me apoiaram em todos os momentos na vida social e

académica, principalmente ao António Tabuela pelo incentivo e apoio oferecido, força e

coragem ao longo do curso.

Por tudo e a todos, OBRIGADO.

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SIGLAS E ABREVIATURAS

Sigla e Abreviaturas Designação

AMODE Associação Moçambicana de Desenvolvimento

CCD Conselho Consultivo do Distrito

CCL Conselhos Consultivos Locais

CIP Centro de Integridade Pública

DNEAP Direcção Nacional de Estudos e Análises Políticas

DNP Direcção Nacional de Planificação

FACIM Feira Internacional de Maputo

FDD Fundo de Desenvolvimento Distrital

FIIL Fundo de Investimento de Iniciativa Local

GMD Grupo Moçambicano Dívida

IPCCs Instituições de Participação e Consulta Comunitária

IPEX Instituto de Promoção de Exportação em Moçambique

LDH Liga dos Direitos Humanos

LOLE Lei dos Órgãos Locais do Estado

MAE Ministério da Administração Estatal

MF Ministério das Finanças

OIIL Orçamento de Investimento de Iniciativa Local

MPD Ministério de Planificação e Desenvolvimento

PARPA Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta

PES Plano Económico e Social

PESOD Plano Económico e Social e Orçamento Distrital

PPFD Programa de Planificação e Finanças Descentralizadas

SD Secretaria Distrital

SDAE Serviço Distrital de Actividades Económicas

SDEJT Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia

SDPI Serviço Distrital de Planeamento e Infra-Estrutura

SDSMAS Serviço Distrital de Saúde, Mulher e Acção Social

SISTAFE Sistema de Administração Financeira do Estado

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9

1. 1 Contextualização ...................................................................................................... 101. 2 Delimitação do tema................................................................................................. 121. 3 Justificação............................................................................................................... 121. 4 Problema .................................................................................................................. 131. 5 Objectivos ................................................................................................................ 15

2. METODOLOGIA ........................................................................................................... 16

3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL..................................................... 18

Neste capítulo, apresentam-se a literatura que aborda o tema em análise, assim como quadro teórico e conceptual que orientam o estudo. ......................................................... 183. 1 Revisão de Literatura................................................................................................ 183. 2 Quadro Teórico ........................................................................................................ 243. 3 Conceptualização...................................................................................................... 26

4. BREVE DISCRIÇÃO DO DISTRITO DE MARRACUENE .......................................... 27

4. 1 Localização, superfície e população.......................................................................... 274. 2 Divisão Administrativa............................................................................................. 284. 3 Actividades económicas ........................................................................................... 284. 4 Infra-estruturas ......................................................................................................... 29

5. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ............................. 30

5. 1 Critérios e os mecanismos de atribuição do FDD aos beneficiários em Marracuene .. 305. 2 Papel dos CCL no processo de aprovação, implementação e monitoria do FDD em Marracuene ..................................................................................................................... 325. 3 Papel da Equipa Técnica Distrital de Marracuene na gestão do FDD ........................ 345. 4 O impacto do FDD no âmbito de desenvolvimento do Distrito de Marracuene.......... 365. 5 Discussão em volta do distrito como pólo de desenvolvimento ................................. 41

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES........................................................................ 43

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 45

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RESUMO

Em Moçambique no discurso actual o Distrito é visto como o “pólo de desenvolvimento”e

para responder este propósito é definido como unidade orçamentária com desígnio de ajudar

o Governo central a alcançar o objectivo de combate a pobreza. Neste âmbito, o objectivo do

estudo consiste em analisar a gestão e contribuição do Fundo de Desenvolvimento Distrital

para o desenvolvimento do distrito de Marracuene, no período de 2007-2010. Desta forma,

apresentamos os critérios de acesso ao fundo neste distrito; o papel dos Conselhos

Consultivos Locais e da Equipa Técnica Distrital para o desenvolvimento local; avaliamos os

mecanismos de desembolso e o grau de reembolso e por fim, o impacto do FDD para o

desenvolvimento local. Como metodologia optamos pelo método de abordagem indutiva; de

procedimento monográfico e estatístico, as entrevistas semi-estruturadas e abertas

constituíram técnicas de recolha de dados, acompanhadas de uma observação simples e

participante em alguns seminários. Em termos de teoria, fizemos combinação da teoria do

desenvolvimento endógeno, com a perspectiva sistémica que nos ajudou a compreender o

processo de interacção entre vários actores engajados no processo governativo local e

recorremos também a teoria do Francis Perroux sobre os pólos de crescimento para analisar a

definição do distrito como pólo de desenvolvimento adoptado em Moçambique. Quanto ao

FDD verificamos que há problemas na sua gestão em Marracuene, assim como nos vários

planos de desenvolvimento distrital, decorrentes da fraca capacidade institucional e técnica da

máquina administrativa local, incluindo o CCD e a ETD. Em relação a contribuição do FDD,

compreendemos que melhora as condições dos beneficiários, mas é insuficiente para o

desenvolvimento do distrito; compreendemos também que o distrito não pode ser pólo de

desenvolvimento, visto que na teoria de Perroux, um pólo corresponde uma indústria motriz

com propulsores e uma aglomeração de indústrias dependentes dela que consumem e

produzem insumos; a análise de pólo de desenvolvimento deve ser feita num contexto

regional não distrital. Recomendamos uma maior intervenção da máquina administrativa

local com intuito de garantir uma participação activa e empoderamento das comunidades no

processo de governação local, de modo a cumprir com os objectivos de governo no combate a

pobreza.

Conceitos-chave: Descentralização, Desenvolvimento Local e Descentralização Financeira e

Pólo de desenvolvimento.

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1. INTRODUÇÃO

O estudo insere-se na análise da gestão e contribuição do Fundo de Desenvolvimento

Distrital (FDD), para o desenvolvimento local no contexto do “distrito como pólo de

desenvolvimento”. O mesmo enquadra-se no distrito de Marracuene, no período de 2007-

2010.

O Fundo Distrital de Desenvolvimento é resultado do processo de descentralização de

instrumentos de planificação e orçamentação com vista ao empoderamento das populações ao

nível local e tem a cobertura da Lei 08/2003 e do Decreto 11/2005. Neste âmbito, o

desenvolvimento local é um assunto dominante nos programas e objectivos definidos pelo

governo, nos debates académicos em Moçambique, assim como, nos interesses dos parceiros

internacionais.

O Distrito na prossecução dos objectivos do Plano Quinquenal do Governo é definido como a

base do desenvolvimento e prevê-se que o mesmo sirva para a transformação da economia

moçambicana. É neste âmbito que define-se o mesmo como unidade orçamentária que ajuda

o Governo no combate a pobreza. Logo, entende-se que o FDD reforça o princípio do Distrito

como base de desenvolvimento, na medida em que, pretende afectar os recursos para a

produção de comida, criação de emprego e geração de renda e desta forma contribuir para o

combate a pobreza em Moçambique.

O estudo apresenta-se estruturado da seguinte maneira: Aspectos introdutórios que

compreendem a introdução, a contextualização, a delimitação do tema, a justificação, o

problema, as hipóteses e por fim os objectivos; o capítulo da metodologia apresenta os

métodos e as técnicas de recolha de dados; no enquadramento teórico e conceptual

apresentam-se a revisão de literatura, as teorias que orientam a análise do tema, os conceitos

operacionais que ajudam na compreensão do estudo; uma breve descrição do distrito de

Marracuene que é o nosso campo de análise; apresentamos em seguida o capítulo de análise e

interpretação dos resultados; as conclusões e recomendações e por fim, as referências

bibliográficas usadas para a efectivação do estudo.

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1. 1 Contextualização

Em Moçambique o quadro da reestruturação administrativa começou na última década de 90.

Neste contexto, os termos de funcionamento do poder local são estabelecidos pela Revisão

Constitucional de 1996 através da Lei nº 9/961, onde com este dispositivo inicia-se a

elaboração de instrumentos legais que visam fortalecer as acções do processo de

descentralização e desconcentração em Moçambique no sentido de tornar o distrito como

unidade territorial de desenvolvimento.

Já na primeira década do novo milénio em Moçambique foram criados dispositivos legais que

regulamentam as atribuições das autoridades comunitárias, as formas e áreas de articulação

entre estas e os órgãos locais do Estado. Dentre eles, destacando-se o decreto 15/20002, que

define um pensamento descentralizado assente na combinação das formas de organização e

gestão tradicional dominante nas zonas rurais com a instituição dos Conselhos Locais como

órgãos de consulta das administrações locais.

Por sua vez, a Lei nº 8/2003 - Lei dos Órgãos Locais do Estado (LOLE), estabelece

princípios e normas de organização, competências e funcionamento dos órgãos locais do

estado nos escalões de província, distrito, posto administrativo e localidade. Neste âmbito, o

nº 1 do Artigo 12 determina que “o distrito é a unidade territorial principal da organização e

funcionamento da administração local do Estado e a base da planificação do

desenvolvimento económico, social e cultural da República de Moçambique”, Por sua vez, o

decreto 11/2005 aprova o regulamento dos órgãos locais do Estado e o nº 1 do artigo 3 define

que “os órgãos locais do estado têm como função a representação do estado ao nível local

para a administração e o desenvolvimento do respectivo território e contribuem para a

integração e unidade nacionais”3.

Através da Lei 12/20054 de 23 de Dezembro, estabelece-se a alocação do fundo de

Investimento em Iniciativa local. Assim, a partir de 2006, todos os Governos distritais

1 Vide, Lei 9/96, Boletim da República, I Série, nº 47, I Suplemento, 22 de Novembro de 1996.2 Vide, Decreto 15/2000, Boletim da República, I Série nº 24, de 20 de Junho de 2000 e o Diploma Ministerial nº 107-A/2000, Boletim da República I Série nº 34, de 20 de Agosto de 2000.3 Vide a Legislação sobre os Órgãos Locais de Estado (lei nº 8/2003 e o decreto nº 11/2005). Imprensa Nacional de Moçambique, Maputo. 2005. 4 Que aprova o Orçamento do Estado para 2006 em Moçambique.

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passaram a receber dotações orçamentais como unidade orçamental, só que na prática o fundo

não foi aplicado para projectos desenvolvimento local, mas sim na reabilitação de infra-

estruturas locais, como consequência de falta de esclarecimento dos propósitos do mesmo.

Enquanto pelo decreto nº 6/2006 cria-se a estrutura tipo e estatuto orgânicos dos governos

distritais. O estatuto orgânico no artigo 1 sustenta que “o governo distrital tem a seguinte

estrutura tipo: secretaria distrital, serviço distrital de planeamento e infra-estruturas;

serviço distrital de educação, juventude e tecnologia; serviço distrital de saúde, mulher e

acção social; serviço distrital de actividades económicas e gabinete do administrador”.

O MPD e MF, produziram em conjunto orientações metodológicas de execução do OIIL que

ajudaram os distritos a compreenderem os reais objectivos do fundo. Estas, sustentam que o

mesmo deve ser aplicado em infra-estruturas sócio-económicas de interesse público e em

actividades que promovam o desenvolvimento económico local. Por esta razão, em 2007

foram apresentados quatro critérios de dotação de fundos aos distritos a saber: população

35%, território 20%, índice de pobreza 30% e desempenho fiscal 15% (MPD et al. (2009).

O Diploma Ministerial nº 67/2009 de 17 de Abril, aprova o Guião sobre a Organização e

Funcionamento dos Conselhos Locais e estabelece no artigo 6 que “Os órgãos locais do

estado no desempenho das suas funções visando o desenvolvimento económico sustentável,

articulam com as comunidades locais, observando estritamente a constituição, as leis e os

regulamentos sobre a matéria”. E estabelece no nº 1 do artigo 7 que “a participação

comunitária é feita através dos Conselhos Locais aos níveis de: Distrito; Posto

Administrativo; Localidade e; Povoação”.

Com o decreto 90/2009 de 15 de Dezembro “é criado, em cada distrito o Fundo Distrital de

Desenvolvimento, instituição pública dotada de personalidade jurídica, autonomia

administrativa e financeira, abreviadamente designada por FDD5”. O artigo 2 do mesmo

sustenta que, “destina-se à captação e gestão de recursos financeiros visando impulsionar o

desenvolvimento e o empreendedorismo na satisfação das necessidades básicas das

comunidades locais, mediante a concessão de empréstimos reembolsáveis”. Ainda neste

contexto, passamos a citar o artigo 4 deste decreto: “são transferidos para o Fundo Distrital

5 Vide artigo 1 do presente decreto.

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de Desenvolvimento todos os valores reembolsados e por reembolsar pelos beneficiários dos

projectos financiados no âmbito do Orçamento de Investimento em Iniciativa Local”.

1. 2 Delimitação do tema

O estudo pretende analisar a contribuição do Fundo Distrital de Desenvolvimento para o

desenvolvimento do Distrito de Marracuene, nos limites temporais de 2007-2010, pois foi

neste período que se aprovaram projectos virados para os objectivos traçados pelo governo

relativos aos “sete milhões”, isto é, produção de alimentos, geração de renda e de emprego.

Nesta perspectiva, entende-se que seja útil fazer uma análise do tema desde o período em que

o fundo começou a ser destinado aos projectos que tivessem impacto no desenvolvimento da

comunidade.

1. 3 Justificação

Considera-se o estudo essencial, na medida em que ajuda a fazer uma avaliação do contributo

e impacto do Fundo do Desenvolvimento Distrital para o desenvolvimento local, no âmbito

de distrito como base de desenvolvimento e de combate à pobreza no país. É conjuntamente

pertinente porque, enquadra-se dentro das abordagens que dominam a actualidade sobre

desenvolvimento e governação local e por via disto, pretende contribuir com reflexões

críticas sobre os debates em torno do processo do desenvolvimento local.

Tomando em consideração que o distrito é definido como “pólo de desenvolvimento” no

contexto do da definição dos objectivos do governo em Moçambique, por via deste estudo

esperamos contribuir na compreensão e discussão da definição do distrito como pólo de

desenvolvimento à luz da teoria dos pólos de crescimento. Realçar igualmente a relevância do

estudo na reflexão sobre o papel Conselhos Consultivos Locais no processo de governação

local. Deste modo, consideramos o tema pertinente, na medida em que vai contribuir para

uma reflexão sobre o discurso e as práticas governativas.

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1. 4 Problema

No âmbito do OIIL, são aprovados projectos comunitários propostos por associações, grupos

sociais e outras bases comunitárias que são reconhecidas pelo governo do distrito; não aplica-

se a pagamento de salários e outras despesas correntes; os fundos são aplicáveis para

aquisição de bens de capital a serem usados como meios de promoção de actividades

económicas das comunidades e; é da responsabilidade do governo distrital, com aprovação

dos CCL seleccionar os projectos com viabilidade de forma a serem implementados (MPD et

al. 2009).

Em Marracuene, uns dos problemas verificados na gestão do FDD, está ligado aos critérios e

mecanismos de acesso, uma vez que de 2007-2009 não esteve claro quem devia-se beneficiar

do mesmo; quanto aos mecanismos de acesso também não foram claros nem adequados aos

objectivos dos mutuários, uma vez que tendo o distrito adoptado o financiamento por espécie,

ao invés de dinheiro como esperavam, recebiam produtos e materiais para implementarem os

projectos, situação que criou descontentamento aos proponentes.

Dentre várias tarefas designadas aos CCL, o Diploma Ministerial nº 67/2009 de 17 de Abril

estabelece que os mesmos têm o papel de: promover a mobilização e organização da

participação da população na implementação das iniciativas do desenvolvimento local e

apresentar respostas aos problemas colocados pela comunidade local; recolher e transmitir às

autoridades competentes as opiniões e preocupação das comunidades locais em relação ao

desenvolvimento; colaborar com as autoridades locais na divulgação da informação relevante

ao desenvolvimento local e assegurar a sua transmissão às comunidades e; participar no

processo de preparação, implementação e controlo dos planos distritais de desenvolvimento,

e apreciar relatórios sobre a planificação, destacando a qualidade de participação de

comunidades locais e dos grupos de interesse do distrito.

No entanto, no distrito de Marracuene, maior parte dos membros dos CCL apresenta défices

de capacidades institucionais, uma vez que grande percentagem desconhece os instrumentos

normativos que envolvem o seu funcionamento; há um fraco envolvimento na monitoria e

controlo da implantação do FDD. Situação agudizada pelo facto de os membros do CCL

serem indicados com base na confiança individual e política, contrariando as orientações

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metodológicas sobre a execução FDD, na medida em que os membros devem ser escolhidos

numa assembleia popular pelas comunidades. Outro aspecto, relacionado a este é a falta de

capacitação dos mesmos em matérias de gestão de programas e planos de desenvolvimento

local. Levanta-se ainda, um conflito de interesse na gestão e acesso ao fundo entre os

beneficiários e os membros dos CCL, na medida em que estes últimos também são

beneficiários do fundo.

Referente a ETD, o nº 3 do artigo 11 do decreto 90/2009 estabelece que esta tem a função de

assegurar o funcionamento normal das actividades do FDD. Neste quadro, o distrito apresenta

dificuldades no funcionamento da ETD por falta de capital humano capaz gerir eficazmente o

FDD e outros programas de desenvolvimento e falta de recursos para fazer a monitoria, na

medida em que o distrito não oferece condições de logística, nem transporte para se realizar o

trabalho, situação que coloca em risco o nível de reembolso. Decorrente disto, o nível de

reembolso é muito baixo, não atingindo 10% dos globais planificados.

A definição do distrito como “pólo de desenvolvimento” em Moçambique é ambígua, visto

que não se percebe se é definida com base nas teorias de desenvolvimento regional ou

simplesmente é resultado de uma definição do contexto político ligada aos objectivos de um

determinado grupo político, sem se olhar para o contexto dos distritos moçambicanos

relativamente a sua definição como pólos de desenvolvimento.

Desta forma torna-se pertinente analisar como é feita a gestão do FDD e compreender o nível

de contribuição para o desenvolvimento do distrito de Marracuene e ainda compreender se o

mesmo pode ser definido como pólo de desenvolvimento.

Neste âmbito, torna-se relevante questionar, como o FDD contribui para o desenvolvimento

de Marracuene e até que ponto serve para defini-lo como pólo de desenvolvimento?

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Na tentativa de dar resposta à pergunta, avança-se hipoteticamente com as suposições de que:

H1. O FDD contribui para melhorar as condições de vida dos beneficiários, mas carece de

uma melhor gestão para desenvolver activamente o distrito de Marracuene.

H2. O FDD contribui para definir o distrito de Marracuene como pólo de desenvolvimento

âmbito da teoria de pólos de crescimento.

1. 5 Objectivos

Para materialização da presente pesquisa, torna-se necessário definir os objectivos que

orientarão a mesma. Deste modo, define-se o seguinte objectivo geral:

Analisar a gestão e contribuição do Fundo Distrital de Desenvolvimento para o

desenvolvimento local

Ainda para uma compreensão mais detalhada definimos os seguintes objectivos específicos:

i. Discutir os critérios e os mecanismos de atribuição do FDD aos beneficiários em

Marracuene;

ii. Compreender a papel dos CCL e ETD na aprovação, implementação e monitoria do

FDD em Marracuene;

iii. Avaliar o impacto da implementação do FDD para o desenvolvimento do Distrito de

Marracuene no período em análise.

iv. Compreender a definição do distrito como pólo de desenvolvimento no contexto da

teoria dos pólos de crescimento.

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2. METODOLOGIA

Neste capítulo, apresenta-se a metodologia usada ao longo da pesquisa, incluindo os

instrumentos de recolha e colecta de dados contribuíram para a efectivação da mesma.

O método de abordagem constitui uma visão mais ampla, com nível de abstracção mais

elevado dos fenómenos da sociedade. No contexto da presente pesquisa tornou-se relevante

usar o método indutivo6, pois permitiu-nos fazer uma aproximação dos fenómenos

relacionados com a gestão do FDD no distrito de Marracuene. Com este método, procuramos

analisar e compreender como é feita a gestão do FDD em Marracuene, principalmente no

concernente à contribuição do mesmo para o desenvolvimento local. Através do método

indutivo aproximam-se os resultados do estudo para os outros distritos.

Recorreu-se ao método de procedimento monográfico que segundo Gil (1999), permite maior

interpretação do problema e parte de principio de que o estudo de caso pode ser considerado

representativo de muitos outros casos semelhantes. Este método ajudou a analisar a

capacidade do governo do distrito de Marracuene na gestão do FDD, concretamente dos CCL

e ETD no processo de selecção e avaliação dos projectos apresentados pelos proponentes.

Ainda neste âmbito recorreu-se ao método estatístico apresentado pelo mesmo autor como

um meio considerável de fornecer conclusões mais reforçadas aos resultados obtidos ao longo

da pesquisa mediante observação e experimentação e através do mesmo procurou-se analisar

vários dados que recolhidos no distrito e submete-los as análises estatísticas que ajudaram na

validação de hipóteses.

Por sua vez, as entrevistas semi-estruturadas, direccionadas essencialmente aos membros da

Administração Local, do CCD, ETD e aos beneficiários do FDD ajudaram ao longo da

pesquisa. Salientar que a razão da opção por entrevistas semi-estruturadas, como técnica para

a obtenção de dados, deve-se ao facto de ser um meio que possibilita captar as

representações, o conhecimento e as ideias ligados aos actores locais, assim como sustenta

6 O método indutivo, torna a análise eficaz como referem Lakatos & Marconi (1991/1995), na medida em que partindo de uma indução incompleta, de alguns casos ou de apenas um caso, poderá torna-se possível concluir que há uma semelhança com os outros casos não estudados e desta forma generalizar a partir de um caso particular.

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Olivier de Sardan (1995), “a percepção dos actores locais é um elemento indispensável para a

compreensão da sociedade”.

A observação simples possibilitou observar vários aspectos ligados a gestão e permitiu visitar

alguns beneficiários para ter-se uma visão mais real da implementação dos projectos, assistiu-

se também uma reunião extraordinária do CCD. Por sua vez, a observação participante

consistiu na participação em seminários com vários actores envolvidos na gestão do FDD,

inclusive membros dos CCL e ETD das províncias de Nampula, Zambézia e distrito de

Manhiça.

No âmbito da realização da presente pesquisa observamos três fases: A primeira corresponde

o levantamento de todos os documentos necessários à realização da pesquisa como consultas

bibliográficas em vaias bibliotecas, sites científicos na Internet e consulta de dispositivos

legais vigentes em Moçambique em volta do tema em estudo; a segunda, compreende a

efectivação de entrevistas exploratórias, que ajudaram para compreender com profundidade a

contribuição do FDD no desenvolvimento do distrito de Marracuene e mais uma vez, uma

pesquisa bibliográfica sobre literatura que versa sobre governação e desenvolvimento

local/regional, descentralização, CCL e FDD e OIIL e; por fim, a terceira corresponde as

técnicas de recolha de dados que por conseguinte, foram as entrevistas semi-estruturadas7 e

pesquisa documental, efectuadas no trabalho de campo permitiram a clarificação e o

cruzamento dos resultados encontrados nos dados bibliográficos e nas entrevistas

exploratórias.

O último aspecto a referenciar no âmbito da pesquisa, relaciona-se com os constrangimentos

enfrentados durante a recolha de dados no local de estudo, uma vez que, não foi possível

recolher toda a informação que pretendíamos, principalmente relativo aos dados

correspondentes ao processo de gestão do FDD no distrito de Marracuene. Os membros da

ETD foram prestativos, mas referiram que alguns dados eram de carácter sigiloso e não eram

fornecidos a pessoas de fora da instituição, nem mesmo a estudantes ou pesquisadores.

Situação que criou algumas limitações na prossecução dos objectivos da pesquisa.

7 Este é o tipo de entrevista onde o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direcção que considere adequada, onde se explora mais, de uma maneira ampla uma questão. Em geral as perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de uma conversação de tipo informal. Vide, Quive, R & Canpenhoudt, L Van. Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva. 2003: 72.

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3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL

Neste capítulo, apresentam-se a literatura que aborda o tema em análise, assim como quadro

teórico e conceptual que orientam o estudo.

3. 1 Revisão de Literatura

Começamos por analisar o processo de descentralização, onde de acordo com IBIS (2010), é

a transferência de poder, funções e recursos do governo central para os Governos Locais,

eleitos pelas comunidades locais e que lhes prestam contas. Já na perspectiva de KETTL

(2005), descentralização é a redistribuição de funções, recursos e tarefas de órgãos centrais da

organização para as unidades mais periféricas. Neste âmbito, a definição de Kettl se aproxima

dos objectivos deste estudo, na medida em que o FDD é alocado pelo Governo central.

O processo de descentralização em Moçambique tem duas vertentes, a destacar: política e

administrativa. A primeira constitui as autarquias, feita através da criação de novas unidades

jurídicas com território e população; a segunda é a desconcentração, a qual é efectuada

através da atribuição de maiores competências aos distritos e aos órgãos hierarquicamente

subordinados a ela, constitui uma mera extensão e mecanismo administrativo visando

aproximar os serviços aos seus beneficiários. Neste âmbito, a direcção deste processo cabe ao

MAE, MPD e MF, este último envolvendo matéria de fiscalização e finanças. (MÉTIER

2004).

Nguenha (2007) e Comiche (s/d) citando Bahl e Vazquez, (2006) concordam em que o

programa de descentralização deve incluir: definição de responsabilidades e do grau de

autonomia nas despesas; definição de responsabilidades e do grau de autonomia nos tributos;

desenho do sistema de transferências fiscais; quadro de exercício da disciplina fiscal e;

accountability social. Neste âmbito, em Moçambique o OIIL é uma das primeiras medidas de

descentralização financeira no âmbito da abordagem que coloca o distrito como "pólo de

desenvolvimento".

Por sua vez, Ilal (2008), defende que o modelo moçambicano de descentralização implica a

transferência de responsabilidades, sem a autonomia dos governos locais, na medida em que,

a transferência de responsabilidades não é acompanhada da descentralização de fontes

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efectivas de recursos, o que em última análise mantém e consolida o poder do governo central

perante os governos locais. Deste modo, sustentamos a ideia de Canhanga (2009), quando

defende que o alcance dos objectivos da descentralização em Moçambique, depende de uma

justa e equilibrada distribuição de recursos financeiros, materiais e humanos, assim como da

capacidade dos órgãos locais maximizarem as oportunidades para geração de receitas.

No âmbito do presente estudo, a desconcentração é o tipo de descentralização aplicável e

Cailaux e Yuki (2004), definem-na como a transferência de determinados graus de autoridade

administrativa do governo central para o nível local ou seja delegação de responsabilidades

ao nível local através do governo central. Em 2000, o governo estabeleceu através do Decreto

15/2000 e do Diploma Ministerial 107- A/2000, formas de articulação dos órgãos locais do

Estado e autoridades comunitárias para melhorar as condições para a participação

comunitária na Administração Pública. Neste sentido, em Outubro de 2003 foi criado o Guião

para Participação e Consulta Comunitária na Planificação Distrital (Ilal, 2008).

No âmbito do cumprimento da Lei dos Órgãos Locais do Estado (Lei 8/2003) e do respectivo

regulamento (Decreto 11/2005), no caso dos governos provinciais e distritais, têm havido

uma tendência de aumentar a disponibilidade de recursos financeiros e autonomia na sua

afectação. As fontes de financiamento do Orçamento do Estado nos escalões provincial e

distrital são as transferências ou dotações orçamentais provenientes dos fundos centrais, as

receitas próprias que provém da comparticipação das receitas fiscais e consignadas ao nível

provincial e distrital e as correspondentes taxas, licenças e serviços cobrados pelo Estado ao

nível local, assim como donativos provenientes de organizações não-governamentais,

privadas ou da cooperação internacional (Ilal, 2008).

O desenvolvimento local não pode ser alheio a descentralização financeira associada ao

capital humano, social e o tecnológico, visto que estes são grandes impulsionadores do

mesmo e em conjunto proporcionam oportunidades de desenvolver as comunidades. Portanto,

a ideia de desenvolvimento local envolve a capacidade de impulsionar projectos

comunitários, onde é necessária a motivação, reflexão e organização político-comunitário que

caminhem em paralelo com o sentimento de cidadania, liderança, esforço conjunto e

estratégia de acção. Podemos suportarmo-nos na ideia do Banco Mundial, quando sustenta

que a capacidade de autogestão dos recursos pela comunidade contribui para aumentar a

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autoridade e o poder de decisão dos indivíduos sobre as suas próprias vidas, aumentando o

seu nível de participação, autonomia e empoderamento (Word Bank, 2002).

Neste âmbito, o Programa Quinquenal do Governo (2010-2014), salienta que o Governo na

prossecução dos objectivos, estratégias e programas governamentais, continua com a

edificação e consolidação de uma administração local descentralizada, eficaz e célere,

dinamizadora de boas práticas de governação, centrada no cidadão e dinâmica para enfrentar

os desafios da redução da pobreza e do desenvolvimento sócio-económico e cultural (GovM,

2010).

Na perspectiva de Canhanga (2009), os governos locais num panorama desenvolvimentista

foram atribuídos a responsabilidade de realizar tarefas e programas económicos, culturais e

sociais de interesse local e, administrar o desenvolvimento no respectivo território da

administração local. Assim, segundo este autor, no contexto dos esforços de redução da

pobreza e dos desequilíbrios regionais, o quadro legal definiu o regime de finanças locais que

garante a justa repartição dos recursos públicos e a necessária correcção dos desequilíbrios

existentes entre as diferentes unidades territoriais.

De acordo com Valá (2009), as experiencias de planificação e finanças descentralizadas

desenvolvidas ao longo do país e as múltiplas iniciativas de desenvolvimento rural levadas a

cabo desde 1995 culminaram com reformas na governação e com o desenvolvimento

económico local visando contribuir para o combate à pobreza provendo bens e serviços como

resposta a procura das populações. Neste contexto, Faria & Chichava (1999), sustentam que

os órgãos locais do Estado no âmbito da descentralização devem: i) funcionar como órgão

responsável pela planificação do desenvolvimento local e como agente principal de

desenvolvimento a nível local; ii) prestar serviços sociais e económicos às comunidades

locais e; iii) estimular, organizar a participação das comunidades na solução dos seus

problemas.

A descentralização financeira é essencial ao desenvolvimento local e não se considera apenas

como transferência de recursos para os diferentes níveis do governo local, mas também a

dimensão dos poderes atribuídos aos governos locais, como o tipo de autoridade e controlo

sobre a utilização e gestão dos recursos financeiros transferidos para a prestação dos serviços

locais pelos quais são responsáveis. (Comissão Europeia, 2008).

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Na perspectiva de Vasconcellos e Garcia (1998), o desenvolvimento deve resultar do

crescimento económico acompanhado de melhoria de qualidade de vida, isto é, melhorar os

indicadores do bem-estar económico e social. Enquanto para Oliveira (2002), o

desenvolvimento deve ser considerado como um processo complexo de mudanças e

transformações de ordens económica, política, humana e social. Segundo este autor,

desenvolvimento é mais que o crescimento transformado para satisfazer as mais diversas

necessidades de saúde, educação, habitação, transporte e alimentação.

No PARPA II (2006), sustenta-se que o desenvolvimento económico atinge-se por meio de

crescimento de sectores produtivos do país, através da transformação estrutural da

agricultura, da transformação do sector informal em formal e da vitalidade empresarial no

mercado, especialmente das actividades que geram emprego, exportações e divisas na

economia.

A abordagem sobre desenvolvimento local consiste no propósito deste estudo e para a

realização do mesmo, nos apoiamos a Vasquez Barquero (1993), defendendo que

desenvolvimento local converte-se durante os anos 80 na estratégia de desenvolvimento

dominante em muitos países, deixando a economia centralmente planificada ao nível do

Estado e das grandes empresas, onde os administradores locais só se preocupavam em gerir

os serviços públicos e corrigir os impactos espaciais e urbanísticos das actuações económicas.

Desenvolvimento local na óptica de Milani (2005), pressupõe uma transformação consciente

da realidade local, implicando uma preocupação numa perspectiva futura. Por sua vez,

Buarque (1999), sustenta que o desenvolvimento local implica articulação entre diversos

actores e esferas do poder, isto é, interacção entre a sociedade civil, as organizações não

governamentais, as instituições privadas e o governo. O autor salienta que nesta interacção

cada um dos actores tem um papel a contribuir para o desenvolvimento local.

Lima, Loiola e Moura (2000), sustentam que desde o pós-guerra até o início da década de 70,

período em que predominou o modelo de desenvolvimento regional top down, o

desenvolvimento local era visto nas abordagens neoclássica, Keynesiana e institucional

dentro de uma perspectiva exógena de desenvolvimento. Para estas abordagens, o

desenvolvimento local tinha como motor, estímulos externos ao local, ou seja de regiões mais

desenvolvidas. Neste contexto, o desenvolvimento local era parte integrante de toda uma

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preocupação com o desenvolvimento regional e, consequentemente, como mera extensão das

teorias de desenvolvimento económico.

O desenvolvimento local, segundo as abordagens tradicionais, resultaria da adequação dos

governos locais às directrizes elaboradas pelo governo central que tem como objectivo o

desenvolvimento geral. Portanto, para atingir este objectivo, o governo central coordenava

acções que visavam a correcção ou atenuação dos desequilíbrios regionais através de políticas

redistributivas e compensatórias. As acções se materializavam nos “pólos” de crescimento e

as políticas nas transferências de capital e tecnologia, bem como na promoção de mobilidade

inter-regional de bens e de factores de produção. (Lopes, 2001)

Ainda no contexto das abordagens de desenvolvimento local, Lima, Loiola e Moura (2000),

sustentam que depois da década de 80 o desenvolvimento local passou a ser visto como uma

problemática própria local. Neste novo contexto, o desenvolvimento local busca ser uma

resposta proactiva, aos desafios da mundialização da economia, da informação, da

necessidade de gerar novos empregos, da exclusão social, da necessidade de modernização

tecnológica e requalificação profissional. Neste âmbito, segundo estes autores os governos

locais aparecem como os actores propulsores do processo de desenvolvimento económico

local.

Lopes (2001), por sua vez, refere que as ideias de Schumpeter influenciaram os novos

paradigmas de desenvolvimento local, quando faz a descrição do sistema capitalista como um

processo de destruição criadora, cujo elemento crucial é a capacidade das firmas de gerar e

incorporar inovações. Schumpeter levou a emergência no plano teórico de novas vertentes da

teoria do desenvolvimento económico e uma destas vertentes é a do crescimento endógeno.

Para este autor, apesar do desenvolvimento local ser um instrumento importante para a

definição de políticas e desenvolvimento das potencialidades locais, não se consegue

distinguir a diferença entre desenvolvimento local e regional. Ainda no contexto deste debate,

apresenta-se vertentes de desenvolvimento local tais como: evolucionismo, estruturalismo,

elitismo, social e desenvolvimento auto-sustentável.

Por outro lado Hamel (1990), faz menção a duas abordagens básicas sobre desenvolvimento

local: a elitista associada ao pragmatismo dos dirigentes políticos locais, onde a orientação

seria desenvolver vantagens comparativas no sentido de obter melhores posições no mercado

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mundial para o distrito ou região; a social, onde o objectivo do desenvolvimento não seria

tanto promover a cidade enquanto um negócio rentável, mas atender as necessidades sociais.

Neste paradigma, destacam-se os programas de fomento ao emprego e de reinserção social

voltados para segmentos marginalizados e trabalhadores pouco qualificados.

No debate sobre desenvolvimento local em Moçambique Empel, Urbina e Villalobos (2006),

sustentam que até finais da década de 80, o Governo central promovia o desenvolvimento

económico através da provisão directa de insumos como sementes e fertilizantes;

providenciava serviços de formação através de agências governamentais descentralizadas em

todo o país. Esta conjuntura mudou em 1990, com a nova Constituição, ao introduzir

alterações profundas na política de desenvolvimento, por esta razão a abertura do mercado e

o ajustamento estrutural começaram a determinar a agenda de desenvolvimento, pondo fim à

regulação do mercado pelo Estado.

Segundo Lahorguei (2006), os projectos de desenvolvimento local ou regional passam a

privilegiar os arranjos locais de produção, as sinergias entre os diferentes actores, a criação de

ambientes favorecedores da inovação tecnológica e organizacional e a implantação de infra-

estruturas multi-institucionais de fomento à agregação de valor à produção local. Giudice,

Manjanguice e Urbina (2003), defendem que as experiências centradas nos “pólos de

desenvolvimento”, não conseguiram produzir os resultados de crescimento económico

esperados, pelo contrário contribuíram para o aumento da pobreza, do desemprego e da

marginalização, particularmente das zonas rurais.

Para incrementar o crescimento económico do país, o Governo moçambicano apoia-se na

estratégia de Desenvolvimento Económico Local (DEL). Esta, incide na criação de um

ambiente económico favorável; infra-estruturas; serviços de negócios; serviços financeiros e

desenvolvimento de capacidades. Ainda no âmbito de implementação da descentralização em

Moçambique foi introduzido o processo de planificação e finanças descentralizadas baseado

em três vertentes paralelas: desenvolvimento político, legal e administrativo; nas experiências

e iniciativas locais; e nos projectos de assistência técnica (Cáceres, 2008).

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3. 2 Quadro Teórico

Para uma melhor análise do estudo, recorre-se a Teoria de Desenvolvimento Endógeno

apresentada por Amaral Filho que aborda os elementos necessários no desenvolvimento

regional. Numa outra perspectiva, mas interligada evocamos a abordagem sistémica para

analisar e compreender a interacção entre vários actores que compõe o processo do

desenvolvimento local em Marracuene.

Deste modo, Amaral Filho (1996), sustenta que desenvolvimento endógeno é um processo

interno de ampliação contínua da capacidade de agregação de valor sobre a produção, bem

como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente

económico gerado na economia local e/ou a atracção de excedentes provenientes de outras

regiões. Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda

do local ou da região, em um modelo de desenvolvimento regional definido.

De acordo com Amaral Filho (1996), a Teoria de Desenvolvimento endógeno forma-se como

ruptura com a teoria tradicional de desenvolvimento preconizada por R. Solow, baseada na

função de produção Y= f (K, L), ou seja, o volume de produção (Y) é função de Capital (K) e

Trabalho (L). Na teoria endógena, R. Lucas e P. Romer consideram endógenos factores antes

considerados exógenos na determinação do crescimento económico, tais como: capital

humano, conhecimento, informação, pesquisa e desenvolvimento. Onde, quando combinados

com a capacidade criativa e inovadora funcionariam como vantagens competitivas regionais.

Na teoria do desenvolvimento endógeno, a economia pode atingir um equilíbrio de

crescimento perpétuo através de suas forças internas (Silva Filho & Carvalho, 2001). Ainda

na óptica destes autores, para que haja tal tipo de crescimento é necessário apenas que a

tendência decrescente dos retornos do capital seja eliminada. Assim, surgem factores como

inovação e tecnológica endógena, que são resultado da maximização dos lucros; onde os

produtores, capital humano e os arranjos institucionais, que incorporam a política

governamental e a organização da sociedade civil passam a assumir um papel crucial no

crescimento contínuo da renda per capita em qualquer sistema económico.

Por outro, apoia-se na Perspectiva sistémica que segundo Moreira (2009), propõe-se

apreender e explicar os fenómenos políticos com base no conceito de sistema como um

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conjunto de elementos inter-relacionados e em constante interacção, tendo em conta o meio

ambiente interno e externo, onde são formulados os inputs (exigências ou apoios) e outputs

(decisões ou acções), gerando um sistema de retroacção.

Autores como Almond, & Powell (1972), sustentam que este modelo defende a importância

da apresentação do ambiente sistémico por meio de variáveis essenciais. Contudo, a grande

dificuldade consiste na identificação das possíveis influências que ocasionam perturbação

sobre os sistemas e que existem mudanças de contextos cujos distúrbios e os efeitos são

muitos específicos, tornando-se insuperável caso leve em conta todas as possíveis variáveis

para analisar o sistema. Portanto, utilizam-se variáveis que sintetizem as mais significativas

influências do contexto por meio de poucos indicadores para explicar a inter relação entre

input e output dos sistemas.

Decorrente disto, Rua (2009), sustenta que as forças que afectam o sistema político são os

inputs, onde o ambiente é a condição ou circunstância definida como limite externo ao

sistema político. Por sua vez, os outputs são alocações imperativas de valores do sistema,

expressas como decisões de políticas públicas. Os inputs são recebidos pelo sistema na forma

de demandas e apoios, sendo que os mesmos emergem quando indivíduos ou grupos, em

resposta às condições ambientais, agem para afectar o conteúdo da política pública. Neste

contexto, Almond & Powell (1972), sustentam que através dos inputs torna-se essencial

identificar quais os efeitos para que haja uma conexão entre os outputs e por meio desses

indicadores identificam as consequências dessas variáveis no sistema político, portanto, a

consequência é o feedback que é um processo de retro-alimentação para ajustar os factos no

comportamento do futuro a fim de auxiliar nas tomadas de decisões estratégicas.

De acordo com o exposto, pode-se afirmar que as demandas podem ser: i) de reivindicações

de bens e serviços, saúde, educação, estradas, transportes, segurança pública, normas de

higiene e controle de produtos alimentícios, previdência social; ii) de participação no sistema

político, como reconhecimento do direito de voto de alguma camada desfavorecida, acesso a

cargos públicos para estrangeiros, organização de associações políticas, direitos de greve; iii)

de controlo da corrupção, de preservação ambiental, de informação política, de

estabelecimento de normas para o comportamento dos agentes públicos e privados (Rua,

2009).

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3. 3 Conceptualização

Aqui apresentam-se os conceitos que se aproximam aos objectivos do estudo, a destacar:

Desenvolvimento local; Pólo de desenvolvimento e Fundo de Desenvolvimento Distrital.

Para Cuéllar Desenvolvimento Local é um processo de melhoramento geral da qualidade de

vida e do bem-estar de uma comunidade, com profundo respeito e consideração pelas reais

necessidades e aspirações desse povo, assim como pela própria capacidade criativa, próprios

valores e potencialidades e formas de expressão cultural. (Lima, Marinho e Brand, 2007).

Referente ao conceito de Pólo de desenvolvimento, Perroux (1967), define-o como uma

unidade económica motriz ou um conjunto formado por várias dessas unidades. Uma unidade

simples ou complexa, uma empresa, uma indústria, um complexo de indústrias e dizem-se

motrizes quando exercem efeitos de expansão por intermédio de preços, fluxos, informações

sobre outras unidades que com elas estão em relação. Para este autor, pólo de

desenvolvimento é uma agregação de indústrias propulsoras, geradoras de efeitos de difusão

e que tenham influência directa no aumento do emprego, trazem mudanças e fazem crescer a

região.

Concernente ao Fundo de Desenvolvimento Distrital, de acordo com o decreto nº 90/2009, foi

criado para materialização dos objectivos do governo orientados para o desenvolvimento do

distrito, especificamente para produção de alimentos, geração de rendimentos e criação de

postos de trabalho. Neste âmbito o artigo 1 do mesmo sustenta que “…o FDD é uma

instituição pública dotada de personalidade jurídica, autonomia administrativa e

financeira…”. Já o artigo 2 refere que o FDD destina-se à captação e gestão de recursos

financeiros visando impulsionar o desenvolvimento e empreendedorismo na satisfação das

necessidades básicas das comunidades locais, mediante a concessão de empréstimos

reembolsáveis.

Por sua vez, o n º 1 do artigo 6 do presente decreto, refere que “o FDD promove o auto-

emprego, incentiva e apoia projectos sustentáveis com impacto na vida da comunidade

local”; enquanto o nº 2, refere que “o atendimento dos pedidos financiamento o FDD segue

critérios de priorizacão fixados pelo CCD” e o n º 3 refere que “o FDD pratica juros

bonificados”.

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4. BREVE DISCRIÇÃO DO DISTRITO DE MARRACUENE

4. 1 Localização, superfície e população

O Distrito de Marracuene situa

Maputo, aproximadamente entre a

Este. É limitado a Norte pelo Distrito

pelo Distrito da Moamba e Cidade da Matola e a Este pelo Oceano Índico

A superfície do Distrito é de 703

habitante. O Distrito é formado por um

sucessão de planaltos arenosos e pequenos vales na zona limite com o Distrito da Moamba, a

Cidade da Matola e a Cidade de Maputo. Ao longo do litoral apresenta uma vasta faixa de

dunas de areia branca, ameaçadas pela erosão eólica devido ao intenso corte das plantas

nativas para a produção de lenha e carvão

Figura 1: Mapa do distrito de Marracuene

Fonte: REPÚBLICA De MOÇAMBIQUE/ MAE/ Série “Perfis Distritais de Moçambique. (2005). do Distrito de Marracuene. Assistência técnica: MÉTIER

8 Vide, REPÚBLICA De MOÇAMBIQUE/ MAE/ Série “Perfis Distritais de Moçambique. (2005). Distrito de Marracuene. Assistência técnica: MÉTIER 9 Idem.

DO DISTRITO DE MARRACUENE

Localização, superfície e população

O Distrito de Marracuene situa-se na Província de Maputo, a 30 km norte da cidade de

Maputo, aproximadamente entre as latitudes de 25° 41’ 20” Sul e 32° 40’ 30” de longitude

Este. É limitado a Norte pelo Distrito de da Manhiça, a Sul pela Cidade de Maputo, a Oeste

pelo Distrito da Moamba e Cidade da Matola e a Este pelo Oceano Índico8.

A superfície do Distrito é de 703 Km² e apresenta uma densidade populacional de 87

O Distrito é formado por uma vasta planície ao longo do rio Incomati e por uma

sucessão de planaltos arenosos e pequenos vales na zona limite com o Distrito da Moamba, a

Cidade da Matola e a Cidade de Maputo. Ao longo do litoral apresenta uma vasta faixa de

eaçadas pela erosão eólica devido ao intenso corte das plantas

nativas para a produção de lenha e carvão9.

Figura 1: Mapa do distrito de Marracuene

REPÚBLICA De MOÇAMBIQUE/ MAE/ Série “Perfis Distritais de Moçambique. (2005). Assistência técnica: MÉTIER – Consultoria & Desenvolvimento, Lda.

Vide, REPÚBLICA De MOÇAMBIQUE/ MAE/ Série “Perfis Distritais de Moçambique. (2005). . Assistência técnica: MÉTIER – Consultoria & Desenvolvimento, Lda.

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norte da cidade de

de 25° 41’ 20” Sul e 32° 40’ 30” de longitude

de da Manhiça, a Sul pela Cidade de Maputo, a Oeste

² e apresenta uma densidade populacional de 87 Km² por

a vasta planície ao longo do rio Incomati e por uma

sucessão de planaltos arenosos e pequenos vales na zona limite com o Distrito da Moamba, a

Cidade da Matola e a Cidade de Maputo. Ao longo do litoral apresenta uma vasta faixa de

eaçadas pela erosão eólica devido ao intenso corte das plantas

REPÚBLICA De MOÇAMBIQUE/ MAE/ Série “Perfis Distritais de Moçambique. (2005). Perfil Consultoria & Desenvolvimento, Lda.

Vide, REPÚBLICA De MOÇAMBIQUE/ MAE/ Série “Perfis Distritais de Moçambique. (2005). Perfil do

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4. 2 Divisão Administrativa

O distrito é composto por dois postos administrativos, nomeadamente: Marracuene-Sede e

Machubo. O posto administrativo de Marracuene-Sede compreende: Localidade-sede,

Michafutene, Macaneta, Matalane e Ngalunde; enquanto o posto administrativo de Machubo

é constituído pelas localidades de Macandza e Thaúla. Referenciar que está em processo a

criação do terceiro posto administrativo que se vai denominar Matalane e compreendera a

junção das localidades de Matalane e Ngalunde10

Figura 2: Divisão administrativa do Distrito de Marracuene

Distrito Postos administrativos Localidades Marracuene Marracuene Marracuene-sedeMarracuene Marracuene MichafuteneMarracuene Marracuene MatalaneMarracuene Marracuene NGalunde Marracuene Marracuene Macaneta Marracuene Machubo Macandza Marracuene Machubo Thaúla

Fonte: Da autoria do estudante, com base nas informações fornecidas na Secretaria do Governo Distrital

4. 3 Actividades económicas

A agricultura é a principal actividade económica deste distrito, uma vez que envolve a

maioria da população que nele reside. Neste âmbito, a agricultura praticada no Distrito é de

subsistência e em regime de associação de culturas com base em sementes de variedade local.

Muitas das variedades locais utilizadas estão adaptadas à região e demonstram alguma

tolerância a algumas adversidades sobretudo no período de estiagem. As principais

actividades agrícolas incidem na produção de mandioca, arroz, batata-doce, amendoim,

feijão-nhemba, alface, couve e diversas hortícolas11.

Referente a Indústria e Comércio, há que salientar que a rede comercial abrange uma parte

considerável do Distrito e que vai crescendo anualmente e contribuindo para o

10 Informação que nos foi fornecida pelo chefe de Localidade de Matalane, durante a visita efectuada a esta localidade no processo de recolha de dados. 11 Informações fornecidas, durante a entrevista que nos foi concedida nos Serviços Distritais de Actividades Económicas (SDAE) de Marracuene.

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desenvolvimento do distrito. Esta rede comercial satisfaz parcialmente as necessidades no

abastecimento a população local em produtos de primeira necessidade incluindo sementes.12

Outras actividades praticadas neste distrito, são a pecuária e pesca. Os residentes de

Marracuene são unânimes em sustentar que a actividade pesqueira é um dos maiores orgulhos

do distrito, na medida em que do rio Incomati é pescado e fornecido a uma quantidade

considerável para abastecer Marracuene e outras regiões, como a cidade de Maputo e Matola

e ainda o distrito de Manhiça, é uma das grandes fontes de rendimento da população local,

razão pela qual identificamos muitos proponentes que se dedicam a actividade pesqueira.

Quanto à actividade pecuária existe um número considerável de criadores de gado bovino,

suíno e outras actividades relacionadas13.

4. 4 Infra-estruturas

Ao longo do processo de recolha de dados verificamos que o distrito de Marracuene está a

evoluir em termos de infra-estruturas, como consequência da expansão da Cidade de Maputo,

que já não consegue absorver a população que compõe a mesma e por isso procura se

expandir para as regiões próximas. Está sendo instalada uma fábrica de produção e

processamento de piripiri, na localidade de Matalane denominada de piripiri elefante

Moçambique e emprega cerca de 82 trabalhadores. Na Localidade-sede há surgimento de

muitos investimentos, como armazéns comerciais, barracas e restaurantes, o que levou a

instalação de balcão BIM; quanto a localidade de Michafutene apresenta infra-estruturas de

Floricultura, de Piscicultura, entre outras, a IPEX, também esta a instalar a nova FACIM na

Localidade de Michafutene, está é a localidade mais desenvolvida pelo facto de fazer

fronteira com a cidade de Maputo e as infra-estruturas que são implantadas são resultado da

expansão urbana da cidade de Maputo. Existem muitas casas de turismo e recreação como a

Vila Pitanga, Vila Paraíso, Complexo Retiro, Roger e muito mais. Em Machubo, temos a

Lambo que se dedica na produção de arroz, hortícola e tabaco.

12 Idem. 13 Conclusões apresentadas em consequência das visitas efectuadas e das entrevistas feitas aos residentes do distrito.

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5. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Neste capítulo, conseguinte começamos por compreender os critérios e os mecanismos de

atribuição do FDD aos beneficiários em Marracuene.

5. 1 Critérios e os mecanismos de atribuição do FDD aos beneficiários em Marracuene

Valá (2009), refere que os critérios de selecção, priorização, procurement e modalidade de

financiamento são noviços devido ao carácter inovador do OIIL e por esta razão, o governo

central não estabeleceu normas rígidas e prescritivas aos distritos, simplesmente elaborou

regras gerais e deixando que as experiências práticas e concretas do trabalho de cada distrito

permitisse que surgisse mais bases normativas e de regulamentação desde que se mostrem

exequíveis, pragmáticas e sustentáveis. Por outro, Osório e Silva (2009), refere que no

primeiro ano, não houve definição clara de critérios. “A Lei não tornou claro se os fundos

assumiam uma forma de doação sem retorno ou um empréstimo e, que juros a aplicar”.

Resultante disto, apurou-se em Marracuene que estão livres de concorrer todos os que se

sintam interessados e que preencham os requisitos definidos ao nível local. Portanto, para

concorrer ao FDD é preciso preencher os seguintes requisitos: i) residente; ii) idoneidade; iii)

declaração do bairro; iv) Bilhete de Identidade; v) NUIT; vi) impacto na zona onde o

proponente pretende implementar e; vii) uma conta bancária. Assim, sustenta Sra. Caldina

Paulo Davuca.14

“… Qualquer um pode concorrer, desde que faça um requerimento dirigido a

administradora e que seja residente, tenha documentos de identificação, ter a

característica de idoneidade, bom comportamento, tenha conta e se não tiver tem que

abrir ter NUIT…”

Quanto aos mecanismos de atribuição, o distrito de 2007 - 2009 optou por financiar os

projectos por espécie, onde o proponente desenhava o projecto tendo em conta o material que

precisava para a implementação do mesmo, com factura anexava ao projecto, apresentar em

14 Chefe da localidade de Marracuene-sede e membro do CCD.

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seguida na respectiva localidade, aprovado o projecto era solicitado a levantar os produtos

para implementá-los. No entanto, a iniciativa não foi acolhida com agrado por parte dos

mutuários tendo provocado desacordo entre os mesmos e os gestores do FDD. Por

conseguinte, a partir de 2010 optaram por financiar em dinheiro, onde cada beneficiário geria

o dinheiro individualmente.

“…de 2007 a 2009 financiávamos por espécie, mas vimos que o resultado não era positivo e

os proponentes reclamavam ora porque pediam cotação num período e quando voltavam os

produtos já estavam mais caros, ora porque depois de se pagar aos comerciantes, eram

obrigados a levantar ou porque os produtos comestíveis chegavam a estar fora do prazo nos

armazéns…”15

O Distrito, definiu estratégia de minimização de custos, ao criar uma comissão técnica de

avaliação e monitoria de projectos ao nível das localidades e bairros composta pelos

membros de CCL, onde cada beneficiário deve ter cinco padrinhos mais próximos do sítio

onde vai implementar o projecto e que podem ser membros do CCL ou líderes comunitários

(régulos, chefes do bairro ou de quarteirão). Ainda neste âmbito, no acto da legitimação do

projecto pelo CCD, é designado um membro da ETD para acompanhar a vida do projecto e

apresentando relatório mensal ao chefe da ETD e ao Governo Distrital.

Decorrente disto, percebeu-se que o distrito não fugiu das orientações metodológicas da

execução do FDD, mas definiu algumas estratégias consideradas necessárias para o distrito,

mas sem que estejam fora do estabelecido16. No entanto, salientar que para atingirem-se

melhores resultados na aplicação dos critérios e mecanismos de atribuição do FDD aos

proponentes, há que ter em conta a qualidade do capital humano envolvido no âmbito da

gestão do FDD e definição de estratégias de planificação acompanhadas de um conhecimento

técnico e institucional. Situação que não se verificou e resultou numa gestão passiva do FDD

nos primeiros três anos e logo um nível baixo dos reembolsos, que melhoram em 2010,

resultado da nova estratégia de desembolso e uma monitoria mais interventiva a nível local.

Vide figuras 3 e 4.

15 Informação consubstanciada por todos os chefes das localidades.16 Vide o nº 1 do artigo 3 do contrato de empréstimo, definido nas orientações metodológicas de 2009, ao referir que: “o desembolso do empréstimo será feito através do pagamento directo ao fornecedor, mediante a apresentação das facturas pró-forma por parte do beneficiário”.

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Figura 3: Tabela de valores globais desembolsados e reembolsados de 2007-201017

Ano 2007 2008 2009 2010 Total

Desembolso(MT)

7.500.172, 14 7.649.500,00 7.263.900,00 7.263.900,00 29.676.472.14

Reembolso (MT) 340.491,50 415.430,00 219.851,00 261.597,2518 1.238.369,75

Fonte: Elaborado com base nos dados fornecidos pela ETD.

5. 2 Papel dos CCL no processo de aprovação, implementação e monitoria do FDD em

Marracuene

Antes de mais foi necessário trazer o conceito de participação à discussão para compreender-

se o nível de participação dos CCL na gestão do FDD. Neste âmbito, para PNUD (1993:21),

participação significa que as pessoas estão intimamente envolvidas nos processos

económicos, sociais, culturais e políticos que afectam as suas vidas. Por sua vez, no debate

sobre o mesmo assunto Chichava (1999), discute participação como forma de organização e

capacitação no exercício definitivo do poder, onde deve ser vista, por um lado como o

empowerment e por outro como capacidade. No primeiro caso relaciona-se com o processo

de desenvolvimento da acção prática e experiências que preparam a os beneficiários a

fazerem ouvir suas opiniões na negociação e gerir eficazmente sua participação no

desenvolvimento; enquanto no segundo é visto como algo fundamental a população para

tomar decisões e acções que ela acha importante para sua satisfação.

Resultante desta análise, compreendeu-se que a participação do ponto de vista de

empowerment cria condições para que as pessoas participem e tomem decisões sobre os

aspectos que fazem parte das suas vidas e que deste modo, possam participar activamente na

solução dos problemas. Nesta ordem de ideias, analisando o papel dos CCL em Marracuene e

constatou-se que a selecção dos membros dos CCL é feita com base na confiança política e

amizade, contrariando o nº 1 do artigo 36 do Diploma Ministerial Nº 67/2009, que sustenta:

“Os membros dos CCL são escolhidos pela comunidade local por um período de quatro anos

17 Há que salientar que os valores apresentados na tabela são brutos, não se baseiam nos planos de reembolso usados pela ETD, simplesmente são dados fornecidos para se ter uma ideia geral do grau de reembolso no distrito de Marracuene.18 Os valores de 2010, correspondem ao reembolso planificado para o primeiro trimestre de 2011.

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findo o qual deverá ser feita necessariamente a reconfirmação da sua legitimidade pela

respectiva comunidade ou grupo social”. Vejamos a afirmação seguinte:

“… aqui, no distrito há problemas no momento da selecção dos membros dos CCL, é por

isso que não vamos desenvolver enquanto se escolher os representantes do povo a dedo19….”

A consequência do referido é o fraco desempenho dos CCL em Marracuene caracterizado

pela participação passiva na gestão dos planos e programas de desenvolvimento distrital,

inclusive na aprovação, implementação e monitoria do FDD, consequência da fraca

capacidade institucional e definição das reais funções e responsabilidades, uma vez que a

maior parte deles desconhece os instrumentos normativos que envolvem a gestão do FDD e

da descentralização em geral. Questionados, a maioria demonstra pouco domínio do quadro

normativo que sustenta o processo de governação e desenvolvimento e deste modo, apresenta

dificuldades na apresentação e soluções dos reais problemas das comunidades que

representam, contrariando assim algumas das funções que lhes são conferidas pela lei20.

Os CCL sendo a representação das comunidades detêm um papel preponderante na

identificação e definição de prioridades ao nível local, são o elo de ligação entre o governo e

as comunidades locais, no entanto, em Marracuene o processo não tem os resultados

esperados, uma vez que, o conhecimento aparente dos meios técnicos para resolver os

problemas das comunidades tem contribuído para um fraco desempenho dos membros dos

CCL. Neste âmbito, a Teoria de Desenvolvimento Endógeno sustenta a importância do

capital humano, informação e conhecimento no processo de definição de estratégias que

permitam o desenvolvimento local e segundo informações colhidas dos entrevistados, os

membros dos CCL em Marracuene não têm sido capacitados em matéria de gestão de micro

negócios, de participação, governação e desenvolvimento local desde a sua criação. A

consequência é que tem pouca informação sobre como avaliar projectos com viabilidade.

19 Afirmaram alguns entrevistados que preferiram manter o anonimato.20 Destacando algumas das tarefas dos CCL avançados pelo Diploma Ministerial 67/2009, os mesmos tem que: apreciar e dar parecer sobre as propostas dos planos distritais de desenvolvimento; apreciar e dar parecer sobre as propostas do plano económico e social e do orçamento; participar no processo de preparação, implementação e controlo dos planos estratégicos provinciais e planos distritais de desenvolvimento, e apreciar relatórios sobre a planificação, destacando a qualidade de participação de comunidades locais e dos grupos de interesse do distrito no geral; promover a mobilização e organização da participação da população na implementação das iniciativas do desenvolvimento local e apresentar respostas aos problemas colocados pelas comunidades, entre outras.

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Referente a constituição dos CCL, tanto ao nível da localidade, posto administrativo e do

distrito, constatou-se que os números variam de 30 a 40 membros, existe uma diversificação

em termos de género considerada em média de 30% e um número considerável dos líderes

comunitários não inferior a 30%. Não contrastando em grande medida com o exposto no

diploma ministerial nº 67/2009 ao prever que a percentagem das mulheres não pode inferir

30% e 40% devem ser líderes comunitários.

Para AMODE et al. (2009), os CCL estão confinados aos “sete milhões”, tendo ligação

exterior com os demais instrumentos de governação nos distritos, tais como: PESOD, PEDD

e PES. Referem ainda que mesmo nos “sete milhões”, os CCL estão mais voltados para a

aprovação de projectos, sem um envolvimento posterior no acompanhamento implementação.

A este respeito, em Marracuene, os membros dos CCD entrevistados21 sustentam que além da

aprovação do FDD, participam na elaboração e execução do PES e PESOD. Só que uma

análise mais aguçada demonstrou que há uma limitação na gestão dos referidos instrumentos,

resultado da fraca capacidade em matérias de planificação e gestão.

“… os conselhos consultivos aqui no distrito de Marracuene, não estão apenas para

gerir os sete milhões, mas também acompanham a aprovação do PES e sua

execução, apesar de não termos muitos recursos, procuramos nos envolver

activamente nos problemas que afectam o nosso distrito…”

5. 3 Papel da Equipa Técnica Distrital de Marracuene na gestão do FDD

O nº 3 do artigo 11 do decreto 90/2009, sustenta que a ETD tem a função de: “assegurar o

funcionamento normal das actividades do FDD, devendo elaborar e submeter à aprovação

do CCD o programa anual de actividades e o respectivo orçamento; analisar, avaliar e

emitir parecer sobre os pedidos de financiamento e submetendo-os à aprovação do CCD;

assegurar a gestão administrativa, financeira e técnica do FDD; organizar os processos e

cadastro dos beneficiários e; elaborar e submeter à aprovação do CCD os relatórios de

actividades e de contas”.

21 Sr. Sebastião Mulau, membro do Conselho Consultivo Distrital, presidente do CC da Localidade de Nhongonhane e chefe da mesma Localidade.

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Neste contexto, a ETD de Marracuene, teoricamente é constituída por um membro de cada

serviço distrital que esteja ligado a área de planificação, compreendendo neste caso, um

técnico da secretaria distrital, do SDAE, que é chefe da ETD; do SDPI, do SDEJT, e do

SDSMAS. Só que no âmbito da nossa pesquisa constatou-se que existem somente dois

técnicos efectivos na ETD de Marracuene, os restantes não participam activamente porque

desempenham outras funções nas suas áreas dos respectivos serviços. Analisando a qualidade

do capital humano ligada ao nível académico, verificou-se que a maioria dos membros é do

nível técnico médio, onde três dos quais frequentam o ensino superior; um é técnico superior

agrário e o outro é do nível médio do SNE. Ver a figura 5.

Figura 5: Constituição da ETD de MarracueneServiços Distritais Técnicos F. Académica Secretaria Distrital 1 Técnico Médio Serviços Distritais de Actividades Económicas 1 Técnico Superior

Serviços D. de Educação, Juventude e Tecnologia 1 Técnico Médio Serviços Distritais de Planeamento e Infra-estruturas 1 Técnico Médio

Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social 1 Técnico médio

Total 5Fonte: ETD de Marracuene.

A ETD de Marracuene está a enfrentar sérias dificuldades na execução das suas funções,

primeiro pelo número reduzido de técnicos que trabalham directamente com a gestão do FDD

e outros instrumentos de planificação e desenvolvimento local, segundo pela exiguidade de

fundos, falta de transporte e meios para a monitoria dos projectos em implementação, falta de

capacitação em matérias de gestão de micro projectos virados para o desenvolvimento local,

falta de meios de comunicação que contribuam para uma maior dinamização e conhecimento

do capital humano.

[“… a equipa técnica de Marracuene é constituída por um membro de cada serviço

distrital, só que como vês somos duas pessoas que trabalham aqui todos os dias, neste

caso a ETD de Marracuene somos nós…” “…nós avaliamos projectos, aconselhámos

os proponentes, organizamos o processo de gestão desde a avaliação, aconselhamento,

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pareceres, contratos e acompanhamos a aprovação no CCD, mas temos poucos

recursos...”]22

No entanto, apesar das dificuldades que a ETD de Marracuene enfrenta, tem-se a realçar que

desde 2010 há uma tendência positiva, na medida em que a mesma tem-se integrado melhor

na gestão do FDD, elaborando contratos de empréstimo; fichas de identificação dos

projectos; fichas de análise dos projectos; fichas de acompanhamento dos projectos e; fichas

de resumo/progresso de projectos. Razão pela qual, os níveis dos reembolsos melhoram para

15% do valor planificado para primeiro trimestre de 2011.

5. 4 O impacto do FDD no âmbito de desenvolvimento do Distrito de Marracuene.

Um dos maiores desafios ao Distrito consiste na capacidade de responder as preocupações da

população local e isso, passa pela melhoria da capacitação institucional e técnica, quer ao

nível da Administração Pública, assim como nos diversos organismos associados ao processo

de desenvolvimento local. De acordo com Valá (2009), os sete milhões asseguraram-se como

um instrumento concreto de intervenção para que os pequenos agentes económicos dos

distritos viabilizassem as suas ideias. Este fundo contribui para o empoderamento económico

das populações a nível local e deste modo, para o desenvolvimento local. O mesmo sustenta

que os “sete milhões” estão a contribuir para mudar Moçambique, aumentando a produção de

alimentos, gerando emprego, renda para famílias rurais. O autor refere ainda, que em

resultado da implementação do OIIL, muitos distritos passaram a vender a sua produção para

fora dos seus limites territoriais, como consequência do aumento da produção local.

No contexto de Marracuene, os beneficiários do FDD sustentam que o mesmo melhorou as

suas vidas, a título de exemplo, alguns melhoraram as suas actividades agrícolas, passando de

agricultura de subsistência para a de rendimento familiar como na produção de alimentos

para a venda ao nível local23, outros compraram barcos a motor, enquanto antes usavam

canoas e melhoraram o rendimento pesqueiro, como nos disse dentre vários o Sr. Ernesto

22 Francisco Mauelele, membro da ETD de Marracuene. 23 Visitamos vários beneficiários e constatamos que as suas machambas estavam bem desenvolvidas e nos relataram que compraram motobombas para melhorar a regadia e por via disto as suas machambas cresceram e já estão a produzir mais do que necessitam para o consumo.

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Muendane.24 Ainda a este respeito, a chefe25 do Posto Administrativo de Machubo, sustentou

que neste posto há pessoas que melhoraram as suas vidas com o FDD e que agora já dormem

em casas melhoradas, proporcionam uma vida melhor aos seus filhos e desta forma.

[“…recebi 241.933 meticais, comprei um motor e fiz um barco muito mais grande e

melhor que aquele que estava a usar e o dinheiro ajudou muito para melhorar a

minha vida …” “…no posto administrativo de Machubo, temos várias pessoas que

se beneficiaram do FDD e por via disto melhoraram as suas vidas e contribuíram

para o desenvolvimento do posto, nós damos prioridade a uma descentralização

participativa tanto a nível de participação nas decisões, como no desenvolvimento

local…”]

O Governo distrital defende que os resultados são positivos, mas não apresenta resultados que

tem em conta os indicadores de desenvolvimento, nem os objectivos definidos pelo governo

no âmbito do FDD. Por outro lado, os mutuários sustentam que melhoraram de vida depois

de se beneficiarem, que algumas pessoas foram empregues como resultado da implementação

do FDD, mas sem resultados práticos que nos levem a acreditar que o distrito está a

desenvolver por via do fundo. Para compreender melhor a contribuição do FDD ao

desenvolvimento local analisamos projectos financiados e o número de emprego e

rendimentos gerados por eles.

24 Pescador do rio Incomati, entrevistado e que nos narrou todo o processo de aprovação e implementação do seu projecto. 25 Maria do Céu Ndumaio, membro do CCD e chefe do posto administrativo de Machubo.

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Figura 6: Projectos financiados e geração de emprego

Ano Nº de Projectos Nº de Emprego

2007 95 186

2008 132 101

2009 81 143

2010 84 78

Fonte: Elaborado com base nos dados fornecidos pela ETD de Marracuene

Figura 7: Gráfico de Projectos de geração de emprego, renda e alimentos

Fonte: Elaborado com base nos dados da figura 6.

Ao longo da pesquisa não foi possível obter dados que fazem uma avaliação dos indicadores

de desenvolvimento tendo em conta o FDD, tais como:

actividade pesqueira, industrial, o nível do crescimento comercial, turismo, infra

resultantes da implementação do FDD, razão

objectivos definidos pelo governo no âmbito do FDD.

2007

Projectos financiados

Geracao de emprego 181

Geracao de renda

Producao de alimentos

020406080

100120140160180200

Análise da contribuiçãoMarracuene

: Projectos financiados e geração de emprego, renda e alimento em

Nº de Emprego Geração de renda Produção de alimentos

43 52

41 91

23 58

44 40

com base nos dados fornecidos pela ETD de Marracuene.

Projectos de geração de emprego, renda e alimentos

Fonte: Elaborado com base nos dados da figura 6.

Ao longo da pesquisa não foi possível obter dados que fazem uma avaliação dos indicadores

de desenvolvimento tendo em conta o FDD, tais como: nível do desenvolvimento agrário, da

rial, o nível do crescimento comercial, turismo, infra

resultantes da implementação do FDD, razão pela qual faz-se uma análise em função dos

objectivos definidos pelo governo no âmbito do FDD.

2007 2008 2009 2010

95 132 81

181 101 143

43 41 23

52 91 58

contribuição do FDD para o desenvolvimento

38

Marracuene

Produção de alimentos

Ao longo da pesquisa não foi possível obter dados que fazem uma avaliação dos indicadores

do desenvolvimento agrário, da

rial, o nível do crescimento comercial, turismo, infra-estruturas

uma análise em função dos

2010

84

78

44

40

desenvolvimento de

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A figura 7 ilustra casos em que os projectos financiados são maiores que o número de

emprego criado por eles, como é o caso de 2008 (132 projectos para criarem 101 empregos) e

2010 (84 projectos criaram 78 postos de trabalho).

não geram emprego suficiente para contribuir na melhoria das condições de vida dos que lhes

rodeiam. Percebe-se também que o distrito durante

do fundo apostou mais em projectos de produção de alimentos em relação aos

renda, mas no ano de 2010, os de geração de renda superaram os de alimentos.

Figura 8: análise geral de projectos

2010 em Marracuene

Fonte: elaborado pelo estudante, com base nos dados da

Com base nos dados apresentados compreende

distrito de Marracuene no período compreendido entre 2007 e 2010, não estão ainda a

contribuir para elevar os números de emprego, nem na geração de rendimentos que

contribuir suficientemente para o desenvolvimento local.

De um modo geral, nota-se que em média um projecto dificilmente consegue criar dois

empregos, beneficiando somente os implementadores, sem gerar emprego para as

comunidades locais e o nível do

fraca capacidade dos beneficiários em matéria de gestão de pequenos negócios como

consequência da falta de capacitação e acompanhamento dos mesmos no processo de

implementação. Desta maneira, corro

demonstram uma relativa melhoria das condições dos beneficiários directos d

38%

Producao de alimentos e Geracao de renda

ilustra casos em que os projectos financiados são maiores que o número de

emprego criado por eles, como é o caso de 2008 (132 projectos para criarem 101 empregos) e

2010 (84 projectos criaram 78 postos de trabalho). Algumas associações se beneficiam, mas

não geram emprego suficiente para contribuir na melhoria das condições de vida dos que lhes

que o distrito durante os primeiros três anos de implementação

apostou mais em projectos de produção de alimentos em relação aos de

, mas no ano de 2010, os de geração de renda superaram os de alimentos.

projectos de produção de alimentos e geração de renda

Fonte: elaborado pelo estudante, com base nos dados da ETD

Com base nos dados apresentados compreende-se que os projectos financiados pelo FDD no

distrito de Marracuene no período compreendido entre 2007 e 2010, não estão ainda a

contribuir para elevar os números de emprego, nem na geração de rendimentos que

contribuir suficientemente para o desenvolvimento local.

se que em média um projecto dificilmente consegue criar dois

empregos, beneficiando somente os implementadores, sem gerar emprego para as

comunidades locais e o nível do rendimento dos beneficiários é baixo. Isto é resultado da

fraca capacidade dos beneficiários em matéria de gestão de pequenos negócios como

consequência da falta de capacitação e acompanhamento dos mesmos no processo de

Desta maneira, corrobora-se, com a H1, decorrente dos resultados que

demonstram uma relativa melhoria das condições dos beneficiários directos d

62%

38%

Producao de alimentos e Geracao de renda

Producao de alimentos

39

ilustra casos em que os projectos financiados são maiores que o número de

emprego criado por eles, como é o caso de 2008 (132 projectos para criarem 101 empregos) e

associações se beneficiam, mas

não geram emprego suficiente para contribuir na melhoria das condições de vida dos que lhes

implementação

de geração de

de renda, 2007-

se que os projectos financiados pelo FDD no

distrito de Marracuene no período compreendido entre 2007 e 2010, não estão ainda a

contribuir para elevar os números de emprego, nem na geração de rendimentos que possam

se que em média um projecto dificilmente consegue criar dois

empregos, beneficiando somente os implementadores, sem gerar emprego para as

rendimento dos beneficiários é baixo. Isto é resultado da

fraca capacidade dos beneficiários em matéria de gestão de pequenos negócios como

consequência da falta de capacitação e acompanhamento dos mesmos no processo de

dos resultados que

demonstram uma relativa melhoria das condições dos beneficiários directos do FDD, mas

Producao de alimentos e Geracao de renda

Producao de alimentos

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sem no entanto contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento do distrito, na

medida em que nada mostra que há grandes mudanças operadas pelo mesmo neste distrito.

No que refere a articulação entre o FDD e planos estratégicos de desenvolvimento distrital

em Marracuene, verificamos que não existe interacção entre os mesmos, uma vez que os

entrevistados mostraram pouco conhecimento sobre a articulação entre o FDD e outros

instrumentos de planificação e desenvolvimento local.

“… desconheço a articulação entre o FDD e outros instrumentos de planificação

descentralizada a nível do distrito, uma vez que o mesmo ainda é novo e ainda há

algumas dificuldades no processo da sua gestão, os resultados ainda não são

visíveis, os reembolsos ainda são fracos, mas estamos a trabalhar no sentido de

melhorar…”26

A perspectiva sistémica defende que um trabalho em conjunto tem melhores resultados,

assim consubstanciamos que os membros dos CCL, da ETD, os funcionários do governo

distrital, a sociedade civil, como a Actionaid27 e os privados precisam de colaborarem para

atingir os mesmos objectivos. Um trabalho em sistema implica que uma série de instituições

e actividades na sociedade funcionam em conjunto para transformar demandas em decisões

que beneficiam a sociedade como um todo e implica também que os elementos do sistema

são inter-relacionados.

Olhando para o distrito de Marracuene, há que sustentar que há pouca interacção entre os

serviços distritais no âmbito do processo de governação e desenvolvimento local e pouco tem

se visto em termos de articulação entre o FDD e os planos de desenvolvimento distrital, alias

para demonstrar isso, nota-se que o plano estratégico do desenvolvimento distrital foi

elaborado em 2009, mas até hoje não foi aprovado, tratando-se ainda de um Draft. Se o

PEDD não foi aprovado torna-se difícil perceber como o distrito faz a implementação dos

outros planos de desenvolvimento distrital como é caso de PESOD.

26 Declarações obtidas na Secretaria distrital pela equipa responsável de panificação. 27 Que tem colaborado com o governo distrital em matéria de combate a pobreza no distrito de Marracuene, promovendo a participação da comunidade e da mulher em particular nos assuntos que ajudam a combater a pobreza, tem patrocinado vários intercâmbios entre distritos para troca de experiência em torno de desenvolvimento local.

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5. 5 Discussão em volta do distrito como pólo de desenvolvimento

Para uma análise mais precisa procura-se antes compreender a teoria dos pólos de

crescimento desenvolvida por François Perroux. Segundo Sousa (2005), os pólos de

crescimento surgem em torno de uma aglomeração urbana importante ao longo das grandes

fontes de matérias-primas, assim como nos locais de passagem de fluxos comerciais

significativos e em torno de uma grande área agrícola dependente. Este autor, sustenta que o

pólo de crescimento é um complexo industrial, um conjunto de actividades ligadas por

relações de insumo produto. Por sua vez, Higgins (1985), defende que estas indústrias

propulsoras ou motrizes tendem a formar aglomerações e a dominar outras indústrias que se

conectam a elas, gerando efeitos de difusão, elevando o produto, aumentando o emprego e a

tecnologia.

Andrade em, Amorim & Cima (2007), defende que Perroux conceitua de forma diferenciada

os termos crescimento e desenvolvimento. Neste âmbito, entende-se por pólo de

desenvolvimento a combinação de mudanças sociais e mentais de uma população que a

tornam apta a fazer crescer, cumulativamente e de forma durável, seu produto real e global,

isto é, quando provoca transformações estruturais e expande o produto e o emprego no meio

em que está inserido e por pólo de crescimento apenas um aumento do produto global e da

renda per capita.

Analisando a teoria de pólo de crescimento no contexto de distrito como pólo de

desenvolvimento adoptado em Moçambique, assinala-se que a mesma não se mostra prática,

visto que a noção de pólo leva-nos a uma actividade motriz industrial ou que usa os recursos

de uma região de forma a desenvolver a mesma; leva-nos ainda a uma estrutura comercial e

financeira regional resguardando os ganhos para investimentos internos, situação difícil no

nosso país na medida em que a maior parte do investimento é estrangeiro. Mais um aspecto

destaca-se com a noção de pólos, o uso de tecnologias, situação que o país ainda apresenta

muitas dificuldades, principalmente os distritos que são tidos como pólos de

desenvolvimento.

O pólo de desenvolvimento em Moçambique deve ser visto numa perspectiva regional, não

distrital, isto é, a noção de pólo de desenvolvimento é inter e intra distrital. Isto porque os

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pólos de crescimento ou desenvolvimento devem ser pólos em relação a uma outra região e

exigem instalação de infra-estruturas, capacidade de formar mão-de-obra local e potencializar

o empresariado regional, situação que na se verifica na maior parte dos distritos. Desta forma,

entende-se que definir o distrito como pólo de desenvolvimento não passa de uma utopia,

sem sustentação da realidade. Senão, estaríamos numa situação de crescimento sem pólo,

uma vez que os distritos seriam pólos em relação a que aglomerados?

Não se pode delimitar um pólo de desenvolvimento só num distrito, mas sim, numa região

que tenha aglomerado, com potencialidades económicas e sociais capazes de melhorar as

condições de vida dos que nela habitam. Vejamos o exemplo de alguns pólos de

desenvolvimento que se encontram integrados em dois ou mais distritos: o caso do parque

industrial de Beluluane, que influencia a cidade de Maputo e Matola, o parque agrícola de

Boane, que tem influência em vários distritos como Matola, Matutuine, Namaacha, Moamba

e Maputo; o complexo açucareiro de Xinavane e Maragra, que influenciam na vida vários

distritos da província de Maputo e Gaza.

Resultante disto, compreendemos que o crescimento verificado ao nível local não pode ser

resultado do distrito como de desenvolvimento, mas sim está relacionado com as pequenas

actividades económicas e industriais características da estrutura económica das comunidades

locais e que servem para a satisfação das necessidades básicas da população local. Por

exemplo, os rendimentos alcançados com base na agricultura, pesca, comércio de pequena

escala, criação de gado no distrito não podem definir de um pólo de desenvolvimento.

No caso concreto de Marracuene, salientar que o distrito não apresenta grandes fontes de

matéria-prima, pouco fluxo comercial, excepto o facto de ser um corredor que dá acesso à

cidade de Maputo, não apresenta um complexo de indústrias nem uma área agricola

extensiva, tanto ao nível do distrito como dos postos administrativos, localidades, não têm

infra-estruturas que possam ser consideradas geradoras de desenvolvimento económico.

Marracuene não pode ser um pólo, mas sim uma região polarizada da cidade de Maputo,

assim como a maior parte dos distritos que compreendem a província de Maputo. Rejeitamos

desta forma, a H2 da pesquisa que ao supor que o FDD contribui para definir distrito de

Marracuene pólo de desenvolvimento.

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6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Decorrente da análise e discussão feita ao longo do estudo, conclui-se que:

Há pouco envolvimento dos membros dos CCL e da ETD na implementação do FDD e uma

participação passiva na discussão dos programas de desenvolvimento local, resultado da fraca

capacidade institucional, consequente do desconhecimento do quadro normativo em volta da

governação e desenvolvimento local e falta de capacitação dos mesmos em matéria de

planificação, pouca informação sobre gestão em pequenos negócios.

A respeito da monitoria, verificamos que há uma tendência de melhoria a partir de 2010,

depois da estratégia de monitoria a nível dos bairros e localidades, envolvendo deste modo,

os chefes de quarteirões, líderes comunitários, secretários dos bairros e membros do CCL

mais próximo dos proponentes, aumentando a percentagem de reembolso para 15% do valor

planificado em 2010.

O distrito carece ainda de uma definição clara dos objectivos e prioridades no contexto do

distrito como base de desenvolvimento, carece de um quadro capacitado em matéria de

gestão e planificação descentralizada; não há um programa claro e coerente na gestão do

FDD; há exclusão de algumas partes que deviam participar activamente na gestão do fundo,

como é caso da sociedade civil e a comunidade local, inclusive alguns membros dos CCL não

sabem qual é o seu papel no desenvolvimento do distrito.

Uma gestão com vantagens competitivas em relação aos outros distritos, através de um

capital humano dotado de conhecimento, informação, dinamismo e pesquisa em matéria de

desenvolvimento local pode contribuir para o desenvolvimento do distrito. Então a aplicação

e conhecimento da teoria do desenvolvimento endógeno é muito importante para os

colaboradores e funcionários deste distrito, onde os empreendimentos e investimentos feitos

pelas comunidades locais podem representar uma forma institucionalizada para que os

actores sociais estabeleçam relações estáveis inter e intra-grupais e contribuir para o

desenvolvimento do distrito de Marracuene.

O Desenvolvimento local não está relacionado unicamente com o crescimento económico,

mas também com a melhoria de qualidade de vida e deve ser visto num contexto de

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interacção entre os vários actores que nele participam e que deve ter em conta factores

económicos, sociais, culturais e psicológicos. Neste contexto, o distrito apresenta um nível de

interacção entre os vários sectores de actividade aceitável, mas não há articulação entre os

planos de desenvolvimento local.

O FDD contribui para melhorar somente as condições de vida dos beneficiários, sem com

isso, contribuir na geração de emprego, de renda, muito menos para o desenvolvimento local,

na medida em que o desenvolvimento verificado no distrito é resultado da expansão da cidade

de Maputo, não é resultado do rendimento do distrito.

No âmbito de distrito como pólo de desenvolvimento, Marracuene não pode ser considerado

pólo de desenvolvimento, na medida em que um pólo corresponde uma indústria motriz com

propulsores e uma aglomeração de indústrias dependentes dela que consumem e produzem

insumos para a indústria motriz. A análise de pólo de desenvolvimento deve ser feita num

contexto regional, inter e intra distrital, não somente num distrito que não possui nada que

identifica um pólo de crescimento.

Recomendamos:

Uma gestão activa por parte de todas as entidades envolvidas no processo governativo e uma

aposta num capital humano mais capacitado e dinâmico em matérias de gestão, planificação;

maior envolvência da sociedade civil na governação local e empoderamento das comunidades

locais;

Maior articulação do FDD e PESOD e dos serviços distritais para que possam planificar

melhor os planos de desenvolvimento distrital;

Maior divulgação dos instrumentos normativos que envolvem o FDD e o processo de

descentralização;

Capacitação e revitalização dos órgãos envolvidos no processo de selecção e aprovação dos

projectos para melhor análise de viabilidade.

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Anexos

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ANEXO 1: GUIÃO DE ENTREVISTA PARA REPRESENTANTES DO GOVERNO

DO DISTRITO DE MARRACUENE

Procedimento da identificação e a função do entrevistado.

1. O que entende por FDD ou sete milhões?

2. Qual é o estagio actual do distrito em relação ao FDD?

3. Que mecanismo o distrito usa para a divulgação do fundo?

4. Quem pode concorrer para o mesmo?

5. Como é que o governo distrital participa na implementação, monitoria e avaliação do

FDD?

6. Qual é o papel das equipes técnicas distritais (ETD) no processo de gestão do FDD?

7. O governo distrital participa na aprovação dos projectos? Se sim de que maneira?

8. Em relação aos Conselhos Consultivos Locais que papel têm na gestão dos sete milhões?

9. Quais os critérios observados na escolha dos projectos a financiar?

10. O governo distrital tem colaborado com os candidatos na elaboração dos projectos

11. Que objectivos ou prioridades são definidos com a implementação do FDD

12. Como são alocados a cada projecto aprovado? Isto é, o dinheiro é entregue de uma vez ou

em parcela?

13. Que ganhos/contribuições os sete milhões trouxeram para o distrito?

14. Que estratégias definiram em paralelo com os sete milhões no contexto do distrito como

pólo de desenvolvimento?

15. Existem mecanismos de interacção e articulação entre o FDD os planos estratégicos de

desenvolvimento distrital (PEDD e PESOD)?

16. Qual grau de reembolso a nível distrito de Marracuene?

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ANEXO 2: GUIÃO DE ENTREVISTA PARA OS MEMBROS DO CONSELHO

CONSULTIVO DO DISTRITO DE MARRACUENE

Procedimento da identificação, função do entrevistado e nível académico.

1. O que entende por FDD ou sete milhões?

2. Desde quando é membro do CCD?

3. O que é necessário para ser membro do Conselho Consultivo?

4. Como é o processo de gestão de FDD

5. Quem aprova os projectos

6. Que critérios para seleccionar os projectos a serem financiados pelo FDD em Marracuene?

7. Como é fazem a monitoria do fundo?

8. O que influencia a aprovação dos projectos?

9. Qual é o nível de desembolso?

10. Qual é o nível de reembolso?

11. Tem enfrentado alguns constrangimentos no processo de gestão do FDD?

12. Como é a interacção entre o CCD e o Governo distrital?

13. Pensa que o FDD contribui para o desenvolvimento do distrito?

14. Há um mecanismo de controlo ao longo do processo de implementação?

15. Como é CCD contribui para a participação da comunidade local no desenvolvimento do

distrito?

16. Que comentário faz acerca de se definir o distrito como pólo de desenvolvimento?

17. Neste âmbito pensa que os sete milhões podem contribuir para o desenvolvimento local?

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ANEXO 3: GUIÃO DE ENTREVISTA PARA OS BENEFICIÁRIOS DO FDD EM

MARRACUENE

Procedimento da identificação e a função do entrevistado.

1. O que entende por FDD ou sete milhões?

2. Desde quando concorre para a aquisição do FDD?

3. Aquando da sua concorrência teve algumas dificuldades para aprovação do seu projecto?

a) se sim, que tipo?

4. Em que consiste o seu projecto?

5. Quanto tempo levou para ser aprovado?

6. Quando é que começou a implementar

7. Quanto dinheiro pediu e quanto recebeu?

8. Como é foi entregue? Isto é em parcelas ou completo?

9. Que resultado esperava alcançar?

10. Conseguiu alcançá-los?

11. Há quanto implementou o seu projecto?

12. Pensa que o seu projecto contribui para o desenvolvimento local?

a) Se sim, de que forma?

13. Teve alguns constrangimentos na implementação do projecto?

14. Que comentário faz acerca de se definir o distrito como pólo de desenvolvimento?

15. Neste âmbito pensa que os sete milhões podem contribuir para o desenvolvimento local?

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ANEXO 4: GUIÃO DE ENTREVISTA PARA AUTORIDADES COMUNITÁRIAS,

LÍDERES DAS ORGANIZAÇÕES COMUNITÁRIAS E POPULAÇÃO EM GERAL.

Procedimento da identificação e a função do entrevistado.

1. Tem conhecimento do fundo denominado, sete milhões?

a). Se sim, o que entendes que sejam os sete milhões?

2. Para que servem?

3. Como é que são adquiridos?

4. Quem se pode beneficiar dele?

5. Conhece alguém que se beneficiou?

a) Se sim, o que mudou na vida dessa pessoa?

6. Tem algum interesse em concorrer ou já concorreu alguma vez?

7. Se concorresse que tipo de projecto de investimento haveria de traçar?

8. Que comentário faz acerca de se definir o distrito como pólo de desenvolvimento?

9. Neste âmbito pensa que os sete milhões podem contribuir para o desenvolvimento local

11. O que pensa que devia ser feito que não se faz para tornar os sete milhões mais activos no

desenvolvimento local?

12. De que forma a comunidade local tem contribuído para o desenvolvimento do distrito?

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ANEXO 5: LISTA DE ENTREVISTADOS

Nº Nome Designação/Função Local da Entrevista

1 Alberto Massinga Beneficiário Taúla 2 Albertina Lucas Beneficiário Ngalunde 3 Alcinda Magaia Repartição de Planificação SD* Marracuene

4 Alice Machava Beneficiária Michafutene 5 Altimo Tomás Planificação SDPI** Marracuene6 Amélia Palate Beneficiária Localidade-sede7 Anabela Assuate Membro Do CCD De Pebane Actionaid Marracuene8 Anchia Gudumula Membro Da ETD De Pebane Actionaid Marracuene

9 Angélica Magaia Beneficiária Localidade-sede 10 António Magaia Beneficiário Macandza

11 Armando Matuala Chefe de Localidade de Taúla Taúla 12 Caldina Davuca Chefe de Localidade-sede Localidade-sede13 Carlos Macaneta Beneficiário Macaneta

14 Carolina Zibia Membro efectivo ETD Marracuene ETD*** Marracuene15 Célia António Membro do CCD**** de Eráti Actionaid Marracuene16 Celeste Nhacumbe Beneficiária Matalane

17 Custódio Moia Beneficiário Localidade-sede18 Ernesto Muendane Beneficiário Localidade-sede19 Ernesto Chipanga Beneficiário Macaneta20 Esperança Sinela Beneficiária Ngalunde

21 Estefânia Guerra Membro CCD de Maganja-da-costa Actionaid Marracuene22 Eugénio Macanza Chefe de Localidade de Macandza Macandza 23 Fanuel Chacha Membro da ETD Marracuene Actionaid Marracuene24 Francisco Mauelele Membro efectivo ETD Marracuene ETD Marracuene25 Frederico Tembe Chefe de Localidade de Michafutene Michafutene 26 Gaspar Guambe Beneficiário Michafutene

27 Guilhermina Mouzinho Chefe da localidade de Macaneta Macaneta 28 Joana Nacua Membro da ETD de Namurroi Actionaid Marracuene29 Joaneta Macanza Beneficiária Localidade-sede30 João Pondza Beneficiário Taúla

31 Judite Magaia Membro do CCD de Marracuene Actionaid Marracuene32 Limone Ripinga Membro da ETD de Manhiça Actionaid Marracuene33 Lurdes Ussene Planificação Eráti Actionaid Marracuene34 Maria do Céu Ndumaio Chefe do posto Adm. Machubo Machubo35 Maria Otela Membro do CCD Actionaid Marracuene36 Maria Vicente Administradora de Marracuene SD Marracuene

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37 Maurício Matsinhe Colaborador Actionaid Marracuene Actionaid Marracuene

38 Palmira Mata Beneficiária Macandza39 Pascoa Jaime Membro CCD de Maganja-da-costa Actionaid Marracuene

40 Paulino Januário Beneficiário Michafutene 41 Rui Nhantumbo Membro da ETD de Marracuene Actionaid Marracuene

42 Rui Chiboleca Beneficiário Matalane 43 Salvador Houana Beneficiário Ngalunde 44 Sebastião Manjaze Secretário Permanente Marracuene SD de Marracuene45 Sebastião Mulau Chefe da Localidade de Matalane Matalane 46 Sheyla Cambaco Colaboradora Actionaid Marracuene Actionaid Marracuene47 Uaquene Carlos Beneficiário Localidade-sede

48 Vicente Matuassa Beneficiário Localidade-sede49 Zefanias Banze Beneficiário Michafutene 50 Zefanias Macome Beneficiário Matalane51 Zélia Chavango Beneficiária Ngalunde52 Zita José Beneficiária Localidade-sede

* Secretaria Distrital

** Serviço Distrital de Planificação e Infra-estruturas

*** Equipa Técnica Distrital

**** Conselho Consultivo Distrital

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