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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO TESE DE DOUTORADO VISITAS DE ESTUDANTES A MUSEUS: FORMAÇÃO HISTÓRICA, PATRIMÔNIO E MEMÓRIA Autora: Elizabeth Aparecida Duque Seabra Orientadora: Profa. Dra. Ernesta Zamboni Tese de Doutorado apresentada à Comissão de Pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Educação, na área de concentração de Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte. Campinas 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCACcedilAtildeO

TESE DE DOUTORADO

VISITAS DE ESTUDANTES A MUSEUS FORMACcedilAtildeO HISTOacuteRICA PATRIMOcircNIO E

MEMOacuteRIA

Autora Elizabeth Aparecida Duque Seabra

Orientadora Profa Dra Ernesta Zamboni

Tese de Doutorado apresentada agrave Comissatildeo de Poacutes-graduaccedilatildeo da Faculdade de

Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos para

obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Educaccedilatildeo na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo

Conhecimento Linguagem e Arte

Campinas

2012

ii

iii

iv

Elton e Teresa

todo o amor que houver nessa vida

v

AGRADECIMENTOS

Agrave professora Ernesta Zamboni pela felicidade de ser sua orientanda participar de seu grupo

de pesquisa e de seu conviacutevio Pela dedicaccedilatildeo com a qual conduz o trabalho acadecircmico e o

cuidado com o ensino de histoacuteria

Agraves professoras do grupo Memoacuteria Maria do Carmo Martins Maria Carolina Boveacuterio

Galzerani Heloiacutesa Helena Pimenta Rocha e Vera Luacutecia Sabongi De Rossi com as quais tive o

prazer de compartilhar minha formaccedilatildeo na Unicamp Agrave professora Cristiani Bereta e ao professor

Miacutelton Joseacute de Almeida pela leitura e indicaccedilotildees quando do exame de qualificaccedilatildeo Agrave professora

Simone Maria Rocha e ao professor Julio Emiacutelio Pereira Diniz que me possibilitaram ampliar as

leituras teoacutericas e metodoloacutegicas desse trabalho ao me receberem como aluna em suas disciplinas

acadecircmicas na UFMG

Aos colegas orientandos da professora Ernesta Zamboni Elaine Marta Tadeu Halferd

Juliana e Valeacuteria pela convivecircncia em Campinas que incluiu discussotildees sobre os limites da

pesquisa e a ampliaccedilatildeo de meus horizontes de expectativas quanto agrave vida cotidiana

Agraves diversas pessoas e instituiccedilotildees como bibliotecas puacuteblicas e museus que possibilitaram

ao longo dos quatro anos a pesquisa bibliograacutefica e documental Registro em nome de todas as

contribuiccedilotildees um agradecimento a Ana Paula Soares Pacheco que natildeo me conhece mas me

enviou de Salvador um livro que esperava ansiosamente para concluir um argumento da tese

Ao pessoal da Faculdade de Pedro Leopoldo a quem devo aleacutem do carinho nos quase dez

anos de conviacutevio profissional a existecircncia dessa pesquisa sobre as visitas a museus Foi em Pedro

Leopoldo que nasceu o desejo de investigar a praacutetica de visitas e a elaboraccedilatildeo do projeto de

doutorado Agradeccedilo a Edna Marta Siuacuteves aos colegas professores Marcos Lobato Geovacircnia

Luacutecia dos Santos Geraldo Magela Mangnini Rafael Machado Cristiane de Castro e Almeida

Juacutenia Sales Pereira Rogeacuterio Pereira Arruda Andreacutea Casa Nova Maia Shirley Aparecida de

Miranda Joseacute Eustaacutequio de Brito Juacutenia Carolina Mariza Guerra de Andrade Ilza Gualberto

Eunice Esteves Humberto Catuzzo e outros que viveram os dias de formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo

de projetos pedagoacutegicos trabalhos de campo atividades acadecircmicas cientiacuteficas e culturais e

que talvez natildeo desejem serem lembrados por isso

vi

Aos alunos das vaacuterias turmas do Curso de Histoacuteria da Faculdade de Pedro Leopoldo e em

especial da uacuteltima turma de histoacuteria que concluiu a licenciatura em 2008 Eles satildeo os sujeitos

instituiacutedos por essa pesquisa Eacute agrave memoacuteria dos estudantes que quero prestar meu agradecimento

na forma de registro institucional de tese

Aos amigos de ontem e hoje Silvana Flaacutevia Dulce Santuza Cynthia Rogeacuterio Cristiane

Juacutenia Nara Wanderley Miacuteria Miacuteriam e Meire Ao pessoal de casa pai matildee irmatildeo irmatildes

sobrinhas sobrinhos cunhada cunhados vizinhos sempre interessados em como estatildeo indo as

minhas coisas

Aos professores e alunos do Curso de Histoacuteria do Unibh em especial aos professores

Rogeacuterio Arruda e a professora Ana Cristina Lage com os quais tive o prazer de compartilhar um

reencontro com o sabor discutir historiografia agraves sextas-feiras agrave noite

vii

Vista do Salatildeo do seacuteculo XIII do Museu dos Monumentos Franceses

Gravada por Jean Baptiste Reacuteville e Jacques Lavalleacutee Paris 1816

ldquoA mais forte impressatildeo da infacircncia [] foi o Museu dos monumentos franceses tatildeo

desastrosamente destruiacutedos Foi laacute e em nenhuma outra parte que pela primeira vez tive a viva

impressatildeo da histoacuteria Ocupava aqueles tuacutemulos com minha imaginaccedilatildeo sentia aqueles mortos

atraveacutes do maacutermore e natildeo era sem algum terror que penetrava sob aquelas aboacutebodas baixas

onde jaziam Dagobert Chilpeacuteric e Freacutedeacutegonderdquo

Jules Michelet O Povo 1a Ediccedilatildeo Paris 1866

viii

RESUMO

O objetivo central da tese eacute analisar em que medida praacuteticas escolares de visitas a museus podem

romper com os saberes disciplinares e pedagoacutegicos incidindo diretamente sobre a produccedilatildeo de

um conhecimento experiencial a ser mobilizado no ensino de histoacuteria Do ponto de vista teoacuterico

a pesquisa toma a ideia de visitante como um espectador emancipado (RANCIEgraveRE 2010) e a

produccedilatildeo da cultura como um modo de vida comum perpassada pelas ideacuteias e praacuteticas sociais

(WILLIAMS 1969 e 1979) Do ponto de vista empiacuterico investiga-se como um grupo de

estudantes de Licenciatura em Histoacuteria em situaccedilotildees educativas de visita constroem sentidos

diversos para o patrimocircnio para o ensino de histoacuteria e a para a memoacuteria cultural Destacam-se

em especial as praacuteticas vivenciadas pelos visitantes no Museu do Escravo de Belo Vale (MG) e

no Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro

Palavras chave Visitantes de Museus Formaccedilatildeo Histoacuterica Patrimocircnio Memoacuteria Formaccedilatildeo de

Professores

ix

ABSTRACT

The main objective of this thesis is to analyze the extent in that school field trips to museums can

modify established disciplinary and pedagogical knowledge and directly influence the production

of knowledge from experience to be mobilized for the teaching of history From the theoretical

viewpoint this study considers the visitor as an emancipated spectator (RANCIEgraveRE 2010) and

the production of culture as a common way of life and determined by the social ideas and

practices (WILLIAMS 1969 and 1979) From the empirical viewpoint we investigated the way

how history licensure students construct various meanings to the heritage in field trips for the

teaching of history and the cultural memoryThe practices experienced by the visitors to the Slave

Museum in Belo Vale State of Minas Gerais and the National History Museum in Rio de

Janeiro state of Rio de Janeiro are given special emphasis

Keywords Museum Visitors History Formation Heritage Memory Teacher Education

x

Lista de ilustraccedilotildees

Figura 1 GAY Paul du e HALL Stuart O circuito da cultura Production of CultureCultures of

Production Londres Sege 1997 32

Figura 2 CUNHA Viacutevian e outros Fotografias da entrada e paacutetio interno do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006 33

Figura 3 RODRIGUES Marly Marques Fotografia da entrada do Museu Histoacuterico Nacional

2008 33

Figura 4 Fachada do Museu do Escravo Disponiacutevel

emlthttpwwwbelovalemggovbratracoes_museuhtmgt Acesso em 2011 35

Figura 5 Fachada do Museu Histoacuterico Nacional ndash Disponiacutevel em

lthttpwwwmuseuhistoriconacionalcombrmh-2008-001htmgt Acesso em 2011 37

Figura 6 Turma do 4ordm periacuteodo de Histoacuteria Faculdade Pedro Leopoldo Fazenda Boa Esperanccedila

Belo Vale MG 2006 72

Figura 7 MARQUES Daniele Paulo Fotografia da visita a Petroacutepolis Rio de Janeiro 2007 77

Figura 8 AMORIM Frederico Levi Monitora do Museu do Escravo no paacutetio central tendo ao

fundo a senzala e o pelourinho Belo Vale-MG 2006 79

Figura 9 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes ouve explicaccedilotildees da monitora no paacutetio

interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006 79

Figura 10 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes junto ao tronco no paacutetio interno do

Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006 80

Figura 11 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 83

Figura 12 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 84

Figura 13 LEGATI Lorenzo Museu Cospiano Bolonha 1677 85

Figura 14 VASARI Giorgio (1511-1574) Studiolo de Francisco I Palazzo Vecchio Firenze

1570-1573 86

Figura 15 SANTOS Fabiana Cristina dos Montagem de fotografias da visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 88

Figura 16 BIARD Franccedilois Auguste (1798-1882) Quatro Horas no Salatildeo (Quatre heures au

Salon) Oacuteleo stela 57x67 cm Museu do Louvre Paris 1847 90

xi

Figura 17 ROCKWELL Norman (1894-1978) O criacutetico de arte 1955 Ilustraccedilatildeo da capa de

The Saturday Evening Post 16 de abril de 1955 Oacuteleo sobre tela (1003 x 921 centiacutemetros)

Coleccedilatildeo Museu Norman Rockwell 92

Figura 18 ROCKWELL Norman (18941978) O connaisseur 1962 Oacuteleo sobre tela Ilustraccedilatildeo

produzida para a ediccedilatildeo do Saturday Evening Post 13 jan 1962 Coleccedilatildeo Particular 92

Figura 19 ANDRADE Aleacutecio Fotografia 1993 Cataacutelogo da exposiccedilatildeo ldquoO Louvre e seus

visitantesrdquo Instituto Moreira Salles 2009 98

Figura 20 Mapa ilustrativo de Minas Gerais e localizaccedilatildeo da cidade de Belo Vale 110

Figura 21 Turma 2006 visita o Museu do Escravo Coleccedilatildeo dos visitantes 111

Figura 22 Pavilhatildeo 1 Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale MG Fonte

httpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtm 113

Figura 23 Pavilhatildeo 2 (fundos) Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale MG Fonte

Disponiacutevel em lthttpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtmgt Acesso em 2011 114

Figura 24 AMORIM Frederico Levi Tuacutemulo do escravo desconhecido Museu do Escravo

Belo Vale 2006 116

Figura 25 AMORIM Frederico Fotografias do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 118

Figura 26 AMORIM Frederico Levi Fotografias do paacutetio interno do Museu do Escravo 2006

119

Figura 27 ARAUacuteJO Sueli de Azevedo A turma no cenaacuterio do Cacaacute Diegues Museu do

Escravo 2006 120

Figura 28 CARDINI Joatildeo fl 1804-1825D Joatildeo Priacutencipe do Brazil regente de Portugal

Gravura buril e aacutegua-forte pampb 96x6 cm 1807 Cataacutelogo da exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um

Novo Impeacuterio - A Corte Portuguesa no Brasil2008 p18 123

Figura 29 Capa do Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Cultura 1957 130

Figura 30 Capa do folder do Museu Histoacuterico Nacional Portatildeo da Minerva Entrada do Museu

Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Cultura IPHAN Guia do Visitante sd 130

Figura 31 Portatildeo de Minerva Guia do Visitante Museu Histoacuterico Nacional 132

Figura 32 Arcada dos descobridores Guia do Visitante Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo e Cultura 1957 133

xii

Figura 33 XAVIER Michele Oliveira Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de

Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008 134

Figura 34 Reproduccedilatildeo da Capa do Cataacutelogo da ldquoExposiccedilatildeo Um novo Mundo um novo impeacuterio

A corte portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 140

Figura 35 Capa do Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um novo impeacuterio A corte

portuguesa no Brasil18082008 Brasil-Portugal Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro

2008 143

Figura 36 Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um novo impeacuterio A corte

portuguesa no Brasil18082008 Brasil-Portugal Museu Histoacuterico NacionalRio de Janeiro 2008

148

Figura 37 AMORIM Frederico Levi Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de

Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008 150

Figura 38 Montagem fotograacutefica de Frederico Amorim para visita agrave Exposiccedilatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 152

Figura 39 BRAGA Fernando Daniel Visita ao Museu Nacional Rio Janeiro 2008 152

Figura 40 Fernando Daniel Fraga Fonseca Fotografia Nuacutecleo 2- A metroacutepole nos troacutepicos

Exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil MHN 2008

154

xiii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 1

CAPIacuteTULO I - Narrativa presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica 9

11- Memoacuteria e narrativas de visitas 13

12 - A presenccedila de estudantes 19

13 - Formaccedilatildeo histoacuterica 25

14- Circuito e circularidade cultural 30

15- Visitantes de museus espectadores emancipados 39

CAPIacuteTULO II - Visitas a museus memoacuteria e patrimocircnio dos visitantes 45

21 ndash Estudos sobre museus um balanccedilo historiograacutefico 45

22 ndash Plano de visitas e aprendizagem histoacuterica em museus 54

23- Praacuteticas de formaccedilatildeo produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos 58

24- Visitas escolares e visitantes marcas visiacuteveis de historicidade 63

25- Relatos e fotografias registros do patrimocircnio dos visitantes 71

CAPIacuteTULO III - A historicidade de museus e visitantes 82

31- Visitantes diante de museus a experiecircncia museal 82

32- Usos puacuteblicos e educativos dos museus 88

33 - Maneiras de ver e ser visto nos museus 94

34 - A funccedilatildeo educativa nos museus entre os museus escolares e os pedagoacutegicos 99

CAPIacuteTULO IV - Visitantes entre narrativas e objetos museais 109

41 - Visita ao Museu do Escravo ndash Belo Vale Minas Gerais 109

42 - O escravo e o museu 113

43- Uma nova museografia para o Museu do Escravo 115

44- As narrativas dos visitantes escravidatildeo e eurocentrismo 117

CAPIacuteTULO V - Entre a poliacutetica e a poeacutetica dos museus e exposiccedilotildees 122

xiv

51 - O Museu Histoacuterico Nacional habitaccedilotildees do patrimocircnio 122

52- Comemoraccedilotildees Histoacuteria do Brasil e dos brasileiros 134

53- Ensinando histoacuteria ldquo200 anos da vinda da Famiacutelia Real para o Brasilrdquo 142

54- O visitante entre a cultura material e a experiecircncia esteacutetica 149

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 158

DOCUMENTOS 165

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 168

ANEXOS 188

1

INTRODUCcedilAtildeO

A descriccedilatildeo feita historiador Jules Michelet (1798-1874) de sua visita na infacircncia ao

Museu dos Monumentos Franceses e seu encontro com a histoacuteria ldquovivardquo da Franccedila continua

estimulando reflexotildees sobre os efeitos de sentidos dos museus para a histoacuteria a memoacuteria e o

patrimocircnio A visatildeo de Michelet a respeito dos tuacutemulos de maacutermore dos heroacuteis meroviacutengios

remete aos vaacuterios sentimentos provocados em noacutes visitantes pelo Panteatildeo dos Inconfidentes na

cidade de Ouro Preto Tambeacutem evoca os sentidos puacuteblicos da existecircncia do mausoleacuteu imperial

inaugurado por Getuacutelio Vargas em 1939 na catedral de Satildeo Pedro de Alcacircntara em Petroacutepolis

Rio de Janeiro onde estatildeo os tuacutemulos de D Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina

O Museu dos Monumentos franceses organizado por Alexandre Lenoir teve curta

duraccedilatildeo Ele existiu no conturbando periacuteodo entre 1795 e 1816 Contudo o efeito que a visita a

esse museu exerceu sobre o menino Michelet e em sua concepccedilatildeo de Histoacuteria parece duradouro

o uso da imaginaccedilatildeo para que os mortos ganhem vida

Meu encontro com os museus natildeo pode ser comparado ao relatado pelo historiador da

Revoluccedilatildeo Francesa Sequer fui a um museu quando crianccedila Minha relaccedilatildeo mais proacutexima com

essas instituiccedilotildees e com o imaginaacuterio que as cercam se aproxima da escolha da Histoacuteria como

campo profissional Foi durante a graduaccedilatildeo em histoacuteria que me aproximei dos museus como

visitante e pude posteriormente como professora de Histoacuteria no ensino fundamental e superior

experimentar diferentes instituiccedilotildees museais acompanhando grupos de estudantes muitos deles

tambeacutem visitando um museu pela primeira vez

Nas praacuteticas de visita ouvi e vi diversas vezes o encantamento e a decepccedilatildeo dos

estudantes diante do patrimocircnio monumentalizado Ao percorrer pela primeira vez ruas e becos

da cidade de Ouro Preto em 1994 um estudante de 14 anos cursando o ensino fundamental em

uma escola puacuteblica de Belo Horizonte olhava deslumbrado e me disse que nunca havia

imaginado que uma ldquocidade histoacutericardquo fosse igual agrave favela onde morava cheia de morros e casas

apertadas Outra estudante do curso de licenciatura em Histoacuteria da Faculdade onde trabalhava ao

visitar o Museu Imperial se mostrava bastante incomodada e escreveu posteriormente em seu

relatoacuterio de visita em 2005 que lhe parecia que soacute havia milionaacuterios em Petroacutepolis Ningueacutem

falava de quem construiu o palaacutecio quem trabalhou laacute dentro servindo a famiacutelia imperial como

2

se vestiam as empregadas que lavavam as ricas porcelanas e limpavam os quartos mobiliados

suntuosamente se existia alguma capelinha ou ldquocentro de macumbardquo onde os negros se reuniam

No seu relato a aluna lembra que historiadores como Marcos A da Silva jaacute falavam dos riscos de

se trabalhar com o ldquopatrimocircnio histoacutericordquo afastado do cotidiano do ensino de histoacuteria Ningueacutem

falou disso laacute no Museu relatou a visitante Os guias os materiais impressos soacute falam dos preccedilos

das casas das joacuteias e vestimentas da famiacutelia imperial concluiu Maria da Conceiccedilatildeo Machado

Viana em seu Relatoacuterio de Visita ao Museu Imperial de Petroacutepolis em 2005

O objeto desta pesquisa parte desse lugar do visitante que problematiza suas vivecircncias

evidencia crenccedilas expressa opiniotildees e amplia sua formaccedilatildeo histoacuterica e profissional em diaacutelogo

com as praacuteticas educativas que ocorrem em ambientes natildeo escolares como os museus

O interesse por esse tipo de investigaccedilatildeo surgiu desses momentos em que a visita

provocava o encontro de uma histoacuteria viva com os visitantes possibilitando emergir questotildees que

interpelavam os sujeitos colocando-os em accedilatildeo posicionando-os em relaccedilatildeo aos museus ao

ensino de histoacuteria agrave historiografia e agraves praacuteticas de memoacuteria Diante dos museus e colocados em

situaccedilotildees de interaccedilatildeo os visitantes-estudantes eram capazes de se reconhecerem reciprocamente

como parceiros protagonistas numa situaccedilatildeo de troca

A pesquisa para o doutoramento eacute esse esforccedilo para construir uma narrativa a partir dos

vestiacutegios deixados pelos visitantes Busco articular o tempo de minha proacutepria formaccedilatildeo de meu

exerciacutecio profissional como professora de Histoacuteria e da minha atual condiccedilatildeo de pesquisadora na

aacuterea de educaccedilatildeo Eacute do lugar do presente que pretendo materializar meu objeto de pesquisa as

visitas educativas a museus tomadas como foco para a anaacutelise dos usos do patrimocircnio cultural

pelos visitantes

Procuro nesse trabalho reunir numa narrativa (RICOEUR 2010 p2-3) as vozes muacuteltiplas

e dispersas dos visitantes numa siacutentese escrita criando uma nova pertinecircncia capaz de dar novos

sentidos e referecircncias para o patrimocircnio musealizado Um movimento de fixar e conservar rastros

que satildeo escassos pegadas que satildeo poucas pois a visita pensada pela loacutegica da ldquoconservaccedilatildeordquo

dos museus natildeo deve deixar marcas nos pisos originais natildeo deve deixar sobras do consumo de

alimentos nas aacutereas comuns como jardins natildeo se deve fotografar as exposiccedilotildees e nem carregar

objetos durante o trajeto de visita guiada pelos museus

3

O visitante que procuro constituir pela pesquisa sente necessidade de se expressar de

tornar-se presenccedila Os efeitos de sentido natildeo lhes vecircem automaticamente do passado das

reminiscecircncias individuais mas do investimento que ele faz no seu presente a partir de sua

condiccedilatildeo de estudante para tornar presenccedila o que soacute existe como ausecircncia Para minha sorte as

visitas que acompanhei natildeo foram silenciosas Haacute uma escassez momentacircnea de palavras

adequadas para nomear sentimentos de maneira profunda natildeo haacute excessos aparentes no visitante

ele fala posteriormente no ocircnibus na sala de aula da falta que o calou O visitante olha e faz

suas opccedilotildees diante da narrativa do museu quase como uma imposiccedilatildeo da dimensatildeo do

esquecimento entendido como parte constitutiva do trabalho de memoacuteria ele quer registrar sua

presenccedila e sua opiniatildeo

O encontro de visitantes e museus eacute cheio de lapsos e apagamento dos rastros como de

qualquer praacutetica cultural que se queira narrar depois de decorrido o tempo da accedilatildeo O auto-retrato

formativo dos visitantes eacute sempre de itineracircncias e erracircncias nunca um quadro completo Se o

traccedilado a ser esboccedilado eacute histoacuterico o museu mostra-se nessa pesquisa como um lugar habitado por

corpos hierarquias sociais econocircmicas religiosas e culturais mas que tambeacutem insistem em se

tornar utopia e imagens que teimam em povoar provisoriamente a imaginaccedilatildeo

A anaacutelise das experiecircncias de visita a museus possibilita emergir um campo de

investigaccedilatildeo em que os sujeitos aparecem em accedilatildeo posicionam-se em relaccedilatildeo ao saber histoacuterico

a outros sujeitos e narrativas e a si proacuteprios A experiecircncia histoacuterica da visita e de cada visitante

permitiraacute uma distinccedilatildeo da qualidade temporal entre passado e presente e identificaccedilatildeo do modo

como o passado permanece como passado no presente A visita a museus pode fundamentar essa

experiecircncia temporal essa vivecircncia da mudanccedila no tempo da alteridade do passado que

experimentada abre o potencial de futuro do proacuteprio presente (RUumlSEN 2007 p 111-2)

A problematizaccedilatildeo das situaccedilotildees de visita a museus justifica-se por contribuir para uma

reflexatildeo sobre o ensino de histoacuteria como aacuterea de pesquisa e estreitar os viacutenculos com a produccedilatildeo

do conhecimento histoacuterico As visitas a museus podem propiciar um tipo de formaccedilatildeo histoacuterica

dialoacutegico principalmente com a cultura visual e material

Do ponto de vista teoacuterico e metodoloacutegico eacute importante apontar como os museus se

apresentam como um ldquocampo de forccedilasrdquo capaz de romper com os saberes disciplinares e

4

pedagoacutegicos incidindo diretamente sobre a produccedilatildeo de um conhecimento experiencial a ser

mobilizado no ensino de histoacuteria

O contato de estudantes-visitantes com o patrimocircnio cultural musealizado amplia a

compreensatildeo das linguagens expositivas e educativas dos museus a relaccedilatildeo entre objetos

museais seus significados e os coacutedigos mais amplos de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo cultural (HALL

1997 2003)

Diferentemente dos postulados que entendem o ldquodiscurso pedagoacutegicordquo como aquele a ser

transmitido e recebido que se constitui pela recontextualizaccedilatildeo de outros discursos o

conhecimento escolar eacute aqui entendido como um trabalho coletivo um texto em aberto que exige

a participaccedilatildeo de alunos e professores e natildeo uma mercadoria a ser reproduzida e consumida

pelos estudantes (SANTOS 1994 p31)

A pesquisa tem como tema central a anaacutelise das dinacircmicas e interaccedilotildees entre estudantes

em visitas educativas a instituiccedilotildees museais Visitas essas que se concretizam nas accedilotildees dos

visitantes frente agraves linguagens expositivas presentes nos museus nas concepccedilotildees de memoacuteria

patrimocircnio e histoacuteria dos visitantes e na produccedilatildeoelaboraccedilatildeo de sentidos e seus usos do

patrimocircnio cultural sempre considerando questotildees relativas agraves subjetividades identidades

profissionais experiecircnciatrajetoacuteria de vida formaccedilatildeo acadecircmica e profissional

A premissa inicial de trabalho postula que estudantes ao visitarem museus tornam-se parte

constitutiva do movimento de produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo dos conhecimentos de seus acervos

Entende-se que as experiecircncias vividas pelos sujeitos profissionais dos museus e visitantes

possibilitam mobilizar e atualizar saberes dos profissionais dos museus e saberes daqueles que

visitam museus

A justificativa para essa abordagem baseia-se em certo consenso de que a formaccedilatildeo para o

ensino de histoacuteria pode ser potencializada pelo uso de espaccedilos culturais como os museus A

cultura escolar como afirmam Marcos Silva e Selva Guimaratildees Fonseca natildeo pode ser entendida

como um fenocircmeno isolado caracterizada exclusivamente pelo conjunto de saberes elaborado ao

redor da proacutepria praacutetica de ensino mas como aquela que ldquomanteacutem laccedilos permanentes com outros

espaccedilos culturaisrdquo Na visatildeo destes autores estes laccedilos vatildeo desde a formaccedilatildeo de professores

(universidade) passando pela produccedilatildeo erudita com que estes profissionais tiveram e continuam

5

a ter contato (artigos livros) e pela divulgaccedilatildeo de saberes (livros didaacuteticos cursos exposiccedilotildees

simpoacutesios) elaborados naqueles mesmos espaccedilos (SILVA E FONSECA 2007 p8)

Os museus estatildeo incluiacutedos nesse universo de saberes e satildeo aqui privilegiados por

propiciarem natildeo um ldquolugar de memoacuteriardquo mas ldquoentre-lugaresrdquo para a formaccedilatildeo histoacuterica de

professores e alunos Os museus encontram-se nas fronteiras dos espaccedilos fiacutesicos e processos

formais e natildeo formais1 de educaccedilatildeo

As visitas a museus satildeo uma possibilidade de ampliaccedilatildeo da formaccedilatildeo acadecircmica e

profissional para aleacutem do espaccedilo escolar e ao mesmo tempo de trazer para o cotidiano de

formaccedilatildeo muacuteltiplas dimensotildees histoacutericas poliacuteticas e culturais Situaccedilotildees de visita a museus

permitem investigar nesse caso a hipoacutetese da circularidade da cultura Articulam-se reflexotildees

sobre as experiecircncias proacuteprias ao campo de trabalho docente em Histoacuteria aos saberes elaborados

no campo da museologia identificando a circulaccedilatildeo dupla de saberes especiacuteficos elaborados nos

dois campos distintos de um universo conceitual a outro e retornando ao campo profissional de

forma sistematizada

Estudantes de graduaccedilatildeo compotildeem o puacuteblico de museus seja nas visitas espontacircneas

como aponta pesquisa sobre perfil de puacuteblico-visitantes2 seja como participantes de visitas

escolares organizadas Eacute essa a situaccedilatildeo a ser explorada pela pesquisa os sujeitos em situaccedilotildees

educativas de visita elaboram e explicitam sentidos acerca dos acervos das instituiccedilotildees

museoloacutegicas analisam e confrontam discursos historiograacuteficos e formulam novos problemas e

possibilidades de interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural musealizado

O campo e os procedimentos de investigaccedilatildeo nessa pesquisa privilegiam os relatos

escritos e fotograacuteficos e recolhas documentais feitas pelos proacuteprios estudantes durante as visitas

aos museus A anaacutelise dos documentos produzidos pelos museus como cataacutelogos materiais

pedagoacutegicos folhetos informativos e orientaccedilotildees instucionais satildeo utilizados nos dois recortes

1 Alguns especialistas defendem que a educaccedilatildeo realizada em museus difere da educaccedilatildeo formal por seu caraacuteter natildeo

cumulativo natildeo apresentando conteuacutedos organizados numa sequumlecircncia como o curriacuteculo escolar Ver Park Fernandes e Carnicel (Org) 2007 p 203-210 2 Pesquisa realizada em 2005 pelo Observatoacuterio de Museus e Centros Culturais em 11 Museus do Rio de Janeiro

com visitantes selecionados por amostragem ao final da visita entre natildeo participantes de visitas escolares

organizadas constatou que este puacuteblico eacute altamente escolarizado chegando a 475 que declararam ter concluiacutedo o

ensino superior 237 o superior incompleto e 24 o ensino meacutedio restando apenas 48 que cursou ateacute o

fundamental completo Paralelo agrave escolaridade o dado referente agrave ocupaccedilatildeo encontrou entre aqueles que declaram

natildeo exercer atividade remunerada 53 de estudantes Ver Observatoacuterio 2006

6

propostos pela anaacutelise a partir do diaacutelogo que estabelecem com a compreensatildeo dos visitantes e

seus quadros de leitura Assim a leitura posta pelos museus entra em circulaccedilatildeo e eacute explorada na

forma de diferentes praacuteticas de confronto de recusa de usos e de valorizaccedilatildeo pelos visitantes

Para promover as leituras dos visitantes sobre os museus analiso os relatos dos

licenciandos em Histoacuteria de uma faculdade particular da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte

em visita a diferentes instituiccedilotildees A escolha das visitas decorreu de diversos procedimentos de

anaacutelise experimentados ao longo da pesquisa e que consideram tanto os limites aparentes dessas

fontes quanto as possibilidades dadas e permitidas Foram muitas idas e vindas em relaccedilatildeo ao

repertoacuterio ou indiacutecios documentais produzidos pelos estudantes e disponiacuteveis para o uso nessa

pesquisa A abundacircncia de material e de museus visitados pelo grupo de estudantes aponta o

papel da instituiccedilatildeo formadora na produccedilatildeo dessas fontes O estiacutemulo agraves atividades de visitas abre

possibilidades de ampliaccedilatildeo do repertoacuterio ou do arquivo com vestiacutegios brutos desorganizados

um turbilhatildeo de personagens incidentes perguntas sem respostas Praacuteticas tradicionais de leitura

dos museus e novas leituras convivem nos relatoacuterios O uso e a valorizaccedilatildeo de diferentes

princiacutepios de anaacutelise sua articulaccedilatildeo e coerecircncia interna satildeo materializadas pelo grupo de

estudantes e datildeo suporte a um acervo de memoacuterias escritas e fotograacuteficas das visitas elaborado na

perspectiva de um grupo especiacutefico de visitantes

Ao utilizar os relatos dos estudantes de licenciatura em Histoacuteria como fonte para o estudo

das experiecircncias de formaccedilatildeo cria-se uma opccedilatildeo e alternativa para compreendermos os

imbricamentos entre os discursos das instituiccedilotildees formadoras as narrativas de museus e os

estudantes-visitantes com suas histoacuterias de vida suas motivaccedilotildees crenccedilas escolhas de percurso

e atitudes durante a visita A construccedilatildeo de narrativas das visitas permite agrave pesquisa a partir de

experiecircncias localizadas e pessoais interrogar sobre o contato sociocultural de um grupo

especiacutefico de visitantes com outros grupos e temporalidades mais amplas

A questatildeo central que permeia a pesquisa eacute a formaccedilatildeo histoacuterica dos sujeitos frente agrave

experiecircncia de contato com os museus Os relatos dos visitantes entendidos como a principal

fonte documental para esse trabalho permitem discutir como um grupo ou um mesmo estudante

vecirc diferentes museus Como faz a leitura de cada um deles e encontra as diferenccedilas entre as

narrativas de cada museu Esse conjunto documental possibilita explorar complexas relaccedilotildees do

7

processo vivo dinacircmico e ativo de construccedilatildeo de conhecimentos e ensino de histoacuteria em especial

dos conceitos de cultura memoacuteria e patrimocircnio

A organizaccedilatildeo final do trabalho busca combinar em cada capiacutetulo dois movimentos ndash

discussotildees teoacutericas e metodoloacutegicas e a anaacutelise das fontes ou relatos dos visitantes O texto final

da tese eacute composto de cinco capiacutetulos No primeiro capiacutetulo eacute apresentado o tema central da

pesquisa visitas a museus Discute-se o papel das visitas de estudantes a museus para a formaccedilatildeo

histoacuterica Eacute proposta uma anaacutelise das visitas a partir dos relatos dos visitantes centrada em uma

noccedilatildeo de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos que promova uma ruptura com as ideacuteias de

representaccedilatildeo e recepccedilatildeo da cultura Satildeo articulados os referenciais teoacutericos e conceitos que

fundamentam a anaacutelise

No segundo capiacutetulo eacute retomado o debate sobre os puacuteblicos de museu e apresentado o

recorte empiacuterico da pesquisa constituiacutedo por um grupo de 15 estudantes de licenciatura em

Histoacuteria de uma Faculdade particular na regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte que realizaram

visitas entre 2005 e 2008 Satildeo caracterizadas as praacuteticas de formaccedilatildeo e produccedilatildeo de

conhecimentos a partir dos registros dos visitantes Um questionaacuterio uma entrevista oral no

formato de grupo focal e fotografias produzidas pelos proacuteprios visitantes durante as visitas satildeo os

trecircs instrumentos de produccedilatildeo de dados

O terceiro capiacutetulo faz uma ligaccedilatildeo entre os dois primeiros e os dois uacuteltimos capiacutetulos

Apresenta um balanccedilo bibliograacutefico que tem por objetivo indicar eixos de discussatildeo presentes no

campo museal e produzir um exerciacutecio metodoloacutegico que contribua para explicitar a dinacircmica de

interaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos pelos visitantes professores e alunos em visitas agraves duas

instituiccedilotildees museais que seratildeo destacadas nos capiacutetulos quatro e cinco Satildeo abordadas as questotildees

relativas agrave historicidade dos museus os campos e conceitos a ele relacionados a atualidade do

tema nas pesquisas acadecircmicas Estas referecircncias analiacuteticas visam definir um quadro teoacuterico-

conceitual e sistematizar as discussotildees em torno do conceito de museu

No capiacutetulo quatro eacute apresentada uma reflexatildeo sobre a visita realizada no segundo

semestre de 2006 ao Museu do Escravo em Belo Vale (MG) Satildeo confrontados os relatos escritos

e fotograacuteficos produzidos pelos visitantes e argumenta-se que os estudantes ao visitarem este

museu histoacuterico tornam-se parte constitutiva do processo de produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo das

informaccedilotildees de seu acervo

8

O quinto capiacutetulo enfatiza a criacutetica do mesmo grupo de estudantes que visita em 2008 a

exposiccedilatildeo do Museu Histoacuterico Nacional ldquoUm novo mundo um novo Impeacuterio a Corte Portuguesa

no Brasil ndash 1808-1822rdquo O capiacutetulo procura refazer o percurso dos visitantes considerando duas

referecircncias o discurso expositivo do museu e a formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes A partir da

situaccedilatildeo de visita e da formaccedilatildeo procuramos entender como os visitantes descrevem analisam

interpretam e fundamentam suas escolhas e gostos A visita ao Museu Histoacuterico Nacional

possibilitou abordar as relaccedilotildees entre poliacuteticas e poeacuteticas as relaccedilotildees com a memoacuteria o

patrimocircnio e a histoacuteria nos usos educativos dos museus pelos visitantes

A pesquisa se integra agraves questotildees discutidas pela aacuterea de concentraccedilatildeo Educaccedilatildeo

Conhecimento Linguagem e Arte e pelo grupo de pesquisa Memoacuteria Histoacuteria e Educaccedilatildeo agrave

medida que busca investigar a produccedilatildeo de conhecimentos em suas articulaccedilotildees com as praacuteticas e

discursos empreendidos por instituiccedilotildees como os museus e as interaccedilotildees construiacutedas pelos

sujeitos em situaccedilotildees de visita escolar a estas instituiccedilotildees

9

CAPIacuteTULO I - Narrativa presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica

Visita ao museu

No dia 26 de setembro de 2005 fomos ao museu Abiacutelio Barreto em Belo

Horizonte A visita foi bem interessante e totalmente diferente do que eu imaginava porque em minha mente o museu era um local em que as pessoas iam para ver coisas

velhas Durante e apoacutes a visita minha visatildeo mudou por completo percebi que um

historiador tem vaacuterias formas de trabalhar com diferentes tipos de objetos A partir de

uma montagem e desmontagem de figuras podem-se passar imagens diferentes

dependendo da maneira que esse material foi exposto como fizemos na dinacircmica

O museu tambeacutem desenvolve um trabalho diferente dos que eu jaacute visitei Ao

mesmo tempo em que eles estatildeo preservando a memoacuteria da cidade estatildeo tambeacutem

integrando o objeto ao cotidiano da sociedade remetendo-nos haacute tempos em que Belo

Horizonte era apenas um arraial chamado Curral Del Rei o iniacutecio do avanccedilo

tecnoloacutegico e ateacute os dias de hoje Laacute o casaratildeo deixa de ser espaccedilo fiacutesico para virar

objeto museoloacutegico A organizaccedilatildeo eacute oacutetima Na sede do museu satildeo desenvolvidos vaacuterios

trabalhos como projetos restauraccedilatildeo de materiais etc Gostei da forma que o material eacute conservado em estantes giratoacuterias O visitante ao inveacutes de ir para visitar somente o

casaratildeo faz um circuito por toda a aacuterea do museu A exposiccedilatildeo eacute aberta a todos que

queiram ver

Como temos visto em nosso curso principalmente em Teoria II o historiador

trabalha em cima de perguntas (segundo Annales) e os objetos que vimos podem nos dar

vaacuterios tipos de respostas A visita ao museu foi uma aula praacutetica de como se fazer

Histoacuteria

(Maria Joseacute Mendes3 Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto

Belo Horizonte MG Curso de Histoacuteria 2ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG

2005)

O relato de Maria Joseacute Mendes sintetiza de maneira particular sua experiecircncia4 de visita a

um museu e aborda conteuacutedos histoacutericos e historiograacuteficos anaacutelises sentimentos valores O

relato da estudante eacute polifocircnico no sentido que lhe atribui Clifford (1988) uma produccedilatildeo que

reuacutene numa escrita proacutepria aproximaccedilotildees pessoais estrateacutegias de aprendizagem escolar

enredos acontecimentos significados muacuteltiplos e modos de negociar e apresentar questotildees

impliacutecitas quadros e tramas mais amplas

3 A visitante eacute uma aluna do curso de Licenciatura em Histoacuteria do Instituto Superior de Educaccedilatildeo da Faculdade

Pedro Leopoldo na regiatildeo metropolitana de BH fez parte da turma que visitou diversos museus e seu relatoacuterio

compotildee o conjunto de narrativas de visitas a museus analisados nessa pesquisa 4 Para Dewey (2010 p90-91) as partes constitutivas da experiecircncia satildeo emocional praacutetica e intelectual A

experiecircncia eacute um todo diversificado um fluxo cujos diferentes atos e episoacutedios mesclam-se e fundem-se

Intercacircmbio e fusatildeo satildeo contiacutenuos

10

O registro da visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto feito por Maria Joseacute Mendes eacute uma

praacutetica de escrita que se configura em plano de produccedilatildeo mais restrito como um relatoacuterio de

avaliaccedilatildeo de um trabalho escolar Todavia colocados os contornos mais abrangentes das

condiccedilotildees de produccedilatildeo desse tipo de narrativa se reconhece uma praacutetica de formaccedilatildeo que avalia

situaccedilotildees do cotidiano escolar

As narrativas de visitantes como a da estudante acima satildeo consideradas fontes

documentais para essa pesquisa sobre a formaccedilatildeo histoacuterica que reivindica um lugar para os

sujeitos frente agraves grandes narrativas histoacutericas como as dos museus As situaccedilotildees vividas nas

visitas escolares a museus retomadas ao longo do capiacutetulo pela narrativa de Maria Jose Mendes

satildeo referecircncias para a reflexatildeo sobre o protagonismo do visitante que interroga o museu e confere

mobilidade agraves suas narrativas expositivas Esse tipo de registro tambeacutem aponta indiacutecios dos usos

do patrimocircnio cultural pelos visitantes e da aprendizagem em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo histoacuterica aberta

pelas visitas aos museus

A visitante em questatildeo eacute parte de um grupo5 no qual me incluo como professora e que

como ela mesma indica com o uso do verbo na primeira pessoa do plural fomos ao museu para

realizar uma atividade curricular atribulados por vaacuterios condicionantes de velocidade e aparatos

tecnoloacutegicos proacuteprios da cultura contemporacircnea Maria Joseacute Mendes eacute uma das alunas do curso

de licenciatura em Histoacuteria de uma faculdade particular da regiatildeo metropolitana de Belo

Horizonte Minas Gerais que nessa condiccedilatildeo de ldquoexperiecircnciardquo empreende com seus colegas

visitas planejadas a museus6 Eacute uma jovem estudante membro de uma ldquoaudiecircncia histoacuterica e

situadardquo mas que responde tambeacutem agraves expectativas de visitante inscritas nas atividades

educativas do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto que passou por projeto de revitalizaccedilatildeo entre 1993

e 20037

Enquanto os museus satildeo entendidos como autoridades por suas funccedilotildees sociais e

histoacutericas de produtores de memoacuteria de patrimocircnio e de preferencial para a leitura dessa

5 Uma caracterizaccedilatildeo do grupo de visitantes e das visitas efetivamente realizadas seraacute apresentada e discutida no segundo capiacutetulo 6 As visitas a museus arquivos bibliotecas empresas ambientes naturais e outros locais satildeo realizadas como

disciplinas acadecircmicas com uma dimensatildeo praacutetica e ou como Atividades Acadecircmicas Cientiacuteficas por diversas

instituiccedilotildees de ensino superior da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte como a PUC-MG UNIFEMM Ver

Fonseca (2009) e Pereira (2007) 7 Ver balanccedilo do ldquoprocesso de revitalizaccedilatildeordquo do MHAB organizado por sua diretora Thais Pimentel e publicado em

2004 (PIMENTEL 2004)

11

materialidade o visitante luta para instituir-se e produzir sentidos em presenccedila daquela instacircncia

reguladora e autorizada de recursos O visitante no uso de recursos variados de linguagem cria

uma situaccedilatildeo de disputa e inibe certas manifestaccedilotildees trazidas pelos museus

O visitante diante dos cenaacuterios especiacuteficos de cada museu cria categorias de anaacutelise

analogias identifica contradiccedilotildees contrastes e diferenccedilas Enquanto o museu traz uma memoacuteria

histoacuterica instituiacuteda os visitantes tornam as experiecircncias de visita memoraacuteveis

A abordagem metodoloacutegica dessa pesquisa concebe as visitas como um ldquotrabalho de

campordquo no sentido que lhe atribui Alba Zaluar (1986 p107) A antropoacuteloga natildeo estabelece uma

separaccedilatildeo entre investigador e investigados e nem correlaciona uma maior objetividade da anaacutelise

com uma maior despersonalizaccedilatildeo dos sujeitos O conhecimento para ela eacute um ldquoencontro de

subjetividadesrdquo atos gestos enunciados e natildeo simplesmente um coacutedigo a ser decifrado ou um

levantamento de significados em seus contextos (ZALUAR 1986 p109) Assim como o

trabalho de campo8 soacute pode ser delimitado pelos processos de tomada de decisatildeo do pesquisador

e as estrateacutegias adotadas em meio aos conflitos por quem participa da accedilatildeo as visitas escolares a

museus natildeo podem ser entendidas apenas no sentido e da perspectiva da recepccedilatildeo

Os visitantes natildeo satildeo meros espectadores das propostas elaboradas pelos museus9 Os

visitantes satildeo atores levados a tomar decisotildees e princiacutepios geradores de novas praacuteticas A visita eacute

relacionada a outras que jaacute fizeram e satildeo consideradas como parte de sua formaccedilatildeo de futuros

professores de histoacuteria Visitar um museu eacute analisaacute-lo como fonte para visitas futuras

acompanhando seus proacuteprios alunos

O foco no visitante examina como ele se sente ou natildeo estimulado a construir sua proacutepria

narrativa da visita e quais suas estrateacutegias de inclusatildeo nos museus Como se posiciona e acessa

seus arquivos pessoais e memoacuterias e os confronta agravequeles reunidos no museu tais como objetos

textos imagens dispositivos de interatividade o percurso ou ainda os coletados e reunidos como

parte do trabalho de sistematizaccedilatildeo da visita

Do ponto de vista empiacuterico a pesquisa mostra de que forma durante um curso de

formaccedilatildeo superior eacute possiacutevel abandonar modelos transmissivos de ensino e apostar em estrateacutegias

8 Ver Roteiro do trabalho realizado no Rio de Janeiro em 2008(Anexo C) 9 Em geral a elaboraccedilatildeo de propostas educativas eacute responsabilidade dos setores educativos dos museus e de

especialistas (consultores pesquisadores) O puacuteblico eacute convocado a responder aos modelos propostos (recepccedilatildeo)

12

de produccedilatildeo de conhecimento que tenham impacto sobre a profissionalizaccedilatildeo docente em histoacuteria

e os processos mais gerais de produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico e formaccedilatildeo histoacuterica

Um passo importante eacute reconhecer que esse conhecimento histoacuterico se apresenta sob a

forma de imagens crenccedilas convicccedilotildees metaacuteforas regras e princiacutepios de orientaccedilatildeo para a vida

praacutetica profissional Nesse sentido essa pesquisa tem mais interesse nos sujeitos e suas agecircncias

do que na histoacuteria das instituiccedilotildees museais

A pesquisa parte de uma reflexatildeo sobre os relatos de visita a museus constituindo a partir

deles narrativas que fazem dialogar conceitos e experiecircncias que se produzem no campo dos

museus e em suas relaccedilotildees com a escola estabelecendo possibilidades e limites para a abordagem

do proacuteprio visitante

O registro de Maria Joseacute Mendes eacute uma referecircncia inicial para a reflexatildeo e produccedilatildeo por

parte do proacuteprio visitante de saberes Podem ser identificados pelos relatos os diversos saberes

que compotildeem a formaccedilatildeo histoacuterica conhecimentos de caraacuteter disciplinar ou historiograacutefico que

compotildee a matriz disciplinar da histoacuteria saberes curriculares ou relativos a objetivos meacutetodos e

estrateacutegias de ensino saberes pedagoacutegicos relacionados agraves concepccedilotildees de educaccedilatildeo e os saberes

praacuteticos da experiecircncia10

Entendo que as visitas natildeo se constituem no simples cumprimento de um programa de

educaccedilatildeo patrimonial oferecido por museus eou escolas ou ainda em passeios turiacutesticos

realizados por escolha dos visitantes individualmente A presenccedila de estudantes em museus estaacute

relacionada a uma praacutetica de visitas e agrave formaccedilatildeo histoacuterica

Procuro nesse primeiro capiacutetulo articular referenciais teoacutericos distintos para fundamentar

a anaacutelise das praacuteticas de visitas a museus Autores como Paul Ricoeur Hans Ulrich Gumbrecht

Joumlrn Ruumlsen Raymond Williams Stuart Hall e Jacques Ranciegravere satildeo convocados e oferecem

contribuiccedilotildees para a ampliaccedilatildeo da abordagem deste objeto especiacutefico e a criacutetica ao sentido de

transmissatildeo da cultura e agrave representaccedilatildeo como um sentido fixo A narrativa (RICOEUR 2010

p9) a produccedilatildeo de presenccedila (GUMBRECHT 2010 p 82) e a formaccedilatildeo histoacuterica (RUumlSEN

2010 p59) assim como os conceitos de cultura (WILLIAMS 1969 e 1979) e circuito de cultura

(HALL 1997 e 2003) e ainda o de espectador emancipado (RANCIEgraveRE 2010) fundamentam a

10A discussatildeo sobre os saberes que compotildee a formaccedilatildeo do profissional de histoacuteria no Brasil eacute realizada por Selva

Guimaratildees Fonseca dentre outros autores Ver Fonseca (1997) Silva e Fonseca (2007) e Fonseca e Zamboni (2008)

13

anaacutelise teoacuterica e metodoloacutegica do uso social dos museus em visitas educativas e aproximam o

foco da investigaccedilatildeo os museus vistos pelos seus visitantes

11- Memoacuteria e narrativas de visitas

Um primeiro movimento dessa pesquisa eacute examinar como os visitantes engendram

memoacuterias a partir de visitas a museus A memoacuteria eacute entendida como uma accedilatildeo de atualizaccedilatildeo de

conceitos uma ldquoviagem no tempo com direito a ida e voltardquo A memoacuteria eacute rememoraccedilatildeo a partir

do presente e o sujeito um ldquotecelatildeo de memoacuterias agrave medida que narra a si mesmo como uma

autografia cujas vaacuterias vidas se entrelaccedilam em diversos tempos e espaccedilos numa dinacircmica

imprevisiacutevel do lembrar e esquecer da perda e da dispersatildeordquo (GALZERANI 2002 p63)

Rememorar significa trazer o passado vivido como opccedilatildeo de questionamento das relaccedilotildees

e sensibilidades sociais existentes tambeacutem no presente uma busca atenciosa relativa aos rumos a

serem construiacutedos no futuro Esse conceito de memoacuteria articulado ao de narrativa traz uma

abertura coletiva para as dimensotildees sensiacuteveis e o questionamento da concepccedilatildeo absoluta de

verdade (GALZERANI 2002 p68)

Os registros escritos e visuais11

dos visitantes satildeo tomados como memoacuterias e narrativas

no sentido atribuiacutedo por Ricoeur como um desenho da ldquoexperiecircncia temporalrdquo que realiza uma

ldquosiacutentese do heterogecircneordquo uma ldquonova congruecircncia no agenciamento dos incidentesrdquo (RICOEUR

2010 p2)

Em Tempo e Narrativa Ricoeur (2010) desenvolve a ideia de uma tripla dimensatildeo da

narrativa histoacuterica descrita como um tempo vivido e ainda natildeo configurado um tempo narrado

ou o mundo como um texto e o tempo refigurado ou o mundo do leitor Haacute uma dimensatildeo da

vida vivida e natildeo narrada que passa pela trama e chega ao mundo final do leitor seja pelas

intenccedilotildees do autor pelos sentidos da obra ou as percepccedilotildees do leitor Essas travessias satildeo

circulares e a experiecircncia da temporalidade nunca eacute o triunfo da ordem haacute discordacircncias

violecircncia da interpretaccedilatildeo redundacircncias e histoacuterias natildeo contadas (RICOEUR 2010 p124-132)

Assim Ricoeur (1991) transpotildee um limiar no qual o aparente conflito entre explicaccedilatildeo e

compreensatildeo eacute ampliado A linguagem que era considerada apenas como discurso passa a ser

11 As fotografias satildeo produzidas juntamente com os relatoacuterios escritos Inicialmente natildeo faziam parte da anaacutelise mas

se mostraram essenciais agrave pesquisa

14

considerada nos limites do que afeta o escrito a polissemia a ambiguidade e obras inteiras de

discurso falado como poemas ensaios e com a dimensatildeo da experiecircncia (RICOEUR 1991

p163) Eacute como dimensatildeo da experiecircncia que se explicitam os campos de confrontaccedilatildeo e

negociaccedilatildeo e se daacute a primeira ancoragem para as narrativas puacuteblicas e oficiais e as narrativas e

memoacuterias pessoais ou autobiograacuteficas Para Ricoeur os graus de convergecircncia ou natildeo entre a

memoacuteria coletiva e as memoacuterias autobiograacuteficas indicam niacuteveis de identificaccedilatildeo pessoal e os

significados elevados ou natildeo de siacutembolos como bandeiras e hinos

Essa temaacutetica da accedilatildeo discutida por Ricoeur (1991) ajuda a evidenciar as diferentes

formas de inscriccedilatildeo da memoacuteria na historiografia e nos museus e entender o diaacutelogo entre

culturas (museus e escolas) comparando situaccedilotildees e tipos de atividades (regimes de accedilatildeo)

assentadas em uso de recursos culturais de fundo comum

A narrativa para Ricoeur se daacute como articulaccedilatildeo temporal da accedilatildeo Uma ficcionalizaccedilatildeo

da histoacuteria na forma como contamos o passado e uma historizaccedilatildeo da ficccedilatildeo que eacute a forma como

trabalhamos o imaginaacuterio Na descriccedilatildeo da funccedilatildeo narrativa se articulam as noccedilotildees de mimese e

intriga Enquanto a mimese eacute uma representaccedilatildeo criativa da accedilatildeo a intriga eacute o agenciamento de

fatos sujeitos e cenaacuterios ou seja os elementos estruturantes da proacutepria narrativa

Assim como a metaacutefora viva a narrativa produz efeitos de sentido e remete

simultaneamente a um fenocircmeno de inovaccedilatildeo semacircntica Enquanto a metaacutefora produz uma nova

pertinecircncia por meio de uma atribuiccedilatildeo impertinente que se manteacutem viva porque percebemos sua

espessura e resistecircncia ao emprego usual das palavras e a sua incompatibilidade com a

interpretaccedilatildeo literal (que seria considerada bizarra) a narrativa trabalha no mesmo plano da

invenccedilatildeo semacircntica ao criar uma intriga que eacute uma obra de siacutentese

Percebe-se a constituiccedilatildeo de uma intriga na narrativa de Maria Joseacute Mendes O relato de

visita ao museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto reuacutene em um quadro referencial fontes de procedecircncia

diversas a experiecircncia presencial no museu as demandas da formaccedilatildeo escolar e as interpelaccedilotildees

do acervo do museu Esse tipo de relato eacute tomado na pesquisa como uma imagem de contornos

mais abrangentes dos elementos evidenciados em vaacuterios outros relatos do grupo de visitantes Ele

sintetiza dados de pesquisa e conteuacutedos proacuteprios agraves situaccedilotildees de visitas assim como debates

sobre o uso do patrimocircnio cultural que proveacutem tanto da escola que promove a visita quanto dos

acervos dos museus Pretendo explicitar ao longo da anaacutelise o processo de elaboraccedilatildeo dos relatos

15

evidenciando as linhas mais gerais as texturas dos relatos as repeticcedilotildees de temas as imagens

recorrentes e natildeo propriamente os estilos pessoais e singulares de cada visitante

Para Ricoeur (1975) a questatildeo da narrativa eacute como configurar a experiecircncia temporal

vivida A narrativa eacute o dinamismo integrador que transforma um diverso de incidentes numa

histoacuteria una e completa Eacute a capacidade de reconfiguraccedilatildeo da experiecircncia temporal confusa em

funccedilatildeo de um referencial

A narrativa natildeo eacute soacute o ato jaacute inscrito eacute o ldquoconjunto das operaccedilotildees atraveacutes das quais uma

obra surge a partir do fundo opaco do viver do agir e do padecer para ser dada por um autor a

um leitor que a recebe e muda assim o seus agirrdquo (RICOEUR 1975 p31) Eacute a narrativa que

configura a mediaccedilatildeo entre a preacute-configuraccedilatildeo do campo praacutetico (vivido o antes) o estado da

experiecircncia (o tempo configurado o durante) e a praacutetica que lhe eacute posterior (tempo refigurado o

depois)

A visitante Maria Joseacute Mendes demarca uma temporalidade e natildeo uma simples cronologia

para a visita Seu texto comeccedila com uma data o dia da visita que marca um antes um durante e

um depois Em sua escrita esse antes eacute caracterizado pela imaginaccedilatildeo satildeo ideias que estavam em

sua mente anteriores agrave visita O que ela relata eacute o que aconteceu durante e apoacutes a visita suas

ideias a respeito dos museus mudaram por completo

No entanto o proacuteprio Ricoeur lembra que o relato eacute um ldquoato de testemunharrdquo que difere

do discurso Eacute como uma ldquonarrativa autobiograacutefica autenticada de um acontecimento passadordquo e

agrave medida que o narrador estaacute implicado na cena narradavivida gera uma suposta confiabilidade e

uma suspeita sobre o que ele diz (RICOEUR 2007 p172)

A confianccedila ou desconfianccedila em relaccedilatildeo ao testemunho traz o narrador para o mundo

puacuteblico e da criacutetica aos testemunhos A presenccedila no local da ocorrecircncia inerente ao ato de

testemunhar impotildee uma referecircncia de lugar e de tempo passado ao testemunho mas natildeo lhe

confere legitimidade em relaccedilatildeo ao aqui e agora O testemunho precisa ser autenticado e

acreditado por vaacuterias grandezas comparadas ateacute seu arquivamento (visibilidade e escrita)

(RICOEUR 2007 p175)

Testemunho e narrativa guardam traccedilos de escrituralidade comuns Todavia cada um traz

elementos especiacuteficos relativos ao lugar que os gerou e recebeu Como ldquorastros documentaisrdquo

narrativas e testemunhos estatildeo ligados ao lugar social que os produziram (CERTEAU 1982

16

p64) Esse debate amplia a noccedilatildeo de testemunho que passa a incluir todo e qualquer ldquovestiacutegiordquo

e interessa a essa pesquisa agrave medida que fundamenta uma abordagem que natildeo separa os relatos

escritos dos fotograacuteficos Para Ricoeur a ideia de indiacutecio inclui o testemunho oral ou escrito os

vestiacutegios natildeo verbais como as impressotildees digitais e arquivos fotograacuteficos que testemunham por

seu mutismo (RICOEUR 2007 p 185) O diaacutelogo de Ricoeur nesse caso eacute diretamente com

Carlo Ginzburg (1987) estabeleceu no interior da noccedilatildeo de rastro o conceito de documento em

toda a sua envergadura A raiz comum entre testemunho e indiacutecio eacute a noccedilatildeo de rastro Haacute uma

relaccedilatildeo de complementaridade entre testemunho e indiacutecio para Ricoeur

Decorre dessa ampliaccedilatildeo documental uma seacuterie de analogias relacionando grafia e pintura

no sentido de impressatildeo e evocaccedilatildeo Pode-se dizer tambeacutem que relatos escritos e fotograacuteficos satildeo

complementares na narrativa das visitas aos museus O lugar da fotografia nos relatos eacute

semelhante ao da escrita Ambas configuram ldquomensagens e maneiras de dizer e pensar que

aderem uma agrave outrardquo (RICOEUR 2007 p178)

O primeiro plano dos relatos principalmente das fotografias eacute marcado pela iniciativa

individual em preservar seus proacuteprios rastros os rastros de sua atividade Para Ricoeur essa

iniciativa inaugura o ato de fazer histoacuteria ou a primeira operaccedilatildeo de constituiccedilatildeo de um arquivo a

primeira mutaccedilatildeo historiograacutefica de uma memoacuteria viva Constituiacutedo como testemunho esse

primeiro plano pode ser invocado por algueacutem e desloca-se do seu autor para ser recolhido como

ldquoprova documentalrdquo Marc Bloch lembra Ricoeur coloca a questatildeo dos testemunhos em termos

de rastros de vestiacutegios do passado (testemunhos natildeo-escritos) e depois dos indiacutecios (Ginzburg)

que fazem parte da operaccedilatildeo de observaccedilatildeo histoacuterica com relaccedilatildeo aos ldquotestemunhos do tempordquo

(BLOCH 2002 p69) A consequecircncia desse argumento eacute que nem toda histoacuteria vivida eacute narrada

mas toda a historiografia eacute narrativa

A ambiccedilatildeo da narrativa histoacuterica eacute refigurar a condiccedilatildeo histoacuterica e de elevar seu estatuto

ao de bdquoconsciecircncia histoacuterica‟ Esse processo de reconfiguraccedilatildeo do tempo embora se

pretenda totalizante ocorre como mediaccedilatildeo imperfeita entre o futuro como horizonte de

expectativas o passado como tradiccedilatildeo e o presente como surgimento intempestivo

(RICOEUR 1975 p31)

17

A narrativa histoacuterica produzida pelos historiadores eacute uma construccedilatildeo que cria enredos

com elementos presentes na vida e o mundo refigurado da cultura com uma noccedilatildeo ampla de

produtora de sentidos e identidades12

Em A memoacuteria a histoacuteria o esquecimento Ricoeur (2007 p380) apresenta uma soluccedilatildeo

distinta dos historiadores dos Annales (Le Goff Pierre Nora) para o problema da narrativa e do

tempo histoacuterico na articulaccedilatildeo memoacuteria-histoacuteria Ao retomar o conceito de historicidade que

surge na filosofia alematilde do seacuteculo XIX e de histoacuteria Ricoeur identifica como se configurou a

oposiccedilatildeo entre uma histoacuteria como singular coletivo que

ldquoliga as histoacuterias especiais sob um conceito comum enquanto conhecimento narrativa e

ciecircncia histoacuteria e o nascimento do conceito de histoacuteria como coletivo singular sob o qual

se reuacutene o conjunto das histoacuterias particulares marca a conquista da maior distacircncia

concebiacutevel entre a histoacuteria una e a multiplicidade ilimitada das memoacuterias individuais e a

pluralidade das memoacuterias coletivasrdquo (RICOEUR 2007 p315)

Essa mudanccedila cria um sentido de histoacuteria universal um objeto total e um sujeito uacutenico A

memoacuteria eacute vista com desconfianccedila e descredenciada enquanto a histoacuteria problematiza os

testemunhos religiosos e a memoacuteria coletiva (crenccedilas) e se propotildee a representar o passado no

presente A autonomia da histoacuteria se afirma nos Annales que natildeo devem mais nada a

rememoraccedilatildeo e recorrem agrave introduccedilatildeo de novas exigecircncias retoacutericas por vias extramemoriais A

noccedilatildeo de fonte se liberta da noccedilatildeo de testemunho ldquoConstroacutei-se um passado que ningueacutem pode

lembrar [] A histoacuteria deixou de ser parte da memoacuteria e a memoacuteria se tornou parte da histoacuteriardquo

(RICOEUR 2007 p399)

Ricoeur investe em redefinir as relaccedilotildees entre histoacuteria e memoacuteria na contemporaneidade e

reconhecer os ldquotraccedilos da memoacuteria e do esquecimento que permanecem os menos sensiacuteveis agraves

variaccedilotildees resultantes de uma histoacuteria dos investimentos culturais da memoacuteriardquo (2007 p 398)

Frente agrave tese da escola dos Annales de subordinaccedilatildeo da memoacuteria agrave histoacuteria e a uma literatura da

crise da memoacuteria Ricoeur responde com a hipoacutetese das ldquopotencialidades mnemocircnicas

dissimuladas pelo cotidianordquo cujo histoacuterico contado e o mnemocircnico experimentado se recruzam

(2007 p401)

12 Isabel Barca e Mariacutelia Gago (2004 p29-39) discutem o papel das narrativas histoacutericas e seus usos educacionais na

constituiccedilatildeo de um pensamento histoacuterico entre os jovens portugueses

18

ldquo[] o desespero do que desaparece a impotecircncia para acumular a lembranccedila e arquivar

a memoacuteria o excesso de presenccedila de um passado para sempre irrevogaacutevel a fuga

desnorteada do passado e o congelamento do presente a incapacidade de esquecer e a

incapacidade de se lembrar do acontecimento a uma boa distacircnciardquo (RICOEUR 2007

p401)

Ricoeur aponta que a dinacircmica do esquecimento e da lembranccedila gera tanto uma crise da

memoacuteria quanto um horror agrave histoacuteria ou da presenccedila e da ausecircncia de referecircncias em relaccedilatildeo ao

passado e ao presente A ldquoexperiecircncia viva do reconhecimentordquo redefine a dimensatildeo nostaacutelgica e

as relaccedilotildees memoacuteria e histoacuteria Ricoeur define como ldquooperaccedilatildeo historiadorardquo toda a accedilatildeo que vai

dos arquivos aos textos publicados Para ele um livro de histoacuteria eacute um documento aberto agrave

reinscriccedilatildeo e submetido agrave revisatildeo contiacutenua O que Michel de Certeau (1982 p94) chama de

operaccedilatildeo escrituraacuteria ou uma fase da representaccedilatildeo histoacuterica Ricoeur acredita que atravessa

todos os momentos da escrita da histoacuteria do niacutevel documental ou seleccedilatildeo das fontes ao niacutevel

explicativo-compreensivo com a escolha dos modos concorrentes e as variaccedilotildees de escala da

narrativa (RICOEUR 2007 p249)

Para Ricoeur representaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo estatildeo juntas em toda a operaccedilatildeo de

visualizaccedilatildeo das coisas ausentes do passado ou ainda na tripla aventura que vai do

arquivamento agrave explicaccedilatildeo e representaccedilatildeo Para o autor haacute um embate entre duas escritas para

gerar na histoacuteria um modo literaacuterio da escrituralidade (narrativa) Uma primeira escrita eacute dos

arquivos (memoacuteria) e outra dos historiadores (histoacuteria) ldquoA explicaccedilatildeocompreensatildeo encontra-se

assim enquadrada por duas escritas uma escrita anterior e uma escrita posterior Ela reconhece a

energia da primeira e antecipa a energia da segundardquo (RICOEUR 2007 p 148)

A coerecircncia da narrativa confere visibilidade e busca legitimidade para a encenaccedilatildeo do

passado que daacute a ver Haacute um jogo entre a remissatildeo da imagem e a coisa ausente Uma narrativa

natildeo se parece com os acontecimentos que ela narra Haacute uma prefiguraccedilatildeo uma configuraccedilatildeo e

refiguraccedilatildeo da imagem criada pela amplidatildeo da narrativa e por seu alcance (RICOEUR 2007 p

292)

Em Ricoeur como o problema da memoacuteria natildeo aparece em oposiccedilatildeo agrave histoacuteria pode-se

considerar que em relaccedilatildeo agraves visitas presenciais a museus as imagens da memoacuteria e da histoacuteria

atravessam tanto os relatos dos visitantes quanto a narrativa do museu Ou ainda que as imagens

de museu produzidas pelos visitantes e aquelas produzidas pelos proacuteprios museus podem ser

19

analisadas em um circuito de cultura no qual museu e visitantes tem ambos poder de

representaccedilatildeo

O relato da estudante em visita ao Museu Abiacutelio Barreto coloca o museu em outro

circuito o da proacutepria escola ao fazer uma releitura do sentido e das marcas deixadas pelo museu

quando de sua passagem pelo casaratildeo e suas atividades O depois da visita eacute vivido como uma

nova temporalidade que constitui outro museu imaginado com referecircncia ao durante e ao antes

da visita

12 - A presenccedila de estudantes

As abordagens sobre aprendizagem em ambientes que tratam do patrimocircnio da arte e da

histoacuteria priorizam ora os museus ora as escolasvisitantes A superaccedilatildeo dessas anaacutelises

fragmentaacuterias ou dicotocircmicas implica em refletir sobre os conceitos trabalhados no proacuteprio

campo museoloacutegico e formativo como as ideias de patrimocircnio memoacuteria e histoacuteria

Discutir o estatuto do conhecimento produzido pelos visitantes de museus eacute um ponto de

partida para a reflexatildeo sobre os sentidos das praacuteticas culturais que perpassem museus e escolas

Outra dimensatildeo da pesquisa eacute a ampliaccedilatildeo das reflexotildees teoacutericas e metodoloacutegicas sobre as

competecircncias culturais ou a formaccedilatildeo histoacuterica em especial suas dimensotildees esteacuteticas e poliacuteticas

desencadeadas a partir das visitas

Gumbrecht (1998 e 2010) ao discutir sobre a produccedilatildeo de presenccedila sugere um repertoacuterio

de anaacutelise cultural que busca discernir os efeitos de presenccedila e os efeitos de sentido Ele distingue

uma ldquocultura de presenccedilardquo de uma ldquocultura de sentidordquo O que diferencia uma da outra e

interessa a esta anaacutelise das visitas a museus eacute o papel do sujeito ou subjetividade que ocupa

lugar central na cultura de sentido mas que soacute eacute considerado efetivamente em seu corpo como

parte da existecircncia das coisas numa cultura de presenccedila

A decorrecircncia dessa distinccedilatildeo entre sentido e presenccedila eacute que o conhecimento produzido

numa cultura de sentido soacute pode ser legitimado por um sujeito em seu ato de interpretar o mundo

Jaacute na cultura de presenccedila o conhecimento legiacutetimo eacute apresentado se manifesta ele natildeo vem

diretamente do esforccedilo individual para interpretar e criar um sentido Os objetos se impotildeem ao

sujeito e sua vontade eacute confrontada pela presenccedila

20

Na visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto eacute a presenccedila dos objetos catalogados como

histoacutericos que cria um olhar diferente para esses objetos Eacute o visitante que presente no museu

confere sentidos aos objetos que vecirc expostos e entende que a mudanccedila na ordem de organizaccedilatildeo e

apresentaccedilatildeo cria uma nova visualidade para os objetos

Essa polecircmica sobre presenccedila e sentido eacute um alerta para os perigos do afastamento do

corpo das marcas de produccedilatildeo de sentido proacuteprias agrave modernidade ocidental que assume uma

oposiccedilatildeo entre sujeito (puro espiacuterito) e objeto (pura materialidade) Para Gumbrecht essa

oposiccedilatildeo levou o sujeito a assumir a posiccedilatildeo de observador de um mundo de objetos no qual se

inclui o seu proacuteprio corpo Se por um lado o ganho dessa visatildeo eacute uma demanda constante de

interpretaccedilatildeo de outro promove-se uma perda ou ldquodesmaterializaccedilatildeo da culturardquo transformando

o mundo em ldquorepresentaccedilatildeordquo (GUMBRECHT 2010 p 75-8)

Interessa-nos destacar tambeacutem nesta perspectiva apontada por Gumbrecht os limites da

ideia de representaccedilatildeo13

como capaz de compensar as deficiecircncias de ldquoexpressatildeordquo Ele considera

que como ldquonenhuma das muacuteltiplas representaccedilotildees pode jamais pretender ser mais adequada ou

epistemologicamente superior a todas as outrasrdquo cria-se uma ldquocrise de consciecircncia provocada

pelas muacuteltiplas representaccedilotildeesrdquo (GUMBRECHT 2010 p 82) Para o autor eacute a presenccedila como

uma dimensatildeo fiacutesica e de tangibilidade14

que estaacute em tensatildeo com o princiacutepio da representaccedilatildeo

A partir da ideia de presenccedila pode-se inferir que nas visitas aos museus se produz um

fluxo temporal em que no momento presente o passado e o futuro se encontram Por meio deste

movimento no tempo a ldquoconsciecircnciardquo do visitante eacute transformada por uma rede de relaccedilotildees que

expressam uma nova impressatildeo de estar presente no mundo

Os objetos dos museus tomam novos sentidos atualizados pelo visitante Natildeo eacute soacute a

exposiccedilatildeo propriamente dita que chama a atenccedilatildeo do visitante mas toda a organizaccedilatildeo do espaccedilo

que se apresenta face a face como um circuito os projetos o edifiacutecio e o proacuteprio trabalho de

musealizaccedilatildeo ldquoGostei da forma que o material eacute conservado em estantes giratoacuteriasrdquo afirma a

visitante Maria Joseacute Mendes em presenccedila da reserva teacutecnica do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto

A imagem de estantes giratoacuterias evocada pelo relato da estudante possibilita ampliar o uso

13 A criacutetica agrave representaccedilatildeo e agrave recepccedilatildeo eacute apresentada ao longo do texto e se fundamenta em autores como Ricoeur

(2007 p295-6) Raymond Williams (1969 e 1979) Stuart Hall (1997 e 2003) e Ranciegravere (2010) 14 As visitas em questatildeo satildeo presenciais e nisso se distinguem inicialmente de outras praacuteticas de memoacuteria que

incluem o uso de recursos tecnoloacutegicos para acesso agrave distacircncia (natildeo-presenccedila) aos museus e exposiccedilotildees

21

estritamente funcional dado pelo museu a esse objeto que natildeo faz parte da coleccedilatildeo mas que lhe

daacute suporte e deve facilitar a limpeza e armazenamento fiacutesico dos objetos museais Elevada ao

plano da narrativa de visita a ideia de girar deixa seu sentido meramente instrumental e ganha o

tom poeacutetico de mexer e revolver objetos que a funccedilatildeo museal possui Haacute um deslocamento pode-

se afirmar que natildeo haacute distinccedilatildeo para o gosto da visitante entre o que estaacute nas estantes e as

proacuteprias estantes O objeto museal eacute o proacuteprio mobiliaacuterio do museu e sua accedilatildeo de preservaccedilatildeo

natildeo aquelas coisas velhas que guarda O movimento das estantes eacute compartilhado com prazer

pelo olhar da visitante e coloca a cultura do museu em circulaccedilatildeo

A cultura de presenccedila eacute descrita por Gumbrecht como uma cosmologia em que ldquoos seres

humanos querem relacionar-se com a cosmologia envolvente pela inscriccedilatildeo de si mesmos ou

seja de seus proacuteprios corpos nos ritmos dessa cosmologiardquo (2010 p108-109) A accedilatildeo se faz

como ldquomagiardquo ou seja a praacutetica de tornar presentes coisas que estatildeo ausentes e ausentes coisas

que estatildeo presentes A cultura da presenccedila sugere abordar as situaccedilotildees de visita como epifanias

cujos efeitos de presenccedila e sentido satildeo efecircmeros Ou ainda com uma temporalidade espacial

descrita como um evento que surge do nada e irrompe com os sentidos estabelecidos

Estes efeitos da presenccedila podem ser observados nos relatos dos visitantes De um lado o

museu pode ser considerado como um sentido jaacute instituiacutedo um trabalho concluiacutedo que pretende

ser universal mas que esgotou sua potecircncia criadora e que portanto soacute afeta o visitante

mobilizando-o a uma criacutetica agraves suas concepccedilotildees e exposiccedilotildees Do outro lado a presenccedila no

museu provoca os sentidos dos visitantes e cria princiacutepios de tensatildeo com a ideia de representaccedilatildeo

dominante da proacutepria histoacuteria presente no museu e no visitante Ou ainda a presenccedila investe-se

de uma funccedilatildeo encantatoacuteria capaz de tornar as coisas ausentes presentes e vice-versa

(GUMBRECHT 2010 p14)

Gumbrecht desenvolve aleacutem de uma criacutetica agrave representaccedilatildeo uma ressalva quanto agrave noccedilatildeo

de que a mateacuteria se estabilizaria ao longo do tempo sendo capaz de produzir um efeito de

fronteira de fixidez e superfiacutecie Na tentativa de inverter e devolver a ldquocoisidaderdquo agrave consciecircncia e

a ldquoaparecircnciardquo ao corpo como condiccedilatildeo na qual o mundo nos eacute dado e apresentado aos sentidos

22

ele se coloca em tensatildeo com a abordagem interpretativa15

Pensando que a relaccedilatildeo com os

artefatos culturais nunca eacute uma simples atribuiccedilatildeo de sentido e que coisas estatildeo perto ou longe

de nossos corpos Gumbrecht aponta que a relaccedilatildeo cotidiana com o mundo faz esquecer e implica

uma camada diferente de sentido (2010 p85-88)

O trabalho de visitas a museus permite um contato com os objetos histoacutericos uma

frequumlentaccedilatildeo que cria interaccedilotildees explicita diferenccedilas e aproximaccedilotildees culturais O visitante

dialoga questiona a mensagem expositiva e pode elaborar sentidos diversos dos apresentados

pelos museus

Vale ressaltar que para o autor a presenccedila natildeo vem sem apagar os sentidos que a

representaccedilatildeo gostaria de designar seus fundamentos a sua origem e seus temas A presenccedila natildeo

eacute uma presenccedila realmente existente ela se apresenta em permanente condiccedilatildeo de ldquotemporalidade

extremardquo eacute suacutebita de caraacuteter efecircmero surge e desaparece como eacute caracteriacutestico da experiecircncia

esteacutetica que se torna evidente e evanescente ao mesmo tempo (GUMBRECHT 2010 p83)

A experiecircncia esteacutetica se localiza a certa distacircncia do mundo cotidiano e produz diversas

figuras temporais Natildeo existe um resultado previsiacutevel oacutebvio ou tiacutepico que a experiecircncia esteacutetica

acrescenta ao cotidiano A visita a museus pode ser vista como um ldquoacontecimento de verdaderdquo

um evento que nos faz ver as coisas de ldquoum modo diferente do habitualrdquo como relata Maria Joseacute

Mendes diante do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto Entrar em um museu eacute entrar numa paisagem

e exercitar uma performance

estar dentro dessa paisagem eacute um requisito fundamental para restabelecer o

enraizamento do histoacuterico devir Ter uma substacircncia (corpo) ocupar um espaccedilo implica

na possibilidade de revelar um movimento multidimensional vertical (balanccedilo) e

horizontal (ideia aspecto) O movimento de balanccedilo eacute um suster-se ali-em si mesmo

Uma dimensatildeo horizontal eacute ser percebido dentro da situaccedilatildeo bdquoser revelado‟ e natildeo bdquorepresentado‟ (GUMBRECHT 2010 p86-100)

Seguindo as indicaccedilotildees de Gumbrecht sobre o princiacutepio da presenccedila a relaccedilatildeo do visitante

de museu com o passado eacute diferente da ideacuteia de nostalgia de viagem no tempo de

15 Paul Ricoeur em Do texto agrave accedilatildeo amplia o termo interpretaccedilatildeo associando-o ao sentido de apropriaccedilatildeo cuja

finalidade eacute a luta contra a distacircncia cultural A interpretaccedilatildeo aproxima equaliza torna contemporacircneo e semelhante

torna proacuteprio o que era estrangeiro (RICOEUR 1991 p156)

23

restabelecimento ou de retrocesso16

O passado entendido pelo autor como produto da cultura eacute

caracterizado por sua materialidade e possibilidade de usos em cenaacuterios de simultaneidade de

referecircncias Haacute uma presenccedila do passado que eacute incorporado e um presente da accedilatildeo

Parece ser este o sentido da orientaccedilatildeo para a accedilatildeo que a visitante observa em seu uacuteltimo

comentaacuterio sobre a visita ao Museu Abiacutelio Barreto Maria Joseacute Mendes articula duas formas de

ver a histoacuteria o que foi visto no museu e o que foi visto no seu curso de licenciatura em Histoacuteria

As consequecircncias de suas observaccedilotildees no museu a levam a concluir que o historiador a partir dos

Annales trabalha com perguntas que os objetos vistos respondem Logo para Maria Joseacute

Mendes a operaccedilatildeo historiograacutefica parece se completar A visita mobiliza a formaccedilatildeo do objeto

imaginaacuterio e as mudanccedilas de perspectivas da visitante Eacute possiacutevel tambeacutem caracterizar a visita ao

museu como uma ldquoexperiecircncia esteacuteticardquo ou seja como uma dimensatildeo viva que oscila entre os

efeitos de sentido e os efeitos de presenccedila A visitante se potildee no museu numa condiccedilatildeo de

ldquoinsularidaderdquo e de predisposiccedilatildeo para a ldquointensidade concentradardquo para uma tensatildeo produtiva

que oscila simultaneamente entre sentido e presenccedila diferente de suas atividades cotidianas

(GUMBRECHT 2010 p 136)

O Museu prevecirc a participaccedilatildeo do visitante e estabelece tambeacutem um horizonte de

expectativas culturais e histoacutericas em relaccedilatildeo ao receptor Essas expectativas dos museus em um

dado momento encontram desapontam ou antecipam o horizonte de expectativas do visitante O

conhecimento do visitante eacute atualizado agrave medida que em presenccedila do patrimocircnio musealizado

reformulam-se suas expectativas e ele reinterpreta o que foi visitado A experiecircncia esteacutetica

realiza-se no visitante Eacute o que afirma Maria Joseacute Mendes ao visitar o Museu Histoacuterico Abiacutelio

Barreto em Belo Horizonte com seus colegas Ela imaginava outro tipo de museu se

surpreendeu durante e apoacutes a visita e mudou sua mente por completo o museu natildeo era um local

que as pessoas iam para ver coisas velhas Percebeu no museu algo ineacutedito um historiador tem

vaacuterias formas de trabalhar com diferentes tipos de objetos (Maria Joseacute Mendes Fipel 200517

)

Durante a visita o estudante confronta suas expectativas com o que encontrou no Museu

Mudou de opiniatildeo sobre o que era um museu a partir daquela visita Outros visitantes conforme

16 A expressatildeo futuro passado de Koselleck (2006 p21) eacute uma categoria explicativa da dinacircmica dos tempos

histoacutericos que dialoga com a dimensatildeo da presenccedila discutida por Gumbrecht 17 Os relatoacuterios de visita produzidos pelos estudantes e utilizados na tese seratildeo citados individualmente

mencionando-se o nome do autor

24

exploraremos no capiacutetulo seguinte tambeacutem reconhecem o papel da visita ao Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto na mudanccedila em suas concepccedilotildees de museu

A visitante cria um enredo proacuteprio para a visita e organiza um repertoacuterio que serve de

pano de fundo para sua narrativa Maria Joseacute Mendes atualiza seus conhecimentos ao declarar

que o Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto realiza um trabalho diferente dos museus que ela jaacute havia

visitado laacute no museu eles preservam a memoacuteria da cidade e integram o objeto ao cotidiano da

sociedade remetendo-nos haacute tempos em que Belo Horizonte era apenas um arraial chamado

Curral Del Rei Laacute o casaratildeo deixa de ser espaccedilo fiacutesico para ser objeto museoloacutegico (Maria Joseacute

Mendes Fipel 2005)

Outras observaccedilotildees podem ser feitas a partir do relato da visitante Uma delas eacute que os

museus natildeo satildeo depoacutesito (lugar de memoacuteria) Cada visita a um museu situa temporalmente cada

um dos visitantes pois possibilita que eles momentaneamente se distanciem de sua imersatildeo no

tempo presente e participem de experiecircncias de outras temporalidades

A perspectiva adotada por cada museu se define concretamente no processo de

resignificaccedilatildeo do visitante que converte a cada olhar os artefatos expostos em objetos histoacutericos

O museu por sua vez eacute quem forccedila o visitante a exercer sua atividade produtiva a posicionar-se

O Museu coloca em jogo a produtividade do visitante ao estimular suas capacidades A visita

exercitada torna-se tambeacutem um prazer para o visitante uma aula praacutetica de como fazer Histoacuteria

(Maria Joseacute Mendes Fipel 2005)

A experiecircncia vivida nas visitas aos museus oferece graus distintos de intensidade Aleacutem

da experiecircncia puramente fiacutesica resultante da presenccedila os visitantes investem em objetos de

fasciacutenio que comeccedilam por ativaacute-los e convocaacute-los a se integrar no circuito do museu O museu se

apresenta como ldquorelevacircncia impostardquo ndash objetos que desviam nossa atenccedilatildeo das rotinas diaacuterias em

que estamos envolvidos e nos separam delas A presenccedila de determinados objetos da experiecircncia

a nos convidar para a serenidade isto eacute a estarem ao mesmo tempo concentrados e disponiacuteveis

sem deixarem que a concentraccedilatildeo se calcifique na tensatildeo de um esforccedilo (GUMBRECHT 2010

p 132)

A visitante Maria Joseacute Mendes percebe no museu o trabalho com diferentes tipos de

objetos e como o museu cria um tipo de objeto especiacutefico retirado do cotidiano e transformado

em objeto museoloacutegico No Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a visitante percebe a operaccedilatildeo

25

museal para criar um passado para a cidade de Belo Horizonte chamado Curral Del Rei cuja

narrativa estaacute associada ao iniacutecio agrave fundaccedilatildeo da nova capital A presenccedila como fenocircmeno

efecircmero pode ser discutida tambeacutem nas fotografias18

dos visitantes desde a entrada nos museus

como desejo e expectativas durante o percurso interno das exposiccedilotildees como reaccedilotildees agraves

condiccedilotildees especiacuteficas da cultura de sentido ateacute a saiacuteda dos locais quando se configura uma

ausecircncia ou o desaparecer da presenccedila A anaacutelise das experiecircncias de visita a museus possibilita

emergir um campo de investigaccedilatildeo em que os sujeitos aparecem em accedilatildeo posicionam-se em

relaccedilatildeo ao saber histoacuterico a outros sujeitos e narrativas e a si proacuteprios

13 - Formaccedilatildeo histoacuterica

A partir das dinacircmicas e interaccedilotildees experimentadas e interpretadas pelos estudantes em

visitas a museus pretende-se discutir como se daacute o aprendizado histoacuterico e a formaccedilatildeo histoacuterica

na perspectiva que lhe atribui Ruumlsen (2007 p104) enquanto a capacidade de constituiccedilatildeo de uma

narrativa de sentido

A experiecircncia histoacuterica da visita e de cada visitante permitiraacute uma distinccedilatildeo da qualidade

temporal entre passado e presente e identificaccedilatildeo do modo como o passado permanece como

passado no presente A visita a museus pode fundamentar essa experiecircncia temporal essa

vivecircncia da mudanccedila no tempo da alteridade do passado que experimentada abre o potencial de

futuro do proacuteprio presente (RUumlSEN 2007 p 111-2)

Para Ruumlsen (2007 p95) a formaccedilatildeo histoacuterica pode ser entendida sob dois aspectos

primeiro como saber histoacuterico siacutentese da experiecircncia com a interpretaccedilatildeo e orientaccedilatildeo para a

vida praacutetica e segundo como processo de socializaccedilatildeo e individuaccedilatildeo que trata da dinacircmica de

formaccedilatildeo da identidade histoacuterica O autor observa que o aprendizado histoacuterico natildeo acontece

apenas no ensino de histoacuteria mas nos mais diversos e complexos contextos da vida concreta dos

aprendizes A formaccedilatildeo histoacuterica se opotildee criticamente agrave unilateralidade agrave especializaccedilatildeo

excessiva e agrave fragmentaccedilatildeo do saber cientiacutefico Eacute uma competecircncia que articula niacuteveis cognitivos

18 Muitas fotografias ficaram reservadas agrave circulaccedilatildeo restrita e apresentadas a pequenos grupos e professores Outras figuram em aacutelbuns e siacutetios virtuais Seus produtores diretos decidem se as compartilham ou natildeo com outras pessoas

com amigos familiares ou ambientes virtuais Foram selecionadas aquelas que aparecem nos relatoacuterios de avaliaccedilatildeo

apresentados pela turma

26

e formas e conteuacutedos cientiacuteficos ao seu uso praacutetico Essas competecircncias de formaccedilatildeo estatildeo

relacionadas simultaneamente ao saber agrave praacutexis e agrave subjetividade Para o autor eacute a carecircncia de

orientaccedilatildeo do sujeito que vincula saber e agir (RUumlSEN 2007 p110)

Ruumlsen (2007) caracteriza de forma inspiradora o aprendizado histoacuterico e o papel produtivo

do sujeito na histoacuteria Para ele haacute um duplo movimento algo objetivo torna-se subjetivo um

conteuacutedo da experiecircncia de ocorrecircncias temporais eacute apropriado simultaneamente um sujeito

confronta-se com essa experiecircncia que se objetiva nele (RUumlSEN 2007 p106) A apropriaccedilatildeo da

histoacuteria transforma um dado objetivo um acontecimento que ocorreu no tempo passado em

realidade da consciecircncia em algo subjetivo Desse ponto de vista o sujeito constitui sua

subjetividade afirma a si proacuteprio ao aprender a dimensatildeo temporal do passado interpretado em

seu presente A formaccedilatildeo consegue efetivar a articulaccedilatildeo entre objetividade e subjetividade

realizar a passagem do dado objetivo agrave apropriaccedilatildeo subjetiva e da busca subjetiva de afirmaccedilatildeo

ao entendimento objetivo Nas palavras de Ruumlsen (2007 p110) haacute uma intensificaccedilatildeo dos

pressupostos subjetivos ao manejar de forma cognitiva o passado contrapondo-se agrave alteridade do

passado reconhecendo o estranho e assim descobrir-se como proacuteprio (histoacuteria como vida)

Para Reinhart Koselleck (2006 p308-314) um movimento semelhante ao da formaccedilatildeo

histoacuterica de Ruumlsen pode ser observado no trabalho com as categorias histoacutericas de espaccedilo de

experiecircncia e horizonte de expectativa Ambas estatildeo interligadas e se ocupam da questatildeo do

tempo histoacuterico Ao entrelaccedilar passado e futuro dirigem as accedilotildees concretas no movimento social

e poliacutetico

Koselleck (2006 p309-310) afirma que a experiecircncia eacute o passado atual aquele no qual

os acontecimentos foram incorporados e podem ser lembrados Jaacute a expectativa eacute ao mesmo

tempo ligada agrave pessoa e ao interpessoal tambeacutem se realiza no hoje eacute futuro presente voltado

para o ainda-natildeo para o natildeo experimentado para o que apenas pode ser previsto

A experiecircncia possibilita tornar presente os acontecimentos passados e avaliaacute-los

Contudo sem o horizonte de expectativas o espaccedilo da experiecircncia eacute vago Eacute o horizonte de

expectativas que manteacutem em aberto o espaccedilo para o futuro (KOSELLECK 2006 p313)

Para Ruumlsen (2007 p110) o processo de aprendizado e apropriaccedilatildeo da experiecircncia

histoacuterica se daacute por meio de trecircs operaccedilotildees experiecircncia interpretaccedilatildeo e orientaccedilatildeo O

aprendizado histoacuterico produz a ampliaccedilatildeo da experiecircncia do passado humano aumentando a

27

competecircncia de interpretaccedilatildeo dessa experiecircncia e reforccedilando a capacidade de inserir e utilizar as

interpretaccedilotildees histoacutericas no quadro de orientaccedilatildeo da vida praacutetica

Ao discutir sobre o aprendizado histoacuterico e a apropriaccedilatildeo histoacuterica pelo presente no

sentido de uma memoacuteria viva o proacuteprio Ruumlsen indica que a histoacuteria faz parte da cultura poliacutetica e

se apresenta como elementos identitaacuterios e nacionais Para o autor as diretrizes curriculares para o

ensino de histoacuteria os monumentos e as exposiccedilotildees satildeo exemplos dessa dimensatildeo histoacuterica vivida

de forma natildeo escolar Para Ruumlsen estas histoacuterias estatildeo presentes nas circunstacircncias da vida

concreta mas permitem tambeacutem lanccedilar pontes ao aprendizado de experiecircncias histoacutericas e de

futuro (RUumlSEN 2007 p107)

A perspectiva teoacuterica aberta por Ruumlsen articula as questotildees relativas ao ensino de histoacuteria

aos fundamentos da ciecircncia da histoacuteria A contribuiccedilatildeo de Ruumlsen eacute recompor o campo do ensino

com o que chamamos de dimensatildeo da pesquisa19

Em primeiro lugar ele afasta uma concepccedilatildeo

de didaacutetica como algo externo agrave produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico pelos especialistas Para

Ruumlsen a didaacutetica natildeo eacute mera aplicaccedilatildeo ou mediaccedilatildeo nem meacutetodo de ensino indiferente aos

mecanismos especiacuteficos do trabalho cognitivo da histoacuteria Os impulsos advindos do ensino e do

aprendizado de histoacuteria natildeo podem ser dispensados na ciecircncia da histoacuteria A teoria da histoacuteria se

faz para Ruumlsen sob a reflexatildeo sobre as carecircncias de orientaccedilatildeo existencial e das formas de

apresentaccedilatildeo Essas carecircncias satildeo sobretudo de ordem poliacutetica e esteacutetica As funccedilotildees praacuteticas do

saber histoacuterico satildeo tatildeo necessaacuterias quanto o processo cientiacutefico de conhecimento (RUumlSEN 2007

p122)

Para Ruumlsen o saber histoacuterico desempenha funccedilotildees na vida cultural do tempo presente Ele

defende que no trabalho do historiador forma e funccedilatildeo natildeo se separam Essa separaccedilatildeo eacute feita

pela tradiccedilatildeo retoacuterica da historiografia dando agrave teoria da histoacuteria o poder de cuidar das regras da

escrita historiograacutefica e da poeacutetica normativa o como escrever Com a cientificizaccedilatildeo da

historiografia a Histoacuteria passou a cuidar das regras da pesquisa histoacuterica e o aspecto da forma

ficou sendo externo agrave especializaccedilatildeo A didaacutetica da histoacuteria nas duas tradiccedilotildees historiograacuteficas

ficou de fora da composiccedilatildeo da disciplina especializada A didaacutetica eacute vista hoje como mera

aplicaccedilatildeo pedagoacutegica um referente externo do saber histoacuterico (RUumlSEN 2007 p11)

19 Haacute uma vasta bibliografia acadecircmica desde a deacutecada de 1980 que discute o ensino de histoacuteria no Brasil e dentre

outros temas a articulaccedilatildeo ensino e pesquisa a avaliaccedilatildeo criacutetica aos curriacuteculos e programas oficiais e articulaccedilatildeo de

grupos de pesquisa Ver Nadai(1993) e Caimi (2001)

28

O museu pode ser interrogado nesse mesmo sentido e deixar de ser considerado um

recurso metodoloacutegico para se tornar parte do aprendizado histoacuterico como fonte tema de pesquisa

e produccedilatildeo de conhecimentos histoacutericos e educacionais

Ruumlsen (2007 p87) reuacutene teoria e didaacutetica ao indicar que formas e funccedilotildees do saber

histoacuterico fazem parte da matriz disciplinar da ciecircncia histoacuteria Ao reinscrever a didaacutetica no campo

da Histoacuteria como praacutetica de ciecircncia aponta para a funccedilatildeo praacutetica do saber histoacuterico Essa funccedilatildeo

praacutetica tem efeito sobre o processo de conhecimento influenciando nas perguntas iniciais que os

historiadores fazem ou seja na praacutexis historiograacutefica e tambeacutem possui uma funccedilatildeo de orientaccedilatildeo

praacutetica para a vida

Em Histoacuteria Viva Ruumlsen (2007) contribui para a formulaccedilatildeo de questotildees que articulam de

maneira praacutetica os campos da histoacuteria e da educaccedilatildeo pensando no ensino de histoacuteria20

O olhar

criacutetico do autor sobre a teoria da histoacuteria dirige-se em seguida para os processos elementares e

gerais de constituiccedilatildeo narrativa de sentido responde agraves carecircncias de orientaccedilatildeo e torna o saber

histoacuterico vivo (RUumlSEN 2007 p14)

O que Ruumlsen (2010 p59) chama de ldquoconsciecircncia histoacutericardquo eacute esse uso praacutetico do saber

histoacuterico que suscita questotildees sobre as funccedilotildees culturais das narrativas histoacutericas Ou seja as

questotildees praacuteticas da formaccedilatildeo e saber histoacuterico vatildeo aleacutem da ldquoteoria da histoacuteriardquo e recolocam o

problema da validade discursiva desse campo como ciecircncia especializada aleacutem de questionar o

que os historiadores fazem quando propotildeem formataccedilotildees historiograacuteficas da vida cultural de seu

tempo ou quais procedimentos adotam quando atuam nela

A leitura de Ruumlsen inspira a reflexatildeo sobre o sentido que as narrativas e exposiccedilotildees dos

museus possuem na vida cultural de uma sociedade e como elas se transformam em saberes

histoacutericos Ao entender como o visitante realiza movimentos que colocam em circulaccedilatildeo os

sentidos das narrativas de museus eacute possiacutevel investigar mecanismos poliacuteticos e esteacuteticos que

continuam sendo selecionados nessas narrativas e que as transportam do passado para o presente

No relato de Maria Joseacute Mendes pode ser vista essa operaccedilatildeo de construccedilatildeo de sentidos

proacuteprios agraves narrativas histoacutericas A visitante entende a dinacircmica museal natildeo em seu caraacuteter

instrumental mas como princiacutepio criador de versotildees histoacutericas A visitante do Museu Histoacuterico

20 Essas articulaccedilotildees tambeacutem satildeo discutidas pelo grupo de pesquisa Memoacuteria Histoacuteria e Educaccedilatildeo da Unicamp Ver

Zamboni (2007) e Zamboni e outros (2008)

29

Abiacutelio Barreto participa de uma dinacircmica que a leva a compreender que ldquoa partir de uma

montagem e desmontagem de figuras podem-se passar imagens diferentes dependendo da

maneira como esse material foi expostordquo (Maria Joseacute Mendes Fipel 2005) A operaccedilatildeo de

montagem e desmontagem eacute experimentada pela visitante que relaciona o procedimento do

museu com o procedimento dos historiadores em suas pesquisas e associa a ideia de deciframento

do que estaacute preservado e exposto ao trabalho de composiccedilatildeo realizado anteriormente

Outra questatildeo em relaccedilatildeo aos visitantes inspirada em Ruumlsen eacute discutir ateacute que ponto o

modo de narrar histoacuterias dos museus eacute utilizado na vida dos visitantes Ou seja como a maneira

argumentativa dos museus afeta a formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes Ou no limite se visitar

museus influencia ou natildeo na forma de narrar a histoacuteria e viver o tempo presente

No relato de Maria Joseacute Mendes as dimensotildees da histoacuteria e da vida estatildeo presentes A

visita muda sua concepccedilatildeo de museu e de histoacuteria Ela traz da vivecircncia no museu para sua

concepccedilatildeo de histoacuteria a dimensatildeo material dos objetos e aproxima sua nova visatildeo de museu da

historiografia Como futura profissional da histoacuteria ela pode usar um novo arsenal o museu e sua

metodologia de trabalhar os objetos (Maria Joseacute Mendes Fipel 2005)

Em relaccedilatildeo agrave vida Maria Joseacute Mendes manteacutem sua condiccedilatildeo de visitante durante todo seu

relato mas faz um convite ldquoa exposiccedilatildeo eacute aberta a todos que queiram verrdquo Essa abertura das

portas do museu ao puacuteblico reconhecida pela visitante implica em considerar que os

destinataacuterios na praacutexis museoloacutegica natildeo satildeo apenas os especialistas Mas a visitante parece

indicar que o lugar no qual se localiza essa praacutetica soacute atinge os que ldquoquerem verrdquo e nem todo

mundo quer ver o que tem em um museu Relacionado a uma forma de constituiccedilatildeo especiacutefica de

rdquonarrativa de sentidordquo o museu natildeo eacute igual ao conjunto da vida praacutetica Eacute preciso ir ateacute o museu e

querer vecirc-lo

Querer ver e ver de diferentes maneiras implica em reconhecer a heterogeneidade e a

diversidade que marcam a formaccedilatildeo histoacuterica e as relaccedilotildees concretas dessa formaccedilatildeo no que se

refere a percursos graus de autonomia condiccedilotildees de trabalho docente diferenccedilas culturais e

enormes desigualdades sociais e econocircmicas reconhecer que professores e alunos dos diferentes

niacuteveis de ensino podem ser sujeitos histoacutericos agrave medida que constituem coletivamente para si

proacuteprios um tempo e espaccedilo de produccedilatildeo de conhecimentos tempo e espaccedilo que incluam a

reflexatildeo e accedilatildeo sobre suas proacuteprias demandas e necessidades de formaccedilatildeo

30

14- Circuito e circularidade cultural

Feitas as consideraccedilotildees sobre as narrativas a presenccedila e a formaccedilatildeo histoacuterica a questatildeo a

ser enfrentada eacute como analisar as interaccedilotildees que emergem das accedilotildees dos sujeitos na produccedilatildeo de

novos significados para os bens culturais sem cair numa abordagem que prioriza as estruturas ou

as mediaccedilotildees institucionais que atuam com poder formativo e instrucional indicando roteiros de

interaccedilatildeo sobre os receptores ndash colocados no final do processo educativo

Algumas bases teoacutericas jaacute foram estabelecidas principalmente ao se discutir o conceito de

cultura de presenccedila para caracterizar a relaccedilatildeo com os museus Cabe sistematizar um pouco mais

a criacutetica agrave recepccedilatildeo e agrave representaccedilatildeo estabelecida pela ampliaccedilatildeo do conceito de cultura

realizada por Raymond Williams (1969 e 1979) e posteriormente alargada pela ideia de circuito

da cultura de Stuart Hall (1997 e 2003)

O debate teoacuterico em torno do conceito de cultura promovido por Raymond Williams

(1969 e 1979) e posteriormente os sentidos e usos que adquire pelos chamados Estudos

Culturais na criacutetica e reexame das relaccedilotildees entre comunicaccedilatildeo e sociedade articulam a dinacircmica

os conflitos as tensotildees as resoluccedilotildees e irresoluccedilotildees as inovaccedilotildees e mudanccedilas reais que se

produzem na proacutepria cultura em planos mais amplos a partir de um objetoproduto especiacutefico

rompendo com os paradigmas da recepccedilatildeo e representaccedilatildeo

Para Williams o cultural natildeo eacute mero reflexo ou tem papel residual nas anaacutelises O cultural

ocupa o lugar central eacute o lugar para onde se deve olhar pois permite ver a experiecircncia o modo

de vida indissoluacutevel na praacutetica em geral real material as formas dominantes residuais

(passado memoacuteria) e emergentes

Williams propotildee um meacutetodo de entendimento dos fenocircmenos da cultura como as

condiccedilotildees de vida comum tanto as normas quanto o vivido praacuteticas cotidianas natildeo cristalizadas

A cultura natildeo tem uma hierarquia fixa um dentro e um fora natildeo pode ser definida como alta ou

baixa A cultura eacute vista como experiecircncias efetivas e troca entre agentes natildeo redutiacuteveis aos

objetos (coisas) mas a todo um modo de vida comum A cultura eacute ordinaacuteria ou seja eacute

perpassada pelas ideias e praacuteticas sociais Assim em seu meacutetodo eacute possiacutevel pensar a estrutura da

experiecircncia ou as relaccedilotildees sociais mais amplas dentro de um caso particular

31

Outra contribuiccedilatildeo significativa de Williams (1992 p311) para a anaacutelise de nosso objeto

especiacutefico eacute a criacutetica ao sentido de transmissatildeo da cultura Para o autor soacute podemos pensar em

transmissatildeo se entendermos a comunicaccedilatildeo como a remessa de um sentido uacutenico Entretanto

para ele a recepccedilatildeo e resposta que completam a comunicaccedilatildeo dependem de fatores outros que

natildeo as teacutecnicas

A comunicaccedilatildeo se daacute como experiecircncia de agentes troca entre interlocutores Mas natildeo

vivemos em um mundo de iguais Natildeo haacute sequer a suposiccedilatildeo de compartilhamento de uma

linguagem comum Haacute claramente uma dimensatildeo poliacutetica uma vontade de poder expressa nas

hierarquias postas As regras e valores das instituiccedilotildees museais as normas e papeacuteis sociais regem

as relaccedilotildees entre visitantes e museus O sentido da accedilatildeo parte do museu Entretanto cabe

perguntar sobre quais formas de interlocuccedilatildeo podem emergir em um cenaacuterio de visita a uma

exposiccedilatildeo O Museu propotildee o rompimento com o caraacuteter transmissivo da cultura ou reitera os

padrotildees de uma cultura alta e autorizada e outra baixa O visitante pode fazer esse movimento de

interpretaccedilatildeo contraacuterio ao sentido prioritaacuterio do museu atribuindo um excesso de sentido poliacutetico

e esteacutetico agrave exposiccedilatildeo ou ele sempre elabora seu percurso de leitura com as matrizes e

referencias culturais da exposiccedilatildeo

Chega-se tambeacutem a outro movimento de ampliaccedilatildeo do sentido de cultura e da proacutepria

ideia de representaccedilatildeo como algo fixo Stuart Hall (1997 e 2003) ao formular a ideia de circuito

da cultura substitui o modelo teoacuterico que separava emissormensagemreceptor por estrutura

complexa de relaccedilotildees produzida e sustentada atraveacutes de movimentos distintos mas interligados

produccedilatildeo circulaccedilatildeo distribuiccedilatildeoconsumo reproduccedilatildeo

Hall relaciona as praacuteticas culturais com formas e condiccedilotildees especiacuteficas Cada momento do

circuito remete ou re-envia ao outro produccedilatildeo-distribuiccedilatildeo-produccedilatildeo Formas simboacutelicas

especiacuteficas satildeo produtos de cada momento do circuito mas tambeacutem datildeo passagem a outros

significados e mensagens (signos-veiacuteculos) Podemos pensar a produccedilatildeo cultural como

instrumentos materiais (meios) organizados como praacuteticas e analisar a troca comunicativa na

forma discursiva da mensagem em suas formas visuais (imagens) e no seu proacuteprio discurso

expositivo (textonarrativa) e nas atividades propostas de interaccedilatildeo com o leitor (atividades

pedagoacutegicas)

32

Figura 1 GAY Paul du e HALL Stuart O circuito da cultura

Production of CultureCultures of Production Londres Sege 1997

A anaacutelise cultural proposta por Suart Hall (2003) supera um modelo inicial de

codificaccedilatildeodecoficaccedilatildeo e passa a considerar que se as regras formais do discurso (sentido

preferencial) e a linguagem estatildeo em dominacircncia elas satildeo concretizadas na mensagem como

linguagem Ao serem decodificadas elas satildeo apropriadas e para que tenham efeito satisfaccedilam

necessidades ou tenha um uso pela audiecircncia haacute graus de assimetria e autonomia em relaccedilatildeo aos

coacutedigos da fonte e do receptor

Apresentadas a seguir as figuras 3 e 4 satildeo fotografias produzidas por um mesmo grupo

de estudantes de licenciatura em Histoacuteria21

em visita a dois diferentes museus o Museu do

Escravo em Belo Vale MG e o Museu Histoacuterico Nacional na cidade do Rio de Janeiro e

possibilitam aproximar o tema das visitas a museus agraves contribuiccedilotildees de Raymond Williams (1969

e 1979) e Stuart Hall (1997 2003 e 2008) entendidas como matriz teoacuterica de um movimento mais

amplo de anaacutelise cultural

21 O perfil do grupo seraacute apresentado no capiacutetulo seguinte

33

Figura 2 CUNHA Viacutevian e outros Fotografias da entrada e paacutetio

interno do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006

Figura 3 RODRIGUES Marly Marques Fotografia da entrada do

Museu Histoacuterico Nacional 2008

Na figura 2 satildeo apresentadas duas fotografias de visitantes chegando ao Museu do

Escravo e dirigindo-se ao pavilhatildeo interno de exposiccedilotildees Em ambas fotografias os visitantes

estatildeo de costas para o fotoacutegrafo caminham apressadamente Os corpos dos visitantes estatildeo

enquadrados pela arquitetura do museu Numa primeira aproximaccedilatildeo pode-se pensar que os

visitantes satildeo receptores ou consumidores das representaccedilotildees das significaccedilotildees e valores do

museu

O conceito de circuito da cultura operacionalizado por Hall (1997) evidencia que as

questotildees que envolvem a anaacutelise de um produto ou praacutetica cultural natildeo se limitam apenas ao

lugar de sua representaccedilatildeo especiacutefica mas que todos os momentos da elaboraccedilatildeo da cultura

(produccedilatildeo consumo regulaccedilatildeo representaccedilatildeo e identidade) estatildeo associados e se articulam As

34

fotografias dos visitantes apresentam os museus a partir da visita e do olhar dos proacuteprios

visitantes que se colocam dentro da cultura dos museus

O conceito de circularidade da cultura amplia o eixo do olhar sobre as praacuteticas e

artefatos culturais de modo a buscar outras institucionalidades sensibilidades subjetividades

produccedilotildees simboacutelicas e a abandonar uma visatildeo que separa definitivamente as identidades e

posiccedilotildees dos sujeitos em produtores e receptores Entrar nos museus eacute entrar num circuito e

colocar em circulaccedilatildeo seus sentidos e representaccedilotildees prioritaacuterias

Vistas novamente as fotografias da visita ao Museu do Escravo apontam um engajamento

dos sujeitos natildeo apenas pelo vieacutes do consumo Seus trajes coloridos se destacam das paredes

brancas e o museu tanto pode ver visto como o enquadramento central da cena quanto o cenaacuterio

de fundo para a accedilatildeo dos visitantes Haacute produccedilatildeo de um referencial identitaacuterio para o grupo e um

compartilhamento dessa representaccedilatildeo o que nos leva de volta agrave ideia de que os sujeitos se

constituem na cultura e que o consumo cultural se configura tambeacutem como praacutetica de produccedilatildeo

cultural

Na fotografia destacadas da visita ao Museu Histoacuterico Nacional (figura 3) os visitantes

esperam do lado de fora do museu o momento da visita A partir do modelo de circuito da cultura

podemos localizar inicialmente as representaccedilotildees de museu no acircmbito da regulaccedilatildeo Nesta

imagem dos visitantes dificilmente poderiacuteamos pensar numa simples transmissatildeo da cultura

mesmo em desigualdade de condiccedilotildees Antes mesmo de entrar pelo portatildeo principal haacute uma troca

de olhares entre museu e visitante que comeccedila com o registro dos rituais e ritmos estabelecidos

pelo museu O que pode ser visto e as maneiras de vecirc-las

A comunicaccedilatildeo entre museus e visitante se daacute como experiecircncia de agentes troca entre

interlocutores Natildeo haacute transmissatildeo de cultura do museu para o visitante Eacute o visitante que elabora

uma representaccedilatildeo de si mesmo e do museu E natildeo parece supor a igualdade de condiccedilotildees para as

produccedilotildees de cada agente Natildeo haacute sequer a suposiccedilatildeo de compartilhamento de uma linguagem

comum entre museus e visitantes Na fotografia do Museu Histoacuterico Nacional (Figura 3) haacute uma

dimensatildeo poliacutetica (regulaccedilatildeo) uma vontade de poder expressa nas hierarquias postas As regras e

valores das instituiccedilotildees museais as normas e papeacuteis sociais regem as relaccedilotildees entre visitantes e

museus O sentido da accedilatildeo parte do museu Haacute um guarda agrave porta do MHN que soacute se abriraacute no

horaacuterio determinado A fotografia registra o momento da espera Fica em aberto a pergunta sobre

35

as formas de interlocuccedilatildeo possiacuteveis num cenaacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional vencido o

momento da espera

As fotografias apontam que os visitantes produzem sentidos para a cultura a partir das

visitas que aconteceram ao longo da trajetoacuteria de formaccedilatildeo acadecircmica desse grupo especiacutefico Os

dois museus escolhidos foram visitados em momentos distintos da formaccedilatildeo dos estudantes22

O

Museu do Escravo em Belo Vale-MG visitado em 2006 e o Museu Histoacuterico Nacional no Rio

de Janeiro visitado em 2008

Os dois museus selecionados apresentam propostas expositivas conteuacutedos distintos e

estavam relacionados agraves atividades acadecircmicas desenvolvidas pelos professores do curso de

Licenciatura em Histoacuteria Cada museu se autorepresenta ao definir contemporaneamente sua

ldquomissatildeordquo no Cadastro Nacional de Museus promovido recentemente pelo Instituto Brasileiro de

Museus (IBRAN) oacutergatildeo subordinado ao Ministeacuterio da Cultura com base na Poliacutetica Nacional

de Museus de 200323

Figura 4 Fachada do Museu do Escravo Disponiacutevel

emlthttpwwwbelovalemggovbratracoes_museuhtmgt Acesso em

2011

22 Desenvolvo nos capiacutetulos quatro e cinco uma anaacutelise da experiecircncia museal de um mesmo grupo de visitantes a

esses dois diferentes museus o Museu do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional 23

Ver httpwwwmuseusgovbrsbmcnm_conhecaosmuseushtm Acesso em 2010

36

O Museu do Escravo24

eacute vinculado ao poder puacuteblico municipal e estaacute localizado desde

1988 em um casaratildeo construiacutedo ao lado da igreja matriz de Belo Vale como reacuteplica de um

edifiacutecio colonial especialmente para abrigar o acervo do museu A tipologia do acervo eacute

apresentada de forma ampla e abrange antropologia etnografia arqueologia artes visuais

ciecircncias naturais histoacuteria natural e histoacuteria A missatildeo do Museu do Escravo eacute registrar e

preservar a histoacuteria do negro escravo no Brasil mostrando e valorizando seu trabalho arte e

cultura (IBRAN 2010)

O Museu Histoacuterico Nacional tambeacutem uma instituiccedilatildeo puacuteblica federal localizada na

cidade do Rio de Janeiro foi o uacuteltimo museu visitado pelo grupo de estudantes de licenciatura em

Histoacuteria em 2008 quando cursavam os uacuteltimos periacuteodos da graduaccedilatildeo Fundado em 1922 o MHN

teve suas primeiras coleccedilotildees formadas com transferecircncias do Museu Nacional do Arquivo

Nacional da Biblioteca Nacional e do antigo Museu de Artilharia Hoje reuacutene um

acervo de mais de 264332 itens entre os quais a maior coleccedilatildeo de numismaacutetica da

Ameacuterica Latina O conjunto arquitetocircnico que abriga o museu desenvolveu-se a partir do

Forte de Santiago na Ponta do Calabouccedilo um dos pontos estrateacutegicos para a defesa da

cidade do Rio de Janeiro O Museu Histoacuterico Nacional manteacutem em 9557 metros

quadrados de aacuterea aberta ao puacuteblico galerias de exposiccedilotildees permanentes e temporaacuterias aleacutem da biblioteca especializada em Histoacuteria do Brasil Histoacuteria da Arte Museologia e

Moda do Arquivo Histoacuterico com documentos manuscritos aquarelas ilustraccedilotildees e

fotografias (IBRAN 2010)

O Museu Histoacuterico Nacional define sua missatildeo a partir do conceito de ldquonacionalrdquo O

museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente a serviccedilo da sociedade e de seu desenvolvimento que

adquire conserva pesquisa e divulga as evidecircncias representativas da histoacuteria brasileira

(IBRAN 2010)

24 Segundo material de divulgaccedilatildeo o Museu foi criado em Congonhas do Campo nas dependecircncias da Basiacutelica do

Senhor Bom Jesus Em 1977 foi transferido para a Fazenda da Boa Esperanccedila em Belo Vale e oficializado atraveacutes

de Lei Municipal nordm 50475 de 10 de abril Em 13 de Maio de 1988 primeiro centenaacuterio da aboliccedilatildeo foi inaugurado

o preacutedio atual em estilo colonial projetado por Paulo Bojanic

37

Figura 5 Fachada do Museu Histoacuterico Nacional ndash Disponiacutevel em

lthttpwwwmuseuhistoriconacionalcombrmh-2008-001htmgt

Acesso em 2011

Nas duas imagens oficiais dos museus (figuras 4 e 5) os edifiacutecios satildeo isolados do

cenaacuterio urbano nos quais estatildeo localizados natildeo haacute qualquer referecircncia ao entorno Tambeacutem natildeo

se observa nas imagens nenhuma intervenccedilatildeo voltada ao visitante como placas de sinalizaccedilatildeo ou

propaganda indicando o nome do Museu como se locomover e serviccedilos tais como

estacionamento portatildeo de entrada e outras instalaccedilotildees puacuteblicas As imagens ressaltam a

grandiosidade da arquitetura exibida de maneira estaacutetica realccedilando as restauraccedilotildees das fachadas

iluminadas de forma atraente e sedutora

A imagem produzida pelos museus confronta-se com as fotografias dos visitantes Nos

dois museus visitados encontram-se possibilidades de rompimento com o caraacuteter transmissivo da

cultura mas tambeacutem configuraccedilotildees que reiteram os padrotildees de cultura hierarquizada ndash alta e

autorizada e outra baixa e desautorizada O visitante pode fazer o movimento de atribuiccedilatildeo de

sentido poliacutetico e esteacutetico agraves exposiccedilotildees e museus Ele substitui o tempo de espera pelo inusitado

do percurso de visita a mais uma exposiccedilatildeo

As fotografias do momento da chegada aos dois museus apontam que os visitantes criam

um circuito proacuteprio para a cultura O registro do visitante estabelece um diaacutelogo com o plano da

cultura que estaacute nos museus O visitante orienta o museu a fazer escolhas e cada museu produz a

38

si mesmo agrave medida que se expotildee ao visitante No Museu do Escravo (Figura 2) os visitantes

chegam rapidamente agrave entrada e comeccedilam a explorar de maneira espontacircnea o espaccedilo interno Os

estudantes parecem natildeo precisar de ldquoguiasrdquo ou orientaccedilotildees Querem ver o que tem laacute dentro

Circulam

Na chegada ao Museu Histoacuterico Nacional (Figura 3) o museu tem uma loacutegica proacutepria

parece fechado ao visitante Eacute muito organizado dizem os visitantes e essa organizaccedilatildeo parece

se expressar nos rituais de espera para entrar no seguranccedila que guarda a portaria nas orientaccedilotildees

de um ldquoguiardquo tambeacutem estudante de Histoacuteria Circulam visitam vaacuterias exposiccedilotildees sem correrias

retornam ao local da entrada (saiacuteda)

Assim pode-se considerar que satildeo os museus que constroem um puacuteblico um visitante e

lhes atribui caracteriacutesticas de idade escolaridade gecircnero articuladas agrave concepccedilatildeo sobre o que eacute

um museu O museu se apresenta em primeira pessoa em cada material produzido e endereccedilado

aos visitantes Os visitantes nessas fotografias tambeacutem tentam controlar a sua auto-representaccedilatildeo

frente agrave arquitetura dos museus que se impotildee desde os portotildees de entrada

Posicionados historicamente frente agrave arquitetura dos dois museus as fotografias satildeo

tentativas dos visitantes de se apresentarem refletirem sobre si mesmos e natildeo apenas se

moldarem aos padrotildees e expectativas da representaccedilatildeo dominante Haacute nas imagens uma

reflexibilidade dos sujeitos (identidade no sentido de Hall) frente agrave arquitetura museal ou a

forma cultural dominante que entretanto natildeo se impotildee de maneira paciacutefica (regulaccedilatildeo) O

visitante tem uma atitude de produccedilatildeo cultural de conhecer o museu habitar de certo modo esse

espaccedilo (consumo) restabelecendo a centralidade da cultura ou o reiniacutecio do circuito com uma

nova representaccedilatildeo ao tornar o museu significativo visiacutevel e tangiacutevel para si mesmo

As fotografias permitem configurar um espaccedilo da vivecircncia (ou evento) 25

nas quais estatildeo

circunscritas as atividades que foram objeto do interesse dos visitantes e foram estruturadas tendo

como referecircncia a ideacuteia de performance movimento e foco natildeo apenas presentes nos museus

mas escolhidos e recortados pelos visitantes As fotografias apresentam desde a entrada no museu

(desejo expectativas de presenccedila) com o nascimento da proacutepria presenccedila o durante o percurso

interno e as reaccedilotildees agraves condiccedilotildees especiacuteficas da cultura museal contemporacircnea

25 Mauad (1996 p13-14) propotildee uma metodologia para o trabalho com fotografias que considera cada unidade

cultural que deve ser analisada sob os aspectos do espaccedilo fotograacutefico espaccedilo geograacutefico espaccedilo do objeto espaccedilo da

figuraccedilatildeo e espaccedilo da vivecircncia

39

predominantemente uma cultura de sentido e a saiacuteda dos museus a ausecircncia o desaparecer da

presenccedila e o surgimento dos efeitos de presenccedila que podem ser vividos jaacute na ausecircncia

15- Visitantes de museus espectadores emancipados

A abordagem desta pesquisa difere da perspectiva da recepccedilatildeo26

agrave medida que as visitas a

museus e os visitantes satildeo considerados espectadores emancipados e natildeo apenas consumidores

das propostas educativas elaboradas pelos consultores e especialistas de museus A relaccedilatildeo entre

o puacuteblico e os museus eacute recoberta de muacuteltiplas temporalidades Entendo o museu como

instituiccedilatildeo local fiacutesico produtor de conhecimento arena poliacutetica promotor de identidades

espaccedilo de construccedilatildeo de memoacuterias de educaccedilatildeo que reuacutene caracteriacutesticas que povoam o

imaginaacuterio social desde o final do seacuteculo XVIII O museu como ideia e instituiccedilatildeo resiste na

contemporaneidade e assume diferentes usos Eacute esse o conceito de museu puacuteblico moderno que

permeia essa pesquisa desde a formulaccedilatildeo do projeto passando pela delimitaccedilatildeo das fontes ateacute a

sistematizaccedilatildeo das primeiras anaacutelises das visitas

Assim como o conceito de museu eacute marcado pela historicidade ou a adaptaccedilatildeo a

diferentes momentos a imagem de um puacuteblico de museus tambeacutem remete a diferentes praacuteticas

ligadas aos museus pesquisa accedilotildees patrimoniais educativas expositivas colecionismos que

implicam em atrair diferentes grupos para frequumlentar e produzir esses espaccedilos poeacuteticos e

poliacuteticos

Falar dos museus como sujeitos eacute apresentaacute-los como um campo proacuteprio de produccedilatildeo de

conhecimentos e como tal fundadores de princiacutepios e loacutegicas como um tipo especial de

instituiccedilatildeo cultural O museu se coloca como sujeito cultural com processos de legitimaccedilatildeo e

criteacuterios de autoridade capazes de nortear a construccedilatildeo de sentidos poliacuteticos do que seja o proacuteprio

museu e por conseguinte sobre a relaccedilatildeo do museu com outros campos como o patrimocircnio a

memoacuteria a educaccedilatildeo e a histoacuteria

Dimensotildees histoacutericas poliacuteticas esteacuteticas sociais e institucionais concorrem para a

definiccedilatildeo do campo museal Diferentes contribuiccedilotildees e leituras transformam de maneira

26 Considero as pesquisas de recepccedilatildeo aquelas que tomam o puacuteblico de museus sob a perspectiva da ldquorelaccedilatildeo de

transposiccedilatildeo definida como a adaptaccedilatildeo da temaacutetica do museu ou da exposiccedilatildeo - feita pelo inteacuterprete - para o

visitanterdquo (MARANDINO ALMEIDA E VALENTE 2009 p22)

40

constante o conhecimento museoloacutegico Museoacutelogos historiadores jornalistas poliacuteticos e

cidadatildeos comuns compartilham dessa produccedilatildeo Tambeacutem na condiccedilatildeo de sujeito de praacuteticas

culturais especiacuteficas cada museu eacute lido por diferentes agentes histoacutericos Enquanto agente

puacuteblico o museu se daacute ver e se submete a leituras conflitantes A leitura de populares e de

especialistas se apresenta cada vez que o museu abre suas portas ao puacuteblico Em cada exposiccedilatildeo

em cada visita o museu se atualiza

Compreender a historicidade dos puacuteblicos ou visitantes de museus implica por

consequumlecircncia em analisar como diferentes sujeitos se fazem presentes nas poliacuteticas e poeacuteticas

destas instituiccedilotildees e como fazem usos variados destes espaccedilos puacuteblicos Almeida (2004 e 2005) e

Marandino (2009) estudiosas de puacuteblico de museus no Brasil indicam que a presenccedila do

visitante nos museus eacute registrada desde fins do seacuteculo XVIII Com interesses variados

colecionadores filoacutesofos poliacuteticos criacuteticos e artistas preocuparam-se em conhecer o puacuteblico de

museus e tecer consideraccedilotildees sobre o uso que faziam da instituiccedilatildeo Os proacuteprios museus

fornecem dados sobre os visitantes para oacutergatildeos estatais aos quais estatildeo subordinados e no iniacutecio

do seacuteculo XX foram realizados os primeiros estudos acadecircmicos nos EUA sobre puacuteblicos de

museus e comportamentos de visita (MARANDINO 2009)

Na segunda metade do seacuteculo XX os proacuteprios profissionais dos museus comeccedilam a se

interessar por esse tema de pesquisa assim como empresas puacuteblicas e privadas para fins de

avaliaccedilatildeo Na deacutecada de 1980 haacute um duplo interesse nos estudos de puacuteblicos como campo de

estudo das praacuteticas sociais e culturais e com finalidades de orientar investimentos econocircmicos e

poliacuteticas puacuteblicas

A reflexatildeo sobre as relaccedilotildees entre museus e visitantes nem sempre eacute pautada pela

preocupaccedilatildeo com o entendimento do papel social de ambos os atores Como afirma Koptke

pesquisadora do campo da museologia ldquoa negociaccedilatildeo do sentido de uso deriva de situaccedilotildees cuja

dinacircmica necessita ser analisada do ponto de vista de seus usuaacuterios para melhor compreendermos

como e para que existam os museusrdquo (KOPTKE 2005 p191)

Pesquisas de puacuteblico ou de recepccedilatildeo servem agrave negociaccedilatildeo de recursos e fundos tanto

privados quanto puacuteblicos e conquistam credibilidade social Veja-se o exemplo de investimentos

em tecnologias digitais que implicam em ampliaccedilatildeo do acesso e aumento do nuacutemero de visitantes

41

e se autojustificam pois um visitante virtual que acessa o site do museu e solicita um serviccedilo

equivale a um visitante presencial nos relatoacuterios de gestatildeo

Do ponto de vista acadecircmico a criacutetica agraves instituiccedilotildees museais considerando aspectos tais

como o acesso os produtos e valores culturais a elas associados jaacute identificados em escritos

como os de Valery (1931) reveste-se de maior amplitude em fins do seacuteculo XX em aacutereas como a

sociologia a antropologia a histoacuteria e os estudos culturais Trecircs seacuteculos de histoacuteria das

instituiccedilotildees museais satildeo revisitados por estudos empiacutericos e quantitativos que estabelecem dados

sobre condiccedilotildees de acesso e uso dos puacuteblicos tanto no plano relacional das trocas e negociaccedilotildees

quanto no plano institucional de valores e imagens A visita e o visitante satildeo objetos de inqueacuteritos

em diferentes museus Ao estudar o visitante essas pesquisas problematizam o papel dos museus

na sociedade e as percepccedilotildees sociais de suas accedilotildees Fala-se de puacuteblico ou puacuteblicos de uma

determinada atividade cultural Nos museus o lugar do puacuteblico estaacute associado ao visitante ou

usuaacuterio e as investigaccedilotildees sobre os puacuteblicos vecircm se consolidando juntamente com outros temas

como a educaccedilatildeo e a histoacuteria em museus

Os estudos de puacuteblico segundo Esquenazi (2006) foram se estabelecendo desde a deacutecada

de 1930 quando investigadores norte-americanos comeccedilam a se interessar por traccedilos da recepccedilatildeo

dos meios de comunicaccedilatildeo massivos sob a suspeita de que o puacuteblico seria uma comunidade

provisoacuteria ou um conjunto de pessoas mais ou menos dispersas que se identificavam com as

personalidades que lhes eram apresentadas pelas transmissotildees de raacutedio Os inqueacuteritos entretanto

demonstrariam que as escolhas poliacuteticas e a opiniatildeo popular eram mais influenciadas por

personalidades locais influentes do que por recomendaccedilotildees veiculadas pela miacutedia

Esquenazi (2006) faz um balanccedilo dos estudos de puacuteblico e estabelece um mapa conceitual

das concepccedilotildees do que seja um puacuteblico a partir das pesquisas socioloacutegicas realizadas ao longo do

seacuteculo XX Satildeo identificadas sete concepccedilotildees de puacuteblico o puacuteblico ativado pela obra delimitado

pelos inqueacuteritos suscitado pelas estrateacutegias comerciais pela estratificaccedilatildeo social por

configuraccedilotildees culturais pelas interaccedilotildees sociais e por situaccedilotildees simboacutelicas O autor chega a essa

tipologia a partir da anaacutelise de obras e autores apontando possibilidades abertas pelas

interpretaccedilotildees e limites das abordagens

Interesse de pesquisa semelhante ocorre na Franccedila em fins dos anos de 1950 quando

Andreacute Malraux ministro do General de Gaulle acreditava que bastavam boas condiccedilotildees para que

42

se constituiacutesse um puacuteblico apreciador de obras de arte Pierre Bourdieu e Alain Darbel (2003)

numa pesquisa com o puacuteblico frequumlentador de museus de arte em quatro paiacuteses europeus

publicada na forma de livro com o tiacutetulo O amor pela arte apontaram que boa vontade

presumida natildeo bastava para a constituiccedilatildeo de um puacuteblico de museus Bourdieu e Darbel levantam

a hipoacutetese de que cada domiacutenio de praacuteticas culturais eacute estruturado por habitus legitimados pela

condiccedilatildeo de classe e condiccedilotildees de vida A frequecircncia a museus estaacute relacionada ao estatuto

social A probabilidade de um operaacuterio visitar um museu eacute quarenta vezes inferior agrave possibilidade

de visita de um quadro superior em escolaridade e renda

Os estudos recentes sobre o puacuteblico realizados pelos proacuteprios museus parecem ter se

afastado das perspectivas criacuteticas de Diderot Baudelaire Proust e Valery27

As pesquisas satildeo em

sua grande maioria instrumentais e fundamentadas pelas teorias da recepccedilatildeo Satildeo inqueacuteritos das

expectativas preacutevias dos aspectos que mais atraem os visitantes para determinados setores do

museu e dos conhecimentos preacutevios dos puacuteblicos Com base nesses inventaacuterios elaboram-se

programas redimensionam-se as ofertas de serviccedilos e promovem-se reformas Em geral satildeo

trabalhos preparados pelas proacuteprias equipes dos museus e especialistas consultores

pesquisadores e o puacuteblico convocado a responder aos modelos propostos

Esse paradigma da recepccedilatildeo tambeacutem vem sendo questionado com as pesquisas

historiograacuteficas sobre as praacuteticas culturais como as de Michel de Certeau (1994) e Roger Chartier

(1998) que analisam as praacuteticas de leitura e apontam para o papel produtivo dos leitores em

relaccedilatildeo ao livro e a leitura Para Certeau (1994) os leitores natildeo satildeo escritores que trabalham no

ldquosolo da linguagemrdquo mas ldquosatildeo viajantes circulam nas terras alheias nocircmades caccedilando por conta

proacutepria atraveacutes dos campos que natildeo escreveram arrebatando os bens do Egito para usufruiacute-losrdquo

As imagens evocadas pelo historiador para caracterizar o leitor satildeo marcadas por efeitos de

deslocamentos que misturam tempos e lugares uma ldquobricolagemrdquo uma relaccedilatildeo com os resiacuteduos

de construccedilotildees e destruiccedilotildees anteriores uma mitologia que se dispersa na duraccedilatildeo e desafia o

tempo disseminado em repeticcedilotildees diferenccedilas memoacuterias e conhecimentos (CERTEAU 1994

p269-270)

27 Discutidas no segundo capiacutetulo

43

Chartier (1998) por sua vez chama a atenccedilatildeo para o fato de que o leitor ldquocaccediladorrdquo que

percorre terras alheias descrito por Certeau natildeo se desloca ou subverte de forma absoluta aquilo

que o livro pretende lhe impor Sua liberdade leitora eacute ldquocercada por limitaccedilotildees derivadas das

capacidades convenccedilotildees e haacutebitos que caracterizam em suas diferenccedilas as praacuteticas de leiturardquo

(CHARTIER 1998 p77)

Do ponto de vista dos estudos filosoacuteficos tambeacutem ampliou-se o espaccedilo do leitor ao

afirmarmos que existe a possibilidade de emergir um novo significado para o texto dependendo

da posiccedilatildeo histoacuterica do leitor e de sua capacidade de diaacutelogo O leitor deixa aos poucos de ser

visto como o receptor passivo das obras e conquista um papel de produtor de sentidos Os

horizontes de expectativas dos leitores e o momento da leitura passam a integrar as anaacutelises da

posiccedilatildeo social do leitor visto como sujeito e natildeo apenas o destinataacuterio das obras sobretudo

literaacuterias28

Essas expectativas deixam de analisar a recepccedilatildeo e atribuir ao leitor um papel passivo

Abrem caminho para que sua accedilatildeo seja vista como um agir e um conhecer

Ser espectador eacute natildeo eacute condiccedilatildeo passiva que devemos transformar em atividade Eacute a

nossa condiccedilatildeo normal Aprendemos e ensinamos agimos e conhecemos tambeacutem

enquanto espectadores que ligam constantemente o que vecircem com aquilo que jaacute viram e

disseram fizeram e sonharam (RANCIEgraveRE 2010 p28)

Jacques Ranciegravere lembra o que eacute aparentemente oacutebvio o visitante produz significados e

natildeo simplesmente processa as informaccedilotildees de forma passiva (espectador emancipado) Essa

emancipaccedilatildeo estaacute associada a uma condiccedilatildeo de atividade e natildeo de passividade das accedilotildees de olhar

A aposta dessa pesquisa eacute que o visitante se insere a partir de sua presenccedila no ldquocircuito

dos museusrdquo A visita a museus se constitui em uma praacutetica cultural que se estabelece por uma

frequumlecircncia a variados museus e permite que o visitante-narrador ldquoencarnadordquo dessacralize a

cenografia do passado encenada pelos museus O uso dos museus pelos visitantes pode superar

assim a mera apropriaccedilatildeo cognitiva das propostas e sensibilidades jaacute existentes nos museus e

visitantes tornando possiacutevel por meio dos relatos escritos fotograacuteficos e orais uma nova

28 Ver COSTA Maacutercia Haacutevila Mocci da Silva Esteacutetica da recepccedilatildeo e teoria do efeito Disponiacutevel emlt

wwwdiaadiaeducacaoprgovbrgtAcesso em17 mar 2011

44

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de conhecimentos que redefinem os conceitos que circulam em ambos os

campos dos museus e das escolas

45

CAPIacuteTULO II - Visitas a museus memoacuteria e patrimocircnio dos visitantes

No primeiro capiacutetulo foram constituiacutedas as principais referecircncias teoacutericas e metodoloacutegicas

para o estudo das situaccedilotildees de visita escolar a museus Delineou-se um panorama da abordagem

investindo nos conceitos de narrativa memoacuteria presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica para criar uma

indumentaacuteria para o visitante emancipado que viaja entre a escola e os museus

Nesse segundo capiacutetulo tambeacutem se observa uma preocupaccedilatildeo com as bagagens para a

viagem propriamente dita providencia-se os documentos as certificaccedilotildees especiacuteficas os roteiros

novos mas tambeacutem se avalia os caminhos jaacute percorridos que estimulam investimentos em novos

caminhos e a seguranccedila do viajante

21 ndash Estudos sobre museus um balanccedilo historiograacutefico

Eacute quase lugar comum iniciar uma ldquohistoacuteria dos museusrdquo pela evocaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de

um espaccedilo dedicado agraves musas e em seguida pelo estabelecimento de uma ligaccedilatildeo estreita com a

constituiccedilatildeo de um espaccedilo ou local fiacutesico dedicado ao estudo ao conhecimento e agrave exposiccedilatildeo

puacuteblica da cultura

A origem dos museus na Franccedila estaacute associada a fatores como a demanda por abertura das

coleccedilotildees renascentistas principalmente de pinturas e esculturas restritas aos colecionadores

prelados cortesatildeos juristas eruditos artistas priacutencipes e monarcas e o museu se coloca como

um herdeiro dos ldquogabinetes de curiosidadesrdquo Na Itaacutelia por sua vez eacute desenvolvido outro

elemento fundador de uma ldquocultura do museurdquo que satildeo as accedilotildees poliacuteticas e a definiccedilatildeo de uma

legislaccedilatildeo de proteccedilatildeo ao patrimocircnio para assegurar ao museu o lugar de ldquoconservaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeordquo desse patrimocircnio artiacutestico agora de interesse puacuteblico Na Alemanha as origens

dos museus estatildeo associadas agrave abertura das coleccedilotildees privadas e agrave reivindicaccedilatildeo de um lugar para

essa produccedilatildeo no discurso universal da arte Para a institucionalizaccedilatildeo e ideia de museu

contemporacircneo confluem as demandas de ensino e pesquisas (biblioteca) ligadas a transmitir e

permitir a produccedilatildeo de conhecimento e tambeacutem o papel de guardiatildeo da memoacuteria daqueles que se

distinguiram nas atividades do espiacuterito (BREFE 1998 p298-300)

46

Entender esse conceito moderno de museu e seu uso social eacute tarefa bastante complexa e

alvo de inuacutemeros debates contemporacircneos Muitos estudos recentes costumam definir os museus

como ldquolugares de memoacuteriardquo mas trabalham com a histoacuteria das instituiccedilotildees museais a partir de

uma sequecircncia de fases ou uma tipologia que considera apenas os objetos expograacuteficos nos quais

se especializaram os museus Os museus satildeo caracterizados como de artes ciecircncias e histoacuteria e

estas especializaccedilotildees se tornam definidas e imutaacuteveis Numa genealogia dos museus os gabinetes

de curiosidades seriam os precursores dos museus de ciecircncias e arqueologia os antiquaacuterios

dariam lugar aos museus de histoacuteria e as galerias de arte privadas cederiam espaccedilo aos museus

puacuteblicos de arte

Essas analogias parecem congelar a imagem de museu e relacionaacute-la especificamente a

uma dada eacutepoca histoacuterica numa sequumlecircncia evolutiva Os criteacuterios de classificaccedilatildeo ou ldquoetiquetasrdquo

utilizados para os museus estariam dados a partir de um modelo As instituiccedilotildees natildeo seriam

consideradas em suas especificidades poliacuteticas e culturais Em funccedilatildeo de um padratildeo esperado

para os museus em geral um museu especiacutefico eacute julgado pelos estudiosos pelo criteacuterio da

inovaccedilatildeo ou natildeo de suas exposiccedilotildees como se as uacuteltimas tendecircncias da museologia fossem o

paracircmetro uacutenico para todo e qualquer museu

Os estudos sobre museus reuacutenem profissionais de diversas aacutereas como a museologia a

histoacuteria a educaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo as artes a arqueologia a sociologia dentre outras Abordam

campos de interesse comuns a diversos pesquisadores tais como o patrimocircnio as identidades

poliacuteticas as miacutedias e novas tecnologias espaccedilo urbano e arquitetura Praacuteticas profissionais e

culturais visitantes educaccedilatildeo e interaccedilatildeo tambeacutem satildeo temas contemporacircneos e emergentes dos

estudos sobre os museus

No Brasil as fontes e a bibliografia sobre a trajetoacuteria dos museus foram marcadas ateacute os

anos de 1940-1950 por produccedilotildees das proacuteprias instituiccedilotildees museoloacutegicas como a revista

Archivos do Museu Nacional editada desde 1876 e obras de referecircncia como os cataacutelogo

publicado por Heloisa Alberto Torres entatildeo diretora do Museu Nacional em 1953 intitulado

Museus do Brasil Outra referecircncia importante do periacuteodo foi a publicaccedilatildeo em 1958 do livro

coordenado e organizado por Guy de Hollanda Recursos Educativos dos Museus Brasileiros

com o apoio da Onicom ndash Organizaccedilatildeo Nacional do Conselho Internacional de Museus Neste

trabalho Hollanda traz um levantamento da situaccedilatildeo dos museus em relaccedilatildeo a acervos

47

exposiccedilotildees visitaccedilotildees atividades educativas recursos didaacuteticos organograma pessoal etc

(UNIRIO 2005)

Ao longo do seacuteculo XX obras de intelectuais ligados diretamente ou indiretamente a

museus eou oacutergatildeos governamentais de preservaccedilatildeo como Mario de Andrade (1917) Francisco

Venacircncio Filho (1941) Gustavo Barroso (1946) Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) Joseacute

Valladares (1946) Gilberto Freyre (1979) e Darcy Ribeiro (1955) dentre outros destacam-se na

produccedilatildeo de um pensamento e accedilotildees no campo da museologia e vecircm sendo estudados por

pesquisadores contemporacircneos

Destaco as contribuiccedilotildees de Francisco Venacircncio Filho (1941) Joseacute Valladares (1946) e

Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) que delineiam marcos de interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo museu-

educaccedilatildeo no Brasil e agiram diretamente na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de

criaccedilatildeo de museus e na concepccedilatildeo e planejamento de accedilotildees educativas nos museus brasileiros

Estes autores lanccedilam obras nos anos de 1940 que teratildeo influecircncia teoacuterica ateacute os anos de 1970 na

criaccedilatildeo de museus histoacutericos e pedagoacutegicos em Satildeo Paulo29

Entre os anos de 1960-1970 predomina a publicaccedilatildeo de coleccedilotildees de divulgaccedilatildeo sobre os

grandes museus europeus no formato de cataacutelogos vendidos em bancas de jornais e revistas A

pesquisa acadecircmica propriamente dita com a elaboraccedilatildeo de monografias dissertaccedilotildees e teses

com posicionamentos criacuteticos questionadores e reflexivos se intensificou no Brasil a partir dos

anos 1980 e se amplia nas deacutecadas seguintes

Autores como Waldisa Russio Camargo Guarnieri (1977 1980) Maria Margaret Lopes

(1988 e 1993) Maria Ceacutelia Moura Santos (1987 1993 e 1996) Regina Abreu (1996) Cristina

Bruno (1996) Maria Ceciacutelia Lourenccedilo (1997) Mario Chagas (1999 e 2003) Ulpiano Bezerra de

Menezes (1992 1994 2004 2005 e 2007) marcam a riqueza dessa produccedilatildeo e apontam temas

como a institucionalizaccedilatildeo dos museus de ciecircncias as accedilotildees educativas o colecionismo o

patrimocircnio a memoacuteria social a arte e a museologia como outros caminhos de investigaccedilatildeo que

seriam abertos por novas pesquisas e percorridos por novos pesquisadores em universidades do

paiacutes e em cursos no exterior

29 Ver CAMPOS Vinicio Stein Elementos de Museologia 1ordm e 3degvolume se 1970

48

Um levantamento bibliograacutefico realizado pelo CECA30

em 2007 apontava ao mesmo

tempo a abrangecircncia e a dispersatildeo dessa produccedilatildeo sobre os museus A divulgaccedilatildeo dessa

produccedilatildeo bibliograacutefica continuaria em grande parte ligada agraves revistas dos oacutergatildeos oficiais de

patrimocircnio (IPHAN e ICOM) e publicaccedilotildees proacuteprias dos grandes museus centros culturais e de

memoacuteria Algumas poucas divulgadas pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de diversas aacutereas que

pesquisam a temaacutetica

Contudo estudos sobre trajetoacuterias de museus brasileiros ou uma chamada historiografia

dos museus vem se aprofundado em abordagens teoacutericas-metodoloacutegicas e temaacuteticas tais como o

papel das proacuteprias instituiccedilotildees museoloacutegicas na elaboraccedilatildeo da cultura material a anaacutelise dos

quadros referenciais que vatildeo se fixando para organizaccedilatildeo de coleccedilotildees e exposiccedilotildees os modelos

organizacionais concepccedilotildees de diretores e profissionais envolvidos em propostas de

musealizaccedilotildees e seus desdobramentos

Em um esforccedilo de leitura e siacutentese dessa bibliografia pode-se indicar trecircs impulsos

poliacuteticos de criaccedilatildeo de museus no Brasil Um primeiro que vai do iniacutecio do seacuteculo XIX ateacute a

deacutecada de 1930 Um segundo momento localizado entre as deacutecadas de 1930 e 1950 e por fim

um terceiro movimento de criaccedilatildeo de museus entre a segunda metade do seacuteculo XX e primeiras

deacutecadas do seacuteculo XXI

No seacuteculo XIX os atos fundadores dos primeiros museus comeccedilando pelo Museu Real

(1818) criado por D Joatildeo VI e aberto ao puacuteblico em 181931

contribuem para a emergecircncia de

uma nova sociabilidade e a redefiniccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e de um puacuteblico espectador As visitas

ao Museu Real entre 1818 e 1821 eram privileacutegio de curiosos estudiosos e autoridades

A primeira exposiccedilatildeo do Museu Real aberta ao puacuteblico em 1821 tinha a visitaccedilatildeo e o uso

do espaccedilo regulado por uma Portaria Real que definia quem era o visitante digno de frequumlentar o

museu aquele que possuiacutea conhecimentos e qualidades (educados) O ambiente do Museu era de

estudo e contemplaccedilatildeo o visitante deveria manter a calma Presenccedila do guarda de sala (praacutetica

ainda usual) zelava pela ordem e controlava os comportamentos dos visitantes O acesso a

30 O CECA-BRASIL eacute formado pelos membros brasileiros afiliados ao Comitecirc Internacional para Accedilatildeo Educativa e

Cultural (CECA) do Conselho Internacional de Museus (ICOM) Disponiacutevel em lt wwwicomorgbrgt 31

Transformado posteriormente em Museu Imperial e hoje Museu Nacional da quinta da Boa Vista integrado agrave

estrutura acadecircmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro Ver material produzido pelo proacuteprio Museu

Nacional do RJ e trabalhos sobre a instituiccedilatildeo como LOPES (1997) e CHAGAS (1999)

49

algumas salas era restrito assim como havia dias de abertura e horaacuterios para diferentes puacuteblicos

A prioridade era dada ao visitante estrangeiro e pesquisador (LOPES 1999)

Na deacutecada de 1860 haacute uma diversificaccedilatildeo das instituiccedilotildees que fundam museus No Rio de

Janeiro satildeo criados os Museu do Exeacutercito (1864) e Museu da Marinha (1868) No Paraacute o Museu

Paraense Emiacutelio Goeldi eacute criado como Sociedade Filomaacutetica em 1866 e o Museu Paulista em

Satildeo Paulo em 1895

Essa geraccedilatildeo de museus do seacuteculo XIX ainda que pareccedila regional como o Museu

Paulista satildeo considerados museus nacionais agrave medida que colaboram para a construccedilatildeo ritual e

simboacutelica da naccedilatildeo Curioso notar que essa mesma bibliografia trata pouco ou quase nada sobre

o projeto de criaccedilatildeo do museu do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro instituiacutedo pelo

mesmo decreto de criaccedilatildeo do IHGB em 1838 instalado e aberto atualmente agrave visitaccedilatildeo na sede

do proacuteprio Instituto Histoacuterico no Rio de Janeiro

No iniacutecio do seacuteculo XX esse caraacuteter celebrativo dos museus brasileiros do seacuteculo XIX se

propaga a partir do Rio de Janeiro para estados e museus como o Juacutelio de Castilhos (1903)

Museu Anchieta (1908) no Rio Grande do Sul Pinacoteca Puacuteblica do Estado (1906) em Satildeo

Paulo e o Museu de Arte da Bahia (1918) E chega a criaccedilatildeo por Gustavo Barroso do Museu

Histoacuterico Nacional (MHN) em 1922 (CHAGAS 1999 p36) Um segundo momento de criaccedilatildeo

de museus eacute identificado nas deacutecadas de 1930 1940 e 1950 por iniciativa de empresaacuterios os

chamados Museus de Arte Moderna (MAMs) do Rio de Janeiro (MAM 1948) e Satildeo Paulo

(MASP 1947) e os natildeo instalados ldquomuseus histoacutericos e pedagoacutegicosrdquo em Satildeo Paulo

Ao longo das deacutecadas de 1930-1950 haacute um consideraacutevel impulso na criaccedilatildeo de museus32

a maioria ainda em plena atividade A criaccedilatildeo do Curso de Museus em 1932 vinculado ao MHN

embora inicialmente fosse apenas um aperfeiccediloamento de dois anos e exigisse como preacute-requisito

cinco anos de escolaridade baacutesica eacute considerado pelos pesquisadores de museus como importante

na profissionalizaccedilatildeo do campo e organizaccedilatildeo da museologia Por fim tem-se um terceiro

32 Dentre outras foram criados a Casa de Rui Barbosa ndash RJ (1930) Museu da Veneraacutevel Ordem Terceira de Satildeo Francisco da Penitecircncia ndash RJ (1933) Museu Histoacuterico da Cidade ndash RJ (1934) Museu Nacional de Belas Artes ndash RJ

(1937) Museu da Inconfidecircncia ndash Ouro Preto (1938) Museu da Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Gloacuteria do

Outeiro ndash RJ (1939) Museu Imperial ndash Petroacutepolis (1940) Museu das Missotildees ndash RS (1940) Museu Antonio Parreiras

ndash Niteroacutei (1941) Museu Histoacuterico de Belo Horizonte (1943) Museu do Ouro de Sabaraacute (1945) Museu da Veneraacutevel

Ordem Terceira do Carmo ndash RJ (1945) Museu de Arte Moderna de Satildeo Paulo (1946) Museu de Arte Moderna ndash RJ

(1948) Museu do Iacutendio ndash RJ (1953) Museu Oceanograacutefico ndash RS (1953) e Museu Farroupilha ndash PR (1954) (UNIRIO

2007)

50

movimento de criaccedilatildeo de museus que marca as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo

XXI Aleacutem dos museus existentes haacute outro cenaacuterio de aumento do nuacutemero de museus

investimentos dos setores privados na construccedilatildeo de museus e financiamento de projetos culturais

voltados ao turismo cultural e a revitalizaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural de centros

urbanos e industriais e a tecnologias virtuais

Uma das questotildees ao se pensar a historicidade dos museus eacute discutir ateacute que ponto as

trajetoacuterias dos museus brasileiros obedecem eou dialogam com os modelos europeus e latino-

americanos E mais de que forma as trajetoacuterias institucionais ajudam na compreensatildeo das

praacuteticas museais em relaccedilatildeo aos puacuteblicos Autores como Ulpiano Bezerra de Menezes Maria

Margaret Lopes Lilia Moritz Schwarcz e Maria Ceciacutelia Lourenccedilo reuacutenem algumas polecircmicas em

torno da questatildeo da criaccedilatildeo de museus no Brasil a partir do seacuteculo XIX e algumas praacuteticas de

produccedilatildeo e circulaccedilatildeo da cultura museal

Para Ulpiano Bezerra de Menezes (2005 p16) as trajetoacuterias dos museus brasileiros em

especial dos chamados museus histoacutericos foram distintas do paradigma europeu e mais proacuteximas

do modelo norte-americano Para o autor a visatildeo que se consolida a respeito dos museus no

seacuteculo XIX se eacute que pode ser considerada iluminista desemboca numa estetizaccedilatildeo do social e na

transformaccedilatildeo da histoacuteria em espetaacuteculo Os museus brasileiros satildeo mais evocativos e

celebrativos do que os europeus e a funccedilatildeo de produccedilatildeo do conhecimento eacute marginalizada A

memoacuteria eacute reduzida a instrumento de enculturaccedilatildeo paradigmas a priori definidos e que circulam

em vetores sensoriais (MENEZES 2005 p16)

Maria Margaret Lopes em O Brasil descobre a pesquisa cientiacutefica os museus e as

ciecircncias naturais no seacuteculo XIX publicado em 1997 apresenta uma visatildeo distinta dos museus

principalmente daqueles de histoacuteria natural A autora contribui com novas orientaccedilotildees para se

escrever uma historiografia das ciecircncias como praacutetica social e revisita as atividades cientiacuteficas no

Brasil desde a colocircnia inserido-as em uma dinacircmica cultural mais abrangente Daiacute quando

confrontada com uma ldquovasta literatura interdisciplinar internacionalrdquo sobre os aspectos histoacutericos

das instituiccedilotildees museoloacutegicas Lopes aprofunda temas teoacuterico-metodoloacutegicos sobre a histoacuteria dos

museus aspectos comunicativos expositivos educacionais e cientiacuteficos antes pouco

considerados no Brasil e reinscreve os museus numa nova dinacircmica

51

Ao avaliar o debate sobre as origens dos museus nos Estados Unidos Lopes estimula a

reflexatildeo sobre as diferentes fases das histoacuterias dos museus como uma forma ldquoinstigante de pensar

os museus como locais em que a cultura material eacute elaborada exposta comunicada e

interpretadardquo (2005 p15) Uma das questotildees abordadas pela autora eacute a maneira como se

formavam as coleccedilotildees e ateacute que ponto essas coleccedilotildees se relacionavam com a formaccedilatildeo do campo

da Histoacuteria Natural e das ciecircncias modernas e como ajudam na compreensatildeo dos processos

contemporacircneos de construccedilatildeo de museus cientiacuteficos

Lopes apresenta um movimento dos museus de histoacuteria natural no seacuteculo XIX indicando

que se formara em torno do American Association of Museums33

um circuito de intercacircmbio que

incluiacutea comunicaccedilatildeo coleccedilotildees cataacutelogos pesquisadores e disputas cientiacuteficas sociais e poliacuteticas

incluindo museus diferentes tais como o Museu Paulista e o Museu Paraense o Museu

Nacional o Museu de Valparaiso o Museu de La Plata o Museu de Buenos Aires e o Museu da

Costa Rica Um verdadeiro ldquomovimentordquo de museus emerge da anaacutelise de Margaret Lopes (1997

p223-247)

Ao investigar como se datildeo as periodizaccedilotildees e criteacuterios de mudanccedila e permanecircncia nos

ldquosistemas museaisrdquo na Ameacuterica Latina e nos Estados Unidos Margaret Lopes considera que o

panorama mundial dos museus entre as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX e as primeiras do seacuteculo

XX apontava que natildeo era tatildeo simples submeter os museus a tipologias anacrocircnicas e classificaacute-

los de acordo com as divisotildees propostas Ela identifica pelas publicaccedilotildees e correspondecircncias

entre diretores de museus que nesse periacuteodo houve a formaccedilatildeo de um ldquocircuito dos museusrdquo

internacional que incluiacutea trocas entre os museus de histoacuteria natural argentino (Museu de La Plata)

e o Bristish Museum no sentido de criar uma nova instituiccedilatildeo que rompia com o ldquogabinete de

curiosidadesrdquo e apontava para a instituiccedilatildeo de um ldquomoderno museu cientiacuteficordquo (LOPES 1997

p323)

Esse novo referencial de museu que se transformava vinculado ao Estado teria uma dupla

funccedilatildeo colaborar com a educaccedilatildeo e com a investigaccedilatildeo cientiacutefica O que natildeo se faria sem certa

tensatildeo que ainda marcaria por muito tempo as discussotildees acerca do conhecimento As coleccedilotildees

seriam divididas uma para a pesquisa outra para exibiccedilatildeo ao puacuteblico leigo Esse referencial

33 Sobre a importacircncia desse movimento Margaret Lopes faz uma leitura criacutetica das contribuiccedilotildees de Laurence Vail

Coleman que publica em 1939 The museum in America a critical study e de Oroz J J que retoma criticamente

Colemam ao discutir a curadoria numa perspectiva tambeacutem histoacuterica Ver Lopes 2005 p15-17

52

vigoraria inclusive no Museu Nacional do Rio de Janeiro ateacute a deacutecada de 1930 (LOPES 2005

p22)

A autora avanccedila na anaacutelise desses intercacircmbios entre os diretores de museus brasileiros e

argentinos e indica como essa discussatildeo contribuiu para a definiccedilatildeo de disciplinas como a

antropologia a paleontologia e arqueologia e ao mesmo tempo aponta as ldquomissotildees cientiacuteficas e

civilizadoras desses museus em fins do seacuteculo XIX (LOPES 2001)

Lilia Schwarcz (2005 p124-126) considera que o surgimento dos museus nacionais de

ldquoetnografiardquo no Brasil a partir da deacutecada de 1870 estaacute relacionado ao estabelecimento de outras

instituiccedilotildees cientiacuteficas apoacutes a vinda da Famiacutelia Real como as faculdades de Medicina e Direito e

aos Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos Para ela esses museus satildeo coacutepia dos modelos europeus e

estabeleceram uma praacutetica bastante isolada em relaccedilatildeo aos demais estabelecimentos cientiacuteficos

nacionais Fruto de um saber determinista frente aos modelos evolucionistas e darwinistas sociais

presentes no debate intelectual da eacutepoca procuravam encontrar nas culturas indiacutegenas e africanas

(raccedilas) e na miscigenaccedilatildeo a comprovaccedilatildeo do atraso do paiacutes (SCHWARCZ 2005 p124-126)

As soluccedilotildees apontadas por Lopes e Schwarcz para a questatildeo da circulaccedilatildeo dos modelos de

museu se inscrevem em duas tradiccedilotildees34

de interpretaccedilatildeo historiograacutefica que atribuem pesos

diferentes agrave capacidade de elaboraccedilatildeo e autonomia de um pensamento social brasileiro Enquanto

a pesquisa de Lopes (1997) postula que a compreensatildeo das relaccedilotildees sociais e culturais implica na

reflexatildeo sobre a histoacuteria das instituiccedilotildees cientiacuteficas e culturais e contribui para a superaccedilatildeo do

passado colonial e a vinculaccedilatildeo aos projetos de modernidade ocidental Schwarcz (2005)

identifica os obstaacuteculos que dificultam e impedem internamente o desenvolvimento de um

pensamento autocircnomo e um desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico da sociedade brasileira

O debate aberto em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees museais pode ser estendido aos visitantes De

que maneira modelos diferentes de museu circulam na cultura e como os visitantes se posicionam

frente a eles Enquanto Lopes (1997) dialoga com o campo cientiacutefico Maria Ceciacutelia Lourenccedilo

(1999) discute a criaccedilatildeo dos Museus de Arte Moderna na deacutecada de 1950 frente ao quadro de

permanecircncias e mudanccedilas da proacutepria histoacuteria da arte e das relaccedilotildees entre o museu modernista a

poliacutetica o poder os intelectuais os artistas as universidades a formaccedilatildeo de puacuteblico e a produccedilatildeo

34 Moema de Resende Vergara discute a constituiccedilatildeo de duas vertentes historiograacuteficas da ciecircncia no seacuteculo XX Ver

VERGARA (2004)

53

de conhecimento A autora oferece algumas imagens de museu que satildeo expressivas de nossa

eacutepoca museu vivo museu escola museu comunitaacuterio museu espetaacuteculo e museu shopping se

enlaccedilam agraves diversas tipologias de projetos socioculturais no cotidiano dos museus

Ao trabalhar o conceito de museu Lourenccedilo (1999) evoca de maneira recorrente a

situaccedilatildeo e trajetoacuteria dos museus de arte brasileiros e aponta duas questotildees A primeira eacute a

distacircncia existente entre o declarado e a praacutetica cotidiana ou seja entre a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees

e seu funcionamento regular e atual A segunda questatildeo eacute a vitalidade das instituiccedilotildees histoacutericas

que mesmo enfrentando problemas para se manterem em funcionamento contribuem na

construccedilatildeo de conceitos recolha de obras e manteacutem o diaacutelogo com as matrizes e valores tambeacutem

expostos

Uma instituiccedilatildeo museal sempre se reinventa em sua proacutepria dinacircmica O acervo de cada

instituiccedilatildeo eacute um exemplo Se o museu possui acervo ou natildeo se recebe um acervo internacional

os valores e pressupostos jaacute inventados sobre esse acervo influenciam na relaccedilatildeo que essa

instituiccedilatildeo estabelece com sua proacutepria condiccedilatildeo e com o puacuteblico Os valores ou criteacuterios de

inclusatildeo e exclusatildeo de acervos nos museus de arte satildeo subjetivos e discutiacuteveis meacuteritos

recebimentos de precircmios internacionais origem social geograacutefica proximidade com o poder

vigente aleacutem de outros que permeiam a cultura como a xenofobia o corporativismo o nepotismo

e mecanismos de troca impliacutecita para angariar proveitos pessoais satildeo as bases para os objetos e

obras adquiridos e expostos nos museus Lourenccedilo natildeo eacute nada otimista quando aos tipos de troca

que podem ocorrer para a formaccedilatildeo de determinados museus que por sua vez manteacutem esse

circuito em aberto ao longo de suas trajetoacuterias (LOURENCcedilO 1999 p20-62)

Ana Claudia Fonseca Brefe (1998) apoacutes um balanccedilo do conceito de museu desde a

renascenccedila ateacute o seacuteculo XIX em diaacutelogo com uma bibliografia francesa conclui que o conceito

de museu vai se adequando a diferentes materialidades e instituiccedilotildees como os gabinetes de

curiosidades que satildeo inicialmente coleccedilotildees privadas se transformam agrave medida que passam a

discutir o uso cientiacutefico e pedagoacutegico de suas coleccedilotildees a abertura ao puacuteblico arquitetura

disposiccedilatildeo dos objetos e objetivos Os debates historiograacuteficos em torno da instituiccedilatildeo museal

tambeacutem partem de interesses do presente relativos a disputas por memoacuterias e patrimocircnio

54

22 ndash Plano de visitas e aprendizagem histoacuterica em museus

As funccedilotildees de um museu na contemporaneidade satildeo muacuteltiplas fruiccedilatildeo esteacutetica viacutenculos

subjetivos condiccedilotildees de recolhimento e de diaacutelogos culturais multiplicados Entretanto o museu

histoacuterico eacute ao mesmo tempo um espaccedilo de ficccedilatildeo e de confronto mas impera o diaacutelogo quando

enfrenta a questatildeo da multiculturalidade Para Menezes (1994) o museu natildeo eacute enciclopeacutedia de

diversidade cultural Nele imaginaacuterio e imaginaccedilatildeo satildeo campos de forccedila mas os problemas em

relaccedilatildeo agraves praacuteticas dos sujeitos se datildeo de maneira ampla na sociedade e natildeo em abstrato nas

exposiccedilotildees museoloacutegicas

Os usos do potencial da imaginaccedilatildeo nos museus podem ser instrumentalizados numa

ideologia do valor em si dos ldquonovos museusrdquo Esses novos ideaacuterios de museus justificam a

revitalizaccedilatildeo de espaccedilos urbanos que se sobrepotildeem a outros que satildeo desfigurados Ultrapassam-

se as fronteiras culturais da induacutestria do lazer e do retorno do investimento e transcendem os

interesses locais voltando-se para visitantes estrangeiros numa adesatildeo agrave loacutegica de mercado O

proacuteprio museu se apresenta como forma de explorar um imaginaacuterio da cidade com praacuteticas de

utilizaccedilatildeo do seu espaccedilo e de suas forccedilas sociais Os objetos histoacutericos satildeo peccedilas-fetiche

Aleacutem da criacutetica aos museus-mercados Menezes (1994) tambeacutem eacute criacutetico dos museus

teatro da memoacuteria que por sua orientaccedilatildeo paternalista pressupotildee a passividade do espectador e a

hegemonia do paradigma observacional fundamentado na espetacularidade Para ele o

laboratoacuterio de Histoacuteria eacute o museu que torna viaacutevel a produccedilatildeo e socializaccedilatildeo do conhecimento

(MENEZES 1994 p62)

As investigaccedilotildees sobre a educaccedilatildeo histoacuterica em museus tecircm se debruccedilado sobre temas tais

como parcerias institucionais com escolas desenvolvimento de projetos e oferta de serviccedilos

educativos por parte dos museus A pesquisa sobre o ensino tambeacutem ganha forccedila e aponta que as

dimensotildees do processo de ensino- aprendizagem natildeo se reduzem a questotildees teacutecnicas ou de cunho

metodoloacutegico A ldquodidaacutetica da histoacuteriardquo eacute colocada por autores com Ruumlsen (2007) junto agrave ldquoteoria

da histoacuteriardquo

De outro acircngulo as discussotildees sobre o ensino de histoacuteria no Brasil sempre foram

vinculadas a projetos de formaccedilatildeo de uma identidade nacional tendo o Estado como maior

promotor dessa associaccedilatildeo O ensino de histoacuteria e identidade nacional se vincularam nos

55

curriacuteculos de histoacuteria prescritos desde o iniacutecio do seacuteculo XX e se manteacutem nas atuais diretrizes

para o sistema nacional de ensino

A criacutetica teoacuterica e praacutetica aos modelos oficiais tambeacutem se constitui como parte do debate

sobre o ensino de histoacuteria e se faz de maneira institucionalizada por professores de histoacuteria e suas

associaccedilotildees principalmente nos anos de 1960-70 Os professores tomam a discussatildeo sobre a

identidade e a ressignificam A educaccedilatildeo escolar e o ensino de histoacuteria satildeo vistos como espaccedilos

para se pensar identidades e pluralidades culturais pelo vieacutes da diversidade entendida num

quadro de desigualdades sociais e dominaccedilatildeo poliacutetica (SILVA E GUIMARAtildeES 2007 p58)

Este movimento de reflexatildeo em torno das identidades nacionais vem reposicionando a noccedilatildeo

de alteridade frente agraves tendecircncias globalizantes e provoca a reorganizaccedilatildeo curricular que vem se

fazendo na Europa e que reconhece explicitamente a dimensatildeo do estudo do patrimocircnio como

parte essencial da educaccedilatildeo para a cidadania (BARCA 2003 p100)

Ramos (2004 p15) discute que a ida ao espaccedilo museoloacutegico implica necessariamente

efetuar atividades educativas questionamentos e maneiras teoricamente fundamentadas de

aguccedilar a percepccedilatildeo para os objetos das exposiccedilotildees e a vinculaccedilatildeo entre o mundo dos artefatos

Para o citado autor a histoacuteria estaacute presente nos objetos e estes podem ser instrumentos para um

posicionamento no presente Os conflitos com os objetos de uso dos museus (objeto gerador)

produzem cultura fazem a ponte entre a memoacuteria coletiva e individual faz lembrar e ler a

materialidade das coisas na proacutepria problemaacutetica histoacuterica (2004 p19-30)

O foco central da pesquisa sobre visitas educativas a museus neste sentido indicado por

Ramos (2004) aponta para os usos e apropriaccedilotildees do patrimocircnio cultural musealizado As

escolas utilizam posturas investigativas em relaccedilatildeo ao patrimocircnio Muitas praacuteticas escolares de

visitas levantam justificativas quanto agrave relevacircncia de atitudes de avaliaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

histoacuteria local e aprofundam maneiras de atuar e interagir em relaccedilatildeo a seleccedilotildees de objetos

valores crenccedilas que se processam cotidianamente na sociedade A partir das visitas a museus

questiona-se o conceito de ldquopatrimocircnio histoacutericordquo natildeo como um meio ou recurso para conhecer

ou fazer histoacuteria mas como a proacutepria histoacuteria evidenciada nas persistecircncias visiacuteveis do passado

que o presente outorga valores (HERNANDEZ 2003 p456-458)

O patrimocircnio pode ser considerado a expressatildeo de identidades e sua apropriaccedilatildeo favorece

a construccedilatildeo de valores tais como respeito ao entorno e ao pertencimento a uma comunidade de

56

sentido ou tradiccedilatildeo Pode possibilitar o exerciacutecio de um pensamento criacutetico capaz de situar

historicamente as evidecircncias e dotaacute-las de novos significados sociais poliacuteticos e culturais Por

fim a relaccedilatildeo com o patrimocircnio museal desencadeia accedilotildees de construccedilatildeo do conhecimento

histoacuterico e ampliaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica (GONZALEZ 2004)

A aprendizagem em museus estaacute focada em dois eixos na potecircncia patrimonial de

coleccedilotildees e objetos e na potecircncia comunicativa das instituiccedilotildees em estabelecer planos e programas

puacuteblicos educativos que combinam diversas dimensotildees do cenaacuterio natildeo formal (natildeo escolares) do

museu e aspectos da cultura mais amplos

Pesquisas acadecircmicas sobre educaccedilatildeo em museus satildeo bastante numerosas35

mas natildeo se

constituem em torno de um campo especiacutefico de investigaccedilatildeo organizado em referecircncias teoacutericas

e metodoloacutegicas soacutelidas Predomina o diaacutelogo com vaacuterias aacutereas acadecircmicas o que torna o esforccedilo

para visualizar o conjunto dessa produccedilatildeo ou mesmo avaliar as tendecircncias e perspectivas

adotadas por cada pesquisa um trabalho relativamente difiacutecil De um modo geral as pesquisas

sobre museus parecem obedecer agrave mesma loacutegica das demais temaacuteticas nas poacutes-graduaccedilotildees Ainda

prevalecem as dissertaccedilotildees de mestrado com um aumento dos douramentos entre 1987- 2008 Em

sua quase totalidade satildeo realizadas nas instituiccedilotildees puacuteblicas federais e estaduais e nem sempre

contam com financiamentos de agecircncias de fomento As instituiccedilotildees que possuem maior nuacutemero

de pesquisas satildeo a UNIRIO USP UFMG UNICAMP e FGV-RJ

Os referenciais bibliograacuteficos de cada autor indicam diaacutelogos preferenciais internos agrave sua

aacuterea de conhecimento acadecircmico Entre as autoras citadas ao longo do capiacutetulo temos como

exemplo a combinaccedilatildeo de trecircs formaccedilotildees acadecircmicas distintas e atuaccedilatildeo em museus nas aacutereas de

ciecircncias naturais artes e histoacuteria respectivamente Maria Margaret Lopes (1988) Maria Ceciacutelia

Lourenccedilo (1997) e Ana Claudia Brefe (1998 e 2005) Cada pesquisadora dialoga internamente

com a bibliografia de sua aacuterea especiacutefica

Cada aacuterea acadecircmica que tematiza sobre o Museu tambeacutem o faz a partir de questotildees

especiacuteficas que interferem na proacutepria definiccedilatildeo de museu A histoacuteria como aacuterea acadecircmica pensa

no museu como instituiccedilatildeo como ldquolugar de memoacuteriardquo A antropologia por sua vez concebe o

museu como um campo de pesquisa no qual eacute possiacutevel o trabalho etnograacutefico com coleccedilotildees As

35 Carina Martins Costa (2008) identificou 98 pesquisas acadecircmicas desenvolvidas no Brasil sobre educaccedilatildeo em

museus

57

ciecircncias bioloacutegicas identificam no museu um divulgador do campo cientiacutefico A aacuterea de

comunicaccedilatildeo vecirc o museu como miacutedia veiacuteculo de divulgaccedilatildeo Muitos pesquisadores tambeacutem

utilizam a documentaccedilatildeo existente nos arquivos e acervos iconograacuteficos sem necessariamente

tomarem o proacuteprio museu como objeto de anaacutelise ou mesmo desconsiderando a origem dessas

fontes

O enfoque dessa pesquisa natildeo desconsidera a trajetoacuteria administrativa e cultural de cada

instituiccedilatildeo museoloacutegica e a constituiccedilatildeo de suas respectivas coleccedilotildees Ao contraacuterio estes satildeo

aspectos fundamentais para o entendimento da histoacuteria presente de cada museu embora natildeo

estejam presentes nas exposiccedilotildees puacuteblicas que eles promovem Como demonstram as pesquisas

realizadas por Brefe (2005) acerca do Museu Paulista e Pimentel (2004) sobre o Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto a histoacuteria das instituiccedilotildees museais permite estabelecer referecircncias sobre os

padrotildees que se fixaram ou se modificam em suas poliacuteticas de exibiccedilatildeo

A abordagem dos museus pelos usos feitos pelos visitantes por sua vez natildeo pode temer

ou condenar uma apropriaccedilatildeo utilitaacuteria de seus espaccedilos Trabalhar com os usos promovidos pelos

visitantes eacute considerar que as estrateacutegias autorizadas pelas chamadas visitas de estudo ou estudos

do meio36

ainda satildeo centrais tanto para museus quanto para as escolas Nesses casos os setores

educativos definem metodologias especiacuteficas para se explorar os espaccedilos visitados

principalmente um roteiro de observaccedilatildeo elaborado para os professores e que pretende orientar a

visita A visita escolar busca se diferenciar do lazer e do consumo que natildeo satildeo legitimados Os

locais a serem visitados satildeo predeterminados e obedecem a um cronograma e agendamento que

natildeo permitem mudanccedilas ou alternativas

O visitante de museus eacute interpelado duplamente por aquilo que o motiva individualmente

e pela oferta institucional Ele faz escolhas expressa gostos opiniotildees e negocia com os colegas

professores prestadores de serviccedilos Haacute em qualquer visita uma dimensatildeo de cidadania e de

consumo imbricadas

36 Um discurso muito presente nos planejamentos das visitas a locais como praccedilas e museus eacute da formaccedilatildeo de

competecircncias de leitura de fontes visuais ou cenaacuterio para conteuacutedos histoacutericos trabalhados em sala de aula Ver

Bittencourt 2009 p281

58

Um visitante natildeo se reduz a receptor passivo do quadro normativo referente oferecido

pelos museus e pelas escolas37

A negociaccedilatildeo de sentidos se daacute de maneira complexa Durante a

visita ele considera questotildees de acesso processos culturais num amplo quadro de significaccedilatildeo

que implica em novas praacuteticas interpretaccedilotildees e formas de uso dos bens culturais

A anaacutelise das praacuteticas portanto natildeo pode aceitar os limites dos modelos institucionais e

nem a correlaccedilatildeo inexoraacutevel entre capital cultural escolar e habitus como determinantes das

visitas38

Assim cada visita acontece em um quadro normativo referente de processos de

socializaccedilatildeo familiar e escolar e na complexidade da realidade empiacuterica de cada visitante Os

paradoxos da anaacutelise satildeo muacuteltiplos diante da complexidade do problema de pesquisa proposto

A mensagem expositiva dos museus segundo Asensio e Pol (2007) existe na medida em

que eacute recriada por cada visitante Ele a constroacutei a partir de seus conhecimentos preacutevios suas

habilidades cognitivas e sentindo o impacto expositivo atraveacutes de atitudes emoccedilotildees e afetos

Entender as experiecircncias de visita implica em questionar o que cada exposiccedilatildeo oferece ao

visitante e como o visitante distingue suas marcas suas convenccedilotildees e coacutedigos O visitante ao

fazer uma leitura do museu aponta para a poliacutetica inscrita em cada gesto da instituiccedilatildeo e para a

poeacutetica presente na exposiccedilatildeo e que lhe permite sempre manter em aberto o espaccedilo da

significaccedilatildeo

23- Praacuteticas de formaccedilatildeo produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos

Inverter a ordem dos discursos tomando o puacuteblico-visitante estudantes de graduaccedilatildeo em

Histoacuteria como os sujeitos dos quais se parte para investigar as interfaces entre as dinacircmicas

socioculturais de visita a museus e as dinacircmicas de formaccedilatildeo histoacuterica eacute uma contribuiccedilatildeo

pretendida por essa pesquisa

Duas referecircncias ajudam a estabelecer inicialmente contatos entre o tema das visitas a

museus e da formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes a questatildeo dos sujeitos e da produccedilatildeo de

conhecimentos Eacute possiacutevel compor uma anaacutelise da dinacircmica e diversidade das situaccedilotildees vividas

quando de uma visita e articulando-as a partir das elaboraccedilotildees dos sujeitos envolvidos nessas

37 Assim como os museus as escolas tambeacutem modificam suas abordagens das visitas a museus Ver dentre outros os

trabalhos de Denise Grinspum (2000) e Maria Cristina Carvalho (2005) 38

Ver discussatildeo de Luciana Sepuacutelveda Koptcke (2005 p190)

59

situaccedilotildees de formaccedilatildeo Para que essa articulaccedilatildeo aconteccedila o foco da investigaccedilatildeo satildeo os sentidos

elaborados pelos sujeitos a partir de dentro do proacuteprio processo de formaccedilatildeo em sua

materialidade e de seus significados para os envolvidos na interaccedilatildeo estudantes de graduaccedilatildeo em

Histoacuteria seus professores-formadores e os profissionais de museus

A hipoacutetese teoacuterica sobre a produccedilatildeo de conhecimentos a ser investigada relaciona-se ao

que Bernard Charlot (2000 p68) denomina de ldquonatureza epistecircmica dos saberes dos sujeitosrdquo

definidos como um conjunto de relaccedilotildees e processos nos quais o sujeito manteacutem a dinacircmica do

desejo da busca de si mesmo aberto ao outro e ao mundo e natildeo eacute reduzido agrave pulsatildeo em busca do

objeto O sujeito mobiliza-se reuacutene forccedilas e faz uso de si proacuteprio como recurso engaja-se em

atividades movimenta-se produz inteligibilidade e sentidos (CHARLOT 2000 p51-89)

As visitas ainda que marcadas por um ritmo escolar e pelas accedilotildees poliacuteticas prescritas por

cada museu permitem aos visitantes uma experiecircncia esteacutetica de muacuteltiplos deslocamentos Na

condiccedilatildeo de estudantes eacute possiacutevel experimentar um movimento que natildeo eacute aquele do cotidiano

escolar do trabalho pontuado pela cadecircncia dos calendaacuterios e horaacuterios Nos museus os tempos

dos processos pedagoacutegicos e de formaccedilatildeo se apresentam mais flexiacuteveis como uma poeacutetica O

visitante suspende o instante presente e pode ser tomado pelo jogo da multiplicidade de vozes

sentidos e papeacuteis Brincar de quebra-cabeccedila de detetive e jogar o jogo da memoacuteria eacute permitido e

estimulado em museus39

Haacute limites por certo nas possibilidades interpretativas das visitas escolares pois natildeo se

trata de um espaccedilo completamente livre de contingecircncias e aberto a experiecircncias do inteiramente

novo Ainda que extrapole os limites do ambiente escolar a visita a museus guarda muito das

caracteriacutesticas de ldquotrabalho escolarrdquo no sentido que lhe imprime Perrenoud (1994) como parte da

escolarizaccedilatildeo e dos saberes escolares Os visitantes estudantes e professores estatildeo duplamente

limitados pelas suas proacuteprias expectativas e objetivos e tambeacutem por aqueles dos agentes de

museus

Entende-se como narrativa dos museus os pontos de vista expressos na fala de seus

monitores materiais educativos e poliacuteticas dos setores educativos e exposiccedilotildees Em toda a praacutetica

museal se vecirc um visitante ideal e um discurso prescritivo sobre as visitas Os museus de modo

39 Esses satildeo jogos criados pelo Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a partir de seu acervo e utilizados em oficinas e

programas de formaccedilatildeo de professores

60

geral e os proacuteprios materiais instrutivos dirigidos aos professores quer por oacutergatildeos de regulaccedilatildeo e

formaccedilatildeo quer por uma bibliografia voltada agrave formaccedilatildeo para o ensino de histoacuteria40

esperam que

os visitantes venham preparados para seu discurso e a forma de expocirc-lo Espera-se que essa

estimulaccedilatildeo tenha sido feita previamente pelo professor que organiza a visita Eacute esperado tambeacutem

que o professor conheccedila o museu e suas exposiccedilotildees antes da visita com seus alunos que trabalhe

materiais e organize atividades em sala de aula sobre o que seraacute visto no museu Durante a visita

haacute a expectativa por parte de muitos museus que o professor oriente os comportamentos a serem

adotados indicando como os alunos devem atentar para as observaccedilotildees dos monitores

garantindo assim a ordem e ao mesmo tempo que a interaccedilatildeo aconteccedila sem atrapalhar o

trabalho daqueles que conduzem a visita O professor deve contemplar as obras e cuidar para que

os alunos tambeacutem o faccedilam Na volta agrave escola os agentes educativos dos museus sugerem que os

professores promovam discussotildees diaacutelogos com a turma recuperando o que foi visto observado

levantando novas hipoacuteteses curiosidades e aprofundando o tema ao mesmo tempo em que

auxilia na organizaccedilatildeo da construccedilatildeo da narrativa sobre a visita

Eacute necessaacuterio ponderar que mesmo com todas essas expectativas criadas em torno do

trabalho de visita escolar ou por elas existirem as visitas a museus podem ser pensadas como

fundadas em estrateacutegias construcionistas da cultura e do conhecimento agrave medida que os visitantes

negociam o sentido da mensagem expositiva de cada museu e de cada objeto de cultura exposto

O visitante constroacutei ele proacuteprio a partir de seus conhecimentos suas habilidades cognitivas e

sentindo o impacto expositivo em suas atitudes emoccedilotildees e afetos

Os museus satildeo espaccedilos puacuteblicos de conflitos embates entre poliacuteticas e esteacuteticas que

legitimam praacuteticas e vozes mas tambeacutem trocas entre grupos sociais diversos que buscam

expressar ali seus rituais e memoacuterias coletivas Defendo que o museu natildeo se reduz a simples

recurso pedagoacutegico ou fonte histoacuterica utilizado por professores juntamente com visitas teacutecnicas

a arquivos e bibliotecas Os objetivos da visita e de sua anaacutelise natildeo se limitam agrave discussatildeo sobre

praacuteticas de preservaccedilatildeo cujas finalidades seriam promover o contato e conhecimento de

experiecircncias bem sucedidas de preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Esse formato de programas

governamentais e privados associa atividades de promoccedilatildeo do patrimocircnio cultural com benefiacutecios

40 Algumas dessas visotildees e materiais seratildeo apresentados e discutidos nos capiacutetulos IV e V

61

econocircmicos e turismo sustentado ao considerar o turista um consumidor de lugares coleccedilotildees

saberes e fazeres culturais (MURTA E ALBANO 2005 p17)

Eacute imperativo ressalvar que nem toda a discussatildeo sobre a chamada educaccedilatildeo patrimonial

se reduz a praacuteticas prescritivas e usos instrumentais do patrimocircnio Desde a deacutecada de 1980 satildeo

inuacutemeras as iniciativas que trabalham com as dimensotildees da memoacuteria e da histoacuteria num sentido da

educaccedilatildeo das sensibilidades mais amplo41

O museu eacute concebido nessa pesquisa como um lugar metodoloacutegico siacutetio simboacutelico no

qual o visitante pode ser entendido como sujeito da accedilatildeo museoloacutegica agrave medida que atua

ativamente na significaccedilatildeo dos objetos durante as visitas agraves exposiccedilotildees e situaccedilotildees educativas

elaborando reflexotildees teoacuterico-conceituais sobre o proacuteprio museu e seu acervo e sobre a histoacuteria

Cabe dizer que para investigar os usos que satildeo feitos dos museus pelos visitantes visando

agrave produccedilatildeo de conhecimento eacute preciso abandonar a ideia de um puacuteblico receptor passivo que

apenas olha e natildeo age e buscar entender como se daacute a ressignificaccedilatildeo das poliacuteticas educativas

dos museus ouvindo o que pensam e fazem os sujeitos que participam ou participaram da vida do

objeto dentro e fora do museu e agregaram e agregam a ele significados Tanto aqueles que

atuam como agentes na ressignificaccedilatildeo dos objetos museoloacutegicos seus autoresprodutores e

diversos usuaacuterios ao longo de seu circuito e trajetoacuteria existencial ateacute a chegada no museu Todos

promovem o ldquocontexto musealrdquo pesquisadores que estudam os objetos conservadores

documentalistas museoacutelogos educadores e puacuteblico-visitante

Os proacuteprios museus hoje planejam accedilotildees educativas ldquointerativasrdquo que implicam um

compartilhamento mas muitas vezes natildeo dispensam as ldquomediaccedilotildeesrdquo de uma trilha explicitada

pelo idealizador de uma linguagem proacutepria ndash a da museologia Compreende-se que visitantes e

museus satildeo sujeitos singulares empenhados numa mesma praacutetica Mas ateacute que ponto a agenda de

expectativas do proacuteprio visitante e os embates especiacuteficos que cada aacuterea

disciplinartemaexposiccedilatildeo lhe reserva natildeo o reduzem a um papel mais modesto na relaccedilatildeo com a

produccedilatildeo do conhecimento Espera-se que o visitante reconheccedila e aplique o coacutedigo do emissor

ou agentes da accedilatildeo educativa dos museus ou que ele interprete selecione e se aproprie fazendo

outra produccedilatildeo a partir de seu lugar

41 Ver balanccedilo da discussatildeo sobre educaccedilatildeo patrimonial feita por Nara Ruacutebia de Carvalho Cunha tendo como

referecircncia inicial o Guia Baacutesico de Educaccedilatildeo Patrimonial publicado e distribuiacutedo pelo IPHAN em 1999 em

comparaccedilatildeo a outras praacuteticas como a do museu-escola do Museu da Inconfidecircncia Ver Cunha 2011 p67-81

62

Ao visitarem museus e entrarem em interaccedilatildeo com os artefatos ali organizados ndash os

objetos o convite agrave interatividade o tema e as miacutedias ndash os visitantes podem romper com os

papeacuteis jaacute determinados externamente e anteriores ao momento dessa interaccedilatildeo Estaacute muito

presente nas abordagens dos museus o risco da espetacularizaccedilatildeo ou uma visatildeo ingecircnua de que a

interatividade pode ser garantida de antematildeo pelo museu independentemente da accedilatildeo do

puacuteblico

As possibilidades de diaacutelogo com os museus datildeo-se para aleacutem dos aspectos da

comunicaccedilatildeo com o puacuteblico estabelecido pelas proacuteprias instituiccedilotildees (PEREIRA et al 2007) O

acervo de qualquer museu aiacute incluiacutedas as exposiccedilotildees reservas teacutecnicas seu sites materiais de

divulgaccedilatildeo e a proacutepria histoacuteria da constituiccedilatildeo dos acervos com seus diversos criteacuterios de

incorporaccedilatildeo preservaccedilatildeo restauraccedilatildeo exposiccedilatildeo e descarte interessam aos visitantes em

formaccedilatildeo Muitos museus ao trabalharem com pressupostos das teorias da recepccedilatildeo42

concebem

o sujeito em situaccedilatildeo de interaccedilatildeo mas natildeo assumem a interlocuccedilatildeo numa dupla face do processo

de produccedilatildeo de sentido Os museus satildeo os sujeitos comunicantes protagonistas enunciadores e

os visitantes satildeo os destinataacuterios A dicotomia em relaccedilatildeo aos dois poacutelos estaacute mantida Condiccedilotildees

diferentes de produccedilatildeo e condiccedilotildees de reconhecimento marcadas e jaacute estabelecidas pelas esferas

da produccedilatildeo e consumo

Enquanto a produccedilatildeo de conhecimentos ou de uma memoacuteria histoacuterica eacute legitimada

poliacutetica e esteticamente como proacutepria ao campo museal o visitante natildeo eacute reconhecido como parte

dessa produccedilatildeo de sentidos Ele apenas recebe passivamente esse saber especializado O

patrimocircnio cultural eacute aquilo que estaacute laacute no museu e que deve ser reconhecido ou apropriado pelos

visitantes O museu eacute lugar de memoacuteria instituiacuteda da cultura material a ser preservada43

Em muitos museus o professor eacute considerado parte do bloco da audiecircncia denominado

ldquopuacuteblico escolarrdquo Natildeo existem accedilotildees especiacuteficas voltadas para o professor Em geral seu papel

seraacute ajudar na mediaccedilatildeo com os estudantes nas visitas programadas pelos agentes dos museus

Ele natildeo participa da elaboraccedilatildeo da oferta de serviccedilos dos museus escolha de percursos

abordagem conceitual As instituiccedilotildees museais em geral hierarquizam e triangulam a mediaccedilatildeo

42 Ver ESCOSTEGUY 2008

43 Autores como Maacuterio Chagas (2003 p32) tratam da vinculaccedilatildeo entre a noccedilatildeo de museu e patrimocircnio considerando

que o sentido de preservaccedilatildeo e de posse estaria na raiz tanto da noccedilatildeo de patrimocircnio quanto no museu como

instituiccedilatildeo

63

Eacute preciso um guia do proacuteprio museu para decifrar os coacutedigos do patrimocircnio O professor

responsaacutevel pelos alunos recebe o ldquopacoterdquo oferecido pelos museus Ele o aceita o rejeita

tambeacutem em bloco

A accedilatildeo educativa dentro de muitos museus contemporacircneos eacute vista como parte de suas

funccedilotildees de comunicaccedilatildeo A formaccedilatildeo natildeo tem o mesmo lugar ou status das atividades de

pesquisa e preservaccedilatildeo nas definiccedilotildees oficiais de museu A mediaccedilatildeo tambeacutem eacute vista como uma

funccedilatildeo didaacutetica ou de marketing sem estatuto epistemoloacutegico proacuteprio uma funccedilatildeo de

transposiccedilatildeo e recontextualizaccedilatildeo do saber criada diretamente pelo museu

24- Visitas escolares e visitantes marcas visiacuteveis de historicidade

Bernard Lahire em Homem Plural os determinantes da accedilatildeo (2002) apresenta uma criacutetica

agraves teorias que defendem a homogeneizaccedilatildeo e a unidade do ator e da cultura e defende uma

perspectiva de entendimento do ator social na pluralidade dos mundos e das experiecircncias

contemporacircneas Lahire argumenta que os princiacutepios de socializaccedilatildeo satildeo heterogecircneos e

contraditoacuterios e que vivemos numa multipertenccedila a mundos e submundos sociais nem sempre

compatiacuteveis entre eles e agraves vezes conflituosos (LARIHE 2002 p32)

Para Lahire (2002) natildeo existem configuraccedilotildees sociais homogecircneas tanto cultural quanto

moral e ldquopoucos satildeo os casos que permitiriam falar de um habitus familiar coerente produtor de

disposiccedilotildees gerais inteiramente orientadas na mesma direccedilatildeordquo Os valores simboacutelicos os

esquemas de accedilatildeo introjetados e as praacuteticas satildeo diferentes maneiras de dizer ver fazer e sentir

os repertoacuterios de esquemas de accedilatildeo (de haacutebitos) satildeo conjuntos de siacutenteses de

experiecircncias sociais que foram construiacutedasincorporadas durante a socializaccedilatildeo anterior

nos acircmbitos sociais limitadosdelimitados e aquilo que cada ator adquire

progressivamente e mais ou menos completamente satildeo haacutebitos como sentidos de

pertenccedila contextual (relativa) de terem sido postos em praacutetica Aprendecompreende que

aquilo que se faz e se diz em tal contexto natildeo se faz nem se diz em outro contexto (LAHIRE 2002 p37)

As travessias no espaccedilo social e as matrizes de socialializaccedilatildeo satildeo contraditoacuterias As

visitas aos museus podem ser entendidas como uma dessas travessias entre dois mundos Uma

situaccedilatildeo de encontro cultural forccedilado Um deslocamento do espaccedilo da escola para o espaccedilo do

museu Nesse novo cenaacuterio ou no momento presente da visita os estatutos culturais dos

64

visitantes diluem-se parcialmente Os visitantes reconhecem a visatildeo de histoacuteria dominante no

museu e podem em um segundo movimento recorrer a outros fundamentos historiograacuteficos para

analisar tal estrutura e confrontar com analogias as duas configuraccedilotildees o seu proacuteprio lugar e o

lugar da exposiccedilatildeo (museu)

Lahire (2002) considera que o presente tem mais peso na explicaccedilatildeo dos comportamentos

praacuteticas e condutas se os atores satildeo plurais O passado estaacute aberto de modo diferente segundo a

natureza e a configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo presente A questatildeo central eacute discutir como as experiecircncias

satildeo incorporadas mobilizadas convocadas e despertadas pela situaccedilatildeo presente Ou descrever de

que maneira a configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo presente tecircm um peso na criaccedilatildeo de praacuteticas

A escolha de mais um museu e portanto a anaacutelise simultacircnea de mais de uma visita tem

por finalidade investigar marcas especiacuteficas dessas experiecircncias Assim pode-se encontrar nos

relatos de um mesmo visitante mudanccedilas que dizem respeito agrave adaptaccedilatildeo fuga resistecircncia

inibiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos diferentes ambientes visitados Tambeacutem eacute possiacutevel discutir em que

medida os distintos ambientes que o visitante eacute levado a atravessar ativam ou inibem suas

competecircncias habilidades saberes conhecimentos maneiras de dizer e fazer durante as visitas

Dessa maneira a repeticcedilatildeo de visitas ou a visita a diferentes museus reconhece que tal

estrateacutegia pode ter um efeito positivo pois antecipa possibilidades interpretativas do visitante que

constroacutei paracircmetros de interpretaccedilatildeo A visita a mais de um museu causa certa previsibilidade

gera certas expectativas que orientam e selecionam os sentidos produzidos pelos visitantes

A escolha desses visitantes e museus e natildeo outros configurou-se ao longo da pesquisa de

doutorado iniciada em 2008 e foi posterior ao momento das visitas efetivamente realizadas pelo

grupo de estudantes A seleccedilatildeo das situaccedilotildees concretas de visita para a anaacutelise se deu diante de

um repertoacuterio mais amplo de museus visitados pelo grupo ao longo dos quatro anos de formaccedilatildeo

e que possibilitava outras escolhas e anaacutelises

Ao longo do ano de 2008 foram desencadeados trecircs movimentos simultacircneos de produccedilatildeo

da materialidade das visitas Um levantamento da produccedilatildeo dos estudantes jaacute existente na

instituiccedilatildeo formadora ndash a Faculdade de Pedro Leopoldo (FIPEL) ndash sobre as vaacuterias visitas

realizadas entre 1999 e 2008 Em seguida a elaboraccedilatildeo de um inventaacuterio do perfil dos estudantes

de uma das turmas de Licenciatura em Histoacuteria (Anexo A) e terceiro a realizaccedilatildeo de uma

65

entrevista coletiva no formato de grupo focal com os alunos da turma 2005-2008 dispostos a

colaborar com a pesquisa para avaliaccedilatildeo da praacutetica de visitas a museus (Anexo B)

Apoacutes levantamento preliminar dos registros escritos e fotograacuteficos44

elaborados pelos

estudantes da FIPEL arquivados na proacutepria instituiccedilatildeo formadora foi necessaacuterio redefinir

recortes desse conjunto de fontes documentais Tanto os suportes elaborados posteriormente

quanto estrateacutegias hipoacuteteses de trabalho e categorias de anaacutelise partiram dessa primeira leitura

documental das praacuteticas de formaccedilatildeo

A sistematizaccedilatildeo do perfil dos estudantes de uma das turmas de Licenciatura em Histoacuteria

permitiu caracterizar melhor o proacuteprio grupo e a praacutetica de visitas da instituiccedilatildeo O inqueacuterito

estava dividido em trecircs partes A primeira preocupou-se com dados gerais como idade sexo

atividade remunerada renda familiar A segunda trazia questotildees relativas agrave praacutetica de visitas a

museus e uma terceira que aprofundava as situaccedilotildees de visita tendo em vista imagens e conceitos

de museu memoacuteria patrimocircnio e uma avaliaccedilatildeo dos proacuteprios museus visitados (Anexo A) Esse

levantamento depois de respondido individualmente sem identificaccedilatildeo de nomes foi processado

na forma de graacuteficos possibilitando uma visualizaccedilatildeo dos visitantes como um grupo e as

experiecircncias de visita na instituiccedilatildeo formadora como um conjunto (Anexo B)

O segundo suporte para a materialidade das visitas e visitantes foi uma entrevista coletiva

no formato de grupo focal com os alunos da turma 2005-2008 O debate com o grupo visava

aprofundar e complementar elementos identificados no inventaacuterio e que seriam melhor abordados

na forma da oralidade e da discussatildeo coletiva A decisatildeo metodoloacutegica em produzir esse tipo de

registro para a pesquisa se deu no momento de definiccedilatildeo no recorte empiacuterico da mostra de

visitantes As duacutevidas eram muitas jaacute que se tinha um variado repertoacuterio de relatos individuais e

mesmo algumas siacutenteses produzidas pelas turmas Faltava definir um grupo de referecircncia para a

anaacutelise das visitas e sistematizar uma meta-reflexatildeo dos visitantes sobre o conjunto das visitas e

seus efeitos formativos Essa forma de registro oral (grupo focal) foi utilizada antes da uacuteltima

44 Para Boris Kossoy (2011) a abordagem da fotografia como documento iconograacutefico deve considerar os enredos

culturais que lhe datildeo sentido e natildeo se limitar agrave questotildees teacutecnicas (imagens teacutecnicas) Eacute preciso demonstrar as

construccedilotildees mentais e culturais que datildeo corpo agraves imagens e aprender a desmontaacute-las Disponiacutevel em lt

httpluzeestilowordpresscom20100328entrevista-com-boris-kossoygtAcesso em 31 de marccedilo de 2011 Ver

tambeacutem a discussatildeo de imagem associada agrave narrativa ldquoo quadro narra e a narrativa mostrardquo (RICOEUR 2007

p281)

66

visita realizada pelo grupo ao Rio de Janeiro O debate contou com a participaccedilatildeo de nove

estudantes e foi transcrito As falas foram confrontadas tanto com os relatos anteriores da visita

ao Museu do Escravo (2006) quanto com o trabalho realizado posteriormente agrave visitaccedilatildeo ao

Museu Histoacuterico Nacional (2008) (Anexo C)

Identificar entre os puacuteblicos de museus um conjunto de visitantes e selecionaacute-los para

anaacutelise foi em grande medida organizar estrateacutegias de visibilidade destes visitantes reais Os

criteacuterios de constituiccedilatildeo do corpus documental para a pesquisa foram circunstanciais e definidos

simultaneamente agraves leituras teoacutericas e metodoloacutegicas O visitante historiado eacute uma situaccedilatildeo

relacional uma seacuterie de condiccedilotildees no espaccedilo-tempo como o fato de serem matriculados em uma

mesma instituiccedilatildeo de ensino superior disporem de tempo para viajar recursos financeiros e

disponibilidade para relatar suas experiecircncias de visita

Um dos criteacuterios de escolha dos dois museus apresentados na anaacutelise ndash o Museu do

Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional ndash foi baseado na avaliaccedilatildeo da potecircncia patrimonial de

cada um deles Natildeo era viaacutevel trabalhar com um amplo corpus documental que se constituiacutera

sobre as visitas e visitantes e a seleccedilatildeo implicava em cortes que mantivessem a riqueza da

documentaccedilatildeo produzida Os visitantes assim como os museus visitados constituem coleccedilotildees de

cultura material e as exibem de forma a comunicar sentidos e fazer circular a cultura Os dois

ldquoacervos documentaisrdquo das visitas elaboradas na perspectiva do grupo de visitantes e dos

museus satildeo confrontados

Enquanto os museus possuem criteacuterios de legitimaccedilatildeo da produccedilatildeo da cultura instituiacutedos

a escolha pela anaacutelise da produccedilatildeo feita pelos estudantes tem a possibilidade de ampliar o circuito

da cultura escolar para aleacutem de seus consumidoressujeitos habituais O processo de formaccedilatildeo de

visitantes de museus emerge dos lugares institucionais como a escola e o museu mas operam

uma experiecircncia pedagoacutegica mais abrangente e dispersa

Os relatos escritos e as fotografias satildeo considerados nessa pesquisa como maneiras de dar

significado agraves visitas vivenciadas durante o curso de graduaccedilatildeo em histoacuteria Na elaboraccedilatildeo dos

relatoacuterios os estudantes reconfiguram o percurso da visita reelaboram suas impressotildees

sentimentos e conhecimentos sobre o museu visitado Nos relatos escritos e fotograacuteficos

constroem ldquoexperiecircncias esteacuteticasrdquo conformando

67

estruturas cognitivas quadros normativos marcas de discriminaccedilatildeo e criteacuterios de

avaliaccedilatildeo modos de apreensatildeo do tempo regras de escolha modos de representaccedilatildeo e

esquemas de accedilatildeo jogos de papeacuteis e de categorias da praacutetica afirmaccedilotildees consideradas

verdadeiras e normas tidas por justas crenccedilas e figuraccedilotildees (GUIMARAtildeES E LEAL

2008 p12)

Os visitantes estabelecem modos de significar o vivido de transformar o fato em evento

ou ainda de conformar uma memoacuteria social (RICOEUR 2000) A experiecircncia de visita pode ser

pensada no sentido indicado por Vidal (2010 p726) quando se refere agrave docecircncia como

experiecircncia coletiva

as experiecircncias apesar de uacutenicas natildeo satildeo individuais Remetem a modos coletivos de

entender e validar a docecircncia Indiciam expectativas geracionais constituiacutedas na cultura

nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo na convivecircncia cotidiana com colegas e comunidade e nos

vaacuterios percursos de escolarizaccedilatildeo seguidos (VIDAL 2010 p726)

Os relatos de visita considerados como fontes e objeto de pesquisa apresentam

possibilidades de abordagem e tambeacutem mostram limites agrave anaacutelise Aquilo que aparece no texto da

aluna destacado no iniacutecio do primeiro capiacutetulo como ldquotiacutepicordquo eacute em grande medida um repertoacuterio

repetitivo que se constitui como um ldquogecircnerordquo Nesses relatos tanto a instituiccedilatildeo formadora

quanto cada museu visitado tem um papel significativo para a produccedilatildeo dos relatos Esse eacute um

primeiro ponto a ser considerado na anaacutelise Cada relato existe por estiacutemulos e intenccedilotildees de

produccedilatildeo vindos natildeo diretamente dos sujeitos que como autores resolvem de maneira

espontacircnea registrar suas memoacuterias mas como parte da dinacircmica de formaccedilatildeo acadecircmica e

disciplinas curriculares As escolhas e motivos das visitas aos museus satildeo estabelecidos no

interior do curso de licenciatura em Histoacuteria Haacute tambeacutem um segundo limite e implicaccedilatildeo na

produccedilatildeo dos relatos que eacute a condiccedilatildeo de avaliar a experiecircncia de visita de dentro da situaccedilatildeo

educativa Eacute preciso considerar essa dupla implicaccedilatildeo e explicitar que eu na condiccedilatildeo de

professora da instituiccedilatildeo formadora me encontro diretamente envolvida nesse primeiro

movimento de produccedilatildeo dos registros e elaboraccedilatildeo de uma primeira camada de testemunhos dos

visitantes

Somado ao primeiro limite dos relatos marcado pela historicidade das visitas e horizonte

de expectativa dos visitantes apresenta-se outro de caraacuteter diverso Assumir as marcas de

subjetividade entendidas como os sentidos atribuiacutedos agraves narrativas por cada visitante que se

coloca como autor de suas memoacuterias eacute correr o risco de expor os sujeitos concretos julgando

68

suas atitudes Vale esclarecer que o visitante faz escolhas estabelecendo uma pertinecircncia entre o

vivido e as referecircncias que lhes foram apresentadas pelos acervos e exposiccedilotildees dos museus mas

cria descompassos45

com relaccedilatildeo agraves rotinas e dinacircmicas estabelecidas pelo grupo que acompanha

Outro limite aparente das fontes eacute o apagamento das lembranccedilas ou a memoacuteria entendida

como recordaccedilatildeo As praacuteticas educativas como as visitas aos museus tem uma permanecircncia que

se constroacutei pelos conteuacutedos culturais que engendram Entretanto haacute uma fragilidade dos relatos

de visita onde se destaca muito da instrumentalidade das praacuteticas e das formas que eles adquirem

no acircmbito da cultura escolar

O relato de visita eacute marcado por esse limite da accedilatildeo contra o esquecimento um texto

coletivo que marca as histoacuterias comuns as semelhanccedilas do vivido e a recriaccedilatildeo das lembranccedilas

em memoacuterias coletivas Haacute o risco da banalizaccedilatildeo da experiecircncia uma vez que as narrativas

correspondem a accedilotildees de reflexatildeo produccedilatildeo de conhecimento histoacuterico e mesmo de um excesso

de expectativas de troca de acuacutemulo e de valorizaccedilatildeo da accedilatildeo empreendida de forma

retrospectiva

Por outro lado o uso dos relatos como fonte e objeto de pesquisa apresentam

possibilidades de romper com algumas prescriccedilotildees A primeira delas eacute atentar para uma dimensatildeo

do testemunho como uma funccedilatildeo de ouvir a narrativa do outro instaurando uma nova histoacuteria do

presente Para Gagnebin (2006) essa operaccedilatildeo de compreender o testemunho engendra a questatildeo

de que o historiador natildeo eacute apenas o coletor dessas lembranccedilas ele realiza uma operaccedilatildeo de

ldquorememoraccedilatildeordquo no lugar da ldquocomemoraccedilatildeordquo Sua atividade historiadora natildeo eacute repetir as

lembranccedilas mas atentar para o esquecido A rememoraccedilatildeo significa atenccedilatildeo com o presente com

as ressurgecircncias do passado no presente e com a accedilatildeo A testemunha natildeo eacute aquele que viu com os

proacuteprios olhos mas tambeacutem aquele que ao ouvir a narraccedilatildeo do outro a aceita e a toma de forma

reflexiva natildeo ajudando a repeti-la indefinidamente mas ousando inventar outra histoacuteria inventar

o presente (GAGNEBIN 2006 p 55-57)

A visita ao museu se constitui em um evento dialoacutegico e polifocircnico que promove sentidos

na interaccedilatildeo ou co-presenccedila dos diversos sujeitos Justamente por esse efeito de interaccedilatildeo

promove diferentes tipos de trabalho com a memoacuteria Pode-se dizer que os relatos das visitas satildeo

45 Parece ser o caso de uma aluna que faz referecircncia agrave existecircncia de uma denominada ldquoSala da Marquesa de Santosrdquo

durante a visita ao Museu Histoacuterico Nacional

69

camadas de memoacuteria-histoacuteria nos quais eacute possiacutevel investigar as formas e conteuacutedos destas

praacuteticas culturais e a construccedilatildeo e uso dessas praacuteticas no ensino de histoacuteria e na formaccedilatildeo

histoacuterica

Os relatos das visitas podem ser utilizados como um iacutendice de atualizaccedilatildeo da memoacuteria

Como possibilidade de reconhecer que pessoas comuns (estudantes e professores) estabelecem

instrumentos capazes de intercambiar experiecircncias temporais complexas e mantecirc-las vivas em

situaccedilotildees de aprendizagem histoacuterica

Os relatos permitem investigar o papel que a memoacuteria cultural e o pensamento histoacuterico

tiveram no processo de formaccedilatildeo de diferentes identidades coletivas A reserva de histoacuterias

trazidas pelos relatos podem vir a ser histoacuterias coletivas narrativas que se voltam para o

coletivo A formaccedilatildeo como processo criativo de devir plural (RUumlSEN 2007 p165)

O destaque no trabalho para dois museus diferentes visitados pelo mesmo grupo de

estudantes tem por objetivo comparar algumas dinacircmicas que a anaacutelise de apenas um caso ou

museu natildeo permitiria Nos diversos museus visitados pelo grupo de estudantes eacute possiacutevel propor

problemaacuteticas muacuteltiplas e complexas sintetizadas pelos momentos de presenccedila dos visitantes

A estrateacutegia de abordagem do material empiacuterico produzido pelos visitantes que satildeo os

relatos escritos e as fotografias comporta natildeo uma preocupaccedilatildeo com a quantidade de variaacuteveis

mas com a variedade de argumentos alternativos levantados ateacute mesmo por um uacutenico estudante

que mobiliza diferentes elementos para dar sentido a visita

Outro aspecto considerado eacute que os relatos se produzem no interior de uma relaccedilatildeo

pedagoacutegica Parte do trabalho escolar a escrita dos relatoacuterios tem por objetivo atender a

exigecircncias e formalidades da cultura escolar Poreacutem na anaacutelise dos relatos haacute uma migraccedilatildeo

desse lugar inicial de produccedilatildeo que visava agrave leitura pelo professor que orientou eou organizou a

visita ao museu para a condiccedilatildeo de fonte de pesquisa mais ampla no campo da Educaccedilatildeo Das

situaccedilotildees de visita existentes em uma determinada instituiccedilatildeo escolar (Faculdade) escolhida

amplia-se o caraacuteter documental do relato e para pensar de maneira mais ampla o papel das

visitas a museus em relaccedilatildeo ao Ensino de Histoacuteria e agrave criaccedilatildeo de uma memoacuteria histoacuterica

Em alguma medida os visitantes na condiccedilatildeo de produtores dos relatos se fixam num

determinado momento da produccedilatildeo Haacute intersubjetividade em toda a elaboraccedilatildeo dos relatos As

observaccedilotildees satildeo projetadas para um professor que tambeacutem participou presencialmente da visita

70

Cada museu com suas exposiccedilotildees e propostas educativas satildeo acionados e mobilizados Por fim o

ato ao mesmo tempo coletivo e individual de percorrer as salas dos museus se coloca como forccedila

que emoldura cada situaccedilatildeo de visita Poreacutem a circulaccedilatildeo desses relatos em outros espaccedilos como

os da anaacutelise empreendida pela pesquisa permite forjar uma ampliaccedilatildeo de sentidos iniciais

Comparar dois momentos de visita em dois espaccedilos distintos permite conexotildees parciais entre os

processos e os lugares em anaacutelise A anaacutelise de cada situaccedilatildeo se faz por analogias e na tomada de

posiccedilatildeo Cada pessoa que relata a faz de maneira incorporada e localizada46

Como afirma Boaventura Souza Santos em texto lido pela turma do curso de licenciatura

em Histoacuteria que relata suas visitas escrever sobre algo implica em posicionar-se em adotar uma

perspectiva E em sua proposta de escrita cientiacutefica o sujeito deve participar se solidarizar ter

prazer Para Santos o conhecimento eacute emancipaccedilatildeo auto-conhecimento postura criacutetica e

reflexiva de avaliaccedilatildeo e reciprocidade (SANTOS 1995 p18-19)

A primeira implicaccedilatildeo de se considerar de maneira situada o conhecimento produzido nas

situaccedilotildees de visita eacute a opccedilatildeo pelos conhecimentos alternativos e dispersos e uma postura de

diaacutelogo que abrange a incompletude cultural natildeo como uma falta mas como parte de todas as

culturas A circulaccedilatildeo dos visitantes pelos muacuteltiplos locais tambeacutem amplia as situaccedilotildees de

formaccedilatildeo cultural multiplica as possibilidades de que diferentes museus podem propiciar a

desestabilizaccedilatildeo de visotildees hegemocircnicas acerca de temas trabalhados no Ensino de Histoacuteria como

a escravidatildeo os personagens histoacutericos e as comemoraccedilotildees O trabalho com visitas a diferentes

museus tambeacutem possibilita tomar trajetoacuterias inesperadas para traccedilar uma formaccedilatildeo cultural

considerada nos proacuteprios limites da experiecircncia compartilhada pelos visitantes A abrangecircncia da

anaacutelise se daraacute agrave medida que estabelecer conexotildees associaccedilotildees relaccedilotildees inesperadas e

aproximaccedilotildees

Os relatos escritos e fotograacuteficos assim como o Grupo focal e os questionaacuterios

individuais possibilitam confrontar como os visitantes elaboram do ponto de vista cognitivo e

simboacutelico atravessam cortam suas ancoragens e circulam entre diferentes mundos como os dos

museus do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional dentre outros

46 Mendes (2003) Perguntar e observar natildeo basta eacute preciso analisar algumas reflexotildees metodoloacutegicas Oficina do

CES 194 Disponiacutevel em lthttpsestudogeralsibucptjspuihandle1031611056gt Acesso em 06 ab 2011

71

Um primeiro sentido da produccedilatildeo dos relatos se daacute numa situaccedilatildeo relacional eacute a

comunicaccedilatildeo e o partilhamento dos sentidos com o professorleitor e os colegas Assim o relato

se faz na riqueza dialoacutegica de vozes presentes e ausentes Ao construir uma narrativa cada

visitante reconstitui o ineditismo da sua visita revive experiecircncias e surpreende-se ele proacuteprio

com suas reaccedilotildees

Ao se conceber os relatos como fonte documental prioritaacuteria agrave pesquisa foram definidos

alguns focos de investigaccedilatildeo O primeiro eacute atentar na leitura dos relatos para os tipos de recursos

que os visitantes mobilizam para argumentar e responder aos dilemas enfrentados durante a

visita Como se posicionam frente aos objetos apresentados pelos museus e como ancoram suas

narrativas pessoais frente agraves narrativas dos museus Haacute um grau de convergecircncia entre a memoacuteria

coletiva exposta nos museus e as memoacuterias pessoais Haacute dimensotildees consensuais ou divergentes e

quais argumentos fundamentam tais posiccedilotildees

Os relatos permitem mudar o foco da visita do museu e da escola para o visitante

Considerando o relato a visita pode ser ldquoguiadardquo pelos visitantes seguir o visitante pelos seus

percursos perspectivas interesses e escolhas Se durante o tempo de realizaccedilatildeo da visita na

condiccedilatildeo de professora fui tambeacutem visitante agora na anaacutelise dos relatos posso propor outros

recortes agrave visita e ao museu a partir do lugar de pesquisadora

25- Relatos e fotografias registros do patrimocircnio dos visitantes

Apresento a seguir um perfil dos visitantes elaborado a partir dos dados produzidos entre

os estudantes do curso de Licenciatura em Histoacuteria Escolhi dentre os vaacuterios estudantes e visitas

que foram realizadas ao longo do periacuteodo que trabalhei na Faculdade de Pedro Leopoldo

(FIPEL) estudantes que se prontificaram a ceder suas produccedilotildees textuais e fotografias

voluntariamente Um total de dezessete estudantes compotildee o universo selecionado para anaacutelise

Pude acompanhar esse grupo desde o ingresso na Faculdade ateacute a formatura e as visitas que

realizaram ao longo dessa trajetoacuteria de formaccedilatildeo

Deste grupo de estudantes 11 satildeo do sexo feminino e 06 do sexo masculino Quanto agrave

idade quatorze estudantes tinham entre 21 e 26 anos quando responderam ao instrumento de

pesquisa e os trecircs restantes tinham mais de 28 anos de idade Quando agrave profissatildeo apenas um

72

estudante declarou natildeo exercer atividade remunerada Em relaccedilatildeo agrave declaraccedilatildeo quanto agrave renda

familiar apenas um afirmou possuir renda maior que 10 salaacuterios miacutenimos seis estudantes

declararam entre 4 a 6 salaacuterios miacutenimos e dez entre 7 e 9 salaacuterios miacutenimos

Figura 6 Turma do 4ordm periacuteodo de Histoacuteria Faculdade Pedro

Leopoldo Fazenda Boa Esperanccedila Belo Vale MG 2006

Para este grupo de estudantes se natildeo fosse a praacutetica de visitas a museus promovida pela

Faculdade dificilmente frequumlentariam regularmente esse tipo de instituiccedilatildeo cultural Primeiro a

distacircncia geograacutefica de suas residecircncias desses bens coletivos impede visitas regulares Eles

residem em sua maioria quase absoluta em cidades da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte e

cidades proacuteximas sendo que apenas um desses municiacutepios possui museu Trabalham e estudam e

apenas um estudante citou o preccedilocusto das viagens como dificuldade para realizaccedilatildeo das visitas

Natildeo encontramos assim uma correlaccedilatildeo entre renda local de moradia e primeira visita a museus

A escola eacute a grande responsaacutevel pela promoccedilatildeo do conceito de museu que esse grupo

possui A visita escolar aparece como a grande agenciadora do acesso aos museus Nos trecircs

momentos em que satildeo questionados sobre a visita a museus primeiro para indicar a ocasiatildeo da

73

visita segundo com quem foi a primeira vez em um museu e terceiro com quem foi ao museu

nos trecircs uacuteltimos anos a escola aparece como a grande promotora da praacutetica de visita (Ver

graacuteficos no anexo B)

Considerando os dados obtidos permanece a duacutevida sobre qual eacute a escola que promove a

visita escolar ao museu se a escola baacutesica ou a faculdade As afirmaccedilotildees de Warlerson de Melo

Simpliacutecio no grupo focal sobre suas experiecircncias de visita a museus alimenta a duacutevida sobre a

escola que promove a visita Warlerson declara que havia visitado o Museu de Guimaratildees Rosa

quando cursava a 8ordf Seacuterie depois passou na Gruta de Maquineacute que ele natildeo sabe bem se pode ser

citada como Museu Ele natildeo se lembra bem do que foi falado laacute soacute sabe que gostou Visitou e

gostou tambeacutem de uma igreja em Congonhas o Museu de Artes e Ofiacutecios em Belo Horizonte

Viu como se dava o processo de trabalho de uma eacutepoca que natildeo lembra bem qual (ldquoa memoacuteria taacute

curtardquo brinca o estudante) Gostou tambeacutem do Museu do Escravo ldquoeu gosto muito dessa

ligaccedilatildeo do Brasil com a Aacutefrica e gosto muito de estudar essa parte principalmente na religiatildeordquo

(Warlerson de Melo Simpliacutecio Grupo Focal 2008)

O nuacutemero de vezes que Warlerson visita museus eacute confirmado pelas informaccedilotildees do

grupo que declara ter ido a mais de quatro museus e cita os trecircs uacuteltimos visitados Os mais citados

satildeo o Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto em Belo Horizonte o Museu de Artes e Ofiacutecios tambeacutem

em BH e o Museu Imperial de Petroacutepolis Os trecircs museus listados foram locais visitados pela

turma em trabalhos de campo promovidos pelo curso de licenciatura em Histoacuteria

Ao identificarem os museus visitados e a frequumlecircncia a museus vecirc-se novamente que a

visita organizada pela escola aparece como a responsaacutevel pela primeira ida ao museu Ou seja a

primeira vez que visitaram um museu foi durante o curso superior em Histoacuteria Informaccedilotildees

sobre os trecircs uacuteltimos museus visitados tambeacutem permitem identificar outras instituiccedilotildees lembradas

pela turma Museu de Histoacuteria Natural da PUC-MG e Museu do Escravo ambos tambeacutem

visitados em trabalhos com a turma O Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto foi a primeira visita

realizada pela turma quando estavam no primeiro ano do curso Talvez sua lembranccedila por quase

todo o grupo esteja associada a esse acontecimento o primeiro museu visitado

74

Diversos depoimentos47

enfatizam a importacircncia da visita ao Abiacutelio Barreto Fernando

Daniel Fraga Fonseca eacute o primeiro a falar

O Museu que eu mais gostei achei super interessante foi justamente na eacutepoca que a

gente tava entrando na Faculdade comeccedilando o curso de Histoacuteria noacutes fizemos uma

visita ao Museu Abiacutelio Barreto em BH Onde foi que quebrou um pouco aquela visatildeo

que a gente trazia da escola que na hora que fez aquela foi feito aquela dinacircmica explicando como eacute feita uma exposiccedilatildeo onde cada pessoa pode colocar aquilo que tava

com ele um laacutepis uma caneta ou um caderno e ali foi ensinado para a gente como fazer

uma exposiccedilatildeo como organizar uma exposiccedilatildeo como uma exposiccedilatildeo eacute organizada

Toda exposiccedilatildeo ela tem o ponto central aquilo que ela ta querendo mostrar aquilo que ta

querendo contar Todos esses aspectos foram explicados para a gente Achei super

interessante assim foi de grande valia pra gente como estudante de histoacuteria (Fernando

Daniel Fraga Fonseca Grupo Focal 2008)

Daniele Paulo Marques completa

Bem como o Fernando acabou de relatar o Museu Abiacutelio Barreto foi um dos primeiros

museus que gente chegou a visitar aqui na Faculdade e foi muito interessante porque eles

explicaram pra gente como eacute que eacute feita a seleccedilatildeo como eacute feita a organizaccedilatildeo desse

material como eacute feita a exposiccedilatildeo se essa exposiccedilatildeo eacute permanente ou natildeo Outro Museu

que tambeacutem foi interessante foi o Imperial em Petroacutepolis que a gente visitou Assim por

mais que assim foi muito bonito a gente natildeo teve um tempo para dialogar com as peccedilas

discutir comentar e agraves vezes se faz necessaacuterio quando se vai ao museu ter tempo para

dialogar questionar ter diaacutelogo porque isso acrescenta muito (Daniele Paulo Marques

Grupo Focal 2008)

Outros museus satildeo lembrados como o receacutem inaugurado Museu de Artes e Ofiacutecios mas a

comparaccedilatildeo aponta para o que eles mais se preocupam quando visitam um museu as exposiccedilotildees

embora seis estudantes natildeo definam claramente um foco para a visita

No grupo focal Frederico Levi Amorim faz um detalhamento de que descobriu na visita

ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto mais que suas exposiccedilotildees e como faz uso deste aprendizado

ao longo do curso inclusive na avaliaccedilatildeo de outros museus que visitou como o Museu do

Escravo

O que marcou muito tambeacutem foi a visita ao Abiacutelio Barreto por ter sido a primeira que a

gente fez na Faculdade eu jaacute tinha feito outras mas aqui na Faculdade foi a primeira E

logo depois quando eu comecei a fazer o Estaacutegio o que me chamou a bastante a atenccedilatildeo

foi a questatildeo da organizaccedilatildeo na hora de elaborar uma exposiccedilatildeo a quantidade de pessoas

que estatildeo envolvidas como que a instituiccedilatildeo inteira se mobiliza em torno disso como eacute

47 A opccedilatildeo por apresentar trechos longos da transcriccedilatildeo do debate realizado pelo grupo de estudantes tem por

justificativa manter a loacutegica de argumentaccedilatildeo de cada participante e as marcas das interaccedilotildees entre os componentes e

a oralidade que constituem os relatos

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muito seacuterio o trabalho que eles fazem quando tem que definir um tema para a exposiccedilatildeo

quais satildeo os materiais que vatildeo ser expostos Neacute assim a questatildeo de organizaccedilatildeo que me

marcou muito e voltando ao Museu do Escravo o que me chamou muito a atenccedilatildeo

tambeacutem foi isso que eu gostei muito do museu achei que tinha muita coisa bacana mas

achei que a exposiccedilatildeo tava muito saturada tinha tanta informaccedilatildeo que assim vocecirc tava

meio perdido ali dentro e achei que tinha ter uma linha cronoloacutegica alguma coisa que

pudesse ta direcionando o proacuteprio visitante para facilitar o entendimento da exposiccedilatildeo e

para que a gente pudesse absorver mais a informaccedilatildeo e pra que gente pudesse entender

tambeacutem o que a exposiccedilatildeo estava querendo falar (Frederico Levim Amorim Grupo

Focal 2008)

Alguns aspectos da avaliaccedilatildeo de Frederico Amorim sobre o Museu do Escravo satildeo

contestados por Weberton Fernandes da Costa mais agrave frente

(riso) A experiecircncia que me marcou assim foi ao Museu do Escravo Problema eacute o

seguinte porque mostrou assim o processo de escravidatildeo no Brasil como era

estruturado objetos que ao mesmo tempo () visatildeo que tinha do negro mostrando eles

simplesmente como objetos e colocou tipo assim () uma visatildeo negativa faltou assim

a cultura a danccedilaa comida natildeo mostrou o processo global A ideologia do sistema claro

que tinha na eacutepoca (Weberton Fernandes da Costa Grupo Focal 2008)

Os dados gerados pelo questionaacuterio permitem confrontar algumas afirmaccedilotildees expressas

oralmente pelo grupo e vice-versa No grupo focal as visitas satildeo apontadas como viagens de

conhecimento que ampliam horizontes e repertoacuterios culturais Os museus estatildeo relacionados ao

trabalho com as ldquofontes histoacutericasrdquo e agrave ldquopraacuteticardquo do professor Os estudantes dizem se interessar

pelos museus por conta de seus assuntos e exposiccedilotildees e natildeo pelo aspecto do lazer da diversatildeo

Quando solicitados a associar livremente trecircs palavras a museu a mais citada foi a palavra

ldquomemoacuteriardquo e a segunda ldquohistoacuteriardquo ldquoPassadordquo e ldquopreservaccedilatildeordquo aparecem em terceiro

ldquoConhecimentordquo ldquoculturardquo e ldquopatrimocircniordquo em quarto lugar na associaccedilatildeo de palavras a museu A

partir das palavras relacionadas as exposiccedilotildees e museus visitados podem ser imaginados como

uma alegoria do curriacuteculo Primeiro temos uma forma de exposiccedilatildeo do conhecimento e uma

seleccedilatildeo que obedece a um percurso ou roteiro e que se apresenta no formato de cenaacuterios Os

conteuacutedos dessa seleccedilatildeo feita pelos diferentes museus se datildeo na forma de saberes prescritos ou

seja legitimados socialmente como uma cultura da eacutepoca Essa concepccedilatildeo de cultura se

materializa num acervo exposto e preservado por cada instituiccedilatildeo

Se os visitantes associam a palavra conhecimento aos museus haacute o reconhecimento do

lugar da produccedilatildeo de cultura histoacuterica nos cenaacuterios organizados pelos museus e a hipoacutetese de que

essa produccedilatildeo de conhecimento se faz de maneira complementar com outros materiais de

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pesquisa e instituiccedilotildees acadecircmicas De outro lado podemos comparar a exposiccedilatildeo e o museu

com os textos acadecircmicos Na lista do que se encontra em um museu aparecem na ordem

objetos cultura e documentos e fotografias em terceiro

Esse jogo de definir o museu com palavras e coisas aparentemente ingecircnuo indica

algumas categorias que foram retomadas nos relatos escritos e fotograacuteficos Para os visitantes o

Museu eacute memoacuteria e histoacuteria mas a memoacuteria natildeo eacute o passado Ela se materializa em objetos em

cultura documentos e fotografias Os museus satildeo agentes produtivos preservam conhecem

comemoram pesquisam dizem as narrativas dos visitantes no Museu do Escravo e no Museu

Histoacuterico Nacional

Por fim ao avaliarem os museus visitados natildeo temos muitas surpresas talvez o retorno ao

iniacutecio do questionaacuterio e agrave pergunta sobre o que eacute mesmo uma visita ao museu O que mais

agradou aos estudantes nos museus satildeo seus conteuacutedos e a organizaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo de uma organizaccedilatildeo proacutepria aos museus uma visualidade eacute reforccedilada em

diversos momentos pelos visitantes Haacute na forma de expor objetos e no trabalho dos museus algo

que interessa diretamente a esse grupo Outra questatildeo que chama a atenccedilatildeo eacute a imagem que criam

para a proacutepria visita Eles afirmam que a impressatildeo que tecircm quando deixam o museu eacute de que

saiacuteram de uma sala de aula ou de uma biblioteca

As duas imagens engendradas ndash sala de aula e biblioteca ndash estatildeo relacionadas agrave cultura

escolar entendida como um conjunto de praacuteticas teorias e normas que codificam formas de

regular sistemas linguagens e accedilotildees nos estabelecimentos educativos (ESCOLANO 2005 p42)

Considerando que nos espaccedilos da escola haacute interaccedilotildees e convergecircncias entre cultura empiacuterica

cultura acadecircmica e cultura poliacutetica as praacuteticas de visita satildeo marcadas pelas pautas e orientaccedilotildees

da cultura escolar e da cultura museal que tambeacutem se articula historicamente em suportes

especiacuteficos A pesquisadora Luciana Koptche aponta para essa aproximaccedilatildeo recente entre os

objetivos tecnologias dos museus e a cultura escolar Para a autora os museus contemporacircneos

situam-se entre a catedral a escola o foacuterum a feira e o mercado (KOPTCHE 2005 p189) Em

se tratando de visitas escolares a associaccedilatildeo mais direta era de se esperar eacute com a escola

Assim como os museus satildeo vistos como organizados esse grupo de visitantes tambeacutem se

apresenta de forma organizada aos museus A visita de turismo ou com familiares satildeo raras no

grupo Na visatildeo dos estudantes as visitas tecircm objetivos pedagoacutegicos de ampliar conhecimentos

77

mas ningueacutem aponta se sentiu algum desconforto durante as visitas Interessam-se pelos

conteuacutedos e assuntos das exposiccedilotildees e saem dos museus com a impressatildeo que saiacuteram de uma sala

de aula Fabiana Cristina dos Santos parece resumir o dilema ao analisar a visita ao Museu

Imperial

A experiecircncia em museu o que mais gostei e entre aspas natildeo gostei foi ao Museu

Imperial Gostei muito foi fantaacutestico o que natildeo gostei eacute que a nossa visita foi guiada foi

muito raacutepida e assim a gente natildeo pode ver com aquele olhar poder discutir poder ver o

lado criacutetico como que era e eles natildeo permitam isso laacute eles ficavam controlando O bom

foi vocecirc ter uma direccedilatildeo que se a gente tivesse perdido sozinho a gente natildeo ia saber

por onde comeccedilar a gente natildeo ia saber que direccedilatildeo mas o ruim eacute que eacute muito raacutepido e

natildeo te deixa dialogar com cada peccedila enfim (Fabiana Cristiana dos Santos Grupo focal

2008)

Fabiana Cristina dos Santos aparece na Figura 7 e parece aprisionada Olha atraveacutes da

janela e toma notas Estaacute acompanhada de um lado e de outro por seus colegas O visitante que

faz o registro fotograacutefico estaacute separado de Fabiana pelo vidro Ele estaacute ao lado dos objetos e sabe

que ela estaacute do outro lado da luz A luz refletida no vidro cria a barreira que natildeo permite ver

diretamente as peccedilas o que natildeo impede o diaacutelogo no jogo de espelhos

Figura 7 MARQUES Daniele Paulo Fotografia da visita a

Petroacutepolis Rio de Janeiro 2007

78

Outra visitante comenta a respeito da visita ao Museu Histoacuterico Nacional ldquoacredito que

mesmo em exposiccedilotildees que natildeo satildeo tatildeo boas podemos tirar ensinamentos para natildeo cometer os

erros cometidos por outras pessoasrdquo (Michelle Oliveira Xavier Visita ao MHN 2008)

Os visitantes apresentados acima ao entrarem em interaccedilatildeo com os artefatos culturais

organizados pelos museus rompem com os papeacuteis jaacute determinados externamente e anteriores ao

momento dessa interaccedilatildeo48

Tomar a ideia de ldquointeraccedilatildeordquo como um suposto um operador

analiacutetico parece possibilitar a integraccedilatildeo de perspectivas que natildeo separam os aspectos orais

escritos e visuais nos processos de produccedilatildeo de objetos culturais

A questatildeo central que permeia a pesquisa eacute a formaccedilatildeo dos sujeitos frente agrave experiecircncia

de contato com os museus Definir um grupo de visitantes em diferentes momentos de sua

formaccedilatildeo acadecircmica permite identificar marcas de sociabilidade e sensibilidades como referentes

na produccedilatildeo de conhecimentos histoacutericos O grupo se estabelece como ator ao assumir accedilotildees na

organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo das visitas e ao expressar categorias de avaliaccedilatildeo das praacuteticas de visita a

partir de um olhar proacuteprio da experiecircncia

Daniela Jacobucci ao analisar os programas de formaccedilatildeo continuada de professores

realizados por museus de ciecircncias em diversas regiotildees do paiacutes afirma que ldquoindependente da

proposta teoacuterico-metodoloacutegicardquo estes programas ldquooportunizam quatro tipos de experiecircncias aos

professores atualizaccedilatildeo de conteuacutedos produccedilatildeo de material didaacutetico assessoria didaacutetica e

socializaccedilatildeo de conhecimentosrdquo (JACOBUCCI 2010 p437) Os estudantes concordam sempre

haacute algo a aprender com a visita As fotografias a seguir (Figuras 8 9 e 10) configuram a visita ao

Museu do Escravo do ponto de vista de seus visitantes O recorte espacial proposto por Frederico

Amorim organiza a visita em vaacuterios planos de expressatildeo Na primeira foto (Figura 8) temos uma

pessoa do proacuteprio museu responsaacutevel pelas informaccedilotildees ao grupo de visitantes O tronco o

objeto central do paacutetio de exposiccedilatildeo estaacute ao fundo A monitora fala olhando para os visitantes e

de costas para o objeto

48 A ideia de museu como templo distante da experiecircncia de aprendizagem natildeo aparece com grande forccedila nos

relatos dos visitantes

79

Figura 8 AMORIM Frederico Levi Monitora do Museu do Escravo no

paacutetio central tendo ao fundo a senzala e o pelourinho Belo Vale-MG 2006

Na imagem seguinte (figura 9) a monitora estaacute agrave esquerda do espaccedilo geograacutefico Ela fala e

gesticula com as matildeos O foco satildeo os visitantes que se aproximaram do objeto e estatildeo em atitude

de escuta

Figura 9 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes ouve explicaccedilotildees da

monitora no paacutetio interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006

80

Na imagem seguinte (figura 10) o grupo maior jaacute se retirou e alguns alunos entre eles o

proacuteprio fotoacutegrafo se fazem registrar junto ao espaccedilo do objeto Tomam a experiecircncia vivida

externamente ndash o objeto imobilizado no espaccedilo do museu com a mediaccedilatildeo da monitora ndash como

uma paisagem um enquadramento O escravo no tronco de mesmo tamanho dos componentes do

grupo eacute centralizado e parece figurar como um dos estudantes que agora sorriem acredito de

prazer pela travessura que faziam

Figura 10 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes junto ao

tronco no paacutetio interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006

A hipoacutetese sobre a produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos nas visitas como a do Museu

do Escravo relaciona-se a um conjunto de relaccedilotildees e processos nos quais o sujeito manteacutem a

dinacircmica do desejo da busca de si mesmo aberto ao outro e ao mundo e natildeo eacute reduzido agrave pulsatildeo

em busca da satisfaccedilatildeo do objeto a ser consumido O sujeito mobiliza-se reuacutene forccedilas e faz uso

de si proacuteprio como recurso engaja-se em atividades movimenta-se produz inteligibilidade e

sentidos Ao colocarem-se ao lado da escultura os estudantes natildeo se identificam com o

sofrimento que representa os mortos mas compartilham a presenccedila uns dos outros nesse espaccedilo

que eacute vivo

81

A produccedilatildeo de conhecimentos que se configura a partir das praacuteticas de visita eacute uma

praacutetica cultural na qual os sujeitos se vecircem como capazes de reconfigurar algumas condiccedilotildees de

produccedilatildeo de saberes dominantes Os visitantes fazem a revisatildeo de conhecimentos tradicionais e

percebem pelos ldquoefeitos de sentidordquo e ldquoefeitos de presenccedilardquo uma nova disponibilidade de estar

no mundo e criar formas e conteuacutedos culturais distintos

As visitas ainda que marcadas pelo ritmo escolar e pelas accedilotildees poliacuteticas prescritas pelo

museu permitem aos visitantes uma experiecircncia sensiacutevel de muacuteltiplos deslocamentos Na

condiccedilatildeo de estudantes eacute possiacutevel experimentar um movimento que natildeo eacute aquele do cotidiano

escolar do trabalho pontuado pela cadecircncia dos calendaacuterios e horaacuterios Nos museus os tempos

dos processos pedagoacutegicos e de formaccedilatildeo se apresentam mais flexiacuteveis como uma poeacutetica O

visitante suspende o instante presente e pode ser tomado pelo jogo da multiplicidade de vozes

sentidos e papeacuteis Brincar de quebra-cabeccedila de detetive e jogar o jogo da memoacuteria eacute permitido e

estimulado em museus49

49 Esses satildeo jogos criados pelo Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a partir de seu acervo e utilizados em oficinas e

programas de formaccedilatildeo de professores

82

CAPIacuteTULO III - A historicidade de museus e visitantes

31- Visitantes diante de museus a experiecircncia museal

O visitante atualiza o proacuteprio conceito de museu e contribui assim como os especialistas

para a configuraccedilatildeo e teorizaccedilatildeo do campo museal e fundamentaccedilatildeo de uma criacutetica agraves exposiccedilotildees

e seus conteuacutedos A presenccedila nos museus mobiliza a memoacuteria e estimula a imaginaccedilatildeo Esse

movimento de rememoraccedilatildeo coloca os sujeitos em alerta com relaccedilatildeo ao presente Neste

processo de atualizaccedilatildeo dos conceitos estaacute em jogo uma busca coletiva para as dimensotildees

sensiacuteveis e questionamentos

A constante atualizaccedilatildeo de conceitos ou seja a historicidade que se configura como

duraccedilatildeo e mudanccedilas no tempo permite abordar o museu como um ldquogecircnerordquo que possui

regularidades permanecircncias mas que constantemente se reconfigura Eacute desta perspectiva que

apresento o Museu do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional visitados nessa pesquisa como

museus histoacutericos que conteacutem em seus acervos e expotildeem aos visitantes diversas concepccedilotildees de

museus aparentemente fora de uso na museologia contemporacircnea

Delinear uma leitura menos datada e historicista dos museus ou uma histoacuteria de museus

que se atualiza nos proacuteprios museus50

eacute resultado do confronto entre a pesquisa bibliograacutefica

sobre museus e as narrativas visuais dos visitantes O esforccedilo de leitura dos relatos e das

fotografias levou a um recorte que entrelaccedila os registros das visitas ao Museu do Escravo

(Figuras 11 e 12) do Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro (Figura 15) feitos pelos

visitantes e as imagens de museu dos chamados gabinetes de curiosidade (Figura 13) e galeria de

arte de priacutencipes (Figura 14)

Escolhi essas imagens para argumentar como os museus natildeo ficam presos ao passado e se

atualizam pela accedilatildeo dos visitantes E retomar tambeacutem a ideia de circuito e circularidade de

cultura atraveacutes de cinco imagens diferentes

50 Koselleck (1992 p134-145) propotildee uma histoacuteria dos conceitos que se investiga o processo de teorizaccedilatildeo dos

conceitos a partir de fontes documentais e formas verbais com experiecircncias histoacutericas concretas de associaccedilotildees

poliacuteticas e econocircmicas

83

As exposiccedilotildees do Museu do Escravo em Minas Gerais fotografadas por um estudante

(Figuras 11 e 12) e do Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro (Figura 15) satildeo confrontadas

agraves imagens de museu dos chamados gabinetes de curiosidade (Figura 13) e agrave galeria de arte de

priacutencipes (Figura 14)

O acervo do Museu do Escravo de Belo Vale (MG) inaugurado em 1988 pelo padre da

paroacutequia local Jacques Penido tendo em vista as comemoraccedilotildees do centenaacuterio da Aboliccedilatildeo da

Escravatura no Brasil pode ser interpretado como recoberto por vaacuterias camadas de sentido de

museu que circulam desde os gabinetes de curiosidade agraves galerias de arte Todo o acervo do

museu estaacute exposto Natildeo haacute uma reserva teacutecnica sequer um inventaacuterio e cataacutelogo das peccedilas

Objetos arqueoloacutegicos satildeo exibidos junto a reproduccedilotildees fotocopiadas de jornais indumentaacuterias

cenograacuteficas de um filme brasileiro e artefatos de culto religioso contemporacircneos Haacute uma

preocupaccedilatildeo em exibir instrumentos de tortura como gargantilhas de ferro mordaccedilas e tamancos

imensos que causam curiosidade e repulsa Tambeacutem satildeo criados cenaacuterios com um pelourinho que

fica no meio do paacutetio central rodeado por uma senzala Outras salas satildeo ocupadas com arte sacra

catoacutelica e peccedilas indiacutegenas

Figura 11 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

84

Figura 12 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

Aberto ao puacuteblico o Museu do Escravo natildeo tem materiais impressos e teima em

sobreviver agraves intempeacuteries naturais que desgastam o telhado e agraves mudanccedilas na poliacutetica local

municipal a cada quatro anos51

O Museu do Escravo parece estar em algum tempo entre os gabinetes de curiosidades e os

museus etnograacuteficos Conserva dos gabinetes natildeo apenas uma exposiccedilatildeo natildeo hierarquizada mas

um sentido atribuiacutedo aos objetos que fabricados pelo proacuteprio museu satildeo possuidores de uma

fluidez entre a natureza a arte e o artefato Tanto no gabinete de curiosidades quanto no Museu

do Escravo natildeo importa a histoacuteria do objeto tudo pode ser recolhido e serve ao propoacutesito de

saciar os curiosos Tambeacutem pode ser visto no Museu do Escravo um moderno ldquomuseu

etnograacuteficordquo que cria seu objeto a escravidatildeo a partir de sistemas de classificaccedilatildeo dos escravos

por criteacuterios tais como exoacuteticos simples preacute-alfabetizados primitivos selvagens para fazer a

denuacutencia moral da escravidatildeo O ldquooutrordquo o escravo eacute objeto do olhar dos visitantes mas eacute a

proacutepria visatildeo do museu que eacute avaliada

Considerado a partir da loacutegica dos visitantes o estudo sobre os museus coloca em questatildeo

o proacuteprio conceito de museu durante a visita O visitante questiona ao longo do percurso como o

museu constituiu referecircncias sobre suas proacuteprias funccedilotildees sociais e como estas auto-referecircncias se

expressam nas exposiccedilotildees

51 Ver Folder do Museu do Escravo produzido em 2002 Museus Mineiros Imprensa Oficial do Estado de Minas

Gerais No 14 abril de 2002

85

Entretanto eacute comum que a visita ao museu natildeo acrescente ao visitante informaccedilotildees

sobre o proacuteprio museu Quando muito o museu apresenta um pequeno resumo impresso de sua

trajetoacuteria em seus materiais de divulgaccedilatildeo mas quase nada da histoacuteria de seu acervo princiacutepios

expositivos e outros recursos aleacutem da expografia Fica a cargo do interesse do visitante comum

entender como cada museu reelabora sua memoacuteria ou sua heranccedila e como ele se apresenta aos

seus visitantes Os museus ainda se apresentam como gabinetes de curiosidades (Figura 13)

Figura 13 LEGATI Lorenzo Museu Cospiano Bolonha 1677

A imagem acima eacute uma reproduccedilatildeo do cataacutelogo publicado em Bolonha por Lorenzo

Legati para o gabinete de curiosidades de Ferdinando Cospi Cospi era um naturalista italiano que

adquiriu a coleccedilatildeo de Ulisse Aldrovandi (1522-1605) que por sua vez tinha interesse no que hoje

pode ser chamado de botacircnica zoologia e geologia Cospi acrescentou ao museu maravilhas

naturais muitas delas criadas por processos de taxidermia unindo paacutessaros e peixes O Museu

Cospiano tinha centenas de cabeccedilas de aves sereias e um anatildeo que exercia o duplo papel de fazer

parte da coleccedilatildeo e ser guia Conhecida hoje por meio de exposiccedilotildees e cataacutelogos parte dessa

86

coleccedilatildeo eacute exposta atualmente no Museu do Palaacutecio Pozzi em Bolonha52

No entanto no seacuteculo

XVII estava aberta a estudiosos e aristocratas

O lugar de produccedilatildeo da Imagem 14 eacute a esfera privada O tema da imagem tambeacutem esta

ligado ao mundo domeacutestico uma coleccedilatildeo e um colecionador particular Frederico I Hoje o lugar

fiacutesico O studiolo do priacutencipe foi restaurado e aberto agrave visitaccedilatildeo puacuteblica No seacuteculo XVII ficava

proacuteximo aos aposentados iacutentimos do priacutencipe e permitia a entrada de apenas uma pessoa de cada

vez Era uma eacutespeacutecie de compartimento secreto cujo programa iconograacutefico foi idealizado pelo

pintor e arquiteto da corte Giorgio Vasari e sua equipe Este aposento privado permitia preservar

os itens raros da coleccedilatildeo do monarca em armaacuterios inventariar e dar ordem aos itens colecionados

para que pudessem ser encontrados As pinturas encomendadas por Francisco I satildeo realizadas

tambeacutem por Vasari e outros pintores do seacuteculo XVII

Figura 14 VASARI Giorgio (1511-1574) Studiolo de Francisco I

Palazzo Vecchio Firenze 1570-1573

52Disponiacutevel em lt httpspecialcollectionslibrarywisceduexhibitschecklistsCabinetsCabinets_title_listhtmlgt

Acesso em 26 jun 2010

87

A escolha da imagem do gabinete de Frederico I (Figura 14) nessa pesquisa cujo tema eacute a

relaccedilatildeo dos visitantes com os museus permite algumas associaccedilotildees Primeiro a ampliaccedilatildeo da

dimensatildeo poliacutetica-puacuteblica pelo acessovisibilidade a bens culturais antes de uso limitado a um

nuacutemero pequeno pessoas Segundo pela ampliaccedilatildeo dos usos dos objetos chamados artiacutesticos ou

culturais em decorrecircncia das mudanccedilas nos suportes e modos de produccedilatildeo artiacutestica pelos quais

passaram a circular

A gravura do gabinete de curiosidades (Figura 13) e a imagem da galeria do priacutencipe

(Figura 14) apresentam lugares de guarda de coleccedilotildees Os temas e os conteuacutedos das obras satildeo os

objetos colecionados e o lugar onde estatildeo armazenados A coleccedilatildeo do gabinete de curiosidades e

da galeria de priacutencipe define quem tem acesso ao conteuacutedo desses ambientes e pode partilhar da

visibilidade da exposiccedilatildeo Apenas pessoas proacuteximas aos colecionadores

Entretanto ao reproduzir essas duas imagens aqui recoloca-se a questatildeo do lugar do

visitante diante dessas exposiccedilotildees Tanto a exposiccedilatildeo dos gabinetes quanto das galerias satildeo

privadas mas a reproduccedilatildeo por meio do desenho e da pintura as colocam em circulaccedilatildeo fora do

lugares de produccedilatildeo e do controle de seus proprietaacuterios Giorgio Vasari53

o pintor de Frederico I

talvez jaacute apontasse para essa necessidade de ampliaccedilatildeo do circuito do consumo de arte Ele

proacuteprio eacute tido como um dos precursores na produccedilatildeo de uma histoacuteria da arte ilustrada com cenas

da vida dos artistas que se populariza e se manteacutem atual agrave medida que continua sendo

reproduzida para um puacuteblico mais amplo

Do ponto de vista de visitantes contemporacircneos a funccedilatildeo do acervo de um museu natildeo eacute

apenas documental no sentido de fornecer evidecircncias para o trabalho da histoacuteria Para o visitante

ele estaacute diante de uma versatildeo contada pelo museu A coleccedilatildeo de objetos no museu eacute percebida

como natildeo aleatoacuteria O trabalho do museu eacute construir uma mensagem com a exposiccedilatildeo Ainda que

reconheccedila nos objetos e no acervo como um todo documentos de eacutepoca eacute a forma de

apresentaccedilatildeo dos objetos que ainda fornece o status de testemunho mostrando a importacircncia da

materialidade para a comprovaccedilatildeovalidaccedilatildeo das narrativas histoacutericas A exposiccedilatildeo como forma

53 Foram lanccediladas recentemente duas obras de VASARI Giorgio Vida de Michelangelo Buonarroti Ed Unicamp

2011 e Vidas dos artistas Martins Fontes 2011

88

de reunir um acervo que pertence ou natildeo a determinado museu lhe confere maior poder de criar

visibilidade

Eacute isso que parece fazer a visitante Fabiana Cristina dos Santos (Figura 15) que assim

como muitos de seus colegas reuacutene novamente o acervo do museu apoacutes sua visita e recria seu

percurso e o patrimocircnio do Museu Histoacuterico Nacional em uma nova exposiccedilatildeo

Figura 15 SANTOS Fabiana Cristina dos Montagem de fotografias

da visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

O mosaico de fotografias confeccionado pela visitante reuacutene elementos dispostos em

diferentes cenaacuterios no interior do preacutedio e a fachada do museu que registra a grade de seguranccedila

um letreiro com o nome do museu e bandeiras hasteadas Fotografias do acervo e natildeo dos

visitantes

32- Usos puacuteblicos e educativos dos museus

Os museus europeus e norte-americanos assumem a partir do seacuteculo XVIII uma relaccedilatildeo

com um novo habitante da cidade o cidadatildeo Algumas medidas para aproximar os viacutenculos entre

museus e cidadatildeos satildeo adotadas agrave medida que tambeacutem se transformam as relaccedilotildees com o

mecenato e o modelo de vinculaccedilatildeo com o Estado para encomenda e financiamento de atividades

89

culturais se consolida As mostras temporaacuterias os chamados salotildees conquistam regularidade e

visibilidade para a produccedilatildeo dos proacuteprios museus Tambeacutem satildeo editadas publicaccedilotildees com a

finalidade de analisar as exposiccedilotildees e direcionar o puacuteblico frequumlentador ndash como a de Diderot que

assume a criacutetica no Correspondence Litteacuteraire entre 1759 e 1781 que culmina com a publicaccedilatildeo

de Ensaios sobre a pintura em 1795 pouco depois da Criacutetica da Faculdade do juiacutezo de Kant

(1790) Iniciava-se um movimento de ampliaccedilatildeo do puacuteblico de apreciadores e de criacuteticos de arte

Diderot vai ser lido e comentado por escritores poetas filoacutesofos ao longo seacuteculo XIX entre eles

por Charles Baudelaire (1821-1867)

A criacutetica aos salotildees de Diderot (Salatildeo de 1765) e Baudelaire (Salotildees de 1846 e 1859)

constitui-se em momentos privilegiados para pensarmos o museu entre os seacuteculos XVIII e XIX

do ponto de vista de seus visitantes A discussatildeo sobre os museus pode ser ampliada no seacuteculo

XX com os visitantes Marcel Proust que publica sua grande obra Em busca do tempo perdido

entre 1913-1927 e Paul Valery cujo texto O problema dos museus eacute publicado pela primeira vez

em 1931 Esse diaacutelogo entre Valery e Proust sobre os museus eacute proposto por Adorno em texto de

1950 Aborda-se assim uma fortuna criacutetica que inicialmente era publicada em pequenos folhetos

e distribuiacuteda agrave porta dos Salotildees e se especializa em jornais da eacutepoca Estes criacuteticos antecipam

abordagens formulam criacuteticas conceitos e criteacuterios valorativos quanto aos fomentos ao gosto e

ao proacuteprio ato de adentrar os museus e visitar coleccedilotildees

90

Figura 16 BIARD Franccedilois Auguste (1798-1882) Quatro Horas no

Salatildeo (Quatre heures au Salon) Oacuteleo stela 57x67 cm Museu do

Louvre Paris 1847

O quadro de Auguste Franccedilois Biard54

pintor francecircs que chegou a vincular-se agrave corte

portuguesa no Brasil e foi professor da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro

apresenta de forma emblemaacutetica a presenccedila dos visitantes no encerramento do Salatildeo anual do

Louvre de 1847 Pessoas se acotovelando curiosos uma profusatildeo de vestes posturas e

expressotildees faciais As imagens expostas nas paredes parecem ter vida falar ao expectador

O grande nuacutemero de curiosos atestava a popularidade das exposiccedilotildees ou Salotildees que

tiveram suas primeiras versotildees no seacuteculo XVII no Palais-Royal restritas a um puacuteblico

selecionado Em 1727 os Salotildees foram abertos ao puacuteblico em nome do rei Luiz XV Junto com a

abertura dos Salotildees iniciou-se a publicaccedilatildeo de cataacutelogos e comentaacuterios descritivos das obras pelo

54 O pintor Auguste Franccedilois Biard nascido em Lyon em 1798 visita o Brasil entre 1858-1860 Eacute nomeado

professor da Academia Imperial de Belas-Artes executa retratos da famiacutelia imperial e membros da corte De volta agrave

Franccedila publica em 1862 publica um relato sobre o Brasil Ver httpwwwitauculturalorgbr

aplicexternasenciclopedia_icindexcfmfuseaction=artistas_biografiaampcd_item=1ampcd_idioma=28555ampcd_verbete

=1271Acesso em 2011

91

perioacutedico Mercure de France Surgiram os primeiros connaisseurs que se colocavam como

mediadores de uma criacutetica e de modelos de apreciaccedilatildeo e consumo da arte

Os elementos da criacutetica que comeccedilavam a se estabelecer culminariam numa nova

distinccedilatildeo entre connaisseurs e curiosos Diderot como criacutetico dos Salotildees aponta a supremacia do

sensiacutevel sobre o visiacutevel e compartilha da ideia de que os museus possuem uma funccedilatildeo educativa

Natildeo soacute para poucos frequentadores como os estudantes de arte que se serviam de uma

aprendizagem visual de estilos e obras mas num sentido universalizante do conhecimento cujos

produtores e consumidores de arte estariam em niacuteveis semelhantes Diderot defende uma

emancipaccedilatildeo do juiacutezo sobre o gosto mediante o julgamento das obras e da pertinecircncia dos temas

O sentimento uma qualidade subjetiva seria usado como criteacuterio pelo puacuteblico para avaliar as

obras Aquelas que lhes chegavam ao coraccedilatildeo despertando simpatia ou coacutelera Comoccedilatildeo

assombro choro coacutelera satildeo emoccedilotildees provocadas pelas obras do Salatildeo de 1765 em Diderot

Assim como para Diderot a descriccedilatildeo das emoccedilotildees eacute fundamental para a criacutetica de arte de

Baudelaire O pintor deveria provocar emoccedilotildees ao espiacuterito sem cair num sentimentalismo

forjado

Ao longo do seacuteculo XIX o puacuteblico dos museus se diversifica socialmente e culturalmente

ao compartilhar experiecircncias artiacutesticas tanto de fruiccedilatildeo quanto de produccedilatildeo Visitar salotildees

grandes exposiccedilotildees universais museus e adquirir objetos artiacutesticos ou mesmo ter aulas de pintura

e desenho faziam parte de haacutebitos culturais de camadas meacutedias e mesmo setores populares O uso

instrumental na induacutestria (ilustradores desenhistas) e a funccedilatildeo de formaccedilatildeo moral da arte

estavam proacuteximas Entretanto as imagens consumidas pelos segmentos populares como as

litogravuras emolduradas e o barulho que faziam nos salotildees satildeo reprovados por autoridades

como o criacutetico de arte agora um especialista em apreciar e julgar a obra

Baudelaire apresenta esse novo lugar da criacutetica que julga a mediocridade do puacuteblico e

pretende lhe dar formaccedilatildeo (informaccedilatildeo e publicidade) sobre as exposiccedilotildees Baudelaire dirige-se

aos compradores pouco instruiacutedos que deveriam ser iniciados na ciecircncia da fruiccedilatildeo Colecionar

arte era vincular-se a uma tradiccedilatildeo de bom gosto e oportunidade de ascensatildeo cultural Implicava

em reconhecimento da sofisticaccedilatildeo e do gosto do Antigo Regime como um padratildeo para os setores

meacutedios emergentes no espaccedilo poliacutetico

92

O especialista conhecedor de arte como apontam as caricaturas de Rockwell (Imagens 17

e 18) habita fisicamente o mesmo lugar que os curiosos e turistas mas se diferenciava deles por

possuiacuterem criteacuterios mais pormenorizados para observar a arte e se manterem em parcerias com

compradores e pintores

Figura 17 ROCKWELL Norman (1894-1978) O criacutetico de arte 1955

Ilustraccedilatildeo da capa de The Saturday Evening Post 16 de abril de 1955 Oacuteleo

sobre tela (1003 x 921 centiacutemetros) Coleccedilatildeo Museu Norman Rockwell

Figura 18 ROCKWELL Norman (18941978) O connaisseur 1962

Oacuteleo sobre tela Ilustraccedilatildeo produzida para a ediccedilatildeo do Saturday

Evening Post 13 jan 1962 Coleccedilatildeo Particular

93

Quem olha quem O quadro observado pelo criacutetico na Figura 17 tem vida e lhe olha de

volta O respeitoso senhor vestido em trajes solenes na Figura 18 eacute observado ou observa a

pintura colorida O pintor dos dois personagens propotildee elementos de digressatildeo imaginaccedilatildeo e

simultaneidade do olhar Para ler os quadros o espectador entra num jogo de espelhos sugerido

pelo pintor e percebe-se a si mesmo emoldurado por seu reflexo

Pode-se imaginar que tanto Paul Valery quanto Marcel Proust55

poderia estar entre os

visitantes apresentados nos quadros de Biard (Figura 16) e Rockwell (Figuras 17 e 18) Pode-se

tambeacutem imaginar ouvir a conversa entre os dois visitantes de fins do seacuteculo e iniacutecio do seacuteculo XX

com a ajuda do ensaio Museu Valery-Proust publicado originalmente em 1953 por Adorno

Valery eacute apresentado por Adorno (2005) como um artistaprodutor que cria objetos

poesias um especialista que olha a arte com toda a profundidade do ponto de vista da criaccedilatildeo

lugar do qual recebe sua profundidade O que importava para o poeta era a obra de arte como

objeto de contemplaccedilatildeo E esta se via ameaccedilada pela coisificaccedilatildeo e a indiferenccedila

O museu era o responsaacutevel por essa corrupccedilatildeo e fossilizaccedilatildeo das obras Valery se

horroriza ao caminhar pelas galerias do Louvre que para ele condenava a arte ao passado com

sua super acumulaccedilatildeo e a torna uma questatildeo de educaccedilatildeo e informaccedilatildeo Para Valery nos diz

Adorno a arte estaacute morta perdeu seu lugar na vida imediata sua relaccedilatildeo com um uso possiacutevel

Vecircnus se transformou em documento e ao visitante era recusada a possibilidade de vagar e errar

pelos museus

Proust na visatildeo de Adorno comeccedila onde Valery silencia na vida poacutestuma das obras e foi

menos ingecircnuo com relaccedilatildeo agrave arte Proust era um consumidor admirador um amante das artes

que estava separado das obras por um fosso Para Adorno era essa a grande virtude de Proust

assumir de forma firme essa postura de consumidor a ponto de transformar essa atitude em um

novo tipo de produtividade A forccedila da contemplaccedilatildeo do interno e do externo culminava em

Proust em produccedilatildeo de lembranccedilas memoacuterias

Para Adorno Proust era melhor visitante de museus que Valery E argumentou Em

Valery o processo de produccedilatildeo artiacutestica e a reflexatildeo sobre esse processo estavam

55 Ver Paul Valery O problema dos Museus Revista do patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional N31 2005 p32-

35 Marcel Proust tem diversas inferecircncias em sua obra Em busca do tempo perdido Satildeo Paulo Abril Cultural 1979

94

indissoluvelmente interligados Ele eacute o proacuteprio criteacuterio de julgamento da composiccedilatildeo da obra e da

experiecircncia que se tem por meio dela A criacutetica de Valery eacute conservadora em termos de cultura

pois o uacutenico criteacuterio coincidia com seu proacuteprio juiacutezo de gosto

Jaacute Proust estava livre desse fetichismo de quem fazia ele proacuteprio as coisas e entendia as

obras naquilo que elas tinham de esteacutetico rdquoum fragmento de vida daquele que as contempla um

elemento da proacutepria consciecircnciardquo (Adorno 2005 p179)

Proust tinha acesso a uma camada da obra que pressupunha a sua morte e assim a

sensibilidade para perceber o histoacuterico como paisagem Percebia a erosatildeo que a histoacuteria produzia

nas obras e a capacidade de sobrevivecircncia delas agrave semelhanccedila com o belo e o natural A

decadecircncia das coisas para Proust era uma segunda vida Soacute subsistia aquilo que era mediado

pela recordaccedilatildeo A qualidade esteacutetica era secundaacuteria

Walter Benjamin (2006 p603) tambeacutem convocou a opiniatildeo de Proust sobre os museus

para diferenciar a apreciaccedilatildeo de um quadro colocado de maneira isolada numa sala de jantar e

uma visita ao museu Soacute a sala de museu por sua nudez e seu despojamento de todas as

particularidades pode proporcionar a embriagante alegria dos espaccedilos interiores onde o artista se

retirou para criar

O aspecto caoacutetico do museu desagradava Valery O museu era lugar da barbaacuterie e natildeo de

cultura que tinha um caraacuteter sagrado vivo Jaacute Proust fez a defesa do museu mas era critico em

relaccedilatildeo agrave cultura ou agrave tradiccedilatildeo cultural exposta nos museus que ele experimentava reagia se

contaminando pela vida poacutestuma das obras

33 - Maneiras de ver e ser visto nos museus

O Louvre como modelo de instituiccedilatildeo museal agrega ao sentido moderno de museu a

ideacuteia de instruccedilatildeo puacuteblica contraposta ao museu de curiosidade e frivolidade presente nos

gabinetes de curiosidade e galerias reais O programa poliacutetico de gestatildeo dos bens culturais do

Louvre estava assim completo na Franccedila revolucionaacuteria inventariar e conservar toda a extensatildeo

de objetos que possam servir agraves artes agraves ciecircncias e ao ensino

O tema da apropriaccedilatildeo do patrimocircnio dos legados do passado estaacute presente no museu

francecircs e continua atual na discussatildeo sobre as poliacuteticas de memoacuteria O museu iluminista ou

95

enciclopedista estaacute aberto a todos os domiacutenios do conhecimento Eacute conservatoacuterio local de estudo

e produccedilatildeo do conhecimento

Para Brefe (1998) o museu puacuteblico moderno eacute ineacutedito no sentido de seu conteuacutedo e sua

forma de exposiccedilatildeo As obras herdadas do regime republicano na Franccedila perderam suas antigas

funccedilotildees e relaccedilotildees com o universo poliacutetico e social Era necessaacuterio construir um novo modo pelo

qual seriam lidas e ao mesmo tempo produzir novas imagens de legitimaccedilatildeo da revoluccedilatildeo Com a

radicalizaccedilatildeo do regime a chamada era do terror instalou-se a incompatibilidade entre a

ideologia da revoluccedilatildeo e obras de arte e monumentos do Antigo Regime seguida de uma onda de

ataques com a destruiccedilatildeo e depredaccedilatildeo de siacutembolos da realeza do feudalismo e do despotismo

O museu surge como o lugar que ldquodesacraliza e neutraliza os siacutembolos e imagens fazendo-os ou

ascender ou reduzindo-os ao estatuto de objetos culturaisrdquo (BREFE 1998 p307)

Haacute uma nova dimensatildeo poliacutetica para o museu Seu papel eacute estrateacutegico em relaccedilatildeo agrave

justificativa cultural do poder O museu ao conservar aquelas obras inventa um sentido para o

patrimocircnio evitando expor de maneira expliacutecita os siacutembolos nelas contidos sua ideologia Ele

destroacutei natildeo a obra de arte mas a mostra a partir do que a cultura do museu julga pertinente O

museu participa ativamente da mudanccedila do estatuto do objeto Ele perde suas significaccedilotildees

anteriores e entra num novo dispositivo simboacutelico uma memoacuteria outorgada

Os museus tambeacutem oferecem duas contribuiccedilotildees para se redefinir a dimensatildeo poliacutetica no

sentido de puacuteblica na Franccedila A primeira eacute a defesa da universalidade do patrimocircnio agrave medida

que se elabora uma lista de obras canocircnicas que servem de referecircncia a todas as naccedilotildees europeacuteias

a partir do legado do patrimocircnio francecircs A segunda contribuiccedilatildeo eacute identificar uma dimensatildeo

histoacuterica na cultura um passado cuja existecircncia justifica a conservaccedilatildeo A Revoluccedilatildeo natildeo pode

apagar a histoacuteria ao contraacuterio ela procurou criar uma determinada ldquoconsciecircncia histoacutericardquo como

ponto de partida para um novo recomeccedilo ou regeneraccedilatildeo Haacute uma heranccedila a ser gerida e o museu

eacute instrumento poliacutetico desse direito de dominar a histoacuteria e recolher o patrimocircnio dos seacuteculos ou

o proacuteprio passado

Receptaacuteculo de todas as obras-primas da humanidade jaacute que a Franccedila eacute a paacutetria ideal o

museu neutraliza o discurso da pilhagem que passa a ser visto como repatriamento Abriu-se em

fins do seacuteculo XVIII novo debate natildeo soacute sobre o espaccedilo de exposiccedilatildeo e o que eacute um museu mas

sobre o poder de instituir sentidos que lhe eacute conferido ao sacralizar as obras para aleacutem de seu

96

estatuto de objetos culturais como ldquotesouros conquistadosrdquo Uma nova funccedilatildeo como ldquomemorial

da naccedilatildeordquo ou ldquotemplo da memoacuteriardquo e natildeo apenas de ldquoinstituiccedilatildeo de instruccedilatildeo puacuteblicardquo como

requeriam o projeto enciclopedista eacute que tomou forccedila no seacuteculo XIX

A visualidade nos museus estaacute ligada agrave poliacutetica e agrave capacidade cada vez mais elaborada

de controle racionalcientiacutefico do mundo moderno de teacutecnicas para registrar documentar e

codificar o conhecimento Benedict Anderson (2008 p221) observou que o mundo moderno se

caracteriza pela unidade de visualizar coisas que natildeo satildeo visiacuteveis ou visuais o censo o mapa e o

museu

Para Anderson todo museu pode ser visto como um programa educativo principalmente

porque o museu moderno (seacuteculo XIX) estaacute ligado profundamente a aspectos do poder poliacutetico e

dos sistemas poliacuteticos educacionais modernos Os museus produzem e reproduzem hierarquias

sociais ideologias e tambeacutem assumem um papel na produccedilatildeo de imagens de raccedila povo naccedilatildeo

criando legitimidades sociais Ligam-se diretamente ao Estado e apresentam-se como guardiotildees

da tradiccedilatildeo geral e local conferem prestiacutegio aos lugares e objetos Satildeo lugares sem pessoas

desabitados exceto pela frequumlentaccedilatildeo turiacutestica satildeo dessacralizados A dimensatildeo poliacutetica dos

museus se daacute nos materiais produzidos nos censos pictoacutericos do patrimocircnio disponiacutevel As

imagens satildeo reproduzidas infinitamente no cotidiano via manuais escolares postais selos de

modo que a musealizaccedilatildeo poliacutetica se torna celebraccedilotildees comemoraccedilotildees e emblemas da identidade

nacional

O museu para Anderson eacute uma forma de imaginaccedilatildeo da Histoacuteria e do poder mas a

imaginaccedilatildeo aqui tem um caraacuteter de conservar as formas da histoacuteria de criar comunidades

imaginadas O museu eacute como um ldquoaacutelbumrdquo dos antepassados ao longo do tempo que pode ser

herdado pelos sucessores Um ldquoventriloquista nacionalistardquo um desejo de falar pelos mortos

Guardam entretanto um paradoxo entre sua luta contra o esquecimento (lembranccedila) e a

necessidade do proacuteprio esquecimento mecanismo tiacutepico das genealogias que realizam

ldquofratriciacutedios tranquumlilosrdquo em nome do ldquodever de jaacute ter esquecidordquo A ambiccedilatildeo educativa dos

museus neste caso eacute a dissoluccedilatildeo de conflitos violentos raciais de classes regionais e a

construccedilatildeo de uma nova consciecircncia Haacute a passagem da memoacuteria agrave histoacuteria oficial A narrativa da

ldquoidentidaderdquo da consciecircncia eacute inscrita em um tempo secular uma seacuterie de implicaccedilotildees de

continuidades e esquecimentos da experiecircncia A ldquobiografia da naccedilatildeordquo escrita pelos museus eacute o

97

acuacutemulo das guerras holocaustos mortes violentas que tecircm de ser lembradasesquecidas como

nossas (ANDERSON 2008 p268)

Se para Anderson a memoacuteria eacute hierarquizada no museu por uma poliacutetica de memoacuteria para

Walter Benjamin (2006) o sentido pedagoacutegico da memoacuteria e da narrativa no museu eacute distinto O

museu eacute visto como capaz de problematizar a racionalidade das imagens da histoacuteria Enquanto

Anderson vecirc o museu como um edifiacutecio soacutelido uma instituiccedilatildeo Benjamin vivencia o museu

como um sonho um labirinto imaginaacuterio enraizado na histoacuteria mas (e por essa razatildeo) permite

articular o instante e a duraccedilatildeo num mergulho na proacutepria experiecircncia (sensibilidade)

O museu para Benjamin eacute por definiccedilatildeo moderno mas um novo que sempre existiu

Como afirma Michelet sobre a vista de uma paisagem da Charneca eacute sempre nova e sempre

igual Natildeo eacute a mesma sequer semelhante mas se exprime pelas coisas presentes Uma atitude

que entende o museu como aquele capaz de ressuscitar os mortos ou de tornar a histoacuteria viva

como acontece no percurso de Michelet pelo Museu dos Monumentos Franceses organizado por

Alexandre Lenoir56

e seu encontro com a histoacuteria viva da Franccedila e seus heroacuteis meroviacutengios

O primeiro movimento alegoacuterico de Benjamin eacute transformar o museu em morada do

sonho coletivo em metamorfose do interior O museu eacute um rito de passagem vivecircncia de

transiccedilatildeo caminhada por caminhos fantasmagoacutericos em que as portas cedem e as paredes se

abrem Essa atitude diante dos museus e das obras de arte natildeo eacute meramente contemplativa e nem

um comportamento aacutevido diante de mercadorias expostas O museu para Benjamin mobiliza o

visitante Coloca no cotidiano a utopia coisas que ningueacutem jamais experimentou mas que

deveriam lhes caber

As estrateacutegias de exibiccedilatildeo dos museus e a criaccedilatildeo de novos museus entretanto natildeo satildeo

vistas com ingenuidade por Benjamin Ele faz uma criacutetica das exposiccedilotildees universais e as via

como siacutenteses prematuras que fecham o espaccedilo para o novo e impediam a ventilaccedilatildeo das classes

Para Benjamin os produtos industriais projetados no passado eram organizados segundo

princiacutepios estatiacutesticos e a accedilatildeo de exibiccedilatildeo seria terapecircutica Visava rejuvenescer tonificar

restabelecer recuperar conservar e aperfeiccediloar os encantos da natureza que se definhavam e

morriam

56 O Museu de Lenoir precede agrave abertura do Louvre e teve curta duraccedilatildeo (1795-1816)

98

As exposiccedilotildees universais satildeo criticadas e exemplificam a passagem do caraacuteter efecircmero

que deixam rastros como a Torre Eiffel edificada como o arco de entrada da Exposiccedilatildeo

Universal de 1889 e transformada posteriormente em monumento O tempo de preparo e de

duraccedilatildeo de um empreendimento como uma exposiccedilatildeo guarda esse sentido agudo da histoacuteria Para

que seja compreendido esse tempo o criacutetico e o espectador deveriam operar em si mesmos uma

transformaccedilatildeo que eacute um misteacuterio um fenocircmeno da vontade agindo sobre a imaginaccedilatildeo Ele deve

aprender por si mesmo a participar do meio que deu origem a essa ldquofloraccedilatildeo insoacutelitardquo esse

sentido de ausecircncia em presenccedila de algo Essa emoccedilatildeo na qual o viajante se abandona a si mesmo

e muda sua visatildeo (Benjamin 2006 p236)

Figura 19 ANDRADE Aleacutecio Fotografia 1993 Cataacutelogo da

exposiccedilatildeo ldquoO Louvre e seus visitantesrdquo Instituto Moreira Salles 2009

A fotografia de Aleacutecio Andrade acima desperta o sentimento de interioridade do visitante

que resiste ao modelo temporal de museu e sua forma de apresentaccedilatildeo do passado O visitante se

apresenta no presente e se define na relaccedilatildeo com o museu estatildeo envolvidos em presenccedila do

invisiacutevel tem os olhos e os corpos na exposiccedilatildeo criada pelo fotoacutegrafo O cenaacuterio eacute o mesmo dos

Salotildees do seacuteculo XVIII (Figura 19)

99

Os visitantes das fotografias de Aleacutecio Andrade evocam o sentido poeacutetico dos museus que

se apresentam como colecionadores de alegorias e natildeo de siacutembolos (BENJAMIN 2006 p 237-

239) O visitante se transporta para dentro do museu e o acolhe em seu espaccedilo interior Visitar eacute

possuir os objetos eacute utilizaacute-los novamente libertando-os de serem inuacuteteis O alegorista

entretanto diferente do colecionador natildeo reuacutene as coisas afins natildeo estabelece sucessotildees natildeo

empreende uma luta contra a dispersatildeo mas desliga as coisas de seus ldquocontextosrdquo natildeo permite

prever e fixar os significados Abrem-se assim agraves transparecircncias porosidades e a possibilidade de

apropriar do princiacutepio e da forma

34 - A funccedilatildeo educativa nos museus entre os museus escolares e os pedagoacutegicos

A fundaccedilatildeo de museus no Brasil antecede a criaccedilatildeo das universidades Os museus

brasileiros foram durante o seacuteculo XIX o principal loacutecus de produccedilatildeo de cientistas praacuteticas de

preservaccedilatildeo e de uso educacional do patrimocircnio Tambeacutem se formaram como arenas de disputa

por versotildees do passado e campo de elaboraccedilatildeo intelectual criacutetica em relaccedilatildeo a outras instituiccedilotildees

poliacuteticas e culturais57

O Museu Nacional localizado na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro eacute considerado

desde sua inauguraccedilatildeo em 1818 a principal referecircncia de instituiccedilatildeo cultural Nos anos de 1920-

1930 eacute visto como modelo de museu para os intelectuais reformadores da educaccedilatildeo nacional

Outras instituiccedilotildees educativas e culturais como as universidades teratildeo espaccedilo no cenaacuterio

institucional tambeacutem nos anos de 1930 em funccedilatildeo das reformas de ensino de 1927-1930 quando

eacute definido por decreto-lei o Estatuto das Universidades Brasileiras e criada a Universidade do Rio

de Janeiro em 1931 (LEMME 1984 p171)

Escola e museus foram organizados de maneira distinta ao longo do seacuteculo XIX e para se

aproximarem precisavam que fosse elaborado um campo de interseccedilatildeo de atuaccedilatildeo e uma

concepccedilatildeo comum acerca de suas finalidades Diana Vidal (1999 p107-116) chama a atenccedilatildeo

para o significado do museu escolar em fins do seacuteculo XIX seu papel como dispositivo

pedagoacutegico que se define como ldquouma reuniatildeo metoacutedica de coleccedilatildeo de objetos comuns e usuais

57 Margaret Lopes desenvolve importante pesquisa sobre os museus brasileiros e latino americanos no seacuteculo XIX

Ver Lopes 1997 1998 2001 e 2005

100

destinados a auxiliar o professor no ensino de diversas mateacuterias do programa escolarrdquo (VIDAL

1999 p 108)

Entretanto ao longo do seacuteculo XX o movimento de aproximaccedilatildeo entre museus e

educaccedilatildeo natildeo foi nada natural e pressupunha accedilotildees poliacuteticas efetivas para a ampliaccedilatildeo da ideacuteia de

educaccedilatildeo para aleacutem das instituiccedilotildees escolares e de princiacutepios de organizaccedilatildeo mais democraacuteticos

Quanto aos museus era necessaacuterio que fossem concebidos como parte do projeto de educaccedilatildeo

geral ou do povo Essa dupla face da transformaccedilatildeo da concepccedilatildeo e finalidade de museus e

escolas eacute o que vemos no movimento da chamada escola nova e que tem por marco institucional

o ldquoManifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Novardquo (1932) lanccedilado no calor da Revoluccedilatildeo de 1930

que defendia uma escola promovida pelo Estado laica gratuita e obrigatoacuteria (ESTEVES 1994

p 52-72)

Os trecircs autores escolhidos e apresentados satildeo os primeiros a publicar no Brasil uma

literatura especiacutefica considerando as relaccedilotildees entre museus e educaccedilatildeo Francisco Venacircncio Filho

(1941) Joseacute Valladares (1946) e Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) possuem muito em

comum e dialogam entre si citando as pesquisas e publicaccedilotildees de seus contemporacircneos

Participaram juntamente com Everardo Backheuser Heitor Lira da Silva e outros da criaccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo em 1924 Venacircncio Filho acompanharia de perto as reformas

educacionais de Carneiro Leatildeo Fernando de Azevedo Aniacutesio Teixeira Francisco Campos e

Gustavo Capanema Foi superintendente de Ensino Teacutecnico e diretor da Escola Normal Publicou

em 1932 com Jonatas Serrano o livro Cinema e Educaccedilatildeo pela Companhia Melhoramentos

A questatildeo central a ser destacada nessa bibliografia estritamente ldquonacionalrdquo eacute como ela

elabora os princiacutepios da relaccedilatildeo entre os museus europeus e brasileiros Quais paracircmetros de

comparaccedilatildeo satildeo adotados pelos autores brasileiros e quais satildeo os modelos que serviriam agrave obra

reformadora nacional A segunda questatildeo a ser investigada eacute como definem a relaccedilatildeo museus e

educaccedilatildeo qual o papel dos museus e qual o papel da escola Outro ponto que mobiliza eacute o

proacuteprio destinataacuterio desses discursos educativos nos anos de 1930-1940 Como estes autores

dirigiam-se ora especificamente ao puacuteblico escolar (professores e alunos) ora agrave populaccedilatildeo como

um todo ou o ldquopovordquo Como implicam os agentes governo sociedade organizada indiviacuteduos

pela resoluccedilatildeo do ldquoproblema nacional a educaccedilatildeordquo

101

Do ponto de vista das discussotildees teoacutericas e inovaccedilotildees praacuteticas na educaccedilatildeo Diana Vidal

(2000) ressalta que os chamados educadores renovados ndash Lourenccedilo Filho Fernando de Azevedo

dentre outros ndash natildeo soacute acompanhavam os movimentos realizados na educaccedilatildeo europeacuteia e norte-

americana como se utilizavam dessa literatura estrangeira para respaldar sua accedilatildeo educativa no

territoacuterio nacional (VIDAL 2000 p513)

Os autores destacados nesta anaacutelise que discorrem sobre a relaccedilatildeo museus-educaccedilatildeo

utilizam em seus argumentos o recurso ao ldquoestrangeirordquo como via de matildeo dupla Natildeo haacute por

exemplo em Joseacute Valladares (1946) nem em Edgar Sussekind de Mendonccedila (1946) nenhum

deslumbramento com os museus visitados por eles fora do paiacutes Eles natildeo deixam que a seduccedilatildeo e

encantamento com os museus europeus e norte-americanos se sobreponham aos seus propoacutesitos

de avaliar e comparar tendo em vista a melhoria dos museus no Brasil As visitas agraves instituiccedilotildees

estrangeiras e as consideraccedilotildees que explicitam servem ao propoacutesito de reforccedilar certa erudiccedilatildeo e o

conhecimento de causa Natildeo visam simplesmente desqualificar a realidade nacional frente ao

internacional

Assim como as viagens e excursotildees os escolanovistas consideram os museus como

dispositivos de educaccedilatildeo ou materiais pedagoacutegicos a serem utilizados para melhor aparelhar a

escola moderna Em outro sentido os museus satildeo ldquograndes casas de educaccedilatildeo ao alcance de

todos a qualquer momento graccedilas a uma teacutecnica de exposiccedilatildeo e mostruaacuterios em que nenhum

pormenor eacute descuidado desde a arrumaccedilatildeo ateacute a cor e forma dos letreirosrdquo (VENAcircNCIO FILHO

1941 p128) Esse otimismo com relaccedilatildeo ao papel educativo dos museus eacute partilhado por Joseacute

Valladares e Edgar Suumlssekind de Mendonccedila

Francisco Venacircncio Filho (1894-1946) destacou-se ao longo de sua vida puacuteblica como um

dos colaboradores diretos de Fernando de Azevedo e publica como ldquoprofessor do Instituto de

Educaccedilatildeo do Distrito Federal e livre docente do Coleacutegio Pedro IIrdquo o volume 38 da 3ordf Seacuterie de

Atualidades Pedagoacutegicas da Biblioteca Pedagoacutegica Brasileira com o tiacutetulo Educaccedilatildeo e seu

aparelhamento Moderno brinquedos cinema raacutedio fonoacutegrafo viagens e excursotildees museus e

livros em 1941 pela Companhia Editora Nacional

Para Venacircncio Filho (1941 p13) e outros intelectuais da chamada escola nova a

educaccedilatildeo eacute vida Busca no diaacutelogo e na autoridade de Afracircnio Peixoto (1876-1947) aproximar o

campo que o colega designara como ldquoeducaccedilatildeo orgacircnicardquo e de outra a ldquoescolarrdquo Para o autor o

102

ldquoaparelhamento modernordquo procura eliminar a distacircncia entre ambos os meios de educaccedilatildeo

(VENAcircNCIO FILHO 1941 p13) A educaccedilatildeo formal e a informal estatildeo imbricadas numa

educaccedilatildeo geral para a qual contribuem ldquoos instrumentos que nasceram na escola e transbordaram

dela para a vidardquo e os que ldquovieram de fora para a escola e vatildeo auxiliando colaborando com a sua

obrardquo multiplicando em extensatildeo e intensidade Esses instrumentos que poderiacuteamos chamar de

dispositivos tem uma accedilatildeo extensiacutevel e imprevisiacutevel (VENAcircNCIO FILHO 1941 p14)

A mesma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo geral eacute explicitada por Edgar Sussekind de Mendonccedila e

Jose Valladares Mendonccedila em seu texto A extensatildeo cultural nos museus publicado pela

Imprensa Nacional em 1946 compartilha dos pressupostos de Venacircncio Filho e o cita por

diversas vezes Elaborado para concurso de provas58

para ser transferido a pedido da diretora do

Museu Nacional Heloiacutesa Alberto Torres para a receacutem criada Seccedilatildeo de Extensatildeo Cultural do

museu o texto pode ser entendido como sugere o proacuteprio autor como uma carta programa do

novo diretor e da nova seccedilatildeo do Museu

Procedimento comum aos trecircs autores destacados Edgar Sussekind de Mendonccedila (1941)

tambeacutem inicia sua exposiccedilatildeo propondo a inversatildeo na forma de interpretar os termos educaccedilatildeo

supletiva e educaccedilatildeo escolar para definir o campo de atuaccedilatildeo dos museus em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Como jaacute enfatizado por Venacircncio Filho o projeto de educaccedilatildeo popular eacute abrangente universalista

e a escola eacute apenas uma das instituiccedilotildees capazes de responder agrave demanda por educaccedilatildeo As

instituiccedilotildees de ensino eacute que satildeo supletivas na visatildeo de Mendonccedila (1941 p9) a educaccedilatildeo extra-

escolar eacute que designa o todo e natildeo aquela educaccedilatildeo intra-escolar A extensatildeo cultural eacute dentro

dessa visatildeo a educaccedilatildeo generalizada e os museus por direito de antiguidade tecircm papel

insubstituiacutevel e preponderante de realizaacute-la

Ao considerar as ldquoexcursotildees e viagensrdquo como ldquomeio pedagoacutegicordquo a primeira questatildeo

levantada satildeo as dificuldades de execuccedilatildeo em ambiente escolar recursos tempo ajustamento de

horaacuterios A sugestatildeo dada pelo autor eacute bastante conciliadora Do ponto vista geral ele defende que

ldquonas viagens se pode rever em breve e rapidamente o que nos legou o passado ou o que nos daacute o

presente em arte em ciecircncia em induacutestria em costumes atraveacutes dos inuacutemeros museus

espalhados pelo mundo inteirordquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p15)

58 Segundo informa o proacuteprio autor o texto foi elaborado no prazo de trinta e cinco dias sendo que Mendonccedila

utilizou vinte e cinco para consulta a livros (MENDONCcedilA 1946 p25)

103

Do ponto de vista efetivo o problema eacute como realizar em larga escala viagens de luxo

recreio e de cultura aos Estados Unidos e Europa como fazem os intelectuais escolanovistas Natildeo

eacute simples conciliar os princiacutepios e a accedilotildees Embora deseje defender essa praacutetica ldquoadmiraacutevelrdquo

Venacircncio Filho alerta que na escola eacute preciso uma soluccedilatildeo mais viaacutevel planejar bem expor

previamente aos alunos e propor saiacutedas livres de grupos aos domingos e feacuterias para cultivar o

gosto e o ldquohaacutebito de prazeres sadios e econocircmicosrdquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p117)

As consideraccedilotildees sobre as excursotildees vatildeo se formando a partir de argumentos que juntam a

defesa do interesse da crianccedila e de suas condiccedilotildees para realizar excursotildees no qual cita os

americanos e seu programa de sugestotildees de excursotildees para diferentes idades entre 3 a 5 anos e a

defesa da ldquocultura europeacuteia como o padratildeo de civilizaccedilatildeo frente a ldquogleba nativardquo da ldquopaisagem

exoacuteticardquo da Ameacuterica (VENAcircNCIO FILHO 1941 p120) Cita nesse caso versos de Olavo Bilac e

a replica de Afracircnio Peixoto que exaltam Nova York (VENAcircNCIO FILHO 1941p122)

Os benefiacutecios das viagens parecem se afastar daquelas possibilidades efetivas do trabalho

escolar e o autor estaacute a endereccedilar seus conselhos a um provaacutevel viajante ldquonativordquo supostamente

adulto com pouca familiaridade com viagens e excursotildees e que necessite de orientaccedilotildees para

preparar-se culturalmente para a viagem Nosso autor parece estar plenamente qualificado para

relatar sua vasta experiecircncia cultural com viagens internacionais e ajudar na divulgaccedilatildeo dessa

praacutetica cultural

Quanto aos guias impressos o autor sabe indicar quais satildeo os melhores Em relaccedilatildeo agraves

grandes agecircncias de turismo elas ldquodevem ser utilizadas com inteligecircnciardquo Comprar poucas

lembranccedilas procurar hoteacuteis proacuteximos agraves estaccedilotildees preccedilos acessiacuteveis calcular despesas por dia

cacircmbio escolher os tipos de companheiros de viagem satildeo recomendaccedilotildees importantes Venacircncio

Filho deixa claro seu gosto pelas viagens sonho antes alegria durante e evocaccedilotildees depois

Os museus aparecem como ldquomeacutetodosrdquo um dos pilares para a melhoria da educaccedilatildeo ldquoum

ensino centrado na crianccedila e natildeo no professor e a educaccedilatildeo como preparaccedilatildeo para a vidardquo59

Os

museus ajudariam tambeacutem no ensino da histoacuteria baseada excessivamente em compecircndios e

criticada por seu excesso de memorizaccedilatildeo e acuacutemulo de datas O proacuteprio Jonathas Serrano que

tem seu compecircndio publicado em 1912 e utilizado ateacute 1924 contando com 54 ediccedilotildees explicita jaacute

59 Edgar Sussekind de Mendonccedila tambeacutem questionava a importacircncia exagerada dada agrave escola no ldquoconjunto da tarefa

educacionalrdquo (MENDONCcedilA 1946 p10)

104

em 1918 (4ordf ediccedilatildeo) a criacutetica aos processos de ensino de Histoacuteria exaustivos baseados na

memorizaccedilatildeo Serrano mostrava-se otimista quanto aos ldquoprogressos dos recursos tecnoloacutegicos

como o cinematoacutegrafo que permite ensinar pelos olhos e natildeo apenas e enfadonhamente pelos

ouvidosrdquo (SCHMIDT 2004 p197)

Venacircncio Filho (1941) faz a descriccedilatildeo de vaacuterios museus classificados como mistos de

histoacuteria e ciecircncias como o British Museum e o Louvre mas deteacutem-se na descriccedilatildeo do ldquonosso da

Quinta da Boa Vista em que se resume a natureza de uma vida da regiatildeordquo (VENAcircNCIO FILHO

1941 p128) Dando continuidade a uma tipologia dos museus Venacircncio Filho apresenta como

museu histoacuterico exemplar o Museu do Ipiranga Ao final do capiacutetulo faz consideraccedilotildees raacutepidas

sobre o Museu Goeldi no Paraacute e retoma suas observaccedilotildees sobre o Museu Nacional da Quinta da

Boa Vista e o Museu Paulista Satildeo Paulo Ao longo do capiacutetulo cita a curta existecircncia dos museus

pedagoacutegicos organizados na reforma da instruccedilatildeo puacuteblica do Rio de Janeiro de Fernando

Azevedo (1927-1930) tendo um museu central no entatildeo Distrito Federal dirigido por Everardo

Backheuser (1879-1951) do qual fala no ldquopresente do indicativordquo pois ldquocomo desapareceu

passou para o passadordquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p143)

Eacute curioso notar que Venacircncio filho natildeo descreve o projeto dos museus pedagoacutegicos nem

mesmo recomenda sua criaccedilatildeo nas salas ou escolas Os modelos de museus estatildeo nos grandes

centros como o Museu de Munich ao qual dedica duas paacuteginas para expor como satildeo os museus

teacutecnicos e sua importacircncia para a educaccedilatildeo popular Dedica tambeacutem uma descriccedilatildeo

pormenorizada do Deustches Museum apresentando as salas as divisotildees das exposiccedilotildees fiacutesica

quiacutemica tempo Cita os museus norte-americanos e avalia dois museus brasileiros o Museu

Nacional (RJ) o Museu Paulista (SP)

O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista foi para Venacircncio Filho ldquogrande centro

cientiacutefico do paiacutes do qual partiam os uacutenicos fios de ligaccedilatildeo com o mundo cultordquo Jaacute o Museu

Histoacuterico Nacional eacute exemplar antes e depois da reforma educacional

Ele eacute no resumo de seus mostruaacuterios bdquouma verdadeira miniatura da paacutetria‟ O Museu

atraveacutes de suas divisotildees teacutecnicas realiza a sua missatildeo de conservar pesquisar divulgar e

ensinar dando depois da reforma de 1931 agrave educaccedilatildeo popular uma contribuiccedilatildeo

preciosa para o estudo das ciecircncias naturais (VENAcircNCIO FILHO 1941 p143)

Ao contraacuterio dos elogios e otimismo quanto ao papel dos museus de histoacuteria natural

explicitados ao Museu Nacional e ao Museu Goeldi Venacircncio Filho faz uma criacutetica a concepccedilatildeo

105

de histoacuteria presente no Museu Histoacuterico Nacional que ldquoainda natildeo adquiriu forma definitiva que

deveria ser a de uma evocaccedilatildeo viva do passado todo do Brasil desde o periacuteodo colonial ateacute os

dias da Repuacuteblicardquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p145) Essa criacutetica fica mais evidente quando

afirma que em se tratando de museus histoacutericos o Museu Paulista eacute ldquonatildeo soacute uacutenico no paiacutes como

pode ser posto em confronto com qualquer outro congecircnere do estrangeirordquo (VENAcircNCIO

FILHO 1941 p145) A descriccedilatildeo que Venacircncio Filho faz do Museu do Ipiranga eacute carregada de

adjetivos ldquoum perfume discreto do passado nacional sem gratildeos de coisas esquecidas e

abandonadasrdquo quadros admiraacuteveis monccedilotildees Pedro Ameacuterico documentos antigos fruto das

pesquisas de Afonso Taunay estaacutetua de Bernardelli coleccedilotildees naturais Venacircncio Filho (1941

p147) termina suas consideraccedilotildees no mesmo ponto no qual iniciou exaltando a capacidade dos

museus em transformarem-se em ldquograndes escolas de educaccedilatildeo popularrdquo

Para Edgar Sussekind de Mendonccedila (1946) a chamada extensatildeo cultural eacute a relaccedilatildeo de

atividades de um museu que permitiria a comunhatildeo da vida e da aula abrangendo todos os

puacuteblicos de todas as idades (MENDONCcedilA 1946 p10) Ao longo da monografia ele vai

explicitando que o museu atua na educaccedilatildeo do povo e a extensatildeo cultural atuaria como um

ldquosistema de iniciaccedilatildeo cientiacutefica e aperfeiccediloamento sem a rigidez dos cursos universitaacuteriosrdquo

(MENDONCcedilA 1946 p 40)

Mendonccedila deixa expliacutecito em seu programa de accedilatildeo que sua grande preocupaccedilatildeo eacute com o

ensino e a ligaccedilatildeo da escola com a vida e para isso assim como Venacircncio Filho ele estaacute

preocupado com a ampliaccedilatildeo do puacuteblico natildeo especializado O museu eacute importante nessa funccedilatildeo

pois estaacute tanto no domiacutenio experimental quanto da documentaccedilatildeo objetiva Entretanto a

materialidade de suas mostras eacute para observaccedilatildeo natildeo para experimentaccedilatildeo A visualizaccedilatildeo eacute um

meacutetodo histoacuterico dos museus e pode ser utilizado no ensino tanto superior quanto na educaccedilatildeo

extra-escolar das classes proletaacuterias A questatildeo natildeo eacute a funccedilatildeo educativa dos museus mas

preparar os museus para as necessidades educativas de seu povo (MENDONCcedilA 1946 p 25)

Para Joseacute Vasconcellos (1946) a questatildeo da localizaccedilatildeo dos museus eacute colocada de modo

semelhante ldquoporque deve ir ao seu encontro o museu tem de saber onde o povo pode ser achado

com mais facilidade Este eacute o problema principal na localizaccedilatildeo dos museusrdquo

(VASCONCELLOS 1946 p99) Ou seja o problema da localizaccedilatildeo dos museus eacute saber onde

estaacute o povo ou como diria o cancioneiro popular ldquotodo artista tem de ir onde o povo estaacuterdquo

106

Mendonccedila assim como Vasconcellos e Venacircncio toma o Museu Nacional da Quinta da

Boa Vista como referecircncia para as consideraccedilotildees sobre os museus brasileiros Apoacutes criticar o

sistema universitaacuterio pelo aristocratismo das faculdades e academias ou ainda os proacuteprios museus

pelo anacronismo ao se voltarem para uma concepccedilatildeo de conservaccedilatildeo estaacutetica o autor se volta

para a defesa dos museus como ldquoestabelecimentos de educaccedilatildeo popularrdquo capazes de responder ao

problema de ldquopreparo meacutedio dos homens de formaccedilatildeo irregularrdquo A teacutecnica de museus eacute capaz de

orientar cientificamente um filme documentaacuterio sobre Canudos citado como exemplo e ao

mesmo tempo promover exposiccedilotildees especiais sobre cultura indiacutegena e cultura negra no Brasil

natildeo existentes no Museu Nacional mas que deveriam ser incluiacutedas por interessar agrave extensatildeo

cultural servindo de ldquoligaccedilotildees entre o palco das generalidades e os bastidores dos especialistas

(MENDONCcedilA 1946 p40-43)

Para Mendonccedila

o fato poreacutem eacute que os museus do Rio de Janeiro provavelmente ainda por longo tempo

funcionaratildeo apenas na imaginaccedilatildeo complementar de alguns de seus visitantes e nas

melhorias de interpretaccedilatildeo pedagoacutegica que os especialistas em colaboraccedilatildeo com os

professores vatildeo conseguindo fazer para alguns interessados e para o puacuteblico em geral

a interessar (MENDONCcedilA 1946 p53)

Se haacute por parte de Edgar Suumlssekind de Mendonccedila certo pessimismo quanto agraves

possibilidades de mudanccedilas na organizaccedilatildeo dos museus descritas por estes mesmos especialistas

da eacutepoca ndash arrumaccedilatildeo iluminaccedilatildeo etiquetas cataacutelogos e exposiccedilotildees ndash ele eacute otimista quanto agraves

atividades de extensatildeo que natildeo dependeriam de recursos diretos de pesquisa e preservaccedilatildeo

propaganda em diversos meios como raacutedio formaccedilatildeo de funcionaacuterios especializados em orientar

visitas palestras conferecircncias guias impressos projeccedilotildees de cinema coleccedilotildees e exposiccedilotildees

escolares Enfim a articulaccedilatildeo e accedilatildeo externas capazes de integrar os museus agrave sua finalidade

democraacutetica

Para explicitar a opiniatildeo de Mendonccedila sobre os museus tradicionais e suas praacuteticas de

exposiccedilatildeo cito dois exemplos a exposiccedilatildeo sobre o centenaacuterio de Joseacute Bonifaacutecio no Museu

Nacional e suas criacuteticas agrave concepccedilatildeo de museu do proacuteprio Museu Histoacuterico Nacional Mendonccedila

natildeo tem nenhuma simpatia pelas comemoraccedilotildees ciacutevicas marcadas por exposiccedilotildees especiais em

museus Ele critica a exposiccedilatildeo de comemoraccedilatildeo ao Centenaacuterio de Joseacute Bonifaacutecio realizada pelo

Museu Nacional que legitimada por significado cultural natildeo se justificava como ldquoexposiccedilatildeo

107

especialrdquo Diz o autor ldquoalmejariacuteamos que fosse acompanhado de outras frequentes ditadas natildeo

soacute pela solenidade de datas centenaacuterias mas pelas diuturnas exigecircncias de movimentaccedilatildeo das

coleccedilotildees para maior uso e benefiacutecio puacuteblicosrdquo (MENDONCcedilA 1946 p43)

O Museu Histoacuterico Nacional jaacute criticado por Venacircncio Filho (1941 p145) tambeacutem

recebe as criacuteticas de Mendonccedila

Quanto ao Museu Histoacuterico Nacional instituiacutedo eacute oacutebvio para se relacionar com o patrimocircnio integral da nossa Histoacuteria- a julgar pela dosagem e patenteando na sua

propensatildeo para o raro e o custoso em preciosismo que contraria o princiacutepio de

preferecircncia pelo caracteriacutestico isto eacute pelo mais frequumlente em cada eacutepoca consoante a

boa norma museoloacutegica (MENDONCcedilA 1946 p49)

O Museu Imperial receacutem criado recebe os votos de que possa aliviar-se dos encargos

aristocraacuteticos do Museu Histoacuterico Nacional e trabalhe de forma equitativa o patrimocircnio histoacuterico

do paiacutes (MENDONCcedilA 1946 p49)

Nesta bibliografia dos anos de 1920-1930 se elabora nos discursos educacionais no Brasil

a preocupaccedilatildeo com materiais e meacutetodos que garantissem a ldquoconstruccedilatildeo experimental do

conhecimento pelo estudanterdquo (VIDAL 2000 p498) e os museus satildeo entendidos como parte

importante dos ldquorecursos pedagoacutegicosrdquo disponiacuteveis agrave educaccedilatildeo

Jaacute nos anos de 1950 dois movimentos se encontram um vindo das discussotildees sobre a

escola feita pelos ldquoescolanovistasrdquo nos anos de 1920-1930 e outro que defendia a ampliaccedilatildeo dos

museus numa nova rede que incluiacutea os museus histoacutericos e pedagoacutegicos locais e a criaccedilatildeo de

novos museus pelo poder puacuteblico federal e estadual

A partir dos anos de 1930 se instaura uma polecircmica sobre a relaccedilatildeo escolas-museus que

tem de um lado a defesa dos museus como oacutergatildeos de documentaccedilatildeo com um caraacuteter

conservador no sentido de ser voltado a preservar as tradiccedilotildees (TRIGUEIROS 1956) e de outro

lado o entendimento que os museus satildeo instrumentos de educaccedilatildeo tal como defendia Viniacutecio

Stein Campos (1970) com a criaccedilatildeo dos museus histoacutericos e pedagoacutegicos

A ldquofunccedilatildeo educativardquo dos museus se estabelece nesse sentido entre os extremos da

funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo O sentido mais geral das reflexotildees sobre nesse capiacutetulo

sobre movimentos de formaccedilatildeo do puacuteblico nos museus na Europa e Brasil ao longo dos seacuteculos

XIX e XX eacute estabelecer ligaccedilotildees entre os que visitam contemporaneamente os museus e um

sentido de permanecircncia na ldquoformardquo museu Natildeo haacute uma via de matildeo uacutenica que vai dos museus aos

108

visitantes Assim como os visitantes elaboram suas demandas de formaccedilatildeo frente aos acervos e

exposiccedilotildees as instituiccedilotildees e poliacuteticas oficiais de preservaccedilatildeo e memoacuteria tambeacutem promovem

quadros culturais que se completam e se remontam com os museus e suas exposiccedilotildees

A pesquisa sobre o movimento de formaccedilatildeo do puacuteblico e sobre as funccedilotildees educativas dos

museus leva a pensar que a visita ao museu natildeo eacute o lugar da ldquorecepccedilatildeordquo de praacuteticas museoloacutegicas

e nem educativas O visitante se coloca em tracircnsito entre o mundo dos museus e outros mundos

como o das ldquoescolasrdquo e a visita realiza-se como um ldquocircuitordquo Os visitantes falam de suas

experiecircncias de visita como viagens intercalando dinacircmicas socioculturais de formaccedilatildeo docente

e de formaccedilatildeo histoacuterica

109

CAPIacuteTULO IV - Visitantes entre narrativas e objetos museais

41 - Visita ao Museu do Escravo ndash Belo Vale Minas Gerais

A visita ao Museu do Escravo natildeo foi um evento isolado para os alunos e nem para a

instituiccedilatildeo formadora Desde o ano de 2000 o Museu do Escravo vinha sendo visitado como parte

das atividades acadecircmicas desenvolvidas por professores e estudantes do curso de licenciatura em

Histoacuteria Nesta ocasiatildeo um total de 21 estudantes60

foi ao Museu a Fazenda Boa Esperanccedila e a

comunidade quilombola da Boa Morte em Belo Vale

Algumas potencialidades do Museu do Escravo jaacute haviam sido levantadas em visitas

anteriores e o trabalho de campo tinha por objetivo articular a narrativa do proacuteprio museu o

discurso dos especialistas em museologia e dos historiadores da escravidatildeo A visita seguiu uma

rotina que envolveu pedido de autorizaccedilatildeo para acesso agrave Fazenda Boa Esperanccedila contatos com a

prefeitura local para agendamento no Museu apresentaccedilatildeo em sala de aula de um histoacuterico da

cidade seus pontos turiacutesticos e atividades culturais (cd-room recortes de jornais e textos projeto

de revitalizaccedilatildeo do Museu do Escravo e outros) elaboraccedilatildeo de um roteiro da visita com horaacuterios

e recomendaccedilotildees sobre formas de registro durante o trabalho Vale destacar que esse natildeo era o

primeiro trabalho dessa natureza realizado pela turma que jaacute havia visitado o Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto e outras instituiccedilotildees como o Arquivo da Cidade de Belo Horizonte

O trabalho em Belo Vale teve dois objetivos Primeiro relacionar as visotildees

historiograacuteficas acerca da escravidatildeo colonial discutidas em sala de aula com os acervos

existentes nos locais visitados Segundo discutir a importacircncia da memoacuteria e do patrimocircnio

histoacuterico ao visitar o Museu do Escravo e o conjunto arquitetocircnico da Fazenda Boa Esperanccedila61

60 Visita vinculada agrave disciplina Histoacuteria do Brasil a Ameacuterica Portuguesa 4ordm periacuteodo

61 Belo Vale estaacute localizada na Zona Metaluacutergica de Minas Gerais Distacircncias Moeda - 13 km Congonhas - 42 km

Itabirito - 66 km Ouro Preto - 80 km Belo Horizonte - 86 km e 126 km de Pedro Leopoldo

110

Figura 20 Mapa ilustrativo de Minas Gerais e localizaccedilatildeo da cidade

de Belo Vale

Apoacutes a visita os estudantes elaboraram um relatoacuterio individual contendo suas impressotildees

e tendo como referecircncia os objetivos propostos no roteiro inicial Houve discussotildees em sala de

aula sobre aspectos observados Demais materiais como fotografias folders entrevistas e outros

recolhidos ou produzidos durante a visita tambeacutem foram apresentados Por fim a turma elaborou

uma narrativa siacutentese do trabalho que foi apresentado novamente e arquivado na Faculdade Eacute

este relatoacuterio-siacutentese que serve como paracircmetro para a anaacutelise da visita Utilizo como contraponto

o projeto de Revitalizaccedilatildeo do Museu do Escravo elaborado pela Superintendecircncia de Museus de

MG e materiais produzidos para divulgaccedilatildeo do museu jaacute que natildeo haacute nenhum cataacutelogo ou mesmo

inventaacuterio do acervo de objetos do Museu do Escravo

As fotografias selecionadas e apresentadas a seguir apontam o deslocamento realizado

pelos visitantes ateacute a chegada ao Museu onde reinstalam o lugar do visitante na cultura museal e

a escrita da histoacuteria nos museus

111

Saiacuteda de Pedro Leopoldo-MG Atravessam a Serra do Curral

Depois de Belo Horizonte comeccedila a descida Rios estradas e pontes Chegada a Belo Vale

A Igreja estaacute fechada O Museu do Escravo fica ao lado Foto na entrada

Figura 21 Turma 2006 visita o Museu do Escravo Coleccedilatildeo dos

visitantes

112

Apontar em que medida o Museu do Escravo contribuiu para que esses estudantes de

licenciatura em Histoacuteria elaborassem uma narrativa sobre a escravidatildeo articulando as linguagens

historiograacuteficas e museoloacutegicas implicou em mapear duas dimensotildees nas quais o tema da

escravidatildeo se apresentou durante a visita A primeira eacute a narrativa museograacutefica do museu

constituiacuteda por suas exposiccedilotildees A segunda eacute uma meta-narrativa do que deveria ser o Museu do

Escravo a partir de um projeto de revitalizaccedilatildeo A questatildeo central eacute investigar ateacute que ponto as

narrativas museoloacutegicas sejam elas ldquonovasrdquo ou ldquotradicionaisrdquo podem interferir na percepccedilatildeo que

os visitantes tecircm acerca da histoacuteria

Antes da visita os estudantes foram apresentados a um material visual sobre Belo Vale

produzido e distribuiacutedo por uma empresa de informaacutetica que atua na regiatildeo e que traz fotografias

e textos sobre o Museu do Escravo62

Neste material o Museu eacute apresentado como instituiccedilatildeo

uacutenica no paiacutes se constitui num dos mais importantes e completos acervos culturais com peccedilas

referentes agrave escravatura

Uma das estudantes apoacutes a visita registra opiniatildeo semelhante o Museu do Escravo da

Fazenda Boa Esperanccedila eacute o uacutenico museu dedicado exclusivamente ao escravo no Brasil onde

conta com um acervo com uma meacutedia de 4500 peccedilas (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de

trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Aparentemente a estudante atribui um sentido indevido agrave localizaccedilatildeo do Museu O Museu

do Escravo natildeo eacute da Fazenda Boa Esperanccedila A informaccedilatildeo correta sobre a localizaccedilatildeo do Museu

jaacute constava do material apresentado agrave turma antes da visita O acervo do Museu era apresentado

como privilegiado O material trazia tambeacutem dados sobre a trajetoacuteria da constituiccedilatildeo desse

acervo Reunido pelo padre Penido de famiacutelia natural da cidade inicialmente em Congonhas do

Campo foi transferido em 1977 para a Fazenda Boa Esperanccedila e municipalizado em 1988 no

centenaacuterio da aboliccedilatildeo com novo preacutedio no centro da cidade

Eacute possiacutevel supor que o desvio da visitante seja tambeacutem um ruiacutedo quanto agrave origem do

acervo e natildeo apenas da localizaccedilatildeo do Museu Quando visitamos a Fazenda Boa Esperanccedila e laacute

natildeo encontramos uma ldquosenzalardquo ou qualquer objeto relativo agrave escravidatildeo abriu-se uma duacutevida

62 Esse material foi adquirido no Museu do Escravo em Belo Vale Foi elaborado por empresa de consultoria

wwwdejorecombr

113

Onde estariam esses objetos Eacute liacutecito supor que foram transferidos para o Museu no Escravo O

que natildeo eacute correto jaacute que o acervo natildeo veio da fazenda

A indefiniccedilatildeo quanto agrave origem do acervo e a natildeo catalogaccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos objetos

em exposiccedilatildeo alimenta essa confusatildeo O Museu do Escravo se apresenta como um lugar de

guarda de objetos do passado Entretanto natildeo eacute possiacutevel acessar o acontecido Houve uma perda

irreparaacutevel pela accedilatildeo do tempo e mesmo que o museu se coloque como aquele capaz de reparar o

ldquosentimento de perdardquo fabricando objetos e cenas para dar visibilidade agravequilo que julga ser

pertinente aos habitantes da cidade e aos visitantes continua existindo obstaacuteculos agrave transparecircncia

pretendida pelas exposiccedilotildees museais

42 - O escravo e o museu

As exposiccedilotildees do Museu estatildeo dispostas pelos seis salotildees do Pavilhatildeo 1 um paacutetio interno

onde foi construiacuteda uma espeacutecie de senzala tambeacutem destinada agrave exibiccedilatildeo de acervo (pavilhatildeo

aos fundos) onde destacam-se cenaacuterios museograacuteficos (Figuras 22 e 23)

Figura 22 Pavilhatildeo 1 Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale

MG Fonte httpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtm

Neste cenaacuterio expositivo convivem diferentes objetos instrumentos de castigo coacutepias de

documentos iconograacuteficos objetos de arte afro-brasileira objetos de uso pessoal e salas com

114

utensiacutelios domeacutesticos como louccedilas e armas e arte sacra originaacuteria da Igreja Matriz que estaacute

localizada ao lado do Museu e que foi transferido ao museu por medida de seguranccedila possiacutevel

O pavilhatildeo dos fundos exibe aleacutem de montagens museograacuteficas como de um escravo

sendo castigado em pelourinho indumentaacuteria moradia e utensiacutelios usados na produccedilatildeo do filme

Zumbi - Quilombo dos Palmares doados pelo cineasta Cacaacute Diegues e um tuacutemulo de escravo

desconhecido

Figura 23 Pavilhatildeo 2 (fundos) Planta Baixa do Museu do Escravo

Belo Vale MG Fonte Disponiacutevel em

lthttpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtmgt Acesso

em 2011

Projetos de revitalizaccedilatildeo63

do Museu do Escravo foram elaborados para redefinir a

conceituaccedilatildeo museoloacutegica e reformulaccedilatildeo dos moacutedulos da exposiccedilatildeo A principal criacutetica dos

especialistas eacute que se estava diante de ldquoum colecionismo assistemaacutetico sem propoacutesitos cientiacuteficos

ou educativosrdquo ou ldquomostruaacuterio de antiguidades e de objetos raros (JULIAtildeO sd) Contudo em

visita realizada em 2010 as exposiccedilotildees ainda permaneciam com a mesma organizaccedilatildeo

encontrada nas visitas anteriores Em 2006 quando da visita com os estudantes da turma do 4ordm

63 Projeto de reformulaccedilatildeo do Museu do Escravo Secretaria de Estado de Cultura-MG Superintendecircncia de Museus

Letiacutecia Juliatildeo in wwwdejorecombrmuseudoescravom_historiahtm

115

periacuteodo foi possiacutevel confrontar as visotildees historiograacuteficas tambeacutem conflitantes entre si de modo a

elaborar no diaacutelogo com o museu uma narrativa acerca do tema escravismo colonial

43- Uma nova museografia para o Museu do Escravo

Enquanto o Museu se apresenta aos visitantes como o uacutenico no gecircnero em todo o Brasil64

reconstituindo cenaacuterios como senzala pelourinho e tuacutemulo de escravo desconhecido se sobrepotildee

outro discurso museoloacutegico na forma de um projeto de revitalizaccedilatildeo Nesse projeto65

o Museu do

Escravo eacute apresentado como

mostruaacuterio de antiguidades e de objetos raros no qual os objetos se justapotildeem em

arranjos inusitados e sem criteacuterios Desprovido de qualquer conceituaccedilatildeo o caraacuteter

meramente acumulativo do seu acervo parece atender aos anseios de musealizaccedilatildeo de

uma comunidade ciente de seu passado mas pouco instrumentalizada para a preservaccedilatildeo

de seu patrimocircnio Egrave possiacutevel dizer que o Museu do Escravo transita entre um gabinete

de curiosidade que busca dar mostras dos mais diferentes vestiacutegios do passado

abarcando de achados arqueoloacutegicos a exemplares de maacutequinas do seacuteculo XX sem

qualquer abordagem que permita estabelecer nexos entre os mesmos e a praacutetica

museograacutefica comum em museus americanos de simulaccedilotildees de realidades e contextos a exemplo da arquitetura colonial do preacutedio que o sedia da construccedilatildeo da senzala e do

escravo no pelourinho66

(JULIAtildeO sd)

Quanto agrave linguagem museoloacutegica o documento elaborado pela historiadora Letiacutecia Juliatildeo

eacute taxativo

Embora o imponente casaratildeo encontre-se fisicamente preservado natildeo foi adotado

qualquer recurso comunicativo com o intuito de oferecer informaccedilotildees sobre o conjunto

tombado de modo a promover uma mediaccedilatildeo miacutenima entre o puacuteblico e aquele bem

cultural (JULIAtildeO sd)

A proposta apresentada pela Superintendecircncia de Museus da Secretaria Estadual de

Cultura de MG em parceria com associaccedilotildees locais e oacutergatildeos puacuteblicos eacute uma completa

reformulaccedilatildeo do discurso museoloacutegico do Museu do Escravo O acervo disponiacutevel seraacute

reorganizado em sete moacutedulos temaacuteticos 1) Trabalho escravo e sociedade escravista

64 Site do Museu em wwwdejorecombrbelovaleturismo_museuhtm 65 O Projeto natildeo foi executado A exposiccedilatildeo do Museu do Escravo continua ateacute a presente data com a mesma

arrumaccedilatildeo descrita pelos estudantes na visita em 2006 66 Projeto de reformulaccedilatildeo do Museu do Escravo Secretaria de Estado de Cultura-MG Superintendecircncia de

Museus Letiacutecia Juliatildeo in wwwdejorecombrmuseudoescravom_historiahtm

116

(instrumentos de trabalho) 2) Cotidiano escravo (vestuaacuterio alimentaccedilatildeo moradia procedecircncia

dos escravos) 3) Relaccedilotildees de poder e dominaccedilatildeo (castigo e estrateacutegias de persuasatildeo) 4) Formas

de resistecircncia escrava (quilombos revoltas violecircncia cotidiana) 5) Religiosidade (diferentes

manifestaccedilotildees) 6) Imagens do negro e da escravidatildeo (preconceito estereoacutetipos mesticcedilagem) e

7) Cultura afro-brasileira

Figura 24 AMORIM Frederico Levi Tuacutemulo do escravo

desconhecido Museu do Escravo Belo Vale 2006

Aleacutem dos moacutedulos que indicam a necessidade de uma ldquoabordagem mais completa das

relaccedilotildees de poder na sociedade escravistardquo o ldquonovordquo discurso museoloacutegico propotildee retirar um

grande volume de objetos do acervo em exposiccedilatildeo permanente e montar pequenas exposiccedilotildees

temporaacuterias temaacuteticas Outra medida eacute destinar uma das alas da ldquosenzalardquo agrave reserva teacutecnica Por

fim eacute recomendado avaliar as ldquomontagens museograacuteficasrdquo como a moradia escrava o escravo no

pelourinho e o tuacutemulo do escravo desconhecido e se mantidas informar ao puacuteblico seu caraacuteter de

ldquosimulaccedilatildeordquo A preocupaccedilatildeo com os tempos histoacutericos tambeacutem eacute explicita quanto se trata do

117

proacuteprio preacutedio Eacute preciso informar que a sede eacute recente para evitar equiacutevocos quanto a sua

ldquoautenticidaderdquo

44- As narrativas dos visitantes escravidatildeo e eurocentrismo

Frente a essas duas narrativas como se comportam os visitantes Quais aspectos foram

aceitos e quais foram refutados pelos estudantes a partir das narrativas museoloacutegicas do museu e

da revitalizaccedilatildeo Como interpelam e satildeo interpelados pelos objetos museograacuteficos Como

relacionam a cultura material com narrativas historiograacuteficas Como modificam suas concepccedilotildees

a partir do contato com a linguagem museoloacutegica Como os visitantes elaboram uma narrativa

sobre a histoacuteria e a escravidatildeo tomando como referecircncia o Museu do Escravo Interessa tambeacutem

perceber como o Museu compreende o seu proacuteprio acervo e como faz uso dele O acervo se

constitui em prova documental ou eacute elaborado em funccedilatildeo da loacutegica museograacutefica

Destaco a seguir algumas impressotildees dos visitantes sobre o Museu do Escravo Para

Weberton Fernandes da Costa

O Museu do Escravo utiliza como metodologia de organizaccedilatildeo uma ideacuteia marxista de

ver a histoacuteria procurando enfatizar quase que exclusivamente a luta de classe ocorrida

entre senhores e escravos ateacute a aboliccedilatildeo da escravatura assinada pela princesa Isabel durante o reinado de DPedro II colocando o negro como viacutetima e com um pobre

coitado Tudo bem que o regime escravocrata implantado pelos portugueses no Brasil

seguido pelos Senhores de Engenho do accediluacutecar e posteriormente pelos Barotildees do Cafeacute foi

abominaacutevel terriacutevel cruel e jamais esquecido pela humanidade No entanto colocaacute-los

somente em tal posiccedilatildeo exposta pelo museu soacute contribui para a proliferaccedilatildeo do racismo

visto que tal abordagem coloca o negro como um ser inferior e sem cultura natildeo produzia

nada e soacute apanhava (Weberton Fernandes da Costa Relatoacuterio Trabalho de Campo Belo

Vale 2006)

O estudante faz uma leitura dos objetos e identifica um criteacuterio de organizaccedilatildeo

cronoloacutegico em meio ao que parece aos teacutecnicos da Superintendecircncia de Museus como ldquoarranjos

inusitados e sem criteacuteriosrdquo Ele estabelece uma linha temporal (imaginaacuteria) que liga os objetos

ldquoacumulados para atender aos anseios de musealizaccedilatildeo da comunidaderdquo Ao que aparece como

ldquosem qualquer conceituaccedilatildeordquo ao discurso museoloacutegico percebe-se uma poderosa forma de

explicaccedilatildeo da sociedade a teoria marxista Vejamos o que ele chama de marxismo Haacute uma

ecircnfase na luta de classes O lado da dominaccedilatildeoexploraccedilatildeo certamente se impotildee e o

dominadoexplorado eacute vencido A batalha vista de hoje transforma o vencido em viacutetima em

118

coitado Uma exposiccedilatildeo sobre os escravos organizada sob o eixo da dominaccedilatildeo X resistecircncia faz

uma abordagem da inferioridade do negro na sociedade escravista Nosso aluno faz a criacutetica

historiograacutefica da exposiccedilatildeo e talvez fizesse o mesmo com uma nova organizaccedilatildeo do acervo Ele

natildeo vecirc apenas um ldquogabinete de curiosidades do seacuteculo XIX ele vecirc uma visatildeo de mundo que

permeia de sentido os ldquoanseios de musealizaccedilatildeo da comunidaderdquo Ainda que os objetos se

apresentem de maneira bastante caoacutetica os estudantes caccedilam em meio ao palheiro e fazem

reflexotildees atribuindo outros sentidos e interrogando os indiacutecios para construir uma narrativa

imaginar uma histoacuteria Warleson de Melo Simpliacutecio afirma

O que mais me chamou a atenccedilatildeo foram os objetos que eram utilizados como forma de

puniccedilatildeo dos escravos Todos os objetos vistos representavam ali todo o sofrimento que

os escravos passaram Dentre esses objetos havia um que parecia um sapato de ferro

nele havia um espeto que causaria dor no peacute do escravo que tentasse fugir pois este

espeto furaria o peacute do escravo se ele corresse Havia outros objetos tambeacutem que tinha a

mesma funccedilatildeo como por exemplo um outro modelo de sapato com um guizo que faria

barulho quando o escravo andasse impedindo assim sua fuga (Warleson de Melo

Simpliacutecio Relatoacuterio trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Figura 25 AMORIM Frederico Fotografias do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

Diferentemente do visitante anterior que leu apenas a dominaccedilatildeo aqui os ldquoinstrumentos

de torturardquo natildeo remetem agrave submissatildeo mas agrave revolta agrave fuga agrave resistecircncia Os vestiacutegios da

119

dominaccedilatildeo falam da resistecircncia Natildeo seriam tantos e tatildeo variados os objetos de castigo se natildeo

houvesse tantas fugas Os escravos natildeo parecem coitados O estudante toma para si a funccedilatildeo de

representaccedilatildeo dos objetos e reencena os gestos contidos na profusatildeo de elementos espalhados

pelos salotildees da exposiccedilatildeo Natildeo eacute necessaacuterio que sejam reorganizados para que falem de maneira

diferente

Outra discussatildeo apresentada eacute sobre a ldquosimulaccedilatildeo de realidades e contextosrdquo Diversos

alunos destacam as reacuteplicas externas como aquelas que mais lhes chamaram a atenccedilatildeo e

justificam suas escolhas Priscila Oliveira dos Santos aponta que

Na parte externa do museu existe uma reacuteplica do corpo de um negro escravo junto ao

tronco onde simula a forma em que os escravos eram maltratados Isto acontecia

principalmente aos domingos que era dia de missas e era dia de folga dos escravos o

que garantiria um puacuteblico maior que os demais dias (Priscila Oliveira dos Santos

Relatoacuterio trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Mayara Luiz Gurgel de Abreu completa ldquoo que mais me impressionou no museu foi a

reacuteplica em tamanho real de um escravo no tronco que apesar de triste impressiona por ser rica

em detalhes e parecer ser realrdquo

Figura 26 AMORIM Frederico Levi Fotografias do paacutetio interno

do Museu do Escravo 2006

Diversas fotografias destacam o pelourinho e a senzala Ainda que natildeo haja maiores

indicaccedilotildees e explicaccedilotildees acerca do cenaacuterio natildeo haacute duacutevidas acerca da montagem da simulaccedilatildeo O

discurso do proacuteprio Museu parece direto nesse caso A comunicaccedilatildeo se faz ruiacutedos quanto agrave

120

ldquoautencidaderdquo da cena satildeo recursos de presentificaccedilatildeo claramente entendidos pelos diferentes

alunos Mas nada tatildeo divertido quando brincar no cenaacuterio de Cacaacute Diegues Pode-se ateacute tirar mais

fotografias da turma

Figura 27 ARAUacuteJO Sueli de Azevedo A turma no cenaacuterio do Cacaacute

Diegues Museu do Escravo 2006

Os estudantes problematizaram os conteuacutedos apresentados pela exposiccedilatildeo do museu

construiacuteram argumentos e procedimentos de interpretaccedilatildeo histoacuterica comprometida com uma

dimensatildeo sensiacutevel e coletiva no presente

Eacute possiacutevel pensar nas fotografias produzidas pelos visitantes de museus como as

apresentadas acima no sentido de Milton Guran (1997) em seu ensaio Fotografar para

descobrir fotografar para contar O corpus fotograacutefico constituiacutedo na pesquisa antropoloacutegica eacute

entendido por Guran como uma sobreposiccedilatildeo de imagens produzidas a partir de imagens

anteriores A anaacutelise destas imagens deve levar em conta o momento da produccedilatildeo e a

especificidade de cada fotografia

Diferentes das fotografias feitas pelo proacuteprio pesquisador ou pelo proacuteprio museu as

fotografias feitas pelos visitantes e assumidas por eles encontram-se impregnadas pelo imaginaacuterio

do proacuteprio grupo ou alguns de seus membros por consequumlecircncia expressa de alguma maneira a

ldquoidentidaderdquo do grupo em questatildeo Enquanto o museu procura uma representaccedilatildeo ldquooriginalrdquo um

espelhamento do que ele possui em seu acervo o visitante coloca-se no jogo da auto-

representaccedilatildeo e transfere para si o poder de espelhamento O visitante compartilha a presenccedila de

um signo e coloca frente ao sentido jaacute traccedilado pelo museu outro rumo uma multiplicaccedilatildeo de

121

conexotildees trajetoacuterias O visitante confere ao sentido imobilizado pelo museu um colorido uma

disposiccedilatildeo para novas referecircncias culturais e dimensotildees poliacuteticas natildeo contidas na matriz

referencial oferecida pelos museus

Cada fotografia oferece os procedimentos de apropriaccedilatildeo do visitante seus gostos uma

esteacutetica uma sensualidade um sentido de presenccedila dos corpos (pessoas ou natildeo) Guran (1997)

aponta que a relaccedilatildeo da fotografia com o imaginaacuterio vai da identidade ndash campo da imaginaccedilatildeo ndash

para a alteridade ndash o lugar dos outros na imaginaccedilatildeo partilhada que o constitui socialmente

No Museu do Escravo estaacute presente a dubiedade do processo de patrimonializaccedilatildeo ou

seja de transformar determinados objetos da cultura material em patrimocircnio histoacuterico O acervo

do Museu do Escravo eacute constituiacutedo pelo colecionismo de um grupo local de objetos ligados

diretamente agrave escravidatildeo e ao trabalho escravo na regiatildeo de Belo Vale Em exposiccedilatildeo no Museu

esses objetos recebem outro tratamento e satildeo articulados num novo espaccedilo de exibiccedilatildeo que inclui

a construccedilatildeo de um local proacuteprio para o circuito e criaccedilatildeo de novos cenaacuterios O uso que os

visitantes fazem dessa exposiccedilatildeo do museu cria novos sentidos para essa memoacuteria histoacuterica Um

desses usos eacute reinscrever esses elementos de uma memoacuteria da escravidatildeo em uma cultura afro-

brasileira contemporacircnea Cria-se assim um circuito no qual as visitas e os visitantes satildeo parte

dos rituais e discursos narrativos do museu e ampliam suas sensibilidades ao mesmo tempo em

que reconhecem no museu um papel formador

122

CAPIacuteTULO V - Entre a poliacutetica e a poeacutetica dos museus e exposiccedilotildees

51 - O Museu Histoacuterico Nacional habitaccedilotildees do patrimocircnio

O Museu Histoacuterico Nacional pode ser considerado como herdeiro de uma tradiccedilatildeo

enciclopeacutedica de museus que desenvolve uma perspectiva de conservaccedilatildeo dos objetos no tempo

No museu ldquohistoacutericordquo o objeto eacute apresentado como um documento seja no cataacutelogo ou nas

exposiccedilotildees ldquoaquele que representa simbolicamente e materialmente a histoacuteriardquo (OLIVEIRA

1998 p68)

Vinculado a um paradigma de preservaccedilatildeo existente desde seacuteculo XV cujo conceito de

uso estaacute relacionado agrave ideia de destruiccedilatildeo o museu funciona como aquela instituiccedilatildeo que defende

o objeto da perda do desgaste e do uso cotidiano Natildeo se admite portanto um uso cultural dos

objetos fora da proteccedilatildeo do museu De um modo geral a relaccedilatildeo do puacuteblico com esse tipo de

museu eacute marcada por essa ambiguumlidade do discurso da conservaccedilatildeo e do patrimocircnio O museu

condena o consumo cultural mas ao mesmo tempo utiliza o status de histoacuterico e de patrimocircnio

como parte de uma induacutestria patrimonial de reapropriaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de determinados

elementos histoacutericos e esteacuteticos (CHOAY 2006 p223)

A atual diretora do Museu Histoacuterico Nacional Vera Luacutecia Bottrel Tostes define a proacutepria

instituiccedilatildeo por era dirigida como uma ldquoinstituiccedilatildeo de memoacuteriardquo aquelas que lutam na linha de

frente contra o esquecimento

Museu Histoacuterico Nacional natildeo poderia omitir-se de participar intensamente das

comemoraccedilotildees dos 200 anos da transferecircncia da corte portuguesa para o Brasil

articulando e organizando eventos que visam natildeo apenas celebrar a efemeacuteride mas

trazer agrave luz novas pesquisas sobre singular momento da histoacuteria do Brasil e de Portugal

(TOSTES 2008)

O preacutedio do Museu Histoacuterico Nacional eacute apresentado por sua diretora como anterior agrave

chegada da corte e portanto um lugar adequado ao conhecimento do ldquocontexto histoacutericordquo que

cercou a vinda de D Joatildeo VI e a realizaccedilatildeo de um ldquomemoraacutevel evento histoacuterico-culturalrdquo que

ldquotorna viva a memoacuteria histoacutericardquo (TOSTES 2008)

O Museu Histoacuterico Nacional em suas atuais exposiccedilotildees ainda preserva uma loacutegica

instituiacuteda desde a exposiccedilatildeo de Gustavo Barroso a busca da ldquoautenticidaderdquo em vestiacutegios

123

materiais e um caraacuteter de ldquoverdade comprovadardquo agrave histoacuteria que busca narrar Ou seja na

exposiccedilatildeo apresentada o museu convida os visitantes a natildeo romperem com uma visatildeo de museu-

memoacuteria que considera os objetos como fonte de culto e certificaccedilatildeo da histoacuteria (SANTOS 2006

p50)

A imagem de Dom Joatildeo VI evocada na exposiccedilatildeo sobre a vinda da famiacutelia real ressalta a

personalidade do governante em tom quase pessoal o ldquonosso comum priacutencipe regenterdquo e o

acontecimento ndash a vinda da famiacutelia real ndash tecircm uma dupla face que precisa ser igualmente

contemplada os interesses do Brasil e de Portugal A celebraccedilatildeo eacute justamente deste caraacuteter

insoacutelito do acontecimento As comemoraccedilotildees satildeo segundo o cataacutelogo realizadas no Brasil e em

Portugal

Figura 28 CARDINI Joatildeo fl 1804-1825D Joatildeo Priacutencipe do Brazil

regente de Portugal Gravura buril e aacutegua-forte pampb 96x6 cm 1807

Cataacutelogo da exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio - A

Corte Portuguesa no Brasil2008 p18

A gravura de Joatildeo Cardini datada de 1807 traz a inversatildeo da figura de Dom Joatildeo VI

priacutencipe do Brasil e regente de Portugal A pergunta a ser feita diante dessa nova imagem poliacutetica

124

do monarca seria se Portugal teria apoacutes 200 anos algo a comemorar em relaccedilatildeo a esse episoacutedio

de sua histoacuteria poliacutetica

O reconhecimento pelo visitante desse gecircnero de museu como habitaccedilatildeo do patrimocircnio eacute

quase imediata Ainda do lado de fora do preacutedio o visitante legitima o museu como patrimocircnio

A estudante Marly Marques Rodrigues diz em seu relatoacuterio de vista ldquoO preacutedio do Museu

Histoacuterico Nacional eacute considerado um dos mais importantes de seu acervo Remonta ao periacuteodo

em que o Brasil era colocircnia de Portugal e os franceses ainda disputavam com os portugueses a

posse da Baia da Guanabara []rdquo Outra visitante apropriando-se de um trecho de um folheto de

divulgaccedilatildeo do museu destaca as concepccedilotildees da instituiccedilatildeo e suas funccedilotildees no momento da visita

Ao trabalhar com as noccedilotildees de memoacuteria histoacuteria e patrimocircnio cultural de forma luacutedica e

educativa o MHN acredita fazer com que o puacuteblico perceba a importacircncia e o papel dos

museus estreitando assim os laccedilos de identidade e afetividade com as instituiccedilotildees

tornando sua presenccedila mais frequumlente e espontacircnea estimulando entre amigos e

familiares a disseminaccedilatildeo dos museus como agentes de mudanccedila e desenvolvimento

(Michelle Oliveira Xavier Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade

Pedro Leopoldo 2008)

A visitante refere-se a uma meta-linguagem do museu Um discurso luacutedico e educativo

sobre a histoacuteria que justificaria as funccedilotildees museais frente a outras instituiccedilotildees de memoacuteria e

patrimocircnio cultural O museu tenta encantar cada visitante para que haja ressonacircncia67

ou seja

para que o poder do objeto exibido alcance um mundo maior e aleacutem de seus limites formais e seja

capaz de evocar em quem os vecirc as forccedilas culturais complexas e as dinacircmicas das quais emergiu

Em seus materiais de divulgaccedilatildeo o Museu Histoacuterico Nacional eacute apresentado como ldquoum

dos mais importantes museus do Brasil com um acervo de milhares de itensrdquo Ligado ao

Ministeacuterio da Cultura atraveacutes do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional conta com a museoacuteloga Vera Luacutecia Bottrel Tostes na

direccedilatildeo desde 1994

A ideia de preservaccedilatildeo do patrimocircnio nacional estaacute presente no Museu Histoacuterico Nacional

desde sua fundaccedilatildeo em 1922 A museoacuteloga Vacircnia Oliveira (1998) investiga como o conceito de

museu se modifica internamente na proacutepria documentaccedilatildeo e literatura produzida pelo proacuteprio

museu nacional ao longo de sua existecircncia Primeiro como instituiccedilatildeo de guarda das reliacutequias do

67 Gonccedilalves (2005 p15-36) trabalha com essa dimensatildeo da ressonacircncia para entender os objetos culturais e as

estrateacutegias de autenticaccedilatildeo dos objetos

125

passado nacional cultivando os grandes feitos dos heroacuteis nacionais defendida por Gustavo

Barroso ateacute sua morte em 1959 Na deacutecada seguinte a visatildeo de Gustavo Barroso co ntinua sendo

aceita na praacutetica do Museu Nacional o local continua a abrigar objetos ligados aos grandes vultos

da histoacuteria Entre 1979-1992 data limite do estudo da pesquisadora as ideias de museu na

documentaccedilatildeo e no discurso literaacuterio satildeo variadas Uma das referecircncias eacute o movimento da Nova

Museologia que chega ao puacuteblico pela Mesa-Redonda de Santiago organizada pelo ICOM e

referendada em 1984 pela Declaraccedilatildeo do Canadaacute mas que natildeo eacute aceita por todo o campo museal

No Museu Histoacuterico Nacional efetiva-se o peso da tradiccedilatildeo histoacuterica Os objetos tecircm valor

histoacuterico por terem interesse para uma histoacuteria nacional e sua aprendizagem Satildeo reliacutequias raras e

autecircnticas objetos comuns ligados a grandes vultos poliacuteticos e militares que devem ser

recolhidos colecionados e expostos A noccedilatildeo de patrimocircnio atribui uma dimensatildeo quase maacutegica

aos objetos fazendo-os transcender no tempo (CHOAY 2006 p93)

A noccedilatildeo de patrimocircnio ampliada apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa possui sentido de

homogeneizaccedilatildeo de valores Natildeo basta colecionar bens o museu se atribui a funccedilatildeo de servir de

instruccedilatildeo agrave naccedilatildeo reunindo objetos que ensinam o civismo a histoacuteria e outras competecircncias

teacutecnicas Segundo Choay (2006 p 95) museu eacute o nome que se daacute aos depoacutesitos de bens

nacionalizados na Revoluccedilatildeo Francesa e guardam relaccedilatildeo direta com o estabelecimento da

instruccedilatildeo puacuteblica

Para a definiccedilatildeo de patrimocircnio histoacuterico contribuem as motivaccedilotildees de conservaccedilatildeo de

bens condenados o interesse para a histoacuteria a beleza do trabalho e o valor pedagoacutegico Essas

motivaccedilotildees e interesses constituem um valor nacional (educativo) que desencadeiam valores

relativos a conhecimentos especiacuteficos e gerais satildeo testemunhos da histoacuteria permitem construir

uma multiplicidade

Franccediloise Choay (2006) desenvolve um argumento pertinente para se pensar o tipo de

exposiccedilatildeo proposta pelo Museu Histoacuterico Nacional Ao discutir as relaccedilotildees entre os humanismos

e o monumento antigo a autora lanccedila a questatildeo de como eacute um olhar preservador para um objeto

do passado (arte monumento) e como reconhecer esses objetos do passado como monumentos

histoacutericos Para Choay (2006 p34) a apropriaccedilatildeo natildeo eacute um processo de reflexatildeo ou cogniccedilatildeo eacute

um novo valor de uso na vida domeacutestica Os objetos de antiguidade satildeo usados para decoraccedilatildeo

126

das casas preacutedios puacuteblicos e privados os novos valores satildeo atribuiacutedos agrave praacutetica de colecionar tais

objetos prestiacutegio lucro jogo e natildeo simplesmente agrave experiecircncia de beleza (prazer da arte)

O surgimento do chamado monumento histoacuterico se deu em relaccedilatildeo agrave Roma nos seacuteculos

XIV-XV propiciado pelo distanciamento do passado apoiado no projeto de preservaccedilatildeo medieval

Satildeo consideradas atitudes de preservaccedilatildeo a economia e o interesse em reutilizar os edifiacutecios Haacute

tambeacutem um saber literaacuterio que cria uma sensibilidade pelos materiais execuccedilatildeo descriccedilatildeo de

cenas antigas paineacuteis de altares e a admiraccedilatildeo pelo trabalho maravilhoso e a suntuosidade

esteacutetica O valor do patrimocircnio estaacute associado ao maacutegico agrave curiosidade prazer aos olhos Natildeo

tem propriamente um valor histoacuterico eacute modelo para suscitar uma arte de viver e refinamento que

soacute os gregos possuiacuteam (CHOAY 2006 p34-35)

Jaacute os humanistas tomam o patrimocircnio como referente para a interpretaccedilatildeo e estabelecem

condutas relativas agrave heranccedila (legado da antiguidade greco-romana) Ao assumirem uma

perspectiva da alteridade (noacutes somos diferentes deles) os humanistas criam uma distacircncia

simboacutelica Para os humanistas os monumentos da antiguidade vatildeo incorporando as marcas de sua

reutilizaccedilatildeo e a ideacuteia de preservaccedilatildeo comporta novos usos como o deslocamento das colunas de

maacutermore de Roma e a reserva de fragmentos antigos colecionados pelos papas

Nesse movimento do seacuteculo XVIII as medidas de conveniecircncia e interesse histoacuterico

passam a afirmar uma identidade por meio dos monumentos Os tipos de monumentos evocam a

estrutura da vida cotidiana e lanccedilam a memoacuteria para um passado temporal glorioso Essa seria

para Choay a primeira fase do monumento entendido como ldquoantiguidaderdquo e que lanccedila uma

presenccedila visual e uma profunda alteridade com a distacircncia histoacuterica concentrado nas obras e

edifiacutecios da antiguidade do quatrocento

O monumento eacute o sujeito da alegoria do patrimocircnio Ele tem valor de autenticidade

(confirmado pelos livros) eacute testemunho do passado que se consumou eacute arrancado do presente

que o banaliza para fazer a gloacuteria dos seacuteculos que o edificaram Satildeo os humanistas e artiacutefices que

juntos contribuem para a criaccedilatildeo do sentido moderno de patrimocircnio cultural entendido como

heranccedila dos antecessores e legado aos sucessores68

Segundo Choay (2006 p49) os letrados

faziam visitas a Roma mas natildeo lhes interessava os monumentos em si Eles iriam evocar e

68 Gonzalez (2004 p 66) diferencia a concepccedilatildeo francesa da concepccedilatildeo inglesa na formaccedilatildeo do conceito de

patrimocircnio cultural

127

invocar os testemunhos do mundo da escrita suas preocupaccedilotildees eram filosoacuteficas literaacuterias

morais poliacuteticas histoacutericas e natildeo pela forma dos edifiacutecios Jaacute os artiacutefices (homens da arte)

arquitetos e escultores se interessavam propriamente pelas formas dos monumentos

Letrados e artiacutefices do seacuteculo XIV surgem com os amantes e colecionadores da arte antiga

no sentido moderno Os humanistas ensinam a ler e os artiacutefices a ldquover com os olhosrdquo Essa

impregnaccedilatildeo muacutetua marca o territoacuterio da arte articulando-o com a histoacuteria para formar o

monumento histoacuterico Uma vez instituiacutedo o monumento o conhecimento histoacuterico passa a ser o

uacutenico necessaacuterio na compreensatildeo das antiguidades natildeo eacute necessaacuterio mais um julgamento esteacutetico

(CHOAY 2006 p50)

No seacuteculo XIV o monumento histoacuterico soacute pode ser antigo e a arte soacute pode ser antiga ou

contemporacircnea A galeria como espaccedilo fiacutesico de exposiccedilatildeo soacute aparece no seacuteculo XVI A coleccedilatildeo

de arte vai se diferenciando da sala de curiosidades e precede o Museu De caraacuteter privado ela

oferece o exemplo da abertura pela primeira vez ao puacuteblico das coleccedilotildees pontificiais do capitoacutelio

(CHOAY 2006 p50-52)

Pomian (1978 p51) distingue as coleccedilotildees e colecionadores de antiguidades do

quatrocento dos gabinetes de curiosidade (museum de natureza e humanos) da Idade Meacutedia que

sobreviveriam ateacute o Iluminismo A tarefa inicial de preservaccedilatildeo cabia aos papas assim como as

medidas de restauraccedilatildeo proteccedilatildeo e as regras de expropriaccedilatildeo para utilidade puacuteblica Um

monumento histoacuterico ateacute o seacuteculo XIV era constituiacutedo de trecircs discursos perspectiva histoacuterica

perspectiva artiacutestica e outra da conservaccedilatildeo A ambiguumlidade do discurso de conservaccedilatildeo segundo

Pomian eacute ldquotranquumlilizar a consciecircncia e justificar a demoliccedilatildeo realrdquo (POMIAN 1978 p51-86)

A discussatildeo sobre a invenccedilatildeo do monumento histoacuterico e da noccedilatildeo de patrimocircnio tem um

encaminhamento distinto segundo Franccediloise Choay (2006 p144) que pode ser visto em duas

alegorias advindas da ambiguumlidade que ela apontara anteriormente no discurso de conservaccedilatildeo

tranquumlilizar a consciecircncia e justificar a destruiccedilatildeo efetiva A partir do seacuteculo XIX a noccedilatildeo de

patrimocircnio vai comportar trecircs abordagens o monumento histoacuterico a cidade histoacuterica e o museu

histoacuterico As trecircs abordagens vatildeo se desdobrar em figuras distintas Primeiro a figura memorial

que envolve toda a malha do patrimocircnio intangiacutevel a ser protegido Segundo a figura de toda a

cidade como desempenhando o papel de monumento capaz de dar liccedilotildees contra o esquecimento

E terceiro a figura museal uma figura histoacuterica que se destaca pela resposta que eacute capaz de dar

128

ao problema do patrimocircnio No museu e natildeo apenas nele se faz presente a figura museal que

reuacutene um caraacuteter conservador e outro destruidor

A figura museal ameaccedilada de desaparecimento eacute concebida como um objeto raro

fraacutegil precioso para arte e para a histoacuteria e que como as obras conservadas nos museus

deve ser colocada fora do circuito da vida Tornando-se histoacuterica ela perde sua

historicidade (CHOAY 2006 p191)

Choay (2006) aponta que a funccedilatildeo museal natildeo se daacute apenas nos museus O ato de isolar

fragmentos e colocaacute-los lado a lado protegendo o original eacute que os transforma em objetos de

museu Retira-lhes o valor de uso para lhes conferir o valor histoacuterico (museal) Eacute esse valor

histoacuterico que os visitantes reconhecem nos objetos pelo fato de serem expostos em um museu Os

museus satildeo visitados como monumentos como patrimocircnio ou seja como objetos natildeo

consumiacuteveis embora seja reconhecido o seu caraacuteter de produto cultural numa economia de bens

simboacutelicos O museu passa de templo da arte como era o British Museum no seacuteculo XIX para

um museu capaz de proteger todo o patrimocircnio mundial e cultural na Convenccedilatildeo da Unesco de

1972 (CHOAY 206 p216) O proacuteprio museu passa a ser considerado um dos dispositivos do

culto ao patrimocircnio ou uma museificaccedilatildeo de amplos campos e tipos de atividades humanas O

museu que era uma instituiccedilatildeo tornou-se uma mentalidade (CHOAY 2006 p247) e ampliou

seu poder didaacutetico e sua capacidade de

edificar ou captar a duraccedilatildeo e de abrigar o espaccedilo e retardar aiacute seu desdobramento

orientando-o para o sentido o mais capaz de servir de iniciaccedilatildeo agrave alteridade humana o

mais temiacutevel tambeacutem que aprisiona ou liberta e cujo poder criador soacute pode ser

experimentado quando se entrega a ele de forma indissociaacutevel a inteligecircncia e o corpo

(CHOAY 2006 p254)

Natildeo haacute como esperar de um museu histoacuterico uma postura reflexiva e retrospectiva quando

trabalha com a memoacuteria Diferente das perguntas que orientam a escrita da historia pelos

historiadores o discurso do museu mesmo elaborado por especialistas e dentre eles

historiadores renomados natildeo faz a interdiccedilatildeo dos sentimentos morais da reverecircncia e o respeito

ao valor sagrado do passado O museu se coloca no lugar do memorial conservando o culto aos

monumentos do passado situado no presente tem por funccedilatildeo continuar a mobilizar a memoacuteria e

deliberadamente lutar contra a praacutetica do esquecimento promovendo uma co-habitaccedilatildeo

institucionalizada para o patrimocircnio Ao estabelecer um plano de visitas o museu eacute expliacutecito em

129

relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo de proteccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio Resguardar tornar intocaacuteveis

manter fora do alcance em aacutereas protegidas o culto do patrimocircnio No museu ldquoo visitante estaacute

condenado ao percurso arrastado numa marcha que catapulta as imagens das obras umas sobre as

outras para finalmente quebraacute-las em mil fragmentos (CHOAY 2006 p217)

Haacute no Museu Histoacuterico Nacional uma dimensatildeo que fixa e estabiliza uma determinada

visatildeo da histoacuteria poliacutetica que produz e reproduz hierarquias sociais ideologias e assume um papel

na produccedilatildeo de imagens de raccedila povo naccedilatildeo criando legitimidades sociais (ANDERSON 2008

p 208)

Acredito que o Museu Histoacuterico Nacional como instituiccedilatildeo carrega como legado o

sentido poliacutetico de museu moderno tal como definido por Benedict Anderson (2008 p268) Eacute um

museu que se constitui primeiramente como Museu Real e depois como Museu Nacional e hoje

passa pela revisatildeo de seu caraacuteter ldquonacionalistardquo frente agraves novas demandas por representaccedilatildeo de

identidades raciais eacutetnicas de gecircnero e multiculturais69

Ligado diretamente ao Estado o MHN produz materiais e disponibiliza imagens que satildeo

reproduzidas infinitamente no cotidiano via manuais escolares postais selos de modo que a

musealizaccedilatildeo poliacutetica se torna celebraccedilotildees comemoraccedilotildees e emblemas da identidade nacional70

O Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional publicado em 195771

quando Gustavo

Barroso ainda era seu diretor traz ao puacuteblico as dimensotildees do museu para a eacutepoca Do ponto de

vista do espaccedilo fiacutesico o museu ocupava inicialmente duas salas que davam para a entrada

principal chamada Portatildeo da Minerva (Figura 30) Depois da exposiccedilatildeo de 1922 passou para a

Casa do Trem e outra ala do edifiacutecio Agrave eacutepoca da elaboraccedilatildeo do Guia do Visitante ocupava mais

de quarenta salas galerias escadarias vestiacutebulos arcadas e paacutetios o que natildeo possibilitava exibir

todo o acervo

69 O proacuteprio MHN realiza desde 1990 o projeto Espaccedilo Museu ndash Construccedilatildeo do Saber iniciado pelos museoacutelogos

Mario de Souza Chagas e Ruth Beatriz Silva Caldeira de Andrada voltado para professores e outros profissionais

que procuram o setor educativo do Museu Ver Rodrigues e Gouveia (2006) 70 Santos (2006) analisa a loacutegica expositiva do Museu Histoacuterico Nacional desde sua fundaccedilatildeo em 1922 ateacute a deacutecada

de 1980 e estabelece uma ldquotipologiardquo que o caracteriza sob a gestatildeo de Gustavo Barroso (1922-1959) como um

museu-memoacuteria entre as deacutecadas de 1960 e 1970 como um museu-narrativa e a exposiccedilatildeo instalada nos anos de

1980 como um museu-siacutentese 71 Santos (2006) e Chagas (2003) realizam importantes anaacutelises sobre o MHN e seu fundador Gustavo Barroso A

escolha do Guia de 1957como referecircncia para anaacutelise tem por objetivo fazer um contraponto entre o Museu deixado

por Barroso (1959) e o visitado em 2008

130

Figura 29 Capa do Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura 1957

Figura 30 Capa do folder do Museu Histoacuterico Nacional Portatildeo da

Minerva Entrada do Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da

Cultura IPHAN Guia do Visitante sd

131

O Museu no Guia do Visitante de 1957 jaacute definia que sua funccedilatildeo natildeo era apenas a de

mostruaacuterio de objetos histoacutericos mas tambeacutem de pesquisa em colaboraccedilatildeo com instituiccedilotildees de

cultura imprensa raacutedio cinema e teatro Os ldquoAnais do Museu Histoacuterico Nacionalrdquo72

eram a

traduccedilatildeo desse esforccedilo dos pesquisadores do museu O Museu se apresenta como um estudioso da

histoacuteria em relaccedilatildeo a um puacuteblico que deseja documentar com filmes e peccedilas de fundo histoacuterico O

Museu oferece nesses casos cenaacuterios indumentaacuteria caracterizaccedilatildeo de personagens tradicionais

costumes e ateacute composiccedilatildeo de diaacutelogos

Para a imprensa fornece fotografias objetos e informaccedilotildees de pessoas O museu tambeacutem

oferece curso desde 1932 para preparar teacutecnicos de museus e gabinetes de restauraccedilatildeo de quadros

e objetos de arte Formou um arquivo histoacuterico com fotografias e documentos e uma biblioteca

especializada (GUIA 1957 p13)

Myriam Sepuacutelveda Santos (2006) busca compreender a concepccedilatildeo de histoacuteria ldquoembutidardquo

nas propostas de Gustavo Barroso e suas afinidades com a histoacuteria trabalhada atualmente no

MHN Para a autora a histoacuteria apresentada e trabalhada pelo MHN na gestatildeo de Barroso era

vinculada agrave questatildeo da ldquonacionalidaderdquo e ao ldquoculto da saudaderdquo entendido como uma perspectiva

de manter viva a tradiccedilatildeo com uma metodologia memorialiacutestica e uma concepccedilatildeo de tempo

descontiacutenuo ignorando as tendecircncias de uma histoacuteria mais atual (SANTOS 2006 p35-6)

O proacuteprio Museu Histoacuterico Nacional reconhece que a partir da deacutecada de 1960 essa

concepccedilatildeo de histoacuteria ldquoanacrocircnicardquo levara a uma crise institucional e o afastamento do MHN com

relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo cultural intelectual e artiacutestica (SANTOS 2006 p55) Assim passa a

empreender diversas accedilotildees como a realizaccedilatildeo de Seminaacuterios Internacionais a partir de 1997 e a

proposiccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave ldquocomunicaccedilatildeordquo e ldquoeducaccedilatildeordquo para um puacuteblico mais amplo

notadamente o puacuteblico escolar visando agrave construccedilatildeo da nacionalidade

Trazer o Guia do Visitante de 1957 para a discussatildeo eacute uma espeacutecie de provocaccedilatildeo Uma

revisatildeo na forma de exposiccedilatildeo mudaria a concepccedilatildeo de histoacuteria do museu Essa questatildeo cabe

tambeacutem em relaccedilatildeo ao Museu do Escravo Em que medida uma nova museografia eacute suficiente

para introduzir outras concepccedilotildees de histoacuteria nos museus

72 Myrian Sepuacutelveda Santos (2006 p50-1) indica que O MHN contribui para o estabelecimento de padrotildees de

pesquisa com base em criteacuterios arqueoloacutegicos e filoloacutegicos de documentos e manuscritos que ajudam a consolidar a

ldquomoderna histoacuteriardquo e a diferenciaacute-la dos antigos antiquaacuterios Os Anais do MHN e o Curso de Museus satildeo destaques

dessa poliacutetica da instituiccedilatildeo sob a direccedilatildeo de Gustavo Barroso (1922-1959)

132

Eacute importante destacar esse aspecto da conservaccedilatildeo do acervo pois no Guia do Visitante

de 1957 a Sala Brasil-Portugal guardava as louccedilas pertencentes a D Joatildeo VI Nas paredes da

sala Brasil-Portugal vecirc-se a evoluccedilatildeo das armas nacionais nos periacuteodos monaacuterquicos nas da Sala

dos Vice-Reis os escudos heraacuteldicos dos quinze Vice-Reis do Estado do Brasil Essa disposiccedilatildeo

dos objetos natildeo existe mais mas o lugar reservado agrave figura de Dom Joatildeo VI jaacute estava

estabelecido definitivamente no Museu Histoacuterico Nacional

A entrada pelo ldquoPortatildeo da Minervardquo jaacute levava a um paacutetio com vaacuterios ldquovultos histoacutericosrdquo

sob as arcadas A primeira dependecircncia a ser visitada eacute chamada de ldquoArcada dos Descobridoresrdquo

Nela estatildeo ldquovultosrdquo que caracterizavam as ldquoeacutepocas e atividades principais da civilizaccedilatildeo

brasileirardquo Nas paredes os brasotildees de D Manuel o Venturoso Pedro Aacutelvares Cabral Pero Vaz

de Caminha e os capitatildees da armada que descobriu o Brasil (GUIA 1957 p17) Para completar o

cenaacuterio e o simbolismo da unidade Brasil e Portugal duas palmeiras imperais plantadas em 1955

a da direita com a terra de todos os Estados e territoacuterios do Brasil e aacutegua do rio S

Francisco pelo presidente Joatildeo Cafeacute Filho a da esquerda com a terra de Portugal areia

da praia de Porto Seguro e aacutegua do Tejo pelo Embaixador portuguecircs Antocircnio de Faria

(GUIA 1957 p20-1)

Figura 31 Portatildeo de Minerva Guia do Visitante Museu Histoacuterico

Nacional

133

Figura 32 Arcada dos descobridores Guia do Visitante Museu

Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura 1957

O conceito de evidecircncia material trabalhado pelo museu natildeo eacute o mesmo utilizado pela

historiografia Enquanto no museu a exposiccedilatildeo visa ldquoilustrarrdquo uma interpretaccedilatildeo historiograacutefica

gerada em outros lugares (textos ensaios livros) a historiografia trata a cultura material como

fonte de pesquisa

Do ponto de vista dos visitantes a funccedilatildeo do acervo natildeo eacute documental e ao mesmo tempo

jaacute eacute uma versatildeo da histoacuteria A forma de apresentaccedilatildeo dos objetos ainda daacute o status de

testemunhos mostrando a importacircncia da materialidade para a comprovaccedilatildeovalidaccedilatildeo das

narrativas histoacutericas A exposiccedilatildeo como forma de reunir um acervo que natildeo pertence ao museu

lhe confere maior poder de criar visibilidade

Eacute isso que parece fazer a visitante Michele Oliveira Xavier que reuacutene novamente o acervo

do museu apoacutes sua visita Ela recria seu percurso e o patrimocircnio do Museu Histoacuterico Nacional em

uma nova exposiccedilatildeo

134

Figura 33 XAVIER Michele Oliveira Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo

Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008

O percurso da visitante pelo Museu Histoacuterico Nacional cria uma nova coleccedilatildeo agora

pertencente agrave estudante Reunidos em um novo museu imaginaacuterio figuram escadaria de acesso ao

andar superior com a escultura equumlestre de Dom Pedro II de Francisco Manoel Chaves Pinheiro

um veiacuteculo de transporte de traccedilatildeo animal que faz parte da exposiccedilatildeo permanente desde 1925 e

hoje intitulada do ldquoDo moacutevel ao automoacutevel transitando pela histoacuteriardquo dois detalhes da exposiccedilatildeo

que foi visitada pelo grupo uma pena e uma coroa de ouro

52- Comemoraccedilotildees Histoacuteria do Brasil e dos brasileiros

A Histoacuteria como disciplina acadecircmica entende e faz uso dos museus para desenvolver

pesquisas sobre a cultura material (arqueologia etnografia histoacuteria da arte) que soacute satildeo possiacuteveis

com pesquisa de campo e consulta a documentaccedilatildeo visual (fotos pinturas objetos

tridimensionais) e coleccedilotildees abrigadas nos museus (SUANO 1986 p75)

A historiografia contemporacircnea tem mostrado interesse pelo tema do patrimocircnio da

memoacuteria e dos museus Principalmente pelas relaccedilotildees entre os museus a naccedilatildeo e a histoacuteria-

135

memoacuteria nacional Dominique Poulot (2011) Pierre Nora (1982 1994) mudam o enfoque em

relaccedilatildeo agrave histoacuteria e as formas de estudar os museus relacionando as instituicotildees culturais com as

estruturas sociais que lhes deram origem e com seu caraacuteter instrumental em relaccedilatildeo aos poderes

constituiacutedos (BREFE 1998 p88)

A exposiccedilatildeo museal passa a ser vista como o principal meio pelo qual o passado eacute

publicado e apresentado A funccedilatildeo central dos museus eacute oferecer aos olhos do puacuteblico uma seacuterie

de procedimentos que pretendem falar diretamente ao visitante usando recursos que podem ser

chamados de ldquoembalagemrdquo dos objetos um cenaacuterio ou cena iluminaccedilatildeo embelezamento

midiaacutetico e escolhas de aspectos pitorescos ou estereoacutetipos (CHOAY 2006 p240)

Os museus tambeacutem procuram valorizar as informaccedilotildees trazidas pelos objetos (obras)

inaugurando uma criacutetica fundada na experiecircncia visual e na apreensatildeo direta das obras e natildeo mais

na leitura de textos Antes mesmo do conteuacutedo de cada exposiccedilatildeo e das particularidades do

acervo de cada instituiccedilatildeo haacute a reivindicaccedilatildeo do museu por tornar puacuteblica uma determinada

coleccedilatildeo e a preservaacute-la

Se haacute uma praacutetica patrimonial por parte dos museus e no caso do Museu Histoacuterico

Nacional essa praacutetica se refere a uma ldquorememoraccedilatildeordquo dos acontecimentos fundadores da naccedilatildeo de

modo a invocar o passado como forma de manter e preservar a identidade de uma comunidade

nacional o museu se coloca como capaz de desenvolver uma grande narrativa nacional

O Museu Histoacuterico Nacional cria formas simboacutelicas dentro de regras mais amplas de

codificaccedilatildeo da linguagem museoloacutegica Isso pode ser explorado tanto no relato escrito pelos

visitantes e em suas fotografias quanto nos impressos produzidos pelo proacuteprio museu voltados a

diferentes puacuteblicos como o cataacutelogo da exposiccedilatildeo e o material educativo voltado agrave comunidade

escolar

O MHN natildeo poderia ficar de fora dos festejos de ldquoum grande acontecimento que marcou a

histoacuteria do Brasilrdquo Festejar as datas nacionais faz parte da agenda do Museu As escolas podem

agendar e fazer visitas especiacuteficas nestas ocasiotildees Aleacutem de ter um acervo o museu nacional tem

por missatildeo dar a conhecer a Histoacuteria do Brasil O MHN fala portanto desse lugar conceituado e

de culto agrave memoacuteria de transmissatildeo agraves novas geraccedilotildees do legado dos antepassados Tambeacutem aqui

entra uma avaliaccedilatildeo do Museu sobre o que guardar preservar e expor satildeo obras raras ineacuteditas

136

originais nunca reunidas ou vistas Soacute um grande Museu pode reunir esse conjunto realizar esse

feito

A narrativa do Museu Histoacuterico Nacional fica mais expliacutecita quando se percebe que essas

comemoraccedilotildees ocorreram de forma mais enfaacutetica no Rio de Janeiro e satildeo divulgadas por

emissora de televisatildeo de projeccedilatildeo nacional dando ecircnfase ao fato de que a vinda da Corte

portuguesa transforma ldquoa nossa cidaderdquo segundo o material educativo em Capital do Impeacuterio

Luso projetando imagens de desenvolvimento econocircmico e poliacutetico comuns na historiografia

brasileira ao longo dos seacuteculos XIX e XX

O esforccedilo do prefeito do Rio de Janeiro empresas privadas e autoridades portuguesas para

criar esse evento cercado de discursos nacionalistas e patrioacuteticos culmina no estabelecimento de

uma comissatildeo oficial para as Comemoraccedilotildees da Chegada de D Joatildeo e da Famiacutelia Real ao Rio de

Janeiro que teve por coordenador Alberto da Costa e Silva e contou com a consultoria de Liacutelia

Schwarcz que elaborou um Calendaacuterio das Comemoraccedilotildees marcado por exposiccedilotildees debates

apresentaccedilotildees musicais publicaccedilotildees entre outubro de 2007 a dezembro de 2008 A exposiccedilatildeo do

Museu Histoacuterico Nacional eacute considerada como

a uacutenica exposiccedilatildeo prevista na agenda de eventos do Rio de Janeiro que enfatizaraacute os

aspectos econocircmicos poliacuteticos e culturais da vinda da famiacutelia real portuguesa dando a oportunidade aos brasileiros de conhecerem melhor o contexto histoacuterico que cercou D

Joatildeo VI o primeiro monarca europeu a atravessar o oceano Atlacircntico e o responsaacutevel

pelo estabelecimento da sede do maior impeacuterio das Ameacutericas entrelaccedilando para sempre

a histoacuteria do Brasil e de Portugal (ltwwwriorjgovbrculturasgt Acesso em maio de

2008)

Eacute possiacutevel explorar um pouco mais a ideia de circuito da cultura a partir dos dispositivos

visuais e narrativos propostos pelo Museu Histoacuterico Nacional na exposiccedilatildeo comemorativa dos

duzentos anos da vinda da Famiacutelia Real ao Brasil apresentada no Rio de Janeiro em 2008

Enquanto a visatildeo de histoacuteria apresentada pelo museu implica em ldquocelebrarrdquo no sentido de

ter veneraccedilatildeo pelo passado ou tradiccedilatildeo agrave medida que a cultura eacute exposta ela eacute revestida de outros

sentidos menos transcendentes O visitante resiste culturalmente e estabelece uma distacircncia que o

diferencia do que o museu e sua exposiccedilatildeo estatildeo propondo Ainda que haja um efeito de

encantamento ele natildeo chega a bloquear as imagens circundantes e silenciar tudo em volta do

objeto Os visitantes reconhecem que o museu promove uma das exposiccedilotildees mais importantes

137

sobre a eacutepoca da corte no Brasil que seu acervo eacute enorme mas natildeo deixam de observar a falta de

um tema

Percebi ali uma idealizaccedilatildeo de padratildeo de vida e uma inibiccedilatildeo sobre um tema que

predominava durante todo o seacuteculo XIX a escravidatildeo Natildeo vimos pela cidade sequer

vestiacutegios de que ali viviam em maior porcentagem a populaccedilatildeo escrava que trabalhava

para a coroa Uma espetacularizaccedilatildeo da cultura onde monumentos e documentos ganham valor extraordinaacuterio e perdem muitas vezes em se mostrar o valor real daqueles objetos

principalmente no Museu Histoacuterico Nacional (Priscila Braga Gonccedilalves Relatoacuterio de

visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

A estudante analisa a exposiccedilatildeo comemorativa do Museu Histoacuterico Nacional a partir de

sua formaccedilatildeo histoacuterica Faz uma criacutetica historiograacutefica e cultural Ela identifica um excesso e

uma falta na abordagem do museu Sobra encenaccedilatildeo e falta um conteuacutedo agraves comemoraccedilotildees da

vinda da famiacutelia real Eacute uma criacutetica que tem por fundamento o que a visitante jaacute estudou sobre a

historiografia brasileira A criacutetica a espetacularizaccedilatildeo da cultura eacute marcada pela forma como o

museu trabalha com os objetos O museu transforma os documentos em monumentos ao atribuir-

lhes um valor extraordinaacuterio ou seja de raridade de curiosidade e natildeo de vestiacutegios ou

testemunhos A histoacuteria do Brasil apresentada pelo Museu Histoacuterico Nacional eacute uma versatildeo

idealizada e excludente em relaccedilatildeo a outras versotildees historiograacuteficas

Embora a ideacuteia de Naccedilatildeo natildeo apareccedila de forma expliacutecita no tiacutetulo da exposiccedilatildeo eacute em torno

desse conceito que se organiza toda a loacutegica do Museu Histoacuterico Nacional73

O Museu Histoacuterico

Nacional continua promovendo comemoraccedilotildees e de certa forma manteacutem viva a tradiccedilatildeo de

transmutaccedilatildeo da memoacuteria coletiva em memoacuteria histoacuterica ao proteger a ldquoheranccedila monumental da

naccedilatildeordquo O museu faz uma revisatildeo dos heroacuteis e aplica uma nova camada de sentido ou valor ao

passado Os valores nacionais introduzidos no presente pelo museu funcionam como uma

pedagogia do civismo uma memoacuteria histoacuterica que eacute mobilizada pelo sentimento de

pertencimento ao nacional um laccedilo com o passado e com a identidade (referecircncia)

Do ponto de vista do museu a exposiccedilatildeo eacute celebrativa mas o poder de escrever a histoacuteria

com objetos soacute se efetiva se as portas do museu estiverem abertas agrave aprendizagem e agraves posturas

investigativas em relaccedilatildeo agraves atitudes do proacuteprio museu no tratamento dos temas da memoacuteria e do

patrimocircnio

73 Bittencourt (2003 p156-7) chama a atenccedilatildeo para a constituiccedilatildeo de outros tipos de museus de histoacuteria nacional

vinculados ao Estado mas voltados para as coisas do ldquopovordquo e da ldquoculturardquo

138

A primeira atitude do grupo de estudantes de graduaccedilatildeo em Histoacuteria em visita agraves

exposiccedilotildees em comemoraccedilatildeo aos duzentos anos da Vinda da Famiacutelia Real Portuguesa ao Brasil eacute

avaliar como o museu apresenta os objetos A trilha deixada pelo museu nos visitantes eacute em um

primeiro plano a aceitaccedilatildeo dos paracircmetros elaborados pela exposiccedilatildeo Entretanto muitos

visitantes fazem ressoar a ideia do museu como aquele que escreve a histoacuteria com os objetos de

seu acervo

Ali estaacute exposto todo um acervo muito bem preservado e identificado como carruagens

louccedilas pratarias armas objetos pessoais santos religiosos moacuteveis quadros entre outros

dando a oportunidade principalmente a noacutes historiadores de poder conhecer melhor todo o contexto histoacuterico que cercou D Joatildeo VI e sua vinda com sua corte ao Brasil

entrelaccedilando a histoacuteria do Brasil e de Portugal (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de

visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

A novidade na observaccedilatildeo da estudante eacute a criaccedilatildeo de uma referecircncia de identidade

profissional do grupo de visitantes ldquonoacutes historiadoresrdquo O uso do museu histoacuterico eacute pelo que ele

traz de objetos A organizaccedilatildeo a classificaccedilatildeo pode ser feita pelos visitantes que entendem como

funciona a montagem e desmontagem de exposiccedilotildees e podem usar livremente de criteacuterios

diferentes daqueles adotados pelo museu

A concepccedilatildeo de histoacuteria presente no Museu Histoacuterico Nacional estaacute materializada nos

objetos selecionados e dispostos nas exposiccedilotildees permanentes e temporaacuterias Na visita agrave exposiccedilatildeo

comemorativa da vinda da corte portuguesa observa-se que existem acontecimentos fundamentais

na formaccedilatildeo da sociedade brasileira e eles estatildeo estabelecidos pelo Museu como marcos

cronoloacutegicos 1808-1822

A concepccedilatildeo de uma histoacuteria integrada ou ldquomomentos simboacutelicos comuns da histoacuteria do

Brasil e de Portugalrdquo (TOSTES 2000 p7) jaacute vinha sendo trabalhada pelo MHN e foi

apresentada tanto no ldquoSeminaacuterio Internacional D Joatildeo VI um rei aclamado na Ameacutericardquo

realizado em 2000 quanto em duas outras exposiccedilotildees realizadas nas dependecircncias do MHN

como parte das comemoraccedilotildees dos descobrimentos portugueses

A demanda por ldquorememoraccedilatildeordquo desta histoacuteria poliacutetica eacute parte desta visatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional Haacute por parte do Museu um reforccedilo da identidade nacional em detrimento de

outras demandas por valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio cultural local e regional Esta visatildeo

integradora da cultura presente no Museu Histoacuterico Nacional contrasta com as orientaccedilotildees da

139

Poliacutetica Nacional de Museus de 2003 que define o papel dos museus como ldquodispositivo

estrateacutegico de aprimoramento dos processos democraacuteticosrdquo e a ldquonoccedilatildeo de patrimocircnio cultural do

ponto de vista museoloacutegicordquo implica na ldquorelaccedilatildeo dos diferentes grupos sociais e eacutetnicos com os

diversos elementos da natureza bem como a respeito das culturas indiacutegenas e afrodescendentesrdquo

(BRASIL 2003 p 8)

Reginaldo Santos Gonccedilalves em prefaacutecio ao livro de Myriam Sepuacutelveda dos Santos

(2006) defende que o museu pode ser pensado como um ldquosistema mais ou menos coerente de

relaccedilotildees sociais e culturais variando no tempo e no espaccedilordquo Os museus satildeo como teias de

pensamento nas quais as instituiccedilotildees satildeo discursivamente articuladas As categorias de

pensamento como histoacuteria naccedilatildeo memoacuteria e passado satildeo articuladas em linguagens

museoloacutegicas tipos de objetos materiais formas de colecionismo classificaccedilatildeo e exibiccedilatildeo que

circulam aleacutem dos muros e tem efeitos no cotidiano dos cidadatildeos (GONCcedilALVES apud

SANTOS 2006 p3-4)

O papel formador dos museus eacute dado por esse seu caraacuteter de impor uma determinada

ordem sobre os objetos materiais mediado por categoriais disciplinares da histoacuteria e constituir

uma escrita museoloacutegica No caso do Museu Histoacuterico Nacional Myriam Sepuacutelveda dos Santos

distingue um museu-memoacuteria nos primeiros anos de existecircncia do MHN e um museu-narrativa a

partir dos anos de 1980

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo74

tambeacutem apresenta os objetos histoacutericos pelo fato de que teriam

pertencido a vultos poliacuteticos retratos armas armaduras tronos moacuteveis moedas medalhas A

proposta de exposiccedilatildeo em 2008 pelo MHN se pauta por estes objetos pois no primeiro cataacutelogo

publicado pela instituiccedilatildeo em 1924 jaacute constavam as salas dos Tronos e do Cetro com ldquograndes

peccedilas de mobiliaacuterio pertencentes ao rei D Joatildeo VIrdquo (BITTENCOURT 2003 p158)

Uma exposiccedilatildeo museal em geral tem um custo financeiro e operacional significativo e eacute

viabilizada com parcerias de diversas instituiccedilotildees que contribuem para realizaccedilatildeo do evento O

cataacutelogo da exposiccedilatildeo comemorativa aos duzentos anos da Vinda da Corte Portuguesa ao Brasil

intitulada Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo

realizada pelo Museu Histoacuterico Nacional em sua sede no Rio de Janeiro em 2008 registra

74 Os estudantes natildeo tiveram acesso a esse cataacutelogo Ele foi adquirido em momento posterior agrave visita presencial ao

museu

140

agradecimentos a museus de Portugal agrave Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian a bancos a banqueiros e

a instituiccedilotildees de patrimocircnio ligadas ao Ministeacuterio da Cultura do governo brasileiro como o

IPHAN

Figura 34 Reproduccedilatildeo da Capa do Cataacutelogo da ldquoExposiccedilatildeo Um novo

Mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo

Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo traz os textos dos organizadores e suas intenccedilotildees Nenhuma

comemoraccedilatildeo passa incoacutelume pela disputa poliacutetica por memoacuterias e narrativas E esta tensatildeo pode

ser vista jaacute no texto de apresentaccedilatildeo do cataacutelogo intitulado Palavras preacutevias Nele o entatildeo

ministro de Estado da Cultura o muacutesico Gilberto Passos Gil Moreira abre oficialmente a mostra

do Museu Histoacuterico Nacional reconhecendo a vinda da famiacutelia real portuguesa em 1808 como

um evento fundador da ldquoidentidade nacionalrdquo e da ldquonaccedilatildeordquo Entretanto aos olhos do ministro a

chegada da corte eacute uma heranccedila cheia de ldquodor da colonizaccedilatildeo e perversa submissatildeo dos

afrodescendentesrdquo Em seguida volta a reconhecer que essa mesma cultura europeacuteia ou

portuguesa que aqui chegou permitiu que o Brasil se tornasse uma ldquoimensa paacutetria caldeiratildeo para

todas as culturas e berccedilo mesticcedilo de uma nova civilizaccedilatildeo ainda em processordquo

O ministro de um lado parece criticar a ldquogrande narrativa da naccedilatildeordquo que eacute excludente

com os afrodescendentes mas de outro lado conecta a narrativa proposta pelo Museu Histoacuterico

141

Nacional ao sentido que lhe atribui Anderson (2008) como parte da construccedilatildeo de uma

ldquocomunidade imaginadardquo da qual todos fazem parte

Gilberto Gil atribui ao evento comemorado um caraacuteter histoacuterico fundador da

nacionalidade Eacute a vinda da famiacutelia real que daacute iniacutecio e cria uma linha de continuidade um

sentido duradouro de ldquodestino nacionalrdquo que preacute existe e continuaraacute existindo apoacutes a morte dos

sujeitos concretos que dele participaram Em seguida o ministro interpreta a tradiccedilatildeo ou a

heranccedila que nos prende a este passado como uma continuidade poliacutetica uma cultura de longa

duraccedilatildeo da qual ldquoprecisa-serdquo no sentido de Fernando Pessoa (navegar eacute preciso) voltar sempre e

fazer referecircncia jaacute que se constitui como a origem da naccedilatildeo

O Brasil concebido por Gilberto Gil deseja perpetuar a heranccedila portuguesa mas

reconhece que essa heranccedila natildeo foi capaz de unificar os diferentes membros da naccedilatildeo em um soacute

sujeito em termos de homogeneidade cultural Haacute diferenccedilas entre culturas etnias e raccedilas Com a

metaacutefora da antropofagia ldquoque assimila e digere o que chega a ser devolvido em inovaccedilatildeo em

invenccedilatildeo e indiferenccedilardquo o ministro reforccedila a ambiguumlidade do acontecimento (TOSTES 2008

p10)

Entretanto ao revisitar a tradiccedilatildeo portuguesa o ministro natildeo pode deixar de reinventaacute-la

Natildeo haacute um elogio da colonizaccedilatildeo a ecircnfase recai na ldquodor dos afrodescendentesrdquo que a estudante

Priscila Braga Gonccedilalves identificou continuam natildeo sendo representados na exposiccedilatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional

A apresentaccedilatildeo da exposiccedilatildeo comeccedila entatildeo com a cena marcada pela ambiguumlidade A

presenccedila fiacutesica de um afrodescendente que ocupa o cargo poliacutetico de ministro da Cultura de um

governo que denuncia a exclusatildeo social e promove poliacuteticas puacuteblicas de igualdade racial e

representaccedilatildeo de identidades na abertura de numa exposiccedilatildeo que lhe provoca ldquodorrdquo

Jaacute o presidente da Fundaccedilatildeo Colouste Gulbenkian patrocinadora da exposiccedilatildeo Emiacutelio

Rui Vilar ressalta que a exposiccedilatildeo

reuacutene mais 300 peccedilas e documentos ineacuteditos que constituem interessantes e apelativos

testemunhos capazes de transportar o visitante para a eacutepoca que o Rio de Janeiro se

tornou a sede da corte portuguesa e em que as artes europeacuteias entraram em frutuoso

diaacutelogo com o clima acolhedor e com as belas paisagens do Brasil (TOSTES 2008)

142

Em alguma medida esse caraacuteter documental e monumental da exposiccedilatildeo eacute reconhecido

pelos visitantes que tambeacutem descrevem a exposiccedilatildeo como um testemunho de eacutepoca Natildeo por ser

capaz de transportaacute-los para outra eacutepoca mas por estarem em presenccedila de objetos de outra eacutepoca

colocam-se e frente ao passado

Num primeiro momento encontramos uma exposiccedilatildeo muito bacana por sinal que nos

remete aos motivos que levaram a famiacutelia real a vir para o Brasil bem como os objetos

utilizados por ela tais como cadeiras louccedilas armaacuterios vasos buacutessolas etc o que vale a

pena destacar eacute como a exposiccedilatildeo estaacute temporalmente organizada Alguns importantes

momentos satildeo apresentados de forma luacutedica e atrativa (Frederico Levi Amorim

Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

O entendimento de que a exposiccedilatildeo eacute uma produccedilatildeo cultural e uma forma de escrita da

histoacuteria tambeacutem aparece em diversos relatos dos visitantes ldquoA exposiccedilatildeo foi pensada de modo a

suscitar no visitante uma visatildeo ampla e criacutetica em relaccedilatildeo agrave histoacuteria e a formaccedilatildeo social brasileira

tirando tambeacutem um pouco daquela visatildeo de D Joatildeo como glutatildeo e bobordquo diz a estudante Marly

Marques Rodrigues

53- Ensinando histoacuteria ldquo200 anos da vinda da Famiacutelia Real para o Brasilrdquo

O Museu Histoacuterico Nacional produz tambeacutem um caderno educativo dirigido a crianccedilas e

jovens como parte da exposiccedilatildeo temporaacuteria Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte

Portuguesa no Brasil Nesse material o MHN interpela o puacuteblico em torno do tema das

comemoraccedilotildees dos 200 anos da vinda da Famiacutelia Real e cria diaacutelogos especiacuteficos na cultura entre

museu e visitantes

O que o Museu Histoacuterico Nacional apresenta eacute mais que uma simples exposiccedilatildeo

temporaacuteria sobre o tema O museu se coloca no lugar daquele que participa da criaccedilatildeo do proacuteprio

evento-comemoraccedilatildeo em torno da data O material educativo convoca um puacuteblico especiacutefico a

participar do calendaacuterio do bicentenaacuterio das ldquocomemoraccedilotildeesrdquo da vinda da Famiacutelia Real ao Rio de

Janeiro O MHN constroacutei o proacuteprio acontecimento agrave medida que configura uma narrativa

escolhendo textos imagens e a abordagem que conduz os sentidos para outros sujeitos provaacuteveis

visitantes O Museu indica claramente qual eacute o seu papel na disputa pelas memoacuterias e visotildees de

histoacuteria e como continua protagonizando os acontecimentos

143

O MNH elabora uma narrativa sobre a vinda da famiacutelia real a ser divulgada em um

material educativo para ensinar histoacuteria Cabe na anaacutelise desse material identificar algumas

tensotildees presentes nessa narrativa A primeira eacute identificar um sujeito jaacute inscrito no texto e uma

correspondecircncia imediata entre o que o museu supotildee ser um visitante ideal e aqueles que

efetivamente o visitam que natildeo estatildeo necessariamente em plena sintonia com o proposto pela

exposiccedilatildeo

Figura 35 Capa do Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo

mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil18082008

Brasil-Portugal Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

Esse tipo de material uma cartilha educativa tem por objetivo ampliar os significados do

evento-exposiccedilatildeo para um puacuteblico escolar enquadrando numa moldura o cenaacuterio os personagens

e as fontes que seratildeo oferecidos e criando referecircncias para os estudantes Haacute consequecircncias

poliacuteticas e sociais em termos dos referenciais histoacutericos expressos pelo museu e o grau de

legitimidade dessa seleccedilatildeo feita por esse produtor de cultura autorizado para escrever uma

histoacuteria nacional

Os conteuacutedos e temaacuteticas da cartilha pretendem ensinar histoacuteria Destacam-se

personagens histoacutericos datas e eventos poliacuteticos e administrativos proferidos num tom

144

transmissivo aos jovens estudantes O material possui cinquumlenta paacuteginas num formato de

pequeno caderno (cartilha) com imagens coloridas textos e atividades com espaccedilo para respostas

A capa eacute um desenho sem indicaccedilatildeo de autoria que mistura siacutembolos nacionais como o verde

amarelo bandeiras de Portugal e caravelas indicando a saiacuteda da corte da Europa sua passagem

por Salvador e chegada ao Rio de Janeiro A ligaccedilatildeo entre Portugal e Brasil tambeacutem se faz nas

legendas que associam a chegada da Corte a um novo mundo um novo impeacuterio e a permanecircncia

dessas ligaccedilotildees numa faixa abaixo do mapa escrita em vermelho ldquoPortugal 1808-2008 Brasilrdquo

A cartilha eacute orientada para um puacuteblico e as praacuteticas culturais que permeiam a elaboraccedilatildeo

desse artefato evidenciam o diaacutelogo entre o museu e o visitante tanto nos temas estruturas

narrativas valores culturais e hierarquias A anaacutelise do material produzido pelo museu considera

especificamente como ele constroacutei um puacuteblico um visitante atribuindo-lhe caracteriacutesticas de

idade e escolaridade articuladas agrave concepccedilatildeo sobre o que eacute um Museu Agrave medida que o Museu

dirige-se a um suposto vocecirc que visitou a exposiccedilatildeo e agora lecirc o material elaborado por sua

equipe ele fala fundamentalmente dele mesmo de suas concepccedilotildees de histoacuteria e de memoacuteria

O material educativo define a vinda da famiacutelia real como um evento histoacuterico

significativo e que deve ser comemorado Em seguida o Museu Histoacuterico Nacional como sujeito

de uma narrativa histoacuterica confere ao evento legitimidade e convida a reflexatildeo sobre o tipo de

narrativa que o museu pretende repercurtir e publicizar na exposiccedilatildeo

Haacute na estrutura narrativa do material educativo e no sistema de imagens uma

ldquoconvocaccedilatildeordquo ao visitante e uma indicaccedilatildeo de como deve visitar a exposiccedilatildeo Esta interpelaccedilatildeo

do puacuteblico indica uma posiccedilatildeo fiacutesica e um lugar social Haacute um destinataacuterio para o qual se oferece

ldquoconvidardquo a ver de um ponto de vista particular a construir conhecimentos em certa perspectiva

social e poliacutetica

Ao considerar o material pedagoacutegico produzido pelo MHN eacute possiacutevel mapear trecircs

dispositivos de construccedilatildeo da histoacuteria pelo museu o lugar do qual fala o museu o campo de

disputa sobre as concepccedilotildees de histoacuteria e memoacuteria e as opccedilotildees poliacuteticas e esteacuteticas do museu com

relaccedilatildeo ao campo museal e educacional No primeiro caso o Museu Histoacuterico Nacional

comparece como uma instituiccedilatildeo cultural e se posiciona como sujeito frente agraves comemoraccedilotildees

histoacutericas No segundo aponta no material pedagoacutegico em seu conteuacutedo e forma uma visatildeo

145

especiacutefica acerca da Histoacuteria elaborada dentro do campo museal Por fim se posiciona frente agraves

disputas e debates historiograacuteficos que emergem no campo educativo

O sentido atribuiacutedo agraves comemoraccedilotildees natildeo surge do proacuteprio material educativo mas da

forma como ele eacute apresentado pelas linguagens (escolhas dos produtores) e coacutedigos de

inteligibilidade Eacute nesse trabalho de fechamento e marcaccedilatildeo de fronteiras simboacutelicas entre museu

e visitantes que se definem tanto o que eacute o Museu Histoacuterico Nacional (unidade instaacutevel posiccedilatildeo

de poder praacuteticas de memoacuteria que nomeiam um lugar nacional e histoacuterico para regulaccedilatildeo da

cultura) quanto se configura um puacuteblico visitante que deve reiterar a norma e responder

positivamente agraves mensagens (exposiccedilotildees) regulando a si mesmo sua identidade e subjetividade

internalizando condutas normas regras e modos de ser e pensar sobre o que eacute a histoacuteria e a

memoacuteria

O processo de interpelaccedilatildeo de um personagem preferencial imaginaacuterio (vocecirc) se daacute a

partir de uma temaacutetica organizaccedilatildeo em subitens e atividades que propotildeem uma proximidade com

o visitante Ao mesmo tempo a arquitetura dessa organizaccedilatildeo implica por parte do Museu a

aposta em certos interesses e competecircncias do visitante supostamente uma crianccedila que frequumlente

regularmente a escola baacutesica que foi agrave exposiccedilatildeo com sua professora e colegas que possui uma

famiacutelia (pai matildee avoacutes) moradia fixa mobiliada com mesas e cadeiras e alimentaccedilatildeo adequada

Essas imagens a respeito de seu puacuteblico podem ser inferidas quando em diversas

atividades propostas pede-se que a suposta crianccedila faccedila uma ldquoaacutervore genealoacutegicardquo peccedila ajuda de

seus pais sua famiacutelia Escolhendo essa forma de se dirigir aos visitantes o MHN decide quem

inclui e quem exclui da definiccedilatildeo de puacuteblico e avalia para quem fala preferencialmente um

estudante e provavelmente seu professor que tambeacutem pode usar o material pedagoacutegico

encomendando-lhe o ldquoPara Casardquo endereccedilado pelo Museu

O material didaacutetico em questatildeo guarda relativa autonomia em relaccedilatildeo ao

eventocomemoraccedilatildeo e agraves demais exposiccedilotildees permanentes do Museu agrave medida que circula de

forma mais ampla e indica uma permanecircncia pelo seu formato impresso No entanto a concepccedilatildeo

de histoacuteria presente no material e na proacutepria exposiccedilatildeo75

aponta para uma narrativa que considera

o tempo da chegada da famiacutelia como um marco para o progresso e o prenuacutencio de uma nova

ordem poliacutetica ndash a independecircncia em 1822 ndash que fecha a exposiccedilatildeo Na uacuteltima parte do percurso a

75 Ver chamada no site do proacuteprio wwwmuseuhistoriconacionalcombr chamada para a Exposiccedilatildeo

146

estaacutetua de D Pedro I proclama (com aacuteudio) a Independecircncia do Brasil No caderno didaacutetico uma

fotomontagem reuacutene a estaacutetua de D Pedro I de Rodolfo Bernardelli pertencente ao acervo do

MNH com um balatildeo no qual em primeira pessoa a estaacutetua se diz herdeira do trono de Portugal e

grita ldquoIndependecircncia ou Morterdquo

O caderno indica eventos cujos sujeitos satildeo os membros da Famiacutelia Real Satildeo eles que

asseguram a continuidade com um passado colonial mas marcha rumo agrave histoacuteria nacional A

chave de explicaccedilatildeo histoacuterica eacute a relaccedilatildeo de dependecircncia entre colocircnia e metroacutepole que tambeacutem

aparece em outras exposiccedilotildees do Museu como a ldquoColonizaccedilatildeo e Dependecircnciardquo e ldquoMemoacuteria do

Estado Imperialrdquo76

A memoacuteria para o Museu Histoacuterico Nacional eacute um ldquodeverrdquo tornar presente

celebrar para um puacuteblico cuja idade e escolaridade natildeo identificam as variaacuteveis e os sentidos

manipulados por quem faz a exposiccedilatildeo A versatildeo da Histoacuteria oferecida aos visitantes pode ser

contestada mas o trabalho visual feito pelo Museu natildeo abre muito espaccedilo para interaccedilotildees com os

visitantes

O material dispensa um contanto fiacutesico com o professor o com os agentes do museu As

atividades propostas no material falam diretamente com um ldquoalunordquo dando-lhe instruccedilotildees tais

como desenhar pesquisar interpretar observar relacionar e escrever Os recursos graacuteficos e

visuais tambeacutem se apresentam como dispositivos de credibilidade e atribuiccedilatildeo de autenticidade

No caso do Museu isso eacute feito com referecircncia ao seu acervo embora natildeo indique muitas vezes

no material educativo a procedecircncia da imagem e nem faccedila referecircncias se elas estavam ou natildeo

na exposiccedilatildeo Ao apresentar algumas imagens especiacuteficas o material educativo busca o

reconhecimento de sua autenticidade e de sua raridade usando o fato de pertencerem ao acervo do

museu ou mesmo a uma importante coleccedilatildeo particular O MHN tambeacutem busca se aproximar do

visitante por meio do impacto visual ressaltando o formato as dimensotildees da pintura No material

impresso satildeo criados diversos recursos graacuteficos para facilitar a leitura Textos curtos que

dialogam com o leitor graacuteficos mapas e o uso de siacutembolos relacionados agrave monarquia portuguesa

e famiacutelia de Braganccedila como coroas leques bandeiras cartolas brasotildees que povoam as paacuteginas

do material educativo

No caso do material do MHN a exploraccedilatildeo de objetos bidimensionais (quadros

fotografias documentos escritos) e tridimensionais (esculturas mobiliaacuterio louccedilas moedas

76 Ver folder de divulgaccedilatildeo do MHN e site citado acima

147

brasotildees) presentes na Exposiccedilatildeo eacute obrigatoacuteria A relaccedilatildeo entre o texto e as imagens reproduzidas

e trabalhadas no material impresso natildeo podem ser pensadas dada a proacutepria finalidade dos objetos

museais de maneira apenas ilustrativa Aqui o Museu lanccedila matildeo de toda a discussatildeo sobre a

importacircncia de seu acervo para reforccedilar sua funccedilatildeo e seu lugar junto agraves instituiccedilotildees de memoacuteria

nacionais Ainda que nem todas as imagens sejam acompanhas das devidas referecircncias quanto agrave

procedecircncia (acervo) toda a iconografia proveniente do proacuteprio MHN estaacute devidamente

identificada e classificada O lugar de autoridade do Museu promove uma comparaccedilatildeo entre os

quadros de Geoff Haunt um especialista contemporacircneo em pinturas navais intitulado Chegada

da famiacutelia real em 7 de marccedilo de 1808 feito sob encomenda para Kenneth Light77

em 1999 A

outra reproduccedilatildeo eacute de Cacircndido Portinari Chegada de D Joatildeo agrave Bahia uma tela de 1952 A

terceira eacute a imagem de um Leque comemorativo da chegada da famiacutelia real da coleccedilatildeo Mariano

Procoacutepio

O exerciacutecio de leitura de imagem proposto pelo Material Educativo (Figura 36) considera

que a pintura a oacuteleo sobre tela de Haunt eacute uma ldquopintura histoacuterica documental em que o objetivo

eacute ser fiel como uma fotografia [] natildeo mostra uma interpretaccedilatildeo do artista como no caso da obra

de Portinarirdquo (Material Educativo 2008 p228-29)

77 Estudioso dos diaacuterios de bordo da marinha inglesa que acompanharam a vinda da corte portuguesa ao Brasil no

iniacutecio do seacuteculo XIX

148

Figura 36 Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um

novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil18082008 Brasil-

Portugal Museu Histoacuterico NacionalRio de Janeiro 2008

As trecircs obras destacadas pelo Material Educativo natildeo fazem parte do acervo do Museu

Histoacuterico Nacional A primeira pertence a um banco da Bahia a outra eacute parte do acervo do

Museu Mariano Procoacutepio de Juiz de Fora e a terceira eacute da coleccedilatildeo particular de Kenneth Light

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo mais parece um inventaacuterio comentado e ilustrado Natildeo haacute

qualquer texto que discuta a concepccedilatildeo da proacutepria exposiccedilatildeo Eacute no caderno educativo que as

intenccedilotildees de ensino de Histoacuteria do Brasil ficam mais expliacutecitas

Resta explorar um pouco mais como os visitantes negociam com o museu essa visatildeo de

histoacuteria Frente agrave tentativa clara da exposiccedilatildeo de celebrar uma histoacuteria da naccedilatildeo e escrever a

histoacuteria poliacutetica e social expondo os testemunhos histoacutericos materiais que estavam descontiacutenuos

numa narrativa resta indagar como os visitantes se posicionam frente agrave visatildeo do museu e se

conseguem ou natildeo se contrapor a visatildeo da histoacuteria

149

Entender como os visitantes descrevem analisam interpretam e fundamentam uma

narrativa frente ao museu e suas exposiccedilotildees possibilita abordar as relaccedilotildees entre poliacuteticas e

poeacuteticas as relaccedilotildees com a memoacuteria o patrimocircnio e a histoacuteria nos usos educativos dos museus

pelos visitantes

54- O visitante entre a cultura material e a experiecircncia esteacutetica

Os relatos das visitas contribuem para reorganizar as recordaccedilotildees do acontecimento e

invocar uma memoacuteria do grupo de estudantes que ao produzir e selecionar as imagens

disponibilizadas pelo museu traz agrave lembranccedila um conjunto de situaccedilotildees vividas que natildeo foram

registradas mas que sustentam a escrita e o conhecimento histoacuterico por eles elaborado

Mesmo uma visita guiada a uma exposiccedilatildeo e uma raacutepida passagem pelas vaacuterias

dependecircncias do Museu Histoacuterico Nacional deixa resiacuteduos entre os visitantes dessa experiecircncia

evanescente A visitante apresenta o que viu

[] por meio de uma visita guiada que nos deixou agrave vontade para apreciar toda a

exposiccedilatildeo que por si soacute nos permite interagir

Ela eacute dividida em nuacutecleos temaacuteticos ou seja separados por temas ou recortes

cronoloacutegicos

A exposiccedilatildeo conta com objetos e documentos de importantes instituiccedilotildees

puacuteblicas e particulares brasileiras e portuguesas muitos dos quais satildeo objetos ineacuteditos

Na visitaccedilatildeo tive a oportunidade de acompanhar desde a situaccedilatildeo na Europa

com as guerras napoleocircnicas que motivaram a vinda da Corte para o Brasil ateacute os

motivos que levaram agrave proclamaccedilatildeo da Independecircncia do Brasil pelo Imperador Pedro I

O nuacutecleo inicial aborda as conquistas de Napoleatildeo na Europa em especial na

peniacutensula Ibeacuterica seguidas de biografia dos personagens envolvidos no conflito- Napoleatildeo Carlos IV D Maria I e Jorge III Atraveacutes de acervo iconograacutefico cedido por

instituiccedilotildees portuguesas

O nuacutecleo seguinte aborda o embarque em Lisboa e as dificuldades enfrentadas

ao longo de 54 dias de travessia do Atlacircntico A chegada agrave Bahia em 22 de janeiro de

1808 estaacute representada pela monumental tela de Cacircndido Portinari bdquoA chegada de D

Joatildeo VI a Salvador‟ gentilmente cedida pelo Banco BBM SA e Associaccedilatildeo Comercial

da Bahia

A exposiccedilatildeo eacute imensa para apreciar todo o seu acervo seria necessaacuterio um dia

inteiro tempo que natildeo tiacutenhamos Poreacutem trata-se de um local que gostaria de prestigiar

se tiver a oportunidade de retornar a cidade do Rio de Janeiro

A organizaccedilatildeo do MHN aleacutem de seu grande acervo com exposiccedilotildees

permanentes e itinerantes utiliza projeccedilotildees aacuteudio visuais em 3D possibilitando uma nova interaccedilatildeo com as exposiccedilotildees que agradam todo o tipo de puacuteblico (Daniele Paulo

Marques Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo

2008)

150

O caraacuteter monumental da exposiccedilatildeo eacute somado aos objetivos didaacuteticos A montagem de

uma linha cronoloacutegica que vai da vinda de Dom Joatildeo VI agrave declaraccedilatildeo de independecircncia por Dom

Pedro I eacute remontada nos textos e fotografias como a abaixo (Figura 37)

Figura 37 AMORIM Frederico Levi Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo

Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008

A visita ao Museu Histoacuterico Nacional realizou-se como um rito coletivo Teve um caraacuteter

performativo O museu jaacute era entendido pelos visitantes como um lugar puacuteblico de debate sobre a

histoacuteria e acreditavam que de certo modo estava mais autorizado do que o campo acadecircmico

(historiografia e faculdade) por trazer um enorme acervo cultural mas que natildeo deixa de causar

confusatildeo entre os visitantes Uma das visitantes cita que viu ldquofotosrdquo das filhas do casal real

utensiacutelios que serviram para a viagem pinturas cartas carimbos e ldquouma reacuteplica da sala de visitas

da Marquesa de Santosrdquo

151

Natildeo se sabe o que a levou a imaginar uma sala da Marquesa de Santos em meio agrave

exposiccedilatildeo sobre a vinda da famiacutelia real nem as chamadas fotografias Impressiona nesse caso a

capacidade de criar outro acervo para o museu em meio agrave descriccedilatildeo dos objetos que estavam em

exposiccedilatildeo

Para outros visitantes o Museu Histoacuterico Nacional eacute ldquograndioso muito bem montado e

agradaacutevel agrave visitaccedilatildeo puacuteblica com vaacuterias exposiccedilotildeesrdquo diz o visitante Fernando Daniel Fraga

Fonseca Jaacute a visitante Aline Conceiccedilatildeo Ferreira Gregoacuterio tambeacutem achou que ldquoo acervo eacute

enorme por isso a visita demanda bastante tempo Foi uma exposiccedilatildeo proveitosa poreacutem um

pouco cansativa devido ao tamanho do museurdquo

O museu estabelece no contato com o visitante uma rede de opiniotildees e um quadro de

diferentes reaccedilotildees frente agrave materialidade da praacutetica museal Cada museu possui uma narrativa

distinta e a anaacutelise que o puacuteblico faz da exposiccedilatildeo se inicia com a identificaccedilatildeo das marcas

emitidas por essa fala autorizada A interpretaccedilatildeo eacute constituiacuteda pelo puacuteblico no confronto entre as

promessas do ldquogecircnero museurdquo e expectativas dos visitantes

A parte que mais gostei foi o museu todo mas a que mais me prendeu a atenccedilatildeo foi a

parte onde se encontra os canhotildees pelo que pude contar contei 48 canhotildees E gostei

tambeacutem das pratarias e da parte da medicina tudo laacute eacute muito bonito e muito bem conservado (Claudilene Aparecida de Almeida Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico

Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

Outra visitante da exposiccedilatildeo tambeacutem inicia seu relato da visita ressaltando o caraacuteter de

documento-monumento do Museu Histoacuterico Nacional Eles destacam o seu acervo

Ali estaacute exposto todo um acervo muito bem preservado e identificado como carruagens

louccedilas pratarias armas objetos pessoais santos religiosos moacuteveis quadros entre outros

dando a oportunidade principalmente a noacutes historiadores de poder conhecer melhor todo

o contexto histoacuterico que cercou D Joatildeo VI e sua vinda com sua corte ao Brasil

entrelaccedilando a histoacuteria do Brasil e de Portugal (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

O evento eacute memoraacutevel porque significa um marco na ldquoformaccedilatildeo do Estado nacional

brasileiro com o estabelecimento da sede do governo do mundo portuguecircs em terras tropicaisrdquo O

legado de D Joatildeo VI a ser apresentado na exposiccedilatildeo eacute a criaccedilatildeo de um ldquoImpeacuterio na Ameacutericardquo o

ldquopersonagem que entrelaccedilou para sempre as histoacuterias do Brasil e Portugalrdquo (BOTTREL 2008

p17) Esse ldquodestinordquo eacute a independecircncia assinalam os historiadores portugueses e brasileiros

152

Arno Wheling e Maria Joseacute Wehling que pintam os quadros historiograacuteficos um de 1808 e outro

de 1821 Propotildeem que entre uma data e a outra ocorreram mudanccedilas significativas e irreversiacuteveis

que levaram o Brasil a se distanciar de Portugal a ponto de se tornar independente ou formar

uma nova personalidade poliacutetica

Os visitantes se apresentam em suas fotografias como parte da exposiccedilatildeo e do acervo

(Figuras 38 e 39)

Figura 38 Montagem fotograacutefica de Frederico Amorim para visita agrave

Exposiccedilatildeo do Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

Figura 39 BRAGA Fernando Daniel Visita ao Museu Nacional Rio

Janeiro 2008

153

A exposiccedilatildeo eacute vista como accedilatildeo de difusatildeo nos museus e ocupa contemporaneamente uma

funccedilatildeo ao lado das accedilotildees de pesquisa e preservaccedilatildeo antes vistas como prioritaacuterias A linguagem

visual eacute priorizada e assumida pelos visitantes que elaboram novas imagens e narrativas visuais

sob as formas apresentadas pelo museu O visitante coloca em circulaccedilatildeo a sua proacutepria imagem

como parte da exposiccedilatildeo exercitando sua habilidade analiacutetica e criando novas instacircncias de

produccedilatildeo de sentido na vida cultural diaacuteria

Natildeo haacute uma uacutenica forma de estabelecer a relaccedilatildeo entre visitantes e museus Tambeacutem natildeo

haacute a passagem imediata de um campo ao outro ou uma linguagem uacutenica que pertence ao museu e

outra do visitante Haacute um partilhamento dos coacutedigos simboacutelicos e a criaccedilatildeo de um espaccedilo cultural

de intercacircmbio A matriz cultural do museu eacute avaliada pelos visitantes Satildeo estabelecidas

diferenccedilas mas se institui um novo circuito de cultura

Essas praacuteticas exercitadas pelos visitantes nos museus implicam na ampliaccedilatildeo da

dimensatildeo de produccedilatildeo de conhecimento histoacuterico Mesmo entre os visitantes que ficam mais

proacuteximos dos sentidos apresentados pelo museu limitando-se a uma descriccedilatildeo da visita agravequeles

que buscam de forma mais abrangente inserir a narrativa do museu em um cenaacuterio poliacutetico

social cultural mais amplo satildeo sujeitos da produccedilatildeo de novos sentidos para o patrimocircnio

musealizado Satildeo sujeitos de uma nova narrativa agrave medida que buscam compreender como se daacute

a produccedilatildeo do conhecimento cultural e histoacuterico (RUSEN 2005 p192)

Ao selecionarem imagens e reescreverem informaccedilotildees sobre a exposiccedilatildeo os visitantes

demonstram habilidades de reordenar aspectos que lhes chamaram a atenccedilatildeo e passam a circular

em outro circuito para aleacutem do museu

154

Figura 40 Fernando Daniel Fraga Fonseca Fotografia Nuacutecleo 2- A

metroacutepole nos troacutepicos Exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo

Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil MHN 2008

A fotografia de Fernando Daniel Fraga Fonseca (Figura 40) eacute aparentemente um misteacuterio

Uma chave que pode solucionaacute-la eacute o conceito de circuito da cultura78

(HALL 1997 2003)

entendido como uma relaccedilatildeo complexa produzida e sustentada atraveacutes de movimentos distintos

mas interligados ou seja como praacuteticas conectadas de produccedilatildeo circulaccedilatildeo consumo regulaccedilatildeo

identidade e representaccedilatildeo que criam formas simboacutelicas e datildeo passagem simultaneamente a

outros movimentos de produccedilatildeo de sentidos

O visitante registra um texto escrito sobre um suporte afixado na parede como parte da

exposiccedilatildeo sobre a corte portuguesa no Brasil no Museu Histoacuterico Nacional O texto tem como

tiacutetulo O desembarque em Salvador que tambeacutem eacute o tiacutetulo de uma obra iconograacutefica exposta A

existecircncia do texto indica que o Museu Histoacuterico Nacional explica esse evento para seus

78 Em certa medida pode-se pensar tambeacutem no conceito de circularidade de culturas definido por Ginsburg

em contraponto ao termo mentalidade a partir de um recorte analiacutetico que considera as diferentes classes sociais e as

influecircncias reciacuteprocas entre a cultura subalterna e a cultura hegemocircnica que se movem de maneira circular

(GINSBURG 1987 p 13)

155

visitantes durante a exposiccedilatildeo Haacute a produccedilatildeo de um sentido que pretende ser fixado mas que

circula em outros suportes a pintura de Portinari e a fotografia do visitante

Nessa pesquisa tanto os museus visitados quanto seus visitantes instituem esses lugares de

significaccedilatildeo Museus e visitantes produzem um circuito histoacuterico e cultural e se posicionam

agenciam criam modos de endereccedilamento da cultura Entretanto na ideacuteia de circuito embora

estejam claros os produtos e os produtores natildeo haacute um sentido prioritaacuterio que desencadeia a accedilatildeo

cultural e portanto as ideias de ldquorecepccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo natildeo estatildeo colocadas ao fim de uma

cadeia de significaccedilatildeo O espectador ou visitante produz o sentido tanto quanto a instituiccedilatildeo que

pretende alojar a memoacuteria do evento com a exibiccedilatildeo puacuteblica de objetos

Acho esse trabalho de extrema relevacircncia para nosso curso e conveniente por causa das

discussotildees atuais O tema eacute muito atual e foi interessante visitar o Rio de Janeiro

justamente agora em que as comemoraccedilotildees dos 200 anos da chegada da famiacutelia real

estatildeo acontecendo Para mim foi muito bacana ver outras instituiccedilotildees museoloacutegicas e

exposiccedilotildees de cunho histoacuterico e artiacutestico ateacute mesmo para identificar as diferentes

concepccedilotildees de museu Identificar a intenccedilatildeo da exposiccedilatildeo e o que ela pretende

contar[] Algumas exposiccedilotildees mostram o cotidiano no Brasil as relaccedilotildees e o papel dos

liacutederes e do povo isso tambeacutem eacute relevante As gravuras pinturas documentos objetos

instrumentos dialogam com as exposiccedilotildees no qual estatildeo inseridos e com o proacuteprio

leitor nos fazendo desenhar e nos relacionar muito claramente com o passado (Frederico

Levi Amorim Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro

Leopoldo 2008)

A exposiccedilatildeo enfoca muito a importacircncia da vinda da famiacutelia real para o nosso processo

de emancipaccedilatildeo poliacutetica de Portugal mas esquece de salientar que independentemente

da existecircncia desse episoacutedio ou natildeo nossa economia jaacute era mais forte que a dos lusitanos

nossa elite jaacute natildeo aguumlentava a exorbitante taxaccedilatildeo de impostos sobre nossa produccedilatildeo e

que as ideias de cunho liberal jaacute pairavam sobre nossos ares gerando vaacuterias revoltas por todo o nosso territoacuterio (Weberton Fernandes da Costa Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

As visitas a museus permitem por em relaccedilatildeo o que Gruzinski (2001) chama de sistemas

culturais diferentes ou a questatildeo das fronteiras culturais e seus hibridismos O contato do visitante

com o museu pode ser pensado natildeo como um ldquocontratordquo mas uma confrontaccedilatildeo que destaca as

formas de temporalidade e historicidade natildeo contidas na noccedilatildeo de cultura europeacuteia e torna

possiacutevel a emergecircncia de um pensamento e praacuteticas inventivas e improvaacuteveis de hibridismo

(GRUZINSKI 2001 p157)

156

As fotografias selecionadas e apresentadas e os trechos dos relatos destacados apontam o

deslocamento realizado pelos visitantes ateacute a chegada ao Museu onde reinstalam o lugar do

visitante na cultura museal e desenvolvem um capiacutetulo da escrita da histoacuteria nos museus

O relato da visita como praacutetica de memoacuteria e histoacuteria se amplia em uma narrativa que

reorganiza as recordaccedilotildees do acontecimento e invoca uma memoacuteria do grupo de estudantes ao

selecionar as imagens e trazer agrave lembranccedila um conjunto de situaccedilotildees vividas e interpretadas

muitas natildeo registradas que sustentam uma rede de opiniotildees e formam diferentes quadros de

sentido Os estudantes fazem uma anaacutelise da exposiccedilatildeo praticando a museologia mesmo natildeo

tendo um treinamento especial e sistemaacutetico do ofiacutecio museoloacutegico percebem pensam e

praticam a museologia (CHAGAS 2003 p20) Elaboram um ldquopensamento musealrdquo

identificando marcas deixadas pelos quadros de referecircncia enunciados pelo museu A

interpretaccedilatildeo eacute constituiacuteda pelos visitantes no confronto com suas expectativas e as promessas

natildeo cumpridas pelo museu

Amplia-se a reflexatildeo sobre o processo de educaccedilatildeo poliacutetica e dos sentidos O debate

historiograacutefico recebe novos elementos das visotildees sobre o museu que se cruzam na cabeccedila dos

visitantes aquilo que os especialistas dizem sobre o museu aquilo que viram no Museu do

Escravo e aquilo que a escola lhes ensinou sobre a histoacuteria da escravidatildeo As disputas satildeo

evidenciadas Eacute necessaacuterio mobilizar conceitos e experiecircncias estabelecendo possibilidades e

limites da abordagem para elaborar narrativas sobre a visita

Pode-se afirmar que na elaboraccedilatildeo dos relatos das visitas emergem uma seacuterie de efeitos

formativos nos estudantes e professoresformadores As visitas desencadeiam perguntas sobre a

identidade verbalizam sentimentos pensamentos aspectos de suas experiecircncias sociais e

estimula a reflexibilidade Os relatoacuterios tambeacutem validam algumas construccedilotildees teoacutericas agrave medida

que operam com a traduccedilatildeo de concepccedilotildees simboacutelicas particulares e localizadas em uma

consciecircncia praacutetica e outra discursiva de caraacuteter mais amplo Tambeacutem permitem reconhecer e

dar visibilidade puacuteblica e social a realidades locais multiculturais e que contribuem para

contrariar formas hegemocircnicas de produccedilatildeo de conhecimento jaacute instituiacutedas e institucionalizadas

nas rotinas de formaccedilatildeo

Ao apresentar de forma ampla o uso feito pelos visitantes da visita ao museu eacute possiacutevel ir

aleacutem da criacutetica aos museus e discutir como os visitantes interpretam propostas expositivas da

157

instituiccedilatildeo visitada em dialoacutego com a heranccedila cultural e as praacuteticas de preservaccedilatildeo da memoacuteria e

do poder Ou em outras palavras como elaboram frente agraves imagens que lhes satildeo apresentadas

uma nova escrita imageacutetica acrescentando criacuteticas e explicitando ambiguidades presentes na

produccedilatildeo do museu

158

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A escrita desta tese teve iniacutecio com a tentativa de encontrar um ldquolugarrdquo que comportasse o

registro de praacuteticas educativas perdidas em meio agraves preocupaccedilotildees em uma instituiccedilatildeo de ensino

superior que encerrava a oferta de cursos de licenciatura Os trabalhos escolares dos alunos em

sua maior parte eram considerados privados e natildeo seriam recolhidos ao arquivo escolar

O local mais provaacutevel das memoacuterias de estudantes e professores seria o esquecimento A

situaccedilatildeo dos documentos escolares laacute encontrados natildeo era muito diferente de outras instituiccedilotildees

educativas A preservaccedilatildeo se limitava a um conjunto de textos legais documentos oficiais

administrativos e pedagoacutegicos Pouco se arquivava dos testemunhos orais dos professores alunos

e funcionaacuterios A biblioteca recebia publicaccedilotildees relatoacuterios teacutecnicos de pesquisa e conclusatildeo de

curso

Estava posta uma crise de memoacuteria os relatos escritos e visuais de visita excediam em

volume e careciam de organizaccedilatildeo Restavam as tentativas de doaccedilatildeo ou descarte O museu ou o

lixo A primeira opccedilatildeo implicou em questionar se os museus visitados teriam algum interesse

nesse tipo de resposta de sua audiecircncia escolar Resolvi apostar no recolhimento dos rastros dar

tratamento aos fragmentos cotidianos da cultura escolar e apresentaacute-los publicamente

Sistematizar a produccedilatildeo dos estudantes e colocaacute-la em circulaccedilatildeo foi o principal

investimento dessa pesquisa A duacutevida era constante esse tipo de fonte documental seria capaz

de sustentar uma anaacutelise a respeito dos sentidos da memoacuteria da histoacuteria e dos museus na cultura

contemporacircnea Espero ter argumentado ao longo do texto que sim Os relatos dos estudantes

indicam que eles foram capazes de ampliar sua formaccedilatildeo histoacuterica ao visitar museus

O processo de pesquisa foi de compartilhamento e conviacutevio com as reflexotildees teoacutericas e

metodoloacutegicas no grupo Memoacuteria Aprendi a exercitar a escrita como condiccedilatildeo de memoacuteria

Cada leitura cada debate constituiu-se em novas aprendizagens vividas e sentidas Escrever e

apresentar resultados parciais tornou a pesquisa possiacutevel

A maior tensatildeo da pesquisa foi delimitar o proacuteprio campo da investigaccedilatildeo delinear as

presenccedilas (estudantes e museus) as concomitacircncias (diaacutelogos admitidos ou criticados na

bibliografia) e as ausecircncias (outras ligaccedilotildees possiacuteveis com a histoacuteria e a educaccedilatildeo)

A busca por criteacuterios e a seleccedilatildeo das situaccedilotildees educativas de visitas envolveu um longo

diaacutelogo com ldquopalavras e coisasrdquo autores e praacuteticas Um jogo de conceitos emaranhados ao

159

mesmo tempo superpostos ndash diversos e abrangentes ndash e lacunares dispersos em livros textos e

instrumentos de sistematizaccedilatildeo de dados

Assim para descrever e avaliar a praacutetica de formaccedilatildeo evitei me referir a um sistema de

interpretaccedilatildeo ou traduccedilatildeo exterior (um horizonte idealizado ou seu suposto inverso uma

abstraccedilatildeo advinda da empiria) Propus-me a mobilizar conceitos disponiacuteveis e discordantes

principalmente de memoacuteria e histoacuteria que circulam ao niacutevel das minhas proacuteprias praacuteticas

apostando em sua emergecircncia a partir de quem falava e das posiccedilotildees dos sujeitos (estudantes) e

dos lugares institucionais (escolas e museus)

O maior desafio para a conclusatildeo desse projeto decorreu da opccedilatildeo que o motivou

inicialmente analisar as situaccedilotildees educativas de visitas a museus a partir da loacutegica da proacutepria

experiecircncia pedagoacutegica Natildeo houve um movimento externo de observaccedilatildeo mas um interesse ou

desejo de saber que veio da aproximaccedilatildeo entre o sujeito que se colocava na condiccedilatildeo de

pesquisador mas estava proacuteximo ao ldquoobjetordquo investigado

Os visitantes considerados na pesquisa natildeo se apresentam como um grupo representativo

segundo criteacuterios socioloacutegicos ou estatiacutesticos como acontece nos estudos de recepccedilatildeo que

avaliam efeitos provocados em determinada audiecircncia Os estudantes na condiccedilatildeo de visitantes

esboccedilam hipoacuteteses difusas acerca do que ocorre durante uma visita escolar Um mesmo visitante

utiliza estrateacutegias diferentes ao longo de sua trajetoacuteria escolar para traccedilar paralelos entre sua vida

e de um personagem histoacuterico Suas atitudes informadas ou desinformadas irocircnicas ou

conformistas dizem mais da criaccedilatildeo de uma cultura comum uma experiecircncia simultaneamente

implicada e distante da cultura predominante nas escolas e museus

A materialidade das praacuteticas de visita surgiu do trabalho com os relatos escritos e visuais

Na leitura dos relatos as operaccedilotildees de narrar proacuteprias da vida praacutetica foram se constituindo

como fundamento e pressuposto do conhecimento histoacuterico escrito por professores e estudantes

A anaacutelise das praacuteticas de visita combinou reflexotildees teoacutericas historiograacuteficas e empiacutericas

Textos imagens e oralidade num mesmo quadro analiacutetico Destaco que tanto as reflexotildees

teoacutericas e historiograacuteficas quando o quadro empiacuterico foram tentativas de abordagem diaacutelogos

recortes possiacuteveis e natildeo implicam na concordacircncia com todos os argumentos dos autores citados

ou um aprofundamento da reflexatildeo sobre cada fonte em particular Procurei explorar de cada obra

160

argumentos ou linhas de interpretaccedilatildeo que interessavam no estudo do tema do visitante de

museus

As fotografias tomaram ao longo da pesquisa uma centralidade maior A anaacutelise do

conteuacutedo dos materiais visuais seu uso durante as visitas e sua circulaccedilatildeo posterior constituiu-se

em um conhecimento experiencial da proacutepria visita As fotografias satildeo relatos visuais construiacutedos

com possibilidades de reproduccedilatildeo e propriedades materiais que influenciam na forma de leitura

de seus conteuacutedos Nas fotografias a visita oscila entre uma viagem de estudo e de turismo Os

estudantes trazem imagens de lugarespaisagens e objetos (sem pessoas) pessoas em

lugarescenaacuteriosobjetos e poucas com pessoas isoladas de cenaacuterios Quando confrontadas agraves

imagens produzidas pelos museus em cataacutelogos e materiais de divulgaccedilatildeo o cenaacuterio eacute destacado

sem a presenccedila de pessoas os objetos satildeo apresentados isolados sem a encenaccedilatildeo da exposiccedilatildeo

Nessa pesquisa selecionei fotografias-chave (amostras) de um quadro mais amplo de

originais Os objetivos dos fotoacutegrafos eram documentar a viagem nem sempre com a finalidade

de exibir as imagens Os relatos entregues para avaliaccedilatildeo trazem um primeiro corte feito pelos

seus produtores diretos os estudantes Era preciso imprimir os arquivos digitais Os viacutedeos e as

repeticcedilotildees satildeo deixados de lado As imagens armazenadas pelos estudantes tambeacutem eram

produzidas com a finalidade de exibiccedilatildeo para familiares e para compor um aacutelbum pessoal As

imagens impressas satildeo utilizadas e socializadas entre o grupo e se repetem em vaacuterios relatoacuterios de

visita A circulaccedilatildeo das imagens dado o seu suporte digital motiva a colaboraccedilatildeo e daacute iniacutecio a

uma narrativa com exerciacutecios de exploraccedilatildeo e descoberta

As fotografias trazem para a pesquisa uma dupla dimensatildeo Eacute marcante seu caraacuteter

documental mas elas natildeo permitem afirmaccedilotildees generalizantes Apresentam eventos especiacuteficos e

a anaacutelise depende das condiccedilotildees de produccedilatildeo e natildeo apenas da narrativa e do conteuacutedo

apresentado A produccedilatildeo das fotografias envolve negociaccedilotildees entre o criador da imagem e as

circunstacircncias sociais e teacutecnicas de produccedilatildeo (autorizaccedilatildeo iluminaccedilatildeo composiccedilatildeo)

Na pesquisa as fotografias tiveram uma primeira entrada com valor documental (dado

visual) que as considera como ato de criaccedilatildeo de um fotoacutegrafo e eacute resultado de condiccedilotildees

especiacuteficas de produccedilatildeo Em quadro mais complexo que esse primeiro de produccedilatildeo das imagens

estaacute a ediccedilatildeo ou os criteacuterios de seleccedilatildeo da pesquisa que reinscrevem as fotografias numa nova

coleccedilatildeo junto a outras que tambeacutem aderem ao plano da anaacutelise

161

As fotografias vieram ao encontro da necessidade de narrar e trazem as intenccedilotildees de

presenccedila como parte da accedilatildeo dos visitantes que se apresentam como o principal conteuacutedo das

imagens Nas fotografias dos visitantes eles compotildeem uma narrativa na qual utilizam os edifiacutecios

e objetos dos museus como um cenaacuterio (enquadramento da accedilatildeo) uma narrativa em que eles

visitantes satildeo os sujeitos Haacute nas fotografias uma biografia uma auto-representaccedilatildeo de si e do

grupo O registro fotograacutefico externaliza aspectos natildeo visiacuteveis e gera conhecimentos sobre as

visitas e visitantes Longe do local de produccedilatildeo as imagens satildeo reelaboradas pela pesquisa com o

propoacutesito de circulaccedilatildeo mais ampla natildeo com o propoacutesito de identificar indiviacuteduos especiacuteficos

mas de projetar mais longe o olhar dos visitantes

As fotografias dos visitantes selecionadas pela pesquisa trazem essa dimensatildeo da

presenccedila Os estudantes se posicionam ao lado direito e esquerdo da escultura do escravo do

tronco abraccedilam Dom Joatildeo VI montam e desmontam as exposiccedilotildees visitadas com criteacuterios de

relevacircncia pessoal Trazem sedimentos das heranccedilas culturais como o ldquoimaginaacuterio do troncordquo que

circunda conceitos de escravidatildeo Colocam clivagens historiograacuteficas como o cotidiano e a vida

privada em museus marcados por exposiccedilotildees de vieacutes poliacutetico e nacionalista

Os referentes oferecidos pelos museus satildeo partilhados ou confrontados Nascem nos

relatos hiacutebridos ediccedilotildees coleccedilotildees em novos formatos Nos museus visitados os estudantes

fotografam o espaccedilo organizado os iacutecones do acervo (pinturas esculturas) e os artefatos da

museologia (desenhos projeccedilotildees e cenaacuterios) Haacute um museu concreto e um museu imaginado

ambos reconstruiacutedos pelos visitantes O visitante faz o uso do museu durante a visita e recria o

lugar dando-lhe outras dimensotildees espaciais

A anaacutelise das visitas ao Museu do Escravo e Museu Histoacuterico Nacional pode ser

entendida como um movimento de circulaccedilatildeo entre o momento efetivo da praacutetica pedagoacutegica e de

formaccedilatildeo e o momento de reflexatildeo na leitura dos relatos jaacute constituiacutedos indicando a construccedilatildeo

de sensibilidades que envolvem todo trabalho com a cultura e uma orientaccedilatildeo para a vida praacutetica

daqueles implicados na dinacircmica das visitas A experiecircncia de visita possui junto a sua dimensatildeo

praacutetica uma qualidade esteacutetica dada natildeo pelo resultado final mas pelo movimentotranscurso da

accedilatildeo Eacute um agir e padecer frente agraves coisas fiacutesicas e imaginadas Une eventos e objetos numa

relaccedilatildeo muacutetua de extensatildeo e profundidade As visitas a museus geram conhecimentos e narrativas

agrave medida que permitem uma aprendizagem pela observaccedilatildeo e pela proacutepria experiecircncia

162

O Museu Histoacuterico Nacional transcende as barreiras do tempo e traz uma loacutegica

museoloacutegica ainda proacutexima do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro (IHGB) marcada pela

exaltaccedilatildeo dos feitos grandiosos nas esferas militar e poliacutetica e com pouco interesse pelo

cotidiano O museu resiste ao tempo presente Mas os visitantes natildeo fazem essa leitura e se

colocam na praacutetica de sua atualizaccedilatildeo Representam a si mesmos na exposiccedilatildeo e se apropriam de

seu acervo num arquivo fotograacutefico

No Museu do Escravo ocorre algo semelhante Se eacute legiacutetimo destacar que as praacuteticas de

colecionismo e a exposiccedilatildeo do museu alimentam preconceitos raciais e estereoacutetipos os visitantes

natildeo apenas fizeram a criacutetica dessas praacuteticas como redefiniram eles mesmos a coleccedilatildeo de objetos

curiosos Mais uma vez remontaram o acervo nas suas narrativas escritas e visuais

O procedimento de leitura das exposiccedilotildees que implica em montagem e desmontagem de

coleccedilotildees foi experimentado pelos estudantes no Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto ou seja numa

visita a museus O conteuacutedo de uma exposiccedilatildeo tambeacutem eacute utilizado para analisar outras Os

museus satildeo comparados entre si Os criteacuterios satildeo internos (museus) e natildeo externos (escola

historiografia)

O tipo de argumento predominante nas narrativas natildeo vem diretamente de leituras ou

discussotildees teoacutericas embora elas sejam utilizadas como no caso da escravidatildeo Os argumentos

produzidos nas narrativas satildeo configurados na proacutepria experiecircncia que oscila entre ldquoefeitos de

presenccedilardquo por estar dentro do museu ver a exposiccedilatildeo e ldquoefeitos de sentidordquo (o que leu estudou

sobre escravidatildeo histoacuteria do Brasil)

Pode-se concluir que as visitas trouxeram uma seacuterie de efeitos formativos para os

estudantes-visitantes Desencadearam afirmaccedilotildees sobre a identidade profissional verbalizaram

sentimentos e pensamentos sobre o pertencimento cultural ao tempo presente e estimularam a

reflexividade sobre o exerciacutecio da escrita da histoacuteria em museus Os relatoacuterios tambeacutem validaram

algumas construccedilotildees teoacutericas agrave medida que operavam uma ponte entre as concepccedilotildees particulares

e localizadas elaboradas em reaccedilatildeo quase imediata ao contato com o patrimocircnio musealizado e

outra dimensatildeo teoacuterica mais ampla acionada pela leitura e seleccedilatildeo de trechos que recebiam um

novo formato com a pesquisa

Os relatos criaram condiccedilotildees de reconhecimento visibilidade puacuteblica e social a realidades

locais como eacute caso do Museu do Escravo em Belo Vale Minas Gerais Colaboram tambeacutem para

163

contrariar formas hegemocircnicas de produccedilatildeo de conhecimento jaacute instituiacutedas e institucionalizadas

nas rotinas de formaccedilatildeo A visita ensina que os museus satildeo espaccedilos puacuteblicos onde satildeo

construiacutedas diferentes formas de ver a sociedade e nesse aspecto ajudam a tornar visiacuteveis as

temporalidades

As visitas se apresentam como uma praacutetica de coletar e a nova coleccedilatildeo passa a circular de

maneira tambeacutem inovadora frente ao acervo dos museus Os relatos integram elementos orais

textuais e visuais em um conjunto que dialoga com os valores e significados da cultura dos

museus e da cultura escolar Os visitantes fazem um uso praacutetico dos museus e da historiografia

para elaborar um conhecimento histoacuterico que utiliza novas formas de seleccedilatildeo e organizaccedilatildeo da

memoacuteria

Para ser coerente com o tema tentei apresentar a pesquisa de um modo mais narrativo

menos cronoloacutegico que contasse a histoacuteria dos sujeitos da pesquisa Uma ldquomanufaturardquo que

pudesse se contrapor aos ldquoprodutoresrdquo institucionalizados nos museus e oacutergatildeos de pesquisa

Talvez tenha encontrado ao final uma soluccedilatildeo para a impressatildeo dos visitantes que me

intrigou durante quatro anos Quando saem do museu saiacuteram de uma sala de aula As visitas satildeo

viagens ao interior mas levam para aleacutem dos horizontes fazem experimentar sentimentos de

turista viajante estudante historiadores natildeo importa Satildeo uma viagem pelo espaccedilo (museu) mas

por pouco tempo deve-se manter a cabeccedila no lugar (sala de aula)

A tentativa de entender o visitante como um ldquoespectador emancipadordquo como um viajante

que carrega sua proacutepria bagagem seus emblemas de pertencimento cultural agrave profissatildeo docente e

inclui suas observaccedilotildees sobre os territoacuterios oficiais da memoacuteria implica em considerar que a

exclusatildeo cultural existe de fato e a reivindicaccedilatildeo ao direito de participaccedilatildeo na gestatildeo cultural

implica em afirmar e reconhecer espaccedilos como os dos museus como ldquocasas de pertencimentordquo e

de ldquopresenccedilardquo do visitante

Os visitantes em questatildeo satildeo a expressatildeo desse direito agrave participaccedilatildeo cultural Num

primeiro momento se coloca ainda como um estrangeiro um estudante que faz sua primeira visita

ao museu mas que a partir desse primeiro encontro recebe uma espeacutecie de ldquosenhardquo que lhe

permite adentrar esse mundo dos museus Ser visitante afeta seu desejo no acircmbito da cultura

afeta sua formaccedilatildeo histoacuteria Suas narrativas de visita apontam esses deslocamentos novas

praacuteticas e roteiros de formaccedilatildeo acadecircmica e profissional

165

DOCUMENTOS

1- Registros de estudantes das atividades de visita a museus

FIPEL ndash FACUDADES INTEGRADAS DE PEDRO LEOPOLDO Instituto Superior de

Educaccedilatildeo de Pedro Leopoldo Relatoacuterios de visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto 2ordm

periacuteodo Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2005

______ Relatoacuterio siacutentese do Trabalho de Campo Visita a Belo Vale - MG Museu do

Escravo e Fazenda Boa Esperanccedila 4ordm periacuteodo Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2006

______ Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 7ordm periacuteodo Curso

de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2008

_______ Relatoacuterios individuais de visita ao Museu Imperial de Petroacutepolis nos anos 2001

2005 2004 e 2007 Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2007

_______ Relatoacuterio final de Estaacutegio Supervisionado Projeto de integraccedilatildeo Museu- Escola

Visita de alunos do Ensino Meacutedio ao Museu Abiacutelio Barreto-BH Curso de Histoacuteria Pedro

Leopoldo 2000

Roteiro de Pesquisa para os Formadores Enviado para os professores que participaram do

trabalho de campo no Rio de Janeiro com a turma do 7ordm periacuteodo e outros 2008

Transcriccedilatildeo fita Grupo Focal ndash gravada em 30042008 quarta-feira - antes do trabalho de campo

ao Rio de Janeiro- Faculdade de Pedro Leopoldo com 9 alunos do 7ordm Periacuteodo ndash Curso de Histoacuteria

ndashFaculdades Pedro Leopoldo-MG Feito com a ajuda da professora Cristiane Almeida (assistiu e

tomou notas) Total 7 paacuteginas

Entrevistas monitores-estagiaacuterios na exposiccedilatildeo ldquoFamiacutelia Ferrez novas revelaccedilotildees no Museu de

Artes e Ofiacutecios Belo Horizonte 2008

Diaacuterio de campo Observaccedilatildeo das visitas de trecircs escolas baacutesicas ao Museu de Artes e Ofiacutecios

Belo Horizonte 2008

166

2- Documentos das instituiccedilotildees visitadas

MUSEU HISTOacuteRICO NACIONAL - RJ

MUSEU Histoacuterico Nacional Um novo mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no

Brasil18082008 Brasil-Portugal Setor Educativo 50 paacuteginas 2008

______ Guia do Visitante Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura Rio de Janeiro 1957 36p

______ Informes do setor educativo Impresso 4 paacuteginas

______ Revista Didaacutetica da Exposiccedilatildeo Itinerante 28 paacuteginas 2005

______ Folheto de apresentaccedilatildeo do acervo e das exposiccedilotildees sd

______ Conhecendo o Museu Histoacuterico Nacional sd

TOSTES Vera Luacutecia Bottrel Um novo mundo um novo impeacuterio a corte portuguesa no Brasil

1808-1822 Cataacutelogo da exposiccedilatildeo Curadora Vera Luacutecia Bottrel Tostes curadoria adjunta Lia

Silva Peres Fernandes Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2008 192p

MUSEU DO ESCRAVO ndash Belo ValeMG

JULIAtildeO Letiacutecia Projeto de Revitalizaccedilatildeo do Museu do Escravo Secretaria de Estado de

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MINAS GERAIS Secretaria de Estado de Cultura Superintendecircncia de Museus Museus

mineiros- Museu do Escravo Imprensa Oficial Minas Gerais 2002 4p

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Turismo Belo Vale aqui comeccedilou Minas Gerais Administraccedilatildeo 20052008 4 p

Outros documentos

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Nacional de Museus Brasiacutelia 2003 Disponiacutevel em lt WWW museusgovbrgt Acesso em 2008

FIPEL ndash FACUDADES INTEGRADAS DE PEDRO LEOPOLDO Instituto Superior de

Educaccedilatildeo de Pedro Leopoldo ndash Projeto Pedagoacutegico do Curso de Histoacuteria Histoacuteria Pedro

Leopoldo MG 2004

IBRAN- Instituto Brasileiro de Museus Cadastro Nacional de Museus Disponiacutevel em

ltWWWmuseusgovbrgt Acesso em 2010

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memoacuteria da museologia no Brasil Rio de Janeiro 2007 Disponiacutevel em

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Letras 2008

188

ANEXOS

Anexo A- Roteiro de coleta de dados estudantes de licenciatura em Histoacuteria 2008

Total de questionaacuterios respondidosdevolvidos 17 estudantes

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS- UNICAMP

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM EDUCACcedilAtildeO ndash DOUTORADO

ALUNA Elizabeth Seabra ORIENTADORA Dra Ernesta Zamboni

Roteiro de pesquisa ldquoAccedilatildeo educativa em museus e formaccedilatildeo docenterdquo

Observaccedilatildeo vocecirc poderaacute marcar mais de uma alternativa ou numeraacute-las de acordo com suas preferecircncias

Parte I-

1-Sexo Masculino ___ Feminino ______ Idade _______anos

2-Exerce atividade profissional remunerada Sim _____Natildeo____

Qual (com precisatildeo)_____________________________

3-Lugar de residecircncia (cidadebairro) ______________________

4-Quantos anos de escolaridade (contando da escola infantil ateacute a atual) _________

5-Costuma praticar alguma atividade recreativa Sim ____ Natildeo _____

Qual_________________

6-Indique aproximadamente em que faixa se situa a renda de sua famiacutelia em Salaacuterios Miacutenimos (e

natildeo apenas do chefe de famiacutelia)

1 a 3 SM ____4 a 6 SM ___7 a 9 SM ____mais de 10 SM ____

Parte II-

7-Vocecirc iraacute visitar um MuseuExposiccedilatildeo

1ordf Vez ____ 2ordf Vez_____ 3ordf Vez _____ 4ordf Vez ____ Acima de 4 vezes _____

8-Quando ouve ou lecirc a palavra MUSEU o que lhe vecircm agrave mente Diga trecircs palavras que vocecirc

associa a museu

1-________________ 2-____________________ 3- _______________

9-Diga trecircs coisas que tem em um museu

1- ________________2-__________________3 - ________________

10-Se vocecirc iraacute visitar pela primeira vez um museuexposiccedilatildeo nova sua ideacuteia eacute ver

1- ____Natildeo tem ideacuteia do que encontraraacute

2- ____O proacuteprio museu 3- ____As exposiccedilotildees especiacuteficas daquele museu

4- ____Participar de atividades culturais (cursos apresentaccedilotildees musicais)

189

Parte III-

11-Quando visitou pela primeira vez um museu

1- Com que idade (aproximadamente)_______

2- Com quem ________________________

3- Em que museu _____________________

4- Em que ocasiatildeo turismo ____ visita familiar____ visita escolar ____ Outros ___

5- Indicar qual________________

12-O que o levou a visitar museusexposiccedilotildees

_____1- Uma visita organizada pela escola

_____2- Recomendaccedilatildeo de algueacutem

_____3- Para acompanhar filhosfamiliaresamigosnamorados _____4- porque tem o costume e interesse em visitar museusexposiccedilotildees

_____5- Outras razotildees (indicar com precisatildeo)_____________________

13-Considerando os uacuteltimos trecircs anos vocecirc foi a museus

1- soacute______ 2- com os filhosfamiacutelia _____ 3- com amigos______

4- com um grupo organizado_______

14-Se jaacute entrou mais de 4 vezes em um museu queira indicar os trecircs uacuteltimos museus que visitou

1 ___________________2___________________3__________________

15-Nos museus visitados o que mais lhe agradou

____ 1-O passeiolazer como um todo

____2- A infra-estrutura o atendimento e serviccedilos de apoio

____ 3- Obras de arte objetos nunca vistos anteriormente

____4- Conteuacutedo e organizaccedilatildeo das exposiccedilotildees

____5- Nada agradou

____ 6- Outros ______________

16-Quais foram as dificuldades encontradas para realizaccedilatildeo das visitas a museus

____ 1- Natildeo acolhimento (funcionaacuterios monitores guias)

____ 2-Custo da visita (ingressodeslocamento)

____ 3- Ritmo da visita e conduccedilatildeo dos monitores

____4- Desconhecimento do tipo de acervo especiacutefico ____5- Dificuldade de acompanhar por falta de informaccedilotildees preacutevias

17-Durante as visitas a museus vocecirc

___1- Sente-se confortaacutevel ___ 2-Amplia seus horizontes de conhecimentos

___3-Interessa-se pelos assuntosexposiccedilotildees ___4- Diverte-se

___ 5-Sente-se desconfortaacutevel apreensivo ___ 6- Outros _____________________

18-Quais as impressotildees vocecirc tem quando sai de um museu

____ 1-Saiu de uma igreja ____ 2-Saiu de uma biblioteca

____ 3-Saiu de um shopping Center ____ 4-Saiu de uma sala de aula

____ 5-Saiu de uma sala de espera ____ 6- Outras imagens Quais _____________________

Parte IV

Deseja continuar colaborando com a pesquisa Sim ( ) Natildeo ( ) Em caso positivo por favor indique

Nome ___________________________

Telefone para contato ________________ e-mail ____________________________

190

Anexo B- Perfil dos visitantes

Graacuteficos elaborados a partir dos questionaacuterios acima Total de 17 estudantes Natildeo foram

elaboradas porcentagens

Graacutefico 1- Ocasiatildeo da visita ao museu

Visita escolar 16 visita familiar 2 turismo 1 outros 1

Graacutefico 2- Com quem visitou o museu a primeira vez

Escola 16 professora da faculdade 4 colegas da faculdade2 pais 2 grupo escolar 1viagem

m famiacutelia 1

191

Graacutefico 3- Com quem foi ao museu nos uacuteltimos anos

Graacutefico 4- Quantas vezes visitou museus

192

Graacutefico 5- Trecircs uacuteltimos museus visitados

Graacutefico 6- Primeira coisa a ver em um museu

193

Graacutefico 7- Como se sente durante a visita

Graacutefico 8 - Palavras associadas a museu

194

Graacutefico 9 - Coisas que tem em museus

Graacutefico 10- O que mais agradou nos museus

195

Graacutefico 11- Impressatildeo quando sai do museu

196

Anexo C

Transcriccedilatildeo fita Grupo Focal ndash gravada em 30042008 quarta-feira - antes do trabalho de campo no

Rio de Janeiro- Faculdade de Pedro Leopoldo Participantes Weberton Warleson Aline Tiago Fabiana Frederico Daniele Fernando Claudilene ndash

alunos do 7ordm Periacuteodo ndash Curso de Histoacuteria ndashFaculdades Pedro Leopoldo-MG

Elizabeth Seabra e Cristiane Almeida (assistiu e tomou notas)

Elizabeth ndash EacuteEu jaacute falei na sala dessa teacutecnica do grupo focal e a gente vai trabalhar mais ou menos uma

hora uma hora e pouco e a ideacuteia eacute que cada um procure expressar de forma mais livre se isso eacute possiacutevel em grupo

as opiniotildees conceitos as impressotildees o que achar mais adequadoa gente grava e depois transcreve A gente vai

tratar basicamente de trecircs pontos de natildeo der natildeo for possiacutevel aiacute a gente vecirc se estaacute excedendo muito a gente trata soacute

de dois temas Primeiro eu queria que vocecirc fizessem uma apresentaccedilatildeo falando o que vocecircs acham que deve ser

registrado neacute a respeito da identidade da forma que vocecircs preferirem e jaacute falassem nesse primeiro ponto um pouco

de como eacute que vocecircs vecircem esse trabalho que a gente faz com visitas a campo visitas a museus que aspectos que

detalhes vocecircs destacam desse tipo de trabalho Entatildeo jaacute na apresentaccedilatildeo de forma raacutepida ir pensando nos trabalhos passados o que destacariam falariam dessas visitas esse eacute o primeiro ponto A gente faz uma primeira rodada falando

todo mundo a gente encerrada esse ponto Passa para outro e faz uma segunda rodada Pode ser Entatildeo taacute Eu posso

me apresentarvocecircs me ajudam neacute Eu estou aqui hoje como pesquisadora dessa temaacutetica mas claro as coisas natildeo

se separam sou algueacutem que jaacute vem trabalhando nos uacuteltimos trecircs quatro anos com essa turma as visitas meu nome eacute

Elizabeth

(dificuldade de comeccedilar) hesitaccedilotildees quem comeccedila a falar

Meu nome eacute Weberton estudo na Faculdade de Pedro Leopoldo Bem a respeito de visitas a museus

trabalhos de campo visitas a cidades histoacutericas ()a medida que vocecirc amplia seus horizontes faz vocecirc ter uma outra

visatildeo vocecirc contrasta passa ver na praacutetica o que viu na teoria uma metodologia diferente ver eacute isso

Elizabeth Obrigada natildeo precisa preocupar com o gravador natildeo

Meu nome eacute Warleson eu acho que essas visitas a museus cidades histoacutericas igual o Betatildeo falou o

Weberton falou que amplia os horizontes eu acho tambeacutem que natildeo existe um curso de Histoacuteria ou entatildeo um outro curso de licenciatura sem essas visitas teacutecnicas por que acho que ajuda a gente a compreender melhor a mateacuteria que

a gente estaacute estudando natildeo soacute na teoria mas a gente ta vivenciando ela tambeacutem na praacutetica A mesma coisa eacute como se

a gente tivesse dando aula A gente aprende mais tambeacutem para ta colocando essas visitas essas viagens quando a

gente tiver na sala de aula

Aline Eacute praacute mim o interessante dessas visitas a campo eacute que querendo ou natildeo a sala de aula eacute um espaccedilo

fechado as vezes fica assim cansativo vocecirc acaba natildeo entendendo neacute eacute entende mas natildeo tem aquela visatildeo assim

mais ampla e aiacute vocecirc tendo aquele contato com os locais assim como se diz os objetos histoacutericos eu acho assim

que daacute praacute gente um entendimento melhor Minha opiniatildeo eacute essa natildeo sei eacute para todo mundo pra mim o

entendimento da histoacuteria fica mais faacutecil

Meu nome eacute Tiago eacute no meu entender as visitas aos museus contribuem sim com o nossa aprendizagem

parafrasendo o Warleson em certa medida nos daacute a condiccedilatildeo de sair um pouco da teoria e cair um pouco mais na praacutetica se eu posso dizer assim a gente tem o contato com uma determinada realidade Pra vocecirc trabalhar histoacuteria

noacutes trabalhamos com coisas muito abstratas neacute agrave medida que vocecirc chega num museu e tem contato com

determinadas obras aquilo ali pode te remeter um pouco a respeito daquele determinado periacuteodo e entatildeo eacute por isso eacute

muito importante

Meu nome eacute Fabiana aleacutem de ser como aprendizado tambeacutem eacute uma forma de se entender esse conceito

essa ideacuteia de memoacuteria de se preservar o patrimocircnio a importacircncia que eacute alem de ser acho que eacute isso O estaacutegio

que a gente ta fazendo antes a gente tinha uma visatildeo muito limitada quando vocecirc ta dentro vocecirc comeccedila a entender

como eacute que eacute e o trabalho de campo te abre para isso tambeacutem

Frederico Eu acho que quando a gente tem essa oportunidade na Faculdade de ta realizando esse trabalho

de campo ele vem assim de uma forma a gente reconhecer o valor desses espaccedilos pra gente tambeacutem ta trabalhando

ta utilizando esses espaccedilos na escola que uma coisa que a gente vecirc que as escolas ateacute utilizam esses espaccedilos de

memoacuteria mas natildeo utilizam da maneira correta neacute e isso possibilita pra gente ta reconhecendo esses espaccedilos e taacute aprendendo como a gente pode ta utilizando esses espaccedilos a partir da sala de aula e ta reforccedilando essa parceria da

escola com o museu com espaccedilos de memoacuteria e colocando a questatildeo da memoacuteria da educaccedilatildeo patrimonial da

valorizaccedilatildeo neacute do patrimocircnio

197

Meu nome eacute Daniele eu acho fundamental especificamente num curso de licenciatura enfocando na aacuterea da

histoacuteria vocecirc ter esse diaacutelogo com a questatildeo que eacute falada dentro da Faculdade a questatildeo dos conceitos da histoacuteria

das mudanccedilas e permanecircncias e a ida a campo te possibilita infinitas reflexotildees sobre as questotildees que satildeo

confrontadas dentro da sala de aula E o fundamental natildeo soacute a questatildeo de ver a histoacuteria como abstrato mas muito

mais que isso eacute dar uma nova interpretaccedilatildeo quando vocecirc vai agrave campo Entatildeo abre os horizontes agrave medida que vocecirc

pode confrontar vaacuterias visotildees levando em conta o contexto vaacuterias fontes tambeacutem

Meu nome eacute Fernando Eu tambeacutem acho interessante essa ida a campo porque busca um maior

entendimento daquilo que vocecirc vecirc apenas no papel no texto Quando vocecirc vai a um local a um patrimocircnio histoacuterico

a um museu isso possibilita ta mais perto vocecirc vecirc peccedilas exposiccedilotildees aquilo te remete te leva aquele tempo

Elizabeth Agora natildeo tem jeito neacute Soacute falta vocecirc (riso)

Claudilene Eu acho muito importante essas visitas a campo porque aleacutem da gente ta conhecendo novos lugares a gente aprende vaacuterias coisas sobre o passado com relaccedilatildeo ao presente aquilo que por exemplo quando a

gente foi no Museu do Escravo mesmo aquilo que aquelas pessoas passaram naquela eacutepoca os objetos que estatildeo laacute

representados que usavam nos castigos naqueles escravos eu acho muito interessante a histoacuteria neacute

Elizabeth Obrigada (risos) Olha soacute tem duas outras questotildees vou fazer junto e vocecircs fiquem agrave vontade

para falar mais de uma ou outraporque se tiver algueacutem que natildeo vai ao Rio de Janeiro pode responder mais uma ou

outra Todos vatildeo Haacute bom Por que eacute o seguinte o primeiro eu gostaria que vocecircs tentassem relatar ou descrever

trabalhos que jaacute foram feitos Lembrar da situaccedilatildeo o que viu que tipo de fato de contribuiccedilatildeo esse trabalho trouxe

neacute mas assim tentar lembrar alguma referecircncia dessas visitas e aiacute descrever o que aconteceu o que chamou a

atenccedilatildeo natildeo precisa ser soacute que gostou natildeo pode ser tambeacutem o que achou difiacutecil complicado pode avaliar o que de

fato foi essa visita essa experiecircncia e depois a gente coloca a terceira para encerrar Pode ser Vamos comeccedilar daqui

de novo Alguma visita que vocecirc lembra que participou o que chamou a atenccedilatildeo (repete esclarece ) Claudilene Como eu jaacute falei do Museu do Escravo a representaccedilatildeo das peccedilas Naquele laacute de BH Como

chama (respondem) Abiacutelio Barreto Eacute Abiacutelio Barreto gostei demais Pode falar de outros que eu fui Eu fui tambeacutem

em um (Vocecirc foi sozinha) Fui com minha famiacutelia Famiacutelia trapo Foi todo mundo no museu de JK laacute tambeacutem o

que mais interessante que eu achei laacute foi que ele colocou laacute no museu dele o que ele mais gostava na parte da

culinaacuteria Ele gostava de comida no fogatildeo agrave lenha e tinha um queijo laacute em cima do fogatildeo e de preferecircncia de panela

de barro Isso foi que mais gostei

Elizabeth Quando eacute que vocecirc foi Foi recente

Claudilene Eu fui laacute acho em 1994 Nesse museu em Brasiacutelia Teve um em Caraccedilas que eu fui mas soacute que

laacute de Caraccedilas eacute mais soacute eacute artigos religiosos

Elizabeth Vocecirc foi antes de entrar na Faculdade

Claudilene Antes de entrar na Faculdade Fui de JK em Cordisburgo Daquele escritor Ahm (Guimaratildees Rosa) Eacute Guimaratildees Rosa Eu adoro museu

Elizabeth Obrigada

Fernando O Museu que eu mais gostei achei super interessantefoi justamente na eacutepoca que gente tava

entrando na Faculdade comeccedilando o curso de Histoacuteria noacutes fizemos uma visita ao Museu Abiacutelio Barreto em

BHOnde foi que quebrou um pouco aquela visatildeo que a gente trazia da escola que na hora que fez aquela foi feito

aquela dinacircmica explicando como eacute feita uma exposiccedilatildeo onde cada pessoa pode colocar aquilo que tava com ele um

laacutepis uma caneta ou um caderno e ali foi ensinado para a gente como fazer uma exposiccedilatildeo como organizar uma

exposiccedilatildeo como uma exposiccedilatildeo eacute organizada Toda exposiccedilatildeo ela tem o ponto central aquilo que ela ta querendo

mostrar aquilo que ta querendo contar Todos esses aspectos foram explicados para a gente Achei super interessante

assim foi de grande valia pra gente como estudante de histoacuteria

Elizabeth Valeu Fernando

Daniele Bem como o Fernando acabou de relatar o Museu Abiacutelio Barreto foi um dos primeiros museus que gente chegou a visitar aqui na Faculdade e foi muito interessante porque eles explicaram pra gente como eacute que eacute feita

a seleccedilatildeo como eacute feita a organizaccedilatildeo desse material como eacute feita a exposiccedilatildeo se essa exposiccedilatildeo eacute permanente ou

natildeo Outro Museu que tambeacutem foi interessante foi o Imperial em Petroacutepolis que a gente visitou Assim por mais que

assim foi muito bonito a gente natildeo teve um tempo para dialogar com as peccedilas discutir comentar e as vezes se

faz necessaacuterio quando se vai ao museu ter tempo para dialogar questionar ter diaacutelogo porque isso acrescenta muito

Elizabeth Obrigada

Frederico O que marcou muito tambeacutem foi a visita ao Abiacutelio Barreto por ter sido a primeira que a gente fez

na Faculdade eu jaacute tinha feito outras mas aqui na Faculdade foi a primeira E logo depois quando eu comecei a fazer

o Estaacutegio o que me chamou a bastante a atenccedilatildeo foi a questatildeo da organizaccedilatildeo na hora de elaborar uma exposiccedilatildeo a

198

quantidade de pessoas que estatildeo envolvidas como que a instituiccedilatildeo inteira se mobiliza em torno disso como eacute muito

seacuterio o trabalho que eles fazem quando tem que definir um tema para a exposiccedilatildeo quais satildeo os materiais que vatildeo ser

expostos Neacute assim a questatildeo de organizaccedilatildeo que me marcou muito e voltando ao Museu do Escravo o que me

chamou muito a atenccedilatildeo tambeacutem foi isso que eu gostei muito do museu achei que tinha muita coisa bacana mas

achei que a exposiccedilatildeo tava muito saturada tinha tanta informaccedilatildeo que assim vocecirc tava meio perdido ali dentro e

achei que tinha ter uma linha cronoloacutegica alguma coisa que pudesse ta direcionando o proacuteprio visitante para facilitar

o entendimento da exposiccedilatildeo e para que a gente pudesse absorver mais a informaccedilatildeo e pra que gente pudesse

entender tambeacutem o que a exposiccedilatildeo estava querendo falar

Elizabeth Soacute Fred uma pequena intervenccedilatildeo Vocecirc mencionou um estaacutegio e a Fabiana tambeacutem Soacute

rapidamente eu gostaria que vocecirc falasse para que algumas pessoas saibam e registrar vamos dizer assim que

estaacutegio eacute esse que vocecirc ta fazendo Frederico A gente comeccedilou esse ano a partir do dia 08 de janeiro um Estaacutegio institucional supervisionado

pela Faculdade Gente taacute realizando no Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto todas as semanas a gente vai

periodicamente E no iniacutecio a gente realizou um trabalho de estudo junto com o setor educativo do museu eacute a gente

trabalha direto com o setor educativo no iniacutecio foi um grupo de estudos e a agora a gente jaacute estaacute comeccedilando a partir

dos atendimentos das intervenccedilotildees que o setor faz com os alunos e a gente ta comeccedilando a aprender para que a gente

possa tambeacutem fazer essas intervenccedilotildees Ta sendo muito bacana porque a gente ta conseguindo fazer essa ligaccedilatildeo da

escola com o museu ateacute mesmo por estar trabalhando no setor educativo do museu Taacute dando para aprender bastante

coisa

Fabiana Aprender tambeacutem a importacircncia que eacute a ligaccedilatildeo da escola com o museu A experiecircncia em museu

o que mais gostei e entre aspas natildeo gostei foi ao Museu Imperial Gostei muito foi fantaacutestico o que natildeo gostei eacute

que a nossa visita foi guiada foi muito raacutepida e assim a gente natildeo pode ver com aquele olhar poder discutir poder ver o lado criacutetico como que era e eles natildeo permitam isso laacute eles ficavam controlando O bom foi vocecirc ter uma

direccedilatildeo que se a gente tivesse perdido sozinho a gente natildeo ia saber por onde comeccedilar a gente natildeo ia saber que

direccedilatildeo mas o ruim eacute que eacute muito raacutepido e natildeo te deixa dialogar com cada peccedila enfim No Abiacutelio Barreto estaacute sendo

fantaacutestica a experiecircncia ainda mais no setor pedagoacutegico que a gente ta trabalhando

Tiago No meu caso natildeo eacute o Museu Abiacutelio Barreto natildeo eacute o Museu Imperial nem o Museu do Escravo

(risos) mas () porque eu natildeo tive a oportunidade de ir ( natildeo gosto nem de lembrar) um museu que se destacou

entre os que jaacute visitei foi o Museu Padre Toledo em Tiradentes eu acho que basicamente quase ningueacutem teve a

oportunidade de visitar num cronograma tatildeo corrido dentro das perspectivas de trabalho de campo que o Geraldo

propocircs Entatildeo ningueacutem parou para ver neacute mas eu tive a sorte de que duas semanas antes eu tinha ido laacute entatildeo eu

fui no museu e notei uma coisa muito interessante que eram vaacuterias peccedilas que remetem ao seacuteculo XVIII mas vaacuterias

peccedilas que natildeo tem uma interlocuccedilatildeo a exposiccedilatildeo natildeo te daacute uma oportunidade de fazer uma ligaccedilatildeo entre elas acho que eles se preocuparam tanto em expor o seacuteculo XVIII uma casa do seacuteculo XVIII mas a gente eu no caso natildeo tive

a oportunidade de perceber a ligaccedilatildeo que tinha

Elizabeth Obrigada Tiago

Aline Bom no meu caso natildeo foi o museu natildeo foi o Arquivo da Cidade de BH Eu achei interessante

porque a gente pode ver laacute como que se daacute o armazenamento dos documentos porque se natildeo tiver esse cuidado ele

acaba perdendo no tempo Entatildeo a gente aprendeu laacute o que eacute interessante guardar como que eacute feita a higienizaccedilatildeo

desse material para poder ser guardado e uma que assim que natildeo me agradou muito foi o Museu de Histoacuteria Natural

da PUC A exposiccedilatildeo era interessante demais mas acho assim que era mais voltado para crianccedila sabe As guias do

dia laacute falavam uma linguagem meio infantil acabou que a gente foi com a disciplina de Histoacuteria da Aacutefrica A

professora precisou intervir porque tava uma coisa assim (intervenccedilatildeo do Colega foi Histoacuteria da Ciecircncia e da

Teacutecnica) Foi da Aacutefrica Natildeo foi terceiro periacuteodo Essa mateacuteria aiacute aiacute a professora pode citar o nome Ela precisou

intervir porque natildeo tava sendo interessante para a gente tava muito mecanizado Ela teve que nortear a coisa para estar de acordo com a nossa disciplina O palaacutecio imperial tambeacutem foi bastante interessante mas tambeacutem natildeo deu

nem para observar direito as peccedilas porque foi muito corrido Eacute isso aiacute

Elizabeth Soacute um segundo sei que vai cansando e a gente comeccedila a falar junto mas depois eu natildeo consigo

fazer a transcriccedilatildeo Entatildeo por favor

Warleson Eu jaacute fui no Museu de Guimaratildees Rosa e na eacutepoca eu tava na 8ordf Seacuterie e gostei bastante de ter

ido depois eu ateacute passei na gruta de Maquineacute que eu natildeo sei se entra aqui se eacute o caso() eu gostei mas natildeo lembro

muito do que foi falado laacute soacute lembro que eu fui Eu gosto muito de visita assim tem uma igreja laacute em Congonhas

tambeacutem que eu jaacute visitei e gostei muito do Museu de Artes e ofiacutecios em BH de como que se dava o processo de

trabalho da eacutepoca da exposiccedilatildeo que eu natildeo lembro o tempo a memoacuteria agora ta curta Eu gostei tambeacutem do Museu

199

do Escravo tambeacutem Eu gosto muito dessa ligaccedilatildeo do Brasil com a Aacutefrica e gosto muito de estudar essa parte

principalmente na religiatildeo

Elizabeth Soacute uma coisa W Vocecirc mencionou Guimaratildees Rosa mesmo em Congonhas vocecirc foi sozinho

com amigos em grupo com a escola

Warleson Laacute no Museu de Guimaratildees Rosa eu fui com a escola quando tava na 8ordf Seacuterie Em congonhas

foi uma excursatildeo que a gente faz para um parque Parque da Cachoeira que tem laacute aiacute a gente passa nessa igreja para

fazer a visita A igreja na eacutepoca estava em reforma mas a gente podia entrar laacute dentro

Elizabeth Aiacute satildeo amigos

Warleson eacute uma excursatildeo assim um especial

Elizabeth Obrigada

Weberton (riso) A experiecircncia que me marcou assim foi ao Museu do Escravo Problema eacute o seguinte porque mostrou assim o processo de escravidatildeo no Brasil como era estruturado objetos que ao mesmo tempo ()

visatildeo que tinha do negro mostrando eles simplesmente como objetos e colocou tipo assim () uma visatildeo negativa

faltou assim a cultura a danccedilaa comida natildeo mostrou o processo global A ideologia do sistema claro que tinha na

eacutepoca

Elizabeth A questatildeo do terceiro ponto e nossa uacuteltima rodada eacute a nossa visita ao Rio de Janeiro A visita estaacute

marcada pela ideacuteia da comemoraccedilatildeo dos 200 anos da vinda da famiacutelia real e de propoacutesito tambeacutem a gente escolheu

visitas a algumas das exposiccedilotildees relacionadas a esse evento e certamente a gente vai poder conversar sobre o que

foi fazer laacute Mas eu gostaria que vocecircs falassem pensassem da expectativa da visita claro eu imagino que a

expectativa eacute boa alta mas como vocecircs relacionam a questatildeo da memoacuteria que jaacute abordaram que estaacute presente nos

museus e nestes espaccedilos que a gente costuma visitar e questatildeo da histoacuteria e aiacute a gente pode pensar um pouco no

sentido dessa histoacuteria escrita da historiografia daquela eacute trabalhada nos textos na sala de aula e a questatildeo da comemoraccedilatildeo Como vocecirc fazem vecircem isso comemoraccedilatildeo histoacuteria e memoacuteria Como relaciona isso antes das

visitas Como estaacute na cabeccedila tem relaccedilatildeo natildeo tem Natildeo eacute preciso fazer nenhuma tese mas como vecircm noacutes vamos

para um evento assim uma seacuterie de exposiccedilotildees relacionadas a uma comemoraccedilatildeo Aiacute noacutes estamos tratando da

questatildeo da memoacuteria e da histoacuteria Como vocecircs pensam que isso pode ser organizado pensado Pode ser Agora vou

fazer assim quem quer comeccedilar

Daniele Eu acho assim o interessante eacute porque os professores datildeo uma base muito boa para quando vocecirc

vai para a discussatildeo Por mais que a gente vai num periacuteodo assim com essa intenccedilatildeo Taacute sendo comemorado Eacute

muito importante as visitas em diferentes tempos mas eu acho que deve ter um certo cuidado ter uma visatildeo criacutetica

porque essa comemoraccedilatildeo pode daacute uma organizaccedilatildeo para enaltecer essa comemoraccedilatildeo Analisar mas analisar de

forma criacutetica saber se essa comemoraccedilatildeo tem Natildeo sei se consegui me expressar

Elizabeth algueacutem quer tentar expressar Tiago Na verdade pensar a historicidade do evento Se natildeo fica muito naquele negoacutecio do oba oba se natildeo o

propoacutesito principal se perde e

Frederico Aiacute que entra a questatildeo da memoacuteria Eu acho que nem a D falou ser criacutetico A gente ir assim para

focar o ato de comemoraccedilatildeo O que estaacute sendo comemorado Por que Ir com alguns questionamentos e ter alguns

filtros para natildeo ir muito para o lado do () a valorizaccedilatildeo da memoacuteria e buscar nesses momentos o valor histoacuterico

Tiago E o por que de estar sendo comemorado Na Verdade eacute um fato relevante na histoacuteria do Brasil mas

quais que satildeo as pretensotildees de se fazer essa comemoraccedilatildeo quais as implicaccedilotildees disso

Frederico Eu acho que nem tanto o por que mas como estaacute sendo neacute Como eles estatildeo fazendo isso De

que forma estatildeo representando esse momento Momento a chegada da famiacutelia real como isso estaacute sendo

representado

Elizabeth Na cabeccedila de vocecircs esse momento Chegada da famiacutelia real tem uma ldquoaurardquo tem uma

importacircncia Como vocecircs vecircem isso WebertonSim Mudou os rumos do Brasil porque ateacute entatildeo tinha a vigecircncia do pacto colonial (fim da fita

em um dos gravadores) Tinha o comeacutercio metroacutepolecolocircnia e com a vinda da famiacutelia real a abertura dos portos

favorece uma burguesia colonial natildeo sei se burguesia mas a elite brasileira passou experimentar novos mercados

comeacutercios e e isso eacute importante porque a partir do momento que Portugal abriu os portos a elite brasileira viu que

natildeo era vantagem natildeo aceitou mais e comeccedilou a organizar movimentos civis que vai culminar na Independecircncia do

Brasil

Daniela E isso que o B ta falando eacute justamente a de analisar como foi esse acontecimento e qual a visatildeo

que estaacute sendo repassada nessas exposiccedilotildees Tentar na medida do possiacutevel confrontarneacute

Tiago Aleacutem de um sentido poliacutetico e econocircmico a vinda da famiacutelia real traz um sentido cultural forte

200

Elizabeth Acho que ta encerrando mais algueacutem quer fazer alguma consideraccedilatildeo sobre a expectativa dessa

visita ao Rio o que espera ver o que jaacute viu o jaacute visitou

Frederico Conheccedilo Petroacutepolis

Frederico Questatildeo histoacuterica museus natildeo

Outros concordam

Observaccedilatildeo apenas uma participante disse jaacute conhecer o Rio de Janeiro Niteroacutei

Elizabeth Agradeccedilo a todos a Cristiane e depois retorno

201

Anexo D

ROTEIRO TRABALHO DE CAMPO ndash Rio de Janeiro DATAS Saiacuteda de Pedro Leopoldo 30042008 agraves 2230 (noite - quarta)

Retorno d o Rio de Janeiro 03052008 agraves 1200 horas (tarde- saacutebado)

ATIVIDADE ACADEcircMICA CIENTIacuteFICA E CULTURAL ndash 25 h-

5ordf Feira dia 01052008

Chegada ao Hotel Rio‟s Nice Hotel Rua do Riachuelo 201 Centro CEP 20230-011 Rio de Janeiro Rio

de Janeiro telefone 2297-1155 ndash cafeacute da manhatilde

1000 saiacuteda do Hotel para Visitaccedilatildeo ao Corcovado(Cristo Redentor)

Subida de Trem ao Corcovado Saiacuteda Rua Cosme Velho 513 Zona sul Telefones 24922252 e

22051045 Funcionamento de 8 30 agraves 18 30h saiacuteda a cada meia hora Duraccedilatildeo da viagem cerca de 20 minutos

Preccedilo da passagem R$ 3600(inclui ida e volta) aceita Cartotildees de Creacutedito Velocidade da subida 15 kmh Velocidade

da descida 12 kmh

Som e Luz na Antiga Seacute ndash agendado para o grupo chegar agraves 1000 h fazer a visita guiada ao interior da

Igreja e terminar com o espetaacuteculo agraves 1200 h com efeitos sonoros e iluminaccedilatildeo que conta a histoacuteria da antiga seacute Satildeo

projetadas sombras de personagens como reis e padres nas paredes Valor da entrada R4 600 (inclui a visita ao espetaacuteculo)

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO DA ANTIGA SEacute

A antiga catedral promovida a Capela Real em 1808 foi palco da sagraccedilatildeo de D Joatildeo VI como rei de

Portugal apoacutes a morte de D Maria I Ali se casaram o futuro D Pedro I e D Leopoldina da Aacuteustria em 6 de

novembro de 1817 Rua 7 de Setembro 14 centro 218176-4182 3a5a 9h17h e saacuteb 11h17h agende com

antecedecircncia

Almoccedilo

Horaacuterio 1600 agendado para o grupo

Visita a EXPOSICcedilAtildeO -RIO DE JANEIRO CAPITAL DE PORTUGAL EXPOSICcedilAtildeO ndash

COMEMORACcedilOtildeES DOM JOAtildeO VI NO RIO - 1808-2008

ART SESC - FLAMENGO Rua Marquecircs de Abrantes 99- Flamengo Sede administrativa (21) 3138-

1020 Arte Sesc (21) 3138-1343 Graacutetis

Exposiccedilatildeo mostra a chegada de D Joatildeo no Brasil A vinda para o Brasil de D Joatildeo priacutencipe regente de

Portugal e de sua comitiva e as radicais alteraccedilotildees sobre os destinos e a vida da colocircnia principalmente sobre os

haacutebitos e costumes da cidade apresentadas de forma abrangente os motivos que levaram agrave transferecircncia da Corte as

principais iniciativas por ele tomadas como a criaccedilatildeo do Banco do Brasil da Imprensa Reacutegia do Jardim Botacircnico e

da Capela Real e a chegada da chamada Missatildeo Francesa composta de arquitetos pintores gravadores e artiacutefices

para citar apenas algumas

Noite ndash livre

6ordf Feira dia 02052008

202

Horaacuterio agendado para o grupo 1000 h MUSEU HISTOacuteRICO NACIONAL Praccedila Marechal Acircncora centro

212550-9220R$ 600 EXPOSICcedilOtildeES ndashUM NOVO MUNDO UM NOVO IMPEacuteRIO A CORTE PORTUGUESA NO BRASIL Seu

acervo muito bem preservado e identificado inclui coleccedilotildees de armas carruagens louccedilas pratarias e objetos

pessoais da eacutepoca da corte Promove a partir de 8 de marccedilo uma das mais importantes exposiccedilotildees sobre o periacuteodo

Horaacuterio agendado para o grupo 930 h Biblioteca Nacional- 15 pessoas Av Rio Branco 219 Centro Telefone

21 2220-9484

Visita guiada agrave seccedilatildeo de Manuscritos Perioacutedicos Microfilmados Obras Raras e outros setores Edifiacutecio projetado por

Francisco Marcelino de Souza Aguiar foi inaugurado em 1910 Em estilo neoclaacutessico com imponente escadaria ateacute

o primeiro andar eacute circundado de colunas coriacutentias Seu acervo comeccedilou a ser reunido no seacuteculo XVIII Nele

destacam-se dois exemplares da Biacuteblia de Moguacutencia impressa em 1462 pelos continuadores de Gutenberg a ediccedilatildeo

dos Lusiacuteadas de 1572 a coleccedilatildeo De Angelis e a coleccedilatildeo Teresa Cristina doaccedilatildeo de D Pedro II

AlmoccediloHoraacuterio agendado 0 Exposiccedilotildees ndash Comemoraccedilotildees Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro 1808-20

O Teatro de Debret Entrada Franca

O Teatro de Debret eacute a maior exposiccedilatildeo jaacute realizada sobre Jean-Baptiste Debret (1768-1848) pintor

integrante da Missatildeo Artiacutestica Francesa que viveu no Rio de 1816 a 1831 Com 511 obras sendo 346 aquarelas 151

pranchas litograacuteficas e cinco oacuteleos do artista aleacutem de nove trabalhos relacionados com ele a mostra revela o Rio

tanto sede do impeacuterio portuguecircs como do Brasil com todos os seus contrastes e exuberacircncias A mostra integra as

comemoraccedilotildees dos 200 anos da chegada da Famiacutelia Real

O edifiacutecio onde hoje funciona a Casa Franccedila-Brasil jaacute foi palco de alguns eventos importantes de nossa histoacuteria Mandado erguer em 1819 por D Joatildeo VI ao arquiteto Grandjean de Montigny integrante da Missatildeo

Artiacutestica Francesa a obra em si jaacute eacute um importante documento Eacute o primeiro registro do estilo neoclaacutessico no Rio

de Janeiro que a partir daiacute invadiu nossa cidade tingindo o barroco de nossas florestas e de nossas casas coloniais

de um tom cosmopolita agrave moda europeacuteia

Noite Livre

Saacutebado dia 03052008 Visita ao Jardim Botacircnico Rua Jardim Botacircnico 1008 Exposiccedilatildeo Orquiacutedeas no Jardim

Centenas de espeacutecies entre elas a primeira espeacutecie nativa do paiacutes trazida pelo rei de Portugal Mostra exposiccedilatildeo

paralela Dom Joatildeo VI e a Exploraccedilatildeo e o Estudo das orquiacutedeas no Brasil que mostra a importacircncia da chegada da

corte para o desenvolvimento botacircnico do paiacutes Entrada R$ 400

Tour pela orla e praias de Copacabana Ipanema e outras

Retorno ndash saacutebado agraves 1200 ndash parada na Serra da Mantiqueira para observaccedilatildeo da paisagem

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃOrepositorio.unicamp.br/.../250961/1/Seabra_ElizabethAparecidaDuqu… · Educação da Universidade Estadual de Campinas, como

ii

iii

iv

Elton e Teresa

todo o amor que houver nessa vida

v

AGRADECIMENTOS

Agrave professora Ernesta Zamboni pela felicidade de ser sua orientanda participar de seu grupo

de pesquisa e de seu conviacutevio Pela dedicaccedilatildeo com a qual conduz o trabalho acadecircmico e o

cuidado com o ensino de histoacuteria

Agraves professoras do grupo Memoacuteria Maria do Carmo Martins Maria Carolina Boveacuterio

Galzerani Heloiacutesa Helena Pimenta Rocha e Vera Luacutecia Sabongi De Rossi com as quais tive o

prazer de compartilhar minha formaccedilatildeo na Unicamp Agrave professora Cristiani Bereta e ao professor

Miacutelton Joseacute de Almeida pela leitura e indicaccedilotildees quando do exame de qualificaccedilatildeo Agrave professora

Simone Maria Rocha e ao professor Julio Emiacutelio Pereira Diniz que me possibilitaram ampliar as

leituras teoacutericas e metodoloacutegicas desse trabalho ao me receberem como aluna em suas disciplinas

acadecircmicas na UFMG

Aos colegas orientandos da professora Ernesta Zamboni Elaine Marta Tadeu Halferd

Juliana e Valeacuteria pela convivecircncia em Campinas que incluiu discussotildees sobre os limites da

pesquisa e a ampliaccedilatildeo de meus horizontes de expectativas quanto agrave vida cotidiana

Agraves diversas pessoas e instituiccedilotildees como bibliotecas puacuteblicas e museus que possibilitaram

ao longo dos quatro anos a pesquisa bibliograacutefica e documental Registro em nome de todas as

contribuiccedilotildees um agradecimento a Ana Paula Soares Pacheco que natildeo me conhece mas me

enviou de Salvador um livro que esperava ansiosamente para concluir um argumento da tese

Ao pessoal da Faculdade de Pedro Leopoldo a quem devo aleacutem do carinho nos quase dez

anos de conviacutevio profissional a existecircncia dessa pesquisa sobre as visitas a museus Foi em Pedro

Leopoldo que nasceu o desejo de investigar a praacutetica de visitas e a elaboraccedilatildeo do projeto de

doutorado Agradeccedilo a Edna Marta Siuacuteves aos colegas professores Marcos Lobato Geovacircnia

Luacutecia dos Santos Geraldo Magela Mangnini Rafael Machado Cristiane de Castro e Almeida

Juacutenia Sales Pereira Rogeacuterio Pereira Arruda Andreacutea Casa Nova Maia Shirley Aparecida de

Miranda Joseacute Eustaacutequio de Brito Juacutenia Carolina Mariza Guerra de Andrade Ilza Gualberto

Eunice Esteves Humberto Catuzzo e outros que viveram os dias de formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo

de projetos pedagoacutegicos trabalhos de campo atividades acadecircmicas cientiacuteficas e culturais e

que talvez natildeo desejem serem lembrados por isso

vi

Aos alunos das vaacuterias turmas do Curso de Histoacuteria da Faculdade de Pedro Leopoldo e em

especial da uacuteltima turma de histoacuteria que concluiu a licenciatura em 2008 Eles satildeo os sujeitos

instituiacutedos por essa pesquisa Eacute agrave memoacuteria dos estudantes que quero prestar meu agradecimento

na forma de registro institucional de tese

Aos amigos de ontem e hoje Silvana Flaacutevia Dulce Santuza Cynthia Rogeacuterio Cristiane

Juacutenia Nara Wanderley Miacuteria Miacuteriam e Meire Ao pessoal de casa pai matildee irmatildeo irmatildes

sobrinhas sobrinhos cunhada cunhados vizinhos sempre interessados em como estatildeo indo as

minhas coisas

Aos professores e alunos do Curso de Histoacuteria do Unibh em especial aos professores

Rogeacuterio Arruda e a professora Ana Cristina Lage com os quais tive o prazer de compartilhar um

reencontro com o sabor discutir historiografia agraves sextas-feiras agrave noite

vii

Vista do Salatildeo do seacuteculo XIII do Museu dos Monumentos Franceses

Gravada por Jean Baptiste Reacuteville e Jacques Lavalleacutee Paris 1816

ldquoA mais forte impressatildeo da infacircncia [] foi o Museu dos monumentos franceses tatildeo

desastrosamente destruiacutedos Foi laacute e em nenhuma outra parte que pela primeira vez tive a viva

impressatildeo da histoacuteria Ocupava aqueles tuacutemulos com minha imaginaccedilatildeo sentia aqueles mortos

atraveacutes do maacutermore e natildeo era sem algum terror que penetrava sob aquelas aboacutebodas baixas

onde jaziam Dagobert Chilpeacuteric e Freacutedeacutegonderdquo

Jules Michelet O Povo 1a Ediccedilatildeo Paris 1866

viii

RESUMO

O objetivo central da tese eacute analisar em que medida praacuteticas escolares de visitas a museus podem

romper com os saberes disciplinares e pedagoacutegicos incidindo diretamente sobre a produccedilatildeo de

um conhecimento experiencial a ser mobilizado no ensino de histoacuteria Do ponto de vista teoacuterico

a pesquisa toma a ideia de visitante como um espectador emancipado (RANCIEgraveRE 2010) e a

produccedilatildeo da cultura como um modo de vida comum perpassada pelas ideacuteias e praacuteticas sociais

(WILLIAMS 1969 e 1979) Do ponto de vista empiacuterico investiga-se como um grupo de

estudantes de Licenciatura em Histoacuteria em situaccedilotildees educativas de visita constroem sentidos

diversos para o patrimocircnio para o ensino de histoacuteria e a para a memoacuteria cultural Destacam-se

em especial as praacuteticas vivenciadas pelos visitantes no Museu do Escravo de Belo Vale (MG) e

no Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro

Palavras chave Visitantes de Museus Formaccedilatildeo Histoacuterica Patrimocircnio Memoacuteria Formaccedilatildeo de

Professores

ix

ABSTRACT

The main objective of this thesis is to analyze the extent in that school field trips to museums can

modify established disciplinary and pedagogical knowledge and directly influence the production

of knowledge from experience to be mobilized for the teaching of history From the theoretical

viewpoint this study considers the visitor as an emancipated spectator (RANCIEgraveRE 2010) and

the production of culture as a common way of life and determined by the social ideas and

practices (WILLIAMS 1969 and 1979) From the empirical viewpoint we investigated the way

how history licensure students construct various meanings to the heritage in field trips for the

teaching of history and the cultural memoryThe practices experienced by the visitors to the Slave

Museum in Belo Vale State of Minas Gerais and the National History Museum in Rio de

Janeiro state of Rio de Janeiro are given special emphasis

Keywords Museum Visitors History Formation Heritage Memory Teacher Education

x

Lista de ilustraccedilotildees

Figura 1 GAY Paul du e HALL Stuart O circuito da cultura Production of CultureCultures of

Production Londres Sege 1997 32

Figura 2 CUNHA Viacutevian e outros Fotografias da entrada e paacutetio interno do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006 33

Figura 3 RODRIGUES Marly Marques Fotografia da entrada do Museu Histoacuterico Nacional

2008 33

Figura 4 Fachada do Museu do Escravo Disponiacutevel

emlthttpwwwbelovalemggovbratracoes_museuhtmgt Acesso em 2011 35

Figura 5 Fachada do Museu Histoacuterico Nacional ndash Disponiacutevel em

lthttpwwwmuseuhistoriconacionalcombrmh-2008-001htmgt Acesso em 2011 37

Figura 6 Turma do 4ordm periacuteodo de Histoacuteria Faculdade Pedro Leopoldo Fazenda Boa Esperanccedila

Belo Vale MG 2006 72

Figura 7 MARQUES Daniele Paulo Fotografia da visita a Petroacutepolis Rio de Janeiro 2007 77

Figura 8 AMORIM Frederico Levi Monitora do Museu do Escravo no paacutetio central tendo ao

fundo a senzala e o pelourinho Belo Vale-MG 2006 79

Figura 9 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes ouve explicaccedilotildees da monitora no paacutetio

interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006 79

Figura 10 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes junto ao tronco no paacutetio interno do

Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006 80

Figura 11 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 83

Figura 12 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 84

Figura 13 LEGATI Lorenzo Museu Cospiano Bolonha 1677 85

Figura 14 VASARI Giorgio (1511-1574) Studiolo de Francisco I Palazzo Vecchio Firenze

1570-1573 86

Figura 15 SANTOS Fabiana Cristina dos Montagem de fotografias da visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 88

Figura 16 BIARD Franccedilois Auguste (1798-1882) Quatro Horas no Salatildeo (Quatre heures au

Salon) Oacuteleo stela 57x67 cm Museu do Louvre Paris 1847 90

xi

Figura 17 ROCKWELL Norman (1894-1978) O criacutetico de arte 1955 Ilustraccedilatildeo da capa de

The Saturday Evening Post 16 de abril de 1955 Oacuteleo sobre tela (1003 x 921 centiacutemetros)

Coleccedilatildeo Museu Norman Rockwell 92

Figura 18 ROCKWELL Norman (18941978) O connaisseur 1962 Oacuteleo sobre tela Ilustraccedilatildeo

produzida para a ediccedilatildeo do Saturday Evening Post 13 jan 1962 Coleccedilatildeo Particular 92

Figura 19 ANDRADE Aleacutecio Fotografia 1993 Cataacutelogo da exposiccedilatildeo ldquoO Louvre e seus

visitantesrdquo Instituto Moreira Salles 2009 98

Figura 20 Mapa ilustrativo de Minas Gerais e localizaccedilatildeo da cidade de Belo Vale 110

Figura 21 Turma 2006 visita o Museu do Escravo Coleccedilatildeo dos visitantes 111

Figura 22 Pavilhatildeo 1 Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale MG Fonte

httpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtm 113

Figura 23 Pavilhatildeo 2 (fundos) Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale MG Fonte

Disponiacutevel em lthttpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtmgt Acesso em 2011 114

Figura 24 AMORIM Frederico Levi Tuacutemulo do escravo desconhecido Museu do Escravo

Belo Vale 2006 116

Figura 25 AMORIM Frederico Fotografias do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 118

Figura 26 AMORIM Frederico Levi Fotografias do paacutetio interno do Museu do Escravo 2006

119

Figura 27 ARAUacuteJO Sueli de Azevedo A turma no cenaacuterio do Cacaacute Diegues Museu do

Escravo 2006 120

Figura 28 CARDINI Joatildeo fl 1804-1825D Joatildeo Priacutencipe do Brazil regente de Portugal

Gravura buril e aacutegua-forte pampb 96x6 cm 1807 Cataacutelogo da exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um

Novo Impeacuterio - A Corte Portuguesa no Brasil2008 p18 123

Figura 29 Capa do Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Cultura 1957 130

Figura 30 Capa do folder do Museu Histoacuterico Nacional Portatildeo da Minerva Entrada do Museu

Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Cultura IPHAN Guia do Visitante sd 130

Figura 31 Portatildeo de Minerva Guia do Visitante Museu Histoacuterico Nacional 132

Figura 32 Arcada dos descobridores Guia do Visitante Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo e Cultura 1957 133

xii

Figura 33 XAVIER Michele Oliveira Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de

Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008 134

Figura 34 Reproduccedilatildeo da Capa do Cataacutelogo da ldquoExposiccedilatildeo Um novo Mundo um novo impeacuterio

A corte portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 140

Figura 35 Capa do Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um novo impeacuterio A corte

portuguesa no Brasil18082008 Brasil-Portugal Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro

2008 143

Figura 36 Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um novo impeacuterio A corte

portuguesa no Brasil18082008 Brasil-Portugal Museu Histoacuterico NacionalRio de Janeiro 2008

148

Figura 37 AMORIM Frederico Levi Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de

Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008 150

Figura 38 Montagem fotograacutefica de Frederico Amorim para visita agrave Exposiccedilatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 152

Figura 39 BRAGA Fernando Daniel Visita ao Museu Nacional Rio Janeiro 2008 152

Figura 40 Fernando Daniel Fraga Fonseca Fotografia Nuacutecleo 2- A metroacutepole nos troacutepicos

Exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil MHN 2008

154

xiii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 1

CAPIacuteTULO I - Narrativa presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica 9

11- Memoacuteria e narrativas de visitas 13

12 - A presenccedila de estudantes 19

13 - Formaccedilatildeo histoacuterica 25

14- Circuito e circularidade cultural 30

15- Visitantes de museus espectadores emancipados 39

CAPIacuteTULO II - Visitas a museus memoacuteria e patrimocircnio dos visitantes 45

21 ndash Estudos sobre museus um balanccedilo historiograacutefico 45

22 ndash Plano de visitas e aprendizagem histoacuterica em museus 54

23- Praacuteticas de formaccedilatildeo produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos 58

24- Visitas escolares e visitantes marcas visiacuteveis de historicidade 63

25- Relatos e fotografias registros do patrimocircnio dos visitantes 71

CAPIacuteTULO III - A historicidade de museus e visitantes 82

31- Visitantes diante de museus a experiecircncia museal 82

32- Usos puacuteblicos e educativos dos museus 88

33 - Maneiras de ver e ser visto nos museus 94

34 - A funccedilatildeo educativa nos museus entre os museus escolares e os pedagoacutegicos 99

CAPIacuteTULO IV - Visitantes entre narrativas e objetos museais 109

41 - Visita ao Museu do Escravo ndash Belo Vale Minas Gerais 109

42 - O escravo e o museu 113

43- Uma nova museografia para o Museu do Escravo 115

44- As narrativas dos visitantes escravidatildeo e eurocentrismo 117

CAPIacuteTULO V - Entre a poliacutetica e a poeacutetica dos museus e exposiccedilotildees 122

xiv

51 - O Museu Histoacuterico Nacional habitaccedilotildees do patrimocircnio 122

52- Comemoraccedilotildees Histoacuteria do Brasil e dos brasileiros 134

53- Ensinando histoacuteria ldquo200 anos da vinda da Famiacutelia Real para o Brasilrdquo 142

54- O visitante entre a cultura material e a experiecircncia esteacutetica 149

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 158

DOCUMENTOS 165

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 168

ANEXOS 188

1

INTRODUCcedilAtildeO

A descriccedilatildeo feita historiador Jules Michelet (1798-1874) de sua visita na infacircncia ao

Museu dos Monumentos Franceses e seu encontro com a histoacuteria ldquovivardquo da Franccedila continua

estimulando reflexotildees sobre os efeitos de sentidos dos museus para a histoacuteria a memoacuteria e o

patrimocircnio A visatildeo de Michelet a respeito dos tuacutemulos de maacutermore dos heroacuteis meroviacutengios

remete aos vaacuterios sentimentos provocados em noacutes visitantes pelo Panteatildeo dos Inconfidentes na

cidade de Ouro Preto Tambeacutem evoca os sentidos puacuteblicos da existecircncia do mausoleacuteu imperial

inaugurado por Getuacutelio Vargas em 1939 na catedral de Satildeo Pedro de Alcacircntara em Petroacutepolis

Rio de Janeiro onde estatildeo os tuacutemulos de D Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina

O Museu dos Monumentos franceses organizado por Alexandre Lenoir teve curta

duraccedilatildeo Ele existiu no conturbando periacuteodo entre 1795 e 1816 Contudo o efeito que a visita a

esse museu exerceu sobre o menino Michelet e em sua concepccedilatildeo de Histoacuteria parece duradouro

o uso da imaginaccedilatildeo para que os mortos ganhem vida

Meu encontro com os museus natildeo pode ser comparado ao relatado pelo historiador da

Revoluccedilatildeo Francesa Sequer fui a um museu quando crianccedila Minha relaccedilatildeo mais proacutexima com

essas instituiccedilotildees e com o imaginaacuterio que as cercam se aproxima da escolha da Histoacuteria como

campo profissional Foi durante a graduaccedilatildeo em histoacuteria que me aproximei dos museus como

visitante e pude posteriormente como professora de Histoacuteria no ensino fundamental e superior

experimentar diferentes instituiccedilotildees museais acompanhando grupos de estudantes muitos deles

tambeacutem visitando um museu pela primeira vez

Nas praacuteticas de visita ouvi e vi diversas vezes o encantamento e a decepccedilatildeo dos

estudantes diante do patrimocircnio monumentalizado Ao percorrer pela primeira vez ruas e becos

da cidade de Ouro Preto em 1994 um estudante de 14 anos cursando o ensino fundamental em

uma escola puacuteblica de Belo Horizonte olhava deslumbrado e me disse que nunca havia

imaginado que uma ldquocidade histoacutericardquo fosse igual agrave favela onde morava cheia de morros e casas

apertadas Outra estudante do curso de licenciatura em Histoacuteria da Faculdade onde trabalhava ao

visitar o Museu Imperial se mostrava bastante incomodada e escreveu posteriormente em seu

relatoacuterio de visita em 2005 que lhe parecia que soacute havia milionaacuterios em Petroacutepolis Ningueacutem

falava de quem construiu o palaacutecio quem trabalhou laacute dentro servindo a famiacutelia imperial como

2

se vestiam as empregadas que lavavam as ricas porcelanas e limpavam os quartos mobiliados

suntuosamente se existia alguma capelinha ou ldquocentro de macumbardquo onde os negros se reuniam

No seu relato a aluna lembra que historiadores como Marcos A da Silva jaacute falavam dos riscos de

se trabalhar com o ldquopatrimocircnio histoacutericordquo afastado do cotidiano do ensino de histoacuteria Ningueacutem

falou disso laacute no Museu relatou a visitante Os guias os materiais impressos soacute falam dos preccedilos

das casas das joacuteias e vestimentas da famiacutelia imperial concluiu Maria da Conceiccedilatildeo Machado

Viana em seu Relatoacuterio de Visita ao Museu Imperial de Petroacutepolis em 2005

O objeto desta pesquisa parte desse lugar do visitante que problematiza suas vivecircncias

evidencia crenccedilas expressa opiniotildees e amplia sua formaccedilatildeo histoacuterica e profissional em diaacutelogo

com as praacuteticas educativas que ocorrem em ambientes natildeo escolares como os museus

O interesse por esse tipo de investigaccedilatildeo surgiu desses momentos em que a visita

provocava o encontro de uma histoacuteria viva com os visitantes possibilitando emergir questotildees que

interpelavam os sujeitos colocando-os em accedilatildeo posicionando-os em relaccedilatildeo aos museus ao

ensino de histoacuteria agrave historiografia e agraves praacuteticas de memoacuteria Diante dos museus e colocados em

situaccedilotildees de interaccedilatildeo os visitantes-estudantes eram capazes de se reconhecerem reciprocamente

como parceiros protagonistas numa situaccedilatildeo de troca

A pesquisa para o doutoramento eacute esse esforccedilo para construir uma narrativa a partir dos

vestiacutegios deixados pelos visitantes Busco articular o tempo de minha proacutepria formaccedilatildeo de meu

exerciacutecio profissional como professora de Histoacuteria e da minha atual condiccedilatildeo de pesquisadora na

aacuterea de educaccedilatildeo Eacute do lugar do presente que pretendo materializar meu objeto de pesquisa as

visitas educativas a museus tomadas como foco para a anaacutelise dos usos do patrimocircnio cultural

pelos visitantes

Procuro nesse trabalho reunir numa narrativa (RICOEUR 2010 p2-3) as vozes muacuteltiplas

e dispersas dos visitantes numa siacutentese escrita criando uma nova pertinecircncia capaz de dar novos

sentidos e referecircncias para o patrimocircnio musealizado Um movimento de fixar e conservar rastros

que satildeo escassos pegadas que satildeo poucas pois a visita pensada pela loacutegica da ldquoconservaccedilatildeordquo

dos museus natildeo deve deixar marcas nos pisos originais natildeo deve deixar sobras do consumo de

alimentos nas aacutereas comuns como jardins natildeo se deve fotografar as exposiccedilotildees e nem carregar

objetos durante o trajeto de visita guiada pelos museus

3

O visitante que procuro constituir pela pesquisa sente necessidade de se expressar de

tornar-se presenccedila Os efeitos de sentido natildeo lhes vecircem automaticamente do passado das

reminiscecircncias individuais mas do investimento que ele faz no seu presente a partir de sua

condiccedilatildeo de estudante para tornar presenccedila o que soacute existe como ausecircncia Para minha sorte as

visitas que acompanhei natildeo foram silenciosas Haacute uma escassez momentacircnea de palavras

adequadas para nomear sentimentos de maneira profunda natildeo haacute excessos aparentes no visitante

ele fala posteriormente no ocircnibus na sala de aula da falta que o calou O visitante olha e faz

suas opccedilotildees diante da narrativa do museu quase como uma imposiccedilatildeo da dimensatildeo do

esquecimento entendido como parte constitutiva do trabalho de memoacuteria ele quer registrar sua

presenccedila e sua opiniatildeo

O encontro de visitantes e museus eacute cheio de lapsos e apagamento dos rastros como de

qualquer praacutetica cultural que se queira narrar depois de decorrido o tempo da accedilatildeo O auto-retrato

formativo dos visitantes eacute sempre de itineracircncias e erracircncias nunca um quadro completo Se o

traccedilado a ser esboccedilado eacute histoacuterico o museu mostra-se nessa pesquisa como um lugar habitado por

corpos hierarquias sociais econocircmicas religiosas e culturais mas que tambeacutem insistem em se

tornar utopia e imagens que teimam em povoar provisoriamente a imaginaccedilatildeo

A anaacutelise das experiecircncias de visita a museus possibilita emergir um campo de

investigaccedilatildeo em que os sujeitos aparecem em accedilatildeo posicionam-se em relaccedilatildeo ao saber histoacuterico

a outros sujeitos e narrativas e a si proacuteprios A experiecircncia histoacuterica da visita e de cada visitante

permitiraacute uma distinccedilatildeo da qualidade temporal entre passado e presente e identificaccedilatildeo do modo

como o passado permanece como passado no presente A visita a museus pode fundamentar essa

experiecircncia temporal essa vivecircncia da mudanccedila no tempo da alteridade do passado que

experimentada abre o potencial de futuro do proacuteprio presente (RUumlSEN 2007 p 111-2)

A problematizaccedilatildeo das situaccedilotildees de visita a museus justifica-se por contribuir para uma

reflexatildeo sobre o ensino de histoacuteria como aacuterea de pesquisa e estreitar os viacutenculos com a produccedilatildeo

do conhecimento histoacuterico As visitas a museus podem propiciar um tipo de formaccedilatildeo histoacuterica

dialoacutegico principalmente com a cultura visual e material

Do ponto de vista teoacuterico e metodoloacutegico eacute importante apontar como os museus se

apresentam como um ldquocampo de forccedilasrdquo capaz de romper com os saberes disciplinares e

4

pedagoacutegicos incidindo diretamente sobre a produccedilatildeo de um conhecimento experiencial a ser

mobilizado no ensino de histoacuteria

O contato de estudantes-visitantes com o patrimocircnio cultural musealizado amplia a

compreensatildeo das linguagens expositivas e educativas dos museus a relaccedilatildeo entre objetos

museais seus significados e os coacutedigos mais amplos de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo cultural (HALL

1997 2003)

Diferentemente dos postulados que entendem o ldquodiscurso pedagoacutegicordquo como aquele a ser

transmitido e recebido que se constitui pela recontextualizaccedilatildeo de outros discursos o

conhecimento escolar eacute aqui entendido como um trabalho coletivo um texto em aberto que exige

a participaccedilatildeo de alunos e professores e natildeo uma mercadoria a ser reproduzida e consumida

pelos estudantes (SANTOS 1994 p31)

A pesquisa tem como tema central a anaacutelise das dinacircmicas e interaccedilotildees entre estudantes

em visitas educativas a instituiccedilotildees museais Visitas essas que se concretizam nas accedilotildees dos

visitantes frente agraves linguagens expositivas presentes nos museus nas concepccedilotildees de memoacuteria

patrimocircnio e histoacuteria dos visitantes e na produccedilatildeoelaboraccedilatildeo de sentidos e seus usos do

patrimocircnio cultural sempre considerando questotildees relativas agraves subjetividades identidades

profissionais experiecircnciatrajetoacuteria de vida formaccedilatildeo acadecircmica e profissional

A premissa inicial de trabalho postula que estudantes ao visitarem museus tornam-se parte

constitutiva do movimento de produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo dos conhecimentos de seus acervos

Entende-se que as experiecircncias vividas pelos sujeitos profissionais dos museus e visitantes

possibilitam mobilizar e atualizar saberes dos profissionais dos museus e saberes daqueles que

visitam museus

A justificativa para essa abordagem baseia-se em certo consenso de que a formaccedilatildeo para o

ensino de histoacuteria pode ser potencializada pelo uso de espaccedilos culturais como os museus A

cultura escolar como afirmam Marcos Silva e Selva Guimaratildees Fonseca natildeo pode ser entendida

como um fenocircmeno isolado caracterizada exclusivamente pelo conjunto de saberes elaborado ao

redor da proacutepria praacutetica de ensino mas como aquela que ldquomanteacutem laccedilos permanentes com outros

espaccedilos culturaisrdquo Na visatildeo destes autores estes laccedilos vatildeo desde a formaccedilatildeo de professores

(universidade) passando pela produccedilatildeo erudita com que estes profissionais tiveram e continuam

5

a ter contato (artigos livros) e pela divulgaccedilatildeo de saberes (livros didaacuteticos cursos exposiccedilotildees

simpoacutesios) elaborados naqueles mesmos espaccedilos (SILVA E FONSECA 2007 p8)

Os museus estatildeo incluiacutedos nesse universo de saberes e satildeo aqui privilegiados por

propiciarem natildeo um ldquolugar de memoacuteriardquo mas ldquoentre-lugaresrdquo para a formaccedilatildeo histoacuterica de

professores e alunos Os museus encontram-se nas fronteiras dos espaccedilos fiacutesicos e processos

formais e natildeo formais1 de educaccedilatildeo

As visitas a museus satildeo uma possibilidade de ampliaccedilatildeo da formaccedilatildeo acadecircmica e

profissional para aleacutem do espaccedilo escolar e ao mesmo tempo de trazer para o cotidiano de

formaccedilatildeo muacuteltiplas dimensotildees histoacutericas poliacuteticas e culturais Situaccedilotildees de visita a museus

permitem investigar nesse caso a hipoacutetese da circularidade da cultura Articulam-se reflexotildees

sobre as experiecircncias proacuteprias ao campo de trabalho docente em Histoacuteria aos saberes elaborados

no campo da museologia identificando a circulaccedilatildeo dupla de saberes especiacuteficos elaborados nos

dois campos distintos de um universo conceitual a outro e retornando ao campo profissional de

forma sistematizada

Estudantes de graduaccedilatildeo compotildeem o puacuteblico de museus seja nas visitas espontacircneas

como aponta pesquisa sobre perfil de puacuteblico-visitantes2 seja como participantes de visitas

escolares organizadas Eacute essa a situaccedilatildeo a ser explorada pela pesquisa os sujeitos em situaccedilotildees

educativas de visita elaboram e explicitam sentidos acerca dos acervos das instituiccedilotildees

museoloacutegicas analisam e confrontam discursos historiograacuteficos e formulam novos problemas e

possibilidades de interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural musealizado

O campo e os procedimentos de investigaccedilatildeo nessa pesquisa privilegiam os relatos

escritos e fotograacuteficos e recolhas documentais feitas pelos proacuteprios estudantes durante as visitas

aos museus A anaacutelise dos documentos produzidos pelos museus como cataacutelogos materiais

pedagoacutegicos folhetos informativos e orientaccedilotildees instucionais satildeo utilizados nos dois recortes

1 Alguns especialistas defendem que a educaccedilatildeo realizada em museus difere da educaccedilatildeo formal por seu caraacuteter natildeo

cumulativo natildeo apresentando conteuacutedos organizados numa sequumlecircncia como o curriacuteculo escolar Ver Park Fernandes e Carnicel (Org) 2007 p 203-210 2 Pesquisa realizada em 2005 pelo Observatoacuterio de Museus e Centros Culturais em 11 Museus do Rio de Janeiro

com visitantes selecionados por amostragem ao final da visita entre natildeo participantes de visitas escolares

organizadas constatou que este puacuteblico eacute altamente escolarizado chegando a 475 que declararam ter concluiacutedo o

ensino superior 237 o superior incompleto e 24 o ensino meacutedio restando apenas 48 que cursou ateacute o

fundamental completo Paralelo agrave escolaridade o dado referente agrave ocupaccedilatildeo encontrou entre aqueles que declaram

natildeo exercer atividade remunerada 53 de estudantes Ver Observatoacuterio 2006

6

propostos pela anaacutelise a partir do diaacutelogo que estabelecem com a compreensatildeo dos visitantes e

seus quadros de leitura Assim a leitura posta pelos museus entra em circulaccedilatildeo e eacute explorada na

forma de diferentes praacuteticas de confronto de recusa de usos e de valorizaccedilatildeo pelos visitantes

Para promover as leituras dos visitantes sobre os museus analiso os relatos dos

licenciandos em Histoacuteria de uma faculdade particular da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte

em visita a diferentes instituiccedilotildees A escolha das visitas decorreu de diversos procedimentos de

anaacutelise experimentados ao longo da pesquisa e que consideram tanto os limites aparentes dessas

fontes quanto as possibilidades dadas e permitidas Foram muitas idas e vindas em relaccedilatildeo ao

repertoacuterio ou indiacutecios documentais produzidos pelos estudantes e disponiacuteveis para o uso nessa

pesquisa A abundacircncia de material e de museus visitados pelo grupo de estudantes aponta o

papel da instituiccedilatildeo formadora na produccedilatildeo dessas fontes O estiacutemulo agraves atividades de visitas abre

possibilidades de ampliaccedilatildeo do repertoacuterio ou do arquivo com vestiacutegios brutos desorganizados

um turbilhatildeo de personagens incidentes perguntas sem respostas Praacuteticas tradicionais de leitura

dos museus e novas leituras convivem nos relatoacuterios O uso e a valorizaccedilatildeo de diferentes

princiacutepios de anaacutelise sua articulaccedilatildeo e coerecircncia interna satildeo materializadas pelo grupo de

estudantes e datildeo suporte a um acervo de memoacuterias escritas e fotograacuteficas das visitas elaborado na

perspectiva de um grupo especiacutefico de visitantes

Ao utilizar os relatos dos estudantes de licenciatura em Histoacuteria como fonte para o estudo

das experiecircncias de formaccedilatildeo cria-se uma opccedilatildeo e alternativa para compreendermos os

imbricamentos entre os discursos das instituiccedilotildees formadoras as narrativas de museus e os

estudantes-visitantes com suas histoacuterias de vida suas motivaccedilotildees crenccedilas escolhas de percurso

e atitudes durante a visita A construccedilatildeo de narrativas das visitas permite agrave pesquisa a partir de

experiecircncias localizadas e pessoais interrogar sobre o contato sociocultural de um grupo

especiacutefico de visitantes com outros grupos e temporalidades mais amplas

A questatildeo central que permeia a pesquisa eacute a formaccedilatildeo histoacuterica dos sujeitos frente agrave

experiecircncia de contato com os museus Os relatos dos visitantes entendidos como a principal

fonte documental para esse trabalho permitem discutir como um grupo ou um mesmo estudante

vecirc diferentes museus Como faz a leitura de cada um deles e encontra as diferenccedilas entre as

narrativas de cada museu Esse conjunto documental possibilita explorar complexas relaccedilotildees do

7

processo vivo dinacircmico e ativo de construccedilatildeo de conhecimentos e ensino de histoacuteria em especial

dos conceitos de cultura memoacuteria e patrimocircnio

A organizaccedilatildeo final do trabalho busca combinar em cada capiacutetulo dois movimentos ndash

discussotildees teoacutericas e metodoloacutegicas e a anaacutelise das fontes ou relatos dos visitantes O texto final

da tese eacute composto de cinco capiacutetulos No primeiro capiacutetulo eacute apresentado o tema central da

pesquisa visitas a museus Discute-se o papel das visitas de estudantes a museus para a formaccedilatildeo

histoacuterica Eacute proposta uma anaacutelise das visitas a partir dos relatos dos visitantes centrada em uma

noccedilatildeo de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos que promova uma ruptura com as ideacuteias de

representaccedilatildeo e recepccedilatildeo da cultura Satildeo articulados os referenciais teoacutericos e conceitos que

fundamentam a anaacutelise

No segundo capiacutetulo eacute retomado o debate sobre os puacuteblicos de museu e apresentado o

recorte empiacuterico da pesquisa constituiacutedo por um grupo de 15 estudantes de licenciatura em

Histoacuteria de uma Faculdade particular na regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte que realizaram

visitas entre 2005 e 2008 Satildeo caracterizadas as praacuteticas de formaccedilatildeo e produccedilatildeo de

conhecimentos a partir dos registros dos visitantes Um questionaacuterio uma entrevista oral no

formato de grupo focal e fotografias produzidas pelos proacuteprios visitantes durante as visitas satildeo os

trecircs instrumentos de produccedilatildeo de dados

O terceiro capiacutetulo faz uma ligaccedilatildeo entre os dois primeiros e os dois uacuteltimos capiacutetulos

Apresenta um balanccedilo bibliograacutefico que tem por objetivo indicar eixos de discussatildeo presentes no

campo museal e produzir um exerciacutecio metodoloacutegico que contribua para explicitar a dinacircmica de

interaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos pelos visitantes professores e alunos em visitas agraves duas

instituiccedilotildees museais que seratildeo destacadas nos capiacutetulos quatro e cinco Satildeo abordadas as questotildees

relativas agrave historicidade dos museus os campos e conceitos a ele relacionados a atualidade do

tema nas pesquisas acadecircmicas Estas referecircncias analiacuteticas visam definir um quadro teoacuterico-

conceitual e sistematizar as discussotildees em torno do conceito de museu

No capiacutetulo quatro eacute apresentada uma reflexatildeo sobre a visita realizada no segundo

semestre de 2006 ao Museu do Escravo em Belo Vale (MG) Satildeo confrontados os relatos escritos

e fotograacuteficos produzidos pelos visitantes e argumenta-se que os estudantes ao visitarem este

museu histoacuterico tornam-se parte constitutiva do processo de produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo das

informaccedilotildees de seu acervo

8

O quinto capiacutetulo enfatiza a criacutetica do mesmo grupo de estudantes que visita em 2008 a

exposiccedilatildeo do Museu Histoacuterico Nacional ldquoUm novo mundo um novo Impeacuterio a Corte Portuguesa

no Brasil ndash 1808-1822rdquo O capiacutetulo procura refazer o percurso dos visitantes considerando duas

referecircncias o discurso expositivo do museu e a formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes A partir da

situaccedilatildeo de visita e da formaccedilatildeo procuramos entender como os visitantes descrevem analisam

interpretam e fundamentam suas escolhas e gostos A visita ao Museu Histoacuterico Nacional

possibilitou abordar as relaccedilotildees entre poliacuteticas e poeacuteticas as relaccedilotildees com a memoacuteria o

patrimocircnio e a histoacuteria nos usos educativos dos museus pelos visitantes

A pesquisa se integra agraves questotildees discutidas pela aacuterea de concentraccedilatildeo Educaccedilatildeo

Conhecimento Linguagem e Arte e pelo grupo de pesquisa Memoacuteria Histoacuteria e Educaccedilatildeo agrave

medida que busca investigar a produccedilatildeo de conhecimentos em suas articulaccedilotildees com as praacuteticas e

discursos empreendidos por instituiccedilotildees como os museus e as interaccedilotildees construiacutedas pelos

sujeitos em situaccedilotildees de visita escolar a estas instituiccedilotildees

9

CAPIacuteTULO I - Narrativa presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica

Visita ao museu

No dia 26 de setembro de 2005 fomos ao museu Abiacutelio Barreto em Belo

Horizonte A visita foi bem interessante e totalmente diferente do que eu imaginava porque em minha mente o museu era um local em que as pessoas iam para ver coisas

velhas Durante e apoacutes a visita minha visatildeo mudou por completo percebi que um

historiador tem vaacuterias formas de trabalhar com diferentes tipos de objetos A partir de

uma montagem e desmontagem de figuras podem-se passar imagens diferentes

dependendo da maneira que esse material foi exposto como fizemos na dinacircmica

O museu tambeacutem desenvolve um trabalho diferente dos que eu jaacute visitei Ao

mesmo tempo em que eles estatildeo preservando a memoacuteria da cidade estatildeo tambeacutem

integrando o objeto ao cotidiano da sociedade remetendo-nos haacute tempos em que Belo

Horizonte era apenas um arraial chamado Curral Del Rei o iniacutecio do avanccedilo

tecnoloacutegico e ateacute os dias de hoje Laacute o casaratildeo deixa de ser espaccedilo fiacutesico para virar

objeto museoloacutegico A organizaccedilatildeo eacute oacutetima Na sede do museu satildeo desenvolvidos vaacuterios

trabalhos como projetos restauraccedilatildeo de materiais etc Gostei da forma que o material eacute conservado em estantes giratoacuterias O visitante ao inveacutes de ir para visitar somente o

casaratildeo faz um circuito por toda a aacuterea do museu A exposiccedilatildeo eacute aberta a todos que

queiram ver

Como temos visto em nosso curso principalmente em Teoria II o historiador

trabalha em cima de perguntas (segundo Annales) e os objetos que vimos podem nos dar

vaacuterios tipos de respostas A visita ao museu foi uma aula praacutetica de como se fazer

Histoacuteria

(Maria Joseacute Mendes3 Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto

Belo Horizonte MG Curso de Histoacuteria 2ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG

2005)

O relato de Maria Joseacute Mendes sintetiza de maneira particular sua experiecircncia4 de visita a

um museu e aborda conteuacutedos histoacutericos e historiograacuteficos anaacutelises sentimentos valores O

relato da estudante eacute polifocircnico no sentido que lhe atribui Clifford (1988) uma produccedilatildeo que

reuacutene numa escrita proacutepria aproximaccedilotildees pessoais estrateacutegias de aprendizagem escolar

enredos acontecimentos significados muacuteltiplos e modos de negociar e apresentar questotildees

impliacutecitas quadros e tramas mais amplas

3 A visitante eacute uma aluna do curso de Licenciatura em Histoacuteria do Instituto Superior de Educaccedilatildeo da Faculdade

Pedro Leopoldo na regiatildeo metropolitana de BH fez parte da turma que visitou diversos museus e seu relatoacuterio

compotildee o conjunto de narrativas de visitas a museus analisados nessa pesquisa 4 Para Dewey (2010 p90-91) as partes constitutivas da experiecircncia satildeo emocional praacutetica e intelectual A

experiecircncia eacute um todo diversificado um fluxo cujos diferentes atos e episoacutedios mesclam-se e fundem-se

Intercacircmbio e fusatildeo satildeo contiacutenuos

10

O registro da visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto feito por Maria Joseacute Mendes eacute uma

praacutetica de escrita que se configura em plano de produccedilatildeo mais restrito como um relatoacuterio de

avaliaccedilatildeo de um trabalho escolar Todavia colocados os contornos mais abrangentes das

condiccedilotildees de produccedilatildeo desse tipo de narrativa se reconhece uma praacutetica de formaccedilatildeo que avalia

situaccedilotildees do cotidiano escolar

As narrativas de visitantes como a da estudante acima satildeo consideradas fontes

documentais para essa pesquisa sobre a formaccedilatildeo histoacuterica que reivindica um lugar para os

sujeitos frente agraves grandes narrativas histoacutericas como as dos museus As situaccedilotildees vividas nas

visitas escolares a museus retomadas ao longo do capiacutetulo pela narrativa de Maria Jose Mendes

satildeo referecircncias para a reflexatildeo sobre o protagonismo do visitante que interroga o museu e confere

mobilidade agraves suas narrativas expositivas Esse tipo de registro tambeacutem aponta indiacutecios dos usos

do patrimocircnio cultural pelos visitantes e da aprendizagem em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo histoacuterica aberta

pelas visitas aos museus

A visitante em questatildeo eacute parte de um grupo5 no qual me incluo como professora e que

como ela mesma indica com o uso do verbo na primeira pessoa do plural fomos ao museu para

realizar uma atividade curricular atribulados por vaacuterios condicionantes de velocidade e aparatos

tecnoloacutegicos proacuteprios da cultura contemporacircnea Maria Joseacute Mendes eacute uma das alunas do curso

de licenciatura em Histoacuteria de uma faculdade particular da regiatildeo metropolitana de Belo

Horizonte Minas Gerais que nessa condiccedilatildeo de ldquoexperiecircnciardquo empreende com seus colegas

visitas planejadas a museus6 Eacute uma jovem estudante membro de uma ldquoaudiecircncia histoacuterica e

situadardquo mas que responde tambeacutem agraves expectativas de visitante inscritas nas atividades

educativas do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto que passou por projeto de revitalizaccedilatildeo entre 1993

e 20037

Enquanto os museus satildeo entendidos como autoridades por suas funccedilotildees sociais e

histoacutericas de produtores de memoacuteria de patrimocircnio e de preferencial para a leitura dessa

5 Uma caracterizaccedilatildeo do grupo de visitantes e das visitas efetivamente realizadas seraacute apresentada e discutida no segundo capiacutetulo 6 As visitas a museus arquivos bibliotecas empresas ambientes naturais e outros locais satildeo realizadas como

disciplinas acadecircmicas com uma dimensatildeo praacutetica e ou como Atividades Acadecircmicas Cientiacuteficas por diversas

instituiccedilotildees de ensino superior da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte como a PUC-MG UNIFEMM Ver

Fonseca (2009) e Pereira (2007) 7 Ver balanccedilo do ldquoprocesso de revitalizaccedilatildeordquo do MHAB organizado por sua diretora Thais Pimentel e publicado em

2004 (PIMENTEL 2004)

11

materialidade o visitante luta para instituir-se e produzir sentidos em presenccedila daquela instacircncia

reguladora e autorizada de recursos O visitante no uso de recursos variados de linguagem cria

uma situaccedilatildeo de disputa e inibe certas manifestaccedilotildees trazidas pelos museus

O visitante diante dos cenaacuterios especiacuteficos de cada museu cria categorias de anaacutelise

analogias identifica contradiccedilotildees contrastes e diferenccedilas Enquanto o museu traz uma memoacuteria

histoacuterica instituiacuteda os visitantes tornam as experiecircncias de visita memoraacuteveis

A abordagem metodoloacutegica dessa pesquisa concebe as visitas como um ldquotrabalho de

campordquo no sentido que lhe atribui Alba Zaluar (1986 p107) A antropoacuteloga natildeo estabelece uma

separaccedilatildeo entre investigador e investigados e nem correlaciona uma maior objetividade da anaacutelise

com uma maior despersonalizaccedilatildeo dos sujeitos O conhecimento para ela eacute um ldquoencontro de

subjetividadesrdquo atos gestos enunciados e natildeo simplesmente um coacutedigo a ser decifrado ou um

levantamento de significados em seus contextos (ZALUAR 1986 p109) Assim como o

trabalho de campo8 soacute pode ser delimitado pelos processos de tomada de decisatildeo do pesquisador

e as estrateacutegias adotadas em meio aos conflitos por quem participa da accedilatildeo as visitas escolares a

museus natildeo podem ser entendidas apenas no sentido e da perspectiva da recepccedilatildeo

Os visitantes natildeo satildeo meros espectadores das propostas elaboradas pelos museus9 Os

visitantes satildeo atores levados a tomar decisotildees e princiacutepios geradores de novas praacuteticas A visita eacute

relacionada a outras que jaacute fizeram e satildeo consideradas como parte de sua formaccedilatildeo de futuros

professores de histoacuteria Visitar um museu eacute analisaacute-lo como fonte para visitas futuras

acompanhando seus proacuteprios alunos

O foco no visitante examina como ele se sente ou natildeo estimulado a construir sua proacutepria

narrativa da visita e quais suas estrateacutegias de inclusatildeo nos museus Como se posiciona e acessa

seus arquivos pessoais e memoacuterias e os confronta agravequeles reunidos no museu tais como objetos

textos imagens dispositivos de interatividade o percurso ou ainda os coletados e reunidos como

parte do trabalho de sistematizaccedilatildeo da visita

Do ponto de vista empiacuterico a pesquisa mostra de que forma durante um curso de

formaccedilatildeo superior eacute possiacutevel abandonar modelos transmissivos de ensino e apostar em estrateacutegias

8 Ver Roteiro do trabalho realizado no Rio de Janeiro em 2008(Anexo C) 9 Em geral a elaboraccedilatildeo de propostas educativas eacute responsabilidade dos setores educativos dos museus e de

especialistas (consultores pesquisadores) O puacuteblico eacute convocado a responder aos modelos propostos (recepccedilatildeo)

12

de produccedilatildeo de conhecimento que tenham impacto sobre a profissionalizaccedilatildeo docente em histoacuteria

e os processos mais gerais de produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico e formaccedilatildeo histoacuterica

Um passo importante eacute reconhecer que esse conhecimento histoacuterico se apresenta sob a

forma de imagens crenccedilas convicccedilotildees metaacuteforas regras e princiacutepios de orientaccedilatildeo para a vida

praacutetica profissional Nesse sentido essa pesquisa tem mais interesse nos sujeitos e suas agecircncias

do que na histoacuteria das instituiccedilotildees museais

A pesquisa parte de uma reflexatildeo sobre os relatos de visita a museus constituindo a partir

deles narrativas que fazem dialogar conceitos e experiecircncias que se produzem no campo dos

museus e em suas relaccedilotildees com a escola estabelecendo possibilidades e limites para a abordagem

do proacuteprio visitante

O registro de Maria Joseacute Mendes eacute uma referecircncia inicial para a reflexatildeo e produccedilatildeo por

parte do proacuteprio visitante de saberes Podem ser identificados pelos relatos os diversos saberes

que compotildeem a formaccedilatildeo histoacuterica conhecimentos de caraacuteter disciplinar ou historiograacutefico que

compotildee a matriz disciplinar da histoacuteria saberes curriculares ou relativos a objetivos meacutetodos e

estrateacutegias de ensino saberes pedagoacutegicos relacionados agraves concepccedilotildees de educaccedilatildeo e os saberes

praacuteticos da experiecircncia10

Entendo que as visitas natildeo se constituem no simples cumprimento de um programa de

educaccedilatildeo patrimonial oferecido por museus eou escolas ou ainda em passeios turiacutesticos

realizados por escolha dos visitantes individualmente A presenccedila de estudantes em museus estaacute

relacionada a uma praacutetica de visitas e agrave formaccedilatildeo histoacuterica

Procuro nesse primeiro capiacutetulo articular referenciais teoacutericos distintos para fundamentar

a anaacutelise das praacuteticas de visitas a museus Autores como Paul Ricoeur Hans Ulrich Gumbrecht

Joumlrn Ruumlsen Raymond Williams Stuart Hall e Jacques Ranciegravere satildeo convocados e oferecem

contribuiccedilotildees para a ampliaccedilatildeo da abordagem deste objeto especiacutefico e a criacutetica ao sentido de

transmissatildeo da cultura e agrave representaccedilatildeo como um sentido fixo A narrativa (RICOEUR 2010

p9) a produccedilatildeo de presenccedila (GUMBRECHT 2010 p 82) e a formaccedilatildeo histoacuterica (RUumlSEN

2010 p59) assim como os conceitos de cultura (WILLIAMS 1969 e 1979) e circuito de cultura

(HALL 1997 e 2003) e ainda o de espectador emancipado (RANCIEgraveRE 2010) fundamentam a

10A discussatildeo sobre os saberes que compotildee a formaccedilatildeo do profissional de histoacuteria no Brasil eacute realizada por Selva

Guimaratildees Fonseca dentre outros autores Ver Fonseca (1997) Silva e Fonseca (2007) e Fonseca e Zamboni (2008)

13

anaacutelise teoacuterica e metodoloacutegica do uso social dos museus em visitas educativas e aproximam o

foco da investigaccedilatildeo os museus vistos pelos seus visitantes

11- Memoacuteria e narrativas de visitas

Um primeiro movimento dessa pesquisa eacute examinar como os visitantes engendram

memoacuterias a partir de visitas a museus A memoacuteria eacute entendida como uma accedilatildeo de atualizaccedilatildeo de

conceitos uma ldquoviagem no tempo com direito a ida e voltardquo A memoacuteria eacute rememoraccedilatildeo a partir

do presente e o sujeito um ldquotecelatildeo de memoacuterias agrave medida que narra a si mesmo como uma

autografia cujas vaacuterias vidas se entrelaccedilam em diversos tempos e espaccedilos numa dinacircmica

imprevisiacutevel do lembrar e esquecer da perda e da dispersatildeordquo (GALZERANI 2002 p63)

Rememorar significa trazer o passado vivido como opccedilatildeo de questionamento das relaccedilotildees

e sensibilidades sociais existentes tambeacutem no presente uma busca atenciosa relativa aos rumos a

serem construiacutedos no futuro Esse conceito de memoacuteria articulado ao de narrativa traz uma

abertura coletiva para as dimensotildees sensiacuteveis e o questionamento da concepccedilatildeo absoluta de

verdade (GALZERANI 2002 p68)

Os registros escritos e visuais11

dos visitantes satildeo tomados como memoacuterias e narrativas

no sentido atribuiacutedo por Ricoeur como um desenho da ldquoexperiecircncia temporalrdquo que realiza uma

ldquosiacutentese do heterogecircneordquo uma ldquonova congruecircncia no agenciamento dos incidentesrdquo (RICOEUR

2010 p2)

Em Tempo e Narrativa Ricoeur (2010) desenvolve a ideia de uma tripla dimensatildeo da

narrativa histoacuterica descrita como um tempo vivido e ainda natildeo configurado um tempo narrado

ou o mundo como um texto e o tempo refigurado ou o mundo do leitor Haacute uma dimensatildeo da

vida vivida e natildeo narrada que passa pela trama e chega ao mundo final do leitor seja pelas

intenccedilotildees do autor pelos sentidos da obra ou as percepccedilotildees do leitor Essas travessias satildeo

circulares e a experiecircncia da temporalidade nunca eacute o triunfo da ordem haacute discordacircncias

violecircncia da interpretaccedilatildeo redundacircncias e histoacuterias natildeo contadas (RICOEUR 2010 p124-132)

Assim Ricoeur (1991) transpotildee um limiar no qual o aparente conflito entre explicaccedilatildeo e

compreensatildeo eacute ampliado A linguagem que era considerada apenas como discurso passa a ser

11 As fotografias satildeo produzidas juntamente com os relatoacuterios escritos Inicialmente natildeo faziam parte da anaacutelise mas

se mostraram essenciais agrave pesquisa

14

considerada nos limites do que afeta o escrito a polissemia a ambiguidade e obras inteiras de

discurso falado como poemas ensaios e com a dimensatildeo da experiecircncia (RICOEUR 1991

p163) Eacute como dimensatildeo da experiecircncia que se explicitam os campos de confrontaccedilatildeo e

negociaccedilatildeo e se daacute a primeira ancoragem para as narrativas puacuteblicas e oficiais e as narrativas e

memoacuterias pessoais ou autobiograacuteficas Para Ricoeur os graus de convergecircncia ou natildeo entre a

memoacuteria coletiva e as memoacuterias autobiograacuteficas indicam niacuteveis de identificaccedilatildeo pessoal e os

significados elevados ou natildeo de siacutembolos como bandeiras e hinos

Essa temaacutetica da accedilatildeo discutida por Ricoeur (1991) ajuda a evidenciar as diferentes

formas de inscriccedilatildeo da memoacuteria na historiografia e nos museus e entender o diaacutelogo entre

culturas (museus e escolas) comparando situaccedilotildees e tipos de atividades (regimes de accedilatildeo)

assentadas em uso de recursos culturais de fundo comum

A narrativa para Ricoeur se daacute como articulaccedilatildeo temporal da accedilatildeo Uma ficcionalizaccedilatildeo

da histoacuteria na forma como contamos o passado e uma historizaccedilatildeo da ficccedilatildeo que eacute a forma como

trabalhamos o imaginaacuterio Na descriccedilatildeo da funccedilatildeo narrativa se articulam as noccedilotildees de mimese e

intriga Enquanto a mimese eacute uma representaccedilatildeo criativa da accedilatildeo a intriga eacute o agenciamento de

fatos sujeitos e cenaacuterios ou seja os elementos estruturantes da proacutepria narrativa

Assim como a metaacutefora viva a narrativa produz efeitos de sentido e remete

simultaneamente a um fenocircmeno de inovaccedilatildeo semacircntica Enquanto a metaacutefora produz uma nova

pertinecircncia por meio de uma atribuiccedilatildeo impertinente que se manteacutem viva porque percebemos sua

espessura e resistecircncia ao emprego usual das palavras e a sua incompatibilidade com a

interpretaccedilatildeo literal (que seria considerada bizarra) a narrativa trabalha no mesmo plano da

invenccedilatildeo semacircntica ao criar uma intriga que eacute uma obra de siacutentese

Percebe-se a constituiccedilatildeo de uma intriga na narrativa de Maria Joseacute Mendes O relato de

visita ao museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto reuacutene em um quadro referencial fontes de procedecircncia

diversas a experiecircncia presencial no museu as demandas da formaccedilatildeo escolar e as interpelaccedilotildees

do acervo do museu Esse tipo de relato eacute tomado na pesquisa como uma imagem de contornos

mais abrangentes dos elementos evidenciados em vaacuterios outros relatos do grupo de visitantes Ele

sintetiza dados de pesquisa e conteuacutedos proacuteprios agraves situaccedilotildees de visitas assim como debates

sobre o uso do patrimocircnio cultural que proveacutem tanto da escola que promove a visita quanto dos

acervos dos museus Pretendo explicitar ao longo da anaacutelise o processo de elaboraccedilatildeo dos relatos

15

evidenciando as linhas mais gerais as texturas dos relatos as repeticcedilotildees de temas as imagens

recorrentes e natildeo propriamente os estilos pessoais e singulares de cada visitante

Para Ricoeur (1975) a questatildeo da narrativa eacute como configurar a experiecircncia temporal

vivida A narrativa eacute o dinamismo integrador que transforma um diverso de incidentes numa

histoacuteria una e completa Eacute a capacidade de reconfiguraccedilatildeo da experiecircncia temporal confusa em

funccedilatildeo de um referencial

A narrativa natildeo eacute soacute o ato jaacute inscrito eacute o ldquoconjunto das operaccedilotildees atraveacutes das quais uma

obra surge a partir do fundo opaco do viver do agir e do padecer para ser dada por um autor a

um leitor que a recebe e muda assim o seus agirrdquo (RICOEUR 1975 p31) Eacute a narrativa que

configura a mediaccedilatildeo entre a preacute-configuraccedilatildeo do campo praacutetico (vivido o antes) o estado da

experiecircncia (o tempo configurado o durante) e a praacutetica que lhe eacute posterior (tempo refigurado o

depois)

A visitante Maria Joseacute Mendes demarca uma temporalidade e natildeo uma simples cronologia

para a visita Seu texto comeccedila com uma data o dia da visita que marca um antes um durante e

um depois Em sua escrita esse antes eacute caracterizado pela imaginaccedilatildeo satildeo ideias que estavam em

sua mente anteriores agrave visita O que ela relata eacute o que aconteceu durante e apoacutes a visita suas

ideias a respeito dos museus mudaram por completo

No entanto o proacuteprio Ricoeur lembra que o relato eacute um ldquoato de testemunharrdquo que difere

do discurso Eacute como uma ldquonarrativa autobiograacutefica autenticada de um acontecimento passadordquo e

agrave medida que o narrador estaacute implicado na cena narradavivida gera uma suposta confiabilidade e

uma suspeita sobre o que ele diz (RICOEUR 2007 p172)

A confianccedila ou desconfianccedila em relaccedilatildeo ao testemunho traz o narrador para o mundo

puacuteblico e da criacutetica aos testemunhos A presenccedila no local da ocorrecircncia inerente ao ato de

testemunhar impotildee uma referecircncia de lugar e de tempo passado ao testemunho mas natildeo lhe

confere legitimidade em relaccedilatildeo ao aqui e agora O testemunho precisa ser autenticado e

acreditado por vaacuterias grandezas comparadas ateacute seu arquivamento (visibilidade e escrita)

(RICOEUR 2007 p175)

Testemunho e narrativa guardam traccedilos de escrituralidade comuns Todavia cada um traz

elementos especiacuteficos relativos ao lugar que os gerou e recebeu Como ldquorastros documentaisrdquo

narrativas e testemunhos estatildeo ligados ao lugar social que os produziram (CERTEAU 1982

16

p64) Esse debate amplia a noccedilatildeo de testemunho que passa a incluir todo e qualquer ldquovestiacutegiordquo

e interessa a essa pesquisa agrave medida que fundamenta uma abordagem que natildeo separa os relatos

escritos dos fotograacuteficos Para Ricoeur a ideia de indiacutecio inclui o testemunho oral ou escrito os

vestiacutegios natildeo verbais como as impressotildees digitais e arquivos fotograacuteficos que testemunham por

seu mutismo (RICOEUR 2007 p 185) O diaacutelogo de Ricoeur nesse caso eacute diretamente com

Carlo Ginzburg (1987) estabeleceu no interior da noccedilatildeo de rastro o conceito de documento em

toda a sua envergadura A raiz comum entre testemunho e indiacutecio eacute a noccedilatildeo de rastro Haacute uma

relaccedilatildeo de complementaridade entre testemunho e indiacutecio para Ricoeur

Decorre dessa ampliaccedilatildeo documental uma seacuterie de analogias relacionando grafia e pintura

no sentido de impressatildeo e evocaccedilatildeo Pode-se dizer tambeacutem que relatos escritos e fotograacuteficos satildeo

complementares na narrativa das visitas aos museus O lugar da fotografia nos relatos eacute

semelhante ao da escrita Ambas configuram ldquomensagens e maneiras de dizer e pensar que

aderem uma agrave outrardquo (RICOEUR 2007 p178)

O primeiro plano dos relatos principalmente das fotografias eacute marcado pela iniciativa

individual em preservar seus proacuteprios rastros os rastros de sua atividade Para Ricoeur essa

iniciativa inaugura o ato de fazer histoacuteria ou a primeira operaccedilatildeo de constituiccedilatildeo de um arquivo a

primeira mutaccedilatildeo historiograacutefica de uma memoacuteria viva Constituiacutedo como testemunho esse

primeiro plano pode ser invocado por algueacutem e desloca-se do seu autor para ser recolhido como

ldquoprova documentalrdquo Marc Bloch lembra Ricoeur coloca a questatildeo dos testemunhos em termos

de rastros de vestiacutegios do passado (testemunhos natildeo-escritos) e depois dos indiacutecios (Ginzburg)

que fazem parte da operaccedilatildeo de observaccedilatildeo histoacuterica com relaccedilatildeo aos ldquotestemunhos do tempordquo

(BLOCH 2002 p69) A consequecircncia desse argumento eacute que nem toda histoacuteria vivida eacute narrada

mas toda a historiografia eacute narrativa

A ambiccedilatildeo da narrativa histoacuterica eacute refigurar a condiccedilatildeo histoacuterica e de elevar seu estatuto

ao de bdquoconsciecircncia histoacuterica‟ Esse processo de reconfiguraccedilatildeo do tempo embora se

pretenda totalizante ocorre como mediaccedilatildeo imperfeita entre o futuro como horizonte de

expectativas o passado como tradiccedilatildeo e o presente como surgimento intempestivo

(RICOEUR 1975 p31)

17

A narrativa histoacuterica produzida pelos historiadores eacute uma construccedilatildeo que cria enredos

com elementos presentes na vida e o mundo refigurado da cultura com uma noccedilatildeo ampla de

produtora de sentidos e identidades12

Em A memoacuteria a histoacuteria o esquecimento Ricoeur (2007 p380) apresenta uma soluccedilatildeo

distinta dos historiadores dos Annales (Le Goff Pierre Nora) para o problema da narrativa e do

tempo histoacuterico na articulaccedilatildeo memoacuteria-histoacuteria Ao retomar o conceito de historicidade que

surge na filosofia alematilde do seacuteculo XIX e de histoacuteria Ricoeur identifica como se configurou a

oposiccedilatildeo entre uma histoacuteria como singular coletivo que

ldquoliga as histoacuterias especiais sob um conceito comum enquanto conhecimento narrativa e

ciecircncia histoacuteria e o nascimento do conceito de histoacuteria como coletivo singular sob o qual

se reuacutene o conjunto das histoacuterias particulares marca a conquista da maior distacircncia

concebiacutevel entre a histoacuteria una e a multiplicidade ilimitada das memoacuterias individuais e a

pluralidade das memoacuterias coletivasrdquo (RICOEUR 2007 p315)

Essa mudanccedila cria um sentido de histoacuteria universal um objeto total e um sujeito uacutenico A

memoacuteria eacute vista com desconfianccedila e descredenciada enquanto a histoacuteria problematiza os

testemunhos religiosos e a memoacuteria coletiva (crenccedilas) e se propotildee a representar o passado no

presente A autonomia da histoacuteria se afirma nos Annales que natildeo devem mais nada a

rememoraccedilatildeo e recorrem agrave introduccedilatildeo de novas exigecircncias retoacutericas por vias extramemoriais A

noccedilatildeo de fonte se liberta da noccedilatildeo de testemunho ldquoConstroacutei-se um passado que ningueacutem pode

lembrar [] A histoacuteria deixou de ser parte da memoacuteria e a memoacuteria se tornou parte da histoacuteriardquo

(RICOEUR 2007 p399)

Ricoeur investe em redefinir as relaccedilotildees entre histoacuteria e memoacuteria na contemporaneidade e

reconhecer os ldquotraccedilos da memoacuteria e do esquecimento que permanecem os menos sensiacuteveis agraves

variaccedilotildees resultantes de uma histoacuteria dos investimentos culturais da memoacuteriardquo (2007 p 398)

Frente agrave tese da escola dos Annales de subordinaccedilatildeo da memoacuteria agrave histoacuteria e a uma literatura da

crise da memoacuteria Ricoeur responde com a hipoacutetese das ldquopotencialidades mnemocircnicas

dissimuladas pelo cotidianordquo cujo histoacuterico contado e o mnemocircnico experimentado se recruzam

(2007 p401)

12 Isabel Barca e Mariacutelia Gago (2004 p29-39) discutem o papel das narrativas histoacutericas e seus usos educacionais na

constituiccedilatildeo de um pensamento histoacuterico entre os jovens portugueses

18

ldquo[] o desespero do que desaparece a impotecircncia para acumular a lembranccedila e arquivar

a memoacuteria o excesso de presenccedila de um passado para sempre irrevogaacutevel a fuga

desnorteada do passado e o congelamento do presente a incapacidade de esquecer e a

incapacidade de se lembrar do acontecimento a uma boa distacircnciardquo (RICOEUR 2007

p401)

Ricoeur aponta que a dinacircmica do esquecimento e da lembranccedila gera tanto uma crise da

memoacuteria quanto um horror agrave histoacuteria ou da presenccedila e da ausecircncia de referecircncias em relaccedilatildeo ao

passado e ao presente A ldquoexperiecircncia viva do reconhecimentordquo redefine a dimensatildeo nostaacutelgica e

as relaccedilotildees memoacuteria e histoacuteria Ricoeur define como ldquooperaccedilatildeo historiadorardquo toda a accedilatildeo que vai

dos arquivos aos textos publicados Para ele um livro de histoacuteria eacute um documento aberto agrave

reinscriccedilatildeo e submetido agrave revisatildeo contiacutenua O que Michel de Certeau (1982 p94) chama de

operaccedilatildeo escrituraacuteria ou uma fase da representaccedilatildeo histoacuterica Ricoeur acredita que atravessa

todos os momentos da escrita da histoacuteria do niacutevel documental ou seleccedilatildeo das fontes ao niacutevel

explicativo-compreensivo com a escolha dos modos concorrentes e as variaccedilotildees de escala da

narrativa (RICOEUR 2007 p249)

Para Ricoeur representaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo estatildeo juntas em toda a operaccedilatildeo de

visualizaccedilatildeo das coisas ausentes do passado ou ainda na tripla aventura que vai do

arquivamento agrave explicaccedilatildeo e representaccedilatildeo Para o autor haacute um embate entre duas escritas para

gerar na histoacuteria um modo literaacuterio da escrituralidade (narrativa) Uma primeira escrita eacute dos

arquivos (memoacuteria) e outra dos historiadores (histoacuteria) ldquoA explicaccedilatildeocompreensatildeo encontra-se

assim enquadrada por duas escritas uma escrita anterior e uma escrita posterior Ela reconhece a

energia da primeira e antecipa a energia da segundardquo (RICOEUR 2007 p 148)

A coerecircncia da narrativa confere visibilidade e busca legitimidade para a encenaccedilatildeo do

passado que daacute a ver Haacute um jogo entre a remissatildeo da imagem e a coisa ausente Uma narrativa

natildeo se parece com os acontecimentos que ela narra Haacute uma prefiguraccedilatildeo uma configuraccedilatildeo e

refiguraccedilatildeo da imagem criada pela amplidatildeo da narrativa e por seu alcance (RICOEUR 2007 p

292)

Em Ricoeur como o problema da memoacuteria natildeo aparece em oposiccedilatildeo agrave histoacuteria pode-se

considerar que em relaccedilatildeo agraves visitas presenciais a museus as imagens da memoacuteria e da histoacuteria

atravessam tanto os relatos dos visitantes quanto a narrativa do museu Ou ainda que as imagens

de museu produzidas pelos visitantes e aquelas produzidas pelos proacuteprios museus podem ser

19

analisadas em um circuito de cultura no qual museu e visitantes tem ambos poder de

representaccedilatildeo

O relato da estudante em visita ao Museu Abiacutelio Barreto coloca o museu em outro

circuito o da proacutepria escola ao fazer uma releitura do sentido e das marcas deixadas pelo museu

quando de sua passagem pelo casaratildeo e suas atividades O depois da visita eacute vivido como uma

nova temporalidade que constitui outro museu imaginado com referecircncia ao durante e ao antes

da visita

12 - A presenccedila de estudantes

As abordagens sobre aprendizagem em ambientes que tratam do patrimocircnio da arte e da

histoacuteria priorizam ora os museus ora as escolasvisitantes A superaccedilatildeo dessas anaacutelises

fragmentaacuterias ou dicotocircmicas implica em refletir sobre os conceitos trabalhados no proacuteprio

campo museoloacutegico e formativo como as ideias de patrimocircnio memoacuteria e histoacuteria

Discutir o estatuto do conhecimento produzido pelos visitantes de museus eacute um ponto de

partida para a reflexatildeo sobre os sentidos das praacuteticas culturais que perpassem museus e escolas

Outra dimensatildeo da pesquisa eacute a ampliaccedilatildeo das reflexotildees teoacutericas e metodoloacutegicas sobre as

competecircncias culturais ou a formaccedilatildeo histoacuterica em especial suas dimensotildees esteacuteticas e poliacuteticas

desencadeadas a partir das visitas

Gumbrecht (1998 e 2010) ao discutir sobre a produccedilatildeo de presenccedila sugere um repertoacuterio

de anaacutelise cultural que busca discernir os efeitos de presenccedila e os efeitos de sentido Ele distingue

uma ldquocultura de presenccedilardquo de uma ldquocultura de sentidordquo O que diferencia uma da outra e

interessa a esta anaacutelise das visitas a museus eacute o papel do sujeito ou subjetividade que ocupa

lugar central na cultura de sentido mas que soacute eacute considerado efetivamente em seu corpo como

parte da existecircncia das coisas numa cultura de presenccedila

A decorrecircncia dessa distinccedilatildeo entre sentido e presenccedila eacute que o conhecimento produzido

numa cultura de sentido soacute pode ser legitimado por um sujeito em seu ato de interpretar o mundo

Jaacute na cultura de presenccedila o conhecimento legiacutetimo eacute apresentado se manifesta ele natildeo vem

diretamente do esforccedilo individual para interpretar e criar um sentido Os objetos se impotildeem ao

sujeito e sua vontade eacute confrontada pela presenccedila

20

Na visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto eacute a presenccedila dos objetos catalogados como

histoacutericos que cria um olhar diferente para esses objetos Eacute o visitante que presente no museu

confere sentidos aos objetos que vecirc expostos e entende que a mudanccedila na ordem de organizaccedilatildeo e

apresentaccedilatildeo cria uma nova visualidade para os objetos

Essa polecircmica sobre presenccedila e sentido eacute um alerta para os perigos do afastamento do

corpo das marcas de produccedilatildeo de sentido proacuteprias agrave modernidade ocidental que assume uma

oposiccedilatildeo entre sujeito (puro espiacuterito) e objeto (pura materialidade) Para Gumbrecht essa

oposiccedilatildeo levou o sujeito a assumir a posiccedilatildeo de observador de um mundo de objetos no qual se

inclui o seu proacuteprio corpo Se por um lado o ganho dessa visatildeo eacute uma demanda constante de

interpretaccedilatildeo de outro promove-se uma perda ou ldquodesmaterializaccedilatildeo da culturardquo transformando

o mundo em ldquorepresentaccedilatildeordquo (GUMBRECHT 2010 p 75-8)

Interessa-nos destacar tambeacutem nesta perspectiva apontada por Gumbrecht os limites da

ideia de representaccedilatildeo13

como capaz de compensar as deficiecircncias de ldquoexpressatildeordquo Ele considera

que como ldquonenhuma das muacuteltiplas representaccedilotildees pode jamais pretender ser mais adequada ou

epistemologicamente superior a todas as outrasrdquo cria-se uma ldquocrise de consciecircncia provocada

pelas muacuteltiplas representaccedilotildeesrdquo (GUMBRECHT 2010 p 82) Para o autor eacute a presenccedila como

uma dimensatildeo fiacutesica e de tangibilidade14

que estaacute em tensatildeo com o princiacutepio da representaccedilatildeo

A partir da ideia de presenccedila pode-se inferir que nas visitas aos museus se produz um

fluxo temporal em que no momento presente o passado e o futuro se encontram Por meio deste

movimento no tempo a ldquoconsciecircnciardquo do visitante eacute transformada por uma rede de relaccedilotildees que

expressam uma nova impressatildeo de estar presente no mundo

Os objetos dos museus tomam novos sentidos atualizados pelo visitante Natildeo eacute soacute a

exposiccedilatildeo propriamente dita que chama a atenccedilatildeo do visitante mas toda a organizaccedilatildeo do espaccedilo

que se apresenta face a face como um circuito os projetos o edifiacutecio e o proacuteprio trabalho de

musealizaccedilatildeo ldquoGostei da forma que o material eacute conservado em estantes giratoacuteriasrdquo afirma a

visitante Maria Joseacute Mendes em presenccedila da reserva teacutecnica do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto

A imagem de estantes giratoacuterias evocada pelo relato da estudante possibilita ampliar o uso

13 A criacutetica agrave representaccedilatildeo e agrave recepccedilatildeo eacute apresentada ao longo do texto e se fundamenta em autores como Ricoeur

(2007 p295-6) Raymond Williams (1969 e 1979) Stuart Hall (1997 e 2003) e Ranciegravere (2010) 14 As visitas em questatildeo satildeo presenciais e nisso se distinguem inicialmente de outras praacuteticas de memoacuteria que

incluem o uso de recursos tecnoloacutegicos para acesso agrave distacircncia (natildeo-presenccedila) aos museus e exposiccedilotildees

21

estritamente funcional dado pelo museu a esse objeto que natildeo faz parte da coleccedilatildeo mas que lhe

daacute suporte e deve facilitar a limpeza e armazenamento fiacutesico dos objetos museais Elevada ao

plano da narrativa de visita a ideia de girar deixa seu sentido meramente instrumental e ganha o

tom poeacutetico de mexer e revolver objetos que a funccedilatildeo museal possui Haacute um deslocamento pode-

se afirmar que natildeo haacute distinccedilatildeo para o gosto da visitante entre o que estaacute nas estantes e as

proacuteprias estantes O objeto museal eacute o proacuteprio mobiliaacuterio do museu e sua accedilatildeo de preservaccedilatildeo

natildeo aquelas coisas velhas que guarda O movimento das estantes eacute compartilhado com prazer

pelo olhar da visitante e coloca a cultura do museu em circulaccedilatildeo

A cultura de presenccedila eacute descrita por Gumbrecht como uma cosmologia em que ldquoos seres

humanos querem relacionar-se com a cosmologia envolvente pela inscriccedilatildeo de si mesmos ou

seja de seus proacuteprios corpos nos ritmos dessa cosmologiardquo (2010 p108-109) A accedilatildeo se faz

como ldquomagiardquo ou seja a praacutetica de tornar presentes coisas que estatildeo ausentes e ausentes coisas

que estatildeo presentes A cultura da presenccedila sugere abordar as situaccedilotildees de visita como epifanias

cujos efeitos de presenccedila e sentido satildeo efecircmeros Ou ainda com uma temporalidade espacial

descrita como um evento que surge do nada e irrompe com os sentidos estabelecidos

Estes efeitos da presenccedila podem ser observados nos relatos dos visitantes De um lado o

museu pode ser considerado como um sentido jaacute instituiacutedo um trabalho concluiacutedo que pretende

ser universal mas que esgotou sua potecircncia criadora e que portanto soacute afeta o visitante

mobilizando-o a uma criacutetica agraves suas concepccedilotildees e exposiccedilotildees Do outro lado a presenccedila no

museu provoca os sentidos dos visitantes e cria princiacutepios de tensatildeo com a ideia de representaccedilatildeo

dominante da proacutepria histoacuteria presente no museu e no visitante Ou ainda a presenccedila investe-se

de uma funccedilatildeo encantatoacuteria capaz de tornar as coisas ausentes presentes e vice-versa

(GUMBRECHT 2010 p14)

Gumbrecht desenvolve aleacutem de uma criacutetica agrave representaccedilatildeo uma ressalva quanto agrave noccedilatildeo

de que a mateacuteria se estabilizaria ao longo do tempo sendo capaz de produzir um efeito de

fronteira de fixidez e superfiacutecie Na tentativa de inverter e devolver a ldquocoisidaderdquo agrave consciecircncia e

a ldquoaparecircnciardquo ao corpo como condiccedilatildeo na qual o mundo nos eacute dado e apresentado aos sentidos

22

ele se coloca em tensatildeo com a abordagem interpretativa15

Pensando que a relaccedilatildeo com os

artefatos culturais nunca eacute uma simples atribuiccedilatildeo de sentido e que coisas estatildeo perto ou longe

de nossos corpos Gumbrecht aponta que a relaccedilatildeo cotidiana com o mundo faz esquecer e implica

uma camada diferente de sentido (2010 p85-88)

O trabalho de visitas a museus permite um contato com os objetos histoacutericos uma

frequumlentaccedilatildeo que cria interaccedilotildees explicita diferenccedilas e aproximaccedilotildees culturais O visitante

dialoga questiona a mensagem expositiva e pode elaborar sentidos diversos dos apresentados

pelos museus

Vale ressaltar que para o autor a presenccedila natildeo vem sem apagar os sentidos que a

representaccedilatildeo gostaria de designar seus fundamentos a sua origem e seus temas A presenccedila natildeo

eacute uma presenccedila realmente existente ela se apresenta em permanente condiccedilatildeo de ldquotemporalidade

extremardquo eacute suacutebita de caraacuteter efecircmero surge e desaparece como eacute caracteriacutestico da experiecircncia

esteacutetica que se torna evidente e evanescente ao mesmo tempo (GUMBRECHT 2010 p83)

A experiecircncia esteacutetica se localiza a certa distacircncia do mundo cotidiano e produz diversas

figuras temporais Natildeo existe um resultado previsiacutevel oacutebvio ou tiacutepico que a experiecircncia esteacutetica

acrescenta ao cotidiano A visita a museus pode ser vista como um ldquoacontecimento de verdaderdquo

um evento que nos faz ver as coisas de ldquoum modo diferente do habitualrdquo como relata Maria Joseacute

Mendes diante do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto Entrar em um museu eacute entrar numa paisagem

e exercitar uma performance

estar dentro dessa paisagem eacute um requisito fundamental para restabelecer o

enraizamento do histoacuterico devir Ter uma substacircncia (corpo) ocupar um espaccedilo implica

na possibilidade de revelar um movimento multidimensional vertical (balanccedilo) e

horizontal (ideia aspecto) O movimento de balanccedilo eacute um suster-se ali-em si mesmo

Uma dimensatildeo horizontal eacute ser percebido dentro da situaccedilatildeo bdquoser revelado‟ e natildeo bdquorepresentado‟ (GUMBRECHT 2010 p86-100)

Seguindo as indicaccedilotildees de Gumbrecht sobre o princiacutepio da presenccedila a relaccedilatildeo do visitante

de museu com o passado eacute diferente da ideacuteia de nostalgia de viagem no tempo de

15 Paul Ricoeur em Do texto agrave accedilatildeo amplia o termo interpretaccedilatildeo associando-o ao sentido de apropriaccedilatildeo cuja

finalidade eacute a luta contra a distacircncia cultural A interpretaccedilatildeo aproxima equaliza torna contemporacircneo e semelhante

torna proacuteprio o que era estrangeiro (RICOEUR 1991 p156)

23

restabelecimento ou de retrocesso16

O passado entendido pelo autor como produto da cultura eacute

caracterizado por sua materialidade e possibilidade de usos em cenaacuterios de simultaneidade de

referecircncias Haacute uma presenccedila do passado que eacute incorporado e um presente da accedilatildeo

Parece ser este o sentido da orientaccedilatildeo para a accedilatildeo que a visitante observa em seu uacuteltimo

comentaacuterio sobre a visita ao Museu Abiacutelio Barreto Maria Joseacute Mendes articula duas formas de

ver a histoacuteria o que foi visto no museu e o que foi visto no seu curso de licenciatura em Histoacuteria

As consequecircncias de suas observaccedilotildees no museu a levam a concluir que o historiador a partir dos

Annales trabalha com perguntas que os objetos vistos respondem Logo para Maria Joseacute

Mendes a operaccedilatildeo historiograacutefica parece se completar A visita mobiliza a formaccedilatildeo do objeto

imaginaacuterio e as mudanccedilas de perspectivas da visitante Eacute possiacutevel tambeacutem caracterizar a visita ao

museu como uma ldquoexperiecircncia esteacuteticardquo ou seja como uma dimensatildeo viva que oscila entre os

efeitos de sentido e os efeitos de presenccedila A visitante se potildee no museu numa condiccedilatildeo de

ldquoinsularidaderdquo e de predisposiccedilatildeo para a ldquointensidade concentradardquo para uma tensatildeo produtiva

que oscila simultaneamente entre sentido e presenccedila diferente de suas atividades cotidianas

(GUMBRECHT 2010 p 136)

O Museu prevecirc a participaccedilatildeo do visitante e estabelece tambeacutem um horizonte de

expectativas culturais e histoacutericas em relaccedilatildeo ao receptor Essas expectativas dos museus em um

dado momento encontram desapontam ou antecipam o horizonte de expectativas do visitante O

conhecimento do visitante eacute atualizado agrave medida que em presenccedila do patrimocircnio musealizado

reformulam-se suas expectativas e ele reinterpreta o que foi visitado A experiecircncia esteacutetica

realiza-se no visitante Eacute o que afirma Maria Joseacute Mendes ao visitar o Museu Histoacuterico Abiacutelio

Barreto em Belo Horizonte com seus colegas Ela imaginava outro tipo de museu se

surpreendeu durante e apoacutes a visita e mudou sua mente por completo o museu natildeo era um local

que as pessoas iam para ver coisas velhas Percebeu no museu algo ineacutedito um historiador tem

vaacuterias formas de trabalhar com diferentes tipos de objetos (Maria Joseacute Mendes Fipel 200517

)

Durante a visita o estudante confronta suas expectativas com o que encontrou no Museu

Mudou de opiniatildeo sobre o que era um museu a partir daquela visita Outros visitantes conforme

16 A expressatildeo futuro passado de Koselleck (2006 p21) eacute uma categoria explicativa da dinacircmica dos tempos

histoacutericos que dialoga com a dimensatildeo da presenccedila discutida por Gumbrecht 17 Os relatoacuterios de visita produzidos pelos estudantes e utilizados na tese seratildeo citados individualmente

mencionando-se o nome do autor

24

exploraremos no capiacutetulo seguinte tambeacutem reconhecem o papel da visita ao Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto na mudanccedila em suas concepccedilotildees de museu

A visitante cria um enredo proacuteprio para a visita e organiza um repertoacuterio que serve de

pano de fundo para sua narrativa Maria Joseacute Mendes atualiza seus conhecimentos ao declarar

que o Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto realiza um trabalho diferente dos museus que ela jaacute havia

visitado laacute no museu eles preservam a memoacuteria da cidade e integram o objeto ao cotidiano da

sociedade remetendo-nos haacute tempos em que Belo Horizonte era apenas um arraial chamado

Curral Del Rei Laacute o casaratildeo deixa de ser espaccedilo fiacutesico para ser objeto museoloacutegico (Maria Joseacute

Mendes Fipel 2005)

Outras observaccedilotildees podem ser feitas a partir do relato da visitante Uma delas eacute que os

museus natildeo satildeo depoacutesito (lugar de memoacuteria) Cada visita a um museu situa temporalmente cada

um dos visitantes pois possibilita que eles momentaneamente se distanciem de sua imersatildeo no

tempo presente e participem de experiecircncias de outras temporalidades

A perspectiva adotada por cada museu se define concretamente no processo de

resignificaccedilatildeo do visitante que converte a cada olhar os artefatos expostos em objetos histoacutericos

O museu por sua vez eacute quem forccedila o visitante a exercer sua atividade produtiva a posicionar-se

O Museu coloca em jogo a produtividade do visitante ao estimular suas capacidades A visita

exercitada torna-se tambeacutem um prazer para o visitante uma aula praacutetica de como fazer Histoacuteria

(Maria Joseacute Mendes Fipel 2005)

A experiecircncia vivida nas visitas aos museus oferece graus distintos de intensidade Aleacutem

da experiecircncia puramente fiacutesica resultante da presenccedila os visitantes investem em objetos de

fasciacutenio que comeccedilam por ativaacute-los e convocaacute-los a se integrar no circuito do museu O museu se

apresenta como ldquorelevacircncia impostardquo ndash objetos que desviam nossa atenccedilatildeo das rotinas diaacuterias em

que estamos envolvidos e nos separam delas A presenccedila de determinados objetos da experiecircncia

a nos convidar para a serenidade isto eacute a estarem ao mesmo tempo concentrados e disponiacuteveis

sem deixarem que a concentraccedilatildeo se calcifique na tensatildeo de um esforccedilo (GUMBRECHT 2010

p 132)

A visitante Maria Joseacute Mendes percebe no museu o trabalho com diferentes tipos de

objetos e como o museu cria um tipo de objeto especiacutefico retirado do cotidiano e transformado

em objeto museoloacutegico No Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a visitante percebe a operaccedilatildeo

25

museal para criar um passado para a cidade de Belo Horizonte chamado Curral Del Rei cuja

narrativa estaacute associada ao iniacutecio agrave fundaccedilatildeo da nova capital A presenccedila como fenocircmeno

efecircmero pode ser discutida tambeacutem nas fotografias18

dos visitantes desde a entrada nos museus

como desejo e expectativas durante o percurso interno das exposiccedilotildees como reaccedilotildees agraves

condiccedilotildees especiacuteficas da cultura de sentido ateacute a saiacuteda dos locais quando se configura uma

ausecircncia ou o desaparecer da presenccedila A anaacutelise das experiecircncias de visita a museus possibilita

emergir um campo de investigaccedilatildeo em que os sujeitos aparecem em accedilatildeo posicionam-se em

relaccedilatildeo ao saber histoacuterico a outros sujeitos e narrativas e a si proacuteprios

13 - Formaccedilatildeo histoacuterica

A partir das dinacircmicas e interaccedilotildees experimentadas e interpretadas pelos estudantes em

visitas a museus pretende-se discutir como se daacute o aprendizado histoacuterico e a formaccedilatildeo histoacuterica

na perspectiva que lhe atribui Ruumlsen (2007 p104) enquanto a capacidade de constituiccedilatildeo de uma

narrativa de sentido

A experiecircncia histoacuterica da visita e de cada visitante permitiraacute uma distinccedilatildeo da qualidade

temporal entre passado e presente e identificaccedilatildeo do modo como o passado permanece como

passado no presente A visita a museus pode fundamentar essa experiecircncia temporal essa

vivecircncia da mudanccedila no tempo da alteridade do passado que experimentada abre o potencial de

futuro do proacuteprio presente (RUumlSEN 2007 p 111-2)

Para Ruumlsen (2007 p95) a formaccedilatildeo histoacuterica pode ser entendida sob dois aspectos

primeiro como saber histoacuterico siacutentese da experiecircncia com a interpretaccedilatildeo e orientaccedilatildeo para a

vida praacutetica e segundo como processo de socializaccedilatildeo e individuaccedilatildeo que trata da dinacircmica de

formaccedilatildeo da identidade histoacuterica O autor observa que o aprendizado histoacuterico natildeo acontece

apenas no ensino de histoacuteria mas nos mais diversos e complexos contextos da vida concreta dos

aprendizes A formaccedilatildeo histoacuterica se opotildee criticamente agrave unilateralidade agrave especializaccedilatildeo

excessiva e agrave fragmentaccedilatildeo do saber cientiacutefico Eacute uma competecircncia que articula niacuteveis cognitivos

18 Muitas fotografias ficaram reservadas agrave circulaccedilatildeo restrita e apresentadas a pequenos grupos e professores Outras figuram em aacutelbuns e siacutetios virtuais Seus produtores diretos decidem se as compartilham ou natildeo com outras pessoas

com amigos familiares ou ambientes virtuais Foram selecionadas aquelas que aparecem nos relatoacuterios de avaliaccedilatildeo

apresentados pela turma

26

e formas e conteuacutedos cientiacuteficos ao seu uso praacutetico Essas competecircncias de formaccedilatildeo estatildeo

relacionadas simultaneamente ao saber agrave praacutexis e agrave subjetividade Para o autor eacute a carecircncia de

orientaccedilatildeo do sujeito que vincula saber e agir (RUumlSEN 2007 p110)

Ruumlsen (2007) caracteriza de forma inspiradora o aprendizado histoacuterico e o papel produtivo

do sujeito na histoacuteria Para ele haacute um duplo movimento algo objetivo torna-se subjetivo um

conteuacutedo da experiecircncia de ocorrecircncias temporais eacute apropriado simultaneamente um sujeito

confronta-se com essa experiecircncia que se objetiva nele (RUumlSEN 2007 p106) A apropriaccedilatildeo da

histoacuteria transforma um dado objetivo um acontecimento que ocorreu no tempo passado em

realidade da consciecircncia em algo subjetivo Desse ponto de vista o sujeito constitui sua

subjetividade afirma a si proacuteprio ao aprender a dimensatildeo temporal do passado interpretado em

seu presente A formaccedilatildeo consegue efetivar a articulaccedilatildeo entre objetividade e subjetividade

realizar a passagem do dado objetivo agrave apropriaccedilatildeo subjetiva e da busca subjetiva de afirmaccedilatildeo

ao entendimento objetivo Nas palavras de Ruumlsen (2007 p110) haacute uma intensificaccedilatildeo dos

pressupostos subjetivos ao manejar de forma cognitiva o passado contrapondo-se agrave alteridade do

passado reconhecendo o estranho e assim descobrir-se como proacuteprio (histoacuteria como vida)

Para Reinhart Koselleck (2006 p308-314) um movimento semelhante ao da formaccedilatildeo

histoacuterica de Ruumlsen pode ser observado no trabalho com as categorias histoacutericas de espaccedilo de

experiecircncia e horizonte de expectativa Ambas estatildeo interligadas e se ocupam da questatildeo do

tempo histoacuterico Ao entrelaccedilar passado e futuro dirigem as accedilotildees concretas no movimento social

e poliacutetico

Koselleck (2006 p309-310) afirma que a experiecircncia eacute o passado atual aquele no qual

os acontecimentos foram incorporados e podem ser lembrados Jaacute a expectativa eacute ao mesmo

tempo ligada agrave pessoa e ao interpessoal tambeacutem se realiza no hoje eacute futuro presente voltado

para o ainda-natildeo para o natildeo experimentado para o que apenas pode ser previsto

A experiecircncia possibilita tornar presente os acontecimentos passados e avaliaacute-los

Contudo sem o horizonte de expectativas o espaccedilo da experiecircncia eacute vago Eacute o horizonte de

expectativas que manteacutem em aberto o espaccedilo para o futuro (KOSELLECK 2006 p313)

Para Ruumlsen (2007 p110) o processo de aprendizado e apropriaccedilatildeo da experiecircncia

histoacuterica se daacute por meio de trecircs operaccedilotildees experiecircncia interpretaccedilatildeo e orientaccedilatildeo O

aprendizado histoacuterico produz a ampliaccedilatildeo da experiecircncia do passado humano aumentando a

27

competecircncia de interpretaccedilatildeo dessa experiecircncia e reforccedilando a capacidade de inserir e utilizar as

interpretaccedilotildees histoacutericas no quadro de orientaccedilatildeo da vida praacutetica

Ao discutir sobre o aprendizado histoacuterico e a apropriaccedilatildeo histoacuterica pelo presente no

sentido de uma memoacuteria viva o proacuteprio Ruumlsen indica que a histoacuteria faz parte da cultura poliacutetica e

se apresenta como elementos identitaacuterios e nacionais Para o autor as diretrizes curriculares para o

ensino de histoacuteria os monumentos e as exposiccedilotildees satildeo exemplos dessa dimensatildeo histoacuterica vivida

de forma natildeo escolar Para Ruumlsen estas histoacuterias estatildeo presentes nas circunstacircncias da vida

concreta mas permitem tambeacutem lanccedilar pontes ao aprendizado de experiecircncias histoacutericas e de

futuro (RUumlSEN 2007 p107)

A perspectiva teoacuterica aberta por Ruumlsen articula as questotildees relativas ao ensino de histoacuteria

aos fundamentos da ciecircncia da histoacuteria A contribuiccedilatildeo de Ruumlsen eacute recompor o campo do ensino

com o que chamamos de dimensatildeo da pesquisa19

Em primeiro lugar ele afasta uma concepccedilatildeo

de didaacutetica como algo externo agrave produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico pelos especialistas Para

Ruumlsen a didaacutetica natildeo eacute mera aplicaccedilatildeo ou mediaccedilatildeo nem meacutetodo de ensino indiferente aos

mecanismos especiacuteficos do trabalho cognitivo da histoacuteria Os impulsos advindos do ensino e do

aprendizado de histoacuteria natildeo podem ser dispensados na ciecircncia da histoacuteria A teoria da histoacuteria se

faz para Ruumlsen sob a reflexatildeo sobre as carecircncias de orientaccedilatildeo existencial e das formas de

apresentaccedilatildeo Essas carecircncias satildeo sobretudo de ordem poliacutetica e esteacutetica As funccedilotildees praacuteticas do

saber histoacuterico satildeo tatildeo necessaacuterias quanto o processo cientiacutefico de conhecimento (RUumlSEN 2007

p122)

Para Ruumlsen o saber histoacuterico desempenha funccedilotildees na vida cultural do tempo presente Ele

defende que no trabalho do historiador forma e funccedilatildeo natildeo se separam Essa separaccedilatildeo eacute feita

pela tradiccedilatildeo retoacuterica da historiografia dando agrave teoria da histoacuteria o poder de cuidar das regras da

escrita historiograacutefica e da poeacutetica normativa o como escrever Com a cientificizaccedilatildeo da

historiografia a Histoacuteria passou a cuidar das regras da pesquisa histoacuterica e o aspecto da forma

ficou sendo externo agrave especializaccedilatildeo A didaacutetica da histoacuteria nas duas tradiccedilotildees historiograacuteficas

ficou de fora da composiccedilatildeo da disciplina especializada A didaacutetica eacute vista hoje como mera

aplicaccedilatildeo pedagoacutegica um referente externo do saber histoacuterico (RUumlSEN 2007 p11)

19 Haacute uma vasta bibliografia acadecircmica desde a deacutecada de 1980 que discute o ensino de histoacuteria no Brasil e dentre

outros temas a articulaccedilatildeo ensino e pesquisa a avaliaccedilatildeo criacutetica aos curriacuteculos e programas oficiais e articulaccedilatildeo de

grupos de pesquisa Ver Nadai(1993) e Caimi (2001)

28

O museu pode ser interrogado nesse mesmo sentido e deixar de ser considerado um

recurso metodoloacutegico para se tornar parte do aprendizado histoacuterico como fonte tema de pesquisa

e produccedilatildeo de conhecimentos histoacutericos e educacionais

Ruumlsen (2007 p87) reuacutene teoria e didaacutetica ao indicar que formas e funccedilotildees do saber

histoacuterico fazem parte da matriz disciplinar da ciecircncia histoacuteria Ao reinscrever a didaacutetica no campo

da Histoacuteria como praacutetica de ciecircncia aponta para a funccedilatildeo praacutetica do saber histoacuterico Essa funccedilatildeo

praacutetica tem efeito sobre o processo de conhecimento influenciando nas perguntas iniciais que os

historiadores fazem ou seja na praacutexis historiograacutefica e tambeacutem possui uma funccedilatildeo de orientaccedilatildeo

praacutetica para a vida

Em Histoacuteria Viva Ruumlsen (2007) contribui para a formulaccedilatildeo de questotildees que articulam de

maneira praacutetica os campos da histoacuteria e da educaccedilatildeo pensando no ensino de histoacuteria20

O olhar

criacutetico do autor sobre a teoria da histoacuteria dirige-se em seguida para os processos elementares e

gerais de constituiccedilatildeo narrativa de sentido responde agraves carecircncias de orientaccedilatildeo e torna o saber

histoacuterico vivo (RUumlSEN 2007 p14)

O que Ruumlsen (2010 p59) chama de ldquoconsciecircncia histoacutericardquo eacute esse uso praacutetico do saber

histoacuterico que suscita questotildees sobre as funccedilotildees culturais das narrativas histoacutericas Ou seja as

questotildees praacuteticas da formaccedilatildeo e saber histoacuterico vatildeo aleacutem da ldquoteoria da histoacuteriardquo e recolocam o

problema da validade discursiva desse campo como ciecircncia especializada aleacutem de questionar o

que os historiadores fazem quando propotildeem formataccedilotildees historiograacuteficas da vida cultural de seu

tempo ou quais procedimentos adotam quando atuam nela

A leitura de Ruumlsen inspira a reflexatildeo sobre o sentido que as narrativas e exposiccedilotildees dos

museus possuem na vida cultural de uma sociedade e como elas se transformam em saberes

histoacutericos Ao entender como o visitante realiza movimentos que colocam em circulaccedilatildeo os

sentidos das narrativas de museus eacute possiacutevel investigar mecanismos poliacuteticos e esteacuteticos que

continuam sendo selecionados nessas narrativas e que as transportam do passado para o presente

No relato de Maria Joseacute Mendes pode ser vista essa operaccedilatildeo de construccedilatildeo de sentidos

proacuteprios agraves narrativas histoacutericas A visitante entende a dinacircmica museal natildeo em seu caraacuteter

instrumental mas como princiacutepio criador de versotildees histoacutericas A visitante do Museu Histoacuterico

20 Essas articulaccedilotildees tambeacutem satildeo discutidas pelo grupo de pesquisa Memoacuteria Histoacuteria e Educaccedilatildeo da Unicamp Ver

Zamboni (2007) e Zamboni e outros (2008)

29

Abiacutelio Barreto participa de uma dinacircmica que a leva a compreender que ldquoa partir de uma

montagem e desmontagem de figuras podem-se passar imagens diferentes dependendo da

maneira como esse material foi expostordquo (Maria Joseacute Mendes Fipel 2005) A operaccedilatildeo de

montagem e desmontagem eacute experimentada pela visitante que relaciona o procedimento do

museu com o procedimento dos historiadores em suas pesquisas e associa a ideia de deciframento

do que estaacute preservado e exposto ao trabalho de composiccedilatildeo realizado anteriormente

Outra questatildeo em relaccedilatildeo aos visitantes inspirada em Ruumlsen eacute discutir ateacute que ponto o

modo de narrar histoacuterias dos museus eacute utilizado na vida dos visitantes Ou seja como a maneira

argumentativa dos museus afeta a formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes Ou no limite se visitar

museus influencia ou natildeo na forma de narrar a histoacuteria e viver o tempo presente

No relato de Maria Joseacute Mendes as dimensotildees da histoacuteria e da vida estatildeo presentes A

visita muda sua concepccedilatildeo de museu e de histoacuteria Ela traz da vivecircncia no museu para sua

concepccedilatildeo de histoacuteria a dimensatildeo material dos objetos e aproxima sua nova visatildeo de museu da

historiografia Como futura profissional da histoacuteria ela pode usar um novo arsenal o museu e sua

metodologia de trabalhar os objetos (Maria Joseacute Mendes Fipel 2005)

Em relaccedilatildeo agrave vida Maria Joseacute Mendes manteacutem sua condiccedilatildeo de visitante durante todo seu

relato mas faz um convite ldquoa exposiccedilatildeo eacute aberta a todos que queiram verrdquo Essa abertura das

portas do museu ao puacuteblico reconhecida pela visitante implica em considerar que os

destinataacuterios na praacutexis museoloacutegica natildeo satildeo apenas os especialistas Mas a visitante parece

indicar que o lugar no qual se localiza essa praacutetica soacute atinge os que ldquoquerem verrdquo e nem todo

mundo quer ver o que tem em um museu Relacionado a uma forma de constituiccedilatildeo especiacutefica de

rdquonarrativa de sentidordquo o museu natildeo eacute igual ao conjunto da vida praacutetica Eacute preciso ir ateacute o museu e

querer vecirc-lo

Querer ver e ver de diferentes maneiras implica em reconhecer a heterogeneidade e a

diversidade que marcam a formaccedilatildeo histoacuterica e as relaccedilotildees concretas dessa formaccedilatildeo no que se

refere a percursos graus de autonomia condiccedilotildees de trabalho docente diferenccedilas culturais e

enormes desigualdades sociais e econocircmicas reconhecer que professores e alunos dos diferentes

niacuteveis de ensino podem ser sujeitos histoacutericos agrave medida que constituem coletivamente para si

proacuteprios um tempo e espaccedilo de produccedilatildeo de conhecimentos tempo e espaccedilo que incluam a

reflexatildeo e accedilatildeo sobre suas proacuteprias demandas e necessidades de formaccedilatildeo

30

14- Circuito e circularidade cultural

Feitas as consideraccedilotildees sobre as narrativas a presenccedila e a formaccedilatildeo histoacuterica a questatildeo a

ser enfrentada eacute como analisar as interaccedilotildees que emergem das accedilotildees dos sujeitos na produccedilatildeo de

novos significados para os bens culturais sem cair numa abordagem que prioriza as estruturas ou

as mediaccedilotildees institucionais que atuam com poder formativo e instrucional indicando roteiros de

interaccedilatildeo sobre os receptores ndash colocados no final do processo educativo

Algumas bases teoacutericas jaacute foram estabelecidas principalmente ao se discutir o conceito de

cultura de presenccedila para caracterizar a relaccedilatildeo com os museus Cabe sistematizar um pouco mais

a criacutetica agrave recepccedilatildeo e agrave representaccedilatildeo estabelecida pela ampliaccedilatildeo do conceito de cultura

realizada por Raymond Williams (1969 e 1979) e posteriormente alargada pela ideia de circuito

da cultura de Stuart Hall (1997 e 2003)

O debate teoacuterico em torno do conceito de cultura promovido por Raymond Williams

(1969 e 1979) e posteriormente os sentidos e usos que adquire pelos chamados Estudos

Culturais na criacutetica e reexame das relaccedilotildees entre comunicaccedilatildeo e sociedade articulam a dinacircmica

os conflitos as tensotildees as resoluccedilotildees e irresoluccedilotildees as inovaccedilotildees e mudanccedilas reais que se

produzem na proacutepria cultura em planos mais amplos a partir de um objetoproduto especiacutefico

rompendo com os paradigmas da recepccedilatildeo e representaccedilatildeo

Para Williams o cultural natildeo eacute mero reflexo ou tem papel residual nas anaacutelises O cultural

ocupa o lugar central eacute o lugar para onde se deve olhar pois permite ver a experiecircncia o modo

de vida indissoluacutevel na praacutetica em geral real material as formas dominantes residuais

(passado memoacuteria) e emergentes

Williams propotildee um meacutetodo de entendimento dos fenocircmenos da cultura como as

condiccedilotildees de vida comum tanto as normas quanto o vivido praacuteticas cotidianas natildeo cristalizadas

A cultura natildeo tem uma hierarquia fixa um dentro e um fora natildeo pode ser definida como alta ou

baixa A cultura eacute vista como experiecircncias efetivas e troca entre agentes natildeo redutiacuteveis aos

objetos (coisas) mas a todo um modo de vida comum A cultura eacute ordinaacuteria ou seja eacute

perpassada pelas ideias e praacuteticas sociais Assim em seu meacutetodo eacute possiacutevel pensar a estrutura da

experiecircncia ou as relaccedilotildees sociais mais amplas dentro de um caso particular

31

Outra contribuiccedilatildeo significativa de Williams (1992 p311) para a anaacutelise de nosso objeto

especiacutefico eacute a criacutetica ao sentido de transmissatildeo da cultura Para o autor soacute podemos pensar em

transmissatildeo se entendermos a comunicaccedilatildeo como a remessa de um sentido uacutenico Entretanto

para ele a recepccedilatildeo e resposta que completam a comunicaccedilatildeo dependem de fatores outros que

natildeo as teacutecnicas

A comunicaccedilatildeo se daacute como experiecircncia de agentes troca entre interlocutores Mas natildeo

vivemos em um mundo de iguais Natildeo haacute sequer a suposiccedilatildeo de compartilhamento de uma

linguagem comum Haacute claramente uma dimensatildeo poliacutetica uma vontade de poder expressa nas

hierarquias postas As regras e valores das instituiccedilotildees museais as normas e papeacuteis sociais regem

as relaccedilotildees entre visitantes e museus O sentido da accedilatildeo parte do museu Entretanto cabe

perguntar sobre quais formas de interlocuccedilatildeo podem emergir em um cenaacuterio de visita a uma

exposiccedilatildeo O Museu propotildee o rompimento com o caraacuteter transmissivo da cultura ou reitera os

padrotildees de uma cultura alta e autorizada e outra baixa O visitante pode fazer esse movimento de

interpretaccedilatildeo contraacuterio ao sentido prioritaacuterio do museu atribuindo um excesso de sentido poliacutetico

e esteacutetico agrave exposiccedilatildeo ou ele sempre elabora seu percurso de leitura com as matrizes e

referencias culturais da exposiccedilatildeo

Chega-se tambeacutem a outro movimento de ampliaccedilatildeo do sentido de cultura e da proacutepria

ideia de representaccedilatildeo como algo fixo Stuart Hall (1997 e 2003) ao formular a ideia de circuito

da cultura substitui o modelo teoacuterico que separava emissormensagemreceptor por estrutura

complexa de relaccedilotildees produzida e sustentada atraveacutes de movimentos distintos mas interligados

produccedilatildeo circulaccedilatildeo distribuiccedilatildeoconsumo reproduccedilatildeo

Hall relaciona as praacuteticas culturais com formas e condiccedilotildees especiacuteficas Cada momento do

circuito remete ou re-envia ao outro produccedilatildeo-distribuiccedilatildeo-produccedilatildeo Formas simboacutelicas

especiacuteficas satildeo produtos de cada momento do circuito mas tambeacutem datildeo passagem a outros

significados e mensagens (signos-veiacuteculos) Podemos pensar a produccedilatildeo cultural como

instrumentos materiais (meios) organizados como praacuteticas e analisar a troca comunicativa na

forma discursiva da mensagem em suas formas visuais (imagens) e no seu proacuteprio discurso

expositivo (textonarrativa) e nas atividades propostas de interaccedilatildeo com o leitor (atividades

pedagoacutegicas)

32

Figura 1 GAY Paul du e HALL Stuart O circuito da cultura

Production of CultureCultures of Production Londres Sege 1997

A anaacutelise cultural proposta por Suart Hall (2003) supera um modelo inicial de

codificaccedilatildeodecoficaccedilatildeo e passa a considerar que se as regras formais do discurso (sentido

preferencial) e a linguagem estatildeo em dominacircncia elas satildeo concretizadas na mensagem como

linguagem Ao serem decodificadas elas satildeo apropriadas e para que tenham efeito satisfaccedilam

necessidades ou tenha um uso pela audiecircncia haacute graus de assimetria e autonomia em relaccedilatildeo aos

coacutedigos da fonte e do receptor

Apresentadas a seguir as figuras 3 e 4 satildeo fotografias produzidas por um mesmo grupo

de estudantes de licenciatura em Histoacuteria21

em visita a dois diferentes museus o Museu do

Escravo em Belo Vale MG e o Museu Histoacuterico Nacional na cidade do Rio de Janeiro e

possibilitam aproximar o tema das visitas a museus agraves contribuiccedilotildees de Raymond Williams (1969

e 1979) e Stuart Hall (1997 2003 e 2008) entendidas como matriz teoacuterica de um movimento mais

amplo de anaacutelise cultural

21 O perfil do grupo seraacute apresentado no capiacutetulo seguinte

33

Figura 2 CUNHA Viacutevian e outros Fotografias da entrada e paacutetio

interno do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006

Figura 3 RODRIGUES Marly Marques Fotografia da entrada do

Museu Histoacuterico Nacional 2008

Na figura 2 satildeo apresentadas duas fotografias de visitantes chegando ao Museu do

Escravo e dirigindo-se ao pavilhatildeo interno de exposiccedilotildees Em ambas fotografias os visitantes

estatildeo de costas para o fotoacutegrafo caminham apressadamente Os corpos dos visitantes estatildeo

enquadrados pela arquitetura do museu Numa primeira aproximaccedilatildeo pode-se pensar que os

visitantes satildeo receptores ou consumidores das representaccedilotildees das significaccedilotildees e valores do

museu

O conceito de circuito da cultura operacionalizado por Hall (1997) evidencia que as

questotildees que envolvem a anaacutelise de um produto ou praacutetica cultural natildeo se limitam apenas ao

lugar de sua representaccedilatildeo especiacutefica mas que todos os momentos da elaboraccedilatildeo da cultura

(produccedilatildeo consumo regulaccedilatildeo representaccedilatildeo e identidade) estatildeo associados e se articulam As

34

fotografias dos visitantes apresentam os museus a partir da visita e do olhar dos proacuteprios

visitantes que se colocam dentro da cultura dos museus

O conceito de circularidade da cultura amplia o eixo do olhar sobre as praacuteticas e

artefatos culturais de modo a buscar outras institucionalidades sensibilidades subjetividades

produccedilotildees simboacutelicas e a abandonar uma visatildeo que separa definitivamente as identidades e

posiccedilotildees dos sujeitos em produtores e receptores Entrar nos museus eacute entrar num circuito e

colocar em circulaccedilatildeo seus sentidos e representaccedilotildees prioritaacuterias

Vistas novamente as fotografias da visita ao Museu do Escravo apontam um engajamento

dos sujeitos natildeo apenas pelo vieacutes do consumo Seus trajes coloridos se destacam das paredes

brancas e o museu tanto pode ver visto como o enquadramento central da cena quanto o cenaacuterio

de fundo para a accedilatildeo dos visitantes Haacute produccedilatildeo de um referencial identitaacuterio para o grupo e um

compartilhamento dessa representaccedilatildeo o que nos leva de volta agrave ideia de que os sujeitos se

constituem na cultura e que o consumo cultural se configura tambeacutem como praacutetica de produccedilatildeo

cultural

Na fotografia destacadas da visita ao Museu Histoacuterico Nacional (figura 3) os visitantes

esperam do lado de fora do museu o momento da visita A partir do modelo de circuito da cultura

podemos localizar inicialmente as representaccedilotildees de museu no acircmbito da regulaccedilatildeo Nesta

imagem dos visitantes dificilmente poderiacuteamos pensar numa simples transmissatildeo da cultura

mesmo em desigualdade de condiccedilotildees Antes mesmo de entrar pelo portatildeo principal haacute uma troca

de olhares entre museu e visitante que comeccedila com o registro dos rituais e ritmos estabelecidos

pelo museu O que pode ser visto e as maneiras de vecirc-las

A comunicaccedilatildeo entre museus e visitante se daacute como experiecircncia de agentes troca entre

interlocutores Natildeo haacute transmissatildeo de cultura do museu para o visitante Eacute o visitante que elabora

uma representaccedilatildeo de si mesmo e do museu E natildeo parece supor a igualdade de condiccedilotildees para as

produccedilotildees de cada agente Natildeo haacute sequer a suposiccedilatildeo de compartilhamento de uma linguagem

comum entre museus e visitantes Na fotografia do Museu Histoacuterico Nacional (Figura 3) haacute uma

dimensatildeo poliacutetica (regulaccedilatildeo) uma vontade de poder expressa nas hierarquias postas As regras e

valores das instituiccedilotildees museais as normas e papeacuteis sociais regem as relaccedilotildees entre visitantes e

museus O sentido da accedilatildeo parte do museu Haacute um guarda agrave porta do MHN que soacute se abriraacute no

horaacuterio determinado A fotografia registra o momento da espera Fica em aberto a pergunta sobre

35

as formas de interlocuccedilatildeo possiacuteveis num cenaacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional vencido o

momento da espera

As fotografias apontam que os visitantes produzem sentidos para a cultura a partir das

visitas que aconteceram ao longo da trajetoacuteria de formaccedilatildeo acadecircmica desse grupo especiacutefico Os

dois museus escolhidos foram visitados em momentos distintos da formaccedilatildeo dos estudantes22

O

Museu do Escravo em Belo Vale-MG visitado em 2006 e o Museu Histoacuterico Nacional no Rio

de Janeiro visitado em 2008

Os dois museus selecionados apresentam propostas expositivas conteuacutedos distintos e

estavam relacionados agraves atividades acadecircmicas desenvolvidas pelos professores do curso de

Licenciatura em Histoacuteria Cada museu se autorepresenta ao definir contemporaneamente sua

ldquomissatildeordquo no Cadastro Nacional de Museus promovido recentemente pelo Instituto Brasileiro de

Museus (IBRAN) oacutergatildeo subordinado ao Ministeacuterio da Cultura com base na Poliacutetica Nacional

de Museus de 200323

Figura 4 Fachada do Museu do Escravo Disponiacutevel

emlthttpwwwbelovalemggovbratracoes_museuhtmgt Acesso em

2011

22 Desenvolvo nos capiacutetulos quatro e cinco uma anaacutelise da experiecircncia museal de um mesmo grupo de visitantes a

esses dois diferentes museus o Museu do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional 23

Ver httpwwwmuseusgovbrsbmcnm_conhecaosmuseushtm Acesso em 2010

36

O Museu do Escravo24

eacute vinculado ao poder puacuteblico municipal e estaacute localizado desde

1988 em um casaratildeo construiacutedo ao lado da igreja matriz de Belo Vale como reacuteplica de um

edifiacutecio colonial especialmente para abrigar o acervo do museu A tipologia do acervo eacute

apresentada de forma ampla e abrange antropologia etnografia arqueologia artes visuais

ciecircncias naturais histoacuteria natural e histoacuteria A missatildeo do Museu do Escravo eacute registrar e

preservar a histoacuteria do negro escravo no Brasil mostrando e valorizando seu trabalho arte e

cultura (IBRAN 2010)

O Museu Histoacuterico Nacional tambeacutem uma instituiccedilatildeo puacuteblica federal localizada na

cidade do Rio de Janeiro foi o uacuteltimo museu visitado pelo grupo de estudantes de licenciatura em

Histoacuteria em 2008 quando cursavam os uacuteltimos periacuteodos da graduaccedilatildeo Fundado em 1922 o MHN

teve suas primeiras coleccedilotildees formadas com transferecircncias do Museu Nacional do Arquivo

Nacional da Biblioteca Nacional e do antigo Museu de Artilharia Hoje reuacutene um

acervo de mais de 264332 itens entre os quais a maior coleccedilatildeo de numismaacutetica da

Ameacuterica Latina O conjunto arquitetocircnico que abriga o museu desenvolveu-se a partir do

Forte de Santiago na Ponta do Calabouccedilo um dos pontos estrateacutegicos para a defesa da

cidade do Rio de Janeiro O Museu Histoacuterico Nacional manteacutem em 9557 metros

quadrados de aacuterea aberta ao puacuteblico galerias de exposiccedilotildees permanentes e temporaacuterias aleacutem da biblioteca especializada em Histoacuteria do Brasil Histoacuteria da Arte Museologia e

Moda do Arquivo Histoacuterico com documentos manuscritos aquarelas ilustraccedilotildees e

fotografias (IBRAN 2010)

O Museu Histoacuterico Nacional define sua missatildeo a partir do conceito de ldquonacionalrdquo O

museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente a serviccedilo da sociedade e de seu desenvolvimento que

adquire conserva pesquisa e divulga as evidecircncias representativas da histoacuteria brasileira

(IBRAN 2010)

24 Segundo material de divulgaccedilatildeo o Museu foi criado em Congonhas do Campo nas dependecircncias da Basiacutelica do

Senhor Bom Jesus Em 1977 foi transferido para a Fazenda da Boa Esperanccedila em Belo Vale e oficializado atraveacutes

de Lei Municipal nordm 50475 de 10 de abril Em 13 de Maio de 1988 primeiro centenaacuterio da aboliccedilatildeo foi inaugurado

o preacutedio atual em estilo colonial projetado por Paulo Bojanic

37

Figura 5 Fachada do Museu Histoacuterico Nacional ndash Disponiacutevel em

lthttpwwwmuseuhistoriconacionalcombrmh-2008-001htmgt

Acesso em 2011

Nas duas imagens oficiais dos museus (figuras 4 e 5) os edifiacutecios satildeo isolados do

cenaacuterio urbano nos quais estatildeo localizados natildeo haacute qualquer referecircncia ao entorno Tambeacutem natildeo

se observa nas imagens nenhuma intervenccedilatildeo voltada ao visitante como placas de sinalizaccedilatildeo ou

propaganda indicando o nome do Museu como se locomover e serviccedilos tais como

estacionamento portatildeo de entrada e outras instalaccedilotildees puacuteblicas As imagens ressaltam a

grandiosidade da arquitetura exibida de maneira estaacutetica realccedilando as restauraccedilotildees das fachadas

iluminadas de forma atraente e sedutora

A imagem produzida pelos museus confronta-se com as fotografias dos visitantes Nos

dois museus visitados encontram-se possibilidades de rompimento com o caraacuteter transmissivo da

cultura mas tambeacutem configuraccedilotildees que reiteram os padrotildees de cultura hierarquizada ndash alta e

autorizada e outra baixa e desautorizada O visitante pode fazer o movimento de atribuiccedilatildeo de

sentido poliacutetico e esteacutetico agraves exposiccedilotildees e museus Ele substitui o tempo de espera pelo inusitado

do percurso de visita a mais uma exposiccedilatildeo

As fotografias do momento da chegada aos dois museus apontam que os visitantes criam

um circuito proacuteprio para a cultura O registro do visitante estabelece um diaacutelogo com o plano da

cultura que estaacute nos museus O visitante orienta o museu a fazer escolhas e cada museu produz a

38

si mesmo agrave medida que se expotildee ao visitante No Museu do Escravo (Figura 2) os visitantes

chegam rapidamente agrave entrada e comeccedilam a explorar de maneira espontacircnea o espaccedilo interno Os

estudantes parecem natildeo precisar de ldquoguiasrdquo ou orientaccedilotildees Querem ver o que tem laacute dentro

Circulam

Na chegada ao Museu Histoacuterico Nacional (Figura 3) o museu tem uma loacutegica proacutepria

parece fechado ao visitante Eacute muito organizado dizem os visitantes e essa organizaccedilatildeo parece

se expressar nos rituais de espera para entrar no seguranccedila que guarda a portaria nas orientaccedilotildees

de um ldquoguiardquo tambeacutem estudante de Histoacuteria Circulam visitam vaacuterias exposiccedilotildees sem correrias

retornam ao local da entrada (saiacuteda)

Assim pode-se considerar que satildeo os museus que constroem um puacuteblico um visitante e

lhes atribui caracteriacutesticas de idade escolaridade gecircnero articuladas agrave concepccedilatildeo sobre o que eacute

um museu O museu se apresenta em primeira pessoa em cada material produzido e endereccedilado

aos visitantes Os visitantes nessas fotografias tambeacutem tentam controlar a sua auto-representaccedilatildeo

frente agrave arquitetura dos museus que se impotildee desde os portotildees de entrada

Posicionados historicamente frente agrave arquitetura dos dois museus as fotografias satildeo

tentativas dos visitantes de se apresentarem refletirem sobre si mesmos e natildeo apenas se

moldarem aos padrotildees e expectativas da representaccedilatildeo dominante Haacute nas imagens uma

reflexibilidade dos sujeitos (identidade no sentido de Hall) frente agrave arquitetura museal ou a

forma cultural dominante que entretanto natildeo se impotildee de maneira paciacutefica (regulaccedilatildeo) O

visitante tem uma atitude de produccedilatildeo cultural de conhecer o museu habitar de certo modo esse

espaccedilo (consumo) restabelecendo a centralidade da cultura ou o reiniacutecio do circuito com uma

nova representaccedilatildeo ao tornar o museu significativo visiacutevel e tangiacutevel para si mesmo

As fotografias permitem configurar um espaccedilo da vivecircncia (ou evento) 25

nas quais estatildeo

circunscritas as atividades que foram objeto do interesse dos visitantes e foram estruturadas tendo

como referecircncia a ideacuteia de performance movimento e foco natildeo apenas presentes nos museus

mas escolhidos e recortados pelos visitantes As fotografias apresentam desde a entrada no museu

(desejo expectativas de presenccedila) com o nascimento da proacutepria presenccedila o durante o percurso

interno e as reaccedilotildees agraves condiccedilotildees especiacuteficas da cultura museal contemporacircnea

25 Mauad (1996 p13-14) propotildee uma metodologia para o trabalho com fotografias que considera cada unidade

cultural que deve ser analisada sob os aspectos do espaccedilo fotograacutefico espaccedilo geograacutefico espaccedilo do objeto espaccedilo da

figuraccedilatildeo e espaccedilo da vivecircncia

39

predominantemente uma cultura de sentido e a saiacuteda dos museus a ausecircncia o desaparecer da

presenccedila e o surgimento dos efeitos de presenccedila que podem ser vividos jaacute na ausecircncia

15- Visitantes de museus espectadores emancipados

A abordagem desta pesquisa difere da perspectiva da recepccedilatildeo26

agrave medida que as visitas a

museus e os visitantes satildeo considerados espectadores emancipados e natildeo apenas consumidores

das propostas educativas elaboradas pelos consultores e especialistas de museus A relaccedilatildeo entre

o puacuteblico e os museus eacute recoberta de muacuteltiplas temporalidades Entendo o museu como

instituiccedilatildeo local fiacutesico produtor de conhecimento arena poliacutetica promotor de identidades

espaccedilo de construccedilatildeo de memoacuterias de educaccedilatildeo que reuacutene caracteriacutesticas que povoam o

imaginaacuterio social desde o final do seacuteculo XVIII O museu como ideia e instituiccedilatildeo resiste na

contemporaneidade e assume diferentes usos Eacute esse o conceito de museu puacuteblico moderno que

permeia essa pesquisa desde a formulaccedilatildeo do projeto passando pela delimitaccedilatildeo das fontes ateacute a

sistematizaccedilatildeo das primeiras anaacutelises das visitas

Assim como o conceito de museu eacute marcado pela historicidade ou a adaptaccedilatildeo a

diferentes momentos a imagem de um puacuteblico de museus tambeacutem remete a diferentes praacuteticas

ligadas aos museus pesquisa accedilotildees patrimoniais educativas expositivas colecionismos que

implicam em atrair diferentes grupos para frequumlentar e produzir esses espaccedilos poeacuteticos e

poliacuteticos

Falar dos museus como sujeitos eacute apresentaacute-los como um campo proacuteprio de produccedilatildeo de

conhecimentos e como tal fundadores de princiacutepios e loacutegicas como um tipo especial de

instituiccedilatildeo cultural O museu se coloca como sujeito cultural com processos de legitimaccedilatildeo e

criteacuterios de autoridade capazes de nortear a construccedilatildeo de sentidos poliacuteticos do que seja o proacuteprio

museu e por conseguinte sobre a relaccedilatildeo do museu com outros campos como o patrimocircnio a

memoacuteria a educaccedilatildeo e a histoacuteria

Dimensotildees histoacutericas poliacuteticas esteacuteticas sociais e institucionais concorrem para a

definiccedilatildeo do campo museal Diferentes contribuiccedilotildees e leituras transformam de maneira

26 Considero as pesquisas de recepccedilatildeo aquelas que tomam o puacuteblico de museus sob a perspectiva da ldquorelaccedilatildeo de

transposiccedilatildeo definida como a adaptaccedilatildeo da temaacutetica do museu ou da exposiccedilatildeo - feita pelo inteacuterprete - para o

visitanterdquo (MARANDINO ALMEIDA E VALENTE 2009 p22)

40

constante o conhecimento museoloacutegico Museoacutelogos historiadores jornalistas poliacuteticos e

cidadatildeos comuns compartilham dessa produccedilatildeo Tambeacutem na condiccedilatildeo de sujeito de praacuteticas

culturais especiacuteficas cada museu eacute lido por diferentes agentes histoacutericos Enquanto agente

puacuteblico o museu se daacute ver e se submete a leituras conflitantes A leitura de populares e de

especialistas se apresenta cada vez que o museu abre suas portas ao puacuteblico Em cada exposiccedilatildeo

em cada visita o museu se atualiza

Compreender a historicidade dos puacuteblicos ou visitantes de museus implica por

consequumlecircncia em analisar como diferentes sujeitos se fazem presentes nas poliacuteticas e poeacuteticas

destas instituiccedilotildees e como fazem usos variados destes espaccedilos puacuteblicos Almeida (2004 e 2005) e

Marandino (2009) estudiosas de puacuteblico de museus no Brasil indicam que a presenccedila do

visitante nos museus eacute registrada desde fins do seacuteculo XVIII Com interesses variados

colecionadores filoacutesofos poliacuteticos criacuteticos e artistas preocuparam-se em conhecer o puacuteblico de

museus e tecer consideraccedilotildees sobre o uso que faziam da instituiccedilatildeo Os proacuteprios museus

fornecem dados sobre os visitantes para oacutergatildeos estatais aos quais estatildeo subordinados e no iniacutecio

do seacuteculo XX foram realizados os primeiros estudos acadecircmicos nos EUA sobre puacuteblicos de

museus e comportamentos de visita (MARANDINO 2009)

Na segunda metade do seacuteculo XX os proacuteprios profissionais dos museus comeccedilam a se

interessar por esse tema de pesquisa assim como empresas puacuteblicas e privadas para fins de

avaliaccedilatildeo Na deacutecada de 1980 haacute um duplo interesse nos estudos de puacuteblicos como campo de

estudo das praacuteticas sociais e culturais e com finalidades de orientar investimentos econocircmicos e

poliacuteticas puacuteblicas

A reflexatildeo sobre as relaccedilotildees entre museus e visitantes nem sempre eacute pautada pela

preocupaccedilatildeo com o entendimento do papel social de ambos os atores Como afirma Koptke

pesquisadora do campo da museologia ldquoa negociaccedilatildeo do sentido de uso deriva de situaccedilotildees cuja

dinacircmica necessita ser analisada do ponto de vista de seus usuaacuterios para melhor compreendermos

como e para que existam os museusrdquo (KOPTKE 2005 p191)

Pesquisas de puacuteblico ou de recepccedilatildeo servem agrave negociaccedilatildeo de recursos e fundos tanto

privados quanto puacuteblicos e conquistam credibilidade social Veja-se o exemplo de investimentos

em tecnologias digitais que implicam em ampliaccedilatildeo do acesso e aumento do nuacutemero de visitantes

41

e se autojustificam pois um visitante virtual que acessa o site do museu e solicita um serviccedilo

equivale a um visitante presencial nos relatoacuterios de gestatildeo

Do ponto de vista acadecircmico a criacutetica agraves instituiccedilotildees museais considerando aspectos tais

como o acesso os produtos e valores culturais a elas associados jaacute identificados em escritos

como os de Valery (1931) reveste-se de maior amplitude em fins do seacuteculo XX em aacutereas como a

sociologia a antropologia a histoacuteria e os estudos culturais Trecircs seacuteculos de histoacuteria das

instituiccedilotildees museais satildeo revisitados por estudos empiacutericos e quantitativos que estabelecem dados

sobre condiccedilotildees de acesso e uso dos puacuteblicos tanto no plano relacional das trocas e negociaccedilotildees

quanto no plano institucional de valores e imagens A visita e o visitante satildeo objetos de inqueacuteritos

em diferentes museus Ao estudar o visitante essas pesquisas problematizam o papel dos museus

na sociedade e as percepccedilotildees sociais de suas accedilotildees Fala-se de puacuteblico ou puacuteblicos de uma

determinada atividade cultural Nos museus o lugar do puacuteblico estaacute associado ao visitante ou

usuaacuterio e as investigaccedilotildees sobre os puacuteblicos vecircm se consolidando juntamente com outros temas

como a educaccedilatildeo e a histoacuteria em museus

Os estudos de puacuteblico segundo Esquenazi (2006) foram se estabelecendo desde a deacutecada

de 1930 quando investigadores norte-americanos comeccedilam a se interessar por traccedilos da recepccedilatildeo

dos meios de comunicaccedilatildeo massivos sob a suspeita de que o puacuteblico seria uma comunidade

provisoacuteria ou um conjunto de pessoas mais ou menos dispersas que se identificavam com as

personalidades que lhes eram apresentadas pelas transmissotildees de raacutedio Os inqueacuteritos entretanto

demonstrariam que as escolhas poliacuteticas e a opiniatildeo popular eram mais influenciadas por

personalidades locais influentes do que por recomendaccedilotildees veiculadas pela miacutedia

Esquenazi (2006) faz um balanccedilo dos estudos de puacuteblico e estabelece um mapa conceitual

das concepccedilotildees do que seja um puacuteblico a partir das pesquisas socioloacutegicas realizadas ao longo do

seacuteculo XX Satildeo identificadas sete concepccedilotildees de puacuteblico o puacuteblico ativado pela obra delimitado

pelos inqueacuteritos suscitado pelas estrateacutegias comerciais pela estratificaccedilatildeo social por

configuraccedilotildees culturais pelas interaccedilotildees sociais e por situaccedilotildees simboacutelicas O autor chega a essa

tipologia a partir da anaacutelise de obras e autores apontando possibilidades abertas pelas

interpretaccedilotildees e limites das abordagens

Interesse de pesquisa semelhante ocorre na Franccedila em fins dos anos de 1950 quando

Andreacute Malraux ministro do General de Gaulle acreditava que bastavam boas condiccedilotildees para que

42

se constituiacutesse um puacuteblico apreciador de obras de arte Pierre Bourdieu e Alain Darbel (2003)

numa pesquisa com o puacuteblico frequumlentador de museus de arte em quatro paiacuteses europeus

publicada na forma de livro com o tiacutetulo O amor pela arte apontaram que boa vontade

presumida natildeo bastava para a constituiccedilatildeo de um puacuteblico de museus Bourdieu e Darbel levantam

a hipoacutetese de que cada domiacutenio de praacuteticas culturais eacute estruturado por habitus legitimados pela

condiccedilatildeo de classe e condiccedilotildees de vida A frequecircncia a museus estaacute relacionada ao estatuto

social A probabilidade de um operaacuterio visitar um museu eacute quarenta vezes inferior agrave possibilidade

de visita de um quadro superior em escolaridade e renda

Os estudos recentes sobre o puacuteblico realizados pelos proacuteprios museus parecem ter se

afastado das perspectivas criacuteticas de Diderot Baudelaire Proust e Valery27

As pesquisas satildeo em

sua grande maioria instrumentais e fundamentadas pelas teorias da recepccedilatildeo Satildeo inqueacuteritos das

expectativas preacutevias dos aspectos que mais atraem os visitantes para determinados setores do

museu e dos conhecimentos preacutevios dos puacuteblicos Com base nesses inventaacuterios elaboram-se

programas redimensionam-se as ofertas de serviccedilos e promovem-se reformas Em geral satildeo

trabalhos preparados pelas proacuteprias equipes dos museus e especialistas consultores

pesquisadores e o puacuteblico convocado a responder aos modelos propostos

Esse paradigma da recepccedilatildeo tambeacutem vem sendo questionado com as pesquisas

historiograacuteficas sobre as praacuteticas culturais como as de Michel de Certeau (1994) e Roger Chartier

(1998) que analisam as praacuteticas de leitura e apontam para o papel produtivo dos leitores em

relaccedilatildeo ao livro e a leitura Para Certeau (1994) os leitores natildeo satildeo escritores que trabalham no

ldquosolo da linguagemrdquo mas ldquosatildeo viajantes circulam nas terras alheias nocircmades caccedilando por conta

proacutepria atraveacutes dos campos que natildeo escreveram arrebatando os bens do Egito para usufruiacute-losrdquo

As imagens evocadas pelo historiador para caracterizar o leitor satildeo marcadas por efeitos de

deslocamentos que misturam tempos e lugares uma ldquobricolagemrdquo uma relaccedilatildeo com os resiacuteduos

de construccedilotildees e destruiccedilotildees anteriores uma mitologia que se dispersa na duraccedilatildeo e desafia o

tempo disseminado em repeticcedilotildees diferenccedilas memoacuterias e conhecimentos (CERTEAU 1994

p269-270)

27 Discutidas no segundo capiacutetulo

43

Chartier (1998) por sua vez chama a atenccedilatildeo para o fato de que o leitor ldquocaccediladorrdquo que

percorre terras alheias descrito por Certeau natildeo se desloca ou subverte de forma absoluta aquilo

que o livro pretende lhe impor Sua liberdade leitora eacute ldquocercada por limitaccedilotildees derivadas das

capacidades convenccedilotildees e haacutebitos que caracterizam em suas diferenccedilas as praacuteticas de leiturardquo

(CHARTIER 1998 p77)

Do ponto de vista dos estudos filosoacuteficos tambeacutem ampliou-se o espaccedilo do leitor ao

afirmarmos que existe a possibilidade de emergir um novo significado para o texto dependendo

da posiccedilatildeo histoacuterica do leitor e de sua capacidade de diaacutelogo O leitor deixa aos poucos de ser

visto como o receptor passivo das obras e conquista um papel de produtor de sentidos Os

horizontes de expectativas dos leitores e o momento da leitura passam a integrar as anaacutelises da

posiccedilatildeo social do leitor visto como sujeito e natildeo apenas o destinataacuterio das obras sobretudo

literaacuterias28

Essas expectativas deixam de analisar a recepccedilatildeo e atribuir ao leitor um papel passivo

Abrem caminho para que sua accedilatildeo seja vista como um agir e um conhecer

Ser espectador eacute natildeo eacute condiccedilatildeo passiva que devemos transformar em atividade Eacute a

nossa condiccedilatildeo normal Aprendemos e ensinamos agimos e conhecemos tambeacutem

enquanto espectadores que ligam constantemente o que vecircem com aquilo que jaacute viram e

disseram fizeram e sonharam (RANCIEgraveRE 2010 p28)

Jacques Ranciegravere lembra o que eacute aparentemente oacutebvio o visitante produz significados e

natildeo simplesmente processa as informaccedilotildees de forma passiva (espectador emancipado) Essa

emancipaccedilatildeo estaacute associada a uma condiccedilatildeo de atividade e natildeo de passividade das accedilotildees de olhar

A aposta dessa pesquisa eacute que o visitante se insere a partir de sua presenccedila no ldquocircuito

dos museusrdquo A visita a museus se constitui em uma praacutetica cultural que se estabelece por uma

frequumlecircncia a variados museus e permite que o visitante-narrador ldquoencarnadordquo dessacralize a

cenografia do passado encenada pelos museus O uso dos museus pelos visitantes pode superar

assim a mera apropriaccedilatildeo cognitiva das propostas e sensibilidades jaacute existentes nos museus e

visitantes tornando possiacutevel por meio dos relatos escritos fotograacuteficos e orais uma nova

28 Ver COSTA Maacutercia Haacutevila Mocci da Silva Esteacutetica da recepccedilatildeo e teoria do efeito Disponiacutevel emlt

wwwdiaadiaeducacaoprgovbrgtAcesso em17 mar 2011

44

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de conhecimentos que redefinem os conceitos que circulam em ambos os

campos dos museus e das escolas

45

CAPIacuteTULO II - Visitas a museus memoacuteria e patrimocircnio dos visitantes

No primeiro capiacutetulo foram constituiacutedas as principais referecircncias teoacutericas e metodoloacutegicas

para o estudo das situaccedilotildees de visita escolar a museus Delineou-se um panorama da abordagem

investindo nos conceitos de narrativa memoacuteria presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica para criar uma

indumentaacuteria para o visitante emancipado que viaja entre a escola e os museus

Nesse segundo capiacutetulo tambeacutem se observa uma preocupaccedilatildeo com as bagagens para a

viagem propriamente dita providencia-se os documentos as certificaccedilotildees especiacuteficas os roteiros

novos mas tambeacutem se avalia os caminhos jaacute percorridos que estimulam investimentos em novos

caminhos e a seguranccedila do viajante

21 ndash Estudos sobre museus um balanccedilo historiograacutefico

Eacute quase lugar comum iniciar uma ldquohistoacuteria dos museusrdquo pela evocaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de

um espaccedilo dedicado agraves musas e em seguida pelo estabelecimento de uma ligaccedilatildeo estreita com a

constituiccedilatildeo de um espaccedilo ou local fiacutesico dedicado ao estudo ao conhecimento e agrave exposiccedilatildeo

puacuteblica da cultura

A origem dos museus na Franccedila estaacute associada a fatores como a demanda por abertura das

coleccedilotildees renascentistas principalmente de pinturas e esculturas restritas aos colecionadores

prelados cortesatildeos juristas eruditos artistas priacutencipes e monarcas e o museu se coloca como

um herdeiro dos ldquogabinetes de curiosidadesrdquo Na Itaacutelia por sua vez eacute desenvolvido outro

elemento fundador de uma ldquocultura do museurdquo que satildeo as accedilotildees poliacuteticas e a definiccedilatildeo de uma

legislaccedilatildeo de proteccedilatildeo ao patrimocircnio para assegurar ao museu o lugar de ldquoconservaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeordquo desse patrimocircnio artiacutestico agora de interesse puacuteblico Na Alemanha as origens

dos museus estatildeo associadas agrave abertura das coleccedilotildees privadas e agrave reivindicaccedilatildeo de um lugar para

essa produccedilatildeo no discurso universal da arte Para a institucionalizaccedilatildeo e ideia de museu

contemporacircneo confluem as demandas de ensino e pesquisas (biblioteca) ligadas a transmitir e

permitir a produccedilatildeo de conhecimento e tambeacutem o papel de guardiatildeo da memoacuteria daqueles que se

distinguiram nas atividades do espiacuterito (BREFE 1998 p298-300)

46

Entender esse conceito moderno de museu e seu uso social eacute tarefa bastante complexa e

alvo de inuacutemeros debates contemporacircneos Muitos estudos recentes costumam definir os museus

como ldquolugares de memoacuteriardquo mas trabalham com a histoacuteria das instituiccedilotildees museais a partir de

uma sequecircncia de fases ou uma tipologia que considera apenas os objetos expograacuteficos nos quais

se especializaram os museus Os museus satildeo caracterizados como de artes ciecircncias e histoacuteria e

estas especializaccedilotildees se tornam definidas e imutaacuteveis Numa genealogia dos museus os gabinetes

de curiosidades seriam os precursores dos museus de ciecircncias e arqueologia os antiquaacuterios

dariam lugar aos museus de histoacuteria e as galerias de arte privadas cederiam espaccedilo aos museus

puacuteblicos de arte

Essas analogias parecem congelar a imagem de museu e relacionaacute-la especificamente a

uma dada eacutepoca histoacuterica numa sequumlecircncia evolutiva Os criteacuterios de classificaccedilatildeo ou ldquoetiquetasrdquo

utilizados para os museus estariam dados a partir de um modelo As instituiccedilotildees natildeo seriam

consideradas em suas especificidades poliacuteticas e culturais Em funccedilatildeo de um padratildeo esperado

para os museus em geral um museu especiacutefico eacute julgado pelos estudiosos pelo criteacuterio da

inovaccedilatildeo ou natildeo de suas exposiccedilotildees como se as uacuteltimas tendecircncias da museologia fossem o

paracircmetro uacutenico para todo e qualquer museu

Os estudos sobre museus reuacutenem profissionais de diversas aacutereas como a museologia a

histoacuteria a educaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo as artes a arqueologia a sociologia dentre outras Abordam

campos de interesse comuns a diversos pesquisadores tais como o patrimocircnio as identidades

poliacuteticas as miacutedias e novas tecnologias espaccedilo urbano e arquitetura Praacuteticas profissionais e

culturais visitantes educaccedilatildeo e interaccedilatildeo tambeacutem satildeo temas contemporacircneos e emergentes dos

estudos sobre os museus

No Brasil as fontes e a bibliografia sobre a trajetoacuteria dos museus foram marcadas ateacute os

anos de 1940-1950 por produccedilotildees das proacuteprias instituiccedilotildees museoloacutegicas como a revista

Archivos do Museu Nacional editada desde 1876 e obras de referecircncia como os cataacutelogo

publicado por Heloisa Alberto Torres entatildeo diretora do Museu Nacional em 1953 intitulado

Museus do Brasil Outra referecircncia importante do periacuteodo foi a publicaccedilatildeo em 1958 do livro

coordenado e organizado por Guy de Hollanda Recursos Educativos dos Museus Brasileiros

com o apoio da Onicom ndash Organizaccedilatildeo Nacional do Conselho Internacional de Museus Neste

trabalho Hollanda traz um levantamento da situaccedilatildeo dos museus em relaccedilatildeo a acervos

47

exposiccedilotildees visitaccedilotildees atividades educativas recursos didaacuteticos organograma pessoal etc

(UNIRIO 2005)

Ao longo do seacuteculo XX obras de intelectuais ligados diretamente ou indiretamente a

museus eou oacutergatildeos governamentais de preservaccedilatildeo como Mario de Andrade (1917) Francisco

Venacircncio Filho (1941) Gustavo Barroso (1946) Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) Joseacute

Valladares (1946) Gilberto Freyre (1979) e Darcy Ribeiro (1955) dentre outros destacam-se na

produccedilatildeo de um pensamento e accedilotildees no campo da museologia e vecircm sendo estudados por

pesquisadores contemporacircneos

Destaco as contribuiccedilotildees de Francisco Venacircncio Filho (1941) Joseacute Valladares (1946) e

Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) que delineiam marcos de interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo museu-

educaccedilatildeo no Brasil e agiram diretamente na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de

criaccedilatildeo de museus e na concepccedilatildeo e planejamento de accedilotildees educativas nos museus brasileiros

Estes autores lanccedilam obras nos anos de 1940 que teratildeo influecircncia teoacuterica ateacute os anos de 1970 na

criaccedilatildeo de museus histoacutericos e pedagoacutegicos em Satildeo Paulo29

Entre os anos de 1960-1970 predomina a publicaccedilatildeo de coleccedilotildees de divulgaccedilatildeo sobre os

grandes museus europeus no formato de cataacutelogos vendidos em bancas de jornais e revistas A

pesquisa acadecircmica propriamente dita com a elaboraccedilatildeo de monografias dissertaccedilotildees e teses

com posicionamentos criacuteticos questionadores e reflexivos se intensificou no Brasil a partir dos

anos 1980 e se amplia nas deacutecadas seguintes

Autores como Waldisa Russio Camargo Guarnieri (1977 1980) Maria Margaret Lopes

(1988 e 1993) Maria Ceacutelia Moura Santos (1987 1993 e 1996) Regina Abreu (1996) Cristina

Bruno (1996) Maria Ceciacutelia Lourenccedilo (1997) Mario Chagas (1999 e 2003) Ulpiano Bezerra de

Menezes (1992 1994 2004 2005 e 2007) marcam a riqueza dessa produccedilatildeo e apontam temas

como a institucionalizaccedilatildeo dos museus de ciecircncias as accedilotildees educativas o colecionismo o

patrimocircnio a memoacuteria social a arte e a museologia como outros caminhos de investigaccedilatildeo que

seriam abertos por novas pesquisas e percorridos por novos pesquisadores em universidades do

paiacutes e em cursos no exterior

29 Ver CAMPOS Vinicio Stein Elementos de Museologia 1ordm e 3degvolume se 1970

48

Um levantamento bibliograacutefico realizado pelo CECA30

em 2007 apontava ao mesmo

tempo a abrangecircncia e a dispersatildeo dessa produccedilatildeo sobre os museus A divulgaccedilatildeo dessa

produccedilatildeo bibliograacutefica continuaria em grande parte ligada agraves revistas dos oacutergatildeos oficiais de

patrimocircnio (IPHAN e ICOM) e publicaccedilotildees proacuteprias dos grandes museus centros culturais e de

memoacuteria Algumas poucas divulgadas pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de diversas aacutereas que

pesquisam a temaacutetica

Contudo estudos sobre trajetoacuterias de museus brasileiros ou uma chamada historiografia

dos museus vem se aprofundado em abordagens teoacutericas-metodoloacutegicas e temaacuteticas tais como o

papel das proacuteprias instituiccedilotildees museoloacutegicas na elaboraccedilatildeo da cultura material a anaacutelise dos

quadros referenciais que vatildeo se fixando para organizaccedilatildeo de coleccedilotildees e exposiccedilotildees os modelos

organizacionais concepccedilotildees de diretores e profissionais envolvidos em propostas de

musealizaccedilotildees e seus desdobramentos

Em um esforccedilo de leitura e siacutentese dessa bibliografia pode-se indicar trecircs impulsos

poliacuteticos de criaccedilatildeo de museus no Brasil Um primeiro que vai do iniacutecio do seacuteculo XIX ateacute a

deacutecada de 1930 Um segundo momento localizado entre as deacutecadas de 1930 e 1950 e por fim

um terceiro movimento de criaccedilatildeo de museus entre a segunda metade do seacuteculo XX e primeiras

deacutecadas do seacuteculo XXI

No seacuteculo XIX os atos fundadores dos primeiros museus comeccedilando pelo Museu Real

(1818) criado por D Joatildeo VI e aberto ao puacuteblico em 181931

contribuem para a emergecircncia de

uma nova sociabilidade e a redefiniccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e de um puacuteblico espectador As visitas

ao Museu Real entre 1818 e 1821 eram privileacutegio de curiosos estudiosos e autoridades

A primeira exposiccedilatildeo do Museu Real aberta ao puacuteblico em 1821 tinha a visitaccedilatildeo e o uso

do espaccedilo regulado por uma Portaria Real que definia quem era o visitante digno de frequumlentar o

museu aquele que possuiacutea conhecimentos e qualidades (educados) O ambiente do Museu era de

estudo e contemplaccedilatildeo o visitante deveria manter a calma Presenccedila do guarda de sala (praacutetica

ainda usual) zelava pela ordem e controlava os comportamentos dos visitantes O acesso a

30 O CECA-BRASIL eacute formado pelos membros brasileiros afiliados ao Comitecirc Internacional para Accedilatildeo Educativa e

Cultural (CECA) do Conselho Internacional de Museus (ICOM) Disponiacutevel em lt wwwicomorgbrgt 31

Transformado posteriormente em Museu Imperial e hoje Museu Nacional da quinta da Boa Vista integrado agrave

estrutura acadecircmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro Ver material produzido pelo proacuteprio Museu

Nacional do RJ e trabalhos sobre a instituiccedilatildeo como LOPES (1997) e CHAGAS (1999)

49

algumas salas era restrito assim como havia dias de abertura e horaacuterios para diferentes puacuteblicos

A prioridade era dada ao visitante estrangeiro e pesquisador (LOPES 1999)

Na deacutecada de 1860 haacute uma diversificaccedilatildeo das instituiccedilotildees que fundam museus No Rio de

Janeiro satildeo criados os Museu do Exeacutercito (1864) e Museu da Marinha (1868) No Paraacute o Museu

Paraense Emiacutelio Goeldi eacute criado como Sociedade Filomaacutetica em 1866 e o Museu Paulista em

Satildeo Paulo em 1895

Essa geraccedilatildeo de museus do seacuteculo XIX ainda que pareccedila regional como o Museu

Paulista satildeo considerados museus nacionais agrave medida que colaboram para a construccedilatildeo ritual e

simboacutelica da naccedilatildeo Curioso notar que essa mesma bibliografia trata pouco ou quase nada sobre

o projeto de criaccedilatildeo do museu do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro instituiacutedo pelo

mesmo decreto de criaccedilatildeo do IHGB em 1838 instalado e aberto atualmente agrave visitaccedilatildeo na sede

do proacuteprio Instituto Histoacuterico no Rio de Janeiro

No iniacutecio do seacuteculo XX esse caraacuteter celebrativo dos museus brasileiros do seacuteculo XIX se

propaga a partir do Rio de Janeiro para estados e museus como o Juacutelio de Castilhos (1903)

Museu Anchieta (1908) no Rio Grande do Sul Pinacoteca Puacuteblica do Estado (1906) em Satildeo

Paulo e o Museu de Arte da Bahia (1918) E chega a criaccedilatildeo por Gustavo Barroso do Museu

Histoacuterico Nacional (MHN) em 1922 (CHAGAS 1999 p36) Um segundo momento de criaccedilatildeo

de museus eacute identificado nas deacutecadas de 1930 1940 e 1950 por iniciativa de empresaacuterios os

chamados Museus de Arte Moderna (MAMs) do Rio de Janeiro (MAM 1948) e Satildeo Paulo

(MASP 1947) e os natildeo instalados ldquomuseus histoacutericos e pedagoacutegicosrdquo em Satildeo Paulo

Ao longo das deacutecadas de 1930-1950 haacute um consideraacutevel impulso na criaccedilatildeo de museus32

a maioria ainda em plena atividade A criaccedilatildeo do Curso de Museus em 1932 vinculado ao MHN

embora inicialmente fosse apenas um aperfeiccediloamento de dois anos e exigisse como preacute-requisito

cinco anos de escolaridade baacutesica eacute considerado pelos pesquisadores de museus como importante

na profissionalizaccedilatildeo do campo e organizaccedilatildeo da museologia Por fim tem-se um terceiro

32 Dentre outras foram criados a Casa de Rui Barbosa ndash RJ (1930) Museu da Veneraacutevel Ordem Terceira de Satildeo Francisco da Penitecircncia ndash RJ (1933) Museu Histoacuterico da Cidade ndash RJ (1934) Museu Nacional de Belas Artes ndash RJ

(1937) Museu da Inconfidecircncia ndash Ouro Preto (1938) Museu da Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Gloacuteria do

Outeiro ndash RJ (1939) Museu Imperial ndash Petroacutepolis (1940) Museu das Missotildees ndash RS (1940) Museu Antonio Parreiras

ndash Niteroacutei (1941) Museu Histoacuterico de Belo Horizonte (1943) Museu do Ouro de Sabaraacute (1945) Museu da Veneraacutevel

Ordem Terceira do Carmo ndash RJ (1945) Museu de Arte Moderna de Satildeo Paulo (1946) Museu de Arte Moderna ndash RJ

(1948) Museu do Iacutendio ndash RJ (1953) Museu Oceanograacutefico ndash RS (1953) e Museu Farroupilha ndash PR (1954) (UNIRIO

2007)

50

movimento de criaccedilatildeo de museus que marca as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo

XXI Aleacutem dos museus existentes haacute outro cenaacuterio de aumento do nuacutemero de museus

investimentos dos setores privados na construccedilatildeo de museus e financiamento de projetos culturais

voltados ao turismo cultural e a revitalizaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural de centros

urbanos e industriais e a tecnologias virtuais

Uma das questotildees ao se pensar a historicidade dos museus eacute discutir ateacute que ponto as

trajetoacuterias dos museus brasileiros obedecem eou dialogam com os modelos europeus e latino-

americanos E mais de que forma as trajetoacuterias institucionais ajudam na compreensatildeo das

praacuteticas museais em relaccedilatildeo aos puacuteblicos Autores como Ulpiano Bezerra de Menezes Maria

Margaret Lopes Lilia Moritz Schwarcz e Maria Ceciacutelia Lourenccedilo reuacutenem algumas polecircmicas em

torno da questatildeo da criaccedilatildeo de museus no Brasil a partir do seacuteculo XIX e algumas praacuteticas de

produccedilatildeo e circulaccedilatildeo da cultura museal

Para Ulpiano Bezerra de Menezes (2005 p16) as trajetoacuterias dos museus brasileiros em

especial dos chamados museus histoacutericos foram distintas do paradigma europeu e mais proacuteximas

do modelo norte-americano Para o autor a visatildeo que se consolida a respeito dos museus no

seacuteculo XIX se eacute que pode ser considerada iluminista desemboca numa estetizaccedilatildeo do social e na

transformaccedilatildeo da histoacuteria em espetaacuteculo Os museus brasileiros satildeo mais evocativos e

celebrativos do que os europeus e a funccedilatildeo de produccedilatildeo do conhecimento eacute marginalizada A

memoacuteria eacute reduzida a instrumento de enculturaccedilatildeo paradigmas a priori definidos e que circulam

em vetores sensoriais (MENEZES 2005 p16)

Maria Margaret Lopes em O Brasil descobre a pesquisa cientiacutefica os museus e as

ciecircncias naturais no seacuteculo XIX publicado em 1997 apresenta uma visatildeo distinta dos museus

principalmente daqueles de histoacuteria natural A autora contribui com novas orientaccedilotildees para se

escrever uma historiografia das ciecircncias como praacutetica social e revisita as atividades cientiacuteficas no

Brasil desde a colocircnia inserido-as em uma dinacircmica cultural mais abrangente Daiacute quando

confrontada com uma ldquovasta literatura interdisciplinar internacionalrdquo sobre os aspectos histoacutericos

das instituiccedilotildees museoloacutegicas Lopes aprofunda temas teoacuterico-metodoloacutegicos sobre a histoacuteria dos

museus aspectos comunicativos expositivos educacionais e cientiacuteficos antes pouco

considerados no Brasil e reinscreve os museus numa nova dinacircmica

51

Ao avaliar o debate sobre as origens dos museus nos Estados Unidos Lopes estimula a

reflexatildeo sobre as diferentes fases das histoacuterias dos museus como uma forma ldquoinstigante de pensar

os museus como locais em que a cultura material eacute elaborada exposta comunicada e

interpretadardquo (2005 p15) Uma das questotildees abordadas pela autora eacute a maneira como se

formavam as coleccedilotildees e ateacute que ponto essas coleccedilotildees se relacionavam com a formaccedilatildeo do campo

da Histoacuteria Natural e das ciecircncias modernas e como ajudam na compreensatildeo dos processos

contemporacircneos de construccedilatildeo de museus cientiacuteficos

Lopes apresenta um movimento dos museus de histoacuteria natural no seacuteculo XIX indicando

que se formara em torno do American Association of Museums33

um circuito de intercacircmbio que

incluiacutea comunicaccedilatildeo coleccedilotildees cataacutelogos pesquisadores e disputas cientiacuteficas sociais e poliacuteticas

incluindo museus diferentes tais como o Museu Paulista e o Museu Paraense o Museu

Nacional o Museu de Valparaiso o Museu de La Plata o Museu de Buenos Aires e o Museu da

Costa Rica Um verdadeiro ldquomovimentordquo de museus emerge da anaacutelise de Margaret Lopes (1997

p223-247)

Ao investigar como se datildeo as periodizaccedilotildees e criteacuterios de mudanccedila e permanecircncia nos

ldquosistemas museaisrdquo na Ameacuterica Latina e nos Estados Unidos Margaret Lopes considera que o

panorama mundial dos museus entre as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX e as primeiras do seacuteculo

XX apontava que natildeo era tatildeo simples submeter os museus a tipologias anacrocircnicas e classificaacute-

los de acordo com as divisotildees propostas Ela identifica pelas publicaccedilotildees e correspondecircncias

entre diretores de museus que nesse periacuteodo houve a formaccedilatildeo de um ldquocircuito dos museusrdquo

internacional que incluiacutea trocas entre os museus de histoacuteria natural argentino (Museu de La Plata)

e o Bristish Museum no sentido de criar uma nova instituiccedilatildeo que rompia com o ldquogabinete de

curiosidadesrdquo e apontava para a instituiccedilatildeo de um ldquomoderno museu cientiacuteficordquo (LOPES 1997

p323)

Esse novo referencial de museu que se transformava vinculado ao Estado teria uma dupla

funccedilatildeo colaborar com a educaccedilatildeo e com a investigaccedilatildeo cientiacutefica O que natildeo se faria sem certa

tensatildeo que ainda marcaria por muito tempo as discussotildees acerca do conhecimento As coleccedilotildees

seriam divididas uma para a pesquisa outra para exibiccedilatildeo ao puacuteblico leigo Esse referencial

33 Sobre a importacircncia desse movimento Margaret Lopes faz uma leitura criacutetica das contribuiccedilotildees de Laurence Vail

Coleman que publica em 1939 The museum in America a critical study e de Oroz J J que retoma criticamente

Colemam ao discutir a curadoria numa perspectiva tambeacutem histoacuterica Ver Lopes 2005 p15-17

52

vigoraria inclusive no Museu Nacional do Rio de Janeiro ateacute a deacutecada de 1930 (LOPES 2005

p22)

A autora avanccedila na anaacutelise desses intercacircmbios entre os diretores de museus brasileiros e

argentinos e indica como essa discussatildeo contribuiu para a definiccedilatildeo de disciplinas como a

antropologia a paleontologia e arqueologia e ao mesmo tempo aponta as ldquomissotildees cientiacuteficas e

civilizadoras desses museus em fins do seacuteculo XIX (LOPES 2001)

Lilia Schwarcz (2005 p124-126) considera que o surgimento dos museus nacionais de

ldquoetnografiardquo no Brasil a partir da deacutecada de 1870 estaacute relacionado ao estabelecimento de outras

instituiccedilotildees cientiacuteficas apoacutes a vinda da Famiacutelia Real como as faculdades de Medicina e Direito e

aos Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos Para ela esses museus satildeo coacutepia dos modelos europeus e

estabeleceram uma praacutetica bastante isolada em relaccedilatildeo aos demais estabelecimentos cientiacuteficos

nacionais Fruto de um saber determinista frente aos modelos evolucionistas e darwinistas sociais

presentes no debate intelectual da eacutepoca procuravam encontrar nas culturas indiacutegenas e africanas

(raccedilas) e na miscigenaccedilatildeo a comprovaccedilatildeo do atraso do paiacutes (SCHWARCZ 2005 p124-126)

As soluccedilotildees apontadas por Lopes e Schwarcz para a questatildeo da circulaccedilatildeo dos modelos de

museu se inscrevem em duas tradiccedilotildees34

de interpretaccedilatildeo historiograacutefica que atribuem pesos

diferentes agrave capacidade de elaboraccedilatildeo e autonomia de um pensamento social brasileiro Enquanto

a pesquisa de Lopes (1997) postula que a compreensatildeo das relaccedilotildees sociais e culturais implica na

reflexatildeo sobre a histoacuteria das instituiccedilotildees cientiacuteficas e culturais e contribui para a superaccedilatildeo do

passado colonial e a vinculaccedilatildeo aos projetos de modernidade ocidental Schwarcz (2005)

identifica os obstaacuteculos que dificultam e impedem internamente o desenvolvimento de um

pensamento autocircnomo e um desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico da sociedade brasileira

O debate aberto em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees museais pode ser estendido aos visitantes De

que maneira modelos diferentes de museu circulam na cultura e como os visitantes se posicionam

frente a eles Enquanto Lopes (1997) dialoga com o campo cientiacutefico Maria Ceciacutelia Lourenccedilo

(1999) discute a criaccedilatildeo dos Museus de Arte Moderna na deacutecada de 1950 frente ao quadro de

permanecircncias e mudanccedilas da proacutepria histoacuteria da arte e das relaccedilotildees entre o museu modernista a

poliacutetica o poder os intelectuais os artistas as universidades a formaccedilatildeo de puacuteblico e a produccedilatildeo

34 Moema de Resende Vergara discute a constituiccedilatildeo de duas vertentes historiograacuteficas da ciecircncia no seacuteculo XX Ver

VERGARA (2004)

53

de conhecimento A autora oferece algumas imagens de museu que satildeo expressivas de nossa

eacutepoca museu vivo museu escola museu comunitaacuterio museu espetaacuteculo e museu shopping se

enlaccedilam agraves diversas tipologias de projetos socioculturais no cotidiano dos museus

Ao trabalhar o conceito de museu Lourenccedilo (1999) evoca de maneira recorrente a

situaccedilatildeo e trajetoacuteria dos museus de arte brasileiros e aponta duas questotildees A primeira eacute a

distacircncia existente entre o declarado e a praacutetica cotidiana ou seja entre a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees

e seu funcionamento regular e atual A segunda questatildeo eacute a vitalidade das instituiccedilotildees histoacutericas

que mesmo enfrentando problemas para se manterem em funcionamento contribuem na

construccedilatildeo de conceitos recolha de obras e manteacutem o diaacutelogo com as matrizes e valores tambeacutem

expostos

Uma instituiccedilatildeo museal sempre se reinventa em sua proacutepria dinacircmica O acervo de cada

instituiccedilatildeo eacute um exemplo Se o museu possui acervo ou natildeo se recebe um acervo internacional

os valores e pressupostos jaacute inventados sobre esse acervo influenciam na relaccedilatildeo que essa

instituiccedilatildeo estabelece com sua proacutepria condiccedilatildeo e com o puacuteblico Os valores ou criteacuterios de

inclusatildeo e exclusatildeo de acervos nos museus de arte satildeo subjetivos e discutiacuteveis meacuteritos

recebimentos de precircmios internacionais origem social geograacutefica proximidade com o poder

vigente aleacutem de outros que permeiam a cultura como a xenofobia o corporativismo o nepotismo

e mecanismos de troca impliacutecita para angariar proveitos pessoais satildeo as bases para os objetos e

obras adquiridos e expostos nos museus Lourenccedilo natildeo eacute nada otimista quando aos tipos de troca

que podem ocorrer para a formaccedilatildeo de determinados museus que por sua vez manteacutem esse

circuito em aberto ao longo de suas trajetoacuterias (LOURENCcedilO 1999 p20-62)

Ana Claudia Fonseca Brefe (1998) apoacutes um balanccedilo do conceito de museu desde a

renascenccedila ateacute o seacuteculo XIX em diaacutelogo com uma bibliografia francesa conclui que o conceito

de museu vai se adequando a diferentes materialidades e instituiccedilotildees como os gabinetes de

curiosidades que satildeo inicialmente coleccedilotildees privadas se transformam agrave medida que passam a

discutir o uso cientiacutefico e pedagoacutegico de suas coleccedilotildees a abertura ao puacuteblico arquitetura

disposiccedilatildeo dos objetos e objetivos Os debates historiograacuteficos em torno da instituiccedilatildeo museal

tambeacutem partem de interesses do presente relativos a disputas por memoacuterias e patrimocircnio

54

22 ndash Plano de visitas e aprendizagem histoacuterica em museus

As funccedilotildees de um museu na contemporaneidade satildeo muacuteltiplas fruiccedilatildeo esteacutetica viacutenculos

subjetivos condiccedilotildees de recolhimento e de diaacutelogos culturais multiplicados Entretanto o museu

histoacuterico eacute ao mesmo tempo um espaccedilo de ficccedilatildeo e de confronto mas impera o diaacutelogo quando

enfrenta a questatildeo da multiculturalidade Para Menezes (1994) o museu natildeo eacute enciclopeacutedia de

diversidade cultural Nele imaginaacuterio e imaginaccedilatildeo satildeo campos de forccedila mas os problemas em

relaccedilatildeo agraves praacuteticas dos sujeitos se datildeo de maneira ampla na sociedade e natildeo em abstrato nas

exposiccedilotildees museoloacutegicas

Os usos do potencial da imaginaccedilatildeo nos museus podem ser instrumentalizados numa

ideologia do valor em si dos ldquonovos museusrdquo Esses novos ideaacuterios de museus justificam a

revitalizaccedilatildeo de espaccedilos urbanos que se sobrepotildeem a outros que satildeo desfigurados Ultrapassam-

se as fronteiras culturais da induacutestria do lazer e do retorno do investimento e transcendem os

interesses locais voltando-se para visitantes estrangeiros numa adesatildeo agrave loacutegica de mercado O

proacuteprio museu se apresenta como forma de explorar um imaginaacuterio da cidade com praacuteticas de

utilizaccedilatildeo do seu espaccedilo e de suas forccedilas sociais Os objetos histoacutericos satildeo peccedilas-fetiche

Aleacutem da criacutetica aos museus-mercados Menezes (1994) tambeacutem eacute criacutetico dos museus

teatro da memoacuteria que por sua orientaccedilatildeo paternalista pressupotildee a passividade do espectador e a

hegemonia do paradigma observacional fundamentado na espetacularidade Para ele o

laboratoacuterio de Histoacuteria eacute o museu que torna viaacutevel a produccedilatildeo e socializaccedilatildeo do conhecimento

(MENEZES 1994 p62)

As investigaccedilotildees sobre a educaccedilatildeo histoacuterica em museus tecircm se debruccedilado sobre temas tais

como parcerias institucionais com escolas desenvolvimento de projetos e oferta de serviccedilos

educativos por parte dos museus A pesquisa sobre o ensino tambeacutem ganha forccedila e aponta que as

dimensotildees do processo de ensino- aprendizagem natildeo se reduzem a questotildees teacutecnicas ou de cunho

metodoloacutegico A ldquodidaacutetica da histoacuteriardquo eacute colocada por autores com Ruumlsen (2007) junto agrave ldquoteoria

da histoacuteriardquo

De outro acircngulo as discussotildees sobre o ensino de histoacuteria no Brasil sempre foram

vinculadas a projetos de formaccedilatildeo de uma identidade nacional tendo o Estado como maior

promotor dessa associaccedilatildeo O ensino de histoacuteria e identidade nacional se vincularam nos

55

curriacuteculos de histoacuteria prescritos desde o iniacutecio do seacuteculo XX e se manteacutem nas atuais diretrizes

para o sistema nacional de ensino

A criacutetica teoacuterica e praacutetica aos modelos oficiais tambeacutem se constitui como parte do debate

sobre o ensino de histoacuteria e se faz de maneira institucionalizada por professores de histoacuteria e suas

associaccedilotildees principalmente nos anos de 1960-70 Os professores tomam a discussatildeo sobre a

identidade e a ressignificam A educaccedilatildeo escolar e o ensino de histoacuteria satildeo vistos como espaccedilos

para se pensar identidades e pluralidades culturais pelo vieacutes da diversidade entendida num

quadro de desigualdades sociais e dominaccedilatildeo poliacutetica (SILVA E GUIMARAtildeES 2007 p58)

Este movimento de reflexatildeo em torno das identidades nacionais vem reposicionando a noccedilatildeo

de alteridade frente agraves tendecircncias globalizantes e provoca a reorganizaccedilatildeo curricular que vem se

fazendo na Europa e que reconhece explicitamente a dimensatildeo do estudo do patrimocircnio como

parte essencial da educaccedilatildeo para a cidadania (BARCA 2003 p100)

Ramos (2004 p15) discute que a ida ao espaccedilo museoloacutegico implica necessariamente

efetuar atividades educativas questionamentos e maneiras teoricamente fundamentadas de

aguccedilar a percepccedilatildeo para os objetos das exposiccedilotildees e a vinculaccedilatildeo entre o mundo dos artefatos

Para o citado autor a histoacuteria estaacute presente nos objetos e estes podem ser instrumentos para um

posicionamento no presente Os conflitos com os objetos de uso dos museus (objeto gerador)

produzem cultura fazem a ponte entre a memoacuteria coletiva e individual faz lembrar e ler a

materialidade das coisas na proacutepria problemaacutetica histoacuterica (2004 p19-30)

O foco central da pesquisa sobre visitas educativas a museus neste sentido indicado por

Ramos (2004) aponta para os usos e apropriaccedilotildees do patrimocircnio cultural musealizado As

escolas utilizam posturas investigativas em relaccedilatildeo ao patrimocircnio Muitas praacuteticas escolares de

visitas levantam justificativas quanto agrave relevacircncia de atitudes de avaliaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

histoacuteria local e aprofundam maneiras de atuar e interagir em relaccedilatildeo a seleccedilotildees de objetos

valores crenccedilas que se processam cotidianamente na sociedade A partir das visitas a museus

questiona-se o conceito de ldquopatrimocircnio histoacutericordquo natildeo como um meio ou recurso para conhecer

ou fazer histoacuteria mas como a proacutepria histoacuteria evidenciada nas persistecircncias visiacuteveis do passado

que o presente outorga valores (HERNANDEZ 2003 p456-458)

O patrimocircnio pode ser considerado a expressatildeo de identidades e sua apropriaccedilatildeo favorece

a construccedilatildeo de valores tais como respeito ao entorno e ao pertencimento a uma comunidade de

56

sentido ou tradiccedilatildeo Pode possibilitar o exerciacutecio de um pensamento criacutetico capaz de situar

historicamente as evidecircncias e dotaacute-las de novos significados sociais poliacuteticos e culturais Por

fim a relaccedilatildeo com o patrimocircnio museal desencadeia accedilotildees de construccedilatildeo do conhecimento

histoacuterico e ampliaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica (GONZALEZ 2004)

A aprendizagem em museus estaacute focada em dois eixos na potecircncia patrimonial de

coleccedilotildees e objetos e na potecircncia comunicativa das instituiccedilotildees em estabelecer planos e programas

puacuteblicos educativos que combinam diversas dimensotildees do cenaacuterio natildeo formal (natildeo escolares) do

museu e aspectos da cultura mais amplos

Pesquisas acadecircmicas sobre educaccedilatildeo em museus satildeo bastante numerosas35

mas natildeo se

constituem em torno de um campo especiacutefico de investigaccedilatildeo organizado em referecircncias teoacutericas

e metodoloacutegicas soacutelidas Predomina o diaacutelogo com vaacuterias aacutereas acadecircmicas o que torna o esforccedilo

para visualizar o conjunto dessa produccedilatildeo ou mesmo avaliar as tendecircncias e perspectivas

adotadas por cada pesquisa um trabalho relativamente difiacutecil De um modo geral as pesquisas

sobre museus parecem obedecer agrave mesma loacutegica das demais temaacuteticas nas poacutes-graduaccedilotildees Ainda

prevalecem as dissertaccedilotildees de mestrado com um aumento dos douramentos entre 1987- 2008 Em

sua quase totalidade satildeo realizadas nas instituiccedilotildees puacuteblicas federais e estaduais e nem sempre

contam com financiamentos de agecircncias de fomento As instituiccedilotildees que possuem maior nuacutemero

de pesquisas satildeo a UNIRIO USP UFMG UNICAMP e FGV-RJ

Os referenciais bibliograacuteficos de cada autor indicam diaacutelogos preferenciais internos agrave sua

aacuterea de conhecimento acadecircmico Entre as autoras citadas ao longo do capiacutetulo temos como

exemplo a combinaccedilatildeo de trecircs formaccedilotildees acadecircmicas distintas e atuaccedilatildeo em museus nas aacutereas de

ciecircncias naturais artes e histoacuteria respectivamente Maria Margaret Lopes (1988) Maria Ceciacutelia

Lourenccedilo (1997) e Ana Claudia Brefe (1998 e 2005) Cada pesquisadora dialoga internamente

com a bibliografia de sua aacuterea especiacutefica

Cada aacuterea acadecircmica que tematiza sobre o Museu tambeacutem o faz a partir de questotildees

especiacuteficas que interferem na proacutepria definiccedilatildeo de museu A histoacuteria como aacuterea acadecircmica pensa

no museu como instituiccedilatildeo como ldquolugar de memoacuteriardquo A antropologia por sua vez concebe o

museu como um campo de pesquisa no qual eacute possiacutevel o trabalho etnograacutefico com coleccedilotildees As

35 Carina Martins Costa (2008) identificou 98 pesquisas acadecircmicas desenvolvidas no Brasil sobre educaccedilatildeo em

museus

57

ciecircncias bioloacutegicas identificam no museu um divulgador do campo cientiacutefico A aacuterea de

comunicaccedilatildeo vecirc o museu como miacutedia veiacuteculo de divulgaccedilatildeo Muitos pesquisadores tambeacutem

utilizam a documentaccedilatildeo existente nos arquivos e acervos iconograacuteficos sem necessariamente

tomarem o proacuteprio museu como objeto de anaacutelise ou mesmo desconsiderando a origem dessas

fontes

O enfoque dessa pesquisa natildeo desconsidera a trajetoacuteria administrativa e cultural de cada

instituiccedilatildeo museoloacutegica e a constituiccedilatildeo de suas respectivas coleccedilotildees Ao contraacuterio estes satildeo

aspectos fundamentais para o entendimento da histoacuteria presente de cada museu embora natildeo

estejam presentes nas exposiccedilotildees puacuteblicas que eles promovem Como demonstram as pesquisas

realizadas por Brefe (2005) acerca do Museu Paulista e Pimentel (2004) sobre o Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto a histoacuteria das instituiccedilotildees museais permite estabelecer referecircncias sobre os

padrotildees que se fixaram ou se modificam em suas poliacuteticas de exibiccedilatildeo

A abordagem dos museus pelos usos feitos pelos visitantes por sua vez natildeo pode temer

ou condenar uma apropriaccedilatildeo utilitaacuteria de seus espaccedilos Trabalhar com os usos promovidos pelos

visitantes eacute considerar que as estrateacutegias autorizadas pelas chamadas visitas de estudo ou estudos

do meio36

ainda satildeo centrais tanto para museus quanto para as escolas Nesses casos os setores

educativos definem metodologias especiacuteficas para se explorar os espaccedilos visitados

principalmente um roteiro de observaccedilatildeo elaborado para os professores e que pretende orientar a

visita A visita escolar busca se diferenciar do lazer e do consumo que natildeo satildeo legitimados Os

locais a serem visitados satildeo predeterminados e obedecem a um cronograma e agendamento que

natildeo permitem mudanccedilas ou alternativas

O visitante de museus eacute interpelado duplamente por aquilo que o motiva individualmente

e pela oferta institucional Ele faz escolhas expressa gostos opiniotildees e negocia com os colegas

professores prestadores de serviccedilos Haacute em qualquer visita uma dimensatildeo de cidadania e de

consumo imbricadas

36 Um discurso muito presente nos planejamentos das visitas a locais como praccedilas e museus eacute da formaccedilatildeo de

competecircncias de leitura de fontes visuais ou cenaacuterio para conteuacutedos histoacutericos trabalhados em sala de aula Ver

Bittencourt 2009 p281

58

Um visitante natildeo se reduz a receptor passivo do quadro normativo referente oferecido

pelos museus e pelas escolas37

A negociaccedilatildeo de sentidos se daacute de maneira complexa Durante a

visita ele considera questotildees de acesso processos culturais num amplo quadro de significaccedilatildeo

que implica em novas praacuteticas interpretaccedilotildees e formas de uso dos bens culturais

A anaacutelise das praacuteticas portanto natildeo pode aceitar os limites dos modelos institucionais e

nem a correlaccedilatildeo inexoraacutevel entre capital cultural escolar e habitus como determinantes das

visitas38

Assim cada visita acontece em um quadro normativo referente de processos de

socializaccedilatildeo familiar e escolar e na complexidade da realidade empiacuterica de cada visitante Os

paradoxos da anaacutelise satildeo muacuteltiplos diante da complexidade do problema de pesquisa proposto

A mensagem expositiva dos museus segundo Asensio e Pol (2007) existe na medida em

que eacute recriada por cada visitante Ele a constroacutei a partir de seus conhecimentos preacutevios suas

habilidades cognitivas e sentindo o impacto expositivo atraveacutes de atitudes emoccedilotildees e afetos

Entender as experiecircncias de visita implica em questionar o que cada exposiccedilatildeo oferece ao

visitante e como o visitante distingue suas marcas suas convenccedilotildees e coacutedigos O visitante ao

fazer uma leitura do museu aponta para a poliacutetica inscrita em cada gesto da instituiccedilatildeo e para a

poeacutetica presente na exposiccedilatildeo e que lhe permite sempre manter em aberto o espaccedilo da

significaccedilatildeo

23- Praacuteticas de formaccedilatildeo produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos

Inverter a ordem dos discursos tomando o puacuteblico-visitante estudantes de graduaccedilatildeo em

Histoacuteria como os sujeitos dos quais se parte para investigar as interfaces entre as dinacircmicas

socioculturais de visita a museus e as dinacircmicas de formaccedilatildeo histoacuterica eacute uma contribuiccedilatildeo

pretendida por essa pesquisa

Duas referecircncias ajudam a estabelecer inicialmente contatos entre o tema das visitas a

museus e da formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes a questatildeo dos sujeitos e da produccedilatildeo de

conhecimentos Eacute possiacutevel compor uma anaacutelise da dinacircmica e diversidade das situaccedilotildees vividas

quando de uma visita e articulando-as a partir das elaboraccedilotildees dos sujeitos envolvidos nessas

37 Assim como os museus as escolas tambeacutem modificam suas abordagens das visitas a museus Ver dentre outros os

trabalhos de Denise Grinspum (2000) e Maria Cristina Carvalho (2005) 38

Ver discussatildeo de Luciana Sepuacutelveda Koptcke (2005 p190)

59

situaccedilotildees de formaccedilatildeo Para que essa articulaccedilatildeo aconteccedila o foco da investigaccedilatildeo satildeo os sentidos

elaborados pelos sujeitos a partir de dentro do proacuteprio processo de formaccedilatildeo em sua

materialidade e de seus significados para os envolvidos na interaccedilatildeo estudantes de graduaccedilatildeo em

Histoacuteria seus professores-formadores e os profissionais de museus

A hipoacutetese teoacuterica sobre a produccedilatildeo de conhecimentos a ser investigada relaciona-se ao

que Bernard Charlot (2000 p68) denomina de ldquonatureza epistecircmica dos saberes dos sujeitosrdquo

definidos como um conjunto de relaccedilotildees e processos nos quais o sujeito manteacutem a dinacircmica do

desejo da busca de si mesmo aberto ao outro e ao mundo e natildeo eacute reduzido agrave pulsatildeo em busca do

objeto O sujeito mobiliza-se reuacutene forccedilas e faz uso de si proacuteprio como recurso engaja-se em

atividades movimenta-se produz inteligibilidade e sentidos (CHARLOT 2000 p51-89)

As visitas ainda que marcadas por um ritmo escolar e pelas accedilotildees poliacuteticas prescritas por

cada museu permitem aos visitantes uma experiecircncia esteacutetica de muacuteltiplos deslocamentos Na

condiccedilatildeo de estudantes eacute possiacutevel experimentar um movimento que natildeo eacute aquele do cotidiano

escolar do trabalho pontuado pela cadecircncia dos calendaacuterios e horaacuterios Nos museus os tempos

dos processos pedagoacutegicos e de formaccedilatildeo se apresentam mais flexiacuteveis como uma poeacutetica O

visitante suspende o instante presente e pode ser tomado pelo jogo da multiplicidade de vozes

sentidos e papeacuteis Brincar de quebra-cabeccedila de detetive e jogar o jogo da memoacuteria eacute permitido e

estimulado em museus39

Haacute limites por certo nas possibilidades interpretativas das visitas escolares pois natildeo se

trata de um espaccedilo completamente livre de contingecircncias e aberto a experiecircncias do inteiramente

novo Ainda que extrapole os limites do ambiente escolar a visita a museus guarda muito das

caracteriacutesticas de ldquotrabalho escolarrdquo no sentido que lhe imprime Perrenoud (1994) como parte da

escolarizaccedilatildeo e dos saberes escolares Os visitantes estudantes e professores estatildeo duplamente

limitados pelas suas proacuteprias expectativas e objetivos e tambeacutem por aqueles dos agentes de

museus

Entende-se como narrativa dos museus os pontos de vista expressos na fala de seus

monitores materiais educativos e poliacuteticas dos setores educativos e exposiccedilotildees Em toda a praacutetica

museal se vecirc um visitante ideal e um discurso prescritivo sobre as visitas Os museus de modo

39 Esses satildeo jogos criados pelo Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a partir de seu acervo e utilizados em oficinas e

programas de formaccedilatildeo de professores

60

geral e os proacuteprios materiais instrutivos dirigidos aos professores quer por oacutergatildeos de regulaccedilatildeo e

formaccedilatildeo quer por uma bibliografia voltada agrave formaccedilatildeo para o ensino de histoacuteria40

esperam que

os visitantes venham preparados para seu discurso e a forma de expocirc-lo Espera-se que essa

estimulaccedilatildeo tenha sido feita previamente pelo professor que organiza a visita Eacute esperado tambeacutem

que o professor conheccedila o museu e suas exposiccedilotildees antes da visita com seus alunos que trabalhe

materiais e organize atividades em sala de aula sobre o que seraacute visto no museu Durante a visita

haacute a expectativa por parte de muitos museus que o professor oriente os comportamentos a serem

adotados indicando como os alunos devem atentar para as observaccedilotildees dos monitores

garantindo assim a ordem e ao mesmo tempo que a interaccedilatildeo aconteccedila sem atrapalhar o

trabalho daqueles que conduzem a visita O professor deve contemplar as obras e cuidar para que

os alunos tambeacutem o faccedilam Na volta agrave escola os agentes educativos dos museus sugerem que os

professores promovam discussotildees diaacutelogos com a turma recuperando o que foi visto observado

levantando novas hipoacuteteses curiosidades e aprofundando o tema ao mesmo tempo em que

auxilia na organizaccedilatildeo da construccedilatildeo da narrativa sobre a visita

Eacute necessaacuterio ponderar que mesmo com todas essas expectativas criadas em torno do

trabalho de visita escolar ou por elas existirem as visitas a museus podem ser pensadas como

fundadas em estrateacutegias construcionistas da cultura e do conhecimento agrave medida que os visitantes

negociam o sentido da mensagem expositiva de cada museu e de cada objeto de cultura exposto

O visitante constroacutei ele proacuteprio a partir de seus conhecimentos suas habilidades cognitivas e

sentindo o impacto expositivo em suas atitudes emoccedilotildees e afetos

Os museus satildeo espaccedilos puacuteblicos de conflitos embates entre poliacuteticas e esteacuteticas que

legitimam praacuteticas e vozes mas tambeacutem trocas entre grupos sociais diversos que buscam

expressar ali seus rituais e memoacuterias coletivas Defendo que o museu natildeo se reduz a simples

recurso pedagoacutegico ou fonte histoacuterica utilizado por professores juntamente com visitas teacutecnicas

a arquivos e bibliotecas Os objetivos da visita e de sua anaacutelise natildeo se limitam agrave discussatildeo sobre

praacuteticas de preservaccedilatildeo cujas finalidades seriam promover o contato e conhecimento de

experiecircncias bem sucedidas de preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Esse formato de programas

governamentais e privados associa atividades de promoccedilatildeo do patrimocircnio cultural com benefiacutecios

40 Algumas dessas visotildees e materiais seratildeo apresentados e discutidos nos capiacutetulos IV e V

61

econocircmicos e turismo sustentado ao considerar o turista um consumidor de lugares coleccedilotildees

saberes e fazeres culturais (MURTA E ALBANO 2005 p17)

Eacute imperativo ressalvar que nem toda a discussatildeo sobre a chamada educaccedilatildeo patrimonial

se reduz a praacuteticas prescritivas e usos instrumentais do patrimocircnio Desde a deacutecada de 1980 satildeo

inuacutemeras as iniciativas que trabalham com as dimensotildees da memoacuteria e da histoacuteria num sentido da

educaccedilatildeo das sensibilidades mais amplo41

O museu eacute concebido nessa pesquisa como um lugar metodoloacutegico siacutetio simboacutelico no

qual o visitante pode ser entendido como sujeito da accedilatildeo museoloacutegica agrave medida que atua

ativamente na significaccedilatildeo dos objetos durante as visitas agraves exposiccedilotildees e situaccedilotildees educativas

elaborando reflexotildees teoacuterico-conceituais sobre o proacuteprio museu e seu acervo e sobre a histoacuteria

Cabe dizer que para investigar os usos que satildeo feitos dos museus pelos visitantes visando

agrave produccedilatildeo de conhecimento eacute preciso abandonar a ideia de um puacuteblico receptor passivo que

apenas olha e natildeo age e buscar entender como se daacute a ressignificaccedilatildeo das poliacuteticas educativas

dos museus ouvindo o que pensam e fazem os sujeitos que participam ou participaram da vida do

objeto dentro e fora do museu e agregaram e agregam a ele significados Tanto aqueles que

atuam como agentes na ressignificaccedilatildeo dos objetos museoloacutegicos seus autoresprodutores e

diversos usuaacuterios ao longo de seu circuito e trajetoacuteria existencial ateacute a chegada no museu Todos

promovem o ldquocontexto musealrdquo pesquisadores que estudam os objetos conservadores

documentalistas museoacutelogos educadores e puacuteblico-visitante

Os proacuteprios museus hoje planejam accedilotildees educativas ldquointerativasrdquo que implicam um

compartilhamento mas muitas vezes natildeo dispensam as ldquomediaccedilotildeesrdquo de uma trilha explicitada

pelo idealizador de uma linguagem proacutepria ndash a da museologia Compreende-se que visitantes e

museus satildeo sujeitos singulares empenhados numa mesma praacutetica Mas ateacute que ponto a agenda de

expectativas do proacuteprio visitante e os embates especiacuteficos que cada aacuterea

disciplinartemaexposiccedilatildeo lhe reserva natildeo o reduzem a um papel mais modesto na relaccedilatildeo com a

produccedilatildeo do conhecimento Espera-se que o visitante reconheccedila e aplique o coacutedigo do emissor

ou agentes da accedilatildeo educativa dos museus ou que ele interprete selecione e se aproprie fazendo

outra produccedilatildeo a partir de seu lugar

41 Ver balanccedilo da discussatildeo sobre educaccedilatildeo patrimonial feita por Nara Ruacutebia de Carvalho Cunha tendo como

referecircncia inicial o Guia Baacutesico de Educaccedilatildeo Patrimonial publicado e distribuiacutedo pelo IPHAN em 1999 em

comparaccedilatildeo a outras praacuteticas como a do museu-escola do Museu da Inconfidecircncia Ver Cunha 2011 p67-81

62

Ao visitarem museus e entrarem em interaccedilatildeo com os artefatos ali organizados ndash os

objetos o convite agrave interatividade o tema e as miacutedias ndash os visitantes podem romper com os

papeacuteis jaacute determinados externamente e anteriores ao momento dessa interaccedilatildeo Estaacute muito

presente nas abordagens dos museus o risco da espetacularizaccedilatildeo ou uma visatildeo ingecircnua de que a

interatividade pode ser garantida de antematildeo pelo museu independentemente da accedilatildeo do

puacuteblico

As possibilidades de diaacutelogo com os museus datildeo-se para aleacutem dos aspectos da

comunicaccedilatildeo com o puacuteblico estabelecido pelas proacuteprias instituiccedilotildees (PEREIRA et al 2007) O

acervo de qualquer museu aiacute incluiacutedas as exposiccedilotildees reservas teacutecnicas seu sites materiais de

divulgaccedilatildeo e a proacutepria histoacuteria da constituiccedilatildeo dos acervos com seus diversos criteacuterios de

incorporaccedilatildeo preservaccedilatildeo restauraccedilatildeo exposiccedilatildeo e descarte interessam aos visitantes em

formaccedilatildeo Muitos museus ao trabalharem com pressupostos das teorias da recepccedilatildeo42

concebem

o sujeito em situaccedilatildeo de interaccedilatildeo mas natildeo assumem a interlocuccedilatildeo numa dupla face do processo

de produccedilatildeo de sentido Os museus satildeo os sujeitos comunicantes protagonistas enunciadores e

os visitantes satildeo os destinataacuterios A dicotomia em relaccedilatildeo aos dois poacutelos estaacute mantida Condiccedilotildees

diferentes de produccedilatildeo e condiccedilotildees de reconhecimento marcadas e jaacute estabelecidas pelas esferas

da produccedilatildeo e consumo

Enquanto a produccedilatildeo de conhecimentos ou de uma memoacuteria histoacuterica eacute legitimada

poliacutetica e esteticamente como proacutepria ao campo museal o visitante natildeo eacute reconhecido como parte

dessa produccedilatildeo de sentidos Ele apenas recebe passivamente esse saber especializado O

patrimocircnio cultural eacute aquilo que estaacute laacute no museu e que deve ser reconhecido ou apropriado pelos

visitantes O museu eacute lugar de memoacuteria instituiacuteda da cultura material a ser preservada43

Em muitos museus o professor eacute considerado parte do bloco da audiecircncia denominado

ldquopuacuteblico escolarrdquo Natildeo existem accedilotildees especiacuteficas voltadas para o professor Em geral seu papel

seraacute ajudar na mediaccedilatildeo com os estudantes nas visitas programadas pelos agentes dos museus

Ele natildeo participa da elaboraccedilatildeo da oferta de serviccedilos dos museus escolha de percursos

abordagem conceitual As instituiccedilotildees museais em geral hierarquizam e triangulam a mediaccedilatildeo

42 Ver ESCOSTEGUY 2008

43 Autores como Maacuterio Chagas (2003 p32) tratam da vinculaccedilatildeo entre a noccedilatildeo de museu e patrimocircnio considerando

que o sentido de preservaccedilatildeo e de posse estaria na raiz tanto da noccedilatildeo de patrimocircnio quanto no museu como

instituiccedilatildeo

63

Eacute preciso um guia do proacuteprio museu para decifrar os coacutedigos do patrimocircnio O professor

responsaacutevel pelos alunos recebe o ldquopacoterdquo oferecido pelos museus Ele o aceita o rejeita

tambeacutem em bloco

A accedilatildeo educativa dentro de muitos museus contemporacircneos eacute vista como parte de suas

funccedilotildees de comunicaccedilatildeo A formaccedilatildeo natildeo tem o mesmo lugar ou status das atividades de

pesquisa e preservaccedilatildeo nas definiccedilotildees oficiais de museu A mediaccedilatildeo tambeacutem eacute vista como uma

funccedilatildeo didaacutetica ou de marketing sem estatuto epistemoloacutegico proacuteprio uma funccedilatildeo de

transposiccedilatildeo e recontextualizaccedilatildeo do saber criada diretamente pelo museu

24- Visitas escolares e visitantes marcas visiacuteveis de historicidade

Bernard Lahire em Homem Plural os determinantes da accedilatildeo (2002) apresenta uma criacutetica

agraves teorias que defendem a homogeneizaccedilatildeo e a unidade do ator e da cultura e defende uma

perspectiva de entendimento do ator social na pluralidade dos mundos e das experiecircncias

contemporacircneas Lahire argumenta que os princiacutepios de socializaccedilatildeo satildeo heterogecircneos e

contraditoacuterios e que vivemos numa multipertenccedila a mundos e submundos sociais nem sempre

compatiacuteveis entre eles e agraves vezes conflituosos (LARIHE 2002 p32)

Para Lahire (2002) natildeo existem configuraccedilotildees sociais homogecircneas tanto cultural quanto

moral e ldquopoucos satildeo os casos que permitiriam falar de um habitus familiar coerente produtor de

disposiccedilotildees gerais inteiramente orientadas na mesma direccedilatildeordquo Os valores simboacutelicos os

esquemas de accedilatildeo introjetados e as praacuteticas satildeo diferentes maneiras de dizer ver fazer e sentir

os repertoacuterios de esquemas de accedilatildeo (de haacutebitos) satildeo conjuntos de siacutenteses de

experiecircncias sociais que foram construiacutedasincorporadas durante a socializaccedilatildeo anterior

nos acircmbitos sociais limitadosdelimitados e aquilo que cada ator adquire

progressivamente e mais ou menos completamente satildeo haacutebitos como sentidos de

pertenccedila contextual (relativa) de terem sido postos em praacutetica Aprendecompreende que

aquilo que se faz e se diz em tal contexto natildeo se faz nem se diz em outro contexto (LAHIRE 2002 p37)

As travessias no espaccedilo social e as matrizes de socialializaccedilatildeo satildeo contraditoacuterias As

visitas aos museus podem ser entendidas como uma dessas travessias entre dois mundos Uma

situaccedilatildeo de encontro cultural forccedilado Um deslocamento do espaccedilo da escola para o espaccedilo do

museu Nesse novo cenaacuterio ou no momento presente da visita os estatutos culturais dos

64

visitantes diluem-se parcialmente Os visitantes reconhecem a visatildeo de histoacuteria dominante no

museu e podem em um segundo movimento recorrer a outros fundamentos historiograacuteficos para

analisar tal estrutura e confrontar com analogias as duas configuraccedilotildees o seu proacuteprio lugar e o

lugar da exposiccedilatildeo (museu)

Lahire (2002) considera que o presente tem mais peso na explicaccedilatildeo dos comportamentos

praacuteticas e condutas se os atores satildeo plurais O passado estaacute aberto de modo diferente segundo a

natureza e a configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo presente A questatildeo central eacute discutir como as experiecircncias

satildeo incorporadas mobilizadas convocadas e despertadas pela situaccedilatildeo presente Ou descrever de

que maneira a configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo presente tecircm um peso na criaccedilatildeo de praacuteticas

A escolha de mais um museu e portanto a anaacutelise simultacircnea de mais de uma visita tem

por finalidade investigar marcas especiacuteficas dessas experiecircncias Assim pode-se encontrar nos

relatos de um mesmo visitante mudanccedilas que dizem respeito agrave adaptaccedilatildeo fuga resistecircncia

inibiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos diferentes ambientes visitados Tambeacutem eacute possiacutevel discutir em que

medida os distintos ambientes que o visitante eacute levado a atravessar ativam ou inibem suas

competecircncias habilidades saberes conhecimentos maneiras de dizer e fazer durante as visitas

Dessa maneira a repeticcedilatildeo de visitas ou a visita a diferentes museus reconhece que tal

estrateacutegia pode ter um efeito positivo pois antecipa possibilidades interpretativas do visitante que

constroacutei paracircmetros de interpretaccedilatildeo A visita a mais de um museu causa certa previsibilidade

gera certas expectativas que orientam e selecionam os sentidos produzidos pelos visitantes

A escolha desses visitantes e museus e natildeo outros configurou-se ao longo da pesquisa de

doutorado iniciada em 2008 e foi posterior ao momento das visitas efetivamente realizadas pelo

grupo de estudantes A seleccedilatildeo das situaccedilotildees concretas de visita para a anaacutelise se deu diante de

um repertoacuterio mais amplo de museus visitados pelo grupo ao longo dos quatro anos de formaccedilatildeo

e que possibilitava outras escolhas e anaacutelises

Ao longo do ano de 2008 foram desencadeados trecircs movimentos simultacircneos de produccedilatildeo

da materialidade das visitas Um levantamento da produccedilatildeo dos estudantes jaacute existente na

instituiccedilatildeo formadora ndash a Faculdade de Pedro Leopoldo (FIPEL) ndash sobre as vaacuterias visitas

realizadas entre 1999 e 2008 Em seguida a elaboraccedilatildeo de um inventaacuterio do perfil dos estudantes

de uma das turmas de Licenciatura em Histoacuteria (Anexo A) e terceiro a realizaccedilatildeo de uma

65

entrevista coletiva no formato de grupo focal com os alunos da turma 2005-2008 dispostos a

colaborar com a pesquisa para avaliaccedilatildeo da praacutetica de visitas a museus (Anexo B)

Apoacutes levantamento preliminar dos registros escritos e fotograacuteficos44

elaborados pelos

estudantes da FIPEL arquivados na proacutepria instituiccedilatildeo formadora foi necessaacuterio redefinir

recortes desse conjunto de fontes documentais Tanto os suportes elaborados posteriormente

quanto estrateacutegias hipoacuteteses de trabalho e categorias de anaacutelise partiram dessa primeira leitura

documental das praacuteticas de formaccedilatildeo

A sistematizaccedilatildeo do perfil dos estudantes de uma das turmas de Licenciatura em Histoacuteria

permitiu caracterizar melhor o proacuteprio grupo e a praacutetica de visitas da instituiccedilatildeo O inqueacuterito

estava dividido em trecircs partes A primeira preocupou-se com dados gerais como idade sexo

atividade remunerada renda familiar A segunda trazia questotildees relativas agrave praacutetica de visitas a

museus e uma terceira que aprofundava as situaccedilotildees de visita tendo em vista imagens e conceitos

de museu memoacuteria patrimocircnio e uma avaliaccedilatildeo dos proacuteprios museus visitados (Anexo A) Esse

levantamento depois de respondido individualmente sem identificaccedilatildeo de nomes foi processado

na forma de graacuteficos possibilitando uma visualizaccedilatildeo dos visitantes como um grupo e as

experiecircncias de visita na instituiccedilatildeo formadora como um conjunto (Anexo B)

O segundo suporte para a materialidade das visitas e visitantes foi uma entrevista coletiva

no formato de grupo focal com os alunos da turma 2005-2008 O debate com o grupo visava

aprofundar e complementar elementos identificados no inventaacuterio e que seriam melhor abordados

na forma da oralidade e da discussatildeo coletiva A decisatildeo metodoloacutegica em produzir esse tipo de

registro para a pesquisa se deu no momento de definiccedilatildeo no recorte empiacuterico da mostra de

visitantes As duacutevidas eram muitas jaacute que se tinha um variado repertoacuterio de relatos individuais e

mesmo algumas siacutenteses produzidas pelas turmas Faltava definir um grupo de referecircncia para a

anaacutelise das visitas e sistematizar uma meta-reflexatildeo dos visitantes sobre o conjunto das visitas e

seus efeitos formativos Essa forma de registro oral (grupo focal) foi utilizada antes da uacuteltima

44 Para Boris Kossoy (2011) a abordagem da fotografia como documento iconograacutefico deve considerar os enredos

culturais que lhe datildeo sentido e natildeo se limitar agrave questotildees teacutecnicas (imagens teacutecnicas) Eacute preciso demonstrar as

construccedilotildees mentais e culturais que datildeo corpo agraves imagens e aprender a desmontaacute-las Disponiacutevel em lt

httpluzeestilowordpresscom20100328entrevista-com-boris-kossoygtAcesso em 31 de marccedilo de 2011 Ver

tambeacutem a discussatildeo de imagem associada agrave narrativa ldquoo quadro narra e a narrativa mostrardquo (RICOEUR 2007

p281)

66

visita realizada pelo grupo ao Rio de Janeiro O debate contou com a participaccedilatildeo de nove

estudantes e foi transcrito As falas foram confrontadas tanto com os relatos anteriores da visita

ao Museu do Escravo (2006) quanto com o trabalho realizado posteriormente agrave visitaccedilatildeo ao

Museu Histoacuterico Nacional (2008) (Anexo C)

Identificar entre os puacuteblicos de museus um conjunto de visitantes e selecionaacute-los para

anaacutelise foi em grande medida organizar estrateacutegias de visibilidade destes visitantes reais Os

criteacuterios de constituiccedilatildeo do corpus documental para a pesquisa foram circunstanciais e definidos

simultaneamente agraves leituras teoacutericas e metodoloacutegicas O visitante historiado eacute uma situaccedilatildeo

relacional uma seacuterie de condiccedilotildees no espaccedilo-tempo como o fato de serem matriculados em uma

mesma instituiccedilatildeo de ensino superior disporem de tempo para viajar recursos financeiros e

disponibilidade para relatar suas experiecircncias de visita

Um dos criteacuterios de escolha dos dois museus apresentados na anaacutelise ndash o Museu do

Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional ndash foi baseado na avaliaccedilatildeo da potecircncia patrimonial de

cada um deles Natildeo era viaacutevel trabalhar com um amplo corpus documental que se constituiacutera

sobre as visitas e visitantes e a seleccedilatildeo implicava em cortes que mantivessem a riqueza da

documentaccedilatildeo produzida Os visitantes assim como os museus visitados constituem coleccedilotildees de

cultura material e as exibem de forma a comunicar sentidos e fazer circular a cultura Os dois

ldquoacervos documentaisrdquo das visitas elaboradas na perspectiva do grupo de visitantes e dos

museus satildeo confrontados

Enquanto os museus possuem criteacuterios de legitimaccedilatildeo da produccedilatildeo da cultura instituiacutedos

a escolha pela anaacutelise da produccedilatildeo feita pelos estudantes tem a possibilidade de ampliar o circuito

da cultura escolar para aleacutem de seus consumidoressujeitos habituais O processo de formaccedilatildeo de

visitantes de museus emerge dos lugares institucionais como a escola e o museu mas operam

uma experiecircncia pedagoacutegica mais abrangente e dispersa

Os relatos escritos e as fotografias satildeo considerados nessa pesquisa como maneiras de dar

significado agraves visitas vivenciadas durante o curso de graduaccedilatildeo em histoacuteria Na elaboraccedilatildeo dos

relatoacuterios os estudantes reconfiguram o percurso da visita reelaboram suas impressotildees

sentimentos e conhecimentos sobre o museu visitado Nos relatos escritos e fotograacuteficos

constroem ldquoexperiecircncias esteacuteticasrdquo conformando

67

estruturas cognitivas quadros normativos marcas de discriminaccedilatildeo e criteacuterios de

avaliaccedilatildeo modos de apreensatildeo do tempo regras de escolha modos de representaccedilatildeo e

esquemas de accedilatildeo jogos de papeacuteis e de categorias da praacutetica afirmaccedilotildees consideradas

verdadeiras e normas tidas por justas crenccedilas e figuraccedilotildees (GUIMARAtildeES E LEAL

2008 p12)

Os visitantes estabelecem modos de significar o vivido de transformar o fato em evento

ou ainda de conformar uma memoacuteria social (RICOEUR 2000) A experiecircncia de visita pode ser

pensada no sentido indicado por Vidal (2010 p726) quando se refere agrave docecircncia como

experiecircncia coletiva

as experiecircncias apesar de uacutenicas natildeo satildeo individuais Remetem a modos coletivos de

entender e validar a docecircncia Indiciam expectativas geracionais constituiacutedas na cultura

nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo na convivecircncia cotidiana com colegas e comunidade e nos

vaacuterios percursos de escolarizaccedilatildeo seguidos (VIDAL 2010 p726)

Os relatos de visita considerados como fontes e objeto de pesquisa apresentam

possibilidades de abordagem e tambeacutem mostram limites agrave anaacutelise Aquilo que aparece no texto da

aluna destacado no iniacutecio do primeiro capiacutetulo como ldquotiacutepicordquo eacute em grande medida um repertoacuterio

repetitivo que se constitui como um ldquogecircnerordquo Nesses relatos tanto a instituiccedilatildeo formadora

quanto cada museu visitado tem um papel significativo para a produccedilatildeo dos relatos Esse eacute um

primeiro ponto a ser considerado na anaacutelise Cada relato existe por estiacutemulos e intenccedilotildees de

produccedilatildeo vindos natildeo diretamente dos sujeitos que como autores resolvem de maneira

espontacircnea registrar suas memoacuterias mas como parte da dinacircmica de formaccedilatildeo acadecircmica e

disciplinas curriculares As escolhas e motivos das visitas aos museus satildeo estabelecidos no

interior do curso de licenciatura em Histoacuteria Haacute tambeacutem um segundo limite e implicaccedilatildeo na

produccedilatildeo dos relatos que eacute a condiccedilatildeo de avaliar a experiecircncia de visita de dentro da situaccedilatildeo

educativa Eacute preciso considerar essa dupla implicaccedilatildeo e explicitar que eu na condiccedilatildeo de

professora da instituiccedilatildeo formadora me encontro diretamente envolvida nesse primeiro

movimento de produccedilatildeo dos registros e elaboraccedilatildeo de uma primeira camada de testemunhos dos

visitantes

Somado ao primeiro limite dos relatos marcado pela historicidade das visitas e horizonte

de expectativa dos visitantes apresenta-se outro de caraacuteter diverso Assumir as marcas de

subjetividade entendidas como os sentidos atribuiacutedos agraves narrativas por cada visitante que se

coloca como autor de suas memoacuterias eacute correr o risco de expor os sujeitos concretos julgando

68

suas atitudes Vale esclarecer que o visitante faz escolhas estabelecendo uma pertinecircncia entre o

vivido e as referecircncias que lhes foram apresentadas pelos acervos e exposiccedilotildees dos museus mas

cria descompassos45

com relaccedilatildeo agraves rotinas e dinacircmicas estabelecidas pelo grupo que acompanha

Outro limite aparente das fontes eacute o apagamento das lembranccedilas ou a memoacuteria entendida

como recordaccedilatildeo As praacuteticas educativas como as visitas aos museus tem uma permanecircncia que

se constroacutei pelos conteuacutedos culturais que engendram Entretanto haacute uma fragilidade dos relatos

de visita onde se destaca muito da instrumentalidade das praacuteticas e das formas que eles adquirem

no acircmbito da cultura escolar

O relato de visita eacute marcado por esse limite da accedilatildeo contra o esquecimento um texto

coletivo que marca as histoacuterias comuns as semelhanccedilas do vivido e a recriaccedilatildeo das lembranccedilas

em memoacuterias coletivas Haacute o risco da banalizaccedilatildeo da experiecircncia uma vez que as narrativas

correspondem a accedilotildees de reflexatildeo produccedilatildeo de conhecimento histoacuterico e mesmo de um excesso

de expectativas de troca de acuacutemulo e de valorizaccedilatildeo da accedilatildeo empreendida de forma

retrospectiva

Por outro lado o uso dos relatos como fonte e objeto de pesquisa apresentam

possibilidades de romper com algumas prescriccedilotildees A primeira delas eacute atentar para uma dimensatildeo

do testemunho como uma funccedilatildeo de ouvir a narrativa do outro instaurando uma nova histoacuteria do

presente Para Gagnebin (2006) essa operaccedilatildeo de compreender o testemunho engendra a questatildeo

de que o historiador natildeo eacute apenas o coletor dessas lembranccedilas ele realiza uma operaccedilatildeo de

ldquorememoraccedilatildeordquo no lugar da ldquocomemoraccedilatildeordquo Sua atividade historiadora natildeo eacute repetir as

lembranccedilas mas atentar para o esquecido A rememoraccedilatildeo significa atenccedilatildeo com o presente com

as ressurgecircncias do passado no presente e com a accedilatildeo A testemunha natildeo eacute aquele que viu com os

proacuteprios olhos mas tambeacutem aquele que ao ouvir a narraccedilatildeo do outro a aceita e a toma de forma

reflexiva natildeo ajudando a repeti-la indefinidamente mas ousando inventar outra histoacuteria inventar

o presente (GAGNEBIN 2006 p 55-57)

A visita ao museu se constitui em um evento dialoacutegico e polifocircnico que promove sentidos

na interaccedilatildeo ou co-presenccedila dos diversos sujeitos Justamente por esse efeito de interaccedilatildeo

promove diferentes tipos de trabalho com a memoacuteria Pode-se dizer que os relatos das visitas satildeo

45 Parece ser o caso de uma aluna que faz referecircncia agrave existecircncia de uma denominada ldquoSala da Marquesa de Santosrdquo

durante a visita ao Museu Histoacuterico Nacional

69

camadas de memoacuteria-histoacuteria nos quais eacute possiacutevel investigar as formas e conteuacutedos destas

praacuteticas culturais e a construccedilatildeo e uso dessas praacuteticas no ensino de histoacuteria e na formaccedilatildeo

histoacuterica

Os relatos das visitas podem ser utilizados como um iacutendice de atualizaccedilatildeo da memoacuteria

Como possibilidade de reconhecer que pessoas comuns (estudantes e professores) estabelecem

instrumentos capazes de intercambiar experiecircncias temporais complexas e mantecirc-las vivas em

situaccedilotildees de aprendizagem histoacuterica

Os relatos permitem investigar o papel que a memoacuteria cultural e o pensamento histoacuterico

tiveram no processo de formaccedilatildeo de diferentes identidades coletivas A reserva de histoacuterias

trazidas pelos relatos podem vir a ser histoacuterias coletivas narrativas que se voltam para o

coletivo A formaccedilatildeo como processo criativo de devir plural (RUumlSEN 2007 p165)

O destaque no trabalho para dois museus diferentes visitados pelo mesmo grupo de

estudantes tem por objetivo comparar algumas dinacircmicas que a anaacutelise de apenas um caso ou

museu natildeo permitiria Nos diversos museus visitados pelo grupo de estudantes eacute possiacutevel propor

problemaacuteticas muacuteltiplas e complexas sintetizadas pelos momentos de presenccedila dos visitantes

A estrateacutegia de abordagem do material empiacuterico produzido pelos visitantes que satildeo os

relatos escritos e as fotografias comporta natildeo uma preocupaccedilatildeo com a quantidade de variaacuteveis

mas com a variedade de argumentos alternativos levantados ateacute mesmo por um uacutenico estudante

que mobiliza diferentes elementos para dar sentido a visita

Outro aspecto considerado eacute que os relatos se produzem no interior de uma relaccedilatildeo

pedagoacutegica Parte do trabalho escolar a escrita dos relatoacuterios tem por objetivo atender a

exigecircncias e formalidades da cultura escolar Poreacutem na anaacutelise dos relatos haacute uma migraccedilatildeo

desse lugar inicial de produccedilatildeo que visava agrave leitura pelo professor que orientou eou organizou a

visita ao museu para a condiccedilatildeo de fonte de pesquisa mais ampla no campo da Educaccedilatildeo Das

situaccedilotildees de visita existentes em uma determinada instituiccedilatildeo escolar (Faculdade) escolhida

amplia-se o caraacuteter documental do relato e para pensar de maneira mais ampla o papel das

visitas a museus em relaccedilatildeo ao Ensino de Histoacuteria e agrave criaccedilatildeo de uma memoacuteria histoacuterica

Em alguma medida os visitantes na condiccedilatildeo de produtores dos relatos se fixam num

determinado momento da produccedilatildeo Haacute intersubjetividade em toda a elaboraccedilatildeo dos relatos As

observaccedilotildees satildeo projetadas para um professor que tambeacutem participou presencialmente da visita

70

Cada museu com suas exposiccedilotildees e propostas educativas satildeo acionados e mobilizados Por fim o

ato ao mesmo tempo coletivo e individual de percorrer as salas dos museus se coloca como forccedila

que emoldura cada situaccedilatildeo de visita Poreacutem a circulaccedilatildeo desses relatos em outros espaccedilos como

os da anaacutelise empreendida pela pesquisa permite forjar uma ampliaccedilatildeo de sentidos iniciais

Comparar dois momentos de visita em dois espaccedilos distintos permite conexotildees parciais entre os

processos e os lugares em anaacutelise A anaacutelise de cada situaccedilatildeo se faz por analogias e na tomada de

posiccedilatildeo Cada pessoa que relata a faz de maneira incorporada e localizada46

Como afirma Boaventura Souza Santos em texto lido pela turma do curso de licenciatura

em Histoacuteria que relata suas visitas escrever sobre algo implica em posicionar-se em adotar uma

perspectiva E em sua proposta de escrita cientiacutefica o sujeito deve participar se solidarizar ter

prazer Para Santos o conhecimento eacute emancipaccedilatildeo auto-conhecimento postura criacutetica e

reflexiva de avaliaccedilatildeo e reciprocidade (SANTOS 1995 p18-19)

A primeira implicaccedilatildeo de se considerar de maneira situada o conhecimento produzido nas

situaccedilotildees de visita eacute a opccedilatildeo pelos conhecimentos alternativos e dispersos e uma postura de

diaacutelogo que abrange a incompletude cultural natildeo como uma falta mas como parte de todas as

culturas A circulaccedilatildeo dos visitantes pelos muacuteltiplos locais tambeacutem amplia as situaccedilotildees de

formaccedilatildeo cultural multiplica as possibilidades de que diferentes museus podem propiciar a

desestabilizaccedilatildeo de visotildees hegemocircnicas acerca de temas trabalhados no Ensino de Histoacuteria como

a escravidatildeo os personagens histoacutericos e as comemoraccedilotildees O trabalho com visitas a diferentes

museus tambeacutem possibilita tomar trajetoacuterias inesperadas para traccedilar uma formaccedilatildeo cultural

considerada nos proacuteprios limites da experiecircncia compartilhada pelos visitantes A abrangecircncia da

anaacutelise se daraacute agrave medida que estabelecer conexotildees associaccedilotildees relaccedilotildees inesperadas e

aproximaccedilotildees

Os relatos escritos e fotograacuteficos assim como o Grupo focal e os questionaacuterios

individuais possibilitam confrontar como os visitantes elaboram do ponto de vista cognitivo e

simboacutelico atravessam cortam suas ancoragens e circulam entre diferentes mundos como os dos

museus do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional dentre outros

46 Mendes (2003) Perguntar e observar natildeo basta eacute preciso analisar algumas reflexotildees metodoloacutegicas Oficina do

CES 194 Disponiacutevel em lthttpsestudogeralsibucptjspuihandle1031611056gt Acesso em 06 ab 2011

71

Um primeiro sentido da produccedilatildeo dos relatos se daacute numa situaccedilatildeo relacional eacute a

comunicaccedilatildeo e o partilhamento dos sentidos com o professorleitor e os colegas Assim o relato

se faz na riqueza dialoacutegica de vozes presentes e ausentes Ao construir uma narrativa cada

visitante reconstitui o ineditismo da sua visita revive experiecircncias e surpreende-se ele proacuteprio

com suas reaccedilotildees

Ao se conceber os relatos como fonte documental prioritaacuteria agrave pesquisa foram definidos

alguns focos de investigaccedilatildeo O primeiro eacute atentar na leitura dos relatos para os tipos de recursos

que os visitantes mobilizam para argumentar e responder aos dilemas enfrentados durante a

visita Como se posicionam frente aos objetos apresentados pelos museus e como ancoram suas

narrativas pessoais frente agraves narrativas dos museus Haacute um grau de convergecircncia entre a memoacuteria

coletiva exposta nos museus e as memoacuterias pessoais Haacute dimensotildees consensuais ou divergentes e

quais argumentos fundamentam tais posiccedilotildees

Os relatos permitem mudar o foco da visita do museu e da escola para o visitante

Considerando o relato a visita pode ser ldquoguiadardquo pelos visitantes seguir o visitante pelos seus

percursos perspectivas interesses e escolhas Se durante o tempo de realizaccedilatildeo da visita na

condiccedilatildeo de professora fui tambeacutem visitante agora na anaacutelise dos relatos posso propor outros

recortes agrave visita e ao museu a partir do lugar de pesquisadora

25- Relatos e fotografias registros do patrimocircnio dos visitantes

Apresento a seguir um perfil dos visitantes elaborado a partir dos dados produzidos entre

os estudantes do curso de Licenciatura em Histoacuteria Escolhi dentre os vaacuterios estudantes e visitas

que foram realizadas ao longo do periacuteodo que trabalhei na Faculdade de Pedro Leopoldo

(FIPEL) estudantes que se prontificaram a ceder suas produccedilotildees textuais e fotografias

voluntariamente Um total de dezessete estudantes compotildee o universo selecionado para anaacutelise

Pude acompanhar esse grupo desde o ingresso na Faculdade ateacute a formatura e as visitas que

realizaram ao longo dessa trajetoacuteria de formaccedilatildeo

Deste grupo de estudantes 11 satildeo do sexo feminino e 06 do sexo masculino Quanto agrave

idade quatorze estudantes tinham entre 21 e 26 anos quando responderam ao instrumento de

pesquisa e os trecircs restantes tinham mais de 28 anos de idade Quando agrave profissatildeo apenas um

72

estudante declarou natildeo exercer atividade remunerada Em relaccedilatildeo agrave declaraccedilatildeo quanto agrave renda

familiar apenas um afirmou possuir renda maior que 10 salaacuterios miacutenimos seis estudantes

declararam entre 4 a 6 salaacuterios miacutenimos e dez entre 7 e 9 salaacuterios miacutenimos

Figura 6 Turma do 4ordm periacuteodo de Histoacuteria Faculdade Pedro

Leopoldo Fazenda Boa Esperanccedila Belo Vale MG 2006

Para este grupo de estudantes se natildeo fosse a praacutetica de visitas a museus promovida pela

Faculdade dificilmente frequumlentariam regularmente esse tipo de instituiccedilatildeo cultural Primeiro a

distacircncia geograacutefica de suas residecircncias desses bens coletivos impede visitas regulares Eles

residem em sua maioria quase absoluta em cidades da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte e

cidades proacuteximas sendo que apenas um desses municiacutepios possui museu Trabalham e estudam e

apenas um estudante citou o preccedilocusto das viagens como dificuldade para realizaccedilatildeo das visitas

Natildeo encontramos assim uma correlaccedilatildeo entre renda local de moradia e primeira visita a museus

A escola eacute a grande responsaacutevel pela promoccedilatildeo do conceito de museu que esse grupo

possui A visita escolar aparece como a grande agenciadora do acesso aos museus Nos trecircs

momentos em que satildeo questionados sobre a visita a museus primeiro para indicar a ocasiatildeo da

73

visita segundo com quem foi a primeira vez em um museu e terceiro com quem foi ao museu

nos trecircs uacuteltimos anos a escola aparece como a grande promotora da praacutetica de visita (Ver

graacuteficos no anexo B)

Considerando os dados obtidos permanece a duacutevida sobre qual eacute a escola que promove a

visita escolar ao museu se a escola baacutesica ou a faculdade As afirmaccedilotildees de Warlerson de Melo

Simpliacutecio no grupo focal sobre suas experiecircncias de visita a museus alimenta a duacutevida sobre a

escola que promove a visita Warlerson declara que havia visitado o Museu de Guimaratildees Rosa

quando cursava a 8ordf Seacuterie depois passou na Gruta de Maquineacute que ele natildeo sabe bem se pode ser

citada como Museu Ele natildeo se lembra bem do que foi falado laacute soacute sabe que gostou Visitou e

gostou tambeacutem de uma igreja em Congonhas o Museu de Artes e Ofiacutecios em Belo Horizonte

Viu como se dava o processo de trabalho de uma eacutepoca que natildeo lembra bem qual (ldquoa memoacuteria taacute

curtardquo brinca o estudante) Gostou tambeacutem do Museu do Escravo ldquoeu gosto muito dessa

ligaccedilatildeo do Brasil com a Aacutefrica e gosto muito de estudar essa parte principalmente na religiatildeordquo

(Warlerson de Melo Simpliacutecio Grupo Focal 2008)

O nuacutemero de vezes que Warlerson visita museus eacute confirmado pelas informaccedilotildees do

grupo que declara ter ido a mais de quatro museus e cita os trecircs uacuteltimos visitados Os mais citados

satildeo o Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto em Belo Horizonte o Museu de Artes e Ofiacutecios tambeacutem

em BH e o Museu Imperial de Petroacutepolis Os trecircs museus listados foram locais visitados pela

turma em trabalhos de campo promovidos pelo curso de licenciatura em Histoacuteria

Ao identificarem os museus visitados e a frequumlecircncia a museus vecirc-se novamente que a

visita organizada pela escola aparece como a responsaacutevel pela primeira ida ao museu Ou seja a

primeira vez que visitaram um museu foi durante o curso superior em Histoacuteria Informaccedilotildees

sobre os trecircs uacuteltimos museus visitados tambeacutem permitem identificar outras instituiccedilotildees lembradas

pela turma Museu de Histoacuteria Natural da PUC-MG e Museu do Escravo ambos tambeacutem

visitados em trabalhos com a turma O Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto foi a primeira visita

realizada pela turma quando estavam no primeiro ano do curso Talvez sua lembranccedila por quase

todo o grupo esteja associada a esse acontecimento o primeiro museu visitado

74

Diversos depoimentos47

enfatizam a importacircncia da visita ao Abiacutelio Barreto Fernando

Daniel Fraga Fonseca eacute o primeiro a falar

O Museu que eu mais gostei achei super interessante foi justamente na eacutepoca que a

gente tava entrando na Faculdade comeccedilando o curso de Histoacuteria noacutes fizemos uma

visita ao Museu Abiacutelio Barreto em BH Onde foi que quebrou um pouco aquela visatildeo

que a gente trazia da escola que na hora que fez aquela foi feito aquela dinacircmica explicando como eacute feita uma exposiccedilatildeo onde cada pessoa pode colocar aquilo que tava

com ele um laacutepis uma caneta ou um caderno e ali foi ensinado para a gente como fazer

uma exposiccedilatildeo como organizar uma exposiccedilatildeo como uma exposiccedilatildeo eacute organizada

Toda exposiccedilatildeo ela tem o ponto central aquilo que ela ta querendo mostrar aquilo que ta

querendo contar Todos esses aspectos foram explicados para a gente Achei super

interessante assim foi de grande valia pra gente como estudante de histoacuteria (Fernando

Daniel Fraga Fonseca Grupo Focal 2008)

Daniele Paulo Marques completa

Bem como o Fernando acabou de relatar o Museu Abiacutelio Barreto foi um dos primeiros

museus que gente chegou a visitar aqui na Faculdade e foi muito interessante porque eles

explicaram pra gente como eacute que eacute feita a seleccedilatildeo como eacute feita a organizaccedilatildeo desse

material como eacute feita a exposiccedilatildeo se essa exposiccedilatildeo eacute permanente ou natildeo Outro Museu

que tambeacutem foi interessante foi o Imperial em Petroacutepolis que a gente visitou Assim por

mais que assim foi muito bonito a gente natildeo teve um tempo para dialogar com as peccedilas

discutir comentar e agraves vezes se faz necessaacuterio quando se vai ao museu ter tempo para

dialogar questionar ter diaacutelogo porque isso acrescenta muito (Daniele Paulo Marques

Grupo Focal 2008)

Outros museus satildeo lembrados como o receacutem inaugurado Museu de Artes e Ofiacutecios mas a

comparaccedilatildeo aponta para o que eles mais se preocupam quando visitam um museu as exposiccedilotildees

embora seis estudantes natildeo definam claramente um foco para a visita

No grupo focal Frederico Levi Amorim faz um detalhamento de que descobriu na visita

ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto mais que suas exposiccedilotildees e como faz uso deste aprendizado

ao longo do curso inclusive na avaliaccedilatildeo de outros museus que visitou como o Museu do

Escravo

O que marcou muito tambeacutem foi a visita ao Abiacutelio Barreto por ter sido a primeira que a

gente fez na Faculdade eu jaacute tinha feito outras mas aqui na Faculdade foi a primeira E

logo depois quando eu comecei a fazer o Estaacutegio o que me chamou a bastante a atenccedilatildeo

foi a questatildeo da organizaccedilatildeo na hora de elaborar uma exposiccedilatildeo a quantidade de pessoas

que estatildeo envolvidas como que a instituiccedilatildeo inteira se mobiliza em torno disso como eacute

47 A opccedilatildeo por apresentar trechos longos da transcriccedilatildeo do debate realizado pelo grupo de estudantes tem por

justificativa manter a loacutegica de argumentaccedilatildeo de cada participante e as marcas das interaccedilotildees entre os componentes e

a oralidade que constituem os relatos

75

muito seacuterio o trabalho que eles fazem quando tem que definir um tema para a exposiccedilatildeo

quais satildeo os materiais que vatildeo ser expostos Neacute assim a questatildeo de organizaccedilatildeo que me

marcou muito e voltando ao Museu do Escravo o que me chamou muito a atenccedilatildeo

tambeacutem foi isso que eu gostei muito do museu achei que tinha muita coisa bacana mas

achei que a exposiccedilatildeo tava muito saturada tinha tanta informaccedilatildeo que assim vocecirc tava

meio perdido ali dentro e achei que tinha ter uma linha cronoloacutegica alguma coisa que

pudesse ta direcionando o proacuteprio visitante para facilitar o entendimento da exposiccedilatildeo e

para que a gente pudesse absorver mais a informaccedilatildeo e pra que gente pudesse entender

tambeacutem o que a exposiccedilatildeo estava querendo falar (Frederico Levim Amorim Grupo

Focal 2008)

Alguns aspectos da avaliaccedilatildeo de Frederico Amorim sobre o Museu do Escravo satildeo

contestados por Weberton Fernandes da Costa mais agrave frente

(riso) A experiecircncia que me marcou assim foi ao Museu do Escravo Problema eacute o

seguinte porque mostrou assim o processo de escravidatildeo no Brasil como era

estruturado objetos que ao mesmo tempo () visatildeo que tinha do negro mostrando eles

simplesmente como objetos e colocou tipo assim () uma visatildeo negativa faltou assim

a cultura a danccedilaa comida natildeo mostrou o processo global A ideologia do sistema claro

que tinha na eacutepoca (Weberton Fernandes da Costa Grupo Focal 2008)

Os dados gerados pelo questionaacuterio permitem confrontar algumas afirmaccedilotildees expressas

oralmente pelo grupo e vice-versa No grupo focal as visitas satildeo apontadas como viagens de

conhecimento que ampliam horizontes e repertoacuterios culturais Os museus estatildeo relacionados ao

trabalho com as ldquofontes histoacutericasrdquo e agrave ldquopraacuteticardquo do professor Os estudantes dizem se interessar

pelos museus por conta de seus assuntos e exposiccedilotildees e natildeo pelo aspecto do lazer da diversatildeo

Quando solicitados a associar livremente trecircs palavras a museu a mais citada foi a palavra

ldquomemoacuteriardquo e a segunda ldquohistoacuteriardquo ldquoPassadordquo e ldquopreservaccedilatildeordquo aparecem em terceiro

ldquoConhecimentordquo ldquoculturardquo e ldquopatrimocircniordquo em quarto lugar na associaccedilatildeo de palavras a museu A

partir das palavras relacionadas as exposiccedilotildees e museus visitados podem ser imaginados como

uma alegoria do curriacuteculo Primeiro temos uma forma de exposiccedilatildeo do conhecimento e uma

seleccedilatildeo que obedece a um percurso ou roteiro e que se apresenta no formato de cenaacuterios Os

conteuacutedos dessa seleccedilatildeo feita pelos diferentes museus se datildeo na forma de saberes prescritos ou

seja legitimados socialmente como uma cultura da eacutepoca Essa concepccedilatildeo de cultura se

materializa num acervo exposto e preservado por cada instituiccedilatildeo

Se os visitantes associam a palavra conhecimento aos museus haacute o reconhecimento do

lugar da produccedilatildeo de cultura histoacuterica nos cenaacuterios organizados pelos museus e a hipoacutetese de que

essa produccedilatildeo de conhecimento se faz de maneira complementar com outros materiais de

76

pesquisa e instituiccedilotildees acadecircmicas De outro lado podemos comparar a exposiccedilatildeo e o museu

com os textos acadecircmicos Na lista do que se encontra em um museu aparecem na ordem

objetos cultura e documentos e fotografias em terceiro

Esse jogo de definir o museu com palavras e coisas aparentemente ingecircnuo indica

algumas categorias que foram retomadas nos relatos escritos e fotograacuteficos Para os visitantes o

Museu eacute memoacuteria e histoacuteria mas a memoacuteria natildeo eacute o passado Ela se materializa em objetos em

cultura documentos e fotografias Os museus satildeo agentes produtivos preservam conhecem

comemoram pesquisam dizem as narrativas dos visitantes no Museu do Escravo e no Museu

Histoacuterico Nacional

Por fim ao avaliarem os museus visitados natildeo temos muitas surpresas talvez o retorno ao

iniacutecio do questionaacuterio e agrave pergunta sobre o que eacute mesmo uma visita ao museu O que mais

agradou aos estudantes nos museus satildeo seus conteuacutedos e a organizaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo de uma organizaccedilatildeo proacutepria aos museus uma visualidade eacute reforccedilada em

diversos momentos pelos visitantes Haacute na forma de expor objetos e no trabalho dos museus algo

que interessa diretamente a esse grupo Outra questatildeo que chama a atenccedilatildeo eacute a imagem que criam

para a proacutepria visita Eles afirmam que a impressatildeo que tecircm quando deixam o museu eacute de que

saiacuteram de uma sala de aula ou de uma biblioteca

As duas imagens engendradas ndash sala de aula e biblioteca ndash estatildeo relacionadas agrave cultura

escolar entendida como um conjunto de praacuteticas teorias e normas que codificam formas de

regular sistemas linguagens e accedilotildees nos estabelecimentos educativos (ESCOLANO 2005 p42)

Considerando que nos espaccedilos da escola haacute interaccedilotildees e convergecircncias entre cultura empiacuterica

cultura acadecircmica e cultura poliacutetica as praacuteticas de visita satildeo marcadas pelas pautas e orientaccedilotildees

da cultura escolar e da cultura museal que tambeacutem se articula historicamente em suportes

especiacuteficos A pesquisadora Luciana Koptche aponta para essa aproximaccedilatildeo recente entre os

objetivos tecnologias dos museus e a cultura escolar Para a autora os museus contemporacircneos

situam-se entre a catedral a escola o foacuterum a feira e o mercado (KOPTCHE 2005 p189) Em

se tratando de visitas escolares a associaccedilatildeo mais direta era de se esperar eacute com a escola

Assim como os museus satildeo vistos como organizados esse grupo de visitantes tambeacutem se

apresenta de forma organizada aos museus A visita de turismo ou com familiares satildeo raras no

grupo Na visatildeo dos estudantes as visitas tecircm objetivos pedagoacutegicos de ampliar conhecimentos

77

mas ningueacutem aponta se sentiu algum desconforto durante as visitas Interessam-se pelos

conteuacutedos e assuntos das exposiccedilotildees e saem dos museus com a impressatildeo que saiacuteram de uma sala

de aula Fabiana Cristina dos Santos parece resumir o dilema ao analisar a visita ao Museu

Imperial

A experiecircncia em museu o que mais gostei e entre aspas natildeo gostei foi ao Museu

Imperial Gostei muito foi fantaacutestico o que natildeo gostei eacute que a nossa visita foi guiada foi

muito raacutepida e assim a gente natildeo pode ver com aquele olhar poder discutir poder ver o

lado criacutetico como que era e eles natildeo permitam isso laacute eles ficavam controlando O bom

foi vocecirc ter uma direccedilatildeo que se a gente tivesse perdido sozinho a gente natildeo ia saber

por onde comeccedilar a gente natildeo ia saber que direccedilatildeo mas o ruim eacute que eacute muito raacutepido e

natildeo te deixa dialogar com cada peccedila enfim (Fabiana Cristiana dos Santos Grupo focal

2008)

Fabiana Cristina dos Santos aparece na Figura 7 e parece aprisionada Olha atraveacutes da

janela e toma notas Estaacute acompanhada de um lado e de outro por seus colegas O visitante que

faz o registro fotograacutefico estaacute separado de Fabiana pelo vidro Ele estaacute ao lado dos objetos e sabe

que ela estaacute do outro lado da luz A luz refletida no vidro cria a barreira que natildeo permite ver

diretamente as peccedilas o que natildeo impede o diaacutelogo no jogo de espelhos

Figura 7 MARQUES Daniele Paulo Fotografia da visita a

Petroacutepolis Rio de Janeiro 2007

78

Outra visitante comenta a respeito da visita ao Museu Histoacuterico Nacional ldquoacredito que

mesmo em exposiccedilotildees que natildeo satildeo tatildeo boas podemos tirar ensinamentos para natildeo cometer os

erros cometidos por outras pessoasrdquo (Michelle Oliveira Xavier Visita ao MHN 2008)

Os visitantes apresentados acima ao entrarem em interaccedilatildeo com os artefatos culturais

organizados pelos museus rompem com os papeacuteis jaacute determinados externamente e anteriores ao

momento dessa interaccedilatildeo48

Tomar a ideia de ldquointeraccedilatildeordquo como um suposto um operador

analiacutetico parece possibilitar a integraccedilatildeo de perspectivas que natildeo separam os aspectos orais

escritos e visuais nos processos de produccedilatildeo de objetos culturais

A questatildeo central que permeia a pesquisa eacute a formaccedilatildeo dos sujeitos frente agrave experiecircncia

de contato com os museus Definir um grupo de visitantes em diferentes momentos de sua

formaccedilatildeo acadecircmica permite identificar marcas de sociabilidade e sensibilidades como referentes

na produccedilatildeo de conhecimentos histoacutericos O grupo se estabelece como ator ao assumir accedilotildees na

organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo das visitas e ao expressar categorias de avaliaccedilatildeo das praacuteticas de visita a

partir de um olhar proacuteprio da experiecircncia

Daniela Jacobucci ao analisar os programas de formaccedilatildeo continuada de professores

realizados por museus de ciecircncias em diversas regiotildees do paiacutes afirma que ldquoindependente da

proposta teoacuterico-metodoloacutegicardquo estes programas ldquooportunizam quatro tipos de experiecircncias aos

professores atualizaccedilatildeo de conteuacutedos produccedilatildeo de material didaacutetico assessoria didaacutetica e

socializaccedilatildeo de conhecimentosrdquo (JACOBUCCI 2010 p437) Os estudantes concordam sempre

haacute algo a aprender com a visita As fotografias a seguir (Figuras 8 9 e 10) configuram a visita ao

Museu do Escravo do ponto de vista de seus visitantes O recorte espacial proposto por Frederico

Amorim organiza a visita em vaacuterios planos de expressatildeo Na primeira foto (Figura 8) temos uma

pessoa do proacuteprio museu responsaacutevel pelas informaccedilotildees ao grupo de visitantes O tronco o

objeto central do paacutetio de exposiccedilatildeo estaacute ao fundo A monitora fala olhando para os visitantes e

de costas para o objeto

48 A ideia de museu como templo distante da experiecircncia de aprendizagem natildeo aparece com grande forccedila nos

relatos dos visitantes

79

Figura 8 AMORIM Frederico Levi Monitora do Museu do Escravo no

paacutetio central tendo ao fundo a senzala e o pelourinho Belo Vale-MG 2006

Na imagem seguinte (figura 9) a monitora estaacute agrave esquerda do espaccedilo geograacutefico Ela fala e

gesticula com as matildeos O foco satildeo os visitantes que se aproximaram do objeto e estatildeo em atitude

de escuta

Figura 9 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes ouve explicaccedilotildees da

monitora no paacutetio interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006

80

Na imagem seguinte (figura 10) o grupo maior jaacute se retirou e alguns alunos entre eles o

proacuteprio fotoacutegrafo se fazem registrar junto ao espaccedilo do objeto Tomam a experiecircncia vivida

externamente ndash o objeto imobilizado no espaccedilo do museu com a mediaccedilatildeo da monitora ndash como

uma paisagem um enquadramento O escravo no tronco de mesmo tamanho dos componentes do

grupo eacute centralizado e parece figurar como um dos estudantes que agora sorriem acredito de

prazer pela travessura que faziam

Figura 10 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes junto ao

tronco no paacutetio interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006

A hipoacutetese sobre a produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos nas visitas como a do Museu

do Escravo relaciona-se a um conjunto de relaccedilotildees e processos nos quais o sujeito manteacutem a

dinacircmica do desejo da busca de si mesmo aberto ao outro e ao mundo e natildeo eacute reduzido agrave pulsatildeo

em busca da satisfaccedilatildeo do objeto a ser consumido O sujeito mobiliza-se reuacutene forccedilas e faz uso

de si proacuteprio como recurso engaja-se em atividades movimenta-se produz inteligibilidade e

sentidos Ao colocarem-se ao lado da escultura os estudantes natildeo se identificam com o

sofrimento que representa os mortos mas compartilham a presenccedila uns dos outros nesse espaccedilo

que eacute vivo

81

A produccedilatildeo de conhecimentos que se configura a partir das praacuteticas de visita eacute uma

praacutetica cultural na qual os sujeitos se vecircem como capazes de reconfigurar algumas condiccedilotildees de

produccedilatildeo de saberes dominantes Os visitantes fazem a revisatildeo de conhecimentos tradicionais e

percebem pelos ldquoefeitos de sentidordquo e ldquoefeitos de presenccedilardquo uma nova disponibilidade de estar

no mundo e criar formas e conteuacutedos culturais distintos

As visitas ainda que marcadas pelo ritmo escolar e pelas accedilotildees poliacuteticas prescritas pelo

museu permitem aos visitantes uma experiecircncia sensiacutevel de muacuteltiplos deslocamentos Na

condiccedilatildeo de estudantes eacute possiacutevel experimentar um movimento que natildeo eacute aquele do cotidiano

escolar do trabalho pontuado pela cadecircncia dos calendaacuterios e horaacuterios Nos museus os tempos

dos processos pedagoacutegicos e de formaccedilatildeo se apresentam mais flexiacuteveis como uma poeacutetica O

visitante suspende o instante presente e pode ser tomado pelo jogo da multiplicidade de vozes

sentidos e papeacuteis Brincar de quebra-cabeccedila de detetive e jogar o jogo da memoacuteria eacute permitido e

estimulado em museus49

49 Esses satildeo jogos criados pelo Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a partir de seu acervo e utilizados em oficinas e

programas de formaccedilatildeo de professores

82

CAPIacuteTULO III - A historicidade de museus e visitantes

31- Visitantes diante de museus a experiecircncia museal

O visitante atualiza o proacuteprio conceito de museu e contribui assim como os especialistas

para a configuraccedilatildeo e teorizaccedilatildeo do campo museal e fundamentaccedilatildeo de uma criacutetica agraves exposiccedilotildees

e seus conteuacutedos A presenccedila nos museus mobiliza a memoacuteria e estimula a imaginaccedilatildeo Esse

movimento de rememoraccedilatildeo coloca os sujeitos em alerta com relaccedilatildeo ao presente Neste

processo de atualizaccedilatildeo dos conceitos estaacute em jogo uma busca coletiva para as dimensotildees

sensiacuteveis e questionamentos

A constante atualizaccedilatildeo de conceitos ou seja a historicidade que se configura como

duraccedilatildeo e mudanccedilas no tempo permite abordar o museu como um ldquogecircnerordquo que possui

regularidades permanecircncias mas que constantemente se reconfigura Eacute desta perspectiva que

apresento o Museu do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional visitados nessa pesquisa como

museus histoacutericos que conteacutem em seus acervos e expotildeem aos visitantes diversas concepccedilotildees de

museus aparentemente fora de uso na museologia contemporacircnea

Delinear uma leitura menos datada e historicista dos museus ou uma histoacuteria de museus

que se atualiza nos proacuteprios museus50

eacute resultado do confronto entre a pesquisa bibliograacutefica

sobre museus e as narrativas visuais dos visitantes O esforccedilo de leitura dos relatos e das

fotografias levou a um recorte que entrelaccedila os registros das visitas ao Museu do Escravo

(Figuras 11 e 12) do Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro (Figura 15) feitos pelos

visitantes e as imagens de museu dos chamados gabinetes de curiosidade (Figura 13) e galeria de

arte de priacutencipes (Figura 14)

Escolhi essas imagens para argumentar como os museus natildeo ficam presos ao passado e se

atualizam pela accedilatildeo dos visitantes E retomar tambeacutem a ideia de circuito e circularidade de

cultura atraveacutes de cinco imagens diferentes

50 Koselleck (1992 p134-145) propotildee uma histoacuteria dos conceitos que se investiga o processo de teorizaccedilatildeo dos

conceitos a partir de fontes documentais e formas verbais com experiecircncias histoacutericas concretas de associaccedilotildees

poliacuteticas e econocircmicas

83

As exposiccedilotildees do Museu do Escravo em Minas Gerais fotografadas por um estudante

(Figuras 11 e 12) e do Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro (Figura 15) satildeo confrontadas

agraves imagens de museu dos chamados gabinetes de curiosidade (Figura 13) e agrave galeria de arte de

priacutencipes (Figura 14)

O acervo do Museu do Escravo de Belo Vale (MG) inaugurado em 1988 pelo padre da

paroacutequia local Jacques Penido tendo em vista as comemoraccedilotildees do centenaacuterio da Aboliccedilatildeo da

Escravatura no Brasil pode ser interpretado como recoberto por vaacuterias camadas de sentido de

museu que circulam desde os gabinetes de curiosidade agraves galerias de arte Todo o acervo do

museu estaacute exposto Natildeo haacute uma reserva teacutecnica sequer um inventaacuterio e cataacutelogo das peccedilas

Objetos arqueoloacutegicos satildeo exibidos junto a reproduccedilotildees fotocopiadas de jornais indumentaacuterias

cenograacuteficas de um filme brasileiro e artefatos de culto religioso contemporacircneos Haacute uma

preocupaccedilatildeo em exibir instrumentos de tortura como gargantilhas de ferro mordaccedilas e tamancos

imensos que causam curiosidade e repulsa Tambeacutem satildeo criados cenaacuterios com um pelourinho que

fica no meio do paacutetio central rodeado por uma senzala Outras salas satildeo ocupadas com arte sacra

catoacutelica e peccedilas indiacutegenas

Figura 11 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

84

Figura 12 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

Aberto ao puacuteblico o Museu do Escravo natildeo tem materiais impressos e teima em

sobreviver agraves intempeacuteries naturais que desgastam o telhado e agraves mudanccedilas na poliacutetica local

municipal a cada quatro anos51

O Museu do Escravo parece estar em algum tempo entre os gabinetes de curiosidades e os

museus etnograacuteficos Conserva dos gabinetes natildeo apenas uma exposiccedilatildeo natildeo hierarquizada mas

um sentido atribuiacutedo aos objetos que fabricados pelo proacuteprio museu satildeo possuidores de uma

fluidez entre a natureza a arte e o artefato Tanto no gabinete de curiosidades quanto no Museu

do Escravo natildeo importa a histoacuteria do objeto tudo pode ser recolhido e serve ao propoacutesito de

saciar os curiosos Tambeacutem pode ser visto no Museu do Escravo um moderno ldquomuseu

etnograacuteficordquo que cria seu objeto a escravidatildeo a partir de sistemas de classificaccedilatildeo dos escravos

por criteacuterios tais como exoacuteticos simples preacute-alfabetizados primitivos selvagens para fazer a

denuacutencia moral da escravidatildeo O ldquooutrordquo o escravo eacute objeto do olhar dos visitantes mas eacute a

proacutepria visatildeo do museu que eacute avaliada

Considerado a partir da loacutegica dos visitantes o estudo sobre os museus coloca em questatildeo

o proacuteprio conceito de museu durante a visita O visitante questiona ao longo do percurso como o

museu constituiu referecircncias sobre suas proacuteprias funccedilotildees sociais e como estas auto-referecircncias se

expressam nas exposiccedilotildees

51 Ver Folder do Museu do Escravo produzido em 2002 Museus Mineiros Imprensa Oficial do Estado de Minas

Gerais No 14 abril de 2002

85

Entretanto eacute comum que a visita ao museu natildeo acrescente ao visitante informaccedilotildees

sobre o proacuteprio museu Quando muito o museu apresenta um pequeno resumo impresso de sua

trajetoacuteria em seus materiais de divulgaccedilatildeo mas quase nada da histoacuteria de seu acervo princiacutepios

expositivos e outros recursos aleacutem da expografia Fica a cargo do interesse do visitante comum

entender como cada museu reelabora sua memoacuteria ou sua heranccedila e como ele se apresenta aos

seus visitantes Os museus ainda se apresentam como gabinetes de curiosidades (Figura 13)

Figura 13 LEGATI Lorenzo Museu Cospiano Bolonha 1677

A imagem acima eacute uma reproduccedilatildeo do cataacutelogo publicado em Bolonha por Lorenzo

Legati para o gabinete de curiosidades de Ferdinando Cospi Cospi era um naturalista italiano que

adquiriu a coleccedilatildeo de Ulisse Aldrovandi (1522-1605) que por sua vez tinha interesse no que hoje

pode ser chamado de botacircnica zoologia e geologia Cospi acrescentou ao museu maravilhas

naturais muitas delas criadas por processos de taxidermia unindo paacutessaros e peixes O Museu

Cospiano tinha centenas de cabeccedilas de aves sereias e um anatildeo que exercia o duplo papel de fazer

parte da coleccedilatildeo e ser guia Conhecida hoje por meio de exposiccedilotildees e cataacutelogos parte dessa

86

coleccedilatildeo eacute exposta atualmente no Museu do Palaacutecio Pozzi em Bolonha52

No entanto no seacuteculo

XVII estava aberta a estudiosos e aristocratas

O lugar de produccedilatildeo da Imagem 14 eacute a esfera privada O tema da imagem tambeacutem esta

ligado ao mundo domeacutestico uma coleccedilatildeo e um colecionador particular Frederico I Hoje o lugar

fiacutesico O studiolo do priacutencipe foi restaurado e aberto agrave visitaccedilatildeo puacuteblica No seacuteculo XVII ficava

proacuteximo aos aposentados iacutentimos do priacutencipe e permitia a entrada de apenas uma pessoa de cada

vez Era uma eacutespeacutecie de compartimento secreto cujo programa iconograacutefico foi idealizado pelo

pintor e arquiteto da corte Giorgio Vasari e sua equipe Este aposento privado permitia preservar

os itens raros da coleccedilatildeo do monarca em armaacuterios inventariar e dar ordem aos itens colecionados

para que pudessem ser encontrados As pinturas encomendadas por Francisco I satildeo realizadas

tambeacutem por Vasari e outros pintores do seacuteculo XVII

Figura 14 VASARI Giorgio (1511-1574) Studiolo de Francisco I

Palazzo Vecchio Firenze 1570-1573

52Disponiacutevel em lt httpspecialcollectionslibrarywisceduexhibitschecklistsCabinetsCabinets_title_listhtmlgt

Acesso em 26 jun 2010

87

A escolha da imagem do gabinete de Frederico I (Figura 14) nessa pesquisa cujo tema eacute a

relaccedilatildeo dos visitantes com os museus permite algumas associaccedilotildees Primeiro a ampliaccedilatildeo da

dimensatildeo poliacutetica-puacuteblica pelo acessovisibilidade a bens culturais antes de uso limitado a um

nuacutemero pequeno pessoas Segundo pela ampliaccedilatildeo dos usos dos objetos chamados artiacutesticos ou

culturais em decorrecircncia das mudanccedilas nos suportes e modos de produccedilatildeo artiacutestica pelos quais

passaram a circular

A gravura do gabinete de curiosidades (Figura 13) e a imagem da galeria do priacutencipe

(Figura 14) apresentam lugares de guarda de coleccedilotildees Os temas e os conteuacutedos das obras satildeo os

objetos colecionados e o lugar onde estatildeo armazenados A coleccedilatildeo do gabinete de curiosidades e

da galeria de priacutencipe define quem tem acesso ao conteuacutedo desses ambientes e pode partilhar da

visibilidade da exposiccedilatildeo Apenas pessoas proacuteximas aos colecionadores

Entretanto ao reproduzir essas duas imagens aqui recoloca-se a questatildeo do lugar do

visitante diante dessas exposiccedilotildees Tanto a exposiccedilatildeo dos gabinetes quanto das galerias satildeo

privadas mas a reproduccedilatildeo por meio do desenho e da pintura as colocam em circulaccedilatildeo fora do

lugares de produccedilatildeo e do controle de seus proprietaacuterios Giorgio Vasari53

o pintor de Frederico I

talvez jaacute apontasse para essa necessidade de ampliaccedilatildeo do circuito do consumo de arte Ele

proacuteprio eacute tido como um dos precursores na produccedilatildeo de uma histoacuteria da arte ilustrada com cenas

da vida dos artistas que se populariza e se manteacutem atual agrave medida que continua sendo

reproduzida para um puacuteblico mais amplo

Do ponto de vista de visitantes contemporacircneos a funccedilatildeo do acervo de um museu natildeo eacute

apenas documental no sentido de fornecer evidecircncias para o trabalho da histoacuteria Para o visitante

ele estaacute diante de uma versatildeo contada pelo museu A coleccedilatildeo de objetos no museu eacute percebida

como natildeo aleatoacuteria O trabalho do museu eacute construir uma mensagem com a exposiccedilatildeo Ainda que

reconheccedila nos objetos e no acervo como um todo documentos de eacutepoca eacute a forma de

apresentaccedilatildeo dos objetos que ainda fornece o status de testemunho mostrando a importacircncia da

materialidade para a comprovaccedilatildeovalidaccedilatildeo das narrativas histoacutericas A exposiccedilatildeo como forma

53 Foram lanccediladas recentemente duas obras de VASARI Giorgio Vida de Michelangelo Buonarroti Ed Unicamp

2011 e Vidas dos artistas Martins Fontes 2011

88

de reunir um acervo que pertence ou natildeo a determinado museu lhe confere maior poder de criar

visibilidade

Eacute isso que parece fazer a visitante Fabiana Cristina dos Santos (Figura 15) que assim

como muitos de seus colegas reuacutene novamente o acervo do museu apoacutes sua visita e recria seu

percurso e o patrimocircnio do Museu Histoacuterico Nacional em uma nova exposiccedilatildeo

Figura 15 SANTOS Fabiana Cristina dos Montagem de fotografias

da visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

O mosaico de fotografias confeccionado pela visitante reuacutene elementos dispostos em

diferentes cenaacuterios no interior do preacutedio e a fachada do museu que registra a grade de seguranccedila

um letreiro com o nome do museu e bandeiras hasteadas Fotografias do acervo e natildeo dos

visitantes

32- Usos puacuteblicos e educativos dos museus

Os museus europeus e norte-americanos assumem a partir do seacuteculo XVIII uma relaccedilatildeo

com um novo habitante da cidade o cidadatildeo Algumas medidas para aproximar os viacutenculos entre

museus e cidadatildeos satildeo adotadas agrave medida que tambeacutem se transformam as relaccedilotildees com o

mecenato e o modelo de vinculaccedilatildeo com o Estado para encomenda e financiamento de atividades

89

culturais se consolida As mostras temporaacuterias os chamados salotildees conquistam regularidade e

visibilidade para a produccedilatildeo dos proacuteprios museus Tambeacutem satildeo editadas publicaccedilotildees com a

finalidade de analisar as exposiccedilotildees e direcionar o puacuteblico frequumlentador ndash como a de Diderot que

assume a criacutetica no Correspondence Litteacuteraire entre 1759 e 1781 que culmina com a publicaccedilatildeo

de Ensaios sobre a pintura em 1795 pouco depois da Criacutetica da Faculdade do juiacutezo de Kant

(1790) Iniciava-se um movimento de ampliaccedilatildeo do puacuteblico de apreciadores e de criacuteticos de arte

Diderot vai ser lido e comentado por escritores poetas filoacutesofos ao longo seacuteculo XIX entre eles

por Charles Baudelaire (1821-1867)

A criacutetica aos salotildees de Diderot (Salatildeo de 1765) e Baudelaire (Salotildees de 1846 e 1859)

constitui-se em momentos privilegiados para pensarmos o museu entre os seacuteculos XVIII e XIX

do ponto de vista de seus visitantes A discussatildeo sobre os museus pode ser ampliada no seacuteculo

XX com os visitantes Marcel Proust que publica sua grande obra Em busca do tempo perdido

entre 1913-1927 e Paul Valery cujo texto O problema dos museus eacute publicado pela primeira vez

em 1931 Esse diaacutelogo entre Valery e Proust sobre os museus eacute proposto por Adorno em texto de

1950 Aborda-se assim uma fortuna criacutetica que inicialmente era publicada em pequenos folhetos

e distribuiacuteda agrave porta dos Salotildees e se especializa em jornais da eacutepoca Estes criacuteticos antecipam

abordagens formulam criacuteticas conceitos e criteacuterios valorativos quanto aos fomentos ao gosto e

ao proacuteprio ato de adentrar os museus e visitar coleccedilotildees

90

Figura 16 BIARD Franccedilois Auguste (1798-1882) Quatro Horas no

Salatildeo (Quatre heures au Salon) Oacuteleo stela 57x67 cm Museu do

Louvre Paris 1847

O quadro de Auguste Franccedilois Biard54

pintor francecircs que chegou a vincular-se agrave corte

portuguesa no Brasil e foi professor da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro

apresenta de forma emblemaacutetica a presenccedila dos visitantes no encerramento do Salatildeo anual do

Louvre de 1847 Pessoas se acotovelando curiosos uma profusatildeo de vestes posturas e

expressotildees faciais As imagens expostas nas paredes parecem ter vida falar ao expectador

O grande nuacutemero de curiosos atestava a popularidade das exposiccedilotildees ou Salotildees que

tiveram suas primeiras versotildees no seacuteculo XVII no Palais-Royal restritas a um puacuteblico

selecionado Em 1727 os Salotildees foram abertos ao puacuteblico em nome do rei Luiz XV Junto com a

abertura dos Salotildees iniciou-se a publicaccedilatildeo de cataacutelogos e comentaacuterios descritivos das obras pelo

54 O pintor Auguste Franccedilois Biard nascido em Lyon em 1798 visita o Brasil entre 1858-1860 Eacute nomeado

professor da Academia Imperial de Belas-Artes executa retratos da famiacutelia imperial e membros da corte De volta agrave

Franccedila publica em 1862 publica um relato sobre o Brasil Ver httpwwwitauculturalorgbr

aplicexternasenciclopedia_icindexcfmfuseaction=artistas_biografiaampcd_item=1ampcd_idioma=28555ampcd_verbete

=1271Acesso em 2011

91

perioacutedico Mercure de France Surgiram os primeiros connaisseurs que se colocavam como

mediadores de uma criacutetica e de modelos de apreciaccedilatildeo e consumo da arte

Os elementos da criacutetica que comeccedilavam a se estabelecer culminariam numa nova

distinccedilatildeo entre connaisseurs e curiosos Diderot como criacutetico dos Salotildees aponta a supremacia do

sensiacutevel sobre o visiacutevel e compartilha da ideia de que os museus possuem uma funccedilatildeo educativa

Natildeo soacute para poucos frequentadores como os estudantes de arte que se serviam de uma

aprendizagem visual de estilos e obras mas num sentido universalizante do conhecimento cujos

produtores e consumidores de arte estariam em niacuteveis semelhantes Diderot defende uma

emancipaccedilatildeo do juiacutezo sobre o gosto mediante o julgamento das obras e da pertinecircncia dos temas

O sentimento uma qualidade subjetiva seria usado como criteacuterio pelo puacuteblico para avaliar as

obras Aquelas que lhes chegavam ao coraccedilatildeo despertando simpatia ou coacutelera Comoccedilatildeo

assombro choro coacutelera satildeo emoccedilotildees provocadas pelas obras do Salatildeo de 1765 em Diderot

Assim como para Diderot a descriccedilatildeo das emoccedilotildees eacute fundamental para a criacutetica de arte de

Baudelaire O pintor deveria provocar emoccedilotildees ao espiacuterito sem cair num sentimentalismo

forjado

Ao longo do seacuteculo XIX o puacuteblico dos museus se diversifica socialmente e culturalmente

ao compartilhar experiecircncias artiacutesticas tanto de fruiccedilatildeo quanto de produccedilatildeo Visitar salotildees

grandes exposiccedilotildees universais museus e adquirir objetos artiacutesticos ou mesmo ter aulas de pintura

e desenho faziam parte de haacutebitos culturais de camadas meacutedias e mesmo setores populares O uso

instrumental na induacutestria (ilustradores desenhistas) e a funccedilatildeo de formaccedilatildeo moral da arte

estavam proacuteximas Entretanto as imagens consumidas pelos segmentos populares como as

litogravuras emolduradas e o barulho que faziam nos salotildees satildeo reprovados por autoridades

como o criacutetico de arte agora um especialista em apreciar e julgar a obra

Baudelaire apresenta esse novo lugar da criacutetica que julga a mediocridade do puacuteblico e

pretende lhe dar formaccedilatildeo (informaccedilatildeo e publicidade) sobre as exposiccedilotildees Baudelaire dirige-se

aos compradores pouco instruiacutedos que deveriam ser iniciados na ciecircncia da fruiccedilatildeo Colecionar

arte era vincular-se a uma tradiccedilatildeo de bom gosto e oportunidade de ascensatildeo cultural Implicava

em reconhecimento da sofisticaccedilatildeo e do gosto do Antigo Regime como um padratildeo para os setores

meacutedios emergentes no espaccedilo poliacutetico

92

O especialista conhecedor de arte como apontam as caricaturas de Rockwell (Imagens 17

e 18) habita fisicamente o mesmo lugar que os curiosos e turistas mas se diferenciava deles por

possuiacuterem criteacuterios mais pormenorizados para observar a arte e se manterem em parcerias com

compradores e pintores

Figura 17 ROCKWELL Norman (1894-1978) O criacutetico de arte 1955

Ilustraccedilatildeo da capa de The Saturday Evening Post 16 de abril de 1955 Oacuteleo

sobre tela (1003 x 921 centiacutemetros) Coleccedilatildeo Museu Norman Rockwell

Figura 18 ROCKWELL Norman (18941978) O connaisseur 1962

Oacuteleo sobre tela Ilustraccedilatildeo produzida para a ediccedilatildeo do Saturday

Evening Post 13 jan 1962 Coleccedilatildeo Particular

93

Quem olha quem O quadro observado pelo criacutetico na Figura 17 tem vida e lhe olha de

volta O respeitoso senhor vestido em trajes solenes na Figura 18 eacute observado ou observa a

pintura colorida O pintor dos dois personagens propotildee elementos de digressatildeo imaginaccedilatildeo e

simultaneidade do olhar Para ler os quadros o espectador entra num jogo de espelhos sugerido

pelo pintor e percebe-se a si mesmo emoldurado por seu reflexo

Pode-se imaginar que tanto Paul Valery quanto Marcel Proust55

poderia estar entre os

visitantes apresentados nos quadros de Biard (Figura 16) e Rockwell (Figuras 17 e 18) Pode-se

tambeacutem imaginar ouvir a conversa entre os dois visitantes de fins do seacuteculo e iniacutecio do seacuteculo XX

com a ajuda do ensaio Museu Valery-Proust publicado originalmente em 1953 por Adorno

Valery eacute apresentado por Adorno (2005) como um artistaprodutor que cria objetos

poesias um especialista que olha a arte com toda a profundidade do ponto de vista da criaccedilatildeo

lugar do qual recebe sua profundidade O que importava para o poeta era a obra de arte como

objeto de contemplaccedilatildeo E esta se via ameaccedilada pela coisificaccedilatildeo e a indiferenccedila

O museu era o responsaacutevel por essa corrupccedilatildeo e fossilizaccedilatildeo das obras Valery se

horroriza ao caminhar pelas galerias do Louvre que para ele condenava a arte ao passado com

sua super acumulaccedilatildeo e a torna uma questatildeo de educaccedilatildeo e informaccedilatildeo Para Valery nos diz

Adorno a arte estaacute morta perdeu seu lugar na vida imediata sua relaccedilatildeo com um uso possiacutevel

Vecircnus se transformou em documento e ao visitante era recusada a possibilidade de vagar e errar

pelos museus

Proust na visatildeo de Adorno comeccedila onde Valery silencia na vida poacutestuma das obras e foi

menos ingecircnuo com relaccedilatildeo agrave arte Proust era um consumidor admirador um amante das artes

que estava separado das obras por um fosso Para Adorno era essa a grande virtude de Proust

assumir de forma firme essa postura de consumidor a ponto de transformar essa atitude em um

novo tipo de produtividade A forccedila da contemplaccedilatildeo do interno e do externo culminava em

Proust em produccedilatildeo de lembranccedilas memoacuterias

Para Adorno Proust era melhor visitante de museus que Valery E argumentou Em

Valery o processo de produccedilatildeo artiacutestica e a reflexatildeo sobre esse processo estavam

55 Ver Paul Valery O problema dos Museus Revista do patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional N31 2005 p32-

35 Marcel Proust tem diversas inferecircncias em sua obra Em busca do tempo perdido Satildeo Paulo Abril Cultural 1979

94

indissoluvelmente interligados Ele eacute o proacuteprio criteacuterio de julgamento da composiccedilatildeo da obra e da

experiecircncia que se tem por meio dela A criacutetica de Valery eacute conservadora em termos de cultura

pois o uacutenico criteacuterio coincidia com seu proacuteprio juiacutezo de gosto

Jaacute Proust estava livre desse fetichismo de quem fazia ele proacuteprio as coisas e entendia as

obras naquilo que elas tinham de esteacutetico rdquoum fragmento de vida daquele que as contempla um

elemento da proacutepria consciecircnciardquo (Adorno 2005 p179)

Proust tinha acesso a uma camada da obra que pressupunha a sua morte e assim a

sensibilidade para perceber o histoacuterico como paisagem Percebia a erosatildeo que a histoacuteria produzia

nas obras e a capacidade de sobrevivecircncia delas agrave semelhanccedila com o belo e o natural A

decadecircncia das coisas para Proust era uma segunda vida Soacute subsistia aquilo que era mediado

pela recordaccedilatildeo A qualidade esteacutetica era secundaacuteria

Walter Benjamin (2006 p603) tambeacutem convocou a opiniatildeo de Proust sobre os museus

para diferenciar a apreciaccedilatildeo de um quadro colocado de maneira isolada numa sala de jantar e

uma visita ao museu Soacute a sala de museu por sua nudez e seu despojamento de todas as

particularidades pode proporcionar a embriagante alegria dos espaccedilos interiores onde o artista se

retirou para criar

O aspecto caoacutetico do museu desagradava Valery O museu era lugar da barbaacuterie e natildeo de

cultura que tinha um caraacuteter sagrado vivo Jaacute Proust fez a defesa do museu mas era critico em

relaccedilatildeo agrave cultura ou agrave tradiccedilatildeo cultural exposta nos museus que ele experimentava reagia se

contaminando pela vida poacutestuma das obras

33 - Maneiras de ver e ser visto nos museus

O Louvre como modelo de instituiccedilatildeo museal agrega ao sentido moderno de museu a

ideacuteia de instruccedilatildeo puacuteblica contraposta ao museu de curiosidade e frivolidade presente nos

gabinetes de curiosidade e galerias reais O programa poliacutetico de gestatildeo dos bens culturais do

Louvre estava assim completo na Franccedila revolucionaacuteria inventariar e conservar toda a extensatildeo

de objetos que possam servir agraves artes agraves ciecircncias e ao ensino

O tema da apropriaccedilatildeo do patrimocircnio dos legados do passado estaacute presente no museu

francecircs e continua atual na discussatildeo sobre as poliacuteticas de memoacuteria O museu iluminista ou

95

enciclopedista estaacute aberto a todos os domiacutenios do conhecimento Eacute conservatoacuterio local de estudo

e produccedilatildeo do conhecimento

Para Brefe (1998) o museu puacuteblico moderno eacute ineacutedito no sentido de seu conteuacutedo e sua

forma de exposiccedilatildeo As obras herdadas do regime republicano na Franccedila perderam suas antigas

funccedilotildees e relaccedilotildees com o universo poliacutetico e social Era necessaacuterio construir um novo modo pelo

qual seriam lidas e ao mesmo tempo produzir novas imagens de legitimaccedilatildeo da revoluccedilatildeo Com a

radicalizaccedilatildeo do regime a chamada era do terror instalou-se a incompatibilidade entre a

ideologia da revoluccedilatildeo e obras de arte e monumentos do Antigo Regime seguida de uma onda de

ataques com a destruiccedilatildeo e depredaccedilatildeo de siacutembolos da realeza do feudalismo e do despotismo

O museu surge como o lugar que ldquodesacraliza e neutraliza os siacutembolos e imagens fazendo-os ou

ascender ou reduzindo-os ao estatuto de objetos culturaisrdquo (BREFE 1998 p307)

Haacute uma nova dimensatildeo poliacutetica para o museu Seu papel eacute estrateacutegico em relaccedilatildeo agrave

justificativa cultural do poder O museu ao conservar aquelas obras inventa um sentido para o

patrimocircnio evitando expor de maneira expliacutecita os siacutembolos nelas contidos sua ideologia Ele

destroacutei natildeo a obra de arte mas a mostra a partir do que a cultura do museu julga pertinente O

museu participa ativamente da mudanccedila do estatuto do objeto Ele perde suas significaccedilotildees

anteriores e entra num novo dispositivo simboacutelico uma memoacuteria outorgada

Os museus tambeacutem oferecem duas contribuiccedilotildees para se redefinir a dimensatildeo poliacutetica no

sentido de puacuteblica na Franccedila A primeira eacute a defesa da universalidade do patrimocircnio agrave medida

que se elabora uma lista de obras canocircnicas que servem de referecircncia a todas as naccedilotildees europeacuteias

a partir do legado do patrimocircnio francecircs A segunda contribuiccedilatildeo eacute identificar uma dimensatildeo

histoacuterica na cultura um passado cuja existecircncia justifica a conservaccedilatildeo A Revoluccedilatildeo natildeo pode

apagar a histoacuteria ao contraacuterio ela procurou criar uma determinada ldquoconsciecircncia histoacutericardquo como

ponto de partida para um novo recomeccedilo ou regeneraccedilatildeo Haacute uma heranccedila a ser gerida e o museu

eacute instrumento poliacutetico desse direito de dominar a histoacuteria e recolher o patrimocircnio dos seacuteculos ou

o proacuteprio passado

Receptaacuteculo de todas as obras-primas da humanidade jaacute que a Franccedila eacute a paacutetria ideal o

museu neutraliza o discurso da pilhagem que passa a ser visto como repatriamento Abriu-se em

fins do seacuteculo XVIII novo debate natildeo soacute sobre o espaccedilo de exposiccedilatildeo e o que eacute um museu mas

sobre o poder de instituir sentidos que lhe eacute conferido ao sacralizar as obras para aleacutem de seu

96

estatuto de objetos culturais como ldquotesouros conquistadosrdquo Uma nova funccedilatildeo como ldquomemorial

da naccedilatildeordquo ou ldquotemplo da memoacuteriardquo e natildeo apenas de ldquoinstituiccedilatildeo de instruccedilatildeo puacuteblicardquo como

requeriam o projeto enciclopedista eacute que tomou forccedila no seacuteculo XIX

A visualidade nos museus estaacute ligada agrave poliacutetica e agrave capacidade cada vez mais elaborada

de controle racionalcientiacutefico do mundo moderno de teacutecnicas para registrar documentar e

codificar o conhecimento Benedict Anderson (2008 p221) observou que o mundo moderno se

caracteriza pela unidade de visualizar coisas que natildeo satildeo visiacuteveis ou visuais o censo o mapa e o

museu

Para Anderson todo museu pode ser visto como um programa educativo principalmente

porque o museu moderno (seacuteculo XIX) estaacute ligado profundamente a aspectos do poder poliacutetico e

dos sistemas poliacuteticos educacionais modernos Os museus produzem e reproduzem hierarquias

sociais ideologias e tambeacutem assumem um papel na produccedilatildeo de imagens de raccedila povo naccedilatildeo

criando legitimidades sociais Ligam-se diretamente ao Estado e apresentam-se como guardiotildees

da tradiccedilatildeo geral e local conferem prestiacutegio aos lugares e objetos Satildeo lugares sem pessoas

desabitados exceto pela frequumlentaccedilatildeo turiacutestica satildeo dessacralizados A dimensatildeo poliacutetica dos

museus se daacute nos materiais produzidos nos censos pictoacutericos do patrimocircnio disponiacutevel As

imagens satildeo reproduzidas infinitamente no cotidiano via manuais escolares postais selos de

modo que a musealizaccedilatildeo poliacutetica se torna celebraccedilotildees comemoraccedilotildees e emblemas da identidade

nacional

O museu para Anderson eacute uma forma de imaginaccedilatildeo da Histoacuteria e do poder mas a

imaginaccedilatildeo aqui tem um caraacuteter de conservar as formas da histoacuteria de criar comunidades

imaginadas O museu eacute como um ldquoaacutelbumrdquo dos antepassados ao longo do tempo que pode ser

herdado pelos sucessores Um ldquoventriloquista nacionalistardquo um desejo de falar pelos mortos

Guardam entretanto um paradoxo entre sua luta contra o esquecimento (lembranccedila) e a

necessidade do proacuteprio esquecimento mecanismo tiacutepico das genealogias que realizam

ldquofratriciacutedios tranquumlilosrdquo em nome do ldquodever de jaacute ter esquecidordquo A ambiccedilatildeo educativa dos

museus neste caso eacute a dissoluccedilatildeo de conflitos violentos raciais de classes regionais e a

construccedilatildeo de uma nova consciecircncia Haacute a passagem da memoacuteria agrave histoacuteria oficial A narrativa da

ldquoidentidaderdquo da consciecircncia eacute inscrita em um tempo secular uma seacuterie de implicaccedilotildees de

continuidades e esquecimentos da experiecircncia A ldquobiografia da naccedilatildeordquo escrita pelos museus eacute o

97

acuacutemulo das guerras holocaustos mortes violentas que tecircm de ser lembradasesquecidas como

nossas (ANDERSON 2008 p268)

Se para Anderson a memoacuteria eacute hierarquizada no museu por uma poliacutetica de memoacuteria para

Walter Benjamin (2006) o sentido pedagoacutegico da memoacuteria e da narrativa no museu eacute distinto O

museu eacute visto como capaz de problematizar a racionalidade das imagens da histoacuteria Enquanto

Anderson vecirc o museu como um edifiacutecio soacutelido uma instituiccedilatildeo Benjamin vivencia o museu

como um sonho um labirinto imaginaacuterio enraizado na histoacuteria mas (e por essa razatildeo) permite

articular o instante e a duraccedilatildeo num mergulho na proacutepria experiecircncia (sensibilidade)

O museu para Benjamin eacute por definiccedilatildeo moderno mas um novo que sempre existiu

Como afirma Michelet sobre a vista de uma paisagem da Charneca eacute sempre nova e sempre

igual Natildeo eacute a mesma sequer semelhante mas se exprime pelas coisas presentes Uma atitude

que entende o museu como aquele capaz de ressuscitar os mortos ou de tornar a histoacuteria viva

como acontece no percurso de Michelet pelo Museu dos Monumentos Franceses organizado por

Alexandre Lenoir56

e seu encontro com a histoacuteria viva da Franccedila e seus heroacuteis meroviacutengios

O primeiro movimento alegoacuterico de Benjamin eacute transformar o museu em morada do

sonho coletivo em metamorfose do interior O museu eacute um rito de passagem vivecircncia de

transiccedilatildeo caminhada por caminhos fantasmagoacutericos em que as portas cedem e as paredes se

abrem Essa atitude diante dos museus e das obras de arte natildeo eacute meramente contemplativa e nem

um comportamento aacutevido diante de mercadorias expostas O museu para Benjamin mobiliza o

visitante Coloca no cotidiano a utopia coisas que ningueacutem jamais experimentou mas que

deveriam lhes caber

As estrateacutegias de exibiccedilatildeo dos museus e a criaccedilatildeo de novos museus entretanto natildeo satildeo

vistas com ingenuidade por Benjamin Ele faz uma criacutetica das exposiccedilotildees universais e as via

como siacutenteses prematuras que fecham o espaccedilo para o novo e impediam a ventilaccedilatildeo das classes

Para Benjamin os produtos industriais projetados no passado eram organizados segundo

princiacutepios estatiacutesticos e a accedilatildeo de exibiccedilatildeo seria terapecircutica Visava rejuvenescer tonificar

restabelecer recuperar conservar e aperfeiccediloar os encantos da natureza que se definhavam e

morriam

56 O Museu de Lenoir precede agrave abertura do Louvre e teve curta duraccedilatildeo (1795-1816)

98

As exposiccedilotildees universais satildeo criticadas e exemplificam a passagem do caraacuteter efecircmero

que deixam rastros como a Torre Eiffel edificada como o arco de entrada da Exposiccedilatildeo

Universal de 1889 e transformada posteriormente em monumento O tempo de preparo e de

duraccedilatildeo de um empreendimento como uma exposiccedilatildeo guarda esse sentido agudo da histoacuteria Para

que seja compreendido esse tempo o criacutetico e o espectador deveriam operar em si mesmos uma

transformaccedilatildeo que eacute um misteacuterio um fenocircmeno da vontade agindo sobre a imaginaccedilatildeo Ele deve

aprender por si mesmo a participar do meio que deu origem a essa ldquofloraccedilatildeo insoacutelitardquo esse

sentido de ausecircncia em presenccedila de algo Essa emoccedilatildeo na qual o viajante se abandona a si mesmo

e muda sua visatildeo (Benjamin 2006 p236)

Figura 19 ANDRADE Aleacutecio Fotografia 1993 Cataacutelogo da

exposiccedilatildeo ldquoO Louvre e seus visitantesrdquo Instituto Moreira Salles 2009

A fotografia de Aleacutecio Andrade acima desperta o sentimento de interioridade do visitante

que resiste ao modelo temporal de museu e sua forma de apresentaccedilatildeo do passado O visitante se

apresenta no presente e se define na relaccedilatildeo com o museu estatildeo envolvidos em presenccedila do

invisiacutevel tem os olhos e os corpos na exposiccedilatildeo criada pelo fotoacutegrafo O cenaacuterio eacute o mesmo dos

Salotildees do seacuteculo XVIII (Figura 19)

99

Os visitantes das fotografias de Aleacutecio Andrade evocam o sentido poeacutetico dos museus que

se apresentam como colecionadores de alegorias e natildeo de siacutembolos (BENJAMIN 2006 p 237-

239) O visitante se transporta para dentro do museu e o acolhe em seu espaccedilo interior Visitar eacute

possuir os objetos eacute utilizaacute-los novamente libertando-os de serem inuacuteteis O alegorista

entretanto diferente do colecionador natildeo reuacutene as coisas afins natildeo estabelece sucessotildees natildeo

empreende uma luta contra a dispersatildeo mas desliga as coisas de seus ldquocontextosrdquo natildeo permite

prever e fixar os significados Abrem-se assim agraves transparecircncias porosidades e a possibilidade de

apropriar do princiacutepio e da forma

34 - A funccedilatildeo educativa nos museus entre os museus escolares e os pedagoacutegicos

A fundaccedilatildeo de museus no Brasil antecede a criaccedilatildeo das universidades Os museus

brasileiros foram durante o seacuteculo XIX o principal loacutecus de produccedilatildeo de cientistas praacuteticas de

preservaccedilatildeo e de uso educacional do patrimocircnio Tambeacutem se formaram como arenas de disputa

por versotildees do passado e campo de elaboraccedilatildeo intelectual criacutetica em relaccedilatildeo a outras instituiccedilotildees

poliacuteticas e culturais57

O Museu Nacional localizado na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro eacute considerado

desde sua inauguraccedilatildeo em 1818 a principal referecircncia de instituiccedilatildeo cultural Nos anos de 1920-

1930 eacute visto como modelo de museu para os intelectuais reformadores da educaccedilatildeo nacional

Outras instituiccedilotildees educativas e culturais como as universidades teratildeo espaccedilo no cenaacuterio

institucional tambeacutem nos anos de 1930 em funccedilatildeo das reformas de ensino de 1927-1930 quando

eacute definido por decreto-lei o Estatuto das Universidades Brasileiras e criada a Universidade do Rio

de Janeiro em 1931 (LEMME 1984 p171)

Escola e museus foram organizados de maneira distinta ao longo do seacuteculo XIX e para se

aproximarem precisavam que fosse elaborado um campo de interseccedilatildeo de atuaccedilatildeo e uma

concepccedilatildeo comum acerca de suas finalidades Diana Vidal (1999 p107-116) chama a atenccedilatildeo

para o significado do museu escolar em fins do seacuteculo XIX seu papel como dispositivo

pedagoacutegico que se define como ldquouma reuniatildeo metoacutedica de coleccedilatildeo de objetos comuns e usuais

57 Margaret Lopes desenvolve importante pesquisa sobre os museus brasileiros e latino americanos no seacuteculo XIX

Ver Lopes 1997 1998 2001 e 2005

100

destinados a auxiliar o professor no ensino de diversas mateacuterias do programa escolarrdquo (VIDAL

1999 p 108)

Entretanto ao longo do seacuteculo XX o movimento de aproximaccedilatildeo entre museus e

educaccedilatildeo natildeo foi nada natural e pressupunha accedilotildees poliacuteticas efetivas para a ampliaccedilatildeo da ideacuteia de

educaccedilatildeo para aleacutem das instituiccedilotildees escolares e de princiacutepios de organizaccedilatildeo mais democraacuteticos

Quanto aos museus era necessaacuterio que fossem concebidos como parte do projeto de educaccedilatildeo

geral ou do povo Essa dupla face da transformaccedilatildeo da concepccedilatildeo e finalidade de museus e

escolas eacute o que vemos no movimento da chamada escola nova e que tem por marco institucional

o ldquoManifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Novardquo (1932) lanccedilado no calor da Revoluccedilatildeo de 1930

que defendia uma escola promovida pelo Estado laica gratuita e obrigatoacuteria (ESTEVES 1994

p 52-72)

Os trecircs autores escolhidos e apresentados satildeo os primeiros a publicar no Brasil uma

literatura especiacutefica considerando as relaccedilotildees entre museus e educaccedilatildeo Francisco Venacircncio Filho

(1941) Joseacute Valladares (1946) e Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) possuem muito em

comum e dialogam entre si citando as pesquisas e publicaccedilotildees de seus contemporacircneos

Participaram juntamente com Everardo Backheuser Heitor Lira da Silva e outros da criaccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo em 1924 Venacircncio Filho acompanharia de perto as reformas

educacionais de Carneiro Leatildeo Fernando de Azevedo Aniacutesio Teixeira Francisco Campos e

Gustavo Capanema Foi superintendente de Ensino Teacutecnico e diretor da Escola Normal Publicou

em 1932 com Jonatas Serrano o livro Cinema e Educaccedilatildeo pela Companhia Melhoramentos

A questatildeo central a ser destacada nessa bibliografia estritamente ldquonacionalrdquo eacute como ela

elabora os princiacutepios da relaccedilatildeo entre os museus europeus e brasileiros Quais paracircmetros de

comparaccedilatildeo satildeo adotados pelos autores brasileiros e quais satildeo os modelos que serviriam agrave obra

reformadora nacional A segunda questatildeo a ser investigada eacute como definem a relaccedilatildeo museus e

educaccedilatildeo qual o papel dos museus e qual o papel da escola Outro ponto que mobiliza eacute o

proacuteprio destinataacuterio desses discursos educativos nos anos de 1930-1940 Como estes autores

dirigiam-se ora especificamente ao puacuteblico escolar (professores e alunos) ora agrave populaccedilatildeo como

um todo ou o ldquopovordquo Como implicam os agentes governo sociedade organizada indiviacuteduos

pela resoluccedilatildeo do ldquoproblema nacional a educaccedilatildeordquo

101

Do ponto de vista das discussotildees teoacutericas e inovaccedilotildees praacuteticas na educaccedilatildeo Diana Vidal

(2000) ressalta que os chamados educadores renovados ndash Lourenccedilo Filho Fernando de Azevedo

dentre outros ndash natildeo soacute acompanhavam os movimentos realizados na educaccedilatildeo europeacuteia e norte-

americana como se utilizavam dessa literatura estrangeira para respaldar sua accedilatildeo educativa no

territoacuterio nacional (VIDAL 2000 p513)

Os autores destacados nesta anaacutelise que discorrem sobre a relaccedilatildeo museus-educaccedilatildeo

utilizam em seus argumentos o recurso ao ldquoestrangeirordquo como via de matildeo dupla Natildeo haacute por

exemplo em Joseacute Valladares (1946) nem em Edgar Sussekind de Mendonccedila (1946) nenhum

deslumbramento com os museus visitados por eles fora do paiacutes Eles natildeo deixam que a seduccedilatildeo e

encantamento com os museus europeus e norte-americanos se sobreponham aos seus propoacutesitos

de avaliar e comparar tendo em vista a melhoria dos museus no Brasil As visitas agraves instituiccedilotildees

estrangeiras e as consideraccedilotildees que explicitam servem ao propoacutesito de reforccedilar certa erudiccedilatildeo e o

conhecimento de causa Natildeo visam simplesmente desqualificar a realidade nacional frente ao

internacional

Assim como as viagens e excursotildees os escolanovistas consideram os museus como

dispositivos de educaccedilatildeo ou materiais pedagoacutegicos a serem utilizados para melhor aparelhar a

escola moderna Em outro sentido os museus satildeo ldquograndes casas de educaccedilatildeo ao alcance de

todos a qualquer momento graccedilas a uma teacutecnica de exposiccedilatildeo e mostruaacuterios em que nenhum

pormenor eacute descuidado desde a arrumaccedilatildeo ateacute a cor e forma dos letreirosrdquo (VENAcircNCIO FILHO

1941 p128) Esse otimismo com relaccedilatildeo ao papel educativo dos museus eacute partilhado por Joseacute

Valladares e Edgar Suumlssekind de Mendonccedila

Francisco Venacircncio Filho (1894-1946) destacou-se ao longo de sua vida puacuteblica como um

dos colaboradores diretos de Fernando de Azevedo e publica como ldquoprofessor do Instituto de

Educaccedilatildeo do Distrito Federal e livre docente do Coleacutegio Pedro IIrdquo o volume 38 da 3ordf Seacuterie de

Atualidades Pedagoacutegicas da Biblioteca Pedagoacutegica Brasileira com o tiacutetulo Educaccedilatildeo e seu

aparelhamento Moderno brinquedos cinema raacutedio fonoacutegrafo viagens e excursotildees museus e

livros em 1941 pela Companhia Editora Nacional

Para Venacircncio Filho (1941 p13) e outros intelectuais da chamada escola nova a

educaccedilatildeo eacute vida Busca no diaacutelogo e na autoridade de Afracircnio Peixoto (1876-1947) aproximar o

campo que o colega designara como ldquoeducaccedilatildeo orgacircnicardquo e de outra a ldquoescolarrdquo Para o autor o

102

ldquoaparelhamento modernordquo procura eliminar a distacircncia entre ambos os meios de educaccedilatildeo

(VENAcircNCIO FILHO 1941 p13) A educaccedilatildeo formal e a informal estatildeo imbricadas numa

educaccedilatildeo geral para a qual contribuem ldquoos instrumentos que nasceram na escola e transbordaram

dela para a vidardquo e os que ldquovieram de fora para a escola e vatildeo auxiliando colaborando com a sua

obrardquo multiplicando em extensatildeo e intensidade Esses instrumentos que poderiacuteamos chamar de

dispositivos tem uma accedilatildeo extensiacutevel e imprevisiacutevel (VENAcircNCIO FILHO 1941 p14)

A mesma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo geral eacute explicitada por Edgar Sussekind de Mendonccedila e

Jose Valladares Mendonccedila em seu texto A extensatildeo cultural nos museus publicado pela

Imprensa Nacional em 1946 compartilha dos pressupostos de Venacircncio Filho e o cita por

diversas vezes Elaborado para concurso de provas58

para ser transferido a pedido da diretora do

Museu Nacional Heloiacutesa Alberto Torres para a receacutem criada Seccedilatildeo de Extensatildeo Cultural do

museu o texto pode ser entendido como sugere o proacuteprio autor como uma carta programa do

novo diretor e da nova seccedilatildeo do Museu

Procedimento comum aos trecircs autores destacados Edgar Sussekind de Mendonccedila (1941)

tambeacutem inicia sua exposiccedilatildeo propondo a inversatildeo na forma de interpretar os termos educaccedilatildeo

supletiva e educaccedilatildeo escolar para definir o campo de atuaccedilatildeo dos museus em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Como jaacute enfatizado por Venacircncio Filho o projeto de educaccedilatildeo popular eacute abrangente universalista

e a escola eacute apenas uma das instituiccedilotildees capazes de responder agrave demanda por educaccedilatildeo As

instituiccedilotildees de ensino eacute que satildeo supletivas na visatildeo de Mendonccedila (1941 p9) a educaccedilatildeo extra-

escolar eacute que designa o todo e natildeo aquela educaccedilatildeo intra-escolar A extensatildeo cultural eacute dentro

dessa visatildeo a educaccedilatildeo generalizada e os museus por direito de antiguidade tecircm papel

insubstituiacutevel e preponderante de realizaacute-la

Ao considerar as ldquoexcursotildees e viagensrdquo como ldquomeio pedagoacutegicordquo a primeira questatildeo

levantada satildeo as dificuldades de execuccedilatildeo em ambiente escolar recursos tempo ajustamento de

horaacuterios A sugestatildeo dada pelo autor eacute bastante conciliadora Do ponto vista geral ele defende que

ldquonas viagens se pode rever em breve e rapidamente o que nos legou o passado ou o que nos daacute o

presente em arte em ciecircncia em induacutestria em costumes atraveacutes dos inuacutemeros museus

espalhados pelo mundo inteirordquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p15)

58 Segundo informa o proacuteprio autor o texto foi elaborado no prazo de trinta e cinco dias sendo que Mendonccedila

utilizou vinte e cinco para consulta a livros (MENDONCcedilA 1946 p25)

103

Do ponto de vista efetivo o problema eacute como realizar em larga escala viagens de luxo

recreio e de cultura aos Estados Unidos e Europa como fazem os intelectuais escolanovistas Natildeo

eacute simples conciliar os princiacutepios e a accedilotildees Embora deseje defender essa praacutetica ldquoadmiraacutevelrdquo

Venacircncio Filho alerta que na escola eacute preciso uma soluccedilatildeo mais viaacutevel planejar bem expor

previamente aos alunos e propor saiacutedas livres de grupos aos domingos e feacuterias para cultivar o

gosto e o ldquohaacutebito de prazeres sadios e econocircmicosrdquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p117)

As consideraccedilotildees sobre as excursotildees vatildeo se formando a partir de argumentos que juntam a

defesa do interesse da crianccedila e de suas condiccedilotildees para realizar excursotildees no qual cita os

americanos e seu programa de sugestotildees de excursotildees para diferentes idades entre 3 a 5 anos e a

defesa da ldquocultura europeacuteia como o padratildeo de civilizaccedilatildeo frente a ldquogleba nativardquo da ldquopaisagem

exoacuteticardquo da Ameacuterica (VENAcircNCIO FILHO 1941 p120) Cita nesse caso versos de Olavo Bilac e

a replica de Afracircnio Peixoto que exaltam Nova York (VENAcircNCIO FILHO 1941p122)

Os benefiacutecios das viagens parecem se afastar daquelas possibilidades efetivas do trabalho

escolar e o autor estaacute a endereccedilar seus conselhos a um provaacutevel viajante ldquonativordquo supostamente

adulto com pouca familiaridade com viagens e excursotildees e que necessite de orientaccedilotildees para

preparar-se culturalmente para a viagem Nosso autor parece estar plenamente qualificado para

relatar sua vasta experiecircncia cultural com viagens internacionais e ajudar na divulgaccedilatildeo dessa

praacutetica cultural

Quanto aos guias impressos o autor sabe indicar quais satildeo os melhores Em relaccedilatildeo agraves

grandes agecircncias de turismo elas ldquodevem ser utilizadas com inteligecircnciardquo Comprar poucas

lembranccedilas procurar hoteacuteis proacuteximos agraves estaccedilotildees preccedilos acessiacuteveis calcular despesas por dia

cacircmbio escolher os tipos de companheiros de viagem satildeo recomendaccedilotildees importantes Venacircncio

Filho deixa claro seu gosto pelas viagens sonho antes alegria durante e evocaccedilotildees depois

Os museus aparecem como ldquomeacutetodosrdquo um dos pilares para a melhoria da educaccedilatildeo ldquoum

ensino centrado na crianccedila e natildeo no professor e a educaccedilatildeo como preparaccedilatildeo para a vidardquo59

Os

museus ajudariam tambeacutem no ensino da histoacuteria baseada excessivamente em compecircndios e

criticada por seu excesso de memorizaccedilatildeo e acuacutemulo de datas O proacuteprio Jonathas Serrano que

tem seu compecircndio publicado em 1912 e utilizado ateacute 1924 contando com 54 ediccedilotildees explicita jaacute

59 Edgar Sussekind de Mendonccedila tambeacutem questionava a importacircncia exagerada dada agrave escola no ldquoconjunto da tarefa

educacionalrdquo (MENDONCcedilA 1946 p10)

104

em 1918 (4ordf ediccedilatildeo) a criacutetica aos processos de ensino de Histoacuteria exaustivos baseados na

memorizaccedilatildeo Serrano mostrava-se otimista quanto aos ldquoprogressos dos recursos tecnoloacutegicos

como o cinematoacutegrafo que permite ensinar pelos olhos e natildeo apenas e enfadonhamente pelos

ouvidosrdquo (SCHMIDT 2004 p197)

Venacircncio Filho (1941) faz a descriccedilatildeo de vaacuterios museus classificados como mistos de

histoacuteria e ciecircncias como o British Museum e o Louvre mas deteacutem-se na descriccedilatildeo do ldquonosso da

Quinta da Boa Vista em que se resume a natureza de uma vida da regiatildeordquo (VENAcircNCIO FILHO

1941 p128) Dando continuidade a uma tipologia dos museus Venacircncio Filho apresenta como

museu histoacuterico exemplar o Museu do Ipiranga Ao final do capiacutetulo faz consideraccedilotildees raacutepidas

sobre o Museu Goeldi no Paraacute e retoma suas observaccedilotildees sobre o Museu Nacional da Quinta da

Boa Vista e o Museu Paulista Satildeo Paulo Ao longo do capiacutetulo cita a curta existecircncia dos museus

pedagoacutegicos organizados na reforma da instruccedilatildeo puacuteblica do Rio de Janeiro de Fernando

Azevedo (1927-1930) tendo um museu central no entatildeo Distrito Federal dirigido por Everardo

Backheuser (1879-1951) do qual fala no ldquopresente do indicativordquo pois ldquocomo desapareceu

passou para o passadordquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p143)

Eacute curioso notar que Venacircncio filho natildeo descreve o projeto dos museus pedagoacutegicos nem

mesmo recomenda sua criaccedilatildeo nas salas ou escolas Os modelos de museus estatildeo nos grandes

centros como o Museu de Munich ao qual dedica duas paacuteginas para expor como satildeo os museus

teacutecnicos e sua importacircncia para a educaccedilatildeo popular Dedica tambeacutem uma descriccedilatildeo

pormenorizada do Deustches Museum apresentando as salas as divisotildees das exposiccedilotildees fiacutesica

quiacutemica tempo Cita os museus norte-americanos e avalia dois museus brasileiros o Museu

Nacional (RJ) o Museu Paulista (SP)

O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista foi para Venacircncio Filho ldquogrande centro

cientiacutefico do paiacutes do qual partiam os uacutenicos fios de ligaccedilatildeo com o mundo cultordquo Jaacute o Museu

Histoacuterico Nacional eacute exemplar antes e depois da reforma educacional

Ele eacute no resumo de seus mostruaacuterios bdquouma verdadeira miniatura da paacutetria‟ O Museu

atraveacutes de suas divisotildees teacutecnicas realiza a sua missatildeo de conservar pesquisar divulgar e

ensinar dando depois da reforma de 1931 agrave educaccedilatildeo popular uma contribuiccedilatildeo

preciosa para o estudo das ciecircncias naturais (VENAcircNCIO FILHO 1941 p143)

Ao contraacuterio dos elogios e otimismo quanto ao papel dos museus de histoacuteria natural

explicitados ao Museu Nacional e ao Museu Goeldi Venacircncio Filho faz uma criacutetica a concepccedilatildeo

105

de histoacuteria presente no Museu Histoacuterico Nacional que ldquoainda natildeo adquiriu forma definitiva que

deveria ser a de uma evocaccedilatildeo viva do passado todo do Brasil desde o periacuteodo colonial ateacute os

dias da Repuacuteblicardquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p145) Essa criacutetica fica mais evidente quando

afirma que em se tratando de museus histoacutericos o Museu Paulista eacute ldquonatildeo soacute uacutenico no paiacutes como

pode ser posto em confronto com qualquer outro congecircnere do estrangeirordquo (VENAcircNCIO

FILHO 1941 p145) A descriccedilatildeo que Venacircncio Filho faz do Museu do Ipiranga eacute carregada de

adjetivos ldquoum perfume discreto do passado nacional sem gratildeos de coisas esquecidas e

abandonadasrdquo quadros admiraacuteveis monccedilotildees Pedro Ameacuterico documentos antigos fruto das

pesquisas de Afonso Taunay estaacutetua de Bernardelli coleccedilotildees naturais Venacircncio Filho (1941

p147) termina suas consideraccedilotildees no mesmo ponto no qual iniciou exaltando a capacidade dos

museus em transformarem-se em ldquograndes escolas de educaccedilatildeo popularrdquo

Para Edgar Sussekind de Mendonccedila (1946) a chamada extensatildeo cultural eacute a relaccedilatildeo de

atividades de um museu que permitiria a comunhatildeo da vida e da aula abrangendo todos os

puacuteblicos de todas as idades (MENDONCcedilA 1946 p10) Ao longo da monografia ele vai

explicitando que o museu atua na educaccedilatildeo do povo e a extensatildeo cultural atuaria como um

ldquosistema de iniciaccedilatildeo cientiacutefica e aperfeiccediloamento sem a rigidez dos cursos universitaacuteriosrdquo

(MENDONCcedilA 1946 p 40)

Mendonccedila deixa expliacutecito em seu programa de accedilatildeo que sua grande preocupaccedilatildeo eacute com o

ensino e a ligaccedilatildeo da escola com a vida e para isso assim como Venacircncio Filho ele estaacute

preocupado com a ampliaccedilatildeo do puacuteblico natildeo especializado O museu eacute importante nessa funccedilatildeo

pois estaacute tanto no domiacutenio experimental quanto da documentaccedilatildeo objetiva Entretanto a

materialidade de suas mostras eacute para observaccedilatildeo natildeo para experimentaccedilatildeo A visualizaccedilatildeo eacute um

meacutetodo histoacuterico dos museus e pode ser utilizado no ensino tanto superior quanto na educaccedilatildeo

extra-escolar das classes proletaacuterias A questatildeo natildeo eacute a funccedilatildeo educativa dos museus mas

preparar os museus para as necessidades educativas de seu povo (MENDONCcedilA 1946 p 25)

Para Joseacute Vasconcellos (1946) a questatildeo da localizaccedilatildeo dos museus eacute colocada de modo

semelhante ldquoporque deve ir ao seu encontro o museu tem de saber onde o povo pode ser achado

com mais facilidade Este eacute o problema principal na localizaccedilatildeo dos museusrdquo

(VASCONCELLOS 1946 p99) Ou seja o problema da localizaccedilatildeo dos museus eacute saber onde

estaacute o povo ou como diria o cancioneiro popular ldquotodo artista tem de ir onde o povo estaacuterdquo

106

Mendonccedila assim como Vasconcellos e Venacircncio toma o Museu Nacional da Quinta da

Boa Vista como referecircncia para as consideraccedilotildees sobre os museus brasileiros Apoacutes criticar o

sistema universitaacuterio pelo aristocratismo das faculdades e academias ou ainda os proacuteprios museus

pelo anacronismo ao se voltarem para uma concepccedilatildeo de conservaccedilatildeo estaacutetica o autor se volta

para a defesa dos museus como ldquoestabelecimentos de educaccedilatildeo popularrdquo capazes de responder ao

problema de ldquopreparo meacutedio dos homens de formaccedilatildeo irregularrdquo A teacutecnica de museus eacute capaz de

orientar cientificamente um filme documentaacuterio sobre Canudos citado como exemplo e ao

mesmo tempo promover exposiccedilotildees especiais sobre cultura indiacutegena e cultura negra no Brasil

natildeo existentes no Museu Nacional mas que deveriam ser incluiacutedas por interessar agrave extensatildeo

cultural servindo de ldquoligaccedilotildees entre o palco das generalidades e os bastidores dos especialistas

(MENDONCcedilA 1946 p40-43)

Para Mendonccedila

o fato poreacutem eacute que os museus do Rio de Janeiro provavelmente ainda por longo tempo

funcionaratildeo apenas na imaginaccedilatildeo complementar de alguns de seus visitantes e nas

melhorias de interpretaccedilatildeo pedagoacutegica que os especialistas em colaboraccedilatildeo com os

professores vatildeo conseguindo fazer para alguns interessados e para o puacuteblico em geral

a interessar (MENDONCcedilA 1946 p53)

Se haacute por parte de Edgar Suumlssekind de Mendonccedila certo pessimismo quanto agraves

possibilidades de mudanccedilas na organizaccedilatildeo dos museus descritas por estes mesmos especialistas

da eacutepoca ndash arrumaccedilatildeo iluminaccedilatildeo etiquetas cataacutelogos e exposiccedilotildees ndash ele eacute otimista quanto agraves

atividades de extensatildeo que natildeo dependeriam de recursos diretos de pesquisa e preservaccedilatildeo

propaganda em diversos meios como raacutedio formaccedilatildeo de funcionaacuterios especializados em orientar

visitas palestras conferecircncias guias impressos projeccedilotildees de cinema coleccedilotildees e exposiccedilotildees

escolares Enfim a articulaccedilatildeo e accedilatildeo externas capazes de integrar os museus agrave sua finalidade

democraacutetica

Para explicitar a opiniatildeo de Mendonccedila sobre os museus tradicionais e suas praacuteticas de

exposiccedilatildeo cito dois exemplos a exposiccedilatildeo sobre o centenaacuterio de Joseacute Bonifaacutecio no Museu

Nacional e suas criacuteticas agrave concepccedilatildeo de museu do proacuteprio Museu Histoacuterico Nacional Mendonccedila

natildeo tem nenhuma simpatia pelas comemoraccedilotildees ciacutevicas marcadas por exposiccedilotildees especiais em

museus Ele critica a exposiccedilatildeo de comemoraccedilatildeo ao Centenaacuterio de Joseacute Bonifaacutecio realizada pelo

Museu Nacional que legitimada por significado cultural natildeo se justificava como ldquoexposiccedilatildeo

107

especialrdquo Diz o autor ldquoalmejariacuteamos que fosse acompanhado de outras frequentes ditadas natildeo

soacute pela solenidade de datas centenaacuterias mas pelas diuturnas exigecircncias de movimentaccedilatildeo das

coleccedilotildees para maior uso e benefiacutecio puacuteblicosrdquo (MENDONCcedilA 1946 p43)

O Museu Histoacuterico Nacional jaacute criticado por Venacircncio Filho (1941 p145) tambeacutem

recebe as criacuteticas de Mendonccedila

Quanto ao Museu Histoacuterico Nacional instituiacutedo eacute oacutebvio para se relacionar com o patrimocircnio integral da nossa Histoacuteria- a julgar pela dosagem e patenteando na sua

propensatildeo para o raro e o custoso em preciosismo que contraria o princiacutepio de

preferecircncia pelo caracteriacutestico isto eacute pelo mais frequumlente em cada eacutepoca consoante a

boa norma museoloacutegica (MENDONCcedilA 1946 p49)

O Museu Imperial receacutem criado recebe os votos de que possa aliviar-se dos encargos

aristocraacuteticos do Museu Histoacuterico Nacional e trabalhe de forma equitativa o patrimocircnio histoacuterico

do paiacutes (MENDONCcedilA 1946 p49)

Nesta bibliografia dos anos de 1920-1930 se elabora nos discursos educacionais no Brasil

a preocupaccedilatildeo com materiais e meacutetodos que garantissem a ldquoconstruccedilatildeo experimental do

conhecimento pelo estudanterdquo (VIDAL 2000 p498) e os museus satildeo entendidos como parte

importante dos ldquorecursos pedagoacutegicosrdquo disponiacuteveis agrave educaccedilatildeo

Jaacute nos anos de 1950 dois movimentos se encontram um vindo das discussotildees sobre a

escola feita pelos ldquoescolanovistasrdquo nos anos de 1920-1930 e outro que defendia a ampliaccedilatildeo dos

museus numa nova rede que incluiacutea os museus histoacutericos e pedagoacutegicos locais e a criaccedilatildeo de

novos museus pelo poder puacuteblico federal e estadual

A partir dos anos de 1930 se instaura uma polecircmica sobre a relaccedilatildeo escolas-museus que

tem de um lado a defesa dos museus como oacutergatildeos de documentaccedilatildeo com um caraacuteter

conservador no sentido de ser voltado a preservar as tradiccedilotildees (TRIGUEIROS 1956) e de outro

lado o entendimento que os museus satildeo instrumentos de educaccedilatildeo tal como defendia Viniacutecio

Stein Campos (1970) com a criaccedilatildeo dos museus histoacutericos e pedagoacutegicos

A ldquofunccedilatildeo educativardquo dos museus se estabelece nesse sentido entre os extremos da

funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo O sentido mais geral das reflexotildees sobre nesse capiacutetulo

sobre movimentos de formaccedilatildeo do puacuteblico nos museus na Europa e Brasil ao longo dos seacuteculos

XIX e XX eacute estabelecer ligaccedilotildees entre os que visitam contemporaneamente os museus e um

sentido de permanecircncia na ldquoformardquo museu Natildeo haacute uma via de matildeo uacutenica que vai dos museus aos

108

visitantes Assim como os visitantes elaboram suas demandas de formaccedilatildeo frente aos acervos e

exposiccedilotildees as instituiccedilotildees e poliacuteticas oficiais de preservaccedilatildeo e memoacuteria tambeacutem promovem

quadros culturais que se completam e se remontam com os museus e suas exposiccedilotildees

A pesquisa sobre o movimento de formaccedilatildeo do puacuteblico e sobre as funccedilotildees educativas dos

museus leva a pensar que a visita ao museu natildeo eacute o lugar da ldquorecepccedilatildeordquo de praacuteticas museoloacutegicas

e nem educativas O visitante se coloca em tracircnsito entre o mundo dos museus e outros mundos

como o das ldquoescolasrdquo e a visita realiza-se como um ldquocircuitordquo Os visitantes falam de suas

experiecircncias de visita como viagens intercalando dinacircmicas socioculturais de formaccedilatildeo docente

e de formaccedilatildeo histoacuterica

109

CAPIacuteTULO IV - Visitantes entre narrativas e objetos museais

41 - Visita ao Museu do Escravo ndash Belo Vale Minas Gerais

A visita ao Museu do Escravo natildeo foi um evento isolado para os alunos e nem para a

instituiccedilatildeo formadora Desde o ano de 2000 o Museu do Escravo vinha sendo visitado como parte

das atividades acadecircmicas desenvolvidas por professores e estudantes do curso de licenciatura em

Histoacuteria Nesta ocasiatildeo um total de 21 estudantes60

foi ao Museu a Fazenda Boa Esperanccedila e a

comunidade quilombola da Boa Morte em Belo Vale

Algumas potencialidades do Museu do Escravo jaacute haviam sido levantadas em visitas

anteriores e o trabalho de campo tinha por objetivo articular a narrativa do proacuteprio museu o

discurso dos especialistas em museologia e dos historiadores da escravidatildeo A visita seguiu uma

rotina que envolveu pedido de autorizaccedilatildeo para acesso agrave Fazenda Boa Esperanccedila contatos com a

prefeitura local para agendamento no Museu apresentaccedilatildeo em sala de aula de um histoacuterico da

cidade seus pontos turiacutesticos e atividades culturais (cd-room recortes de jornais e textos projeto

de revitalizaccedilatildeo do Museu do Escravo e outros) elaboraccedilatildeo de um roteiro da visita com horaacuterios

e recomendaccedilotildees sobre formas de registro durante o trabalho Vale destacar que esse natildeo era o

primeiro trabalho dessa natureza realizado pela turma que jaacute havia visitado o Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto e outras instituiccedilotildees como o Arquivo da Cidade de Belo Horizonte

O trabalho em Belo Vale teve dois objetivos Primeiro relacionar as visotildees

historiograacuteficas acerca da escravidatildeo colonial discutidas em sala de aula com os acervos

existentes nos locais visitados Segundo discutir a importacircncia da memoacuteria e do patrimocircnio

histoacuterico ao visitar o Museu do Escravo e o conjunto arquitetocircnico da Fazenda Boa Esperanccedila61

60 Visita vinculada agrave disciplina Histoacuteria do Brasil a Ameacuterica Portuguesa 4ordm periacuteodo

61 Belo Vale estaacute localizada na Zona Metaluacutergica de Minas Gerais Distacircncias Moeda - 13 km Congonhas - 42 km

Itabirito - 66 km Ouro Preto - 80 km Belo Horizonte - 86 km e 126 km de Pedro Leopoldo

110

Figura 20 Mapa ilustrativo de Minas Gerais e localizaccedilatildeo da cidade

de Belo Vale

Apoacutes a visita os estudantes elaboraram um relatoacuterio individual contendo suas impressotildees

e tendo como referecircncia os objetivos propostos no roteiro inicial Houve discussotildees em sala de

aula sobre aspectos observados Demais materiais como fotografias folders entrevistas e outros

recolhidos ou produzidos durante a visita tambeacutem foram apresentados Por fim a turma elaborou

uma narrativa siacutentese do trabalho que foi apresentado novamente e arquivado na Faculdade Eacute

este relatoacuterio-siacutentese que serve como paracircmetro para a anaacutelise da visita Utilizo como contraponto

o projeto de Revitalizaccedilatildeo do Museu do Escravo elaborado pela Superintendecircncia de Museus de

MG e materiais produzidos para divulgaccedilatildeo do museu jaacute que natildeo haacute nenhum cataacutelogo ou mesmo

inventaacuterio do acervo de objetos do Museu do Escravo

As fotografias selecionadas e apresentadas a seguir apontam o deslocamento realizado

pelos visitantes ateacute a chegada ao Museu onde reinstalam o lugar do visitante na cultura museal e

a escrita da histoacuteria nos museus

111

Saiacuteda de Pedro Leopoldo-MG Atravessam a Serra do Curral

Depois de Belo Horizonte comeccedila a descida Rios estradas e pontes Chegada a Belo Vale

A Igreja estaacute fechada O Museu do Escravo fica ao lado Foto na entrada

Figura 21 Turma 2006 visita o Museu do Escravo Coleccedilatildeo dos

visitantes

112

Apontar em que medida o Museu do Escravo contribuiu para que esses estudantes de

licenciatura em Histoacuteria elaborassem uma narrativa sobre a escravidatildeo articulando as linguagens

historiograacuteficas e museoloacutegicas implicou em mapear duas dimensotildees nas quais o tema da

escravidatildeo se apresentou durante a visita A primeira eacute a narrativa museograacutefica do museu

constituiacuteda por suas exposiccedilotildees A segunda eacute uma meta-narrativa do que deveria ser o Museu do

Escravo a partir de um projeto de revitalizaccedilatildeo A questatildeo central eacute investigar ateacute que ponto as

narrativas museoloacutegicas sejam elas ldquonovasrdquo ou ldquotradicionaisrdquo podem interferir na percepccedilatildeo que

os visitantes tecircm acerca da histoacuteria

Antes da visita os estudantes foram apresentados a um material visual sobre Belo Vale

produzido e distribuiacutedo por uma empresa de informaacutetica que atua na regiatildeo e que traz fotografias

e textos sobre o Museu do Escravo62

Neste material o Museu eacute apresentado como instituiccedilatildeo

uacutenica no paiacutes se constitui num dos mais importantes e completos acervos culturais com peccedilas

referentes agrave escravatura

Uma das estudantes apoacutes a visita registra opiniatildeo semelhante o Museu do Escravo da

Fazenda Boa Esperanccedila eacute o uacutenico museu dedicado exclusivamente ao escravo no Brasil onde

conta com um acervo com uma meacutedia de 4500 peccedilas (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de

trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Aparentemente a estudante atribui um sentido indevido agrave localizaccedilatildeo do Museu O Museu

do Escravo natildeo eacute da Fazenda Boa Esperanccedila A informaccedilatildeo correta sobre a localizaccedilatildeo do Museu

jaacute constava do material apresentado agrave turma antes da visita O acervo do Museu era apresentado

como privilegiado O material trazia tambeacutem dados sobre a trajetoacuteria da constituiccedilatildeo desse

acervo Reunido pelo padre Penido de famiacutelia natural da cidade inicialmente em Congonhas do

Campo foi transferido em 1977 para a Fazenda Boa Esperanccedila e municipalizado em 1988 no

centenaacuterio da aboliccedilatildeo com novo preacutedio no centro da cidade

Eacute possiacutevel supor que o desvio da visitante seja tambeacutem um ruiacutedo quanto agrave origem do

acervo e natildeo apenas da localizaccedilatildeo do Museu Quando visitamos a Fazenda Boa Esperanccedila e laacute

natildeo encontramos uma ldquosenzalardquo ou qualquer objeto relativo agrave escravidatildeo abriu-se uma duacutevida

62 Esse material foi adquirido no Museu do Escravo em Belo Vale Foi elaborado por empresa de consultoria

wwwdejorecombr

113

Onde estariam esses objetos Eacute liacutecito supor que foram transferidos para o Museu no Escravo O

que natildeo eacute correto jaacute que o acervo natildeo veio da fazenda

A indefiniccedilatildeo quanto agrave origem do acervo e a natildeo catalogaccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos objetos

em exposiccedilatildeo alimenta essa confusatildeo O Museu do Escravo se apresenta como um lugar de

guarda de objetos do passado Entretanto natildeo eacute possiacutevel acessar o acontecido Houve uma perda

irreparaacutevel pela accedilatildeo do tempo e mesmo que o museu se coloque como aquele capaz de reparar o

ldquosentimento de perdardquo fabricando objetos e cenas para dar visibilidade agravequilo que julga ser

pertinente aos habitantes da cidade e aos visitantes continua existindo obstaacuteculos agrave transparecircncia

pretendida pelas exposiccedilotildees museais

42 - O escravo e o museu

As exposiccedilotildees do Museu estatildeo dispostas pelos seis salotildees do Pavilhatildeo 1 um paacutetio interno

onde foi construiacuteda uma espeacutecie de senzala tambeacutem destinada agrave exibiccedilatildeo de acervo (pavilhatildeo

aos fundos) onde destacam-se cenaacuterios museograacuteficos (Figuras 22 e 23)

Figura 22 Pavilhatildeo 1 Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale

MG Fonte httpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtm

Neste cenaacuterio expositivo convivem diferentes objetos instrumentos de castigo coacutepias de

documentos iconograacuteficos objetos de arte afro-brasileira objetos de uso pessoal e salas com

114

utensiacutelios domeacutesticos como louccedilas e armas e arte sacra originaacuteria da Igreja Matriz que estaacute

localizada ao lado do Museu e que foi transferido ao museu por medida de seguranccedila possiacutevel

O pavilhatildeo dos fundos exibe aleacutem de montagens museograacuteficas como de um escravo

sendo castigado em pelourinho indumentaacuteria moradia e utensiacutelios usados na produccedilatildeo do filme

Zumbi - Quilombo dos Palmares doados pelo cineasta Cacaacute Diegues e um tuacutemulo de escravo

desconhecido

Figura 23 Pavilhatildeo 2 (fundos) Planta Baixa do Museu do Escravo

Belo Vale MG Fonte Disponiacutevel em

lthttpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtmgt Acesso

em 2011

Projetos de revitalizaccedilatildeo63

do Museu do Escravo foram elaborados para redefinir a

conceituaccedilatildeo museoloacutegica e reformulaccedilatildeo dos moacutedulos da exposiccedilatildeo A principal criacutetica dos

especialistas eacute que se estava diante de ldquoum colecionismo assistemaacutetico sem propoacutesitos cientiacuteficos

ou educativosrdquo ou ldquomostruaacuterio de antiguidades e de objetos raros (JULIAtildeO sd) Contudo em

visita realizada em 2010 as exposiccedilotildees ainda permaneciam com a mesma organizaccedilatildeo

encontrada nas visitas anteriores Em 2006 quando da visita com os estudantes da turma do 4ordm

63 Projeto de reformulaccedilatildeo do Museu do Escravo Secretaria de Estado de Cultura-MG Superintendecircncia de Museus

Letiacutecia Juliatildeo in wwwdejorecombrmuseudoescravom_historiahtm

115

periacuteodo foi possiacutevel confrontar as visotildees historiograacuteficas tambeacutem conflitantes entre si de modo a

elaborar no diaacutelogo com o museu uma narrativa acerca do tema escravismo colonial

43- Uma nova museografia para o Museu do Escravo

Enquanto o Museu se apresenta aos visitantes como o uacutenico no gecircnero em todo o Brasil64

reconstituindo cenaacuterios como senzala pelourinho e tuacutemulo de escravo desconhecido se sobrepotildee

outro discurso museoloacutegico na forma de um projeto de revitalizaccedilatildeo Nesse projeto65

o Museu do

Escravo eacute apresentado como

mostruaacuterio de antiguidades e de objetos raros no qual os objetos se justapotildeem em

arranjos inusitados e sem criteacuterios Desprovido de qualquer conceituaccedilatildeo o caraacuteter

meramente acumulativo do seu acervo parece atender aos anseios de musealizaccedilatildeo de

uma comunidade ciente de seu passado mas pouco instrumentalizada para a preservaccedilatildeo

de seu patrimocircnio Egrave possiacutevel dizer que o Museu do Escravo transita entre um gabinete

de curiosidade que busca dar mostras dos mais diferentes vestiacutegios do passado

abarcando de achados arqueoloacutegicos a exemplares de maacutequinas do seacuteculo XX sem

qualquer abordagem que permita estabelecer nexos entre os mesmos e a praacutetica

museograacutefica comum em museus americanos de simulaccedilotildees de realidades e contextos a exemplo da arquitetura colonial do preacutedio que o sedia da construccedilatildeo da senzala e do

escravo no pelourinho66

(JULIAtildeO sd)

Quanto agrave linguagem museoloacutegica o documento elaborado pela historiadora Letiacutecia Juliatildeo

eacute taxativo

Embora o imponente casaratildeo encontre-se fisicamente preservado natildeo foi adotado

qualquer recurso comunicativo com o intuito de oferecer informaccedilotildees sobre o conjunto

tombado de modo a promover uma mediaccedilatildeo miacutenima entre o puacuteblico e aquele bem

cultural (JULIAtildeO sd)

A proposta apresentada pela Superintendecircncia de Museus da Secretaria Estadual de

Cultura de MG em parceria com associaccedilotildees locais e oacutergatildeos puacuteblicos eacute uma completa

reformulaccedilatildeo do discurso museoloacutegico do Museu do Escravo O acervo disponiacutevel seraacute

reorganizado em sete moacutedulos temaacuteticos 1) Trabalho escravo e sociedade escravista

64 Site do Museu em wwwdejorecombrbelovaleturismo_museuhtm 65 O Projeto natildeo foi executado A exposiccedilatildeo do Museu do Escravo continua ateacute a presente data com a mesma

arrumaccedilatildeo descrita pelos estudantes na visita em 2006 66 Projeto de reformulaccedilatildeo do Museu do Escravo Secretaria de Estado de Cultura-MG Superintendecircncia de

Museus Letiacutecia Juliatildeo in wwwdejorecombrmuseudoescravom_historiahtm

116

(instrumentos de trabalho) 2) Cotidiano escravo (vestuaacuterio alimentaccedilatildeo moradia procedecircncia

dos escravos) 3) Relaccedilotildees de poder e dominaccedilatildeo (castigo e estrateacutegias de persuasatildeo) 4) Formas

de resistecircncia escrava (quilombos revoltas violecircncia cotidiana) 5) Religiosidade (diferentes

manifestaccedilotildees) 6) Imagens do negro e da escravidatildeo (preconceito estereoacutetipos mesticcedilagem) e

7) Cultura afro-brasileira

Figura 24 AMORIM Frederico Levi Tuacutemulo do escravo

desconhecido Museu do Escravo Belo Vale 2006

Aleacutem dos moacutedulos que indicam a necessidade de uma ldquoabordagem mais completa das

relaccedilotildees de poder na sociedade escravistardquo o ldquonovordquo discurso museoloacutegico propotildee retirar um

grande volume de objetos do acervo em exposiccedilatildeo permanente e montar pequenas exposiccedilotildees

temporaacuterias temaacuteticas Outra medida eacute destinar uma das alas da ldquosenzalardquo agrave reserva teacutecnica Por

fim eacute recomendado avaliar as ldquomontagens museograacuteficasrdquo como a moradia escrava o escravo no

pelourinho e o tuacutemulo do escravo desconhecido e se mantidas informar ao puacuteblico seu caraacuteter de

ldquosimulaccedilatildeordquo A preocupaccedilatildeo com os tempos histoacutericos tambeacutem eacute explicita quanto se trata do

117

proacuteprio preacutedio Eacute preciso informar que a sede eacute recente para evitar equiacutevocos quanto a sua

ldquoautenticidaderdquo

44- As narrativas dos visitantes escravidatildeo e eurocentrismo

Frente a essas duas narrativas como se comportam os visitantes Quais aspectos foram

aceitos e quais foram refutados pelos estudantes a partir das narrativas museoloacutegicas do museu e

da revitalizaccedilatildeo Como interpelam e satildeo interpelados pelos objetos museograacuteficos Como

relacionam a cultura material com narrativas historiograacuteficas Como modificam suas concepccedilotildees

a partir do contato com a linguagem museoloacutegica Como os visitantes elaboram uma narrativa

sobre a histoacuteria e a escravidatildeo tomando como referecircncia o Museu do Escravo Interessa tambeacutem

perceber como o Museu compreende o seu proacuteprio acervo e como faz uso dele O acervo se

constitui em prova documental ou eacute elaborado em funccedilatildeo da loacutegica museograacutefica

Destaco a seguir algumas impressotildees dos visitantes sobre o Museu do Escravo Para

Weberton Fernandes da Costa

O Museu do Escravo utiliza como metodologia de organizaccedilatildeo uma ideacuteia marxista de

ver a histoacuteria procurando enfatizar quase que exclusivamente a luta de classe ocorrida

entre senhores e escravos ateacute a aboliccedilatildeo da escravatura assinada pela princesa Isabel durante o reinado de DPedro II colocando o negro como viacutetima e com um pobre

coitado Tudo bem que o regime escravocrata implantado pelos portugueses no Brasil

seguido pelos Senhores de Engenho do accediluacutecar e posteriormente pelos Barotildees do Cafeacute foi

abominaacutevel terriacutevel cruel e jamais esquecido pela humanidade No entanto colocaacute-los

somente em tal posiccedilatildeo exposta pelo museu soacute contribui para a proliferaccedilatildeo do racismo

visto que tal abordagem coloca o negro como um ser inferior e sem cultura natildeo produzia

nada e soacute apanhava (Weberton Fernandes da Costa Relatoacuterio Trabalho de Campo Belo

Vale 2006)

O estudante faz uma leitura dos objetos e identifica um criteacuterio de organizaccedilatildeo

cronoloacutegico em meio ao que parece aos teacutecnicos da Superintendecircncia de Museus como ldquoarranjos

inusitados e sem criteacuteriosrdquo Ele estabelece uma linha temporal (imaginaacuteria) que liga os objetos

ldquoacumulados para atender aos anseios de musealizaccedilatildeo da comunidaderdquo Ao que aparece como

ldquosem qualquer conceituaccedilatildeordquo ao discurso museoloacutegico percebe-se uma poderosa forma de

explicaccedilatildeo da sociedade a teoria marxista Vejamos o que ele chama de marxismo Haacute uma

ecircnfase na luta de classes O lado da dominaccedilatildeoexploraccedilatildeo certamente se impotildee e o

dominadoexplorado eacute vencido A batalha vista de hoje transforma o vencido em viacutetima em

118

coitado Uma exposiccedilatildeo sobre os escravos organizada sob o eixo da dominaccedilatildeo X resistecircncia faz

uma abordagem da inferioridade do negro na sociedade escravista Nosso aluno faz a criacutetica

historiograacutefica da exposiccedilatildeo e talvez fizesse o mesmo com uma nova organizaccedilatildeo do acervo Ele

natildeo vecirc apenas um ldquogabinete de curiosidades do seacuteculo XIX ele vecirc uma visatildeo de mundo que

permeia de sentido os ldquoanseios de musealizaccedilatildeo da comunidaderdquo Ainda que os objetos se

apresentem de maneira bastante caoacutetica os estudantes caccedilam em meio ao palheiro e fazem

reflexotildees atribuindo outros sentidos e interrogando os indiacutecios para construir uma narrativa

imaginar uma histoacuteria Warleson de Melo Simpliacutecio afirma

O que mais me chamou a atenccedilatildeo foram os objetos que eram utilizados como forma de

puniccedilatildeo dos escravos Todos os objetos vistos representavam ali todo o sofrimento que

os escravos passaram Dentre esses objetos havia um que parecia um sapato de ferro

nele havia um espeto que causaria dor no peacute do escravo que tentasse fugir pois este

espeto furaria o peacute do escravo se ele corresse Havia outros objetos tambeacutem que tinha a

mesma funccedilatildeo como por exemplo um outro modelo de sapato com um guizo que faria

barulho quando o escravo andasse impedindo assim sua fuga (Warleson de Melo

Simpliacutecio Relatoacuterio trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Figura 25 AMORIM Frederico Fotografias do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

Diferentemente do visitante anterior que leu apenas a dominaccedilatildeo aqui os ldquoinstrumentos

de torturardquo natildeo remetem agrave submissatildeo mas agrave revolta agrave fuga agrave resistecircncia Os vestiacutegios da

119

dominaccedilatildeo falam da resistecircncia Natildeo seriam tantos e tatildeo variados os objetos de castigo se natildeo

houvesse tantas fugas Os escravos natildeo parecem coitados O estudante toma para si a funccedilatildeo de

representaccedilatildeo dos objetos e reencena os gestos contidos na profusatildeo de elementos espalhados

pelos salotildees da exposiccedilatildeo Natildeo eacute necessaacuterio que sejam reorganizados para que falem de maneira

diferente

Outra discussatildeo apresentada eacute sobre a ldquosimulaccedilatildeo de realidades e contextosrdquo Diversos

alunos destacam as reacuteplicas externas como aquelas que mais lhes chamaram a atenccedilatildeo e

justificam suas escolhas Priscila Oliveira dos Santos aponta que

Na parte externa do museu existe uma reacuteplica do corpo de um negro escravo junto ao

tronco onde simula a forma em que os escravos eram maltratados Isto acontecia

principalmente aos domingos que era dia de missas e era dia de folga dos escravos o

que garantiria um puacuteblico maior que os demais dias (Priscila Oliveira dos Santos

Relatoacuterio trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Mayara Luiz Gurgel de Abreu completa ldquoo que mais me impressionou no museu foi a

reacuteplica em tamanho real de um escravo no tronco que apesar de triste impressiona por ser rica

em detalhes e parecer ser realrdquo

Figura 26 AMORIM Frederico Levi Fotografias do paacutetio interno

do Museu do Escravo 2006

Diversas fotografias destacam o pelourinho e a senzala Ainda que natildeo haja maiores

indicaccedilotildees e explicaccedilotildees acerca do cenaacuterio natildeo haacute duacutevidas acerca da montagem da simulaccedilatildeo O

discurso do proacuteprio Museu parece direto nesse caso A comunicaccedilatildeo se faz ruiacutedos quanto agrave

120

ldquoautencidaderdquo da cena satildeo recursos de presentificaccedilatildeo claramente entendidos pelos diferentes

alunos Mas nada tatildeo divertido quando brincar no cenaacuterio de Cacaacute Diegues Pode-se ateacute tirar mais

fotografias da turma

Figura 27 ARAUacuteJO Sueli de Azevedo A turma no cenaacuterio do Cacaacute

Diegues Museu do Escravo 2006

Os estudantes problematizaram os conteuacutedos apresentados pela exposiccedilatildeo do museu

construiacuteram argumentos e procedimentos de interpretaccedilatildeo histoacuterica comprometida com uma

dimensatildeo sensiacutevel e coletiva no presente

Eacute possiacutevel pensar nas fotografias produzidas pelos visitantes de museus como as

apresentadas acima no sentido de Milton Guran (1997) em seu ensaio Fotografar para

descobrir fotografar para contar O corpus fotograacutefico constituiacutedo na pesquisa antropoloacutegica eacute

entendido por Guran como uma sobreposiccedilatildeo de imagens produzidas a partir de imagens

anteriores A anaacutelise destas imagens deve levar em conta o momento da produccedilatildeo e a

especificidade de cada fotografia

Diferentes das fotografias feitas pelo proacuteprio pesquisador ou pelo proacuteprio museu as

fotografias feitas pelos visitantes e assumidas por eles encontram-se impregnadas pelo imaginaacuterio

do proacuteprio grupo ou alguns de seus membros por consequumlecircncia expressa de alguma maneira a

ldquoidentidaderdquo do grupo em questatildeo Enquanto o museu procura uma representaccedilatildeo ldquooriginalrdquo um

espelhamento do que ele possui em seu acervo o visitante coloca-se no jogo da auto-

representaccedilatildeo e transfere para si o poder de espelhamento O visitante compartilha a presenccedila de

um signo e coloca frente ao sentido jaacute traccedilado pelo museu outro rumo uma multiplicaccedilatildeo de

121

conexotildees trajetoacuterias O visitante confere ao sentido imobilizado pelo museu um colorido uma

disposiccedilatildeo para novas referecircncias culturais e dimensotildees poliacuteticas natildeo contidas na matriz

referencial oferecida pelos museus

Cada fotografia oferece os procedimentos de apropriaccedilatildeo do visitante seus gostos uma

esteacutetica uma sensualidade um sentido de presenccedila dos corpos (pessoas ou natildeo) Guran (1997)

aponta que a relaccedilatildeo da fotografia com o imaginaacuterio vai da identidade ndash campo da imaginaccedilatildeo ndash

para a alteridade ndash o lugar dos outros na imaginaccedilatildeo partilhada que o constitui socialmente

No Museu do Escravo estaacute presente a dubiedade do processo de patrimonializaccedilatildeo ou

seja de transformar determinados objetos da cultura material em patrimocircnio histoacuterico O acervo

do Museu do Escravo eacute constituiacutedo pelo colecionismo de um grupo local de objetos ligados

diretamente agrave escravidatildeo e ao trabalho escravo na regiatildeo de Belo Vale Em exposiccedilatildeo no Museu

esses objetos recebem outro tratamento e satildeo articulados num novo espaccedilo de exibiccedilatildeo que inclui

a construccedilatildeo de um local proacuteprio para o circuito e criaccedilatildeo de novos cenaacuterios O uso que os

visitantes fazem dessa exposiccedilatildeo do museu cria novos sentidos para essa memoacuteria histoacuterica Um

desses usos eacute reinscrever esses elementos de uma memoacuteria da escravidatildeo em uma cultura afro-

brasileira contemporacircnea Cria-se assim um circuito no qual as visitas e os visitantes satildeo parte

dos rituais e discursos narrativos do museu e ampliam suas sensibilidades ao mesmo tempo em

que reconhecem no museu um papel formador

122

CAPIacuteTULO V - Entre a poliacutetica e a poeacutetica dos museus e exposiccedilotildees

51 - O Museu Histoacuterico Nacional habitaccedilotildees do patrimocircnio

O Museu Histoacuterico Nacional pode ser considerado como herdeiro de uma tradiccedilatildeo

enciclopeacutedica de museus que desenvolve uma perspectiva de conservaccedilatildeo dos objetos no tempo

No museu ldquohistoacutericordquo o objeto eacute apresentado como um documento seja no cataacutelogo ou nas

exposiccedilotildees ldquoaquele que representa simbolicamente e materialmente a histoacuteriardquo (OLIVEIRA

1998 p68)

Vinculado a um paradigma de preservaccedilatildeo existente desde seacuteculo XV cujo conceito de

uso estaacute relacionado agrave ideia de destruiccedilatildeo o museu funciona como aquela instituiccedilatildeo que defende

o objeto da perda do desgaste e do uso cotidiano Natildeo se admite portanto um uso cultural dos

objetos fora da proteccedilatildeo do museu De um modo geral a relaccedilatildeo do puacuteblico com esse tipo de

museu eacute marcada por essa ambiguumlidade do discurso da conservaccedilatildeo e do patrimocircnio O museu

condena o consumo cultural mas ao mesmo tempo utiliza o status de histoacuterico e de patrimocircnio

como parte de uma induacutestria patrimonial de reapropriaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de determinados

elementos histoacutericos e esteacuteticos (CHOAY 2006 p223)

A atual diretora do Museu Histoacuterico Nacional Vera Luacutecia Bottrel Tostes define a proacutepria

instituiccedilatildeo por era dirigida como uma ldquoinstituiccedilatildeo de memoacuteriardquo aquelas que lutam na linha de

frente contra o esquecimento

Museu Histoacuterico Nacional natildeo poderia omitir-se de participar intensamente das

comemoraccedilotildees dos 200 anos da transferecircncia da corte portuguesa para o Brasil

articulando e organizando eventos que visam natildeo apenas celebrar a efemeacuteride mas

trazer agrave luz novas pesquisas sobre singular momento da histoacuteria do Brasil e de Portugal

(TOSTES 2008)

O preacutedio do Museu Histoacuterico Nacional eacute apresentado por sua diretora como anterior agrave

chegada da corte e portanto um lugar adequado ao conhecimento do ldquocontexto histoacutericordquo que

cercou a vinda de D Joatildeo VI e a realizaccedilatildeo de um ldquomemoraacutevel evento histoacuterico-culturalrdquo que

ldquotorna viva a memoacuteria histoacutericardquo (TOSTES 2008)

O Museu Histoacuterico Nacional em suas atuais exposiccedilotildees ainda preserva uma loacutegica

instituiacuteda desde a exposiccedilatildeo de Gustavo Barroso a busca da ldquoautenticidaderdquo em vestiacutegios

123

materiais e um caraacuteter de ldquoverdade comprovadardquo agrave histoacuteria que busca narrar Ou seja na

exposiccedilatildeo apresentada o museu convida os visitantes a natildeo romperem com uma visatildeo de museu-

memoacuteria que considera os objetos como fonte de culto e certificaccedilatildeo da histoacuteria (SANTOS 2006

p50)

A imagem de Dom Joatildeo VI evocada na exposiccedilatildeo sobre a vinda da famiacutelia real ressalta a

personalidade do governante em tom quase pessoal o ldquonosso comum priacutencipe regenterdquo e o

acontecimento ndash a vinda da famiacutelia real ndash tecircm uma dupla face que precisa ser igualmente

contemplada os interesses do Brasil e de Portugal A celebraccedilatildeo eacute justamente deste caraacuteter

insoacutelito do acontecimento As comemoraccedilotildees satildeo segundo o cataacutelogo realizadas no Brasil e em

Portugal

Figura 28 CARDINI Joatildeo fl 1804-1825D Joatildeo Priacutencipe do Brazil

regente de Portugal Gravura buril e aacutegua-forte pampb 96x6 cm 1807

Cataacutelogo da exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio - A

Corte Portuguesa no Brasil2008 p18

A gravura de Joatildeo Cardini datada de 1807 traz a inversatildeo da figura de Dom Joatildeo VI

priacutencipe do Brasil e regente de Portugal A pergunta a ser feita diante dessa nova imagem poliacutetica

124

do monarca seria se Portugal teria apoacutes 200 anos algo a comemorar em relaccedilatildeo a esse episoacutedio

de sua histoacuteria poliacutetica

O reconhecimento pelo visitante desse gecircnero de museu como habitaccedilatildeo do patrimocircnio eacute

quase imediata Ainda do lado de fora do preacutedio o visitante legitima o museu como patrimocircnio

A estudante Marly Marques Rodrigues diz em seu relatoacuterio de vista ldquoO preacutedio do Museu

Histoacuterico Nacional eacute considerado um dos mais importantes de seu acervo Remonta ao periacuteodo

em que o Brasil era colocircnia de Portugal e os franceses ainda disputavam com os portugueses a

posse da Baia da Guanabara []rdquo Outra visitante apropriando-se de um trecho de um folheto de

divulgaccedilatildeo do museu destaca as concepccedilotildees da instituiccedilatildeo e suas funccedilotildees no momento da visita

Ao trabalhar com as noccedilotildees de memoacuteria histoacuteria e patrimocircnio cultural de forma luacutedica e

educativa o MHN acredita fazer com que o puacuteblico perceba a importacircncia e o papel dos

museus estreitando assim os laccedilos de identidade e afetividade com as instituiccedilotildees

tornando sua presenccedila mais frequumlente e espontacircnea estimulando entre amigos e

familiares a disseminaccedilatildeo dos museus como agentes de mudanccedila e desenvolvimento

(Michelle Oliveira Xavier Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade

Pedro Leopoldo 2008)

A visitante refere-se a uma meta-linguagem do museu Um discurso luacutedico e educativo

sobre a histoacuteria que justificaria as funccedilotildees museais frente a outras instituiccedilotildees de memoacuteria e

patrimocircnio cultural O museu tenta encantar cada visitante para que haja ressonacircncia67

ou seja

para que o poder do objeto exibido alcance um mundo maior e aleacutem de seus limites formais e seja

capaz de evocar em quem os vecirc as forccedilas culturais complexas e as dinacircmicas das quais emergiu

Em seus materiais de divulgaccedilatildeo o Museu Histoacuterico Nacional eacute apresentado como ldquoum

dos mais importantes museus do Brasil com um acervo de milhares de itensrdquo Ligado ao

Ministeacuterio da Cultura atraveacutes do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional conta com a museoacuteloga Vera Luacutecia Bottrel Tostes na

direccedilatildeo desde 1994

A ideia de preservaccedilatildeo do patrimocircnio nacional estaacute presente no Museu Histoacuterico Nacional

desde sua fundaccedilatildeo em 1922 A museoacuteloga Vacircnia Oliveira (1998) investiga como o conceito de

museu se modifica internamente na proacutepria documentaccedilatildeo e literatura produzida pelo proacuteprio

museu nacional ao longo de sua existecircncia Primeiro como instituiccedilatildeo de guarda das reliacutequias do

67 Gonccedilalves (2005 p15-36) trabalha com essa dimensatildeo da ressonacircncia para entender os objetos culturais e as

estrateacutegias de autenticaccedilatildeo dos objetos

125

passado nacional cultivando os grandes feitos dos heroacuteis nacionais defendida por Gustavo

Barroso ateacute sua morte em 1959 Na deacutecada seguinte a visatildeo de Gustavo Barroso co ntinua sendo

aceita na praacutetica do Museu Nacional o local continua a abrigar objetos ligados aos grandes vultos

da histoacuteria Entre 1979-1992 data limite do estudo da pesquisadora as ideias de museu na

documentaccedilatildeo e no discurso literaacuterio satildeo variadas Uma das referecircncias eacute o movimento da Nova

Museologia que chega ao puacuteblico pela Mesa-Redonda de Santiago organizada pelo ICOM e

referendada em 1984 pela Declaraccedilatildeo do Canadaacute mas que natildeo eacute aceita por todo o campo museal

No Museu Histoacuterico Nacional efetiva-se o peso da tradiccedilatildeo histoacuterica Os objetos tecircm valor

histoacuterico por terem interesse para uma histoacuteria nacional e sua aprendizagem Satildeo reliacutequias raras e

autecircnticas objetos comuns ligados a grandes vultos poliacuteticos e militares que devem ser

recolhidos colecionados e expostos A noccedilatildeo de patrimocircnio atribui uma dimensatildeo quase maacutegica

aos objetos fazendo-os transcender no tempo (CHOAY 2006 p93)

A noccedilatildeo de patrimocircnio ampliada apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa possui sentido de

homogeneizaccedilatildeo de valores Natildeo basta colecionar bens o museu se atribui a funccedilatildeo de servir de

instruccedilatildeo agrave naccedilatildeo reunindo objetos que ensinam o civismo a histoacuteria e outras competecircncias

teacutecnicas Segundo Choay (2006 p 95) museu eacute o nome que se daacute aos depoacutesitos de bens

nacionalizados na Revoluccedilatildeo Francesa e guardam relaccedilatildeo direta com o estabelecimento da

instruccedilatildeo puacuteblica

Para a definiccedilatildeo de patrimocircnio histoacuterico contribuem as motivaccedilotildees de conservaccedilatildeo de

bens condenados o interesse para a histoacuteria a beleza do trabalho e o valor pedagoacutegico Essas

motivaccedilotildees e interesses constituem um valor nacional (educativo) que desencadeiam valores

relativos a conhecimentos especiacuteficos e gerais satildeo testemunhos da histoacuteria permitem construir

uma multiplicidade

Franccediloise Choay (2006) desenvolve um argumento pertinente para se pensar o tipo de

exposiccedilatildeo proposta pelo Museu Histoacuterico Nacional Ao discutir as relaccedilotildees entre os humanismos

e o monumento antigo a autora lanccedila a questatildeo de como eacute um olhar preservador para um objeto

do passado (arte monumento) e como reconhecer esses objetos do passado como monumentos

histoacutericos Para Choay (2006 p34) a apropriaccedilatildeo natildeo eacute um processo de reflexatildeo ou cogniccedilatildeo eacute

um novo valor de uso na vida domeacutestica Os objetos de antiguidade satildeo usados para decoraccedilatildeo

126

das casas preacutedios puacuteblicos e privados os novos valores satildeo atribuiacutedos agrave praacutetica de colecionar tais

objetos prestiacutegio lucro jogo e natildeo simplesmente agrave experiecircncia de beleza (prazer da arte)

O surgimento do chamado monumento histoacuterico se deu em relaccedilatildeo agrave Roma nos seacuteculos

XIV-XV propiciado pelo distanciamento do passado apoiado no projeto de preservaccedilatildeo medieval

Satildeo consideradas atitudes de preservaccedilatildeo a economia e o interesse em reutilizar os edifiacutecios Haacute

tambeacutem um saber literaacuterio que cria uma sensibilidade pelos materiais execuccedilatildeo descriccedilatildeo de

cenas antigas paineacuteis de altares e a admiraccedilatildeo pelo trabalho maravilhoso e a suntuosidade

esteacutetica O valor do patrimocircnio estaacute associado ao maacutegico agrave curiosidade prazer aos olhos Natildeo

tem propriamente um valor histoacuterico eacute modelo para suscitar uma arte de viver e refinamento que

soacute os gregos possuiacuteam (CHOAY 2006 p34-35)

Jaacute os humanistas tomam o patrimocircnio como referente para a interpretaccedilatildeo e estabelecem

condutas relativas agrave heranccedila (legado da antiguidade greco-romana) Ao assumirem uma

perspectiva da alteridade (noacutes somos diferentes deles) os humanistas criam uma distacircncia

simboacutelica Para os humanistas os monumentos da antiguidade vatildeo incorporando as marcas de sua

reutilizaccedilatildeo e a ideacuteia de preservaccedilatildeo comporta novos usos como o deslocamento das colunas de

maacutermore de Roma e a reserva de fragmentos antigos colecionados pelos papas

Nesse movimento do seacuteculo XVIII as medidas de conveniecircncia e interesse histoacuterico

passam a afirmar uma identidade por meio dos monumentos Os tipos de monumentos evocam a

estrutura da vida cotidiana e lanccedilam a memoacuteria para um passado temporal glorioso Essa seria

para Choay a primeira fase do monumento entendido como ldquoantiguidaderdquo e que lanccedila uma

presenccedila visual e uma profunda alteridade com a distacircncia histoacuterica concentrado nas obras e

edifiacutecios da antiguidade do quatrocento

O monumento eacute o sujeito da alegoria do patrimocircnio Ele tem valor de autenticidade

(confirmado pelos livros) eacute testemunho do passado que se consumou eacute arrancado do presente

que o banaliza para fazer a gloacuteria dos seacuteculos que o edificaram Satildeo os humanistas e artiacutefices que

juntos contribuem para a criaccedilatildeo do sentido moderno de patrimocircnio cultural entendido como

heranccedila dos antecessores e legado aos sucessores68

Segundo Choay (2006 p49) os letrados

faziam visitas a Roma mas natildeo lhes interessava os monumentos em si Eles iriam evocar e

68 Gonzalez (2004 p 66) diferencia a concepccedilatildeo francesa da concepccedilatildeo inglesa na formaccedilatildeo do conceito de

patrimocircnio cultural

127

invocar os testemunhos do mundo da escrita suas preocupaccedilotildees eram filosoacuteficas literaacuterias

morais poliacuteticas histoacutericas e natildeo pela forma dos edifiacutecios Jaacute os artiacutefices (homens da arte)

arquitetos e escultores se interessavam propriamente pelas formas dos monumentos

Letrados e artiacutefices do seacuteculo XIV surgem com os amantes e colecionadores da arte antiga

no sentido moderno Os humanistas ensinam a ler e os artiacutefices a ldquover com os olhosrdquo Essa

impregnaccedilatildeo muacutetua marca o territoacuterio da arte articulando-o com a histoacuteria para formar o

monumento histoacuterico Uma vez instituiacutedo o monumento o conhecimento histoacuterico passa a ser o

uacutenico necessaacuterio na compreensatildeo das antiguidades natildeo eacute necessaacuterio mais um julgamento esteacutetico

(CHOAY 2006 p50)

No seacuteculo XIV o monumento histoacuterico soacute pode ser antigo e a arte soacute pode ser antiga ou

contemporacircnea A galeria como espaccedilo fiacutesico de exposiccedilatildeo soacute aparece no seacuteculo XVI A coleccedilatildeo

de arte vai se diferenciando da sala de curiosidades e precede o Museu De caraacuteter privado ela

oferece o exemplo da abertura pela primeira vez ao puacuteblico das coleccedilotildees pontificiais do capitoacutelio

(CHOAY 2006 p50-52)

Pomian (1978 p51) distingue as coleccedilotildees e colecionadores de antiguidades do

quatrocento dos gabinetes de curiosidade (museum de natureza e humanos) da Idade Meacutedia que

sobreviveriam ateacute o Iluminismo A tarefa inicial de preservaccedilatildeo cabia aos papas assim como as

medidas de restauraccedilatildeo proteccedilatildeo e as regras de expropriaccedilatildeo para utilidade puacuteblica Um

monumento histoacuterico ateacute o seacuteculo XIV era constituiacutedo de trecircs discursos perspectiva histoacuterica

perspectiva artiacutestica e outra da conservaccedilatildeo A ambiguumlidade do discurso de conservaccedilatildeo segundo

Pomian eacute ldquotranquumlilizar a consciecircncia e justificar a demoliccedilatildeo realrdquo (POMIAN 1978 p51-86)

A discussatildeo sobre a invenccedilatildeo do monumento histoacuterico e da noccedilatildeo de patrimocircnio tem um

encaminhamento distinto segundo Franccediloise Choay (2006 p144) que pode ser visto em duas

alegorias advindas da ambiguumlidade que ela apontara anteriormente no discurso de conservaccedilatildeo

tranquumlilizar a consciecircncia e justificar a destruiccedilatildeo efetiva A partir do seacuteculo XIX a noccedilatildeo de

patrimocircnio vai comportar trecircs abordagens o monumento histoacuterico a cidade histoacuterica e o museu

histoacuterico As trecircs abordagens vatildeo se desdobrar em figuras distintas Primeiro a figura memorial

que envolve toda a malha do patrimocircnio intangiacutevel a ser protegido Segundo a figura de toda a

cidade como desempenhando o papel de monumento capaz de dar liccedilotildees contra o esquecimento

E terceiro a figura museal uma figura histoacuterica que se destaca pela resposta que eacute capaz de dar

128

ao problema do patrimocircnio No museu e natildeo apenas nele se faz presente a figura museal que

reuacutene um caraacuteter conservador e outro destruidor

A figura museal ameaccedilada de desaparecimento eacute concebida como um objeto raro

fraacutegil precioso para arte e para a histoacuteria e que como as obras conservadas nos museus

deve ser colocada fora do circuito da vida Tornando-se histoacuterica ela perde sua

historicidade (CHOAY 2006 p191)

Choay (2006) aponta que a funccedilatildeo museal natildeo se daacute apenas nos museus O ato de isolar

fragmentos e colocaacute-los lado a lado protegendo o original eacute que os transforma em objetos de

museu Retira-lhes o valor de uso para lhes conferir o valor histoacuterico (museal) Eacute esse valor

histoacuterico que os visitantes reconhecem nos objetos pelo fato de serem expostos em um museu Os

museus satildeo visitados como monumentos como patrimocircnio ou seja como objetos natildeo

consumiacuteveis embora seja reconhecido o seu caraacuteter de produto cultural numa economia de bens

simboacutelicos O museu passa de templo da arte como era o British Museum no seacuteculo XIX para

um museu capaz de proteger todo o patrimocircnio mundial e cultural na Convenccedilatildeo da Unesco de

1972 (CHOAY 206 p216) O proacuteprio museu passa a ser considerado um dos dispositivos do

culto ao patrimocircnio ou uma museificaccedilatildeo de amplos campos e tipos de atividades humanas O

museu que era uma instituiccedilatildeo tornou-se uma mentalidade (CHOAY 2006 p247) e ampliou

seu poder didaacutetico e sua capacidade de

edificar ou captar a duraccedilatildeo e de abrigar o espaccedilo e retardar aiacute seu desdobramento

orientando-o para o sentido o mais capaz de servir de iniciaccedilatildeo agrave alteridade humana o

mais temiacutevel tambeacutem que aprisiona ou liberta e cujo poder criador soacute pode ser

experimentado quando se entrega a ele de forma indissociaacutevel a inteligecircncia e o corpo

(CHOAY 2006 p254)

Natildeo haacute como esperar de um museu histoacuterico uma postura reflexiva e retrospectiva quando

trabalha com a memoacuteria Diferente das perguntas que orientam a escrita da historia pelos

historiadores o discurso do museu mesmo elaborado por especialistas e dentre eles

historiadores renomados natildeo faz a interdiccedilatildeo dos sentimentos morais da reverecircncia e o respeito

ao valor sagrado do passado O museu se coloca no lugar do memorial conservando o culto aos

monumentos do passado situado no presente tem por funccedilatildeo continuar a mobilizar a memoacuteria e

deliberadamente lutar contra a praacutetica do esquecimento promovendo uma co-habitaccedilatildeo

institucionalizada para o patrimocircnio Ao estabelecer um plano de visitas o museu eacute expliacutecito em

129

relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo de proteccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio Resguardar tornar intocaacuteveis

manter fora do alcance em aacutereas protegidas o culto do patrimocircnio No museu ldquoo visitante estaacute

condenado ao percurso arrastado numa marcha que catapulta as imagens das obras umas sobre as

outras para finalmente quebraacute-las em mil fragmentos (CHOAY 2006 p217)

Haacute no Museu Histoacuterico Nacional uma dimensatildeo que fixa e estabiliza uma determinada

visatildeo da histoacuteria poliacutetica que produz e reproduz hierarquias sociais ideologias e assume um papel

na produccedilatildeo de imagens de raccedila povo naccedilatildeo criando legitimidades sociais (ANDERSON 2008

p 208)

Acredito que o Museu Histoacuterico Nacional como instituiccedilatildeo carrega como legado o

sentido poliacutetico de museu moderno tal como definido por Benedict Anderson (2008 p268) Eacute um

museu que se constitui primeiramente como Museu Real e depois como Museu Nacional e hoje

passa pela revisatildeo de seu caraacuteter ldquonacionalistardquo frente agraves novas demandas por representaccedilatildeo de

identidades raciais eacutetnicas de gecircnero e multiculturais69

Ligado diretamente ao Estado o MHN produz materiais e disponibiliza imagens que satildeo

reproduzidas infinitamente no cotidiano via manuais escolares postais selos de modo que a

musealizaccedilatildeo poliacutetica se torna celebraccedilotildees comemoraccedilotildees e emblemas da identidade nacional70

O Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional publicado em 195771

quando Gustavo

Barroso ainda era seu diretor traz ao puacuteblico as dimensotildees do museu para a eacutepoca Do ponto de

vista do espaccedilo fiacutesico o museu ocupava inicialmente duas salas que davam para a entrada

principal chamada Portatildeo da Minerva (Figura 30) Depois da exposiccedilatildeo de 1922 passou para a

Casa do Trem e outra ala do edifiacutecio Agrave eacutepoca da elaboraccedilatildeo do Guia do Visitante ocupava mais

de quarenta salas galerias escadarias vestiacutebulos arcadas e paacutetios o que natildeo possibilitava exibir

todo o acervo

69 O proacuteprio MHN realiza desde 1990 o projeto Espaccedilo Museu ndash Construccedilatildeo do Saber iniciado pelos museoacutelogos

Mario de Souza Chagas e Ruth Beatriz Silva Caldeira de Andrada voltado para professores e outros profissionais

que procuram o setor educativo do Museu Ver Rodrigues e Gouveia (2006) 70 Santos (2006) analisa a loacutegica expositiva do Museu Histoacuterico Nacional desde sua fundaccedilatildeo em 1922 ateacute a deacutecada

de 1980 e estabelece uma ldquotipologiardquo que o caracteriza sob a gestatildeo de Gustavo Barroso (1922-1959) como um

museu-memoacuteria entre as deacutecadas de 1960 e 1970 como um museu-narrativa e a exposiccedilatildeo instalada nos anos de

1980 como um museu-siacutentese 71 Santos (2006) e Chagas (2003) realizam importantes anaacutelises sobre o MHN e seu fundador Gustavo Barroso A

escolha do Guia de 1957como referecircncia para anaacutelise tem por objetivo fazer um contraponto entre o Museu deixado

por Barroso (1959) e o visitado em 2008

130

Figura 29 Capa do Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura 1957

Figura 30 Capa do folder do Museu Histoacuterico Nacional Portatildeo da

Minerva Entrada do Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da

Cultura IPHAN Guia do Visitante sd

131

O Museu no Guia do Visitante de 1957 jaacute definia que sua funccedilatildeo natildeo era apenas a de

mostruaacuterio de objetos histoacutericos mas tambeacutem de pesquisa em colaboraccedilatildeo com instituiccedilotildees de

cultura imprensa raacutedio cinema e teatro Os ldquoAnais do Museu Histoacuterico Nacionalrdquo72

eram a

traduccedilatildeo desse esforccedilo dos pesquisadores do museu O Museu se apresenta como um estudioso da

histoacuteria em relaccedilatildeo a um puacuteblico que deseja documentar com filmes e peccedilas de fundo histoacuterico O

Museu oferece nesses casos cenaacuterios indumentaacuteria caracterizaccedilatildeo de personagens tradicionais

costumes e ateacute composiccedilatildeo de diaacutelogos

Para a imprensa fornece fotografias objetos e informaccedilotildees de pessoas O museu tambeacutem

oferece curso desde 1932 para preparar teacutecnicos de museus e gabinetes de restauraccedilatildeo de quadros

e objetos de arte Formou um arquivo histoacuterico com fotografias e documentos e uma biblioteca

especializada (GUIA 1957 p13)

Myriam Sepuacutelveda Santos (2006) busca compreender a concepccedilatildeo de histoacuteria ldquoembutidardquo

nas propostas de Gustavo Barroso e suas afinidades com a histoacuteria trabalhada atualmente no

MHN Para a autora a histoacuteria apresentada e trabalhada pelo MHN na gestatildeo de Barroso era

vinculada agrave questatildeo da ldquonacionalidaderdquo e ao ldquoculto da saudaderdquo entendido como uma perspectiva

de manter viva a tradiccedilatildeo com uma metodologia memorialiacutestica e uma concepccedilatildeo de tempo

descontiacutenuo ignorando as tendecircncias de uma histoacuteria mais atual (SANTOS 2006 p35-6)

O proacuteprio Museu Histoacuterico Nacional reconhece que a partir da deacutecada de 1960 essa

concepccedilatildeo de histoacuteria ldquoanacrocircnicardquo levara a uma crise institucional e o afastamento do MHN com

relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo cultural intelectual e artiacutestica (SANTOS 2006 p55) Assim passa a

empreender diversas accedilotildees como a realizaccedilatildeo de Seminaacuterios Internacionais a partir de 1997 e a

proposiccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave ldquocomunicaccedilatildeordquo e ldquoeducaccedilatildeordquo para um puacuteblico mais amplo

notadamente o puacuteblico escolar visando agrave construccedilatildeo da nacionalidade

Trazer o Guia do Visitante de 1957 para a discussatildeo eacute uma espeacutecie de provocaccedilatildeo Uma

revisatildeo na forma de exposiccedilatildeo mudaria a concepccedilatildeo de histoacuteria do museu Essa questatildeo cabe

tambeacutem em relaccedilatildeo ao Museu do Escravo Em que medida uma nova museografia eacute suficiente

para introduzir outras concepccedilotildees de histoacuteria nos museus

72 Myrian Sepuacutelveda Santos (2006 p50-1) indica que O MHN contribui para o estabelecimento de padrotildees de

pesquisa com base em criteacuterios arqueoloacutegicos e filoloacutegicos de documentos e manuscritos que ajudam a consolidar a

ldquomoderna histoacuteriardquo e a diferenciaacute-la dos antigos antiquaacuterios Os Anais do MHN e o Curso de Museus satildeo destaques

dessa poliacutetica da instituiccedilatildeo sob a direccedilatildeo de Gustavo Barroso (1922-1959)

132

Eacute importante destacar esse aspecto da conservaccedilatildeo do acervo pois no Guia do Visitante

de 1957 a Sala Brasil-Portugal guardava as louccedilas pertencentes a D Joatildeo VI Nas paredes da

sala Brasil-Portugal vecirc-se a evoluccedilatildeo das armas nacionais nos periacuteodos monaacuterquicos nas da Sala

dos Vice-Reis os escudos heraacuteldicos dos quinze Vice-Reis do Estado do Brasil Essa disposiccedilatildeo

dos objetos natildeo existe mais mas o lugar reservado agrave figura de Dom Joatildeo VI jaacute estava

estabelecido definitivamente no Museu Histoacuterico Nacional

A entrada pelo ldquoPortatildeo da Minervardquo jaacute levava a um paacutetio com vaacuterios ldquovultos histoacutericosrdquo

sob as arcadas A primeira dependecircncia a ser visitada eacute chamada de ldquoArcada dos Descobridoresrdquo

Nela estatildeo ldquovultosrdquo que caracterizavam as ldquoeacutepocas e atividades principais da civilizaccedilatildeo

brasileirardquo Nas paredes os brasotildees de D Manuel o Venturoso Pedro Aacutelvares Cabral Pero Vaz

de Caminha e os capitatildees da armada que descobriu o Brasil (GUIA 1957 p17) Para completar o

cenaacuterio e o simbolismo da unidade Brasil e Portugal duas palmeiras imperais plantadas em 1955

a da direita com a terra de todos os Estados e territoacuterios do Brasil e aacutegua do rio S

Francisco pelo presidente Joatildeo Cafeacute Filho a da esquerda com a terra de Portugal areia

da praia de Porto Seguro e aacutegua do Tejo pelo Embaixador portuguecircs Antocircnio de Faria

(GUIA 1957 p20-1)

Figura 31 Portatildeo de Minerva Guia do Visitante Museu Histoacuterico

Nacional

133

Figura 32 Arcada dos descobridores Guia do Visitante Museu

Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura 1957

O conceito de evidecircncia material trabalhado pelo museu natildeo eacute o mesmo utilizado pela

historiografia Enquanto no museu a exposiccedilatildeo visa ldquoilustrarrdquo uma interpretaccedilatildeo historiograacutefica

gerada em outros lugares (textos ensaios livros) a historiografia trata a cultura material como

fonte de pesquisa

Do ponto de vista dos visitantes a funccedilatildeo do acervo natildeo eacute documental e ao mesmo tempo

jaacute eacute uma versatildeo da histoacuteria A forma de apresentaccedilatildeo dos objetos ainda daacute o status de

testemunhos mostrando a importacircncia da materialidade para a comprovaccedilatildeovalidaccedilatildeo das

narrativas histoacutericas A exposiccedilatildeo como forma de reunir um acervo que natildeo pertence ao museu

lhe confere maior poder de criar visibilidade

Eacute isso que parece fazer a visitante Michele Oliveira Xavier que reuacutene novamente o acervo

do museu apoacutes sua visita Ela recria seu percurso e o patrimocircnio do Museu Histoacuterico Nacional em

uma nova exposiccedilatildeo

134

Figura 33 XAVIER Michele Oliveira Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo

Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008

O percurso da visitante pelo Museu Histoacuterico Nacional cria uma nova coleccedilatildeo agora

pertencente agrave estudante Reunidos em um novo museu imaginaacuterio figuram escadaria de acesso ao

andar superior com a escultura equumlestre de Dom Pedro II de Francisco Manoel Chaves Pinheiro

um veiacuteculo de transporte de traccedilatildeo animal que faz parte da exposiccedilatildeo permanente desde 1925 e

hoje intitulada do ldquoDo moacutevel ao automoacutevel transitando pela histoacuteriardquo dois detalhes da exposiccedilatildeo

que foi visitada pelo grupo uma pena e uma coroa de ouro

52- Comemoraccedilotildees Histoacuteria do Brasil e dos brasileiros

A Histoacuteria como disciplina acadecircmica entende e faz uso dos museus para desenvolver

pesquisas sobre a cultura material (arqueologia etnografia histoacuteria da arte) que soacute satildeo possiacuteveis

com pesquisa de campo e consulta a documentaccedilatildeo visual (fotos pinturas objetos

tridimensionais) e coleccedilotildees abrigadas nos museus (SUANO 1986 p75)

A historiografia contemporacircnea tem mostrado interesse pelo tema do patrimocircnio da

memoacuteria e dos museus Principalmente pelas relaccedilotildees entre os museus a naccedilatildeo e a histoacuteria-

135

memoacuteria nacional Dominique Poulot (2011) Pierre Nora (1982 1994) mudam o enfoque em

relaccedilatildeo agrave histoacuteria e as formas de estudar os museus relacionando as instituicotildees culturais com as

estruturas sociais que lhes deram origem e com seu caraacuteter instrumental em relaccedilatildeo aos poderes

constituiacutedos (BREFE 1998 p88)

A exposiccedilatildeo museal passa a ser vista como o principal meio pelo qual o passado eacute

publicado e apresentado A funccedilatildeo central dos museus eacute oferecer aos olhos do puacuteblico uma seacuterie

de procedimentos que pretendem falar diretamente ao visitante usando recursos que podem ser

chamados de ldquoembalagemrdquo dos objetos um cenaacuterio ou cena iluminaccedilatildeo embelezamento

midiaacutetico e escolhas de aspectos pitorescos ou estereoacutetipos (CHOAY 2006 p240)

Os museus tambeacutem procuram valorizar as informaccedilotildees trazidas pelos objetos (obras)

inaugurando uma criacutetica fundada na experiecircncia visual e na apreensatildeo direta das obras e natildeo mais

na leitura de textos Antes mesmo do conteuacutedo de cada exposiccedilatildeo e das particularidades do

acervo de cada instituiccedilatildeo haacute a reivindicaccedilatildeo do museu por tornar puacuteblica uma determinada

coleccedilatildeo e a preservaacute-la

Se haacute uma praacutetica patrimonial por parte dos museus e no caso do Museu Histoacuterico

Nacional essa praacutetica se refere a uma ldquorememoraccedilatildeordquo dos acontecimentos fundadores da naccedilatildeo de

modo a invocar o passado como forma de manter e preservar a identidade de uma comunidade

nacional o museu se coloca como capaz de desenvolver uma grande narrativa nacional

O Museu Histoacuterico Nacional cria formas simboacutelicas dentro de regras mais amplas de

codificaccedilatildeo da linguagem museoloacutegica Isso pode ser explorado tanto no relato escrito pelos

visitantes e em suas fotografias quanto nos impressos produzidos pelo proacuteprio museu voltados a

diferentes puacuteblicos como o cataacutelogo da exposiccedilatildeo e o material educativo voltado agrave comunidade

escolar

O MHN natildeo poderia ficar de fora dos festejos de ldquoum grande acontecimento que marcou a

histoacuteria do Brasilrdquo Festejar as datas nacionais faz parte da agenda do Museu As escolas podem

agendar e fazer visitas especiacuteficas nestas ocasiotildees Aleacutem de ter um acervo o museu nacional tem

por missatildeo dar a conhecer a Histoacuteria do Brasil O MHN fala portanto desse lugar conceituado e

de culto agrave memoacuteria de transmissatildeo agraves novas geraccedilotildees do legado dos antepassados Tambeacutem aqui

entra uma avaliaccedilatildeo do Museu sobre o que guardar preservar e expor satildeo obras raras ineacuteditas

136

originais nunca reunidas ou vistas Soacute um grande Museu pode reunir esse conjunto realizar esse

feito

A narrativa do Museu Histoacuterico Nacional fica mais expliacutecita quando se percebe que essas

comemoraccedilotildees ocorreram de forma mais enfaacutetica no Rio de Janeiro e satildeo divulgadas por

emissora de televisatildeo de projeccedilatildeo nacional dando ecircnfase ao fato de que a vinda da Corte

portuguesa transforma ldquoa nossa cidaderdquo segundo o material educativo em Capital do Impeacuterio

Luso projetando imagens de desenvolvimento econocircmico e poliacutetico comuns na historiografia

brasileira ao longo dos seacuteculos XIX e XX

O esforccedilo do prefeito do Rio de Janeiro empresas privadas e autoridades portuguesas para

criar esse evento cercado de discursos nacionalistas e patrioacuteticos culmina no estabelecimento de

uma comissatildeo oficial para as Comemoraccedilotildees da Chegada de D Joatildeo e da Famiacutelia Real ao Rio de

Janeiro que teve por coordenador Alberto da Costa e Silva e contou com a consultoria de Liacutelia

Schwarcz que elaborou um Calendaacuterio das Comemoraccedilotildees marcado por exposiccedilotildees debates

apresentaccedilotildees musicais publicaccedilotildees entre outubro de 2007 a dezembro de 2008 A exposiccedilatildeo do

Museu Histoacuterico Nacional eacute considerada como

a uacutenica exposiccedilatildeo prevista na agenda de eventos do Rio de Janeiro que enfatizaraacute os

aspectos econocircmicos poliacuteticos e culturais da vinda da famiacutelia real portuguesa dando a oportunidade aos brasileiros de conhecerem melhor o contexto histoacuterico que cercou D

Joatildeo VI o primeiro monarca europeu a atravessar o oceano Atlacircntico e o responsaacutevel

pelo estabelecimento da sede do maior impeacuterio das Ameacutericas entrelaccedilando para sempre

a histoacuteria do Brasil e de Portugal (ltwwwriorjgovbrculturasgt Acesso em maio de

2008)

Eacute possiacutevel explorar um pouco mais a ideia de circuito da cultura a partir dos dispositivos

visuais e narrativos propostos pelo Museu Histoacuterico Nacional na exposiccedilatildeo comemorativa dos

duzentos anos da vinda da Famiacutelia Real ao Brasil apresentada no Rio de Janeiro em 2008

Enquanto a visatildeo de histoacuteria apresentada pelo museu implica em ldquocelebrarrdquo no sentido de

ter veneraccedilatildeo pelo passado ou tradiccedilatildeo agrave medida que a cultura eacute exposta ela eacute revestida de outros

sentidos menos transcendentes O visitante resiste culturalmente e estabelece uma distacircncia que o

diferencia do que o museu e sua exposiccedilatildeo estatildeo propondo Ainda que haja um efeito de

encantamento ele natildeo chega a bloquear as imagens circundantes e silenciar tudo em volta do

objeto Os visitantes reconhecem que o museu promove uma das exposiccedilotildees mais importantes

137

sobre a eacutepoca da corte no Brasil que seu acervo eacute enorme mas natildeo deixam de observar a falta de

um tema

Percebi ali uma idealizaccedilatildeo de padratildeo de vida e uma inibiccedilatildeo sobre um tema que

predominava durante todo o seacuteculo XIX a escravidatildeo Natildeo vimos pela cidade sequer

vestiacutegios de que ali viviam em maior porcentagem a populaccedilatildeo escrava que trabalhava

para a coroa Uma espetacularizaccedilatildeo da cultura onde monumentos e documentos ganham valor extraordinaacuterio e perdem muitas vezes em se mostrar o valor real daqueles objetos

principalmente no Museu Histoacuterico Nacional (Priscila Braga Gonccedilalves Relatoacuterio de

visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

A estudante analisa a exposiccedilatildeo comemorativa do Museu Histoacuterico Nacional a partir de

sua formaccedilatildeo histoacuterica Faz uma criacutetica historiograacutefica e cultural Ela identifica um excesso e

uma falta na abordagem do museu Sobra encenaccedilatildeo e falta um conteuacutedo agraves comemoraccedilotildees da

vinda da famiacutelia real Eacute uma criacutetica que tem por fundamento o que a visitante jaacute estudou sobre a

historiografia brasileira A criacutetica a espetacularizaccedilatildeo da cultura eacute marcada pela forma como o

museu trabalha com os objetos O museu transforma os documentos em monumentos ao atribuir-

lhes um valor extraordinaacuterio ou seja de raridade de curiosidade e natildeo de vestiacutegios ou

testemunhos A histoacuteria do Brasil apresentada pelo Museu Histoacuterico Nacional eacute uma versatildeo

idealizada e excludente em relaccedilatildeo a outras versotildees historiograacuteficas

Embora a ideacuteia de Naccedilatildeo natildeo apareccedila de forma expliacutecita no tiacutetulo da exposiccedilatildeo eacute em torno

desse conceito que se organiza toda a loacutegica do Museu Histoacuterico Nacional73

O Museu Histoacuterico

Nacional continua promovendo comemoraccedilotildees e de certa forma manteacutem viva a tradiccedilatildeo de

transmutaccedilatildeo da memoacuteria coletiva em memoacuteria histoacuterica ao proteger a ldquoheranccedila monumental da

naccedilatildeordquo O museu faz uma revisatildeo dos heroacuteis e aplica uma nova camada de sentido ou valor ao

passado Os valores nacionais introduzidos no presente pelo museu funcionam como uma

pedagogia do civismo uma memoacuteria histoacuterica que eacute mobilizada pelo sentimento de

pertencimento ao nacional um laccedilo com o passado e com a identidade (referecircncia)

Do ponto de vista do museu a exposiccedilatildeo eacute celebrativa mas o poder de escrever a histoacuteria

com objetos soacute se efetiva se as portas do museu estiverem abertas agrave aprendizagem e agraves posturas

investigativas em relaccedilatildeo agraves atitudes do proacuteprio museu no tratamento dos temas da memoacuteria e do

patrimocircnio

73 Bittencourt (2003 p156-7) chama a atenccedilatildeo para a constituiccedilatildeo de outros tipos de museus de histoacuteria nacional

vinculados ao Estado mas voltados para as coisas do ldquopovordquo e da ldquoculturardquo

138

A primeira atitude do grupo de estudantes de graduaccedilatildeo em Histoacuteria em visita agraves

exposiccedilotildees em comemoraccedilatildeo aos duzentos anos da Vinda da Famiacutelia Real Portuguesa ao Brasil eacute

avaliar como o museu apresenta os objetos A trilha deixada pelo museu nos visitantes eacute em um

primeiro plano a aceitaccedilatildeo dos paracircmetros elaborados pela exposiccedilatildeo Entretanto muitos

visitantes fazem ressoar a ideia do museu como aquele que escreve a histoacuteria com os objetos de

seu acervo

Ali estaacute exposto todo um acervo muito bem preservado e identificado como carruagens

louccedilas pratarias armas objetos pessoais santos religiosos moacuteveis quadros entre outros

dando a oportunidade principalmente a noacutes historiadores de poder conhecer melhor todo o contexto histoacuterico que cercou D Joatildeo VI e sua vinda com sua corte ao Brasil

entrelaccedilando a histoacuteria do Brasil e de Portugal (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de

visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

A novidade na observaccedilatildeo da estudante eacute a criaccedilatildeo de uma referecircncia de identidade

profissional do grupo de visitantes ldquonoacutes historiadoresrdquo O uso do museu histoacuterico eacute pelo que ele

traz de objetos A organizaccedilatildeo a classificaccedilatildeo pode ser feita pelos visitantes que entendem como

funciona a montagem e desmontagem de exposiccedilotildees e podem usar livremente de criteacuterios

diferentes daqueles adotados pelo museu

A concepccedilatildeo de histoacuteria presente no Museu Histoacuterico Nacional estaacute materializada nos

objetos selecionados e dispostos nas exposiccedilotildees permanentes e temporaacuterias Na visita agrave exposiccedilatildeo

comemorativa da vinda da corte portuguesa observa-se que existem acontecimentos fundamentais

na formaccedilatildeo da sociedade brasileira e eles estatildeo estabelecidos pelo Museu como marcos

cronoloacutegicos 1808-1822

A concepccedilatildeo de uma histoacuteria integrada ou ldquomomentos simboacutelicos comuns da histoacuteria do

Brasil e de Portugalrdquo (TOSTES 2000 p7) jaacute vinha sendo trabalhada pelo MHN e foi

apresentada tanto no ldquoSeminaacuterio Internacional D Joatildeo VI um rei aclamado na Ameacutericardquo

realizado em 2000 quanto em duas outras exposiccedilotildees realizadas nas dependecircncias do MHN

como parte das comemoraccedilotildees dos descobrimentos portugueses

A demanda por ldquorememoraccedilatildeordquo desta histoacuteria poliacutetica eacute parte desta visatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional Haacute por parte do Museu um reforccedilo da identidade nacional em detrimento de

outras demandas por valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio cultural local e regional Esta visatildeo

integradora da cultura presente no Museu Histoacuterico Nacional contrasta com as orientaccedilotildees da

139

Poliacutetica Nacional de Museus de 2003 que define o papel dos museus como ldquodispositivo

estrateacutegico de aprimoramento dos processos democraacuteticosrdquo e a ldquonoccedilatildeo de patrimocircnio cultural do

ponto de vista museoloacutegicordquo implica na ldquorelaccedilatildeo dos diferentes grupos sociais e eacutetnicos com os

diversos elementos da natureza bem como a respeito das culturas indiacutegenas e afrodescendentesrdquo

(BRASIL 2003 p 8)

Reginaldo Santos Gonccedilalves em prefaacutecio ao livro de Myriam Sepuacutelveda dos Santos

(2006) defende que o museu pode ser pensado como um ldquosistema mais ou menos coerente de

relaccedilotildees sociais e culturais variando no tempo e no espaccedilordquo Os museus satildeo como teias de

pensamento nas quais as instituiccedilotildees satildeo discursivamente articuladas As categorias de

pensamento como histoacuteria naccedilatildeo memoacuteria e passado satildeo articuladas em linguagens

museoloacutegicas tipos de objetos materiais formas de colecionismo classificaccedilatildeo e exibiccedilatildeo que

circulam aleacutem dos muros e tem efeitos no cotidiano dos cidadatildeos (GONCcedilALVES apud

SANTOS 2006 p3-4)

O papel formador dos museus eacute dado por esse seu caraacuteter de impor uma determinada

ordem sobre os objetos materiais mediado por categoriais disciplinares da histoacuteria e constituir

uma escrita museoloacutegica No caso do Museu Histoacuterico Nacional Myriam Sepuacutelveda dos Santos

distingue um museu-memoacuteria nos primeiros anos de existecircncia do MHN e um museu-narrativa a

partir dos anos de 1980

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo74

tambeacutem apresenta os objetos histoacutericos pelo fato de que teriam

pertencido a vultos poliacuteticos retratos armas armaduras tronos moacuteveis moedas medalhas A

proposta de exposiccedilatildeo em 2008 pelo MHN se pauta por estes objetos pois no primeiro cataacutelogo

publicado pela instituiccedilatildeo em 1924 jaacute constavam as salas dos Tronos e do Cetro com ldquograndes

peccedilas de mobiliaacuterio pertencentes ao rei D Joatildeo VIrdquo (BITTENCOURT 2003 p158)

Uma exposiccedilatildeo museal em geral tem um custo financeiro e operacional significativo e eacute

viabilizada com parcerias de diversas instituiccedilotildees que contribuem para realizaccedilatildeo do evento O

cataacutelogo da exposiccedilatildeo comemorativa aos duzentos anos da Vinda da Corte Portuguesa ao Brasil

intitulada Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo

realizada pelo Museu Histoacuterico Nacional em sua sede no Rio de Janeiro em 2008 registra

74 Os estudantes natildeo tiveram acesso a esse cataacutelogo Ele foi adquirido em momento posterior agrave visita presencial ao

museu

140

agradecimentos a museus de Portugal agrave Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian a bancos a banqueiros e

a instituiccedilotildees de patrimocircnio ligadas ao Ministeacuterio da Cultura do governo brasileiro como o

IPHAN

Figura 34 Reproduccedilatildeo da Capa do Cataacutelogo da ldquoExposiccedilatildeo Um novo

Mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo

Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo traz os textos dos organizadores e suas intenccedilotildees Nenhuma

comemoraccedilatildeo passa incoacutelume pela disputa poliacutetica por memoacuterias e narrativas E esta tensatildeo pode

ser vista jaacute no texto de apresentaccedilatildeo do cataacutelogo intitulado Palavras preacutevias Nele o entatildeo

ministro de Estado da Cultura o muacutesico Gilberto Passos Gil Moreira abre oficialmente a mostra

do Museu Histoacuterico Nacional reconhecendo a vinda da famiacutelia real portuguesa em 1808 como

um evento fundador da ldquoidentidade nacionalrdquo e da ldquonaccedilatildeordquo Entretanto aos olhos do ministro a

chegada da corte eacute uma heranccedila cheia de ldquodor da colonizaccedilatildeo e perversa submissatildeo dos

afrodescendentesrdquo Em seguida volta a reconhecer que essa mesma cultura europeacuteia ou

portuguesa que aqui chegou permitiu que o Brasil se tornasse uma ldquoimensa paacutetria caldeiratildeo para

todas as culturas e berccedilo mesticcedilo de uma nova civilizaccedilatildeo ainda em processordquo

O ministro de um lado parece criticar a ldquogrande narrativa da naccedilatildeordquo que eacute excludente

com os afrodescendentes mas de outro lado conecta a narrativa proposta pelo Museu Histoacuterico

141

Nacional ao sentido que lhe atribui Anderson (2008) como parte da construccedilatildeo de uma

ldquocomunidade imaginadardquo da qual todos fazem parte

Gilberto Gil atribui ao evento comemorado um caraacuteter histoacuterico fundador da

nacionalidade Eacute a vinda da famiacutelia real que daacute iniacutecio e cria uma linha de continuidade um

sentido duradouro de ldquodestino nacionalrdquo que preacute existe e continuaraacute existindo apoacutes a morte dos

sujeitos concretos que dele participaram Em seguida o ministro interpreta a tradiccedilatildeo ou a

heranccedila que nos prende a este passado como uma continuidade poliacutetica uma cultura de longa

duraccedilatildeo da qual ldquoprecisa-serdquo no sentido de Fernando Pessoa (navegar eacute preciso) voltar sempre e

fazer referecircncia jaacute que se constitui como a origem da naccedilatildeo

O Brasil concebido por Gilberto Gil deseja perpetuar a heranccedila portuguesa mas

reconhece que essa heranccedila natildeo foi capaz de unificar os diferentes membros da naccedilatildeo em um soacute

sujeito em termos de homogeneidade cultural Haacute diferenccedilas entre culturas etnias e raccedilas Com a

metaacutefora da antropofagia ldquoque assimila e digere o que chega a ser devolvido em inovaccedilatildeo em

invenccedilatildeo e indiferenccedilardquo o ministro reforccedila a ambiguumlidade do acontecimento (TOSTES 2008

p10)

Entretanto ao revisitar a tradiccedilatildeo portuguesa o ministro natildeo pode deixar de reinventaacute-la

Natildeo haacute um elogio da colonizaccedilatildeo a ecircnfase recai na ldquodor dos afrodescendentesrdquo que a estudante

Priscila Braga Gonccedilalves identificou continuam natildeo sendo representados na exposiccedilatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional

A apresentaccedilatildeo da exposiccedilatildeo comeccedila entatildeo com a cena marcada pela ambiguumlidade A

presenccedila fiacutesica de um afrodescendente que ocupa o cargo poliacutetico de ministro da Cultura de um

governo que denuncia a exclusatildeo social e promove poliacuteticas puacuteblicas de igualdade racial e

representaccedilatildeo de identidades na abertura de numa exposiccedilatildeo que lhe provoca ldquodorrdquo

Jaacute o presidente da Fundaccedilatildeo Colouste Gulbenkian patrocinadora da exposiccedilatildeo Emiacutelio

Rui Vilar ressalta que a exposiccedilatildeo

reuacutene mais 300 peccedilas e documentos ineacuteditos que constituem interessantes e apelativos

testemunhos capazes de transportar o visitante para a eacutepoca que o Rio de Janeiro se

tornou a sede da corte portuguesa e em que as artes europeacuteias entraram em frutuoso

diaacutelogo com o clima acolhedor e com as belas paisagens do Brasil (TOSTES 2008)

142

Em alguma medida esse caraacuteter documental e monumental da exposiccedilatildeo eacute reconhecido

pelos visitantes que tambeacutem descrevem a exposiccedilatildeo como um testemunho de eacutepoca Natildeo por ser

capaz de transportaacute-los para outra eacutepoca mas por estarem em presenccedila de objetos de outra eacutepoca

colocam-se e frente ao passado

Num primeiro momento encontramos uma exposiccedilatildeo muito bacana por sinal que nos

remete aos motivos que levaram a famiacutelia real a vir para o Brasil bem como os objetos

utilizados por ela tais como cadeiras louccedilas armaacuterios vasos buacutessolas etc o que vale a

pena destacar eacute como a exposiccedilatildeo estaacute temporalmente organizada Alguns importantes

momentos satildeo apresentados de forma luacutedica e atrativa (Frederico Levi Amorim

Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

O entendimento de que a exposiccedilatildeo eacute uma produccedilatildeo cultural e uma forma de escrita da

histoacuteria tambeacutem aparece em diversos relatos dos visitantes ldquoA exposiccedilatildeo foi pensada de modo a

suscitar no visitante uma visatildeo ampla e criacutetica em relaccedilatildeo agrave histoacuteria e a formaccedilatildeo social brasileira

tirando tambeacutem um pouco daquela visatildeo de D Joatildeo como glutatildeo e bobordquo diz a estudante Marly

Marques Rodrigues

53- Ensinando histoacuteria ldquo200 anos da vinda da Famiacutelia Real para o Brasilrdquo

O Museu Histoacuterico Nacional produz tambeacutem um caderno educativo dirigido a crianccedilas e

jovens como parte da exposiccedilatildeo temporaacuteria Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte

Portuguesa no Brasil Nesse material o MHN interpela o puacuteblico em torno do tema das

comemoraccedilotildees dos 200 anos da vinda da Famiacutelia Real e cria diaacutelogos especiacuteficos na cultura entre

museu e visitantes

O que o Museu Histoacuterico Nacional apresenta eacute mais que uma simples exposiccedilatildeo

temporaacuteria sobre o tema O museu se coloca no lugar daquele que participa da criaccedilatildeo do proacuteprio

evento-comemoraccedilatildeo em torno da data O material educativo convoca um puacuteblico especiacutefico a

participar do calendaacuterio do bicentenaacuterio das ldquocomemoraccedilotildeesrdquo da vinda da Famiacutelia Real ao Rio de

Janeiro O MHN constroacutei o proacuteprio acontecimento agrave medida que configura uma narrativa

escolhendo textos imagens e a abordagem que conduz os sentidos para outros sujeitos provaacuteveis

visitantes O Museu indica claramente qual eacute o seu papel na disputa pelas memoacuterias e visotildees de

histoacuteria e como continua protagonizando os acontecimentos

143

O MNH elabora uma narrativa sobre a vinda da famiacutelia real a ser divulgada em um

material educativo para ensinar histoacuteria Cabe na anaacutelise desse material identificar algumas

tensotildees presentes nessa narrativa A primeira eacute identificar um sujeito jaacute inscrito no texto e uma

correspondecircncia imediata entre o que o museu supotildee ser um visitante ideal e aqueles que

efetivamente o visitam que natildeo estatildeo necessariamente em plena sintonia com o proposto pela

exposiccedilatildeo

Figura 35 Capa do Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo

mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil18082008

Brasil-Portugal Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

Esse tipo de material uma cartilha educativa tem por objetivo ampliar os significados do

evento-exposiccedilatildeo para um puacuteblico escolar enquadrando numa moldura o cenaacuterio os personagens

e as fontes que seratildeo oferecidos e criando referecircncias para os estudantes Haacute consequecircncias

poliacuteticas e sociais em termos dos referenciais histoacutericos expressos pelo museu e o grau de

legitimidade dessa seleccedilatildeo feita por esse produtor de cultura autorizado para escrever uma

histoacuteria nacional

Os conteuacutedos e temaacuteticas da cartilha pretendem ensinar histoacuteria Destacam-se

personagens histoacutericos datas e eventos poliacuteticos e administrativos proferidos num tom

144

transmissivo aos jovens estudantes O material possui cinquumlenta paacuteginas num formato de

pequeno caderno (cartilha) com imagens coloridas textos e atividades com espaccedilo para respostas

A capa eacute um desenho sem indicaccedilatildeo de autoria que mistura siacutembolos nacionais como o verde

amarelo bandeiras de Portugal e caravelas indicando a saiacuteda da corte da Europa sua passagem

por Salvador e chegada ao Rio de Janeiro A ligaccedilatildeo entre Portugal e Brasil tambeacutem se faz nas

legendas que associam a chegada da Corte a um novo mundo um novo impeacuterio e a permanecircncia

dessas ligaccedilotildees numa faixa abaixo do mapa escrita em vermelho ldquoPortugal 1808-2008 Brasilrdquo

A cartilha eacute orientada para um puacuteblico e as praacuteticas culturais que permeiam a elaboraccedilatildeo

desse artefato evidenciam o diaacutelogo entre o museu e o visitante tanto nos temas estruturas

narrativas valores culturais e hierarquias A anaacutelise do material produzido pelo museu considera

especificamente como ele constroacutei um puacuteblico um visitante atribuindo-lhe caracteriacutesticas de

idade e escolaridade articuladas agrave concepccedilatildeo sobre o que eacute um Museu Agrave medida que o Museu

dirige-se a um suposto vocecirc que visitou a exposiccedilatildeo e agora lecirc o material elaborado por sua

equipe ele fala fundamentalmente dele mesmo de suas concepccedilotildees de histoacuteria e de memoacuteria

O material educativo define a vinda da famiacutelia real como um evento histoacuterico

significativo e que deve ser comemorado Em seguida o Museu Histoacuterico Nacional como sujeito

de uma narrativa histoacuterica confere ao evento legitimidade e convida a reflexatildeo sobre o tipo de

narrativa que o museu pretende repercurtir e publicizar na exposiccedilatildeo

Haacute na estrutura narrativa do material educativo e no sistema de imagens uma

ldquoconvocaccedilatildeordquo ao visitante e uma indicaccedilatildeo de como deve visitar a exposiccedilatildeo Esta interpelaccedilatildeo

do puacuteblico indica uma posiccedilatildeo fiacutesica e um lugar social Haacute um destinataacuterio para o qual se oferece

ldquoconvidardquo a ver de um ponto de vista particular a construir conhecimentos em certa perspectiva

social e poliacutetica

Ao considerar o material pedagoacutegico produzido pelo MHN eacute possiacutevel mapear trecircs

dispositivos de construccedilatildeo da histoacuteria pelo museu o lugar do qual fala o museu o campo de

disputa sobre as concepccedilotildees de histoacuteria e memoacuteria e as opccedilotildees poliacuteticas e esteacuteticas do museu com

relaccedilatildeo ao campo museal e educacional No primeiro caso o Museu Histoacuterico Nacional

comparece como uma instituiccedilatildeo cultural e se posiciona como sujeito frente agraves comemoraccedilotildees

histoacutericas No segundo aponta no material pedagoacutegico em seu conteuacutedo e forma uma visatildeo

145

especiacutefica acerca da Histoacuteria elaborada dentro do campo museal Por fim se posiciona frente agraves

disputas e debates historiograacuteficos que emergem no campo educativo

O sentido atribuiacutedo agraves comemoraccedilotildees natildeo surge do proacuteprio material educativo mas da

forma como ele eacute apresentado pelas linguagens (escolhas dos produtores) e coacutedigos de

inteligibilidade Eacute nesse trabalho de fechamento e marcaccedilatildeo de fronteiras simboacutelicas entre museu

e visitantes que se definem tanto o que eacute o Museu Histoacuterico Nacional (unidade instaacutevel posiccedilatildeo

de poder praacuteticas de memoacuteria que nomeiam um lugar nacional e histoacuterico para regulaccedilatildeo da

cultura) quanto se configura um puacuteblico visitante que deve reiterar a norma e responder

positivamente agraves mensagens (exposiccedilotildees) regulando a si mesmo sua identidade e subjetividade

internalizando condutas normas regras e modos de ser e pensar sobre o que eacute a histoacuteria e a

memoacuteria

O processo de interpelaccedilatildeo de um personagem preferencial imaginaacuterio (vocecirc) se daacute a

partir de uma temaacutetica organizaccedilatildeo em subitens e atividades que propotildeem uma proximidade com

o visitante Ao mesmo tempo a arquitetura dessa organizaccedilatildeo implica por parte do Museu a

aposta em certos interesses e competecircncias do visitante supostamente uma crianccedila que frequumlente

regularmente a escola baacutesica que foi agrave exposiccedilatildeo com sua professora e colegas que possui uma

famiacutelia (pai matildee avoacutes) moradia fixa mobiliada com mesas e cadeiras e alimentaccedilatildeo adequada

Essas imagens a respeito de seu puacuteblico podem ser inferidas quando em diversas

atividades propostas pede-se que a suposta crianccedila faccedila uma ldquoaacutervore genealoacutegicardquo peccedila ajuda de

seus pais sua famiacutelia Escolhendo essa forma de se dirigir aos visitantes o MHN decide quem

inclui e quem exclui da definiccedilatildeo de puacuteblico e avalia para quem fala preferencialmente um

estudante e provavelmente seu professor que tambeacutem pode usar o material pedagoacutegico

encomendando-lhe o ldquoPara Casardquo endereccedilado pelo Museu

O material didaacutetico em questatildeo guarda relativa autonomia em relaccedilatildeo ao

eventocomemoraccedilatildeo e agraves demais exposiccedilotildees permanentes do Museu agrave medida que circula de

forma mais ampla e indica uma permanecircncia pelo seu formato impresso No entanto a concepccedilatildeo

de histoacuteria presente no material e na proacutepria exposiccedilatildeo75

aponta para uma narrativa que considera

o tempo da chegada da famiacutelia como um marco para o progresso e o prenuacutencio de uma nova

ordem poliacutetica ndash a independecircncia em 1822 ndash que fecha a exposiccedilatildeo Na uacuteltima parte do percurso a

75 Ver chamada no site do proacuteprio wwwmuseuhistoriconacionalcombr chamada para a Exposiccedilatildeo

146

estaacutetua de D Pedro I proclama (com aacuteudio) a Independecircncia do Brasil No caderno didaacutetico uma

fotomontagem reuacutene a estaacutetua de D Pedro I de Rodolfo Bernardelli pertencente ao acervo do

MNH com um balatildeo no qual em primeira pessoa a estaacutetua se diz herdeira do trono de Portugal e

grita ldquoIndependecircncia ou Morterdquo

O caderno indica eventos cujos sujeitos satildeo os membros da Famiacutelia Real Satildeo eles que

asseguram a continuidade com um passado colonial mas marcha rumo agrave histoacuteria nacional A

chave de explicaccedilatildeo histoacuterica eacute a relaccedilatildeo de dependecircncia entre colocircnia e metroacutepole que tambeacutem

aparece em outras exposiccedilotildees do Museu como a ldquoColonizaccedilatildeo e Dependecircnciardquo e ldquoMemoacuteria do

Estado Imperialrdquo76

A memoacuteria para o Museu Histoacuterico Nacional eacute um ldquodeverrdquo tornar presente

celebrar para um puacuteblico cuja idade e escolaridade natildeo identificam as variaacuteveis e os sentidos

manipulados por quem faz a exposiccedilatildeo A versatildeo da Histoacuteria oferecida aos visitantes pode ser

contestada mas o trabalho visual feito pelo Museu natildeo abre muito espaccedilo para interaccedilotildees com os

visitantes

O material dispensa um contanto fiacutesico com o professor o com os agentes do museu As

atividades propostas no material falam diretamente com um ldquoalunordquo dando-lhe instruccedilotildees tais

como desenhar pesquisar interpretar observar relacionar e escrever Os recursos graacuteficos e

visuais tambeacutem se apresentam como dispositivos de credibilidade e atribuiccedilatildeo de autenticidade

No caso do Museu isso eacute feito com referecircncia ao seu acervo embora natildeo indique muitas vezes

no material educativo a procedecircncia da imagem e nem faccedila referecircncias se elas estavam ou natildeo

na exposiccedilatildeo Ao apresentar algumas imagens especiacuteficas o material educativo busca o

reconhecimento de sua autenticidade e de sua raridade usando o fato de pertencerem ao acervo do

museu ou mesmo a uma importante coleccedilatildeo particular O MHN tambeacutem busca se aproximar do

visitante por meio do impacto visual ressaltando o formato as dimensotildees da pintura No material

impresso satildeo criados diversos recursos graacuteficos para facilitar a leitura Textos curtos que

dialogam com o leitor graacuteficos mapas e o uso de siacutembolos relacionados agrave monarquia portuguesa

e famiacutelia de Braganccedila como coroas leques bandeiras cartolas brasotildees que povoam as paacuteginas

do material educativo

No caso do material do MHN a exploraccedilatildeo de objetos bidimensionais (quadros

fotografias documentos escritos) e tridimensionais (esculturas mobiliaacuterio louccedilas moedas

76 Ver folder de divulgaccedilatildeo do MHN e site citado acima

147

brasotildees) presentes na Exposiccedilatildeo eacute obrigatoacuteria A relaccedilatildeo entre o texto e as imagens reproduzidas

e trabalhadas no material impresso natildeo podem ser pensadas dada a proacutepria finalidade dos objetos

museais de maneira apenas ilustrativa Aqui o Museu lanccedila matildeo de toda a discussatildeo sobre a

importacircncia de seu acervo para reforccedilar sua funccedilatildeo e seu lugar junto agraves instituiccedilotildees de memoacuteria

nacionais Ainda que nem todas as imagens sejam acompanhas das devidas referecircncias quanto agrave

procedecircncia (acervo) toda a iconografia proveniente do proacuteprio MHN estaacute devidamente

identificada e classificada O lugar de autoridade do Museu promove uma comparaccedilatildeo entre os

quadros de Geoff Haunt um especialista contemporacircneo em pinturas navais intitulado Chegada

da famiacutelia real em 7 de marccedilo de 1808 feito sob encomenda para Kenneth Light77

em 1999 A

outra reproduccedilatildeo eacute de Cacircndido Portinari Chegada de D Joatildeo agrave Bahia uma tela de 1952 A

terceira eacute a imagem de um Leque comemorativo da chegada da famiacutelia real da coleccedilatildeo Mariano

Procoacutepio

O exerciacutecio de leitura de imagem proposto pelo Material Educativo (Figura 36) considera

que a pintura a oacuteleo sobre tela de Haunt eacute uma ldquopintura histoacuterica documental em que o objetivo

eacute ser fiel como uma fotografia [] natildeo mostra uma interpretaccedilatildeo do artista como no caso da obra

de Portinarirdquo (Material Educativo 2008 p228-29)

77 Estudioso dos diaacuterios de bordo da marinha inglesa que acompanharam a vinda da corte portuguesa ao Brasil no

iniacutecio do seacuteculo XIX

148

Figura 36 Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um

novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil18082008 Brasil-

Portugal Museu Histoacuterico NacionalRio de Janeiro 2008

As trecircs obras destacadas pelo Material Educativo natildeo fazem parte do acervo do Museu

Histoacuterico Nacional A primeira pertence a um banco da Bahia a outra eacute parte do acervo do

Museu Mariano Procoacutepio de Juiz de Fora e a terceira eacute da coleccedilatildeo particular de Kenneth Light

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo mais parece um inventaacuterio comentado e ilustrado Natildeo haacute

qualquer texto que discuta a concepccedilatildeo da proacutepria exposiccedilatildeo Eacute no caderno educativo que as

intenccedilotildees de ensino de Histoacuteria do Brasil ficam mais expliacutecitas

Resta explorar um pouco mais como os visitantes negociam com o museu essa visatildeo de

histoacuteria Frente agrave tentativa clara da exposiccedilatildeo de celebrar uma histoacuteria da naccedilatildeo e escrever a

histoacuteria poliacutetica e social expondo os testemunhos histoacutericos materiais que estavam descontiacutenuos

numa narrativa resta indagar como os visitantes se posicionam frente agrave visatildeo do museu e se

conseguem ou natildeo se contrapor a visatildeo da histoacuteria

149

Entender como os visitantes descrevem analisam interpretam e fundamentam uma

narrativa frente ao museu e suas exposiccedilotildees possibilita abordar as relaccedilotildees entre poliacuteticas e

poeacuteticas as relaccedilotildees com a memoacuteria o patrimocircnio e a histoacuteria nos usos educativos dos museus

pelos visitantes

54- O visitante entre a cultura material e a experiecircncia esteacutetica

Os relatos das visitas contribuem para reorganizar as recordaccedilotildees do acontecimento e

invocar uma memoacuteria do grupo de estudantes que ao produzir e selecionar as imagens

disponibilizadas pelo museu traz agrave lembranccedila um conjunto de situaccedilotildees vividas que natildeo foram

registradas mas que sustentam a escrita e o conhecimento histoacuterico por eles elaborado

Mesmo uma visita guiada a uma exposiccedilatildeo e uma raacutepida passagem pelas vaacuterias

dependecircncias do Museu Histoacuterico Nacional deixa resiacuteduos entre os visitantes dessa experiecircncia

evanescente A visitante apresenta o que viu

[] por meio de uma visita guiada que nos deixou agrave vontade para apreciar toda a

exposiccedilatildeo que por si soacute nos permite interagir

Ela eacute dividida em nuacutecleos temaacuteticos ou seja separados por temas ou recortes

cronoloacutegicos

A exposiccedilatildeo conta com objetos e documentos de importantes instituiccedilotildees

puacuteblicas e particulares brasileiras e portuguesas muitos dos quais satildeo objetos ineacuteditos

Na visitaccedilatildeo tive a oportunidade de acompanhar desde a situaccedilatildeo na Europa

com as guerras napoleocircnicas que motivaram a vinda da Corte para o Brasil ateacute os

motivos que levaram agrave proclamaccedilatildeo da Independecircncia do Brasil pelo Imperador Pedro I

O nuacutecleo inicial aborda as conquistas de Napoleatildeo na Europa em especial na

peniacutensula Ibeacuterica seguidas de biografia dos personagens envolvidos no conflito- Napoleatildeo Carlos IV D Maria I e Jorge III Atraveacutes de acervo iconograacutefico cedido por

instituiccedilotildees portuguesas

O nuacutecleo seguinte aborda o embarque em Lisboa e as dificuldades enfrentadas

ao longo de 54 dias de travessia do Atlacircntico A chegada agrave Bahia em 22 de janeiro de

1808 estaacute representada pela monumental tela de Cacircndido Portinari bdquoA chegada de D

Joatildeo VI a Salvador‟ gentilmente cedida pelo Banco BBM SA e Associaccedilatildeo Comercial

da Bahia

A exposiccedilatildeo eacute imensa para apreciar todo o seu acervo seria necessaacuterio um dia

inteiro tempo que natildeo tiacutenhamos Poreacutem trata-se de um local que gostaria de prestigiar

se tiver a oportunidade de retornar a cidade do Rio de Janeiro

A organizaccedilatildeo do MHN aleacutem de seu grande acervo com exposiccedilotildees

permanentes e itinerantes utiliza projeccedilotildees aacuteudio visuais em 3D possibilitando uma nova interaccedilatildeo com as exposiccedilotildees que agradam todo o tipo de puacuteblico (Daniele Paulo

Marques Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo

2008)

150

O caraacuteter monumental da exposiccedilatildeo eacute somado aos objetivos didaacuteticos A montagem de

uma linha cronoloacutegica que vai da vinda de Dom Joatildeo VI agrave declaraccedilatildeo de independecircncia por Dom

Pedro I eacute remontada nos textos e fotografias como a abaixo (Figura 37)

Figura 37 AMORIM Frederico Levi Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo

Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008

A visita ao Museu Histoacuterico Nacional realizou-se como um rito coletivo Teve um caraacuteter

performativo O museu jaacute era entendido pelos visitantes como um lugar puacuteblico de debate sobre a

histoacuteria e acreditavam que de certo modo estava mais autorizado do que o campo acadecircmico

(historiografia e faculdade) por trazer um enorme acervo cultural mas que natildeo deixa de causar

confusatildeo entre os visitantes Uma das visitantes cita que viu ldquofotosrdquo das filhas do casal real

utensiacutelios que serviram para a viagem pinturas cartas carimbos e ldquouma reacuteplica da sala de visitas

da Marquesa de Santosrdquo

151

Natildeo se sabe o que a levou a imaginar uma sala da Marquesa de Santos em meio agrave

exposiccedilatildeo sobre a vinda da famiacutelia real nem as chamadas fotografias Impressiona nesse caso a

capacidade de criar outro acervo para o museu em meio agrave descriccedilatildeo dos objetos que estavam em

exposiccedilatildeo

Para outros visitantes o Museu Histoacuterico Nacional eacute ldquograndioso muito bem montado e

agradaacutevel agrave visitaccedilatildeo puacuteblica com vaacuterias exposiccedilotildeesrdquo diz o visitante Fernando Daniel Fraga

Fonseca Jaacute a visitante Aline Conceiccedilatildeo Ferreira Gregoacuterio tambeacutem achou que ldquoo acervo eacute

enorme por isso a visita demanda bastante tempo Foi uma exposiccedilatildeo proveitosa poreacutem um

pouco cansativa devido ao tamanho do museurdquo

O museu estabelece no contato com o visitante uma rede de opiniotildees e um quadro de

diferentes reaccedilotildees frente agrave materialidade da praacutetica museal Cada museu possui uma narrativa

distinta e a anaacutelise que o puacuteblico faz da exposiccedilatildeo se inicia com a identificaccedilatildeo das marcas

emitidas por essa fala autorizada A interpretaccedilatildeo eacute constituiacuteda pelo puacuteblico no confronto entre as

promessas do ldquogecircnero museurdquo e expectativas dos visitantes

A parte que mais gostei foi o museu todo mas a que mais me prendeu a atenccedilatildeo foi a

parte onde se encontra os canhotildees pelo que pude contar contei 48 canhotildees E gostei

tambeacutem das pratarias e da parte da medicina tudo laacute eacute muito bonito e muito bem conservado (Claudilene Aparecida de Almeida Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico

Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

Outra visitante da exposiccedilatildeo tambeacutem inicia seu relato da visita ressaltando o caraacuteter de

documento-monumento do Museu Histoacuterico Nacional Eles destacam o seu acervo

Ali estaacute exposto todo um acervo muito bem preservado e identificado como carruagens

louccedilas pratarias armas objetos pessoais santos religiosos moacuteveis quadros entre outros

dando a oportunidade principalmente a noacutes historiadores de poder conhecer melhor todo

o contexto histoacuterico que cercou D Joatildeo VI e sua vinda com sua corte ao Brasil

entrelaccedilando a histoacuteria do Brasil e de Portugal (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

O evento eacute memoraacutevel porque significa um marco na ldquoformaccedilatildeo do Estado nacional

brasileiro com o estabelecimento da sede do governo do mundo portuguecircs em terras tropicaisrdquo O

legado de D Joatildeo VI a ser apresentado na exposiccedilatildeo eacute a criaccedilatildeo de um ldquoImpeacuterio na Ameacutericardquo o

ldquopersonagem que entrelaccedilou para sempre as histoacuterias do Brasil e Portugalrdquo (BOTTREL 2008

p17) Esse ldquodestinordquo eacute a independecircncia assinalam os historiadores portugueses e brasileiros

152

Arno Wheling e Maria Joseacute Wehling que pintam os quadros historiograacuteficos um de 1808 e outro

de 1821 Propotildeem que entre uma data e a outra ocorreram mudanccedilas significativas e irreversiacuteveis

que levaram o Brasil a se distanciar de Portugal a ponto de se tornar independente ou formar

uma nova personalidade poliacutetica

Os visitantes se apresentam em suas fotografias como parte da exposiccedilatildeo e do acervo

(Figuras 38 e 39)

Figura 38 Montagem fotograacutefica de Frederico Amorim para visita agrave

Exposiccedilatildeo do Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

Figura 39 BRAGA Fernando Daniel Visita ao Museu Nacional Rio

Janeiro 2008

153

A exposiccedilatildeo eacute vista como accedilatildeo de difusatildeo nos museus e ocupa contemporaneamente uma

funccedilatildeo ao lado das accedilotildees de pesquisa e preservaccedilatildeo antes vistas como prioritaacuterias A linguagem

visual eacute priorizada e assumida pelos visitantes que elaboram novas imagens e narrativas visuais

sob as formas apresentadas pelo museu O visitante coloca em circulaccedilatildeo a sua proacutepria imagem

como parte da exposiccedilatildeo exercitando sua habilidade analiacutetica e criando novas instacircncias de

produccedilatildeo de sentido na vida cultural diaacuteria

Natildeo haacute uma uacutenica forma de estabelecer a relaccedilatildeo entre visitantes e museus Tambeacutem natildeo

haacute a passagem imediata de um campo ao outro ou uma linguagem uacutenica que pertence ao museu e

outra do visitante Haacute um partilhamento dos coacutedigos simboacutelicos e a criaccedilatildeo de um espaccedilo cultural

de intercacircmbio A matriz cultural do museu eacute avaliada pelos visitantes Satildeo estabelecidas

diferenccedilas mas se institui um novo circuito de cultura

Essas praacuteticas exercitadas pelos visitantes nos museus implicam na ampliaccedilatildeo da

dimensatildeo de produccedilatildeo de conhecimento histoacuterico Mesmo entre os visitantes que ficam mais

proacuteximos dos sentidos apresentados pelo museu limitando-se a uma descriccedilatildeo da visita agravequeles

que buscam de forma mais abrangente inserir a narrativa do museu em um cenaacuterio poliacutetico

social cultural mais amplo satildeo sujeitos da produccedilatildeo de novos sentidos para o patrimocircnio

musealizado Satildeo sujeitos de uma nova narrativa agrave medida que buscam compreender como se daacute

a produccedilatildeo do conhecimento cultural e histoacuterico (RUSEN 2005 p192)

Ao selecionarem imagens e reescreverem informaccedilotildees sobre a exposiccedilatildeo os visitantes

demonstram habilidades de reordenar aspectos que lhes chamaram a atenccedilatildeo e passam a circular

em outro circuito para aleacutem do museu

154

Figura 40 Fernando Daniel Fraga Fonseca Fotografia Nuacutecleo 2- A

metroacutepole nos troacutepicos Exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo

Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil MHN 2008

A fotografia de Fernando Daniel Fraga Fonseca (Figura 40) eacute aparentemente um misteacuterio

Uma chave que pode solucionaacute-la eacute o conceito de circuito da cultura78

(HALL 1997 2003)

entendido como uma relaccedilatildeo complexa produzida e sustentada atraveacutes de movimentos distintos

mas interligados ou seja como praacuteticas conectadas de produccedilatildeo circulaccedilatildeo consumo regulaccedilatildeo

identidade e representaccedilatildeo que criam formas simboacutelicas e datildeo passagem simultaneamente a

outros movimentos de produccedilatildeo de sentidos

O visitante registra um texto escrito sobre um suporte afixado na parede como parte da

exposiccedilatildeo sobre a corte portuguesa no Brasil no Museu Histoacuterico Nacional O texto tem como

tiacutetulo O desembarque em Salvador que tambeacutem eacute o tiacutetulo de uma obra iconograacutefica exposta A

existecircncia do texto indica que o Museu Histoacuterico Nacional explica esse evento para seus

78 Em certa medida pode-se pensar tambeacutem no conceito de circularidade de culturas definido por Ginsburg

em contraponto ao termo mentalidade a partir de um recorte analiacutetico que considera as diferentes classes sociais e as

influecircncias reciacuteprocas entre a cultura subalterna e a cultura hegemocircnica que se movem de maneira circular

(GINSBURG 1987 p 13)

155

visitantes durante a exposiccedilatildeo Haacute a produccedilatildeo de um sentido que pretende ser fixado mas que

circula em outros suportes a pintura de Portinari e a fotografia do visitante

Nessa pesquisa tanto os museus visitados quanto seus visitantes instituem esses lugares de

significaccedilatildeo Museus e visitantes produzem um circuito histoacuterico e cultural e se posicionam

agenciam criam modos de endereccedilamento da cultura Entretanto na ideacuteia de circuito embora

estejam claros os produtos e os produtores natildeo haacute um sentido prioritaacuterio que desencadeia a accedilatildeo

cultural e portanto as ideias de ldquorecepccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo natildeo estatildeo colocadas ao fim de uma

cadeia de significaccedilatildeo O espectador ou visitante produz o sentido tanto quanto a instituiccedilatildeo que

pretende alojar a memoacuteria do evento com a exibiccedilatildeo puacuteblica de objetos

Acho esse trabalho de extrema relevacircncia para nosso curso e conveniente por causa das

discussotildees atuais O tema eacute muito atual e foi interessante visitar o Rio de Janeiro

justamente agora em que as comemoraccedilotildees dos 200 anos da chegada da famiacutelia real

estatildeo acontecendo Para mim foi muito bacana ver outras instituiccedilotildees museoloacutegicas e

exposiccedilotildees de cunho histoacuterico e artiacutestico ateacute mesmo para identificar as diferentes

concepccedilotildees de museu Identificar a intenccedilatildeo da exposiccedilatildeo e o que ela pretende

contar[] Algumas exposiccedilotildees mostram o cotidiano no Brasil as relaccedilotildees e o papel dos

liacutederes e do povo isso tambeacutem eacute relevante As gravuras pinturas documentos objetos

instrumentos dialogam com as exposiccedilotildees no qual estatildeo inseridos e com o proacuteprio

leitor nos fazendo desenhar e nos relacionar muito claramente com o passado (Frederico

Levi Amorim Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro

Leopoldo 2008)

A exposiccedilatildeo enfoca muito a importacircncia da vinda da famiacutelia real para o nosso processo

de emancipaccedilatildeo poliacutetica de Portugal mas esquece de salientar que independentemente

da existecircncia desse episoacutedio ou natildeo nossa economia jaacute era mais forte que a dos lusitanos

nossa elite jaacute natildeo aguumlentava a exorbitante taxaccedilatildeo de impostos sobre nossa produccedilatildeo e

que as ideias de cunho liberal jaacute pairavam sobre nossos ares gerando vaacuterias revoltas por todo o nosso territoacuterio (Weberton Fernandes da Costa Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

As visitas a museus permitem por em relaccedilatildeo o que Gruzinski (2001) chama de sistemas

culturais diferentes ou a questatildeo das fronteiras culturais e seus hibridismos O contato do visitante

com o museu pode ser pensado natildeo como um ldquocontratordquo mas uma confrontaccedilatildeo que destaca as

formas de temporalidade e historicidade natildeo contidas na noccedilatildeo de cultura europeacuteia e torna

possiacutevel a emergecircncia de um pensamento e praacuteticas inventivas e improvaacuteveis de hibridismo

(GRUZINSKI 2001 p157)

156

As fotografias selecionadas e apresentadas e os trechos dos relatos destacados apontam o

deslocamento realizado pelos visitantes ateacute a chegada ao Museu onde reinstalam o lugar do

visitante na cultura museal e desenvolvem um capiacutetulo da escrita da histoacuteria nos museus

O relato da visita como praacutetica de memoacuteria e histoacuteria se amplia em uma narrativa que

reorganiza as recordaccedilotildees do acontecimento e invoca uma memoacuteria do grupo de estudantes ao

selecionar as imagens e trazer agrave lembranccedila um conjunto de situaccedilotildees vividas e interpretadas

muitas natildeo registradas que sustentam uma rede de opiniotildees e formam diferentes quadros de

sentido Os estudantes fazem uma anaacutelise da exposiccedilatildeo praticando a museologia mesmo natildeo

tendo um treinamento especial e sistemaacutetico do ofiacutecio museoloacutegico percebem pensam e

praticam a museologia (CHAGAS 2003 p20) Elaboram um ldquopensamento musealrdquo

identificando marcas deixadas pelos quadros de referecircncia enunciados pelo museu A

interpretaccedilatildeo eacute constituiacuteda pelos visitantes no confronto com suas expectativas e as promessas

natildeo cumpridas pelo museu

Amplia-se a reflexatildeo sobre o processo de educaccedilatildeo poliacutetica e dos sentidos O debate

historiograacutefico recebe novos elementos das visotildees sobre o museu que se cruzam na cabeccedila dos

visitantes aquilo que os especialistas dizem sobre o museu aquilo que viram no Museu do

Escravo e aquilo que a escola lhes ensinou sobre a histoacuteria da escravidatildeo As disputas satildeo

evidenciadas Eacute necessaacuterio mobilizar conceitos e experiecircncias estabelecendo possibilidades e

limites da abordagem para elaborar narrativas sobre a visita

Pode-se afirmar que na elaboraccedilatildeo dos relatos das visitas emergem uma seacuterie de efeitos

formativos nos estudantes e professoresformadores As visitas desencadeiam perguntas sobre a

identidade verbalizam sentimentos pensamentos aspectos de suas experiecircncias sociais e

estimula a reflexibilidade Os relatoacuterios tambeacutem validam algumas construccedilotildees teoacutericas agrave medida

que operam com a traduccedilatildeo de concepccedilotildees simboacutelicas particulares e localizadas em uma

consciecircncia praacutetica e outra discursiva de caraacuteter mais amplo Tambeacutem permitem reconhecer e

dar visibilidade puacuteblica e social a realidades locais multiculturais e que contribuem para

contrariar formas hegemocircnicas de produccedilatildeo de conhecimento jaacute instituiacutedas e institucionalizadas

nas rotinas de formaccedilatildeo

Ao apresentar de forma ampla o uso feito pelos visitantes da visita ao museu eacute possiacutevel ir

aleacutem da criacutetica aos museus e discutir como os visitantes interpretam propostas expositivas da

157

instituiccedilatildeo visitada em dialoacutego com a heranccedila cultural e as praacuteticas de preservaccedilatildeo da memoacuteria e

do poder Ou em outras palavras como elaboram frente agraves imagens que lhes satildeo apresentadas

uma nova escrita imageacutetica acrescentando criacuteticas e explicitando ambiguidades presentes na

produccedilatildeo do museu

158

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A escrita desta tese teve iniacutecio com a tentativa de encontrar um ldquolugarrdquo que comportasse o

registro de praacuteticas educativas perdidas em meio agraves preocupaccedilotildees em uma instituiccedilatildeo de ensino

superior que encerrava a oferta de cursos de licenciatura Os trabalhos escolares dos alunos em

sua maior parte eram considerados privados e natildeo seriam recolhidos ao arquivo escolar

O local mais provaacutevel das memoacuterias de estudantes e professores seria o esquecimento A

situaccedilatildeo dos documentos escolares laacute encontrados natildeo era muito diferente de outras instituiccedilotildees

educativas A preservaccedilatildeo se limitava a um conjunto de textos legais documentos oficiais

administrativos e pedagoacutegicos Pouco se arquivava dos testemunhos orais dos professores alunos

e funcionaacuterios A biblioteca recebia publicaccedilotildees relatoacuterios teacutecnicos de pesquisa e conclusatildeo de

curso

Estava posta uma crise de memoacuteria os relatos escritos e visuais de visita excediam em

volume e careciam de organizaccedilatildeo Restavam as tentativas de doaccedilatildeo ou descarte O museu ou o

lixo A primeira opccedilatildeo implicou em questionar se os museus visitados teriam algum interesse

nesse tipo de resposta de sua audiecircncia escolar Resolvi apostar no recolhimento dos rastros dar

tratamento aos fragmentos cotidianos da cultura escolar e apresentaacute-los publicamente

Sistematizar a produccedilatildeo dos estudantes e colocaacute-la em circulaccedilatildeo foi o principal

investimento dessa pesquisa A duacutevida era constante esse tipo de fonte documental seria capaz

de sustentar uma anaacutelise a respeito dos sentidos da memoacuteria da histoacuteria e dos museus na cultura

contemporacircnea Espero ter argumentado ao longo do texto que sim Os relatos dos estudantes

indicam que eles foram capazes de ampliar sua formaccedilatildeo histoacuterica ao visitar museus

O processo de pesquisa foi de compartilhamento e conviacutevio com as reflexotildees teoacutericas e

metodoloacutegicas no grupo Memoacuteria Aprendi a exercitar a escrita como condiccedilatildeo de memoacuteria

Cada leitura cada debate constituiu-se em novas aprendizagens vividas e sentidas Escrever e

apresentar resultados parciais tornou a pesquisa possiacutevel

A maior tensatildeo da pesquisa foi delimitar o proacuteprio campo da investigaccedilatildeo delinear as

presenccedilas (estudantes e museus) as concomitacircncias (diaacutelogos admitidos ou criticados na

bibliografia) e as ausecircncias (outras ligaccedilotildees possiacuteveis com a histoacuteria e a educaccedilatildeo)

A busca por criteacuterios e a seleccedilatildeo das situaccedilotildees educativas de visitas envolveu um longo

diaacutelogo com ldquopalavras e coisasrdquo autores e praacuteticas Um jogo de conceitos emaranhados ao

159

mesmo tempo superpostos ndash diversos e abrangentes ndash e lacunares dispersos em livros textos e

instrumentos de sistematizaccedilatildeo de dados

Assim para descrever e avaliar a praacutetica de formaccedilatildeo evitei me referir a um sistema de

interpretaccedilatildeo ou traduccedilatildeo exterior (um horizonte idealizado ou seu suposto inverso uma

abstraccedilatildeo advinda da empiria) Propus-me a mobilizar conceitos disponiacuteveis e discordantes

principalmente de memoacuteria e histoacuteria que circulam ao niacutevel das minhas proacuteprias praacuteticas

apostando em sua emergecircncia a partir de quem falava e das posiccedilotildees dos sujeitos (estudantes) e

dos lugares institucionais (escolas e museus)

O maior desafio para a conclusatildeo desse projeto decorreu da opccedilatildeo que o motivou

inicialmente analisar as situaccedilotildees educativas de visitas a museus a partir da loacutegica da proacutepria

experiecircncia pedagoacutegica Natildeo houve um movimento externo de observaccedilatildeo mas um interesse ou

desejo de saber que veio da aproximaccedilatildeo entre o sujeito que se colocava na condiccedilatildeo de

pesquisador mas estava proacuteximo ao ldquoobjetordquo investigado

Os visitantes considerados na pesquisa natildeo se apresentam como um grupo representativo

segundo criteacuterios socioloacutegicos ou estatiacutesticos como acontece nos estudos de recepccedilatildeo que

avaliam efeitos provocados em determinada audiecircncia Os estudantes na condiccedilatildeo de visitantes

esboccedilam hipoacuteteses difusas acerca do que ocorre durante uma visita escolar Um mesmo visitante

utiliza estrateacutegias diferentes ao longo de sua trajetoacuteria escolar para traccedilar paralelos entre sua vida

e de um personagem histoacuterico Suas atitudes informadas ou desinformadas irocircnicas ou

conformistas dizem mais da criaccedilatildeo de uma cultura comum uma experiecircncia simultaneamente

implicada e distante da cultura predominante nas escolas e museus

A materialidade das praacuteticas de visita surgiu do trabalho com os relatos escritos e visuais

Na leitura dos relatos as operaccedilotildees de narrar proacuteprias da vida praacutetica foram se constituindo

como fundamento e pressuposto do conhecimento histoacuterico escrito por professores e estudantes

A anaacutelise das praacuteticas de visita combinou reflexotildees teoacutericas historiograacuteficas e empiacutericas

Textos imagens e oralidade num mesmo quadro analiacutetico Destaco que tanto as reflexotildees

teoacutericas e historiograacuteficas quando o quadro empiacuterico foram tentativas de abordagem diaacutelogos

recortes possiacuteveis e natildeo implicam na concordacircncia com todos os argumentos dos autores citados

ou um aprofundamento da reflexatildeo sobre cada fonte em particular Procurei explorar de cada obra

160

argumentos ou linhas de interpretaccedilatildeo que interessavam no estudo do tema do visitante de

museus

As fotografias tomaram ao longo da pesquisa uma centralidade maior A anaacutelise do

conteuacutedo dos materiais visuais seu uso durante as visitas e sua circulaccedilatildeo posterior constituiu-se

em um conhecimento experiencial da proacutepria visita As fotografias satildeo relatos visuais construiacutedos

com possibilidades de reproduccedilatildeo e propriedades materiais que influenciam na forma de leitura

de seus conteuacutedos Nas fotografias a visita oscila entre uma viagem de estudo e de turismo Os

estudantes trazem imagens de lugarespaisagens e objetos (sem pessoas) pessoas em

lugarescenaacuteriosobjetos e poucas com pessoas isoladas de cenaacuterios Quando confrontadas agraves

imagens produzidas pelos museus em cataacutelogos e materiais de divulgaccedilatildeo o cenaacuterio eacute destacado

sem a presenccedila de pessoas os objetos satildeo apresentados isolados sem a encenaccedilatildeo da exposiccedilatildeo

Nessa pesquisa selecionei fotografias-chave (amostras) de um quadro mais amplo de

originais Os objetivos dos fotoacutegrafos eram documentar a viagem nem sempre com a finalidade

de exibir as imagens Os relatos entregues para avaliaccedilatildeo trazem um primeiro corte feito pelos

seus produtores diretos os estudantes Era preciso imprimir os arquivos digitais Os viacutedeos e as

repeticcedilotildees satildeo deixados de lado As imagens armazenadas pelos estudantes tambeacutem eram

produzidas com a finalidade de exibiccedilatildeo para familiares e para compor um aacutelbum pessoal As

imagens impressas satildeo utilizadas e socializadas entre o grupo e se repetem em vaacuterios relatoacuterios de

visita A circulaccedilatildeo das imagens dado o seu suporte digital motiva a colaboraccedilatildeo e daacute iniacutecio a

uma narrativa com exerciacutecios de exploraccedilatildeo e descoberta

As fotografias trazem para a pesquisa uma dupla dimensatildeo Eacute marcante seu caraacuteter

documental mas elas natildeo permitem afirmaccedilotildees generalizantes Apresentam eventos especiacuteficos e

a anaacutelise depende das condiccedilotildees de produccedilatildeo e natildeo apenas da narrativa e do conteuacutedo

apresentado A produccedilatildeo das fotografias envolve negociaccedilotildees entre o criador da imagem e as

circunstacircncias sociais e teacutecnicas de produccedilatildeo (autorizaccedilatildeo iluminaccedilatildeo composiccedilatildeo)

Na pesquisa as fotografias tiveram uma primeira entrada com valor documental (dado

visual) que as considera como ato de criaccedilatildeo de um fotoacutegrafo e eacute resultado de condiccedilotildees

especiacuteficas de produccedilatildeo Em quadro mais complexo que esse primeiro de produccedilatildeo das imagens

estaacute a ediccedilatildeo ou os criteacuterios de seleccedilatildeo da pesquisa que reinscrevem as fotografias numa nova

coleccedilatildeo junto a outras que tambeacutem aderem ao plano da anaacutelise

161

As fotografias vieram ao encontro da necessidade de narrar e trazem as intenccedilotildees de

presenccedila como parte da accedilatildeo dos visitantes que se apresentam como o principal conteuacutedo das

imagens Nas fotografias dos visitantes eles compotildeem uma narrativa na qual utilizam os edifiacutecios

e objetos dos museus como um cenaacuterio (enquadramento da accedilatildeo) uma narrativa em que eles

visitantes satildeo os sujeitos Haacute nas fotografias uma biografia uma auto-representaccedilatildeo de si e do

grupo O registro fotograacutefico externaliza aspectos natildeo visiacuteveis e gera conhecimentos sobre as

visitas e visitantes Longe do local de produccedilatildeo as imagens satildeo reelaboradas pela pesquisa com o

propoacutesito de circulaccedilatildeo mais ampla natildeo com o propoacutesito de identificar indiviacuteduos especiacuteficos

mas de projetar mais longe o olhar dos visitantes

As fotografias dos visitantes selecionadas pela pesquisa trazem essa dimensatildeo da

presenccedila Os estudantes se posicionam ao lado direito e esquerdo da escultura do escravo do

tronco abraccedilam Dom Joatildeo VI montam e desmontam as exposiccedilotildees visitadas com criteacuterios de

relevacircncia pessoal Trazem sedimentos das heranccedilas culturais como o ldquoimaginaacuterio do troncordquo que

circunda conceitos de escravidatildeo Colocam clivagens historiograacuteficas como o cotidiano e a vida

privada em museus marcados por exposiccedilotildees de vieacutes poliacutetico e nacionalista

Os referentes oferecidos pelos museus satildeo partilhados ou confrontados Nascem nos

relatos hiacutebridos ediccedilotildees coleccedilotildees em novos formatos Nos museus visitados os estudantes

fotografam o espaccedilo organizado os iacutecones do acervo (pinturas esculturas) e os artefatos da

museologia (desenhos projeccedilotildees e cenaacuterios) Haacute um museu concreto e um museu imaginado

ambos reconstruiacutedos pelos visitantes O visitante faz o uso do museu durante a visita e recria o

lugar dando-lhe outras dimensotildees espaciais

A anaacutelise das visitas ao Museu do Escravo e Museu Histoacuterico Nacional pode ser

entendida como um movimento de circulaccedilatildeo entre o momento efetivo da praacutetica pedagoacutegica e de

formaccedilatildeo e o momento de reflexatildeo na leitura dos relatos jaacute constituiacutedos indicando a construccedilatildeo

de sensibilidades que envolvem todo trabalho com a cultura e uma orientaccedilatildeo para a vida praacutetica

daqueles implicados na dinacircmica das visitas A experiecircncia de visita possui junto a sua dimensatildeo

praacutetica uma qualidade esteacutetica dada natildeo pelo resultado final mas pelo movimentotranscurso da

accedilatildeo Eacute um agir e padecer frente agraves coisas fiacutesicas e imaginadas Une eventos e objetos numa

relaccedilatildeo muacutetua de extensatildeo e profundidade As visitas a museus geram conhecimentos e narrativas

agrave medida que permitem uma aprendizagem pela observaccedilatildeo e pela proacutepria experiecircncia

162

O Museu Histoacuterico Nacional transcende as barreiras do tempo e traz uma loacutegica

museoloacutegica ainda proacutexima do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro (IHGB) marcada pela

exaltaccedilatildeo dos feitos grandiosos nas esferas militar e poliacutetica e com pouco interesse pelo

cotidiano O museu resiste ao tempo presente Mas os visitantes natildeo fazem essa leitura e se

colocam na praacutetica de sua atualizaccedilatildeo Representam a si mesmos na exposiccedilatildeo e se apropriam de

seu acervo num arquivo fotograacutefico

No Museu do Escravo ocorre algo semelhante Se eacute legiacutetimo destacar que as praacuteticas de

colecionismo e a exposiccedilatildeo do museu alimentam preconceitos raciais e estereoacutetipos os visitantes

natildeo apenas fizeram a criacutetica dessas praacuteticas como redefiniram eles mesmos a coleccedilatildeo de objetos

curiosos Mais uma vez remontaram o acervo nas suas narrativas escritas e visuais

O procedimento de leitura das exposiccedilotildees que implica em montagem e desmontagem de

coleccedilotildees foi experimentado pelos estudantes no Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto ou seja numa

visita a museus O conteuacutedo de uma exposiccedilatildeo tambeacutem eacute utilizado para analisar outras Os

museus satildeo comparados entre si Os criteacuterios satildeo internos (museus) e natildeo externos (escola

historiografia)

O tipo de argumento predominante nas narrativas natildeo vem diretamente de leituras ou

discussotildees teoacutericas embora elas sejam utilizadas como no caso da escravidatildeo Os argumentos

produzidos nas narrativas satildeo configurados na proacutepria experiecircncia que oscila entre ldquoefeitos de

presenccedilardquo por estar dentro do museu ver a exposiccedilatildeo e ldquoefeitos de sentidordquo (o que leu estudou

sobre escravidatildeo histoacuteria do Brasil)

Pode-se concluir que as visitas trouxeram uma seacuterie de efeitos formativos para os

estudantes-visitantes Desencadearam afirmaccedilotildees sobre a identidade profissional verbalizaram

sentimentos e pensamentos sobre o pertencimento cultural ao tempo presente e estimularam a

reflexividade sobre o exerciacutecio da escrita da histoacuteria em museus Os relatoacuterios tambeacutem validaram

algumas construccedilotildees teoacutericas agrave medida que operavam uma ponte entre as concepccedilotildees particulares

e localizadas elaboradas em reaccedilatildeo quase imediata ao contato com o patrimocircnio musealizado e

outra dimensatildeo teoacuterica mais ampla acionada pela leitura e seleccedilatildeo de trechos que recebiam um

novo formato com a pesquisa

Os relatos criaram condiccedilotildees de reconhecimento visibilidade puacuteblica e social a realidades

locais como eacute caso do Museu do Escravo em Belo Vale Minas Gerais Colaboram tambeacutem para

163

contrariar formas hegemocircnicas de produccedilatildeo de conhecimento jaacute instituiacutedas e institucionalizadas

nas rotinas de formaccedilatildeo A visita ensina que os museus satildeo espaccedilos puacuteblicos onde satildeo

construiacutedas diferentes formas de ver a sociedade e nesse aspecto ajudam a tornar visiacuteveis as

temporalidades

As visitas se apresentam como uma praacutetica de coletar e a nova coleccedilatildeo passa a circular de

maneira tambeacutem inovadora frente ao acervo dos museus Os relatos integram elementos orais

textuais e visuais em um conjunto que dialoga com os valores e significados da cultura dos

museus e da cultura escolar Os visitantes fazem um uso praacutetico dos museus e da historiografia

para elaborar um conhecimento histoacuterico que utiliza novas formas de seleccedilatildeo e organizaccedilatildeo da

memoacuteria

Para ser coerente com o tema tentei apresentar a pesquisa de um modo mais narrativo

menos cronoloacutegico que contasse a histoacuteria dos sujeitos da pesquisa Uma ldquomanufaturardquo que

pudesse se contrapor aos ldquoprodutoresrdquo institucionalizados nos museus e oacutergatildeos de pesquisa

Talvez tenha encontrado ao final uma soluccedilatildeo para a impressatildeo dos visitantes que me

intrigou durante quatro anos Quando saem do museu saiacuteram de uma sala de aula As visitas satildeo

viagens ao interior mas levam para aleacutem dos horizontes fazem experimentar sentimentos de

turista viajante estudante historiadores natildeo importa Satildeo uma viagem pelo espaccedilo (museu) mas

por pouco tempo deve-se manter a cabeccedila no lugar (sala de aula)

A tentativa de entender o visitante como um ldquoespectador emancipadordquo como um viajante

que carrega sua proacutepria bagagem seus emblemas de pertencimento cultural agrave profissatildeo docente e

inclui suas observaccedilotildees sobre os territoacuterios oficiais da memoacuteria implica em considerar que a

exclusatildeo cultural existe de fato e a reivindicaccedilatildeo ao direito de participaccedilatildeo na gestatildeo cultural

implica em afirmar e reconhecer espaccedilos como os dos museus como ldquocasas de pertencimentordquo e

de ldquopresenccedilardquo do visitante

Os visitantes em questatildeo satildeo a expressatildeo desse direito agrave participaccedilatildeo cultural Num

primeiro momento se coloca ainda como um estrangeiro um estudante que faz sua primeira visita

ao museu mas que a partir desse primeiro encontro recebe uma espeacutecie de ldquosenhardquo que lhe

permite adentrar esse mundo dos museus Ser visitante afeta seu desejo no acircmbito da cultura

afeta sua formaccedilatildeo histoacuteria Suas narrativas de visita apontam esses deslocamentos novas

praacuteticas e roteiros de formaccedilatildeo acadecircmica e profissional

165

DOCUMENTOS

1- Registros de estudantes das atividades de visita a museus

FIPEL ndash FACUDADES INTEGRADAS DE PEDRO LEOPOLDO Instituto Superior de

Educaccedilatildeo de Pedro Leopoldo Relatoacuterios de visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto 2ordm

periacuteodo Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2005

______ Relatoacuterio siacutentese do Trabalho de Campo Visita a Belo Vale - MG Museu do

Escravo e Fazenda Boa Esperanccedila 4ordm periacuteodo Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2006

______ Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 7ordm periacuteodo Curso

de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2008

_______ Relatoacuterios individuais de visita ao Museu Imperial de Petroacutepolis nos anos 2001

2005 2004 e 2007 Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2007

_______ Relatoacuterio final de Estaacutegio Supervisionado Projeto de integraccedilatildeo Museu- Escola

Visita de alunos do Ensino Meacutedio ao Museu Abiacutelio Barreto-BH Curso de Histoacuteria Pedro

Leopoldo 2000

Roteiro de Pesquisa para os Formadores Enviado para os professores que participaram do

trabalho de campo no Rio de Janeiro com a turma do 7ordm periacuteodo e outros 2008

Transcriccedilatildeo fita Grupo Focal ndash gravada em 30042008 quarta-feira - antes do trabalho de campo

ao Rio de Janeiro- Faculdade de Pedro Leopoldo com 9 alunos do 7ordm Periacuteodo ndash Curso de Histoacuteria

ndashFaculdades Pedro Leopoldo-MG Feito com a ajuda da professora Cristiane Almeida (assistiu e

tomou notas) Total 7 paacuteginas

Entrevistas monitores-estagiaacuterios na exposiccedilatildeo ldquoFamiacutelia Ferrez novas revelaccedilotildees no Museu de

Artes e Ofiacutecios Belo Horizonte 2008

Diaacuterio de campo Observaccedilatildeo das visitas de trecircs escolas baacutesicas ao Museu de Artes e Ofiacutecios

Belo Horizonte 2008

166

2- Documentos das instituiccedilotildees visitadas

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ANEXOS

Anexo A- Roteiro de coleta de dados estudantes de licenciatura em Histoacuteria 2008

Total de questionaacuterios respondidosdevolvidos 17 estudantes

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS- UNICAMP

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM EDUCACcedilAtildeO ndash DOUTORADO

ALUNA Elizabeth Seabra ORIENTADORA Dra Ernesta Zamboni

Roteiro de pesquisa ldquoAccedilatildeo educativa em museus e formaccedilatildeo docenterdquo

Observaccedilatildeo vocecirc poderaacute marcar mais de uma alternativa ou numeraacute-las de acordo com suas preferecircncias

Parte I-

1-Sexo Masculino ___ Feminino ______ Idade _______anos

2-Exerce atividade profissional remunerada Sim _____Natildeo____

Qual (com precisatildeo)_____________________________

3-Lugar de residecircncia (cidadebairro) ______________________

4-Quantos anos de escolaridade (contando da escola infantil ateacute a atual) _________

5-Costuma praticar alguma atividade recreativa Sim ____ Natildeo _____

Qual_________________

6-Indique aproximadamente em que faixa se situa a renda de sua famiacutelia em Salaacuterios Miacutenimos (e

natildeo apenas do chefe de famiacutelia)

1 a 3 SM ____4 a 6 SM ___7 a 9 SM ____mais de 10 SM ____

Parte II-

7-Vocecirc iraacute visitar um MuseuExposiccedilatildeo

1ordf Vez ____ 2ordf Vez_____ 3ordf Vez _____ 4ordf Vez ____ Acima de 4 vezes _____

8-Quando ouve ou lecirc a palavra MUSEU o que lhe vecircm agrave mente Diga trecircs palavras que vocecirc

associa a museu

1-________________ 2-____________________ 3- _______________

9-Diga trecircs coisas que tem em um museu

1- ________________2-__________________3 - ________________

10-Se vocecirc iraacute visitar pela primeira vez um museuexposiccedilatildeo nova sua ideacuteia eacute ver

1- ____Natildeo tem ideacuteia do que encontraraacute

2- ____O proacuteprio museu 3- ____As exposiccedilotildees especiacuteficas daquele museu

4- ____Participar de atividades culturais (cursos apresentaccedilotildees musicais)

189

Parte III-

11-Quando visitou pela primeira vez um museu

1- Com que idade (aproximadamente)_______

2- Com quem ________________________

3- Em que museu _____________________

4- Em que ocasiatildeo turismo ____ visita familiar____ visita escolar ____ Outros ___

5- Indicar qual________________

12-O que o levou a visitar museusexposiccedilotildees

_____1- Uma visita organizada pela escola

_____2- Recomendaccedilatildeo de algueacutem

_____3- Para acompanhar filhosfamiliaresamigosnamorados _____4- porque tem o costume e interesse em visitar museusexposiccedilotildees

_____5- Outras razotildees (indicar com precisatildeo)_____________________

13-Considerando os uacuteltimos trecircs anos vocecirc foi a museus

1- soacute______ 2- com os filhosfamiacutelia _____ 3- com amigos______

4- com um grupo organizado_______

14-Se jaacute entrou mais de 4 vezes em um museu queira indicar os trecircs uacuteltimos museus que visitou

1 ___________________2___________________3__________________

15-Nos museus visitados o que mais lhe agradou

____ 1-O passeiolazer como um todo

____2- A infra-estrutura o atendimento e serviccedilos de apoio

____ 3- Obras de arte objetos nunca vistos anteriormente

____4- Conteuacutedo e organizaccedilatildeo das exposiccedilotildees

____5- Nada agradou

____ 6- Outros ______________

16-Quais foram as dificuldades encontradas para realizaccedilatildeo das visitas a museus

____ 1- Natildeo acolhimento (funcionaacuterios monitores guias)

____ 2-Custo da visita (ingressodeslocamento)

____ 3- Ritmo da visita e conduccedilatildeo dos monitores

____4- Desconhecimento do tipo de acervo especiacutefico ____5- Dificuldade de acompanhar por falta de informaccedilotildees preacutevias

17-Durante as visitas a museus vocecirc

___1- Sente-se confortaacutevel ___ 2-Amplia seus horizontes de conhecimentos

___3-Interessa-se pelos assuntosexposiccedilotildees ___4- Diverte-se

___ 5-Sente-se desconfortaacutevel apreensivo ___ 6- Outros _____________________

18-Quais as impressotildees vocecirc tem quando sai de um museu

____ 1-Saiu de uma igreja ____ 2-Saiu de uma biblioteca

____ 3-Saiu de um shopping Center ____ 4-Saiu de uma sala de aula

____ 5-Saiu de uma sala de espera ____ 6- Outras imagens Quais _____________________

Parte IV

Deseja continuar colaborando com a pesquisa Sim ( ) Natildeo ( ) Em caso positivo por favor indique

Nome ___________________________

Telefone para contato ________________ e-mail ____________________________

190

Anexo B- Perfil dos visitantes

Graacuteficos elaborados a partir dos questionaacuterios acima Total de 17 estudantes Natildeo foram

elaboradas porcentagens

Graacutefico 1- Ocasiatildeo da visita ao museu

Visita escolar 16 visita familiar 2 turismo 1 outros 1

Graacutefico 2- Com quem visitou o museu a primeira vez

Escola 16 professora da faculdade 4 colegas da faculdade2 pais 2 grupo escolar 1viagem

m famiacutelia 1

191

Graacutefico 3- Com quem foi ao museu nos uacuteltimos anos

Graacutefico 4- Quantas vezes visitou museus

192

Graacutefico 5- Trecircs uacuteltimos museus visitados

Graacutefico 6- Primeira coisa a ver em um museu

193

Graacutefico 7- Como se sente durante a visita

Graacutefico 8 - Palavras associadas a museu

194

Graacutefico 9 - Coisas que tem em museus

Graacutefico 10- O que mais agradou nos museus

195

Graacutefico 11- Impressatildeo quando sai do museu

196

Anexo C

Transcriccedilatildeo fita Grupo Focal ndash gravada em 30042008 quarta-feira - antes do trabalho de campo no

Rio de Janeiro- Faculdade de Pedro Leopoldo Participantes Weberton Warleson Aline Tiago Fabiana Frederico Daniele Fernando Claudilene ndash

alunos do 7ordm Periacuteodo ndash Curso de Histoacuteria ndashFaculdades Pedro Leopoldo-MG

Elizabeth Seabra e Cristiane Almeida (assistiu e tomou notas)

Elizabeth ndash EacuteEu jaacute falei na sala dessa teacutecnica do grupo focal e a gente vai trabalhar mais ou menos uma

hora uma hora e pouco e a ideacuteia eacute que cada um procure expressar de forma mais livre se isso eacute possiacutevel em grupo

as opiniotildees conceitos as impressotildees o que achar mais adequadoa gente grava e depois transcreve A gente vai

tratar basicamente de trecircs pontos de natildeo der natildeo for possiacutevel aiacute a gente vecirc se estaacute excedendo muito a gente trata soacute

de dois temas Primeiro eu queria que vocecirc fizessem uma apresentaccedilatildeo falando o que vocecircs acham que deve ser

registrado neacute a respeito da identidade da forma que vocecircs preferirem e jaacute falassem nesse primeiro ponto um pouco

de como eacute que vocecircs vecircem esse trabalho que a gente faz com visitas a campo visitas a museus que aspectos que

detalhes vocecircs destacam desse tipo de trabalho Entatildeo jaacute na apresentaccedilatildeo de forma raacutepida ir pensando nos trabalhos passados o que destacariam falariam dessas visitas esse eacute o primeiro ponto A gente faz uma primeira rodada falando

todo mundo a gente encerrada esse ponto Passa para outro e faz uma segunda rodada Pode ser Entatildeo taacute Eu posso

me apresentarvocecircs me ajudam neacute Eu estou aqui hoje como pesquisadora dessa temaacutetica mas claro as coisas natildeo

se separam sou algueacutem que jaacute vem trabalhando nos uacuteltimos trecircs quatro anos com essa turma as visitas meu nome eacute

Elizabeth

(dificuldade de comeccedilar) hesitaccedilotildees quem comeccedila a falar

Meu nome eacute Weberton estudo na Faculdade de Pedro Leopoldo Bem a respeito de visitas a museus

trabalhos de campo visitas a cidades histoacutericas ()a medida que vocecirc amplia seus horizontes faz vocecirc ter uma outra

visatildeo vocecirc contrasta passa ver na praacutetica o que viu na teoria uma metodologia diferente ver eacute isso

Elizabeth Obrigada natildeo precisa preocupar com o gravador natildeo

Meu nome eacute Warleson eu acho que essas visitas a museus cidades histoacutericas igual o Betatildeo falou o

Weberton falou que amplia os horizontes eu acho tambeacutem que natildeo existe um curso de Histoacuteria ou entatildeo um outro curso de licenciatura sem essas visitas teacutecnicas por que acho que ajuda a gente a compreender melhor a mateacuteria que

a gente estaacute estudando natildeo soacute na teoria mas a gente ta vivenciando ela tambeacutem na praacutetica A mesma coisa eacute como se

a gente tivesse dando aula A gente aprende mais tambeacutem para ta colocando essas visitas essas viagens quando a

gente tiver na sala de aula

Aline Eacute praacute mim o interessante dessas visitas a campo eacute que querendo ou natildeo a sala de aula eacute um espaccedilo

fechado as vezes fica assim cansativo vocecirc acaba natildeo entendendo neacute eacute entende mas natildeo tem aquela visatildeo assim

mais ampla e aiacute vocecirc tendo aquele contato com os locais assim como se diz os objetos histoacutericos eu acho assim

que daacute praacute gente um entendimento melhor Minha opiniatildeo eacute essa natildeo sei eacute para todo mundo pra mim o

entendimento da histoacuteria fica mais faacutecil

Meu nome eacute Tiago eacute no meu entender as visitas aos museus contribuem sim com o nossa aprendizagem

parafrasendo o Warleson em certa medida nos daacute a condiccedilatildeo de sair um pouco da teoria e cair um pouco mais na praacutetica se eu posso dizer assim a gente tem o contato com uma determinada realidade Pra vocecirc trabalhar histoacuteria

noacutes trabalhamos com coisas muito abstratas neacute agrave medida que vocecirc chega num museu e tem contato com

determinadas obras aquilo ali pode te remeter um pouco a respeito daquele determinado periacuteodo e entatildeo eacute por isso eacute

muito importante

Meu nome eacute Fabiana aleacutem de ser como aprendizado tambeacutem eacute uma forma de se entender esse conceito

essa ideacuteia de memoacuteria de se preservar o patrimocircnio a importacircncia que eacute alem de ser acho que eacute isso O estaacutegio

que a gente ta fazendo antes a gente tinha uma visatildeo muito limitada quando vocecirc ta dentro vocecirc comeccedila a entender

como eacute que eacute e o trabalho de campo te abre para isso tambeacutem

Frederico Eu acho que quando a gente tem essa oportunidade na Faculdade de ta realizando esse trabalho

de campo ele vem assim de uma forma a gente reconhecer o valor desses espaccedilos pra gente tambeacutem ta trabalhando

ta utilizando esses espaccedilos na escola que uma coisa que a gente vecirc que as escolas ateacute utilizam esses espaccedilos de

memoacuteria mas natildeo utilizam da maneira correta neacute e isso possibilita pra gente ta reconhecendo esses espaccedilos e taacute aprendendo como a gente pode ta utilizando esses espaccedilos a partir da sala de aula e ta reforccedilando essa parceria da

escola com o museu com espaccedilos de memoacuteria e colocando a questatildeo da memoacuteria da educaccedilatildeo patrimonial da

valorizaccedilatildeo neacute do patrimocircnio

197

Meu nome eacute Daniele eu acho fundamental especificamente num curso de licenciatura enfocando na aacuterea da

histoacuteria vocecirc ter esse diaacutelogo com a questatildeo que eacute falada dentro da Faculdade a questatildeo dos conceitos da histoacuteria

das mudanccedilas e permanecircncias e a ida a campo te possibilita infinitas reflexotildees sobre as questotildees que satildeo

confrontadas dentro da sala de aula E o fundamental natildeo soacute a questatildeo de ver a histoacuteria como abstrato mas muito

mais que isso eacute dar uma nova interpretaccedilatildeo quando vocecirc vai agrave campo Entatildeo abre os horizontes agrave medida que vocecirc

pode confrontar vaacuterias visotildees levando em conta o contexto vaacuterias fontes tambeacutem

Meu nome eacute Fernando Eu tambeacutem acho interessante essa ida a campo porque busca um maior

entendimento daquilo que vocecirc vecirc apenas no papel no texto Quando vocecirc vai a um local a um patrimocircnio histoacuterico

a um museu isso possibilita ta mais perto vocecirc vecirc peccedilas exposiccedilotildees aquilo te remete te leva aquele tempo

Elizabeth Agora natildeo tem jeito neacute Soacute falta vocecirc (riso)

Claudilene Eu acho muito importante essas visitas a campo porque aleacutem da gente ta conhecendo novos lugares a gente aprende vaacuterias coisas sobre o passado com relaccedilatildeo ao presente aquilo que por exemplo quando a

gente foi no Museu do Escravo mesmo aquilo que aquelas pessoas passaram naquela eacutepoca os objetos que estatildeo laacute

representados que usavam nos castigos naqueles escravos eu acho muito interessante a histoacuteria neacute

Elizabeth Obrigada (risos) Olha soacute tem duas outras questotildees vou fazer junto e vocecircs fiquem agrave vontade

para falar mais de uma ou outraporque se tiver algueacutem que natildeo vai ao Rio de Janeiro pode responder mais uma ou

outra Todos vatildeo Haacute bom Por que eacute o seguinte o primeiro eu gostaria que vocecircs tentassem relatar ou descrever

trabalhos que jaacute foram feitos Lembrar da situaccedilatildeo o que viu que tipo de fato de contribuiccedilatildeo esse trabalho trouxe

neacute mas assim tentar lembrar alguma referecircncia dessas visitas e aiacute descrever o que aconteceu o que chamou a

atenccedilatildeo natildeo precisa ser soacute que gostou natildeo pode ser tambeacutem o que achou difiacutecil complicado pode avaliar o que de

fato foi essa visita essa experiecircncia e depois a gente coloca a terceira para encerrar Pode ser Vamos comeccedilar daqui

de novo Alguma visita que vocecirc lembra que participou o que chamou a atenccedilatildeo (repete esclarece ) Claudilene Como eu jaacute falei do Museu do Escravo a representaccedilatildeo das peccedilas Naquele laacute de BH Como

chama (respondem) Abiacutelio Barreto Eacute Abiacutelio Barreto gostei demais Pode falar de outros que eu fui Eu fui tambeacutem

em um (Vocecirc foi sozinha) Fui com minha famiacutelia Famiacutelia trapo Foi todo mundo no museu de JK laacute tambeacutem o

que mais interessante que eu achei laacute foi que ele colocou laacute no museu dele o que ele mais gostava na parte da

culinaacuteria Ele gostava de comida no fogatildeo agrave lenha e tinha um queijo laacute em cima do fogatildeo e de preferecircncia de panela

de barro Isso foi que mais gostei

Elizabeth Quando eacute que vocecirc foi Foi recente

Claudilene Eu fui laacute acho em 1994 Nesse museu em Brasiacutelia Teve um em Caraccedilas que eu fui mas soacute que

laacute de Caraccedilas eacute mais soacute eacute artigos religiosos

Elizabeth Vocecirc foi antes de entrar na Faculdade

Claudilene Antes de entrar na Faculdade Fui de JK em Cordisburgo Daquele escritor Ahm (Guimaratildees Rosa) Eacute Guimaratildees Rosa Eu adoro museu

Elizabeth Obrigada

Fernando O Museu que eu mais gostei achei super interessantefoi justamente na eacutepoca que gente tava

entrando na Faculdade comeccedilando o curso de Histoacuteria noacutes fizemos uma visita ao Museu Abiacutelio Barreto em

BHOnde foi que quebrou um pouco aquela visatildeo que a gente trazia da escola que na hora que fez aquela foi feito

aquela dinacircmica explicando como eacute feita uma exposiccedilatildeo onde cada pessoa pode colocar aquilo que tava com ele um

laacutepis uma caneta ou um caderno e ali foi ensinado para a gente como fazer uma exposiccedilatildeo como organizar uma

exposiccedilatildeo como uma exposiccedilatildeo eacute organizada Toda exposiccedilatildeo ela tem o ponto central aquilo que ela ta querendo

mostrar aquilo que ta querendo contar Todos esses aspectos foram explicados para a gente Achei super interessante

assim foi de grande valia pra gente como estudante de histoacuteria

Elizabeth Valeu Fernando

Daniele Bem como o Fernando acabou de relatar o Museu Abiacutelio Barreto foi um dos primeiros museus que gente chegou a visitar aqui na Faculdade e foi muito interessante porque eles explicaram pra gente como eacute que eacute feita

a seleccedilatildeo como eacute feita a organizaccedilatildeo desse material como eacute feita a exposiccedilatildeo se essa exposiccedilatildeo eacute permanente ou

natildeo Outro Museu que tambeacutem foi interessante foi o Imperial em Petroacutepolis que a gente visitou Assim por mais que

assim foi muito bonito a gente natildeo teve um tempo para dialogar com as peccedilas discutir comentar e as vezes se

faz necessaacuterio quando se vai ao museu ter tempo para dialogar questionar ter diaacutelogo porque isso acrescenta muito

Elizabeth Obrigada

Frederico O que marcou muito tambeacutem foi a visita ao Abiacutelio Barreto por ter sido a primeira que a gente fez

na Faculdade eu jaacute tinha feito outras mas aqui na Faculdade foi a primeira E logo depois quando eu comecei a fazer

o Estaacutegio o que me chamou a bastante a atenccedilatildeo foi a questatildeo da organizaccedilatildeo na hora de elaborar uma exposiccedilatildeo a

198

quantidade de pessoas que estatildeo envolvidas como que a instituiccedilatildeo inteira se mobiliza em torno disso como eacute muito

seacuterio o trabalho que eles fazem quando tem que definir um tema para a exposiccedilatildeo quais satildeo os materiais que vatildeo ser

expostos Neacute assim a questatildeo de organizaccedilatildeo que me marcou muito e voltando ao Museu do Escravo o que me

chamou muito a atenccedilatildeo tambeacutem foi isso que eu gostei muito do museu achei que tinha muita coisa bacana mas

achei que a exposiccedilatildeo tava muito saturada tinha tanta informaccedilatildeo que assim vocecirc tava meio perdido ali dentro e

achei que tinha ter uma linha cronoloacutegica alguma coisa que pudesse ta direcionando o proacuteprio visitante para facilitar

o entendimento da exposiccedilatildeo e para que a gente pudesse absorver mais a informaccedilatildeo e pra que gente pudesse

entender tambeacutem o que a exposiccedilatildeo estava querendo falar

Elizabeth Soacute Fred uma pequena intervenccedilatildeo Vocecirc mencionou um estaacutegio e a Fabiana tambeacutem Soacute

rapidamente eu gostaria que vocecirc falasse para que algumas pessoas saibam e registrar vamos dizer assim que

estaacutegio eacute esse que vocecirc ta fazendo Frederico A gente comeccedilou esse ano a partir do dia 08 de janeiro um Estaacutegio institucional supervisionado

pela Faculdade Gente taacute realizando no Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto todas as semanas a gente vai

periodicamente E no iniacutecio a gente realizou um trabalho de estudo junto com o setor educativo do museu eacute a gente

trabalha direto com o setor educativo no iniacutecio foi um grupo de estudos e a agora a gente jaacute estaacute comeccedilando a partir

dos atendimentos das intervenccedilotildees que o setor faz com os alunos e a gente ta comeccedilando a aprender para que a gente

possa tambeacutem fazer essas intervenccedilotildees Ta sendo muito bacana porque a gente ta conseguindo fazer essa ligaccedilatildeo da

escola com o museu ateacute mesmo por estar trabalhando no setor educativo do museu Taacute dando para aprender bastante

coisa

Fabiana Aprender tambeacutem a importacircncia que eacute a ligaccedilatildeo da escola com o museu A experiecircncia em museu

o que mais gostei e entre aspas natildeo gostei foi ao Museu Imperial Gostei muito foi fantaacutestico o que natildeo gostei eacute

que a nossa visita foi guiada foi muito raacutepida e assim a gente natildeo pode ver com aquele olhar poder discutir poder ver o lado criacutetico como que era e eles natildeo permitam isso laacute eles ficavam controlando O bom foi vocecirc ter uma

direccedilatildeo que se a gente tivesse perdido sozinho a gente natildeo ia saber por onde comeccedilar a gente natildeo ia saber que

direccedilatildeo mas o ruim eacute que eacute muito raacutepido e natildeo te deixa dialogar com cada peccedila enfim No Abiacutelio Barreto estaacute sendo

fantaacutestica a experiecircncia ainda mais no setor pedagoacutegico que a gente ta trabalhando

Tiago No meu caso natildeo eacute o Museu Abiacutelio Barreto natildeo eacute o Museu Imperial nem o Museu do Escravo

(risos) mas () porque eu natildeo tive a oportunidade de ir ( natildeo gosto nem de lembrar) um museu que se destacou

entre os que jaacute visitei foi o Museu Padre Toledo em Tiradentes eu acho que basicamente quase ningueacutem teve a

oportunidade de visitar num cronograma tatildeo corrido dentro das perspectivas de trabalho de campo que o Geraldo

propocircs Entatildeo ningueacutem parou para ver neacute mas eu tive a sorte de que duas semanas antes eu tinha ido laacute entatildeo eu

fui no museu e notei uma coisa muito interessante que eram vaacuterias peccedilas que remetem ao seacuteculo XVIII mas vaacuterias

peccedilas que natildeo tem uma interlocuccedilatildeo a exposiccedilatildeo natildeo te daacute uma oportunidade de fazer uma ligaccedilatildeo entre elas acho que eles se preocuparam tanto em expor o seacuteculo XVIII uma casa do seacuteculo XVIII mas a gente eu no caso natildeo tive

a oportunidade de perceber a ligaccedilatildeo que tinha

Elizabeth Obrigada Tiago

Aline Bom no meu caso natildeo foi o museu natildeo foi o Arquivo da Cidade de BH Eu achei interessante

porque a gente pode ver laacute como que se daacute o armazenamento dos documentos porque se natildeo tiver esse cuidado ele

acaba perdendo no tempo Entatildeo a gente aprendeu laacute o que eacute interessante guardar como que eacute feita a higienizaccedilatildeo

desse material para poder ser guardado e uma que assim que natildeo me agradou muito foi o Museu de Histoacuteria Natural

da PUC A exposiccedilatildeo era interessante demais mas acho assim que era mais voltado para crianccedila sabe As guias do

dia laacute falavam uma linguagem meio infantil acabou que a gente foi com a disciplina de Histoacuteria da Aacutefrica A

professora precisou intervir porque tava uma coisa assim (intervenccedilatildeo do Colega foi Histoacuteria da Ciecircncia e da

Teacutecnica) Foi da Aacutefrica Natildeo foi terceiro periacuteodo Essa mateacuteria aiacute aiacute a professora pode citar o nome Ela precisou

intervir porque natildeo tava sendo interessante para a gente tava muito mecanizado Ela teve que nortear a coisa para estar de acordo com a nossa disciplina O palaacutecio imperial tambeacutem foi bastante interessante mas tambeacutem natildeo deu

nem para observar direito as peccedilas porque foi muito corrido Eacute isso aiacute

Elizabeth Soacute um segundo sei que vai cansando e a gente comeccedila a falar junto mas depois eu natildeo consigo

fazer a transcriccedilatildeo Entatildeo por favor

Warleson Eu jaacute fui no Museu de Guimaratildees Rosa e na eacutepoca eu tava na 8ordf Seacuterie e gostei bastante de ter

ido depois eu ateacute passei na gruta de Maquineacute que eu natildeo sei se entra aqui se eacute o caso() eu gostei mas natildeo lembro

muito do que foi falado laacute soacute lembro que eu fui Eu gosto muito de visita assim tem uma igreja laacute em Congonhas

tambeacutem que eu jaacute visitei e gostei muito do Museu de Artes e ofiacutecios em BH de como que se dava o processo de

trabalho da eacutepoca da exposiccedilatildeo que eu natildeo lembro o tempo a memoacuteria agora ta curta Eu gostei tambeacutem do Museu

199

do Escravo tambeacutem Eu gosto muito dessa ligaccedilatildeo do Brasil com a Aacutefrica e gosto muito de estudar essa parte

principalmente na religiatildeo

Elizabeth Soacute uma coisa W Vocecirc mencionou Guimaratildees Rosa mesmo em Congonhas vocecirc foi sozinho

com amigos em grupo com a escola

Warleson Laacute no Museu de Guimaratildees Rosa eu fui com a escola quando tava na 8ordf Seacuterie Em congonhas

foi uma excursatildeo que a gente faz para um parque Parque da Cachoeira que tem laacute aiacute a gente passa nessa igreja para

fazer a visita A igreja na eacutepoca estava em reforma mas a gente podia entrar laacute dentro

Elizabeth Aiacute satildeo amigos

Warleson eacute uma excursatildeo assim um especial

Elizabeth Obrigada

Weberton (riso) A experiecircncia que me marcou assim foi ao Museu do Escravo Problema eacute o seguinte porque mostrou assim o processo de escravidatildeo no Brasil como era estruturado objetos que ao mesmo tempo ()

visatildeo que tinha do negro mostrando eles simplesmente como objetos e colocou tipo assim () uma visatildeo negativa

faltou assim a cultura a danccedilaa comida natildeo mostrou o processo global A ideologia do sistema claro que tinha na

eacutepoca

Elizabeth A questatildeo do terceiro ponto e nossa uacuteltima rodada eacute a nossa visita ao Rio de Janeiro A visita estaacute

marcada pela ideacuteia da comemoraccedilatildeo dos 200 anos da vinda da famiacutelia real e de propoacutesito tambeacutem a gente escolheu

visitas a algumas das exposiccedilotildees relacionadas a esse evento e certamente a gente vai poder conversar sobre o que

foi fazer laacute Mas eu gostaria que vocecircs falassem pensassem da expectativa da visita claro eu imagino que a

expectativa eacute boa alta mas como vocecircs relacionam a questatildeo da memoacuteria que jaacute abordaram que estaacute presente nos

museus e nestes espaccedilos que a gente costuma visitar e questatildeo da histoacuteria e aiacute a gente pode pensar um pouco no

sentido dessa histoacuteria escrita da historiografia daquela eacute trabalhada nos textos na sala de aula e a questatildeo da comemoraccedilatildeo Como vocecirc fazem vecircem isso comemoraccedilatildeo histoacuteria e memoacuteria Como relaciona isso antes das

visitas Como estaacute na cabeccedila tem relaccedilatildeo natildeo tem Natildeo eacute preciso fazer nenhuma tese mas como vecircm noacutes vamos

para um evento assim uma seacuterie de exposiccedilotildees relacionadas a uma comemoraccedilatildeo Aiacute noacutes estamos tratando da

questatildeo da memoacuteria e da histoacuteria Como vocecircs pensam que isso pode ser organizado pensado Pode ser Agora vou

fazer assim quem quer comeccedilar

Daniele Eu acho assim o interessante eacute porque os professores datildeo uma base muito boa para quando vocecirc

vai para a discussatildeo Por mais que a gente vai num periacuteodo assim com essa intenccedilatildeo Taacute sendo comemorado Eacute

muito importante as visitas em diferentes tempos mas eu acho que deve ter um certo cuidado ter uma visatildeo criacutetica

porque essa comemoraccedilatildeo pode daacute uma organizaccedilatildeo para enaltecer essa comemoraccedilatildeo Analisar mas analisar de

forma criacutetica saber se essa comemoraccedilatildeo tem Natildeo sei se consegui me expressar

Elizabeth algueacutem quer tentar expressar Tiago Na verdade pensar a historicidade do evento Se natildeo fica muito naquele negoacutecio do oba oba se natildeo o

propoacutesito principal se perde e

Frederico Aiacute que entra a questatildeo da memoacuteria Eu acho que nem a D falou ser criacutetico A gente ir assim para

focar o ato de comemoraccedilatildeo O que estaacute sendo comemorado Por que Ir com alguns questionamentos e ter alguns

filtros para natildeo ir muito para o lado do () a valorizaccedilatildeo da memoacuteria e buscar nesses momentos o valor histoacuterico

Tiago E o por que de estar sendo comemorado Na Verdade eacute um fato relevante na histoacuteria do Brasil mas

quais que satildeo as pretensotildees de se fazer essa comemoraccedilatildeo quais as implicaccedilotildees disso

Frederico Eu acho que nem tanto o por que mas como estaacute sendo neacute Como eles estatildeo fazendo isso De

que forma estatildeo representando esse momento Momento a chegada da famiacutelia real como isso estaacute sendo

representado

Elizabeth Na cabeccedila de vocecircs esse momento Chegada da famiacutelia real tem uma ldquoaurardquo tem uma

importacircncia Como vocecircs vecircem isso WebertonSim Mudou os rumos do Brasil porque ateacute entatildeo tinha a vigecircncia do pacto colonial (fim da fita

em um dos gravadores) Tinha o comeacutercio metroacutepolecolocircnia e com a vinda da famiacutelia real a abertura dos portos

favorece uma burguesia colonial natildeo sei se burguesia mas a elite brasileira passou experimentar novos mercados

comeacutercios e e isso eacute importante porque a partir do momento que Portugal abriu os portos a elite brasileira viu que

natildeo era vantagem natildeo aceitou mais e comeccedilou a organizar movimentos civis que vai culminar na Independecircncia do

Brasil

Daniela E isso que o B ta falando eacute justamente a de analisar como foi esse acontecimento e qual a visatildeo

que estaacute sendo repassada nessas exposiccedilotildees Tentar na medida do possiacutevel confrontarneacute

Tiago Aleacutem de um sentido poliacutetico e econocircmico a vinda da famiacutelia real traz um sentido cultural forte

200

Elizabeth Acho que ta encerrando mais algueacutem quer fazer alguma consideraccedilatildeo sobre a expectativa dessa

visita ao Rio o que espera ver o que jaacute viu o jaacute visitou

Frederico Conheccedilo Petroacutepolis

Frederico Questatildeo histoacuterica museus natildeo

Outros concordam

Observaccedilatildeo apenas uma participante disse jaacute conhecer o Rio de Janeiro Niteroacutei

Elizabeth Agradeccedilo a todos a Cristiane e depois retorno

201

Anexo D

ROTEIRO TRABALHO DE CAMPO ndash Rio de Janeiro DATAS Saiacuteda de Pedro Leopoldo 30042008 agraves 2230 (noite - quarta)

Retorno d o Rio de Janeiro 03052008 agraves 1200 horas (tarde- saacutebado)

ATIVIDADE ACADEcircMICA CIENTIacuteFICA E CULTURAL ndash 25 h-

5ordf Feira dia 01052008

Chegada ao Hotel Rio‟s Nice Hotel Rua do Riachuelo 201 Centro CEP 20230-011 Rio de Janeiro Rio

de Janeiro telefone 2297-1155 ndash cafeacute da manhatilde

1000 saiacuteda do Hotel para Visitaccedilatildeo ao Corcovado(Cristo Redentor)

Subida de Trem ao Corcovado Saiacuteda Rua Cosme Velho 513 Zona sul Telefones 24922252 e

22051045 Funcionamento de 8 30 agraves 18 30h saiacuteda a cada meia hora Duraccedilatildeo da viagem cerca de 20 minutos

Preccedilo da passagem R$ 3600(inclui ida e volta) aceita Cartotildees de Creacutedito Velocidade da subida 15 kmh Velocidade

da descida 12 kmh

Som e Luz na Antiga Seacute ndash agendado para o grupo chegar agraves 1000 h fazer a visita guiada ao interior da

Igreja e terminar com o espetaacuteculo agraves 1200 h com efeitos sonoros e iluminaccedilatildeo que conta a histoacuteria da antiga seacute Satildeo

projetadas sombras de personagens como reis e padres nas paredes Valor da entrada R4 600 (inclui a visita ao espetaacuteculo)

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO DA ANTIGA SEacute

A antiga catedral promovida a Capela Real em 1808 foi palco da sagraccedilatildeo de D Joatildeo VI como rei de

Portugal apoacutes a morte de D Maria I Ali se casaram o futuro D Pedro I e D Leopoldina da Aacuteustria em 6 de

novembro de 1817 Rua 7 de Setembro 14 centro 218176-4182 3a5a 9h17h e saacuteb 11h17h agende com

antecedecircncia

Almoccedilo

Horaacuterio 1600 agendado para o grupo

Visita a EXPOSICcedilAtildeO -RIO DE JANEIRO CAPITAL DE PORTUGAL EXPOSICcedilAtildeO ndash

COMEMORACcedilOtildeES DOM JOAtildeO VI NO RIO - 1808-2008

ART SESC - FLAMENGO Rua Marquecircs de Abrantes 99- Flamengo Sede administrativa (21) 3138-

1020 Arte Sesc (21) 3138-1343 Graacutetis

Exposiccedilatildeo mostra a chegada de D Joatildeo no Brasil A vinda para o Brasil de D Joatildeo priacutencipe regente de

Portugal e de sua comitiva e as radicais alteraccedilotildees sobre os destinos e a vida da colocircnia principalmente sobre os

haacutebitos e costumes da cidade apresentadas de forma abrangente os motivos que levaram agrave transferecircncia da Corte as

principais iniciativas por ele tomadas como a criaccedilatildeo do Banco do Brasil da Imprensa Reacutegia do Jardim Botacircnico e

da Capela Real e a chegada da chamada Missatildeo Francesa composta de arquitetos pintores gravadores e artiacutefices

para citar apenas algumas

Noite ndash livre

6ordf Feira dia 02052008

202

Horaacuterio agendado para o grupo 1000 h MUSEU HISTOacuteRICO NACIONAL Praccedila Marechal Acircncora centro

212550-9220R$ 600 EXPOSICcedilOtildeES ndashUM NOVO MUNDO UM NOVO IMPEacuteRIO A CORTE PORTUGUESA NO BRASIL Seu

acervo muito bem preservado e identificado inclui coleccedilotildees de armas carruagens louccedilas pratarias e objetos

pessoais da eacutepoca da corte Promove a partir de 8 de marccedilo uma das mais importantes exposiccedilotildees sobre o periacuteodo

Horaacuterio agendado para o grupo 930 h Biblioteca Nacional- 15 pessoas Av Rio Branco 219 Centro Telefone

21 2220-9484

Visita guiada agrave seccedilatildeo de Manuscritos Perioacutedicos Microfilmados Obras Raras e outros setores Edifiacutecio projetado por

Francisco Marcelino de Souza Aguiar foi inaugurado em 1910 Em estilo neoclaacutessico com imponente escadaria ateacute

o primeiro andar eacute circundado de colunas coriacutentias Seu acervo comeccedilou a ser reunido no seacuteculo XVIII Nele

destacam-se dois exemplares da Biacuteblia de Moguacutencia impressa em 1462 pelos continuadores de Gutenberg a ediccedilatildeo

dos Lusiacuteadas de 1572 a coleccedilatildeo De Angelis e a coleccedilatildeo Teresa Cristina doaccedilatildeo de D Pedro II

AlmoccediloHoraacuterio agendado 0 Exposiccedilotildees ndash Comemoraccedilotildees Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro 1808-20

O Teatro de Debret Entrada Franca

O Teatro de Debret eacute a maior exposiccedilatildeo jaacute realizada sobre Jean-Baptiste Debret (1768-1848) pintor

integrante da Missatildeo Artiacutestica Francesa que viveu no Rio de 1816 a 1831 Com 511 obras sendo 346 aquarelas 151

pranchas litograacuteficas e cinco oacuteleos do artista aleacutem de nove trabalhos relacionados com ele a mostra revela o Rio

tanto sede do impeacuterio portuguecircs como do Brasil com todos os seus contrastes e exuberacircncias A mostra integra as

comemoraccedilotildees dos 200 anos da chegada da Famiacutelia Real

O edifiacutecio onde hoje funciona a Casa Franccedila-Brasil jaacute foi palco de alguns eventos importantes de nossa histoacuteria Mandado erguer em 1819 por D Joatildeo VI ao arquiteto Grandjean de Montigny integrante da Missatildeo

Artiacutestica Francesa a obra em si jaacute eacute um importante documento Eacute o primeiro registro do estilo neoclaacutessico no Rio

de Janeiro que a partir daiacute invadiu nossa cidade tingindo o barroco de nossas florestas e de nossas casas coloniais

de um tom cosmopolita agrave moda europeacuteia

Noite Livre

Saacutebado dia 03052008 Visita ao Jardim Botacircnico Rua Jardim Botacircnico 1008 Exposiccedilatildeo Orquiacutedeas no Jardim

Centenas de espeacutecies entre elas a primeira espeacutecie nativa do paiacutes trazida pelo rei de Portugal Mostra exposiccedilatildeo

paralela Dom Joatildeo VI e a Exploraccedilatildeo e o Estudo das orquiacutedeas no Brasil que mostra a importacircncia da chegada da

corte para o desenvolvimento botacircnico do paiacutes Entrada R$ 400

Tour pela orla e praias de Copacabana Ipanema e outras

Retorno ndash saacutebado agraves 1200 ndash parada na Serra da Mantiqueira para observaccedilatildeo da paisagem

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃOrepositorio.unicamp.br/.../250961/1/Seabra_ElizabethAparecidaDuqu… · Educação da Universidade Estadual de Campinas, como

iii

iv

Elton e Teresa

todo o amor que houver nessa vida

v

AGRADECIMENTOS

Agrave professora Ernesta Zamboni pela felicidade de ser sua orientanda participar de seu grupo

de pesquisa e de seu conviacutevio Pela dedicaccedilatildeo com a qual conduz o trabalho acadecircmico e o

cuidado com o ensino de histoacuteria

Agraves professoras do grupo Memoacuteria Maria do Carmo Martins Maria Carolina Boveacuterio

Galzerani Heloiacutesa Helena Pimenta Rocha e Vera Luacutecia Sabongi De Rossi com as quais tive o

prazer de compartilhar minha formaccedilatildeo na Unicamp Agrave professora Cristiani Bereta e ao professor

Miacutelton Joseacute de Almeida pela leitura e indicaccedilotildees quando do exame de qualificaccedilatildeo Agrave professora

Simone Maria Rocha e ao professor Julio Emiacutelio Pereira Diniz que me possibilitaram ampliar as

leituras teoacutericas e metodoloacutegicas desse trabalho ao me receberem como aluna em suas disciplinas

acadecircmicas na UFMG

Aos colegas orientandos da professora Ernesta Zamboni Elaine Marta Tadeu Halferd

Juliana e Valeacuteria pela convivecircncia em Campinas que incluiu discussotildees sobre os limites da

pesquisa e a ampliaccedilatildeo de meus horizontes de expectativas quanto agrave vida cotidiana

Agraves diversas pessoas e instituiccedilotildees como bibliotecas puacuteblicas e museus que possibilitaram

ao longo dos quatro anos a pesquisa bibliograacutefica e documental Registro em nome de todas as

contribuiccedilotildees um agradecimento a Ana Paula Soares Pacheco que natildeo me conhece mas me

enviou de Salvador um livro que esperava ansiosamente para concluir um argumento da tese

Ao pessoal da Faculdade de Pedro Leopoldo a quem devo aleacutem do carinho nos quase dez

anos de conviacutevio profissional a existecircncia dessa pesquisa sobre as visitas a museus Foi em Pedro

Leopoldo que nasceu o desejo de investigar a praacutetica de visitas e a elaboraccedilatildeo do projeto de

doutorado Agradeccedilo a Edna Marta Siuacuteves aos colegas professores Marcos Lobato Geovacircnia

Luacutecia dos Santos Geraldo Magela Mangnini Rafael Machado Cristiane de Castro e Almeida

Juacutenia Sales Pereira Rogeacuterio Pereira Arruda Andreacutea Casa Nova Maia Shirley Aparecida de

Miranda Joseacute Eustaacutequio de Brito Juacutenia Carolina Mariza Guerra de Andrade Ilza Gualberto

Eunice Esteves Humberto Catuzzo e outros que viveram os dias de formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo

de projetos pedagoacutegicos trabalhos de campo atividades acadecircmicas cientiacuteficas e culturais e

que talvez natildeo desejem serem lembrados por isso

vi

Aos alunos das vaacuterias turmas do Curso de Histoacuteria da Faculdade de Pedro Leopoldo e em

especial da uacuteltima turma de histoacuteria que concluiu a licenciatura em 2008 Eles satildeo os sujeitos

instituiacutedos por essa pesquisa Eacute agrave memoacuteria dos estudantes que quero prestar meu agradecimento

na forma de registro institucional de tese

Aos amigos de ontem e hoje Silvana Flaacutevia Dulce Santuza Cynthia Rogeacuterio Cristiane

Juacutenia Nara Wanderley Miacuteria Miacuteriam e Meire Ao pessoal de casa pai matildee irmatildeo irmatildes

sobrinhas sobrinhos cunhada cunhados vizinhos sempre interessados em como estatildeo indo as

minhas coisas

Aos professores e alunos do Curso de Histoacuteria do Unibh em especial aos professores

Rogeacuterio Arruda e a professora Ana Cristina Lage com os quais tive o prazer de compartilhar um

reencontro com o sabor discutir historiografia agraves sextas-feiras agrave noite

vii

Vista do Salatildeo do seacuteculo XIII do Museu dos Monumentos Franceses

Gravada por Jean Baptiste Reacuteville e Jacques Lavalleacutee Paris 1816

ldquoA mais forte impressatildeo da infacircncia [] foi o Museu dos monumentos franceses tatildeo

desastrosamente destruiacutedos Foi laacute e em nenhuma outra parte que pela primeira vez tive a viva

impressatildeo da histoacuteria Ocupava aqueles tuacutemulos com minha imaginaccedilatildeo sentia aqueles mortos

atraveacutes do maacutermore e natildeo era sem algum terror que penetrava sob aquelas aboacutebodas baixas

onde jaziam Dagobert Chilpeacuteric e Freacutedeacutegonderdquo

Jules Michelet O Povo 1a Ediccedilatildeo Paris 1866

viii

RESUMO

O objetivo central da tese eacute analisar em que medida praacuteticas escolares de visitas a museus podem

romper com os saberes disciplinares e pedagoacutegicos incidindo diretamente sobre a produccedilatildeo de

um conhecimento experiencial a ser mobilizado no ensino de histoacuteria Do ponto de vista teoacuterico

a pesquisa toma a ideia de visitante como um espectador emancipado (RANCIEgraveRE 2010) e a

produccedilatildeo da cultura como um modo de vida comum perpassada pelas ideacuteias e praacuteticas sociais

(WILLIAMS 1969 e 1979) Do ponto de vista empiacuterico investiga-se como um grupo de

estudantes de Licenciatura em Histoacuteria em situaccedilotildees educativas de visita constroem sentidos

diversos para o patrimocircnio para o ensino de histoacuteria e a para a memoacuteria cultural Destacam-se

em especial as praacuteticas vivenciadas pelos visitantes no Museu do Escravo de Belo Vale (MG) e

no Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro

Palavras chave Visitantes de Museus Formaccedilatildeo Histoacuterica Patrimocircnio Memoacuteria Formaccedilatildeo de

Professores

ix

ABSTRACT

The main objective of this thesis is to analyze the extent in that school field trips to museums can

modify established disciplinary and pedagogical knowledge and directly influence the production

of knowledge from experience to be mobilized for the teaching of history From the theoretical

viewpoint this study considers the visitor as an emancipated spectator (RANCIEgraveRE 2010) and

the production of culture as a common way of life and determined by the social ideas and

practices (WILLIAMS 1969 and 1979) From the empirical viewpoint we investigated the way

how history licensure students construct various meanings to the heritage in field trips for the

teaching of history and the cultural memoryThe practices experienced by the visitors to the Slave

Museum in Belo Vale State of Minas Gerais and the National History Museum in Rio de

Janeiro state of Rio de Janeiro are given special emphasis

Keywords Museum Visitors History Formation Heritage Memory Teacher Education

x

Lista de ilustraccedilotildees

Figura 1 GAY Paul du e HALL Stuart O circuito da cultura Production of CultureCultures of

Production Londres Sege 1997 32

Figura 2 CUNHA Viacutevian e outros Fotografias da entrada e paacutetio interno do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006 33

Figura 3 RODRIGUES Marly Marques Fotografia da entrada do Museu Histoacuterico Nacional

2008 33

Figura 4 Fachada do Museu do Escravo Disponiacutevel

emlthttpwwwbelovalemggovbratracoes_museuhtmgt Acesso em 2011 35

Figura 5 Fachada do Museu Histoacuterico Nacional ndash Disponiacutevel em

lthttpwwwmuseuhistoriconacionalcombrmh-2008-001htmgt Acesso em 2011 37

Figura 6 Turma do 4ordm periacuteodo de Histoacuteria Faculdade Pedro Leopoldo Fazenda Boa Esperanccedila

Belo Vale MG 2006 72

Figura 7 MARQUES Daniele Paulo Fotografia da visita a Petroacutepolis Rio de Janeiro 2007 77

Figura 8 AMORIM Frederico Levi Monitora do Museu do Escravo no paacutetio central tendo ao

fundo a senzala e o pelourinho Belo Vale-MG 2006 79

Figura 9 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes ouve explicaccedilotildees da monitora no paacutetio

interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006 79

Figura 10 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes junto ao tronco no paacutetio interno do

Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006 80

Figura 11 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 83

Figura 12 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 84

Figura 13 LEGATI Lorenzo Museu Cospiano Bolonha 1677 85

Figura 14 VASARI Giorgio (1511-1574) Studiolo de Francisco I Palazzo Vecchio Firenze

1570-1573 86

Figura 15 SANTOS Fabiana Cristina dos Montagem de fotografias da visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 88

Figura 16 BIARD Franccedilois Auguste (1798-1882) Quatro Horas no Salatildeo (Quatre heures au

Salon) Oacuteleo stela 57x67 cm Museu do Louvre Paris 1847 90

xi

Figura 17 ROCKWELL Norman (1894-1978) O criacutetico de arte 1955 Ilustraccedilatildeo da capa de

The Saturday Evening Post 16 de abril de 1955 Oacuteleo sobre tela (1003 x 921 centiacutemetros)

Coleccedilatildeo Museu Norman Rockwell 92

Figura 18 ROCKWELL Norman (18941978) O connaisseur 1962 Oacuteleo sobre tela Ilustraccedilatildeo

produzida para a ediccedilatildeo do Saturday Evening Post 13 jan 1962 Coleccedilatildeo Particular 92

Figura 19 ANDRADE Aleacutecio Fotografia 1993 Cataacutelogo da exposiccedilatildeo ldquoO Louvre e seus

visitantesrdquo Instituto Moreira Salles 2009 98

Figura 20 Mapa ilustrativo de Minas Gerais e localizaccedilatildeo da cidade de Belo Vale 110

Figura 21 Turma 2006 visita o Museu do Escravo Coleccedilatildeo dos visitantes 111

Figura 22 Pavilhatildeo 1 Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale MG Fonte

httpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtm 113

Figura 23 Pavilhatildeo 2 (fundos) Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale MG Fonte

Disponiacutevel em lthttpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtmgt Acesso em 2011 114

Figura 24 AMORIM Frederico Levi Tuacutemulo do escravo desconhecido Museu do Escravo

Belo Vale 2006 116

Figura 25 AMORIM Frederico Fotografias do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 118

Figura 26 AMORIM Frederico Levi Fotografias do paacutetio interno do Museu do Escravo 2006

119

Figura 27 ARAUacuteJO Sueli de Azevedo A turma no cenaacuterio do Cacaacute Diegues Museu do

Escravo 2006 120

Figura 28 CARDINI Joatildeo fl 1804-1825D Joatildeo Priacutencipe do Brazil regente de Portugal

Gravura buril e aacutegua-forte pampb 96x6 cm 1807 Cataacutelogo da exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um

Novo Impeacuterio - A Corte Portuguesa no Brasil2008 p18 123

Figura 29 Capa do Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Cultura 1957 130

Figura 30 Capa do folder do Museu Histoacuterico Nacional Portatildeo da Minerva Entrada do Museu

Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Cultura IPHAN Guia do Visitante sd 130

Figura 31 Portatildeo de Minerva Guia do Visitante Museu Histoacuterico Nacional 132

Figura 32 Arcada dos descobridores Guia do Visitante Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo e Cultura 1957 133

xii

Figura 33 XAVIER Michele Oliveira Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de

Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008 134

Figura 34 Reproduccedilatildeo da Capa do Cataacutelogo da ldquoExposiccedilatildeo Um novo Mundo um novo impeacuterio

A corte portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 140

Figura 35 Capa do Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um novo impeacuterio A corte

portuguesa no Brasil18082008 Brasil-Portugal Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro

2008 143

Figura 36 Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um novo impeacuterio A corte

portuguesa no Brasil18082008 Brasil-Portugal Museu Histoacuterico NacionalRio de Janeiro 2008

148

Figura 37 AMORIM Frederico Levi Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de

Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008 150

Figura 38 Montagem fotograacutefica de Frederico Amorim para visita agrave Exposiccedilatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 152

Figura 39 BRAGA Fernando Daniel Visita ao Museu Nacional Rio Janeiro 2008 152

Figura 40 Fernando Daniel Fraga Fonseca Fotografia Nuacutecleo 2- A metroacutepole nos troacutepicos

Exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil MHN 2008

154

xiii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 1

CAPIacuteTULO I - Narrativa presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica 9

11- Memoacuteria e narrativas de visitas 13

12 - A presenccedila de estudantes 19

13 - Formaccedilatildeo histoacuterica 25

14- Circuito e circularidade cultural 30

15- Visitantes de museus espectadores emancipados 39

CAPIacuteTULO II - Visitas a museus memoacuteria e patrimocircnio dos visitantes 45

21 ndash Estudos sobre museus um balanccedilo historiograacutefico 45

22 ndash Plano de visitas e aprendizagem histoacuterica em museus 54

23- Praacuteticas de formaccedilatildeo produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos 58

24- Visitas escolares e visitantes marcas visiacuteveis de historicidade 63

25- Relatos e fotografias registros do patrimocircnio dos visitantes 71

CAPIacuteTULO III - A historicidade de museus e visitantes 82

31- Visitantes diante de museus a experiecircncia museal 82

32- Usos puacuteblicos e educativos dos museus 88

33 - Maneiras de ver e ser visto nos museus 94

34 - A funccedilatildeo educativa nos museus entre os museus escolares e os pedagoacutegicos 99

CAPIacuteTULO IV - Visitantes entre narrativas e objetos museais 109

41 - Visita ao Museu do Escravo ndash Belo Vale Minas Gerais 109

42 - O escravo e o museu 113

43- Uma nova museografia para o Museu do Escravo 115

44- As narrativas dos visitantes escravidatildeo e eurocentrismo 117

CAPIacuteTULO V - Entre a poliacutetica e a poeacutetica dos museus e exposiccedilotildees 122

xiv

51 - O Museu Histoacuterico Nacional habitaccedilotildees do patrimocircnio 122

52- Comemoraccedilotildees Histoacuteria do Brasil e dos brasileiros 134

53- Ensinando histoacuteria ldquo200 anos da vinda da Famiacutelia Real para o Brasilrdquo 142

54- O visitante entre a cultura material e a experiecircncia esteacutetica 149

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 158

DOCUMENTOS 165

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 168

ANEXOS 188

1

INTRODUCcedilAtildeO

A descriccedilatildeo feita historiador Jules Michelet (1798-1874) de sua visita na infacircncia ao

Museu dos Monumentos Franceses e seu encontro com a histoacuteria ldquovivardquo da Franccedila continua

estimulando reflexotildees sobre os efeitos de sentidos dos museus para a histoacuteria a memoacuteria e o

patrimocircnio A visatildeo de Michelet a respeito dos tuacutemulos de maacutermore dos heroacuteis meroviacutengios

remete aos vaacuterios sentimentos provocados em noacutes visitantes pelo Panteatildeo dos Inconfidentes na

cidade de Ouro Preto Tambeacutem evoca os sentidos puacuteblicos da existecircncia do mausoleacuteu imperial

inaugurado por Getuacutelio Vargas em 1939 na catedral de Satildeo Pedro de Alcacircntara em Petroacutepolis

Rio de Janeiro onde estatildeo os tuacutemulos de D Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina

O Museu dos Monumentos franceses organizado por Alexandre Lenoir teve curta

duraccedilatildeo Ele existiu no conturbando periacuteodo entre 1795 e 1816 Contudo o efeito que a visita a

esse museu exerceu sobre o menino Michelet e em sua concepccedilatildeo de Histoacuteria parece duradouro

o uso da imaginaccedilatildeo para que os mortos ganhem vida

Meu encontro com os museus natildeo pode ser comparado ao relatado pelo historiador da

Revoluccedilatildeo Francesa Sequer fui a um museu quando crianccedila Minha relaccedilatildeo mais proacutexima com

essas instituiccedilotildees e com o imaginaacuterio que as cercam se aproxima da escolha da Histoacuteria como

campo profissional Foi durante a graduaccedilatildeo em histoacuteria que me aproximei dos museus como

visitante e pude posteriormente como professora de Histoacuteria no ensino fundamental e superior

experimentar diferentes instituiccedilotildees museais acompanhando grupos de estudantes muitos deles

tambeacutem visitando um museu pela primeira vez

Nas praacuteticas de visita ouvi e vi diversas vezes o encantamento e a decepccedilatildeo dos

estudantes diante do patrimocircnio monumentalizado Ao percorrer pela primeira vez ruas e becos

da cidade de Ouro Preto em 1994 um estudante de 14 anos cursando o ensino fundamental em

uma escola puacuteblica de Belo Horizonte olhava deslumbrado e me disse que nunca havia

imaginado que uma ldquocidade histoacutericardquo fosse igual agrave favela onde morava cheia de morros e casas

apertadas Outra estudante do curso de licenciatura em Histoacuteria da Faculdade onde trabalhava ao

visitar o Museu Imperial se mostrava bastante incomodada e escreveu posteriormente em seu

relatoacuterio de visita em 2005 que lhe parecia que soacute havia milionaacuterios em Petroacutepolis Ningueacutem

falava de quem construiu o palaacutecio quem trabalhou laacute dentro servindo a famiacutelia imperial como

2

se vestiam as empregadas que lavavam as ricas porcelanas e limpavam os quartos mobiliados

suntuosamente se existia alguma capelinha ou ldquocentro de macumbardquo onde os negros se reuniam

No seu relato a aluna lembra que historiadores como Marcos A da Silva jaacute falavam dos riscos de

se trabalhar com o ldquopatrimocircnio histoacutericordquo afastado do cotidiano do ensino de histoacuteria Ningueacutem

falou disso laacute no Museu relatou a visitante Os guias os materiais impressos soacute falam dos preccedilos

das casas das joacuteias e vestimentas da famiacutelia imperial concluiu Maria da Conceiccedilatildeo Machado

Viana em seu Relatoacuterio de Visita ao Museu Imperial de Petroacutepolis em 2005

O objeto desta pesquisa parte desse lugar do visitante que problematiza suas vivecircncias

evidencia crenccedilas expressa opiniotildees e amplia sua formaccedilatildeo histoacuterica e profissional em diaacutelogo

com as praacuteticas educativas que ocorrem em ambientes natildeo escolares como os museus

O interesse por esse tipo de investigaccedilatildeo surgiu desses momentos em que a visita

provocava o encontro de uma histoacuteria viva com os visitantes possibilitando emergir questotildees que

interpelavam os sujeitos colocando-os em accedilatildeo posicionando-os em relaccedilatildeo aos museus ao

ensino de histoacuteria agrave historiografia e agraves praacuteticas de memoacuteria Diante dos museus e colocados em

situaccedilotildees de interaccedilatildeo os visitantes-estudantes eram capazes de se reconhecerem reciprocamente

como parceiros protagonistas numa situaccedilatildeo de troca

A pesquisa para o doutoramento eacute esse esforccedilo para construir uma narrativa a partir dos

vestiacutegios deixados pelos visitantes Busco articular o tempo de minha proacutepria formaccedilatildeo de meu

exerciacutecio profissional como professora de Histoacuteria e da minha atual condiccedilatildeo de pesquisadora na

aacuterea de educaccedilatildeo Eacute do lugar do presente que pretendo materializar meu objeto de pesquisa as

visitas educativas a museus tomadas como foco para a anaacutelise dos usos do patrimocircnio cultural

pelos visitantes

Procuro nesse trabalho reunir numa narrativa (RICOEUR 2010 p2-3) as vozes muacuteltiplas

e dispersas dos visitantes numa siacutentese escrita criando uma nova pertinecircncia capaz de dar novos

sentidos e referecircncias para o patrimocircnio musealizado Um movimento de fixar e conservar rastros

que satildeo escassos pegadas que satildeo poucas pois a visita pensada pela loacutegica da ldquoconservaccedilatildeordquo

dos museus natildeo deve deixar marcas nos pisos originais natildeo deve deixar sobras do consumo de

alimentos nas aacutereas comuns como jardins natildeo se deve fotografar as exposiccedilotildees e nem carregar

objetos durante o trajeto de visita guiada pelos museus

3

O visitante que procuro constituir pela pesquisa sente necessidade de se expressar de

tornar-se presenccedila Os efeitos de sentido natildeo lhes vecircem automaticamente do passado das

reminiscecircncias individuais mas do investimento que ele faz no seu presente a partir de sua

condiccedilatildeo de estudante para tornar presenccedila o que soacute existe como ausecircncia Para minha sorte as

visitas que acompanhei natildeo foram silenciosas Haacute uma escassez momentacircnea de palavras

adequadas para nomear sentimentos de maneira profunda natildeo haacute excessos aparentes no visitante

ele fala posteriormente no ocircnibus na sala de aula da falta que o calou O visitante olha e faz

suas opccedilotildees diante da narrativa do museu quase como uma imposiccedilatildeo da dimensatildeo do

esquecimento entendido como parte constitutiva do trabalho de memoacuteria ele quer registrar sua

presenccedila e sua opiniatildeo

O encontro de visitantes e museus eacute cheio de lapsos e apagamento dos rastros como de

qualquer praacutetica cultural que se queira narrar depois de decorrido o tempo da accedilatildeo O auto-retrato

formativo dos visitantes eacute sempre de itineracircncias e erracircncias nunca um quadro completo Se o

traccedilado a ser esboccedilado eacute histoacuterico o museu mostra-se nessa pesquisa como um lugar habitado por

corpos hierarquias sociais econocircmicas religiosas e culturais mas que tambeacutem insistem em se

tornar utopia e imagens que teimam em povoar provisoriamente a imaginaccedilatildeo

A anaacutelise das experiecircncias de visita a museus possibilita emergir um campo de

investigaccedilatildeo em que os sujeitos aparecem em accedilatildeo posicionam-se em relaccedilatildeo ao saber histoacuterico

a outros sujeitos e narrativas e a si proacuteprios A experiecircncia histoacuterica da visita e de cada visitante

permitiraacute uma distinccedilatildeo da qualidade temporal entre passado e presente e identificaccedilatildeo do modo

como o passado permanece como passado no presente A visita a museus pode fundamentar essa

experiecircncia temporal essa vivecircncia da mudanccedila no tempo da alteridade do passado que

experimentada abre o potencial de futuro do proacuteprio presente (RUumlSEN 2007 p 111-2)

A problematizaccedilatildeo das situaccedilotildees de visita a museus justifica-se por contribuir para uma

reflexatildeo sobre o ensino de histoacuteria como aacuterea de pesquisa e estreitar os viacutenculos com a produccedilatildeo

do conhecimento histoacuterico As visitas a museus podem propiciar um tipo de formaccedilatildeo histoacuterica

dialoacutegico principalmente com a cultura visual e material

Do ponto de vista teoacuterico e metodoloacutegico eacute importante apontar como os museus se

apresentam como um ldquocampo de forccedilasrdquo capaz de romper com os saberes disciplinares e

4

pedagoacutegicos incidindo diretamente sobre a produccedilatildeo de um conhecimento experiencial a ser

mobilizado no ensino de histoacuteria

O contato de estudantes-visitantes com o patrimocircnio cultural musealizado amplia a

compreensatildeo das linguagens expositivas e educativas dos museus a relaccedilatildeo entre objetos

museais seus significados e os coacutedigos mais amplos de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo cultural (HALL

1997 2003)

Diferentemente dos postulados que entendem o ldquodiscurso pedagoacutegicordquo como aquele a ser

transmitido e recebido que se constitui pela recontextualizaccedilatildeo de outros discursos o

conhecimento escolar eacute aqui entendido como um trabalho coletivo um texto em aberto que exige

a participaccedilatildeo de alunos e professores e natildeo uma mercadoria a ser reproduzida e consumida

pelos estudantes (SANTOS 1994 p31)

A pesquisa tem como tema central a anaacutelise das dinacircmicas e interaccedilotildees entre estudantes

em visitas educativas a instituiccedilotildees museais Visitas essas que se concretizam nas accedilotildees dos

visitantes frente agraves linguagens expositivas presentes nos museus nas concepccedilotildees de memoacuteria

patrimocircnio e histoacuteria dos visitantes e na produccedilatildeoelaboraccedilatildeo de sentidos e seus usos do

patrimocircnio cultural sempre considerando questotildees relativas agraves subjetividades identidades

profissionais experiecircnciatrajetoacuteria de vida formaccedilatildeo acadecircmica e profissional

A premissa inicial de trabalho postula que estudantes ao visitarem museus tornam-se parte

constitutiva do movimento de produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo dos conhecimentos de seus acervos

Entende-se que as experiecircncias vividas pelos sujeitos profissionais dos museus e visitantes

possibilitam mobilizar e atualizar saberes dos profissionais dos museus e saberes daqueles que

visitam museus

A justificativa para essa abordagem baseia-se em certo consenso de que a formaccedilatildeo para o

ensino de histoacuteria pode ser potencializada pelo uso de espaccedilos culturais como os museus A

cultura escolar como afirmam Marcos Silva e Selva Guimaratildees Fonseca natildeo pode ser entendida

como um fenocircmeno isolado caracterizada exclusivamente pelo conjunto de saberes elaborado ao

redor da proacutepria praacutetica de ensino mas como aquela que ldquomanteacutem laccedilos permanentes com outros

espaccedilos culturaisrdquo Na visatildeo destes autores estes laccedilos vatildeo desde a formaccedilatildeo de professores

(universidade) passando pela produccedilatildeo erudita com que estes profissionais tiveram e continuam

5

a ter contato (artigos livros) e pela divulgaccedilatildeo de saberes (livros didaacuteticos cursos exposiccedilotildees

simpoacutesios) elaborados naqueles mesmos espaccedilos (SILVA E FONSECA 2007 p8)

Os museus estatildeo incluiacutedos nesse universo de saberes e satildeo aqui privilegiados por

propiciarem natildeo um ldquolugar de memoacuteriardquo mas ldquoentre-lugaresrdquo para a formaccedilatildeo histoacuterica de

professores e alunos Os museus encontram-se nas fronteiras dos espaccedilos fiacutesicos e processos

formais e natildeo formais1 de educaccedilatildeo

As visitas a museus satildeo uma possibilidade de ampliaccedilatildeo da formaccedilatildeo acadecircmica e

profissional para aleacutem do espaccedilo escolar e ao mesmo tempo de trazer para o cotidiano de

formaccedilatildeo muacuteltiplas dimensotildees histoacutericas poliacuteticas e culturais Situaccedilotildees de visita a museus

permitem investigar nesse caso a hipoacutetese da circularidade da cultura Articulam-se reflexotildees

sobre as experiecircncias proacuteprias ao campo de trabalho docente em Histoacuteria aos saberes elaborados

no campo da museologia identificando a circulaccedilatildeo dupla de saberes especiacuteficos elaborados nos

dois campos distintos de um universo conceitual a outro e retornando ao campo profissional de

forma sistematizada

Estudantes de graduaccedilatildeo compotildeem o puacuteblico de museus seja nas visitas espontacircneas

como aponta pesquisa sobre perfil de puacuteblico-visitantes2 seja como participantes de visitas

escolares organizadas Eacute essa a situaccedilatildeo a ser explorada pela pesquisa os sujeitos em situaccedilotildees

educativas de visita elaboram e explicitam sentidos acerca dos acervos das instituiccedilotildees

museoloacutegicas analisam e confrontam discursos historiograacuteficos e formulam novos problemas e

possibilidades de interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural musealizado

O campo e os procedimentos de investigaccedilatildeo nessa pesquisa privilegiam os relatos

escritos e fotograacuteficos e recolhas documentais feitas pelos proacuteprios estudantes durante as visitas

aos museus A anaacutelise dos documentos produzidos pelos museus como cataacutelogos materiais

pedagoacutegicos folhetos informativos e orientaccedilotildees instucionais satildeo utilizados nos dois recortes

1 Alguns especialistas defendem que a educaccedilatildeo realizada em museus difere da educaccedilatildeo formal por seu caraacuteter natildeo

cumulativo natildeo apresentando conteuacutedos organizados numa sequumlecircncia como o curriacuteculo escolar Ver Park Fernandes e Carnicel (Org) 2007 p 203-210 2 Pesquisa realizada em 2005 pelo Observatoacuterio de Museus e Centros Culturais em 11 Museus do Rio de Janeiro

com visitantes selecionados por amostragem ao final da visita entre natildeo participantes de visitas escolares

organizadas constatou que este puacuteblico eacute altamente escolarizado chegando a 475 que declararam ter concluiacutedo o

ensino superior 237 o superior incompleto e 24 o ensino meacutedio restando apenas 48 que cursou ateacute o

fundamental completo Paralelo agrave escolaridade o dado referente agrave ocupaccedilatildeo encontrou entre aqueles que declaram

natildeo exercer atividade remunerada 53 de estudantes Ver Observatoacuterio 2006

6

propostos pela anaacutelise a partir do diaacutelogo que estabelecem com a compreensatildeo dos visitantes e

seus quadros de leitura Assim a leitura posta pelos museus entra em circulaccedilatildeo e eacute explorada na

forma de diferentes praacuteticas de confronto de recusa de usos e de valorizaccedilatildeo pelos visitantes

Para promover as leituras dos visitantes sobre os museus analiso os relatos dos

licenciandos em Histoacuteria de uma faculdade particular da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte

em visita a diferentes instituiccedilotildees A escolha das visitas decorreu de diversos procedimentos de

anaacutelise experimentados ao longo da pesquisa e que consideram tanto os limites aparentes dessas

fontes quanto as possibilidades dadas e permitidas Foram muitas idas e vindas em relaccedilatildeo ao

repertoacuterio ou indiacutecios documentais produzidos pelos estudantes e disponiacuteveis para o uso nessa

pesquisa A abundacircncia de material e de museus visitados pelo grupo de estudantes aponta o

papel da instituiccedilatildeo formadora na produccedilatildeo dessas fontes O estiacutemulo agraves atividades de visitas abre

possibilidades de ampliaccedilatildeo do repertoacuterio ou do arquivo com vestiacutegios brutos desorganizados

um turbilhatildeo de personagens incidentes perguntas sem respostas Praacuteticas tradicionais de leitura

dos museus e novas leituras convivem nos relatoacuterios O uso e a valorizaccedilatildeo de diferentes

princiacutepios de anaacutelise sua articulaccedilatildeo e coerecircncia interna satildeo materializadas pelo grupo de

estudantes e datildeo suporte a um acervo de memoacuterias escritas e fotograacuteficas das visitas elaborado na

perspectiva de um grupo especiacutefico de visitantes

Ao utilizar os relatos dos estudantes de licenciatura em Histoacuteria como fonte para o estudo

das experiecircncias de formaccedilatildeo cria-se uma opccedilatildeo e alternativa para compreendermos os

imbricamentos entre os discursos das instituiccedilotildees formadoras as narrativas de museus e os

estudantes-visitantes com suas histoacuterias de vida suas motivaccedilotildees crenccedilas escolhas de percurso

e atitudes durante a visita A construccedilatildeo de narrativas das visitas permite agrave pesquisa a partir de

experiecircncias localizadas e pessoais interrogar sobre o contato sociocultural de um grupo

especiacutefico de visitantes com outros grupos e temporalidades mais amplas

A questatildeo central que permeia a pesquisa eacute a formaccedilatildeo histoacuterica dos sujeitos frente agrave

experiecircncia de contato com os museus Os relatos dos visitantes entendidos como a principal

fonte documental para esse trabalho permitem discutir como um grupo ou um mesmo estudante

vecirc diferentes museus Como faz a leitura de cada um deles e encontra as diferenccedilas entre as

narrativas de cada museu Esse conjunto documental possibilita explorar complexas relaccedilotildees do

7

processo vivo dinacircmico e ativo de construccedilatildeo de conhecimentos e ensino de histoacuteria em especial

dos conceitos de cultura memoacuteria e patrimocircnio

A organizaccedilatildeo final do trabalho busca combinar em cada capiacutetulo dois movimentos ndash

discussotildees teoacutericas e metodoloacutegicas e a anaacutelise das fontes ou relatos dos visitantes O texto final

da tese eacute composto de cinco capiacutetulos No primeiro capiacutetulo eacute apresentado o tema central da

pesquisa visitas a museus Discute-se o papel das visitas de estudantes a museus para a formaccedilatildeo

histoacuterica Eacute proposta uma anaacutelise das visitas a partir dos relatos dos visitantes centrada em uma

noccedilatildeo de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos que promova uma ruptura com as ideacuteias de

representaccedilatildeo e recepccedilatildeo da cultura Satildeo articulados os referenciais teoacutericos e conceitos que

fundamentam a anaacutelise

No segundo capiacutetulo eacute retomado o debate sobre os puacuteblicos de museu e apresentado o

recorte empiacuterico da pesquisa constituiacutedo por um grupo de 15 estudantes de licenciatura em

Histoacuteria de uma Faculdade particular na regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte que realizaram

visitas entre 2005 e 2008 Satildeo caracterizadas as praacuteticas de formaccedilatildeo e produccedilatildeo de

conhecimentos a partir dos registros dos visitantes Um questionaacuterio uma entrevista oral no

formato de grupo focal e fotografias produzidas pelos proacuteprios visitantes durante as visitas satildeo os

trecircs instrumentos de produccedilatildeo de dados

O terceiro capiacutetulo faz uma ligaccedilatildeo entre os dois primeiros e os dois uacuteltimos capiacutetulos

Apresenta um balanccedilo bibliograacutefico que tem por objetivo indicar eixos de discussatildeo presentes no

campo museal e produzir um exerciacutecio metodoloacutegico que contribua para explicitar a dinacircmica de

interaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos pelos visitantes professores e alunos em visitas agraves duas

instituiccedilotildees museais que seratildeo destacadas nos capiacutetulos quatro e cinco Satildeo abordadas as questotildees

relativas agrave historicidade dos museus os campos e conceitos a ele relacionados a atualidade do

tema nas pesquisas acadecircmicas Estas referecircncias analiacuteticas visam definir um quadro teoacuterico-

conceitual e sistematizar as discussotildees em torno do conceito de museu

No capiacutetulo quatro eacute apresentada uma reflexatildeo sobre a visita realizada no segundo

semestre de 2006 ao Museu do Escravo em Belo Vale (MG) Satildeo confrontados os relatos escritos

e fotograacuteficos produzidos pelos visitantes e argumenta-se que os estudantes ao visitarem este

museu histoacuterico tornam-se parte constitutiva do processo de produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo das

informaccedilotildees de seu acervo

8

O quinto capiacutetulo enfatiza a criacutetica do mesmo grupo de estudantes que visita em 2008 a

exposiccedilatildeo do Museu Histoacuterico Nacional ldquoUm novo mundo um novo Impeacuterio a Corte Portuguesa

no Brasil ndash 1808-1822rdquo O capiacutetulo procura refazer o percurso dos visitantes considerando duas

referecircncias o discurso expositivo do museu e a formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes A partir da

situaccedilatildeo de visita e da formaccedilatildeo procuramos entender como os visitantes descrevem analisam

interpretam e fundamentam suas escolhas e gostos A visita ao Museu Histoacuterico Nacional

possibilitou abordar as relaccedilotildees entre poliacuteticas e poeacuteticas as relaccedilotildees com a memoacuteria o

patrimocircnio e a histoacuteria nos usos educativos dos museus pelos visitantes

A pesquisa se integra agraves questotildees discutidas pela aacuterea de concentraccedilatildeo Educaccedilatildeo

Conhecimento Linguagem e Arte e pelo grupo de pesquisa Memoacuteria Histoacuteria e Educaccedilatildeo agrave

medida que busca investigar a produccedilatildeo de conhecimentos em suas articulaccedilotildees com as praacuteticas e

discursos empreendidos por instituiccedilotildees como os museus e as interaccedilotildees construiacutedas pelos

sujeitos em situaccedilotildees de visita escolar a estas instituiccedilotildees

9

CAPIacuteTULO I - Narrativa presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica

Visita ao museu

No dia 26 de setembro de 2005 fomos ao museu Abiacutelio Barreto em Belo

Horizonte A visita foi bem interessante e totalmente diferente do que eu imaginava porque em minha mente o museu era um local em que as pessoas iam para ver coisas

velhas Durante e apoacutes a visita minha visatildeo mudou por completo percebi que um

historiador tem vaacuterias formas de trabalhar com diferentes tipos de objetos A partir de

uma montagem e desmontagem de figuras podem-se passar imagens diferentes

dependendo da maneira que esse material foi exposto como fizemos na dinacircmica

O museu tambeacutem desenvolve um trabalho diferente dos que eu jaacute visitei Ao

mesmo tempo em que eles estatildeo preservando a memoacuteria da cidade estatildeo tambeacutem

integrando o objeto ao cotidiano da sociedade remetendo-nos haacute tempos em que Belo

Horizonte era apenas um arraial chamado Curral Del Rei o iniacutecio do avanccedilo

tecnoloacutegico e ateacute os dias de hoje Laacute o casaratildeo deixa de ser espaccedilo fiacutesico para virar

objeto museoloacutegico A organizaccedilatildeo eacute oacutetima Na sede do museu satildeo desenvolvidos vaacuterios

trabalhos como projetos restauraccedilatildeo de materiais etc Gostei da forma que o material eacute conservado em estantes giratoacuterias O visitante ao inveacutes de ir para visitar somente o

casaratildeo faz um circuito por toda a aacuterea do museu A exposiccedilatildeo eacute aberta a todos que

queiram ver

Como temos visto em nosso curso principalmente em Teoria II o historiador

trabalha em cima de perguntas (segundo Annales) e os objetos que vimos podem nos dar

vaacuterios tipos de respostas A visita ao museu foi uma aula praacutetica de como se fazer

Histoacuteria

(Maria Joseacute Mendes3 Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto

Belo Horizonte MG Curso de Histoacuteria 2ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG

2005)

O relato de Maria Joseacute Mendes sintetiza de maneira particular sua experiecircncia4 de visita a

um museu e aborda conteuacutedos histoacutericos e historiograacuteficos anaacutelises sentimentos valores O

relato da estudante eacute polifocircnico no sentido que lhe atribui Clifford (1988) uma produccedilatildeo que

reuacutene numa escrita proacutepria aproximaccedilotildees pessoais estrateacutegias de aprendizagem escolar

enredos acontecimentos significados muacuteltiplos e modos de negociar e apresentar questotildees

impliacutecitas quadros e tramas mais amplas

3 A visitante eacute uma aluna do curso de Licenciatura em Histoacuteria do Instituto Superior de Educaccedilatildeo da Faculdade

Pedro Leopoldo na regiatildeo metropolitana de BH fez parte da turma que visitou diversos museus e seu relatoacuterio

compotildee o conjunto de narrativas de visitas a museus analisados nessa pesquisa 4 Para Dewey (2010 p90-91) as partes constitutivas da experiecircncia satildeo emocional praacutetica e intelectual A

experiecircncia eacute um todo diversificado um fluxo cujos diferentes atos e episoacutedios mesclam-se e fundem-se

Intercacircmbio e fusatildeo satildeo contiacutenuos

10

O registro da visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto feito por Maria Joseacute Mendes eacute uma

praacutetica de escrita que se configura em plano de produccedilatildeo mais restrito como um relatoacuterio de

avaliaccedilatildeo de um trabalho escolar Todavia colocados os contornos mais abrangentes das

condiccedilotildees de produccedilatildeo desse tipo de narrativa se reconhece uma praacutetica de formaccedilatildeo que avalia

situaccedilotildees do cotidiano escolar

As narrativas de visitantes como a da estudante acima satildeo consideradas fontes

documentais para essa pesquisa sobre a formaccedilatildeo histoacuterica que reivindica um lugar para os

sujeitos frente agraves grandes narrativas histoacutericas como as dos museus As situaccedilotildees vividas nas

visitas escolares a museus retomadas ao longo do capiacutetulo pela narrativa de Maria Jose Mendes

satildeo referecircncias para a reflexatildeo sobre o protagonismo do visitante que interroga o museu e confere

mobilidade agraves suas narrativas expositivas Esse tipo de registro tambeacutem aponta indiacutecios dos usos

do patrimocircnio cultural pelos visitantes e da aprendizagem em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo histoacuterica aberta

pelas visitas aos museus

A visitante em questatildeo eacute parte de um grupo5 no qual me incluo como professora e que

como ela mesma indica com o uso do verbo na primeira pessoa do plural fomos ao museu para

realizar uma atividade curricular atribulados por vaacuterios condicionantes de velocidade e aparatos

tecnoloacutegicos proacuteprios da cultura contemporacircnea Maria Joseacute Mendes eacute uma das alunas do curso

de licenciatura em Histoacuteria de uma faculdade particular da regiatildeo metropolitana de Belo

Horizonte Minas Gerais que nessa condiccedilatildeo de ldquoexperiecircnciardquo empreende com seus colegas

visitas planejadas a museus6 Eacute uma jovem estudante membro de uma ldquoaudiecircncia histoacuterica e

situadardquo mas que responde tambeacutem agraves expectativas de visitante inscritas nas atividades

educativas do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto que passou por projeto de revitalizaccedilatildeo entre 1993

e 20037

Enquanto os museus satildeo entendidos como autoridades por suas funccedilotildees sociais e

histoacutericas de produtores de memoacuteria de patrimocircnio e de preferencial para a leitura dessa

5 Uma caracterizaccedilatildeo do grupo de visitantes e das visitas efetivamente realizadas seraacute apresentada e discutida no segundo capiacutetulo 6 As visitas a museus arquivos bibliotecas empresas ambientes naturais e outros locais satildeo realizadas como

disciplinas acadecircmicas com uma dimensatildeo praacutetica e ou como Atividades Acadecircmicas Cientiacuteficas por diversas

instituiccedilotildees de ensino superior da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte como a PUC-MG UNIFEMM Ver

Fonseca (2009) e Pereira (2007) 7 Ver balanccedilo do ldquoprocesso de revitalizaccedilatildeordquo do MHAB organizado por sua diretora Thais Pimentel e publicado em

2004 (PIMENTEL 2004)

11

materialidade o visitante luta para instituir-se e produzir sentidos em presenccedila daquela instacircncia

reguladora e autorizada de recursos O visitante no uso de recursos variados de linguagem cria

uma situaccedilatildeo de disputa e inibe certas manifestaccedilotildees trazidas pelos museus

O visitante diante dos cenaacuterios especiacuteficos de cada museu cria categorias de anaacutelise

analogias identifica contradiccedilotildees contrastes e diferenccedilas Enquanto o museu traz uma memoacuteria

histoacuterica instituiacuteda os visitantes tornam as experiecircncias de visita memoraacuteveis

A abordagem metodoloacutegica dessa pesquisa concebe as visitas como um ldquotrabalho de

campordquo no sentido que lhe atribui Alba Zaluar (1986 p107) A antropoacuteloga natildeo estabelece uma

separaccedilatildeo entre investigador e investigados e nem correlaciona uma maior objetividade da anaacutelise

com uma maior despersonalizaccedilatildeo dos sujeitos O conhecimento para ela eacute um ldquoencontro de

subjetividadesrdquo atos gestos enunciados e natildeo simplesmente um coacutedigo a ser decifrado ou um

levantamento de significados em seus contextos (ZALUAR 1986 p109) Assim como o

trabalho de campo8 soacute pode ser delimitado pelos processos de tomada de decisatildeo do pesquisador

e as estrateacutegias adotadas em meio aos conflitos por quem participa da accedilatildeo as visitas escolares a

museus natildeo podem ser entendidas apenas no sentido e da perspectiva da recepccedilatildeo

Os visitantes natildeo satildeo meros espectadores das propostas elaboradas pelos museus9 Os

visitantes satildeo atores levados a tomar decisotildees e princiacutepios geradores de novas praacuteticas A visita eacute

relacionada a outras que jaacute fizeram e satildeo consideradas como parte de sua formaccedilatildeo de futuros

professores de histoacuteria Visitar um museu eacute analisaacute-lo como fonte para visitas futuras

acompanhando seus proacuteprios alunos

O foco no visitante examina como ele se sente ou natildeo estimulado a construir sua proacutepria

narrativa da visita e quais suas estrateacutegias de inclusatildeo nos museus Como se posiciona e acessa

seus arquivos pessoais e memoacuterias e os confronta agravequeles reunidos no museu tais como objetos

textos imagens dispositivos de interatividade o percurso ou ainda os coletados e reunidos como

parte do trabalho de sistematizaccedilatildeo da visita

Do ponto de vista empiacuterico a pesquisa mostra de que forma durante um curso de

formaccedilatildeo superior eacute possiacutevel abandonar modelos transmissivos de ensino e apostar em estrateacutegias

8 Ver Roteiro do trabalho realizado no Rio de Janeiro em 2008(Anexo C) 9 Em geral a elaboraccedilatildeo de propostas educativas eacute responsabilidade dos setores educativos dos museus e de

especialistas (consultores pesquisadores) O puacuteblico eacute convocado a responder aos modelos propostos (recepccedilatildeo)

12

de produccedilatildeo de conhecimento que tenham impacto sobre a profissionalizaccedilatildeo docente em histoacuteria

e os processos mais gerais de produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico e formaccedilatildeo histoacuterica

Um passo importante eacute reconhecer que esse conhecimento histoacuterico se apresenta sob a

forma de imagens crenccedilas convicccedilotildees metaacuteforas regras e princiacutepios de orientaccedilatildeo para a vida

praacutetica profissional Nesse sentido essa pesquisa tem mais interesse nos sujeitos e suas agecircncias

do que na histoacuteria das instituiccedilotildees museais

A pesquisa parte de uma reflexatildeo sobre os relatos de visita a museus constituindo a partir

deles narrativas que fazem dialogar conceitos e experiecircncias que se produzem no campo dos

museus e em suas relaccedilotildees com a escola estabelecendo possibilidades e limites para a abordagem

do proacuteprio visitante

O registro de Maria Joseacute Mendes eacute uma referecircncia inicial para a reflexatildeo e produccedilatildeo por

parte do proacuteprio visitante de saberes Podem ser identificados pelos relatos os diversos saberes

que compotildeem a formaccedilatildeo histoacuterica conhecimentos de caraacuteter disciplinar ou historiograacutefico que

compotildee a matriz disciplinar da histoacuteria saberes curriculares ou relativos a objetivos meacutetodos e

estrateacutegias de ensino saberes pedagoacutegicos relacionados agraves concepccedilotildees de educaccedilatildeo e os saberes

praacuteticos da experiecircncia10

Entendo que as visitas natildeo se constituem no simples cumprimento de um programa de

educaccedilatildeo patrimonial oferecido por museus eou escolas ou ainda em passeios turiacutesticos

realizados por escolha dos visitantes individualmente A presenccedila de estudantes em museus estaacute

relacionada a uma praacutetica de visitas e agrave formaccedilatildeo histoacuterica

Procuro nesse primeiro capiacutetulo articular referenciais teoacutericos distintos para fundamentar

a anaacutelise das praacuteticas de visitas a museus Autores como Paul Ricoeur Hans Ulrich Gumbrecht

Joumlrn Ruumlsen Raymond Williams Stuart Hall e Jacques Ranciegravere satildeo convocados e oferecem

contribuiccedilotildees para a ampliaccedilatildeo da abordagem deste objeto especiacutefico e a criacutetica ao sentido de

transmissatildeo da cultura e agrave representaccedilatildeo como um sentido fixo A narrativa (RICOEUR 2010

p9) a produccedilatildeo de presenccedila (GUMBRECHT 2010 p 82) e a formaccedilatildeo histoacuterica (RUumlSEN

2010 p59) assim como os conceitos de cultura (WILLIAMS 1969 e 1979) e circuito de cultura

(HALL 1997 e 2003) e ainda o de espectador emancipado (RANCIEgraveRE 2010) fundamentam a

10A discussatildeo sobre os saberes que compotildee a formaccedilatildeo do profissional de histoacuteria no Brasil eacute realizada por Selva

Guimaratildees Fonseca dentre outros autores Ver Fonseca (1997) Silva e Fonseca (2007) e Fonseca e Zamboni (2008)

13

anaacutelise teoacuterica e metodoloacutegica do uso social dos museus em visitas educativas e aproximam o

foco da investigaccedilatildeo os museus vistos pelos seus visitantes

11- Memoacuteria e narrativas de visitas

Um primeiro movimento dessa pesquisa eacute examinar como os visitantes engendram

memoacuterias a partir de visitas a museus A memoacuteria eacute entendida como uma accedilatildeo de atualizaccedilatildeo de

conceitos uma ldquoviagem no tempo com direito a ida e voltardquo A memoacuteria eacute rememoraccedilatildeo a partir

do presente e o sujeito um ldquotecelatildeo de memoacuterias agrave medida que narra a si mesmo como uma

autografia cujas vaacuterias vidas se entrelaccedilam em diversos tempos e espaccedilos numa dinacircmica

imprevisiacutevel do lembrar e esquecer da perda e da dispersatildeordquo (GALZERANI 2002 p63)

Rememorar significa trazer o passado vivido como opccedilatildeo de questionamento das relaccedilotildees

e sensibilidades sociais existentes tambeacutem no presente uma busca atenciosa relativa aos rumos a

serem construiacutedos no futuro Esse conceito de memoacuteria articulado ao de narrativa traz uma

abertura coletiva para as dimensotildees sensiacuteveis e o questionamento da concepccedilatildeo absoluta de

verdade (GALZERANI 2002 p68)

Os registros escritos e visuais11

dos visitantes satildeo tomados como memoacuterias e narrativas

no sentido atribuiacutedo por Ricoeur como um desenho da ldquoexperiecircncia temporalrdquo que realiza uma

ldquosiacutentese do heterogecircneordquo uma ldquonova congruecircncia no agenciamento dos incidentesrdquo (RICOEUR

2010 p2)

Em Tempo e Narrativa Ricoeur (2010) desenvolve a ideia de uma tripla dimensatildeo da

narrativa histoacuterica descrita como um tempo vivido e ainda natildeo configurado um tempo narrado

ou o mundo como um texto e o tempo refigurado ou o mundo do leitor Haacute uma dimensatildeo da

vida vivida e natildeo narrada que passa pela trama e chega ao mundo final do leitor seja pelas

intenccedilotildees do autor pelos sentidos da obra ou as percepccedilotildees do leitor Essas travessias satildeo

circulares e a experiecircncia da temporalidade nunca eacute o triunfo da ordem haacute discordacircncias

violecircncia da interpretaccedilatildeo redundacircncias e histoacuterias natildeo contadas (RICOEUR 2010 p124-132)

Assim Ricoeur (1991) transpotildee um limiar no qual o aparente conflito entre explicaccedilatildeo e

compreensatildeo eacute ampliado A linguagem que era considerada apenas como discurso passa a ser

11 As fotografias satildeo produzidas juntamente com os relatoacuterios escritos Inicialmente natildeo faziam parte da anaacutelise mas

se mostraram essenciais agrave pesquisa

14

considerada nos limites do que afeta o escrito a polissemia a ambiguidade e obras inteiras de

discurso falado como poemas ensaios e com a dimensatildeo da experiecircncia (RICOEUR 1991

p163) Eacute como dimensatildeo da experiecircncia que se explicitam os campos de confrontaccedilatildeo e

negociaccedilatildeo e se daacute a primeira ancoragem para as narrativas puacuteblicas e oficiais e as narrativas e

memoacuterias pessoais ou autobiograacuteficas Para Ricoeur os graus de convergecircncia ou natildeo entre a

memoacuteria coletiva e as memoacuterias autobiograacuteficas indicam niacuteveis de identificaccedilatildeo pessoal e os

significados elevados ou natildeo de siacutembolos como bandeiras e hinos

Essa temaacutetica da accedilatildeo discutida por Ricoeur (1991) ajuda a evidenciar as diferentes

formas de inscriccedilatildeo da memoacuteria na historiografia e nos museus e entender o diaacutelogo entre

culturas (museus e escolas) comparando situaccedilotildees e tipos de atividades (regimes de accedilatildeo)

assentadas em uso de recursos culturais de fundo comum

A narrativa para Ricoeur se daacute como articulaccedilatildeo temporal da accedilatildeo Uma ficcionalizaccedilatildeo

da histoacuteria na forma como contamos o passado e uma historizaccedilatildeo da ficccedilatildeo que eacute a forma como

trabalhamos o imaginaacuterio Na descriccedilatildeo da funccedilatildeo narrativa se articulam as noccedilotildees de mimese e

intriga Enquanto a mimese eacute uma representaccedilatildeo criativa da accedilatildeo a intriga eacute o agenciamento de

fatos sujeitos e cenaacuterios ou seja os elementos estruturantes da proacutepria narrativa

Assim como a metaacutefora viva a narrativa produz efeitos de sentido e remete

simultaneamente a um fenocircmeno de inovaccedilatildeo semacircntica Enquanto a metaacutefora produz uma nova

pertinecircncia por meio de uma atribuiccedilatildeo impertinente que se manteacutem viva porque percebemos sua

espessura e resistecircncia ao emprego usual das palavras e a sua incompatibilidade com a

interpretaccedilatildeo literal (que seria considerada bizarra) a narrativa trabalha no mesmo plano da

invenccedilatildeo semacircntica ao criar uma intriga que eacute uma obra de siacutentese

Percebe-se a constituiccedilatildeo de uma intriga na narrativa de Maria Joseacute Mendes O relato de

visita ao museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto reuacutene em um quadro referencial fontes de procedecircncia

diversas a experiecircncia presencial no museu as demandas da formaccedilatildeo escolar e as interpelaccedilotildees

do acervo do museu Esse tipo de relato eacute tomado na pesquisa como uma imagem de contornos

mais abrangentes dos elementos evidenciados em vaacuterios outros relatos do grupo de visitantes Ele

sintetiza dados de pesquisa e conteuacutedos proacuteprios agraves situaccedilotildees de visitas assim como debates

sobre o uso do patrimocircnio cultural que proveacutem tanto da escola que promove a visita quanto dos

acervos dos museus Pretendo explicitar ao longo da anaacutelise o processo de elaboraccedilatildeo dos relatos

15

evidenciando as linhas mais gerais as texturas dos relatos as repeticcedilotildees de temas as imagens

recorrentes e natildeo propriamente os estilos pessoais e singulares de cada visitante

Para Ricoeur (1975) a questatildeo da narrativa eacute como configurar a experiecircncia temporal

vivida A narrativa eacute o dinamismo integrador que transforma um diverso de incidentes numa

histoacuteria una e completa Eacute a capacidade de reconfiguraccedilatildeo da experiecircncia temporal confusa em

funccedilatildeo de um referencial

A narrativa natildeo eacute soacute o ato jaacute inscrito eacute o ldquoconjunto das operaccedilotildees atraveacutes das quais uma

obra surge a partir do fundo opaco do viver do agir e do padecer para ser dada por um autor a

um leitor que a recebe e muda assim o seus agirrdquo (RICOEUR 1975 p31) Eacute a narrativa que

configura a mediaccedilatildeo entre a preacute-configuraccedilatildeo do campo praacutetico (vivido o antes) o estado da

experiecircncia (o tempo configurado o durante) e a praacutetica que lhe eacute posterior (tempo refigurado o

depois)

A visitante Maria Joseacute Mendes demarca uma temporalidade e natildeo uma simples cronologia

para a visita Seu texto comeccedila com uma data o dia da visita que marca um antes um durante e

um depois Em sua escrita esse antes eacute caracterizado pela imaginaccedilatildeo satildeo ideias que estavam em

sua mente anteriores agrave visita O que ela relata eacute o que aconteceu durante e apoacutes a visita suas

ideias a respeito dos museus mudaram por completo

No entanto o proacuteprio Ricoeur lembra que o relato eacute um ldquoato de testemunharrdquo que difere

do discurso Eacute como uma ldquonarrativa autobiograacutefica autenticada de um acontecimento passadordquo e

agrave medida que o narrador estaacute implicado na cena narradavivida gera uma suposta confiabilidade e

uma suspeita sobre o que ele diz (RICOEUR 2007 p172)

A confianccedila ou desconfianccedila em relaccedilatildeo ao testemunho traz o narrador para o mundo

puacuteblico e da criacutetica aos testemunhos A presenccedila no local da ocorrecircncia inerente ao ato de

testemunhar impotildee uma referecircncia de lugar e de tempo passado ao testemunho mas natildeo lhe

confere legitimidade em relaccedilatildeo ao aqui e agora O testemunho precisa ser autenticado e

acreditado por vaacuterias grandezas comparadas ateacute seu arquivamento (visibilidade e escrita)

(RICOEUR 2007 p175)

Testemunho e narrativa guardam traccedilos de escrituralidade comuns Todavia cada um traz

elementos especiacuteficos relativos ao lugar que os gerou e recebeu Como ldquorastros documentaisrdquo

narrativas e testemunhos estatildeo ligados ao lugar social que os produziram (CERTEAU 1982

16

p64) Esse debate amplia a noccedilatildeo de testemunho que passa a incluir todo e qualquer ldquovestiacutegiordquo

e interessa a essa pesquisa agrave medida que fundamenta uma abordagem que natildeo separa os relatos

escritos dos fotograacuteficos Para Ricoeur a ideia de indiacutecio inclui o testemunho oral ou escrito os

vestiacutegios natildeo verbais como as impressotildees digitais e arquivos fotograacuteficos que testemunham por

seu mutismo (RICOEUR 2007 p 185) O diaacutelogo de Ricoeur nesse caso eacute diretamente com

Carlo Ginzburg (1987) estabeleceu no interior da noccedilatildeo de rastro o conceito de documento em

toda a sua envergadura A raiz comum entre testemunho e indiacutecio eacute a noccedilatildeo de rastro Haacute uma

relaccedilatildeo de complementaridade entre testemunho e indiacutecio para Ricoeur

Decorre dessa ampliaccedilatildeo documental uma seacuterie de analogias relacionando grafia e pintura

no sentido de impressatildeo e evocaccedilatildeo Pode-se dizer tambeacutem que relatos escritos e fotograacuteficos satildeo

complementares na narrativa das visitas aos museus O lugar da fotografia nos relatos eacute

semelhante ao da escrita Ambas configuram ldquomensagens e maneiras de dizer e pensar que

aderem uma agrave outrardquo (RICOEUR 2007 p178)

O primeiro plano dos relatos principalmente das fotografias eacute marcado pela iniciativa

individual em preservar seus proacuteprios rastros os rastros de sua atividade Para Ricoeur essa

iniciativa inaugura o ato de fazer histoacuteria ou a primeira operaccedilatildeo de constituiccedilatildeo de um arquivo a

primeira mutaccedilatildeo historiograacutefica de uma memoacuteria viva Constituiacutedo como testemunho esse

primeiro plano pode ser invocado por algueacutem e desloca-se do seu autor para ser recolhido como

ldquoprova documentalrdquo Marc Bloch lembra Ricoeur coloca a questatildeo dos testemunhos em termos

de rastros de vestiacutegios do passado (testemunhos natildeo-escritos) e depois dos indiacutecios (Ginzburg)

que fazem parte da operaccedilatildeo de observaccedilatildeo histoacuterica com relaccedilatildeo aos ldquotestemunhos do tempordquo

(BLOCH 2002 p69) A consequecircncia desse argumento eacute que nem toda histoacuteria vivida eacute narrada

mas toda a historiografia eacute narrativa

A ambiccedilatildeo da narrativa histoacuterica eacute refigurar a condiccedilatildeo histoacuterica e de elevar seu estatuto

ao de bdquoconsciecircncia histoacuterica‟ Esse processo de reconfiguraccedilatildeo do tempo embora se

pretenda totalizante ocorre como mediaccedilatildeo imperfeita entre o futuro como horizonte de

expectativas o passado como tradiccedilatildeo e o presente como surgimento intempestivo

(RICOEUR 1975 p31)

17

A narrativa histoacuterica produzida pelos historiadores eacute uma construccedilatildeo que cria enredos

com elementos presentes na vida e o mundo refigurado da cultura com uma noccedilatildeo ampla de

produtora de sentidos e identidades12

Em A memoacuteria a histoacuteria o esquecimento Ricoeur (2007 p380) apresenta uma soluccedilatildeo

distinta dos historiadores dos Annales (Le Goff Pierre Nora) para o problema da narrativa e do

tempo histoacuterico na articulaccedilatildeo memoacuteria-histoacuteria Ao retomar o conceito de historicidade que

surge na filosofia alematilde do seacuteculo XIX e de histoacuteria Ricoeur identifica como se configurou a

oposiccedilatildeo entre uma histoacuteria como singular coletivo que

ldquoliga as histoacuterias especiais sob um conceito comum enquanto conhecimento narrativa e

ciecircncia histoacuteria e o nascimento do conceito de histoacuteria como coletivo singular sob o qual

se reuacutene o conjunto das histoacuterias particulares marca a conquista da maior distacircncia

concebiacutevel entre a histoacuteria una e a multiplicidade ilimitada das memoacuterias individuais e a

pluralidade das memoacuterias coletivasrdquo (RICOEUR 2007 p315)

Essa mudanccedila cria um sentido de histoacuteria universal um objeto total e um sujeito uacutenico A

memoacuteria eacute vista com desconfianccedila e descredenciada enquanto a histoacuteria problematiza os

testemunhos religiosos e a memoacuteria coletiva (crenccedilas) e se propotildee a representar o passado no

presente A autonomia da histoacuteria se afirma nos Annales que natildeo devem mais nada a

rememoraccedilatildeo e recorrem agrave introduccedilatildeo de novas exigecircncias retoacutericas por vias extramemoriais A

noccedilatildeo de fonte se liberta da noccedilatildeo de testemunho ldquoConstroacutei-se um passado que ningueacutem pode

lembrar [] A histoacuteria deixou de ser parte da memoacuteria e a memoacuteria se tornou parte da histoacuteriardquo

(RICOEUR 2007 p399)

Ricoeur investe em redefinir as relaccedilotildees entre histoacuteria e memoacuteria na contemporaneidade e

reconhecer os ldquotraccedilos da memoacuteria e do esquecimento que permanecem os menos sensiacuteveis agraves

variaccedilotildees resultantes de uma histoacuteria dos investimentos culturais da memoacuteriardquo (2007 p 398)

Frente agrave tese da escola dos Annales de subordinaccedilatildeo da memoacuteria agrave histoacuteria e a uma literatura da

crise da memoacuteria Ricoeur responde com a hipoacutetese das ldquopotencialidades mnemocircnicas

dissimuladas pelo cotidianordquo cujo histoacuterico contado e o mnemocircnico experimentado se recruzam

(2007 p401)

12 Isabel Barca e Mariacutelia Gago (2004 p29-39) discutem o papel das narrativas histoacutericas e seus usos educacionais na

constituiccedilatildeo de um pensamento histoacuterico entre os jovens portugueses

18

ldquo[] o desespero do que desaparece a impotecircncia para acumular a lembranccedila e arquivar

a memoacuteria o excesso de presenccedila de um passado para sempre irrevogaacutevel a fuga

desnorteada do passado e o congelamento do presente a incapacidade de esquecer e a

incapacidade de se lembrar do acontecimento a uma boa distacircnciardquo (RICOEUR 2007

p401)

Ricoeur aponta que a dinacircmica do esquecimento e da lembranccedila gera tanto uma crise da

memoacuteria quanto um horror agrave histoacuteria ou da presenccedila e da ausecircncia de referecircncias em relaccedilatildeo ao

passado e ao presente A ldquoexperiecircncia viva do reconhecimentordquo redefine a dimensatildeo nostaacutelgica e

as relaccedilotildees memoacuteria e histoacuteria Ricoeur define como ldquooperaccedilatildeo historiadorardquo toda a accedilatildeo que vai

dos arquivos aos textos publicados Para ele um livro de histoacuteria eacute um documento aberto agrave

reinscriccedilatildeo e submetido agrave revisatildeo contiacutenua O que Michel de Certeau (1982 p94) chama de

operaccedilatildeo escrituraacuteria ou uma fase da representaccedilatildeo histoacuterica Ricoeur acredita que atravessa

todos os momentos da escrita da histoacuteria do niacutevel documental ou seleccedilatildeo das fontes ao niacutevel

explicativo-compreensivo com a escolha dos modos concorrentes e as variaccedilotildees de escala da

narrativa (RICOEUR 2007 p249)

Para Ricoeur representaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo estatildeo juntas em toda a operaccedilatildeo de

visualizaccedilatildeo das coisas ausentes do passado ou ainda na tripla aventura que vai do

arquivamento agrave explicaccedilatildeo e representaccedilatildeo Para o autor haacute um embate entre duas escritas para

gerar na histoacuteria um modo literaacuterio da escrituralidade (narrativa) Uma primeira escrita eacute dos

arquivos (memoacuteria) e outra dos historiadores (histoacuteria) ldquoA explicaccedilatildeocompreensatildeo encontra-se

assim enquadrada por duas escritas uma escrita anterior e uma escrita posterior Ela reconhece a

energia da primeira e antecipa a energia da segundardquo (RICOEUR 2007 p 148)

A coerecircncia da narrativa confere visibilidade e busca legitimidade para a encenaccedilatildeo do

passado que daacute a ver Haacute um jogo entre a remissatildeo da imagem e a coisa ausente Uma narrativa

natildeo se parece com os acontecimentos que ela narra Haacute uma prefiguraccedilatildeo uma configuraccedilatildeo e

refiguraccedilatildeo da imagem criada pela amplidatildeo da narrativa e por seu alcance (RICOEUR 2007 p

292)

Em Ricoeur como o problema da memoacuteria natildeo aparece em oposiccedilatildeo agrave histoacuteria pode-se

considerar que em relaccedilatildeo agraves visitas presenciais a museus as imagens da memoacuteria e da histoacuteria

atravessam tanto os relatos dos visitantes quanto a narrativa do museu Ou ainda que as imagens

de museu produzidas pelos visitantes e aquelas produzidas pelos proacuteprios museus podem ser

19

analisadas em um circuito de cultura no qual museu e visitantes tem ambos poder de

representaccedilatildeo

O relato da estudante em visita ao Museu Abiacutelio Barreto coloca o museu em outro

circuito o da proacutepria escola ao fazer uma releitura do sentido e das marcas deixadas pelo museu

quando de sua passagem pelo casaratildeo e suas atividades O depois da visita eacute vivido como uma

nova temporalidade que constitui outro museu imaginado com referecircncia ao durante e ao antes

da visita

12 - A presenccedila de estudantes

As abordagens sobre aprendizagem em ambientes que tratam do patrimocircnio da arte e da

histoacuteria priorizam ora os museus ora as escolasvisitantes A superaccedilatildeo dessas anaacutelises

fragmentaacuterias ou dicotocircmicas implica em refletir sobre os conceitos trabalhados no proacuteprio

campo museoloacutegico e formativo como as ideias de patrimocircnio memoacuteria e histoacuteria

Discutir o estatuto do conhecimento produzido pelos visitantes de museus eacute um ponto de

partida para a reflexatildeo sobre os sentidos das praacuteticas culturais que perpassem museus e escolas

Outra dimensatildeo da pesquisa eacute a ampliaccedilatildeo das reflexotildees teoacutericas e metodoloacutegicas sobre as

competecircncias culturais ou a formaccedilatildeo histoacuterica em especial suas dimensotildees esteacuteticas e poliacuteticas

desencadeadas a partir das visitas

Gumbrecht (1998 e 2010) ao discutir sobre a produccedilatildeo de presenccedila sugere um repertoacuterio

de anaacutelise cultural que busca discernir os efeitos de presenccedila e os efeitos de sentido Ele distingue

uma ldquocultura de presenccedilardquo de uma ldquocultura de sentidordquo O que diferencia uma da outra e

interessa a esta anaacutelise das visitas a museus eacute o papel do sujeito ou subjetividade que ocupa

lugar central na cultura de sentido mas que soacute eacute considerado efetivamente em seu corpo como

parte da existecircncia das coisas numa cultura de presenccedila

A decorrecircncia dessa distinccedilatildeo entre sentido e presenccedila eacute que o conhecimento produzido

numa cultura de sentido soacute pode ser legitimado por um sujeito em seu ato de interpretar o mundo

Jaacute na cultura de presenccedila o conhecimento legiacutetimo eacute apresentado se manifesta ele natildeo vem

diretamente do esforccedilo individual para interpretar e criar um sentido Os objetos se impotildeem ao

sujeito e sua vontade eacute confrontada pela presenccedila

20

Na visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto eacute a presenccedila dos objetos catalogados como

histoacutericos que cria um olhar diferente para esses objetos Eacute o visitante que presente no museu

confere sentidos aos objetos que vecirc expostos e entende que a mudanccedila na ordem de organizaccedilatildeo e

apresentaccedilatildeo cria uma nova visualidade para os objetos

Essa polecircmica sobre presenccedila e sentido eacute um alerta para os perigos do afastamento do

corpo das marcas de produccedilatildeo de sentido proacuteprias agrave modernidade ocidental que assume uma

oposiccedilatildeo entre sujeito (puro espiacuterito) e objeto (pura materialidade) Para Gumbrecht essa

oposiccedilatildeo levou o sujeito a assumir a posiccedilatildeo de observador de um mundo de objetos no qual se

inclui o seu proacuteprio corpo Se por um lado o ganho dessa visatildeo eacute uma demanda constante de

interpretaccedilatildeo de outro promove-se uma perda ou ldquodesmaterializaccedilatildeo da culturardquo transformando

o mundo em ldquorepresentaccedilatildeordquo (GUMBRECHT 2010 p 75-8)

Interessa-nos destacar tambeacutem nesta perspectiva apontada por Gumbrecht os limites da

ideia de representaccedilatildeo13

como capaz de compensar as deficiecircncias de ldquoexpressatildeordquo Ele considera

que como ldquonenhuma das muacuteltiplas representaccedilotildees pode jamais pretender ser mais adequada ou

epistemologicamente superior a todas as outrasrdquo cria-se uma ldquocrise de consciecircncia provocada

pelas muacuteltiplas representaccedilotildeesrdquo (GUMBRECHT 2010 p 82) Para o autor eacute a presenccedila como

uma dimensatildeo fiacutesica e de tangibilidade14

que estaacute em tensatildeo com o princiacutepio da representaccedilatildeo

A partir da ideia de presenccedila pode-se inferir que nas visitas aos museus se produz um

fluxo temporal em que no momento presente o passado e o futuro se encontram Por meio deste

movimento no tempo a ldquoconsciecircnciardquo do visitante eacute transformada por uma rede de relaccedilotildees que

expressam uma nova impressatildeo de estar presente no mundo

Os objetos dos museus tomam novos sentidos atualizados pelo visitante Natildeo eacute soacute a

exposiccedilatildeo propriamente dita que chama a atenccedilatildeo do visitante mas toda a organizaccedilatildeo do espaccedilo

que se apresenta face a face como um circuito os projetos o edifiacutecio e o proacuteprio trabalho de

musealizaccedilatildeo ldquoGostei da forma que o material eacute conservado em estantes giratoacuteriasrdquo afirma a

visitante Maria Joseacute Mendes em presenccedila da reserva teacutecnica do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto

A imagem de estantes giratoacuterias evocada pelo relato da estudante possibilita ampliar o uso

13 A criacutetica agrave representaccedilatildeo e agrave recepccedilatildeo eacute apresentada ao longo do texto e se fundamenta em autores como Ricoeur

(2007 p295-6) Raymond Williams (1969 e 1979) Stuart Hall (1997 e 2003) e Ranciegravere (2010) 14 As visitas em questatildeo satildeo presenciais e nisso se distinguem inicialmente de outras praacuteticas de memoacuteria que

incluem o uso de recursos tecnoloacutegicos para acesso agrave distacircncia (natildeo-presenccedila) aos museus e exposiccedilotildees

21

estritamente funcional dado pelo museu a esse objeto que natildeo faz parte da coleccedilatildeo mas que lhe

daacute suporte e deve facilitar a limpeza e armazenamento fiacutesico dos objetos museais Elevada ao

plano da narrativa de visita a ideia de girar deixa seu sentido meramente instrumental e ganha o

tom poeacutetico de mexer e revolver objetos que a funccedilatildeo museal possui Haacute um deslocamento pode-

se afirmar que natildeo haacute distinccedilatildeo para o gosto da visitante entre o que estaacute nas estantes e as

proacuteprias estantes O objeto museal eacute o proacuteprio mobiliaacuterio do museu e sua accedilatildeo de preservaccedilatildeo

natildeo aquelas coisas velhas que guarda O movimento das estantes eacute compartilhado com prazer

pelo olhar da visitante e coloca a cultura do museu em circulaccedilatildeo

A cultura de presenccedila eacute descrita por Gumbrecht como uma cosmologia em que ldquoos seres

humanos querem relacionar-se com a cosmologia envolvente pela inscriccedilatildeo de si mesmos ou

seja de seus proacuteprios corpos nos ritmos dessa cosmologiardquo (2010 p108-109) A accedilatildeo se faz

como ldquomagiardquo ou seja a praacutetica de tornar presentes coisas que estatildeo ausentes e ausentes coisas

que estatildeo presentes A cultura da presenccedila sugere abordar as situaccedilotildees de visita como epifanias

cujos efeitos de presenccedila e sentido satildeo efecircmeros Ou ainda com uma temporalidade espacial

descrita como um evento que surge do nada e irrompe com os sentidos estabelecidos

Estes efeitos da presenccedila podem ser observados nos relatos dos visitantes De um lado o

museu pode ser considerado como um sentido jaacute instituiacutedo um trabalho concluiacutedo que pretende

ser universal mas que esgotou sua potecircncia criadora e que portanto soacute afeta o visitante

mobilizando-o a uma criacutetica agraves suas concepccedilotildees e exposiccedilotildees Do outro lado a presenccedila no

museu provoca os sentidos dos visitantes e cria princiacutepios de tensatildeo com a ideia de representaccedilatildeo

dominante da proacutepria histoacuteria presente no museu e no visitante Ou ainda a presenccedila investe-se

de uma funccedilatildeo encantatoacuteria capaz de tornar as coisas ausentes presentes e vice-versa

(GUMBRECHT 2010 p14)

Gumbrecht desenvolve aleacutem de uma criacutetica agrave representaccedilatildeo uma ressalva quanto agrave noccedilatildeo

de que a mateacuteria se estabilizaria ao longo do tempo sendo capaz de produzir um efeito de

fronteira de fixidez e superfiacutecie Na tentativa de inverter e devolver a ldquocoisidaderdquo agrave consciecircncia e

a ldquoaparecircnciardquo ao corpo como condiccedilatildeo na qual o mundo nos eacute dado e apresentado aos sentidos

22

ele se coloca em tensatildeo com a abordagem interpretativa15

Pensando que a relaccedilatildeo com os

artefatos culturais nunca eacute uma simples atribuiccedilatildeo de sentido e que coisas estatildeo perto ou longe

de nossos corpos Gumbrecht aponta que a relaccedilatildeo cotidiana com o mundo faz esquecer e implica

uma camada diferente de sentido (2010 p85-88)

O trabalho de visitas a museus permite um contato com os objetos histoacutericos uma

frequumlentaccedilatildeo que cria interaccedilotildees explicita diferenccedilas e aproximaccedilotildees culturais O visitante

dialoga questiona a mensagem expositiva e pode elaborar sentidos diversos dos apresentados

pelos museus

Vale ressaltar que para o autor a presenccedila natildeo vem sem apagar os sentidos que a

representaccedilatildeo gostaria de designar seus fundamentos a sua origem e seus temas A presenccedila natildeo

eacute uma presenccedila realmente existente ela se apresenta em permanente condiccedilatildeo de ldquotemporalidade

extremardquo eacute suacutebita de caraacuteter efecircmero surge e desaparece como eacute caracteriacutestico da experiecircncia

esteacutetica que se torna evidente e evanescente ao mesmo tempo (GUMBRECHT 2010 p83)

A experiecircncia esteacutetica se localiza a certa distacircncia do mundo cotidiano e produz diversas

figuras temporais Natildeo existe um resultado previsiacutevel oacutebvio ou tiacutepico que a experiecircncia esteacutetica

acrescenta ao cotidiano A visita a museus pode ser vista como um ldquoacontecimento de verdaderdquo

um evento que nos faz ver as coisas de ldquoum modo diferente do habitualrdquo como relata Maria Joseacute

Mendes diante do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto Entrar em um museu eacute entrar numa paisagem

e exercitar uma performance

estar dentro dessa paisagem eacute um requisito fundamental para restabelecer o

enraizamento do histoacuterico devir Ter uma substacircncia (corpo) ocupar um espaccedilo implica

na possibilidade de revelar um movimento multidimensional vertical (balanccedilo) e

horizontal (ideia aspecto) O movimento de balanccedilo eacute um suster-se ali-em si mesmo

Uma dimensatildeo horizontal eacute ser percebido dentro da situaccedilatildeo bdquoser revelado‟ e natildeo bdquorepresentado‟ (GUMBRECHT 2010 p86-100)

Seguindo as indicaccedilotildees de Gumbrecht sobre o princiacutepio da presenccedila a relaccedilatildeo do visitante

de museu com o passado eacute diferente da ideacuteia de nostalgia de viagem no tempo de

15 Paul Ricoeur em Do texto agrave accedilatildeo amplia o termo interpretaccedilatildeo associando-o ao sentido de apropriaccedilatildeo cuja

finalidade eacute a luta contra a distacircncia cultural A interpretaccedilatildeo aproxima equaliza torna contemporacircneo e semelhante

torna proacuteprio o que era estrangeiro (RICOEUR 1991 p156)

23

restabelecimento ou de retrocesso16

O passado entendido pelo autor como produto da cultura eacute

caracterizado por sua materialidade e possibilidade de usos em cenaacuterios de simultaneidade de

referecircncias Haacute uma presenccedila do passado que eacute incorporado e um presente da accedilatildeo

Parece ser este o sentido da orientaccedilatildeo para a accedilatildeo que a visitante observa em seu uacuteltimo

comentaacuterio sobre a visita ao Museu Abiacutelio Barreto Maria Joseacute Mendes articula duas formas de

ver a histoacuteria o que foi visto no museu e o que foi visto no seu curso de licenciatura em Histoacuteria

As consequecircncias de suas observaccedilotildees no museu a levam a concluir que o historiador a partir dos

Annales trabalha com perguntas que os objetos vistos respondem Logo para Maria Joseacute

Mendes a operaccedilatildeo historiograacutefica parece se completar A visita mobiliza a formaccedilatildeo do objeto

imaginaacuterio e as mudanccedilas de perspectivas da visitante Eacute possiacutevel tambeacutem caracterizar a visita ao

museu como uma ldquoexperiecircncia esteacuteticardquo ou seja como uma dimensatildeo viva que oscila entre os

efeitos de sentido e os efeitos de presenccedila A visitante se potildee no museu numa condiccedilatildeo de

ldquoinsularidaderdquo e de predisposiccedilatildeo para a ldquointensidade concentradardquo para uma tensatildeo produtiva

que oscila simultaneamente entre sentido e presenccedila diferente de suas atividades cotidianas

(GUMBRECHT 2010 p 136)

O Museu prevecirc a participaccedilatildeo do visitante e estabelece tambeacutem um horizonte de

expectativas culturais e histoacutericas em relaccedilatildeo ao receptor Essas expectativas dos museus em um

dado momento encontram desapontam ou antecipam o horizonte de expectativas do visitante O

conhecimento do visitante eacute atualizado agrave medida que em presenccedila do patrimocircnio musealizado

reformulam-se suas expectativas e ele reinterpreta o que foi visitado A experiecircncia esteacutetica

realiza-se no visitante Eacute o que afirma Maria Joseacute Mendes ao visitar o Museu Histoacuterico Abiacutelio

Barreto em Belo Horizonte com seus colegas Ela imaginava outro tipo de museu se

surpreendeu durante e apoacutes a visita e mudou sua mente por completo o museu natildeo era um local

que as pessoas iam para ver coisas velhas Percebeu no museu algo ineacutedito um historiador tem

vaacuterias formas de trabalhar com diferentes tipos de objetos (Maria Joseacute Mendes Fipel 200517

)

Durante a visita o estudante confronta suas expectativas com o que encontrou no Museu

Mudou de opiniatildeo sobre o que era um museu a partir daquela visita Outros visitantes conforme

16 A expressatildeo futuro passado de Koselleck (2006 p21) eacute uma categoria explicativa da dinacircmica dos tempos

histoacutericos que dialoga com a dimensatildeo da presenccedila discutida por Gumbrecht 17 Os relatoacuterios de visita produzidos pelos estudantes e utilizados na tese seratildeo citados individualmente

mencionando-se o nome do autor

24

exploraremos no capiacutetulo seguinte tambeacutem reconhecem o papel da visita ao Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto na mudanccedila em suas concepccedilotildees de museu

A visitante cria um enredo proacuteprio para a visita e organiza um repertoacuterio que serve de

pano de fundo para sua narrativa Maria Joseacute Mendes atualiza seus conhecimentos ao declarar

que o Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto realiza um trabalho diferente dos museus que ela jaacute havia

visitado laacute no museu eles preservam a memoacuteria da cidade e integram o objeto ao cotidiano da

sociedade remetendo-nos haacute tempos em que Belo Horizonte era apenas um arraial chamado

Curral Del Rei Laacute o casaratildeo deixa de ser espaccedilo fiacutesico para ser objeto museoloacutegico (Maria Joseacute

Mendes Fipel 2005)

Outras observaccedilotildees podem ser feitas a partir do relato da visitante Uma delas eacute que os

museus natildeo satildeo depoacutesito (lugar de memoacuteria) Cada visita a um museu situa temporalmente cada

um dos visitantes pois possibilita que eles momentaneamente se distanciem de sua imersatildeo no

tempo presente e participem de experiecircncias de outras temporalidades

A perspectiva adotada por cada museu se define concretamente no processo de

resignificaccedilatildeo do visitante que converte a cada olhar os artefatos expostos em objetos histoacutericos

O museu por sua vez eacute quem forccedila o visitante a exercer sua atividade produtiva a posicionar-se

O Museu coloca em jogo a produtividade do visitante ao estimular suas capacidades A visita

exercitada torna-se tambeacutem um prazer para o visitante uma aula praacutetica de como fazer Histoacuteria

(Maria Joseacute Mendes Fipel 2005)

A experiecircncia vivida nas visitas aos museus oferece graus distintos de intensidade Aleacutem

da experiecircncia puramente fiacutesica resultante da presenccedila os visitantes investem em objetos de

fasciacutenio que comeccedilam por ativaacute-los e convocaacute-los a se integrar no circuito do museu O museu se

apresenta como ldquorelevacircncia impostardquo ndash objetos que desviam nossa atenccedilatildeo das rotinas diaacuterias em

que estamos envolvidos e nos separam delas A presenccedila de determinados objetos da experiecircncia

a nos convidar para a serenidade isto eacute a estarem ao mesmo tempo concentrados e disponiacuteveis

sem deixarem que a concentraccedilatildeo se calcifique na tensatildeo de um esforccedilo (GUMBRECHT 2010

p 132)

A visitante Maria Joseacute Mendes percebe no museu o trabalho com diferentes tipos de

objetos e como o museu cria um tipo de objeto especiacutefico retirado do cotidiano e transformado

em objeto museoloacutegico No Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a visitante percebe a operaccedilatildeo

25

museal para criar um passado para a cidade de Belo Horizonte chamado Curral Del Rei cuja

narrativa estaacute associada ao iniacutecio agrave fundaccedilatildeo da nova capital A presenccedila como fenocircmeno

efecircmero pode ser discutida tambeacutem nas fotografias18

dos visitantes desde a entrada nos museus

como desejo e expectativas durante o percurso interno das exposiccedilotildees como reaccedilotildees agraves

condiccedilotildees especiacuteficas da cultura de sentido ateacute a saiacuteda dos locais quando se configura uma

ausecircncia ou o desaparecer da presenccedila A anaacutelise das experiecircncias de visita a museus possibilita

emergir um campo de investigaccedilatildeo em que os sujeitos aparecem em accedilatildeo posicionam-se em

relaccedilatildeo ao saber histoacuterico a outros sujeitos e narrativas e a si proacuteprios

13 - Formaccedilatildeo histoacuterica

A partir das dinacircmicas e interaccedilotildees experimentadas e interpretadas pelos estudantes em

visitas a museus pretende-se discutir como se daacute o aprendizado histoacuterico e a formaccedilatildeo histoacuterica

na perspectiva que lhe atribui Ruumlsen (2007 p104) enquanto a capacidade de constituiccedilatildeo de uma

narrativa de sentido

A experiecircncia histoacuterica da visita e de cada visitante permitiraacute uma distinccedilatildeo da qualidade

temporal entre passado e presente e identificaccedilatildeo do modo como o passado permanece como

passado no presente A visita a museus pode fundamentar essa experiecircncia temporal essa

vivecircncia da mudanccedila no tempo da alteridade do passado que experimentada abre o potencial de

futuro do proacuteprio presente (RUumlSEN 2007 p 111-2)

Para Ruumlsen (2007 p95) a formaccedilatildeo histoacuterica pode ser entendida sob dois aspectos

primeiro como saber histoacuterico siacutentese da experiecircncia com a interpretaccedilatildeo e orientaccedilatildeo para a

vida praacutetica e segundo como processo de socializaccedilatildeo e individuaccedilatildeo que trata da dinacircmica de

formaccedilatildeo da identidade histoacuterica O autor observa que o aprendizado histoacuterico natildeo acontece

apenas no ensino de histoacuteria mas nos mais diversos e complexos contextos da vida concreta dos

aprendizes A formaccedilatildeo histoacuterica se opotildee criticamente agrave unilateralidade agrave especializaccedilatildeo

excessiva e agrave fragmentaccedilatildeo do saber cientiacutefico Eacute uma competecircncia que articula niacuteveis cognitivos

18 Muitas fotografias ficaram reservadas agrave circulaccedilatildeo restrita e apresentadas a pequenos grupos e professores Outras figuram em aacutelbuns e siacutetios virtuais Seus produtores diretos decidem se as compartilham ou natildeo com outras pessoas

com amigos familiares ou ambientes virtuais Foram selecionadas aquelas que aparecem nos relatoacuterios de avaliaccedilatildeo

apresentados pela turma

26

e formas e conteuacutedos cientiacuteficos ao seu uso praacutetico Essas competecircncias de formaccedilatildeo estatildeo

relacionadas simultaneamente ao saber agrave praacutexis e agrave subjetividade Para o autor eacute a carecircncia de

orientaccedilatildeo do sujeito que vincula saber e agir (RUumlSEN 2007 p110)

Ruumlsen (2007) caracteriza de forma inspiradora o aprendizado histoacuterico e o papel produtivo

do sujeito na histoacuteria Para ele haacute um duplo movimento algo objetivo torna-se subjetivo um

conteuacutedo da experiecircncia de ocorrecircncias temporais eacute apropriado simultaneamente um sujeito

confronta-se com essa experiecircncia que se objetiva nele (RUumlSEN 2007 p106) A apropriaccedilatildeo da

histoacuteria transforma um dado objetivo um acontecimento que ocorreu no tempo passado em

realidade da consciecircncia em algo subjetivo Desse ponto de vista o sujeito constitui sua

subjetividade afirma a si proacuteprio ao aprender a dimensatildeo temporal do passado interpretado em

seu presente A formaccedilatildeo consegue efetivar a articulaccedilatildeo entre objetividade e subjetividade

realizar a passagem do dado objetivo agrave apropriaccedilatildeo subjetiva e da busca subjetiva de afirmaccedilatildeo

ao entendimento objetivo Nas palavras de Ruumlsen (2007 p110) haacute uma intensificaccedilatildeo dos

pressupostos subjetivos ao manejar de forma cognitiva o passado contrapondo-se agrave alteridade do

passado reconhecendo o estranho e assim descobrir-se como proacuteprio (histoacuteria como vida)

Para Reinhart Koselleck (2006 p308-314) um movimento semelhante ao da formaccedilatildeo

histoacuterica de Ruumlsen pode ser observado no trabalho com as categorias histoacutericas de espaccedilo de

experiecircncia e horizonte de expectativa Ambas estatildeo interligadas e se ocupam da questatildeo do

tempo histoacuterico Ao entrelaccedilar passado e futuro dirigem as accedilotildees concretas no movimento social

e poliacutetico

Koselleck (2006 p309-310) afirma que a experiecircncia eacute o passado atual aquele no qual

os acontecimentos foram incorporados e podem ser lembrados Jaacute a expectativa eacute ao mesmo

tempo ligada agrave pessoa e ao interpessoal tambeacutem se realiza no hoje eacute futuro presente voltado

para o ainda-natildeo para o natildeo experimentado para o que apenas pode ser previsto

A experiecircncia possibilita tornar presente os acontecimentos passados e avaliaacute-los

Contudo sem o horizonte de expectativas o espaccedilo da experiecircncia eacute vago Eacute o horizonte de

expectativas que manteacutem em aberto o espaccedilo para o futuro (KOSELLECK 2006 p313)

Para Ruumlsen (2007 p110) o processo de aprendizado e apropriaccedilatildeo da experiecircncia

histoacuterica se daacute por meio de trecircs operaccedilotildees experiecircncia interpretaccedilatildeo e orientaccedilatildeo O

aprendizado histoacuterico produz a ampliaccedilatildeo da experiecircncia do passado humano aumentando a

27

competecircncia de interpretaccedilatildeo dessa experiecircncia e reforccedilando a capacidade de inserir e utilizar as

interpretaccedilotildees histoacutericas no quadro de orientaccedilatildeo da vida praacutetica

Ao discutir sobre o aprendizado histoacuterico e a apropriaccedilatildeo histoacuterica pelo presente no

sentido de uma memoacuteria viva o proacuteprio Ruumlsen indica que a histoacuteria faz parte da cultura poliacutetica e

se apresenta como elementos identitaacuterios e nacionais Para o autor as diretrizes curriculares para o

ensino de histoacuteria os monumentos e as exposiccedilotildees satildeo exemplos dessa dimensatildeo histoacuterica vivida

de forma natildeo escolar Para Ruumlsen estas histoacuterias estatildeo presentes nas circunstacircncias da vida

concreta mas permitem tambeacutem lanccedilar pontes ao aprendizado de experiecircncias histoacutericas e de

futuro (RUumlSEN 2007 p107)

A perspectiva teoacuterica aberta por Ruumlsen articula as questotildees relativas ao ensino de histoacuteria

aos fundamentos da ciecircncia da histoacuteria A contribuiccedilatildeo de Ruumlsen eacute recompor o campo do ensino

com o que chamamos de dimensatildeo da pesquisa19

Em primeiro lugar ele afasta uma concepccedilatildeo

de didaacutetica como algo externo agrave produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico pelos especialistas Para

Ruumlsen a didaacutetica natildeo eacute mera aplicaccedilatildeo ou mediaccedilatildeo nem meacutetodo de ensino indiferente aos

mecanismos especiacuteficos do trabalho cognitivo da histoacuteria Os impulsos advindos do ensino e do

aprendizado de histoacuteria natildeo podem ser dispensados na ciecircncia da histoacuteria A teoria da histoacuteria se

faz para Ruumlsen sob a reflexatildeo sobre as carecircncias de orientaccedilatildeo existencial e das formas de

apresentaccedilatildeo Essas carecircncias satildeo sobretudo de ordem poliacutetica e esteacutetica As funccedilotildees praacuteticas do

saber histoacuterico satildeo tatildeo necessaacuterias quanto o processo cientiacutefico de conhecimento (RUumlSEN 2007

p122)

Para Ruumlsen o saber histoacuterico desempenha funccedilotildees na vida cultural do tempo presente Ele

defende que no trabalho do historiador forma e funccedilatildeo natildeo se separam Essa separaccedilatildeo eacute feita

pela tradiccedilatildeo retoacuterica da historiografia dando agrave teoria da histoacuteria o poder de cuidar das regras da

escrita historiograacutefica e da poeacutetica normativa o como escrever Com a cientificizaccedilatildeo da

historiografia a Histoacuteria passou a cuidar das regras da pesquisa histoacuterica e o aspecto da forma

ficou sendo externo agrave especializaccedilatildeo A didaacutetica da histoacuteria nas duas tradiccedilotildees historiograacuteficas

ficou de fora da composiccedilatildeo da disciplina especializada A didaacutetica eacute vista hoje como mera

aplicaccedilatildeo pedagoacutegica um referente externo do saber histoacuterico (RUumlSEN 2007 p11)

19 Haacute uma vasta bibliografia acadecircmica desde a deacutecada de 1980 que discute o ensino de histoacuteria no Brasil e dentre

outros temas a articulaccedilatildeo ensino e pesquisa a avaliaccedilatildeo criacutetica aos curriacuteculos e programas oficiais e articulaccedilatildeo de

grupos de pesquisa Ver Nadai(1993) e Caimi (2001)

28

O museu pode ser interrogado nesse mesmo sentido e deixar de ser considerado um

recurso metodoloacutegico para se tornar parte do aprendizado histoacuterico como fonte tema de pesquisa

e produccedilatildeo de conhecimentos histoacutericos e educacionais

Ruumlsen (2007 p87) reuacutene teoria e didaacutetica ao indicar que formas e funccedilotildees do saber

histoacuterico fazem parte da matriz disciplinar da ciecircncia histoacuteria Ao reinscrever a didaacutetica no campo

da Histoacuteria como praacutetica de ciecircncia aponta para a funccedilatildeo praacutetica do saber histoacuterico Essa funccedilatildeo

praacutetica tem efeito sobre o processo de conhecimento influenciando nas perguntas iniciais que os

historiadores fazem ou seja na praacutexis historiograacutefica e tambeacutem possui uma funccedilatildeo de orientaccedilatildeo

praacutetica para a vida

Em Histoacuteria Viva Ruumlsen (2007) contribui para a formulaccedilatildeo de questotildees que articulam de

maneira praacutetica os campos da histoacuteria e da educaccedilatildeo pensando no ensino de histoacuteria20

O olhar

criacutetico do autor sobre a teoria da histoacuteria dirige-se em seguida para os processos elementares e

gerais de constituiccedilatildeo narrativa de sentido responde agraves carecircncias de orientaccedilatildeo e torna o saber

histoacuterico vivo (RUumlSEN 2007 p14)

O que Ruumlsen (2010 p59) chama de ldquoconsciecircncia histoacutericardquo eacute esse uso praacutetico do saber

histoacuterico que suscita questotildees sobre as funccedilotildees culturais das narrativas histoacutericas Ou seja as

questotildees praacuteticas da formaccedilatildeo e saber histoacuterico vatildeo aleacutem da ldquoteoria da histoacuteriardquo e recolocam o

problema da validade discursiva desse campo como ciecircncia especializada aleacutem de questionar o

que os historiadores fazem quando propotildeem formataccedilotildees historiograacuteficas da vida cultural de seu

tempo ou quais procedimentos adotam quando atuam nela

A leitura de Ruumlsen inspira a reflexatildeo sobre o sentido que as narrativas e exposiccedilotildees dos

museus possuem na vida cultural de uma sociedade e como elas se transformam em saberes

histoacutericos Ao entender como o visitante realiza movimentos que colocam em circulaccedilatildeo os

sentidos das narrativas de museus eacute possiacutevel investigar mecanismos poliacuteticos e esteacuteticos que

continuam sendo selecionados nessas narrativas e que as transportam do passado para o presente

No relato de Maria Joseacute Mendes pode ser vista essa operaccedilatildeo de construccedilatildeo de sentidos

proacuteprios agraves narrativas histoacutericas A visitante entende a dinacircmica museal natildeo em seu caraacuteter

instrumental mas como princiacutepio criador de versotildees histoacutericas A visitante do Museu Histoacuterico

20 Essas articulaccedilotildees tambeacutem satildeo discutidas pelo grupo de pesquisa Memoacuteria Histoacuteria e Educaccedilatildeo da Unicamp Ver

Zamboni (2007) e Zamboni e outros (2008)

29

Abiacutelio Barreto participa de uma dinacircmica que a leva a compreender que ldquoa partir de uma

montagem e desmontagem de figuras podem-se passar imagens diferentes dependendo da

maneira como esse material foi expostordquo (Maria Joseacute Mendes Fipel 2005) A operaccedilatildeo de

montagem e desmontagem eacute experimentada pela visitante que relaciona o procedimento do

museu com o procedimento dos historiadores em suas pesquisas e associa a ideia de deciframento

do que estaacute preservado e exposto ao trabalho de composiccedilatildeo realizado anteriormente

Outra questatildeo em relaccedilatildeo aos visitantes inspirada em Ruumlsen eacute discutir ateacute que ponto o

modo de narrar histoacuterias dos museus eacute utilizado na vida dos visitantes Ou seja como a maneira

argumentativa dos museus afeta a formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes Ou no limite se visitar

museus influencia ou natildeo na forma de narrar a histoacuteria e viver o tempo presente

No relato de Maria Joseacute Mendes as dimensotildees da histoacuteria e da vida estatildeo presentes A

visita muda sua concepccedilatildeo de museu e de histoacuteria Ela traz da vivecircncia no museu para sua

concepccedilatildeo de histoacuteria a dimensatildeo material dos objetos e aproxima sua nova visatildeo de museu da

historiografia Como futura profissional da histoacuteria ela pode usar um novo arsenal o museu e sua

metodologia de trabalhar os objetos (Maria Joseacute Mendes Fipel 2005)

Em relaccedilatildeo agrave vida Maria Joseacute Mendes manteacutem sua condiccedilatildeo de visitante durante todo seu

relato mas faz um convite ldquoa exposiccedilatildeo eacute aberta a todos que queiram verrdquo Essa abertura das

portas do museu ao puacuteblico reconhecida pela visitante implica em considerar que os

destinataacuterios na praacutexis museoloacutegica natildeo satildeo apenas os especialistas Mas a visitante parece

indicar que o lugar no qual se localiza essa praacutetica soacute atinge os que ldquoquerem verrdquo e nem todo

mundo quer ver o que tem em um museu Relacionado a uma forma de constituiccedilatildeo especiacutefica de

rdquonarrativa de sentidordquo o museu natildeo eacute igual ao conjunto da vida praacutetica Eacute preciso ir ateacute o museu e

querer vecirc-lo

Querer ver e ver de diferentes maneiras implica em reconhecer a heterogeneidade e a

diversidade que marcam a formaccedilatildeo histoacuterica e as relaccedilotildees concretas dessa formaccedilatildeo no que se

refere a percursos graus de autonomia condiccedilotildees de trabalho docente diferenccedilas culturais e

enormes desigualdades sociais e econocircmicas reconhecer que professores e alunos dos diferentes

niacuteveis de ensino podem ser sujeitos histoacutericos agrave medida que constituem coletivamente para si

proacuteprios um tempo e espaccedilo de produccedilatildeo de conhecimentos tempo e espaccedilo que incluam a

reflexatildeo e accedilatildeo sobre suas proacuteprias demandas e necessidades de formaccedilatildeo

30

14- Circuito e circularidade cultural

Feitas as consideraccedilotildees sobre as narrativas a presenccedila e a formaccedilatildeo histoacuterica a questatildeo a

ser enfrentada eacute como analisar as interaccedilotildees que emergem das accedilotildees dos sujeitos na produccedilatildeo de

novos significados para os bens culturais sem cair numa abordagem que prioriza as estruturas ou

as mediaccedilotildees institucionais que atuam com poder formativo e instrucional indicando roteiros de

interaccedilatildeo sobre os receptores ndash colocados no final do processo educativo

Algumas bases teoacutericas jaacute foram estabelecidas principalmente ao se discutir o conceito de

cultura de presenccedila para caracterizar a relaccedilatildeo com os museus Cabe sistematizar um pouco mais

a criacutetica agrave recepccedilatildeo e agrave representaccedilatildeo estabelecida pela ampliaccedilatildeo do conceito de cultura

realizada por Raymond Williams (1969 e 1979) e posteriormente alargada pela ideia de circuito

da cultura de Stuart Hall (1997 e 2003)

O debate teoacuterico em torno do conceito de cultura promovido por Raymond Williams

(1969 e 1979) e posteriormente os sentidos e usos que adquire pelos chamados Estudos

Culturais na criacutetica e reexame das relaccedilotildees entre comunicaccedilatildeo e sociedade articulam a dinacircmica

os conflitos as tensotildees as resoluccedilotildees e irresoluccedilotildees as inovaccedilotildees e mudanccedilas reais que se

produzem na proacutepria cultura em planos mais amplos a partir de um objetoproduto especiacutefico

rompendo com os paradigmas da recepccedilatildeo e representaccedilatildeo

Para Williams o cultural natildeo eacute mero reflexo ou tem papel residual nas anaacutelises O cultural

ocupa o lugar central eacute o lugar para onde se deve olhar pois permite ver a experiecircncia o modo

de vida indissoluacutevel na praacutetica em geral real material as formas dominantes residuais

(passado memoacuteria) e emergentes

Williams propotildee um meacutetodo de entendimento dos fenocircmenos da cultura como as

condiccedilotildees de vida comum tanto as normas quanto o vivido praacuteticas cotidianas natildeo cristalizadas

A cultura natildeo tem uma hierarquia fixa um dentro e um fora natildeo pode ser definida como alta ou

baixa A cultura eacute vista como experiecircncias efetivas e troca entre agentes natildeo redutiacuteveis aos

objetos (coisas) mas a todo um modo de vida comum A cultura eacute ordinaacuteria ou seja eacute

perpassada pelas ideias e praacuteticas sociais Assim em seu meacutetodo eacute possiacutevel pensar a estrutura da

experiecircncia ou as relaccedilotildees sociais mais amplas dentro de um caso particular

31

Outra contribuiccedilatildeo significativa de Williams (1992 p311) para a anaacutelise de nosso objeto

especiacutefico eacute a criacutetica ao sentido de transmissatildeo da cultura Para o autor soacute podemos pensar em

transmissatildeo se entendermos a comunicaccedilatildeo como a remessa de um sentido uacutenico Entretanto

para ele a recepccedilatildeo e resposta que completam a comunicaccedilatildeo dependem de fatores outros que

natildeo as teacutecnicas

A comunicaccedilatildeo se daacute como experiecircncia de agentes troca entre interlocutores Mas natildeo

vivemos em um mundo de iguais Natildeo haacute sequer a suposiccedilatildeo de compartilhamento de uma

linguagem comum Haacute claramente uma dimensatildeo poliacutetica uma vontade de poder expressa nas

hierarquias postas As regras e valores das instituiccedilotildees museais as normas e papeacuteis sociais regem

as relaccedilotildees entre visitantes e museus O sentido da accedilatildeo parte do museu Entretanto cabe

perguntar sobre quais formas de interlocuccedilatildeo podem emergir em um cenaacuterio de visita a uma

exposiccedilatildeo O Museu propotildee o rompimento com o caraacuteter transmissivo da cultura ou reitera os

padrotildees de uma cultura alta e autorizada e outra baixa O visitante pode fazer esse movimento de

interpretaccedilatildeo contraacuterio ao sentido prioritaacuterio do museu atribuindo um excesso de sentido poliacutetico

e esteacutetico agrave exposiccedilatildeo ou ele sempre elabora seu percurso de leitura com as matrizes e

referencias culturais da exposiccedilatildeo

Chega-se tambeacutem a outro movimento de ampliaccedilatildeo do sentido de cultura e da proacutepria

ideia de representaccedilatildeo como algo fixo Stuart Hall (1997 e 2003) ao formular a ideia de circuito

da cultura substitui o modelo teoacuterico que separava emissormensagemreceptor por estrutura

complexa de relaccedilotildees produzida e sustentada atraveacutes de movimentos distintos mas interligados

produccedilatildeo circulaccedilatildeo distribuiccedilatildeoconsumo reproduccedilatildeo

Hall relaciona as praacuteticas culturais com formas e condiccedilotildees especiacuteficas Cada momento do

circuito remete ou re-envia ao outro produccedilatildeo-distribuiccedilatildeo-produccedilatildeo Formas simboacutelicas

especiacuteficas satildeo produtos de cada momento do circuito mas tambeacutem datildeo passagem a outros

significados e mensagens (signos-veiacuteculos) Podemos pensar a produccedilatildeo cultural como

instrumentos materiais (meios) organizados como praacuteticas e analisar a troca comunicativa na

forma discursiva da mensagem em suas formas visuais (imagens) e no seu proacuteprio discurso

expositivo (textonarrativa) e nas atividades propostas de interaccedilatildeo com o leitor (atividades

pedagoacutegicas)

32

Figura 1 GAY Paul du e HALL Stuart O circuito da cultura

Production of CultureCultures of Production Londres Sege 1997

A anaacutelise cultural proposta por Suart Hall (2003) supera um modelo inicial de

codificaccedilatildeodecoficaccedilatildeo e passa a considerar que se as regras formais do discurso (sentido

preferencial) e a linguagem estatildeo em dominacircncia elas satildeo concretizadas na mensagem como

linguagem Ao serem decodificadas elas satildeo apropriadas e para que tenham efeito satisfaccedilam

necessidades ou tenha um uso pela audiecircncia haacute graus de assimetria e autonomia em relaccedilatildeo aos

coacutedigos da fonte e do receptor

Apresentadas a seguir as figuras 3 e 4 satildeo fotografias produzidas por um mesmo grupo

de estudantes de licenciatura em Histoacuteria21

em visita a dois diferentes museus o Museu do

Escravo em Belo Vale MG e o Museu Histoacuterico Nacional na cidade do Rio de Janeiro e

possibilitam aproximar o tema das visitas a museus agraves contribuiccedilotildees de Raymond Williams (1969

e 1979) e Stuart Hall (1997 2003 e 2008) entendidas como matriz teoacuterica de um movimento mais

amplo de anaacutelise cultural

21 O perfil do grupo seraacute apresentado no capiacutetulo seguinte

33

Figura 2 CUNHA Viacutevian e outros Fotografias da entrada e paacutetio

interno do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006

Figura 3 RODRIGUES Marly Marques Fotografia da entrada do

Museu Histoacuterico Nacional 2008

Na figura 2 satildeo apresentadas duas fotografias de visitantes chegando ao Museu do

Escravo e dirigindo-se ao pavilhatildeo interno de exposiccedilotildees Em ambas fotografias os visitantes

estatildeo de costas para o fotoacutegrafo caminham apressadamente Os corpos dos visitantes estatildeo

enquadrados pela arquitetura do museu Numa primeira aproximaccedilatildeo pode-se pensar que os

visitantes satildeo receptores ou consumidores das representaccedilotildees das significaccedilotildees e valores do

museu

O conceito de circuito da cultura operacionalizado por Hall (1997) evidencia que as

questotildees que envolvem a anaacutelise de um produto ou praacutetica cultural natildeo se limitam apenas ao

lugar de sua representaccedilatildeo especiacutefica mas que todos os momentos da elaboraccedilatildeo da cultura

(produccedilatildeo consumo regulaccedilatildeo representaccedilatildeo e identidade) estatildeo associados e se articulam As

34

fotografias dos visitantes apresentam os museus a partir da visita e do olhar dos proacuteprios

visitantes que se colocam dentro da cultura dos museus

O conceito de circularidade da cultura amplia o eixo do olhar sobre as praacuteticas e

artefatos culturais de modo a buscar outras institucionalidades sensibilidades subjetividades

produccedilotildees simboacutelicas e a abandonar uma visatildeo que separa definitivamente as identidades e

posiccedilotildees dos sujeitos em produtores e receptores Entrar nos museus eacute entrar num circuito e

colocar em circulaccedilatildeo seus sentidos e representaccedilotildees prioritaacuterias

Vistas novamente as fotografias da visita ao Museu do Escravo apontam um engajamento

dos sujeitos natildeo apenas pelo vieacutes do consumo Seus trajes coloridos se destacam das paredes

brancas e o museu tanto pode ver visto como o enquadramento central da cena quanto o cenaacuterio

de fundo para a accedilatildeo dos visitantes Haacute produccedilatildeo de um referencial identitaacuterio para o grupo e um

compartilhamento dessa representaccedilatildeo o que nos leva de volta agrave ideia de que os sujeitos se

constituem na cultura e que o consumo cultural se configura tambeacutem como praacutetica de produccedilatildeo

cultural

Na fotografia destacadas da visita ao Museu Histoacuterico Nacional (figura 3) os visitantes

esperam do lado de fora do museu o momento da visita A partir do modelo de circuito da cultura

podemos localizar inicialmente as representaccedilotildees de museu no acircmbito da regulaccedilatildeo Nesta

imagem dos visitantes dificilmente poderiacuteamos pensar numa simples transmissatildeo da cultura

mesmo em desigualdade de condiccedilotildees Antes mesmo de entrar pelo portatildeo principal haacute uma troca

de olhares entre museu e visitante que comeccedila com o registro dos rituais e ritmos estabelecidos

pelo museu O que pode ser visto e as maneiras de vecirc-las

A comunicaccedilatildeo entre museus e visitante se daacute como experiecircncia de agentes troca entre

interlocutores Natildeo haacute transmissatildeo de cultura do museu para o visitante Eacute o visitante que elabora

uma representaccedilatildeo de si mesmo e do museu E natildeo parece supor a igualdade de condiccedilotildees para as

produccedilotildees de cada agente Natildeo haacute sequer a suposiccedilatildeo de compartilhamento de uma linguagem

comum entre museus e visitantes Na fotografia do Museu Histoacuterico Nacional (Figura 3) haacute uma

dimensatildeo poliacutetica (regulaccedilatildeo) uma vontade de poder expressa nas hierarquias postas As regras e

valores das instituiccedilotildees museais as normas e papeacuteis sociais regem as relaccedilotildees entre visitantes e

museus O sentido da accedilatildeo parte do museu Haacute um guarda agrave porta do MHN que soacute se abriraacute no

horaacuterio determinado A fotografia registra o momento da espera Fica em aberto a pergunta sobre

35

as formas de interlocuccedilatildeo possiacuteveis num cenaacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional vencido o

momento da espera

As fotografias apontam que os visitantes produzem sentidos para a cultura a partir das

visitas que aconteceram ao longo da trajetoacuteria de formaccedilatildeo acadecircmica desse grupo especiacutefico Os

dois museus escolhidos foram visitados em momentos distintos da formaccedilatildeo dos estudantes22

O

Museu do Escravo em Belo Vale-MG visitado em 2006 e o Museu Histoacuterico Nacional no Rio

de Janeiro visitado em 2008

Os dois museus selecionados apresentam propostas expositivas conteuacutedos distintos e

estavam relacionados agraves atividades acadecircmicas desenvolvidas pelos professores do curso de

Licenciatura em Histoacuteria Cada museu se autorepresenta ao definir contemporaneamente sua

ldquomissatildeordquo no Cadastro Nacional de Museus promovido recentemente pelo Instituto Brasileiro de

Museus (IBRAN) oacutergatildeo subordinado ao Ministeacuterio da Cultura com base na Poliacutetica Nacional

de Museus de 200323

Figura 4 Fachada do Museu do Escravo Disponiacutevel

emlthttpwwwbelovalemggovbratracoes_museuhtmgt Acesso em

2011

22 Desenvolvo nos capiacutetulos quatro e cinco uma anaacutelise da experiecircncia museal de um mesmo grupo de visitantes a

esses dois diferentes museus o Museu do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional 23

Ver httpwwwmuseusgovbrsbmcnm_conhecaosmuseushtm Acesso em 2010

36

O Museu do Escravo24

eacute vinculado ao poder puacuteblico municipal e estaacute localizado desde

1988 em um casaratildeo construiacutedo ao lado da igreja matriz de Belo Vale como reacuteplica de um

edifiacutecio colonial especialmente para abrigar o acervo do museu A tipologia do acervo eacute

apresentada de forma ampla e abrange antropologia etnografia arqueologia artes visuais

ciecircncias naturais histoacuteria natural e histoacuteria A missatildeo do Museu do Escravo eacute registrar e

preservar a histoacuteria do negro escravo no Brasil mostrando e valorizando seu trabalho arte e

cultura (IBRAN 2010)

O Museu Histoacuterico Nacional tambeacutem uma instituiccedilatildeo puacuteblica federal localizada na

cidade do Rio de Janeiro foi o uacuteltimo museu visitado pelo grupo de estudantes de licenciatura em

Histoacuteria em 2008 quando cursavam os uacuteltimos periacuteodos da graduaccedilatildeo Fundado em 1922 o MHN

teve suas primeiras coleccedilotildees formadas com transferecircncias do Museu Nacional do Arquivo

Nacional da Biblioteca Nacional e do antigo Museu de Artilharia Hoje reuacutene um

acervo de mais de 264332 itens entre os quais a maior coleccedilatildeo de numismaacutetica da

Ameacuterica Latina O conjunto arquitetocircnico que abriga o museu desenvolveu-se a partir do

Forte de Santiago na Ponta do Calabouccedilo um dos pontos estrateacutegicos para a defesa da

cidade do Rio de Janeiro O Museu Histoacuterico Nacional manteacutem em 9557 metros

quadrados de aacuterea aberta ao puacuteblico galerias de exposiccedilotildees permanentes e temporaacuterias aleacutem da biblioteca especializada em Histoacuteria do Brasil Histoacuteria da Arte Museologia e

Moda do Arquivo Histoacuterico com documentos manuscritos aquarelas ilustraccedilotildees e

fotografias (IBRAN 2010)

O Museu Histoacuterico Nacional define sua missatildeo a partir do conceito de ldquonacionalrdquo O

museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente a serviccedilo da sociedade e de seu desenvolvimento que

adquire conserva pesquisa e divulga as evidecircncias representativas da histoacuteria brasileira

(IBRAN 2010)

24 Segundo material de divulgaccedilatildeo o Museu foi criado em Congonhas do Campo nas dependecircncias da Basiacutelica do

Senhor Bom Jesus Em 1977 foi transferido para a Fazenda da Boa Esperanccedila em Belo Vale e oficializado atraveacutes

de Lei Municipal nordm 50475 de 10 de abril Em 13 de Maio de 1988 primeiro centenaacuterio da aboliccedilatildeo foi inaugurado

o preacutedio atual em estilo colonial projetado por Paulo Bojanic

37

Figura 5 Fachada do Museu Histoacuterico Nacional ndash Disponiacutevel em

lthttpwwwmuseuhistoriconacionalcombrmh-2008-001htmgt

Acesso em 2011

Nas duas imagens oficiais dos museus (figuras 4 e 5) os edifiacutecios satildeo isolados do

cenaacuterio urbano nos quais estatildeo localizados natildeo haacute qualquer referecircncia ao entorno Tambeacutem natildeo

se observa nas imagens nenhuma intervenccedilatildeo voltada ao visitante como placas de sinalizaccedilatildeo ou

propaganda indicando o nome do Museu como se locomover e serviccedilos tais como

estacionamento portatildeo de entrada e outras instalaccedilotildees puacuteblicas As imagens ressaltam a

grandiosidade da arquitetura exibida de maneira estaacutetica realccedilando as restauraccedilotildees das fachadas

iluminadas de forma atraente e sedutora

A imagem produzida pelos museus confronta-se com as fotografias dos visitantes Nos

dois museus visitados encontram-se possibilidades de rompimento com o caraacuteter transmissivo da

cultura mas tambeacutem configuraccedilotildees que reiteram os padrotildees de cultura hierarquizada ndash alta e

autorizada e outra baixa e desautorizada O visitante pode fazer o movimento de atribuiccedilatildeo de

sentido poliacutetico e esteacutetico agraves exposiccedilotildees e museus Ele substitui o tempo de espera pelo inusitado

do percurso de visita a mais uma exposiccedilatildeo

As fotografias do momento da chegada aos dois museus apontam que os visitantes criam

um circuito proacuteprio para a cultura O registro do visitante estabelece um diaacutelogo com o plano da

cultura que estaacute nos museus O visitante orienta o museu a fazer escolhas e cada museu produz a

38

si mesmo agrave medida que se expotildee ao visitante No Museu do Escravo (Figura 2) os visitantes

chegam rapidamente agrave entrada e comeccedilam a explorar de maneira espontacircnea o espaccedilo interno Os

estudantes parecem natildeo precisar de ldquoguiasrdquo ou orientaccedilotildees Querem ver o que tem laacute dentro

Circulam

Na chegada ao Museu Histoacuterico Nacional (Figura 3) o museu tem uma loacutegica proacutepria

parece fechado ao visitante Eacute muito organizado dizem os visitantes e essa organizaccedilatildeo parece

se expressar nos rituais de espera para entrar no seguranccedila que guarda a portaria nas orientaccedilotildees

de um ldquoguiardquo tambeacutem estudante de Histoacuteria Circulam visitam vaacuterias exposiccedilotildees sem correrias

retornam ao local da entrada (saiacuteda)

Assim pode-se considerar que satildeo os museus que constroem um puacuteblico um visitante e

lhes atribui caracteriacutesticas de idade escolaridade gecircnero articuladas agrave concepccedilatildeo sobre o que eacute

um museu O museu se apresenta em primeira pessoa em cada material produzido e endereccedilado

aos visitantes Os visitantes nessas fotografias tambeacutem tentam controlar a sua auto-representaccedilatildeo

frente agrave arquitetura dos museus que se impotildee desde os portotildees de entrada

Posicionados historicamente frente agrave arquitetura dos dois museus as fotografias satildeo

tentativas dos visitantes de se apresentarem refletirem sobre si mesmos e natildeo apenas se

moldarem aos padrotildees e expectativas da representaccedilatildeo dominante Haacute nas imagens uma

reflexibilidade dos sujeitos (identidade no sentido de Hall) frente agrave arquitetura museal ou a

forma cultural dominante que entretanto natildeo se impotildee de maneira paciacutefica (regulaccedilatildeo) O

visitante tem uma atitude de produccedilatildeo cultural de conhecer o museu habitar de certo modo esse

espaccedilo (consumo) restabelecendo a centralidade da cultura ou o reiniacutecio do circuito com uma

nova representaccedilatildeo ao tornar o museu significativo visiacutevel e tangiacutevel para si mesmo

As fotografias permitem configurar um espaccedilo da vivecircncia (ou evento) 25

nas quais estatildeo

circunscritas as atividades que foram objeto do interesse dos visitantes e foram estruturadas tendo

como referecircncia a ideacuteia de performance movimento e foco natildeo apenas presentes nos museus

mas escolhidos e recortados pelos visitantes As fotografias apresentam desde a entrada no museu

(desejo expectativas de presenccedila) com o nascimento da proacutepria presenccedila o durante o percurso

interno e as reaccedilotildees agraves condiccedilotildees especiacuteficas da cultura museal contemporacircnea

25 Mauad (1996 p13-14) propotildee uma metodologia para o trabalho com fotografias que considera cada unidade

cultural que deve ser analisada sob os aspectos do espaccedilo fotograacutefico espaccedilo geograacutefico espaccedilo do objeto espaccedilo da

figuraccedilatildeo e espaccedilo da vivecircncia

39

predominantemente uma cultura de sentido e a saiacuteda dos museus a ausecircncia o desaparecer da

presenccedila e o surgimento dos efeitos de presenccedila que podem ser vividos jaacute na ausecircncia

15- Visitantes de museus espectadores emancipados

A abordagem desta pesquisa difere da perspectiva da recepccedilatildeo26

agrave medida que as visitas a

museus e os visitantes satildeo considerados espectadores emancipados e natildeo apenas consumidores

das propostas educativas elaboradas pelos consultores e especialistas de museus A relaccedilatildeo entre

o puacuteblico e os museus eacute recoberta de muacuteltiplas temporalidades Entendo o museu como

instituiccedilatildeo local fiacutesico produtor de conhecimento arena poliacutetica promotor de identidades

espaccedilo de construccedilatildeo de memoacuterias de educaccedilatildeo que reuacutene caracteriacutesticas que povoam o

imaginaacuterio social desde o final do seacuteculo XVIII O museu como ideia e instituiccedilatildeo resiste na

contemporaneidade e assume diferentes usos Eacute esse o conceito de museu puacuteblico moderno que

permeia essa pesquisa desde a formulaccedilatildeo do projeto passando pela delimitaccedilatildeo das fontes ateacute a

sistematizaccedilatildeo das primeiras anaacutelises das visitas

Assim como o conceito de museu eacute marcado pela historicidade ou a adaptaccedilatildeo a

diferentes momentos a imagem de um puacuteblico de museus tambeacutem remete a diferentes praacuteticas

ligadas aos museus pesquisa accedilotildees patrimoniais educativas expositivas colecionismos que

implicam em atrair diferentes grupos para frequumlentar e produzir esses espaccedilos poeacuteticos e

poliacuteticos

Falar dos museus como sujeitos eacute apresentaacute-los como um campo proacuteprio de produccedilatildeo de

conhecimentos e como tal fundadores de princiacutepios e loacutegicas como um tipo especial de

instituiccedilatildeo cultural O museu se coloca como sujeito cultural com processos de legitimaccedilatildeo e

criteacuterios de autoridade capazes de nortear a construccedilatildeo de sentidos poliacuteticos do que seja o proacuteprio

museu e por conseguinte sobre a relaccedilatildeo do museu com outros campos como o patrimocircnio a

memoacuteria a educaccedilatildeo e a histoacuteria

Dimensotildees histoacutericas poliacuteticas esteacuteticas sociais e institucionais concorrem para a

definiccedilatildeo do campo museal Diferentes contribuiccedilotildees e leituras transformam de maneira

26 Considero as pesquisas de recepccedilatildeo aquelas que tomam o puacuteblico de museus sob a perspectiva da ldquorelaccedilatildeo de

transposiccedilatildeo definida como a adaptaccedilatildeo da temaacutetica do museu ou da exposiccedilatildeo - feita pelo inteacuterprete - para o

visitanterdquo (MARANDINO ALMEIDA E VALENTE 2009 p22)

40

constante o conhecimento museoloacutegico Museoacutelogos historiadores jornalistas poliacuteticos e

cidadatildeos comuns compartilham dessa produccedilatildeo Tambeacutem na condiccedilatildeo de sujeito de praacuteticas

culturais especiacuteficas cada museu eacute lido por diferentes agentes histoacutericos Enquanto agente

puacuteblico o museu se daacute ver e se submete a leituras conflitantes A leitura de populares e de

especialistas se apresenta cada vez que o museu abre suas portas ao puacuteblico Em cada exposiccedilatildeo

em cada visita o museu se atualiza

Compreender a historicidade dos puacuteblicos ou visitantes de museus implica por

consequumlecircncia em analisar como diferentes sujeitos se fazem presentes nas poliacuteticas e poeacuteticas

destas instituiccedilotildees e como fazem usos variados destes espaccedilos puacuteblicos Almeida (2004 e 2005) e

Marandino (2009) estudiosas de puacuteblico de museus no Brasil indicam que a presenccedila do

visitante nos museus eacute registrada desde fins do seacuteculo XVIII Com interesses variados

colecionadores filoacutesofos poliacuteticos criacuteticos e artistas preocuparam-se em conhecer o puacuteblico de

museus e tecer consideraccedilotildees sobre o uso que faziam da instituiccedilatildeo Os proacuteprios museus

fornecem dados sobre os visitantes para oacutergatildeos estatais aos quais estatildeo subordinados e no iniacutecio

do seacuteculo XX foram realizados os primeiros estudos acadecircmicos nos EUA sobre puacuteblicos de

museus e comportamentos de visita (MARANDINO 2009)

Na segunda metade do seacuteculo XX os proacuteprios profissionais dos museus comeccedilam a se

interessar por esse tema de pesquisa assim como empresas puacuteblicas e privadas para fins de

avaliaccedilatildeo Na deacutecada de 1980 haacute um duplo interesse nos estudos de puacuteblicos como campo de

estudo das praacuteticas sociais e culturais e com finalidades de orientar investimentos econocircmicos e

poliacuteticas puacuteblicas

A reflexatildeo sobre as relaccedilotildees entre museus e visitantes nem sempre eacute pautada pela

preocupaccedilatildeo com o entendimento do papel social de ambos os atores Como afirma Koptke

pesquisadora do campo da museologia ldquoa negociaccedilatildeo do sentido de uso deriva de situaccedilotildees cuja

dinacircmica necessita ser analisada do ponto de vista de seus usuaacuterios para melhor compreendermos

como e para que existam os museusrdquo (KOPTKE 2005 p191)

Pesquisas de puacuteblico ou de recepccedilatildeo servem agrave negociaccedilatildeo de recursos e fundos tanto

privados quanto puacuteblicos e conquistam credibilidade social Veja-se o exemplo de investimentos

em tecnologias digitais que implicam em ampliaccedilatildeo do acesso e aumento do nuacutemero de visitantes

41

e se autojustificam pois um visitante virtual que acessa o site do museu e solicita um serviccedilo

equivale a um visitante presencial nos relatoacuterios de gestatildeo

Do ponto de vista acadecircmico a criacutetica agraves instituiccedilotildees museais considerando aspectos tais

como o acesso os produtos e valores culturais a elas associados jaacute identificados em escritos

como os de Valery (1931) reveste-se de maior amplitude em fins do seacuteculo XX em aacutereas como a

sociologia a antropologia a histoacuteria e os estudos culturais Trecircs seacuteculos de histoacuteria das

instituiccedilotildees museais satildeo revisitados por estudos empiacutericos e quantitativos que estabelecem dados

sobre condiccedilotildees de acesso e uso dos puacuteblicos tanto no plano relacional das trocas e negociaccedilotildees

quanto no plano institucional de valores e imagens A visita e o visitante satildeo objetos de inqueacuteritos

em diferentes museus Ao estudar o visitante essas pesquisas problematizam o papel dos museus

na sociedade e as percepccedilotildees sociais de suas accedilotildees Fala-se de puacuteblico ou puacuteblicos de uma

determinada atividade cultural Nos museus o lugar do puacuteblico estaacute associado ao visitante ou

usuaacuterio e as investigaccedilotildees sobre os puacuteblicos vecircm se consolidando juntamente com outros temas

como a educaccedilatildeo e a histoacuteria em museus

Os estudos de puacuteblico segundo Esquenazi (2006) foram se estabelecendo desde a deacutecada

de 1930 quando investigadores norte-americanos comeccedilam a se interessar por traccedilos da recepccedilatildeo

dos meios de comunicaccedilatildeo massivos sob a suspeita de que o puacuteblico seria uma comunidade

provisoacuteria ou um conjunto de pessoas mais ou menos dispersas que se identificavam com as

personalidades que lhes eram apresentadas pelas transmissotildees de raacutedio Os inqueacuteritos entretanto

demonstrariam que as escolhas poliacuteticas e a opiniatildeo popular eram mais influenciadas por

personalidades locais influentes do que por recomendaccedilotildees veiculadas pela miacutedia

Esquenazi (2006) faz um balanccedilo dos estudos de puacuteblico e estabelece um mapa conceitual

das concepccedilotildees do que seja um puacuteblico a partir das pesquisas socioloacutegicas realizadas ao longo do

seacuteculo XX Satildeo identificadas sete concepccedilotildees de puacuteblico o puacuteblico ativado pela obra delimitado

pelos inqueacuteritos suscitado pelas estrateacutegias comerciais pela estratificaccedilatildeo social por

configuraccedilotildees culturais pelas interaccedilotildees sociais e por situaccedilotildees simboacutelicas O autor chega a essa

tipologia a partir da anaacutelise de obras e autores apontando possibilidades abertas pelas

interpretaccedilotildees e limites das abordagens

Interesse de pesquisa semelhante ocorre na Franccedila em fins dos anos de 1950 quando

Andreacute Malraux ministro do General de Gaulle acreditava que bastavam boas condiccedilotildees para que

42

se constituiacutesse um puacuteblico apreciador de obras de arte Pierre Bourdieu e Alain Darbel (2003)

numa pesquisa com o puacuteblico frequumlentador de museus de arte em quatro paiacuteses europeus

publicada na forma de livro com o tiacutetulo O amor pela arte apontaram que boa vontade

presumida natildeo bastava para a constituiccedilatildeo de um puacuteblico de museus Bourdieu e Darbel levantam

a hipoacutetese de que cada domiacutenio de praacuteticas culturais eacute estruturado por habitus legitimados pela

condiccedilatildeo de classe e condiccedilotildees de vida A frequecircncia a museus estaacute relacionada ao estatuto

social A probabilidade de um operaacuterio visitar um museu eacute quarenta vezes inferior agrave possibilidade

de visita de um quadro superior em escolaridade e renda

Os estudos recentes sobre o puacuteblico realizados pelos proacuteprios museus parecem ter se

afastado das perspectivas criacuteticas de Diderot Baudelaire Proust e Valery27

As pesquisas satildeo em

sua grande maioria instrumentais e fundamentadas pelas teorias da recepccedilatildeo Satildeo inqueacuteritos das

expectativas preacutevias dos aspectos que mais atraem os visitantes para determinados setores do

museu e dos conhecimentos preacutevios dos puacuteblicos Com base nesses inventaacuterios elaboram-se

programas redimensionam-se as ofertas de serviccedilos e promovem-se reformas Em geral satildeo

trabalhos preparados pelas proacuteprias equipes dos museus e especialistas consultores

pesquisadores e o puacuteblico convocado a responder aos modelos propostos

Esse paradigma da recepccedilatildeo tambeacutem vem sendo questionado com as pesquisas

historiograacuteficas sobre as praacuteticas culturais como as de Michel de Certeau (1994) e Roger Chartier

(1998) que analisam as praacuteticas de leitura e apontam para o papel produtivo dos leitores em

relaccedilatildeo ao livro e a leitura Para Certeau (1994) os leitores natildeo satildeo escritores que trabalham no

ldquosolo da linguagemrdquo mas ldquosatildeo viajantes circulam nas terras alheias nocircmades caccedilando por conta

proacutepria atraveacutes dos campos que natildeo escreveram arrebatando os bens do Egito para usufruiacute-losrdquo

As imagens evocadas pelo historiador para caracterizar o leitor satildeo marcadas por efeitos de

deslocamentos que misturam tempos e lugares uma ldquobricolagemrdquo uma relaccedilatildeo com os resiacuteduos

de construccedilotildees e destruiccedilotildees anteriores uma mitologia que se dispersa na duraccedilatildeo e desafia o

tempo disseminado em repeticcedilotildees diferenccedilas memoacuterias e conhecimentos (CERTEAU 1994

p269-270)

27 Discutidas no segundo capiacutetulo

43

Chartier (1998) por sua vez chama a atenccedilatildeo para o fato de que o leitor ldquocaccediladorrdquo que

percorre terras alheias descrito por Certeau natildeo se desloca ou subverte de forma absoluta aquilo

que o livro pretende lhe impor Sua liberdade leitora eacute ldquocercada por limitaccedilotildees derivadas das

capacidades convenccedilotildees e haacutebitos que caracterizam em suas diferenccedilas as praacuteticas de leiturardquo

(CHARTIER 1998 p77)

Do ponto de vista dos estudos filosoacuteficos tambeacutem ampliou-se o espaccedilo do leitor ao

afirmarmos que existe a possibilidade de emergir um novo significado para o texto dependendo

da posiccedilatildeo histoacuterica do leitor e de sua capacidade de diaacutelogo O leitor deixa aos poucos de ser

visto como o receptor passivo das obras e conquista um papel de produtor de sentidos Os

horizontes de expectativas dos leitores e o momento da leitura passam a integrar as anaacutelises da

posiccedilatildeo social do leitor visto como sujeito e natildeo apenas o destinataacuterio das obras sobretudo

literaacuterias28

Essas expectativas deixam de analisar a recepccedilatildeo e atribuir ao leitor um papel passivo

Abrem caminho para que sua accedilatildeo seja vista como um agir e um conhecer

Ser espectador eacute natildeo eacute condiccedilatildeo passiva que devemos transformar em atividade Eacute a

nossa condiccedilatildeo normal Aprendemos e ensinamos agimos e conhecemos tambeacutem

enquanto espectadores que ligam constantemente o que vecircem com aquilo que jaacute viram e

disseram fizeram e sonharam (RANCIEgraveRE 2010 p28)

Jacques Ranciegravere lembra o que eacute aparentemente oacutebvio o visitante produz significados e

natildeo simplesmente processa as informaccedilotildees de forma passiva (espectador emancipado) Essa

emancipaccedilatildeo estaacute associada a uma condiccedilatildeo de atividade e natildeo de passividade das accedilotildees de olhar

A aposta dessa pesquisa eacute que o visitante se insere a partir de sua presenccedila no ldquocircuito

dos museusrdquo A visita a museus se constitui em uma praacutetica cultural que se estabelece por uma

frequumlecircncia a variados museus e permite que o visitante-narrador ldquoencarnadordquo dessacralize a

cenografia do passado encenada pelos museus O uso dos museus pelos visitantes pode superar

assim a mera apropriaccedilatildeo cognitiva das propostas e sensibilidades jaacute existentes nos museus e

visitantes tornando possiacutevel por meio dos relatos escritos fotograacuteficos e orais uma nova

28 Ver COSTA Maacutercia Haacutevila Mocci da Silva Esteacutetica da recepccedilatildeo e teoria do efeito Disponiacutevel emlt

wwwdiaadiaeducacaoprgovbrgtAcesso em17 mar 2011

44

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de conhecimentos que redefinem os conceitos que circulam em ambos os

campos dos museus e das escolas

45

CAPIacuteTULO II - Visitas a museus memoacuteria e patrimocircnio dos visitantes

No primeiro capiacutetulo foram constituiacutedas as principais referecircncias teoacutericas e metodoloacutegicas

para o estudo das situaccedilotildees de visita escolar a museus Delineou-se um panorama da abordagem

investindo nos conceitos de narrativa memoacuteria presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica para criar uma

indumentaacuteria para o visitante emancipado que viaja entre a escola e os museus

Nesse segundo capiacutetulo tambeacutem se observa uma preocupaccedilatildeo com as bagagens para a

viagem propriamente dita providencia-se os documentos as certificaccedilotildees especiacuteficas os roteiros

novos mas tambeacutem se avalia os caminhos jaacute percorridos que estimulam investimentos em novos

caminhos e a seguranccedila do viajante

21 ndash Estudos sobre museus um balanccedilo historiograacutefico

Eacute quase lugar comum iniciar uma ldquohistoacuteria dos museusrdquo pela evocaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de

um espaccedilo dedicado agraves musas e em seguida pelo estabelecimento de uma ligaccedilatildeo estreita com a

constituiccedilatildeo de um espaccedilo ou local fiacutesico dedicado ao estudo ao conhecimento e agrave exposiccedilatildeo

puacuteblica da cultura

A origem dos museus na Franccedila estaacute associada a fatores como a demanda por abertura das

coleccedilotildees renascentistas principalmente de pinturas e esculturas restritas aos colecionadores

prelados cortesatildeos juristas eruditos artistas priacutencipes e monarcas e o museu se coloca como

um herdeiro dos ldquogabinetes de curiosidadesrdquo Na Itaacutelia por sua vez eacute desenvolvido outro

elemento fundador de uma ldquocultura do museurdquo que satildeo as accedilotildees poliacuteticas e a definiccedilatildeo de uma

legislaccedilatildeo de proteccedilatildeo ao patrimocircnio para assegurar ao museu o lugar de ldquoconservaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeordquo desse patrimocircnio artiacutestico agora de interesse puacuteblico Na Alemanha as origens

dos museus estatildeo associadas agrave abertura das coleccedilotildees privadas e agrave reivindicaccedilatildeo de um lugar para

essa produccedilatildeo no discurso universal da arte Para a institucionalizaccedilatildeo e ideia de museu

contemporacircneo confluem as demandas de ensino e pesquisas (biblioteca) ligadas a transmitir e

permitir a produccedilatildeo de conhecimento e tambeacutem o papel de guardiatildeo da memoacuteria daqueles que se

distinguiram nas atividades do espiacuterito (BREFE 1998 p298-300)

46

Entender esse conceito moderno de museu e seu uso social eacute tarefa bastante complexa e

alvo de inuacutemeros debates contemporacircneos Muitos estudos recentes costumam definir os museus

como ldquolugares de memoacuteriardquo mas trabalham com a histoacuteria das instituiccedilotildees museais a partir de

uma sequecircncia de fases ou uma tipologia que considera apenas os objetos expograacuteficos nos quais

se especializaram os museus Os museus satildeo caracterizados como de artes ciecircncias e histoacuteria e

estas especializaccedilotildees se tornam definidas e imutaacuteveis Numa genealogia dos museus os gabinetes

de curiosidades seriam os precursores dos museus de ciecircncias e arqueologia os antiquaacuterios

dariam lugar aos museus de histoacuteria e as galerias de arte privadas cederiam espaccedilo aos museus

puacuteblicos de arte

Essas analogias parecem congelar a imagem de museu e relacionaacute-la especificamente a

uma dada eacutepoca histoacuterica numa sequumlecircncia evolutiva Os criteacuterios de classificaccedilatildeo ou ldquoetiquetasrdquo

utilizados para os museus estariam dados a partir de um modelo As instituiccedilotildees natildeo seriam

consideradas em suas especificidades poliacuteticas e culturais Em funccedilatildeo de um padratildeo esperado

para os museus em geral um museu especiacutefico eacute julgado pelos estudiosos pelo criteacuterio da

inovaccedilatildeo ou natildeo de suas exposiccedilotildees como se as uacuteltimas tendecircncias da museologia fossem o

paracircmetro uacutenico para todo e qualquer museu

Os estudos sobre museus reuacutenem profissionais de diversas aacutereas como a museologia a

histoacuteria a educaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo as artes a arqueologia a sociologia dentre outras Abordam

campos de interesse comuns a diversos pesquisadores tais como o patrimocircnio as identidades

poliacuteticas as miacutedias e novas tecnologias espaccedilo urbano e arquitetura Praacuteticas profissionais e

culturais visitantes educaccedilatildeo e interaccedilatildeo tambeacutem satildeo temas contemporacircneos e emergentes dos

estudos sobre os museus

No Brasil as fontes e a bibliografia sobre a trajetoacuteria dos museus foram marcadas ateacute os

anos de 1940-1950 por produccedilotildees das proacuteprias instituiccedilotildees museoloacutegicas como a revista

Archivos do Museu Nacional editada desde 1876 e obras de referecircncia como os cataacutelogo

publicado por Heloisa Alberto Torres entatildeo diretora do Museu Nacional em 1953 intitulado

Museus do Brasil Outra referecircncia importante do periacuteodo foi a publicaccedilatildeo em 1958 do livro

coordenado e organizado por Guy de Hollanda Recursos Educativos dos Museus Brasileiros

com o apoio da Onicom ndash Organizaccedilatildeo Nacional do Conselho Internacional de Museus Neste

trabalho Hollanda traz um levantamento da situaccedilatildeo dos museus em relaccedilatildeo a acervos

47

exposiccedilotildees visitaccedilotildees atividades educativas recursos didaacuteticos organograma pessoal etc

(UNIRIO 2005)

Ao longo do seacuteculo XX obras de intelectuais ligados diretamente ou indiretamente a

museus eou oacutergatildeos governamentais de preservaccedilatildeo como Mario de Andrade (1917) Francisco

Venacircncio Filho (1941) Gustavo Barroso (1946) Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) Joseacute

Valladares (1946) Gilberto Freyre (1979) e Darcy Ribeiro (1955) dentre outros destacam-se na

produccedilatildeo de um pensamento e accedilotildees no campo da museologia e vecircm sendo estudados por

pesquisadores contemporacircneos

Destaco as contribuiccedilotildees de Francisco Venacircncio Filho (1941) Joseacute Valladares (1946) e

Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) que delineiam marcos de interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo museu-

educaccedilatildeo no Brasil e agiram diretamente na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de

criaccedilatildeo de museus e na concepccedilatildeo e planejamento de accedilotildees educativas nos museus brasileiros

Estes autores lanccedilam obras nos anos de 1940 que teratildeo influecircncia teoacuterica ateacute os anos de 1970 na

criaccedilatildeo de museus histoacutericos e pedagoacutegicos em Satildeo Paulo29

Entre os anos de 1960-1970 predomina a publicaccedilatildeo de coleccedilotildees de divulgaccedilatildeo sobre os

grandes museus europeus no formato de cataacutelogos vendidos em bancas de jornais e revistas A

pesquisa acadecircmica propriamente dita com a elaboraccedilatildeo de monografias dissertaccedilotildees e teses

com posicionamentos criacuteticos questionadores e reflexivos se intensificou no Brasil a partir dos

anos 1980 e se amplia nas deacutecadas seguintes

Autores como Waldisa Russio Camargo Guarnieri (1977 1980) Maria Margaret Lopes

(1988 e 1993) Maria Ceacutelia Moura Santos (1987 1993 e 1996) Regina Abreu (1996) Cristina

Bruno (1996) Maria Ceciacutelia Lourenccedilo (1997) Mario Chagas (1999 e 2003) Ulpiano Bezerra de

Menezes (1992 1994 2004 2005 e 2007) marcam a riqueza dessa produccedilatildeo e apontam temas

como a institucionalizaccedilatildeo dos museus de ciecircncias as accedilotildees educativas o colecionismo o

patrimocircnio a memoacuteria social a arte e a museologia como outros caminhos de investigaccedilatildeo que

seriam abertos por novas pesquisas e percorridos por novos pesquisadores em universidades do

paiacutes e em cursos no exterior

29 Ver CAMPOS Vinicio Stein Elementos de Museologia 1ordm e 3degvolume se 1970

48

Um levantamento bibliograacutefico realizado pelo CECA30

em 2007 apontava ao mesmo

tempo a abrangecircncia e a dispersatildeo dessa produccedilatildeo sobre os museus A divulgaccedilatildeo dessa

produccedilatildeo bibliograacutefica continuaria em grande parte ligada agraves revistas dos oacutergatildeos oficiais de

patrimocircnio (IPHAN e ICOM) e publicaccedilotildees proacuteprias dos grandes museus centros culturais e de

memoacuteria Algumas poucas divulgadas pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de diversas aacutereas que

pesquisam a temaacutetica

Contudo estudos sobre trajetoacuterias de museus brasileiros ou uma chamada historiografia

dos museus vem se aprofundado em abordagens teoacutericas-metodoloacutegicas e temaacuteticas tais como o

papel das proacuteprias instituiccedilotildees museoloacutegicas na elaboraccedilatildeo da cultura material a anaacutelise dos

quadros referenciais que vatildeo se fixando para organizaccedilatildeo de coleccedilotildees e exposiccedilotildees os modelos

organizacionais concepccedilotildees de diretores e profissionais envolvidos em propostas de

musealizaccedilotildees e seus desdobramentos

Em um esforccedilo de leitura e siacutentese dessa bibliografia pode-se indicar trecircs impulsos

poliacuteticos de criaccedilatildeo de museus no Brasil Um primeiro que vai do iniacutecio do seacuteculo XIX ateacute a

deacutecada de 1930 Um segundo momento localizado entre as deacutecadas de 1930 e 1950 e por fim

um terceiro movimento de criaccedilatildeo de museus entre a segunda metade do seacuteculo XX e primeiras

deacutecadas do seacuteculo XXI

No seacuteculo XIX os atos fundadores dos primeiros museus comeccedilando pelo Museu Real

(1818) criado por D Joatildeo VI e aberto ao puacuteblico em 181931

contribuem para a emergecircncia de

uma nova sociabilidade e a redefiniccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e de um puacuteblico espectador As visitas

ao Museu Real entre 1818 e 1821 eram privileacutegio de curiosos estudiosos e autoridades

A primeira exposiccedilatildeo do Museu Real aberta ao puacuteblico em 1821 tinha a visitaccedilatildeo e o uso

do espaccedilo regulado por uma Portaria Real que definia quem era o visitante digno de frequumlentar o

museu aquele que possuiacutea conhecimentos e qualidades (educados) O ambiente do Museu era de

estudo e contemplaccedilatildeo o visitante deveria manter a calma Presenccedila do guarda de sala (praacutetica

ainda usual) zelava pela ordem e controlava os comportamentos dos visitantes O acesso a

30 O CECA-BRASIL eacute formado pelos membros brasileiros afiliados ao Comitecirc Internacional para Accedilatildeo Educativa e

Cultural (CECA) do Conselho Internacional de Museus (ICOM) Disponiacutevel em lt wwwicomorgbrgt 31

Transformado posteriormente em Museu Imperial e hoje Museu Nacional da quinta da Boa Vista integrado agrave

estrutura acadecircmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro Ver material produzido pelo proacuteprio Museu

Nacional do RJ e trabalhos sobre a instituiccedilatildeo como LOPES (1997) e CHAGAS (1999)

49

algumas salas era restrito assim como havia dias de abertura e horaacuterios para diferentes puacuteblicos

A prioridade era dada ao visitante estrangeiro e pesquisador (LOPES 1999)

Na deacutecada de 1860 haacute uma diversificaccedilatildeo das instituiccedilotildees que fundam museus No Rio de

Janeiro satildeo criados os Museu do Exeacutercito (1864) e Museu da Marinha (1868) No Paraacute o Museu

Paraense Emiacutelio Goeldi eacute criado como Sociedade Filomaacutetica em 1866 e o Museu Paulista em

Satildeo Paulo em 1895

Essa geraccedilatildeo de museus do seacuteculo XIX ainda que pareccedila regional como o Museu

Paulista satildeo considerados museus nacionais agrave medida que colaboram para a construccedilatildeo ritual e

simboacutelica da naccedilatildeo Curioso notar que essa mesma bibliografia trata pouco ou quase nada sobre

o projeto de criaccedilatildeo do museu do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro instituiacutedo pelo

mesmo decreto de criaccedilatildeo do IHGB em 1838 instalado e aberto atualmente agrave visitaccedilatildeo na sede

do proacuteprio Instituto Histoacuterico no Rio de Janeiro

No iniacutecio do seacuteculo XX esse caraacuteter celebrativo dos museus brasileiros do seacuteculo XIX se

propaga a partir do Rio de Janeiro para estados e museus como o Juacutelio de Castilhos (1903)

Museu Anchieta (1908) no Rio Grande do Sul Pinacoteca Puacuteblica do Estado (1906) em Satildeo

Paulo e o Museu de Arte da Bahia (1918) E chega a criaccedilatildeo por Gustavo Barroso do Museu

Histoacuterico Nacional (MHN) em 1922 (CHAGAS 1999 p36) Um segundo momento de criaccedilatildeo

de museus eacute identificado nas deacutecadas de 1930 1940 e 1950 por iniciativa de empresaacuterios os

chamados Museus de Arte Moderna (MAMs) do Rio de Janeiro (MAM 1948) e Satildeo Paulo

(MASP 1947) e os natildeo instalados ldquomuseus histoacutericos e pedagoacutegicosrdquo em Satildeo Paulo

Ao longo das deacutecadas de 1930-1950 haacute um consideraacutevel impulso na criaccedilatildeo de museus32

a maioria ainda em plena atividade A criaccedilatildeo do Curso de Museus em 1932 vinculado ao MHN

embora inicialmente fosse apenas um aperfeiccediloamento de dois anos e exigisse como preacute-requisito

cinco anos de escolaridade baacutesica eacute considerado pelos pesquisadores de museus como importante

na profissionalizaccedilatildeo do campo e organizaccedilatildeo da museologia Por fim tem-se um terceiro

32 Dentre outras foram criados a Casa de Rui Barbosa ndash RJ (1930) Museu da Veneraacutevel Ordem Terceira de Satildeo Francisco da Penitecircncia ndash RJ (1933) Museu Histoacuterico da Cidade ndash RJ (1934) Museu Nacional de Belas Artes ndash RJ

(1937) Museu da Inconfidecircncia ndash Ouro Preto (1938) Museu da Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Gloacuteria do

Outeiro ndash RJ (1939) Museu Imperial ndash Petroacutepolis (1940) Museu das Missotildees ndash RS (1940) Museu Antonio Parreiras

ndash Niteroacutei (1941) Museu Histoacuterico de Belo Horizonte (1943) Museu do Ouro de Sabaraacute (1945) Museu da Veneraacutevel

Ordem Terceira do Carmo ndash RJ (1945) Museu de Arte Moderna de Satildeo Paulo (1946) Museu de Arte Moderna ndash RJ

(1948) Museu do Iacutendio ndash RJ (1953) Museu Oceanograacutefico ndash RS (1953) e Museu Farroupilha ndash PR (1954) (UNIRIO

2007)

50

movimento de criaccedilatildeo de museus que marca as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo

XXI Aleacutem dos museus existentes haacute outro cenaacuterio de aumento do nuacutemero de museus

investimentos dos setores privados na construccedilatildeo de museus e financiamento de projetos culturais

voltados ao turismo cultural e a revitalizaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural de centros

urbanos e industriais e a tecnologias virtuais

Uma das questotildees ao se pensar a historicidade dos museus eacute discutir ateacute que ponto as

trajetoacuterias dos museus brasileiros obedecem eou dialogam com os modelos europeus e latino-

americanos E mais de que forma as trajetoacuterias institucionais ajudam na compreensatildeo das

praacuteticas museais em relaccedilatildeo aos puacuteblicos Autores como Ulpiano Bezerra de Menezes Maria

Margaret Lopes Lilia Moritz Schwarcz e Maria Ceciacutelia Lourenccedilo reuacutenem algumas polecircmicas em

torno da questatildeo da criaccedilatildeo de museus no Brasil a partir do seacuteculo XIX e algumas praacuteticas de

produccedilatildeo e circulaccedilatildeo da cultura museal

Para Ulpiano Bezerra de Menezes (2005 p16) as trajetoacuterias dos museus brasileiros em

especial dos chamados museus histoacutericos foram distintas do paradigma europeu e mais proacuteximas

do modelo norte-americano Para o autor a visatildeo que se consolida a respeito dos museus no

seacuteculo XIX se eacute que pode ser considerada iluminista desemboca numa estetizaccedilatildeo do social e na

transformaccedilatildeo da histoacuteria em espetaacuteculo Os museus brasileiros satildeo mais evocativos e

celebrativos do que os europeus e a funccedilatildeo de produccedilatildeo do conhecimento eacute marginalizada A

memoacuteria eacute reduzida a instrumento de enculturaccedilatildeo paradigmas a priori definidos e que circulam

em vetores sensoriais (MENEZES 2005 p16)

Maria Margaret Lopes em O Brasil descobre a pesquisa cientiacutefica os museus e as

ciecircncias naturais no seacuteculo XIX publicado em 1997 apresenta uma visatildeo distinta dos museus

principalmente daqueles de histoacuteria natural A autora contribui com novas orientaccedilotildees para se

escrever uma historiografia das ciecircncias como praacutetica social e revisita as atividades cientiacuteficas no

Brasil desde a colocircnia inserido-as em uma dinacircmica cultural mais abrangente Daiacute quando

confrontada com uma ldquovasta literatura interdisciplinar internacionalrdquo sobre os aspectos histoacutericos

das instituiccedilotildees museoloacutegicas Lopes aprofunda temas teoacuterico-metodoloacutegicos sobre a histoacuteria dos

museus aspectos comunicativos expositivos educacionais e cientiacuteficos antes pouco

considerados no Brasil e reinscreve os museus numa nova dinacircmica

51

Ao avaliar o debate sobre as origens dos museus nos Estados Unidos Lopes estimula a

reflexatildeo sobre as diferentes fases das histoacuterias dos museus como uma forma ldquoinstigante de pensar

os museus como locais em que a cultura material eacute elaborada exposta comunicada e

interpretadardquo (2005 p15) Uma das questotildees abordadas pela autora eacute a maneira como se

formavam as coleccedilotildees e ateacute que ponto essas coleccedilotildees se relacionavam com a formaccedilatildeo do campo

da Histoacuteria Natural e das ciecircncias modernas e como ajudam na compreensatildeo dos processos

contemporacircneos de construccedilatildeo de museus cientiacuteficos

Lopes apresenta um movimento dos museus de histoacuteria natural no seacuteculo XIX indicando

que se formara em torno do American Association of Museums33

um circuito de intercacircmbio que

incluiacutea comunicaccedilatildeo coleccedilotildees cataacutelogos pesquisadores e disputas cientiacuteficas sociais e poliacuteticas

incluindo museus diferentes tais como o Museu Paulista e o Museu Paraense o Museu

Nacional o Museu de Valparaiso o Museu de La Plata o Museu de Buenos Aires e o Museu da

Costa Rica Um verdadeiro ldquomovimentordquo de museus emerge da anaacutelise de Margaret Lopes (1997

p223-247)

Ao investigar como se datildeo as periodizaccedilotildees e criteacuterios de mudanccedila e permanecircncia nos

ldquosistemas museaisrdquo na Ameacuterica Latina e nos Estados Unidos Margaret Lopes considera que o

panorama mundial dos museus entre as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX e as primeiras do seacuteculo

XX apontava que natildeo era tatildeo simples submeter os museus a tipologias anacrocircnicas e classificaacute-

los de acordo com as divisotildees propostas Ela identifica pelas publicaccedilotildees e correspondecircncias

entre diretores de museus que nesse periacuteodo houve a formaccedilatildeo de um ldquocircuito dos museusrdquo

internacional que incluiacutea trocas entre os museus de histoacuteria natural argentino (Museu de La Plata)

e o Bristish Museum no sentido de criar uma nova instituiccedilatildeo que rompia com o ldquogabinete de

curiosidadesrdquo e apontava para a instituiccedilatildeo de um ldquomoderno museu cientiacuteficordquo (LOPES 1997

p323)

Esse novo referencial de museu que se transformava vinculado ao Estado teria uma dupla

funccedilatildeo colaborar com a educaccedilatildeo e com a investigaccedilatildeo cientiacutefica O que natildeo se faria sem certa

tensatildeo que ainda marcaria por muito tempo as discussotildees acerca do conhecimento As coleccedilotildees

seriam divididas uma para a pesquisa outra para exibiccedilatildeo ao puacuteblico leigo Esse referencial

33 Sobre a importacircncia desse movimento Margaret Lopes faz uma leitura criacutetica das contribuiccedilotildees de Laurence Vail

Coleman que publica em 1939 The museum in America a critical study e de Oroz J J que retoma criticamente

Colemam ao discutir a curadoria numa perspectiva tambeacutem histoacuterica Ver Lopes 2005 p15-17

52

vigoraria inclusive no Museu Nacional do Rio de Janeiro ateacute a deacutecada de 1930 (LOPES 2005

p22)

A autora avanccedila na anaacutelise desses intercacircmbios entre os diretores de museus brasileiros e

argentinos e indica como essa discussatildeo contribuiu para a definiccedilatildeo de disciplinas como a

antropologia a paleontologia e arqueologia e ao mesmo tempo aponta as ldquomissotildees cientiacuteficas e

civilizadoras desses museus em fins do seacuteculo XIX (LOPES 2001)

Lilia Schwarcz (2005 p124-126) considera que o surgimento dos museus nacionais de

ldquoetnografiardquo no Brasil a partir da deacutecada de 1870 estaacute relacionado ao estabelecimento de outras

instituiccedilotildees cientiacuteficas apoacutes a vinda da Famiacutelia Real como as faculdades de Medicina e Direito e

aos Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos Para ela esses museus satildeo coacutepia dos modelos europeus e

estabeleceram uma praacutetica bastante isolada em relaccedilatildeo aos demais estabelecimentos cientiacuteficos

nacionais Fruto de um saber determinista frente aos modelos evolucionistas e darwinistas sociais

presentes no debate intelectual da eacutepoca procuravam encontrar nas culturas indiacutegenas e africanas

(raccedilas) e na miscigenaccedilatildeo a comprovaccedilatildeo do atraso do paiacutes (SCHWARCZ 2005 p124-126)

As soluccedilotildees apontadas por Lopes e Schwarcz para a questatildeo da circulaccedilatildeo dos modelos de

museu se inscrevem em duas tradiccedilotildees34

de interpretaccedilatildeo historiograacutefica que atribuem pesos

diferentes agrave capacidade de elaboraccedilatildeo e autonomia de um pensamento social brasileiro Enquanto

a pesquisa de Lopes (1997) postula que a compreensatildeo das relaccedilotildees sociais e culturais implica na

reflexatildeo sobre a histoacuteria das instituiccedilotildees cientiacuteficas e culturais e contribui para a superaccedilatildeo do

passado colonial e a vinculaccedilatildeo aos projetos de modernidade ocidental Schwarcz (2005)

identifica os obstaacuteculos que dificultam e impedem internamente o desenvolvimento de um

pensamento autocircnomo e um desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico da sociedade brasileira

O debate aberto em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees museais pode ser estendido aos visitantes De

que maneira modelos diferentes de museu circulam na cultura e como os visitantes se posicionam

frente a eles Enquanto Lopes (1997) dialoga com o campo cientiacutefico Maria Ceciacutelia Lourenccedilo

(1999) discute a criaccedilatildeo dos Museus de Arte Moderna na deacutecada de 1950 frente ao quadro de

permanecircncias e mudanccedilas da proacutepria histoacuteria da arte e das relaccedilotildees entre o museu modernista a

poliacutetica o poder os intelectuais os artistas as universidades a formaccedilatildeo de puacuteblico e a produccedilatildeo

34 Moema de Resende Vergara discute a constituiccedilatildeo de duas vertentes historiograacuteficas da ciecircncia no seacuteculo XX Ver

VERGARA (2004)

53

de conhecimento A autora oferece algumas imagens de museu que satildeo expressivas de nossa

eacutepoca museu vivo museu escola museu comunitaacuterio museu espetaacuteculo e museu shopping se

enlaccedilam agraves diversas tipologias de projetos socioculturais no cotidiano dos museus

Ao trabalhar o conceito de museu Lourenccedilo (1999) evoca de maneira recorrente a

situaccedilatildeo e trajetoacuteria dos museus de arte brasileiros e aponta duas questotildees A primeira eacute a

distacircncia existente entre o declarado e a praacutetica cotidiana ou seja entre a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees

e seu funcionamento regular e atual A segunda questatildeo eacute a vitalidade das instituiccedilotildees histoacutericas

que mesmo enfrentando problemas para se manterem em funcionamento contribuem na

construccedilatildeo de conceitos recolha de obras e manteacutem o diaacutelogo com as matrizes e valores tambeacutem

expostos

Uma instituiccedilatildeo museal sempre se reinventa em sua proacutepria dinacircmica O acervo de cada

instituiccedilatildeo eacute um exemplo Se o museu possui acervo ou natildeo se recebe um acervo internacional

os valores e pressupostos jaacute inventados sobre esse acervo influenciam na relaccedilatildeo que essa

instituiccedilatildeo estabelece com sua proacutepria condiccedilatildeo e com o puacuteblico Os valores ou criteacuterios de

inclusatildeo e exclusatildeo de acervos nos museus de arte satildeo subjetivos e discutiacuteveis meacuteritos

recebimentos de precircmios internacionais origem social geograacutefica proximidade com o poder

vigente aleacutem de outros que permeiam a cultura como a xenofobia o corporativismo o nepotismo

e mecanismos de troca impliacutecita para angariar proveitos pessoais satildeo as bases para os objetos e

obras adquiridos e expostos nos museus Lourenccedilo natildeo eacute nada otimista quando aos tipos de troca

que podem ocorrer para a formaccedilatildeo de determinados museus que por sua vez manteacutem esse

circuito em aberto ao longo de suas trajetoacuterias (LOURENCcedilO 1999 p20-62)

Ana Claudia Fonseca Brefe (1998) apoacutes um balanccedilo do conceito de museu desde a

renascenccedila ateacute o seacuteculo XIX em diaacutelogo com uma bibliografia francesa conclui que o conceito

de museu vai se adequando a diferentes materialidades e instituiccedilotildees como os gabinetes de

curiosidades que satildeo inicialmente coleccedilotildees privadas se transformam agrave medida que passam a

discutir o uso cientiacutefico e pedagoacutegico de suas coleccedilotildees a abertura ao puacuteblico arquitetura

disposiccedilatildeo dos objetos e objetivos Os debates historiograacuteficos em torno da instituiccedilatildeo museal

tambeacutem partem de interesses do presente relativos a disputas por memoacuterias e patrimocircnio

54

22 ndash Plano de visitas e aprendizagem histoacuterica em museus

As funccedilotildees de um museu na contemporaneidade satildeo muacuteltiplas fruiccedilatildeo esteacutetica viacutenculos

subjetivos condiccedilotildees de recolhimento e de diaacutelogos culturais multiplicados Entretanto o museu

histoacuterico eacute ao mesmo tempo um espaccedilo de ficccedilatildeo e de confronto mas impera o diaacutelogo quando

enfrenta a questatildeo da multiculturalidade Para Menezes (1994) o museu natildeo eacute enciclopeacutedia de

diversidade cultural Nele imaginaacuterio e imaginaccedilatildeo satildeo campos de forccedila mas os problemas em

relaccedilatildeo agraves praacuteticas dos sujeitos se datildeo de maneira ampla na sociedade e natildeo em abstrato nas

exposiccedilotildees museoloacutegicas

Os usos do potencial da imaginaccedilatildeo nos museus podem ser instrumentalizados numa

ideologia do valor em si dos ldquonovos museusrdquo Esses novos ideaacuterios de museus justificam a

revitalizaccedilatildeo de espaccedilos urbanos que se sobrepotildeem a outros que satildeo desfigurados Ultrapassam-

se as fronteiras culturais da induacutestria do lazer e do retorno do investimento e transcendem os

interesses locais voltando-se para visitantes estrangeiros numa adesatildeo agrave loacutegica de mercado O

proacuteprio museu se apresenta como forma de explorar um imaginaacuterio da cidade com praacuteticas de

utilizaccedilatildeo do seu espaccedilo e de suas forccedilas sociais Os objetos histoacutericos satildeo peccedilas-fetiche

Aleacutem da criacutetica aos museus-mercados Menezes (1994) tambeacutem eacute criacutetico dos museus

teatro da memoacuteria que por sua orientaccedilatildeo paternalista pressupotildee a passividade do espectador e a

hegemonia do paradigma observacional fundamentado na espetacularidade Para ele o

laboratoacuterio de Histoacuteria eacute o museu que torna viaacutevel a produccedilatildeo e socializaccedilatildeo do conhecimento

(MENEZES 1994 p62)

As investigaccedilotildees sobre a educaccedilatildeo histoacuterica em museus tecircm se debruccedilado sobre temas tais

como parcerias institucionais com escolas desenvolvimento de projetos e oferta de serviccedilos

educativos por parte dos museus A pesquisa sobre o ensino tambeacutem ganha forccedila e aponta que as

dimensotildees do processo de ensino- aprendizagem natildeo se reduzem a questotildees teacutecnicas ou de cunho

metodoloacutegico A ldquodidaacutetica da histoacuteriardquo eacute colocada por autores com Ruumlsen (2007) junto agrave ldquoteoria

da histoacuteriardquo

De outro acircngulo as discussotildees sobre o ensino de histoacuteria no Brasil sempre foram

vinculadas a projetos de formaccedilatildeo de uma identidade nacional tendo o Estado como maior

promotor dessa associaccedilatildeo O ensino de histoacuteria e identidade nacional se vincularam nos

55

curriacuteculos de histoacuteria prescritos desde o iniacutecio do seacuteculo XX e se manteacutem nas atuais diretrizes

para o sistema nacional de ensino

A criacutetica teoacuterica e praacutetica aos modelos oficiais tambeacutem se constitui como parte do debate

sobre o ensino de histoacuteria e se faz de maneira institucionalizada por professores de histoacuteria e suas

associaccedilotildees principalmente nos anos de 1960-70 Os professores tomam a discussatildeo sobre a

identidade e a ressignificam A educaccedilatildeo escolar e o ensino de histoacuteria satildeo vistos como espaccedilos

para se pensar identidades e pluralidades culturais pelo vieacutes da diversidade entendida num

quadro de desigualdades sociais e dominaccedilatildeo poliacutetica (SILVA E GUIMARAtildeES 2007 p58)

Este movimento de reflexatildeo em torno das identidades nacionais vem reposicionando a noccedilatildeo

de alteridade frente agraves tendecircncias globalizantes e provoca a reorganizaccedilatildeo curricular que vem se

fazendo na Europa e que reconhece explicitamente a dimensatildeo do estudo do patrimocircnio como

parte essencial da educaccedilatildeo para a cidadania (BARCA 2003 p100)

Ramos (2004 p15) discute que a ida ao espaccedilo museoloacutegico implica necessariamente

efetuar atividades educativas questionamentos e maneiras teoricamente fundamentadas de

aguccedilar a percepccedilatildeo para os objetos das exposiccedilotildees e a vinculaccedilatildeo entre o mundo dos artefatos

Para o citado autor a histoacuteria estaacute presente nos objetos e estes podem ser instrumentos para um

posicionamento no presente Os conflitos com os objetos de uso dos museus (objeto gerador)

produzem cultura fazem a ponte entre a memoacuteria coletiva e individual faz lembrar e ler a

materialidade das coisas na proacutepria problemaacutetica histoacuterica (2004 p19-30)

O foco central da pesquisa sobre visitas educativas a museus neste sentido indicado por

Ramos (2004) aponta para os usos e apropriaccedilotildees do patrimocircnio cultural musealizado As

escolas utilizam posturas investigativas em relaccedilatildeo ao patrimocircnio Muitas praacuteticas escolares de

visitas levantam justificativas quanto agrave relevacircncia de atitudes de avaliaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

histoacuteria local e aprofundam maneiras de atuar e interagir em relaccedilatildeo a seleccedilotildees de objetos

valores crenccedilas que se processam cotidianamente na sociedade A partir das visitas a museus

questiona-se o conceito de ldquopatrimocircnio histoacutericordquo natildeo como um meio ou recurso para conhecer

ou fazer histoacuteria mas como a proacutepria histoacuteria evidenciada nas persistecircncias visiacuteveis do passado

que o presente outorga valores (HERNANDEZ 2003 p456-458)

O patrimocircnio pode ser considerado a expressatildeo de identidades e sua apropriaccedilatildeo favorece

a construccedilatildeo de valores tais como respeito ao entorno e ao pertencimento a uma comunidade de

56

sentido ou tradiccedilatildeo Pode possibilitar o exerciacutecio de um pensamento criacutetico capaz de situar

historicamente as evidecircncias e dotaacute-las de novos significados sociais poliacuteticos e culturais Por

fim a relaccedilatildeo com o patrimocircnio museal desencadeia accedilotildees de construccedilatildeo do conhecimento

histoacuterico e ampliaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica (GONZALEZ 2004)

A aprendizagem em museus estaacute focada em dois eixos na potecircncia patrimonial de

coleccedilotildees e objetos e na potecircncia comunicativa das instituiccedilotildees em estabelecer planos e programas

puacuteblicos educativos que combinam diversas dimensotildees do cenaacuterio natildeo formal (natildeo escolares) do

museu e aspectos da cultura mais amplos

Pesquisas acadecircmicas sobre educaccedilatildeo em museus satildeo bastante numerosas35

mas natildeo se

constituem em torno de um campo especiacutefico de investigaccedilatildeo organizado em referecircncias teoacutericas

e metodoloacutegicas soacutelidas Predomina o diaacutelogo com vaacuterias aacutereas acadecircmicas o que torna o esforccedilo

para visualizar o conjunto dessa produccedilatildeo ou mesmo avaliar as tendecircncias e perspectivas

adotadas por cada pesquisa um trabalho relativamente difiacutecil De um modo geral as pesquisas

sobre museus parecem obedecer agrave mesma loacutegica das demais temaacuteticas nas poacutes-graduaccedilotildees Ainda

prevalecem as dissertaccedilotildees de mestrado com um aumento dos douramentos entre 1987- 2008 Em

sua quase totalidade satildeo realizadas nas instituiccedilotildees puacuteblicas federais e estaduais e nem sempre

contam com financiamentos de agecircncias de fomento As instituiccedilotildees que possuem maior nuacutemero

de pesquisas satildeo a UNIRIO USP UFMG UNICAMP e FGV-RJ

Os referenciais bibliograacuteficos de cada autor indicam diaacutelogos preferenciais internos agrave sua

aacuterea de conhecimento acadecircmico Entre as autoras citadas ao longo do capiacutetulo temos como

exemplo a combinaccedilatildeo de trecircs formaccedilotildees acadecircmicas distintas e atuaccedilatildeo em museus nas aacutereas de

ciecircncias naturais artes e histoacuteria respectivamente Maria Margaret Lopes (1988) Maria Ceciacutelia

Lourenccedilo (1997) e Ana Claudia Brefe (1998 e 2005) Cada pesquisadora dialoga internamente

com a bibliografia de sua aacuterea especiacutefica

Cada aacuterea acadecircmica que tematiza sobre o Museu tambeacutem o faz a partir de questotildees

especiacuteficas que interferem na proacutepria definiccedilatildeo de museu A histoacuteria como aacuterea acadecircmica pensa

no museu como instituiccedilatildeo como ldquolugar de memoacuteriardquo A antropologia por sua vez concebe o

museu como um campo de pesquisa no qual eacute possiacutevel o trabalho etnograacutefico com coleccedilotildees As

35 Carina Martins Costa (2008) identificou 98 pesquisas acadecircmicas desenvolvidas no Brasil sobre educaccedilatildeo em

museus

57

ciecircncias bioloacutegicas identificam no museu um divulgador do campo cientiacutefico A aacuterea de

comunicaccedilatildeo vecirc o museu como miacutedia veiacuteculo de divulgaccedilatildeo Muitos pesquisadores tambeacutem

utilizam a documentaccedilatildeo existente nos arquivos e acervos iconograacuteficos sem necessariamente

tomarem o proacuteprio museu como objeto de anaacutelise ou mesmo desconsiderando a origem dessas

fontes

O enfoque dessa pesquisa natildeo desconsidera a trajetoacuteria administrativa e cultural de cada

instituiccedilatildeo museoloacutegica e a constituiccedilatildeo de suas respectivas coleccedilotildees Ao contraacuterio estes satildeo

aspectos fundamentais para o entendimento da histoacuteria presente de cada museu embora natildeo

estejam presentes nas exposiccedilotildees puacuteblicas que eles promovem Como demonstram as pesquisas

realizadas por Brefe (2005) acerca do Museu Paulista e Pimentel (2004) sobre o Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto a histoacuteria das instituiccedilotildees museais permite estabelecer referecircncias sobre os

padrotildees que se fixaram ou se modificam em suas poliacuteticas de exibiccedilatildeo

A abordagem dos museus pelos usos feitos pelos visitantes por sua vez natildeo pode temer

ou condenar uma apropriaccedilatildeo utilitaacuteria de seus espaccedilos Trabalhar com os usos promovidos pelos

visitantes eacute considerar que as estrateacutegias autorizadas pelas chamadas visitas de estudo ou estudos

do meio36

ainda satildeo centrais tanto para museus quanto para as escolas Nesses casos os setores

educativos definem metodologias especiacuteficas para se explorar os espaccedilos visitados

principalmente um roteiro de observaccedilatildeo elaborado para os professores e que pretende orientar a

visita A visita escolar busca se diferenciar do lazer e do consumo que natildeo satildeo legitimados Os

locais a serem visitados satildeo predeterminados e obedecem a um cronograma e agendamento que

natildeo permitem mudanccedilas ou alternativas

O visitante de museus eacute interpelado duplamente por aquilo que o motiva individualmente

e pela oferta institucional Ele faz escolhas expressa gostos opiniotildees e negocia com os colegas

professores prestadores de serviccedilos Haacute em qualquer visita uma dimensatildeo de cidadania e de

consumo imbricadas

36 Um discurso muito presente nos planejamentos das visitas a locais como praccedilas e museus eacute da formaccedilatildeo de

competecircncias de leitura de fontes visuais ou cenaacuterio para conteuacutedos histoacutericos trabalhados em sala de aula Ver

Bittencourt 2009 p281

58

Um visitante natildeo se reduz a receptor passivo do quadro normativo referente oferecido

pelos museus e pelas escolas37

A negociaccedilatildeo de sentidos se daacute de maneira complexa Durante a

visita ele considera questotildees de acesso processos culturais num amplo quadro de significaccedilatildeo

que implica em novas praacuteticas interpretaccedilotildees e formas de uso dos bens culturais

A anaacutelise das praacuteticas portanto natildeo pode aceitar os limites dos modelos institucionais e

nem a correlaccedilatildeo inexoraacutevel entre capital cultural escolar e habitus como determinantes das

visitas38

Assim cada visita acontece em um quadro normativo referente de processos de

socializaccedilatildeo familiar e escolar e na complexidade da realidade empiacuterica de cada visitante Os

paradoxos da anaacutelise satildeo muacuteltiplos diante da complexidade do problema de pesquisa proposto

A mensagem expositiva dos museus segundo Asensio e Pol (2007) existe na medida em

que eacute recriada por cada visitante Ele a constroacutei a partir de seus conhecimentos preacutevios suas

habilidades cognitivas e sentindo o impacto expositivo atraveacutes de atitudes emoccedilotildees e afetos

Entender as experiecircncias de visita implica em questionar o que cada exposiccedilatildeo oferece ao

visitante e como o visitante distingue suas marcas suas convenccedilotildees e coacutedigos O visitante ao

fazer uma leitura do museu aponta para a poliacutetica inscrita em cada gesto da instituiccedilatildeo e para a

poeacutetica presente na exposiccedilatildeo e que lhe permite sempre manter em aberto o espaccedilo da

significaccedilatildeo

23- Praacuteticas de formaccedilatildeo produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos

Inverter a ordem dos discursos tomando o puacuteblico-visitante estudantes de graduaccedilatildeo em

Histoacuteria como os sujeitos dos quais se parte para investigar as interfaces entre as dinacircmicas

socioculturais de visita a museus e as dinacircmicas de formaccedilatildeo histoacuterica eacute uma contribuiccedilatildeo

pretendida por essa pesquisa

Duas referecircncias ajudam a estabelecer inicialmente contatos entre o tema das visitas a

museus e da formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes a questatildeo dos sujeitos e da produccedilatildeo de

conhecimentos Eacute possiacutevel compor uma anaacutelise da dinacircmica e diversidade das situaccedilotildees vividas

quando de uma visita e articulando-as a partir das elaboraccedilotildees dos sujeitos envolvidos nessas

37 Assim como os museus as escolas tambeacutem modificam suas abordagens das visitas a museus Ver dentre outros os

trabalhos de Denise Grinspum (2000) e Maria Cristina Carvalho (2005) 38

Ver discussatildeo de Luciana Sepuacutelveda Koptcke (2005 p190)

59

situaccedilotildees de formaccedilatildeo Para que essa articulaccedilatildeo aconteccedila o foco da investigaccedilatildeo satildeo os sentidos

elaborados pelos sujeitos a partir de dentro do proacuteprio processo de formaccedilatildeo em sua

materialidade e de seus significados para os envolvidos na interaccedilatildeo estudantes de graduaccedilatildeo em

Histoacuteria seus professores-formadores e os profissionais de museus

A hipoacutetese teoacuterica sobre a produccedilatildeo de conhecimentos a ser investigada relaciona-se ao

que Bernard Charlot (2000 p68) denomina de ldquonatureza epistecircmica dos saberes dos sujeitosrdquo

definidos como um conjunto de relaccedilotildees e processos nos quais o sujeito manteacutem a dinacircmica do

desejo da busca de si mesmo aberto ao outro e ao mundo e natildeo eacute reduzido agrave pulsatildeo em busca do

objeto O sujeito mobiliza-se reuacutene forccedilas e faz uso de si proacuteprio como recurso engaja-se em

atividades movimenta-se produz inteligibilidade e sentidos (CHARLOT 2000 p51-89)

As visitas ainda que marcadas por um ritmo escolar e pelas accedilotildees poliacuteticas prescritas por

cada museu permitem aos visitantes uma experiecircncia esteacutetica de muacuteltiplos deslocamentos Na

condiccedilatildeo de estudantes eacute possiacutevel experimentar um movimento que natildeo eacute aquele do cotidiano

escolar do trabalho pontuado pela cadecircncia dos calendaacuterios e horaacuterios Nos museus os tempos

dos processos pedagoacutegicos e de formaccedilatildeo se apresentam mais flexiacuteveis como uma poeacutetica O

visitante suspende o instante presente e pode ser tomado pelo jogo da multiplicidade de vozes

sentidos e papeacuteis Brincar de quebra-cabeccedila de detetive e jogar o jogo da memoacuteria eacute permitido e

estimulado em museus39

Haacute limites por certo nas possibilidades interpretativas das visitas escolares pois natildeo se

trata de um espaccedilo completamente livre de contingecircncias e aberto a experiecircncias do inteiramente

novo Ainda que extrapole os limites do ambiente escolar a visita a museus guarda muito das

caracteriacutesticas de ldquotrabalho escolarrdquo no sentido que lhe imprime Perrenoud (1994) como parte da

escolarizaccedilatildeo e dos saberes escolares Os visitantes estudantes e professores estatildeo duplamente

limitados pelas suas proacuteprias expectativas e objetivos e tambeacutem por aqueles dos agentes de

museus

Entende-se como narrativa dos museus os pontos de vista expressos na fala de seus

monitores materiais educativos e poliacuteticas dos setores educativos e exposiccedilotildees Em toda a praacutetica

museal se vecirc um visitante ideal e um discurso prescritivo sobre as visitas Os museus de modo

39 Esses satildeo jogos criados pelo Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a partir de seu acervo e utilizados em oficinas e

programas de formaccedilatildeo de professores

60

geral e os proacuteprios materiais instrutivos dirigidos aos professores quer por oacutergatildeos de regulaccedilatildeo e

formaccedilatildeo quer por uma bibliografia voltada agrave formaccedilatildeo para o ensino de histoacuteria40

esperam que

os visitantes venham preparados para seu discurso e a forma de expocirc-lo Espera-se que essa

estimulaccedilatildeo tenha sido feita previamente pelo professor que organiza a visita Eacute esperado tambeacutem

que o professor conheccedila o museu e suas exposiccedilotildees antes da visita com seus alunos que trabalhe

materiais e organize atividades em sala de aula sobre o que seraacute visto no museu Durante a visita

haacute a expectativa por parte de muitos museus que o professor oriente os comportamentos a serem

adotados indicando como os alunos devem atentar para as observaccedilotildees dos monitores

garantindo assim a ordem e ao mesmo tempo que a interaccedilatildeo aconteccedila sem atrapalhar o

trabalho daqueles que conduzem a visita O professor deve contemplar as obras e cuidar para que

os alunos tambeacutem o faccedilam Na volta agrave escola os agentes educativos dos museus sugerem que os

professores promovam discussotildees diaacutelogos com a turma recuperando o que foi visto observado

levantando novas hipoacuteteses curiosidades e aprofundando o tema ao mesmo tempo em que

auxilia na organizaccedilatildeo da construccedilatildeo da narrativa sobre a visita

Eacute necessaacuterio ponderar que mesmo com todas essas expectativas criadas em torno do

trabalho de visita escolar ou por elas existirem as visitas a museus podem ser pensadas como

fundadas em estrateacutegias construcionistas da cultura e do conhecimento agrave medida que os visitantes

negociam o sentido da mensagem expositiva de cada museu e de cada objeto de cultura exposto

O visitante constroacutei ele proacuteprio a partir de seus conhecimentos suas habilidades cognitivas e

sentindo o impacto expositivo em suas atitudes emoccedilotildees e afetos

Os museus satildeo espaccedilos puacuteblicos de conflitos embates entre poliacuteticas e esteacuteticas que

legitimam praacuteticas e vozes mas tambeacutem trocas entre grupos sociais diversos que buscam

expressar ali seus rituais e memoacuterias coletivas Defendo que o museu natildeo se reduz a simples

recurso pedagoacutegico ou fonte histoacuterica utilizado por professores juntamente com visitas teacutecnicas

a arquivos e bibliotecas Os objetivos da visita e de sua anaacutelise natildeo se limitam agrave discussatildeo sobre

praacuteticas de preservaccedilatildeo cujas finalidades seriam promover o contato e conhecimento de

experiecircncias bem sucedidas de preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Esse formato de programas

governamentais e privados associa atividades de promoccedilatildeo do patrimocircnio cultural com benefiacutecios

40 Algumas dessas visotildees e materiais seratildeo apresentados e discutidos nos capiacutetulos IV e V

61

econocircmicos e turismo sustentado ao considerar o turista um consumidor de lugares coleccedilotildees

saberes e fazeres culturais (MURTA E ALBANO 2005 p17)

Eacute imperativo ressalvar que nem toda a discussatildeo sobre a chamada educaccedilatildeo patrimonial

se reduz a praacuteticas prescritivas e usos instrumentais do patrimocircnio Desde a deacutecada de 1980 satildeo

inuacutemeras as iniciativas que trabalham com as dimensotildees da memoacuteria e da histoacuteria num sentido da

educaccedilatildeo das sensibilidades mais amplo41

O museu eacute concebido nessa pesquisa como um lugar metodoloacutegico siacutetio simboacutelico no

qual o visitante pode ser entendido como sujeito da accedilatildeo museoloacutegica agrave medida que atua

ativamente na significaccedilatildeo dos objetos durante as visitas agraves exposiccedilotildees e situaccedilotildees educativas

elaborando reflexotildees teoacuterico-conceituais sobre o proacuteprio museu e seu acervo e sobre a histoacuteria

Cabe dizer que para investigar os usos que satildeo feitos dos museus pelos visitantes visando

agrave produccedilatildeo de conhecimento eacute preciso abandonar a ideia de um puacuteblico receptor passivo que

apenas olha e natildeo age e buscar entender como se daacute a ressignificaccedilatildeo das poliacuteticas educativas

dos museus ouvindo o que pensam e fazem os sujeitos que participam ou participaram da vida do

objeto dentro e fora do museu e agregaram e agregam a ele significados Tanto aqueles que

atuam como agentes na ressignificaccedilatildeo dos objetos museoloacutegicos seus autoresprodutores e

diversos usuaacuterios ao longo de seu circuito e trajetoacuteria existencial ateacute a chegada no museu Todos

promovem o ldquocontexto musealrdquo pesquisadores que estudam os objetos conservadores

documentalistas museoacutelogos educadores e puacuteblico-visitante

Os proacuteprios museus hoje planejam accedilotildees educativas ldquointerativasrdquo que implicam um

compartilhamento mas muitas vezes natildeo dispensam as ldquomediaccedilotildeesrdquo de uma trilha explicitada

pelo idealizador de uma linguagem proacutepria ndash a da museologia Compreende-se que visitantes e

museus satildeo sujeitos singulares empenhados numa mesma praacutetica Mas ateacute que ponto a agenda de

expectativas do proacuteprio visitante e os embates especiacuteficos que cada aacuterea

disciplinartemaexposiccedilatildeo lhe reserva natildeo o reduzem a um papel mais modesto na relaccedilatildeo com a

produccedilatildeo do conhecimento Espera-se que o visitante reconheccedila e aplique o coacutedigo do emissor

ou agentes da accedilatildeo educativa dos museus ou que ele interprete selecione e se aproprie fazendo

outra produccedilatildeo a partir de seu lugar

41 Ver balanccedilo da discussatildeo sobre educaccedilatildeo patrimonial feita por Nara Ruacutebia de Carvalho Cunha tendo como

referecircncia inicial o Guia Baacutesico de Educaccedilatildeo Patrimonial publicado e distribuiacutedo pelo IPHAN em 1999 em

comparaccedilatildeo a outras praacuteticas como a do museu-escola do Museu da Inconfidecircncia Ver Cunha 2011 p67-81

62

Ao visitarem museus e entrarem em interaccedilatildeo com os artefatos ali organizados ndash os

objetos o convite agrave interatividade o tema e as miacutedias ndash os visitantes podem romper com os

papeacuteis jaacute determinados externamente e anteriores ao momento dessa interaccedilatildeo Estaacute muito

presente nas abordagens dos museus o risco da espetacularizaccedilatildeo ou uma visatildeo ingecircnua de que a

interatividade pode ser garantida de antematildeo pelo museu independentemente da accedilatildeo do

puacuteblico

As possibilidades de diaacutelogo com os museus datildeo-se para aleacutem dos aspectos da

comunicaccedilatildeo com o puacuteblico estabelecido pelas proacuteprias instituiccedilotildees (PEREIRA et al 2007) O

acervo de qualquer museu aiacute incluiacutedas as exposiccedilotildees reservas teacutecnicas seu sites materiais de

divulgaccedilatildeo e a proacutepria histoacuteria da constituiccedilatildeo dos acervos com seus diversos criteacuterios de

incorporaccedilatildeo preservaccedilatildeo restauraccedilatildeo exposiccedilatildeo e descarte interessam aos visitantes em

formaccedilatildeo Muitos museus ao trabalharem com pressupostos das teorias da recepccedilatildeo42

concebem

o sujeito em situaccedilatildeo de interaccedilatildeo mas natildeo assumem a interlocuccedilatildeo numa dupla face do processo

de produccedilatildeo de sentido Os museus satildeo os sujeitos comunicantes protagonistas enunciadores e

os visitantes satildeo os destinataacuterios A dicotomia em relaccedilatildeo aos dois poacutelos estaacute mantida Condiccedilotildees

diferentes de produccedilatildeo e condiccedilotildees de reconhecimento marcadas e jaacute estabelecidas pelas esferas

da produccedilatildeo e consumo

Enquanto a produccedilatildeo de conhecimentos ou de uma memoacuteria histoacuterica eacute legitimada

poliacutetica e esteticamente como proacutepria ao campo museal o visitante natildeo eacute reconhecido como parte

dessa produccedilatildeo de sentidos Ele apenas recebe passivamente esse saber especializado O

patrimocircnio cultural eacute aquilo que estaacute laacute no museu e que deve ser reconhecido ou apropriado pelos

visitantes O museu eacute lugar de memoacuteria instituiacuteda da cultura material a ser preservada43

Em muitos museus o professor eacute considerado parte do bloco da audiecircncia denominado

ldquopuacuteblico escolarrdquo Natildeo existem accedilotildees especiacuteficas voltadas para o professor Em geral seu papel

seraacute ajudar na mediaccedilatildeo com os estudantes nas visitas programadas pelos agentes dos museus

Ele natildeo participa da elaboraccedilatildeo da oferta de serviccedilos dos museus escolha de percursos

abordagem conceitual As instituiccedilotildees museais em geral hierarquizam e triangulam a mediaccedilatildeo

42 Ver ESCOSTEGUY 2008

43 Autores como Maacuterio Chagas (2003 p32) tratam da vinculaccedilatildeo entre a noccedilatildeo de museu e patrimocircnio considerando

que o sentido de preservaccedilatildeo e de posse estaria na raiz tanto da noccedilatildeo de patrimocircnio quanto no museu como

instituiccedilatildeo

63

Eacute preciso um guia do proacuteprio museu para decifrar os coacutedigos do patrimocircnio O professor

responsaacutevel pelos alunos recebe o ldquopacoterdquo oferecido pelos museus Ele o aceita o rejeita

tambeacutem em bloco

A accedilatildeo educativa dentro de muitos museus contemporacircneos eacute vista como parte de suas

funccedilotildees de comunicaccedilatildeo A formaccedilatildeo natildeo tem o mesmo lugar ou status das atividades de

pesquisa e preservaccedilatildeo nas definiccedilotildees oficiais de museu A mediaccedilatildeo tambeacutem eacute vista como uma

funccedilatildeo didaacutetica ou de marketing sem estatuto epistemoloacutegico proacuteprio uma funccedilatildeo de

transposiccedilatildeo e recontextualizaccedilatildeo do saber criada diretamente pelo museu

24- Visitas escolares e visitantes marcas visiacuteveis de historicidade

Bernard Lahire em Homem Plural os determinantes da accedilatildeo (2002) apresenta uma criacutetica

agraves teorias que defendem a homogeneizaccedilatildeo e a unidade do ator e da cultura e defende uma

perspectiva de entendimento do ator social na pluralidade dos mundos e das experiecircncias

contemporacircneas Lahire argumenta que os princiacutepios de socializaccedilatildeo satildeo heterogecircneos e

contraditoacuterios e que vivemos numa multipertenccedila a mundos e submundos sociais nem sempre

compatiacuteveis entre eles e agraves vezes conflituosos (LARIHE 2002 p32)

Para Lahire (2002) natildeo existem configuraccedilotildees sociais homogecircneas tanto cultural quanto

moral e ldquopoucos satildeo os casos que permitiriam falar de um habitus familiar coerente produtor de

disposiccedilotildees gerais inteiramente orientadas na mesma direccedilatildeordquo Os valores simboacutelicos os

esquemas de accedilatildeo introjetados e as praacuteticas satildeo diferentes maneiras de dizer ver fazer e sentir

os repertoacuterios de esquemas de accedilatildeo (de haacutebitos) satildeo conjuntos de siacutenteses de

experiecircncias sociais que foram construiacutedasincorporadas durante a socializaccedilatildeo anterior

nos acircmbitos sociais limitadosdelimitados e aquilo que cada ator adquire

progressivamente e mais ou menos completamente satildeo haacutebitos como sentidos de

pertenccedila contextual (relativa) de terem sido postos em praacutetica Aprendecompreende que

aquilo que se faz e se diz em tal contexto natildeo se faz nem se diz em outro contexto (LAHIRE 2002 p37)

As travessias no espaccedilo social e as matrizes de socialializaccedilatildeo satildeo contraditoacuterias As

visitas aos museus podem ser entendidas como uma dessas travessias entre dois mundos Uma

situaccedilatildeo de encontro cultural forccedilado Um deslocamento do espaccedilo da escola para o espaccedilo do

museu Nesse novo cenaacuterio ou no momento presente da visita os estatutos culturais dos

64

visitantes diluem-se parcialmente Os visitantes reconhecem a visatildeo de histoacuteria dominante no

museu e podem em um segundo movimento recorrer a outros fundamentos historiograacuteficos para

analisar tal estrutura e confrontar com analogias as duas configuraccedilotildees o seu proacuteprio lugar e o

lugar da exposiccedilatildeo (museu)

Lahire (2002) considera que o presente tem mais peso na explicaccedilatildeo dos comportamentos

praacuteticas e condutas se os atores satildeo plurais O passado estaacute aberto de modo diferente segundo a

natureza e a configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo presente A questatildeo central eacute discutir como as experiecircncias

satildeo incorporadas mobilizadas convocadas e despertadas pela situaccedilatildeo presente Ou descrever de

que maneira a configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo presente tecircm um peso na criaccedilatildeo de praacuteticas

A escolha de mais um museu e portanto a anaacutelise simultacircnea de mais de uma visita tem

por finalidade investigar marcas especiacuteficas dessas experiecircncias Assim pode-se encontrar nos

relatos de um mesmo visitante mudanccedilas que dizem respeito agrave adaptaccedilatildeo fuga resistecircncia

inibiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos diferentes ambientes visitados Tambeacutem eacute possiacutevel discutir em que

medida os distintos ambientes que o visitante eacute levado a atravessar ativam ou inibem suas

competecircncias habilidades saberes conhecimentos maneiras de dizer e fazer durante as visitas

Dessa maneira a repeticcedilatildeo de visitas ou a visita a diferentes museus reconhece que tal

estrateacutegia pode ter um efeito positivo pois antecipa possibilidades interpretativas do visitante que

constroacutei paracircmetros de interpretaccedilatildeo A visita a mais de um museu causa certa previsibilidade

gera certas expectativas que orientam e selecionam os sentidos produzidos pelos visitantes

A escolha desses visitantes e museus e natildeo outros configurou-se ao longo da pesquisa de

doutorado iniciada em 2008 e foi posterior ao momento das visitas efetivamente realizadas pelo

grupo de estudantes A seleccedilatildeo das situaccedilotildees concretas de visita para a anaacutelise se deu diante de

um repertoacuterio mais amplo de museus visitados pelo grupo ao longo dos quatro anos de formaccedilatildeo

e que possibilitava outras escolhas e anaacutelises

Ao longo do ano de 2008 foram desencadeados trecircs movimentos simultacircneos de produccedilatildeo

da materialidade das visitas Um levantamento da produccedilatildeo dos estudantes jaacute existente na

instituiccedilatildeo formadora ndash a Faculdade de Pedro Leopoldo (FIPEL) ndash sobre as vaacuterias visitas

realizadas entre 1999 e 2008 Em seguida a elaboraccedilatildeo de um inventaacuterio do perfil dos estudantes

de uma das turmas de Licenciatura em Histoacuteria (Anexo A) e terceiro a realizaccedilatildeo de uma

65

entrevista coletiva no formato de grupo focal com os alunos da turma 2005-2008 dispostos a

colaborar com a pesquisa para avaliaccedilatildeo da praacutetica de visitas a museus (Anexo B)

Apoacutes levantamento preliminar dos registros escritos e fotograacuteficos44

elaborados pelos

estudantes da FIPEL arquivados na proacutepria instituiccedilatildeo formadora foi necessaacuterio redefinir

recortes desse conjunto de fontes documentais Tanto os suportes elaborados posteriormente

quanto estrateacutegias hipoacuteteses de trabalho e categorias de anaacutelise partiram dessa primeira leitura

documental das praacuteticas de formaccedilatildeo

A sistematizaccedilatildeo do perfil dos estudantes de uma das turmas de Licenciatura em Histoacuteria

permitiu caracterizar melhor o proacuteprio grupo e a praacutetica de visitas da instituiccedilatildeo O inqueacuterito

estava dividido em trecircs partes A primeira preocupou-se com dados gerais como idade sexo

atividade remunerada renda familiar A segunda trazia questotildees relativas agrave praacutetica de visitas a

museus e uma terceira que aprofundava as situaccedilotildees de visita tendo em vista imagens e conceitos

de museu memoacuteria patrimocircnio e uma avaliaccedilatildeo dos proacuteprios museus visitados (Anexo A) Esse

levantamento depois de respondido individualmente sem identificaccedilatildeo de nomes foi processado

na forma de graacuteficos possibilitando uma visualizaccedilatildeo dos visitantes como um grupo e as

experiecircncias de visita na instituiccedilatildeo formadora como um conjunto (Anexo B)

O segundo suporte para a materialidade das visitas e visitantes foi uma entrevista coletiva

no formato de grupo focal com os alunos da turma 2005-2008 O debate com o grupo visava

aprofundar e complementar elementos identificados no inventaacuterio e que seriam melhor abordados

na forma da oralidade e da discussatildeo coletiva A decisatildeo metodoloacutegica em produzir esse tipo de

registro para a pesquisa se deu no momento de definiccedilatildeo no recorte empiacuterico da mostra de

visitantes As duacutevidas eram muitas jaacute que se tinha um variado repertoacuterio de relatos individuais e

mesmo algumas siacutenteses produzidas pelas turmas Faltava definir um grupo de referecircncia para a

anaacutelise das visitas e sistematizar uma meta-reflexatildeo dos visitantes sobre o conjunto das visitas e

seus efeitos formativos Essa forma de registro oral (grupo focal) foi utilizada antes da uacuteltima

44 Para Boris Kossoy (2011) a abordagem da fotografia como documento iconograacutefico deve considerar os enredos

culturais que lhe datildeo sentido e natildeo se limitar agrave questotildees teacutecnicas (imagens teacutecnicas) Eacute preciso demonstrar as

construccedilotildees mentais e culturais que datildeo corpo agraves imagens e aprender a desmontaacute-las Disponiacutevel em lt

httpluzeestilowordpresscom20100328entrevista-com-boris-kossoygtAcesso em 31 de marccedilo de 2011 Ver

tambeacutem a discussatildeo de imagem associada agrave narrativa ldquoo quadro narra e a narrativa mostrardquo (RICOEUR 2007

p281)

66

visita realizada pelo grupo ao Rio de Janeiro O debate contou com a participaccedilatildeo de nove

estudantes e foi transcrito As falas foram confrontadas tanto com os relatos anteriores da visita

ao Museu do Escravo (2006) quanto com o trabalho realizado posteriormente agrave visitaccedilatildeo ao

Museu Histoacuterico Nacional (2008) (Anexo C)

Identificar entre os puacuteblicos de museus um conjunto de visitantes e selecionaacute-los para

anaacutelise foi em grande medida organizar estrateacutegias de visibilidade destes visitantes reais Os

criteacuterios de constituiccedilatildeo do corpus documental para a pesquisa foram circunstanciais e definidos

simultaneamente agraves leituras teoacutericas e metodoloacutegicas O visitante historiado eacute uma situaccedilatildeo

relacional uma seacuterie de condiccedilotildees no espaccedilo-tempo como o fato de serem matriculados em uma

mesma instituiccedilatildeo de ensino superior disporem de tempo para viajar recursos financeiros e

disponibilidade para relatar suas experiecircncias de visita

Um dos criteacuterios de escolha dos dois museus apresentados na anaacutelise ndash o Museu do

Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional ndash foi baseado na avaliaccedilatildeo da potecircncia patrimonial de

cada um deles Natildeo era viaacutevel trabalhar com um amplo corpus documental que se constituiacutera

sobre as visitas e visitantes e a seleccedilatildeo implicava em cortes que mantivessem a riqueza da

documentaccedilatildeo produzida Os visitantes assim como os museus visitados constituem coleccedilotildees de

cultura material e as exibem de forma a comunicar sentidos e fazer circular a cultura Os dois

ldquoacervos documentaisrdquo das visitas elaboradas na perspectiva do grupo de visitantes e dos

museus satildeo confrontados

Enquanto os museus possuem criteacuterios de legitimaccedilatildeo da produccedilatildeo da cultura instituiacutedos

a escolha pela anaacutelise da produccedilatildeo feita pelos estudantes tem a possibilidade de ampliar o circuito

da cultura escolar para aleacutem de seus consumidoressujeitos habituais O processo de formaccedilatildeo de

visitantes de museus emerge dos lugares institucionais como a escola e o museu mas operam

uma experiecircncia pedagoacutegica mais abrangente e dispersa

Os relatos escritos e as fotografias satildeo considerados nessa pesquisa como maneiras de dar

significado agraves visitas vivenciadas durante o curso de graduaccedilatildeo em histoacuteria Na elaboraccedilatildeo dos

relatoacuterios os estudantes reconfiguram o percurso da visita reelaboram suas impressotildees

sentimentos e conhecimentos sobre o museu visitado Nos relatos escritos e fotograacuteficos

constroem ldquoexperiecircncias esteacuteticasrdquo conformando

67

estruturas cognitivas quadros normativos marcas de discriminaccedilatildeo e criteacuterios de

avaliaccedilatildeo modos de apreensatildeo do tempo regras de escolha modos de representaccedilatildeo e

esquemas de accedilatildeo jogos de papeacuteis e de categorias da praacutetica afirmaccedilotildees consideradas

verdadeiras e normas tidas por justas crenccedilas e figuraccedilotildees (GUIMARAtildeES E LEAL

2008 p12)

Os visitantes estabelecem modos de significar o vivido de transformar o fato em evento

ou ainda de conformar uma memoacuteria social (RICOEUR 2000) A experiecircncia de visita pode ser

pensada no sentido indicado por Vidal (2010 p726) quando se refere agrave docecircncia como

experiecircncia coletiva

as experiecircncias apesar de uacutenicas natildeo satildeo individuais Remetem a modos coletivos de

entender e validar a docecircncia Indiciam expectativas geracionais constituiacutedas na cultura

nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo na convivecircncia cotidiana com colegas e comunidade e nos

vaacuterios percursos de escolarizaccedilatildeo seguidos (VIDAL 2010 p726)

Os relatos de visita considerados como fontes e objeto de pesquisa apresentam

possibilidades de abordagem e tambeacutem mostram limites agrave anaacutelise Aquilo que aparece no texto da

aluna destacado no iniacutecio do primeiro capiacutetulo como ldquotiacutepicordquo eacute em grande medida um repertoacuterio

repetitivo que se constitui como um ldquogecircnerordquo Nesses relatos tanto a instituiccedilatildeo formadora

quanto cada museu visitado tem um papel significativo para a produccedilatildeo dos relatos Esse eacute um

primeiro ponto a ser considerado na anaacutelise Cada relato existe por estiacutemulos e intenccedilotildees de

produccedilatildeo vindos natildeo diretamente dos sujeitos que como autores resolvem de maneira

espontacircnea registrar suas memoacuterias mas como parte da dinacircmica de formaccedilatildeo acadecircmica e

disciplinas curriculares As escolhas e motivos das visitas aos museus satildeo estabelecidos no

interior do curso de licenciatura em Histoacuteria Haacute tambeacutem um segundo limite e implicaccedilatildeo na

produccedilatildeo dos relatos que eacute a condiccedilatildeo de avaliar a experiecircncia de visita de dentro da situaccedilatildeo

educativa Eacute preciso considerar essa dupla implicaccedilatildeo e explicitar que eu na condiccedilatildeo de

professora da instituiccedilatildeo formadora me encontro diretamente envolvida nesse primeiro

movimento de produccedilatildeo dos registros e elaboraccedilatildeo de uma primeira camada de testemunhos dos

visitantes

Somado ao primeiro limite dos relatos marcado pela historicidade das visitas e horizonte

de expectativa dos visitantes apresenta-se outro de caraacuteter diverso Assumir as marcas de

subjetividade entendidas como os sentidos atribuiacutedos agraves narrativas por cada visitante que se

coloca como autor de suas memoacuterias eacute correr o risco de expor os sujeitos concretos julgando

68

suas atitudes Vale esclarecer que o visitante faz escolhas estabelecendo uma pertinecircncia entre o

vivido e as referecircncias que lhes foram apresentadas pelos acervos e exposiccedilotildees dos museus mas

cria descompassos45

com relaccedilatildeo agraves rotinas e dinacircmicas estabelecidas pelo grupo que acompanha

Outro limite aparente das fontes eacute o apagamento das lembranccedilas ou a memoacuteria entendida

como recordaccedilatildeo As praacuteticas educativas como as visitas aos museus tem uma permanecircncia que

se constroacutei pelos conteuacutedos culturais que engendram Entretanto haacute uma fragilidade dos relatos

de visita onde se destaca muito da instrumentalidade das praacuteticas e das formas que eles adquirem

no acircmbito da cultura escolar

O relato de visita eacute marcado por esse limite da accedilatildeo contra o esquecimento um texto

coletivo que marca as histoacuterias comuns as semelhanccedilas do vivido e a recriaccedilatildeo das lembranccedilas

em memoacuterias coletivas Haacute o risco da banalizaccedilatildeo da experiecircncia uma vez que as narrativas

correspondem a accedilotildees de reflexatildeo produccedilatildeo de conhecimento histoacuterico e mesmo de um excesso

de expectativas de troca de acuacutemulo e de valorizaccedilatildeo da accedilatildeo empreendida de forma

retrospectiva

Por outro lado o uso dos relatos como fonte e objeto de pesquisa apresentam

possibilidades de romper com algumas prescriccedilotildees A primeira delas eacute atentar para uma dimensatildeo

do testemunho como uma funccedilatildeo de ouvir a narrativa do outro instaurando uma nova histoacuteria do

presente Para Gagnebin (2006) essa operaccedilatildeo de compreender o testemunho engendra a questatildeo

de que o historiador natildeo eacute apenas o coletor dessas lembranccedilas ele realiza uma operaccedilatildeo de

ldquorememoraccedilatildeordquo no lugar da ldquocomemoraccedilatildeordquo Sua atividade historiadora natildeo eacute repetir as

lembranccedilas mas atentar para o esquecido A rememoraccedilatildeo significa atenccedilatildeo com o presente com

as ressurgecircncias do passado no presente e com a accedilatildeo A testemunha natildeo eacute aquele que viu com os

proacuteprios olhos mas tambeacutem aquele que ao ouvir a narraccedilatildeo do outro a aceita e a toma de forma

reflexiva natildeo ajudando a repeti-la indefinidamente mas ousando inventar outra histoacuteria inventar

o presente (GAGNEBIN 2006 p 55-57)

A visita ao museu se constitui em um evento dialoacutegico e polifocircnico que promove sentidos

na interaccedilatildeo ou co-presenccedila dos diversos sujeitos Justamente por esse efeito de interaccedilatildeo

promove diferentes tipos de trabalho com a memoacuteria Pode-se dizer que os relatos das visitas satildeo

45 Parece ser o caso de uma aluna que faz referecircncia agrave existecircncia de uma denominada ldquoSala da Marquesa de Santosrdquo

durante a visita ao Museu Histoacuterico Nacional

69

camadas de memoacuteria-histoacuteria nos quais eacute possiacutevel investigar as formas e conteuacutedos destas

praacuteticas culturais e a construccedilatildeo e uso dessas praacuteticas no ensino de histoacuteria e na formaccedilatildeo

histoacuterica

Os relatos das visitas podem ser utilizados como um iacutendice de atualizaccedilatildeo da memoacuteria

Como possibilidade de reconhecer que pessoas comuns (estudantes e professores) estabelecem

instrumentos capazes de intercambiar experiecircncias temporais complexas e mantecirc-las vivas em

situaccedilotildees de aprendizagem histoacuterica

Os relatos permitem investigar o papel que a memoacuteria cultural e o pensamento histoacuterico

tiveram no processo de formaccedilatildeo de diferentes identidades coletivas A reserva de histoacuterias

trazidas pelos relatos podem vir a ser histoacuterias coletivas narrativas que se voltam para o

coletivo A formaccedilatildeo como processo criativo de devir plural (RUumlSEN 2007 p165)

O destaque no trabalho para dois museus diferentes visitados pelo mesmo grupo de

estudantes tem por objetivo comparar algumas dinacircmicas que a anaacutelise de apenas um caso ou

museu natildeo permitiria Nos diversos museus visitados pelo grupo de estudantes eacute possiacutevel propor

problemaacuteticas muacuteltiplas e complexas sintetizadas pelos momentos de presenccedila dos visitantes

A estrateacutegia de abordagem do material empiacuterico produzido pelos visitantes que satildeo os

relatos escritos e as fotografias comporta natildeo uma preocupaccedilatildeo com a quantidade de variaacuteveis

mas com a variedade de argumentos alternativos levantados ateacute mesmo por um uacutenico estudante

que mobiliza diferentes elementos para dar sentido a visita

Outro aspecto considerado eacute que os relatos se produzem no interior de uma relaccedilatildeo

pedagoacutegica Parte do trabalho escolar a escrita dos relatoacuterios tem por objetivo atender a

exigecircncias e formalidades da cultura escolar Poreacutem na anaacutelise dos relatos haacute uma migraccedilatildeo

desse lugar inicial de produccedilatildeo que visava agrave leitura pelo professor que orientou eou organizou a

visita ao museu para a condiccedilatildeo de fonte de pesquisa mais ampla no campo da Educaccedilatildeo Das

situaccedilotildees de visita existentes em uma determinada instituiccedilatildeo escolar (Faculdade) escolhida

amplia-se o caraacuteter documental do relato e para pensar de maneira mais ampla o papel das

visitas a museus em relaccedilatildeo ao Ensino de Histoacuteria e agrave criaccedilatildeo de uma memoacuteria histoacuterica

Em alguma medida os visitantes na condiccedilatildeo de produtores dos relatos se fixam num

determinado momento da produccedilatildeo Haacute intersubjetividade em toda a elaboraccedilatildeo dos relatos As

observaccedilotildees satildeo projetadas para um professor que tambeacutem participou presencialmente da visita

70

Cada museu com suas exposiccedilotildees e propostas educativas satildeo acionados e mobilizados Por fim o

ato ao mesmo tempo coletivo e individual de percorrer as salas dos museus se coloca como forccedila

que emoldura cada situaccedilatildeo de visita Poreacutem a circulaccedilatildeo desses relatos em outros espaccedilos como

os da anaacutelise empreendida pela pesquisa permite forjar uma ampliaccedilatildeo de sentidos iniciais

Comparar dois momentos de visita em dois espaccedilos distintos permite conexotildees parciais entre os

processos e os lugares em anaacutelise A anaacutelise de cada situaccedilatildeo se faz por analogias e na tomada de

posiccedilatildeo Cada pessoa que relata a faz de maneira incorporada e localizada46

Como afirma Boaventura Souza Santos em texto lido pela turma do curso de licenciatura

em Histoacuteria que relata suas visitas escrever sobre algo implica em posicionar-se em adotar uma

perspectiva E em sua proposta de escrita cientiacutefica o sujeito deve participar se solidarizar ter

prazer Para Santos o conhecimento eacute emancipaccedilatildeo auto-conhecimento postura criacutetica e

reflexiva de avaliaccedilatildeo e reciprocidade (SANTOS 1995 p18-19)

A primeira implicaccedilatildeo de se considerar de maneira situada o conhecimento produzido nas

situaccedilotildees de visita eacute a opccedilatildeo pelos conhecimentos alternativos e dispersos e uma postura de

diaacutelogo que abrange a incompletude cultural natildeo como uma falta mas como parte de todas as

culturas A circulaccedilatildeo dos visitantes pelos muacuteltiplos locais tambeacutem amplia as situaccedilotildees de

formaccedilatildeo cultural multiplica as possibilidades de que diferentes museus podem propiciar a

desestabilizaccedilatildeo de visotildees hegemocircnicas acerca de temas trabalhados no Ensino de Histoacuteria como

a escravidatildeo os personagens histoacutericos e as comemoraccedilotildees O trabalho com visitas a diferentes

museus tambeacutem possibilita tomar trajetoacuterias inesperadas para traccedilar uma formaccedilatildeo cultural

considerada nos proacuteprios limites da experiecircncia compartilhada pelos visitantes A abrangecircncia da

anaacutelise se daraacute agrave medida que estabelecer conexotildees associaccedilotildees relaccedilotildees inesperadas e

aproximaccedilotildees

Os relatos escritos e fotograacuteficos assim como o Grupo focal e os questionaacuterios

individuais possibilitam confrontar como os visitantes elaboram do ponto de vista cognitivo e

simboacutelico atravessam cortam suas ancoragens e circulam entre diferentes mundos como os dos

museus do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional dentre outros

46 Mendes (2003) Perguntar e observar natildeo basta eacute preciso analisar algumas reflexotildees metodoloacutegicas Oficina do

CES 194 Disponiacutevel em lthttpsestudogeralsibucptjspuihandle1031611056gt Acesso em 06 ab 2011

71

Um primeiro sentido da produccedilatildeo dos relatos se daacute numa situaccedilatildeo relacional eacute a

comunicaccedilatildeo e o partilhamento dos sentidos com o professorleitor e os colegas Assim o relato

se faz na riqueza dialoacutegica de vozes presentes e ausentes Ao construir uma narrativa cada

visitante reconstitui o ineditismo da sua visita revive experiecircncias e surpreende-se ele proacuteprio

com suas reaccedilotildees

Ao se conceber os relatos como fonte documental prioritaacuteria agrave pesquisa foram definidos

alguns focos de investigaccedilatildeo O primeiro eacute atentar na leitura dos relatos para os tipos de recursos

que os visitantes mobilizam para argumentar e responder aos dilemas enfrentados durante a

visita Como se posicionam frente aos objetos apresentados pelos museus e como ancoram suas

narrativas pessoais frente agraves narrativas dos museus Haacute um grau de convergecircncia entre a memoacuteria

coletiva exposta nos museus e as memoacuterias pessoais Haacute dimensotildees consensuais ou divergentes e

quais argumentos fundamentam tais posiccedilotildees

Os relatos permitem mudar o foco da visita do museu e da escola para o visitante

Considerando o relato a visita pode ser ldquoguiadardquo pelos visitantes seguir o visitante pelos seus

percursos perspectivas interesses e escolhas Se durante o tempo de realizaccedilatildeo da visita na

condiccedilatildeo de professora fui tambeacutem visitante agora na anaacutelise dos relatos posso propor outros

recortes agrave visita e ao museu a partir do lugar de pesquisadora

25- Relatos e fotografias registros do patrimocircnio dos visitantes

Apresento a seguir um perfil dos visitantes elaborado a partir dos dados produzidos entre

os estudantes do curso de Licenciatura em Histoacuteria Escolhi dentre os vaacuterios estudantes e visitas

que foram realizadas ao longo do periacuteodo que trabalhei na Faculdade de Pedro Leopoldo

(FIPEL) estudantes que se prontificaram a ceder suas produccedilotildees textuais e fotografias

voluntariamente Um total de dezessete estudantes compotildee o universo selecionado para anaacutelise

Pude acompanhar esse grupo desde o ingresso na Faculdade ateacute a formatura e as visitas que

realizaram ao longo dessa trajetoacuteria de formaccedilatildeo

Deste grupo de estudantes 11 satildeo do sexo feminino e 06 do sexo masculino Quanto agrave

idade quatorze estudantes tinham entre 21 e 26 anos quando responderam ao instrumento de

pesquisa e os trecircs restantes tinham mais de 28 anos de idade Quando agrave profissatildeo apenas um

72

estudante declarou natildeo exercer atividade remunerada Em relaccedilatildeo agrave declaraccedilatildeo quanto agrave renda

familiar apenas um afirmou possuir renda maior que 10 salaacuterios miacutenimos seis estudantes

declararam entre 4 a 6 salaacuterios miacutenimos e dez entre 7 e 9 salaacuterios miacutenimos

Figura 6 Turma do 4ordm periacuteodo de Histoacuteria Faculdade Pedro

Leopoldo Fazenda Boa Esperanccedila Belo Vale MG 2006

Para este grupo de estudantes se natildeo fosse a praacutetica de visitas a museus promovida pela

Faculdade dificilmente frequumlentariam regularmente esse tipo de instituiccedilatildeo cultural Primeiro a

distacircncia geograacutefica de suas residecircncias desses bens coletivos impede visitas regulares Eles

residem em sua maioria quase absoluta em cidades da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte e

cidades proacuteximas sendo que apenas um desses municiacutepios possui museu Trabalham e estudam e

apenas um estudante citou o preccedilocusto das viagens como dificuldade para realizaccedilatildeo das visitas

Natildeo encontramos assim uma correlaccedilatildeo entre renda local de moradia e primeira visita a museus

A escola eacute a grande responsaacutevel pela promoccedilatildeo do conceito de museu que esse grupo

possui A visita escolar aparece como a grande agenciadora do acesso aos museus Nos trecircs

momentos em que satildeo questionados sobre a visita a museus primeiro para indicar a ocasiatildeo da

73

visita segundo com quem foi a primeira vez em um museu e terceiro com quem foi ao museu

nos trecircs uacuteltimos anos a escola aparece como a grande promotora da praacutetica de visita (Ver

graacuteficos no anexo B)

Considerando os dados obtidos permanece a duacutevida sobre qual eacute a escola que promove a

visita escolar ao museu se a escola baacutesica ou a faculdade As afirmaccedilotildees de Warlerson de Melo

Simpliacutecio no grupo focal sobre suas experiecircncias de visita a museus alimenta a duacutevida sobre a

escola que promove a visita Warlerson declara que havia visitado o Museu de Guimaratildees Rosa

quando cursava a 8ordf Seacuterie depois passou na Gruta de Maquineacute que ele natildeo sabe bem se pode ser

citada como Museu Ele natildeo se lembra bem do que foi falado laacute soacute sabe que gostou Visitou e

gostou tambeacutem de uma igreja em Congonhas o Museu de Artes e Ofiacutecios em Belo Horizonte

Viu como se dava o processo de trabalho de uma eacutepoca que natildeo lembra bem qual (ldquoa memoacuteria taacute

curtardquo brinca o estudante) Gostou tambeacutem do Museu do Escravo ldquoeu gosto muito dessa

ligaccedilatildeo do Brasil com a Aacutefrica e gosto muito de estudar essa parte principalmente na religiatildeordquo

(Warlerson de Melo Simpliacutecio Grupo Focal 2008)

O nuacutemero de vezes que Warlerson visita museus eacute confirmado pelas informaccedilotildees do

grupo que declara ter ido a mais de quatro museus e cita os trecircs uacuteltimos visitados Os mais citados

satildeo o Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto em Belo Horizonte o Museu de Artes e Ofiacutecios tambeacutem

em BH e o Museu Imperial de Petroacutepolis Os trecircs museus listados foram locais visitados pela

turma em trabalhos de campo promovidos pelo curso de licenciatura em Histoacuteria

Ao identificarem os museus visitados e a frequumlecircncia a museus vecirc-se novamente que a

visita organizada pela escola aparece como a responsaacutevel pela primeira ida ao museu Ou seja a

primeira vez que visitaram um museu foi durante o curso superior em Histoacuteria Informaccedilotildees

sobre os trecircs uacuteltimos museus visitados tambeacutem permitem identificar outras instituiccedilotildees lembradas

pela turma Museu de Histoacuteria Natural da PUC-MG e Museu do Escravo ambos tambeacutem

visitados em trabalhos com a turma O Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto foi a primeira visita

realizada pela turma quando estavam no primeiro ano do curso Talvez sua lembranccedila por quase

todo o grupo esteja associada a esse acontecimento o primeiro museu visitado

74

Diversos depoimentos47

enfatizam a importacircncia da visita ao Abiacutelio Barreto Fernando

Daniel Fraga Fonseca eacute o primeiro a falar

O Museu que eu mais gostei achei super interessante foi justamente na eacutepoca que a

gente tava entrando na Faculdade comeccedilando o curso de Histoacuteria noacutes fizemos uma

visita ao Museu Abiacutelio Barreto em BH Onde foi que quebrou um pouco aquela visatildeo

que a gente trazia da escola que na hora que fez aquela foi feito aquela dinacircmica explicando como eacute feita uma exposiccedilatildeo onde cada pessoa pode colocar aquilo que tava

com ele um laacutepis uma caneta ou um caderno e ali foi ensinado para a gente como fazer

uma exposiccedilatildeo como organizar uma exposiccedilatildeo como uma exposiccedilatildeo eacute organizada

Toda exposiccedilatildeo ela tem o ponto central aquilo que ela ta querendo mostrar aquilo que ta

querendo contar Todos esses aspectos foram explicados para a gente Achei super

interessante assim foi de grande valia pra gente como estudante de histoacuteria (Fernando

Daniel Fraga Fonseca Grupo Focal 2008)

Daniele Paulo Marques completa

Bem como o Fernando acabou de relatar o Museu Abiacutelio Barreto foi um dos primeiros

museus que gente chegou a visitar aqui na Faculdade e foi muito interessante porque eles

explicaram pra gente como eacute que eacute feita a seleccedilatildeo como eacute feita a organizaccedilatildeo desse

material como eacute feita a exposiccedilatildeo se essa exposiccedilatildeo eacute permanente ou natildeo Outro Museu

que tambeacutem foi interessante foi o Imperial em Petroacutepolis que a gente visitou Assim por

mais que assim foi muito bonito a gente natildeo teve um tempo para dialogar com as peccedilas

discutir comentar e agraves vezes se faz necessaacuterio quando se vai ao museu ter tempo para

dialogar questionar ter diaacutelogo porque isso acrescenta muito (Daniele Paulo Marques

Grupo Focal 2008)

Outros museus satildeo lembrados como o receacutem inaugurado Museu de Artes e Ofiacutecios mas a

comparaccedilatildeo aponta para o que eles mais se preocupam quando visitam um museu as exposiccedilotildees

embora seis estudantes natildeo definam claramente um foco para a visita

No grupo focal Frederico Levi Amorim faz um detalhamento de que descobriu na visita

ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto mais que suas exposiccedilotildees e como faz uso deste aprendizado

ao longo do curso inclusive na avaliaccedilatildeo de outros museus que visitou como o Museu do

Escravo

O que marcou muito tambeacutem foi a visita ao Abiacutelio Barreto por ter sido a primeira que a

gente fez na Faculdade eu jaacute tinha feito outras mas aqui na Faculdade foi a primeira E

logo depois quando eu comecei a fazer o Estaacutegio o que me chamou a bastante a atenccedilatildeo

foi a questatildeo da organizaccedilatildeo na hora de elaborar uma exposiccedilatildeo a quantidade de pessoas

que estatildeo envolvidas como que a instituiccedilatildeo inteira se mobiliza em torno disso como eacute

47 A opccedilatildeo por apresentar trechos longos da transcriccedilatildeo do debate realizado pelo grupo de estudantes tem por

justificativa manter a loacutegica de argumentaccedilatildeo de cada participante e as marcas das interaccedilotildees entre os componentes e

a oralidade que constituem os relatos

75

muito seacuterio o trabalho que eles fazem quando tem que definir um tema para a exposiccedilatildeo

quais satildeo os materiais que vatildeo ser expostos Neacute assim a questatildeo de organizaccedilatildeo que me

marcou muito e voltando ao Museu do Escravo o que me chamou muito a atenccedilatildeo

tambeacutem foi isso que eu gostei muito do museu achei que tinha muita coisa bacana mas

achei que a exposiccedilatildeo tava muito saturada tinha tanta informaccedilatildeo que assim vocecirc tava

meio perdido ali dentro e achei que tinha ter uma linha cronoloacutegica alguma coisa que

pudesse ta direcionando o proacuteprio visitante para facilitar o entendimento da exposiccedilatildeo e

para que a gente pudesse absorver mais a informaccedilatildeo e pra que gente pudesse entender

tambeacutem o que a exposiccedilatildeo estava querendo falar (Frederico Levim Amorim Grupo

Focal 2008)

Alguns aspectos da avaliaccedilatildeo de Frederico Amorim sobre o Museu do Escravo satildeo

contestados por Weberton Fernandes da Costa mais agrave frente

(riso) A experiecircncia que me marcou assim foi ao Museu do Escravo Problema eacute o

seguinte porque mostrou assim o processo de escravidatildeo no Brasil como era

estruturado objetos que ao mesmo tempo () visatildeo que tinha do negro mostrando eles

simplesmente como objetos e colocou tipo assim () uma visatildeo negativa faltou assim

a cultura a danccedilaa comida natildeo mostrou o processo global A ideologia do sistema claro

que tinha na eacutepoca (Weberton Fernandes da Costa Grupo Focal 2008)

Os dados gerados pelo questionaacuterio permitem confrontar algumas afirmaccedilotildees expressas

oralmente pelo grupo e vice-versa No grupo focal as visitas satildeo apontadas como viagens de

conhecimento que ampliam horizontes e repertoacuterios culturais Os museus estatildeo relacionados ao

trabalho com as ldquofontes histoacutericasrdquo e agrave ldquopraacuteticardquo do professor Os estudantes dizem se interessar

pelos museus por conta de seus assuntos e exposiccedilotildees e natildeo pelo aspecto do lazer da diversatildeo

Quando solicitados a associar livremente trecircs palavras a museu a mais citada foi a palavra

ldquomemoacuteriardquo e a segunda ldquohistoacuteriardquo ldquoPassadordquo e ldquopreservaccedilatildeordquo aparecem em terceiro

ldquoConhecimentordquo ldquoculturardquo e ldquopatrimocircniordquo em quarto lugar na associaccedilatildeo de palavras a museu A

partir das palavras relacionadas as exposiccedilotildees e museus visitados podem ser imaginados como

uma alegoria do curriacuteculo Primeiro temos uma forma de exposiccedilatildeo do conhecimento e uma

seleccedilatildeo que obedece a um percurso ou roteiro e que se apresenta no formato de cenaacuterios Os

conteuacutedos dessa seleccedilatildeo feita pelos diferentes museus se datildeo na forma de saberes prescritos ou

seja legitimados socialmente como uma cultura da eacutepoca Essa concepccedilatildeo de cultura se

materializa num acervo exposto e preservado por cada instituiccedilatildeo

Se os visitantes associam a palavra conhecimento aos museus haacute o reconhecimento do

lugar da produccedilatildeo de cultura histoacuterica nos cenaacuterios organizados pelos museus e a hipoacutetese de que

essa produccedilatildeo de conhecimento se faz de maneira complementar com outros materiais de

76

pesquisa e instituiccedilotildees acadecircmicas De outro lado podemos comparar a exposiccedilatildeo e o museu

com os textos acadecircmicos Na lista do que se encontra em um museu aparecem na ordem

objetos cultura e documentos e fotografias em terceiro

Esse jogo de definir o museu com palavras e coisas aparentemente ingecircnuo indica

algumas categorias que foram retomadas nos relatos escritos e fotograacuteficos Para os visitantes o

Museu eacute memoacuteria e histoacuteria mas a memoacuteria natildeo eacute o passado Ela se materializa em objetos em

cultura documentos e fotografias Os museus satildeo agentes produtivos preservam conhecem

comemoram pesquisam dizem as narrativas dos visitantes no Museu do Escravo e no Museu

Histoacuterico Nacional

Por fim ao avaliarem os museus visitados natildeo temos muitas surpresas talvez o retorno ao

iniacutecio do questionaacuterio e agrave pergunta sobre o que eacute mesmo uma visita ao museu O que mais

agradou aos estudantes nos museus satildeo seus conteuacutedos e a organizaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo de uma organizaccedilatildeo proacutepria aos museus uma visualidade eacute reforccedilada em

diversos momentos pelos visitantes Haacute na forma de expor objetos e no trabalho dos museus algo

que interessa diretamente a esse grupo Outra questatildeo que chama a atenccedilatildeo eacute a imagem que criam

para a proacutepria visita Eles afirmam que a impressatildeo que tecircm quando deixam o museu eacute de que

saiacuteram de uma sala de aula ou de uma biblioteca

As duas imagens engendradas ndash sala de aula e biblioteca ndash estatildeo relacionadas agrave cultura

escolar entendida como um conjunto de praacuteticas teorias e normas que codificam formas de

regular sistemas linguagens e accedilotildees nos estabelecimentos educativos (ESCOLANO 2005 p42)

Considerando que nos espaccedilos da escola haacute interaccedilotildees e convergecircncias entre cultura empiacuterica

cultura acadecircmica e cultura poliacutetica as praacuteticas de visita satildeo marcadas pelas pautas e orientaccedilotildees

da cultura escolar e da cultura museal que tambeacutem se articula historicamente em suportes

especiacuteficos A pesquisadora Luciana Koptche aponta para essa aproximaccedilatildeo recente entre os

objetivos tecnologias dos museus e a cultura escolar Para a autora os museus contemporacircneos

situam-se entre a catedral a escola o foacuterum a feira e o mercado (KOPTCHE 2005 p189) Em

se tratando de visitas escolares a associaccedilatildeo mais direta era de se esperar eacute com a escola

Assim como os museus satildeo vistos como organizados esse grupo de visitantes tambeacutem se

apresenta de forma organizada aos museus A visita de turismo ou com familiares satildeo raras no

grupo Na visatildeo dos estudantes as visitas tecircm objetivos pedagoacutegicos de ampliar conhecimentos

77

mas ningueacutem aponta se sentiu algum desconforto durante as visitas Interessam-se pelos

conteuacutedos e assuntos das exposiccedilotildees e saem dos museus com a impressatildeo que saiacuteram de uma sala

de aula Fabiana Cristina dos Santos parece resumir o dilema ao analisar a visita ao Museu

Imperial

A experiecircncia em museu o que mais gostei e entre aspas natildeo gostei foi ao Museu

Imperial Gostei muito foi fantaacutestico o que natildeo gostei eacute que a nossa visita foi guiada foi

muito raacutepida e assim a gente natildeo pode ver com aquele olhar poder discutir poder ver o

lado criacutetico como que era e eles natildeo permitam isso laacute eles ficavam controlando O bom

foi vocecirc ter uma direccedilatildeo que se a gente tivesse perdido sozinho a gente natildeo ia saber

por onde comeccedilar a gente natildeo ia saber que direccedilatildeo mas o ruim eacute que eacute muito raacutepido e

natildeo te deixa dialogar com cada peccedila enfim (Fabiana Cristiana dos Santos Grupo focal

2008)

Fabiana Cristina dos Santos aparece na Figura 7 e parece aprisionada Olha atraveacutes da

janela e toma notas Estaacute acompanhada de um lado e de outro por seus colegas O visitante que

faz o registro fotograacutefico estaacute separado de Fabiana pelo vidro Ele estaacute ao lado dos objetos e sabe

que ela estaacute do outro lado da luz A luz refletida no vidro cria a barreira que natildeo permite ver

diretamente as peccedilas o que natildeo impede o diaacutelogo no jogo de espelhos

Figura 7 MARQUES Daniele Paulo Fotografia da visita a

Petroacutepolis Rio de Janeiro 2007

78

Outra visitante comenta a respeito da visita ao Museu Histoacuterico Nacional ldquoacredito que

mesmo em exposiccedilotildees que natildeo satildeo tatildeo boas podemos tirar ensinamentos para natildeo cometer os

erros cometidos por outras pessoasrdquo (Michelle Oliveira Xavier Visita ao MHN 2008)

Os visitantes apresentados acima ao entrarem em interaccedilatildeo com os artefatos culturais

organizados pelos museus rompem com os papeacuteis jaacute determinados externamente e anteriores ao

momento dessa interaccedilatildeo48

Tomar a ideia de ldquointeraccedilatildeordquo como um suposto um operador

analiacutetico parece possibilitar a integraccedilatildeo de perspectivas que natildeo separam os aspectos orais

escritos e visuais nos processos de produccedilatildeo de objetos culturais

A questatildeo central que permeia a pesquisa eacute a formaccedilatildeo dos sujeitos frente agrave experiecircncia

de contato com os museus Definir um grupo de visitantes em diferentes momentos de sua

formaccedilatildeo acadecircmica permite identificar marcas de sociabilidade e sensibilidades como referentes

na produccedilatildeo de conhecimentos histoacutericos O grupo se estabelece como ator ao assumir accedilotildees na

organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo das visitas e ao expressar categorias de avaliaccedilatildeo das praacuteticas de visita a

partir de um olhar proacuteprio da experiecircncia

Daniela Jacobucci ao analisar os programas de formaccedilatildeo continuada de professores

realizados por museus de ciecircncias em diversas regiotildees do paiacutes afirma que ldquoindependente da

proposta teoacuterico-metodoloacutegicardquo estes programas ldquooportunizam quatro tipos de experiecircncias aos

professores atualizaccedilatildeo de conteuacutedos produccedilatildeo de material didaacutetico assessoria didaacutetica e

socializaccedilatildeo de conhecimentosrdquo (JACOBUCCI 2010 p437) Os estudantes concordam sempre

haacute algo a aprender com a visita As fotografias a seguir (Figuras 8 9 e 10) configuram a visita ao

Museu do Escravo do ponto de vista de seus visitantes O recorte espacial proposto por Frederico

Amorim organiza a visita em vaacuterios planos de expressatildeo Na primeira foto (Figura 8) temos uma

pessoa do proacuteprio museu responsaacutevel pelas informaccedilotildees ao grupo de visitantes O tronco o

objeto central do paacutetio de exposiccedilatildeo estaacute ao fundo A monitora fala olhando para os visitantes e

de costas para o objeto

48 A ideia de museu como templo distante da experiecircncia de aprendizagem natildeo aparece com grande forccedila nos

relatos dos visitantes

79

Figura 8 AMORIM Frederico Levi Monitora do Museu do Escravo no

paacutetio central tendo ao fundo a senzala e o pelourinho Belo Vale-MG 2006

Na imagem seguinte (figura 9) a monitora estaacute agrave esquerda do espaccedilo geograacutefico Ela fala e

gesticula com as matildeos O foco satildeo os visitantes que se aproximaram do objeto e estatildeo em atitude

de escuta

Figura 9 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes ouve explicaccedilotildees da

monitora no paacutetio interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006

80

Na imagem seguinte (figura 10) o grupo maior jaacute se retirou e alguns alunos entre eles o

proacuteprio fotoacutegrafo se fazem registrar junto ao espaccedilo do objeto Tomam a experiecircncia vivida

externamente ndash o objeto imobilizado no espaccedilo do museu com a mediaccedilatildeo da monitora ndash como

uma paisagem um enquadramento O escravo no tronco de mesmo tamanho dos componentes do

grupo eacute centralizado e parece figurar como um dos estudantes que agora sorriem acredito de

prazer pela travessura que faziam

Figura 10 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes junto ao

tronco no paacutetio interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006

A hipoacutetese sobre a produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos nas visitas como a do Museu

do Escravo relaciona-se a um conjunto de relaccedilotildees e processos nos quais o sujeito manteacutem a

dinacircmica do desejo da busca de si mesmo aberto ao outro e ao mundo e natildeo eacute reduzido agrave pulsatildeo

em busca da satisfaccedilatildeo do objeto a ser consumido O sujeito mobiliza-se reuacutene forccedilas e faz uso

de si proacuteprio como recurso engaja-se em atividades movimenta-se produz inteligibilidade e

sentidos Ao colocarem-se ao lado da escultura os estudantes natildeo se identificam com o

sofrimento que representa os mortos mas compartilham a presenccedila uns dos outros nesse espaccedilo

que eacute vivo

81

A produccedilatildeo de conhecimentos que se configura a partir das praacuteticas de visita eacute uma

praacutetica cultural na qual os sujeitos se vecircem como capazes de reconfigurar algumas condiccedilotildees de

produccedilatildeo de saberes dominantes Os visitantes fazem a revisatildeo de conhecimentos tradicionais e

percebem pelos ldquoefeitos de sentidordquo e ldquoefeitos de presenccedilardquo uma nova disponibilidade de estar

no mundo e criar formas e conteuacutedos culturais distintos

As visitas ainda que marcadas pelo ritmo escolar e pelas accedilotildees poliacuteticas prescritas pelo

museu permitem aos visitantes uma experiecircncia sensiacutevel de muacuteltiplos deslocamentos Na

condiccedilatildeo de estudantes eacute possiacutevel experimentar um movimento que natildeo eacute aquele do cotidiano

escolar do trabalho pontuado pela cadecircncia dos calendaacuterios e horaacuterios Nos museus os tempos

dos processos pedagoacutegicos e de formaccedilatildeo se apresentam mais flexiacuteveis como uma poeacutetica O

visitante suspende o instante presente e pode ser tomado pelo jogo da multiplicidade de vozes

sentidos e papeacuteis Brincar de quebra-cabeccedila de detetive e jogar o jogo da memoacuteria eacute permitido e

estimulado em museus49

49 Esses satildeo jogos criados pelo Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a partir de seu acervo e utilizados em oficinas e

programas de formaccedilatildeo de professores

82

CAPIacuteTULO III - A historicidade de museus e visitantes

31- Visitantes diante de museus a experiecircncia museal

O visitante atualiza o proacuteprio conceito de museu e contribui assim como os especialistas

para a configuraccedilatildeo e teorizaccedilatildeo do campo museal e fundamentaccedilatildeo de uma criacutetica agraves exposiccedilotildees

e seus conteuacutedos A presenccedila nos museus mobiliza a memoacuteria e estimula a imaginaccedilatildeo Esse

movimento de rememoraccedilatildeo coloca os sujeitos em alerta com relaccedilatildeo ao presente Neste

processo de atualizaccedilatildeo dos conceitos estaacute em jogo uma busca coletiva para as dimensotildees

sensiacuteveis e questionamentos

A constante atualizaccedilatildeo de conceitos ou seja a historicidade que se configura como

duraccedilatildeo e mudanccedilas no tempo permite abordar o museu como um ldquogecircnerordquo que possui

regularidades permanecircncias mas que constantemente se reconfigura Eacute desta perspectiva que

apresento o Museu do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional visitados nessa pesquisa como

museus histoacutericos que conteacutem em seus acervos e expotildeem aos visitantes diversas concepccedilotildees de

museus aparentemente fora de uso na museologia contemporacircnea

Delinear uma leitura menos datada e historicista dos museus ou uma histoacuteria de museus

que se atualiza nos proacuteprios museus50

eacute resultado do confronto entre a pesquisa bibliograacutefica

sobre museus e as narrativas visuais dos visitantes O esforccedilo de leitura dos relatos e das

fotografias levou a um recorte que entrelaccedila os registros das visitas ao Museu do Escravo

(Figuras 11 e 12) do Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro (Figura 15) feitos pelos

visitantes e as imagens de museu dos chamados gabinetes de curiosidade (Figura 13) e galeria de

arte de priacutencipes (Figura 14)

Escolhi essas imagens para argumentar como os museus natildeo ficam presos ao passado e se

atualizam pela accedilatildeo dos visitantes E retomar tambeacutem a ideia de circuito e circularidade de

cultura atraveacutes de cinco imagens diferentes

50 Koselleck (1992 p134-145) propotildee uma histoacuteria dos conceitos que se investiga o processo de teorizaccedilatildeo dos

conceitos a partir de fontes documentais e formas verbais com experiecircncias histoacutericas concretas de associaccedilotildees

poliacuteticas e econocircmicas

83

As exposiccedilotildees do Museu do Escravo em Minas Gerais fotografadas por um estudante

(Figuras 11 e 12) e do Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro (Figura 15) satildeo confrontadas

agraves imagens de museu dos chamados gabinetes de curiosidade (Figura 13) e agrave galeria de arte de

priacutencipes (Figura 14)

O acervo do Museu do Escravo de Belo Vale (MG) inaugurado em 1988 pelo padre da

paroacutequia local Jacques Penido tendo em vista as comemoraccedilotildees do centenaacuterio da Aboliccedilatildeo da

Escravatura no Brasil pode ser interpretado como recoberto por vaacuterias camadas de sentido de

museu que circulam desde os gabinetes de curiosidade agraves galerias de arte Todo o acervo do

museu estaacute exposto Natildeo haacute uma reserva teacutecnica sequer um inventaacuterio e cataacutelogo das peccedilas

Objetos arqueoloacutegicos satildeo exibidos junto a reproduccedilotildees fotocopiadas de jornais indumentaacuterias

cenograacuteficas de um filme brasileiro e artefatos de culto religioso contemporacircneos Haacute uma

preocupaccedilatildeo em exibir instrumentos de tortura como gargantilhas de ferro mordaccedilas e tamancos

imensos que causam curiosidade e repulsa Tambeacutem satildeo criados cenaacuterios com um pelourinho que

fica no meio do paacutetio central rodeado por uma senzala Outras salas satildeo ocupadas com arte sacra

catoacutelica e peccedilas indiacutegenas

Figura 11 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

84

Figura 12 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

Aberto ao puacuteblico o Museu do Escravo natildeo tem materiais impressos e teima em

sobreviver agraves intempeacuteries naturais que desgastam o telhado e agraves mudanccedilas na poliacutetica local

municipal a cada quatro anos51

O Museu do Escravo parece estar em algum tempo entre os gabinetes de curiosidades e os

museus etnograacuteficos Conserva dos gabinetes natildeo apenas uma exposiccedilatildeo natildeo hierarquizada mas

um sentido atribuiacutedo aos objetos que fabricados pelo proacuteprio museu satildeo possuidores de uma

fluidez entre a natureza a arte e o artefato Tanto no gabinete de curiosidades quanto no Museu

do Escravo natildeo importa a histoacuteria do objeto tudo pode ser recolhido e serve ao propoacutesito de

saciar os curiosos Tambeacutem pode ser visto no Museu do Escravo um moderno ldquomuseu

etnograacuteficordquo que cria seu objeto a escravidatildeo a partir de sistemas de classificaccedilatildeo dos escravos

por criteacuterios tais como exoacuteticos simples preacute-alfabetizados primitivos selvagens para fazer a

denuacutencia moral da escravidatildeo O ldquooutrordquo o escravo eacute objeto do olhar dos visitantes mas eacute a

proacutepria visatildeo do museu que eacute avaliada

Considerado a partir da loacutegica dos visitantes o estudo sobre os museus coloca em questatildeo

o proacuteprio conceito de museu durante a visita O visitante questiona ao longo do percurso como o

museu constituiu referecircncias sobre suas proacuteprias funccedilotildees sociais e como estas auto-referecircncias se

expressam nas exposiccedilotildees

51 Ver Folder do Museu do Escravo produzido em 2002 Museus Mineiros Imprensa Oficial do Estado de Minas

Gerais No 14 abril de 2002

85

Entretanto eacute comum que a visita ao museu natildeo acrescente ao visitante informaccedilotildees

sobre o proacuteprio museu Quando muito o museu apresenta um pequeno resumo impresso de sua

trajetoacuteria em seus materiais de divulgaccedilatildeo mas quase nada da histoacuteria de seu acervo princiacutepios

expositivos e outros recursos aleacutem da expografia Fica a cargo do interesse do visitante comum

entender como cada museu reelabora sua memoacuteria ou sua heranccedila e como ele se apresenta aos

seus visitantes Os museus ainda se apresentam como gabinetes de curiosidades (Figura 13)

Figura 13 LEGATI Lorenzo Museu Cospiano Bolonha 1677

A imagem acima eacute uma reproduccedilatildeo do cataacutelogo publicado em Bolonha por Lorenzo

Legati para o gabinete de curiosidades de Ferdinando Cospi Cospi era um naturalista italiano que

adquiriu a coleccedilatildeo de Ulisse Aldrovandi (1522-1605) que por sua vez tinha interesse no que hoje

pode ser chamado de botacircnica zoologia e geologia Cospi acrescentou ao museu maravilhas

naturais muitas delas criadas por processos de taxidermia unindo paacutessaros e peixes O Museu

Cospiano tinha centenas de cabeccedilas de aves sereias e um anatildeo que exercia o duplo papel de fazer

parte da coleccedilatildeo e ser guia Conhecida hoje por meio de exposiccedilotildees e cataacutelogos parte dessa

86

coleccedilatildeo eacute exposta atualmente no Museu do Palaacutecio Pozzi em Bolonha52

No entanto no seacuteculo

XVII estava aberta a estudiosos e aristocratas

O lugar de produccedilatildeo da Imagem 14 eacute a esfera privada O tema da imagem tambeacutem esta

ligado ao mundo domeacutestico uma coleccedilatildeo e um colecionador particular Frederico I Hoje o lugar

fiacutesico O studiolo do priacutencipe foi restaurado e aberto agrave visitaccedilatildeo puacuteblica No seacuteculo XVII ficava

proacuteximo aos aposentados iacutentimos do priacutencipe e permitia a entrada de apenas uma pessoa de cada

vez Era uma eacutespeacutecie de compartimento secreto cujo programa iconograacutefico foi idealizado pelo

pintor e arquiteto da corte Giorgio Vasari e sua equipe Este aposento privado permitia preservar

os itens raros da coleccedilatildeo do monarca em armaacuterios inventariar e dar ordem aos itens colecionados

para que pudessem ser encontrados As pinturas encomendadas por Francisco I satildeo realizadas

tambeacutem por Vasari e outros pintores do seacuteculo XVII

Figura 14 VASARI Giorgio (1511-1574) Studiolo de Francisco I

Palazzo Vecchio Firenze 1570-1573

52Disponiacutevel em lt httpspecialcollectionslibrarywisceduexhibitschecklistsCabinetsCabinets_title_listhtmlgt

Acesso em 26 jun 2010

87

A escolha da imagem do gabinete de Frederico I (Figura 14) nessa pesquisa cujo tema eacute a

relaccedilatildeo dos visitantes com os museus permite algumas associaccedilotildees Primeiro a ampliaccedilatildeo da

dimensatildeo poliacutetica-puacuteblica pelo acessovisibilidade a bens culturais antes de uso limitado a um

nuacutemero pequeno pessoas Segundo pela ampliaccedilatildeo dos usos dos objetos chamados artiacutesticos ou

culturais em decorrecircncia das mudanccedilas nos suportes e modos de produccedilatildeo artiacutestica pelos quais

passaram a circular

A gravura do gabinete de curiosidades (Figura 13) e a imagem da galeria do priacutencipe

(Figura 14) apresentam lugares de guarda de coleccedilotildees Os temas e os conteuacutedos das obras satildeo os

objetos colecionados e o lugar onde estatildeo armazenados A coleccedilatildeo do gabinete de curiosidades e

da galeria de priacutencipe define quem tem acesso ao conteuacutedo desses ambientes e pode partilhar da

visibilidade da exposiccedilatildeo Apenas pessoas proacuteximas aos colecionadores

Entretanto ao reproduzir essas duas imagens aqui recoloca-se a questatildeo do lugar do

visitante diante dessas exposiccedilotildees Tanto a exposiccedilatildeo dos gabinetes quanto das galerias satildeo

privadas mas a reproduccedilatildeo por meio do desenho e da pintura as colocam em circulaccedilatildeo fora do

lugares de produccedilatildeo e do controle de seus proprietaacuterios Giorgio Vasari53

o pintor de Frederico I

talvez jaacute apontasse para essa necessidade de ampliaccedilatildeo do circuito do consumo de arte Ele

proacuteprio eacute tido como um dos precursores na produccedilatildeo de uma histoacuteria da arte ilustrada com cenas

da vida dos artistas que se populariza e se manteacutem atual agrave medida que continua sendo

reproduzida para um puacuteblico mais amplo

Do ponto de vista de visitantes contemporacircneos a funccedilatildeo do acervo de um museu natildeo eacute

apenas documental no sentido de fornecer evidecircncias para o trabalho da histoacuteria Para o visitante

ele estaacute diante de uma versatildeo contada pelo museu A coleccedilatildeo de objetos no museu eacute percebida

como natildeo aleatoacuteria O trabalho do museu eacute construir uma mensagem com a exposiccedilatildeo Ainda que

reconheccedila nos objetos e no acervo como um todo documentos de eacutepoca eacute a forma de

apresentaccedilatildeo dos objetos que ainda fornece o status de testemunho mostrando a importacircncia da

materialidade para a comprovaccedilatildeovalidaccedilatildeo das narrativas histoacutericas A exposiccedilatildeo como forma

53 Foram lanccediladas recentemente duas obras de VASARI Giorgio Vida de Michelangelo Buonarroti Ed Unicamp

2011 e Vidas dos artistas Martins Fontes 2011

88

de reunir um acervo que pertence ou natildeo a determinado museu lhe confere maior poder de criar

visibilidade

Eacute isso que parece fazer a visitante Fabiana Cristina dos Santos (Figura 15) que assim

como muitos de seus colegas reuacutene novamente o acervo do museu apoacutes sua visita e recria seu

percurso e o patrimocircnio do Museu Histoacuterico Nacional em uma nova exposiccedilatildeo

Figura 15 SANTOS Fabiana Cristina dos Montagem de fotografias

da visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

O mosaico de fotografias confeccionado pela visitante reuacutene elementos dispostos em

diferentes cenaacuterios no interior do preacutedio e a fachada do museu que registra a grade de seguranccedila

um letreiro com o nome do museu e bandeiras hasteadas Fotografias do acervo e natildeo dos

visitantes

32- Usos puacuteblicos e educativos dos museus

Os museus europeus e norte-americanos assumem a partir do seacuteculo XVIII uma relaccedilatildeo

com um novo habitante da cidade o cidadatildeo Algumas medidas para aproximar os viacutenculos entre

museus e cidadatildeos satildeo adotadas agrave medida que tambeacutem se transformam as relaccedilotildees com o

mecenato e o modelo de vinculaccedilatildeo com o Estado para encomenda e financiamento de atividades

89

culturais se consolida As mostras temporaacuterias os chamados salotildees conquistam regularidade e

visibilidade para a produccedilatildeo dos proacuteprios museus Tambeacutem satildeo editadas publicaccedilotildees com a

finalidade de analisar as exposiccedilotildees e direcionar o puacuteblico frequumlentador ndash como a de Diderot que

assume a criacutetica no Correspondence Litteacuteraire entre 1759 e 1781 que culmina com a publicaccedilatildeo

de Ensaios sobre a pintura em 1795 pouco depois da Criacutetica da Faculdade do juiacutezo de Kant

(1790) Iniciava-se um movimento de ampliaccedilatildeo do puacuteblico de apreciadores e de criacuteticos de arte

Diderot vai ser lido e comentado por escritores poetas filoacutesofos ao longo seacuteculo XIX entre eles

por Charles Baudelaire (1821-1867)

A criacutetica aos salotildees de Diderot (Salatildeo de 1765) e Baudelaire (Salotildees de 1846 e 1859)

constitui-se em momentos privilegiados para pensarmos o museu entre os seacuteculos XVIII e XIX

do ponto de vista de seus visitantes A discussatildeo sobre os museus pode ser ampliada no seacuteculo

XX com os visitantes Marcel Proust que publica sua grande obra Em busca do tempo perdido

entre 1913-1927 e Paul Valery cujo texto O problema dos museus eacute publicado pela primeira vez

em 1931 Esse diaacutelogo entre Valery e Proust sobre os museus eacute proposto por Adorno em texto de

1950 Aborda-se assim uma fortuna criacutetica que inicialmente era publicada em pequenos folhetos

e distribuiacuteda agrave porta dos Salotildees e se especializa em jornais da eacutepoca Estes criacuteticos antecipam

abordagens formulam criacuteticas conceitos e criteacuterios valorativos quanto aos fomentos ao gosto e

ao proacuteprio ato de adentrar os museus e visitar coleccedilotildees

90

Figura 16 BIARD Franccedilois Auguste (1798-1882) Quatro Horas no

Salatildeo (Quatre heures au Salon) Oacuteleo stela 57x67 cm Museu do

Louvre Paris 1847

O quadro de Auguste Franccedilois Biard54

pintor francecircs que chegou a vincular-se agrave corte

portuguesa no Brasil e foi professor da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro

apresenta de forma emblemaacutetica a presenccedila dos visitantes no encerramento do Salatildeo anual do

Louvre de 1847 Pessoas se acotovelando curiosos uma profusatildeo de vestes posturas e

expressotildees faciais As imagens expostas nas paredes parecem ter vida falar ao expectador

O grande nuacutemero de curiosos atestava a popularidade das exposiccedilotildees ou Salotildees que

tiveram suas primeiras versotildees no seacuteculo XVII no Palais-Royal restritas a um puacuteblico

selecionado Em 1727 os Salotildees foram abertos ao puacuteblico em nome do rei Luiz XV Junto com a

abertura dos Salotildees iniciou-se a publicaccedilatildeo de cataacutelogos e comentaacuterios descritivos das obras pelo

54 O pintor Auguste Franccedilois Biard nascido em Lyon em 1798 visita o Brasil entre 1858-1860 Eacute nomeado

professor da Academia Imperial de Belas-Artes executa retratos da famiacutelia imperial e membros da corte De volta agrave

Franccedila publica em 1862 publica um relato sobre o Brasil Ver httpwwwitauculturalorgbr

aplicexternasenciclopedia_icindexcfmfuseaction=artistas_biografiaampcd_item=1ampcd_idioma=28555ampcd_verbete

=1271Acesso em 2011

91

perioacutedico Mercure de France Surgiram os primeiros connaisseurs que se colocavam como

mediadores de uma criacutetica e de modelos de apreciaccedilatildeo e consumo da arte

Os elementos da criacutetica que comeccedilavam a se estabelecer culminariam numa nova

distinccedilatildeo entre connaisseurs e curiosos Diderot como criacutetico dos Salotildees aponta a supremacia do

sensiacutevel sobre o visiacutevel e compartilha da ideia de que os museus possuem uma funccedilatildeo educativa

Natildeo soacute para poucos frequentadores como os estudantes de arte que se serviam de uma

aprendizagem visual de estilos e obras mas num sentido universalizante do conhecimento cujos

produtores e consumidores de arte estariam em niacuteveis semelhantes Diderot defende uma

emancipaccedilatildeo do juiacutezo sobre o gosto mediante o julgamento das obras e da pertinecircncia dos temas

O sentimento uma qualidade subjetiva seria usado como criteacuterio pelo puacuteblico para avaliar as

obras Aquelas que lhes chegavam ao coraccedilatildeo despertando simpatia ou coacutelera Comoccedilatildeo

assombro choro coacutelera satildeo emoccedilotildees provocadas pelas obras do Salatildeo de 1765 em Diderot

Assim como para Diderot a descriccedilatildeo das emoccedilotildees eacute fundamental para a criacutetica de arte de

Baudelaire O pintor deveria provocar emoccedilotildees ao espiacuterito sem cair num sentimentalismo

forjado

Ao longo do seacuteculo XIX o puacuteblico dos museus se diversifica socialmente e culturalmente

ao compartilhar experiecircncias artiacutesticas tanto de fruiccedilatildeo quanto de produccedilatildeo Visitar salotildees

grandes exposiccedilotildees universais museus e adquirir objetos artiacutesticos ou mesmo ter aulas de pintura

e desenho faziam parte de haacutebitos culturais de camadas meacutedias e mesmo setores populares O uso

instrumental na induacutestria (ilustradores desenhistas) e a funccedilatildeo de formaccedilatildeo moral da arte

estavam proacuteximas Entretanto as imagens consumidas pelos segmentos populares como as

litogravuras emolduradas e o barulho que faziam nos salotildees satildeo reprovados por autoridades

como o criacutetico de arte agora um especialista em apreciar e julgar a obra

Baudelaire apresenta esse novo lugar da criacutetica que julga a mediocridade do puacuteblico e

pretende lhe dar formaccedilatildeo (informaccedilatildeo e publicidade) sobre as exposiccedilotildees Baudelaire dirige-se

aos compradores pouco instruiacutedos que deveriam ser iniciados na ciecircncia da fruiccedilatildeo Colecionar

arte era vincular-se a uma tradiccedilatildeo de bom gosto e oportunidade de ascensatildeo cultural Implicava

em reconhecimento da sofisticaccedilatildeo e do gosto do Antigo Regime como um padratildeo para os setores

meacutedios emergentes no espaccedilo poliacutetico

92

O especialista conhecedor de arte como apontam as caricaturas de Rockwell (Imagens 17

e 18) habita fisicamente o mesmo lugar que os curiosos e turistas mas se diferenciava deles por

possuiacuterem criteacuterios mais pormenorizados para observar a arte e se manterem em parcerias com

compradores e pintores

Figura 17 ROCKWELL Norman (1894-1978) O criacutetico de arte 1955

Ilustraccedilatildeo da capa de The Saturday Evening Post 16 de abril de 1955 Oacuteleo

sobre tela (1003 x 921 centiacutemetros) Coleccedilatildeo Museu Norman Rockwell

Figura 18 ROCKWELL Norman (18941978) O connaisseur 1962

Oacuteleo sobre tela Ilustraccedilatildeo produzida para a ediccedilatildeo do Saturday

Evening Post 13 jan 1962 Coleccedilatildeo Particular

93

Quem olha quem O quadro observado pelo criacutetico na Figura 17 tem vida e lhe olha de

volta O respeitoso senhor vestido em trajes solenes na Figura 18 eacute observado ou observa a

pintura colorida O pintor dos dois personagens propotildee elementos de digressatildeo imaginaccedilatildeo e

simultaneidade do olhar Para ler os quadros o espectador entra num jogo de espelhos sugerido

pelo pintor e percebe-se a si mesmo emoldurado por seu reflexo

Pode-se imaginar que tanto Paul Valery quanto Marcel Proust55

poderia estar entre os

visitantes apresentados nos quadros de Biard (Figura 16) e Rockwell (Figuras 17 e 18) Pode-se

tambeacutem imaginar ouvir a conversa entre os dois visitantes de fins do seacuteculo e iniacutecio do seacuteculo XX

com a ajuda do ensaio Museu Valery-Proust publicado originalmente em 1953 por Adorno

Valery eacute apresentado por Adorno (2005) como um artistaprodutor que cria objetos

poesias um especialista que olha a arte com toda a profundidade do ponto de vista da criaccedilatildeo

lugar do qual recebe sua profundidade O que importava para o poeta era a obra de arte como

objeto de contemplaccedilatildeo E esta se via ameaccedilada pela coisificaccedilatildeo e a indiferenccedila

O museu era o responsaacutevel por essa corrupccedilatildeo e fossilizaccedilatildeo das obras Valery se

horroriza ao caminhar pelas galerias do Louvre que para ele condenava a arte ao passado com

sua super acumulaccedilatildeo e a torna uma questatildeo de educaccedilatildeo e informaccedilatildeo Para Valery nos diz

Adorno a arte estaacute morta perdeu seu lugar na vida imediata sua relaccedilatildeo com um uso possiacutevel

Vecircnus se transformou em documento e ao visitante era recusada a possibilidade de vagar e errar

pelos museus

Proust na visatildeo de Adorno comeccedila onde Valery silencia na vida poacutestuma das obras e foi

menos ingecircnuo com relaccedilatildeo agrave arte Proust era um consumidor admirador um amante das artes

que estava separado das obras por um fosso Para Adorno era essa a grande virtude de Proust

assumir de forma firme essa postura de consumidor a ponto de transformar essa atitude em um

novo tipo de produtividade A forccedila da contemplaccedilatildeo do interno e do externo culminava em

Proust em produccedilatildeo de lembranccedilas memoacuterias

Para Adorno Proust era melhor visitante de museus que Valery E argumentou Em

Valery o processo de produccedilatildeo artiacutestica e a reflexatildeo sobre esse processo estavam

55 Ver Paul Valery O problema dos Museus Revista do patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional N31 2005 p32-

35 Marcel Proust tem diversas inferecircncias em sua obra Em busca do tempo perdido Satildeo Paulo Abril Cultural 1979

94

indissoluvelmente interligados Ele eacute o proacuteprio criteacuterio de julgamento da composiccedilatildeo da obra e da

experiecircncia que se tem por meio dela A criacutetica de Valery eacute conservadora em termos de cultura

pois o uacutenico criteacuterio coincidia com seu proacuteprio juiacutezo de gosto

Jaacute Proust estava livre desse fetichismo de quem fazia ele proacuteprio as coisas e entendia as

obras naquilo que elas tinham de esteacutetico rdquoum fragmento de vida daquele que as contempla um

elemento da proacutepria consciecircnciardquo (Adorno 2005 p179)

Proust tinha acesso a uma camada da obra que pressupunha a sua morte e assim a

sensibilidade para perceber o histoacuterico como paisagem Percebia a erosatildeo que a histoacuteria produzia

nas obras e a capacidade de sobrevivecircncia delas agrave semelhanccedila com o belo e o natural A

decadecircncia das coisas para Proust era uma segunda vida Soacute subsistia aquilo que era mediado

pela recordaccedilatildeo A qualidade esteacutetica era secundaacuteria

Walter Benjamin (2006 p603) tambeacutem convocou a opiniatildeo de Proust sobre os museus

para diferenciar a apreciaccedilatildeo de um quadro colocado de maneira isolada numa sala de jantar e

uma visita ao museu Soacute a sala de museu por sua nudez e seu despojamento de todas as

particularidades pode proporcionar a embriagante alegria dos espaccedilos interiores onde o artista se

retirou para criar

O aspecto caoacutetico do museu desagradava Valery O museu era lugar da barbaacuterie e natildeo de

cultura que tinha um caraacuteter sagrado vivo Jaacute Proust fez a defesa do museu mas era critico em

relaccedilatildeo agrave cultura ou agrave tradiccedilatildeo cultural exposta nos museus que ele experimentava reagia se

contaminando pela vida poacutestuma das obras

33 - Maneiras de ver e ser visto nos museus

O Louvre como modelo de instituiccedilatildeo museal agrega ao sentido moderno de museu a

ideacuteia de instruccedilatildeo puacuteblica contraposta ao museu de curiosidade e frivolidade presente nos

gabinetes de curiosidade e galerias reais O programa poliacutetico de gestatildeo dos bens culturais do

Louvre estava assim completo na Franccedila revolucionaacuteria inventariar e conservar toda a extensatildeo

de objetos que possam servir agraves artes agraves ciecircncias e ao ensino

O tema da apropriaccedilatildeo do patrimocircnio dos legados do passado estaacute presente no museu

francecircs e continua atual na discussatildeo sobre as poliacuteticas de memoacuteria O museu iluminista ou

95

enciclopedista estaacute aberto a todos os domiacutenios do conhecimento Eacute conservatoacuterio local de estudo

e produccedilatildeo do conhecimento

Para Brefe (1998) o museu puacuteblico moderno eacute ineacutedito no sentido de seu conteuacutedo e sua

forma de exposiccedilatildeo As obras herdadas do regime republicano na Franccedila perderam suas antigas

funccedilotildees e relaccedilotildees com o universo poliacutetico e social Era necessaacuterio construir um novo modo pelo

qual seriam lidas e ao mesmo tempo produzir novas imagens de legitimaccedilatildeo da revoluccedilatildeo Com a

radicalizaccedilatildeo do regime a chamada era do terror instalou-se a incompatibilidade entre a

ideologia da revoluccedilatildeo e obras de arte e monumentos do Antigo Regime seguida de uma onda de

ataques com a destruiccedilatildeo e depredaccedilatildeo de siacutembolos da realeza do feudalismo e do despotismo

O museu surge como o lugar que ldquodesacraliza e neutraliza os siacutembolos e imagens fazendo-os ou

ascender ou reduzindo-os ao estatuto de objetos culturaisrdquo (BREFE 1998 p307)

Haacute uma nova dimensatildeo poliacutetica para o museu Seu papel eacute estrateacutegico em relaccedilatildeo agrave

justificativa cultural do poder O museu ao conservar aquelas obras inventa um sentido para o

patrimocircnio evitando expor de maneira expliacutecita os siacutembolos nelas contidos sua ideologia Ele

destroacutei natildeo a obra de arte mas a mostra a partir do que a cultura do museu julga pertinente O

museu participa ativamente da mudanccedila do estatuto do objeto Ele perde suas significaccedilotildees

anteriores e entra num novo dispositivo simboacutelico uma memoacuteria outorgada

Os museus tambeacutem oferecem duas contribuiccedilotildees para se redefinir a dimensatildeo poliacutetica no

sentido de puacuteblica na Franccedila A primeira eacute a defesa da universalidade do patrimocircnio agrave medida

que se elabora uma lista de obras canocircnicas que servem de referecircncia a todas as naccedilotildees europeacuteias

a partir do legado do patrimocircnio francecircs A segunda contribuiccedilatildeo eacute identificar uma dimensatildeo

histoacuterica na cultura um passado cuja existecircncia justifica a conservaccedilatildeo A Revoluccedilatildeo natildeo pode

apagar a histoacuteria ao contraacuterio ela procurou criar uma determinada ldquoconsciecircncia histoacutericardquo como

ponto de partida para um novo recomeccedilo ou regeneraccedilatildeo Haacute uma heranccedila a ser gerida e o museu

eacute instrumento poliacutetico desse direito de dominar a histoacuteria e recolher o patrimocircnio dos seacuteculos ou

o proacuteprio passado

Receptaacuteculo de todas as obras-primas da humanidade jaacute que a Franccedila eacute a paacutetria ideal o

museu neutraliza o discurso da pilhagem que passa a ser visto como repatriamento Abriu-se em

fins do seacuteculo XVIII novo debate natildeo soacute sobre o espaccedilo de exposiccedilatildeo e o que eacute um museu mas

sobre o poder de instituir sentidos que lhe eacute conferido ao sacralizar as obras para aleacutem de seu

96

estatuto de objetos culturais como ldquotesouros conquistadosrdquo Uma nova funccedilatildeo como ldquomemorial

da naccedilatildeordquo ou ldquotemplo da memoacuteriardquo e natildeo apenas de ldquoinstituiccedilatildeo de instruccedilatildeo puacuteblicardquo como

requeriam o projeto enciclopedista eacute que tomou forccedila no seacuteculo XIX

A visualidade nos museus estaacute ligada agrave poliacutetica e agrave capacidade cada vez mais elaborada

de controle racionalcientiacutefico do mundo moderno de teacutecnicas para registrar documentar e

codificar o conhecimento Benedict Anderson (2008 p221) observou que o mundo moderno se

caracteriza pela unidade de visualizar coisas que natildeo satildeo visiacuteveis ou visuais o censo o mapa e o

museu

Para Anderson todo museu pode ser visto como um programa educativo principalmente

porque o museu moderno (seacuteculo XIX) estaacute ligado profundamente a aspectos do poder poliacutetico e

dos sistemas poliacuteticos educacionais modernos Os museus produzem e reproduzem hierarquias

sociais ideologias e tambeacutem assumem um papel na produccedilatildeo de imagens de raccedila povo naccedilatildeo

criando legitimidades sociais Ligam-se diretamente ao Estado e apresentam-se como guardiotildees

da tradiccedilatildeo geral e local conferem prestiacutegio aos lugares e objetos Satildeo lugares sem pessoas

desabitados exceto pela frequumlentaccedilatildeo turiacutestica satildeo dessacralizados A dimensatildeo poliacutetica dos

museus se daacute nos materiais produzidos nos censos pictoacutericos do patrimocircnio disponiacutevel As

imagens satildeo reproduzidas infinitamente no cotidiano via manuais escolares postais selos de

modo que a musealizaccedilatildeo poliacutetica se torna celebraccedilotildees comemoraccedilotildees e emblemas da identidade

nacional

O museu para Anderson eacute uma forma de imaginaccedilatildeo da Histoacuteria e do poder mas a

imaginaccedilatildeo aqui tem um caraacuteter de conservar as formas da histoacuteria de criar comunidades

imaginadas O museu eacute como um ldquoaacutelbumrdquo dos antepassados ao longo do tempo que pode ser

herdado pelos sucessores Um ldquoventriloquista nacionalistardquo um desejo de falar pelos mortos

Guardam entretanto um paradoxo entre sua luta contra o esquecimento (lembranccedila) e a

necessidade do proacuteprio esquecimento mecanismo tiacutepico das genealogias que realizam

ldquofratriciacutedios tranquumlilosrdquo em nome do ldquodever de jaacute ter esquecidordquo A ambiccedilatildeo educativa dos

museus neste caso eacute a dissoluccedilatildeo de conflitos violentos raciais de classes regionais e a

construccedilatildeo de uma nova consciecircncia Haacute a passagem da memoacuteria agrave histoacuteria oficial A narrativa da

ldquoidentidaderdquo da consciecircncia eacute inscrita em um tempo secular uma seacuterie de implicaccedilotildees de

continuidades e esquecimentos da experiecircncia A ldquobiografia da naccedilatildeordquo escrita pelos museus eacute o

97

acuacutemulo das guerras holocaustos mortes violentas que tecircm de ser lembradasesquecidas como

nossas (ANDERSON 2008 p268)

Se para Anderson a memoacuteria eacute hierarquizada no museu por uma poliacutetica de memoacuteria para

Walter Benjamin (2006) o sentido pedagoacutegico da memoacuteria e da narrativa no museu eacute distinto O

museu eacute visto como capaz de problematizar a racionalidade das imagens da histoacuteria Enquanto

Anderson vecirc o museu como um edifiacutecio soacutelido uma instituiccedilatildeo Benjamin vivencia o museu

como um sonho um labirinto imaginaacuterio enraizado na histoacuteria mas (e por essa razatildeo) permite

articular o instante e a duraccedilatildeo num mergulho na proacutepria experiecircncia (sensibilidade)

O museu para Benjamin eacute por definiccedilatildeo moderno mas um novo que sempre existiu

Como afirma Michelet sobre a vista de uma paisagem da Charneca eacute sempre nova e sempre

igual Natildeo eacute a mesma sequer semelhante mas se exprime pelas coisas presentes Uma atitude

que entende o museu como aquele capaz de ressuscitar os mortos ou de tornar a histoacuteria viva

como acontece no percurso de Michelet pelo Museu dos Monumentos Franceses organizado por

Alexandre Lenoir56

e seu encontro com a histoacuteria viva da Franccedila e seus heroacuteis meroviacutengios

O primeiro movimento alegoacuterico de Benjamin eacute transformar o museu em morada do

sonho coletivo em metamorfose do interior O museu eacute um rito de passagem vivecircncia de

transiccedilatildeo caminhada por caminhos fantasmagoacutericos em que as portas cedem e as paredes se

abrem Essa atitude diante dos museus e das obras de arte natildeo eacute meramente contemplativa e nem

um comportamento aacutevido diante de mercadorias expostas O museu para Benjamin mobiliza o

visitante Coloca no cotidiano a utopia coisas que ningueacutem jamais experimentou mas que

deveriam lhes caber

As estrateacutegias de exibiccedilatildeo dos museus e a criaccedilatildeo de novos museus entretanto natildeo satildeo

vistas com ingenuidade por Benjamin Ele faz uma criacutetica das exposiccedilotildees universais e as via

como siacutenteses prematuras que fecham o espaccedilo para o novo e impediam a ventilaccedilatildeo das classes

Para Benjamin os produtos industriais projetados no passado eram organizados segundo

princiacutepios estatiacutesticos e a accedilatildeo de exibiccedilatildeo seria terapecircutica Visava rejuvenescer tonificar

restabelecer recuperar conservar e aperfeiccediloar os encantos da natureza que se definhavam e

morriam

56 O Museu de Lenoir precede agrave abertura do Louvre e teve curta duraccedilatildeo (1795-1816)

98

As exposiccedilotildees universais satildeo criticadas e exemplificam a passagem do caraacuteter efecircmero

que deixam rastros como a Torre Eiffel edificada como o arco de entrada da Exposiccedilatildeo

Universal de 1889 e transformada posteriormente em monumento O tempo de preparo e de

duraccedilatildeo de um empreendimento como uma exposiccedilatildeo guarda esse sentido agudo da histoacuteria Para

que seja compreendido esse tempo o criacutetico e o espectador deveriam operar em si mesmos uma

transformaccedilatildeo que eacute um misteacuterio um fenocircmeno da vontade agindo sobre a imaginaccedilatildeo Ele deve

aprender por si mesmo a participar do meio que deu origem a essa ldquofloraccedilatildeo insoacutelitardquo esse

sentido de ausecircncia em presenccedila de algo Essa emoccedilatildeo na qual o viajante se abandona a si mesmo

e muda sua visatildeo (Benjamin 2006 p236)

Figura 19 ANDRADE Aleacutecio Fotografia 1993 Cataacutelogo da

exposiccedilatildeo ldquoO Louvre e seus visitantesrdquo Instituto Moreira Salles 2009

A fotografia de Aleacutecio Andrade acima desperta o sentimento de interioridade do visitante

que resiste ao modelo temporal de museu e sua forma de apresentaccedilatildeo do passado O visitante se

apresenta no presente e se define na relaccedilatildeo com o museu estatildeo envolvidos em presenccedila do

invisiacutevel tem os olhos e os corpos na exposiccedilatildeo criada pelo fotoacutegrafo O cenaacuterio eacute o mesmo dos

Salotildees do seacuteculo XVIII (Figura 19)

99

Os visitantes das fotografias de Aleacutecio Andrade evocam o sentido poeacutetico dos museus que

se apresentam como colecionadores de alegorias e natildeo de siacutembolos (BENJAMIN 2006 p 237-

239) O visitante se transporta para dentro do museu e o acolhe em seu espaccedilo interior Visitar eacute

possuir os objetos eacute utilizaacute-los novamente libertando-os de serem inuacuteteis O alegorista

entretanto diferente do colecionador natildeo reuacutene as coisas afins natildeo estabelece sucessotildees natildeo

empreende uma luta contra a dispersatildeo mas desliga as coisas de seus ldquocontextosrdquo natildeo permite

prever e fixar os significados Abrem-se assim agraves transparecircncias porosidades e a possibilidade de

apropriar do princiacutepio e da forma

34 - A funccedilatildeo educativa nos museus entre os museus escolares e os pedagoacutegicos

A fundaccedilatildeo de museus no Brasil antecede a criaccedilatildeo das universidades Os museus

brasileiros foram durante o seacuteculo XIX o principal loacutecus de produccedilatildeo de cientistas praacuteticas de

preservaccedilatildeo e de uso educacional do patrimocircnio Tambeacutem se formaram como arenas de disputa

por versotildees do passado e campo de elaboraccedilatildeo intelectual criacutetica em relaccedilatildeo a outras instituiccedilotildees

poliacuteticas e culturais57

O Museu Nacional localizado na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro eacute considerado

desde sua inauguraccedilatildeo em 1818 a principal referecircncia de instituiccedilatildeo cultural Nos anos de 1920-

1930 eacute visto como modelo de museu para os intelectuais reformadores da educaccedilatildeo nacional

Outras instituiccedilotildees educativas e culturais como as universidades teratildeo espaccedilo no cenaacuterio

institucional tambeacutem nos anos de 1930 em funccedilatildeo das reformas de ensino de 1927-1930 quando

eacute definido por decreto-lei o Estatuto das Universidades Brasileiras e criada a Universidade do Rio

de Janeiro em 1931 (LEMME 1984 p171)

Escola e museus foram organizados de maneira distinta ao longo do seacuteculo XIX e para se

aproximarem precisavam que fosse elaborado um campo de interseccedilatildeo de atuaccedilatildeo e uma

concepccedilatildeo comum acerca de suas finalidades Diana Vidal (1999 p107-116) chama a atenccedilatildeo

para o significado do museu escolar em fins do seacuteculo XIX seu papel como dispositivo

pedagoacutegico que se define como ldquouma reuniatildeo metoacutedica de coleccedilatildeo de objetos comuns e usuais

57 Margaret Lopes desenvolve importante pesquisa sobre os museus brasileiros e latino americanos no seacuteculo XIX

Ver Lopes 1997 1998 2001 e 2005

100

destinados a auxiliar o professor no ensino de diversas mateacuterias do programa escolarrdquo (VIDAL

1999 p 108)

Entretanto ao longo do seacuteculo XX o movimento de aproximaccedilatildeo entre museus e

educaccedilatildeo natildeo foi nada natural e pressupunha accedilotildees poliacuteticas efetivas para a ampliaccedilatildeo da ideacuteia de

educaccedilatildeo para aleacutem das instituiccedilotildees escolares e de princiacutepios de organizaccedilatildeo mais democraacuteticos

Quanto aos museus era necessaacuterio que fossem concebidos como parte do projeto de educaccedilatildeo

geral ou do povo Essa dupla face da transformaccedilatildeo da concepccedilatildeo e finalidade de museus e

escolas eacute o que vemos no movimento da chamada escola nova e que tem por marco institucional

o ldquoManifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Novardquo (1932) lanccedilado no calor da Revoluccedilatildeo de 1930

que defendia uma escola promovida pelo Estado laica gratuita e obrigatoacuteria (ESTEVES 1994

p 52-72)

Os trecircs autores escolhidos e apresentados satildeo os primeiros a publicar no Brasil uma

literatura especiacutefica considerando as relaccedilotildees entre museus e educaccedilatildeo Francisco Venacircncio Filho

(1941) Joseacute Valladares (1946) e Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) possuem muito em

comum e dialogam entre si citando as pesquisas e publicaccedilotildees de seus contemporacircneos

Participaram juntamente com Everardo Backheuser Heitor Lira da Silva e outros da criaccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo em 1924 Venacircncio Filho acompanharia de perto as reformas

educacionais de Carneiro Leatildeo Fernando de Azevedo Aniacutesio Teixeira Francisco Campos e

Gustavo Capanema Foi superintendente de Ensino Teacutecnico e diretor da Escola Normal Publicou

em 1932 com Jonatas Serrano o livro Cinema e Educaccedilatildeo pela Companhia Melhoramentos

A questatildeo central a ser destacada nessa bibliografia estritamente ldquonacionalrdquo eacute como ela

elabora os princiacutepios da relaccedilatildeo entre os museus europeus e brasileiros Quais paracircmetros de

comparaccedilatildeo satildeo adotados pelos autores brasileiros e quais satildeo os modelos que serviriam agrave obra

reformadora nacional A segunda questatildeo a ser investigada eacute como definem a relaccedilatildeo museus e

educaccedilatildeo qual o papel dos museus e qual o papel da escola Outro ponto que mobiliza eacute o

proacuteprio destinataacuterio desses discursos educativos nos anos de 1930-1940 Como estes autores

dirigiam-se ora especificamente ao puacuteblico escolar (professores e alunos) ora agrave populaccedilatildeo como

um todo ou o ldquopovordquo Como implicam os agentes governo sociedade organizada indiviacuteduos

pela resoluccedilatildeo do ldquoproblema nacional a educaccedilatildeordquo

101

Do ponto de vista das discussotildees teoacutericas e inovaccedilotildees praacuteticas na educaccedilatildeo Diana Vidal

(2000) ressalta que os chamados educadores renovados ndash Lourenccedilo Filho Fernando de Azevedo

dentre outros ndash natildeo soacute acompanhavam os movimentos realizados na educaccedilatildeo europeacuteia e norte-

americana como se utilizavam dessa literatura estrangeira para respaldar sua accedilatildeo educativa no

territoacuterio nacional (VIDAL 2000 p513)

Os autores destacados nesta anaacutelise que discorrem sobre a relaccedilatildeo museus-educaccedilatildeo

utilizam em seus argumentos o recurso ao ldquoestrangeirordquo como via de matildeo dupla Natildeo haacute por

exemplo em Joseacute Valladares (1946) nem em Edgar Sussekind de Mendonccedila (1946) nenhum

deslumbramento com os museus visitados por eles fora do paiacutes Eles natildeo deixam que a seduccedilatildeo e

encantamento com os museus europeus e norte-americanos se sobreponham aos seus propoacutesitos

de avaliar e comparar tendo em vista a melhoria dos museus no Brasil As visitas agraves instituiccedilotildees

estrangeiras e as consideraccedilotildees que explicitam servem ao propoacutesito de reforccedilar certa erudiccedilatildeo e o

conhecimento de causa Natildeo visam simplesmente desqualificar a realidade nacional frente ao

internacional

Assim como as viagens e excursotildees os escolanovistas consideram os museus como

dispositivos de educaccedilatildeo ou materiais pedagoacutegicos a serem utilizados para melhor aparelhar a

escola moderna Em outro sentido os museus satildeo ldquograndes casas de educaccedilatildeo ao alcance de

todos a qualquer momento graccedilas a uma teacutecnica de exposiccedilatildeo e mostruaacuterios em que nenhum

pormenor eacute descuidado desde a arrumaccedilatildeo ateacute a cor e forma dos letreirosrdquo (VENAcircNCIO FILHO

1941 p128) Esse otimismo com relaccedilatildeo ao papel educativo dos museus eacute partilhado por Joseacute

Valladares e Edgar Suumlssekind de Mendonccedila

Francisco Venacircncio Filho (1894-1946) destacou-se ao longo de sua vida puacuteblica como um

dos colaboradores diretos de Fernando de Azevedo e publica como ldquoprofessor do Instituto de

Educaccedilatildeo do Distrito Federal e livre docente do Coleacutegio Pedro IIrdquo o volume 38 da 3ordf Seacuterie de

Atualidades Pedagoacutegicas da Biblioteca Pedagoacutegica Brasileira com o tiacutetulo Educaccedilatildeo e seu

aparelhamento Moderno brinquedos cinema raacutedio fonoacutegrafo viagens e excursotildees museus e

livros em 1941 pela Companhia Editora Nacional

Para Venacircncio Filho (1941 p13) e outros intelectuais da chamada escola nova a

educaccedilatildeo eacute vida Busca no diaacutelogo e na autoridade de Afracircnio Peixoto (1876-1947) aproximar o

campo que o colega designara como ldquoeducaccedilatildeo orgacircnicardquo e de outra a ldquoescolarrdquo Para o autor o

102

ldquoaparelhamento modernordquo procura eliminar a distacircncia entre ambos os meios de educaccedilatildeo

(VENAcircNCIO FILHO 1941 p13) A educaccedilatildeo formal e a informal estatildeo imbricadas numa

educaccedilatildeo geral para a qual contribuem ldquoos instrumentos que nasceram na escola e transbordaram

dela para a vidardquo e os que ldquovieram de fora para a escola e vatildeo auxiliando colaborando com a sua

obrardquo multiplicando em extensatildeo e intensidade Esses instrumentos que poderiacuteamos chamar de

dispositivos tem uma accedilatildeo extensiacutevel e imprevisiacutevel (VENAcircNCIO FILHO 1941 p14)

A mesma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo geral eacute explicitada por Edgar Sussekind de Mendonccedila e

Jose Valladares Mendonccedila em seu texto A extensatildeo cultural nos museus publicado pela

Imprensa Nacional em 1946 compartilha dos pressupostos de Venacircncio Filho e o cita por

diversas vezes Elaborado para concurso de provas58

para ser transferido a pedido da diretora do

Museu Nacional Heloiacutesa Alberto Torres para a receacutem criada Seccedilatildeo de Extensatildeo Cultural do

museu o texto pode ser entendido como sugere o proacuteprio autor como uma carta programa do

novo diretor e da nova seccedilatildeo do Museu

Procedimento comum aos trecircs autores destacados Edgar Sussekind de Mendonccedila (1941)

tambeacutem inicia sua exposiccedilatildeo propondo a inversatildeo na forma de interpretar os termos educaccedilatildeo

supletiva e educaccedilatildeo escolar para definir o campo de atuaccedilatildeo dos museus em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Como jaacute enfatizado por Venacircncio Filho o projeto de educaccedilatildeo popular eacute abrangente universalista

e a escola eacute apenas uma das instituiccedilotildees capazes de responder agrave demanda por educaccedilatildeo As

instituiccedilotildees de ensino eacute que satildeo supletivas na visatildeo de Mendonccedila (1941 p9) a educaccedilatildeo extra-

escolar eacute que designa o todo e natildeo aquela educaccedilatildeo intra-escolar A extensatildeo cultural eacute dentro

dessa visatildeo a educaccedilatildeo generalizada e os museus por direito de antiguidade tecircm papel

insubstituiacutevel e preponderante de realizaacute-la

Ao considerar as ldquoexcursotildees e viagensrdquo como ldquomeio pedagoacutegicordquo a primeira questatildeo

levantada satildeo as dificuldades de execuccedilatildeo em ambiente escolar recursos tempo ajustamento de

horaacuterios A sugestatildeo dada pelo autor eacute bastante conciliadora Do ponto vista geral ele defende que

ldquonas viagens se pode rever em breve e rapidamente o que nos legou o passado ou o que nos daacute o

presente em arte em ciecircncia em induacutestria em costumes atraveacutes dos inuacutemeros museus

espalhados pelo mundo inteirordquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p15)

58 Segundo informa o proacuteprio autor o texto foi elaborado no prazo de trinta e cinco dias sendo que Mendonccedila

utilizou vinte e cinco para consulta a livros (MENDONCcedilA 1946 p25)

103

Do ponto de vista efetivo o problema eacute como realizar em larga escala viagens de luxo

recreio e de cultura aos Estados Unidos e Europa como fazem os intelectuais escolanovistas Natildeo

eacute simples conciliar os princiacutepios e a accedilotildees Embora deseje defender essa praacutetica ldquoadmiraacutevelrdquo

Venacircncio Filho alerta que na escola eacute preciso uma soluccedilatildeo mais viaacutevel planejar bem expor

previamente aos alunos e propor saiacutedas livres de grupos aos domingos e feacuterias para cultivar o

gosto e o ldquohaacutebito de prazeres sadios e econocircmicosrdquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p117)

As consideraccedilotildees sobre as excursotildees vatildeo se formando a partir de argumentos que juntam a

defesa do interesse da crianccedila e de suas condiccedilotildees para realizar excursotildees no qual cita os

americanos e seu programa de sugestotildees de excursotildees para diferentes idades entre 3 a 5 anos e a

defesa da ldquocultura europeacuteia como o padratildeo de civilizaccedilatildeo frente a ldquogleba nativardquo da ldquopaisagem

exoacuteticardquo da Ameacuterica (VENAcircNCIO FILHO 1941 p120) Cita nesse caso versos de Olavo Bilac e

a replica de Afracircnio Peixoto que exaltam Nova York (VENAcircNCIO FILHO 1941p122)

Os benefiacutecios das viagens parecem se afastar daquelas possibilidades efetivas do trabalho

escolar e o autor estaacute a endereccedilar seus conselhos a um provaacutevel viajante ldquonativordquo supostamente

adulto com pouca familiaridade com viagens e excursotildees e que necessite de orientaccedilotildees para

preparar-se culturalmente para a viagem Nosso autor parece estar plenamente qualificado para

relatar sua vasta experiecircncia cultural com viagens internacionais e ajudar na divulgaccedilatildeo dessa

praacutetica cultural

Quanto aos guias impressos o autor sabe indicar quais satildeo os melhores Em relaccedilatildeo agraves

grandes agecircncias de turismo elas ldquodevem ser utilizadas com inteligecircnciardquo Comprar poucas

lembranccedilas procurar hoteacuteis proacuteximos agraves estaccedilotildees preccedilos acessiacuteveis calcular despesas por dia

cacircmbio escolher os tipos de companheiros de viagem satildeo recomendaccedilotildees importantes Venacircncio

Filho deixa claro seu gosto pelas viagens sonho antes alegria durante e evocaccedilotildees depois

Os museus aparecem como ldquomeacutetodosrdquo um dos pilares para a melhoria da educaccedilatildeo ldquoum

ensino centrado na crianccedila e natildeo no professor e a educaccedilatildeo como preparaccedilatildeo para a vidardquo59

Os

museus ajudariam tambeacutem no ensino da histoacuteria baseada excessivamente em compecircndios e

criticada por seu excesso de memorizaccedilatildeo e acuacutemulo de datas O proacuteprio Jonathas Serrano que

tem seu compecircndio publicado em 1912 e utilizado ateacute 1924 contando com 54 ediccedilotildees explicita jaacute

59 Edgar Sussekind de Mendonccedila tambeacutem questionava a importacircncia exagerada dada agrave escola no ldquoconjunto da tarefa

educacionalrdquo (MENDONCcedilA 1946 p10)

104

em 1918 (4ordf ediccedilatildeo) a criacutetica aos processos de ensino de Histoacuteria exaustivos baseados na

memorizaccedilatildeo Serrano mostrava-se otimista quanto aos ldquoprogressos dos recursos tecnoloacutegicos

como o cinematoacutegrafo que permite ensinar pelos olhos e natildeo apenas e enfadonhamente pelos

ouvidosrdquo (SCHMIDT 2004 p197)

Venacircncio Filho (1941) faz a descriccedilatildeo de vaacuterios museus classificados como mistos de

histoacuteria e ciecircncias como o British Museum e o Louvre mas deteacutem-se na descriccedilatildeo do ldquonosso da

Quinta da Boa Vista em que se resume a natureza de uma vida da regiatildeordquo (VENAcircNCIO FILHO

1941 p128) Dando continuidade a uma tipologia dos museus Venacircncio Filho apresenta como

museu histoacuterico exemplar o Museu do Ipiranga Ao final do capiacutetulo faz consideraccedilotildees raacutepidas

sobre o Museu Goeldi no Paraacute e retoma suas observaccedilotildees sobre o Museu Nacional da Quinta da

Boa Vista e o Museu Paulista Satildeo Paulo Ao longo do capiacutetulo cita a curta existecircncia dos museus

pedagoacutegicos organizados na reforma da instruccedilatildeo puacuteblica do Rio de Janeiro de Fernando

Azevedo (1927-1930) tendo um museu central no entatildeo Distrito Federal dirigido por Everardo

Backheuser (1879-1951) do qual fala no ldquopresente do indicativordquo pois ldquocomo desapareceu

passou para o passadordquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p143)

Eacute curioso notar que Venacircncio filho natildeo descreve o projeto dos museus pedagoacutegicos nem

mesmo recomenda sua criaccedilatildeo nas salas ou escolas Os modelos de museus estatildeo nos grandes

centros como o Museu de Munich ao qual dedica duas paacuteginas para expor como satildeo os museus

teacutecnicos e sua importacircncia para a educaccedilatildeo popular Dedica tambeacutem uma descriccedilatildeo

pormenorizada do Deustches Museum apresentando as salas as divisotildees das exposiccedilotildees fiacutesica

quiacutemica tempo Cita os museus norte-americanos e avalia dois museus brasileiros o Museu

Nacional (RJ) o Museu Paulista (SP)

O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista foi para Venacircncio Filho ldquogrande centro

cientiacutefico do paiacutes do qual partiam os uacutenicos fios de ligaccedilatildeo com o mundo cultordquo Jaacute o Museu

Histoacuterico Nacional eacute exemplar antes e depois da reforma educacional

Ele eacute no resumo de seus mostruaacuterios bdquouma verdadeira miniatura da paacutetria‟ O Museu

atraveacutes de suas divisotildees teacutecnicas realiza a sua missatildeo de conservar pesquisar divulgar e

ensinar dando depois da reforma de 1931 agrave educaccedilatildeo popular uma contribuiccedilatildeo

preciosa para o estudo das ciecircncias naturais (VENAcircNCIO FILHO 1941 p143)

Ao contraacuterio dos elogios e otimismo quanto ao papel dos museus de histoacuteria natural

explicitados ao Museu Nacional e ao Museu Goeldi Venacircncio Filho faz uma criacutetica a concepccedilatildeo

105

de histoacuteria presente no Museu Histoacuterico Nacional que ldquoainda natildeo adquiriu forma definitiva que

deveria ser a de uma evocaccedilatildeo viva do passado todo do Brasil desde o periacuteodo colonial ateacute os

dias da Repuacuteblicardquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p145) Essa criacutetica fica mais evidente quando

afirma que em se tratando de museus histoacutericos o Museu Paulista eacute ldquonatildeo soacute uacutenico no paiacutes como

pode ser posto em confronto com qualquer outro congecircnere do estrangeirordquo (VENAcircNCIO

FILHO 1941 p145) A descriccedilatildeo que Venacircncio Filho faz do Museu do Ipiranga eacute carregada de

adjetivos ldquoum perfume discreto do passado nacional sem gratildeos de coisas esquecidas e

abandonadasrdquo quadros admiraacuteveis monccedilotildees Pedro Ameacuterico documentos antigos fruto das

pesquisas de Afonso Taunay estaacutetua de Bernardelli coleccedilotildees naturais Venacircncio Filho (1941

p147) termina suas consideraccedilotildees no mesmo ponto no qual iniciou exaltando a capacidade dos

museus em transformarem-se em ldquograndes escolas de educaccedilatildeo popularrdquo

Para Edgar Sussekind de Mendonccedila (1946) a chamada extensatildeo cultural eacute a relaccedilatildeo de

atividades de um museu que permitiria a comunhatildeo da vida e da aula abrangendo todos os

puacuteblicos de todas as idades (MENDONCcedilA 1946 p10) Ao longo da monografia ele vai

explicitando que o museu atua na educaccedilatildeo do povo e a extensatildeo cultural atuaria como um

ldquosistema de iniciaccedilatildeo cientiacutefica e aperfeiccediloamento sem a rigidez dos cursos universitaacuteriosrdquo

(MENDONCcedilA 1946 p 40)

Mendonccedila deixa expliacutecito em seu programa de accedilatildeo que sua grande preocupaccedilatildeo eacute com o

ensino e a ligaccedilatildeo da escola com a vida e para isso assim como Venacircncio Filho ele estaacute

preocupado com a ampliaccedilatildeo do puacuteblico natildeo especializado O museu eacute importante nessa funccedilatildeo

pois estaacute tanto no domiacutenio experimental quanto da documentaccedilatildeo objetiva Entretanto a

materialidade de suas mostras eacute para observaccedilatildeo natildeo para experimentaccedilatildeo A visualizaccedilatildeo eacute um

meacutetodo histoacuterico dos museus e pode ser utilizado no ensino tanto superior quanto na educaccedilatildeo

extra-escolar das classes proletaacuterias A questatildeo natildeo eacute a funccedilatildeo educativa dos museus mas

preparar os museus para as necessidades educativas de seu povo (MENDONCcedilA 1946 p 25)

Para Joseacute Vasconcellos (1946) a questatildeo da localizaccedilatildeo dos museus eacute colocada de modo

semelhante ldquoporque deve ir ao seu encontro o museu tem de saber onde o povo pode ser achado

com mais facilidade Este eacute o problema principal na localizaccedilatildeo dos museusrdquo

(VASCONCELLOS 1946 p99) Ou seja o problema da localizaccedilatildeo dos museus eacute saber onde

estaacute o povo ou como diria o cancioneiro popular ldquotodo artista tem de ir onde o povo estaacuterdquo

106

Mendonccedila assim como Vasconcellos e Venacircncio toma o Museu Nacional da Quinta da

Boa Vista como referecircncia para as consideraccedilotildees sobre os museus brasileiros Apoacutes criticar o

sistema universitaacuterio pelo aristocratismo das faculdades e academias ou ainda os proacuteprios museus

pelo anacronismo ao se voltarem para uma concepccedilatildeo de conservaccedilatildeo estaacutetica o autor se volta

para a defesa dos museus como ldquoestabelecimentos de educaccedilatildeo popularrdquo capazes de responder ao

problema de ldquopreparo meacutedio dos homens de formaccedilatildeo irregularrdquo A teacutecnica de museus eacute capaz de

orientar cientificamente um filme documentaacuterio sobre Canudos citado como exemplo e ao

mesmo tempo promover exposiccedilotildees especiais sobre cultura indiacutegena e cultura negra no Brasil

natildeo existentes no Museu Nacional mas que deveriam ser incluiacutedas por interessar agrave extensatildeo

cultural servindo de ldquoligaccedilotildees entre o palco das generalidades e os bastidores dos especialistas

(MENDONCcedilA 1946 p40-43)

Para Mendonccedila

o fato poreacutem eacute que os museus do Rio de Janeiro provavelmente ainda por longo tempo

funcionaratildeo apenas na imaginaccedilatildeo complementar de alguns de seus visitantes e nas

melhorias de interpretaccedilatildeo pedagoacutegica que os especialistas em colaboraccedilatildeo com os

professores vatildeo conseguindo fazer para alguns interessados e para o puacuteblico em geral

a interessar (MENDONCcedilA 1946 p53)

Se haacute por parte de Edgar Suumlssekind de Mendonccedila certo pessimismo quanto agraves

possibilidades de mudanccedilas na organizaccedilatildeo dos museus descritas por estes mesmos especialistas

da eacutepoca ndash arrumaccedilatildeo iluminaccedilatildeo etiquetas cataacutelogos e exposiccedilotildees ndash ele eacute otimista quanto agraves

atividades de extensatildeo que natildeo dependeriam de recursos diretos de pesquisa e preservaccedilatildeo

propaganda em diversos meios como raacutedio formaccedilatildeo de funcionaacuterios especializados em orientar

visitas palestras conferecircncias guias impressos projeccedilotildees de cinema coleccedilotildees e exposiccedilotildees

escolares Enfim a articulaccedilatildeo e accedilatildeo externas capazes de integrar os museus agrave sua finalidade

democraacutetica

Para explicitar a opiniatildeo de Mendonccedila sobre os museus tradicionais e suas praacuteticas de

exposiccedilatildeo cito dois exemplos a exposiccedilatildeo sobre o centenaacuterio de Joseacute Bonifaacutecio no Museu

Nacional e suas criacuteticas agrave concepccedilatildeo de museu do proacuteprio Museu Histoacuterico Nacional Mendonccedila

natildeo tem nenhuma simpatia pelas comemoraccedilotildees ciacutevicas marcadas por exposiccedilotildees especiais em

museus Ele critica a exposiccedilatildeo de comemoraccedilatildeo ao Centenaacuterio de Joseacute Bonifaacutecio realizada pelo

Museu Nacional que legitimada por significado cultural natildeo se justificava como ldquoexposiccedilatildeo

107

especialrdquo Diz o autor ldquoalmejariacuteamos que fosse acompanhado de outras frequentes ditadas natildeo

soacute pela solenidade de datas centenaacuterias mas pelas diuturnas exigecircncias de movimentaccedilatildeo das

coleccedilotildees para maior uso e benefiacutecio puacuteblicosrdquo (MENDONCcedilA 1946 p43)

O Museu Histoacuterico Nacional jaacute criticado por Venacircncio Filho (1941 p145) tambeacutem

recebe as criacuteticas de Mendonccedila

Quanto ao Museu Histoacuterico Nacional instituiacutedo eacute oacutebvio para se relacionar com o patrimocircnio integral da nossa Histoacuteria- a julgar pela dosagem e patenteando na sua

propensatildeo para o raro e o custoso em preciosismo que contraria o princiacutepio de

preferecircncia pelo caracteriacutestico isto eacute pelo mais frequumlente em cada eacutepoca consoante a

boa norma museoloacutegica (MENDONCcedilA 1946 p49)

O Museu Imperial receacutem criado recebe os votos de que possa aliviar-se dos encargos

aristocraacuteticos do Museu Histoacuterico Nacional e trabalhe de forma equitativa o patrimocircnio histoacuterico

do paiacutes (MENDONCcedilA 1946 p49)

Nesta bibliografia dos anos de 1920-1930 se elabora nos discursos educacionais no Brasil

a preocupaccedilatildeo com materiais e meacutetodos que garantissem a ldquoconstruccedilatildeo experimental do

conhecimento pelo estudanterdquo (VIDAL 2000 p498) e os museus satildeo entendidos como parte

importante dos ldquorecursos pedagoacutegicosrdquo disponiacuteveis agrave educaccedilatildeo

Jaacute nos anos de 1950 dois movimentos se encontram um vindo das discussotildees sobre a

escola feita pelos ldquoescolanovistasrdquo nos anos de 1920-1930 e outro que defendia a ampliaccedilatildeo dos

museus numa nova rede que incluiacutea os museus histoacutericos e pedagoacutegicos locais e a criaccedilatildeo de

novos museus pelo poder puacuteblico federal e estadual

A partir dos anos de 1930 se instaura uma polecircmica sobre a relaccedilatildeo escolas-museus que

tem de um lado a defesa dos museus como oacutergatildeos de documentaccedilatildeo com um caraacuteter

conservador no sentido de ser voltado a preservar as tradiccedilotildees (TRIGUEIROS 1956) e de outro

lado o entendimento que os museus satildeo instrumentos de educaccedilatildeo tal como defendia Viniacutecio

Stein Campos (1970) com a criaccedilatildeo dos museus histoacutericos e pedagoacutegicos

A ldquofunccedilatildeo educativardquo dos museus se estabelece nesse sentido entre os extremos da

funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo O sentido mais geral das reflexotildees sobre nesse capiacutetulo

sobre movimentos de formaccedilatildeo do puacuteblico nos museus na Europa e Brasil ao longo dos seacuteculos

XIX e XX eacute estabelecer ligaccedilotildees entre os que visitam contemporaneamente os museus e um

sentido de permanecircncia na ldquoformardquo museu Natildeo haacute uma via de matildeo uacutenica que vai dos museus aos

108

visitantes Assim como os visitantes elaboram suas demandas de formaccedilatildeo frente aos acervos e

exposiccedilotildees as instituiccedilotildees e poliacuteticas oficiais de preservaccedilatildeo e memoacuteria tambeacutem promovem

quadros culturais que se completam e se remontam com os museus e suas exposiccedilotildees

A pesquisa sobre o movimento de formaccedilatildeo do puacuteblico e sobre as funccedilotildees educativas dos

museus leva a pensar que a visita ao museu natildeo eacute o lugar da ldquorecepccedilatildeordquo de praacuteticas museoloacutegicas

e nem educativas O visitante se coloca em tracircnsito entre o mundo dos museus e outros mundos

como o das ldquoescolasrdquo e a visita realiza-se como um ldquocircuitordquo Os visitantes falam de suas

experiecircncias de visita como viagens intercalando dinacircmicas socioculturais de formaccedilatildeo docente

e de formaccedilatildeo histoacuterica

109

CAPIacuteTULO IV - Visitantes entre narrativas e objetos museais

41 - Visita ao Museu do Escravo ndash Belo Vale Minas Gerais

A visita ao Museu do Escravo natildeo foi um evento isolado para os alunos e nem para a

instituiccedilatildeo formadora Desde o ano de 2000 o Museu do Escravo vinha sendo visitado como parte

das atividades acadecircmicas desenvolvidas por professores e estudantes do curso de licenciatura em

Histoacuteria Nesta ocasiatildeo um total de 21 estudantes60

foi ao Museu a Fazenda Boa Esperanccedila e a

comunidade quilombola da Boa Morte em Belo Vale

Algumas potencialidades do Museu do Escravo jaacute haviam sido levantadas em visitas

anteriores e o trabalho de campo tinha por objetivo articular a narrativa do proacuteprio museu o

discurso dos especialistas em museologia e dos historiadores da escravidatildeo A visita seguiu uma

rotina que envolveu pedido de autorizaccedilatildeo para acesso agrave Fazenda Boa Esperanccedila contatos com a

prefeitura local para agendamento no Museu apresentaccedilatildeo em sala de aula de um histoacuterico da

cidade seus pontos turiacutesticos e atividades culturais (cd-room recortes de jornais e textos projeto

de revitalizaccedilatildeo do Museu do Escravo e outros) elaboraccedilatildeo de um roteiro da visita com horaacuterios

e recomendaccedilotildees sobre formas de registro durante o trabalho Vale destacar que esse natildeo era o

primeiro trabalho dessa natureza realizado pela turma que jaacute havia visitado o Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto e outras instituiccedilotildees como o Arquivo da Cidade de Belo Horizonte

O trabalho em Belo Vale teve dois objetivos Primeiro relacionar as visotildees

historiograacuteficas acerca da escravidatildeo colonial discutidas em sala de aula com os acervos

existentes nos locais visitados Segundo discutir a importacircncia da memoacuteria e do patrimocircnio

histoacuterico ao visitar o Museu do Escravo e o conjunto arquitetocircnico da Fazenda Boa Esperanccedila61

60 Visita vinculada agrave disciplina Histoacuteria do Brasil a Ameacuterica Portuguesa 4ordm periacuteodo

61 Belo Vale estaacute localizada na Zona Metaluacutergica de Minas Gerais Distacircncias Moeda - 13 km Congonhas - 42 km

Itabirito - 66 km Ouro Preto - 80 km Belo Horizonte - 86 km e 126 km de Pedro Leopoldo

110

Figura 20 Mapa ilustrativo de Minas Gerais e localizaccedilatildeo da cidade

de Belo Vale

Apoacutes a visita os estudantes elaboraram um relatoacuterio individual contendo suas impressotildees

e tendo como referecircncia os objetivos propostos no roteiro inicial Houve discussotildees em sala de

aula sobre aspectos observados Demais materiais como fotografias folders entrevistas e outros

recolhidos ou produzidos durante a visita tambeacutem foram apresentados Por fim a turma elaborou

uma narrativa siacutentese do trabalho que foi apresentado novamente e arquivado na Faculdade Eacute

este relatoacuterio-siacutentese que serve como paracircmetro para a anaacutelise da visita Utilizo como contraponto

o projeto de Revitalizaccedilatildeo do Museu do Escravo elaborado pela Superintendecircncia de Museus de

MG e materiais produzidos para divulgaccedilatildeo do museu jaacute que natildeo haacute nenhum cataacutelogo ou mesmo

inventaacuterio do acervo de objetos do Museu do Escravo

As fotografias selecionadas e apresentadas a seguir apontam o deslocamento realizado

pelos visitantes ateacute a chegada ao Museu onde reinstalam o lugar do visitante na cultura museal e

a escrita da histoacuteria nos museus

111

Saiacuteda de Pedro Leopoldo-MG Atravessam a Serra do Curral

Depois de Belo Horizonte comeccedila a descida Rios estradas e pontes Chegada a Belo Vale

A Igreja estaacute fechada O Museu do Escravo fica ao lado Foto na entrada

Figura 21 Turma 2006 visita o Museu do Escravo Coleccedilatildeo dos

visitantes

112

Apontar em que medida o Museu do Escravo contribuiu para que esses estudantes de

licenciatura em Histoacuteria elaborassem uma narrativa sobre a escravidatildeo articulando as linguagens

historiograacuteficas e museoloacutegicas implicou em mapear duas dimensotildees nas quais o tema da

escravidatildeo se apresentou durante a visita A primeira eacute a narrativa museograacutefica do museu

constituiacuteda por suas exposiccedilotildees A segunda eacute uma meta-narrativa do que deveria ser o Museu do

Escravo a partir de um projeto de revitalizaccedilatildeo A questatildeo central eacute investigar ateacute que ponto as

narrativas museoloacutegicas sejam elas ldquonovasrdquo ou ldquotradicionaisrdquo podem interferir na percepccedilatildeo que

os visitantes tecircm acerca da histoacuteria

Antes da visita os estudantes foram apresentados a um material visual sobre Belo Vale

produzido e distribuiacutedo por uma empresa de informaacutetica que atua na regiatildeo e que traz fotografias

e textos sobre o Museu do Escravo62

Neste material o Museu eacute apresentado como instituiccedilatildeo

uacutenica no paiacutes se constitui num dos mais importantes e completos acervos culturais com peccedilas

referentes agrave escravatura

Uma das estudantes apoacutes a visita registra opiniatildeo semelhante o Museu do Escravo da

Fazenda Boa Esperanccedila eacute o uacutenico museu dedicado exclusivamente ao escravo no Brasil onde

conta com um acervo com uma meacutedia de 4500 peccedilas (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de

trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Aparentemente a estudante atribui um sentido indevido agrave localizaccedilatildeo do Museu O Museu

do Escravo natildeo eacute da Fazenda Boa Esperanccedila A informaccedilatildeo correta sobre a localizaccedilatildeo do Museu

jaacute constava do material apresentado agrave turma antes da visita O acervo do Museu era apresentado

como privilegiado O material trazia tambeacutem dados sobre a trajetoacuteria da constituiccedilatildeo desse

acervo Reunido pelo padre Penido de famiacutelia natural da cidade inicialmente em Congonhas do

Campo foi transferido em 1977 para a Fazenda Boa Esperanccedila e municipalizado em 1988 no

centenaacuterio da aboliccedilatildeo com novo preacutedio no centro da cidade

Eacute possiacutevel supor que o desvio da visitante seja tambeacutem um ruiacutedo quanto agrave origem do

acervo e natildeo apenas da localizaccedilatildeo do Museu Quando visitamos a Fazenda Boa Esperanccedila e laacute

natildeo encontramos uma ldquosenzalardquo ou qualquer objeto relativo agrave escravidatildeo abriu-se uma duacutevida

62 Esse material foi adquirido no Museu do Escravo em Belo Vale Foi elaborado por empresa de consultoria

wwwdejorecombr

113

Onde estariam esses objetos Eacute liacutecito supor que foram transferidos para o Museu no Escravo O

que natildeo eacute correto jaacute que o acervo natildeo veio da fazenda

A indefiniccedilatildeo quanto agrave origem do acervo e a natildeo catalogaccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos objetos

em exposiccedilatildeo alimenta essa confusatildeo O Museu do Escravo se apresenta como um lugar de

guarda de objetos do passado Entretanto natildeo eacute possiacutevel acessar o acontecido Houve uma perda

irreparaacutevel pela accedilatildeo do tempo e mesmo que o museu se coloque como aquele capaz de reparar o

ldquosentimento de perdardquo fabricando objetos e cenas para dar visibilidade agravequilo que julga ser

pertinente aos habitantes da cidade e aos visitantes continua existindo obstaacuteculos agrave transparecircncia

pretendida pelas exposiccedilotildees museais

42 - O escravo e o museu

As exposiccedilotildees do Museu estatildeo dispostas pelos seis salotildees do Pavilhatildeo 1 um paacutetio interno

onde foi construiacuteda uma espeacutecie de senzala tambeacutem destinada agrave exibiccedilatildeo de acervo (pavilhatildeo

aos fundos) onde destacam-se cenaacuterios museograacuteficos (Figuras 22 e 23)

Figura 22 Pavilhatildeo 1 Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale

MG Fonte httpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtm

Neste cenaacuterio expositivo convivem diferentes objetos instrumentos de castigo coacutepias de

documentos iconograacuteficos objetos de arte afro-brasileira objetos de uso pessoal e salas com

114

utensiacutelios domeacutesticos como louccedilas e armas e arte sacra originaacuteria da Igreja Matriz que estaacute

localizada ao lado do Museu e que foi transferido ao museu por medida de seguranccedila possiacutevel

O pavilhatildeo dos fundos exibe aleacutem de montagens museograacuteficas como de um escravo

sendo castigado em pelourinho indumentaacuteria moradia e utensiacutelios usados na produccedilatildeo do filme

Zumbi - Quilombo dos Palmares doados pelo cineasta Cacaacute Diegues e um tuacutemulo de escravo

desconhecido

Figura 23 Pavilhatildeo 2 (fundos) Planta Baixa do Museu do Escravo

Belo Vale MG Fonte Disponiacutevel em

lthttpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtmgt Acesso

em 2011

Projetos de revitalizaccedilatildeo63

do Museu do Escravo foram elaborados para redefinir a

conceituaccedilatildeo museoloacutegica e reformulaccedilatildeo dos moacutedulos da exposiccedilatildeo A principal criacutetica dos

especialistas eacute que se estava diante de ldquoum colecionismo assistemaacutetico sem propoacutesitos cientiacuteficos

ou educativosrdquo ou ldquomostruaacuterio de antiguidades e de objetos raros (JULIAtildeO sd) Contudo em

visita realizada em 2010 as exposiccedilotildees ainda permaneciam com a mesma organizaccedilatildeo

encontrada nas visitas anteriores Em 2006 quando da visita com os estudantes da turma do 4ordm

63 Projeto de reformulaccedilatildeo do Museu do Escravo Secretaria de Estado de Cultura-MG Superintendecircncia de Museus

Letiacutecia Juliatildeo in wwwdejorecombrmuseudoescravom_historiahtm

115

periacuteodo foi possiacutevel confrontar as visotildees historiograacuteficas tambeacutem conflitantes entre si de modo a

elaborar no diaacutelogo com o museu uma narrativa acerca do tema escravismo colonial

43- Uma nova museografia para o Museu do Escravo

Enquanto o Museu se apresenta aos visitantes como o uacutenico no gecircnero em todo o Brasil64

reconstituindo cenaacuterios como senzala pelourinho e tuacutemulo de escravo desconhecido se sobrepotildee

outro discurso museoloacutegico na forma de um projeto de revitalizaccedilatildeo Nesse projeto65

o Museu do

Escravo eacute apresentado como

mostruaacuterio de antiguidades e de objetos raros no qual os objetos se justapotildeem em

arranjos inusitados e sem criteacuterios Desprovido de qualquer conceituaccedilatildeo o caraacuteter

meramente acumulativo do seu acervo parece atender aos anseios de musealizaccedilatildeo de

uma comunidade ciente de seu passado mas pouco instrumentalizada para a preservaccedilatildeo

de seu patrimocircnio Egrave possiacutevel dizer que o Museu do Escravo transita entre um gabinete

de curiosidade que busca dar mostras dos mais diferentes vestiacutegios do passado

abarcando de achados arqueoloacutegicos a exemplares de maacutequinas do seacuteculo XX sem

qualquer abordagem que permita estabelecer nexos entre os mesmos e a praacutetica

museograacutefica comum em museus americanos de simulaccedilotildees de realidades e contextos a exemplo da arquitetura colonial do preacutedio que o sedia da construccedilatildeo da senzala e do

escravo no pelourinho66

(JULIAtildeO sd)

Quanto agrave linguagem museoloacutegica o documento elaborado pela historiadora Letiacutecia Juliatildeo

eacute taxativo

Embora o imponente casaratildeo encontre-se fisicamente preservado natildeo foi adotado

qualquer recurso comunicativo com o intuito de oferecer informaccedilotildees sobre o conjunto

tombado de modo a promover uma mediaccedilatildeo miacutenima entre o puacuteblico e aquele bem

cultural (JULIAtildeO sd)

A proposta apresentada pela Superintendecircncia de Museus da Secretaria Estadual de

Cultura de MG em parceria com associaccedilotildees locais e oacutergatildeos puacuteblicos eacute uma completa

reformulaccedilatildeo do discurso museoloacutegico do Museu do Escravo O acervo disponiacutevel seraacute

reorganizado em sete moacutedulos temaacuteticos 1) Trabalho escravo e sociedade escravista

64 Site do Museu em wwwdejorecombrbelovaleturismo_museuhtm 65 O Projeto natildeo foi executado A exposiccedilatildeo do Museu do Escravo continua ateacute a presente data com a mesma

arrumaccedilatildeo descrita pelos estudantes na visita em 2006 66 Projeto de reformulaccedilatildeo do Museu do Escravo Secretaria de Estado de Cultura-MG Superintendecircncia de

Museus Letiacutecia Juliatildeo in wwwdejorecombrmuseudoescravom_historiahtm

116

(instrumentos de trabalho) 2) Cotidiano escravo (vestuaacuterio alimentaccedilatildeo moradia procedecircncia

dos escravos) 3) Relaccedilotildees de poder e dominaccedilatildeo (castigo e estrateacutegias de persuasatildeo) 4) Formas

de resistecircncia escrava (quilombos revoltas violecircncia cotidiana) 5) Religiosidade (diferentes

manifestaccedilotildees) 6) Imagens do negro e da escravidatildeo (preconceito estereoacutetipos mesticcedilagem) e

7) Cultura afro-brasileira

Figura 24 AMORIM Frederico Levi Tuacutemulo do escravo

desconhecido Museu do Escravo Belo Vale 2006

Aleacutem dos moacutedulos que indicam a necessidade de uma ldquoabordagem mais completa das

relaccedilotildees de poder na sociedade escravistardquo o ldquonovordquo discurso museoloacutegico propotildee retirar um

grande volume de objetos do acervo em exposiccedilatildeo permanente e montar pequenas exposiccedilotildees

temporaacuterias temaacuteticas Outra medida eacute destinar uma das alas da ldquosenzalardquo agrave reserva teacutecnica Por

fim eacute recomendado avaliar as ldquomontagens museograacuteficasrdquo como a moradia escrava o escravo no

pelourinho e o tuacutemulo do escravo desconhecido e se mantidas informar ao puacuteblico seu caraacuteter de

ldquosimulaccedilatildeordquo A preocupaccedilatildeo com os tempos histoacutericos tambeacutem eacute explicita quanto se trata do

117

proacuteprio preacutedio Eacute preciso informar que a sede eacute recente para evitar equiacutevocos quanto a sua

ldquoautenticidaderdquo

44- As narrativas dos visitantes escravidatildeo e eurocentrismo

Frente a essas duas narrativas como se comportam os visitantes Quais aspectos foram

aceitos e quais foram refutados pelos estudantes a partir das narrativas museoloacutegicas do museu e

da revitalizaccedilatildeo Como interpelam e satildeo interpelados pelos objetos museograacuteficos Como

relacionam a cultura material com narrativas historiograacuteficas Como modificam suas concepccedilotildees

a partir do contato com a linguagem museoloacutegica Como os visitantes elaboram uma narrativa

sobre a histoacuteria e a escravidatildeo tomando como referecircncia o Museu do Escravo Interessa tambeacutem

perceber como o Museu compreende o seu proacuteprio acervo e como faz uso dele O acervo se

constitui em prova documental ou eacute elaborado em funccedilatildeo da loacutegica museograacutefica

Destaco a seguir algumas impressotildees dos visitantes sobre o Museu do Escravo Para

Weberton Fernandes da Costa

O Museu do Escravo utiliza como metodologia de organizaccedilatildeo uma ideacuteia marxista de

ver a histoacuteria procurando enfatizar quase que exclusivamente a luta de classe ocorrida

entre senhores e escravos ateacute a aboliccedilatildeo da escravatura assinada pela princesa Isabel durante o reinado de DPedro II colocando o negro como viacutetima e com um pobre

coitado Tudo bem que o regime escravocrata implantado pelos portugueses no Brasil

seguido pelos Senhores de Engenho do accediluacutecar e posteriormente pelos Barotildees do Cafeacute foi

abominaacutevel terriacutevel cruel e jamais esquecido pela humanidade No entanto colocaacute-los

somente em tal posiccedilatildeo exposta pelo museu soacute contribui para a proliferaccedilatildeo do racismo

visto que tal abordagem coloca o negro como um ser inferior e sem cultura natildeo produzia

nada e soacute apanhava (Weberton Fernandes da Costa Relatoacuterio Trabalho de Campo Belo

Vale 2006)

O estudante faz uma leitura dos objetos e identifica um criteacuterio de organizaccedilatildeo

cronoloacutegico em meio ao que parece aos teacutecnicos da Superintendecircncia de Museus como ldquoarranjos

inusitados e sem criteacuteriosrdquo Ele estabelece uma linha temporal (imaginaacuteria) que liga os objetos

ldquoacumulados para atender aos anseios de musealizaccedilatildeo da comunidaderdquo Ao que aparece como

ldquosem qualquer conceituaccedilatildeordquo ao discurso museoloacutegico percebe-se uma poderosa forma de

explicaccedilatildeo da sociedade a teoria marxista Vejamos o que ele chama de marxismo Haacute uma

ecircnfase na luta de classes O lado da dominaccedilatildeoexploraccedilatildeo certamente se impotildee e o

dominadoexplorado eacute vencido A batalha vista de hoje transforma o vencido em viacutetima em

118

coitado Uma exposiccedilatildeo sobre os escravos organizada sob o eixo da dominaccedilatildeo X resistecircncia faz

uma abordagem da inferioridade do negro na sociedade escravista Nosso aluno faz a criacutetica

historiograacutefica da exposiccedilatildeo e talvez fizesse o mesmo com uma nova organizaccedilatildeo do acervo Ele

natildeo vecirc apenas um ldquogabinete de curiosidades do seacuteculo XIX ele vecirc uma visatildeo de mundo que

permeia de sentido os ldquoanseios de musealizaccedilatildeo da comunidaderdquo Ainda que os objetos se

apresentem de maneira bastante caoacutetica os estudantes caccedilam em meio ao palheiro e fazem

reflexotildees atribuindo outros sentidos e interrogando os indiacutecios para construir uma narrativa

imaginar uma histoacuteria Warleson de Melo Simpliacutecio afirma

O que mais me chamou a atenccedilatildeo foram os objetos que eram utilizados como forma de

puniccedilatildeo dos escravos Todos os objetos vistos representavam ali todo o sofrimento que

os escravos passaram Dentre esses objetos havia um que parecia um sapato de ferro

nele havia um espeto que causaria dor no peacute do escravo que tentasse fugir pois este

espeto furaria o peacute do escravo se ele corresse Havia outros objetos tambeacutem que tinha a

mesma funccedilatildeo como por exemplo um outro modelo de sapato com um guizo que faria

barulho quando o escravo andasse impedindo assim sua fuga (Warleson de Melo

Simpliacutecio Relatoacuterio trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Figura 25 AMORIM Frederico Fotografias do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

Diferentemente do visitante anterior que leu apenas a dominaccedilatildeo aqui os ldquoinstrumentos

de torturardquo natildeo remetem agrave submissatildeo mas agrave revolta agrave fuga agrave resistecircncia Os vestiacutegios da

119

dominaccedilatildeo falam da resistecircncia Natildeo seriam tantos e tatildeo variados os objetos de castigo se natildeo

houvesse tantas fugas Os escravos natildeo parecem coitados O estudante toma para si a funccedilatildeo de

representaccedilatildeo dos objetos e reencena os gestos contidos na profusatildeo de elementos espalhados

pelos salotildees da exposiccedilatildeo Natildeo eacute necessaacuterio que sejam reorganizados para que falem de maneira

diferente

Outra discussatildeo apresentada eacute sobre a ldquosimulaccedilatildeo de realidades e contextosrdquo Diversos

alunos destacam as reacuteplicas externas como aquelas que mais lhes chamaram a atenccedilatildeo e

justificam suas escolhas Priscila Oliveira dos Santos aponta que

Na parte externa do museu existe uma reacuteplica do corpo de um negro escravo junto ao

tronco onde simula a forma em que os escravos eram maltratados Isto acontecia

principalmente aos domingos que era dia de missas e era dia de folga dos escravos o

que garantiria um puacuteblico maior que os demais dias (Priscila Oliveira dos Santos

Relatoacuterio trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Mayara Luiz Gurgel de Abreu completa ldquoo que mais me impressionou no museu foi a

reacuteplica em tamanho real de um escravo no tronco que apesar de triste impressiona por ser rica

em detalhes e parecer ser realrdquo

Figura 26 AMORIM Frederico Levi Fotografias do paacutetio interno

do Museu do Escravo 2006

Diversas fotografias destacam o pelourinho e a senzala Ainda que natildeo haja maiores

indicaccedilotildees e explicaccedilotildees acerca do cenaacuterio natildeo haacute duacutevidas acerca da montagem da simulaccedilatildeo O

discurso do proacuteprio Museu parece direto nesse caso A comunicaccedilatildeo se faz ruiacutedos quanto agrave

120

ldquoautencidaderdquo da cena satildeo recursos de presentificaccedilatildeo claramente entendidos pelos diferentes

alunos Mas nada tatildeo divertido quando brincar no cenaacuterio de Cacaacute Diegues Pode-se ateacute tirar mais

fotografias da turma

Figura 27 ARAUacuteJO Sueli de Azevedo A turma no cenaacuterio do Cacaacute

Diegues Museu do Escravo 2006

Os estudantes problematizaram os conteuacutedos apresentados pela exposiccedilatildeo do museu

construiacuteram argumentos e procedimentos de interpretaccedilatildeo histoacuterica comprometida com uma

dimensatildeo sensiacutevel e coletiva no presente

Eacute possiacutevel pensar nas fotografias produzidas pelos visitantes de museus como as

apresentadas acima no sentido de Milton Guran (1997) em seu ensaio Fotografar para

descobrir fotografar para contar O corpus fotograacutefico constituiacutedo na pesquisa antropoloacutegica eacute

entendido por Guran como uma sobreposiccedilatildeo de imagens produzidas a partir de imagens

anteriores A anaacutelise destas imagens deve levar em conta o momento da produccedilatildeo e a

especificidade de cada fotografia

Diferentes das fotografias feitas pelo proacuteprio pesquisador ou pelo proacuteprio museu as

fotografias feitas pelos visitantes e assumidas por eles encontram-se impregnadas pelo imaginaacuterio

do proacuteprio grupo ou alguns de seus membros por consequumlecircncia expressa de alguma maneira a

ldquoidentidaderdquo do grupo em questatildeo Enquanto o museu procura uma representaccedilatildeo ldquooriginalrdquo um

espelhamento do que ele possui em seu acervo o visitante coloca-se no jogo da auto-

representaccedilatildeo e transfere para si o poder de espelhamento O visitante compartilha a presenccedila de

um signo e coloca frente ao sentido jaacute traccedilado pelo museu outro rumo uma multiplicaccedilatildeo de

121

conexotildees trajetoacuterias O visitante confere ao sentido imobilizado pelo museu um colorido uma

disposiccedilatildeo para novas referecircncias culturais e dimensotildees poliacuteticas natildeo contidas na matriz

referencial oferecida pelos museus

Cada fotografia oferece os procedimentos de apropriaccedilatildeo do visitante seus gostos uma

esteacutetica uma sensualidade um sentido de presenccedila dos corpos (pessoas ou natildeo) Guran (1997)

aponta que a relaccedilatildeo da fotografia com o imaginaacuterio vai da identidade ndash campo da imaginaccedilatildeo ndash

para a alteridade ndash o lugar dos outros na imaginaccedilatildeo partilhada que o constitui socialmente

No Museu do Escravo estaacute presente a dubiedade do processo de patrimonializaccedilatildeo ou

seja de transformar determinados objetos da cultura material em patrimocircnio histoacuterico O acervo

do Museu do Escravo eacute constituiacutedo pelo colecionismo de um grupo local de objetos ligados

diretamente agrave escravidatildeo e ao trabalho escravo na regiatildeo de Belo Vale Em exposiccedilatildeo no Museu

esses objetos recebem outro tratamento e satildeo articulados num novo espaccedilo de exibiccedilatildeo que inclui

a construccedilatildeo de um local proacuteprio para o circuito e criaccedilatildeo de novos cenaacuterios O uso que os

visitantes fazem dessa exposiccedilatildeo do museu cria novos sentidos para essa memoacuteria histoacuterica Um

desses usos eacute reinscrever esses elementos de uma memoacuteria da escravidatildeo em uma cultura afro-

brasileira contemporacircnea Cria-se assim um circuito no qual as visitas e os visitantes satildeo parte

dos rituais e discursos narrativos do museu e ampliam suas sensibilidades ao mesmo tempo em

que reconhecem no museu um papel formador

122

CAPIacuteTULO V - Entre a poliacutetica e a poeacutetica dos museus e exposiccedilotildees

51 - O Museu Histoacuterico Nacional habitaccedilotildees do patrimocircnio

O Museu Histoacuterico Nacional pode ser considerado como herdeiro de uma tradiccedilatildeo

enciclopeacutedica de museus que desenvolve uma perspectiva de conservaccedilatildeo dos objetos no tempo

No museu ldquohistoacutericordquo o objeto eacute apresentado como um documento seja no cataacutelogo ou nas

exposiccedilotildees ldquoaquele que representa simbolicamente e materialmente a histoacuteriardquo (OLIVEIRA

1998 p68)

Vinculado a um paradigma de preservaccedilatildeo existente desde seacuteculo XV cujo conceito de

uso estaacute relacionado agrave ideia de destruiccedilatildeo o museu funciona como aquela instituiccedilatildeo que defende

o objeto da perda do desgaste e do uso cotidiano Natildeo se admite portanto um uso cultural dos

objetos fora da proteccedilatildeo do museu De um modo geral a relaccedilatildeo do puacuteblico com esse tipo de

museu eacute marcada por essa ambiguumlidade do discurso da conservaccedilatildeo e do patrimocircnio O museu

condena o consumo cultural mas ao mesmo tempo utiliza o status de histoacuterico e de patrimocircnio

como parte de uma induacutestria patrimonial de reapropriaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de determinados

elementos histoacutericos e esteacuteticos (CHOAY 2006 p223)

A atual diretora do Museu Histoacuterico Nacional Vera Luacutecia Bottrel Tostes define a proacutepria

instituiccedilatildeo por era dirigida como uma ldquoinstituiccedilatildeo de memoacuteriardquo aquelas que lutam na linha de

frente contra o esquecimento

Museu Histoacuterico Nacional natildeo poderia omitir-se de participar intensamente das

comemoraccedilotildees dos 200 anos da transferecircncia da corte portuguesa para o Brasil

articulando e organizando eventos que visam natildeo apenas celebrar a efemeacuteride mas

trazer agrave luz novas pesquisas sobre singular momento da histoacuteria do Brasil e de Portugal

(TOSTES 2008)

O preacutedio do Museu Histoacuterico Nacional eacute apresentado por sua diretora como anterior agrave

chegada da corte e portanto um lugar adequado ao conhecimento do ldquocontexto histoacutericordquo que

cercou a vinda de D Joatildeo VI e a realizaccedilatildeo de um ldquomemoraacutevel evento histoacuterico-culturalrdquo que

ldquotorna viva a memoacuteria histoacutericardquo (TOSTES 2008)

O Museu Histoacuterico Nacional em suas atuais exposiccedilotildees ainda preserva uma loacutegica

instituiacuteda desde a exposiccedilatildeo de Gustavo Barroso a busca da ldquoautenticidaderdquo em vestiacutegios

123

materiais e um caraacuteter de ldquoverdade comprovadardquo agrave histoacuteria que busca narrar Ou seja na

exposiccedilatildeo apresentada o museu convida os visitantes a natildeo romperem com uma visatildeo de museu-

memoacuteria que considera os objetos como fonte de culto e certificaccedilatildeo da histoacuteria (SANTOS 2006

p50)

A imagem de Dom Joatildeo VI evocada na exposiccedilatildeo sobre a vinda da famiacutelia real ressalta a

personalidade do governante em tom quase pessoal o ldquonosso comum priacutencipe regenterdquo e o

acontecimento ndash a vinda da famiacutelia real ndash tecircm uma dupla face que precisa ser igualmente

contemplada os interesses do Brasil e de Portugal A celebraccedilatildeo eacute justamente deste caraacuteter

insoacutelito do acontecimento As comemoraccedilotildees satildeo segundo o cataacutelogo realizadas no Brasil e em

Portugal

Figura 28 CARDINI Joatildeo fl 1804-1825D Joatildeo Priacutencipe do Brazil

regente de Portugal Gravura buril e aacutegua-forte pampb 96x6 cm 1807

Cataacutelogo da exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio - A

Corte Portuguesa no Brasil2008 p18

A gravura de Joatildeo Cardini datada de 1807 traz a inversatildeo da figura de Dom Joatildeo VI

priacutencipe do Brasil e regente de Portugal A pergunta a ser feita diante dessa nova imagem poliacutetica

124

do monarca seria se Portugal teria apoacutes 200 anos algo a comemorar em relaccedilatildeo a esse episoacutedio

de sua histoacuteria poliacutetica

O reconhecimento pelo visitante desse gecircnero de museu como habitaccedilatildeo do patrimocircnio eacute

quase imediata Ainda do lado de fora do preacutedio o visitante legitima o museu como patrimocircnio

A estudante Marly Marques Rodrigues diz em seu relatoacuterio de vista ldquoO preacutedio do Museu

Histoacuterico Nacional eacute considerado um dos mais importantes de seu acervo Remonta ao periacuteodo

em que o Brasil era colocircnia de Portugal e os franceses ainda disputavam com os portugueses a

posse da Baia da Guanabara []rdquo Outra visitante apropriando-se de um trecho de um folheto de

divulgaccedilatildeo do museu destaca as concepccedilotildees da instituiccedilatildeo e suas funccedilotildees no momento da visita

Ao trabalhar com as noccedilotildees de memoacuteria histoacuteria e patrimocircnio cultural de forma luacutedica e

educativa o MHN acredita fazer com que o puacuteblico perceba a importacircncia e o papel dos

museus estreitando assim os laccedilos de identidade e afetividade com as instituiccedilotildees

tornando sua presenccedila mais frequumlente e espontacircnea estimulando entre amigos e

familiares a disseminaccedilatildeo dos museus como agentes de mudanccedila e desenvolvimento

(Michelle Oliveira Xavier Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade

Pedro Leopoldo 2008)

A visitante refere-se a uma meta-linguagem do museu Um discurso luacutedico e educativo

sobre a histoacuteria que justificaria as funccedilotildees museais frente a outras instituiccedilotildees de memoacuteria e

patrimocircnio cultural O museu tenta encantar cada visitante para que haja ressonacircncia67

ou seja

para que o poder do objeto exibido alcance um mundo maior e aleacutem de seus limites formais e seja

capaz de evocar em quem os vecirc as forccedilas culturais complexas e as dinacircmicas das quais emergiu

Em seus materiais de divulgaccedilatildeo o Museu Histoacuterico Nacional eacute apresentado como ldquoum

dos mais importantes museus do Brasil com um acervo de milhares de itensrdquo Ligado ao

Ministeacuterio da Cultura atraveacutes do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional conta com a museoacuteloga Vera Luacutecia Bottrel Tostes na

direccedilatildeo desde 1994

A ideia de preservaccedilatildeo do patrimocircnio nacional estaacute presente no Museu Histoacuterico Nacional

desde sua fundaccedilatildeo em 1922 A museoacuteloga Vacircnia Oliveira (1998) investiga como o conceito de

museu se modifica internamente na proacutepria documentaccedilatildeo e literatura produzida pelo proacuteprio

museu nacional ao longo de sua existecircncia Primeiro como instituiccedilatildeo de guarda das reliacutequias do

67 Gonccedilalves (2005 p15-36) trabalha com essa dimensatildeo da ressonacircncia para entender os objetos culturais e as

estrateacutegias de autenticaccedilatildeo dos objetos

125

passado nacional cultivando os grandes feitos dos heroacuteis nacionais defendida por Gustavo

Barroso ateacute sua morte em 1959 Na deacutecada seguinte a visatildeo de Gustavo Barroso co ntinua sendo

aceita na praacutetica do Museu Nacional o local continua a abrigar objetos ligados aos grandes vultos

da histoacuteria Entre 1979-1992 data limite do estudo da pesquisadora as ideias de museu na

documentaccedilatildeo e no discurso literaacuterio satildeo variadas Uma das referecircncias eacute o movimento da Nova

Museologia que chega ao puacuteblico pela Mesa-Redonda de Santiago organizada pelo ICOM e

referendada em 1984 pela Declaraccedilatildeo do Canadaacute mas que natildeo eacute aceita por todo o campo museal

No Museu Histoacuterico Nacional efetiva-se o peso da tradiccedilatildeo histoacuterica Os objetos tecircm valor

histoacuterico por terem interesse para uma histoacuteria nacional e sua aprendizagem Satildeo reliacutequias raras e

autecircnticas objetos comuns ligados a grandes vultos poliacuteticos e militares que devem ser

recolhidos colecionados e expostos A noccedilatildeo de patrimocircnio atribui uma dimensatildeo quase maacutegica

aos objetos fazendo-os transcender no tempo (CHOAY 2006 p93)

A noccedilatildeo de patrimocircnio ampliada apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa possui sentido de

homogeneizaccedilatildeo de valores Natildeo basta colecionar bens o museu se atribui a funccedilatildeo de servir de

instruccedilatildeo agrave naccedilatildeo reunindo objetos que ensinam o civismo a histoacuteria e outras competecircncias

teacutecnicas Segundo Choay (2006 p 95) museu eacute o nome que se daacute aos depoacutesitos de bens

nacionalizados na Revoluccedilatildeo Francesa e guardam relaccedilatildeo direta com o estabelecimento da

instruccedilatildeo puacuteblica

Para a definiccedilatildeo de patrimocircnio histoacuterico contribuem as motivaccedilotildees de conservaccedilatildeo de

bens condenados o interesse para a histoacuteria a beleza do trabalho e o valor pedagoacutegico Essas

motivaccedilotildees e interesses constituem um valor nacional (educativo) que desencadeiam valores

relativos a conhecimentos especiacuteficos e gerais satildeo testemunhos da histoacuteria permitem construir

uma multiplicidade

Franccediloise Choay (2006) desenvolve um argumento pertinente para se pensar o tipo de

exposiccedilatildeo proposta pelo Museu Histoacuterico Nacional Ao discutir as relaccedilotildees entre os humanismos

e o monumento antigo a autora lanccedila a questatildeo de como eacute um olhar preservador para um objeto

do passado (arte monumento) e como reconhecer esses objetos do passado como monumentos

histoacutericos Para Choay (2006 p34) a apropriaccedilatildeo natildeo eacute um processo de reflexatildeo ou cogniccedilatildeo eacute

um novo valor de uso na vida domeacutestica Os objetos de antiguidade satildeo usados para decoraccedilatildeo

126

das casas preacutedios puacuteblicos e privados os novos valores satildeo atribuiacutedos agrave praacutetica de colecionar tais

objetos prestiacutegio lucro jogo e natildeo simplesmente agrave experiecircncia de beleza (prazer da arte)

O surgimento do chamado monumento histoacuterico se deu em relaccedilatildeo agrave Roma nos seacuteculos

XIV-XV propiciado pelo distanciamento do passado apoiado no projeto de preservaccedilatildeo medieval

Satildeo consideradas atitudes de preservaccedilatildeo a economia e o interesse em reutilizar os edifiacutecios Haacute

tambeacutem um saber literaacuterio que cria uma sensibilidade pelos materiais execuccedilatildeo descriccedilatildeo de

cenas antigas paineacuteis de altares e a admiraccedilatildeo pelo trabalho maravilhoso e a suntuosidade

esteacutetica O valor do patrimocircnio estaacute associado ao maacutegico agrave curiosidade prazer aos olhos Natildeo

tem propriamente um valor histoacuterico eacute modelo para suscitar uma arte de viver e refinamento que

soacute os gregos possuiacuteam (CHOAY 2006 p34-35)

Jaacute os humanistas tomam o patrimocircnio como referente para a interpretaccedilatildeo e estabelecem

condutas relativas agrave heranccedila (legado da antiguidade greco-romana) Ao assumirem uma

perspectiva da alteridade (noacutes somos diferentes deles) os humanistas criam uma distacircncia

simboacutelica Para os humanistas os monumentos da antiguidade vatildeo incorporando as marcas de sua

reutilizaccedilatildeo e a ideacuteia de preservaccedilatildeo comporta novos usos como o deslocamento das colunas de

maacutermore de Roma e a reserva de fragmentos antigos colecionados pelos papas

Nesse movimento do seacuteculo XVIII as medidas de conveniecircncia e interesse histoacuterico

passam a afirmar uma identidade por meio dos monumentos Os tipos de monumentos evocam a

estrutura da vida cotidiana e lanccedilam a memoacuteria para um passado temporal glorioso Essa seria

para Choay a primeira fase do monumento entendido como ldquoantiguidaderdquo e que lanccedila uma

presenccedila visual e uma profunda alteridade com a distacircncia histoacuterica concentrado nas obras e

edifiacutecios da antiguidade do quatrocento

O monumento eacute o sujeito da alegoria do patrimocircnio Ele tem valor de autenticidade

(confirmado pelos livros) eacute testemunho do passado que se consumou eacute arrancado do presente

que o banaliza para fazer a gloacuteria dos seacuteculos que o edificaram Satildeo os humanistas e artiacutefices que

juntos contribuem para a criaccedilatildeo do sentido moderno de patrimocircnio cultural entendido como

heranccedila dos antecessores e legado aos sucessores68

Segundo Choay (2006 p49) os letrados

faziam visitas a Roma mas natildeo lhes interessava os monumentos em si Eles iriam evocar e

68 Gonzalez (2004 p 66) diferencia a concepccedilatildeo francesa da concepccedilatildeo inglesa na formaccedilatildeo do conceito de

patrimocircnio cultural

127

invocar os testemunhos do mundo da escrita suas preocupaccedilotildees eram filosoacuteficas literaacuterias

morais poliacuteticas histoacutericas e natildeo pela forma dos edifiacutecios Jaacute os artiacutefices (homens da arte)

arquitetos e escultores se interessavam propriamente pelas formas dos monumentos

Letrados e artiacutefices do seacuteculo XIV surgem com os amantes e colecionadores da arte antiga

no sentido moderno Os humanistas ensinam a ler e os artiacutefices a ldquover com os olhosrdquo Essa

impregnaccedilatildeo muacutetua marca o territoacuterio da arte articulando-o com a histoacuteria para formar o

monumento histoacuterico Uma vez instituiacutedo o monumento o conhecimento histoacuterico passa a ser o

uacutenico necessaacuterio na compreensatildeo das antiguidades natildeo eacute necessaacuterio mais um julgamento esteacutetico

(CHOAY 2006 p50)

No seacuteculo XIV o monumento histoacuterico soacute pode ser antigo e a arte soacute pode ser antiga ou

contemporacircnea A galeria como espaccedilo fiacutesico de exposiccedilatildeo soacute aparece no seacuteculo XVI A coleccedilatildeo

de arte vai se diferenciando da sala de curiosidades e precede o Museu De caraacuteter privado ela

oferece o exemplo da abertura pela primeira vez ao puacuteblico das coleccedilotildees pontificiais do capitoacutelio

(CHOAY 2006 p50-52)

Pomian (1978 p51) distingue as coleccedilotildees e colecionadores de antiguidades do

quatrocento dos gabinetes de curiosidade (museum de natureza e humanos) da Idade Meacutedia que

sobreviveriam ateacute o Iluminismo A tarefa inicial de preservaccedilatildeo cabia aos papas assim como as

medidas de restauraccedilatildeo proteccedilatildeo e as regras de expropriaccedilatildeo para utilidade puacuteblica Um

monumento histoacuterico ateacute o seacuteculo XIV era constituiacutedo de trecircs discursos perspectiva histoacuterica

perspectiva artiacutestica e outra da conservaccedilatildeo A ambiguumlidade do discurso de conservaccedilatildeo segundo

Pomian eacute ldquotranquumlilizar a consciecircncia e justificar a demoliccedilatildeo realrdquo (POMIAN 1978 p51-86)

A discussatildeo sobre a invenccedilatildeo do monumento histoacuterico e da noccedilatildeo de patrimocircnio tem um

encaminhamento distinto segundo Franccediloise Choay (2006 p144) que pode ser visto em duas

alegorias advindas da ambiguumlidade que ela apontara anteriormente no discurso de conservaccedilatildeo

tranquumlilizar a consciecircncia e justificar a destruiccedilatildeo efetiva A partir do seacuteculo XIX a noccedilatildeo de

patrimocircnio vai comportar trecircs abordagens o monumento histoacuterico a cidade histoacuterica e o museu

histoacuterico As trecircs abordagens vatildeo se desdobrar em figuras distintas Primeiro a figura memorial

que envolve toda a malha do patrimocircnio intangiacutevel a ser protegido Segundo a figura de toda a

cidade como desempenhando o papel de monumento capaz de dar liccedilotildees contra o esquecimento

E terceiro a figura museal uma figura histoacuterica que se destaca pela resposta que eacute capaz de dar

128

ao problema do patrimocircnio No museu e natildeo apenas nele se faz presente a figura museal que

reuacutene um caraacuteter conservador e outro destruidor

A figura museal ameaccedilada de desaparecimento eacute concebida como um objeto raro

fraacutegil precioso para arte e para a histoacuteria e que como as obras conservadas nos museus

deve ser colocada fora do circuito da vida Tornando-se histoacuterica ela perde sua

historicidade (CHOAY 2006 p191)

Choay (2006) aponta que a funccedilatildeo museal natildeo se daacute apenas nos museus O ato de isolar

fragmentos e colocaacute-los lado a lado protegendo o original eacute que os transforma em objetos de

museu Retira-lhes o valor de uso para lhes conferir o valor histoacuterico (museal) Eacute esse valor

histoacuterico que os visitantes reconhecem nos objetos pelo fato de serem expostos em um museu Os

museus satildeo visitados como monumentos como patrimocircnio ou seja como objetos natildeo

consumiacuteveis embora seja reconhecido o seu caraacuteter de produto cultural numa economia de bens

simboacutelicos O museu passa de templo da arte como era o British Museum no seacuteculo XIX para

um museu capaz de proteger todo o patrimocircnio mundial e cultural na Convenccedilatildeo da Unesco de

1972 (CHOAY 206 p216) O proacuteprio museu passa a ser considerado um dos dispositivos do

culto ao patrimocircnio ou uma museificaccedilatildeo de amplos campos e tipos de atividades humanas O

museu que era uma instituiccedilatildeo tornou-se uma mentalidade (CHOAY 2006 p247) e ampliou

seu poder didaacutetico e sua capacidade de

edificar ou captar a duraccedilatildeo e de abrigar o espaccedilo e retardar aiacute seu desdobramento

orientando-o para o sentido o mais capaz de servir de iniciaccedilatildeo agrave alteridade humana o

mais temiacutevel tambeacutem que aprisiona ou liberta e cujo poder criador soacute pode ser

experimentado quando se entrega a ele de forma indissociaacutevel a inteligecircncia e o corpo

(CHOAY 2006 p254)

Natildeo haacute como esperar de um museu histoacuterico uma postura reflexiva e retrospectiva quando

trabalha com a memoacuteria Diferente das perguntas que orientam a escrita da historia pelos

historiadores o discurso do museu mesmo elaborado por especialistas e dentre eles

historiadores renomados natildeo faz a interdiccedilatildeo dos sentimentos morais da reverecircncia e o respeito

ao valor sagrado do passado O museu se coloca no lugar do memorial conservando o culto aos

monumentos do passado situado no presente tem por funccedilatildeo continuar a mobilizar a memoacuteria e

deliberadamente lutar contra a praacutetica do esquecimento promovendo uma co-habitaccedilatildeo

institucionalizada para o patrimocircnio Ao estabelecer um plano de visitas o museu eacute expliacutecito em

129

relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo de proteccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio Resguardar tornar intocaacuteveis

manter fora do alcance em aacutereas protegidas o culto do patrimocircnio No museu ldquoo visitante estaacute

condenado ao percurso arrastado numa marcha que catapulta as imagens das obras umas sobre as

outras para finalmente quebraacute-las em mil fragmentos (CHOAY 2006 p217)

Haacute no Museu Histoacuterico Nacional uma dimensatildeo que fixa e estabiliza uma determinada

visatildeo da histoacuteria poliacutetica que produz e reproduz hierarquias sociais ideologias e assume um papel

na produccedilatildeo de imagens de raccedila povo naccedilatildeo criando legitimidades sociais (ANDERSON 2008

p 208)

Acredito que o Museu Histoacuterico Nacional como instituiccedilatildeo carrega como legado o

sentido poliacutetico de museu moderno tal como definido por Benedict Anderson (2008 p268) Eacute um

museu que se constitui primeiramente como Museu Real e depois como Museu Nacional e hoje

passa pela revisatildeo de seu caraacuteter ldquonacionalistardquo frente agraves novas demandas por representaccedilatildeo de

identidades raciais eacutetnicas de gecircnero e multiculturais69

Ligado diretamente ao Estado o MHN produz materiais e disponibiliza imagens que satildeo

reproduzidas infinitamente no cotidiano via manuais escolares postais selos de modo que a

musealizaccedilatildeo poliacutetica se torna celebraccedilotildees comemoraccedilotildees e emblemas da identidade nacional70

O Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional publicado em 195771

quando Gustavo

Barroso ainda era seu diretor traz ao puacuteblico as dimensotildees do museu para a eacutepoca Do ponto de

vista do espaccedilo fiacutesico o museu ocupava inicialmente duas salas que davam para a entrada

principal chamada Portatildeo da Minerva (Figura 30) Depois da exposiccedilatildeo de 1922 passou para a

Casa do Trem e outra ala do edifiacutecio Agrave eacutepoca da elaboraccedilatildeo do Guia do Visitante ocupava mais

de quarenta salas galerias escadarias vestiacutebulos arcadas e paacutetios o que natildeo possibilitava exibir

todo o acervo

69 O proacuteprio MHN realiza desde 1990 o projeto Espaccedilo Museu ndash Construccedilatildeo do Saber iniciado pelos museoacutelogos

Mario de Souza Chagas e Ruth Beatriz Silva Caldeira de Andrada voltado para professores e outros profissionais

que procuram o setor educativo do Museu Ver Rodrigues e Gouveia (2006) 70 Santos (2006) analisa a loacutegica expositiva do Museu Histoacuterico Nacional desde sua fundaccedilatildeo em 1922 ateacute a deacutecada

de 1980 e estabelece uma ldquotipologiardquo que o caracteriza sob a gestatildeo de Gustavo Barroso (1922-1959) como um

museu-memoacuteria entre as deacutecadas de 1960 e 1970 como um museu-narrativa e a exposiccedilatildeo instalada nos anos de

1980 como um museu-siacutentese 71 Santos (2006) e Chagas (2003) realizam importantes anaacutelises sobre o MHN e seu fundador Gustavo Barroso A

escolha do Guia de 1957como referecircncia para anaacutelise tem por objetivo fazer um contraponto entre o Museu deixado

por Barroso (1959) e o visitado em 2008

130

Figura 29 Capa do Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura 1957

Figura 30 Capa do folder do Museu Histoacuterico Nacional Portatildeo da

Minerva Entrada do Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da

Cultura IPHAN Guia do Visitante sd

131

O Museu no Guia do Visitante de 1957 jaacute definia que sua funccedilatildeo natildeo era apenas a de

mostruaacuterio de objetos histoacutericos mas tambeacutem de pesquisa em colaboraccedilatildeo com instituiccedilotildees de

cultura imprensa raacutedio cinema e teatro Os ldquoAnais do Museu Histoacuterico Nacionalrdquo72

eram a

traduccedilatildeo desse esforccedilo dos pesquisadores do museu O Museu se apresenta como um estudioso da

histoacuteria em relaccedilatildeo a um puacuteblico que deseja documentar com filmes e peccedilas de fundo histoacuterico O

Museu oferece nesses casos cenaacuterios indumentaacuteria caracterizaccedilatildeo de personagens tradicionais

costumes e ateacute composiccedilatildeo de diaacutelogos

Para a imprensa fornece fotografias objetos e informaccedilotildees de pessoas O museu tambeacutem

oferece curso desde 1932 para preparar teacutecnicos de museus e gabinetes de restauraccedilatildeo de quadros

e objetos de arte Formou um arquivo histoacuterico com fotografias e documentos e uma biblioteca

especializada (GUIA 1957 p13)

Myriam Sepuacutelveda Santos (2006) busca compreender a concepccedilatildeo de histoacuteria ldquoembutidardquo

nas propostas de Gustavo Barroso e suas afinidades com a histoacuteria trabalhada atualmente no

MHN Para a autora a histoacuteria apresentada e trabalhada pelo MHN na gestatildeo de Barroso era

vinculada agrave questatildeo da ldquonacionalidaderdquo e ao ldquoculto da saudaderdquo entendido como uma perspectiva

de manter viva a tradiccedilatildeo com uma metodologia memorialiacutestica e uma concepccedilatildeo de tempo

descontiacutenuo ignorando as tendecircncias de uma histoacuteria mais atual (SANTOS 2006 p35-6)

O proacuteprio Museu Histoacuterico Nacional reconhece que a partir da deacutecada de 1960 essa

concepccedilatildeo de histoacuteria ldquoanacrocircnicardquo levara a uma crise institucional e o afastamento do MHN com

relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo cultural intelectual e artiacutestica (SANTOS 2006 p55) Assim passa a

empreender diversas accedilotildees como a realizaccedilatildeo de Seminaacuterios Internacionais a partir de 1997 e a

proposiccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave ldquocomunicaccedilatildeordquo e ldquoeducaccedilatildeordquo para um puacuteblico mais amplo

notadamente o puacuteblico escolar visando agrave construccedilatildeo da nacionalidade

Trazer o Guia do Visitante de 1957 para a discussatildeo eacute uma espeacutecie de provocaccedilatildeo Uma

revisatildeo na forma de exposiccedilatildeo mudaria a concepccedilatildeo de histoacuteria do museu Essa questatildeo cabe

tambeacutem em relaccedilatildeo ao Museu do Escravo Em que medida uma nova museografia eacute suficiente

para introduzir outras concepccedilotildees de histoacuteria nos museus

72 Myrian Sepuacutelveda Santos (2006 p50-1) indica que O MHN contribui para o estabelecimento de padrotildees de

pesquisa com base em criteacuterios arqueoloacutegicos e filoloacutegicos de documentos e manuscritos que ajudam a consolidar a

ldquomoderna histoacuteriardquo e a diferenciaacute-la dos antigos antiquaacuterios Os Anais do MHN e o Curso de Museus satildeo destaques

dessa poliacutetica da instituiccedilatildeo sob a direccedilatildeo de Gustavo Barroso (1922-1959)

132

Eacute importante destacar esse aspecto da conservaccedilatildeo do acervo pois no Guia do Visitante

de 1957 a Sala Brasil-Portugal guardava as louccedilas pertencentes a D Joatildeo VI Nas paredes da

sala Brasil-Portugal vecirc-se a evoluccedilatildeo das armas nacionais nos periacuteodos monaacuterquicos nas da Sala

dos Vice-Reis os escudos heraacuteldicos dos quinze Vice-Reis do Estado do Brasil Essa disposiccedilatildeo

dos objetos natildeo existe mais mas o lugar reservado agrave figura de Dom Joatildeo VI jaacute estava

estabelecido definitivamente no Museu Histoacuterico Nacional

A entrada pelo ldquoPortatildeo da Minervardquo jaacute levava a um paacutetio com vaacuterios ldquovultos histoacutericosrdquo

sob as arcadas A primeira dependecircncia a ser visitada eacute chamada de ldquoArcada dos Descobridoresrdquo

Nela estatildeo ldquovultosrdquo que caracterizavam as ldquoeacutepocas e atividades principais da civilizaccedilatildeo

brasileirardquo Nas paredes os brasotildees de D Manuel o Venturoso Pedro Aacutelvares Cabral Pero Vaz

de Caminha e os capitatildees da armada que descobriu o Brasil (GUIA 1957 p17) Para completar o

cenaacuterio e o simbolismo da unidade Brasil e Portugal duas palmeiras imperais plantadas em 1955

a da direita com a terra de todos os Estados e territoacuterios do Brasil e aacutegua do rio S

Francisco pelo presidente Joatildeo Cafeacute Filho a da esquerda com a terra de Portugal areia

da praia de Porto Seguro e aacutegua do Tejo pelo Embaixador portuguecircs Antocircnio de Faria

(GUIA 1957 p20-1)

Figura 31 Portatildeo de Minerva Guia do Visitante Museu Histoacuterico

Nacional

133

Figura 32 Arcada dos descobridores Guia do Visitante Museu

Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura 1957

O conceito de evidecircncia material trabalhado pelo museu natildeo eacute o mesmo utilizado pela

historiografia Enquanto no museu a exposiccedilatildeo visa ldquoilustrarrdquo uma interpretaccedilatildeo historiograacutefica

gerada em outros lugares (textos ensaios livros) a historiografia trata a cultura material como

fonte de pesquisa

Do ponto de vista dos visitantes a funccedilatildeo do acervo natildeo eacute documental e ao mesmo tempo

jaacute eacute uma versatildeo da histoacuteria A forma de apresentaccedilatildeo dos objetos ainda daacute o status de

testemunhos mostrando a importacircncia da materialidade para a comprovaccedilatildeovalidaccedilatildeo das

narrativas histoacutericas A exposiccedilatildeo como forma de reunir um acervo que natildeo pertence ao museu

lhe confere maior poder de criar visibilidade

Eacute isso que parece fazer a visitante Michele Oliveira Xavier que reuacutene novamente o acervo

do museu apoacutes sua visita Ela recria seu percurso e o patrimocircnio do Museu Histoacuterico Nacional em

uma nova exposiccedilatildeo

134

Figura 33 XAVIER Michele Oliveira Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo

Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008

O percurso da visitante pelo Museu Histoacuterico Nacional cria uma nova coleccedilatildeo agora

pertencente agrave estudante Reunidos em um novo museu imaginaacuterio figuram escadaria de acesso ao

andar superior com a escultura equumlestre de Dom Pedro II de Francisco Manoel Chaves Pinheiro

um veiacuteculo de transporte de traccedilatildeo animal que faz parte da exposiccedilatildeo permanente desde 1925 e

hoje intitulada do ldquoDo moacutevel ao automoacutevel transitando pela histoacuteriardquo dois detalhes da exposiccedilatildeo

que foi visitada pelo grupo uma pena e uma coroa de ouro

52- Comemoraccedilotildees Histoacuteria do Brasil e dos brasileiros

A Histoacuteria como disciplina acadecircmica entende e faz uso dos museus para desenvolver

pesquisas sobre a cultura material (arqueologia etnografia histoacuteria da arte) que soacute satildeo possiacuteveis

com pesquisa de campo e consulta a documentaccedilatildeo visual (fotos pinturas objetos

tridimensionais) e coleccedilotildees abrigadas nos museus (SUANO 1986 p75)

A historiografia contemporacircnea tem mostrado interesse pelo tema do patrimocircnio da

memoacuteria e dos museus Principalmente pelas relaccedilotildees entre os museus a naccedilatildeo e a histoacuteria-

135

memoacuteria nacional Dominique Poulot (2011) Pierre Nora (1982 1994) mudam o enfoque em

relaccedilatildeo agrave histoacuteria e as formas de estudar os museus relacionando as instituicotildees culturais com as

estruturas sociais que lhes deram origem e com seu caraacuteter instrumental em relaccedilatildeo aos poderes

constituiacutedos (BREFE 1998 p88)

A exposiccedilatildeo museal passa a ser vista como o principal meio pelo qual o passado eacute

publicado e apresentado A funccedilatildeo central dos museus eacute oferecer aos olhos do puacuteblico uma seacuterie

de procedimentos que pretendem falar diretamente ao visitante usando recursos que podem ser

chamados de ldquoembalagemrdquo dos objetos um cenaacuterio ou cena iluminaccedilatildeo embelezamento

midiaacutetico e escolhas de aspectos pitorescos ou estereoacutetipos (CHOAY 2006 p240)

Os museus tambeacutem procuram valorizar as informaccedilotildees trazidas pelos objetos (obras)

inaugurando uma criacutetica fundada na experiecircncia visual e na apreensatildeo direta das obras e natildeo mais

na leitura de textos Antes mesmo do conteuacutedo de cada exposiccedilatildeo e das particularidades do

acervo de cada instituiccedilatildeo haacute a reivindicaccedilatildeo do museu por tornar puacuteblica uma determinada

coleccedilatildeo e a preservaacute-la

Se haacute uma praacutetica patrimonial por parte dos museus e no caso do Museu Histoacuterico

Nacional essa praacutetica se refere a uma ldquorememoraccedilatildeordquo dos acontecimentos fundadores da naccedilatildeo de

modo a invocar o passado como forma de manter e preservar a identidade de uma comunidade

nacional o museu se coloca como capaz de desenvolver uma grande narrativa nacional

O Museu Histoacuterico Nacional cria formas simboacutelicas dentro de regras mais amplas de

codificaccedilatildeo da linguagem museoloacutegica Isso pode ser explorado tanto no relato escrito pelos

visitantes e em suas fotografias quanto nos impressos produzidos pelo proacuteprio museu voltados a

diferentes puacuteblicos como o cataacutelogo da exposiccedilatildeo e o material educativo voltado agrave comunidade

escolar

O MHN natildeo poderia ficar de fora dos festejos de ldquoum grande acontecimento que marcou a

histoacuteria do Brasilrdquo Festejar as datas nacionais faz parte da agenda do Museu As escolas podem

agendar e fazer visitas especiacuteficas nestas ocasiotildees Aleacutem de ter um acervo o museu nacional tem

por missatildeo dar a conhecer a Histoacuteria do Brasil O MHN fala portanto desse lugar conceituado e

de culto agrave memoacuteria de transmissatildeo agraves novas geraccedilotildees do legado dos antepassados Tambeacutem aqui

entra uma avaliaccedilatildeo do Museu sobre o que guardar preservar e expor satildeo obras raras ineacuteditas

136

originais nunca reunidas ou vistas Soacute um grande Museu pode reunir esse conjunto realizar esse

feito

A narrativa do Museu Histoacuterico Nacional fica mais expliacutecita quando se percebe que essas

comemoraccedilotildees ocorreram de forma mais enfaacutetica no Rio de Janeiro e satildeo divulgadas por

emissora de televisatildeo de projeccedilatildeo nacional dando ecircnfase ao fato de que a vinda da Corte

portuguesa transforma ldquoa nossa cidaderdquo segundo o material educativo em Capital do Impeacuterio

Luso projetando imagens de desenvolvimento econocircmico e poliacutetico comuns na historiografia

brasileira ao longo dos seacuteculos XIX e XX

O esforccedilo do prefeito do Rio de Janeiro empresas privadas e autoridades portuguesas para

criar esse evento cercado de discursos nacionalistas e patrioacuteticos culmina no estabelecimento de

uma comissatildeo oficial para as Comemoraccedilotildees da Chegada de D Joatildeo e da Famiacutelia Real ao Rio de

Janeiro que teve por coordenador Alberto da Costa e Silva e contou com a consultoria de Liacutelia

Schwarcz que elaborou um Calendaacuterio das Comemoraccedilotildees marcado por exposiccedilotildees debates

apresentaccedilotildees musicais publicaccedilotildees entre outubro de 2007 a dezembro de 2008 A exposiccedilatildeo do

Museu Histoacuterico Nacional eacute considerada como

a uacutenica exposiccedilatildeo prevista na agenda de eventos do Rio de Janeiro que enfatizaraacute os

aspectos econocircmicos poliacuteticos e culturais da vinda da famiacutelia real portuguesa dando a oportunidade aos brasileiros de conhecerem melhor o contexto histoacuterico que cercou D

Joatildeo VI o primeiro monarca europeu a atravessar o oceano Atlacircntico e o responsaacutevel

pelo estabelecimento da sede do maior impeacuterio das Ameacutericas entrelaccedilando para sempre

a histoacuteria do Brasil e de Portugal (ltwwwriorjgovbrculturasgt Acesso em maio de

2008)

Eacute possiacutevel explorar um pouco mais a ideia de circuito da cultura a partir dos dispositivos

visuais e narrativos propostos pelo Museu Histoacuterico Nacional na exposiccedilatildeo comemorativa dos

duzentos anos da vinda da Famiacutelia Real ao Brasil apresentada no Rio de Janeiro em 2008

Enquanto a visatildeo de histoacuteria apresentada pelo museu implica em ldquocelebrarrdquo no sentido de

ter veneraccedilatildeo pelo passado ou tradiccedilatildeo agrave medida que a cultura eacute exposta ela eacute revestida de outros

sentidos menos transcendentes O visitante resiste culturalmente e estabelece uma distacircncia que o

diferencia do que o museu e sua exposiccedilatildeo estatildeo propondo Ainda que haja um efeito de

encantamento ele natildeo chega a bloquear as imagens circundantes e silenciar tudo em volta do

objeto Os visitantes reconhecem que o museu promove uma das exposiccedilotildees mais importantes

137

sobre a eacutepoca da corte no Brasil que seu acervo eacute enorme mas natildeo deixam de observar a falta de

um tema

Percebi ali uma idealizaccedilatildeo de padratildeo de vida e uma inibiccedilatildeo sobre um tema que

predominava durante todo o seacuteculo XIX a escravidatildeo Natildeo vimos pela cidade sequer

vestiacutegios de que ali viviam em maior porcentagem a populaccedilatildeo escrava que trabalhava

para a coroa Uma espetacularizaccedilatildeo da cultura onde monumentos e documentos ganham valor extraordinaacuterio e perdem muitas vezes em se mostrar o valor real daqueles objetos

principalmente no Museu Histoacuterico Nacional (Priscila Braga Gonccedilalves Relatoacuterio de

visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

A estudante analisa a exposiccedilatildeo comemorativa do Museu Histoacuterico Nacional a partir de

sua formaccedilatildeo histoacuterica Faz uma criacutetica historiograacutefica e cultural Ela identifica um excesso e

uma falta na abordagem do museu Sobra encenaccedilatildeo e falta um conteuacutedo agraves comemoraccedilotildees da

vinda da famiacutelia real Eacute uma criacutetica que tem por fundamento o que a visitante jaacute estudou sobre a

historiografia brasileira A criacutetica a espetacularizaccedilatildeo da cultura eacute marcada pela forma como o

museu trabalha com os objetos O museu transforma os documentos em monumentos ao atribuir-

lhes um valor extraordinaacuterio ou seja de raridade de curiosidade e natildeo de vestiacutegios ou

testemunhos A histoacuteria do Brasil apresentada pelo Museu Histoacuterico Nacional eacute uma versatildeo

idealizada e excludente em relaccedilatildeo a outras versotildees historiograacuteficas

Embora a ideacuteia de Naccedilatildeo natildeo apareccedila de forma expliacutecita no tiacutetulo da exposiccedilatildeo eacute em torno

desse conceito que se organiza toda a loacutegica do Museu Histoacuterico Nacional73

O Museu Histoacuterico

Nacional continua promovendo comemoraccedilotildees e de certa forma manteacutem viva a tradiccedilatildeo de

transmutaccedilatildeo da memoacuteria coletiva em memoacuteria histoacuterica ao proteger a ldquoheranccedila monumental da

naccedilatildeordquo O museu faz uma revisatildeo dos heroacuteis e aplica uma nova camada de sentido ou valor ao

passado Os valores nacionais introduzidos no presente pelo museu funcionam como uma

pedagogia do civismo uma memoacuteria histoacuterica que eacute mobilizada pelo sentimento de

pertencimento ao nacional um laccedilo com o passado e com a identidade (referecircncia)

Do ponto de vista do museu a exposiccedilatildeo eacute celebrativa mas o poder de escrever a histoacuteria

com objetos soacute se efetiva se as portas do museu estiverem abertas agrave aprendizagem e agraves posturas

investigativas em relaccedilatildeo agraves atitudes do proacuteprio museu no tratamento dos temas da memoacuteria e do

patrimocircnio

73 Bittencourt (2003 p156-7) chama a atenccedilatildeo para a constituiccedilatildeo de outros tipos de museus de histoacuteria nacional

vinculados ao Estado mas voltados para as coisas do ldquopovordquo e da ldquoculturardquo

138

A primeira atitude do grupo de estudantes de graduaccedilatildeo em Histoacuteria em visita agraves

exposiccedilotildees em comemoraccedilatildeo aos duzentos anos da Vinda da Famiacutelia Real Portuguesa ao Brasil eacute

avaliar como o museu apresenta os objetos A trilha deixada pelo museu nos visitantes eacute em um

primeiro plano a aceitaccedilatildeo dos paracircmetros elaborados pela exposiccedilatildeo Entretanto muitos

visitantes fazem ressoar a ideia do museu como aquele que escreve a histoacuteria com os objetos de

seu acervo

Ali estaacute exposto todo um acervo muito bem preservado e identificado como carruagens

louccedilas pratarias armas objetos pessoais santos religiosos moacuteveis quadros entre outros

dando a oportunidade principalmente a noacutes historiadores de poder conhecer melhor todo o contexto histoacuterico que cercou D Joatildeo VI e sua vinda com sua corte ao Brasil

entrelaccedilando a histoacuteria do Brasil e de Portugal (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de

visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

A novidade na observaccedilatildeo da estudante eacute a criaccedilatildeo de uma referecircncia de identidade

profissional do grupo de visitantes ldquonoacutes historiadoresrdquo O uso do museu histoacuterico eacute pelo que ele

traz de objetos A organizaccedilatildeo a classificaccedilatildeo pode ser feita pelos visitantes que entendem como

funciona a montagem e desmontagem de exposiccedilotildees e podem usar livremente de criteacuterios

diferentes daqueles adotados pelo museu

A concepccedilatildeo de histoacuteria presente no Museu Histoacuterico Nacional estaacute materializada nos

objetos selecionados e dispostos nas exposiccedilotildees permanentes e temporaacuterias Na visita agrave exposiccedilatildeo

comemorativa da vinda da corte portuguesa observa-se que existem acontecimentos fundamentais

na formaccedilatildeo da sociedade brasileira e eles estatildeo estabelecidos pelo Museu como marcos

cronoloacutegicos 1808-1822

A concepccedilatildeo de uma histoacuteria integrada ou ldquomomentos simboacutelicos comuns da histoacuteria do

Brasil e de Portugalrdquo (TOSTES 2000 p7) jaacute vinha sendo trabalhada pelo MHN e foi

apresentada tanto no ldquoSeminaacuterio Internacional D Joatildeo VI um rei aclamado na Ameacutericardquo

realizado em 2000 quanto em duas outras exposiccedilotildees realizadas nas dependecircncias do MHN

como parte das comemoraccedilotildees dos descobrimentos portugueses

A demanda por ldquorememoraccedilatildeordquo desta histoacuteria poliacutetica eacute parte desta visatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional Haacute por parte do Museu um reforccedilo da identidade nacional em detrimento de

outras demandas por valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio cultural local e regional Esta visatildeo

integradora da cultura presente no Museu Histoacuterico Nacional contrasta com as orientaccedilotildees da

139

Poliacutetica Nacional de Museus de 2003 que define o papel dos museus como ldquodispositivo

estrateacutegico de aprimoramento dos processos democraacuteticosrdquo e a ldquonoccedilatildeo de patrimocircnio cultural do

ponto de vista museoloacutegicordquo implica na ldquorelaccedilatildeo dos diferentes grupos sociais e eacutetnicos com os

diversos elementos da natureza bem como a respeito das culturas indiacutegenas e afrodescendentesrdquo

(BRASIL 2003 p 8)

Reginaldo Santos Gonccedilalves em prefaacutecio ao livro de Myriam Sepuacutelveda dos Santos

(2006) defende que o museu pode ser pensado como um ldquosistema mais ou menos coerente de

relaccedilotildees sociais e culturais variando no tempo e no espaccedilordquo Os museus satildeo como teias de

pensamento nas quais as instituiccedilotildees satildeo discursivamente articuladas As categorias de

pensamento como histoacuteria naccedilatildeo memoacuteria e passado satildeo articuladas em linguagens

museoloacutegicas tipos de objetos materiais formas de colecionismo classificaccedilatildeo e exibiccedilatildeo que

circulam aleacutem dos muros e tem efeitos no cotidiano dos cidadatildeos (GONCcedilALVES apud

SANTOS 2006 p3-4)

O papel formador dos museus eacute dado por esse seu caraacuteter de impor uma determinada

ordem sobre os objetos materiais mediado por categoriais disciplinares da histoacuteria e constituir

uma escrita museoloacutegica No caso do Museu Histoacuterico Nacional Myriam Sepuacutelveda dos Santos

distingue um museu-memoacuteria nos primeiros anos de existecircncia do MHN e um museu-narrativa a

partir dos anos de 1980

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo74

tambeacutem apresenta os objetos histoacutericos pelo fato de que teriam

pertencido a vultos poliacuteticos retratos armas armaduras tronos moacuteveis moedas medalhas A

proposta de exposiccedilatildeo em 2008 pelo MHN se pauta por estes objetos pois no primeiro cataacutelogo

publicado pela instituiccedilatildeo em 1924 jaacute constavam as salas dos Tronos e do Cetro com ldquograndes

peccedilas de mobiliaacuterio pertencentes ao rei D Joatildeo VIrdquo (BITTENCOURT 2003 p158)

Uma exposiccedilatildeo museal em geral tem um custo financeiro e operacional significativo e eacute

viabilizada com parcerias de diversas instituiccedilotildees que contribuem para realizaccedilatildeo do evento O

cataacutelogo da exposiccedilatildeo comemorativa aos duzentos anos da Vinda da Corte Portuguesa ao Brasil

intitulada Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo

realizada pelo Museu Histoacuterico Nacional em sua sede no Rio de Janeiro em 2008 registra

74 Os estudantes natildeo tiveram acesso a esse cataacutelogo Ele foi adquirido em momento posterior agrave visita presencial ao

museu

140

agradecimentos a museus de Portugal agrave Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian a bancos a banqueiros e

a instituiccedilotildees de patrimocircnio ligadas ao Ministeacuterio da Cultura do governo brasileiro como o

IPHAN

Figura 34 Reproduccedilatildeo da Capa do Cataacutelogo da ldquoExposiccedilatildeo Um novo

Mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo

Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo traz os textos dos organizadores e suas intenccedilotildees Nenhuma

comemoraccedilatildeo passa incoacutelume pela disputa poliacutetica por memoacuterias e narrativas E esta tensatildeo pode

ser vista jaacute no texto de apresentaccedilatildeo do cataacutelogo intitulado Palavras preacutevias Nele o entatildeo

ministro de Estado da Cultura o muacutesico Gilberto Passos Gil Moreira abre oficialmente a mostra

do Museu Histoacuterico Nacional reconhecendo a vinda da famiacutelia real portuguesa em 1808 como

um evento fundador da ldquoidentidade nacionalrdquo e da ldquonaccedilatildeordquo Entretanto aos olhos do ministro a

chegada da corte eacute uma heranccedila cheia de ldquodor da colonizaccedilatildeo e perversa submissatildeo dos

afrodescendentesrdquo Em seguida volta a reconhecer que essa mesma cultura europeacuteia ou

portuguesa que aqui chegou permitiu que o Brasil se tornasse uma ldquoimensa paacutetria caldeiratildeo para

todas as culturas e berccedilo mesticcedilo de uma nova civilizaccedilatildeo ainda em processordquo

O ministro de um lado parece criticar a ldquogrande narrativa da naccedilatildeordquo que eacute excludente

com os afrodescendentes mas de outro lado conecta a narrativa proposta pelo Museu Histoacuterico

141

Nacional ao sentido que lhe atribui Anderson (2008) como parte da construccedilatildeo de uma

ldquocomunidade imaginadardquo da qual todos fazem parte

Gilberto Gil atribui ao evento comemorado um caraacuteter histoacuterico fundador da

nacionalidade Eacute a vinda da famiacutelia real que daacute iniacutecio e cria uma linha de continuidade um

sentido duradouro de ldquodestino nacionalrdquo que preacute existe e continuaraacute existindo apoacutes a morte dos

sujeitos concretos que dele participaram Em seguida o ministro interpreta a tradiccedilatildeo ou a

heranccedila que nos prende a este passado como uma continuidade poliacutetica uma cultura de longa

duraccedilatildeo da qual ldquoprecisa-serdquo no sentido de Fernando Pessoa (navegar eacute preciso) voltar sempre e

fazer referecircncia jaacute que se constitui como a origem da naccedilatildeo

O Brasil concebido por Gilberto Gil deseja perpetuar a heranccedila portuguesa mas

reconhece que essa heranccedila natildeo foi capaz de unificar os diferentes membros da naccedilatildeo em um soacute

sujeito em termos de homogeneidade cultural Haacute diferenccedilas entre culturas etnias e raccedilas Com a

metaacutefora da antropofagia ldquoque assimila e digere o que chega a ser devolvido em inovaccedilatildeo em

invenccedilatildeo e indiferenccedilardquo o ministro reforccedila a ambiguumlidade do acontecimento (TOSTES 2008

p10)

Entretanto ao revisitar a tradiccedilatildeo portuguesa o ministro natildeo pode deixar de reinventaacute-la

Natildeo haacute um elogio da colonizaccedilatildeo a ecircnfase recai na ldquodor dos afrodescendentesrdquo que a estudante

Priscila Braga Gonccedilalves identificou continuam natildeo sendo representados na exposiccedilatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional

A apresentaccedilatildeo da exposiccedilatildeo comeccedila entatildeo com a cena marcada pela ambiguumlidade A

presenccedila fiacutesica de um afrodescendente que ocupa o cargo poliacutetico de ministro da Cultura de um

governo que denuncia a exclusatildeo social e promove poliacuteticas puacuteblicas de igualdade racial e

representaccedilatildeo de identidades na abertura de numa exposiccedilatildeo que lhe provoca ldquodorrdquo

Jaacute o presidente da Fundaccedilatildeo Colouste Gulbenkian patrocinadora da exposiccedilatildeo Emiacutelio

Rui Vilar ressalta que a exposiccedilatildeo

reuacutene mais 300 peccedilas e documentos ineacuteditos que constituem interessantes e apelativos

testemunhos capazes de transportar o visitante para a eacutepoca que o Rio de Janeiro se

tornou a sede da corte portuguesa e em que as artes europeacuteias entraram em frutuoso

diaacutelogo com o clima acolhedor e com as belas paisagens do Brasil (TOSTES 2008)

142

Em alguma medida esse caraacuteter documental e monumental da exposiccedilatildeo eacute reconhecido

pelos visitantes que tambeacutem descrevem a exposiccedilatildeo como um testemunho de eacutepoca Natildeo por ser

capaz de transportaacute-los para outra eacutepoca mas por estarem em presenccedila de objetos de outra eacutepoca

colocam-se e frente ao passado

Num primeiro momento encontramos uma exposiccedilatildeo muito bacana por sinal que nos

remete aos motivos que levaram a famiacutelia real a vir para o Brasil bem como os objetos

utilizados por ela tais como cadeiras louccedilas armaacuterios vasos buacutessolas etc o que vale a

pena destacar eacute como a exposiccedilatildeo estaacute temporalmente organizada Alguns importantes

momentos satildeo apresentados de forma luacutedica e atrativa (Frederico Levi Amorim

Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

O entendimento de que a exposiccedilatildeo eacute uma produccedilatildeo cultural e uma forma de escrita da

histoacuteria tambeacutem aparece em diversos relatos dos visitantes ldquoA exposiccedilatildeo foi pensada de modo a

suscitar no visitante uma visatildeo ampla e criacutetica em relaccedilatildeo agrave histoacuteria e a formaccedilatildeo social brasileira

tirando tambeacutem um pouco daquela visatildeo de D Joatildeo como glutatildeo e bobordquo diz a estudante Marly

Marques Rodrigues

53- Ensinando histoacuteria ldquo200 anos da vinda da Famiacutelia Real para o Brasilrdquo

O Museu Histoacuterico Nacional produz tambeacutem um caderno educativo dirigido a crianccedilas e

jovens como parte da exposiccedilatildeo temporaacuteria Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte

Portuguesa no Brasil Nesse material o MHN interpela o puacuteblico em torno do tema das

comemoraccedilotildees dos 200 anos da vinda da Famiacutelia Real e cria diaacutelogos especiacuteficos na cultura entre

museu e visitantes

O que o Museu Histoacuterico Nacional apresenta eacute mais que uma simples exposiccedilatildeo

temporaacuteria sobre o tema O museu se coloca no lugar daquele que participa da criaccedilatildeo do proacuteprio

evento-comemoraccedilatildeo em torno da data O material educativo convoca um puacuteblico especiacutefico a

participar do calendaacuterio do bicentenaacuterio das ldquocomemoraccedilotildeesrdquo da vinda da Famiacutelia Real ao Rio de

Janeiro O MHN constroacutei o proacuteprio acontecimento agrave medida que configura uma narrativa

escolhendo textos imagens e a abordagem que conduz os sentidos para outros sujeitos provaacuteveis

visitantes O Museu indica claramente qual eacute o seu papel na disputa pelas memoacuterias e visotildees de

histoacuteria e como continua protagonizando os acontecimentos

143

O MNH elabora uma narrativa sobre a vinda da famiacutelia real a ser divulgada em um

material educativo para ensinar histoacuteria Cabe na anaacutelise desse material identificar algumas

tensotildees presentes nessa narrativa A primeira eacute identificar um sujeito jaacute inscrito no texto e uma

correspondecircncia imediata entre o que o museu supotildee ser um visitante ideal e aqueles que

efetivamente o visitam que natildeo estatildeo necessariamente em plena sintonia com o proposto pela

exposiccedilatildeo

Figura 35 Capa do Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo

mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil18082008

Brasil-Portugal Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

Esse tipo de material uma cartilha educativa tem por objetivo ampliar os significados do

evento-exposiccedilatildeo para um puacuteblico escolar enquadrando numa moldura o cenaacuterio os personagens

e as fontes que seratildeo oferecidos e criando referecircncias para os estudantes Haacute consequecircncias

poliacuteticas e sociais em termos dos referenciais histoacutericos expressos pelo museu e o grau de

legitimidade dessa seleccedilatildeo feita por esse produtor de cultura autorizado para escrever uma

histoacuteria nacional

Os conteuacutedos e temaacuteticas da cartilha pretendem ensinar histoacuteria Destacam-se

personagens histoacutericos datas e eventos poliacuteticos e administrativos proferidos num tom

144

transmissivo aos jovens estudantes O material possui cinquumlenta paacuteginas num formato de

pequeno caderno (cartilha) com imagens coloridas textos e atividades com espaccedilo para respostas

A capa eacute um desenho sem indicaccedilatildeo de autoria que mistura siacutembolos nacionais como o verde

amarelo bandeiras de Portugal e caravelas indicando a saiacuteda da corte da Europa sua passagem

por Salvador e chegada ao Rio de Janeiro A ligaccedilatildeo entre Portugal e Brasil tambeacutem se faz nas

legendas que associam a chegada da Corte a um novo mundo um novo impeacuterio e a permanecircncia

dessas ligaccedilotildees numa faixa abaixo do mapa escrita em vermelho ldquoPortugal 1808-2008 Brasilrdquo

A cartilha eacute orientada para um puacuteblico e as praacuteticas culturais que permeiam a elaboraccedilatildeo

desse artefato evidenciam o diaacutelogo entre o museu e o visitante tanto nos temas estruturas

narrativas valores culturais e hierarquias A anaacutelise do material produzido pelo museu considera

especificamente como ele constroacutei um puacuteblico um visitante atribuindo-lhe caracteriacutesticas de

idade e escolaridade articuladas agrave concepccedilatildeo sobre o que eacute um Museu Agrave medida que o Museu

dirige-se a um suposto vocecirc que visitou a exposiccedilatildeo e agora lecirc o material elaborado por sua

equipe ele fala fundamentalmente dele mesmo de suas concepccedilotildees de histoacuteria e de memoacuteria

O material educativo define a vinda da famiacutelia real como um evento histoacuterico

significativo e que deve ser comemorado Em seguida o Museu Histoacuterico Nacional como sujeito

de uma narrativa histoacuterica confere ao evento legitimidade e convida a reflexatildeo sobre o tipo de

narrativa que o museu pretende repercurtir e publicizar na exposiccedilatildeo

Haacute na estrutura narrativa do material educativo e no sistema de imagens uma

ldquoconvocaccedilatildeordquo ao visitante e uma indicaccedilatildeo de como deve visitar a exposiccedilatildeo Esta interpelaccedilatildeo

do puacuteblico indica uma posiccedilatildeo fiacutesica e um lugar social Haacute um destinataacuterio para o qual se oferece

ldquoconvidardquo a ver de um ponto de vista particular a construir conhecimentos em certa perspectiva

social e poliacutetica

Ao considerar o material pedagoacutegico produzido pelo MHN eacute possiacutevel mapear trecircs

dispositivos de construccedilatildeo da histoacuteria pelo museu o lugar do qual fala o museu o campo de

disputa sobre as concepccedilotildees de histoacuteria e memoacuteria e as opccedilotildees poliacuteticas e esteacuteticas do museu com

relaccedilatildeo ao campo museal e educacional No primeiro caso o Museu Histoacuterico Nacional

comparece como uma instituiccedilatildeo cultural e se posiciona como sujeito frente agraves comemoraccedilotildees

histoacutericas No segundo aponta no material pedagoacutegico em seu conteuacutedo e forma uma visatildeo

145

especiacutefica acerca da Histoacuteria elaborada dentro do campo museal Por fim se posiciona frente agraves

disputas e debates historiograacuteficos que emergem no campo educativo

O sentido atribuiacutedo agraves comemoraccedilotildees natildeo surge do proacuteprio material educativo mas da

forma como ele eacute apresentado pelas linguagens (escolhas dos produtores) e coacutedigos de

inteligibilidade Eacute nesse trabalho de fechamento e marcaccedilatildeo de fronteiras simboacutelicas entre museu

e visitantes que se definem tanto o que eacute o Museu Histoacuterico Nacional (unidade instaacutevel posiccedilatildeo

de poder praacuteticas de memoacuteria que nomeiam um lugar nacional e histoacuterico para regulaccedilatildeo da

cultura) quanto se configura um puacuteblico visitante que deve reiterar a norma e responder

positivamente agraves mensagens (exposiccedilotildees) regulando a si mesmo sua identidade e subjetividade

internalizando condutas normas regras e modos de ser e pensar sobre o que eacute a histoacuteria e a

memoacuteria

O processo de interpelaccedilatildeo de um personagem preferencial imaginaacuterio (vocecirc) se daacute a

partir de uma temaacutetica organizaccedilatildeo em subitens e atividades que propotildeem uma proximidade com

o visitante Ao mesmo tempo a arquitetura dessa organizaccedilatildeo implica por parte do Museu a

aposta em certos interesses e competecircncias do visitante supostamente uma crianccedila que frequumlente

regularmente a escola baacutesica que foi agrave exposiccedilatildeo com sua professora e colegas que possui uma

famiacutelia (pai matildee avoacutes) moradia fixa mobiliada com mesas e cadeiras e alimentaccedilatildeo adequada

Essas imagens a respeito de seu puacuteblico podem ser inferidas quando em diversas

atividades propostas pede-se que a suposta crianccedila faccedila uma ldquoaacutervore genealoacutegicardquo peccedila ajuda de

seus pais sua famiacutelia Escolhendo essa forma de se dirigir aos visitantes o MHN decide quem

inclui e quem exclui da definiccedilatildeo de puacuteblico e avalia para quem fala preferencialmente um

estudante e provavelmente seu professor que tambeacutem pode usar o material pedagoacutegico

encomendando-lhe o ldquoPara Casardquo endereccedilado pelo Museu

O material didaacutetico em questatildeo guarda relativa autonomia em relaccedilatildeo ao

eventocomemoraccedilatildeo e agraves demais exposiccedilotildees permanentes do Museu agrave medida que circula de

forma mais ampla e indica uma permanecircncia pelo seu formato impresso No entanto a concepccedilatildeo

de histoacuteria presente no material e na proacutepria exposiccedilatildeo75

aponta para uma narrativa que considera

o tempo da chegada da famiacutelia como um marco para o progresso e o prenuacutencio de uma nova

ordem poliacutetica ndash a independecircncia em 1822 ndash que fecha a exposiccedilatildeo Na uacuteltima parte do percurso a

75 Ver chamada no site do proacuteprio wwwmuseuhistoriconacionalcombr chamada para a Exposiccedilatildeo

146

estaacutetua de D Pedro I proclama (com aacuteudio) a Independecircncia do Brasil No caderno didaacutetico uma

fotomontagem reuacutene a estaacutetua de D Pedro I de Rodolfo Bernardelli pertencente ao acervo do

MNH com um balatildeo no qual em primeira pessoa a estaacutetua se diz herdeira do trono de Portugal e

grita ldquoIndependecircncia ou Morterdquo

O caderno indica eventos cujos sujeitos satildeo os membros da Famiacutelia Real Satildeo eles que

asseguram a continuidade com um passado colonial mas marcha rumo agrave histoacuteria nacional A

chave de explicaccedilatildeo histoacuterica eacute a relaccedilatildeo de dependecircncia entre colocircnia e metroacutepole que tambeacutem

aparece em outras exposiccedilotildees do Museu como a ldquoColonizaccedilatildeo e Dependecircnciardquo e ldquoMemoacuteria do

Estado Imperialrdquo76

A memoacuteria para o Museu Histoacuterico Nacional eacute um ldquodeverrdquo tornar presente

celebrar para um puacuteblico cuja idade e escolaridade natildeo identificam as variaacuteveis e os sentidos

manipulados por quem faz a exposiccedilatildeo A versatildeo da Histoacuteria oferecida aos visitantes pode ser

contestada mas o trabalho visual feito pelo Museu natildeo abre muito espaccedilo para interaccedilotildees com os

visitantes

O material dispensa um contanto fiacutesico com o professor o com os agentes do museu As

atividades propostas no material falam diretamente com um ldquoalunordquo dando-lhe instruccedilotildees tais

como desenhar pesquisar interpretar observar relacionar e escrever Os recursos graacuteficos e

visuais tambeacutem se apresentam como dispositivos de credibilidade e atribuiccedilatildeo de autenticidade

No caso do Museu isso eacute feito com referecircncia ao seu acervo embora natildeo indique muitas vezes

no material educativo a procedecircncia da imagem e nem faccedila referecircncias se elas estavam ou natildeo

na exposiccedilatildeo Ao apresentar algumas imagens especiacuteficas o material educativo busca o

reconhecimento de sua autenticidade e de sua raridade usando o fato de pertencerem ao acervo do

museu ou mesmo a uma importante coleccedilatildeo particular O MHN tambeacutem busca se aproximar do

visitante por meio do impacto visual ressaltando o formato as dimensotildees da pintura No material

impresso satildeo criados diversos recursos graacuteficos para facilitar a leitura Textos curtos que

dialogam com o leitor graacuteficos mapas e o uso de siacutembolos relacionados agrave monarquia portuguesa

e famiacutelia de Braganccedila como coroas leques bandeiras cartolas brasotildees que povoam as paacuteginas

do material educativo

No caso do material do MHN a exploraccedilatildeo de objetos bidimensionais (quadros

fotografias documentos escritos) e tridimensionais (esculturas mobiliaacuterio louccedilas moedas

76 Ver folder de divulgaccedilatildeo do MHN e site citado acima

147

brasotildees) presentes na Exposiccedilatildeo eacute obrigatoacuteria A relaccedilatildeo entre o texto e as imagens reproduzidas

e trabalhadas no material impresso natildeo podem ser pensadas dada a proacutepria finalidade dos objetos

museais de maneira apenas ilustrativa Aqui o Museu lanccedila matildeo de toda a discussatildeo sobre a

importacircncia de seu acervo para reforccedilar sua funccedilatildeo e seu lugar junto agraves instituiccedilotildees de memoacuteria

nacionais Ainda que nem todas as imagens sejam acompanhas das devidas referecircncias quanto agrave

procedecircncia (acervo) toda a iconografia proveniente do proacuteprio MHN estaacute devidamente

identificada e classificada O lugar de autoridade do Museu promove uma comparaccedilatildeo entre os

quadros de Geoff Haunt um especialista contemporacircneo em pinturas navais intitulado Chegada

da famiacutelia real em 7 de marccedilo de 1808 feito sob encomenda para Kenneth Light77

em 1999 A

outra reproduccedilatildeo eacute de Cacircndido Portinari Chegada de D Joatildeo agrave Bahia uma tela de 1952 A

terceira eacute a imagem de um Leque comemorativo da chegada da famiacutelia real da coleccedilatildeo Mariano

Procoacutepio

O exerciacutecio de leitura de imagem proposto pelo Material Educativo (Figura 36) considera

que a pintura a oacuteleo sobre tela de Haunt eacute uma ldquopintura histoacuterica documental em que o objetivo

eacute ser fiel como uma fotografia [] natildeo mostra uma interpretaccedilatildeo do artista como no caso da obra

de Portinarirdquo (Material Educativo 2008 p228-29)

77 Estudioso dos diaacuterios de bordo da marinha inglesa que acompanharam a vinda da corte portuguesa ao Brasil no

iniacutecio do seacuteculo XIX

148

Figura 36 Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um

novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil18082008 Brasil-

Portugal Museu Histoacuterico NacionalRio de Janeiro 2008

As trecircs obras destacadas pelo Material Educativo natildeo fazem parte do acervo do Museu

Histoacuterico Nacional A primeira pertence a um banco da Bahia a outra eacute parte do acervo do

Museu Mariano Procoacutepio de Juiz de Fora e a terceira eacute da coleccedilatildeo particular de Kenneth Light

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo mais parece um inventaacuterio comentado e ilustrado Natildeo haacute

qualquer texto que discuta a concepccedilatildeo da proacutepria exposiccedilatildeo Eacute no caderno educativo que as

intenccedilotildees de ensino de Histoacuteria do Brasil ficam mais expliacutecitas

Resta explorar um pouco mais como os visitantes negociam com o museu essa visatildeo de

histoacuteria Frente agrave tentativa clara da exposiccedilatildeo de celebrar uma histoacuteria da naccedilatildeo e escrever a

histoacuteria poliacutetica e social expondo os testemunhos histoacutericos materiais que estavam descontiacutenuos

numa narrativa resta indagar como os visitantes se posicionam frente agrave visatildeo do museu e se

conseguem ou natildeo se contrapor a visatildeo da histoacuteria

149

Entender como os visitantes descrevem analisam interpretam e fundamentam uma

narrativa frente ao museu e suas exposiccedilotildees possibilita abordar as relaccedilotildees entre poliacuteticas e

poeacuteticas as relaccedilotildees com a memoacuteria o patrimocircnio e a histoacuteria nos usos educativos dos museus

pelos visitantes

54- O visitante entre a cultura material e a experiecircncia esteacutetica

Os relatos das visitas contribuem para reorganizar as recordaccedilotildees do acontecimento e

invocar uma memoacuteria do grupo de estudantes que ao produzir e selecionar as imagens

disponibilizadas pelo museu traz agrave lembranccedila um conjunto de situaccedilotildees vividas que natildeo foram

registradas mas que sustentam a escrita e o conhecimento histoacuterico por eles elaborado

Mesmo uma visita guiada a uma exposiccedilatildeo e uma raacutepida passagem pelas vaacuterias

dependecircncias do Museu Histoacuterico Nacional deixa resiacuteduos entre os visitantes dessa experiecircncia

evanescente A visitante apresenta o que viu

[] por meio de uma visita guiada que nos deixou agrave vontade para apreciar toda a

exposiccedilatildeo que por si soacute nos permite interagir

Ela eacute dividida em nuacutecleos temaacuteticos ou seja separados por temas ou recortes

cronoloacutegicos

A exposiccedilatildeo conta com objetos e documentos de importantes instituiccedilotildees

puacuteblicas e particulares brasileiras e portuguesas muitos dos quais satildeo objetos ineacuteditos

Na visitaccedilatildeo tive a oportunidade de acompanhar desde a situaccedilatildeo na Europa

com as guerras napoleocircnicas que motivaram a vinda da Corte para o Brasil ateacute os

motivos que levaram agrave proclamaccedilatildeo da Independecircncia do Brasil pelo Imperador Pedro I

O nuacutecleo inicial aborda as conquistas de Napoleatildeo na Europa em especial na

peniacutensula Ibeacuterica seguidas de biografia dos personagens envolvidos no conflito- Napoleatildeo Carlos IV D Maria I e Jorge III Atraveacutes de acervo iconograacutefico cedido por

instituiccedilotildees portuguesas

O nuacutecleo seguinte aborda o embarque em Lisboa e as dificuldades enfrentadas

ao longo de 54 dias de travessia do Atlacircntico A chegada agrave Bahia em 22 de janeiro de

1808 estaacute representada pela monumental tela de Cacircndido Portinari bdquoA chegada de D

Joatildeo VI a Salvador‟ gentilmente cedida pelo Banco BBM SA e Associaccedilatildeo Comercial

da Bahia

A exposiccedilatildeo eacute imensa para apreciar todo o seu acervo seria necessaacuterio um dia

inteiro tempo que natildeo tiacutenhamos Poreacutem trata-se de um local que gostaria de prestigiar

se tiver a oportunidade de retornar a cidade do Rio de Janeiro

A organizaccedilatildeo do MHN aleacutem de seu grande acervo com exposiccedilotildees

permanentes e itinerantes utiliza projeccedilotildees aacuteudio visuais em 3D possibilitando uma nova interaccedilatildeo com as exposiccedilotildees que agradam todo o tipo de puacuteblico (Daniele Paulo

Marques Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo

2008)

150

O caraacuteter monumental da exposiccedilatildeo eacute somado aos objetivos didaacuteticos A montagem de

uma linha cronoloacutegica que vai da vinda de Dom Joatildeo VI agrave declaraccedilatildeo de independecircncia por Dom

Pedro I eacute remontada nos textos e fotografias como a abaixo (Figura 37)

Figura 37 AMORIM Frederico Levi Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo

Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008

A visita ao Museu Histoacuterico Nacional realizou-se como um rito coletivo Teve um caraacuteter

performativo O museu jaacute era entendido pelos visitantes como um lugar puacuteblico de debate sobre a

histoacuteria e acreditavam que de certo modo estava mais autorizado do que o campo acadecircmico

(historiografia e faculdade) por trazer um enorme acervo cultural mas que natildeo deixa de causar

confusatildeo entre os visitantes Uma das visitantes cita que viu ldquofotosrdquo das filhas do casal real

utensiacutelios que serviram para a viagem pinturas cartas carimbos e ldquouma reacuteplica da sala de visitas

da Marquesa de Santosrdquo

151

Natildeo se sabe o que a levou a imaginar uma sala da Marquesa de Santos em meio agrave

exposiccedilatildeo sobre a vinda da famiacutelia real nem as chamadas fotografias Impressiona nesse caso a

capacidade de criar outro acervo para o museu em meio agrave descriccedilatildeo dos objetos que estavam em

exposiccedilatildeo

Para outros visitantes o Museu Histoacuterico Nacional eacute ldquograndioso muito bem montado e

agradaacutevel agrave visitaccedilatildeo puacuteblica com vaacuterias exposiccedilotildeesrdquo diz o visitante Fernando Daniel Fraga

Fonseca Jaacute a visitante Aline Conceiccedilatildeo Ferreira Gregoacuterio tambeacutem achou que ldquoo acervo eacute

enorme por isso a visita demanda bastante tempo Foi uma exposiccedilatildeo proveitosa poreacutem um

pouco cansativa devido ao tamanho do museurdquo

O museu estabelece no contato com o visitante uma rede de opiniotildees e um quadro de

diferentes reaccedilotildees frente agrave materialidade da praacutetica museal Cada museu possui uma narrativa

distinta e a anaacutelise que o puacuteblico faz da exposiccedilatildeo se inicia com a identificaccedilatildeo das marcas

emitidas por essa fala autorizada A interpretaccedilatildeo eacute constituiacuteda pelo puacuteblico no confronto entre as

promessas do ldquogecircnero museurdquo e expectativas dos visitantes

A parte que mais gostei foi o museu todo mas a que mais me prendeu a atenccedilatildeo foi a

parte onde se encontra os canhotildees pelo que pude contar contei 48 canhotildees E gostei

tambeacutem das pratarias e da parte da medicina tudo laacute eacute muito bonito e muito bem conservado (Claudilene Aparecida de Almeida Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico

Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

Outra visitante da exposiccedilatildeo tambeacutem inicia seu relato da visita ressaltando o caraacuteter de

documento-monumento do Museu Histoacuterico Nacional Eles destacam o seu acervo

Ali estaacute exposto todo um acervo muito bem preservado e identificado como carruagens

louccedilas pratarias armas objetos pessoais santos religiosos moacuteveis quadros entre outros

dando a oportunidade principalmente a noacutes historiadores de poder conhecer melhor todo

o contexto histoacuterico que cercou D Joatildeo VI e sua vinda com sua corte ao Brasil

entrelaccedilando a histoacuteria do Brasil e de Portugal (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

O evento eacute memoraacutevel porque significa um marco na ldquoformaccedilatildeo do Estado nacional

brasileiro com o estabelecimento da sede do governo do mundo portuguecircs em terras tropicaisrdquo O

legado de D Joatildeo VI a ser apresentado na exposiccedilatildeo eacute a criaccedilatildeo de um ldquoImpeacuterio na Ameacutericardquo o

ldquopersonagem que entrelaccedilou para sempre as histoacuterias do Brasil e Portugalrdquo (BOTTREL 2008

p17) Esse ldquodestinordquo eacute a independecircncia assinalam os historiadores portugueses e brasileiros

152

Arno Wheling e Maria Joseacute Wehling que pintam os quadros historiograacuteficos um de 1808 e outro

de 1821 Propotildeem que entre uma data e a outra ocorreram mudanccedilas significativas e irreversiacuteveis

que levaram o Brasil a se distanciar de Portugal a ponto de se tornar independente ou formar

uma nova personalidade poliacutetica

Os visitantes se apresentam em suas fotografias como parte da exposiccedilatildeo e do acervo

(Figuras 38 e 39)

Figura 38 Montagem fotograacutefica de Frederico Amorim para visita agrave

Exposiccedilatildeo do Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

Figura 39 BRAGA Fernando Daniel Visita ao Museu Nacional Rio

Janeiro 2008

153

A exposiccedilatildeo eacute vista como accedilatildeo de difusatildeo nos museus e ocupa contemporaneamente uma

funccedilatildeo ao lado das accedilotildees de pesquisa e preservaccedilatildeo antes vistas como prioritaacuterias A linguagem

visual eacute priorizada e assumida pelos visitantes que elaboram novas imagens e narrativas visuais

sob as formas apresentadas pelo museu O visitante coloca em circulaccedilatildeo a sua proacutepria imagem

como parte da exposiccedilatildeo exercitando sua habilidade analiacutetica e criando novas instacircncias de

produccedilatildeo de sentido na vida cultural diaacuteria

Natildeo haacute uma uacutenica forma de estabelecer a relaccedilatildeo entre visitantes e museus Tambeacutem natildeo

haacute a passagem imediata de um campo ao outro ou uma linguagem uacutenica que pertence ao museu e

outra do visitante Haacute um partilhamento dos coacutedigos simboacutelicos e a criaccedilatildeo de um espaccedilo cultural

de intercacircmbio A matriz cultural do museu eacute avaliada pelos visitantes Satildeo estabelecidas

diferenccedilas mas se institui um novo circuito de cultura

Essas praacuteticas exercitadas pelos visitantes nos museus implicam na ampliaccedilatildeo da

dimensatildeo de produccedilatildeo de conhecimento histoacuterico Mesmo entre os visitantes que ficam mais

proacuteximos dos sentidos apresentados pelo museu limitando-se a uma descriccedilatildeo da visita agravequeles

que buscam de forma mais abrangente inserir a narrativa do museu em um cenaacuterio poliacutetico

social cultural mais amplo satildeo sujeitos da produccedilatildeo de novos sentidos para o patrimocircnio

musealizado Satildeo sujeitos de uma nova narrativa agrave medida que buscam compreender como se daacute

a produccedilatildeo do conhecimento cultural e histoacuterico (RUSEN 2005 p192)

Ao selecionarem imagens e reescreverem informaccedilotildees sobre a exposiccedilatildeo os visitantes

demonstram habilidades de reordenar aspectos que lhes chamaram a atenccedilatildeo e passam a circular

em outro circuito para aleacutem do museu

154

Figura 40 Fernando Daniel Fraga Fonseca Fotografia Nuacutecleo 2- A

metroacutepole nos troacutepicos Exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo

Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil MHN 2008

A fotografia de Fernando Daniel Fraga Fonseca (Figura 40) eacute aparentemente um misteacuterio

Uma chave que pode solucionaacute-la eacute o conceito de circuito da cultura78

(HALL 1997 2003)

entendido como uma relaccedilatildeo complexa produzida e sustentada atraveacutes de movimentos distintos

mas interligados ou seja como praacuteticas conectadas de produccedilatildeo circulaccedilatildeo consumo regulaccedilatildeo

identidade e representaccedilatildeo que criam formas simboacutelicas e datildeo passagem simultaneamente a

outros movimentos de produccedilatildeo de sentidos

O visitante registra um texto escrito sobre um suporte afixado na parede como parte da

exposiccedilatildeo sobre a corte portuguesa no Brasil no Museu Histoacuterico Nacional O texto tem como

tiacutetulo O desembarque em Salvador que tambeacutem eacute o tiacutetulo de uma obra iconograacutefica exposta A

existecircncia do texto indica que o Museu Histoacuterico Nacional explica esse evento para seus

78 Em certa medida pode-se pensar tambeacutem no conceito de circularidade de culturas definido por Ginsburg

em contraponto ao termo mentalidade a partir de um recorte analiacutetico que considera as diferentes classes sociais e as

influecircncias reciacuteprocas entre a cultura subalterna e a cultura hegemocircnica que se movem de maneira circular

(GINSBURG 1987 p 13)

155

visitantes durante a exposiccedilatildeo Haacute a produccedilatildeo de um sentido que pretende ser fixado mas que

circula em outros suportes a pintura de Portinari e a fotografia do visitante

Nessa pesquisa tanto os museus visitados quanto seus visitantes instituem esses lugares de

significaccedilatildeo Museus e visitantes produzem um circuito histoacuterico e cultural e se posicionam

agenciam criam modos de endereccedilamento da cultura Entretanto na ideacuteia de circuito embora

estejam claros os produtos e os produtores natildeo haacute um sentido prioritaacuterio que desencadeia a accedilatildeo

cultural e portanto as ideias de ldquorecepccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo natildeo estatildeo colocadas ao fim de uma

cadeia de significaccedilatildeo O espectador ou visitante produz o sentido tanto quanto a instituiccedilatildeo que

pretende alojar a memoacuteria do evento com a exibiccedilatildeo puacuteblica de objetos

Acho esse trabalho de extrema relevacircncia para nosso curso e conveniente por causa das

discussotildees atuais O tema eacute muito atual e foi interessante visitar o Rio de Janeiro

justamente agora em que as comemoraccedilotildees dos 200 anos da chegada da famiacutelia real

estatildeo acontecendo Para mim foi muito bacana ver outras instituiccedilotildees museoloacutegicas e

exposiccedilotildees de cunho histoacuterico e artiacutestico ateacute mesmo para identificar as diferentes

concepccedilotildees de museu Identificar a intenccedilatildeo da exposiccedilatildeo e o que ela pretende

contar[] Algumas exposiccedilotildees mostram o cotidiano no Brasil as relaccedilotildees e o papel dos

liacutederes e do povo isso tambeacutem eacute relevante As gravuras pinturas documentos objetos

instrumentos dialogam com as exposiccedilotildees no qual estatildeo inseridos e com o proacuteprio

leitor nos fazendo desenhar e nos relacionar muito claramente com o passado (Frederico

Levi Amorim Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro

Leopoldo 2008)

A exposiccedilatildeo enfoca muito a importacircncia da vinda da famiacutelia real para o nosso processo

de emancipaccedilatildeo poliacutetica de Portugal mas esquece de salientar que independentemente

da existecircncia desse episoacutedio ou natildeo nossa economia jaacute era mais forte que a dos lusitanos

nossa elite jaacute natildeo aguumlentava a exorbitante taxaccedilatildeo de impostos sobre nossa produccedilatildeo e

que as ideias de cunho liberal jaacute pairavam sobre nossos ares gerando vaacuterias revoltas por todo o nosso territoacuterio (Weberton Fernandes da Costa Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

As visitas a museus permitem por em relaccedilatildeo o que Gruzinski (2001) chama de sistemas

culturais diferentes ou a questatildeo das fronteiras culturais e seus hibridismos O contato do visitante

com o museu pode ser pensado natildeo como um ldquocontratordquo mas uma confrontaccedilatildeo que destaca as

formas de temporalidade e historicidade natildeo contidas na noccedilatildeo de cultura europeacuteia e torna

possiacutevel a emergecircncia de um pensamento e praacuteticas inventivas e improvaacuteveis de hibridismo

(GRUZINSKI 2001 p157)

156

As fotografias selecionadas e apresentadas e os trechos dos relatos destacados apontam o

deslocamento realizado pelos visitantes ateacute a chegada ao Museu onde reinstalam o lugar do

visitante na cultura museal e desenvolvem um capiacutetulo da escrita da histoacuteria nos museus

O relato da visita como praacutetica de memoacuteria e histoacuteria se amplia em uma narrativa que

reorganiza as recordaccedilotildees do acontecimento e invoca uma memoacuteria do grupo de estudantes ao

selecionar as imagens e trazer agrave lembranccedila um conjunto de situaccedilotildees vividas e interpretadas

muitas natildeo registradas que sustentam uma rede de opiniotildees e formam diferentes quadros de

sentido Os estudantes fazem uma anaacutelise da exposiccedilatildeo praticando a museologia mesmo natildeo

tendo um treinamento especial e sistemaacutetico do ofiacutecio museoloacutegico percebem pensam e

praticam a museologia (CHAGAS 2003 p20) Elaboram um ldquopensamento musealrdquo

identificando marcas deixadas pelos quadros de referecircncia enunciados pelo museu A

interpretaccedilatildeo eacute constituiacuteda pelos visitantes no confronto com suas expectativas e as promessas

natildeo cumpridas pelo museu

Amplia-se a reflexatildeo sobre o processo de educaccedilatildeo poliacutetica e dos sentidos O debate

historiograacutefico recebe novos elementos das visotildees sobre o museu que se cruzam na cabeccedila dos

visitantes aquilo que os especialistas dizem sobre o museu aquilo que viram no Museu do

Escravo e aquilo que a escola lhes ensinou sobre a histoacuteria da escravidatildeo As disputas satildeo

evidenciadas Eacute necessaacuterio mobilizar conceitos e experiecircncias estabelecendo possibilidades e

limites da abordagem para elaborar narrativas sobre a visita

Pode-se afirmar que na elaboraccedilatildeo dos relatos das visitas emergem uma seacuterie de efeitos

formativos nos estudantes e professoresformadores As visitas desencadeiam perguntas sobre a

identidade verbalizam sentimentos pensamentos aspectos de suas experiecircncias sociais e

estimula a reflexibilidade Os relatoacuterios tambeacutem validam algumas construccedilotildees teoacutericas agrave medida

que operam com a traduccedilatildeo de concepccedilotildees simboacutelicas particulares e localizadas em uma

consciecircncia praacutetica e outra discursiva de caraacuteter mais amplo Tambeacutem permitem reconhecer e

dar visibilidade puacuteblica e social a realidades locais multiculturais e que contribuem para

contrariar formas hegemocircnicas de produccedilatildeo de conhecimento jaacute instituiacutedas e institucionalizadas

nas rotinas de formaccedilatildeo

Ao apresentar de forma ampla o uso feito pelos visitantes da visita ao museu eacute possiacutevel ir

aleacutem da criacutetica aos museus e discutir como os visitantes interpretam propostas expositivas da

157

instituiccedilatildeo visitada em dialoacutego com a heranccedila cultural e as praacuteticas de preservaccedilatildeo da memoacuteria e

do poder Ou em outras palavras como elaboram frente agraves imagens que lhes satildeo apresentadas

uma nova escrita imageacutetica acrescentando criacuteticas e explicitando ambiguidades presentes na

produccedilatildeo do museu

158

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A escrita desta tese teve iniacutecio com a tentativa de encontrar um ldquolugarrdquo que comportasse o

registro de praacuteticas educativas perdidas em meio agraves preocupaccedilotildees em uma instituiccedilatildeo de ensino

superior que encerrava a oferta de cursos de licenciatura Os trabalhos escolares dos alunos em

sua maior parte eram considerados privados e natildeo seriam recolhidos ao arquivo escolar

O local mais provaacutevel das memoacuterias de estudantes e professores seria o esquecimento A

situaccedilatildeo dos documentos escolares laacute encontrados natildeo era muito diferente de outras instituiccedilotildees

educativas A preservaccedilatildeo se limitava a um conjunto de textos legais documentos oficiais

administrativos e pedagoacutegicos Pouco se arquivava dos testemunhos orais dos professores alunos

e funcionaacuterios A biblioteca recebia publicaccedilotildees relatoacuterios teacutecnicos de pesquisa e conclusatildeo de

curso

Estava posta uma crise de memoacuteria os relatos escritos e visuais de visita excediam em

volume e careciam de organizaccedilatildeo Restavam as tentativas de doaccedilatildeo ou descarte O museu ou o

lixo A primeira opccedilatildeo implicou em questionar se os museus visitados teriam algum interesse

nesse tipo de resposta de sua audiecircncia escolar Resolvi apostar no recolhimento dos rastros dar

tratamento aos fragmentos cotidianos da cultura escolar e apresentaacute-los publicamente

Sistematizar a produccedilatildeo dos estudantes e colocaacute-la em circulaccedilatildeo foi o principal

investimento dessa pesquisa A duacutevida era constante esse tipo de fonte documental seria capaz

de sustentar uma anaacutelise a respeito dos sentidos da memoacuteria da histoacuteria e dos museus na cultura

contemporacircnea Espero ter argumentado ao longo do texto que sim Os relatos dos estudantes

indicam que eles foram capazes de ampliar sua formaccedilatildeo histoacuterica ao visitar museus

O processo de pesquisa foi de compartilhamento e conviacutevio com as reflexotildees teoacutericas e

metodoloacutegicas no grupo Memoacuteria Aprendi a exercitar a escrita como condiccedilatildeo de memoacuteria

Cada leitura cada debate constituiu-se em novas aprendizagens vividas e sentidas Escrever e

apresentar resultados parciais tornou a pesquisa possiacutevel

A maior tensatildeo da pesquisa foi delimitar o proacuteprio campo da investigaccedilatildeo delinear as

presenccedilas (estudantes e museus) as concomitacircncias (diaacutelogos admitidos ou criticados na

bibliografia) e as ausecircncias (outras ligaccedilotildees possiacuteveis com a histoacuteria e a educaccedilatildeo)

A busca por criteacuterios e a seleccedilatildeo das situaccedilotildees educativas de visitas envolveu um longo

diaacutelogo com ldquopalavras e coisasrdquo autores e praacuteticas Um jogo de conceitos emaranhados ao

159

mesmo tempo superpostos ndash diversos e abrangentes ndash e lacunares dispersos em livros textos e

instrumentos de sistematizaccedilatildeo de dados

Assim para descrever e avaliar a praacutetica de formaccedilatildeo evitei me referir a um sistema de

interpretaccedilatildeo ou traduccedilatildeo exterior (um horizonte idealizado ou seu suposto inverso uma

abstraccedilatildeo advinda da empiria) Propus-me a mobilizar conceitos disponiacuteveis e discordantes

principalmente de memoacuteria e histoacuteria que circulam ao niacutevel das minhas proacuteprias praacuteticas

apostando em sua emergecircncia a partir de quem falava e das posiccedilotildees dos sujeitos (estudantes) e

dos lugares institucionais (escolas e museus)

O maior desafio para a conclusatildeo desse projeto decorreu da opccedilatildeo que o motivou

inicialmente analisar as situaccedilotildees educativas de visitas a museus a partir da loacutegica da proacutepria

experiecircncia pedagoacutegica Natildeo houve um movimento externo de observaccedilatildeo mas um interesse ou

desejo de saber que veio da aproximaccedilatildeo entre o sujeito que se colocava na condiccedilatildeo de

pesquisador mas estava proacuteximo ao ldquoobjetordquo investigado

Os visitantes considerados na pesquisa natildeo se apresentam como um grupo representativo

segundo criteacuterios socioloacutegicos ou estatiacutesticos como acontece nos estudos de recepccedilatildeo que

avaliam efeitos provocados em determinada audiecircncia Os estudantes na condiccedilatildeo de visitantes

esboccedilam hipoacuteteses difusas acerca do que ocorre durante uma visita escolar Um mesmo visitante

utiliza estrateacutegias diferentes ao longo de sua trajetoacuteria escolar para traccedilar paralelos entre sua vida

e de um personagem histoacuterico Suas atitudes informadas ou desinformadas irocircnicas ou

conformistas dizem mais da criaccedilatildeo de uma cultura comum uma experiecircncia simultaneamente

implicada e distante da cultura predominante nas escolas e museus

A materialidade das praacuteticas de visita surgiu do trabalho com os relatos escritos e visuais

Na leitura dos relatos as operaccedilotildees de narrar proacuteprias da vida praacutetica foram se constituindo

como fundamento e pressuposto do conhecimento histoacuterico escrito por professores e estudantes

A anaacutelise das praacuteticas de visita combinou reflexotildees teoacutericas historiograacuteficas e empiacutericas

Textos imagens e oralidade num mesmo quadro analiacutetico Destaco que tanto as reflexotildees

teoacutericas e historiograacuteficas quando o quadro empiacuterico foram tentativas de abordagem diaacutelogos

recortes possiacuteveis e natildeo implicam na concordacircncia com todos os argumentos dos autores citados

ou um aprofundamento da reflexatildeo sobre cada fonte em particular Procurei explorar de cada obra

160

argumentos ou linhas de interpretaccedilatildeo que interessavam no estudo do tema do visitante de

museus

As fotografias tomaram ao longo da pesquisa uma centralidade maior A anaacutelise do

conteuacutedo dos materiais visuais seu uso durante as visitas e sua circulaccedilatildeo posterior constituiu-se

em um conhecimento experiencial da proacutepria visita As fotografias satildeo relatos visuais construiacutedos

com possibilidades de reproduccedilatildeo e propriedades materiais que influenciam na forma de leitura

de seus conteuacutedos Nas fotografias a visita oscila entre uma viagem de estudo e de turismo Os

estudantes trazem imagens de lugarespaisagens e objetos (sem pessoas) pessoas em

lugarescenaacuteriosobjetos e poucas com pessoas isoladas de cenaacuterios Quando confrontadas agraves

imagens produzidas pelos museus em cataacutelogos e materiais de divulgaccedilatildeo o cenaacuterio eacute destacado

sem a presenccedila de pessoas os objetos satildeo apresentados isolados sem a encenaccedilatildeo da exposiccedilatildeo

Nessa pesquisa selecionei fotografias-chave (amostras) de um quadro mais amplo de

originais Os objetivos dos fotoacutegrafos eram documentar a viagem nem sempre com a finalidade

de exibir as imagens Os relatos entregues para avaliaccedilatildeo trazem um primeiro corte feito pelos

seus produtores diretos os estudantes Era preciso imprimir os arquivos digitais Os viacutedeos e as

repeticcedilotildees satildeo deixados de lado As imagens armazenadas pelos estudantes tambeacutem eram

produzidas com a finalidade de exibiccedilatildeo para familiares e para compor um aacutelbum pessoal As

imagens impressas satildeo utilizadas e socializadas entre o grupo e se repetem em vaacuterios relatoacuterios de

visita A circulaccedilatildeo das imagens dado o seu suporte digital motiva a colaboraccedilatildeo e daacute iniacutecio a

uma narrativa com exerciacutecios de exploraccedilatildeo e descoberta

As fotografias trazem para a pesquisa uma dupla dimensatildeo Eacute marcante seu caraacuteter

documental mas elas natildeo permitem afirmaccedilotildees generalizantes Apresentam eventos especiacuteficos e

a anaacutelise depende das condiccedilotildees de produccedilatildeo e natildeo apenas da narrativa e do conteuacutedo

apresentado A produccedilatildeo das fotografias envolve negociaccedilotildees entre o criador da imagem e as

circunstacircncias sociais e teacutecnicas de produccedilatildeo (autorizaccedilatildeo iluminaccedilatildeo composiccedilatildeo)

Na pesquisa as fotografias tiveram uma primeira entrada com valor documental (dado

visual) que as considera como ato de criaccedilatildeo de um fotoacutegrafo e eacute resultado de condiccedilotildees

especiacuteficas de produccedilatildeo Em quadro mais complexo que esse primeiro de produccedilatildeo das imagens

estaacute a ediccedilatildeo ou os criteacuterios de seleccedilatildeo da pesquisa que reinscrevem as fotografias numa nova

coleccedilatildeo junto a outras que tambeacutem aderem ao plano da anaacutelise

161

As fotografias vieram ao encontro da necessidade de narrar e trazem as intenccedilotildees de

presenccedila como parte da accedilatildeo dos visitantes que se apresentam como o principal conteuacutedo das

imagens Nas fotografias dos visitantes eles compotildeem uma narrativa na qual utilizam os edifiacutecios

e objetos dos museus como um cenaacuterio (enquadramento da accedilatildeo) uma narrativa em que eles

visitantes satildeo os sujeitos Haacute nas fotografias uma biografia uma auto-representaccedilatildeo de si e do

grupo O registro fotograacutefico externaliza aspectos natildeo visiacuteveis e gera conhecimentos sobre as

visitas e visitantes Longe do local de produccedilatildeo as imagens satildeo reelaboradas pela pesquisa com o

propoacutesito de circulaccedilatildeo mais ampla natildeo com o propoacutesito de identificar indiviacuteduos especiacuteficos

mas de projetar mais longe o olhar dos visitantes

As fotografias dos visitantes selecionadas pela pesquisa trazem essa dimensatildeo da

presenccedila Os estudantes se posicionam ao lado direito e esquerdo da escultura do escravo do

tronco abraccedilam Dom Joatildeo VI montam e desmontam as exposiccedilotildees visitadas com criteacuterios de

relevacircncia pessoal Trazem sedimentos das heranccedilas culturais como o ldquoimaginaacuterio do troncordquo que

circunda conceitos de escravidatildeo Colocam clivagens historiograacuteficas como o cotidiano e a vida

privada em museus marcados por exposiccedilotildees de vieacutes poliacutetico e nacionalista

Os referentes oferecidos pelos museus satildeo partilhados ou confrontados Nascem nos

relatos hiacutebridos ediccedilotildees coleccedilotildees em novos formatos Nos museus visitados os estudantes

fotografam o espaccedilo organizado os iacutecones do acervo (pinturas esculturas) e os artefatos da

museologia (desenhos projeccedilotildees e cenaacuterios) Haacute um museu concreto e um museu imaginado

ambos reconstruiacutedos pelos visitantes O visitante faz o uso do museu durante a visita e recria o

lugar dando-lhe outras dimensotildees espaciais

A anaacutelise das visitas ao Museu do Escravo e Museu Histoacuterico Nacional pode ser

entendida como um movimento de circulaccedilatildeo entre o momento efetivo da praacutetica pedagoacutegica e de

formaccedilatildeo e o momento de reflexatildeo na leitura dos relatos jaacute constituiacutedos indicando a construccedilatildeo

de sensibilidades que envolvem todo trabalho com a cultura e uma orientaccedilatildeo para a vida praacutetica

daqueles implicados na dinacircmica das visitas A experiecircncia de visita possui junto a sua dimensatildeo

praacutetica uma qualidade esteacutetica dada natildeo pelo resultado final mas pelo movimentotranscurso da

accedilatildeo Eacute um agir e padecer frente agraves coisas fiacutesicas e imaginadas Une eventos e objetos numa

relaccedilatildeo muacutetua de extensatildeo e profundidade As visitas a museus geram conhecimentos e narrativas

agrave medida que permitem uma aprendizagem pela observaccedilatildeo e pela proacutepria experiecircncia

162

O Museu Histoacuterico Nacional transcende as barreiras do tempo e traz uma loacutegica

museoloacutegica ainda proacutexima do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro (IHGB) marcada pela

exaltaccedilatildeo dos feitos grandiosos nas esferas militar e poliacutetica e com pouco interesse pelo

cotidiano O museu resiste ao tempo presente Mas os visitantes natildeo fazem essa leitura e se

colocam na praacutetica de sua atualizaccedilatildeo Representam a si mesmos na exposiccedilatildeo e se apropriam de

seu acervo num arquivo fotograacutefico

No Museu do Escravo ocorre algo semelhante Se eacute legiacutetimo destacar que as praacuteticas de

colecionismo e a exposiccedilatildeo do museu alimentam preconceitos raciais e estereoacutetipos os visitantes

natildeo apenas fizeram a criacutetica dessas praacuteticas como redefiniram eles mesmos a coleccedilatildeo de objetos

curiosos Mais uma vez remontaram o acervo nas suas narrativas escritas e visuais

O procedimento de leitura das exposiccedilotildees que implica em montagem e desmontagem de

coleccedilotildees foi experimentado pelos estudantes no Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto ou seja numa

visita a museus O conteuacutedo de uma exposiccedilatildeo tambeacutem eacute utilizado para analisar outras Os

museus satildeo comparados entre si Os criteacuterios satildeo internos (museus) e natildeo externos (escola

historiografia)

O tipo de argumento predominante nas narrativas natildeo vem diretamente de leituras ou

discussotildees teoacutericas embora elas sejam utilizadas como no caso da escravidatildeo Os argumentos

produzidos nas narrativas satildeo configurados na proacutepria experiecircncia que oscila entre ldquoefeitos de

presenccedilardquo por estar dentro do museu ver a exposiccedilatildeo e ldquoefeitos de sentidordquo (o que leu estudou

sobre escravidatildeo histoacuteria do Brasil)

Pode-se concluir que as visitas trouxeram uma seacuterie de efeitos formativos para os

estudantes-visitantes Desencadearam afirmaccedilotildees sobre a identidade profissional verbalizaram

sentimentos e pensamentos sobre o pertencimento cultural ao tempo presente e estimularam a

reflexividade sobre o exerciacutecio da escrita da histoacuteria em museus Os relatoacuterios tambeacutem validaram

algumas construccedilotildees teoacutericas agrave medida que operavam uma ponte entre as concepccedilotildees particulares

e localizadas elaboradas em reaccedilatildeo quase imediata ao contato com o patrimocircnio musealizado e

outra dimensatildeo teoacuterica mais ampla acionada pela leitura e seleccedilatildeo de trechos que recebiam um

novo formato com a pesquisa

Os relatos criaram condiccedilotildees de reconhecimento visibilidade puacuteblica e social a realidades

locais como eacute caso do Museu do Escravo em Belo Vale Minas Gerais Colaboram tambeacutem para

163

contrariar formas hegemocircnicas de produccedilatildeo de conhecimento jaacute instituiacutedas e institucionalizadas

nas rotinas de formaccedilatildeo A visita ensina que os museus satildeo espaccedilos puacuteblicos onde satildeo

construiacutedas diferentes formas de ver a sociedade e nesse aspecto ajudam a tornar visiacuteveis as

temporalidades

As visitas se apresentam como uma praacutetica de coletar e a nova coleccedilatildeo passa a circular de

maneira tambeacutem inovadora frente ao acervo dos museus Os relatos integram elementos orais

textuais e visuais em um conjunto que dialoga com os valores e significados da cultura dos

museus e da cultura escolar Os visitantes fazem um uso praacutetico dos museus e da historiografia

para elaborar um conhecimento histoacuterico que utiliza novas formas de seleccedilatildeo e organizaccedilatildeo da

memoacuteria

Para ser coerente com o tema tentei apresentar a pesquisa de um modo mais narrativo

menos cronoloacutegico que contasse a histoacuteria dos sujeitos da pesquisa Uma ldquomanufaturardquo que

pudesse se contrapor aos ldquoprodutoresrdquo institucionalizados nos museus e oacutergatildeos de pesquisa

Talvez tenha encontrado ao final uma soluccedilatildeo para a impressatildeo dos visitantes que me

intrigou durante quatro anos Quando saem do museu saiacuteram de uma sala de aula As visitas satildeo

viagens ao interior mas levam para aleacutem dos horizontes fazem experimentar sentimentos de

turista viajante estudante historiadores natildeo importa Satildeo uma viagem pelo espaccedilo (museu) mas

por pouco tempo deve-se manter a cabeccedila no lugar (sala de aula)

A tentativa de entender o visitante como um ldquoespectador emancipadordquo como um viajante

que carrega sua proacutepria bagagem seus emblemas de pertencimento cultural agrave profissatildeo docente e

inclui suas observaccedilotildees sobre os territoacuterios oficiais da memoacuteria implica em considerar que a

exclusatildeo cultural existe de fato e a reivindicaccedilatildeo ao direito de participaccedilatildeo na gestatildeo cultural

implica em afirmar e reconhecer espaccedilos como os dos museus como ldquocasas de pertencimentordquo e

de ldquopresenccedilardquo do visitante

Os visitantes em questatildeo satildeo a expressatildeo desse direito agrave participaccedilatildeo cultural Num

primeiro momento se coloca ainda como um estrangeiro um estudante que faz sua primeira visita

ao museu mas que a partir desse primeiro encontro recebe uma espeacutecie de ldquosenhardquo que lhe

permite adentrar esse mundo dos museus Ser visitante afeta seu desejo no acircmbito da cultura

afeta sua formaccedilatildeo histoacuteria Suas narrativas de visita apontam esses deslocamentos novas

praacuteticas e roteiros de formaccedilatildeo acadecircmica e profissional

165

DOCUMENTOS

1- Registros de estudantes das atividades de visita a museus

FIPEL ndash FACUDADES INTEGRADAS DE PEDRO LEOPOLDO Instituto Superior de

Educaccedilatildeo de Pedro Leopoldo Relatoacuterios de visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto 2ordm

periacuteodo Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2005

______ Relatoacuterio siacutentese do Trabalho de Campo Visita a Belo Vale - MG Museu do

Escravo e Fazenda Boa Esperanccedila 4ordm periacuteodo Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2006

______ Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 7ordm periacuteodo Curso

de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2008

_______ Relatoacuterios individuais de visita ao Museu Imperial de Petroacutepolis nos anos 2001

2005 2004 e 2007 Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2007

_______ Relatoacuterio final de Estaacutegio Supervisionado Projeto de integraccedilatildeo Museu- Escola

Visita de alunos do Ensino Meacutedio ao Museu Abiacutelio Barreto-BH Curso de Histoacuteria Pedro

Leopoldo 2000

Roteiro de Pesquisa para os Formadores Enviado para os professores que participaram do

trabalho de campo no Rio de Janeiro com a turma do 7ordm periacuteodo e outros 2008

Transcriccedilatildeo fita Grupo Focal ndash gravada em 30042008 quarta-feira - antes do trabalho de campo

ao Rio de Janeiro- Faculdade de Pedro Leopoldo com 9 alunos do 7ordm Periacuteodo ndash Curso de Histoacuteria

ndashFaculdades Pedro Leopoldo-MG Feito com a ajuda da professora Cristiane Almeida (assistiu e

tomou notas) Total 7 paacuteginas

Entrevistas monitores-estagiaacuterios na exposiccedilatildeo ldquoFamiacutelia Ferrez novas revelaccedilotildees no Museu de

Artes e Ofiacutecios Belo Horizonte 2008

Diaacuterio de campo Observaccedilatildeo das visitas de trecircs escolas baacutesicas ao Museu de Artes e Ofiacutecios

Belo Horizonte 2008

166

2- Documentos das instituiccedilotildees visitadas

MUSEU HISTOacuteRICO NACIONAL - RJ

MUSEU Histoacuterico Nacional Um novo mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no

Brasil18082008 Brasil-Portugal Setor Educativo 50 paacuteginas 2008

______ Guia do Visitante Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura Rio de Janeiro 1957 36p

______ Informes do setor educativo Impresso 4 paacuteginas

______ Revista Didaacutetica da Exposiccedilatildeo Itinerante 28 paacuteginas 2005

______ Folheto de apresentaccedilatildeo do acervo e das exposiccedilotildees sd

______ Conhecendo o Museu Histoacuterico Nacional sd

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Silva Peres Fernandes Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2008 192p

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ANEXOS

Anexo A- Roteiro de coleta de dados estudantes de licenciatura em Histoacuteria 2008

Total de questionaacuterios respondidosdevolvidos 17 estudantes

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS- UNICAMP

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM EDUCACcedilAtildeO ndash DOUTORADO

ALUNA Elizabeth Seabra ORIENTADORA Dra Ernesta Zamboni

Roteiro de pesquisa ldquoAccedilatildeo educativa em museus e formaccedilatildeo docenterdquo

Observaccedilatildeo vocecirc poderaacute marcar mais de uma alternativa ou numeraacute-las de acordo com suas preferecircncias

Parte I-

1-Sexo Masculino ___ Feminino ______ Idade _______anos

2-Exerce atividade profissional remunerada Sim _____Natildeo____

Qual (com precisatildeo)_____________________________

3-Lugar de residecircncia (cidadebairro) ______________________

4-Quantos anos de escolaridade (contando da escola infantil ateacute a atual) _________

5-Costuma praticar alguma atividade recreativa Sim ____ Natildeo _____

Qual_________________

6-Indique aproximadamente em que faixa se situa a renda de sua famiacutelia em Salaacuterios Miacutenimos (e

natildeo apenas do chefe de famiacutelia)

1 a 3 SM ____4 a 6 SM ___7 a 9 SM ____mais de 10 SM ____

Parte II-

7-Vocecirc iraacute visitar um MuseuExposiccedilatildeo

1ordf Vez ____ 2ordf Vez_____ 3ordf Vez _____ 4ordf Vez ____ Acima de 4 vezes _____

8-Quando ouve ou lecirc a palavra MUSEU o que lhe vecircm agrave mente Diga trecircs palavras que vocecirc

associa a museu

1-________________ 2-____________________ 3- _______________

9-Diga trecircs coisas que tem em um museu

1- ________________2-__________________3 - ________________

10-Se vocecirc iraacute visitar pela primeira vez um museuexposiccedilatildeo nova sua ideacuteia eacute ver

1- ____Natildeo tem ideacuteia do que encontraraacute

2- ____O proacuteprio museu 3- ____As exposiccedilotildees especiacuteficas daquele museu

4- ____Participar de atividades culturais (cursos apresentaccedilotildees musicais)

189

Parte III-

11-Quando visitou pela primeira vez um museu

1- Com que idade (aproximadamente)_______

2- Com quem ________________________

3- Em que museu _____________________

4- Em que ocasiatildeo turismo ____ visita familiar____ visita escolar ____ Outros ___

5- Indicar qual________________

12-O que o levou a visitar museusexposiccedilotildees

_____1- Uma visita organizada pela escola

_____2- Recomendaccedilatildeo de algueacutem

_____3- Para acompanhar filhosfamiliaresamigosnamorados _____4- porque tem o costume e interesse em visitar museusexposiccedilotildees

_____5- Outras razotildees (indicar com precisatildeo)_____________________

13-Considerando os uacuteltimos trecircs anos vocecirc foi a museus

1- soacute______ 2- com os filhosfamiacutelia _____ 3- com amigos______

4- com um grupo organizado_______

14-Se jaacute entrou mais de 4 vezes em um museu queira indicar os trecircs uacuteltimos museus que visitou

1 ___________________2___________________3__________________

15-Nos museus visitados o que mais lhe agradou

____ 1-O passeiolazer como um todo

____2- A infra-estrutura o atendimento e serviccedilos de apoio

____ 3- Obras de arte objetos nunca vistos anteriormente

____4- Conteuacutedo e organizaccedilatildeo das exposiccedilotildees

____5- Nada agradou

____ 6- Outros ______________

16-Quais foram as dificuldades encontradas para realizaccedilatildeo das visitas a museus

____ 1- Natildeo acolhimento (funcionaacuterios monitores guias)

____ 2-Custo da visita (ingressodeslocamento)

____ 3- Ritmo da visita e conduccedilatildeo dos monitores

____4- Desconhecimento do tipo de acervo especiacutefico ____5- Dificuldade de acompanhar por falta de informaccedilotildees preacutevias

17-Durante as visitas a museus vocecirc

___1- Sente-se confortaacutevel ___ 2-Amplia seus horizontes de conhecimentos

___3-Interessa-se pelos assuntosexposiccedilotildees ___4- Diverte-se

___ 5-Sente-se desconfortaacutevel apreensivo ___ 6- Outros _____________________

18-Quais as impressotildees vocecirc tem quando sai de um museu

____ 1-Saiu de uma igreja ____ 2-Saiu de uma biblioteca

____ 3-Saiu de um shopping Center ____ 4-Saiu de uma sala de aula

____ 5-Saiu de uma sala de espera ____ 6- Outras imagens Quais _____________________

Parte IV

Deseja continuar colaborando com a pesquisa Sim ( ) Natildeo ( ) Em caso positivo por favor indique

Nome ___________________________

Telefone para contato ________________ e-mail ____________________________

190

Anexo B- Perfil dos visitantes

Graacuteficos elaborados a partir dos questionaacuterios acima Total de 17 estudantes Natildeo foram

elaboradas porcentagens

Graacutefico 1- Ocasiatildeo da visita ao museu

Visita escolar 16 visita familiar 2 turismo 1 outros 1

Graacutefico 2- Com quem visitou o museu a primeira vez

Escola 16 professora da faculdade 4 colegas da faculdade2 pais 2 grupo escolar 1viagem

m famiacutelia 1

191

Graacutefico 3- Com quem foi ao museu nos uacuteltimos anos

Graacutefico 4- Quantas vezes visitou museus

192

Graacutefico 5- Trecircs uacuteltimos museus visitados

Graacutefico 6- Primeira coisa a ver em um museu

193

Graacutefico 7- Como se sente durante a visita

Graacutefico 8 - Palavras associadas a museu

194

Graacutefico 9 - Coisas que tem em museus

Graacutefico 10- O que mais agradou nos museus

195

Graacutefico 11- Impressatildeo quando sai do museu

196

Anexo C

Transcriccedilatildeo fita Grupo Focal ndash gravada em 30042008 quarta-feira - antes do trabalho de campo no

Rio de Janeiro- Faculdade de Pedro Leopoldo Participantes Weberton Warleson Aline Tiago Fabiana Frederico Daniele Fernando Claudilene ndash

alunos do 7ordm Periacuteodo ndash Curso de Histoacuteria ndashFaculdades Pedro Leopoldo-MG

Elizabeth Seabra e Cristiane Almeida (assistiu e tomou notas)

Elizabeth ndash EacuteEu jaacute falei na sala dessa teacutecnica do grupo focal e a gente vai trabalhar mais ou menos uma

hora uma hora e pouco e a ideacuteia eacute que cada um procure expressar de forma mais livre se isso eacute possiacutevel em grupo

as opiniotildees conceitos as impressotildees o que achar mais adequadoa gente grava e depois transcreve A gente vai

tratar basicamente de trecircs pontos de natildeo der natildeo for possiacutevel aiacute a gente vecirc se estaacute excedendo muito a gente trata soacute

de dois temas Primeiro eu queria que vocecirc fizessem uma apresentaccedilatildeo falando o que vocecircs acham que deve ser

registrado neacute a respeito da identidade da forma que vocecircs preferirem e jaacute falassem nesse primeiro ponto um pouco

de como eacute que vocecircs vecircem esse trabalho que a gente faz com visitas a campo visitas a museus que aspectos que

detalhes vocecircs destacam desse tipo de trabalho Entatildeo jaacute na apresentaccedilatildeo de forma raacutepida ir pensando nos trabalhos passados o que destacariam falariam dessas visitas esse eacute o primeiro ponto A gente faz uma primeira rodada falando

todo mundo a gente encerrada esse ponto Passa para outro e faz uma segunda rodada Pode ser Entatildeo taacute Eu posso

me apresentarvocecircs me ajudam neacute Eu estou aqui hoje como pesquisadora dessa temaacutetica mas claro as coisas natildeo

se separam sou algueacutem que jaacute vem trabalhando nos uacuteltimos trecircs quatro anos com essa turma as visitas meu nome eacute

Elizabeth

(dificuldade de comeccedilar) hesitaccedilotildees quem comeccedila a falar

Meu nome eacute Weberton estudo na Faculdade de Pedro Leopoldo Bem a respeito de visitas a museus

trabalhos de campo visitas a cidades histoacutericas ()a medida que vocecirc amplia seus horizontes faz vocecirc ter uma outra

visatildeo vocecirc contrasta passa ver na praacutetica o que viu na teoria uma metodologia diferente ver eacute isso

Elizabeth Obrigada natildeo precisa preocupar com o gravador natildeo

Meu nome eacute Warleson eu acho que essas visitas a museus cidades histoacutericas igual o Betatildeo falou o

Weberton falou que amplia os horizontes eu acho tambeacutem que natildeo existe um curso de Histoacuteria ou entatildeo um outro curso de licenciatura sem essas visitas teacutecnicas por que acho que ajuda a gente a compreender melhor a mateacuteria que

a gente estaacute estudando natildeo soacute na teoria mas a gente ta vivenciando ela tambeacutem na praacutetica A mesma coisa eacute como se

a gente tivesse dando aula A gente aprende mais tambeacutem para ta colocando essas visitas essas viagens quando a

gente tiver na sala de aula

Aline Eacute praacute mim o interessante dessas visitas a campo eacute que querendo ou natildeo a sala de aula eacute um espaccedilo

fechado as vezes fica assim cansativo vocecirc acaba natildeo entendendo neacute eacute entende mas natildeo tem aquela visatildeo assim

mais ampla e aiacute vocecirc tendo aquele contato com os locais assim como se diz os objetos histoacutericos eu acho assim

que daacute praacute gente um entendimento melhor Minha opiniatildeo eacute essa natildeo sei eacute para todo mundo pra mim o

entendimento da histoacuteria fica mais faacutecil

Meu nome eacute Tiago eacute no meu entender as visitas aos museus contribuem sim com o nossa aprendizagem

parafrasendo o Warleson em certa medida nos daacute a condiccedilatildeo de sair um pouco da teoria e cair um pouco mais na praacutetica se eu posso dizer assim a gente tem o contato com uma determinada realidade Pra vocecirc trabalhar histoacuteria

noacutes trabalhamos com coisas muito abstratas neacute agrave medida que vocecirc chega num museu e tem contato com

determinadas obras aquilo ali pode te remeter um pouco a respeito daquele determinado periacuteodo e entatildeo eacute por isso eacute

muito importante

Meu nome eacute Fabiana aleacutem de ser como aprendizado tambeacutem eacute uma forma de se entender esse conceito

essa ideacuteia de memoacuteria de se preservar o patrimocircnio a importacircncia que eacute alem de ser acho que eacute isso O estaacutegio

que a gente ta fazendo antes a gente tinha uma visatildeo muito limitada quando vocecirc ta dentro vocecirc comeccedila a entender

como eacute que eacute e o trabalho de campo te abre para isso tambeacutem

Frederico Eu acho que quando a gente tem essa oportunidade na Faculdade de ta realizando esse trabalho

de campo ele vem assim de uma forma a gente reconhecer o valor desses espaccedilos pra gente tambeacutem ta trabalhando

ta utilizando esses espaccedilos na escola que uma coisa que a gente vecirc que as escolas ateacute utilizam esses espaccedilos de

memoacuteria mas natildeo utilizam da maneira correta neacute e isso possibilita pra gente ta reconhecendo esses espaccedilos e taacute aprendendo como a gente pode ta utilizando esses espaccedilos a partir da sala de aula e ta reforccedilando essa parceria da

escola com o museu com espaccedilos de memoacuteria e colocando a questatildeo da memoacuteria da educaccedilatildeo patrimonial da

valorizaccedilatildeo neacute do patrimocircnio

197

Meu nome eacute Daniele eu acho fundamental especificamente num curso de licenciatura enfocando na aacuterea da

histoacuteria vocecirc ter esse diaacutelogo com a questatildeo que eacute falada dentro da Faculdade a questatildeo dos conceitos da histoacuteria

das mudanccedilas e permanecircncias e a ida a campo te possibilita infinitas reflexotildees sobre as questotildees que satildeo

confrontadas dentro da sala de aula E o fundamental natildeo soacute a questatildeo de ver a histoacuteria como abstrato mas muito

mais que isso eacute dar uma nova interpretaccedilatildeo quando vocecirc vai agrave campo Entatildeo abre os horizontes agrave medida que vocecirc

pode confrontar vaacuterias visotildees levando em conta o contexto vaacuterias fontes tambeacutem

Meu nome eacute Fernando Eu tambeacutem acho interessante essa ida a campo porque busca um maior

entendimento daquilo que vocecirc vecirc apenas no papel no texto Quando vocecirc vai a um local a um patrimocircnio histoacuterico

a um museu isso possibilita ta mais perto vocecirc vecirc peccedilas exposiccedilotildees aquilo te remete te leva aquele tempo

Elizabeth Agora natildeo tem jeito neacute Soacute falta vocecirc (riso)

Claudilene Eu acho muito importante essas visitas a campo porque aleacutem da gente ta conhecendo novos lugares a gente aprende vaacuterias coisas sobre o passado com relaccedilatildeo ao presente aquilo que por exemplo quando a

gente foi no Museu do Escravo mesmo aquilo que aquelas pessoas passaram naquela eacutepoca os objetos que estatildeo laacute

representados que usavam nos castigos naqueles escravos eu acho muito interessante a histoacuteria neacute

Elizabeth Obrigada (risos) Olha soacute tem duas outras questotildees vou fazer junto e vocecircs fiquem agrave vontade

para falar mais de uma ou outraporque se tiver algueacutem que natildeo vai ao Rio de Janeiro pode responder mais uma ou

outra Todos vatildeo Haacute bom Por que eacute o seguinte o primeiro eu gostaria que vocecircs tentassem relatar ou descrever

trabalhos que jaacute foram feitos Lembrar da situaccedilatildeo o que viu que tipo de fato de contribuiccedilatildeo esse trabalho trouxe

neacute mas assim tentar lembrar alguma referecircncia dessas visitas e aiacute descrever o que aconteceu o que chamou a

atenccedilatildeo natildeo precisa ser soacute que gostou natildeo pode ser tambeacutem o que achou difiacutecil complicado pode avaliar o que de

fato foi essa visita essa experiecircncia e depois a gente coloca a terceira para encerrar Pode ser Vamos comeccedilar daqui

de novo Alguma visita que vocecirc lembra que participou o que chamou a atenccedilatildeo (repete esclarece ) Claudilene Como eu jaacute falei do Museu do Escravo a representaccedilatildeo das peccedilas Naquele laacute de BH Como

chama (respondem) Abiacutelio Barreto Eacute Abiacutelio Barreto gostei demais Pode falar de outros que eu fui Eu fui tambeacutem

em um (Vocecirc foi sozinha) Fui com minha famiacutelia Famiacutelia trapo Foi todo mundo no museu de JK laacute tambeacutem o

que mais interessante que eu achei laacute foi que ele colocou laacute no museu dele o que ele mais gostava na parte da

culinaacuteria Ele gostava de comida no fogatildeo agrave lenha e tinha um queijo laacute em cima do fogatildeo e de preferecircncia de panela

de barro Isso foi que mais gostei

Elizabeth Quando eacute que vocecirc foi Foi recente

Claudilene Eu fui laacute acho em 1994 Nesse museu em Brasiacutelia Teve um em Caraccedilas que eu fui mas soacute que

laacute de Caraccedilas eacute mais soacute eacute artigos religiosos

Elizabeth Vocecirc foi antes de entrar na Faculdade

Claudilene Antes de entrar na Faculdade Fui de JK em Cordisburgo Daquele escritor Ahm (Guimaratildees Rosa) Eacute Guimaratildees Rosa Eu adoro museu

Elizabeth Obrigada

Fernando O Museu que eu mais gostei achei super interessantefoi justamente na eacutepoca que gente tava

entrando na Faculdade comeccedilando o curso de Histoacuteria noacutes fizemos uma visita ao Museu Abiacutelio Barreto em

BHOnde foi que quebrou um pouco aquela visatildeo que a gente trazia da escola que na hora que fez aquela foi feito

aquela dinacircmica explicando como eacute feita uma exposiccedilatildeo onde cada pessoa pode colocar aquilo que tava com ele um

laacutepis uma caneta ou um caderno e ali foi ensinado para a gente como fazer uma exposiccedilatildeo como organizar uma

exposiccedilatildeo como uma exposiccedilatildeo eacute organizada Toda exposiccedilatildeo ela tem o ponto central aquilo que ela ta querendo

mostrar aquilo que ta querendo contar Todos esses aspectos foram explicados para a gente Achei super interessante

assim foi de grande valia pra gente como estudante de histoacuteria

Elizabeth Valeu Fernando

Daniele Bem como o Fernando acabou de relatar o Museu Abiacutelio Barreto foi um dos primeiros museus que gente chegou a visitar aqui na Faculdade e foi muito interessante porque eles explicaram pra gente como eacute que eacute feita

a seleccedilatildeo como eacute feita a organizaccedilatildeo desse material como eacute feita a exposiccedilatildeo se essa exposiccedilatildeo eacute permanente ou

natildeo Outro Museu que tambeacutem foi interessante foi o Imperial em Petroacutepolis que a gente visitou Assim por mais que

assim foi muito bonito a gente natildeo teve um tempo para dialogar com as peccedilas discutir comentar e as vezes se

faz necessaacuterio quando se vai ao museu ter tempo para dialogar questionar ter diaacutelogo porque isso acrescenta muito

Elizabeth Obrigada

Frederico O que marcou muito tambeacutem foi a visita ao Abiacutelio Barreto por ter sido a primeira que a gente fez

na Faculdade eu jaacute tinha feito outras mas aqui na Faculdade foi a primeira E logo depois quando eu comecei a fazer

o Estaacutegio o que me chamou a bastante a atenccedilatildeo foi a questatildeo da organizaccedilatildeo na hora de elaborar uma exposiccedilatildeo a

198

quantidade de pessoas que estatildeo envolvidas como que a instituiccedilatildeo inteira se mobiliza em torno disso como eacute muito

seacuterio o trabalho que eles fazem quando tem que definir um tema para a exposiccedilatildeo quais satildeo os materiais que vatildeo ser

expostos Neacute assim a questatildeo de organizaccedilatildeo que me marcou muito e voltando ao Museu do Escravo o que me

chamou muito a atenccedilatildeo tambeacutem foi isso que eu gostei muito do museu achei que tinha muita coisa bacana mas

achei que a exposiccedilatildeo tava muito saturada tinha tanta informaccedilatildeo que assim vocecirc tava meio perdido ali dentro e

achei que tinha ter uma linha cronoloacutegica alguma coisa que pudesse ta direcionando o proacuteprio visitante para facilitar

o entendimento da exposiccedilatildeo e para que a gente pudesse absorver mais a informaccedilatildeo e pra que gente pudesse

entender tambeacutem o que a exposiccedilatildeo estava querendo falar

Elizabeth Soacute Fred uma pequena intervenccedilatildeo Vocecirc mencionou um estaacutegio e a Fabiana tambeacutem Soacute

rapidamente eu gostaria que vocecirc falasse para que algumas pessoas saibam e registrar vamos dizer assim que

estaacutegio eacute esse que vocecirc ta fazendo Frederico A gente comeccedilou esse ano a partir do dia 08 de janeiro um Estaacutegio institucional supervisionado

pela Faculdade Gente taacute realizando no Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto todas as semanas a gente vai

periodicamente E no iniacutecio a gente realizou um trabalho de estudo junto com o setor educativo do museu eacute a gente

trabalha direto com o setor educativo no iniacutecio foi um grupo de estudos e a agora a gente jaacute estaacute comeccedilando a partir

dos atendimentos das intervenccedilotildees que o setor faz com os alunos e a gente ta comeccedilando a aprender para que a gente

possa tambeacutem fazer essas intervenccedilotildees Ta sendo muito bacana porque a gente ta conseguindo fazer essa ligaccedilatildeo da

escola com o museu ateacute mesmo por estar trabalhando no setor educativo do museu Taacute dando para aprender bastante

coisa

Fabiana Aprender tambeacutem a importacircncia que eacute a ligaccedilatildeo da escola com o museu A experiecircncia em museu

o que mais gostei e entre aspas natildeo gostei foi ao Museu Imperial Gostei muito foi fantaacutestico o que natildeo gostei eacute

que a nossa visita foi guiada foi muito raacutepida e assim a gente natildeo pode ver com aquele olhar poder discutir poder ver o lado criacutetico como que era e eles natildeo permitam isso laacute eles ficavam controlando O bom foi vocecirc ter uma

direccedilatildeo que se a gente tivesse perdido sozinho a gente natildeo ia saber por onde comeccedilar a gente natildeo ia saber que

direccedilatildeo mas o ruim eacute que eacute muito raacutepido e natildeo te deixa dialogar com cada peccedila enfim No Abiacutelio Barreto estaacute sendo

fantaacutestica a experiecircncia ainda mais no setor pedagoacutegico que a gente ta trabalhando

Tiago No meu caso natildeo eacute o Museu Abiacutelio Barreto natildeo eacute o Museu Imperial nem o Museu do Escravo

(risos) mas () porque eu natildeo tive a oportunidade de ir ( natildeo gosto nem de lembrar) um museu que se destacou

entre os que jaacute visitei foi o Museu Padre Toledo em Tiradentes eu acho que basicamente quase ningueacutem teve a

oportunidade de visitar num cronograma tatildeo corrido dentro das perspectivas de trabalho de campo que o Geraldo

propocircs Entatildeo ningueacutem parou para ver neacute mas eu tive a sorte de que duas semanas antes eu tinha ido laacute entatildeo eu

fui no museu e notei uma coisa muito interessante que eram vaacuterias peccedilas que remetem ao seacuteculo XVIII mas vaacuterias

peccedilas que natildeo tem uma interlocuccedilatildeo a exposiccedilatildeo natildeo te daacute uma oportunidade de fazer uma ligaccedilatildeo entre elas acho que eles se preocuparam tanto em expor o seacuteculo XVIII uma casa do seacuteculo XVIII mas a gente eu no caso natildeo tive

a oportunidade de perceber a ligaccedilatildeo que tinha

Elizabeth Obrigada Tiago

Aline Bom no meu caso natildeo foi o museu natildeo foi o Arquivo da Cidade de BH Eu achei interessante

porque a gente pode ver laacute como que se daacute o armazenamento dos documentos porque se natildeo tiver esse cuidado ele

acaba perdendo no tempo Entatildeo a gente aprendeu laacute o que eacute interessante guardar como que eacute feita a higienizaccedilatildeo

desse material para poder ser guardado e uma que assim que natildeo me agradou muito foi o Museu de Histoacuteria Natural

da PUC A exposiccedilatildeo era interessante demais mas acho assim que era mais voltado para crianccedila sabe As guias do

dia laacute falavam uma linguagem meio infantil acabou que a gente foi com a disciplina de Histoacuteria da Aacutefrica A

professora precisou intervir porque tava uma coisa assim (intervenccedilatildeo do Colega foi Histoacuteria da Ciecircncia e da

Teacutecnica) Foi da Aacutefrica Natildeo foi terceiro periacuteodo Essa mateacuteria aiacute aiacute a professora pode citar o nome Ela precisou

intervir porque natildeo tava sendo interessante para a gente tava muito mecanizado Ela teve que nortear a coisa para estar de acordo com a nossa disciplina O palaacutecio imperial tambeacutem foi bastante interessante mas tambeacutem natildeo deu

nem para observar direito as peccedilas porque foi muito corrido Eacute isso aiacute

Elizabeth Soacute um segundo sei que vai cansando e a gente comeccedila a falar junto mas depois eu natildeo consigo

fazer a transcriccedilatildeo Entatildeo por favor

Warleson Eu jaacute fui no Museu de Guimaratildees Rosa e na eacutepoca eu tava na 8ordf Seacuterie e gostei bastante de ter

ido depois eu ateacute passei na gruta de Maquineacute que eu natildeo sei se entra aqui se eacute o caso() eu gostei mas natildeo lembro

muito do que foi falado laacute soacute lembro que eu fui Eu gosto muito de visita assim tem uma igreja laacute em Congonhas

tambeacutem que eu jaacute visitei e gostei muito do Museu de Artes e ofiacutecios em BH de como que se dava o processo de

trabalho da eacutepoca da exposiccedilatildeo que eu natildeo lembro o tempo a memoacuteria agora ta curta Eu gostei tambeacutem do Museu

199

do Escravo tambeacutem Eu gosto muito dessa ligaccedilatildeo do Brasil com a Aacutefrica e gosto muito de estudar essa parte

principalmente na religiatildeo

Elizabeth Soacute uma coisa W Vocecirc mencionou Guimaratildees Rosa mesmo em Congonhas vocecirc foi sozinho

com amigos em grupo com a escola

Warleson Laacute no Museu de Guimaratildees Rosa eu fui com a escola quando tava na 8ordf Seacuterie Em congonhas

foi uma excursatildeo que a gente faz para um parque Parque da Cachoeira que tem laacute aiacute a gente passa nessa igreja para

fazer a visita A igreja na eacutepoca estava em reforma mas a gente podia entrar laacute dentro

Elizabeth Aiacute satildeo amigos

Warleson eacute uma excursatildeo assim um especial

Elizabeth Obrigada

Weberton (riso) A experiecircncia que me marcou assim foi ao Museu do Escravo Problema eacute o seguinte porque mostrou assim o processo de escravidatildeo no Brasil como era estruturado objetos que ao mesmo tempo ()

visatildeo que tinha do negro mostrando eles simplesmente como objetos e colocou tipo assim () uma visatildeo negativa

faltou assim a cultura a danccedilaa comida natildeo mostrou o processo global A ideologia do sistema claro que tinha na

eacutepoca

Elizabeth A questatildeo do terceiro ponto e nossa uacuteltima rodada eacute a nossa visita ao Rio de Janeiro A visita estaacute

marcada pela ideacuteia da comemoraccedilatildeo dos 200 anos da vinda da famiacutelia real e de propoacutesito tambeacutem a gente escolheu

visitas a algumas das exposiccedilotildees relacionadas a esse evento e certamente a gente vai poder conversar sobre o que

foi fazer laacute Mas eu gostaria que vocecircs falassem pensassem da expectativa da visita claro eu imagino que a

expectativa eacute boa alta mas como vocecircs relacionam a questatildeo da memoacuteria que jaacute abordaram que estaacute presente nos

museus e nestes espaccedilos que a gente costuma visitar e questatildeo da histoacuteria e aiacute a gente pode pensar um pouco no

sentido dessa histoacuteria escrita da historiografia daquela eacute trabalhada nos textos na sala de aula e a questatildeo da comemoraccedilatildeo Como vocecirc fazem vecircem isso comemoraccedilatildeo histoacuteria e memoacuteria Como relaciona isso antes das

visitas Como estaacute na cabeccedila tem relaccedilatildeo natildeo tem Natildeo eacute preciso fazer nenhuma tese mas como vecircm noacutes vamos

para um evento assim uma seacuterie de exposiccedilotildees relacionadas a uma comemoraccedilatildeo Aiacute noacutes estamos tratando da

questatildeo da memoacuteria e da histoacuteria Como vocecircs pensam que isso pode ser organizado pensado Pode ser Agora vou

fazer assim quem quer comeccedilar

Daniele Eu acho assim o interessante eacute porque os professores datildeo uma base muito boa para quando vocecirc

vai para a discussatildeo Por mais que a gente vai num periacuteodo assim com essa intenccedilatildeo Taacute sendo comemorado Eacute

muito importante as visitas em diferentes tempos mas eu acho que deve ter um certo cuidado ter uma visatildeo criacutetica

porque essa comemoraccedilatildeo pode daacute uma organizaccedilatildeo para enaltecer essa comemoraccedilatildeo Analisar mas analisar de

forma criacutetica saber se essa comemoraccedilatildeo tem Natildeo sei se consegui me expressar

Elizabeth algueacutem quer tentar expressar Tiago Na verdade pensar a historicidade do evento Se natildeo fica muito naquele negoacutecio do oba oba se natildeo o

propoacutesito principal se perde e

Frederico Aiacute que entra a questatildeo da memoacuteria Eu acho que nem a D falou ser criacutetico A gente ir assim para

focar o ato de comemoraccedilatildeo O que estaacute sendo comemorado Por que Ir com alguns questionamentos e ter alguns

filtros para natildeo ir muito para o lado do () a valorizaccedilatildeo da memoacuteria e buscar nesses momentos o valor histoacuterico

Tiago E o por que de estar sendo comemorado Na Verdade eacute um fato relevante na histoacuteria do Brasil mas

quais que satildeo as pretensotildees de se fazer essa comemoraccedilatildeo quais as implicaccedilotildees disso

Frederico Eu acho que nem tanto o por que mas como estaacute sendo neacute Como eles estatildeo fazendo isso De

que forma estatildeo representando esse momento Momento a chegada da famiacutelia real como isso estaacute sendo

representado

Elizabeth Na cabeccedila de vocecircs esse momento Chegada da famiacutelia real tem uma ldquoaurardquo tem uma

importacircncia Como vocecircs vecircem isso WebertonSim Mudou os rumos do Brasil porque ateacute entatildeo tinha a vigecircncia do pacto colonial (fim da fita

em um dos gravadores) Tinha o comeacutercio metroacutepolecolocircnia e com a vinda da famiacutelia real a abertura dos portos

favorece uma burguesia colonial natildeo sei se burguesia mas a elite brasileira passou experimentar novos mercados

comeacutercios e e isso eacute importante porque a partir do momento que Portugal abriu os portos a elite brasileira viu que

natildeo era vantagem natildeo aceitou mais e comeccedilou a organizar movimentos civis que vai culminar na Independecircncia do

Brasil

Daniela E isso que o B ta falando eacute justamente a de analisar como foi esse acontecimento e qual a visatildeo

que estaacute sendo repassada nessas exposiccedilotildees Tentar na medida do possiacutevel confrontarneacute

Tiago Aleacutem de um sentido poliacutetico e econocircmico a vinda da famiacutelia real traz um sentido cultural forte

200

Elizabeth Acho que ta encerrando mais algueacutem quer fazer alguma consideraccedilatildeo sobre a expectativa dessa

visita ao Rio o que espera ver o que jaacute viu o jaacute visitou

Frederico Conheccedilo Petroacutepolis

Frederico Questatildeo histoacuterica museus natildeo

Outros concordam

Observaccedilatildeo apenas uma participante disse jaacute conhecer o Rio de Janeiro Niteroacutei

Elizabeth Agradeccedilo a todos a Cristiane e depois retorno

201

Anexo D

ROTEIRO TRABALHO DE CAMPO ndash Rio de Janeiro DATAS Saiacuteda de Pedro Leopoldo 30042008 agraves 2230 (noite - quarta)

Retorno d o Rio de Janeiro 03052008 agraves 1200 horas (tarde- saacutebado)

ATIVIDADE ACADEcircMICA CIENTIacuteFICA E CULTURAL ndash 25 h-

5ordf Feira dia 01052008

Chegada ao Hotel Rio‟s Nice Hotel Rua do Riachuelo 201 Centro CEP 20230-011 Rio de Janeiro Rio

de Janeiro telefone 2297-1155 ndash cafeacute da manhatilde

1000 saiacuteda do Hotel para Visitaccedilatildeo ao Corcovado(Cristo Redentor)

Subida de Trem ao Corcovado Saiacuteda Rua Cosme Velho 513 Zona sul Telefones 24922252 e

22051045 Funcionamento de 8 30 agraves 18 30h saiacuteda a cada meia hora Duraccedilatildeo da viagem cerca de 20 minutos

Preccedilo da passagem R$ 3600(inclui ida e volta) aceita Cartotildees de Creacutedito Velocidade da subida 15 kmh Velocidade

da descida 12 kmh

Som e Luz na Antiga Seacute ndash agendado para o grupo chegar agraves 1000 h fazer a visita guiada ao interior da

Igreja e terminar com o espetaacuteculo agraves 1200 h com efeitos sonoros e iluminaccedilatildeo que conta a histoacuteria da antiga seacute Satildeo

projetadas sombras de personagens como reis e padres nas paredes Valor da entrada R4 600 (inclui a visita ao espetaacuteculo)

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO DA ANTIGA SEacute

A antiga catedral promovida a Capela Real em 1808 foi palco da sagraccedilatildeo de D Joatildeo VI como rei de

Portugal apoacutes a morte de D Maria I Ali se casaram o futuro D Pedro I e D Leopoldina da Aacuteustria em 6 de

novembro de 1817 Rua 7 de Setembro 14 centro 218176-4182 3a5a 9h17h e saacuteb 11h17h agende com

antecedecircncia

Almoccedilo

Horaacuterio 1600 agendado para o grupo

Visita a EXPOSICcedilAtildeO -RIO DE JANEIRO CAPITAL DE PORTUGAL EXPOSICcedilAtildeO ndash

COMEMORACcedilOtildeES DOM JOAtildeO VI NO RIO - 1808-2008

ART SESC - FLAMENGO Rua Marquecircs de Abrantes 99- Flamengo Sede administrativa (21) 3138-

1020 Arte Sesc (21) 3138-1343 Graacutetis

Exposiccedilatildeo mostra a chegada de D Joatildeo no Brasil A vinda para o Brasil de D Joatildeo priacutencipe regente de

Portugal e de sua comitiva e as radicais alteraccedilotildees sobre os destinos e a vida da colocircnia principalmente sobre os

haacutebitos e costumes da cidade apresentadas de forma abrangente os motivos que levaram agrave transferecircncia da Corte as

principais iniciativas por ele tomadas como a criaccedilatildeo do Banco do Brasil da Imprensa Reacutegia do Jardim Botacircnico e

da Capela Real e a chegada da chamada Missatildeo Francesa composta de arquitetos pintores gravadores e artiacutefices

para citar apenas algumas

Noite ndash livre

6ordf Feira dia 02052008

202

Horaacuterio agendado para o grupo 1000 h MUSEU HISTOacuteRICO NACIONAL Praccedila Marechal Acircncora centro

212550-9220R$ 600 EXPOSICcedilOtildeES ndashUM NOVO MUNDO UM NOVO IMPEacuteRIO A CORTE PORTUGUESA NO BRASIL Seu

acervo muito bem preservado e identificado inclui coleccedilotildees de armas carruagens louccedilas pratarias e objetos

pessoais da eacutepoca da corte Promove a partir de 8 de marccedilo uma das mais importantes exposiccedilotildees sobre o periacuteodo

Horaacuterio agendado para o grupo 930 h Biblioteca Nacional- 15 pessoas Av Rio Branco 219 Centro Telefone

21 2220-9484

Visita guiada agrave seccedilatildeo de Manuscritos Perioacutedicos Microfilmados Obras Raras e outros setores Edifiacutecio projetado por

Francisco Marcelino de Souza Aguiar foi inaugurado em 1910 Em estilo neoclaacutessico com imponente escadaria ateacute

o primeiro andar eacute circundado de colunas coriacutentias Seu acervo comeccedilou a ser reunido no seacuteculo XVIII Nele

destacam-se dois exemplares da Biacuteblia de Moguacutencia impressa em 1462 pelos continuadores de Gutenberg a ediccedilatildeo

dos Lusiacuteadas de 1572 a coleccedilatildeo De Angelis e a coleccedilatildeo Teresa Cristina doaccedilatildeo de D Pedro II

AlmoccediloHoraacuterio agendado 0 Exposiccedilotildees ndash Comemoraccedilotildees Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro 1808-20

O Teatro de Debret Entrada Franca

O Teatro de Debret eacute a maior exposiccedilatildeo jaacute realizada sobre Jean-Baptiste Debret (1768-1848) pintor

integrante da Missatildeo Artiacutestica Francesa que viveu no Rio de 1816 a 1831 Com 511 obras sendo 346 aquarelas 151

pranchas litograacuteficas e cinco oacuteleos do artista aleacutem de nove trabalhos relacionados com ele a mostra revela o Rio

tanto sede do impeacuterio portuguecircs como do Brasil com todos os seus contrastes e exuberacircncias A mostra integra as

comemoraccedilotildees dos 200 anos da chegada da Famiacutelia Real

O edifiacutecio onde hoje funciona a Casa Franccedila-Brasil jaacute foi palco de alguns eventos importantes de nossa histoacuteria Mandado erguer em 1819 por D Joatildeo VI ao arquiteto Grandjean de Montigny integrante da Missatildeo

Artiacutestica Francesa a obra em si jaacute eacute um importante documento Eacute o primeiro registro do estilo neoclaacutessico no Rio

de Janeiro que a partir daiacute invadiu nossa cidade tingindo o barroco de nossas florestas e de nossas casas coloniais

de um tom cosmopolita agrave moda europeacuteia

Noite Livre

Saacutebado dia 03052008 Visita ao Jardim Botacircnico Rua Jardim Botacircnico 1008 Exposiccedilatildeo Orquiacutedeas no Jardim

Centenas de espeacutecies entre elas a primeira espeacutecie nativa do paiacutes trazida pelo rei de Portugal Mostra exposiccedilatildeo

paralela Dom Joatildeo VI e a Exploraccedilatildeo e o Estudo das orquiacutedeas no Brasil que mostra a importacircncia da chegada da

corte para o desenvolvimento botacircnico do paiacutes Entrada R$ 400

Tour pela orla e praias de Copacabana Ipanema e outras

Retorno ndash saacutebado agraves 1200 ndash parada na Serra da Mantiqueira para observaccedilatildeo da paisagem

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃOrepositorio.unicamp.br/.../250961/1/Seabra_ElizabethAparecidaDuqu… · Educação da Universidade Estadual de Campinas, como

iv

Elton e Teresa

todo o amor que houver nessa vida

v

AGRADECIMENTOS

Agrave professora Ernesta Zamboni pela felicidade de ser sua orientanda participar de seu grupo

de pesquisa e de seu conviacutevio Pela dedicaccedilatildeo com a qual conduz o trabalho acadecircmico e o

cuidado com o ensino de histoacuteria

Agraves professoras do grupo Memoacuteria Maria do Carmo Martins Maria Carolina Boveacuterio

Galzerani Heloiacutesa Helena Pimenta Rocha e Vera Luacutecia Sabongi De Rossi com as quais tive o

prazer de compartilhar minha formaccedilatildeo na Unicamp Agrave professora Cristiani Bereta e ao professor

Miacutelton Joseacute de Almeida pela leitura e indicaccedilotildees quando do exame de qualificaccedilatildeo Agrave professora

Simone Maria Rocha e ao professor Julio Emiacutelio Pereira Diniz que me possibilitaram ampliar as

leituras teoacutericas e metodoloacutegicas desse trabalho ao me receberem como aluna em suas disciplinas

acadecircmicas na UFMG

Aos colegas orientandos da professora Ernesta Zamboni Elaine Marta Tadeu Halferd

Juliana e Valeacuteria pela convivecircncia em Campinas que incluiu discussotildees sobre os limites da

pesquisa e a ampliaccedilatildeo de meus horizontes de expectativas quanto agrave vida cotidiana

Agraves diversas pessoas e instituiccedilotildees como bibliotecas puacuteblicas e museus que possibilitaram

ao longo dos quatro anos a pesquisa bibliograacutefica e documental Registro em nome de todas as

contribuiccedilotildees um agradecimento a Ana Paula Soares Pacheco que natildeo me conhece mas me

enviou de Salvador um livro que esperava ansiosamente para concluir um argumento da tese

Ao pessoal da Faculdade de Pedro Leopoldo a quem devo aleacutem do carinho nos quase dez

anos de conviacutevio profissional a existecircncia dessa pesquisa sobre as visitas a museus Foi em Pedro

Leopoldo que nasceu o desejo de investigar a praacutetica de visitas e a elaboraccedilatildeo do projeto de

doutorado Agradeccedilo a Edna Marta Siuacuteves aos colegas professores Marcos Lobato Geovacircnia

Luacutecia dos Santos Geraldo Magela Mangnini Rafael Machado Cristiane de Castro e Almeida

Juacutenia Sales Pereira Rogeacuterio Pereira Arruda Andreacutea Casa Nova Maia Shirley Aparecida de

Miranda Joseacute Eustaacutequio de Brito Juacutenia Carolina Mariza Guerra de Andrade Ilza Gualberto

Eunice Esteves Humberto Catuzzo e outros que viveram os dias de formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo

de projetos pedagoacutegicos trabalhos de campo atividades acadecircmicas cientiacuteficas e culturais e

que talvez natildeo desejem serem lembrados por isso

vi

Aos alunos das vaacuterias turmas do Curso de Histoacuteria da Faculdade de Pedro Leopoldo e em

especial da uacuteltima turma de histoacuteria que concluiu a licenciatura em 2008 Eles satildeo os sujeitos

instituiacutedos por essa pesquisa Eacute agrave memoacuteria dos estudantes que quero prestar meu agradecimento

na forma de registro institucional de tese

Aos amigos de ontem e hoje Silvana Flaacutevia Dulce Santuza Cynthia Rogeacuterio Cristiane

Juacutenia Nara Wanderley Miacuteria Miacuteriam e Meire Ao pessoal de casa pai matildee irmatildeo irmatildes

sobrinhas sobrinhos cunhada cunhados vizinhos sempre interessados em como estatildeo indo as

minhas coisas

Aos professores e alunos do Curso de Histoacuteria do Unibh em especial aos professores

Rogeacuterio Arruda e a professora Ana Cristina Lage com os quais tive o prazer de compartilhar um

reencontro com o sabor discutir historiografia agraves sextas-feiras agrave noite

vii

Vista do Salatildeo do seacuteculo XIII do Museu dos Monumentos Franceses

Gravada por Jean Baptiste Reacuteville e Jacques Lavalleacutee Paris 1816

ldquoA mais forte impressatildeo da infacircncia [] foi o Museu dos monumentos franceses tatildeo

desastrosamente destruiacutedos Foi laacute e em nenhuma outra parte que pela primeira vez tive a viva

impressatildeo da histoacuteria Ocupava aqueles tuacutemulos com minha imaginaccedilatildeo sentia aqueles mortos

atraveacutes do maacutermore e natildeo era sem algum terror que penetrava sob aquelas aboacutebodas baixas

onde jaziam Dagobert Chilpeacuteric e Freacutedeacutegonderdquo

Jules Michelet O Povo 1a Ediccedilatildeo Paris 1866

viii

RESUMO

O objetivo central da tese eacute analisar em que medida praacuteticas escolares de visitas a museus podem

romper com os saberes disciplinares e pedagoacutegicos incidindo diretamente sobre a produccedilatildeo de

um conhecimento experiencial a ser mobilizado no ensino de histoacuteria Do ponto de vista teoacuterico

a pesquisa toma a ideia de visitante como um espectador emancipado (RANCIEgraveRE 2010) e a

produccedilatildeo da cultura como um modo de vida comum perpassada pelas ideacuteias e praacuteticas sociais

(WILLIAMS 1969 e 1979) Do ponto de vista empiacuterico investiga-se como um grupo de

estudantes de Licenciatura em Histoacuteria em situaccedilotildees educativas de visita constroem sentidos

diversos para o patrimocircnio para o ensino de histoacuteria e a para a memoacuteria cultural Destacam-se

em especial as praacuteticas vivenciadas pelos visitantes no Museu do Escravo de Belo Vale (MG) e

no Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro

Palavras chave Visitantes de Museus Formaccedilatildeo Histoacuterica Patrimocircnio Memoacuteria Formaccedilatildeo de

Professores

ix

ABSTRACT

The main objective of this thesis is to analyze the extent in that school field trips to museums can

modify established disciplinary and pedagogical knowledge and directly influence the production

of knowledge from experience to be mobilized for the teaching of history From the theoretical

viewpoint this study considers the visitor as an emancipated spectator (RANCIEgraveRE 2010) and

the production of culture as a common way of life and determined by the social ideas and

practices (WILLIAMS 1969 and 1979) From the empirical viewpoint we investigated the way

how history licensure students construct various meanings to the heritage in field trips for the

teaching of history and the cultural memoryThe practices experienced by the visitors to the Slave

Museum in Belo Vale State of Minas Gerais and the National History Museum in Rio de

Janeiro state of Rio de Janeiro are given special emphasis

Keywords Museum Visitors History Formation Heritage Memory Teacher Education

x

Lista de ilustraccedilotildees

Figura 1 GAY Paul du e HALL Stuart O circuito da cultura Production of CultureCultures of

Production Londres Sege 1997 32

Figura 2 CUNHA Viacutevian e outros Fotografias da entrada e paacutetio interno do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006 33

Figura 3 RODRIGUES Marly Marques Fotografia da entrada do Museu Histoacuterico Nacional

2008 33

Figura 4 Fachada do Museu do Escravo Disponiacutevel

emlthttpwwwbelovalemggovbratracoes_museuhtmgt Acesso em 2011 35

Figura 5 Fachada do Museu Histoacuterico Nacional ndash Disponiacutevel em

lthttpwwwmuseuhistoriconacionalcombrmh-2008-001htmgt Acesso em 2011 37

Figura 6 Turma do 4ordm periacuteodo de Histoacuteria Faculdade Pedro Leopoldo Fazenda Boa Esperanccedila

Belo Vale MG 2006 72

Figura 7 MARQUES Daniele Paulo Fotografia da visita a Petroacutepolis Rio de Janeiro 2007 77

Figura 8 AMORIM Frederico Levi Monitora do Museu do Escravo no paacutetio central tendo ao

fundo a senzala e o pelourinho Belo Vale-MG 2006 79

Figura 9 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes ouve explicaccedilotildees da monitora no paacutetio

interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006 79

Figura 10 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes junto ao tronco no paacutetio interno do

Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006 80

Figura 11 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 83

Figura 12 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 84

Figura 13 LEGATI Lorenzo Museu Cospiano Bolonha 1677 85

Figura 14 VASARI Giorgio (1511-1574) Studiolo de Francisco I Palazzo Vecchio Firenze

1570-1573 86

Figura 15 SANTOS Fabiana Cristina dos Montagem de fotografias da visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 88

Figura 16 BIARD Franccedilois Auguste (1798-1882) Quatro Horas no Salatildeo (Quatre heures au

Salon) Oacuteleo stela 57x67 cm Museu do Louvre Paris 1847 90

xi

Figura 17 ROCKWELL Norman (1894-1978) O criacutetico de arte 1955 Ilustraccedilatildeo da capa de

The Saturday Evening Post 16 de abril de 1955 Oacuteleo sobre tela (1003 x 921 centiacutemetros)

Coleccedilatildeo Museu Norman Rockwell 92

Figura 18 ROCKWELL Norman (18941978) O connaisseur 1962 Oacuteleo sobre tela Ilustraccedilatildeo

produzida para a ediccedilatildeo do Saturday Evening Post 13 jan 1962 Coleccedilatildeo Particular 92

Figura 19 ANDRADE Aleacutecio Fotografia 1993 Cataacutelogo da exposiccedilatildeo ldquoO Louvre e seus

visitantesrdquo Instituto Moreira Salles 2009 98

Figura 20 Mapa ilustrativo de Minas Gerais e localizaccedilatildeo da cidade de Belo Vale 110

Figura 21 Turma 2006 visita o Museu do Escravo Coleccedilatildeo dos visitantes 111

Figura 22 Pavilhatildeo 1 Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale MG Fonte

httpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtm 113

Figura 23 Pavilhatildeo 2 (fundos) Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale MG Fonte

Disponiacutevel em lthttpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtmgt Acesso em 2011 114

Figura 24 AMORIM Frederico Levi Tuacutemulo do escravo desconhecido Museu do Escravo

Belo Vale 2006 116

Figura 25 AMORIM Frederico Fotografias do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006 118

Figura 26 AMORIM Frederico Levi Fotografias do paacutetio interno do Museu do Escravo 2006

119

Figura 27 ARAUacuteJO Sueli de Azevedo A turma no cenaacuterio do Cacaacute Diegues Museu do

Escravo 2006 120

Figura 28 CARDINI Joatildeo fl 1804-1825D Joatildeo Priacutencipe do Brazil regente de Portugal

Gravura buril e aacutegua-forte pampb 96x6 cm 1807 Cataacutelogo da exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um

Novo Impeacuterio - A Corte Portuguesa no Brasil2008 p18 123

Figura 29 Capa do Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Cultura 1957 130

Figura 30 Capa do folder do Museu Histoacuterico Nacional Portatildeo da Minerva Entrada do Museu

Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Cultura IPHAN Guia do Visitante sd 130

Figura 31 Portatildeo de Minerva Guia do Visitante Museu Histoacuterico Nacional 132

Figura 32 Arcada dos descobridores Guia do Visitante Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo e Cultura 1957 133

xii

Figura 33 XAVIER Michele Oliveira Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de

Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008 134

Figura 34 Reproduccedilatildeo da Capa do Cataacutelogo da ldquoExposiccedilatildeo Um novo Mundo um novo impeacuterio

A corte portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 140

Figura 35 Capa do Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um novo impeacuterio A corte

portuguesa no Brasil18082008 Brasil-Portugal Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro

2008 143

Figura 36 Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um novo impeacuterio A corte

portuguesa no Brasil18082008 Brasil-Portugal Museu Histoacuterico NacionalRio de Janeiro 2008

148

Figura 37 AMORIM Frederico Levi Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de

Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008 150

Figura 38 Montagem fotograacutefica de Frederico Amorim para visita agrave Exposiccedilatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008 152

Figura 39 BRAGA Fernando Daniel Visita ao Museu Nacional Rio Janeiro 2008 152

Figura 40 Fernando Daniel Fraga Fonseca Fotografia Nuacutecleo 2- A metroacutepole nos troacutepicos

Exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil MHN 2008

154

xiii

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 1

CAPIacuteTULO I - Narrativa presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica 9

11- Memoacuteria e narrativas de visitas 13

12 - A presenccedila de estudantes 19

13 - Formaccedilatildeo histoacuterica 25

14- Circuito e circularidade cultural 30

15- Visitantes de museus espectadores emancipados 39

CAPIacuteTULO II - Visitas a museus memoacuteria e patrimocircnio dos visitantes 45

21 ndash Estudos sobre museus um balanccedilo historiograacutefico 45

22 ndash Plano de visitas e aprendizagem histoacuterica em museus 54

23- Praacuteticas de formaccedilatildeo produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos 58

24- Visitas escolares e visitantes marcas visiacuteveis de historicidade 63

25- Relatos e fotografias registros do patrimocircnio dos visitantes 71

CAPIacuteTULO III - A historicidade de museus e visitantes 82

31- Visitantes diante de museus a experiecircncia museal 82

32- Usos puacuteblicos e educativos dos museus 88

33 - Maneiras de ver e ser visto nos museus 94

34 - A funccedilatildeo educativa nos museus entre os museus escolares e os pedagoacutegicos 99

CAPIacuteTULO IV - Visitantes entre narrativas e objetos museais 109

41 - Visita ao Museu do Escravo ndash Belo Vale Minas Gerais 109

42 - O escravo e o museu 113

43- Uma nova museografia para o Museu do Escravo 115

44- As narrativas dos visitantes escravidatildeo e eurocentrismo 117

CAPIacuteTULO V - Entre a poliacutetica e a poeacutetica dos museus e exposiccedilotildees 122

xiv

51 - O Museu Histoacuterico Nacional habitaccedilotildees do patrimocircnio 122

52- Comemoraccedilotildees Histoacuteria do Brasil e dos brasileiros 134

53- Ensinando histoacuteria ldquo200 anos da vinda da Famiacutelia Real para o Brasilrdquo 142

54- O visitante entre a cultura material e a experiecircncia esteacutetica 149

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 158

DOCUMENTOS 165

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 168

ANEXOS 188

1

INTRODUCcedilAtildeO

A descriccedilatildeo feita historiador Jules Michelet (1798-1874) de sua visita na infacircncia ao

Museu dos Monumentos Franceses e seu encontro com a histoacuteria ldquovivardquo da Franccedila continua

estimulando reflexotildees sobre os efeitos de sentidos dos museus para a histoacuteria a memoacuteria e o

patrimocircnio A visatildeo de Michelet a respeito dos tuacutemulos de maacutermore dos heroacuteis meroviacutengios

remete aos vaacuterios sentimentos provocados em noacutes visitantes pelo Panteatildeo dos Inconfidentes na

cidade de Ouro Preto Tambeacutem evoca os sentidos puacuteblicos da existecircncia do mausoleacuteu imperial

inaugurado por Getuacutelio Vargas em 1939 na catedral de Satildeo Pedro de Alcacircntara em Petroacutepolis

Rio de Janeiro onde estatildeo os tuacutemulos de D Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina

O Museu dos Monumentos franceses organizado por Alexandre Lenoir teve curta

duraccedilatildeo Ele existiu no conturbando periacuteodo entre 1795 e 1816 Contudo o efeito que a visita a

esse museu exerceu sobre o menino Michelet e em sua concepccedilatildeo de Histoacuteria parece duradouro

o uso da imaginaccedilatildeo para que os mortos ganhem vida

Meu encontro com os museus natildeo pode ser comparado ao relatado pelo historiador da

Revoluccedilatildeo Francesa Sequer fui a um museu quando crianccedila Minha relaccedilatildeo mais proacutexima com

essas instituiccedilotildees e com o imaginaacuterio que as cercam se aproxima da escolha da Histoacuteria como

campo profissional Foi durante a graduaccedilatildeo em histoacuteria que me aproximei dos museus como

visitante e pude posteriormente como professora de Histoacuteria no ensino fundamental e superior

experimentar diferentes instituiccedilotildees museais acompanhando grupos de estudantes muitos deles

tambeacutem visitando um museu pela primeira vez

Nas praacuteticas de visita ouvi e vi diversas vezes o encantamento e a decepccedilatildeo dos

estudantes diante do patrimocircnio monumentalizado Ao percorrer pela primeira vez ruas e becos

da cidade de Ouro Preto em 1994 um estudante de 14 anos cursando o ensino fundamental em

uma escola puacuteblica de Belo Horizonte olhava deslumbrado e me disse que nunca havia

imaginado que uma ldquocidade histoacutericardquo fosse igual agrave favela onde morava cheia de morros e casas

apertadas Outra estudante do curso de licenciatura em Histoacuteria da Faculdade onde trabalhava ao

visitar o Museu Imperial se mostrava bastante incomodada e escreveu posteriormente em seu

relatoacuterio de visita em 2005 que lhe parecia que soacute havia milionaacuterios em Petroacutepolis Ningueacutem

falava de quem construiu o palaacutecio quem trabalhou laacute dentro servindo a famiacutelia imperial como

2

se vestiam as empregadas que lavavam as ricas porcelanas e limpavam os quartos mobiliados

suntuosamente se existia alguma capelinha ou ldquocentro de macumbardquo onde os negros se reuniam

No seu relato a aluna lembra que historiadores como Marcos A da Silva jaacute falavam dos riscos de

se trabalhar com o ldquopatrimocircnio histoacutericordquo afastado do cotidiano do ensino de histoacuteria Ningueacutem

falou disso laacute no Museu relatou a visitante Os guias os materiais impressos soacute falam dos preccedilos

das casas das joacuteias e vestimentas da famiacutelia imperial concluiu Maria da Conceiccedilatildeo Machado

Viana em seu Relatoacuterio de Visita ao Museu Imperial de Petroacutepolis em 2005

O objeto desta pesquisa parte desse lugar do visitante que problematiza suas vivecircncias

evidencia crenccedilas expressa opiniotildees e amplia sua formaccedilatildeo histoacuterica e profissional em diaacutelogo

com as praacuteticas educativas que ocorrem em ambientes natildeo escolares como os museus

O interesse por esse tipo de investigaccedilatildeo surgiu desses momentos em que a visita

provocava o encontro de uma histoacuteria viva com os visitantes possibilitando emergir questotildees que

interpelavam os sujeitos colocando-os em accedilatildeo posicionando-os em relaccedilatildeo aos museus ao

ensino de histoacuteria agrave historiografia e agraves praacuteticas de memoacuteria Diante dos museus e colocados em

situaccedilotildees de interaccedilatildeo os visitantes-estudantes eram capazes de se reconhecerem reciprocamente

como parceiros protagonistas numa situaccedilatildeo de troca

A pesquisa para o doutoramento eacute esse esforccedilo para construir uma narrativa a partir dos

vestiacutegios deixados pelos visitantes Busco articular o tempo de minha proacutepria formaccedilatildeo de meu

exerciacutecio profissional como professora de Histoacuteria e da minha atual condiccedilatildeo de pesquisadora na

aacuterea de educaccedilatildeo Eacute do lugar do presente que pretendo materializar meu objeto de pesquisa as

visitas educativas a museus tomadas como foco para a anaacutelise dos usos do patrimocircnio cultural

pelos visitantes

Procuro nesse trabalho reunir numa narrativa (RICOEUR 2010 p2-3) as vozes muacuteltiplas

e dispersas dos visitantes numa siacutentese escrita criando uma nova pertinecircncia capaz de dar novos

sentidos e referecircncias para o patrimocircnio musealizado Um movimento de fixar e conservar rastros

que satildeo escassos pegadas que satildeo poucas pois a visita pensada pela loacutegica da ldquoconservaccedilatildeordquo

dos museus natildeo deve deixar marcas nos pisos originais natildeo deve deixar sobras do consumo de

alimentos nas aacutereas comuns como jardins natildeo se deve fotografar as exposiccedilotildees e nem carregar

objetos durante o trajeto de visita guiada pelos museus

3

O visitante que procuro constituir pela pesquisa sente necessidade de se expressar de

tornar-se presenccedila Os efeitos de sentido natildeo lhes vecircem automaticamente do passado das

reminiscecircncias individuais mas do investimento que ele faz no seu presente a partir de sua

condiccedilatildeo de estudante para tornar presenccedila o que soacute existe como ausecircncia Para minha sorte as

visitas que acompanhei natildeo foram silenciosas Haacute uma escassez momentacircnea de palavras

adequadas para nomear sentimentos de maneira profunda natildeo haacute excessos aparentes no visitante

ele fala posteriormente no ocircnibus na sala de aula da falta que o calou O visitante olha e faz

suas opccedilotildees diante da narrativa do museu quase como uma imposiccedilatildeo da dimensatildeo do

esquecimento entendido como parte constitutiva do trabalho de memoacuteria ele quer registrar sua

presenccedila e sua opiniatildeo

O encontro de visitantes e museus eacute cheio de lapsos e apagamento dos rastros como de

qualquer praacutetica cultural que se queira narrar depois de decorrido o tempo da accedilatildeo O auto-retrato

formativo dos visitantes eacute sempre de itineracircncias e erracircncias nunca um quadro completo Se o

traccedilado a ser esboccedilado eacute histoacuterico o museu mostra-se nessa pesquisa como um lugar habitado por

corpos hierarquias sociais econocircmicas religiosas e culturais mas que tambeacutem insistem em se

tornar utopia e imagens que teimam em povoar provisoriamente a imaginaccedilatildeo

A anaacutelise das experiecircncias de visita a museus possibilita emergir um campo de

investigaccedilatildeo em que os sujeitos aparecem em accedilatildeo posicionam-se em relaccedilatildeo ao saber histoacuterico

a outros sujeitos e narrativas e a si proacuteprios A experiecircncia histoacuterica da visita e de cada visitante

permitiraacute uma distinccedilatildeo da qualidade temporal entre passado e presente e identificaccedilatildeo do modo

como o passado permanece como passado no presente A visita a museus pode fundamentar essa

experiecircncia temporal essa vivecircncia da mudanccedila no tempo da alteridade do passado que

experimentada abre o potencial de futuro do proacuteprio presente (RUumlSEN 2007 p 111-2)

A problematizaccedilatildeo das situaccedilotildees de visita a museus justifica-se por contribuir para uma

reflexatildeo sobre o ensino de histoacuteria como aacuterea de pesquisa e estreitar os viacutenculos com a produccedilatildeo

do conhecimento histoacuterico As visitas a museus podem propiciar um tipo de formaccedilatildeo histoacuterica

dialoacutegico principalmente com a cultura visual e material

Do ponto de vista teoacuterico e metodoloacutegico eacute importante apontar como os museus se

apresentam como um ldquocampo de forccedilasrdquo capaz de romper com os saberes disciplinares e

4

pedagoacutegicos incidindo diretamente sobre a produccedilatildeo de um conhecimento experiencial a ser

mobilizado no ensino de histoacuteria

O contato de estudantes-visitantes com o patrimocircnio cultural musealizado amplia a

compreensatildeo das linguagens expositivas e educativas dos museus a relaccedilatildeo entre objetos

museais seus significados e os coacutedigos mais amplos de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo cultural (HALL

1997 2003)

Diferentemente dos postulados que entendem o ldquodiscurso pedagoacutegicordquo como aquele a ser

transmitido e recebido que se constitui pela recontextualizaccedilatildeo de outros discursos o

conhecimento escolar eacute aqui entendido como um trabalho coletivo um texto em aberto que exige

a participaccedilatildeo de alunos e professores e natildeo uma mercadoria a ser reproduzida e consumida

pelos estudantes (SANTOS 1994 p31)

A pesquisa tem como tema central a anaacutelise das dinacircmicas e interaccedilotildees entre estudantes

em visitas educativas a instituiccedilotildees museais Visitas essas que se concretizam nas accedilotildees dos

visitantes frente agraves linguagens expositivas presentes nos museus nas concepccedilotildees de memoacuteria

patrimocircnio e histoacuteria dos visitantes e na produccedilatildeoelaboraccedilatildeo de sentidos e seus usos do

patrimocircnio cultural sempre considerando questotildees relativas agraves subjetividades identidades

profissionais experiecircnciatrajetoacuteria de vida formaccedilatildeo acadecircmica e profissional

A premissa inicial de trabalho postula que estudantes ao visitarem museus tornam-se parte

constitutiva do movimento de produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo dos conhecimentos de seus acervos

Entende-se que as experiecircncias vividas pelos sujeitos profissionais dos museus e visitantes

possibilitam mobilizar e atualizar saberes dos profissionais dos museus e saberes daqueles que

visitam museus

A justificativa para essa abordagem baseia-se em certo consenso de que a formaccedilatildeo para o

ensino de histoacuteria pode ser potencializada pelo uso de espaccedilos culturais como os museus A

cultura escolar como afirmam Marcos Silva e Selva Guimaratildees Fonseca natildeo pode ser entendida

como um fenocircmeno isolado caracterizada exclusivamente pelo conjunto de saberes elaborado ao

redor da proacutepria praacutetica de ensino mas como aquela que ldquomanteacutem laccedilos permanentes com outros

espaccedilos culturaisrdquo Na visatildeo destes autores estes laccedilos vatildeo desde a formaccedilatildeo de professores

(universidade) passando pela produccedilatildeo erudita com que estes profissionais tiveram e continuam

5

a ter contato (artigos livros) e pela divulgaccedilatildeo de saberes (livros didaacuteticos cursos exposiccedilotildees

simpoacutesios) elaborados naqueles mesmos espaccedilos (SILVA E FONSECA 2007 p8)

Os museus estatildeo incluiacutedos nesse universo de saberes e satildeo aqui privilegiados por

propiciarem natildeo um ldquolugar de memoacuteriardquo mas ldquoentre-lugaresrdquo para a formaccedilatildeo histoacuterica de

professores e alunos Os museus encontram-se nas fronteiras dos espaccedilos fiacutesicos e processos

formais e natildeo formais1 de educaccedilatildeo

As visitas a museus satildeo uma possibilidade de ampliaccedilatildeo da formaccedilatildeo acadecircmica e

profissional para aleacutem do espaccedilo escolar e ao mesmo tempo de trazer para o cotidiano de

formaccedilatildeo muacuteltiplas dimensotildees histoacutericas poliacuteticas e culturais Situaccedilotildees de visita a museus

permitem investigar nesse caso a hipoacutetese da circularidade da cultura Articulam-se reflexotildees

sobre as experiecircncias proacuteprias ao campo de trabalho docente em Histoacuteria aos saberes elaborados

no campo da museologia identificando a circulaccedilatildeo dupla de saberes especiacuteficos elaborados nos

dois campos distintos de um universo conceitual a outro e retornando ao campo profissional de

forma sistematizada

Estudantes de graduaccedilatildeo compotildeem o puacuteblico de museus seja nas visitas espontacircneas

como aponta pesquisa sobre perfil de puacuteblico-visitantes2 seja como participantes de visitas

escolares organizadas Eacute essa a situaccedilatildeo a ser explorada pela pesquisa os sujeitos em situaccedilotildees

educativas de visita elaboram e explicitam sentidos acerca dos acervos das instituiccedilotildees

museoloacutegicas analisam e confrontam discursos historiograacuteficos e formulam novos problemas e

possibilidades de interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural musealizado

O campo e os procedimentos de investigaccedilatildeo nessa pesquisa privilegiam os relatos

escritos e fotograacuteficos e recolhas documentais feitas pelos proacuteprios estudantes durante as visitas

aos museus A anaacutelise dos documentos produzidos pelos museus como cataacutelogos materiais

pedagoacutegicos folhetos informativos e orientaccedilotildees instucionais satildeo utilizados nos dois recortes

1 Alguns especialistas defendem que a educaccedilatildeo realizada em museus difere da educaccedilatildeo formal por seu caraacuteter natildeo

cumulativo natildeo apresentando conteuacutedos organizados numa sequumlecircncia como o curriacuteculo escolar Ver Park Fernandes e Carnicel (Org) 2007 p 203-210 2 Pesquisa realizada em 2005 pelo Observatoacuterio de Museus e Centros Culturais em 11 Museus do Rio de Janeiro

com visitantes selecionados por amostragem ao final da visita entre natildeo participantes de visitas escolares

organizadas constatou que este puacuteblico eacute altamente escolarizado chegando a 475 que declararam ter concluiacutedo o

ensino superior 237 o superior incompleto e 24 o ensino meacutedio restando apenas 48 que cursou ateacute o

fundamental completo Paralelo agrave escolaridade o dado referente agrave ocupaccedilatildeo encontrou entre aqueles que declaram

natildeo exercer atividade remunerada 53 de estudantes Ver Observatoacuterio 2006

6

propostos pela anaacutelise a partir do diaacutelogo que estabelecem com a compreensatildeo dos visitantes e

seus quadros de leitura Assim a leitura posta pelos museus entra em circulaccedilatildeo e eacute explorada na

forma de diferentes praacuteticas de confronto de recusa de usos e de valorizaccedilatildeo pelos visitantes

Para promover as leituras dos visitantes sobre os museus analiso os relatos dos

licenciandos em Histoacuteria de uma faculdade particular da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte

em visita a diferentes instituiccedilotildees A escolha das visitas decorreu de diversos procedimentos de

anaacutelise experimentados ao longo da pesquisa e que consideram tanto os limites aparentes dessas

fontes quanto as possibilidades dadas e permitidas Foram muitas idas e vindas em relaccedilatildeo ao

repertoacuterio ou indiacutecios documentais produzidos pelos estudantes e disponiacuteveis para o uso nessa

pesquisa A abundacircncia de material e de museus visitados pelo grupo de estudantes aponta o

papel da instituiccedilatildeo formadora na produccedilatildeo dessas fontes O estiacutemulo agraves atividades de visitas abre

possibilidades de ampliaccedilatildeo do repertoacuterio ou do arquivo com vestiacutegios brutos desorganizados

um turbilhatildeo de personagens incidentes perguntas sem respostas Praacuteticas tradicionais de leitura

dos museus e novas leituras convivem nos relatoacuterios O uso e a valorizaccedilatildeo de diferentes

princiacutepios de anaacutelise sua articulaccedilatildeo e coerecircncia interna satildeo materializadas pelo grupo de

estudantes e datildeo suporte a um acervo de memoacuterias escritas e fotograacuteficas das visitas elaborado na

perspectiva de um grupo especiacutefico de visitantes

Ao utilizar os relatos dos estudantes de licenciatura em Histoacuteria como fonte para o estudo

das experiecircncias de formaccedilatildeo cria-se uma opccedilatildeo e alternativa para compreendermos os

imbricamentos entre os discursos das instituiccedilotildees formadoras as narrativas de museus e os

estudantes-visitantes com suas histoacuterias de vida suas motivaccedilotildees crenccedilas escolhas de percurso

e atitudes durante a visita A construccedilatildeo de narrativas das visitas permite agrave pesquisa a partir de

experiecircncias localizadas e pessoais interrogar sobre o contato sociocultural de um grupo

especiacutefico de visitantes com outros grupos e temporalidades mais amplas

A questatildeo central que permeia a pesquisa eacute a formaccedilatildeo histoacuterica dos sujeitos frente agrave

experiecircncia de contato com os museus Os relatos dos visitantes entendidos como a principal

fonte documental para esse trabalho permitem discutir como um grupo ou um mesmo estudante

vecirc diferentes museus Como faz a leitura de cada um deles e encontra as diferenccedilas entre as

narrativas de cada museu Esse conjunto documental possibilita explorar complexas relaccedilotildees do

7

processo vivo dinacircmico e ativo de construccedilatildeo de conhecimentos e ensino de histoacuteria em especial

dos conceitos de cultura memoacuteria e patrimocircnio

A organizaccedilatildeo final do trabalho busca combinar em cada capiacutetulo dois movimentos ndash

discussotildees teoacutericas e metodoloacutegicas e a anaacutelise das fontes ou relatos dos visitantes O texto final

da tese eacute composto de cinco capiacutetulos No primeiro capiacutetulo eacute apresentado o tema central da

pesquisa visitas a museus Discute-se o papel das visitas de estudantes a museus para a formaccedilatildeo

histoacuterica Eacute proposta uma anaacutelise das visitas a partir dos relatos dos visitantes centrada em uma

noccedilatildeo de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos que promova uma ruptura com as ideacuteias de

representaccedilatildeo e recepccedilatildeo da cultura Satildeo articulados os referenciais teoacutericos e conceitos que

fundamentam a anaacutelise

No segundo capiacutetulo eacute retomado o debate sobre os puacuteblicos de museu e apresentado o

recorte empiacuterico da pesquisa constituiacutedo por um grupo de 15 estudantes de licenciatura em

Histoacuteria de uma Faculdade particular na regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte que realizaram

visitas entre 2005 e 2008 Satildeo caracterizadas as praacuteticas de formaccedilatildeo e produccedilatildeo de

conhecimentos a partir dos registros dos visitantes Um questionaacuterio uma entrevista oral no

formato de grupo focal e fotografias produzidas pelos proacuteprios visitantes durante as visitas satildeo os

trecircs instrumentos de produccedilatildeo de dados

O terceiro capiacutetulo faz uma ligaccedilatildeo entre os dois primeiros e os dois uacuteltimos capiacutetulos

Apresenta um balanccedilo bibliograacutefico que tem por objetivo indicar eixos de discussatildeo presentes no

campo museal e produzir um exerciacutecio metodoloacutegico que contribua para explicitar a dinacircmica de

interaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos pelos visitantes professores e alunos em visitas agraves duas

instituiccedilotildees museais que seratildeo destacadas nos capiacutetulos quatro e cinco Satildeo abordadas as questotildees

relativas agrave historicidade dos museus os campos e conceitos a ele relacionados a atualidade do

tema nas pesquisas acadecircmicas Estas referecircncias analiacuteticas visam definir um quadro teoacuterico-

conceitual e sistematizar as discussotildees em torno do conceito de museu

No capiacutetulo quatro eacute apresentada uma reflexatildeo sobre a visita realizada no segundo

semestre de 2006 ao Museu do Escravo em Belo Vale (MG) Satildeo confrontados os relatos escritos

e fotograacuteficos produzidos pelos visitantes e argumenta-se que os estudantes ao visitarem este

museu histoacuterico tornam-se parte constitutiva do processo de produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo das

informaccedilotildees de seu acervo

8

O quinto capiacutetulo enfatiza a criacutetica do mesmo grupo de estudantes que visita em 2008 a

exposiccedilatildeo do Museu Histoacuterico Nacional ldquoUm novo mundo um novo Impeacuterio a Corte Portuguesa

no Brasil ndash 1808-1822rdquo O capiacutetulo procura refazer o percurso dos visitantes considerando duas

referecircncias o discurso expositivo do museu e a formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes A partir da

situaccedilatildeo de visita e da formaccedilatildeo procuramos entender como os visitantes descrevem analisam

interpretam e fundamentam suas escolhas e gostos A visita ao Museu Histoacuterico Nacional

possibilitou abordar as relaccedilotildees entre poliacuteticas e poeacuteticas as relaccedilotildees com a memoacuteria o

patrimocircnio e a histoacuteria nos usos educativos dos museus pelos visitantes

A pesquisa se integra agraves questotildees discutidas pela aacuterea de concentraccedilatildeo Educaccedilatildeo

Conhecimento Linguagem e Arte e pelo grupo de pesquisa Memoacuteria Histoacuteria e Educaccedilatildeo agrave

medida que busca investigar a produccedilatildeo de conhecimentos em suas articulaccedilotildees com as praacuteticas e

discursos empreendidos por instituiccedilotildees como os museus e as interaccedilotildees construiacutedas pelos

sujeitos em situaccedilotildees de visita escolar a estas instituiccedilotildees

9

CAPIacuteTULO I - Narrativa presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica

Visita ao museu

No dia 26 de setembro de 2005 fomos ao museu Abiacutelio Barreto em Belo

Horizonte A visita foi bem interessante e totalmente diferente do que eu imaginava porque em minha mente o museu era um local em que as pessoas iam para ver coisas

velhas Durante e apoacutes a visita minha visatildeo mudou por completo percebi que um

historiador tem vaacuterias formas de trabalhar com diferentes tipos de objetos A partir de

uma montagem e desmontagem de figuras podem-se passar imagens diferentes

dependendo da maneira que esse material foi exposto como fizemos na dinacircmica

O museu tambeacutem desenvolve um trabalho diferente dos que eu jaacute visitei Ao

mesmo tempo em que eles estatildeo preservando a memoacuteria da cidade estatildeo tambeacutem

integrando o objeto ao cotidiano da sociedade remetendo-nos haacute tempos em que Belo

Horizonte era apenas um arraial chamado Curral Del Rei o iniacutecio do avanccedilo

tecnoloacutegico e ateacute os dias de hoje Laacute o casaratildeo deixa de ser espaccedilo fiacutesico para virar

objeto museoloacutegico A organizaccedilatildeo eacute oacutetima Na sede do museu satildeo desenvolvidos vaacuterios

trabalhos como projetos restauraccedilatildeo de materiais etc Gostei da forma que o material eacute conservado em estantes giratoacuterias O visitante ao inveacutes de ir para visitar somente o

casaratildeo faz um circuito por toda a aacuterea do museu A exposiccedilatildeo eacute aberta a todos que

queiram ver

Como temos visto em nosso curso principalmente em Teoria II o historiador

trabalha em cima de perguntas (segundo Annales) e os objetos que vimos podem nos dar

vaacuterios tipos de respostas A visita ao museu foi uma aula praacutetica de como se fazer

Histoacuteria

(Maria Joseacute Mendes3 Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto

Belo Horizonte MG Curso de Histoacuteria 2ordm periacuteodo Faculdade Pedro Leopoldo MG

2005)

O relato de Maria Joseacute Mendes sintetiza de maneira particular sua experiecircncia4 de visita a

um museu e aborda conteuacutedos histoacutericos e historiograacuteficos anaacutelises sentimentos valores O

relato da estudante eacute polifocircnico no sentido que lhe atribui Clifford (1988) uma produccedilatildeo que

reuacutene numa escrita proacutepria aproximaccedilotildees pessoais estrateacutegias de aprendizagem escolar

enredos acontecimentos significados muacuteltiplos e modos de negociar e apresentar questotildees

impliacutecitas quadros e tramas mais amplas

3 A visitante eacute uma aluna do curso de Licenciatura em Histoacuteria do Instituto Superior de Educaccedilatildeo da Faculdade

Pedro Leopoldo na regiatildeo metropolitana de BH fez parte da turma que visitou diversos museus e seu relatoacuterio

compotildee o conjunto de narrativas de visitas a museus analisados nessa pesquisa 4 Para Dewey (2010 p90-91) as partes constitutivas da experiecircncia satildeo emocional praacutetica e intelectual A

experiecircncia eacute um todo diversificado um fluxo cujos diferentes atos e episoacutedios mesclam-se e fundem-se

Intercacircmbio e fusatildeo satildeo contiacutenuos

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O registro da visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto feito por Maria Joseacute Mendes eacute uma

praacutetica de escrita que se configura em plano de produccedilatildeo mais restrito como um relatoacuterio de

avaliaccedilatildeo de um trabalho escolar Todavia colocados os contornos mais abrangentes das

condiccedilotildees de produccedilatildeo desse tipo de narrativa se reconhece uma praacutetica de formaccedilatildeo que avalia

situaccedilotildees do cotidiano escolar

As narrativas de visitantes como a da estudante acima satildeo consideradas fontes

documentais para essa pesquisa sobre a formaccedilatildeo histoacuterica que reivindica um lugar para os

sujeitos frente agraves grandes narrativas histoacutericas como as dos museus As situaccedilotildees vividas nas

visitas escolares a museus retomadas ao longo do capiacutetulo pela narrativa de Maria Jose Mendes

satildeo referecircncias para a reflexatildeo sobre o protagonismo do visitante que interroga o museu e confere

mobilidade agraves suas narrativas expositivas Esse tipo de registro tambeacutem aponta indiacutecios dos usos

do patrimocircnio cultural pelos visitantes e da aprendizagem em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo histoacuterica aberta

pelas visitas aos museus

A visitante em questatildeo eacute parte de um grupo5 no qual me incluo como professora e que

como ela mesma indica com o uso do verbo na primeira pessoa do plural fomos ao museu para

realizar uma atividade curricular atribulados por vaacuterios condicionantes de velocidade e aparatos

tecnoloacutegicos proacuteprios da cultura contemporacircnea Maria Joseacute Mendes eacute uma das alunas do curso

de licenciatura em Histoacuteria de uma faculdade particular da regiatildeo metropolitana de Belo

Horizonte Minas Gerais que nessa condiccedilatildeo de ldquoexperiecircnciardquo empreende com seus colegas

visitas planejadas a museus6 Eacute uma jovem estudante membro de uma ldquoaudiecircncia histoacuterica e

situadardquo mas que responde tambeacutem agraves expectativas de visitante inscritas nas atividades

educativas do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto que passou por projeto de revitalizaccedilatildeo entre 1993

e 20037

Enquanto os museus satildeo entendidos como autoridades por suas funccedilotildees sociais e

histoacutericas de produtores de memoacuteria de patrimocircnio e de preferencial para a leitura dessa

5 Uma caracterizaccedilatildeo do grupo de visitantes e das visitas efetivamente realizadas seraacute apresentada e discutida no segundo capiacutetulo 6 As visitas a museus arquivos bibliotecas empresas ambientes naturais e outros locais satildeo realizadas como

disciplinas acadecircmicas com uma dimensatildeo praacutetica e ou como Atividades Acadecircmicas Cientiacuteficas por diversas

instituiccedilotildees de ensino superior da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte como a PUC-MG UNIFEMM Ver

Fonseca (2009) e Pereira (2007) 7 Ver balanccedilo do ldquoprocesso de revitalizaccedilatildeordquo do MHAB organizado por sua diretora Thais Pimentel e publicado em

2004 (PIMENTEL 2004)

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materialidade o visitante luta para instituir-se e produzir sentidos em presenccedila daquela instacircncia

reguladora e autorizada de recursos O visitante no uso de recursos variados de linguagem cria

uma situaccedilatildeo de disputa e inibe certas manifestaccedilotildees trazidas pelos museus

O visitante diante dos cenaacuterios especiacuteficos de cada museu cria categorias de anaacutelise

analogias identifica contradiccedilotildees contrastes e diferenccedilas Enquanto o museu traz uma memoacuteria

histoacuterica instituiacuteda os visitantes tornam as experiecircncias de visita memoraacuteveis

A abordagem metodoloacutegica dessa pesquisa concebe as visitas como um ldquotrabalho de

campordquo no sentido que lhe atribui Alba Zaluar (1986 p107) A antropoacuteloga natildeo estabelece uma

separaccedilatildeo entre investigador e investigados e nem correlaciona uma maior objetividade da anaacutelise

com uma maior despersonalizaccedilatildeo dos sujeitos O conhecimento para ela eacute um ldquoencontro de

subjetividadesrdquo atos gestos enunciados e natildeo simplesmente um coacutedigo a ser decifrado ou um

levantamento de significados em seus contextos (ZALUAR 1986 p109) Assim como o

trabalho de campo8 soacute pode ser delimitado pelos processos de tomada de decisatildeo do pesquisador

e as estrateacutegias adotadas em meio aos conflitos por quem participa da accedilatildeo as visitas escolares a

museus natildeo podem ser entendidas apenas no sentido e da perspectiva da recepccedilatildeo

Os visitantes natildeo satildeo meros espectadores das propostas elaboradas pelos museus9 Os

visitantes satildeo atores levados a tomar decisotildees e princiacutepios geradores de novas praacuteticas A visita eacute

relacionada a outras que jaacute fizeram e satildeo consideradas como parte de sua formaccedilatildeo de futuros

professores de histoacuteria Visitar um museu eacute analisaacute-lo como fonte para visitas futuras

acompanhando seus proacuteprios alunos

O foco no visitante examina como ele se sente ou natildeo estimulado a construir sua proacutepria

narrativa da visita e quais suas estrateacutegias de inclusatildeo nos museus Como se posiciona e acessa

seus arquivos pessoais e memoacuterias e os confronta agravequeles reunidos no museu tais como objetos

textos imagens dispositivos de interatividade o percurso ou ainda os coletados e reunidos como

parte do trabalho de sistematizaccedilatildeo da visita

Do ponto de vista empiacuterico a pesquisa mostra de que forma durante um curso de

formaccedilatildeo superior eacute possiacutevel abandonar modelos transmissivos de ensino e apostar em estrateacutegias

8 Ver Roteiro do trabalho realizado no Rio de Janeiro em 2008(Anexo C) 9 Em geral a elaboraccedilatildeo de propostas educativas eacute responsabilidade dos setores educativos dos museus e de

especialistas (consultores pesquisadores) O puacuteblico eacute convocado a responder aos modelos propostos (recepccedilatildeo)

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de produccedilatildeo de conhecimento que tenham impacto sobre a profissionalizaccedilatildeo docente em histoacuteria

e os processos mais gerais de produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico e formaccedilatildeo histoacuterica

Um passo importante eacute reconhecer que esse conhecimento histoacuterico se apresenta sob a

forma de imagens crenccedilas convicccedilotildees metaacuteforas regras e princiacutepios de orientaccedilatildeo para a vida

praacutetica profissional Nesse sentido essa pesquisa tem mais interesse nos sujeitos e suas agecircncias

do que na histoacuteria das instituiccedilotildees museais

A pesquisa parte de uma reflexatildeo sobre os relatos de visita a museus constituindo a partir

deles narrativas que fazem dialogar conceitos e experiecircncias que se produzem no campo dos

museus e em suas relaccedilotildees com a escola estabelecendo possibilidades e limites para a abordagem

do proacuteprio visitante

O registro de Maria Joseacute Mendes eacute uma referecircncia inicial para a reflexatildeo e produccedilatildeo por

parte do proacuteprio visitante de saberes Podem ser identificados pelos relatos os diversos saberes

que compotildeem a formaccedilatildeo histoacuterica conhecimentos de caraacuteter disciplinar ou historiograacutefico que

compotildee a matriz disciplinar da histoacuteria saberes curriculares ou relativos a objetivos meacutetodos e

estrateacutegias de ensino saberes pedagoacutegicos relacionados agraves concepccedilotildees de educaccedilatildeo e os saberes

praacuteticos da experiecircncia10

Entendo que as visitas natildeo se constituem no simples cumprimento de um programa de

educaccedilatildeo patrimonial oferecido por museus eou escolas ou ainda em passeios turiacutesticos

realizados por escolha dos visitantes individualmente A presenccedila de estudantes em museus estaacute

relacionada a uma praacutetica de visitas e agrave formaccedilatildeo histoacuterica

Procuro nesse primeiro capiacutetulo articular referenciais teoacutericos distintos para fundamentar

a anaacutelise das praacuteticas de visitas a museus Autores como Paul Ricoeur Hans Ulrich Gumbrecht

Joumlrn Ruumlsen Raymond Williams Stuart Hall e Jacques Ranciegravere satildeo convocados e oferecem

contribuiccedilotildees para a ampliaccedilatildeo da abordagem deste objeto especiacutefico e a criacutetica ao sentido de

transmissatildeo da cultura e agrave representaccedilatildeo como um sentido fixo A narrativa (RICOEUR 2010

p9) a produccedilatildeo de presenccedila (GUMBRECHT 2010 p 82) e a formaccedilatildeo histoacuterica (RUumlSEN

2010 p59) assim como os conceitos de cultura (WILLIAMS 1969 e 1979) e circuito de cultura

(HALL 1997 e 2003) e ainda o de espectador emancipado (RANCIEgraveRE 2010) fundamentam a

10A discussatildeo sobre os saberes que compotildee a formaccedilatildeo do profissional de histoacuteria no Brasil eacute realizada por Selva

Guimaratildees Fonseca dentre outros autores Ver Fonseca (1997) Silva e Fonseca (2007) e Fonseca e Zamboni (2008)

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anaacutelise teoacuterica e metodoloacutegica do uso social dos museus em visitas educativas e aproximam o

foco da investigaccedilatildeo os museus vistos pelos seus visitantes

11- Memoacuteria e narrativas de visitas

Um primeiro movimento dessa pesquisa eacute examinar como os visitantes engendram

memoacuterias a partir de visitas a museus A memoacuteria eacute entendida como uma accedilatildeo de atualizaccedilatildeo de

conceitos uma ldquoviagem no tempo com direito a ida e voltardquo A memoacuteria eacute rememoraccedilatildeo a partir

do presente e o sujeito um ldquotecelatildeo de memoacuterias agrave medida que narra a si mesmo como uma

autografia cujas vaacuterias vidas se entrelaccedilam em diversos tempos e espaccedilos numa dinacircmica

imprevisiacutevel do lembrar e esquecer da perda e da dispersatildeordquo (GALZERANI 2002 p63)

Rememorar significa trazer o passado vivido como opccedilatildeo de questionamento das relaccedilotildees

e sensibilidades sociais existentes tambeacutem no presente uma busca atenciosa relativa aos rumos a

serem construiacutedos no futuro Esse conceito de memoacuteria articulado ao de narrativa traz uma

abertura coletiva para as dimensotildees sensiacuteveis e o questionamento da concepccedilatildeo absoluta de

verdade (GALZERANI 2002 p68)

Os registros escritos e visuais11

dos visitantes satildeo tomados como memoacuterias e narrativas

no sentido atribuiacutedo por Ricoeur como um desenho da ldquoexperiecircncia temporalrdquo que realiza uma

ldquosiacutentese do heterogecircneordquo uma ldquonova congruecircncia no agenciamento dos incidentesrdquo (RICOEUR

2010 p2)

Em Tempo e Narrativa Ricoeur (2010) desenvolve a ideia de uma tripla dimensatildeo da

narrativa histoacuterica descrita como um tempo vivido e ainda natildeo configurado um tempo narrado

ou o mundo como um texto e o tempo refigurado ou o mundo do leitor Haacute uma dimensatildeo da

vida vivida e natildeo narrada que passa pela trama e chega ao mundo final do leitor seja pelas

intenccedilotildees do autor pelos sentidos da obra ou as percepccedilotildees do leitor Essas travessias satildeo

circulares e a experiecircncia da temporalidade nunca eacute o triunfo da ordem haacute discordacircncias

violecircncia da interpretaccedilatildeo redundacircncias e histoacuterias natildeo contadas (RICOEUR 2010 p124-132)

Assim Ricoeur (1991) transpotildee um limiar no qual o aparente conflito entre explicaccedilatildeo e

compreensatildeo eacute ampliado A linguagem que era considerada apenas como discurso passa a ser

11 As fotografias satildeo produzidas juntamente com os relatoacuterios escritos Inicialmente natildeo faziam parte da anaacutelise mas

se mostraram essenciais agrave pesquisa

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considerada nos limites do que afeta o escrito a polissemia a ambiguidade e obras inteiras de

discurso falado como poemas ensaios e com a dimensatildeo da experiecircncia (RICOEUR 1991

p163) Eacute como dimensatildeo da experiecircncia que se explicitam os campos de confrontaccedilatildeo e

negociaccedilatildeo e se daacute a primeira ancoragem para as narrativas puacuteblicas e oficiais e as narrativas e

memoacuterias pessoais ou autobiograacuteficas Para Ricoeur os graus de convergecircncia ou natildeo entre a

memoacuteria coletiva e as memoacuterias autobiograacuteficas indicam niacuteveis de identificaccedilatildeo pessoal e os

significados elevados ou natildeo de siacutembolos como bandeiras e hinos

Essa temaacutetica da accedilatildeo discutida por Ricoeur (1991) ajuda a evidenciar as diferentes

formas de inscriccedilatildeo da memoacuteria na historiografia e nos museus e entender o diaacutelogo entre

culturas (museus e escolas) comparando situaccedilotildees e tipos de atividades (regimes de accedilatildeo)

assentadas em uso de recursos culturais de fundo comum

A narrativa para Ricoeur se daacute como articulaccedilatildeo temporal da accedilatildeo Uma ficcionalizaccedilatildeo

da histoacuteria na forma como contamos o passado e uma historizaccedilatildeo da ficccedilatildeo que eacute a forma como

trabalhamos o imaginaacuterio Na descriccedilatildeo da funccedilatildeo narrativa se articulam as noccedilotildees de mimese e

intriga Enquanto a mimese eacute uma representaccedilatildeo criativa da accedilatildeo a intriga eacute o agenciamento de

fatos sujeitos e cenaacuterios ou seja os elementos estruturantes da proacutepria narrativa

Assim como a metaacutefora viva a narrativa produz efeitos de sentido e remete

simultaneamente a um fenocircmeno de inovaccedilatildeo semacircntica Enquanto a metaacutefora produz uma nova

pertinecircncia por meio de uma atribuiccedilatildeo impertinente que se manteacutem viva porque percebemos sua

espessura e resistecircncia ao emprego usual das palavras e a sua incompatibilidade com a

interpretaccedilatildeo literal (que seria considerada bizarra) a narrativa trabalha no mesmo plano da

invenccedilatildeo semacircntica ao criar uma intriga que eacute uma obra de siacutentese

Percebe-se a constituiccedilatildeo de uma intriga na narrativa de Maria Joseacute Mendes O relato de

visita ao museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto reuacutene em um quadro referencial fontes de procedecircncia

diversas a experiecircncia presencial no museu as demandas da formaccedilatildeo escolar e as interpelaccedilotildees

do acervo do museu Esse tipo de relato eacute tomado na pesquisa como uma imagem de contornos

mais abrangentes dos elementos evidenciados em vaacuterios outros relatos do grupo de visitantes Ele

sintetiza dados de pesquisa e conteuacutedos proacuteprios agraves situaccedilotildees de visitas assim como debates

sobre o uso do patrimocircnio cultural que proveacutem tanto da escola que promove a visita quanto dos

acervos dos museus Pretendo explicitar ao longo da anaacutelise o processo de elaboraccedilatildeo dos relatos

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evidenciando as linhas mais gerais as texturas dos relatos as repeticcedilotildees de temas as imagens

recorrentes e natildeo propriamente os estilos pessoais e singulares de cada visitante

Para Ricoeur (1975) a questatildeo da narrativa eacute como configurar a experiecircncia temporal

vivida A narrativa eacute o dinamismo integrador que transforma um diverso de incidentes numa

histoacuteria una e completa Eacute a capacidade de reconfiguraccedilatildeo da experiecircncia temporal confusa em

funccedilatildeo de um referencial

A narrativa natildeo eacute soacute o ato jaacute inscrito eacute o ldquoconjunto das operaccedilotildees atraveacutes das quais uma

obra surge a partir do fundo opaco do viver do agir e do padecer para ser dada por um autor a

um leitor que a recebe e muda assim o seus agirrdquo (RICOEUR 1975 p31) Eacute a narrativa que

configura a mediaccedilatildeo entre a preacute-configuraccedilatildeo do campo praacutetico (vivido o antes) o estado da

experiecircncia (o tempo configurado o durante) e a praacutetica que lhe eacute posterior (tempo refigurado o

depois)

A visitante Maria Joseacute Mendes demarca uma temporalidade e natildeo uma simples cronologia

para a visita Seu texto comeccedila com uma data o dia da visita que marca um antes um durante e

um depois Em sua escrita esse antes eacute caracterizado pela imaginaccedilatildeo satildeo ideias que estavam em

sua mente anteriores agrave visita O que ela relata eacute o que aconteceu durante e apoacutes a visita suas

ideias a respeito dos museus mudaram por completo

No entanto o proacuteprio Ricoeur lembra que o relato eacute um ldquoato de testemunharrdquo que difere

do discurso Eacute como uma ldquonarrativa autobiograacutefica autenticada de um acontecimento passadordquo e

agrave medida que o narrador estaacute implicado na cena narradavivida gera uma suposta confiabilidade e

uma suspeita sobre o que ele diz (RICOEUR 2007 p172)

A confianccedila ou desconfianccedila em relaccedilatildeo ao testemunho traz o narrador para o mundo

puacuteblico e da criacutetica aos testemunhos A presenccedila no local da ocorrecircncia inerente ao ato de

testemunhar impotildee uma referecircncia de lugar e de tempo passado ao testemunho mas natildeo lhe

confere legitimidade em relaccedilatildeo ao aqui e agora O testemunho precisa ser autenticado e

acreditado por vaacuterias grandezas comparadas ateacute seu arquivamento (visibilidade e escrita)

(RICOEUR 2007 p175)

Testemunho e narrativa guardam traccedilos de escrituralidade comuns Todavia cada um traz

elementos especiacuteficos relativos ao lugar que os gerou e recebeu Como ldquorastros documentaisrdquo

narrativas e testemunhos estatildeo ligados ao lugar social que os produziram (CERTEAU 1982

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p64) Esse debate amplia a noccedilatildeo de testemunho que passa a incluir todo e qualquer ldquovestiacutegiordquo

e interessa a essa pesquisa agrave medida que fundamenta uma abordagem que natildeo separa os relatos

escritos dos fotograacuteficos Para Ricoeur a ideia de indiacutecio inclui o testemunho oral ou escrito os

vestiacutegios natildeo verbais como as impressotildees digitais e arquivos fotograacuteficos que testemunham por

seu mutismo (RICOEUR 2007 p 185) O diaacutelogo de Ricoeur nesse caso eacute diretamente com

Carlo Ginzburg (1987) estabeleceu no interior da noccedilatildeo de rastro o conceito de documento em

toda a sua envergadura A raiz comum entre testemunho e indiacutecio eacute a noccedilatildeo de rastro Haacute uma

relaccedilatildeo de complementaridade entre testemunho e indiacutecio para Ricoeur

Decorre dessa ampliaccedilatildeo documental uma seacuterie de analogias relacionando grafia e pintura

no sentido de impressatildeo e evocaccedilatildeo Pode-se dizer tambeacutem que relatos escritos e fotograacuteficos satildeo

complementares na narrativa das visitas aos museus O lugar da fotografia nos relatos eacute

semelhante ao da escrita Ambas configuram ldquomensagens e maneiras de dizer e pensar que

aderem uma agrave outrardquo (RICOEUR 2007 p178)

O primeiro plano dos relatos principalmente das fotografias eacute marcado pela iniciativa

individual em preservar seus proacuteprios rastros os rastros de sua atividade Para Ricoeur essa

iniciativa inaugura o ato de fazer histoacuteria ou a primeira operaccedilatildeo de constituiccedilatildeo de um arquivo a

primeira mutaccedilatildeo historiograacutefica de uma memoacuteria viva Constituiacutedo como testemunho esse

primeiro plano pode ser invocado por algueacutem e desloca-se do seu autor para ser recolhido como

ldquoprova documentalrdquo Marc Bloch lembra Ricoeur coloca a questatildeo dos testemunhos em termos

de rastros de vestiacutegios do passado (testemunhos natildeo-escritos) e depois dos indiacutecios (Ginzburg)

que fazem parte da operaccedilatildeo de observaccedilatildeo histoacuterica com relaccedilatildeo aos ldquotestemunhos do tempordquo

(BLOCH 2002 p69) A consequecircncia desse argumento eacute que nem toda histoacuteria vivida eacute narrada

mas toda a historiografia eacute narrativa

A ambiccedilatildeo da narrativa histoacuterica eacute refigurar a condiccedilatildeo histoacuterica e de elevar seu estatuto

ao de bdquoconsciecircncia histoacuterica‟ Esse processo de reconfiguraccedilatildeo do tempo embora se

pretenda totalizante ocorre como mediaccedilatildeo imperfeita entre o futuro como horizonte de

expectativas o passado como tradiccedilatildeo e o presente como surgimento intempestivo

(RICOEUR 1975 p31)

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A narrativa histoacuterica produzida pelos historiadores eacute uma construccedilatildeo que cria enredos

com elementos presentes na vida e o mundo refigurado da cultura com uma noccedilatildeo ampla de

produtora de sentidos e identidades12

Em A memoacuteria a histoacuteria o esquecimento Ricoeur (2007 p380) apresenta uma soluccedilatildeo

distinta dos historiadores dos Annales (Le Goff Pierre Nora) para o problema da narrativa e do

tempo histoacuterico na articulaccedilatildeo memoacuteria-histoacuteria Ao retomar o conceito de historicidade que

surge na filosofia alematilde do seacuteculo XIX e de histoacuteria Ricoeur identifica como se configurou a

oposiccedilatildeo entre uma histoacuteria como singular coletivo que

ldquoliga as histoacuterias especiais sob um conceito comum enquanto conhecimento narrativa e

ciecircncia histoacuteria e o nascimento do conceito de histoacuteria como coletivo singular sob o qual

se reuacutene o conjunto das histoacuterias particulares marca a conquista da maior distacircncia

concebiacutevel entre a histoacuteria una e a multiplicidade ilimitada das memoacuterias individuais e a

pluralidade das memoacuterias coletivasrdquo (RICOEUR 2007 p315)

Essa mudanccedila cria um sentido de histoacuteria universal um objeto total e um sujeito uacutenico A

memoacuteria eacute vista com desconfianccedila e descredenciada enquanto a histoacuteria problematiza os

testemunhos religiosos e a memoacuteria coletiva (crenccedilas) e se propotildee a representar o passado no

presente A autonomia da histoacuteria se afirma nos Annales que natildeo devem mais nada a

rememoraccedilatildeo e recorrem agrave introduccedilatildeo de novas exigecircncias retoacutericas por vias extramemoriais A

noccedilatildeo de fonte se liberta da noccedilatildeo de testemunho ldquoConstroacutei-se um passado que ningueacutem pode

lembrar [] A histoacuteria deixou de ser parte da memoacuteria e a memoacuteria se tornou parte da histoacuteriardquo

(RICOEUR 2007 p399)

Ricoeur investe em redefinir as relaccedilotildees entre histoacuteria e memoacuteria na contemporaneidade e

reconhecer os ldquotraccedilos da memoacuteria e do esquecimento que permanecem os menos sensiacuteveis agraves

variaccedilotildees resultantes de uma histoacuteria dos investimentos culturais da memoacuteriardquo (2007 p 398)

Frente agrave tese da escola dos Annales de subordinaccedilatildeo da memoacuteria agrave histoacuteria e a uma literatura da

crise da memoacuteria Ricoeur responde com a hipoacutetese das ldquopotencialidades mnemocircnicas

dissimuladas pelo cotidianordquo cujo histoacuterico contado e o mnemocircnico experimentado se recruzam

(2007 p401)

12 Isabel Barca e Mariacutelia Gago (2004 p29-39) discutem o papel das narrativas histoacutericas e seus usos educacionais na

constituiccedilatildeo de um pensamento histoacuterico entre os jovens portugueses

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ldquo[] o desespero do que desaparece a impotecircncia para acumular a lembranccedila e arquivar

a memoacuteria o excesso de presenccedila de um passado para sempre irrevogaacutevel a fuga

desnorteada do passado e o congelamento do presente a incapacidade de esquecer e a

incapacidade de se lembrar do acontecimento a uma boa distacircnciardquo (RICOEUR 2007

p401)

Ricoeur aponta que a dinacircmica do esquecimento e da lembranccedila gera tanto uma crise da

memoacuteria quanto um horror agrave histoacuteria ou da presenccedila e da ausecircncia de referecircncias em relaccedilatildeo ao

passado e ao presente A ldquoexperiecircncia viva do reconhecimentordquo redefine a dimensatildeo nostaacutelgica e

as relaccedilotildees memoacuteria e histoacuteria Ricoeur define como ldquooperaccedilatildeo historiadorardquo toda a accedilatildeo que vai

dos arquivos aos textos publicados Para ele um livro de histoacuteria eacute um documento aberto agrave

reinscriccedilatildeo e submetido agrave revisatildeo contiacutenua O que Michel de Certeau (1982 p94) chama de

operaccedilatildeo escrituraacuteria ou uma fase da representaccedilatildeo histoacuterica Ricoeur acredita que atravessa

todos os momentos da escrita da histoacuteria do niacutevel documental ou seleccedilatildeo das fontes ao niacutevel

explicativo-compreensivo com a escolha dos modos concorrentes e as variaccedilotildees de escala da

narrativa (RICOEUR 2007 p249)

Para Ricoeur representaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo estatildeo juntas em toda a operaccedilatildeo de

visualizaccedilatildeo das coisas ausentes do passado ou ainda na tripla aventura que vai do

arquivamento agrave explicaccedilatildeo e representaccedilatildeo Para o autor haacute um embate entre duas escritas para

gerar na histoacuteria um modo literaacuterio da escrituralidade (narrativa) Uma primeira escrita eacute dos

arquivos (memoacuteria) e outra dos historiadores (histoacuteria) ldquoA explicaccedilatildeocompreensatildeo encontra-se

assim enquadrada por duas escritas uma escrita anterior e uma escrita posterior Ela reconhece a

energia da primeira e antecipa a energia da segundardquo (RICOEUR 2007 p 148)

A coerecircncia da narrativa confere visibilidade e busca legitimidade para a encenaccedilatildeo do

passado que daacute a ver Haacute um jogo entre a remissatildeo da imagem e a coisa ausente Uma narrativa

natildeo se parece com os acontecimentos que ela narra Haacute uma prefiguraccedilatildeo uma configuraccedilatildeo e

refiguraccedilatildeo da imagem criada pela amplidatildeo da narrativa e por seu alcance (RICOEUR 2007 p

292)

Em Ricoeur como o problema da memoacuteria natildeo aparece em oposiccedilatildeo agrave histoacuteria pode-se

considerar que em relaccedilatildeo agraves visitas presenciais a museus as imagens da memoacuteria e da histoacuteria

atravessam tanto os relatos dos visitantes quanto a narrativa do museu Ou ainda que as imagens

de museu produzidas pelos visitantes e aquelas produzidas pelos proacuteprios museus podem ser

19

analisadas em um circuito de cultura no qual museu e visitantes tem ambos poder de

representaccedilatildeo

O relato da estudante em visita ao Museu Abiacutelio Barreto coloca o museu em outro

circuito o da proacutepria escola ao fazer uma releitura do sentido e das marcas deixadas pelo museu

quando de sua passagem pelo casaratildeo e suas atividades O depois da visita eacute vivido como uma

nova temporalidade que constitui outro museu imaginado com referecircncia ao durante e ao antes

da visita

12 - A presenccedila de estudantes

As abordagens sobre aprendizagem em ambientes que tratam do patrimocircnio da arte e da

histoacuteria priorizam ora os museus ora as escolasvisitantes A superaccedilatildeo dessas anaacutelises

fragmentaacuterias ou dicotocircmicas implica em refletir sobre os conceitos trabalhados no proacuteprio

campo museoloacutegico e formativo como as ideias de patrimocircnio memoacuteria e histoacuteria

Discutir o estatuto do conhecimento produzido pelos visitantes de museus eacute um ponto de

partida para a reflexatildeo sobre os sentidos das praacuteticas culturais que perpassem museus e escolas

Outra dimensatildeo da pesquisa eacute a ampliaccedilatildeo das reflexotildees teoacutericas e metodoloacutegicas sobre as

competecircncias culturais ou a formaccedilatildeo histoacuterica em especial suas dimensotildees esteacuteticas e poliacuteticas

desencadeadas a partir das visitas

Gumbrecht (1998 e 2010) ao discutir sobre a produccedilatildeo de presenccedila sugere um repertoacuterio

de anaacutelise cultural que busca discernir os efeitos de presenccedila e os efeitos de sentido Ele distingue

uma ldquocultura de presenccedilardquo de uma ldquocultura de sentidordquo O que diferencia uma da outra e

interessa a esta anaacutelise das visitas a museus eacute o papel do sujeito ou subjetividade que ocupa

lugar central na cultura de sentido mas que soacute eacute considerado efetivamente em seu corpo como

parte da existecircncia das coisas numa cultura de presenccedila

A decorrecircncia dessa distinccedilatildeo entre sentido e presenccedila eacute que o conhecimento produzido

numa cultura de sentido soacute pode ser legitimado por um sujeito em seu ato de interpretar o mundo

Jaacute na cultura de presenccedila o conhecimento legiacutetimo eacute apresentado se manifesta ele natildeo vem

diretamente do esforccedilo individual para interpretar e criar um sentido Os objetos se impotildeem ao

sujeito e sua vontade eacute confrontada pela presenccedila

20

Na visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto eacute a presenccedila dos objetos catalogados como

histoacutericos que cria um olhar diferente para esses objetos Eacute o visitante que presente no museu

confere sentidos aos objetos que vecirc expostos e entende que a mudanccedila na ordem de organizaccedilatildeo e

apresentaccedilatildeo cria uma nova visualidade para os objetos

Essa polecircmica sobre presenccedila e sentido eacute um alerta para os perigos do afastamento do

corpo das marcas de produccedilatildeo de sentido proacuteprias agrave modernidade ocidental que assume uma

oposiccedilatildeo entre sujeito (puro espiacuterito) e objeto (pura materialidade) Para Gumbrecht essa

oposiccedilatildeo levou o sujeito a assumir a posiccedilatildeo de observador de um mundo de objetos no qual se

inclui o seu proacuteprio corpo Se por um lado o ganho dessa visatildeo eacute uma demanda constante de

interpretaccedilatildeo de outro promove-se uma perda ou ldquodesmaterializaccedilatildeo da culturardquo transformando

o mundo em ldquorepresentaccedilatildeordquo (GUMBRECHT 2010 p 75-8)

Interessa-nos destacar tambeacutem nesta perspectiva apontada por Gumbrecht os limites da

ideia de representaccedilatildeo13

como capaz de compensar as deficiecircncias de ldquoexpressatildeordquo Ele considera

que como ldquonenhuma das muacuteltiplas representaccedilotildees pode jamais pretender ser mais adequada ou

epistemologicamente superior a todas as outrasrdquo cria-se uma ldquocrise de consciecircncia provocada

pelas muacuteltiplas representaccedilotildeesrdquo (GUMBRECHT 2010 p 82) Para o autor eacute a presenccedila como

uma dimensatildeo fiacutesica e de tangibilidade14

que estaacute em tensatildeo com o princiacutepio da representaccedilatildeo

A partir da ideia de presenccedila pode-se inferir que nas visitas aos museus se produz um

fluxo temporal em que no momento presente o passado e o futuro se encontram Por meio deste

movimento no tempo a ldquoconsciecircnciardquo do visitante eacute transformada por uma rede de relaccedilotildees que

expressam uma nova impressatildeo de estar presente no mundo

Os objetos dos museus tomam novos sentidos atualizados pelo visitante Natildeo eacute soacute a

exposiccedilatildeo propriamente dita que chama a atenccedilatildeo do visitante mas toda a organizaccedilatildeo do espaccedilo

que se apresenta face a face como um circuito os projetos o edifiacutecio e o proacuteprio trabalho de

musealizaccedilatildeo ldquoGostei da forma que o material eacute conservado em estantes giratoacuteriasrdquo afirma a

visitante Maria Joseacute Mendes em presenccedila da reserva teacutecnica do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto

A imagem de estantes giratoacuterias evocada pelo relato da estudante possibilita ampliar o uso

13 A criacutetica agrave representaccedilatildeo e agrave recepccedilatildeo eacute apresentada ao longo do texto e se fundamenta em autores como Ricoeur

(2007 p295-6) Raymond Williams (1969 e 1979) Stuart Hall (1997 e 2003) e Ranciegravere (2010) 14 As visitas em questatildeo satildeo presenciais e nisso se distinguem inicialmente de outras praacuteticas de memoacuteria que

incluem o uso de recursos tecnoloacutegicos para acesso agrave distacircncia (natildeo-presenccedila) aos museus e exposiccedilotildees

21

estritamente funcional dado pelo museu a esse objeto que natildeo faz parte da coleccedilatildeo mas que lhe

daacute suporte e deve facilitar a limpeza e armazenamento fiacutesico dos objetos museais Elevada ao

plano da narrativa de visita a ideia de girar deixa seu sentido meramente instrumental e ganha o

tom poeacutetico de mexer e revolver objetos que a funccedilatildeo museal possui Haacute um deslocamento pode-

se afirmar que natildeo haacute distinccedilatildeo para o gosto da visitante entre o que estaacute nas estantes e as

proacuteprias estantes O objeto museal eacute o proacuteprio mobiliaacuterio do museu e sua accedilatildeo de preservaccedilatildeo

natildeo aquelas coisas velhas que guarda O movimento das estantes eacute compartilhado com prazer

pelo olhar da visitante e coloca a cultura do museu em circulaccedilatildeo

A cultura de presenccedila eacute descrita por Gumbrecht como uma cosmologia em que ldquoos seres

humanos querem relacionar-se com a cosmologia envolvente pela inscriccedilatildeo de si mesmos ou

seja de seus proacuteprios corpos nos ritmos dessa cosmologiardquo (2010 p108-109) A accedilatildeo se faz

como ldquomagiardquo ou seja a praacutetica de tornar presentes coisas que estatildeo ausentes e ausentes coisas

que estatildeo presentes A cultura da presenccedila sugere abordar as situaccedilotildees de visita como epifanias

cujos efeitos de presenccedila e sentido satildeo efecircmeros Ou ainda com uma temporalidade espacial

descrita como um evento que surge do nada e irrompe com os sentidos estabelecidos

Estes efeitos da presenccedila podem ser observados nos relatos dos visitantes De um lado o

museu pode ser considerado como um sentido jaacute instituiacutedo um trabalho concluiacutedo que pretende

ser universal mas que esgotou sua potecircncia criadora e que portanto soacute afeta o visitante

mobilizando-o a uma criacutetica agraves suas concepccedilotildees e exposiccedilotildees Do outro lado a presenccedila no

museu provoca os sentidos dos visitantes e cria princiacutepios de tensatildeo com a ideia de representaccedilatildeo

dominante da proacutepria histoacuteria presente no museu e no visitante Ou ainda a presenccedila investe-se

de uma funccedilatildeo encantatoacuteria capaz de tornar as coisas ausentes presentes e vice-versa

(GUMBRECHT 2010 p14)

Gumbrecht desenvolve aleacutem de uma criacutetica agrave representaccedilatildeo uma ressalva quanto agrave noccedilatildeo

de que a mateacuteria se estabilizaria ao longo do tempo sendo capaz de produzir um efeito de

fronteira de fixidez e superfiacutecie Na tentativa de inverter e devolver a ldquocoisidaderdquo agrave consciecircncia e

a ldquoaparecircnciardquo ao corpo como condiccedilatildeo na qual o mundo nos eacute dado e apresentado aos sentidos

22

ele se coloca em tensatildeo com a abordagem interpretativa15

Pensando que a relaccedilatildeo com os

artefatos culturais nunca eacute uma simples atribuiccedilatildeo de sentido e que coisas estatildeo perto ou longe

de nossos corpos Gumbrecht aponta que a relaccedilatildeo cotidiana com o mundo faz esquecer e implica

uma camada diferente de sentido (2010 p85-88)

O trabalho de visitas a museus permite um contato com os objetos histoacutericos uma

frequumlentaccedilatildeo que cria interaccedilotildees explicita diferenccedilas e aproximaccedilotildees culturais O visitante

dialoga questiona a mensagem expositiva e pode elaborar sentidos diversos dos apresentados

pelos museus

Vale ressaltar que para o autor a presenccedila natildeo vem sem apagar os sentidos que a

representaccedilatildeo gostaria de designar seus fundamentos a sua origem e seus temas A presenccedila natildeo

eacute uma presenccedila realmente existente ela se apresenta em permanente condiccedilatildeo de ldquotemporalidade

extremardquo eacute suacutebita de caraacuteter efecircmero surge e desaparece como eacute caracteriacutestico da experiecircncia

esteacutetica que se torna evidente e evanescente ao mesmo tempo (GUMBRECHT 2010 p83)

A experiecircncia esteacutetica se localiza a certa distacircncia do mundo cotidiano e produz diversas

figuras temporais Natildeo existe um resultado previsiacutevel oacutebvio ou tiacutepico que a experiecircncia esteacutetica

acrescenta ao cotidiano A visita a museus pode ser vista como um ldquoacontecimento de verdaderdquo

um evento que nos faz ver as coisas de ldquoum modo diferente do habitualrdquo como relata Maria Joseacute

Mendes diante do Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto Entrar em um museu eacute entrar numa paisagem

e exercitar uma performance

estar dentro dessa paisagem eacute um requisito fundamental para restabelecer o

enraizamento do histoacuterico devir Ter uma substacircncia (corpo) ocupar um espaccedilo implica

na possibilidade de revelar um movimento multidimensional vertical (balanccedilo) e

horizontal (ideia aspecto) O movimento de balanccedilo eacute um suster-se ali-em si mesmo

Uma dimensatildeo horizontal eacute ser percebido dentro da situaccedilatildeo bdquoser revelado‟ e natildeo bdquorepresentado‟ (GUMBRECHT 2010 p86-100)

Seguindo as indicaccedilotildees de Gumbrecht sobre o princiacutepio da presenccedila a relaccedilatildeo do visitante

de museu com o passado eacute diferente da ideacuteia de nostalgia de viagem no tempo de

15 Paul Ricoeur em Do texto agrave accedilatildeo amplia o termo interpretaccedilatildeo associando-o ao sentido de apropriaccedilatildeo cuja

finalidade eacute a luta contra a distacircncia cultural A interpretaccedilatildeo aproxima equaliza torna contemporacircneo e semelhante

torna proacuteprio o que era estrangeiro (RICOEUR 1991 p156)

23

restabelecimento ou de retrocesso16

O passado entendido pelo autor como produto da cultura eacute

caracterizado por sua materialidade e possibilidade de usos em cenaacuterios de simultaneidade de

referecircncias Haacute uma presenccedila do passado que eacute incorporado e um presente da accedilatildeo

Parece ser este o sentido da orientaccedilatildeo para a accedilatildeo que a visitante observa em seu uacuteltimo

comentaacuterio sobre a visita ao Museu Abiacutelio Barreto Maria Joseacute Mendes articula duas formas de

ver a histoacuteria o que foi visto no museu e o que foi visto no seu curso de licenciatura em Histoacuteria

As consequecircncias de suas observaccedilotildees no museu a levam a concluir que o historiador a partir dos

Annales trabalha com perguntas que os objetos vistos respondem Logo para Maria Joseacute

Mendes a operaccedilatildeo historiograacutefica parece se completar A visita mobiliza a formaccedilatildeo do objeto

imaginaacuterio e as mudanccedilas de perspectivas da visitante Eacute possiacutevel tambeacutem caracterizar a visita ao

museu como uma ldquoexperiecircncia esteacuteticardquo ou seja como uma dimensatildeo viva que oscila entre os

efeitos de sentido e os efeitos de presenccedila A visitante se potildee no museu numa condiccedilatildeo de

ldquoinsularidaderdquo e de predisposiccedilatildeo para a ldquointensidade concentradardquo para uma tensatildeo produtiva

que oscila simultaneamente entre sentido e presenccedila diferente de suas atividades cotidianas

(GUMBRECHT 2010 p 136)

O Museu prevecirc a participaccedilatildeo do visitante e estabelece tambeacutem um horizonte de

expectativas culturais e histoacutericas em relaccedilatildeo ao receptor Essas expectativas dos museus em um

dado momento encontram desapontam ou antecipam o horizonte de expectativas do visitante O

conhecimento do visitante eacute atualizado agrave medida que em presenccedila do patrimocircnio musealizado

reformulam-se suas expectativas e ele reinterpreta o que foi visitado A experiecircncia esteacutetica

realiza-se no visitante Eacute o que afirma Maria Joseacute Mendes ao visitar o Museu Histoacuterico Abiacutelio

Barreto em Belo Horizonte com seus colegas Ela imaginava outro tipo de museu se

surpreendeu durante e apoacutes a visita e mudou sua mente por completo o museu natildeo era um local

que as pessoas iam para ver coisas velhas Percebeu no museu algo ineacutedito um historiador tem

vaacuterias formas de trabalhar com diferentes tipos de objetos (Maria Joseacute Mendes Fipel 200517

)

Durante a visita o estudante confronta suas expectativas com o que encontrou no Museu

Mudou de opiniatildeo sobre o que era um museu a partir daquela visita Outros visitantes conforme

16 A expressatildeo futuro passado de Koselleck (2006 p21) eacute uma categoria explicativa da dinacircmica dos tempos

histoacutericos que dialoga com a dimensatildeo da presenccedila discutida por Gumbrecht 17 Os relatoacuterios de visita produzidos pelos estudantes e utilizados na tese seratildeo citados individualmente

mencionando-se o nome do autor

24

exploraremos no capiacutetulo seguinte tambeacutem reconhecem o papel da visita ao Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto na mudanccedila em suas concepccedilotildees de museu

A visitante cria um enredo proacuteprio para a visita e organiza um repertoacuterio que serve de

pano de fundo para sua narrativa Maria Joseacute Mendes atualiza seus conhecimentos ao declarar

que o Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto realiza um trabalho diferente dos museus que ela jaacute havia

visitado laacute no museu eles preservam a memoacuteria da cidade e integram o objeto ao cotidiano da

sociedade remetendo-nos haacute tempos em que Belo Horizonte era apenas um arraial chamado

Curral Del Rei Laacute o casaratildeo deixa de ser espaccedilo fiacutesico para ser objeto museoloacutegico (Maria Joseacute

Mendes Fipel 2005)

Outras observaccedilotildees podem ser feitas a partir do relato da visitante Uma delas eacute que os

museus natildeo satildeo depoacutesito (lugar de memoacuteria) Cada visita a um museu situa temporalmente cada

um dos visitantes pois possibilita que eles momentaneamente se distanciem de sua imersatildeo no

tempo presente e participem de experiecircncias de outras temporalidades

A perspectiva adotada por cada museu se define concretamente no processo de

resignificaccedilatildeo do visitante que converte a cada olhar os artefatos expostos em objetos histoacutericos

O museu por sua vez eacute quem forccedila o visitante a exercer sua atividade produtiva a posicionar-se

O Museu coloca em jogo a produtividade do visitante ao estimular suas capacidades A visita

exercitada torna-se tambeacutem um prazer para o visitante uma aula praacutetica de como fazer Histoacuteria

(Maria Joseacute Mendes Fipel 2005)

A experiecircncia vivida nas visitas aos museus oferece graus distintos de intensidade Aleacutem

da experiecircncia puramente fiacutesica resultante da presenccedila os visitantes investem em objetos de

fasciacutenio que comeccedilam por ativaacute-los e convocaacute-los a se integrar no circuito do museu O museu se

apresenta como ldquorelevacircncia impostardquo ndash objetos que desviam nossa atenccedilatildeo das rotinas diaacuterias em

que estamos envolvidos e nos separam delas A presenccedila de determinados objetos da experiecircncia

a nos convidar para a serenidade isto eacute a estarem ao mesmo tempo concentrados e disponiacuteveis

sem deixarem que a concentraccedilatildeo se calcifique na tensatildeo de um esforccedilo (GUMBRECHT 2010

p 132)

A visitante Maria Joseacute Mendes percebe no museu o trabalho com diferentes tipos de

objetos e como o museu cria um tipo de objeto especiacutefico retirado do cotidiano e transformado

em objeto museoloacutegico No Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a visitante percebe a operaccedilatildeo

25

museal para criar um passado para a cidade de Belo Horizonte chamado Curral Del Rei cuja

narrativa estaacute associada ao iniacutecio agrave fundaccedilatildeo da nova capital A presenccedila como fenocircmeno

efecircmero pode ser discutida tambeacutem nas fotografias18

dos visitantes desde a entrada nos museus

como desejo e expectativas durante o percurso interno das exposiccedilotildees como reaccedilotildees agraves

condiccedilotildees especiacuteficas da cultura de sentido ateacute a saiacuteda dos locais quando se configura uma

ausecircncia ou o desaparecer da presenccedila A anaacutelise das experiecircncias de visita a museus possibilita

emergir um campo de investigaccedilatildeo em que os sujeitos aparecem em accedilatildeo posicionam-se em

relaccedilatildeo ao saber histoacuterico a outros sujeitos e narrativas e a si proacuteprios

13 - Formaccedilatildeo histoacuterica

A partir das dinacircmicas e interaccedilotildees experimentadas e interpretadas pelos estudantes em

visitas a museus pretende-se discutir como se daacute o aprendizado histoacuterico e a formaccedilatildeo histoacuterica

na perspectiva que lhe atribui Ruumlsen (2007 p104) enquanto a capacidade de constituiccedilatildeo de uma

narrativa de sentido

A experiecircncia histoacuterica da visita e de cada visitante permitiraacute uma distinccedilatildeo da qualidade

temporal entre passado e presente e identificaccedilatildeo do modo como o passado permanece como

passado no presente A visita a museus pode fundamentar essa experiecircncia temporal essa

vivecircncia da mudanccedila no tempo da alteridade do passado que experimentada abre o potencial de

futuro do proacuteprio presente (RUumlSEN 2007 p 111-2)

Para Ruumlsen (2007 p95) a formaccedilatildeo histoacuterica pode ser entendida sob dois aspectos

primeiro como saber histoacuterico siacutentese da experiecircncia com a interpretaccedilatildeo e orientaccedilatildeo para a

vida praacutetica e segundo como processo de socializaccedilatildeo e individuaccedilatildeo que trata da dinacircmica de

formaccedilatildeo da identidade histoacuterica O autor observa que o aprendizado histoacuterico natildeo acontece

apenas no ensino de histoacuteria mas nos mais diversos e complexos contextos da vida concreta dos

aprendizes A formaccedilatildeo histoacuterica se opotildee criticamente agrave unilateralidade agrave especializaccedilatildeo

excessiva e agrave fragmentaccedilatildeo do saber cientiacutefico Eacute uma competecircncia que articula niacuteveis cognitivos

18 Muitas fotografias ficaram reservadas agrave circulaccedilatildeo restrita e apresentadas a pequenos grupos e professores Outras figuram em aacutelbuns e siacutetios virtuais Seus produtores diretos decidem se as compartilham ou natildeo com outras pessoas

com amigos familiares ou ambientes virtuais Foram selecionadas aquelas que aparecem nos relatoacuterios de avaliaccedilatildeo

apresentados pela turma

26

e formas e conteuacutedos cientiacuteficos ao seu uso praacutetico Essas competecircncias de formaccedilatildeo estatildeo

relacionadas simultaneamente ao saber agrave praacutexis e agrave subjetividade Para o autor eacute a carecircncia de

orientaccedilatildeo do sujeito que vincula saber e agir (RUumlSEN 2007 p110)

Ruumlsen (2007) caracteriza de forma inspiradora o aprendizado histoacuterico e o papel produtivo

do sujeito na histoacuteria Para ele haacute um duplo movimento algo objetivo torna-se subjetivo um

conteuacutedo da experiecircncia de ocorrecircncias temporais eacute apropriado simultaneamente um sujeito

confronta-se com essa experiecircncia que se objetiva nele (RUumlSEN 2007 p106) A apropriaccedilatildeo da

histoacuteria transforma um dado objetivo um acontecimento que ocorreu no tempo passado em

realidade da consciecircncia em algo subjetivo Desse ponto de vista o sujeito constitui sua

subjetividade afirma a si proacuteprio ao aprender a dimensatildeo temporal do passado interpretado em

seu presente A formaccedilatildeo consegue efetivar a articulaccedilatildeo entre objetividade e subjetividade

realizar a passagem do dado objetivo agrave apropriaccedilatildeo subjetiva e da busca subjetiva de afirmaccedilatildeo

ao entendimento objetivo Nas palavras de Ruumlsen (2007 p110) haacute uma intensificaccedilatildeo dos

pressupostos subjetivos ao manejar de forma cognitiva o passado contrapondo-se agrave alteridade do

passado reconhecendo o estranho e assim descobrir-se como proacuteprio (histoacuteria como vida)

Para Reinhart Koselleck (2006 p308-314) um movimento semelhante ao da formaccedilatildeo

histoacuterica de Ruumlsen pode ser observado no trabalho com as categorias histoacutericas de espaccedilo de

experiecircncia e horizonte de expectativa Ambas estatildeo interligadas e se ocupam da questatildeo do

tempo histoacuterico Ao entrelaccedilar passado e futuro dirigem as accedilotildees concretas no movimento social

e poliacutetico

Koselleck (2006 p309-310) afirma que a experiecircncia eacute o passado atual aquele no qual

os acontecimentos foram incorporados e podem ser lembrados Jaacute a expectativa eacute ao mesmo

tempo ligada agrave pessoa e ao interpessoal tambeacutem se realiza no hoje eacute futuro presente voltado

para o ainda-natildeo para o natildeo experimentado para o que apenas pode ser previsto

A experiecircncia possibilita tornar presente os acontecimentos passados e avaliaacute-los

Contudo sem o horizonte de expectativas o espaccedilo da experiecircncia eacute vago Eacute o horizonte de

expectativas que manteacutem em aberto o espaccedilo para o futuro (KOSELLECK 2006 p313)

Para Ruumlsen (2007 p110) o processo de aprendizado e apropriaccedilatildeo da experiecircncia

histoacuterica se daacute por meio de trecircs operaccedilotildees experiecircncia interpretaccedilatildeo e orientaccedilatildeo O

aprendizado histoacuterico produz a ampliaccedilatildeo da experiecircncia do passado humano aumentando a

27

competecircncia de interpretaccedilatildeo dessa experiecircncia e reforccedilando a capacidade de inserir e utilizar as

interpretaccedilotildees histoacutericas no quadro de orientaccedilatildeo da vida praacutetica

Ao discutir sobre o aprendizado histoacuterico e a apropriaccedilatildeo histoacuterica pelo presente no

sentido de uma memoacuteria viva o proacuteprio Ruumlsen indica que a histoacuteria faz parte da cultura poliacutetica e

se apresenta como elementos identitaacuterios e nacionais Para o autor as diretrizes curriculares para o

ensino de histoacuteria os monumentos e as exposiccedilotildees satildeo exemplos dessa dimensatildeo histoacuterica vivida

de forma natildeo escolar Para Ruumlsen estas histoacuterias estatildeo presentes nas circunstacircncias da vida

concreta mas permitem tambeacutem lanccedilar pontes ao aprendizado de experiecircncias histoacutericas e de

futuro (RUumlSEN 2007 p107)

A perspectiva teoacuterica aberta por Ruumlsen articula as questotildees relativas ao ensino de histoacuteria

aos fundamentos da ciecircncia da histoacuteria A contribuiccedilatildeo de Ruumlsen eacute recompor o campo do ensino

com o que chamamos de dimensatildeo da pesquisa19

Em primeiro lugar ele afasta uma concepccedilatildeo

de didaacutetica como algo externo agrave produccedilatildeo do conhecimento histoacuterico pelos especialistas Para

Ruumlsen a didaacutetica natildeo eacute mera aplicaccedilatildeo ou mediaccedilatildeo nem meacutetodo de ensino indiferente aos

mecanismos especiacuteficos do trabalho cognitivo da histoacuteria Os impulsos advindos do ensino e do

aprendizado de histoacuteria natildeo podem ser dispensados na ciecircncia da histoacuteria A teoria da histoacuteria se

faz para Ruumlsen sob a reflexatildeo sobre as carecircncias de orientaccedilatildeo existencial e das formas de

apresentaccedilatildeo Essas carecircncias satildeo sobretudo de ordem poliacutetica e esteacutetica As funccedilotildees praacuteticas do

saber histoacuterico satildeo tatildeo necessaacuterias quanto o processo cientiacutefico de conhecimento (RUumlSEN 2007

p122)

Para Ruumlsen o saber histoacuterico desempenha funccedilotildees na vida cultural do tempo presente Ele

defende que no trabalho do historiador forma e funccedilatildeo natildeo se separam Essa separaccedilatildeo eacute feita

pela tradiccedilatildeo retoacuterica da historiografia dando agrave teoria da histoacuteria o poder de cuidar das regras da

escrita historiograacutefica e da poeacutetica normativa o como escrever Com a cientificizaccedilatildeo da

historiografia a Histoacuteria passou a cuidar das regras da pesquisa histoacuterica e o aspecto da forma

ficou sendo externo agrave especializaccedilatildeo A didaacutetica da histoacuteria nas duas tradiccedilotildees historiograacuteficas

ficou de fora da composiccedilatildeo da disciplina especializada A didaacutetica eacute vista hoje como mera

aplicaccedilatildeo pedagoacutegica um referente externo do saber histoacuterico (RUumlSEN 2007 p11)

19 Haacute uma vasta bibliografia acadecircmica desde a deacutecada de 1980 que discute o ensino de histoacuteria no Brasil e dentre

outros temas a articulaccedilatildeo ensino e pesquisa a avaliaccedilatildeo criacutetica aos curriacuteculos e programas oficiais e articulaccedilatildeo de

grupos de pesquisa Ver Nadai(1993) e Caimi (2001)

28

O museu pode ser interrogado nesse mesmo sentido e deixar de ser considerado um

recurso metodoloacutegico para se tornar parte do aprendizado histoacuterico como fonte tema de pesquisa

e produccedilatildeo de conhecimentos histoacutericos e educacionais

Ruumlsen (2007 p87) reuacutene teoria e didaacutetica ao indicar que formas e funccedilotildees do saber

histoacuterico fazem parte da matriz disciplinar da ciecircncia histoacuteria Ao reinscrever a didaacutetica no campo

da Histoacuteria como praacutetica de ciecircncia aponta para a funccedilatildeo praacutetica do saber histoacuterico Essa funccedilatildeo

praacutetica tem efeito sobre o processo de conhecimento influenciando nas perguntas iniciais que os

historiadores fazem ou seja na praacutexis historiograacutefica e tambeacutem possui uma funccedilatildeo de orientaccedilatildeo

praacutetica para a vida

Em Histoacuteria Viva Ruumlsen (2007) contribui para a formulaccedilatildeo de questotildees que articulam de

maneira praacutetica os campos da histoacuteria e da educaccedilatildeo pensando no ensino de histoacuteria20

O olhar

criacutetico do autor sobre a teoria da histoacuteria dirige-se em seguida para os processos elementares e

gerais de constituiccedilatildeo narrativa de sentido responde agraves carecircncias de orientaccedilatildeo e torna o saber

histoacuterico vivo (RUumlSEN 2007 p14)

O que Ruumlsen (2010 p59) chama de ldquoconsciecircncia histoacutericardquo eacute esse uso praacutetico do saber

histoacuterico que suscita questotildees sobre as funccedilotildees culturais das narrativas histoacutericas Ou seja as

questotildees praacuteticas da formaccedilatildeo e saber histoacuterico vatildeo aleacutem da ldquoteoria da histoacuteriardquo e recolocam o

problema da validade discursiva desse campo como ciecircncia especializada aleacutem de questionar o

que os historiadores fazem quando propotildeem formataccedilotildees historiograacuteficas da vida cultural de seu

tempo ou quais procedimentos adotam quando atuam nela

A leitura de Ruumlsen inspira a reflexatildeo sobre o sentido que as narrativas e exposiccedilotildees dos

museus possuem na vida cultural de uma sociedade e como elas se transformam em saberes

histoacutericos Ao entender como o visitante realiza movimentos que colocam em circulaccedilatildeo os

sentidos das narrativas de museus eacute possiacutevel investigar mecanismos poliacuteticos e esteacuteticos que

continuam sendo selecionados nessas narrativas e que as transportam do passado para o presente

No relato de Maria Joseacute Mendes pode ser vista essa operaccedilatildeo de construccedilatildeo de sentidos

proacuteprios agraves narrativas histoacutericas A visitante entende a dinacircmica museal natildeo em seu caraacuteter

instrumental mas como princiacutepio criador de versotildees histoacutericas A visitante do Museu Histoacuterico

20 Essas articulaccedilotildees tambeacutem satildeo discutidas pelo grupo de pesquisa Memoacuteria Histoacuteria e Educaccedilatildeo da Unicamp Ver

Zamboni (2007) e Zamboni e outros (2008)

29

Abiacutelio Barreto participa de uma dinacircmica que a leva a compreender que ldquoa partir de uma

montagem e desmontagem de figuras podem-se passar imagens diferentes dependendo da

maneira como esse material foi expostordquo (Maria Joseacute Mendes Fipel 2005) A operaccedilatildeo de

montagem e desmontagem eacute experimentada pela visitante que relaciona o procedimento do

museu com o procedimento dos historiadores em suas pesquisas e associa a ideia de deciframento

do que estaacute preservado e exposto ao trabalho de composiccedilatildeo realizado anteriormente

Outra questatildeo em relaccedilatildeo aos visitantes inspirada em Ruumlsen eacute discutir ateacute que ponto o

modo de narrar histoacuterias dos museus eacute utilizado na vida dos visitantes Ou seja como a maneira

argumentativa dos museus afeta a formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes Ou no limite se visitar

museus influencia ou natildeo na forma de narrar a histoacuteria e viver o tempo presente

No relato de Maria Joseacute Mendes as dimensotildees da histoacuteria e da vida estatildeo presentes A

visita muda sua concepccedilatildeo de museu e de histoacuteria Ela traz da vivecircncia no museu para sua

concepccedilatildeo de histoacuteria a dimensatildeo material dos objetos e aproxima sua nova visatildeo de museu da

historiografia Como futura profissional da histoacuteria ela pode usar um novo arsenal o museu e sua

metodologia de trabalhar os objetos (Maria Joseacute Mendes Fipel 2005)

Em relaccedilatildeo agrave vida Maria Joseacute Mendes manteacutem sua condiccedilatildeo de visitante durante todo seu

relato mas faz um convite ldquoa exposiccedilatildeo eacute aberta a todos que queiram verrdquo Essa abertura das

portas do museu ao puacuteblico reconhecida pela visitante implica em considerar que os

destinataacuterios na praacutexis museoloacutegica natildeo satildeo apenas os especialistas Mas a visitante parece

indicar que o lugar no qual se localiza essa praacutetica soacute atinge os que ldquoquerem verrdquo e nem todo

mundo quer ver o que tem em um museu Relacionado a uma forma de constituiccedilatildeo especiacutefica de

rdquonarrativa de sentidordquo o museu natildeo eacute igual ao conjunto da vida praacutetica Eacute preciso ir ateacute o museu e

querer vecirc-lo

Querer ver e ver de diferentes maneiras implica em reconhecer a heterogeneidade e a

diversidade que marcam a formaccedilatildeo histoacuterica e as relaccedilotildees concretas dessa formaccedilatildeo no que se

refere a percursos graus de autonomia condiccedilotildees de trabalho docente diferenccedilas culturais e

enormes desigualdades sociais e econocircmicas reconhecer que professores e alunos dos diferentes

niacuteveis de ensino podem ser sujeitos histoacutericos agrave medida que constituem coletivamente para si

proacuteprios um tempo e espaccedilo de produccedilatildeo de conhecimentos tempo e espaccedilo que incluam a

reflexatildeo e accedilatildeo sobre suas proacuteprias demandas e necessidades de formaccedilatildeo

30

14- Circuito e circularidade cultural

Feitas as consideraccedilotildees sobre as narrativas a presenccedila e a formaccedilatildeo histoacuterica a questatildeo a

ser enfrentada eacute como analisar as interaccedilotildees que emergem das accedilotildees dos sujeitos na produccedilatildeo de

novos significados para os bens culturais sem cair numa abordagem que prioriza as estruturas ou

as mediaccedilotildees institucionais que atuam com poder formativo e instrucional indicando roteiros de

interaccedilatildeo sobre os receptores ndash colocados no final do processo educativo

Algumas bases teoacutericas jaacute foram estabelecidas principalmente ao se discutir o conceito de

cultura de presenccedila para caracterizar a relaccedilatildeo com os museus Cabe sistematizar um pouco mais

a criacutetica agrave recepccedilatildeo e agrave representaccedilatildeo estabelecida pela ampliaccedilatildeo do conceito de cultura

realizada por Raymond Williams (1969 e 1979) e posteriormente alargada pela ideia de circuito

da cultura de Stuart Hall (1997 e 2003)

O debate teoacuterico em torno do conceito de cultura promovido por Raymond Williams

(1969 e 1979) e posteriormente os sentidos e usos que adquire pelos chamados Estudos

Culturais na criacutetica e reexame das relaccedilotildees entre comunicaccedilatildeo e sociedade articulam a dinacircmica

os conflitos as tensotildees as resoluccedilotildees e irresoluccedilotildees as inovaccedilotildees e mudanccedilas reais que se

produzem na proacutepria cultura em planos mais amplos a partir de um objetoproduto especiacutefico

rompendo com os paradigmas da recepccedilatildeo e representaccedilatildeo

Para Williams o cultural natildeo eacute mero reflexo ou tem papel residual nas anaacutelises O cultural

ocupa o lugar central eacute o lugar para onde se deve olhar pois permite ver a experiecircncia o modo

de vida indissoluacutevel na praacutetica em geral real material as formas dominantes residuais

(passado memoacuteria) e emergentes

Williams propotildee um meacutetodo de entendimento dos fenocircmenos da cultura como as

condiccedilotildees de vida comum tanto as normas quanto o vivido praacuteticas cotidianas natildeo cristalizadas

A cultura natildeo tem uma hierarquia fixa um dentro e um fora natildeo pode ser definida como alta ou

baixa A cultura eacute vista como experiecircncias efetivas e troca entre agentes natildeo redutiacuteveis aos

objetos (coisas) mas a todo um modo de vida comum A cultura eacute ordinaacuteria ou seja eacute

perpassada pelas ideias e praacuteticas sociais Assim em seu meacutetodo eacute possiacutevel pensar a estrutura da

experiecircncia ou as relaccedilotildees sociais mais amplas dentro de um caso particular

31

Outra contribuiccedilatildeo significativa de Williams (1992 p311) para a anaacutelise de nosso objeto

especiacutefico eacute a criacutetica ao sentido de transmissatildeo da cultura Para o autor soacute podemos pensar em

transmissatildeo se entendermos a comunicaccedilatildeo como a remessa de um sentido uacutenico Entretanto

para ele a recepccedilatildeo e resposta que completam a comunicaccedilatildeo dependem de fatores outros que

natildeo as teacutecnicas

A comunicaccedilatildeo se daacute como experiecircncia de agentes troca entre interlocutores Mas natildeo

vivemos em um mundo de iguais Natildeo haacute sequer a suposiccedilatildeo de compartilhamento de uma

linguagem comum Haacute claramente uma dimensatildeo poliacutetica uma vontade de poder expressa nas

hierarquias postas As regras e valores das instituiccedilotildees museais as normas e papeacuteis sociais regem

as relaccedilotildees entre visitantes e museus O sentido da accedilatildeo parte do museu Entretanto cabe

perguntar sobre quais formas de interlocuccedilatildeo podem emergir em um cenaacuterio de visita a uma

exposiccedilatildeo O Museu propotildee o rompimento com o caraacuteter transmissivo da cultura ou reitera os

padrotildees de uma cultura alta e autorizada e outra baixa O visitante pode fazer esse movimento de

interpretaccedilatildeo contraacuterio ao sentido prioritaacuterio do museu atribuindo um excesso de sentido poliacutetico

e esteacutetico agrave exposiccedilatildeo ou ele sempre elabora seu percurso de leitura com as matrizes e

referencias culturais da exposiccedilatildeo

Chega-se tambeacutem a outro movimento de ampliaccedilatildeo do sentido de cultura e da proacutepria

ideia de representaccedilatildeo como algo fixo Stuart Hall (1997 e 2003) ao formular a ideia de circuito

da cultura substitui o modelo teoacuterico que separava emissormensagemreceptor por estrutura

complexa de relaccedilotildees produzida e sustentada atraveacutes de movimentos distintos mas interligados

produccedilatildeo circulaccedilatildeo distribuiccedilatildeoconsumo reproduccedilatildeo

Hall relaciona as praacuteticas culturais com formas e condiccedilotildees especiacuteficas Cada momento do

circuito remete ou re-envia ao outro produccedilatildeo-distribuiccedilatildeo-produccedilatildeo Formas simboacutelicas

especiacuteficas satildeo produtos de cada momento do circuito mas tambeacutem datildeo passagem a outros

significados e mensagens (signos-veiacuteculos) Podemos pensar a produccedilatildeo cultural como

instrumentos materiais (meios) organizados como praacuteticas e analisar a troca comunicativa na

forma discursiva da mensagem em suas formas visuais (imagens) e no seu proacuteprio discurso

expositivo (textonarrativa) e nas atividades propostas de interaccedilatildeo com o leitor (atividades

pedagoacutegicas)

32

Figura 1 GAY Paul du e HALL Stuart O circuito da cultura

Production of CultureCultures of Production Londres Sege 1997

A anaacutelise cultural proposta por Suart Hall (2003) supera um modelo inicial de

codificaccedilatildeodecoficaccedilatildeo e passa a considerar que se as regras formais do discurso (sentido

preferencial) e a linguagem estatildeo em dominacircncia elas satildeo concretizadas na mensagem como

linguagem Ao serem decodificadas elas satildeo apropriadas e para que tenham efeito satisfaccedilam

necessidades ou tenha um uso pela audiecircncia haacute graus de assimetria e autonomia em relaccedilatildeo aos

coacutedigos da fonte e do receptor

Apresentadas a seguir as figuras 3 e 4 satildeo fotografias produzidas por um mesmo grupo

de estudantes de licenciatura em Histoacuteria21

em visita a dois diferentes museus o Museu do

Escravo em Belo Vale MG e o Museu Histoacuterico Nacional na cidade do Rio de Janeiro e

possibilitam aproximar o tema das visitas a museus agraves contribuiccedilotildees de Raymond Williams (1969

e 1979) e Stuart Hall (1997 2003 e 2008) entendidas como matriz teoacuterica de um movimento mais

amplo de anaacutelise cultural

21 O perfil do grupo seraacute apresentado no capiacutetulo seguinte

33

Figura 2 CUNHA Viacutevian e outros Fotografias da entrada e paacutetio

interno do Museu do Escravo Belo Vale MG 2006

Figura 3 RODRIGUES Marly Marques Fotografia da entrada do

Museu Histoacuterico Nacional 2008

Na figura 2 satildeo apresentadas duas fotografias de visitantes chegando ao Museu do

Escravo e dirigindo-se ao pavilhatildeo interno de exposiccedilotildees Em ambas fotografias os visitantes

estatildeo de costas para o fotoacutegrafo caminham apressadamente Os corpos dos visitantes estatildeo

enquadrados pela arquitetura do museu Numa primeira aproximaccedilatildeo pode-se pensar que os

visitantes satildeo receptores ou consumidores das representaccedilotildees das significaccedilotildees e valores do

museu

O conceito de circuito da cultura operacionalizado por Hall (1997) evidencia que as

questotildees que envolvem a anaacutelise de um produto ou praacutetica cultural natildeo se limitam apenas ao

lugar de sua representaccedilatildeo especiacutefica mas que todos os momentos da elaboraccedilatildeo da cultura

(produccedilatildeo consumo regulaccedilatildeo representaccedilatildeo e identidade) estatildeo associados e se articulam As

34

fotografias dos visitantes apresentam os museus a partir da visita e do olhar dos proacuteprios

visitantes que se colocam dentro da cultura dos museus

O conceito de circularidade da cultura amplia o eixo do olhar sobre as praacuteticas e

artefatos culturais de modo a buscar outras institucionalidades sensibilidades subjetividades

produccedilotildees simboacutelicas e a abandonar uma visatildeo que separa definitivamente as identidades e

posiccedilotildees dos sujeitos em produtores e receptores Entrar nos museus eacute entrar num circuito e

colocar em circulaccedilatildeo seus sentidos e representaccedilotildees prioritaacuterias

Vistas novamente as fotografias da visita ao Museu do Escravo apontam um engajamento

dos sujeitos natildeo apenas pelo vieacutes do consumo Seus trajes coloridos se destacam das paredes

brancas e o museu tanto pode ver visto como o enquadramento central da cena quanto o cenaacuterio

de fundo para a accedilatildeo dos visitantes Haacute produccedilatildeo de um referencial identitaacuterio para o grupo e um

compartilhamento dessa representaccedilatildeo o que nos leva de volta agrave ideia de que os sujeitos se

constituem na cultura e que o consumo cultural se configura tambeacutem como praacutetica de produccedilatildeo

cultural

Na fotografia destacadas da visita ao Museu Histoacuterico Nacional (figura 3) os visitantes

esperam do lado de fora do museu o momento da visita A partir do modelo de circuito da cultura

podemos localizar inicialmente as representaccedilotildees de museu no acircmbito da regulaccedilatildeo Nesta

imagem dos visitantes dificilmente poderiacuteamos pensar numa simples transmissatildeo da cultura

mesmo em desigualdade de condiccedilotildees Antes mesmo de entrar pelo portatildeo principal haacute uma troca

de olhares entre museu e visitante que comeccedila com o registro dos rituais e ritmos estabelecidos

pelo museu O que pode ser visto e as maneiras de vecirc-las

A comunicaccedilatildeo entre museus e visitante se daacute como experiecircncia de agentes troca entre

interlocutores Natildeo haacute transmissatildeo de cultura do museu para o visitante Eacute o visitante que elabora

uma representaccedilatildeo de si mesmo e do museu E natildeo parece supor a igualdade de condiccedilotildees para as

produccedilotildees de cada agente Natildeo haacute sequer a suposiccedilatildeo de compartilhamento de uma linguagem

comum entre museus e visitantes Na fotografia do Museu Histoacuterico Nacional (Figura 3) haacute uma

dimensatildeo poliacutetica (regulaccedilatildeo) uma vontade de poder expressa nas hierarquias postas As regras e

valores das instituiccedilotildees museais as normas e papeacuteis sociais regem as relaccedilotildees entre visitantes e

museus O sentido da accedilatildeo parte do museu Haacute um guarda agrave porta do MHN que soacute se abriraacute no

horaacuterio determinado A fotografia registra o momento da espera Fica em aberto a pergunta sobre

35

as formas de interlocuccedilatildeo possiacuteveis num cenaacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional vencido o

momento da espera

As fotografias apontam que os visitantes produzem sentidos para a cultura a partir das

visitas que aconteceram ao longo da trajetoacuteria de formaccedilatildeo acadecircmica desse grupo especiacutefico Os

dois museus escolhidos foram visitados em momentos distintos da formaccedilatildeo dos estudantes22

O

Museu do Escravo em Belo Vale-MG visitado em 2006 e o Museu Histoacuterico Nacional no Rio

de Janeiro visitado em 2008

Os dois museus selecionados apresentam propostas expositivas conteuacutedos distintos e

estavam relacionados agraves atividades acadecircmicas desenvolvidas pelos professores do curso de

Licenciatura em Histoacuteria Cada museu se autorepresenta ao definir contemporaneamente sua

ldquomissatildeordquo no Cadastro Nacional de Museus promovido recentemente pelo Instituto Brasileiro de

Museus (IBRAN) oacutergatildeo subordinado ao Ministeacuterio da Cultura com base na Poliacutetica Nacional

de Museus de 200323

Figura 4 Fachada do Museu do Escravo Disponiacutevel

emlthttpwwwbelovalemggovbratracoes_museuhtmgt Acesso em

2011

22 Desenvolvo nos capiacutetulos quatro e cinco uma anaacutelise da experiecircncia museal de um mesmo grupo de visitantes a

esses dois diferentes museus o Museu do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional 23

Ver httpwwwmuseusgovbrsbmcnm_conhecaosmuseushtm Acesso em 2010

36

O Museu do Escravo24

eacute vinculado ao poder puacuteblico municipal e estaacute localizado desde

1988 em um casaratildeo construiacutedo ao lado da igreja matriz de Belo Vale como reacuteplica de um

edifiacutecio colonial especialmente para abrigar o acervo do museu A tipologia do acervo eacute

apresentada de forma ampla e abrange antropologia etnografia arqueologia artes visuais

ciecircncias naturais histoacuteria natural e histoacuteria A missatildeo do Museu do Escravo eacute registrar e

preservar a histoacuteria do negro escravo no Brasil mostrando e valorizando seu trabalho arte e

cultura (IBRAN 2010)

O Museu Histoacuterico Nacional tambeacutem uma instituiccedilatildeo puacuteblica federal localizada na

cidade do Rio de Janeiro foi o uacuteltimo museu visitado pelo grupo de estudantes de licenciatura em

Histoacuteria em 2008 quando cursavam os uacuteltimos periacuteodos da graduaccedilatildeo Fundado em 1922 o MHN

teve suas primeiras coleccedilotildees formadas com transferecircncias do Museu Nacional do Arquivo

Nacional da Biblioteca Nacional e do antigo Museu de Artilharia Hoje reuacutene um

acervo de mais de 264332 itens entre os quais a maior coleccedilatildeo de numismaacutetica da

Ameacuterica Latina O conjunto arquitetocircnico que abriga o museu desenvolveu-se a partir do

Forte de Santiago na Ponta do Calabouccedilo um dos pontos estrateacutegicos para a defesa da

cidade do Rio de Janeiro O Museu Histoacuterico Nacional manteacutem em 9557 metros

quadrados de aacuterea aberta ao puacuteblico galerias de exposiccedilotildees permanentes e temporaacuterias aleacutem da biblioteca especializada em Histoacuteria do Brasil Histoacuteria da Arte Museologia e

Moda do Arquivo Histoacuterico com documentos manuscritos aquarelas ilustraccedilotildees e

fotografias (IBRAN 2010)

O Museu Histoacuterico Nacional define sua missatildeo a partir do conceito de ldquonacionalrdquo O

museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente a serviccedilo da sociedade e de seu desenvolvimento que

adquire conserva pesquisa e divulga as evidecircncias representativas da histoacuteria brasileira

(IBRAN 2010)

24 Segundo material de divulgaccedilatildeo o Museu foi criado em Congonhas do Campo nas dependecircncias da Basiacutelica do

Senhor Bom Jesus Em 1977 foi transferido para a Fazenda da Boa Esperanccedila em Belo Vale e oficializado atraveacutes

de Lei Municipal nordm 50475 de 10 de abril Em 13 de Maio de 1988 primeiro centenaacuterio da aboliccedilatildeo foi inaugurado

o preacutedio atual em estilo colonial projetado por Paulo Bojanic

37

Figura 5 Fachada do Museu Histoacuterico Nacional ndash Disponiacutevel em

lthttpwwwmuseuhistoriconacionalcombrmh-2008-001htmgt

Acesso em 2011

Nas duas imagens oficiais dos museus (figuras 4 e 5) os edifiacutecios satildeo isolados do

cenaacuterio urbano nos quais estatildeo localizados natildeo haacute qualquer referecircncia ao entorno Tambeacutem natildeo

se observa nas imagens nenhuma intervenccedilatildeo voltada ao visitante como placas de sinalizaccedilatildeo ou

propaganda indicando o nome do Museu como se locomover e serviccedilos tais como

estacionamento portatildeo de entrada e outras instalaccedilotildees puacuteblicas As imagens ressaltam a

grandiosidade da arquitetura exibida de maneira estaacutetica realccedilando as restauraccedilotildees das fachadas

iluminadas de forma atraente e sedutora

A imagem produzida pelos museus confronta-se com as fotografias dos visitantes Nos

dois museus visitados encontram-se possibilidades de rompimento com o caraacuteter transmissivo da

cultura mas tambeacutem configuraccedilotildees que reiteram os padrotildees de cultura hierarquizada ndash alta e

autorizada e outra baixa e desautorizada O visitante pode fazer o movimento de atribuiccedilatildeo de

sentido poliacutetico e esteacutetico agraves exposiccedilotildees e museus Ele substitui o tempo de espera pelo inusitado

do percurso de visita a mais uma exposiccedilatildeo

As fotografias do momento da chegada aos dois museus apontam que os visitantes criam

um circuito proacuteprio para a cultura O registro do visitante estabelece um diaacutelogo com o plano da

cultura que estaacute nos museus O visitante orienta o museu a fazer escolhas e cada museu produz a

38

si mesmo agrave medida que se expotildee ao visitante No Museu do Escravo (Figura 2) os visitantes

chegam rapidamente agrave entrada e comeccedilam a explorar de maneira espontacircnea o espaccedilo interno Os

estudantes parecem natildeo precisar de ldquoguiasrdquo ou orientaccedilotildees Querem ver o que tem laacute dentro

Circulam

Na chegada ao Museu Histoacuterico Nacional (Figura 3) o museu tem uma loacutegica proacutepria

parece fechado ao visitante Eacute muito organizado dizem os visitantes e essa organizaccedilatildeo parece

se expressar nos rituais de espera para entrar no seguranccedila que guarda a portaria nas orientaccedilotildees

de um ldquoguiardquo tambeacutem estudante de Histoacuteria Circulam visitam vaacuterias exposiccedilotildees sem correrias

retornam ao local da entrada (saiacuteda)

Assim pode-se considerar que satildeo os museus que constroem um puacuteblico um visitante e

lhes atribui caracteriacutesticas de idade escolaridade gecircnero articuladas agrave concepccedilatildeo sobre o que eacute

um museu O museu se apresenta em primeira pessoa em cada material produzido e endereccedilado

aos visitantes Os visitantes nessas fotografias tambeacutem tentam controlar a sua auto-representaccedilatildeo

frente agrave arquitetura dos museus que se impotildee desde os portotildees de entrada

Posicionados historicamente frente agrave arquitetura dos dois museus as fotografias satildeo

tentativas dos visitantes de se apresentarem refletirem sobre si mesmos e natildeo apenas se

moldarem aos padrotildees e expectativas da representaccedilatildeo dominante Haacute nas imagens uma

reflexibilidade dos sujeitos (identidade no sentido de Hall) frente agrave arquitetura museal ou a

forma cultural dominante que entretanto natildeo se impotildee de maneira paciacutefica (regulaccedilatildeo) O

visitante tem uma atitude de produccedilatildeo cultural de conhecer o museu habitar de certo modo esse

espaccedilo (consumo) restabelecendo a centralidade da cultura ou o reiniacutecio do circuito com uma

nova representaccedilatildeo ao tornar o museu significativo visiacutevel e tangiacutevel para si mesmo

As fotografias permitem configurar um espaccedilo da vivecircncia (ou evento) 25

nas quais estatildeo

circunscritas as atividades que foram objeto do interesse dos visitantes e foram estruturadas tendo

como referecircncia a ideacuteia de performance movimento e foco natildeo apenas presentes nos museus

mas escolhidos e recortados pelos visitantes As fotografias apresentam desde a entrada no museu

(desejo expectativas de presenccedila) com o nascimento da proacutepria presenccedila o durante o percurso

interno e as reaccedilotildees agraves condiccedilotildees especiacuteficas da cultura museal contemporacircnea

25 Mauad (1996 p13-14) propotildee uma metodologia para o trabalho com fotografias que considera cada unidade

cultural que deve ser analisada sob os aspectos do espaccedilo fotograacutefico espaccedilo geograacutefico espaccedilo do objeto espaccedilo da

figuraccedilatildeo e espaccedilo da vivecircncia

39

predominantemente uma cultura de sentido e a saiacuteda dos museus a ausecircncia o desaparecer da

presenccedila e o surgimento dos efeitos de presenccedila que podem ser vividos jaacute na ausecircncia

15- Visitantes de museus espectadores emancipados

A abordagem desta pesquisa difere da perspectiva da recepccedilatildeo26

agrave medida que as visitas a

museus e os visitantes satildeo considerados espectadores emancipados e natildeo apenas consumidores

das propostas educativas elaboradas pelos consultores e especialistas de museus A relaccedilatildeo entre

o puacuteblico e os museus eacute recoberta de muacuteltiplas temporalidades Entendo o museu como

instituiccedilatildeo local fiacutesico produtor de conhecimento arena poliacutetica promotor de identidades

espaccedilo de construccedilatildeo de memoacuterias de educaccedilatildeo que reuacutene caracteriacutesticas que povoam o

imaginaacuterio social desde o final do seacuteculo XVIII O museu como ideia e instituiccedilatildeo resiste na

contemporaneidade e assume diferentes usos Eacute esse o conceito de museu puacuteblico moderno que

permeia essa pesquisa desde a formulaccedilatildeo do projeto passando pela delimitaccedilatildeo das fontes ateacute a

sistematizaccedilatildeo das primeiras anaacutelises das visitas

Assim como o conceito de museu eacute marcado pela historicidade ou a adaptaccedilatildeo a

diferentes momentos a imagem de um puacuteblico de museus tambeacutem remete a diferentes praacuteticas

ligadas aos museus pesquisa accedilotildees patrimoniais educativas expositivas colecionismos que

implicam em atrair diferentes grupos para frequumlentar e produzir esses espaccedilos poeacuteticos e

poliacuteticos

Falar dos museus como sujeitos eacute apresentaacute-los como um campo proacuteprio de produccedilatildeo de

conhecimentos e como tal fundadores de princiacutepios e loacutegicas como um tipo especial de

instituiccedilatildeo cultural O museu se coloca como sujeito cultural com processos de legitimaccedilatildeo e

criteacuterios de autoridade capazes de nortear a construccedilatildeo de sentidos poliacuteticos do que seja o proacuteprio

museu e por conseguinte sobre a relaccedilatildeo do museu com outros campos como o patrimocircnio a

memoacuteria a educaccedilatildeo e a histoacuteria

Dimensotildees histoacutericas poliacuteticas esteacuteticas sociais e institucionais concorrem para a

definiccedilatildeo do campo museal Diferentes contribuiccedilotildees e leituras transformam de maneira

26 Considero as pesquisas de recepccedilatildeo aquelas que tomam o puacuteblico de museus sob a perspectiva da ldquorelaccedilatildeo de

transposiccedilatildeo definida como a adaptaccedilatildeo da temaacutetica do museu ou da exposiccedilatildeo - feita pelo inteacuterprete - para o

visitanterdquo (MARANDINO ALMEIDA E VALENTE 2009 p22)

40

constante o conhecimento museoloacutegico Museoacutelogos historiadores jornalistas poliacuteticos e

cidadatildeos comuns compartilham dessa produccedilatildeo Tambeacutem na condiccedilatildeo de sujeito de praacuteticas

culturais especiacuteficas cada museu eacute lido por diferentes agentes histoacutericos Enquanto agente

puacuteblico o museu se daacute ver e se submete a leituras conflitantes A leitura de populares e de

especialistas se apresenta cada vez que o museu abre suas portas ao puacuteblico Em cada exposiccedilatildeo

em cada visita o museu se atualiza

Compreender a historicidade dos puacuteblicos ou visitantes de museus implica por

consequumlecircncia em analisar como diferentes sujeitos se fazem presentes nas poliacuteticas e poeacuteticas

destas instituiccedilotildees e como fazem usos variados destes espaccedilos puacuteblicos Almeida (2004 e 2005) e

Marandino (2009) estudiosas de puacuteblico de museus no Brasil indicam que a presenccedila do

visitante nos museus eacute registrada desde fins do seacuteculo XVIII Com interesses variados

colecionadores filoacutesofos poliacuteticos criacuteticos e artistas preocuparam-se em conhecer o puacuteblico de

museus e tecer consideraccedilotildees sobre o uso que faziam da instituiccedilatildeo Os proacuteprios museus

fornecem dados sobre os visitantes para oacutergatildeos estatais aos quais estatildeo subordinados e no iniacutecio

do seacuteculo XX foram realizados os primeiros estudos acadecircmicos nos EUA sobre puacuteblicos de

museus e comportamentos de visita (MARANDINO 2009)

Na segunda metade do seacuteculo XX os proacuteprios profissionais dos museus comeccedilam a se

interessar por esse tema de pesquisa assim como empresas puacuteblicas e privadas para fins de

avaliaccedilatildeo Na deacutecada de 1980 haacute um duplo interesse nos estudos de puacuteblicos como campo de

estudo das praacuteticas sociais e culturais e com finalidades de orientar investimentos econocircmicos e

poliacuteticas puacuteblicas

A reflexatildeo sobre as relaccedilotildees entre museus e visitantes nem sempre eacute pautada pela

preocupaccedilatildeo com o entendimento do papel social de ambos os atores Como afirma Koptke

pesquisadora do campo da museologia ldquoa negociaccedilatildeo do sentido de uso deriva de situaccedilotildees cuja

dinacircmica necessita ser analisada do ponto de vista de seus usuaacuterios para melhor compreendermos

como e para que existam os museusrdquo (KOPTKE 2005 p191)

Pesquisas de puacuteblico ou de recepccedilatildeo servem agrave negociaccedilatildeo de recursos e fundos tanto

privados quanto puacuteblicos e conquistam credibilidade social Veja-se o exemplo de investimentos

em tecnologias digitais que implicam em ampliaccedilatildeo do acesso e aumento do nuacutemero de visitantes

41

e se autojustificam pois um visitante virtual que acessa o site do museu e solicita um serviccedilo

equivale a um visitante presencial nos relatoacuterios de gestatildeo

Do ponto de vista acadecircmico a criacutetica agraves instituiccedilotildees museais considerando aspectos tais

como o acesso os produtos e valores culturais a elas associados jaacute identificados em escritos

como os de Valery (1931) reveste-se de maior amplitude em fins do seacuteculo XX em aacutereas como a

sociologia a antropologia a histoacuteria e os estudos culturais Trecircs seacuteculos de histoacuteria das

instituiccedilotildees museais satildeo revisitados por estudos empiacutericos e quantitativos que estabelecem dados

sobre condiccedilotildees de acesso e uso dos puacuteblicos tanto no plano relacional das trocas e negociaccedilotildees

quanto no plano institucional de valores e imagens A visita e o visitante satildeo objetos de inqueacuteritos

em diferentes museus Ao estudar o visitante essas pesquisas problematizam o papel dos museus

na sociedade e as percepccedilotildees sociais de suas accedilotildees Fala-se de puacuteblico ou puacuteblicos de uma

determinada atividade cultural Nos museus o lugar do puacuteblico estaacute associado ao visitante ou

usuaacuterio e as investigaccedilotildees sobre os puacuteblicos vecircm se consolidando juntamente com outros temas

como a educaccedilatildeo e a histoacuteria em museus

Os estudos de puacuteblico segundo Esquenazi (2006) foram se estabelecendo desde a deacutecada

de 1930 quando investigadores norte-americanos comeccedilam a se interessar por traccedilos da recepccedilatildeo

dos meios de comunicaccedilatildeo massivos sob a suspeita de que o puacuteblico seria uma comunidade

provisoacuteria ou um conjunto de pessoas mais ou menos dispersas que se identificavam com as

personalidades que lhes eram apresentadas pelas transmissotildees de raacutedio Os inqueacuteritos entretanto

demonstrariam que as escolhas poliacuteticas e a opiniatildeo popular eram mais influenciadas por

personalidades locais influentes do que por recomendaccedilotildees veiculadas pela miacutedia

Esquenazi (2006) faz um balanccedilo dos estudos de puacuteblico e estabelece um mapa conceitual

das concepccedilotildees do que seja um puacuteblico a partir das pesquisas socioloacutegicas realizadas ao longo do

seacuteculo XX Satildeo identificadas sete concepccedilotildees de puacuteblico o puacuteblico ativado pela obra delimitado

pelos inqueacuteritos suscitado pelas estrateacutegias comerciais pela estratificaccedilatildeo social por

configuraccedilotildees culturais pelas interaccedilotildees sociais e por situaccedilotildees simboacutelicas O autor chega a essa

tipologia a partir da anaacutelise de obras e autores apontando possibilidades abertas pelas

interpretaccedilotildees e limites das abordagens

Interesse de pesquisa semelhante ocorre na Franccedila em fins dos anos de 1950 quando

Andreacute Malraux ministro do General de Gaulle acreditava que bastavam boas condiccedilotildees para que

42

se constituiacutesse um puacuteblico apreciador de obras de arte Pierre Bourdieu e Alain Darbel (2003)

numa pesquisa com o puacuteblico frequumlentador de museus de arte em quatro paiacuteses europeus

publicada na forma de livro com o tiacutetulo O amor pela arte apontaram que boa vontade

presumida natildeo bastava para a constituiccedilatildeo de um puacuteblico de museus Bourdieu e Darbel levantam

a hipoacutetese de que cada domiacutenio de praacuteticas culturais eacute estruturado por habitus legitimados pela

condiccedilatildeo de classe e condiccedilotildees de vida A frequecircncia a museus estaacute relacionada ao estatuto

social A probabilidade de um operaacuterio visitar um museu eacute quarenta vezes inferior agrave possibilidade

de visita de um quadro superior em escolaridade e renda

Os estudos recentes sobre o puacuteblico realizados pelos proacuteprios museus parecem ter se

afastado das perspectivas criacuteticas de Diderot Baudelaire Proust e Valery27

As pesquisas satildeo em

sua grande maioria instrumentais e fundamentadas pelas teorias da recepccedilatildeo Satildeo inqueacuteritos das

expectativas preacutevias dos aspectos que mais atraem os visitantes para determinados setores do

museu e dos conhecimentos preacutevios dos puacuteblicos Com base nesses inventaacuterios elaboram-se

programas redimensionam-se as ofertas de serviccedilos e promovem-se reformas Em geral satildeo

trabalhos preparados pelas proacuteprias equipes dos museus e especialistas consultores

pesquisadores e o puacuteblico convocado a responder aos modelos propostos

Esse paradigma da recepccedilatildeo tambeacutem vem sendo questionado com as pesquisas

historiograacuteficas sobre as praacuteticas culturais como as de Michel de Certeau (1994) e Roger Chartier

(1998) que analisam as praacuteticas de leitura e apontam para o papel produtivo dos leitores em

relaccedilatildeo ao livro e a leitura Para Certeau (1994) os leitores natildeo satildeo escritores que trabalham no

ldquosolo da linguagemrdquo mas ldquosatildeo viajantes circulam nas terras alheias nocircmades caccedilando por conta

proacutepria atraveacutes dos campos que natildeo escreveram arrebatando os bens do Egito para usufruiacute-losrdquo

As imagens evocadas pelo historiador para caracterizar o leitor satildeo marcadas por efeitos de

deslocamentos que misturam tempos e lugares uma ldquobricolagemrdquo uma relaccedilatildeo com os resiacuteduos

de construccedilotildees e destruiccedilotildees anteriores uma mitologia que se dispersa na duraccedilatildeo e desafia o

tempo disseminado em repeticcedilotildees diferenccedilas memoacuterias e conhecimentos (CERTEAU 1994

p269-270)

27 Discutidas no segundo capiacutetulo

43

Chartier (1998) por sua vez chama a atenccedilatildeo para o fato de que o leitor ldquocaccediladorrdquo que

percorre terras alheias descrito por Certeau natildeo se desloca ou subverte de forma absoluta aquilo

que o livro pretende lhe impor Sua liberdade leitora eacute ldquocercada por limitaccedilotildees derivadas das

capacidades convenccedilotildees e haacutebitos que caracterizam em suas diferenccedilas as praacuteticas de leiturardquo

(CHARTIER 1998 p77)

Do ponto de vista dos estudos filosoacuteficos tambeacutem ampliou-se o espaccedilo do leitor ao

afirmarmos que existe a possibilidade de emergir um novo significado para o texto dependendo

da posiccedilatildeo histoacuterica do leitor e de sua capacidade de diaacutelogo O leitor deixa aos poucos de ser

visto como o receptor passivo das obras e conquista um papel de produtor de sentidos Os

horizontes de expectativas dos leitores e o momento da leitura passam a integrar as anaacutelises da

posiccedilatildeo social do leitor visto como sujeito e natildeo apenas o destinataacuterio das obras sobretudo

literaacuterias28

Essas expectativas deixam de analisar a recepccedilatildeo e atribuir ao leitor um papel passivo

Abrem caminho para que sua accedilatildeo seja vista como um agir e um conhecer

Ser espectador eacute natildeo eacute condiccedilatildeo passiva que devemos transformar em atividade Eacute a

nossa condiccedilatildeo normal Aprendemos e ensinamos agimos e conhecemos tambeacutem

enquanto espectadores que ligam constantemente o que vecircem com aquilo que jaacute viram e

disseram fizeram e sonharam (RANCIEgraveRE 2010 p28)

Jacques Ranciegravere lembra o que eacute aparentemente oacutebvio o visitante produz significados e

natildeo simplesmente processa as informaccedilotildees de forma passiva (espectador emancipado) Essa

emancipaccedilatildeo estaacute associada a uma condiccedilatildeo de atividade e natildeo de passividade das accedilotildees de olhar

A aposta dessa pesquisa eacute que o visitante se insere a partir de sua presenccedila no ldquocircuito

dos museusrdquo A visita a museus se constitui em uma praacutetica cultural que se estabelece por uma

frequumlecircncia a variados museus e permite que o visitante-narrador ldquoencarnadordquo dessacralize a

cenografia do passado encenada pelos museus O uso dos museus pelos visitantes pode superar

assim a mera apropriaccedilatildeo cognitiva das propostas e sensibilidades jaacute existentes nos museus e

visitantes tornando possiacutevel por meio dos relatos escritos fotograacuteficos e orais uma nova

28 Ver COSTA Maacutercia Haacutevila Mocci da Silva Esteacutetica da recepccedilatildeo e teoria do efeito Disponiacutevel emlt

wwwdiaadiaeducacaoprgovbrgtAcesso em17 mar 2011

44

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de conhecimentos que redefinem os conceitos que circulam em ambos os

campos dos museus e das escolas

45

CAPIacuteTULO II - Visitas a museus memoacuteria e patrimocircnio dos visitantes

No primeiro capiacutetulo foram constituiacutedas as principais referecircncias teoacutericas e metodoloacutegicas

para o estudo das situaccedilotildees de visita escolar a museus Delineou-se um panorama da abordagem

investindo nos conceitos de narrativa memoacuteria presenccedila e formaccedilatildeo histoacuterica para criar uma

indumentaacuteria para o visitante emancipado que viaja entre a escola e os museus

Nesse segundo capiacutetulo tambeacutem se observa uma preocupaccedilatildeo com as bagagens para a

viagem propriamente dita providencia-se os documentos as certificaccedilotildees especiacuteficas os roteiros

novos mas tambeacutem se avalia os caminhos jaacute percorridos que estimulam investimentos em novos

caminhos e a seguranccedila do viajante

21 ndash Estudos sobre museus um balanccedilo historiograacutefico

Eacute quase lugar comum iniciar uma ldquohistoacuteria dos museusrdquo pela evocaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de

um espaccedilo dedicado agraves musas e em seguida pelo estabelecimento de uma ligaccedilatildeo estreita com a

constituiccedilatildeo de um espaccedilo ou local fiacutesico dedicado ao estudo ao conhecimento e agrave exposiccedilatildeo

puacuteblica da cultura

A origem dos museus na Franccedila estaacute associada a fatores como a demanda por abertura das

coleccedilotildees renascentistas principalmente de pinturas e esculturas restritas aos colecionadores

prelados cortesatildeos juristas eruditos artistas priacutencipes e monarcas e o museu se coloca como

um herdeiro dos ldquogabinetes de curiosidadesrdquo Na Itaacutelia por sua vez eacute desenvolvido outro

elemento fundador de uma ldquocultura do museurdquo que satildeo as accedilotildees poliacuteticas e a definiccedilatildeo de uma

legislaccedilatildeo de proteccedilatildeo ao patrimocircnio para assegurar ao museu o lugar de ldquoconservaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeordquo desse patrimocircnio artiacutestico agora de interesse puacuteblico Na Alemanha as origens

dos museus estatildeo associadas agrave abertura das coleccedilotildees privadas e agrave reivindicaccedilatildeo de um lugar para

essa produccedilatildeo no discurso universal da arte Para a institucionalizaccedilatildeo e ideia de museu

contemporacircneo confluem as demandas de ensino e pesquisas (biblioteca) ligadas a transmitir e

permitir a produccedilatildeo de conhecimento e tambeacutem o papel de guardiatildeo da memoacuteria daqueles que se

distinguiram nas atividades do espiacuterito (BREFE 1998 p298-300)

46

Entender esse conceito moderno de museu e seu uso social eacute tarefa bastante complexa e

alvo de inuacutemeros debates contemporacircneos Muitos estudos recentes costumam definir os museus

como ldquolugares de memoacuteriardquo mas trabalham com a histoacuteria das instituiccedilotildees museais a partir de

uma sequecircncia de fases ou uma tipologia que considera apenas os objetos expograacuteficos nos quais

se especializaram os museus Os museus satildeo caracterizados como de artes ciecircncias e histoacuteria e

estas especializaccedilotildees se tornam definidas e imutaacuteveis Numa genealogia dos museus os gabinetes

de curiosidades seriam os precursores dos museus de ciecircncias e arqueologia os antiquaacuterios

dariam lugar aos museus de histoacuteria e as galerias de arte privadas cederiam espaccedilo aos museus

puacuteblicos de arte

Essas analogias parecem congelar a imagem de museu e relacionaacute-la especificamente a

uma dada eacutepoca histoacuterica numa sequumlecircncia evolutiva Os criteacuterios de classificaccedilatildeo ou ldquoetiquetasrdquo

utilizados para os museus estariam dados a partir de um modelo As instituiccedilotildees natildeo seriam

consideradas em suas especificidades poliacuteticas e culturais Em funccedilatildeo de um padratildeo esperado

para os museus em geral um museu especiacutefico eacute julgado pelos estudiosos pelo criteacuterio da

inovaccedilatildeo ou natildeo de suas exposiccedilotildees como se as uacuteltimas tendecircncias da museologia fossem o

paracircmetro uacutenico para todo e qualquer museu

Os estudos sobre museus reuacutenem profissionais de diversas aacutereas como a museologia a

histoacuteria a educaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo as artes a arqueologia a sociologia dentre outras Abordam

campos de interesse comuns a diversos pesquisadores tais como o patrimocircnio as identidades

poliacuteticas as miacutedias e novas tecnologias espaccedilo urbano e arquitetura Praacuteticas profissionais e

culturais visitantes educaccedilatildeo e interaccedilatildeo tambeacutem satildeo temas contemporacircneos e emergentes dos

estudos sobre os museus

No Brasil as fontes e a bibliografia sobre a trajetoacuteria dos museus foram marcadas ateacute os

anos de 1940-1950 por produccedilotildees das proacuteprias instituiccedilotildees museoloacutegicas como a revista

Archivos do Museu Nacional editada desde 1876 e obras de referecircncia como os cataacutelogo

publicado por Heloisa Alberto Torres entatildeo diretora do Museu Nacional em 1953 intitulado

Museus do Brasil Outra referecircncia importante do periacuteodo foi a publicaccedilatildeo em 1958 do livro

coordenado e organizado por Guy de Hollanda Recursos Educativos dos Museus Brasileiros

com o apoio da Onicom ndash Organizaccedilatildeo Nacional do Conselho Internacional de Museus Neste

trabalho Hollanda traz um levantamento da situaccedilatildeo dos museus em relaccedilatildeo a acervos

47

exposiccedilotildees visitaccedilotildees atividades educativas recursos didaacuteticos organograma pessoal etc

(UNIRIO 2005)

Ao longo do seacuteculo XX obras de intelectuais ligados diretamente ou indiretamente a

museus eou oacutergatildeos governamentais de preservaccedilatildeo como Mario de Andrade (1917) Francisco

Venacircncio Filho (1941) Gustavo Barroso (1946) Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) Joseacute

Valladares (1946) Gilberto Freyre (1979) e Darcy Ribeiro (1955) dentre outros destacam-se na

produccedilatildeo de um pensamento e accedilotildees no campo da museologia e vecircm sendo estudados por

pesquisadores contemporacircneos

Destaco as contribuiccedilotildees de Francisco Venacircncio Filho (1941) Joseacute Valladares (1946) e

Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) que delineiam marcos de interpretaccedilatildeo da relaccedilatildeo museu-

educaccedilatildeo no Brasil e agiram diretamente na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de

criaccedilatildeo de museus e na concepccedilatildeo e planejamento de accedilotildees educativas nos museus brasileiros

Estes autores lanccedilam obras nos anos de 1940 que teratildeo influecircncia teoacuterica ateacute os anos de 1970 na

criaccedilatildeo de museus histoacutericos e pedagoacutegicos em Satildeo Paulo29

Entre os anos de 1960-1970 predomina a publicaccedilatildeo de coleccedilotildees de divulgaccedilatildeo sobre os

grandes museus europeus no formato de cataacutelogos vendidos em bancas de jornais e revistas A

pesquisa acadecircmica propriamente dita com a elaboraccedilatildeo de monografias dissertaccedilotildees e teses

com posicionamentos criacuteticos questionadores e reflexivos se intensificou no Brasil a partir dos

anos 1980 e se amplia nas deacutecadas seguintes

Autores como Waldisa Russio Camargo Guarnieri (1977 1980) Maria Margaret Lopes

(1988 e 1993) Maria Ceacutelia Moura Santos (1987 1993 e 1996) Regina Abreu (1996) Cristina

Bruno (1996) Maria Ceciacutelia Lourenccedilo (1997) Mario Chagas (1999 e 2003) Ulpiano Bezerra de

Menezes (1992 1994 2004 2005 e 2007) marcam a riqueza dessa produccedilatildeo e apontam temas

como a institucionalizaccedilatildeo dos museus de ciecircncias as accedilotildees educativas o colecionismo o

patrimocircnio a memoacuteria social a arte e a museologia como outros caminhos de investigaccedilatildeo que

seriam abertos por novas pesquisas e percorridos por novos pesquisadores em universidades do

paiacutes e em cursos no exterior

29 Ver CAMPOS Vinicio Stein Elementos de Museologia 1ordm e 3degvolume se 1970

48

Um levantamento bibliograacutefico realizado pelo CECA30

em 2007 apontava ao mesmo

tempo a abrangecircncia e a dispersatildeo dessa produccedilatildeo sobre os museus A divulgaccedilatildeo dessa

produccedilatildeo bibliograacutefica continuaria em grande parte ligada agraves revistas dos oacutergatildeos oficiais de

patrimocircnio (IPHAN e ICOM) e publicaccedilotildees proacuteprias dos grandes museus centros culturais e de

memoacuteria Algumas poucas divulgadas pelos programas de poacutes-graduaccedilatildeo de diversas aacutereas que

pesquisam a temaacutetica

Contudo estudos sobre trajetoacuterias de museus brasileiros ou uma chamada historiografia

dos museus vem se aprofundado em abordagens teoacutericas-metodoloacutegicas e temaacuteticas tais como o

papel das proacuteprias instituiccedilotildees museoloacutegicas na elaboraccedilatildeo da cultura material a anaacutelise dos

quadros referenciais que vatildeo se fixando para organizaccedilatildeo de coleccedilotildees e exposiccedilotildees os modelos

organizacionais concepccedilotildees de diretores e profissionais envolvidos em propostas de

musealizaccedilotildees e seus desdobramentos

Em um esforccedilo de leitura e siacutentese dessa bibliografia pode-se indicar trecircs impulsos

poliacuteticos de criaccedilatildeo de museus no Brasil Um primeiro que vai do iniacutecio do seacuteculo XIX ateacute a

deacutecada de 1930 Um segundo momento localizado entre as deacutecadas de 1930 e 1950 e por fim

um terceiro movimento de criaccedilatildeo de museus entre a segunda metade do seacuteculo XX e primeiras

deacutecadas do seacuteculo XXI

No seacuteculo XIX os atos fundadores dos primeiros museus comeccedilando pelo Museu Real

(1818) criado por D Joatildeo VI e aberto ao puacuteblico em 181931

contribuem para a emergecircncia de

uma nova sociabilidade e a redefiniccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e de um puacuteblico espectador As visitas

ao Museu Real entre 1818 e 1821 eram privileacutegio de curiosos estudiosos e autoridades

A primeira exposiccedilatildeo do Museu Real aberta ao puacuteblico em 1821 tinha a visitaccedilatildeo e o uso

do espaccedilo regulado por uma Portaria Real que definia quem era o visitante digno de frequumlentar o

museu aquele que possuiacutea conhecimentos e qualidades (educados) O ambiente do Museu era de

estudo e contemplaccedilatildeo o visitante deveria manter a calma Presenccedila do guarda de sala (praacutetica

ainda usual) zelava pela ordem e controlava os comportamentos dos visitantes O acesso a

30 O CECA-BRASIL eacute formado pelos membros brasileiros afiliados ao Comitecirc Internacional para Accedilatildeo Educativa e

Cultural (CECA) do Conselho Internacional de Museus (ICOM) Disponiacutevel em lt wwwicomorgbrgt 31

Transformado posteriormente em Museu Imperial e hoje Museu Nacional da quinta da Boa Vista integrado agrave

estrutura acadecircmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro Ver material produzido pelo proacuteprio Museu

Nacional do RJ e trabalhos sobre a instituiccedilatildeo como LOPES (1997) e CHAGAS (1999)

49

algumas salas era restrito assim como havia dias de abertura e horaacuterios para diferentes puacuteblicos

A prioridade era dada ao visitante estrangeiro e pesquisador (LOPES 1999)

Na deacutecada de 1860 haacute uma diversificaccedilatildeo das instituiccedilotildees que fundam museus No Rio de

Janeiro satildeo criados os Museu do Exeacutercito (1864) e Museu da Marinha (1868) No Paraacute o Museu

Paraense Emiacutelio Goeldi eacute criado como Sociedade Filomaacutetica em 1866 e o Museu Paulista em

Satildeo Paulo em 1895

Essa geraccedilatildeo de museus do seacuteculo XIX ainda que pareccedila regional como o Museu

Paulista satildeo considerados museus nacionais agrave medida que colaboram para a construccedilatildeo ritual e

simboacutelica da naccedilatildeo Curioso notar que essa mesma bibliografia trata pouco ou quase nada sobre

o projeto de criaccedilatildeo do museu do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro instituiacutedo pelo

mesmo decreto de criaccedilatildeo do IHGB em 1838 instalado e aberto atualmente agrave visitaccedilatildeo na sede

do proacuteprio Instituto Histoacuterico no Rio de Janeiro

No iniacutecio do seacuteculo XX esse caraacuteter celebrativo dos museus brasileiros do seacuteculo XIX se

propaga a partir do Rio de Janeiro para estados e museus como o Juacutelio de Castilhos (1903)

Museu Anchieta (1908) no Rio Grande do Sul Pinacoteca Puacuteblica do Estado (1906) em Satildeo

Paulo e o Museu de Arte da Bahia (1918) E chega a criaccedilatildeo por Gustavo Barroso do Museu

Histoacuterico Nacional (MHN) em 1922 (CHAGAS 1999 p36) Um segundo momento de criaccedilatildeo

de museus eacute identificado nas deacutecadas de 1930 1940 e 1950 por iniciativa de empresaacuterios os

chamados Museus de Arte Moderna (MAMs) do Rio de Janeiro (MAM 1948) e Satildeo Paulo

(MASP 1947) e os natildeo instalados ldquomuseus histoacutericos e pedagoacutegicosrdquo em Satildeo Paulo

Ao longo das deacutecadas de 1930-1950 haacute um consideraacutevel impulso na criaccedilatildeo de museus32

a maioria ainda em plena atividade A criaccedilatildeo do Curso de Museus em 1932 vinculado ao MHN

embora inicialmente fosse apenas um aperfeiccediloamento de dois anos e exigisse como preacute-requisito

cinco anos de escolaridade baacutesica eacute considerado pelos pesquisadores de museus como importante

na profissionalizaccedilatildeo do campo e organizaccedilatildeo da museologia Por fim tem-se um terceiro

32 Dentre outras foram criados a Casa de Rui Barbosa ndash RJ (1930) Museu da Veneraacutevel Ordem Terceira de Satildeo Francisco da Penitecircncia ndash RJ (1933) Museu Histoacuterico da Cidade ndash RJ (1934) Museu Nacional de Belas Artes ndash RJ

(1937) Museu da Inconfidecircncia ndash Ouro Preto (1938) Museu da Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Gloacuteria do

Outeiro ndash RJ (1939) Museu Imperial ndash Petroacutepolis (1940) Museu das Missotildees ndash RS (1940) Museu Antonio Parreiras

ndash Niteroacutei (1941) Museu Histoacuterico de Belo Horizonte (1943) Museu do Ouro de Sabaraacute (1945) Museu da Veneraacutevel

Ordem Terceira do Carmo ndash RJ (1945) Museu de Arte Moderna de Satildeo Paulo (1946) Museu de Arte Moderna ndash RJ

(1948) Museu do Iacutendio ndash RJ (1953) Museu Oceanograacutefico ndash RS (1953) e Museu Farroupilha ndash PR (1954) (UNIRIO

2007)

50

movimento de criaccedilatildeo de museus que marca as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo

XXI Aleacutem dos museus existentes haacute outro cenaacuterio de aumento do nuacutemero de museus

investimentos dos setores privados na construccedilatildeo de museus e financiamento de projetos culturais

voltados ao turismo cultural e a revitalizaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural de centros

urbanos e industriais e a tecnologias virtuais

Uma das questotildees ao se pensar a historicidade dos museus eacute discutir ateacute que ponto as

trajetoacuterias dos museus brasileiros obedecem eou dialogam com os modelos europeus e latino-

americanos E mais de que forma as trajetoacuterias institucionais ajudam na compreensatildeo das

praacuteticas museais em relaccedilatildeo aos puacuteblicos Autores como Ulpiano Bezerra de Menezes Maria

Margaret Lopes Lilia Moritz Schwarcz e Maria Ceciacutelia Lourenccedilo reuacutenem algumas polecircmicas em

torno da questatildeo da criaccedilatildeo de museus no Brasil a partir do seacuteculo XIX e algumas praacuteticas de

produccedilatildeo e circulaccedilatildeo da cultura museal

Para Ulpiano Bezerra de Menezes (2005 p16) as trajetoacuterias dos museus brasileiros em

especial dos chamados museus histoacutericos foram distintas do paradigma europeu e mais proacuteximas

do modelo norte-americano Para o autor a visatildeo que se consolida a respeito dos museus no

seacuteculo XIX se eacute que pode ser considerada iluminista desemboca numa estetizaccedilatildeo do social e na

transformaccedilatildeo da histoacuteria em espetaacuteculo Os museus brasileiros satildeo mais evocativos e

celebrativos do que os europeus e a funccedilatildeo de produccedilatildeo do conhecimento eacute marginalizada A

memoacuteria eacute reduzida a instrumento de enculturaccedilatildeo paradigmas a priori definidos e que circulam

em vetores sensoriais (MENEZES 2005 p16)

Maria Margaret Lopes em O Brasil descobre a pesquisa cientiacutefica os museus e as

ciecircncias naturais no seacuteculo XIX publicado em 1997 apresenta uma visatildeo distinta dos museus

principalmente daqueles de histoacuteria natural A autora contribui com novas orientaccedilotildees para se

escrever uma historiografia das ciecircncias como praacutetica social e revisita as atividades cientiacuteficas no

Brasil desde a colocircnia inserido-as em uma dinacircmica cultural mais abrangente Daiacute quando

confrontada com uma ldquovasta literatura interdisciplinar internacionalrdquo sobre os aspectos histoacutericos

das instituiccedilotildees museoloacutegicas Lopes aprofunda temas teoacuterico-metodoloacutegicos sobre a histoacuteria dos

museus aspectos comunicativos expositivos educacionais e cientiacuteficos antes pouco

considerados no Brasil e reinscreve os museus numa nova dinacircmica

51

Ao avaliar o debate sobre as origens dos museus nos Estados Unidos Lopes estimula a

reflexatildeo sobre as diferentes fases das histoacuterias dos museus como uma forma ldquoinstigante de pensar

os museus como locais em que a cultura material eacute elaborada exposta comunicada e

interpretadardquo (2005 p15) Uma das questotildees abordadas pela autora eacute a maneira como se

formavam as coleccedilotildees e ateacute que ponto essas coleccedilotildees se relacionavam com a formaccedilatildeo do campo

da Histoacuteria Natural e das ciecircncias modernas e como ajudam na compreensatildeo dos processos

contemporacircneos de construccedilatildeo de museus cientiacuteficos

Lopes apresenta um movimento dos museus de histoacuteria natural no seacuteculo XIX indicando

que se formara em torno do American Association of Museums33

um circuito de intercacircmbio que

incluiacutea comunicaccedilatildeo coleccedilotildees cataacutelogos pesquisadores e disputas cientiacuteficas sociais e poliacuteticas

incluindo museus diferentes tais como o Museu Paulista e o Museu Paraense o Museu

Nacional o Museu de Valparaiso o Museu de La Plata o Museu de Buenos Aires e o Museu da

Costa Rica Um verdadeiro ldquomovimentordquo de museus emerge da anaacutelise de Margaret Lopes (1997

p223-247)

Ao investigar como se datildeo as periodizaccedilotildees e criteacuterios de mudanccedila e permanecircncia nos

ldquosistemas museaisrdquo na Ameacuterica Latina e nos Estados Unidos Margaret Lopes considera que o

panorama mundial dos museus entre as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX e as primeiras do seacuteculo

XX apontava que natildeo era tatildeo simples submeter os museus a tipologias anacrocircnicas e classificaacute-

los de acordo com as divisotildees propostas Ela identifica pelas publicaccedilotildees e correspondecircncias

entre diretores de museus que nesse periacuteodo houve a formaccedilatildeo de um ldquocircuito dos museusrdquo

internacional que incluiacutea trocas entre os museus de histoacuteria natural argentino (Museu de La Plata)

e o Bristish Museum no sentido de criar uma nova instituiccedilatildeo que rompia com o ldquogabinete de

curiosidadesrdquo e apontava para a instituiccedilatildeo de um ldquomoderno museu cientiacuteficordquo (LOPES 1997

p323)

Esse novo referencial de museu que se transformava vinculado ao Estado teria uma dupla

funccedilatildeo colaborar com a educaccedilatildeo e com a investigaccedilatildeo cientiacutefica O que natildeo se faria sem certa

tensatildeo que ainda marcaria por muito tempo as discussotildees acerca do conhecimento As coleccedilotildees

seriam divididas uma para a pesquisa outra para exibiccedilatildeo ao puacuteblico leigo Esse referencial

33 Sobre a importacircncia desse movimento Margaret Lopes faz uma leitura criacutetica das contribuiccedilotildees de Laurence Vail

Coleman que publica em 1939 The museum in America a critical study e de Oroz J J que retoma criticamente

Colemam ao discutir a curadoria numa perspectiva tambeacutem histoacuterica Ver Lopes 2005 p15-17

52

vigoraria inclusive no Museu Nacional do Rio de Janeiro ateacute a deacutecada de 1930 (LOPES 2005

p22)

A autora avanccedila na anaacutelise desses intercacircmbios entre os diretores de museus brasileiros e

argentinos e indica como essa discussatildeo contribuiu para a definiccedilatildeo de disciplinas como a

antropologia a paleontologia e arqueologia e ao mesmo tempo aponta as ldquomissotildees cientiacuteficas e

civilizadoras desses museus em fins do seacuteculo XIX (LOPES 2001)

Lilia Schwarcz (2005 p124-126) considera que o surgimento dos museus nacionais de

ldquoetnografiardquo no Brasil a partir da deacutecada de 1870 estaacute relacionado ao estabelecimento de outras

instituiccedilotildees cientiacuteficas apoacutes a vinda da Famiacutelia Real como as faculdades de Medicina e Direito e

aos Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos Para ela esses museus satildeo coacutepia dos modelos europeus e

estabeleceram uma praacutetica bastante isolada em relaccedilatildeo aos demais estabelecimentos cientiacuteficos

nacionais Fruto de um saber determinista frente aos modelos evolucionistas e darwinistas sociais

presentes no debate intelectual da eacutepoca procuravam encontrar nas culturas indiacutegenas e africanas

(raccedilas) e na miscigenaccedilatildeo a comprovaccedilatildeo do atraso do paiacutes (SCHWARCZ 2005 p124-126)

As soluccedilotildees apontadas por Lopes e Schwarcz para a questatildeo da circulaccedilatildeo dos modelos de

museu se inscrevem em duas tradiccedilotildees34

de interpretaccedilatildeo historiograacutefica que atribuem pesos

diferentes agrave capacidade de elaboraccedilatildeo e autonomia de um pensamento social brasileiro Enquanto

a pesquisa de Lopes (1997) postula que a compreensatildeo das relaccedilotildees sociais e culturais implica na

reflexatildeo sobre a histoacuteria das instituiccedilotildees cientiacuteficas e culturais e contribui para a superaccedilatildeo do

passado colonial e a vinculaccedilatildeo aos projetos de modernidade ocidental Schwarcz (2005)

identifica os obstaacuteculos que dificultam e impedem internamente o desenvolvimento de um

pensamento autocircnomo e um desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico da sociedade brasileira

O debate aberto em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees museais pode ser estendido aos visitantes De

que maneira modelos diferentes de museu circulam na cultura e como os visitantes se posicionam

frente a eles Enquanto Lopes (1997) dialoga com o campo cientiacutefico Maria Ceciacutelia Lourenccedilo

(1999) discute a criaccedilatildeo dos Museus de Arte Moderna na deacutecada de 1950 frente ao quadro de

permanecircncias e mudanccedilas da proacutepria histoacuteria da arte e das relaccedilotildees entre o museu modernista a

poliacutetica o poder os intelectuais os artistas as universidades a formaccedilatildeo de puacuteblico e a produccedilatildeo

34 Moema de Resende Vergara discute a constituiccedilatildeo de duas vertentes historiograacuteficas da ciecircncia no seacuteculo XX Ver

VERGARA (2004)

53

de conhecimento A autora oferece algumas imagens de museu que satildeo expressivas de nossa

eacutepoca museu vivo museu escola museu comunitaacuterio museu espetaacuteculo e museu shopping se

enlaccedilam agraves diversas tipologias de projetos socioculturais no cotidiano dos museus

Ao trabalhar o conceito de museu Lourenccedilo (1999) evoca de maneira recorrente a

situaccedilatildeo e trajetoacuteria dos museus de arte brasileiros e aponta duas questotildees A primeira eacute a

distacircncia existente entre o declarado e a praacutetica cotidiana ou seja entre a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees

e seu funcionamento regular e atual A segunda questatildeo eacute a vitalidade das instituiccedilotildees histoacutericas

que mesmo enfrentando problemas para se manterem em funcionamento contribuem na

construccedilatildeo de conceitos recolha de obras e manteacutem o diaacutelogo com as matrizes e valores tambeacutem

expostos

Uma instituiccedilatildeo museal sempre se reinventa em sua proacutepria dinacircmica O acervo de cada

instituiccedilatildeo eacute um exemplo Se o museu possui acervo ou natildeo se recebe um acervo internacional

os valores e pressupostos jaacute inventados sobre esse acervo influenciam na relaccedilatildeo que essa

instituiccedilatildeo estabelece com sua proacutepria condiccedilatildeo e com o puacuteblico Os valores ou criteacuterios de

inclusatildeo e exclusatildeo de acervos nos museus de arte satildeo subjetivos e discutiacuteveis meacuteritos

recebimentos de precircmios internacionais origem social geograacutefica proximidade com o poder

vigente aleacutem de outros que permeiam a cultura como a xenofobia o corporativismo o nepotismo

e mecanismos de troca impliacutecita para angariar proveitos pessoais satildeo as bases para os objetos e

obras adquiridos e expostos nos museus Lourenccedilo natildeo eacute nada otimista quando aos tipos de troca

que podem ocorrer para a formaccedilatildeo de determinados museus que por sua vez manteacutem esse

circuito em aberto ao longo de suas trajetoacuterias (LOURENCcedilO 1999 p20-62)

Ana Claudia Fonseca Brefe (1998) apoacutes um balanccedilo do conceito de museu desde a

renascenccedila ateacute o seacuteculo XIX em diaacutelogo com uma bibliografia francesa conclui que o conceito

de museu vai se adequando a diferentes materialidades e instituiccedilotildees como os gabinetes de

curiosidades que satildeo inicialmente coleccedilotildees privadas se transformam agrave medida que passam a

discutir o uso cientiacutefico e pedagoacutegico de suas coleccedilotildees a abertura ao puacuteblico arquitetura

disposiccedilatildeo dos objetos e objetivos Os debates historiograacuteficos em torno da instituiccedilatildeo museal

tambeacutem partem de interesses do presente relativos a disputas por memoacuterias e patrimocircnio

54

22 ndash Plano de visitas e aprendizagem histoacuterica em museus

As funccedilotildees de um museu na contemporaneidade satildeo muacuteltiplas fruiccedilatildeo esteacutetica viacutenculos

subjetivos condiccedilotildees de recolhimento e de diaacutelogos culturais multiplicados Entretanto o museu

histoacuterico eacute ao mesmo tempo um espaccedilo de ficccedilatildeo e de confronto mas impera o diaacutelogo quando

enfrenta a questatildeo da multiculturalidade Para Menezes (1994) o museu natildeo eacute enciclopeacutedia de

diversidade cultural Nele imaginaacuterio e imaginaccedilatildeo satildeo campos de forccedila mas os problemas em

relaccedilatildeo agraves praacuteticas dos sujeitos se datildeo de maneira ampla na sociedade e natildeo em abstrato nas

exposiccedilotildees museoloacutegicas

Os usos do potencial da imaginaccedilatildeo nos museus podem ser instrumentalizados numa

ideologia do valor em si dos ldquonovos museusrdquo Esses novos ideaacuterios de museus justificam a

revitalizaccedilatildeo de espaccedilos urbanos que se sobrepotildeem a outros que satildeo desfigurados Ultrapassam-

se as fronteiras culturais da induacutestria do lazer e do retorno do investimento e transcendem os

interesses locais voltando-se para visitantes estrangeiros numa adesatildeo agrave loacutegica de mercado O

proacuteprio museu se apresenta como forma de explorar um imaginaacuterio da cidade com praacuteticas de

utilizaccedilatildeo do seu espaccedilo e de suas forccedilas sociais Os objetos histoacutericos satildeo peccedilas-fetiche

Aleacutem da criacutetica aos museus-mercados Menezes (1994) tambeacutem eacute criacutetico dos museus

teatro da memoacuteria que por sua orientaccedilatildeo paternalista pressupotildee a passividade do espectador e a

hegemonia do paradigma observacional fundamentado na espetacularidade Para ele o

laboratoacuterio de Histoacuteria eacute o museu que torna viaacutevel a produccedilatildeo e socializaccedilatildeo do conhecimento

(MENEZES 1994 p62)

As investigaccedilotildees sobre a educaccedilatildeo histoacuterica em museus tecircm se debruccedilado sobre temas tais

como parcerias institucionais com escolas desenvolvimento de projetos e oferta de serviccedilos

educativos por parte dos museus A pesquisa sobre o ensino tambeacutem ganha forccedila e aponta que as

dimensotildees do processo de ensino- aprendizagem natildeo se reduzem a questotildees teacutecnicas ou de cunho

metodoloacutegico A ldquodidaacutetica da histoacuteriardquo eacute colocada por autores com Ruumlsen (2007) junto agrave ldquoteoria

da histoacuteriardquo

De outro acircngulo as discussotildees sobre o ensino de histoacuteria no Brasil sempre foram

vinculadas a projetos de formaccedilatildeo de uma identidade nacional tendo o Estado como maior

promotor dessa associaccedilatildeo O ensino de histoacuteria e identidade nacional se vincularam nos

55

curriacuteculos de histoacuteria prescritos desde o iniacutecio do seacuteculo XX e se manteacutem nas atuais diretrizes

para o sistema nacional de ensino

A criacutetica teoacuterica e praacutetica aos modelos oficiais tambeacutem se constitui como parte do debate

sobre o ensino de histoacuteria e se faz de maneira institucionalizada por professores de histoacuteria e suas

associaccedilotildees principalmente nos anos de 1960-70 Os professores tomam a discussatildeo sobre a

identidade e a ressignificam A educaccedilatildeo escolar e o ensino de histoacuteria satildeo vistos como espaccedilos

para se pensar identidades e pluralidades culturais pelo vieacutes da diversidade entendida num

quadro de desigualdades sociais e dominaccedilatildeo poliacutetica (SILVA E GUIMARAtildeES 2007 p58)

Este movimento de reflexatildeo em torno das identidades nacionais vem reposicionando a noccedilatildeo

de alteridade frente agraves tendecircncias globalizantes e provoca a reorganizaccedilatildeo curricular que vem se

fazendo na Europa e que reconhece explicitamente a dimensatildeo do estudo do patrimocircnio como

parte essencial da educaccedilatildeo para a cidadania (BARCA 2003 p100)

Ramos (2004 p15) discute que a ida ao espaccedilo museoloacutegico implica necessariamente

efetuar atividades educativas questionamentos e maneiras teoricamente fundamentadas de

aguccedilar a percepccedilatildeo para os objetos das exposiccedilotildees e a vinculaccedilatildeo entre o mundo dos artefatos

Para o citado autor a histoacuteria estaacute presente nos objetos e estes podem ser instrumentos para um

posicionamento no presente Os conflitos com os objetos de uso dos museus (objeto gerador)

produzem cultura fazem a ponte entre a memoacuteria coletiva e individual faz lembrar e ler a

materialidade das coisas na proacutepria problemaacutetica histoacuterica (2004 p19-30)

O foco central da pesquisa sobre visitas educativas a museus neste sentido indicado por

Ramos (2004) aponta para os usos e apropriaccedilotildees do patrimocircnio cultural musealizado As

escolas utilizam posturas investigativas em relaccedilatildeo ao patrimocircnio Muitas praacuteticas escolares de

visitas levantam justificativas quanto agrave relevacircncia de atitudes de avaliaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

histoacuteria local e aprofundam maneiras de atuar e interagir em relaccedilatildeo a seleccedilotildees de objetos

valores crenccedilas que se processam cotidianamente na sociedade A partir das visitas a museus

questiona-se o conceito de ldquopatrimocircnio histoacutericordquo natildeo como um meio ou recurso para conhecer

ou fazer histoacuteria mas como a proacutepria histoacuteria evidenciada nas persistecircncias visiacuteveis do passado

que o presente outorga valores (HERNANDEZ 2003 p456-458)

O patrimocircnio pode ser considerado a expressatildeo de identidades e sua apropriaccedilatildeo favorece

a construccedilatildeo de valores tais como respeito ao entorno e ao pertencimento a uma comunidade de

56

sentido ou tradiccedilatildeo Pode possibilitar o exerciacutecio de um pensamento criacutetico capaz de situar

historicamente as evidecircncias e dotaacute-las de novos significados sociais poliacuteticos e culturais Por

fim a relaccedilatildeo com o patrimocircnio museal desencadeia accedilotildees de construccedilatildeo do conhecimento

histoacuterico e ampliaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica (GONZALEZ 2004)

A aprendizagem em museus estaacute focada em dois eixos na potecircncia patrimonial de

coleccedilotildees e objetos e na potecircncia comunicativa das instituiccedilotildees em estabelecer planos e programas

puacuteblicos educativos que combinam diversas dimensotildees do cenaacuterio natildeo formal (natildeo escolares) do

museu e aspectos da cultura mais amplos

Pesquisas acadecircmicas sobre educaccedilatildeo em museus satildeo bastante numerosas35

mas natildeo se

constituem em torno de um campo especiacutefico de investigaccedilatildeo organizado em referecircncias teoacutericas

e metodoloacutegicas soacutelidas Predomina o diaacutelogo com vaacuterias aacutereas acadecircmicas o que torna o esforccedilo

para visualizar o conjunto dessa produccedilatildeo ou mesmo avaliar as tendecircncias e perspectivas

adotadas por cada pesquisa um trabalho relativamente difiacutecil De um modo geral as pesquisas

sobre museus parecem obedecer agrave mesma loacutegica das demais temaacuteticas nas poacutes-graduaccedilotildees Ainda

prevalecem as dissertaccedilotildees de mestrado com um aumento dos douramentos entre 1987- 2008 Em

sua quase totalidade satildeo realizadas nas instituiccedilotildees puacuteblicas federais e estaduais e nem sempre

contam com financiamentos de agecircncias de fomento As instituiccedilotildees que possuem maior nuacutemero

de pesquisas satildeo a UNIRIO USP UFMG UNICAMP e FGV-RJ

Os referenciais bibliograacuteficos de cada autor indicam diaacutelogos preferenciais internos agrave sua

aacuterea de conhecimento acadecircmico Entre as autoras citadas ao longo do capiacutetulo temos como

exemplo a combinaccedilatildeo de trecircs formaccedilotildees acadecircmicas distintas e atuaccedilatildeo em museus nas aacutereas de

ciecircncias naturais artes e histoacuteria respectivamente Maria Margaret Lopes (1988) Maria Ceciacutelia

Lourenccedilo (1997) e Ana Claudia Brefe (1998 e 2005) Cada pesquisadora dialoga internamente

com a bibliografia de sua aacuterea especiacutefica

Cada aacuterea acadecircmica que tematiza sobre o Museu tambeacutem o faz a partir de questotildees

especiacuteficas que interferem na proacutepria definiccedilatildeo de museu A histoacuteria como aacuterea acadecircmica pensa

no museu como instituiccedilatildeo como ldquolugar de memoacuteriardquo A antropologia por sua vez concebe o

museu como um campo de pesquisa no qual eacute possiacutevel o trabalho etnograacutefico com coleccedilotildees As

35 Carina Martins Costa (2008) identificou 98 pesquisas acadecircmicas desenvolvidas no Brasil sobre educaccedilatildeo em

museus

57

ciecircncias bioloacutegicas identificam no museu um divulgador do campo cientiacutefico A aacuterea de

comunicaccedilatildeo vecirc o museu como miacutedia veiacuteculo de divulgaccedilatildeo Muitos pesquisadores tambeacutem

utilizam a documentaccedilatildeo existente nos arquivos e acervos iconograacuteficos sem necessariamente

tomarem o proacuteprio museu como objeto de anaacutelise ou mesmo desconsiderando a origem dessas

fontes

O enfoque dessa pesquisa natildeo desconsidera a trajetoacuteria administrativa e cultural de cada

instituiccedilatildeo museoloacutegica e a constituiccedilatildeo de suas respectivas coleccedilotildees Ao contraacuterio estes satildeo

aspectos fundamentais para o entendimento da histoacuteria presente de cada museu embora natildeo

estejam presentes nas exposiccedilotildees puacuteblicas que eles promovem Como demonstram as pesquisas

realizadas por Brefe (2005) acerca do Museu Paulista e Pimentel (2004) sobre o Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto a histoacuteria das instituiccedilotildees museais permite estabelecer referecircncias sobre os

padrotildees que se fixaram ou se modificam em suas poliacuteticas de exibiccedilatildeo

A abordagem dos museus pelos usos feitos pelos visitantes por sua vez natildeo pode temer

ou condenar uma apropriaccedilatildeo utilitaacuteria de seus espaccedilos Trabalhar com os usos promovidos pelos

visitantes eacute considerar que as estrateacutegias autorizadas pelas chamadas visitas de estudo ou estudos

do meio36

ainda satildeo centrais tanto para museus quanto para as escolas Nesses casos os setores

educativos definem metodologias especiacuteficas para se explorar os espaccedilos visitados

principalmente um roteiro de observaccedilatildeo elaborado para os professores e que pretende orientar a

visita A visita escolar busca se diferenciar do lazer e do consumo que natildeo satildeo legitimados Os

locais a serem visitados satildeo predeterminados e obedecem a um cronograma e agendamento que

natildeo permitem mudanccedilas ou alternativas

O visitante de museus eacute interpelado duplamente por aquilo que o motiva individualmente

e pela oferta institucional Ele faz escolhas expressa gostos opiniotildees e negocia com os colegas

professores prestadores de serviccedilos Haacute em qualquer visita uma dimensatildeo de cidadania e de

consumo imbricadas

36 Um discurso muito presente nos planejamentos das visitas a locais como praccedilas e museus eacute da formaccedilatildeo de

competecircncias de leitura de fontes visuais ou cenaacuterio para conteuacutedos histoacutericos trabalhados em sala de aula Ver

Bittencourt 2009 p281

58

Um visitante natildeo se reduz a receptor passivo do quadro normativo referente oferecido

pelos museus e pelas escolas37

A negociaccedilatildeo de sentidos se daacute de maneira complexa Durante a

visita ele considera questotildees de acesso processos culturais num amplo quadro de significaccedilatildeo

que implica em novas praacuteticas interpretaccedilotildees e formas de uso dos bens culturais

A anaacutelise das praacuteticas portanto natildeo pode aceitar os limites dos modelos institucionais e

nem a correlaccedilatildeo inexoraacutevel entre capital cultural escolar e habitus como determinantes das

visitas38

Assim cada visita acontece em um quadro normativo referente de processos de

socializaccedilatildeo familiar e escolar e na complexidade da realidade empiacuterica de cada visitante Os

paradoxos da anaacutelise satildeo muacuteltiplos diante da complexidade do problema de pesquisa proposto

A mensagem expositiva dos museus segundo Asensio e Pol (2007) existe na medida em

que eacute recriada por cada visitante Ele a constroacutei a partir de seus conhecimentos preacutevios suas

habilidades cognitivas e sentindo o impacto expositivo atraveacutes de atitudes emoccedilotildees e afetos

Entender as experiecircncias de visita implica em questionar o que cada exposiccedilatildeo oferece ao

visitante e como o visitante distingue suas marcas suas convenccedilotildees e coacutedigos O visitante ao

fazer uma leitura do museu aponta para a poliacutetica inscrita em cada gesto da instituiccedilatildeo e para a

poeacutetica presente na exposiccedilatildeo e que lhe permite sempre manter em aberto o espaccedilo da

significaccedilatildeo

23- Praacuteticas de formaccedilatildeo produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos

Inverter a ordem dos discursos tomando o puacuteblico-visitante estudantes de graduaccedilatildeo em

Histoacuteria como os sujeitos dos quais se parte para investigar as interfaces entre as dinacircmicas

socioculturais de visita a museus e as dinacircmicas de formaccedilatildeo histoacuterica eacute uma contribuiccedilatildeo

pretendida por essa pesquisa

Duas referecircncias ajudam a estabelecer inicialmente contatos entre o tema das visitas a

museus e da formaccedilatildeo histoacuterica dos visitantes a questatildeo dos sujeitos e da produccedilatildeo de

conhecimentos Eacute possiacutevel compor uma anaacutelise da dinacircmica e diversidade das situaccedilotildees vividas

quando de uma visita e articulando-as a partir das elaboraccedilotildees dos sujeitos envolvidos nessas

37 Assim como os museus as escolas tambeacutem modificam suas abordagens das visitas a museus Ver dentre outros os

trabalhos de Denise Grinspum (2000) e Maria Cristina Carvalho (2005) 38

Ver discussatildeo de Luciana Sepuacutelveda Koptcke (2005 p190)

59

situaccedilotildees de formaccedilatildeo Para que essa articulaccedilatildeo aconteccedila o foco da investigaccedilatildeo satildeo os sentidos

elaborados pelos sujeitos a partir de dentro do proacuteprio processo de formaccedilatildeo em sua

materialidade e de seus significados para os envolvidos na interaccedilatildeo estudantes de graduaccedilatildeo em

Histoacuteria seus professores-formadores e os profissionais de museus

A hipoacutetese teoacuterica sobre a produccedilatildeo de conhecimentos a ser investigada relaciona-se ao

que Bernard Charlot (2000 p68) denomina de ldquonatureza epistecircmica dos saberes dos sujeitosrdquo

definidos como um conjunto de relaccedilotildees e processos nos quais o sujeito manteacutem a dinacircmica do

desejo da busca de si mesmo aberto ao outro e ao mundo e natildeo eacute reduzido agrave pulsatildeo em busca do

objeto O sujeito mobiliza-se reuacutene forccedilas e faz uso de si proacuteprio como recurso engaja-se em

atividades movimenta-se produz inteligibilidade e sentidos (CHARLOT 2000 p51-89)

As visitas ainda que marcadas por um ritmo escolar e pelas accedilotildees poliacuteticas prescritas por

cada museu permitem aos visitantes uma experiecircncia esteacutetica de muacuteltiplos deslocamentos Na

condiccedilatildeo de estudantes eacute possiacutevel experimentar um movimento que natildeo eacute aquele do cotidiano

escolar do trabalho pontuado pela cadecircncia dos calendaacuterios e horaacuterios Nos museus os tempos

dos processos pedagoacutegicos e de formaccedilatildeo se apresentam mais flexiacuteveis como uma poeacutetica O

visitante suspende o instante presente e pode ser tomado pelo jogo da multiplicidade de vozes

sentidos e papeacuteis Brincar de quebra-cabeccedila de detetive e jogar o jogo da memoacuteria eacute permitido e

estimulado em museus39

Haacute limites por certo nas possibilidades interpretativas das visitas escolares pois natildeo se

trata de um espaccedilo completamente livre de contingecircncias e aberto a experiecircncias do inteiramente

novo Ainda que extrapole os limites do ambiente escolar a visita a museus guarda muito das

caracteriacutesticas de ldquotrabalho escolarrdquo no sentido que lhe imprime Perrenoud (1994) como parte da

escolarizaccedilatildeo e dos saberes escolares Os visitantes estudantes e professores estatildeo duplamente

limitados pelas suas proacuteprias expectativas e objetivos e tambeacutem por aqueles dos agentes de

museus

Entende-se como narrativa dos museus os pontos de vista expressos na fala de seus

monitores materiais educativos e poliacuteticas dos setores educativos e exposiccedilotildees Em toda a praacutetica

museal se vecirc um visitante ideal e um discurso prescritivo sobre as visitas Os museus de modo

39 Esses satildeo jogos criados pelo Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a partir de seu acervo e utilizados em oficinas e

programas de formaccedilatildeo de professores

60

geral e os proacuteprios materiais instrutivos dirigidos aos professores quer por oacutergatildeos de regulaccedilatildeo e

formaccedilatildeo quer por uma bibliografia voltada agrave formaccedilatildeo para o ensino de histoacuteria40

esperam que

os visitantes venham preparados para seu discurso e a forma de expocirc-lo Espera-se que essa

estimulaccedilatildeo tenha sido feita previamente pelo professor que organiza a visita Eacute esperado tambeacutem

que o professor conheccedila o museu e suas exposiccedilotildees antes da visita com seus alunos que trabalhe

materiais e organize atividades em sala de aula sobre o que seraacute visto no museu Durante a visita

haacute a expectativa por parte de muitos museus que o professor oriente os comportamentos a serem

adotados indicando como os alunos devem atentar para as observaccedilotildees dos monitores

garantindo assim a ordem e ao mesmo tempo que a interaccedilatildeo aconteccedila sem atrapalhar o

trabalho daqueles que conduzem a visita O professor deve contemplar as obras e cuidar para que

os alunos tambeacutem o faccedilam Na volta agrave escola os agentes educativos dos museus sugerem que os

professores promovam discussotildees diaacutelogos com a turma recuperando o que foi visto observado

levantando novas hipoacuteteses curiosidades e aprofundando o tema ao mesmo tempo em que

auxilia na organizaccedilatildeo da construccedilatildeo da narrativa sobre a visita

Eacute necessaacuterio ponderar que mesmo com todas essas expectativas criadas em torno do

trabalho de visita escolar ou por elas existirem as visitas a museus podem ser pensadas como

fundadas em estrateacutegias construcionistas da cultura e do conhecimento agrave medida que os visitantes

negociam o sentido da mensagem expositiva de cada museu e de cada objeto de cultura exposto

O visitante constroacutei ele proacuteprio a partir de seus conhecimentos suas habilidades cognitivas e

sentindo o impacto expositivo em suas atitudes emoccedilotildees e afetos

Os museus satildeo espaccedilos puacuteblicos de conflitos embates entre poliacuteticas e esteacuteticas que

legitimam praacuteticas e vozes mas tambeacutem trocas entre grupos sociais diversos que buscam

expressar ali seus rituais e memoacuterias coletivas Defendo que o museu natildeo se reduz a simples

recurso pedagoacutegico ou fonte histoacuterica utilizado por professores juntamente com visitas teacutecnicas

a arquivos e bibliotecas Os objetivos da visita e de sua anaacutelise natildeo se limitam agrave discussatildeo sobre

praacuteticas de preservaccedilatildeo cujas finalidades seriam promover o contato e conhecimento de

experiecircncias bem sucedidas de preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural Esse formato de programas

governamentais e privados associa atividades de promoccedilatildeo do patrimocircnio cultural com benefiacutecios

40 Algumas dessas visotildees e materiais seratildeo apresentados e discutidos nos capiacutetulos IV e V

61

econocircmicos e turismo sustentado ao considerar o turista um consumidor de lugares coleccedilotildees

saberes e fazeres culturais (MURTA E ALBANO 2005 p17)

Eacute imperativo ressalvar que nem toda a discussatildeo sobre a chamada educaccedilatildeo patrimonial

se reduz a praacuteticas prescritivas e usos instrumentais do patrimocircnio Desde a deacutecada de 1980 satildeo

inuacutemeras as iniciativas que trabalham com as dimensotildees da memoacuteria e da histoacuteria num sentido da

educaccedilatildeo das sensibilidades mais amplo41

O museu eacute concebido nessa pesquisa como um lugar metodoloacutegico siacutetio simboacutelico no

qual o visitante pode ser entendido como sujeito da accedilatildeo museoloacutegica agrave medida que atua

ativamente na significaccedilatildeo dos objetos durante as visitas agraves exposiccedilotildees e situaccedilotildees educativas

elaborando reflexotildees teoacuterico-conceituais sobre o proacuteprio museu e seu acervo e sobre a histoacuteria

Cabe dizer que para investigar os usos que satildeo feitos dos museus pelos visitantes visando

agrave produccedilatildeo de conhecimento eacute preciso abandonar a ideia de um puacuteblico receptor passivo que

apenas olha e natildeo age e buscar entender como se daacute a ressignificaccedilatildeo das poliacuteticas educativas

dos museus ouvindo o que pensam e fazem os sujeitos que participam ou participaram da vida do

objeto dentro e fora do museu e agregaram e agregam a ele significados Tanto aqueles que

atuam como agentes na ressignificaccedilatildeo dos objetos museoloacutegicos seus autoresprodutores e

diversos usuaacuterios ao longo de seu circuito e trajetoacuteria existencial ateacute a chegada no museu Todos

promovem o ldquocontexto musealrdquo pesquisadores que estudam os objetos conservadores

documentalistas museoacutelogos educadores e puacuteblico-visitante

Os proacuteprios museus hoje planejam accedilotildees educativas ldquointerativasrdquo que implicam um

compartilhamento mas muitas vezes natildeo dispensam as ldquomediaccedilotildeesrdquo de uma trilha explicitada

pelo idealizador de uma linguagem proacutepria ndash a da museologia Compreende-se que visitantes e

museus satildeo sujeitos singulares empenhados numa mesma praacutetica Mas ateacute que ponto a agenda de

expectativas do proacuteprio visitante e os embates especiacuteficos que cada aacuterea

disciplinartemaexposiccedilatildeo lhe reserva natildeo o reduzem a um papel mais modesto na relaccedilatildeo com a

produccedilatildeo do conhecimento Espera-se que o visitante reconheccedila e aplique o coacutedigo do emissor

ou agentes da accedilatildeo educativa dos museus ou que ele interprete selecione e se aproprie fazendo

outra produccedilatildeo a partir de seu lugar

41 Ver balanccedilo da discussatildeo sobre educaccedilatildeo patrimonial feita por Nara Ruacutebia de Carvalho Cunha tendo como

referecircncia inicial o Guia Baacutesico de Educaccedilatildeo Patrimonial publicado e distribuiacutedo pelo IPHAN em 1999 em

comparaccedilatildeo a outras praacuteticas como a do museu-escola do Museu da Inconfidecircncia Ver Cunha 2011 p67-81

62

Ao visitarem museus e entrarem em interaccedilatildeo com os artefatos ali organizados ndash os

objetos o convite agrave interatividade o tema e as miacutedias ndash os visitantes podem romper com os

papeacuteis jaacute determinados externamente e anteriores ao momento dessa interaccedilatildeo Estaacute muito

presente nas abordagens dos museus o risco da espetacularizaccedilatildeo ou uma visatildeo ingecircnua de que a

interatividade pode ser garantida de antematildeo pelo museu independentemente da accedilatildeo do

puacuteblico

As possibilidades de diaacutelogo com os museus datildeo-se para aleacutem dos aspectos da

comunicaccedilatildeo com o puacuteblico estabelecido pelas proacuteprias instituiccedilotildees (PEREIRA et al 2007) O

acervo de qualquer museu aiacute incluiacutedas as exposiccedilotildees reservas teacutecnicas seu sites materiais de

divulgaccedilatildeo e a proacutepria histoacuteria da constituiccedilatildeo dos acervos com seus diversos criteacuterios de

incorporaccedilatildeo preservaccedilatildeo restauraccedilatildeo exposiccedilatildeo e descarte interessam aos visitantes em

formaccedilatildeo Muitos museus ao trabalharem com pressupostos das teorias da recepccedilatildeo42

concebem

o sujeito em situaccedilatildeo de interaccedilatildeo mas natildeo assumem a interlocuccedilatildeo numa dupla face do processo

de produccedilatildeo de sentido Os museus satildeo os sujeitos comunicantes protagonistas enunciadores e

os visitantes satildeo os destinataacuterios A dicotomia em relaccedilatildeo aos dois poacutelos estaacute mantida Condiccedilotildees

diferentes de produccedilatildeo e condiccedilotildees de reconhecimento marcadas e jaacute estabelecidas pelas esferas

da produccedilatildeo e consumo

Enquanto a produccedilatildeo de conhecimentos ou de uma memoacuteria histoacuterica eacute legitimada

poliacutetica e esteticamente como proacutepria ao campo museal o visitante natildeo eacute reconhecido como parte

dessa produccedilatildeo de sentidos Ele apenas recebe passivamente esse saber especializado O

patrimocircnio cultural eacute aquilo que estaacute laacute no museu e que deve ser reconhecido ou apropriado pelos

visitantes O museu eacute lugar de memoacuteria instituiacuteda da cultura material a ser preservada43

Em muitos museus o professor eacute considerado parte do bloco da audiecircncia denominado

ldquopuacuteblico escolarrdquo Natildeo existem accedilotildees especiacuteficas voltadas para o professor Em geral seu papel

seraacute ajudar na mediaccedilatildeo com os estudantes nas visitas programadas pelos agentes dos museus

Ele natildeo participa da elaboraccedilatildeo da oferta de serviccedilos dos museus escolha de percursos

abordagem conceitual As instituiccedilotildees museais em geral hierarquizam e triangulam a mediaccedilatildeo

42 Ver ESCOSTEGUY 2008

43 Autores como Maacuterio Chagas (2003 p32) tratam da vinculaccedilatildeo entre a noccedilatildeo de museu e patrimocircnio considerando

que o sentido de preservaccedilatildeo e de posse estaria na raiz tanto da noccedilatildeo de patrimocircnio quanto no museu como

instituiccedilatildeo

63

Eacute preciso um guia do proacuteprio museu para decifrar os coacutedigos do patrimocircnio O professor

responsaacutevel pelos alunos recebe o ldquopacoterdquo oferecido pelos museus Ele o aceita o rejeita

tambeacutem em bloco

A accedilatildeo educativa dentro de muitos museus contemporacircneos eacute vista como parte de suas

funccedilotildees de comunicaccedilatildeo A formaccedilatildeo natildeo tem o mesmo lugar ou status das atividades de

pesquisa e preservaccedilatildeo nas definiccedilotildees oficiais de museu A mediaccedilatildeo tambeacutem eacute vista como uma

funccedilatildeo didaacutetica ou de marketing sem estatuto epistemoloacutegico proacuteprio uma funccedilatildeo de

transposiccedilatildeo e recontextualizaccedilatildeo do saber criada diretamente pelo museu

24- Visitas escolares e visitantes marcas visiacuteveis de historicidade

Bernard Lahire em Homem Plural os determinantes da accedilatildeo (2002) apresenta uma criacutetica

agraves teorias que defendem a homogeneizaccedilatildeo e a unidade do ator e da cultura e defende uma

perspectiva de entendimento do ator social na pluralidade dos mundos e das experiecircncias

contemporacircneas Lahire argumenta que os princiacutepios de socializaccedilatildeo satildeo heterogecircneos e

contraditoacuterios e que vivemos numa multipertenccedila a mundos e submundos sociais nem sempre

compatiacuteveis entre eles e agraves vezes conflituosos (LARIHE 2002 p32)

Para Lahire (2002) natildeo existem configuraccedilotildees sociais homogecircneas tanto cultural quanto

moral e ldquopoucos satildeo os casos que permitiriam falar de um habitus familiar coerente produtor de

disposiccedilotildees gerais inteiramente orientadas na mesma direccedilatildeordquo Os valores simboacutelicos os

esquemas de accedilatildeo introjetados e as praacuteticas satildeo diferentes maneiras de dizer ver fazer e sentir

os repertoacuterios de esquemas de accedilatildeo (de haacutebitos) satildeo conjuntos de siacutenteses de

experiecircncias sociais que foram construiacutedasincorporadas durante a socializaccedilatildeo anterior

nos acircmbitos sociais limitadosdelimitados e aquilo que cada ator adquire

progressivamente e mais ou menos completamente satildeo haacutebitos como sentidos de

pertenccedila contextual (relativa) de terem sido postos em praacutetica Aprendecompreende que

aquilo que se faz e se diz em tal contexto natildeo se faz nem se diz em outro contexto (LAHIRE 2002 p37)

As travessias no espaccedilo social e as matrizes de socialializaccedilatildeo satildeo contraditoacuterias As

visitas aos museus podem ser entendidas como uma dessas travessias entre dois mundos Uma

situaccedilatildeo de encontro cultural forccedilado Um deslocamento do espaccedilo da escola para o espaccedilo do

museu Nesse novo cenaacuterio ou no momento presente da visita os estatutos culturais dos

64

visitantes diluem-se parcialmente Os visitantes reconhecem a visatildeo de histoacuteria dominante no

museu e podem em um segundo movimento recorrer a outros fundamentos historiograacuteficos para

analisar tal estrutura e confrontar com analogias as duas configuraccedilotildees o seu proacuteprio lugar e o

lugar da exposiccedilatildeo (museu)

Lahire (2002) considera que o presente tem mais peso na explicaccedilatildeo dos comportamentos

praacuteticas e condutas se os atores satildeo plurais O passado estaacute aberto de modo diferente segundo a

natureza e a configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo presente A questatildeo central eacute discutir como as experiecircncias

satildeo incorporadas mobilizadas convocadas e despertadas pela situaccedilatildeo presente Ou descrever de

que maneira a configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo presente tecircm um peso na criaccedilatildeo de praacuteticas

A escolha de mais um museu e portanto a anaacutelise simultacircnea de mais de uma visita tem

por finalidade investigar marcas especiacuteficas dessas experiecircncias Assim pode-se encontrar nos

relatos de um mesmo visitante mudanccedilas que dizem respeito agrave adaptaccedilatildeo fuga resistecircncia

inibiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos diferentes ambientes visitados Tambeacutem eacute possiacutevel discutir em que

medida os distintos ambientes que o visitante eacute levado a atravessar ativam ou inibem suas

competecircncias habilidades saberes conhecimentos maneiras de dizer e fazer durante as visitas

Dessa maneira a repeticcedilatildeo de visitas ou a visita a diferentes museus reconhece que tal

estrateacutegia pode ter um efeito positivo pois antecipa possibilidades interpretativas do visitante que

constroacutei paracircmetros de interpretaccedilatildeo A visita a mais de um museu causa certa previsibilidade

gera certas expectativas que orientam e selecionam os sentidos produzidos pelos visitantes

A escolha desses visitantes e museus e natildeo outros configurou-se ao longo da pesquisa de

doutorado iniciada em 2008 e foi posterior ao momento das visitas efetivamente realizadas pelo

grupo de estudantes A seleccedilatildeo das situaccedilotildees concretas de visita para a anaacutelise se deu diante de

um repertoacuterio mais amplo de museus visitados pelo grupo ao longo dos quatro anos de formaccedilatildeo

e que possibilitava outras escolhas e anaacutelises

Ao longo do ano de 2008 foram desencadeados trecircs movimentos simultacircneos de produccedilatildeo

da materialidade das visitas Um levantamento da produccedilatildeo dos estudantes jaacute existente na

instituiccedilatildeo formadora ndash a Faculdade de Pedro Leopoldo (FIPEL) ndash sobre as vaacuterias visitas

realizadas entre 1999 e 2008 Em seguida a elaboraccedilatildeo de um inventaacuterio do perfil dos estudantes

de uma das turmas de Licenciatura em Histoacuteria (Anexo A) e terceiro a realizaccedilatildeo de uma

65

entrevista coletiva no formato de grupo focal com os alunos da turma 2005-2008 dispostos a

colaborar com a pesquisa para avaliaccedilatildeo da praacutetica de visitas a museus (Anexo B)

Apoacutes levantamento preliminar dos registros escritos e fotograacuteficos44

elaborados pelos

estudantes da FIPEL arquivados na proacutepria instituiccedilatildeo formadora foi necessaacuterio redefinir

recortes desse conjunto de fontes documentais Tanto os suportes elaborados posteriormente

quanto estrateacutegias hipoacuteteses de trabalho e categorias de anaacutelise partiram dessa primeira leitura

documental das praacuteticas de formaccedilatildeo

A sistematizaccedilatildeo do perfil dos estudantes de uma das turmas de Licenciatura em Histoacuteria

permitiu caracterizar melhor o proacuteprio grupo e a praacutetica de visitas da instituiccedilatildeo O inqueacuterito

estava dividido em trecircs partes A primeira preocupou-se com dados gerais como idade sexo

atividade remunerada renda familiar A segunda trazia questotildees relativas agrave praacutetica de visitas a

museus e uma terceira que aprofundava as situaccedilotildees de visita tendo em vista imagens e conceitos

de museu memoacuteria patrimocircnio e uma avaliaccedilatildeo dos proacuteprios museus visitados (Anexo A) Esse

levantamento depois de respondido individualmente sem identificaccedilatildeo de nomes foi processado

na forma de graacuteficos possibilitando uma visualizaccedilatildeo dos visitantes como um grupo e as

experiecircncias de visita na instituiccedilatildeo formadora como um conjunto (Anexo B)

O segundo suporte para a materialidade das visitas e visitantes foi uma entrevista coletiva

no formato de grupo focal com os alunos da turma 2005-2008 O debate com o grupo visava

aprofundar e complementar elementos identificados no inventaacuterio e que seriam melhor abordados

na forma da oralidade e da discussatildeo coletiva A decisatildeo metodoloacutegica em produzir esse tipo de

registro para a pesquisa se deu no momento de definiccedilatildeo no recorte empiacuterico da mostra de

visitantes As duacutevidas eram muitas jaacute que se tinha um variado repertoacuterio de relatos individuais e

mesmo algumas siacutenteses produzidas pelas turmas Faltava definir um grupo de referecircncia para a

anaacutelise das visitas e sistematizar uma meta-reflexatildeo dos visitantes sobre o conjunto das visitas e

seus efeitos formativos Essa forma de registro oral (grupo focal) foi utilizada antes da uacuteltima

44 Para Boris Kossoy (2011) a abordagem da fotografia como documento iconograacutefico deve considerar os enredos

culturais que lhe datildeo sentido e natildeo se limitar agrave questotildees teacutecnicas (imagens teacutecnicas) Eacute preciso demonstrar as

construccedilotildees mentais e culturais que datildeo corpo agraves imagens e aprender a desmontaacute-las Disponiacutevel em lt

httpluzeestilowordpresscom20100328entrevista-com-boris-kossoygtAcesso em 31 de marccedilo de 2011 Ver

tambeacutem a discussatildeo de imagem associada agrave narrativa ldquoo quadro narra e a narrativa mostrardquo (RICOEUR 2007

p281)

66

visita realizada pelo grupo ao Rio de Janeiro O debate contou com a participaccedilatildeo de nove

estudantes e foi transcrito As falas foram confrontadas tanto com os relatos anteriores da visita

ao Museu do Escravo (2006) quanto com o trabalho realizado posteriormente agrave visitaccedilatildeo ao

Museu Histoacuterico Nacional (2008) (Anexo C)

Identificar entre os puacuteblicos de museus um conjunto de visitantes e selecionaacute-los para

anaacutelise foi em grande medida organizar estrateacutegias de visibilidade destes visitantes reais Os

criteacuterios de constituiccedilatildeo do corpus documental para a pesquisa foram circunstanciais e definidos

simultaneamente agraves leituras teoacutericas e metodoloacutegicas O visitante historiado eacute uma situaccedilatildeo

relacional uma seacuterie de condiccedilotildees no espaccedilo-tempo como o fato de serem matriculados em uma

mesma instituiccedilatildeo de ensino superior disporem de tempo para viajar recursos financeiros e

disponibilidade para relatar suas experiecircncias de visita

Um dos criteacuterios de escolha dos dois museus apresentados na anaacutelise ndash o Museu do

Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional ndash foi baseado na avaliaccedilatildeo da potecircncia patrimonial de

cada um deles Natildeo era viaacutevel trabalhar com um amplo corpus documental que se constituiacutera

sobre as visitas e visitantes e a seleccedilatildeo implicava em cortes que mantivessem a riqueza da

documentaccedilatildeo produzida Os visitantes assim como os museus visitados constituem coleccedilotildees de

cultura material e as exibem de forma a comunicar sentidos e fazer circular a cultura Os dois

ldquoacervos documentaisrdquo das visitas elaboradas na perspectiva do grupo de visitantes e dos

museus satildeo confrontados

Enquanto os museus possuem criteacuterios de legitimaccedilatildeo da produccedilatildeo da cultura instituiacutedos

a escolha pela anaacutelise da produccedilatildeo feita pelos estudantes tem a possibilidade de ampliar o circuito

da cultura escolar para aleacutem de seus consumidoressujeitos habituais O processo de formaccedilatildeo de

visitantes de museus emerge dos lugares institucionais como a escola e o museu mas operam

uma experiecircncia pedagoacutegica mais abrangente e dispersa

Os relatos escritos e as fotografias satildeo considerados nessa pesquisa como maneiras de dar

significado agraves visitas vivenciadas durante o curso de graduaccedilatildeo em histoacuteria Na elaboraccedilatildeo dos

relatoacuterios os estudantes reconfiguram o percurso da visita reelaboram suas impressotildees

sentimentos e conhecimentos sobre o museu visitado Nos relatos escritos e fotograacuteficos

constroem ldquoexperiecircncias esteacuteticasrdquo conformando

67

estruturas cognitivas quadros normativos marcas de discriminaccedilatildeo e criteacuterios de

avaliaccedilatildeo modos de apreensatildeo do tempo regras de escolha modos de representaccedilatildeo e

esquemas de accedilatildeo jogos de papeacuteis e de categorias da praacutetica afirmaccedilotildees consideradas

verdadeiras e normas tidas por justas crenccedilas e figuraccedilotildees (GUIMARAtildeES E LEAL

2008 p12)

Os visitantes estabelecem modos de significar o vivido de transformar o fato em evento

ou ainda de conformar uma memoacuteria social (RICOEUR 2000) A experiecircncia de visita pode ser

pensada no sentido indicado por Vidal (2010 p726) quando se refere agrave docecircncia como

experiecircncia coletiva

as experiecircncias apesar de uacutenicas natildeo satildeo individuais Remetem a modos coletivos de

entender e validar a docecircncia Indiciam expectativas geracionais constituiacutedas na cultura

nas instituiccedilotildees de formaccedilatildeo na convivecircncia cotidiana com colegas e comunidade e nos

vaacuterios percursos de escolarizaccedilatildeo seguidos (VIDAL 2010 p726)

Os relatos de visita considerados como fontes e objeto de pesquisa apresentam

possibilidades de abordagem e tambeacutem mostram limites agrave anaacutelise Aquilo que aparece no texto da

aluna destacado no iniacutecio do primeiro capiacutetulo como ldquotiacutepicordquo eacute em grande medida um repertoacuterio

repetitivo que se constitui como um ldquogecircnerordquo Nesses relatos tanto a instituiccedilatildeo formadora

quanto cada museu visitado tem um papel significativo para a produccedilatildeo dos relatos Esse eacute um

primeiro ponto a ser considerado na anaacutelise Cada relato existe por estiacutemulos e intenccedilotildees de

produccedilatildeo vindos natildeo diretamente dos sujeitos que como autores resolvem de maneira

espontacircnea registrar suas memoacuterias mas como parte da dinacircmica de formaccedilatildeo acadecircmica e

disciplinas curriculares As escolhas e motivos das visitas aos museus satildeo estabelecidos no

interior do curso de licenciatura em Histoacuteria Haacute tambeacutem um segundo limite e implicaccedilatildeo na

produccedilatildeo dos relatos que eacute a condiccedilatildeo de avaliar a experiecircncia de visita de dentro da situaccedilatildeo

educativa Eacute preciso considerar essa dupla implicaccedilatildeo e explicitar que eu na condiccedilatildeo de

professora da instituiccedilatildeo formadora me encontro diretamente envolvida nesse primeiro

movimento de produccedilatildeo dos registros e elaboraccedilatildeo de uma primeira camada de testemunhos dos

visitantes

Somado ao primeiro limite dos relatos marcado pela historicidade das visitas e horizonte

de expectativa dos visitantes apresenta-se outro de caraacuteter diverso Assumir as marcas de

subjetividade entendidas como os sentidos atribuiacutedos agraves narrativas por cada visitante que se

coloca como autor de suas memoacuterias eacute correr o risco de expor os sujeitos concretos julgando

68

suas atitudes Vale esclarecer que o visitante faz escolhas estabelecendo uma pertinecircncia entre o

vivido e as referecircncias que lhes foram apresentadas pelos acervos e exposiccedilotildees dos museus mas

cria descompassos45

com relaccedilatildeo agraves rotinas e dinacircmicas estabelecidas pelo grupo que acompanha

Outro limite aparente das fontes eacute o apagamento das lembranccedilas ou a memoacuteria entendida

como recordaccedilatildeo As praacuteticas educativas como as visitas aos museus tem uma permanecircncia que

se constroacutei pelos conteuacutedos culturais que engendram Entretanto haacute uma fragilidade dos relatos

de visita onde se destaca muito da instrumentalidade das praacuteticas e das formas que eles adquirem

no acircmbito da cultura escolar

O relato de visita eacute marcado por esse limite da accedilatildeo contra o esquecimento um texto

coletivo que marca as histoacuterias comuns as semelhanccedilas do vivido e a recriaccedilatildeo das lembranccedilas

em memoacuterias coletivas Haacute o risco da banalizaccedilatildeo da experiecircncia uma vez que as narrativas

correspondem a accedilotildees de reflexatildeo produccedilatildeo de conhecimento histoacuterico e mesmo de um excesso

de expectativas de troca de acuacutemulo e de valorizaccedilatildeo da accedilatildeo empreendida de forma

retrospectiva

Por outro lado o uso dos relatos como fonte e objeto de pesquisa apresentam

possibilidades de romper com algumas prescriccedilotildees A primeira delas eacute atentar para uma dimensatildeo

do testemunho como uma funccedilatildeo de ouvir a narrativa do outro instaurando uma nova histoacuteria do

presente Para Gagnebin (2006) essa operaccedilatildeo de compreender o testemunho engendra a questatildeo

de que o historiador natildeo eacute apenas o coletor dessas lembranccedilas ele realiza uma operaccedilatildeo de

ldquorememoraccedilatildeordquo no lugar da ldquocomemoraccedilatildeordquo Sua atividade historiadora natildeo eacute repetir as

lembranccedilas mas atentar para o esquecido A rememoraccedilatildeo significa atenccedilatildeo com o presente com

as ressurgecircncias do passado no presente e com a accedilatildeo A testemunha natildeo eacute aquele que viu com os

proacuteprios olhos mas tambeacutem aquele que ao ouvir a narraccedilatildeo do outro a aceita e a toma de forma

reflexiva natildeo ajudando a repeti-la indefinidamente mas ousando inventar outra histoacuteria inventar

o presente (GAGNEBIN 2006 p 55-57)

A visita ao museu se constitui em um evento dialoacutegico e polifocircnico que promove sentidos

na interaccedilatildeo ou co-presenccedila dos diversos sujeitos Justamente por esse efeito de interaccedilatildeo

promove diferentes tipos de trabalho com a memoacuteria Pode-se dizer que os relatos das visitas satildeo

45 Parece ser o caso de uma aluna que faz referecircncia agrave existecircncia de uma denominada ldquoSala da Marquesa de Santosrdquo

durante a visita ao Museu Histoacuterico Nacional

69

camadas de memoacuteria-histoacuteria nos quais eacute possiacutevel investigar as formas e conteuacutedos destas

praacuteticas culturais e a construccedilatildeo e uso dessas praacuteticas no ensino de histoacuteria e na formaccedilatildeo

histoacuterica

Os relatos das visitas podem ser utilizados como um iacutendice de atualizaccedilatildeo da memoacuteria

Como possibilidade de reconhecer que pessoas comuns (estudantes e professores) estabelecem

instrumentos capazes de intercambiar experiecircncias temporais complexas e mantecirc-las vivas em

situaccedilotildees de aprendizagem histoacuterica

Os relatos permitem investigar o papel que a memoacuteria cultural e o pensamento histoacuterico

tiveram no processo de formaccedilatildeo de diferentes identidades coletivas A reserva de histoacuterias

trazidas pelos relatos podem vir a ser histoacuterias coletivas narrativas que se voltam para o

coletivo A formaccedilatildeo como processo criativo de devir plural (RUumlSEN 2007 p165)

O destaque no trabalho para dois museus diferentes visitados pelo mesmo grupo de

estudantes tem por objetivo comparar algumas dinacircmicas que a anaacutelise de apenas um caso ou

museu natildeo permitiria Nos diversos museus visitados pelo grupo de estudantes eacute possiacutevel propor

problemaacuteticas muacuteltiplas e complexas sintetizadas pelos momentos de presenccedila dos visitantes

A estrateacutegia de abordagem do material empiacuterico produzido pelos visitantes que satildeo os

relatos escritos e as fotografias comporta natildeo uma preocupaccedilatildeo com a quantidade de variaacuteveis

mas com a variedade de argumentos alternativos levantados ateacute mesmo por um uacutenico estudante

que mobiliza diferentes elementos para dar sentido a visita

Outro aspecto considerado eacute que os relatos se produzem no interior de uma relaccedilatildeo

pedagoacutegica Parte do trabalho escolar a escrita dos relatoacuterios tem por objetivo atender a

exigecircncias e formalidades da cultura escolar Poreacutem na anaacutelise dos relatos haacute uma migraccedilatildeo

desse lugar inicial de produccedilatildeo que visava agrave leitura pelo professor que orientou eou organizou a

visita ao museu para a condiccedilatildeo de fonte de pesquisa mais ampla no campo da Educaccedilatildeo Das

situaccedilotildees de visita existentes em uma determinada instituiccedilatildeo escolar (Faculdade) escolhida

amplia-se o caraacuteter documental do relato e para pensar de maneira mais ampla o papel das

visitas a museus em relaccedilatildeo ao Ensino de Histoacuteria e agrave criaccedilatildeo de uma memoacuteria histoacuterica

Em alguma medida os visitantes na condiccedilatildeo de produtores dos relatos se fixam num

determinado momento da produccedilatildeo Haacute intersubjetividade em toda a elaboraccedilatildeo dos relatos As

observaccedilotildees satildeo projetadas para um professor que tambeacutem participou presencialmente da visita

70

Cada museu com suas exposiccedilotildees e propostas educativas satildeo acionados e mobilizados Por fim o

ato ao mesmo tempo coletivo e individual de percorrer as salas dos museus se coloca como forccedila

que emoldura cada situaccedilatildeo de visita Poreacutem a circulaccedilatildeo desses relatos em outros espaccedilos como

os da anaacutelise empreendida pela pesquisa permite forjar uma ampliaccedilatildeo de sentidos iniciais

Comparar dois momentos de visita em dois espaccedilos distintos permite conexotildees parciais entre os

processos e os lugares em anaacutelise A anaacutelise de cada situaccedilatildeo se faz por analogias e na tomada de

posiccedilatildeo Cada pessoa que relata a faz de maneira incorporada e localizada46

Como afirma Boaventura Souza Santos em texto lido pela turma do curso de licenciatura

em Histoacuteria que relata suas visitas escrever sobre algo implica em posicionar-se em adotar uma

perspectiva E em sua proposta de escrita cientiacutefica o sujeito deve participar se solidarizar ter

prazer Para Santos o conhecimento eacute emancipaccedilatildeo auto-conhecimento postura criacutetica e

reflexiva de avaliaccedilatildeo e reciprocidade (SANTOS 1995 p18-19)

A primeira implicaccedilatildeo de se considerar de maneira situada o conhecimento produzido nas

situaccedilotildees de visita eacute a opccedilatildeo pelos conhecimentos alternativos e dispersos e uma postura de

diaacutelogo que abrange a incompletude cultural natildeo como uma falta mas como parte de todas as

culturas A circulaccedilatildeo dos visitantes pelos muacuteltiplos locais tambeacutem amplia as situaccedilotildees de

formaccedilatildeo cultural multiplica as possibilidades de que diferentes museus podem propiciar a

desestabilizaccedilatildeo de visotildees hegemocircnicas acerca de temas trabalhados no Ensino de Histoacuteria como

a escravidatildeo os personagens histoacutericos e as comemoraccedilotildees O trabalho com visitas a diferentes

museus tambeacutem possibilita tomar trajetoacuterias inesperadas para traccedilar uma formaccedilatildeo cultural

considerada nos proacuteprios limites da experiecircncia compartilhada pelos visitantes A abrangecircncia da

anaacutelise se daraacute agrave medida que estabelecer conexotildees associaccedilotildees relaccedilotildees inesperadas e

aproximaccedilotildees

Os relatos escritos e fotograacuteficos assim como o Grupo focal e os questionaacuterios

individuais possibilitam confrontar como os visitantes elaboram do ponto de vista cognitivo e

simboacutelico atravessam cortam suas ancoragens e circulam entre diferentes mundos como os dos

museus do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional dentre outros

46 Mendes (2003) Perguntar e observar natildeo basta eacute preciso analisar algumas reflexotildees metodoloacutegicas Oficina do

CES 194 Disponiacutevel em lthttpsestudogeralsibucptjspuihandle1031611056gt Acesso em 06 ab 2011

71

Um primeiro sentido da produccedilatildeo dos relatos se daacute numa situaccedilatildeo relacional eacute a

comunicaccedilatildeo e o partilhamento dos sentidos com o professorleitor e os colegas Assim o relato

se faz na riqueza dialoacutegica de vozes presentes e ausentes Ao construir uma narrativa cada

visitante reconstitui o ineditismo da sua visita revive experiecircncias e surpreende-se ele proacuteprio

com suas reaccedilotildees

Ao se conceber os relatos como fonte documental prioritaacuteria agrave pesquisa foram definidos

alguns focos de investigaccedilatildeo O primeiro eacute atentar na leitura dos relatos para os tipos de recursos

que os visitantes mobilizam para argumentar e responder aos dilemas enfrentados durante a

visita Como se posicionam frente aos objetos apresentados pelos museus e como ancoram suas

narrativas pessoais frente agraves narrativas dos museus Haacute um grau de convergecircncia entre a memoacuteria

coletiva exposta nos museus e as memoacuterias pessoais Haacute dimensotildees consensuais ou divergentes e

quais argumentos fundamentam tais posiccedilotildees

Os relatos permitem mudar o foco da visita do museu e da escola para o visitante

Considerando o relato a visita pode ser ldquoguiadardquo pelos visitantes seguir o visitante pelos seus

percursos perspectivas interesses e escolhas Se durante o tempo de realizaccedilatildeo da visita na

condiccedilatildeo de professora fui tambeacutem visitante agora na anaacutelise dos relatos posso propor outros

recortes agrave visita e ao museu a partir do lugar de pesquisadora

25- Relatos e fotografias registros do patrimocircnio dos visitantes

Apresento a seguir um perfil dos visitantes elaborado a partir dos dados produzidos entre

os estudantes do curso de Licenciatura em Histoacuteria Escolhi dentre os vaacuterios estudantes e visitas

que foram realizadas ao longo do periacuteodo que trabalhei na Faculdade de Pedro Leopoldo

(FIPEL) estudantes que se prontificaram a ceder suas produccedilotildees textuais e fotografias

voluntariamente Um total de dezessete estudantes compotildee o universo selecionado para anaacutelise

Pude acompanhar esse grupo desde o ingresso na Faculdade ateacute a formatura e as visitas que

realizaram ao longo dessa trajetoacuteria de formaccedilatildeo

Deste grupo de estudantes 11 satildeo do sexo feminino e 06 do sexo masculino Quanto agrave

idade quatorze estudantes tinham entre 21 e 26 anos quando responderam ao instrumento de

pesquisa e os trecircs restantes tinham mais de 28 anos de idade Quando agrave profissatildeo apenas um

72

estudante declarou natildeo exercer atividade remunerada Em relaccedilatildeo agrave declaraccedilatildeo quanto agrave renda

familiar apenas um afirmou possuir renda maior que 10 salaacuterios miacutenimos seis estudantes

declararam entre 4 a 6 salaacuterios miacutenimos e dez entre 7 e 9 salaacuterios miacutenimos

Figura 6 Turma do 4ordm periacuteodo de Histoacuteria Faculdade Pedro

Leopoldo Fazenda Boa Esperanccedila Belo Vale MG 2006

Para este grupo de estudantes se natildeo fosse a praacutetica de visitas a museus promovida pela

Faculdade dificilmente frequumlentariam regularmente esse tipo de instituiccedilatildeo cultural Primeiro a

distacircncia geograacutefica de suas residecircncias desses bens coletivos impede visitas regulares Eles

residem em sua maioria quase absoluta em cidades da regiatildeo metropolitana de Belo Horizonte e

cidades proacuteximas sendo que apenas um desses municiacutepios possui museu Trabalham e estudam e

apenas um estudante citou o preccedilocusto das viagens como dificuldade para realizaccedilatildeo das visitas

Natildeo encontramos assim uma correlaccedilatildeo entre renda local de moradia e primeira visita a museus

A escola eacute a grande responsaacutevel pela promoccedilatildeo do conceito de museu que esse grupo

possui A visita escolar aparece como a grande agenciadora do acesso aos museus Nos trecircs

momentos em que satildeo questionados sobre a visita a museus primeiro para indicar a ocasiatildeo da

73

visita segundo com quem foi a primeira vez em um museu e terceiro com quem foi ao museu

nos trecircs uacuteltimos anos a escola aparece como a grande promotora da praacutetica de visita (Ver

graacuteficos no anexo B)

Considerando os dados obtidos permanece a duacutevida sobre qual eacute a escola que promove a

visita escolar ao museu se a escola baacutesica ou a faculdade As afirmaccedilotildees de Warlerson de Melo

Simpliacutecio no grupo focal sobre suas experiecircncias de visita a museus alimenta a duacutevida sobre a

escola que promove a visita Warlerson declara que havia visitado o Museu de Guimaratildees Rosa

quando cursava a 8ordf Seacuterie depois passou na Gruta de Maquineacute que ele natildeo sabe bem se pode ser

citada como Museu Ele natildeo se lembra bem do que foi falado laacute soacute sabe que gostou Visitou e

gostou tambeacutem de uma igreja em Congonhas o Museu de Artes e Ofiacutecios em Belo Horizonte

Viu como se dava o processo de trabalho de uma eacutepoca que natildeo lembra bem qual (ldquoa memoacuteria taacute

curtardquo brinca o estudante) Gostou tambeacutem do Museu do Escravo ldquoeu gosto muito dessa

ligaccedilatildeo do Brasil com a Aacutefrica e gosto muito de estudar essa parte principalmente na religiatildeordquo

(Warlerson de Melo Simpliacutecio Grupo Focal 2008)

O nuacutemero de vezes que Warlerson visita museus eacute confirmado pelas informaccedilotildees do

grupo que declara ter ido a mais de quatro museus e cita os trecircs uacuteltimos visitados Os mais citados

satildeo o Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto em Belo Horizonte o Museu de Artes e Ofiacutecios tambeacutem

em BH e o Museu Imperial de Petroacutepolis Os trecircs museus listados foram locais visitados pela

turma em trabalhos de campo promovidos pelo curso de licenciatura em Histoacuteria

Ao identificarem os museus visitados e a frequumlecircncia a museus vecirc-se novamente que a

visita organizada pela escola aparece como a responsaacutevel pela primeira ida ao museu Ou seja a

primeira vez que visitaram um museu foi durante o curso superior em Histoacuteria Informaccedilotildees

sobre os trecircs uacuteltimos museus visitados tambeacutem permitem identificar outras instituiccedilotildees lembradas

pela turma Museu de Histoacuteria Natural da PUC-MG e Museu do Escravo ambos tambeacutem

visitados em trabalhos com a turma O Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto foi a primeira visita

realizada pela turma quando estavam no primeiro ano do curso Talvez sua lembranccedila por quase

todo o grupo esteja associada a esse acontecimento o primeiro museu visitado

74

Diversos depoimentos47

enfatizam a importacircncia da visita ao Abiacutelio Barreto Fernando

Daniel Fraga Fonseca eacute o primeiro a falar

O Museu que eu mais gostei achei super interessante foi justamente na eacutepoca que a

gente tava entrando na Faculdade comeccedilando o curso de Histoacuteria noacutes fizemos uma

visita ao Museu Abiacutelio Barreto em BH Onde foi que quebrou um pouco aquela visatildeo

que a gente trazia da escola que na hora que fez aquela foi feito aquela dinacircmica explicando como eacute feita uma exposiccedilatildeo onde cada pessoa pode colocar aquilo que tava

com ele um laacutepis uma caneta ou um caderno e ali foi ensinado para a gente como fazer

uma exposiccedilatildeo como organizar uma exposiccedilatildeo como uma exposiccedilatildeo eacute organizada

Toda exposiccedilatildeo ela tem o ponto central aquilo que ela ta querendo mostrar aquilo que ta

querendo contar Todos esses aspectos foram explicados para a gente Achei super

interessante assim foi de grande valia pra gente como estudante de histoacuteria (Fernando

Daniel Fraga Fonseca Grupo Focal 2008)

Daniele Paulo Marques completa

Bem como o Fernando acabou de relatar o Museu Abiacutelio Barreto foi um dos primeiros

museus que gente chegou a visitar aqui na Faculdade e foi muito interessante porque eles

explicaram pra gente como eacute que eacute feita a seleccedilatildeo como eacute feita a organizaccedilatildeo desse

material como eacute feita a exposiccedilatildeo se essa exposiccedilatildeo eacute permanente ou natildeo Outro Museu

que tambeacutem foi interessante foi o Imperial em Petroacutepolis que a gente visitou Assim por

mais que assim foi muito bonito a gente natildeo teve um tempo para dialogar com as peccedilas

discutir comentar e agraves vezes se faz necessaacuterio quando se vai ao museu ter tempo para

dialogar questionar ter diaacutelogo porque isso acrescenta muito (Daniele Paulo Marques

Grupo Focal 2008)

Outros museus satildeo lembrados como o receacutem inaugurado Museu de Artes e Ofiacutecios mas a

comparaccedilatildeo aponta para o que eles mais se preocupam quando visitam um museu as exposiccedilotildees

embora seis estudantes natildeo definam claramente um foco para a visita

No grupo focal Frederico Levi Amorim faz um detalhamento de que descobriu na visita

ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto mais que suas exposiccedilotildees e como faz uso deste aprendizado

ao longo do curso inclusive na avaliaccedilatildeo de outros museus que visitou como o Museu do

Escravo

O que marcou muito tambeacutem foi a visita ao Abiacutelio Barreto por ter sido a primeira que a

gente fez na Faculdade eu jaacute tinha feito outras mas aqui na Faculdade foi a primeira E

logo depois quando eu comecei a fazer o Estaacutegio o que me chamou a bastante a atenccedilatildeo

foi a questatildeo da organizaccedilatildeo na hora de elaborar uma exposiccedilatildeo a quantidade de pessoas

que estatildeo envolvidas como que a instituiccedilatildeo inteira se mobiliza em torno disso como eacute

47 A opccedilatildeo por apresentar trechos longos da transcriccedilatildeo do debate realizado pelo grupo de estudantes tem por

justificativa manter a loacutegica de argumentaccedilatildeo de cada participante e as marcas das interaccedilotildees entre os componentes e

a oralidade que constituem os relatos

75

muito seacuterio o trabalho que eles fazem quando tem que definir um tema para a exposiccedilatildeo

quais satildeo os materiais que vatildeo ser expostos Neacute assim a questatildeo de organizaccedilatildeo que me

marcou muito e voltando ao Museu do Escravo o que me chamou muito a atenccedilatildeo

tambeacutem foi isso que eu gostei muito do museu achei que tinha muita coisa bacana mas

achei que a exposiccedilatildeo tava muito saturada tinha tanta informaccedilatildeo que assim vocecirc tava

meio perdido ali dentro e achei que tinha ter uma linha cronoloacutegica alguma coisa que

pudesse ta direcionando o proacuteprio visitante para facilitar o entendimento da exposiccedilatildeo e

para que a gente pudesse absorver mais a informaccedilatildeo e pra que gente pudesse entender

tambeacutem o que a exposiccedilatildeo estava querendo falar (Frederico Levim Amorim Grupo

Focal 2008)

Alguns aspectos da avaliaccedilatildeo de Frederico Amorim sobre o Museu do Escravo satildeo

contestados por Weberton Fernandes da Costa mais agrave frente

(riso) A experiecircncia que me marcou assim foi ao Museu do Escravo Problema eacute o

seguinte porque mostrou assim o processo de escravidatildeo no Brasil como era

estruturado objetos que ao mesmo tempo () visatildeo que tinha do negro mostrando eles

simplesmente como objetos e colocou tipo assim () uma visatildeo negativa faltou assim

a cultura a danccedilaa comida natildeo mostrou o processo global A ideologia do sistema claro

que tinha na eacutepoca (Weberton Fernandes da Costa Grupo Focal 2008)

Os dados gerados pelo questionaacuterio permitem confrontar algumas afirmaccedilotildees expressas

oralmente pelo grupo e vice-versa No grupo focal as visitas satildeo apontadas como viagens de

conhecimento que ampliam horizontes e repertoacuterios culturais Os museus estatildeo relacionados ao

trabalho com as ldquofontes histoacutericasrdquo e agrave ldquopraacuteticardquo do professor Os estudantes dizem se interessar

pelos museus por conta de seus assuntos e exposiccedilotildees e natildeo pelo aspecto do lazer da diversatildeo

Quando solicitados a associar livremente trecircs palavras a museu a mais citada foi a palavra

ldquomemoacuteriardquo e a segunda ldquohistoacuteriardquo ldquoPassadordquo e ldquopreservaccedilatildeordquo aparecem em terceiro

ldquoConhecimentordquo ldquoculturardquo e ldquopatrimocircniordquo em quarto lugar na associaccedilatildeo de palavras a museu A

partir das palavras relacionadas as exposiccedilotildees e museus visitados podem ser imaginados como

uma alegoria do curriacuteculo Primeiro temos uma forma de exposiccedilatildeo do conhecimento e uma

seleccedilatildeo que obedece a um percurso ou roteiro e que se apresenta no formato de cenaacuterios Os

conteuacutedos dessa seleccedilatildeo feita pelos diferentes museus se datildeo na forma de saberes prescritos ou

seja legitimados socialmente como uma cultura da eacutepoca Essa concepccedilatildeo de cultura se

materializa num acervo exposto e preservado por cada instituiccedilatildeo

Se os visitantes associam a palavra conhecimento aos museus haacute o reconhecimento do

lugar da produccedilatildeo de cultura histoacuterica nos cenaacuterios organizados pelos museus e a hipoacutetese de que

essa produccedilatildeo de conhecimento se faz de maneira complementar com outros materiais de

76

pesquisa e instituiccedilotildees acadecircmicas De outro lado podemos comparar a exposiccedilatildeo e o museu

com os textos acadecircmicos Na lista do que se encontra em um museu aparecem na ordem

objetos cultura e documentos e fotografias em terceiro

Esse jogo de definir o museu com palavras e coisas aparentemente ingecircnuo indica

algumas categorias que foram retomadas nos relatos escritos e fotograacuteficos Para os visitantes o

Museu eacute memoacuteria e histoacuteria mas a memoacuteria natildeo eacute o passado Ela se materializa em objetos em

cultura documentos e fotografias Os museus satildeo agentes produtivos preservam conhecem

comemoram pesquisam dizem as narrativas dos visitantes no Museu do Escravo e no Museu

Histoacuterico Nacional

Por fim ao avaliarem os museus visitados natildeo temos muitas surpresas talvez o retorno ao

iniacutecio do questionaacuterio e agrave pergunta sobre o que eacute mesmo uma visita ao museu O que mais

agradou aos estudantes nos museus satildeo seus conteuacutedos e a organizaccedilatildeo

A identificaccedilatildeo de uma organizaccedilatildeo proacutepria aos museus uma visualidade eacute reforccedilada em

diversos momentos pelos visitantes Haacute na forma de expor objetos e no trabalho dos museus algo

que interessa diretamente a esse grupo Outra questatildeo que chama a atenccedilatildeo eacute a imagem que criam

para a proacutepria visita Eles afirmam que a impressatildeo que tecircm quando deixam o museu eacute de que

saiacuteram de uma sala de aula ou de uma biblioteca

As duas imagens engendradas ndash sala de aula e biblioteca ndash estatildeo relacionadas agrave cultura

escolar entendida como um conjunto de praacuteticas teorias e normas que codificam formas de

regular sistemas linguagens e accedilotildees nos estabelecimentos educativos (ESCOLANO 2005 p42)

Considerando que nos espaccedilos da escola haacute interaccedilotildees e convergecircncias entre cultura empiacuterica

cultura acadecircmica e cultura poliacutetica as praacuteticas de visita satildeo marcadas pelas pautas e orientaccedilotildees

da cultura escolar e da cultura museal que tambeacutem se articula historicamente em suportes

especiacuteficos A pesquisadora Luciana Koptche aponta para essa aproximaccedilatildeo recente entre os

objetivos tecnologias dos museus e a cultura escolar Para a autora os museus contemporacircneos

situam-se entre a catedral a escola o foacuterum a feira e o mercado (KOPTCHE 2005 p189) Em

se tratando de visitas escolares a associaccedilatildeo mais direta era de se esperar eacute com a escola

Assim como os museus satildeo vistos como organizados esse grupo de visitantes tambeacutem se

apresenta de forma organizada aos museus A visita de turismo ou com familiares satildeo raras no

grupo Na visatildeo dos estudantes as visitas tecircm objetivos pedagoacutegicos de ampliar conhecimentos

77

mas ningueacutem aponta se sentiu algum desconforto durante as visitas Interessam-se pelos

conteuacutedos e assuntos das exposiccedilotildees e saem dos museus com a impressatildeo que saiacuteram de uma sala

de aula Fabiana Cristina dos Santos parece resumir o dilema ao analisar a visita ao Museu

Imperial

A experiecircncia em museu o que mais gostei e entre aspas natildeo gostei foi ao Museu

Imperial Gostei muito foi fantaacutestico o que natildeo gostei eacute que a nossa visita foi guiada foi

muito raacutepida e assim a gente natildeo pode ver com aquele olhar poder discutir poder ver o

lado criacutetico como que era e eles natildeo permitam isso laacute eles ficavam controlando O bom

foi vocecirc ter uma direccedilatildeo que se a gente tivesse perdido sozinho a gente natildeo ia saber

por onde comeccedilar a gente natildeo ia saber que direccedilatildeo mas o ruim eacute que eacute muito raacutepido e

natildeo te deixa dialogar com cada peccedila enfim (Fabiana Cristiana dos Santos Grupo focal

2008)

Fabiana Cristina dos Santos aparece na Figura 7 e parece aprisionada Olha atraveacutes da

janela e toma notas Estaacute acompanhada de um lado e de outro por seus colegas O visitante que

faz o registro fotograacutefico estaacute separado de Fabiana pelo vidro Ele estaacute ao lado dos objetos e sabe

que ela estaacute do outro lado da luz A luz refletida no vidro cria a barreira que natildeo permite ver

diretamente as peccedilas o que natildeo impede o diaacutelogo no jogo de espelhos

Figura 7 MARQUES Daniele Paulo Fotografia da visita a

Petroacutepolis Rio de Janeiro 2007

78

Outra visitante comenta a respeito da visita ao Museu Histoacuterico Nacional ldquoacredito que

mesmo em exposiccedilotildees que natildeo satildeo tatildeo boas podemos tirar ensinamentos para natildeo cometer os

erros cometidos por outras pessoasrdquo (Michelle Oliveira Xavier Visita ao MHN 2008)

Os visitantes apresentados acima ao entrarem em interaccedilatildeo com os artefatos culturais

organizados pelos museus rompem com os papeacuteis jaacute determinados externamente e anteriores ao

momento dessa interaccedilatildeo48

Tomar a ideia de ldquointeraccedilatildeordquo como um suposto um operador

analiacutetico parece possibilitar a integraccedilatildeo de perspectivas que natildeo separam os aspectos orais

escritos e visuais nos processos de produccedilatildeo de objetos culturais

A questatildeo central que permeia a pesquisa eacute a formaccedilatildeo dos sujeitos frente agrave experiecircncia

de contato com os museus Definir um grupo de visitantes em diferentes momentos de sua

formaccedilatildeo acadecircmica permite identificar marcas de sociabilidade e sensibilidades como referentes

na produccedilatildeo de conhecimentos histoacutericos O grupo se estabelece como ator ao assumir accedilotildees na

organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo das visitas e ao expressar categorias de avaliaccedilatildeo das praacuteticas de visita a

partir de um olhar proacuteprio da experiecircncia

Daniela Jacobucci ao analisar os programas de formaccedilatildeo continuada de professores

realizados por museus de ciecircncias em diversas regiotildees do paiacutes afirma que ldquoindependente da

proposta teoacuterico-metodoloacutegicardquo estes programas ldquooportunizam quatro tipos de experiecircncias aos

professores atualizaccedilatildeo de conteuacutedos produccedilatildeo de material didaacutetico assessoria didaacutetica e

socializaccedilatildeo de conhecimentosrdquo (JACOBUCCI 2010 p437) Os estudantes concordam sempre

haacute algo a aprender com a visita As fotografias a seguir (Figuras 8 9 e 10) configuram a visita ao

Museu do Escravo do ponto de vista de seus visitantes O recorte espacial proposto por Frederico

Amorim organiza a visita em vaacuterios planos de expressatildeo Na primeira foto (Figura 8) temos uma

pessoa do proacuteprio museu responsaacutevel pelas informaccedilotildees ao grupo de visitantes O tronco o

objeto central do paacutetio de exposiccedilatildeo estaacute ao fundo A monitora fala olhando para os visitantes e

de costas para o objeto

48 A ideia de museu como templo distante da experiecircncia de aprendizagem natildeo aparece com grande forccedila nos

relatos dos visitantes

79

Figura 8 AMORIM Frederico Levi Monitora do Museu do Escravo no

paacutetio central tendo ao fundo a senzala e o pelourinho Belo Vale-MG 2006

Na imagem seguinte (figura 9) a monitora estaacute agrave esquerda do espaccedilo geograacutefico Ela fala e

gesticula com as matildeos O foco satildeo os visitantes que se aproximaram do objeto e estatildeo em atitude

de escuta

Figura 9 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes ouve explicaccedilotildees da

monitora no paacutetio interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006

80

Na imagem seguinte (figura 10) o grupo maior jaacute se retirou e alguns alunos entre eles o

proacuteprio fotoacutegrafo se fazem registrar junto ao espaccedilo do objeto Tomam a experiecircncia vivida

externamente ndash o objeto imobilizado no espaccedilo do museu com a mediaccedilatildeo da monitora ndash como

uma paisagem um enquadramento O escravo no tronco de mesmo tamanho dos componentes do

grupo eacute centralizado e parece figurar como um dos estudantes que agora sorriem acredito de

prazer pela travessura que faziam

Figura 10 AMORIM Frederico Levi Grupo de visitantes junto ao

tronco no paacutetio interno do Museu do Escravo Belo Vale-MG 2006

A hipoacutetese sobre a produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de conhecimentos nas visitas como a do Museu

do Escravo relaciona-se a um conjunto de relaccedilotildees e processos nos quais o sujeito manteacutem a

dinacircmica do desejo da busca de si mesmo aberto ao outro e ao mundo e natildeo eacute reduzido agrave pulsatildeo

em busca da satisfaccedilatildeo do objeto a ser consumido O sujeito mobiliza-se reuacutene forccedilas e faz uso

de si proacuteprio como recurso engaja-se em atividades movimenta-se produz inteligibilidade e

sentidos Ao colocarem-se ao lado da escultura os estudantes natildeo se identificam com o

sofrimento que representa os mortos mas compartilham a presenccedila uns dos outros nesse espaccedilo

que eacute vivo

81

A produccedilatildeo de conhecimentos que se configura a partir das praacuteticas de visita eacute uma

praacutetica cultural na qual os sujeitos se vecircem como capazes de reconfigurar algumas condiccedilotildees de

produccedilatildeo de saberes dominantes Os visitantes fazem a revisatildeo de conhecimentos tradicionais e

percebem pelos ldquoefeitos de sentidordquo e ldquoefeitos de presenccedilardquo uma nova disponibilidade de estar

no mundo e criar formas e conteuacutedos culturais distintos

As visitas ainda que marcadas pelo ritmo escolar e pelas accedilotildees poliacuteticas prescritas pelo

museu permitem aos visitantes uma experiecircncia sensiacutevel de muacuteltiplos deslocamentos Na

condiccedilatildeo de estudantes eacute possiacutevel experimentar um movimento que natildeo eacute aquele do cotidiano

escolar do trabalho pontuado pela cadecircncia dos calendaacuterios e horaacuterios Nos museus os tempos

dos processos pedagoacutegicos e de formaccedilatildeo se apresentam mais flexiacuteveis como uma poeacutetica O

visitante suspende o instante presente e pode ser tomado pelo jogo da multiplicidade de vozes

sentidos e papeacuteis Brincar de quebra-cabeccedila de detetive e jogar o jogo da memoacuteria eacute permitido e

estimulado em museus49

49 Esses satildeo jogos criados pelo Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto a partir de seu acervo e utilizados em oficinas e

programas de formaccedilatildeo de professores

82

CAPIacuteTULO III - A historicidade de museus e visitantes

31- Visitantes diante de museus a experiecircncia museal

O visitante atualiza o proacuteprio conceito de museu e contribui assim como os especialistas

para a configuraccedilatildeo e teorizaccedilatildeo do campo museal e fundamentaccedilatildeo de uma criacutetica agraves exposiccedilotildees

e seus conteuacutedos A presenccedila nos museus mobiliza a memoacuteria e estimula a imaginaccedilatildeo Esse

movimento de rememoraccedilatildeo coloca os sujeitos em alerta com relaccedilatildeo ao presente Neste

processo de atualizaccedilatildeo dos conceitos estaacute em jogo uma busca coletiva para as dimensotildees

sensiacuteveis e questionamentos

A constante atualizaccedilatildeo de conceitos ou seja a historicidade que se configura como

duraccedilatildeo e mudanccedilas no tempo permite abordar o museu como um ldquogecircnerordquo que possui

regularidades permanecircncias mas que constantemente se reconfigura Eacute desta perspectiva que

apresento o Museu do Escravo e o Museu Histoacuterico Nacional visitados nessa pesquisa como

museus histoacutericos que conteacutem em seus acervos e expotildeem aos visitantes diversas concepccedilotildees de

museus aparentemente fora de uso na museologia contemporacircnea

Delinear uma leitura menos datada e historicista dos museus ou uma histoacuteria de museus

que se atualiza nos proacuteprios museus50

eacute resultado do confronto entre a pesquisa bibliograacutefica

sobre museus e as narrativas visuais dos visitantes O esforccedilo de leitura dos relatos e das

fotografias levou a um recorte que entrelaccedila os registros das visitas ao Museu do Escravo

(Figuras 11 e 12) do Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro (Figura 15) feitos pelos

visitantes e as imagens de museu dos chamados gabinetes de curiosidade (Figura 13) e galeria de

arte de priacutencipes (Figura 14)

Escolhi essas imagens para argumentar como os museus natildeo ficam presos ao passado e se

atualizam pela accedilatildeo dos visitantes E retomar tambeacutem a ideia de circuito e circularidade de

cultura atraveacutes de cinco imagens diferentes

50 Koselleck (1992 p134-145) propotildee uma histoacuteria dos conceitos que se investiga o processo de teorizaccedilatildeo dos

conceitos a partir de fontes documentais e formas verbais com experiecircncias histoacutericas concretas de associaccedilotildees

poliacuteticas e econocircmicas

83

As exposiccedilotildees do Museu do Escravo em Minas Gerais fotografadas por um estudante

(Figuras 11 e 12) e do Museu Histoacuterico Nacional no Rio de Janeiro (Figura 15) satildeo confrontadas

agraves imagens de museu dos chamados gabinetes de curiosidade (Figura 13) e agrave galeria de arte de

priacutencipes (Figura 14)

O acervo do Museu do Escravo de Belo Vale (MG) inaugurado em 1988 pelo padre da

paroacutequia local Jacques Penido tendo em vista as comemoraccedilotildees do centenaacuterio da Aboliccedilatildeo da

Escravatura no Brasil pode ser interpretado como recoberto por vaacuterias camadas de sentido de

museu que circulam desde os gabinetes de curiosidade agraves galerias de arte Todo o acervo do

museu estaacute exposto Natildeo haacute uma reserva teacutecnica sequer um inventaacuterio e cataacutelogo das peccedilas

Objetos arqueoloacutegicos satildeo exibidos junto a reproduccedilotildees fotocopiadas de jornais indumentaacuterias

cenograacuteficas de um filme brasileiro e artefatos de culto religioso contemporacircneos Haacute uma

preocupaccedilatildeo em exibir instrumentos de tortura como gargantilhas de ferro mordaccedilas e tamancos

imensos que causam curiosidade e repulsa Tambeacutem satildeo criados cenaacuterios com um pelourinho que

fica no meio do paacutetio central rodeado por uma senzala Outras salas satildeo ocupadas com arte sacra

catoacutelica e peccedilas indiacutegenas

Figura 11 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

84

Figura 12 AMORIM Frederico Levi Coleccedilotildees do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

Aberto ao puacuteblico o Museu do Escravo natildeo tem materiais impressos e teima em

sobreviver agraves intempeacuteries naturais que desgastam o telhado e agraves mudanccedilas na poliacutetica local

municipal a cada quatro anos51

O Museu do Escravo parece estar em algum tempo entre os gabinetes de curiosidades e os

museus etnograacuteficos Conserva dos gabinetes natildeo apenas uma exposiccedilatildeo natildeo hierarquizada mas

um sentido atribuiacutedo aos objetos que fabricados pelo proacuteprio museu satildeo possuidores de uma

fluidez entre a natureza a arte e o artefato Tanto no gabinete de curiosidades quanto no Museu

do Escravo natildeo importa a histoacuteria do objeto tudo pode ser recolhido e serve ao propoacutesito de

saciar os curiosos Tambeacutem pode ser visto no Museu do Escravo um moderno ldquomuseu

etnograacuteficordquo que cria seu objeto a escravidatildeo a partir de sistemas de classificaccedilatildeo dos escravos

por criteacuterios tais como exoacuteticos simples preacute-alfabetizados primitivos selvagens para fazer a

denuacutencia moral da escravidatildeo O ldquooutrordquo o escravo eacute objeto do olhar dos visitantes mas eacute a

proacutepria visatildeo do museu que eacute avaliada

Considerado a partir da loacutegica dos visitantes o estudo sobre os museus coloca em questatildeo

o proacuteprio conceito de museu durante a visita O visitante questiona ao longo do percurso como o

museu constituiu referecircncias sobre suas proacuteprias funccedilotildees sociais e como estas auto-referecircncias se

expressam nas exposiccedilotildees

51 Ver Folder do Museu do Escravo produzido em 2002 Museus Mineiros Imprensa Oficial do Estado de Minas

Gerais No 14 abril de 2002

85

Entretanto eacute comum que a visita ao museu natildeo acrescente ao visitante informaccedilotildees

sobre o proacuteprio museu Quando muito o museu apresenta um pequeno resumo impresso de sua

trajetoacuteria em seus materiais de divulgaccedilatildeo mas quase nada da histoacuteria de seu acervo princiacutepios

expositivos e outros recursos aleacutem da expografia Fica a cargo do interesse do visitante comum

entender como cada museu reelabora sua memoacuteria ou sua heranccedila e como ele se apresenta aos

seus visitantes Os museus ainda se apresentam como gabinetes de curiosidades (Figura 13)

Figura 13 LEGATI Lorenzo Museu Cospiano Bolonha 1677

A imagem acima eacute uma reproduccedilatildeo do cataacutelogo publicado em Bolonha por Lorenzo

Legati para o gabinete de curiosidades de Ferdinando Cospi Cospi era um naturalista italiano que

adquiriu a coleccedilatildeo de Ulisse Aldrovandi (1522-1605) que por sua vez tinha interesse no que hoje

pode ser chamado de botacircnica zoologia e geologia Cospi acrescentou ao museu maravilhas

naturais muitas delas criadas por processos de taxidermia unindo paacutessaros e peixes O Museu

Cospiano tinha centenas de cabeccedilas de aves sereias e um anatildeo que exercia o duplo papel de fazer

parte da coleccedilatildeo e ser guia Conhecida hoje por meio de exposiccedilotildees e cataacutelogos parte dessa

86

coleccedilatildeo eacute exposta atualmente no Museu do Palaacutecio Pozzi em Bolonha52

No entanto no seacuteculo

XVII estava aberta a estudiosos e aristocratas

O lugar de produccedilatildeo da Imagem 14 eacute a esfera privada O tema da imagem tambeacutem esta

ligado ao mundo domeacutestico uma coleccedilatildeo e um colecionador particular Frederico I Hoje o lugar

fiacutesico O studiolo do priacutencipe foi restaurado e aberto agrave visitaccedilatildeo puacuteblica No seacuteculo XVII ficava

proacuteximo aos aposentados iacutentimos do priacutencipe e permitia a entrada de apenas uma pessoa de cada

vez Era uma eacutespeacutecie de compartimento secreto cujo programa iconograacutefico foi idealizado pelo

pintor e arquiteto da corte Giorgio Vasari e sua equipe Este aposento privado permitia preservar

os itens raros da coleccedilatildeo do monarca em armaacuterios inventariar e dar ordem aos itens colecionados

para que pudessem ser encontrados As pinturas encomendadas por Francisco I satildeo realizadas

tambeacutem por Vasari e outros pintores do seacuteculo XVII

Figura 14 VASARI Giorgio (1511-1574) Studiolo de Francisco I

Palazzo Vecchio Firenze 1570-1573

52Disponiacutevel em lt httpspecialcollectionslibrarywisceduexhibitschecklistsCabinetsCabinets_title_listhtmlgt

Acesso em 26 jun 2010

87

A escolha da imagem do gabinete de Frederico I (Figura 14) nessa pesquisa cujo tema eacute a

relaccedilatildeo dos visitantes com os museus permite algumas associaccedilotildees Primeiro a ampliaccedilatildeo da

dimensatildeo poliacutetica-puacuteblica pelo acessovisibilidade a bens culturais antes de uso limitado a um

nuacutemero pequeno pessoas Segundo pela ampliaccedilatildeo dos usos dos objetos chamados artiacutesticos ou

culturais em decorrecircncia das mudanccedilas nos suportes e modos de produccedilatildeo artiacutestica pelos quais

passaram a circular

A gravura do gabinete de curiosidades (Figura 13) e a imagem da galeria do priacutencipe

(Figura 14) apresentam lugares de guarda de coleccedilotildees Os temas e os conteuacutedos das obras satildeo os

objetos colecionados e o lugar onde estatildeo armazenados A coleccedilatildeo do gabinete de curiosidades e

da galeria de priacutencipe define quem tem acesso ao conteuacutedo desses ambientes e pode partilhar da

visibilidade da exposiccedilatildeo Apenas pessoas proacuteximas aos colecionadores

Entretanto ao reproduzir essas duas imagens aqui recoloca-se a questatildeo do lugar do

visitante diante dessas exposiccedilotildees Tanto a exposiccedilatildeo dos gabinetes quanto das galerias satildeo

privadas mas a reproduccedilatildeo por meio do desenho e da pintura as colocam em circulaccedilatildeo fora do

lugares de produccedilatildeo e do controle de seus proprietaacuterios Giorgio Vasari53

o pintor de Frederico I

talvez jaacute apontasse para essa necessidade de ampliaccedilatildeo do circuito do consumo de arte Ele

proacuteprio eacute tido como um dos precursores na produccedilatildeo de uma histoacuteria da arte ilustrada com cenas

da vida dos artistas que se populariza e se manteacutem atual agrave medida que continua sendo

reproduzida para um puacuteblico mais amplo

Do ponto de vista de visitantes contemporacircneos a funccedilatildeo do acervo de um museu natildeo eacute

apenas documental no sentido de fornecer evidecircncias para o trabalho da histoacuteria Para o visitante

ele estaacute diante de uma versatildeo contada pelo museu A coleccedilatildeo de objetos no museu eacute percebida

como natildeo aleatoacuteria O trabalho do museu eacute construir uma mensagem com a exposiccedilatildeo Ainda que

reconheccedila nos objetos e no acervo como um todo documentos de eacutepoca eacute a forma de

apresentaccedilatildeo dos objetos que ainda fornece o status de testemunho mostrando a importacircncia da

materialidade para a comprovaccedilatildeovalidaccedilatildeo das narrativas histoacutericas A exposiccedilatildeo como forma

53 Foram lanccediladas recentemente duas obras de VASARI Giorgio Vida de Michelangelo Buonarroti Ed Unicamp

2011 e Vidas dos artistas Martins Fontes 2011

88

de reunir um acervo que pertence ou natildeo a determinado museu lhe confere maior poder de criar

visibilidade

Eacute isso que parece fazer a visitante Fabiana Cristina dos Santos (Figura 15) que assim

como muitos de seus colegas reuacutene novamente o acervo do museu apoacutes sua visita e recria seu

percurso e o patrimocircnio do Museu Histoacuterico Nacional em uma nova exposiccedilatildeo

Figura 15 SANTOS Fabiana Cristina dos Montagem de fotografias

da visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

O mosaico de fotografias confeccionado pela visitante reuacutene elementos dispostos em

diferentes cenaacuterios no interior do preacutedio e a fachada do museu que registra a grade de seguranccedila

um letreiro com o nome do museu e bandeiras hasteadas Fotografias do acervo e natildeo dos

visitantes

32- Usos puacuteblicos e educativos dos museus

Os museus europeus e norte-americanos assumem a partir do seacuteculo XVIII uma relaccedilatildeo

com um novo habitante da cidade o cidadatildeo Algumas medidas para aproximar os viacutenculos entre

museus e cidadatildeos satildeo adotadas agrave medida que tambeacutem se transformam as relaccedilotildees com o

mecenato e o modelo de vinculaccedilatildeo com o Estado para encomenda e financiamento de atividades

89

culturais se consolida As mostras temporaacuterias os chamados salotildees conquistam regularidade e

visibilidade para a produccedilatildeo dos proacuteprios museus Tambeacutem satildeo editadas publicaccedilotildees com a

finalidade de analisar as exposiccedilotildees e direcionar o puacuteblico frequumlentador ndash como a de Diderot que

assume a criacutetica no Correspondence Litteacuteraire entre 1759 e 1781 que culmina com a publicaccedilatildeo

de Ensaios sobre a pintura em 1795 pouco depois da Criacutetica da Faculdade do juiacutezo de Kant

(1790) Iniciava-se um movimento de ampliaccedilatildeo do puacuteblico de apreciadores e de criacuteticos de arte

Diderot vai ser lido e comentado por escritores poetas filoacutesofos ao longo seacuteculo XIX entre eles

por Charles Baudelaire (1821-1867)

A criacutetica aos salotildees de Diderot (Salatildeo de 1765) e Baudelaire (Salotildees de 1846 e 1859)

constitui-se em momentos privilegiados para pensarmos o museu entre os seacuteculos XVIII e XIX

do ponto de vista de seus visitantes A discussatildeo sobre os museus pode ser ampliada no seacuteculo

XX com os visitantes Marcel Proust que publica sua grande obra Em busca do tempo perdido

entre 1913-1927 e Paul Valery cujo texto O problema dos museus eacute publicado pela primeira vez

em 1931 Esse diaacutelogo entre Valery e Proust sobre os museus eacute proposto por Adorno em texto de

1950 Aborda-se assim uma fortuna criacutetica que inicialmente era publicada em pequenos folhetos

e distribuiacuteda agrave porta dos Salotildees e se especializa em jornais da eacutepoca Estes criacuteticos antecipam

abordagens formulam criacuteticas conceitos e criteacuterios valorativos quanto aos fomentos ao gosto e

ao proacuteprio ato de adentrar os museus e visitar coleccedilotildees

90

Figura 16 BIARD Franccedilois Auguste (1798-1882) Quatro Horas no

Salatildeo (Quatre heures au Salon) Oacuteleo stela 57x67 cm Museu do

Louvre Paris 1847

O quadro de Auguste Franccedilois Biard54

pintor francecircs que chegou a vincular-se agrave corte

portuguesa no Brasil e foi professor da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro

apresenta de forma emblemaacutetica a presenccedila dos visitantes no encerramento do Salatildeo anual do

Louvre de 1847 Pessoas se acotovelando curiosos uma profusatildeo de vestes posturas e

expressotildees faciais As imagens expostas nas paredes parecem ter vida falar ao expectador

O grande nuacutemero de curiosos atestava a popularidade das exposiccedilotildees ou Salotildees que

tiveram suas primeiras versotildees no seacuteculo XVII no Palais-Royal restritas a um puacuteblico

selecionado Em 1727 os Salotildees foram abertos ao puacuteblico em nome do rei Luiz XV Junto com a

abertura dos Salotildees iniciou-se a publicaccedilatildeo de cataacutelogos e comentaacuterios descritivos das obras pelo

54 O pintor Auguste Franccedilois Biard nascido em Lyon em 1798 visita o Brasil entre 1858-1860 Eacute nomeado

professor da Academia Imperial de Belas-Artes executa retratos da famiacutelia imperial e membros da corte De volta agrave

Franccedila publica em 1862 publica um relato sobre o Brasil Ver httpwwwitauculturalorgbr

aplicexternasenciclopedia_icindexcfmfuseaction=artistas_biografiaampcd_item=1ampcd_idioma=28555ampcd_verbete

=1271Acesso em 2011

91

perioacutedico Mercure de France Surgiram os primeiros connaisseurs que se colocavam como

mediadores de uma criacutetica e de modelos de apreciaccedilatildeo e consumo da arte

Os elementos da criacutetica que comeccedilavam a se estabelecer culminariam numa nova

distinccedilatildeo entre connaisseurs e curiosos Diderot como criacutetico dos Salotildees aponta a supremacia do

sensiacutevel sobre o visiacutevel e compartilha da ideia de que os museus possuem uma funccedilatildeo educativa

Natildeo soacute para poucos frequentadores como os estudantes de arte que se serviam de uma

aprendizagem visual de estilos e obras mas num sentido universalizante do conhecimento cujos

produtores e consumidores de arte estariam em niacuteveis semelhantes Diderot defende uma

emancipaccedilatildeo do juiacutezo sobre o gosto mediante o julgamento das obras e da pertinecircncia dos temas

O sentimento uma qualidade subjetiva seria usado como criteacuterio pelo puacuteblico para avaliar as

obras Aquelas que lhes chegavam ao coraccedilatildeo despertando simpatia ou coacutelera Comoccedilatildeo

assombro choro coacutelera satildeo emoccedilotildees provocadas pelas obras do Salatildeo de 1765 em Diderot

Assim como para Diderot a descriccedilatildeo das emoccedilotildees eacute fundamental para a criacutetica de arte de

Baudelaire O pintor deveria provocar emoccedilotildees ao espiacuterito sem cair num sentimentalismo

forjado

Ao longo do seacuteculo XIX o puacuteblico dos museus se diversifica socialmente e culturalmente

ao compartilhar experiecircncias artiacutesticas tanto de fruiccedilatildeo quanto de produccedilatildeo Visitar salotildees

grandes exposiccedilotildees universais museus e adquirir objetos artiacutesticos ou mesmo ter aulas de pintura

e desenho faziam parte de haacutebitos culturais de camadas meacutedias e mesmo setores populares O uso

instrumental na induacutestria (ilustradores desenhistas) e a funccedilatildeo de formaccedilatildeo moral da arte

estavam proacuteximas Entretanto as imagens consumidas pelos segmentos populares como as

litogravuras emolduradas e o barulho que faziam nos salotildees satildeo reprovados por autoridades

como o criacutetico de arte agora um especialista em apreciar e julgar a obra

Baudelaire apresenta esse novo lugar da criacutetica que julga a mediocridade do puacuteblico e

pretende lhe dar formaccedilatildeo (informaccedilatildeo e publicidade) sobre as exposiccedilotildees Baudelaire dirige-se

aos compradores pouco instruiacutedos que deveriam ser iniciados na ciecircncia da fruiccedilatildeo Colecionar

arte era vincular-se a uma tradiccedilatildeo de bom gosto e oportunidade de ascensatildeo cultural Implicava

em reconhecimento da sofisticaccedilatildeo e do gosto do Antigo Regime como um padratildeo para os setores

meacutedios emergentes no espaccedilo poliacutetico

92

O especialista conhecedor de arte como apontam as caricaturas de Rockwell (Imagens 17

e 18) habita fisicamente o mesmo lugar que os curiosos e turistas mas se diferenciava deles por

possuiacuterem criteacuterios mais pormenorizados para observar a arte e se manterem em parcerias com

compradores e pintores

Figura 17 ROCKWELL Norman (1894-1978) O criacutetico de arte 1955

Ilustraccedilatildeo da capa de The Saturday Evening Post 16 de abril de 1955 Oacuteleo

sobre tela (1003 x 921 centiacutemetros) Coleccedilatildeo Museu Norman Rockwell

Figura 18 ROCKWELL Norman (18941978) O connaisseur 1962

Oacuteleo sobre tela Ilustraccedilatildeo produzida para a ediccedilatildeo do Saturday

Evening Post 13 jan 1962 Coleccedilatildeo Particular

93

Quem olha quem O quadro observado pelo criacutetico na Figura 17 tem vida e lhe olha de

volta O respeitoso senhor vestido em trajes solenes na Figura 18 eacute observado ou observa a

pintura colorida O pintor dos dois personagens propotildee elementos de digressatildeo imaginaccedilatildeo e

simultaneidade do olhar Para ler os quadros o espectador entra num jogo de espelhos sugerido

pelo pintor e percebe-se a si mesmo emoldurado por seu reflexo

Pode-se imaginar que tanto Paul Valery quanto Marcel Proust55

poderia estar entre os

visitantes apresentados nos quadros de Biard (Figura 16) e Rockwell (Figuras 17 e 18) Pode-se

tambeacutem imaginar ouvir a conversa entre os dois visitantes de fins do seacuteculo e iniacutecio do seacuteculo XX

com a ajuda do ensaio Museu Valery-Proust publicado originalmente em 1953 por Adorno

Valery eacute apresentado por Adorno (2005) como um artistaprodutor que cria objetos

poesias um especialista que olha a arte com toda a profundidade do ponto de vista da criaccedilatildeo

lugar do qual recebe sua profundidade O que importava para o poeta era a obra de arte como

objeto de contemplaccedilatildeo E esta se via ameaccedilada pela coisificaccedilatildeo e a indiferenccedila

O museu era o responsaacutevel por essa corrupccedilatildeo e fossilizaccedilatildeo das obras Valery se

horroriza ao caminhar pelas galerias do Louvre que para ele condenava a arte ao passado com

sua super acumulaccedilatildeo e a torna uma questatildeo de educaccedilatildeo e informaccedilatildeo Para Valery nos diz

Adorno a arte estaacute morta perdeu seu lugar na vida imediata sua relaccedilatildeo com um uso possiacutevel

Vecircnus se transformou em documento e ao visitante era recusada a possibilidade de vagar e errar

pelos museus

Proust na visatildeo de Adorno comeccedila onde Valery silencia na vida poacutestuma das obras e foi

menos ingecircnuo com relaccedilatildeo agrave arte Proust era um consumidor admirador um amante das artes

que estava separado das obras por um fosso Para Adorno era essa a grande virtude de Proust

assumir de forma firme essa postura de consumidor a ponto de transformar essa atitude em um

novo tipo de produtividade A forccedila da contemplaccedilatildeo do interno e do externo culminava em

Proust em produccedilatildeo de lembranccedilas memoacuterias

Para Adorno Proust era melhor visitante de museus que Valery E argumentou Em

Valery o processo de produccedilatildeo artiacutestica e a reflexatildeo sobre esse processo estavam

55 Ver Paul Valery O problema dos Museus Revista do patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional N31 2005 p32-

35 Marcel Proust tem diversas inferecircncias em sua obra Em busca do tempo perdido Satildeo Paulo Abril Cultural 1979

94

indissoluvelmente interligados Ele eacute o proacuteprio criteacuterio de julgamento da composiccedilatildeo da obra e da

experiecircncia que se tem por meio dela A criacutetica de Valery eacute conservadora em termos de cultura

pois o uacutenico criteacuterio coincidia com seu proacuteprio juiacutezo de gosto

Jaacute Proust estava livre desse fetichismo de quem fazia ele proacuteprio as coisas e entendia as

obras naquilo que elas tinham de esteacutetico rdquoum fragmento de vida daquele que as contempla um

elemento da proacutepria consciecircnciardquo (Adorno 2005 p179)

Proust tinha acesso a uma camada da obra que pressupunha a sua morte e assim a

sensibilidade para perceber o histoacuterico como paisagem Percebia a erosatildeo que a histoacuteria produzia

nas obras e a capacidade de sobrevivecircncia delas agrave semelhanccedila com o belo e o natural A

decadecircncia das coisas para Proust era uma segunda vida Soacute subsistia aquilo que era mediado

pela recordaccedilatildeo A qualidade esteacutetica era secundaacuteria

Walter Benjamin (2006 p603) tambeacutem convocou a opiniatildeo de Proust sobre os museus

para diferenciar a apreciaccedilatildeo de um quadro colocado de maneira isolada numa sala de jantar e

uma visita ao museu Soacute a sala de museu por sua nudez e seu despojamento de todas as

particularidades pode proporcionar a embriagante alegria dos espaccedilos interiores onde o artista se

retirou para criar

O aspecto caoacutetico do museu desagradava Valery O museu era lugar da barbaacuterie e natildeo de

cultura que tinha um caraacuteter sagrado vivo Jaacute Proust fez a defesa do museu mas era critico em

relaccedilatildeo agrave cultura ou agrave tradiccedilatildeo cultural exposta nos museus que ele experimentava reagia se

contaminando pela vida poacutestuma das obras

33 - Maneiras de ver e ser visto nos museus

O Louvre como modelo de instituiccedilatildeo museal agrega ao sentido moderno de museu a

ideacuteia de instruccedilatildeo puacuteblica contraposta ao museu de curiosidade e frivolidade presente nos

gabinetes de curiosidade e galerias reais O programa poliacutetico de gestatildeo dos bens culturais do

Louvre estava assim completo na Franccedila revolucionaacuteria inventariar e conservar toda a extensatildeo

de objetos que possam servir agraves artes agraves ciecircncias e ao ensino

O tema da apropriaccedilatildeo do patrimocircnio dos legados do passado estaacute presente no museu

francecircs e continua atual na discussatildeo sobre as poliacuteticas de memoacuteria O museu iluminista ou

95

enciclopedista estaacute aberto a todos os domiacutenios do conhecimento Eacute conservatoacuterio local de estudo

e produccedilatildeo do conhecimento

Para Brefe (1998) o museu puacuteblico moderno eacute ineacutedito no sentido de seu conteuacutedo e sua

forma de exposiccedilatildeo As obras herdadas do regime republicano na Franccedila perderam suas antigas

funccedilotildees e relaccedilotildees com o universo poliacutetico e social Era necessaacuterio construir um novo modo pelo

qual seriam lidas e ao mesmo tempo produzir novas imagens de legitimaccedilatildeo da revoluccedilatildeo Com a

radicalizaccedilatildeo do regime a chamada era do terror instalou-se a incompatibilidade entre a

ideologia da revoluccedilatildeo e obras de arte e monumentos do Antigo Regime seguida de uma onda de

ataques com a destruiccedilatildeo e depredaccedilatildeo de siacutembolos da realeza do feudalismo e do despotismo

O museu surge como o lugar que ldquodesacraliza e neutraliza os siacutembolos e imagens fazendo-os ou

ascender ou reduzindo-os ao estatuto de objetos culturaisrdquo (BREFE 1998 p307)

Haacute uma nova dimensatildeo poliacutetica para o museu Seu papel eacute estrateacutegico em relaccedilatildeo agrave

justificativa cultural do poder O museu ao conservar aquelas obras inventa um sentido para o

patrimocircnio evitando expor de maneira expliacutecita os siacutembolos nelas contidos sua ideologia Ele

destroacutei natildeo a obra de arte mas a mostra a partir do que a cultura do museu julga pertinente O

museu participa ativamente da mudanccedila do estatuto do objeto Ele perde suas significaccedilotildees

anteriores e entra num novo dispositivo simboacutelico uma memoacuteria outorgada

Os museus tambeacutem oferecem duas contribuiccedilotildees para se redefinir a dimensatildeo poliacutetica no

sentido de puacuteblica na Franccedila A primeira eacute a defesa da universalidade do patrimocircnio agrave medida

que se elabora uma lista de obras canocircnicas que servem de referecircncia a todas as naccedilotildees europeacuteias

a partir do legado do patrimocircnio francecircs A segunda contribuiccedilatildeo eacute identificar uma dimensatildeo

histoacuterica na cultura um passado cuja existecircncia justifica a conservaccedilatildeo A Revoluccedilatildeo natildeo pode

apagar a histoacuteria ao contraacuterio ela procurou criar uma determinada ldquoconsciecircncia histoacutericardquo como

ponto de partida para um novo recomeccedilo ou regeneraccedilatildeo Haacute uma heranccedila a ser gerida e o museu

eacute instrumento poliacutetico desse direito de dominar a histoacuteria e recolher o patrimocircnio dos seacuteculos ou

o proacuteprio passado

Receptaacuteculo de todas as obras-primas da humanidade jaacute que a Franccedila eacute a paacutetria ideal o

museu neutraliza o discurso da pilhagem que passa a ser visto como repatriamento Abriu-se em

fins do seacuteculo XVIII novo debate natildeo soacute sobre o espaccedilo de exposiccedilatildeo e o que eacute um museu mas

sobre o poder de instituir sentidos que lhe eacute conferido ao sacralizar as obras para aleacutem de seu

96

estatuto de objetos culturais como ldquotesouros conquistadosrdquo Uma nova funccedilatildeo como ldquomemorial

da naccedilatildeordquo ou ldquotemplo da memoacuteriardquo e natildeo apenas de ldquoinstituiccedilatildeo de instruccedilatildeo puacuteblicardquo como

requeriam o projeto enciclopedista eacute que tomou forccedila no seacuteculo XIX

A visualidade nos museus estaacute ligada agrave poliacutetica e agrave capacidade cada vez mais elaborada

de controle racionalcientiacutefico do mundo moderno de teacutecnicas para registrar documentar e

codificar o conhecimento Benedict Anderson (2008 p221) observou que o mundo moderno se

caracteriza pela unidade de visualizar coisas que natildeo satildeo visiacuteveis ou visuais o censo o mapa e o

museu

Para Anderson todo museu pode ser visto como um programa educativo principalmente

porque o museu moderno (seacuteculo XIX) estaacute ligado profundamente a aspectos do poder poliacutetico e

dos sistemas poliacuteticos educacionais modernos Os museus produzem e reproduzem hierarquias

sociais ideologias e tambeacutem assumem um papel na produccedilatildeo de imagens de raccedila povo naccedilatildeo

criando legitimidades sociais Ligam-se diretamente ao Estado e apresentam-se como guardiotildees

da tradiccedilatildeo geral e local conferem prestiacutegio aos lugares e objetos Satildeo lugares sem pessoas

desabitados exceto pela frequumlentaccedilatildeo turiacutestica satildeo dessacralizados A dimensatildeo poliacutetica dos

museus se daacute nos materiais produzidos nos censos pictoacutericos do patrimocircnio disponiacutevel As

imagens satildeo reproduzidas infinitamente no cotidiano via manuais escolares postais selos de

modo que a musealizaccedilatildeo poliacutetica se torna celebraccedilotildees comemoraccedilotildees e emblemas da identidade

nacional

O museu para Anderson eacute uma forma de imaginaccedilatildeo da Histoacuteria e do poder mas a

imaginaccedilatildeo aqui tem um caraacuteter de conservar as formas da histoacuteria de criar comunidades

imaginadas O museu eacute como um ldquoaacutelbumrdquo dos antepassados ao longo do tempo que pode ser

herdado pelos sucessores Um ldquoventriloquista nacionalistardquo um desejo de falar pelos mortos

Guardam entretanto um paradoxo entre sua luta contra o esquecimento (lembranccedila) e a

necessidade do proacuteprio esquecimento mecanismo tiacutepico das genealogias que realizam

ldquofratriciacutedios tranquumlilosrdquo em nome do ldquodever de jaacute ter esquecidordquo A ambiccedilatildeo educativa dos

museus neste caso eacute a dissoluccedilatildeo de conflitos violentos raciais de classes regionais e a

construccedilatildeo de uma nova consciecircncia Haacute a passagem da memoacuteria agrave histoacuteria oficial A narrativa da

ldquoidentidaderdquo da consciecircncia eacute inscrita em um tempo secular uma seacuterie de implicaccedilotildees de

continuidades e esquecimentos da experiecircncia A ldquobiografia da naccedilatildeordquo escrita pelos museus eacute o

97

acuacutemulo das guerras holocaustos mortes violentas que tecircm de ser lembradasesquecidas como

nossas (ANDERSON 2008 p268)

Se para Anderson a memoacuteria eacute hierarquizada no museu por uma poliacutetica de memoacuteria para

Walter Benjamin (2006) o sentido pedagoacutegico da memoacuteria e da narrativa no museu eacute distinto O

museu eacute visto como capaz de problematizar a racionalidade das imagens da histoacuteria Enquanto

Anderson vecirc o museu como um edifiacutecio soacutelido uma instituiccedilatildeo Benjamin vivencia o museu

como um sonho um labirinto imaginaacuterio enraizado na histoacuteria mas (e por essa razatildeo) permite

articular o instante e a duraccedilatildeo num mergulho na proacutepria experiecircncia (sensibilidade)

O museu para Benjamin eacute por definiccedilatildeo moderno mas um novo que sempre existiu

Como afirma Michelet sobre a vista de uma paisagem da Charneca eacute sempre nova e sempre

igual Natildeo eacute a mesma sequer semelhante mas se exprime pelas coisas presentes Uma atitude

que entende o museu como aquele capaz de ressuscitar os mortos ou de tornar a histoacuteria viva

como acontece no percurso de Michelet pelo Museu dos Monumentos Franceses organizado por

Alexandre Lenoir56

e seu encontro com a histoacuteria viva da Franccedila e seus heroacuteis meroviacutengios

O primeiro movimento alegoacuterico de Benjamin eacute transformar o museu em morada do

sonho coletivo em metamorfose do interior O museu eacute um rito de passagem vivecircncia de

transiccedilatildeo caminhada por caminhos fantasmagoacutericos em que as portas cedem e as paredes se

abrem Essa atitude diante dos museus e das obras de arte natildeo eacute meramente contemplativa e nem

um comportamento aacutevido diante de mercadorias expostas O museu para Benjamin mobiliza o

visitante Coloca no cotidiano a utopia coisas que ningueacutem jamais experimentou mas que

deveriam lhes caber

As estrateacutegias de exibiccedilatildeo dos museus e a criaccedilatildeo de novos museus entretanto natildeo satildeo

vistas com ingenuidade por Benjamin Ele faz uma criacutetica das exposiccedilotildees universais e as via

como siacutenteses prematuras que fecham o espaccedilo para o novo e impediam a ventilaccedilatildeo das classes

Para Benjamin os produtos industriais projetados no passado eram organizados segundo

princiacutepios estatiacutesticos e a accedilatildeo de exibiccedilatildeo seria terapecircutica Visava rejuvenescer tonificar

restabelecer recuperar conservar e aperfeiccediloar os encantos da natureza que se definhavam e

morriam

56 O Museu de Lenoir precede agrave abertura do Louvre e teve curta duraccedilatildeo (1795-1816)

98

As exposiccedilotildees universais satildeo criticadas e exemplificam a passagem do caraacuteter efecircmero

que deixam rastros como a Torre Eiffel edificada como o arco de entrada da Exposiccedilatildeo

Universal de 1889 e transformada posteriormente em monumento O tempo de preparo e de

duraccedilatildeo de um empreendimento como uma exposiccedilatildeo guarda esse sentido agudo da histoacuteria Para

que seja compreendido esse tempo o criacutetico e o espectador deveriam operar em si mesmos uma

transformaccedilatildeo que eacute um misteacuterio um fenocircmeno da vontade agindo sobre a imaginaccedilatildeo Ele deve

aprender por si mesmo a participar do meio que deu origem a essa ldquofloraccedilatildeo insoacutelitardquo esse

sentido de ausecircncia em presenccedila de algo Essa emoccedilatildeo na qual o viajante se abandona a si mesmo

e muda sua visatildeo (Benjamin 2006 p236)

Figura 19 ANDRADE Aleacutecio Fotografia 1993 Cataacutelogo da

exposiccedilatildeo ldquoO Louvre e seus visitantesrdquo Instituto Moreira Salles 2009

A fotografia de Aleacutecio Andrade acima desperta o sentimento de interioridade do visitante

que resiste ao modelo temporal de museu e sua forma de apresentaccedilatildeo do passado O visitante se

apresenta no presente e se define na relaccedilatildeo com o museu estatildeo envolvidos em presenccedila do

invisiacutevel tem os olhos e os corpos na exposiccedilatildeo criada pelo fotoacutegrafo O cenaacuterio eacute o mesmo dos

Salotildees do seacuteculo XVIII (Figura 19)

99

Os visitantes das fotografias de Aleacutecio Andrade evocam o sentido poeacutetico dos museus que

se apresentam como colecionadores de alegorias e natildeo de siacutembolos (BENJAMIN 2006 p 237-

239) O visitante se transporta para dentro do museu e o acolhe em seu espaccedilo interior Visitar eacute

possuir os objetos eacute utilizaacute-los novamente libertando-os de serem inuacuteteis O alegorista

entretanto diferente do colecionador natildeo reuacutene as coisas afins natildeo estabelece sucessotildees natildeo

empreende uma luta contra a dispersatildeo mas desliga as coisas de seus ldquocontextosrdquo natildeo permite

prever e fixar os significados Abrem-se assim agraves transparecircncias porosidades e a possibilidade de

apropriar do princiacutepio e da forma

34 - A funccedilatildeo educativa nos museus entre os museus escolares e os pedagoacutegicos

A fundaccedilatildeo de museus no Brasil antecede a criaccedilatildeo das universidades Os museus

brasileiros foram durante o seacuteculo XIX o principal loacutecus de produccedilatildeo de cientistas praacuteticas de

preservaccedilatildeo e de uso educacional do patrimocircnio Tambeacutem se formaram como arenas de disputa

por versotildees do passado e campo de elaboraccedilatildeo intelectual criacutetica em relaccedilatildeo a outras instituiccedilotildees

poliacuteticas e culturais57

O Museu Nacional localizado na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro eacute considerado

desde sua inauguraccedilatildeo em 1818 a principal referecircncia de instituiccedilatildeo cultural Nos anos de 1920-

1930 eacute visto como modelo de museu para os intelectuais reformadores da educaccedilatildeo nacional

Outras instituiccedilotildees educativas e culturais como as universidades teratildeo espaccedilo no cenaacuterio

institucional tambeacutem nos anos de 1930 em funccedilatildeo das reformas de ensino de 1927-1930 quando

eacute definido por decreto-lei o Estatuto das Universidades Brasileiras e criada a Universidade do Rio

de Janeiro em 1931 (LEMME 1984 p171)

Escola e museus foram organizados de maneira distinta ao longo do seacuteculo XIX e para se

aproximarem precisavam que fosse elaborado um campo de interseccedilatildeo de atuaccedilatildeo e uma

concepccedilatildeo comum acerca de suas finalidades Diana Vidal (1999 p107-116) chama a atenccedilatildeo

para o significado do museu escolar em fins do seacuteculo XIX seu papel como dispositivo

pedagoacutegico que se define como ldquouma reuniatildeo metoacutedica de coleccedilatildeo de objetos comuns e usuais

57 Margaret Lopes desenvolve importante pesquisa sobre os museus brasileiros e latino americanos no seacuteculo XIX

Ver Lopes 1997 1998 2001 e 2005

100

destinados a auxiliar o professor no ensino de diversas mateacuterias do programa escolarrdquo (VIDAL

1999 p 108)

Entretanto ao longo do seacuteculo XX o movimento de aproximaccedilatildeo entre museus e

educaccedilatildeo natildeo foi nada natural e pressupunha accedilotildees poliacuteticas efetivas para a ampliaccedilatildeo da ideacuteia de

educaccedilatildeo para aleacutem das instituiccedilotildees escolares e de princiacutepios de organizaccedilatildeo mais democraacuteticos

Quanto aos museus era necessaacuterio que fossem concebidos como parte do projeto de educaccedilatildeo

geral ou do povo Essa dupla face da transformaccedilatildeo da concepccedilatildeo e finalidade de museus e

escolas eacute o que vemos no movimento da chamada escola nova e que tem por marco institucional

o ldquoManifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Novardquo (1932) lanccedilado no calor da Revoluccedilatildeo de 1930

que defendia uma escola promovida pelo Estado laica gratuita e obrigatoacuteria (ESTEVES 1994

p 52-72)

Os trecircs autores escolhidos e apresentados satildeo os primeiros a publicar no Brasil uma

literatura especiacutefica considerando as relaccedilotildees entre museus e educaccedilatildeo Francisco Venacircncio Filho

(1941) Joseacute Valladares (1946) e Edgar Suumlssekind de Mendonccedila (1946) possuem muito em

comum e dialogam entre si citando as pesquisas e publicaccedilotildees de seus contemporacircneos

Participaram juntamente com Everardo Backheuser Heitor Lira da Silva e outros da criaccedilatildeo da

Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo em 1924 Venacircncio Filho acompanharia de perto as reformas

educacionais de Carneiro Leatildeo Fernando de Azevedo Aniacutesio Teixeira Francisco Campos e

Gustavo Capanema Foi superintendente de Ensino Teacutecnico e diretor da Escola Normal Publicou

em 1932 com Jonatas Serrano o livro Cinema e Educaccedilatildeo pela Companhia Melhoramentos

A questatildeo central a ser destacada nessa bibliografia estritamente ldquonacionalrdquo eacute como ela

elabora os princiacutepios da relaccedilatildeo entre os museus europeus e brasileiros Quais paracircmetros de

comparaccedilatildeo satildeo adotados pelos autores brasileiros e quais satildeo os modelos que serviriam agrave obra

reformadora nacional A segunda questatildeo a ser investigada eacute como definem a relaccedilatildeo museus e

educaccedilatildeo qual o papel dos museus e qual o papel da escola Outro ponto que mobiliza eacute o

proacuteprio destinataacuterio desses discursos educativos nos anos de 1930-1940 Como estes autores

dirigiam-se ora especificamente ao puacuteblico escolar (professores e alunos) ora agrave populaccedilatildeo como

um todo ou o ldquopovordquo Como implicam os agentes governo sociedade organizada indiviacuteduos

pela resoluccedilatildeo do ldquoproblema nacional a educaccedilatildeordquo

101

Do ponto de vista das discussotildees teoacutericas e inovaccedilotildees praacuteticas na educaccedilatildeo Diana Vidal

(2000) ressalta que os chamados educadores renovados ndash Lourenccedilo Filho Fernando de Azevedo

dentre outros ndash natildeo soacute acompanhavam os movimentos realizados na educaccedilatildeo europeacuteia e norte-

americana como se utilizavam dessa literatura estrangeira para respaldar sua accedilatildeo educativa no

territoacuterio nacional (VIDAL 2000 p513)

Os autores destacados nesta anaacutelise que discorrem sobre a relaccedilatildeo museus-educaccedilatildeo

utilizam em seus argumentos o recurso ao ldquoestrangeirordquo como via de matildeo dupla Natildeo haacute por

exemplo em Joseacute Valladares (1946) nem em Edgar Sussekind de Mendonccedila (1946) nenhum

deslumbramento com os museus visitados por eles fora do paiacutes Eles natildeo deixam que a seduccedilatildeo e

encantamento com os museus europeus e norte-americanos se sobreponham aos seus propoacutesitos

de avaliar e comparar tendo em vista a melhoria dos museus no Brasil As visitas agraves instituiccedilotildees

estrangeiras e as consideraccedilotildees que explicitam servem ao propoacutesito de reforccedilar certa erudiccedilatildeo e o

conhecimento de causa Natildeo visam simplesmente desqualificar a realidade nacional frente ao

internacional

Assim como as viagens e excursotildees os escolanovistas consideram os museus como

dispositivos de educaccedilatildeo ou materiais pedagoacutegicos a serem utilizados para melhor aparelhar a

escola moderna Em outro sentido os museus satildeo ldquograndes casas de educaccedilatildeo ao alcance de

todos a qualquer momento graccedilas a uma teacutecnica de exposiccedilatildeo e mostruaacuterios em que nenhum

pormenor eacute descuidado desde a arrumaccedilatildeo ateacute a cor e forma dos letreirosrdquo (VENAcircNCIO FILHO

1941 p128) Esse otimismo com relaccedilatildeo ao papel educativo dos museus eacute partilhado por Joseacute

Valladares e Edgar Suumlssekind de Mendonccedila

Francisco Venacircncio Filho (1894-1946) destacou-se ao longo de sua vida puacuteblica como um

dos colaboradores diretos de Fernando de Azevedo e publica como ldquoprofessor do Instituto de

Educaccedilatildeo do Distrito Federal e livre docente do Coleacutegio Pedro IIrdquo o volume 38 da 3ordf Seacuterie de

Atualidades Pedagoacutegicas da Biblioteca Pedagoacutegica Brasileira com o tiacutetulo Educaccedilatildeo e seu

aparelhamento Moderno brinquedos cinema raacutedio fonoacutegrafo viagens e excursotildees museus e

livros em 1941 pela Companhia Editora Nacional

Para Venacircncio Filho (1941 p13) e outros intelectuais da chamada escola nova a

educaccedilatildeo eacute vida Busca no diaacutelogo e na autoridade de Afracircnio Peixoto (1876-1947) aproximar o

campo que o colega designara como ldquoeducaccedilatildeo orgacircnicardquo e de outra a ldquoescolarrdquo Para o autor o

102

ldquoaparelhamento modernordquo procura eliminar a distacircncia entre ambos os meios de educaccedilatildeo

(VENAcircNCIO FILHO 1941 p13) A educaccedilatildeo formal e a informal estatildeo imbricadas numa

educaccedilatildeo geral para a qual contribuem ldquoos instrumentos que nasceram na escola e transbordaram

dela para a vidardquo e os que ldquovieram de fora para a escola e vatildeo auxiliando colaborando com a sua

obrardquo multiplicando em extensatildeo e intensidade Esses instrumentos que poderiacuteamos chamar de

dispositivos tem uma accedilatildeo extensiacutevel e imprevisiacutevel (VENAcircNCIO FILHO 1941 p14)

A mesma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo geral eacute explicitada por Edgar Sussekind de Mendonccedila e

Jose Valladares Mendonccedila em seu texto A extensatildeo cultural nos museus publicado pela

Imprensa Nacional em 1946 compartilha dos pressupostos de Venacircncio Filho e o cita por

diversas vezes Elaborado para concurso de provas58

para ser transferido a pedido da diretora do

Museu Nacional Heloiacutesa Alberto Torres para a receacutem criada Seccedilatildeo de Extensatildeo Cultural do

museu o texto pode ser entendido como sugere o proacuteprio autor como uma carta programa do

novo diretor e da nova seccedilatildeo do Museu

Procedimento comum aos trecircs autores destacados Edgar Sussekind de Mendonccedila (1941)

tambeacutem inicia sua exposiccedilatildeo propondo a inversatildeo na forma de interpretar os termos educaccedilatildeo

supletiva e educaccedilatildeo escolar para definir o campo de atuaccedilatildeo dos museus em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Como jaacute enfatizado por Venacircncio Filho o projeto de educaccedilatildeo popular eacute abrangente universalista

e a escola eacute apenas uma das instituiccedilotildees capazes de responder agrave demanda por educaccedilatildeo As

instituiccedilotildees de ensino eacute que satildeo supletivas na visatildeo de Mendonccedila (1941 p9) a educaccedilatildeo extra-

escolar eacute que designa o todo e natildeo aquela educaccedilatildeo intra-escolar A extensatildeo cultural eacute dentro

dessa visatildeo a educaccedilatildeo generalizada e os museus por direito de antiguidade tecircm papel

insubstituiacutevel e preponderante de realizaacute-la

Ao considerar as ldquoexcursotildees e viagensrdquo como ldquomeio pedagoacutegicordquo a primeira questatildeo

levantada satildeo as dificuldades de execuccedilatildeo em ambiente escolar recursos tempo ajustamento de

horaacuterios A sugestatildeo dada pelo autor eacute bastante conciliadora Do ponto vista geral ele defende que

ldquonas viagens se pode rever em breve e rapidamente o que nos legou o passado ou o que nos daacute o

presente em arte em ciecircncia em induacutestria em costumes atraveacutes dos inuacutemeros museus

espalhados pelo mundo inteirordquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p15)

58 Segundo informa o proacuteprio autor o texto foi elaborado no prazo de trinta e cinco dias sendo que Mendonccedila

utilizou vinte e cinco para consulta a livros (MENDONCcedilA 1946 p25)

103

Do ponto de vista efetivo o problema eacute como realizar em larga escala viagens de luxo

recreio e de cultura aos Estados Unidos e Europa como fazem os intelectuais escolanovistas Natildeo

eacute simples conciliar os princiacutepios e a accedilotildees Embora deseje defender essa praacutetica ldquoadmiraacutevelrdquo

Venacircncio Filho alerta que na escola eacute preciso uma soluccedilatildeo mais viaacutevel planejar bem expor

previamente aos alunos e propor saiacutedas livres de grupos aos domingos e feacuterias para cultivar o

gosto e o ldquohaacutebito de prazeres sadios e econocircmicosrdquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p117)

As consideraccedilotildees sobre as excursotildees vatildeo se formando a partir de argumentos que juntam a

defesa do interesse da crianccedila e de suas condiccedilotildees para realizar excursotildees no qual cita os

americanos e seu programa de sugestotildees de excursotildees para diferentes idades entre 3 a 5 anos e a

defesa da ldquocultura europeacuteia como o padratildeo de civilizaccedilatildeo frente a ldquogleba nativardquo da ldquopaisagem

exoacuteticardquo da Ameacuterica (VENAcircNCIO FILHO 1941 p120) Cita nesse caso versos de Olavo Bilac e

a replica de Afracircnio Peixoto que exaltam Nova York (VENAcircNCIO FILHO 1941p122)

Os benefiacutecios das viagens parecem se afastar daquelas possibilidades efetivas do trabalho

escolar e o autor estaacute a endereccedilar seus conselhos a um provaacutevel viajante ldquonativordquo supostamente

adulto com pouca familiaridade com viagens e excursotildees e que necessite de orientaccedilotildees para

preparar-se culturalmente para a viagem Nosso autor parece estar plenamente qualificado para

relatar sua vasta experiecircncia cultural com viagens internacionais e ajudar na divulgaccedilatildeo dessa

praacutetica cultural

Quanto aos guias impressos o autor sabe indicar quais satildeo os melhores Em relaccedilatildeo agraves

grandes agecircncias de turismo elas ldquodevem ser utilizadas com inteligecircnciardquo Comprar poucas

lembranccedilas procurar hoteacuteis proacuteximos agraves estaccedilotildees preccedilos acessiacuteveis calcular despesas por dia

cacircmbio escolher os tipos de companheiros de viagem satildeo recomendaccedilotildees importantes Venacircncio

Filho deixa claro seu gosto pelas viagens sonho antes alegria durante e evocaccedilotildees depois

Os museus aparecem como ldquomeacutetodosrdquo um dos pilares para a melhoria da educaccedilatildeo ldquoum

ensino centrado na crianccedila e natildeo no professor e a educaccedilatildeo como preparaccedilatildeo para a vidardquo59

Os

museus ajudariam tambeacutem no ensino da histoacuteria baseada excessivamente em compecircndios e

criticada por seu excesso de memorizaccedilatildeo e acuacutemulo de datas O proacuteprio Jonathas Serrano que

tem seu compecircndio publicado em 1912 e utilizado ateacute 1924 contando com 54 ediccedilotildees explicita jaacute

59 Edgar Sussekind de Mendonccedila tambeacutem questionava a importacircncia exagerada dada agrave escola no ldquoconjunto da tarefa

educacionalrdquo (MENDONCcedilA 1946 p10)

104

em 1918 (4ordf ediccedilatildeo) a criacutetica aos processos de ensino de Histoacuteria exaustivos baseados na

memorizaccedilatildeo Serrano mostrava-se otimista quanto aos ldquoprogressos dos recursos tecnoloacutegicos

como o cinematoacutegrafo que permite ensinar pelos olhos e natildeo apenas e enfadonhamente pelos

ouvidosrdquo (SCHMIDT 2004 p197)

Venacircncio Filho (1941) faz a descriccedilatildeo de vaacuterios museus classificados como mistos de

histoacuteria e ciecircncias como o British Museum e o Louvre mas deteacutem-se na descriccedilatildeo do ldquonosso da

Quinta da Boa Vista em que se resume a natureza de uma vida da regiatildeordquo (VENAcircNCIO FILHO

1941 p128) Dando continuidade a uma tipologia dos museus Venacircncio Filho apresenta como

museu histoacuterico exemplar o Museu do Ipiranga Ao final do capiacutetulo faz consideraccedilotildees raacutepidas

sobre o Museu Goeldi no Paraacute e retoma suas observaccedilotildees sobre o Museu Nacional da Quinta da

Boa Vista e o Museu Paulista Satildeo Paulo Ao longo do capiacutetulo cita a curta existecircncia dos museus

pedagoacutegicos organizados na reforma da instruccedilatildeo puacuteblica do Rio de Janeiro de Fernando

Azevedo (1927-1930) tendo um museu central no entatildeo Distrito Federal dirigido por Everardo

Backheuser (1879-1951) do qual fala no ldquopresente do indicativordquo pois ldquocomo desapareceu

passou para o passadordquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p143)

Eacute curioso notar que Venacircncio filho natildeo descreve o projeto dos museus pedagoacutegicos nem

mesmo recomenda sua criaccedilatildeo nas salas ou escolas Os modelos de museus estatildeo nos grandes

centros como o Museu de Munich ao qual dedica duas paacuteginas para expor como satildeo os museus

teacutecnicos e sua importacircncia para a educaccedilatildeo popular Dedica tambeacutem uma descriccedilatildeo

pormenorizada do Deustches Museum apresentando as salas as divisotildees das exposiccedilotildees fiacutesica

quiacutemica tempo Cita os museus norte-americanos e avalia dois museus brasileiros o Museu

Nacional (RJ) o Museu Paulista (SP)

O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista foi para Venacircncio Filho ldquogrande centro

cientiacutefico do paiacutes do qual partiam os uacutenicos fios de ligaccedilatildeo com o mundo cultordquo Jaacute o Museu

Histoacuterico Nacional eacute exemplar antes e depois da reforma educacional

Ele eacute no resumo de seus mostruaacuterios bdquouma verdadeira miniatura da paacutetria‟ O Museu

atraveacutes de suas divisotildees teacutecnicas realiza a sua missatildeo de conservar pesquisar divulgar e

ensinar dando depois da reforma de 1931 agrave educaccedilatildeo popular uma contribuiccedilatildeo

preciosa para o estudo das ciecircncias naturais (VENAcircNCIO FILHO 1941 p143)

Ao contraacuterio dos elogios e otimismo quanto ao papel dos museus de histoacuteria natural

explicitados ao Museu Nacional e ao Museu Goeldi Venacircncio Filho faz uma criacutetica a concepccedilatildeo

105

de histoacuteria presente no Museu Histoacuterico Nacional que ldquoainda natildeo adquiriu forma definitiva que

deveria ser a de uma evocaccedilatildeo viva do passado todo do Brasil desde o periacuteodo colonial ateacute os

dias da Repuacuteblicardquo (VENAcircNCIO FILHO 1941 p145) Essa criacutetica fica mais evidente quando

afirma que em se tratando de museus histoacutericos o Museu Paulista eacute ldquonatildeo soacute uacutenico no paiacutes como

pode ser posto em confronto com qualquer outro congecircnere do estrangeirordquo (VENAcircNCIO

FILHO 1941 p145) A descriccedilatildeo que Venacircncio Filho faz do Museu do Ipiranga eacute carregada de

adjetivos ldquoum perfume discreto do passado nacional sem gratildeos de coisas esquecidas e

abandonadasrdquo quadros admiraacuteveis monccedilotildees Pedro Ameacuterico documentos antigos fruto das

pesquisas de Afonso Taunay estaacutetua de Bernardelli coleccedilotildees naturais Venacircncio Filho (1941

p147) termina suas consideraccedilotildees no mesmo ponto no qual iniciou exaltando a capacidade dos

museus em transformarem-se em ldquograndes escolas de educaccedilatildeo popularrdquo

Para Edgar Sussekind de Mendonccedila (1946) a chamada extensatildeo cultural eacute a relaccedilatildeo de

atividades de um museu que permitiria a comunhatildeo da vida e da aula abrangendo todos os

puacuteblicos de todas as idades (MENDONCcedilA 1946 p10) Ao longo da monografia ele vai

explicitando que o museu atua na educaccedilatildeo do povo e a extensatildeo cultural atuaria como um

ldquosistema de iniciaccedilatildeo cientiacutefica e aperfeiccediloamento sem a rigidez dos cursos universitaacuteriosrdquo

(MENDONCcedilA 1946 p 40)

Mendonccedila deixa expliacutecito em seu programa de accedilatildeo que sua grande preocupaccedilatildeo eacute com o

ensino e a ligaccedilatildeo da escola com a vida e para isso assim como Venacircncio Filho ele estaacute

preocupado com a ampliaccedilatildeo do puacuteblico natildeo especializado O museu eacute importante nessa funccedilatildeo

pois estaacute tanto no domiacutenio experimental quanto da documentaccedilatildeo objetiva Entretanto a

materialidade de suas mostras eacute para observaccedilatildeo natildeo para experimentaccedilatildeo A visualizaccedilatildeo eacute um

meacutetodo histoacuterico dos museus e pode ser utilizado no ensino tanto superior quanto na educaccedilatildeo

extra-escolar das classes proletaacuterias A questatildeo natildeo eacute a funccedilatildeo educativa dos museus mas

preparar os museus para as necessidades educativas de seu povo (MENDONCcedilA 1946 p 25)

Para Joseacute Vasconcellos (1946) a questatildeo da localizaccedilatildeo dos museus eacute colocada de modo

semelhante ldquoporque deve ir ao seu encontro o museu tem de saber onde o povo pode ser achado

com mais facilidade Este eacute o problema principal na localizaccedilatildeo dos museusrdquo

(VASCONCELLOS 1946 p99) Ou seja o problema da localizaccedilatildeo dos museus eacute saber onde

estaacute o povo ou como diria o cancioneiro popular ldquotodo artista tem de ir onde o povo estaacuterdquo

106

Mendonccedila assim como Vasconcellos e Venacircncio toma o Museu Nacional da Quinta da

Boa Vista como referecircncia para as consideraccedilotildees sobre os museus brasileiros Apoacutes criticar o

sistema universitaacuterio pelo aristocratismo das faculdades e academias ou ainda os proacuteprios museus

pelo anacronismo ao se voltarem para uma concepccedilatildeo de conservaccedilatildeo estaacutetica o autor se volta

para a defesa dos museus como ldquoestabelecimentos de educaccedilatildeo popularrdquo capazes de responder ao

problema de ldquopreparo meacutedio dos homens de formaccedilatildeo irregularrdquo A teacutecnica de museus eacute capaz de

orientar cientificamente um filme documentaacuterio sobre Canudos citado como exemplo e ao

mesmo tempo promover exposiccedilotildees especiais sobre cultura indiacutegena e cultura negra no Brasil

natildeo existentes no Museu Nacional mas que deveriam ser incluiacutedas por interessar agrave extensatildeo

cultural servindo de ldquoligaccedilotildees entre o palco das generalidades e os bastidores dos especialistas

(MENDONCcedilA 1946 p40-43)

Para Mendonccedila

o fato poreacutem eacute que os museus do Rio de Janeiro provavelmente ainda por longo tempo

funcionaratildeo apenas na imaginaccedilatildeo complementar de alguns de seus visitantes e nas

melhorias de interpretaccedilatildeo pedagoacutegica que os especialistas em colaboraccedilatildeo com os

professores vatildeo conseguindo fazer para alguns interessados e para o puacuteblico em geral

a interessar (MENDONCcedilA 1946 p53)

Se haacute por parte de Edgar Suumlssekind de Mendonccedila certo pessimismo quanto agraves

possibilidades de mudanccedilas na organizaccedilatildeo dos museus descritas por estes mesmos especialistas

da eacutepoca ndash arrumaccedilatildeo iluminaccedilatildeo etiquetas cataacutelogos e exposiccedilotildees ndash ele eacute otimista quanto agraves

atividades de extensatildeo que natildeo dependeriam de recursos diretos de pesquisa e preservaccedilatildeo

propaganda em diversos meios como raacutedio formaccedilatildeo de funcionaacuterios especializados em orientar

visitas palestras conferecircncias guias impressos projeccedilotildees de cinema coleccedilotildees e exposiccedilotildees

escolares Enfim a articulaccedilatildeo e accedilatildeo externas capazes de integrar os museus agrave sua finalidade

democraacutetica

Para explicitar a opiniatildeo de Mendonccedila sobre os museus tradicionais e suas praacuteticas de

exposiccedilatildeo cito dois exemplos a exposiccedilatildeo sobre o centenaacuterio de Joseacute Bonifaacutecio no Museu

Nacional e suas criacuteticas agrave concepccedilatildeo de museu do proacuteprio Museu Histoacuterico Nacional Mendonccedila

natildeo tem nenhuma simpatia pelas comemoraccedilotildees ciacutevicas marcadas por exposiccedilotildees especiais em

museus Ele critica a exposiccedilatildeo de comemoraccedilatildeo ao Centenaacuterio de Joseacute Bonifaacutecio realizada pelo

Museu Nacional que legitimada por significado cultural natildeo se justificava como ldquoexposiccedilatildeo

107

especialrdquo Diz o autor ldquoalmejariacuteamos que fosse acompanhado de outras frequentes ditadas natildeo

soacute pela solenidade de datas centenaacuterias mas pelas diuturnas exigecircncias de movimentaccedilatildeo das

coleccedilotildees para maior uso e benefiacutecio puacuteblicosrdquo (MENDONCcedilA 1946 p43)

O Museu Histoacuterico Nacional jaacute criticado por Venacircncio Filho (1941 p145) tambeacutem

recebe as criacuteticas de Mendonccedila

Quanto ao Museu Histoacuterico Nacional instituiacutedo eacute oacutebvio para se relacionar com o patrimocircnio integral da nossa Histoacuteria- a julgar pela dosagem e patenteando na sua

propensatildeo para o raro e o custoso em preciosismo que contraria o princiacutepio de

preferecircncia pelo caracteriacutestico isto eacute pelo mais frequumlente em cada eacutepoca consoante a

boa norma museoloacutegica (MENDONCcedilA 1946 p49)

O Museu Imperial receacutem criado recebe os votos de que possa aliviar-se dos encargos

aristocraacuteticos do Museu Histoacuterico Nacional e trabalhe de forma equitativa o patrimocircnio histoacuterico

do paiacutes (MENDONCcedilA 1946 p49)

Nesta bibliografia dos anos de 1920-1930 se elabora nos discursos educacionais no Brasil

a preocupaccedilatildeo com materiais e meacutetodos que garantissem a ldquoconstruccedilatildeo experimental do

conhecimento pelo estudanterdquo (VIDAL 2000 p498) e os museus satildeo entendidos como parte

importante dos ldquorecursos pedagoacutegicosrdquo disponiacuteveis agrave educaccedilatildeo

Jaacute nos anos de 1950 dois movimentos se encontram um vindo das discussotildees sobre a

escola feita pelos ldquoescolanovistasrdquo nos anos de 1920-1930 e outro que defendia a ampliaccedilatildeo dos

museus numa nova rede que incluiacutea os museus histoacutericos e pedagoacutegicos locais e a criaccedilatildeo de

novos museus pelo poder puacuteblico federal e estadual

A partir dos anos de 1930 se instaura uma polecircmica sobre a relaccedilatildeo escolas-museus que

tem de um lado a defesa dos museus como oacutergatildeos de documentaccedilatildeo com um caraacuteter

conservador no sentido de ser voltado a preservar as tradiccedilotildees (TRIGUEIROS 1956) e de outro

lado o entendimento que os museus satildeo instrumentos de educaccedilatildeo tal como defendia Viniacutecio

Stein Campos (1970) com a criaccedilatildeo dos museus histoacutericos e pedagoacutegicos

A ldquofunccedilatildeo educativardquo dos museus se estabelece nesse sentido entre os extremos da

funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo O sentido mais geral das reflexotildees sobre nesse capiacutetulo

sobre movimentos de formaccedilatildeo do puacuteblico nos museus na Europa e Brasil ao longo dos seacuteculos

XIX e XX eacute estabelecer ligaccedilotildees entre os que visitam contemporaneamente os museus e um

sentido de permanecircncia na ldquoformardquo museu Natildeo haacute uma via de matildeo uacutenica que vai dos museus aos

108

visitantes Assim como os visitantes elaboram suas demandas de formaccedilatildeo frente aos acervos e

exposiccedilotildees as instituiccedilotildees e poliacuteticas oficiais de preservaccedilatildeo e memoacuteria tambeacutem promovem

quadros culturais que se completam e se remontam com os museus e suas exposiccedilotildees

A pesquisa sobre o movimento de formaccedilatildeo do puacuteblico e sobre as funccedilotildees educativas dos

museus leva a pensar que a visita ao museu natildeo eacute o lugar da ldquorecepccedilatildeordquo de praacuteticas museoloacutegicas

e nem educativas O visitante se coloca em tracircnsito entre o mundo dos museus e outros mundos

como o das ldquoescolasrdquo e a visita realiza-se como um ldquocircuitordquo Os visitantes falam de suas

experiecircncias de visita como viagens intercalando dinacircmicas socioculturais de formaccedilatildeo docente

e de formaccedilatildeo histoacuterica

109

CAPIacuteTULO IV - Visitantes entre narrativas e objetos museais

41 - Visita ao Museu do Escravo ndash Belo Vale Minas Gerais

A visita ao Museu do Escravo natildeo foi um evento isolado para os alunos e nem para a

instituiccedilatildeo formadora Desde o ano de 2000 o Museu do Escravo vinha sendo visitado como parte

das atividades acadecircmicas desenvolvidas por professores e estudantes do curso de licenciatura em

Histoacuteria Nesta ocasiatildeo um total de 21 estudantes60

foi ao Museu a Fazenda Boa Esperanccedila e a

comunidade quilombola da Boa Morte em Belo Vale

Algumas potencialidades do Museu do Escravo jaacute haviam sido levantadas em visitas

anteriores e o trabalho de campo tinha por objetivo articular a narrativa do proacuteprio museu o

discurso dos especialistas em museologia e dos historiadores da escravidatildeo A visita seguiu uma

rotina que envolveu pedido de autorizaccedilatildeo para acesso agrave Fazenda Boa Esperanccedila contatos com a

prefeitura local para agendamento no Museu apresentaccedilatildeo em sala de aula de um histoacuterico da

cidade seus pontos turiacutesticos e atividades culturais (cd-room recortes de jornais e textos projeto

de revitalizaccedilatildeo do Museu do Escravo e outros) elaboraccedilatildeo de um roteiro da visita com horaacuterios

e recomendaccedilotildees sobre formas de registro durante o trabalho Vale destacar que esse natildeo era o

primeiro trabalho dessa natureza realizado pela turma que jaacute havia visitado o Museu Histoacuterico

Abiacutelio Barreto e outras instituiccedilotildees como o Arquivo da Cidade de Belo Horizonte

O trabalho em Belo Vale teve dois objetivos Primeiro relacionar as visotildees

historiograacuteficas acerca da escravidatildeo colonial discutidas em sala de aula com os acervos

existentes nos locais visitados Segundo discutir a importacircncia da memoacuteria e do patrimocircnio

histoacuterico ao visitar o Museu do Escravo e o conjunto arquitetocircnico da Fazenda Boa Esperanccedila61

60 Visita vinculada agrave disciplina Histoacuteria do Brasil a Ameacuterica Portuguesa 4ordm periacuteodo

61 Belo Vale estaacute localizada na Zona Metaluacutergica de Minas Gerais Distacircncias Moeda - 13 km Congonhas - 42 km

Itabirito - 66 km Ouro Preto - 80 km Belo Horizonte - 86 km e 126 km de Pedro Leopoldo

110

Figura 20 Mapa ilustrativo de Minas Gerais e localizaccedilatildeo da cidade

de Belo Vale

Apoacutes a visita os estudantes elaboraram um relatoacuterio individual contendo suas impressotildees

e tendo como referecircncia os objetivos propostos no roteiro inicial Houve discussotildees em sala de

aula sobre aspectos observados Demais materiais como fotografias folders entrevistas e outros

recolhidos ou produzidos durante a visita tambeacutem foram apresentados Por fim a turma elaborou

uma narrativa siacutentese do trabalho que foi apresentado novamente e arquivado na Faculdade Eacute

este relatoacuterio-siacutentese que serve como paracircmetro para a anaacutelise da visita Utilizo como contraponto

o projeto de Revitalizaccedilatildeo do Museu do Escravo elaborado pela Superintendecircncia de Museus de

MG e materiais produzidos para divulgaccedilatildeo do museu jaacute que natildeo haacute nenhum cataacutelogo ou mesmo

inventaacuterio do acervo de objetos do Museu do Escravo

As fotografias selecionadas e apresentadas a seguir apontam o deslocamento realizado

pelos visitantes ateacute a chegada ao Museu onde reinstalam o lugar do visitante na cultura museal e

a escrita da histoacuteria nos museus

111

Saiacuteda de Pedro Leopoldo-MG Atravessam a Serra do Curral

Depois de Belo Horizonte comeccedila a descida Rios estradas e pontes Chegada a Belo Vale

A Igreja estaacute fechada O Museu do Escravo fica ao lado Foto na entrada

Figura 21 Turma 2006 visita o Museu do Escravo Coleccedilatildeo dos

visitantes

112

Apontar em que medida o Museu do Escravo contribuiu para que esses estudantes de

licenciatura em Histoacuteria elaborassem uma narrativa sobre a escravidatildeo articulando as linguagens

historiograacuteficas e museoloacutegicas implicou em mapear duas dimensotildees nas quais o tema da

escravidatildeo se apresentou durante a visita A primeira eacute a narrativa museograacutefica do museu

constituiacuteda por suas exposiccedilotildees A segunda eacute uma meta-narrativa do que deveria ser o Museu do

Escravo a partir de um projeto de revitalizaccedilatildeo A questatildeo central eacute investigar ateacute que ponto as

narrativas museoloacutegicas sejam elas ldquonovasrdquo ou ldquotradicionaisrdquo podem interferir na percepccedilatildeo que

os visitantes tecircm acerca da histoacuteria

Antes da visita os estudantes foram apresentados a um material visual sobre Belo Vale

produzido e distribuiacutedo por uma empresa de informaacutetica que atua na regiatildeo e que traz fotografias

e textos sobre o Museu do Escravo62

Neste material o Museu eacute apresentado como instituiccedilatildeo

uacutenica no paiacutes se constitui num dos mais importantes e completos acervos culturais com peccedilas

referentes agrave escravatura

Uma das estudantes apoacutes a visita registra opiniatildeo semelhante o Museu do Escravo da

Fazenda Boa Esperanccedila eacute o uacutenico museu dedicado exclusivamente ao escravo no Brasil onde

conta com um acervo com uma meacutedia de 4500 peccedilas (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de

trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Aparentemente a estudante atribui um sentido indevido agrave localizaccedilatildeo do Museu O Museu

do Escravo natildeo eacute da Fazenda Boa Esperanccedila A informaccedilatildeo correta sobre a localizaccedilatildeo do Museu

jaacute constava do material apresentado agrave turma antes da visita O acervo do Museu era apresentado

como privilegiado O material trazia tambeacutem dados sobre a trajetoacuteria da constituiccedilatildeo desse

acervo Reunido pelo padre Penido de famiacutelia natural da cidade inicialmente em Congonhas do

Campo foi transferido em 1977 para a Fazenda Boa Esperanccedila e municipalizado em 1988 no

centenaacuterio da aboliccedilatildeo com novo preacutedio no centro da cidade

Eacute possiacutevel supor que o desvio da visitante seja tambeacutem um ruiacutedo quanto agrave origem do

acervo e natildeo apenas da localizaccedilatildeo do Museu Quando visitamos a Fazenda Boa Esperanccedila e laacute

natildeo encontramos uma ldquosenzalardquo ou qualquer objeto relativo agrave escravidatildeo abriu-se uma duacutevida

62 Esse material foi adquirido no Museu do Escravo em Belo Vale Foi elaborado por empresa de consultoria

wwwdejorecombr

113

Onde estariam esses objetos Eacute liacutecito supor que foram transferidos para o Museu no Escravo O

que natildeo eacute correto jaacute que o acervo natildeo veio da fazenda

A indefiniccedilatildeo quanto agrave origem do acervo e a natildeo catalogaccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos objetos

em exposiccedilatildeo alimenta essa confusatildeo O Museu do Escravo se apresenta como um lugar de

guarda de objetos do passado Entretanto natildeo eacute possiacutevel acessar o acontecido Houve uma perda

irreparaacutevel pela accedilatildeo do tempo e mesmo que o museu se coloque como aquele capaz de reparar o

ldquosentimento de perdardquo fabricando objetos e cenas para dar visibilidade agravequilo que julga ser

pertinente aos habitantes da cidade e aos visitantes continua existindo obstaacuteculos agrave transparecircncia

pretendida pelas exposiccedilotildees museais

42 - O escravo e o museu

As exposiccedilotildees do Museu estatildeo dispostas pelos seis salotildees do Pavilhatildeo 1 um paacutetio interno

onde foi construiacuteda uma espeacutecie de senzala tambeacutem destinada agrave exibiccedilatildeo de acervo (pavilhatildeo

aos fundos) onde destacam-se cenaacuterios museograacuteficos (Figuras 22 e 23)

Figura 22 Pavilhatildeo 1 Planta Baixa do Museu do Escravo Belo Vale

MG Fonte httpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtm

Neste cenaacuterio expositivo convivem diferentes objetos instrumentos de castigo coacutepias de

documentos iconograacuteficos objetos de arte afro-brasileira objetos de uso pessoal e salas com

114

utensiacutelios domeacutesticos como louccedilas e armas e arte sacra originaacuteria da Igreja Matriz que estaacute

localizada ao lado do Museu e que foi transferido ao museu por medida de seguranccedila possiacutevel

O pavilhatildeo dos fundos exibe aleacutem de montagens museograacuteficas como de um escravo

sendo castigado em pelourinho indumentaacuteria moradia e utensiacutelios usados na produccedilatildeo do filme

Zumbi - Quilombo dos Palmares doados pelo cineasta Cacaacute Diegues e um tuacutemulo de escravo

desconhecido

Figura 23 Pavilhatildeo 2 (fundos) Planta Baixa do Museu do Escravo

Belo Vale MG Fonte Disponiacutevel em

lthttpwwwdejorecombrmuseudoescravom_plantahtmgt Acesso

em 2011

Projetos de revitalizaccedilatildeo63

do Museu do Escravo foram elaborados para redefinir a

conceituaccedilatildeo museoloacutegica e reformulaccedilatildeo dos moacutedulos da exposiccedilatildeo A principal criacutetica dos

especialistas eacute que se estava diante de ldquoum colecionismo assistemaacutetico sem propoacutesitos cientiacuteficos

ou educativosrdquo ou ldquomostruaacuterio de antiguidades e de objetos raros (JULIAtildeO sd) Contudo em

visita realizada em 2010 as exposiccedilotildees ainda permaneciam com a mesma organizaccedilatildeo

encontrada nas visitas anteriores Em 2006 quando da visita com os estudantes da turma do 4ordm

63 Projeto de reformulaccedilatildeo do Museu do Escravo Secretaria de Estado de Cultura-MG Superintendecircncia de Museus

Letiacutecia Juliatildeo in wwwdejorecombrmuseudoescravom_historiahtm

115

periacuteodo foi possiacutevel confrontar as visotildees historiograacuteficas tambeacutem conflitantes entre si de modo a

elaborar no diaacutelogo com o museu uma narrativa acerca do tema escravismo colonial

43- Uma nova museografia para o Museu do Escravo

Enquanto o Museu se apresenta aos visitantes como o uacutenico no gecircnero em todo o Brasil64

reconstituindo cenaacuterios como senzala pelourinho e tuacutemulo de escravo desconhecido se sobrepotildee

outro discurso museoloacutegico na forma de um projeto de revitalizaccedilatildeo Nesse projeto65

o Museu do

Escravo eacute apresentado como

mostruaacuterio de antiguidades e de objetos raros no qual os objetos se justapotildeem em

arranjos inusitados e sem criteacuterios Desprovido de qualquer conceituaccedilatildeo o caraacuteter

meramente acumulativo do seu acervo parece atender aos anseios de musealizaccedilatildeo de

uma comunidade ciente de seu passado mas pouco instrumentalizada para a preservaccedilatildeo

de seu patrimocircnio Egrave possiacutevel dizer que o Museu do Escravo transita entre um gabinete

de curiosidade que busca dar mostras dos mais diferentes vestiacutegios do passado

abarcando de achados arqueoloacutegicos a exemplares de maacutequinas do seacuteculo XX sem

qualquer abordagem que permita estabelecer nexos entre os mesmos e a praacutetica

museograacutefica comum em museus americanos de simulaccedilotildees de realidades e contextos a exemplo da arquitetura colonial do preacutedio que o sedia da construccedilatildeo da senzala e do

escravo no pelourinho66

(JULIAtildeO sd)

Quanto agrave linguagem museoloacutegica o documento elaborado pela historiadora Letiacutecia Juliatildeo

eacute taxativo

Embora o imponente casaratildeo encontre-se fisicamente preservado natildeo foi adotado

qualquer recurso comunicativo com o intuito de oferecer informaccedilotildees sobre o conjunto

tombado de modo a promover uma mediaccedilatildeo miacutenima entre o puacuteblico e aquele bem

cultural (JULIAtildeO sd)

A proposta apresentada pela Superintendecircncia de Museus da Secretaria Estadual de

Cultura de MG em parceria com associaccedilotildees locais e oacutergatildeos puacuteblicos eacute uma completa

reformulaccedilatildeo do discurso museoloacutegico do Museu do Escravo O acervo disponiacutevel seraacute

reorganizado em sete moacutedulos temaacuteticos 1) Trabalho escravo e sociedade escravista

64 Site do Museu em wwwdejorecombrbelovaleturismo_museuhtm 65 O Projeto natildeo foi executado A exposiccedilatildeo do Museu do Escravo continua ateacute a presente data com a mesma

arrumaccedilatildeo descrita pelos estudantes na visita em 2006 66 Projeto de reformulaccedilatildeo do Museu do Escravo Secretaria de Estado de Cultura-MG Superintendecircncia de

Museus Letiacutecia Juliatildeo in wwwdejorecombrmuseudoescravom_historiahtm

116

(instrumentos de trabalho) 2) Cotidiano escravo (vestuaacuterio alimentaccedilatildeo moradia procedecircncia

dos escravos) 3) Relaccedilotildees de poder e dominaccedilatildeo (castigo e estrateacutegias de persuasatildeo) 4) Formas

de resistecircncia escrava (quilombos revoltas violecircncia cotidiana) 5) Religiosidade (diferentes

manifestaccedilotildees) 6) Imagens do negro e da escravidatildeo (preconceito estereoacutetipos mesticcedilagem) e

7) Cultura afro-brasileira

Figura 24 AMORIM Frederico Levi Tuacutemulo do escravo

desconhecido Museu do Escravo Belo Vale 2006

Aleacutem dos moacutedulos que indicam a necessidade de uma ldquoabordagem mais completa das

relaccedilotildees de poder na sociedade escravistardquo o ldquonovordquo discurso museoloacutegico propotildee retirar um

grande volume de objetos do acervo em exposiccedilatildeo permanente e montar pequenas exposiccedilotildees

temporaacuterias temaacuteticas Outra medida eacute destinar uma das alas da ldquosenzalardquo agrave reserva teacutecnica Por

fim eacute recomendado avaliar as ldquomontagens museograacuteficasrdquo como a moradia escrava o escravo no

pelourinho e o tuacutemulo do escravo desconhecido e se mantidas informar ao puacuteblico seu caraacuteter de

ldquosimulaccedilatildeordquo A preocupaccedilatildeo com os tempos histoacutericos tambeacutem eacute explicita quanto se trata do

117

proacuteprio preacutedio Eacute preciso informar que a sede eacute recente para evitar equiacutevocos quanto a sua

ldquoautenticidaderdquo

44- As narrativas dos visitantes escravidatildeo e eurocentrismo

Frente a essas duas narrativas como se comportam os visitantes Quais aspectos foram

aceitos e quais foram refutados pelos estudantes a partir das narrativas museoloacutegicas do museu e

da revitalizaccedilatildeo Como interpelam e satildeo interpelados pelos objetos museograacuteficos Como

relacionam a cultura material com narrativas historiograacuteficas Como modificam suas concepccedilotildees

a partir do contato com a linguagem museoloacutegica Como os visitantes elaboram uma narrativa

sobre a histoacuteria e a escravidatildeo tomando como referecircncia o Museu do Escravo Interessa tambeacutem

perceber como o Museu compreende o seu proacuteprio acervo e como faz uso dele O acervo se

constitui em prova documental ou eacute elaborado em funccedilatildeo da loacutegica museograacutefica

Destaco a seguir algumas impressotildees dos visitantes sobre o Museu do Escravo Para

Weberton Fernandes da Costa

O Museu do Escravo utiliza como metodologia de organizaccedilatildeo uma ideacuteia marxista de

ver a histoacuteria procurando enfatizar quase que exclusivamente a luta de classe ocorrida

entre senhores e escravos ateacute a aboliccedilatildeo da escravatura assinada pela princesa Isabel durante o reinado de DPedro II colocando o negro como viacutetima e com um pobre

coitado Tudo bem que o regime escravocrata implantado pelos portugueses no Brasil

seguido pelos Senhores de Engenho do accediluacutecar e posteriormente pelos Barotildees do Cafeacute foi

abominaacutevel terriacutevel cruel e jamais esquecido pela humanidade No entanto colocaacute-los

somente em tal posiccedilatildeo exposta pelo museu soacute contribui para a proliferaccedilatildeo do racismo

visto que tal abordagem coloca o negro como um ser inferior e sem cultura natildeo produzia

nada e soacute apanhava (Weberton Fernandes da Costa Relatoacuterio Trabalho de Campo Belo

Vale 2006)

O estudante faz uma leitura dos objetos e identifica um criteacuterio de organizaccedilatildeo

cronoloacutegico em meio ao que parece aos teacutecnicos da Superintendecircncia de Museus como ldquoarranjos

inusitados e sem criteacuteriosrdquo Ele estabelece uma linha temporal (imaginaacuteria) que liga os objetos

ldquoacumulados para atender aos anseios de musealizaccedilatildeo da comunidaderdquo Ao que aparece como

ldquosem qualquer conceituaccedilatildeordquo ao discurso museoloacutegico percebe-se uma poderosa forma de

explicaccedilatildeo da sociedade a teoria marxista Vejamos o que ele chama de marxismo Haacute uma

ecircnfase na luta de classes O lado da dominaccedilatildeoexploraccedilatildeo certamente se impotildee e o

dominadoexplorado eacute vencido A batalha vista de hoje transforma o vencido em viacutetima em

118

coitado Uma exposiccedilatildeo sobre os escravos organizada sob o eixo da dominaccedilatildeo X resistecircncia faz

uma abordagem da inferioridade do negro na sociedade escravista Nosso aluno faz a criacutetica

historiograacutefica da exposiccedilatildeo e talvez fizesse o mesmo com uma nova organizaccedilatildeo do acervo Ele

natildeo vecirc apenas um ldquogabinete de curiosidades do seacuteculo XIX ele vecirc uma visatildeo de mundo que

permeia de sentido os ldquoanseios de musealizaccedilatildeo da comunidaderdquo Ainda que os objetos se

apresentem de maneira bastante caoacutetica os estudantes caccedilam em meio ao palheiro e fazem

reflexotildees atribuindo outros sentidos e interrogando os indiacutecios para construir uma narrativa

imaginar uma histoacuteria Warleson de Melo Simpliacutecio afirma

O que mais me chamou a atenccedilatildeo foram os objetos que eram utilizados como forma de

puniccedilatildeo dos escravos Todos os objetos vistos representavam ali todo o sofrimento que

os escravos passaram Dentre esses objetos havia um que parecia um sapato de ferro

nele havia um espeto que causaria dor no peacute do escravo que tentasse fugir pois este

espeto furaria o peacute do escravo se ele corresse Havia outros objetos tambeacutem que tinha a

mesma funccedilatildeo como por exemplo um outro modelo de sapato com um guizo que faria

barulho quando o escravo andasse impedindo assim sua fuga (Warleson de Melo

Simpliacutecio Relatoacuterio trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Figura 25 AMORIM Frederico Fotografias do Museu do Escravo

Belo Vale MG 2006

Diferentemente do visitante anterior que leu apenas a dominaccedilatildeo aqui os ldquoinstrumentos

de torturardquo natildeo remetem agrave submissatildeo mas agrave revolta agrave fuga agrave resistecircncia Os vestiacutegios da

119

dominaccedilatildeo falam da resistecircncia Natildeo seriam tantos e tatildeo variados os objetos de castigo se natildeo

houvesse tantas fugas Os escravos natildeo parecem coitados O estudante toma para si a funccedilatildeo de

representaccedilatildeo dos objetos e reencena os gestos contidos na profusatildeo de elementos espalhados

pelos salotildees da exposiccedilatildeo Natildeo eacute necessaacuterio que sejam reorganizados para que falem de maneira

diferente

Outra discussatildeo apresentada eacute sobre a ldquosimulaccedilatildeo de realidades e contextosrdquo Diversos

alunos destacam as reacuteplicas externas como aquelas que mais lhes chamaram a atenccedilatildeo e

justificam suas escolhas Priscila Oliveira dos Santos aponta que

Na parte externa do museu existe uma reacuteplica do corpo de um negro escravo junto ao

tronco onde simula a forma em que os escravos eram maltratados Isto acontecia

principalmente aos domingos que era dia de missas e era dia de folga dos escravos o

que garantiria um puacuteblico maior que os demais dias (Priscila Oliveira dos Santos

Relatoacuterio trabalho de campo Belo Vale MG 2006)

Mayara Luiz Gurgel de Abreu completa ldquoo que mais me impressionou no museu foi a

reacuteplica em tamanho real de um escravo no tronco que apesar de triste impressiona por ser rica

em detalhes e parecer ser realrdquo

Figura 26 AMORIM Frederico Levi Fotografias do paacutetio interno

do Museu do Escravo 2006

Diversas fotografias destacam o pelourinho e a senzala Ainda que natildeo haja maiores

indicaccedilotildees e explicaccedilotildees acerca do cenaacuterio natildeo haacute duacutevidas acerca da montagem da simulaccedilatildeo O

discurso do proacuteprio Museu parece direto nesse caso A comunicaccedilatildeo se faz ruiacutedos quanto agrave

120

ldquoautencidaderdquo da cena satildeo recursos de presentificaccedilatildeo claramente entendidos pelos diferentes

alunos Mas nada tatildeo divertido quando brincar no cenaacuterio de Cacaacute Diegues Pode-se ateacute tirar mais

fotografias da turma

Figura 27 ARAUacuteJO Sueli de Azevedo A turma no cenaacuterio do Cacaacute

Diegues Museu do Escravo 2006

Os estudantes problematizaram os conteuacutedos apresentados pela exposiccedilatildeo do museu

construiacuteram argumentos e procedimentos de interpretaccedilatildeo histoacuterica comprometida com uma

dimensatildeo sensiacutevel e coletiva no presente

Eacute possiacutevel pensar nas fotografias produzidas pelos visitantes de museus como as

apresentadas acima no sentido de Milton Guran (1997) em seu ensaio Fotografar para

descobrir fotografar para contar O corpus fotograacutefico constituiacutedo na pesquisa antropoloacutegica eacute

entendido por Guran como uma sobreposiccedilatildeo de imagens produzidas a partir de imagens

anteriores A anaacutelise destas imagens deve levar em conta o momento da produccedilatildeo e a

especificidade de cada fotografia

Diferentes das fotografias feitas pelo proacuteprio pesquisador ou pelo proacuteprio museu as

fotografias feitas pelos visitantes e assumidas por eles encontram-se impregnadas pelo imaginaacuterio

do proacuteprio grupo ou alguns de seus membros por consequumlecircncia expressa de alguma maneira a

ldquoidentidaderdquo do grupo em questatildeo Enquanto o museu procura uma representaccedilatildeo ldquooriginalrdquo um

espelhamento do que ele possui em seu acervo o visitante coloca-se no jogo da auto-

representaccedilatildeo e transfere para si o poder de espelhamento O visitante compartilha a presenccedila de

um signo e coloca frente ao sentido jaacute traccedilado pelo museu outro rumo uma multiplicaccedilatildeo de

121

conexotildees trajetoacuterias O visitante confere ao sentido imobilizado pelo museu um colorido uma

disposiccedilatildeo para novas referecircncias culturais e dimensotildees poliacuteticas natildeo contidas na matriz

referencial oferecida pelos museus

Cada fotografia oferece os procedimentos de apropriaccedilatildeo do visitante seus gostos uma

esteacutetica uma sensualidade um sentido de presenccedila dos corpos (pessoas ou natildeo) Guran (1997)

aponta que a relaccedilatildeo da fotografia com o imaginaacuterio vai da identidade ndash campo da imaginaccedilatildeo ndash

para a alteridade ndash o lugar dos outros na imaginaccedilatildeo partilhada que o constitui socialmente

No Museu do Escravo estaacute presente a dubiedade do processo de patrimonializaccedilatildeo ou

seja de transformar determinados objetos da cultura material em patrimocircnio histoacuterico O acervo

do Museu do Escravo eacute constituiacutedo pelo colecionismo de um grupo local de objetos ligados

diretamente agrave escravidatildeo e ao trabalho escravo na regiatildeo de Belo Vale Em exposiccedilatildeo no Museu

esses objetos recebem outro tratamento e satildeo articulados num novo espaccedilo de exibiccedilatildeo que inclui

a construccedilatildeo de um local proacuteprio para o circuito e criaccedilatildeo de novos cenaacuterios O uso que os

visitantes fazem dessa exposiccedilatildeo do museu cria novos sentidos para essa memoacuteria histoacuterica Um

desses usos eacute reinscrever esses elementos de uma memoacuteria da escravidatildeo em uma cultura afro-

brasileira contemporacircnea Cria-se assim um circuito no qual as visitas e os visitantes satildeo parte

dos rituais e discursos narrativos do museu e ampliam suas sensibilidades ao mesmo tempo em

que reconhecem no museu um papel formador

122

CAPIacuteTULO V - Entre a poliacutetica e a poeacutetica dos museus e exposiccedilotildees

51 - O Museu Histoacuterico Nacional habitaccedilotildees do patrimocircnio

O Museu Histoacuterico Nacional pode ser considerado como herdeiro de uma tradiccedilatildeo

enciclopeacutedica de museus que desenvolve uma perspectiva de conservaccedilatildeo dos objetos no tempo

No museu ldquohistoacutericordquo o objeto eacute apresentado como um documento seja no cataacutelogo ou nas

exposiccedilotildees ldquoaquele que representa simbolicamente e materialmente a histoacuteriardquo (OLIVEIRA

1998 p68)

Vinculado a um paradigma de preservaccedilatildeo existente desde seacuteculo XV cujo conceito de

uso estaacute relacionado agrave ideia de destruiccedilatildeo o museu funciona como aquela instituiccedilatildeo que defende

o objeto da perda do desgaste e do uso cotidiano Natildeo se admite portanto um uso cultural dos

objetos fora da proteccedilatildeo do museu De um modo geral a relaccedilatildeo do puacuteblico com esse tipo de

museu eacute marcada por essa ambiguumlidade do discurso da conservaccedilatildeo e do patrimocircnio O museu

condena o consumo cultural mas ao mesmo tempo utiliza o status de histoacuterico e de patrimocircnio

como parte de uma induacutestria patrimonial de reapropriaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de determinados

elementos histoacutericos e esteacuteticos (CHOAY 2006 p223)

A atual diretora do Museu Histoacuterico Nacional Vera Luacutecia Bottrel Tostes define a proacutepria

instituiccedilatildeo por era dirigida como uma ldquoinstituiccedilatildeo de memoacuteriardquo aquelas que lutam na linha de

frente contra o esquecimento

Museu Histoacuterico Nacional natildeo poderia omitir-se de participar intensamente das

comemoraccedilotildees dos 200 anos da transferecircncia da corte portuguesa para o Brasil

articulando e organizando eventos que visam natildeo apenas celebrar a efemeacuteride mas

trazer agrave luz novas pesquisas sobre singular momento da histoacuteria do Brasil e de Portugal

(TOSTES 2008)

O preacutedio do Museu Histoacuterico Nacional eacute apresentado por sua diretora como anterior agrave

chegada da corte e portanto um lugar adequado ao conhecimento do ldquocontexto histoacutericordquo que

cercou a vinda de D Joatildeo VI e a realizaccedilatildeo de um ldquomemoraacutevel evento histoacuterico-culturalrdquo que

ldquotorna viva a memoacuteria histoacutericardquo (TOSTES 2008)

O Museu Histoacuterico Nacional em suas atuais exposiccedilotildees ainda preserva uma loacutegica

instituiacuteda desde a exposiccedilatildeo de Gustavo Barroso a busca da ldquoautenticidaderdquo em vestiacutegios

123

materiais e um caraacuteter de ldquoverdade comprovadardquo agrave histoacuteria que busca narrar Ou seja na

exposiccedilatildeo apresentada o museu convida os visitantes a natildeo romperem com uma visatildeo de museu-

memoacuteria que considera os objetos como fonte de culto e certificaccedilatildeo da histoacuteria (SANTOS 2006

p50)

A imagem de Dom Joatildeo VI evocada na exposiccedilatildeo sobre a vinda da famiacutelia real ressalta a

personalidade do governante em tom quase pessoal o ldquonosso comum priacutencipe regenterdquo e o

acontecimento ndash a vinda da famiacutelia real ndash tecircm uma dupla face que precisa ser igualmente

contemplada os interesses do Brasil e de Portugal A celebraccedilatildeo eacute justamente deste caraacuteter

insoacutelito do acontecimento As comemoraccedilotildees satildeo segundo o cataacutelogo realizadas no Brasil e em

Portugal

Figura 28 CARDINI Joatildeo fl 1804-1825D Joatildeo Priacutencipe do Brazil

regente de Portugal Gravura buril e aacutegua-forte pampb 96x6 cm 1807

Cataacutelogo da exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio - A

Corte Portuguesa no Brasil2008 p18

A gravura de Joatildeo Cardini datada de 1807 traz a inversatildeo da figura de Dom Joatildeo VI

priacutencipe do Brasil e regente de Portugal A pergunta a ser feita diante dessa nova imagem poliacutetica

124

do monarca seria se Portugal teria apoacutes 200 anos algo a comemorar em relaccedilatildeo a esse episoacutedio

de sua histoacuteria poliacutetica

O reconhecimento pelo visitante desse gecircnero de museu como habitaccedilatildeo do patrimocircnio eacute

quase imediata Ainda do lado de fora do preacutedio o visitante legitima o museu como patrimocircnio

A estudante Marly Marques Rodrigues diz em seu relatoacuterio de vista ldquoO preacutedio do Museu

Histoacuterico Nacional eacute considerado um dos mais importantes de seu acervo Remonta ao periacuteodo

em que o Brasil era colocircnia de Portugal e os franceses ainda disputavam com os portugueses a

posse da Baia da Guanabara []rdquo Outra visitante apropriando-se de um trecho de um folheto de

divulgaccedilatildeo do museu destaca as concepccedilotildees da instituiccedilatildeo e suas funccedilotildees no momento da visita

Ao trabalhar com as noccedilotildees de memoacuteria histoacuteria e patrimocircnio cultural de forma luacutedica e

educativa o MHN acredita fazer com que o puacuteblico perceba a importacircncia e o papel dos

museus estreitando assim os laccedilos de identidade e afetividade com as instituiccedilotildees

tornando sua presenccedila mais frequumlente e espontacircnea estimulando entre amigos e

familiares a disseminaccedilatildeo dos museus como agentes de mudanccedila e desenvolvimento

(Michelle Oliveira Xavier Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade

Pedro Leopoldo 2008)

A visitante refere-se a uma meta-linguagem do museu Um discurso luacutedico e educativo

sobre a histoacuteria que justificaria as funccedilotildees museais frente a outras instituiccedilotildees de memoacuteria e

patrimocircnio cultural O museu tenta encantar cada visitante para que haja ressonacircncia67

ou seja

para que o poder do objeto exibido alcance um mundo maior e aleacutem de seus limites formais e seja

capaz de evocar em quem os vecirc as forccedilas culturais complexas e as dinacircmicas das quais emergiu

Em seus materiais de divulgaccedilatildeo o Museu Histoacuterico Nacional eacute apresentado como ldquoum

dos mais importantes museus do Brasil com um acervo de milhares de itensrdquo Ligado ao

Ministeacuterio da Cultura atraveacutes do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional conta com a museoacuteloga Vera Luacutecia Bottrel Tostes na

direccedilatildeo desde 1994

A ideia de preservaccedilatildeo do patrimocircnio nacional estaacute presente no Museu Histoacuterico Nacional

desde sua fundaccedilatildeo em 1922 A museoacuteloga Vacircnia Oliveira (1998) investiga como o conceito de

museu se modifica internamente na proacutepria documentaccedilatildeo e literatura produzida pelo proacuteprio

museu nacional ao longo de sua existecircncia Primeiro como instituiccedilatildeo de guarda das reliacutequias do

67 Gonccedilalves (2005 p15-36) trabalha com essa dimensatildeo da ressonacircncia para entender os objetos culturais e as

estrateacutegias de autenticaccedilatildeo dos objetos

125

passado nacional cultivando os grandes feitos dos heroacuteis nacionais defendida por Gustavo

Barroso ateacute sua morte em 1959 Na deacutecada seguinte a visatildeo de Gustavo Barroso co ntinua sendo

aceita na praacutetica do Museu Nacional o local continua a abrigar objetos ligados aos grandes vultos

da histoacuteria Entre 1979-1992 data limite do estudo da pesquisadora as ideias de museu na

documentaccedilatildeo e no discurso literaacuterio satildeo variadas Uma das referecircncias eacute o movimento da Nova

Museologia que chega ao puacuteblico pela Mesa-Redonda de Santiago organizada pelo ICOM e

referendada em 1984 pela Declaraccedilatildeo do Canadaacute mas que natildeo eacute aceita por todo o campo museal

No Museu Histoacuterico Nacional efetiva-se o peso da tradiccedilatildeo histoacuterica Os objetos tecircm valor

histoacuterico por terem interesse para uma histoacuteria nacional e sua aprendizagem Satildeo reliacutequias raras e

autecircnticas objetos comuns ligados a grandes vultos poliacuteticos e militares que devem ser

recolhidos colecionados e expostos A noccedilatildeo de patrimocircnio atribui uma dimensatildeo quase maacutegica

aos objetos fazendo-os transcender no tempo (CHOAY 2006 p93)

A noccedilatildeo de patrimocircnio ampliada apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa possui sentido de

homogeneizaccedilatildeo de valores Natildeo basta colecionar bens o museu se atribui a funccedilatildeo de servir de

instruccedilatildeo agrave naccedilatildeo reunindo objetos que ensinam o civismo a histoacuteria e outras competecircncias

teacutecnicas Segundo Choay (2006 p 95) museu eacute o nome que se daacute aos depoacutesitos de bens

nacionalizados na Revoluccedilatildeo Francesa e guardam relaccedilatildeo direta com o estabelecimento da

instruccedilatildeo puacuteblica

Para a definiccedilatildeo de patrimocircnio histoacuterico contribuem as motivaccedilotildees de conservaccedilatildeo de

bens condenados o interesse para a histoacuteria a beleza do trabalho e o valor pedagoacutegico Essas

motivaccedilotildees e interesses constituem um valor nacional (educativo) que desencadeiam valores

relativos a conhecimentos especiacuteficos e gerais satildeo testemunhos da histoacuteria permitem construir

uma multiplicidade

Franccediloise Choay (2006) desenvolve um argumento pertinente para se pensar o tipo de

exposiccedilatildeo proposta pelo Museu Histoacuterico Nacional Ao discutir as relaccedilotildees entre os humanismos

e o monumento antigo a autora lanccedila a questatildeo de como eacute um olhar preservador para um objeto

do passado (arte monumento) e como reconhecer esses objetos do passado como monumentos

histoacutericos Para Choay (2006 p34) a apropriaccedilatildeo natildeo eacute um processo de reflexatildeo ou cogniccedilatildeo eacute

um novo valor de uso na vida domeacutestica Os objetos de antiguidade satildeo usados para decoraccedilatildeo

126

das casas preacutedios puacuteblicos e privados os novos valores satildeo atribuiacutedos agrave praacutetica de colecionar tais

objetos prestiacutegio lucro jogo e natildeo simplesmente agrave experiecircncia de beleza (prazer da arte)

O surgimento do chamado monumento histoacuterico se deu em relaccedilatildeo agrave Roma nos seacuteculos

XIV-XV propiciado pelo distanciamento do passado apoiado no projeto de preservaccedilatildeo medieval

Satildeo consideradas atitudes de preservaccedilatildeo a economia e o interesse em reutilizar os edifiacutecios Haacute

tambeacutem um saber literaacuterio que cria uma sensibilidade pelos materiais execuccedilatildeo descriccedilatildeo de

cenas antigas paineacuteis de altares e a admiraccedilatildeo pelo trabalho maravilhoso e a suntuosidade

esteacutetica O valor do patrimocircnio estaacute associado ao maacutegico agrave curiosidade prazer aos olhos Natildeo

tem propriamente um valor histoacuterico eacute modelo para suscitar uma arte de viver e refinamento que

soacute os gregos possuiacuteam (CHOAY 2006 p34-35)

Jaacute os humanistas tomam o patrimocircnio como referente para a interpretaccedilatildeo e estabelecem

condutas relativas agrave heranccedila (legado da antiguidade greco-romana) Ao assumirem uma

perspectiva da alteridade (noacutes somos diferentes deles) os humanistas criam uma distacircncia

simboacutelica Para os humanistas os monumentos da antiguidade vatildeo incorporando as marcas de sua

reutilizaccedilatildeo e a ideacuteia de preservaccedilatildeo comporta novos usos como o deslocamento das colunas de

maacutermore de Roma e a reserva de fragmentos antigos colecionados pelos papas

Nesse movimento do seacuteculo XVIII as medidas de conveniecircncia e interesse histoacuterico

passam a afirmar uma identidade por meio dos monumentos Os tipos de monumentos evocam a

estrutura da vida cotidiana e lanccedilam a memoacuteria para um passado temporal glorioso Essa seria

para Choay a primeira fase do monumento entendido como ldquoantiguidaderdquo e que lanccedila uma

presenccedila visual e uma profunda alteridade com a distacircncia histoacuterica concentrado nas obras e

edifiacutecios da antiguidade do quatrocento

O monumento eacute o sujeito da alegoria do patrimocircnio Ele tem valor de autenticidade

(confirmado pelos livros) eacute testemunho do passado que se consumou eacute arrancado do presente

que o banaliza para fazer a gloacuteria dos seacuteculos que o edificaram Satildeo os humanistas e artiacutefices que

juntos contribuem para a criaccedilatildeo do sentido moderno de patrimocircnio cultural entendido como

heranccedila dos antecessores e legado aos sucessores68

Segundo Choay (2006 p49) os letrados

faziam visitas a Roma mas natildeo lhes interessava os monumentos em si Eles iriam evocar e

68 Gonzalez (2004 p 66) diferencia a concepccedilatildeo francesa da concepccedilatildeo inglesa na formaccedilatildeo do conceito de

patrimocircnio cultural

127

invocar os testemunhos do mundo da escrita suas preocupaccedilotildees eram filosoacuteficas literaacuterias

morais poliacuteticas histoacutericas e natildeo pela forma dos edifiacutecios Jaacute os artiacutefices (homens da arte)

arquitetos e escultores se interessavam propriamente pelas formas dos monumentos

Letrados e artiacutefices do seacuteculo XIV surgem com os amantes e colecionadores da arte antiga

no sentido moderno Os humanistas ensinam a ler e os artiacutefices a ldquover com os olhosrdquo Essa

impregnaccedilatildeo muacutetua marca o territoacuterio da arte articulando-o com a histoacuteria para formar o

monumento histoacuterico Uma vez instituiacutedo o monumento o conhecimento histoacuterico passa a ser o

uacutenico necessaacuterio na compreensatildeo das antiguidades natildeo eacute necessaacuterio mais um julgamento esteacutetico

(CHOAY 2006 p50)

No seacuteculo XIV o monumento histoacuterico soacute pode ser antigo e a arte soacute pode ser antiga ou

contemporacircnea A galeria como espaccedilo fiacutesico de exposiccedilatildeo soacute aparece no seacuteculo XVI A coleccedilatildeo

de arte vai se diferenciando da sala de curiosidades e precede o Museu De caraacuteter privado ela

oferece o exemplo da abertura pela primeira vez ao puacuteblico das coleccedilotildees pontificiais do capitoacutelio

(CHOAY 2006 p50-52)

Pomian (1978 p51) distingue as coleccedilotildees e colecionadores de antiguidades do

quatrocento dos gabinetes de curiosidade (museum de natureza e humanos) da Idade Meacutedia que

sobreviveriam ateacute o Iluminismo A tarefa inicial de preservaccedilatildeo cabia aos papas assim como as

medidas de restauraccedilatildeo proteccedilatildeo e as regras de expropriaccedilatildeo para utilidade puacuteblica Um

monumento histoacuterico ateacute o seacuteculo XIV era constituiacutedo de trecircs discursos perspectiva histoacuterica

perspectiva artiacutestica e outra da conservaccedilatildeo A ambiguumlidade do discurso de conservaccedilatildeo segundo

Pomian eacute ldquotranquumlilizar a consciecircncia e justificar a demoliccedilatildeo realrdquo (POMIAN 1978 p51-86)

A discussatildeo sobre a invenccedilatildeo do monumento histoacuterico e da noccedilatildeo de patrimocircnio tem um

encaminhamento distinto segundo Franccediloise Choay (2006 p144) que pode ser visto em duas

alegorias advindas da ambiguumlidade que ela apontara anteriormente no discurso de conservaccedilatildeo

tranquumlilizar a consciecircncia e justificar a destruiccedilatildeo efetiva A partir do seacuteculo XIX a noccedilatildeo de

patrimocircnio vai comportar trecircs abordagens o monumento histoacuterico a cidade histoacuterica e o museu

histoacuterico As trecircs abordagens vatildeo se desdobrar em figuras distintas Primeiro a figura memorial

que envolve toda a malha do patrimocircnio intangiacutevel a ser protegido Segundo a figura de toda a

cidade como desempenhando o papel de monumento capaz de dar liccedilotildees contra o esquecimento

E terceiro a figura museal uma figura histoacuterica que se destaca pela resposta que eacute capaz de dar

128

ao problema do patrimocircnio No museu e natildeo apenas nele se faz presente a figura museal que

reuacutene um caraacuteter conservador e outro destruidor

A figura museal ameaccedilada de desaparecimento eacute concebida como um objeto raro

fraacutegil precioso para arte e para a histoacuteria e que como as obras conservadas nos museus

deve ser colocada fora do circuito da vida Tornando-se histoacuterica ela perde sua

historicidade (CHOAY 2006 p191)

Choay (2006) aponta que a funccedilatildeo museal natildeo se daacute apenas nos museus O ato de isolar

fragmentos e colocaacute-los lado a lado protegendo o original eacute que os transforma em objetos de

museu Retira-lhes o valor de uso para lhes conferir o valor histoacuterico (museal) Eacute esse valor

histoacuterico que os visitantes reconhecem nos objetos pelo fato de serem expostos em um museu Os

museus satildeo visitados como monumentos como patrimocircnio ou seja como objetos natildeo

consumiacuteveis embora seja reconhecido o seu caraacuteter de produto cultural numa economia de bens

simboacutelicos O museu passa de templo da arte como era o British Museum no seacuteculo XIX para

um museu capaz de proteger todo o patrimocircnio mundial e cultural na Convenccedilatildeo da Unesco de

1972 (CHOAY 206 p216) O proacuteprio museu passa a ser considerado um dos dispositivos do

culto ao patrimocircnio ou uma museificaccedilatildeo de amplos campos e tipos de atividades humanas O

museu que era uma instituiccedilatildeo tornou-se uma mentalidade (CHOAY 2006 p247) e ampliou

seu poder didaacutetico e sua capacidade de

edificar ou captar a duraccedilatildeo e de abrigar o espaccedilo e retardar aiacute seu desdobramento

orientando-o para o sentido o mais capaz de servir de iniciaccedilatildeo agrave alteridade humana o

mais temiacutevel tambeacutem que aprisiona ou liberta e cujo poder criador soacute pode ser

experimentado quando se entrega a ele de forma indissociaacutevel a inteligecircncia e o corpo

(CHOAY 2006 p254)

Natildeo haacute como esperar de um museu histoacuterico uma postura reflexiva e retrospectiva quando

trabalha com a memoacuteria Diferente das perguntas que orientam a escrita da historia pelos

historiadores o discurso do museu mesmo elaborado por especialistas e dentre eles

historiadores renomados natildeo faz a interdiccedilatildeo dos sentimentos morais da reverecircncia e o respeito

ao valor sagrado do passado O museu se coloca no lugar do memorial conservando o culto aos

monumentos do passado situado no presente tem por funccedilatildeo continuar a mobilizar a memoacuteria e

deliberadamente lutar contra a praacutetica do esquecimento promovendo uma co-habitaccedilatildeo

institucionalizada para o patrimocircnio Ao estabelecer um plano de visitas o museu eacute expliacutecito em

129

relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo de proteccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do patrimocircnio Resguardar tornar intocaacuteveis

manter fora do alcance em aacutereas protegidas o culto do patrimocircnio No museu ldquoo visitante estaacute

condenado ao percurso arrastado numa marcha que catapulta as imagens das obras umas sobre as

outras para finalmente quebraacute-las em mil fragmentos (CHOAY 2006 p217)

Haacute no Museu Histoacuterico Nacional uma dimensatildeo que fixa e estabiliza uma determinada

visatildeo da histoacuteria poliacutetica que produz e reproduz hierarquias sociais ideologias e assume um papel

na produccedilatildeo de imagens de raccedila povo naccedilatildeo criando legitimidades sociais (ANDERSON 2008

p 208)

Acredito que o Museu Histoacuterico Nacional como instituiccedilatildeo carrega como legado o

sentido poliacutetico de museu moderno tal como definido por Benedict Anderson (2008 p268) Eacute um

museu que se constitui primeiramente como Museu Real e depois como Museu Nacional e hoje

passa pela revisatildeo de seu caraacuteter ldquonacionalistardquo frente agraves novas demandas por representaccedilatildeo de

identidades raciais eacutetnicas de gecircnero e multiculturais69

Ligado diretamente ao Estado o MHN produz materiais e disponibiliza imagens que satildeo

reproduzidas infinitamente no cotidiano via manuais escolares postais selos de modo que a

musealizaccedilatildeo poliacutetica se torna celebraccedilotildees comemoraccedilotildees e emblemas da identidade nacional70

O Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional publicado em 195771

quando Gustavo

Barroso ainda era seu diretor traz ao puacuteblico as dimensotildees do museu para a eacutepoca Do ponto de

vista do espaccedilo fiacutesico o museu ocupava inicialmente duas salas que davam para a entrada

principal chamada Portatildeo da Minerva (Figura 30) Depois da exposiccedilatildeo de 1922 passou para a

Casa do Trem e outra ala do edifiacutecio Agrave eacutepoca da elaboraccedilatildeo do Guia do Visitante ocupava mais

de quarenta salas galerias escadarias vestiacutebulos arcadas e paacutetios o que natildeo possibilitava exibir

todo o acervo

69 O proacuteprio MHN realiza desde 1990 o projeto Espaccedilo Museu ndash Construccedilatildeo do Saber iniciado pelos museoacutelogos

Mario de Souza Chagas e Ruth Beatriz Silva Caldeira de Andrada voltado para professores e outros profissionais

que procuram o setor educativo do Museu Ver Rodrigues e Gouveia (2006) 70 Santos (2006) analisa a loacutegica expositiva do Museu Histoacuterico Nacional desde sua fundaccedilatildeo em 1922 ateacute a deacutecada

de 1980 e estabelece uma ldquotipologiardquo que o caracteriza sob a gestatildeo de Gustavo Barroso (1922-1959) como um

museu-memoacuteria entre as deacutecadas de 1960 e 1970 como um museu-narrativa e a exposiccedilatildeo instalada nos anos de

1980 como um museu-siacutentese 71 Santos (2006) e Chagas (2003) realizam importantes anaacutelises sobre o MHN e seu fundador Gustavo Barroso A

escolha do Guia de 1957como referecircncia para anaacutelise tem por objetivo fazer um contraponto entre o Museu deixado

por Barroso (1959) e o visitado em 2008

130

Figura 29 Capa do Guia do Visitante do Museu Histoacuterico Nacional

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura 1957

Figura 30 Capa do folder do Museu Histoacuterico Nacional Portatildeo da

Minerva Entrada do Museu Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da

Cultura IPHAN Guia do Visitante sd

131

O Museu no Guia do Visitante de 1957 jaacute definia que sua funccedilatildeo natildeo era apenas a de

mostruaacuterio de objetos histoacutericos mas tambeacutem de pesquisa em colaboraccedilatildeo com instituiccedilotildees de

cultura imprensa raacutedio cinema e teatro Os ldquoAnais do Museu Histoacuterico Nacionalrdquo72

eram a

traduccedilatildeo desse esforccedilo dos pesquisadores do museu O Museu se apresenta como um estudioso da

histoacuteria em relaccedilatildeo a um puacuteblico que deseja documentar com filmes e peccedilas de fundo histoacuterico O

Museu oferece nesses casos cenaacuterios indumentaacuteria caracterizaccedilatildeo de personagens tradicionais

costumes e ateacute composiccedilatildeo de diaacutelogos

Para a imprensa fornece fotografias objetos e informaccedilotildees de pessoas O museu tambeacutem

oferece curso desde 1932 para preparar teacutecnicos de museus e gabinetes de restauraccedilatildeo de quadros

e objetos de arte Formou um arquivo histoacuterico com fotografias e documentos e uma biblioteca

especializada (GUIA 1957 p13)

Myriam Sepuacutelveda Santos (2006) busca compreender a concepccedilatildeo de histoacuteria ldquoembutidardquo

nas propostas de Gustavo Barroso e suas afinidades com a histoacuteria trabalhada atualmente no

MHN Para a autora a histoacuteria apresentada e trabalhada pelo MHN na gestatildeo de Barroso era

vinculada agrave questatildeo da ldquonacionalidaderdquo e ao ldquoculto da saudaderdquo entendido como uma perspectiva

de manter viva a tradiccedilatildeo com uma metodologia memorialiacutestica e uma concepccedilatildeo de tempo

descontiacutenuo ignorando as tendecircncias de uma histoacuteria mais atual (SANTOS 2006 p35-6)

O proacuteprio Museu Histoacuterico Nacional reconhece que a partir da deacutecada de 1960 essa

concepccedilatildeo de histoacuteria ldquoanacrocircnicardquo levara a uma crise institucional e o afastamento do MHN com

relaccedilatildeo agrave produccedilatildeo cultural intelectual e artiacutestica (SANTOS 2006 p55) Assim passa a

empreender diversas accedilotildees como a realizaccedilatildeo de Seminaacuterios Internacionais a partir de 1997 e a

proposiccedilatildeo de accedilotildees voltadas agrave ldquocomunicaccedilatildeordquo e ldquoeducaccedilatildeordquo para um puacuteblico mais amplo

notadamente o puacuteblico escolar visando agrave construccedilatildeo da nacionalidade

Trazer o Guia do Visitante de 1957 para a discussatildeo eacute uma espeacutecie de provocaccedilatildeo Uma

revisatildeo na forma de exposiccedilatildeo mudaria a concepccedilatildeo de histoacuteria do museu Essa questatildeo cabe

tambeacutem em relaccedilatildeo ao Museu do Escravo Em que medida uma nova museografia eacute suficiente

para introduzir outras concepccedilotildees de histoacuteria nos museus

72 Myrian Sepuacutelveda Santos (2006 p50-1) indica que O MHN contribui para o estabelecimento de padrotildees de

pesquisa com base em criteacuterios arqueoloacutegicos e filoloacutegicos de documentos e manuscritos que ajudam a consolidar a

ldquomoderna histoacuteriardquo e a diferenciaacute-la dos antigos antiquaacuterios Os Anais do MHN e o Curso de Museus satildeo destaques

dessa poliacutetica da instituiccedilatildeo sob a direccedilatildeo de Gustavo Barroso (1922-1959)

132

Eacute importante destacar esse aspecto da conservaccedilatildeo do acervo pois no Guia do Visitante

de 1957 a Sala Brasil-Portugal guardava as louccedilas pertencentes a D Joatildeo VI Nas paredes da

sala Brasil-Portugal vecirc-se a evoluccedilatildeo das armas nacionais nos periacuteodos monaacuterquicos nas da Sala

dos Vice-Reis os escudos heraacuteldicos dos quinze Vice-Reis do Estado do Brasil Essa disposiccedilatildeo

dos objetos natildeo existe mais mas o lugar reservado agrave figura de Dom Joatildeo VI jaacute estava

estabelecido definitivamente no Museu Histoacuterico Nacional

A entrada pelo ldquoPortatildeo da Minervardquo jaacute levava a um paacutetio com vaacuterios ldquovultos histoacutericosrdquo

sob as arcadas A primeira dependecircncia a ser visitada eacute chamada de ldquoArcada dos Descobridoresrdquo

Nela estatildeo ldquovultosrdquo que caracterizavam as ldquoeacutepocas e atividades principais da civilizaccedilatildeo

brasileirardquo Nas paredes os brasotildees de D Manuel o Venturoso Pedro Aacutelvares Cabral Pero Vaz

de Caminha e os capitatildees da armada que descobriu o Brasil (GUIA 1957 p17) Para completar o

cenaacuterio e o simbolismo da unidade Brasil e Portugal duas palmeiras imperais plantadas em 1955

a da direita com a terra de todos os Estados e territoacuterios do Brasil e aacutegua do rio S

Francisco pelo presidente Joatildeo Cafeacute Filho a da esquerda com a terra de Portugal areia

da praia de Porto Seguro e aacutegua do Tejo pelo Embaixador portuguecircs Antocircnio de Faria

(GUIA 1957 p20-1)

Figura 31 Portatildeo de Minerva Guia do Visitante Museu Histoacuterico

Nacional

133

Figura 32 Arcada dos descobridores Guia do Visitante Museu

Histoacuterico Nacional Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura 1957

O conceito de evidecircncia material trabalhado pelo museu natildeo eacute o mesmo utilizado pela

historiografia Enquanto no museu a exposiccedilatildeo visa ldquoilustrarrdquo uma interpretaccedilatildeo historiograacutefica

gerada em outros lugares (textos ensaios livros) a historiografia trata a cultura material como

fonte de pesquisa

Do ponto de vista dos visitantes a funccedilatildeo do acervo natildeo eacute documental e ao mesmo tempo

jaacute eacute uma versatildeo da histoacuteria A forma de apresentaccedilatildeo dos objetos ainda daacute o status de

testemunhos mostrando a importacircncia da materialidade para a comprovaccedilatildeovalidaccedilatildeo das

narrativas histoacutericas A exposiccedilatildeo como forma de reunir um acervo que natildeo pertence ao museu

lhe confere maior poder de criar visibilidade

Eacute isso que parece fazer a visitante Michele Oliveira Xavier que reuacutene novamente o acervo

do museu apoacutes sua visita Ela recria seu percurso e o patrimocircnio do Museu Histoacuterico Nacional em

uma nova exposiccedilatildeo

134

Figura 33 XAVIER Michele Oliveira Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo

Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008

O percurso da visitante pelo Museu Histoacuterico Nacional cria uma nova coleccedilatildeo agora

pertencente agrave estudante Reunidos em um novo museu imaginaacuterio figuram escadaria de acesso ao

andar superior com a escultura equumlestre de Dom Pedro II de Francisco Manoel Chaves Pinheiro

um veiacuteculo de transporte de traccedilatildeo animal que faz parte da exposiccedilatildeo permanente desde 1925 e

hoje intitulada do ldquoDo moacutevel ao automoacutevel transitando pela histoacuteriardquo dois detalhes da exposiccedilatildeo

que foi visitada pelo grupo uma pena e uma coroa de ouro

52- Comemoraccedilotildees Histoacuteria do Brasil e dos brasileiros

A Histoacuteria como disciplina acadecircmica entende e faz uso dos museus para desenvolver

pesquisas sobre a cultura material (arqueologia etnografia histoacuteria da arte) que soacute satildeo possiacuteveis

com pesquisa de campo e consulta a documentaccedilatildeo visual (fotos pinturas objetos

tridimensionais) e coleccedilotildees abrigadas nos museus (SUANO 1986 p75)

A historiografia contemporacircnea tem mostrado interesse pelo tema do patrimocircnio da

memoacuteria e dos museus Principalmente pelas relaccedilotildees entre os museus a naccedilatildeo e a histoacuteria-

135

memoacuteria nacional Dominique Poulot (2011) Pierre Nora (1982 1994) mudam o enfoque em

relaccedilatildeo agrave histoacuteria e as formas de estudar os museus relacionando as instituicotildees culturais com as

estruturas sociais que lhes deram origem e com seu caraacuteter instrumental em relaccedilatildeo aos poderes

constituiacutedos (BREFE 1998 p88)

A exposiccedilatildeo museal passa a ser vista como o principal meio pelo qual o passado eacute

publicado e apresentado A funccedilatildeo central dos museus eacute oferecer aos olhos do puacuteblico uma seacuterie

de procedimentos que pretendem falar diretamente ao visitante usando recursos que podem ser

chamados de ldquoembalagemrdquo dos objetos um cenaacuterio ou cena iluminaccedilatildeo embelezamento

midiaacutetico e escolhas de aspectos pitorescos ou estereoacutetipos (CHOAY 2006 p240)

Os museus tambeacutem procuram valorizar as informaccedilotildees trazidas pelos objetos (obras)

inaugurando uma criacutetica fundada na experiecircncia visual e na apreensatildeo direta das obras e natildeo mais

na leitura de textos Antes mesmo do conteuacutedo de cada exposiccedilatildeo e das particularidades do

acervo de cada instituiccedilatildeo haacute a reivindicaccedilatildeo do museu por tornar puacuteblica uma determinada

coleccedilatildeo e a preservaacute-la

Se haacute uma praacutetica patrimonial por parte dos museus e no caso do Museu Histoacuterico

Nacional essa praacutetica se refere a uma ldquorememoraccedilatildeordquo dos acontecimentos fundadores da naccedilatildeo de

modo a invocar o passado como forma de manter e preservar a identidade de uma comunidade

nacional o museu se coloca como capaz de desenvolver uma grande narrativa nacional

O Museu Histoacuterico Nacional cria formas simboacutelicas dentro de regras mais amplas de

codificaccedilatildeo da linguagem museoloacutegica Isso pode ser explorado tanto no relato escrito pelos

visitantes e em suas fotografias quanto nos impressos produzidos pelo proacuteprio museu voltados a

diferentes puacuteblicos como o cataacutelogo da exposiccedilatildeo e o material educativo voltado agrave comunidade

escolar

O MHN natildeo poderia ficar de fora dos festejos de ldquoum grande acontecimento que marcou a

histoacuteria do Brasilrdquo Festejar as datas nacionais faz parte da agenda do Museu As escolas podem

agendar e fazer visitas especiacuteficas nestas ocasiotildees Aleacutem de ter um acervo o museu nacional tem

por missatildeo dar a conhecer a Histoacuteria do Brasil O MHN fala portanto desse lugar conceituado e

de culto agrave memoacuteria de transmissatildeo agraves novas geraccedilotildees do legado dos antepassados Tambeacutem aqui

entra uma avaliaccedilatildeo do Museu sobre o que guardar preservar e expor satildeo obras raras ineacuteditas

136

originais nunca reunidas ou vistas Soacute um grande Museu pode reunir esse conjunto realizar esse

feito

A narrativa do Museu Histoacuterico Nacional fica mais expliacutecita quando se percebe que essas

comemoraccedilotildees ocorreram de forma mais enfaacutetica no Rio de Janeiro e satildeo divulgadas por

emissora de televisatildeo de projeccedilatildeo nacional dando ecircnfase ao fato de que a vinda da Corte

portuguesa transforma ldquoa nossa cidaderdquo segundo o material educativo em Capital do Impeacuterio

Luso projetando imagens de desenvolvimento econocircmico e poliacutetico comuns na historiografia

brasileira ao longo dos seacuteculos XIX e XX

O esforccedilo do prefeito do Rio de Janeiro empresas privadas e autoridades portuguesas para

criar esse evento cercado de discursos nacionalistas e patrioacuteticos culmina no estabelecimento de

uma comissatildeo oficial para as Comemoraccedilotildees da Chegada de D Joatildeo e da Famiacutelia Real ao Rio de

Janeiro que teve por coordenador Alberto da Costa e Silva e contou com a consultoria de Liacutelia

Schwarcz que elaborou um Calendaacuterio das Comemoraccedilotildees marcado por exposiccedilotildees debates

apresentaccedilotildees musicais publicaccedilotildees entre outubro de 2007 a dezembro de 2008 A exposiccedilatildeo do

Museu Histoacuterico Nacional eacute considerada como

a uacutenica exposiccedilatildeo prevista na agenda de eventos do Rio de Janeiro que enfatizaraacute os

aspectos econocircmicos poliacuteticos e culturais da vinda da famiacutelia real portuguesa dando a oportunidade aos brasileiros de conhecerem melhor o contexto histoacuterico que cercou D

Joatildeo VI o primeiro monarca europeu a atravessar o oceano Atlacircntico e o responsaacutevel

pelo estabelecimento da sede do maior impeacuterio das Ameacutericas entrelaccedilando para sempre

a histoacuteria do Brasil e de Portugal (ltwwwriorjgovbrculturasgt Acesso em maio de

2008)

Eacute possiacutevel explorar um pouco mais a ideia de circuito da cultura a partir dos dispositivos

visuais e narrativos propostos pelo Museu Histoacuterico Nacional na exposiccedilatildeo comemorativa dos

duzentos anos da vinda da Famiacutelia Real ao Brasil apresentada no Rio de Janeiro em 2008

Enquanto a visatildeo de histoacuteria apresentada pelo museu implica em ldquocelebrarrdquo no sentido de

ter veneraccedilatildeo pelo passado ou tradiccedilatildeo agrave medida que a cultura eacute exposta ela eacute revestida de outros

sentidos menos transcendentes O visitante resiste culturalmente e estabelece uma distacircncia que o

diferencia do que o museu e sua exposiccedilatildeo estatildeo propondo Ainda que haja um efeito de

encantamento ele natildeo chega a bloquear as imagens circundantes e silenciar tudo em volta do

objeto Os visitantes reconhecem que o museu promove uma das exposiccedilotildees mais importantes

137

sobre a eacutepoca da corte no Brasil que seu acervo eacute enorme mas natildeo deixam de observar a falta de

um tema

Percebi ali uma idealizaccedilatildeo de padratildeo de vida e uma inibiccedilatildeo sobre um tema que

predominava durante todo o seacuteculo XIX a escravidatildeo Natildeo vimos pela cidade sequer

vestiacutegios de que ali viviam em maior porcentagem a populaccedilatildeo escrava que trabalhava

para a coroa Uma espetacularizaccedilatildeo da cultura onde monumentos e documentos ganham valor extraordinaacuterio e perdem muitas vezes em se mostrar o valor real daqueles objetos

principalmente no Museu Histoacuterico Nacional (Priscila Braga Gonccedilalves Relatoacuterio de

visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

A estudante analisa a exposiccedilatildeo comemorativa do Museu Histoacuterico Nacional a partir de

sua formaccedilatildeo histoacuterica Faz uma criacutetica historiograacutefica e cultural Ela identifica um excesso e

uma falta na abordagem do museu Sobra encenaccedilatildeo e falta um conteuacutedo agraves comemoraccedilotildees da

vinda da famiacutelia real Eacute uma criacutetica que tem por fundamento o que a visitante jaacute estudou sobre a

historiografia brasileira A criacutetica a espetacularizaccedilatildeo da cultura eacute marcada pela forma como o

museu trabalha com os objetos O museu transforma os documentos em monumentos ao atribuir-

lhes um valor extraordinaacuterio ou seja de raridade de curiosidade e natildeo de vestiacutegios ou

testemunhos A histoacuteria do Brasil apresentada pelo Museu Histoacuterico Nacional eacute uma versatildeo

idealizada e excludente em relaccedilatildeo a outras versotildees historiograacuteficas

Embora a ideacuteia de Naccedilatildeo natildeo apareccedila de forma expliacutecita no tiacutetulo da exposiccedilatildeo eacute em torno

desse conceito que se organiza toda a loacutegica do Museu Histoacuterico Nacional73

O Museu Histoacuterico

Nacional continua promovendo comemoraccedilotildees e de certa forma manteacutem viva a tradiccedilatildeo de

transmutaccedilatildeo da memoacuteria coletiva em memoacuteria histoacuterica ao proteger a ldquoheranccedila monumental da

naccedilatildeordquo O museu faz uma revisatildeo dos heroacuteis e aplica uma nova camada de sentido ou valor ao

passado Os valores nacionais introduzidos no presente pelo museu funcionam como uma

pedagogia do civismo uma memoacuteria histoacuterica que eacute mobilizada pelo sentimento de

pertencimento ao nacional um laccedilo com o passado e com a identidade (referecircncia)

Do ponto de vista do museu a exposiccedilatildeo eacute celebrativa mas o poder de escrever a histoacuteria

com objetos soacute se efetiva se as portas do museu estiverem abertas agrave aprendizagem e agraves posturas

investigativas em relaccedilatildeo agraves atitudes do proacuteprio museu no tratamento dos temas da memoacuteria e do

patrimocircnio

73 Bittencourt (2003 p156-7) chama a atenccedilatildeo para a constituiccedilatildeo de outros tipos de museus de histoacuteria nacional

vinculados ao Estado mas voltados para as coisas do ldquopovordquo e da ldquoculturardquo

138

A primeira atitude do grupo de estudantes de graduaccedilatildeo em Histoacuteria em visita agraves

exposiccedilotildees em comemoraccedilatildeo aos duzentos anos da Vinda da Famiacutelia Real Portuguesa ao Brasil eacute

avaliar como o museu apresenta os objetos A trilha deixada pelo museu nos visitantes eacute em um

primeiro plano a aceitaccedilatildeo dos paracircmetros elaborados pela exposiccedilatildeo Entretanto muitos

visitantes fazem ressoar a ideia do museu como aquele que escreve a histoacuteria com os objetos de

seu acervo

Ali estaacute exposto todo um acervo muito bem preservado e identificado como carruagens

louccedilas pratarias armas objetos pessoais santos religiosos moacuteveis quadros entre outros

dando a oportunidade principalmente a noacutes historiadores de poder conhecer melhor todo o contexto histoacuterico que cercou D Joatildeo VI e sua vinda com sua corte ao Brasil

entrelaccedilando a histoacuteria do Brasil e de Portugal (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de

visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

A novidade na observaccedilatildeo da estudante eacute a criaccedilatildeo de uma referecircncia de identidade

profissional do grupo de visitantes ldquonoacutes historiadoresrdquo O uso do museu histoacuterico eacute pelo que ele

traz de objetos A organizaccedilatildeo a classificaccedilatildeo pode ser feita pelos visitantes que entendem como

funciona a montagem e desmontagem de exposiccedilotildees e podem usar livremente de criteacuterios

diferentes daqueles adotados pelo museu

A concepccedilatildeo de histoacuteria presente no Museu Histoacuterico Nacional estaacute materializada nos

objetos selecionados e dispostos nas exposiccedilotildees permanentes e temporaacuterias Na visita agrave exposiccedilatildeo

comemorativa da vinda da corte portuguesa observa-se que existem acontecimentos fundamentais

na formaccedilatildeo da sociedade brasileira e eles estatildeo estabelecidos pelo Museu como marcos

cronoloacutegicos 1808-1822

A concepccedilatildeo de uma histoacuteria integrada ou ldquomomentos simboacutelicos comuns da histoacuteria do

Brasil e de Portugalrdquo (TOSTES 2000 p7) jaacute vinha sendo trabalhada pelo MHN e foi

apresentada tanto no ldquoSeminaacuterio Internacional D Joatildeo VI um rei aclamado na Ameacutericardquo

realizado em 2000 quanto em duas outras exposiccedilotildees realizadas nas dependecircncias do MHN

como parte das comemoraccedilotildees dos descobrimentos portugueses

A demanda por ldquorememoraccedilatildeordquo desta histoacuteria poliacutetica eacute parte desta visatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional Haacute por parte do Museu um reforccedilo da identidade nacional em detrimento de

outras demandas por valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio cultural local e regional Esta visatildeo

integradora da cultura presente no Museu Histoacuterico Nacional contrasta com as orientaccedilotildees da

139

Poliacutetica Nacional de Museus de 2003 que define o papel dos museus como ldquodispositivo

estrateacutegico de aprimoramento dos processos democraacuteticosrdquo e a ldquonoccedilatildeo de patrimocircnio cultural do

ponto de vista museoloacutegicordquo implica na ldquorelaccedilatildeo dos diferentes grupos sociais e eacutetnicos com os

diversos elementos da natureza bem como a respeito das culturas indiacutegenas e afrodescendentesrdquo

(BRASIL 2003 p 8)

Reginaldo Santos Gonccedilalves em prefaacutecio ao livro de Myriam Sepuacutelveda dos Santos

(2006) defende que o museu pode ser pensado como um ldquosistema mais ou menos coerente de

relaccedilotildees sociais e culturais variando no tempo e no espaccedilordquo Os museus satildeo como teias de

pensamento nas quais as instituiccedilotildees satildeo discursivamente articuladas As categorias de

pensamento como histoacuteria naccedilatildeo memoacuteria e passado satildeo articuladas em linguagens

museoloacutegicas tipos de objetos materiais formas de colecionismo classificaccedilatildeo e exibiccedilatildeo que

circulam aleacutem dos muros e tem efeitos no cotidiano dos cidadatildeos (GONCcedilALVES apud

SANTOS 2006 p3-4)

O papel formador dos museus eacute dado por esse seu caraacuteter de impor uma determinada

ordem sobre os objetos materiais mediado por categoriais disciplinares da histoacuteria e constituir

uma escrita museoloacutegica No caso do Museu Histoacuterico Nacional Myriam Sepuacutelveda dos Santos

distingue um museu-memoacuteria nos primeiros anos de existecircncia do MHN e um museu-narrativa a

partir dos anos de 1980

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo74

tambeacutem apresenta os objetos histoacutericos pelo fato de que teriam

pertencido a vultos poliacuteticos retratos armas armaduras tronos moacuteveis moedas medalhas A

proposta de exposiccedilatildeo em 2008 pelo MHN se pauta por estes objetos pois no primeiro cataacutelogo

publicado pela instituiccedilatildeo em 1924 jaacute constavam as salas dos Tronos e do Cetro com ldquograndes

peccedilas de mobiliaacuterio pertencentes ao rei D Joatildeo VIrdquo (BITTENCOURT 2003 p158)

Uma exposiccedilatildeo museal em geral tem um custo financeiro e operacional significativo e eacute

viabilizada com parcerias de diversas instituiccedilotildees que contribuem para realizaccedilatildeo do evento O

cataacutelogo da exposiccedilatildeo comemorativa aos duzentos anos da Vinda da Corte Portuguesa ao Brasil

intitulada Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo

realizada pelo Museu Histoacuterico Nacional em sua sede no Rio de Janeiro em 2008 registra

74 Os estudantes natildeo tiveram acesso a esse cataacutelogo Ele foi adquirido em momento posterior agrave visita presencial ao

museu

140

agradecimentos a museus de Portugal agrave Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian a bancos a banqueiros e

a instituiccedilotildees de patrimocircnio ligadas ao Ministeacuterio da Cultura do governo brasileiro como o

IPHAN

Figura 34 Reproduccedilatildeo da Capa do Cataacutelogo da ldquoExposiccedilatildeo Um novo

Mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil 1808-1822rdquo

Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo traz os textos dos organizadores e suas intenccedilotildees Nenhuma

comemoraccedilatildeo passa incoacutelume pela disputa poliacutetica por memoacuterias e narrativas E esta tensatildeo pode

ser vista jaacute no texto de apresentaccedilatildeo do cataacutelogo intitulado Palavras preacutevias Nele o entatildeo

ministro de Estado da Cultura o muacutesico Gilberto Passos Gil Moreira abre oficialmente a mostra

do Museu Histoacuterico Nacional reconhecendo a vinda da famiacutelia real portuguesa em 1808 como

um evento fundador da ldquoidentidade nacionalrdquo e da ldquonaccedilatildeordquo Entretanto aos olhos do ministro a

chegada da corte eacute uma heranccedila cheia de ldquodor da colonizaccedilatildeo e perversa submissatildeo dos

afrodescendentesrdquo Em seguida volta a reconhecer que essa mesma cultura europeacuteia ou

portuguesa que aqui chegou permitiu que o Brasil se tornasse uma ldquoimensa paacutetria caldeiratildeo para

todas as culturas e berccedilo mesticcedilo de uma nova civilizaccedilatildeo ainda em processordquo

O ministro de um lado parece criticar a ldquogrande narrativa da naccedilatildeordquo que eacute excludente

com os afrodescendentes mas de outro lado conecta a narrativa proposta pelo Museu Histoacuterico

141

Nacional ao sentido que lhe atribui Anderson (2008) como parte da construccedilatildeo de uma

ldquocomunidade imaginadardquo da qual todos fazem parte

Gilberto Gil atribui ao evento comemorado um caraacuteter histoacuterico fundador da

nacionalidade Eacute a vinda da famiacutelia real que daacute iniacutecio e cria uma linha de continuidade um

sentido duradouro de ldquodestino nacionalrdquo que preacute existe e continuaraacute existindo apoacutes a morte dos

sujeitos concretos que dele participaram Em seguida o ministro interpreta a tradiccedilatildeo ou a

heranccedila que nos prende a este passado como uma continuidade poliacutetica uma cultura de longa

duraccedilatildeo da qual ldquoprecisa-serdquo no sentido de Fernando Pessoa (navegar eacute preciso) voltar sempre e

fazer referecircncia jaacute que se constitui como a origem da naccedilatildeo

O Brasil concebido por Gilberto Gil deseja perpetuar a heranccedila portuguesa mas

reconhece que essa heranccedila natildeo foi capaz de unificar os diferentes membros da naccedilatildeo em um soacute

sujeito em termos de homogeneidade cultural Haacute diferenccedilas entre culturas etnias e raccedilas Com a

metaacutefora da antropofagia ldquoque assimila e digere o que chega a ser devolvido em inovaccedilatildeo em

invenccedilatildeo e indiferenccedilardquo o ministro reforccedila a ambiguumlidade do acontecimento (TOSTES 2008

p10)

Entretanto ao revisitar a tradiccedilatildeo portuguesa o ministro natildeo pode deixar de reinventaacute-la

Natildeo haacute um elogio da colonizaccedilatildeo a ecircnfase recai na ldquodor dos afrodescendentesrdquo que a estudante

Priscila Braga Gonccedilalves identificou continuam natildeo sendo representados na exposiccedilatildeo do Museu

Histoacuterico Nacional

A apresentaccedilatildeo da exposiccedilatildeo comeccedila entatildeo com a cena marcada pela ambiguumlidade A

presenccedila fiacutesica de um afrodescendente que ocupa o cargo poliacutetico de ministro da Cultura de um

governo que denuncia a exclusatildeo social e promove poliacuteticas puacuteblicas de igualdade racial e

representaccedilatildeo de identidades na abertura de numa exposiccedilatildeo que lhe provoca ldquodorrdquo

Jaacute o presidente da Fundaccedilatildeo Colouste Gulbenkian patrocinadora da exposiccedilatildeo Emiacutelio

Rui Vilar ressalta que a exposiccedilatildeo

reuacutene mais 300 peccedilas e documentos ineacuteditos que constituem interessantes e apelativos

testemunhos capazes de transportar o visitante para a eacutepoca que o Rio de Janeiro se

tornou a sede da corte portuguesa e em que as artes europeacuteias entraram em frutuoso

diaacutelogo com o clima acolhedor e com as belas paisagens do Brasil (TOSTES 2008)

142

Em alguma medida esse caraacuteter documental e monumental da exposiccedilatildeo eacute reconhecido

pelos visitantes que tambeacutem descrevem a exposiccedilatildeo como um testemunho de eacutepoca Natildeo por ser

capaz de transportaacute-los para outra eacutepoca mas por estarem em presenccedila de objetos de outra eacutepoca

colocam-se e frente ao passado

Num primeiro momento encontramos uma exposiccedilatildeo muito bacana por sinal que nos

remete aos motivos que levaram a famiacutelia real a vir para o Brasil bem como os objetos

utilizados por ela tais como cadeiras louccedilas armaacuterios vasos buacutessolas etc o que vale a

pena destacar eacute como a exposiccedilatildeo estaacute temporalmente organizada Alguns importantes

momentos satildeo apresentados de forma luacutedica e atrativa (Frederico Levi Amorim

Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

O entendimento de que a exposiccedilatildeo eacute uma produccedilatildeo cultural e uma forma de escrita da

histoacuteria tambeacutem aparece em diversos relatos dos visitantes ldquoA exposiccedilatildeo foi pensada de modo a

suscitar no visitante uma visatildeo ampla e criacutetica em relaccedilatildeo agrave histoacuteria e a formaccedilatildeo social brasileira

tirando tambeacutem um pouco daquela visatildeo de D Joatildeo como glutatildeo e bobordquo diz a estudante Marly

Marques Rodrigues

53- Ensinando histoacuteria ldquo200 anos da vinda da Famiacutelia Real para o Brasilrdquo

O Museu Histoacuterico Nacional produz tambeacutem um caderno educativo dirigido a crianccedilas e

jovens como parte da exposiccedilatildeo temporaacuteria Um Novo Mundo Um Novo Impeacuterio A Corte

Portuguesa no Brasil Nesse material o MHN interpela o puacuteblico em torno do tema das

comemoraccedilotildees dos 200 anos da vinda da Famiacutelia Real e cria diaacutelogos especiacuteficos na cultura entre

museu e visitantes

O que o Museu Histoacuterico Nacional apresenta eacute mais que uma simples exposiccedilatildeo

temporaacuteria sobre o tema O museu se coloca no lugar daquele que participa da criaccedilatildeo do proacuteprio

evento-comemoraccedilatildeo em torno da data O material educativo convoca um puacuteblico especiacutefico a

participar do calendaacuterio do bicentenaacuterio das ldquocomemoraccedilotildeesrdquo da vinda da Famiacutelia Real ao Rio de

Janeiro O MHN constroacutei o proacuteprio acontecimento agrave medida que configura uma narrativa

escolhendo textos imagens e a abordagem que conduz os sentidos para outros sujeitos provaacuteveis

visitantes O Museu indica claramente qual eacute o seu papel na disputa pelas memoacuterias e visotildees de

histoacuteria e como continua protagonizando os acontecimentos

143

O MNH elabora uma narrativa sobre a vinda da famiacutelia real a ser divulgada em um

material educativo para ensinar histoacuteria Cabe na anaacutelise desse material identificar algumas

tensotildees presentes nessa narrativa A primeira eacute identificar um sujeito jaacute inscrito no texto e uma

correspondecircncia imediata entre o que o museu supotildee ser um visitante ideal e aqueles que

efetivamente o visitam que natildeo estatildeo necessariamente em plena sintonia com o proposto pela

exposiccedilatildeo

Figura 35 Capa do Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo

mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil18082008

Brasil-Portugal Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

Esse tipo de material uma cartilha educativa tem por objetivo ampliar os significados do

evento-exposiccedilatildeo para um puacuteblico escolar enquadrando numa moldura o cenaacuterio os personagens

e as fontes que seratildeo oferecidos e criando referecircncias para os estudantes Haacute consequecircncias

poliacuteticas e sociais em termos dos referenciais histoacutericos expressos pelo museu e o grau de

legitimidade dessa seleccedilatildeo feita por esse produtor de cultura autorizado para escrever uma

histoacuteria nacional

Os conteuacutedos e temaacuteticas da cartilha pretendem ensinar histoacuteria Destacam-se

personagens histoacutericos datas e eventos poliacuteticos e administrativos proferidos num tom

144

transmissivo aos jovens estudantes O material possui cinquumlenta paacuteginas num formato de

pequeno caderno (cartilha) com imagens coloridas textos e atividades com espaccedilo para respostas

A capa eacute um desenho sem indicaccedilatildeo de autoria que mistura siacutembolos nacionais como o verde

amarelo bandeiras de Portugal e caravelas indicando a saiacuteda da corte da Europa sua passagem

por Salvador e chegada ao Rio de Janeiro A ligaccedilatildeo entre Portugal e Brasil tambeacutem se faz nas

legendas que associam a chegada da Corte a um novo mundo um novo impeacuterio e a permanecircncia

dessas ligaccedilotildees numa faixa abaixo do mapa escrita em vermelho ldquoPortugal 1808-2008 Brasilrdquo

A cartilha eacute orientada para um puacuteblico e as praacuteticas culturais que permeiam a elaboraccedilatildeo

desse artefato evidenciam o diaacutelogo entre o museu e o visitante tanto nos temas estruturas

narrativas valores culturais e hierarquias A anaacutelise do material produzido pelo museu considera

especificamente como ele constroacutei um puacuteblico um visitante atribuindo-lhe caracteriacutesticas de

idade e escolaridade articuladas agrave concepccedilatildeo sobre o que eacute um Museu Agrave medida que o Museu

dirige-se a um suposto vocecirc que visitou a exposiccedilatildeo e agora lecirc o material elaborado por sua

equipe ele fala fundamentalmente dele mesmo de suas concepccedilotildees de histoacuteria e de memoacuteria

O material educativo define a vinda da famiacutelia real como um evento histoacuterico

significativo e que deve ser comemorado Em seguida o Museu Histoacuterico Nacional como sujeito

de uma narrativa histoacuterica confere ao evento legitimidade e convida a reflexatildeo sobre o tipo de

narrativa que o museu pretende repercurtir e publicizar na exposiccedilatildeo

Haacute na estrutura narrativa do material educativo e no sistema de imagens uma

ldquoconvocaccedilatildeordquo ao visitante e uma indicaccedilatildeo de como deve visitar a exposiccedilatildeo Esta interpelaccedilatildeo

do puacuteblico indica uma posiccedilatildeo fiacutesica e um lugar social Haacute um destinataacuterio para o qual se oferece

ldquoconvidardquo a ver de um ponto de vista particular a construir conhecimentos em certa perspectiva

social e poliacutetica

Ao considerar o material pedagoacutegico produzido pelo MHN eacute possiacutevel mapear trecircs

dispositivos de construccedilatildeo da histoacuteria pelo museu o lugar do qual fala o museu o campo de

disputa sobre as concepccedilotildees de histoacuteria e memoacuteria e as opccedilotildees poliacuteticas e esteacuteticas do museu com

relaccedilatildeo ao campo museal e educacional No primeiro caso o Museu Histoacuterico Nacional

comparece como uma instituiccedilatildeo cultural e se posiciona como sujeito frente agraves comemoraccedilotildees

histoacutericas No segundo aponta no material pedagoacutegico em seu conteuacutedo e forma uma visatildeo

145

especiacutefica acerca da Histoacuteria elaborada dentro do campo museal Por fim se posiciona frente agraves

disputas e debates historiograacuteficos que emergem no campo educativo

O sentido atribuiacutedo agraves comemoraccedilotildees natildeo surge do proacuteprio material educativo mas da

forma como ele eacute apresentado pelas linguagens (escolhas dos produtores) e coacutedigos de

inteligibilidade Eacute nesse trabalho de fechamento e marcaccedilatildeo de fronteiras simboacutelicas entre museu

e visitantes que se definem tanto o que eacute o Museu Histoacuterico Nacional (unidade instaacutevel posiccedilatildeo

de poder praacuteticas de memoacuteria que nomeiam um lugar nacional e histoacuterico para regulaccedilatildeo da

cultura) quanto se configura um puacuteblico visitante que deve reiterar a norma e responder

positivamente agraves mensagens (exposiccedilotildees) regulando a si mesmo sua identidade e subjetividade

internalizando condutas normas regras e modos de ser e pensar sobre o que eacute a histoacuteria e a

memoacuteria

O processo de interpelaccedilatildeo de um personagem preferencial imaginaacuterio (vocecirc) se daacute a

partir de uma temaacutetica organizaccedilatildeo em subitens e atividades que propotildeem uma proximidade com

o visitante Ao mesmo tempo a arquitetura dessa organizaccedilatildeo implica por parte do Museu a

aposta em certos interesses e competecircncias do visitante supostamente uma crianccedila que frequumlente

regularmente a escola baacutesica que foi agrave exposiccedilatildeo com sua professora e colegas que possui uma

famiacutelia (pai matildee avoacutes) moradia fixa mobiliada com mesas e cadeiras e alimentaccedilatildeo adequada

Essas imagens a respeito de seu puacuteblico podem ser inferidas quando em diversas

atividades propostas pede-se que a suposta crianccedila faccedila uma ldquoaacutervore genealoacutegicardquo peccedila ajuda de

seus pais sua famiacutelia Escolhendo essa forma de se dirigir aos visitantes o MHN decide quem

inclui e quem exclui da definiccedilatildeo de puacuteblico e avalia para quem fala preferencialmente um

estudante e provavelmente seu professor que tambeacutem pode usar o material pedagoacutegico

encomendando-lhe o ldquoPara Casardquo endereccedilado pelo Museu

O material didaacutetico em questatildeo guarda relativa autonomia em relaccedilatildeo ao

eventocomemoraccedilatildeo e agraves demais exposiccedilotildees permanentes do Museu agrave medida que circula de

forma mais ampla e indica uma permanecircncia pelo seu formato impresso No entanto a concepccedilatildeo

de histoacuteria presente no material e na proacutepria exposiccedilatildeo75

aponta para uma narrativa que considera

o tempo da chegada da famiacutelia como um marco para o progresso e o prenuacutencio de uma nova

ordem poliacutetica ndash a independecircncia em 1822 ndash que fecha a exposiccedilatildeo Na uacuteltima parte do percurso a

75 Ver chamada no site do proacuteprio wwwmuseuhistoriconacionalcombr chamada para a Exposiccedilatildeo

146

estaacutetua de D Pedro I proclama (com aacuteudio) a Independecircncia do Brasil No caderno didaacutetico uma

fotomontagem reuacutene a estaacutetua de D Pedro I de Rodolfo Bernardelli pertencente ao acervo do

MNH com um balatildeo no qual em primeira pessoa a estaacutetua se diz herdeira do trono de Portugal e

grita ldquoIndependecircncia ou Morterdquo

O caderno indica eventos cujos sujeitos satildeo os membros da Famiacutelia Real Satildeo eles que

asseguram a continuidade com um passado colonial mas marcha rumo agrave histoacuteria nacional A

chave de explicaccedilatildeo histoacuterica eacute a relaccedilatildeo de dependecircncia entre colocircnia e metroacutepole que tambeacutem

aparece em outras exposiccedilotildees do Museu como a ldquoColonizaccedilatildeo e Dependecircnciardquo e ldquoMemoacuteria do

Estado Imperialrdquo76

A memoacuteria para o Museu Histoacuterico Nacional eacute um ldquodeverrdquo tornar presente

celebrar para um puacuteblico cuja idade e escolaridade natildeo identificam as variaacuteveis e os sentidos

manipulados por quem faz a exposiccedilatildeo A versatildeo da Histoacuteria oferecida aos visitantes pode ser

contestada mas o trabalho visual feito pelo Museu natildeo abre muito espaccedilo para interaccedilotildees com os

visitantes

O material dispensa um contanto fiacutesico com o professor o com os agentes do museu As

atividades propostas no material falam diretamente com um ldquoalunordquo dando-lhe instruccedilotildees tais

como desenhar pesquisar interpretar observar relacionar e escrever Os recursos graacuteficos e

visuais tambeacutem se apresentam como dispositivos de credibilidade e atribuiccedilatildeo de autenticidade

No caso do Museu isso eacute feito com referecircncia ao seu acervo embora natildeo indique muitas vezes

no material educativo a procedecircncia da imagem e nem faccedila referecircncias se elas estavam ou natildeo

na exposiccedilatildeo Ao apresentar algumas imagens especiacuteficas o material educativo busca o

reconhecimento de sua autenticidade e de sua raridade usando o fato de pertencerem ao acervo do

museu ou mesmo a uma importante coleccedilatildeo particular O MHN tambeacutem busca se aproximar do

visitante por meio do impacto visual ressaltando o formato as dimensotildees da pintura No material

impresso satildeo criados diversos recursos graacuteficos para facilitar a leitura Textos curtos que

dialogam com o leitor graacuteficos mapas e o uso de siacutembolos relacionados agrave monarquia portuguesa

e famiacutelia de Braganccedila como coroas leques bandeiras cartolas brasotildees que povoam as paacuteginas

do material educativo

No caso do material do MHN a exploraccedilatildeo de objetos bidimensionais (quadros

fotografias documentos escritos) e tridimensionais (esculturas mobiliaacuterio louccedilas moedas

76 Ver folder de divulgaccedilatildeo do MHN e site citado acima

147

brasotildees) presentes na Exposiccedilatildeo eacute obrigatoacuteria A relaccedilatildeo entre o texto e as imagens reproduzidas

e trabalhadas no material impresso natildeo podem ser pensadas dada a proacutepria finalidade dos objetos

museais de maneira apenas ilustrativa Aqui o Museu lanccedila matildeo de toda a discussatildeo sobre a

importacircncia de seu acervo para reforccedilar sua funccedilatildeo e seu lugar junto agraves instituiccedilotildees de memoacuteria

nacionais Ainda que nem todas as imagens sejam acompanhas das devidas referecircncias quanto agrave

procedecircncia (acervo) toda a iconografia proveniente do proacuteprio MHN estaacute devidamente

identificada e classificada O lugar de autoridade do Museu promove uma comparaccedilatildeo entre os

quadros de Geoff Haunt um especialista contemporacircneo em pinturas navais intitulado Chegada

da famiacutelia real em 7 de marccedilo de 1808 feito sob encomenda para Kenneth Light77

em 1999 A

outra reproduccedilatildeo eacute de Cacircndido Portinari Chegada de D Joatildeo agrave Bahia uma tela de 1952 A

terceira eacute a imagem de um Leque comemorativo da chegada da famiacutelia real da coleccedilatildeo Mariano

Procoacutepio

O exerciacutecio de leitura de imagem proposto pelo Material Educativo (Figura 36) considera

que a pintura a oacuteleo sobre tela de Haunt eacute uma ldquopintura histoacuterica documental em que o objetivo

eacute ser fiel como uma fotografia [] natildeo mostra uma interpretaccedilatildeo do artista como no caso da obra

de Portinarirdquo (Material Educativo 2008 p228-29)

77 Estudioso dos diaacuterios de bordo da marinha inglesa que acompanharam a vinda da corte portuguesa ao Brasil no

iniacutecio do seacuteculo XIX

148

Figura 36 Material Educativo da exposiccedilatildeo Um novo mundo um

novo impeacuterio A corte portuguesa no Brasil18082008 Brasil-

Portugal Museu Histoacuterico NacionalRio de Janeiro 2008

As trecircs obras destacadas pelo Material Educativo natildeo fazem parte do acervo do Museu

Histoacuterico Nacional A primeira pertence a um banco da Bahia a outra eacute parte do acervo do

Museu Mariano Procoacutepio de Juiz de Fora e a terceira eacute da coleccedilatildeo particular de Kenneth Light

O cataacutelogo da exposiccedilatildeo mais parece um inventaacuterio comentado e ilustrado Natildeo haacute

qualquer texto que discuta a concepccedilatildeo da proacutepria exposiccedilatildeo Eacute no caderno educativo que as

intenccedilotildees de ensino de Histoacuteria do Brasil ficam mais expliacutecitas

Resta explorar um pouco mais como os visitantes negociam com o museu essa visatildeo de

histoacuteria Frente agrave tentativa clara da exposiccedilatildeo de celebrar uma histoacuteria da naccedilatildeo e escrever a

histoacuteria poliacutetica e social expondo os testemunhos histoacutericos materiais que estavam descontiacutenuos

numa narrativa resta indagar como os visitantes se posicionam frente agrave visatildeo do museu e se

conseguem ou natildeo se contrapor a visatildeo da histoacuteria

149

Entender como os visitantes descrevem analisam interpretam e fundamentam uma

narrativa frente ao museu e suas exposiccedilotildees possibilita abordar as relaccedilotildees entre poliacuteticas e

poeacuteticas as relaccedilotildees com a memoacuteria o patrimocircnio e a histoacuteria nos usos educativos dos museus

pelos visitantes

54- O visitante entre a cultura material e a experiecircncia esteacutetica

Os relatos das visitas contribuem para reorganizar as recordaccedilotildees do acontecimento e

invocar uma memoacuteria do grupo de estudantes que ao produzir e selecionar as imagens

disponibilizadas pelo museu traz agrave lembranccedila um conjunto de situaccedilotildees vividas que natildeo foram

registradas mas que sustentam a escrita e o conhecimento histoacuterico por eles elaborado

Mesmo uma visita guiada a uma exposiccedilatildeo e uma raacutepida passagem pelas vaacuterias

dependecircncias do Museu Histoacuterico Nacional deixa resiacuteduos entre os visitantes dessa experiecircncia

evanescente A visitante apresenta o que viu

[] por meio de uma visita guiada que nos deixou agrave vontade para apreciar toda a

exposiccedilatildeo que por si soacute nos permite interagir

Ela eacute dividida em nuacutecleos temaacuteticos ou seja separados por temas ou recortes

cronoloacutegicos

A exposiccedilatildeo conta com objetos e documentos de importantes instituiccedilotildees

puacuteblicas e particulares brasileiras e portuguesas muitos dos quais satildeo objetos ineacuteditos

Na visitaccedilatildeo tive a oportunidade de acompanhar desde a situaccedilatildeo na Europa

com as guerras napoleocircnicas que motivaram a vinda da Corte para o Brasil ateacute os

motivos que levaram agrave proclamaccedilatildeo da Independecircncia do Brasil pelo Imperador Pedro I

O nuacutecleo inicial aborda as conquistas de Napoleatildeo na Europa em especial na

peniacutensula Ibeacuterica seguidas de biografia dos personagens envolvidos no conflito- Napoleatildeo Carlos IV D Maria I e Jorge III Atraveacutes de acervo iconograacutefico cedido por

instituiccedilotildees portuguesas

O nuacutecleo seguinte aborda o embarque em Lisboa e as dificuldades enfrentadas

ao longo de 54 dias de travessia do Atlacircntico A chegada agrave Bahia em 22 de janeiro de

1808 estaacute representada pela monumental tela de Cacircndido Portinari bdquoA chegada de D

Joatildeo VI a Salvador‟ gentilmente cedida pelo Banco BBM SA e Associaccedilatildeo Comercial

da Bahia

A exposiccedilatildeo eacute imensa para apreciar todo o seu acervo seria necessaacuterio um dia

inteiro tempo que natildeo tiacutenhamos Poreacutem trata-se de um local que gostaria de prestigiar

se tiver a oportunidade de retornar a cidade do Rio de Janeiro

A organizaccedilatildeo do MHN aleacutem de seu grande acervo com exposiccedilotildees

permanentes e itinerantes utiliza projeccedilotildees aacuteudio visuais em 3D possibilitando uma nova interaccedilatildeo com as exposiccedilotildees que agradam todo o tipo de puacuteblico (Daniele Paulo

Marques Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo

2008)

150

O caraacuteter monumental da exposiccedilatildeo eacute somado aos objetivos didaacuteticos A montagem de

uma linha cronoloacutegica que vai da vinda de Dom Joatildeo VI agrave declaraccedilatildeo de independecircncia por Dom

Pedro I eacute remontada nos textos e fotografias como a abaixo (Figura 37)

Figura 37 AMORIM Frederico Levi Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Curso de Histoacuteria 7ordm periacuteodo

Faculdade Pedro Leopoldo MG 2008

A visita ao Museu Histoacuterico Nacional realizou-se como um rito coletivo Teve um caraacuteter

performativo O museu jaacute era entendido pelos visitantes como um lugar puacuteblico de debate sobre a

histoacuteria e acreditavam que de certo modo estava mais autorizado do que o campo acadecircmico

(historiografia e faculdade) por trazer um enorme acervo cultural mas que natildeo deixa de causar

confusatildeo entre os visitantes Uma das visitantes cita que viu ldquofotosrdquo das filhas do casal real

utensiacutelios que serviram para a viagem pinturas cartas carimbos e ldquouma reacuteplica da sala de visitas

da Marquesa de Santosrdquo

151

Natildeo se sabe o que a levou a imaginar uma sala da Marquesa de Santos em meio agrave

exposiccedilatildeo sobre a vinda da famiacutelia real nem as chamadas fotografias Impressiona nesse caso a

capacidade de criar outro acervo para o museu em meio agrave descriccedilatildeo dos objetos que estavam em

exposiccedilatildeo

Para outros visitantes o Museu Histoacuterico Nacional eacute ldquograndioso muito bem montado e

agradaacutevel agrave visitaccedilatildeo puacuteblica com vaacuterias exposiccedilotildeesrdquo diz o visitante Fernando Daniel Fraga

Fonseca Jaacute a visitante Aline Conceiccedilatildeo Ferreira Gregoacuterio tambeacutem achou que ldquoo acervo eacute

enorme por isso a visita demanda bastante tempo Foi uma exposiccedilatildeo proveitosa poreacutem um

pouco cansativa devido ao tamanho do museurdquo

O museu estabelece no contato com o visitante uma rede de opiniotildees e um quadro de

diferentes reaccedilotildees frente agrave materialidade da praacutetica museal Cada museu possui uma narrativa

distinta e a anaacutelise que o puacuteblico faz da exposiccedilatildeo se inicia com a identificaccedilatildeo das marcas

emitidas por essa fala autorizada A interpretaccedilatildeo eacute constituiacuteda pelo puacuteblico no confronto entre as

promessas do ldquogecircnero museurdquo e expectativas dos visitantes

A parte que mais gostei foi o museu todo mas a que mais me prendeu a atenccedilatildeo foi a

parte onde se encontra os canhotildees pelo que pude contar contei 48 canhotildees E gostei

tambeacutem das pratarias e da parte da medicina tudo laacute eacute muito bonito e muito bem conservado (Claudilene Aparecida de Almeida Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico

Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

Outra visitante da exposiccedilatildeo tambeacutem inicia seu relato da visita ressaltando o caraacuteter de

documento-monumento do Museu Histoacuterico Nacional Eles destacam o seu acervo

Ali estaacute exposto todo um acervo muito bem preservado e identificado como carruagens

louccedilas pratarias armas objetos pessoais santos religiosos moacuteveis quadros entre outros

dando a oportunidade principalmente a noacutes historiadores de poder conhecer melhor todo

o contexto histoacuterico que cercou D Joatildeo VI e sua vinda com sua corte ao Brasil

entrelaccedilando a histoacuteria do Brasil e de Portugal (Fabiana Cristina dos Santos Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

O evento eacute memoraacutevel porque significa um marco na ldquoformaccedilatildeo do Estado nacional

brasileiro com o estabelecimento da sede do governo do mundo portuguecircs em terras tropicaisrdquo O

legado de D Joatildeo VI a ser apresentado na exposiccedilatildeo eacute a criaccedilatildeo de um ldquoImpeacuterio na Ameacutericardquo o

ldquopersonagem que entrelaccedilou para sempre as histoacuterias do Brasil e Portugalrdquo (BOTTREL 2008

p17) Esse ldquodestinordquo eacute a independecircncia assinalam os historiadores portugueses e brasileiros

152

Arno Wheling e Maria Joseacute Wehling que pintam os quadros historiograacuteficos um de 1808 e outro

de 1821 Propotildeem que entre uma data e a outra ocorreram mudanccedilas significativas e irreversiacuteveis

que levaram o Brasil a se distanciar de Portugal a ponto de se tornar independente ou formar

uma nova personalidade poliacutetica

Os visitantes se apresentam em suas fotografias como parte da exposiccedilatildeo e do acervo

(Figuras 38 e 39)

Figura 38 Montagem fotograacutefica de Frederico Amorim para visita agrave

Exposiccedilatildeo do Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 2008

Figura 39 BRAGA Fernando Daniel Visita ao Museu Nacional Rio

Janeiro 2008

153

A exposiccedilatildeo eacute vista como accedilatildeo de difusatildeo nos museus e ocupa contemporaneamente uma

funccedilatildeo ao lado das accedilotildees de pesquisa e preservaccedilatildeo antes vistas como prioritaacuterias A linguagem

visual eacute priorizada e assumida pelos visitantes que elaboram novas imagens e narrativas visuais

sob as formas apresentadas pelo museu O visitante coloca em circulaccedilatildeo a sua proacutepria imagem

como parte da exposiccedilatildeo exercitando sua habilidade analiacutetica e criando novas instacircncias de

produccedilatildeo de sentido na vida cultural diaacuteria

Natildeo haacute uma uacutenica forma de estabelecer a relaccedilatildeo entre visitantes e museus Tambeacutem natildeo

haacute a passagem imediata de um campo ao outro ou uma linguagem uacutenica que pertence ao museu e

outra do visitante Haacute um partilhamento dos coacutedigos simboacutelicos e a criaccedilatildeo de um espaccedilo cultural

de intercacircmbio A matriz cultural do museu eacute avaliada pelos visitantes Satildeo estabelecidas

diferenccedilas mas se institui um novo circuito de cultura

Essas praacuteticas exercitadas pelos visitantes nos museus implicam na ampliaccedilatildeo da

dimensatildeo de produccedilatildeo de conhecimento histoacuterico Mesmo entre os visitantes que ficam mais

proacuteximos dos sentidos apresentados pelo museu limitando-se a uma descriccedilatildeo da visita agravequeles

que buscam de forma mais abrangente inserir a narrativa do museu em um cenaacuterio poliacutetico

social cultural mais amplo satildeo sujeitos da produccedilatildeo de novos sentidos para o patrimocircnio

musealizado Satildeo sujeitos de uma nova narrativa agrave medida que buscam compreender como se daacute

a produccedilatildeo do conhecimento cultural e histoacuterico (RUSEN 2005 p192)

Ao selecionarem imagens e reescreverem informaccedilotildees sobre a exposiccedilatildeo os visitantes

demonstram habilidades de reordenar aspectos que lhes chamaram a atenccedilatildeo e passam a circular

em outro circuito para aleacutem do museu

154

Figura 40 Fernando Daniel Fraga Fonseca Fotografia Nuacutecleo 2- A

metroacutepole nos troacutepicos Exposiccedilatildeo Um Novo Mundo Um Novo

Impeacuterio A Corte Portuguesa no Brasil MHN 2008

A fotografia de Fernando Daniel Fraga Fonseca (Figura 40) eacute aparentemente um misteacuterio

Uma chave que pode solucionaacute-la eacute o conceito de circuito da cultura78

(HALL 1997 2003)

entendido como uma relaccedilatildeo complexa produzida e sustentada atraveacutes de movimentos distintos

mas interligados ou seja como praacuteticas conectadas de produccedilatildeo circulaccedilatildeo consumo regulaccedilatildeo

identidade e representaccedilatildeo que criam formas simboacutelicas e datildeo passagem simultaneamente a

outros movimentos de produccedilatildeo de sentidos

O visitante registra um texto escrito sobre um suporte afixado na parede como parte da

exposiccedilatildeo sobre a corte portuguesa no Brasil no Museu Histoacuterico Nacional O texto tem como

tiacutetulo O desembarque em Salvador que tambeacutem eacute o tiacutetulo de uma obra iconograacutefica exposta A

existecircncia do texto indica que o Museu Histoacuterico Nacional explica esse evento para seus

78 Em certa medida pode-se pensar tambeacutem no conceito de circularidade de culturas definido por Ginsburg

em contraponto ao termo mentalidade a partir de um recorte analiacutetico que considera as diferentes classes sociais e as

influecircncias reciacuteprocas entre a cultura subalterna e a cultura hegemocircnica que se movem de maneira circular

(GINSBURG 1987 p 13)

155

visitantes durante a exposiccedilatildeo Haacute a produccedilatildeo de um sentido que pretende ser fixado mas que

circula em outros suportes a pintura de Portinari e a fotografia do visitante

Nessa pesquisa tanto os museus visitados quanto seus visitantes instituem esses lugares de

significaccedilatildeo Museus e visitantes produzem um circuito histoacuterico e cultural e se posicionam

agenciam criam modos de endereccedilamento da cultura Entretanto na ideacuteia de circuito embora

estejam claros os produtos e os produtores natildeo haacute um sentido prioritaacuterio que desencadeia a accedilatildeo

cultural e portanto as ideias de ldquorecepccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo natildeo estatildeo colocadas ao fim de uma

cadeia de significaccedilatildeo O espectador ou visitante produz o sentido tanto quanto a instituiccedilatildeo que

pretende alojar a memoacuteria do evento com a exibiccedilatildeo puacuteblica de objetos

Acho esse trabalho de extrema relevacircncia para nosso curso e conveniente por causa das

discussotildees atuais O tema eacute muito atual e foi interessante visitar o Rio de Janeiro

justamente agora em que as comemoraccedilotildees dos 200 anos da chegada da famiacutelia real

estatildeo acontecendo Para mim foi muito bacana ver outras instituiccedilotildees museoloacutegicas e

exposiccedilotildees de cunho histoacuterico e artiacutestico ateacute mesmo para identificar as diferentes

concepccedilotildees de museu Identificar a intenccedilatildeo da exposiccedilatildeo e o que ela pretende

contar[] Algumas exposiccedilotildees mostram o cotidiano no Brasil as relaccedilotildees e o papel dos

liacutederes e do povo isso tambeacutem eacute relevante As gravuras pinturas documentos objetos

instrumentos dialogam com as exposiccedilotildees no qual estatildeo inseridos e com o proacuteprio

leitor nos fazendo desenhar e nos relacionar muito claramente com o passado (Frederico

Levi Amorim Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro

Leopoldo 2008)

A exposiccedilatildeo enfoca muito a importacircncia da vinda da famiacutelia real para o nosso processo

de emancipaccedilatildeo poliacutetica de Portugal mas esquece de salientar que independentemente

da existecircncia desse episoacutedio ou natildeo nossa economia jaacute era mais forte que a dos lusitanos

nossa elite jaacute natildeo aguumlentava a exorbitante taxaccedilatildeo de impostos sobre nossa produccedilatildeo e

que as ideias de cunho liberal jaacute pairavam sobre nossos ares gerando vaacuterias revoltas por todo o nosso territoacuterio (Weberton Fernandes da Costa Relatoacuterio de visita ao Museu

Histoacuterico Nacional Faculdade Pedro Leopoldo 2008)

As visitas a museus permitem por em relaccedilatildeo o que Gruzinski (2001) chama de sistemas

culturais diferentes ou a questatildeo das fronteiras culturais e seus hibridismos O contato do visitante

com o museu pode ser pensado natildeo como um ldquocontratordquo mas uma confrontaccedilatildeo que destaca as

formas de temporalidade e historicidade natildeo contidas na noccedilatildeo de cultura europeacuteia e torna

possiacutevel a emergecircncia de um pensamento e praacuteticas inventivas e improvaacuteveis de hibridismo

(GRUZINSKI 2001 p157)

156

As fotografias selecionadas e apresentadas e os trechos dos relatos destacados apontam o

deslocamento realizado pelos visitantes ateacute a chegada ao Museu onde reinstalam o lugar do

visitante na cultura museal e desenvolvem um capiacutetulo da escrita da histoacuteria nos museus

O relato da visita como praacutetica de memoacuteria e histoacuteria se amplia em uma narrativa que

reorganiza as recordaccedilotildees do acontecimento e invoca uma memoacuteria do grupo de estudantes ao

selecionar as imagens e trazer agrave lembranccedila um conjunto de situaccedilotildees vividas e interpretadas

muitas natildeo registradas que sustentam uma rede de opiniotildees e formam diferentes quadros de

sentido Os estudantes fazem uma anaacutelise da exposiccedilatildeo praticando a museologia mesmo natildeo

tendo um treinamento especial e sistemaacutetico do ofiacutecio museoloacutegico percebem pensam e

praticam a museologia (CHAGAS 2003 p20) Elaboram um ldquopensamento musealrdquo

identificando marcas deixadas pelos quadros de referecircncia enunciados pelo museu A

interpretaccedilatildeo eacute constituiacuteda pelos visitantes no confronto com suas expectativas e as promessas

natildeo cumpridas pelo museu

Amplia-se a reflexatildeo sobre o processo de educaccedilatildeo poliacutetica e dos sentidos O debate

historiograacutefico recebe novos elementos das visotildees sobre o museu que se cruzam na cabeccedila dos

visitantes aquilo que os especialistas dizem sobre o museu aquilo que viram no Museu do

Escravo e aquilo que a escola lhes ensinou sobre a histoacuteria da escravidatildeo As disputas satildeo

evidenciadas Eacute necessaacuterio mobilizar conceitos e experiecircncias estabelecendo possibilidades e

limites da abordagem para elaborar narrativas sobre a visita

Pode-se afirmar que na elaboraccedilatildeo dos relatos das visitas emergem uma seacuterie de efeitos

formativos nos estudantes e professoresformadores As visitas desencadeiam perguntas sobre a

identidade verbalizam sentimentos pensamentos aspectos de suas experiecircncias sociais e

estimula a reflexibilidade Os relatoacuterios tambeacutem validam algumas construccedilotildees teoacutericas agrave medida

que operam com a traduccedilatildeo de concepccedilotildees simboacutelicas particulares e localizadas em uma

consciecircncia praacutetica e outra discursiva de caraacuteter mais amplo Tambeacutem permitem reconhecer e

dar visibilidade puacuteblica e social a realidades locais multiculturais e que contribuem para

contrariar formas hegemocircnicas de produccedilatildeo de conhecimento jaacute instituiacutedas e institucionalizadas

nas rotinas de formaccedilatildeo

Ao apresentar de forma ampla o uso feito pelos visitantes da visita ao museu eacute possiacutevel ir

aleacutem da criacutetica aos museus e discutir como os visitantes interpretam propostas expositivas da

157

instituiccedilatildeo visitada em dialoacutego com a heranccedila cultural e as praacuteticas de preservaccedilatildeo da memoacuteria e

do poder Ou em outras palavras como elaboram frente agraves imagens que lhes satildeo apresentadas

uma nova escrita imageacutetica acrescentando criacuteticas e explicitando ambiguidades presentes na

produccedilatildeo do museu

158

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A escrita desta tese teve iniacutecio com a tentativa de encontrar um ldquolugarrdquo que comportasse o

registro de praacuteticas educativas perdidas em meio agraves preocupaccedilotildees em uma instituiccedilatildeo de ensino

superior que encerrava a oferta de cursos de licenciatura Os trabalhos escolares dos alunos em

sua maior parte eram considerados privados e natildeo seriam recolhidos ao arquivo escolar

O local mais provaacutevel das memoacuterias de estudantes e professores seria o esquecimento A

situaccedilatildeo dos documentos escolares laacute encontrados natildeo era muito diferente de outras instituiccedilotildees

educativas A preservaccedilatildeo se limitava a um conjunto de textos legais documentos oficiais

administrativos e pedagoacutegicos Pouco se arquivava dos testemunhos orais dos professores alunos

e funcionaacuterios A biblioteca recebia publicaccedilotildees relatoacuterios teacutecnicos de pesquisa e conclusatildeo de

curso

Estava posta uma crise de memoacuteria os relatos escritos e visuais de visita excediam em

volume e careciam de organizaccedilatildeo Restavam as tentativas de doaccedilatildeo ou descarte O museu ou o

lixo A primeira opccedilatildeo implicou em questionar se os museus visitados teriam algum interesse

nesse tipo de resposta de sua audiecircncia escolar Resolvi apostar no recolhimento dos rastros dar

tratamento aos fragmentos cotidianos da cultura escolar e apresentaacute-los publicamente

Sistematizar a produccedilatildeo dos estudantes e colocaacute-la em circulaccedilatildeo foi o principal

investimento dessa pesquisa A duacutevida era constante esse tipo de fonte documental seria capaz

de sustentar uma anaacutelise a respeito dos sentidos da memoacuteria da histoacuteria e dos museus na cultura

contemporacircnea Espero ter argumentado ao longo do texto que sim Os relatos dos estudantes

indicam que eles foram capazes de ampliar sua formaccedilatildeo histoacuterica ao visitar museus

O processo de pesquisa foi de compartilhamento e conviacutevio com as reflexotildees teoacutericas e

metodoloacutegicas no grupo Memoacuteria Aprendi a exercitar a escrita como condiccedilatildeo de memoacuteria

Cada leitura cada debate constituiu-se em novas aprendizagens vividas e sentidas Escrever e

apresentar resultados parciais tornou a pesquisa possiacutevel

A maior tensatildeo da pesquisa foi delimitar o proacuteprio campo da investigaccedilatildeo delinear as

presenccedilas (estudantes e museus) as concomitacircncias (diaacutelogos admitidos ou criticados na

bibliografia) e as ausecircncias (outras ligaccedilotildees possiacuteveis com a histoacuteria e a educaccedilatildeo)

A busca por criteacuterios e a seleccedilatildeo das situaccedilotildees educativas de visitas envolveu um longo

diaacutelogo com ldquopalavras e coisasrdquo autores e praacuteticas Um jogo de conceitos emaranhados ao

159

mesmo tempo superpostos ndash diversos e abrangentes ndash e lacunares dispersos em livros textos e

instrumentos de sistematizaccedilatildeo de dados

Assim para descrever e avaliar a praacutetica de formaccedilatildeo evitei me referir a um sistema de

interpretaccedilatildeo ou traduccedilatildeo exterior (um horizonte idealizado ou seu suposto inverso uma

abstraccedilatildeo advinda da empiria) Propus-me a mobilizar conceitos disponiacuteveis e discordantes

principalmente de memoacuteria e histoacuteria que circulam ao niacutevel das minhas proacuteprias praacuteticas

apostando em sua emergecircncia a partir de quem falava e das posiccedilotildees dos sujeitos (estudantes) e

dos lugares institucionais (escolas e museus)

O maior desafio para a conclusatildeo desse projeto decorreu da opccedilatildeo que o motivou

inicialmente analisar as situaccedilotildees educativas de visitas a museus a partir da loacutegica da proacutepria

experiecircncia pedagoacutegica Natildeo houve um movimento externo de observaccedilatildeo mas um interesse ou

desejo de saber que veio da aproximaccedilatildeo entre o sujeito que se colocava na condiccedilatildeo de

pesquisador mas estava proacuteximo ao ldquoobjetordquo investigado

Os visitantes considerados na pesquisa natildeo se apresentam como um grupo representativo

segundo criteacuterios socioloacutegicos ou estatiacutesticos como acontece nos estudos de recepccedilatildeo que

avaliam efeitos provocados em determinada audiecircncia Os estudantes na condiccedilatildeo de visitantes

esboccedilam hipoacuteteses difusas acerca do que ocorre durante uma visita escolar Um mesmo visitante

utiliza estrateacutegias diferentes ao longo de sua trajetoacuteria escolar para traccedilar paralelos entre sua vida

e de um personagem histoacuterico Suas atitudes informadas ou desinformadas irocircnicas ou

conformistas dizem mais da criaccedilatildeo de uma cultura comum uma experiecircncia simultaneamente

implicada e distante da cultura predominante nas escolas e museus

A materialidade das praacuteticas de visita surgiu do trabalho com os relatos escritos e visuais

Na leitura dos relatos as operaccedilotildees de narrar proacuteprias da vida praacutetica foram se constituindo

como fundamento e pressuposto do conhecimento histoacuterico escrito por professores e estudantes

A anaacutelise das praacuteticas de visita combinou reflexotildees teoacutericas historiograacuteficas e empiacutericas

Textos imagens e oralidade num mesmo quadro analiacutetico Destaco que tanto as reflexotildees

teoacutericas e historiograacuteficas quando o quadro empiacuterico foram tentativas de abordagem diaacutelogos

recortes possiacuteveis e natildeo implicam na concordacircncia com todos os argumentos dos autores citados

ou um aprofundamento da reflexatildeo sobre cada fonte em particular Procurei explorar de cada obra

160

argumentos ou linhas de interpretaccedilatildeo que interessavam no estudo do tema do visitante de

museus

As fotografias tomaram ao longo da pesquisa uma centralidade maior A anaacutelise do

conteuacutedo dos materiais visuais seu uso durante as visitas e sua circulaccedilatildeo posterior constituiu-se

em um conhecimento experiencial da proacutepria visita As fotografias satildeo relatos visuais construiacutedos

com possibilidades de reproduccedilatildeo e propriedades materiais que influenciam na forma de leitura

de seus conteuacutedos Nas fotografias a visita oscila entre uma viagem de estudo e de turismo Os

estudantes trazem imagens de lugarespaisagens e objetos (sem pessoas) pessoas em

lugarescenaacuteriosobjetos e poucas com pessoas isoladas de cenaacuterios Quando confrontadas agraves

imagens produzidas pelos museus em cataacutelogos e materiais de divulgaccedilatildeo o cenaacuterio eacute destacado

sem a presenccedila de pessoas os objetos satildeo apresentados isolados sem a encenaccedilatildeo da exposiccedilatildeo

Nessa pesquisa selecionei fotografias-chave (amostras) de um quadro mais amplo de

originais Os objetivos dos fotoacutegrafos eram documentar a viagem nem sempre com a finalidade

de exibir as imagens Os relatos entregues para avaliaccedilatildeo trazem um primeiro corte feito pelos

seus produtores diretos os estudantes Era preciso imprimir os arquivos digitais Os viacutedeos e as

repeticcedilotildees satildeo deixados de lado As imagens armazenadas pelos estudantes tambeacutem eram

produzidas com a finalidade de exibiccedilatildeo para familiares e para compor um aacutelbum pessoal As

imagens impressas satildeo utilizadas e socializadas entre o grupo e se repetem em vaacuterios relatoacuterios de

visita A circulaccedilatildeo das imagens dado o seu suporte digital motiva a colaboraccedilatildeo e daacute iniacutecio a

uma narrativa com exerciacutecios de exploraccedilatildeo e descoberta

As fotografias trazem para a pesquisa uma dupla dimensatildeo Eacute marcante seu caraacuteter

documental mas elas natildeo permitem afirmaccedilotildees generalizantes Apresentam eventos especiacuteficos e

a anaacutelise depende das condiccedilotildees de produccedilatildeo e natildeo apenas da narrativa e do conteuacutedo

apresentado A produccedilatildeo das fotografias envolve negociaccedilotildees entre o criador da imagem e as

circunstacircncias sociais e teacutecnicas de produccedilatildeo (autorizaccedilatildeo iluminaccedilatildeo composiccedilatildeo)

Na pesquisa as fotografias tiveram uma primeira entrada com valor documental (dado

visual) que as considera como ato de criaccedilatildeo de um fotoacutegrafo e eacute resultado de condiccedilotildees

especiacuteficas de produccedilatildeo Em quadro mais complexo que esse primeiro de produccedilatildeo das imagens

estaacute a ediccedilatildeo ou os criteacuterios de seleccedilatildeo da pesquisa que reinscrevem as fotografias numa nova

coleccedilatildeo junto a outras que tambeacutem aderem ao plano da anaacutelise

161

As fotografias vieram ao encontro da necessidade de narrar e trazem as intenccedilotildees de

presenccedila como parte da accedilatildeo dos visitantes que se apresentam como o principal conteuacutedo das

imagens Nas fotografias dos visitantes eles compotildeem uma narrativa na qual utilizam os edifiacutecios

e objetos dos museus como um cenaacuterio (enquadramento da accedilatildeo) uma narrativa em que eles

visitantes satildeo os sujeitos Haacute nas fotografias uma biografia uma auto-representaccedilatildeo de si e do

grupo O registro fotograacutefico externaliza aspectos natildeo visiacuteveis e gera conhecimentos sobre as

visitas e visitantes Longe do local de produccedilatildeo as imagens satildeo reelaboradas pela pesquisa com o

propoacutesito de circulaccedilatildeo mais ampla natildeo com o propoacutesito de identificar indiviacuteduos especiacuteficos

mas de projetar mais longe o olhar dos visitantes

As fotografias dos visitantes selecionadas pela pesquisa trazem essa dimensatildeo da

presenccedila Os estudantes se posicionam ao lado direito e esquerdo da escultura do escravo do

tronco abraccedilam Dom Joatildeo VI montam e desmontam as exposiccedilotildees visitadas com criteacuterios de

relevacircncia pessoal Trazem sedimentos das heranccedilas culturais como o ldquoimaginaacuterio do troncordquo que

circunda conceitos de escravidatildeo Colocam clivagens historiograacuteficas como o cotidiano e a vida

privada em museus marcados por exposiccedilotildees de vieacutes poliacutetico e nacionalista

Os referentes oferecidos pelos museus satildeo partilhados ou confrontados Nascem nos

relatos hiacutebridos ediccedilotildees coleccedilotildees em novos formatos Nos museus visitados os estudantes

fotografam o espaccedilo organizado os iacutecones do acervo (pinturas esculturas) e os artefatos da

museologia (desenhos projeccedilotildees e cenaacuterios) Haacute um museu concreto e um museu imaginado

ambos reconstruiacutedos pelos visitantes O visitante faz o uso do museu durante a visita e recria o

lugar dando-lhe outras dimensotildees espaciais

A anaacutelise das visitas ao Museu do Escravo e Museu Histoacuterico Nacional pode ser

entendida como um movimento de circulaccedilatildeo entre o momento efetivo da praacutetica pedagoacutegica e de

formaccedilatildeo e o momento de reflexatildeo na leitura dos relatos jaacute constituiacutedos indicando a construccedilatildeo

de sensibilidades que envolvem todo trabalho com a cultura e uma orientaccedilatildeo para a vida praacutetica

daqueles implicados na dinacircmica das visitas A experiecircncia de visita possui junto a sua dimensatildeo

praacutetica uma qualidade esteacutetica dada natildeo pelo resultado final mas pelo movimentotranscurso da

accedilatildeo Eacute um agir e padecer frente agraves coisas fiacutesicas e imaginadas Une eventos e objetos numa

relaccedilatildeo muacutetua de extensatildeo e profundidade As visitas a museus geram conhecimentos e narrativas

agrave medida que permitem uma aprendizagem pela observaccedilatildeo e pela proacutepria experiecircncia

162

O Museu Histoacuterico Nacional transcende as barreiras do tempo e traz uma loacutegica

museoloacutegica ainda proacutexima do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro (IHGB) marcada pela

exaltaccedilatildeo dos feitos grandiosos nas esferas militar e poliacutetica e com pouco interesse pelo

cotidiano O museu resiste ao tempo presente Mas os visitantes natildeo fazem essa leitura e se

colocam na praacutetica de sua atualizaccedilatildeo Representam a si mesmos na exposiccedilatildeo e se apropriam de

seu acervo num arquivo fotograacutefico

No Museu do Escravo ocorre algo semelhante Se eacute legiacutetimo destacar que as praacuteticas de

colecionismo e a exposiccedilatildeo do museu alimentam preconceitos raciais e estereoacutetipos os visitantes

natildeo apenas fizeram a criacutetica dessas praacuteticas como redefiniram eles mesmos a coleccedilatildeo de objetos

curiosos Mais uma vez remontaram o acervo nas suas narrativas escritas e visuais

O procedimento de leitura das exposiccedilotildees que implica em montagem e desmontagem de

coleccedilotildees foi experimentado pelos estudantes no Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto ou seja numa

visita a museus O conteuacutedo de uma exposiccedilatildeo tambeacutem eacute utilizado para analisar outras Os

museus satildeo comparados entre si Os criteacuterios satildeo internos (museus) e natildeo externos (escola

historiografia)

O tipo de argumento predominante nas narrativas natildeo vem diretamente de leituras ou

discussotildees teoacutericas embora elas sejam utilizadas como no caso da escravidatildeo Os argumentos

produzidos nas narrativas satildeo configurados na proacutepria experiecircncia que oscila entre ldquoefeitos de

presenccedilardquo por estar dentro do museu ver a exposiccedilatildeo e ldquoefeitos de sentidordquo (o que leu estudou

sobre escravidatildeo histoacuteria do Brasil)

Pode-se concluir que as visitas trouxeram uma seacuterie de efeitos formativos para os

estudantes-visitantes Desencadearam afirmaccedilotildees sobre a identidade profissional verbalizaram

sentimentos e pensamentos sobre o pertencimento cultural ao tempo presente e estimularam a

reflexividade sobre o exerciacutecio da escrita da histoacuteria em museus Os relatoacuterios tambeacutem validaram

algumas construccedilotildees teoacutericas agrave medida que operavam uma ponte entre as concepccedilotildees particulares

e localizadas elaboradas em reaccedilatildeo quase imediata ao contato com o patrimocircnio musealizado e

outra dimensatildeo teoacuterica mais ampla acionada pela leitura e seleccedilatildeo de trechos que recebiam um

novo formato com a pesquisa

Os relatos criaram condiccedilotildees de reconhecimento visibilidade puacuteblica e social a realidades

locais como eacute caso do Museu do Escravo em Belo Vale Minas Gerais Colaboram tambeacutem para

163

contrariar formas hegemocircnicas de produccedilatildeo de conhecimento jaacute instituiacutedas e institucionalizadas

nas rotinas de formaccedilatildeo A visita ensina que os museus satildeo espaccedilos puacuteblicos onde satildeo

construiacutedas diferentes formas de ver a sociedade e nesse aspecto ajudam a tornar visiacuteveis as

temporalidades

As visitas se apresentam como uma praacutetica de coletar e a nova coleccedilatildeo passa a circular de

maneira tambeacutem inovadora frente ao acervo dos museus Os relatos integram elementos orais

textuais e visuais em um conjunto que dialoga com os valores e significados da cultura dos

museus e da cultura escolar Os visitantes fazem um uso praacutetico dos museus e da historiografia

para elaborar um conhecimento histoacuterico que utiliza novas formas de seleccedilatildeo e organizaccedilatildeo da

memoacuteria

Para ser coerente com o tema tentei apresentar a pesquisa de um modo mais narrativo

menos cronoloacutegico que contasse a histoacuteria dos sujeitos da pesquisa Uma ldquomanufaturardquo que

pudesse se contrapor aos ldquoprodutoresrdquo institucionalizados nos museus e oacutergatildeos de pesquisa

Talvez tenha encontrado ao final uma soluccedilatildeo para a impressatildeo dos visitantes que me

intrigou durante quatro anos Quando saem do museu saiacuteram de uma sala de aula As visitas satildeo

viagens ao interior mas levam para aleacutem dos horizontes fazem experimentar sentimentos de

turista viajante estudante historiadores natildeo importa Satildeo uma viagem pelo espaccedilo (museu) mas

por pouco tempo deve-se manter a cabeccedila no lugar (sala de aula)

A tentativa de entender o visitante como um ldquoespectador emancipadordquo como um viajante

que carrega sua proacutepria bagagem seus emblemas de pertencimento cultural agrave profissatildeo docente e

inclui suas observaccedilotildees sobre os territoacuterios oficiais da memoacuteria implica em considerar que a

exclusatildeo cultural existe de fato e a reivindicaccedilatildeo ao direito de participaccedilatildeo na gestatildeo cultural

implica em afirmar e reconhecer espaccedilos como os dos museus como ldquocasas de pertencimentordquo e

de ldquopresenccedilardquo do visitante

Os visitantes em questatildeo satildeo a expressatildeo desse direito agrave participaccedilatildeo cultural Num

primeiro momento se coloca ainda como um estrangeiro um estudante que faz sua primeira visita

ao museu mas que a partir desse primeiro encontro recebe uma espeacutecie de ldquosenhardquo que lhe

permite adentrar esse mundo dos museus Ser visitante afeta seu desejo no acircmbito da cultura

afeta sua formaccedilatildeo histoacuteria Suas narrativas de visita apontam esses deslocamentos novas

praacuteticas e roteiros de formaccedilatildeo acadecircmica e profissional

165

DOCUMENTOS

1- Registros de estudantes das atividades de visita a museus

FIPEL ndash FACUDADES INTEGRADAS DE PEDRO LEOPOLDO Instituto Superior de

Educaccedilatildeo de Pedro Leopoldo Relatoacuterios de visita ao Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto 2ordm

periacuteodo Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2005

______ Relatoacuterio siacutentese do Trabalho de Campo Visita a Belo Vale - MG Museu do

Escravo e Fazenda Boa Esperanccedila 4ordm periacuteodo Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2006

______ Relatoacuterio de visita ao Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro 7ordm periacuteodo Curso

de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2008

_______ Relatoacuterios individuais de visita ao Museu Imperial de Petroacutepolis nos anos 2001

2005 2004 e 2007 Curso de Histoacuteria Pedro Leopoldo MG 2007

_______ Relatoacuterio final de Estaacutegio Supervisionado Projeto de integraccedilatildeo Museu- Escola

Visita de alunos do Ensino Meacutedio ao Museu Abiacutelio Barreto-BH Curso de Histoacuteria Pedro

Leopoldo 2000

Roteiro de Pesquisa para os Formadores Enviado para os professores que participaram do

trabalho de campo no Rio de Janeiro com a turma do 7ordm periacuteodo e outros 2008

Transcriccedilatildeo fita Grupo Focal ndash gravada em 30042008 quarta-feira - antes do trabalho de campo

ao Rio de Janeiro- Faculdade de Pedro Leopoldo com 9 alunos do 7ordm Periacuteodo ndash Curso de Histoacuteria

ndashFaculdades Pedro Leopoldo-MG Feito com a ajuda da professora Cristiane Almeida (assistiu e

tomou notas) Total 7 paacuteginas

Entrevistas monitores-estagiaacuterios na exposiccedilatildeo ldquoFamiacutelia Ferrez novas revelaccedilotildees no Museu de

Artes e Ofiacutecios Belo Horizonte 2008

Diaacuterio de campo Observaccedilatildeo das visitas de trecircs escolas baacutesicas ao Museu de Artes e Ofiacutecios

Belo Horizonte 2008

166

2- Documentos das instituiccedilotildees visitadas

MUSEU HISTOacuteRICO NACIONAL - RJ

MUSEU Histoacuterico Nacional Um novo mundo um novo impeacuterio A corte portuguesa no

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______ Guia do Visitante Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura Rio de Janeiro 1957 36p

______ Informes do setor educativo Impresso 4 paacuteginas

______ Revista Didaacutetica da Exposiccedilatildeo Itinerante 28 paacuteginas 2005

______ Folheto de apresentaccedilatildeo do acervo e das exposiccedilotildees sd

______ Conhecendo o Museu Histoacuterico Nacional sd

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Silva Peres Fernandes Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional 2008 192p

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ANEXOS

Anexo A- Roteiro de coleta de dados estudantes de licenciatura em Histoacuteria 2008

Total de questionaacuterios respondidosdevolvidos 17 estudantes

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS- UNICAMP

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM EDUCACcedilAtildeO ndash DOUTORADO

ALUNA Elizabeth Seabra ORIENTADORA Dra Ernesta Zamboni

Roteiro de pesquisa ldquoAccedilatildeo educativa em museus e formaccedilatildeo docenterdquo

Observaccedilatildeo vocecirc poderaacute marcar mais de uma alternativa ou numeraacute-las de acordo com suas preferecircncias

Parte I-

1-Sexo Masculino ___ Feminino ______ Idade _______anos

2-Exerce atividade profissional remunerada Sim _____Natildeo____

Qual (com precisatildeo)_____________________________

3-Lugar de residecircncia (cidadebairro) ______________________

4-Quantos anos de escolaridade (contando da escola infantil ateacute a atual) _________

5-Costuma praticar alguma atividade recreativa Sim ____ Natildeo _____

Qual_________________

6-Indique aproximadamente em que faixa se situa a renda de sua famiacutelia em Salaacuterios Miacutenimos (e

natildeo apenas do chefe de famiacutelia)

1 a 3 SM ____4 a 6 SM ___7 a 9 SM ____mais de 10 SM ____

Parte II-

7-Vocecirc iraacute visitar um MuseuExposiccedilatildeo

1ordf Vez ____ 2ordf Vez_____ 3ordf Vez _____ 4ordf Vez ____ Acima de 4 vezes _____

8-Quando ouve ou lecirc a palavra MUSEU o que lhe vecircm agrave mente Diga trecircs palavras que vocecirc

associa a museu

1-________________ 2-____________________ 3- _______________

9-Diga trecircs coisas que tem em um museu

1- ________________2-__________________3 - ________________

10-Se vocecirc iraacute visitar pela primeira vez um museuexposiccedilatildeo nova sua ideacuteia eacute ver

1- ____Natildeo tem ideacuteia do que encontraraacute

2- ____O proacuteprio museu 3- ____As exposiccedilotildees especiacuteficas daquele museu

4- ____Participar de atividades culturais (cursos apresentaccedilotildees musicais)

189

Parte III-

11-Quando visitou pela primeira vez um museu

1- Com que idade (aproximadamente)_______

2- Com quem ________________________

3- Em que museu _____________________

4- Em que ocasiatildeo turismo ____ visita familiar____ visita escolar ____ Outros ___

5- Indicar qual________________

12-O que o levou a visitar museusexposiccedilotildees

_____1- Uma visita organizada pela escola

_____2- Recomendaccedilatildeo de algueacutem

_____3- Para acompanhar filhosfamiliaresamigosnamorados _____4- porque tem o costume e interesse em visitar museusexposiccedilotildees

_____5- Outras razotildees (indicar com precisatildeo)_____________________

13-Considerando os uacuteltimos trecircs anos vocecirc foi a museus

1- soacute______ 2- com os filhosfamiacutelia _____ 3- com amigos______

4- com um grupo organizado_______

14-Se jaacute entrou mais de 4 vezes em um museu queira indicar os trecircs uacuteltimos museus que visitou

1 ___________________2___________________3__________________

15-Nos museus visitados o que mais lhe agradou

____ 1-O passeiolazer como um todo

____2- A infra-estrutura o atendimento e serviccedilos de apoio

____ 3- Obras de arte objetos nunca vistos anteriormente

____4- Conteuacutedo e organizaccedilatildeo das exposiccedilotildees

____5- Nada agradou

____ 6- Outros ______________

16-Quais foram as dificuldades encontradas para realizaccedilatildeo das visitas a museus

____ 1- Natildeo acolhimento (funcionaacuterios monitores guias)

____ 2-Custo da visita (ingressodeslocamento)

____ 3- Ritmo da visita e conduccedilatildeo dos monitores

____4- Desconhecimento do tipo de acervo especiacutefico ____5- Dificuldade de acompanhar por falta de informaccedilotildees preacutevias

17-Durante as visitas a museus vocecirc

___1- Sente-se confortaacutevel ___ 2-Amplia seus horizontes de conhecimentos

___3-Interessa-se pelos assuntosexposiccedilotildees ___4- Diverte-se

___ 5-Sente-se desconfortaacutevel apreensivo ___ 6- Outros _____________________

18-Quais as impressotildees vocecirc tem quando sai de um museu

____ 1-Saiu de uma igreja ____ 2-Saiu de uma biblioteca

____ 3-Saiu de um shopping Center ____ 4-Saiu de uma sala de aula

____ 5-Saiu de uma sala de espera ____ 6- Outras imagens Quais _____________________

Parte IV

Deseja continuar colaborando com a pesquisa Sim ( ) Natildeo ( ) Em caso positivo por favor indique

Nome ___________________________

Telefone para contato ________________ e-mail ____________________________

190

Anexo B- Perfil dos visitantes

Graacuteficos elaborados a partir dos questionaacuterios acima Total de 17 estudantes Natildeo foram

elaboradas porcentagens

Graacutefico 1- Ocasiatildeo da visita ao museu

Visita escolar 16 visita familiar 2 turismo 1 outros 1

Graacutefico 2- Com quem visitou o museu a primeira vez

Escola 16 professora da faculdade 4 colegas da faculdade2 pais 2 grupo escolar 1viagem

m famiacutelia 1

191

Graacutefico 3- Com quem foi ao museu nos uacuteltimos anos

Graacutefico 4- Quantas vezes visitou museus

192

Graacutefico 5- Trecircs uacuteltimos museus visitados

Graacutefico 6- Primeira coisa a ver em um museu

193

Graacutefico 7- Como se sente durante a visita

Graacutefico 8 - Palavras associadas a museu

194

Graacutefico 9 - Coisas que tem em museus

Graacutefico 10- O que mais agradou nos museus

195

Graacutefico 11- Impressatildeo quando sai do museu

196

Anexo C

Transcriccedilatildeo fita Grupo Focal ndash gravada em 30042008 quarta-feira - antes do trabalho de campo no

Rio de Janeiro- Faculdade de Pedro Leopoldo Participantes Weberton Warleson Aline Tiago Fabiana Frederico Daniele Fernando Claudilene ndash

alunos do 7ordm Periacuteodo ndash Curso de Histoacuteria ndashFaculdades Pedro Leopoldo-MG

Elizabeth Seabra e Cristiane Almeida (assistiu e tomou notas)

Elizabeth ndash EacuteEu jaacute falei na sala dessa teacutecnica do grupo focal e a gente vai trabalhar mais ou menos uma

hora uma hora e pouco e a ideacuteia eacute que cada um procure expressar de forma mais livre se isso eacute possiacutevel em grupo

as opiniotildees conceitos as impressotildees o que achar mais adequadoa gente grava e depois transcreve A gente vai

tratar basicamente de trecircs pontos de natildeo der natildeo for possiacutevel aiacute a gente vecirc se estaacute excedendo muito a gente trata soacute

de dois temas Primeiro eu queria que vocecirc fizessem uma apresentaccedilatildeo falando o que vocecircs acham que deve ser

registrado neacute a respeito da identidade da forma que vocecircs preferirem e jaacute falassem nesse primeiro ponto um pouco

de como eacute que vocecircs vecircem esse trabalho que a gente faz com visitas a campo visitas a museus que aspectos que

detalhes vocecircs destacam desse tipo de trabalho Entatildeo jaacute na apresentaccedilatildeo de forma raacutepida ir pensando nos trabalhos passados o que destacariam falariam dessas visitas esse eacute o primeiro ponto A gente faz uma primeira rodada falando

todo mundo a gente encerrada esse ponto Passa para outro e faz uma segunda rodada Pode ser Entatildeo taacute Eu posso

me apresentarvocecircs me ajudam neacute Eu estou aqui hoje como pesquisadora dessa temaacutetica mas claro as coisas natildeo

se separam sou algueacutem que jaacute vem trabalhando nos uacuteltimos trecircs quatro anos com essa turma as visitas meu nome eacute

Elizabeth

(dificuldade de comeccedilar) hesitaccedilotildees quem comeccedila a falar

Meu nome eacute Weberton estudo na Faculdade de Pedro Leopoldo Bem a respeito de visitas a museus

trabalhos de campo visitas a cidades histoacutericas ()a medida que vocecirc amplia seus horizontes faz vocecirc ter uma outra

visatildeo vocecirc contrasta passa ver na praacutetica o que viu na teoria uma metodologia diferente ver eacute isso

Elizabeth Obrigada natildeo precisa preocupar com o gravador natildeo

Meu nome eacute Warleson eu acho que essas visitas a museus cidades histoacutericas igual o Betatildeo falou o

Weberton falou que amplia os horizontes eu acho tambeacutem que natildeo existe um curso de Histoacuteria ou entatildeo um outro curso de licenciatura sem essas visitas teacutecnicas por que acho que ajuda a gente a compreender melhor a mateacuteria que

a gente estaacute estudando natildeo soacute na teoria mas a gente ta vivenciando ela tambeacutem na praacutetica A mesma coisa eacute como se

a gente tivesse dando aula A gente aprende mais tambeacutem para ta colocando essas visitas essas viagens quando a

gente tiver na sala de aula

Aline Eacute praacute mim o interessante dessas visitas a campo eacute que querendo ou natildeo a sala de aula eacute um espaccedilo

fechado as vezes fica assim cansativo vocecirc acaba natildeo entendendo neacute eacute entende mas natildeo tem aquela visatildeo assim

mais ampla e aiacute vocecirc tendo aquele contato com os locais assim como se diz os objetos histoacutericos eu acho assim

que daacute praacute gente um entendimento melhor Minha opiniatildeo eacute essa natildeo sei eacute para todo mundo pra mim o

entendimento da histoacuteria fica mais faacutecil

Meu nome eacute Tiago eacute no meu entender as visitas aos museus contribuem sim com o nossa aprendizagem

parafrasendo o Warleson em certa medida nos daacute a condiccedilatildeo de sair um pouco da teoria e cair um pouco mais na praacutetica se eu posso dizer assim a gente tem o contato com uma determinada realidade Pra vocecirc trabalhar histoacuteria

noacutes trabalhamos com coisas muito abstratas neacute agrave medida que vocecirc chega num museu e tem contato com

determinadas obras aquilo ali pode te remeter um pouco a respeito daquele determinado periacuteodo e entatildeo eacute por isso eacute

muito importante

Meu nome eacute Fabiana aleacutem de ser como aprendizado tambeacutem eacute uma forma de se entender esse conceito

essa ideacuteia de memoacuteria de se preservar o patrimocircnio a importacircncia que eacute alem de ser acho que eacute isso O estaacutegio

que a gente ta fazendo antes a gente tinha uma visatildeo muito limitada quando vocecirc ta dentro vocecirc comeccedila a entender

como eacute que eacute e o trabalho de campo te abre para isso tambeacutem

Frederico Eu acho que quando a gente tem essa oportunidade na Faculdade de ta realizando esse trabalho

de campo ele vem assim de uma forma a gente reconhecer o valor desses espaccedilos pra gente tambeacutem ta trabalhando

ta utilizando esses espaccedilos na escola que uma coisa que a gente vecirc que as escolas ateacute utilizam esses espaccedilos de

memoacuteria mas natildeo utilizam da maneira correta neacute e isso possibilita pra gente ta reconhecendo esses espaccedilos e taacute aprendendo como a gente pode ta utilizando esses espaccedilos a partir da sala de aula e ta reforccedilando essa parceria da

escola com o museu com espaccedilos de memoacuteria e colocando a questatildeo da memoacuteria da educaccedilatildeo patrimonial da

valorizaccedilatildeo neacute do patrimocircnio

197

Meu nome eacute Daniele eu acho fundamental especificamente num curso de licenciatura enfocando na aacuterea da

histoacuteria vocecirc ter esse diaacutelogo com a questatildeo que eacute falada dentro da Faculdade a questatildeo dos conceitos da histoacuteria

das mudanccedilas e permanecircncias e a ida a campo te possibilita infinitas reflexotildees sobre as questotildees que satildeo

confrontadas dentro da sala de aula E o fundamental natildeo soacute a questatildeo de ver a histoacuteria como abstrato mas muito

mais que isso eacute dar uma nova interpretaccedilatildeo quando vocecirc vai agrave campo Entatildeo abre os horizontes agrave medida que vocecirc

pode confrontar vaacuterias visotildees levando em conta o contexto vaacuterias fontes tambeacutem

Meu nome eacute Fernando Eu tambeacutem acho interessante essa ida a campo porque busca um maior

entendimento daquilo que vocecirc vecirc apenas no papel no texto Quando vocecirc vai a um local a um patrimocircnio histoacuterico

a um museu isso possibilita ta mais perto vocecirc vecirc peccedilas exposiccedilotildees aquilo te remete te leva aquele tempo

Elizabeth Agora natildeo tem jeito neacute Soacute falta vocecirc (riso)

Claudilene Eu acho muito importante essas visitas a campo porque aleacutem da gente ta conhecendo novos lugares a gente aprende vaacuterias coisas sobre o passado com relaccedilatildeo ao presente aquilo que por exemplo quando a

gente foi no Museu do Escravo mesmo aquilo que aquelas pessoas passaram naquela eacutepoca os objetos que estatildeo laacute

representados que usavam nos castigos naqueles escravos eu acho muito interessante a histoacuteria neacute

Elizabeth Obrigada (risos) Olha soacute tem duas outras questotildees vou fazer junto e vocecircs fiquem agrave vontade

para falar mais de uma ou outraporque se tiver algueacutem que natildeo vai ao Rio de Janeiro pode responder mais uma ou

outra Todos vatildeo Haacute bom Por que eacute o seguinte o primeiro eu gostaria que vocecircs tentassem relatar ou descrever

trabalhos que jaacute foram feitos Lembrar da situaccedilatildeo o que viu que tipo de fato de contribuiccedilatildeo esse trabalho trouxe

neacute mas assim tentar lembrar alguma referecircncia dessas visitas e aiacute descrever o que aconteceu o que chamou a

atenccedilatildeo natildeo precisa ser soacute que gostou natildeo pode ser tambeacutem o que achou difiacutecil complicado pode avaliar o que de

fato foi essa visita essa experiecircncia e depois a gente coloca a terceira para encerrar Pode ser Vamos comeccedilar daqui

de novo Alguma visita que vocecirc lembra que participou o que chamou a atenccedilatildeo (repete esclarece ) Claudilene Como eu jaacute falei do Museu do Escravo a representaccedilatildeo das peccedilas Naquele laacute de BH Como

chama (respondem) Abiacutelio Barreto Eacute Abiacutelio Barreto gostei demais Pode falar de outros que eu fui Eu fui tambeacutem

em um (Vocecirc foi sozinha) Fui com minha famiacutelia Famiacutelia trapo Foi todo mundo no museu de JK laacute tambeacutem o

que mais interessante que eu achei laacute foi que ele colocou laacute no museu dele o que ele mais gostava na parte da

culinaacuteria Ele gostava de comida no fogatildeo agrave lenha e tinha um queijo laacute em cima do fogatildeo e de preferecircncia de panela

de barro Isso foi que mais gostei

Elizabeth Quando eacute que vocecirc foi Foi recente

Claudilene Eu fui laacute acho em 1994 Nesse museu em Brasiacutelia Teve um em Caraccedilas que eu fui mas soacute que

laacute de Caraccedilas eacute mais soacute eacute artigos religiosos

Elizabeth Vocecirc foi antes de entrar na Faculdade

Claudilene Antes de entrar na Faculdade Fui de JK em Cordisburgo Daquele escritor Ahm (Guimaratildees Rosa) Eacute Guimaratildees Rosa Eu adoro museu

Elizabeth Obrigada

Fernando O Museu que eu mais gostei achei super interessantefoi justamente na eacutepoca que gente tava

entrando na Faculdade comeccedilando o curso de Histoacuteria noacutes fizemos uma visita ao Museu Abiacutelio Barreto em

BHOnde foi que quebrou um pouco aquela visatildeo que a gente trazia da escola que na hora que fez aquela foi feito

aquela dinacircmica explicando como eacute feita uma exposiccedilatildeo onde cada pessoa pode colocar aquilo que tava com ele um

laacutepis uma caneta ou um caderno e ali foi ensinado para a gente como fazer uma exposiccedilatildeo como organizar uma

exposiccedilatildeo como uma exposiccedilatildeo eacute organizada Toda exposiccedilatildeo ela tem o ponto central aquilo que ela ta querendo

mostrar aquilo que ta querendo contar Todos esses aspectos foram explicados para a gente Achei super interessante

assim foi de grande valia pra gente como estudante de histoacuteria

Elizabeth Valeu Fernando

Daniele Bem como o Fernando acabou de relatar o Museu Abiacutelio Barreto foi um dos primeiros museus que gente chegou a visitar aqui na Faculdade e foi muito interessante porque eles explicaram pra gente como eacute que eacute feita

a seleccedilatildeo como eacute feita a organizaccedilatildeo desse material como eacute feita a exposiccedilatildeo se essa exposiccedilatildeo eacute permanente ou

natildeo Outro Museu que tambeacutem foi interessante foi o Imperial em Petroacutepolis que a gente visitou Assim por mais que

assim foi muito bonito a gente natildeo teve um tempo para dialogar com as peccedilas discutir comentar e as vezes se

faz necessaacuterio quando se vai ao museu ter tempo para dialogar questionar ter diaacutelogo porque isso acrescenta muito

Elizabeth Obrigada

Frederico O que marcou muito tambeacutem foi a visita ao Abiacutelio Barreto por ter sido a primeira que a gente fez

na Faculdade eu jaacute tinha feito outras mas aqui na Faculdade foi a primeira E logo depois quando eu comecei a fazer

o Estaacutegio o que me chamou a bastante a atenccedilatildeo foi a questatildeo da organizaccedilatildeo na hora de elaborar uma exposiccedilatildeo a

198

quantidade de pessoas que estatildeo envolvidas como que a instituiccedilatildeo inteira se mobiliza em torno disso como eacute muito

seacuterio o trabalho que eles fazem quando tem que definir um tema para a exposiccedilatildeo quais satildeo os materiais que vatildeo ser

expostos Neacute assim a questatildeo de organizaccedilatildeo que me marcou muito e voltando ao Museu do Escravo o que me

chamou muito a atenccedilatildeo tambeacutem foi isso que eu gostei muito do museu achei que tinha muita coisa bacana mas

achei que a exposiccedilatildeo tava muito saturada tinha tanta informaccedilatildeo que assim vocecirc tava meio perdido ali dentro e

achei que tinha ter uma linha cronoloacutegica alguma coisa que pudesse ta direcionando o proacuteprio visitante para facilitar

o entendimento da exposiccedilatildeo e para que a gente pudesse absorver mais a informaccedilatildeo e pra que gente pudesse

entender tambeacutem o que a exposiccedilatildeo estava querendo falar

Elizabeth Soacute Fred uma pequena intervenccedilatildeo Vocecirc mencionou um estaacutegio e a Fabiana tambeacutem Soacute

rapidamente eu gostaria que vocecirc falasse para que algumas pessoas saibam e registrar vamos dizer assim que

estaacutegio eacute esse que vocecirc ta fazendo Frederico A gente comeccedilou esse ano a partir do dia 08 de janeiro um Estaacutegio institucional supervisionado

pela Faculdade Gente taacute realizando no Museu Histoacuterico Abiacutelio Barreto todas as semanas a gente vai

periodicamente E no iniacutecio a gente realizou um trabalho de estudo junto com o setor educativo do museu eacute a gente

trabalha direto com o setor educativo no iniacutecio foi um grupo de estudos e a agora a gente jaacute estaacute comeccedilando a partir

dos atendimentos das intervenccedilotildees que o setor faz com os alunos e a gente ta comeccedilando a aprender para que a gente

possa tambeacutem fazer essas intervenccedilotildees Ta sendo muito bacana porque a gente ta conseguindo fazer essa ligaccedilatildeo da

escola com o museu ateacute mesmo por estar trabalhando no setor educativo do museu Taacute dando para aprender bastante

coisa

Fabiana Aprender tambeacutem a importacircncia que eacute a ligaccedilatildeo da escola com o museu A experiecircncia em museu

o que mais gostei e entre aspas natildeo gostei foi ao Museu Imperial Gostei muito foi fantaacutestico o que natildeo gostei eacute

que a nossa visita foi guiada foi muito raacutepida e assim a gente natildeo pode ver com aquele olhar poder discutir poder ver o lado criacutetico como que era e eles natildeo permitam isso laacute eles ficavam controlando O bom foi vocecirc ter uma

direccedilatildeo que se a gente tivesse perdido sozinho a gente natildeo ia saber por onde comeccedilar a gente natildeo ia saber que

direccedilatildeo mas o ruim eacute que eacute muito raacutepido e natildeo te deixa dialogar com cada peccedila enfim No Abiacutelio Barreto estaacute sendo

fantaacutestica a experiecircncia ainda mais no setor pedagoacutegico que a gente ta trabalhando

Tiago No meu caso natildeo eacute o Museu Abiacutelio Barreto natildeo eacute o Museu Imperial nem o Museu do Escravo

(risos) mas () porque eu natildeo tive a oportunidade de ir ( natildeo gosto nem de lembrar) um museu que se destacou

entre os que jaacute visitei foi o Museu Padre Toledo em Tiradentes eu acho que basicamente quase ningueacutem teve a

oportunidade de visitar num cronograma tatildeo corrido dentro das perspectivas de trabalho de campo que o Geraldo

propocircs Entatildeo ningueacutem parou para ver neacute mas eu tive a sorte de que duas semanas antes eu tinha ido laacute entatildeo eu

fui no museu e notei uma coisa muito interessante que eram vaacuterias peccedilas que remetem ao seacuteculo XVIII mas vaacuterias

peccedilas que natildeo tem uma interlocuccedilatildeo a exposiccedilatildeo natildeo te daacute uma oportunidade de fazer uma ligaccedilatildeo entre elas acho que eles se preocuparam tanto em expor o seacuteculo XVIII uma casa do seacuteculo XVIII mas a gente eu no caso natildeo tive

a oportunidade de perceber a ligaccedilatildeo que tinha

Elizabeth Obrigada Tiago

Aline Bom no meu caso natildeo foi o museu natildeo foi o Arquivo da Cidade de BH Eu achei interessante

porque a gente pode ver laacute como que se daacute o armazenamento dos documentos porque se natildeo tiver esse cuidado ele

acaba perdendo no tempo Entatildeo a gente aprendeu laacute o que eacute interessante guardar como que eacute feita a higienizaccedilatildeo

desse material para poder ser guardado e uma que assim que natildeo me agradou muito foi o Museu de Histoacuteria Natural

da PUC A exposiccedilatildeo era interessante demais mas acho assim que era mais voltado para crianccedila sabe As guias do

dia laacute falavam uma linguagem meio infantil acabou que a gente foi com a disciplina de Histoacuteria da Aacutefrica A

professora precisou intervir porque tava uma coisa assim (intervenccedilatildeo do Colega foi Histoacuteria da Ciecircncia e da

Teacutecnica) Foi da Aacutefrica Natildeo foi terceiro periacuteodo Essa mateacuteria aiacute aiacute a professora pode citar o nome Ela precisou

intervir porque natildeo tava sendo interessante para a gente tava muito mecanizado Ela teve que nortear a coisa para estar de acordo com a nossa disciplina O palaacutecio imperial tambeacutem foi bastante interessante mas tambeacutem natildeo deu

nem para observar direito as peccedilas porque foi muito corrido Eacute isso aiacute

Elizabeth Soacute um segundo sei que vai cansando e a gente comeccedila a falar junto mas depois eu natildeo consigo

fazer a transcriccedilatildeo Entatildeo por favor

Warleson Eu jaacute fui no Museu de Guimaratildees Rosa e na eacutepoca eu tava na 8ordf Seacuterie e gostei bastante de ter

ido depois eu ateacute passei na gruta de Maquineacute que eu natildeo sei se entra aqui se eacute o caso() eu gostei mas natildeo lembro

muito do que foi falado laacute soacute lembro que eu fui Eu gosto muito de visita assim tem uma igreja laacute em Congonhas

tambeacutem que eu jaacute visitei e gostei muito do Museu de Artes e ofiacutecios em BH de como que se dava o processo de

trabalho da eacutepoca da exposiccedilatildeo que eu natildeo lembro o tempo a memoacuteria agora ta curta Eu gostei tambeacutem do Museu

199

do Escravo tambeacutem Eu gosto muito dessa ligaccedilatildeo do Brasil com a Aacutefrica e gosto muito de estudar essa parte

principalmente na religiatildeo

Elizabeth Soacute uma coisa W Vocecirc mencionou Guimaratildees Rosa mesmo em Congonhas vocecirc foi sozinho

com amigos em grupo com a escola

Warleson Laacute no Museu de Guimaratildees Rosa eu fui com a escola quando tava na 8ordf Seacuterie Em congonhas

foi uma excursatildeo que a gente faz para um parque Parque da Cachoeira que tem laacute aiacute a gente passa nessa igreja para

fazer a visita A igreja na eacutepoca estava em reforma mas a gente podia entrar laacute dentro

Elizabeth Aiacute satildeo amigos

Warleson eacute uma excursatildeo assim um especial

Elizabeth Obrigada

Weberton (riso) A experiecircncia que me marcou assim foi ao Museu do Escravo Problema eacute o seguinte porque mostrou assim o processo de escravidatildeo no Brasil como era estruturado objetos que ao mesmo tempo ()

visatildeo que tinha do negro mostrando eles simplesmente como objetos e colocou tipo assim () uma visatildeo negativa

faltou assim a cultura a danccedilaa comida natildeo mostrou o processo global A ideologia do sistema claro que tinha na

eacutepoca

Elizabeth A questatildeo do terceiro ponto e nossa uacuteltima rodada eacute a nossa visita ao Rio de Janeiro A visita estaacute

marcada pela ideacuteia da comemoraccedilatildeo dos 200 anos da vinda da famiacutelia real e de propoacutesito tambeacutem a gente escolheu

visitas a algumas das exposiccedilotildees relacionadas a esse evento e certamente a gente vai poder conversar sobre o que

foi fazer laacute Mas eu gostaria que vocecircs falassem pensassem da expectativa da visita claro eu imagino que a

expectativa eacute boa alta mas como vocecircs relacionam a questatildeo da memoacuteria que jaacute abordaram que estaacute presente nos

museus e nestes espaccedilos que a gente costuma visitar e questatildeo da histoacuteria e aiacute a gente pode pensar um pouco no

sentido dessa histoacuteria escrita da historiografia daquela eacute trabalhada nos textos na sala de aula e a questatildeo da comemoraccedilatildeo Como vocecirc fazem vecircem isso comemoraccedilatildeo histoacuteria e memoacuteria Como relaciona isso antes das

visitas Como estaacute na cabeccedila tem relaccedilatildeo natildeo tem Natildeo eacute preciso fazer nenhuma tese mas como vecircm noacutes vamos

para um evento assim uma seacuterie de exposiccedilotildees relacionadas a uma comemoraccedilatildeo Aiacute noacutes estamos tratando da

questatildeo da memoacuteria e da histoacuteria Como vocecircs pensam que isso pode ser organizado pensado Pode ser Agora vou

fazer assim quem quer comeccedilar

Daniele Eu acho assim o interessante eacute porque os professores datildeo uma base muito boa para quando vocecirc

vai para a discussatildeo Por mais que a gente vai num periacuteodo assim com essa intenccedilatildeo Taacute sendo comemorado Eacute

muito importante as visitas em diferentes tempos mas eu acho que deve ter um certo cuidado ter uma visatildeo criacutetica

porque essa comemoraccedilatildeo pode daacute uma organizaccedilatildeo para enaltecer essa comemoraccedilatildeo Analisar mas analisar de

forma criacutetica saber se essa comemoraccedilatildeo tem Natildeo sei se consegui me expressar

Elizabeth algueacutem quer tentar expressar Tiago Na verdade pensar a historicidade do evento Se natildeo fica muito naquele negoacutecio do oba oba se natildeo o

propoacutesito principal se perde e

Frederico Aiacute que entra a questatildeo da memoacuteria Eu acho que nem a D falou ser criacutetico A gente ir assim para

focar o ato de comemoraccedilatildeo O que estaacute sendo comemorado Por que Ir com alguns questionamentos e ter alguns

filtros para natildeo ir muito para o lado do () a valorizaccedilatildeo da memoacuteria e buscar nesses momentos o valor histoacuterico

Tiago E o por que de estar sendo comemorado Na Verdade eacute um fato relevante na histoacuteria do Brasil mas

quais que satildeo as pretensotildees de se fazer essa comemoraccedilatildeo quais as implicaccedilotildees disso

Frederico Eu acho que nem tanto o por que mas como estaacute sendo neacute Como eles estatildeo fazendo isso De

que forma estatildeo representando esse momento Momento a chegada da famiacutelia real como isso estaacute sendo

representado

Elizabeth Na cabeccedila de vocecircs esse momento Chegada da famiacutelia real tem uma ldquoaurardquo tem uma

importacircncia Como vocecircs vecircem isso WebertonSim Mudou os rumos do Brasil porque ateacute entatildeo tinha a vigecircncia do pacto colonial (fim da fita

em um dos gravadores) Tinha o comeacutercio metroacutepolecolocircnia e com a vinda da famiacutelia real a abertura dos portos

favorece uma burguesia colonial natildeo sei se burguesia mas a elite brasileira passou experimentar novos mercados

comeacutercios e e isso eacute importante porque a partir do momento que Portugal abriu os portos a elite brasileira viu que

natildeo era vantagem natildeo aceitou mais e comeccedilou a organizar movimentos civis que vai culminar na Independecircncia do

Brasil

Daniela E isso que o B ta falando eacute justamente a de analisar como foi esse acontecimento e qual a visatildeo

que estaacute sendo repassada nessas exposiccedilotildees Tentar na medida do possiacutevel confrontarneacute

Tiago Aleacutem de um sentido poliacutetico e econocircmico a vinda da famiacutelia real traz um sentido cultural forte

200

Elizabeth Acho que ta encerrando mais algueacutem quer fazer alguma consideraccedilatildeo sobre a expectativa dessa

visita ao Rio o que espera ver o que jaacute viu o jaacute visitou

Frederico Conheccedilo Petroacutepolis

Frederico Questatildeo histoacuterica museus natildeo

Outros concordam

Observaccedilatildeo apenas uma participante disse jaacute conhecer o Rio de Janeiro Niteroacutei

Elizabeth Agradeccedilo a todos a Cristiane e depois retorno

201

Anexo D

ROTEIRO TRABALHO DE CAMPO ndash Rio de Janeiro DATAS Saiacuteda de Pedro Leopoldo 30042008 agraves 2230 (noite - quarta)

Retorno d o Rio de Janeiro 03052008 agraves 1200 horas (tarde- saacutebado)

ATIVIDADE ACADEcircMICA CIENTIacuteFICA E CULTURAL ndash 25 h-

5ordf Feira dia 01052008

Chegada ao Hotel Rio‟s Nice Hotel Rua do Riachuelo 201 Centro CEP 20230-011 Rio de Janeiro Rio

de Janeiro telefone 2297-1155 ndash cafeacute da manhatilde

1000 saiacuteda do Hotel para Visitaccedilatildeo ao Corcovado(Cristo Redentor)

Subida de Trem ao Corcovado Saiacuteda Rua Cosme Velho 513 Zona sul Telefones 24922252 e

22051045 Funcionamento de 8 30 agraves 18 30h saiacuteda a cada meia hora Duraccedilatildeo da viagem cerca de 20 minutos

Preccedilo da passagem R$ 3600(inclui ida e volta) aceita Cartotildees de Creacutedito Velocidade da subida 15 kmh Velocidade

da descida 12 kmh

Som e Luz na Antiga Seacute ndash agendado para o grupo chegar agraves 1000 h fazer a visita guiada ao interior da

Igreja e terminar com o espetaacuteculo agraves 1200 h com efeitos sonoros e iluminaccedilatildeo que conta a histoacuteria da antiga seacute Satildeo

projetadas sombras de personagens como reis e padres nas paredes Valor da entrada R4 600 (inclui a visita ao espetaacuteculo)

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO DA ANTIGA SEacute

A antiga catedral promovida a Capela Real em 1808 foi palco da sagraccedilatildeo de D Joatildeo VI como rei de

Portugal apoacutes a morte de D Maria I Ali se casaram o futuro D Pedro I e D Leopoldina da Aacuteustria em 6 de

novembro de 1817 Rua 7 de Setembro 14 centro 218176-4182 3a5a 9h17h e saacuteb 11h17h agende com

antecedecircncia

Almoccedilo

Horaacuterio 1600 agendado para o grupo

Visita a EXPOSICcedilAtildeO -RIO DE JANEIRO CAPITAL DE PORTUGAL EXPOSICcedilAtildeO ndash

COMEMORACcedilOtildeES DOM JOAtildeO VI NO RIO - 1808-2008

ART SESC - FLAMENGO Rua Marquecircs de Abrantes 99- Flamengo Sede administrativa (21) 3138-

1020 Arte Sesc (21) 3138-1343 Graacutetis

Exposiccedilatildeo mostra a chegada de D Joatildeo no Brasil A vinda para o Brasil de D Joatildeo priacutencipe regente de

Portugal e de sua comitiva e as radicais alteraccedilotildees sobre os destinos e a vida da colocircnia principalmente sobre os

haacutebitos e costumes da cidade apresentadas de forma abrangente os motivos que levaram agrave transferecircncia da Corte as

principais iniciativas por ele tomadas como a criaccedilatildeo do Banco do Brasil da Imprensa Reacutegia do Jardim Botacircnico e

da Capela Real e a chegada da chamada Missatildeo Francesa composta de arquitetos pintores gravadores e artiacutefices

para citar apenas algumas

Noite ndash livre

6ordf Feira dia 02052008

202

Horaacuterio agendado para o grupo 1000 h MUSEU HISTOacuteRICO NACIONAL Praccedila Marechal Acircncora centro

212550-9220R$ 600 EXPOSICcedilOtildeES ndashUM NOVO MUNDO UM NOVO IMPEacuteRIO A CORTE PORTUGUESA NO BRASIL Seu

acervo muito bem preservado e identificado inclui coleccedilotildees de armas carruagens louccedilas pratarias e objetos

pessoais da eacutepoca da corte Promove a partir de 8 de marccedilo uma das mais importantes exposiccedilotildees sobre o periacuteodo

Horaacuterio agendado para o grupo 930 h Biblioteca Nacional- 15 pessoas Av Rio Branco 219 Centro Telefone

21 2220-9484

Visita guiada agrave seccedilatildeo de Manuscritos Perioacutedicos Microfilmados Obras Raras e outros setores Edifiacutecio projetado por

Francisco Marcelino de Souza Aguiar foi inaugurado em 1910 Em estilo neoclaacutessico com imponente escadaria ateacute

o primeiro andar eacute circundado de colunas coriacutentias Seu acervo comeccedilou a ser reunido no seacuteculo XVIII Nele

destacam-se dois exemplares da Biacuteblia de Moguacutencia impressa em 1462 pelos continuadores de Gutenberg a ediccedilatildeo

dos Lusiacuteadas de 1572 a coleccedilatildeo De Angelis e a coleccedilatildeo Teresa Cristina doaccedilatildeo de D Pedro II

AlmoccediloHoraacuterio agendado 0 Exposiccedilotildees ndash Comemoraccedilotildees Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro 1808-20

O Teatro de Debret Entrada Franca

O Teatro de Debret eacute a maior exposiccedilatildeo jaacute realizada sobre Jean-Baptiste Debret (1768-1848) pintor

integrante da Missatildeo Artiacutestica Francesa que viveu no Rio de 1816 a 1831 Com 511 obras sendo 346 aquarelas 151

pranchas litograacuteficas e cinco oacuteleos do artista aleacutem de nove trabalhos relacionados com ele a mostra revela o Rio

tanto sede do impeacuterio portuguecircs como do Brasil com todos os seus contrastes e exuberacircncias A mostra integra as

comemoraccedilotildees dos 200 anos da chegada da Famiacutelia Real

O edifiacutecio onde hoje funciona a Casa Franccedila-Brasil jaacute foi palco de alguns eventos importantes de nossa histoacuteria Mandado erguer em 1819 por D Joatildeo VI ao arquiteto Grandjean de Montigny integrante da Missatildeo

Artiacutestica Francesa a obra em si jaacute eacute um importante documento Eacute o primeiro registro do estilo neoclaacutessico no Rio

de Janeiro que a partir daiacute invadiu nossa cidade tingindo o barroco de nossas florestas e de nossas casas coloniais

de um tom cosmopolita agrave moda europeacuteia

Noite Livre

Saacutebado dia 03052008 Visita ao Jardim Botacircnico Rua Jardim Botacircnico 1008 Exposiccedilatildeo Orquiacutedeas no Jardim

Centenas de espeacutecies entre elas a primeira espeacutecie nativa do paiacutes trazida pelo rei de Portugal Mostra exposiccedilatildeo

paralela Dom Joatildeo VI e a Exploraccedilatildeo e o Estudo das orquiacutedeas no Brasil que mostra a importacircncia da chegada da

corte para o desenvolvimento botacircnico do paiacutes Entrada R$ 400

Tour pela orla e praias de Copacabana Ipanema e outras

Retorno ndash saacutebado agraves 1200 ndash parada na Serra da Mantiqueira para observaccedilatildeo da paisagem

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