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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Biologia LUIZ HENRIQUE SOARES TIBO IMUNOMODULAÇÃO INTRAVESICAL COM Salmonella enterica E VIOLACEÍNA PARA O TRATAMENTO DO CÂNCER DE BEXIGA URINÁRIA NÃO MÚSCULO INVASIVO (CBNMI) Campinas 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Biologia

LUIZ HENRIQUE SOARES TIBO

IMUNOMODULAÇÃO INTRAVESICAL COM Salmonella enterica E VIOLACEÍNA

PARA O TRATAMENTO DO CÂNCER DE BEXIGA URINÁRIA NÃO MÚSCULO

INVASIVO (CBNMI)

Campinas

2019

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LUIZ HENRIQUE SOARES TIBO

IMUNOMODULAÇÃO INTRAVESICAL COM Salmonella enterica E VIOLACEÍNA

PARA O TRATAMENTO DO CÂNCER DE BEXIGA URINÁRIA NÃO MÚSCULO

INVASIVO (CBNMI)

Tese apresentada ao Instituto de Biologia da

Universidade Estadual de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para a obtenção do título de

Doutor em Genética e Biologia Molecular, na área de

Genética de Microrganismos.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Brocchi

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO LUIZ

HENRIQUE SOARES TIBO, ORIENTADO PELO

PROF. DR. MARCELO BROCCHI.

Campinas

2019

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Ficha catalográficaUniversidade Estadual de Campinas

Biblioteca do Instituto de BiologiaMara Janaina de Oliveira - CRB 8/6972

Tibo, Luiz Henrique Soares, 1985- T434i TibImunomodulação intravesical com Salmonella enterica e violaceína para o

tratamento do câncer de bexiga urinária não músculo invasivo (CBNMI) / LuizHenrique Soares Tibo. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

TibOrientador: Marcelo Brocchi. TibTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Biologia.

Tib1. Neoplasias da bexiga. 2. Imunoterapia. 3. Atividade antitumoral. 4.

Violaceína. 5. Salmonella. I. Brocchi, Marcelo, 1967-. II. Universidade Estadualde Campinas. Instituto de Biologia. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Intravesical immunomodulation with Salmonella enterica andviolacein for treatment of non muscle invasive urinary bladder câncer (NMIBC)Palavras-chave em inglês:Bladder neoplasmsImmunotherapyAntitumor activityViolaceinSalmonellaÁrea de concentração: Genética de MicroorganismosTitulação: Doutor em Genética e Biologia MolecularBanca examinadora:Marcelo Brocchi [Orientador]Claudio Chrysostomo WerneckAnderson Ferreira da CunhaJosé Andrés YunesGerson NakazatoData de defesa: 30-08-2019Programa de Pós-Graduação: Genética e Biologia Molecular

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0002-3783-9331- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/3795440816818048

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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4

Campinas, 30 de Agosto de 2019

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Marcelo Brocchi (Orientador)

Prof. Dr. Claudio Chrysostomo Werneck

Prof. Dr. Anderson Ferreira da Cunha

Prof. Dr. José Andrés Yunes

Prof. Dr. Gerson Nakazato

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de

Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa de Genética e Biologia Molecular do

Instituto de Biologia/UNICAMP.

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5

AGRADECIMENTOS

À minha família, meus pais, Nilson Nogueira Tibo e Roselene Maria Soares Santana Tibo,

meus irmãos Leonardo Soares Tibo e Luciano Soares Tibo por todo apoio e pela presença

constante em minha vida.

À minha esposa, Natália Galdi Quel, por participar de todos os momentos e me ajudar a superar

os obstáculos nesta fase da minha vida.

Ao meu orientador Prof. Dr. Marcelo Brocchi, pela oportunidade, paciência e confiança durante

o desenvolvimento deste projeto.

Aos meus amigos e colegas no grupo de pesquisa do laboratório de genética e biologia

molecular bacteriana (LGBMB), por toda ajuda, companhia e colaboração nos experimentos.

Ao Prof. Dr. Wagner José Fávaro e ao grupo de pesquisa do Laboratório de carcinogênese

urogenital e imunoterapia (LCURGIM) pela paciência em ajudar com as metodologias e

análises histológicas.

Ao Prof. Dr. Luiz Fernando Celidônio Zerbini pela oportunidade de colaboração e ao grupo de

pesquisa do laboratório do Centro Internacional de Engenharia Genética e Biotecnologia

(ICGEB) em Cape Town, África do Sul, pela ajuda em minha adaptação, treinamento e

experimentos.

À UNICAMP, pelo acolhimento durante esses anos, e também a todos os funcionários que me

ajudaram de alguma forma.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq Proc. 170567/2017-6) pelo

apoio financeiro. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento

001

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

6

RESUMO

Diversos fatores ambientais e biológicos são responsáveis pelos altos índices de câncer de

bexiga urinária. O tratamento com Bacillus Calmette-Guérin (BCG) é, atualmente, a forma mais

eficaz de imunoterapia intravesical para evitar a recorrência e a progressão do câncer de bexiga

urinária não-músculo invasivo (CBNMI). Porém, 90% dos pacientes tratados com BCG

apresentam efeitos colaterais, que podem ser locais e/ou sistêmicos e variam de leves irritações

do trato urinário até sepse e óbito. Além disto, há recorrência tumoral em até 31% dos casos.

Diante disto, há o interesse no desenvolvimento de novas alternativas de tratamento antitumoral

baseadas no uso de bactérias vivas atenuadas e de seus produtos purificados. Neste estudo, um

mutante de Salmonella enterica foi avaliado na terapia contra o câncer de bexiga, por apresentar

atenuação da virulência em modelo murino e por apresentar potencial imunomodulatório. Ao

mesmo tempo, foi avaliada a violaceína, um pigmento produzido por algumas bactérias Gram

negativas, que, dentre outras características, apresenta potencial terapêutico contra o câncer.

Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar se Salmonella enterica atenuada pode coabitar com

a microbiota vesical in vivo estimulando respostas inflamatórias dentro dos tumores com e sem

a associação com violaceína. Para avaliar a atividade antitumoral destes tratamentos, foram

realizados ensaios em modelo murino de câncer de bexiga e em cultivo de células de bexiga

humana. O tratamento combinado de S. enterica atenuada e violaceína foi eficiente na inibição

do desenvolvimento tumoral e também na ativação do sistema imune inato dos camundongos

tratados. Os resultados demonstram a viabilidade do uso de S. enterica atenuada e da violaceína

no tratamento alternativo para o câncer de bexiga não músculo invasivo em modelo murino.

Em perspectiva, a manipulação genética de microrganismos, associada à uma caracterização do

mecanismo de ação da violaceína em tumores, pode possibilitar o desenvolvimento de uma

opção terapêutica com menores efeitos colaterais, melhor reparo tecidual e menores chances de

recidiva do que as terapias atuais.

Palavras-chave: Câncer de bexiga, imunoterapia, terapia bacteriana, violaceína, Salmonella

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7

ABSTRACT

Several environmental and biological factors are responsible for the high rates of urinary

bladder cancer. Nowadays, the treatment with Bacillus Calmette-Guérin (BCG) is the most

effective form of intravesical immunotherapy to prevent recurrence and progression of non-

muscle invasive bladder cancer (CBNMI). However, 90% of patients treated with BCG have

side effects, which may be local and/or systemic and range from mild urinary tract irritations to

sepsis and death. In addition, there is tumor recurrence in up to 31% of the cases. In view of

this, there is interest in the development of new antitumor treatment alternatives based on the

use of live attenuated bacteria and their purified products. In this study, a mutant strain of

Salmonella enterica was evaluated in the therapy against bladder cancer, because of its

attenuated virulence profile in murine model and based on its immunomodulatory potential. At

the same time, violacein, a pigment produced by some Gram-negative bacteria, was evaluated

regarding its therapeutic potential against cancer, as confirmed in other studies. Thus, the

objective of this study was to evaluate whether attenuated Salmonella enterica can cohabit with

the vesical microbiota in vivo stimulating inflammatory responses within the tumors with or

without the association with violacein. To evaluate the antitumor activity of these treatments,

murine bladder cancer model and human bladder cells culture assays were performed. The

combined treatment of attenuated S. enterica and violacein was efficient in inhibiting the tumor

development and also in the activation of the innate immune system of the treated mice. The

results demonstrate the viability of the attenuated S. enterica and violacein use in an alternative

treatment for murine non-muscle invasive bladder cancer. In perspective, the genetic

manipulation of microorganisms, associated to a characterization of the violacein mechanism

of action in tumors, may allow the development of a therapeutic option with lower side effects,

better tissue repair and less chance of recurrence than current therapies.

Keywords: Bladder cancer, immunotherapy, bacterial therapy, violacein, Salmonella

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8

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11

1.1 Bexiga urinária ............................................................................................................... 11

1.2 Câncer de bexiga ............................................................................................................ 11

1.3 Estudo do câncer em modelo animal .............................................................................. 13

1.4 Imunoterapia e câncer ..................................................................................................... 15

1.5 Violaceína ....................................................................................................................... 18

1.6 Terapia bacteriana........................................................................................................... 20

1.7 Salmonella e câncer ........................................................................................................ 21

1.8 Proteínas associadas ao nucleóide bacteriano (NAPs) e o fator de integração ao

hospedeiro (IHF) .................................................................................................................. 25

2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 27

3. OBJETIVOS ..................................................................................................................... 28

3.1 Objetivos específicos ...................................................................................................... 28

4. MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................. 29

4.1 Linhagem bacteriana e atenuação ................................................................................... 29

4.2 Meios de Cultura ............................................................................................................ 29

4.3 Plasmídeos e técnicas básicas de biologia molecular ..................................................... 29

4.4 Construção de mutante de S. enterica ............................................................................ 30

4.4.1 Eletrocompetência ................................................................................................... 30

4.4.2 Amplificação dos fragmentos lineares (Cassetes de recombinação) ....................... 31

4.4.3 Transdução com fagos P22Hint ............................................................................... 31

4.4.4 Complementação ..................................................................................................... 32

4.4.5 Eletroporação ........................................................................................................... 32

4.4.6 Eliminação da resistência ao cloranfenicol com o plasmídeo pCP20 ..................... 33

4.4.7 Construção de Duplo Mutante S. enterica ATCC14028 ∆ihfAihfB ........................ 33

4.5 Animais experimentais ................................................................................................... 34

4.6 Confirmação da atenuação in vivo .................................................................................. 34

4.7 Integridade da camada de LPS ....................................................................................... 35

4.8 Indução química do câncer de bexiga não-músculo invasivo ........................................ 36

4.9 Grupos experimentais ..................................................................................................... 36

4.10 Colonização do trato urinário por S. enterica ATCC14028 ∆ihfAihfB:cat .................. 37

4.11 Análise Histopatológica ................................................................................................ 37

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9

4.11 Imunohistoquímica ....................................................................................................... 38

4.12 Western Blotting ........................................................................................................... 39

4.13 Ensaio de citotoxicidade da violaceína em células uroteliais ....................................... 40

4.14 Invasão e sobrevivência em células uroteliais .............................................................. 40

4.15 Análises estatísticas ...................................................................................................... 41

5. RESULTADOS ................................................................................................................ 42

5.1 Construção do duplo mutante ......................................................................................... 42

5.2 Confirmação de atenuação e imunogenicidade .............................................................. 42

5.3 Colonização do trato urinário por S. enterica ATCC 14028ΔihfAΔihfB:cat ................. 44

5.4 Análise Histopatológica .................................................................................................. 45

5.5 Imunohistoquímica ......................................................................................................... 46

5.6 Western Blotting ............................................................................................................. 48

5.7 Ensaio de citotoxicidade da violaceína em células uroteliais ......................................... 50

5.8 Ensaio de invasão, sobrevivência e multiplicação de S. enterica

ATCC14028ΔihfAΔihfB:cat em células ATCC 5637 .......................................................... 51

6. DISCUSSÃO .................................................................................................................... 53

7. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 60

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 61

9. ANEXO I - AÇÃO DA VIOLACEÍNA EM CÉLULAS DE CÂNCER DE PRÓSTATA

...........................................................................................................................................76

9.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 76

9.1.1 Próstata humana ....................................................................................................... 76

9.1.2 Câncer de próstata ................................................................................................... 76

9.2 OBJETIVO ................................................................................................................ 77

9.3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 78

9.3.1 Ensaio de citotoxicidade ..................................................................................... 78

9.3.2 Visualização do efeito em células ........................................................................... 78

9.3.3 Migração celular ...................................................................................................... 79

9.3.4 Extração de RNA e qPCR ....................................................................................... 79

9.4 RESULTADOS ......................................................................................................... 80

9.4.1 Citotoxidade da violaceína em células de próstata .................................................. 80

9.4.2 Visualização do efeito da violaceína em células de próstata ................................... 81

9.4.3 Migração celular (Wound Healing) ......................................................................... 81

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10

9.4.4 PCR em tempo real .................................................................................................. 83

9.5 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 84

9.6 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 85

10. ANEXO II – CERTIFICADOS DO COMITÊ DE ÉTICA EM EXPERIMENTAÇÃO

ANIMAL .................................................................................................................................. 86

11. ANEXO III - DECLARAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS.............................................89

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11

1. INTRODUÇÃO

1.1 Bexiga urinária

A bexiga urinária é um orgão oco em forma de saco e tem a função de armazenar e

excretar urina. Este órgão é composto por um tecido muscular, que forma o músculo detrusor,

envolvido por uma camada serosa. O tecido muscular é ligado ao tecido conjuntivo, onde estão

contidos vasos sanguíneos e linfáticos, que forma a base para as camadas de células uroteliais

da bexiga. A camada urotelial é formada por três a sete camadas de células, dependendo da

distensão do órgão. As células uroteliais podem ser classificadas em três diferentes tipos. A

camada mais superficial do urotélio é formada por apenas uma linha de células elípticas com

citoplasma bastante eosinofílico conhecidas como células guarda-chuva. As células

intermediárias têm membranas bem definidas e com formas que variam entre cubos e pequenos

retângulos. E, por fim, uma linha de células em forma de cubo se organiza sobre uma lâmina

basal bem definida (1-3).

1.2 Câncer de bexiga

De acordo com estimativas recentes, em 2018, foram diagnosticadas mais de 540 mil

pessoas com câncer de bexiga em todo o mundo, sendo que destas, quase 200 mil foram a óbito

(4). No Brasil, foi estimado para o ano de 2018, o diagnóstico de 9480 novos casos de câncer

de bexiga (6690 homens e 2790 mulheres) (5). Dentre os fatores de risco para o

desenvolvimento deste tipo de câncer está a exposição à compostos químicos (aminas

aromáticas, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, formaldeídos etc.) presentes na fabricação

de tintas e corantes, em solventes de tinta, produtos da combustão do diesel e, principalmente,

na fumaça do cigarro. Outro fator de risco é o histórico familiar, já que pessoas cujos parentes

de primeiro grau tiveram câncer de bexiga, tem um risco até duas vezes maior de desenvolver

a doença, quando comparado à população em geral. A etnia, o sexo e a idade também estão

associados à incidência deste tipo de câncer. Pessoas caucasianas têm o dobro de chances de

desenvolver câncer de bexiga quando comparadas a afrodescendentes. A incidência desta

doença é muito maior em homens do que em mulheres, sendo o sexto câncer mais comum no

sexo masculino e, em 90% dos casos, o paciente diagnosticado com câncer de bexiga tem mais

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

12

de 55 anos (5, 6). Além destes fatores de risco, foram relatados casos em que houve o

desenvolvimento do câncer de bexiga associado à infecção pelo verme Schistosoma

haematobium, que causa um tipo de esquistossomose se alojando na bexiga do hospedeiro.

Alguns estudos sugerem que diabetes mellitus, obesidade, papilomavírus humano, consumo

excessivo de carne vermelha e o uso por tempo prolongado de medicamentos como

ciclofosfamida e pioglitazona também podem ser considerados fatores de risco para o

desenvolvimento de câncer de bexiga (7).

Os sintomas mais comuns associados ao câncer de bexiga são hematúria, que é a

presença de sangue na urina, disúria, que é a dor e dificuldade ao urinar, dor abdominal e

constipação (8). A avaliação inicial de um paciente com suspeita de câncer de bexiga se baseia

na citoscopia, avaliação da função renal e análise de imagens do trato urinário superior.

Pacientes que apresentaram citoscopia anormal são submetidas à ressecção transuretral para

que um diagnóstico histopatológico possa ser realizado (7). Em mais de 90% dos casos

diagnosticados, o câncer de bexiga é histologicamente caracterizado como carcinoma urotelial.

As variáveis histopatológicas não-uroteliais mais comuns são o carcinoma de células escamosas

(2-5%) e o adenocarcinoma (1-2%). Estas variáveis histológicas do câncer de bexiga estão

associadas à doença causada pelo verme S. haematobium e são mais prevalentes em áreas

endêmicas desse parasita, como no Egito. O adenocarcinoma vesical também é associado à

extrofia da bexiga, uma má formação congênita (9). De acordo com a classificação mais recente

dos tumores do trato urotelial, feita pela organização mundial da saúde em 2016, os tumores

uroteliais não-invasivos, podem ser distinguidos como carcinoma in situ (pTis) e carcinoma

papilar (pTa), que possui outras variações dependendo do grau de invasividade (10). O pTis é

diagnosticado como uma lesão plana geralmente associada à formas mais agressivas do tumor,

pois tem comportamento imprevisível e pode se espalhar por metástase até em lugares mais

distantes do foco inicial (11). O carcinoma papilar é caracterizado como o desenvolvimento de

tumores em formas de cogumelo ou pólipos que podem se desenvolver em direção à luz da

bexiga ou em direção à lâmina própria. Este tipo de lesão é subdividida em diferentes classes

de acordo com o grau de agressividade, número de camadas de células, presença de figuras

mitóticas e alterações nucleares (10, 12). As lesões uroteliais podem também ser diagnosticadas

como hiperplasia plana, uma lesão benigna, e neoplasia intraurotelial de baixo grau, que é uma

lesões pré-malígna. A hiperplasia plana é o aumento do número de camadas de células, sem

citologia atípica e com figuras de mitose limitadas à camada de células basais. A neoplasia

intraurotelial é caracterizada pelo aumento no número de células e o grau varia de acordo com

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13

o nível e quantidade de células atípicas e figuras de mitose (12). Se as células atípicas puderem

ser visualizadas além da lâmina própria, já no tecido conjuntivo, a lesão é classificada como

carcinoma urotelial invasivo (pT1), diagnóstico associado a um alto risco de invasão do tecido

muscular e metástase (11).

Aproximadamente 75% dos diagnósticos de câncer de bexiga no mundo são

caracterizados como câncer de bexiga urinária não-músculo invasivo (CBNMI) (13-16).

Geralmente, o tratamento usado para o CBNMI após a ressecção transuretral é a imunoterapia

intravesical com Bacilo Calmette-Guerin (BCG) para evitar a progressão tumoral e a recidiva

(7). A imunoterapia com BCG ativa a resposta imune induzindo a produção de citocinas como

o fator de necrose tumoral α (TNF-α), o fator estimulante de colônias de macrófagos (GMCSF),

interferon γ (IFN-γ) e interleucinas que por sua vez, induzem a resposta de linfócitos T–helper

e das células natural killer (NK) na bexiga (17). A resposta imune induzida pela instilação de

BCG no organismo tem longa duração, podendo persistir por mais de um ano. Contudo, esta

resposta tem muita variação entre os pacientes e a correlação entre BCG e a expressão de

citocinas ainda é investigada (18, 19). Além disto, mais de 90% dos pacientes tratados com

BCG apresentam sintomas adversos, que variam desde leves irritações no trato urinário até

sepse, e em mais de 30% destes pacientes o câncer reaparece, sendo que nestes casos, muitas

vezes não há mais resposta ao tratamento por BCG, sendo necessária a remoção total da bexiga

(cistectomia radical) (20). Dependendo do grau de agressividade do tumor diagnosticado

histopatologicamente após a ressecção intraurotelial, até mesmo o CBNMI pode ser tratado

com quimioterapia intravesical com mitomicina C, epirrubicina ou doxorrubicina (7). Pacientes

diagnosticados com lesões pT1 devem passar por cistectomia imediata seguida de imunoterapia

com BCG ou quimioterapia intravesical com mitomicina C. Pacientes com lesões acima de pT1,

ou seja, câncer de bexiga músculo invasivo, passam por cistectomia radical e quimioterapia

com cisplatina (7). O estudo de alternativas para o tratamento deste tipo de câncer, como o uso

de bactérias atenuadas ou substâncias com ação imunomodulatória como a violaceína, têm sido

propostas promissoras no tratamento de câncer de bexiga não-músculo invasivo (21-26).

1.3 Estudo do câncer em modelo animal

Com o uso de engenharia genética, enxertos e técnicas de indução viral, física e química,

diversos modelos animais foram criados para o estudo do câncer. As diferentes linhagens

genéticas de camundongos (Mus musculus) têm sido usadas como modelo padrão para pesquisa

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

14

básica e estudos pré-clínicos desta doença (27). Com o aumento do interesse no

desenvolvimento de novos tratamentos imunomodulatórios, torna-se essencial o

desenvolvimento de modelos de estudo em animais imunocompetentes. O requisito principal

dos modelos de estudo pré-clínicos é a mimetização do desenvolvimento do câncer em

humanos, reproduzindo a heterogeneidade genética com a maior fidelidade possível à doença,

além de incluir as células imunes que configuram o microambiente tumoral (28). O modelo

animal mais usado para a avaliação da toxicidade e eficácia de fármacos é o modelo xenográfico

de células cancerosas humanas. Esse modelo consiste no transplante de células cancerosas de

humanos para camundongos, o que confunde o sistema imune murino, diminuindo a eficácia

deste modelo no estudo de imunoterápicos (28). O melhor entendimento das alterações

genéticas que levam ao câncer, permitiu o desenvolvimento de modelos murinos alterados

geneticamente que apresentam crescimento tumoral autóctone em tecidos específicos. Porém,

o modelo em camundongo geneticamente modificado apresenta variações na latência e

capacidade metastática do câncer, além de ter baixa imunogenicidade (28). O modelo animal

mais antigo e também o mais usado em estudos pré-clínicos de agentes imunoterápicos para o

tratamento de tumores é o modelo singênico, que pode ser desenvolvido a partir do reimplante

de células tumorais isoladas do próprio camundongo ou da indução química, física ou viral do

câncer no próprio animal. Quando há o isolamento e expansão de células tumorais para o

reimplante, o tumor perde sua heterogeneidade genética e, além disto, este modelo fica limitado

à baixa quantidade de linhagens celulares que podem ser transplantadas. Já a indução do câncer

por agentes carcinógenos, com o devido controle sobre a latência e invasibilidade tumoral,

permite o desenvolvimento de um tumor autóctone, num modelo que apresenta uma maior

fidelidade à heterogeneidade genética do câncer, além de manter as características do sistema

imune hospedeiro, tornando o microambiente tumoral apto para o estudo de agentes

imunoterápicos no combate à diferentes tipos de câncer (28).

Em estudos pré-clínicos do câncer de bexiga é comum o uso do modelo singênico por

indução com carcinógenos, que foi usado pela primeira vez em ratos na década de 60 (29, 30).

No passado, diferentes espécies animais, como hamsters, cobaias, cachorros e coelhos foram

usadas para o estudo do câncer urotelial. Porém, por questões éticas e pela facilidade de

manipulação, os pequenos roedores são, atualmente, os mais usados como modelo. Além disto,

o trato urinário inferior e as neoplasias que se desenvolvem na bexiga dos camundongos são

muito parecidos com o do ser humano (31). Dentre os carcinógenos mais usados para o

desenvolvimento deste modelo em camundongos estão o N-Butil-N-(4hidroxibutil)nitrosamina

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

15

(BBN), o N-[4-(5-nitro-2-furil)-2thiazolil]formamida (FANFT) e o N-metil-N-nitrosoureia

(MNU) (32). O BBN, um derivado metabólico de compostos presentes na fumaça do cigarro,

causa, em camundongos, lesões uroteliais morfologicamente semelhante as de humanos. Esse

composto pode ser administrado por vias oral, subcutânea ou intravesical, causando danos ao

DNA das células uroteliais e induzindo a formação de tumores (31). O FANFT é um

carcinógeno que estimula a mucosa da bexiga, induzindo o desenvolvimento de carcinoma de

células transicionais após 5 a 8 meses de tratamento por via oral. Este composto é menos usado

por ser muito tóxico para o ser humano e para o meio ambiente (32). O MNU é um agente

alquilante, que, após administração via intravesical, induz câncer urotelial pela adição de grupos

metil ao DNA das células de bexiga. Com a administração de apenas uma dose deste composto,

é possível observar o desenvolvimento de tumores após 12 semanas (32-34). Outro carcinógeno

bastante usado para a indução de câncer em diferentes modelos é o N-etil-N-nitrosoureia

(NNN). O NNN é um carcinógeno sintético que causa mutações aleatórias pontuais no DNA

agindo como agente alquilante. Este composto tem alta capacidade de alquilação em oxigênios

presentes nas bases nitrogenadas, induzindo, na maioria das vezes, a transição GC-AT. Além

disto, a presença do grupo etil na molécula de NNN pode causar um erro de identificação das

bases etiladas durante o processo de replicação, resultando no não-pareamento de bases (35,

36). A alta eficiência e especificidade da mutagênese gerada por NNN em modelo murino, faz

com que este carcinógeno seja uma potencial ferramenta para o desenvolvimento e estudo de

tumores em diferentes órgãos de camundongos, inclusive na bexiga.

1.4 Imunoterapia e câncer

Uma das principais estratégias usadas na imunoterapia do câncer é o estímulo da

imunidade antitumoral do próprio paciente baseando-se na habilidade do sistema imune em

identificar e destruir as células cancerosas, criando uma memória de longa duração desta

interação (37). Até o momento, a maioria dos pacientes que não podem ser curados

cirurgicamente, depende de radioterapia e quimioterapia, que são terapias sem muita

especificidade e acabam danificando tecidos não afetados pelo tumor e gerando alta toxicidade.

Por isso, a imunoterapia, ativando uma resposta específica contra as células tumorais, é a

alternativa mais estudada atualmente para tratamento de pacientes com câncer (38).

Alguns tipos de câncer desenvolvem mecanismos para escapar do sistema imune do

paciente, por isso, algumas estratégias de tratamento são baseadas em gerar ou aumentar a

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

16

resposta imune (39, 40). Dentre estes mecanismos de evasão, estão a baixa imunogenicidade

das células tumorais, devido à baixa expressão de antígenos CHM (Complexo de

Histocompatibilidade Maior), moléculas de adesão, sinais para ativação de células T e citocinas

ativadoras da resposta imune local. Além disto, algumas células de câncer secretam moléculas

imunossupressoras como IL-10, TGF-β e PGE2 (37). Um tipo de imunossupressão é o estímulo

de pontos de checagem imune (Immune Checkpoints). Alguns dos checkpoints mais estudados

atualmente são a proteína de morte celular programada 1 (Programed cell death protein 1 - PD-

1) e a proteína linfócito-T citotóxica 4 (Cytotoxic T-lymphocyte protein 4 - CTLA-4). Com o

desenvolvimento da imunoterapia contra o câncer pela inibição destas duas proteínas, James P.

Alisson e Tasuku Honjo receberam o prêmio Nobel de medicina em 2018. Estas proteínas tem

função de regular negativamente o sistema imune, quando há resposta excessiva ou muito

prolongada, evitando respostas autoimunes (41). Alguns tipos de câncer expressam ligantes

para estas proteínas enfraquecendo a resposta imune contra as células cancerosas. Por isso,

medicamentos baseados no uso de anticorpos monoclonais para o bloqueio de PD-1 e CTLA-

4, como ipilimumab e nivolumab, têm alta eficiência no tratamento de alguns tipos de câncer

como o de pulmão, rins, mama, melanoma, linfoma de Hodgkin, câncer hepatocelular e câncer

de bexiga (41-43). Além do bloqueio de pontos de checagem imune, existem diferentes formas

de aumentar a imunidade adaptativa, como o as vacinas anticâncer, a terapia com vírus

oncolíticos e a terapia celular adotiva (44). As vacinas anticâncer podem ser terapêuticas,

ativando as células do sistema imune e fazendo com que elas reconheçam antígenos presentes

apenas nas células cancerosas, ou preventivas, usadas para evitar o desenvolvimento de câncer

associado à infecções por vírus oncogênicos como o papilomavírus humano (HPV), o

herpesvírus 8 e o vírus da hepatite B (44). A terapia com vírus oncolíticos, ou viroterapia

oncolítica, é o uso de alguns tipos de vírus que, preferencialmente, infectam e rompem células

cancerosas. Como a ruptura de células tumorais também é um processo imunogênico, o vírus

combate ao câncer de duas formas: se replicando dentro das células cancerosas até o

rompimento e estimulando o sistema imune contra essas células (44). E, por fim, a terapia

celular adotiva, que se baseia na manipulação ex vivo de células T, para que estas expressem

receptores de antígenos quiméricos (Chimeric antigen receptors - CARs). Nesta abordagem, as

células T são extraídas, geneticamente modificadas e reintroduzidas no paciente. As células T,

expressando CARs, conseguem identificar e destruir células cancerosas (44).

Em alguns pacientes, o microambiente tumoral é escasso em células de defesa e

apresentam poucos sinais de ativação do sistema imune. Nestes casos, estratégias são

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necessárias para o estímulo do sistema imune inato antes de aumentar a resposta da imunidade

adaptativa. Independente dos mecanismos de evasão usados por células cancerosas para escapar

do sistema imune, a ativação da imunidade inata pode ser essencial para o sucesso do tratamento

imunoterápico na supressão da proliferação tumoral e metástase (45). A indução do sistema

imune inato como estratégia imunoterápica no tratamento de câncer foi usada há mais de um

século, quando Willian B. Coley desenvolveu um tratamento para carcinomas e sarcomas,

usando uma mistura de bactérias inativadas, Streptococcus pyogenes e Serratia marcescens,

que chamou de toxina de Coley (46). A mesma estratégia é usada para o tratamento do câncer

de bexiga em estágio inicial desde 1976 com o uso do BCG, uma linhagem atenuada de

Mycobacterium bovis (19, 47). A imunidade inata é ativada pelo reconhecimento de padrões

moleculares associados à patógenos (Pathogen-associated molecular patterns - PAMPs) por

receptores de reconhecimento de padrões (Pattern recognition receptors - PRRs), presentes em

grande parte das células humanas, que reconhecem diferentes antígenos produzidos por

microorganismos invasores (45, 48). Os PRRs também são capazes de reconhecer alguns

padrões moleculares endógenos associados ao dano (Damage-associated molecular patterns –

DAMPS) incluindo alguns antígenos produzidos por células tumorais. Portanto, a ativação do

sistema imune inato, por meio do tratamento com DAMPs ou agonistas de PRRs, pode auxiliar

na resposta imune contra as células malignas no microambiente tumoral (45). Um dos grupos

de PRRs mais importantes para sistema imune inato são os receptores Toll-like (Toll-like

receptors – TLRs), proteínas transmembrana que podem ser localizadas na membrana celular

ou na membrana de endossomos (45). Os receptores TLR2 e TLR4 reconhecem PAMPs de

bactérias Gram positivas (Peptidioglicanos e ácido lipoteicóico) e Gram negativas

(Lipopolissacarídeos) respectivamente, dando início à resposta imune inata (49). Alguns

agentes agonistas destes receptores como o BCG e o monofosforil lipídeo A já são usados em

imunoterapias contra o câncer (45, 50). Quando ativados, esses receptores induzem transdução

de sinal pela via do fator de diferenciação primária de resposta mielóide gene 88 (Myeloid

differentiation primary response 88 - MyD88) e/ou do adaptador contendo domínio TIR

induzindo Interferon-β (TIR-domain-containing adapter-inducing interferon-β - TRIF) (51,

52). O sinal gerado pela via MyD88-dependente, ou via canônica, ativa o fator nuclear κB

(Nuclear fator κB – NF-κB), que se liga ao DNA estimulando a produção de citocinas

inflamatórias como o fator de necrose tumoral alfa (Tumor necrosis factor alpha – TNFα) e a

interleucina 6 (IL-6) (45, 52-54). A presença destas citocinas no ambiente tumoral faz com que

macrófagos, células de defesa do sistema imune inato, sejam recrutados para identificar e

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combater as células do câncer. Os macrófagos, dependendo de sua polarização, podem exercer

função em favor ou contra o desenvolvimento do câncer, sendo que em um tratamento

imunoterápico, preferencialmente, os macrófagos M1 (anti-tumorais) são ativados e os

macrófagos M2 (pró-tumorais) são inibidos ou repolarizados para M1 (50, 55). Já foi

demonstrado que a ativação de receptores TLR pode aumentar a ativação de macrófagos M1,

estimulando um efeito anti-tumoral (50). O resultado da ativação de diferentes TLRs é

complexo e pode tanto reduzir ou inibir o crescimento tumoral, quanto aumentar a proliferação

de células cancerosas e chances de metástase (45, 56). Por isso, estudos são necessários para

descrever quais vias ou sub-vias do sistema imune são ativadas e se a ordem cronológica de

ativação das TLRs ou outros receptores também influencia no tratamento. Muitas

imunoterapias têm se mostrado promissoras para o tratamento do câncer, principalmente,

quando são baseadas na ação sinérgica das imunidades inata e adaptativa, mostrando que a

combinação de tratamentos que ativem os dois tipos de imunidade é essencial para um

tratamento imunoterápico contra o câncer (45).

1.5 Violaceína

A violaceína (3-[1,2-dihidro-5-(5-hidroxi-1H-indol-3-il)-2-oxo-3H-pirrol-3-ilideno]-

1,3-dihidro-2H-indol-2-ona) é um pigmento violeta com massa molecular de 343,3 kDa

produzido por algumas bactérias gram-negativas, sendo Chromobacterium violaceum a mais

conhecida. A produção deste pigmento é regulada por sistema quorum sensing, que é ativado

quando as moléculas de N-acil homoserina lactonas (AHLs), dependendo da concentração no

meio, se ligam à proteína constitutiva CviR (homóloga à LuxR) estimulando a transcrição do

operon VioABCDE. O sistema também envolve a proteína CviI sintase (homóloga à LuxI), que

converte S-acetil metionina e ácidos graxos em AHLs (57, 58). O operon VioABCDE é

composto pelos genes codificadores das enzimas mono-oxigenages FAD-dependentes VioA,

VioC e VioD, da proteína Heme contendo Fe2+ VioB, que é considerada um policetídeo sintase

e, por fim, da enzima VioE, responsável pela conversão de flavonona em isoflavonona (57).

Estas enzimas participam em cinco dos seis passos da biossíntese da violaceína. Primeiramente,

VioA catalisa a formação de ácido indol pirúvico (Indole pyruvic acid - IPA) a partir de uma

molécula de L-triptofano. Em seguida, VioB catalisa a formação de um dímero formado por

moléculas de IPA. VioE catalisa a formação do ácido protodeoxiviolaceínico que é oxidado por

VioD tornando-se ácido protoviolaceínico. Após mais uma oxidação, dessa vez mediada por

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VioC, é formado o ácido violaceínico. A última reação do processo biossintético é uma

descarboxilação oxidativa não enzimática que finalmente forma a violaceína (57, 59, 60).

Sabe-se que este pigmento apresenta propriedade antibacteriana, antiprotozoário e

antifúngica, podendo assim, ter função na competição entre os micro-organismos de um

determinado ambiente (24, 61, 62). Além disso, a violaceína tem ação antiviral,

antiulcerogênica, imunomodulatória, analgésica, antipirética e antitumoral (24, 25, 61, 63, 64).

Dentre os efeitos já descritos da atividade anticâncer da violaceína, está a capacidade de

aumentar a expressão de genes relacionados à morte celular induzindo apoptose em células de

câncer de mama (MCF-7), Leucemia (HL60 e TF1), câncer cervical (HeLa) e câncer de cabeça

e pescoço (HNC) (57). O efeito apoptótico da violaceína em células de câncer de mama ocorre

pelo aumento da expressão de TNF-α e P53 (25). Também em células de câncer de mama, a

violaceína é capaz de reduzir a expressão da quimiocina CXCL12 (C-X-C Motif Chemokine

Ligand 12) e do receptor CXCR4 (C-X-C chemokine receptor type 4), que interagem

aumentando a adesão e migração de células metastáticas (65, 66). A indução de apoptose

promovida pela violaceína em células de leucemia mielóide (HL60) e eritroleucemia (TF1),

que são resistentes à morte celular programada, indica a ativação de uma via não canônica de

morte celular (67). Violaceína induz apoptose em células de câncer cervical (HeLa)

apresentando efeito de hiperpolarização da membrana mitocondrial (68). Em células de

carcinoma de cabeça e pescoço, a violaceína apresenta atividade inibitória de crescimento, in

vitro e in vivo, além de induzir autofagia e apoptose. A ação de violaceína em células de HNC

ocorre pela inibição da via NF-κB, evitando a formação de novos vasos sanguíneos

(neoangiogênese) na região hipóxica do tumor (24). A inibição da via NF-κB por violaceína

também foi observada em células de câncer colorretal (69). Além disto, a violaceína tem

capacidade inibitória da produção de metaloproteinases importantes na angiogênese, como

MMP-2 e MMP-9 (matrix metalloproteinase-2 e matrix metalloproteinase-9) (65). O efeito

citotóxico da violaceína em algumas linhagens de câncer, como MCF-7, células de câncer de

cólon (HCT116 e HT29) e carcinoma de células escamosas da cabeça e pescoço (HN5),

aumenta em condição de hipóxia, inclusive em modelos in vivo (70). Portanto, dependendo das

concentrações e condições em que as doses de violaceína são ministradas, este composto pode

induzir diferentes vias de apoptose em células cancerosas, podendo ser considerado um agente

multialvo em terapia anticâncer (25).

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20

1.6 Terapia bacteriana

A associação entre a infecção por bactérias e o efeito antitumoral foi feita pela primera

vez em 1813, quando foi relatada a redução de tumores em pacientes infectados por Clostridium

perfringens. Em 1891, pacientes com sarcomas, mielomas, linfomas e melanomas foram

tratados pela toxina de Coley, que é, como descrito anteriormente, uma mistura de bactérias

inativadas (71, 72). Em 1935, foram iniciados os estudos do uso de BCG em tratamento de

câncer, que foi aprovado em 1976 e é usado até hoje no tratamento de câncer de bexiga (71).

Neste cenário, destacam-se as bactérias que podem ser usadas como vetores genéticos e são

associadas a um efeito benéfico em terapias contra o câncer. Estudos recentes, envolvendo

engenharia genética, aumentaram o interesse neste tipo de tratamento, já que a bactéria

modificada demonstra capacidade de localizar o tecido com tumor, podendo ser usada como

“cavalos de Tróia” para entregar moléculas em áreas inacessíveis para outros tipos de

tratamento, além de apresentar efeito oncolítico (73). Vetores bacterianos apresentam alta

eficiência e baixo custo, sendo mais práticos em relação a outras alternativas, como os vetores

virais. Além disto, o sistema de cultivo bacteriano já é usado em indústrias de biotecnologia,

sendo assim, a infraestrutura necessária para a produção de vetores bacterianos já existe e pode

ser usada com baixo custo (73).

Já foi demonstrado que a terapia bacteriana pode regredir o tumor e promover

sobrevivência em modelo murino, porém, para que este tratamento seja usado em humanos,

pontos importantes precisam ser considerados. Dentre estes pontos estão a toxicidade intrínseca

da bactéria, a eficiência em chegar ao alvo, a instabilidade genética, a incompatibilidade com

outras terapias etc. Também seria necessário definir a dose suficiente para induzir os efeitos

terapêuticos sem apresentar toxicidade sistêmica, tendo em foco, principalmente, os pacientes

imunocomprometidos (74). Controlar a virulência bacteriana é essencial para garantir a

segurança de seu uso no tratamento em humanos. Todos estes desafios podem ser resolvidos

com técnicas de biologia molecular, pela manipulação de vários fatores, como por exemplo a

introdução de deleções gênicas que afetam o metabolismo bacteriano e/ou a virulência. Além

disso, bactérias podem ser utilizadas como vetores de moléculas imunomoduladoras ou tóxicas

para células tumorais, que podem ser carreadas por genes plasmidiais onde o número de cópias

é controlado, assim como o tipo de promotor (constitutivo ou induzível) utilizado na construção

da linhagem recombinante (74). Para determinar quais modificações genéticas podem ser

realizadas em uma bactéria para aumentar a eficiência desta no tratamento anticâncer é

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necessário uma série de knockouts em genes de patogenicidade, sendo que em pouco tempo,

linhagens bacterianas poderão ser desenvolvidas para diagnose precoce de câncer,

sensibilização do sistema imune, tratamento de tumores primários e de metástases e tratamento

complementar em quimioterapia. Uma vantagem do tratamento bacteriano é a flexibilidade

genética das bactérias, o que permite que estas sejam modificadas para se obter efeitos

terapêuticos mais eficazes, alcançando diferentes locais de tumor e controlando sua

citotoxicidade. Cada vez mais aperfeiçoada, a terapia microbiana está se tornando uma

ferramenta promissora no tratamento anticâncer, detectando, prevenindo e tratando tumores e

metástases (74).

A presença e a replicação de bactérias no interior dos tumores deve-se a um processo

infeccioso propagado pela vascularização e a capacidade da bactéria de sobreviver e crescer em

ambiente com pouco oxigênio mediante a presença de nutrientes, principalmente os

encontrados nas regiões necróticas, como as purinas (75, 76). Além disso, a atração química de

bactérias por compostos presentes em regiões necróticas (aspartato, serina, citrato, ribose,

galactose etc.) produzidos por células cancerosas dormentes, a angiogênese exagerada na região

do tumor e a supressão imunológica local, têm sido sugeridos como fatores que contribuem

para a sobrevivência e replicação bacteriana em tumores (75).

Várias espécies bacterianas, incluindo Salmonella enterica, Listeria monocytogenes e

Escherichia coli, são avaliadas como vetores viáveis (77-83). Neste contexto, pode-se destacar

S. enterica, que tem eficiência em tratamento antitumoral, perfil de segurança em modelo

murino, tropismo para tecidos tumorais e capacidade de transportar e expressar genes

codificadores de inibidores de angiogênese, toxinas e citocinas que oferecem resposta às células

neoplásicas (75, 84).

1.7 Salmonella e câncer

O gênero Salmonella faz parte da família Enterobacteriaceae e é composto por espécies

de bactérias Gram-negativas, anaeróbias facultativas e geralmente flageladas. Dentre estas

espécies está a Salmonella enterica, que causa infecções instestinais e/ou extraintestinais em

humanos após ingestão de água ou alimentos contaminados (85, 86). A dose infectante média

suficiente para iniciar infecções clínicas ou sub-clínicas em humanos varia de 105 a 1010

microrganismos dependendo da sorovariedade de S. enterica ingerida e o estado imunológico

do hospedeiro (87). S. enterica é uma das bactérias mais estudadas em modelos de terapia

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bacteriana para tratamento do câncer e, dentre os diversos sorovares desta espécie, S. enterica

Typhimurium atenuada é o mais estudado para o uso como agente imunoterapêutico, sendo que

este sorovar pode causar um tipo de infecção em camundongos que mimetiza as infecções

extraintestinais em humanos (71, 88). Em diferentes estudos, esta bactéria tem se mostrado

eficiente na imunomodulação em tratamento de câncer pela indução dos sistemas imunes inato

e adaptativo, além de apresentar citotoxicidade intrínseca com efeito oncolítico. Sua utilidade

neste tipo de tratamento foi demonstrada em diferentes estudos pré-clínicos e clínicos (71). A

atividade antitumoral promovida por S. enterica deve-se à dois fatores principais: a sua

toxicidade direta em células de câncer e a sua imunogenicidade. O seu efeito citotóxico direto

ocorre por indução de apoptose e autofagia nas células tumorais por diferentes mecanismos,

que ainda não foram completamente elucidados (89). Alguns destes mecanismos estão

associados ao acúmulo de bactérias na região afetada e competição por nutrientes, ao efeito de

toxinas secretadas por S. enterica, à ação enzimática de proteínas liberadas após a ruptura

bacteriana e à inibição de fatores de transcrição associados à angiogênese (71, 80). Foi descrito

que S. enterica é capaz de invadir e matar diferentes linhagens de células tumorais em menos

de duas horas (90). Quando aderidas às células tumorais, S. enterica pode se romper liberando

componentes celulares com ação anti-tumoral, como a enzima nitrato redutase, que reduz

nitratos e nitritos presentes nas regiões hipóxicas em óxido nítrico (NO), induzindo apoptose

nas células cancerosas (91, 92). S. enterica regula a formação de novos vasos sanguíneos no

microambiente tumoral reduzindo a expressão do fator de crescimento vascular endotelial

(Vascular endothelial growth factor - VEGF) e do fator 1-alfa induzível por hipóxia (Hypoxia-

inducible factor 1-alpha - HIF-1α) pela inibição da via da proteína quinase B fosforilada/Alvo

Mamífero de Rapamicina fosforilado (Phosphorylated protein kinase B/Phosphorylated

Mammalian Target of Rapamycin - P-AKT/P-mTOR) e da via de sinalização AKT (93). Além

de reduzir a angiogênese, a inibição da via de AKT/mTOR resulta na indução do processo de

autofagia em melanoma (94).

Além da atividade oncolítica intrínseca de S. enterica, outra estratégia para combater o

câncer usando esta bactéria é a sensibilização da imunidade inata e adaptativa, alterando as

características imunossupressivas do microambiente tumoral. Em 1982, foram realizados os

primeiros estudos abordando a capacidade imunoterapêutica de S. enterica Typhimurium, com

o uso de vesículas para o tratamento de sarcoma em modelo murino. O tratamento restaurou a

atividade quimiotáxica dos macrófagos no microambiente tumoral, inibindo o crescimento dos

tumores (95). A partir de então, vários estudos avaliaram a característica imunomodulatória da

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Salmonella. A terapia bacteriana com S. enterica é capaz de induzir resposta imune pela

ativação de TLRs que reconhecem PAMPs, como LPS e flagelos, estimulando as vias MyD88

e TRIF dependentes. A ativação destas vias induz a produção de citocinas como o TNFα, IFNγ,

interleucina 1 beta (IL-1β) e interleucina 6 (IL6), recrutando células da resposta imune como

NK, neutrófilos, macrófagos, células dendríticas, linfócitos T CD8+ e linfócitos B para a região

tumoral (71, 89, 96, 97). Em modelo murino de adenocarcinoma de mama, o tratamento com

S. enterica reduz o crescimento tumoral e prolonga a vida dos animais testados com o estímulo

para liberação de calreticulina (CALR), proteína envolvida na via de morte celular imunogênica

e pelo aumento da expressão de IFNγ e IL-1β (98). A S. enterica, reduzindo a quantidade de

linfócitos T regulatórios CD4+ e CD25+ e dos níveis da enzima Indoleamina 2,3-dioxigenase

(IDO1), reverte a tolerância imune gerada pelo câncer no microambiente tumoral. Este

mecanismo de imunogenicidade deve-se à presença de LPS e lipoproteína de Braun na bactéria

(71).

A eficiência das propriedades de toxicidade intrínseca e imunogenicidade de S. enterica

em ambiente tumoral depende do tropismo desta bactéria pelo tumor e da sua capacidade de

penetração no tecido tumoral e invasão das células cancerosas. Algumas linhagens atenuadas

apresentam a capacidade de colonizar preferencialmente as regiões afetadas pelo câncer, sendo

encontradas em tumores numa proporção 1000 vezes maior do que em órgãos saudáveis (99).

O mecanismo de tropismo tumoral de S. enterica ainda não é completamente conhecido, porém,

sabe-se que a bactéria é atraída quimicamente, inicia a penetração no tecido tumoral e atinge a

região necrótica do tumor pela ativação de receptores de aspartato, serina e ribose/galactose

(100, 101). A região necrótica do tumor é formada pela alta taxa de morte celular associada ao

crescimento descontrolado de células que não acompanha a disposição de nutrientes e oxigênio

(71). A baixa concentração de oxigênio, ou hipóxia, nas regiões necróticas dos tumores também

é usada na localização do câncer pelas bactérias anaeróbicas ou anaeróbicas facultativas, como

S. enterica (71). Além da hipóxia, nutrientes presentes nas regiões necróticas tumorais

permitem que a colonização bacteriana seja eficiente nesses locais e evitam que as bactérias

sejam eliminadas facilmente pelo sistema imune do hospedeiro (102).

Todas as características que tornam S. enterica Typhimurium uma potencial alternativa

no tratamento imunoterápico de câncer (Tropismo pelo tumor, capacidade de penetração

intratumoral, citotoxicidade intrínseca em células tumorais, capacidade de inibição da

angiogênese, imunogenicidade) podem ser manipuladas geneticamente, na construção de um

mutante eficiente na eliminação do câncer e ao mesmo tempo, atenuado, considerando a

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virulência desta bactéria e visando diminuir os efeitos adversos deste tipo de tratamento. A

atenuação de S. enterica por manipulação genética tem sido realizada pela deleção de genes

associados à integridade da camada de LPS e ao metabolismo bacteriano de nutrientes

essenciais, reduzindo a virulência e capacidade de sobrevivência destes mutantes após a

inoculação no hospedeiro (89). Os mutantes atenuados de S. enterica mais estudados quanto ao

efeito imunomodulatório em modelos in vivo são as linhagens VNP20009, A1-R, SHJ2037 e

χ4550. O mutante VNP20009 tem deleções no gene msbB (Lipid A biosynthesis

myristoyltransferase), relacionado à estrutura do lipídeo A, reduzindo a toxicidade e

imunogenicidade do LPS bacteriano, e no gene purI (Phosphoribosylaminoimidazole

synthetase), necessário para síntese de adenina, uma purina essencial para o microrganismo

(89). O mutante A1-R foi atenuado por deleções nos genes leu e arg, responsáveis pela síntese

de leucina e arginina. A linhagem SHJ2037 foi atenuada pela deleção dos genes relA (GTP

pyrophosphokinase) e spoT ((P)ppGpp synthetase II), relacionados à produção de ppGpp

(Guanosine tetraphosphate), uma molécula sinal que regula a adaptação bacteriana à ambientes

extremos. Por fim, a linhagem χ4550, em que foram deletados os genes cya (Adenilate cyclase)

e crp (Cyclic adenosine monophosphate (cAMP) activated receptor protein), que codificam

adenosina 3',5'-monofosfato cíclico e seu receptor, proteínas importantes na transdução de sinal

celular (89). Dentre estes mutantes, destacam-se as linhagens VNP20009 e χ4550, que foram

usadas em estudos clínicos para tratamento de melanoma metastático, carcinoma de células

escamosas e carcinoma hepatocelular (103-106). Nestes estudos, foi observado a ausência de

toxicidade destas linhagens e o tropismo bacteriano pelas regiões tumorais em alguns dos

tratamentos, porém, não houve relato de melhora no quadro clínico de nenhum dos pacientes

(103-106). Também foram estudados mutantes com deleção nos genes aro, envolvido na

biossíntese de anéis aromáticos, phoP/phoQ, que regula a patogenicidade de S. enterica e

aumenta sua sobrevivência dentro de macrófagos, purA, envolvido na síntese de purinas, htrA,

relacionado à sobrevivência bacteriana em ambiente estressantes entre outros (89). A

manipulação genética de S. enterica tem se mostrado uma útil ferramenta na construção de

linhagens atenuadas para imunoterapia do câncer, permitindo que esta alternativa possa ser

testada em segurança até mesmo em humanos. Com o avanço da engenharia genética de

microrganismos, em breve será possível encontrar um equilíbrio entre virulência e

imunogenicidade bacteriana, possibilitando o desenvolvimento de uma linhagem ideal para o

tratamento imunomodulatório de diferentes tipos de câncer. Uma das abordagens que podem

ser usadas na atenuação bacteriana para o uso imunoterápico de S. enterica é a construção de

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mutantes nulos para proteínas associadas ao nucleóide, que regulam a expressão de diversos

genes, incluindo genes codificadores de fatores de patogenicidade.

1.8 Proteínas associadas ao nucleóide bacteriano (NAPs) e o fator de integração ao

hospedeiro (IHF)

Uma série de mecanismos, incluindo o enovelamento do DNA, permite que o

cromossomo bacteriano seja compactado. Em bactérias, essa compactação é realizada por meio

de proteínas de baixo peso molecular que desempenham papel semelhante as histonas

eucarióticas, associando-se ao nucleóide e influenciando na topologia do DNA bacteriano

(107). Essas proteínas são descritas como associadas ao nucleóide bacteriano ou NAPs

(Nucleoid-associated proteins). Apesar de possuírem função semelhante às histonas, as NAPs

bacterianas não formam complexos análogos aos nucleossomas com o DNA (108). Além de

compactar o material genético bacteriano, a associação das NAPs com o DNA, regula a

replicação, a recombinação, o reparo e a transcrição genética, tendo assim, influência na

patogenicidade bacteriana (109, 110). Algumas NAPs ligam-se de forma não específica ao

DNA e tem a capacidade de proteger e manter a sua integridade (111). Além de ter influência

sobre a arquitetura do DNA, as NAPs também desempenham um importante papel na regulação

transcricional de genes que respondem ao estresse devido à mudanças ambientais (109, 110).

A composição proteica do nucleóide bacteriano não é estática e reflete as necessidades celulares

para que a célula se adapte às diversas condições ambientais (112). Na família

Enterobacteriaceae, pelo menos 12 diferentes proteínas foram classificadas como NAP, sendo

que as mais estudadas são IHF (Integration host fator), HU (Heat unstable), FIS (Factor for

inversion stimulation), H-NS (Histone-like nucleoid structuring protein) e DPS (DNA

protection during starvation protein) (113-117).

A proteína IHF foi descrita pela primeira vez em Escherichia coli, como essencial para

a integração e excisão sítio-específica do bacteriófago Lambda (118, 119). Esta proteína é

composta pelas subunidades IHF-α e IHF-β, que têm 25% de homologia entre si e podem

formar tanto heterodímeros quanto homodímeros (120). A forma ativa predominante é a

heterodimérica (αβ), embora os homodímeros αα e ββ também sejam biologicamente ativos

(115, 121). As subunidades α e β, codificadas pelos genes ihfA e ihfB, têm a expressão

aumentada na fase estacionária de crescimento. Estes genes estão localizados em regiões

diferentes do cromossomo bacteriano, sendo regulados independentemente (121, 122). Para

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26

regular a expressão genética, o IHF realiza alterações importantes na topografia do DNA

bacteriano, podendo introduzir curvaturas de até 180º, compactando o DNA em até 30% (108,

111, 116, 117, 121). Esta proteína se associa à sítios especificamente localizados entre regiões

de ligação de proteínas reguladoras e regiões promotoras. Ao “dobrar” o DNA, o IHF

proporciona o contato da RNA Polimerase com estas duas regiões, formando o complexo

proteína reguladora/RNA polimerase/região promotora (123). Em S. enterica, IHF regula

positivamente a expressão de genes relacionados à ilhas de patogenicidade bacteriana (SPIs),

genes presentes em plasmídeos de virulência, como o spv (Salmonella plasmid virulence), genes

relacionados ao flagelo e à quimiotaxia desta bactéria, além de outros genes relacionados à

patogenicidade bacteriana (121). IHF é capaz de influenciar a ação e a expressão de outras

NAPs, suprimindo o efeito silenciador de H-NS e estimulando a expressão de FIS, que atua na

inversão de fase flagelar em S. enterica (124, 125). Como IHF é considerado um regulador

global da transcrição genética em E. coli e S. enterica, a deleção dos genes ihfA e ihfB leva à

alteração na expressão de diferentes genes de virulência, reduzindo a patogenicidade destas

bactérias (121, 126).

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27

2. JUSTIFICATIVA

Já foi observado que algumas linhagens atenuadas de S. enterica, que atualmente vem

sendo objeto de estudo no Laboratório de Genômica e Biologia Molecular Bacteriana

(Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes, Instituto de Biologia, UNICAMP) sob a

supervisão do Prof. Dr. Marcelo Brocchi, apresentam ação vacinal no tratamento de processos

infecciosos (127) e efeito antitumoral no tratamento de câncer em modelo murino (128). Neste

trabalho, bactérias atenuadas e violaceína foram avaliadas pela primeira vez como

imunomoduladores para o tratamento de câncer de bexiga não músculo invasivo em modelo

murino. O modelo animal para a indução e estudo do câncer de bexiga foi padronizado pelo

grupo de pesquisa do Prof. Dr. Wagner José Fávaro do Laboratório de Carcinogênese

Urogenital e Imunoterapia (Departamento de Biologia Estrutural e Funcional, Instituto de

Biologia, UNICAMP). O uso da violaceína foi padronizado em outros estudos realizados pelo

nosso grupo (Igor Alexandre Campos Damiani, Proc. FAPESP 09/12659-1). Este estudo visa

demonstrar mecanismos de imunogenicidade ativados pelo tratamento com composto já

conhecido e bactérias atenuadas. Os resultados obtidos poderão auxiliar no desenvolvimento de

novas alternativas para o tratamento de pacientes com câncer de bexiga, com maiores chances

de reparo tecidual e menores chances do retorno do tumor após o tratamento.

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

28

3. OBJETIVOS

Avaliar o efeito antitumoral e a resposta inflamatória desencadeada pela ação de

Salmonella enterica atenuada e da violaceína em modelo murino de câncer de bexiga,

estabelecendo os possíveis mecanismos envolvidos na ativação do sistema imune.

3.1 Objetivos específicos

• Construir mutante ΔihfAΔihfB utilizando como background genético a linhagem de S.

enterica Typhimurium ATCC 14028;

• Confirmar a atenuação em modelo murino de infecção;

• Determinar a IC50 da violaceína em culturas de células ATCC 5637, derivadas de câncer

de bexiga;

• Avaliar o efeito dessas mutações na invasão, sobrevivência e multiplicação intracelular

de S. enterica ATCC 14028ΔihfAΔihfB em ATCC 5637;

• Comparar a eficácia dos diferentes tratamentos (S. enterica ATCC 14028ΔihfAΔihfB,

violaceína e S. enterica ATCC 14028ΔihfAΔihfB + violaceína) no tratamento de câncer

de bexiga induzido em modelo murino, comparando com o tratamento com BCG;

• Iniciar a caracterização dos possíveis mecanismos envolvidos na ativação do sistema

imunológico pelos diferentes tipos de tratamentos;

• Caracterização prévia da atividade da violaceína sobre linhagens celulares de câncer de

próstata.

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

29

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Linhagem bacteriana e atenuação

Foi usada a linhagem S. enterica Typhimurium ATCC 14028, que foi gentilmente

cedida pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz, RJ. Esta linhagem foi atenuada com a deleção

dos genes ΔihfA e ΔihfB (IHF - Integration Host Factor).

4.2 Meios de Cultura

Para o cultivo bacteriano, foram utilizados os meios de cultivo: Luria-Bertani (LB), LB-

Ágar (LBA), MacConkey e Salmonella-Shigella (SS). Os antibióticos: Ampicilina (100mg/ml),

Cloranfenicol (25mg/ml) e Tetraciclina (15mg/ml) foram usados quando necessário (129). As

linhagens bacterianas utilizadas foram estocadas a -80ºC em meio LB com 15% de Glicerol

(129). Para o cultivo de células uroteliais, foi usado o meio RPMI (Roswell Park Memorial

Institute).

4.3 Plasmídeos e técnicas básicas de biologia molecular

Os plasmídios pKD46, pKD3 e pCP20, pertencentes ao sistema de recombinação Red

(130), foram mantidos em linhagens de E. coli BW25113, DH10β e BW25141 estocadas em

meio LB com glicerol 15% em Biofrezzer a -80°C. O plasmídio pACYC184 (New England

Biolabs, USA) foi utilizado na complementação dos mutantes. A extração e preparação do DNA

plasmidial foi realizada utilizando kits comerciais para purificação de plasmídeos QIAprep®

Spin Miniprep (QIAGEN, Hilden, Alemanha). A extração do DNA genômico e as reações de

amplificação de DNA seguiram protocolos padrões (129). As concentrações de Mg2+, DNA e

as condições do ciclo foram otimizadas para cada caso. Os plasmídeos que compõem o sistema

Red foram gentilmente cedidos pelo Dr. Barry L. Wanner (Department of Biological Sciences,

Purdue University, West Lafayette, USA). Nosso laboratório está credenciado e autorizado pela

CTNBio e CIBio de nossa instituição para trabalhar com microrganismos geneticamente

modificados de nível II, como é o caso de S. enterica Typhimurium.

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

30

4.4 Construção de mutante de S. enterica

O mutante ΔihfAΔihfB foi construído por deleção de genes utilizando o sistema Red

(130) e por transdução utilizando fago P22.

4.4.1 Eletrocompetência

Para eletrocompetência, um pré-inóculo de S. enterica Typhimurium 14028 selvagem

foi feito em 3ml de caldo LB, que foi incubado a 37°C por 16-18 horas. A quantidade de 100μl

deste pré-inóculo foi misturada em 100ml de meio LB, que foi incubado com agitação de

150rpm a 37°C, até a DO600 atingir entre 0,6 e 0,8. O cultivo foi então incubado em gelo por 15

minutos. Após esse tempo, a suspensão de bactérias foi centrifugada a 1000xg por 15 minutos

a 4°C (Eppendorf 5804R Rotor F-34-6-38). O sedimento de bactérias foi ressuspendido em

20ml de água estéril gelada. A suspensão foi novamente centrifugada a 1000xg por 15 minutos

a 4°C. O sedimento foi ressuspendido em 20ml de glicerol 10% esterilizado e gelado. A

suspensão foi novamente centrifugada a 1000xg por 15 minutos a 4°C. Após descartar o

sobrenadante, foram feitas alíquotas de 40μl de suspensão bacteriana concentrada em glicerol

10%. Estas alíquotas de células eletrocompetentes foram usadas em seguida para eletroporação

do plasmídeo pKD46. As que não foram usadas foram congeladas imediatamente em nitrogênio

líquido e mantidas a -80°C.

Para a deleção gênica, um pré-inóculo feito a partir da linhagem contendo o plasmídeo

pKD46 foi incubado a 30°C por 16-18 horas. A quantidade de 100μl deste pré-inóculo foi

misturada em 100ml de meio LB com ampicilina e com L-arabinose (2mM), que foi incubado

com agitação de 150rpm a 30°C, até a DO600 atingir entre 0,6 e 0,8. Em seguida, alíquotas

dessas preparações em glicerol 10% foram realizadas como já descrito e usadas para

eletroporação do fragmento linear para a construção dos mutantes.

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

31

4.4.2 Amplificação dos fragmentos lineares (Cassetes de recombinação)

Os fragmentos lineares para deleção dos genes ihfA e ihfB foram construídos usando o

plasmídeo pKD3 como molde em PCR com 30 ciclos e temperatura de anelamento de 66°C.

Os iniciadores usados foram desenhados para complementar a região do pKD3 adjacente ao

gene de resistência ao cloranfenicol e a região genômica bacteriana adjacente aos genes de

interesse (Tabela 1). Após a amplificação dos fragmentos, o amplicon foi tratado com enzima

de restrição DpnI (New England Biolabs), para digestão de DNA metilado. Após este

tratamento, o material foi dializado para uma maior purificação desses fragmentos.

4.4.3 Transdução com fagos P22Hint

Pré-inóculos foram feitos com as bactérias “doadoras”, que continham as mutações

simples no gene ihfA ou no gene ihfB inseridas usando o sistema Red. Estes pré-inóculos

foram feitos em 3ml de LB com cloranfenicol e foram incubados a 37°C com agitação de

150rpm, por 16-18 horas. Após a incubação, 500μl do pré-inóculo foi misturado à 2ml de

suspensão de fagos (109 unidades formadoras de placa - UFP) e incubado a 37°C por 24 horas.

Ao mesmo tempo, foi feito um pré-inóculo da bactéria “receptora” S. enterica Typhimurium

14028 selvagem em 3ml de LB e foi incubado a 37°C com agitação de 150rpm, por 16-18 horas.

Em seguida, 1,5ml da suspensão de células “doadoras” e fagos foram transferidos para

microtubos de 2ml. Então, 50μl de clorofórmio foram adicionados à suspensão, que após

homogeneização, foi centrifugada em velocidade máxima (12000rpm, Eppendorf 5804R Rotor

F-34-6-38) por 4 minutos e filtrada em filtro de seringa (0,22μm). Em um microtubo limpo,

foram misturados 100μl do pré-inóculo de bactérias “receptoras” e 10μl de suspensão filtrada

(suspensão de fagos). Este microtubo foi incubado a 37°C por 15 minutos sem agitação e após

este tempo, o volume do microtubo foi completado para 1ml com meio LB e incubado

novamente por mais 15 minutos à 37°C sem agitação. A mistura foi então centrifugada, o

sobrenadante foi descartado e o sedimento de bactérias ressuspenso e transferido para placas de

LBA com cloranfenicol. No dia seguinte as colônias que cresceram foram repassadas para uma

placa de LBA com cloranfenicol e a partir das colônias crescidas nesta placa, foram realizadas

as reações de PCR, usando iniciadores de detecção, para confirmação da mutação nos genes

ihfA e ihfB, desta vez por transdução. Este passo é importante para evitar a seleção de mutantes

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

32

com mutações secundárias durante o processo de recombinação com o sistema Red e/ou clones

com LPS incompleto. As linhagens recombinantes foram testadas em meio MintGreen para a

seleção de linhagens livres de fago P22 (131).

4.4.4 Complementação

Após a confirmação da ausência dos fagos, o mutante simples ΔihfA foi complementado

pela introdução do plasmídeo pACYC184 carreando o gene ihfA inserido de forma a

interromper a sequência do gene cat (cloranfenicol acetil-transferase) (132). Assim, este

plasmídeo conferia resistência apenas à tetraciclina. A complementação deste mutante foi

necessária porque IHF é essencial para que ocorra a integração e a excisão do fago Lambda no

genoma bacteriano, sendo que sua ausência dificulta a construção do duplo mutante pelo

sistema Red, pois este passo também requer um sistema de recombinação funcional. Portanto,

células eletrocompetentes foram feitas a partir do mutante simples S. enterica Typhimurium

14028 ∆ihfA:cat. Estas células foram usadas em seguida para eletroporação do plasmídeo

pACYC184 modificado.

4.4.5 Eletroporação

A quantidade de 100 a 200ng dos plasmídeos pKD46, pCP20, pACYC184 ou dos

fragmentos lineares foram adicionados à alíquota de 40μl de células eletrocompetentes. A

mistura foi transferida para cubeta de eletroporação de 1mm (BioRad, USA) esterilizada,

previamente incubada em gelo. A cubeta foi posicionada em eletroporador Gene Pulser XCell

(BioRad, USA) e um pulso elétrico de 1,8kV, 25µF e 200Ω foi aplicado. Após a eletroporação,

750μl de meio LB em temperatura ambiente foram adicionados à cubeta. A suspensão foi

homogeneizada e transferida para microtubo de 1,5ml, que foi incubado a 30°C por 1 hora.

Após este tempo, a suspensão foi centrifugada a 10.000rpm (Eppendorf 5804R Rotor F-34-6-

38) por 5 minutos e o sedimento bacteriano foi cultivado em placa de LBA com ampicilina a

30°C durante a noite. No dia seguinte as colônias que cresceram foram repassadas para caldo

LB com ampicilina e as culturas foram incubadas durante a noite a 30°C. O cultivo foi usado

para fazer estoque em LB com glicerol 15% que foi mantido a -80°C.

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

33

4.4.6 Eliminação da resistência ao cloranfenicol com o plasmídeo pCP20

No mutante complementado S. enterica Typhimurium 14028 ∆ihfA:cat

pACYC184:ihfA:tc foi possível inserir o plasmídeo pCP20 para retirada do gene de resistência

ao cloranfenicol. Para isso, foram feitas células eletrocompetentes a partir do mutante S.

enterica Typhimurium 14028 ∆ihfA:cat pACYC184:ihfA. Estas células eletrocompetentes

foram eletroporadas com o plasmídeo pCP20, que contém genes de resistência à ampicilina e

ao cloranfenicol, origem de replicação termossensível e carrega gene codificador de

recombinase responsável pelo evento de recombinação/deleção do cassete cromossômico de

resistência ao cloranfenicol. Após eletroporação, as bactérias foram cultivadas em placa de

LBA com ampicilina a 30°C durante a noite. Em seguida, as colônias foram cultivadas em placa

LBA, à 43°C por 16-18 horas. A partir deste cultivo, as amostras foram repassadas para placas

de LBA com tetraciclina, ampicilina, cloranfenicol ou sem antibióticos, que foram incubadas a

37 °C. As amostras que cresceram apenas nos meios sem antibióticos foram consideradas

mutantes S. enterica Typhimurium 14028 ∆ihfA sem resistência a cloranfenicol e livre do

plasmídeo que complementava a deleção. A presença de “cicatriz genômica” nestas amostras,

ou seja, a sequência remanescente após o evento de recombinação/deleção de cat, foi

confirmada por PCR, usando os primers ihfA DT para detecção.

4.4.7 Construção de Duplo Mutante S. enterica ATCC14028 ∆ihfAihfB

A amostra de S. enterica Typhimurium 14028 ∆ihfA sem resistência ao cloranfenicol

foi usada como “receptora” para receber por transdução com fago P22Hint a mutação ihfB, a

partir de mutante simples S. enterica Typhimurium 14028 ∆ihfB:cat, usada como “doadora”.

Para isso, foi realizada o procedimento de transdução como descrito anteriormente. A

construção do duplo mutante S. enterica Typhimurium 14028 ∆ihfA∆ihfB:cat foi confirmada

por PCR utilizando iniciadores flanqueando a região deletada (Tabela 1).

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS LUIZ HENRIQUE …

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Tabela 1: Iniciadores utilizados para a construção e detecção das deleções em ihfA e ihfB.

com sequências complementares ao genoma da S. enterica 14028 e ao plasmídeo pKD3.

Iniciador Sequence

ihfA mut Foward TTAAAAGAGCGATTCCAGGCATCATTGAGGGATTGAACCTCATATGAATATCCTCCTTAGTTC

ihfA mut Reverse TGCCGCAATACACCCTGATGGATGTTATGCCTGGATCTGAGTGTAGGCTGGAGCTGCTTC

ihfB mut Foward CAGCCAATTTGCCTTTAAGGAACCGGAGGAATCATGACCAAGGTGTAGGCTGGAGCTGCTTC

ihfB mut Reverse TTTTTCGGGTTCAAGTTTTGCGTTAAAACTTAACCGTAAATCATATGAATATCCTCCTTAGTTC

ihfA DT Foward GCGTGATTTTACGGTGGGTA

ihfA DT Reverse TTGCGGAGGGTTATAAGAGC

ihfB DT Foward TTTCGGTCGAATAGCGTTT

ihfB DT Reverse GTTTCGGCCTGTAATCAAGC

4.5 Animais experimentais

Para a confirmação da atenuação do duplo mutante, foi realizado ensaio de

sobrevivência in vivo com 30 camundongos BALB/cAnUnib fêmeas de 6 a 10 semanas de

idade. A linhagem BALB/cAnUnib foi escolhida por ser mais frequentemente usada como

modelo na avaliação da patogenicidade de S. enterica Typhimurium. Para o modelo de câncer

de bexiga foram utilizados 30 camundongos fêmeas da linhagem C57BL/6J, na faixa etária de

7 semanas, pesando em média 20 gramas. Todos os animais foram obtidos do Centro

Multidisciplinar para Investigação Biológica na Área de Ciência em Animais de Laboratório

(CEMIB - UNICAMP). Os animais de todos os grupos experimentais receberam água e a

mesma dieta sólida ad libitum (Nuvilab, Colombo, PR, Brasil), sendo mantidos em

microisoladores em racks ventilados (ALESCO) em salas com temperatura, fotoperíodo e

humidade controladas. Os protocolos envolvendo ensaios in vivo foram aprovados pelo Comitê

de Ética em pesquisa com animais (CEUA) da Unicamp sob os números 4643-1/2017 e 4297-

1/2016 sendo seguidas todas as normas do CONCEA (Conselho Nacional de Controle de

Experimentação Animal) para o cuidado e o uso de animais de laboratório.

4.6 Confirmação da atenuação in vivo

A atenuação do mutante duplo S. enterica Typhimurium 14028 ∆ihfA∆ihfB:cat foi

confirmada por ensaio de sobrevivência. Neste ensaio, suspensões de bactérias mutantes e

selvagens foram inoculadas por via intragástrica com o uso de uma agulha de gavagem

(CA2800, 22GA, 1mm, curvatura 8°). Os animais foram divididos nos seguintes grupos

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35

experimentais: Grupo controle: uma dose intragástrica de 0,1ml de PBS (Phosphate Buffered

Saline) (129); Grupo 1: uma dose intragástrica de 0,1ml de suspensão bacteriana contendo

7,5x102 unidades formadoras de colônia (UFC) de S. enterica Typhimurium 14028 selvagem;

Grupo 2: uma dose intragástrica de 0,1ml de suspensão bacteriana contendo 7,5x103 UFC de S.

enterica Typhimurium 14028 selvagem; Grupo 3: uma dose intragástrica de 0,1ml de suspensão

bacteriana contendo 7,5x104 UFC de S. enterica Typhimurium 14028 selvagem; Grupo 4: uma

dose intragástrica de 0,1ml de suspensão bacteriana contendo 7,5x105 UFC de S. enterica

Typhimurium 14028 selvagem; Grupo 5: uma dose intragástrica de 0,1ml de suspensão

bacteriana contendo 7,5x108 UFC de S. enterica Typhimurium 14028 mutante ∆ihfA∆ihfB:cat.

Os animais foram observados por 30 dias após o inóculo.

4.7 Integridade da camada de LPS

A integridade da camada de lipopolissacarídeos (LPS), importante para a

imunogenicidade bacteriana, também foi confirmada em eletroforese em gel de poliacrilamida

(PAGE) (133, 134). O LPS bacteriano foi extraído e concentrado para corrida em PAGE por

centrifugação de suspensão bacteriana a 10000rpm por 1,5 minutos seguida da homogeneização

do sedimento bacteriano com 50µl de tampão Laemmli (Tris-HCl, pH 6.8 0,625M, glicerol

25%, SDS 2%, e azul de bromofenol 0,01%). À esta suspensão, foram adicionados 10µl de

proteinase K (2,5mg/ml) e o material foi incubado à 60°C por 1 hora. A suspensão foi então

aplicada em gel de poliacrilamida 12% que foi submetido à uma voltagem constante de 100V

por 1 hora e 40 minutos. Após a corrida o gel foi imerso em solução fixadora (Etanol 40% e

ácido acético 5%) por 24 horas, e, em seguida, em solução oxidante (Etanol 40%, ácido acético

5% e ácido periódico 0,7%) por 5 minutos. O gel foi lavado por imersão e agitação constante

em água destilada por 10 minutos. A lavagem foi repetida 3 vezes. O gel foi então tratado em

solução corante de prata (NaOH 0,02M, hidróxido de amônio 1,5% e nitrato de prata 0,7%) por

10 minutos em agitação. Após esse tempo, o gel foi lavado como descrito anteriormente e as

bandas foram reveladas em solução reveladora (Formaldeído 0,02% e ácido cítrico 0,005%)

com agitação. A intensidade da coloração foi controlada manualmente, sendo a coloração

interrompida por processo de lavagem em água destilada. Após coloração, o gel foi fotografado

e imerso em solução de conservação (Metanol 55% e glicerol 0,2%). Neste ensaio, foram

comparados os perfis eletroforéticos dos extratos de LPS de S. enterica ATCC 14028 selvagem,

S. enterica ATCC 14028 ΔihfA, S. enterica ATCC 14028 ΔihfB, S. enterica ATCC 14028

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ΔihfAΔihfB e, como controle negativo, de Pseudomonas aeroginosa com deleção do gene wzz,

gene essencial para a biossíntese da camada de LPS. A amostra de Pseudomonas aeroginosa

Δwzz foi gentilmente cedida pela Dra. Regina Lúcia Baldini (Departamento de bioquímica,

Instituto de química, Universidade de São Paulo, SP, Brasil).

4.8 Indução química do câncer de bexiga não-músculo invasivo

Para a indução do CBNMI, os animais foram anestesiados com Cloridrato de Xilazina

2% (5mg/kg i.m.; König, São Paulo, Brasil) e Cloridrato de Ketamina 10% (60mg/kg, i.m.; Fort

Dodge, Iowa, EUA) por via intraperitonial. Após a anestesia foi instilada uma dose intravesical

de 1,5 mg/kg de N-etil-N-nitrosouréia (NNN - Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA) dissolvida

em PBS a cada 7 dias (semanas 1, 2 e 3), totalizando 3 doses. Os animais que não receberem

NNN foram considerados como Grupo Controle. Uma semana após a última dose de NNN

foram iniciados os tratamentos. Para as inoculações intravesicais foram usados cateteres

flexíveis 20 gauge (Abocath, São Paulo, Brasil).

4.9 Grupos experimentais

Os animais foram divididos nos seguintes grupos experimentais: Grupo controle: uma

dose semanal intravesical de 0,1 ml de PBS com DMSO (Dimetilsufóxido) 0,02% por 6

semanas consecutivas; Grupo câncer: Após indução química do câncer de bexiga, recebeu uma

dose semanal intravesical de 0,1 ml de PBS com DMSO 0,02% por 6 semanas consecutivas;

Grupo câncer + BCG: Após indução química do câncer de bexiga, recebeu uma dose semanal

intravesical de 105 UFC – 40 mg de BCG (Fundação Ataulpho de Paiva, Rio de Janeiro, Brasil)

diluída em 0,1 ml de PBS por 6 semanas consecutivas; Grupo câncer + violaceína: Após

indução química do câncer de bexiga, recebeu uma dose semanal intravesical de 1,5 mg/kg de

violaceína dissolvida em 0,1ml de PBS com DMSO 0,02% por 6 semanas consecutivas; Grupo

câncer + Salmonella: Após indução química do câncer de bexiga, recebeu uma dose semanal

intravesical de 105 UFC de S. enterica Typhimurium ATCC 14028 ∆ihfA∆ihfB:cat em 0,1 ml

de PBS por 6 semanas consecutivas; Grupo câncer + Salmonella + violaceína: Após indução

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37

química do câncer de bexiga, recebeu tratamento simultâneo com S. enterica Typhimurium

ATCC 14028 ∆ihfA∆ihfB:cat e violaceína 1,5mg/kg de acordo descrição anterior.

A violaceína usada neste trabalho foi extraída e purificada (grau de pureza de 95%) pelo

prof. Dr. Nelson Eduardo Duran Caballero do Laboratório de Nanotecnologia, UNICAMP. As

doses intravesicais nos diferentes grupos experimentais foram instiladas via cateter flexível 20

gauge (Abocath, São Paulo, Brasil). Após o tratamento, os animais foram eutanasiados e as

bexigas urinárias foram coletadas.

4.10 Colonização do trato urinário por S. enterica ATCC14028 ∆ihfAihfB:cat

Após inoculação de S. enterica ATCC14028 ∆ihfAihfB por via intravesical, a urina dos

animais foi coletada após uma semana para avaliar a colonização do trato urinário por esta

linhagem bacteriana. Amostras de urina foram inoculadas em meio SS e MacConkey para

detectar a presença de S. enterica.

4.11 Análise Histopatológica

Amostras da bexiga urinária de cada grupo experimental foram coletadas e fixadas em

Bouin (Ácido pícrico 1%, Formaldeído 10% e Ácido acético glacial 5%) por 24 horas. Após a

fixação, os tecidos foram desidratados por imersão em soluções de etanol em uma série

crescente de concentração de álcool (70, 80 e 100%). Após a desidratação, os tecidos foram

diafanizados em xilol por 2 horas e incluídos em polímeros plásticos (Paraplast Plus, ST. Louis,

MO, EUA). Em seguida, os materiais foram seccionados em micrótomo Biocut 1130 (Reichert-

Jung, Slee Orgentec Company, Munique, Alemanha) em cortes com 5µm de espessura, que

foram corados em Hematoxilina-Eosina e fotografados em fotomicroscópio Nikon Eclipse Ni-

U (Nikon, Tóquio, Japão) equipado com câmera Nikon DS-RI-1 (Nikon, Tóquio, Japão). As

lesões uroteliais foram classificadas conforme o estadiamento proposto pelo consenso da

Organização Mundial da Saúde / Sociedade Internacional de Patologia Urológica (135).

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38

4.11 Imunohistoquímica

Cortes com 5µm de espessura feitos em micrótomo rotativo Biocut 1130 (Reichert-

Jung, Slee Orgentec Company, Munique, Alemanha), coletados em lâminas silanizadas foram

utilizados para análise imunohistoquímica. Os cortes foram desparafinizados em estufa a 60°C

por 16-18 horas. Após a retirada da parafina, os cortes foram reidratados e a recuperação

antigênica foi realizada com a incubação do material em tampão citrato por 3 ciclos de 5

minutos no micro-ondas (Panasonic Piccolo style, Panasonic corporation, JP) em potência

máxima. Após o resfriamento das amostras em temperatura ambiente, os cortes foram lavados

3 vezes com TBS-T (Tris-Buffered Saline - Tween) por 5 minutos cada vez. A peroxidase

endógena foi bloqueada com H2O2 1% em metanol por 15 minutos. Os cortes foram novamente

lavados com TBS-T por 3 vezes de 5 minutos. Para o bloqueio de proteínas inespecíficas, os

cortes foram incubados com BSA (Bovine Serum Albumine) 3% diluído em TBS-T por 1 hora.

Após o bloqueio, os cortes foram incubados com anticorpos primários (Tabela 3) diluídos em

TBS-T com BSA 1% durante a noite a 4°C. O material foi então novamente lavado com TBS-

T por 3 vezes de 5 minutos e incubado com anticorpo secundário conjugado com HRP

(Horseradish Peroxidase), diluído em TBS-T com BSA 1% por 2 horas. O material foi lavado

novamente com TBS-T, 3 vezes por 5 minutos. Os antígenos foram revelados com solução

DAB (Tetra-Hidrocloreto de Diaminobenzidina 0,04% e Peróxido de hidrogênio 0,08% em

tampão PBS) em aproximadamente 20 segundos cada lâmina. As lâminas foram contra-coradas

com hematoxilina de Harris (Dinâmica química contemporânea®, SP, Brasil) por 25 segundos

e lavadas em água corrente por 5 minutos. O material foi então desidratado por imersão em

soluções de etanol em uma série crescente de concentração de álcool, como descrito

anteriormente. Os cortes foram então selados com lamínula e Entellan® New (Merck, USA),

analisados e fotografados em fotomicroscópio Nikon Eclipse Ni-U (Nikon, Tóquio, Japão)

equipado com câmera Nikon DS-RI-1 (Nikon, Tóquio, Japão). Todo o procedimento foi

realizado com suporte de lâminas e aspirador Aspiramax e nos passos de bloqueio de

peroxidases, incubação com anticorpos e revelação com DAB foi usado o Kit Super Sensitive

Polymer-HRP IHC Detection System (BioGenex, USA). Para avaliar a intensidade das

imunorreatividades dos antígenos, a porcentagem de células uroteliais positivas da bexiga

urinária foi examinada em dez campos para cada anticorpo com aumento de 400x usando o

programa ImageJ com o plugin ImmunoRatio (136). A intensidade da marcação foi graduada

em uma escala de 0-3, e expressa como 0 (ausência de imunorreatividade), 0% de células

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39

uroteliais positivas; 1 (fraca imunorreatividade), 1-25% de células uroteliais positivas; 2

(moderada imunorreatividade), 26-50% de células uroteliais positivas; 3 (intensa

imunorreatividade), acima de 50% de células uroteliais positivas.

Tabela 2: Anticorpos primários usados nas análises de Imunohistoquímica

Anticorpos Código/Procedência Diluição Nome

TLR2 BS1019R, Bioss, USA 1:100 Toll-like Receptor 2

TLR4 SC293072, Santa Cruz Biotech, USA 1:75 Toll-like Receptor 4

TNF-α SC1350, Santa Cruz Biotech, USA 1:75 Tumor Necrosis Factor α

NF-κB Ab7970, Abcam, USA 1:300 Nuclear Factor Kappa B

IL-6 SC1265, Santa Cruz Biotech, USA 1:75 Interleukin 6

IKK-α SC7218, Santa Cruz Biotech, USA 1:100 IκB Kinase complex subunit α

MyD88 SC11356, Santa Cruz Biotech, USA 1:50 Myeloid Differentiation Primary Response 88

4.12 Western Blotting

Amostras da bexiga urinária de alguns grupos experimentais: (Grupo câncer, grupo

câncer + violaceína, grupo câncer + Salmonella e grupo câncer + Salmonella + violaceína)

foram homogeneizadas em tampão de extração (Triton-x 1%, NaCl 150mM, Tris 10mM pH

7,4, EDTA 1mM, Hepes 1mM pH 7,6, PMSF 0,2 mM e 10 µL/ml de coquetel inibidor de

proteases (Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA). Os extratos de proteína da bexiga urinária

foram obtidos por centrifugação durante 20 minutos a 12000 rpm a 4oC (Eppendorf 5804R

Rotor F-45-24-11). A determinação da concentração de proteínas foi realizada pelo método de

Bradford (Bio-Rad Protein Assay, Bio-Rad Laboratories Inc., USA) e as leituras foram feitas

em espectrofotômetro (Multiskan FC Photometer, Standard; Thermo Fisher Scientific, EUA).

O correspondente a 30 microgramas de proteínas foi aplicado no gel de SDS-poliacrilamida,

preparado conforme descrito por Laemmli (137). Após a eletroforese, o material foi transferido

eletricamente para membranas de nitrocelulose. As membranas foram então bloqueadas com

BSA 3% diluído em TBS-T por uma hora e incubadas com os anticorpos primários para

detecção de Bcl-2 (ab7973, 1:100, Abcam, USA), IFNγ (SC7802, 1:500, Santa Cruz Biotech,

USA) e TLR4 (SC30002, 1:1000, Santa Cruz Biotech, USA) diluídos em solução de BSA 1%.

Após lavagem com tampão TBS-T, as membranas foram incubadas por 2 horas com os

anticorpos secundários HRP conjugados diluídos em BSA 1% (Anti-mouse IgG conjugado com

peroxidase, A2304, 1:10000, Sigma-Aldrich, EUA e Anti-rabbit IgG conjugado com

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40

peroxidase, AP132P, 1:5000, Sigma-Aldrich, EUA). Após nova série de lavagens com TBS-T,

a atividade peroxidásica foi revelada com solução DAB. O anticorpo para detecção de β-actina

(SC47778, 1:1000, Santa Cruz Biotech, USA) foi usado como controle endógeno. A membrana

foi digitalizada e a intensidade da marcação obtida nas diferentes situações foi quantificada

através do programa ImageJ (136).

4.13 Ensaio de citotoxicidade da violaceína em células uroteliais

Foi utilizada a linhagem 5637 (ATCC®HTB-9™) de carcinoma tipo II de urotélio de

bexiga humana, gentilmente cedida pelo Prof. Dr. Wagner José Fávaro (Depto. Biologia Celular

e Estrutural, Instituto de Biologia, Unicamp). Após a incubação das células uroteliais com

diferentes concentrações de violaceína (20μM, 10μM, 5μM, 2,5μM, 1,25μM, 0,625μM,

0,3125μM and 0,15625μM), a viabilidade foi avaliada pelo teste de sal de tetrazólio (MTT)

como descrito anteriormente (138). Este teste quantifica as células viáveis, já que suas enzimas

mitocondriais são capazes de reduzir o sal de tetrazolium em formazan, que é insolúvel em água

e tem uma cor roxa. A absorbância da solução de formazan, a 570nm, indica indiretamente a

viabilidade celular. Este teste foi realizado em placa de 96 cavidades usando uma concentração

de células inicial de 7,5.103 células por cavidade.

4.14 Invasão e sobrevivência em células uroteliais

A capacidade de invasão e sobrevivência intracelular das linhagens S. enterica

Typhimurium 14028 selvagem e S. enterica Typhimurium 14028 ∆ihfA∆ihfB:cat foi avaliada

com o ensaio de gentamicina para eliminar bactérias extracelulares. Foi utilizada a linhagem

ATCC 5637. Aproximadamente 3x105 células uroteliais foram distribuídas por cavidade (1ml

por cavidade) em 2 microplacas de 24 cavidades (COSTAR®, Corning Incorporated, USA) que

foram incubadas a 37°C, com 5% de CO2, por 24 horas. As colônias bacterianas, crescidas em

LBA no dia anterior, foram diluídas em meio RPMI e aplicados sobre as monocamadas de

células uroteliais, resultando em um MOI (Multiplicidade de infecção) de aproximadamente 10

células bacterianas para cada célula urotelial. Em seguida, as placas foram incubadas a 37°C,

com 5% de CO2 por 1 hora (Tempo de infecção). Após este tempo, as cavidades foram lavadas

duas vezes com PBS. Para isso, 1ml de PBS foi aplicado em cada cavidade, a microplaca foi

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levemente agitada e o PBS foi retirado com pipeta. Após a lavagem, foi aplicado 1ml de RPMI

(Cultilab, SP, Brasil) com gentamicina (100μg/ml) em cada cavidade e a microplaca foi

incubada novamente a 37°C, com 5% de CO2 por mais 1 hora. Após esse tempo, as cavidades

foram novamente lavadas 2 vezes com PBS e em uma das microplacas, foram aplicados 1ml de

RPMI com gentamicina (20μg/ml) por cavidade, esta placa foi incubada novamente a 37°C,

com 5% de CO2 por mais 5 horas (Teste de sobrevivência). Na outra placa (Teste de invasão),

após última lavagem com PBS, 100μl de PBS em cavidades aleatórias de cada tratamento,

foram plaqueados para controle. Este controle serve para verificar se a gentamicina foi eficiente

em eliminar as bactérias que não invadiram as células. Então, foram aplicados 200μl de solução

de Triton X100 (0,1%) em PBS em cada cavidade, para que as células uroteliais fossem

rompidas e liberassem as bactérias que as invadiram. Esta última suspensão em Triton X100

foi diluída em PBS e plaqueada em LBA para determinação da concentração de UFC/ml. Após

o tempo de incubação da outra placa, foi realizado o mesmo procedimento para lavagem da

monocamada, controle de eficiência de gentamicina, lise celular e plaqueamento para

contagem.

4.15 Análises estatísticas

As análises foram realizadas no software GraphPad Prism versão 7.0 para Windows

(GraphPad Software, USA). Os resultados foram expressos como média ± erro padrão da

média. Quando comparados dois grupos, foi utilizado o teste exato de Fisher. Quando

necessário, a análise de variância (ANOVA) foi realizada, seguida de pós-teste de Tuckey para

comparação entre grupos. Os resultados que apresentaram um nível de significância menor que

0,05 foram considerados significantes.

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42

5. RESULTADOS

5.1 Construção do duplo mutante

Foram construídos os mutantes S. enterica ATCC 14028∆ihfA; 14028∆ihfA

pACYC184:ihfA e 14028∆ihfA∆ihfB:cat por recombinação usando o sistema Red seguido de

transdução com fago P22Hint. A confirmação da ausência de fagos após cada transdução foi

realizada em meio Mint Green. No duplo mutante, o gene ihfA foi deletado e o gene ihfB foi

substituído pelo gene de resistência ao cloranfenicol presente no plasmídeo pKD3 como pode

ser observado no gel (Figura 1).

5.2 Confirmação de atenuação e imunogenicidade

A inoculação da linhagem selvagem em quantidades relativamente baixas (103, 104 e 105

UFC) foi letal para os camundongos e, após inoculação de 108 UFC de S. enterica Typhimurium

14028 ∆ihfA∆ihfB:cat, nenhuma mortalidade foi observada. Estes resultados confirmam uma

alta atenuação desta linhagem em modelo murino (Tabela 3).

Tabela 3: Ensaio de sobrevivência in vivo em que suspensões bacterianas foram

inoculadas por via oral em camundongos BALB/cAnUnib fêmeas (5 por grupo)

Grupos Linhagens / UFC Sobreviventes / Inoculados

1 ATCC14028 (7,5 x 102) 4 / 5

2 ATCC14028 (7,5 x 103) 0 / 5

3 ATCC14028 (7,5 x 104) 0 / 5

4 ATCC14028 (7,5 x 105) 0 / 5

5 ATCC14028ΔihfAB (1,16 x 108) 5 / 5

Controle PBS 5 / 5

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Figura 1: A. Esquema descritivo dos eventos da mutação pela metolodogia λRed. B. Gel de Agarose 1% para

confirmação da construção do duplo mutante 14028∆ihfA∆ihfB:cat

A integridade da camada de LPS de S. enterica Typhimurium 14028 ∆ihfA∆ihfB:cat foi

confirmada após corrida em gel de poliacrilamida onde os perfis eletroforéticos foram

comparados entre amostras selvagens, mutantes e um controle negativo (Figura 2). Apesar da

construção dos mutantes envolver uma etapa de transdução por fago P22, que utiliza LPS como

receptor para a infecção bacteriana, é usual que seja feito um controle quanto a integridade da

camada de LPS bacteriano uma vez que procedimentos como a eletroporação podem favorecer

a seleção de mutantes com camada de LPS incompleta.

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Figura 2: Gel de poliacrilamida para a confirmação da integridade da camada de LPS bacteriana,

mostrando os perfis eletroforéticos esperados para amostras com camada de LPS íntegro (2-5) e camada de

LPS incompleta (6).

5.3 Colonização do trato urinário por S. enterica ATCC 14028ΔihfAΔihfB:cat

Após o cultivo em meio MacConkey e SS da urina coletada dos camundongos 7 dias

após o tratamento, verificou-se o crescimento de colônias características de S. enterica (Gram

negativas, não fermentadoras de lactose e produtoras de ácido sulfídrico - H2S), demonstrando

que esta bactéria foi capaz de colonizar o ambiente vesical dos camundongos (Tabela 4). Como

S. enterica não faz parte do microbioma natural da bexiga de camundongos e a infecção urinária

por este tipo de bactéria é rara, ainda mais em animais isolados, o isolamento de S. enterica da

urina dos camundongos tratados e a sua ausência em camundongos não tratados suporta a

persistência bacteriana ao menos 1 semana após a inoculação. Os dados ainda indicam que a

administração concomitante da violaceína não inibiu a colonização por parte de S. enterica,

embora na análise em questão, a dose de violaceína utilizada foi menor do que a utilizada nos

experimentos posteriores (Tabela 4).

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Tabela 4: Fenótipos observados de bactérias isoladas da urina de camundongos tratados

e não tratados

Grupos

Meios

Ágar

LB

Ágar LB +

Cloranfenicol

Ágar MacConkey

(Lac-)

Ágar SS

(H2S+)

Controle não tratado + - - -

Tratamento com S. enterica ATCC

14028ΔihfAΔihfB:cat (105 UFC) + + + +

Tratamento com S. enterica ATCC

14028ΔihfAΔihfB:cat (105 UFC) +

Violaceína (0,375mg/kg)

+ + + +

5.4 Análise Histopatológica

Foi observado que o tratamento combinado de violaceína e S. enterica Typhimurium

14028 ∆ihfA∆ihfB:cat promoveu a redução e/ou a inibição da progressão do tumor quando

comparados com os controles não tratados. A efetividade deste tratamento foi observada em

80% dos casos usando violaceína 1.5 mg/kg e 105 UFC de S. enterica ATCC14028

ΔihfAΔihfB:cat (Tabela 5). No entanto, os tratamentos apenas com violaceína ou com a bactéria

mostraram ser pouco eficientes na redução/inibição tumoral. Os diagnósticos histopatológicos,

em ordem do menor para maior agressividade foram: Sem evidência de tumor primário;

Hiperplasia plana (aumento no número de células sem apresentar atipia); Neoplasia

intraurotelial de baixo grau (aumento no número de células, com pouca atipia); Carcinoma in

situ (aumento no número de células, muita atipia e desorganização celular); Carcinoma urotelial

papilar (aumento no número de células com atipia e crescimento em forma de pólipo que pode

ser em direção à luz vesical ou à lâmina própria) e Câncer urotelial de alto grau invadindo

lâmina própria (aumento no número de células com muita atipia e desorganização, inclusive da

lâmina basal, permitindo a invasão de células uroteliais na camada de tecido conjuntivo). Um

exemplo de cada um destes diagnósticos pode ser visualizado na figura 3.

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Tabela 5: Diagnósticos histopatológicos por tratamento

Histopatologia

Grupos

Controle

(n = 5)

Câncer

(n = 5)

Câncer +

BCG

(n = 5)

Câncer +

violaceína

(n = 5)

Câncer + S.

enterica

(n = 5)

Câncer + violaceína

+ S. enterica

(n = 5)

Sem evidência de

tumor primário 100% (5) - - - - -

*Hiperplasia plana - - 40% (2) - 20% (1) -

**Neoplasia

intraurotelial de baixo

grau

- - - 40% (2) - 80% (4)

***Carcinoma in situ - 100% (5) - 60% (3) 60% (3) -

***Carcinoma

urotelial papilar - - 20% (1) - 20% (1) 20% (1)

***Câncer urotelial

de alto grau invadindo

lâmina propria

- - 40% (2) - - -

*Lesões benignas: Hiperplasia plana; **Lesões pré-malígnas: Neoplasia intraurotelial de baixo grau;

***Lesões malígnas: Carcinoma in situ, Carcinoma urotelial papilar e Câncer urotelial de alto grau

invadindo lâmina propria.

5.5 Imunohistoquímica

Com a análise da imunoreatividade das lesões uroteliais em cada tratamento, foi

possível registrar o aumento na expressão de proteínas relacionadas à via canônica do sistema

imune inato, especialmente nas amostras dos animais que receberam o tratamento combinado

de violaceína e S. enterica Typhimurium 14028 ∆ihfA∆ihfB:cat. (Figura 4 e tabela 6).

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Figura 3: Fotomicrografias representativas de tecido de bexiga de camundongo C57BL/6J com 5µm de

espessura corados com hematoxilina-eosina. A: Controle sem câncer induzido, urotélio normal; B:

Hiperplasia plana observada em animal tratado com BCG; C: Neoplasia intraurotelial de baixo grau

observada em animal tratado com S. enterica mutante e violaceína; D: Carcinoma urotelial papilar

invertido, observado em um dos animais tratados com S. enterica mutante e violaceína; E: Carcinoma in

situ, observado em controle câncer não tratado; F: Câncer urotelial de alto grau invadindo lâmina própria,

observado em um dos animais tratados com BCG. A seta indica células de câncer urotelial invadindo a

lâmina própria. O comprimento da barra de referência é 50µm.

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Figura 4: Fotomicrografias representativas com diferentes intensidades de imunorreatividade dos antígenos

TLR2 (1-5), Myd88 (6-10), Ikkα (11-15), NFκB (16-20), TNFα (21-25), TLR4 (26-30) e IL6 (31-35) em tecido

de bexiga de camundongo após os diferentes tratamentos. O comprimento da barra de referência é 50µm.

5.6 Western Blotting

A expressão de IFNγ, TLR4 e Bcl-2 foi alterada nos diferentes tratamentos testados. O

tratamento com a violaceína reduziu a expressão de Bcl-2. Nos camundongos tratados apenas

com S. enterica ATCC 14028ΔihfAΔihfB:cat a expressão de TLR4 foi aumentada. E nos

camundongos em que foi testado o tratamento combinado, houve aumento na expressão de

TLR4 e IFNγ. Alguns dos tratamentos combinados e apenas com S. enterica

ATCC1402814028ΔihfAΔihfB:cat levaram à redução da expressão de Bcl-2 (Figuras 5 e 6).

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Tabela 6: Valores de imunomarcação das lesões uroteliais

Proteínas/Grupo

experimental Câncer

Câncer +

BCG

Câncer +

violaceína

Câncer + S.

enterica

Câncer + S. enterica +

violaceína

TLR2 2 (39,2%) 2 (42,4%)* 2 (42,5%) 2 (39,3%) 3 (57,4%)*

MYD88 2 (35,2%) 2 (49,7%) 2 (46,3%) 2 (43,8%) 3 (55,6%)*

IKKα 2 (44,5%) 2 (43%)* 2 (45,6%)* 2 (49,5%)* 3 (54,6%)*

NFκB 2 (36,9%) 2 (43,8%) 2 (46,5%) 2 (49,6%)* 3 (51,7%)*

TNFα 2 (28,5%) 2 (43,7%) 2 (41,8) 2 (44,6%) 3 (51,3%)*

TLR4 2 (41,1%) 2 (48,2%) 3 (54,1%) 2 (41,4%) 3 (54,5%)

IL6 2 (44,4%) 3 (50,9%) 2 (38,9%) 3 (53%)* 2 (46,1%)

Não marcado = 0; Marcação fraca (1-24%) = 1; Marcação moderada (25-49%) = 2; Marcação forte (>50%) = 3;

*Estatisticamente significativo (p<0,05) em comparação ao grupo controle câncer (Teste exato de Fisher)

Figura 5: Western Blotting utilizando anticorpos específicos para detecção e quantificação de marcadores

imunológicos. As proteínas foram extraídas da bexiga de camundongos submetidos a diferentes

tratamentos, separadas por SDS-PAGE (12%), transferidas para membranas de nitrocelulose e incubadas

com anticorpos específicos. As bandas detectadas evidenciam a detecção das proteínas β-actina (controle),

Bcl-2, TLR4 e IFNγ nas amostras avaliadas frente aos diferentes tratamentos.

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Figura 6: Expressão diferencial das proteínas TLR4, Bcl-2 e IFNγ comparadas ao controle endógeno e

normalizadas com o controle DMSO em GraphPad Prism 7.0 (GraphPad Software, USA).

*Estatisticamente significativo (p<0,05) em comparação ao grupo controle DMSO (One-way ANOVA

seguido de teste de Tuckey).

5.7 Ensaio de citotoxicidade da violaceína em células uroteliais

Os resultados obtidos a partir do ensaio de citotoxicidade da violaceína em células

ATCC 5637 foram plotados em um gráfico (Figura 7) onde o eixo horizontal representa o

logaritmo da concentração de violaceína (Log[violaceína]) que variou de 0,15 a 20µM. A partir

destes dados, foi possível definir a concentração inibitória 50% (IC50) da violaceína usando o

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programa GraphPad Prism 7.0. A violaceína apresentou um IC50 de 3,7μM em 24 horas de

incubação com células de carcinoma de bexiga.

Figura 7: Ensaio de citotoxicidade da violaceína em células de carcinoma de bexiga ATCC 5637. As células

foram tratadas com concentrações crescentes (0,15 a 20µM) de violaceína por 24 horas e a viabilidade

celular foi avaliada por ensaio de MTT. Os valores representam média e desvio padrão de três experimentos

independentes.

5.8 Ensaio de invasão, sobrevivência e multiplicação de S. enterica

ATCC14028ΔihfAΔihfB:cat em células ATCC 5637

Foi observado que a deleção dos genes ihfA e ihfB não interferiu na capacidade de

invasão da S. enterica ATCC14028ΔihfAΔihfB:cat em células de bexiga humana ATCC 5637,

porém, reduziu a capacidade de sobrevivência e multiplicação no ambiente intracelular. A

adição de violaceína 1μM não alterou a capacidade de invasão ou sobrevivência da linhagem

mutante (Figura 8).

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Figura 8: Ensaio de invasão e sobrevivência/multiplicação de S. enterica 14028 selvagem e duplo mutante

ΔihfAΔihfB:cat com e sem a adição de violaceína 1μM após 1 hora (invasão) e 6 horas (sobrevivência) de

incubação com células ATCC 5637. *Estatisticamente significativo (p<0,05) em comparação ao grupo S.

enterica Typhimurium 14028 Selvagem no teste de sobrevivência (One-way ANOVA seguido de teste de

Tuckey)

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53

6. DISCUSSÃO

Desde o começo do século passado, bactérias atenuadas tem sido usadas como agentes

terapêuticos antitumorais (46). Nas últimas décadas, os subprodutos do metabolismo bacteriano

também têm chamado a atenção dos pesquisadores. A violaceína, dentre os diferentes

compostos produzidos por bactérias, tem demonstrado atividade antitumoral em vários estudos,

sendo que os mecanismos de ação que levam à esta atividade variam nos diferentes modelos

estudados. Pra citar um exemplo, foi demonstrado o aumento na expressão da proteína

associada ao fagossomo LC3 (Microtubule-associated protein 1A/1B-light chain 3) em células

FaDu (Carcinoma de células escamosas da faringe), CAL-27 (Carcinoma de células escamosas

da língua), SCC-15 (Carcinoma de células escamosas da língua) e SALTO (Células de câncer

na glândula salivar) após o tratamento com violaceína, sugerindo a indução da autofagia nestas

células (24). Porém, no mesmo ano, outro estudo mostrou que a violaceína, apesar de aumentar

a expressão de LC3, induz a morte celular, dentre outros mecanismos, pela inibição do processo

de autofagia e acúmulo produtos do estresse metabólico em células de melanoma (139). Além

da influência da violaceína sobre o processo de autofagia, o efeito apoptótico deste composto é

descrito em diferentes estudos in vitro e in vivo (24, 25, 69, 139, 140). Já foi demonstrado, por

exemplo, que a violaceína é capaz de induzir apoptose em diferentes linhagens celulares pela

redução de expressão de Bcl-2 (B-cell lymphoma 2 protein), que regula negativamente a

apoptose, e o aumento na expressão de proteína x associada à Bcl-2 (Bcl-2-associated X protein

– Bax), um regulador positivo de apoptose (24). A violaceína apresentou o mesmo efeito

regulatório em Bax e Bcl-2 em outro estudo com células MCF-7 (25). A redução da expressão

de Bcl-2 a partir do tratamento com violaceína também foi observada no presente estudo,

indicando que esta pode ser uma via de indução de apoptose em modelo murino de câncer de

bexiga. Além desta via de apoptose, já foi sugerido que a violaceína pode induzir a morte celular

programada em células HL60 pela ativação da via de TNF- α (141). As amostras de bexiga de

camundongos tratados com violaceína apresentaram aumento na imunorreatividade de TNF-α

em comparação aos controles, o que também pode representar a ativação desta via no processo

de apoptose induzido por violaceína neste modelo.

Em estudo com modelo murino de carcinoma sólido de Ehrlich, o tratamento sistêmico

com extratos de violaceína resultou na redução da massa tumoral em mais de 50% em

comparação com o controle. O modelo de câncer Ehrlich consiste no transplante de células de

adenocarcinoma mamário de camundongo mantidas em forma não diferenciada, por diversas

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54

passagens in vivo. Neste estudo, o câncer foi estabelecido na pata posterior direita dos

camundongos e o tratamento foi realizado por via intraperitoneal. Devido à eficiente reposta

antitumoral, após inoculação sistêmica, contra um tumor com alta velocidade de crescimento,

os autores sugeriram que a atividade deste composto neste modelo de câncer, ocorreu pela

ativação da resposta imune inata (142). Também com experimentos in vivo, Masuelli et al.

observaram que a violaceína é capaz de inibir o crescimento de tumores em modelo xenográfico

de câncer de cabeça e pescoço em camundongos. Neste estudo, a violaceína foi aplicada por

via intratumoral e foi reportada a redução do crescimento dos tumores e o aumento na

sobrevivência dos camundongos comparado ao grupo controle tratado com DMSO, uma vez

que a violaceína é solubilizada neste composto (24). No presente estudo, foi observada uma

redução e/ou inibição de crescimento tumoral em 40% dos camundongos tratados com

violaceína 1,5mg/kg. Doses menores de violaceína foram menos eficientes (Dados não

mostrados). Além disto, o tratamento com violaceína foi capaz de modular a resposta imune

dos camundongos, aumentando levemente a imunorreatividade das proteínas associadas à via

TLR4-Myd88-NFκB nas células do urotélio dos animais avaliados em comparação ao controle

não tratado. Especula-se aqui, que a ativação desta via pela violaceína acontece de forma

indireta, pela alteração da microbiota vesical, com o aumento da prevalência de bactérias Gram

negativas neste ambiente. Esta hipótese precisa, no entanto, ser confirmada experimentalmente.

Em contraste, estudos in vitro demonstraram que a violaceína é capaz de reduzir expressão de

NF-κB e a translocação deste fator de transcrição para o núcleo celular. NF-κB faz parte de uma

das vias do processo inflamatório e é superexpresso em câncer de cabeça e pescoço, induzindo

angiogênese e aumentando a invasibilidade das células cancerosas (24). Em 2015, foi

demonstrado que a violaceína é capaz de reduzir o processo de inflamação aguda em modelo

murino, induzido por inoculação de LPS bacteriano por via intraperitoneal, além de reduzir a

inflamação crônica em modelo murino de encefalomielite autoimune. Neste caso, foi observado

um aumento significante na expressão de IDO e a redução dos níveis de citocinas inflamatórias

IL-6 e TNF-α (143). No presente estudo também foi observada, através da imunorreatividade

em ensaios imunohistoquímicos, uma leve redução nos níveis de IL-6 nas amostras de bexiga

tratadas com violaceína em comparação ao controle e aos outros tratamentos. Sendo assim, a

violaceína parece ter capacidade regulatória em diferentes vias do sistema imune, podendo

aumentar ou diminuir a expressão de citocinas inflamatórias dependendo do modelo de câncer

estudado.

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55

A manipulação genética para a atenuação de S. enterica Typhimurium se mostrou eficaz

na construção de mutantes seguros e com propensão em se alocarem nas regiões tumorais,

funcionando como imunoterápicos em diferentes modelos animais. A linhagem A1-R, por

exemplo, é auxotrófica incapaz de sintetizar os aminoácidos essenciais leucina e arginina. Estes

mutantes apresentam tropismo pelas regiões necróticas do câncer, onde estes nutrientes são

liberados após a morte e o rompimento do tecido tumoral. Foi demonstrado que esta linhagem

é capaz de destruir células primárias e metastáticas de câncer em modelos xenográficos de

câncer em camundongo sem afetar o tecido normal do animal (144). Algumas das construções

genéticas bacterianas, como VNP20009 e χ4550, foram usadas, inclusive, em ensaios clínicos

em fase I. Essas atenuações foram consideradas seguras o suficiente para serem testadas em

humanos e, apesar de colonizarem as regiões afetadas pelo câncer e estimularem o aumento dos

níveis de citocinas inflamatórias circulantes em alguns dos pacientes tratados, estas linhagens

não se mostraram eficazes na redução ou inibição de crescimento tumoral (103-105). Não se

sabe com clareza, o motivo a que se deve a ineficiência clínica destes tratamentos em estudos

em humanos. Geralmente, os estudos relacionados ao desenvolvimento de um mutante para o

uso em tratamento imunoterápico buscam a estabilidade genética, a imunogenicidade, o

tropismo, a manutenção da citotoxicidade intrínseca bacteriana contra células tumorais e a

segurança, ou falta de patogenicidade/toxicidade nos modelos animais utilizados.

Usando um modelo xenográfico, Hirsch-Werle et al. (2016) demonstraram a redução da

massa tumoral originária da injeção de células de melanoma murino (B16-F10) em

camundongos C57BL/6J após inoculação de linhagem atenuada de S. enterica por via

intratumoral. Naquele trabalho, a linhagem mutante de S. enterica Typhimurium utilizada

apresentava deleção do gene ihfA (ΔihfA), que codifica uma das duas subunidades do IHF. O

fator de integração do hospedeiro é uma proteína ligada ao nucleóide bacteriano que

desempenha importante papel na topologia e compactação do DNA genômico, assim como na

regulação de diferentes atividades como transcrição, tradução e transposição (121). Dessa

maneira, mutações nos genes codificadores de IHF apresentam um efeito pleiotrópico, afetando

a virulência bacteriana (121, 126). Entretanto, apesar de apresentarem atividade antitumoral, os

mutantes ΔihfA também apresentaram alta toxicidade (128). Uma alternativa utilizada ainda

naquele estudo foi a construção de mutantes duplos ΔihfAΔasd (128). O gene asd (Aspartate-

semialdehyde dehydrogenase) codifica uma enzima responsável pela síntese ácido

diaminopimélico, componente essencial da parede de peptideoglicano, o que compromete a

integridade da parede celular dos mutantes em que este gene foi deletado (145, 146). No

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56

entanto, a linhagem ΔihfAΔasd apresentou um perfil de atenuação acentuado e foi pouco efetiva

quanto a atividade antitumoral (128).

Baseados nestes resultados e para evitar a toxicidade previamente observada, no

presente estudo foi utilizado uma nova linhagem mutante na tentativa de se alcançar padrões

mais balanceados quanto à atenuação e imunogenicidade. Objetivando a construção de um

mutante com atenuação mais pronunciada em relação ao mutante simples ΔihfA, e, ao mesmo

tempo com maior atividade antitumoral em relação à linhagem ΔihfAΔasd, considerando-se a

atenuação de mutantes ihf, foi construído uma linhagem contendo deleção dos genes (ihfA e

ihfB) que codificam ambas subunidades de IHF (α e β). Outro aspecto importante a ser

considerado é que como a reversão da atenuação para um perfil de virulência não pode ser

descartado, o uso de mutantes duplos adiciona maior segurança à linhagem, diminuindo a

possibilidade de reversão para o fenótipo selvagem de virulência.

IHF pode ser encontrada na célula tanto na sua forma heterodimérica (αβ), como na

forma de homodímeros (αα ou ββ), sendo que estudos de transcriptoma demonstraram que cada

uma dessas formas parece regular grupos específicos, mas sobrepostos de genes, embora os

maiores efeitos na expressão gênica sejam observados em mutantes duplos (121). Essas

observações foram feitas utilizando a linhagem de S. enterica Typhimurium SL1344 (121). As

linhagens SL1344 e ATCC 14028 são referências no estudo da biologia de S. enterica e, de

fato, existem diferenças fenotípicas e genotípicas entre elas (147). No entanto, apesar das

diferenças, espera-se que mutantes ΔihfAΔihfB tenham um padrão de atenuação mais

pronunciado do que mutantes simples. De fato, dados prévios de nosso laboratório com S.

enterica Enteritidis indicam que mutantes duplos são mais atenuados que mutantes simples

(dados não publicados), o que nos direcionou a realizar esta construção utilizando o background

genético da linhagem S. enterica ATCC 14028. Nossos dados demonstram o perfil de atenuação

da virulência dessas linhagens quando testados em camundongos BALB/cAnUnib, uma vez

que doses de 103 UFCs da linhagem selvagem estiveram associadas a mortalidade de animais,

enquanto que 108 UFCs da linhagem mutante foram bem toleradas pelos animais quando

inoculadas por via oral.

O tratamento do câncer de bexiga no modelo murino com este novo mutante não se

mostrou eficiente quando administrado isoladamente. Porém, a S. enterica

ATCC14028ΔihfAΔihfB:cat foi capaz de estimular o sistema imune inato do camundongo, com

o aumento dos níveis de proteínas da via canônica associada à ativação de TLR4 e o aumento

na expressão de IFNγ quando comparado ao controle não tratado. Apesar de ainda não estar

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57

descrito na literatura todos os genes regulados pela proteína IHF em S. enterica, nós observamos

que o mutante que não produz essa proteína é atenuado em mais de 10000 vezes quando

comparado com a linhagem selvagem em modelo murino. Além disso, foi visto que a proteína

IHF não tem influência sobre a formação da camada de LPS bacteriana, que é reconhecido pela

TLR4, iniciando uma reação em cascata para a liberação de IL-6 e TNF-α, citocinas que parece

ter um papel importante na colonização bacteriana do tumor e no recrutamento de células de

defesa (148). IFNγ também tem um importante papel na imunomodulação do câncer.

Dependendo do câncer tratado, o aumento na expressão desta citocina pode apresentar

vantagens como: recrutamento de células do sistema imune inato, aumento de fatores

antitumorais produzidos por macrófagos, redução do processo de angiogênese, redução da

proliferação celular e indução de apoptose (149). Em estudo clínico, Giannopoulos et al.

observaram que pacientes com câncer de bexiga, tratados com IFNγ após ressecção transuretral,

apresentaram menor taxa de reincidência, comparados aos pacientes tratados com mitomicina

C. Estes autores demonstraram que o tratamento com IFNγ é capaz de aumentar a quantidade

de células de defesa como células T e NK no microambiente tumoral (150).

Um dos motivos que podem estar associados à baixa eficácia do tratamento do câncer

de bexiga em modelo murino com o mutante descrito neste estudo é o background genético

bacteriano. Enquanto este estudo estava sendo realizado, Sanapala et al. (2018) demonstraram

que o background genético é um fator importante nas características imunogênicas de linhagens

recombinantes. No estudo em questão, foi demonstrado que mutante ΔaroA da linhagem UK-

1 foi capaz de induzir resposta imunológica em camundongos BALB/c com mais eficiência do

que o mesmo mutante derivado da linhagem ATCC 14028 (151). Além disso, a linhagem ATCC

14028 parece ser menos invasiva do que a linhagem SL1344 (147). Contudo, nossos dados

indicaram que a linhagem mutante foi capaz de invadir células ATCC 5637 em cultura, apesar

de IHF afetar a expressão dos genes da ilha de patogenicidade 1 (IPS-1), responsável pela

invasão celular (121). Por outro lado, nossos dados demonstram que a capacidade de

sobrevivência intracelular da S. enterica ATCC14028ΔihfAΔihfB:cat foi afetada, indicando

que a expressão dos genes da Ilha de Patogenicidade 2 (IPS-2), responsável pela sobrevivência

intracelular, pode ter sido alterada. Este não é um aspecto negativo, uma vez que a atenuação

bacteriana é uma característica desejável para diminuir a toxicidade. Portanto, baseado em

estudos comparativos entre linhagens de S. enterica Typhimurium (147, 151), é possível

especular que a eficácia antitumoral pode ser melhorada se uma linhagem bacteriana com

diferente background for utilizada. Além disto, alterações genéticas para promover maior

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invasibilidade de S. enterica Typhimurium ATCC 14028 podem contribuir para o aumento da

atividade antitumoral desta linhagem. Que seja do nosso conhecimento, este é o primeiro relato

sobre o uso de S. enterica como agente antitumoral em modelo de câncer de bexiga.

Apesar do tratamento do câncer de bexiga com o novo mutante atenuado não ter sido

eficiente quando administrado isoladamente, quando combinado com a violaceína, apresentou

uma taxa significativa de redução e/ou inibição do desenvolvimento tumoral, o que foi

observado em 80% dos animais. Este tratamento combinado aumentou o nível de proteínas

TLR2 e 4, induzindo a via Myd88 dependente (via canônica) do sistema imune inato. A indução

do sistema imune por esta via estimula a expressão de citocinas inflamatórias como TNFα e IL-

6 como pudemos observar pelo ensaio de imunohistoquímica. Um importante resultado

considerando a maior complexidade do modelo de câncer usado comparado ao modelo

xenográfico. O modelo singênico de câncer de bexiga induzido quimicamente, apesar das

dificuldades na padronização, permite o estudo do tumor em camundongos imunocompetentes

e a avaliação da resposta imune do hospedeiro, representando de forma mais eficiente a

complexidade dessa doença.

Como observado, o mutante de S. enterica construído não perde a capacidade de invasão

celular, embora não consiga sobreviver ou se replicar dentro das células de bexiga com a mesma

eficiência que a bactéria selvagem. Este resultado mostra que há um equilíbrio entre a virulência

e a toxicidade da linhagem usada, já que o mutante ainda é capaz de se aderir e invadir a célula

de bexiga, permanecendo em menor número em ambiente intracelular. Quando adicionada, a

violaceína não altera a capacidade de invasão ou sobrevivência da bactéria atenuada, portanto,

o efeito sinérgico só pôde ser notado in vivo, onde foi observado que a combinação de S.

enterica ATCC14028ΔihfAΔihfB:cat e violaceína foi o tratamento mais eficiente na redução

tumoral em modelo murino de câncer de bexiga. A maior eficiência do tratamento simultâneo

com S. enterica atenuada e outras tratamentos como radioterapia e quimioterapia já foi

reportada em outros estudos (152-158). Embora o mecanismo envolvido na redução tumoral

causada pela ação combinada da terapia bacteriana com a violaceína não tenha sido

completamente elucidada, pode-se especular que a violaceína, que pode ter uma ação

bactericida no ambiente intravesical, facilita a colonização, invasão e, consequentemente, a

ativação do sistema imune por S. enterica atenuada. A hipótese é baseada no fato de que já foi

descrito que o efeito bactericida da violaceína é consideravelmente mais eficiente em bactérias

Gram positivas do que em linhagens Gram negativas (159-162). Embora parte do mecanismo

da ação bactericida da violaceína tenha sido demonstrado por Cauz et al. e Aruldass et al. (62,

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59

160), ainda não é claro o porquê deste efeito ser significantemente maior em bactérias Gram

positivas. Além disto, em 2018, foi demonstrado que o ambiente vesical de camundongos

C57BL/6J apresenta um “oncobioma” característico, composto principalmente por Gardnerella

(Gram variável) e Bifidobacterium (Gram positiva) (163). Mudanças na riqueza de algumas

espécies bacterianas presentes na bexiga devido à alterações associadas ao desenvolvimento de

câncer também já foram descritas em camundongos e humanos (163-165). Alguns autores

sugerem que a microbiota da bexiga influencia até mesmo na imunoterapia com BCG, que é

usada atualmente para evitar a recidiva do câncer em estágio inicial após ressecção (166).

Outra hipótese, que pode ser levantada a partir dos resultados obtidos com o tratamento

combinado, é que a violaceína pode modular a resposta inflamatória causada por S. enterica,

evitando que o sistema imune hospedeiro apresente uma resposta exagerada aos componentes

bacterianos, o que poderia estimular o desenvolvimento do câncer ao invés de sua regressão ou

inibição (54, 149). Como já foi descrito anteriormente, a violaceína é capaz de reduzir o

processo inflamatório causado por LPS em modelo murino (143). Visto que a inflamação pode

influenciar tanto na regressão, quanto no estímulo do crescimento tumoral, através da indução

dos processos de angiogênese e mitose, é importante que a expressão das vias dos sistema imune

seja modulada de forma que o efeito do tratamento imunoterápico seja eficaz na redução e evite

a reincidência do tumor (54). Já foi descrito, por exemplo, que o efeito biológico benéfico do

INFγ no tratamento do câncer segue um padrão dose-dependente em forma de curva gaussiana,

apresentando maior eficácia em doses baixas e médias quando comparado à doses mais altas

(167).

Ainda são necessários outros estudos que comprovem algumas das hipóteses levantadas

neste trabalho, elucidando o mecanismo de ação da violaceína, tanto em relação às células de

câncer de bexiga, quanto em relação ao microbioma intravesical.

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7. CONCLUSÃO

Pela primeira vez, em modelo murino de câncer de bexiga, foi avaliado o tratamento

com violaceína e S. enterica mutante, que apresentaram ação sinérgica na imunomodulação e

redução/inibição de desenvolvimento tumoral. Este tratamento combinado foi mais eficiente no

tratamento dos tumores do que todos os outros avaliados neste estudo, inclusive o BCG, que já

é utilizado clinicamente como parte do tratamento para este tipo de câncer. Além disto, a

linhagem S. enterica Typhimurium ATCC 14028 ΔihfAΔihfB:cat, construída no presente

estudo, se mostrou altamente atenuada no modelo murino de infecção e, no modelo de câncer

estudado, a violaceína apresentou efeito imunomodulatório e considerável eficiência na redução

e/ou inibição do crescimento dos tumores de bexiga, principalmente quando combinada à

terapia bacteriana. Ainda são necessários mais estudos, envolvendo a caracterização da

virulência do mutante construído, levando em consideração a possibilidade do melhoramento

genético desta linhagem, aumentando sua atenuação, tropismo e até mesmo tornando-a vetor

de toxinas e citocinas com potencial ação antitumoral. Também é necessária, uma

caracterização mais detalhada da violaceína neste modelo, considerando, em perspectiva, a

construção de linhagens bacterianas de S. enterica atenuadas que expressem este composto.

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stem cell mobilization. Current pharmaceutical design. 2010;16(35):3903-20.

177. Singh S, Singh UP, Grizzle WE, Lillard JW, Jr. CXCL12-CXCR4 interactions modulate

prostate cancer cell migration, metalloproteinase expression and invasion. Laboratory

investigation; a journal of technical methods and pathology. 2004;84(12):1666-76.

178. Park JY, Zheng W, Kim D, Cheng JQ, Kumar N, Ahmad N, et al. Candidate tumor

suppressor gene SLC5A8 is frequently down-regulated by promoter hypermethylation in

prostate tumor. Cancer detection and prevention. 2007;31(5):359-65.

179. Ma S, Chan YP, Kwan PS, Lee TK, Yan M, Tang KH, et al. MicroRNA-616 induces

androgen-independent growth of prostate cancer cells by suppressing expression of tissue factor

pathway inhibitor TFPI-2. Cancer research. 2011;71(2):583-92.

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76

9. ANEXO I - AÇÃO DA VIOLACEÍNA EM CÉLULAS DE CÂNCER DE

PRÓSTATA

9.1 INTRODUÇÃO

9.1.1 Próstata humana

A próstata é uma glândula masculina do tamanho de uma noz que fica localizada em

frente ao reto, abaixo da bexiga urinária, envolvendo parcialmente a parte distal da uretra. Essa

glândula é composta por três partes histológica e anatomicamente distintas: uma camada

fibromuscular que envolve o órgão, uma região glandular periférica e uma região glandular

central (168). A função da próstata é produzir, armazenar e secretar um líquido protetivo e

nutritivo para os espermatozoides. Este líquido, essencial para a função reprodutiva normal do

homem, é composto de lipídeos, enzimas proteolíticas, fosfatase ácida, fibrinolisina e ácido

cítrico (2, 3).

9.1.2 Câncer de próstata

De acordo com estimativas recentes reportadas pela agência internacional de pesquisa

em câncer (IARC), o câncer de próstata é o segundo diagnóstico mais frequente na população

de homens do mundo, apresentado uma alta taxa de mortalidade. A pesquisa relatou mais de

1.270.000 casos por ano, com quase 360.000 mortes (4). Os fatores de risco para o

desenvolvimento deste tipo de câncer são: idade, etnia, histórico familiar e mutações genéticas

específicas. O câncer de próstata é raro antes dos 40 anos, porém, a chance do desenvolvimento

deste tipo de câncer cresce a partir dos 50 anos, sendo que 60% dos casos são diagnosticados

em homens acima de 65 anos. Tanto a incidência quanto a mortalidade deste câncer é maior em

afrodescendentes. A chance de se desenvolver o câncer de próstata também aumenta

dependendo do número e da proximidade genealógica de parentes que já desenvolveram essa

doença (6). Algumas mutações genéticas, como por exemplo alterações nos genes associados à

susceptibilidade ao câncer de mama BRCA1 e BRCA2 (Breast cancer type 1 e 2 susceptibility

protein) aumentam a chance do desenvolvimento do câncer de próstata (169). Além disto,

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77

fatores metabólicos como altos níveis de colesterol, obesidade e diabetes podem estar

associados ao desenvolvimento desta doença. Também existem evidências de que o hormônio

sexual testosterona pode ser um iniciador ou promotor do câncer de próstata (170, 171).

O simples inchaço da próstata, mesmo no caso de hiperplasia benigna, gera

desconforto ao paciente pela obstrução da uretra ou aumento na frequência da micção (168).

Quadros mais avançados deste câncer podem causar outros sintomas como a presença de sangue

na urina e no sêmen, disfunção erétil e a perda de controle da bexiga e intestino (6). O pré-

diagnóstico deste câncer pode ser realizado através de exame de sangue para medição dos níveis

de antígeno próstata-específico (Prostate-specific antigen – PSA) e pelo exame digital retal.

Com a suspeita do câncer, exames mais detalhados, como o ultrassom transretal e a biópsia da

próstata devem ser realizados (6).

As terapias atuais para o tratamento de câncer de próstata incluem a deprivação

androgênica por inibição de testosterona associada à radioterapia seguida de quimioterapia com

docetaxel e cabazitaxel (172, 173). Docetaxel é um agente antimitótico usado como

quimioterapia primária por mais de 10 anos. Cabazitaxel, o quimioterápico secundário,

apresenta atividade citotóxica contra linhagens de células tumorais que apresentam resistência

ao docetaxel (172). Outra alternativa de tratamento é a imunoterapia com Sipuleucel-T (174).

Estes tratamentos resultam em sintomas adversos variados e precisam ser ajustados para

aumentar a eficiência do efeito terapêutico e dar melhores condições aos pacientes. Assim, é

necessário o desenvolvimento de tratamentos alternativos mais eficientes e com menos efeitos

colaterais para os pacientes com câncer de próstata. A violaceína, já descrita anteriomente,

também pode representar uma potencial e ainda não explorada opção no tratamento de câncer

de próstata (24, 25, 61, 70, 142).

9.2 OBJETIVO

Investigar o efeito citotóxico da violaceína em diferentes células de próstata humana.

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9.3 METODOLOGIA

Este estudo foi realizado durante estágio de 6 meses no Laboratório do Prof. Dr. Luiz

Fernando Celidônio Zerbini, Cancer Genomics Group, International Centre for Genetic

Engineering and Biotechnology (ICGEB), Cidade do Cabo, África do Sul, sob a supervisão do

Prof. Zerbini, em colaboração com nosso grupo na Unicamp. Para este estudo, foi utilizada a

violaceína comercial (Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA).

9.3.1 Ensaio de citotoxicidade

A citotoxicidade da violaceína em diferentes linhagens de células de próstata foi

avaliada por ensaio com sal de tetrazólio (MTT) como descrito anteriormente (138). A

concentração inibitória 50% (IC50) foi definida após incubação da violaceína em diferentes

concentrações por 24 horas com células DU145 (Carcinoma de próstata humana derivado do

cérebro), 22RV1 (Carcinoma epitelial de próstata humana), C4-2 (Câncer de próstata humana)

e PNT1A (Próstata humana normal imortalizada). A IC50 foi calculada em programa GraphPad

Prism 7.0 por análise de regressão não linear usando os dados gerados pela leitura da

absorbância da solução de formazan em 595nm.

9.3.2 Visualização do efeito em células

O efeito citotóxico da violaceína foi visualizado e registrado em aumento de 400x após

1, 2 e 3 horas de incubação com células DU145 e 22RV1. As células foram cultivadas em placas

de 24 cavidades e tratadas com violaceína em concentração IC50. Células tratadas com DMSO

0,01% foram usadas como controle. As cavidades foram marcadas por baixo para que um grupo

de células específico pudesse ser acompanhado em diferentes tempos.

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9.3.3 Migração celular

A migração de células DU145, 22RV1 e C4-2 foi analisada em ensaio de Wound

Healing. Para este ensaio, as células foram cultivadas em placas de 24 cavidades. Após a

confluência, foi feito um risco vertical sobre a monocamada celular usando uma ponteira de

200µl. As células que se desprenderam com o risco foram removidas após lavagem com PBS.

As cavidades receberam tratamento com violaceína em doses não letais de 0,05 a 0,3µM e

DMSO 0,01% como controle. As células foram fotografadas nos tempos 0, 24, 48 e 72 horas

após o tratamento. A área do espaço formado entre as células foi calculada pela análise das

fotos em imageJ.

9.3.4 Extração de RNA e qPCR

O RNA foi extraído de células 22RV1, tratadas com violaceína em concentração IC50

por 6 horas, com o RNeasy Mini Kit (QIAGEN, Hilden, Alemanha) seguindo as instruções do

fabricante. O RNA de células tratadas com DMSO 0,01% foi usado como controle. A

transcrição reversa do RNA foi realizada com o kit SuperScriptTM IV VILOTM Master Mix

(Thermo Fisher Scientific, Massachusetts, United States). Após a síntese do cDNA, o PCR em

tempo real foi realizado com o kit RT2 profiler PCR array (QIAGEN, Hilden, Alemanha). Com

este kit foi possível analisar a expressão de 84 genes relacionados ao câncer de próstata ao

mesmo tempo. A reação foi realizada em termociclador LightCycler 480 Instrument II (Roche

Life Sciences, Penzberg, Alemanha). Os dados gerados foram analisados em software online

GeneGlobe Data Analysis Center (QIAGEN, Hilden, Alemanha).

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9.4 RESULTADOS

9.4.1 Citotoxidade da violaceína em células de próstata

A dose IC50 da violaceína foi definida para quatro tipos de células de próstata humana

(Figura 9). Quando incubada com as células normais de próstata (PNT1A), a violaceína

apresentou a maior IC50 (1,28µM), significando que é necessária uma dose maior da violaceína

para danificar células não cancerosas da próstata.

Figura 9: Gráficos gerados pelo programa GraphPad Prism 7.0 das quatro células testadas com violaceína

indicando o valor da IC50 calculado. A: Gráfico de viabilidade de células DU145; B: Gráfico de viabilidade

de células 22RV1; C: Gráfico de viabilidade de células C4-2; D: Gráfico de viabilidade de células PNT1A.

Todas as células foram incubadas com violaceína por 24 horas.

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9.4.2 Visualização do efeito da violaceína em células de próstata

Após uma hora de incubação com a violaceína em dose IC50, foi possível observar o

aparecimento de estruturas semelhantes à vacúolos no citoplasma das células. Após duas e três

horas, ocorreu um aumento na “vacuolização” nestas células. (Figura 10).

Figura 10: Fotos das células de próstata humana DU145 e 22RV1 após incubação com violaceína (IC50) nos

tempos 0, 1 hora, 2 horas e 3 horas. A: Efeito da violaceína em células DU145 nos tempos 0, 1, 2 e 3 horas;

B: Efeito da violaceína em células 22RV1 nos tempos 0, 1, 2 e 3 horas. As setas indicam o registro da mesma

célula em todos os tempos.

9.4.3 Migração celular (Wound Healing)

Após análise das fotos em imageJ, foi possível plotar gráficos da porcentagem de

migração celular pelo tempo (Figura 11). O tratamento das células com dose não letal de

violaceína, definida de acordo com o tipo celular testado, reduziu a capacidade de migração

celular de todas as linhagens analisadas, com maior evidência de inibição em células 22RV1.

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Figura 11: Migração células C4-2, DU145 e 22RV1 após tratamento com dose não letal de violaceína A:

Porcentagem de migração de células C4-2 em 72 horas de incubação com violaceína em dose não letal; B:

Porcentagem de migração de células DU145 em 72 horas de incubação com violaceína em dose não letal; C:

Porcentagem de migração de células 22RV1 em 72 horas de incubação com violaceína em dose não letal.

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9.4.4 PCR em tempo real

Com o uso do software online GeneGlobe Data Analysis Center (QIAGEN, Hilden,

Alemanha), foi possível observar a expressão diferencial dos 84 genes analisados (Figura 12).

Houve alteração na expressão dos genes SLC5A8 (Solute carrier Family 5 member 8) e TFPI2

(Tissue fator pathway inhibitor 2), que foram regulados positivamente em 2,42 e 2,13 vezes

(Fold regulation) respectivamente após o tratamento com violaceína.

Figura 12: Heat map gerado pelo programa GeneGlobe Data Analysis (QIAGEN, Hilden, Alemanha)

indicando a expressão diferencial de 84 genes relacionados ao câncer de próstata após tratamento de células

22Rv1 com violaceína

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9.5 DISCUSSÃO

A partir dos ensaios de viabilidade celular foi possível observar que violaceína apresenta

uma potente atividade citotóxica nas diferentes linhagens avaliadas. A dose IC50 deste composto

foi de aproximadamente 0,4µM em células 22RV1, 0,65µM em células DU145 e 0,9µM em

células C4-2. Em 2015, Hashimi et al. calcularam a dose IC50 da violaceína em células PC-3

(Adenocarcinoma de próstata derivado de tecido ósseo) e chegaram ao valor de 0,318µM (70).

A variação nos valores de IC50 da violaceína para as diferentes linhagens celulares indicam a

heterogeneidade da resposta dessas células a este composto. O valor de IC50 calculado em

células normais de próstata PNT1A se aproximou de 1,3µM. Sendo assim, a citotoxicidade da

violaceína em células normais de próstata é quase 50% menor do que nas células de câncer de

próstata mais resistentes avaliadas após exposição a este composto.

Em estudo com células U87 (Glioblastoma), Mehta et al. observaram a redução da

migração celular em 40% comparado com o controle (175). No presente estudo, o tratamento

com violaceína reduziu a capacidade de migração de algumas das células de câncer de próstata

testadas em até 50% quando comparado ao controle. Estudos complementares são necessários

para a caracterização do mecanismo ativado por violaceína na redução da migração celular nos

modelos estudados. Sugerimos aqui, que estes estudos objetivem elucidar a influência deste

composto sobre a expressão de proteínas relacionadas à quimiocina CXCL12 e seu receptor

CXCR4 em células de próstata, sendo que, em 2014, Platt et al. observaram que a violaceína

inibe a interação entre CXCL12 e CXCR4 mediada por MMP2 e MMP9 em células MCF-7

(65). Esta interação estimula o processo de angiogênese e induz a multiplicação, invasão e

migração de células tumorais (176). A influência destas metaloproteinases de matriz e

quimiocinas sobre a migração celular foi descrita em células de câncer de próstata por Singh et

al. em 2004, sendo assim, o mesmo mecanismo pode ter sido ativado pela violaceína nas células

avaliadas no presente estudo (177).

A partir de contagem de células viáveis em diferentes tempos de incubação com a

violaceína em dose IC50, foi determinado que a viabilidade das células 22RV1 é reduzida a

partir de 6 horas de tratamento (dados não mostrados). Após este tempo de tratamento, o RNA

das células tratadas foi extraído, purificado e usado como molde para transcrição reversa do

cDNA para análise de PCR em tempo real. Com o ensaio em qPCR, pudemos destacar a

regulação positiva dos genes SLC5A8 e TFPI2. Em 2007, Park et al. sugerem que SLC5A8

seja um supressor tumoral em câncer de próstata, como já havia sido descrito em outros tipos

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de câncer. Por ensaios de RT-PCR, estes autores relataram que este gene não foi expresso em

células PC-3 e DU145 e apresentaram expressão reduzida em 70% dos tecidos de câncer de

próstata analisados, sendo significantemente mais expressos nos tecidos adjacentes que estavam

livre de tumores (178). Em outro estudo, Ma et al. descrevem que TFPI2 é suprimido por mR-

616, um micro RNA altamente expresso em células de câncer de próstata. Estes autores

correlacionaram a supressão de TFPI2 e o aumento no nível de mR-616 com o aumento no grau

de agressividade do câncer estudado, além de observarem que TFPI2 era mais expresso e menos

suprimido em células e tecidos normais de próstata. A partir destes resultados, sugere-se que

TFPI2, também apresente função de supressor tumoral em câncer de próstata (179).

9.6 CONCLUSÃO

Em experimentos in vitro, a violaceína apresentou maior citotoxicidade em células de

câncer do que em células normais de próstata, foi capaz de inibir a migração celular e, em pouco

tempo de incubação com as células tumorais, regulou positivamente a expressão de genes

envolvidos na supressão tumoral. A partir dos resultados obtidos, é possível que este composto

tenha potencial terapêutico no tratamento do câncer de próstata, porém, estudos

complementares in vitro e in vivo são necessários para a caracterização detalhada dos

mecanismos genéticos e moleculares envolvidos nos efeitos da violaceína em células de câncer

de próstata.

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10. ANEXO II – CERTIFICADOS DO COMITÊ DE ÉTICA EM

EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

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11. ANEXO III – DECLARAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS