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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS MARIANA CONTIERO SAN MARTINI ESTADO NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES E SUA INSATISFAÇÃO COM O PESO CORPORAL: ESTUDO DE BASE POPULACIONAL CAMPINAS 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

MARIANA CONTIERO SAN MARTINI

ESTADO NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES E SUA

INSATISFAÇÃO COM O PESO CORPORAL: ESTUDO DE BASE POPULACIONAL

CAMPINAS

2015

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MARIANA CONTIERO SAN MARTINI

ESTADO NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES E SUA

INSATISFAÇÃO COM O PESO CORPORAL: ESTUDO DE BASE POPULACIONAL

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos

exigidos para a obtenção do título de Mestra em Ciências, na

área de Concentração em Saúde da Criança e do Adolescente.

ORIENTADOR: PROF. DR. ANTONIO DE AZEVEDO BARROS FILHO

COORIENTADOR: DRA. DANIELA DE ASSUMPÇÃO

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA

ALUNA MARIANA CONTIERO SAN MARTINI, E ORIENTADO

PELO PROF. DR. ANTONIO DE AZEVEDO BARROS FILHO

CAMPINAS

2015

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O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, Processo

nº 409747/2006-8) realizou o financiamento da pesquisa e da bolsa de Mestrado de

M. C. S. Martini (Processo nº 158412/2013-3).

FICHA CATALOGRÁFICA

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FOLHA DE APROVAÇÃO

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DEDICATÓRIA

A Deus, por me iluminar, transmitir amor,

serenidade e determinação, para que eu

prosseguisse na realização desta

importante etapa de minha vida.

Aos meus amados e queridos pais,

Fátima e Djair, por todo amor, carinho,

amparo, incentivo e dedicação.

Ao meu namorado, Márcio, por seu amor,

companheirismo, apoio e compreensão.

Ao meu orientador, Prof Barros, pelos

ensinamentos, atenção, dedicação e

disponibilidade.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por me proteger, guiar, dar conforto e permitir que seguisse perseverante na

concretização desta importante vivência de minha vida.

Aos meus amados pais, Fátima e Djair, pelo constante amor, dedicação, apoio,

conforto, preocupação em fornecer o melhor na minha formação e por acreditarem

em mim. Amo muito vocês!! Minha eterna gratidão!!

Ao meu querido orientador, Prof. Dr. Antonio de Azevedo Barros Filho, pela

oportunidade de realizar o Mestrado, pela atenção e dedicação desde o primeiro dia,

por todo aprendizado, disponibilidade, humildade, competência e por contribuir em

meu amadurecimento profissional e pessoal....sou muito grata!!!

Ao meu namorado Márcio, pelo amor, carinho, apoio, conforto, por me ouvir,

aconselhar e alegrar os meus dias.

Às docentes do Programa de Estágio Docente (PED), Profa. Dra. Maria Ângela Reis

de Góes Monteiro Antonio, Profa. Dra. Mariana Porto Zambon e Profa. Dra. Silvia de

Barros Mazon, pela oportunidade de realizar esta vivência, pelos ensinamentos,

atenção, dedicação, carinho, competência e contribuições em minha formação

acadêmica e pessoal. Muito obrigada, queridas!! Agradeço também à Profa. Dra.

Mariana e à Profa. Dra. Maria Ângela por aceitarem o meu convite para compor a

Banca Examinadora de Qualificação e pelas excelentes considerações.

Às docentes Profa. Dra. Júlia Laura Delbue Bernardi, Profa. Dra. Angélica Maria

Bicudo, Profa. Dra. Maria Arlete Meil Schimith Escrivão e Profa. Dra. Maria Ângela

Reis de Góes Monteiro Antonio pela disponibilidade e delicadeza em aceitar o meu

convite para participar da Banca Examinadora da Dissertação.

À querida Profa. Dra. Júlia, pelos ensinamentos desde o período da Graduação, por

me incentivar a fazer o Mestrado, pelo carinho, atenção, disponibilidade,

competência e por participar desta importante etapa em minha vida.

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Às Bibliotecárias da Faculdade de Ciências Médicas, Ana Paula de Morais e Oliveira

e Juliana Ravaschio Franco de Camargo, pela atenção, carinho, sempre dispostas a

me ajudar....agradeço de coração toda dedicação!

À Profa. Dra. Ana Maria Canesqui, por suas excelentes considerações na

Qualificação, disponibilidade, dedicação e atenção.

À minha Co-Orientadora Dra. Daniela, pela dedicação, ensinamentos, competência,

atenção, apoio, aconselhamentos e companheirismo.

Aos funcionários do Centro de Investigação em Pediatria (CIPED), especialmente à

Rosa e ao Miltinho, sempre prestativos, competentes, alegres e atenciosos.

Aos funcionários da Comissão de Pós-Graduação, em especial à Márcia, pelas

palavras de carinho e conforto, simpatia, atenção, esclarecimentos, contribuições,

competência e disponibilidade.

Às secretárias do Departamento de Pediatria, principalmente à Sandra Regina

Cardoso e à Ana Paula Monteiro, pela disponibilidade e atenção, sempre carinhosas

e dispostas a ajudar.

À Profa Marilisa, pelos ensinamentos, contribuições, dedicação, atenção e

competência.

Aos antigos amigos e aos novos, especialmente aos que fiz durante o Mestrado,

pelas conversas, palavras de conforto, carinho, apoio, por tornarem os meus dias

mais alegres e especiais.

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“Um aluno, um professor, um livro e uma

caneta podem mudar o mundo.”

(Malala Yousafzaï)

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RESUMO

A adolescência é uma etapa de transição da infância para a idade adulta, marcada

por grandes mudanças biológicas, cognitivas e psicossociais. As experiências

vividas nesta fase podem influenciar na avaliação da imagem corporal, ocasionando

insatisfação com o peso e levando a condutas prejudiciais à saúde. Esta pesquisa

avaliou o estado nutricional e as prevalências de insatisfação com o peso corporal

de adolescentes, segundo o sexo, a faixa etária, a renda familiar mensal per capita e

a escolaridade do chefe de família (artigo 1). Também verificou as prevalências de

insatisfação com o peso em jovens eutróficos, de acordo com as variáveis

demográficas, socioeconômicas, de comportamentos relacionados à saúde e

morbidades (artigo 2). Trata-se de um estudo transversal de base populacional

realizado com adolescentes, de 10 a 19 anos, residentes em Campinas (SP).

Analisaram-se o estado nutricional e as prevalências de insatisfação com o peso

corporal por meio de teste χ². No segundo artigo foram estimadas as prevalências e

as razões de prevalência de insatisfação com o peso de acordo com as variáveis

independentes, por meio de regressão simples e múltipla de Poisson. Os

adolescentes foram classificados em baixo peso, eutrofia, sobrepeso e obesidade,

de acordo com os pontos de corte do percentil de Índice de Massa Corporal (IMC)

para idade, proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Adotou-se nível de

significância de 5% e intervalo de confiança de 95%. Os dados foram digitados no

programa Epidata v.3.1 e as análises estatísticas efetuadas no Stata v.11.0. No

primeiro artigo foram analisados 822 jovens, com idade média de 14,1 anos e no

segundo artigo, 573 adolescentes eutróficos, com idade média de 14,7 anos.

Verificou-se que, no sexo masculino, 64,72% apresentavam eutrofia e 30,46%

excesso de peso e, no sexo feminino, 75,43% foram classificadas com eutrofia e

22,18% excesso de peso. Jovens com sobrepeso ou obesidade, de 10 a 14 anos,

representaram 34,48% e de 15 a 19 anos, 17,66%. Foram observados que, 41,8%

dos adolescentes com sobrepeso e 69,6% obesidade, de 10 a 14 anos, estavam

insatisfeitos com seu peso, enquanto que, 75,2% com sobrepeso e 95,5%

obesidade, de 15 a 19 anos, revelaram-se na mesma condição (artigo 1). A

insatisfação com o peso atingiu 43,76% dos adolescentes eutróficos. Maiores

prevalências de insatisfação com o peso foram verificadas no sexo feminino, na faixa

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etária de 15 a 19 anos, nos adolescentes cuja residência dispunha de oito ou mais

equipamentos, nos ex-fumantes, nos que relataram ingerir bebida alcoólica e nos

que apresentavam pelo menos uma doença crônica. Menor prevalência foi

observada nos adolescentes que residiam em moradias com condições inadequadas

(artigo 2). Este estudo apontou elevada prevalência de excesso de peso nos

adolescentes, principalmente no sexo masculino e nos sujeitos de 10 a 14 anos.

Verificou-se maior prevalência de descontentamento com o peso corporal no sexo

feminino e nos adolescentes de 15 a 19 anos. Nos jovens eutróficos, observou-se

elevada prevalência de insatisfação com o peso, especialmente no sexo feminino,

em indivíduos mais velhos e de melhor nível socioeconômico.

Palavras-chave: Adolescente; Peso Corporal; Estado Nutricional; Imagem Corporal;

Comportamento do Adolescente; Inquérito Epidemiológico.

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ABSTRACT

Adolescence is a transition stage from childhood to adulthood and it is marked by

deep biological, cognitive and psychosocial changes. The experiences lived at this

life stage can influence the assessment of body image, possibly causing weight

dissatisfaction and harmful health behaviors. This study evaluated the nutritional

status and the prevalence of body weight dissatisfaction of adolescents, according to

sex, age, household income per capita and education of the household head (article

1). Also analysed the prevalence of body weight dissatisfaction in normal weight

adolescents, according to demographic and socio-economic variables, health-related

behaviors and morbidities (article 2). This is a cross-sectional population-based

survey with adolescents from 10 to 19 years, living in Campinas (SP). The nutritional

status and the prevalence of body weight dissatisfaction were analyzed by χ² test. In

the second article were estimated the prevalence and prevalence ratios of weight

dissatisfaction according to the independent variables by simple and multiple Poisson

regression. The adolescents were classified as underweight, normal weight,

overweight and obesity, according to the BMI cut-off points for age, recommended by

the World Health Organization. It adopted a significance level of 5% and 95%

confidence intervals. The data was entered using Epidata 3.1 and statistical analyses

were conducted in Stata 11.0 software. In the first article, 822 young people were

analyzed, with an average age of 14.1 years and in the second article, 573

adolescents with normal weight were analyzed, with an average age of 14.7 years. It

was found that, among male sex, 64.72% had normal weight and 30.46%

overweight, and in females sex, 75.43% were classified with normal weight and

22.18% overweight. The young with overweight or obesity, from 10 to 14 years

accounted 34.48% and from 15 to 19 years, 17.66%. It was observed that 41.8% of

overweight adolescents and 69.6% obesity, from 10 to 14 years, were dissatisfied

with their weight, while 75.2% of young with overweight and 95.5% obesity, from 15

to 19 years, were in the same condition (article 1). Dissatisfaction with current weight

reached 43.76% of normal weight in teenagers. Higher prevalence of weight

dissatisfaction was observed for females, for individuals between the ages from 15 to

19 years, for adolescents whose household had eight or more appliances, for former

smokers, for those who reported alcohol intake and those who had one or more

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chronic diseases. Lower prevalence was observed in adolescents living in

inadequate conditions (article 2). The results of this study show high prevalence of

overweight and obesity in adolescents, especially in males and in people from 10 to

14 years. It was found higher prevalence of dissatisfaction with their weight,

especially the females and in adolescents from 15 to 19 years. While in normal

weight adolescents observed high prevalence of dissatisfaction with their weight,

especially the females, the older and those with better socioeconomic level.

Keywords: Adolescent; Body Weight; Nutritional Status; Body Image; Adolescent

Behavior; Health Surveys.

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LISTA DE TABELAS

ARTIGO 1

Tabela 1. Prevalência do estado nutricional em adolescentes de 10 a 19 anos, segundo sexo,

faixa etária, renda familiar per capita e escolaridade do chefe de família. Inquérito de Saúde

no Município de Campinas (ISACamp, 2008/2009)..................................................................38

Tabela 2. Prevalência de satisfação e insatisfação com o peso corporal em adolescentes de

10 a 19 anos. Inquérito de Saúde no Município de Campinas (ISACamp, 2008/2009)...........39

ARTIGO 2

Tabela 1. Prevalência de insatisfação com o peso corporal em adolescentes eutróficos de 10

a 19 anos, segundo variáveis demográficas e socioeconômicas. Inquérito de Saúde no

município de Campinas (ISACamp, 2008/2009).......................................................................58

Tabela 2. Prevalência de insatisfação com o peso corporal em adolescentes eutróficos de 10

a 19 anos, segundo variáveis de comportamentos relacionados à saúde e de morbidades.

Inquérito de Saúde no município de Campinas (ISACamp, 2008/2009)..................................59

Tabela 3. Modelo de regressão múltipla de Poisson em 2 etapas. Inquérito de Saúde no

município de Campinas (ISACamp, 2008/2009).......................................................................60

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AN

BN

CCAS

CEP

CNPq

DALYs

DCNT

FCM

HBSC

IMC

ISACamp

IBGE

IC

m

MG

n

OMS

P

p

PE

PeNSE

kg

RP

RS

SP

TDAH

Unicamp

Anorexia Nervosa

Bulimia Nervosa

Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde

Comitê de Ética em Pesquisa

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Disability Adjusted Life of Years

Doenças Crônicas Não Transmissíveis

Faculdade de Ciências Médicas

Health Behaviour in School-aged Children

Índice de Massa Corporal

Inquérito de Saúde no município de Campinas

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Intervalo de Confiança

metro

Minas Gerais

número (de indivíduos na amostra)

Organização Mundial da Saúde

Percentil

probabilidade

Pernambuco

Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar

quilograma

Razão de Prevalência

Rio Grande do Sul

São Paulo

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

Universidade Estadual de Campinas

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LISTA DE SÍMBOLOS

=

>

+

<

%

χ²

Igual a

Maior que

Mais

Menor que

Porcentagem

Qui-quadrado

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................15

2. OBJETIVOS...........................................................................................................20

2.1. GERAL.......................................................................................................20

2.2. ESPECÍFICOS – Artigo 1...........................................................................20

2.3. ESPECÍFICOS – Artigo 2...........................................................................20

3. METODOLOGIA.....................................................................................................21

4. RESULTADOS.......................................................................................................24

4.1. ARTIGO 1: Prevalência de insatisfação com o peso corporal e estado

nutricional de adolescentes de Campinas, São Paulo, Brasil............................24

4.2. ARTIGO 2: Adolescentes eutróficos estão satisfeitos com o seu peso? –

Inquérito de base populacional..........................................................................42

5. DISCUSSÃO GERAL.............................................................................................61

6. CONCLUSÃO.........................................................................................................66

6.1. ARTIGO 1...................................................................................................66

6.2. ARTIGO 2...................................................................................................66

7. REFERÊNCIAS......................................................................................................67

8. ANEXOS.................................................................................................................75

8.1. ANEXO 1 - Parecer do CEP.......................................................................75

8.2. ANEXO 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.........................79

8.3. ANEXO 3 - Questionário de pesquisa........................................................81

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15

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a epidemia global de sobrepeso e obesidade ou

“globesidade” (como é denominada pela Organização Mundial da Saúde) é

considerada um importante problema de saúde pública, consequente de mudanças

no perfil nutricional da população, em muitas partes do mundo(1-3). A principal causa

do excesso de peso é a susceptibilidade ambiental para ganhar peso, ou seja,

ambiente obesogênico. Este promove um desequilíbrio no balanço energético,

ocasionando a redução do gasto energético por meio da diminuição de prática de

atividade física e, com isso, aumento do sedentarismo, elevado consumo de energia

provinda dos alimentos com altos teores de gorduras, açúcares e sal, baixos teores

de fibras, vitaminas e minerais, de elevada densidade energética, que originam

dependência por serem saborosos, apresentam comodidade e preços acessíveis(4-9).

O aumento das prevalências de sobrepeso e obesidade, afeta, de

maneira geral, todas as faixas etárias e grupos socioeconômicos e elevam os riscos

de várias morbidades, como as cardiovasculares, o acidente vascular cerebral, a

hipertensão arterial, o diabetes mellitus, certos tipos de câncer, dentre outras(1,5),

sendo que 2,8 milhões de indivíduos morrem por ano em decorrência do excesso de

peso (equivalente a 4,8% da população)(10) e mais de 115,0 milhões sofrem

problemas relacionados à obesidade(5).

Em 1980, havia 857,0 milhões de indivíduos com excesso de peso, no

mundo. Nos dias de hoje estima-se que sejam 2,1 bilhões(11). No Brasil, o excesso

de peso acomete 33,5% das crianças menores de 5 anos, 49,0% dos adultos de 20

anos ou mais e 20,5% dos adolescentes de 10 a 19 anos. Dentre os jovens de sexo

masculino, 15,7% foram classificados como sobrepeso e 5,8% obesidade e no sexo

feminino, 15,4% sobrepeso e 4,0% obesidade(12). De acordo com projeções

nacionais, em 2022, a obesidade poderá acometer 13,8% do sexo masculino e 7,8%

do sexo feminino, de 10 a 19 anos(12,13).

É importante mencionar que, a constante preocupação com o excesso de

peso (realidade atual ou medo de apresentar excesso de peso no futuro) pode

desencadear insatisfação e até distorções na autopercepção da imagem corporal -

subestima ou superestima a forma e/ou o tamanho do próprio corpo - e não se refere

somente aos jovens com algum tipo de transtorno alimentar, sendo cada vez mais

frequente entre os adolescentes(14). A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar

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16

(PeNSE, 2012)(15), realizada com os alunos do 9º ano do ensino fundamental, de

escolas situadas nas Capitais e no Distrito Federal, revelou que, 61,9% dos jovens

se consideravam com o peso normal, 22,0% acreditavam ser magros ou muito

magros e 16,2% se achavam gordos ou muito gordos. Maior proporção dos

estudantes que se consideravam gordos ou muito gordos foi verificada na região Sul

do país, com 19,6%, seguida do Sudeste, com 17,4%.

A construção e o desenvolvimento da imagem corporal são influenciados

por vários aspectos - psicossociais, neurológicos, históricos e culturais - e é definido

pela imagem constituída na mente do indivíduo ao se visualizar (julgamento,

percepção de tamanho, forma corporal e aparência) e a resposta emocional

(sentimentos e atitudes) associada ao próprio corpo(16,17). Desta forma, a imagem

corporal está relacionada em como as pessoas sentem o seu corpo e se pretendem

modificá-lo. Portanto, o descontentamento com a imagem corporal é traduzido pelo

desejo de apresentar características corporais diferentes da atual, que inclui a

insatisfação com o peso (divergência entre o peso atual e o peso idealizado),

aspecto considerado mais fácil de ser modificado na aparência, de acordo com

estudo realizado com mulheres(18).

A reconstrução de novas imagens do corpo, a partir da realidade e do que

é almejado, ocorre durante toda a vida, mas de modo peculiar na adolescência, em

que há alteração do posicionamento do corpo perante o mundo(19). Esta fase de

transição da infância para a vida adulta compreende a faixa etária dos 10 aos 19

anos(20,21), e apresenta modificações biológicas, psicológicas e sociais, caracterizada

por mudanças na aparência física, maturidade sexual e reprodutiva, cognitiva,

comportamental, ideológica, de novas experiências (por exemplo, na sexualidade),

definição da própria identidade (e também da identidade do corpo), novas

referências corporais, busca de autonomia, consumo, imediatismo, significativa

influência de amigos e rebeldia em relação aos padrões familiares(13,15,19,21,22).

Outras transformações que acontecem são estirão de crescimento longitudinal,

alterações na forma e na composição corporal, aumento no tamanho e no número

total de adipócitos, aumento de órgãos e dos sistemas(22).

Há um ganho significativo de peso na adolescência, entretanto, há uma

distinção entre os sexos. Em geral, o sexo masculino apresenta um aumento na

massa muscular e com isso, mais peso. O sexo feminino aumenta a gordura

corporal e tem um crescimento ósseo de menor período (menor estatura) em relação

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17

ao sexo masculino. Diante disso, os jovens apresentam maior necessidade

energética e de nutrientes por meio da ingestão alimentar. Além de possíveis

modificações nas preferências de alimentos, que influenciarão na formação dos

hábitos alimentares(22).

Alimentação inadequada aliada aos comportamentos de risco, como

consumir álcool, tabagismo, sedentarismo e fazer dieta para perda de peso, podem

interferir no desenvolvimento, crescimento e maturação dos adolescentes, torná-los

vulneráveis aos hábitos alimentares inadequados e distúrbios nutricionais,

acarretando em problemas à saúde(22-24). Provocar vômitos, ingerir laxantes, não

realizar um número mínimo adequado de refeições diárias (três ou mais), usar

medicamentos, fórmulas ou outros produtos para ganhar peso ou massa muscular

ou para emagrecer são outros comportamentos que podem influenciar na saúde dos

jovens e sugerem insatisfação com o corpo(15,24). Preocupações excessivas com o

peso e a forma corporal são alguns indicadores comuns de Anorexia Nervosa (AN) e

Bulimia Nervosa (BN)(25), transtornos alimentares que apresentam elevada

prevalência de morbimortalidade entre os jovens(26-28), agravados pela influência de

modelos de beleza.

A sociedade moderna valoriza um padrão de aparência física em que o

sexo feminino deve ser magro, esbelto, porém com curvas e de estatura mediana, o

masculino necessita ser musculoso, forte, alto, bronzeado, ombro largo, bíceps e

abdômen definido e os indivíduos que não apresentam essas características seriam

predestinados ao fracasso e ao descontentamento(14,29). Apesar de temerem o

excesso de peso, alguns meninos, paradoxalmente, ingerem maior quantidade de

alimentos do que o normal com a intenção de aumentarem a massa muscular.

Enquanto, as meninas podem demonstrar ansiedade em ver seu próprio corpo ou

expô-lo em público, prestar atenção nos corpos e na quantidade de alimentos

consumidos por outras pessoas, invejar indivíduos que conseguem se comprometer

com a dieta e observar o tamanho corporal de artistas(30).

O sonho juvenil de um corpo perfeito, com construção fantasiosa, se

transforma gradualmente em uma realidade madura, de acordo com as vivências da

vida. Nesse processo, pais e cuidadores, por meio de vínculos adequados, podem

desempenhar papéis essenciais na formação da nova imagem corporal, de maneira

harmônica, sem conflitos entre imagem corporal e corpos-imagem (projeção de

corpos irreais idealizados pela mídia)(19). Jovens que têm dificuldade em conversar

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com os pais (especialmente com a figura paterna) podem apresentar maior

insatisfação com o peso corporal(31). Amigos podem exercer influência no

desenvolvimento de padrões e crenças e sentimento de exclusão por motivo de

aparência, principalmente no sexo masculino(32) e interferência da percepção de

corpo ideal no sexo feminino, por meio de comentários de colegas sobre modelos da

mídia(33). Também há influência de amigos na realização de dietas, consumo de

shakes ou proteína em pó, controle excessivo de peso (tais como utilização de

pílulas emagrecedoras e indução de vômitos), compulsão alimentar, uso de

esteróides e demais substâncias para ganho de massa muscular(34).

A mídia (televisão, internet, rádio, redes virtuais e sites de agências de

beleza) promove um modelo de corpo perfeito, irreal e ilusório, símbolo de status, de

liberdade a serviço do consumo, busca pela eternização da juventude - não

demonstrando as vivências individuais e as marcas do tempo - com valorização de

corpos moldados, esculpidos, artificializados, musculosos e magros. Embora, a

formação da imagem corporal não esteja submetida somente às imposições da

mídia, esta influi na construção do indivíduo, serve como referência, ajuste e

reorganização de imagens e esquemas corporais, sendo um veículo de formação do

sujeito(19). Apesar dos adolescentes considerarem que os ideais de beleza propostos

pela mídia sejam artificiais - como imagens que são modificadas por meio de

computadores - manipuladores e inatingíveis, estes tentam segui-los, evidenciando a

influência midiática(29).

Muitos jovens apresentam insatisfação com seu peso ou estatura(35), pois

vivenciam um processo crítico, de recomposição da própria imagem corporal (luto do

corpo infantil em direção ao corpo adulto) e busca por modelos próprios de

identificação, interagindo com os corpos idealizados oferecidos pelo mundo(19).

Segundo dados de pesquisa nacional, 47,1% das meninas não estavam satisfeitas

com seu peso (31,1% gostariam de perder e 16,0% queriam ganhar peso) e 40,6%

dos meninos (21,0% manifestaram desejo de emagrecer e 19,6% de engordar)(15).

O crescente aumento do excesso de peso no mundo e as diversas

mudanças vivenciadas pelos adolescentes neste período da vida, especialmente nos

aspectos físico e psicológico, podem acarretar em vulnerabilidade e insatisfação

com o peso corporal. Diante disso, este estudo de base populacional tem o intuito de

verificar o estado nutricional de adolescentes, residentes no município de Campinas

(SP), avaliar a prevalência de insatisfação com o peso corporal e os fatores

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associados, segundo sexo, faixa etária, renda familiar mensal per capita e

escolaridade do chefe de família (artigo 1) e variáveis demográficas,

socioeconômicas, de comportamentos relacionados à saúde e morbidades (artigo 2).

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2. OBJETIVOS

2.1. GERAL

Avaliar o estado nutricional e a prevalência de insatisfação com o peso corporal em

adolescentes, residentes de Campinas, São Paulo.

2.2. ESPECÍFICOS - Artigo 1:

Avaliar o estado nutricional dos adolescentes residentes de Campinas (SP).

Verificar as prevalências de insatisfação com o peso corporal, de acordo com o

sexo, a idade, a renda familiar mensal per capita e a escolaridade do chefe de

família.

2.3. ESPECÍFICOS - Artigo 2:

Analisar as prevalências de insatisfação com o peso corporal em adolescentes

eutróficos, segundo variáveis demográficas, socioeconômicas, de comportamentos

relacionados à saúde e morbidades.

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3. METODOLOGIA

O estudo em questão é de desenho transversal de base populacional e

utilizou os dados do Inquérito de Saúde no município de Campinas (ISACamp,

2008/2009), projeto intitulado “Determinantes sociais do padrão de morbidade, uso

de serviços e comportamentos relacionados à saúde” (CAAE:

37303414.4.0000.5404), que visa analisar as condições de vida, situação de saúde

e uso de serviços, por meio de entrevistas domiciliares. O ISACamp 2008/2009 foi

financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), processo nº 409747/2006-8, em parceria com o Centro Colaborador em

Análise de Situação de Saúde (CCAS) e a Secretaria Municipal de Saúde de

Campinas.

A amostra da pesquisa foi determinada por procedimentos de amostragem

probabilística, por conglomerado e em dois estágios: setor censitário e domicílio. No

primeiro estágio, foram sorteados 50 setores censitários, a partir de listagem

fornecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no

Censo Demográfico de 2000, e levando-se em consideração a probabilidade

proporcional ao tamanho do número de domicílios. Realizou-se o arrolamento de

domicílios dos setores selecionados para a atualização dos endereços. No segundo

estágio, procedeu-se o sorteio dos domicílios dos setores já selecionados.

A população do inquérito foi composta por três domínios de idade:

adolescentes (10 a 19 anos), adultos (20 a 59 anos) e idosos (60 anos ou mais). O

tamanho de amostra definido foi de 1.000 pessoas em cada domínio, o que permite

estimar prevalência de 50%, com nível de confiança de 95% e erro de amostragem

entre 4% e 5%, considerando um efeito de delineamento igual a 2.

Prevendo uma taxa de resposta de 80%, a amostra foi corrigida para 1.250.

Para atingir o tamanho amostral desejado foram sorteados, de forma independente,

2.150, 700 e 3.900 domicílios, para entrevistas com adolescentes, adultos e idosos,

respectivamente. O cálculo do número de domicílios foi realizado a partir da média

esperada de pessoas por domicílio (razão de pessoas dividido por domicílios) em

cada grupo de idade. A população foi constituída por domicílios particulares ou

coletivos não institucionais, residentes na área urbana do município de Campinas.

As visitas domiciliares ocorreram entre os meses de fevereiro de 2008 a abril de

2009.

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As informações foram coletadas por meio de um questionário estruturado em

14 blocos temáticos, testado em estudo piloto, e aplicado por entrevistadores

treinados previamente e supervisionados durante a execução da pesquisa de

campo. O estudo em questão priorizou as informações contidas no bloco temático

sobre hábito alimentar, com perguntas a respeito do peso e da altura referidos,

desejo de modificar o peso, quanto almejava pesar e práticas realizadas para a

perda de peso.

Analisaram-se os dados de adolescentes de 10 a 19 anos, de ambos os

sexos. A variável dependente foi composta pela prevalência de insatisfação com o

peso e avaliada por meio da questão “Você gostaria de ganhar ou perder peso?”,

que apesar de conter duas indagações em uma mesma questão era desdobrada

posteriormente, com alternativas de respostas “não”; “sim, de ganhar peso”; “sim, de

perder peso”; “não sabe/não respondeu”.

As variáveis independentes analisadas foram demográficas e

socioeconômicas (em ambos os artigos), comportamentos relacionados à saúde e

morbidades (artigo 2) e Índice de Massa Corporal (IMC - artigo 1). O estado

nutricional dos adolescentes foi obtido por meio de peso e altura referidos, calculado

por meio de peso (em quilogramas) dividido por altura (em metros) ao quadrado e

classificados em baixo peso (≥ P0,1 e < P3), eutrofia (≥ P3 e ≤ P85), sobrepeso (>

P85 e ≤ P97) e obesidade (> P97 e ≤ P99,9), de acordo com os pontos de corte do

percentil de IMC para idade, proposto pela Organização Mundial da Saúde

(OMS)(36).

No primeiro artigo, foram estimadas as prevalências do estado nutricional

dos adolescentes de acordo com o sexo, a faixa etária, a renda familiar mensal per

capita e a escolaridade do chefe de família. Tais variáveis também foram analisadas

com as prevalências de satisfação e insatisfação com o peso corporal (desejo de

ganhar ou perder peso), segundo o IMC. Enquanto no segundo artigo, verificaram-se

as prevalências de insatisfação com o peso corporal em indivíduos eutróficos,

segundo as variáveis independentes (demográficas, socioeconômicas,

comportamentos relacionados à saúde e morbidades). Em ambos os artigos, a

associação foi verificada pelo teste χ², considerando um nível de significância de 5%.

No segundo artigo, as razões de prevalência e os intervalos de confiança de 95%

foram calculados por meio de regressão simples e múltipla de Poisson, sendo este

último desenvolvido em duas etapas. Na primeira, foram introduzidas as variáveis

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demográficas e socioeconômicas, que apresentaram valor de p<0,20 na análise

bivariada, tendo permanecido no modelo as variáveis com p<0,05. Na segunda

etapa, foram acrescidas ao modelo as variáveis de comportamentos relacionados à

saúde e morbidades que tiveram alguma categoria com p<0,20 na análise bivariada

e mantiveram-se no modelo as que apresentaram p<0,05.

Os dados foram digitados em banco elaborado com o uso do Epidata 3.1

(Epidata Association, Odense, Dinamarca) e as análises estatísticas realizadas no

módulo svy do programa Stata 11.0 (Stata Corporation, College Station, Texas,

Estados Unidos), que permite a análise de dados de amostras complexas.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Estadual de Campinas, em

adendo ao parecer nº 079/2007 (anexo 1).

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4. RESULTADOS

4.1. ARTIGO 1

Prevalência de insatisfação com o peso corporal e

estado nutricional de adolescentes de

Campinas, São Paulo, Brasil

Mariana Contiero San Martini1, Daniela de Assumpção2, Marilisa Berti de Azevedo

Barros2, Antônio de Azevedo Barros Filho1

1 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas,

Departamento de Pediatria.

2 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas,

Departamento de Saúde Coletiva.

Correspondência:

Mariana Contiero San Martini

Rua do Açúcar, 520, CEP 13070-024,

Campinas, São Paulo, Brasil.

Telefone: (19) 3241-5886

[email protected]

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RESUMO

Objetivo: Avaliar o estado nutricional e as prevalências de insatisfação com o peso

corporal de adolescentes, segundo o sexo, a faixa etária, a renda familiar mensal per

capita e a escolaridade do chefe de família. Métodos: Estudo transversal de base

populacional realizado com adolescentes de 10 a 19 anos, residentes em Campinas,

São Paulo. Analisaram-se o estado nutricional e as prevalências de insatisfação com

o peso corporal, de acordo com variáveis independentes, em que foram verificadas

associações por meio de teste χ². Os adolescentes foram classificados em baixo

peso, eutrofia, sobrepeso e obesidade, de acordo com os pontos de corte do

percentil de Índice de Massa Corporal (IMC) para idade, proposto pela Organização

Mundial da Saúde (OMS). Adotou-se nível de significância de 5% e intervalo de

confiança de 95%. Os dados foram digitados no programa Epidata v. 3.1 e as

análises estatísticas efetuadas no Stata v. 11.0. Resultados: Analisaram-se 822

adolescentes, com idade média de 14,12 anos (IC95%: 13,86-14,37). Dentre os

meninos, 64,72% apresentavam eutrofia e 30,46% excesso de peso, e nas meninas,

75,43% foram classificadas com eutrofia e 22,18% excesso de peso. Jovens com

sobrepeso ou obesidade, de 10 a 14 anos, representaram 34,48% e de 15 a 19

anos, 17,66%. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas de

estado nutricional em relação à renda familiar e a escolaridade do chefe de família.

Dos meninos que relataram insatisfação com o peso corporal, 34,5% tinham eutrofia

e 45,3% sobrepeso, e entre as meninas, 52,0% apresentavam eutrofia e 63,6%

sobrepeso. Verificou-se que, 41,8% dos adolescentes com sobrepeso e 69,6%

obesidade, de 10 a 14 anos, estavam insatisfeitos com seu peso, enquanto que,

75,2% com sobrepeso e 95,5% obesidade, de 15 a 19 anos, revelaram-se na

mesma condição. Conclusão: Observou-se elevada prevalência de excesso de

peso nos adolescentes, principalmente nos meninos e nos sujeitos de 10 a 14 anos.

Foi verificada maior prevalência de insatisfação com o peso corporal no sexo

feminino e nos adolescentes de 15 a 19 anos.

Palavras-chave: Adolescente; Peso Corporal; Estado Nutricional; Imagem Corporal;

Inquérito Epidemiológico.

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Introdução

O crescente aumento das prevalências de sobrepeso e obesidade no mundo

tornou-se um desafio para a saúde pública(1,2). Em 1980, eram 857,0 milhões de

indivíduos com excesso de peso, atualmente são 2,1 bilhões(3). Diversas

organizações têm se mobilizado para definir metas com intuito de diminuir o número

de pessoas com excesso de peso. O Ministério da Saúde elaborou o Plano de

Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não

Transmissíveis (DCNT) no Brasil, que visa desenvolver e implementar políticas

públicas eficazes na prevenção e controle tanto de doenças crônicas quanto de seus

fatores de risco, no qual a obesidade se encaixa. Dentre as várias propostas

definidas, destaca-se a redução da prevalência de sobrepeso e obesidade nos

jovens de 10 a 19 anos(4), pois de acordo com projeções nacionais, em 2022, a

obesidade poderá acometer 13,8% dos meninos e 7,8% das meninas(5). Além disso,

crianças e adolescentes obesos apresentam maior risco de serem adultos obesos e

desenvolver mais precocemente doenças coronarianas e crônicas não

transmissíveis (especialmente diabetes e hipertensão arterial) e aumento do risco de

mortalidade(1,6,7).

A preocupação com o peso é um dos principais aspectos relacionados ao

aumento do descontentamento com o corpo e o excesso de peso pode agravar essa

insatisfação(8, 9). O desejo de um corpo diferente do atual pode fazer com que jovens

modifiquem os comportamentos inadequados e incorporem hábitos de vida

saudáveis. No entanto, adolescentes que desejam melhorar a percepção do próprio

corpo podem adotar comportamentos prejudiciais à saúde, como realização de

menos de três refeições diárias(10), restrição alimentar (dieta hipocalórica ou

prolongados períodos de jejum)(11), ingestão de laxantes, indução de vômitos, uso de

medicamentos ou fórmulas para ganho de peso ou massa muscular(12), dentre

outros, com o intuito de conquistarem o corpo idealizado.

Em relação ao sexo feminino, frequentemente se espera uma imagem

corporal correspondente ao baixo peso, fruto da idealização imposta nas

representações sociais. O corpo feminino também deve ser dotado de beleza, poder

e status social, atração exercida sobre o sexo oposto, estatura mediana, ser esbelto,

mas também apresentar curvas e demonstrar-se saudável(13,14). Quanto ao sexo

masculino, as expectativas são por um corpo alto, ombros largos, musculatura bem

definida e enrijecida, especialmente de bíceps e abdômen(14,15).

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Considerando que o aumento das prevalências de excesso de peso, a

influência das representações sociais, a elevada preocupação com a aparência e a

vulnerabilidade dos jovens podem desencadear insatisfação com o corpo e

principalmente com o peso, o objetivo deste estudo foi avaliar o estado nutricional

dos adolescentes residentes em Campinas (SP), bem como analisar as prevalências

de insatisfação com o peso corporal, segundo sexo, grupo etário, renda familiar

mensal per capita e escolaridade do chefe de família.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal de base populacional, que utilizou dados

do Inquérito de Saúde no município de Campinas (ISACamp, 2008), realizado pelo

Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde, do Departamento de Saúde

Coletiva, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas

(CCAS/FCM/Unicamp). O período de coleta de dados ocorreu entre os meses de

fevereiro de 2008 a abril de 2009.

A amostra da pesquisa foi determinada por procedimentos de amostragem

probabilística, por conglomerado e em dois estágios: setor censitário e domicílio. No

primeiro estágio, 50 setores censitários foram sorteados com probabilidade

proporcional ao tamanho (número de domicílios). Foram utilizados os setores do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo

Demográfico de 2000. Levando-se em consideração o tempo decorrido, foi feito o

arrolamento dos domicílios dos setores selecionados para a obtenção de uma

listagem atualizada de endereços. No segundo estágio, procedeu-se o sorteio dos

domicílios.

A população do inquérito foi composta por três domínios de idade:

adolescentes (10 a 19 anos), adultos (20 a 59 anos) e idosos (60 anos ou mais). O

tamanho de amostra definido foi de 1.000 pessoas em cada domínio, o que permite

estimar prevalência de 50%, com nível de confiança de 95% e erro de amostragem

entre 4% e 5% considerando um efeito de delineamento igual a 2.

Prevendo uma taxa de resposta de 80%, a amostra foi corrigida para 1.250.

Para atingir o tamanho amostral desejado foram sorteados, de forma independente,

2.150, 700 e 3.900 domicílios para entrevistas com adolescentes, adultos e idosos,

respectivamente.

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As informações foram coletadas por meio de um questionário estruturado em

14 blocos temáticos, testado em estudo piloto, e aplicado por entrevistadores

treinados e supervisionados no campo. O bloco temático sobre hábito alimentar

continha perguntas a respeito do peso e da altura referidos, desejo de modificar o

peso, quanto almejava pesar e práticas realizadas para a perda de peso.

No presente estudo foram analisados os dados de adolescentes de 10 a 19

anos, de ambos os sexos, não institucionalizados, residentes na área urbana do

município de Campinas. A variável dependente foi composta pela prevalência de

insatisfação com o peso, sendo categorizada em querer ganhar ou perder peso

(menos que 10% e 10% ou mais). A insatisfação com o peso corporal foi avaliada

por meio da questão “Você gostaria de ganhar ou perder peso?”, que apesar de

conter duas indagações em uma mesma questão era desdobrada posteriormente,

com alternativas de respostas “não”; “sim, de ganhar peso”; “sim, de perder peso”;

“não sabe/não respondeu”.

As variáveis independentes analisadas neste estudo foram:

Demográficas e socioeconômicas: sexo, idade (em anos), renda familiar

mensal per capita (em salários mínimos) e escolaridade do chefe de família

(em anos de estudo).

Índice de Massa Corporal (IMC): obtido pelo peso (em quilogramas) dividido

por altura (em metros) ao quadrado, a partir de informações referidas. Os

adolescentes foram classificados em baixo peso (≥ P0,1 e < P3), eutrofia (≥

P3 e ≤ P85), sobrepeso (> P85 e ≤ P97) e obesidade (> P97 e ≤ P99,9), de

acordo com os pontos de corte do percentil de IMC para idade proposto pela

Organização Mundial da Saúde (OMS)(16).

Verificaram-se as prevalências do estado nutricional dos adolescentes de

acordo com o sexo, a faixa etária, a renda familiar mensal per capita e a

escolaridade do chefe de família. Tais variáveis também foram analisadas com as

prevalências de satisfação e insatisfação com o peso corporal (desejo de ganhar ou

perder peso), segundo o IMC. A associação foi verificada pelo teste χ², considerando

um nível de significância de 5%.

Os dados foram digitados em banco elaborado com o uso do Epidata 3.1

(Epidata Association, Odense, Dinamarca) e as análises estatísticas foram

realizadas no módulo svy do programa Stata 11.0 (Stata Corporation, College

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Station, Texas, Estados Unidos), que permite a análise de dados de amostras

complexas.

O projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Estadual de Campinas, em

adendo ao parecer nº 079/2007 (anexo 1).

Resultados

Foram analisados 822 adolescentes residentes de Campinas, com idade

média de 14,12 anos (IC95%: 13,86-14,37). Verificou-se que, nos meninos, 64,72%

apresentavam eutrofia (IC95%: 59,70-69,44), 17,15% sobrepeso (IC95%: 13,50-

21,55) e 13,31% obesidade (IC95%: 10,19-17,21). Enquanto nas meninas, 75,43%

tinham eutrofia (IC95%: 71,46-79,00), 15,31% sobrepeso (IC95%: 11,98-19,36) e

6,87% obesidade (IC95%: 4,98-9,41). O sexo feminino demonstrou maior

prevalência de eutrofia e menor prevalência de obesidade quando comparadas ao

sexo masculino, dados estatisticamente significativos (p=0,0020) (Tabela 1).

Também se observaram diferenças significativas nas faixas etárias de 10 a

14 anos e de 15 a 19 anos (p=0,0000), tendo os sujeitos de maior idade apresentado

maior prevalência de eutrofia e menores prevalências de sobrepeso e obesidade.

Não foram verificadas diferenças estatísticas na associação do estado nutricional

com as variáveis renda familiar mensal per capita (p=0,6350) e escolaridade do

chefe de família (p=0,0894) (Tabela 1).

Constatou-se que, 51,2% dos jovens estavam satisfeitos com seu peso

corporal, 14,3% desejavam ganhar peso, 16,2% queriam perder menos que 10% e

18,3% reduzir 10% ou mais de seu peso. Ao analisar somente os indivíduos

satisfeitos com seu peso, de 10 a 14 anos, notou-se que 63,9% apresentavam

eutrofia, 58,2% sobrepeso e 30,3% obesidade. Enquanto que, nos jovens

insatisfeitos (queriam ganhar ou perder peso), de mesma faixa etária, 36,1%

eutrofia, 41,8% sobrepeso e 69,6% obesidade, o que mostra maiores prevalências

de satisfação em relação à insatisfação com o peso, exceto nos obesos. Situação

inversa foi observada nos adolescentes de 15 a 19 anos, em que houve maiores

prevalências de insatisfação com o peso, em todos os estados nutricionais. Dos

insatisfeitos com o peso (desejavam ganhar ou reduzir peso), 50,2% eram

eutróficos, 75,2% sobrepeso e 95,5% obesos. Todavia, os satisfeitos com seu peso

eram 49,8% eutróficos, 24,7% sobrepeso e 4,4% obesos (Tabela 2).

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Nas meninas obesas, 24,9% estavam satisfeitas com o peso e 34,7% tinham

de 10 a 14 anos. Desejo de reduzir o peso obteve prevalência de 75,2% das obesas,

65,2% tinham entre 10 a 14 anos e 99,9% de 15 a 19 anos. Em relação aos meninos

obesos, 22,9% estavam satisfeitos com seu peso, 28,2% tinham de 10 a 14 anos e

6,9% de 15 a 19 anos, demonstrando que, há um percentual de obesos satisfeitos

com o seu peso, especialmente os mais jovens. Dentre os que almejavam perder

peso (menor que 10% e maior ou igual a 10%), 77,1% eram meninos obesos, 71,6%

tinham de 10 a 14 anos e 93,0% de 15 a 19 anos (Tabela 2).

Discussão

Este estudo verificou elevada prevalência de sobrepeso e obesidade nos

adolescentes, principalmente no sexo masculino e nos sujeitos de 10 a 14 anos. De

maneira geral, menores prevalências de satisfação com o peso foram observadas no

sexo feminino e nos jovens de 15 a 19 anos.

Dentre as prevalências de excesso de peso, no sexo masculino, 17,15%

tinham sobrepeso e 13,31% obesidade, enquanto nas meninas, 15,31% estavam

com sobrepeso e 6,87% obesidade, valores acima do esperado em uma população,

em que 12,0% ou menos dos indivíduos deveriam apresentar sobrepeso e 2,9% ou

menos terem obesidade. Atualmente, no Brasil, 15,7% dos meninos têm sobrepeso

e 5,8% obesidade e nas meninas, 15,4% estão com sobrepeso e 4,0% obesidade(17),

valores próximos aos encontrados na pesquisa em questão. Entretanto, deve-se

ressaltar que, o município de Campinas apresentou maiores prevalências de

sobrepeso e obesidade quando comparados aos parâmetros nacionais, exceto em

meninas com sobrepeso.

Na Índia, embora seja um país com baixa oferta de energia e nutrientes para

crianças e adolescentes tem elevada prevalência de excesso de peso, nos meninos

(21%) quando comparados às meninas (18%)(18). Entretanto, as prevalências de

excesso de peso em jovens mexicanos revelaram o oposto, menor prevalência de

excesso de peso nos meninos (25%) em relação às meninas (28%)(18).

O sexo feminino demonstrou maior prevalência de eutrofia (75,43%) em

relação ao masculino (64,72%) e menor prevalência de satisfação com o peso.

Pode-se deduzir que, as jovens apresentam maior preocupação com a aparência e

podem ser induzidas pela cultura contemporânea a almejarem demasiadamente a

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magreza, o que propicia uma maior atenção e preocupação com seu corpo e estado

nutricional, enquanto os rapazes optam por corpos maiores e musculosos(19,20).

No entanto, a literatura apresenta dados controversos neste aspecto, como

constatado na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE - 2009), em que as

meninas demonstraram consumo regular de guloseimas, biscoito doce e embutidos

(marcadores de alimentos não saudáveis), ingestão menos frequente de leite e feijão

(marcadores de alimentos protetores) e não possuíam hábito de almoçar ou jantar

com a mãe ou responsável (situação considerada marcador de comportamento

saudável), sendo assim mais expostas a práticas alimentares inadequadas(21). Outro

estudo revelou que os rapazes consumiam mais frutas, feijão e leite do que as

moças e realizavam as principais refeições(22). Omissão de refeições diárias é um

comportamento inadequado, e muitas vezes, adotado pelo sexo feminino na

tentativa de redução de peso(10).

Ao comparar as faixas etárias de 10 a 14 anos e 15 a 19 anos, notou-se que

os mais novos demonstraram maiores prevalências de sobrepeso e obesidade e

menor prevalência de eutrofia. Contudo, os jovens de 15 a 19 anos foram os que

apresentaram maiores percentuais de insatisfação com o peso, em todos os estados

nutricionais. Enquanto nos sujeitos de 10 a 14 anos, apenas os obesos revelaram

maior prevalência de insatisfação com o peso (30,03% estavam satisfeitos com o

peso e 69,6% desejavam ganhar ou perder peso), o que sugere maior preocupação

com o peso nos jovens de maior idade. Dados similares foram encontrados em

outras pesquisas, em que meninos mais velhos (de 15 a 19 anos comparados aos

de 10 a 14 anos) tiveram menor prevalência de sobrepeso e obesidade(23) e meninas

pós-púberes (12 a 14 anos) mostraram-se mais suscetíveis a insatisfação corporal

quando comparadas às pré-púberes (10 a 11 anos) e aos seus pares(24).

Verificou-se que, 51,2% dos adolescentes estavam satisfeitos com seu peso,

14,3% queriam ganhar peso, 16,2% perder menos que 10% e 18,3% perder 10% de

peso ou mais, sugerindo que quase metade dos jovens estavam insatisfeitos com

seu peso (48,8% desejavam perder ou ganhar peso). Ao analisar a insatisfação com

a imagem corporal, Conti, Gambardella & Frutuoso(24) revelaram que independente

do sexo, os jovens apresentaram preocupação com peso, tamanho corporal e

aparência. Dentre as 15 áreas corporais analisadas, foram relatadas maiores

insatisfações nos quesitos peso corporal, em 32% dos adolescentes (35% dos

meninos e 31% das meninas), seguido de estômago (21%) e coxas (16%). Pesquisa

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realizada em Caruaru (PE) revelou que, 80,8% das moças e 59,5% dos rapazes com

excesso de peso almejavam reduzir o peso(10), dados elevados e não muito distintos

dos verificados neste estudo, em que, nas meninas, 61,8% que tinham sobrepeso e

75,2% obesidade, desejavam perder peso, enquanto nos meninos, o mesmo anseio

foi verificado em 41,3% dos sujeitos com sobrepeso e 77,1% obesidade.

A influência da mídia nos jovens, por meio de uma padronização de beleza e

redução do tamanho de manequins, pode contribuir no conflito da relação de

autopercepção corporal e desencadear problemas físicos e mentais, tais como o

descontentamento corporal, a não aceitação do próprio corpo e o desejo constante

de modificações por meio de cirurgias plásticas, a distorção da imagem corporal e os

distúrbios alimentares, especialmente anorexia e bulimia nervosas(25). Vale ressaltar

que a distorção da imagem corporal, super ou subestimando o tamanho e/ou forma

corporal, não é característico apenas de jovens com transtorno alimentar, sendo

cada dia mais comum na vida dos adolescentes(24).

Dentre as limitações do estudo, destaca-se a utilização de informações

autorreferidas de peso e altura de adolescentes, indivíduos que vivenciam

constantes transformações corporais, com rápido crescimento e desenvolvimento

físico. Contudo, diversas pesquisas apontam boa concordância entre as medidas

aferidas e referidas de peso e altura neste público, considerando válida a utilização

de informações autorreferidas em estudos epidemiológicos(26,27). Embora esta

pesquisa não tenha utilizado escalas de silhuetas corporais para percepção da auto-

imagem corporal, forneceu dados do estado nutricional dos adolescentes e revelou

as prevalências dos indivíduos que almejavam perder ou ganhar peso.

É importante mencionar a existência de poucos estudos nacionais que

avaliem o estado nutricional associado à satisfação/insatisfação com o peso corporal

de adolescentes. Além disso, esta pesquisa fornece subsídios para o planejamento

de políticas públicas direcionadas aos adolescentes.

Concluindo, observou-se elevada prevalência de excesso de peso,

especialmente no sexo masculino e nos sujeitos de 10 a 14 anos. Verificaram-se

maiores prevalências de insatisfação com o peso corporal no sexo feminino e nos

sujeitos de 15 a 19 anos.

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Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq,

Processo nº 409747/2006-8) pelo financiamento da pesquisa e pelas bolsas de

Mestrado de M. C. S. Martini e de produtividade de M. B. A. Barros.

À Secretaria Municipal de Saúde de Campinas e à Secretaria de Vigilância em

Saúde do Ministério da Saúde, pelo apoio financeiro à pesquisa de campo do

ISACamp,2008.

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Tabela 1. Prevalência do estado nutricional em adolescentes de 10 a 19 anos, segundo sexo, faixa etária, renda

familiar per capita e escolaridade do chefe de família. Inquérito de Saúde no Município de Campinas (ISACamp,

2008/2009).

Variáveis e categorias n

% (IC95%)

Baixo peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade

Sexo p=0,0020

Masculino 416 4,81 (2,99-7,66) 64,72 (59,70-69,44) 17,15 (13,50-21,55) 13,31 (10,19-17,21)

Feminino 406 2,39 (1,24-4,54) 75,43 (71,46-79,00) 15,31 (11,98-19,36) 6,87 (4,98-9,41)

Total 822 3,63 (2,39-5,47) 69,95 (67,09-72,67) 16,25 (13,77-19,07) 10,17 (8,22-12,50)

Faixa etária (em anos) p =0,0000

10 a 14 427 3,92 (2,26-6,70) 61,60 (56,87-66,11) 20,06 (16,22-24,56) 14,42 (11,03-18,63)

15 a 19 395 3,31 (1,87-5,81) 79,01 (75,39-82,23) 12,11 (9,61-15,16) 5,55 (3,80-8,05)

Renda familiar per

capita (em salário

mínimo)

p=0,6350

<1 499 3,20 (2,03-5,02) 70,64 (66,67-74,33) 14,90 (12,10-18,23) 11,24 (8,67-14,46)

1-2 186 4,81 (2,22-10,12) 70,51 (62,28-77,60) 16,68 (11,62-23,37) 7,98 (4,36-14,16)

>2 137 3,55 (1,14-10,56) 66,89 (58,24-74,53) 20,29 (15,26-26,47) 9,26 (5,00-16,53)

Escolaridade do chefe

de família (em anos) p=0,0894

0 - 7 324 5,49 (3,21-9,22) 70,09 (66,24-73,67) 13,90 (10,53-18,12) 10,52 (7,87-13,93)

8-11 292 2,81 (1,51-5,17) 68,06 (61,91-73,65) 16,37 (11,80-22,27) 12,75 (9,19-17,42)

12 ou + 199 2,06 (0,59-6,88) 72,32 (66,28-77,65) 19,19 (14,61-24,78) 6,43 (3,85-10,53)

IC95%: intervalo de 95% de confiança; n: número de indivíduos na amostra não ponderada.

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Tabela 2. Prevalência de satisfação e insatisfação com o peso corporal em adolescentes de 10 a 19 anos.

Inquérito de Saúde no Município de Campinas (ISACamp, 2008/2009).

Variáveis e categorias n

% (IC95%)

Satisfeito Quer ganhar peso

Quer perder peso

< 10% ≥ 10%

IMC (kg/m2) p = 0,0000

Baixo peso 30 54,0 (33,2-73,5) 42,7 (25,4-62,0) 0 3,2 (0,5-19,2)

Eutrofia 573 56,2 (50,2-62,1) 17,6 (14,0-22,0) 18,0 (14,5-22,2) 8,1 (6,0-10,8)

Sobrepeso 133 46,2 (36,0-56,7) 3,0 (1,1-7,8) 18,2 (12,0-26,7) 32,5 (23,4-43,2)

Obesidade 84 23,5 (15,5-34,1) 0 5,9 (2,7-12,6) 70,5 (61,4-78,1)

Total 820 51,2 (45,5-56,8) 14,3 (11,4-17,9) 16,2 (13,2-19,7) 18,3 (15,7-21,2)

População total

10 a 14 anos

IMC (kg/m2) p = 0,0000

Baixo peso 17 59,6 (32,2-82,0) 34,6 (15,3-60,8) 0 5,8 (0,8-31,3)

Eutrofia 262 63,9 (55,8-71,3) 12,9 (9,0-18,0) 13,4 (9,1-19,3) 9,8 (6,8-13,9)

Sobrepeso 85 58,2 (44,6-70,7) 3,6 (1,1-10,8) 13,1 (6,9-23,6) 25,1 (15,5-37,9)

Obesidade 62 30,3 (19,8-43,4) 0 4,9 (1,7-13,8) 64,7 (52,5-75,2)

15 a 19 anos

IMC (kg/m2) p = 0,0000

Baixo peso 13 46,9 (19,0-77,0) 53,1 (23,0-81,0) 0 0

Eutrofia 311 49,8 (43,0-56,5) 21,6 (17,0-27,1) 21,9 (17,2-27,5) 6,7 (4,2-10,6)

Sobrepeso 48 24,7 (13,8-40,0) 2,0 (0,3-13,6) 27,3 (16,4-41,8) 45,9 (32,1-60,5)

Obesidade 22 4,4 (0,6-27,7) 0 8,8 (2,3-28,1) 86,7 (66,6-95,5)

Masculino

IMC (kg/m2) p = 0,0000

Baixo peso 20 56,0 (31,2-78,0) 39,2 (21,5-60,4) 0 4,8 (0,7-25,2)

Eutrofia 268 65,5 (58,1-72,1) 19,8 (15,0-25,7) 9,9 (6,5-14,7) 4,8 (2,8-8,0)

Sobrepeso 71 54,6 (41,0-67,6) 4,0 (1,3-11,5) 21,1 (12,3-33,9) 20,2 (11,6-32,7)

Obesidade 56 22,9 (13,4-36,3) 0 3,5 (0,9-12,7) 73,6 (61,3-83,0)

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40

Masculino de

10 a 14 anos

IMC (kg/m2) p = 0,0000

Baixo peso 10 61,2 (28,2-86,3) 29,0 (11,9-55,4) 0 9,6 (1,4-43,1)

Eutrofia 122 72,7 (62,9-80,8) 10,6 (6,2-17,5) 8,4 (4,0-16,6) 8,1 (4,5-14,3)

Sobrepeso 48 64,0 (45,9-78,8) 3,9 (0,9-14,6) 12,8 (5,1-28,5) 19,1 (9,9-33,5)

Obesidade 42 28,2 (15,6-45,5) 0 2,3 (0,3-14,8) 69,3 (53,1-81,9)

Masculino de

15 a 19 anos

IMC (kg/m2) p = 0,0000

Baixo peso 10 50,7 (19,7-81,2) 49,2 (18,7-80,2) 0 0

Eutrofia 146 59,3 (50,6-67,5) 27,4 (20,9-35,1) 11,1 (6,4-18,5) 1,9 (0,6-5,8)

Sobrepeso 23 34,5 (16,3-58,7) 4,2 (0,5-26,5) 38,7 (21,0-60,0) 22,4 (9,2-45,3)

Obesidade 14 6,9 (0,8-38,3) 0 6,9 (0,8-38,2) 86,1 (56,4-96,7)

Feminino

IMC (kg/m2) p = 0,0000

Baixo peso 10 50,0 (19,7-80,3) 50,0 (19,7-80,3) 0 0

Eutrofia 305 48,0 (40,4-55,6) 15,6 (11,7-20,5) 25,3 (19,8-31,7) 11,1 (7,5-16,0)

Sobrepeso 62 36,4 (24,5-50,2) 1,8 (0,2-12,4) 14,8 (7,3-27,5) 47,0 (32,2-62,4)

Obesidade 28 24,9 (12,6-43,1) 0 11,0 (3,5-29,1) 64,2 (47,1-78,3)

Feminino de

10 a 14 anos

IMC (kg/m2) p = 0,0002

Baixo peso 7 57,1 (22,0-86,3) 42,8 (13,7-77,9) 0 0

Eutrofia 140 56,0 (45,1-66,4) 14,8 (9,2-22,9) 17,8 (11,3-26,8) 11,2 (6,6-18,4)

Sobrepeso 37 50,4 (34,9-65,9) 3,0 (0,4-19,1) 13,4 (5,1-30,9) 33,0 (17,3-53,5)

Obesidade 20 34,7 (18,7-55,0) 0 10,4 (2,4-35,5) 54,8 (34,9-73,3)

Tabela 2. Continuação

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Feminino de

15 a 19 anos

IMC (kg/m2) p = 0,0000

Baixo peso 3 33,4 (3,9-85,8) 66,6 (14,1-96,0) 0 0

Eutrofia 165 41,0 (31,8-50,8) 16,2 (11,6-22,3) 31,7 (24,6-39,6) 10,9 (6,5-17,8)

Sobrepeso 25 15,5 (6,0-34,3) 0 16,7 (6,2-37,7) 67,7 (48,4-82,4)

Obesidade 8 0 0 12,2 (2,0-48,0) 87,7 (51,9-97,9)

IC95%: intervalo de 95% de confiança; n: número de indivíduos na amostra não ponderada.

Tabela 2. Continuação

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4.2. ARTIGO 2

Adolescentes eutróficos estão satisfeitos com o seu peso? –

Inquérito de base populacional

Mariana Contiero San Martini1, Daniela de Assumpção2, Marilisa Berti de Azevedo

Barros2, Ana Maria Canesqui2, Antônio de Azevedo Barros Filho1

1 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas,

Departamento de Pediatria.

2 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas,

Departamento de Saúde Coletiva.

Correspondência:

Mariana Contiero San Martini

Rua do Açúcar, 520, CEP 13070-024,

Campinas, São Paulo, Brasil.

Telefone: (19) 3241-5886

[email protected]

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RESUMO

Objetivo: Avaliar a prevalência de insatisfação com o peso corporal em

adolescentes eutróficos, segundo variáveis demográficas, socioeconômicas, de

comportamentos relacionados à saúde e morbidades. Métodos: Trata-se de um

estudo transversal de base populacional com adolescentes de 10 a 19 anos,

residentes em Campinas, São Paulo. Foram estimadas as prevalências e as razões

de prevalência de insatisfação com o peso de acordo com as variáveis

independentes, por meio de regressão simples e múltipla de Poisson. As análises

estatísticas foram efetuadas no programa Stata 11.0. Resultados: Analisaram-se

573 adolescentes eutróficos, com idade média de 14,7 anos (IC 95%: 14,5-14,9). A

insatisfação com o peso atingiu 43,76% dos adolescentes eutróficos. Maiores

prevalências de insatisfação com o peso foram verificadas no sexo feminino, na

faixa etária de 15 a 19 anos, nos adolescentes cuja residência dispunha de oito ou

mais equipamentos, nos ex-fumantes, nos que relataram ingerir bebida alcoólica e

nos que apresentavam uma ou mais doenças crônicas. Menor prevalência foi

observada nos adolescentes que residiam em moradias com condições

inadequadas. Conclusão: Os resultados deste estudo apontam que mesmo

apresentando peso dentro da faixa de normalidade, adolescentes manifestam-se

insatisfeitos com o seu peso, em especial os de sexo feminino, mais velhos e de

melhor nível socioeconômico.

Palavras-chave: Adolescente; Comportamento do Adolescente; Peso Corporal;

Imagem Corporal; Inquérito de Saúde.

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Introdução

A obesidade, importante problema de saúde pública, contribui para o

desenvolvimento de diversas morbidades, tais como doenças cardiovasculares,

hipertensão arterial e diabetes mellitus, prejudica a qualidade de vida e aumenta o

risco de mortalidade. Com isso há uma preocupação quanto à alimentação

saudável, prática regular de atividade física(1,2) e cobrança por um corpo ideal e

magro, com destaque na influência sobre os jovens(3, 4). Paradoxalmente, a mídia

(televisão, internet, revista, rádio, jornal e cinema) estimula o consumo de alimentos

calóricos(3), como lanches do tipo fast food(5), elevados teores de gordura saturada,

açúcar e sal(6, 7). Além de pouca prática de atividade física e elevada exposição ao

tempo de tela (televisão, computador e videogame)(3).

A adolescência, etapa de transição da infância para a idade adulta, é

marcada por profundas mudanças biológicas, cognitivas e psicossociais. As

experiências vividas nesta fase, como o início da atividade sexual, a eventual

adoção de comportamentos de risco à saúde, ampliação da autonomia em relação à

família(8, 9) e exposição aos meios de comunicação(3) podem influenciar na avaliação

da imagem corporal, ocasionando insatisfação com o peso e adoção de condutas

prejudiciais à saúde(10).

Os ideais em relação ao corpo entre os jovens variam de acordo com o

gênero. Os rapazes tendem a apresentar menor preocupação com a aparência e

almejar um corpo atlético(11-13), enquanto as moças desejam um corpo mais magro(12-

14), realizam com maior frequência dieta e exercício físico para perder peso, são

mais influenciadas pelas propagandas de produtos de emagrecimento e acreditam

que as pessoas magras são mais populares, atraentes e amigáveis(15). A

susceptibilidade do sexo feminino às influências relacionadas ao tipo físico acarreta

em maior risco de desenvolver transtornos alimentares(15).

Estudo realizado com adolescentes, da cidade de São Paulo, mostrou maior

percentual de meninas eutróficas que se consideravam com excesso de

peso.Enquanto que, maior percentual de meninos se identificavam como eutróficos,

mas apresentavam estado nutricional de sobrepeso(16).

A insatisfação com o peso corporal pode refletir na saúde e desta forma é

um tema de fundamental relevância e merece ser mais explorado. O objetivo deste

estudo foi avaliar a prevalência de insatisfação com o peso em adolescentes

eutróficos, residentes no município de Campinas (SP) e os fatores associados à

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insatisfação com o peso corporal, segundo variáveis demográficas,

socioeconômicas, de comportamentos relacionados à saúde e morbidades.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal de base populacional, que utilizou dados

do Inquérito de Saúde no município de Campinas (ISACamp, 2008), realizado pelo

Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde do Departamento de Saúde

Coletiva, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas

(FCM/Unicamp). O período de coleta de dados ocorreu entre os meses de fevereiro

de 2008 a abril de 2009.

A amostra da pesquisa foi determinada por procedimentos de amostragem

probabilística, por conglomerado e em dois estágios: setor censitário e domicílio. No

primeiro estágio, 50 setores censitários foram sorteados com probabilidade

proporcional ao tamanho (número de domicílios). Foram utilizados os setores do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo

Demográfico de 2000. Levando-se em consideração o tempo decorrido, foi feito o

arrolamento dos domicílios dos setores selecionados para a obtenção de uma

listagem atualizada de endereços. No segundo estágio, procedeu-se o sorteio dos

domicílios.

A população do inquérito foi composta por três domínios de idade:

adolescentes (10 a 19 anos), adultos (20 a 59 anos) e idosos (60 anos ou mais). O

tamanho de amostra definido foi de 1.000 pessoas em cada domínio, o que permite

estimar prevalência de 50%, com nível de confiança de 95% e erro de amostragem

entre 4% e 5% considerando um efeito de delineamento igual a 2.

Prevendo uma taxa de resposta de 80%, a amostra foi corrigida para 1.250.

Para atingir o tamanho amostral desejado foram sorteados, de forma independente,

2.150, 700 e 3.900 domicílios para entrevistas com adolescentes, adultos e idosos,

respectivamente.

As informações foram coletadas por meio de visitas domiciliares, sendo

aplicado um questionário estruturado em 14 blocos temáticos, testado em estudo

piloto. Os entrevistadores foram treinados e supervisionados para executar o

questionário nos adolescentes e/ou nos responsáveis (especialmente em caso de

menor de idade). O bloco temático sobre hábito alimentar, continha perguntas sobre

peso e altura referidos, satisfação com o peso e práticas para a perda de peso.

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Neste estudo, foram analisados os dados de adolescentes de 10 a 19 anos,

de ambos os sexos, não institucionalizados, residentes na área urbana do Município

de Campinas. A variável dependente foi a insatisfação com o peso corporal, avaliada

por meio da questão: “Você gostaria de ganhar ou perder peso?”, considerando que

o desejo de alterar o peso significava não estar satisfeito com o peso atual.

As variáveis independentes analisadas neste estudo foram:

Demográficas e socioeconômicas: sexo, idade (em anos), raça/cor da pele

autorreferida, renda familiar mensal per capita (em salário mínimo), número de

equipamentos no domicílio, atividade ocupacional, escolaridade do chefe de família

(em anos de estudo), posse de plano de saúde, se frequenta a escola e se é pública

ou privada, e condições de moradia. Foram caracterizadas como residências com

condições adequadas as habitações constituídas por casas ou apartamentos,

dispondo de rede interna de água ligada à rede pública, instalação sanitária interna

ligada ao sistema público de esgoto e iluminação elétrica. Na ausência de uma ou

mais destas condições, a moradia foi considerada inadequada.

Comportamentos relacionados à saúde: consulta ao dentista no último ano,

frequência semanal de consumo de feijão, tabagismo, uso de bebida alcoólica,

tempo de exposição ao computador (em horas por dia) e atividade física em

contexto de lazer, segundo o proposto pela Global recommendations on physical

activity for health(17) e categorizada em: ativos, indivíduos entre 10 a 17 anos, que

praticavam ao menos 60 minutos diários de atividade física; insuficientemente ativos

(os que realizavam menos de 60 minutos por semana) e sedentários (os que não

praticavam qualquer tipo de atividade física de lazer, em nenhum dia da semana).

Foram classificados como ativos os jovens de 18 e 19 anos que realizavam pelo

menos 150 minutos de atividade física durante a semana; insuficientemente ativos

(os que praticavam menos que 150 minutos semanais) e sedentários (os que não

faziam nenhum tipo de atividade física no lazer).

Morbidades: número de doenças crônicas e de queixas de saúde entre as

incluídas em checklist, tais como hipertensão, diabetes, asma, bronquite, dor de

cabeça/enxaqueca, alergia, problemas emocionais, câncer, tontura, insônia,

deficiência física, auditiva e visual.

Neste estudo foram analisados somente os adolescentes eutróficos - sendo

excluídos os demais estados nutricionais – que foram calculados a partir de

informações referidas de peso (em quilogramas) dividido por altura (em metros) ao

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quadrado e classificados em baixo peso (≥ P0,1 e < P3), eutrofia (≥ P3 e ≤ P85),

sobrepeso (> P85 e ≤ P97) e obesidade (> P97 e ≤ P99,9), de acordo com os pontos

de corte do percentil de IMC para idade, recomendados pela Organização Mundial

da Saúde(18).

Foram estimadas as prevalências de insatisfação com o peso corporal em

indivíduos eutróficos, segundo as variáveis independentes, sendo a associação

verificada pelo teste χ², considerando um nível de significância de 5%. As razões de

prevalência e os intervalos de confiança de 95% foram calculados por meio de

regressão simples de Poisson. O modelo múltiplo, construído usando regressão

múltipla de Poisson, foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira, foram

introduzidas as variáveis demográficas e socioeconômicas, que apresentaram valor

de p<0,20 na análise bivariada, tendo permanecido no modelo as variáveis com

p<0,05. Na segunda etapa, foram acrescidas ao modelo as variáveis de

comportamentos relacionados à saúde e morbidades que tiveram alguma categoria

com p<0,20 na análise bivariada e mantiveram-se no modelo as que apresentaram

p<0,05.

Os dados foram digitados em banco elaborado com o uso do Epidata 3.1

(Epidata Association, Odense, Dinamarca) e as análises estatísticas foram feitas no

módulo svy do programa Stata 11.0 (Stata Corporation, College Station, Texas,

Estados Unidos), que permite a análise de dados de amostras complexas.

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade

de Ciências Médicas, da Universidade Estadual de Campinas, parecer nº

931.774/2015 (anexo 1).

Resultados

Participaram desta pesquisa 573 indivíduos eutróficos, de 10 a 19 anos, com

idade média de 14,7 anos (IC95%: 14,5-14,9). Notou-se prevalência de satisfação

com o peso corporal em 56,2% dos jovens com adequado estado nutricional. Quanto

às prevalências de insatisfação com o peso, verificou-se que 17,6% dos

adolescentes referiram desejo de ganhar peso, 18,0% desejavam perder menos que

10% de peso e 8,1% queriam perder 10% ou mais. Em relação ao sexo masculino,

65,5% afirmaram estarem satisfeitos com o seu peso, 19,8% queriam ganhar peso,

9,9% almejavam perder peso inferior a 10% e 4,8% desejavam perder peso igual ou

superior a 10%. Enquanto no sexo feminino, 48,0% estavam satisfeitas com seu

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peso, 15,6% queriam ganhar peso, 25,3% e 11,1% almejavam perder,

respectivamente, peso inferior a 10% e maior ou igual a 10%.

Na Tabela 1, observam-se prevalências superiores de insatisfação com o

peso no sexo feminino, nos sujeitos com idade entre 15 e 19 anos, nos que

possuíam oito ou mais equipamentos na residência e nos que não frequentavam a

escola. Por outro lado, os que referiram não trabalhar e os que viviam em moradias

com condições inadequadas mostraram prevalências significativamente menores de

insatisfação.

Em relação aos comportamentos relacionados à saúde e morbidades

(Tabela 2), verificou-se que o consumo de feijão inferior a quatro vezes na semana

apresentou maior prevalência de insatisfação com o peso, sendo indicador de nível

socioeconômico. Nos jovens que eram ex-fumantes, que ingeriam bebida alcoólica,

nos que usavam computador por três ou mais horas/dia, bem como nos que

relataram ter uma ou mais doenças crônicas e três ou mais queixas de saúde,

observaram-se maiores prevalências de insatisfação com o peso.

Os resultados da análise de regressão múltipla de Poisson (Tabela 3)

apontaram prevalências de insatisfação com o peso, superiores na faixa etária de 15

a 19 anos, em meninas e nos pertencentes às categorias de maior número de

equipamentos no domicílio. Residir em moradias com condições inadequadas

esteve associado a menor prevalência de insatisfação. Ex-fumantes, indivíduos que

faziam uso de bebida alcoólica e que apresentavam uma ou mais doenças crônicas

demonstraram-se mais insatisfeitos com o seu peso.

Discussão

Este estudo mostrou que, mesmo apresentando o peso na faixa considerada

adequada, os adolescentes manifestaram elevada prevalência de insatisfação com o

peso, desejando mudar o peso, especialmente no sexo feminino, nos com idade

entre 15 e 19 anos, nos que possuíam melhor nível socioeconômico, avaliado pelo

número de equipamentos domésticos e condições adequadas de moradia, nos ex-

fumantes, nos que consumiam bebida alcoólica e apresentavam ao menos uma

doença crônica.

A variável dependente foi obtida por meio da pergunta “Você gostaria de

ganhar ou perder peso?”, que apresenta duas indagações em uma mesma questão.

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Contudo, o questionário continha em seguida perguntas direcionadas aos indivíduos

que gostariam de ganhar e aos que desejavam perder peso.

Esta pesquisa encontrou prevalência de insatisfação com o peso em 43,7%

dos adolescentes eutróficos, valor inferior ao verificado por Santos et al.(19), em que

55,1% dos jovens de escolas públicas estaduais de Caruaru (PE), de 15 a 20 anos,

apresentaram insatisfação com o peso e 64,1% descontentamento com sua imagem

corporal, mesmo sendo eutróficos.

As meninas apresentaram maior prevalência de insatisfação com o peso em

relação aos meninos, concordando com outros achados, como o Children Health

Behaviour in School-aged Children (HBSC) realizado com 17.817 palestinos, que

identificaram insatisfação com o peso em 16,0% dos meninos e 24,0% das meninas

de adequado estado nutricional(20). Com relação a imagem corporal, Dumith et al.(21)

analisaram 4.325 jovens, de 14 a 15 anos de idade, em Pelotas (RS), e apontaram

que dentre os eutróficos, 58,2% das meninas e 43,9% dos meninos demonstravam-

se insatisfeitos. Branco et al.(16) verificou que, em uma escola pública da cidade de

São Paulo, 43,6% das meninas e 19,2% dos meninos de peso adequado se

consideravam com excesso de peso.

Estudo longitudinal efetuado com adolescentes de 11 a 14 anos, em 3

momentos, com intervalos de quatro meses, evidenciou aumento da prevalência de

insatisfação corporal em meninas com a idade, maior risco de apresentar

sentimentos depreciativos em relação ao corpo. Os meninos reduziram sua

insatisfação corporal com o tempo(22).

Kelly et al.(23) encontraram que entre os adolescentes eutróficos, os de

elevado poder aquisitivo, mais velhos (15 a 17 anos) e do sexo feminino tinham

maior insatisfação com o peso corporal, avaliada por meio de sentir-se pouco ou

muito gordo.

Esta pesquisa observou maior prevalência de insatisfação com o peso tanto

em ex-fumantes, como nos indivíduos que consumiam bebida alcoólica. Dado similar

foi verificado por Xie et al.(24), que analisaram a auto-percepção de peso, os fatores

socioculturais e comportamentais relacionados com o peso em adolescentes

chineses, do ensino fundamental, e constataram que as meninas estavam mais

insatisfeitas com seu peso, especialmente as que se percebiam com excesso de

peso, sendo mais propensas a fumar cigarro e a beber álcool.

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Outros estudos também verificaram associações entre o uso de álcool e

cigarro com insatisfação corporal. Crow et al.(25) avaliaram 4.746 adolescentes de

escolas públicas, em Minnesota, Estados Unidos, e destacaram que, especialmente

as meninas que realizavam dietas, eram mais propensas a serem insatisfeitas com

seu corpo, a consumir álcool e a fumar. O cigarro pode ser utilizado supostamente

com intuito de controlar ou reduzir o peso. Okeke et al.(26) observaram menor

frequência de preocupação com a imagem corporal nos adolescentes que nunca

fumaram. O tabagismo pode transmitir a ideia de amenização da ansiedade, bem-

estar mental, melhora da imagem corporal, podendo ser usado como facilitador na

perda ou manutenção de peso, controle de emoções e redução de insatisfação com

o corpo(27).

Jovens que apresentaram pelo menos uma doença crônica não

transmissível demonstraram maior prevalência de insatisfação com o peso em

relação aos saudáveis. Pesquisa efetuada com 9.584 adultos, notou que pessoas

insatisfeitas com seu peso tiveram maior risco de desenvolver diabetes tipo 2,

devido possível modificador psicofisiológico (relação entre corpo e mente)(28). Maior

insatisfação corporal foi apontada em jovens com doenças crônicas (diabetes, asma,

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH e deficiência física), pois,

de modo geral, estes realizam práticas inadequadas para perda de peso(29).

Estudos têm revelado que somente as garotas apresentaram insatisfação

corporal, quando expostas a programas de televisão e/ou revistas com tópicos sobre

imagem corporal, dieta, fitness, beleza, saúde e vídeos de música(30); assistiam

televisão por período maior ou igual a 4 horas diários(20); anúncios publicitários

televisivos de curta duração, contendo imagens de modelos com ideais de beleza(31).

Por outro lado, Hargreaves & Tiggemann(11) sugerem que os meninos não

expressam sua insatisfação corporal devido ao reflexo da repressão social.

Outro meio de comunicação que merece destaque é a Internet, utilizada

cerca de quatro vezes mais do que as revistas. A Internet é o único instrumento

capaz de fornecer acesso instantâneo a diversificados conteúdos e imagens,

enquanto que nas revistas as imagens e informações retratam um assunto

específico e limitado. Nos Estados Unidos foram encontradas associações

semelhantes quanto à insatisfação corporal de universitárias expostas tanto à

televisão como à Internet(32). Tiggemann e Slater(33) verificaram que a utilização das

redes sociais, como o Facebook, ocasionaram maior desejo de emagrecer, atenção

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com o corpo e internalização de magreza nas usuárias das redes sociais, quando

comparadas às não-usuárias.

É necessário lidar com os ideais atuais determinados pela sociedade, que

valorizam um paradigma de beleza, em que as mulheres devem ser magras e os

homens musculosos, e disseminam a busca, a todo custo, por esta aparência física

considerada ideal, podendo trazer prejuízos à saúde dos adolescentes e contribuir

para o desenvolvimento de transtornos alimentares(16,25,34).

No Brasil(35,36), estudo qualitativo realizado no Rio de Janeiro chama a

atenção que o corpo é tratado como capital físico, simbólico, econômico e social.

Também é um importante veículo nos âmbitos do mercado de trabalho, atividade

sexual, casamento, infidelidade e ascensão social, com posições de prestígio,

sucesso e dinheiro. A cultura contemporânea preconiza que o corpo deve ser

exibido sempre jovem, sexy e em boa forma(35,36). A roupa é apenas um instrumento

para valorizar e expor o corpo, pois quem entra ou sai de moda é o corpo, que é

exibido, moldado, produzido e trabalhado. Para se conseguir a forma física desejada

é necessário disciplina, dedicação e grande investimento, que podem acarretar em

significativa insatisfação com a própria aparência(36). Outro estudo qualitativo,

efetuado no estado de Santa Catarina, ressalta que o corpo feminino deve

apresentar beleza, magreza, poder de atração e sedução ao sexo oposto, enquanto

este deve ser dotado de força física, potência, poder e virilidade(37).

Entre as limitações deste estudo, destaca-se a utilização de informações

autorreferidas de peso e altura, principalmente nos adolescentes que passam por

um processo de rápido crescimento e desenvolvimento físico. Contudo, diversas

pesquisas apontam boa concordância entre as medidas aferidas e referidas de peso

e altura em adolescentes(38,39), considerando ser válida a utilização de informação

referida em estudos epidemiológicos(40,41).

É importante mencionar a existência de poucos estudos que avaliem os

fatores associados à insatisfação com o peso corporal, especialmente em indivíduos

eutróficos, de acordo com a classificação do estado nutricional, sendo a imagem

corporal e a insatisfação com o corpo os temas mais explorados na literatura.

Deve-se refletir quanto ao planejamento de estratégias de políticas públicas

direcionadas aos adolescentes, ações de educação no ambiente escolar e familiar e

atuações dos profissionais de saúde, com intuito de promover medidas preventivas e

eficazes no descontentamento com o peso corporal. Além do estímulo à promoção

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da alimentação saudável e à prática regular de atividade física, especialmente nos

adolescentes com excesso de peso.

Este estudo permitiu a identificação dos fatores associados à insatisfação

com o peso corporal de adolescentes eutróficos, sendo as meninas, jovens de maior

faixa etária, melhor nível socioeconômico, ex-fumantes, que fazem uso de bebida

alcoólica e com doenças crônicas, os sujeitos de maior prevalência de insatisfação

com o peso. Também mostrou relação com as características demográficas,

socioeconômicas, comportamentos de saúde e morbidades, em uma amostra de

base populacional. A satisfação com o peso é fator essencial na autoaceitação dos

jovens e quando não compatível com o corpo almejado pode desencadear atitudes

inadequadas, afetando seu crescimento e desenvolvimento.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq,

Processo nº 409747/2006-8) pelo financiamento da pesquisa e pelas bolsas de

Mestrado de M. C. S. Martini e de produtividade de M. B. A. Barros.

À Secretaria Municipal de Saúde de Campinas e à Secretaria de Vigilância em

Saúde do Ministério da Saúde, pelo apoio financeiro à pesquisa de campo do

ISACamp,2008.

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Tabela 1. Prevalência de insatisfação com o peso corporal em adolescentes eutróficos de 10 a 19

anos, segundo variáveis demográficas e socioeconômicas. Inquérito de Saúde no município de

Campinas (ISACamp, 2008/2009).

Variáveis n % (IC95%) RP bruta (IC95%)

Sexo p = 0,0001

Masculino 268 34,54 (27,90-41,84) 1

Feminino 305 52,03 (44,38-59,59) 1,50 (1,23-1,84)

Total 573 43,76 (37,89-49,81)

Faixa etária (em anos) p = 0,0024

10 a 14 262 36,09 (28,72-44,18) 1

15 a 19 311 50,24 (43,46-57,02) 1,39 (1,11-1,73)

Raça/cor da pele autorreferida p = 0,6594

Branca 375 44,04 (37,76-50,51) 1

Preta 49 42,63 (29,43-56,97) 0,96 (0,69-1,34)

Parda 139 39,83 (31,09-49,28) 0,90 (0,72-1,13)

Renda familiar per capita (em salário mínimo) p = 0,0935

< 0,5 180 35,29 (25,64-46,31) 1

≥ 0,5 a ≤ 1 175 44,63 (34,84-54,86) 1,26 (0,87-1,82)

> 1 218 49,88 (41,60-58,17) 1,41 (1,00-1,99)

Número de equipamentos no domicílio p = 0,0008

0 a 7 112 21,53 (12,18-35,17) 1

8 a 15 275 46,94 (40,01-53,98) 2,18 (1,21-3,91)

16 ou + 185 52,12 (43,44-60,67) 2,42 (1,38-4,23)

Atividade ocupacional p = 0,0104

Trabalha 117 53,57 (44,76-62,16) 1

Não trabalha 451 41,29 (35,00-47,88) 0,77 (0,63-0,93)

Escolaridade do chefe de família (em anos de estudo) p = 0,2634

0 a 3 68 31,47 (18,56-48,06) 0,73 (0,43-1,23)

4 a 7 158 46,80 (39,45-54,29) 1,09 (0,83-1,42)

8 a 11 198 46,33 (36,83-56,11) 1,08 (0,81-1,42)

12 ou + 144 42,91 (33,80-52,52) 1

Posse de plano de saúde p = 0,0567

Sim 210 50,06 (41,28-58,84) 1

Não 361 39,84 (33,20-46,87) 0,79 (0,63-1,00)

Frequenta a escola p = 0,0387

Sim, pública 360 38,81 (31,76-46,37) 1

Sim, particular 111 51,59 (40,31-62,70) 1,32 (0,99-1,77)

Não 101 51,44 (41,41-61,36) 1,32 (1,04-1,67)

Condições da moradia p = 0,0000

Habitação adequada 537 45,86 (40,59-51,23) 1

Habitação inadequada 36 11,42 (5,30-22,98) 0,25 (0,12-0,50)

IC95%: intervalo de 95% de confiança; n: número de indivíduos na amostra não ponderada; RP bruta: Razão de Prevalência

bruta.

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Tabela 2. Prevalência de insatisfação com o peso corporal em adolescentes eutróficos de 10 a 19

anos, segundo variáveis de comportamentos relacionados à saúde e de morbidades. Inquérito de

Saúde no município de Campinas (ISACamp, 2008/2009).

Variáveis n % (IC95%) RP bruta (IC95%)

Consulta ao dentista no último ano p = 0,0468

Sim 349 48,01 (41,19-54,89) 1

Não 223 37,19 (28,84-46,38) 0,77 (0,59-1,00)

Frequência semanal de consumo de feijão p = 0,0409

7 vezes 423 40,16 (34,13-46,51) 1

4 a 6 vezes 57 47,19 (29,87-65,21) 1,17 (0,78-1,75)

≤ 3 vezes 93 57,76 (45,74-68,94) 1,43 (1,12-1,83)

Tabagismo p = 0,0170

Nunca fumou 544 42,64 (36,72-48,79) 1

Ex-fumante 12 82,79 (51,73-95,58) 1,94 (1,44-2,61)

Fumante 17 51,57 (29,10-73,42) 1,20 (0,75-1,92)

Uso de bebida alcoólica p = 0,0038

Não bebe 464 40,03 (33,81-46,60) 1

Bebe 106 59,39 (48,14-69,74) 1,48 (1,16-1,89)

Atividade física de lazer p = 0,1109

Ativo 113 47,28 (38,59-56,14) 1

Insuficientemente ativo 269 38,87 (30,45-48,01) 1,02 (0,79-1,33)

Sedentário 191 48,61 (40,88-56,41) 0,82 (0,63-1,06)

Uso de computador (horas/dia) p = 0,0354

0 a 1 376 41,35 (34,51-48,54) 1

2 71 36,30 (24,95-49,41) 0,87 (0,60-1,28)

3 ou + 123 55,44 (44,62-65,76) 1,34 (1,03-1,72)

Número de doenças crônicas p = 0,0019

0 461 39,86 (33,70-46,36) 1

1 ou + 111 59,50 (48,26-69,82) 1,49 (1,18-1,87)

Número de queixas de saúde p = 0,0097

0 198 38,76 (30,94-47,20) 1

1 196 43,79 (34,22-53,86) 1,12 (0,85-1,49)

2 115 40,15 (30,12-51,08) 1,03 (0,76-1,39)

3 ou + 64 65,35 (52,73-76,12) 1,68 (1,28-2,21)

IC95%: intervalo de 95% de confiança; n: número de indivíduos na amostra não ponderada; RP bruta: Razão de Prevalência

bruta.

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Tabela 3. Modelo de regressão múltipla de Poisson em 2 etapas. Inquérito de Saúde no município de

Campinas (ISACamp, 2008/2009).

Variáveis Primeira etapa

RP ajustada* (IC95%) Segunda etapa

RP ajustada** (IC95%)

Sexo

Masculino 1 1

Feminino 1,51 (1,24-1,84) 1,57 (1,29-1,91)

Faixa etária (em anos)

10 a 14 1 1

15 a 19 1,40 (1,13-1,73) 1,25 (0,98-1,60)

Número de equipamentos no domicílio

0 a 7 1 1

8 a 15 2,00 (1,20-3,30) 2,10 (1,25-3,52)

16 ou + 2,16 (1,32-3,53) 2,30 (1,40-3,77)

Condições de moradia

Habitação adequada 1 1

Habitação inadequada 0,34 (0,14-0,79) 0,37 (0,16-0,88)

Tabagismo

Nunca fumou 1

Ex-fumante 1,68 (1,22-2,31)

Fumante 1,04 (0,64-1,70)

Uso de bebida alcoólica

Não bebe 1

Bebe 1,34 (1,04-1,72)

Número de doenças crônicas

0 1

1 ou + 1,32 (1,07-1,63)

IC95%: intervalo de 95% de confiança;

*Razão de Prevalência ajustada pelas variáveis demográficas e socioeconômicas.

**Razão de Prevalência ajustada por todas as variáveis da tabela.

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5. DISCUSSÃO GERAL

Esta pesquisa demonstrou que, em ambos os artigos, foram verificadas

maiores prevalências de insatisfação com o peso corporal no sexo feminino e nos

indivíduos de 15 a 19 anos. O primeiro artigo apresentou elevada prevalência de

adolescentes com sobrepeso e obesidade, principalmente nos meninos e nos

sujeitos de 10 a 14 anos. Enquanto, no segundo artigo, observaram-se prevalências

superiores de insatisfação com o peso corporal nos eutróficos de melhor nível

socioeconômico - caracterizado por maior número de equipamentos domésticos e

condições adequadas de moradia - nos ex-fumantes, nos que faziam uso de bebida

alcoólica e nos que apresentavam pelo menos uma doença crônica.

A avaliação do estado nutricional dos adolescentes, residentes de Campinas

(SP), encontrou 30,46% dos meninos e 22,18% das meninas com sobrepeso ou

obesidade (artigo 1), reforçando outros achados referentes à crescente epidemia

global de excesso de peso. Indicadores antropométricos de adolescentes (de 10 a

19 anos) no Brasil revelaram que, em domicílios urbanos, 23,0% dos rapazes e

20,1% das garotas tinham excesso de peso(12), com maior prevalência de excesso

de peso no sexo masculino.

Nos países em desenvolvimento, constataram-se aumento nas prevalências

de sobrepeso e obesidade, entre 1980 e 2013, de 8,1% para 12,9% nos meninos e

de 8,4% para 13,4% nas meninas, de 2 a 19 anos(11), o que evidenciou prevalências

superiores de excesso de peso no estudo em questão. Estimativa realizada em 2010

revelou que, em todo o mundo, o excesso de peso causou 3,4 milhões de mortes,

3,9% dos anos de vida perdidos (indicador que quantifica os anos de vida não

vividos devido a morte prematura) e 3,8% dos anos de vida ajustados por

incapacidade (anos vividos com incapacidade), por meio do indicador Disability

Adjusted Life of Years (DALYs, que significa a soma dos anos de vida perdidos por

morte prematura ou incapacidade)(37). Tais informações reforçam a urgente

necessidade de ações globais e intervenções mais efetivas, em prol de conter o

crescimento e a redução da prevalência do excesso de peso(13).

Paradoxalmente ao panorama do estado nutricional da população, a mídia

difunde um padrão de aparência física ideal difícil de ser alcançado, em que o sexo

feminino deve apresentar-se magro, esguio, para contrastar os seios e a curva dos

quadris, e o sexo masculino deve ter um corpo atlético, musculoso, forte, com bíceps

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definido e abdômen “tanquinho”, ombros largos, alto e bronzeado, potente e viril(29,

38-40). Entretanto, a mesma mídia que cobra um modelo de corpo ideal, também

estimula, por meio de propagandas, o consumo de alimentos industrializados, com

elevadas concentrações de sal, açúcar e gordura, e simultaneamente aconselha

hábitos de vida saudáveis, como prática regular de atividade física e alimentação

equilibrada(41-44). Indivíduos com excesso de peso são representados pela mídia de

forma pejorativa, como falta de saúde, dotado de paradigma de beleza negativo,

preconceito, discriminação e estigma. E os sujeitos magros são caracterizados como

saudáveis, símbolo de felicidade, valorizados e almejados, sendo assim aceitos na

sociedade(45).

Nos séculos XVI e XVII, os modelos de beleza eram bastante distintos dos

atuais, o excesso de peso simbolizava riqueza, enquanto a magreza representava

pobreza, pouca beleza e ausência de saúde(45), sendo, portanto valorizados corpos

redondos, polpudos e com silhuetas rechonchudas. No século XIX, a mulher deveria

ter aparência de bem alimentada, ser dotada de corpo roliço, cintura grossa, ombros

caídos, coxas arredondas, costas gordas e seios fartos, o que representava uma

mãe de família e mulher honesta(38).

Nos dias de hoje, há uma constante busca pela eterna juventude e

perfeição, por meio de um corpo esculpido, artificial, sexualizado, em boa forma e

atraente. O corpo, muitas vezes, é tratado como um rascunho que deve ser corrigido

por meio de cirurgia plástica, com redefinição de formas e remenda de pedaços,

como algo descartável, uma mercadoria, que serve de acessório, sem sujeito, sem

sentimento, uma máquina, em que se paga pela beleza de possuir um corpo

moldado nos padrões da tirania da estética, que atua contra o próprio corpo, como

se o fato de modificá-lo fosse mudar de vida(38,46,47).

A beleza se relaciona ao papel que o indivíduo desempenha na sociedade

em que está inserida(38), onde não possuir o corpo idealizado e irreal proposto pela

mídia pode desencadear várias consequências, como baixa autoestima, sofrimento,

discriminação(29), sensação de fracasso, entre outros, que podem repercutir na

relação do adolescente com seu próprio corpo, na aceitação ou

descontentamento(14,48-50) e/ou insatisfação com o peso(51,52). Vale ressaltar que, os

adolescentes podem apresentar vulnerabilidades, devido às características

particulares e de grandes mudanças que vivenciam no aspecto físico, biológico,

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psicológico, cognitivo e social, de adoção de novos comportamentos e

experiências(15,53).

Maiores prevalências de insatisfação com o peso corporal foram observadas

nos jovens de 15 a 19 anos, em todos os estados nutricionais, de acordo com o

artigo 1, e em eutróficos, conforme ilustrou o artigo 2. Achado similar foi verificado

em meninas pós-púberes (12 a 14 anos), que demonstraram maior insatisfação com

o corpo e com o peso (este não foi estatisticamente significativo) em relação às pré-

púberes (10 a 11 anos), sugerindo que, com o decorrer do desenvolvimento

maturacional e o crescimento, as garotas desejam atrair o sexo oposto, sentem-se

mais cobradas a alcançar o corpo idealizado e insatisfeitas. Já os rapazes mantêm a

satisfação com seu corpo(14).

Apesar dos adolescentes de 15 a 19 anos terem se apresentado mais

insatisfeitos com o peso, menores percentuais de excesso de peso foram

demonstrados nesta faixa etária, em que 12,11% estavam com sobrepeso e 5,55%

obesidade, quando comparados aos indivíduos de 10 a 14 anos, em que 20,06%

tinham sobrepeso e 14,42% obesidade, dados apresentados no primeiro artigo.

Embora a Pesquisa de Orçamentos Familiares, 2008/2009 - Antropometria e estado

nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil, apresentou os grupos

etários de maneira distinta do estudo em questão - de 10 a 11 anos, 12 a 13 anos,

14 a 15 anos, 16 a 17 anos e 18 a 19 anos - observou-se, respectivamente, excesso

de peso em 28,6%; 25,5%; 17,7%, 14,7% e 15,5%, o que também evidenciou maior

prevalência de sobrepeso/obesidade nos jovens mais novos(12). Inquérito

antropométrico de base nacional verificou que, meninos de 15 a 19 anos (3,6%)

tiveram menor prevalência de excesso de peso em relação aos de 10 a 14 anos

(5,8%). Contudo, as meninas demonstraram situação inversa(54).

Em relação ao sexo, verificou-se que as meninas apresentaram prevalências

superiores de insatisfação com o peso corporal em ambos os artigos, assim como

verificado em Juiz de Fora (MG), em que alunas apresentaram-se mais vulneráveis a

sentimentos negativos em relação ao seu corpo, ao longo de um ano, enquanto os

alunos demonstraram redução do descontentamento corporal(55). Outro estudo

revelou que 20,5% dos adolescentes eutróficos estavam insatisfeitos com seu peso,

sendo que 16,0% eram meninos e 24,0% meninas(52). As adolescentes são mais

influenciadas pela mídia na imposição do padrão de beleza(29,40,49,50,52,56),

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demonstram-se minuciosas e atentas às características corporais mais

valorizadas(29). Enquanto no sexo masculino, há uma menor disseminação do corpo

ideal e de incentivo para alcançá-lo(38), sendo portanto menos influenciados pelos

meios midiáticos. Os rapazes não conversam sobre aparência física e imagem

corporal, pois consideram assunto do universo feminino e têm receio de parecerem

efeminados ou homossexuais ou narcisista, relutam em admitir que reparam no

corpo e escondem, muitas vezes, sua preocupação com a estética(40).

Ao analisar indivíduos com sobrepeso e obesidade que relataram satisfação

com seu peso, constataram-se prevalências, respectivas de 46,2% e 23,5%, em que

houve significativos percentuais de satisfação mesmo com o excesso de peso (artigo

1). Outro achado revelou menor proporção, em que 7,5% dos sujeitos com excesso

de peso estavam satisfeitos com o seu peso(52).

Dentre as limitações encontradas nesta pesquisa, destacam-se o peso e a

altura referidos em adolescentes, que embora sejam medidas que possam

superestimar a altura e subestimar o peso, e consequentemente o IMC, são válidas

para serem utilizadas em estudos epidemiológicos, simplificando o trabalho de

campo e reduzindo os gastos no levantamento populacional(57-61). É importante

mencionar que há outras formas de avaliar a composição corporal de indivíduos,

entretanto o IMC é uma medida importante na avaliação de risco de

morbimortalidade(62, 63), de fácil aplicação operacional, de baixo custo e viável para

estudos epidemiológicos(64). O design deste estudo é do tipo transversal, que

apresenta um retrato pontual da realidade vivenciada e, desta forma, não permite

inferir uma relação de causa e efeito.

Outro aspecto que deve ser mencionado refere-se a não utilização de

escalas de silhuetas corporais na percepção da auto-imagem corporal, pois o

objetivo deste estudo era fornecer informações sobre o estado nutricional dos

adolescentes e as prevalências de satisfação/insatisfação com o peso, sendo assim,

foram realizadas perguntas referentes a satisfação com o peso, desejo de ganhar ou

perder e atitudes realizadas para perda de peso, ao invés de comparar o corpo do

indivíduo com uma imagem de referência. Também não se levou em consideração a

possível influência da menarca no estado nutricional das meninas, pois não era a

finalidade desta pesquisa.

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É importante mencionar a existência de poucos estudos nacionais que

avaliem o estado nutricional associado à satisfação/insatisfação com o peso corporal

de adolescentes, devido este tema ser pouco explorado pela literatura, que divulga

mais pesquisas relacionadas à imagem corporal.

Deve-se refletir sobre atuações que envolvam a união da sociedade,

autoridades, familiares, profissionais de saúde e da educação, com intuito de

promover medidas preventivas e eficazes no controle da insatisfação com o peso

corporal. As políticas públicas, direcionadas aos adolescentes, devem estimular à

promoção da alimentação saudável, à prática regular de atividade física, entre outros

hábitos de vida saudáveis. Entretanto, devem ter ações cautelosas para que não

interfiram de maneira inadequada no comportamento dos jovens. Pois, ao invés de

promoverem a satisfação dos jovens com o seu peso e auto-aceitação do corpo, as

políticas podem gerar atitudes inadequadas - se não forem planejadas de forma

criteriosa - como omissão de refeições, hábitos alimentares inadequados,

transtornos alimentares e bullying, podendo afetar no crescimento, no

desenvolvimento e representar risco para saúde dos adolescentes.

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6. CONCLUSÃO

6.1. ARTIGO 1

O crescente aumento da epidemia de excesso de peso pode aumentar o

risco de diversas morbidades e agravar o descontentamento com o peso. Este

estudo observou elevada prevalência de excesso de peso, especialmente no sexo

masculino e nos sujeitos de 10 a 14 anos, e prevalências superiores de insatisfação

com o peso corporal no sexo feminino e nos sujeitos de 15 a 19 anos, dados que

servem de alerta para intervenções direcionadas a este público.

6.2. ARTIGO 2

Observou-se elevada prevalência de insatisfação com o peso corporal nos

jovens de adequado estado nutricional, especialmente nos sujeitos de sexo

feminino, mais velhos (15 a 19 anos), com melhor nível socioeconômico, ex-

fumantes, que consumiam bebida alcoólica e com presença de doença crônica.

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8. ANEXOS

8.1. ANEXO 1 – Parecer do CEP

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8.2. ANEXO 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Determinantes sociais do padrão de morbidade, uso de serviços e

comportamentos relacionados à saúde.

DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA E SOCIAL - FCM-UNICAMP

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, ______________________________________________________________,

residente à rua___________________________________n0______________bairro

_____________________________________, concordo em participar da pesquisa

“Inquérito de Saúde no Município de Campinas”. Sendo que irei responder perguntas

sobre a minha saúde, meus comportamentos relacionados à saúde, o uso que faço

de serviços de saúde, bem como sobre as minhas condições sócio-econômicas que

serão lidas por este entrevistador que está me apresentando este termo. Estou

ciente que ele foi treinado para esta entrevista por pesquisador da UNICAMP. Sei

que a minha participação é voluntária e não corro qualquer tipo de risco em

responder as perguntas, considerando que precisarei utilizar parte de meu tempo

disponível para responder às questões e a qualquer momento da entrevista eu

poderei me recusar as responder as questões, sem qualquer prejuízo para mim.

Caso houver necessidade, serei encaminhado para a unidade de saúde mais

próxima da minha casa.

Estou ciente que o objetivo desta pesquisa é conhecer as condições de vida e saúde

dos moradores do município de Campinas, este estudo está sendo desenvolvido por

pesquisada da Faculdade de Ciências Medicas da UNICAMP. Na divulgação dos

dados não haverá a minha identificação e ninguém, além do entrevistador e dos

pesquisadores, terá acesso aos nomes dos entrevistados nesta pesquisa.

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Também fui informado(a) que ficarei com uma cópia deste termo e que a

pesquisadora responsável por este trabalho estará à disposição para qualquer

esclarecimento e informações adicionais.

Aceito ser convidado a participar de novas pesquisas que deêm continuidade a esta:

[ ] SIM [ ] NÃO

Campinas _____ de ________________ de 2006

Assinatura do(a) entrevistado(a) ou responsável: ________________________

Assinatura do entrevistador: ________________________________________

Caso eu tenha alguma reclamação sobre os aspectos éticos desta pesquisa, poderei

entrar em contato com o Comitê de Ética da UNICAMP, pelo telefone 3521-8936 ou

pelo e-mail: [email protected], ou pelo endereço: Rua Tessália Vieira Camargo,

126 Caixa postal 6111, cep 13084-971.

Responsável pela pesquisa Profª Drª Marilisa Berti de Azevedo Barros

Departamento de Medicina Preventiva e Social – FCM-UNICAMP

Rua Tessália Vieira Camargo, 126 Caixa postal 6111, cep 13084-971

Telefones 3521 8036/ 3521 9249 e-mail:[email protected]

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8.3. ANEXO 3 – Questionário de pesquisa

O Inquérito de Saúde do Município de Campinas (ISACamp, 2008) utilizado para a

realização desta pesquisa está disponível no site:

http://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/questionario_portugues.pdf