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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA SIDNEI CERQUEIRA DOS SANTOS PROSPECÇÃO DE LINHAGENS BACTERIANAS PRODUTORAS DE BIOSSURFACTANTES COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO NO SEMI-ÁRIDO BAIANO Feira de Santana, BA 2008

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA discente/mestrado... · A medida da tensão superficial, dos caldos livres de células cultivados nas melhores condições de cultivo, foi

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA

SIDNEI CERQUEIRA DOS SANTOS

PROSPECÇÃO DE LINHAGENS BACTERIANAS PRODUTORAS DE BIOSSURFACTANTES COM POTENCIAL

BIOTECNOLÓGICO NO SEMI-ÁRIDO BAIANO

Feira de Santana, BA 2008

SIDNEI CERQUEIRA DOS SANTOS

PROSPECÇÃO DE LINHAGENS BACTERIANAS PRODUTORAS DE BIOSSURFACTANTES COM POTENCIAL

BIOTECNOLÓGICO NO SEMI-ÁRIDO BAIANO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Biotecnologia, da Universidade Estadual de Feira de Santana como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Biotecnologia.

Orientador: Prof. Dr. Milton Ricardo de Abreu Roque Co-Orientador: Prof. Dr. Juan Carlos Rossi Alva

Feira de Santana, BA 2008

SIDNEI CERQUEIRA DOS SANTOS

Prospecção de linhagens bacterianas produtoras de biossurfactantes com potencial biotecnológico no semi-árido baiano

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito parcial para obtenção do

título de mestre em Biotecnologia.

NÃO IMPRIMIR ESTÁ PÁGINA

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________________________ Prof. Dra. Cristina Maria Assis Lopes Tavares da Mata Hermida Quintella Professora de Química (UFBA) e coordenadora do Laboratório de Cinética e Dinâmica Molecular (LABLASER/UFBA).

___________________________________________________________________ Profa. Dra. Sandra Aparecida de Assis Professora de Bromatologia Aplicada e Enzimologia e Tecnologia das Fermentações (UEFS).

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Milton Ricardo de Abreu Roque Professor de Microbiologia (UEFS) e coordenador do Laboratório de Microbiologia Aplicada e Saúde Pública (LAMASP/UEFS).

Feira de Santana, 22 de fevereiro de 2008.

AGRADECIMENTOS

Especiais agradecimentos a Deus, aos meus pais, irmãos e meu cunhado, a

minha namorada e a sua família, que me apoiaram e incentivaram na minha

trajetória como mestrando.

Meu reconhecimento é dedicado aos meus orientadores: Prof. Dr. Milton

Ricardo de Abreu Roque, por ter confiado no meu trabalho e por proporcionar a

conquista de mais um objetivo; e ao Prof. Dr. Juan Carlos Rossi Alva, por mais uma

vez ter colaborado na minha trajetória acadêmica.

Também demonstro a minha gratidão ao Prof. Dr. Milton Ricardo de Abreu

Roque, coordenador do Laboratório de Microbiologia Aplicada e Saúde Pública

(LAMASP) e ao Prof. Dr. Aristóteles Góes Neto, coordenador do Laboratório de

Pesquisa em Microbiologia (LAPEM) da Universidade Estadual de Feira de Santana

(UEFS); a Profa. Dra. Luzimar Gonzaga Fernandez, por promover o desenvolvimento

de algumas atividades práticas no Laboratório de Estudos em Meio Ambiente

(LEMA) da Universidade Católica do Salvador (UCSal); e a Prof. Dra. Cristina Maria

Assis Lopes Tavares da Mata Hermida Quintella, coordenadora do Laboratório de

Cinética e Dinâmica Molecular (LABLASER) da Universidade Federal da Bahia

(UFBA), por ter me dado à oportunidade de realizar um treinamento na área de

tensiometria e desenvolver os testes de tensão superficial.

E por fim, os meus cordiais agradecimentos a graduanda em Ciências

Biológicas Narah Cabral, ao Farmacêutico Fábio Santos Ferreira, ao M.Sc. Henrique

Fortes Bahia e aos Biólogos Wilson Nascimento de Matos, Lidiane Karla Xisto

Oliveira e Suikinai Nobre Santos, por ter colaborado na realização dos experimentos;

ao secretário do PPGBiotec (UEFS/FIOCRUZ-BA) Helton Ricardo, pela paciência,

competência e clareza na orientação administrativa do corpo discente e docente; aos

colegas do Curso de PGBiotec, pela importante troca de conhecimento; aos

Lemianos; ao grupo MicroAmb e ao grupo Lablaser, que me ajudaram direta ou

indiretamente para a conquista do meu objetivo.

RESUMO

O semi-árido brasileiro apresenta um dos mais diversificados ecossistemas de cerrado, a Chapada Diamantina, que está localizada no centro do Estado da Bahia. A biodiversidade da região representa um grande potencial para bioprospecção de produtos, pelo fato de apresentar uma originalidade fisiológica, ecológica e genética de sua biota. O objetivo do trabalho foi selecionar linhagens bacterianas, provenientes do solo rizosférico e adjacente de plantas do semi-árido baiano, visando avaliar a produção de biossurfactantes com potencial biotecnológico, utilizando substratos alternativos como fonte de carbono. O estudo foi feito a partir de linhagens bacterianas isoladas de amostras de solo rizosférico e adjacente de plantas endêmicas coletadas no Parque Municipal de Mucugê, Município de Mucugê, Bahia. As linhagens bacterianas foram selecionadas pelo método drop-collapse e a otimização da concentração de substrato, pH e temperatura no tempo realizada através do ensaio de emulsificação. A medida da tensão superficial, dos caldos livres de células cultivados nas melhores condições de cultivo, foi analisada pelo método da gota pendente. As duas linhagens bacterianas competentes foram selecionadas do solo rizosférico de Actinocephalus spp. e pertencem ao gênero Pseudomonas. As melhores condições de cultivo para produção de biossurfactante (>55%) foram à concentração de 0.5% de substrato, pH 7.0, temperatura na escala de 30-40ºC e o período de 24 a 48h de incubação. As duas linhagens de Pseudomonas spp. possuem a capacidade de reduzir as tensões superficial e interfacial dos meios e do óleo cru, respectivamente, tornando uma interessante alternativa para aplicações biotecnológicas.

Palavras-Chave: Semi-árido. Mucugê. Solo. Pseudomonas. Biossurfactante. Substrato alternativo.

ABSTRACT

The semi-arid Brazilian has one of the most diverse ecossystems the Chapada Diamantina, which is located in the center of the state of Bahia. The biodiversity of the region represents a great potential for bioprospecting of products, by the fact present a unique physiological, ecological and genetic of its biota. The work objective was selected bacterial strains, from the rhizosphere soil and adjacent of plants in the semi-arid Bahia, to aiming at assesses the production of biosurfactants with biotechnology potential, using substrates alternative as a source of carbon. The study was done from sampling of rhizosphere soil and adjacent of plants endemic collected in the National Park of Municipal de Mucugê, Município de Mucugê, Bahia. The bacterial strains were selected by the method drop-collapse and optimization of the concentration of substrate, pH and temperature in the time held through the test of emulsification. The measurement of the surface tension of the free broths cells grown in the best conditions of cultivation was examined by the method of drop pending. The two bacterial strains competent were selected soil rhizosphere of Actinocephalus spp. and belong to the genus Pseudomonas. The best conditions for cultivation for the production of biossurfactante (>55%) were 0.5% of the concentration of substrate, pH 7.0, temperature in the range of 30-40°C and the period of 24 to 48h of incubation. The two strains of Pseudomonas spp. have the ability to reduce the surface tension and interfacial from culture media and crude oil, respectively, making an interesting alternative for biotechnological applications.

Keywords: Semi-árido. Mucugê. Soil. Pseudomonas. Biosurfactant. Alternative substratum.

LISTA DE TABELAS

INTRODUÇÃO GERAL

Figura 1:

Forças intermoleculares no interior e na superfície de um líquido (PIRÔLLO,

2006)............................................................................................................................14

Figura 2: Diagrama esquemático da variação da tensão superficial, interfacial e

solubilização em função da concentração de biossurfactante (MULLIGAN,

2005)............................................................................................................................15

Figura 3: Estruturas químicas de alguns biossurfactantes (CAMEOTRA; MAKKAR,

1998)............................................................................................................................16

CAPÍTULO 1

Figura 1: Comparação da produção de emulsificado em diferentes concentrações de

carboidratos no tempo: Isolados Slim03 (A1) e Slim15 (A2) nas concentrações de

0,25% ( ), 0.5% (¦ ), 1% ( ), 2% (X) e 3% (+) de glicose..........................................36

Figura 2: Comparação da produção de emulsificado dos isolados Slim03 ( ) e

Slim15 (¦) na concentração de 0.5% de glicose no período de 24 a 120h.................37

Figura 3: Comparação da produção de emulsificado em diferentes pHs e

temperaturas no tempo: A1 - pH 5.0, B1 - pH 6.0, C1 - pH 7.0 e D1 - pH 8.0 nas

temperaturas de 25°C ( ), 30°C (¦ ), 35°C ( ) e 40ºC (X) para a linhagem Slim03; A2

- pH 5.0, B2 - pH 6.0, C2 - pH 7.0 e D2 - pH 8.0 nas temperaturas de 25°C ( ), 30°C

(¦ ), 35°C ( ) e 40ºC (X) para a linhagem Slim15......................................................39

Figura 4: Variação da concentração da biomassa (mg/mL) (¦ ) e do índice de

emulsificação (%)( ) dos isolados Slim03 (A1) e Slim15 (A2) no tempo..................40

Figura 5: Tensão superficial (mN/m) versus concentração do caldo livre de células

(%) dos isolados Slim03 ( ) e Slim15(¦ )...................................................................41

CAPÍTULO 2

Figura 1: Comparação da produção de emulsificado com diferentes fontes de

carbono no tempo: A1 - óleo de milho, B1 - óleo de girassol e C1 - glicerol para a

linhagem de Pseudomonas sp. pDL01; A2 - óleo de milho, B2 - óleo de girassol e C2

- glicerol a linhagem de P. fluorescens 3B, nas concentrações de 0.5% ( ), 1% (¦ ),

2% ( ) e 3% (X) dos respectivos substratos..............................................................54

Figura 2: Variação da concentração da biomassa bacteriana (mg/mL) (¦ ) e do índice

de emulsificação (%) ( ) com os substratos alternativos: A1 - óleo de milho a 0.5%,

B1 - óleo de girassol a 0.5% e C1 - glicerol a 5% para a linhagem de Pseudomonas

sp. pDL01; e A2 - óleo de milho a 0.5%, B2 - óleo de girassol a 0.5% e C2 - glicerol a

5% para a linhagem de P. fluorescens 3B..................................................................57

Figura 3: Tensão superficial (mN/m) versus concentração do caldo livre de células

(%) de Pseudomonas sp. pDL01 ( ) e P. fluorescens 3B (¦ ): A - óleo de milho; B -

óleo de girassol; e C - glicerol.....................................................................................59

APÊNCICE A

Figura1: Curva do peso seco versus absorbância dos isolados Slim03 ( ) e Slim15

(¦)................................................................................................................................66

LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS

ABIP – Agar Base para Isolamento de Pseudomonas

APF – Agar Pseudomonas para Fluorescente

APP – Agar Pseudomonas para Piocianina

BA – Bahia

BLST – Local Alignment Search Tool

BSA – Albumina de Soro Bovino

CMC – Concentração Micelar Crítica

Dez. – Dezembro

DMSO – Dimetilsulfóxido

E24 – Índice de Emulsificação

Ed. – Editor

ESALQ – Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"

FIOCRUZ – Fundação Osvaldo Cruz

HUEFS – Herbário da UEFS

LABLASER – Laboratório de Cinética e Dinâmica Molecular

LEMA – Laboratório de Estudos em Meio Ambiente

LAMASP – Laboratório de Microbiologia Aplicada e Saúde Pública

LAPEM – Laboratório de Pesquisa em Microbiologia

MEOR – Recuperação Melhorada de Petróleo

MMJE – Meio Mineral Jones e Edington

MSM – Meio Salino Mineral

NCBI – National Center for Biotechnology Information

PCR – Reação em Cadeia da Polimerase

PMM – Parque Municipal de Mucugê

PGBiotec – Pós-graduação em Biotecnologia

PPGBiotec – Programa de Pós-graduação em Biotecnologia

SDS – Sodium Dodecyl Sulfate

Set. – Setembro

TIF – Tensão Interfacial

TBE – Tris-Borate-EDTA

TS – Tensão Superficial

TSA – Tryptic Soy Agar

TSB – Tryptic Soy Broth

UCSal – Universidade Católica do Salvador

UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana

UFBA – Universidade Federal da Bahia

USP – Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL .........................................................................................................12

OBJETIVOS ............................................................................................................................20

GERAL ................................................................................................................................. 20

ESPECÍFICOS.................................................................................................................... 20

ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA.........................................................................................21

REFERÊNCAIS ......................................................................................................................22

CAPÍTULO 1: RESPOSTA DA OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE CULTIVO

PARA A PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE DE LINHAGENS BACTERIANAS

ISOLADAS NO SEMI-ÁRIDO BAIANO ..............................................................................26

RESUMO ............................................................................................................................. 26

Palavras-chave ............................................................................................................... 26

ABSTRACT ......................................................................................................................... 26

Keywords ......................................................................................................................... 26

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 27

2 MATERIAIS E METÓDOS ............................................................................................ 28

2.1 Coleta da Amostra................................................................................................... 28

2.2 Isolamento e Preservação de Linhagens Bacterianas ...................................... 29

2.3 Seleção de Linhagens Bacterianas Produtoras de Biossurfactante ............... 30

2.4 Identificação de Linhagens Bacterianas competentes ...................................... 31

2.5 Inóculo ....................................................................................................................... 31

2.6 Efeito da Concentração de Glicose na Produção de Biossurfactante ............ 32

2.7 Efeito do pH e Temperatura na Produção de Biossurfactante ........................ 32

2.8 Atividade Emulsificante .......................................................................................... 32

2.9 Produção de Biossurfactante Associado ao Crescimento Celular .................. 33

2.10 Concentração da Biomassa Bacteriana ............................................................ 33

2.11 Medida da Tensão Superficial............................................................................. 34

2.12 Análise Estatística ................................................................................................. 35

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 35

3.1 Isolamento e seleção de linhagens bacterianas produtoras de

biossurfactante ............................................................................................................... 35

3.2 Identificação de linhagens bacterianas competentes........................................ 36

3.3 Efeito da Concentração de Glicose ...................................................................... 36

3.4 Efeito do pH e Temperatura .................................................................................. 38

3.5 Produção de Biossurfactante Associado ao Crescimento Celular .................. 41

3.6 Medida da Tensão Superficial ............................................................................... 42

REFERÊNCAIS ......................................................................................................................43

CAPÍTULO 2: PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR LINHAGENS DE

Pseudomonas spp. USANDO SUBSTRATOS ALTERNATIVOS ..................................47

RESUMO ............................................................................................................................. 47

Palavras-chave ............................................................................................................... 47

ABSTRACT ......................................................................................................................... 47

Keywords ......................................................................................................................... 47

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 48

2 MATERIAIS E METÓDOS ............................................................................................ 50

2.1 Microrganismo.......................................................................................................... 50

2.2 Inóculo ....................................................................................................................... 50

2.3 Efeito de Substratos Alternativos na Produção de Biossurfactante................ 51

2.4 Índice de Emulsificação (E24) ................................................................................ 51

2.5 Produção de Biossurfactante Associado ao Crescimento Celular .................. 52

2.6 Concentração da Biomassa Bacteriana .............................................................. 52

2.7 Medida da Tensão Superficial ............................................................................... 52

2.8 Análise Estatística ................................................................................................... 53

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 53

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................61

CONCLUSÃO GERAL ..........................................................................................................65

APÊNDICE A ..........................................................................................................................66

ANEXO A.................................................................................................................................68

ANEXO B.................................................................................................................................69

12

INTRODUÇÃO GERAL

O semi-árido brasileiro abrange uma área de 1.150.662Km2, que corresponde

a 74,30% da Região Nordeste e a 13,52% da superfície do Brasil (PAES et al.,

2003). A caatinga representa o principal tipo vegetacional característico da região

semi-árida; enquanto as manchas de mata úmida, mata estacional, cerrado e

cerradão, que ocorrem espalhadas pelo semi-árido, representam vegetações

residuais de períodos climáticos mais úmidos (FERNANDES, 1996).

A região apresenta um dos mais diversificados ecossistemas de cerrado da

biosfera, a Chapada Diamantina, que está localizada no centro do Estado da Bahia,

entre as coordenadas 10°00S e 40°30 a 43°00W. Compreende uma área de 41.994

Km, constituindo-se na porção da cadeia do Espinhaço, um dos principais conjuntos

montanhosos do Brasil, que se estende da Bahia até Minas Gerais (JESUS et al.,

1985). Toda a região possui relevo muito acidentado, solos pobres em nutrientes e

extremamente ácidos, com clima mesotérmico, caracterizado por invernos secos e

verões brandos e chuvosos (TORRES; CORDEIRO; GIULIETTI, 2003).

A biodiversidade do semi-árido representa um grande potencial de matéria-

prima para o desenvolvimento de produtos diversos, além de possuir valor

econômico, social, recreativo, cultural e estético (BORÉM, 2005). Com uma flora

única e rica, a Chapada Diamantina exibe mais de 3.000 espécies de Angiospermas

e as mais variadas fisionomias, sendo esta diversidade comparada apenas à

encontrada em regiões de Mata Atlântica, Floresta Amazônica Ocidental, Península

do Cabo e Austrália (HARLEY, 1995). É também composta de uma variedade de

espécies animais e de microrganismos, que apresentam potencial pouco conhecido

cientificamente.

É certamente pela sua biodiversidade que a Chapada Diamantina tem atraído

à atenção de pesquisadores no mundo inteiro (OLIVEIRA; LONGHI-WAGNER;

GIULIETTE, 2003). Isso se justifica pelo fato do semi-árido apresentar uma das

biotas mais particulares do mundo, em composição e adaptações às condições do

meio (INSEAR, 2005), também pelo baixo conhecimento dessa diversidade, em

particular dos microrganismos, pois representa a fração biológica mais numerosa do

solo e da rizosfera; participando dos ciclos biogeoquímicos (EMBRAPA, 2001),

13

realizando atividades metabólicas relevantes para o crescimento das plantas

(COTANZA et al., 1997) e contribuindo com os processos ligados à cadeia trófica.

Os microrganismos provenientes de ambientes, como do semi-árido, podem

apresentar benefícios importantes no âmbito científico devido às condições extremas

do seu habitat, como o espectro de pH, salinidade, temperatura e de nutrientes.

Neste contexto, o estudo dos microrganismos fornecerá informações valiosas acerca

de moléculas de interesse industrial e um excelente recurso para o desenvolvimento

de novas aplicações biotecnológicas (CARDOSO et al., 2003).

Bactérias, fungos e leveduras têm sido apontados como agentes

transformadores eficazes, face a sua habilidade em degradar ampla gama de

substâncias orgânicas (URURAHY; PEREIRA JR; MARTINS, 1998), tais como

amido, celulose, quitina e hidrocarbonetos em compostos mais simples, utilizando

essas substâncias como única fonte de carbono e de energia. Essas características

dos microrganismos é resultado da produção de metabólitos secundários

conhecidos como biossurfactantes. Algumas funções fisiológicas têm sido atribuídas

aos biossurfactantes, são elas: emulsificação e solubilização de hidrocarbonetos ou

compostos insolúveis em água, facilitando o crescimento de microrganismos nestes

substratos (FRANCY et al., 1991), através do transporte e translocação de substrato

insolúvel pela membrana celular (BOGNOLO, 1999). Porém, cepas de Bacillus

subtilis produzem biossurfactantes apenas em substratos hidrossolúveis (COOPER

et al., 1981); transporte de hidrocarbonetos, função atribuída aos biossurfactantes

ligados à parede celular de Candida tropicalis (KAPPELI; FIECHTER, 1977), onde

um aumento significativo da porção lipídica do polissacarídeo de membrana foi

detectado quando o microrganismo crescia em alcanos, indicando que o complexo

polissacarídeo-ácido-graxo presente na superfície celular estaria envolvido no

transporte de hidrocarbonetos; aderência-liberação da célula a superfícies, uma das

mais importantes estratégias de sobrevivência dos microrganismos é sua habilidade

em colonizar um nicho ecológico onde possa se multiplicar. O elemento chave nesta

estratégia são estruturas da superfície celular responsáveis pela aderência das

células às superfícies. Os microrganismos podem utilizar surfactantes ligados à

parede para regular as propriedades da superfície celular, visando aderir ou se

desligar de um determinado local de acordo com sua necessidade para encontrar

novos habitats com maior disponibilidade de nutrientes ou se livrar de ambientes

desfavoráveis (ROSENBERG; RON, 1999); e atividade antibiótica, demonstrada por

14

vários biossurfactantes, principalmente da classe dos lipopeptídios e glicopeptídios.

Os ramnolipídios de P. aeruginosa e a surfactina de B. subtilis funcionam como

antibióticos, solubilizando os principais componentes das membranas celulares

microbianas. Através da excreção destes biossurfactantes no meio, os

microrganismos adquirem maior chance de sobrevivência e maior competitividade na

busca por nutrientes (LIN, 1996).

O biossurfactante é um grupo heterogêneo de molécula de superfície ativa,

formado biologicamente pelo crescimento aeróbio, a partir de metabólitos

microbianos (DESAI; BANAT, 1997a), utilizando como fonte de carbono

carboidratos, óleos, alcanos e resíduos (LIN, 1996). Estas moléculas reduzem a

tensão superficial (TS), concentração micelar crítica (CMC) e a tensão interfacial

(TIF) de ambas as soluções aquosas e misturas de hidrocarbonetos (BANAT, 1995;

NITSCHKE; PASTORE, 2003), além de apresentar propriedades de formação de

macro e micro emulsões (BANAT, 1995; NITSCHKE; PASTORE, 2003).

O efeito de um surfactante é determinado pela sua habilidade de diminuir a

TS, que é a medida da superfície livre de energia requerida para conduzir a

molécula da fase líquida para superfície (Figura 1). Devido à presença de um

biossurfactante, menos trabalho é requerido para conduzir a molécula para

superfície e a TS é reduzida. Um bom surfactante pode baixar a tensão de água de

72 para 35 mN/m e a TI (tensão entre líquidos polar e apolar) de água em face de n-

hexadecano de 40 para 1mN/m (CHRISTOFI; IVSHINA, 2002; MULLIGAN, 2005).

Figura 1: Forças intermoleculares no interior e na superfície de um líquido (PIRÔLLO, 2006).

15

A tensão superficial correlaciona-se com a concentração dos compostos

tensoativos até o momento em que a concentração micelar crítica (CMC) é

alcançada (Figura 2). A CMC é definida como a solubilidade de um tensoativo na

fase aquosa, ou seja, a concentração mínima do tensoativo necessária para atingir

os valores mais baixos de tensão superficial e interfacial, a partir da qual se inicia a

formação de micelas, que são partículas de uma solução coloidal. Colóide é um

sistema físico-químico que contém duas fases, uma das quais, a fase dispersa

(micelas), está exatamente subdividida e imersa na outra, a fase dispersora.

Surfactantes eficientes apresentam uma baixa concentração micelar crítica, ou seja,

menos surfactante é utilizado para diminuir a tensão superficial. Na prática, a CMC é

também a concentração máxima de biossurfactantes em água e é influenciada pelo

pH, temperatura e força iônica (MULLIGAN, 2005). Outra função dos surfactantes é

produzir emulsão, que são secretados em meio de cultura durante o crescimento

dos microrganismos. O emulsificado ajuda no transporte e translocação de substrato

insolúvel através da membrana celular (BOGNOLO, 1999).

Figura 2: Diagrama esquemático da variação da tensão superficial, interfacial e solubilização em função da concentração de biossurfactante (MULLIGAN, 2005).

Os surfactantes possuem uma estrutura molecular anfipática, constituída de

uma porção hidrofóbica e uma porção hidrofílica. A cadeia apolar é freqüentemente

uma cadeia hidrocarbonada enquanto a porção polar pode ser iônica (aniônica ou

catiônica), não iônica ou anfotérica (Figura 3) (DESAI; BANAT, 1997b; GOUVEIA et

al., 2003). Não existe relato na literatura de estrutura catiônica, entretanto em alguns

16

casos a presença de grupos contendo nitrogênio confere certo grau de caráter

catiônico em partes da molécula, afetando, por exemplo, na adsorção sobre sólidos

dispersados e floculação de partículas. Em comum com todas as espécies de

superfície ativa, biossurfactantes contém uma ou várias partes lipofílicas e

hidrofílicas. A metade lipofílica pode ser uma proteína ou um peptídio com uma alta

proporção de cadeia de face hidrofóbica, mas é usualmente a cadeia de

hidrocarboneto de um ácido graxo com 10-18 átomos de carbono, contudo ácido

graxo de peso molecular maiores tem sido relatado. A metade hidrofílica pode ser

um éster, uma hidroxila, um fosfato, um grupo carboxilado ou um carboidrato

(BOGNOLO, 1999).

Figura 3: Estruturas químicas de alguns biossurfactantes (CAMEOTRA; MAKKAR, 1998).

17

A presença de grupos hidrofílicos e hidrofóbicos na mesma molécula

possibilita a distribuição dos surfactantes nas interfaces entre faces fluídas com

diferentes graus de polaridade (óleo/água e água/óleo) (NITSCHKE; PASTORE,

2003).

Os surfactantes são classificados de acordo com sua composição química e

sua origem microbiana, sendo o tipo, a quantidade e a qualidade dos

biossurfactantes influenciados pela natureza do substrato, concentrações de íons

como P, N, Mg, O2 e Fe- no meio de cultura, além das condições de cultivo

(GEORGIOU; LIN; SHARMA, 1992). As principais classes de biossurfactantes

incluem glicolipídeos, lipossacarídeos, lipopeptídeos, fosfolipídeos, ácidos graxos e

lipídios neutros (BOGNOLO, 1999). As classes de biossurfactantes e os

microrganismos produtores estão distribuídos entre uma extensa variedade de tipos

e gêneros, respectivamente, de acordo a tabela 1.

Tabela 1: Principais classes de biossurfactantes e microrganismos envolvidos.

CLASSES E TIPOS DE BIOSSURFACTANTES

MICRORGANISMOS

Glicolipídios

ramnolipídios Pseudomonas aeroginosa

soforolipídios Torulopsis bombicola Rhodococccus erythropolis.

trehalolipídios Mycobacterium sp.

Lipopeptídios e lipoproteínas

peptídio-lipídio Bacillus licheniformis

viscosina Pseudomonas fluorescens

serravetina Serratia marcescens

subtilisina Bacillus subtilis

surfactina Baciluus subtilis

gramicidina Bacillus brevis

polimixina Bacilllus polymyxa Ácidos graxos, lipídios neutros e fosfolipídios

ácidos graxos Corynebacterium lepus

lipídios neutros Nocardia erythoropolis

fosfolipídios Thiobacillus thiooxidans Surfactantes poliméricos

emulsan Acinetobacter calcoaceticus

biodispersan Acinetobacter calcoaceticus

liposan Candida lipolytica

carboidrato-lipídio-proteína Pseudomonas fluorescens

manana-lipídio-proteína Candida tropicalis Surfactantes particulados

vesículas Acinetobacter calcoaceticus

células Várias bactérias Fonte: DESAI; BANAT, 1997b.

18

O maior mercado para os biossurfactantes é a indústria petrolífera, onde são

utilizados na produção de petróleo ou incorporados em formulações de óleos

lubrificantes (BANAT, 1995). Outras aplicações incluem biorremediação e dispersão

no derramamento de óleos, remoção e mobilização de resíduos de óleo em tanques

de estocagem, e a recuperação melhorada de petróleo (MEOR). Porém, atualmente,

as aplicações se distribuem entre os mais diversos setores industriais (NITSCHKE et

al, 2002), entre elas, à indústria farmacêutica, de cosméticos e de alimentos, devido

sua atuação como dispersantes e/ou solubilizantes de compostos orgânicos com

baixa solubilidade em água (GOUVEIA et al., 2003).

Acidentes com derramamento de óleo e seus derivados vem se tornando

constante e têm causado muitos problemas ecológicos e sociais. A introdução

desses poluentes em diferentes ambientes com relativa freqüência pode sobrepor à

capacidade de recuperação do ecossistema e assim resultar na acumulação em

níveis prejudiciais (RAHMAN et al., 2002), podendo levar a eliminação seletiva de

espécies e acarretar modificações estruturais e funcionais da comunidade ecológica

(GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

Os surfactantes microbianos têm grande importância na recuperação de

áreas contaminadas por atividade petrolífera, devido a sua capacidade de

decomposição de químicos xenobióticos no ambiente (EMBRAPA, 2001). Os

xenobiontes são moléculas orgânicas produzidas por tecnologias industriais

modernas e ausentes no ambiente natural. Estas moléculas se encontram em vários

tipos de compostos, aplicados à indústria petrolífera, associadas com as atividades

de produção, transporte e refino de petróleo, como por exemplo, as borras oleosas

(RIBEIRO; 1979; TALES, 2004; URURAHY; PEREIRA JR; MARTINS, 1998); e

indústria química, tais como, agrotóxicos, corantes, fármacos, polímeros e plásticos,

podendo ser tóxicos a sistemas biológicos, uma vez que não fazem parte do

conjunto de moléculas produzidas pelo metabolismo evolutivo que propicia a vida na

Terra (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

A revolução na base de conhecimento dos sistemas biológicos, a partir da

biotecnologia moderna vem gerando novas oportunidades de inovação (LOPES,

2005), como a técnica de biorremediação. Métodos de biorremediação estão

atualmente recebendo apoio como promissora tecnologia de tratamento ambiental

de remediação de hidrocarbonetos (DESAI; BANAT, 1997b). A biorremediação pode

ser definida como a conversão de compostos químicos por organismos viáveis,

19

especialmente microrganismos, que apresente funções metabólicas específicas,

derivada de seleção ou pela introdução de genes, codificando tais funções em

energia, massa celular e produtos de resíduo biológico inofensivo (WALTER et al.,

1997).

O objetivo de usar técnicas de remediação biológica é aumentar as condições

de fertilidade nativa de tais solos e de melhorar a taxa de degradação dos químicos

xenobiontes; eliminando, desta forma, a concentração de fontes contaminantes no

ambiente e melhorando a remoção dos mesmos (RAHMAN et al., 2002). A utilização

dessas substâncias como única fonte de carbono e de energia para os

microrganismos, aponta como poderosa alternativa aos métodos convencionais de

tratamento, sendo cada vez mais empregados na resolução de problemas

ambientais (URURAHY; PEREIRA JR; MARTINS, 1998).

20

OBJETIVOS

GERAL

Selecionar linhagens bacterianas, provenientes do solo rizosférico e adjacente

de plantas do semi-árido baiano, visando avaliar a produção de biossurfactante com

potencial biotecnológico, utilizando substratos alternativos como fonte de carbono.

ESPECÍFICOS

Isolar, selecionar e caracterizar linhagens bacterianas produtoras de

biossurfactantes, a partir de amostras de solo rizosférico e adjacente de plantas

endêmicas coletadas na área do Parque Municipal de Mucugê, Chapada

Diamantina.

Analisar as melhores condições de cultivo para produção de biossurfactante

usando matérias primas de baixo custo.

Avaliar a produção de biossurfactante dos isolados bacterianos através de

análise qualitativa (prova de emulsificação) e quantitativa (medida da tensão

superficial).

Identificar as linhagens bacterianas competentes para a produção de

biossurfactantes.

21

ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA

O trabalho de dissertação está estruturado em dois capítulos, a saber: o

primeiro intitulado “Resposta da otimização das condições de cultivo para a

produção de biossurfactante de linhagens bacterianas isoladas no semi-árido

baiano” aborda a seleção de linhagens bacterianas provenientes do solo rizosférico

e adjacente de plantas, assim como a avaliação das melhores condições de cultivo

para produção de biossurfactante; e o segundo intitulado “Produção de

biossurfactante por linhagens de Pseudomonas spp. usando substratos alternativos”

visa avaliar a produção de biossurfactante de linhagens de Pseudomonas spp.,

através da utilização de diferentes fontes de carbono. Por fim, a conclusão, onde são

pontuadas o tipo de contribuição do trabalho para o avanço científico e tecnológico,

e as possíveis perspectivas do objeto de estudo.

22

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26

CAPÍTULO 1: RESPOSTA DA OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE CULTIVO PARA A PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE DE LINHAGENS BACTERIANAS ISOLADAS NO SEMI-ÁRIDO BAIANO

RESUMO: A biodiversidade do semi-árido representa um grande potencial de matéria-prima devido às particularidades do seu ambiente, o que torna um importante local para o estudo de biomoléculas de interesse biotecnológico. O objetivo do trabalho foi selecionar linhagens bacterianas do solo rizosférico e adjacente de plantas do semi-árido baiano, visando avaliar as melhores condições de cultivo para produção de biossurfactante. As amostras de solo foram coletadas de plantas endêmicas da família Verbenaceae e Eriocaulaceae no Parque Municipal de Mucugê, Bahia. As linhagens bacterianas foram selecionadas pelo método drop-collapse, sendo a otimização dos tratamentos realizada através do ensaio de emulsificação e a medida da tensão superficial analisada pelo método da gota pendente. As duas linhagens bacterianas competentes foram selecionadas do solo rizosférico de Actinocephalus spp. e pertencem ao gênero Pseudomonas. As melhores condições de cultivo para produção de biossurfactante (>55%) foram a concentração de 0.5% de glicose, pH 7.0, temperatura na escala de 30-40ºC e o período de 24 a 48h de incubação. As duas linhagens bacterianas apresentaram a capacidade de reduzir as tensões superficial e interfacial do meio e do óleo cru, respectivamente. Os resultados obtidos confirmam a influência ambiental no metabolismo de microrganismos, tornando uma interessante alternativa para aplicações biotecnológicas.

Palavras-chave: Semi-árido. Mucugê. Solo. Linhagem bacteriana. Biossurfactante.

ABSTRACT: Biodiversity of the semi-arid region is a great potential of raw materials due to the particularities of their environment, which makes it an important place for the study of biomoleculs of interest biotechnology. The work objective was selected bacterial strains, from the rhizosphere soil and adjacent of plants in the semi-arid Bahia, to aiming at assesses the best conditions of cultivation for the production of biosurfactant. Soil samples were collected from plants endemic of the family Verbenaceae and Eriocaulaceae at Park Municipal de Mucugê, Bahia. The bacterial strains were selected by the method drop-collapse, and the optimization of processing performed by the test of emulsification and measurement of surface tension analyzed by the method of drop pending. The two bacterial strains competent were selected soil rhizosphere of Actinocephalus spp. and belong to the genus Pseudomonas. The best conditions for cultivation for the production of biosurfactant (>55%) were the concentration of 0.5% glucose, pH 7.0, temperature in the range of 30-40°C and the period of 24 to 48h of incubation. The two bacterial strains showed the ability to reduce the surface tension and interfacial from culture media and crude oil, respectively. The results confirm the environmental influence on the metabolism of microorganisms, making an interesting alternative for biotechnological applications.

Keywords: Semi-árido. Mucugê. Soil. Bacterial strain. Biosurfactant.

27

1 INTRODUÇÃO

O interesse em biossurfactantes tem crescido consideravelmente nos últimos

anos, pois eles são candidatos em potencial para muitas aplicações comerciais,

incluindo as indústrias de petróleo, farmacêutica, biomédica e de processamento de

alimentos (DESAI; BANAT, 1997). Tal fato vem promovendo uma grande busca por

isolamento de microrganismos capazes de produzir biossurfactantes.

Entretanto, é preciso ficar atento às etapas de crescimento celular e ao

acúmulo de produtos metabólicos, que são fortemente influenciados pela

composição do meio, como por exemplo, fonte de carbono, nitrogênio e sais

inorgânicos, pois isso dificulta a pesquisa por ser um fator importante para

otimização de vários processos biotecnológicos, tendo em vista os vários

parâmetros envolvidos (LI et al., 2002). A otimização do meio de cultivo envolve

mudança de uma variável no tempo, ajustado a outros parâmetros fixos. Existem

também experimentos com uma grande possibilidade de combinação fatorial, mas

de difícil avaliação da variável teste, devido à necessidade de um grande número de

experimentos (SEN, 1997). O mais recomendado é avaliar o resultado do cultivo e

estimar o principal efeito de acordo ao modelo linear, selecionando a variável que

tiver a melhor influência sob a produção para novos estudos (RODRIGUES et al.,

2006).

Fatores ambientais e condições de crescimento tais como pH, temperatura,

agitação, viabilidade de oxigênio e salinidade também afetam a produção de

biossurfactantes, alterando o crescimento celular e suas atividades vitais (DESAI;

BANAT, 1997). Porém, pode fornecer informações importantes para a seleção da

área de estudo, devido à relação paralela entre o ambiente e o crescimento celular

associado à produção de biossurfactantes, visto que alguns biossurfactantes

apresentam elevada estabilidade térmica e de pH podendo ser utilizados em

ambientes com condições mais drásticas, apresentando estabilidade a temperaturas

em torno de 75 °C por até 140 h e de pH entre 5 e 12 (HOROWITZ; GILBERT;

GRIFFIN, 1990), além de suportar concentrações de até 10% de NaCl (BOGNOLO,

1999).

O semi-árido é uma das regiões que apresenta uma biodiversidade de grande

relevância devido às particularidades da sua biota (INSEAR, 2005). Os organismos

28

estão extremamente adaptados às condições desfavoráveis do ambiente como solos

com alta salinidade, pobres em nutrientes e extremamente ácidos, além das altas

temperaturas (CARDOSO et al., 2003), que chegam até 60°C na rocha nua. Esta

alta taxa de biodiversidade do semi-árido, principalmente na Chapada Diamantina,

tornou-se alvo de interesse da comunidade científica (OLIVEIRA; LONGHI-

WAGNER; GIULIETTE, 2003), do governo e de empresas, visto que é uma área de

pouco conhecimento quantitativo e qualitativo de suas espécies (INSEAR, 2005).

A diversidade microbiana apresenta características aplicáveis à biotecnologia

devido às condições extremas do ambiente, que fornecem aos microrganismos

características metabólicas novas e/ou recombinação de genes de interesse, sendo

o produto do seu metabolismo de grande importância para aplicação de processos

biotecnológicos (CARDOSO et al., 2003). Neste contexto, o objetivo do trabalho foi

selecionar linhagens bacterianas, provenientes do solo rizosférico e adjacente de

plantas do semi-árido baiano, visando avaliar as melhores condições de cultivo para

produção de biossurfactante.

2 MATERIAIS E METÓDOS

2.1 Coleta da Amostra

A coleta do solo rizosférico e adjacente foi realizada em duas áreas do

Parque Municipal de Mucugê (PMM), Município de Mucugê, Bahia, em um período

de seca (verão) e em um período de frio (inverno), sendo a área 1 localizada à

S13°00'06'' e W41°20'54'' e a área 2 à S12°59'36'' e W41°20'33'', dentro de um

transecto de 50 X 2 metros. Para a obtenção de amostras da rizosfera, o sistema

radicular de plantas da família Verbenaceae (Stachytarpheta crassifolia) e

Eriocaulaceae (Actinocephalus spp., Syngonanthus giuliettae e S. mucugensis) foi

retirado e acondicionado em sacos plásticos juntamente com o solo adjacente. As

espécies vegetais foram catalogadas através de uma ficha de coleta com a

29

identificação confirmada no Herbário da UEFS (HUEFS) e as amostras de solo

foram analisadas quanto à composição, de acordo a tabela 1.

Tabela 1: Análise química dos solos adjacentes das espécies de plantas coletadas no Parque Municipal de Mucugê (PMM): Stachytarpheta crassifolia (Amostra 1), Actinocephalus spp. (Amostra 2), Syngonanthus mucugensis parte alta do PMM (Amostra 3) e S. mucugensis parte baixa do PMM (Amostra 4).

CTC, capacidade de troca catiônica; V, condutividade; MO, matéria orgânica.

2.2 Isolamento e Preservação de Linhagens Bacterianas

As amostras de solo rizosférico e adjacente foram peneiradas,

homogeneizadas e deixadas por 30 minutos em temperatura ambiente. Em seguida,

foram retiradas sub-amostras de 10g de cada ponto de amostragem para serem

adicionadas em Erlenmeyers de 500mL contendo 90mL de solução salina (0,9%). As

amostras foram incubadas em agitador orbital (150rpm) a 30ºC, por 15 minutos

(ROQUE; MELO, 2000). Após o período sob agitação, foram realizadas diluições em

série, sendo retirada alíquotas de 100µL das diluições de 10-2, 10-3 e 10-4, inoculadas

e semeadas, em triplicata, na superfície dos seguintes meios contidos em placas de

Petri: King`s B (g/L de água destilada; protease peptona nº 03, 10,0g; K2HPO4, 1,5g;

MgSO4.7H2O, 1,5g; glicerol, 10mL; ágar, 15,0g; pH 7,0 0,2), meio mineral Jones e

Edington (MMJE) (água destilada, 1000mL; K2HPO4, 2,0g; MgSO4.7H2O, 0,2g;

CaCl2.2H2O, 0,1g; NaCl, 0,1g; FeCl3, 0,01g; NH4NO3, 0,5g; ágar, 15,0g) e meio

salino mineral (MSM) (g/L de água destilada; K2HPO4, 4,0g; Na2HPO4, 1,5; NaNO3,

1,0; MgSO4.7H2O, 0,2g; CaCl2.2H2O, 0,02g; FeCl3.6H2O, 0,02g; ágar, 15,0g; pH

7,0 0,2), descrito por Bodour e Miller-Maier (1998), modificado. Após um período de

24 a 72h de incubação (30°C), foi realizada a contagem de unidades formadoras de

30

colônia por grama de solo (UFC/g-1 de solo). Os isolados bacterianos foram

purificados em tryptic soy agar (TSA) (Himedia) e mantidos no meio preparado de

tryptic soy broth (TSB) com 15% de glicerol a -80°C.

2.3 Seleção de Linhagens Bacterianas Produtoras de Biossurfactante

As colônias puras isoladas foram inoculadas em 10mL de meio salino mineral

(MSM) (água destilada, 1000mL; K2HPO4, 4,0g; Na2HPO4, 1,5; NaNO3, 1,0;

MgSO4.7H2O, 0,2g; CaCl2.2H2O, 0,02g; FeCl3.6H2O, 0,02g; pH 7,0 0,2) (BODOUR;

MILLER-MAIER, 1998, modificado), utilizando 2% glicose (p/v) como única fonte de

carbono e energia. As culturas foram incubadas no agitador orbital a 30°C, sob

agitação de 180 rpm, por 48. O cultivo dos isolados microbianos foi centrifugado

(Hettich, Universal 32R) a 4.000 rpm, por 20 minutos (10ºC) (ILORI; AMOBI;

ODOCHA, 2005), para remover as células bacterianas e sobrenadante obtido

armazenado para o teste drop-collapse. As linhagens bacterianas foram

selecionadas pela técnica drop-collapse (BODOUR; MILLER-MAIER, 1998;

YOUSSEF, et al., 2004), onde 2µL de óleo mineral (Nujol), a base de hidrocarboneto

de petróleo, foi adicionado em poços de uma microplaca de 96 poços. O óleo foi

repousado nos poços por 24 horas a temperatura ambiente e 5 µL do caldo livre de

células foi adicionado na superfície do óleo. O controle positivo foi realizado com 5

µL de sodium dodecyl sulfate (SDS) (J.T.BAKER) a 1% e os controles negativos com

5 µL de água destilada e 5 µL do meio não inoculado. Após 1 minuto, foi realizada a

leitura visual da forma da gota na superfície do óleo, sendo o resultado considerado

positivo quando ocorreu o espalhamento total ou parcial da gota e negativo quando

a gota permaneceu inalterada.

31

2.4 Identificação de Linhagens Bacterianas competentes

As linhagens bacterianas selecionadas foram identificadas baseadas nas

caracterizadas fenotípicas tais como: morfologia das colônias e celular em

esfregaços corados pelo método de Gram; provas bioquímicas; meios seletivos -

agar Pseudomonas para fluorescente (APF) (Himedia), agar Pseudomonas para

piocianina (APP) (Himedia), agar base para isolamento de Pseudomonas (ABIP)

(Himedia) e agar cetrimide (Merck); e análise filogenética. O DNA genômico foi

extraído usando o protocolo Fenol-Clorofórmio-Álcool isoamílico (25:24:1), descrito

por Sambrook, Maniatis e Frisch (2001) (Anexo A). A região do 16S rRNA foi

amplificada no termociclador (GeneAmp, PCR System 9700), utilizando os

iniciadores fD1 (5’- AGAGTTTGATCCTGGCTCAG – 3’) e rP2 (5’-

ACGGCTACCTTGTTACGACTT – 3’), segundo Weisburg e colaboradores (1991)

(Anexo B). A eletroforese em gel de agarose do produto da PCR foi realizada com

0.8% de agarose (Pronadisa) em tampão Tris-borate-EDTA (TBE) (SAMBROOK;

FRITSH; MANIATIS, 2001), a 100 V, por 50 minutos, a temperatura ambiente. O

produto amplificado foi purificado com o kit GFXTM PCR DNA, seguindo as

especificações do manual da Amersham Biosciences. O fragmento de 16S rRNA

obtido foi seqüenciado e analisado quanto a sua similaridade para pesquisa de

nucleotídeos no Basic Local Alignment Search Tool (BLAST) do National Center for

Biotechnology Information (NCBI, www.ncbi.nlm.nih.gov), visando a identificação da

espécie.

2.5 Inóculo

As linhagens bacterianas foram semeadas em TSA e incubadas a 30ºC por

24h. Em seguida, foi feito um novo repique a partir do cultivo anterior e semeado em

TSA por mais 24h. Após essa etapa, foi realizado uma suspensão bacteriana em

solução salina (0,9%), a partir da escala padrão de densidade ótica 1.0 (108 UFC

mL-1) no filtro de 600 nm (ROBERT et al., 1989, modificado).

32

2.6 Efeito da Concentração de Glicose na Produção de Biossurfactante

Foi realizado um inóculo de 3 mL da suspensão bacteriana analisada em um

erlenmeyer de 500 mL contendo 100 mL de MSM (pH 7.0 ± 0.2) com as seguintes

concentrações de glicose: 0.25, 0.5, 1, 2, 3, 4% (p/v), como única fonte de carbono e

energia, correspondendo as taxas de 2.5, 5, 10, 20, 30 e 40 g/L, respectivamente.

Um erlenmeyer controle de 500 mL contendo 100 mL de MSM (pH 7.0 ± 0.2) não

inoculado foi preparado para cada concentração de glicose. A amostra foi incubada

no agitador orbital a 30°C, na rotação de 180 rpm, por 5 dias, sendo retirado alíquota

de 2,5 mL do cultivo bacteriano a cada 24h e centrifugado (4000 rpm, 20 min, 10°C)

para determinação do índice de emulsificação (E24).

2.7 Efeito do pH e Temperatura na Produção de Biossurfactante

Foi realizado um inóculo de 3 mL da suspensão bacteriana em um

erlenmeyer de 500 mL contendo 100 mL de MSM, utilizando a melhor concentração

de glicose (p/v) como única fonte de carbono e energia, com as temperaturas de 25,

30, 35 e 40°C (± 0,2°C) e pHs de 5,0; 6,0; 7,0 e 8,0 (± 0,2). Um erlenmeyer controle

de 500 mL contendo 100 mL de MSM (0.5% de glicose) não inoculado foi preparado

para cada temperatura e pH analisado. A amostra foi incubada no agitador orbital na

rotação de 180 rpm, por 5 dias, sendo retirado alíquota de 2,5 mL do cultivo

bacteriano a cada 24h e centrifugado (4000 rpm, 20 min, 10°C) para determinação

do índice de emulsificação (E24).

2.8 Atividade Emulsificante

O ensaio de emulsificação foi realizado usando 2 mL do caldo livre de células

e 2 mL de óleo mineral puro (Nujol), a base de hidrocarboneto de petróleo, foram

33

transferidos para tubos (100mm x 15mm). Em seguida, a mistura foi agitada no

vórtex (Ika®, MS1 Minishaker) durante 2 minutos e deixado em repouso por 24

horas. A produção de biossurfactante foi medida através do índice de emulsificação

(E24), dividindo a altura da camada emulsificada (mm) pela altura total da coluna

líquida (mm) e multiplicado por 100. O controle negativo foi realizado com 2 mL de

MSM não cultivado e o controle positivo com 2 mL de SDS (J.T.BAKER) a 1%. Os

resultados foram expressos em porcentagem (%) (IQBAL et al., 1995; DAS et al.,

1998).

2.9 Produção de Biossurfactante Associado ao Crescimento Celular

Foi determinada a relação entre crescimento celular e a produção de

emulsificado com as melhores condições de cultivo no tempo. Foi retirado alíquotas

de 3 mL do cultivo a cada 24h e transferido 2,5 mL para uma cubeta de quartzo

(Plastibrand) para leitura da densidade ótica (600 nm), no programa “simple reads”

do espectrofotómetro (Cary, 50 Probe), visando obter a concentração da biomassa

bacteriana, de acordo a curva de calibração do peso seco versus absorbância. A

produção de biossurfactante foi observada através da formação de emulsificado,

retirando alíquotas de 2,5 mL a cada 24h de incubação e centrifugado a 4000 rpm,

por 20 min, a 10°C, para a obtenção do caldo livre de células.

2.10 Concentração da Biomassa Bacteriana

As linhagens bacterianas foram semeadas em TSA e incubadas na estufa de

crescimento a 30°C, por 24h. Posteriormente, as colônias bacterianas foram

transferidas para erlenmeyers de 500 mL, contendo 100mL de TSB, sob a agitação

de 180 rpm, a 30°C, por 48h. O cultivo bacteriano foi centrifugado a 4.000 rpm, por

20 minutos, e a biomassa bacteriana ressuspendida em 5 mL de água destilada para

34

realização da curva do peso seco versus absorbância (600 nm) (SANTA ANNA et

al., 2002) (Apêndice A).

2.11 Medida da Tensão Superficial

A tensão superficial (TS), do caldo livre de células das linhagens bacterianas

testadas nas melhores condições de E24, foi realizada no tensiômetro (DataPhysics,

Oca15 plus), através do método da gota pendente à temperatura ambiente. Um

volume pré-determinado de água destilada foi adicionado em uma cuba de quartzo

(20 mL) e colocado na superfície da plataforma do tensiômetro. Uma seringa com

agulha invertida foi submersa na água e num volume de ar aspirado para formar

uma gota submergida. A tensão superficial da superfície da gota foi medida usando

um sistema de imagem de vídeo automática e o programa Oca 10/Oca 20. O

instrumento foi calibrado com ar e água destilada para uma leitura de 71,62 ± 1.0

mN/m (FOX; BALA, 2000; CHEN; BAKER; DARTON, 2007). A concentração de

biossurfactante do caldo livre de células foi expressa como concentração micelar

crítica (CMC), sendo realizada diluição seriada do caldo livre de células com água

destilada, nas concentrações de 20, 40, 60, 80 e 100%. A CMC foi estimada

graficamente pela comparação da TS versus concentração (FOX; BALA, 2000).

Também foi realizada a tensão interfacial (TIF) entre o caldo livre de células e óleo

cru (JOSHI; BHARUCHA; DESAI, 2007). O controle negativo foi realizado com MSM

não cultivado e água destilada, e o controle positivo com SDS a 1%. Entre cada

medida, a seringa, a agulha e a cuba foram lavadas por três vezes com água, três

vezes com acetona e seca (WEI; CHOU; CHANG, 2005; CHEN; BAKER; DARTON,

2007).

35

2.12 Análise Estatística

Todos os testes de produção de biossurfactante foram realizados em

triplicata, visando comparar as tendências centrais de produção de biossurfactantes

entre as linhagens bacterianas (CALLEGARI-JACQUES, 2003). Os resultados foram

avaliados através do teste de Kruskal-Wallis, usando o programa estatístico

GraphPad InsTat (versão 3), sendo considerado significativo quando o valor de p foi

menor que 0,05.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Isolamento e seleção de linhagens bacterianas produtoras de biossurfactante

Foram isolados um total de sessenta colônias microbianas morfologicamente

distintas, incluindo 55 bactérias, 4 fungos filamentosos e 1 levedura. Destes, 31%

foram isolados do solo rizosférico e adjacente de Syngonanthus mucugensis, 21%

de Stachytarpheta spp., 11% de Actinocephalus spp. e 10% de Syngonanthus

giuliettae, sendo 24% dos isolados cultivados no meio King`s B, 21% no MSM e 15%

no meio mineral J.E. As 55 linhagens bacterianas foram identificadas com a sigla

SLIM e seguida de um número. Das 55 linhagens bacterianas 49% foram

caracterizadas como Gram-negativa, confirmando o relato de que muitas bactérias

gram-negativas são isoladas de locais com histórico de contaminação por óleo. Isto

pode ser uma característica que contribui para muitas destas populações em tais

ambientes (BICCA et al., 1999).

O teste drop-collapse é uma medida indireta da atividade superficial de uma

amostra analisada contra óleo, sendo que o maior diâmetro representa uma melhor

atividade superficial da amostra testada (RODRIGUES et al., 2006) Seis linhagens

bacterianas foram selecionadas por apresentarem atividade superficial, são elas:

36

SLIM03, SLIM04, SLIM15, SLIM17, SLIM26 e SLIM41. O controle positivo (SDS 1%)

apresentou espalhamento da gota e os controles negativos, água destilada e o meio

não inoculado, permaneceram inalterados. As linhagens bacterianas SLIM03 e

SLIM15 foram selecionadas para as posteriores análises, pois apresentaram

resultados promissores no ensaio de emulsificação (CHEN; BAKER; DARTON,

2007).

3.2 Identificação de linhagens bacterianas competentes

As linhagens bacterianas Slim03 e Slim15, isoladas do solo rizosférico de

Actinocephalus spp., se apresentaram como bacilos Gram-positivos. Os resultados

das provas bioquímicas caracterizam os isolados bacterianos como aeróbio estrito,

oxidase positivo, motilidade positivo, glicose positivo e lisina positiva. Esses

resultados representam algumas das características-chave que agrupam as

linhagens bacterianas em estudo na família Pseudomonadaceae (KONEMAM et al.,

2001), além de apresentar resultado positivo em todos os meios seletivos para

Pseudomonas. A análise parcial do gene 16S rRNA seqüenciado indica que ambos

isolados pertencem ao gênero Pseudomonas, tendo em vista o nível de similaridade

apresentado pelo isolado Slim03 de 99% para Pseudomonas sp. (GenBank, nº de

acesso AF125317) e do isolado Slim15 de 96% para Pseudomonas fluorescens

(GenBank, nº de acesso DQ417330).

3.3 Efeito da Concentração de Glicose

As duas linhagens bacterianas testadas foram capazes de produzir

biossurfactante em MSM nas concentrações de glicose testadas. Nenhum

crescimento bacteriano e índices de emulsificação foram obtidos nos frascos

controles não inoculados, com as respectivas concentrações de glicose analisada. O

caldo livre de células das linhagens bacterianas apresentou bons índices de

37

emulsificação (E24) contra óleo mineral, que variaram entre 27 a 58%, de acordo

com o período de cultivo (Figura 1). Os maiores valores do E24 (>55%) foram

formados pelos caldos livres de células, de ambas as linhagens bacterianas,

cultivadas em MSM nas concentrações de 0.5 e 1% (Figura1), no período de 24 a

120h, sendo 48h o melhor tempo de cultivo para produção de biossurfactante. Não

houve diferença significativa (p>0,05) entre as duas concentrações (0.5 e 1%) e nem

entre as duas linhagens testadas no período de 48 a 120h. Porém, existiu diferença

significativa de formação de emulsificado nas primeiras 24h de cultivo do isolado

Slim15, permanecendo estável após esse período. As linhagens bacterianas

formaram emulsificados eficientes e estabilizaram emulsões com vários tipos de

óleos de diferentes viscosidades, tais como óleo mineral (ACDelco, 5W-30), óleo

mineral (SAE, 40), óleo mineral (Helix, 25W-60) (resultado não mostrado) e óleo

mineral puro (Nujol).

0

20

40

60

80

24h 48h 72h 96h 120h

Horas

E24

(%

)

0

20

40

60

80

24h 48h 72h 96h 120h

Horas

E2

4 (%

)

Figura 1: Comparação da produção de emulsificado em diferentes concentrações de carboidratos no tempo: Isolados Slim03 (A1) e Slim15 (A2) nas concentrações de 0,25% ( ), 0.5% (¦ ), 1% ( ), 2% (X) e 3% (+) de glicose.

As linhagens bacterianas apresentaram o melhor comportamento metabólico

de produção de emulsificado nas concentrações de 0.5 e 1% de glicose (Figura 2),

mas à medida que diminuía ou aumentava essas concentrações ocorria uma

considerável redução da formação de emulsificado. Foi otimizada a concentração de

0.5% de glicose para produção de emulsificante extracelular, levando-se em conta o

(A1) (A2)

38

menor custo para composição do meio, visando o isolamento de bactérias com esse

potencial de ambientes como do semi-árido. O solo rizosférico e adjacente das

espécies vegetais analisadas apresentaram baixo potencial orgânico. Essa

informação é essencial para iniciar o entendimento sobre o comportamento dos

microrganismos e a síntese do seu produto, tendo em vista o preparo do meio de

cultivo, pois altas concentrações de fonte de carbono podem provocar uma

significativa supressão da taxa de geração de muitas espécies, devido à inibição da

reação de catálise enzimática provocada pelo excesso de substrato (HUGO;

MENDIE; NASIPURI, 1998). Tal fato ocorreu neste trabalho quando foi utilizada uma

concentração de 4% de glicose em MSM, para ambas as linhagens bacterianas

analisadas (dados não mostrados).

0

20

40

60

80

24 48 72 96 120

Horas

E24

(%

)

Figura 2: Comparação da produção de emulsificado dos isolados Slim03 ( ) e Slim15 (¦ ) na concentração de 0.5% de glicose no período de 24 a 120h.

3.4 Efeito do pH e Temperatura

A influência do pH no meio de cultura e da temperatura no tempo tem efeito

direto na síntese de biossurfactante, na escala de valores testadas (Figura 3). A

39

atividade do biossurfactante de ambas as linhagens bacterianas foi melhor (>58%)

no pH 7.0, na temperatura de 35ºC (Figura 3). Resultados semelhantes de pH (7-8)

e temperatura (30-40ºC) foram observados por Ilori, Amobi e Odocha (2005)

cultivando, em MSM, Aeromonas spp. isolada de um ambiente tropical. Essas

condições de cultivo podem possibilitar uma maior atividade enzimática e com isso

acelerar o metabolismo celular, resultando numa maior produção de biossurfactante.

O controle positivo, SDS a 1%, apresentou valor médio de índice de emulsificação

de 65,13%, sendo que este resultado não apresenta diferença significativa quando

comparado com os caldos livres de células analisados nas melhores condições de

cultivo. O melhor tempo de cultivo foi de 24h, mesmo sendo encontrados valores

superiores de E24 em outros períodos de cultivo. Porém, sem apresentar diferença

significativa de formação de emulsificado. Esta mostrou os maiores E24 a partir de

48h de incubação, atingindo o valor máximo em 72h, e permanecendo atestável por

mais de 30 dias (resultados não mostrados), sem mostrar diferença significativa de

formação de emulsificado. No geral, a estabilidade do biossurfactante produzido

pelos isolados bacterianos indica o grande potencial econômico dessa biomolécula,

pois pode promover um maior tempo de prateleira para os produtos. Essa

característica pode proporcionar seu emprego em várias indústrias, tais como

alimentos, farmacêutica e de cosméticos, assim como para aplicação na área de

biorremediação de ambientes marinhos (ILORI; AMOBI; ODOCHA, 2005), além de

ser um interessante aditivo de detergente (GUPTA et al., 2002). O E24 de 24h

reduziu significativamente à medida que diminuía ou aumentava a temperatura dos

isolados analisados, permanecendo constante a partir de 48h de cultivo (Figura 3).

Wei, Chou e Chang (2005) mostraram que a produção de biossurfactante por

Pseudomonas aeruginosa aumentava com a temperatura de 25 a 30ºC, tornando

constante entre 30-37ºC e decrescendo em temperaturas acima de 42ºC,

corroborando com os resultados deste trabalho (Figura 3).

40

(A1)

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

24 48 72 96 120

Horas

E24

(%

)

(A2)

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

24 48 72 96 120

Horas

E24

(%

)

(B1)

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

24 48 72 96 120

Horas

E24

(%

)

(B2)

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

24 48 72 96 120

Horas

E24

(%

)

(C1)

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

24 48 72 96 120

Horas

E24

(%

)

(C2)

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

24 48 72 96 120

Horas

E24

(%

)

(D1)

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

24 48 72 96 120

Horas

E24

(%

)

(D2)

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

24 48 72 96 120

Horas

E24

(%

)

Figura 3: Comparação da produção de emulsificado em diferentes pHs e temperaturas no tempo: A1 - pH 5.0, B1 - pH 6.0, C1 - pH 7.0 e D1 - pH 8.0 nas temperaturas de 25°C ( ), 30°C (¦ ), 35°C ( ) e 40ºC (X) para a linhagem Slim03; A2 - pH 5.0, B2 - pH 6.0, C2 - pH 7.0 e D2 - pH 8.0 nas temperaturas de 25°C ( ), 30°C (¦ ), 35°C ( ) e 40ºC (X) para a linhagem Slim15.

41

3.5 Produção de Biossurfactante Associado ao Crescimento Celular

A relação entre crescimento celular e produção de emulsificado no tempo foi

determinada para ambas as linhagens bacterianas, após o processo de otimização

das condições de cultivo (0.5% de glicose, pH 7.0, 35ºC, 24h), onde a medida do

crescimento celular foi expressa pela concentração de biomassa e a atividade do

biossurfactante pelo índice de emulsificação (E24). Para ambas as linhagens

bacterianas a produção de biossurfactante esteve associada ao crescimento celular

(Figura 4), confirmando a relação direta que existe entre a utilização do substrato,

crescimento celular e produção de biossurfactante no tempo (DESAI; DESAI, 1993).

O valor máximo de E24 e de crescimento celular de ambas as linhagens bacterianas

foi observado nas primeiras 24h de cultivo (Figuras 4), fase de crescimento

exponencial, sendo a maior concentração de biomassa bacteriana observada para

linhagem Slim03, que alcançou o valor de 0,0014 mg/mL. Após o período de 24h de

incubação, foi verificado um decréscimo gradativo da biomassa bacteriana das

linhagens testadas, identificada como a fase de morte celular, sem afetar

estatisticamente os níveis de formação de emulsificado. Estes resultados indicam

que a produção de biossurfactantes pelos microrganismos ocorre,

predominantemente, durante a fase de crescimento exponencial, sugerindo que o

biossurfactante é produzido como um metabólito primário, acompanhando a

formação da biomassa celular (ABU-RUWAIDA et al., 1991; AMIRIYAN et al., 2004).

0,0000

0,0005

0,0010

0,0015

0,0020

24 48 72 96 120Horas

Bio

mas

sa b

acte

riana

(m

g/m

L)

10,00

30,00

50,00

70,00

E24

(%

)

0,0000

0,0005

0,0010

0,0015

0,0020

24 48 72 96 120

Horas

Bio

mas

sa b

acte

riana

(m

g/m

L)

10,00

30,00

50,00

70,00

E24

(%

)

Figura 4: Variação da concentração da biomassa (mg/mL) (¦ ) e do índice de emulsificação (%)( ) dos isolados Slim03 (A1) e Slim15 (A2) no tempo.

(A1) (A2)

42

3.6 Medida da Tensão Superficial

O caldo livre de células dos isolados Slim03 e Slim15 apresentaram excelente

redução da tensão superficial (TS) da gota do meio testado de 73,52 mN/m para

31,14 e 32,73 mN/m, respectivamente. Esses valores médios são inferiores a TS do

controle positivo, SDS a 1%, que foi de 40,04 mN/m. A concentração micelar crítica

(CMC) do biossurfactante produzido pelos isolados Slim03 e Slim15 ficou entre 30 e

40% (Figura 5). De acordo com o teste de Kruskal-Wallis, não houve diferença

significativa (p<0,05) da TS da gota nas diferentes concentrações das amostras

analisadas. Na figura 5 pode-se observar que o aumento da concentração reduz a

TS da gota, indicando que as moléculas de biossurfactante começam a se agregar

(CASSIDY; HUDAK, 1998).

0

20

40

60

80

0 20 40 60 80 100

Concentração (%)

TS

(m

N/m

)

Figura 5: Tensão superficial (mN/m) versus concentração do caldo livre de células (%) dos isolados Slim03 ( ) e Slim15(¦ ).

O resultado da TS do caldo livre de células das linhagens bacterianas

analisadas é promissor, pois segundo Batista e colaboradores (2006), a

concentração de biossurfactante do caldo livre de células equivale de cinco a dez

vezes acima do valor da CMC de um biossurfactante isolado. Os caldos livres de

células dos isolados Slim03 e Slim15 reduziram a tensão interfacial (TIF) do óleo cru

de 17,16 mN/m para 1,88 e 2,41 mN/m, respectivamente, sendo valor médio do

43

controle positivo, SDS a 1% (4,82 mN/m), inferior a TS das amostras analisadas. A

redução da TIF indica a habilidade do surfactante de remover o óleo, nesse

contexto, a TIF entre água e óleo (A/O) é diminuída, refletindo na força capilar.

Portanto, a redução da TIF pode aumentar o ângulo de contato e provocar uma

diminuição da força capilar, que mantém o óleo cru adsorvido ao solo, o que pode

ser exemplificado em casos de acidentes com petróleo ou seus derivados (URUM;

PEKDEMIR, 2004).

As duas linhagens bacterianas foram selecionadas do solo rizosférico e

adjacente de Actinocephalus spp. e pertencem ao gênero Pseudomonas. As

linhagens de Pseudomonas spp. possuem a capacidade de produzir biossurfactante,

reduzindo a TS e ITF de água e óleo cru, respectivamente. Estes resultados indicam

que as condições ótimas de cultivo para produção de biossurfactante por isolados

bacterianos de ambientes semi-áridos sejam: MSM com 0.5% de glicose, pH 7.0,

temperatura na escala de 30-40ºC, no período de 24 a 48h. Os resultados obtidos

neste trabalho são promissores, tendo em vista a crescente busca por biomoléculas

com tal potencial para aplicação nas indústrias de alimento, farmacêutica,

cosmético, detergente e de biorremediação. Essas informações a respeito do efeito

do pH e da temperatura para a produção de biossurfactante por linhagens de

Pseudomonas spp. são importantes, tendo em vista o pouco conhecimento do seu

processo fisiológico de produção de biossurfactante em habitats como o semi-árido.

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47

CAPÍTULO 2: PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE POR LINHAGENS DE Pseudomonas spp. USANDO SUBSTRATOS ALTERNATIVOS

RESUMO: O gênero Pseudomonas tem recebido atenção devido ao seu potencial de utilizar diferentes fontes de carbono para a produção de biossurfactante, tal fato pode possibilitar a redução dos custos de produção, tornando muito mais viável para o mercado industrial. Neste sentido, o trabalho teve como objetivo avaliar a produção de biossurfactante de duas linhagens de Pseudomonas ssp., utilizando substratos alternativos como fonte de carbono e energia. As linhagens bacterianas foram isoladas no Parque Municipal de Mucugê, Município de Mucugê, Bahia. Foram utilizados diferentes concentrações de dois óleos vegetais e glicerol como única fonte de carbono e energia para a produção de biossurfactante, sendo avaliado através do ensaio de emulsificação e da medida da tensão superficial. A melhor concentração dos substratos alternativos foi de 0.5%, com formação de índices de emulsificação que variaram de 50 a 60% para ambas as linhagens bacterianas analisadas. O caldo livre de células das linhagens de Pseudomonas spp. apresentaram a capacidade de reduzir a tensão superficial de todos os meios testados, sendo mais efetivo com glicerol. Os resultados obtidos confirmam o potencial desses substratos alternativos, o que pode viabilizar o aumento da produção de biossurfactante, tendo em vista a disponibilidade e o baixo custo da matéria prima.

Palavras-chave: Pseudomonas. Biossurfactante. Substrato alternativo.

ABSTRACT: The genus Pseudomonas has received attention because of their potential to use different sources of carbon for the production of biosurfactant, this fact may allow the reduction of production costs, making it more feasible for the industrial market. In this sense, the work was to evaluate the production of biosurfactant of two strains of Pseudomonas spp. Using substrates alternative as a source of carbon and energy. The bacterial strains were isolated in the Park Municipal de Mucugê, Município de Mucugê, Bahia. We used different concentrations of two vegetable oils and glycerol as the sole source of carbon and energy for the production of biosurfactant, as measured by the test of emulsification and the measurement of surface tension. The best concentration of substrates alternative was 0.5%, with rates of formation of emulsification which ranged from 50 to 60% for both bacterial strains analyzed. The broth of free cell of Pseudomonas spp. strain had the ability to reduce the surface tension of all culture media tested, and more effective with glycerol. The results confirm the potential of these alternative substrates, which may enable the increased production of biosurfactant in view of the availability and low cost of raw material.

Keywords: Pseudomonas. Biosurfactant. Alternative substratum.

48

1 INTRODUÇÃO

Os surfactantes constituem uma classe de compostos químicos amplamente

utilizados em diversos setores industriais. A demanda industrial de surfactante tem

crescido acima de 300% na indústria química nas últimas décadas, sendo estimado

que a produção mundial de surfactantes exceda 3 milhões de tonelada por ano

(GREEK, 1990; BANAT, 2000). Entretanto, existe uma tendência dos países

industrializados pela substituição dos surfactantes sintéticos pelos naturais,

biossurfactantes. Esta tendência é motivada pelas seguintes vantagens dos

biossurfactantes: necessidade de produtos mais baratos, a partir de substratos

renováveis e possuírem grande diversidade química, possibilitando aplicações

específicas para cada caso particular (DESAI; BANAT, 1997); pela crescente

preocupação ambiental dos consumidores combinada com novas legislações de

controle do meio ambiente; pelo fato de serem compostos que não são derivados de

petróleo, fator importante à medida que os preços do petróleo aumentam

consideravelmente; e pela possibilidade de modificação da estrutura química e das

propriedades físicas dos biossurfactantes através de manipulações genéticas,

biológicas ou químicas, o que permite o desenvolvimento de produtos para

necessidades específicas (NITSCHKE; PASTORE, 2002, 2003).

Os biossurfactantes são moléculas de superfície ativa produzidas por

microrganismos, que possuem uma série de propriedades de importância comercial

de representativas vantagens sobre os surfactantes convencionais (BOGNOLO,

1999), tais como atividade superficial e interfacial. Os biossurfactantes são mais

eficientes e mais efetivos do que os surfactantes convencionais (detergentes

aniônicos sulfatados), pois produzem menor tensão superficial em menores

concentrações de biossurfactante (COOPER; PADDOCK, 1984). A concentração

micelar crítica (CMC) dos biossurfactantes varia entre 1-200014mg/L, enquanto que

a tensão interfacial (óleo/água) e superficial fica em torno de 1 e 30 mN/m,

respectivamente (BOGNOLO, 1999); tolerância à temperatura, pH e força iônica.

Alguns biossurfactantes apresentam elevada estabilidade térmica e de pH podendo

ser utilizados em ambientes com condições mais drásticas, como por exemplo, o

lipopeptídio de B. licheniformis JF-2, que é estável a temperaturas em torno de 75 °C

por até 140 h e pH entre 5 e 12 (HOROWITZ; GILBERT; GRIFFIN, 1990). Os

49

biossurfactantes suportam concentrações de até 10% de NaCl enquanto que uma

concentração salina de 2-3% é suficiente para inativar surfactantes convencionais

(BOGNOLO, 1999); biodegradabilidade, diferentes dos surfactantes químicos os

biossurfactantes são facilmente degradáveis na água e no solo, o que os torna

adequados para aplicações como biorremediação e tratamento de resíduos

(MULLIGAN; EFTEKHARI, 2003); baixa toxicidade. Os biossurfactantes têm

recebido maior atenção devido à crescente preocupação da população com os

efeitos alérgicos dos produtos artificiais (CAMEOTRA; MAKKAR, 1998); além disto,

sua baixa toxicidade permite o uso em alimentos, cosméticos e produtos

farmacêuticos (GOUVEIA et al., 2003). Assim, os biossurfactantes vêm se tornando

uma grande opção para substituir os surfactantes sintéticos em um grande número

de operações industriais e processos ambientais (DESAI; BANAT, 1997;

MULLIGAN, 2005).

Entretanto, os biossurfactantes ainda não são amplamente utilizados na

indústria, devido ao seu alto custo de produção associado a métodos ineficientes de

recuperação do produto e ao uso de substratos caros (NITSCHKE; PASTORE,

2003). Um alto custo de produção de biossurfactante pode ser tolerado para uso em

pequenas quantidades como produtos cosméticos, medicinais, etc. Mas, aplicações

como recuperação de óleos, biorremediação de hidrocarbonetos e locais

contaminados por metais pesados requer altos volumes de surfactantes de baixo

preço, o que torna incompatível o uso de biossurfactantes (MAKKAR; CAMEOTRA,

2002). Porém, o sucesso da produção de biossurfactantes pode ser

significativamente conquistado pelo aperfeiçoamento de cepas, otimização da

composição do meio de cultivo através de métodos estatísticos e, principalmente,

pelo uso de matérias-primas facilmente disponíveis e de baixo custo, que é

considerado 10-30% do custo total da produção (CAMEOTRA; MAKKAR, 1998;

MAKKAR; CAMEOTRA, 2002).

O gênero Pseudomonas tem recebido destaque por sua capacidade de

utilizar as mais variadas fontes de carbono para a produção de biossurfactantes,

entre elas estão o glicerol, manitol, frutose, n-parafina e óleos vegetais (BOULTON;

RATLEDGE,1987; RAZA et al., 2006), reduzindo, em média, a tensão superficial

(TS) e tensão interfacial (TIF) entre 30 e 1 mN/m, respectivamente, com um índice

de emulsificação (E24) acima de 70% (RAZA et al., 2006). Neste sentido, este

trabalho teve como objetivo avaliar a produção de biossurfactante de linhagens de

50

Pseudomonas spp. utilizando substratos alternativos como única fonte de carbono e

energia.

2 MATERIAIS E METÓDOS

2.1 Microrganismo

Foi utilizada a linhagem de Pseudomonas sp. Slim03 (nº de acesso

AF125317) e Pseudomonas fluorescens Slim15 (nº de acesso DQ417330) isoladas

no Parque Municipal de Mucugê, Município de Mucugê, Bahia. Ambas as linhagens

de bacterianas foram conservadas em triptic soyer agar (TSA) (Himedia) a 4ºC, no

Laboratório de Microbiologia Aplicada e Saúde Pública da Universidade Estadual de

Feira de Santana.

2.2 Inóculo

As linhagens bacterianas foram semeadas em TSA e incubadas a 30ºC por

24h. Em seguida, foi feito um novo repique a partir do cultivo anterior e semeado em

TSA por mais 24h. Após essa etapa, foi realizado uma suspensão bacteriana em

solução salina (0,9%), a partir da escala padrão de densidade ótica 1.0 (108 UFC

mL-1) no filtro de 600 nm (ROBERT et al., 1989, modificado).

51

2.3 Efeito de Substratos Alternativos na Produção de Biossurfactante

Foi realizado um inóculo de 3 mL da suspensão bacteriana em um erlenmeyer

de 500 mL contendo 100 mL de MSM (pH 7.0 ± 0.2) com as seguintes

concentrações de glicerol e dos óleos de milho e girassol: 0.5, 1, 2, 3% (p/v), como

única fonte de carbono e energia, correspondendo as taxas de 5, 10, 20 e 30 g/L,

respectivamente. Um erlenmeyer controle de 500 mL contendo 100 mL de MSM (pH

7.0 ± 0.2) não inoculado foi preparado para cada concentração de glicerol e dos

óleos vegetais. A amostra foi incubada no agitador orbital a 30°C (± 0.2°C), na

rotação de 180 rpm, por 5 dias. Alíquota de 2,5 mL do cultivo bacteriano foi retirado

a cada 24h de incubação e centrifugado (4000 rpm, 20 min, 10°C) para

determinação do índice de emulsificação (E24).

2.4 Índice de Emulsificação (E24)

O ensaio de emulsificação foi realizado usando 2 mL do caldo livre de células

e 2 mL de óleo mineral puro (Nujol), a base de hidrocarboneto de petróleo, foram

transferidos para tubos (100mm x 15mm). Em seguida, a mistura foi agitada no

vórtex (Ika®, MS1 Minishaker) durante 2 minutos e deixado em repouso por 24

horas. A produção de biossurfactante foi medida através do índice de emulsificação

(E24), dividindo a altura da camada emulsificada (mm) pela altura total da coluna

líquida (mm) e multiplicado por 100. O controle negativo foi realizado com 2 mL de

MSM não cultivado e o controle positivo com 2 mL de SDS (J.T.BAKER) a 1%. Os

resultados foram expressos em porcentagem (%) (IQBAL et al., 1995; DAS et al.,

1998).

52

2.5 Produção de Biossurfactante Associado ao Crescimento Celular

Foi determinada a relação entre crescimento celular e a produção de

emulsificado com a melhor concentração de substrato no tempo. Foi retirado

alíquotas de 3 mL do cultivo a cada 24h e transferido 2,5 mL para uma cubeta de

quartzo (Plastibrand) para leitura da densidade ótica (600 nm), no programa “simple

reads” do espectrofotómetro (Cary, 50 Probe), visando obter a concentração da

biomassa bacteriana, de acordo a curva de calibração do peso seco versus

absorbância. A produção de biossurfactante foi observada através da formação de

emulsificado, retirando alíquotas de 2,5 mL a cada 24h de incubação e centrifugado

a 4000 rpm, por 20 min, a 10°C, para a obtenção do caldo livre de células.

2.6 Concentração da Biomassa Bacteriana

As linhagens de bacterianas foram semeadas em TSA e incubadas na estufa

de crescimento a 30°C, por 24h. Posteriormente, as colônias bacterianas foram

transferidas para erlenmeyers de 500 mL, contendo 100mL do preparo de triptic

soyer broth (TSB), sob a agitação de 180 rpm, a 30°C, por 48h. O cultivo bacteriano

foi centrifugado a 4.000 rpm, por 20 minutos, e a biomassa bacteriana suspendida

em 5 mL de água destilada para realização da curva do peso seco versus

absorbância (600 nm) (SANTA ANNA et al., 2002) (Apêndice A).

2.7 Medida da Tensão Superficial

A tensão superficial (TS) do caldo livre de células das linhagens de

Pseudomonas spp., cultivadas por 48h em MSM com 0.5% dos respectivos

substratos, foi realizada no tensiômetro (DataPhysics, Oca15 plus), através do

método da gota pendente à temperatura ambiente. Um volume pré-determinado de

53

água destilada foi adicionado em uma cuba de quartzo (20 mL) e colocado na

superfície da plataforma do tensiômetro. Uma seringa com agulha invertida foi

submersa na água e um volume de ar aspirado para formar uma gota submergida. A

tensão superficial da superfície da gota foi medida usando um sistema de imagem

de vídeo automática e o programa Oca 10/Oca 20. O instrumento foi calibrado com

ar e água destilada para uma leitura de 71,62 ± 1.0 mN/m (FOX; BALA, 2000;

CHEN; BAKER; DARTON, 2007). A concentração de biossurfactante do caldo livre

de células foi expressa como concentração micelar crítica (CMC), sendo realizado

diluição seriada do caldo livre de células com água destilada, nas concentrações de

20, 40, 60, 80 e 100%. A CMC foi estimada graficamente pela comparação da TS

versus concentração (FOX; BALA, 2000). O controle negativo foi realizado com MSM

não cultivado, com as respectivas fontes de carbono analisadas, e água destilada, e

o controle positivo com SDS a 1%. Entre cada medida, a seringa, a agulha e a cuba

foram lavadas por três vezes com água, três vezes com acetona e seca (WEI;

CHOU; CHANG, 2005; CHEN; BAKER; DARTON, 2007).

2.8 Análise Estatística

Todos os testes de produção de biossurfactante foram realizados em

triplicata, visando comparar as tendências centrais de produção de biossurfactante

entre as linhagens de Pseudomonas spp. (CALLEGARI-JACQUES, 2003). Os

resultados foram avaliados através do teste de Kruskal-Wallis, usando o programa

estatístico GraphPad InsTat (versão 3), sendo considerado significativo quando o

valor de p foi menor que 0,05.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As duas linhagens de Pseudomonas spp. apresentaram produção de

biossurfactante usando todos os substratos alternativos testados como única fonte

54

de carbono e energia (Figura 1). Os óleos de milho e de girassol mostraram-se como

substratos promissores para produção de biossurfactante, apresentando índice de

emulsificação (E24) que variaram de 33 a 59%. O cultivo com os óleos vegetais

apresentou comportamento de produção de emulsificado diferenciado, com o óleo

de milho apresentando as melhores formações de emulsificado nas concentrações

de 0.5 e 1%, sendo que nas concentrações 2 e 3% houve uma produção inferior de

emulsificado, que só atingiram níveis similares de E24 entre 96 a 120h de incubação

para ambas as linhagens bacterianas, com exceção da concentração de 2% de óleo

de milho que apresentou formação de emulsificado similar a partir de 72h de cultivo

da linhagem de Pseudomonas sp. Slim03 (Figura 1). Tal fato pode estar relacionado

com o excesso de substrato no meio, pois dificulta o metabolismo de uma grande

parte de espécies bacterianas devido à inibição de reação de catálise enzimática

(HUGO; MENDIE; NASIPURI, 1998), o que reduz, consideravelmente, a produção

de biossurfactante. Porém, foi observado que à medida que a população bacteriana

crescia, ocorria uma mudança na tonalidade do meio de cultura com o respectivo

aumento da produção de biossurfactante (resultado não mostrado). Já o óleo de

girassol apresentou um comportamento similar de índice de emulsificação em todas

as concentrações testadas para a linhagem de P. fluorescens Slim15 e a linhagem

de Pseudomonas sp. Slim03 apresentou formação de emulsificado semelhante nas

concentrações de 0.5, 1 e 3% de óleo de girassol, apesar de que a concentração de

1% formou um pico maior de emulsificado quando comparado com as outras

concentrações testadas nas primeiras 24h de cultivo (Figura 1). Entretanto, o cultivo

da linhagem de Pseudomonas sp. Slim03 na concentração de 2% de óleo de

girassol apresentou uma lenta produção de emulsificado nas primeiras 72h,

atingindo taxas similares (0.5, 1 e 3%) de E24 entre 96 a 120h de incubação. Os

resultados mostram a capacidade das linhagens de Pseudomonas spp. de crescer e

produzir, eficientemente, biossurfactantes em diferentes concentrações de óleo de

girassol, emulsificando e estabilizando emulsões com vários tipos de óleos de

diferentes viscosidades, tais como óleo mineral (ACDelco, 5W-30), óleo mineral

(SAE, 40), óleo mineral (Helix, 25W-60) (resultado não mostrado) e óleo mineral

puro (Nujol). A habilidade de formar emulsões estáveis com óleos vegetais indica o

potencial uso destes biossurfactantes como agente emulsificante na indústria de

alimentos (RUJIRAVANIT et al., 2008).

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(A1)

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(B2)

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Horas

Figura 1: Comparação da produção de emulsificado com diferentes fontes de carbono no tempo: A1 - óleo de milho, B1 - óleo de girassol e C1 - glicerol para a linhagem de Pseudomonas sp. pDL01; A2 - óleo de milho, B2 - óleo de girassol e C2 - glicerol a linhagem de P. fluorescens 3B, nas concentrações de 0.5% ( ), 1% (¦), 2% ( ) e 3% (X) dos respectivos substratos.

56

Não houve diferença significativa do E24 nas quatro concentrações testadas

para o óleo de girassol e nem para as concentrações de 0.5 e 1% de óleo de milho

em 48h de cultivo. Porém, quando comparado com as concentrações de 2 e 3% de

óleo de milho, foi observada uma diferença significativa de formação de emulsificado

tanto em relação à concentração quanto ao tempo de cultivo. O cultivo com glicerol

apresentou excelente formação de emulsificado, sendo os maiores E24 (>54%)

atingidos em 48h de cultivo (Figura 1). O cultivo com glicerol apresentou

comportamento muito semelhante de formação de emulsificado em todas as

concentrações testadas para ambas as linhagens bacterianas, demonstrando que a

taxa do substrato não interfere no crescimento celular e na produção de

biossurfactante das espécies em estudo, o que pode estar relacionado com a

solubilidade do glicerol. Os valores encontrados não apresentaram diferença

significativa quando comparado com as concentrações testadas no tempo. Nenhum

crescimento bacteriano e índices de emulsificação foram obtidos nos frascos

controles não inoculados, com as respectivas fontes de carbono analisadas, e o

controle positivo, SDS a 1%, apresentou valor médio de índice de emulsificação de

65,13%. Os resultados confirmaram a habilidade das linhagens de Pseudomonas

spp. de utilizar substratos solúveis e insolúveis em água para a produção de

biossurfactante, corroborando com os resultados obtidos por Cooper e

colaboradores (1981). A concentração de 0.5% dos substratos alternativos e o

tempo de cultivo de 48h mostraram o grande potencial dos óleos vegetais e do

glicerol para a produção de biossurfactante, sendo os resultados superiores ou

semelhantes às outras concentrações (1-3%) no período de incubação de 72 a

120h. O resultado torna ainda mais viável e econômico a composição do meio,

visando o isolamento de linhagens de Peseudomonas spp. com esse potencial de

ambientes como do semi-árido. O uso de óleos vegetais e glicerol como fonte de

carbono para produção de biossurfactante parece ser uma alternativa interessante e

de baixo custo (BOULTON; RATLEDGE, 1987), sendo o glicerol indicado como uma

fonte de carbono mais apropriada para a produção de biossurfactante, do tipo

raminolipídeo, por linhagens de Pseudomonas aeruginosa do que a glicose

(GOUVEIA et al., 2003).

A utilização de diferentes substratos pelas linhagens de Pseudomonas spp.

mostrou uma estreita relação entre crescimento celular e a produção de emulsificado

no tempo, sendo a medida do crescimento celular expressa pela concentração de

57

biomassa e a atividade do biossurfactante pelo índice de emulsificação (E24). Para

ambas as linhagens bacterianas a produção de biossurfactante esteve associada ao

crescimento celular (Figura 2), confirmando a relação direta que existe entre a

utilização do substrato, crescimento celular e produção de biossurfactante (DESAI;

DESAI, 1993). O cultivo com óleo de milho (0,5%) apresentou a melhor biomassa

bacteriana nas primeiras 48h de cultivo para a Linhagem de Pseudomonas sp.

Slim03 (Figura 2) e a linhagem de P. fluorescens Slim15 teve o maior crescimento

celular em 24h de incubação (Figura 2), sendo que após a fase de crescimento

exponencial foi verificado um decréscimo gradativo da biomassa bacteriana das

linhagens testadas sem afetar estatisticamente os níveis de formação de

emulsificado. Os resultados demonstram a diferença de comportamento fisiológico

de ambas as linhagens bacterianas frente ao óleo de milho, o que não foi observado

no cultivo com óleo de girassol (0.5%), pois ambas as linhagens analisadas

formaram as melhores biomassa bacteriana em 24n de incubação (Figura 2).

Entretanto, o cultivo com glicerol apresentou o melhor crescimento celular entre 24 e

48h de incubação, sendo também verificado um decréscimo gradativo da biomassa

das linhagens bacterianas após a fase exponencial, mas sem afetar estatisticamente

os níveis de formação de emulsificado (Figura 2). O valor máximo do E24 foi atingido

com 48h de crescimento para ambas as linhagens bacterianas cultivadas com óleos

vegetais e glicerol (Figura 2), sendo que não houve diferença significativa de

formação de emulsificado após esse período de incubação. As linhagens de

Pseudomonas spp. apresentaram crescimento máximo entre 24 e 48h de cultivo,

sendo a maior concentração de biomassa observada para linhagem de

Pseudomonas sp. Slim03 cultivada no óleo de milho, que alcançou o valor de 0,0066

mg/mL. Estes resultados indicam que a produção de biossurfactantes pelos

microrganismos ocorre, predominantemente, durante a fase de crescimento

exponencial, sugerindo que o biossurfactante é produzido como um metabólito

primário, acompanhando a formação da biomassa celular (ABU-RUWAIDA et al.,

1991; AMIRIYAN et al., 2004).

Os resultados obtidos nos ensaios de produção de biossurfactante com

diferentes substratos alternativos mostram a capacidade de reduzir a tensão

superficial (TS) dos meios testados. O caldo livre de células das linhagens de

Pseudomonas sp. Slim03 e P. fluorescens Slim15 apresentou excelente redução da

58

(A1)

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Figura 2: Variação da concentração da biomassa bacteriana (mg/mL) (¦ ) e do índice de emulsificação (%) ( ) com os substratos alternativos: A1 - óleo de milho a 0.5%, B1 - óleo de girassol a 0.5% e C1 - glicerol a 5% para a linhagem de Pseudomonas sp. pDL01; e A2 - óleo de milho a 0.5%, B2 - óleo de girassol a 0.5% e C2 - glicerol a 5% para a linhagem de P. fluorescens 3B.

59

TS da gota do meio com óleo de milho de 76,35 mN/m para 35,26 e 49,15 mN/m;

meio com óleo de girassol de 78,06 mN/m para 38,12 e 44,65 mN/m; e meio com

glicerol de 78,24 mN/m para 31,75 e 30,85 mN/m, respectivamente. Os óleos

vegetais analisados apresentaram grande potencial como substrato para a produção

de biossurfactantes por linhagens de Pseudomonas ssp., confirmando os relatos de

Wei, Chou e Chang (2005), quando analisaram a produção de biossurfactante de P.

aeruginosa usando diferentes óleos vegetais como substrato, entre eles girassol e

milho. Os óleos vegetais podem ser hidrolisados pela lipase de espécies de

Pseudomonas (MAIER; SOBERON-CHAVEZ, 2000) para formar ácidos graxos de

cadeia longa (AGCLs), composta de 12 a 18 carbonos (WEI; CHOU; CHANG, 2005).

Os AGCLs podem ser degradados via ß-oxidação para manter o crescimento celular

ou pode ser transformado em um precursor lipídico para promover a biossíntese de

biossurfactante (LANG; WULLBRANDT, 1999; MAIER; SOBERON-CHAVEZ, 2000).

Entretanto, a melhor taxa de produção de biossurfactante associado com a melhor

característica de superfície ativa foi observada com o glicerol como única fonte de

carbono. O uso de glicerol foi apontado como o substrato mais eficaz para redução

da tensão superficial dos meios testados, que pode ser facilmente observado

quando comparado com os óleos vegetais, corroborando com os resultados de

Santa Anna e colaboradores (2002), como a principal fonte de carbono para

produção de biossurfactantes por linhagens de Pseudomonas spp. O glicerol tem

recebido maior atenção devido ao crescimento da produção de biodiesel, pois esse

gera um excedente de glicerol, subproduto da fabricação do biocombustível, que

possui uma capacidade limitada de absorção de grandes quantidades do subproduto

pelos mercados tradicionais, tornando necessária a criação de novos produtos à

base de glicerol. O controle positivo, SDS a 1%, apresentou valor médio da TS da

gota de 40,04 mN/m. De acordo com o teste de Kruskal-Wallis, houve diferença

significativa (p<0,05) da TS da gota entre óleo de girassol e glicerol cultivados pela

linhagem de Pseudomonas sp. Slim03, e entre óleo de milho e glicerol cultivados

pela linhagem de P. fluorescens Slim15. A concentração micelar crítica (CMC) do

biossurfactante produzido pelas linhagens de Pseudomonas sp. Slim03 e P.

fluorescens Slim15 ficaram entre 90 a 100% para óleo de milho; entre 90 a 100% e

50 a 60% para óleo de girassol; e entre 10 a 20% para glicerol; respectivamente

(Figura 3). Como esperado, foi observado a redução da TS da gota com o aumento

da concentração do caldo livre de células. O resultado da TS apresentou grande

60

(A)

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

0 20 40 60 80 100

Concentração (%)

TS

(m

N/m

)

(B)

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

0 20 40 60 80 100Concentração (%)

TS

(m

N/m

)

(C)

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

0 20 40 60 80 100Concentração (%)

TS

(m

N/m

)

Figura 3: Tensão superficial (mN/m) versus concentração do caldo livre de células (%) de Pseudomonas sp. pDL01 ( ) e P. fluorescens 3B (¦): A - óleo de milho; B - óleo de girassol; e C - glicerol.

61

potencial, tendo em vista que a concentração de biossurfactante do caldo livre de

células equivale de cinco a dez vezes acima do valor da CMC de um biossurfactante

isolado (BATISTA et al., 2006).

As linhagens de Pseudomonas spp. analisadas são capazes de produzir

biossurfactante com eficiência a partir de fontes de carbono alternativas, sendo a

concentração de 0.5% dos substratos essencial para formar os maiores níveis de

emulsificado e uma ótima redução da tensão superficial. O glicerol apresentou a

melhor tensão superficial para ambas as linhagens bacterianas, aparecendo como

substrato promissor para a produção em massa de biossurfactante e abrindo mais

um mercado para absorver o glicerol formado na produção do biodiesel. O potencial

desses substratos alternativos pode viabilizar o aumento da produção de

biossurfactante, tendo em vista a disponibilidade e o baixo custo da matéria prima, o

que reduz sensivelmente os custos do produto final.

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65

CONCLUSÃO GERAL

As duas linhagens bacterianas isoladas do solo rizosférico e adjacente de

Actinocephalus spp. pertencem ao gênero Pseudomonas. As linhagens

bacterianas possuem a capacidade de produzir biossurfactante, reduzindo a

tensão superficial e a tensão interfacial do meio e do óleo cru.

As condições ótimas de cultivo para produção de biossurfactante pelos

isolados bacterianos testados são MSM com 0.5% de glicose, pH 7.0,

temperatura na escala de 30-40ºC, no período de 24 a 48h.

O meio de cultura suplementado com glicerol, apresentou para ambas as

linhagens de Pseudomonas spp. os melhores resultados para a tensão

superficial.

O efeito do pH, da temperatura e do tipo de substratos são fatores

importantes para a produção de biossurfactante por linhagens de

Pseudomonas spp.

66

APÊNDICE A – Curva de crescimento bacteriano

1. Repicar a amostra bacteriana em TSA e incubar na estufa a 30ºC por 24h.

2. Realizar um novo repique a partir do cultivo crescido em 24h, seguindo o 1º

passo.

3. Retirar uma alçada do cultivo em TSA e inocular em um erlenmeyer (500 mL)

contendo 100 mL de TSB (2% glicose).

4. Incubar no shaker a 30°C, 180 rpm, por 48h (observe a turvação do meio).

5. Transferir o cultivo para tubos falcons de 50 mL e centrifugar (10°C, 4000

rpm, 20 min.).

6. Desprezar o sobrenadante, lavar a biomassa bacteriana com água destilada

(10 mL) e centrifugar (10°C, 4000 rpm, 20 min.).

7. Desprezar o sobrenadante, resuspender a biomassa bacteriana com água

destilada (5-10 mL) e realizar as seguintes diluições a partir da solução

bacteriana mãe:

7.1. Absorbância:

7.1.1. Realizar uma diluição de 1:10 (ou 1:20 vai depender da biomassa

bacteriana), sendo 1 mL da solução de biomassa bacteriana mãe e 9 mL de água

destilada.

7.1.2. A partir dessa diluição realizar novas diluições (duplicata), como a

seguir: 1:5 (1 mL da diluição bacteriana/4 mL de água destilada), 1:10 (500 µL/4,5

mL), 1:15 (500 µL/7 mL), 1:20 (500 µL/9,5 mL).

7.1.3. Transferir 2,5 mL das diluições para cubetas (Plastibrand) e realizar a

leitura da densidade ótica (600 nm), utilizando água destilada como branco.

7.2. Peso seco:

7.2.1. Pesar o papel de filtro (0,45 µm) na balança analítica (5 cascas

decimais) e colocar na placa de Petri com a identificação da diluição e da amostra

bacteriana.

7.2.2. Colocar a placa na estufa a 105°C, por 24h.

7.2.3. Realizar uma diluição a partir da solução de biomassa bacteriana mãe

(duplicata), como a seguir: 1:5 (1 mL da solução de biomassa bacteriana mãe /4 mL

de água destilada), 1:10 (500 µL/4,5 mL), 1:15 (500 µL/7 mL), 1:20 (500 µL/9,5 mL).

67

7.2.4. Filtrar as diluições (3-5 mL) nos respectivos papéis de filtro (aquecido

por 24h na estufa), através do sistema de vácuo.

7.2.5. Transferir os papéis de filtro para as suas respectivas placas e colocar

na estufa a 105°C, por 24h.

7.2.6. Pesar os papéis de filtro na balança analítica (5 cascas decimais).

8. Fazer um gráfico de dispersão com linha de tendência (interseção, equação e

valor de R-quadrado) entre o valor da massa seca (eixo Y) e o valor da

densidade ótica (eixo X), sendo que o valor de confiança foi de R2 = 0,8

(Figura 1).

y = 0,0012x

R2 = 0,9714

0,00000

0,00100

0,00200

0,00300

0,00400

0,00500

0,00000 1,00000 2,00000 3,00000 4,00000

DO (600 nm)

Bio

ma

ssa

Ba

cte

ria

na

(g)

y = 0,001x

R2 = 0,9598

0,00000

0,00100

0,00200

0,00300

0,00400

0,00500

0,00600

0,00000 1,00000 2,00000 3,00000 4,00000 5,00000

DO (600 nm)

Bio

mas

sa B

acte

riana

(g)

Figura 1: Curva do peso seco versus absorbância dos isolados Slim03 ( ) e Slim15 (¦).

68

ANEXO A – Extração de DNA bacteriano

1. Obter uma massa de células de uma cultura crescida em caldo LB por 16-

24h;

2. Acrescentar 400uL de tampão de extração (Tris-Hcl 200mM pH7,5; NaCl

250mM; EDTA 25mM, pH8,0; e SDS 0,5%), vortexar e deixar a temperatura

ambiente por 15 min.;

3. Acrescentar 200uL de acetato de potássio (3M);

4. Homogeneizar vertendo os tubos 40 vezes;

5. Centrifugar a 13.000 rpm por 10 min.;

6. Transferir 400uL para outro tubo e acrescentar 400uL de Clorofórmio-álcool

isoamílico (24:1);

7. Homogeneizar vertendo os tubos 40 vezes;

8. Centrifugar a 13.000 rpm por 10 min., recuperar o sobrenadante e transferir

para outro tubo do tipo eppendorf de 2,0mL;

9. Acrescentar 75% do volume de Isopropanol, conservado a -20°C, e 25% de

acetato de amônia 10M;

10. Homogeneizar vertendo os tubos 5 vezes;

11. Deixar a -80ºC por 15 min.;

12. Centrifugar por 30min. e descartar o sobrendante;

13. Lavar o pellet com etanol a 70%, conservado a -20°C, por 3 vezes,

centrifugando por 5 min. a cada lavagem cada;

14. Deixar o pellet secar e ressuspender em 50uL de TE (Tris 10mM, pH: 8,0 /

EDTA1mM, pH: 8,0) ou água MiliQ estéril;

15. Armazenar a -20ºC.

69

ANEXO B – Reação em cadeia da polimerase (PCR)

1. As reações individuais foram compostas de:

Tampão de reação (100 mM Tris-HCl) 2,5 L

MgCl2 (50mM) 1,25 L

DNTPs (10mM) 0,5 L

Iniciador fD1 (10 pmol) 0,25 L

Iniciador rP2 (10 pmol) 0,25 L

Taq polimerase (5 U/ L) 0,125 L

DMSO 0,5 L

Betaina (5M) 5 L

BSA 0,25 L

Água destilada 12,4 L

DNA extraído 2,475 L

2. A reação foi realizada em 35 ciclos, nas seguintes condições:

Pré-desnaturação 3 minutos 95°C

Desnaturação 45 segundos 95°C

Anelamento 45 segundos 59°C

Extensão 1 minuto 72°C

Extensão 5 minutos 72°C

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