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Universidade Estadual de Feira de Santana Departamento de Tecnologia Curso de Engenharia Civil Bethsaide Souza Santos Análise espacial da distribuição dos condomínios fechados na zona urbana de Feira de Santana entre 1995 e 2010 Feira de Santana 2012

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Universidade Estadual de Feira de Santana

Departamento de Tecnologia

Curso de Engenharia Civil

Bethsaide Souza Santos

Análise espacial da distribuição dos condomínios fechados na zona

urbana de Feira de Santana entre 1995 e 2010

Feira de Santana

2012

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BETHSAIDE SOUZA SANTOS

Análise espacial da distribuição dos condomínios fechados na zona urbana de

Feira de Santana entre 1995 e 2010

Monografia apresentada como Trabalho

de Conclusão de Curso, como requisito

para a concessão de grau de Bacharel

em Engenharia Civil por esta

Universidade, sob orientação da

Professora Doutora Rosangela Leal

Santos.

Feira de Santana

2012

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ANÁLISE ESPACIAL DA DISTRIBUIÇÃO DOS CONDOMÍNIOS FECHADOS NA ZONA URBANA DE FEIRA DE SANTANA ENTRE 1995 E 2010

Bethsaide Souza Santos

Trabalho de conclusão de curso julgado

adequado à obtenção do título de

Bacharel em Engenharia Civil e aprovado

em sua forma final pela Universidade

Estadual de Feira de Santana.

Aprovado em _____/_____/_______

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________

Profª Drª Rosangela Leal Santos

(DTEC/UEFS - Orientadora)

________________________________

Profª Drª. Rosali Braga Fernandes

(Urbanismo/UNEB)

_______________________________

Profª Drª Patrícia Lustosa de Brito

(POLI/UFBA)

________________________________

Profª Drª Joselisa Chaves

(DEXA/UEFS)

________________________________

Profª MSc. Sandra Medeiros Santo

(DTEC/UEFS)

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Agradecimentos

A DEUS.

À D. Suzana e ao Sr. Raymundo, meus pais, pelo ensino e repreensão. Também por me

convencerem do valor da honestidade, da verdade e da bondade.

A Joás Souza e demais familiares.

Aos amigos da UEFS, Yuri, Maianne, Diego, Rafael e Cleberson e aos amigos de

sempre, Lídia, Kelly, Mara, Alline, Grazi e Jaque.

À minha amiga e orientadora, Rosangela Leal, pela dedicação e disposição.

Aos inesquecíveis mestres: Prof.ª Cláudia Novaes, Prof. Cristóvão Cordeiro, Prof.

Areobaldo Aflitos, Prof.ª Palloma Rios e Prof.ª Janeide Vitória, pelos aconselhamentos e

pela atenção e paciência em transferir seus conhecimentos a mim.

À Universidade Estadual de Feira de Santana, por me transformar em uma Engenheira

Civil.

À SEPLAN, representada por Sr. Alfredo Rego e à CSO Engenharia, por me permitirem

praticar a Engenharia.

Ao Quatro Estações, por ter sido palco de felizes momentos.

A todos que contribuíram para o meu crescimento técnico e profissional.

A DEUS.

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The only way to do great work is to love what you do. If you haven't found it yet, keep looking. Don't settle. So keep looking until you find it. Don't settle.

(Steve Jobs)

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Resumo

Este trabalho se propõe a analisar o processo de expansão de condomínios fechados

em Feira de Santana no período de 1995 a 2010, o qual segue a tendência atual de

expansão de moradias tanto no Brasil como nas demais partes do mundo. O município

tem a segunda maior população do estado da Bahia e está privilegiadamente localizado,

sendo cruzado por três rodovias federais e quatro estaduais. Além disso, tem como forte

aspecto econômico os setores de comércio e serviços. Foi feita uma pesquisa

documental nas Secretarias Municipais, através da qual colheu-se os dados referentes à

localização dos condomínios e data de construção. Localizou-se as ocorrências do

fenômeno em mapa da zona urbana da cidade. Foi feita uma análise estatística dos

dados, através de análise espacial e temporal. A modelagem e o processamento de

imagens com o SIG SPRING. Foi possível perceber a tendência de expansão dos

condomínios fechados e comparar com o processo de urbanização da cidade.

Palavras-chave: Análise espacial. Expansão urbana. Condomínios fechados. Feira de

Santana.

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Abstract

This paper aims to analyze the process of expansion of condominiums in Feira de

Santana between 1995 and 2010, which have the current trend of expansion of housing

in Brazil and in other parts of the world. The city has the second largest population in

Bahia and it is in a privileged localization, crossed by seven highways: three federal and

four state highways. Besides that, it also has commerce and services as a strong

economic aspect. It was done a research on the Municipal documentary, in which the

data regarding the location of the gated communities and date of their construction were

collected. Instances of the phenomenon were located on the map of the city’s urban

area. It was done a statistical analysis of the collected data through temporal and spatial

analysis. The modeling and image processing were done using the GIS SPRING. The

software was also used to do the statistical and temporal data analysis. It was possible to

notice the expansion tendency of gated communities and compare it with the

urbanization process of the city.

Keywords: Spatial analysis. Urban expansion. Gated communities. Feira de Santana.

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Lista de figuras

Figura 1: Localização de Feira de Santana na Bahia, com destaque para a área

urbana ................................................................................................................... 4

Figura 2: Principais vias e rodovias de Feira de Santana .................................................. 5

Figura 3: Divisor de águas, que separa as bacias dos Pojuca, do Jacuípe e do

Subaé, na cidade de Feira de Santana ................................................................. 7

Figura 4: Carta Simplificada das Unidades Geomorfológicas do Município de Feira

de Santana ............................................................................................................ 8

Figura 5: Imagem do relevo do município de Feira de Santana ........................................ 9

Figura 6: Fluxograma da metodologia de pesquisa ......................................................... 12

Figura 7: Sequencia de histograma apresentando diferentes agrupamentos do

dados.. ................................................................................................................ 29

Figura 8: Representação da ação do kernel sobre uma distribuição de pontos no

espaço. .............................................................................................................. 31

Figura 9: Estimador de kernel mostrando os picos individuais. ....................................... 32

Figura 10: Evolução da zona urbana de Feira de Santana até 1986 ............................... 36

Figura 11: Conjuntos habitacionais construídos pela URBIS e INOCOOP na cidade

de Feira de Santana (BA) entre 1968 e 1991 ................................................... 39

Figura 12: População urbana e rural de Feira de Santana, em valores relativos no

período de 1940 a 2010. ..................................................................................... 40

Figura 13: População urbana, rural e total de Feira de Santana, em valores

absolutos no período de 1940 a 2010. ................................................................ 41

Figura 14: Cidade de Feira de Santana, com atual divisão de bairros ............................ 39

Figura 15: Condomínio Vila Olímpia ............................................................................... 43

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Figura 16: Condomínio Vila Olímpia ................................................................................ 44

Figura 17: Guarita em entrada do Condomínio Terra Nova ............................................. 45

Figura 18: Condomínios fechados construídos em Feira de Santana entre 1995 e

2010 .................................................................................................................... 48

Figura 19: Marcos na Política Habitacional no Brasil X Número de condomínios

fechados em Feira de Santana (1995 a 2010) .................................................... 50

Figura 20: Localização dos condomínios fechados construídos em Feira e Santana

entre 1995 e 2010. .............................................................................................. 51

Figura 21: Localização dos condomínios fechados construídos entre 1995 e 2000 ........ 52

Figura 22: Localização dos condomínios fechados construídos entre 2000 e 2005 ........ 52

Figura 23: Localização dos condomínios fechados construídos entre 2005 e 2010 ........ 52

Figura 24: Intensidade de concentração de condomínios fechados construídos em

Feira de Santana (BA) entre 1995 e 2000. ......................................................... 53

Figura 25: Intensidade de concentração de condomínios fechados construídos em

Feira de Santana (BA) entre 2000 e 2005 .......................................................... 54

Figura 26: Intensidade de concentração de condomínios fechados construídos em

Feira de Santana (BA) entre 2005 e 2010 .......................................................... 55

Figura 27: Intensidade de Concentração de condomínios fechados construídos em

Feira de Santana (BA) entre 1995 e 2010. ......................................................... 56

Figura 28: Evolução do número de condomínios fechados construídos em bairros de

Feira de Santana ................................................................................................ 57

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Lista de tabelas

Tabela 1: Conjuntos habitacionais construídos pela INOCOOP, nas décadas de

1970 a 1990 ................................................................................................. 37

Tabela 2: Conjuntos habitacionais construídos pela URBIS, nas décadas de 1960 a

1980. ............................................................................................................ 38

Tabela 3: População de Feira de Santana, de 1940 a 2010. .................................... 39

Tabela 4: Evolução do número de condomínios fechados entre 1995 e 2010 ......... 49

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Lista de Abreviaturas e Siglas

CIS – Centro Industrial Subaé

FGTS – Fundo de Garantia por tempo de serviço

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INOCOOP – Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais

MMA – Ministério do Meio Ambiente

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PAR – Programa de Arrendamento Residencial

PDLI – Plano de Desenvolvimento Local Integrado

PMCMV – Programa Minha Casa, Minha Vida

PNH – Política Nacional de Habitação

PSH – Programa de Subsídio à Habitação

SEDUR – Secretaria de Desenvolvimento Urbano

SIG – Sistema de Informações Geográficas

UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana

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Sumário

1. Introdução .................................................................................................................. 1

1.1. Delimitação da pesquisa ...................................................................................... 2

1.2. Justificativa ........................................................................................................... 3

1.3. Caracterização da área ........................................................................................ 4

1.3.1. Aspectos socioeconômicos ............................................................................ 6

1.3.2. Relevo e Hidrografia ...................................................................................... 7

1.4. Objetivo Geral ..................................................................................................... 10

1.5. Objetivos Específicos ......................................................................................... 10

1.6. Metodologia ........................................................................................................ 11

1.7. Estrutura do trabalho .......................................................................................... 12

2. Fundamentação Teórica ........................................................................................... 14

2.1. Expansão urbana ............................................................................................... 14

2.2. Condomínios fechados ....................................................................................... 15

2.2.1. Os condomínios fechados nos séculos XIX e XX ........................................ 15

2.2.2. Os condomínios fechados nos últimos trinta anos ....................................... 18

2.3. Sistema de Informações Geográficas (SIG) ....................................................... 21

2.4. Análise espacial .................................................................................................. 25

2.4.1. O Estimador de densidade do Kernel .......................................................... 27

3. A urbanização em Feira de Santana ........................................................................ 34

3.1. Evolução do desenho urbano ............................................................................. 34

3.2. Surgimento e expansão dos condomínios fechados .......................................... 43

3.3. Políticas Habitacionais ....................................................................................... 45

4. Resultados e discussões .......................................................................................... 48

5. Conclusões ............................................................................................................... 59

6. Referências .............................................................................................................. 61

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1. Introdução

Os condomínios fechados se apresentam hoje como uma das formas mais

comuns de construção imobiliária. Esta forma de moradia tem se difundido em todo

o mundo, independentemente de classe social ou nível econômico.

Caldeira (2000) afirma que a difusão do medo do crime é o principal motivo

que leva pessoas de todas as classes a buscar formas mais seguras de moradia e

classifica os condomínios fechados como o novo tipo de moradia fortificada da elite,

aos quais denomina “enclaves fortificados” e os define como:

“(...) propriedade privada para uso coletivo e que enfatizam o valor do que é privado e restrito ao mesmo tempo que desvalorizam o que é público e aberto na cidade. São fisicamente demarcados e isolados por muros, grades, espaços vazios e detalhes arquitetônicos. São voltados para o interior e não em direção à rua, cuja vida pública rejeitam explicitamente. São controlados por guardas armados e sistemas de segurança, que impõem regras de inclusão e exclusão(...). Os enclaves privados e fortificados cultivam um relacionamento de negação e ruptura com o resto da cidade.”(CALDEIRA, 2000)

Neste trabalho, será definido condomínio fechado, como proposto por Silva

(2008), que afirma que essa forma residencial caracteriza-se por apresentar um

conjunto de residências e áreas de uso coletivo dentro de perímetros fechados por

muros ou outras formas. Dessa maneira, constituem áreas fechadas localizadas

dentro do tecido urbano do município ou em áreas distantes do tecido urbano

contínuo. Quando inseridas no tecido urbano, interrompem fisicamente a

continuidade das vias de circulação e restringem o acesso a ruas e praças (SILVA,

2008).

O crescimento das cidades baseado nas desigualdades agrava um visível

cenário violento, que cada vez mais próximo e amedrontador, exige uma busca por

segurança. Feira de Santana, por ser um entroncamento rodoviário de grande

rotatividade, está fortemente inserida neste contexto de violência.

Segundo Caldeira (2000), para as classes média e alta, a criação de uma

residência é mediada por anúncios publicitários e pela indústria imobiliária e da

construção. Nos últimos tempos, esses anúncios elaboraram o que chamam de “um

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novo conceito de moradia” e o transformaram no tipo mais desejável de residência.

Esse “novo conceito de moradia” articula cinco elementos básicos: segurança,

isolamento, homogeneidade social, equipamentos e serviços. Entretanto, a

tendência a morar em condomínios fechados abrange os mais diversos estratos

sociais das diferentes classes: desde projetos governamentais de habitação até

enclaves urbanos na forma de minicidades.

A imagem que confere o maior status é a da residência enclausurada,

fortificada e isolada e os condomínios fechados correspondem à versão ideal desse

“novo conceito de moradia” e seus anúncios propõem um “estilo de vida total”,

superior ao da cidade, mesmo quando são construídos dentro dela (CALDEIRA,

2000), o que conduz à pergunta: o que faz o Estado usar este modelo de construção

em projetos populares?

Os atuais mecanismos de planejamento urbano em Feira de Santana devem

contemplar os condomínios fechados, uma vez que estão sendo construídos de

forma crescente na cidade e demandam soluções de infraestrutura no seu entorno,

principalmente para aqueles voltados à população de baixa renda.

1.1. Delimitação da pesquisa

Neste trabalho, foi estudada somente a área urbana de Feira de Santana,

onde se concentra a maioria dos condomínios fechados e também na qual é

admitido o parcelamento do solo, conforme disposto na Lei 6.766/79.

Foi estudado o período compreendido entre os anos 1995 e 2010, pois foi

nesse período que se tornou comum a construção de condomínios fechados na

região.

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1.2. Justificativa

É de fundamental importância que se estude com profundidade a expansão

urbana para que os órgãos públicos, responsáveis por dotar a população de

infraestrutura sanitária e logística, tenham ciência dos locais onde os recursos

devem ser aplicados, proporcionando, assim, qualidade de vida para a população.

Além disto, é relevante que se analise os possíveis impactos que esta expansão

poderá provocar sob os aspectos ambientais, sociais, econômicos e estruturais.

Nesse sentido, é de grande relevância que se estude a localização dos

condomínios fechados, como uma forma de expansão, que constituem hoje

importantes focos de crescimento. Sua implantação demanda infraestrutura no

entorno, embora possam utilizar os recursos urbanos existentes, quando são

construídos em zona já adensada. Quando o contrário acontece, ou seja, os

condomínios são implantados em zona distante da área urbanizada, deve-se

analisar a situação mais criteriosamente, para que sejam supridas as necessidades

básicas de serviços médicos, transportes, sistema viário e saneamento.

Em Feira de Santana, seguindo uma tendência de várias outras cidades,

surgiu a preocupação de estudar sobre os condomínios fechados, pois sua

implantação tem sido visivelmente crescente e atualmente estão presentes em

muitos bairros da cidade, constituindo, assim, um foco de crescimento, que direciona

a expansão urbana. Este estudo é motivado também pela influência que a

implantação de condomínios exerce tanto na economia, através do estabelecimento

de um pólo, que demanda serviços, como na estrutura física e logística da cidade,

sobre a qual deve-se pensar em soluções de transporte público e vias apropriadas

para o tráfego da população que viverá nesses ambientes.

Além disto, esta pesquisa foi motivada pelo fato de que há poucos estudos

relevantes sobre o tema na região delimitada por esse estudo.

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1.3. Caracterização da área

O município de Feira de Santana está localizado no Estado da Bahia, com

uma área de 1.350 km², tendo como retângulo envolvente as coordenadas

geográficas 12°09’ e 12°20’, na latitude Sul e 38°53’ e 39°07’, de longitude oeste. A

população atual é de aproximadamente 500 000 habitantes, segundo dados do

censo demográfico do IBGE em 2010. Feira de Santana está localizada a

aproximadamente, 110 km da capital estadual, Salvador, como mostra a Figura 1.

Figura 1: Localização de Feira de Santana na Bahia, com destaque para a área urbana

Fonte: http://www.ibge.gov.br/cidadesat (acessado em 10 de julho de 2011)

Em Feira de Santana, ocorre o cruzamento de três rodovias federais: BRs

101, 116 e 324 e três rodovias estaduais: BA052, BA502, BA504, assim, é um ponto

de passagem para o tráfego que vem do Sul e do Centro Oeste e se dirige para

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Salvador e outras importantes cidades nordestinas. Graças a esta posição e à

distância relativamente pequena de Salvador, possui um importante e diversificado

setor de comércio e serviços, além de indústrias de transformação. A logística de

distribuição é favorecida, uma vez que o deslocamento de matérias-primas e a

distribuição de produtos industrializados é facilitada. A Figura 2 apresenta as

principais vias de Feira de Santana, assim como as três rodovias federais que

cruzam a cidade. A Avenida Eduardo Fróes da Mota (anel de contorno) circunscreve

a região central da cidade.

Figura 2: Principais vias e rodovias de Feira de Santana

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1.3.1. Aspectos socioeconômicos

A importância das características socioeconômicas consiste no fato de que

estas tem influência direta na forma da expansão urbana. As informações tem como

fonte o Plano Municipal de Meio Ambiente de Feira de Santana, elaborado em 2009,

pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Segundo o MMA (2009), a localização de Feira de Santana favorece uma

crescente concentração de população flutuante, mercadoria e dinheiro. Um indicador

deste fenômeno pode ser observado no intenso movimento diário da estação

rodoviária, no alto volume de trafego de carros particulares e de cargas no centro da

cidade. Esta característica favoreceu a atração de indústrias para o Centro Industrial

do Subaé, quando ocorreu também o fenômeno do crescimento de bairros populares

em áreas adjuntas.

O setor de comércio e serviços é forte na sede do município e a zona rural

aparece notadamente com pequenas propriedades destinadas ao cultivo de

subsistência. Nas ruas do centro da cidade e em feiras nos bairros, há

comercialização informal de hortaliças.

A atividade comercial concentrada, principalmente na sede do município, atrai

população de diversos municípios circunvizinhos menores e de outras regiões, que,

por sua vez, abastecem o mercado local, adquirindo os produtos em Feira de

Santana e dela fazendo seu mercado central.

Dentro do anel do contorno, que delimita a parte central da cidade, se

concentraram as unidades comerciais (varejo e atacado) e de serviços voltadas para

atender a uma demanda regional e urbana.

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1.3.2. Relevo e Hidrografia

Localizada na superfície cimeira do Tabuleiro de Feira de Santana, a cidade

situa-se no divisor de águas, que separa três bacias: do Jacuípe, do Pojuca e do

Subaé (Figura 3).

Figura 3: Divisor de águas, que separa as bacias dos Pojuca, do Jacuípe e do Subaé, na cidade de Feira de Santana

Geomorfologicamente, o modelado da região foi compartimentado em 3

unidades distintas: I - Região Central, caracterizado pelo tabuleiro conservado,

onde se concentra a área urbana e as principais atividades econômicas da região;

II - Região Leste, caracterizada pela formas de dissecação do tabuleiro, com

predomínio de lombadas e morrotes, com declividades suaves, nunca superiores a

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25º; III - Região Oeste, com o escudo exposto ou exumado, onde ocorreu a

completa remoção dos sedimentos que compõem os tabuleiros, onde predomina a

ocorrência de relevos residuais, de constituição rochosa, formando inselbergs e

lajedos (Figura 4).

Figura 4: Carta Simplificada das Unidades Geomorfológicas do Município de Feira de Santana, com três unidades distintas: Unidade central (I), a Unidade Leste (II) e a

Unidade Oeste (III)

Fonte: SANTOS, Rosangela Leal; OLIVEIRA, Alarcon Matos, 2009

Assim, pois, Feira de Santana apresenta uma superfície plana, associada ao

grupo sedimentar, no nível superior (Cimeira) e duas superfícies produzidas por

dissecação sobre o embasamento cristalino, a intermediária e a inferior. A região se

caracteriza com uma topografia relativamente plana, com pequenas elevações e

tendo ao centro um planalto limitado pela curva de nível de 200m com variações de

relevo que não ultrapassam a 50m no interior do planalto, com altitude média de

234m.

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Na Figura 5, visualiza-se, de forma geral, os elementos de relevo do

município descritos anteriormente. Na metade Leste, tem-se os Tabuleiros de Feira

de Santana, composto por superfícies aplainadas, suavemente dissecadas no

extremo leste, pela ação do Rio Pojuca, enquanto sua borda oeste, apresenta-se

profundamente dissecada, formado vales profundos e bordas íngremes, onde o vale

do Rio Jacuípe escava um vale com ressaltos altimétricos de mais de 70 m. A ação

do Rio Jacuípe remove completamente os sedimentos cenozóicos expondo o

escudo cristalino dissecado. As porções mais elevadas, formando colinas e serras

tipo inselbergs, situam-se nesta porção do município, onde se destaca a Serra de

São José, ao Norte, e as Serras Marginais no extremo oeste.

Figura 5: Imagem do relevo do município de Feira de Santana

(Figura elaborada pela autora)

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Assim, supõe-se, inicialmente, que as características do relevo interferem

diretamente na construção de edificações, e consequentemente, na distribuição dos

condomínios. Isso porque em regiões mais planas, há uma facilidade maior em

edificar, o que viabiliza economicamente o lançamento de empreendimentos. Em

Feira de Santana, estas se localizam na região central da cidade e a Leste.

1.4. Objetivo Geral

Este trabalho tem por objetivo principal, analisar a distribuição espacial de

condomínios fechados localizados na área urbana de Feira de Santana construídos

entre os anos 1995 e 2010.

1.5. Objetivos Específicos

Os objetivos específicos são:

a. Analisar a tendência de expansão dos condomínios fechados durante

os últimos 15 anos;

b. Analisar a influência dos condomínios fechados no processo de

expansão urbana;

c. Fazer um estudo sobre os vetores de expansão, relacionados com a

urbanização de Feira de Santana;

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1.6. Metodologia

Foi utilizado o método indutivo para a realização deste trabalho, uma vez que

a partir da observação das características e localização dos condomínios fechados,

foram feitas conclusões referentes à sua forma de expansão e segregação no

contexto urbano, de forma mais generalizada.

Utilizou-se o procedimento de pesquisa comparativo, uma vez que foram

levantadas as diferenças e semelhanças entre características de diferentes

localidades urbanas, através de zonas e épocas, na intenção de compará-los.

Os dados oficiais referentes à construção dos condomínios, tais como

localização e data de implantação, foram obtidos na Prefeitura Municipal de Feira de

Santana, através das Secretarias Municipais de Planejamento e Desenvolvimento

Urbano. As técnicas utilizadas foram pesquisa bibliográfica e documental referente

ao assunto.

Neste trabalho, foi feita a análise de padrões pontuais univariados, na qual os

dados são pontos relacionados ao evento e somente a sua localização é

considerada. Não há qualquer valor agregado a esses pontos, seu único atributo é a

localização, o que o faz diferir da geoestatística em que os atributos relacionados à

amostra são relevantes.

Foi realizada uma análise técnica (walkthrough), com acompanhamento

fotográfico, com a intenção de perceber se há semelhanças entre as características

dos condomínios descritos por outros autores que estudaram outras localidades e

dos condomínios implantados em Feira de Santana.

A Figura 6 representa um fluxograma da metodologia de pesquisa.

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Figura 6: Fluxograma da metodologia de pesquisa

(Figura elaborada pela autora)

1.7. Estrutura do trabalho

Neste primeiro capítulo, foram citados os objetivos, justificativa, delimitação

da pesquisa e caracterização da área de estudo. Além disso, é apresentada também

a estrutura do trabalho e metodologia. No segundo capítulo, tem-se a

fundamentação teórica e no terceiro capítulo, trata-se da urbanização de Feira de

Santana e do surgimento e expansão dos condomínios fechados, além da

Delimitação da pesquisa

Coleta de dados

Manipulação dos dados

Análise exploratória

Análse confirmatória

Pesquisa documental

Entrevista com funcionários públicos

Entrevista com moradores

Pesquisa bibliográfica

SIG

Análise espacial

Condomínios fechados e

expansão urbana

Mapas de intensidade de concentração

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apresentação dos aspectos ambientais do município. É tratado também sobre as

políticas habitacionais no Brasil. No capítulo seguinte, são apresentados e

analisados os resultados. No quinto capítulo, são feitas as conclusões e expostas

sugestões para trabalhos futuros e no capítulo posterior, são apresentadas as

referências.

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2. Fundamentação Teórica

Neste capítulo, serão apresentadas noções de expansão urbana,

condomínios fechados, Sistema de Informações Geográficas (SIG) e análise

espacial.

2.1. Expansão urbana

Pode-se considerar os movimentos de expansão ou de mobilidade humana

intra-urbana como um fenômeno de migração. Migrações intra-urbanas refletem, em

geral movimentos do centro para a periferia ou para áreas específicas de um

determinado valor estético ou socioeconômico da cidade. Desde os trabalhos

apresentados por Adams (1969) sobre migração intra-urbana, a relação moradia-

local de trabalho é considerando o mais determinante fator do deslocamento da

população. O local de trabalho contribui para o movimento de deslocamento, tanto

na distância quanto na direção. Existem algumas evidencias que relacionam a

classe social com a direção do deslocamento: enquanto as classes de menor poder

aquisitivo preferem se deslocar para uma maior proximidade do local de trabalho, as

classes de maior poder aquisitivo tendem a se afastar ou este fator é menos

considerado, desde que estes não dependem da disponibilidade da oferta de

transporte público. Entretanto, nas áreas de expansão, a disponibilidade destes

transportes pode ser mais uma consequência (originada no aumento da demanda)

que uma causa, para a relocação em novas áreas.

As pesquisas sobre mobilidade urbana são embasadas na premissa de que

as pessoas se mudam porque eles acreditam que estarão melhor em outro lugar e

que a relocação intra-urbana (mobilidade residencial) é motivada por razões ligadas

à habitação (por exemplo: se mudar de um imóvel de aluguel para um imóvel

próprio; de uma casa menor para uma maior). Um corolário para estas proposições é

que a mobilidade residencial irá levar os moradores tanto para habitações como uma

vizinhança mais desejável que a que ele deixará. Assim, podemos afirmar que as

pessoas se mudam em busca de uma melhor qualidade de vida, para elas mesmas

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e suas famílias (OZO, 1986; LU, 2002). E, como principal aspecto da qualidade de

vida que irá gerenciar as tomadas de decisão, se destacam as condições tanto da

residência como de vizinhança.

Áreas de expansão urbana são também caracterizados como altamente

dependentes de automóveis para o transporte, uma condição conhecida como a

dependência do automóvel, uma vez que o serviço de transporte público ainda não

foi instalado. A maioria das atividades, tais como compras e ir ao trabalho, requerem

o uso de um carro ou sistema alternativo, como resultado, tanto do isolamento da

área em relação ao centro urbano ou de serviços, como das áreas industriais e

comerciais. Andar a pé e outros métodos de trânsporte não são levados em

consideração, nesta etapa incial da própria implantação dos projetos de moradia.

Portanto, muitas destas áreas não tem calçadas ou estas são insignificantes e mal

estruturadas. Em muitas comunidades suburbanas, sendo estas destinadas às

classes de maior poder aquisitivo, as lojas e outros ambientes comerciais também

exigem o emprego de automóveis, porque estes são concnetrados em áreas

específicas e as distâncias são relativamente grandes.

2.2. Condomínios fechados

2.2.1. Os condomínios fechados nos séculos XIX e XX

A discussão sobre condomínios fechados na América Latina é dominada pela

caracterização de novos aspectos da dinâmica urbana (MEYER; BAHR, 2001; COY

e POHLER, 2002 apud GLASZE, 2005). A crescente importância do estilo de vida

americano e os impactos globais das empresas imobiliárias e uma força de trabalho

elitizada globalizada são os dois argumentos centrais utilizadas para explicar a

proliferação dos condomínios fechados. Estes aspectos não podem ser

negligenciados, mas analisando a aparência das residências fechadas de um ponto

de vista histórico tempera as explanações do macro com a especificidade local. É

possível encontrar importantes linhas de explanação no típico comportamento das

elites da América Latina através de décadas se não, de séculos.

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As cidades coloniais espanholas da América Latina eram abertas e sem

paredes (muralhas). Mas essa abertura era acompanhada por um forte fechamento

interno. Os prédios residenciais – casa em átrio (grande espaço aberto, localizado

ao centro, para o qual o convívio dos moradores da casa convergiam) com pátios

internos – eram fechados para a rua com pesadas portas de madeira, e até meados

do século XIX, as janelas eram pequenas e posicionadas para garantir a

privacidade. Mesmo dentro das edificações, diferentes classes de segregação e

privacidade eram estabelecidas; os convidados nunca tinham acesso ao segundo ou

terceiro pátio, o qual era reservado para as mulheres ou para atividades de

jardinagem (BORSDORF, 2002 apud GLASZE, 2005). Também na época colonial,

temos a ocorrência de bairros fechados para várias famílias, principalmente viúvas,

orfãos ou sacerdotes, são encontrados em cidades tais como Santa Catalina em

Arequipa ou o Hospitólio Cabañas em Guadalajara (BORSDORF, 2002 apud

GLASZE, 2005).

Durante o século XIX, outra forma de vizinhança de acesso restrito surgiu –

as cidades-empresas para os trabalhadores e empregados de companhias de

mineração. Estas são altamente segregatórias e em muitos casos muradas ou com

acesso público restrito. Estes exemplos mostram que o princípio de comunidades

fechadas tem ocorrido nas cidades da América Latina através da história, mas isso

não difere tanto assim do que é conhecido sobre as cidades europeias.

As casas-átrio, onde morava, anteriormente, uma única família, foram

subdivididas, e cada quarto alugado, na maioria das vezes a uma família de baixa

renda. Essa transformação ocorreu em todas as grandes cidades da América Latina.

Estas áreas de habitação foram chamados tugurios no Perú ou vecindades no

México. No Chile e na Argentina o termo conventillo, semanticamente conota o

conceito de comunidades invioláveis fechadas/muradas. As portas de entrada de

madeira dos antigos átrios foram transformados em entradas guardadas 24 horas

para prever a entrada de novos moradores que não pagavam aluguel. Quando a

disponibilidade deste tipo de edificação histórica acabou, este tipo de estrutura

passou a ser reproduzida em novas áreas de baixa renda, como por exemplo, no

Chile nas décadas de 1920 e 1930 ou no México até início dos anos 1950. Há certa

similaridade entre estes bairros e os condomínios fechados dos grupos de baixa

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renda no final do século XX. Num ambiente de instabilidade política, regimes

militares e perda de controle pelo Estado, pode explicar a existencia atual e histórica

destes condomínios fechados destinados à este tipo de grupo social.

Paralelo a estes tipos de estruturas urbanas, existem também as áreas na

periferia da cidade ou entremeada ao tecido urbano, os bairros pobres denominados

de favelas no Brasil e villas miserias na Argentina. Na maioria dos casos, as origens

desses assentamentos na América Latina, a partir da década de 1950, são

irregulares, se não mesmo ilegais.

A falta de legalidade levou a uma série de intervenções estatais do tipo “linha-

dura”, incluindo evacuações em massa e demolições na década de 1960 e 1970. A

isto se seguiu uma crescente onda de criminalidade nestas áreas (que acabou se

transformando na sede do tráfego de drogas e do crime organizado) e induziu a

criação de estruturas de organização interna para evitar o acesso de pessoas que

viviam fora destas áreas. Estes não foram criados do mesmo modo que os

modernos empreendimentos dos condomínios fechados, mas seus efeitos são muito

parecidos. O público em geral não pode entrar e, assim, uma parte da cidade tem se

tornado fechada e governada por sistemas de governo locais. (GLASZE, 2005)

Algum autores afirmam serem estas estruturas urbanas, historicamente, os

precursores dos condomínios fechados das classes sociais de alta renda. Outros

autores tem sugerido que a origem destes condomínios fechados de alto poder

aquisitivo se basearam nos modelos dos “country clubs” ou “golf clubs” norte-

americanos. Borsdorf (2002) descreve o caso da Cidade do México, onde, no início

do século XX, o golfe foi importado pelo ricos imigrantes ingleses e tornou-se

rapidamente popular entre a classe alta europeia. No caso de Buenos Aires, o

primeiro “country club” foi construído no início da década de 1930, também imitando

o estilo de vida da burguesia inglesa (JANOSCHKA, 2002 apud GLASZE, 2005). Na

época em que foram fundados, eram ainda distantes das cidades, mas o rápido

crescimento das aglomerações urbanas os colocaram dentro do núcleo urbano, já

durante a segunda metade do século XX. Por isso, os clubes acharam necessário

proteger seus territórios e controlar a entrada de usuários, devido à baixa ocupação

durante a semana e da proximidade de invasores em potencial. Até o início dos anos

1970, o número desses clubes era baixa e eles ainda eram usados principalmente

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para atividades de férias e fim de semana. A partir desse momento, no entanto, uma

primeira onda de difusão desses clubes pode ser observada. Como exemplo,

podemos citar a criação de cerca de 70 clubes de campo para as classes média alta

e alta, fundados em Buenos Aires, em meados dos anos 1980, principalmente para

atividades de recreação. (GLASZE, 2005)

2.2.2. Os condomínios fechados nos últimos trinta anos

Se observarmos os anúncios de propaganda sobre a venda de condomínios

fechados, estes se focam na busca de conectar estes conjuntos habitacionais

fechados a um estilo de vida elitista. Até meados do século XX, o ponto de

referencia deste estilo de vida eram as elites europeias, mas, a partir do pós-guerra,

este enfoque se deslocou para a América do Norte. Muitos anuncios, especialmente

na Colombia e no Brasil, oferecem uma receita para alcançar este estilo de vida tão

almejado. Fotos e comentários sobre o estilo de vida em Miami vem acompanhado

de um discurso sobre medo e insegurança, os quais são especialmente poderosos

nestes dois paises. O resultado é a construção de habitações exóticas à realidade

destes lugares, incluindo a inserção de espécies de plantas exóticas não naturais à

América Latina (GLASZE, 2005).

Construir uma tipologia para estas estruturas urbanas começa com um

problema de definição. Através da América latina, uma ampla gama de termos são

utilizadas. O significado destas mesmas palavras podem variar significativamente

em diferentes países: condomínios fechados (Brasil), barrio privado (Argentina), ou

fraccionamiento cerrado (México), se referem a diferentes produtos do mercado

imobiliário nestes diversos países e, mesmo o termo barrio cerrado, utilizado no

Chile, Equador e Bolívia, tem um amplo conjunto de significados. Aqui utilizaremos a

expressão de como eles são mais conhecidos no Brasil, condomínios fechados.

Glasze et al., (2005) identifica como três os principais tipos de bairros ou

condomínios fechados os quais podemos diferenciar segundo sua estrutura,

localização e tamanho:

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Condomínios fechados urbanos: grupos de casas ligadas ou prédios com

algumas instalações em comum. O alvo destes empreendimentos pode ser a classe

média ou classe média baixa em locais “intermediários”, e até mesmo os projetos

sociais de habitação ou mesmo para famílias da classe média alta a muito alta em

áreas centrais onde a escassez de terrenos limita o desenvolvimento de facilities

comuns. Esta catergoria também inclui o fechamento de áreas, na maioria dos casos

por famílias de classe alta em áreas de habitação em locais centrais ou

intermediários.

Condomínios fechados suburbanos: predominante pela classe média e alta

com casas isoladas e separadas umas das outras. Estes desenvolvimentos dividem

um amplo conjunto de equipamentos comuns incluindo quadras de esportes e outros

equipamentos comunitários e jardins bem cuidados. Existem também condomínios

fechados nas áreas peri-urbanas sem os equipamentos comuns e, neste caso, em

geral, são destinados a baixa classe média.

Mega-projetos com integração de equipamentos culturais e

educacionais: embora existam ainda somente uns poucos destes projetos, há

dinâmica e propagação internacional das metas e visão do mercado imobiliário.

Os três tipos citados acima podem ser encontrados tanto na América Latina

como no Brasil. Entre 1990 e 2001, na cidade do México, cerca de 750 novos bairros

fechados com quase 50.000 unidades residenciais forma lançados no mercado

(PARNREITER, 2004 apud GLASZE, 2005). Atualmente, em Buenos Aires, existem

mais de 450 condomínios fechados suburbanos, sendo que 80% deles foram

iniciados entre 1995 e 2001. Cerca de doze deles tem uma população de mais de

5.000 habitantes (JANOSCHKA, 2002 apud GLASZE, 2005)). Some-se a isto um

número desconhecido de condomínios fechados urbanos conhecidos como torre

jardim (WELCH, 2002 apud GLASZE, 2005). Em 2002, mais de 130 destas torre-

jardim foram anunciados em jornais locais, oferecendo novos apartamentos. A

quantidade de moradores nestes condomínios é desconhecido, podendo apenas ser

estimado, numa população total entre 300.000 e 600.000 pessoas. Em outro

exemplo, Pohler (1999) estima mais de 100.000 pessoas vivendo em condomínios

fechados de alto luxo voltado à classe média alta, no Rio de Janeiro, nas áreas de

expansão urbana próximas à praia da Barra da Tijuca. São Paulo, o centro

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financeiro e maior metrópole do país, tem seu mega-projeto no bairro Alphaville, com

uma população em torno de 35.000 habitantes e mais de 100.000 pessoas

trabalhando dentro de seus portões fechados.

Os estudos sobre condomínios fechados no Brasil começaram a ser

desenvolvidos a partir do final da década de 1980. Dentre os mais recentes

trabalhos, se destacam D’OTTAVIANO (2008), que estudou sobre Condomínios

Fechados na Região Metropolitana de São Paulo, LOPES (2009), cuja pesquisa se

refere a Condomínios horizontais e loteamentos fechados em Londrina, MIRANDA

(2009), cuja abordagem trata da expansão de condomínios fechados em Campo

Grande e SILVA (2008), que estudou a expansão urbana de Campinas através de

condomínios e loteamentos fechados.

Segundo Silva (2008), esses estudos revelam que, no Brasil, os condomínios

e loteamentos fechados, segundo o conceito adotado nesta pesquisa, surgem a

partir dos anos 1970, ocorrendo uma intensificação da produção desse tipo de

ocupação a partir da década seguinte.

Esse tipo de forma residencial caracteriza-se por apresentar um conjunto de

residências e áreas de uso coletivo dentro de perímetros fechados por muros.

Assim, constituem áreas fechadas localizadas dentro do tecido urbano do município,

ou em áreas distantes do tecido urbano contínuo. Quando inseridas no tecido

urbano, interrompem fisicamente a continuidade das vias de circulação e restringem

o acesso a vias e praças. (SILVA, 2008)

A justificativa para o surgimento de condomínios fechados é baseada em uma

combinação de processos. Entre eles, incluem-se a recessão da economia, a

reversão do crescimento demográfico, a melhoria da periferia combinada com o

empobrecimento das camadas trabalhadoras, a desindustrialização e a expansão

das atividades terciárias, o deslocamento de parte das classes médias a alta para

fora do centro (CALDEIRA, 2000).

Essa nova forma de habitat traz algumas consequências, que se refletem na

vida dos moradores e na sociedade de maneira geral. Segundo Baumgartner (1988,

apud MOURA, 2005), surge um código de sociabilidade, baseado na “evitação” de

conflito aberto entre pessoas. Há baixo índice de conflitos, mas, por outro lado há

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também pouca cooperação entre amigos ou vizinhos. Essa “evitação” pessoal é

apenas um reflexo de um contexto maior, no qual a separação se dá também numa

esfera espacial (através dos muros que isolam os condomínios do restante da

cidade) e numa esfera social (separação entre ricos e pobres).

Tavares; Costa (2010) afirmam que uma das implicações do processo é a

privatização da cidade, através da apropriação privada de espaços que deveriam

estar disponíveis a toda sociedade local, como ruas, praças e áreas de lazer. Os

autores ainda destacam outro aspecto evidenciador da privatização de espaços

públicos: a impermeabilização do tecido urbano. O termo refere-se à impossibilidade

dos cidadãos transitarem livremente pela cidade, devido à existência de barreiras

físicas. Esta dificuldade toma contornos mais graves quando as barreiras se

localizam em áreas próximas do tecido urbano constituído. No caso de Feira de

Santana, o exemplo mais visível de impermeabilidade urbana é a Avenida Artêmia

Pires, cujo entorno se transformou em área urbanizada em um curto espaço de

tempo.

2.3. Sistema de Informações Geográficas (SIG)

Dentre outras definições e aplicações, o termo Sistema de Informação

Geográfica é aplicado a sistemas que realizam o tratamento computacional de

dados geográficos e armazenam a geometria e os atributos dos dados que estão

georreferenciados, isto é, localizados na superfície terrestre e representados numa

posição cartográfica (DRUCK, 2004).

Desde sua concepção inicial, mais simplista e voltada para o projeto e

construção de mapas, os SIGs tem incorporado uma crescente variedade de

funções, em especial, mecanismos sofisticados para manipulação e análise espacial

de dados (CRUZ, 2005).

DANTAS et al. (apud CRUZ, 2005) divide a evolução do SIG em três fases:

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a) Manipulação e visualização de banco de dados – iniciada na década

de 50, é marcada pela necessidade de armazenar, organizar,

processar e visualizar dados.

b) Operações analíticas de dados não gráficos e estruturas

organizacionais – o aumento da capacidade de processamento e de

memória dos computadores possibilitou novas concepções e a

popularização do SIG. Nesta nova perspectiva, as operações analíticas

são enfatizadas por meio de modelos matemáticos com dados

numéricos não gráficos.

c) Análise espacial - A partir da década de 80, esta fase é marcada pela

redução de recursos para a pesquisa científica em contraponto ao

crescimento do setor industrial e comercial do SIG. Nesta fase, o

potencial do sistema é mais explorado, combinando atributos não

geográficos com as relações topológicas dos objetos geográficos para

efetuar análises espaciais sobre dados georreferenciados.

A tecnologia de SIG integra operações convencionais de bases de dados,

como captura, armazenamento, manipulação, análise e apresentação de dados,

com possibilidades de seleção e busca de informações e análise estatística,

conjuntamente com a possibilidade de visualização e análise geográfica oferecida

pelos mapas. Esta capacidade distingue os SIG dos demais Sistemas de Informação

e torna-os úteis para organizações no processo de entendimento da ocorrência de

eventos, predição e simulação de situações, e planejamento de estratégias. Os SIG

permitem a realização de análises espaciais complexas através da rápida formação

e alternação de cenários que propiciam a planejadores e administradores em geral,

subsídios para a tomada de decisões. A opção por esta tecnologia, busca melhorar

a eficiência operacional e permitir uma boa administração das informações

estratégicas, tanto para minimizar os custos operacionais como para agilizar o

processo decisório (PINA, 2000).

Um SIG pode ser definido a partir de três propriedades: a capacidade de

apresentação cartográfica de informações complexas, uma sofisticada base

integrada de objetos espaciais e de seus atributos ou dados, e um engenho analítico

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formado por um conjunto de procedimentos e ferramentas de análise espacial

(Maguirre et al., 1991, apud PINA, 2000)

Scholten & Stillwell (1990, apud PINA, 2000) definem três funções principais

possibilitadas por um SIG que requerem vários componentes, de acordo com o

objetivo pretendido. A primeira é o armazenamento, manejo e integração de grandes

quantidades de dados referenciados espacialmente. Um dado espacialmente

referenciado pode ser concebido como contendo dois tipos de informações, dados

de atributos e dados de localização. Dados cartográficos ou de localização são

coordenadas de pontos (nós) bi ou tridimensionais, linhas (segmentos) ou áreas

(polígonos). Dados descritivos ou não-localizados são características (feições) ou

atributos de pontos, linhas ou áreas.

Segundo Pina (2000), uma das principais características do SIG é a facilidade

de integrar dados, por exemplo, converter valores dos dados a uma estrutura

espacial comum. A aquisição e entrada de dados envolve a digitação de dados e a

digitalização de mapas ou a transferência eletrônica de bancos de dados pré-

existentes, cujo custo dependerá da qualidade desejada. Neste processo ocorrerá a

conferência, conversão, reformatação, correção e edição, para remover erros

existentes nos dados originais ou introduzidos durante a captura destes.

A segunda função principal do SIG é prover meios para realizar análises

relacionadas especificamente a componentes geográficos dos dados. As operações

mais comuns são a pesquisa de dados e a busca de informações de acordo com

algum critério de seleção (por exemplo, pela localização, proximidade, tamanho,

valor), e a análise espacial que envolvem modelagem e análise de padrões

espaciais e de relacionamento de dados.

A terceira função principal envolve a organização e o manejo de grandes

quantidades de dados e a forma como estas informações podem ser facilmente

acessadas por todos usuários. Um SIG precisa ser ágil para exibir dados em mapas

de boa qualidade. Os mapas inicialmente feitos à mão, são agora um produto

implícito de todo trabalho feito dentro do SIG. Entretanto, para diferentes propósitos,

outras formas de apresentação dos dados (gráficos e tabelas) algumas vezes são

necessárias para uso combinado com os mapas.

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Alguns dos benefícios mais comuns de um SIG são:

• melhor armazenamento e atualização dos dados;

• recuperação de informações de forma mais eficiente;

• produção de informações mais precisas;

• rapidez na análise de alternativas; e

• a vantagem de decisões mais acertadas.

De um modo geral, pode-se identificar os seguintes objetivos na

implementação de um SIG:

Visualização das informações: diversas formas de apresentação das

informações são possibilitadas pelo SIG (PINA, 2000).

Organização e georreferenciamento dos dados: o SIG se constitui em

um poderoso organizador das informações georeferenciadas. Permite

combinar vários tipos diferentes destas informações, por exemplo,

limites de bairros, localização pontual das unidades de saúde, volume

do fluxo entre duas localidades, entre outras.

Integração de dados vindos de diversas fontes, nos mais diversos

formatos, escalas e sistemas de projeção: o mapa armazenado no SIG

pode ser sempre associado a novas informações, provenientes de

diversas fontes, permitindo que se some o trabalho de diversas órgãos

e instituições.

Análise dos dados: a disponibilidade de funções que permitam

transformar os dados em informações úteis no processo de tomada de

decisões.

Predição de ocorrências: a partir da análise de séries históricas,

mapeando os ventos estudados em diferentes períodos. (PINA, 2000)

Neste trabalho, foi utilizado o SIG para organizar os dados e georreferenciá-

los, além da análise dos mesmos.

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2.4. Análise espacial

As técnicas de analise espacial constituem como ferramentas que possibilitam

manipular dados espaciais de diferentes formas e extrair conhecimento adicional

como resposta. Incluindo funções básicas como consulta de informações espaciais

dentro de áreas de interesse definidas, manipulação de mapas e a produção de

alguns breves sumários estatísticos de informação; incorporando também funções,

como a investigação de padrões e relacionamentos dos dados na região de

interesse, buscando assim, um melhor entendimento do fenômeno e a possibilidade

de se fazer predições (BAILEY, 1994, apud CRUZ, 2005).

Ainda segundo Bailey (1994), a análise espacial é um método, cuja ênfase é

mensurar propriedades e relacionamentos, levando em conta a localização espacial

do fenômeno em estudo de forma explícita. Para caracterizar problemas de análise

espacial, Bailey considera três tipos de dados:

Padrões pontuais: pontos localizados no espaço identificam a ocorrência

dos fenômenos;

Superfícies contínuas: estimadas a partir de um conjunto de amostras de

campo;

Áreas com contagens e taxas agregadas: áreas usualmente delimitadas

por polígonos fechados onde se supõe haver homogeneidade interna.

A análise espacial é composta por um conjunto de procedimentos

encadeados cuja finalidade é a escolha de um modelo inferencial que considere

explicitamente o relacionamento espacial presente no fenômeno. Os procedimentos

iniciais da análise incluem o conjunto de métodos genéricos de análise exploratória e

a visualização de dados, em geral, através de mapas. Essas técnicas permitem

descrever a distribuição das variáveis de estudo, identificar observações atípicas

não só e relação ao tipo de distribuição, mas também em relação aos vizinhos, e

buscar a existência de padrões na distribuição espacial (CRUZ, 2005).

Segundo Carneiro et al. (2003), o método da função K tem vantagens em

relação à abordagem do vizinho mais próximo, pois este apresenta informação em

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diversas escalas de padrões, envolve o uso da localização precisa do evento e inclui

todas as distâncias evento-evento.

Os métodos exploratórios aplicados à análise de dados envolvem quase

sempre a procura de uma boa descrição dos dados, a fim de ajudar o analista a

desenvolver hipóteses sobre o assunto analisado, bem como desenvolver modelos

apropriados para tais dados (BAILEY E GATRELL, 1995). Em geral, os métodos

exploratórios enfatizam a visualização gráfica dos dados, realçando suas feições

características e permitindo ao analista detectar padrões, relações e valores

anômalos. No contexto da análise espacial de dados, os resultados são

apresentados em forma de mapas ou gráficos.

Em geral, problemas práticos, não são modeláveis por estimadores

paramétricos que possuem densidade unimodal (THOMPSON e TAPIA, 1990). Por

isso, a estimação não-paramétrica de densidades, que pode ser usada com

qualquer tipo de distribuição, é comumente utilizada na modelagem desse tipo de

problema.

Em comparação com estimadores paramétricos, onde o estimador tem sua

estrutura fixada e os parâmetros (seus estimadores) da função densidade são as

únicas informações a serem guardadas, os estimadores não-paramétricos não

possuem estrutura fixa e dependem de toda amostra para obter uma estimativa da

função densidade.

Estatisticamente, processos pontuais são definidos como um conjunto de

pontos irregularmente distribuídos no terreno cuja localização foi gerada por

mecanismo estocástico. Para a sua caracterização, esses processos pontuais

podem ser descritos em termos de efeitos de primeira e segunda ordem

(ALCANTARA, 2006). Os efeitos de primeira ordem, considerados globais ou de

larga escala, correspondem a variações no valor médio do processo no espaço.

Nesse caso, se trata da intensidade do processo, proveniente da estrutura de

correlação espacial. Para medir os efeitos de primeira ordem se tem o Kernel

Estimation. Os efeitos de segunda ordem, denominados locais ou de pequena

escala, representam a dependência espacial no processo e medem a dependência

espacial, proveniente da estrutura de correlação espacial. Para medir os efeitos de

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segunda ordem do processo pontual, as técnicas mais utilizadas são o vizinho mais

próximo e a função K.

Quando se estuda processos pontuais, os eventos estão distribuídos no

espaço, de modo que é possível estimar o número esperado de eventos por unidade

de área, os seja, estimar a intensidade. Estas estimativas são calculadas através de

interpolações por diversos métodos, tais como: krigeagem, superfície de tendência,

modelos locais de regressão e estimador kernel. Estas técnicas exploratórias,

quando aplicadas a um padrão de eventos pontuais, resultam em um mapa de

contorno de intensidade estimada de ocorrências em toda a área de estudo. Outras

técnicas exploratórias aplicadas ao mesmo conjunto de eventos podem resultar num

gráfico referente ao grau de dependência espacial entre as localizações das

amostras (TERUIYA, 1999). Uma análise exploratória de um processo pontual

começa pela estimação da intensidade de ocorrências do processo em toda a região

em estudo. Com isso, gera-se uma superfície cujo valor é proporcional à intensidade

de eventos por unidade de área.

Dentre estes métodos, um dos que mais se destacam é o do estimador por

Kernel.

De acordo com Bailey e Gatrell (1995), o estimador de Kernel foi originalmente

desenvolvido para obter uma estimativa de densidade de probabilidade tanto

univariada como multivariada de uma amostra observada, pois estimar a intensidade

de um padrão de pontos é como estimar uma densidade de probabilidade bivariada.

Assim sendo, em sentido contrário, pode-se adaptar a estimativa bivariada de Kernel

para se obter uma estimativa de intensidade do padrão de pontos (TERUIYA, 1999).

2.4.1. O Estimador de densidade do Kernel

Embora ligados ao SIG, que dela faz uso em suas diferentes formas,

possibilitando diferentes análises em diversos níveis, sua existência é anterior ao

SIG ou até mesmo à própria inclusão de sistemas automatizados e digitais, sendo

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28

um conjunto de técnicas utilizadas para analisar fenômenos que variam segundo o

espaço.

O estimador Kernel é um interpolador, que possibilita a estimação da

intensidade do evento em toda a área, mesmo nas regiões onde o processo não

tenha gerado nenhuma ocorrência real. Ele é um estimador probabilístico não-

paramétrico (não utiliza média e desvio padrão como parâmetro e não segue uma

distribuição normal ou não tem elementos suficientes para afirmar que seja normal).

Uma característica importante é que ele se baseia na ordem (postos, ranks) dos

dados. Sua única premissa básica é que ao se avaliar a ocorrência de eventos no

espaço, tem que se considerar a localização dos eventos como aleatória. De forma

simplificada, podemos dizer que o estimador do kernel consiste em estimar o

número esperado de eventos por unidade de área. Como a técnica de intensidade

do kernel também pode ser considerada uma técnica de suavização,

adicionalmente, podemos ter o mapa de suavização considerando todos os eventos

e utilizá-lo para construir um mapa da proporção de eventos, o mapa de razão de

kernel.

Para compreender os estimadores por kernel é necessário primeiramente

compreender o conceito de histogramas, uma vez que foram suas desvantagens

que motivaram a criação destes estimadores. Os histogramas são os mais antigos e

utilizados estimadores de densidade (SILVERMAN, 1986). Dada uma origem x0e

uma caixa de largura h, as caixas do histograma são definidas pelos intervalos [x0+

mh; x0+ (m + 1)h [para inteiros m positivos ou negativos].

Um histograma é então definido por:

( )

{ }

Onde n é o número total de amostras e h é a largura da barra.

Na Figura 7, é apresentado um histograma que estima a densidade de classes

de dados que possuem média e desvio padrão diferentes. O número total de

amostras é igual a 153 e o número de barras utilizada (equivalente aos anos) é igual

a 16, que se refere à quantidade de intervalos de ocorrência, baseado no número de

anos estudados. Observa-se, grosseiramente a formação de uma distribuição

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bimodal. À medida que aumenta a largura da banda, aumenta a homogeneização da

informação e na proporção em que muda-se os agrupamentos, altera-se as médias,

a variância e o desvio padrão.

(a)

(b)

(c)

Figura 7: Sequencia de histograma apresentando diferentes agrupamentos do dados. (a) Condomínios agrupados por ano de construção, cada barra correspondendo a um ano; (b) Condomínios construídos agrupados em sequencias de 5 anos.; (c) Condomínios agrupados em dois conjuntos, com o ponto de separação o ano de 2001-2002.

(Figura elaborada pela autora)

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30

Devido às suas características, os histogramas não fornecem uma estatística

suave, dependendo da largura dos intervalos e dos pontos que são estabelecidos

como limites, além de apresentarem descontinuidade quando . Tais problemas

são amenizados utilizando-se o estimador de densidade do kernel. Assim, estimar a

intensidade de um padrão de pontos é como estimar uma densidade de

probabilidade bivariada. Um estimador de kernel, com kernel K, é definido por:

( )

(

)

Onde h é a largura da faixa e controla a suavização da superfície gerada, K é

uma função de kernel que satisfaz a condição:

( )

E é escolhida de forma adequada para construir uma superfície contínua sobre

os eventos e x1, x2, ... Xn são respectivamente uma localização qualquer na área de

estudo a ser estimada e Xnsão as localizações dos eventos observados ou seja,

amostras independentes e identicamente distribuídas de uma variável aleatória e n

representa o número d eventos (BAILEY e GATRELL, 1995).

São vários os tipos de estimadores de kernel: o gaussinao ou normal, quártico,

triangular, exponencial negativo, uniforme. As diferentes funções do kernel irão

processar as informações de forma ligeiramente diferentes: a distribuição normal

pesa os pontos dentro do círculo de forma que pontos mais próximos são pesados

mais intensamente comparados aos mais afastados. A distribuição uniforme pesa

todos os pontos dentro do círculo igualmente. A função quártica dá mais peso aos

pontos próximos do que aos distantes, mas o decréscimo é gradual. A função

triangular pesa os pontos próximos mais do que pontos distantes dentro do círculo,

mas o decrescimento é mais rápido. A função exponencial negativa pesa pontos

próximos muito mais intensamente do que os pontos distantes. O kernel, como uma

função de suavização, deve ser simétrica à origem. Assim, para os objetivos aos

quais este trabalho busca atingir, uma das melhores soluções é aplicar um kernel

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quártico. A partir daí, é possível estimar uma largura de banda ótima, pelo método

dos mínimos quadrados.

No aplicativo utilizado (Spring) foi utilizado o kernel quartico, definido por:

( )

( )

Em que s representa a distância entre uma localização a ser estimada e os

eventos observados.

Então, substituindo-se K(s) na equação do estimador de intensidade,

( )

∑ (

),

Tem-se,

( ) ∑

(

)

em que si é a distância entre o ponto a ser calculado X e o valor observado Xi..

Assim, a equação

( ) ∑

(

)

pode ser representada esquematicamente na Figura 8.

Figura 8: Representação da ação do kernel sobre uma distribuição de pontos no espaço. Técnica de alisamento que utiliza janela móvel e função que dá a cada área

um peso variável conforme a distância.

(Fonte: Silverman, 1986)

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De maneira simples, pode-se considerar o método da estimativa da densidade

do kernel, também conhecido como Janela de Parzen, como consistindo de um

histograma contínuo, cujos blocos são centralizados em cada um dos pontos de

dados de onde se quer estimar a densidade. A função de kernel utilizada define o

formato dos “picos” observados nos dados, sendo o estimador uma soma dos

“picos” (Figura 9).

Figura 9: Estimador de kernel mostrando os picos individuais.

(Fonte: SILVERMAN, 1986)

No caso apresentado, referente à concentração dos condomínios fechados em

Feira de Santana, o objetivo foi gerar uma grade em que cada célula representa o

valor da intensidade ou densidade. O valor seria uma medida de influência das

amostras na célula. No caso deste trabalho, utilizando-se um Kernel quártico, que é

o modelo adotado pelo aplicativo Spring, para se obter uma estimativa da

intensidade do padrão de pontos.

O aplicativo utilizado, o Spring 4.3.3, apresenta a opção de adaptar o raio do

círculo de vizinhança de modo que numa área com elevada concentração de pontos

o raio é pequeno, mas nas áreas onde a concentração dos pontos é menor, então o

raio será maior. O que o software faz é encontrar uma estimativa inicial da

intensidade do processo ( ( )), que é obtida com um raio fixo: √ ,

onde n é o número de eventos e R é a área da região. Com isso, calcula-se a média

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geométrica das estimativas iniciais ( ( )), onde ( ):são as

localizações dos n eventos observados. Finalmente, os raios adaptativos são da

forma: ( ) (

( )), onde é a média aritmética. Desta forma, a função de

intensidade de Kernel com raio adaptativo do Spring fica da seguinte forma:

( )

( ( )

( )) ( ) ( )

Neste trabalho, foram utilizadas noções de informações geográficas, uma vez

que utilizou-se um SIG para o georreferenciamento dos dados e análise espacial dos

mesmos. Esta análise forneceu, como resultados, mapas de intensidade dos dados

espaciais. Tais dados representam a localização pontual de condomínios fechados

em Feira de Santana, no período analisado. Estes representam importantes focos de

crescimento, sendo assim, a sua análise deve estar embasada e fundamentada em

todo processo de urbanização do município. No capítulo que segue, serão

apresentadas características relacionadas com a expansão e a urbanização de Feira

de Santana.

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3. A urbanização em Feira de Santana

Este capítulo tem como objetivo explicar a evolução do desenho urbano de

Feira de Santana, através da análise das direções de expansão. Além disto, são

apresentados os aspectos biofísicos e socioeconômicos do município. Ainda é

discutido sobre o surgimento e expansão de condomínios fechados na cidade e as

políticas habitacionais desde a década de 1990.

3.1. Evolução do desenho urbano

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a cidade de Feira de Santana

surgiu no século XVIII em uma rota de boiadeiros, no período de interiorização da

criação do gado. A opção pela produção de açúcar de cana para exportação, na

área litorânea, inviabilizava economicamente a criação de gado, pois as terras

deveriam ser ocupadas pela lucrativa atividade canavieira. O ajuntamento constante

de vaqueiros e tropeiros juntos as aguadas do pequeno povoado levaram a

formação de um núcleo de comércio que se expandiu com facilidade, face ao fato de

ser rota comum para o envio de gado do interior para o município de Cachoeira,

segunda principal cidade do estado, depois de Salvador.

Grande parte do gado que abastecia Salvador, no século XVIII, provinha da

feira de Nazaré. Estes animais, vendidos em Nazaré para consumo na capital,

teriam de fazer o percurso em pequenas embarcações, ou dar a volta em toda a

baía.

Isto acarretava despesas e alguns inconvenientes. Por conta disto, os

fazendeiros passavam a enviar o gado, cada vez mais em um número maior para

Feira de Santana. O comércio de gado serviu de atrativo para outras atividades e

para aumentar o contingente demográfico.

Em 1832, fundou-se a Vila do Arraial de Feira de Sant’Anna, constituída pelas

Freguesias de São José das Itapororocas (sede), Sagrado Coração de Jesus do

Perdão e Santana do Camisão, atual município de Irará. Em 1837, se emancipou do

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município de Cachoeira, constituindo-se em Cidade Comercial de Feira de Santana,

mediante Lei Provincial de criação nº 1.320 de 16 de junho de 1873. Os decretos

estaduais simplificaram o nome para Feira. O decreto estadual nº 11.089, de 30 de

novembro de 1938, oficializou a denominação do município: Feira de Santana

(IBGE, 2005).

Para entender a expansão da cidade, faz-se necessário analisar alguns fatos

que foram marcantes nesse processo. Segundo Freitas (1998), um destes foi a

inauguração da estrada Bahia-Feira (hoje, denominada BR-324), em 1926, com 144

quilômetros. A ligação com a capital do Estado foi determinante para o crescimento

da zona sul da cidade. A transferência do Terminal Ferroviário da Praça da Matriz

para a área denominada hoje, Ponto Central promoveu a urbanização da região. A

estrada de ferro também influenciou na formação do bairro Tomba ao Sul. A

instalação do campus da UEFS, em 1976, às margens da BR-116 norte, evidencia a

expansão da zona norte.

Além disto, foi construído pela URBIS, em 1968, o primeiro conjunto

habitacional Feira I, denominado Cidade Nova, com 1666 unidades habitacionais.

No mesmo ano, foi elaborado o Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI),

com o objetivo de corrigir as distorções, ordenar e disciplinar o uso e ocupação do

solo urbano. No ano seguinte, foi aprovada a 1ª Lei de Zoneamento, que dividia a

cidade em oito zonas de quatro tipos: comercial, industrial, residencial e mista. A Lei

deixa clara, também, a localização do Centro Industrial do Subaé (CIS), que foi

implantado em 1970, na zona sul da cidade (FREITAS, 1998).

A Figura 10 apresenta a expansão de Feira de Santana, através da evolução

da mancha urbana até 1986.

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Figura 10: Evolução da zona urbana de Feira de Santana até 1986

(Fonte: SANTO, Sandra M., 1997)

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Com a análise da Figura 10, percebe-se que até 1962, não havia uma

direção de expansão definida e após isso, começa a haver uma tendência de

expansão entre Norte e Sudeste. Entre 1967 e 1986, percebe-se claramente a

urbanização a Norte, “atraída” pelo campus da UEFS e a Sul, devido à implantação

do CIS.

Os conjuntos habitacionais também foram marcantes no processo de

urbanização da Feira de Santana, uma vez que era através deles que o poder

público direcionava o crescimento da cidade. Isso quer dizer que, geralmente a

cidade crescia onde se implantava os conjuntos.

Nas proximidades do Feira I, o Instituto de Orientação às Cooperativas

Habitacionais (INOCOOP) construiu vários conjuntos residenciais entre as décadas

1970 e 1990, como mostra a tabela 1.

Tabela 1: Conjuntos habitacionais construídos pelo INOCOOP, nas décadas de 1970 a 1990

Nome Ano Tipo de

construção Unidades

Localização na cidade

Conj. Centenário 1972 Casas 291 Norte

Conj. ACM 1977 Casas 178 Norte

Conj. Milton Gomes 1978 Casas 203 Norte

Conj. Morada das Árvores 1979 Casas 270 Norte

Conj. João Paulo II 1980 Casas 410 Norte

Cond. Vale dos Rios 1980 Apartamento 126 Norte

Conj. Morada do Sol 1981 Casas 340 Oeste

Cond. José Falcão 1983 Apartamento 126 Norte

Cond. J. J. Lopes de Brito 1985 Apartamento 224 Noroeste Cond. Parque das

Acácias 1988 Apartamento 210 Centro

Cond. Prisco Viana 1989 Apartamento 168 Norte

Cond. Parque Cajueiro 1991 Apartamento 360 Sul

Cond. Lagoa Grande 1991 Apartamento 640 Norte Fonte: (Lima, 1994, apud Freitas, 1998)

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A URBIS também construiu vários conjuntos habitacionais, voltados para a

população de baixa renda entre 1968 e 1985, conforme Tabela 2:

Tabela 2: Conjuntos habitacionais construídos pela URBIS, nas décadas de 1960 a 1980.

Nome Ano Tipo de

construção Unidades

Localização na cidade

Feira I 1968 Casas 291 Norte

Feira II 1970 Casas 178 Norte

Feira III 1977 Casas 203 Sul

Feira IV 1980 Casas 270 Oeste

Feira V 1983 Casas 410 Norte

Feira VI 1984 Casas 126 Norte

Feira X 1985 Casas 340 Sudoeste Fonte: Lima, 1994, apud Freitas, 1998

Os conjuntos habitacionais estão localizados, em sua maioria, na região Norte

e Sudoeste da cidade. Nas proximidades do CIS, foram construídos pela iniciativa

privada, nos anos 90, os conjuntos Francisco Pinto, Luciano Barreto e Oyama

Figueiredo, através de financiamento da Caixa Econômica Federal. Foram

construídos ainda com empreendimentos mistos, os conjuntos Feira VII e Feira IX.

A Figura 11 mostra a localização dos conjuntos habitacionais supracitados,

construídos pela URBIS e pelo INOCOOP.

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Figura 11: Conjuntos habitacionais construídos pela URBIS e INOCOOP na cidade de Feira de Santana (BA) entre 1968 e 1991

(Figura elaborada pela autora)

Acompanhando a expansão urbana, houve também o adensamento

populacional da cidade, como se analisa através da Tabela 3.

Tabela 3: População de Feira de Santana, de 1940 a 2010.

População

Total População

Urbana %(urbana)

População Rural

%(rural)

1940 83.268 19.660 23,60 63.608 76,40

1950 107.205 34.277 32,00 72.928 68,00

1960 141.757 69.884 49,30 71.873 50,70

1970 190.076 134.263 70,60 55.813 29,40

1980 291.504 233.905 80,20 57.599 19,80

1991 406.447 349.557 86,00 56.890 14,00

1996 450.487 393.943 87,50 56.544 12,50

2000 480.949 431.730 89,80 49.219 10,20

2010 556.642 510.635 91,73 46.007 8,270 Fonte: IBGE – Censos demográficos, 1940 a 2010.

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Desde que se começou a levantar dados sobre a população em Feira de

Santana, ela se apresenta crescente. A maior taxa de crescimento geométrico foi

5,3% e aconteceu na década de 1970. Nos últimos 10 anos (2000 a 2010), esta taxa

foi de, aproximadamente, 1,6%.

A Figura 12 mostra graficamente esse aumento da população entre 1940 e

2010, em termos comparativos entre urbana e rural, apresentando valores relativos.

Figura 12: População urbana e rural de Feira de Santana, em valores relativos no período de 1940 a 2010.

Fonte dos dados: IBGE (Figura elaborada pela autora)

Percebe-se, com a análise do gráfico, que até 1960, a população era

predominantemente rural e a partir desta década, a população passou a ser

majoritariamente urbana. Essa expansão se dá pelos motivos já citados

anteriormente relacionados à construção de conjuntos habitacionais e a outros fatos

marcantes para a urbanização da cidade. A Figura 13 mostra o crescimento da

população urbana, rural e total de Feira de Santana, em valores absolutos.

Perc

entu

al da p

op

ula

ção

ANO

População urbana e rural de Feira de Santana, em

valores relativos no período de 1940 a 2010

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Figura 13: População urbana, rural e total de Feira de Santana, em valores absolutos no período de 1940 a 2010.

Fonte dos dados: IBGE (Figura elaborada pela autora)

A Figura 14 mostra a cidade de Feira de Santana com a apresentação da

atual divisão de bairros. A cidade possui 44 bairros e destes, 21 estão inscritos na

área do Anel de Contorno, 21 estão na área externa ao Anel e outros 2 possuem

parte de sua área interna e outra, externa à região delimitada pelo anel de contorno.

ANO

População urbana, rural e total de Feira de Santana,

em valores absolutos no período de 1940 a 2010

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Figura 14: Cidade de Feira de Santana, com atual divisão de bairros

Fonte: Prefeitura Municipal de Feira de Santana, 2000 (Figura elaborada pela autora)

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3.2. Surgimento e expansão dos condomínios fechados

Os condomínios fechados, dentro do conceito adotado hoje na literatura, e

assumido neste trabalho, começaram a surgir em Feira de Santana, no início da

década de 90, acompanhando assim, a tendência de várias outras cidades no Brasil

e no mundo.

A construção intensa, de acordo com os interesses dos incorporadores

imobiliários e com pouco planejamento ou controle por parte do Estado, além de

transformar completamente a paisagem, cria um espaço complexo. Em Feira de

Santana, percebe-se a impermeabilização do tecido urbano, como apresentam as

Figuras 15 e 16, que mostram um condomínio rodeado de um muro de grande

extensão. Não é raro o inconveniente de ter de contornar esses imensos blocos,

quando da necessidade de se deslocar de um ponto a outro, dificultando a

mobilidade urbana. É apresentada também a localização do condomínio mostrado

na Figura.

Figura 15: Condomínio Vila Olímpia cercado por extenso muro, localizado à Rua Itamar Carvalho - Pedra do Descanso, em Feira de Santana

(Foto tirada pela autora em dezembro/2011)

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(Foto tirada pela autora em dezembro/2011)

O processo de privatização do espaço público em Feira de Santana também

apresenta semelhanças com de outros centros urbanos brasileiros, na medida em

que o acesso controlado e o imponente sistema de segurança bloqueiam a

circulação de pessoas “não autorizadas”. A guarita é o principal promovedor desta

provável segurança e a Figura 17 mostra este tipo de instalação em condomínio

fechado em Feira de Santana.

Figura 16: Condomínio Vila Olímpia cercado por extenso muro, localizado à Rua Itamar Carvalho - Pedra do Descanso, em Feira de Santana

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Figura 17: Guarita em entrada do Condomínio Terra Nova, localizado à Av. Artemia Pires Freitas, SIM em Feira de Santana

(foto tirada pela autora em dezembro, 2011)

3.3. Políticas Habitacionais

Nesta seção serão apresentados os principais programas e aspectos da

Política Habitacional no Brasil no período de estudo.

Segundo Bonates (2008), entre 1990 e 1992, no governo Collor, foram

criados programas habitacionais, que operavam com a fonte de recursos tradicional

do setor, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). As unidades

habitacionais tornaram-se muito custosas, pelo fato de os programas voltarem-se

para o financiamento dos agentes privados. No governo seguinte, de Itamar Franco,

foram criados dois programas, o Habitar-Brasil e o Morar Município, alimentados

com o Orçamento Geral da União.

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46

A partir de 1995, com o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, foi

elaborada uma Política Nacional de Habitação (PNH) mais consistente e composta

por inúmeros programas voltados para lidar com as necessidades habitacionais

tanto quantitativas quanto qualitativas.

No segundo mandato de FHC, foram assegurados todos os programas que já

vinham sendo desenvolvidos e criados dois novos: o Programa de Subsídio à

Habitação (PSH) e o Programa de Arrendamento Residencial (PAR). Este foi criado

em 1999 e, no início, se destinava apenas àquela população com renda mensal de

até seis salários mínimos, podendo chegar a oito salários. Depois, com o governo

Lula, o programa sofreu algumas alterações, na tentativa de se adequar ao mais

recente cenário político do país.

Em 2003, houve a realização de Conferências Municipais, realizadas em 3457

municípios brasileiros, culminando com a 1ª Conferência Nacional em outubro, na

qual foi eleito o Conselho das Cidades.

Desse processo participativo, resultou também a PNH de 2004 que tem,

segundo o Ministério das Cidades, o objetivo de “retomar o processo de

planejamento do setor habitacional e garantir novas condições institucionais para

promover o acesso à moradia digna a todos os segmentos da população”.

Em 2007, foi lançado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),

contendo um conjunto de medidas que visam contribuir para a elevação das taxas

de crescimento econômico do país, através do aumento do investimento em

infraestrutura, do estímulo ao financiamento e ao crédito, da melhora do ambiente de

investimentos, da desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário e da adoção

de medidas fiscais de longo prazo.

Um dos principais eixos do PAC é o de Crédito e Financiamento, criando

novos incentivos à expansão do crédito. O foco é direcionado ao crédito produtivo de

longo prazo, com ênfase nas áreas habitacional e de infraestrutura (DIEESE,

2007).

Em 2009, é lançado o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV). No Art.

1º da Lei 11.977/09, que dispõe sobre o Programa, lê-se:

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47

“Art. 1o O Programa Minha Casa, Minha Vida tem por finalidade criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e produção ou reforma de habitações rurais (...)”

A meta do Programa em 2009, era viabilizar o acesso a 1 milhão de moradia

por parte de famílias com renda de até 10 salários mínimos.

É possível inferir que estes programas lançados nas últimas duas décadas

tem influência direta no significativo aumento do número de condomínios fechados

em Feira de Santana. Esse e outros resultados serão discutidos no capítulo que

segue.

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48

4. Resultados e discussões

O presente capítulo traz a apresentação dos resultados da pesquisa, além de

uma discussão sobre estes. O processo de modelagem da análise espacial deve ser

precedido de uma fase de análise exploratória, associada à apresentação visual dos

dados sob forma de gráficos e mapas e a identificação de padrões de distribuição

espacial (DRUCK, 2004).

A pesquisa feita para a elaboração deste trabalho foi baseada em coleta de

dados históricos a partir de 1995. A Figura 18 mostra a evolução do número de

condomínios fechados em Feira de Santana ao longo dos anos.

Figura 18: Condomínios fechados construídos em Feira de Santana entre 1995 e 2010

Fonte dos dados: Secretaria de Desenvolvimento Urbano (figura editada pela autora)

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Condomínios Fechados construídos em Feira de Santana entre 1995 e 2010

ANO

mero

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co

nd

om

ínio

s

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49

Para a análise dos dados, o período compreendido entre 1995 e 2010 foi

dividido em três partes, objetivando uma melhor visualização e análise dos

resultados. Essa divisão será utilizada também para a análise temporal de

ocorrência dos eventos. O primeiro intervalo de tempo é correspondente aos anos

entre 1995 e 2000. Neste período, a média de condomínios construídos por ano foi,

aproximadamente 4,3. Percebe-se que há um primeiro pico no ano 2000, com a

construção de 12 condomínios, valor que só voltou a se repetir em 2005.

O segundo período corresponde aos anos entre 2000 e 2005. Nesse tempo,

houve um significativo aumento do número de condomínios construídos em Feira de

Santana. A média anual é maior que 8,4 condomínios.

E no terceiro período, entre 2005 e 2010, percebe um segundo pico no ano de

2007, no qual foram construídos 23 condomínios, quase o dobro do ano anterior.

Esse aumento é consequência, principalmente, das políticas habitacionais criadas

ao longo desses anos, que geraram uma média de 17 condomínios construídos por

ano. Para que se entendam as causas de tal aumento é necessário o entendimento

do processo de tentativa do governo federal de solucionar os problemas de moradia

no Brasil desde a década de 1990, assunto discutido no item que segue.

O crescimento relativo entre os três períodos analisados é mostrado na

Tabela 4:

Tabela 4: Evolução do número de

condomínios fechados entre 1995 e 2010

Período Quantidade de

cond. construídos

Aumento relativo

1995 a 2000 26

162%

2000 a 2005 42

202% 2005 a 2010

85

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50

Entre 2000 e 2005, houve um crescimento de 162% relativamente aos 5 anos

anteriores. Já entre 2005 e 2010, esse aumento foi de 202%, em relação aos 5 anos

antecedentes.

A Figura 19 mostra a influência de distintas políticas habitacionais no

aumento do número de condomínios em Feira de Santana. Percebe-se que os picos

identificados na análise feita no item anterior coincidem com o lançamento de

programas importantes. O pico do ano 2000 acontece um ano após o lançamento do

PAR; em 2007, ano em que se registrou um segundo pico, coincide com o

lançamento do PAC. Registrou-se também um crescimento entre 2009 e 2010,

devido ao lançamento do Programa Minha Casa, Minha Vida. Em 2008, ocorre um

fenômeno atípico, que rompe com a tendência de crescimento dos anos anteriores.

Atribui-se como causa desse rompimento um agente econômico não identificado.

Figura 19: Marcos na Política Habitacional no Brasil X Número de condomínios fechados em Feira de Santana (1995 a 2010)

(Figura elaborada pela autora)

0

5

10

15

20

25

1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009

Número deCondomíniosem Feira deSantana

Marcos na Políticas Habitacional no Brasil X Número de condomínios fechados em Feira de Santana (1995 a 2010)

Elaboração da PNH

Reformulação

da PNH. Lançamento

do PAC. Lançamento do PMCMV

Criação do PAR

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51

A Figura 20 é a representação pontual da ocorrência de condomínios

fechados entre 1995 e 2010.

Figura 20: Localização dos condomínios fechados construídos em Feira e Santana entre 1995 e 2010.

Fonte dos dados: Secretaria de Desenvolvimento Urbano (figura elaborada pela autora)

As Figuras 21, 22 e 23 pontuam separadamente a ocorrência nestes três

períodos de tempo. É possível perceber que até 2005, os condomínios eram mais

concentrados dentro dos limites do anel de contorno e após isso, começou a haver

uma extrapolação dos limites do anel, com uma preferência de expansão no

quadrante definido pelos eixos Norte-Leste. Há ocorrência concentrada ainda em

determinados locais internos ao anel de contorno.

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52

Figura 21: Localização dos condomínios fechados construídos entre 1995 e 2000

Figura 22: Localização dos condomínios fechados construídos entre 2000 e 2005

Figura 23: Localização dos condomínios fechados construídos entre 2005 e 2010

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53

A partir de tratamento estatístico dos dados e análise espacial, foram obtidas

as imagens mostradas nas Figuras 24, 25, 26 e 27. Trata-se de uma análise

espacial temporal, na qual é possível perceber a intensidade de concentração de

condomínios fechados em Feira de Santana ao longo dos anos. É apresentado o

índice de Kernel correspondente a cada classe de intensidade. Na Figura 24, é

mostrada a análise do período compreendido entre 1995 e 2000.

Figura 24: Intensidade de concentração de condomínios fechados construídos em Feira de Santana (BA) entre 1995 e 2000.

(Figura elaborada pela autora)

Na Figura 24, percebe-se uma maior concentração em área inscrita ao anel

de contorno. Na extensão da Av. Maria Quitéria, em direção à Cidade Nova se

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registrou intensidade média alta. Há uma concentração máxima no bairro Santa

Mônica e Lagoa Salgada. Aproximadamente 32% dos condomínios construídos

estavam localizados nos dois bairros no período.

Na Figura 25, é analisado o período compreendido entre 2000 e 2005.

Figura 25: Intensidade de concentração de condomínios fechados construídos em Feira de Santana (BA) entre 2000 e 2005

(Figura elaborada pela autora)

A análise da Figura 25 faz perceber que houve um aumento do número de

condomínios construídos entre 2000 e 2005 quando se compara com os cinco anos

anteriores. A ocorrência permaneceu ainda mais frequente em áreas inscritas ao

anel de contorno, com 74% dos condomínios nesta região. Houve uma expansão

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direcionada a Oeste, e registrou-se uma intensidade média alta no bairro Jardim

Acácia, alcançando o Muchila. Mas ainda assim, a expansão a Leste é evidente: o

bairro Santa Monica, principalmente o sub-bairro Santa Mônica I, permanece

apresentando alta intensidade de concentração e em outros bairros passa a

acontecer o mesmo: Capuchinhos, Brasília, Serraria Brasil e Olhos d’Água. O bairro

Capuchinhos apresentou nível alto de intensidade de concentração em 98 % de sua

área.

Na Figura 26, analisa-se o período compreendido entre 2005 e 2010.

Figura 26: Intensidade de concentração de condomínios fechados construídos em Feira de Santana (BA) entre 2005 e 2010

(Figura elaborada pela autora)

Av. Artêmia Pires

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56

A partir da análise da Figura 26, nota-se a tendência clara de afastamento

dos condomínios do centro da cidade, havendo, assim, uma extrapolação dos limites

do anel de contorno, com expansão em direção a Leste e Norte. Percebe-se que

houve um aumento proporcionalmente muito maior neste período, se comparado

com os dois primeiros terços do período total analisado. Prova disso é o fato de que

nestes últimos cinco anos, cita-se como MUITO ALTA a intensidade de

concentração máxima. É observado também o surgimento de uma alta intensidade

de concentração na Avenida Artêmia Pires, que já se mostra como um importante

vetor de expansão urbana.

A Figura 27 apresenta a situação no período total analisado, que corresponde

aos anos entre 1995 e 2010.

Figura 27: Intensidade de Concentração de condomínios fechados construídos em Feira de Santana (BA) entre 1995 e 2010.

(Figura elaborada pela autora)

Av. Artêmia Pires

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57

Com a análise da Figura 27, percebe-se que há dois pólos principais, nos

quais há uma alta intensidade de concentração: (1) bairro Conceição e (2) bairros

Santa Mônica e Lagoa Salgada. Registrou-se também uma intensidade média alta

nas áreas circunvizinhas a estas e ainda no Papagaio, Cidade Nova, Serraria Brasil.

Recentemente, surgiu um importante eixo de expansão, que corresponde à

extensão da Av. Artêmia Pires, localizada no limite entre os bairros S.I.M. e Santo

Antônio dos Prazeres. Há uma ocorrência isolada de intensidade média baixa no

bairro Pedra do Descanso.

A Figura 28 representa graficamente a evolução do número de condomínios

dos principais bairros.

Figura 28: Evolução do número de condomínios fechados construídos em bairros de Feira de Santana

(Figura elaborada pela autora)

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10

Conceição

Lagoa Slagada

St Ant. Prazeres

Sta Monica

Parque Ipe

Evolução do número de condomínios fechados em

bairros de Feira de Santana entre 1995 e 2010

me

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on

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Ano

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É possível perceber que há bairros, como Lagoa Salgada e Santa Mônica,

nos quais há presença de condomínios desde a década de 90. Estes apresentam

uma curva com inclinação mais suave, que corresponde a um crescimento mais

constante e uniforme. Já outros apresentaram uma repentina expansão após 2005,

mostrada pela inclinação maior na segunda metade da curva. Isso aconteceu nos

bairros Parque Ipê, Santo Antônio dos Prazeres e Conceição. Este último é hoje, o

bairro com maior concentração de condomínios em valor absoluto, com 14

ocorrências, seguido da Lagoa Salgada, com 12.

A correlação e análise destes resultados apresentados permitem que se faça

algumas conclusões, que serão apresentadas no capítulo seguinte.

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5. Conclusões

O estudo feito para a elaboração deste trabalho permitiu perceber que o

relevo é um dos fatores condicionantes na expansão urbana de Feira de Santana.

Assim, justifica-se a predominância dos vetores de expansão a Leste e Norte,

regiões de tabuleiro, onde o relevo é mais aplainado.

Constatou-se ainda que a expansão de Feira de Santana se deu em dois

momentos distintos. O primeiro, que se estende até a década de 1980, se

caracteriza por um forte controle do poder público no crescimento urbano e a

urbanização da cidade esteve diretamente relacionada à construção de conjuntos

habitacionais e outros fatos determinantes pelo Estado, como a instalação do

campus da UEFS e a inauguração da BR-324 num passado recente.

Já o segundo momento, foco do recorte temporal feito neste trabalho,

compreende o período desde a década de 1990 até os dias atuais, é caracterizado

por uma inversão de papéis entre o poder público e iniciativa privada, uma vez que o

Estado passou a ter pouco controle e planejamento sobre o mercado imobiliário, que

é regido de acordo com os interesses de construtores e incorporadores imobiliários.

Esse processo de inversão é verificado pela proliferação de condomínios fechados

na cidade a partir de 1995, que ocorreu após o lançamento de políticas públicas, na

forma de programas habitacionais.

A análise espacial da distribuição dos condomínios na zona urbana de Feira

de Santana fez notar que a expansão destes apresenta uma tendência a Leste e

Norte, ainda justificada pela facilidade maior em construir nessas regiões.

Inicialmente, na década 1990, houve uma concentração dentro dos limites do anel

de contorno e após 2005, os condomínios passaram a divergir. Foram identificados

bairros nos quais os condomínios sempre estiveram presentes desde 1995, tais

como Lagoa Salgada, Santa Mônica e Cidade Nova. Por outro lado, há outros onde

a sua proliferação é mais recente: Conceição, Santo Antônio dos Prazeres e Parque

Ipê.

Para futuros estudos, sugere-se que se analise a tipologia dos condomínios

que tem surgido em Feira de Santana, contemplando aspectos como renda e nível

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de escolaridade dos moradores, tamanho e tipo das unidades, infraestrutura

disponível, entre outros. Assim, será possível que se perceba a segregação social

entre moradores de condomínios, permitindo concluir se pessoas de baixa renda

estão vivendo em zonas mais afastadas do centro da cidade ou se moram em área

urbanizada, com infraestrutura disponível.

É interessante que se estude também as áreas de interesse das construtoras,

para que se possa fazer previsões dos locais onde futuramente serão construídas

edificações.

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