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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR PROCESSO INFECCIOSO E ATIVIDADE DE ENZIMAS EM FRUTOS DE CACAUEIRO DE GENÓTIPO RESISTENTE E SUSCETÍVEL À VASSOURA-DE-BRUXA DO CACAUEIRO CAUSADA POR Moniliophthora perniciosa IVANNA MICHELLE MERAZ PÉREZ ILHÉUS BAHIA BRASIL Agosto de 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E

BIOLOGIA MOLECULAR

PROCESSO INFECCIOSO E ATIVIDADE DE ENZIMAS EM

FRUTOS DE CACAUEIRO DE GENÓTIPO RESISTENTE E

SUSCETÍVEL À VASSOURA-DE-BRUXA DO CACAUEIRO

CAUSADA POR Moniliophthora perniciosa

IVANNA MICHELLE MERAZ PÉREZ

ILHÉUS – BAHIA – BRASIL

Agosto de 2016

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IVANNA MICHELLE MERAZ PÉREZ

PROCESSO INFECCIOSO E ATIVIDADE DE ENZIMAS EM FRUTOS

DE CACAUEIRO DE GENÓTIPO RESISTENTE E SUSCETÍVEL À

VASSOURA-DE-BRUXA DO CACAUEIRO CAUSADA POR

Moniliophthora perniciosa

Dissertação apresentada à

Universidade Estadual de Santa Cruz, como

parte das exigências para obtenção do título

de Mestre em Genética e Biologia

Molecular.

Área de Concentração: Genética e

Biologia Molecular

ILHÉUS – BAHIA – BRASIL

Agosto de 2016

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PROCESSO INFECCIOSO E ATIVIDADE DE ENZIMAS EM FRUTOS

DE CACAUEIRO DE GENÓTIPO RESISTENTE E SUSCETÍVEL À

VASSOURA-DE-BRUXA DO CACAUEIRO CAUSADA POR

Moniliophthora perniciosa

Dissertação apresentada à

Universidade Estadual de Santa Cruz, como

parte das exigências para obtenção do título

de Mestre em Genética e Biologia

Molecular.

Área de Concentração: Genética e

Biologia Molecular

APROVADA:

_______________________________

Prof.ª Dr.a Suely Xavier De Bruto Souza

(ADAB/COREG)

_______________________________

Prof. Dr. Eduardo Gross

(UESC)

______________________________

Prof. Dr. Carlos Priminho Pirovani

(UESC)

______________________________

Prof.ª Dr.a Karina Peres Gramacho

(CEPLAC/UESC)

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iv

“Conte-me e eu esqueço. Mostre-me e eu apenas

me lembro. Envolva-me e eu compreendo. ”

(Confúcio)

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v

Ao anjinho no céu me cuidando e procurando

sempre por mim, o melhor irmão do mundo. “De

vez em quando eu penso em ti. De vez em quando

eu te sinto. De vez em quando eu te choro. Tão

perto que nem posso te alcançar tão longe que não

consigo te esquecer. ” (Fernando Barbosa Filho)

DEDICO

Aos meus pais e irmã por acreditar em mim mesmo

quando eu não era capaz e sempre estar ao meu

lado, mesmo só em pensamento, todas as vezes

que precisei. Muito obrigada mãe pelos sacrifícios

que você sempre fez para que os meus sonhos se

realizassem.

Com muito amor

OFEREÇO

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AGRADECIMENTOS

Deus e ao São Miguel Arcanjo, aqueles dois seres tão importantes na minha vida que

nunca me deixaram sozinha, que sempre me deram força, vontade e serenidade, que me

ajudaram a persistir diante das dificuldades desta aventura.

À Dr.a Karina Gramacho, orientadora, amiga, confidente, conselheira e minha mãe

científica. Muito obrigada por fazer crescer em mim a paixão pela pesquisa e pelo ensinamento.

Obrigada, por compartilhar seus conhecimentos. Obrigada, pela contribuição ao meu

desenvolvimento e crescimento profissional pessoal ao longo desta viagem. Eu levo você no

meu coração.

À Dra Kaleandra Sena e Dra Virginia L. F. Soares, pela co-orientação e contribuição na

realização deste trabalho.

Ao mestrado em Genética e Biologia Molecular da Universidade Estadual de Santa

Cruz, por me receber e passar para mim tantos conhecimentos através dos maravilhosos

professores que me deram aula.

Ao professor Ronan Xavier Correa, assessor de relações internacionais da UESC; muito

obrigada, pela ajuda e apoio incondicional.

Ao Consejo Nacional de Ciencia y Tecnologia dos Estados Unidos Mexicanos

(CONACYT), pela oportunidade e apoio financeiro indispensável para a realização da pós-

graduação.

Ao Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC) da Comissão Executiva da Lavoura

Cacaueira (CEPLAC), pela permissão da execução do trabalho em suas dependências.

Aos doutores Uilson Vanderlei Lopes e Carlos Priminho Pirovani, pelas excelentes

sugestões e colaboração neste trabalho.

À doutora Mariana Barreto Araújo e muito em especial a doutora Yaska Janaina Bastos

Soares, pela colaboração, conselhos e infinita disponibilidade de ajudar sempre que precisei.

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Aos colegas, amigos e família do laboratório de Fitopatologia Molecular da

CEPLAC/CEPEC; Keila, Rafaela do Mar, Rafaela Andrade, Analine, Nara, Marcos, Joselito,

seu Zé, pela ajuda, convívio, amizade e momentos compartilhados. Minha querida Mariana

Carvalho, um agradecimento especial para você, pelos conselhos, ajuda e boas “vibes” que

sempre me deu.

Aos alunos de Iniciação Científica; meu querido Renato, Leandro, Israel, Alex, Julia,

Michelle, Ailton, e outros, pelo apoio, companheirismo e risadas compartilhadas.

Às secretárias do PPGGBM Fabrícia, Mara e Kátia, pelas risadas e apoio nos meus

dramas, bem como pela capacidade de atenção e ajuda sempre que necessitamos.

Aos amados meus pais, Luis e Ibet e minha querida irmã Antonieta, quem mesmo na

distância me deram aquela energia, apoio e amor que eu precisava nas horas mais difíceis desta

aventura. De maneira resumida.... Sem vocês eu sou NADA!

Ao meu irmão, R.N. Meraz Pérez, quem me observa desde o céu. Você é meu grande

anjo, graças a você eu consigo tudo!

À minha querida vovó de ferro, Ana Luz e aos meus queridos tios Sebastian, Jenny e

Aura, sem suas palavras de carinho eu provavelmente teria desistido desta incrível viagem, por

isso não tenho mais que dizer que MUITO OBRIGADA! Os amo!

Ao meu namorado Jonatan quem veio com o mesmo sonho que eu e que cada dia que

passou me mostrou seu apoio e amor incondicional.

Aos meus colegas mexicanos, Alberto e Yuliana, que compartilharam comigo parte

desta viagem cheia de aventuras, mesmo quando em algum ponto não deu certo, agradeço muito

seu apoio, as risadas e sobre tudo a força que me deram para continuar através das adversidades

da vida, desejo muito sucesso para vocês.

A todos que, direta ou indiretamente colaboraram na condução deste trabalho.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Papel na prevenção da infecção patogênica de diversas estruturas associadas à superfície das

plantas. FONTE: Autora, adaptado de Lázniewska et al., 2012. ........................................................... 16

Figura 2. Caracterização macroscópica dos sintomas da vassoura-de-bruxa do cacaueiro. A) meristema

apical com 2 dias após inoculação; B) leve inchamento do meristema; C) hipertrofia apical e inchação

da haste; D) vassouras verdes terminais com perdida de dominância apical; E) vassouras verdes

terminais axiais e F) vassoura necrotrófica ou seca. Sena et al., 2014. ................................................. 19

Figura 3. Sintomas da vassoura-de-bruxa do cacaueiro em frutos de cacaueiro. A) frutos com

conformação “cenoura”; B) frutos com conformação “morango”; C) lesões necróticas; D) halos

amarelados; E) pontuações pretas e duras e F) hidrólise de polpa e sementes. Silva et al., 2002. ........ 20

Figura 4. Caracterização da evolução sintomatológica da vassoura-de-bruxa do cacaueiro em frutos de

cacau de genótipos contrastantes para resistência a doença. ................................................................. 27

Figura 5. Eletromicrografia da superfície de frutos de cacaueiro de genótipos contrastantes a vassoura-

de-bruxa do cacaueiro mostrando as características da sua superfície e os tipos de tricomas. A) genótipo

suscetível (Catongo); relevo plano com presença de tricomas glandulares, B) tricoma estrelar composto

por célula basal (Cb) e ramificações (R), C) genótipo resistente (TSH1188); relevo amorfo com presença

de tricomas glandulares compostos por célula basal (Cb), pedículo (P) e célula secretora (Cs), e D)

camada amorfa de cera epicuticular (seta branca) no genótipo resistente. ............................................ 28

Figura 6. Eletromicrografia da superfície de frutos de cacaueiro de genótipos contrastantes a vassoura-

de-bruxa do cacaueiro mostrando a densidade de tricomas por genótipo no: A) Catongo genótipo

suscetível, B) TSH1188 genótipo resistente e, C) número médio de tricomas na superfície de ambos os

genótipos. Médias com letras diferentes apresentam diferença significativa (p<0,05) pelo teste de

Duncan a 5%. ........................................................................................................................................ 29

Figura 7. Eletromicrografia de varredura da superfície de frutos de cacaueiro de genótipos contrastantes

a vassoura-de-bruxa do cacaueiro. A, B, C) Catongo, genótipo suscetível, estômatos amonocíticos

localizados em criptas estomáticas. Cg= células guarda; *ostíolo. D, E, F) TSH1188 genótipo resistente,

estômatos amonocíticos com ausência de células subsidiarias. ............................................................ 30

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Figura 8. Eletromicrografia da caracterização do processo de pré-penetração de Moniliophthora

perniciosa em frutos de cacaueiro: A) basidiósporo (Es) com formação de hilo (*) aderido à superfície

do hospedeiro observado às 3HAI, B) basidiósporo rodeado de matriz mucilaginosa (seta vermelha)

com emissão e alongamento do tubo germinativo (Tg), C) basidiósporo rodeado de matriz mucilaginosa

(seta vermelha) e aparente dissolução da cera epicuticular do hospedeiro no local de contato com a

estrutura fúngica (seta branca), D-E) hifa rodeada de matriz mucilaginosa (seta vermelha),e D) hifa com

ponta “club-shaped” (Cs) sobre estômato (seta branca). ....................................................................... 32

Figura 9. Número médio de penetrações de Moniliophthora perniciosa por mm2 em frutos de cacaueiro

de genótipo suscetível e resistente a vassoura-de-bruxa do cacaueiro. Médias com letras diferentes

apresentam diferença significativa (p<0,05) pelo teste de Duncan a 5%. ............................................. 35

Figura 10. Determinação da atividade da peroxidase do guaiacol (GPx) em frutos de cacaueiro de

genótipos contrastantes à vassoura-de-bruxa do cacaueiro, inoculados e não inoculados com

Moniliophthora perniciosa. Médias com letras diferentes apresentam diferença significativa (p<0,05)

pelo teste de Duncan a 5%. ................................................................................................................... 37

Figura 11. Determinação da atividade da peroxidase do guaiacol (GPx) em frutos de cacaueiro de

genótipos contrastantes à vassoura-de-bruxa do cacaueiro, inoculados e não inoculados com

Moniliophthora perniciosa. Médias com letras diferentes apresentam diferença significativa (p<0,05)

pelo teste de Duncan a 5%. ................................................................................................................... 38

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Caracterização da evolução sintomática da vassoura-de-bruxa em frutos de cacaueiro de

genótipos contrastantes a doença. ......................................................................................................... 26

Tabela 2. Avaliação dos eventos de pré-penetração de Moniliophthora perniciosa em frutos de

cacaueiro de genótipos contrastantes a vassoura-de-bruxa do cacaueiro. ............................................. 31

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SUMÁRIO EXTRATO .............................................................................................................................................. iv

ABSTRACT ............................................................................................................................................ vi

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 8

REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................................. 12

2.1. A interação planta – patógeno e o estabelecimento da infecção .............................................. 12

2.2. Mecanismos de resistência e defesa das plantas contra fitopatógenos ..................................... 14

2.3. O patossistema Theobroma cacao – Moniliophthora perniciosa ............................................. 18

MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................................. 22

3.1 Obtenção do material vegetal, inoculação e avaliação fenotípica .............................................. 22

3.2 Processo infeccioso de Moniliophthora perniciosa em frutos de cacaueiro ............................ 23

3.3 Ensaios enzimáticos, determinação da atividade da peroxidase do guaiacol (GPx) e da

peroxidase do ascorbato (APx) ................................................................................................. 23

RESULTADOS ..................................................................................................................................... 25

4.1 Evolução dos sintomas de vassoura-de-bruxa em frutos de cacaueiro de genótipos

contrastantes ............................................................................................................................. 25

4.2 Caracterização dos mecanismos de resistência e do processo infeccioso de Moniliophthora

perniciosa em frutos de cacaueiro. ........................................................................................... 28

4.2 Analise enzimática das peroxidases de guaiacol (GPx) e do ascorbato (APx) ......................... 36

DISCUSSÃO ......................................................................................................................................... 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 44

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 45

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EXTRATO

MERAZ PÉREZ, Ivanna Michelle. Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, maio de

2016. Processo infeccioso e atividade de enzimas em frutos de cacaueiro de genótipos resistente

e suscetível à vassoura-de-bruxa do cacaueiro causada por Moniliophthora perniciosa.

Orientadora: Karina Peres Gramacho. Co-orientadores: Virginia Lucia Fontes Soares e

Kaleandra Freitas Sena.

Entre os métodos de controle para a vassoura-de-bruxa do cacaueiro (VBC), considerada

uma das principais doenças da cacauicultura brasileira, destaca-se o uso de genótipos

resistentes. Alterações no metabolismo das plantas elicitadas após infecção do patógeno, bem

como as estruturas presentes na sua superfície são consideradas mecanismos de resistência à

doença. Neste contexto, apesar da interação M. perniciosa – cacau em relação ao processo

infeccioso do patógeno e as respostas de resistência do hospedeiro à infecção em outros órgãos

sejam bem descritos na literatura, o conhecimento destes processos na interação M. perniciosa

– cacau (frutos) são poucos esclarecidos. Este trabalho foi conduzido sob hipótese de que frutos

de cacaueiro do genótipo TSH1188 apresenta mecanismos estruturais e bioquímicos que

dificultam ou retardam a ação de M. perniciosa. O experimento foi montado em campo, em

delineamento experimental inteiramente casualizado, com 2 genótipos e 3 repetições de 3 frutos

por tratamento (inoculado x não inoculado). Frutos dos genótipos TSH1188 (R) e Catongo (S),

obtidos de polinização aberta, foram inoculados com uma gota contendo uma suspenção de

basidiósporos na concentração de 2x105 esporos/mL. Os frutos controle foram inoculados com

água destilada estéril. Avaliações semanais de sintomas característicos da doença foram

realizadas por fruto. Amostras provenientes da região inoculada foram coletadas nos tempos,

3, 5, 6, 8, 12 horas após inoculação (HAI) e processadas para microscopia eletrônica de

varredura (FIOCRUZ, BA) e às 0, 3, 6, 12, 24, 48, 72HAI e 15, 30, 45 e 60 dias após inoculação

(DAI) para realização de ensaios enzimáticos. Análogo ao observado na infecção do patógeno

em meristemas, a infecção foi mais rápida no genótipo suscetível, onde a adesão, a germinação

dos basidiósporos e a penetração fúngica iniciou-se às 3HAI e no TSH1188 às 8HAI com maior

ocorrência no Catongo em relação ao TSH1188 (p<0,05). Múltiplos modos de penetração foram

observados em ambos os genótipos, sendo estes: penetração direta, na base de tricomas

glandulares e através de aberturas naturais, mediante estômatos, sendo esta última a

predominante (67% das penetrações quantificadas). Os primeiros sintomas da infecção foram

observados aos 15DAI no Catongo e aos 60DAI no TSH1188. Tricomas estrelares e

glandulares, com predominância destes últimos foram observados em ambos os genótipos,

sendo superior (p<0,05) no TSH1188 (569/cm2) quando comparado com o Catongo (292/cm2).

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Estômatos amonocíticos com ausência de células subsidiárias foram observadas na superfície

de ambos os genótipos com diferença na localização no filoplano dos frutos, encontrando-se

em criptas estomáticas no Catongo. Confirmou-se o envolvimento das enzimas da classe PODs

(p<0,05) no processo infeccioso de M. perniciosa em frutos de cacau. O genótipo TSH1188

apresentou resposta mais rápida, aumentando a atividade das enzimas durante os primeiros

estágios da infecção (0-48 HAI) sugerindo rápido reconhecimento do patógeno. Com base

nestes resultados concluiu-se que frutos do genótipo TSH1188 apresentam mecanismos

estruturais e bioquímicos que dificultam o estabelecimento de M. perniciosa nos seus tecidos,

confirmando-o como um genótipo resistente a doença.

Palavras chave: interação planta-patógeno, mecanismos de resistência, resistência genética,

Theobroma cacao, vassoura-de-bruxa.

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vi

ABSTRACT

MERAZ PÉREZ, Ivanna Michelle. Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, maio de

2016.Infection process and enzyme activity in cocoa fruits resistant and susceptible genotypes

to witches’ broom disease caused by Moniliophthora perniciosa. Orientadora: Karina Peres

Gramacho. Co-orientadores: Virginia Lucia Fontes Soares e Kaleandra Freitas Sena.

Deployment of resistant genotypes is the main control method for Witches’ broom disease

(WBD) of cacao, one of the main diseases of the Brazilian cacauiculture. Structures on the pod

surface as well as changes in its metabolism induced after pathogen infection are considered

mechanisms of disease resistance. In this context, despite the interaction of M. perniciosa –

cacao (meristems) in relation to the infectious process of the pathogen and the resistance

responses of the host to infection in other organs are well described in the literature, the

knowledge of these processes in the interaction with cacao pods, considered the main

commercial product, remain unclear. This dissertation was conducted under the hypothesis that

cacao pods of the TSH1188 genotype presents structural and biochemical mechanisms that

hinder or delay the action of M. perniciosa. To obtain the samples the experiment was designed

in the field, in a completely randomized design with 2 genotypes and three replications with

three pods each, for treatment (inoculated x uninoculated). Pods of the TSH1188 (R) and

Catongo (S) genotypes obtained from open pollination were inoculated with a suspension of

basidiospores in a concentration of de 2 x 105 spores/mL. Control pods were inoculated with

sterile distilled water. Weekly assessment of characteristic disease symptoms was performed

individually. Samples were collected at 3, 5, 6, 8 and 12 hours after inoculation (HAI) and

processed for scanning electron microscopy (FIOCRUZ, BA), as well as at 0, 3, 6, 12, 24, 48,

72, and 15, 30, 45 and 60 days after inoculation (DAI) to perform enzymatic assays. Similar to

what was observed in the pathogen infection in meristems, the infection was faster in the

susceptible genotype, where adhesion, germination of the basidióspores and fungal penetration

began at 3HAI in Catongo and in TSH1188 at 8HAI with higher frequency in Catongo in

relation to TSH1188 (p <0.05). Several penetration modes were observed in both genotypes:

direct penetration, at the base of glandular trichomes and natural openings, mainly by stomata,

this being the predominant one (67% of the total penetrations). The first symptoms of infection

were observed at 15DAI in Catongo and at 60DAI in TSH1188. Star and glandular trichomes

were observed in both genotypes, being superior (p <0.05) in TSH1188 (569/cm2) when

compared to Catongo (292/cm2). Ammonocytic stomata with absence of subsidiary cells were

observed on the surface of both genotypes with difference in the location at the phylloplane of

the pods, being found in stomatal crypts in Catongo. PODs enzyme involvement (p <0.05) was

confirmed in the M. perniciosa infectious process in cacao pods. The TSH1188 genotype

showed a faster response, increasing the activity of the enzymes during the early stages of the

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infection (0-48 HAI) suggesting rapid recognition and combat of the pathogen. Based on these

results it was concluded that pods of TSH1188 genotype present structural and biochemical

mechanisms that make difficult the establishment of M. perniciosa in their tissues, confirming

it as a disease resistant genotype.

Key words: defense mechanism, genetic resistance, plant – pathogen interaction, Theobroma

cacao, Witches broom disease.

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INTRODUÇÃO

A resistência do hospedeiro a um patógeno reflete a capacidade da planta em atrasar ou

evitar a entrada e/ou subsequente atividade do patógeno no tecido hospedeiro (SCHENK et al.,

2000). Isto ocorre mediante uma complexa troca de sinais e mecanismos desenvolvidos ao

longo da co-evolução patógeno-hospedeiro (KAZAN et al., 2001).

Estruturas pré-formadas ou constitutivas localizadas na superfície da planta, por

exemplo, a quantidade, conformação química e forma física das ceras epicuticulares, número,

morfologia e período de abertura dos estômatos, e a presença e tipo de tricomas podem agir

como barreiras que inibem ou retardam a entrada e colonização do patógeno no hospedeiro

(MEDEIROS et al., 2003; AGRIOS, 2005). Além destes mecanismos pré-formados, o

metabolismo da planta sofre alterações que são consideradas mecanismos pós-formados ou

induzidos, estes são ausentes ou têm pouca expressividade em plantas sadias, e tornam-se

evidentes só após a invasão do patógeno ou quando a planta é injuriada. Estes também

contribuem para inibir ou retardar o desenvolvimento do fitopatógeno na planta (ANTONIO et

al., 2010). Alguns exemplos destes mecanismos são a geração e o acúmulo de espécies reativas

de oxigênio (ROS) e o aumento da atividade das enzimas da classe peroxidase (PODs). Em

conjunto, tais eventos e reações podem determinar o sucesso da resistência da planta contra o

ataque de fitopatógenos, evitando assim, o estabelecimento ou desenvolvimento da doença

(STINTZ et al., 1993).

A relação entre ceras epicuticulares e a resistência a doenças foi estudada por Sena et al.

(2014) e Carvalho et al. (2014) no patossistema M. perniciosa – Theobroma cacao, foi

demonstrado que o extrato da cera epicuticular de cacaueiros resistentes possui ação inibitória

“in-vitro” de cerca do 80% na germinação dos basidiósporos de M. perniciosa. Por outro lado,

Souza (2008), estudando a patogênese de Puccinia psidii mediante a caracterização micro

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morfológica da epiderme de folhas de clones de eucalipto, observou que nos locais de

penetração do patógeno havia menor quantidade de ceras cuticulares, assim facilitando a

infecção do fungo no tecido hospedeiro.

Outros fatores presentes na superfície da planta, tais como número, tipo e distribuição

de tricomas e estômatos, também influenciam o desenvolvimento do patógeno. Tricomas

simples (não glandulares) podem impedir a deposição do filme de água necessário na adesão

dos esporos fungicos à superfície do hospedeiro (JERBA et al., 2005). Estudos no patossistema

M. perniciosa – T. cacao têm demostrado a secreção de proteínas específicas e compostos

solúveis em água pelos tricomas glandulares presentes no meristema do cacaueiro (Almeida et

al., 2017). Além desta função química na defesa vegetal, a densidade deste tipo de tricoma foi

maior em meristemas de genótipos considerados resistentes (CCN51, 176 tricomas/cm3) em

relação aos meristemas dos genótipos suscetíveis (Catongo, 63 tricomas/cm3) à vassoura-de-

bruxa do cacaueiro (VBC) sugerindo a participação destas estruturas na resistência a esta

doença. Paralelamente, Indah et al. (2013) demostraram que folhas de cacaueiro de genótipos

resistentes com menor densidade e abertura estomática na sua superfície são contrastantes ao

observado nos genótipos suscetíveis (maior densidade e abertura estomática), relacionando

positivamente este fato com a resistência do tecido hospedeiro a Oncobasidium theobromae.

Por ouro lado, fungos como Puccinia graminis f. sp. tritici, agente causal da ferrugem do colmo

do trigo, só conseguem penetrar quando os estômatos estão abertos, fazendo do período de

abertura e fechamento dos estômatos uma característica importante na resistência às doenças.

Portanto, algumas variedades de trigo com abertura estomática tardia, apresentam resistência

ao patógeno porque o tubo germinativo dos esporos germinados sofre dessecação durante a

noite antes dos estômatos começarem a abrir (REIS, 1991).

A percepção dos patógenos pelos hospedeiros é central para a ativação bem-sucedida de

uma resposta de defesa da planta, pois, leva a uma redução dos danos causados pelos agentes

fitopatogênicos. As células vegetais são capazes de detectar moléculas microbianas

denominadas PAMPs (pathogen-associated molecular patterns) ou MAMPs (microbe-

associated molecular patterns) (AUSUBEL, 2005; BITTEL e ROBATZEK, 2007) mediante

os receptores PRRs (PAMP-recognition receptor) localizados na superfície da membrana

celular ou interior da célula. O reconhecimento das PAMPs ativa uma resposta basal imune

conhecida como PTI (PAMP-triggered immunity) (JONES & DANGL, 2006). Este tipo de

sistema de defesa permite que as plantas respondam rápida e eficientemente a uma ampla gama

de patógenos (ROUX et al., 2014). As plantas respondem com a ativação de genes de resistência

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que detectam estas proteínas efetoras e desencadeiam a imunidade disparada por efetores (ETI-

effector -triggered immunity) (THOMMA et al., 2011). As vias ETI e PTI resultam na ativação

de um conjunto sobreposto de respostas de defesa que incluem a ativação de múltiplas vias de

sinalização (ácido salicílico, etileno e ácido jasmônico), e a transcrição de genes específicos

que limitam a colonização dos patógenos e/ou a expressão dos sintomas da doença. Isto

mediante a produção de compostos antimicrobianos e o acúmulo de espécies reativas de

oxigênio (ROS) (JONES & DANGL, 2006; NICAISE et al., 2009; ZIPFEL, 2009). As ROS

(peróxido de hidrogênio -H2O2, ánion superóxido -O2-, radicais hidroxila livres-OH-) atuam

fortalecendo a parede celular do hospedeiro, apresentando toxidez ou fazendo parte das cascatas

de sinalização que ativam genes que codificam proteínas relacionadas à patogênese (RESENDE

et al., 2003), impedindo ou retardando o avanço do fitopatógeno no tecido do hospedeiro e

restringindo suas fontes de nutrientes, por conseguinte levando à morte do mesmo. Alguns

estudos bioquímicos tem evidenciado o acúmulo de ROS na célula vegetal como resposta a

patogênese e o aumento na atividade de enzimas antioxidantes da classe peroxidase (PODs)

como consequência da superprodução de ROS. Estas enzimas ocorrem frequentemente em

muitas isoformas e estão envolvidas na síntese de substâncias de defesa ou têm uma atividade

antimicrobiana direta (LEBEDA et al., 1999). A contribuição destas enzimas na resistência a

doenças tem sido demostrada por vários autores em diferentes patossistemas (M. perniciosa –

cacau, CAMILO et al., 2013; Leptosphaeria maculans – canola, RODRIGUES-URRA et al.,

2012). Ambos os estudos evidenciaram aumento na atividade das PODs nos genótipos

resistentes durante os primeiros estágios da infecção em ambos os patossistemas, indicando a

ativação do sistema de defesa das plantas.

Moniliophthora perniciosa, agente causador da VBC, é considerado um dos principais

patógenos das regiões produtoras de cacau da América Tropical por causar perdas de 50 até

90% na produção de cacau dos países produtores tais como o Brasil (ALMEIDA et al., 2017).

A VBC afeta principalmente tecidos meristemáticos em desenvolvimento: gemas vegetativas,

almofadas florais e frutos jovens, sendo este último considerado o principal produto comercial

derivado do cacaueiro, por sua utilização como matéria prima na elaboração de produtos

industriais, tais como o chocolate (Boletim Agronegócio da SEBRAE, 2014).

Embora o processo infeccioso de M. perniciosa no ápice apical, bem como a influência

da cera cuticular na resistência a VBC tenha sido descrito por Sena et al. (2014), e a

sintomatologia da doença nos diversos órgãos da planta de cacaueiro sejam bem relatados por

Silva et al., (2002); a interação M. perniciosa – frutos de cacaueiro ainda é pouco esclarecida.

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Esta dissertação busca, através de estudos histopatológicos e avaliações bioquímicas no

metabolismo do hospedeiro, melhorar a compreensão do comportamento do patógeno em frutos

de cacaueiro no que tange ao processo infeccioso do fungo e aos mecanismos de resistência do

hospedeiro. Considerou-se a hipótese de que frutos de cacaueiro do genótipo TSH1188

apresenta mecanismos estruturais e bioquímicos que dificultam ou retardam a ação de M.

perniciosa. Os objetivos específicos foram: (i) investigar e comparar o processo infeccioso de

M. perniciosa, (ii) aprofundar sobre a evolução fenotípica dos sintomas da doença neste tecido

hospedeiro, (iii) avaliar as estruturas presentes na superfície de frutos de cacaueiro que possam

influenciar o estabelecimento de M. perniciosa, e (iv) estudar a atividade das enzimas

peroxidase do ascorbato (APx) e peroxidase do guaiacol (GPx) na interação M. perniciosa –

frutos de cacaueiro.

Para o agricultor, o entendimento destes eventos oferece o potencial para aumentar a

eficiência das medidas de controle existentes. Por exemplo, o desenvolvimento de alerta

fitossanitário que indique o alvo e o período fenológico mais apropriado para aplicação de

fungicidas em frutos. À comunidade científica, o conhecimento do processo infeccioso de M.

perniciosa em frutos de cacaueiro e o esclarecimento sobre os mecanismos de resistência que

operam neste patossistema, contribuem para estudos futuros na área de biologia molecular, por

exemplo, no screening de genes de resistência para determinação das características de

resistência ativadas durante o ciclo da doença.

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REVISÃO DE LITERATURA

2.1. A interação planta – patógeno e o estabelecimento da infecção

Na interação planta – patógeno a maioria dos eventos que levam ao estabelecimento da

infecção estão envolvidos com o estabelecimento das relações parasíticas ou com a resistência

da planta hospedeira que ocorrem a nível celular, bioquímico e molecular (JONES; DANG,

2006). As interações planta – patógeno são classificadas em compatíveis (patógeno virulento –

hospedeiro suscetível) e incompatíveis (patógeno avirulento e hospedeiro resistente)

(RESENDE et al., 2003). Na interação compatível o patógeno é capaz de mascarar ou reprimir

os mecanismos de resistência do hospedeiro podendo seguir seu desenvolvimento nos tecidos

vegetais e colonizar a planta hospedeira.

Nas interações planta-patógeno incompatíveis, o reconhecimento do produto de um gene

de avirulência (AVR) codificado pelo microrganismo é dado através do produto de um gene de

resistência (R) no hospedeiro. Neste tipo de resistência há a interação cultivar x raça

(MARATHE & DINESH-KUMAR, 2003) e o mecanismo de ação desta resistência atua de

acordo com o modelo de interação gene-a-gene (FLOR, 1956) o que desencadeia mecanismos

de defesa que previnem o crescimento do patógeno (FLOR 1971, HAMMOND-KOSACK &

JONES, 1996). Por outro lado, nas interações compatíveis o gene R ou seu correspondente gene

AVR é ausente, desta maneira o patógeno coloniza e causa doença (STASKAWICZ et al., 2002;

GACHOMO et al., 2003).

As interações entre as plantas e fungos patogênicos são de extremo interesse para a

humanidade, uma vez que grande parte da economia mundial tem por base a utilização de

espécies vegetais, as quais podem sofrer sérios danos em virtude do ataque de patógenos

(BARBIERI & CARVALHO, 2001). Em torno de dois terços das espécies conhecidas de

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fungos estabelecem íntimas relações com outros organismos vivos e exercem uma grande

influência na evolução de seus hospedeiros, adaptando-se por sua vez às mudanças do genótipo

hospedeiro para aumentar as situações de íntima co-evolução (PYROZINSKI

&HAWKSWORTH, 1988). Fungos demonstram uma enorme diversidade no modo pelo qual

interagem com seus hospedeiros, sendo que enquanto alguns podem viver por longos períodos

em tecidos mortos do hospedeiro, outros dependem completamente das células vivas de seu

hospedeiro (BURDON & SILK, 1997). O sucesso no estabelecimento da doença também

depende de fatores ambientais, como disponibilidade de água, temperatura e molhamento da

superfície do hospedeiro. A maioria dos fungos depende do filme de água no estado líquido

para germinar e causar infecção. Portanto, o processo infeccioso, o qual inclui as fases de pré-

penetração, penetração e colonização, é grandemente influenciado pelas condições de infecção

do patógeno e as características tanto do hospedeiro quanto do meio ambiente.

Inicialmente o patógeno é aderido à superfície do hospedeiro mediante a produção de

adesinas e enzimas, consideradas materiais adesivos que possuem a função de promover a

fixação da estrutura fúngica no hospedeiro (PASHOLATI, 1998), bem como o reconhecimento

da superfície do hospedeiro (TUCKER; TALBOLT, 2001; SENA et al., 2008). Em seguida

ocorre a germinação do esporo fúngico. A germinação é uma resposta fisiológica a diversos

estímulos, tanto ambientais quanto das características da superfície do hospedeiro. O esporo

fúngico é considerado germinado quando o comprimento do tubo germinativo desenvolvido

alcança pelo menos o mesmo tamanho do esporo (D’ENFERT et al. 1997). A extensão do tubo

germinativo é geralmente o estágio de desenvolvimento em que a percepção da superfície do

hospedeiro ocorre (DEZWAAN et al. 1999). Se os sinais físicos e químicos apropriados, tais

como dureza da superfície do hospedeiro, hidrofobicidade e topografia da superfície

(WESSELS, 1994) são detectados pelo tubo germinativo, é induzido um complexo

morfogênico resultando no alongamento da estrutura (HOCH & STAPLES et al. 1987,

TALBOT et al. 1996).

Enquanto alguns fungos utilizam aberturas naturais e ferimentos para penetrarem no

tecido da planta, outros empregam estruturas especializadas, denominadas apressórios

localizadas na ponta dos tubos germinativos. Em algumas espécies, a formação do apressório

pode ser obrigatória para infecção, enquanto para outros pode ser opcional ou desnecessária. O

desenvolvimento do apressório passa pelas fases de iniciação, maturação e produção do peg de

infecção ou germinação. O papel dos apressórios é aderir firmemente ao substrato mediante a

aplicação de uma alta pressão de turgor que permite a penetração da hifa na epiderme da planta.

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Variações morfológicas durante a formação do apressório podem surgir devido a uma série de

fatores físicos, químicos e genéticos. O tempo também é fator importante na formação do

apressório, a sua formação, na maioria das espécies vegetais, dá-se de 6 a 12 horas após a

inoculação sob condições favoráveis (EMMETT; PARBERY, 1975). A penetração que

acontece mediante influência do apressório geralmente ocorre após a formação das estruturas

de infecção, devido ao que, quanto mais tempo o fungo permanecer na superfície do hospedeiro,

mais vulnerável ele ficará a dessecação, a competição com outros habitantes do filoplano da

planta, aos mecanismos de defesa do hospedeiro e a redução dos seus nutrientes de reserva,

resultando na falha do processo de infecção. A penetração pode ser realizada pela secreção de

enzimas com capacidade de degradação da cutícula, por exemplo as cutinases, pectinases,

celulases, hemicelulases e ligninases, que degradam cutina e compostos da parede celular,

enquanto para outras a penetração é alcançada predominantemente baseados na força mecânica,

ou mediante a combinação de ambos os processos, por exemplo, a degradação da cutícula pela

ação de enzimas pectinolíticas, celulases e ligninases nos patossistemas Rhizopus spp –

pêssego, Fusarium spp – trigo e Phellinus spp – pinheiro; respectivamente (Agrios, 2005).

O entendimento da fase de pré-penetração, a qual se inicia com a germinação do esporo

até a penetração da hifa infectiva, permite esclarecer como as plantas são infectadas,

colaborando desta maneira na definição de estratégias que impeçam ou dificultem a penetração

do patógeno nos tecidos do hospedeiro e assim contribuir ao seu controle.

2.2. Mecanismos de resistência e defesa das plantas contra fitopatógenos

A interação patógeno – hospedeiro pode ser encarada como uma luta pela sobrevivência

entre dois organismos. Não só a planta deve ser capaz de reconhecer e defender-se contra um

potencial agente patogênico, mas este deve também ser capaz de manipular e suplantar os

mecanismos de defesa da planta para criar um ambiente adequado para o seu crescimento e

reprodução (BOYD et al., 2013; MONAHAN et al., 2012). Durante milhões de anos

convivendo no mesmo ambiente, plantas e patógenos desenvolveram um complexo sistema de

interação entre eles (TYLER et al., 2006). A diferença fundamental entre plantas resistentes e

suscetíveis consiste no reconhecimento do patógeno e na ativação rápida e eficaz dos

mecanismos de defesa do hospedeiro, que é iniciado pelo reconhecimento de moléculas

elicitoras do patógeno (DANGL & JONES, 2001). As plantas possuem um aparato estrutural

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e bioquímico que compõe seu mecanismo de defesa contra a ação de agentes bióticos, abióticos

e físicos (RIBEIRO, 2010). As características estruturais agem como barreiras físicas e inibem

a entrada e disseminação do patógeno, e as reações bioquímicas que ocorrem em células e

tecidos da planta produzem substâncias que ou são tóxicas diretamente para o patógeno, ou

criam condições que inibem o desenvolvimento do patógeno na planta (AGRIOS, 2005). Estes

mecanismos se diferem nos diversos patossistemas e variam com a idade da planta e o tipo de

órgão e tecido atacado (STANGARLIN et al., 2011). A topografia da superfície do hospedeiro,

a constituição da cera epicuticular, bem como quantidade e tipo de tricomas e estômatos, assim

como o período de abertura / fechamento destes últimos, são considerados mecanismos de

resistência pré-formados ou constitutivos (DURBIN, 1988). Este tipo de defesa é, portanto, o

principal mecanismo de resistência que restringe a infecção e influência na penetração de vários

fitopatógenos (HEATH, 2000; PASCHOLATI e LEITE, 1995). Por exemplo, mediante

avaliações histológicas e de dureza de casca observou-se que as células mais externas da

epiderme, em conjunto com a cutícula, agem como barreiras defensivas (MARTIN, 1964).

Neste contexto, cultivares de pêssego consideradas significativamente mais resistentes

apresentaram maior espessura da sua epiderme em comparação aos cultivares suscetíveis,

podendo relacionar esta característica com o atraso na penetração do fitopatógeno e maior

período de incubação deste (ADASKAVEG; FELICIANO; OGAWA, 1991).

A relação entre a camada de cera cuticular nas plantas e resistência a doenças tem sido

demostrado em vários patossistemas, inclusive no patossistema M. perniciosa – cacau

(meristema). Sena et al. (2014) determinaram que extratos cuticulares de genótipos

considerados resistentes apresentaram uma ação inibitória de 80% na germinação dos

basidiósporos de M. perniciosa, sugerindo que a cera cuticular, além de estabelecer uma

barreira física na defesa vegetal também possui um envolvimento químico no mecanismo de

defesa de T. cacao a M. perniciosa. Outras estruturas que agem como barreira física na defesa

vegetal são os tricomas de múltiplas formas e tamanhos presentes na superfície da planta,

podendo ser simples (não glandulares) ou glandulares, estes últimos atuam tanto como barreira

física quanto química a ação do patógeno (Figura 1). Maior densidade de tricomas na superfície

da planta aumenta a captura e retenção de partículas transportadas pelo ar, como o pólen e

esporos fúngicos (RODA et al., 2003), dificultando o contato destas moléculas com a superfície

da planta. Por outro lado, por estarem geralmente espalhados na totalidade do filoplano dos

tecidos vegetais, estes influenciam na deposição do filme de água necessária para a adesão dos

esporos fúngicos na superfície do hospedeiro. Por ex. em uva, a resistência contra Plasmopara

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vitícola, agente causal do míldio da uva, foi relacionada ao elevado número de tricomas na área

abaxial das folhas (KORTEKAMP & ZYPRIAN, 1999). É citado também que os tricomas

glandulares exsudam metabólitos secundários, alguns dos quais possuem propriedades

antifúngicas. Segundo Nonomura et al. (2009), as substâncias secretadas pelos tricomas

glandulares na superfície das folhas de tomateiro flui a partir das glândulas secretoras dos

tricomas, cobrindo o plano da folha e inibindo a germinação dos esporos fúngicos de Oidium

neolycopersici, agente causal do oídio do tomateiro.

Figura 1. Papel na prevenção da infecção patogênica de diversas estruturas associadas à superfície das plantas.

FONTE: Autora, adaptado de Lázniewska et al., 2012.

A densidade e tipo de estômatos como mecanismos de resistência (Figura 1) têm sido

citada em vários patossistemas, inclusive no patossistema Oncobasidioum theobromae – T.

cacao, onde Indah et al. (2013) demostrou que folhas de clones resistentes a O. theobromae

apresentam menor número de estômatos na sua superfície e abertura estomática menor em

ralação às folhas dos clones suscetíveis, dificultando a penetração através de estômatos, e, por

conseguinte, relacionando este fato com os mecanismos de resistência à doenças. O período de

abertura dos estômatos também é muito importante no estabelecimento do processo infeccioso

dos fitopatógenos. Por exemplo, no patossistema Puccinia graminis f. sp. tritici – trigo,

variedades resistentes apresentaram abertura estomática tardia, como consequência disto o tubo

germinativo não consegue penetrar os tecidos do hospedeiro.

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Além dessas estruturas pré-existentes, encontram-se na matriz celular da planta ou na

membrana plasmática sítios receptores chamados de PRRs (pattern recognition receptors) que

reconhecem padrões moleculares associados aos patógenos (PAMPs). A percepção ocorre

quando moléculas indutoras das respostas de defesa ligam-se às moléculas receptoras situadas

nas membranas das células vegetais, e uma vez ligadas aos receptores presentes em células

vegetais, estas acionam cascatas de sinalização que ativam genes relacionados com a defesa

vegetal (DE WIT et al., 2007). Moléculas sinalizadoras de respostas de defesa têm sido

determinadas em vários patossistemas, por exemplo, nas interações planta - fungos, a chamada

Pep13 (NURNBERGER et al., 2004) e a lecitina que dispara as respostas de defesa em

Arabidopsis e tabaco (GAULIN et al., 2006).

Após este reconhecimento, é desencadeado um fluxo massivo de íons celulares

conhecidos como explosão oxidativa que consiste na geração e acúmulo de espécies reativas de

oxigênio (ROS), tais como peróxido de hidrogênio (H2O2), ânion superóxido (O2-), e radical

livre hidroxila (OH-) (BARBOSA et al., 2014). O acúmulo de ROS nas células da planta

constitui uma resposta rápida de defesa na planta. As ROS por serem tóxicas ao patógeno

influenciam na colonização dos tecidos do hospedeiro, prevenindo a difusão do patógeno,

participando no cruzamento oxidativo (“cross-lining”) de proteínas da parede celular formando,

com a matriz de polissacarídeos, um grande polímero de várias glicoproteínas ricas em

hidroxiprolina, reforçando estruturalmente a parede celular do hospedeiro (ALVAREZ et al.,

1998).

Paralelamente à produção e acúmulo de ROS nos tecidos da planta é produzido um

aumento na atividade das enzimas oxidativas da classe das peroxidases (PODs). Estas enzimas

chaves no metabolismo da planta são conhecidas por participar em vários processos fisiológicos

de grande importância (HOAGLAND, 1990). O papel destas enzimas no processo de defesa

das plantas é reforçar a parede celular a partir da formação de lignina, suberina, polissacarídeos

ferulicolados e glicoproteínas ricas em hidroxiprolina (BOWLES, 1990). Diversos autores

verificaram que o aumento da enzima POD confere proteção em fumo contra o TMV e aos

fungos Cercospora nicotianae, Phytophthora tabacina, Phytophthora parasitica (FRIEDRICH

et al., 1996); em Arabidopsis thaliana contra o fungo P. parasítica (LAWTON et al., 1996); e

no cacaueiro contra M. perniciosa (RESENDE; MACHADO, 2000). Ambos os tipos de

mecanismos de defesa, tanto os pré- quanto os pós-formados são geneticamente determinados,

e sua efetividade mostra-se dependente da expressão dos mesmos no momento certo, na

magnitude adequada, e em uma determinada sequência lógica, após o contato do patógeno com

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o hospedeiro (STADNIK, 2000; CAMARGO & BERGAMIN FILHO, 1995;

VANDERPLANK, 1968).

Muitos estudos têm sido desenvolvidos na identificação dos possíveis mecanismos de

resistência e defesa desenvolvidos pela planta sob infecção do patógeno, pois, o controle de

doenças torna-se mais efetivo, econômico e ecológico quando se utilizam diversas táticas de

forma integrada. Dentre as quais, a utilização da resistência genética representa um dos métodos

de controle mais eficientes, de fácil acesso aos produtores e econômico, reduzindo de forma

expressiva, os prejuízos com a doença e custo de produção (REZENDE et al., 2005) graças ao

desenvolvimento de ações moleculares e biológicas duráveis para proteção e melhoramento das

culturas (CAMARGO & BERGAMIN FILHO, 1995).

2.3. O patossistema Theobroma cacao – Moniliophthora perniciosa

A VBC causada pelo basidiomiceto M. perniciosa, é considerada um dos maiores

problemas fitopatológicos das regiões produtoras de cacau do Brasil. Causando uma queda de

até um 70% na produção desta cultura, trazendo grandes prejuízos sociais e econômicos à região

(RESENDE et al., 2007). Por muitos anos, o Brasil foi um dos principais exportadores de grãos

de cacau, no entanto, com a introdução da VBC na Bahia, em 1989, o Brasil deixou de ser o

segundo maior produtor de cacau do mundo, e hoje alcança a posição número seis no ranking

de maiores produtores de cacau do mundo (MONDEGO et al., 2016).

O fungo produz pequenos (2-3 cm de largura) basidiomas, e nestes, em estruturas

chamadas de basídios, os basidiósporos são formados. Os basidiósporos de M. perniciosa

infectam tecidos meristemáticos (meristema apical, almofadas florais e frutos em

desenvolvimento) produzindo uma série de sintomas que dependem do órgão infectado e do

seu estágio de desenvolvimento (PURDY & SMITH, 1996). A germinação dos basidiósporos

e o alongamento (extensão) do tubo germinativo ocorre entre as 6 e 12 horas após os

basidiósporos entrarem em contato com a planta (SILVA et al., 2002; SREENIVASAN &

DABYDEEN 1989; KILARU & HASENSTEIN, 2005). Depois desse período, os tubos

germinativos penetram diretamente as aberturas naturais, e os estômatos nos tecidos do

cacaueiro (SENA et al., 2014).

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Durante a fase biotrófica de M. perniciosa, os basidiósporos germinam como um micélio

monocariótico colonizando intercelularmente os tecidos corticais, seguido pelo esclerênquima,

tecidos vasculares, e a medula (CEITA et al., 2007; SENA et al., 2014). Depois de algumas

semanas, os tecidos colonizados sofrem necrose que é desencadeada por um mecanismo

desconhecido, quando as hifas fúngicas formam grampos de conexão e se tornam dicarióticas,

crescendo tanto inter quanto intracelularmente. (DELGADO & COOK, 1976; SENA et al.,

2014).

Os primeiros sintomas visíveis da infecção é um intumescimento do meristema apical das

plantas devido à hipertrofia dos brotos que perdem a dominância apical, e clorose das folhas

novas. Caracterizando a “vassoura verde” (fase biotrófica) (Figura 2A-E). Depois de um

período de aproximadamente 90 dias é observada a necrose dos tecidos infectados onde a

vassoura verde torna-se “vassoura seca” (fase necrotrófica) (Figura 2F) (EVANS, 1980;

MEINHARDT et al., 2008; TEIXEIRA et al., 2014; MONDEGO et al., 2016).

Figura 2. Caracterização macroscópica dos sintomas da vassoura-de-bruxa do cacaueiro. A) meristema

apical com 2 dias após inoculação; B) leve inchamento do meristema; C) hipertrofia apical e inchação da

haste; D) vassouras verdes terminais com perdida de dominância apical; E) vassouras verdes terminais

axiais e F) vassoura necrotrófica ou seca. Sena et al., 2014.

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Além desses sintomas próprios da planta de cacaueiro que dão o nome à doença, muitos

são os danos ocasionados por M. perniciosa em frutos de cacaueiro, principal produto

comercial, considerados a matéria prima para elaboração de produtos industriais tais como o

chocolate. Frutos infectados, dependendo da sua idade exibem uma grande variedade de

sintomas (Figura 3). As infecções de flores resultam em vassouras de almofada e

desenvolvimento de fruto “morango” ou “cenoura” (Figura 3A-B). As infecções em frutos

jovens apresentam na casca uma lesão preta, dura e irregular (Figura 3C) enquanto que a

infecção tardia causa pontuações pretas e lesões necróticas e irregulares (Figura 3E).

Internamente, o endocarpo apresenta pontos necróticos de diferentes tamanhos com liquefação

da mucilagem (Figura 3F) (GRAMACHO et al., 1992; SILVA et al., 2002). Após a necrose

tecidual ocorre uma degradação da polpa e sementes pelo micélio saprofítico, provavelmente

com o envolvimento de enzimas hidrolíticas que criam um ambiente adequado para sua

sobrevivência (GRIFFITH et al., 1994; PURDY & SCHIMIDT, 1996), e posteriormente a

formação de basidiomas, estruturas reprodutivas do fungo onde se formam os basidiósporos

que darão continuidade ao ciclo de vida do patógeno (FRIAS et al., 1991; SILVA, 1997).

Figura 3. Sintomas da vassoura-de-bruxa do cacaueiro em frutos de cacaueiro. A) frutos com

conformação “cenoura”; B) frutos com conformação “morango”; C) lesões necróticas; D) halos

amarelados; E) pontuações pretas e duras e F) hidrólise de polpa e sementes. Silva et al., 2002.

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Historicamente, pesquisadores têm tentado uma grande variedade de métodos para o

controle da VBC incluindo poda fitossanitária, aplicação de fungicidas e o controle biológico,

bem como a utilização de variedades resistentes (BROWN, 2015; MEINHARDT et al., 2008;

MEDEIROS et al., 2010), considerada a medida mais atrativa devido ao baixo requerimento de

fungicidas reduzindo assim o impacto tanto ambiental quanto o impacto na saúde humana

(NYADANU et al., 2009).

Os cultivares resistentes as doenças tipicamente são gerados incorporando genes de

resistência em genótipos específicos através da reprodução ou cruzamento, no entanto, para

alcançar resistência durável a um determinado patógeno, o conhecimento abrangente da

interação patógeno-hospedeiro é necessário (SHAW & VANDENBON, 2007; MARELLI et

al., 2009; SILVA et al., 2014). Neste contexto, o entendimento do processo infeccioso e do

desenvolvimento da doença nos tecidos infectados com diferentes níveis de resistência à VBC

são necessários para conhecer e avaliar os níveis de resistência a doença mediante a resposta

do hospedeiro ao patógeno.

As comparações, através da observação mediante microscopia eletrônica e avaliações das

mudanças bioquímicas no metabolismo do hospedeiro nas interações suscetíveis (compatíveis)

e resistentes (incompatíveis) da planta–patógeno, permitiram a análise no que tange à

microestrutura do fungo e do hospedeiro. Além da função e cinética enzimática do hospedeiro

desde a fase inicial da interação que inclui a deposição, aderência e germinação dos

basidiósporos possibilitando a caracterização do processo infeccioso e de possíveis barreiras

físicas e /ou químicas à sua penetração. Assim como, permitirá acompanhar a evolução da

doença a nível celular em frutos resistentes e suscetíveis a doença devido ao que, apesar de já

descritos por alguns autores em outros tecidos de T. cacao, os mecanismos estruturais de

resistência e bioquímicos de defesa precisam ser bem definidos no patossistema frutos de

cacaueiro–M. perniciosa. Contudo, o citado acima poderá facilitar a compreensão dos

mecanismos de ação do patógeno, contribuindo com estudo futuros na área molecular e melhor

manejo da doença.

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MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Obtenção do material vegetal, inoculação e avaliação fenotípica

Frutos de cacaueiro provenientes de polinização aberta dos genótipos TSH1188 e

Catongo; respectivamente padrões de resistência e suscetibilidade à VBC, foram utilizados

neste trabalho. O experimento foi montado em campo, em delineamento experimental

inteiramente casualizado, com dois genótipos, com e sem inoculação, e 15 tempos de coleta.

Foram feitas três repetições de três frutos cada, e utilizadas 20 testemunhas por genótipo (10

frutos inoculados e 10 não inoculados) perfazendo um total de 580 frutos.

Os frutos foram inoculados com uma suspensão de 2x105 basidiósporos/mL segundo

metodologia descrita por Frias et al. (1991) adaptada as condições de campo no intuito de

atender este trabalho: (i) seleção de frutos com cerca de 45 dias de formação (+/- 6cm de

tamanho) e marcação no fruto da área a ser inoculada; (ii) inoculação do local previamente

marcado com inóculo em papel filtro; e (iii) envolvimento dos frutos inoculados em sacos

plásticos transparentes umedecidos com água destilada esterilizada como medida para obtenção

de uma câmara úmida artificial. Para os frutos controle foram seguidos todos os passos

anteriores, mas a inoculação foi feita com água destilada estéril.

Para acompanhar a evolução dos sintomas da VBC em frutos de genótipos contrastantes,

cada fruto foi inspecionado semanalmente até os 120 dias após inoculação (DAI). Os frutos

foram avaliados quanto ao: (i) período de incubação, (i) amadurecimento aparente, (ii)

pontuações negras e duras, (iii) lesões necróticas duras e (iv) colonização e hidrólise das

amêndoas. A sintomatologia da doença foi avaliada conforme descrito por Silva et al. (2007).

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3.2 Processo infeccioso de Moniliophthora perniciosa em frutos de cacaueiro

Segmentos de frutos inoculados e não inoculados com aproximadamente 1cm3 de

tamanho foram coletados às 3, 5, 6, 8 e 12 horas após inoculação (hai), fixados em solução de

Glutaraldeído 2% e tampão de sódio e processados para MEV de acordo com metodologia

descrita por Sena et al. (2014). Em seguida, as amostras foram montadas em suportes especiais

de alumínio (Stub’s) com auxílio de fita dupla face, metalizadas mediante banho de ouro e

observadas em microscópio eletrônico JEAOL JSM6390LV na Fundação Oswaldo Cruz,

FIOCRUZ em Salvador, BA Brasil. Os esporos e as estruturas tanto do fungo quanto do fruto

foram fotografados com uma câmera digital CCD de 8 megapixels acoplada ao microscópio.

Em cada amostra foram avaliadas as seguintes variáveis: (i) micromorfologia/topografia da

superfície do fruto, (ii) número e tipo de tricomas, (iii) número e tipo de estômatos, (iv) número

de esporos aderidos, considerada uma variável qualitativa (+/ -), (v) germinação de

basidiósporos; um esporo foi considerado germinado quando o comprimento do tubo

germinativo fosse igual ou maior ao diâmetro do esporo, e (vi) tipo de penetração.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, para cada tempo de coleta

dois stubs foram montados, cada um contendo 3 repetições biológicas. Em cada repetição

biológica foram observados 5 campos visuais de 400µm (250x). Cada uma das variáveis

descritas acima foi analisada através do software SAS (Statistical Analysis System) mediante

ANOVA com agrupamento de médias por significância (p<0,05) pelo teste de Duncan. Foram

feitas análises de múltiplos efeitos (multiple effects -SLICE) comparando genótipo x tratamento

x tempo de coleta para determinar interação entre as variáveis.

3.3 Ensaios enzimáticos, determinação da atividade da peroxidase do guaiacol (GPx) e da

peroxidase do ascorbato (APx)

Amostras de segmentos de frutos inoculados e não inoculados de ambos os genótipos,

nos tempos 0, 3, 6, 12, 24 HAI e 2, 3, 15, 45 e 116 DAI; com um tamanho aproximado de 1cm3

foram coletadas e imediatamente submersas em nitrogênio líquido e estocadas em -80°C

durante 24 horas, após esse tempo foram liofilizadas para uso posterior.

Para determinação das atividades das enzimas GPx e APx usou-se 0,04g de extrato seco

de cada tempo de coleta, isto foi misturado com 0,028g de antioxidante polivinilpirrolidona

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(PVPP) mais 800µl de tampão fosfato de sódio 50mM pH 6,0 para obtenção do extrato bruto

de frutos de cacaueiro para determinação da GPx e 800µl de tampão fosfato de potássio 50mM

pH 7,0 para obtenção do extrato bruto de frutos de cacaueiro para determinação da APx. Em

seguida, os extratos brutos de cada enzima foram sonicados sob amplitude de 70% em sonicador

SONICS, Vibra cell com 5 pulsos de 5” (ON) e intervalos de 10” (OFF). Posteriormente foram

centrifugados durante 15 minutos com velocidade de 13,400rpm. Os sobrenadantes foram

aliquotados em microplaca de Elisa 96 poços (GREINER BIO ONE INTERNATIONAL, NC,

EUA). Para 30µl do sobrenadante adicionou-se a cada repetição experimental 140µl de MIX

de reação (guaiacol 40mM, H2O2 0,06% e fosfato de sódio 20mM pH 6,0) e 110µl de tampão

fosfato de sódio 50mM pH 6,0 para determinação da GPx e 150µl de MIX de reação (EDTA

500mM, ácido ascórbico 5mM e tampão fosfato de potássio 50mM pH 7,0) mais 20µl de H2O2

para determinação da APx. As placas foram submetidas a leitura em espectrofotômetro

Espectramax Paradigm (Molecular Devices, CA EUA) a 470nm para GPx e 240nm para APx.

A atividade da GPx foi determinada pelo aumento do consumo de guaiacol e expressa em

nmol.g-1ML.h-1, para APx pela diminuição da absorbância e expressa em nmol de ascorbato.g-

1MS.h-1, sendo ML, massa liofilizada e MS, massa seca. Segundo metodologias descritas por

Rehem et al. (2011) e Nakano & Asada (1981) respectivamente.

O experimento foi montado em delineamento inteiramente casualizado com 3 repetições

biológicas, cada repetição contendo um pool de 3 segmentos de fruto de aproximadamente 1cm3

e com 4 repetições experimentais para cada tempo de coleta em ambos os genótipos e

tratamentos. Os resultados das leituras foram analisados através do software SAS (Statistical

Analysis System) mediante avaliações de medidas repetidas no tempo, com agrupamento de

médias por significância (p<0,05) pelo teste de Duncan 5% e avaliações de covariâncias para

determinação de correlação presente nas variáveis genótipo x tratamento x tempo de coleta.

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RESULTADOS

4.1 Evolução dos sintomas de vassoura-de-bruxa em frutos de cacaueiro de genótipos

contrastantes

A sintomatologia da doença em frutos variou entre os genótipos de cacau com diferentes

níveis de resistência a VBC os quais; respectivamente, apresentaram 64% e 24% de incidência

da doença. A evolução dos sintomas da doença em genótipos contrastantes está apresentada na

Tabela 1.

No Catongo, genótipo suscetível (Figura 4A), os primeiros sintomas da doença foram

observados aos 15 DAI (Figura 4B) no ponto onde foi depositado o inóculo na concentração

de 20.000 basidiósporos/ml. Estes frutos apresentaram uma zona de amarelecimento e pequenos

pontos necróticos que evoluíram a uma lesão necrótica dura e irregular aos 30 DAI (Figura

4C). Internamente as amêndoas apresentaram-se assintomáticas aos 15 DAI, com pontuações

necróticas na área do pedúnculo. Aos 30 DAI, no interior do fruto no local da lesão externa, em

corte transversal, também se observou lesão necrótica na casca e amêndoas necrosadas. Aos 45

DAI (Figura 4D) observou-se a presença de uma lesão maior, irregular, preta e dura que se

estendeu até o pedúnculo do fruto. Estes quando abertos apresentavam colonização da placenta

e dos cotilédones, com cerca de 60% das amêndoas inviáveis ao plantio. Aos 60 DAI (Figura

4E) todo o fruto apresentou mancha dura e necrótica. Internamente o fruto apresentou-se

necrosado e parcialmente seco, com aproximadamente 95% das amêndoas necrosadas, sem

indício de hidrólise.

Contrário do genótipo suscetível, os frutos de TSH1188, genótipo resistente,

apresentaram longo período latente do fruto. Ao longo das avaliações fenotípicas desenvolvidas

desde as 0 HAI até os 60 DAI (Figura 4F-J) os frutos apresentaram-se totalmente

assintomáticos, conservando sua cor característica (roxo – avermelhado), tamanho consistente

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a seu desenvolvimento cronológico (5 – 30cm), apresentando tanto polpa como sementes

viáveis para consumo/plantio.

Tabela 1. Caracterização da evolução sintomática da vassoura-de-bruxa em frutos de cacaueiro de genótipos

contrastantes a doença.

Tempo

avaliado

CATONGO TSH1188

0 – 120 HAI Assintomático Assintomático

15DAI Zona de amarelecimento e pequenos

pontos necróticos na área donde foi

depositado o inóculo com pontuações

necróticas na área do pedúnculo.

Amêndoas assintomáticas.

Assintomático

30 DAI Lesão necrótica e dura rodeada de um

halo amarelado desde a região média

do fruto até seu ápice, tanto externa

quanto internamente. Amêndoas

sintomáticas com 50% de

inviabilidade.

Assintomático

45 DAI Lesão necrótica, irregular e dura, da

região média do fruto até o pedúnculo

com lesões necróticas circundadas

por halos amarelados espalhados pela

totalidade do fruto. Amêndoas

sintomáticas com cerca de 60% de

inviabilidade.

Assintomático

60 DAI Necrose preta e dura geral da

totalidade do fruto. Necrose interna.

Aproximadamente 95% das

amêndoas inviáveis.

Assintomático

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Figura 4. Caracterização da evolução sintomatológica da vassoura-de-bruxa do cacaueiro em

frutos de cacau de genótipos contrastantes para resistência a doença.

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4.2 Caracterização dos mecanismos de resistência e do processo infeccioso de

Moniliophthora perniciosa em frutos de cacaueiro.

A camada de cera em ambos os genótipos não apresentou diferença morfológica

significativa. No entanto, a topografia da superfície de ambos os genótipos apresentou-se

levemente diferenciada. No genótipo resistente observou-se um padrão de superfície amorfo

(Figura 5C-D), sendo seu relevo constituído por depressões e ondulações da epiderme ao longo

da sua superfície. O genótipo suscetível, pelo contrário, apresentou superfície majoritariamente

plana e uniforme.

Figura 5. Eletromicrografia da superfície de frutos de cacaueiro de genótipos contrastantes a

vassoura-de-bruxa do cacaueiro mostrando as características da sua superfície e os tipos de tricomas.

A) genótipo suscetível (Catongo); relevo plano com presença de tricomas glandulares, B) tricoma

estrelar composto por célula basal (Cb) e ramificações (R), C) genótipo resistente (TSH1188); relevo

amorfo com presença de tricomas glandulares compostos por célula basal (Cb), pedículo (P) e célula

secretora (Cs), e D) camada amorfa de cera epicuticular (seta branca) no genótipo resistente.

Ambos os genótipos apresentaram tanto tricomas glandulares como estrelares. As

características morfológicas foram condizentes com o descrito na literatura, em que os tricomas

glandulares apresentaram-se compostos de uma célula basal aderida à epiderme do fruto, um

pedículo que constitui o corpo do tricoma e uma cabeça unicelular secretora (Figura 5C). Os

tricomas estrelados caracterizaram-se por serem pluricelulares, compostos de uma célula basal

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e geralmente multisseriados com 3 ramificações alongadas (Figura 5B). A densidade total de

tricomas por cm2 (Figura 5C) foi significativamente maior no TSH1188 (569,8 tricomas/cm2)

em relação ao Catongo (292,0 tricomas/cm2) (Figura 6A-B), com predominância significativa

(p<0.05) (Figura 6C) de tricomas glandulares em ambos os genótipos.

Figura 6. Eletromicrografia da superfície de frutos de cacaueiro de genótipos contrastantes a vassoura-

de-bruxa do cacaueiro mostrando a densidade de tricomas por genótipo no: A) Catongo genótipo

suscetível, B) TSH1188 genótipo resistente e, C) número médio de tricomas na superfície de ambos os

genótipos. Médias com letras diferentes apresentam diferença significativa (p<0,05) pelo teste de Duncan

a 5%.

Com relação aos estômatos, ambos os genótipos apresentaram estômatos amonocíticos,

constituídos por uma abertura chamada “ostíolo” e duas células guarda responsáveis pela

fechadura/abertura do mesmo (Figura 7C). Estes estômatos caracterizaram-se pela ausência de

células subsidiárias. Contudo, houve variação na localização destes na superfície dos frutos, em

que no TSH1188, os estômatos comumente apresentaram-se no filoplano do fruto (Figura 7A-

C), enquanto que no Catongo, os estômatos foram observados em invaginações na epiderme do

fruto, as chamadas “criptas estomáticas” (Figura 7D-E). Entretanto, de maneira geral e

independente do tipo de estômato, não houve diferença significativa com respeito à densidade

de estômatos/cm2 contabilizados entre os genótipos estudados.

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Figura 7. Eletromicrografia de varredura da superfície de frutos de cacaueiro de genótipos contrastantes

a vassoura-de-bruxa do cacaueiro. A, B, C) Catongo, genótipo suscetível, estômatos amonocíticos

localizados em criptas estomáticas. Cg= células guarda; *ostíolo. D, E, F) TSH1188 genótipo resistente,

estômatos amonocíticos com ausência de células subsidiarias.

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O processo infeccioso de M. perniciosa em frutos de cacaueiro foi registrado mediante

capturas fotográficas de microscopia eletrônica de varredura (Figura 8). Observou-se os

eventos de pré-penetração caracterizado pela a adesão dos basidiósporos de M. perniciosa à

superfície do fruto e formação do hilo (Figura 8A), emissão e alongamento do tubo germinativo

(Figura 8B-C), e esporos rodeados de matriz amorfa mucilaginosa com aparente dissolução da

cera epicuticular do fruto no local de contato da estrutura fúngica com a superfície do fruto

(Figura 8D-E). Observou-se a ausência de apressório e a formação de hifas com ponta “club-

shaped” (Figura 8F).

De maneira geral, diferença significativa também foi observada entre os genótipos

avaliados (p<0.05) para todas as variáveis testadas durante os eventos de pré-penetração do

processo infeccioso de M. perniciosa em frutos de cacaueiro (Tabela 2). Pela análise de

variância a interação genótipo/tempo foi significativa (p<0.05) mostrando uma tendência de

incremento nos valores observados tanto para a adesão como para germinação dos

basidiósporos; indicando variações de acordo com o genótipo. A adesão de basidiósporos no

Catongo iniciou-se às 3 HAI com pico às 6 HAI e no TSH1188 às 5 HAI com pico às 8 HAI.

No geral, independentemente do tempo de coleta, o alongamento do tubo germinativo no

Catongo foi sempre maior (p<0.05) que no TSH1188; com uma média de 9,6µm e 1,45µm

respectivamente. A germinação dos basidiósporos iniciou mais rapidamente no Catongo, às 3

HAI, não obstante, todos os tempos avaliados apresentaram a mesma percentagem de

germinação. Por outro lado, no TSH1188 a germinação dos basidiósporos foi tardia, ocorrendo

a partir das 8 HAI com 50% dos basidiósporos contabilizados germinados.

Tabela 2. Avaliação dos eventos de pré-penetração de Moniliophthora perniciosa em frutos de cacaueiro de genótipos

contrastantes a vassoura-de-bruxa do cacaueiro.

Tempo de

coleta (HAI)

Índice de adesão

Alongamento do tubo

germinativo (µm)

Germinação

(%)

CATONGO TSH1188 CATONGO TSH1188 CATONGO TSH118

3 1,17 d 0,00 a 6,08 d 0,00 a 50 0

5 0,90 c 0,03 b 7,82 d 0,00 a 50 0

6 0,93 c 0,13 c 9,55 c 0,00 a 50 0

8 0,70 a 0,23 c 11,02 b 2,24 c 50 50

12 0,83 b 0,17 c 13,55 a 5,02 b 50 50

Média geral 0,90b 0,12 9,60b 1,45a 50 20

Médias com a mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan (p < 0,05)

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Figura 8. Eletromicrografia da caracterização do processo de pré-penetração de Moniliophthora

perniciosa em frutos de cacaueiro: A) basidiósporo (Es) com formação de hilo (*) aderido à superfície

do hospedeiro observado às 3HAI, B) basidiósporo rodeado de matriz mucilaginosa (seta vermelha)

com emissão e alongamento do tubo germinativo (Tg), C) basidiósporo rodeado de matriz mucilaginosa

(seta vermelha) e aparente dissolução da cera epicuticular do hospedeiro no local de contato com a

estrutura fúngica (seta branca), D-E) hifa rodeada de matriz mucilaginosa (seta vermelha),e D) hifa

com ponta “club-shaped” (Cs) sobre estômato (seta branca).

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De modo geral, o Catongo apresentou mais penetrações fúngicas (p<0.05) (Figura 9) em

relação ao genótipo resistente.

Moniliophthora perniciosa em frutos de cacaueiro apresentou vários tipos de penetrações,

na base de tricomas glandulares (Figura 10A), direta através da cutícula do fruto (Figura 10B-

E, seta branca) e através de aberturas naturais, sendo estas predominantemente via estômatos

(Figura 10C-F).

Figura 9. Número médio de penetrações de Moniliophthora perniciosa por µm2 em frutos de cacaueiro de

genótipo suscetível e resistente a vassoura-de-bruxa do cacaueiro. Médias com letras diferentes apresentam

diferença significativa (p<0,05) pelo teste de Duncan a 5%.

No Catongo as penetrações fúngicas começaram às 3HAI aumentando ao longo do tempo

e alcançando seu pico máximo às 8HAI (Figura 11A). Por outro lado, a ocorrência de

penetrações fúngicas no TSH1188 teve início às 8HAI apresentando diferença significativa

(p<0.05) em relação às penetrações observadas às 12HAI (Figura 11B). Em ambos os

genótipos as penetrações através da base de tricomas glandulares foram às menos recorrentes.

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Figura 10. Eletromicrografia dos múltiplos modos de penetração apresentados por Moniliophthora

perniciosa em frutos de cacaueiro de genótipos contrastantes a vassoura-de-bruxa do cacaueiro: A)

através de base de tricoma glandular, B) penetração direta com evidente força de turgor sobre a

cutícula do fruto (seta branca), C e D) através de estômatos subepidermais, E) penetração através de

estômato subepidermal e penetração direta (seta branca) com evidente dissolução da cera epicuticular

do fruto e F) penetração através de estômato.

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Figura 9. Número médio de penetrações de Moniliophthora perniciosa por mm2 em frutos de cacaueiro de

genótipo suscetível e resistente a vassoura-de-bruxa do cacaueiro. Médias com letras diferentes apresentam

diferença significativa (p<0,05) pelo teste de Duncan a 5%.

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4.2 Análise enzimática das peroxidases de guaiacol (GPx) e do ascorbato (APx)

De maneira geral foi observado que a atividade de ambas as enzimas foram ligeiramente

maiores no TSH1188, o qual exibiu uma atividade aproximadamente 5% maior nos tratamentos

inoculados com o fungo.

A atividade da peroxidase do guaiacol (GPx) em frutos de TSH1188 infectados com M.

perniciosa mostraram aumento linear nos tempos iniciais da infecção, das 3 HAI às 48 HAI,

alcançando sua máxima atividade às 48 HAI, diminuindo a partir desse ponto até sua mínima

atividade às 2784 HAI. Ao contrário, no Catongo a atividade desta enzima foi menor, com

exceção dos picos de atividade máxima observada as 360 e 1080 HAI. É importante ressaltar

que mesmo apresentando picos na sua atividade, estes foram menores que os observados no

TSH1188 (Figura 12).

Com relação a atividade da enzima peroxidase do ascorbato (APx), observou-se que o

TSH1188 inoculado com M. perniciosa apresentou atividade da enzima maior e constante em

todos os pontos avaliados, existindo um pico significativo na atividade da enzima às 0 HAI, e

de forma análoga no Catongo, com exceção do pico observado às 0 HAI (Figura 13).

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Figura 10. Determinação da atividade da peroxidase do guaiacol (GPx) em frutos de cacaueiro de genótipos

contrastantes à vassoura-de-bruxa do cacaueiro, inoculados e não inoculados com Moniliophthora

perniciosa. Médias com letras diferentes apresentam diferença significativa (p<0,05) pelo teste de Duncan

a 5%.

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Figura 11. Determinação da atividade da peroxidase do guaiacol (GPx) em frutos de cacaueiro de genótipos

contrastantes à vassoura-de-bruxa do cacaueiro, inoculados e não inoculados com Moniliophthora

perniciosa. Médias com letras diferentes apresentam diferença significativa (p<0,05) pelo teste de Duncan

a 5%.

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DISCUSSÃO

Este estudo descreve pela primeira vez os fatores envolvidos no processo infeccioso de

M. perniciosa em frutos de cacaueiro de genótipos contrastantes para resistência a VBC.

Verificou-se que a expressão da resistência de frutos de cacaueiro foi, provavelmente,

diferenciada pelos fatores pré-formados na superfície dos frutos dentre os quais encontram-se

a camada de cera epicuticular, a topografia da sua superfície, tipo e densidade de tricomas e

tipo de estômatos. A camada de cera epicuticular, primeira barreira encontrada pelos fungos

fitopatogênicos nos processos iniciais da infecção (STOCKWELL & HANCHEY, 1985), foi

morfologicamente similar entre os genótipos de cacau estudados. Entretanto, a similaridade

morfológica da camada epicuticular observada sugere que a contribuição desta na resistência

de frutos de cacaueiro a M. perniciosa não é de natureza física e sim química, a qual deve ter

contribuído retardando o crescimento do patógeno. A interação entre as ceras epicuticulares e

a resistência a doenças tem sido demostrada em alguns patossistemas (Blumeria graminis –

ballica, PATTO e NIKS, 2001; Puccinia psidii – goiabeira, ROCABADO, 2003, SENA et al.,

2008; M. perniciosa – meristema de cacau, SENA et al., 2014; Dothistroma pini – pinho,

FRASER et al., 2015). É citado que as ceras epicuticulares estão positivamente relacionadas à

deficiência/dificuldade da germinação dos esporos fúngicos na superfície do hospedeiro

(LICHSTON e PIRES DE GODOY, 2006), provavelmente devido à presença na sua

composição química de metabólitos secundários com propriedades fúngicas. De forma análoga,

é suposto neste trabalho que a baixa porcentagem de basidiósporos germinados na superfície

do fruto de cacaueiro do genótipo TSH1188 tenha sido influenciada tanto pela presença de

moléculas antifúngicas na sua camada de cera epicuticular (SENA et al., 2014; CARVALHO

et al., 2014), quanto pela maior densidade de tricomas glandulares na sua superfície (570/cm2

no TSH1188, 292/cm2 no Catongo). Os tricomas glandulares são considerados mecanismos

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físico-químico de defesa nos patossistemas Glomerella cingulata – feijoeiro (JERBA et al.,

2005) e M. perniciosa – cacaueiro (ALMEIDA et al., 2017). Nestes estudos, os tricomas

glandulares foram observados em maior quantidade nos genótipos resistentes quando

comparados com os suscetíveis. Ademais desta característica física, os tricomas glandulares

exsudam compostos solúveis em água tais como a α-1,3-glucanase em Caupi (RODRIGUES et

al., 2007) e a filoplanina em cacaueiro (AMARAL et al., 2015; ALMEIDA et al., 2017).

Compostos citados por influenciar à germinação de Fusarium oxysporum e de M. perniciosa na

superfície do hospedeiro.

Conjuntamente à observação dos tricomas verificou-se na superfície de ambos os

genótipos estudados a existência de estômatos amonocíticos com ausência de células

subsidiárias, mas, em densidade similar. A influência dos estômatos e suas características na

resistência a doenças têm sido expostas por vários autores em diferentes patossistemas, dentre

os quais podem ser citados Oidiopsis haplophylli – pimentão (LIMA et al., 2010) e Puccinia

graminis f. sp. tritici – trigo (BALARDIN, 2002). Neste último patossistema observou-se que

algumas variedades de trigo resistentes à ferrugem apresentaram abertura estomática tardia,

acarretando dessecação do tubo germinativo devido à evaporação do orvalho combinada com a

demora na abertura dos estômatos. Além disto, as próprias estruturas do estômato (abertura

estreita, células guarda elevadas) também são consideradas fatores de resistência (BALARDIN,

2002). Apesar de no presente estudo não ter sido observada diferença significativa na densidade

nem no tamanho da abertura estomática entre os genótipos estudados, observou-se, no genótipo

suscetível-Catongo, a predominância de estômatos dentro de estruturas chamadas de “criptas

estomáticas”. As criptas estomáticas são invaginações na superfície do fruto produzidas quando

a cera epicuticular da superfície do fruto reveste as células epidérmicas e não a cavidade externa

do estômato, desenvolvendo assim uma estrutura semelhante a uma caverna (RAVEN et al.,

2001). Na literatura são escassas as informações que associem este tipo de estômatos como

mecanismos de defesa às doenças, mas, é citado que este tipo de estômatos favorece a

resistência a seca, por impedir a perda de água suscitada pela abertura e fechamento dos

estômatos, mantendo assim a umidade dentro da cripta (HASSIOTOU et al., 2009). Com base

nos resultados deste trabalho e, considerando que M. perniciosa precisa de condições de alta

umidade para desencadear seu processo infeccioso, é suposto que a predominância de estômatos

amonocíticos em criptas estomáticas esteja relacionada com a retenção ou aumento da umidade

da superfície do fruto, por conseguinte favorecendo a deposição, adesão e posterior germinação

dos basidiósporos de M. perniciosa.

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Durante o evento de penetração de M. perniciosa em frutos de cacaueiro observou-se que

o desenvolvimento de estruturas de infecção foi similar em ambos os genótipos. No entanto, a

resistência do TSH1188 foi associada a um processo infeccioso mais lento, relacionado à

restrição do alongamento do tubo germinativo, o qual foi provavelmente influenciado pelas

características da superfície dos frutos discutidas acima. O início da germinação dos

basidiósporos de M. perniciosa em frutos de cacaueiro ocorreu 5 horas mais cedo no genótipo

suscetível (3 HAI) em relação ao genótipo resistente (8 HAI) corroborando os resultados

encontrados por Sena et al. (2014) em um estudo do ápice caulinar de cacaueiro infectado por

M. perniciosa, onde o padrão temporal da emissão e do alongamento (µm) dos tubos

germinativos foi semelhante ao observado na interação M. perniciosa – frutos de cacaueiro, em

que a emissão do tubo germinativo e seu alongamento foi mais tardia no genótipo resistente,

quando comparado ao genótipo suscetível.

No estudo da interação M. perniciosa – frutos de cacaueiro, também foi observada a

existência de múltiplos modos de penetração, através da base de tricomas glandulares,

diretamente através da cutícula do fruto (BAKER & HOLLIDAY, 1957) e através de estômatos

(FRIAS et al., 1991; SILVA & MATSUOKA, 1999). Este último modo de penetração parece

ser independente do nível de resistência do hospedeiro e no geral é o modo preferencial de

penetração do patógeno nos tecidos do hospedeiro. Este resultado contrasta com o observado

na interação M. perniciosa – meristema apical de cacaueiro por Sena et al., (2014) onde

penetrações através de estômatos não foram predominantes. Determinou-se também o pico de

penetração de M. perniciosa nos tecidos do hospedeiro, às 3 HAI e às 8 HAI nos frutos de

cacaueiro de genótipo suscetível e resistente respectivamente. O significado deste resultado está

diretamente relacionado com o sucesso da infecção, já que a adesão dos basidiósporos assegura

que o patógeno permaneça em contato com o hospedeiro por tempo necessário para seu correto

desenvolvimento e consequente penetração.

Embora as estruturas na superfície do hospedeiro sejam componentes importantes da

defesa do hospedeiro contra doenças, outro mecanismo que merece atenção são os eventos de

sinalização que são desencadeados já nos primeiros minutos de contato entre o patógeno e o

hospedeiro. Este processo é inicializado com a percepção de um sinal extracelular transmitido

através da membrana plasmática, o qual resulta no acúmulo de moléculas intracelulares

sinalizadoras e indução de uma cascata de fosforilação que permite a expressão de genes

específicos, ocorrendo assim, vários processos fisiológicos que determinam também a

resistência pós-formada a doenças (TUCKER; TALBOT, 2001). Um exemplo de moléculas

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sinalizadoras que permitem o acúmulo de compostos que servem como mecanismos de

resistência a doenças são as enzimas do tipo peroxidase (PODs). Por ex., nos patossistemas

Bremia lactucae Regel – alface e Pseudoperonospora cubensis – melão, alta atividade de

peroxidases e isoenzimas têm sido relacionada à resistência, podendo até serem utilizadas como

marcadores bioquímicos de resistência pelo fato de, na maioria das vezes, serem as primeiras

enzimas a terem sua atividade alterada, quando a planta é submetida a qualquer condição de

estresse (físico, químico e biológico) (REUVENI et al., 1991; REUVENI et al., 1992; SIEGEL,

1993; LEE et al., 2001; HSU & KAO, 2003).

Neste trabalho, observou-se maior atividade da peroxidase de guaiacol no TSH1188,

genótipo resistente, durante os primeiros estágios da infecção, ocorrendo de maneira contraria

no Catongo, genótipo suscetível, em que a atividade da enzima aumentou nos estágios tardios

da doença. Com respeito à atividade da peroxidase do ascorbato, observou-se uma atividade

constante ao longo dos tempos avaliados, porém, sempre maior no TSH1188 em comparação

com o Catongo. Um padrão temporal semelhante à atividade da peroxidase do guaiacol foi

observado também na peroxidase do ascorbato, apresentando um pico significativo (p>0,05) na

sua atividade às 0 HAI. Van Loon et al. (2006) sugere que estas enzimas (PODs) possuem ação

imediata na defesa das plantas, com ação direta sobre as estruturas invasoras. Sendo assim, o

padrão temporal da atividade da enzima peroxidase do guaiacol e ascorbato no TSH1188,

genótipo resistente, sugere um rápido reconhecimento do patógeno e posterior indução da

cascata de defesa, por conseguinte, restringindo a colonização dos seus tecidos. No Catongo,

pelo contrário, sugere um reconhecimento tardio da planta a ação do patógeno, o que possibilita

seu estabelecimento e posterior colonização dos tecidos do hospedeiro. Condição

correlacionada com a transição morfológica do fungo, de biotrófica à fase necrotrófica. Nos

estágios tardios da interação M. perniciosa – frutos de cacaueiro existe o crescimento do micélio

dicariótico intracelular nos tecidos do hospedeiro concomitante com necrose e morte dos

tecidos infectados produzida pelo estresse oxidativo causado pela superprodução e acúmulo de

ROS produzidas em resposta à infecção (CEITA et al., 2007).

Diante das evidências obtidas neste trabalho confirmou-se a hipótese de que frutos de

cacaueiro do genótipo TSH1188 apresenta mecanismos estruturais e bioquímicos que

dificultam ou retardam a ação de M. perniciosa. A resistência genética do genótipo TSH1188

foi caracterizada por um período de latência maior (60 DAI), processo infeccioso reduzido e,

consequentemente, menor incidência e severidade sintomatológica; confirmando que o

genótipo TSH1188 é, de fato, um genótipo resistente a VBC. Por outro lado, o genótipo

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Catongo apresentou reconhecimento tardio do patógeno e ausência de diversas características

consideradas mecanismos de resistência, permitindo o estabelecimento do patógeno e a

colonização dos tecidos do hospedeiro resultando em um menor período de incubação (15 DAI)

e elevada severidade da doença. O presente trabalho colabora com a descrição da evolução

temporal dos sintomas e das reações de defesa de frutos de cacaueiro de genótipos contrastantes

a VBC submetidos a infecção fúngica, servindo como referencial para o aprimoramento de

medidas de controle da doença e ponto de partida para direcionar futuros experimentos na área

genômica.

.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

• O processo infeccioso (adesão, germinação e penetração) de M. perniciosa mostrou-se

significativamente mais tardio no genótipo TSH1188, portanto, M. perniciosa

apresentou maior período de incubação (60 DAI) no genótipo TSH1188 e

consequentemente menor incidência da doença e menor severidade sintomatológica;

• Frutos do genótipo TSH1188 apresentaram aumento da atividade das enzimas da classe

PODs nos estágios iniciais da infecção (0-48 HAI) o que sugere a rápido

reconhecimento de M. perniciosa nos seus tecidos;

• Frutos do genótipo TSH1188 apresentaram diferentes mecanismos de resistência, sendo

estes pré-formados (características na sua superfície) e pós-formado (elevada atividade

enzimática), e estes influenciaram na restrição do desenvolvimento e colonização de M.

perniciosa;

• Genótipos de cacaueiro com mecanismos de resistência pré- e pós-formados,

provavelmente, possuem resistência mais duradoura do que aqueles que apresentam só

um mecanismo de defesa.

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