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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE COLETIVA NARA DE ANDRADE PARENTE INTERAÇÕES ENTRE AMBIENTE FAMILIAR E IMAGEM CORPORAL ENTRE ESTUDANTES DE CURSOS DA ÁREA DE SAÚDE: uma análise comparativa Brasil- Espanha Fortaleza - Ceará 2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE

COLETIVA

NARA DE ANDRADE PARENTE

INTERAÇÕES ENTRE AMBIENTE FAMILIAR E IMAGEM

CORPORAL ENTRE ESTUDANTES DE CURSOS DA ÁREA DE

SAÚDE: uma análise comparativa Brasil- Espanha

Fortaleza - Ceará

2014

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NARA DE ANDRADE PARENTE

INTERAÇÕES ENTRE AMBIENTE FAMILIAR E IMAGEM

CORPORAL ENTRE ESTUDANTES DE CURSOS DA ÁREA DE

SAÚDE: uma análise comparativa Brasil- Espanha

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado Acadêmico em Saúde Coletiva,

do Centro de Ciências da Saúde da

Universidade Estadual do Ceará, como

requisito parcial para a obtenção do grau

de mestre em Saúde Coletiva.

Orientador(a): Dra Helena Alves de

Carvalho Sampaio

FORTALEZA - CEARÁ

2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

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DEDICATÓRIA

A Deus.

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AGRADECIMENTOS

A Deus que é e foi fundamental em todos os momentos .

À minha querida professora Helena que hoje é bem mais que orientadora, pois

em cinco anos de trabalho tive a oportunidade de conhecer e admira-la mais a

cada dia. Além de ensinar ela me apoia e me inspira a continuar na carreira

acadêmica e trabalhando pela Nutrição.

À minha família que sempre me apoiou em minhas escolhas e me propiciou

apoio para continuar meus estudos de mestrado.

Ao meu namorado Ciro, que me acompanha desde a qualificação dando

suporte e ajudando nos momentos de dificuldades.

Aos meus amigos que sempre se felicitaram por minhas conquistas.

Aos meus colegas de curso do mestrado que foram incentivadores e

colaboradores do meu trabalho.

Ao Elzo, grande amigo e colega de mestrado que se envolveu e contribuiu com

o meu trabalho. Sem a sua ajuda a análise estatística não seria tão clara e

completa.

À Funcap (Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa) pela concessão de bolsa

durante o período de realização deste mestrado.

As componentes da minha banca Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira e Profa. Dra. Clarice Maria Araújo Chagas Vergara que contribuíram brilhantemente para este trabalho final.

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RESUMO

O ambiente familiar contribui para a formação da auto estima do indivíduo, que, por sua vez, está intimamente ligada à auto imagem. A imagem corporal é um importante componente da identidade pessoal. É a forma pela qual o corpo apresenta-se para si próprio. Quando esta se apresenta para o indivíduo de forma ruim, se torna um fator desencadeante para transtornos alimentares. Alguns grupos sofrem grande pressão social sobre sua imagem física devido sua atuação estar relacionada ao controle de peso ou imagem corporal. Estes são propícios a apresentarem insatisfação corporal e, assim, desenvolver transtornos alimentares. Estudantes da área de saúde configuram um dos grupos de risco. Assim o objetivo deste estudo é avaliar a imagem corporal e sua correlação com o ambiente familiar deste público, considerando duas cidades de dois países, Fortaleza – Brasil e Múrcia - Espan. Trata-se de um estudo analítico, com abordagem quantitativa. A coleta de dados foi realizada a partir de um instrumento dividido em três partes: dados de identificação e antropométricos; aspectos ligados à imagem corporal (Questionário de Imagem Corporal – Body Shape Questionnaire - BSQ); e aspectos ligados ao ambiente familiar (Escala de Ambiente Familiar). Foi constatado desejo de perda de peso em ambos os grupos, embora de forma mais pronunciada entre os estudantes espanhóis (p = 0,002). A insatisfação com a imagem corporal atingiu 43,2% dos estudantes brasileiros e 47,0% dos espanhóis (p = 0,801). Diferenças entre o perfil das famílias foram comprovadas, provavelmente como resultado de diferenças culturais vivenciadas pelos dois grupos. As famílias dos estudantes espanhóis foram mais coesas, com maior expressividade de sentimentos, maior conflito, interesses intelectuais e atividades de lazer em família, organização e relacionamento interpessoal entre os membros. As famílias dos estudantes brasileiros apresentaram maior religiosidade e controle dos pais sobre os filhos. O BSQ foi correlacionado positivamente com peso atual, diferença entre peso atual e desejado, e Índice de Massa Corporal. A análise comparativa entre imagem corporal (BSQ) e ambiente familiar foi pioneira neste tipo de estudo e demonstrou diferenças entre os estudantes com e sem insatisfação corporal nos dois grupos de estudantes avaliados: entre os brasileiros, satisfação com imagem corporal associou-se a famílias com maior independência entre os membros, enquanto que a insatisfação associou-se a famílias com mais assertividade e religiosidade; entre os espanhóis a satisfação com imagem corporal foi associada a famílias com maior expressividade de sentimentos, enquanto a insatisfação associou-se a famílias mais conflituosas. O estudo evidenciou a necessidade de se incluir avaliação de imagem corporal e de ambiente familiar nas ações de promoção da saúde em grupos vulneráveis a distorções de imagem corporal. Palavras-chave: relações familiares; imagem corporal; estudantes de ciências da saúde; prática profissional.

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ABSTRACT

The family environment contributes to the formation of the self esteem of the individual, which, in turn, is closely linked to self image. Body image is an important component of personal identity. It is the format in which the body has to himself. When it is presented to the individual in a distorted form, becomes a trigger for eating disorders. Some groups suffer a great social pressure about their body image due to their performance being closely related to weight control or body image. These groups are more prone to have body dissatisfaction, and thus develop eating disorders. Students healthcare constitute one of the groups at risk for developing eating disorders. Thus the aim of this study is to evaluate body image and its correlation with the family atmosphere of this audience, considering two cities of two countries, Fortaleza - Brazil and Murcia - Spain. It is a descriptive study, with quantitative and comparative approach. Data collection was conducted from an instrument divided into three parts: identification and anthropometric data; related to body image (- Body Shape Questionnaire - Questionnaire Body Image BSQ) aspects; and aspects relating to family environment (Family Environment Scale). It was found desire weight loss for both groups, although more pronounced among Spanish students. Dissatisfaction with body image reached 43.2% of Brazilian students and 47.0% of Spanish students (p = 0.801). Differences between the profiles of families were proven, probably as a result of cultural differences experienced by the two groups. Thus, families of Spanish students were more cohesive, more expressive of feelings, greater conflict, intellectual interests and leisure activities in family, organization and interpersonal relationships among members. Families of Brazilian students showed greater religiosity and parental control over children. The BSQ was positively correlated with current weight, difference between current and desired body mass index and weight. The comparative analysis between body image (BSQ) and family environment was a pioneer in this type of study and demonstrated that there are differences between students with and without body dissatisfaction in both groups of students assessed: among Brazilians, satisfaction with body image was associated with families with greater independence among members, while dissatisfaction was associated with families with more assertiveness and religion; among Spaniards satisfaction with body image was associated with families with greater expressiveness of feelings, while dissatisfaction was associated with more conflictual families. The study highlighted the need to include assessment of body image and family environment in activities promoting health in vulnerable to distortions of body image groups.

Keywords: family environment; body image; health courses; student; eating disorder;

professional practice.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição dos estudantes segundo local e curso

universitário. Fortaleza, 2014........................................... 35

Tabela 2. Distribuição dos estudantes segundo local e ano

cursado. Fortaleza, 2014.................................................. 36

Tabela 3. Descrição das medianas e percentis 25 e 75 dos dados

antropométricos em estudantes da saúde segundo

local. Fortaleza, 2014. (n = 392)....................................... 37

Tabela 4. Expectativa dos estudantes avaliados em relação ao

peso e altura, segundo local. Fortaleza, 2014.................. 38

Tabela 5. Resultado do Body Shape Questionnaire (BSQ)

aplicado nos estudantes avaliados, segundo local.

Fortaleza, 2014................................................................. 39

Tabela 6. Resultado da Escala de Ambiente Familiar (EAF) nos

estudantes, segundo domínio, dimensão e local.

Fortaleza, 2014................................................................. 40

Tabela 7. Comparação das medianas dos dados de idade e

antropométricos dos estudantes avaliados, segundo

categorias do Body Shape Questionnaire (BSQ) e local.

Fortaleza, 2014................................................................. 42

Tabela 8. Comparação das medianas dos dados das dimensões

da Escala de Ambiente Familiar (EAF) dos estudantes

segundo os resultados do Body Shape Questionnaire

(BSQ) e local. Fortaleza, 2014......................................... 47

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Correlação entre BSQ e Peso atual auto-referido dos

estudantes de Fortaleza-BR. Fortaleza, 2014.................. 45

Gráfico 2. Correlação entre BSQ e Peso atual auto-referido dos

estudantes de Murcia-ES. Fortaleza, 2014...................... 45

Gráfico 3. Correlação entre BSQ e diferença entre peso atual e

desejado entre os estudantes de Fortaleza-BR.

Fortaleza, 2014................................................................. 46

Gráfico 4. Correlação entre BSQ e diferença entre peso atual e

desejado entre os estudantes de Murcia-ES. Fortaleza,

2014.................................................................................. 46

Gráfico 5. Correlação entre BSQ e IMC entre os estudantes de

Fortaleza-BR. Fortaleza, 2014.......................................... 47

Gráfico 6. Correlação entre BSQ e IMC entre os estudantes de

Murcia-ES. Fortaleza, 2014.............................................. 47

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

TA Transtorno Alimentar

AN Anorexia Nervosa

BN Bulimia Nervosa

FUNCAP Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e

Tecnológico

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

UECE Universidade Estadual do Ceará

UCAM Universidad Católica San Antonio de Murcia

EAF Escala de Ambiente Familiar

FES Family Environment Scale

BSQ Body Shape Questionnaire

BAQ Body Attitudes Questionnaire

EEICA Escala de Evaluación de Insatisfacción Corporal para

Adolescentes

CID-10 Classificação estatística internacional de doenças e problemas

relacionados à saúde

DSM-5 Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

IMC Índice de Massa Corporal

EAF Escala de Ambiente Familiar

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 13

2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................... 17

2.1 Ambiente Familiar................................................................................ 19

2.2 Imagem corporal.................................................................................. 21

2.3 Transtornos alimentares .................................................................... 23

2.3.1 Transtornos alimentares em estudantes de Nutrição e outros

cursos da área de saúde ..........................................................................

27

3 OBJETIVOS ............................................................................................ 29

3.1 Geral ..................................................................................................... 29

3.2 Específicos .......................................................................................... 29

4 METODOLOGIA ...................................................................................... 30

4.1 Tipo de estudo .................................................................................... 30

4.2 População e amostra .......................................................................... 30

4.3 Coleta, tabulação e análise dos dados ............................................. 31

4.3.1 Coleta................................................................................................. 31

4.3.2 Tabulação e análise dos dados....................................................... 34

4.4 Aspectos éticos .................................................................................. 35

5 RESULTADOS ......................................................................................... 36

6 DISCUSSÃO ............................................................................................ 52

7 CONCLUSÕES ........................................................................................ 59

REFERÊNCIAS ........................................................................................... 61

ANEXO......................................................................................................... 66

ANEXO A..................................................................................................... 67

APÊNDICE ................................................................................................. 70

APÊNDICE 1 – Instrumento de coleta de dados ................................... 71

APÊNDICE 2 – Termo de consentimento livre e esclarecido ............... 75

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1 INTRODUÇÃO

A imagem corporal é um importante componente da identidade

pessoal. É a forma pela qual o corpo se apresenta para si próprio. É dividida

em dois componentes: o perceptivo que refere-se à imagem, construída na

mente, e o atitudinal, que diz respeito aos sentimentos, pensamentos e ações

em relação à imagem do corpo (KAKESHITA; ALMEIDA, 2006; GONÇALVES

et al., 2008; ALVARENGA et al., 2010a).

Saikali et al. (2004) apontam associação entre imagem corporal e

desencadeamento de transtornos alimentares (TA), pois o contexto

desencadeador de TA é resultado da combinação entre dinâmica familiar, meio

cultural e aspectos da personalidade do indivíduo.

Os TAs são divididos em duas categorias principais: anorexia nervosa

(AN) e bulimia nervosa (BN). A AN é definida por perda de peso auto-imposta,

acompanhada de disfunção endócrina e atitude psicopatológica distorcida em

relação à imagem, à alimentação e ao peso. Já a BN apresenta episódios de

compulsão alimentar e métodos compensatórios inadequados para evitar o

ganho de peso (PIRES et al., 2010).

Os dois transtornos são relacionados por apresentarem a

psicopatologia comum de uma ideia prevalente envolvendo a preocupação

excessiva com o peso e a forma corporal (medo de engordar), que leva os

pacientes a se engajarem em dietas restritivas ou a utilizarem métodos

inapropriados para alcançarem o corpo idealizado. Tais pacientes costumam

julgar a si mesmos baseando-se quase que exclusivamente em sua aparência

física, com a qual se mostram sempre insatisfeitos (PENZ et al., 2008).

Nos dois tipos de TA, o peso e o formato do corpo exercem influência

na determinação da autoestima dos pacientes, que, na maioria das vezes,

encontra-se baixa. A prevalência desses transtornos é de 0,3 a 3,7% para AN e

1,1 a 4% para BN na população jovem feminina segundo a American

Psychiatric Association (PENZ et al., 2008; KIRSTEN et al., 2009; PIRES et al.,

2010). Os homens também são acometidos por TA, mas em proporções

menores, representando apenas 10% dos casos de transtornos alimentares. A

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média de idade de início do TA em homens é entre 18 e 26 anos, maior que em

mulheres, que costuma ser de 12 a 21 anos. Esta diferença pode ser

relacionada com a puberdade masculina ser mais tardia que a feminina

(ALVARENGA et al., 2010b).

O sexo feminino é mais vulnerável às pressões sociais, econômicas e

culturais associadas aos padrões estéticos e tem maior preocupação com a

imagem corporal. O culto ao corpo e o consumismo são dois fatores apontados

para a crescente insatisfação das mulheres com sua imagem corporal. De

maneira geral, a sociedade rejeita, discrimina e reprova pessoas obesas, pois o

ideal de corpo passou a ser a magreza para as mulheres e corpo musculoso

para os homens. O corpo com padrão de sobrepeso passou a ser alvo de

discriminação e é estigmatizado como produto de preguiça e falta de disciplina

e motivação. Essa pressão para atingir o corpo ideal difundido como padrão de

beleza leva à piora da imagem corporal, aumento do comer desordenado e a

tentativas mal-sucedidas de controle de peso (GONÇALVES et al., 2008;

ALVARENGA et al., 2010a; GARCIA et al., 2010).

A insatisfação corporal caracteriza a discrepância entre a imagem

corporal real e a idealizada e é associada com sintomas depressivos, estresse,

baixa autoestima, maior restrição alimentar e fuga da atividade física, indicando

a importância de se avaliar esse parâmetro. As mulheres apresentam maior

grau de insatisfação corporal, assim como de transtornos alimentares em

relação aos homens (ALVARENGA et al., 2010a). Entre estes, há um risco

maior em bailarinos, modelos, jóqueis, ginastas, nadadores, fisiculturistas,

corredores e lutadores de luta livre (PIRES et al., 2010; ALVARENGA et al.,

2010b).

Entre os grupos com maior chance de desenvolver TA destacam-se

aqueles cujas atuações estão ligadas à preocupação exagerada com o peso ou

a forma corporal como atletas, modelos, atrizes e nutricionistas. Acadêmicos de

cursos universitários em que a aparência física é importante, como os cursos

de Educação Física e Nutrição, também merecem atenção (GONÇALVES et

al., 2008; LAUS et al., 2009).

Nesta perspectiva estudos vêm questionando se esses futuros

profissionais, que na sua grande maioria, são mulheres jovens, por estarem

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constantemente preocupados com a imagem corporal, com o sobrepeso e com

a alimentação, podem ser mais suscetíveis ao desenvolvimento de transtornos

alimentares (PENZ et al., 2008; KIRSTEN et al., 2009; PIRES et al., 2010).

Sobre o contexto desencadeador de TA, sabe-se que há etiopatogenia

multifatorial, com hipóteses da influência combinada da dinâmica familiar, do

meio cultural e de aspectos da personalidade do indivíduo como fatores

concorrentes para a predisposição, instalação e manutenção dos distúrbios. O

alto nível de estresse dos estudantes de áreas das Ciências Biológicas e da

Saúde, por conta de exagerada carga horária, atividades curriculares e

extracurriculares, autocobrança, e por serem estudantes de uma área

relacionada à alimentação, nutrição e cuidados com a composição corporal,

possivelmente contribui também para a maior prevalência de distúrbios

alimentares nessa população. Por esta razão a população de estudantes

universitários merece ser avaliada em estudos aferindo a auto percepção da

imagem corporal, bem como fatores de risco para transtornos alimentares

neste grupo (PIRES et al., 2010), aí se incluindo o ambiente familiar em que

estão inseridos.

Diante do quadro delineado, percebe-se que a população de

estudantes universitários da área de saúde, com maioria feminina, merece

atenção especial quanto à investigação do ambiente familiar e da imagem

corporal que elas têm, pois constituem grupo mais vulnerável tanto pelo Curso

escolhido, como pelo seu gênero. Tal investigação pode contribuir para

prevenir TA entre elas e para a formação profissional e futura prática, ao

direcionar ações que possam auxiliá-los a perceber mais claramente o nexo

existente entre TAs, distúrbios de imagem corporal e a preocupação exagerada

com a forma física. Com o objetivo de esclarecer quais fatores podem induzir

esta alteração da autoimagem, percebe-se a importância de investigar-se o

ambiente familiar destes estudantes. Assim, o presente projeto pretende

enfocar esta temática em estudantes dos cursos da área de saúde.

Além da relevância da temática proposta, adicionalmente propõe-se

comparar duas realidades: a de estudantes brasileiros e espanhóis. E por que

comparar especificamente estes dois grupos populacionais? A ideia surgiu

considerando a existência de um convênio de Cooperação Científica e

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Desenvolvimento da Pós Graduação FUNCAP/CAPES (Fundação Cearense de

Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico/Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) do Programa de Mestrado

Acadêmico em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

com a Universidad Católica San Antonio de Murcia (UCAM).

À época da celebração do convênio, uma pesquisa estava sendo

planejada pelo grupo de pesquisa em Nutrição e Doenças Crônico-

Degenerativas da UECE, pensando-se em desenvolver o tema apresentado

junto aos estudantes dos cursos da área de saúde daquela Instituição.

Constatou-se, então, que pesquisadores da UCAM também desenvolviam

estudo semelhante. Foi assim elaborada uma proposta conjunta face algumas

similaridades de prevalência de TA entre os dois países e a curiosidade de

avaliar se fatores associados seriam similares nos dois países. No Brasil a

prevalencia de AN é estimada entre 0,5 a 1% e a de BN varia de 1 a 3% em

adolescentes e mulheres no início da vida adulta (HUDSON et al., 2007). A

prevalência dos transtornos alimentares encontrada em estudo em Reus

(Espanha) é semelhante à encontrada em outros estudos realizados naquele

país, em mulheres com idades entre 12 a 21 anos, sendo a prevalência da AN

de 0,3 a 0,4% e de BN, entre 0,7 e 0,8% (BAIGES et al., 2008).

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Esta revisão abordará os principais temas discutidos neste estudo: o

ambiente familiar e a imagem corporal. Inicialmente como ocorre a inter-relação

dos temas e, a seguir, alguns aspectos conceituais e operacionais para

investigação deles.

O ambiente familiar é parte formadora da autoestima do indivíduo. As

características pessoais dos membros familiares, suas habilidades de

enfrentamento e seu bem-estar podem afetar a qualidade das relações

familiares. Assim, quando um membro da família apresenta um distúrbio

emocional ou comportamental, provavelmente todo o ambiente familiar é

afetado. Portanto, pode influenciar a formação da imagem corporal, importante

componente da identidade pessoal e seu componente subjetivo se refere à

satisfação pessoal com seu tamanho corporal ou partes específicas de seu

corpo. Ela pode ser definida como a imagem que se tem na memória sobre o

tamanho e a forma do próprio corpo, incluindo sentimentos em relação a essas

características e as suas partes constituintes (KAKESHITA et al., 2006;

GONÇALVES et al., 2008; ALVARENGA et al., 2010a).

Mosquera e Stobaus (2006) discorrem sobre autoimagem e autoestima

no ensino superior por trabalhar com aspectos da subjetividade e da

afetividade humana. A autoimagem é o (re)conhecimento que fazemos de nós

mesmos, como sentimos nossas potencialidades, sentimentos, atitudes e

ideias e a autoestima é o quanto gostamos de nós mesmos, realmente nos

amamos, nos apreciamos. Eles destacam alguns pontos importantes:

1) ambas surgem no processo de atualização continuada das interação do

sujeito em grupo, isto é, são interinfluências constantes que levam ao auto

entendimento e entendimento do outro do modo mais real possível;

2) ao possuírem melhor (mais real) e coerentes autoimagem e autoestima, os

sujeitos terão a tendência a gostar mais dos outros seres humanos, ser mais

afetuosos e tentar trabalhar ou mesmo cuidar muito mais de aspectos que

consideramos mais positivos em si e nos outros;

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3) a baixa autoestima e autoimagem se constituem em uma alteração de saúde

grave, que favorece o egoísmo e tende a criar dependência, minando as

relações interpessoais;

4) autoimagem e autoestima realistas no educador e no cuidador são, portanto,

fundamentais para auxiliar educandos em desenvolvimento, pois eles poderão

acreditar mais em suas potencialidades, ao se propor mais motivação em sala

de aula e/ou na situação de cuidado, ao se colocar mais de si no ambiente de

trabalho/cuidado;

5) professores universitários, assim como profissionais de saúde são

formadores de opinião e são modelos de identidade para seus educandos,

especialmente para os que estão no final da adolescência ou princípio da vida

adulta, quando se sabe que têm muito ainda a aprender, em termos de si

próprio, sobre seus valores, seus sentimentos e suas expectativas, sobre

interações e relações com os outros;

6) o papel de um professor/profissional mais saudável, que tenha melhores e

mais sadias relações interpessoais, deve, sem dúvida, levar os

educandos/pessoas por ele cuidadas à auto realização, para chegar a ser e

realizar-se e ajudar outros, em direção à educação mais inclusiva.

Percebe-se, então, como se apresenta este quadro no âmbito

universitário em que estudantes apresentam-se preocupadas em demasia com

suas imagens que representam o ter em detrimento do ser, o que pode

interferir na qualidade de seu papel como estudante por este processo de

preocupação exagerada com a imagem gerar desfavorecimento no

desenvolvimento de autoimagem e autoestima, o que as tornaria desmotivadas

e descontentes consigo mesmas. Nota-se, por outro lado, o papel do

educador/cuidador em que ele pode modificar este quadro quando há

preocupação com a autoimagem e autoestima deste formador de opinião.

Pode-se concluir, portanto, que este resultado de estudantes apresentando

alterações com relação à percepção de sua autoimagem está intimamente

ligado às percepções de seus educadores/cuidadores e podem se refletir nas

futuras profissionais (educadoras/cuidadoras) que estas estudantes serão após

a graduação.

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2.1 Ambiente familiar

O ambiente familiar pode influenciar distúrbios e o desenvolvimento de

tratamentos. Segundo Moos & Moos (1994) ambiente familiar é a percepção

que cada membro possui de sua família, ou seja, o clima sociofamiliar

decorrente dos relacionamentos, crescimento pessoal, organização e controle

do sistema familiar. Consideram que o ambiente familiar influencia os membros

da família e seu processo de adaptação às diferentes situações. As

características pessoais dos membros familiares, suas habilidades de

enfrentamento e seu bem-estar podem afetar a qualidade das relações

familiares. Assim, quando um membro apresenta um distúrbio emocional ou

comportamental, provavelmente todo o ambiente familiar é afetado.

De acordo com Viana et al. (2006), autores do estudo de validação

brasileira da Family Environment Scale (FES), vários instrumentos foram

desenvolvidos para avaliar o ambiente familiar ou alguns de seus componentes

e poucas escalas são traduzidas e validadas para o Brasil, indicando a

necessidade de instrumentos breves e de fácil compreensão. A FES, que foi

originalmente desenvolvida por Moos & Moos (1994), possibilita descrever o

ambiente familiar, contrastar a percepção dos pais e dos filhos e planejar e

monitorar mudanças familiares. Pode também ser utilizada para avaliar o

resultado de intervenções, o nível de adaptação de crianças e adultos ao

ambiente familiar e, ainda, para caracterizar o ambiente familiar de grupos de

diferentes idades, etnias e saúde mental.

Esta escala vem sendo utilizada em estudos acerca de transtornos

psiquiátricos. Em estudo publicado recentemente sobre comportamento

violento de adolescentes contra pais e professores em escolas públicas e

privadas da província de Gipuzkoa, Espanha, confirma-se a hipótese de que

crianças que apresentam comportamento mais agressivo contra os pais

tenham relações familiares negativas, pois as crianças percebem suas famílias

como menos coesa e menos solidária entre si, e mais propensa ao conflito

entre seus membros (JAUREGUIZAR; IBABE, 2013).

Estudo em Nova York, Novo Jersey e Ohio investigando o ambiente

familiar em adolescentes suicidas de 15 a 18 anos indicou que a coesão

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familiar foi significativamente e inversamente associada com o risco de suicídio

e que o conflito da família foi significativa e positivamente associado com

ideação suicida. Todos (100%) os adolescentes com pontuações indicativas de

elevado risco para o comportamento suicida relataram níveis acima da média

de conflito familiar. Relatos de suicídio foram particularmente elevados entre os

adolescentes que relataram alto conflito familiar e baixa coesão familiar,

sugerindo que pode ser importante considerar este aspecto ao avaliar

tendências suicidas entre adolescentes (MILLER; MCCULLOUGH; JOHNSON,

2012).

Estudo de Lucey e Lam (2011) realizado em adolescentes americanos

de descendência europeia, africana e hispânica, de faixa etária semelhante,

confirmam estes dados, revelando correlações significativas entre o risco de

suicídio e sistemas familiares caracterizados por grandes conflitos e menores

níveis de coesão, independência e organização. A análise de regressão

múltipla sugere que a organização (relacionada à clareza e estrutura de

atividades e responsabilidades familiares) foi o mais forte preditor de risco de

suicídio.

Skeer et al. (2011), em Chicago, verificaram que a presença de conflito

familiar foi significativamente associada com transtornos por uso de

substâncias no sexo feminino, mas não entre os homens.

Em estudo realizado na Flórida com adolescentes entre 19 e 21 anos,

Miller e Taylor (2012) mostraram a importância de identificar fatores dentro do

contexto familiar que influenciam o bem-estar e a capacidade de lidar com

adversidades psicológicas na juventude. Este estudo revelou que o número de

pessoas que residem na casa não é um preditor significativo de sintomas

depressivos, mas o tamanho da rede de parentesco estendida de um

adolescente está inversamente associado aos sintomas depressivos.

Uma vez que a AN possui taxa de mortalidade maior que qualquer

outro quadro psiquiátrico, com taxa de suicidio 1,5 vez maior que a depressão

severa e em vista das experiências e demandas de pesquisa relatadas, há

tempos é reconhecida a importância de se investigar a interrelação entre

ambiente familiar e transtornos da autoimagem (HARRIS; BARRACLOUGH,

1998).

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21

2.2 Imagem corporal

A imagem corporal é um tema discutido nas áreas jurídica, midiática e

científica. Nesta última, vários estudos são realizados, por conta da relevância

do problema em nível nacional (SECCHI et al., 2009).

Como já citado, ela pode ser definida como a imagem que se tem na

memória sobre o tamanho e a forma do próprio corpo, incluindo sentimentos

em relação a essas características e as partes constituintes do mesmo

(KAKESHITA et al., 2006; GONÇALVES et al., 2008; ALVARENGA et al.,

2010a).

O conceito de imagem corporal é capaz de operar com as três

estruturas corporais: a estrutura fisiológica, responsável pelas organizações

anatomofisiológicas; a estrutura libidinal, que representa o conjunto das

experiências emocionais vividas nos relacionamentos humanos; e a estrutura

sociológica, que se baseia nas relações pessoais e na aprendizagem de

valores culturais e sociais. A estrutura sociológica refere-se às tendências de

um grupo a valorizar certas áreas ou funções, como o papel de roupas,

acessórios, do olhar e gestos na comunicação social. A experiência com a

imagem do próprio corpo relaciona-se com a experiência de terceiros com seus

corpos.

No estudo da imagem ou representação do corpo, além da ênfase

psicológica, individual, há uma ênfase coletiva, relacionada a opiniões e ao

senso comum. A noção de representação social é ligada à ideia de que não

existe distância entre o universo interior e exterior, do indivíduo e de seu grupo.

Esse pensamento comum do coletivo se manifesta na comunicação, que gera

o compartilhamento de uma identidade comum que interage com o mesmo

ambiente externo. Desse modo, a comunicação expressa posições identitárias,

pertencimentos grupais, valores e normas. Afirma-se, portanto, que as

representações são sociais porque resultam de um conjunto de interações

sociais dentro do grupo e, à medida em que são compartilhadas por seus

indivíduos, marcam a diferença desse grupo em relação a outros na mesma

sociedade (SECCHI et al., 2009).

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A sociedade discrimina os indivíduos não atraentes, numa série de

situações cotidianas. As pessoas julgadas pelos padrões vigentes como

atraentes parecem receber mais suporte e encorajamento no desenvolvimento

de repertórios cognitivos socialmente seguros e competentes, enquanto

indivíduos tidos como não atraentes estão mais sujeitos a encontrar ambientes

sociais que variam do não-responsivo ao rejeitador e que desencorajam o

desenvolvimento de habilidades sociais e de um autoconceito favorável

(SAIKALI et al., 2004).

Na sociologia são citados dois processos que promovem atitudes e

comportamentos: o reforço social e a modelagem. O reforço social é o

processo no qual pessoas internalizam atitudes e comportam-se mediante

aprovação dos outros. A modelagem refere-se ao processo em que o individuo

observa comportamentos de outros e os imita (SAIKALI et al., 2004).

Os instrumentos para avaliar imagem corporal são diversificados. Um

bem conhecido é o Questionário de Imagem Corporal (BSQ - Body Shape

Queistionnaire), que avalia distúrbios da imagem corporal pela preocupação

com o peso e formas corporais, é voltado para adultos e adolescentes, pode

ser aplicado em populações clínicas e não clínicas e tem validação no Brasil

(DI PIETRO, SILVEIRA, 2009) e na Espanha (WARREN et al., 2008).

Há também a escala de figuras de Stunkard, que avalia distúrbios da

imagem pela percepção do tamanho corporal e insatisfação corporal, é voltada

para adultos, mas apenas a versão para mulheres foi adaptada no Brasil

(SCAGLIUSI et al., 2006).

O BAQ (Body Attitudes Questionnaire) é um instrumento que avalia

distúrbios da imagem corporal por sentimentos de adiposidade corporal,

depreciação corporal, sentimentos de força e aptidão física, relevância pessoal

do peso e da forma corporais, achar-se fisicamente atraente, percepção de

gordura nos membros inferiores do corpo. É voltado apenas para mulheres

adultas e possui versão em português (SCAGLIUSI et al., 2005).

O EEICA (Escala de Evaluación de Insatisfacción Corporal para

Adolescentes) avalia distúrbios da imagem corporal pela insatisfação corporal,

é voltado, como o nome indica, para adolescentes, e possui validação em

português (CONTI et al., 2009).

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23

2.3 Transtornos alimentares

A classificação estatística internacional de doenças e problemas

relacionados à saúde (CID-10) coloca que as características diagnósticas da

AN são: perda de peso e peso corporal mantido em, pelo menos, 15% abaixo

do esperado; a perda de peso é autoinduzida; são evitados “alimentos que

engordam”; há distorção da imagem na forma de psicopatologia específica com

pavor de engordar e transtorno generalizado envolvendo o eixo hipotalâmico-

hipofisário-gonadal é manifestado, em mulheres, como amenorreia, e, em

homens, como perda de interesse e potência sexuais (ORGANIZAÇÃO

MUNDIAL DE SAÚDE, 2007).

A 5ª edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders,

conhecida como DSM-5 ou DSM-V traz também que esta perda de peso da AN

acontece por restrição da ingestão energética em relação às necessidades,

que conduz a peso corporal significativamente menor para idade, sexo,

crescimento e saúde física. Peso significativamente baixo é definido aqui como

peso menor que o minimamente esperado. E que há uma distorção na imagem

corporal e influência negativa do peso ou forma corporal na auto avaliação, ou

persistente ausência de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal

atual. E ainda subdivide a AN em dois tipos, o restritivo e o

compulsivo/purgativo. É considerado restritivo quando, durante os últimos três

meses, o indivíduo não se envolveu em episódios recorrentes de compulsão

alimentar ou purgação (vômitos auto induzidos ou uso indevido de laxantes,

diuréticos ou enemas). Este subtipo apresenta perda de peso em consequência

da dieta, jejum e/ou exercício excessivo. No tipo compulsivo/purgativo, durante

os últimos três meses, o indivíduo se envolveu em episódios recorrentes de

compulsão e purgação alimentar. O nível de gravidade da AN está baseado,

em adultos, no índice de massa corporal (IMC) e em crianças e adolescentes

no percentil do IMC. Portanto, para adultos o nível de gravidade é categorizado

em leve (IMC ≥ 17 kg/m²) e moderado (IMC 16-16,99 kg/m²) (AMERICAN

PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA, 2013).

Segundo Saikali et al. (2004), a primeira teoria sistemática a respeito

de problemas de imagem corporal nos transtornos alimentares foi desenvolvida

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por Bruch no ano de 1962, sendo a distorção da imagem corporal um dos três

fatores necessários ao desenvolvimento da AN. Na revisão dos autores é

citado que este pioneiro colocava tal distorção como o aspecto mais importante

do transtorno e que a melhora dos sintomas da AN poderia ser temporária se

não houvesse mudança corretiva na imagem corporal. Ainda para o autor da

teoria, mais alarmante do que a má nutrição em si na AN é sua associação

com a distorção da imagem corporal, onde se incluem os seguintes distúrbios:

da consciência cognitiva do próprio corpo, da consciência das sensações

corporais, do senso de controle sobre as funções corporais e das razões

afetivas para a realidade da configuração corporal. Embora a insatisfação ou a

distorção da imagem corporal possa estar presente em outros quadros

psiquiátricos, já aqui citados, é nos transtornos alimentares que seu papel

sintomatológico e prognóstico é mais relevante (SAIKALI et al., 2004).

Os TAs tem etiologia multifatorial, pois são determinados pela

diversidade de fatores que interagem entre si para produzir e, muitas vezes,

perpetuar a doença. Classicamente, distinguem-se os fatores predisponentes,

precipitantes e os mantenedores, como a internalização dos ideais da mídia,

respostas e comentários verbais negativos, maturação sexual precoce, abuso

sexual, baixa autoestima e tendência a comparação maior entre a aparência

das pessoas. Dentre os fatores precipitantes para desenvolvimento dos

transtornos alimentares, a dieta para emagrecer é o fator mais frequente.

(GONÇALVES et al., 2008; KIRSTEN et al., 2009; ALVARENGA et al., 2010a).

Os TAs possuem grande importância médico-social, comprometendo a

saúde dos indivíduos, pois acarretam complicações clínicas sérias associadas

com a desnutrição, como comprometimento cardiovascular, arritmia cardíaca e

hipotensão, alterações pulmonares, insuficiência renal, desidratação, distúrbios

eletrolíticos, distúrbios na motilidade gastrintestinal, queda da densidade

mineral óssea, alterações endócrinas, como a infertilidade, hipotermia,

hipercolesterolemia, hipoglicemia, entre outras. Desta forma, o distúrbio

constitui uma “epidemia silenciosa”, e talvez este seja o motivo para que ainda

não seja reconhecido pelas políticas publicas no setor da saúde (GONÇALVES

et al., 2008; PENZ et al., 2008).

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O sentimento de negação da própria condição patológica, por conta de

crenças existente em torno dos sintomas dos transtornos alimentares, muitas

vezes leva essas síndromes a se estenderem por longo período sem ser

diagnosticadas, acarretando o aparecimento dessas co-morbidades e agravos

à saúde. Há indivíduos que apresentam síndromes parciais ou atípicas, ou

seja, TA não-especificados, que se caracterizam por manifestação

sintomatológica incompleta ou leve, insuficientes para atingir o diagnóstico

clássico, mas que também afetam a qualidade de vida dos acometidos e são

consideradas mais frequentes que as completas. Além disso, sabe-se que de

14% a 46% delas progridem para síndromes completas. O conhecimento de

que a percepção distorcida do peso corporal leva a práticas inadequadas de

controle de peso pode favorecer a adoção de medidas preventivas, como

campanhas educativas que visem esclarecer a ligação entre o culto ao corpo e

os transtornos alimentares. Estas são medidas que devem ser especificamente

consideradas em casos de populações em que se encontre uma alta

prevalência de distorção da autoimagem corporal (PENZ et al., 2008; GARCIA

et al., 2010).

Gonçalves et al. (2008) relatam que atitudes de comportamento

alimentar preocupantes e problemáticas relativas ao medo da “gordura” são

comumente encontradas.

A AN é definida por Kirsten et al. (2009) como uma perda de peso auto-

imposta, acompanhada de disfunção endócrina e atitude psicopatológica

distorcida em relação à imagem, à alimentação e ao peso. Já a Bulimia

Nervosa apresenta episódios de compulsão alimentar e métodos

compensatórios inadequados para evitar o ganho de peso. Para fins

diagnósticos, fala-se da compulsão e dos comportamentos compensatórios

inadequados ocorrendo, em média, pelo menos duas vezes por semana há três

meses.

Garcia et al. (2010) referem haver estudos mostrando aumento, nos

últimos 50 anos, da insatisfação com o corpo, principalmente entre mulheres.

Falam que o culto ao corpo e o consumismo são dois fatores apontados para

essa crescente insatisfação. Ressaltam que o fato de a maioria das mulheres

não corresponder a um ideal de beleza associado à magreza provoca

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sentimentos de inadequação e vergonha, o que gera alterações no

comportamento alimentar, que são caracteristicamente de risco para o

desenvolvimento de TA, como já citado.

Embora os padrões de beleza mudem com o tempo, o maior problema

é que estes padrões são inatingíveis para a maioria dos indivíduos. Muitas

vezes, a pressão para atingir o corpo ideal difundido como padrão de beleza

leva à piora da imagem corporal, aumento do comer desordenado e a

tentativas malsucedidas de controle de peso. As influências socioculturais

podem induzir o desejo de um corpo magro e à consequente insatisfação com

o corpo real, ao não se conseguir alcançar o ideal cultural. A auto percepção

corporal refletida como grande insatisfação com a própria imagem corporal tem

influências comportamentais; uso de dieta restritiva, mais frequente quanto

maior a preocupação com o peso corporal; prática de atividade física

exagerada; leitura de revistas que exaltam a utilização de dieta restritiva e que

colocam a magreza como símbolo de beleza e de poder (PENZ et al., 2008;

ALVARENGA et al., 2010a).

Ocorre medo obsessivo da obesidade, o que faz com que cada vez

mais mulheres controlem o peso corporal, com o uso de dietas milagrosas,

exercícios exagerados, laxantes, diuréticos e drogas anorexígenas (KIRSTEN

et al., 2009; ALVARENGA et al., 2010a).

Kakeshita et al. (2006) observam que alguns estudos sobre medidas de

percepção da imagem corporal têm utilizado o IMC como indicador do estado

nutricional e que a maioria das publicações sobre o tema enfocam a relação

entre a imagem corporal e o IMC em indivíduos diagnosticados com algum

distúrbio alimentar, transtorno mental ou entre praticantes de atividade física.

2.3.1 Transtornos alimentares entre estudantes de Nutrição e de outros

cursos da área de saúde

Garcia et al. (2010) ressaltam que, ao se encontrar alguns grupos

populacionais com maior ou menor vulnerabilidade aos TA, na verdade não se

tem certeza se o ambiente tem influência desencadeante ou se pessoas já

predispostas tendem a procurar inserção em tais grupos.

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Souza et al. (2002) chamam a atenção para o fato de que a prevalência

de bulimia nervosa clinicamente significativa em estudantes universitárias é

maior que a da população geral, correspondendo a aproximadamente 4% e

que a incidência desse distúrbio nesse grupo é cinco vezes maior que a de

mulheres empregadas.

Pires et al. (2010) citam estudo em que 15% de estudantes de

Medicina já tinham apresentado história de distúrbios alimentares, o que foi

relacionado ao alto nível de estresse dos estudantes de áreas das Ciências

Biológicas e da Saúde.

Há autores também que citam um padrão alimentar anormal atuando

como motivação pré-existente para a procura desses cursos e outros autores

afirmam que acadêmicos do primeiro ano geralmente apresentam maior risco

de desenvolver TA (LAUS et al., 2009). Estudo realizado por Hughes e

Desbrow, citados por Laus et al. (2009), que avaliou os motivos que levaram à

escolha do curso de Nutrição como carreira, detectou que um dos principais

fatores relatados foi experiência pessoal prévia com TA.

Garcia et al. (2010) citam que nos estudos que comparam números de

casos de comportamento alimentar alterado em universitários de diferentes

cursos, os estudantes de Nutrição são os que possuem os maiores e, por isso,

consideram os dados preocupantes, pois estes estudantes serão profissionais

habilitados para educar em relação aos assuntos de peso e forma corporal e

por este motivo é alarmante que possuam TA, pois a literatura aponta que isso

pode influenciar na prática profissional. Os autores referem, ainda, que o

interesse pelo tema dieta/alimentação e a preocupação com a imagem corporal

é uma característica presente nos TA. No caso dos estudantes de nutrição,

pode-se relacionar que o estudo destes temas durante o curso seja um atrativo

a pessoas com tendência a desenvolver tais distúrbios ou que a pressão para a

adequação do corpo dentro dos padrões impostos, somado às expectativas de

um bom desempenho profissional, favoreça o desenvolvimento de TA.

Esse aumento de prevalência dos TA, principalmente entre a

população estudantil, tem levado vários pesquisadores a intensificar seus

estudos nesse campo de investigação em busca de conhecimento mais

aprofundado sobre as causas, evolução, tratamento, possibilidades de

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recuperação desses quadros, bem como sobre as consequências dos TA para

a vida social e educacional das pessoas por eles acometidas (LAUS et al.,

2009).

No estudo de Laus et al. (2009) encontrou-se diferença

estatisticamente significante de percepção do peso corporal entre estudantes

de cursos da área de saúde e humanas, com as estudantes da área da saúde

apresentando maiores escores. Além disso, a análise realizada entre os quatro

cursos estudados (dois de saúde e dois de humanas) demonstrou que as

estudantes de Nutrição são as que apresentam as maiores pontuações nesse

instrumento, sendo esses valores estatisticamente diferentes dos valores

encontrados para os cursos de Publicidade e Administração, mas não de

Educação Física (p < 0,05).

Gonçalves et al. (2008) observaram que 14,1% dos estudantes de

Nutrição apresentaram sintomas de AN (p < 0,05). Ao avaliar a percepção

corporal detectaram que 75,8% se encontravam insatisfeitos com a forma

corporal (p < 0,05). De acordo com o teste de imagem corporal, a maioria dos

estudantes de Nutrição sentia-se com excesso de peso, embora a maioria se

encontrasse eutrófica.

Assim, percebe-se que o tema é ainda pouco explorado, mas emerge

como investigação mandatória, na medida em que possa minimizar tanto os

riscos à própria saúde das pessoas com distorções de imagem corporal, como

os riscos associados à prática de tais indivíduos poder suscitar distúrbios na

população por eles atendida.

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3 OBJETIVOS

3.1 Geral

- Analisar as interações entre ambiente familiar e imagem corporal em

estudantes de cursos da área de saúde de uma universidade brasileira e uma

espanhola.

3.2 Específicos

- Determinar o índice de massa corporal dos estudantes;

- Verificar o grau de satisfação dos estudantes com seu peso, altura e forma do

corpo;

- Descrever o tipo de ambiente familiar dos grupos populacionais alvo;

- Identificar a presença de insatisfação de imagem corporal entre os

estudantes;

- Verificar a inter-relação entre autoimagem corporal e ambiente familiar;

- Comparar as interações existentes entre os aspectos estudados junto a

estudantes brasileiros e espanhóis.

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4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de estudo

Estudo analítico com abordagem quantitativa.

4.2 População e amostra

A população é constituída de estudantes dos Cursos da área de saúde

da Universidade Estadual do Ceará (UECE), localizada em Fortaleza – Ceará-

Brasil e da Universidade Católica San Antonio de Murcia (UCAM), localizada

em Murcia – Murcia - Espanha.

Vale descrever algumas características das duas Universidades

envolvidas. A UECE tem como missão produzir e disseminar conhecimentos e

formar profissionais para promover o desenvolvimento sustentável e a

qualidade de vida da região. Criada com o objetivo de atender às necessidades

do desenvolvimento científico e tecnológico do estado do Ceará estrutura-se

em uma rede multicampi com Faculdades nos Municípios de Crato, Juazeiro do

Norte, Iguatu, Quixadá, Limoeiro do Norte, Crateús, Ipu, Ubajara, Redenção e

Cedro.

A UCAM tem como missão a formação de estudantes com

conhecimentos e habilidades inerentes a sua graduação, que desenvolvam

suas habilidades e atitudes como indivíduos e membros de uma sociedade a

que devem servir, assegurando a presença cristã no mundo universitário,

sociedade e cultura. Seu campus se localiza a quatro quilômetros do centro

urbano da cidade de Murcia, na Espanha. O prédio é o antigo Mosteiro dos

Jerónimos (XVIII) que, juntamente com sua igreja barroca, é considerado

patrimônio histórico-nacional de artes. Com área de cerca de 25.000 metros

quadrados, 14.500 deles são construídos e há ainda outros 200.000 metros

quadrados destinados a jardins, estacionamento, instalações desportivas e

residência universitária.

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O universo do estudo é representado pelos estudantes regularmente

matriculados no campus de Fortaleza da UECE e no campus de Murcia da

UCAM dos seguintes cursos do Centro de Ciências da Saúde: Ciências

Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Nutrição,

Psicologia e Terapia Ocupacional. No ano de 2012, período em que foi

realizada a coleta dos dados, na UECE havia um total de 1574 estudantes,

sendo 384 matriculados em Ciências Biológicas, 408 em Educação Física, 271

em Enfermagem, 272 em Nutrição e 239 em Medicina. Na UCAM o total de

estudantes era de 2700, sendo 150 matriculados em Nutrição, 1700 em

Enfermagem e 500 em Fisioterapia, 150 em educação física, 100 em psicologia

e 100 em terapia ocupacional.

Para integrar a amostra foram atendidos os seguintes critérios de

inclusão, os quais estão apoiados na revisão apresentada no capítulo anterior:

ser estudante de curso da área de saúde de uma das duas Universidades e ser

adulto jovem (LOBATO, 2004), optando-se pelos extremos de 18 e 30 anos,

Além disso, concordar em participar do estudo mediante a assinatura do termo

de consentimento livre e esclarecido.

Foram critérios de exclusão: presença de TA já diagnosticado, gravidez

e estar cursando os dois últimos semestres do curso, pois tais estudantes

estão realizando estágio curricular, não permanecendo no campus,

inviabilizando obtenção dos dados.

4.3 Coleta, tabulação e análise dos dados

4.3.1. Coleta

Os estudantes foram abordados nas respectivas salas de aula. As

pesquisadoras explicaram em que consistia a pesquisa e os convidaram a

participar do estudo. Foi entregue o termo de consentimento livre e esclarecido.

Além do nome e assinatura, o estudante informou o e-mail de contato para o

envio do questionário. Não houve limite quantitativo para adesão ao convite,

sendo aceitos todos que manifestassem interesse em participar.

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A coleta de dados junto aos estudantes da UECE se deu via internet, e

junto aos estudantes da UCAM nas suas respectivas salas de aula.

Foi utilizado um questionário formulado no Google Docs composto por

dados de identificação e antropométricos, imagem corporal, atitudes

alimentares e escala de ambiente familiar (APÊNDICE 1).

Dentro os dados de identificação foram incluídas as variáveis: idade,

ano de ingresso no curso e estado civil. Os dados antropométricos incluíram

indagação sobre peso atual e ideal e sobre altura atual e ideal. Esta

metodologia de peso e altura autoreferidos é validada e aceita (PEIXOTO et al.,

2006).

Para investigação da imagem corporal foi utilizado o Questionário da

Imagem Corporal, versão em português (CORDAS, NEVES, 1999) do Body

Shape Questionnaire (BSQ) por ter sido validado no Brasil e em grupo

populacional semelhante, de estudantes universitários (DI PIETRO, SILVEIRA,

2009). Na Espanha a versão utilizada foi a validada por Warren et al. (2008)

que em seu estudo validou o questionário utilizando população americana e

espanhola com e sem diagnóstico de transtorno alimentar. As versões

validadas nos dois países apresentam os mesmos pontos de corte de

classificação. Neste estudo será mantido o nome em inglês da escala, Body

Shape Questionnaire (BSQ), uma vez que muitos estudos nacionais incluem o

nome sem tradução para o português.

O questionário é composto por 34 questões que devem ser

respondidas pelo próprio entrevistado de acordo com uma legenda, com

opções variando de “nunca” (correspondendo a 1) a “sempre” (equivalendo a

6). A pontuação varia de 0 a 204, e as categorias de intensidade variam de

“Insatisfação com imagem corporal ausente” (0 a 80 pontos), “insatisfação de

imagem corporal leve” (81 a 110 pontos), “insatisfação de imagem corporal

moderada” (111 a 140 pontos) e “insatisfação de imagem corporal grave” (141

a 204 pontos).

A seguir foi aplicada a Escala de Ambiente Familiar (EAF), na versão

traduzida e validada para o português por Vianna, Silva e Souza-Formigoni

(2007) do instrumento original Family Environment Scale de Moos e Moos

(1994). Neste estudo foi utilizado o nome em português, para se referir a esta

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escala, pois os estudos nacionais em geral utilizam o nome traduzido. Esta

escala é composta de 90 afirmativas que devem ser respondidas pelo próprio

entrevistado com conceito de verdadeiro ou falso. São estabelecidos 10

domínios de análise: Coesão (quesitos 1, 11, 21, 31, 41, 51, 61, 71 e 81);

Expressividade (quesitos 2, 12, 22, 32, 42, 52, 62, 72 e 82); Conflito (quesitos

3, 13, 23, 33, 43, 53, 63, 73 e 83); Independência (quesitos 4, 14, 24, 34, 44,

54, 64, 74 e 84); Assertividade (quesitos 5, 15, 25, 35, 45, 55, 65, 75 e 85);

Interesses intelectuais (quesitos 6, 16, 26, 36, 46, 56, 66, 76 e 86); Lazer

(quesitos 7, 17, 27, 37, 47, 57, 67, 77 e 87); Religião (quesitos 8, 18, 28, 38, 48,

58, 68, 78 e 88); Organização (quesitos 9, 19, 29, 39, 49, 59, 69, 79 e 89); e

Controle (quesitos 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80 e 90). Não há ponto de corte,

sendo os resultados comparados segundo presença de maior ou menor

número de pontos.

Para a avaliação de seus resultados a EAF também pode ser

distribuída em suas três dimensões: a) Relacionamento Interpessoal, que

compreende 27 perguntas distribuídas em 3 dos domínios: 1. Coesão; 2.

Expressividade; 3. Conflito; b) Crescimento Pessoal, que compreende 45

perguntas distribuídas em 5 dos domínios: 1. Capacidade de decisão; 2.

Assertividade; 3. Interesses intelectuais; 4. Lazer; 5. Religião; e c) Manutenção

do Sistema, que compreende 18 perguntas distribuída em dois domínios: 1.

Organização e 2. Controle.

Este instrumento foi selecionado por ser o mais utilizado atualmente,

por sua fácil compreensão e aplicação, por avaliar a família em diferentes

aspectos, por dar a possibilidade de ser aplicado em famílias com doenças ou

não. Ele é utilizado na Espanha e em outros países europeus. Estudos

recentes na Espanha e em países com língua espanhola referenciam Moos e

Moos (1994).

4.3.2. Tabulação e Análise dos dados

O Google® Docs gera uma tabulação automática no Excel® for

Windows para manter o total sigilo dos participantes. Foram geradas duas

planilhas, uma com os estudantes brasileiros e outra com os espanhóis, que

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34

foram unidas em uma só. A tabulação final resultou em 392 questionários

válidos (correta e completamente preenchidos). A amostra brasileira contou

com 243 estudantes e a espanhola com 149 estudantes.

Os dados tabulados no Google® Docs foram explorados inicialmente

para a planilha de textos Excel®, versão 2007, da Microsoft. Nessa planilha

foram verificados erros de digitação e possíveis inconsistências nos dados.

Após as correções, a planilha do Excel® foi exportada para a análise estatística

no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®) versão 17.0,

da IBM.

A análise estatística foi conduzida em três etapas: verificação da

normalidade na distribuição dos dados, descrição das variáveis de interesse e

análise inferencial bivariada.

Para testar a normalidade na distribuição dos dados, optou-se pelo uso

do Teste de Kolmogorv-Smirnov, haja vista que a amostra é representada por

um número grande de sujeitos. Nesse teste, foi possível diagnosticar a não

normalidade na distribuição dos dados, que indicou a necessidade do uso de

estatística não-paramétrica para as análises seguintes.

A análise descritiva dos dados envolveu o cálculo das frequências

absolutas e relativas das variáveis categóricas. No caso das variáveis serem

contínuas, calculou-se as medianas e os percentis 25 e 75.

A análise bivariada foi conduzida de acordo com o tipo das variáveis

envolvidas. Para a investigação das diferenças das medianas das variáveis

antropométricas (contínuas) em relação à classificação obtida no BSQ (variável

dicotômica que aponta insatisfação ausente ou presente) e EAF aplicou-se o

Teste de Mann-Whitney.

Além do Teste de Mann-Whitney, foi utilizado o Coeficiente de

Correlação de Spearman para testar a existência da correlação entre os

valores dos escores do BSQ e da EAF e os valores das medidas

antropométricas.

Além das análises descritas, nos casos em que as duas variáveis em

estudo eram categóricas, optou-se por usar o Teste do Qui-Quadrado de

Pearson.

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35

Para todos os testes realizados, as diferenças foram consideradas

estatisticamente significantes se o p-valor do teste fosse menor que 0,05.

4.4 Aspectos éticos

O estudo foi delineado de acordo com a Resolução 196/96 (BRASIL,

1996), vigente à época de sua submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa

com Seres Humanos da UECE e esta de acordo com a resolução e 466/2012

(BRASIL, 2012). O projeto foi aprovado sob número 10724749-6. (ANEXO A).

Os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido

(APÊNDICE 2).

A pesquisa não apresentou risco à saúde dos pacientes envolvidos, pois

não foram adotadas técnicas invasivas.

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36

5 RESULTADOS

Este capítulo foi dividido em três sub-capítulos: Caracterização geral

dos estudantes segundo dados universitários; Dados antropométricos; e

Imagem corporal, Ambiente Familiar e Interações associadas.

5.1 Caracterização geral dos estudantes segundo dados universitários

O estudo contou com a participação de 392 estudantes, sendo 243

(62,0%) brasileiros e 149 (38,0%) espanhóis. Todos eram estudantes da

saúde, sendo a maioria (40,6%) estudantes de Enfermagem como

demonstrado na tabela 1. A representante da pesquisa em Fortaleza é uma

nutricionista e a representante em Murcia é enfermeira, fato que pode ter

influenciado a maior adesão dos estudantes destes cursos nas respectivas

cidades.

Tabela 1. Distribuição dos estudantes segundo local e curso universitário.

Fortaleza, 2014.

Cidade Fortaleza-BR Murcia-ES Total

Curso n % n % n %

Ciências biológicas 44 18,1 0 0 44 11,2

Educação física 57 23,5 7 4,7 64 16,3

Enfermagem 41 16,9 118 79,2 159 40,6

Fisioterapia 0 0 7 4,7 7 1,8

Medicina 21 8,6 0 0 21 5,4

Nutrição 80 32,9 14 9,4 94 24,0

Psicologia 0 0 2 1,3 2 0,5

Terapia ocupacional 0 0 1 0,7 1 0,3

Total 243 100,0 149 100,0 392 100,0

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Dentre os estudantes avaliados, a maioria eram mulheres (78,8%) e

solteiros (92,1%), independentemente do local (Fortaleza: 80,7% de mulheres e

95,5% de solteiros; Murcia: 75,8% de mulheres e 86,6% de solteiros).

Considerando o ano de ingresso na universidade, a Tabela 2 exibe a

distribuição dos estudantes, onde se observa a maior concentração de alunos

de primeiro ano em Murcia e uma distribuição mais homogênea de estudantes

em Fortaleza, com leve maioria cursando o 4ª ano.

Tabela 2. Distribuição dos estudantes segundo local e ano cursado Fortaleza,

2014.

Cidade Fortaleza-BR Murcia-ES Total

Ano n % n % n %

1º. 44 18,1 97 65,1 141 36,0

2º. 56 23,0 17 11,4 73 18,6

3º. 42 17,3 13 8,7 55 14,0

4º. 73 30,0 20 13,4 93 23,7

Outros 28 11,5 2 1,3 30 7,7

Total 243 100,0 149 100,0 392 100,0

5.2 Dados antropométricos

A tabela 3 mostra as medianas de idade e dos dados antropométricos.

As comparações que apresentaram significância estatística no teste Mann-

Whitney foram peso atual, diferença de peso, altura real e altura desejada.

Estes resultados devem se dar por diferenças antropométricas entre os dois

países, uma vez que o resultado de IMC não apresentou diferença significativa.

Portanto há boa uniformidade na amostra no que tange à idade e composição

corporal. Os estudantes de ambas as Universidades possuem peso e altura

reais abaixo do peso desejado por eles.

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Tabela 3. Descrição das medianas e percentis 25 e 75 dos dados antropométricos em estudantes da saúde (n = 392), segundo

local. Fortaleza, 2014.

Idade

(anos)

Peso atual

(Kg)

Peso

desejado (Kg)

Diferença de

peso (Kg)

Altura

real (m)

Altura

desejada (m)

Diferença de

altura (m)

IMC1

(Kg/m2)

Fo

rta

leza

-BR

P 25 19,00 53,00 52,00 2,00 1,58 1,63 0,001 20,40

Mediana 21,00 59,00 56,00 3,25 1,63 1,67 0,03 22,03

P75 22,00 67,5 64,00 5,00 1,69 1,7 0,06 24,39

Mu

rcia

-ES

P 25 18,00 55,5 53,00 2,00 1,63 1,66 0,001 19,84

Mediana 20,00 63,00 58,00 5,00 1,68 1,70 0,01 22,49

P75 23,00 72 67,5 7,00 1,73 1,76 0,05 24,55

To

tal P 25 19,00 53,96 52,00 2,00 1,6 1,64 0,001 20,28

Mediana 21,00 60,00 56,75 3,80 1,65 1,68 0,02 22,06

P75 22,75 69,00 65,00 6,00 1,7 1,72 0,06 24,45

p valor 0,975 0,005 0,219 0,004 0,001 0,001 0,075 0,851

1IMC = Índice de Massa Corporal, calculado a partir dos dados de peso e altura auto-referidos.

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A tabela 4 apresenta a distribuição dos estudantes com relação à

expectativa sobre os dados antropométricos dos grupos avaliados. Observa-se

desejo em reduzir o peso e elevar a altura entre os estudantes de ambas as

cidades, embora a proporção de satisfeitos com a altura seja maior do que a de

satisfeitos com o peso. Assim, entre os estudantes de Fortaleza houve 58,4%

que almejavam perder peso e 32,5% que desejavam ganhar peso e, no caso

da altura, 59,7% queria maior altura e 37,0% a mesma altura. No caso dos

estudantes de Murcia, 73,8% desejavam perder peso e 18,1 ganhar peso e,

quanto à altura, 53,7 desejavam altura superior e 43,6 estavam satisfeitos com

a atual.

Tabela 4. Expectativas dos estudantes avaliados em relação ao peso e altura,

segundo local. Fortaleza, 2014.

Expectativa Fortaleza-BR Murcia-ES Total

n % n % n %

Ganhar peso 79 32,5 27 18,1 106 27,0

Perder peso 142 58,4 110 73,8 252 64,3

Manter o peso 22 9,1 12 8,1 34 8,7

Ter maior altura 145 59,7 80 53,7 225 57,4

Ter menor altura 8 3,3 4 2,7 12 3,1

Ter a mesma altura 90 37,0 65 43,6 155 39,5

Total 243 100,0 149 100,0 392 100,0

Comparando os dados dos dois locais (perder peso versus ganhar ou

manter peso) com o teste Qui-quadrado, o grupo espanhol exibiu maior desejo

de perda de peso (p = 0,002).

A comparação dos dois grupos considerando as expectativas com

relação à altura (mudar altura versus manter altura) não demonstrou diferença

significativa no teste Qui-quadrado (p = 0,195).

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5.3 Imagem corporal, Ambiente Familiar e Interações associadas

Com relação ao questionário da imagem corporal não houve diferença

estatística na comparação das pontuações atingidas entre os dois grupos

populacionais (p = 0,801). Os valores de mediana foram de 76 e 78 pontos,

respectivamente, para Fortaleza-BR e Murcia-ES.

Os resultados de BSQ são descritos na tabela 5 com número e

frequência, apontando uma alta prevalência de insatisfação com a imagem

corporal nas duas cidades.

Tabela 5. Resultados do Body Shape Questionnaire (BSQ)1 aplicado nos

estudantes avaliados, segundo local. Fortaleza, 2014.

BSQ Fortaleza-BR Murcia-ES Total

n % n % n %

Insatisfação corporal ausente 138 56,8 79 53,0 217 55,4

Insatisfação corporal presente 105 43,2 70 47,0 175 44,6

Total 243 100,0 149 100,0 392 100,0

1Segundo Di Pietro, Silveira (2009) – Brasil e Warren et al. (2008) - Espanha.

Os resultados da Escala de Ambiente Familiar estão mostrados na

Tabela 6. Observa-se diferença entre os dois grupos populacionais para a

maioria dos domínios. Escores mais altos foram encontrados entre os

estudantes brasileiros para os domínios religião e controle. Nos demais,

quando houve diferença, os escores foram mais elevados entre os estudantes

espanhóis. Considerando as três dimensões, Relacionamento interpessoal,

Crescimento Pessoal e Manutenção do Sistema, houve diferença apenas para

Relacionamento Interpessoal, com escores mais altos entre os estudantes de

Murcia.

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Tabela 6. Resultado da Escala de Ambiente Familiar (EAF)1 nos estudantes, segundo domínio, dimensão e local. Fortaleza, 2014.

Domínio EAF1 Fortaleza-BR Murcia-ES p valor

P 25 Mediana P 75 P 25 Mediana P 75

Coesão 5 7 8 6 8 9 0,001

Expressividade 4 5 7 5 6 7 0,001

Conflito 1 2 4 2 3 4 0,001

Independência 5 6 7 5 6 7 0,155

Assertividade 5 6 7 5 6 7 0,225

Interesses intelectuais 3 5 6 4 6 8 0,001

Lazer 3 4 6 4 5 7 0,001

Religião 5 7 8 3 4 5 0,001

Organização 4 6 7 6 7 8 0,001

Controle 4 5 7 3 4 6 0,001

Dimensão EAF1

Relacionamento interpessoal 4,0 4,7 5,3 4,7 5,7 6,2 0,001

Crescimento Pessoal 4,8 5,4 6,0 4,6 5,4 6,2 0,795

Manutenção do sistema 4,0 5,5 7,0 4,5 5,5 6,5 0,769

1Segundo Vianna, Silva e Souza-Formigoni (2007) - Brasil e Moos, Moos (1994) - Espanha.

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42

A tabela 7 apresenta as medianas dos valores dos dados de idade e

antropométricos dos grupos, considerando a Insatisfação ou não com relação à

imagem corporal segundo o BSQ.

Percebe-se que em ambos os grupos a variável idade não foi

relacionada à presença de insatisfação com a imagem corporal. O peso, no

entanto, demonstrou diferença significativa nos dois grupos, sendo que os

detentores de insatisfação com a imagem corporal exibiram maior peso. Já

considerando o peso desejado, em valores brutos não houve diferença

segundo o BSQ, mas analisando a diferença entre o real e o desejado, entre os

estudantes insatisfeitos com a imagem corporal a diferença foi maior. A

significância estatística do peso desejado na amostra total deve ter se dado por

intensificação dos efeitos nas amostras parciais uma vez que já havia um peso

desejado maior entre os que apresentavam insatisfação corporal. Isto pode se

dar como reflexo do peso real destes indivíduos ser maior, consequentemente

o peso desejado de quem tinha maior peso será maior do que os que partiam

de um peso real menor. A diferença de peso significativa nas três análises

revela que pessoas com maior insatisfação corporal desejam um peso mais

diferente do seu peso real do que indivíduos sem insatisfação.

Para a variável altura, não houve relação entre os dados do BSQ, quer

seja considerando a altura real, quer a altura desejada ou a diferença entre

estas, em ambos os grupos populacionais.

Gráficos (1 a 6) foram gerados para melhor observação das

correlações detectadas.

Verificou-se correlação moderada entre BSQ (insatisfação com a

imagem corporal) e peso atual no grupo dos estudantes de Fortaleza-BR e

correlação fraca entre os estudantes de Murcia-ES (Gráficos 1 e 2).

Quanto à diferença entre peso real e desejado, verificou-se correlação

moderada entre os estudantes de Fortaleza-BR e moderada a forte entre os

estudantes de Murcia-ES (Gráficos 3 e 4).

Considerando BSQ e IMC, verificou-se correlação forte entre os

estudantes de Fortaleza-BR e correlação moderada entre os estudantes de

Murcia-ES (Gráficos 5 e 6).

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Tabela 7. Comparação das medianas dos dados de idade e antropométricos dos estudantes avaliados, segundo categoria do

Body Shape Questionnaire (BSQ)1,2 e local. Fortaleza, 2014.

Variáveis BSQ Fortaleza-BR Murcia-ES Total P25 Mediana P75 p-valor P25 Mediana P75 p-valor P25 Mediana P75 p-valor

Idade 1 19 21 22,5 0,277 18 20 24 0,915 19 21 22 0,272 2 19 20,5 22 19 20 23 19 20 23

Peso Atual3

1 56 62,0 70,3 0,001 59 64,75 74,3 0,027 57 63,15 72 0,001 2 51,3 55,6 64,2 53 59 69 52 57 67

Peso Desejado

1 52,5 58,0 64,3 0,056 53,8 58,5 65 0,707 53 58 65 0,025 2 51,8 55.0 63,3 53 56 70 52 56 65

Diferença de Peso

1 2,5 4,0 7,8 0,001 4 6 8,6 0,001 3 5 8 0,001 2 1,3 3,0 4,7 1 3 5 1,3 3 5

Altura Atual3

1 1,58 1,63 1,68 0,700 1,62 1,69 1,72 0,493 1,6 1,65 1,7 0,853 2 1,58 1,64 1,69 1,63 1,67 1,74 1,6 1,65 1,71

Altura Desejada

1 1,63 1,67 1,7 0,950 1,67 1,7 1,72 0,207 1,65 1,69 1,7 0,785 2 1,62 1,66 1,7 1,65 1,7 1,78 1,63 1,68 1,75

Diferença de Altura

1 0,01 0,04 0,07 0,561 0,01 0,01 0,07 0,994 0,01 0,02 0,07 0,945 2 0,01 0,03 0,06 0,01 0,02 0,04 0,01 0,02 0,05

IMC4

1 21,8 23,125 25,8 0,001 21,2 23,37 25,4 0,001 21,7 23,19 25,7 0,001

2 19,9 20,851 23 19,6 21,72 24 19,7 21,09 23,3 1Segundo Di Pietro, Silveira (2009) - Brasil e Warren et al. (2008) - Espanha;

2Categorias: 1 = Insatisfação corporal presente e 2 = Insatisfação corporal

ausente; 3Dados auto-referidos;

4Índice de Massa Corporal (Kg/m

2) calculado a partir dos dados auto-referidos.

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Gráfico 1. Correlação entre BSQ1 e Peso atual auto-referido dos estudantes de

Fortaleza-BR. Fortaleza, 2014.

1Segundo Di Pietro, Silveira (2009).

Gráfico 2. Correlação entre BSQ1 e Peso atual auto-referido dos estudantes de

Murcia-ES. Fortaleza, 2014.

1Segundo Warren et al. (2008).

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Gráfico 3. Correlação entre BSQ1 e diferença entre peso atual e desejado

entre os estudantes de Fortaleza-BR. Fortaleza, 2014

1Segundo Di Pietro, Silveira (2009).

Gráfico 4. Correlação entre BSQ1 e diferença entre peso atual e desejado

entre os estudantes de Murcia-ES. Fortaleza, 2014.

1Ssegundo Warren et al. (2008).

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Gráfico 5. Correlação entre BSQ1 e IMC2 entre os estudantes de Fortaleza-BR.

Fortaleza, 2014

1Segundo Di Pietro, Silveira (2009);

2IMC (Índice de Massa Corporal) em kg/m

2,

calculado a partir de dados auto-referidos de peso e altura.

Gráfico 6. Correlação entre BSQ1 e IMC2 dos estudantes de Murcia-ES.

Fortaleza, 2014.

1Segundo Warren et al. (2008);

2IMC (Índice de Massa Corporal) em kg/m

2, calculado a

partir de dados auto-referidos de peso e altura.

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A correlação da EAF com a idade e os dados antropométricos foi

avaliada considerando suas três dimensões. Não foram encontradas

correlações significativas para a amostra de estudantes brasileiros. Dentre os

estudantes da Espanha verificou-se correlações fortes e positivas para

Crescimento pessoal e peso atual (0,009), peso desejado (0,009), IMC (0,008)

e correlação fraca e negativa para Manutenção do sistema e idade (0,002).

Na tabela 8 são apresentados os resultados de correlação entre EAF e

BSQ. Dentre os estudantes de Fortaleza-BR, as variáveis da EAF que

apresentaram correlação com o BSQ foram Independência, Assertividade e

Religião. E dentre os estudantes de Murcia-ES o que foi correlacionado foram

as variáveis Expressividade e Conflito. Na amostra total as variáveis que

apresentaram significância foram Conflito, Independência e Assertividade.

Estas diferenças podem se dar por diferenças culturais entre os países.

Algumas destas variações de família na população brasileira foram supostas no

estudo de validação da EAF no Brasil e serão melhor abordadas na discussão.

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Tabela 8. Comparação das medianas dos dados das dimensões da Escala de Ambiente Familiar (EAF)1 dos estudantes avaliados,

segundo os resultados do Body Shape Questionnaire (BSQ)2,3 e local. Fortaleza, 2014.

Variáveis EAF BSQ Fortaleza-BR Murcia-ES Total P25 Mediana P75 p-valor P25 Mediana P75 p-valor P25 Mediana P75 p-valor

Domínio

Coesão 1 5 7 8 0,944 4 8 9 0,056 5 7 9 0,237 2 5 7 8 7 8 9 5 8 9

Expressividade 1 4 5 7 0,653 3 6 7 0,016 4 6 7 0,266 2 4 5 7 5 7 7 4 6 7

Conflito 1 1 2 4 0,238 2 3 5 0,024 2 3 4 0,022 2 1 2 3 2 3 3 1 2 3

Independência 1 5 6 7 0,001 4 6 7 0,781 5 6 7 0,008 2 5 6 7 5 6 7 5 6 7

Assertividade 1 5 6 7 0,004 5 6 7 0,656 5 6 7 0,011 2 4 5 4 4 6 7 4 6 7

Interesses intelectuais

1 3 5 6 0,584 3 6 7 0,179 3 5 7 0,603 2 3 4,5 3 4 6 8 3 5 7

Lazer 1 3 5 7 0,313 3,75 5 7 0,086 3 5 7 0,970

2 3 4 6 4 6 7 3 5 6,5

Continua...

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49

Conclusão...

BSQ

Fortaleza-BR Murcia-ES Total

Domínio P25 Mediana P75 p-valor P25 Mediana P75 p-valor P25 Mediana P75 p-valor

Religião 1 5 7 8 0,031 3 4 5,25 0,530 4 6 8 0,185

2 5 6 8 3 4 5 4 5 7

Organização 1 4 6 7 0,893 5 7 8 0,261 5 6 8 0,492 2 4 6 7 6 7 8 4 7 8

Controle 1 4 6 7 0,225 3 4,5 5 0,519 4 5 6 0,237 2 4 5 7 3 4 5,25 3 5 6

Dimensão

Relacionamento interpessoal

1 4,3 5,0 5,3 0,273 4 5,5 6 0,068 4,3 5,0 5,7 0,644 2 3,7 4,7 5,3 5,3 5,67 6,3 4,0 5,0 5,7

Crescimento pessoal

1 4,8 5,6 6,1 0,100 4,4 5,2 6,2 0,347 4,6 5,4 6,2 0,564 2 4,8 5,4 6,0 4,6 5,6 6,2 4,8 5,4 6,1

Manutenção do sistema

1 4,0 5,5 7,0 0,450 4 5,5 6,5 0,790 4,0 5,5 6,5 0,668

2 4,0 5,5 7,0 4,5 5,5 6,5 4,5 5,5 6,5 1Segundo Vianna, Silva e Souza-Formigoni (2007) - Brasil e Moos, Moos (1994) - Espanha;

2Segundo Di Pietro, Silveira (2009) - Brasil e Warren et al. (2008)

- Espanha; 3Categorias: 1 = Insatisfação corporal presente e 2 = Insatisfação corporal ausente.

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6 DISCUSSÃO

Avaliando os resultados do presente estudo o primeiro ponto a ser

considerado é a semelhança dos grupos avaliados. A seleção da amostra de

acordo com a matrícula em cursos da área de saúde foi critério de inclusão,

bem como o fato de ser adulto jovem, mas as características semelhantes

relativas a maior proporção de sexo feminino, de solteiros e de medianas de

idade conferem homogeneidade e maior segurança para a análise comparativa

dos dados principais de interesse, a imagem corporal e o ambiente familiar.

Um segundo ponto que emerge é o maior desejo de perda de peso por

parte dos estudantes de Murcia. Independente do país de origem, os dados

evidenciaram que a maioria dos estudantes deseja perder peso, 58,4% dos

brasileiros e 73,8% dos espanhóis (p = 0,020). Estudo de Alves et al. (2012)

com estudantes universitários espanhóis com metodologia similar ao do

presente estudo, encontraram diferença entre peso atual e peso desejado de

3,3 Kg com 76,6% da amostra total desejando peso inferior ao atual. Os

autores compararam resultados de estudantes de Nutrição e de Serviço Social,

mas não encontraram diferenças significativas, evidenciando que o desejo de

um corpo mais delgado pode estar presente não só entre estudantes da área

de saúde, compatível com a pressão atual da mídia, como já apresentado no

Capítulo 2.

A insatisfação com o peso parece ter sido o maior determinante dos

escores relativos ao BSQ, que denotaram alta proporção de insatisfação

corporal. Os estudantes com excesso ponderal apresentaram maior

insatisfação. Em estudo desenvolvido por Silva et al. (2012) com 175

estudantes de Nutrição utilizando o BSQ, detectou-se insatisfação em 36,6%

das estudantes avaliadas quando comparados os valores médios dos

parâmetros antropométricos e de composição corporal as estudantes com

insatisfação corporal apresentavam médias de IMC maiores do que as alunas

que não apresentavam insatisfação corporal.

Alvarenga et al. (2010a), avaliando a insatisfação corporal de

universitárias brasileiras com participação de 2489 estudantes de todo o Brasil

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encontraram que 96,3% das estudantes com excesso de peso desejavam ter

um tamanho menor. Neste estudo outro método foi utilizado para verificar a

imagem corporal, mas merece ser citado por sua abrangência e importância

com relação ao estudo de imagem corporal entre universitários.

No estudo de Bosi et al. (2008) com estudantes de Educação Física, as

pontuações de BSQ tiveram média de 81 (DP = 33,5). No estudo de Garcia,

Castro e Soares (2010) a média de pontos de BSQ foi de 80,33 + 27,7, com

insatisfação presente em 39, 42% da amostra que era composta de estudantes

de Nutrição.

Assim, a proporção de insatisfação com a imagem corporal detectada

pelo BSQ no estudo atual é menor que as encontradas em outros estudos

nacionais. Por outro lado, no presente estudo foram incluídos alunos de outros

cursos da área da saúde, além de Educação Física e Nutrição, os quais,

hipoteticamente, podem sofrer menos pressão do que os das duas áreas

citadas. Considerando publicações relativas a grupos populacionais espanhóis,

não foram encontrados estudos em populações semelhantes que permitissem

comparações.

Um terceiro ponto a ser ressaltado é em relação aos resultados da EAF

e suas diferenças entre as amostras dos dois países. A amostra de Murcia-ES

apresentou significativamente maior pontuação para a maioria dos domínios da

EAF (coesão, expressividade, conflito, interesses intelectuais, lazer e

organização) e para a dimensão relacionamento interpessoal (coesão,

expressividade e conflito). Estas diferenças podem se dar por diferenças

culturais entre estes dois países.

A coesão está relacionada a maior ajuda e suporte entre os membros

da família e expressividade com expressão de sentimentos. Estas duas com

maior pontuação são correlacionadas a aspectos mais positivos em família

(VIANNA, SILVA E SOUZA-FORMIGONI, 2007) e tiveram maiores pontuações

entre estudantes da cidade espanhola.

O conflito reflete o grau de agressividade e conflito expresso

abertamente entre os membros da família e teve maior pontuação entre os

estudantes de Murcia-ES. A menor pontuação no Brasil para este domínio já foi

relatada no estudo de validação da escala no Brasil (EAF), onde os autores

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citam que isto pode se dar por características culturais brasileiras. A cultura

norte-americana, país onde a escala foi desenvolvida, incentiva a competição e

a luta pelos direitos. Diferentemente, no Brasil, até meados do século XX a

organização social era influenciada fortemente por uma estrutura hierárquica,

centrada na figura paterna autoritária. Isto poderia caracterizar um ambiente

social relativamente repressivo que pode contribuir para coibir a expressão de

comportamentos agressivos e evitar conflitos (VIANNA, SILVA E SOUZA-

FORMIGONI, 2007).

As diferenças significantes nos domínios coesão, expressividade e

conflito na amostra de Murcia-ES, repercutem na diferença observada para

Relacionamento interpessoal em relação à amostra de Fortaleza-BR. Este fator

indica que as famílias de estudantes espanhóis tem melhor relacionamento

entre seus membros, mas também conflito maior que o grupo brasileiro.

A maior pontuação dentre os estudantes espanhóis nos domínios

interesses intelectuais, lazer e organização deve se dar por características

peculiares da cultura deste país. Não foram encontrados, no entanto, estudos

que correlacionassem EAF em universitários neste país para as devidas

comparações.

A maior pontuação no domínio Religião por parte de famílias de

Fortaleza-BR já foi citada pelo estudo de validação brasileira e deve se dar pela

grande religiosidade do País. A maior pontuação no domínio controle relaciona-

se a aspectos negativos para a família no que tange à presença de problemas

(VIANNA, SILVA E SOUZA-FORMIGONI, 2007). Embora haja ainda poucos

estudos realizados no Brasil com a aplicação da EAF fora do contexto de

crianças em situações psiquiátricas, os resultados são coerentes com o perfil

tradicional hierárquico da família brasileira, já citado.

Em meta-análise recente realizada por Marcos et al. (2013) sobre

influência da família em transtornos alimentares, verificou-se que, dos 20

estudos analisados, 83,33% deles relacionaram o incentivo ao controle

dietético como um tipo de influência para transtornos. Neste estudo os autores

relataram que esta influência apresentou-se de três formas: a influência da

família a comportamento de controle dietético em 8 dos 20 estudos, gerando

insatisfação com o corpo em oito dos vinte estudos e resultando em sintomas

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bulímicos em seis dos vinte estudos. Do total de estudos, o comportamento de

restringir dieta e a insatisfação com o corpo esteve presente no desfecho de 15

estudos.

O quarto ponto a ser discutido diz respeito à investigação das

correlações efetuadas.

A correlação observada entre BSQ e dados antropométricos (peso real,

diferença entre peso real e peso desejado e IMC), especificamente a maior

pontuação para insatisfação corporal em estudantes com maior peso, é comum

e presente em estudos com este instrumento, assim como com o IMC

(KAKESHITA, ALMEIDA, 2006). Este aspecto foi confirmado também no

estudo de Silva et al. (2012) em que os valores de odds ratio indicaram que

estudantes com obesidade e sobrepeso apresentaram cerca de 5 a 7 vezes

mais chances de insatisfação com a imagem corporal e alto risco para

transtorno alimentar do que as eutróficas.

A diferença entre peso real e desejado observada correlacionou-se

diretamente com a insatisfação com a imagem corporal, em ambas as

amostras. Fato similar foi demonstrado por Bosi et al. (2008) em estudo com

estudantes de educação física. Neste estudo foi verificada uma forte correlação

(p < 0,001) e verificação de insatisfação corporal moderada a grave presente

em quase 30% da amostra das estudantes que desejavam perder mais de 2

Kg.

Com relação aos pesos auto referidos o que a literatura informa é que

pessoas com excesso de peso tendem a subestimá-lo, ao passo que, quem

tem baixo peso superestima o mesmo. A correlação entre BSQ e IMC já era

esperada, uma vez que o peso real é mais alto entre os mais insatisfeitos.

Considerando a comparação entre os resultados do BSQ e os dados

da EAF, vale destacar que esta é uma novidade do presente estudo, pois esta

relação de associação não tem sido investigada de forma direta. Por isso

mesmo, algumas considerações frente à literatura disponível serão realizadas

mesmo que os estudos tenham sido realizados com outros grupos etários, a

fim de ilustrar melhor o quadro potencial que se delineia de prejuízo à saúde.

As categorias expressividade e conflito foram significativamente

associadas ao BSQ apenas para a amostra de Murcia-ES, respectivamente

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correlacionando-se com ausência e presença de insatisfação com a imagem

corporal. Como já referido, pode haver relação com diferenças culturais entre

os países.

No estudo de Adrian et al. (2010) o domínio conflito foi relacionada com

auto-injúrias não suicidas em adolescentes pacientes de hospital psiquiátrico.

Os autores do estudo citaram a importância da família em problemas

interpessoais e desregulação emocional. Como os pais são os primeiros

agentes socializadores a modular a trajetória emocional dos filhos, indivíduos

criados em climas ásperos e famílias conflituosas têm uma série de déficits de

competências emocionais (ADRIAN et al., 2010).

Os dominios Independência e Assertividade foram correlacionados à

ausência de insatisfação com a imagem corporal, mas apenas para a amostra

de Fortaleza-BR (com repercussão nos dados globais). O estudo de validação,

no entanto, relata que estes dois foram os domínios com menor consistência

interna na validação para a população brasileira (VIANNA, SILVA E SOUZA-

FORMIGONI, 2007).

O domínio Religião, já com pontuação mais elevada no grupo de

Fortaleza-BR, também foi correlacionado com a presença de insatisfação com

a imagem corporal nesta amostra, mas pode ser decorrente não de uma

associação direta, mas um fator de confusão pela pontuação do domínio já ser

elevada neste grupo, independentemente dos dados de BSQ.

No estudo de Cance et al. (2014) com 848 estudantes do Texas (EUA),

em que foi utilizada a EAF com adolescentes e mães, foi verificado que

relações familiares positivas foram inversamente correlacionadas com atitudes

alimentares desordenadas enquanto conflito familiar e controle psicológico da

mãe geraram atitudes de transtorno alimentar. Os dominios conflito e controle

foram citados como relacionados a problemas familiares também no estudo de

validação brasileiro (VIANNA, SILVA E SOUZA-FORMIGONI, 2007). No

entanto, no presente estudo tais domínios não foram associados à amostra de

Fortaleza-BR.

No estudo de Hanna e Bond (2006) realizado com 315 mulheres de 14

a 28 anos, do ensino secundário e universitário foi avaliado conflito familiar e

mensagens negativas sobre o peso passadas de mãe para filha. Os autores

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constataram que a frequência das mensagens negativas contribuiu mais para

sintomatologia de transtorno do que o conflito familiar. Neste estudo o IMC se

correlacionou com insatisfação com o corpo, desejo de emagrecer e sintomas

bulímicos, mas não foi associado ao conflito familiar.

Hedlund et al. (2003) realizaram estudo longitudinal (6 anos) com

pacientes bulímicas, detectando que uma superproteção dos pais,

caracterizada como controle sem afeto, é fator de risco para psicopatologias.

Neste estudo o grupo de maior risco apresentou menor pontuação em

Expressividade e Independência, tendo pontuação maior para Assertividade.

No estudo de Wang et al. (2013) verificou-se que o fato de jovens

sentarem para comer à mesa com a família levou a menor chance de ter

comportamento desordenado para controle de peso e, juntamente com este

fator, os jovens que tinham a disposição dos pais para eventos de prática de

atividade física tiveram maior proteção contra tais comportamentos. Esta

associação não diferiu segundo raça, etnia ou peso.

Cromley et al. (2010) concluem que diversas variáveis de pais e

familiares são associadas a comportamentos de controle de peso, episódios de

excessos e satisfação corporal. Investigação destes autores junto a

adolescentes constatou que aqueles que apresentavam menor satisfação

corporal e formas mais graves ou menos saudáveis de controle de peso

vivenciavam mais comportamento de controle de peso pelos pais. A presença

de excessos alimentares entre os adolescentes estudados foi associada à

menor coesão e adaptabilidade familiar. Aqueles que apresentavam menor

satisfação corporal apresentavam pais engajados em atividades de controle de

peso e aqueles que conferiam mais importância à magreza eram os que tinham

pais com baixa autoestima.

Kluck (2009) ressalta a importância do ambiente familiar no não

aumento de transtornos alimentares e insatisfação corporal em mulheres. Em

seu estudo com 268 mulheres universitárias encontrou que famílias com maior

foco na aparência tinham filhas com mais insatisfação com a imagem corporal

e sintomatologia bulímica.

No estudo de Neumark-Sztainer et al. (2010) provocações com relação

ao peso por pais e parentes foram associadas a maior IMC, insatisfação

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corporal comportamento de controle de peso extremos e compulsão alimentar

com perda de controle nas meninas.

Assim, percebe-se que grupos vulneráveis à insatisfação com a

imagem corporal e surgimento de transtornos alimentares devem ter instituída

uma abordagem de rotina, que pode inclusive ser realizada em seus ambientes

de estudo, com aplicação do BSQ e da EAF, a fim de permitir detectar

precocemente situações indesejáveis, viabilizando encaminhamentos para a

devida promoção da saúde.

O presente estudo representa uma nova forma de avaliar o ambiente

familiar como fator determinante de satisfação com a imagem corporal

reconhecendo a importância das diferenças culturais. O fato de ser um

convênio entre universidades de dois países diferentes proporciona a

construção de um conhecimento comparativo de realidades e trocas de

experiências. O modelo de estudo transversal limita conclusões mais acuradas,

mas é possível perceber que há sim uma relação do ambiente familiar do

indivíduo e sua satisfação com o corpo.

Este tipo de pesquisa abre espaço para avaliar novas formas de se

diagnosticar precocemente transtornos alimentares e outras enfermidades

psíquicas com relação ao peso e auto percepção da imagem corporal de

universitários. Ações educativas de intervenção podem ser desenvolvidas junto

a estudantes universitários. Tais ações devem ter um caráter esclarecedor e

preventivo e os instrumentos BSQ e EAF podem ser valiosas ferramentas de

detecção.

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7 CONCLUSÕES

Considerando os objetivos propostos para o presente estudo, foi

possível chegar às seguintes conclusões:

O índice de Massa Corporal (IMC) dos estudantes brasileiros e

espanhóis foi semelhante e caracterizado como dentro da faixa de

normalidade, respectivamente com medianas de 22,03 Kg/m2 e 22,49 Kg/m2.

Considerando satisfação com peso, altura e/ou forma do corpo, nos

dois grupos avaliados foi constatado desejo de peso menor, com predomínio

dos estudantes espanhóis, tanto em proporção de insatisfeitos, como em

relação ao número de Kg a serem perdidos.

Verificou-se diferenças entre o ambiente familiar dos dois grupos. As

famílias do grupo de estudantes espanhóis foram caracterizadas como famílias

mais coesas, com maior expressividade de sentimentos, maior conflito,

interesses intelectuais e atividades de lazer em família, organização e

relacionamento interpessoal entre os membros. As famílias dos estudantes

brasileiros apresentaram maior religiosidade e controle dos pais sobre os filhos.

A insatisfação com a imagem corporal, mensurada pelo Body Shape

Questionnaire (BSQ) foi de 43,2% nos estudantes brasileiros e 47,0% nos

espanhóis, sem diferença entre os grupos.

Foi constatada correlação entre imagem corporal e ambiente familiar,

mas diferentes em cada grupo de estudantes: entre os brasileiros, os que estão

satisfeitos com sua imagem corporal estão inseridos em famílias com maior

independência entre os membros, enquanto os que apresentam insatisfação

com a imagem corporal se inserem em famílias com mais assertividade (maior

foco em atingir metas) e religiosidade; entre os espanhóis os que estão

satisfeitos com sua imagem corporal têm famílias com maior expressividade de

sentimentos, enquanto os que estão insatisfeitos com sua imagem corporal têm

famílias mais conflituosas.

Embora com diferentes magnitudes, os dois grupos de estudantes

avaliados foram semelhantes quanto a características de idade,

antropométricas, satisfação com seus dados antropométricos e autoimagem

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corporal, medida pelo Body Shape Questionnaire (BSQ). Quando se adicionou

a variável Escala de Ambiente Familiar (EAF) é que diferenças puderam ser

observadas quanto aos dados de satisfação com a situação antropométrica e

imagem corporal, evidenciando diferenças provavelmente de âmbito cultural.

O estudo evidenciou a necessidade de inclusão da avaliação de

imagem corporal e de ambiente familiar nas ações de promoção da saúde em

grupos vulneráveis a distorções de imagem corporal.

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ANEXO

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ANEXO A

APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Dados de identificação e antropométricos

Nome:__________________________________________________________

Idade: ______ anos Estado civil:___________________

Ano de ingresso no curso: _____________ Semestre: _____________

Peso atual ______Kg Peso Ideal ______Kg Altura ______cm Altura Ideal ______cm

Imagem Corporal

Questionário de Imagem Corporal (BODY SHAPE QUESTIONNAIRE – BSQ)

Responda as questões abaixo em relação à sua aparência nas últimas 4 semanas.

Usando a seguinte legenda:

1.Nunca 3. Às vezes 5. Muito frequentemente

2.Raramente 4. Frequentemente 6. Sempre

01. Sentir-se entediada(o) faz você se preocupar com sua forma física? 1 2 3 4 5 6

02. Sua preocupação com sua forma física chega ao ponto de você pensar que deveria fazer uma dieta?

1 2 3 4 5 6

03. Já lhe ocorreu que suas coxas, quadris ou nádegas são grandes demais para o restante do seu corpo?

1 2 3 4 5 6

04. Você tem receio de que poderia engordar ou ficar mais gorda(o)? 1 2 3 4 5 6

05. Você anda preocupada achando que seu corpo não é firme o suficiente? 1 2 3 4 5 6

06. Ao ingerir uma refeição completa e sentir o estômago cheio, você se preocupa em ter engordado?

1 2 3 4 5 6

07. Você já se sentiu tão mal com a sua forma física a ponto de chorar? 1 2 3 4 5 6

08. Você deixou de correr por achar que seu corpo poderia balançar? 1 2 3 4 5 6

09. Estar com pessoas magras do mesmo sexo que você faz você reparar em sua forma física?

1 2 3 4 5 6

10. Você já se preocupou com o fato de suas coxas poderem ocupar muito espaço quando você senta?

1 2 3 4 5 6

11. Você já se sentiu gorda(o) mesmo após ingerir uma pequena quantidade de alimento?

1 2 3 4 5 6

12. Você tem reparado na forma física de outras pessoas do mesmo sexo que o 1 2 3 4 5 6

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seu e, ao se comparar, tem se sentido em desvantagem?

13. Pensar na sua forma física interfere em sua capacidade de se concentrar em outras atividades (como, por exemplo, assistir televisão, ler ou acompanhar uma conversa)?

1 2 3 4 5 6

14. Ao estar nua(nu), por exemplo, ao tomar banho, você se sente gorda(o)? 1 2 3 4 5 6

15. Você tem evitado usar roupas mais justas para não se sentir desconfortável com sua forma física?

1 2 3 4 5 6

16. Você já se pegou pensando em remover partes mais carnudas de seu corpo?

1 2 3 4 5 6

17. Comer doces, bolos ou outros alimentos ricos em calorias faz você se sentir gorda(o)?

1 2 3 4 5 6

18. Você já deixou de participar de eventos sociais (como por exemplo, festas) por se sentir mal com relação a sua forma física?

1 2 3 4 5 6

19. Você se sente muito grande e arredondada(o)? 1 2 3 4 5 6

20. Você sente vergonha do seu corpo? 1 2 3 4 5 6

21. A preocupação frente a forma física a(o) leva a fazer dieta? 1 2 3 4 5 6

22. Você se sente mais contente em relação a sua forma física quando seu estômago está vazio (por exemplo, pela manhã)?

1 2 3 4 5 6

23. Você acredita que sua forma física se deva à sua falta de controle? 1 2 3 4 5 6

24. Você se preocupa que outras pessoas vejam dobras na sua cintura ou estômago?

1 2 3 4 5 6

25. Você acha injusto que outras pessoas do mesmo sexo que o seu sejam mais magras do que você?

1 2 3 4 5 6

26. Você já vomitou para se sentir mais magra(o)? 1 2 3 4 5 6

27. Quando acompanhada(o), você fica preocupada(o) em estar ocupando muito espaço (por exemplo, sentada(o) num sofá ou no banco de um ônibus)?

1 2 3 4 5 6

28. Você se preocupa com o fato de estar ficando cheia(o) de “dobras” ou ‘banhas”?

1 2 3 4 5 6

29. Ver seu reflexo (por exemplo, num espelho ou na vitrine de uma loja) faz você sentir-se mal em relação ao seu físico?

1 2 3 4 5 6

30. Você belisca áreas de seu corpo para ver o quanto há de gordura? 1 2 3 4 5 6

31. Você evita situações nas quais as pessoas possam ver seu corpo (por exemplo, vestiários e banheiros)?

1 2 3 4 5 6

32. Você já tomou laxantes para se sentir mais magra(o)? 1 2 3 4 5 6

33. Você fica mais preocupada(o) com sua forma física quando em companhia de outras pessoas?

1 2 3 4 5 6

34. A preocupação com sua forma física leva você a sentir que deveria fazer exercícios?

1 2 3 4 5 6

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Escala de ambiente familiar

Abaixo existem diversas afirmações sobre famílias. Você deverá decidir quais afirmações são

verdadeiras e quais são falsas em relação à sua família. Se você achar que a afirmação é

verdadeira ou em sua maior parte verdadeira, marque um X na opção (V). Se você acha que a

afirmação é falsa ou na sua maioria falsa marque X na opção (F).

Você pode achar que algumas informações se aplicam a alguns membros da sua família, mas

não a outros. Marque (V) se a afirmação for verdadeira para A MAIORIA dos membros da sua

família e (F) se a afirmação for falsa para A MAIORIA dos membros de sua família. Se mesmo

assim você ficar dividido, decida pela impressão geral mais forte que predomina na sua família

e faça sua escolha.

Lembre-se, gostaríamos de saber qual é a sua visão de sua família. Portanto não tente

imaginar como as outras pessoas da família imaginariam cada situação.

V F

1 As pessoas da família de fato se ajudam e dão apoio (moral) umas as outras.

2 As pessoas da família frequentemente guardam seus sentimentos para si mesmas.

3 Nós brigamos muito em nossa família.

4 Frequentemente em nossa família nós não fazemos as coisas sozinhos.

5 Nós sentimos que é importante sermos os melhores em qualquer coisa que nós

façamos.

6 Frequentemente nós conversamos sobre problemas políticos e sociais.

7 Nós passamos a maioria dos fins de semana e noites em casa.

8 As pessoas da nossa família frequentemente vão à igreja (ou a outro tipo de culto

religioso).

9 Atividades familiares são cuidadosamente planejadas.

10 Raramente manda-se em alguém da família.

11 Frequentemente as pessoas da família parecem estar "matando o tempo" quando

estão em casa.

12 Em casa, nós dizemos qualquer coisa que quisermos.

13 Raramente as pessoas da família se tornam visivelmente zangadas.

14 Em nossa família, somos muito encorajados a sermos independentes.

15 Em nossa família ter sucesso na vida é muito importante.

16 Raramente nós vamos a palestras, teatros ou concertos.

17 Frequentemente amigos vêm em casa para jantar ou nos visitar.

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18 Em nossa família nós não rezamos.

19 Nós geralmente somos muito limpos e organizados.

20 Em nossa família existem pouquíssimas regras a serem seguidas.

21 Nós colocamos muita energia naquilo que fazemos em casa.

22 Em casa é difícil desabafar sem preocupar ou magoar alguém.

23 Algumas vezes as pessoas da família ficam tão bravas que atiram coisas.

24 Em nossa família, nós tiramos nossas próprias conclusões sobre as coisas.

25 Para nós, não importa quanto dinheiro uma pessoa ganha.

26 Em nossa família é muito importante aprender coisas novas e diferentes.

27 Em nossa família, ninguém pratica esportes, como futebol, voleibol, etc.

28 Frequentemente nós falamos sobre o significado religioso do Natal ou de outros

feriados religiosos.

29 Frequentemente é difícil achar as coisas em casa quando nós precisamos delas.

30 Há uma pessoa da família que toma a maioria das decisões.

31 Há um sentimento de união em nossa família.

32 Nós contamos, ums com os outros, nos problemas pessoais.

33 Raramente as pessoas da família perdem o auto controle.

34 Cada um entra e sai de casa quando quer.

35 Nós acreditamos em competição e em "que vença o melhor".

36 Nós não temos muito interesse em atividades culturais.

37 Frequentemente nós vamos ao cinema, a jogos, a acampamentos, etc.

38 Nós não acreditamos em céu ou inferno.

39 Em nossa família chegar na hora certa é muito importante.

40 Em casa existem maneiras bem determinadas de se fazer as coisas.

41 É raro que alguém se ofereça como voluntário quando algo precisa ser feito em casa.

42 Frequentemente se nós sentimos impulsivamente vontade de fazer alguma coisa, nós

a fazemos.

43 As pessoas da família criticam com frequencia umas às outras.

44 Em nossa família há pouquíssima privacidade.

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45 Nós sempre nos esforçamos para fazer as coisas um pouco melhor da próxima vez.

46 Raramente temos discussões sobre assuntos intelectuais.

47 Em nossa família, todas as pessoas tem um ou dois passatempos favoritos.

48 As pessoas da família tem idéias firmes acerca do que é certo e do que é errado.

49 Frequentemente as pessoas da nossa família mudam de opinião.

50 Em nossa família existe uma grande ênfase para que as regras sejam seguidas.

51 As pessoas de nossa família realmente apoiam umas às outras.

52 Frequentemente alguém fica aborrecido se você se queixar ou reclamar.

53 Algumas vezes as pessoas da família se pegam a tapas.

54 As pessoas da família quase sempre são auto-suficientes quando aparece um

problema.

55 Raramente as pessoas da nossa família se preocupam com promoção no trabalho,

notas escolares, etc.

56 Em nossa família alguém toca um instrumento musical.

57 As pessoas de nossa família não se envolvem muito em atividades de lazer além do

trabalho ou da escola.

58 Nós acreditamos que existem algumas coisas nas quais simplesmente se deve

acreditar.

59 As pessoas da família certificam-se de que seus quartos estejam arrumados.

60 Todos tem direito igual de opinião nas decisões da família.

61 Em nossa família existe pouquíssimo "espírito de grupo".

62 As questões relativas a dinheiro e despesas são tratadas abertamente em nossa

família.

63 Se há um desentendimento em nossa família, tentamos com todo o empenho

amenizar as coisas e manter a paz.

64 As pessoas da família incentivam muito umas às outras a defenderem seus direitos.

65 Não nos esforçamos muito para sermos bem sucedidos (ter sucesso na vida).

66 As pessoas da família frequentemente vão à biblioteca.

67 Algumas vezes as pessoas da família frequentam cursos ou tem aulas sobre algum

hobby ou coisas que lhes interessam (fora da escola).

68 Em nossa família, cada pessoa tem idéias diferentes sobre o que é certo e o que é

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errado.

69 As obrigações de cada um são claramente definidas em nossa família.

70 Nós podemos fazer o que quisermos em casa.

71 Nós nos damos realmente bem ums com os outros.

72 Frequentemente somos cuidadosos com o que dizemos uns com ou outros.

73 Frequentemente, as pessoas de nossa família procuram se mostrar ou serem

melhores do que os outros.

74 Em nossa família é difícil sermos independente sem ferir os sentimentos de alguém.

75 O lema em nossa família é "o trabalho vem antes da diversão".

76 Em nossa família, assistir televisão é mais importante do que ler.

77 As pessoas de nossa família saem bastante.

78 A Bíblia é um livro muito importante em nossa casa.

79 Em nossa família o dinheiro não é administrado com muito cuidado.

80 As regras em casa são um tanto quanto inflexíveis.

81 Em nossa família damos bastante tempo e atenção para todas as pessoas.

82 Há muitas conversas e trocas de idéias espotâneas em nossa família.

83 Em nossa família, nós acreditamos que levantando a voz para o outro você nunca

chega a lugar algum.

84 Em nossa família, nós não somos encorajados a dizer o que pensamos.

85 As pessoas da família são frequentemente comparadas com outras pessoas em

relação a se eles estão indo bem no trabalho ou na escola.

86 As pessoas da família realmente gostam de música, arte e literatura.

87 Nossa principal forma de diversão é ver TV ou escutar rádio.

88 As pessoas da família acreditam que se você pecar, será punido.

89 A louça é geralmente lavada logo depois das refeições.

90 Em nossa família, não podemos escapar das conseqüências do que fazemos.

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APÊNDICE 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Estamos desenvolvendo uma pesquisa intitulada “Interações entre ambiente

familiar, imagem corporal e transtorno alimentar entre estudantes de cursos da

área de saúde”, a qual tem por objetivo avaliar qual a imagem do próprio corpo

que as estudantes dos cursos da área de saúde da Universidade Estadual do

Ceará possuem. Também é objetivo verificar se existe relação entre esta

imagem corporal, o índice de massa corporal, o comportamento alimentar e o

ambiente familiar. Tais informações são importantes para conhecer melhor as

opiniões de estudantes da saúde sobre sua própria imagem e ajudar a prevenir

distúrbios alimentares, pois estudos mostram que esses distúrbios podem ser

mais frequentes entre estudantes universitários da área de saúde. Assim,

convidamos você a participar desta pesquisa, respondendo o questionário via

internet. Informamos que a pesquisa não traz risco à sua saúde e que você

pode desistir de participar da mesma no momento em que decidir, sem que isto

lhe acarrete qualquer prejuízo na Universidade. Por ser uma participação

voluntária, você não receberá pagamento nem pagará nada por esta

participação. Garantimos que seu nome será mantido em segredo quando a

pesquisa for apresentada. Agradecemos a sua colaboração e estamos à sua

disposição para qualquer esclarecimento sobre a pesquisa, os quais poderão

ser prestados pela responsável pelo estudo Dra. Helena Alves de Carvalho

Sampaio, fone (85) 3101-9821, ou pela estudante Nara de Andrade Parente,

fone 9927-9575, ou pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

Estadual do Ceará, fone (85) 3101-9890. Este documento está sendo feito em

duas cópias: uma que ficará com a pesquisadora e outra que ficará em suas

mãos. Agradecemos a atenção.

------------------------------------------------------------

Pesquisadora Tendo sido informado sobre a pesquisa “Interações entre ambiente familiar,

imagem corporal e transtorno alimentar entre estudantes de cursos da área de

saúde”, concordo em participar da mesma.

Nome:_________________________________________________________

Assinatura:_____________________________________________________

Email:_________________________________________________________

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