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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIENCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA FRANK PAULA SANTOS ITAIÇABA: NEGÓCIOS, LAZER E TURISMO DE RAIZ NO BAIXO JAGUARIBE FORTALEZA – CEARÁ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE … · Dedico a todos que me apoiaram e contribuíram para realização deste trabalho. AGRADECIMENTOS A Deus, pelas oportunidades surgidas,

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁCENTRO DE CIENCIAS E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

FRANK PAULA SANTOS

ITAIÇABA: NEGÓCIOS, LAZER E TURISMO DE RAIZ NO BAIXO JAGUARIBE

FORTALEZA – CEARÁ

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2012

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ITAIÇABA: NEGÓCIOS, LAZER E TURISMO DE RAIZ NO BAIXO JAGUARIBE

Dissertação submetida ao Curso de Mestrado em Geografia. do Centro de Ciências e Tecnologias da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau (mestre) em Geografia.

Área de Concentração: Espaço e Produção Social do Turismo

Orientador(a): Profª. Drª. Luzia Neide Menezes Teixieira Coriolano.

FORTALEZA – CEARÁ

2012

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FRANK PAULA SANTOS

ITAIÇABA: NEGÓCIOS, LAZER E TRABALHO NO BAIXO JAGUARIBE

Dissertação submetida ao Curso de Graduação, Mestrado em Geografia do Centro de Ciências e Tecnologias da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Geografia.

Área de Concentração: Espaço e Produção Social do Turismo

Aprovada em: 05/03/2012

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Prof. Dra. Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano

Universidade Estadual do Ceará – UECE

Orientadora

_______________________________________________________

Prof. Dra. Maria Dilma Simões Brasileiro – Universidasde Federal da Paraíba - UFPB

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Prof. Dra. Danielle Sequeira Garcês – Universidade Federal do Ceará- UFC, LABOMAR.

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Dedico a todos que me apoiaram e contribuíram para realização deste trabalho.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelas oportunidades surgidas, por tudo que conquistei e por todos os

obstáculos superados.

Aos meus pais, Santos e Zuldenir, responsável pelo apoio incondicional durante

minha formação enquanto pessoa, pelas lindas lições de vida e pelos bons

conselhos. São sustentáculos da minha vida.

A minha esposa, Leila, que nas horas mais difíceis dessa jornada foi paciente,

amorosa e firme, esposa orgulhosa do meu crescimento acadêmico.

Ao meu filho, Arthos, que nasceu durante a realização desse mestrado e foi uma

fonte a mais de ilmunição ao meu sucesso. Uma benção divina e maior objetivo de

minha vida.

Ao meu tio Nildo, que sempre se interessou pelo andamento do curso e sempre

incentivou meu caminhar em direção do engrandecimento intelectual.

À minha orientadora, Profa. Dra. Luzia Neide Coriolano, que desde o curso de

especialização, contribui com meu crescimento acadêmico e profissional, corrigindo,

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ensinando e exigindo dedicação e disciplina, aspectos indisensáveis na conclusão

da dissertação.

Aos Profs. Drs. Fabio Perdigão e Danielle Garcês por estarem sempre disponíveis e

por serem cumpridores do digno e eficiente papel de doutor educador na academia e

na vida.

A Universidade Estadual do Ceará – UECE – que, desde a graduação tem

contribuido para minha evolução acadêmica e profissional.

Ao Programa de Pós-graduação em Geografia da UECE, aos professores e

funcionários em especial à Julia da Secretaria, pela paciência com minhas falhas e

pelos serviços prestados.

RESUMO

Essa dissertação intitulada ITAIÇABA-CE: AGRONEGÓCIOS, LAZER E TURISMO NO BAIXO JAGUARIBE têm como objeto de investigação a cidade de Itaiçaba no contexto agroeconômico do baixo Jaguaribe. A modernização agrícola chega à região do da Bacia do rio Jaguaribe, no oeste do estado. Espaço regional historicamente marcado pela agropecuária tradiconal recebe grandes projetos do agronegócio, como os perímetros de irrigação e fazendas de cultivo de camarão em cativeiro. A região também apresenta novos empreendimentos e infraestruturas de turismo, criadas pra aproveitar potencialidades rurais presentes nas cidades da região. Itaiçaba, pequena cidade jaguaribana que sempre dependeu de atividades agropastoris tradicionais, é uma dessas cidades rurais do Baixo Jaguaribe que busca inserção no moderno agronegócio da fruticultura, carcinicultura comercial e do turismo rural e de Raiz. Atividades que ocorrem na cidade fazem emergir

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problemáticas ambientais, pelos processos produtivos avançados e novos arranjos sociourbanos locais. Para compreensão do processo de inserção de Itaiçaba no agronegócio e no turismo rural analisa-se o contexto econômico da região e da cidade. Verifica-se como a história e as atividades produtivas do lugar são atrativas e aproveitadas pelo modelo agroeconômico vigente. Para tanto, a pesquisa adota metodologia crítica sustentada em pressupostos do materialismo histórico, que propicia o encontro das determinações e das contradições. Adota-se abordagem quanto qualitativa nos estudos exploratórios e na busca das especificidades da realidade estudada. Dessa forma, a dissertação está estruturada em cinco partes. Na primeira apresenta-se a contextualização do objeto, os questionamentos e os objetivos; na segunda faz-se um estudo do contexto regional do Baixo Jaguaribe no Ceará; na terceira abordam-se identificações naturais e socioeconômicas de Itaiçaba; e na quarta parte analisa-se o turismo de raiz no lugar. Finaliza-se o estudo apresentando conclusões e propostas que possam ajudar o desenvolvimento da pequena cidade de Itaiçaba no atual processo agroeconômico do Baixo Jaguaribe.

Palavras Chaves: Itaiçaba. Pequena Cidade. Agronegócio. Turismo de Raiz.

ABSTRACT

This dissertation entitled, Itaiçaba: Bussiness, leisure and tourism in the lower Jaguaribe,

aims to investigate the city of Itaiçaba in the agroeconomic context of the lower Jaguaribe.

The agricultural modernization reaches the region of the Jaguaribe river, in the western of the

state. A regional area historically marked by traditional agricultural, that receives big projects

of agribussines,such as irrigation projects and shrimp farms.The region also presents new

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development and tourism infrastructure, criated to harness the rural potential in the towns of

the region. Itaiçaba, a small Jaguaribean town, that always depended on traditional

agropastoral activities, is one of the lower Jaguaribe towns which seeks inclusion into the

modern agribussness of fruct, shrimp farms, rural and root tourism. The activities occuring in

the town, make emerging environmental issues through advanced productive processes and

new local urban and social arrangements.In order to understand the insertion process of

Itaiçaba into agribussiness and rural tourism, the economic context of the region and town is

analised. It can be showed how history and productive activities of the area are attractive and

used by the agroeconomic current model. Therefore, this research uses a critical

methodology underpinned by assumptions of historical materialism, which promotes the

encounter of contraditions and determitations. It was adopted quantitative and qualitative

approach in exploratory studies, fiding the specificities of the studied reality. Thus, this

dissertation is strutured in five parts. The first one,presents object contextualization, questions

and objectives. The se cond,is a study of the regional context of lower Jaguaribe in Ceará.

The third part addresses natural and social economic identifications of Itaiçaba, end the fourth

part looks at the root tourism of the place.Finnaly, this study ends showing conclusions and

proposals that can help the improvement of the small city of Itaiçaba, into the current

agroeconomic process of the lower Jaguaribe.

Palavras Chaves: Itaiçaba. Small Town. agribussiness. Root Tourism.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Microrregião de Aracati, no Vale do Jaguaribe- CE...............................................24

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Figura 2: Crista residual cristalina – Itaiçaba-CE..................................................................27

Figura 3: Campo de dunas móveis e semi-fixas invadindo falésias em Canoa

Quebrada-CE........................................................................................................................28

Figura 4: Planície Fluvial (várzea) do rio Palhano, afluente do Jaguaribe - Palhano-CE ...30

Figura 5: Vegetação costeira pioneira na pedogênese – Canoa Quebrada-CE...................34

Figura 6: Vegetação costeira com desenvolvimento radicular expressivo –

Canoa Quebrada- CE............................................................................................................35

Figura 7: Maguezal – Foz do Rio Jaguaribe em Fortim-CE..................................................36

Figura 8: Vegetação herbácea-arbustiva nas margens do Jaguaribe – Limoeiro do Norte. 37

Figura 9: Mata ciliar de CarnaúbaItaiçaba-CE......................................................................37

Figura 10: Varais com mantas de charque em oficinas no Aracati-CE.................................42

Figura 11: Pecuária leiteira nas áreas irrigadas do Baixo Jaguaribe-Ce..............................51

Figura 12: Viveiros de camarão em águas interiores. Itaiçaba-CE.......................................56

Figura 13: Pedra da Galinha Choca em Quixadá-CE...........................................................66

Figura 14: Praia de Canoa Quebrada em Aracati-CE..........................................................67

Figura 15: Açude Castanhão- CE.........................................................................................71

Figura 16: Espaço de lazer na barragem no Rio Jaguaribe em Itaiçaba-CE........................80

Figura 17: Construção de casas populares em Itaiçaba-CE.................................................81

Figura 18: Posto de Revenda de produtos agrícolas e Secretaria Municipal da Agricultura,

Pecuária,Aquicultura e Meio Ambiente. Itaiçaba-CE 2010....................................................82

Figura 19: Banda de Música de Itaiçaba-CE, mantida pela prefeitura local..........................83

Figura 20: Localização do município de Itaiçaba-CE............................................................84

Figura 21: Antigo matadouro público de Itaiçaba-CE...........................................................87

Figura 22: Primeiros estabelecimentos comerciais destinados à venda de mercadorias aos

charqueadores......................................................................................................................87

Figura 23: Canoa rudimentar usada para travessia do rio Jaguaribe em Itaiçaba-CE..........90

Figura 24: Rio Jaguaribe na porção localizada em Itaiçaba. Detalhe da Barragem Vertedora

de Itaiçaba.............................................................................................................................90

Figura 25: Canal do Trabalhador no seu primeiro trecho.....................................................91

Figura 26: Captação de água para irrigação no Canal do Trabalhador. Itaiçaba-CE...........92

Figura 27: Aguapés recobrem o espelho d’água no Canal do Trabalhador em Itaiçaba......94

Figura 28: Rebanho rústico, pecuária tradicional, Itaiçaba-CE.............................................99

Figura 29: Sistema de roça, agricultura tradicional familiar, Itaiçaba-CE............................101

Figura 30: Melão amarelo encaixotado e pronto para mercado, agroempresa Itaueira

Agropecuária S.A.- Itaiçaba-CE..........................................................................................104

Figura 31: Viveiros de camarão nas margens dos rios Jaguaribe e Palhano. Itaiçaba-CE.107

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Figura 32: Sede da Associação artesanal e Itaiçaba-CE....................................................108

Figura 33: Cestas de palha sendo carregadas para vendas em São Paulo- Itaiçaba-CE. 109

Figura 34: Palha da carnaúba ressecada ao sol para a fabricação de artesanato. Itaiçaba-

CE.......................................................................................................................................109

Figura 35: Pousada municipal de Itaiçaba..........................................................................115

Figura 36: Procissão em Homenagem a Nossa Senhora da Boa Viagem. Itaiçaba-CE.....116

Figura 37: Polo de lazer Beira-rio e barragem vertedora de Itaiçaba-CE...........................119

Figura 38: Serra do Ereré na entrada da cidade de Itaiçaba-CE........................................120

Figura 39: Lixo jogado no canal do trabalhador na beira-rio em Itaiçaba-CE.....................121

Figura 40: Capela depredada no alto da Serra do Ereré, Itaiçaba-CE...............................122

Figura 41: Itaiçaba-CE. Fixação de cabos, antenas e pichações na gruta que guardava a

imagem da Santa Padroeira, no alto da Serra do Ereré......................................................122

Figura 42: Barraca na beira-rio durante evento turístico em Itaicaba-CE...........................123

Figura 43: Barracas de comercio ambulante na rua principal durante evento turístico em

Itaiçaba-CE.........................................................................................................................124

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Interiorização da Demanda turística....................................................................62

Quadro 2: Unidades de Saúde e Recursos Humanos em Itaiçaba-CE.................................98

Quadro 3: Fazendas de camarão por município, na bacia do Baixo Jaguaribe..................106

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Percentual da área da sub-bacia do Baixo Jaguaribe em relação ......................................................................................................................................................................................................................................................................................... ao estado do Ceará.............................................................................................................................................. 31

Gráfico 2: Percentuais das demandas para as bacias do estado do Ceará.........................32

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABCC Associação Brasileira dos Criadores de Camarão

COGERH Companhia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra a Seca

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias

IBAMA Instituo Brasileiro do Meio Ambiente

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPECE Instituto de Planejamento Estratégico do Ceará

MMA Ministério do Meio Ambiente

MTUR Ministério do Turismo

MMT Organização Mundial do Turismo

PEM Plano Estratégico do Município

PMI Prefeitura Municipal de Itaiçaba

PNUD Plano dasNações Unidas para Desenvolvimento

SEART Secretaria Estadual de Arte e Cultura

SEMACE Secretaria dom Meio Ambiente do Ceará

SETUR Secretaria Estadual do Turismo

SRH Secretaria de Recursos Hídricos

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................14

2. O BAIXO JAGUARIBE NO CONTEXTO REGIONAL DO SERTÃO

CEARENSE...............................................................................................................21

2.1 A Dinâmica Natural do Baixo Jaguaribe............................................................22

2.2 Processos Históricos econômicos do Baixo Jaguaribe - ascensão e declínio do gado e do algodão no Ceará ...................................................................................36

2.3 Um Novo rural: a Modernização Agrícola no Baixo Jaguaribe .........................45

2.4 O Baixo Jaguaribe no Contexto do Turismo do Estado ...................................56

3. A PEQUENA CIDADE DE ITAIÇABA, NEGÓCIOS E TRANSFORMAÇÕES .....72

3.1. Itaiçaba: entendendo a Pequena Cidade cearense.........................................75

3.2. Itaiçaba: História, Natureza e Sociedade as Margens do Jaguaribe...............84

3.3. Itaiçaba: da Economia Tradicional ao Agronegócio..........................................98

4. ITAIÇABA, LAZER E TURISMO DE RAIZ...........................................................1114.1. O turismo de Raiz e Afetividade com o Lugar................................................113

4.2. Potencialidades, Limitações e Impactos Turísticos em Itaiçaba....................117

4.3. Alternativa para o desenvolvimento turístico da pequena cidade de Itaiçaba................................................................................................................................125

5. CONCLUSÃO ......................................................................................................129

BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................134

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1. INTRODUÇÃO

Essa dissertação intitulada ITAIÇABA-CE: AGRONEGÓCIOS, LAZER E

TURISMO NO BAIXO JAGUARIBE têm como objeto de investigação a cidade de

Itaiçaba no contexto do baixo Jaguaribe. A modernização agrícola que se

desenvolve no Brasil desde a década de 1970 chega efetivamente ao território

cearense a partir dos anos 1990. O Ceará marcado historicamente pela

agropecuária tradicional, desde o período colonial voltado a pecuária extensiva e a

monocultura do algodão e na contemporaneidade passa por grandes

transformações. As atividades tradicionais sempre impactadas pela semiaridez,

secas e estrutura fundiária concentrada são enfrentadas por sertanejos, pois as

políticas públicas são ineficientes. O modelo produtivo centrado na produção

arcaica, no latifúndio, desvinculado de técnicas modernas, provoca anacronismo

econômico do estado, e marca por muito tempo o rural cearense. Provoca

emigrações de sertanejos que fogem da miséria do interior para a capital, ou outras

regiões do país.

Entre as décadas de 1980-1990, as gestões empresariais cearenses

mudam o foco econômico com programas políticos de ampliação da infraestrutura

que viabiliza o processo de industrialização urbana e mecanização agrícola. Novas

rodovias e portos construídos para facilitar o escoamento e a comercialização de

produtos do campo. Incentivos a instalação de indústrias na capital e interior do

estado aceleraram o surgimento de novos serviços com tecnificação da mão de obra

e mecanização de espaços agrários tradicionais. Essas mudanças tanto urbanas

quanto rurais ocorrem mais fortemente em cidades inseridas nos espaços produtivos

do Ceará, sendo o Baixo Jaguaribe um deles.

A modernização agrícola chega à região da Bacia do rio Jaguaribe, no

oeste do estado. O vale jaguaribano onde estão os municípios de Alto Santo,

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Pereiro, Potiretama, Quixeré, Russas, São João do Jaguaribe e Tabuleiro do Norte,

cresce e merece destaque no estado. O Plano Estadual de Recursos Hídricos, em

1992, considera as cinco sub-bacias: a do Alto, Médio e Baixo Jaguaribe, sub-bacia

do rio Banabuiu e sub-bacia do rio Salgado.

Esse espaço historicamente marcado pela agropecuária tradiconal recebe

grandes projetos agrícolas, os perímetros de irrigação do Tabuleiro de Russas, do

Jaguaribe-Apodi e de Jaguaruana que segundo o Departamento Nacional de Obras

Contra as Secas – DNOCS, abrange área superior a 13 mil hectares, voltada à

produção comercial de frutas. Processo que gera empregos, aumento do consumo

de insumos e divisas para o estado com exportação desses produtos.

Itaiçaba, uma pequena cidade cearense da região do Baixo Jaguaribe

vive o conflito econômico, de depender das atividades agropastoris tradicionais e

lutar pela inserção no agronegócio da fruticultura, na carcinicultura comercial, e no

turismo, atividades que a cada dia transformam o território produtivo e o lugar dos

residentes. No município mudanças urbanas estruturais são produzidas, novos

bairros e conjuntos de casas populares são construídos, mais pessoas são

empregadas pelas agroempresas, novos serviços técnico-informacionais são

instalados e novas relações socioeconômicas se estabelecem, a grandes custos e

com grandes embates.

Quem chega a cidade observa o aumento do fluxo de visitantes,

trabalhadores e turistas que chegam a busca de oportunidades ou para usufruir

eventos tradicionais, em especial no carnaval ou festas regionais. A procura por

maiores demandas muda o preço das mercadorias locais, considerando a lei da

oferta e da procura. A economia da cidade é incrementada com proliferação de

trabalhadores informais, venda de artesanato local e movimento em bares e

mercantis do lugar.

A pesquisa investiga as atividades agroeconômicas e turísticas que

integram e caracterizam o processo de crescimento urbano da cidade, na tentativa

de compreender os desafios que o pequeno lugar às margens do rio Jaguaribe tem

enfrentado. Investigam-se materialidades e significados das mudanças relacionadas

aos territoriais da cidade, as potencialidades naturais, culturais e produtivas,

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influenciadas pelo processo que se expande na região e no estado. Embora a

inserção na agricultura moderna e a expansão da atividade turística não estejam ao

alcance do todas as pequenas cidades do interior do estado, e nem precise estar,

em Itaiçaba o contexto é inexoravelmente articulado com a conjuntura econômica

regional, onde se se consolidam os polos agroeconômicos, em especial os de

Russas e Jaguaruana e nos espaços turísticos da região com destaque para a praia

de Canoa Quebrada, no município de Aracati, um dos lugares mais visitados do

estado.

Sabe-se que o turismo é realizado por pessoas e grupos sociais com

melhores condições de comprar e pagar pelos serviços, sabe-se também que a

atividade gera um ciclo de produção e consumo imprescindível para cidades, seja

grande ou pequeno. Assim, nessa pesquisa o fenômeno turístico na pequena cidade

de Itaiçaba é estudado a partir das marcas indentitárias que os visitantes têm com o

lugar e que tem contribuído para a expansão da atividade e do desenvolvimento

social. O modo de vida simples do sertanejo e a paisagem fluvial de Itaiçaba são

peculiaridades transformadas em potencialidades de lazer, negócios e de inserção

da cidade na conjuntura econômica do Baixo Jaguaribe, em especial em negócios

turísticos, que cada vez mais se difundem na região.

Nas décadas de 1980-1990 o turismo litorâneo de sol e praia e consumo

emergem como atividade prioritária no desenvolvimento econômico do estado, que o

define como receptivo de turismo, políticas que propagam ideologia e as práticas

administrativas públicas e empresarias que programam a atividade. Quando o

turismo é usado pela mídia oficial como exemplo da ruptura de paradigmas

produtivos tradicionais do estado, juntamente com o agronegócio. Passa assim o

turismo a dar novo dinamismo econômico ao estado, uma vez que a rede de

serviços e negócios turísticos possibilitam novas perspectivas econômica para o

estado.

A política neoliberal que sustenta o capitalismo global no país e no estado

colocou o turismo como atividade chave de acumulação de capital, passando a ser

também atividade símbolo do moderno estado, segundo as propagandas públicas.

Coriolano (2006), ao estudar a atividade no Ceará, mostra que desenvolvimento

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turístico no estado, toma como prioridade o turismo sol e mar. Assim o sol visto

anteriormente como flagelo dos cearenses que vivem no sertão ressequido, torna-se

ícone de lazer e prazer na zona costeira cearense. Sucedem-se iniciativas públicas

e privadas de valorização de espaços em Fortaleza, portão de entrada dos

visitantes, e no litoral, principal destino. Essas iniciativas acarretaram expansão da

rede hoteleira e gastronômica em cidades de praia, transformando lugares de vida

simples de comunidades pesqueiras em espaços luminosos, cosmopolitas e

complexos. E o processo expande-se para o interior do estado.

Há por parte dos gestores públicos incentivo ao fenômeno das segundas

residências, que dinamizavam o mercado imobiliário das casas de praia. Financiam-

se programas de treinamento técnico da mão de obra envolvida nos seguimentos

turísticos que atende a crescente demanda de visitantes ao estado. O litoral do

Ceará passa a ser ocupado por redes hoteleiras, resorts e casas de praia luxuosas.

Comunidades de pescadores reduzem o efetivo de trabalho na pesca preferindo à

oferta de empregos em restaurantes, pousadas e bares. Nesse momento espera-se

que o turismo mude a situação econômica de lugares receptivos o que não

aconteceu pela forma concentrada de capital, como é desenvolvido o modelo de

turismo ou de desenvolvimento.

A partir das décadas de 1980/1990 o poder público avança no novo

contexto econômico neoliberal, que prioriza a indústria, os agropolos e o turismo. O

turismo avança por espaços periféricos, chega ao sertão e serras. Há maior procura

por destinos rurais e espaços interioranos. Constata a SETUR (2008) que os fluxos

nacionais e intraestaduais, entre os anos de 2005-2009 caíram de 23,7% para

21,5% em Fortaleza, enquanto no interior do estado a movimentação subiu de

76,3% para 78,5%. Trata-se de uma elevação lenta, mais importante principalmente

para as pequenas cidades que apresentam economias modestas e pouca

população, como Itaiçaba.

No interior do Ceará cidades de serra e sertão criam condições para

receber turistas, tendo destaque a melhoria da rede hoteleira, o incentivo a

micaretas, as feiras agrícolas, as festividades religiosas que atraem peregrinos para

os lugares de religiosidade mais expressiva. Estes fatos geram diversificação de

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atrativos no estado, ampliam possibilidades de novos fluxos e o aumento na geração

de receitas pelos serviços, ou seja, aumento do comércio em torno do turismo nas

diversas cidades e comunidades cearenses. O estudo da interiorização de

atividades econômicas no estado exige aprofundamento com estudos sobre as

especificidades dos lugares e das pequenas cidades cearenses. Assim, a escolha

de Itaiçaba como objeto empírico da pesquisa se justifica pelo fato de que os

desafios e possibilidades assemelham-se ao de outros espaços do interior do

estado. Além disso, entende-se que a dinâmica do contexto econômico global se

expressa também nas especificidades dos lugares na esfera local, pois leva

pequenas cidades a se empenhar pelo turismo, o que não acontecia antes da

década de 1980.

A pequena cidade de Itaiçaba se insere como espaço identitário na

macroecomia do estado e da região Nordeste, pois de forma complexa e

contraditória que modifica as relações e os espaços urbanos e rurais dos lugares e a

vida das pessoas que ali vivem. A análise do objeto, a cidade de Itaiçaba torna-se

ainda mais importante, elucida os questionamentos da pesquisa e poderá contribuir

com propostas que colaborem para transformar do lugar estudado.

O avanço do agronegócio e do turismo na região jaguaribana, envolve

Itaiçaba, faz emergir problemáticas comuns a várias cidades da região tais como

impactos ambientais, transformações urbanas, produtivas e sociais. A expansão

das atividades econômicas tem gerado conflitos e contradições socioeconômicas

para as cidades e as populações residentes. Conflitos que podem dificultar ou

impulsionar o desenvolvimento local e as melhorias das condições de vida nas

pequenas cidades sertanejas.

Nas cidades sertanejas essa problemática possibilitou a formulação de

caminhos e questionamentos básicos que norteiam o estudo, tais como: os

elementos culturais identitários do lugar, a natureza peculiar da pequena cidade, as

potencialidades econômicas e o turismo de raiz como vetores da inserção

econômica e do desenvolvimento sócio produtivo da cidade no contexto econômico

da região e do estado, na contemporaneidade. Assim os questionamentos basilares

na explicação das contradições e da realidade de Itaiçaba foram:

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• Qual o contexto ambiental, do agronegócio e do turismo do Baixo

Jaguaribe?

• Como Itaiçaba se insere no agronegócio da região, em especial a

fruticultura irrigada e a carcinicultura?

• As potencialidades naturais, culturais e produtivas têm contribuído para

o desenvolvimento da pequena cidade?

• Como o turismo é desenvolvido no lugar e quais os impactos?

• Como a estrutura urbana da cidade tem crescido para atender as

novas demandas?

• Quais as políticas públicas regionais influenciam o contexto econômico

e turístico da cidade?

Assim os objetivos da investigação foram estudar Itaiçaba no contexto do

baixo Jaguaribe, uma pequena cidade que se insere no agronegócio na

carcinicultura e no turismo de raiz, analisando as implicações desse processo para a

economia da pequena cidade. Para isso, fez-se necessário mostrar o contexto

natural e econômico da região onde se insere Itaiçaba, o Baixo Jaguaribe; entender

a história e as especificidades ambientais do lugar, identificando as que contribuem

para impulsionar o desenvolvimento do lugar; analisar a influência e os impactos que

o agronegócio e o turismo de raiz têm causado na cidade, especialmente no

ambiente e na infraestrutura urbana; analisar o papel do poder e das políticas

públicas na construção da economia e da sociedade itaiçabense.

Para a realização deste estudo adota-se metodologia crítica, tendo em

vista a apreensão do objeto em sua totalidade. Trata-se de um estudo exploratório

da cidade no Baixo Jaguaribe, com inserção no agronegócio e exploração do

turismo de raiz. Utilizam-se pressupostos do materialismo histórico, pois se busca

contradições, conflitos, historicidade e a totalidade da realidade estudada. A

pesquisa está orientada por abordagens quanto-qualitativas. A revisão de literatura

possibilitou a definição de categorias e conceitos chaves para teorização do

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empírico. Realizaram-se pesquisas on line e de campo para conhecer as

peculiaridades do objeto. A problemática estudada motivou a realização de

entrevistas aos sujeitos que participam do processo de desenvolvimento, ou seja,

gestores e residentes. Realizou-se também observações participativas em festas e

eventos locais, contato e conversas com os residentes para complementação das

análises de campo e da pesquisa institucional feita em órgãos administrativos e de

planejamento do município, do estado e da região.

A base teórica que subsidia a análise remete a conceitos da geografia

econômica e do turismo e outras ciências sociais; tendo destaque as seguintes

categorias de análise: espaço geográfico, lugar, território, ambiente, turismo, lazer,

urbano, cidade, rural, agronegócio, desenvolvimento local e comunidade. Elas

norteiam as reflexões e ajudam na explicação do objeto de estudo. A revisão da

literatura é parte inerente ao arcabouço teórico- metodológico do trabalho.

O trabalho está estruturado em cinco partes. Na primeira apresenta-se a

introdução, contextualiza-se o objeto, faz-se a justificativa e apresenta-se a

problemática do tema, os questionamentos, assim como os objetivos alcançados

pela pesquisa. Na segunda parte faz-se estudo do contexto regional do Baixo

Jaguaribe no Ceará, e as analises dos aspectos naturais e econômicos da região

que se articulam e influenciam o objeto - Itaiçaba. Na terceira parte abordam-se as

identificações naturais e socioeconômicas, as atividades dos agronegócios no local,

carcinicultura e fruticultura irrigada. No quarto bloco de estudo apresenta-se e

analisa-se o turismo de raiz na cidade, as peculiaridades e impactos ambientais e

econômicos mais significativos, abordando também as políticas e ações públicas e

privadas que contribuem com a expansão da atividade em Itaiçaba. Finaliza-se se

apresentando as conclusões do estudo realizado e que almeja contribuir com ideias

e propostas que ajudam o desenvolvimento da pequena cidade. Uma vez que as

atividades econômicas modernas ali instaladas e que tanto promovem discussões e

questionamentos, por ser atividade complexa e contraditória, produtora de espaços,

dinamizadora de fluxos de pessoas e investimentos precisam ser estudadas. O

desenvolvimento agrícola, a mecanização do campo e as transformações urbano-

rurais decorrentes do agronegócio, a carcinicultura e o turismo foram temas

investigados sob a perspectiva analítica da geografia contemporânea.

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2. O BAIXO JAGUARIBE NO CONTEXTO REGIONAL DO SERTÃO CEARENSE

Itaiçaba insere-se no Baixo Jaguaribe e assim o estudo se inicia por

entender essa rica região do Ceará. Uma vez que estudar o espaço local partindo da

contextualização regional, como diz Konder (1982) é uma tentativa de entender

como se processa as relações fundamentais da gênese e do desenvolvimento do

próprio lugar, no caso a pequena cidade de Itaiçaba. Partindo da ideia de Konder,

entende-se que estudar a região possibilita compreensão contextualizada do lugar e

possibilita, sobretudo, compreender a influência que o regional tem sobre o local.

Assim, a compreensão de Itaiçaba a partir do estudo da região - o Baixo Jaguaribe -

é prioritária para entender a problemática e os desafios que a pequena cidade

enfrenta ao se inserir nas relações produtivas estabelecidas pelo agronegócio e pelo

turismo regional e globalizado do Estado. A região do Baixo Jaguaribe é analisada

em seus aspectos naturais e econômicos. Toma-se como referência basilar no

estudo da região a obra, “O Novo Espaço Globalizado – O Baixo Jaguaribe-CE”

(ELIAS, 2002), em coletânea feita por professores do Programa de Pós-graduação

em Geografia da UECE, apresenta análises dos processos e problemáticas da

região jaguaribana.

A investigação do contexto regional mostra que transformação econômica

em Itaiçaba articula-se com as transformações que ocorrem na região do Baixo

Jaguaribe, principalmente pela expansão da fruticultura irrigada a partir dos

agropolos de Jaguaribe, Russas e Jaguaruana, assim como pela carcinicultura,

realizada no litoral de Aracati e agora ocupa trechos interioranos da planície fluvial

do Jaguaribe. Compreender o Baixo Jaguaribe, como contexto influenciador da

dinâmica ambiental, econômica e turística de Itaiçaba exige leituras e análises dos

aspectos ecodinâmicos da região, para entender como os processos espraiam-se

pelo território itaiçabense, ora favorecendo as potencialidades produtivas e turísticas

da cidade, ora deprimindo-as. Aspectos morfoestruturais, pedológicos, climáticos e

fitogeográficos da região condicionam, facilitam e limitam o uso da natureza da

cidade pelas atividades econômicas do agronegócio.

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O estudo dos processos agroeconômicos que transformam a região torna-se

importante na compreensão da inserção agrícola da cidade de Itaiçaba no modelo

produtivo cearense. Analisa-se os agronegócios regionais, em especial os

perímetros irrigados e a carcinicultura em águas interiores do Baixo Jaguaribe,

atividades que mais se expandem para o município e na própria região. O turismo da

região jaguaribana também é investigado e contextualizado para facilitar o

entendimento da dinâmica do turismo de raiz em Itaiçaba e as perspectivas de

desenvolvimento da atividade.

2.1 A Dinâmica Natural do Baixo Jaguaribe

O Ceará administrativamente está divido oficialmente, pelo Instituto de

Planejamento e Estratégia do Ceará- IPECE, em macro e micro regiões. Articulam-

se oito macrorregiões de planejamento: Baturité, Cariri-Centro-sul, Litoral Leste-

Jaguaribe, Litoral Oeste, Região Metropolitana de Fortaleza, Sertão Central, Sertão

dos Inhamuns, Sobral-Ibiapaba. A macrorregião do litoral Leste-Jaguaribe é uma das

principais do Estado, pois apresenta o principal ambiente fluvial do Ceará, o grande

Vale do rio Jaguaribe. Ambiente hidrográfico e historicamente dividido em Alto,

Médio e Baixo Jaguaribe. O Baixo Jaguaribe compõe o contexto regional analisado

na pesquisa, onde se inserem processos ecodinâmicos e especificidades

econômicas da cidade de Itaiçaba, administrativamente pertencente a microrregião

do Litoral de Aracati.

A figura 1 apresenta a divisão regional da bacia Jaguaribana, com

destaque para os municípios que formam o Baixo Jaguaribe e para a microrregião

do litoral de Aracati, onde está inserida a cidade de Itaiçaba.

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Figura 1: Microregião de Aracati, no Vale do Jaguaribe- CE Fonte: IPECE 2010, adaptado pelo autor.

O Litoral do Aracati e a pequena cidade de Itaiçaba apresentam

elementos ambientais e produtivos do Baixo Jaguaribe. Região marcada por grande

diversidade geoambiental, onde se encontram paisagens de litoral, de chapada, de

rios e de sertão. Em aspectos geoestruturais o Baixo Jaguaribe apresenta na parte

centro oeste da região morfoestrutura típica do embasamento cristalino, composto

principalmente por rochas gnáissicas, migmatitos, quartizitos, micaxistos e corpos

granitoides de origem Arqueozóica, extremamente antigas (SOUZA, 2002). A outra

parte do território insere-se na unidade estrutural sedimentar da bacia Potiguar, na

fronteira entre Ceará e Rio Grande do Norte, trecho marcado por arenitos do Grupo

Apodi e por calcários esbranquiçados da formação Açu (SOUZA, 1979).

O Baixo Rio Jaguaribe corre em terras baixas, possui topografia

predominantemente plana, segundo o mapa hipsométrico do Ceará (IPECE, 2011).

Essas condições são favoráveis a ocupação humana e ao aproveitamento agrícola.

Realidade provocada principalmente pelos “processos de pediplanação que

carregam e convergem os sedimentos com declives suaves para os fundos de vale

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(pedimentos)” (SOUZA, 2002). O litoral de Aracati e de Fortim, municípios litorâneos

da Região, não apresentam grande planitude topográfica, pois as praias são

dominadas pela ocorrência de falésias e dunas, areias brancas e coloridas que

passam a serem importantes atrativos turísticos. A geomorfologia do Baixo

Jaguaribe é marcada por um conjunto de feições bastante diversificadas, variedade

significativa de ambientes, com destaque para a Depressão Sertaneja, o Planalto do

Apodi, os inselbergs e cristas residuais, a planície litorânea, campos dunares, glacis

pré-litorâneos e planícies fluviais.

A depressão sertaneja é a forma dominante no estado, com base em

estudos realizados por (SOUZA, 2002), no Baixo Jaguaribe essa formação está

presente apenas na porção oeste da região. Trata-se de uma superfície aplainada,

levemente dissecada, apresentando baixas ondulações intercaladas por vales rasos.

Com base no Atlas do Ceará (IPLANCE, 1989), nessa área do Baixo Jaguaribe

predominam rochas do embasamento cristalino sobrepostas por solos litólicos e

planossolos solódicos que se caracterizam por serem rasos, de textura média areno-

argilosa com fertilidade natural media e baixa, podendo ainda apresentar problemas

com a salinidade (IPLANCE, 1989). Assim, inseridos na área de semiaridez essa

unidade geoambiental apresenta drenagem predominantemente sazonal de padrões

dendríticos que viabiliza a cobertura vegetal xerófila, ou Caatinga. (SOUZA, 1979)

O planalto do Apodi é um relevo cuestiforme que pode chegar até 100

metros de altitude (IPECE, 2011). Apresenta cornija delgada com mergulhos sub-

horizontais suaves em direção ao mar, com estratos sedimentares que alternam

resistências diferentes ao intemperismo físico predominante na região (SOUZA,

2002), a frente da cuesta é constituída por uma vertente íngreme voltada ao norte e

ao leste; já o reverso da formação tem caimento suave em sentidos contrários e

pouco dissecado, devido à raridade da drenagem superficial e intermitente típica do

clima semiárido local (SOUZA, 1979). Os Cambissolos predominam na chapada do

Apodi, apresentam-se mais profundos do que os solos dos Sertões, mal drenados,

argilosos, constituem a cobertura de sedimentos das formações Açu, Jandaíra e

Faceira (IPLANCE, 1989). A semiaridez climática e a sazonalidade fluvial do lugar

não impedem potencialidades econômicas, já que a topografia plana e solos férteis

favorecem a instalação de projetos de irrigação, como se constata na região. No

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sertão os Inselbergs e cristas residuais surgem espalhados sobre depressão, como

os da Serra do Ereré que se vê na figura 2.

Figura 2: Crista residual cristalina – Itaiçaba-CE. Fonte: SANTOS, 2010.

Essas estruturas cristalinas de origem pré-cambriana são marcadas por

taffones, que são pequenas grutas no bloco rochoso e matacões, que são

fragmentos de rochas que se desprendem das encostas e rolam até a base da

elevação (IPLANCE, 1989). (SOUZA, 2002) mostra que os inselbergs e as cristas

residuais não são ambientes propícios ao aproveitamento agropastoril, pois têm

solos pedregosos que dificultam o cultivo e desenvolvimento de pastagens. Nas

observações campo, na serra do Ereré, a crista residual de Itaiçaba, constata-se que

o ambiente é propício as atividades de rapel, escaladas e trilhas ecológicas,

atividades já praticadas por moradores e visitantes esporadicamente sem grandes

limitações naturais. Além dos esportes e passeios turísticos, na serra do Ereré

ocorrem peregrinações até o cume para homenagear a santa padroeira da cidade

que tem uma capela no topo da formação.

A Planície Litorânea está nos municípios costeiros do Baixo Jaguaribe.

Trata-se de uma faixa de terras contínuas com 1,5 - 2,5 km de largura, estreitando-

se bastante nas áreas de domínio das falésias de dunas e paleodunas. Sobre esse

tipo de relevo o Atlas do Ceará (IPLANCE, 1989) diz ter sido resultado da ação dos

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processos de acumulação marinhos, flúvio-marinhos e eólicos, intensamente

trabalhada pela deriva litorânea. Nas praias de Aracati, Fortim e Icapuí encontram-se

alinhamentos rochosos areníticos, siltosos e calcários conhecidos como rochas de

praias (beach-rocks) (MORAES, 1978). Os solos da planície litorânea são

predominantemente quartzosos distróficos, com baixa pedogênese, elevada acidez,

portanto baixa fertilidade natural (IPLANCE, 1989), e ainda sujeitos a intensa

dinâmica eólica da região, especialmente nas praias e nos campos de dunas

móveis.

Outra forma de relevo típico da planície litorânea são os campos de

dunas, essa feição apresenta topografia irregular, sedimentos recentes (quaternário)

não consolidados, com baixas e médias elevações, as dunas (seifs) e as dunas

transversais (barkanas) (MORAES, 2002). Os seifs ocorrem em séries contínuas

paralelas à costa, na conformação da direção marcante dos ventos locais (E-SE); já

as barkanas dispõem-se perpendicularmente ao sentido dos ventos. (MORAES,

2002). As dunas móveis não apresentam pedogênese significativa e por isso não

são cobertas por estratos vegetacionais, já dunas fixas são recobertas por uma

vegetação arbóreo-arbustiva graças ao material pedogenético mais expressivo do

que o encontrado nas dunas móveis. As dunas semifixas são colonizadas por um

estrato vegetal herbáceo-arbóreo que possibilita a formação inicial de solos, como é

mostrado na figura 3.

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Figura 3: Campo de dunas móveis e semi-fixas invadindo falésias em Canoa Quebrada-CE.

Fonte: SANTOS, 2011.

Outra forma de relevo do Baixo Jaguaribe são os glacis Pré-litorâneos, ou

tabuleiros pré-litorâneos que ao atingirem as praias constituem as falésias. As

falésias apresentam um topo relativamente plano, com sulcos profundos causados

pela erosão pluvial, labirintos de areias coloridas, que também são explorados como

atrativos turísticos importantes na região e como produto do artesanato local.

Processos abrasivos do mar atacam e assola a base da falésia causando sulcos e

rachaduras profundas no glacis, rampas de sedimentos deslocam-se com a deriva

continental e engordam as praias com mais sedimentos (MEIRELES, 1994). Nas

observações de campo constatou-se que essas formações ocorrem mais nas praias

de Canoa Quebrada, Pontal do Maceió e Icapuí. Em certos trechos das margens do

rio Jaguaribe, no próprio município de Itaiçaba, a formação barreiras aparece em

contato com o rio Jaguaribe, dando origem a falésias fluviais (SOUZA, 2002).

As planícies fluviais predominam em Itaiçaba, são ambientes identitários

do Baixo Jaguaribe. São formas de acumulação que ocorrem nos trechos marginais

dos rios da bacia jaguaribana. A planície jaguaribana é bastante expressiva possui

até 10 km de largura e tem superfícies balizadas por baixos níveis de terraços

fluviais, mantidos por cascalheiras com seixos de composição quartizosas (SOUZA,

2002). Os Vertissolos predominam nesse ambiente, com textura argilosa, pouca

profundidade e alta fertilidade, são originados principalmente dos sedimentos

aluvionais, típicos das áreas de Várzeas (EMBRAPA, 2006).

As Várzeas, por sua vez, mostradas na figura 4, são trechos mais altos da

planície fluvial, espaços inundados em períodos de chuvas abundantes. Cheias que,

apesar de gerar inundações e enchentes nas cidades ribeirinhas, contribuem com a

carga nutricional dos solos da região e favorece a prática agrícola. A planície fluvial

do Baixo Jaguaribe apresenta potencialidades econômicas para o agroextrativismo

da carnaúba, planta típica de várzeas muito utilizada pelos moradores da região com

diversas finalidades.

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Figura 4: Planície Fluvial (várzea) do rio Palhano, afluente do Jaguaribe – Palhano-CE.

Fonte: SANTOS, 2010.

O Ceará possui várias bacias hidrográficas. A região do Baixo Jaguaribe

está inserida na macro-bacia do rio Jaguaribe, a maior do estado . Essa grande bacia

hidrográfica cearense drena uma área total de 72.645 Km2 e seu rio principal, o

Jaguaribe. É o maior curso de água do território cearense (610 km de extensão) e

com bacia hidrográfica de 80.000 km² (PAULA, MORAES e PINHEIRO, 2006), o rio

Jaguaribe como todo curso de água cearense, sofre influência das precipitações

pluviométricas, sendo as descargas máximas observadas na época das chuvas

(janeiro a julho), bem como das marés as quais impedem que o mesmo sofra

interrupção no curso inferior durante a época da seca (agosto a dezembro) (SOUZA,

2002). A construção de barragens na região favoreceu que a movimentação de

sedimentos no Jaguaribe fique restrita ao trecho Itaiçaba Fortim, somente este sob

ação dos movimentos das marés, nesse trecho é comum a formação de bancos já

que o rio não possui mais capacidade para arrastar sedimentos depositados ao largo

da foz. (MORAES, 2002). O gráfico 1 mostra as divisão das bacia hidrográficas do

Ceará, com destaque para a bacia do Baixo Jaguaribe.

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Gráfico 1: Percentual da área da sub-bacia do Baixo Jaguaribe em relação ao estado do Ceará.

Fonte: Pacto das Águas – Governo do Estado, 2009.

A sub-bacia do Baixo Jaguaribe, menor área hidrográfica do Jaguaribe

(8.893 km2) drena área de 13 (treze) municípios, três integralmente: Icapuí, Itaiçaba,

Jaguaruana, Quixeré e os demais, parcialmente: Alto Santo, Aracati, Fortim,

Ibicuitinga, Limoeiro do Norte, Morada Nova, Palhano, Russas e Tabuleiro do Norte

(ARAÚJO, 2009). O rio nessa região é alargado, formando uma extensa planície

fluvial. O açude Castanhão, é o principal responsável pelo controle das cheias que

atingem os municípios de Itaiçaba, Limoeiro do Norte e Aracati (ARAÚJO, 2009).

Segundo levantamentos realizados pela EMBRAPA, sobre a Gestão

Sustentável do Baixo Jaguaribe-Ce, em 2009, verificou-se que a sub-bacia do Baixo

Jaguaribe apresenta dois sistemas aquíferos, são eles: o das rochas sedimentares

(porosos, cáusticos e aluviais) e os das rochas cristalinas (fissurais). No mesmo

estudo da Embrapa, mostra-se que os aquíferos de áreas sedimentares se

caracterizam por possuírem porosidade primária e elevada permeabilidade, já que

situam-se em unidades geológicas com excelentes condições de armazenamento e

fornecimento d’água. Os aquíferos de áreas cristalinas (fissurais) apresentam baixo

potencial de acumulação d’água, pois se inserem em trechos de rochas cristalinas,

zonas de fraturas que são os condicionantes da ocorrência d’água nestas áreas.

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(EMBRAPA, 2009). A demanda hídrica na sub-bacia do Rio Jaguaribe está

apresentada no gráfico 2.

Gráfico 2: Percentuais das demandas para as bacias do estado do Ceará. Fonte: SRH, 2009

A demanda industrial, segundo o Plano Estadual dos Recursos Hídricos -

PLANERH, atualizado pela SRH em 2008 mostra que a sub-bacia do Baixo

Jaguaribe apresenta uma necessidade de 6.769.456 m3/ano, o que corresponde a

3,54% da demanda Estadual. Para irrigação, tem-se, uma demanda de 54.110.000

m3/ano, 10.620.000 m3/ano para atendimento aos perímetros públicos, com área

total de 590 ha e 43.490.000 m3/s para perímetros privados, com área total de 5.654

há (PLANEH, 2008), assim o uso primordial da água na sub-bacia do Baixo

Jaguaribe é a irrigação. Segundo Gondim (2004), essa sub-bacia é a que tem o

maior potencial para irrigação entre as cinco que compõem a macro-bacia do rio

Jaguaribe. Com 5.371, 82 há de área irrigada, é o maior dos sete agros polos de

cultivo irrigados, implantados pela Secretaria da Agricultura e Pecuária do Ceará -

SEAGRI, com infraestrutura montada pelo DNOCS.

O clima dominante no Baixo Jaguaribe é o semiárido. As médias térmicas

anuais são elevadas, variam de 24,6ºC na costa até 28ºC na parte mais interior,

entretanto essa diferença não se notabiliza em termos diários, já que a intensa

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insolação típica das baixas latitudes gera calor elevado do amanhecer ao

crepúsculo. As amplitudes são baixas, cerca de 5º C, na maior parte da região. A

umidade relativa fica anualmente em torno de 78%, diminuindo até 55% em direção

ao interior da região jaguaribana (IPLANCE, 1989). As cotas pluviométricas anuais

giram em torno de 800 mm e são concentradas de fevereiro a maio. (IPLANCE,

1989). Em regiões mais adjacentes ao vale do Jaguaribe, podem ocorrer períodos

com regime pluviométrico máximo, fenômeno que causa transbordamento de

barragens e enchentes nas cidades ribeirinhas da região. Nas partes litorâneas do

Baixo Jaguaribe as chuvas podem ser mais abundantes devido à maritimidade que

possibilita a ação de correntes de ventos úmidos provenientes do Atlântico Sul e a

conformação da linha costeira num ângulo de 45º que favorece a entrada dos alísios

(SOUZA, 2002). A demonstração desse fenômeno é que a cidade de Aracati

apresenta as maiores precipitações atmosférica anuais do Baixo Jaguaribe,

ultrapassando 900 mm, enquanto a cidade de Alto Santo, a mais interiorana da

região, apresenta as mais baixas em torno de 300 mm, segundo o IPLANCE (1989).

Os dados de Precipitação Média Anual para cada município foram fornecidos pela

FUNCEME, calculados a partir de uma série de dados coletados por 20 anos, entre

1970 e 1990, demonstram a variabilidade pluviométrica para a região, variando de

707 mm para o município de Palhano, a 1.435 mm para Fortim, informa Sousa (2002

).

As condições climáticas e ambientais propiciam a formação de

manguezais na foz do Jaguaribe, em trecho que compõe o Complexo Vegetacional

da Zona Litorânea, ao norte, além da caatinga arbustiva densa, a oeste e da mata

ciliar margeando o leito do rio Jaguaribe. A vegetação litorânea insere-se na planície

costeira da região como formação herbácea, revestindo naturalmente as feições

arenosas. Esse tipo de vegetação é mostrado na figura 5, onde se observa também

pedogênese nos ambientes dunares, fixando as dunas móveis, processo ecológico

que envolve progressivamente elementos bióticos e abióticos.

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Figura 5: Vegetação costeira pioneira na pedogênese – Canoa Quebrada- CE Fonte: SANTOS, 2011.

A ocorrência de vegetação fixadora de dunas é comum nos ambientes de

pós-praia, dunas móveis e semi-fixas, onde a permeabilidade, a salinidade dos solos

e a ação mais intensa dos ventos que afetam esses vegetais os levaram a

desenvolverem estratégias de sobrevivência sofisticadas, tais como o elevado

crescimento radicular, e a constituição de folhas coriáceas ou suculentas.

(FERNANDES, 1998).

Algumas espécies do lugar, com salsas e capins de praia apresentam

raízes espessas e ramificadas como estratégias de adaptação ao solo arenoso, esse

processo é mostrado na figura 6.

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Figura 6: Vegetação costeira com desenvolvimento radicular expressivo – Canoa Quebrada- CE Fonte: SANTOS, 2011

Além das gramíneas fixadoras de dunas o litoral do Baixo Jaguaribe

também é ocupado pelo manguezal, com destaque para os mangues do Jaguaribe,

do Pirangi, da Barra Grande e do Arrobado (IPLANCE, 1989). As formações

arbóreas homogêneas ocorrem em áreas abrigadas em estreita faixa costeira que

varia de algumas dezenas de metros no litoral, onde amplitudes de marés variam de

1 m a 4 m (LACERDA, 1984). Ao contrário do que acontece nas praias arenosas e

nas dunas, a cobertura vegetal o manguezal instala-se em solos recentes, locais de

pequena declividade e sob a ação diária das marés.

A figura 7 mostra o solo do manguezal, típico de ambiente úmido,

salgado, lodoso, pobre em oxigênio maIs rico em nutrientes. Por apresentar grande

quantidade de matéria orgânica em decomposição, apresenta odor característico,

mais acentuado se houver poluição. Essa matéria orgânica serve de alimento à base

de uma extensa cadeia alimentar, como por exemplo, crustáceos e algumas

espécies de peixes.

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Figura 7: Maguezal – Foz do Rio Jaguaribe em Fortim-CE. Fonte: SANTOS, 2011.

A vegetação da caatinga, também encontrada no Baixo Jaguaribe é

bastante diversa, com regiões distintas, cujas diferenças se devem à pluviometria,

fertilidade e tipo de solos e relevo. A caatinga, adaptada às condições de aridez

apresenta árvores e arbustos com galhos retorcidos, raízes profundas, presença

marcante de cactos e bromélias, folhas pequenas e decíduas em épocas de seca,

propriedade usada para evitar a perda de água por evaporação. São exemplares

típicos da caatinga: (Arbustiva) aroeira, angico e juazeiro; (Broméliáceas) caroá;

(Cactáceas) mandacaru, xique-xique e xique-xique do sertão (IPLANCE, 1989).

A mata ciliar também é vegetação encontrada na região do Baixo

Jaguaribe. Originalmente recobria trechos extensos ao longo do vale do rio, de

jusante a montante (IPLANCE, 1989). Nessa vegetação é comum ocorrer estrato

herbáceo-arbustivo denso e vital para fixação dos sedimentos das margens reduz

processos de assoreamento laminar e serve de transição a uma mata ciliar mais

exuberante, formadora do complexo dos Cocais, marcada pela carnaúba

(Copernicia prunifera) (FERNANDES, 1998), árvore endêmica no semiárido do

nordeste brasileiro. A figura 8 mostra um pequeno trecho de vegetação ciliar residual

na margem esquerda do rio Jaguaribe.

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Figura 8: Vegetação herbácea-arbustiva nas margens do Jaguaribe – Limoeiro do Norte.

Fonte: SANTOS, 2010.

A mata de carnaúba, ou floresta dicótilo-palmacea (FERNANDES, 1998) é

mostrada na figura 9, onde se observa que pode apresentar estratos elevados,

folhas grandes, finas e subcaducifólias.

Figura 9: Mata ciliar de CarnaúbaI taiçaba-CE. Fonte: SANTOS, 2010.

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Por tratar-se de uma planta adaptada ao clima semi-árido, a carnaúba se

adapta aos rigores das secas e das cheiasdo sertão cearense. Um árvore que

oferece possibilidades econômicas alternativas para comunidades rurais da região.

Seu fruto é usado na composição de ração animal, o tronco é madeira de boa

qualidade para construções de casas e palhoças e as palhas são usadas na

produção de artesanatos, cobertura de casas, adubação do solo e extração de cera,

insumo valioso que entra na composição de diversos produtos industriais como

cosméticos, cápsulas de remédios, componentes eletrônicos, produtos alimentícios,

ceras polidoras e revestimentos (NICKEL, 2004). A comunidade de Itaiçaba, tem

tradição no trabalho artesanal com palha de carnaúba, muitas famílias da cidade

praticam essa atividade como principal fonte de renda familiar.

2.2 Processos histórico-econômicos do Baixo Jaguaribe – ascensão e declínio do

binômio gado-algodão no Ceará

A região do Baixo Jaguaribe teve como vetor de colonização a pecuária,

atividade que se espalhou pelo interior semiárido seguindo os principais rios da

região. Além da pecuária, a cultura do algodão foi outra importante atividade de

povoamento do vale Jaguaribano que acelerou o crescimento de vilas e cidades da

região. A agricultura nos espaços da ribeira do Jaguaribe é realizada nos perímetros

de irrigação para produção de fruticulturas que junto com o camarão em cativeiro

nas chamadas fazendas de camarão, são direcionadas ao mercado internacional.

O binômio gado-algodão fixou as bases agropecuárias e inseriu o Baixo

Jaguaribe na dinâmica comercial mercantilista dos séculos XVIII e XIX, promovendo

relações econômicas que atendiam aos interesses hegemônicos da divisão

internacional do trabalho. A pecuária e a agricultura algodoeira, além de atividades

históricas que possibilitaram a fixação dos primeiros colonizadores no Baixo

Jaguaribe, também elevaram a região ao patamar de espaço econômico prioritário

do Ceará, principalmente nos séculos XVIII e XIX. É esse binômio gado-algodão que

desencadeia no Baixo Jaguaribe fluxos comerciais que se ramificam por outros

espaços do estado e que favorecem o surgimento de vilas e posteriormente grandes

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cidades na região, marcadas pela cultura do couro, por conflitos políticos fundiários

que perduram e geram contradições sociais, urbanas e rurais.

O Baixo Jaguaribe, assim como o resto do sertão cearense, foi ocupado

tardiamente pelos colonizadores europeus, se comparado a outros estados

nordestinos, prova disso é que no final do século XVII apenas o litoral era conhecido,

o interior totalmente povoado por grupos indígenas. Esse retardo colonizatório se

deve a fatores de ordem local como dificuldades ambientais de penetração no

interior, tribos indígenas hostis, conjunturas político-administrativas instáveis

relacionadas à metrópole colonizatória. Sobre isso afirma Girão (1971, p. 58):

O retardamento do progresso da Capitania não se deveu apenas à incapacidade administrativa dos capitães-mores, às desavenças entre as autoridades e a pobreza financeira das câmaras dos cofres reais. Deveu-se muito mais, às condições de ordem geral a que estava sujeito Pernambuco, a Capitania de quem dependeu política e economicamente, de 1656 a 1799. O pequeno número de povoadores presos ao litoral não se animava a investir contra o sertão dominado por silvícolas agressivos e indomáveis, sempre prontos a repelir o invasor a flecha e tacape, em defesa de sua gleba; a bicharada hostil e a ecologia desconhecida aterrorizavam o “homem branco”, prendendo-o cada vez mais à orla marítima.

No século XVIII, o interior do estado recebe os pioneiros núcleos de

povoamento, ao longo dos rios Jaguaribe, Acaraú e Coreaú, segundo o historiador

Chaves (2010). A presença dos rios e das planícies atraía forasteiros que buscavam

terras para criar gado, atividade que se expandia para o interior do Nordeste e do

estado. Jucá (2007) afirma que a expansão da pecuária no interior do Ceará fazia

parte do projeto de colonização português que pretendia concentrar as fazendas e

currais nos sertões, distante do território dos canaviais, para não prejudicar a

produção do açúcar, principal fonte de renda da economia colonial. Esse período

histórico econômico nordestino que marcou o Ceará tem rebatimento na economia e

nos costumes sociais da comunidade. Porto (1959), sobre esse período diz que

surge nova força – a civilização do sertão da terra – partilhando a liderança da vida

econômica e social do Nordeste, cuja evolução a partir daí se processará em torno

de duas realidades que se complementam: o canavial e o pastoreio, o litoral e o

interior, senhor de engenho e vaqueiro.

As fazendas agregavam e agrupavam pessoas que se ocupavam de

serviços diversos, umas trabalhavam nas casas de farinha, que eram construídas ao

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lado das fazendas para beneficiar a mandioca, base alimentar da população local;

outros se dedicavam ao cultivo de subsistência ou da cana-de-açúcar para

fabricação do mel e da rapadura. Muitos se dedicavam ao trabalho em teares

primitivos ou ao artesanato para suprir a demanda por tecido e utensílios domésticos

da própria comunidade. Abreu (1975) descreve as fazendas da época como

latifúndios que se estendiam ao redor de casas com cobertura de telhas vastos

alpendres e paredes também grossas, levantadas com madeira, pedra e tijolo da

própria fazenda. Ainda segundo o autor, os casebres dos outros habitantes ficavam

a distâncias irregulares e eram cabanas de taipa, de chão batido, cobertura de

palhas e pouco ventiladas, rodeadas por roçados de subsistência mantidos pelas

mulheres e crianças, já que os homens pelejavam com o gado. Nas fazendas era

comum que os proprietários delegassem a administração da propriedade aos

vaqueiros.

Nas relações de trabalho, Girão (1977) afirma que não havia pagamento

de salário e sim, troca de serviço. O fazendeiro sustentava os agregados de comida,

casa, e roupa em troca de seus trabalhos. Muitas vezes, ao vaqueiro encarregado

de cuidar de fazendas era destinado um tipo de pagamento em longo prazo,

chamado de quarteação, isto é, de quatro animais nascidos anualmente, um

pertencia ao vaqueiro. Isso possibilitava que muitos vaqueiros em longos anos de

trabalho conseguissem ter um rebanho e comprar suas propriedades.

O gado foi introduzido no Baixo Jaguaribe por piauienses,

pernambucanos e baianos, em 1681, quando chegaram à região requerendo as

primeiras sesmarias interioranas (STUART FILHO, 1966). O autor registra que as

sesmarias estendiam por grande trecho do Baixo Jaguaribe, que hoje se estenderia

desde as terras do açude Castanhão até a cidade de Fortim-CE, na foz do rio. Sobre

os primeiros criadores de gado na ribeira jaguaribana, Girão (1940, p.20) completa:

[...] deram as mãos aí baiano-piauienses e os baianos-pernambucanos-cearenses que, de um lado galgavam as nascentes do Jaguaribe, ao sul, ou do outro, subiam as nascentes do Acaraú, ao norte. A ocupação das ribeiras do Jaguaribe transformou esse rio em referência geográfica, com a abertura de caminhos “colonizatórios” para o interior do Ceará.

A expansão de fazendas foi tão expressiva no Baixo Jaguaribe, que em

1708, a região já possuía um número de currais suficientes para que fossem

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exigidas dos sesmeiros contribuições para realização de obras públicas, como à

construção da Igreja (BEZERRA, 1965). O aumento do número de rebanhos e

fazendas na região a partir da primeira década do século XVIII, segundo Girão (1984

) se deve aos seguintes fatores: aquisição de novas sesmarias, desdobramento das

fazendas pioneiras da região e o apoio oficial dado aos colonos para combaterem os

silvícolas resistentes, através de armas de fogo fornecidas pela metrópole para

afugentar nativos mais para o interior ou mesmo dizimá-los.

Outro aspecto facilitador da expansão da pecuária no Baixo Jaguaribe foi

o relevo, marcada pelo alargamento da planície fluvial. Essa peculiaridade favoreceu

o deslocamento de boiadas do interior até o litoral da região. Assim, o Baixo

Jaguaribe foi importante corredor comercial do gado e de acordo com Jucá (2007)

também das mercadorias produzidas no sertão tais como couros salgados, e

espichados. Tudo isso era escoado no porto dos Barcos, que pertencia à vila de

Santa Cruz de Aracati, e se destinava aos comerciantes pernambucanos. Nesse

porto também chegavam mercadorias portuguesas distribuídas para o interior do

estado, até o Piauí. Formou-se assim, redes de currais, fazendas e serviços

relacionada ao comércio da carne seca e salgada, o charque.

O avanço da pecuária e do comércio da seca no estado, segundo Braga

(1947) se destacou inicialmente em Granja, Camocim e Sobral, essa última

fabricava muita carne, carregada no Porto do Barco, que foi o núcleo inicial da

cidade de Acaraú. Mas foi em Aracati, a 15 quilômetros da barra do rio mais

importante do Ceará, que a atividade excedeu a todas essas povoações e durante

mais de meio século manteve a privilegiada situação de maior exportador de

produtos pecuários do Assú ao Parnaíba. Ainda segundo Braga, Aracati ainda não

era vila e já abatia, anualmente, de 18 a 20.000 bois, e mais de 25 sumacas

(embarcações a vela) frequentavam lhe o ancoradouro, para transportarem a carne

e a courama para Pernambuco, Baia e Rio de Janeiro, a troco de fazendas,

ferragens e quinquilharias.

Ao findar das chuvas a atividade alcançava o ápice, pois afluíam aos

arraiais e vilas costeiras, como Aracati, as embarcações que ficavam no aguardo

dos carros de boi e tropas de vaqueiros que traziam do interior couro, solas,

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vaquetas, algodão. Para Braga (1947) era a estação dos negócios, marcada pelo

encontro de homens da marinha e de homens do sertão - comerciantes rudes e

sertanejos rixentos, onde não raro explodia em rusgas, resolvidas a faca ou a tiros

de bacamarte.

O desenvolvimento dessa região foi lento até a instalação das

charqueadas, oficinas feitorias ou fábricas, onde o gado era abatido, reduzido em

mantas de carnes, salgadas e secas ao sol (GIRÃO, 1984). O processo fazia com

que o charque resistisse, sem deterioração por muito tempo, possibilitando a

comercialização em mercados internos mais distantes e até nas zonas açucareiras

em outras capitanias. Sobre as características das oficinas de charqueamento na

região, o historiador Geraldo da Silva Nobre (1977) as descreve como casas, ou

edifícios pequenos em forma de telheiros, geralmente construídos de paus e telhas

materiais abundantes na região. A figura 10 mostra mantas de carne secas ao sol na

parte externa das oficinas de charqueamentos típicas do período.

Figura 10: Varais com mantas de charque em oficinas no Aracati-CE. Fonte: COSTA, 2011.

Além disso, a adaptação dos rebanhos criados soltos nas ribeiras, o

pequeno capital necessário a compra de algumas reses, a exígua necessidade de

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equipamentos e de pouca mão de obra remunerada facilitava que a atividade fosse

praticada também por pequenos fazendeiros que não tinham muito capital, mas que

em poucos anos conseguiam acumular e adquirir pequenos rebanhos, no Baixo

Jaguaribe, expandindo o modelo produtivo vigente na região.

Dessa forma o Baixo Jaguaribe foi área polarizadora da economia do

estado, no século XVIII. Ao longo desse século foi ainda mais efetiva com

proliferação as estradas de ribeiras, caminhos ao longo dos rios por onde o rebanho

era deslocado e comercializado. A mais importante dessas vias de transporte de

boiadas ficou conhecida como a Estrada Geral do Jaguaribe que segundo informa

Stuart Filho (1966). Iniciava-se em Aracati, acompanhava o curso pela margem

esquerda, até chegar a Itaiçaba, onde atravessava para outra margem, passa por

Russas e segue em direção a Icó, até as nascentes do rio Salgado, para daí

transpor a chapada do Araripe e chegar às caatingas do Pernambuco, até o rio São

Francisco. Souza (2005) corrobora a importância dessas estradas de gado e diz que

especificamente na Estrada Grande circulavam mercadorias que abasteceriam o

interior do estado e a que possibilitava a integração das principais vilas do Ceará no

século XVIII, Aracati e Icó.

Além de Aracati e Icó, a pecuária no Baixo Jaguaribe fez surgir inúmeras

vilas, que posteriormente tornam-se cidades, como Itaiçaba. Cidades com aspectos

geoambientais, econômicos, urbanos e culturais comuns, especialmente no

ordenamento geográfico das sedes, que se apresentavam organizado segundo o

conjunto de determinações oficiais tais como: alinhamento de ruas e becos,

uniformização arquitetônica de casas, convergência da infraestrutura para a câmara

municipal ou para a igreja, o marco inicial do espaço urbano. Tudo isso mostra a

tendência urbana das primeiras cidades do Baixo Jaguaribe em seguir o

ordenamento territorial da metrópole, tendo nas igrejas e prefeituras os símbolos da

ideologia centralizadora instituída no período colonial. As cidades da região ainda

apresentam padrão urbano tradicional, especialmente em lugares mais antigos, ou

nas pequenas cidades onde os processos exógenos ainda não descaracterizaram

por completo os espaços e territórios, preservando seu patrimônio arquitetônico mais

cuidadosamente.

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Para a região a pecuária e o charque constituíram setor do

desenvolvimento local com grande significação e demonstração da capacidade dos

primeiros povoadores do Jaguaribe de fazer uso da técnica com a qual auferiram um

grau de prosperidade e bem-estar infelizmente não preservados (NOBRE,1977). A

não preservação denunciada por Nobre ocorreu a partir da década de 1770 quando

recorrentes secas, tais como as de 1777, 1778, 1790 e 1793 foram dizimando o

rebanho bovino da região e do estado. Em artigo publicado na Revista do Instituto

do Ceará, Braga (1944) defende que no Ceará não houve decadência da indústria

da carne. Para o autor, com a grande seca, a atividade ruiu de vez para nunca mais

se levantar. Isso trouxe profundas transformações para o Baixo Jaguaribe, que

passou por um período de transição de modelo produtivo, desenvolvia-se um novo

produto e um novo contexto rural, a monocultura do algodão.

A cultura do algodão não descarta o gado, e sim, compõe o binômio gado

algodão. Produto cultivado no Ceará e utilizado para confecção de panos grosseiros

torna-se um produto destinado à demanda da indústria têxtil europeia, decorrente da

Revolução Industrial no fim do século XVIII, (GIRÃO, 1985). A nova demanda

industrial dinamizou o mercado e assim como o gado rústico, também se adaptara

às condições do semiárido cearense. Outro fator que favoreceu a expansão do

algodão na região foi a separação da capitania do Ceará da capitania de

Pernambuco. Com essa separação gestores cearenses passaram a incentivar o

comércio exterior e a abertura dos portos às nações amigas, em especial os EUA,

que, segundo Chaves (2010), durante a guerra civil de Secessão foi favorável as

exportações do algodão cearense.

A expansão do algodão no Baixo Jaguaribe foi rápida e concentrada nos

sertões da região, espaços interioranos marcados pela semiaridez e pela rusticidade

cultural. As várzeas, espaços ribeirinhos, também foram incorporadas e utilizadas

para plantio do produto. É importante salientar que tanto os sertões como as várzeas

do Baixo Jaguaribe eram espaços anteriormente usados prioritariamente por

criadores de gado. Assim como na pecuária da região, a produção do algodão era

alicerçada nas relações trabalhistas tradicionais, que subordinam o empregado a

propriedade e não a remuneração, ou seja, o trabalhador se fixava na propriedade

mais para obter moradia, trabalho, proteção e subsistência do que pelo rendimento

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que recebia. Isso possibilitava que os latifundiários do algodão, assim como os

fazendeiros de gado anteriormente, tivessem um custo relativamente baixo com

pagamento de mão de obra, já que muitos trabalhadores não recebiam salários,

trabalhavam apenas em troca de pequeno pedaço de terra concedido pelo patrão, e

para ter direito a cultivá-lo de forma subsistente.

Outro aspecto semelhante à economia do gado e do algodão no Baixo

Jaguaribe é que os dois produtos se destinavam aos mercados mais desenvolvidos,

assim a comercialização de ambos os produtos atendia aos mecanismos de

subordinação de outras regiões econômicas. Apesar da importância da pecuária

como atividade produtiva pioneira, o algodão foi o produto que contribuiu para dar

forma e conteúdo ao território, criando dinâmica socioeconômica e política que

levaram as vilas a se transformarem em cidades, é o que afirma Chaves (2010). A

autora ainda defende que o algodão foi o principal responsável pela introdução de

novos produtos, ampliando a indústria artesanal a divisão social do trabalho e a

demanda de mão de obra no campo e nas cidades do Baixo Jaguaribe.

A construção de ferrovias que facilitavam o transporte do algodão do

interior para o litoral especialmente para Fortaleza, gerou desenvolvimento comercial

na capital e reduziu a polarização econômica exercida pelo Baixo Jaguaribe. Com a

chegada do algodão proveniente do interior Fortaleza passou a ser o centro

comercial mais importante do estado. Fábricas têxteis, armazéns e lojas de tecidos

proliferavam na cidade e a realização de melhorias na estrutura portuária, favoreceu

o comércio externo do produto. Ao final do século XIX, segundo Barbosa (2004),

apesar do Baixo Jaguaribe não exercer mais prioritariamente o poder centralizador

da economia do estado, ainda tem Aracati como um dos principais centros

dispersores de algodão; Russas e Limoeiro do Norte como importantes coletoras e

beneficiadoras do produto.

A grande recessão econômica de 1929 reduziu o volume de exportações

brasileiras, especialmente o café, o que contribuiu para o declínio da economia

cafeeira no centro-sul do país, ensejando diversificação agrícola na região. Essa

diversificação fez com que o algodão passasse a ser mais cultivado no Centro-sul. O

cultivo se dava sob condições de trabalho e de produção mais modernas do que no

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Nordeste. Segundo Lima (2006), esse processo acaba favorecendo a transferência

de empresas coletoras que se concentravam no Nordeste para o centro-sul do país.

Com a concorrência da produção de algodão do Centro-sul, as exportações

cearenses do produto diminuem, acarretando o declínio da economia algodoeira no

estado. No Baixo Jaguaribe fecham-se fábricas e lojas de tecidos, as cidades

principais da região e seus espaços rurais declinam e as comunidades passam a

buscar novas atividades econômicas que possam substituir os ganhos decrescentes

do algodão.

No século XX, apesar do declínio da economia algodoeira, o Baixo

Jaguaribe apresenta rede urbana mais densa, estruturada e mais integrada à capital

do estado, especialmente por meio das antigas ferrovias e novas rodovias. Cidades

como Aracati, Russas e Limoeiro do Norte continuam exercendo forte centralidade

urbana, enquanto as pequenas cidades como Morada Nova, Jaguaruana, Alto Santo

e Itaiçaba, mesmo após as emancipações, passam depender cada vez mais dos

comércios e dos investimentos desses centros polarizadores. As centralidades de

Aracati, Limoeiro do Norte e Russas, segundo Chaves (2010), estavam relacionadas

às atividades terciárias: comércio e serviços, em especial aos serviços públicos, de

educação superior e bancários, o que tem se sustentado até agora. Assim nas

cidades pequenas os serviços urbanos são mínimos, restritos aos seus habitantes

de forma muito precária.

Apesar da nítida diferença de níveis hierárquicos, as cidades do Baixo

Jaguaribe, as grandes e as pequenas, ainda apresentam carência de infraestruturas

urbanas e sociais, baixas rendas familiares e estruturas fundiárias submetidas

tradicionalmente ao julgo das aristocracias rurais que, juntamente com a igreja

católica exercem hegemonicamente o poder político, econômico e cultural das

cidades. Esse contexto favorece o desenvolvimento e manutenção de políticas

públicas municipais clientelistas, respaldadas no apadrinhamento político,

transformando as gestões municipais em feudos dominados por “coronéis”, que em

geral são os fazendeiros e latifundiários mais ricos dos municípios.

As atividades agrário-exportadoras do Baixo Jaguaribe tiveram ápices e

declínios de progresso e contribuíram para a formação socioeconômica da região.

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Tais contribuições fomentam o desenvolvimento urbano/rural do agronegócio na

região. Assim, a partir dos anos de 1970, o Baixo Jaguaribe é reordenado com uns

novos ciclos produtivos: o da fruticultura irrigada, da carcinicultura e do turismo.

Atividade moderna diferente aquelas praticadas no antigo sistema “gado-algodão”,

mas que perpetuam a concentração fundiária e produção destinada à exportação,

portanto conservadora das bases capitalistas. Formam-se na região extensas

lavouras irrigadas, fazendas que cultivam camarão em cativeiros e espaços

modernizados com pontos turísticos prioritários para o estado, como Canoa

Quebrada em Aracati, praia bastante turistificadas do estado, voltada

prioritariamente aos fluxos internacionais. Atividades essas que mantém diretrizes

econômicas regionais históricas voltadas ao mercado externo.

2.3 O Novo Rural: a modernização agrícola no Baixo Jaguaribe

O território cearense tem sido adaptado para viabilizar os interesses do

capitalismo mundial. O Ceará esteve, durante séculos, sob a tutela de outros povos

como holandês e portugueses pode ser considerado, no dizer de Milton Santos, um

espaço sem nação forte. Espaço em busca desenvolvimento por meio de atividades

produtivas e infraestruturas voltadas ao mercado internacional, controladas por leis

externas de comercio segundo tendência semelhante a que ocorre no território

nacional, que segundo Santos (1979) tem tendência avassaladora de capitalização.

Assim inserido no capitalismo global favorece a apropriação de territórios por grupos

empresariais privados que aproveitam os negócios agropecuários da economia rural

do Baixo Jaguaribe e se apropriam de espaços regionais.

O Baixo Jaguaribe é um dos espaços cearenses onde o agronegócio

apresenta-se muito dinâmico e globalizado. Avanços técnicos da agricultura aliados

à reestruturação de infraestruturas agrícolas provocam mudanças produtivas e

transformações sociais importantes no interior do estado. As mudanças decorrem da

modernização da agricultura cearense, iniciada a cerca de quatro décadas,

ampliação de fluxos de capitais provenientes das empresas transnacionais em

busca do agronegócio. Agroempresas que desenvolvem fertilizantes, agrotóxico e

maquinarias agrícolas chegam ao estado e promovem tecnificação da mão-de-obra

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e mecanização dos cultivos. A incorporação desses valores aos produtos agros

exportados aumenta a competitividade no mercado e atende aos padrões quanto

qualitativos da demanda internacional. Segundo Elias (2002), a demanda

internacional por produtos agrícolas é direcionada pelos interesses exógenos,

difundindo o padrão estandardizado de consumo alimentar. Ou seja, criam-se novos

produtos semiprontos, que passam a ocupar prateleiras dos grandes

supermercados, lugares que se tornam centros varejistas prioritários da

contemporaneidade. Isso torna o modelo produtivo massificado e difunde o padrão

de consumo externo, desvalorizando a identidade produtiva e o valor das

mercadorias locais tradicionais.

A substituição de insumos naturais por insumos industrializados nas

lavouras modernizadas gera aumento na demanda por agroprodutos químicos nas

áreas rurais, atraindo ao entorno dos agropolos cadeias produtivas superiores e

serviços modernos. Processo que se dá por meio da substituição da economia

tradicional por atividades agrícolas e serviços modernos, dentre eles o turismo e o

agroturismo. Ampliam-se mercadorias ligadas à agroindústria, ao agroturismo entra

nessa linha de oferta. Assim, segundo Elias (2002), as redes técnicas aumentam a

fluidez de capital para as empresas hegemônicas do agronegócio. Com a crescente

chegada dessas cadeias produtivas ao campo, por meio de centros de pesquisa e

agroindústrias - muitas vezes atraídas por incentivos fiscais – configura a nova

divisão social e territorial do trabalho no Ceará. O campo deixa de ser apenas

produtor de matéria-prima para a indústria, concentrada nas grandes cidades para

ser produtor de tecnologia e de produtos destinados não só ao mercado interno,

mas, sobretudo à exportação.

A dinâmica agrária brasileira passa a ser determinada pelo poderio

tecnológico dos complexos agroindustriais. Empresas ligadas ao agronegócio que

emergem na economia rural com fluxo de capital internacional, que busca ganho

produtivo e lucratividade cada vez maior das commodities e das matérias-primas.

Um novo rural é produzido, um rural que interage com o setor financeiro dos

agronegócios. Porém a necessidade de investimento requisitados pela agricultura

competitiva e globalizada, praticamente subtrai o pequeno produtor do mercado,

desequilibra a competição entre as lavouras tradicionais e as modernas.

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A agricultura moderna cearense é extremamente heterogênea quanto a

abrangência territorial, pois na verdade os agropolos ficam restritos a certos espaços

regionais, o que torna a reestruturação produtiva rural seletiva, espacialmente

concentrada e mantenedora da estrutura política que acentua as desigualdades

rurais. Privilegia alguns estratos sociais e certos espaços com condições naturais

mais favoráveis ou com infraestrutura urbana mais expressiva, com melhores

espaços técnicos educacionais, maior mercado consumidor, centros varejista e

atacadista modernos, maior demanda por maquinarias e insumos. Esses lugares

são subespaços regionais mais dinâmicos, que Santos (1997) denomina de “pontos

luminosos”, ou seja, lugares preparados para atender interesses do capital

internacional por meio do agronegócio, dos serviços modernos como o turismo.

A inserção dos agronegócios no Ceará supera obstáculos naturais como

semiaridez climática, escoamento superficial originalmente intermitente, solos

ressequidos e salinizados, condição inóspita que dificulta a prosperidade agrícola no

estado. Outro entrave para o desenvolvimento agrícola cearense é a estrutura

fundiária extremante concentrada, o que denuncia as desigualdades sociais rurais,

conflitos pela terra e retardamento nos avanços técnicos e científicos. As

dificuldades ambientais e sociais que marcam o estado acentuam-se no Baixo

Jaguaribe, região que se destaca no contexto agropecuário do Ceará, desde os

primórdios do povoamento. Espaço historicamente marcado pela pecuária extensiva

tradicional, atividade importante para o florescimento de comunidades e estruturas

urbanas no oeste cearense durante os séculos XVIII e XIX, com o mercado da carne

de charque no litoral do estado. Mas é não é só a pecuária que se destacou na

produção agrária do Baixo Jaguaribe, vale ressaltar também a importância do

extrativismo da carnaúba, da monocultura do algodão e de lavouras de subsistência

como feijão, milho e mandioca. Outro produto tradicional da região é a castanha de

caju, mercadoria pioneira nas exportações cearenses. Atesta-se a vocação agrária

que do Baixo Jaguaribe, quando a SUDENE e o DNOCS, entre as décadas de 1960-

1970, realizou estudos sobre a região e concluiu que o potencial energético e

mineral da região é fraco, sendo sua vocação unicamente agrícola com setor

primário ocupando mais de 85% da força de trabalho da região naquela época

(DNOCS, 1976).

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A potencialidade agrária é vocação do Baixo Jaguaribe aproveitada para

o desenvolvimento de processos científicos, tecnológicos e informacionais aplicados

na agricultura do estado e da região. Importantes projetos de irrigação associados à

expansão da malha viária, à modernização dos sistemas de comunicações e

eletrificação no interior do estado reestrutura o espaço regional. O Baixo Jaguaribe

recebe investimentos públicos e capitais privados hegemônicos na produção

agrícola, serve de exemplo a construção do Açude Castanhão e do perímetro

irrigado do Tabuleiro de Russas, com mais de 10 mil hectares, símbolos do novo

processo de reestruturação do interior cearense e do Baixo Jaguaribe.

A partir dos anos 1970, por meio do DNOCS, foram construídos no

Nordeste 27 perímetros irrigados, sendo nove no Ceará, abrangendo áreas das

bacias hidrográficas do Jaguaribe, Salgado, Acaraú, e Curú. Esses projetos de

irrigação no Ceará totalizam mais de 13.654 hectares e a região do Baixo Jaguaribe

concentra três desses perímetros, que juntos representam 42,67% do total: o de

Morada Nova, o de Jaguaribe-Apodi e o perímetro irrigado de Jaguaruana. A

concentração dessas obras no Baixo Jaguaribe deve-se a conjuntura de fatores

naturais, estruturais e políticos: solos dotados de boa fertilidade natural, em especial

na Chapada do Apodi, a construção de uma série de obras hídricas como açudes e

barragens nos rios da região e a criação de sistemas técnicos por parte das gestões

públicas estaduais que permitem a difusão de inovações no setor.

O perímetro irrigado de Morada Nova iniciado no ano de 1968, e os

serviços de administração, operação e manutenção da infraestrutura de uso comum

tiveram início em no ano de 1970. Sendo a primeira experiência pública em grandes

perímetros de irrigação no Ceará. O sistema abrange áreas dos municípios de

Morada Nova e Limoeiro do Norte. Segundo o DNOCS (2008), mais de 770 famílias

irrigantes utiliza sistema de irrigação de superfície. O arroz é o produto mais

cultivado no perímetro, seguido do feijão, milho, banana, acerola, coco, graviola,

melão, capim e sorgo. Cerca de 10% da área é destinada a criação de bovinos,

ovinos e caprinos, principalmente. A figura 11 mostra um trecho do perímetro

irrigado de Morda Nova, onde é associada agricultura e pecuária.

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Figura 11: Pecuária leiteira nas áreas irrigadas do Baixo Jaguaribe-Ce Fonte: http://diariodonordeste.globo.com

A produção de arroz é a cultura mais mecanizada do perímetro irrigado e

maior parte é voltada para atender a demanda da própria região. O crédito rural é

utilizado para pagar empresas que fornecem assistência técnica, que junto aos

técnicos do DNOCS assessoram irrigantes no manejo produtivo e na

comercialização dos produtos.

Perímetro Irrigado do Tabuleiro de Russas localiza-se nos municípios de

Russas, Limoeiro do Norte e Morada Nova, mais precisamente no baixo vale do rio

Jaguaribe, na chamada zona de Transição Norte dos Tabuleiros de Russas. A área,

de modo geral, é constituída por faixa contínua de terras agricultáveis ao longo da

margem esquerda do Rio Jaguaribe, desde a cidade de Russas até a confluência do

rio Banabuiú. O acesso ao perímetro se dá pela BR-116, que margeia o limite leste

da área e segue paralela ao rio, alcançando a cidade de Russas e Limoeiro do

Norte. A distância rodoviária do Perímetro Irrigado do Tabuleiro de Russas até

Fortaleza é de 160 km.

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O projeto aproveita o potencial hidro agrícola da área de cerca de

10.564,00ha, com irrigação do tipo gotejamento e micro aspersão. O

empreendimento implantou cerca 660 lotes agrícolas, beneficiando mais de 500

pequenos produtores e mais de 70 empresas agrícolas na área irrigada. Diferente

do perímetro de Morada Nova, onde as cooperativas e associações compostas

por irrigantes participam da administração e do gerenciamento das estruturas

de uso comum a todos participantes do projeto. Ainda não foi criada uma

entidade representativa dos irrigantes para assumir as atividades de

administração, operação e manutenção da infraestrutura. Destacam-se

produções de banana, abacaxi, melão, limão, maracujá, melancia e uva; além

do algodão, abóbora, milho, soja, feijão, cana-de-açúcar e pimentão (DNOCS,

2008).

O Perímetro Irrigado de Jaguaruana abrange área de 202 hectares e tem

apenas pequenos produtores como irrigantes, sendo o menor dos três perímetros do

Baixo Jaguaribe. Liga-se aos principais centros consumidores do Estado e do País

pela BR-116 e pela CE-090 que dá acesso à cidade de Jaguaruana, vizinha de

Itaiçaba. A implantação do perímetro irrigado foi iniciada no ano de 1975 com

conclusão em 1979, segundo dados do DNOCS (2008). O desenho da operação do

Perímetro Irrigado de Jaguaruana foi traçado com base nas características dos

solos, levando em conta a produção econômica, visando à sustentabilidade das

famílias dos irrigantes que produzem arroz, feijão, milho, tomate, banana, coco,

goiaba, mamão, manga, maracujá, uva, algodão herbáceo, sorgo e capim de corte;

além de outras atividades como pecuária leiteira e de carne (bovinos e ovinos). A

irrigação utilizada nos perímetros é superficial por gravidade, por aspersão

convencional e por gotejamento.

A construção dos perímetros irrigados nos municípios favorece as sedes

que passam a ter cooperativas técnicas, novas indústrias de bebidas e alimentos,

fábricas de beneficiamento dos produtos irrigados e armazenamentos. O governo

estadual, com verba federal, expandiu para a região programas educativos voltados

de ensino profissionalizante, para formar técnicos capazes de atender as novas

demandas do mercado de trabalho nas cidades que estão com agropolos. Os

Centros de Vocação Tecnológica e os Centros de Ensino Tecnológico (CVT e

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CENTEC) são exemplos de estruturas técnico educacionais instaladas nas cidades

onde processos econômicos se direcionam ao agronegócio.

Apesar dos benefícios gerados pelos perímetros irrigados as cidades do

Baixo Jaguaribe, contam com problemas históricos ligados a concentração fundiária,

sendo forte a luta pela terra na região. Caso emblemático dessa realidade são as

reivindicações constantes dos colonos irrigantes para conseguir o título de

proprietários das terras em que trabalham e não apenas o direito a posse concedido

pelo Estado. Argumentam que sem titulo de propriedade é mais fácil perder as

concessões para agroempresas que proliferam na região e também são atendidas

pelo programa de irrigação pública.

Um problema local de grande dimensão é o aumento da degradação

ambiental de espaços naturais da região. A instalação dos perímetros com irrigação

mal conduzida provoca salinização dos solos, muitas vezes inviabiliza o cultivo em

algumas áreas, fato que ocorre em todo o sertão. Há acusação de que o cultivo de

frutas e verduras no Baixo Jaguaribe utiliza agrotóxico, contaminando o solo, a água

e as pessoas do lugar. Pesquisa realizada pela ANVISA no jornal Diário do

Nordeste, em 28 de maio de 2011, comentou que verduras provenientes de

agropolos do Jaguaribe-Apodi estão contaminadas por agrotóxicos. O estudo da

ANVISA, conforme o referido jornal mostra que a água da Chapada do Apodi está

poluída por contaminantes químicos usados nas lavouras irrigadas da região. Sobre

isso Vervier (2009) confirma que as práticas agrícolas adotadas na região têm

contribuído para maiores concentrações de nitrogênio e fósforo nas águas

superficiais e subterrâneas. O agravamento da problemática dos agrotóxicos no

Baixo Jaguaribe ocorre também pela desinformação dos irrigantes quanto às formas

de uso dos produtos e pela pressa em obtenção dos resultados do trabalho.

Técnicos da Embrapa em 2006 identificaram que em mais de 100 colonos

entrevistados o percentual de 82,0% não recebe qualquer tipo de assistência técnica

sobre o tema e 70% utilizam agrotóxicos em seus produtos. Estatísticas

preocupantes que evidenciam o problema grave nos produtos dos agropolos do

Baixo Jaguaribe.

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Há incentivo governamental ao agronegócio do estado para ampliação

das áreas irrigadas e expansão dos investimentos e da tecnologia aplicada em

terras irrigáveis no Baixo Jaguaribe. Segundo Elias (2002) esse modelo de Irrigação

foi incentivado por programas políticos federais para incrementar o agronegócio

levando a competitividade entre agroindústrias. Assim, facilitado pelo acréscimo de

lotes destinados às empresas agrícolas, as agroindústrias partem para expansão da

produção e ao atendimento do mercado internacional. O programa conta com

participação e incentivo de organismos institucionais como Ministérios da Agricultura

e do Planejamento, Banco Nacional de Desenvolvi mento e a Empresa Brasileira de

Pesquisas agropecuárias - EMBRAPA que fomentam o crescimento agro

empresarial como forma de ancorar o desenvolvimento tecnológico e produtivo dos

agropolos Esse forma de irrigação tem se mostrado expansionista e predadora de

terras e territorialidades, favorece a concentração de terras, a internacionalização e

privatização de espaços agrícolas, degrada o meio ambiente do Baixo Jaguaribe, já

que o Estado fiscaliza precariamente os perímetros públicos de irrigação.

Outra atividade que tem sido desenvolvida na região e que se articula

com os agronegócios é a cultura de camarão em cativeiro para exportação, a

carcinicultura. Atividade que cresce em muitos países desde os anos 1990,

constituindo importante setor do agronegócio. No Brasil, carcinicultura expandiu-se

fortemente com a introdução de espécies exóticas às brasileiras que se adaptaram

as condições ambientais no país (EMBRAPA, 2006). O país ocupa lugar destacado

na produção mundial, segundo dados da Associação Brasileira de Criadores de

Camarão - ABCC (2011), nivelando-se a países do Sudeste asiático como China,

Tailândia, Vietnã, Indonésia e Índia. A produtividade das fazendas carcinicultoras

brasileiras é uma das maiores do mundo, beneficiada por fatores edafoclimáticas,

topográficas e hidroclimáticas adequados durante todo o ano, especialmente na

região Nordeste, a maior produtora do país (ABCC, 2011). Segundo pesquisa da

EMBRAPA, o Ceará e o Rio Grande do Norte são responsáveis por mais da metade

da produção nacional de camarão, criado em cativeiro.

A crescente demanda por camarão em cativeiro no mercado internacional

aumenta a especulação imobiliária no litoral e favorece a proliferação desordenada

de fazendas de camarão, fato que facilita a disseminação de doenças nos estuários

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e nos criatórios. Assim, novas espécies adaptadas a água com menor salinidade são

introduzidas nos viveiros, isso tem direcionado as atenções dos criadores aos

espaços hídricos interioranos. Apesar de serem escassas as pesquisas que

atualizem mais rapidamente as estatísticas sobre a carcinicultura, estima-se que no

Baixo Jaguaribe existam cerca de 40 fazendas de camarão, distribuídas nos

municípios de Jaguaruana, Itaiçaba, Quixeré e Russas (CONAMA, 2010)

O crescimento do cultivo de camarão marinho em água interior, com baixa

salinidade vem ocorrendo espontaneamente no Baixo Jaguaribe e em outras regiões

do Ceará. Entretanto, a atividade tem efeitos políticos, socioeconômicos, ambientais

e tecnológicos que precisam ser adequadamente avaliados para que possa se tornar

sustentável no médio e longo prazo. O aspecto político está relacionado às decisões

governamentais sobre fomentar ou não essa atividade no semiárido, região

caracterizada pela escassez de água, com a adoção de políticas públicas para o

setor que fomentem o uso racional da água. O crescimento da carcinicultura no

interior implica mudanças na geração de emprego e renda, na concentração de

riqueza, na internacionalização da produção agrária, na alocação de fundos de

investimento e na disseminação da capacitação de recursos humanos para o setor,

que necessitam de analises cientificas e, sobretudo de monitoramento. As

consequências ambientais estão associadas às modificações na paisagem dos

sertões e das matas ciliares com a introdução dos viveiros de engorda, aos conflitos

pela água entre os diferentes usuários de uma bacia hidrográfica (comunidades

urbanas, irrigantes e indústrias), à possível contaminação dos corpos hídricos por

efluentes ricos em nutrientes e matéria orgânica e às alterações nas características

físicas, químicas e microbiológicas do solo inundado pelos viveiros.

O grande desmatamento da vegetação primária pela implantação da

atividade é aspecto negativo da atividade, uma vez que os viveiros são construídos

em áreas próximas leito do rio, espaços anteriormente explorados pela agricultura

de várzea. Transformando a natureza e retirando o pequeno produtor dos espaços

agrários tradicionais. A figura 12 mostra fazendas de camarão ocupando terras de

proteção permanente às margens do rio Jaguaribe e do rio Palhano, no Baixo

Jaguaribe, no município de Itaiçaba.

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Figura 12: Viveiros de camarão em águas interiores. Itaiçaba-CE.Fonte: SANTOS, 2010.

A expansão da carcinicultura no interior do Baixo Jaguaribe ocorre

inexoravelmente, transpondo barreiras naturais como a variação dos níveis de

salinidade da água do Rio Jaguaribe, influenciado pelas marés oceânicas em

trechos que se estendem da foz em Fortim até a barragem vertedora de Itaiçaba;

Outro entrave superado pelos carcinicultores que se expandem na região é a grande

demanda hídrica necessária para manutenção dos viveiros. Isso ocorre para repor

as perdas por infiltração e por evaporação da água dos tanques. Comparando esse

consumo com o outorgado para irrigação e com a estimativa de consumo humano e

industrial na região em estudo realizado por Figueiredo em 2003, referente ao ano

de 2002, a atividade de carcinicultura já representava a segunda maior demandante

de água do Rio Jaguaribe (2.751.220 m3/mês), sendo a irrigação a maior

demandante (23.218.228 m3/mês). Isso porque a principal fonte de abastecimento

da maioria das fazendas carcinicultoras do Baixo Jaguaribe é o rio Jaguaribe.

Ao utilizar prioritariamente as águas do rio Jaguaribe às fazendas sofrem

com as secas e com as cheias. Nos anos de seca a demanda pelas águas é

direcionada prioritariamente ao abastecimento humano e não às fazendas de

camarão. Nos períodos de grandes cheias o rio Jaguaribe provoca enchentes que 59

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destroem os tanques de carcinicultura, causa a fuga das espécies criadas, exóticas,

para o leito dos rios, impactando no equilíbrio biológico dos mananciais da região.

As variações climáticas na região são problemáticas à atividade, tanto que fazendas

de carcinicultura localizadas nos municípios de Jaguaruana e Itaiçaba enfrentaram o

problema da escassez de água nos anos de 2000 e 2001 e problemas de enchentes

nos anos de 2008 e 2009.

Outro agravante do problema hídrico das fazendas de camarão no Baixo

Jaguaribe é que núcleos urbanos da região têm sérios problemas de saneamento

básico, contribuição para que o rio Jaguaribe receba alta carga de poluição de

esgotos provenientes de domicílios, hospitais, matadouros públicos, além de receber

também cargas significativas de resíduos sólidos e agroquímicos provenientes do

lixo urbano e dos perímetros irrigados, respectivamente. Efluentes que afetam a

qualidade da água do rio e direta ou indiretamente e prejudicam a qualidade da água

utilizada nas fazendas de cultivo do camarão. Soma-se a isso o fato de que poucas

fazendas utilizam grades ou telas de proteção contra a fauna invasora no viveiro,

implicando na entrada de animais que concorrem com o alimento destinado aos

camarões. Além de representar um custo maior para a produção, a presença dos

invasores, quando mortos dentro dos mananciais ou dos viveiros, contribui para

contaminação da água destinada aos camarões.

Em contrapartida a construção de viveiros de carcinicultura gera impactos

negativos ao rio por meio do lançamento de resíduos provenientes dos tanques.

Esses resíduos chegam a contaminar rios, intensificar a eutrofização fluvial e afetar

a saúde das comunidades ribeirinhas de cidades como Quixeré, Russas,

Jaguaruana e Itaiçaba. Por isso o lançamento de efluentes dos viveiros diretamente

nos corpos hídricos necessita ser monitorado, para a detecção e prevenção de

possíveis interferências na qualidade da água para consumo humano bem como

para os diversos usos estabelecidos para as águas. Sobre esse problema o art. 4º

da Portaria nº 154/2002 da SEMACE, estabelece que qualquer fonte poluidora

localizada em área não dotada de rede de esgoto deverá possuir estação de

tratamento prévio de maneira a atender os padrões de qualidade dos cursos d água

estabelecidos de forma a enquadrar despejos líquidos a padrões menos

impactantes. Já o art. 14 da Resolução CONAMA 312 /2002, estabelece que os

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projetos de carcinicultura, a critério do órgão licenciador, deverão observar, dentre

outras medidas de tratamento e controle dos efluentes, a utilização das bacias de

sedimentação como etapas intermediárias entre a circulação ou o deságue das

águas servidas ou, quando necessário, a utilização da água em regime de

recirculação. O Parágrafo Único do referido artigo estabelece que a água utilizada

pelos empreendimentos da carcinicultura deverá retornar ao corpo d’água de

qualquer classe atendendo as condições adequadas e definidas pela Resolução

CONAMA nº 20 de 18 de junho de 1986.

2.4 O Baixo Jaguaribe no contexto turístico cearense

O turismo como atividade econômica mundial que emprega milhões de

pessoas, tem sido considerado vetor de desenvolvimento econômico na região visto

a capacidade de movimentar vasta rede de atividades produtivas e favorecer a

entrada de investimentos internacionais em espaços regionais que buscam inserção

na economia globalizada.

A política pública brasileira incentiva o desenvolvimento do turismo, os

governos dão apoio institucional à atividade, Organizações Não-Governamentais

realizam políticas de expansão da atividade no país. As políticas públicas

direcionadas ao turismo tem como base o Plano Nacional de Turismo – PNT (2011-

2014), que objetiva desenvolver produtos turísticos de qualidade que levem em

conta as diversidades regionais, culturais e naturais do Brasil, para se tornar destino

turístico acessível, e promover maior igualdade social. O PNT apresenta estratégias

para o desenvolvimento da atividade nos próximos quatro anos. Propõem diretrizes

que promovam a inclusão social, com execução de projetos voltados para a

geração de negócios, de emprego e renda para a população.

Ações públicas e privadas de turismo fazem crescer o turismo no país o

dobro da média mundial, e com taxas três vezes acima do próprio crescimento da

economia interna, afirma a Empresa Brasileira de Turismo - EMBRATUR (2008) ao

realizar pesquisa sobre o aumento dos fluxos internacionais e domésticos que

ocorrem no Brasil. Essa pesquisa destaca que entre os fatores que explicam o

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desenvolvimento turismo nos últimos anos, está o crescente desembarque de vôos

internacionais em capitais das Regiões Norte e Nordeste, como Manaus, Salvador,

Recife, Fortaleza e Natal. Além disso, o trabalho de promoção comercial na área do

turismo é também relevante. Em 2010, o gasto de turistas estrangeiros no Brasil

cresceu 11,05%, comparando com 2009 (MTUR, 2009). Estes resultados foram

considerados grandes conquista para o setor, principalmente, em virtude de vários

entraves conjunturais ocorridos no final da década de 2000, como a forte valorização

cambial do real perante o dólar americano em 2008. Segundo dados da

Organização Mundial do Turismo – OMT (2009), houve redução da chegada de

estrangeiros no Brasil devido à crise econômica de 2008-2009 na Europa e EUA. A

crise financeira nos países desenvolvidos reduziu o numero de turistas e as receitas

geradas por eles no país. Assim, o turismo doméstico passa a representar parcela

fundamental na manutenção do desenvolvimento turístico no país, pois ocorrem

mais de 50 milhões de viagens domésticas anualmente, quase dez vezes mais que

o turismo internacional receptivo, gerando receitas diretas cinco vezes superior que

as advindas do mercado turístico internacional, isso é o que informa uma pesquisa

realizada em 2010 pelo Ministério do Turismo, para o Programa Turismo no

Nordeste – PTN.

O Nordeste do Brasil se inseriu no processo turístico nacional com forte

atração de fluxos externos e domésticos, posicionando-se entre as grandes rotas de

turismo nacional. Há alguns anos se vêm investindo intensamente na melhoria

da infraestrutura na região Nordeste com construção de parques aquáticos,

complexos hoteleiros, resorts e polos de ecoturismo, ações que somadas às belezas

cênicas da região a coloca entre as mais visitadas do país. O Ministério do Turismo

(2010) afirma que a cultura nordestina é um atrativo à parte para o turista, pois em

cada estado, há danças e hábitos seculares preservados. Exemplo que comprova a

força da atividade turística na região é o Carnaval de Salvador, a maior festa popular

conhecida que conta com cerca de 2,7 milhões de foliões em seis dias de festa

(GUINNESS BOOK, 2011). Além de Salvador, destacam-se também os carnavais

de Olinda e Recife e as festas juninas em Pernambuco e Paraíba.

No Ceará, lazer e turismo litorâneo destacam-se no contexto nacional e

nordestino desde a década de 1990 (BARBOSA, 2011). Para consolidar esta

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posição, o Estado desenvolve inúmeras ações de estímulo à expansão das

atividades turísticas, uma delas é o Programa de Desenvolvimento do Turismo no

Nordeste - PRODETUR/NE. Política de captação de investimento turístico que

oferece aos empreendedores incentivos estruturais e fiscais, tais como:

acessibilidade, comunicação, eletricidade, saneamento e abastecimento d’água,

além de fomentar apoio logístico às empresas, através de programas de treinamento

de recursos humanos, compatível com as necessidades reais. Na aplicação de

políticas públicas de turismo no Ceará alguns aspectos são ponderados para evitar

concentração de recursos ou desperdício de valores investidos em cada projeto ou

lugar turístico: a localização do empreendimento, a geração de emprego local, os

impactos sobre demanda por matérias-primas, a expansão e modernização de

serviços e especialmente a responsabilidade social e ambiental que o processo

turístico cobra dos empreendedores.

O esforço público-privado fez do Ceará o 9º estado que mais recebe

turistas estrangeiros no Brasil. No ranking nacional por cidades, Fortaleza recebe a

1,5% dos turistas estrangeiros no país e os principais mercados emissores para o

Ceará são: Nacionais – São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Pernambuco,

Pará, Rio Grande do Norte e Bahia; Internacional – Itália, Portugal, França,

Argentina, EUA e Espanha (EMBRATUR, 2010). O principal fator que motivou a

viagem dos turistas para o Ceará foi passeio (47,5%), vindo em seguida negócios

(26,0%) e visita a parentes ou amigos (22,4%) (SETUR, 2009). No tocante à

estrutura dos gastos efetuados pelos turistas que chegaram ao Ceará via Fortaleza,

a SETUR afirma ainda que no período 2005/2010 predominam as compras (31,0%),

seguida pela alimentação (21,5%), hospedagem (19,4%), diversão/passeios (15,6%

), transporte (10,5%) e outros com (2,0%) (SETUR, 2009).

As cidades litorâneas são os lugares mais visitados pelos turistas no

estado, a cada cem turistas que visitam o país, dois deles se destinam a algum

município do litoral cearense (EMBRATUR, 2009). Esses lugares concentram

grande parte da infraestrutura, como vias de acesso, água, luz, telefonia no litoral.

As praias preferidas pelos turistas, excluindo o litoral de Fortaleza, são: Cumbuco,

Canoa Quebrada, Jericoacoara, Icaraí, Morro Branco, Prainha, Porto das Dunas e

Iguape. O desenvolvimento do turismo litorâneo no Ceará não se vincula apenas as

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praias, distribuídas em seus 573 quilômetros de costa, a participação das gestões

públicas tem sido expressiva no incentivo a expansão da atividade também no

interior do estado, com construções de infraestrutura para alocação de

equipamentos turísticos, diversificação de serviços, e assim o turismo modifica

realidades territoriais locais e insere espaços costeiros e de que nas cidades

interioranas em rotas e mercados de lazer, turismo e segundas residências.

Áreas de interesse turístico multiplicam-se no estado, em especial no em

áreas serranas do interior. Destaca-se a região do Cariri com demandas de turismo

religioso, de negócios e o ecoturismo, além do turismo arqueológico esses dois

últimos segmentos valorizados após a criação o Geopark do Araripe, em 2006, área

tida como patrimônio da humanidade sob chancela da UNESCO. As serras são

espaços do interior cearense marcada pelo clima ameno e exuberante vegetação de

Mata Atlântica, condições diferentes com contexto semiárido sertanejo. Entre as

cidades serranas cearenses que se destacam no turismo destacam-se cidades de

Ubajara e Guaramiranga, ambas possuem áreas de proteção ambiental favorável ao

ecoturismo.

O sertão semiárido ocupa a maior parte do território cearense e também

oferece atrativos diferenciados, tais como formações rochosas elevadas, o

inselbergs, que afloram na superfície aplainada e favorecem a prática de esportes

radicais, como voo livre e rapel. No Sertão é possível a realização de trilhas

ecológicas favoráveis a longas caminhadas entre paisagens que misturam o clima

árido, vegetação de caatinga e extensos açudes. Além disso, o turismo cultural e

histórico aproveita as cidades interioranas que expressam o estilo de vida sertanejo

e mostram aspectos culturais históricos e arquitetônicos do Ceará. Um dos atrativos

turísticos do sertão cearense que é também aspecto identitário do estilo de vida e da

cultura do sertanejo é a religiosidade presente em muitas cidades. Religiosidade

presente em vários detalhes da vida do homem do campo, onde as igrejas são parte

fundamental do cotidiano da cidade, que valoriza com carinho e devoção a data do

seu santo padroeiro. Destacam-se pelo turismo religioso e por expressivos fluxos de

peregrinos as cidades de Canindé e Juazeiro do Norte.

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Em Canindé, o mês de outubro é reservado para os festejos em

homenagem a São Francisco. Em Juazeiro, na região do Cariri, a religiosidade é

marcada pela figura de Padre Cícero Romão Batista, homem cultuado como santo

popular em todo o Nordeste. A cidade abriga uma estátua de 25 metros do padre e

em datas comemorativas do nascimento e morte de Padre Cícero, Juazeiro é

tomada por multidões de fiéis que vêm de todo o Brasil.

É cada vez maior o número de turista que buscam o interior do estado.

São atraídos por aspectos naturais, como o ambiente semi-árido único no país, pela

riqueza cultural e pelo ritmo de vida menos frenético e mais bucólico do sertanejo,

que favorece ao turista o afastamento da vida agitada das metrópoles. O aumento

de visitantes no interior cearense na década passada já era expressivo, esse

aumento é mostrado no quadro 1 onde se verifica que o interior é um emergente

mercado turístico do Ceará, tanto que taxas de crescimento do turismo no interior

superam as taxas da capital do estado, Fortaleza.

Interiorização da Demanda turística Segundo as áreas visitadas – 1998/08

Local

1998 2008 Variação

Turistas (%) Perm. Turistas (%) Perm. (%)

Litoral 463.617 82,5 3,1 1.149.178 80,8 2,8 147,9

Serra 19.478 3,5 5,6 68.633 4,8 3,0 252,4

Sertão 78.786 14,0 4,7 204.642 14,4 6,6 159,7

Total 561.881 100,0 4,5 1.422.453 100,0 3,6 153,2

Quadro 1: Interiorização da Demanda turística.Fonte: SETUR, 2008. Adaptado pelo autor.

O crescimento da atividade turística no interior do estado favorece a

diversificação de atrativos turísticos. Processo que recebe estímulos de gestões e

políticas públicas desde a década de 1990, e rotas turísticas integradas aproveitam

diversas paisagens do litoral, serra e sertão cearenses. Assim, o governo definiu as

Macrorregiões Turísticas para o estado e inserindo municípios turísticos e

potencialmente turísticos, possuidores de recursos naturais e culturais expressivos

que desenvolvem diretrizes para o desenvolvimento turístico local (CORIOLANO 65

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2002). Além disso, os municípios turísticos possuem características geográficas e

sociais favoráveis a difusão da atividade. A criação das macrorregiões facilita que

todas as regiões entrem nas rotas turísticas, fornecendo aos visitantes lugares

variados para prática dos vários seguimentos turísticos, como o esportivo, ecológico,

religioso, ecoturismo, agroturismo, turismo de raiz e comunitário. Ao todo são seis

macrorregiões turísticas: Fortaleza-Região Metropolitana, Litoral Leste-Chapada do

Apodi, Serras Úmidas- Baturité, Litoral Oeste-Serra da Ibiapaba, Sertão Central e

Araripe-Cariri. Em conjunto, aglutinam regiões, centros e corredores turísticos,

interligando litorais, serras e sertões do Ceará.

A região Metropolitana de Fortaleza, formada por 17 municípios, incluindo

a capital, serve de principal portão de entrada do turista no Ceará. A região possui

praias urbanizadas na capital, no Iguape (Eusébio), Icaraí e Cumbuco (Caucaia). No

interior situam-se as serras de Maranguape e Pacatuba com trechos de Mata

Atlântica, onde se realizam trilhas e caminhadas ecológicas. Esta macrorregião é

especialmente forte no turismo de lazer, pela ocorrência de barracas de praia, bares,

restaurantes, casas de espetáculos, teatros, museus e parques temáticos (três nos

litorais de Cumbuco e Porto das Dunas) na capital do estado. Também é ideal para

a realização de eventos e feiras de negócios. Espera-se que essa região tenha

incremento exponencial de visitantes após a construção de grande centro de

convenções, da ampliação do principal aeroporto internacional da cidade, da

construção de terminais portuários urbanos para desembarque de passageiros em

navios-cruzeiros, são algumas estruturas públicas que alavancam o potencial

turístico do Ceará.

A região do Litoral Oeste / Ibiapaba, engloba os municípios de Camocim,

Amontada, Acaraú, Cruz, Granja, Guaraciaba do Norte, Ipu, Itapipoca, Jericoacoara,

Paracuru, Sobral, Taíba, Ubajara e Viçosa do Ceará. Esta é a maior macrorregião

turística do Ceará, apresenta grande variedade de paisagens, pois mar, sertão e

serras se fundem para formar cenários de grandes potencialidades turísticas. A

costa possui um recorte singular, formado por enseadas e foz de rios. A praia mais

conhecida é a de Jericoacoara, uma das mais visitadas do Ceará, onde

transformações urbanas modificaram os espaços tradicionais dos pescadores em

pousadas, hotéis e bares noturnos sofisticados. A orla também favorece a prática de

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esportes náuticos, os ventos facilitam a prática do kindsurf e as lagoas interdunares

são adequadas para esportes náuticos e mergulhos. No interior destaca-se o Parque

Nacional de Ubajara, Área de Proteção Ambiental criada em 1996, com 1.592.550

hectares, na divisa com o estado do Piauí, na Serra da Ibiapaba. O Parque possui

infraestrutura para turismo ecológico, que inclui cavernas artificialmente iluminadas,

trilhas ecológicas com acompanhamento de guias locais, banhos em riachos e

cachoeiras de águas mineral e teleférico que possibilita visão panorâmica da

paisagem da região.

A região das Serras Úmidas / Baturité, abrange 13 municípios, com

destaque para Baturité, Pacoti, Palmácea e Guaramiranga, a região que dista 100

quilômetros da capital, trata-se de formação serrana residual, está a 600 metros

acima do nível do mar e tem clima ameno, com temperaturas variando entre 20 e

22º C. A vegetação é de mata tropical, tem cachoeiras, fontes de água mineral e

fauna diversa. Possui área de proteção ambiental de 32,9 mil hectares, boa parte de

florestas favoráveis a realização de turismo ecológico e educacional. O lado cultural

também é forte, cidades como Guaramiranga realizam festivais de teatro, música e

abrigam patrimônio arquitetônico importante para o turismo histórico do estado. Além

disso, a região do maciço do Baturité conta com vasta rede de pousadas, chalés,

hotéis de serra e segundas residências que dão suporte a demanda de turistas no

lugar.

A região do Araripe / Cariri, com área de 1.083.000 hectares, é composta

por 47 municípios no sul do Ceará, entre eles destaca-se Icó, Juazeiro do Norte,

Barbalha, Crato e Santana do Cariri. A região é dominada por três sub-regiões:

sertões dos Inhamuns, região onde predomina a paisagem natural de caatinga; os

sertões da bacia hidrográfica do rio Salgado, onde está o açude Orós, um dos

maiores das Américas e a Chapada do Araripe, área de vegetação densa e de

grandes reservatórios de água mineral. A chapada do Araripe conta com

infraestrutura expressiva, são dois aeroportos que atendem a região e o Geopark do

Araripe, que atrai turistas interessados ecoturismo e em arqueologia. A criação do

Geopark estimula cuidados com o patrimônio natural arqueológico do estado e da

região, na cidade de Santana do Cariri se concentra diversos sítios arqueológicos

onde foram localizados fósseis de plantas e animais pré-históricos, expostos no

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museu natural da cidade. O turismo religioso é a âncora turística da região, sendo

que a cidade de Juazeiro do Norte recebe anualmente milhares de pessoas que vão

pagar promessas ao Padre Cícero e acabam dinamizando a economia local.

A região do Sertão Central, no centro do Estado, engloba 20 municípios

do Sertão cearense, com destaque para os municípios de Canindé e Quixadá.

Apresenta paisagens marcadas por elevações rochosas peculiares, como o campo

de inselbergs em Quixadá, que tem formações interessantes como a Pedra da

Galinha Choca, mostrada na figura 13 e o Vale Monumental, considerado importante

ecossistema preservado do semiárido nordestino. A peculiar beleza do local se deve

também à vegetação de caatinga, marcada por cactos e bromélias resistentes as

longas secas da região. No ambiente são encontradas também grutas, cânions e

gigantescos monólitos, como a Pedra do Letreiro, que possui inscrições rupestres de

valor arqueológico. Natureza exuberante que favorece o turismo ecológico e os

esportes radicais, como rapel e escalada nas elevações mais íngremes. O turismo

religioso se destaca na cidade de Canindé, aonde numerosas romarias de devotos

de São Francisco das Chagas chegam a cidade em longas procissões e excursões.

Figura 13: Pedra da Galinha Choca em Quixadá-CE Fonte: SANTOS, 2009.

Na região do Litoral leste / Apodi é onde se situa a região do Baixo

Jaguaribe e a cidade de Itaiçaba, objeto principal da pesquisa. Abrangem além de

Itaiçaba mais 25 municípios, com maiores destaques turísticos para Aracati,

Beberibe, Cascavel, Chorozinho, Fortim, Icapuí, Limoeiro, Jaguaribe e Russas. A

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região dista 150 quilômetros da capital e tem como principal atrativo natural o litoral,

que se estende 190 quilômetros na costa leste do estado. É marcante a presença de

dunas móveis, falésias de areia colorida, lagunas e coqueirais. Algumas

comunidades pesqueiras tradicionais também são encontradas na região. O turismo

de lazer nas praias é o principal seguimento da atividade. A região conta com

pousadas de variados padrões, rústicos e sofisticados. As cidades litorâneas da

região são utilizadas para segundas residências, com destaque para Cascavel,

Beberibe, e Aracati, que tem uma das praias mais visitadas do estado, Canoa

Quebrada, apresentada na Figura 14. O litoral da região favorece a visitação de

turistas que apreciam os passeios pelas dunas e a culinária especializada em peixes

e frutos do mar. O turismo histórico é incentivado pelo programa governamental que

criou o Roteiro de Engenhos e Casas de Farinha e o Roteiro de Núcleos Históricos

de Aracati, Cascavel e Icapuí, onde se preservam casarões, engenhos e

arquiteturas típicas dos séculos XVII-XIX.

O rio Jaguaribe é outro atrativo da região, o turista realiza passeios de

barco ou lancha apreciando a paisagem do seu estuário, que apresenta densos

manguezais e dunas vultosas. O rio também é uado pelos turistas que praticam o

lazer nas barragens de Itaiçaba e Limoeiro do Norte. Outros lugares atrativos da

região são o açude Castanhão, o maior do estado e os perímetros de lavoura

irrigada em Russas e, Morada Nova.

Figura 14: Praia de Canoa Quebrada em Aracati-CE. Fonte: SANTOS, 2011.

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O Baixo Jaguaribe, na macrorregião do Litoral Leste Jaguaribe, se insere

no mercado turístico regional reproduzindo a dinâmica turística do Estado, que

concentra investimentos e fluxos no litoral. A concentração da demanda turística no

litoral a princípio desestimula a atividade no interior da região, entretanto o

desenvolvimento agrícola no interior do Baixo Jaguaribe provoca transformações

nos espaços urbanos das médias e pequenas cidades, incrementa suas estruturas,

amplia serviços e favorece o dinamismo econômico acabaram descobrindo o turismo

como atividade complementar as demais atividades econômicas. As transformações

que afetam cidades tanto as médias como as pequenas, como Itaiçaba,

possibilitando expansão das atividades produtivas, com crescimento das demandas

do turismo rural. Assim, o turismo rural, desde 2008, foi considerado pela SETUR o

seguimento âncora da região do Baixo Jaguaribe, sendo o Rio Jaguaribe, barragens

e açudes o principal potencial para atrair visitantes. O turismo rural que se integra

atividade agropecuária, é alternativa para gestões municipais e proprietários rurais

aproveitarem a vocação econômica rural da região do Baixo Jaguaribe, o

agroturismo.

O Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa – SEBRAE

orienta sistematicamente municípios que buscam alcançar sucesso na atividade

turística. Para isso torna-se imprescindível que propriedades sejam adaptadas a

essa nova função, sem prejuízo das identidades culturais. No seguimento do turismo

rural o turista compartilha a rotina das fazendas, ou seja, em vez de hospedarem-se

em hotéis-fazendas procuram as fazendas-hotéis. O turismo rural integra práticas

produtivas cotidianas da propriedade rural com lazer, permitindo o fortalecimento

das atividades agropecuárias que são, ao mesmo tempo, atrações turísticas, fontes

de renda e marcas culturais. Marcas que tornam os espaços naturais humanizados e

criador de raízes que assegura o regresso ao passado pela natureza e pela cultura.

Ou seja, o turismo rural é a atividade que permite ao homem urbano resgatar as

origens culturais, o contato com a natureza e a valorização da cultura local

(MOLETTA; GOIDANISH, 1999). A partir do turismo rural a gestão pública e o

empresário rural optam pelo tipo que mais se enquadra à sua realidade,

aproveitando as vantagens competitivas do local, as estruturas e a mão de obra.

Isso permite a interação entre o setor rural e urbano, facilitando a interrelação social

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entre agentes de diferentes espaços. É processo positivo para as regiões que

modernizam estruturas e transformam espaços urbanos e rurais para atrair

visitantes.

Graziano (2002) afirma que existe um novo rural no Brasil, composto de

três grandes grupos de atividades: agropecuária moderna, com base em

commodities e intimamente relacionada à agroindústria; atividades não agrícolas,

ligadas à moradia, ao lazer, turismo e a várias atividades industriais e de prestação

de serviços; e novas atividades agropecuárias, localizadas em nichos especiais de

mercados. Como a agricultura moderna, sócio-espacialmente restrita em “nichos

especiais de mercado” ainda não possibilita renda que permita a evolução produtiva

duradoura dos pequenos agricultores, restam a eles duas soluções alternativas para

superar momentos de dificuldades econômicas: ou migravam para os centros

urbanos ou complementam a renda fora da propriedade. A segunda alternativa fez

com que surgissem e crescessem no meio rural as “atividades não agrícolas”,

destacando-se o turismo.

Dentre essas atividades não agrícolas emergentes no meio rural, o

turismo é fonte alternativa de ampliação de ganhos no meio rural e de

desenvolvimento local. Atividade capaz de dinamizar áreas decadentes e

estagnadas, fomentando a diversificação de renda e trabalhos para as comunidades.

Para Silva (1988) o desenvolvimento do turismo rural valoriza o processo histórico

de ocupação da região receptora, valoriza a estrutura fundiária do lugar, aproveita as

identidades da paisagem e a demanda regional, além de integrar a atividade aos

diversos empreendimentos rurais produtivos. Assim, os agropolos do Baixo

Jaguaribe que fixam a população local ao se integrar ao turismo rural, faz

desenvolver a região pelo agroturismo. O planejamento da atividade agrícola

integrado ao turismo, ou agroturismo fomenta parcerias entre a iniciativa privada e

gestões públicas, entre pequenos agricultores e proprietários rurais que buscam no

turismo rural opção de aumento da renda nos agronegócio.

Segundo técnicos da Embrapa (2008), agroturismo é uma atividade

associada à geração de ocupações complementares às atividades agrícolas, que

agrega serviços à produção agrícola e bens materiais existentes. Atividade

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executada por famílias com auxiliares. O agroturismo, ao valorizar a participação da

comunidade no desenvolvimento da atividade colabora com a economia local, cria

oportunidades de empregos aos residentes do e no lugar visitado, especialmente no

comércio e na prestação de serviços auxiliares relacionados à hospedagem, lazer e

recreação.

Economicamente, pode-se mencionar como exemplo de vantagens

associadas ao agroturismo, a possibilidade de agregar valor aos produtos agrícolas

do estabelecimento e a instalação de indústrias artesanais, por exemplo, para a

produção de alimentos regionais típicos. No agroturismo incentiva-se que viajantes e

turistas conheçam e se hospedem em áreas agrícolas contribuindo para que

fazendeiros e agricultores – especialmente aqueles com pequenas propriedades –

descubram que as atividades turísticas podem incrementar lucros aos agronegócio,

geram mais renda sem alterar as unidades produtivas, conservando ambientes

naturais e culturais do lugar. Daí ser caracterizado pela recepção de turistas por

agricultores do estabelecimento rural, peculiaridade que favorece a formação de

cooperativas para organizar e gerenciar os serviços turísticos do lugar. Nas

comunidades onde existem organizações comunitárias, consciência coletiva do

associativismo, a cooperativa de turismo tem sido um caminho viável (CORIOLANO,

2003). A autora ainda afirma que lugares onde os residentes não são capazes de

tais organizações, grupos externos chegam e exploram seus lugares, isso dificulta

que os habitantes do lugar sejam protagonistas do processo, ao contrário, se tornam

coadjuvantes, alocados em subempregos e serviços menos valorizados da cadeia

produtiva do turismo. No Ceará, em especial no Baixo Jaguaribe, às práticas do

turismo gerido por organizações comunitárias são desiguais, pois algumas

comunidades não conseguem participar dessa luta, enquanto outras avançam e

conquistam mercados e posições favoráveis na competição turística (CORIOLANO

2003).

Outro aspecto fundamental para o agroturismo é a preocupação para que

o agricultor seja o anfitrião dos visitantes. Sendo ofertadas como estrutura de

hospedagem as fazendas, habitações simples, porém confortáveis, higiênicas e

seguras com ambientes calmos e sossegados. O agroturismo não pode ser

massificado, tem sempre baixa taxa de ocupação, já que os espaços receptores

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evitam hospedagens em grande quantidade, o que dificulta a manutenção da

atmosfera de tranquilidade que os visitantes buscam. Limitação do agroturismo é

que ele se idêntica com demandas turísticas alternativas, menos afeita ao

consumismo, mais comum nos frequentadores de resorts e grandes hotéis urbanos.

O agroturista, em geral, busca lugares com preços acessíveis, custos menores,

preferindo consumir produtos naturais da propriedade visitada do que enlatados de

supermercados e comidas rápidas de redes de lanchonete.

Alguns núcleos urbanos mais interioranos do Baixo Jaguaribe têm

ampliado os fluxos e melhorado as infraestruturas turísticas, nos lugares do

agroturismo. Importante atrativo rural do Baixo Jaguaribe são os perímetros

irrigados, com sistema de colonatos que elevam os resultados agrícolas, atraem

agroindústria e geram avanços sociais como nas cidades como Russas, Itaiçaba,

Limoeiro do Norte, Jaguaruana, Morada Nova e Nova jaguaribana (CORIOLANO

2002). Além dos perímetros irrigados, o Baixo Jaguaribe apresenta fatores

locacionais que favorecem o turismo rural, como vestígios histórico-culturais de

antigos núcleos de povoamento ao longo do rio, diversidade de estruturas na bacia

jaguaribana que são espaços de lazer, como as barragens e açudes mostrados na

figura 15. Os açudes da região passam a ser importantes atrativos, onde é comum o

uso para piqueniques, pescarias e lazeres aquáticos e onde são instaladas barracas,

ou palhoças feitas de madeira e palha de carnaúba, onde os visitantes podem

consumir bebidas, peixes, camarões e outras comidas típicas da região.

Figura 15: Açude Castanhão- CE Fonte: http://limoeirodonortece.blogspot.com

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3. A PEQUENA CIDADE DE ITAIÇABA, NEGÓCIOS E TRANSFORMAÇÕES

A urbanização brasileira privilegia metropolização de cidades

industrializadas, em especial cidades como São Paulo e Rio de Janeiro no Sudeste

do país, que nas décadas de 1960 e 1970 atraíram intensos fluxos imigracionais

provenientes do campo do país. Processo que durante algumas décadas gera

extrema concentração demográfica nessas capitais, tornando-as metrópoles

nacionais e produzindo a São Paulo capital mundial. Entretanto a concentração

populacional com rápido povoamento das metrópoles não foi acompanhado do

desenvolvimento urbano estrutural, causando problemas socioambientais crônicos.

Assim, as duas grandes metrópoles além de concentrar as atividades econômicas,

políticas e sociais do país, expressam problemas graves no cotidiano, expostos

pelas dificuldades na mobilidade urbana, pela ocupação irregular de áreas de risco,

com expansão de morros e favelas, entre tantos outros.

Contudo, a urbanização do país, em segundo momento, desconcentra

indústrias, dinamiza outras redes urbanas e cria novas metrópoles regionais, que se

assemelham em problemas e contradições ás duas primeiras. Novas metrópoles

surgem principalmente no Sul e no Nordeste do país esse processo favorece

também o movimento de crescimento de cidades médias no país (SPÓSITO, 2007).

Surgem novas centralidades urbanas interagindo em redes urbanas cada vez mais

complexas e interdependentes. Redes compostas por pequenas, médias e grandes

cidades marcadas por contextos econômicos e processos históricos diversos. A rede

urbana se direciona a constituição de conjuntos de centros funcionalmente

articulados, resultado de complexos e mutáveis processos e agentes sociais, reflexo

da realidade social (ENDLICH, 2009).

As dinâmicas e os fluxos que marcam os diversos momentos da

urbanização brasileira reordenam e transformam as cidades, fomentando contexto

desigual, onde novas metrópoles regionais se desenvolvem, cidades médias

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crescem e cidades pequenas se inserem em novas atividades produtivas, tudo isso

torna a hierarquia urbana nacional e local complexa e contraditória.

No Ceará o processo de urbanização se efetiva nas duas últimas décadas

do século XX, quando Fortaleza, a capital do estado passa por processos de

metropolização. A metropolização da capital é favorecida pelos polos industriais nas

periferias, em especial nos municípios de Maracanaú e Caucaia, cidades integrantes

da região metropolitana que concentram serviços urbanos e industriais. A

concentração industrial em torno de Fortaleza torna o estado bastante urbanizado,

com população urbana de 75% (IBGE, 2010), com grande parte desse contingente

residindo nos municípios da chamada Grande Fortaleza, ou Região Metropolitana.

No interior do estado destacam-se oito municípios com população

superior a 100 mil habitantes; 24 com população entre 50 -100 mil pessoas e 151

municípios, a grande maioria, com população menor que 50 mil pessoas, ou seja, a

grande parte das cidades se enquadra no perfil demográfico de pequenas cidades.

Além disso, os números mostram que o estado apresenta grande disparidade

demográfica entre os municípios, fato que colabora com as desigualdades regionais,

urbanas e rurais das cidades. Entretanto o processo de urbanização brasileira e

cearense não atentam devidamente para o desenvolvimento das pequenas cidades,

ao contrário, segundo Endlich e Rocha (2009) na rede urbana atual as cidades

locais - as pequenas cidades – tiveram diminuição da sua importância relativa. Suas

potencialidades são obscurecidas e subaproveitadas pelo progresso das metrópoles

regionais e das cidades médias.

No entanto, é uma pequena cidade o foco central da pesquisa. Espaço

contraditório que busca se ajustar as tendências mercadológicas das regiões onde

se inserem, autoproduzindo espaços econômicos, sociais e culturais direcionados

por pressupostos autoritários que desconsideram a multiplicidade de olhares,

significados e identidade de todos (BORZACCHIELLO, 2005). São lugares com

grande diversidade de grupos sociais que de maneira conflituosa disputam

oportunidades, serviços e equipamentos urbanos em busca de cidadania e de

melhores condições de vida.

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As pequenas cidades cearenses, de maneira geral, expressam as

condições presentes no processo de urbanização do País, que segundo Endlich

(2009), produziu uma espacialidade adequada ao desenvolvimento econômico, mas

descompassada de ritmo e de condição humana e social apropriados. Apresentam

demografia reduzida, estruturas incipientes e representações de espaços urbanos

em escala menor, ocupados por pessoas que apresentam raízes topofílicas com a

história do lugar (ANTUNES, 2005, p.53). Pessoas que vivem nas pequenas

cidades, principalmente as que se identificam com o sertão cearense, são marcadas

pelas experiências vividas em conjunto, que se manifestam no cotidiano, onde a

cooperação e a solidariedade são bases da vida em comum (SANTOS, 1997, p. 258

). Além disso, as pequenas cidades sertanejas são marcadas por importantes

contradições socioeconômicas e histórias, e têm ambientes diversos que compõem

a complexidade regional. Apesar de apresentarem menor contingente demográfico,

as cidades pequenas são maioria no país e no estado do Ceará, são focos de

embates conflituosos que mantém relações apoiadas na cultura rural e urbana, ou

da cidade e do campo. Contexto marcado por tradicionais e modernas relações

produtivas e disputas fundiárias.

A pequena cidade cearense de Itaiçaba, assim como as demais se

diferenciam pela origem histórica, posição geográfica, dimensão demográfica e

forma de se desenvolver regionalmente. Por serem numerosas e variadas as

pequenas cidades cearenses cumprem papéis diversos em redes urbanas regionais,

ora são espaços com estruturas socioeconômicas tradicionais vigentes, ora são

lugares onde o moderno agronegócio e o turismo rural transformam ambientes e

relações humanas. A pequena cidade de Itaiçaba, com apenas 7.462 habitantes,

inserida no Baixo Jaguaribe, pertencente a microrregião do Litoral de Aracati, vive

esse dilema do tradicional e moderno. Itaiçaba, assim como outras cidades

pequenas do estado, retrata as diversidades, socioculturais e econômicas do interior

cearense, o cotidiano do sertanejo, a história de gente que sobrevive aos rigores do

clima semiárido, marcados por secas e enchentes calamitosas, contexto

contraditório marcado pela escassez do sertão e pela abundancia dos agropolos e

dos meganegócios.

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Em Itaiçaba tem destaque a agricultura, o artesanato da palha, a

carcinicultura e o turismo de raiz, atividades com processos produtivos peculiares

que influenciam a cidade. No entanto, para entender esse processo produtivo que

desencadeia transformações faz-se necessário conhecer as potencialidades naturais

do lugar, compreender a evolução histórica do município e o papel que desempenha

no desenvolvimento regional do Baixo Jaguaribe, região que expande tentáculos do

agronegócio em direção àquela pequena cidade.

3.1 Itaiçaba: Entendendo uma Pequena Cidade Cearense

O indicador demográfico tem sido o identificador mais usual na

classificação de cidades grandes, médias ou pequenas. Em geral, o IBGE define

pequenas cidades como aquelas de população inferior ou igual a 50 mil habitantes.

Porém esse limite não é consenso em todas as classificações, já que a grande

quantidade de municípios inseridos nessa faixa demográfica, gera imensa

diversidade de realidades e identidades específicas. Na classificação mais usada

pelo IBGE a cidade Itaiçaba está inserida na faixa demográfica onde se encontram

as cidades com população inferior ou igual a 25 mil habitantes, que é a maioria das

cidades do país e do Ceará. Observa-se também que o contingente demográfico

dessas cidades é bem menor do que nos centros de grande porte, mesmo

representando maior parte dos municípios do país. No Ceará, esse fato se deve ao

perfil emigratório do sertanejo, causado por problemáticas naturais como secas

prolongadas, ou mesmo enchentes e por estrutura fundiária e produtiva

concentradora de riqueza e que gera desigualdades sociais históricas. Esses fatores

fazem das pequenas cidades cearenses espaços repulsores de emigrantes para

centros regionais e metrópoles.

O critério demográfico para determinar se uma cidade é pequena, média,

ou grande utilizado prioritariamente pelos órgãos de pesquisas de planejamento é

uma forma administrativa simplória de conceituar e diferenciar cidades. Trata-se de

critério insuficiente para compreender a pequena cidade como espaço complexo e

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dinâmico. Pois mesmo uma cidade de pequeno porte demográfico agrega grande

conjunto de complexidades e funções sociais que extrapolam as questões

demográficas, afirma Spósito (2000). Para Heidrich (1998) as pequenas cidades são

espaços geográficos marcados pela práxis humana, fruto de embates históricos pela

posse da terra, onde a diferenciação de espaços tem início a partir da delimitação do

mesmo, isto é; pela apropriação do território. Ao concordar com a concepção de

Heidrich, que uma pequena cidade é território da “práxis humana” significa

considerá-la espaço geográfico marcado por relações sociais complexas que

demarcaram fronteiras e direcionam historicamente seu desenvolvimento social e

suas relações com as demais cidades e com a região.

Em Itaiçaba as cheias do rio Jaguaribe, acontecimentos frequentes, já

que a localização as margens do rio a torna um dos municípios mais assolados

pelas grandes enchentes da bacia hidrográfica do Jaguaribe. Esse fato natural

aliado a estagnação econômica que o município vivencia há décadas tem gerado

fuga de população, o processo migratório tem sido significativo, e por falta de

registros esses não são apresentados de forma quantitativa. Mas o processo

migratório contribui para o baixo crescimento demográfico do lugar, inferior a 1,1%

anual, principalmente quando comparado a cidades vizinhas como Russas, que teve

crescimento anual 2,1%. (IBGE, 2011). A diminuição da população também

compromete o crescimento econômico.

Outro elemento identificador das pequenas cidades é a contradição que

esses lugares apresentam entre a economia tradicional e a economia moderna.

Segundo Endlich (2009), as pequenas cidades situam-se entre sinais de

luminosidade e de letargia, com isso a autora expressa que muitas pequenas

cidades buscam inserir-se em processo urbano-econômico mais moderno, que

influenciam significativamente estruturas produtivas tradicionais. Essas mudanças

no perfil produtivo geram transformações sociais, no lugar e nos residentes que

passam a ter novas necessidades de trabalho e novas expectativas de progresso.

Sobre essas necessidades é oportuno verificar o que diz Santos (1994, p.51).

As cidades locais mudam o seu conteúdo. Antes eram as cidades dos notáveis, onde as personalidades notáveis eram o padre, o tabelião, a professora primária, o juiz, o promotor, o telegrafista, cedem lugar à cidade econômica, onde são imprescindíveis o agrônomo (que vivia nas capitais), o

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veterinário, o bancário, o piloto agrícola, o especialista em adubos, o responsável pelos comércios especializados.

As palavras de Santos revelam que a nova economia agrária muda a vida

de algumas cidades pequenas, que passam a atrair ou formar novos profissionais

técnicos e liberais. No entanto, com a chegada desses novos profissionais nas

cidades locais rurais a maior parte dos trabalhadores ainda é composta por

lavradores tradicionais que perdem espaço no novo mercado, emigram,

transformam-se em citadinos periféricos e acabam por inchar ainda mais médias e

grandes cidades e muitas vezes a capital. Passam a sobreviver de empregos nas

agroempresas, ou subempregos informais na própria cidade onde vivem,

abastecendo o contingente de trabalhadores volantes explorados em grandes

propriedades. Além disso, algumas agroempresas mantêm complexos

agroindustriais em vários estados, assim, sazonalmente parte dos trabalhadores das

pequenas cidades é deslocada para trabalhar noutros lugares por dias ou meses, a

ausência desses indivíduos influencia no cotidiano das famílias e nas interações

sociais da pequena cidade de onde saíram e aonde chegaram.

A cidade de Itaiçaba é exemplo desse processo econômico contraditório.

A economia rural do lugar é alicerçada na agricultura tradicional, mas o setor que

vem gerando maior oferta de empregos é o agronegócio da fruticultura irrigada e da

carcinicultura em águas interiores. Segundo informações do Secretário1 de

Agricultura do município, cerca de 800 pessoas trabalham como empregados em

agroempresas e/ou fazendas de camarão nos arredores da cidade. Parte

significativa dessas pessoas é possuidora de minifúndios cultiváveis no município,

que deixam em segundo plano na maior parte do ano, trabalhando neles apenas nos

períodos de entressafra das lavouras irrigadas da região. O processo de absorção

da força de trabalho pela agroempresa em Itaiçaba gera maior oferta de empregos e

maior arrecadação tributária indireta na cidade, já que os salários gastos dos

trabalhadores dinamizam o comércio e os serviços locais. Contraditoriamente esse

fato favorece a dependência econômica do lugar em relação à agroempresa. O

medo do desemprego em massa, ou da crise no comércio é notório, quando se

vislumbra a saída da agroempresa do município.

1 Sr. Marcos Vinícius, secretário do município de Itaiçaba – CE.

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Outro elemento identificador das pequenas cidades é a relação que os

residentes tem com espaços públicos da cidade. Laços afetivos entre a comunidade

e a pequena cidade são acentuados, a topofilia, “o elo afetivo entre a pessoa e o

espaço, ou o lugar”, (FU TUAN, 1980: p. 5) se dá de forma natural e coesa. O lugar

é a própria comunidade. Comunidades mantém essa relação de afeto e apego mais

forte com o lugar e seus espaços públicos. Isso decorre da facilidade de

manutenção dos laços familiares, fortalecidos pela proximidade física entre os

residentes. Nos espaços públicos das menores cidades há interação entre

familiares, amigos e velhos conhecidos, espaços identitários do cotidiano da cidade,

necessários ao convívio coletivo. David Harvey (1980, p.76) aborda o tema e

enfatiza o sentimento topofílico presente em cidades pequenas ao afirmar que

“quanto menor o grupo social (a cidade), maior é sua boa vontade em prover-se

materialmente dos bens coletivos”.

A noção de que espaço público é algo de todos e para todos, tem

significado nas emanações culturais das pequenas comunidades, que apesar de

menos valorizadas pelo capital, apresentam identidade coletiva expressiva que se

torna potencialidade produtiva ao turismo e a cultura. Pra entender melhor a relação

das pequenas cidades com seus espaços é oportuno entender que espaço público é

aquilo que é visto e entendido como Espaço Comum, ou seja, o espaço da

comunidade, do discurso, da valorização, da igualdade, e da liberdade de expressão

é o lugar do discurso político e a contestação social (ARENDT, 2000: p.62). E nesse

sentido o espaço público diferencia-se do espaço privado principalmente quando se

distancia da noção de propriedade, já que a propriedade é algo inerente ao mundo

privado, que valoriza o bem individual e não o bem comum.

A ideologia capitalista valoriza o privado e direciona a urbanização ao

desfavorecimento do espaço público. Por isso o processo de urbanização marcado

pela industrialização acelera a apropriação dos espaços de convívio coletivo por

grupos que detém o capital. Lugares destinados ao lazer social das comunidades

locais perderam espaço para a especulação imobiliária do terreno urbano.

A desvalorização do espaço público reduz o tempo coletivo, no qual as

pessoas interagem com os demais indivíduos da sua comunidade. Sem os espaços

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coletivos a comunidade fica encarcerada dos espaços privados, gastando-o com

suas próprias necessidades, isoladas e despreocupadas do coletivo. Isso tudo

diminui a criação e a disseminação de ideias coletivas, acabando progressivamente

com a participação política das pessoas em questões de interesses comuns. Além

disso, o isolamento de grupos em guetos privados e tribos excludentes, reduz o

valor social, o poder de criar solidariedade e laços culturais, desse modo a

identidade da comunidade desaparece e a topofilia não se produz. Sobre isso Arendt

(2000: p.62) afirmar que:

A perda dos espaços públicos acarreta uma redução cada vez maior de identidade compartilhada entre as pessoas e o lugar. A privação de um lugar compartilhado limita o surgimento de histórias comuns e de experiências vividas em conjunto, requisitos necessários ao desenvolvimento de uma identidade com o lugar.

Em Itaiçaba, espaços naturais como o rio Jaguaribe e a serra do Ereré,

equipamentos urbanos como a igreja Matriz, o mercado público e as praças são

espaços públicos que pertencem a todos, à cidade e por isso lugares identitários da

sua população. O aproveitamento coletivo dos espaços públicos como bens comuns

propagam na população de Itaiçaba e mesmo em turistas, grande parte formada por

ex-residentes – os filhos da terra, noção de pertencimento da cidade, que é

exacerbada durante eventos esportivos e culturais tradicionais. É o caso do rio

Jaguaribe em Itaiçaba, mostrada na figura 16, espaço público onde o residente e o

turista realizam o lazer compartilhado.

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Figura 16: Espaço de lazer na barragem no Rio Jaguaribe em Itaiçaba-CE Fonte: SANTOS, 2010.

Outra marca das pequenas cidades, especialmente no interior do Ceará,

é o papel que as gestões municipais e as políticas estaduais exercem como vetor

prioritário de progresso econômico dos municípios. Muitas vezes a prefeitura de um

pequeno município é a grande ativadora da economia, enquanto nas grandes

cidades isso decorre da presença de empresas privadas, multinacionais ou

complexos empresariais. Assim, enquanto as cidades grandes crescem com a

chegada do capital privado, as cidades pequenas esperam por ações de gestão

pública para atrair investimentos ou gerar empregos. Isso causa nas populações e

na economia das pequenas cidades dependência da ação paternalista dos gestores

públicos.

Em Itaiçaba a prefeitura funciona como o indutor de progresso. Ao

empregar 430 pessoas, cerca de 5% da população total, a prefeitura por meio de

projetos financiados pelo governo federal e estadual tem implementado melhorias na

infraestrutura urbana da cidade, com a construção de conjuntos habitacionais,

reurbanização de praças e ruas, construção do centro artesanal, etc.

Empreendimentos que causam reação em cadeia no setor de comércio e serviços

da cidade. Com o salário recebido nos serviços de construção civil os trabalhadores

dinamizam o comércio local e atraem novos serviços. A figura 17 mostra a

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construção de casas populares financiadas e distribuídas pela gestão municipal para

a população local, ação que incrementa o setor da construção e aumenta as

oportunidades de trabalho na cidade.

Figura 17: Construção de casas populares em Itaiçaba-CE. Fonte: Santos, 2010.

A cidade tem postos de abastecimento de combustíveis, antes só havia

um em funcionamento, uma agência bancária de um dos principais bancos privados

do Brasil foi instalada na cidade, novas lojas de material de construção, vestuário e

farmácias, etc. Dessa forma a cidade desenvolve o mercado interno e fomenta o

progresso econômico. Por outro lado, a dependência que a população e a economia

têm dos investimentos públicos favorece que a cidade fique estagnada quando os

projetos não são realizados, quando para também o comércio e os serviços

declinam.

Esse contexto torna a economia da pequena cidade um ciclo de

momentos de crescimento e estagnação econômica e faz do gestor municipal o

agente indutor de progresso, ou o principal responsável pelo atraso produtivo da

cidade. Na figura 18 é mostrado como a prefeitura de Itaiçaba influencia na

economia do lugar, onde a divulgação e a venda de certos produtos locais é

divulgada e gerida pela gestão municipal, que mantém o posto de revenda dos

produtos no mesmo espaço da secretaria municipal.

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Figura 18: Posto de Revenda de produtos agrícolas e Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária, Aquicultura e Meio Ambiente. Itaiçaba-CE 2010

Fonte: SANTOS, 2010.

A administração pública municipal em Itaiçaba funciona como principal

incentivador e mantenedor da produção cultural do lugar. Financia ainda a principal

banda musical da cidade, mostrada na figura 19; promove e divulga eventos festivos

tradicionais, como a festa da pescaria, os festivais juninos e o carnaval.

Figura 19: Banda de Música de Itaiçaba-CE, mantida pela prefeitura local. Fonte: SANTOS, 2010.

Ainda na esfera política, as pequenas cidades do Ceará têm outra marca

identitária, é a perpetuação do poder político concentrado em grupos familiares

locais. Prática que marca profundamente a história política do Ceará. Essa prática

denominada de política do Coronelismo ocorre quando oligarquias rurais exercem

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poder econômico e político e mantém o “voto de cabresto”. Sobre isso Leal (1997)

afirma que o coronelismo na medida em que comandava o sufrágio eleitoral garantia

o resultado dos pleitos. Assim, o coronel, liderança nos municípios, era na prática a

máquina que consolidava o sucesso dos governos estaduais e federal, tendo em

vista a importância do meio rural na composição do eleitorado brasileiro. Essa

história é ainda realidade vivenciada em muitas pequenas cidades cearenses, onde

famílias tradicionais se revezam no poder local, a exemplo de feudos que passam de

pai para filho, de eleição em eleição. Contemporaneamente o coronelismo não é

mais realidade absoluta das pequenas cidades, o Estado e as entidades de classes

sociais em certos casos fomentam a diversidade política e a prática democrática

eleitoral. Segundo Endlich e Rocha (2009, p. 37) é dessa maneira que o estado

precisa agir:

[...] criando articulações intermunicipais: consórcios, associações, agências, fóruns, redes, câmaras intermunicipais, que auxiliem problemas comuns, e ter claras na cooperação e nas responsabilidade, evitando a subordinação do mais fraco sobre o mais forte, pois a cooperação implica na(re)definição do poder.

Na cidade de Itaiçaba a manutenção de grupo político no comando da

cidade foi desfeita nas duas últimas eleições, após mais de vinte anos que uma

família se mantinha no poder municipal não conseguindo a oposição eleger sucessor

para o cargo de prefeito da cidade. A vitória foi do atual grupo político que também

representa outra família tradicional do lugar. Assim, o ciclo de domínio familiar foi

quebrado e outro se inicia na gestão municipal, já perdurando oito anos.

3.2. Itaiçaba: natureza, história e sociedade as margens do Jaguaribe.

O município de Itaiçaba possui área de 209,49 Km² ou 20.949 ha, está

localizado no semiárido brasileiro, a 4° 40’ 28” de latitude sul, 37° 49’ 21” de

longitude oeste e a uma altitude de 20 m. Limita-se ao Norte com Aracati, ao Sul

com Jaguaruana, ao Leste com Aracati e a Oeste com Palhano, como mostra a

figura 20.

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Figura 20: Localização do município de Itaiçaba-CEFonte: IPECE/COGERH (2010), adaptada.

A temperatura é a da região, com média máxima e média mínima, anuais

de 36° C e 26° C respectivamente. Possui as seguintes classes de solos: areias

quartzosas distróficas, solos aluviais, podzólico vermelho amarelo eutrófico e

distrófico, planossolo solódico. Cerca de 60% dos solos são de baixa fertilidade,

porém com boas propriedades físicas com potencial para o cultivo de culturas como:

feijão, mandioca, caju e, principalmente, a exploração de fruticultura irrigada. 40%

são solos aluviais de boa fertilidade, com potencial para a exploração das culturas

de algodão, milho, feijão, arroz, hortaliças, dentre outras.

As principais unidades geomorfológicas do município são: depressão

sertaneja submetida a processos de sedimentação planos fluviais (aluviões),

chapada do Apodi e a baixa serra do Ereré. Possui sítio de valor paisagístico

atraentes para o turismo, os vales dos rios Jaguaribe e Palhano. A vegetação

predominante no município é de mata ciliar de carnaubais ocupando os 118,4 Km²

de várzeas e o complexo vegetacional típico da zona litorânea com 177,6 Km²

(IPLANCE, 1994). O município é banhado pelos rios Jaguaribe e Palhano, sendo

que o primeiro está totalmente perenizado pelo açude Castanhão e o segundo,

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apenas parcialmente pelo açude Santo Antônio de Russas. Ali também passa o

riacho Araibu. Embora os rios cearenses na maioria sejam temporários, os da área

estudada são permanentes graças as obras de açudagem realizadas na região.

O período chuvoso distribui-se normalmente entre março e junho com

uma pluviosidade anual média é de 681,0 mm (IPLANCE, 1994). Historicamente o

município apresenta no período compreendido entre os meses de março a maio

enchentes de variadas proporções, causando danos e prejuízos e às vezes com

ocorrência de acidentes que levam a morte de residentes, exemplo do que ocorreu

nos anos de 1974, 1984, 1985, 1989, 2004 e 2009 que as chuvas provocaram

sangria dos açudes da região, assim toda a água do vale do Salgado, do Alto e

Médio Jaguaribe, de parte do vale do Banabuiú e do açude Santo Antônio de

Russas sangraram para o Rio Palhano passando por dentro do município de

Itaiçaba. O transbordo dos rios e riachos causam sempre grandes transtornos aos

residentes dos municípios.

O Rio Jaguaribe corre em um imenso vale, e nas suas margens surgiu o

lugarejo denominado Passagem das Pedras, primeiro nome de Itaiçaba, em alusão

ao fato de que as boiadas que vinham do Rio do Rio Grande do Norte, Paraíba,

Sertão Central e do Médio Jaguaribe tinham obrigatoriamente que atravessar o rio

Jaguaribe, e aquela passagem pedregosa era a melhor travessia.

O município surgiu com Passagem das Pedras, depois recebeu

denominação de Feira do Gado e em 1956, recebeu o nome atual de Itaiçaba,

quando obteve emancipação política por desanexação de Jaguaruana.

A cidade de Itaiçaba é delimitada por importantes elementos naturais: o

rio Jaguaribe que margeia a cidade e a separa da vizinha Aracati, o rio Palhano e a

serra do Ereré, na entrada da cidade. Todos possuem grande importancia para o

desenvolvimento histórico e econômico local. A serra do Ereré é de signifiativo valor

cultural para a popuação local, pois lendas e devoções religiosas acontecem na

crista residual. O lugar possui significado místico, já que desde a criação da cidade a

serra do Ereré é objeto de lendas, com a Lenda da Dozelinha. Conta-se que durante

uma grande seca, quando alguns retirantes passavam pelo caminho das pedras,

entre eles ia uma donzela bela e frágil, já estava muito fraca devido a longa

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caminhada. A donzela não conseguiu seguir viagem, ficou alí no pé da serra, sem

nunca mais ser achada. Dizem alguns que ela ficou encantada, outros dizem que ela

morreu. A verdade é que essa lenda gerou devoção pela “donzelinha”, ao ponto de

alguns moradores erguerem um pequeno altar, no lugar onde supostamente ela teria

ficado na serra do Ereré. A serra de Itaiçaba também é lugar de peregrinaçào dos

devotos a Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira da cidade, onde foi construída

uma capelinha e colocada Cruz de madeira em homenagem a mãe de Deus, no topo

da formação.

Antes de se tornar município a história da cidade já se fazia notar no

contexto regional. A estrada Geral do Jaguaribe, por onde o deslocamento e o

comércio de gado do Baixo Jaguaribe era realizado nos séculos XVIII e XIX,

proporcionou que fossem criados núcleos urbanos produtivos, currais e fazendas,

que contribuíram para o surgimento de povoados, posteriormente transformados em

vilas e cidades, uma delas a vila de Feira do Gado, nome inicial de Itaiçaba.

Povoado marcado por estabelecimentos comerciais e matadouros públicos, onde o

gado era abatido e comercialzado e mantas de carne secas salgadas expostas ao

sol, o charque. A figura 21 mostra o antigo matadouro público da cidade de Itaiçaba,

onde ocorria abate e a distribuição da carne.

Figura 21: Antigo matadouro público de Itaiçaba-CEFonte: BARROS, 1995

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A figura 22 mostra um antigo empório comercial onde o charque era

produzido e vendido, assim como os produtos de couro de Itaiçaba, antes de chegar

a Aracati, o principal núcleo de charqueamento e comércio da região.

Figura 22: Primeiros estabelecimentos comerciais destinados à venda de mercadorias aos charqueadores.

Fonte: Barros, 1995

A história de Itaiçaba é marcada pelo ciclo da pecuária no Baixo

Jaguaribe, especialmente nos séculos XVIII e XIX. Nesse período Itaiçaba exercia

papel de entreposto comercial entre o interior e o litoral da região. Era o lugar onde

se realizava uma feira de gado, com comercio de rebanhos, carne de charque e

produtos de couro. As intempéries climáticas, longas secas e devastadoras

enchentes, também são marcas históricas do lugar, fenômenos naturais que

transformam os processos produtivos e a vida da cidade. Nos mais longos períodos

secos do século XIX houve dizimação quase completa do gado do Baixo Jaguaribe e

declínio da pecuária na região. O flagelo acabou com a economia das charqueadas

e motivou vários detentores da técnica de charqueamento emigrassem para o sul do

país onde a atividade se desenvolvia e carecia de mão de obra. Assim, a feira de

gado de Itaiçaba foi encerrada e a população partiu em busca de outras atividades

que substituísse o trabalho na pecuária.

Entre as atividades produtivas de subsistência, a exploração da cera

carnaúba foi a mais exitosa. O produto passou a ser o principal sustentáculo da

economia da região e da cidade no início do século XX. Lima (2001) afirma que o

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produto passou a ser o segundo mais exportado pelo estado e o Baixo Jaguaribe

respondeu com 70% da produção estadual e 25% da produção nacional. Além disso,

difundiu-se no lugar a tradição do artesanato da palha de carnaúba, fonte de

sustento auxiliar a produção cerífera. A extração da cera e da palha ocorria no

segundo semestre do ano. Nesse período de apogeu os carnaubais não se

apresentavam tão vulneráveis as condições ambientais quanto às atividades

agropecuárias. As estiagens frequentes nos finais de ano diminuíam a produção

agrícola e criatória, enquanto a carnaúba mais adaptada a aridez permanecia

gerando lucro, na região persiste essa dinâmica produtiva. Ainda hoje permanece

essa dinâmica produtiva, já que nos primeiros meses do ano, as chuvas de outono

tornam o ambiente mais úmido, favorável a proliferação de fungos que estragam a

cera e danificam a palha da carnaúba. Segundo a líder da associação2 das mulheres

artesãs de Itaiçaba, grupo especializado na confecção do tradicional artesanato de

palha, uma das principais dificuldades que a associação tem é manter a produção

lucrativa nos primeiros meses do ano.

As relações de trabalho utilizada no ciclo da cera eram marcadas pelo

arrendamento com objetivos acumulativos (SOARES, 2000: p. 9), onde a extração

do pó cerífero ocorria em carnaubais pertencentes a pequenas e grandes

propriedades. Segundo a líder artesã local, a cera passou a ser de grandes

propriedades privadas, já palha é obtida do extrativismo de carnaubais nativos, nas

várzeas do município. A líder da associação das mulheres artesãs estima que cerca

de 1000 pessoas pratique atividades relacionadas à exploração da carnaúba no

município. Desde os “vareiros”, pessoas que retiram as palhas usando longas varas

de madeiras, até os “atravessadores”, comerciantes que vendem a cera e o

artesanato de palha para outras cidades ou mesmo para o mercado internacional.

A indústria, o comércio, os serviços públicos essenciais e o patrimônio

público e particular, muitas vezes foram atingidos pelas enchentes, provocando, em

consequência, um estado de tensão social na população de Itaiçaba. Tem-se

verificado também que chuvas fortes têm se concentrado em curto espaço de

tempo, em período de poucas horas, o que leva a uma insegurança maior da

população e vigilância constante. Com a construção do Canal do Trabalhador o rio

2 D. Raimunda Barbosa, líder da associação das mulheres artesãs de Itaiçaba-CE.90

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Palhano teve seu curso natural alterado sendo desviado para o leito do riacho Araibú

que passa a montante da sede do município, ilhando a cidade e facilitando ainda

mais as enchentes. O cotidiano da população é significativamente alterado, na

época das chuvas. Moradores mais abastados mantêm segunda residência fora da

área de inundação e lá permanecem até as águas baixarem na cidade sede.

Durante as grandes cheias do Rio Jaguaribe a cidade fica ilhada e o único meio de

transporte possível é a canoa. São embarcações rudimentares com motores de

baixa potência usadas no dia a dia da comunidade para travessia do leito fluvial, o

deslocamento ocorre da margem direita, Itaiçaba, para a margem esquerda em

Aracati, e vice-versa Como mostra a Figura 23. Durante fluxos turísticos os donos de

embarcações aumentam os ganhos. Em contrapartida o resíduo de combustível

depositado no rio aumenta, contribuindo para redução da qualidade da água em

níveis ecológicos.

Figura 23: Canoa rudimentar usada para travessia do rio Jaguaribe em Itaiçaba-CE. Fonte: SANTOS, 2010

Na figura 24 vê-se o rio Jaguaribe em Itaiçaba, lugar onde o leito é

pedregoso E onde, a jusante da barragem Vertedora, sob influência da maré

oceânica, a água do rio Jaguaribe se torna salinizada dificultando o uso para

consumo humano, e irrigação, por outro lado favorece a diversidade do pescado, já

que algumas espécies de peixes do mar chegam ao leito do rio e são capturadas em

redes de pesca artesanais, chamadas de tarrafas.

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Figura 24: Rio Jaguaribe na porção localizada em Itaiçaba. Detalhe da Barragem Vertedora de Itaiçaba.

Fonte: SANTOS, 2010.As secas também são fenômenos naturais que assolam o município e

influenciam a dinâmica econômica da cidade, da região e do estado. Nos anos de

1992 e 1993, uma estiagem prolongada ocasionou carência no abastecimento

d’água na capital Fortaleza. Fato que desencadeou a tomada de decisão para

construção do canal de transposição de águas do rio Jaguaribe, em Itaiçaba, até o

açude Pacajus, para abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza. A obra

recebeu o nome de “Canal do Trabalhador” em homenagem aos trabalhadores que

a realizaram em um tempo recorde, apenas 91 dias. O canal do Trabalhador tem

início a montante da Barragem Vertedora de Itaiçaba, elevada em um metro para

viabilizar o projeto, estendendo-se por 102,5km, passando pelos municípios de

Itaiçaba, Aracati, Palhano, Beberibe, Cascavel, Chorozinho, e Pacajus. A construção

dos trechos II e III do Eixão das Águas, obra que integra várias bacias do estado, em

2010, a Região Metropolitana passou a ser abastecida pelo Eixão, liberando as

águas do Canal do Trabalhador para outros usos. Segundo a COGERH passou a

servir mais para atender às comunidades rurais localizadas em sua extensão e à

agricultura irrigada, um potencial ainda pouco explorado.

A figura 25 mostra parte do Canal do Trabalhador, após a captação de

água na barragem vertedora de Itaiçaba.

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Figura 25: Canal do Trabalhador no seu primeiro trecho. Fonte: Santos, 2010.

Segundo a COGERH (2011), o Canal do Trabalhador tem potencial para

irrigar sete mil hectares. O maior problema regional para utilização desse potencial é

a questão fundiária. Grande parte das terras às margens do canal pertence a

grandes agroempresários, fato que reduz a abrangência social do projeto de

irrigação para pequenos produtores. Contudo, conta-se com 1.186 hectares irrigados

na margem do canal e com 38 usuários cultivando áreas pequenas, entre 0,01 e 5,0

hectares, num total de 330 hectares, e quatro usuários ocupando 820 hectares de

terras irrigadas. Na região, cultiva-se cajueiro, melão, feijão, capineiras e frutas.

(COGEH, 2011). A figura 26 mostra a forma de captação de água no canal do

trabalhador para irrigação de perímetros fruticultores.

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Figura 26: Captação de água para irrigação no Canal do Trabalhador. Itaiçaba-CE Fonte: Santos, 2012.

O município de Itaiçaba encontra-se na faixa climática intertropical, na

zona pré-costeira leste do Estado, sobre a influência dos ventos alísios, fato que

torna o clima quente o ano inteiro, temperatura média entre 25°C e 27°C e baixa

amplitude térmica, de 5°C até 7°C (IPLANCE, 1994), possuindo forte brisa marinha,

que os residentes da região chamam de “Vento do Aracati”. A pluviometria média de

950mm/anuais, chuvas distribuídas principalmente entre os meses de março, abril a

maio. Apresenta fitogeografia típica dos ambientes fluviais cearenses, nos quais se

encontram as matas ciliares, que segundo Figueiredo (1997), é formação compostas

de espécies endêmicas adaptadas a elevada salinidade e solos com boa drenagem

superficial.

Apesar da grande diversidade ambiental Itaiçaba não tem unidades de

conservação, esse fato deixa as áreas desprotegidas, favorecendo a degradação

ambiental de espaço do município. Segundo Gestão municipal, ao elaborar o Plano

Estratégico do Município – PEM, em 2005, o ambiente de Itaiçaba sofre impactos do

desmatamento das matas ciliares às margens do Jaguaribe, despejos de resíduos

sólidos e dejetos no rio Palhano. Ocorrem licenciamentos ambientais estaduais e

federais sem conhecimento prévio do município, à revelia local e com a instalação

dos viveiros de carcinicultura altamente prejudicial ao meio ambiente. O Secretário

de Agricultura do município, em entrevista, afirmou que órgãos estaduais e federais

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responsáveis pelo licenciamento e fiscalização de obras que causam degradação ao

meio ambiente não o fazem de forma eficiente, com isso a natureza e a comunidade

do lugar sofrem abusos ambientais graves. Exemplo citado pelo Secretário de

Agricultura é a retirada de blocos rochosos da serra do Ereré, deixando a serra

irremediavelmente fragmentada pela extração mineral clandestina.

Na área rural de Itaiçaba o preparo do solo para o cultivo de sequeiro

também não utiliza técnicas conservacionistas, abusa do uso das queimadas,

desmatamento, contribui para a queda na produtividade e para que aconteçam

alterações físicas indesejáveis no solo. A flora do município sofre perdas

consideráveis pela ação do homem que, além da agricultura, pecuária, abusa do

extrativismo de madeira, para construção de cercas e de lenha para carvoarias para

produção de carvão vegetal, encontradas até mesmo em áreas de assentamentos

da chamada Reforma Agrária. Além da queima de algumas áreas e utilizado o

extrativismo mineral, com a retirada de pedras e piçarra. O município apresenta um

potencial hídrico razoável e com diversidade de peixes, uma das fontes alimentares

da população. Este potencial é comprometido pelo desmatamento da mata ciliar e

por ações predatórias, tais como a pesca no período da piracema e a extração de

areia das margens dos rios. Além disso, o lixo urbano é jogado no rio Jaguaribe, ou

nas suas margens, onde a chuva os carrega facilmente para o leito fluvial.

Outra situação problemática de Itaiçaba é a proliferação de aguapés no

canal do trabalhador. Em certos períodos doa ano plantas aquáticas recobrem

totalmente o espelho d’água, barrando a luz solar, eutrofizando as águas fluviais e

dificultando atividades de lazer, pesca e transporte. Moradores do lugar reclamam

que as plantas favorecem a reprodução de pernilongos e muriçocas na cidade,

atrapalhando a qualidade de vida e provocando doenças na população. A COGERH,

órgão responsável pela limpeza do Canal do Trabalhador, não dá conta da retirada

dessas plantas do Canal, ou as realiza em intervalos longos. Isso faz com que a

cidade, para evitar danos maiores ao ecossistema do rio e a população que o utiliza,

realize a limpeza despendendo recursos e força de trabalhos próprios.

Na figura 27 vê-se trecho do Canal do Trabalhador encoberto pelos

aguapés, dificultando também a utilização das canoas pesqueira em Itaiçaba.

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Figura 27: Aguapés recobrem o espelho d’água no Canal do Trabalhador em Itaiçaba.

Fonte: SANTOS, 2010

A cidade tem um Conselho Ambiental Municipal, formado com objetivo de

analisar, discutir e acompanhar as questões ambientais que envolvem a cidade,

além de intermediar contato entre a gestão municipal, população e órgãos

ambientais do estado e da União, mas com pouca atuação e influencia, tanto que os

problemas persistem. Entretanto, segundo o Secretário de Agricultura do município,

pessoas que compõem o conselho não têm o entendimento necessário para cumprir

as tarefas adequadamente, dificultando ainda mais a resolução dos problemas

ambientais do Município.

Itaiçaba conta com 7.955 habitantes (IBGE 2009), sendo que a população

da zona urbana é predominante com 55,81% contra 44,19% da população rural. È

um município tipicamente rural com densidade demográfica de 38 hab./km². Possui

forte tendência de urbanização, pois a falta de condições no meio rural, ocupação,

renda e equipamentos de lazer, contribuiu para o deslocamento das famílias para a

sede e para outros municípios. A maioria da população jovem deixa o campo. O

próprio sistema de educação formal prepara o jovem para sair do meio do meio rural

e não para assumir o seu papel no meio onde vive e dessa forma evitar sérios

problemas relacionados ao êxodo rural pela juventude, aumentando a demanda por

emprego, saúde, saneamento e infraestrutura urbana na cidade sede.

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A População Economicamente Ativa (PEA) de Itaiçaba é de 5.310

habitantes, a maioria ocupada no setor agrícola e no setor terciário, notadamente, na

administração municipal. Setorialmente, a agropecuária responde por 32,55%, a

indústria, 15,14% e os serviços 52,30% do PIB total do município (PEM, 2005). Um

dos problemas enfrentados pela população refere-se à oferta insuficiente de

emprego, pouca oportunidade de trabalho resultado da estagnação econômica e da

baixa capacitação dos residentes, da mão de obra produtiva local (Plano Estratégico

do Município, 2005: p.10). A cidade possui um Centro Vocacional Tecnológico -

CVT, mas a oferta de cursos, isolados das outras políticas, não tem propiciado

incremento substancial à geração de trabalho na cidade. O PIB do município é de

R$ 13.509,45 milhões Agropecuária: 24,94% Indústria: 22,42% Serviços: 52,64%

PIB per capita 3.948 reais (PEM, 2005: p. 09).

As famílias de Itaiçaba são pobres o IBGE (2010) considera que,

população carente, cerca de 52,06% se enquadra no nível de pobreza moderada e

44,78% se encontra em pobreza extrema, pobreza que se reflete no baixo IDH de

0,502. O Banco Mundial e a ONU definem a pobreza extrema o viver com menos de

1 dólar (cerca de 1,75 reais) por dia e pobreza moderada o viver com entre 1 e 2

dólares por dia. Estima-se que 1 bilhão e 100 milhões de pessoas a nível mundial

tenham níveis de consumo inferiores a 1 dólar por dia e que 2 bilhões e 700 milhões

tenham um nível inferior a 2 dólares. A infraestrutura financeira do município se

resume a poucas agencias bancárias. Na cidade há uma agência do Banco do

Brasil, um posto da Caixa Econômica Federal e um do Bradesco, a população de

Itaiçaba também é atendida por uma agência do Banco do Nordeste, sendo essa

sediada em Aracati.

A cidade conta com 14 escolas que ofertam serviços básicos, nos

segmentos de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. A

infraestrutura educacional é mantida pela rede estadual, municipal e particular de

Ensino. Na década de 2000 a cidade direcionou esforços para a formação

acadêmica e para a melhoria no desempenho do corpo docente da rede pública,

reduzindo a figura do professor leigo nas escolas da cidade (PEM, 2005). Os

indicadores educacionais de Itaiçaba mostram que 93,77% das crianças de 7 a 14

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anos estão matriculadas no ensino fundamental e 30,86 % de adolescentes de 15 a

17 anos frequentam o ensino médio (PNUD, 2010).

Itaiçaba possui água tratada pela CAGECE, que mantém 1.068 ligações e

fornece aproximadamente 700m³/dia de água tratada com cloro e sulfato de

alumínio. A comunidade de Logradouro foi beneficiada com um projeto São José de

abastecimento de água, de modo que 237 domicílios são atendidos com água

encanada. A energia elétrica é fornecida pela COELCE, que mantém 2.028 ligações,

sendo 1753 residenciais (urbana e rural), 106 comerciais, 8 industriais, 76 rurais

(irrigação) e 85 ligações públicas. A TELEMAR mantém 101 terminais instalados,

sendo 73 residenciais, 20 comerciais e 8 telefones públicos, destes 3 na sede do

município e 5 na zona rural (Brito, Alto Ferrão, Camurim, Rancho do Povo e

Tabuleiro do Luna). O município dispõe de 4 casas comerciais de venda de insumos

agropecuários. No entanto, a diversidades de produtos oferecidos é pequena e os

produtores precisam se deslocar até as cidades de Aracati, Jaguaruana ou Fortaleza

para adquirirem os insumos necessários (Secretaria de Agricultura de Itaiçaba, 2011

).

A reorganização dos serviços de saúde e a reorientação dos processos

de trabalho, a partir do Programa Saúde da Família, resultaram no fortalecimento da

atenção básica e humanização do atendimento na cidade sede e nas localidades

rurais, impactando na melhoria dos indicadores gerais de saúde no município.

Todavia, a estruturação dos equipamentos de saúde do município e dos recursos

tecnológicos e humanos, ainda é insuficiente. Na cidade existem poucas unidades

de saúde e poucos profissionais para atender a crescente demanda. No Quadro 2 se

observa a quantidade de unidades e de profissionais de saúde do município.

Unidade de saúde Quant.

Hospital 01

Consultório médico 01

Unidade mista 01

Unidade de vigilância sanitária 01

Unidade de saúde da família 03

Centro de saúde 02

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Posto de saúde 01

Total 10

Recursos humanos Quant.

No de equipes do PSF 03

Médicos 10

Enfermeira 05

Dentistas 02

Agentes de saúde 12

Outros 24

Total 56

Quadro 2: Unidades de Saúde e Recursos Humanos em Itaiçaba-CE Fonte: Indicadores e Dados Básicos para a Saúde no Ceará - 2010

As profundas desigualdades regionais existentes dificultam a

universalização e a melhoria dos serviços de abastecimento de água, esgotamento

sanitário, limpeza urbana, coleta de lixo e drenagem urbana em Itaiçaba. Apenas

5,8% da população têm acesso ao esgotamento sanitário, 54,3% e recebe a coleta

de lixo feita pela prefeitura, enquanto 53,5% da população está inserida na rede de

abastecimento de água, segundo os Indicadores e Dados Básicos para a Saúde no

Ceará (2010).

3.3. Itaiçaba: da economia familiar ao agronegócio.

O município basicamente agrícola, conta com cerâmicas e quatro

panificadoras, não existem indústrias que absorvam a mão de obra local. Dessa

forma a maior parte dos habitantes sobrevive da exploração da terra com as culturas

de milho, feijão, mandioca, caju, tomate irrigado, melão irrigado, coentro e cebolinha

irrigados, pimentão irrigado, laranja irrigada, graviola irrigada e pastagem. A

extração da palha de carnaúba para a produção de cera e fabricação de artesanato

de palha é a atividade que gera o maior número de trabalhadores no município. A

criação de bovinos, ovinos, caprinos, suínos, aves, camarão e peixe envolvem

muitos residentes. A comercialização destes produtos é feita no próprio município e

nos municípios vizinhos.

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A agricultura irrigada, a extração da carnaúba e do turismo rural Itaiçaba

busca inserir-se no contexto econômico regional. Para tanto o município integra os

Planos de Desenvolvimento Regional do Baixo Jaguaribe – PDR Baixo Jaguaribe,

um conjunto de proposições estratégicas especifica para região. O PDR Baixo

Jaguaribe volta-se para o incremento de atividades geradoras de emprego e renda,

além de incentivar a produção agrícola e o fortalecimento da rede urbana polarizada

pelas cidades de Limoeiro do Norte, Morada Nova e Russas. Apesar de não ser um

centro de polarização regional, dentro do ordenamento territorial da região, Itaiçaba

se insere no processo de expansão do agronegócio e do turismo rural, atividades

transformadoras que crescem na região.

Os municípios de pequeno porte do Baixo Jaguaribe possuem receita

inexpressiva, em virtude da baixa arrecadação de tributos de suas competências

(IPTU, ISS, ITBI dentre outros). A maior parte da receita municipal é comprometida

com a manutenção da máquina administrativa, restando poucos recursos para

investimentos necessários aos processos produtivos. Isso acarreta baixo

desempenho econômico em certas atividades rurais como a pecuária, que segundo

o censo agropecuário 2007, contava com um efetivo bovino de 3.056 cabeças, 311

vacas ordenhadas, 290 mil litros de leite de vaca, 1.155 cabeças de suínos, além de

15.404 mil cabeças de galos, frangas, frangos e pintos, 3.406 galinhas, 21 mil dúzias

de ovos de galinha, 3.288 cabeças de caprinos, 3.346 cabeças de ovinos e uma

quantidade de 2.769 kg de mel de abelha.

A baixa produtividade decorre também do baixo nível tecnológico utilizado

pelos criadores em seus rebanhos. A maioria faz vacinação sistemática de controle

da raiva e febre aftosa, mas a vermifugação e a mineralização dos animais é pouco

utilizada e o armazenamento de forragem em forma de silagem e/ou fenação não é

praticado. Em consequência da baixa produtividade os criadores de Itaiçaba

comercializam os animais e seus produtos, carne, leite e ovos, no próprio município

e nos municípios vizinhos, sem capacidade produtiva que os permitam competir em

mercados externos ao estado ou país.

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A figura 28 comprova a rusticidade da pecuária no município, produção de

subsistência que resiste a modernidade dos processos criatórios exigidos pelo

mercado.

Figura 28: Rebanho rústico, pecuária tradicional, Itaiçaba-CE Fonte: SANTOS, 2010.

A estrutura fundiária do município não é diferente dos demais municípios

do Baixo Jaguaribe. Excesso de minifúndios sem qualquer documentação e

concentração fundiária em poucos estabelecimentos. Segundo dados da Secretaria

de Agricultura de Itaiçaba (2011) existem no município 562 estabelecimentos

agrícolas, sendo 79% destes com menos de 10 ha (442 estabelecimentos), 18,8%

com área entre 10 e 100 ha (106 estabelecimentos), 1,9% com área entre 100 e

1000 ha (11 estabelecimentos) e 0,5% com área acima de 1.000 ha (3

estabelecimentos).

A maioria dos proprietários, arrendatários, meeiros e parceiros não

residem nos estabelecimentos, vivendo nos povoados e na cidade. Para o

Secretaria de Agricultura, as lavouras familiares têm importância no meio rural do

município, uma vez que compreende: 97% dos estabelecimentos, 56% da área, 99%

dos trabalhadores. A concentração fundiária em Itaiçaba levou o INCRA a

desapropriar e implantar dois projetos de assentamento e o MST a instalar um

acampamento como forma de pressionar a reforma agrária na área, sem sucesso.

Quanto ao uso da terra, há uma baixa utilização de lavouras permanentes e elevada

destinação de terras para pastagens e matas naturais. Segundo o Secretario de

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Agricultura do município é elevada a quantidade de terras “Não Utilizadas” ou “Em

Descanso”, terras que são maiores que a soma das destinadas a lavouras

temporárias e permanentes.

A figura 29 mostra uma propriedade com agricultura tradicional do

município. Culturas que constituem a base alimentar da população, produtos

produzidos no próprio município como: feijão, milho, arroz, farinha, carnes bovina,

suína e aves, peixe, leite e seus derivados.

Figura 29: Sistema de roça, agricultura tradicional familiar, Itaiçaba-CE.Fonte: Santos, 2010.

Apesar da existência de várias associações de produtores, praticamente

todo o excedente da produção oriunda da agricultura familiar tem sido escoada

através de atravessadores e intermediários que acabam ficando com a parte

significativa lucro da comercialização dos produtos agrários locais. Alguns produtos

são facilmente comercializados no mercado local como milho, feijão e mandioca,

apesar de que a venda do feijão oriundo dos plantios familiares na entressafra perde

em qualidade para o feijão proveniente de áreas irrigadas. O caju, produto identitário

do lugar, apesar de receber investimentos de programas estaduais que visam a

expansão da cultura do caju-anão é quase que totalmente desperdiçado e a

castanha é vendida in natura a atravessadores. As hortaliças e frutas são vendidas

principalmente em Fortaleza, sempre com a presença da figura do intermediário. A

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mandioca é usada como ração pecuária ou transformada em goma e farinha vendida

no mercado da cidade.

A agricultura familiar em Itaiçaba recebe incremento significativo de

programas governamentais de apoio a produção agropecuária. O Programa

Garantia Safra é um deles. Conjunto de ações federais, estaduais e municipais em

parceria com o pequeno produtor que visa garantir uma renda por tempo

determinado aos que tenham perdido sua safra em decorrência da seca. Todos

contribuem para formação de um fundo de emergência, utilizados para o pagamento

dos que sofrem com a seca. Segundo o Secretário de Agricultura esse programa

todos os anos, disponibilizam vagas para que possa ser atendido o maior número de

produtores locais. Além disso, a gestão municipal muitas vezes tem decretado

situação de emergência sempre que necessário, como em 2007, quando

agricultores locais foram beneficiados com R$ 136.620,00 distribuídos entre os que

perderam a sua safra em decorrência da severa estiagem ocorrida naquele ano.

Outros programas buscam incrementar o desenvolvimento tecnológico da

agricultura familiar em Itaiçaba, como o Programa de Mecanização Agrícola, que

ajuda o produtor no preparo do solo para o plantio de sequeiro para aumento da

produção; o Programa Hora de Plantar que faz a distribuição de sementes de milho,

feijão, mandioca e caju aos agricultores do município; o Programa Agente Rural que

facilita a formação de convênios de cooperação técnica entre Governo do Estado,

SEBRAE-CE, disponibilizando agentes rurais para o município, que prestam

assistência técnica aos produtores rurais, principalmente os familiares; e o Projeto

Cabra Nossa, que contemplou Itaiçaba com recursos para a aquisição de 100

cabras mestiças, dois reprodutores e equipamento de irrigação para um hectare de

pastagem, a localidade escolhida para iniciar esse projeto foi o distrito de

Logradouro, onde foram atendidas 100 famílias, segundo informações da Secretaria

de Agricultura do município.

A inserção da produção agrícola familiar de Itaiçaba no mercado regional

está sujeita a ação integrada de políticas públicas implantadas pelas diversas

instituições públicas de forma que os agricultores tenham acesso a capacitações e

às linhas de crédito para custeio de investimento na modernização das lavouras de

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maneira mais ágil e menos burocrática. A implantação de unidades de

beneficiamento da produção e a construção de estruturas de apoio à

comercialização minimizariam os problemas e agregariam valor aos produtos, e

tornaria a produção do município apta aos negócios feitos em mercados mais

distantes da região.

Mesmo a agricultura familiar como modelo dominante em Itaiçaba, o

município possui bom potencial para a exploração de culturas irrigadas. Na margem

leste do rio Jaguaribe, áreas com solos de textura leve e livres de inundações

apresentam drenagem favorece a exploração de fruticultura. Na margem oeste,

onde os solos apresentam textura pesada e sedimentos aluviais de alta fertilidade,

sujeitas a inundações, são adequadas para culturas temporárias, formação de

pastagem artificial e para a aquicultura. O açude Castanhão minimiza os problemas

de enchentes no rio Jaguaribe, ao mesmo tempo em que garante água para

irrigação o ano inteiro. Além disso, a proximidade da cidade de centros

consumidores como Fortaleza e Mossoró favorecem a exploração de culturas

irrigadas, especialmente a horticultura e a fruticultura.

Com a chegada de agroempresas no município a fruticultura irrigada teve

iniciou, em 1999, após pesquisas realizadas pelas agroempresas desenvolveram

novo modelo agrícola voltado ao plantio e pós-colheita do melão amarelo ou melão

rei, mostrado na figura 30. Com o apoio da EMBRAPA e a SEAGRI - Secretaria de

Agricultura Irrigada do Ceará, após dois anos de preparação plantando pequenas

áreas e desenvolvendo novos processos de plantio, colheita e pós-colheita, a

produção de melão expandiu-se para o mercado externo. O agronegócio dinamiza a

economia e amplia oportunidades de emprego do município, que, antes, só conhecia

a agricultura de subsistência, e essa transformação atrai o turismo, em especial de

pessoas ligadas a Itaiçaba e a região, o chamado turismo de raiz na opinião de

Coriolano (2009).

A agroempresa pioneira, a que mais emprega trabalhadores, em Itaiçaba

é a Itaueira Agropecuaria S.A., sediada em Fortaleza é especializada na produção e

comercialização do melão rei (amarelo), mostrado na figura 30 em caixas, prontos

para transporte e exportação.

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Figura 30: Melão amarelo encaixotado e pronto para mercado, agroempresa Itaueira Agropecuáriua S.A.- Itaiçaba-CE.

Fonte: SANTOS, 2011.

Segundo o gerente3 administrativo da Itaueira Agropecuária S.A., o

complexo industrial instalado nas cercanias de Itaiçaba emprega cerca de 840

funcionários diretos, a maior parte deles provenientes do município. O Gerente

Administrativo afirma que o principal atrativo da empresa para investir em Itaiçaba é

a oferta de mão de obra presente no município. Há grande quantidade de

trabalhadores ociosos, com vocação e conhecimentos de técnicas manuais básicas

para a produção da fruticultura irrigada. A média salarial dos trabalhadores é de

680,00 reais e a qualificação do trabalhador técnica é fornecida pela própria

empresa, em parceria com órgãos de capacitação técnica do Estado e da União. A

produção da agroempresa é comercializada para outros países, como Inglaterra,

Espanha, Holanda, Itália e Estados Unidos, e também para o mercado interno, em

especial na região Nordeste.

Embora exista potencial de solos e água próprios para a irrigação, bem

como grandes mercados de consumo próximos ao município, Itaiçaba apresenta

algumas dificuldades para desenvolver o agronegócio de terras irrigadas. Há pouca

disponibilidade de energia elétrica, que dificulta a instalação de complexos

agroindustriais, muitas propriedades rurais sem documentação de posse, fato que

dificulta a aquisição da terra pelas agroempresas e a baixa qualificação da mão-de-

3 Sr. Sílvio Dantas gerente administrativo da Itaueira Agropecuária S.A.105

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obra para trabalho nos agrocomplexos industriais. Outro problema enfrentado pelas

agroempresas que buscam se instalar em Itaiçaba, segundo o gerente administrativo

da Itaueira Agropecuária S.A., é que as terras no município estão com preços cinco

vezes mais altos do que em municípios vizinhos, enquanto um hectare em Itaiçaba é

ofertado em média a 3.000,00 reais, em Aracati custam em média a 500,00 reais.

Ouro seguimento de agronegócio que se expande em Itaiçaba é a

carcinicultura em águas interiores. A crescente demanda local e internacional pelo

camarão cultivado favoreceu a construção de fazendas de camarão nos municípios

interioranos do Baixo Jaguaribe. Itaiçaba recebe cada vez mais viveiros, processo

que favorece o desenvolvimento da aquicultura, no município. Importante salientar

que esse setor produtivo cresceu aceleradamente não só em Itaiçaba, mas em

muitos lugares do Estado, abrangendo uma área de 6.069,97 hectares, com cerca

de 245 fazendas de camarão (IBAMA, 2005). O quadro 3 mostra a quantidade de

fazendas de camarão na região do Baixo Jaguaribe, incluindo Itaiçaba.

Municípios Porte Nº de fazendas Área (h)

QuixeréP 2 11,0

M 0 00,0

RussasP 3 19,0

M 2 24,77

ItaiçabaP 5 24,80

M 2 25,42

JaguaruanaP 13 90,84M 8 148,51G 1 76,0

Total 36 420,34

* P = Pequeno (1 a 10 ha), M= Médio (11 a 50 ha) G= Grande (maior que 50 ha), Quadro 3: Fazendas de camarão por município, na bacia do Baixo JaguaribeFonte: CONAMA, 2009

A carcinicultura em Itaiçaba, segundo o Secretário de Agricultura, oferece

oportunidade de emprego a cerca de 100 pessoas no município, a maioria composta

por homens com baixo nível de instrução. O rendimento médio dos trabalhadores

empregados nas fazendas de camarão é cerca de um salário mínimo a a maioria

das fazendas pertencem a pessoas de outros lugares, em especial de Aracati,

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grande polo produtor de camarão em cativeiro do estado, de Itaiçaba é pouco o

número de proprietários de fazendas carcinicultoras.

Embora não seja notados a presença de áreas de apicun e salgado, muito

menos manguezais no município de Itaiçaba, áreas em geral mais impactadas pela

carcinicultura, a expansão rápida da atividade, segundo o Secretário de Agricultura

de Itaiçaba, gera preocupações ambientais relevantes no município. Impactos

ambientais provenientes da proliferação dos tanques e viveiros de camarão nas

áreas ribeirinhas dos rios e córregos no município preocupam moradores do lugar. A

apreensão se dá com a possibilidade de degradação de sistemas ambientais de

identitários e produtivos do município como as áreas de carnaubal e de tabuleiros,

onde se pratica a agricultura local. Além disso, a carcinicultura favorece o

soterramento de canais de maré, bloqueando o fluxo da água, dificultando a

piracema. Os efluentes dos viveiros e das fazendas de camarão são contaminantes

dos mananciais, já que a infiltração das águas dos tanques provoca salinização do

aquífero e a contaminação por efluentes. Em períodos de cheias dos rios é mais

intensa a erosão dos taludes que dividem os tanques das margens fluviais,

acarretando a fuga de camarão exótico para os rios e lagoas do lugar, fato que gera

desequilíbrio no ciclo ecológico desses mananciais. A figura 31 mostra tanques de

cultivo de camarão colocados em área ribeirinha de Itaiçaba, entre os rios Palhano e

Jaguaribe. Lugar que deveria ser preservado de intervenções drásticas, que

degradam o equilíbrio da vegetação ciliar, e interferem na dinâmica sedimentológica

das margens fluviais.

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Figura 31: Viveiros de camarão nas margens dos rios Jaguaribe e Palhano. Itaiçaba-CE Fonte: SANTOS, 2010.

O Extrativismo Vegetal é outra atividade primária importante para a vida

do Município, a exploração da carnaúba, relevante produto coletado na região, pois

fornece a matéria-prima essencial para duas das principais atividades da economia

familiar de Itaiçaba, a produção da cera, utilizada em lubrificantes e/ou vedantes de

maquinaria industrial e o artesanato da palha da carnaubeira. Em Itaiçaba o trabalho

com a palha de carnaúba, para produção de cera, ou para a fabricação de

artesanato constitui atividade econômica prioritária ou suplementar para muitas

famílias. A cera é vendida a atravessadores da cidade ou de municípios próximos,

como Aracati, Jaguaruana e Russas. A produção de artesanatos em palha vendida

em Fortaleza, Aracati e em outros Estados.

O tradicional artesanato de palha em Itaiçaba passou a se desenvolver

mais intensamente após a criação da Associação cooperativa formada pelas artesãs

locais, a Associação das Mulheres Artesãs de Itaiçaba, desde setembro de 1998. A

Associação tem 230 associadas. Segundo a presidente da Associação cerca de 700

pessoas estão envolvidas com o artesanato de palha em Itaiçaba. As diretrizes para

formação a Associação foi dado pelo Centro Artesanal do Ceará - CEART, que após

ministrar curso de técnicas artesanais para 15 artesãs locais, incentivou o

cooperativismo da atividade no município. A gestão municipal de Itaiçaba e a

Secretaria de Cultura do Estado contribuem com o desenvolvimento da atividade

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ministrando cursos de gestão empresarial às artesãs, fazendo a divulgação dos

produtos em feiras e encontros internacionais, além de elaborar oficinas

pedagógicas na rede de ensino público, ministradas pelas próprias artesãs. As

associadas recebem de técnicos do SEBRAE cursos de aperfeiçoamento técnico.

Assim a produção artesanal tradicional da cidade moderniza-se sem perder

identidade. A figura 32 mostra a sede da Associação Artesanal de Itaiçaba.

Figura 32: Sede da Associação artesanal e Itaiçaba-CE Fonte: http://coopapi.blogspot.com

Parte da produção é comercializada em Fortaleza, no mercado Central e

em pontos de comércio artesanal e na CEART. Outro ponto positivo do artesanato

na cidade é que a palha usada como matéria-prima das peças é comprada no

próprio município, dando oportunidade de trabalho e incremento de renda aos

coletores locais. A capacitação continuada é um aspecto positivo da atividade em

Itaiçaba e segundo a líder, isso favorece a expansão da produção e facilita a

abertura de mercados consumidores fora do estado, onde as peças são

encomendadas para complementar as coleções de moda feminina em São Paulo,

Natal, Rio de Janeiro e Bahia, principalmente. A figura 33 mostra carregamento de

peças de palha que atendem o mercado de São Paulo.

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Figura 33: Cestas de palha sendo carregadas para vendas em São Paulo. Itaiçaba-CE. Fonte: http://coopapi.blogspot.com

A exploração da carnaúba, para produção da cera e artesanato em

Itaiçaba enfrenta dificuldades que precisam ser resolvidas cotidianamente pelos

produtores. Além das dificuldades ambientais durante o período de chuvas,

momento em que a extração é mais perigosa e a secagem da palha são dificultadas

pela inconstância da insolação. A figura 34 mostra palha da carnaúba sendo

ressecada ao sol, para depois ser trabalhada pelas artesãs.

Figura 34: Palha da carnaúba ressecada ao sol para a fabricação de artesanato. Itaiçaba-CE.

Fonte: SANTOS, 2010.

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Outro obstáculo enfrentado pela atividade relacionada à exploração da

carnaúba é que os artesãos de Itaiçaba sofrem com a exploração comercial dos

atravessadores que ficam com quantias expressivas dos lucros, com a variação de

preços de mercado e com a perda da mão de obra para as lavouras irrigadas que se

instalam no município, e entorno. Outra dificuldade é a divulgação da produção local

dentro da cidade, já que o Centro Artesanal da cidade foi construído em área de

difícil acesso aos turistas, enquanto que no polo de lazer Beira Rio, principal atrativo

da cidade, não existe nenhum espaço de divulgação e venda das peças.

Esta pequena cidade do Baixo Jaguaribe, se insere em contexto difícil e

contraditório da economia rural do Ceará e do Baixo Jaguaribe. Onde a força de

trabalho do homem rural é explorada, concentração de terras e investimentos nas

atividades direcionadas a acumulação de capital exige e impõe das populações

sertanejas novas relações produtivas e socioculturais. As atividades econômicas de

Itaiçaba retrata as contradições inerentes ao processo de modernização agrícola

acelerada pelo agronegócio regional. Essas mudanças são marcadas por conflitos

entre pequeno e grande agricultor, entre produtor e atravessador e por processos de

degradação ambiental. Tudo isso na busca por progresso produtivo e pelo

desenvolvimento, onde os conflitos transformam a produção econômica local e

colocam o Baixo Jaguaribe, com seus municípios, cada vez mais cada vez mais em

evidência pelo modelo de produção que lá se destaca.

.

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4. ITAIÇABA, LAZER E TURISMO DE RAIZ

O Ceará atrai fluxos turísticos que se direcionam à capital, Fortaleza, e

em especial às praias. Fato que decorre de políticas públicas que pelo marketing

divulga, vende e cria diversas oportunidades de lazer e entretenimento nas praias e

resorts no litoral. A imagem divulgada externamente do estado, que historicamente

era identificada com seca e miséria, foram transformadas pela mídia governamental

em lugar de turismo, de corpos bronzeados e dourados pelo sol, nas praias

cearenses, (BENEVIDES, 1998). Assim, o turismo no estado que se concentrava no

litoral e relegava o sertão é redirecionado passando a descobrir e usar as potencias

lidas desde sertão e serras. Na busca de diversificar atrativos, empresas de turismo

e políticas públicas estaduais e municipais incrementam investimentos na divulgação

e estruturação de circuitos turísticos no interior do estado. Expande-se a rede

hoteleira em cidades do interior, aumentam os eventos turísticos e são construídas

novas infraestruturas rodoviárias, aeroportuárias e urbanas em todo o estado,

facilitando o deslocamento dos fluxos e favorecendo a diversificação de ambientes

visitados.

As cidades do sertão do Ceará têm ambiente predominantemente

semiárido e assim o calor e escassez d’água condiciona as comunidades rurais a

um estilo de vida adaptado a essas condições, que são diferenciadas, mas

formadoras de raízes culturais e processos produtivos especiais e identitários. Viver,

morar ou passear no sertão implica conhecer as peculiaridades desse geossistema.

Superando dificuldades e aproveitando potencialidades do sertão emerge o turismo

rural em pequenas cidades do campo que ajuda a dinamizar a economia local. As

especificidades do sertão são a natureza peculiar, a cultura e o cotidiano do

sertanejo que passam a ser atrativos ao turismo rural, com oportunidade de

ecoturismo, agroturismo e de turismo aos que tem raízes sertanejas. As festas

religiosas dos santos e padroeiros, as juninas, os festivais de músicas populares, as

comidas regionais e o carnaval são eventos tradicionais realizados em cidades do

interior cearense que atraem visitantes, fortalecem identidades rurais e dinamizam

economias.

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O lazer é atividade necessária ao homem e a sociedade e se faz na vida

individual e coletiva porque é opção pessoal e tem significado quando existe

envolvimento entre as pessoas e experiências vividas (MULLER, 2002: p. 12). O

lazer e o turismo têm gerado em pequenas cidades processos produtivos

transformadores da estrutura econômica e social, influenciando na relação

sociedade espaço. Pellegrini (1996, p. 33), citando Marcellino, garante que o lazer

possui caráter revolucionário, pois as transformações sociais são mais efetivas no

tempo do lazer do que no tempo do trabalho, quando a vivência de algumas pessoas

se dá pela satisfação do encontro com o diferente, com o novo. Nesse caso, o

diferente e novo se aproxima estreitando a ligação entre residentes e turistas. O

turismo se faz com viagens em busca de diversão identidades geográficas diversas,

vivência com novas pessoas em especial com amigos. O turismo é atividade de

consumo que vende vivência em realidades diferentes daquelas cotidianas,

concretizando no espaço e na vida o desejo da fuga de situações tediosas ou

estressantes do dia a dia, para viver experiências novas, renovadas, e prazerosas.

Em pequenas cidades rurais do Ceará o lazer turístico é

predominantemente rural, atraindo visitantes vindos de centros urbanos maiores em

busca de natureza bucólica e do cotidiano do campo. Em pequenas cidades

sertanejas as relações sociais e os eventos culturais identitários de espaços e

comunidades impregnadas pela proximidade e parentesco entre os residentes,

favorecendo a interação social e o envolvimento entre residente e visitante. Itaiçaba

se insere nesse contexto, tem natureza exuberante e eventos culturais atrativos aos

turistas que buscam raízes e identidades rural. O turismo de Itaiçaba é turismo de

raiz, segmento praticado predominantemente por pessoas que emigraram do campo

para as grandes cidades, e retornam de férias para curtir o sertão. Associam-se

inexoravelmente as premissas conceituais de diversão, descanso e desenvolvimento

individual e coletivo (Muller, 2002: p. 12), premissas prioritárias também no

desenvolvimento do atrativo turístico. Em Itaiçaba essas premissas se fazem

presentes e necessárias ao avanço do turismo e bem estar dos residentes. Festas

tradicionais incorporam elementos da religiosidade sertaneja, associada à natureza

peculiar que proporciona contemplação, diversão e encantamento. A paisagem

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rural, também é marcada por ritmo de vida desacelerado, atrativo e diferente da vida

na metrópole.

O turismo apresenta diversidades de segmentações, cada um deles se

especializa em variedades significativas de identidades espaciais e culturais. Em

pequenas cidades do Ceará como Itaiçaba, o turismo rural, de raiz se adéqua as

necessidades produtivas e sociais da cidade, assim o visitante participa de eventos

na cidade onde nasceu vivenciam experiências, e relembra momentos felizes da sua

infância. São pessoas marcadas por raízes culturais rurais locais, onde a história

pessoal e coletiva é vivida e tem mais sentido (CARLOS, 1996, p. 25). Muitas vezes

os elementos do lugar são favoráveis, outros limitantes para a expansão da

atividade turística. Os eventos culturais tradicionais da cidade foram estudados para

explicação do turístico local. As observações de campo e entrevistas com turistas

em Itaiçaba na festa da padroeira, evento tradicional possibilitou identificar o perfil do

turista que visita a cidade e conhecer os impactos causados ao lugar durante os

fluxos turísticos.

4.1 O turismo de raiz e a afetividade com o lugar.

O Turismo de Raiz é aquele realizado por antigos moradores da cidade,

denominados “filhos da terra”, que trazem consigo parentes e amigos que não são

do lugar. Dessa forma é o “filho da terra” que pratica o turismo na cidade sendo o

principal divulgador do lugar. Especialmente em pequenas cidades sertanejas como

Itaiçaba, apresenta peculiaridade que o diferencia de outros seguimentos turísticos,

pelo envolvimento emocional dos visitantes com a comunidade visitada, e vice-

versa. É um turismo de autênticos encontros. Fato que se deve principalmente a

história vivida pelo “filho da terra” enquanto residente da cidade e pelos laços

familiares que mantém na terra natal. O envolvimento do ex-residente com o lugar

perpassa para os descendentes, parentes, que mesmo não tendo nascido e vivido

no lugar, muitas vezes o adotam afetivamente, desenvolvendo raízes e relações

duradouras com a comunidade visitada.

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A compreensão do processo turístico de Itaiçaba passa pelas

observações participativas do pesquisador na cidade natal com entrevistas durante

os fluxos turísticos mais concorridos, carnaval, em fevereiro de 2011 e a festa da

padroeira, em janeiro de 2012. Foram entrevistadas 52 pessoas, dessas, oito

pessoas possuem segunda residência em Itaiçaba e o restante hospeda-se em

casas de amigos, pousadas, ou alugaram casas de residentes durante os fluxos.

Não se aplicou formulário de respostas com respostas objetivas e diretas, mas

entrevistas que dão oportunidade de tratar do tema de forma mais espontânea, onde

as considerações sobre o lugar e o turismo alcançassem o nível de afetividade e

proximidade de cada um com a cidade, evitando relegar ao segundo plano as

concepções e subjetividades dos entrevistados sobre o turismo no lugar.

Sobre os atrativos turísticos que Itaiçaba oferece a maioria dos

entrevistados no total de 24 turistas de raiz, considera o rio Jaguaribe o principal

atrativo de Itaiçaba; 13 consideram os festejos em homenagem a santa padroeira a

principal atração da cidade, 9 turistas consideram o reencontro com familiares a

principal motivação; 6 entrevistados consideram a tranquilidade e segurança local o

atrativo principal da cidade. Portanto, o elemento natural é o aspecto mais

importante para a visita de Itaiçaba, a religiosidade e a devoção a Nossa senhora da

Boa Viagem é, portanto um potencial importante para o desenvolvimento da

atividade turística da cidade, que precisa ser maximizado.

Conversando-se sobre as estruturas físicas da pequena cidade a maioria

dos entrevistados (38 pessoas) respondeu que a infraestrutura mais atrativa para

visitação é o complexo Beira-Rio, espaço formado pelo Polo de Lazer e pela

barragem vertedora. Para alguns entrevistados a igreja da cidade e as praças

públicas, em especial a praça da igreja e da pracinha da matriz, a central da cidade

são aconchegantes.

Para saber como o turismo contribui com a economia local a maioria dos

entrevistados respondeu que os maiores gastos realizados na cidade durante o fluxo

ocorrem com as despesas de supermercado, alimentos e mercadorias de

necessidade básicas (27 pessoas); as outras respostas foram: gastos nas barracas

da beira-rio (18 pessoas) e gastos com hospedagem ou aluguel de casas durante o

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evento turístico (7 pessoas). Os resultados confirmam que o turismo em Itaiçaba

dinamiza o comércio local, não só nos espaços mais visitados mais principalmente

nos lugares que concentram mercantis mercado público municipal. Isso favorece o

incremento da produção local, fomenta parcerias entre produtores e comerciantes da

cidade que expõem e vendem os produtos típicos do lugar em seus mercantis, e

ampliam a oferta para se saber qual a principal dificuldade que a cidade apresenta

para o desenvolvimento do turismo as repostas a esse questionamento seguiram a

seguinte ordem: falta de pousadas ou casas pra alugar durante o evento (17

pessoas), pouca oferta de restaurantes e lanchonetes (10 pessoas), lixo no rio e nas

margens (9 pessoas), falta de melhores equipamentos do Polo beira-rio (7 pessoas),

pouca divulgação da cidade e dos eventos(6 pessoas), carência de festa dançante

nos festejos de Nossa Senhora da Boa Viagem(3 pessoas). As respostas revelam

que os turistas sentem necessidades de infraestrutura adequada à demanda,

desejam mais e melhores meios de hospedagens. Uma das pousadas pertence à

prefeitura municipal, sendo a que apresenta condições precárias de uso, como

mostra a figura 35.

Figura 35: Pousada municipal de Itaiçaba. Fonte: SANTOS, 2010.

O fluxo do turismo de raiz em Itaiçaba é concentrado nos meses de férias,

Janeiro e Fevereiro e de Setembro e Dezembro, períodos que ocorrem os eventos

tradicionais mais importantes do lugar: Festa da Padroeira Nossa Senhora da Boa 116

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viagem, carnaval, o festival da Pescaria e o Réveillon. Em Janeiro a comunidade

realiza os festejos em homenagem a Nossa Senhora. Ocorre no Município uma série

de eventos religiosos, como missas campais, reisados e procissões pelas ruas da

cidade. A festa sagrada é acompanhada pelo profano, que são as festas dançantes,

bingos, sorteios e lazeres no parque de diversão. No encerramento das

comemorações o ponto alto é a procissão pelas ruas da cidade, cantando músicas

de louvor à Maria Mãe de Deus, acompanhada pela Banda de Música do Município.

A procissão parte e retorna a igreja matriz, para na praça municipal, e termina com a

distribuição eucarística, encerrando a festa sagrada, porque a profana continua. A

figura 36 mostra a procissão em homenagem a Nossa Senhora de Boa Viagem, em

Itaiçaba, momento de devoção e turismo religioso que se associa ao turismo de raiz.

Figura 36: Procissão em Homenagem a Nossa Senhora da Boa Viagem. Itaiçaba- CE.

Fonte: SANTOS, 2012.

No Carnaval, evento de origem das civilizações clássicas, fortemente

incorporado às festas tradicionais brasileiras, é elemento da cultura brasileira. Em

todo o país o evento é marcado por uma grande manifestação e participação

popular. No Ceará não é diferente, os municípios do Estado realizam festas

carnavalescas. Em Itaiçaba o Carnaval é tempo prioritário da visitação turística da

cidade. Os filhos da terra voltam as suas raízes sertanejas. Durante o dia os foliões

se divertem ao som do trio elétrico, no Polo de Lazer Beira-rio, a tarde seguem o

Trio Elétrico, pelas ruas da cidade, em numeroso corso de foliões; a noite os festejos

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são encerrados, na rua principal da cidade. Com duração de cinco dias, o evento

atrai fluxo de turistas que dinamiza a economia da cidade com consumo de

alimentos, bebidas, artesanatos e mercadorias locais.

No mês de setembro ocorre a tradicional Festa da Pescaria, na

comemoração da semana da Pátria Nacional, quando ocorre o festival de pesca

artesanal nas águas do Rio Jaguaribe, quando as festas dançantes nos clubes

noturnos da cidade animam famílias e os jovens do lugar. No ano de 1990 a gestão

municipal proibiu a realização do festival de pesca, justificando a preservação da

biodiversidade fluvial do lugar. Atualmente a pescaria pode ser realizada, mas a

proibição temporária do festival pesqueiro reduziu os fluxos de Itaiçaba. Em

Dezembro, o fluxo se concentra nas comemorações Natal e do Réveillon,

identificadas com o turismo de raiz, pois os “filhos da terra” mais ligados

afetivamente a cidade chegam para as confraternizações natalinas com familiares.

Um aspecto importante verificado nesse período é que parte dos visitantes que

chegam ao lugar para participar das “Festas de Fim de Ano” permanece no

município até o encerramento do evento seguinte, a Festa da Padroeira, que por sua

vez ocorre próximo ao carnaval. A proximidade de eventos faz com que a cidade

tenha os principais fluxos concentrados entre os meses de dezembro e fevereiro, é

alta estação turística de Itaiçaba.

4.2. Potencialidades, limitações e impactos turísticos em Itaiçaba.

Itaiçaba fica na porção pré-costeira oriental do Ceará, distando cerca de

170 km de Fortaleza. Partindo da capital chega-se ao lugar tanto pelo interior pela

rodovia Br 116, quanto pelo litoral pela rodovia Ce040. De Itaiçaba, o acesso

rodoviário a polos turísticos regionais também é rápido, especialmente para Russas,

Aracati e Canoa Quebrada o que facilita a cidade se inserir nos circuitos turísticos no

Baixo Jaguaribe. O turismo em Itaiçaba se beneficia da proximidade de Aracati,

onde se realiza grande festa de carnaval, uma das mais importantes da região,

atraindo muitos visitantes quando pousadas e casas para aluguel ficam lotadas.

Essa procura torna os custos mais elevados para o folião que visita Aracati, com

isso ex-moradores de Itaiçaba, acompanhados de parentes e amigos que para o

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carnaval em Aracati ficam hospedados em Itaiçaba, onde os gastos são menores

com hospedagem.

A natureza fluvial de Itaiçaba é o principal atrativo ambiental da cidade. O

rio Jaguaribe e a barragem favorecem o lazer de turistas e residentes. A construção

do Canal do Trabalhador em 1993 elevou a barragem da cidade em um metro, o que

favoreceu o acúmulo de água à montante da barragem, o leito do rio ficou mais

profundo, favorável a atividades de natação e canoagem. À jusante da barragem

vertedora o leito é mais seco e as correntes fluviais menores, propiciando ambiente

favorável aos piqueniques e aos lazeres familiares. Além disso, a gestão municipal

aproveitando a balneabilidade do rio Jaguaribe construiu piscinas artificiais no leito e

no polo Beira-Rio, onde o lazer do banhista é realizado com mais segurança do que

no leito natural. A própria barragem de Itaiçaba é espaço importante de lazer da

cidade, pois as águas que escoam da montante para jusante transformam a

barragem em passagem molhada, com cascata artificial. Os visitantes do lugar

costumam se recostar na parede da barragem e aproveitar banho refrescante. A

figura 37 mostra a barragem, a passagem molhada, e as piscinas artificiais do polo

Beira-Rio.

Figura 37: Polo de lazer Beira-rio e barragem vertedora de Itaiçaba-CE Fonte: SANTOS, 2011.

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O rio Jaguaribe apresentam potencialidades e limitações para o turista.

Entre as limitações destacam-se os riscos de acidentes e afogamentos por causa da

dinâmica irregular das águas fluviais, especialmente nos períodos de chuvas. O

volume das águas que escoam sobre a barragem é intenso, a corrente é forte,

provocando afogamentos de banhistas desavisados ou imprevidentes. Além disso, o

musgo que se acumula sobre a barragem torna a travessia perigosa e às vezes

impraticável, principalmente por visitantes que não conhecem o lugar. Tem sido

registrada ocorrência anual de mortes por afogamento e acidentes de veículos que

tombam de ao tentar atravessar do rio. Durante o carnaval, período de grande fluxo

e muito consumo de bebidas alcoólicas, essas ocorrências são mais frequentes.

A limpeza da barragem não é realizada com frequência, o musgo que se

acumula torna a travessia extremamente difícil, não há organização e nem

sinalização de tráfego na barragem. A gestão pública não disponibiliza pessoas

capacitadas para informar os banhistas sobre os riscos e perigos do lazer no rio

Jaguaribe, e, em todas as observações de campo, não se constatou a presença de

“salva-vidas”, ou de equipamentos de segurança como botes, boias ou coletes

flutuantes, para atendimento emergencial de acidentados ou vítimas de afogamento.

Outro ambiente natural de Itaiçaba que apresenta oportunidades de

aproveitamento turístico é a serra do Ereré. Serrote localizado na entrada da cidade

é usado historicamente por moradores para prática de escaladas e caminhadas

típicas de terrenos íngremes. Contudo o aproveitamento do potencial de lazer da

serra do Ereré é subaproveitado não há exploração turística do lugar que é cada vez

menos visitado pelos residentes, com a justificativa de que a exploração clandestina

de rochas por pedreiras da região degrada as trilhas e inviabiliza as escaladas e

caminhadas. Assim, a falta de cuidados ambientais e a pouca divulgação das

potencialidades naturais da cidade repercute negativamente no turismo do lugar,

reduzindo a diversidade turística do município. A figura 38 mostra a serra do Ereré,

paisagem natural de Itaiçaba.

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Figura 38: Serra do Ereré na entrada da cidade de Itaiçaba-CE. Fonte: SANTOS, 2011.

Qualquer seguimento de turismo produz impactos ambientais, que

segundo o CONAMA (1998), são alterações das propriedades químicas, físicas e

biológicas do meio ambiente. O turismo de raiz em Itaiçaba é impactante em vários

aspectos ambientais, estruturais e sociais da cidade. Um dos mais nítidos impactos

causados ao ambiente urbano é a grande quantidade de lixo deixado na cidade, nas

águas do rio e no canal do Trabalhador. Latinhas e garrafas de bebidas, sacos

plásticos, caixas de mercantil acumulam-se durante aos eventos festivos mais

visitados. A figura 39 mostra lixo jogado no canal do trabalhador após festa.

Figura 39: Lixo jogado no canal do trabalhador na beira-rio em Itaiçaba-CE.Fonte: Santos, 2012.

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A poluição sonora é outro impacto bastante sentido pelos moradores do

lugar, especialmente no carnaval, quando sons automotivos se juntam ao trio

elétrico que percorrem a rua principal levando o corso de foliões, que se melam

mutuamente de espuma e maizena, sujando ainda mais as ruas e calçadas.

A serra do Ereré durante alguns anos foi o destino de alguns devotos

residentes e turistas que a subiam para prestar homenagem a santa padroeira do

município, ou até para atender a Igreja local que realizava uma missa campal a

frente da capelinha. Para facilitar a subida dos devotos, a gestão municipal realizou

desmatamento da mata seca e a construção da estrada carroçal. Além de

desequilíbrio ecológico provocado a obra facilita a depredação e o vandalismo das

estruturas do lugar e favorece a extração clandestina de pedras e britas para a

indústria da construção civil da região.

Figura 40: Capela depredada no alto da Serra do Ereré, Itaiçaba-CE. Fonte: Santos 2010.

Outro impacto ambiental se deu com a fixação de antenas de telefonia

móvel no alto da serra. Para atender a demanda pela telefonia móvel da população

local, dos visitantes e dos turistas e as segundas residências na cidade a instalação

inadequada de antenas impactou a Serra do Ereré comprometendo a paisagem

natural com fios e cabos de transmissão. A figura 41 mostra cabos e antenas

colocadas na Serra do Ereré em Itaiçaba.

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Figura 41: Itaiçaba-CE. Fixação de cabos, antenas e pichações na gruta que guardava a imagem da Santa Padroeira, no alto da Serra do Ereré.

Fonte: Santos, 2010.

Impactos estruturais também ocorrem na cidade com a chegada de

turistas, os fluxos mais importantes aumentam significativamente o gasto energético

da cidade, que acarreta sobrecarga na estação de abastecimento ao ponto de

ocorrer apagões que deixam toda a cidade no escuro. As ruas estreitas não

comportam fluxo de carros mais intenso, fato que durante os eventos turísticos torna

o trânsito da cidade desordenado e perigoso, principalmente para os residentes, que

dispõem apenas de motos ou bicicletas para a mobilidade urbana.

O comércio local aumenta bastante as vendas durante os principais

fluxos, desde produtos alimentícios, bebidas a bens artesanais típicos do lugar. O

único posto de gasolina do lugar vende muito mais combustível nesses períodos,

pois grande parte dos turistas chega a carros próprios à cidade abastecendo-os no

lugar. Outro setor econômico que se dinamiza é o de barraqueiros localizados na

beira-rio, que têm melhoria de ganho e pelo aumento da oferta de empregos

sazonais nas barracas, figura 42.

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Figura 42: Barraca na beira-rio durante evento turístico em Itaicaba-CE. Fonte: Santos, 2012.

Ocorre aumento de vendedores ambulantes de bebidas, churrasquinho e

até de artesanato. Os residentes aproveitam esses eventos para ampliar suas

rendas familiares. A própria prefeitura de Itaiçaba tem maior arrecadação de

impostos diretos e indiretos nos meses que concentram os fluxos. A figura 43 mostra

ambulantes da cidade que se instalam nas ruas principais.

Figura 43: Barracas de comercio ambulante na rua principal durante evento turístico em Itaiçaba-CE.

Fonte: Santos, 2012.

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Inúmeros empreendimentos que se enquadram no conceito de turismo

rural estão em evidência tendo em vista o conjunto de belezas naturais existentes e

abundantes no Estado e a busca por ambiente que preserve as formas bucólicas e

as raízes culturais. Dentro da temática rural conservacionista, pequenas cidades

como Itaiçaba constituem objetos turísticos e oferecem alternativa de

sustentabilidade econômica. Assim, Itaiçaba sob a ótica do turismo rural e de raiz

apresenta pontos turísticos naturais e culturais que ao serem aproveitados

fortalecem as bases produtivas locais e as raízes do lugar. No entanto, os impactos

causados por turistas e residentes, a falta de infraestrutura na cidade e a pouca

divulgação do lugar e dos eventos turísticos pelas gestões municipais entravam o

crescimento da atividade turística em Itaiçaba dificultando sua inserção em circuitos

turísticos regionais rurais. As políticas públicas e privadas que promovem o turismo

precisam atentar para a qualificação da mão de obra, a conservação das identidades

naturais e culturais da cidade e, sobretudo para o desenvolvimento social da

população.

4.3 A alternativa de desenvolvimento turístico da pequena cidade.

Um dos desafios das pequenas cidades Itaiçaba que busca inserção no

espaço econômico heterogêneo do Baixo Jaguaribe é desenvolver atividades que

sejam atrativas e lucrativas e que se imponha no contexto regional valorizando á

economia rural. O turismo tem sido capaz de promover Arranjos Produtivos Locais

em pequenas cidades aproveitando potencialidades e peculiaridades de lugares,

dinamizando atividades socioeconômicas como acontece em comunidades do litoral

do Ceará. Coriolano (2009) explica que o Turismo Comunitário em pequenas

cidades gera renda e emprego, além de aproveitar forças produtoras, gestoras e

fiscalizadoras do lugar, fazendo contraponto ao turismo convencional dos grandes

resorts. Experiências mostram que a partir de iniciativas de turismo comunitário

pequenos lugares são inseridos no mercado global e adquirem progresso produtivo

e poder de inserção na rede regional. Em grande quantidade representam menores

núcleos urbanos do Brasil e constituem territórios que foram moldados por uma

longa história de disputas econômicas, políticas e culturas. Um lugar de cultura rural

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e de função predominantemente agrária, que recebe cada vez mais aceleradamente

as formas de urbanidade.

As pequenas cidades são lugares inseridos e não excluídos do sistema

agrícola moderno como se verifica em Itaiçaba, o que muda é a forma de inserção

no contexto global. As cidades sertanejas expressam a desigualdade conflituosa da

urbanização, configurando-se como espaços com especificidades produtivas

essenciais na formação da rede de negócios regional.

Cidades rurais como Itaiçaba, ocupadas por comunidades sertanejas que

sempre trabalharam para alimentar o país, têm dificuldades de adquirir

investimentos e políticas de trabalho que garantam emprego e renda dignos.

Situação que favorece a corrente emigratória das populações dos pequenos lugares

para os aos grandes centros urbanos e metrópoles. Movimento contínuo que agrega

avalanche de desempregados e pobres ás metrópoles que polarizam a busca de

melhores condições de vida.

O turismo em várias cidades pequenas do Baixo Jaguaribe direciona-se a

eventos festivos tradicionais, a espaços naturais específicos como rios ou serras, em

especial o turismo de raiz é segmento que aproveita as potencialidades locais,

adequando-se aos interesses dos visitantes e da comunidade receptora. Valoriza a

base local, a comunidade e atenta para as necessidades socioambientais e

econômicas. Segundo Coriolano (2009, p.201) de forma associativa favorece a

organização de Arranjos Produtivos Locais, possibilitando controle efetivo das terras

e das atividades econômicas associadas á exploração turística. Ao contrário do

turismo globalizado, o turismo de raiz comunitário insere a comunidade receptora

nas questões ligadas a oferta, a demanda, a gestão e apropriação das atividades

turísticas, ao passo que reduz a dependência de políticas e gestões públicas pouco

incentivadoras de desenvolvimento. Quando realizada de forma equilibrada, o

turismo comunitário se notabiliza pela busca de autossustentabilidade

socioambiental, pela valorização da topofilia e da história dos lugares visitados. O

manejo e a gestão do turismo pela comunidade representa resistência aos

interesses da grande cadeia turística convencional, concentradora e elitizada

direcionada aos grandes centros, resorts e megaempreendimentos. Parafraseando

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Coriolano (2009) assegura-se que muitos acreditam que a atividade foi introduzida

nas comunidades como alternativa de emprego e renda. Daí porque aquelas que

não inseridas nos roteiros lutam para incluir-se e atrair visitantes que comprem seus

produtos, degustem a comida típica, adquiriam o artesanato, usem a hospedagem e

usufruam da natureza ou paisagem com as trilhas para passeio e deleite. Contudo,

para haver inserção equilibradamente é necessário que as pequenas cidades como

Itaiçaba sigam alguns passos eu são essenciais, de acordo com (CORIOLANO 2006

).

O primeiro passo é a responsabilidade com a terra. A comunidade de

Itaiçaba deve ser ouvida quanto á venda das terras para visitantes, buscando evitar

que os possíveis compradores não compactuem com os mesmos interesses da

comunidade receptora e gestora do turismo. É necessário também que a

comunidade diminua o numero de terrenos sem documentação legal,

providenciando registros verdadeiros de posse das suas terras, ação que dificultaria

a grilagem por parte de grandes investidores do agronegócio que se expande na

região, Investidores que instalam perímetros irrigados e complexos agroindustriais

por meio de contratos escusos de compra e venda de terrenos, possibilitando

empreendimentos agressivos aos recursos ambientais do lugar.

O segundo passo é a produção de um estatuto para associação gestora

do turismo e com isso lutar pela criação de unidade de conservação ambiental do

município como suporte da conservação ambiental e legal dos seus recursos. . É

conveniente que a comunidade inserida na prática do turismo de raiz comunitário

organize-se em associações com estatutos próprios que atendam o interesse de

todos no processo de exploração turística do lugar.

O terceiro passo é a Integração do turismo com outras atividades

produtivas da cidade. É muito importante que o turismo comunitário se preocupe em

interagir com as demais atividades que lhe servem, não só porque delas podem vir

mercadorias vendidas ao turista, como: artesanato, pratos típicos, souvenires,

rendas, roupas, etc.; mas também como forma de manter a produção dos moradores

não dependente apenas do turismo.

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O quarto passo é buscar constantemente apoio público e privado, em

especial do filhos da terra que se identificam com a população local e principalmente

com a cidade. É extremamente importante que as associações de moradores

formadas no interesse de desenvolver uma atividade turística comunitária, busquem

o apoio das prefeituras e dos Estados, para a melhoria da educação e da

infraestrutura pública, bem como para realização de cursos de preparação da mão

de obra receptora do turista e para a formação de jovens monitores e guias; dos

comerciantes locais, que podem fornecer as mercadorias ao turista com preços e

serviços diferenciados, ou mesmo fornecer espaços específicos para a venda de

produtos do artesanato local; de instituições técnicas e ONGs, que possam ajudar a

mapear, planejar e estruturar roteiros específicos e trilhas ecológicas, com a

preocupação na preservação dos ambientes visitados; das agências de viagem, em

divulgar e vender tais destinos turísticos, valorizando para seus clientes o modelo

comunitário e conservacionista que o turismo é feito no lugar; de toda a comunidade

residente, mostrando que tal atividade é fornecedora de empregos e de serviços que

seriam bem mais escassos no local, além de ser uma meio pelo qual a identidade da

cidade e de seu povo seria cada vez mais reconhecida e valorizada; da comunidade

turística que mantem raízes, laços afetivos e econômicos com a cidade.

Em Itaiçaba, a existência de associações de agricultores, de pescadores

artesanais, de mulheres artesãs e de comerciantes locais, favorece o

desenvolvimento de um processo turístico menos dependente da gestão municipal e

por isso com mais autonomia para organizar, gerir e fiscalizar a atividade no

município. A prática do turismo de raiz comunitário em Itaiçaba é alternativa de

aceleração e progresso turístico e uma cidade pequena do Baixo Jaguaribe, não

beneficiadas pelo turismo convencional. É uma atividade socioeconômica que

dinamizar cadeias produtivas em lugarejos litorâneos e sertanejos do estado com

potencialidades menos propícias do que Itaiçaba à pratica turística. Aproveitando

dotes naturais peculiares e valorizando o modo de vida dos residentes, sem extraí-

lhes de forma exploratória sua força de trabalho e suas terras. O turismo de raiz é

perspectiva de melhorias sociais para Itaiçaba e para tantas outras pequenas

cidades DO Baixo Jaguaribe e do interior do Ceará.

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5. CONCLUSÃO

Após dois anos de estudos e aprofundamentos sobre o Baixo Jaguaribe,

sobre agronegócios e turismo em Itaiçaba, chega-se a consideração que seria

melhor não fechar às conclusões, haja vista a dinâmica das transformações na

região e o processo de inserção da cidade de Itaiçaba nas atividades produtivas

modernas do Baixo Jaguaribe. A forma de interação e inserção das cidades do

Baixo Jaguaribe se intensifica no século XXI com a chegada de agroempresas

voltadas ao cultivo irrigado de frutas, com a instalação de fazendas carcinicultoras,

aproveitando o potencial hídrico fluvial do lugar e com o desenvolvimento turístico,

atividade que se expande para o interior do estado. Atividades que impactam

significativamente na economia da cidade e principalmente no mercado de trabalho

local, onde se ampliam oportunidades de empregos sazonais e permanentes nos

empreendimentos do agronegócio e do turismo em Itaiçaba. Portanto, o que se

apresenta como fechamento do estudo não esgota as discussões, ao contrário,

favorece a abertura de novas pesquisas para avançar no conhecimento dos

processos que moldam o Baixo Jaguaribe e a inserção econômica de Itaiçaba.

Itaiçaba, pequena cidade sertaneja, lugar de economia agrária tradicional,

que ficou estagnada por processos produtivos rústicos voltados à subsistência,

segue o caminho da modernização econômica, típicos da matriz produtiva rural da

região do Baixo Jaguaribe - o agronegócio. Nesse processo a cidade tem se

notabilizado por ser fornecedora de terras férteis e de mão de obra barata aos

empreendimentos que se instalam no município, em geral para explorar o potencial

agrícola irrigado do lugar. Parte expressiva dos trabalhadores é empregada de

agroempresa especializada no plantio de melão, fato que gera aumento na renda

per capita da cidade e dinamiza o comércio, entretanto gera dependência da

população ativa pelos empregos fornecidos por agroempresas. Além disso, muitos

dos trabalhadores da cidade que se empregam no agronegócio deixam as pequenas

propriedades, as atividades produtivas tradicionais e o artesanato de palha em

segundo plano, processo que modifica relações econômicas, sociais e identitárias do

lugar.

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Itaiçaba, pequena cidade com grande diversidade ambiental, assim como

o Baixo Jaguaribe, explora economicamente os recursos naturais como rios, lagoas,

solos e serras. Essa exploração tem se mostrado impactante ao equilíbrio natural,

pois tem favorecido a degradação ambiental por meio do uso inadequado dos solos

pelas lavouras tradicionais e comerciais, a contaminação de mananciais pelos

efluentes dos viveiros de cultivo de camarão, a exploração ilegal de rochas na serra

do Ereré e a derrubada dos carnaubais na ribeira dos rios. Impactos negativos que

prejudicam os elementos naturais da cidade e diminui as potencialidades e atrativos

turísticos da cidade, especialmente voltados ao turismo rural de raiz. Outro impacto

ambiental que o agronegócio acarreta é a substituição de cajueiros e carnaubais,

plantas tradicionalmente importantes no agro extrativismo do lugar, por fruticulturas

irrigadas voltadas ao comércio externo, ou por fazendas de camarão que aproveitam

do potencial de águas fluviais no interior da região jaguaribana.

O agronegócio é atividade inexoravelmente presente e transformadora de

Itaiçaba, mas não é a única. O turismo é outra atividade que se expande e impacta

na dinâmica econômica e social da cidade, especialmente o turismo de raiz. A

organização de festas e eventos culturais na cidade atraem visitantes, ex-moradores

e donos de segunda residência à cidade, processo que compõem fluxos turísticos

dinamizadores do comércio local. O turismo em Itaiçaba, segundo membros da

gestão municipal local, se expande rapidamente, favorece a locação de casas e o

aumento da oferta hoteleira da cidade, que apesar de ainda ser pequena cresceu na

última década. A expansão da atividade em Itaiçaba favorece também as ações da

gestão municipal em prol de melhorias das infraestruturas turísticas locais,

principalmente no polo beira-rio, na serra do Ereré, nas praças e vias públicas onde

os eventos se desenrolam e por onde moradores e turistas interagem.

O estudo sobre o turismo em Itaiçaba mostra que a atividade também é

causadora de impactos ambientais, principalmente devido o lixo depositado nas

ruas, no rio Jaguaribe, no Canal do Trabalhador e na barragem vertedora do

município. Lixo que favorece a eutrofização da água prejudicando o ecossistema

fluvial e reduzindo o potencial pesqueiro no lugar. Além disso, as garrafas e latinhas

jogadas nas áreas de lazer provocam acidentes em banhistas, que se machucam

em objetos cortantes. Outro elemento impactante que o turismo provoca na cidade é

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a grande poluição sonora na cidade. Em especial no carnaval muitos foliões que

chegam a cidade usam carros com sistemas acústicos sofisticados e estrondosos,

chamados popularmente de paredões de som. Esses paredões causam poluição

sonora e imenso desconforto em residentes e visitantes mais afeitos ao cotidiano

tranquilo da cidade. Em geral, durante todo o evento os paredões de som começam

a abusar dos ruídos desde as primeiras horas da manhã e prosseguem até tarde da

noite, dificultando o descanso e atrapalhando a vida das pessoas. Importante

lembrar que esse fenômeno que acontece em muitas outras localidades do estado e

que é motivo para debates polêmicos entre os que são favoráveis e os que são

contrários a essa prática abusiva.

O processo de inclusão econômica de Itaiçaba no agronegócio regional e

na expansão do turismo acontece de forma não planejada, espontânea e por meio

de ações privadas, pouco articuladas com políticas públicas de desenvolvimento

regional. Gestores e agentes envolvidos em ações de apoio ao agronegócio e ao

turismo ainda não descobriram Itaiçaba como lugar de grandes potencialidades

produtivas. Mas isso não impede que tais potenciais já sejam explorados e por

setores privados, sem a devida fiscalização do estado. Entretanto, algumas ações

pontuais políticas são colocadas em prática para expansão das atividades

agroeconômicas. Exemplos dessas ações é a construção e manutenção dos

centros de estudos vocacionais – CVTs, dos Centros de estudos tecnológicos –

CENTECs pelo governo do Estado que capacita parte da mão de obra do lugar; o

treinamento técnico e gerencial fornecido as mulheres artesãs de Itaiçaba ministrado

pela CEART que favoreceu a formação da associação artesanal da cidade e

fomenta a produção e o comércio do artesanato local. Ações que acabam

preparando o mercado de trabalho para ocupar novos empregos que surgem nas

agroempresas e que capacitam pequenos produtores do lugar a incrementar o

artesanato, transformando-o em produto turístico do lugar, agregando-lhes valor.

Após os estudos, entrevistas e observações de campo pode-se concluir

que o progresso agrícola e turístico da pequena Itaiçaba apresenta perspectivas de

expansão. Na última década também ocorreram avanços produtivos importantes no

agronegócio regional, avanços que fizeram surgir diversas oportunidades de

trabalho nas lavouras irrigadas e no agroextrativismo da região. Enfim, há contexto

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positivo de crescimento econômico e de melhorias socioestruturais em Itaiçaba.

Processo de desenvolvimento que pode ou não se concretizar a médio e longo

prazo, mas que no contexto produtivo regional e local, fortalecidas o agronegócio e o

turismo rural na pequena cidade. Para tanto se faz necessário a participação

comunitária, a organização sindical e a boa vontade dos líderes políticos da região

no sentido de incentivar o desenvolvimento local, sem depreciar as marcas da

cidade e da sua população.

O turismo de raiz em Itaiçaba aumenta a cada ano. Ampliam-se os fluxos

e surgem novas estruturas turísticas na cidade, já que os filhos da terra a têm

visitado cada vez nos principais eventos do lugar. Isso tem exercido grande

influência na economia da cidade e favorecido a manutenção de suas bases sociais

e culturais, uma vez que o turismo de raiz é essencialmente um segmento de

resistência ao turismo de grandes empreendimentos, que em geral descaracterizam

a identidade cultural e natural das localidades. Mas é importante que aumente a

participação comunitária na organização e na gestão turística do lugar, de forma que

seja agregado aos produtos turísticos locais valores culturais que contribuem para a

manutenção das raízes históricas e sociais da cidade.

Em Itaiçaba o turismo convencional, aquele de megaempreendimentos e

de resorts, ainda não se ocorre. Isso facilita a participação comunitária desde o início

do processo de expansão da atividade, chance inusitada que Itaiçaba tem de ter o

turismo do lugar gerido por grupos comunitários locais em parceria com a gestão

municipal e com o próprio turista de raiz, identificado e ansioso pelo

desenvolvimento da cidade.

É evidente que em muitos lugares conflitos surgem com a organização de

associações comunitárias que buscam participar dos processos agrários e turísticos

de maneira mais efetiva. Conflitos que se dão no embate entre interesses

divergentes, expostos de um lado pela economia convencional, que concentra

riqueza e do outro lado pelos interesses produtivos dos pequenos grupos

empreendedores locais, organizados e participativos do processo. No entanto esse

contraditório é necessário ao desenvolvimento econômico do lugar, pois a

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superação de tais contradições eleva a cidade a níveis mais importantes na rede

urbana regional.

A dinâmica econômica dessa pequena cidade do sertão cearense ocorre

a partir das marcas culturais, de atividades produtivas contraditórias e do cotidiano

rústico e simplório da sua população. Lugar que enfrenta desafios semelhantes e

que tem realidade parecida a muitas outras do interior do estado, especialmente

aquelas que se inserem espacial e economicamente nos polos agrícolas mais

modernos. Dessa forma, se fortalece ao final dos trabalhos, a ideia as pequenas

cidades do interior do Ceará como Itaiçaba se inserem nos espaços do agronegócio

e do turismo, principalmente por serem lugares com atrativos peculiares e rurais.

Ideia que valoriza os lugares menos expressivos na rede urbana, e por isso mais

acessíveis demandas diversificadas e alternativas.

Nas pequenas cidades é prioritária que a comunidade e o turista de raiz

reivindiquem ações governamentais que forneçam meios modernos de

desenvolvimento econômico, social, turístico e estrutural da cidade.

Desenvolvimento que se processe de maneira includente e voltado à manutenção

das identidades ambientais, culturais e produtivas do lugar.

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