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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS THAIS REIS VICTORINO OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BIODIESEL DE ÓLEO DE FRITURA E APROVEITAMENTO DA GLICERINA RESIDUAL NITERÓI - RJ 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE · 2017. 3. 17. · variedade de matérias-primas existentes no país que são o óleo de soja, de dendê, de canola, de girassol, residual de fritura,

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS

THAIS REIS VICTORINO

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BIODIESEL DE ÓLEO DE FRITURA E

APROVEITAMENTO DA GLICERINA RESIDUAL

NITERÓI - RJ

2014

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THAIS REIS VICTORINO

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BIODIESEL DE ÓLEO DE FRITURA E

APROVEITAMENTO DA GLICERINA RESIDUAL

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Engenharia de Biossistemas da

Universidade Federal Fluminense como

parte dos requisitos para a obtenção do

título de Mestre em Engenharia de

Biossistemas.

Orientador: Roberto Guimarães Pereira, Doutor em Engenharia Mecânica

Co-orientadora: Sorele Batista Fiaux, Doutora em Tecnologia de Processos Químicos

e Bioquímicos.

NITERÓI - RJ

2014

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NITERÓI – RJ

2014

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DEDICATÓRIA

Dedico este meu trabalho a Deus Pai, Filho (Jesus) e Espírito Santo.

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VI

AGRADECIMENTOS

A todos que participaram deste trabalho de alguma forma. Da minha parte suplico a Deus

que pela intercessão de Maria Santíssima junto ao seu amado Filho Jesus possa cumular

estes com toda sorte de alegrias.

Agradeço à FAPERJ pelo apoio financeiro no mestrado.

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“ Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão

por mim.” (Evangelho de São João capítulo 14 versículo 6, cf. Jo14,6)

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VIII

RESUMO

Com o crescimento da demanda de biodiesel no mundo aumenta o interesse de

reutilizar seus subprodutos, evitando descarte no meio ambiente. Desta forma, pretende-se

diminuir os custos da produção do biodiesel bem como reduzir os impactos ambientais do

descarte destes resíduos, dando-lhes uma boa utilidade. Para isso foi proposto neste estudo

a utilização do óleo de cozinha residual (OCR) na produção de biodiesel e analisar o

comportamento do microrganismo Aspergillus niger atuando na glicerina residual da

produção desse biodiesel. Neste trabalho, foi obtido o biodiesel a partir do OCR tendo sido

feito ensaios de viscosidade dinâmica e cinemática. Para realizar estes ensaios foi utilizado

um reômetro e um viscosímetro do tipo Cannon-Fenske acoplado em um banho

termostático, mantendo a temperatura da amostra a 40ºC. Com a glicerina obtida da

produção de biodiesel foi feito ensaio de viscosidade e um experimento preliminar para

verificar o comportamento do fungo A. niger em meio contendo glicerina do biodiesel e

outras duas fontes de carbono. A viscosidade cinemática do biodiesel foi de 4,904 cSt que

está dentro da faixa especificada pela ANP (2014c). O experimento preliminar demonstrou

que o A. niger cresce bem no meio contendo glicerina do biodiesel. Este fungo já possui

aplicações industriais bem estabelecidas como na indústria de alimentos. Nos ensaios

usando meios de diferentes composições foi observado que há variações de crescimento do

microrganismo e que quando se utiliza maior quantidade de glicerina o microrganismo

cresce mais. Além disso, este meio com maior quantidade de glicerina apresentou maior

acidez acompanhando a diminuição do pH indicando a presença de formação de ácido.

PALAVRAS – CHAVE: Biodiesel, Biocombustíveis, Glicerina e Aspergillus niger.

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IX

ABSTRACT

The growing demand of biodiesel on the world increases the interest of reuse subproducts

avoiding discharges in the environment. In this way, costs of production is intended to

decrease as well as to reduce the environment impacts of discharging residues to give a

good utility to this wastes. It was proposed in this study to use residual cooking oil (RCO)

in the biodiesel production and to analyze microorganism Aspergillus Niger behavior in

residual glycerin use of biodiesel production. In this work, biodiesel was obtained from

RCO, which was did dynamic and cinematic viscosity experiments. To realize these

experiments was used Rheometer and Viscometer Cannon-Fenske linked to thermostatic

bath, 40 º centigrade temperature was kept. In glycerin obtained of biodiesel production

was did viscosity experiment and a previous experiment to evaluate the behavior in a

medium containing glycerin of biodiesel production e two other carbon fonts. The

cinematic viscosity of biodiesel was 4,904 cSt, which is inside ANP (2014c) specified

grade. The preliminary experiments present that A. Niger has grown well in a medium

containing biodiesel glycerin. This fungus has industrials applications well established as

in food industries. In the experiments with different mediums from biodiesel glycerin was

noticed there are different growing of microorganism according the composition of

medium and when it used more quantity of glycerin the microorganism grow more.

Besides that, this medium with more glycerin quantity has shown more acidity following

decreasing pH, which appointing the acid production.

KEY WORDS: Biodiesel, Biofuels, Glycerin e Aspergillus niger.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – As Matérias-Primas mais utilizadas no Brasil em Julho/2014 na produção de

biodiesel, p.3.

Figura 2 – Reação de transesterificação etílica via rota catalítica homogênea, p.4.

Figura 3 – Produção de biodiesel a partir de (a) Óleo de Soja (b) OCR por região em

Julho/2014, p.6.

Figura 4 – Evolução da Produção (●) e do Consumo (▲) de óleo de soja no Brasil, p.7.

Figura 5 – Perfil de produção ( ) e consumo ( ) de óleos vegetais dos três maiores

produtores mundiais, p.8.

Figura 6 – Principais Aplicações da Glicerina Farmacêutica, p.10.

Figura 7 – Efeitos de transferência de massa para micélios do tipo (1) pellets bem definidos

em fermentação em submerso (2) camada fina quase plana em fermentação em superfície

(3) camada oval em superfície inferior em fermentação em superfície, p.14.

Figura 8 – Curva Padrão da Absorbância versus Concentração de Glicerol Total para o Kit

Analisa, p. 19.

Figura 9 – Curva Padrão da Absorbância versus Concentração de Glicerol Total para o Kit

Kovalent, p. 19.

Figura 10 – Etapa de decantação na produção do biodiesel de óleo de cozinha. Fase leve

(de cima): biodiesel; fase pesada (de baixo): glicerina, p.20.

Figura 11 – Viscosidade dinâmica (η) em função da Temperatura ( T ) do OCR de 25 a 85

ºC, p.21.

Figura 12 – Viscosidade dinâmica (η) em função da Temperatura ( T ) do biodiesel do

óleo de fritura de 25 a 85 ºC, p.22.

Figura 13 – Viscosidade dinâmica (η) em função da Taxa de Cisalhamento do OCR a

40ºC, p.22.

Figura 14 – Viscosidade dinâmica (η) em função da Taxa de Cisalhamento do biodiesel do

óleo de cozinha a 40ºC, p.22.

Figura 15 – Concentração celular e pH do meio em função do tempo de cultivo em

presença de glicerol P.A. ■, sacarose ♦ e glicerina de biodiesel ▲ , p.23.

Figura 16 – Morfologia do pellet de Aspergillus niger em meio de cultivo com sacarose, p.

24.

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XI

Figura 17 – Morfologia de Aspergillus niger em meio de cultivo com glicerol P.A, p.24.

Figura 18 – Morfologia de Aspergillus niger em meio de cultivo com glicerina do

biodiesel, p.25.

Figura 19 – Crescimento de A. niger no 2º dia para o meio de cultivo 4, p.25.

Figura 20 – Análise do OCR por cromatografia gasosa acoplada a espectrômetro de

massas, p.26.

Figura 21– Cultivo de A. niger para obtenção dos esporos, p.28.

Figura 22 – Concentração celular em função do tempo para Meio de cultivo ♦ 2, ■ 3, ▲4 e

● 5, p.29.

Figura 23 – Concentração celular em função do tempo para os meios de cultivo ♦ 2, ■ 3 e

▲4, p.29.

Figura 24 – Variação de pH em função do tempo para Meio de cultivo ♦ 2, ■ 3, ▲4 e ● 5,

p.30.

Figura 25 – Variação da Acidez em função do tempo para Meio de cultivo ♦ 2, ■ 3, ▲4 e

● 5, p.30.

Figura 26 – Observações durante o experimento o papel de filtro após filtração do meio de

cultivo 5, p.38.

Figura 27 – Preparo do meio de cultivo com maior concentração de glicerina do biodiesel,

p.39.

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XII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Percentual de Produção de Biodiesel de Óleo de fritura e outros minoritários, p.

5.

Tabela 2 – Produção de biodiesel em m3 por região brasileira em Julho/2014, p. 5.

Tabela 3 – Consumo de óleo de soja no Brasil de Janeiro a Julho 2014, p. 7.

Tabela 4– Composição qualitativa em ácidos graxos de alguns óleos vegetais, p. 9.

Tabela 5: Composição dos meios de cultivo de 2 a 5, p. 16.

Tabela 6 - Caracterização de ácidos graxos do OCR, p. 27.

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XIII

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A Absorbância

ABIOVE Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

AG Ácidos Graxos

ANP Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

ATCC American Type Culture Collection

BDA Agar Batata Dextrose

MRVS Coleção de Microrganismos de Referência em Vigilância Sanitária

DSMZ Deutsche Sammlung von Mikroorganismen und Zellkulturen GmbH

EBB European Biodiesel Board

EIA U.S. Energy Information and Administration

EUA Estados Unidos da América

FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz

INCQS Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde

L Litros

MME Ministério das Minas e Energia

OECD Organization for Economic Co-operation and Development

OCR Óleo de Cozinha Residual

PA Para Análise

pH Potencial Hidrogeniônico

R2 Coeficiente de regressão

RCO Residual Cooking Oil

T Temperatura

UP Ultrasonic Processor

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XIV

LISTA DE SÍMBOLOS

@ Arroba

η Viscosidade dinâmica

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XV

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

1.1. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 2

1.2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 2

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 3

2.1. BIODIESEL..................................................................................................................... 3

2.2. ÓLEO DE FRITURA OU DECOZINHA RESIDUAL (OCR) .................................. 6

2.3. GLICERINA DO BIODIESEL ..................................................................................... 8

2.4. PRODUÇÃO DE SUBSTÂNCIAS DE INTERESSE INDUSTRIAL POR

MICRORGANISMOS A PARTIR DA GLICERINA DO BIODIESEL ........................... 11

2.5. ASPERGILLUS NIGER ................................................................................................ 12

3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 14

3.1. PRODUÇÃO DO BIODIESEL E DA GLICERINA ................................................ 14

3.2. LAVAGEM DO BIODIESEL ...................................................................................... 15

3.3. EXPERIMENTOS DE APROVEITAMENTO DA GLICERINA

UTILIZANDO ASPERGILLUS NIGER ................................................................................ 15

3.4. MÉTODOS DE ENSAIOS ........................................................................................... 17

4. RESULTADOS .................................................................................................................. 20

4.1. PRODUÇÃO DO BIODIESEL ................................................................................... 20

4.2. VISCOSIDADE DINÂMICA DO OCR E DO BIODIESEL .................................... 21

4.3. VISCOSIDADE CINEMÁTICA DO OCR E DO BIODIESEL............................... 23

4.4. CRESCIMENTO DE ASPERGILLUS NIGER EM MEIO CONTENDO

GLICERINA DE BIODIESEL............................................................................................... 23

4.5. MORFOLOGIA DO ASPERGILLUS NIGER ........................................................... 24

4.6. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA DO ÓLEO DE FRITURA EM TERMOS

ÁCIDOS GRAXOS.................................................................................................................. 25

4.7. INFLUÊNCIA DO pH E DA ACIDEZ DO MEIO DE CULTIVO NO

CRESCIMENTO DE ASPERGILLUS NIGER ..................................................................... 28

5. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 31

6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................ 32

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 32

APÊNDICE A - DIFICULDADES ENCONTRADAS ................................................... 38

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1

1. INTRODUÇÃO

Desde que se iniciou a produção de alimentos e recursos materiais em larga escala

começaram os impactos na natureza. O uso de petróleo, seus derivados e carvão para gerar

energia para carros, casas e indústrias causaram o aumento da liberação de gases de efeito

estufa que contribuem para o aquecimento global (Mendonça, 2003; IPCC, 2007). Além de

um problema ambiental, isto é um grande problema social, pois pessoas à margem da

sociedade são os primeiros a sofrerem as consequências de temperaturas extremas e os riscos

de catástrofes. Segundo Mendonça (2003) as ondas de calor e de frio dentre outros aspectos

do aquecimento global podem intensificar a ocorrência de algumas doenças, dentre elas as

respiratórias. As emissões de material particulado liberados no ar podem causar alergias e

consequentemente o aumento na ocorrência de rinites e asmas na população.

Tendo isso em vista, muitos pesquisadores tem se dedicado ao estudo de fontes

alternativas de energia como a eólica, solar, hidroelétrica, etc. que sejam renováveis. Dentre

os combustíveis alternativos, tem crescido a participação do uso de etanol e mais

recentemente do biodiesel. (Rutz, D.; Janssen, R., 2008 ; ANP, 2014). A utilização de

biodiesel tem se mostrado bastante promissora tendo em vista suas muitas vantagens, por

exemplo, os motores a diesel atuais não precisam ser modificados para o uso com o biodiesel

(Oner e Altun, 2009). No Brasil o biodiesel é um combustível promissor devido à grande

variedade de matérias-primas existentes no país que são o óleo de soja, de dendê, de canola,

de girassol, residual de fritura, de sebo bovino, etc. (Rutz, D.; Janssen, R., 2008; Knothe et al,

2006). Os maiores componentes de óleos vegetais são os triacilgliceróis ou triglicerídeos.

Estes são ésteres de ácidos graxos (AG) com glicerol. O biodiesel é importante, pois tem a

compensação da assimilação de dióxido de carbono pelas plantas antes de ser extraído o óleo

que será utilizado. O biodiesel é, portanto uma fonte de energia renovável, pois não necessita

de milhões de anos para ser produzido novamente o que não ocorre, com os combustíveis

fósseis. Tem a vantagem, ainda, de não emitir compostos derivados de enxofre. No entanto, a

presença de compostos nitrogenados na composição dos óleos vegetais e consequentemente,

no biodiesel deles derivado, leva à emissão de parte destes compostos após combustão nos

motores automotivos, dependendo do grau de mistura com o diesel (Pereira et al., 2012).

Embora o biodiesel seja um combustível promissor, durante o processo de produção há

formação de um produto, a glicerina, que pela grande produção de biodiesel, está em excesso

no mundo. Por este motivo e levando-se em consideração os danos econômicos e ambientais

deste rejeito, torna-se uma necessidade estudar formas de seu reaproveitamento em outros

processos. Neste trabalho, o caminho escolhido para este reaproveitamento é através de

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2

processos fermentativos já bastante consolidado em outros setores como de alimentos, de

bebidas e de medicamentos (Mota et al., 2009), embora a matéria prima mais usualmente

empregada seja diferente da glicerina do biodiesel. Em países em que o biodiesel vem sendo

cada vez mais agregado ao mercado dos biocombustíveis, pesquisas nesta área tornam-se

essenciais.

1.1. JUSTIFICATIVA

Com o descarte do óleo de fritura nas redes de esgoto ocorre a poluição das águas. O

destino da glicerina proveniente da produção de biodiesel implica em consequências

econômicas e ambientais. Tendo isto em vista, o presente trabalho estudou formas de

reaproveitamento destes dois passivos ambientais de forma a colaborar com estudos na área

do desenvolvimento sustentável do país. A indústria do biodiesel vem se difundindo por todo

o mundo bem como no Brasil então, este trabalho vem oferecer duas possíveis soluções para

estes problemas que são relevantes neste mercado buscando sempre contribuir para o

desenvolvimento sustentável.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

O presente trabalho tem o intuito de reaproveitar alguns passivos ambientais. O estudo

busca a utilização de óleo de cozinha residual (de fritura) para produção de biodiesel como

forma de dar uma boa utilidade a este rejeito normalmente descartado por restaurantes, casas,

hotéis etc. Além disso, busca o estudo do reaproveitamento da glicerina residual pelo fungo

Aspergillus niger.

1.2.2 Específicos

Produzir e caracterizar o biodiesel proveniente do óleo de cozinha residual;

Estudar o possível reaproveitamento da glicerina do biodiesel por processos

fermentativos;

Verificar as características de crescimento do fungo Aspergillus niger em diferentes

condições de meio de cultivo.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 BIODIESEL

Segundo a Lei Federal nº 11.097 (13 de janeiro de 2005), o biodiesel pode ser classificado

como qualquer combustível alternativo de natureza renovável que possa oferecer vantagens

socioambientais ao ser empregado na substituição total ou parcial do diesel de petróleo, em

motores de ignição por compressão interna (motores do ciclo diesel). Esta definição, bastante

abrangente, inclui diversas opções tecnológicas. No entanto, o único tipo de biodiesel já

regulamentado no Brasil corresponde aos ésteres de óleos vegetais ou gordura animal, que são

obtidos através de uma reação denominada transesterificação (Knothe et al, 2006).

As matérias-primas utilizadas são óleo de coco, de palma, de girassol, de amendoim,

canola, soja, microalgas, óleo de fritura, gordura animal, etc (Rutz, D.; Janssen, R., 2008). As

mais utilizadas no Brasil estão na Figura 1.

Figura 1 – As Matérias-Primas mais utilizadas no Brasil em Julho/2014 na produção de

biodiesel.

Fonte: ANP, 2014.

Uma das maneiras mais utilizadas, para a obtenção do biodiesel é o processo de

transesterificação. Este processo consiste no deslocamento do glicerol por um álcool de cadeia

curta, transformando os triglicerídeos em uma mistura de ésteres de ácidos graxos, o

biodiesel. Os principais catalisadores empregados na reação são hidróxido de sódio (NaOH) e

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4

o hidróxido de potássio (KOH) (Garcia, 2006; Nunes et al, 2009). Segue na Figura 2 a reação

de transesterificação.

Em função da importância do biodiesel o estabelecimento de padrões de qualidade para o

biodiesel se constitui um fator primordial para sua adoção ser bem sucedida. A especificação

do biodiesel destina-se a garantir a sua qualidade e é pressuposto para se ter um produto

adequado ao uso. Por este motivo se faz necessário à determinação da viscosidade, pois

combustíveis muito viscosos podem causar danos ao motor (Moura, 2010).

Figura 2– Reação de transesterificação etílica via rota catalítica homogênea.

Fonte: Garcia, 2006; Nunes et al., 2009; Battisti et al., 2009

Os alcoóis mais utilizados são o metanol e o etanol. No Brasil, com estímulo do programa

Pró-álcool o uso de etanol tornou-se bastante popularizado. A oferta de álcool etílico pelas

indústrias sucroalcooleiras favoreceu o uso deste no país (Carvalho, 2007). Além disso, este

álcool tem a vantagem em relação ao metanol de não ser tóxico.

A viscosidade regulamentada pela ANP (2014c) normatiza que a faixa de especificação

para a Viscosidade Cinemática a 40 ºC é de 3-6 mm2/s. Os demais parâmetros podem ser

observados na Resolução 14 em anexo.

As misturas de Diesel 95%/Biodiesel 5% conhecidas como B5 passaram a ser

comercializados desde 2010. Em 2014, segundo uma Medida Provisória (MP) passou de 5

para 6% (B6) a partir de julho e ainda pretende-se ampliar o percentual para 7%, ou seja, B7 a

partir de novembro deste ano (ANP, 2014).

O perfil de produção nacional de biodiesel por óleo fritura é muito reduzido ainda como

mostrado na Tabela 1 em conformidade com a Figura 1.

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5

Tabela 1 - Percentual de Produção de Biodiesel de Óleo de fritura e outros minoritários.

Fonte: ANP, 2014.

Segundo dados de julho ANP (2014), dentre os 0,44% de biodiesel produzido por óleo de

fritura (Tabela 1), a maior parte da produção de biodiesel proveniente do óleo de fritura veio

do Sul, seguido do Centro-Oeste e Nordeste (Tabela 2 e Figura 3) apesar de, a maior produção

de biodiesel ter sido no Centro-Oeste (Tabela 2).

Tabela 2 – Produção de biodiesel em m3 por região brasileira em Julho/2014.

Região Produção Mensal de Biodiesel (m3)

Centro-Oeste 139.019

Sul 122.986

Sudeste 17.540

Nordeste 15.223

Norte 7.358

Fonte: ANP, 2014

A produção de biodiesel de óleo de fritura no Sul corresponde a apenas 762 m3 desta forma, o

país torna-se um grande potencial de exploração deste resíduo à medida que se cresce a

conscientização ambiental.

Segundo dados do MME (2014), a Alemanha lidera o mercado mundial de biodiesel

seguido por Estados Unidos e Brasil, respectivamente. Outro grande produtor de oleaginosas,

a Argentina, também exerce papel importante no mercado de biodiesel.

Em 2011, só a Alemanha produziu 2,8 milhões de toneladas de biodiesel (EBB, 2014). No

mesmo ano, EUA produziu cerca de 3,7 milhões de m3 (EIA, 2013) e o Brasil produziu em

torno de 2,4 milhões de m3 de biodiesel (ANP, 2012). O Brasil produziu no último ano em

torno de 2,6 milhões de m3 de biodiesel (ANP, 2014b). Já os EUA produziram 5,1 milhões de

m3de biodiesel no mesmo ano (EIA, 2014). O Brasil

Matérias-Primas Minoritárias

Percentual de Produção

Óleo de Fritura

Óleo de Algodão

1,00%

Outros

1,76%

Total 3,2%

0,44%

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6

Figura 3 – Produção de biodiesel a partir de (a) Óleo de Soja (b) OCR por região em

Julho/2014.

Fonte: ANP, 2014

aumentou apenas 8,3% a produção de biodiesel comparando-se a produção de 2011 com a

2013. Mas ainda assim, se mantém um dos maiores produtores mundiais.

2.2 ÓLEO DE FRITURA OU DECOZINHA RESIDUAL (OCR)

Estima-se que serão produzidos no Brasil cerca de 7 milhões de toneladas de óleo de soja

no Brasil e que cerca de 6 milhões serão consumidos em 2014 (ABIOVE, 2014). Este

consumo estimado é de uso doméstico. Portanto, uma enorme quantidade de óleo de fritura

residual só de óleo de soja será gerado no Brasil em 2014, sem contar as demais matérias-

primas. Na Figura 4 pode-se observar a evolução da produção e do consumo residencial de

óleo de soja desde 2003 no Brasil. Partiu-se de uma produção de aproximadamente 5 milhões

de toneladas para chegar a 7 milhões. Um consumo residencial quase sempre crescente de 3

milhões de toneladas em 2003 para aproximadamente 6 milhões de toneladas em 2014. Com

uma queda ocorrendo somente em 2012. Observa-se que o consumo residencial cresceu

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7

bastante em relação ao crescimento da produção o que nos leva a pensar na importância de se

ter uma logística no descarte deste óleo utilizado.

Na Tabela 3 observa-se um consumo de 414.000 toneladas de óleo de soja nas residências

só em julho de 2014, no Brasil.

Figura 4 – Evolução da Produção (●) e do Consumo (▲) de óleo de soja no Brasil.

*Previsão Fonte: ABIOVE, 2014

Tabela 3 – Consumo de óleo de soja no Brasil de Janeiro a Julho 2014.

Mês

Consumo Residencial ( x 1000 t)

Janeiro 335

Fevereiro 319

Março 371

Abril 411

Maio 432

Junho 404

Julho 414

Agosto a Dezembro *

Total 2.686

* Ausência de dados Fonte: ABIOVE, 2014

O perfil de produção e consumo de três importantes mercados mundiais encontra-se na

Figura 5. Neste perfil observa-se que somente o Brasil produziu mais do que consumiu de

óleos vegetais nos anos de 2005 e 2007. Enquanto que, a União Europeia e EUA produziram

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igual ou menos o que consumiram. O Brasil manteve seu consumo em 3 milhões de toneladas

nos dois anos.

Figura 5 – Perfil de produção ( ) e consumo ( ) de óleos vegetais de três importantes

produtores mundiais.

*Previsão Fonte: OECD-FAO, 2008

Dentre as caracterizações dos óleos vegetais a composição em ácidos graxos é de grande

importância, pois a presença de determinados ácidos graxos irá influenciar em outras

propriedades tais como densidade e viscosidade. A composição qualitativa em ácidos graxos

em alguns óleos estão na Tabela 4.

2.3 GLICERINA DE BIODIESEL

Um aspecto negativo na produção de biodiesel é a formação de grandes quantidades de

glicerina residual. Dada à importância do assunto, é crescente o número de trabalhos sobre o

reaproveitamento deste resíduo formando uma área específica de estudo chamada

gliceroquímica (Mota et al., 2009).

O termo glicerina é normalmente aplicado aquela cuja concentração de glicerol é de 95%.

São normalmente glicerinas que passaram por diversos processos de purificação. O termo

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Tabela 4– Composição qualitativa em ácidos graxos de alguns óleos vegetais.

Óleo Composição (% m/m) em ácidos graxos

Referências 8:0 10:0 12:0 14:0 16:0 18:0 18:1 18:2 18:3 22:1

Soja

9-14,5 2,5-5 18-34 45-60 3,5-8 Christoff,2007

2,3-13,3 2,4-6 17,7-30,8 49-57,1 2-10,5 0-0,3 Knothe et al,2006

0.1 0.1 10.2 3.7 22.8 53.7 8.6 Fangrui et al., 1999

Algodão 0.1 0.7 20.1 2.6 19.2 55.2 0.6 Fangrui et al., 1999

Coco 46.5 19.2 9.8 3.0 6.9 2.2 Fangrui et al., 1999

4,6-9,5 4,5-9,7 44-51 13-20,6 7,5-10,5 1-3,5 5-8,2 1-2,6 0-0,2 Knothe et al.,2006

Sebo bovino 0.1 2.8 23.3 19.4 42.4 2.9 0.9 Fangrui et al., 1999

2,1-6,9 25-37 9,5-34,2 14-50 26-50 Knothe et al,2006

Óleo de Fritura 8.5 3.1 21.2 55.2 5.9 Zhenzhong et al., 2010

Sendo os ácidos: 8:0 – Caprílico; 10:0 – Cáprico; 12:0 – Láurico; 14:0 – Mirístico; 16:0 – Palmítico; 18:0 – Esteárico; 18:1 – Oléico; 18:2 – Linoléico;

18:3 – Linolênico; 22:1 – Erúcico

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glicerol é aplicado a produtos com concentração de glicerol aproximadamente 100%, ou seja,

completamente puro contendo apenas o componente 1,2,3-propanotriol.

Na sua forma purificada grau farmacêutico tem aplicação em diversos setores sendo os

principais nas indústrias de cosméticos, de produção de sabões e medicamentos. É também

utilizada nas indústrias de alimentos e bebidas. Como pode ser observado na Figura 6.

Figura 6 – Principais Aplicações da Glicerina Farmacêutica.

Fonte: Mota et al. (2009)

Em torno de 10 m3 de glicerina são formados para cada 90 m3 de biodiesel (Silva et al,

2007). Segundo dados da ANP de 2014 estima-se que são gerados 300 milhões de litros de

glicerina por ano no Brasil. Ocorre que nos EUA e na Europa há uma demanda de glicerina

refinada na ordem de 40.000 toneladas (Singhabhandhu, A; Tezuka, T., 2010). Pode tornar-se

um mercado se a glicerina do biodiesel passar por processos de purificação. Este não é o

objetivo deste trabalho, que busca o aproveitamento da glicerina do biodiesel com o mínimo

de pré-tratamento. Desta forma, busca-se diminuir os custos do reaproveitamento. A glicerina

proveniente da produção de biodiesel é denominada glicerina bruta, com teores de glicerol

que dependem na matéria-prima usada na produção do biodiesel, porém, também, pode passar

por processos de purificação como a neutralização pela adição de ácido e a remoção de ácidos

graxos livres formados no processo. Neste caso, possuirá aproximadamente 80% de glicerol

(Mota et al., 2009).

O excesso dessa substância no mundo, com a crescente demanda por biodiesel, pode

acarretar sérios problemas econômicos e ambientais. Estudos têm sido realizados para a

utilização da glicerina. Por exemplo, por via química é possível obter 2,2-dimetil-1,3-

dioxolano-4 metanol, um candidato potencial a aditivo para a gasolina, em substituição ao

metil-t-butil-éter (MTBE), que vem sendo abandonado por questões ambientais (Silva et al.,

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2007). Outra possibilidade é a obtenção de cetais e acetais derivados do glicerol, que possuem

aplicações diversas, destacando-se o uso como aditivo para combustíveis,surfactantes,

flavorizantes e solventes para uso em medicina (Mota et al, 2009). A hidrogenólise da

glicerina tem como principais produtos o 1,2 propanodiol, também chamado de

propilenoglico. O propilenoglicol tem propriedades anti-congelante e também pode ser

matéria-prima para a produção de produtos farmacêuticos, alimentícios, cosméticos,

detergentes e tintas, entre outros (Mota e Pestana, 2011).

Uma das áreas de estudo de grande potencial para o aproveitamento da glicerina é a de

processos fermentativos. As pesquisas nessa área visam a utilização da glicerina residual do

biodiesel para produzir substâncias de maior valor agregado pela ação de microrganismos.

2.4 PRODUÇÃO DE SUBSTÂNCIAS DE INTERESSE INDUSTRIAL POR

MICRORGANISMOS A PARTIR DA GLICERINA DO BIODIESEL

É conhecida a capacidade de vários microrganismos de sintetizar substâncias a partir do

glicerol (Dobson et al., 2012). Podem ser citadas a produção de ácido cítrico por Yarrowia

lipolytica (Silva et al., 2010), de dihidroxiacetona por Gluconobacter oxydans (Pontes, 2012),

etanol por Klebsiella pneumoniae (Oh et al, 2011), hidrogênio por Rhodopseudomonas

palustres (Sabourin-Provost e Hallenbeck, 2009) e biosurfactantes por Yarrowia lipolytica

(Fontes et al, 2012). Apesar dos exemplos descritos na literatura para o glicerol, a

fermentação de glicerina de biodiesel para a produção de químicos só tem sido estudada em

pequena escala e poucas linhagens microbianas têm sido avaliadas (Almeida, 2011).

Não basta apenas que o microrganismo seja capaz de utilizar o glicerol para a obtenção de

produtos de interesse. É necessário levar em consideração impasses como a presença de

impurezas que podem inibir o microrganismo produtor (Rumbold et al., 2009). Nesse caso, é

imprescindível encontrar microrganismos capazes de utilizar o glicerol na forma em que é

obtido na produção de biodiesel, ou seja, microrganismos resistentes às impurezas presentes.

Alguns problemas relacionados às impurezas foram encontrados no cultivo da microalga

Schizochytrium limacinum para a obtenção de ácido docosahexaenóico e ácido

eicosapentaenóico (Pyle et al., 2008) e do fungo Pythium irregulare para a produção de ácido

eicosapentaenóico (Athalye et al., 2009). Em ambos os casos o metanol e o sabão presentes

na glicerina do biodiesel influenciaram negativamente a produção. A solução encontrada foi

simples, o metanol foi eliminado por evaporação durante a esterilização do meio de cultivo

em autoclave e o sabão foi precipitado através do ajuste do pH.

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O microrganismo selecionado deve ser capaz de formar o produto em quantidades viáveis

economicamente e isso envolve a realização de uma busca pelo melhor produtor. Para ilustrar

a dificuldade envolvida, cita-se o trabalho de Kamzolova et al (2011), que testou 66 cepas de

leveduras para a produção de ácido cítrico a partir de glicerol. Dessas, 41 apresentaram

alguma produção, sendo a maioria da espécie Yarrowia lipolytica. Apenas cinco produziram

em quantidades satisfatórias, sendo a melhor selecionada e utilizada para a produção a partir

de glicerina de biodiesel com bons resultados.

As condições de cultivo também são importantes no desenvolvimento de um processo

microbiano. No trabalho de Silva et al. (2010) utilizando uma linhagem de Yarrowia

lipolytica, obteve-se 4,15 g/L de ácido cítrico em meio de cultivo tamponado, enquanto que

no meio não tamponado a produção foi de 3,65 g/L. Da mesma forma, nos experimentos com

glicerol PA obteve-se resultado bem melhor quando o meio de cultivo estava tamponado -

10,65 g/L de ácido cítrico. Sem o meio tamponado a concentração foi menor que os já citados

e foi de 2,51 g/L.

2.5 ASPERGILLUS NIGER

Propõe-se verificar a adequação da glicerina como fonte de carbono para o cultivo do

microrganismo Aspergillus niger. Este é um dos mais importantes microrganismos usados na

biotecnologia sendo bastante utilizado nas indústrias, embora a matéria-prima usada

normalmente seja diferente do glicerol. Este microrganismo é, há várias décadas, utilizado

para produzir enzimas e ácido cítrico (Liguori et al., 2013; André et al., 2010; Desgranges et

al., 1990; Legisa et al., 1986; Venegas et al., 2013)

Além disso, é usado em biotransformações e no tratamento de resíduos (Schuster et al.,

2002). Segundo Shuster et al. (2002) este microrganismo é considerado não patogênico

embora no Brasil seja classificado como de risco 2 pelo CMRVS. De acordo com a coleção

americana ATCC e a alemã DSMZ o classificam como de risco 1 podendo portanto, ser

considerado um microrganismo seguro de se trabalhar oferecendo pouco risco a saúde

humana tomando-se o devido cuidado em sua manipulação como evitar a exposição intensa

aos esporos do microrganismo.

As poucas pesquisas que vem sendo feitas para o cultivo de A. niger utilizando glicerina

de biodiesel como fonte de carbono mostram seu grande potencial para obtenção de

substâncias de interesse. É conhecido que A. niger pelo seu desenvolvimento em meio

apropriado leva à formação de vários ácidos orgânicos, dependendo das condições de cultivo

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(Liguori et al, 2013; Steiger et al,2013). Os ácidos orgânicos cítrico e oxálico são muito

utilizados, principalmente nas indústrias de alimentos (Yokoya, 1992) e em laboratórios.

A formação de ácido oxálico já foi observada em meio contendo glicerina de biodiesel

obtida a partir de óleos comerciais. André et al. (2010) utilizaram duas linhagens de

Apergillus niger para obtenção de ácido oxálico a partir de glicerina do biodiesel. Em 262

horas de experimento obteve-se as concentrações máximas de 21,5 e 20,5 g/L de ácido

oxálico quando o meio de cultivo tinha a maior concentração de glicerina do biodiesel, que

era de 60 g/L. Também utilizando A. niger em glicerina de biodiesel, Musial et al (2011)

obtiveram o ácido oxálico e utilizaram o meio de cultivo enriquecido com esse ácido para o

branqueamento de kaolin.

A obtenção de lipídeos por A. niger foi possível em meio contendo 30 a 60 g/L de

glicerina de biodiesel, obtendo-se 2,0 e 2,5 g/L de lipídeos (André et al., 2010). Os lipídeos

microbianos, também chamados de single cell oil podem servir de fonte de ácidos graxos

importantes para a indústria farmacêutica, mas recentemente ganhou espaço como potencial

matéria prima para a produção de biodiesel (Papanikolaou et al, 2008).

Ainda podem ser citados como produtos potenciais do cultivo de A. niger mas que ainda

não foram verificados em glicerina de biodiesel a vanilina (Liguori et al, 2013) e as lípases

(Salihu et al, 2012; Papanikolaou et al, 2011).

Quando uma fermentação ocorre em submerso o A. niger pode crescer sob diversas

formas como filamentos livres e/ou dispersos, pellets, etc. (Couri et al., 2003) Este tipo de

fermentação se dá devido a parâmetros de controle utilizados no meio como, principalmente

controle agitação (aumenta a aeração) e temperatura (Soccol et al., 2006). Desta forma, o

microrganismo se desenvolve quase que completamente no interior do meio. Isto não ocorre

em fermentações em superfície, onde não se tem controle de agitação e apenas de

temperatura, o microrganismo tende a se desenvolver na superfície do meio onde se tem

maior aeração (Dhillon et al., 2011). No presente trabalho, utilizaram-se os dois tipos de

fermentação, pois foram feitos estudos preliminares em submerso e o posterior em superfície

devido a resultados qualitativos parecerem melhores em fermentação em superfície que em

submerso.

A formação de produtos depende, também, da morfologia dos micélios que podem

contribuir na interação dos microrganismos com o meio de cultivo. Existem diferentes

problemas de transferência de massa do nutriente do meio de cultivo até o centro do micélio

que depende da sua forma (Figura 7) (Walisko et al., 2012; Pamboukian, 1997).

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Figura 7 – Efeitos de transferência de massa para micélios do tipo (1) pellets bem definidos

em fermentação em submerso (2) camada fina quase plana em fermentação em superfície (3)

camada oval em superfície inferior em fermentação em superfície.

A resistência à transferência de massa depende da geometria da superfície que para ser

estudada é aproximada para formas geométricas mais conhecidas como a esférica, plana,

cilíndrica, etc. As geometrias apresentadas na Figura 7 assemelham-se a superfícies esféricas,

planas e semiplana e semiesférica em (1), (2) e (3), respectivamente. Estas geometrias foram

próximas às que se encontram no presente trabalho.

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1. PRODUÇÃO DO BIODIESEL E DA GLICERINA

3.1.1. Óleo de Fritura

O óleo de fritura utilizado nos experimentos foi cedido pelo Auto Posto Ingá localizado

em Niterói, RJ, que faz parte do Projeto Posto Cidadão, monitorado pela Secretaria Municipal

de Meio Ambiente de Niterói. É um óleo de cozinha residual proveniente das casas dos

moradores da região e restaurantes que o utilizaram na fritura de alimentos. Foi utilizado

também um óleo de fritura de soja transgênico que anteriormente foi usado na fritura de

pastéis por diversas vezes.

O óleo de fritura foi filtrado em papel de filtro e seco em estufa a 110 ºC por uma hora. O

óleo foi caracterizado determinando-se as suas viscosidades cinemática e dinâmica e sua

composição qualitativa em termos de ácidos graxos.

3.1.2. Reação de Transesterificação

A produção de biodiesel e da glicerina foi realizada com auxílio de ultrassom em

Erlenmeyer ou Bécher tampados para evitar a entrada de umidade. Foi utilizado 1 g de KOH

PA ou NaOH dissolvido em 40 mL de álcool etílico PA Absoluto 99,5% em placa de

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agitação. Após a dissolução total, 100 mL de óleo de fritura (filtrado e seco a 110 ºC por uma

hora) foram adicionados lentamente e a mistura foi colocada no ultrassom modelo Hielscher

UP 200S Ultrasonic Processor Ultrasound Tecnology com amplitude de 60% por 15 minutos

ou com amplitude de 30% pelo mesmo tempo no ultrasom modelo Ultrasonic Processor Cole

Parmer. A mistura foi vertida para funil de separação e deixada em descanso por um dia. Foi

observada a formação de duas fases sendo, a fase leve (de cima) o biodiesel e a fase pesada

(de baixo) a glicerina. Após separação da glicerina, o biodiesel foi lavado, seco e filtrado.

3.2. LAVAGEM DO BIODIESEL

Foram feitas 3 lavagens para eliminar resíduos de glicerina, catalisador e alcoóis. Na

primeira lavagem, foi adicionado água destilada acidificada com ácido clorídrico aquecida a

70ºC por meia hora. Deixou-se decantar por meia hora e foi descartada a fase aquosa. Na

segunda lavagem, foi adicionado ao biodiesel apenas água destilada aquecida a 70 ºC por

meia hora. Deixou-se decantar por meia hora e foi descartada a fase aquosa também. A

terceira lavagem foi feita da mesma forma que a segunda.

A secagem foi feita colocando-se o biodiesel lavado na estufa a 105 ºC por uma hora

(Braz, 2011). O biodiesel foi caracterizado determinando-se as suas viscosidades cinemática e

dinâmica.

3.3. EXPERIMENTOS DE APROVEITAMENTO DA GLICERINA UTILIZANDO

ASPERGILLUS NIGER

3.3.1. Microrganismo:

Foi utilizado o fungo filamentoso Aspergillus niger INCQS 40065 (ATCC 6275), cedido

pelo INCQS / Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), mantido em solo estéril à temperatura

ambiente.

3.3.2. Obtenção dos esporos:

Os esporos foram obtidos crescendo o microrganismo a 30 ºC por cinco dias em Agar

Batata Dextrose (BDA - HiMedia Laboratories) em garrafa de Roux.

3.3.3. Meios de cultivo:

Meio 1 (em g/L): (NH4)2SO4, 5.0; KH2PO4, 1.0; MgSO4.7H2O,0.25 e em (mg/L): Fe+2 (como

FeSO4.7H2O), 0.3; Zn+2 (como ZnSO4.7H2O), 0.4; Mn+2 (como MnSO4.H2O),0.15; Cu+2

(como CuSO4.5H2O), 0.4; pH 5,0, acrescido da fonte de carbono de acordo com o

experimento (esterilizado a 121ºC/ 15 min). Baseado no trabalho de Kurbanoglu et al. (2002).

A composição dos demais meios (2, 3, 4 e 5) utilizados está apresentada na Tabela 5.

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Tabela 5: Composição dos meios de cultivo de 2 a 5 (Yokoya, F., 1992; Kurbanoglu et al.;

2002).

Componentes MEIO 2 MEIO 3 MEIO 4 MEIO 5

Glicerina do biodiesel (33,3

% de glicerol) (g/L) 10 10 10 80

(NH4)2SO4 (g/L) 2,06 2,06 2,06 2,06

MgSO4.7H2O (g/L) 1 1 1 1

KH2PO4 (g/L) 1 1,8 1 1,4

Fe+2 (como FeSO4.7H2O)

(mg/L) 0 0 1,3 0,4

Zn+2 (como ZnSO4.7H2O)

(mg/L) 0 0 0,25 0,2

Cu+2 (como CuSO4.5H2O)

(mg/L) 0 0 0,05 0,2

Mn+2 (como MnSO4.H2O)

(µg/L) 5 135 135 70

pH 5 2 2 3,5

3.3.4. Crescimento de Aspergillus niger em meio contendo glicerina:

Os esporos foram suspensos em solução 0,1% de Tween 80 estéril, contados e utilizados

para inocular 50 mL de meio 1 contidos em Erlenmeyers de 250 mL (105 esporos / mL de

meio). O meio foi complementado com glicerina de biodiesel, sacarose ou glicerol PA, nas

concentrações de 40,5, 51,1 e 47,5 g/L, respectivamente. A sacarose e o glicerol PA foram

utilizados como controles. A glicerina do biodiesel utilizada continha uma concentração de

glicerol de 30% (mglicerol/mglicerina). Os frascos foram incubados sob agitação de 150 rpm e 30

oC em agitador incubador G-25 marca Superohm Equipamentos Científicos LTDA. As

amostragens, constituídas do conteúdo total do frasco, foram feitas em duplicata. A

concentração celular em termos de peso seco de células e o pH foram analisados.

3.3.5. Influência do pH e da acidez do meio de cultivo no crescimento de Aspergillus

niger:

Os esporos foram suspensos em solução 0,1% de Tween 80 estéril e utilizados para

inocular 100 mL de meio contidos em Erlenmeyers do 500 mL (106 esporos / mL de meio).

Foram utilizados os meios de cultivo constantes na Tabela 5. O cultivo foi realizado em

superfície, para isso os frascos foram incubados sem agitação à temperatura constante de 30ºC

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em estufa Q-316B24 da marca QUIMIS Aparelhos Científicos LTDA. As amostragens foram

constituídas do conteúdo total do frasco. A concentração celular em termos de peso seco de

células, o pH e a acidez foram analisados.

3.4. MÉTODOS DE ENSAIOS

3.4.1. Viscosidade dinâmica do óleo de cozinha residual (OCR) e do biodiesel

Realizou-se análise no reômetro RS 50 RheoStress da Precitech Instrumental LTDA, no

Laboratório de Reologia da UFF, para a determinação da viscosidade dinâmica do OCR e do

Biodiesel de óleo de fritura.

Foram feitos dois tipos de análises: uma feita à temperatura constante de 40ºC e outra

feita variando a temperatura de 25 a 90ºC. Obteve-se a viscosidade variando a taxa de

cisalhamento com o tempo (curva de fluxo).

3.4.2. Viscosidade cinemática do óleo de cozinha residual (OCR) e do biodiesel

A determinação da viscosidade cinemática do OCR foi feita no Laboratório de Reologia

da UFF utilizando-se um viscosímetro cinemático do tipo Cannon-Fenske acoplado em um

banho termostático a 40ºC. O tempo necessário para que óleo escoasse entre duas marcações

do viscosímetro foi medido. Multiplicou-se esse tempo por uma constante do viscosímetro

(0,01512 mm²/s²) obtendo-se a viscosidade cinemática. Foram feitas três repetições do

experimento.

3.4.3. Análise qualitativa dos ácidos graxos componentes do óleo

A amostra de OCR foi preparada para ser injetada no cromatógrafo gasoso segundo o

procedimento descrito no trabalho de Santos (2010). Foram pesados aproximadamente 370

mg do material lipídico em balão de fundo chato de 250 mL, aos quais foram adicionados 5

mL de solução metanólica de hidróxido de sódio 0,5 N, deixando em ebulição com refluxo

entre 3 a 5 minutos com o auxílio de um condensador de refluxo. Na solução quente foram

adicionados 15 mL do reagente de esterificação (cloreto de amônio e ácido sulfúrico

concentrado em metanol), deixando em refluxo por 3 minutos com o auxílio de um

condensador de refluxo. Depois do resfriamento, a mistura foi colocada em funil de

decantação de 250 mL e foram acrescentados 50 mL de água destilada e 25 mL de hexano

para HPLC. Foi feita a lavagem com 25 mL de água destilada na mistura anterior por duas

vezes. Após a separação, a fase hexânica foi filtrada após a adição de sulfato de sódio anidro.

O extrato hexânico foi colocado em Ependorf, lacrado e congelado para análise por

cromatografia gasosa. (Santos, 2010)

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A amostra foi injetada no cromatógrafo Shimadzu, modelo QP2010 equipado com

detector de espectrometria de massas. A coluna utilizada foi do tipo capilar de sílica fundida

com fase 5% difenil/ 95% dimetil-polisiloxano, modelo RTX-5MS, com 30 m de

comprimento, 0,25 mm de diâmetro e 0,25 μm de espessura. O gás de arraste foi o hélio, com

fluxo de 0,76 mL/minuto. A quantidade de amostra injetada foi de 1 μl diluída em hexano.

Os diferentes ácidos graxos foram identificados por comparação dos seus espectros de

massas com os espectros de padrões pertencentes à biblioteca do equipamento.

3.4.4. Concentração de esporos

A concentração da suspensão de esporos utilizada como inóculo foi determinada por

contagem direta ao microscópio em câmara de Neubauer.

3.4.5. Concentração celular

A concentração celular foi determinada pelo método do peso seco de células. O volume

de cultivo em cada frasco foi medido em proveta. O micélio foi filtrado em papel de filtro

seco e pesado, lavado duas vezes com volume de água igual ao de meio e secado a 80ºC por

24h. A massa seca foi pesada e a concentração calculada utilizando o volume de meio

medido.

3.4.6. Determinação do pH

O pH foi medido no meio, após a filtração, em pHmetro.

3.4.7. Determinação do glicerol na glicerina do biodiesel

Para a determinação da quantidade de glicerol na glicerina do biodiesel foi utilizado o

método enzimático (Kit Enzimático Colorimétrico Analisa Triglicérides PP, adquirido no

comércio, ou Kit Enzimático Triglicerídeos GPO-PAP, cedido gentilmente pela Kovalent).

Este Kit permite medir o glicerol total incluindo aquele ainda associado aos ácidos graxos, na

forma do triglicerídeo residual da reação de transesterificação. Foram preparadas curvas de

calibração para cada kit utilizado, utilizando glicerol PA diluído adequadamente. As soluções

de glicerol para a curva e a amostra de biodiesel previamente diluída foram analisadas

conforme indicado pelo fabricante do kit. O branco foi constituído do reagente de cor. As

leituras das absorbâncias foram feitas em espectrofotômetro BEL modelo SP 2000 UV no

comprimento de onda de 505 nm (Kit Analisa) e 500 nm (Kit Kovalent).

As Figuras 8 e 9 mostram as curvas de calibração para cada análise de determinação de

glicerol na glicerina. É possível observar a faixa de linearidade em cada caso.

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Figura 8 – Curva Padrão da Absorbância versus Concentração de Glicerol Total para o Kit

Analisa.

Figura 9 – Curva Padrão da Absorbância versus Concentração de Glicerol Total para o Kit

Kovalent.

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20

A equação da reta é dada por:

para o kit Analisa e

para o kit Kovalent,

Sendo:

A = Absorbância

CGlicerol Total = Concentração de glicerol em g/L.

3.4.8. Determinação da acidez

Foi feito titulação dos meios de cultivo com solução de NaOH 0,0948 M em 1mL de cada

meio no tempo 0h e 2 mL de cada meio nos demais tempos de cultivo. Utilizou-se o indicador

Fenolftaleína 1%.

4 RESULTADOS

4.1. PRODUÇÃO DO BIODIESEL

Feita a reação de transesterificação e após um dia de decantação (Figura 10) formaram-se

aproximadamente 13 mL de glicerina e após a lavagem e secagem do biodiesel obteve-se 88

mL de biodiesel. De acordo com Mota et al. (2011), essa é uma proporção razoável entre a

produção de biodiesel e glicerina.

Figura 10 – Etapa de decantação na produção do biodiesel de óleo de cozinha. Fase leve (de

cima): biodiesel; fase pesada (de baixo): glicerina.

A = 1,1893 x CGlicerol Total +

0,002 (Equação 1)

A = 1,2166 x CGlicerol Total -

0,0296 (Equação 2)

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21

O biodiesel tem usualmente coloração amarela quando obtido de óleos refinados, já a

coloração do biodiesel de óleo de fritura apresentou-se durante todo o processo de produção

de coloração castanho claro.

A glicerina pura é incolor e sua densidade é em torno de 1,26 g/mL a 20 °C e possui

percentual de aproximadamente 99% (mglicerol/mglicerina). A glicerina do biodiesel de óleos

refinados é amarela escura. Já a glicerina do biodiesel de óleo de fritura obtida no presente

trabalho apresentou uma coloração castanha escura com densidade aproximadamente 0,960

g/mL a 25ºC. Em termos de composição a glicerina obtida no presente trabalho apresentou

aproximadamente 30% em massa de glicerol. Este valor é próximo ao encontrado por Lage

(2009) que obteve um teor de glicerol de 36,2% na glicerina bruta originada de óleos de

mamona, soja, algodão e girassol na produção de biodiesel por rota metílica. Já Zavarize

(2012) obteve 40,3% de glicerol em uma glicerina bruta oriunda da produção de biodiesel

utilizando como matéria-prima óleo de fritura.

4.2. VISCOSIDADE DINÂMICA DO OCR E DO BIODIESEL

A influência da temperatura na viscosidade dinâmica do OCR e do biodiesel do óleo de

fritura é mostrada nas Figuras 11 e 12, respectivamente. Percebe-se que a viscosidade

dinâmica decresce com o aumento da temperatura o que era esperado.

Na temperatura de 40ºC encontrou-se uma viscosidade dinâmica média de 0,0379 Pa.s

para o OCR e de 0,0046 Pa.s para o biodiesel (vide Figuras 13 e 14). Como se pode observar

a viscosidade do biodiesel é bem menor que a do OCR como já era esperado, este é um forte

motivo pelo qual não se usa óleo puro como combustível. A viscosidade alta do óleo pode

causar danos ao motor do ciclo diesel durante o seu funcionamento.

Figura 11 – Viscosidade dinâmica (η) em função da Temperatura ( T ) do OCR de 25 a 85 ºC.

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Figura 12 – Viscosidade dinâmica (η) em função da Temperatura ( T ) do biodiesel do óleo

de fritura de 25 a 85 ºC.

Figura 13 – Viscosidade dinâmica (η) em função da Taxa de Cisalhamento do OCR a 40ºC.

Figura 14 – Viscosidade dinâmica (η) em função da Taxa de Cisalhamento do biodiesel do

óleo de cozinha a 40ºC.

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23

4.3. VISCOSIDADE CINEMÁTICA DO OCR E DO BIODIESEL

A viscosidade cinemática, determinada a 40ºC, do OCR e do biodiesel, foi de 36,87 cSt e

4,90 cSt, respectivamente. A incerteza expandida na medição da viscosidade cinemática foi de

± 0.006 mm2.s-1 (Santo Filho, 2010).

A viscosidade cinemática do OCR ficou próxima da encontrada no trabalho de Moura

(2010) que foi 33,23 cSt e, também, foi próxima de outros trabalhos como o de Arjun et al

(2008) que foi de 35,30 cSt, todas determinadas a 40ºC. O controle da viscosidade é um

parâmetro importante para garantir o bom funcionamento dos sistemas de injeção das bombas

combustíveis (Moura, 2010). A viscosidade do biodiesel atende a norma da ANP (2014 c).

4.4. CRESCIMENTO DE ASPERGILLUS NIGER EM MEIO CONTENDO

GLICERINA DE BIODIESEL

O Aspergillus niger apresentou bom crescimento em presença de todas as fontes de

carbono sendo que, na glicerina do biodiesel foi obtido o maior crescimento médio (22,8 g/L),

conforme mostrado na Figura 15.

Tanto no meio com glicerina quanto no meio com sacarose o pH do meio de cultivo

decresceu até aproximadamente 70 horas de cultivo, embora o fungo tenha continuado a

crescer. No meio com glicerol, o pH decresceu até 1,5 no tempo total de cultivo, de acordo

com a Figura 15, o mesmo valor final do meio contento sacarose. O meio com glicerina

permaneceu em valor 2,0 após as 70 horas de cultivo.

Figura 15 – Concentração celular ( ) e pH ( - - - ) do meio em função do tempo de cultivo

em presença de glicerol P.A. ■, sacarose ♦ e glicerina de biodiesel ▲ (Média de duplicatas).

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24

Mesmo não tendo sido feito nenhum pré-tratamento na glicerina do biodiesel, as

impurezas presentes não afetaram o crescimento do fungo ao contrário do que tem sido

relatado para outros microrganismos (Athalye et al, 2009; Pyle et al, 2008). Além disso, o

crescimento de A. niger em glicerina foi um pouco maior do que na sacarose, fonte

comumente utilizada na indústria. Aparentemente, alguns resíduos da reação de produção do

biodiesel, por exemplo os resíduos de triglicerídeos (óleo de fritura utilizado) ou de ácidos

graxos livres, podem ter contribuído para o crescimento do A. niger. Papanikolaou et al.

(2011) em seu trabalho utilizaram óleo de cozinha residual para gerar biomassa de algumas

linhagens de Aspergillus sendo, portanto, um indicativo de que este resíduo na glicerina do

biodiesel pode ter contribuído para o crescimento microbiano.

4.5. MORFOLOGIA DO ASPERGILLUS NIGER

Nos meios de cultivo contendo sacarose a morfologia do A. niger se apresentou como

pellets bem formados (Figura 16), enquanto que no meio contendo glicerol P.A. e glicerina do

biodiesel o crescimento em submerso se deu em forma mais fragmentada (Figuras 17 e 18).

Figura 16 - Morfologia do pellet de Aspergillus niger em meio de cultivo com sacarose.

Figura 17 - Morfologia de Aspergillus niger em meio de cultivo com glicerol P.A.

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25

Figura 18 - Morfologia de Aspergillus niger em meio de cultivo com glicerina do biodiesel.

A morfologia do A. niger nos experimentos com glicerina do biodiesel em superfície

mostrou-se fragmentada inicialmente, com posterior formação de uma camada espessa na

superfície do meio devido ao fato dos experimentos serem sem a agitação (Figura 19).

Figura 19 - Crescimento de A. niger no 2º dia para o meio de cultivo 4.

4.6. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA DO ÓLEO DE FRITURA EM TERMOS

ÁCIDOS GRAXOS

Uma análise qualitativa da composição dos triglicerídeos presentes no OCR em termos de

ácidos graxos foi realizada por cromatografia gasosa para verificar a qualidade do óleo de

fritura utilizado. Os picos podem ser observados na Figura 20. A Tabela 6 mostra a

identificação das estruturas moleculares dos ácidos graxos do OCR.

A composição de ácidos graxos do OCR mostrou-se bastante parecida com a dos óleos de

soja, algodão, coco e sebo bovino encontrados nos trabalhos de Christoff (2007), Fangrui et

al. (1999) e Zhenzhong et al. (2010). A deterioração do óleo durante a fritura pode trazer

problemas à reação de transesterificação e geração de produtos indesejáveis (Araújo et al,

2013), o que pode acarretar um biodiesel e a respectiva glicerina de baixa qualidade. A

qualidade do resíduo utilizado como matéria prima num processo biotecnológico implica na

qualidade do produto obtido (Habe et al, 2013). Pelas análises de composição o óleo de fritura

utilizado no presente projeto se mostrou comparável a outros óleos e gorduras.

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26

Figura 20 – Análise do OCR por cromatografia gasosa acoplada a espectrômetro de massas.

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Tabela 6 - Caracterização de ácidos graxos do OCR.

Tempo

de

Retenção

(minutos)

Nome dos

Ácidos Graxos

Fórmula

Molecular Estrutura Molecular

33,7 Mirístico C15H30O2

49,4 Palmitoléico C15H30O2

51,6 Palmítico C17H34O2

66,3 Linoléico C19H34O2

66,9 Elaidico C19H36O2

67,2 Oléico C19H36O2

67,4 12-cis-

octadecadienoato C19H34O2

67,9 Linolênico C19H32O2

69,1 Esteárico C19H38O2

83,3 13-cis-

eicosenóico C19H36O2

85,7 Araquídico C21H42O2

101,2 Behênico C23H46O2

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4.7. INFLUÊNCIA DO pH E DA ACIDEZ DO MEIO DE CULTIVO NO

CRESCIMENTO DE ASPERGILLUS NIGER

Um experimento preliminar foi realizado, cultivando o fungo em processo submerso (sob

agitação) e em superfície (sem agitação) apenas para verificar como o fungo se desenvolvia.

Aparentemente, em superfície foi formada maior quantidade de ácido e, por isso, o processo

em superfície foi o escolhido para esses experimentos.

Para a obtenção de grande número de esporos, A. niger foi crescido em garrafas. A Figura

21 mostra o cultivo.

Figura 21– Cultivo de A. niger para obtenção dos esporos.

Com relação aos meios de cultivo 2, 3, 4 e 5 foi possível observar um maior

crescimento do fungo no meio de cultivo 5, que apresenta maior concentração de glicerina do

biodiesel (80 g/L ). Nesse meio o máximo de concentração celular obtido foi de 41,6 g/L em

aproximadamente 330 horas de cultivo. Os demais meios (2, 3 e 4), que tinham a mesma

concentração de glicerina do biodiesel (10 g/L), levaram a crescimentos muito menores

(Figura 22) porém com alguns perfis de crescimento singulares como pode ser melhor

observado na Figura 23.

Observa-se na Figura 23 que a concentração de células foi maior para o meio de

cultivo 4. Nesse meio foi verificado um crescimento rápido até 86 h, seguido de uma fase

quase que de estabilidade entre 86 e 231 h de cultivo e novamente crescimento rápido após

231 horas, atingindo 7,7 g/L em aproximadamente 330 horas. No meio de cultivo 3 também

houve um crescimento rápido até 86 h de cultivo, em taxa próxima a observada no meio 4

seguido de uma estabilização em torno de 5 g/L até o final do experimento. O meio de cultivo

2 apresentou bastante crescimento em até 136 h e ficou estável até 187 h de cultivo mas

posteriormente houve queda no crescimento.

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29

Figura 22 – Concentração celular em função do tempo para Meio de cultivo ♦ 2, ■ 3, ▲4 e

● 5.

Figura 23– Concentração celular em função do tempo para os meios de cultivo ♦ 2, ■ 3 e ▲4.

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30

Uma vez que o método de análise da concentração celular foi por medida da massa

celular após secagem, uma queda no crescimento sugere um desaparecimento de biomassa.

Isso só seria possível pela lise celular, o que não parece o caso. Portanto, essa queda pode ter

sido devida a um erro experimental e assumiu-se que o crescimento estacionou em torno de 5

g/L após 187 horas.

A variação de pH e acidez no meio de cultivo estão apresentados nas Figuras 24 e 25.

Figura 24 – Variação de pH em função do tempo para Meio de cultivo ♦ 2, ■ 3, ▲4 e ● 5.

Figura 25 – Variação da Acidez em função do tempo para Meio de cultivo ♦ 2, ■ 3, ▲4 e ● 5.

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Observa-se que nos meios 3 e 4 não houve variação de pH, mantendo-se em pH

aproximadamente 2. No meio 2, o pH decresceu do valor inicial 5 até 2,2 em torno de 200

horas, aumentando em seguida até 3,0. O pH no meio de cultivo 5 decresceu até 1,92 em 200

horas e prosseguiu até o final mantendo este valor aproximadamente constante.

A acidez no meio de cultivo 2 não acompanhou a variação de pH, pois manteve-se

praticamente constante por todo o tempo de cultivo (em torno de 1,2 g/L). Dessa forma,

verifica-se que a acidez não foi a responsável pelo abaixamento do pH e sim o consumo de

algum nutriente, provavelmente a fonte de nitrogênio ((NH4)2SO4).

No meio de cultivo 3, o pH manteve-se constante, porém a acidez inicial no meio de

cultivo já se mostrava alta, diminuindo em torno de 50 horas e ficando constante até o final do

cultivo. Essa acidez inicial alta observada pode ter sido devida a algum componente do meio.

É fato que esse meio possui a maior concentração de dihidrogeno fosfato de potássio, que

pode ter sido o responsável pela acidez inicial. Não se pode afirmar que houve ou não

formação de ácido nesse meio, pois essa acidez inicial ficou muito alta não permitindo

visualizar se houve aumento da acidez. No meio 4 houve um leve acréscimo no valor da

acidez, apesar do pH ter se mantido constante.

O meio 5 apresentou a produção de ácido máxima, atingindo 2,9 g/L, em

aproximadamente 200 horas. O aumento da acidez foi acompanhado pelo decréscimo do pH.

Nesse meio a concentração de glicerina foi a maior de todas as testadas.

André et al. (2010) obteve acidez em termos de ácido oxálico até 21,5 g/L utilizando duas

linhagens de A. niger a partir de glicerina de biodiesel. Musial et al. (2011) relataram

formação de ácido oxálico também em concentração alta (48,9g/L). No presente trabalho a

baixa formação de ácido pode ter sido devido à linhagem utilizada. Resultado semelhante foi

observado por Papanikolaou et al. (2011) ao cultivar A. niger em óleo de fritura residual.

Apenas uma dentre as cinco linhagens testadas produziu ácido e ainda assim em baixa

quantidade (5 g/L).

Algumas dificuldades encontradas relacionadas com os meios de cultivos são detalhadas

no Apêndice A.

5 CONCLUSÃO

A produção do biodiesel pelo OCR mostra-se bastante promissora levando-se em conta a

quantidade deste passivo ambiental que deve ser descartado em grandes quantidades no

mundo todo. Obteve-se um bom percentual de biodiesel e uma viscosidade que atende a

norma da ANP.

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32

Em termos de produção de ácido o meio de cultivo 5 foi o que apresentou melhor

resultado pois a acidez acompanhou o pH dando bom indicativo de formação de algum ácido,

embora não tenha sido feito a análise qualitativa. Além disso, o meio de cultivo 5 apresentou

maior crescimento do microrganismo, desta forma não se verificou a inibição do crescimento

devido as demais substâncias constituintes da glicerina do biodiesel como discutido

anteriormente.

6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Realizar análises por cromatografia líquida de alta performance (HPLC) nos

meios de cultivo para saber se houve formação de ácidos orgânicos.

Realizar mais experimentos de caracterização do biodiesel para saber se ele

atende os demais parâmetros.

Realizar mais experimentos de caracterização do OCR.

Realizar o experimento com concentração maior de glicerina do biodiesel.

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APÊNDICE A – DIFICULDADES ENCONTRADAS

O meio de cultivo apresentou uma camada superficial de um material oleoso em sua

superfície após a esterilização. Provavelmente os ácidos graxos residuais resultantes da reação

de transesterificação, que não são solúveis em água, solvente utilizado em meios de cultivo,

formaram essa camada. Houve dificuldade na remoção desse óleo após filtração do micélio no

meio de cultivo 5, que apresentava alta concentração de glicerina. Na Figura 26 pode-se

observar a presença de óleo após a filtração do micélio. Por isso foi decidido lavar o micélio

com pequena porção de hexano, para a remoção dos resíduos de óleo, e só depois com água,

para a remoção de outros componentes do meio. Esse procedimento foi necessário somente na

primeira amostragem. Nas demais amostragens, provavelmente houve consumo do óleo pelo

fungo.

Figura 26 - Observações durante o experimento o papel de filtro após filtração do meio de

cultivo 5.

Outra dificuldade encontrada foi o preparo do meio de cultivo de concentração maior de

glicerina do biodiesel (Figura 27). A princípio a glicerina e todos os demais nutrientes eram

dissolvidos no meio de só então o pH era ajustado. No entanto, o abaixamento do pH dessa

solução resultava na formação de uma “emulsão amarelada”. A massa era provavelmente

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composta de ácidos graxos que se tornavam insolúveis com o abaixamento de pH. A partir

daí não se conseguia mais abaixar o valor de pH. Estudando o assunto, foi concluído que

estava havendo formação de tampão entre o hidrogeno fosfato de potássio presente do meio

de cultivo com o sódio residual do catalisador da reação de transesterificação. O problema foi

resolvido com o preparo do meio sendo feito em duas etapas. Na primeira a glicerina era

solubilizada em água, e o pH era ajustado. Só depois era feita a adição dos sais.

Figura 27 - Preparo do meio de cultivo com maior concentração de glicerina do biodiesel.