134
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA CLEUDSON PAULA PASSOS CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO COLÉGIO DEPUTADO MANOEL NOVAES: FORMAÇÃO E INSERÇÃO DE ALUNOS NO NÍVEL SUPERIOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. Salvador 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

CLEUDSON PAULA PASSOS

CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO

COLÉGIO DEPUTADO MANOEL NOVAES: FORMAÇÃO E INSERÇÃO

DE ALUNOS NO NÍVEL SUPERIOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA.

Salvador

2016

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

CLEUDSON PAULA PASSOS

CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO

COLÉGIO DEPUTADO MANOEL NOVAES: FORMAÇÃO E INSERÇÃO

DE ALUNOS NO NÍVEL SUPERIOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Música da Universidade Federal da Bahia, como

requisito parcial para o grau de Mestre em Música.

Área de Concentração: Educação Musical.

Orientador: Prof.Dr. Luiz César Magalhães

Salvador

2016

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

P289c Passos, Cleudson de Paula.

Curso técnico profissionalizante em música do Colégio Deputado Manoel

Novaes: formação e inserção de alunos no nível superior da Universidade Federal da

Bahia [manuscrito] / Cleudson de Paula Passos; orientador, Luiz César Magalhães –

Salvador, 2016.

135 p. ; il; 30 cm.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.

1. Música. 2. Ensino Profissionalizante. 3. Democratização. 4. Inserção. I.

Universidade Federal da Bahia – UFBA, Escola de Música. II. Magalhães, Luiz

César. III. Título.

CDU 78.06

CDU 027.7:659.1

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

Folha de aprovação

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

Dedico este trabalho especialmente a todos os colegas, os chamados “músicos de alma”,

pertencentes a “raça da pedra dura”, contemporâneos da primeira turma de formandos do

curso de música do CEDMN.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado saúde física e mental para superar todas as barreiras que

foram aparecendo no decorrer do trabalho.

A minha mãe D. Noemia, pela educação que me proporcionou e que muito contribuiu

para minha formação atual.

A minha irmã Catarina, que sempre me apoiou nos momentos mais difíceis dessa

jornada.

Aos meus filhos Júnior e Laiara, que tanto me inspiram a querer aprender e progredir

cada vez mais!

A Rosa Fortes pelas sugestões, contribuições e apoio dispensados a este trabalho!

A Prof.ª Lydia Hortélio, por sua paciência, simpatia e disponibilidade durante as

entrevistas concedidas a essa pesquisa. Orgulho-me profundamente e sou eternamente grato

por ter sido seu aluno e do curso de música do CEDMN!

Ao Profº. Jailson Coelho, pela honra de ter sido seu aluno, de ser seu amigo e pela sua

generosa e constante contribuição para que esse trabalho fosse realizado. Meus sinceros

gestos de agradecimento!

Ao meu grande amigo Jailson de Souza Corrêa, pela ajuda no momento certo e suas

palavras de conforto e incentivo.

Ao meu orientador, Profº. Dr. Luiz César Magalhães, que abraçou e confiou nesse

projeto desde o início até o final.

Aos professores e egressos entrevistados do curso de música do CEDMN.

Aos professores entrevistados da EMus/UFBA.

A todos e todas que colaboraram direta ou indiretamente para a realização deste

trabalho.

Muito obrigado!

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

“Para que tenhamos lugar no concerto dos povos nós

queremos nesta escola: ouvir o mundo e cantar o Brasil”.

(HORTÉLIO, 1993)

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

PASSOS, Cleudson Paula. Curso técnico profissionalizante em música do colégio

Deputado Manoel Novaes: formação e inserção de alunos no nível superior da Universidade

Federal da Bahia. Dissertação (Mestrado) - Escola de Música, Universidade Federal da Bahia,

135f. il. Salvador, 2016.

RESUMO

Essa dissertação investiga o curso profissionalizante em música do Colégio Estadual

Deputado Manoel Novaes (CEDMN) e a participação deste, na preparação e inserção de

alunos no nível superior em música da Universidade Federal da Bahia, considerando os

aspectos históricos, culturais e políticos do ensino profissionalizante. A pesquisa também

analisa a formação e discute a relevância do referido curso no processo de democratização do

ensino de música (principalmente para as classes de baixa renda) rumo à universidade. A

metodologia utilizada é de natureza qualitativa, se aproximando do estudo de caso. Foram

realizadas entrevistas semi-estruturadas, bem como aplicados questionários sócios

demográficos seguidos de perguntas fechadas e abertas com nove egressos e treze professores

do CEDMN. Outro questionário formado também por perguntas abertas e fechadas, foi

aplicado a seis professores da EMus/UFBA.Utilizou-se também como fonte de pesquisa,

diversos documentos (leis, decretos, atos e pareceres) sobre a legislação educacional,

principalmente aqueles destinados a cursos técnicos profissionalizantes, impressos e ou

publicados na Web. Ao analisar a importância do fenômeno investigado, tornou-se necessário

realizar um levantamento preciso da história do curso, desde a sua criação até os dias atuais.

Esta análise foi feita de acordo às respectivas mudanças nos modelos de políticas públicas

educacionais a que foi submetido todo ensino técnico profissionalizante do país, nos governos

de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, através da fundamentação teórica

que norteou o foco principal deste trabalho. Os resultados apontam para necessidade de

aprofundamento destes estudos em outras instituições (comunidade científica) de forma a dar

continuidade a pesquisas como esta, com o intuito de apontar saídas para grande escassez de

novos modelos de formação musical a nível profissionalizante, como as do curso em música

do CEDMN.

Palavras-Chave: Música. Ensino Profissionalizante. Democratização. Inserção.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

PASSOS, Cleudson Paula. Curso técnico profissionalizante em música do colégio

Deputado Manoel Novaes: formação e inserção de alunos no nível superior da Universidade

Federal da Bahia. Dissertação (Mestrado) - Escola de Música, Universidade Federal da Bahia,

135f. il. Salvador, 2016.

ABSTRACT

This dissertation investigates the music professional course at Deputado Manoel

Novaes High School in the preparation and insertion of students from the Music College of

the Federal University of Bahia, considering the historical, cultural and political aspects of

profetional education. The research also examines the formation and discusses the relevance

of the course in the process of democratization of music education (primarily for the low-

income classes) toward the University. The methodology used is qualitative in nature,

approaching the case study. Semi-structured interviews were conducted as well as applied

socio demographic questionnaire with closed and open questions with nine leavers (ex

students) and with thirteen teachers from Deputado Manoel Novaes High School. Another

questionnaire formed also by open and closed questions was applied to six teachers from the

Music College of the Federal University of Bahia. It was also used as a research source many

documents (laws, decrees, acts and opinions) about the educational legislation, especially

those addressed to the technical professional courses, published on the Web and / or in print.

By analyzing the importance of the investigated phenomenon, it was necessary to carry out a

survey of the history of the course, since its implementation until the present day. The

analysis was done according to the respective changes in the models of public educational

policy that has undergone by every professional technical teaching in the country, in the

Government of Fernando Henrique Cardoso and Luiz Inácio Lula da Silva, through the

theoretical foundation that has guided the main focus of this work. The results point to the

need for further development of these studies in other institute (the scientific community) in

order to continue the researches like this, with the intention of pointing solutions to the severe

shortage of new models of music training in the professional level, as the course in the

Deputado Manoel Novaes High School.

Keywords: Music. Professional Education. Democratization. Insertion.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Época / Turma. 31

Gráfico 2 - Época / Turma.......................................................................................... 32

Gráfico 3 - Cursos....................................................................................................... 32

Quadro 1 - Estrutura das disciplinas de formação técnica profissionalizante do CEDMN.. 54

Gráfico 4 - Nível de Qualidade do Corpo Docente..................................................... 61

Gráfico 5 - Nível musical dos entrevistados........................................................................ 63

Gráfico 6 - Saberes musicais dos entrevistados.......................................................... 64

Gráfico 7 - Número de entrevistados que possuíam renda.................................................... 79

Gráfico 8 - Motivação dos alunos entrevistados para o trabalho.......................................... 80

Quadro 2 - Avaliação das condições estruturais recentes, do curso de música do CEDMN 97

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

LISTAS DEABREVIATURAS E SIGLAS

AID Agency for Internacional Development

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CAB Centro Administrativo da Bahia

CEEPS Curso de Especialização em Educação Profissional

CETEB Centro de Educação Tecnológica do Estado da Bahia

CEDMN Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes

CEE Conselho Estadual de Educação

CFE Conselho Federal de Educação

CEFETs Centros Federais de Educação Tecnológica

CEPOMP Centro de Estudos em Pós-Graduação Olga Meeting

EMUS Escola de Música

ENEM Exame Nacional de Ensino Médio

EPI Ensino Profissional Integrado

FMI Fundo Monetário de Educação

FUNAI Fundação Nacional Indígena

FUNCEB Fundação Cultural do Estado da Bahia

IAT Instituto Anísio Teixeira

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística

LDB Lei de Diretrizes Básicas

LEM Literatura e Estruturação Musical

MEC Ministério da Educação e Cultura

ONU Organização das Nações Unidas

PPGMUS Programa de Pós-Graduação em Música

PROEP Programa de Expansão da Educação Profissional

PROEJA Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a

Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PROUNI Programa Universidade para Todos

SEC Secretaria da Educação e Cultura

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Indústria

SISU Sistema de Seleção Unificado

SUPROF Superintendência de Educação Profissional

UFBA Universidade Federal da Bahia

UNE União Nacional dos Estudantes

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura

USAID United States Agency for Internacional Development

WEB World Wide Web

WORLD BANK Banco Mundial

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 15

1.1 MEMÓRIAS DO PERCURSO.............................................................................. 17

1.2 QUESTÃO DA PESQUISA.................................................................................. 20

2 PERSPECTIVAS METODOLÓGICA.............................................................. 22

2.1 COLETA E ANÁLISE DE DADOS..................................................................... 27

2.1.1 Sobre a aplicação de questionários e realização de entrevistas....................... 29

2.1.2 Aplicação dos questionários com os ex-alunos do CEDMN............................. 29

2.1.3 Aplicação de questionários com os professores do CEDMN e Mus/UFBA.... 33

2.1.4 As entrevistas e os entrevistados......................................................................... 33

2.2 O PESQUISADOR E EX- ALUNO EM CAMPO................................................ 34

2.3 FONTES DE PESQUISA...................................................................................... 36

2.4 REFERENCIAIS TEÓRICOS............................................................................... 37

3 O ENSINO PROFISSIONALIZANTE E A CRIAÇÃO DO CURSO DE

MÚSICA DO CEDMN.........................................................................................

39

3.1 O ENSINO PROFISSIONALIZANTE E O MUNDO DO TRABALHO............. 39

3.2 O ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL ........................................... 41

3.2.1 Reforma Capanema: consolidação da estrutura elitista brasileira................. 45

3.2.2 Os reflexos da LDB Nº 4.024/1961 no ensino profissionalizante...................... 48

3.2.3 O ensino profissionalizante no Brasil de 1964................................................... 48

3.2.4 A LDB Nº 5. 692 de 11 de agosto de 1971........................................................... 50

3.3 IMPLEMENTAÇÃO DO CURSO DE MÚSICA DO CEDMN E O PARECER

CFE 1.299/73.........................................................................................................

51

3.4 OS PRIMEIROS PASSOS PARA A CRIAÇÃO DO CURSO

PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO CEDMN.......................................

54

3.5 SOBRE O CORPO DOCENTE E DISCENTE..................................................... 58

3.5.1 Contratação e efetivação dos professores........................................................... 61

3.5.2 Sobre os egressos (discentes)............................................................................... 62

4 DAS OFICINAS MUSICAIS AO CURSO TÉCNICO

PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA..........................................................

65

4.1 INAUGURAÇÃO E OS PRIMEIROS ANOS DO CURSO................................. 65

4.2 PROPOSTAS PEDAGÓGICAS VERSUS INCOMPATIBILIDADE

IDEOLÓGICAS.....................................................................................................

65

4.3 A EXPERIÊNCIA DO CEDMN FRENTE À PLURALIDADE E

DIVERSIDADE DE GÊNEROS MUSICAIS.......................................................

70

4.3.1 Ensino do violão no CEDMN e os métodos utilizados...................................... 72

4.4 OUTRAS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELO CURSO...................... 76

5 DESATIVAÇÃO E REATIVAÇÃO: repercussões e impactos....................... 85

5.1 DESATIVAÇÃO DO CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM

MÚSICA DO CEDMN..........................................................................................

85

5.2 A REATIVAÇÃO DO CURSO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO

CEDMN NO MODELO EPI..................................................................................

91

5.3 CONSIDERAÇÕES ATUAIS SOBRE O CURSO DE MÚSICA DO CEDMN.. 96

5.4 EMus /UFBA E PROGRAMAS DE INCENTIVO AO ENSINO SUPERIOR.... 100

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

5.5 O CURSO DE MÚSICA DO CEDMN E A DEMOCRATIZAÇÃO DO

ENSINO SUPERIOR EM MÚSICA NA BAHIA.................................................

103

6 CONCLUSÃO...................................................................................................... 108

REFERÊNCIAS................................................................................................... 117

APÊNDICE A - Questionário sócio demográfico e roteiro de entrevista....... 125

APÊNDICE B - Questionário sócio demográfico e roteiro de entrevista........ 130

APÊNDICE C - Questionário sócio demográfico e roteiro de entrevista....... 132

APÊNDICE D – Termo de Compromisso.......................................................... 135

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

15

1 INTRODUÇÃO

A legislação educacional vem estabelecendo há mais de 40 anos, um espaço para a

arte nas escolas regulares de educação. No entanto, a presença desta tem sido marcada pela

indefinição e ambigüidade, uma vez que as legislações para diretrizes educacionais não

definiam o que de fato entendiam por educação artística, muito menos, os modos como essa

disciplina e o ensino da arte deveriam ser realizados. Prevaleceu nas escolas um ensino

difuso, com ênfase nas artes plásticas, teatro e dança. Sendo assim, não era exigida formação

específica por parte do docente para lecionar cada uma dessas referidas disciplinas.

O fato, é que a educação no Brasil passou a ser um investimento para o ingresso no

mercado de trabalho capitalista a partir de 1930, quando foi criado o Ministério da Educação e

Saúde Pública. No ano seguinte foram aprovados decretos para organizar o ensino secundário

e o ensino superior.

A partir de 1961, com a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº

4024/61, o ensino profissionalizante foi incorporado ao sistema regular de ensino formal. Os

cursos técnicos então passam a equivaler à formação de nível médio. Há que se considerar,

entretanto, que a formação profissionalizante no Brasil ocupa um lugar inferior em relação

aos outros cursos de nível médio. Os cursos profissionalizantes correspondem à opção de

muitos jovens pela inserção no campo de trabalho, em oposição àqueles que podem dispor de

mais tempo sem trabalhar, ascendendo socialmente através da formação superior.

(FERNANDES, 1998).

Apenas em 1971, a LDB garantiu o ensino das artes no currículo das escolas de nível

fundamental. Em meados da década de 80, vão sendo adotadas medidas governamentais, que

visam à adequação do sistema educacional do país às transformações de ordem econômica,

política, sociais e culturais que se expressam na interferência das agências multilaterais. Nesse

contexto, se insere a democratização do Brasil e a promulgação em 1988 da nova Constituição

Federal. Também nesse mesmo ano, tem início a discussão da nova LDB, com ampla

participação das escolas públicas do país. (FERNANDES, 1998).

Na década de 90, ocorre um amplo processo de reorganização no campo político do

país, com repercussões expressivas sobre a educação. Organismos internacionais, como

Banco Mundial, passam a exigir projetos de reestruturação significativos para a garantia dos

investimentos internacionais no Brasil e demais países em desenvolvimento.

Ainda em 1990, ocorre a “Conferência Mundial de Educação para Todos”, que resulta

na elaboração do “Plano Decenal de Educação para Todos”, em 1993. Estava em curso nesse

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

16

momento um amplo debate que envolvia diversos setores da sociedade brasileira, visando à

busca de garantias a diversidade de interesses. A nova LDB é o espelho dessa realidade. A

política desenvolvimentista, implementada pelo governo do presidente Fernando Henrique

Cardoso, pretendia responder aos interesses das agências internacionais. Então, em 1996 foi

aprovada a nova LDB da Educação Brasileira, em detrimento das propostas discutidas pelos

setores populares e da classe dos educadores. (HERMIDA, 2012).

Nessa época, no estado da Bahia, estava em curso o governo de Antônio Carlos

Magalhães. O estado despontava como um dos mais críticos em termos educacionais, com

índices muito inferiores a “baixa” média nacional”.

A reestruturação da educação era uma porta de entrada para o investimento do capital

necessário para modernização proposta pelo governo do estado. Ao tempo que ocorria uma

ampla divulgação midiática referente à produção musical baiana, o governo através da

assessoria da Secretaria de Educação e Cultura investiu na criação do primeiro curso

profissionalizante em música da Bahia e do Brasil, o qual foi implantado no Colégio Estadual

Deputado Manoel Novaes (CEDMN).

Embora a proposta principal deste curso fosse o de formar profissionais bem

qualificados para o mundo do trabalho, o mesmo surpreendeu com o alto índice de aprovação

dos seus discentes através da primeira turma de concluintes do ano de 1996, após exames de

seleção para o nível superior em música da UFBA no início de 1997.

Atualmente, o nível superior da EMus/UFBA1, ainda recebe alunos advindos do

curso profissionalizante em música do CEDMN, o que demonstra a real necessidade de uma

investigação voltada para a contribuição desse curso nesse aspecto. Sendo assim, o foco

principal dessa pesquisa, é discutir a relevância do curso técnico profissionalizante em música

do CEDMN, principalmente para as classes de baixa renda, no processo de democratização do

ensino acadêmico de música na Bahia.

É importante esclarecer que, como fonte referencial desta pesquisa, busquei autores

que já houvessem tratado a respeito do meu objeto de investigação em questão. Entretanto, o

único trabalho mais denso, mais intenso, que envolvia diretamente o nome desta instituição

(CEDMN), foi a da Prof.ª Jaqueline Câmara Leite2·. Trabalho consistente, que já indicava o

sucesso referente à inserção dos estudantes no nível superior em música. Porém, o foco da sua

1Escola de Música da Universidade Federal da Bahia. 2Mestra , Doutoranda em Ed. Musical pela EMus/ UFBA e Prof.ª titular dessa referida instituição.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

17

pesquisa era:“Avaliar a importância da formação musical de nível técnico na atuação

profissional dos técnicos egressos do CEDMN.” (LEITE, 2007, p.16).

Para um melhor entendimento, apresento o conjunto de fatores que motivaram a

pesquisa e as escolhas teóricas e metodológicas daí decorrentes.

1.1 MEMÓRIAS DO PERCURSO

Para justificar o meu interesse como pesquisador sobre o objeto de pesquisa em

questão julguei pertinente, fazer um breve relato sobre o processo inicial da minha relação

com o curso técnico profissionalizante em música do CEDMN.

Aos quatorze anos de idade despertei interesse por música, como a maioria dos jovens

da minha faixa etária, escolhendo o violão como instrumento. Comecei a praticar alguns

acordes através de cifras de revistas e segui aprendendo também, por meio da “tradição oral”.

Press (2004) e Pinto (2002) explicam a tradição oral em música popular, principalmente em se

tratando do violão: “... como uma forma de aprendizagem que ocorre, geralmente, dentro do

contexto familiar, ou entre vizinhos e amigos mais próximos. Os primeiros acordes, balanços

rítmicos das músicas são transmitidos por quem possui maior conhecimento”.

Durante esse período ainda cursava o 2º grau do curso técnico profissionalizante em

Contabilidade, na Escola Estadual Rômulo Almeida, situada no bairro Guilherme Marback,

em Salvador-Ba. Concomitante à minha formação em Contabilidade senti a necessidade de

uma formação musical mais consistente, tendo como objetivo futuro o ingresso no nível

superior no curso de música da Universidade Federal da Bahia. Sendo assim, passei a

procurar meios de aprendizagem formal, no intuito de obter conhecimento em leitura,

harmonia e percepção musical. Foi aí que começou meu dilema: Como estudar música sendo

eu um aluno de baixa renda?

Iniciei então a minha procura por cursos gratuitos, porém não obtive êxito na minha

jornada. O que se via eram cursos de extensão (oficina e básico) na EMus/UFBA e no

Instituto de Música da UCSAL3, além de pequenos conservatórios ou cursos informais

espalhados pela cidade, bem como, professores particulares que preparavam de uma forma

intensiva os indivíduos interessados a ingressar no nível superior em música. Nenhum desses

meios eram gratuitos e o custo financeiro de certa maneira era caro, principalmente para as

classes de baixa renda, coincidentemente a que eu me encaixava.

3 Universidade Católica de Salvador.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

18

Passei um ano desdobrando-me com livros emprestados de teoria musical, harmonia e

improvisação. Porém, sem acompanhamento de um professor particular ou um curso formal,

sentia muitas dificuldades e a todo o momento surgiam muitas dúvidas que não conseguia

esclarecer. Foi então, que no final desse mesmo ano (1992), descobri através de outro colega

do mesmo bairro em que morávamos, a existência do surgimento de um curso

profissionalizante em música, pioneiro na Bahia e no Brasil. Para ingressar nessa referida

instituição, a pessoa interessada era submetida a um exame de seleção que tinha por objetivo

avaliar o seu nível de aptidão musical, grau de interesse pelo curso e o perfil de classe social a

que pertencia. Caso o candidato fosse aprovado, cursaria o 2º grau profissionalizante junto

com as outras disciplinas propedêuticas, tendo como área de concentração “Instrumentista em

Música”. O nome desta escola era “Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes” (CEDMN).

Aos dezessete anos (1993) então, ao ser aprovado nessa seleção, iniciei meus estudos

de violão no Conservatório de Música da Escola Deputado Manoel Novaes, situada na Av.

Araújo Pinho, nº 30, no bairro do Canela, em Salvador/BA. Sob a orientação do Prof. Jailson

Coelho4, comecei a estudar o instrumento de uma maneira mais sistemática, lendo e

entendendo música por meio da pauta musical, através do estilo erudito e popular.

Sendo assim, a cada ano que abria o processo de seleção de candidatos ao curso

profissionalizante do CEDMN, informava amigos e pessoas ao meu redor, principalmente aos

que se enquadravam num perfil de classe social de baixa renda e almejavam estudar música

seriamente, com o intuito até mesmo de prestar vestibular para um nível superior.

Em 1996, ao final de quatro anos de curso, conclui o segundo grau profissionalizante

em música do CEDMN, junto a 79 colegas de turma. No início de 1997, após prestar exame

no processo seletivo para o vestibular em música da EMus/UFBA, 25 alunos advindos do

CEDMN ingressaram na graduação do curso de música dessa mesma instituição. Desses

alunos, 11 foram aprovados em composição e regência, seis em licenciatura e oito em

instrumento. (LEITE, 2007, p.55).

Um fato significativo é que a maioria dos egressos daquela época especificamente,

advindos do CEDMN, já havia realizado a formação de nível médio, o que configurava o real

interesse e necessidade desse tipo de formação. O trabalho de Leite (2007, p.55), constata

ainda que 30% dos formandos abandonaram o curso de música do CEDMN antes da

conclusão, ingressando no nível superior em música da UFBA.

4Professor graduado em Licenciatura pelo Instituto de Música da UCSAL (Universidade Católica de Salvador),

um dos fundadores do curso de música do CEDMN e titular da cadeira de violão desse mesmo curso.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

19

Nesse mesmo ano (1997) ao ser aprovado no curso de instrumento (violão), fui

orientado pela Prof.ª Cristina Tourinho5. No segundo ano, a partir de 1998, fui transferido

para a classe de alunos do Profº. Mário Ulloa6, estudando com o próprio os quatro anos finais

que se seguiram.

Logo no início da minha formação acadêmica soube com enorme pesar, da

desativação do curso profissionalizante em música do CEDMN. Começou nesse momento

então, a minha inquietação. A pergunta que não se calava era: Qual motivo levou a finalização

de um curso de música como o do CEDMN?

O fato é que o curso de música do CEDMN atendia a uma demanda antiga, que se

traduzia nas queixas sobre a escassez de cursos gratuitos de nível secundário em música com

grau de preparo suficiente para o ingresso à universidade e que formava profissionais

capacitados para o mercado de trabalho. Portanto, só existia ele com esse perfil e nesse

formato na Bahia e no Brasil, naquele momento.

Naturalmente, as deduções que levava a alguma resposta sobre o acontecimento,

apontavam para o momento político vivido pelo país em relação às políticas públicas de

ensino, como fator determinante para aquele episódio.

Ainda durante a graduação, como instrutor, lecionei durante quatro anos nos cursos de

extensão de violão clássico e popular da EMus/UFBA (Oficina e Básico). Enquanto isso,

depois da desativação dos cursos profissionalizantes, o curso de música do CEDMN

continuou a funcionar sob regime de oficinas, travando enormes dificuldades de existência,

alicerçando-se principalmente no compromisso e engajamento pessoal de cada professor ou

profissional envolvido com aquele projeto. Vale ressaltar, que ainda assim, alguns alunos

advindos dos cursos de oficinas do CEDMN, conseguiam aprovação no exame de seleção do

vestibular para música da EMus/UFBA, só que agora em bem menor quantidade.

No início de 2005 fui aprovado para lecionar na graduação, como professor substituto

do curso de instrumento (Violão) da Universidade Federal da Bahia, durante dois anos. Nesse

mesmo ano através do Decreto nº 5.154 de 23 de julho de 2004, o governo do estado da Bahia

inicia um projeto piloto de implantação do ensino médio integrado a educação profissional,

ocorrendo assim, a reativação do curso profissionalizante em música do CEDMN, no modelo

Ensino Profissional Integrado - EPI.

5 Doutora em Educação Musical, titular da cadeira do curso superior de violão da EMus/UFBA 6 Doutor em Instrumento, titular da cadeira do curso superior de violão da EMus/UFBA.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

20

Portanto, durante todos esses anos de vida acadêmica, percebi então, que os alunos

egressos do CEDMN, aprovados no vestibular em música da UFBA, estavam sendo

considerados agentes transformadores, uma vez que representavam um “divisor de águas”,

segundo o qual, professores da EMus/UFBA, podiam dizer antes e depois.“Entrevistas

concedidas por professores do Colégio Manoel Novaes, referem o entusiasmo dos professores

universitários, em receber alunos com instrução musical adequada para o nível de formação

exigido pelo exame de seleção da UFBA” (LEITE, 2007).

Deste modo, observei que o CEDMN ao longo desse tempo, vem assumindo um papel

de grande relevância, não só para o preparo bem capacitado dos seus alunos para o mundo do

trabalho, bem como, para a democratização do ensino acadêmico na Bahia, no que diz

respeito a inserção de alunos no nível superior de música da EMus- UFBA.

Assim sendo, tendo como fonte de inspiração o relato sobre a trajetória de existência e

resistência do curso profissionalizante em música do CEDMN, desde a sua criação até os dias

atuais, comecei a dar os primeiros passos em direção a elaboração de um anteprojeto que me

permitisse o ingresso no mestrado em Educação Musical, do curso de pós-graduação da

EMus/UFBA.

No segundo semestre de 2011, como aluno especial da disciplina “A Educação

Musical no Brasil” ministrada pela Prof.ª Conceição Perrone7, entreguei como trabalho final

um artigo, no qual já se configurava o meu real interesse através do conteúdo apresentado,

sobre o tema de pesquisa do meu anteprojeto.

Logo em seguida, no primeiro semestre de 2013, mediante aprovação desse

anteprojeto, ingressei com minha pesquisa no Mestrado Acadêmico em Educação Musical da

EMus/ UFBA, sob a orientação do Prof.Luiz César Magalhães8.

1.2 QUESTÃO DA PESQUISA

As inquietações apontadas acima conduziram a questão central dessa pesquisa, que ora

apresento em forma de pergunta:

“Como vem sendo a participação do curso profissionalizante em música do

Colégio Deputado Manoel Novaes, na preparação e inserção de alunos no nível superior

7Doutora em Etnomusicologia (leciona disciplinas da graduação e pós-graduação na EMus-UFBA). 8 Doutor em Educação Musical (leciona disciplinas da área de Educação Musical na graduação e pós-graduação

na EMus/UFBA).

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

21

em música da Universidade Federal da Bahia, considerando os aspectos históricos,

culturais e políticos do ensino profissionalizante no próprio estado? ”

Segundo Yin (2001), sobre estudo de caso:

[...] questões do tipo como e porque, são mais explanatórias, e é provável que leve ao

uso de estudos de caso, pesquisas históricas e experimentos como estratégia de

pesquisas escolhidas. Isso se deve ao fato de que tais questões lidam com ligações

operacionais que necessitam serem traçadas ao longo do tempo, em vez de serem

encaradas como meras repetições ou incidências. (YIN, 2001, p.25).

Como resposta a essa pergunta, apresento os objetivos específicos necessários à sua

consecução:

• Conhecer a história de implantação do curso profissionalizante em música do

CEDMN;

• Identificar modelos pedagógicos de educação musical que fundamentaram o

ensino do curso profissionalizante do CEDMN;

• Conhecer a visão de alunos egressos sobre a formação musical do CEDMN e

sobre o papel deste colégio no acesso ao nível superior, para as classes de baixa

renda da população;

• Conhecer a visão de professores do CEDMN e da EMus/UFBA sobre o papel da

formação musical profissionalizante dessa referida escola, para acesso ao nível

superior;

• Discutir o modelo de formação educacional musical e políticas públicas para

ensino médio, a partir da experiência do CEDMN.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

22

2 PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS

Nesse capítulo, busco definir e justificar a minha escolha metodológica, bem como

os métodos, técnicas e instrumentos de investigação utilizados. Não pretendo realizar um

tratado sobre a metodologia, mas apresentá-la como um elemento importante na trajetória

dessa investigação e na minha própria, como pesquisador dedicado ao aperfeiçoamento da

prática investigatória.

Premido pela necessidade de estudar, produzir e pelo pouco conhecimento sobre

pesquisa científica, que me possibilitasse empreender uma análise crítica das diretrizes

metodológicas do meu trabalho, busquei ler e me apropriar minuciosamente, dos métodos de

pesquisa em ciências sociais que se adequassem aos interesses deste trabalho. Não queria ser

eu um estudante a reproduzir de forma inconsistente e desarticulada os caminhos dessa

investigação.

O problema agora era saber como proceder para conseguir certa qualidade de

informação, como “explorar o terreno” para conceber a investigação. Entendi então, que os

métodos existem para ajudar o pesquisador a adotar uma abordagem mais penetrante do

objeto de estudo e assim chegar a idéias e pistas de reflexão mais esclarecedoras.

Compreendi que as técnicas de pesquisa se encontram condicionadas a orientação teórico-

metodológica da investigação, do objeto e da real necessidade de dados e informações a serem

coletadas.

Para Flick (2009, p.23) a pesquisa para ser bem-sucedida, depende muito da escolha

correta de métodos e teorias compatíveis a compreensão da investigação em questão, bem

como no reconhecimento e análise de diferentes pontos de vista, na reflexão do pesquisador

em relação ao seu objeto de pesquisa, dentro da sua gama de conhecimentos e variedade de

abordagens e métodos.

Por conta disso, enfatizo que as técnicas e os instrumentos de pesquisa aqui

utilizados não possuem autonomia para reger e definir sua própria utilização. Foram

escolhidos de acordo com a orientação teórico-metodológica dessa pesquisa. Por isso opto por

narrar a trajetória de sua escolha.

A partir de sugestões de amigos, conversas informais e indicações bibliográficas do

meu orientador, realizei leituras de autores variados, com abordagens diversas e selecionei o

modelo teórico que me pareceu atender a multiplicidade de aspectos que a minha questão de

pesquisa suscitava.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

23

Sendo assim, já havia percebido que necessitava fazer um breve exame da realidade

social dos atores envolvidos nessa pesquisa, para compreender o papel do CEDMN na

inserção de estudantes de baixa renda no nível superior do curso de música da UFBA.

Deveria buscar informações sobre: renda, nível de escolaridade anterior ao seu ingresso no

CEDMN, nível de escolaridade dos pais, que tipo de influências musicais já tinham

absorvidos anteriormente ao ingresso no CEDMN, se tinha músicos na família, se moravam

com os pais, se já eram casados, religião, etc. Mas isso não era tudo! Precisava saber como os

atores envolvidos, faziam a leitura da trajetória do colégio, deles mesmos e dos demais grupos

envolvidos na história da Instituição desde sua fundação até o momento atual.

A nossa pesquisa se enquadrava de alguma forma, na perspectiva da sociologia

compreensiva, que aponta para a necessidade de observar além dos fatores econômicos

estruturais das relações sociais, as idéias, valores e crenças que dão sentido a ação social de

indivíduos e grupos. Na perspectiva compreensiva, que tem como representante maior, Max

Weber:

[...] as estruturas sociais não existiam fora ou independentemente dos indivíduos.

Pelo contrário, as estruturas da sociedade eram formadas por uma complexa inter-

relação de ações. E era trabalho da sociologia entender os significados por trás

dessas ações. (GIDDENS, 2012, p. 28).

Ora, tal abordagem se adequava a busca de entendimento acerca da trajetória do

CEDMN. Assim, quando fui apresentado pelo meu orientador às pesquisas que vem sendo

realizadas pelo sociólogo inglês Stephen Ball9 e seus colaboradores, sobre políticas públicas

de educação, imediatamente achei pertinente e o escolhi para guiar o quadro conceitual do

meu trabalho. Seu modo de encarar o fenômeno de criação, implantação e realização das

políticas públicas em educação, poderia dar luz a minha pesquisa e se alinhava a perspectiva

compreensiva que almejava alcançar.

Tendo em vista a minha orientação teórica e consecução dos objetivos propostos,

verifiquei que a minha pesquisa se ajustava à metodologia qualitativa próxima do estudo de

caso, método de pesquisa que tem bastante prestígio no âmbito da pesquisa social.

Sobre a pesquisa qualitativa, autores como Carspecken (1996); Carspecken e

Walford, (2001) afirmam:

9Sociólogo inglês e ocupa a cátedra Karl Mannheim de Sociologia da Educação (“Karl Mannheim Professor off

Sociology of Education”: cátedra em homenagem a Mannheim, que foi para Londres em 1933, em virtude do

nazismo. Mannheim morreu em 1947. Essa cátedra foi ocupada inicialmente por Basil Bernstein até 1990, de

1992 a 2000 por Geoff Whitty – diretor do IOE e, a partir de 2001, por Stephen Ball). (MAES, 2014, p.1)

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

24

A pesquisa qualitativa crítica compreende relações entre as questões investigadas e o

sistema social mais amplo com o objetivo de apreender a totalidade de suas

determinações, bem como os de explicar os sistemas de opressão, dominação,

ideologia e discursos com a finalidade de contribuir para que tais situações sejam

alteradas. São pesquisas que fortalecem grupos e pessoas em situação de

marginalidade e opressão, propondo assim transformações nos contextos políticos e

sociais. (CARSPECKEN, 1996; CARSPECKEN e WALFORD, 2001).

Para Flick (2009), a pesquisa qualitativa está pautada em quatro considerações

fundamentais:

a) Apropriabilidade de métodos e teorias: Os métodos tornaram-se ponto de referência

para averiguação da adequação de idéias e de questões para uma investigação

empírica. Sendo assim, os critérios principais da pesquisa qualitativa consistem mais

em confirmar se as descobertas estão embasadas no material empírico, ou se os

métodos foram adequadamente selecionados e aplicados, assim como na relevância

das descobertas e na reflexividade dos procedimentos.

b) Perspectivas dos participantes e sua diversidade: Para pesquisadores qualitativos o

conhecimento e as práticas dos participantes são os objetos de grande relevância no

seu estudo. A partir daí, são avaliadas todas as informações que rodeiam o objeto de

estudo e as mais variadas maneiras de lidar com esse objeto em uma determinada

área. As formas de reflexão e as experiências de campo para o pesquisador

qualitativo são situações dissociadas por conta das mais variadas perspectivas e

conjunturas sociais a eles relacionados.

c) Reflexividade do pesquisador e da pesquisa: dentro dos métodos qualitativos, a parte

mais importante para produção do conhecimento de uma pesquisa é a comunicação

do pesquisador com o campo e seus membros. Os pesquisadores qualitativos quando

em campo, devem observar as impressões, irritações, sentimentos dos envolvidos,

interpretando-os e documentando-os em diários de pesquisa ou em protocolos de

contexto.

d) Variedade de abordagens e métodos da pesquisa qualitativa: na pesquisa qualitativa os

conceitos teóricos e metodológicos podem ser dissociados, importando mais a

diversificação de abordagens teóricas e metodológicas que caracterizam as

discussões e prática da pesquisa. (FLICK, 2009, p. 23- 25).

Desse modo, entendo que, se por um lado, a pesquisa qualitativa permite a

ampliação da percepção e análise do fenômeno estudado, tendo em vista a possibilidade de

relacionar contextos e confrontar variáveis relativas ao fenômeno, aprofundando a qualidade e

variedade das informações, por outro lado, se faz mais desafiadora para o pesquisador. A

pesquisa qualitativa se constrói a partir da relação mais próxima entre pesquisador e objeto.

Exige, por isso, maior vigilância na aplicação das técnicas, bastante rigor na análise e

interpretação do conteúdo e a apresentação sincera da trajetória em campo.

Para Flick (2009, p. 29), é interessante que na pesquisa qualitativa os caminhos

metodológicos obedeçam às seguintes etapas: entrevistas semiestruturadas ou narrativas,

coleta de dados e análises de dados a partir de grupos focais, etnografia, observação

(participante) e de gravações audiovisuais (análise de conversas através de entrevistas com

câmeras ou gravadores) e também de material visual, como fotografia e desenhos. Estes dados

serão interpretados através da análise de discurso ou de conversação.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

25

Considerando que existem diversas questões que pesam no momento da escolha dos

métodos qualitativos a utilizar, como: prazo para entrega, recursos financeiros, equipe técnica

preparada para a aplicação dos instrumentos de pesquisa e posterior categorização e análise

dos dados, adequação da pesquisa aos métodos, técnicas e objetos. Cada pesquisa de caráter

qualitativo possui um movimento próprio, que faz com que o investigador vá e volte muitas

vezes às etapas. A realidade surpreende o pesquisador e seus instrumentos de pesquisa. Por

isso mesmo, a pesquisa qualitativa oferece possibilidade de apreensão de fenômenos mais

complexos, pois ela não engessa o pesquisador.

Em relação ao estudo de caso Yin (2001), afirma ainda:

A essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudo

de caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: o

motivo pelo qual foram tomados, como foram implementadas e quais resultados.

(YIN, 2001, p. 31).

Para Yin (1994) o estudo de caso se apresenta também como uma abordagem

metodológica adequada à compreensão, exploração, ou descrição de acontecimentos e

contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores e por isso:

[...] esta abordagem se adapta à investigação em educação, quando o investigador é

confrontado com situações complexas, de tal forma que dificulta a identificação das

variáveis consideradas importantes, quando o investigador procura respostas para o

“como” e o “por que”, quando o investigador procura encontrar interações entre

fatores relevantes próprios dessa entidade, quando o objetivo é descrever ou analisar

o fenômeno, a que se acede diretamente, de uma forma profunda e global, e quando

o investigador pretende apreender a dinâmica do fenômeno, do programa ou do

processo. (YIN, 1994, p.73).

Por outro lado, Bell (1989) define o estudo de caso como um termo guarda-chuva

para uma família de métodos de pesquisa cuja principal preocupação é a interação entre

fatores e eventos. Já Fidel (1992) salienta que o método de estudo de caso, é um método

específico de pesquisa de campo e define que a pesquisa de campo como um modelo de

investigação dos fenômenos que são registrados à medida que ocorrem, sem qualquer

interferência significativa do investigador. Em realidade não concordo com a observação de

Fidel (1992). Ao contrário, o papel do pesquisador em campo é fundamental no resultado da

pesquisa, seja ela positiva ou negativa. Embora possam ocorrer situações que fujam ao

controle do pesquisador, a sua presença e ação sempre darão um tom particular ao

acontecimento.

Para Coutinho (2003), quase tudo pode ser um “caso”: um indivíduo, um

personagem, um pequeno grupo, uma organização, uma comunidade ou mesmo uma nação.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

26

Essa certa maleabilidade e amplitude do estudo de caso dilatam o seu alcance em pesquisas de

cunho social.

Da mesma forma, Ponte (2006) considera que o estudo de caso:

É uma investigação que se assume como particularista, isto é, que se debruça

deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial,

pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais

essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão. (PONTE,

2006, p.2).

Yin e Ponte (1994) destacam que o objetivo do estudo de caso é explorar, descrever

ou explicar, enquanto Guba & Lincoln (1994) salientam que além desses objetos, o estudo de

caso visa comprovar ou contrastar efeitos e relações presentes no caso. A estes objetivos,

Merriam (1998) acrescenta um terceiro: avaliar de forma a sistematizar estes vários objetivos.

Gomez, Flores & Jimenez (1996, p. 99) referem que o objetivo geral de um estudo de caso é:

“explorar, descrever, explicar, avaliar e/ou transformar”.

Por outro lado, Coutinho e Chaves (2002) atentam ainda para alguns pontos

importantes da investigação em educação tais como:

• É “um sistema limitado”, e tem fronteiras “em termos de tempo, eventos ou

processos” e que “nem sempre são claras e precisas” (CRESWELL, 1994. In:

COUTINHO & CHAVES, 2002, p.224);

• É um caso sobre “algo”, que necessita ser identificado para conferir foco e

direção à investigação (COUTINHO & CHAVES, 2002, p.224);

• É preciso preservar o caráter “único, específico, diferente, complexo do caso”

(MERTENS, 1998. In: COUTINHO & CHAVES, 2002, p.224);

• A investigação decorre em ambiente natural;

• O investigador recorre a fontes múltiplas de dados e a métodos de recolha

diversificados: observações diretas e indiretas, entrevistas, questionários,

narrativas, registros de áudio e vídeo, diários, cartas, documentos, entre outros

(COUTINHO & CHAVES, 2002, p.224).

Tais apresentações do estudo de caso, pelos autores acima citados, serviram para

fazer-me compreender que esse método se adequava perfeitamente a problemática da minha

pesquisa e seus objetivos. Ele parecia permitir avançar o entendimento sobre a realidade

específica do CEDMN e, por outro lado, alcançar esferas mais gerais das questões relativas ás

políticas públicas voltadas para o ensino profissionalizante em música e sua relação com o

ingresso de alunos de baixa renda nas Universidades Públicas.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

27

É importante acrescentar que o enquadramento do “estudo de caso” dentro dos

planos qualitativos é uma questão controversa, não havendo consenso entre os investigadores.

Como referem Coutinho & Chaves (2002):

Se é verdade que na investigação educativa em geral abundam, sobretudo os estudos

de caso de natureza interpretativo-qualitativa, não menos verdade é admitir que,

estudos de caso existem em que se combina com toda a legitimidade métodos e

qualitativos. (COUTINHO e CHAVES, 2002, p. 180).

Ainda segundo estes autores, que se apóiam numa vasta revisão de literatura, o fato

de o investigador estar pessoalmente implicado na investigação, confere aos planos

qualitativos um forte aspecto descritivo, daí que a grande maioria dos investigadores

considere o estudo de caso como uma modalidade de plano qualitativo.

Para Ponte, (1994):

Em educação têm-se tornado cada vez mais comuns os estudos de caso de natureza

qualitativa. No entanto, isso não é uma característica essencial deste tipo de

investigação. Embora não sejam muito frequentes, podem ser realizados estudos de

caso recorrendo a abordagens preferencialmente quantitativas ou de caráter misto.

Assim, por exemplo, tratando-se “o caso” de estudo de uma escola ou de um sistema

educativo pode certamente tirar-se importantes informações de variáveis

quantitativas de natureza demográfica como o número de alunos, as taxas de

reprovação, a origem social, entre outros. (PONTE, 1994, p. 89).

Entendido que a utilização da metodologia qualitativa, não exclui em absoluto o uso

de dados quantitativos, parti para a investigação, disposto a utilizar de todo tipo de dado e

informação que colaborasse para o entendimento do meu objeto, mas, consciente de que a

abordagem central dessa investigação é de cunho qualitativo.

Há muito, se estende um debate entre os pesquisadores da área de Ciências Sociais,

acerca da confiabilidade dos dados coletados em entrevistas, formulários, questionários e

aqueles provindos do trabalho de campo. Parti para a construção dos instrumentos de pesquisa

consciente da função dos mesmos. Na minha experiência em campo, quando da aplicação

desses instrumentos e técnicas, pude vivenciar um pouco o que vem motivando o debate,

sempre atual na “Pesquisa Social”. Percebi que me localizava dentro de um problema

epistemológico básico dessa área: a relação sujeito/objeto, neutralidade/ subjetividade.

Munido dessas assertivas, relato os caminhos dessa experiência.

2. 1 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Para essa pesquisa foram coletados e analisados dados secundários e primários. Os

dados primários dessa pesquisa foram obtidos através de entrevistas exploratórias, entrevistas

semi-estruturada, questionários com perguntas abertas e fechadas, conversas informais com os

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

28

informantes, visitas ao Colégio e minha própria memória como ex-aluno. Vale ressaltar, que

todos os dados coletados, foram analisados e explanados no decorrer de todo trabalho, não só

por meio das estratégias abaixo descritas, bem como, através da apresentação de alguns

gráficos explicativos. Para melhor organização, dividi as atividades em etapas.

A primeira etapa fundamentou-se na pesquisa bibliográfica sobre ensino

profissionalizante em música no Brasil, algumas leituras de autores da sociologia, filosofia e

pedagogia, entrevistas exploratórias com “informantes-chave” e registros no caderno de notas.

Na segunda etapa, foram efetuadas análises de documentos, de fontes secundárias

sobre a criação do CEDMN. Realizei estudo das leis de diretrizes educacionais de cursos

profissionalizantes e ensino de música, material de divulgação das políticas públicas de

educação e matérias de televisão.

Nessas pesquisas, tive a intenção não só de coletar material que permitisse

contextualizar o surgimento do curso profissionalizante em música na Bahia, como também,

verificar a influência das mudanças das políticas de educação na prática educacional, ao longo

da existência do curso.

Na terceira etapa, foram construídos e aplicados questionários com questões abertas

e fechadas, para alunos de quatro turmas do CEDMN. Busquei dados de ordem sócio

demográfico e cultural acerca dos mesmos e suas percepções sobre a experiência no CEDMN

e na EMus/ UFBA. Os alunos foram escolhidos, consoante as transformações pelas quais

passou este curso profissionalizante.

Na quarta etapa, construí e apliquei questionários de questões abertas e fechadas

com os professores do CEDMN e da EMus/UFBA, visando maior conhecimento sobre a

história do colégio e suas observações sobre o impacto do CEDMN na habilitação de alunos

para ingresso na graduação em música.

Na quinta etapa elaborei os roteiros de entrevista e realizei as entrevistas semi-

estruturada com os profissionais que participaram da construção do projeto de criação do

curso e com professores que vêem acompanhando as várias etapas pelas quais o CEDMN

passou.

Na sexta etapa, retornei a campo para observar melhor a situação atual do colégio.

Fiz algumas visitas complementando informações e novos registros no caderno de notas.

2.1.1 Sobre a aplicação de questionários e realização de entrevistas

Ao longo do trabalho, algumas modificações ocorreram em relação aos instrumentos

de investigação a serem utilizados. Após algumas visitas a campo (CEDMN), realização de

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

29

algumas entrevistas exploratórias e conversas informais com professores e ex-alunos, percebi

a necessidade de elaborar inicialmente, questionários sócios demográficos e roteiros de

entrevista para todos os colaboradores. As entrevistas seriam realizadas através de perguntas

abertas e gravadas com o auxílio de câmeras, para logo em seguida serem transcritas.

Porém, após reflexão mais apurada do que seria o melhor para garantir um resultado

mais eficiente para pesquisa, considerando o fator tempo e características das informações

almejadas, decidi aplicar questionário sócio demográfico (anexado a um questionário de

perguntas fechadas e abertas com os estudantes), um questionário de perguntas abertas e

fechadas para professores da CEDMN e outro questionário de perguntas abertas e fechadas

para os professores da EMus/UFBA.

Os questionários garantiriam as respostas de questões mais objetivas, que

demandassem menos interpretação e pudessem oferecer uma resposta de ordem quantitativa

acerca da realidade e nas questões abertas visava obter as informações de caráter mais

subjetivo e de maior complexidade.

Mantive a realização de entrevistas apenas com professores selecionados segundo

critério de importância na criação e manutenção do curso. Posteriormente, foi também

escolhido um ex-aluno do curso para a realização de entrevista.

2.1.2 Aplicação dos questionários com os ex-alunos do CEDMN

Os primeiros questionários foram aplicados aos alunos egressos do CEDMN, que

ingressaram posteriormente nos cursos de graduação em música, oferecidos pela Universidade

Federal da Bahia, tendo eles concluído ou não o curso nesta referida instituição. Foram

escolhidos alunos de quatro turmas do CEDMN, de acordo com as transformações pelas quais

passou este curso profissionalizante. Turmas de:

a. Ex-integrantes da primeira turma de formandos dos quatro primeiros anos,

em que funcionou como curso profissionalizante;

b. Ex-integrantes da turma de estudantes do período em que o colégio

funcionou em regime de oficinas, após a desativação do curso

profissionalizante;

c. Ex-integrante da turma que reiniciou a retomada do curso profissionalizante,

no modelo EPI;

d. Ex-integrante de uma turma mais recente de alunos do CEDMN, que

ingressaram na EMus/UFBA, também na modalidade EPI.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

30

Após apresentação de uma carta concedida pela coordenação do Programa de Pós-

Graduação em música da EMus/UFBA, foram iniciados os primeiros passos para contatar os

egressos colaboradores, através de buscas na secretaria do CEDMN. Em seguida recorri às

redes sociais, enviando e-mails, mensagens pela face book e whatsapp.

No que diz respeito aos ex-alunos investigados através dos questionários, consoante

o ano de ingresso, tive maior ou menor facilidade de acesso. Para entrevista dos alunos

provenientes da primeira turma (ingresso em 1993- conclusão em 1996), referente a

modalidade de curso profissionalizante, encontrei maior facilidade de acesso. Os três

informantes foram colegas de curso no CEDMN e posteriormente na graduação.

O acesso aos três informantes que estudaram sob o regime de oficinas, no período de

desativação do curso profissionalizante (1997 a 2004), foi facilitado pelo contato mais

próximo promovido pelas relações de trabalho. Freqüentemente realizávamos shows e eventos

ou nos encontrávamos nos corredores da EMus/UFBA.

Trabalhoso mesmo foi encontrar os egressos do CEDMN mais recentes, de 2006 até

os dias atuais. Nos anos subseqüentes a 2005 não era mais aluno ou professor da

EMus/UFBA, o que não me garantia fácil acesso ao conhecimento desses alunos aprovados

para os cursos de nível superior, oferecidos pela EMus/UFBA.

Por conta dessas dificuldades, busquei a “Secretaria do Colegiado” 10 da

EMus/UFBA para solicitar ajuda de uma das funcionárias. Muito simpática, a funcionária

“X”, como vou chamá-la, ajudou-me a coletar informações sobre esses alunos. Foi um

trabalho árduo e minucioso. Através dos arquivos no computador da secretaria da

EMus/UFBA, coletamos informações sobre o histórico de cada aluno egresso advindo do

CEDMN que adentraram na EMus/UFBA nos últimos anos. A coleta de informações durou

três dias.

Busquei em seguida, através dos nomes levantados na secretaria do Colegiado da

EMus, localizar os estudantes egressos do CEDMN, referentes ao período de 2006 aos dias

atuais. Utilizei mais uma vez as redes sociais (“e-mail”, “face book”, “whatsapp”) e contatos

por telefone fixo e celular para localizar os informantes.

Posso considerar que obtive sucesso com a aplicação dos questionários, mesmo

tendo que enviá-los por e-mail. A ampla maioria dos alunos respondeu satisfatoriamente ao

mesmo. Apenas um aluno deixou de responder às questões abertas constantes no questionário.

10Local onde ocorrem matrículas dos alunos (as) e aonde se pode encontrar informações sobre o histórico escolar

de qualquer estudante que estejam cursando ou tenha já se formado por essa instituição.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

31

Por conta do compromisso firmado no questionário de pesquisas, os nomes

verdadeiros dos estudantes não serão citados. Ao todo foram nove (alunos) egressos

colaboradores e serão identificados por nomes fictícios. Os nomes fictícios escolhidos foram:

• Gilberto, Moura, Lula (1993) e Toinho (1995) da turma dos primeiros quatro

anos do curso “Profissionalizante”;

• Ricardo (1997), Arthur (2000) e Franciel (2002) da turma de “Oficinas”;

• Roberto (2006) da turma de pós-reativação do curso no modelo “EPI”;

• Joyce (2013) de uma turma mais recente, também no modelo “EPI”.

Os gráficos a seguir, evidenciam informações iniciais relacionadas ao número de

egressos entrevistados, seus respectivos sexos e a idade de cada um deles de acordo a época e

turma que cursaram. Também informam os respectivos cursos que os entrevistados

ingressaram na EMus/UFBA.

Gráfico 1 - Época / Turma.

Fonte: Produção do próprio autor

Gráfico 2 - Época / Turma.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

32

Fonte: Produção do próprio autor

Gráfico 3 - Cursos

Fonte: Produção do próprio autor

Vale ressaltar através desse último gráfico: a qualidade, consistência e versatilidade

da aprendizagem musical adquirida pelos egressos advindos do curso de música do CEDMN,

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

33

ao observar o ingresso destes na maioria dos cursos oferecidos pela graduação da

EMus/UFBA.

2.1.3 Aplicação de questionários com os professores do CEDMN e EMus/ UFBA.

O envio do questionário de entrevistas aos professores do CEDMN e aos professores

da EMus/UFBA foi realizado com facilidade. Ressalte-se que o CEDMN e a EMus/UFBA

estão situadas bem próximas um do outro, na mesma rua. Obtive os contatos dos professores

nas próprias instituições em que trabalham (telefone, “e-mail”, “face book” ou até mesmo

“whatsapp”). Em seguida ligava e após maiores informações sobre a pesquisa, solicitava o

preenchimento do questionário, enviando-lhes através de e-mail ou face book.

Considero que o questionário garantiu o acesso a informações fundamentais nessa

pesquisa, muito embora alguns professores do CEDMN e da EMus/UFBA, não o tenham

enviado há tempo para inclusão de suas respostas na análise dessa dissertação.

2.1.4 As entrevistas e os entrevistados

Ao todo 13 professores do curso profissionalizante em música do CEDMN

colaboraram com a pesquisa, sendo três através de entrevista gravada e dez por meio de

questionário de entrevistas. Os professores colaboradores da EMus/UFBA totalizaram seis,

somente através de questionário de entrevistas. Enfatizo mais uma vez que de acordo com o

termo de compromisso, que consta no Apêndice D (p. 133) desta pesquisa, todos terão suas

identidades preservadas e serão identificados por números, exceto dois: Prof.ª Lydia

Hortélio11e Profº. Jailson Coelho. A razão desta conduta é justificada pelo fato de que ambos

os professores, aceitaram colaborar com a pesquisa sem restrições quanto à exposição das

suas identidades. Três professores e um ex-aluno foram entrevistados em suas residências

com o auxílio de câmera e gravador. O episódio justifica-se por conta da importância do papel

11Idealizadora e mentora do curso técnico profissionalizante do CEDMN, Prof.ª Lydia é graduada em piano na

Escola de Música da Bahia, na classe da prof.ª Maria Rosita Salgado Góes e em Canto Orfeônico no

Conservatório Baiano de Canto Orfeônico. Logo em seguida estudou nos Seminários Livres de Música da Bahia

sob a orientação do Prof. H. J. Koelreuterr e nas Escolas Superiores de Música de Freiburg e Academia de

Música de Detmold, ambas na Alemanha. Estudou também no Conservatório de Porto, em Portugal. De volta ao

Brasil, integra o Departamento de Educação Artística da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA, onde

iniciou suas pesquisas e projetos de Educação com identidade cultural. Após dois anos, retorna a Europa para

estudar Etnomusicologia e Educação Musical na Universidade de Berna e no Conservatório de Música daquela

cidade. Em seguida casou-se e fixou residência em Frankfurt (Alemanha). No Brasil desde 1979, vem exercendo

sua atuação profissional na Pesquisa e Documentação da Cultura da Criança e da Cultura Popular. Têm

registrado a Música Tradicional da Infância em Serrinha desde o séc.XX. Criou a Casa das Pedrinhas, um lugar

de Brinquedo: de prática, pesquisa e educação, estudo e irradiação da Cultura da Criança. (HORTÉLIO, 2012, p.

125 e 126).

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

34

destes, dentro do processo de elucidação na reconstrução da história dessa instituição, bem

como pela disponibilidade de acesso aos mesmos, no período de realização da investigação.

A primeira colaboração com entrevistas gravadas foi da Prof.ª Lydia.

Logo no início do primeiro semestre como mestrando, em alguma das aulas iniciais

de uma das disciplinas do curso, retomei o contato (telefones de casa e do celular) da Prof.ª

Lydia, através de outra mestranda, que pesquisava a vida e obra desta referida professora.

Algumas semanas depois, entrei em contato com Prof.ª Lydia, que ao saber que o curso de

música do CEDMN era o objeto da minha pesquisa, demonstrou imensa simpatia pelo

trabalho, disponibilizando-se várias vezes para entrevistas e qualquer tipo de ajuda que

pudesse acrescentar à pesquisa. Foram encontros memoráveis, que me remeteram a momentos

especiais e felizes, que desfrutei naquela escola.

O segundo colaborador foio Profº Jailson Coelho, também um dos fundadores da

escola e que leciona até os dias atuais na instituição. Com ele compactuei todas as minhas

idéias iniciais e expectativas sobre o trabalho. Sempre que precisava retornar a pesquisa de

campo, gentilmente cedia-me informações complementares, mesmo que informalmente.

O terceiro colaborador foi um professor, que iremos chamar de Prof. nº 3. Junto a

Prof.ª Lydia esteve envolvido desde as primeiras reuniões ligadas a criação e implantação do

curso, até 1998, ano em que se afastou da escola.

Por último foi realizada entrevista semi-estruturada com um ex-aluno, da primeira

de turma de concluintes que posteriormente graduou-se como bacharel na EMus/UFBA. Para

manter sua identidade preservada, iremos também usar um nome fictício. Ele será

mencionado nessa pesquisa por nome “Lula”.

A entrevista com esse ex-aluno não estava prevista para essa etapa do trabalho.

Entretanto, em função das suas posturas políticas dentro do colégio, além do seu excelente

desempenho como estudante de música, fez desse informante, uma peça importante para

compreensão da realidade sobre a trajetória do curso de música do CEDMN.

2.2 O PESQUISADOR E EX-ALUNO EM CAMPO

Analisando as características da investigação percebi o duplo desafio que se fazia

para mim. Além das dificuldades próprias para o cumprimento de uma abordagem qualitativa,

começava eu a desvendar os passos de um trabalho científico, através de uma pesquisa, da

qual, eu mesmo, poderia ter sido escolhido como objeto.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

35

Os informantes da minha pesquisa são ou foram também, em sua maioria, colegas e

ou professores, com forte influência sobre a minha trajetória profissional e sobre a minha

formação. Isso se apresentava ora como problema, ora como vantagem ao meu trabalho.

Encarei esse desafio como estímulo em busca de maior rigor e fiz o que era possível

fazer, com as memórias da minha trajetória do CEDMN. As utilizei para buscar maior

aprofundamento durante as entrevistas e possibilitar que os informantes ficassem mais à

vontade. Problematizei as questões que iam surgindo e primei pela descrição fiel dos seus

relatos. Essa investigação opta por revelar também a trajetória do pesquisador, como

mecanismo de entendimento da própria pesquisa.

Como pesquisador procurei, desde a introdução, deixar visível o meu

posicionamento neste trabalho, através de relatos sobre a minha trajetória como aluno do

curso profissionalizante em música do CEDMN e minha vida acadêmica na EMus/UFBA.

Sendo assim, por muitas vezes, como ex-aluno do CEDMN, encontrei facilidades no meu

envolvimento com a pesquisa. Porém, a todo o momento, procurei ter cuidado para que o

meu olhar de pesquisador, não fosse subsumido por emoções mais próximas, que poderiam

vir dificultar uma análise mais crítica sobre o universo a ser pesquisado.

O acesso aos colaboradores, tanto alunos, quanto professores de ambas as

instituições (EMus/UFBA e CEDMN), foi bem-sucedido. Estabeleceu-se uma relação de

confiança, na maioria dos encontros. Vi na reação da maioria dos entrevistados, seja por redes

sociais ou através de entrevistas em suas próprias residências, uma imensa boa vontade e

alegria em contribuir com a pesquisa, pesquisa essa que fazia parte direta ou indiretamente do

decorrer da vida musical e pessoal de cada um deles.

Considero que as lembranças de ex-aluno desta instituição contribuíram muito para

a busca de um trabalho mais consistente, principalmente para a elaboração de um bom

questionário de entrevistas e a elucidação de possíveis dúvidas que doravante apareciam nas

respostas dos entrevistados quanto a ano, data ou fatos de grande relevância na trajetória

individual de cada um deles, seja aluno ou professor.

Em muitas ocasiões, me vi ajudando-os a resgatar momentos memoráveis e

importantes da história do colégio. A cada entrevista, principalmente aquelas em que ia à

residência do colaborador, procurava ao máximo manter meu olhar de pesquisador.

Distanciava-me a todo instante das fortes emoções a que estava exposto, apenas tentando

complementar ou reconstruir fatos referentes às perguntas que contribuíssem para a

comprovação e fidedignidade das respostas.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

36

2.3 FONTES DE PESQUISA

Os dados foram coletados das seguintes fontes:

• Entrevistas semi-estruturadas com alguns professores e alunos: nestas constam

informações sobre aspectos relacionados à história de criação e existência até os

dias atuais do curso técnico do CEDMN, relatos sobre perfis de corpo docente e

discente, conflitos internos e externos que afetaram o processo de existência do

curso, relatos dos impactos causados pela desativação e reativação do curso;

• Questionário sócio demográficos: informações sobre religião, renda, estado civil,

nível de escolaridade anterior ao ingresso no curso, (Apêndice A, p.123);

• Questionário de entrevistas com questões fechadas e abertas com professores e

alunos do curso de música do CEDMN e professores da EMus/UFBA, (Apêndice

B, p.128);

• Pesquisa bibliográfica sobre a história do ensino técnico profissionalizante no

Brasil desde os seus primórdios até os dias atuais;

• Pesquisa em documentos sobre a legislação educacional para cursos técnicos

profissionalizantes, impressos e ou publicados na Web: leis, decretos, atos,

pareceres;

• Grade curricular inicial da escola;

• Informações coletadas na secretaria do CEDMN: coleta de dados relacionados a

quantidade de alunos que cursam atualmente o curso profissionalizante em

música, nos modelos EPI e PROEJA;

• Dados levantados na secretaria da EMus/UFBA: levantamento de lista de

egressos advindos do curso de música do CEDMN de 2006 até os dias atuais,

número de vagas oferecidas nos cursos superiores da EMus/UFBA, porcentagens

disponibilizadas para programas de incentivo a acesso ao nível superior (Enem,

Prouni, Sisu) e política de cotas;

• Matéria de televisão: reportagem sobre a criação da primeira orquestra

filarmônica de estudantes de escolas públicas da Bahia.

2.4 REFERENCIAIS TEÓRICOS

Essa dissertação fundamenta-se em contribuições teórico-metodológicas de autores

não apenas da área de Educação e História da Música, mas também entre outras, das áreas de

Filosofia e Sociologia. Na área da sociologia da educação e políticas educacionais, este

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

37

trabalho utilizou-se de referências bibliográficas disponibilizadas pelo Prof. Jefferson

Maynardes12, através de alguns de seus artigos, baseado nos trabalhos do sociólogo inglês

Stephen Ball e seus colaboradores. Em um desses artigos, chamado “Abordagem do Ciclo de

Políticas: Uma Contribuição para Análise de Políticas Educacionais”, onde Maynardes

discute as contribuições da “policy cycle approach” ou “abordagem do ciclo de políticas”,

encontrei o princípio norteador dessa pesquisa. Essa abordagem foi formulada pelo sociólogo

inglês Stephen Ball e por colaboradores (BOWE; BALL e GOLD, 1992; BALL, 1994a) e

vem sendo utilizada como referencial para análise de estudos sobre a trajetória de políticas

sociais e educacionais em vários países. (CORBITT, 1997; VIDOVICH, 1999; WALFORD,

2000; LOONEY, 2001; KIRTON, 2002; VIDOVICH & O’DONOGHUE, 2003; LOPES,

2004).

Para Maynardes (2006, p. 48), essa abordagem é um referencial de grande utilidade

no que diz respeito à prática de uma reflexão, compreensão e análise crítica de como vem

sendo a trajetória de programas e políticas educacionais no Brasil, desde sua formulação

inicial até a sua implementação no contexto da prática e seus efeitos. Ainda segundo

Azevedo& Aguiar (1999):

A reflexão sobre tal abordagem é bastante útil no contexto brasileiro uma vez que o

campo de pesquisa em políticas educacionais no Brasil é relativamente novo e ainda

não consolidado em termos de referenciais analíticos consistentes, e que, de resto,

sofre as indefinições resultantes da crise de paradigmas que afeta as ciências sociais

e humanas na contemporaneidade [....] (AZEVEDO &AGUIAR, 1999, p. 43).

Maynardes (2006) ainda afirma que: “Além disso, poucos autores até o presente têm

discutido ou buscado delinear referenciais analíticos mais específicos para pesquisa de

políticas públicas, sociais e educacionais”, exceto alguns como: Lima Júnior & Santos (1976);

Dutra, (1993); Rico (1999); Frey (2000); Souza (2003).

É também importante ressaltar que a abordagem do ciclo de políticas, é para

Maynardes (2006, p.49): “... um referencial analítico que não é estático, mas dinâmico e

flexível”. Essa abordagem realça a complexa e controversa realidade da política educacional,

através de análises relacionadas aos seus processos micro políticos e a ação e interpretação

dos profissionais que interagem com as políticas no nível local, enfatizando a necessidade de

articulação dos processos macro e micro, como forma de entendimento das políticas

educacionais.

12Doutor em educação e professor do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa

(UEPG). (MAYNARDES, 2006, p.47)

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

38

A abordagem do ciclo de políticas está fundamentada em cinco contextos: “Contexto

de Influência”, “Contexto da Produção de Texto”, “Contexto da Prática”, “Contexto dos

Resultados/Efeitos” e o “Contexto de Estratégia Política”. Em relação aos três primeiros

contextos (Contexto de Influência, Contexto da Produção de Texto e Contexto da Prática),

Bowe (1992) afirma: “Esses contextos estão inter-relacionados, não têm uma dimensão

temporal ou seqüencial e não são etapas lineares. Cada um deles apresenta arenas, lugares e

grupos de interesse e cada um deles envolve disputas e embates”.

No primeiro contexto citado acima, tem-se a intenção, por parte dos autores (BALL

e BOWE), analisar se há influências globais, internacionais, nacionais e locais e a articulação

entre elas dentro das políticas educacionais e todo o processo de formação do discurso

político e da maioria dos indivíduos nela envolvidos. (MAYNARDES, p.51).

O “Contexto Da Produção de Texto” está relacionado com a linguagem do interesse

público mais geral. São textos políticos, que atendem aos interesses políticos e estão

representados na forma de textos legislativos oficiais (decretos, leis, sanções, atos, projetos de

lei). (MAYNARDES, p.52).

Em relação ao “Contexto da Prática”, os autores Ball e Bowe apontam como um dos

contextos mais importantes, pois: “... o foco da análise de políticas deveria ocorrer sobre a

formação do discurso da política e sobre a interpretação ativa que os profissionais que atuam

no contexto da prática fazem para relacionar os textos da política à prática”. (MAYNARDES,

p. 50).

No “Contexto dos Resultados e Efeitos”, são abordados temas relacionados com

justiça, igualdade e liberdade individual. Para os autores as políticas têm como produto final,

os efeitos não só os resultados. Elas causam impactos e interagem com desigualdades

existentes na sociedade.

É importante ressalvar, que em relação aos contextos acima apresentados pelo

referencial teórico utilizado, o presente trabalho buscou ao máximo associá-los às discussões

centrais desta pesquisa, como forma de elucidação dos fatos apresentados nos processos de

criação, trajetória e resistência do curso de música do CEDMN.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

39

3 O ENSINO PROFISSIONALIZANTE E A CRIAÇÃO DO CURSO DE MÚSICA DO

CEDMN

3. 1 O ENSINO PROFISSIONALIZANTE E O MUNDO DO TRABALHO

A busca de compreensão sobre a história do ensino profissionalizante no Brasil se

insere em um debate por demais extenso, uma vez que aborda dois ramos centrais da vida

social: a educação e o trabalho, ambos tratados por diversas correntes teóricas dos mais

variados campos do conhecimento científico e filosófico.

Sem pretender entrar num debate mais profundo, a pesquisa julga importante

ressaltar que, se a educação profissionalizante, representa a formação do indivíduo para o

trabalho, cabe então, uma breve abordagem dos significados do trabalho que facilite, assim, o

entendimento das políticas de educação voltadas para a formação profissional no Brasil.

Consoante o período e a sociedade, o trabalho é identificado por concepções

ideológicas variadas. Nas sociedades chamadas tradicionais, o trabalho é algo que se

confunde com a totalidade da vida social. A tradição e o costume são orientadores do

processo de produção, e a divisão sexual do trabalho determina, em grande medida, a função

desenvolvida pelo indivíduo e sua posição na sociedade. Nesse tipo de sociedade, não há

distinção entre o tempo dedicado ao ócio e ao trabalho. Por essas razões, a mentalidade, desse

tipo de sociedade, não é compatível com a racionalização econômica do trabalho, nem da

institucionalização da educação separada da vida social como um todo.

Na antiguidade clássica, o trabalho emerge como “labor”, relacionado, portanto, ao

suprimento das necessidades vitais e de reprodução da vida humana, daí sua inscrição ao nível

do corpo, instância em que reside o processo natural da vida (ARENDT, 1995).

Na Grécia antiga, por exemplo, a figura do escravo era emblemática do exercício do

“labor”. Era uma atividade corporal para a sobrevivência, a qual se atribuía uma imagem

negativa e degradante. O ócio, ao contrário ascendia.

No pensamento aristotélico, por exemplo, a superioridade da vida contemplativa era

inquestionável. De maneira geral pode-se dizer que na abordagem clássica, o trabalhador é

associado ao indivíduo ignorante e legalmente dominado, prisioneiro das necessidades do

corpo.

Ramos (2009) destaca que, na Idade Média, sobre domínio da Igreja Católica, houve

uma transformação na idéia de trabalho, ao qual foi atribuído certo valor. Julgava-se que além

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

40

de preparar a alma para a vida contemplativa, o trabalho livrava o corpo do “pecado original”

e dos "apetites inferiores". Entretanto, essa mudança de concepção não promoveu alterações

no plano social, já que a função desempenhada pelo indivíduo era determinada por desígnios

divinos, o que impossibilitava a ascensão social. Era considerada heresia a tentativa de

desenvolvimento tecnológico em termos de dominação da natureza, o que impossibilitava

qualquer processo de racionalização do trabalho e garantia a dominação de classe (RAMOS,

2009).

Com o Renascimento, inicia-se o processo de secularização, a transformação da

ordem social da Idade Média, fundada na tradição e na religião, em uma ordem social fundada

no racionalismo. Surge, então, a idéia do aproveitamento e exploração da força de trabalho, o

trabalho mercadoria, objetivo da especulação, da contabilidade e da ciência. A acumulação

passa a ser vista como valor terreno e reconhecimento divino do esforço humano.

Conclui Arendt (1995, p. 76), que é “mediante violenta opressão simbólica e

material, numa sociedade de escravos, ou mediante a exploração na sociedade capitalista, que

a produtividade pode ser canalizada de tal forma que o labor de alguns é bastante para a vida

de todos”.

Para Ramos (2009), sob a égide do progresso, inicia-se o processo de racionalização

em todas as esferas da vida humana. É fenômeno da modernidade, especificamente com o

advento do capitalismo, com sua visão do trabalho como mercadoria. No contexto da

empresa, a lógica capitalista tem o seu lugar privilegiado, onde mercadorias são produzidas

para serem trocadas no mercado e onde o trabalho humano, tomado como força de trabalho,

torna-se também mercadoria. O trabalhador, alienado dos seus meios de produção, só detém a

sua força de trabalho, para vender ao patrão.

Mas a força de trabalho em ação, o trabalho mesmo, é atividade vital peculiar ao

operário, seu modo peculiar de manifestar a vida. E é essa atividade vital que ele

vende a um terceiro para assegurar-se os meios de subsistência necessários. Sua

atividade vital não lhe é, pois, senão um meio de poder existir. Trabalha para viver.

Para ele próprio, o trabalho não faz parte de sua vida; é antes um sacrifício de sua

vida é uma mercadoria que adjudicou a um terceiro. Eis porque o produto de sua

atividade não é também o objetivo de sua atividade. [...] (MARX; ENGELS, p.63).

A educação, enquanto instituição formadora e mantenedora da ordem social vigente

tem papel fundamental no processo de transformação das relações sociais de produção. Em

que pese à importância orientadora dessa explicação, é bom lembrar que as passagens

históricas entre os períodos não ocorrem de maneira estanque. A substituição de um modelo

de sociedade por outro, sempre se dá num campo de batalha entres grupos sociais concretos,

implicando em permanências, transformações e ressignificações, que podem ser identificadas,

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

41

por exemplo, através das políticas de educação implantadas no Brasil, sobretudo aquelas

relativas ao ensino profissionalizante. Nesse sentido afirma-se que o Brasil é um bom

exemplo de como antigas visões sobre o trabalho permaneceram através dos tempos e novas

propostas foram incorporadas aos modelos de educação vigentes.

Para um melhor entendimento dos fatos que serão narrados em relação a toda

história de criação e existência do curso de música do CEDMN, o presente trabalho como

parte da pesquisa bibliográfica, irá a seguir reconstruir de maneira sucinta, a história do

ensino técnico profissionalizante no Brasil desde o início da sua colonização até os dias

atuais.

3.2 O ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL

Os jesuítas representaram, durante a colonização portuguesa no Brasil, um poder

extraordinário em relação ao desenvolvimento educacional. Criaram e estruturaram as escolas

elementares e secundárias, seminários e missões, que duraram até 1759, ano em que foram

expulsos por Marquês de Pombal. (ARANHA, 1996, p.99).

Entre 1549 e 1759, o monopólio dos jesuítas foi financiado por Portugal, que

ofertava grandes doações de terras, em troca da catequização dos índios e demais serviços

para estruturação da sociedade colonial. A educação religiosa e para o trabalho, garantia aos

portugueses a submissão e o domínio político das populações colonizadas. Segundo Fonseca

(1961, p. 68 apud MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p.1): “a formação do trabalhador

tinha como os primeiros aprendizes de ofícios, os índios e habituou-se o povo de nossa terra a

ver aquela forma de ensino como destinada somente a elementos das mais baixas categorias

sociais”. Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, foram fundadas Casas de Fundição e

Moeda oferecendo aos filhos dos brancos, um ensino mais especializado. Nessa mesma época

foram criados Centros de Aprendizagem de Ofícios13 dos Arsenais da Marinha do Brasil, que

traziam operários especializados de Portugal e recrutavam pessoas, até mesmo presos, para

trabalhar na produção. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p.1).

É importante ressaltar que desde o processo inicial da educação oferecida pelos

jesuítas, nem as mulheres e os negros tiveram acesso. Somente um pouco mais tarde, uma

parcela da população, denominada à época de mulatos, começam a pleitear seu espaço.

Portanto, iniciam-se aqui os percalços da educação brasileira no que se refere à

13 O termo ofício é reflexo das corporações de ofício, iniciadas na Idade Média, mas que em muito se distinguem

da educação proposta pela Companhia de Jesus, cujo intuito era adaptar os índios ao trabalho e formá-los dentro

dos princípios do catolicismo.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

42

democratização e universalização do ensino com um visível preconceito em termos de oferta

qualitativa no que diz respeito a gênero, classe social e raça.

Em relação à formação educacional do trabalhador no Brasil Império, vale lembrar,

que com a proibição da existência de fábricas em 1785, o desenvolvimento tecnológico do

Brasil havia estacionado, por conta do pensamento português, de que:

O Brasil é o país mais fértil do mundo em frutos e produção da terra. Os seus

habitantes têm por meio da cultura, não só tudo quanto lhes é necessário para o

sustento da vida, mais ainda artigos importantíssimos, para fazerem, como fazem um

extenso comércio e navegação. Ora, se a estas incontáveis vantagens reunirem as das

indústrias e das artes para o vestuário, luxo e outras comodidades, ficarão os

mesmos totalmente independentes da metrópole. É, por conseguinte, de absoluta

necessidade acabar com todas as fábricas e manufaturas no Brasil. (FONSECA,

1961).

Com a mudança da família real para o Rio de Janeiro em 1808, ocorrem importantes

mudanças. Destacam-se: a instalação da imprensa, museus, bibliotecas e academias, a

abertura dos portos e a revogação do alvará que proibia a instalação de manufaturas,

ocasionando assim, a ruptura do pacto colonial. Este último fato possibilitou o

desenvolvimento da indústria manufatureira. Nesse mesmo ano, D. João VI criou o “Colégio

das Fábricas”, considerada a primeira escola voltada para a educação de artistas e aprendizes

vindos de Portugal. (GARCIA, 2000 apud MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 2009, p.1).

Foram criados também, cursos médicos-cirúrgicos na Bahia e no Rio de Janeiro,

com objetivos de ocupar os postos na marinha e no exército. Após a Independência do Brasil,

o Ato Adicional de 1834 descentralizou o ensino, atribuindo ao reino a responsabilidade sob o

ensino superior, enquanto as províncias ficaram responsáveis pela escola elementar e

secundária, ou seja, mais uma vez, a educação da elite receberia maiores proventos, enquanto

o ensino das classes baixas era destinado verba inferior. (ARANHA, 1996, p. 152).

Embora possuísse uma grande população rural analfabeta, o ensino elementar do

império foi caótico. O ensino técnico foi relativamente desprezado, pois o governo investiu

nas profissões liberais que tinham como alvo a minoria privilegiada. Só em 1856 foi fundado

o Liceu de Artes e Ofícios e quase dezoito anos depois, em 1874 o Liceu de São Paulo.

(ARANHA, 1996). Mas a frente, a Escola Militar (1858) a e a chamada Escola Politécnica

(1878), se organizam como instituições que preparavam, para a carreira militar. (ARANHA,

2005, p.153).

No Brasil de 1800, a educação profissional continua a adotar como experiência o

modelo de aprendizagem dos ofícios manufatureiros, que se referia ao “amparo da camada

menos privilegiada da sociedade brasileira. As crianças e os jovens eram encaminhados para

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

43

casas onde aprendiam a instrução primária e ofícios de tipografia, encadernação, alfaiataria,

tornearia, carpintaria, sapataria, entre outros”. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p. 1).

Mesmo com o predomínio do modelo de economia agrário-exportadora e das

relações de trabalho rurais pré-capitalistas, o desenvolvimento fabril se acelerou após a

abolição da escravatura (1889). O ano de 1906 foi considerado o marco para consolidação do

ensino técnico profissionalizante, o que parece aos olhos de alguns autores, no mínimo

curioso, tendo em vista, que mesmo havendo uma aceleração da indústria, o país ainda não se

encontrava tão desenvolvido para o tamanho do investimento realizado pelo estado.

(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p. 2).

A base da economia brasileira ainda era predominantemente agrária e exportadora,

sendo assim a criação do ensino técnico não teve a ver com a precisão de uma mão de obra

qualificada, mas sim com a necessidade de atender a interesses políticos e sociais do

momento. (BIAGINI, 2001).

Em 11 de Setembro de 1906 afirma o presidente Afonso Pena:

Considerando: que o aumento constante da população das cidades exige que se

facilite as dificuldades sempre crescentes da luta pela existência; que para isso se

torna necessário não só habilitar os filhos dos desfavorecidos da fortuna com o

indispensável preparo técnico e intelectual, como fazê-lo adquirir hábitos de trabalho

profícuo, que os afastará da ociosidade, escola do vício e do crime; que é um dos

primeiros deveres do Governo da República formar cidadãos úteis à nação.

(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p. 3).

Nesse mesmo ano, o então presidente do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha, iniciou no

Brasil o ensino técnico. Em 11 de Setembro de 1906, através do Decreto n° 787, cria quatro

escolas profissionais nas cidades de: Campos, Petrópolis, Niterói - ensino de ofícios e Paraíba

do Sul - aprendizagem agrícola. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p.2).

Em 1909, Nilo Peçanha, como presidente do Brasil, cria a Rede Federal de

Educação Profissional, através do decreto nº 7.566. Foram construídas escolas em diferentes

Unidades Federativas, sob a jurisdição do Ministério dos Negócios da Agricultura, Indústria e

Comércio.

Dezenove “Escolas de Aprendizes Artífices”, destinadas ao ensino profissional,

primário e gratuito, foram criadas. Vejamos como se distribuíam as chamadas Escolas

Técnicas Federais de 1909, transformadas posteriormente em CEFETs: Alagoas, Amazonas,

Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará Paraíba,

Pernambuco, Piauí, Paraná, Campus (RJ), Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Sergipe, São

Paulo.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

44

De acordo com Aranha (2005, p.213), os gestores brasileiros estavam atendendo a

tendência tecnicista, de influência norte-americana. Esta consistia em ajustar ao ensino um

modelo de educação empresarial, baseado na teoria da racionalização, típica do sistema

capitalista. Daí, o empenho do governo naquele momento, em inserir o tecnicismo no Brasil,

o mais rápido possível, para também poder se afirmar dentro do sistema capitalista

internacional, atendendo aos seus próprios interesses.

Ainda sobre o ensino técnico pode-se observar que:

As modalidades educacionais do ensino técnico vieram se desenvolvendo em

sintonia com as necessidades impostas pelo capital em diferentes momentos

históricos. O modo de produção capitalista teve, por muitas décadas, a sua força

ideológica assegurada não somente pelo progresso da acumulação, mas também pela

produção de um exército industrial de reserva inteiramente à disposição do capital.

Este exército foi preconizado como o material humano necessário às alternadas

necessidade de valorização capitalista. (BIAGINI, 2001).

Sendo assim, percebe-se que, o ensino técnico teve em suas raízes, o intuito de

preparar esses jovens ao acesso a formação escolar, através de um ofício, com a justificativa

de ser esse o único meio de ascensão financeira acessível às classes menos favorecidas. Mais

uma vez, o modelo classista da educação no Brasil mostra a sua face. Á elite o acesso ao

ensino superior, aos pobres uma educação considerada menor, voltada para o trabalho. De

certa forma, o ensino técnico profissionalizante marca fronteiras entre classes no Brasil.

Na década de 20 e 30, surge um movimento que foi de grande contribuição para o

enriquecimento e discussão de métodos pedagógicos na educação mundial e brasileira. Era o

então chamado escolanovismo, que tinha como um dos princípios norteadores a

democratização da sociedade através da educação.

Porém, por volta da metade do século XX, o escolanovismo acaba enfraquecido

diante das pressões do processo organizacional, característico das indústrias e serviços, que se

estenderam ao universo da educação escolar. O capitalismo avançava sobre a educação

garantindo os seus interesses no aceleramento econômico e industrial mundial, o chamado

tecnicismo.

Na década de 1930, foi criado Ministério da Educação e Saúde Pública e nele

estruturada a Inspetoria do Ensino Profissional Técnico, que tinha como função supervisionar

as Escolas de Aprendizes Artífices. Em 1934, essa inspetoria foi transformada em

Superintendência do Ensino Profissional. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p. 4).

No ano de 1931, no governo provisório de Getúlio Vargas, (Francisco Campos

Ministro da Educação e Saúde), consegue a aprovação de diversos decretos que efetivam a

reforma educacional por ele criada. Dentre alguns pontos da sua reforma destacam-se: o novo

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

45

estatuto das universidades brasileiras, que propõe a incorporação de três institutos de ensino

superior, “incluindo os de Direito, Medicina e Engenharia ou ao invés de um deles, a

Faculdade de Educação, Ciências e Letras.

O ensino secundário passa a ter dois ciclos: um fundamental e outro complementar,

de dois anos, este último visando a reparação para o curso superior. (ARANHA, 1996, p.

202). No entanto, essa reforma como a maioria delas, mantinha o mesmo modelo elitista

anterior, uma vez que não articulava o curso secundário e o comercial (cursos técnicos de

contabilidade e administração).

Vale salientar, que a Constituição brasileira de 1937, foi a primeira a tratar,

especificamente, de ensino técnico, profissional e industrial, através do artigo 129:

O ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas é, em

matéria de educação, o primeiro dever do Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse

dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos

Estados, dos Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais.

É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera de sua

especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de

seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que caberão

ao Estado sobre essas escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios a lhes

serem concedidos pelo poder público.(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p.4.)

Em 13 de janeiro de 1937, através da lei 378, as Escolas de Aprendizes e Artífices

passaram a ser chamadas de Liceus Profissionais, voltadas somente ao ensino profissional.

(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p.4).

3.2.1 Reforma Capanema: a consolidação da estrutura elitista brasileira

Durante a ditadura de Vargas, o Ministro Gustavo Capanema, em pleno Estado

Novo (1937-1945) estabelece outras reformas no ensino. São as chamadas Leis Orgânicas do

Ensino (Lei Orgânica do Ensino Industrial, Lei Orgânica do Ensino Secundário, Lei Orgânica

do Ensino Comercial, Lei Orgânica do Ensino Primário, Lei Orgânica do Ensino Normal, Lei

Orgânica do Ensino Agrícola) ou mais popularmente conhecida como a “Reforma Capanema”

(1942 a 1946).

Através da Lei Orgânica do Ensino Industrial, foi criado em 1942, o Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAIe em 1946, o Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial - SENAC, que duram até os dias de hoje. São órgãos que preparam

o trabalhador para atender as necessidades profissionais da indústria e do comércio. São

serviços da iniciativa privada e correspondem a uma formação paralela ao ensino regular.

(ARANHA, 2006).

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

46

A respeito da criação dos cursos do SENAC e SENAI, Aranha (2006), reconhece

que a população de classe social menos favorecida e sedenta por se profissionalizar, encontra

nesses cursos condições excelentes de estudo. Essas condições estão relacionadas ao fato de

que além de terem acesso ao ensino, eram também remuneradas para aprender. Daí o sucesso

e a grande importância para o país dessas instituições, que ela (ARANHA, 2006), denomina

de “empreendimento particular paralelo”.

As bases da “Reforma Capanema” tinham como principais pontos:

• O ensino profissional passou a ser de nível médio;

• Realização de exames de admissão para o ingresso nas escolas industriais;

• Os cursos foram divididos em dois níveis: dentro do ensino médio -

primeiro, os cursos básico industrial, artesanal, de aprendizagem e de

mestria. O segundo, curso técnico industrial, com três anos de duração e

mais um de estágio supervisionado na indústria, abrangendo várias

especialidades.(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p.4).

Segundo Biagini (2001),a “Reforma Capanema, muito contribuiu para a

consolidação da estrutura elitista e dicotômica do ensino brasileiro”. Sendo assim, para ela,

continuamos mais uma vez fadados a uma política educacional separatista, que mantêm um

dualismo escolar, onde de um lado se têm um modelo de educação intelectualista, rígido e,

sobretudo seletivo, direcionado aos que podem pagar pela educação e ingressar em uma

universidade. Enquanto isso, a estrutura profissionalizante é direcionada a classe de baixa

renda, que não têm acesso a nenhum segmento do curso superior, mas somente aos que

fossem equivalentes ao técnico.

O fato é que, nessa época, não obstante a debates inflamados por parte dos

escolanovistas e os muitos insucessos na concretização das reformas na área da educação, a

oferta de escolarização se amplia.

Segundo Fernando Azevedo (apud ARANHA, 2005, p. 203) de 1930 a 1940 o

desenvolvimento do ensino primário e secundário alcança níveis jamais registrados até então

no país. De acordo com Otaíza Romanelli, (apud WEREBE, in ARANHA, 2005) de 1933 a

1951 os números de escolas primárias dobram e o de secundárias quase quadruplicam, tendo

se concentrado nas regiões urbanas dos estados mais desenvolvidos.

Também se multiplicam as escolas técnicas, e segundo Lourenço Filho (apud

FREITAG, in ARANHA, 2005) se em 1933 havia 133 escolas de ensino técnico industrial,

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

47

em 1945 este número sobe para 1.368, e o número de alunos, quase 15 mil em 1933,

ultrapassa então 65 mil.

Com o decreto nº 4.127, de 25 de fevereiro de 1942,pela primeira vez há uma

conquista da classe trabalhadora relacionada à equivalência entre o curso técnico

profissionalizante e o secundário no que diz respeito à inserção de alunos no nível superior.

Com essa lei as Escolas de Aprendizes e Artífices são transformadas em Escolas Industriais e

Técnicas, oferecendo formação profissional compatível ao do secundário. A partir desse ano,

tem-se a vinculação do ensino industrial à estrutura do ensino do país como um todo,

permitindo o acesso dos alunos advindos do curso técnico ao ensino superior, na área

equivalente à sua formação. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p.4).

Foi na década de 50, que ficou completamente consolidada a passagem da economia

agrária para a economia industrial. A indústria constitui-se efetivamente no eixo central da

economia nacional.

Logo após a morte de Vargas, toma posse Juscelino Kubitschek (1956-1961). O seu

governo como estratégia política, estabeleceu o Plano de Metas, que visava efetivar as

relações entre os estados e a economia, em favor do desenvolvimento econômico, no que

dizia respeito à industrialização, através de capital nacional e de estrangeiros. (BIAGINI,

2001).

Esse momento foi mais favorável ao crescimento do Ensino Técnico. A lei n.º 3552,

de 16 de fevereiro de 1959, possibilitou maior autonomia e desenvolvimento da organização

administrativa da rede educacional, dando início a uma nova fase. Conteúdos de Cultura Geral

foram incluídos nos currículos dos cursos técnicos, que passaram há durar quatro anos.

(Entretanto essa lei teve curta duração, sendo substituída pela Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, de 1961). (BIAGINI2001).

O ensino técnico teve no governo de JK um momento ímpar para o seu

desenvolvimento, atrelado às transformações do sistema econômico do país. Como bandeira

do desenvolvimento, a modernização foi concebida como progresso técnico. Havia uma real

necessidade de integração da estrutura econômica brasileira à mundial, haja vista o

crescimento crescente de multinacionais na economia do país. Consoante a este advento as

novas demandas surgidas desta expansão industrial fizeram do ensino profissional uma das

prioridades nacionais. BIAGINI(2001).

Com o objetivo de formar profissionais orientados e qualificados para o

desenvolvimento do país o Plano de Metas do governo JK, contempla pela primeira vez a

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

48

educação com 3,4% dos investimentos previstos. O ano de 1959 é marcado pela

transformação das Escolas Industriais e Técnicas em “Escolas Técnicas Federais”. Com isso

essas instituições passam a ter mais autonomia didática e de gestão, intensificando a formação

de técnicos, mão de obra indispensável diante da aceleração do processo de industrialização.

(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2009, p. 4).

3.2.2 Os reflexos da LDB nº 4.024/1961 no ensino profissionalizante

Segundo Biagini (2001), a Lei de Diretrizes e Bases nº 4.024/ 61, tinha como objetivo

realizar a primeira tentativa de articulação dos dois sistemas de ensino, através da

equivalência plena entre os cursos propedêuticos e os profissionalizantes. Para Aranha (2006),

algumas poucas modificações ficaram evidenciadas nessa lei, que quase não alterou a

estrutura de ensino da Reforma Capanema:

• Quebra de rigidez do sistema, tornando possível a mobilidade entre os cursos.

• Redução do número de disciplinas, no ensino secundário.

• Padronização atenuada, ocorrendo assim a pluralidade de currículos em termos

federais.

Considera-se, porém, que as desvantagens são muitas, dessa nova lei. Recursos

financeiros antes liberados exclusivamente para a educação pública passam também a

patrocinar escolas privadas. Não foi dispensada ao ensino técnico uma atenção especial

devida, tanto no setor industrial, quanto no comercial e tampouco no agrícola. Mais uma vez

as classes que representam o poder veem seus interesses contemplados, através do péssimo

gerenciamento de verbas que saem dos cofres públicos, que, ao contrário do que sempre

ocorre, deveriam ser destinadas ao investimento na educação das classes menos favorecidas.

3.2.3 O ensino profissionalizante no brasil de 1964

A tomada do governo pelos militares em 1964 favorece a concentração do poder e o

Brasil viveu o terror de um governo arbitrário e centralizador, marcado pela ausência do

estado de direito. As consequências desse fato refletem de uma maneira catastrófica na cultura

e na educação do país.

A idéia dos militares era a de coibir qualquer tentativa de ação política que

ameaçasse o sistema por eles imposto. Com a ressalva de que o individualismo, o

disciplinamento e o conservadorismo se faziam necessários para a manutenção da ordem

social e segurança nacional, os militares em 1967, tratou logo de colocar fora da lei,

organizações consideradas por eles subversivas, a exemplo da União Nacional dos Estudantes

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

49

- UNE. Escolas de ensino médio são por eles controladas, dissolvendo os seus respectivos

grêmios estudantis e transformando-os em centros cívicos. A UNE que no primeiro momento

é logo extinta, continua agindo sigilosamente, promovendo congressos como o de 1968 no

interior de São Paulo, que culmina com a prisão para interrogatório de mais de novecentos

estudantes vindo de vários locais do Brasil. Neste momento o Brasil vive intensamente a

repressão, debaixo de protestos de milhões de estudantes que exigiam urgentemente uma

reforma universitária.

Em 1966 tornam-se públicos diversos acordos feitos sob sigilo desde o golpe de

1964. São os acordos MEC- Usaid (Ministério da Educação e Cultura e United States Agency

for Internacional Development). Esses acordos confirmavam recebimentos de assistência

técnica e investimento financeiro para a implantação das reformas educacionais. Essa reforma

autoritária teve como objetivo entrelaçar o sistema educacional ao formato econômico

dependente, típico da política norte-americana para com a América Latina. (ARANHA, 2006,

p.213).

Para piorar a situação, em 1968 é aprovado o famoso AI-5, delegando ao presidente

plenos poderes para atuar sobre o executivo e o legislativo. Logo em seguida em 1969, através

do decreto lei nº 477, é proibido ao estudante, professor ou funcionário de escola qualquer

manifestação de cunho político. Professores são demitidos ou aposentados, artistas exilados e

muitos estudantes perseguidos e torturados, sob a justificativa de estarem realizando

atividades subversivas.

Nesse período, diante de tamanha repressão, a formação profissionalizante serviu

como propósito de fornecer elementos humanos para a produção do capital. Fica claro dessa

forma a fundamentação de dois projetos pedagógicos que visavam, segundo Kuenzer (1997,

p.15) a “formação de trabalhadores instrumentais e intelectuais”. Aala propedêutica da

educação voltou a ser prioritária na estrutura social, enquanto o técnico industrial, de nível

médio teve o seu reconhecimento restrito a estrutura da fábrica, respondendo aos interesses

capitalistas e com a função de garantir o controle e a disciplina na produção.(BIAGINI, 2001).

3.2.4 A LDB nº 5.692 de 11 de agosto de 1971

A principal meta dessa lei em relação ao ensino de 1º e 2º graus: "Proporcionar ao

educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento

de auto realização, qualificação para o trabalho e prepará-lo para o exercício consciente da

cidadania." (art. 1)

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

50

Portanto, essa lei, no intuito de melhor esclarecer o que seria os dois níveis de

ensino, especificou em dois segmentos o que seria a preparação profissional. O primeiro

segmento constava da sondagem de aptidões e iniciação para o trabalho no 1º grau, e o

segundo tinha a ver com a habilitação profissional no 2º grau, ambos, de acordo com as

necessidades do mercado de trabalho. Sendo assim, ela trazia uma educação articulada ao

trabalho e unificada aos currículos de 1º e 2º graus, em suas partes diferenciadas.

Pela legislação então, essa obrigatória profissionalização, definida em todos os

níveis de ensino, foi justificada pela necessidade emergente de acabar com uma suposta

deficiência de técnicos de nível médio e ao mesmo tempo oferecer aos jovens que não

pudessem ou não quisessem ingressar no nível superior, uma formação profissional imediata,

facilitando assim a sua inserção no mundo do trabalho. Era um discurso tipicamente

capitalista, demandando à escola duas funções: o papel de uma agência formadora da força de

trabalho exigida pelo setor produtivo, e o papel de socializar para o trabalho, como forma de

favorecer a legitimidade social da visão harmônica e determinista da realidade.

Deste modo, a reforma da Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB, nº. 5.692,

de 11 de agosto de1971, torna técnico-profissional, todo currículo do segundo grau, ou seja,

profissionalização de nível médio para todos, superando assim o ensino secundário

propedêutico. A prioridade era: formar técnicos sob o regime da urgência.

Dados coletados através do Ministério da Educação (2009, p.5) demonstram

evidências que contradizem com as informações de alguns autores especialistas neste assunto.

Mais adiante, serão discutidas brevemente as críticas tecidas por esses autores sobre essa

referida lei.

Retornando ao relato dos fatos relevantes desse período, segundo Ministério da

Educação (2009, p.5), o número de matrículas nas Escolas Técnicas Federais de todo país

aumenta consideravelmente, forçando assim a implantação de novos cursos técnicos. Em

1978, com a Lei nº6. 545, três Escolas Técnicas Federais (Paraná, Minas Gerais e Riode

Janeiro) são transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica - CEFETs.

Em relação as avaliações críticas citadas nos parágrafos anteriores, relacionadas a

essa lei, Aranha (2006, p. 215) diz: “a reforma não foi só um fracasso como trouxe prejuízos

inestimáveis para a educação brasileira”. O fato, é que alguns pontos dessa reforma como o

que dispõe sobre a obrigatoriedade de oito anos entre o ensino fundamental e o ginasial, não

foram funcionais, haja vista, a falta de recursos materiais e humanos necessários ao

atendimento da demanda.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

51

Quanto ao ensino profissionalizante, “a essência elitista da educação brasileira

permaneceu intocada, ou seja, o ensino profissionalizante de 2º grau representou uma falácia”.

(BIAGNI,2001). Segundo Aranha (2006, p. 215), faltavam professores especializados e

escolas que tivessem infraestrutura condizente com o curso proposto (oficinas, laboratórios...),

comprometendo assim a preparação adequada dos alunos que adentram ao mercado com uma

mão-de-obra desqualificada e barata, nos mantendo assim sempre dependentes dos países

desenvolvidos. Por outro lado, as escolas particulares continuavam a ser contempladas com

verbas do dinheiro público e cada vez mais preocupadas com a formação geral e a preparação

do estudante para o seu ingresso a universidade, desenvolvendo ainda o ensino propedêutico e

elitista.

3.3 IMPLEMENTAÇÃO DO CURSO DE MÚSICA DO CEDMN E O PARECER CFE

1.299/73

Segundo o Conselho Federal de Educação, no parecer CFE 1299/73, fica claro que

para consolidação da formação do Técnico de Música, em nível de 2º grau, o tempo de

duração do curso seria de quatro anos ou 2.900 horas, com predominância do mínimo das

disciplinas de habilitação profissional sobre as do núcleo comum:

O Curso Técnico de Música, com quatro habilitações afins (Técnico em

Instrumento, Técnico em Canto, Técnico em Fanfarra e Técnico em Sonoplastia),

constituído por "matérias integrantes do mínimo de habilitação profissional

agrupados em dois elencos: o tronco comum, que será estudado nas primeiras séries

do curso, para todos os alunos e as disciplinas específicas, que na 4ª série, serão

desenvolvidos pelos alunos de cada habilitação. (CONSELHO FEDERAL DE

EDUCAÇÃO,1973).

Entretanto, a deliberação Conselho Estadual de Educação - CEE14/73, determinava

no § 2º do seu artigo 13:

os cursos referidos na alínea "d" deverão ter a duração mínima de 1200 horas de

matérias de conteúdo profissionalizante, correspondentes aos mínimos de

habilitação profissional estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação, para a

Formação de Técnico na modalidade, ou pelo Conselho Estadual de Educação

quando os diplomas de Técnico tiverem validade apenas regional". Os cursos,

referidos na alínea "d", são os de Qualificação Profissional IV, em nível de 2º grau.

(CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO, 1973, § 2º, art. 3º).

Vale ressaltar, que os cursos de “Qualificação Profissional IV”, têm a ver com os

cursos de conteúdos profissionalizantes específicos (Regência e Composição, Instrumento,

Canto, Fanfarra e Sonoplastia).

Com a deliberação CEE 10/74, o texto acima sofreu algumas modificações: "Os

cursos referidos na alínea "d", deverão ter a duração mínima de 900 horas - setor terciário e

1.200 horas - setores primário e secundário..."

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

52

Assim sendo, se o CFE acatou a proposta de 1.200 horas de conteúdos

profissionalizantes para as novas habilitações afins na modalidade “Qualificação Profissional

IV” (Regência e Composição), por semelhança, esta deverá ser a duração mínima das demais

habilitações profissionais afins (Instrumento, Canto, Fanfarra e Sonoplastia) instituídas

através do Parecer CFE 1299/73, embora citado Parecer CFE não o tivesse feito com clareza.

Sendo assim, a regulamentação dos cursos técnicos profissionalizantes estava fundamentada,

essencialmente, no Parecer do CFE Nº 45/72.

Para melhor esclarecimento, pode-se afirmar que esse parecer fixava o mínimo de

2.900 horas de formação geral e especial para o setor primário, sendo que 1.200 horas eram

voltadas aos contentos profissionalizantes, com complementações práticas em projetos

específicos. As normas de quantidades de horas de formação geral para os setores secundários

eram as mesmas do primário, sendo que às horas de teores profissionalizantes deviam ser

completadas com práticas profissionais. Também, além das 2.900 horas destinadas para

formação geral e especial, no setor terciário as normas exigidas eram no mínimo de 900 horas,

sem a necessidade de atividades profissionais. Provavelmente os cursos da área de artes, se

encaixavam neste último setor. (LEITE, 2007, p.36).

Porém, por esse parecer não abranger todas as habilitações possíveis, foram

necessários a elaboração de outros pareceres para regulamentar essas habilitações.

De acordo com Ball e Bowe (1992), dentro do “Contexto da Produção de Textos”:

Os textos políticos, portanto, representam a política. Essas representações podem

tomar várias formas: textos legais oficiais e textos políticos, comentários formais ou

informais sobre os textos oficiais, pronunciamentos oficiais, vídeos etc. Tais textos

não são, necessariamente, internamente coerentes e claros, e podem também ser

contraditórios. Eles podem usar os termos-chave de modo diverso. A política não é

feita e finalizada no momento legislativo e os textos precisam ser lidos com relação

ao tempo e ao local específico de sua produção. (BALL E BOWE, 1992).

Deste modo, pode-se observar o quanto é complexo e contraditório, o momento da

elaboração dos textos políticos (leis, decretos, atos, pareceres...), haja vista, a quantidade de

vezes em que um artigo e seus parágrafos são modificados. Muitas vezes em pequenos

detalhes, como forma de adequação às necessidades e interesses dos envolvidos com a

situação em questão.

Entretanto, o projeto estrutural acadêmico e artístico do curso técnico de música do

CEDMN foi regulamentado de acordo ao parecer nº 1. 299/73 do CFE. Esta proposta foi

assinada pelo professor Fernando Cerqueira14. (LEITE, 2007, p.41).

14 Profº Fernando Cerqueira - Elaborador da projeto estrutural acadêmico e artístico do curso técnico de música do CEDMN.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

53

Em relação ao currículo mínimo exigido pelo CFE/CEE, no que diz respeito às

disciplinas de formação específica, a proposta da grade curricular elaborada por Cerqueira,

obedecia minimamente aos requisitos exigidos por esse referido currículo. Essa proposta

recomendava alterações em relação às disciplinas de formação específica, além de sugerir a

presença de disciplinas optativas, que por sua vez seriam semestrais. (LEITE, 2007).

Sobre o fato da existência das disciplinas optativas dentro da grade curricular do

ensino profissionalizante em música do CEDMN, o art. 8da Lei nº 5. 692/71 afirma:

A ordenação do currículo será feita por séries anuais de disciplinas ou áreas de

estudo organizadas de forma a permitir, conforme o plano e as possibilidades do

estabelecimento, a inclusão de opções que atendam as diferenças individuais dos

alunos e, no ensino de 2º graus, ensejem variedade de habilitações. (BRASIL, 1971).

Com relação aos currículos de primeiro e segundo graus, o art. 4 assegura que:

Os currículos de ensino do primeiro e segundo graus terão núcleo comum

obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender, conforme as

necessidades e possibilidades concretas, as peculiaridades aos planos dos

estabelecimentos e as diferenças individuais dos alunos. (BRASIL, 1971).

Mesmo o inciso primeiro deste artigo, quando cogita a possibilidade da presença de

disciplinas semestrais dentro da grade curricular, ele o faz sob a seguinte observação: “a

presença dessa organização semestral se dá sob condições que assegurem o relacionamento, a

ordenação e a sequência dos estudos” (BRASIL, 1971). Porém, a rede pública de ensino do

estado da Bahia, está organizada por séries e uma grade curricular de disciplinas anuais,

impossibilitando assim, a presença de disciplinas optativas, sugeridas na proposta elaborada

por Cerqueira.

O quadro a seguir, diferencia de uma forma mais clara quais são as disciplinas de

formação específicas do currículo mínimo exigido pelo CFE/CCE, das disciplinas da proposta

curricular de Cerqueira (1992), bem como traz uma amostra da estrutura curricular do Curso

Técnico de Música do CEDMN, à época de sua criação.

Quadro 1 – Estrutura das disciplinas de formação técnica profissionalizante do CEDMN

Currículo Mínimo

(CFE)

Proposta Curricular

(Cerqueira, 1992)

Estrutura Curricular do Curso

Técnico do (CEDMN)

Educação Artística Oficina Básica de Criação Musical I e

II

Ed. Artística

Percepção Musical Elementos de Música I, II, III Percepção Musical I e II

História da Música e Noções de

Estruturação Musical

História da Música I e II História da Música I e II

História da Música Popular

Instrumento Improvisação I,II,III

Prática de conjunto I e II

Instrumento Suplementar I

Instrumento I,II e III

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

54

Música Popular e Folclórica Culturas Musicais no Brasil I e II Música Popular e Folclórica

Canto Coral Coral I,II

III

Canto Coral I e II

Estruturação Musical Elementos de Música IV

Instrumento IV

Elementos de Música I e II

Estruturação Musical

Música de Câmera Prática de Conjunto III e IV Instrumento IV

Prática de Orquestra Prática de Orquestra Música de Câmera

Técnica Vocal (Optativa) III Prática de Orquestra

Técnica de Gravação (Optativa) III Técnica Vocal

Regência Instrumental (Optativa) IV Técnica de Gravação

Regência Coral (Optativa IV) Regência Instrumental

Instrumento Suplementar II

Regência Coral

Improvisação Musical I,II,III

Percepção Harmônica

Fonte: LEITE (2007, p. 42)

Em concordância com LEITE (2007. p. 43), ao analisar essa amostra, este trabalho

considera que mesmo diante das duas propostas curriculares oferecidas, junto ao que de fato

vigorou, todos eles executariam bem o seu papel. Esse papel diz respeito aos dois objetivos

principais do curso, que como dito em parágrafos anteriores, constavam na proposta de

Cerqueira: “habilitar o músico para o exercício profissional e proporcionar instrução musical

suficiente para o ingresso em cursos de nível superior de música”. (LEITE, 2007, p. 41 apud

CERQUEIRA, 1992).

3.4 OS PRIMEIROS PASSOS PARA CRIAÇÃO DO CURSO PROFISSIONALIZANTE

EM MÚSICA DO CEDMN

Como veremos a seguir, o processo de criação do curso profissionalizante em

música do CEDMN, pode ser descrito através de um dos contextos que fazem parte da

“Abordagem do Ciclo de Políticas: Uma Contribuição para Análise de Políticas

Educacionais”. O chamado “Contexto de Influência”.

Segundo Mainardes (2006, p.51), é observando esse contexto que se pode perceber

como sucede a construção da parte inicial dos discursos políticos e das políticas públicas.

Também afirma: “Como parte desse contexto é de suma importância que o pesquisador tenha

acesso a entrevistas com formuladores de políticas e com a maioria dos profissionais

envolvidos”. (MAYNARDES, p.59).

Sendo assim, nos primeiros passos dessa investigação, o presente trabalho procurou

peças chaves, que pudessem elucidar fatos que se referiam ao começo do processo inicial de

criação do curso técnico em música do CEDMN. Porém, o acesso aos formuladores das

políticas que estavam envolvidos com as idéias iniciais de criação do curso (discursos

políticos e o projeto piloto inicial), de fato não aconteceu. Algumas tentativas de contato via

telefone (residencial e celular) e redes sociais (face book, e-mail ou whatsaap) com Prof.ª

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

55

Dirlene Mendonça15 e com o Profº. Fernando Cerqueira, não ocorreram. O fato, é que os

contatos cedidos por alguns colaboradores eram antigos e não coincidiam com o atual contato

que supostamente devem ter os nomes acima citados. Também, por falta de informações sobre

os seus respectivos endereços nas redes sociais, os mesmos não foram localizados. Em

entrevista com Prof.ª Lydia, ela afirma: “Chamei Fernando para me ajudar na elaboração do

projeto, pois ele era um profundo conhecedor das políticas públicas, leis e decretos que

estavam em vigor na época”.(HORTÉLIO, 2015).

Em contrapartida, durante as entrevistas concedidas a esse trabalho pelos professores

do curso de música do (CEDMN), obtiveram-se muitas informações sobre o projeto piloto,

que certamente foram de grande relevância para esta pesquisa.

Voltemos então à história referente à criação do curso.

O primeiro momento ocorre num final de tarde, através de uma conversa

descontraída entre Prof.ª Lydia e Profª Dirlene Mendonça. Vale ressaltar que naquela ocasião,

Lydia encontrava-se assessora de Dirlene .Segundo Lydia, este foi o conteúdo da conversa:

- Dirlene, faça uma Escola de Música.

Ela me olhou e disse: - Uma Escola de Música?!.

Então eu falei: - Sim, claro, deveria fazer pelo menos uma em cada bairro e ainda

assim não seria suficiente, faça pelo menos uma. (HORTÉLIO, 2015).

Logo após essa conversa, Lydia relata que durante essa gestão não mais comentaram

sobre o assunto. Naturalmente o seu discurso constante sobre a necessidade de criação de uma

“Escola Pública Profissionalizante em Música”, não adquiriu certa legitimidade, por não estar

compatível aos interesses políticos do governo em curso.

Porém, como é relatado logo no início dessa pesquisa, tempos depois, numa outra

gestão, a do então governador Antônio Carlos Magalhães (1991), os interesses políticos

mudam, só que dessa vez observa-se com maior clareza como acontece o processo de

articulação da máquina funcional de políticas públicas. Vale ressaltar que Dirlene naquele

ano, encontrava-se na posição de Secretária de Educação e Cultura do Estado da Bahia e

Lydia novamente é convidada por Dirlene para trabalhar como sua assessora.

Foi então que, segundo Lydia, durante uma reunião na Secretaria de Educação para

tratar da organização de uma exposição cujo tema era “A Criança Nova, a Criança

Eterna”,16Dirlene inesperadamente a chamou e relatou sobre o interesse do governador pela

15 Secretária de Educação do Estado da Bahia, em 1992. 16Trabalho desenvolvido pela Prof.ª Lígia enquanto etnomusicóloga, sobre a cultura da criança. Esse trabalho

tinha como objetivo sensibilizar os profissionais da área de educação do estado em relação a esse tema

(professores especificamente), através de visitas de diversas escolas de Salvador a essa exposição. Logo em

seguida através de uma filmagem feita pela TVE, que se transformaria em um documentário sobre esse evento,

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

56

criação de uma escola de música. Nesse momento, como consta no relato de Lydia, a própria

teve um pequeno lapso de memória e dirigindo-se a Dirlene, disse-lhe:

Lydia - Mas, que Escola de Música?!

Dirlene - Como assim, que Escola de Música? Você não queria que eu fizesse uma

Escola de Música, quando fui Secretária Municipal? ”

Lydia-Dirlene, meu Deus!!!

Dirlene- É, e ele quer logo! Quer que a inauguração seja no dia primeiro de abril.

Lydia- Então só pode ser mentira!

Dirlene-Não, não é mentira. Tem que correr! (HORTÉLIO, 2015)

Coincidentemente à época, a Bahia passava por um momento de grande visibilidade

cultural. Programas musicais da Rede Globo eram palcos formados pela maioria de artistas

baianos envolvidos com o Axé Music. A música de cunho comercial da Bahia estava no

ápice. Sendo assim, o recém assumido governador Antônio Carlos Magalhães, envolto por

todo um cenário cultural voltado para música baiana promovido pelos veículos de

comunicação, principalmente pelas emissoras de televisão filiadas à Rede Globo, decide criar

essa escola que Lydia tanto desejara.

Os índices de aproveitamento educacional na Bahia estavam péssimos. Nesse

momento, os interesses se encontram e não mais divergem. O Estado precisava da fluência e

influência de alguma pessoa como Lydia (por conta de toda sua experiência e vivência

musical). Por outro lado, apresentava-se naquele momento para Lydia, uma ocasião oportuna

para realização de um sonho. Sobre esse acontecimento, Lydia relembra a sua fala numa

conversa que tivera com Dirlene naquele período: “Uma escola pública de música

profissionalizante na Bahia, pelo menos uma, já era um bom começo”. (HORTÉLIO, 2015).

Segundo Maynardes (2006), dentro do “Contexto de Influência”: “O discurso em

formação algumas vezes recebe apoio e outras vezes são desafiadas por princípios e

argumentos mais amplos que estão exercendo influência nas arenas públicas de ação,

particularmente pelos meios de comunicação social”. (MAYNARDES, p.51).

O interessante, é que os meios de comunicação social ou a chamada “mídia”

(televisão, rádio, redes sociais) naquela época, não estavam exercendo um papel contraditório

nem tampouco desafiador em relação ao projeto de criação dessa referida escola de música.

Na verdade, a mídia, serviu involuntariamente para justificar a necessidade de criação de uma

escola profissionalizante de música no estado, já que através da mesma, o Brasil inteiro estava

consumindo a música comercial feita na Bahia. Portanto era necessário fomentar esse

fenômeno.

daria acesso também a maioria das escolas não só da capital, como de todo interior do estado da Bahia. (LEITE

2007, p.37)

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

57

Logo após essa conversa com Dirlene, Lydia relata que mal teve tempo de

compartilhar uma discussão com os músicos da cidade sobre o processo de criação da escola,

pois logo em questão de dias, foi pressionada pela vice-secretária de educação, alertando-a

sobre a urgência da necessidade de elaboração do projeto piloto referente ao curso

profissionalizante do CEDMN.

Ainda durante entrevista cedida por Lydia a essa pesquisa, ela lembra:

A ideia era que o nome da escola deveria chamar-se Maria RositaSalgado Góes17,

em homenagem a uma grande professora de piano, que além de ter sido minha

professora, havia feito um trabalho belíssimo na Bahia como educadora musical.

Mais o governador Antônio Carlos Magalhães, achou por bem homenagear um

político, o senhor deputado Manoel Novaes. (HORTÉLIO, 2015)

Para Maynardes (p.52): “... o contexto de influência está freqüentemente relacionado

com interesses mais estreitos e ideologias dogmáticas...”.

Através deste relato , observa-se nesse momento, a falta de interesse do governador

em homenagear essa tão relevante personalidade, que tanto contribuiu para o cenário do

ensino musical baiano. Penso que para ele, o fato dela ter sido uma agente modificadora

dentro da sociedade através do ensino de música, não a fazia mais importante do que o

deputado Manoel Novaes. O nome do deputado era necessário, pois fortalecia os interesses da

política em curso. Ou seja, um grupo político inaugura uma escola técnica profissionalizante

de música pioneira na Bahia e no Brasil. Naturalmente esse evento se tornaria um marco na

história da música da Bahia e isso só poderia ser lembrado se associado à memória de outro

político, cujo nome era da estima do atual governo, por motivos até aqui desconhecidos. Uma

boa maneira de perpetuar a sua própria gestão!

3.5 SOBRE O CORPO DOCENTE E DISCENTE

Segundo Lydia, antes de acionar na Secretaria de Educação do Estado (SEC) o

processo de seleção e efetivação dos docentes que iriam lecionar no CEDMN através de

concurso público, ela reuniu-se em sua residência com profissionais interessados naquele

17 Maria Rosita Salgado Góes, aluna da ENM desdea infância, tendo sido aluna de piano da professora Noêmia

Maia, colando o grau de Professora de Música em 1941. Logo no ano seguinte, em 1942, foi recebida como

professora da Escola em que havia estudado, assumindo a classe de Musicalização Infantil. Foi professora de

Música/Canto Orfeônico da Secretaria de Educação do Estado. Simpatizante com o movimento MEA fundadora

da Escolinha de Arte da Bahia. Em1954 participou como mentora e organizadora do I Seminários Internacionais

promovido pela Universidade da Bahia, dividindo por dois anos sequentes, juntamente com H. J. Koellreutter, a

direção artística daquele grande evento cultural gerador da atual Escola de Música da Universidade Federal da

Bahia.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

58

projeto e dentre outras coisas, discutiu também sobre o perfil do professor que gostaria que

lecionasse naquela referida instituição. Para ela só valeria a pena, um corpo docente com

formação especifica na área de música, que fossem bons músicos, bons professores e que

compactuassem de corpo e alma com aquele projeto. (HORTÉLIO, 2015).

Para Lydia, bons músicos remetiam a idéia de profissionais formados e graduados

por um nível superior em música (instrumento, licenciatura, composição, regência, canto) e

não professores licenciados em Ed. Artística. Para ela, o sucesso da escola estava vinculado a

esse perfil profissional. (HORTÉLIO, 2015).

Para melhor entendimento desse ponto de vista, em que se firmou a concepção de

Lydia, torna-se necessário compreendermos como a legislação educacional vem tratando a

arte desde os últimos quarenta anos dentro dos espaços educacionais (escolas regulares de

ensino fundamental e médio).

A lei nº 5.692/71 possibilitou a criação do curso de Licenciatura em Ed. Artística,

substituindo a disciplina de Ed. Musical, antes chamada de Canto Orfeônico. Nas escolas de

música ficaram os cursos de bacharelado em instrumento, composição, regência, canto e a

maior parte das licenciaturas oferecidas pelas unidades de música das universidades passaram

a ser Ed. Artística, com habilitação em música. (LEITE, p.39).

Segundo Marisa Fonterrada (1993, p.78), logo após 1971 havia duas famílias em Ed.

Musical: a tradicional (que habilita os indivíduos em instrumento nos cursos de música,

conservatórios, bacharelados em universidades) e a de formação alternativa (que seria a área

de Licenciatura em Ed. Artística). O fato, é que os profissionais da área de licenciatura em Ed.

Artística possuem uma formação musical inconsistente, no que diz respeito a terem

conhecimentos musicais suficientes e necessários para lecionarem em conservatórios de

música como o do CEDMN. Isso ocorre, devido ao fato de não ser exigido desses

profissionais, no ato do exame de seleção do vestibular para sua devida área de concentração

(Ed. Artística), nenhum tipo de conhecimento musical. Imagina-se então, a falta de preparo

destes profissionais para essa devida área durante a sua formação, o que nos leva a concluir a

sua inaptidão para esse ofício. “Até a deficiência da grade curricular desse referido curso que

tentando juntar, unir, fundir quatro diferentes linguagens artísticas, acabava não se

aprofundando em nenhuma delas”. (LEITE, 2007, p.39). Esse era mais um adendo que

tornavam esses profissionais de certa maneira incapacitados para exercer essa função. Sendo

assim, explica-se então a predileção por bacharéis ou licenciados em música à licenciados em

Ed. Artística, dentro do perfil escolhido por Lydia.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

59

Vale salientar, que ainda relacionado à descrição do perfil exigido para o corpo

docente do CEDMN, mesmo reconhecendo a enorme importância do trabalho de Leite (2007)

e não tendo como intenção confrontar e sim enriquecer com mais detalhes esse presente

trabalho, torna-se necessário esclarecer melhor a informação coletada da sua pesquisa, quando

ela afirma que, “[...] todos os professores que foram aprovados no concurso para lecionar no

curso profissionalizante de música do CEDMN eram bacharéis [...]” (LEITE, 2007, p.41). Em

questionários de entrevistas aplicados a professores fundadores do curso de música do

CEDMN, fica claro, que não somente professores bacharéis foram aprovados neste concurso,

pois quatro dos dez professores aprovados na época confirmaram sua formação em

licenciatura. Esse episódio configura na verdade, o real interesse de Lydia em profissionais

que fossem realmente músicos com formação específica na sua área de atuação, mesmo que

fossem “licenciados em música”, ou formados em “composição”, “canto”, “regência” ou

“instrumento”. Para ela, como já foi citado antes, só não se enquadraria naquele projeto,

profissionais formados em “Ed. Artística”.

Ainda em relação ao perfil do corpo docente, se pode observar através de respostas

dos questionários de entrevistas, concedidas pelos professores do CEDMN, que em alguns

momentos de existência do curso de música, a direção do CEDMN admitiu ou aceitou a

transferência de alguns professores licenciados em artes advindos de outras escolas públicas

da própria cidade. Esses professores não possuíam o perfil profissional exigido pelo exame de

seleção pelos quais passaram todo corpo docente, para integrarem o quadro de professores do

curso. Sobre esse fato, de dez professores do CEDMN que responderam ao questionário de

entrevistas, cinco mostraram-se insatisfeitos com a situação.

Portanto, fica claro, que um dos pilares fundamentais para o sucesso do curso

profissionalizante do CEDMN, estava atrelado principalmente ao nível de qualidade dos

professores. Como a própria Lydia afirma: “[...] quero professores bons, bons instrumentistas

e claro também bons educadores, consciente dos seus compromissos”. (HORTÉLIO, 2015).

O aluno Lula também comenta a respeito:

O nível de qualidade dos professores era altíssimo. Logo no início, falo começo de

tudo mesmo, porque entrei em 1993, com a primeira turma fundadora do curso,

ficávamos a todo o momento esperando a hora de vê-los tocar. As vezes em aula

mesmo, outras, em audições na própria escola, até no corredor pedíamos para eles

darem uma palhinha. Todos eram afiadíssimos, executavam com esmero seus

instrumentos. Lembro de ter ido a várias apresentações deles pela cidade, eram

profissionais que tocavam de tudo, todos os gêneros musicais. Alguns já tocavam

até com artistas famosos no Brasil. A exemplo de professores da área de metais, que

tocavam com Daniela Mercury, Caetano Veloso, Carlinhos Brow, dentre outros. Os

professores de violão tinham um nível muito alto também. Apresentavam-se tocando

chorinho, bossa nova, jazz, acompanhavam cantoras famosas. Eram músicos de

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

60

primeiro naipe do cenário musical baiano. As professoras de piano, excelentes.

Tinha uma mesma que além de executar muito bem o seu instrumento, tinha uma

leitura à primeira vista fantástica. Ah! ...além disso, todos estavam muito

entusiasmados, sabiam e gostavam de ensinar. Estavam mesmo a fim de encarar

aquela proposta! Pelo menos nos primeiros anos foi assim, foi o que eu percebi!

(LULA,2015).

Ao responderem ao questionário de entrevistas, o aluno Gilberto e o aluno Moura

que ingressaram no curso em 1993, ou seja, foram da primeira turma de egressos do CEDMN,

e o aluno Toinho (1995), ainda dentro da modalidade de curso profissionalizante também,

avaliam como ótimo e excelente o nível da qualidade de ensino do corpo docente. Outros três

alunos (o Ricardo que ingressou em 1997, o Arthur em 2000 e o Franciel em 2002) todos na

modalidade de oficinas, também mantiveram a mesma opinião dos alunos anteriores. O aluno

Roberto, que ingressou em 2004 (pós reativação na modalidade EPI) e a aluna Joyce em 2006

(turma mais recente da modalidade EPI), avaliam também como bom e excelente a qualidade

de ensino do corpo docente. Essa análise se torna mais visível através da visualização do

gráfico a seguir

Gráfico 4 – Nível de Qualidade do Corpo Docente.

Fonte: Produção do próprio autor

Portanto, é importante reiterar, que nem mesmo as transformações relacionadas às

políticas públicas de ensino (ocorridas nas mudanças de governo Fernando Henrique Cardoso

e Luís Inácio Lula da Silva), abalaram negativamente a qualidade do ensino oferecida pelo

corpo docente dessa referida instituição.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

61

3.5.1 Contratação e efetivação dos professores

Ainda durantes alguns encontros com os profissionais interessados no projeto de

criação do curso técnico profissionalizante do CEDMN, em sua residência, Lygia conta que

alguns outros assuntos foram abordados, como a questão do salário, por exemplo. Ela lembra

que dissera a eles que o salário que iriam receber não era alto, mas por outro lado

vislumbrava-se aí, uma oportunidade de se fazer algo pelo social, pelo Brasil. Relatou ainda a

possibilidade de criação de uma “Orquestra de Música Popular Brasileira”, que seria

composta pelo próprio corpo docente, no intuito de promover uma maior visibilidade artística

para escola e garantir um reconhecimento do governo do estado, que por sua vez formalizaria

a orquestra como um meio de se obter melhores condições de salários aos professores. A

orquestra de fato existiu, inicialmente. Apresentou-se algumas vezes na SEC 18 , IAT19 e no

próprio CEDMN. Porém, por conta de alguns motivos que envolviam disposição,

disponibilidade e ajustes de horários de ensaios entre os professores e algumas questões

relacionadas a vaidades pessoais, ela acabou por se extinguir no decorrer da trajetória do

curso.

Logo após tratar sobre esses assuntos com os profissionais interessados no projeto,

Lydia, com a ajuda da SEC, inicia uma ação para a realização do concurso, no intuito de

selecionar e efetivar a contratação o mais rápido possível dos professores. As bancas foram

selecionadas com profissionais de alto gabarito, tendo alguns ilustres convidados, como foi o

caso do conceituado violonista Mário Ulloa e outros profissionais advindos de várias partes

do país.

Segundo Lydia, foram aprovados e convocados quinze professores para lecionarem

no curso técnico profissionalizante em música do CEDMN.(HORTÉLIO, 2015)

3.5.2 Sobre os egressos (discentes)

Em entrevista com Lydia, ela relata que eram os professores da própria escola que

faziam a seleção dos alunos. Segundo ela, eram feitas provas de instrumento, percepção

musical e uma entrevista. (HORTÉLIO, 2015). Sobre esse fato, ao conversar com o aluno

Lula, que prestou exame de seleção naquele ano inaugural, ele explica:

Eles, os professores nos pediam primeiro para tocar algo no instrumento. Logo em

seguida mandava-nos transportar o tom da música para três tonalidades diferentes.

Se tudo fosse correndo bem, tínhamos também que cantar a melodia daquela música

18 Secretaria de Educação e Cultura. 19 Instituto Anísio Teixeira.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

62

que estávamos tocando em três tonalidades diferentes. Logo em seguida eles faziam

tipo um ditado rítmico, só não precisávamos escrever na pauta. Eles batiam com a

mão um trecho rítmico em cima da mesa onde eles estavam e mandava-nos repetir

aquele trecho. Quanto a quem não sabia tocar um instrumento, não tinha problema,

era só repetir o que eles faziam, ou então cantar uma melodia que eles escolhiam,

ao piano ou violão, claro com eles acompanhando no instrumento. Ah! Não

precisava ler por partitura, quem lia tudo bem, mas quem não lia tocava e cantava

o que soubesse! Depois nos faziam perguntas relacionadas ao porquê da nossa

vontade de estudar música. (LULA, 2015).

Observa-se então que o perfil determinante para a aprovação do aluno não tinha só a

ver com a sua aptidão musical (sem levar também em consideração o nível de habilidade com

o instrumento em que o aluno se encontrava), mas, sobretudo, com o tamanho do seu interesse

ou desejo em estudar música. Questionários de entrevistas aplicados a alunos das diversas

fases de existência do CEDMN, comprovam a veracidade dessas informações. Dos nove

alunos entrevistados nesta pesquisa, dois ao ingressar no curso de instrumento do CEDMN, se

encaixavam no nível iniciante, três no nível elementar, dois no nível médio e dois em nível

avançado. Observando o gráfico abaixo, pode-se constatar com maior exatidão essa

informação.

Gráfico 5 – Nível musical dos entrevistados.

Fonte: produção do próprio autor

Ainda em relação aos saberes musicais que foram julgados necessários para a

aprovação desses alunos no processo de seleção do CEDMN, podemos declarar que através

das respostas dos nove questionários aplicados, quatro alunos foram aproveitados por que

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

63

liam música e tocavam de ouvido, um porque tocava essencialmente de ouvido e três porque

tocavam basicamente por pauta. Observemos o gráfico a seguir.

Gráfico 6 – Saberes musicais dos entrevistados.

Fonte: produção do próprio autor

Esse fato comprova ou confirma, que o interesse maior da seleção era oferecer

oportunidade a qualquer indivíduo, dependendo ou não dos saberes musicais em que eles se

encontravam. Muitos estudantes aprovados, eram na sua grande maioria oriundos das classes

sociais menos favorecidas, que não podiam pagar um curso particular de música. Alguns

destes, até já tocavam profissionalmente e queriam aprofundar mais ainda seus

conhecimentos. Ao todo, cada ano entrava cerca de noventa alunos, que eram agrupados nos

turnos matutinos e vespertinos. (LEITE, 2007, p.50).

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

64

4 DAS OFICINAS MUSICAIS AO CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM

MÚSICA

4.1 INAUGURAÇÃO E OS PRIMEIROS ANOS DO CURSO

Em junho de 1992, a escola foi inaugurada. Por conta do atraso na reforma do

prédio, a primeira turma de alunos só poderia começar as aulas, a partir do primeiro semestre

de 1993, pois, no calendário escolar brasileiro, geralmente nunca se iniciam as aulas no meio

de um ano letivo. Sendo assim, durante o segundo semestre de 1992, o curso de música

funcionou em regime de “Oficinas Musicais”, como uma forma de preparação para a seleção

das turmas que iriam entrar no próximo ano. (HORTÉLIO, 2015).

O foco principal do curso era a formação de instrumentistas. Até 1997, o colégio

oferecia formação de nível fundamental e médio. Poderia o aluno escolher entre a formação

geral ou a profissionalizante em música. O curso recebia sempre duas turmas desde o primeiro

ano, uma no turno matutino e outra no vespertino. Já do terceiro ano de existência em diante,

começaram a se juntar as duas turmas referentes aos dois turnos, em um turno só, devido à

desistência de muitos dos seus egressos.

4.2 PROPOSTAS PEDAGÓGICAS VERSUS INCOMPATIBILIDADES IDEOLÓGICAS

Diante de várias conversas com Lydia, observou-se uma preocupação constante: “o

sucesso do curso tinha de estar atrelado a qualidade profissional do corpo docente”.

(HORTÉLIO, 2015). Ou seja, o curso tinha como foco, educar musicalmente bem esses

alunos, para uma boa atuação no mundo do trabalho.

O fato é que, o curso de música do CEDMN, surpreendeu a todos não só pelo êxito

obtido em inserir bons profissionais no mundo do trabalho, mas também, em prepará-los de

uma maneira consistente para o seu ingresso no nível superior em música, principalmente na

EMus/UFBA. Observou-se, que a maior contribuição para que isto acontecesse, foi à busca

por uma proposta pedagógica musical diferenciada, que contemplasse as preferências tanto

profissionais quanto acadêmicas, por parte dos seus egressos.

Em relação à proposta pedagógica almejada pelo curso, Lydia afirma que: “[...]o

ensino do CEDMN estava voltado principalmente da música popular brasileira para música

do mundo, começando claro, pela música feita na Bahia, não só em Salvador[...]”

(HORTÉLIO, 2015). Nesse momento, ela refere-se a todo tipo de gênero musical brasileiro,

como a música do Recôncavo (chula), do Sertão (música dos caboclos), Bossa Nova, Choro,

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

65

Frevo e outras várias vertentes musicais existentes no Brasil afora. Segundo ela, as aulas

teriam como enfoque não só a música brasileira, mas também a música dos povos mais

próximos, como por exemplo, a música dos países Latino-Americanos, Ibéricos, Europa

Central (França, Itália e Alemanha), países esses que não só herdaram, mais foram também o

berço da música clássica. Sendo assim, para Lydia, ”Percepção Musical” seria a disciplina

mais importante do curso, pois só poderia ser através desta referida disciplina, que os alunos

entenderiam as estruturas harmônicas e rítmicas de todos os tipos de músicas advindas de

qualquer lugar do mundo. Essa percepção deveria ser principalmente trabalhada por osmose,

ou seja, através do ouvido. (HORTÉLIO, 2015).

Em relação às aulas de História da Música, ela ainda afirma que era imprescindível

primeiro aprender a história da nossa música, “A História da Música Popular Brasileira”, não

só através dos livros, mas através de uma história contada por meio de audições musicais em

salas de aula. Para tanto, se fazia necessário associar cada gênero musical da nossa terra às

suas respectivas tradições, estabelecendo assim, uma análise sobre suas influências e

contribuições para a música popular brasileira num todo. (HORTÉLIO, 2015).

Como forma de reafirmar a sua maneira de pensar em relação a essa referida

proposta pedagógica, Lydia recorda a frase que serviu de um slogan desde o início de

fundação do curso: “Para que tenhamos lugar no concerto dos povos nós queremos nesta

escola: ouvir o mundo e cantar o Brasil”. Por isso, o CEDMN tinha que ser uma escola

brasileira de música e não uma escola de música brasileira somente. (HORTÉLIO, 2015).

Vale ressaltar, que todos os professores entrevistados nesta pesquisa foram

unânimes em avaliarem como entre boa, ótima e excelente a proposta pedagógica elaborada

pelos idealizadores do projeto. Porém, na prática, alguns posicionamentos de certos

profissionais por parte do corpo docente, no decorrer da trajetória do curso, foram

contraditórios.

O Prof. nº3, em entrevista concedida a este trabalho, expõe sua opinião a respeito da

proposta pedagógica inicial:

A proposta pedagógica era clara, era uma proposta inusitada, pelo fato de você

trazer a música popular para dentro do estudo, a linguagem da música popular

para dentro do estudo. Por não existir ainda uma sistematização, só o fato de você

fazer isso!. Inclusive eu lancei meu livro de percepção musical, enquanto estava lá.

Aquele livro eu já vinha trabalhando com ele há muitos anos desde a época da

AMA, rascunhos e tudo, então era um material que eu já tinha pronto.. mas só o ato

de você saber que música popular se prepara na escola também.... muita gente

ainda pensava que música popular você aprende a tocar na rua, que a linguagem

popular você aprende na rua, mas né não, não tem nada disso, não tem nada desse

papo. Do contrário, música popular ela serve pra você se aprofundar na música,

através da música popular, cê tá entendendo?! Se eu for explicar pra você a

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

66

linguagem do impressionismo, se eu for usar a música popular como exemplo, você

vai entender com muito mais segurança o que eu vou falar sobre o impressionismo,

do que se eu começar a discorrer sobre Debussy, etc..etc... Aí você não chega em

lugar nenhum[...]

Fica claro portanto, que para o Prof. nº 3, a proposta pedagógica era completamente

voltada para música popular não só brasileira, bem como do mundo todo. É importante

também rememorar que existiam alguns professores com um enorme lastro de experiências

adquiridas de outras vivências profissionais. Sendo assim, estes professores foram peças

chaves na estruturação pedagógica do curso, pois já haviam sistematizado boa parte do

material que serviria de estudo para um dos focos principais do curso: as chamadas disciplinas

“Harmonia Funcional, Percepção Musical, Improvisação e Instrumento”.

Ainda sobre a proposta pedagógica, Lydia também não concordava com um modelo

conservador de ensino de música e por muitas vezes encontrou dificuldades e resistências por

parte do corpo docente, ao expor a sua concepção da música popular brasileira e do mundo,

como foco do processo de ensino e aprendizagem do curso. O fato, é que alguns professores

do corpo docente, se identificavam mais com a forma de ensino voltada para a música erudita,

onde todo o estudo de Harmonia, Percepção e Instrumento principalmente, estariam

fundamentados numa estrutura musical tradicional, onde o repertório a ser executado seria

geralmente baseado na maioria de compositores eruditos como: Bach, Beethoven, Mozart,

Brahms, Debussy, dentre outros.

Isso tudo ia em parte, de encontro à proposta pedagógica idealizada pelos seus

elaboradores, que tinha a palavra “inovação” como a idéia principal dentro do ensino da

música.

Voltando a teoria dos contextos, para melhor exemplificar esta situação, pode-se

observar nesse momento a inclusão do “Contexto de Resultados” no “Contexto da Prática”.

Em uma entrevista cedida por Ball a Jeferson Maynardes em 2007, o autor explica a

importância da associação do “Contexto de Resultados” e “Estratégia Política” ao “Contexto

da Prática”, como resposta a uma pergunta de Maynardes. Ball também classifica o

“Contexto de Resultados” como de “primeira e segunda ordem” explicando que:

Não é útil separá-los e eles deveriam ser incluídos no contexto da prática e da influência, respectivamente. Em grande parte, os resultados são uma extensão da prática. Resultados de primeira ordem decorrem de tentativas de mudar as ações

ou o comportamento de professores ou de profissionais que atuam na prática.

Resultados de segunda ordem também acontecem, ou pelo menos alguns deles

acontecem, dentro do contexto de prática, particularmente aqueles relacionados ao

desempenho, a outras formas de aprendizado. Obviamente, outros resultados só

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

67

podem ser observados a longo prazo e desaparecem dentro de outros contextos de

realização.(BALL, 2007)

Evidencia-se então, de acordo com relatos até aqui descritos, que os profissionais

(professores) que atuam no “Contexto da Prática”, passam a interpretar os textos que tem

relação com a elaboração da proposta pedagógica, de uma maneira particular. Eles podem ou

não recriar, aceitar ou recusar tudo que faz parte do universo da prática. A partir desse

momento eles não são meros espectadores. Eles interpretam os textos ou propostas, de acordo

com seus valores, experiências histórias de vida, propósitos e interesses diversos. Ainda para

Bowe (1992, p.22):

Além disso, interpretação é uma questão de disputa. Interpretações diferentes serão

contestadas, uma vez que se relaciona com interesses diversos, uma ou outra

interpretação predominará, embora desvios ou interpretações minoritárias possam

ser importantes. (BOWE et al., 1992, p. 22).

Naturalmente, nem todos os docentes, tinham domínio total sobre todos os gêneros e

estilos musicais, aos quais se referia à proposta pedagógica. Até aí, perfeitamente normal. O

fato é que isso implicava numa certa resistência à inovação oferecida pela referida proposta.

Daí o motivo pelo qual estabelecer uma arena de disputas e contestações, pois nesse momento

exacerbavam-se as vaidades individuais, associadas às vertentes de gênero musical de cada

profissional. Por outro lado, abriam-se as portas para uma oferta diversificada de

aprendizagem musical. E foi nesse aspecto que os alunos foram altamente beneficiados. Diga-

se de passagem, a maioria dos egressos pertencentes aquela primeira turma que chegou até o

final do quarto ano, cuja formatura foi no final de 1996, tinha habilidades suficientes para

tramitar em diversos gêneros musicais, com bastante aptidão e consciência.

Ao comentar em entrevista, para essa pesquisa, sobre o que achava da proposta

pedagógica do curso, o aluno Lula, demonstra claramente a sua preferência sobre essa forma

de aprender música:

Eram aulas que de certa maneira estavam vinculadas com nosso cotidiano. Eu

precisava entender harmonia daquela forma como o professor C ensinava,

associando a todo o momento os assuntos teóricos ao cancioneiro popular, a bossa

nova, choro, a MPB, jazz, Beatles, até exemplos no axé music. Tocava na noite,

comecei a enriquecer minhas harmonias, entender as harmonias complicadas de

Chico, Jobim, Edu Lobo, Gil, Caetano. Adorava estudar percepção musical daquela

forma como eles faziam lá, aprendi intervalos memorizando o som através de

melodias de música desse pessoal todo aí que citei anteriormente, facilitou muito a

saber escrever uma melodia, ditados, a maneira como era ensinado, tudo com

música e principalmente música popular. Só que tinham professores que queriam

ensinar daquela maneira como aprenderam na universidade, queria que

cantássemos aquelas obras para coral de compositores de séculos passados, e aí a

gente fazia forçado, era chato.Por que não fazia um arranjo e cantava músicas

populares famosas? Ficou assim meio dividido o corpo docente nesse aspecto.

(LULA,2015).

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

68

É importante que se tenha idéia da dimensão dessa proposta pedagógica não

conservadora a que Lydia se refere e que o Prof. nº 3 defende, principalmente no aspecto que

diz respeito ao uso de uma linguagem musical que fosse a mais prazerosa e adequada para os

alunos. O estudo da música pela própria música popular seja ela do Brasil ou de qualquer

outro continente, parecia estar em total sintonia com o perfil de alunos que adentravam àquela

instituição.

Muitos estudantes já vinham com bagagem musical mais ampla, com história

musical própria. Tinham bandas, tocavam na igreja, em casamentos, em barzinhos à noite,

alguns até tocavam em trios elétricos. Esta abordagem que vem do “Contexto da Prática”,

portanto, assume que os professores e demais profissionais exercem um papel ativo no

processo de interpretação e reinterpretação das políticas educacionais e, dessa forma, o que

eles pensam e no que acreditam, têm implicações para o processo de implementação das

políticas. (MAYNARDES, p.53).

Portanto, é importante reiterar, que em relação ao curso técnico de música do

CEDMN, o perfil de formação dos alunos provenientes dos resultados dessas interpretações,

disputas e realizações entre o corpo docente, foram e são determinantes para o fortalecimento

das tendências relacionadas a gêneros e estilos musicais. Isso também se dava de acordo com

as escolhas e facilidades despontadas pelos alunos no gênero musical de sua preferência.

Nesse momento, os profissionais exercem um papel ativo no processo de

interpretação e reinterpretação não só das políticas públicas de educação, mas nas escolhas,

por parte do corpo discente, de concepções teóricas e práticas da música, como é o caso dos

alunos que se formam no CEDMN.

Também é importante atentar, que nesse sentido, em relação ao aspecto pedagógico

observamos um racha, uma fissura na política de ensino do CEDMN, quando dentro do

“Contexto da Prática”, alguns professores, diferem no quesito interpretação do papel do

colégio e da formação adequada do músico popular dentro das propostas pedagógicas

previstas.

Começam então entre os alunos, uma busca incessante por identidade musical.

Criam-se grupos dentro da própria escola, influenciados pelos diversos gêneros musicais

compatíveis com a formação individual dos professores. Observava-se nitidamente a

formação de diversas alas musicais por parte dos alunos do curso, assim denominadas: a ala

da mpb, dos chorões, dos bossa novistas, dos improvisadores (que tinham como admiração o

jazz e blues) e a ala dos eruditos ou clássicos.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

69

Existiam também alguns poucos alunos que procuravam tramitar na maioria dos

gêneros musicais oferecidos pelo curso, influenciados em grande parte por professores

adeptos à um concepção plural, que além de possuírem essa versatilidade na sua formação

musical, incentivavam seus alunos a necessidade de aderir a essa postura. O argumento usado

transitava entre a defesa da versatilidade musical como caminho para a empregabilidade e

uma postura estética e político pedagógico de crença na matriz cultural diversa da música

brasileira.

Por outro lado, haviam professores que não estimulavam o ingresso dos alunos nas

universidades de música, como forma de continuação dos seus estudos. Estes justificavam

esse posicionamento, mediante as suas experiências não muito agradáveis com estas

instituições, estigmatizando o ensino superior de música na Bahia, como arcaico, ultrapassado

e sem condições de preparar bons profissionais com competência e qualidade musicais

exigidas pelo mercado de trabalho, alterando alguns conceitos idealistas sobre a formação do

músico.

Já outros professores, mesmo que talvez sem uma reflexão mais aprofundada,

compactuavam com as duas propostas: inserção no mercado de trabalho e acesso ao nível

superior.

4.3 A EXPERIÊNCIA DO CEDMN FRENTE À PLURALIDADE E DIVERSIDADE DE

GÊNEROS MUSICAIS

Devido à grande variedade de ritmos, sons e misturas encontradas no Brasil, a música

brasileira vem, há muito tempo, sendo objeto de estudo não só no universo acadêmico, mas

também por pesquisadores autodidatas do mundo inteiro, sem nenhum vínculo com as

instituições formais de música. Observando esse aspecto, muitos artistas e educadores

perceberam a necessidade de uma educação musical conectada com os diferentes significados,

usos e funções que permeiam a cultura musical do país. Com efeito, à medida que essas

discussões têm proporcionado uma abrangência maior para a área de educação musical, têm

gerado reflexões sobre deficiências relacionadas à articulação do ensino com a pluralidade

musical da cultura brasileira, que ainda permanecem no processo de ensino-aprendizagem em

instituições “formais” do ensino da música. (QUEIROZ, 2004, p.105).

Portanto, tendo como foco de análise a experiência de ensino de violão do CEDMN,

pretende-se neste capítulo, traçar uma discussão acerca da importância da pluralidade musical e

da diversidade de métodos envolvidos no ensino de música da referida instituição. A escolha do

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

70

ensino de violão como objeto de discussão neste capítulo, se justifica pela maior intimidade do

pesquisador com o instrumento em questão e não por um menosprezo aos outros instrumentos,

igualmente importantes dentro do processo educacional da instituição.

As informações sobre os princípios e métodos utilizadas na aprendizagem do violão,

foram concedidas durante entrevista realizada com o Prof.º Jailson Coelho, um dos fundadores

do curso de música do CEDMN. O professor é licenciado em música pela Universidade Católica

de Salvador - UCSAL, com habilidade específica em violão e pós-graduação em Metodologia do

Ensino Superior pelo Cepom20.

O Prof.º Jailson, considera que a concepção do profissional é fundamental para a

escolha metodológica a adotar e ressalta que os professores que integram o corpo docente do

CEDMN, têm toda uma formação bastante eclética, com tendências subjetivas decorrentes dos

gostos musicais. Consoante o professor, é possível verificar influência maior ou menor do

Choro, Bossa Nova, Jazz, Música Erudita, dentre outros estilos. Ressalta ainda, que essa

realidade colaborou para a formação musical conduzida pelo CEDMN, com implicações sobre a

escolha metodológica.

Em acordo com Swanwick (2003), um dos fatores iniciais e primordiais da educação

musical deve ser o de ponderar e compartilhar do discurso musical dos alunos, propiciando um

alargamento das relações que eles já têm, com a música, conduzindo-os a experiências cada vez

mais atuais, para que assim estejam aptos em estabelecer uma relação real entre música e cultura

música e vida.

Para o Profº. Jailson, a vasta experiência com os métodos utilizados pela tradição oral,

facilita aos outros professores do CEDMN, o acesso à linguagem musical utilizada pelos alunos

da escola e conseqüentemente, ao aproveitamento de sua bagagem musical. Segundo ele:

[...] os alunos que ingressam no curso de violão do CEDMN, geralmente, trazem

consigo experiências e informações musicais iniciais que se dão através de revistas

cifradas, ou participações em bandas e conjuntos musicais. Esta iniciação informal

é fruto da necessidade de expressão musical dos jovens instrumentistas, sendo

aproveitada por nós professores, retirando elementos básicos da música utilizados

nesta prática, conciliando com a metodologia do curso, conscientizando sobre a

aplicação da harmonia, dos estudos rítmicos e de percepção, além de estudos de

iniciação ao violão, leitura musical e a elaboração de um repertório progressivo

tecnicamente e diversificado nos estilos musicais[...] (COELHO, 2013).

Portanto, além de considerar a realidade musical do aluno, o professor deve também se

ater à realidade social do mesmo. Profº. Jailson explica, que o perfil do aluno do CEDMN vem

mudando em decorrência de alterações promovidas pela política de estado, assim como pelas

20 Centro de Estudos em Pós-graduação Olga Meeting (CEPOM), da Faculdade de Educação da Bahia

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

71

próprias mudanças da história concreta da sociedade. Ele enfatiza também, que grande parte dos

estudantes de violão do CEDMN é proveniente das classes baixas e muitos são trabalhadores.

Afirma ainda que: “É preciso saber lidar com essa realidade e favorecer ao aprendizado

possível para esse público”. (COELHO, 2015).

Sendo assim para atingir o lema do Colégio: “Ouvir o mundo e Cantar o Brasil”, o

princípio norteador do CEDMN é o respeito não só à diversidade musical, bem como a realidade

sociocultural e econômica dos seus estudantes.

4.3.1 Ensino do violão no CEDMN e os métodos utilizados

Antes de fazer uma exposição acerca do material metodológico utilizado no ensino de

violão do curso de música do CEDMN, é de fundamental importância estabelecer uma reflexão

sobre o sentido da palavra “método” através da visão de alguns autores que abordam esse

referido tema. Segundo Reys e Garbosa (2010, p. 109), ao relacionar o termo “método” as ações

do professor, ele está se reportando ao “como ensinar”, ou seja, um conjunto de ações que

provêm de uma “concepção metodológica” mais ampla do “processo educativo”. Para ele,

métodos de ensino estão relacionados basicamente as metodologias de trabalho, que tem como

propósito principal o de atingir objetivos pedagógicos, relacionados a conhecimento e mudança

da realidade.

Sobre esse ponto de vista, Reys e Garbosa (1994) definem como sendo “método” um

agrupamento de ações decorrentes da “concepção de sociedade, da natureza da atividade prática

humana no mundo, do processo de conhecimento e particularmente da compreensão da prática

educativa numa determinada sociedade”.

Ainda para Reys e Garbosa (2010, p.110), o educador deve ter a preocupação em

trabalhar com um método que se identifique junto ao sujeito (aluno), com o cuidado de observar

caminhos metodológicos, organizados e construídos de uma maneira lógica, pois se deve quase

tão somente a esse fator, o sucesso da ação pedagógica.

Garbosa (2010, p.114) alerta ainda, que os métodos devem estar vinculados a conceitos

de valores, crenças e normas que direcionam a sociedade, refletindo da maneira mais autêntica

possível os seus traços culturais, atendendo as necessidades específicas da proposta educação

para qual são produzidos e utilizados. Para isso, esse método tem que passar constantemente

pelas mudanças ocorridas dentro das tendências culturais e educacionais de cada época, estando

assim em comum acordo com o momento histórico e a sociedade na qual são concebidos.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

72

É, portanto, fundamentado nessas concepções, que se observa uma forte relação entre

os conceitos sobre métodos até aqui abordados, junto a proposta metodológica do ensino de

violão do CEDMN, principalmente no que se refere a adaptação do uso desses métodos a uma

realidade atual, que valorize um tripé fundamental para o chamado “sucesso da ação

metodológica”: a simbiose perfeita entre método, professor e aluno junto a diversidade cultural

do contexto social o qual está inserido.

Profº. Jailson, especifica com detalhes os métodos usados desde o início da fundação

do CEDMN, até os dias atuais e em relação à escolha dos métodos a serem adotados ele

ressalta, que a grande dificuldade parte de que:

[...] os métodos tradicionais são de grande relevância na iniciação e progressão do

estudo desse instrumento, entretanto a quase exclusividade do ensino de técnicas

direcionadas ao gênero musical originário das escolas europeias, tem provocado

uma defasagem, em relação à ampla diversidade musical que o mundo propicia.

(COELHO, 2013).

O ensino de violão do CEDMN se dá através de aulas individuais e aulas em grupo

(prática de conjunto). No processo inicial de aprendizagem, das aulas individuais, o aluno

trabalha exercícios básicos de postura, leituras diatônicas e cromáticas nas quatro primeiras

casas do violão, através da partitura e escalas maiores naturais com apoio e sem apoio nas

cordas soltas do instrumento. Logo em seguida, após uma introdução a leitura na pauta

musical o aluno passa a executar valsas, prelúdios e andantes de compositores eruditos do

violão como: Matteo Carcassi, Napoleon Coste, Mauro Giulianni, Fernando Sor, Ferdinando

Carulli, Gaspar Sanz, Giuseppe Antônio Brescianello e transcrições de músicas de Bach,

Teleman, Purcell, Haendel, Mozart.Em relação ao material didático utilizado nesta fase, cita

os livros: “Iniciação ao Violão” e “Curso Progressivo de Violão” de Henrique Pinto,

“Ejercicios de Arpegios” de Mauro Giulliane, “Células Rítmicas” do autor Aderbal Duarte21 e

os três volumes de “A Modern Method for Guitar”, de William Leavitt. Com este último livro

trabalha-se com o aluno não só a leitura à primeira vista, mas, alguns fundamentos da

improvisação na música popular brasileira, tomando como influência o jazz americano.

(COELHO, 2013).

Em seus primeiros passos relacionados com o estudo de Música Popular Brasileira,

o estudante trabalha com o livro de “Células Rítmicas”, do Profº Aderbal Duarte, onde através

de divisões rítmicas como as da Bossa-Nova, Samba, Baião, Maracatu, Frevo e Chula,

21Músico, instrumentista, arranjador, maestro e compositor. Formado em Composição e Regência pela

EMus/UFBA. Atualmente é o mais reconhecido estudioso da obra de João Gilberto no Brasil.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

73

exercita balanços rítmicos na mão direita com o uso de acordes. Simultaneamente a esse

estudo é aplicado um repertório de música popular como: “O Barquinho”, de Ronaldo Bôscoli

e Roberto Menescal, “Triste”, “Wave”, “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim. (COELHO,

2013).

Para execução do programa de peças de Violão Solo Brasileiro, são selecionadas

composições de: Canhoto, Garoto, João Pernambuco, Dilermando Reis, Baden Powell,

Laurindo Almeida, Luis Bonfá e Tom Jobim, bem como a obra de atuais violonistas da nova

geração: Marco Pereira, Celso Machado, Paulo Belinatti, Rafael Rabello. Utiliza-se também

para desenvolvimento técnico, didático e musical a obra de Heitor Villa Lobos: 12 Estudos, os

5 Prelúdios, os choros Nº1 e a Suíte Popular Brasileira, composta de cinco peças: Mazurka-

Choro, Schottish-Choro, Valsa-Choro, Gavota-choro, Chorinho. (COELHO, 2013).

As aulas em grupo são denominadas de “prática em conjunto”. Esta modalidade tem

como pré-requisito o conhecimento prévio fornecido nas aulas individuais. Nela são formados

duos, trios, quartetos, uma camerata de violões (com a participação de todos os alunos) e

alguns grupos de Chorinho. O intuito é executar os clássicos dos gêneros, representados por

grandes compositores como: Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Abel

Ferreira, Jacob do Bandolim. (COELHO, 2013).

Profº. Jailson lembra também, que através das aulas em grupo estimula-se no aluno a

troca de conhecimentos, cooperativismo e a aquisição de experiência relacionada ao

desempenho musical no palco. Ressalta ainda, que faz parte das atividades do colégio a

realização de muitas audições durante o ano letivo, cujo objetivo é desenvolver o espírito

crítico musical e aprimorar a performance do estudante. Estas audições servem como meio de

avaliação qualitativa, tanto do aluno, quanto da metodologia empregada pelo professor.

(COELHO, 2013).

4.3.2 O curso de música do CEDMN: pluralidade e diversidade

De acordo com Gonçalves (2007 apud GALDINO, 2010, p.310),é necessária uma

reflexão sobre diversidade na formação do professor de música, para que não se tenha um

profissional com uma concepção somente prática e ao mesmo tempo ingênua, no que se refere

a sua atuação no mundo musical do trabalho. Sendo assim, é primordial que se estimule

durante essa formação, um contato mais amplo com o mundo da diversidade através de uma

aprendizagem formal e não formal, à exemplo do Profº. Jailson, que deixa claro a importância

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

74

da diversidade para sua desenvoltura como educador musical, tendo como foco o ensino do

violão:

[...] É foi essa visão não fechada, não fechada da música, não acadêmica, nem

antes, nem durante e nem depois nessa idade. “Ah! você passou pela universidade,

você é acadêmico”! Não, antes de estudar na universidade eu já tocava música

brasileira, música popular. Como aluno na Universidade Católica, participava de

rodas de choro, tocava bossa nova. Esse contato todo com a música eram paralelos

com a ambição de ir ouvindo as Segundas·, Lindemberg e ao mesmo tempo, na rua

tocava música africana música da terra, música caribenha, salsa, ritmos

africanos[...] (COELHO, 2013).

Para além das referências já feitas sobre a importância da diversidade musical para a

formação do educador musical, através da visão de Swanwick (2003), argumenta-se ainda

que:

O discurso musical [dentro de qualquer processo educacional] tem que ser visto

como uma pluralidade.” Pois somente assim a educação musical “formal”,

estabelecida dentro das instituições de ensino, poderá adaptar-se a um mundo em

mudanças, numa situação em que os sistemas de comunicação se expandem

rapidamente e desordenadamente dentro de cada meio cultural, proporcionando

processos de aculturação que foge, atualmente, de qualquer controle social. Essa

diversidade dos meios de comunicação tem favorecido o acesso a uma infinidade de

repertórios, estilos e demais características da música de diferentes grupos sociais,

fato que tem ocasionado trocas e interações musicais de diferentes “mundos” da

música, tanto dentro de um mesmo universo social/ cultural como também dentro de

dimensões culturais mais amplas. (SWANWICK, 2003, p.15).

Nesse contexto, o ensino do violão do CEDMN serve de parâmetro para educadores,

uma vez que os alunos do curso são, no cenário musical de Salvador, considerados bem

preparados para o mundo da diversidade. Egressos dessa instituição como instrumentistas e

intérpretes ocupam, na atualidade, não só um espaço importante na cena musical baiana,

como a maioria deles ampliam a sua formação com o ingresso nos cursos superiores em

música.

Deste modo,em concordância com Arroyo (2000) acredita-se que:

[...] Os estudos que relacionam música e cultura (como a etnomusicologia) apontam

que os espaços escolares – formais – de educação não os únicos, mas sim apenas

uma parte dos inúmeros contextos presentes no cotidiano das sociedades, urbanas ou

não, onde experiências de ensino aprendizagem da música acontecem. (ARROYO,

2000).

Fica claro então, que a autora reitera a sua crença de que processos de educação

musical não ocorrem exclusivamente nas escolas de música, mas nos mais variados contextos

culturais (ARROYO, 1999). Isso é visível na experiência do CEDMN e verifica-se ainda um

estímulo a participação dos jovens alunos em atividades culturais e musicais dentro e fora da

instituição. Na visão do Prof.º Jailson, a formação oferecida pelo Manoel Novaes tem

permitido ao aluno, através do estudo da música, não apenas um aprimoramento técnico e

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

75

específico, mas um conhecimento do próprio país, fazendo desse profissional um cidadão

mais consciente da sua identidade e das suas responsabilidades.

Sendo assim, torna-se impossível não perceber a importância da formação musical

pautada na diversidade e pluralidade de métodos e gêneros musicais trazendo como exemplo a

experiência de ensino do CEDMN.

4.4 OUTRAS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELO CURSO

Não bastassem algumas incompatibilidades ideológicas, entre alguns profissionais

do corpo docente do núcleo de música, relacionadas ao quesito propostas pedagógicas,

observava-se também certo afastamento entre os professores de música e o restante dos

professores pertencentes à equipe pedagógica da escola. A maioria destes, não só do ensino

médio, bem como os do fundamental, achavam que os professores de música tinham muitos

privilégios. (HORTÉLIO, 2015).

Segundo Lydia, esses professores também queriam opinar sobre as pedagogias e

metodologias musicais que diziam respeito ao curso técnico profissionalizante em música.

Eles não entendiam que a metodologia de ensino era outra, as disciplinas de música eram

todas voltadas para o “som”. (HORTÉLIO, 2015).

A maioria desses professores não possuía formação musical ou nem sequer cursaram

alguma disciplina de sensibilidade artística nas suas respectivas áreas de concentração,

quando graduandos. Portanto, não tinham conhecimento algum sobre música. Esse fato

implicava numa falta de diálogo entre os professores de música e o restante dos docentes da

escola. Eles não entendiam quase nada sobre as formas de ensino musical, nem tampouco o

tipo de pedagogia necessária voltadas para este tipo de ensino. (HORTÉLIO, 2015).

Maynardes (2006) relaciona o pensamento dos autores Ball e Bowe a esses

acontecimentos:

Os autores indicam que o foco da análise de políticas deveria incidir sobre a

formação do discurso da política e sobre a interpretação ativa que os profissionais

que atuam no contexto da prática fazem para relacionar os textos da política à

prática. Isso envolve identificar processos de resistência, acomodações, subterfúgios

e conformismos dentro e entre as arenas da prática, e o delineamento de conflitos e

disparidades entre os discursos nessas arenas. (MAYNARDES, p.50).

Ligado a essas circunstâncias descritas anteriormente, ressalta-se também, o fato de

que o curso de música do CEDMN estava alocado no terceiro andar de um prédio onde

originalmente funcionou um pronto socorro, que logo após foi reformado e adaptado para ser

uma escola. Sendo assim, os professores dos andares abaixo do de música, reclamavam do

barulho proveniente principalmente das aulas dos instrumentos de sopros e percussão,

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

76

alegando total desconcentração por parte dos seus alunos, no decorrer das aulas.

(HORTÉLIO, 2015).

Em 2012, Stephen J. Ball, Meg Maguire e Annette Braun ao demonstrarem “a

theory of policy enactment” , teoria da política em ação, no livro “How schools do policy:

policy enactments in secondary school” (ROUTLEDGE,2012), indicaram algo já anunciado

na abordagem do ciclo de políticas, especialmente ao caracterizar o “Contexto da Prática”.

Eles alertam, dentro deste mesmo contexto, sobre a importância das chamadas “Dimensões

Contextuais”, na qual as políticas são colocadas em ação.

Segundo os autores:

[...] as políticas são colocadas em ação em condições materiais, com variedade de

recursos, em relação a ‘problemas’ específicos. As políticas – novas e velhas – são

colocadas diante de compromissos existentes, valores e formas de experiência. Em

outras palavras, um quadro de referência para a teoria do policy enactement

precisaria considerar um conjunto de condições objetivas em relação a um conjunto

de dinâmicas interpretacionais subjetivas. Assim, o material, estrutural e o relacional

precisam ser incorporados na análise de políticas para fazer o melhor sentido da

colocação da política em ação no nível institucional. (BALL; BRAUN; MAGUIRE,

2012)

Algumas “dimensões contextuais” ou a “importância do contexto em que as

políticas são colocadas em ação”, ao qual se referem os autores, podem explicar com mais

clareza a situação relatada anteriormente por Lydia. Uma dessas dimensões está relacionada

aos chamados “Contextos Situados”. Os contextos situados têm a ver com cenário local,

histórias da escola e fluxo de alunos.

Nesse momento são observadas situações que podem comprometer o sucesso do

curso. Nesse sentido (com relação ao que se pretendia do cenário local para o funcionamento

de um curso de música), observou-se um certo despreparo e displicência no andamento da

concepção e elaboração do projeto acústico do andar em que este funcionaria, no que diz

respeito ao restante da escola. Pressupõe-se, que seria de suma importância analisar a

estrutura física do CEDMN como um todo. O ideal seria uma escola que estivesse pronta para

receber um conservatório de música anexado a ela. Ou seja, os locais onde fossem ser

ministradas as aulas de música, deveriam ser completamente separados das demais salas de

aula das disciplinas do tronco comum. Mas isso não ocorreu. Simplesmente, o governo ao

criar o curso aproveitou o último andar do prédio do antigo pronto socorro, e não avaliou as

condições estruturais compatíveis para o funcionamento de um conservatório junto ao restante

da escola. Segundo os autores Ball, Maguire e Braun, essa situação também está relacionada

com outra dimensão contextual, chamada de “Contextos Materiais”, que lida com orçamento,

prédios, tecnologia e infra-estrutura.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

77

O outro fato que comprometeu também o sucesso do curso estava relacionado com o

modelo inadequado deste, para os alunos de baixa renda. Segundo Lydia, os alunos deveriam

fazer o curso de segundo grau em uma escola onde quisessem e em outro turno o

profissionalizante em música, como acontecia com o curso profissionalizante em dança.

Realmente isso dificultou muito para os alunos que trabalhavam em turnos fixos(

principalmente os turnos matutino ou vespertino), tornando-se assim um fator de grande

relevância para evasão do curso. Para Lydia: “Alguns alunos já tinham segundo grau e

tiveram que repetir de novo. Outros até casados, com família. Ter que ir dois turnos, para

eles era puxado”. (HORTÉLIO, 2015).

Os autores também associam a evasão de alunos, como dificuldades de “Dimensões

Contextuais”, caracterizado dentro do “Contexto Situado”. Segundo eles, esse fato é

denominado dentro do “Contexto Situado” como “Fluxo de Alunos”.

Sendo assim, de acordo com a forma de implementação das políticas públicas de

ensino, esse fluxo pode ser maior ou menor. No caso em questão, conjectura-se que deveria

ter sido observado dentro dos âmbitos das legislações educacionais e no ato da elaboração do

projeto do curso, outros modelos de cursos profissionalizantes que servissem de parâmetros

comparativos adequados para alunos de baixa renda. Sendo assim, volta-se a tomar como

exemplo o curso de dança, citado em parágrafos anteriores por Lydia. Neste curso, os alunos

faziam o segundo grau em uma escola onde quisessem e no turno oposto o profissionalizante

em dança, num local específico. O mesmo poderia ter acontecido com o curso de música.

Essa seria uma alternativa, que poderia ser analisada durante a elaboração do projeto.

Alguns alunos em entrevista a esta pesquisa, comentam a respeito:

Lembro-me do meu primeiro ano em 1993, quando entrei no Manoel Novaes! Já

havia tirado o segundo grau todo. Quase não assistia às aulas das disciplinas que

não fossem as de música! Obtinha notas maravilhosas nas disciplinas de música,

porém não tinha estímulo para estudar as outras. Fiquei na recuperação de

algumas e foi aí que caiu a ficha. Se eu quiser realmente esse caminho, ser um

músico bom, teria que estudar as outras disciplinas até o final do curso. Então

estudei e consegui passar na recuperação de cinco disciplinas que não eram de

música e a partir dos outros anos cuidei para que não acontecesse a mesma coisa. E

assim fui até o final, até a conclusão do curso. Mas outros não tiveram a mesma

perseverança! E eu entendo! Precisavam trabalhar, outros tinham filhos e outros só

queriam mesmo aprender o essencial para sua evolução dentro do mercado de

trabalho e por aí foi [...] (LULA,2014)

Sim, houve evasão! Principalmente por falta de condição financeira de alguns dos

educandos, das respectivas famílias para poder prosseguir com o curso. (MOURA,

2014)

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

78

Aproveitando a fala desses ex alunos nos depoimentos anteriores, é importante

também reiterar, que ao responderem a perguntas do questionário sócio demográfico

relacionado a atividades remuneradas, os egressos alistados nos primeiros quatro anos de

existência do curso foram unânimes em afirmar que trabalhavam em turnos opostos aos

oferecidos pelo curso.

Ainda respondendo ao questionário sócio demográfico, a maioria deles assinala

também que possuíam renda e trabalhavam basicamente por dois motivos específicos e

essenciais: “Para o próprio sustento e o de minha família (esposo/a, filhos/as) e ou ajudar

meus pais nas despesas com a casa”. Apenas dois dos egressos entrevistados, não se

encaixaram nesse perfil. (QUESTIONÁRIO SÓCIODEMOGRÁFICO, 2015). Os gráficos a

seguir ilustram as informações acima.

Gráfico 7 – Número de entrevistados que possuíam renda.

Fonte: Produção do próprio autor

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

79

Gráfico 8 - Motivação dos alunos entrevistados para o trabalho

Fonte: produção do próprio autor

Para a aluna Joyce (2006), egressa pertencente à turma mais recente, (pós-

reativação do curso profissionalizante) um dos motivos de evasão naquele período, estava

também relacionado com a pouca oferta de aulas de instrumento oferecidas:

Sim. Uma das questões era a duração do curso. Devido à inclusão da música para

concluir o ensino médio precisava está na escola quatro anos, e não três. Alguns

estavam lá só para tocar, esquecendo outras matérias. Em relação às aulas de

instrumento acredito que também tenha influenciado a evasão, na época só tinha

aulas de violão, piano e violino.

Algumas outras situações difíceis também ocorreram durante o trajeto de existência

dos primeiros quatro anos do curso.

Segundo Lydia, muitos alunos não tinham condições financeiras de possuir seu

próprio instrumento. Sendo assim, a escola emprestava instrumentos a esses alunos para

estudarem em casa, mas existiam riscos. Ela relembra que de certa feita, um aluno do curso

levava um instrumento (violão) para estudar em casa, e então no momento da volta para sua

residência, logo ao entrar no ônibus, quase teve o instrumento furtado por um ladrão.

(HORTÉLIO, 2015)

Alguns professores em conversas informais durante esta pesquisa, relembram que

nos primeiros anos do curso, a quantidade de pianos disponíveis para aula e também para o

horário de estudos dos alunos eram poucas. Relatam ainda que só existiam pianos nas salas de

percepção e teoria. Segundo eles, a manutenção dos instrumentos também era precária. Pouco

encordoamento para os violões, poucas palhetas de sax e clarinetas. “Existiam professores

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

80

que até doavam suas próprias palhetas para os instrumentos de sopro da escola”.

(HORTÉLIO, 2015)

Em entrevista concedida a esta pesquisa, o aluno Lula afirma que essa mesma

situação ocorria em relação à existência de materiais pedagógicos disponíveis para as aulas:

[...] a maior parte do material pedagógico que dizia respeito às aulas de Harmonia,

Percepção e Improvisação e até alguns arranjos para violão solo de Bossa Nova

que eram utilizados por nós, provinha dos professores 3 e de outro professor que

junto ao professor 3, tinham uma escola de música muito famosa nos anos 80. Os

estudos e partituras de instrumento para serem tocados e treinados, eram muitas

vezes cedidos para escola pelos próprios professores dos seus respectivos

instrumentos [...] (LULA, 2014).

Em questionários de entrevistas aplicados aos outros oito alunos através deste

trabalho, pode-se constatar a autenticidade do depoimento do aluno Lula em relação a sua

afirmação acima. Desses oito alunos, sete afirmam que o material pedagógico (livros,

partituras, métodos) eram cedidos pelos professores. Apenas um aluno não respondeu a essa

pergunta.

Lydia também relembra que ia fotocopiar partituras no seu próprio carro, até o

CAB22. Ela ainda afirma, que nos anos subseqüentes ao primeiro ano de existência do curso,

Prof.ª Nelma Borges23, conseguiu uma máquina de fazer fotocópia. A partir daí, começou-se

então a xerocar as partituras lá mesmo no CEDMN. Segundo ela, “... foram tempos difíceis!”.

(HORTÉLIO, 2015).

Esses episódios relatados em parágrafos anteriores, são também para Ball, Maguire e

Braun (2012), situações inclusas nas dificuldades de dimensões contextuais, e estão

relacionadas com o “Contexto de Culturas Profissionais”. São dentro desse contexto,

observados os valores, compromissos e experiências dos professores e políticas de gestão da

escola.

Através dessa conjuntura, os autores esclarecem de uma maneira mais clara, os

acontecimentos descritos anteriormente. Esses acontecimentos têm a ver com as dificuldades

relacionadas à deficiência de material pedagógico, falta de encordoamentos para violão e

palhetas para instrumentos de sopro e a ausência de uma máquina de fotocopiar partituras.

Para eles, nesse momento, os professores e diretora colaboram com ações individuais para a

22 CAB – Centro Administrativo da Bahia, local onde funciona a sede do governo do Estado e suas secretarias. 23 Nelma Borges foi à primeira diretora do CEDMN. Sua gestão foi de 1993 a 1997, ano de formatura da

primeira turma de egressos do CEDMN.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

81

sustentabilidade do curso. São essas ações que refletem os “valores, compromissos e

experiências dos professores e políticas de gestão da escola”.

Outra dificuldade de dimensão contextual que também está relacionada a esses fatos,

é o que os mesmos autores denominam “Contextos Externos”. Nessa dimensão contextual,

são analisados o nível e qualidade de apoio da autoridade local de educação ( divisões

educacionais da secretaria de educação) e ou pressões e expectativas do contexto político

mais amplo, relacionadas a índices e taxas a serem atingidas (Ideb, rankings, exigências e

responsabilidades legais). É através desse contexto então, que se pode observar claramente o

que estava ocorrendo com o curso técnico profissionalizante em música do CEDMN, naquele

momento. Simplesmente, o governo criou e inaugurou o curso de música do CEDMN, e nos

anos subseqüentes a sua criação, não ofereceu através da SEC (órgão do governo e autoridade

local de educação) “nível e qualidade de apoio” necessário para manutenção das condições

estruturais internas do ensino de música desta referida escola.

Portanto, ao se referir as dificuldades de dimensões contextuais, os autores

demonstram e expõe falhas e fragilidades existentes dentro da máquina funcional de políticas

públicas de ensino. Essas falhas são notoriamente perceptíveis, quando passam a

impossibilitar o bom funcionamento de um curso de música promissor, como do CEDMN.

4.5 SUCESSO E RESULTADOS POSITIVOS DO CURSO

A criação e existência do curso técnico profissionalizante em música do CEDMN,

principalmente nos primeiros quatro anos de existência, não foi marcada somente por

dificuldades e problemas. Houve também pontos positivos durante a trajetória do curso,

principalmente no que diz respeito a sua importância, tanto no cenário educacional, quanto no

musical da Bahia.

Em resposta ao questionário de entrevistas desta pesquisa, todos os alunos e

professores concordaram em afirmar que o grande sucesso do curso estava ligado ao nível de

qualidade de conhecimento musical e pedagógico do corpo docente.

Um dos professores fundadores do curso de música do CEDMN, o Profº. nº4,

afirma:

[...] vale ressaltar que, apesar de toda a problemática que ainda persiste na

educação e na cultura brasileira, o CEDMN foi capaz, com o esforço, a

competência e a dedicação do seu corpo docente especializado na área musical, de

habilitar um contingente expressivo de alunos que atuam como performers e como

professores no ensino básico, médio e superior no Estado da Bahia [...]

(PROFESSOR nº4, 2015)

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

82

Além desse ponto positivo, Lygia aponta para outros:

Os meninos naquela escola tiveram acesso a muitos máster-class. Eu levei muita

gente boa para eles conhecerem. Sempre que aparecia um músico interessante na

cidade, vindo de outros estados, países, eu convidava. Faziam palestras, concertos

lá na escola. Músicos americanos, luthiers, percussionistas, violonistas, grupos de

choro. E todos eles se encantavam com a existência daquela escola. (HORTÉLIO,

2015)

Segundo ela, todos esses eventos na sua grande maioria estavam catalogados em

álbuns fotográficos. Porém, dois desses álbuns se perderam pela escola, ou ficaram nas mãos

de alguma pessoa da qual não se recorda. (HORTÉLIO, 2015).

Neste momento da entrevista, ela até se emociona: “Meu filho, se você puder achar

esses álbuns, ficaria muito feliz!” (HORTÉLIO, 2015). Sempre no decorrer das entrevistas,

sugeria-me procurá-los como parte da investigação da minha própria pesquisa. Esforcei-me,

perguntei a maioria dos entrevistados, pesquisei com os funcionários da secretaria da escola,

dentre outras coisas. Mas não fui feliz. Ninguém soube do paradeiro desses dois outros

álbuns.

Em relação às conquistas obtidas pelo curso, uma delas para Lygia foi de grande

importância. Esta conquista estava relacionada com o grande índice de aprovação de alunos

advindos do curso de música do CEDMN, nos cursos de graduação da EMus/UFBA. Para ela:

[...] isso se deve muito ao nível da qualidade de ensino de música adquirido por eles

(alunos do CEDMN), através do empenho de uma equipe de professores, que na sua

grande maioria, eram de alto gabarito dentro do cenário musical baiano. Eles

tiveram uma introdução musical boa, consistente e muito interessante!

(HORTÉLIO, 2015)

Lembra também:

Algumas vezes, eu andando pelo centro da cidade, passavam alguns professores de

música da UFBA e me parabenizavam pelo ingresso dos alunos do curso de música

do CEDMN na universidade! Eles estavam contentes em receber alunos com certo

nível de conhecimento musical! Recordo-me que sempre recebia os cumprimentos

do professor Horst Shuwebel24. Ele elogiava bastante, o nível dos alunos que

vinham de lá, do Manoel! (HORTÉLIO, 2015.)

Para dois dos egressos e atualmente ex-alunos entrevistados nesta pesquisa, o curso

de música do CEDMN contribuiu muito também, para inserção dos alunos no mundo do

trabalho, no que diz respeito não só ao preparo musical consistente, bem como no ensino de

uma postura profissional adequada, nas mais variadas situações de trabalho como músico. O

aluno Lula, ressalta ainda, que mesmo os alunos que passavam pelo curso de música do

24Professor de Coral da Emus /UFBA, trompete e foi durante quatro anos diretor desta instituição.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

83

CEDMN e não concluíam os quatro anos de duração do curso, retornavam ou adentravam no

mundo do trabalho, bem mais preparados e conscientes do que antes. Eles comentam:

Tinha colegas que não estavam interessados nas disciplinas de núcleo comum, só

queriam estudar as matérias de música! Passavam um tempo, adquiriam os saberes

musicais que julgava necessário para a sua formação para o mundo do trabalho e

iam embora! Alguns desses colegas hoje tocam com Ivete Sangalo, Carlinhos

Brow,Daniela Mercury, Mariene de Castro, Luiz Melodia, bandas de forró

famosas...! Se tornaram profissionais de qualidade dentro do mercado de trabalho!

(LULA,2015)

Contribuiu em absoluto, ali aprendi mais do que música, aprendi de fato o que

significava ser músico profissional e quais escolhas me levariam a atingir este

objetivo, fora que os professores, além de serem os nossos mestres e orientadores

no aprendizado, também eram os nossos exemplos tanto na vida académica, quanto

no mundo profissional, pois todos eram (e ainda são) atuantes no mercado

profissional local e nacional(RICARDO, 2015)

Naturalmente, que a inclusão e atuação de profissionais mais qualificados dentro do

mercado de trabalho, comentado pelos alunos Lula e Ricardo, era o propósito principal

almejado pelo governo do estado no ato de fundação do curso. Porém, das duas primeiras

turmas de egressos formaram-se 80 , e isso perfazia menos de 22% do montante de alunos que

ingressaram no primeiro ano, ou seja,cerca de 360 alunos ao final de quatro anos(LEITE

2007, p.55).Esses percentuais provavelmente não eram satisfatórios aos olhos do governo

federal e do estado, pois esses dados estatísticos não correspondiam com as expectativas

relacionadas aos propósitos para o qual foi criado esse curso de música e outros cursos

profissionalizantes pelo Brasil afora.Nesse momento, o que estava ocorrendo então era um

desvio de função.

Um dos motivos principais da criação dos cursos profissionalizantes, como já foi

discutido algumas vezes anteriormente, estava relacionado com o aumento de produtividade

dentro do mundo do trabalho. Sendo assim, conclui-se que a partir do momento que os alunos

se viam contemplados, através de um ensino de qualidade, com a possibilidade de ingresso ao

nível superior, não mais interessava ao governo federal manter esses cursos técnicos

profissionalizantes, dentro daquele modelo. Pois, diante daquela atual conjuntura, poderia ter

sido estimulado à criação de mais escolas técnicas profissionalizantes, que atendessem a

demanda tanto do mercado de trabalho, bem como, o acesso ao nível superior das

Universidades do país. O que aconteceu mais uma vez, foi à negação ao ingresso as

universidades para as classes menos favorecidas da sociedade. Recusaram mais uma vez, a

possibilidade de ascensão intelectual e cultural, a essa referida classe. Sendo assim, pode-se

afirmar que naquele momento, o governo federal não estava preocupado com a educação de

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

84

qualidade no Brasil e sim em adequar o ensino profissionalizante a competitividade do

mercado internacional.

Para Ramos, Uma aliança entre os organismos internacionais e o poder local difundiu a ideologia

de que os indivíduos, os setores sociais e os países devem-se tornar

competitivamente adequados às exigências do mercado. Incorporando uma

preocupação com a estabilidade social, [...] a ampliação da dimensão social do

mercado associou educação e produtividade aos objetivos de combate à pobreza, de

equidade social e de distribuição de recursos para patrocinar serviços básicos para

todos. (RAMOS, 2005, p. 32).

Portanto, por conta dessa submissão as normas dos organismos financeiros

representantes dos interesses do capital estrangeiro (diga-se de passagem, um dos traços

marcantes do governo neoliberal do então presidente Fernando Henrique Cardoso “FHC”), foi

que o povo brasileiro testemunhou nesta época, ao sucateamento e privatização de boa parte

do patrimônio nacional. Para educação, o reflexo de todo esse processo, culminou no

desmantelamento das Universidades Públicas e as Instituições Federais de Educação

Profissional e Tecnológica, comprometendo assim, todo seu funcionamento.

5 DESATIVAÇÃO E REATIVAÇÃO: REPERCUSSÕES E IMPACTOS

5.1 DESATIVAÇÃO DO CURSO TÉCNICO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO

CEDMN

Em 1996, após um amplo debate nos mais diversos setores da sociedade brasileira, foi

aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB).

Porém, mesmo com a LDB 9394/96 não regulamentada, no estado da Bahia, as

matrículas para o curso técnico profissionalizante na rede estadual já haviam sido suspensas,

desde o final de 1996. Devido à ausência de um documento que comprovasse esse fato, não

houve como saber quem determinou a extinção dos cursos técnicos. Observa-se então, uma total

irregularidade e arbitrariedade, pois, não se tinha sequer o parecer do Conselho Estadual de

Educação - CEE, que aprovasse esse ato, prejudicando assim, todo ensino profissionalizante do

estado. Presume-se que durante todo ano de 1997, toda rede estadual relacionado ao ensino

técnico profissionalizante, funcionou irregularmente, no que diz respeito ao encerramento de

novas matrículas. Portanto, só em 1998 deveriam ser suspensas as matrículas para o ensino

profissionalizante na rede pública da Bahia. (LEITE, 2007 p. 63).

Entretanto, mediante mudanças ocorridas na LDB, a Secretaria de Educação do Estado

da Bahia suspendeu o ingresso de alunos desde 1997 e estava previsto a reativação do curso para

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

85

o ano de 2001, com as devidas reformulações curriculares, adaptando as propostas e objetivos

quanto à legislação específica do ensino profissionalizante, no tocante a Lei 9.394/96. No

entanto, a reativação do curso não ocorreu, em decorrência de mudanças freqüentes na política

governamental. Essas mudanças estavam relacionadas às políticas de educação que ocorreram

dentro do ensino público profissionalizante, referente aos governos dos presidentes Fernando

Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio Lula da Silva (Lula).

Durante a gestão do então presidente FHC, as principais mudanças referentes à

Educação Profissional começaram a partir do “Planejamento Político Estratégico da Educação

1995/1998” e o “Projeto de Lei n°. 1.603/96”. Sendo assim, o Ministério da Educação - MEC

através do “Planejamento Político-Estratégico da Educação 1995/1998”, ensejou a intenção de

promover e realizar uma reforma no ensino técnico profissional do país. A justificativa era que a

Rede de Escolas Técnicas Federais e os CEFETs estavam passando por dificuldades e desajustes

tais como: operações a custos elevados em comparação a outras escolas da rede pública estadual;

oferta de vagas em número limitado; distorção na composição social de seu alunado; cursos de

duração muito longa e que não atendiam as demandas dos setores produtivos; e a disposição da

maioria de seus egressos para o prosseguimento dos estudos no ensino superior, desviando-se do

ingresso imediato no mercado de trabalho. (BRASIL, 1995).

Em relação ao Projeto de Lei n°. 1.603/96, seus principais objetivos eram trazer

resoluções que determinassem os fundamentos conceituais e funcionais de políticas públicas de

Educação Profissional a serem introduzidas no Brasil para a década de 1990, tais como: separar,

do ponto de vista conceitual e operacional, a parte profissional da parte acadêmica; dar maior

flexibilidade aos currículos das escolas técnicas de forma a facilitar a adaptação do ensino às

mudanças do mercado de trabalho; promover a aproximação dos núcleos profissionalizantes das

escolas técnicas com o mundo empresarial, aumentando o fluxo de serviços entre empresas e

escolas; progressivamente encontrar formas jurídicas apropriadas para o funcionamento

autônomo e responsável das Escolas Técnicas e CEFETs e, ao mesmo tempo, estimular parcerias

para financiamento e gestão; estabelecer mecanismos específicos de avaliação das escolas

técnicas para promover a diversificação dos cursos e a integração com o mercado de trabalho.

(BRASIL, 1996).

De acordo com Tavares (2009), tanto o “Planejamento Político-Estratégico da

Educação 1995/1998”, quanto o “Projeto de Lei n°. 1.603/96”, que faziam parte da política

neoliberal do governo de FHC, não só atendiam aos interesses do Banco Mundial, bem como

reproduziam expressamente as suas orientações.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

86

Tomando como exemplo, a “Abordagem do Ciclo de Políticas: Uma Contribuição para

Análise de Políticas Educacionais”, dentro do “Contexto de Influência” (MAYNARDES 2006

apud ROBERTSON, 1995; BALL, 1998 e 2001; ARNOVE e TORRES, 1999), afirma-se em

relação ao Banco Mundial e outras agências multilaterais:

[...] o World Bank é particularmente importante uma vez que as intenções do banco

só podem ser entendidas como uma instância ideológica de promoção de um sistema

mundial integrado com as linhas de mercado (Jones, apud Ball, 1998a). Ao lado do

World Bank, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE), a UNESCO e o Fundo Monetário Internacional (FMI) podem ser

considerados agências que exercem influência sobre o processo de criação de

políticas nacionais. Tais influências, no entanto, são sempre recontextualizadas e

reinterpretadas pelos Estados-nação. Vários estudos mostram que há uma interação

dialética entre global e local. Mostram ainda que a globalização promove a migração

de políticas, mas essa migração não é uma mera transposição e transferência, pois as

políticas são recontextualizadas dentro de contextos nacionais específicos.

(MAYNARDES 2006, p. 51).

Sendo assim, através dessa intensa interferência das agências multilaterais, a educação

naquela atual conjuntura, foi adequada às intervenções de âmbito internacional e passou a ser

uma questão crucial no processo de competitividade entre os países, reforçando o que já foi dito

no capítulo anterior. Essas interferências, principalmente as relacionadas com o Banco Mundial,

geravam modificações em questões internas do país, provocando então ajustes em suas

legislações nacionais. Esses ajustes, naturalmente se refletiam direto na economia, pois o Banco

Mundial ao prestar assistência e empréstimos aos países, geralmente questionava cobranças e

exigências bem mais além das relacionadas aos projetos em questão. Essas assistências e

empréstimos, dentro do cenário educacional, estavam relacionados principalmente a

financiamento de projetos educativos. O Banco Mundial também se colocava como responsável

por detectar, diagnosticar e criar soluções para os problemas sociais e educacionais de seus

países membros.

Retomando aos fatos relacionados às mudanças que estavam ocorrendo dentro do

contexto educacional daquela época, podemos afirmar, que após diversas audiências públicas e

interferência de vários setores da sociedade envolvidos principalmente com a área da educação,

o governo FHC retrocede. Logo em seguida, com o pretexto de regulamentar a LDB n°.

9.394/96, baixa o Decreto Lei n°. 2.208/97, complementado pela Portaria do MEC n°. 646/97 e

pela Medida Provisória n° 1.549-28/97, retomando inteiramente os fundamentos e concepções do

Projeto de Lei n°. 1.603/96.

Então, foi que através do Decreto Lei n° 2.208 de 17 de abril de 1997, as disposições da

LDB foram regulamentadas, passando a ser sua ferramenta jurídica essencial até 2004. Este

decreto discorre sobre as principais metas e objetivos da Educação Profissional, descrevendo-a

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

87

como um eixo de articulação entre a escola e o mundo do trabalho. Para esse decreto, a educação

profissionalizante tem como compromisso qualificar, requalificar, e reprofissionalizar

trabalhadores em geral, oriundos de qualquer nível de escolaridade. Ao abordar sobre a

organização curricular, esse decreto ressalta ainda que a Educação Profissional é desvinculada do

Ensino Médio, mantendo apesar disso, vínculo de complementaridade.

Com relação à separação da Educação Profissional do Ensino Médio, mesmo mantendo

esse chamado vínculo de complementaridade, Kuenzer (2000) afirma que este episódio:

[...] configura-se como a grande categoria explicativa da constituição do ensino

médio e profissional no Brasil, legitimando a existência de dois caminhos bem

diferenciados a partir das funções essenciais do mundo da produção econômica [...]

(KUENZER 2000, p. 28).

Sem dúvida, o fato é que o decreto 2.208/97 ao limitar a articulação dos cursos técnicos

de nível médio apenas as modalidades concomitantes e seqüenciais a educação básica, reafirma a

independência entre elas e formaliza a velha e conhecida dualidade estrutural amplamente

vivenciada no Brasil.

Para Cêa (2007), essa velha dualidade representa:

[...] uma prescrição oficial a ponto da “educação profissional” configurar-se,

predominantemente, como um subsistema no interior do próprio sistema público de

educação, voltado para a formação do trabalhador, sem a promoção da elevação dos

níveis de escolaridade [...](CÊA 2007, p. 164).

Portanto, esse decreto reforçava mais uma vez a separação entre a formação técnica

profissionalizante (destinada ao preparo do indivíduo para o mundo do trabalho imediato) e a

formação geral propedêutica (dedicada a inserir o indivíduo no ensino superior).

Para Tavares (2009), o Decreto n°. 2.208/97 gerou uma série de efeitos negativos na

Educação Profissional, tais como: a desestruturação do ensino técnico de nível médio; uma

drástica redução da oferta de vagas regulares públicas e um aumento de cursos e atividades

extraordinárias pagas (empresariamento e privatizações); cria-se, em substituição aos cursos

técnicos e em diferentes instituições da rede de ensino profissional pública e na iniciativa

privada, cursos de curta duração com uma formação rápida, rasa e aligeirada, desvinculados

conceitual e operacionalmente da educação regular: os Cursos de Tecnologias – Tecnólogos,

estruturados agora as demandas do mercado e ao mundo dos negócios.

Após breve relato sobre o cenário em que se encontrava todo o contexto educacional da

época, se faz necessário então, entender como esses fatos refletiram no processo de andamento e

funcionamento do curso profissionalizante em música do CEDMN.

Sendo assim, desde o encerramento das matrículas em 1997, existiam turmas no

CEDMN que provenientes do 2º, 3º e 4º anos do curso técnico que continuaram a sua formação

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

88

apoiadas no inciso nº 6 da Resolução 127/97, que fixava normas preliminares visando à

adaptação da legislação educacional do Sistema Estadual de Ensino às disposições da Lei

9394/96: “Aos alunos matriculados no ensino médio, de formação geral ou profissionalizante,

até 1997, e que venham a concluir seus estudos até o ano 2000, será assegurado o direito de

concluir o curso na modalidade em que foi iniciado”. (LEITE, 2007, p. 63).

O interessante é que através de depoimentos informais de alguns professores do

CEDMN a essa pesquisa, pareceu claro que eles não tinham a dimensão do que realmente estava

acontecendo naquele período. Para eles, o retorno da modalidade “Curso Profissionalizante”

poderia ser retomado a qualquer momento. A falta de transparência das leis que regiam as

políticas públicas de educação naquele momento foi determinante para este estado de espírito.

Verdadeiramente não foi como eles esperavam. Acredita-se, como foi relatado acima, que toda

essa ausência de um texto claro na LDB 9394/97, fora proposital, pois se pensava na aprovação

do projeto de Lei nº 1. 603/96.

Enquanto as três últimas turmas estavam ainda em fase de conclusão do curso técnico,

mesmo tendo encerrado as matrículas, os professores ainda mantinham a esperança da volta do

curso profissionalizante. Com relação a esse fato, o Prof.º nº5 relatou em entrevista a essa

pesquisa que : “ ... após a conclusão desta última turma, foi que a ficha caiu para maioria de

nós”. (PROFESSOR nº 5, 2015).

Alguns depoimentos a seguir retratam as decepções, dificuldades, lutas, preconceitos

e outros tipos de situações desagradáveis a que foram submetidos:

Dúvidas e instabilidade a respeito do futuro da escola, e ocorrências de

transferências e afastamentos voluntários de alguns professores.

A continuidade do curso em favor das últimas turmas ingressas, criou-se uma

sensação de que o quadro pudesse reverter. Durante o período das oficinas,

surgiram propostas de trabalhos relacionados a outros projetos de parcerias da

SEC (Secretaria de Educação), como: O projeto PRACATUM25e a criação de uma

O.S. (organização social), mas a ideia era manter-se na escola, com o objetivo de

conservar a estrutura física e o quadro de professores do departamento para um

eventual retorno, com isso, estaríamos preparados e aptos para reiniciar as

atividades, o que de fato aconteceu, nossa escola foi uma das primeiras unidades a

ter o curso profissional integrado implantado em 2006, através do decreto no.

5.154/04. (PROFESSOR Nº 5, 2015)

O impacto foi grandioso, pois a desativação nos trouxe instabilidade e insegurança

quanto ao retorno do funcionamento do curso. Nesse período fomos sondados e

25 Pracatum- Associação Pracatum Ação Social. Fundada em 1994, é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, que realiza programas educacionais, culturais e desenvolvimento comunitário no bairro do Candeal Pequeno de Brotas em Salvador-BA. Tem como mentor e idealizador o músico Carlinhos Brow. Atualmente, as atividades realizadas pela Pracatum estão divididas em dois programas principais: Tá Rebocado ( Programa de Desenvolvimento Comunitário) e Pracatum ( Programa de música, educação e cultura) .

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

89

reuniões ocorreram com os gestores do projeto PRACATUM para que nos

transferíssemos para aquele centro de ensino musical, mas as condições propostas

nos pareceram adversas. Em outra ocasião nos foi apresentado também o projeto

de criação de uma O.S. (Organização Social) mas não concordamos, pois

acreditávamos que aceitando a nossa transferência estaríamos nos desmobilizando

do anseio de ver o curso profissionalizante voltar a ser realizado, até porque em

ambos os casos estaríamos abdicando do nosso espaço físico uma vez que teríamos

de deixar o CEDMN, núcleo original do curso, e também estaríamos

desestruturando o nosso corpo docente, o que poderia ser fatal para o seu

ressurgimento. (PROFESSOR Nº6, 2015)

Foi uma surpresa para nós, porque fizemos além da prova que todo professor faz

para entrar no estado, uma prova específica da disciplina que iríamos ensinar em

uma escola criada para ser referência musical no estado e especificamente para o

curso profissionalizante em música. E uma tristeza muito grande, pois o curso

estava indo muito bem. Muito de nossos alunos terminavam o curso e faziam

vestibular na UFBA, passavam e muitos outros se inseriram no mercado de

trabalho tocando em bandas, etc.(PROFESSOR nº 7, 2015)

Através desses depoimentos, têm-se a constatação que os impactos provocados pelas

mudanças ocorridas nas políticas públicas educacionais dentro do ensino profissionalizante

naquela época, causaram efeitos que geraram um desconforto geral no quadro do corpo

docente do curso de música do CEDMN.

Em seu livro “Education reform: a critical and post-structural approach”, Ball (1994ª),(

ao abordar sobre o quarto contexto do ciclo de políticas, o chamado “Contexto De Resultados

e Efeitos”), deixa claro a relação desse contexto com as questões de justiça, igualdade e

liberdade individual, enfatizando ainda que as políticas tem efeitos, ao invés de somente

resultados. Para Ball (1994), as políticas devem ser analisadas em termos de seus impactos e

interações com as desigualdades existentes e os seus efeitos podem ser divididos em duas

categorias: Gerais e Específicos. Ainda afirma que:

Os efeitos gerais da política tornam-se evidentes quando aspectos específicos da

mudança e conjuntos de respostas (observadas na prática) são agrupados e

analisados. Um negligenciamento de efeitos gerais é mais comum em estudos de

casos particulares que tomam uma mudança ou um texto político e tentam

determinar seu impacto na prática. Tomados de modo isolado, os efeitos de uma

política específica podem ser limitados, mas, quando efeitos gerais do conjunto de

políticas de diferentes tipos são considerados, pode-se ter um panorama diferente.

(BALL 1994).

Sendo assim, fica claro, através dos relatos feitos anteriormente por alguns

professores do corpo docente do curso de música do CEDMN, que os efeitos provocados pela

política naquela ocasião, poderiam ser classificados segundo Ball como “Efeitos Gerais”.

Esta afirmação torna-se mais evidente, pois, aspectos específicos da mudança e um conjunto

de respostas (observadas na prática) foram agrupados e analisados nestes relatos. Nesse

momento, são observados nos seus respectivos depoimentos, sensações de ordem emocional

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

90

parecidas entre eles. Ou seja, sensações de instabilidade, dúvidas, idealismos ameaçados,

tristeza, dentre outras.

Ball (1994) nos mostra ainda, a diferença entre os efeitos. Segundo ele, os efeitos

podem ser classificados como: efeitos de primeira ordem e segunda ordem. Os efeitos de

primeira ordem apresentam mudanças na prática ou na estrutura e se mostram manifestos em

locais específicos ou no sistema como um todo. No caso em questão, podemos interpretar que

esses efeitos não tiveram repercussão somente num local específico (como por exemplo, no

curso profissionalizante de música do CEDMN), mas em toda estrutura relacionada aos cursos

técnicos profissionalizantes à época. Já os efeitos de segunda ordem mencionam o impacto

dessas mudanças nos padrões de acesso social, oportunidade e justiça social (BALL 1994).

Esses efeitos, os de segunda ordem, se mostram aparentes ao observamos os

depoimentos dos professores nº 5 e nº 8, a seguir:

O fato de que nessa mesma época, ainda ocorrera um plebiscito para retirada do

curso de música do curso de música do CEDMN, cogitado pelos próprios

professores que não eram do núcleo de música. Eram professores de disciplinas

propedêuticas do nível médio e fundamental. (PROFESSOR nº 5, 2015)

A SEC quis também nos transferir para os CETEBS (Centro de Educação

Tecnológica do Estado da Bahia) de Artes, que também tinha curso de música,

porém teríamos que pedir licença sem vencimento da rede pública e

conseqüentemente perder nossos benefícios como, por exemplo, os tempos de

serviços na aposentadoria. Mas a ação não chegou a se concretizar, pois a SEC não

tinha autonomia suficiente para tanto, já que todos éramos concursados, logo não

poderíamos ser demitidos, se não aceitássemos tal proposta. (PROFESSOR nº8,

2015)

Esse tipo de intenção deixava claro como naquele momento, o corpo docente do

curso de música do CEDMN estava sendo tratado com total descaso por parte dos órgãos que

lidam com as políticas públicas de educação.

Compreende-se assim, porque a reativação do curso profissionalizante não

aconteceu naquele ano (2001). Só em 2006 com a reforma educacional do governo Luís

Inácio Lula da Silva, é que os cursos técnicos profissionalizantes retornam no modelo EPI,

promovendo a reestruturação do Curso Técnico em Música do CEDMN.

5.2 A REATIVAÇÃO DO CURSO PROFISSIONALIZANTE EM MÚSICA DO CEDMN

NO MODELO EPI

Em 2003, com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) como Presidente da

República, ocorrem algumas mudanças significativas dentro da educação profissional. O país

retorna a crescer economicamente, através de um modelo de produção atrelado a intensa

aplicação de ciência e tecnologia, exigindo assim uma mão-de-obra qualificada. Nesse caso,

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

91

uma formação escolar e profissional de alto nível, torna-se imprescindível. Para tanto, faz-se

necessário repensar à volta do ensino profissionalizante integrado ao ensino médio, como uma

forma de reaver novas diretrizes para o desenvolvimento de estratégias educacionais que

fossem de encontro à velha dualidade enraizada do sistema educacional brasileiro, que o

acompanha desde o início da sua história. Deste modo, debaixo de um imenso descontentamento e graves críticas dos

intelectuais, acadêmicos, sindicatos e pesquisadores sobre educação profissional (que

reivindicavam a retomada de um curso unificado, capaz de suprir a necessidade de servir a

educação básica e uma formação técnica especializada) o presidente Lula revoga o decreto nº

2.208/97 pelo decreto nº 5.154, em 26 de julho de 2004, que:

[...] além de manter as ofertas dos cursos técnicos concomitantes e subsequentes

trazidas pelo Decreto nº 2.208/97, possibilita a integração do ensino médio aos

cursos técnicos, numa perspectiva que não se confunde totalmente com a educação

tecnológica, mas que aponta em sua direção por conter os princípios de sua

construção. (MOURA,2010, p.11).

Com esse decreto, o presidente através do poder legislativo, insere a Educação

Profissional Integrada (EPI) ao Ensino Médio, regulamentando assim o § 2º do art. 36 e os

art.39 a 41 da LDB nº 9.394/96 que diz:

A educação profissional técnica de nível médio, nos termos dispostos no § 2o do art. 36, art. 40 e parágrafo único do art. 41 da Lei no 9.394, de 1996, será desenvolvida

de forma articulada com o ensino médio, observados:

I - Os objetivos contidos nas diretrizes curriculares nacionais definidas pelo

Conselho Nacional de Educação; II - As normas complementares dos respectivos sistemas de ensino;

III – As exigências de cada instituição de ensino, nos termos de seu projeto

pedagógico.

Em relação especificamente a Educação Profissional Integrada (EPI) ao Ensino

Médio, esse decreto destaca também que:

§ 1o A articulação entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino

médio dar-se-á de forma:

I - Integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental,

sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional

técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com matrícula

única para cada aluno;

II – Concomitante, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino

fundamental ou estejam cursando o ensino médio, na qual a complementaridade

entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio pressupõe a

existência de matrículas distintas para cada curso, podendo ocorrer:

a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais

disponíveis;

b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades

educacionais disponíveis; ou

c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de

intercomplementaridade, visando o planejamento e o desenvolvimento de projetos

pedagógicos unificados;

III - Subseqüente oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino médio.

(BRASIL, 2004)

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

92

Para Kuenzer (2001), esse tipo de formação tem como um dos seus principais

objetivos, “disponibilizar aos jovens que vivem do trabalho a nova síntese entre o geral e o

particular, entre o lógico e o histórico, a teoria e a prática, entre o conhecimento, o trabalho e

a cultura” (KUENZER, 2001, p.43-44). Ou seja, esse decreto conferiu uma identidade que

contribuiu para uma concepção capaz de suplantar a dualidade existente entre a formação

instrumental, destinada as classes menos favorecidas, versus formação acadêmica, dedicada

quase sempre a elite.

Relacionando os impactos desse referido decreto para o ensino profissionalizante na

Bahia e principalmente ao curso de música do CEDMN, pode-se afirmar que em 2005 a SEC

inicia então, um plano piloto para reativar o EPI em 15 escolas através de seminários

preparatórios para elaboração de matrizes curriculares e planos de curso. Primeiro seriam

implantadas em 15 escolas da capital, estendendo-se também a mais 10 ou 15 escolas do

interior.

Segundo o Prof. nº 5, como o curso de música do CEDMN ainda tinha mantido seu

quadro de professores completos, e com toda a estrutura relacionada a equipamentos

específicos para funcionamento do curso, a própria escola foi uma das primeiras a ser

contemplada para fazer parte do projeto piloto iniciada pela SEC. Ele ainda relatou que a SEC

havia dado um prazo até dezembro de 2005, para entrega da matriz curricular e plano de

curso. Como esse plano não conseguiu ficar pronto dentro desse prazo, o corpo docente

conseguiu junto a SEC um adiamento para entrega até janeiro de 2006.

No início de 2006, começa então a funcionar o primeiro ano do ensino médio

integrado do curso de música do CEDMN, com aproximadamente 80 alunos matriculados,

dividido inicialmente em duas turmas: uma no curso matutino e outra no vespertino.

(SECRETARIA DO CEDMN, 2015).

Porém, se por um lado havia um entusiasmo e uma imensa alegria com a reativação

do curso de música do CEDMN através do modelo EPI, por outro aconteceram alguns pontos

negativos nesse primeiro momento.

Ao reabrir as vagas para formação das turmas matutinas e vespertinas, não houve

processo de seleção, e esse fato culminou numa evasão muito grande no decorrer do ano

letivo, e logo nas primeiras semanas de aula aconteceram muitas desistências e novas

matrículas.

Sobre os aspectos positivos e negativos relacionados à reativação do curso

profissionalizante em música do CEDMN nessa nova modalidade (EPI), alguns professores se

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

93

pronunciaram, ao responder a seguinte pergunta que consta no questionário de entrevistas:

“Ao voltar ao regime de curso profissionalizante no modelo EPI, as coisas melhoraram ou

pioraram? E em quais aspectos? ”

A retomada do curso se deu em um novo contexto político estadual e nacional. O

curso deixa de ser técnico profissionalizante para se tornar Ensino Profissional

Integrado. Com a criação da superintendência de educação profissional da Bahia

(SUPROF), a realização de eleição para diretores de escolas e o ingresso de alunos

sem avaliação musical, ocorreram mudanças radicais na maneira de ver o curso,

positivas com as melhorias estruturais através de verbas federais na execução dos

planos de ações para a compra de novos instrumentos e reformas físicas do

departamento. Os aspectos negativos foram a falta de experiência dos gestores

escolares para uma administração democrática adaptada aos novos paradigmas da

educação, e quanto ao ingresso de alunos sem avaliação, um ponto muito discutido

no curso devido a imaturidade do mesmo em definir a sua permanência em um

curso que tem a duração de quatro anos. (PROFESSOR Nº5, 2015)

Aconteceram mudanças estruturais significativas na área da educação. O Curso

Profissionalizante tornou-se Ensino Profissional Integrado (EPI) e foi criada a

Superintendência de Educação Profissional da Bahia (SUPROF). O Ministério da

Educação tratou de prover os aspectos materiais para a realização dos planos de

ação em educação profissional. Apesar de termos a alguns anos diretores de

escolas eleitos pela comunidade estudantil, vejo com preocupação o fato de

estarmos atrelados a uma unidade escolar voltada para o curso de formação geral e

dirigida por gestores que carecem da devida preparação que o curso

profissionalizante em música requer. ” (PROFESSOR nº6, 2015)

Acho que piorou. Primeiro, porque não é possível mais fazermos um teste de

musicalidade. Os alunos entram, em sua maioria sem nenhuma informação sobre o

curso. Como o curso é integrado agora, eles têm que fazer todas as matérias do

núcleo comum: português, matemática, história, etc e mais as matérias de música

no mesmo turno. Antes, em um turno eram feitas as matérias do núcleo comum e em

outro as matérias de música. Então, a carga horária dessas matérias teve que ser

reduzida. (PROFESSOR nº7, 2015)

Os aspectos positivos foram que os alunos de diversas faixas etárias foram

comtemplados com as modalidades; a LDB está sendo aplicada; o curso está bem

divulgado e muitos adolescentes estão freqüentando o curso. Os aspectos negativos

estão relacionados a falta de infra-estrutura, instrumentos, laboratório de

informática, estúdio que funcionem de forma eficiente. (PROFESSOR nº 9, 2015)

Maynardes (2006) , ainda dentro do “Contexto de Efeitos” sugere que:

[...] a análise de uma política deve envolver o exame (a) das várias facetas e dimensões de uma política e suas implicações (por exemplo, a análise das mudanças e do impacto em/sobre currículo, pedagogia, avaliação e organização) e (b) das interfaces da política com outras políticas setoriais e com o conjunto das políticas... (MAYNARDES 2006, p.55)

Portanto, concordando com o que Maynardes (2006) sugere acima, percebe-se que as

mudanças que ocorreram dentro das políticas públicas de ensino naquele momento, não foram

em grande parte, devidamente analisadas e avaliadas em relação aos impactos que iriam gerar

dentro da maioria dos aspectos estruturais (reforma curricular, infraestrutura das escolas,

escolha dos gestores ou diretores, planejamento e sistematização do curso). A SEC naquele

momento deveria ter atentado para as necessidades que envolviam as particularidades de cada

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

94

área de concentração de determinado curso profissionalizante. Porém, em qualquer tipo de

implementação de políticas, naturalmente, têm-se pontos positivos e negativos.

Essa afirmação torna-se evidente, através dos depoimentos anteriores de alguns

professores do corpo docente do CEDMN, pertencentes aquela época. Nas suas respectivas

falas, podem-se notar impressões diferentes, sobre a análise pessoal de um mesmo aspecto

relacionado aos impactos ou efeitos (positivos ou negativos) decorrentes das mudanças das

políticas públicas de ensino, que dizem respeito à reestruturação dos cursos

profissionalizantes na modalidade (EPI). O exemplo disto pode-se observar no relato dos

Profs. nº5 e n.º6, quando afirmam que houve mudanças significativas positivas, como a

criação da SUPROF, no que diz respeito, ao recebimento de verbas para melhorias estruturais

do curso. Essas melhorias tinham a ver com a compra de novos instrumentos e reformas

físicas no andar do departamento de música. Já a Prof.ª nº 9 na sua fala, foi totalmente

contraditória em relação às observações feitas pelos professores acima citados. Pode-se

ressaltar que em relação a esse mesmo assunto, ela afirma que um ponto negativo na retomada

do curso, tinha a ver justamente com a falta de infra-estrutura. Ou seja, para ela nessa época,

havia poucos instrumentos e o laboratório de informática e o estúdio de ensaio e gravação,

funcionavam precariamente. A ausência de um exame de seleção, por parte dos egressos, ao

adentrarem no curso e falta de preparo por parte dos gestores (diretores) para assumirem os

cursos profissionalizantes com formações especificas, também foram pontos negativos

observados no depoimento dos outros professores acima mencionados.

Ainda respondendo ao questionário de entrevistas em relação à pergunta anterior, o

Prof. nº 5 complementa:

Após quatro anos da retomada do curso profissionalizante no modelo EPI e com a

criação da SUPROF em 2006, foram criados os eixos tecnológicos e nesses eixos

foram abertos CEEPS26. Com a criação dos” CEEPS Art & Designe” houve um

interesse da SUPROFem transferir o curso de instrumento do CEDMN para esse

Complexo que era no Colégio Central, sendo que logo depois foi para Nazaré.

Nesse momento eu era ocoordenador do departamento de música e entrei em

contato com os coordenadores da Suprof e contatei Roberto da Suprof e marcamos

uma reunião com o corpo docente. Nessa reunião houve participação de

representantes do legislativo estadual e federal promovendo uma discussão em

defesa dessa remoção que teve como desfecho a continuidade do departamento de

música na sua própria estrutura. Alguns professores do curso de música do

CEDMN, EeGtrouxeram Alice Portugal27 e Oiticica28. O que houve foi uma tarde de

discussões.

Segundo Maynardes (2006):

26CEEPS Art& Designe- Curso de Especialização em Educação Profissional na área de artes em geral. 27 Alice Portugal – Deputada Federal pelo PC do B 28 Oiticica- Era então, deputado estadual na época em que ocorreu o referido debate.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

95

[...] o contexto da prática exige a análise de como apolítica é reinterpretada pelos profissionais que atuam no nível micro e ainda a análise das relações de poder, resistências etc. Tanto no contexto macro quanto no micro, as relações de poder são particularmente significativas para se entendera política ou o programa. A atividade micro política pode ser identificada por meio da observação de conflitos, do estilo das negociações durante o processo decisório, das restrições colocadas sobre as questões a serem discutidas e decididas, bem como por meio da identificação de estratégias, influência se interesses empregados nos diferentes contextos e momentos. (MAYNARDES, 2006, p.60).

Observa-se então que, com o intuito de defender a sustentabilidade do curso no seu

lugar de origem, o Prof. nº5 (enquanto coordenador do curso), ao promover esse debate junto

aos professores G e E, voluntário (a) ou involuntariamente, utilizaram estratégias que foram

decisivas para dar continuidade ao departamento de música na sua própria estrutura,

realizando assim o que Maynardes baseado nos trabalhos de Ball chama de “atividade micro-

política”.

Portanto, esse episódio aponta para mais uma manobra de luta e resistência por parte

dos atores do contexto da prática (corpo docente especificamente), como uma forma de reação

a uma tentativa arbitrária procedente dos órgãos que lidam com o poder.

5.3 CONSIDERAÇÕES ATUAIS SOBRE O CURSO DE MÚSICA DO CEDMN

Ao retornar a campo para ajustes finais da pesquisa, utilizando a técnica de registro

em diário de bordo, decidi fazer um breve relato sobre o atual contexto em que se encontra o

curso de música do CEDMN.

O núcleo de música do curso técnico profissionalizante do CEDMN continua a

funcionar no terceiro andar do prédio do referido Colégio. Situado em bairro nobre de

Salvador, o Colégio Estadual Deputado Manuel Novaes é adjacente as Faculdades de Artes da

UFBA (Escola de Música, e as Faculdades de Teatro e Artes Plásticas), além de outras

Faculdades, como Nutrição, Enfermagem e a Reitoria da UFBA.

Atualmente o andar onde se localiza o curso de música do CEDMN, dispõe de oito

salas onde ocorrem aulas de teoria, percepção musical, informática, canto coral e uma sala só

para o ensino das disciplinas propedêuticas. Possui um auditório onde são realizadas as

audições e demais apresentações que envolvam o curso de música. Ao lado do auditório existe

uma sala de dança. Nestas salas, tanto no auditório, quanto na sala de dança e nas demais até

aqui descritas, geralmente, os alunos também podem praticar estudos diários nos seus

respectivos instrumentos. No auditório são ministradas aulas de música de câmara, piano,

regência e coral. Neste mesmo andar há uma biblioteca, que parece estar inutilizada, há algum

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

96

tempo. Logo acima, subindo um lance de degraus, observa-se mais uma sala onde são

ministradas as aulas de percussão e bateria. Existem duas salas dentre as oito, que servem

como salas de almoxarifado, onde são guardados os instrumentos, equipamentos de som,

banquinhos, estantes de partituras e demais objetos que tenham a ver com o curso de música.

Ainda no andar do curso de música, podemos encontrar dois banheiros: um masculino e outro

feminino.

Através de um quadro, que consta no questionário de entrevistas aplicado neste

trabalho, entendeu-se que seria relevante demonstrar as impressões da aluna Joyce (umas das

formandas mais recentes do ano de 2013, do curso técnico de música do CEDMN) no que diz

respeito à parte estrutural do curso atualmente.

Quadro 2 - Avaliação das condições estruturais recentes, do curso de música do CEDMN

Perguntas Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente

A quantidades de salas de aula disponibilizadas eram

suficientes?

X

Como avalia as condições em que elas se encontravam para

a execução das aulas, na época?

X

O que achava do tratamento acústico das salas? X

O que você achava da limpeza, higienização que era dado

às salas, banheiros e todo espaço físico do andar de música?

X

A quantidade de instrumentos disponíveis para o uso em

sala de aula era suficiente?

X

Como avalia a qualidade e o nível de conservação dos

instrumentos musicais na época?

X

Existiam equipamentos suficientes para uso em salas de

aula, por exemplo: quadro pautado, giz ou pincel atômico,

caixas de som, microfones, mesas de som, aparelhos de som

com dvd´s, televisão, computadores?

X

Como você avalia a qualidade e o nível de conservação da

maioria desses equipamentos musicais de acordo com a

época em que você cursou o CEDMN?

X

Existiam materiais didáticos oferecidos pela escola não só

para aprendizagem do instrumento, assim como para uso

em outras disciplinas?

X

O corpo docente doava os próprios materiais didáticos para

o uso nas aulas, assim como usavam seus próprios métodos

(livros publicados, apostilas.) ?

X

Sua turma tinha acesso a merenda escolar? E se tinha como

era a qualidade desse serviço oferecido pela escola na sua

época?

Não Tinha Merenda

Fonte: Produzido pelo próprio autor

Dentro do quadro de funcionários que trabalham no terceiro andar, que é

especificamente de música, existem duas: uma no turno matutino e outra no vespertino. Essas

funcionárias são responsáveis pela organização funcional do andar , especificamente

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

97

almoxarifado (setor onde os alunos requisitam o uso dos instrumentos, estantes, caixas de som

e ou equipamentos de som em geral). Existem também os funcionários de limpeza, que

trabalham não só no andar referente ao de música, bem como em toda escola. (SECRETARIA

DO CEDMN, 2015).

Atualmente o CEDMN funciona nas modalidades Ensino Profissional Integrado -

EPI e PROEJA. No EPI os alunos estudam as disciplinas propedêuticas pela manhã e cursam

as de música pela tarde. No PROEJA, os alunos concentram todas as disciplinas pela noite,

tanto as de música quanto as de ensino propedêutico. Atualmente, dentre os que cursam

música, existem 80 alunos matriculados no EPI e 92 no PROEJA. (SECRETARIA DO

CEDMN, 2015).

Do mesmo modo, através de dados coletados na secretaria da escola, averiguo-se

que até o ano de 2015 ( sob a gestão da Sr.ª Diretora Eugênia Boaventura, que se encontrava

no cargo desde 2006), o corpo docente do curso de música consta de professores “Efetivos” e

professores da modalidade “Reda”29. Dos professores efetivos, podemos destacar: Carla Mota

(Percepção, Coral e Estruturação Musical), Márcia Silveira (teoria), Jailson Coelho (Violão),

Carlos Chenaud (Violão), Emília Souza, (Violão), Graça Ferreira (Piano), Armélia Sales

(Piano), Jorge Dias (Trombone), José Carlos (Sax), Emanoel Teixeira (Violino), Solamy

Roccio (Clarineta). Na modalidade Reda, tem-se os seguintes professores: Anita Garrido

(Piano), Clécio Ventura (flauta), Wellington das Mercês (trompete), Mateus Moraes

(Trompa), Anderson (Percussão), Luiz Almiro (Contrabaixo Acústico), Moisés Gabrielle

(Técnico de Gravação), Ivan Silva (Teoria Musical), Marcos Fahel (Contrabaixo Elétrico).

(SECRETARIA DO CEDMN, 2015).

Recentemente, o corpo docente através da colaboração da maioria do corpo discente,

retomou atividades de grande importância para a sustentabilidade ideológica do projeto inicial

para qual foi criado o curso.

A exemplo disto, a pouco mais de seis meses, através de uma matéria exibida em

cadeia nacional pela TV RECORD, para o programa VP de Casemiro Neto, no quadro

“Histórias que Transformam”, constatou-se as evidências que comprovam a afirmação acima.

Segundo essa matéria, no segundo semestre de 2015, foi criada a Orquestra Filarmônica do

Curso de Música do CEDMN. Essa orquestra é composta de instrumentos elétricos, como

guitarra, teclado e sintetizadores junto aos instrumentos que integram uma orquestra

sinfônica. Em entrevista concedida a esse programa, o professor de flauta do curso de música

29 Regime Especial De Direito Administrativo.

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

98

do CEDMN, José Carlos, comenta: “O diferencial é justamente esse, trabalhar e misturar

instrumentos eletrônicos com acústico”. (CARLOS, 2015).

O aluno Andrews Guimarães, também em entrevista concedida a essa mesma

reportagem, acrescenta:

É interessante né? ... que a gente trabalha bem a prática em conjunto, a dinâmica

em si, a gente trabalha essa limitação que um têm de tocar mais baixo, o outro

também, de adequar essa realidade do colega e isso faz com que a gente cresça

mutuamente. (GUIMARÃES,2015).

Sob a regência do professor José Carlos Sales (flauta) e a assistência dos professores

(as) Solamy Roccio (clarineta) e Clécio Ventura (trompete), a orquestra integra o curso

técnico de execução instrumental dessa referida instituição.

Também ao ser entrevistado nessa mesma matéria, o professor de violino Emanoel

Teixeira, reitera a necessidade de um curso técnico em música como o do CEDMN: “Nessa

retomada nós estamos aí com toda força, formando nova, novas gerações de músicos, para

integrar o mercado da música na Bahia”. (TEIXEIRA, 2015.)

A matéria também ressalta que existem alguns ex-alunos desse referido curso,

dispostos a integrar parte dessa orquestra, com o intuito de contribuir para o seu crescimento

musical. Eles também são fontes inspiradoras para estes jovens, que já fazem parte de uma

nova geração de músicos atuantes no mundo do trabalho. É o caso do ex-aluno do curso

técnico em música do CEDMN, Marcos Bezerra30 , que relata::

Eu passei anos aqui, maravilhosos assim, tenho maior orgulho de ter passado por

essa escola, aconselho a todos estudantes de[...], que queira fazer música e arte em

geral, venha pra cá que é um projeto fantástico, eu acho que a importância é muito

grande assim de, fomentar e contribuir com a cultura, com a arte no geral pra toda

sociedade. (BEZERRA,2015).

Para a jornalista Driele Veiga, apresentadora do quadro “Histórias que Transformam”,

ela define essa referida orquestra como: “ ... a primeira orquestra formada por estudantes da

rede estadual de ensino na Bahia. O repertório é eclético, vai desde o período clássico

fazendo releitura de obras como as do compositor Beetoveen até o MPB”.(VEIGA,2015).

Em relação ao repertório, ainda em entrevista para essa matéria, o Profº. José Carlos,

acrescenta:

E a gente utiliza essa pegada também do jazz, do choro, do samba, da big-band

americana, e toda linguagem contemporânea, porque, hojea cultura, não é?a

matéria mais separada né, a cultura folclórica. Existe um universo, todo mundo tem

acesso com essa coisa da internet, todo mundo tem acesso à cultura universal.

(CARLOS, 2015).

30 Licenciado em música pelo “Instituto de Música da Universidade Católica de Salvador (UCSAL)”, violonista e também guitarrista de grande expressão no cenário musical baiano e brasileiro.

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

99

De acordo com a matéria, o projeto é um sucesso, pois também vem dando

visibilidade aos próprios alunos, ampliando assim os espaços de atuação destes, no mundo do

trabalho. Esse é o caso da estudante de flauta Nailane Soares:

Automaticamente, com a dedicação e todo esforço que eu tinha, começaram a abrir

portas, eu comecei a ser chamada para tocar no carnaval, uma pessoa me viu

tocando no carnaval e já me chamou pra... entrar na... orquestra de Fred Dantas.

Então com tudo isso, foi me puxando uma coisa e foi levando a outra

(SOARES,2015).

A entrevistadora Driele Veiga, ainda ressalta: “É com um andar inteiro dedicado

àarte, que o CEDMN já revelou grandes nomes do cenário musical baiano, como a cantora

Mariene de Castro”. (VEIGA,2015).

Segundo a reportagem, o curso técnico em música do CEDMN junto à criação de

uma orquestra como essa, é um agente motivador para o resgate de muitos jovens que vivem

no mundo do ócio, sem perspectivas futuras para o mundo do trabalho e que de repente se

vêem abraçados pela arte.

5.4 EMus /UFBA E PROGRAMAS DE INCENTIVO AO ENSINO SUPERIOR.

Os estudantes dos cursos técnicos profissionalizantes das escolas públicas,

geralmente representados pelas camadas de baixa renda, lidam com os percalços de uma

formação educacional marcada pelas dificuldades e instabilidades típicas deste tipo de ensino.

Por conta disso, as oportunidades de ascensão ao ensino superior tornam-se por muitas vezes

inacessíveis, provocando assim um distanciamento entre o ensino público e a universidade.

Portanto, torna-se imprescindível aprofundar-se na realidade destes estudantes, discutindo

seus modelos de vida, valores e propósitos. Desta forma, pode-se então viabilizar caminhos

que os permita ter as mesmas oportunidades de ingresso ao nível superior, como as que têm

os alunos advindos de escolas particulares.

Para Zago (2006), “estudar essa população para entender as transformações nas

demandas e nas práticas escolares, assim como no perfil dos estudantes na sociedade

contemporânea, representa uma necessidade para a pesquisa e as políticas educacionais em

todos os níveis de ensino”. (ZAGO, 2006, p.236).

Com relação à elitização do ensino superior para as classes de baixa renda, Ortega

(2001), afirma que as escolas particulares têm como meta principal, a preparação dos seus

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

100

estudantes para o acesso nas boas universidades gratuitas, enquanto as escolas públicas às

vezes sequer fornecem informações coerentes relacionadas sobre o ingresso na universidade

ao seu alunado.

Além disso, para a autora, os alunos das escolas particulares são privilegiados em

relação aos alunos das escolas públicas, por conta ainda de outras vantagens:

• Por estarem previamente decididos a se inscreverem nos vestibulares;

• Por estarem informados sobre os vestibulares de diferentes universidades;

• Pelo fato da estrutura educacional pública básica não incentivar seus alunos a

tentar o ingresso nas universidades;

• Por possuírem vantagens econômicas e sociais, em relação aos alunos da rede

pública. (ORTEGA, 2001).

Alguns autores como Vasconcelos (2004), em concordância com o que já foi

descrito em capítulos anteriores, também associam o insucesso de ser ter um maior

contingente de alunos inseridos na universidade provenientes de escolas públicas, aos

seguintes fatores: falta de uma infraestrutura; material de apoio didático; segurança nas

escolas; motivação discente e docente (práticas pedagógicas adequadas); remuneração e

atualização de profissionais da área. Ainda para o autor: “... tais fatores de natureza complexa

estimulam o surgimento de obstáculos ao desenvolvimento do setor, reduzindo a

“competitividade” do aluno de origem de escola pública quando comparado ao aluno de

escola particular”.

Nesse sentido, pode-se afirmar que as políticas educacionais de ensino dos anos 90,

foram determinantes no que diz respeito ao retorno da velha dualidade entre ensino médio e

educação profissional, bem como a degradação dos outros níveis de ensino.

Contudo, após várias décadas de pouco investimento na educação superior, que

inclui o governo de FHC e seus antecessores, algumas estratégias foram adotadas desde o

primeiro mandato do governo Lula, que segundo Ball (1994a), estão relacionadas ao

“Contexto da Estratégia Política”. Para o autor, esse contexto: “envolve a identificação de

um conjunto de atividades sociais e políticas necessárias para lidar com as desigualdades

criadas ou reproduzidas pela política investigada”. Essas estratégias se reportam a medidas

adotadas pelo governo Lula, relacionadas à criação de programas que incentivam o acesso,

(principalmente a estudantes advindos da rede pública de ensino), no nível superior de

instituições públicas e privadas. Dentre esses programas, podem ser citados aqui os de maior

relevância para a democratização do ensino superior.

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

101

Inicialmente o Exame Nacional de Ensino Médio - ENEM, criado em 1998, foi

considerado um programa de suma importância na avaliação dos estudantes de ensino médio e

na condução do processo seletivo de admissão na universidade. Mais adiante, através de uma

medida que isentou a sua taxa de inscrição, o Enem possibilitou ainda mais a participação em

massa dos estudantes nos exames de seleção para o vestibular. Mas somente em 2004, o Enem

ganha uma maior visibilidade, com a criação do Programa Universidade para Todos – Prouni.

O Prouni, cujo acesso está atrelado mediante realização das provas do Enem,

concede bolsas em instituições privadas para estudantes carentes, que tenham alcançado

pontuação mínima nos exames estabelecidos pelo programa. Outro pré-requisito para

obtenção da bolsa do Prouni, é o fato do estudante ter freqüentado todo o ensino médio em

escola pública ou em escola particular, porém, na qualidade de bolsista. O Prouni contempla

também instituições como a FUNAI e reserva vagas para quilombolas, negros e indígenas

além de portadores de deficiências físicas. Todavia, para serem aprovados, todos os

estudantes têm que obedecer aos critérios de seleção dos demais candidatos. Esse programa

oferece dois tipos de bolsa: a integral, para estudantes com renda bruta familiar de até um

salário mínimo e meio; e a parcial, que oferece desconto de 50% para estudantes com renda

familiar bruta de até três salários mínimos.

Em relação ao Enem, vale ainda ressaltar que as universidades públicas também

aderiram como parâmetro de seleção total ou parcial, as notas obtidas pelos estudantes nesse

referido exame, como forma de substituição ao vestibular tradicional ou equivalente a este.

Observa-se também, que o Enem ao longo dos últimos anos, se afirma como um programa

que acompanha todos os processos recentes de mudanças educacionais provenientes da LDB

e colabora efetivamente na sistematização das estruturas curriculares em todas as etapas e

modalidades de ensino no Brasil. Junto ao Enem, podemos enfatizar a criação do Sistema de

Seleção Unificado - SISU criado pelo MEC. O SISU é um programa informatizado, que

oferece vagas em instituições públicas de ensino superior por ordem de classificação dos

candidatos participantes do Enem, e que obtiveram nota superior a zero na redação.

Ainda como estratégia da não elitização do ensino superior às classes menos

favorecidas, o governo federal aprova em 2012, a lei 2.711, a chamada “Lei das Cotas”

(Brasil 2012). Essa lei confirma o direito a ¼, ou seja, 25% das vagas em todas as

universidades e institutos federais, para os alunos que cursaram todo ensino médio em escolas

públicas. Metade delas, são reservadas a estudantes com renda mensal familiar equivalente a

um salário mínimo e meio , bem como a pardos, negros e índios.

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

102

Porém, em que pese a contribuição desses programas, está longe ainda de

conseguirmos promover uma democratização completamente satisfatória de acesso ao ensino

superior, uma vez que as desigualdades regionais do ensino no Brasil são imensas. Sendo

assim, a suposta igualdade de concorrência e acesso, esbarram nas diferenças socioculturais e

econômicas concretas por parte dos candidatos. .

Deste modo, ao explanar brevemente sobre o panorama de políticas públicas

educacionais no Brasil que visam oportunizar o acesso as universidades públicas e privadas

aos estudantes de baixa renda, o presente trabalho também abre um parêntese sobre a atual

realidade da EMus/UFBA, no que se refere à disponibilização de vagas nos seus respectivos

cursos, oferecidos no nível superior e o sistema de distribuição de cotas.

A pesquisa constatou então, que através de dados coletados na secretaria da

EMus/UFBA (2015), o curso de música do nível superior da EMus/UFBA dispõe de 80

vagas, sendo que: 25 para instrumento, 20 para licenciatura, 10 para canto, 10 para

composição e regência e 10 para os cursos oferecidos na graduação em música popular. Em

relação ao sistema de cotas, dessas 80 vagas, 20 lhe são destinadas. (SECRETARIA DA

ESCOLA DE MÚSICA, 2015).

Contudo, tratando-se desses programas que incentivam à democratização do ensino

superior aos estudantes de escolas públicas, em relação ao ensino de música na Bahia, não

podemos afirmar a presença dessas estratégias acima citadas à época de criação do curso de

música do CEDMN. Para melhores esclarecimentos, a seguir, a pesquisa fará um breve relato

sobre o processo de formação musical, que antecede o acesso ao nível superior em música na

Bahia.

5.5 O CURSO DE MÚSICA DO CEDMN E A DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO

SUPERIOR EM MÚSICA NA BAHIA

O ensino profissionalizante em música na Bahia sempre ocupou um lugar secundário,

no que diz respeito às políticas públicas para educação. A distância entre a criação de um

curso de nível secundário em música e a implantação da graduação em música no estado da

Bahia revelam uma lacuna na formação musical, que deveria anteceder ao ingresso do aluno

na Universidade. As informações a seguir, discorrem brevemente sobre como ocorreu o

processo do ensino musical na cidade de Salvador-BA, desde os seus primórdios até os dias

atuais .

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

103

O início da educação musical em Salvador é marcado primeiramente com a chegada

dos jesuítas em 1549, no Governo Geral de Tomé de Souza, restrito somente ao contexto

religioso. Sendo assim a partir de 1818, Salvador passa a ter o primeiro professor de música

destinado ao ensino público, que se chamava José Joaquim de Souza Negrão. Após o seu

falecimento em 1832, passa a ser substituído por Domingos da Rocha Mussurunga, na data de

28 de março de 1846, que meio século depois, consegue criar o primeiro conservatório de

música de Salvador, denominado “Instituto de Música”. (PERRONE, 1997).

Em 1897, o Instituto de Música inicialmente, funcionou como um conservatório

anexo a Escola de Belas Artes, sendo assim a segunda escola de música fundada no Brasil.

Porém somente em 1918, este conservatório foi legalizado e reconhecido com o nome de

Instituto de Música da Bahia, através da junção deste com a Sociedade Auxiliadora. Hoje, é o

atual Instituto de Música da Universidade Católica de Salvador. (PERRONE, 1997, p.225)

Bem mais adiante, em julho de 1954, se dá então o primeiro passo para o surgimento

do curso superior em música, através dos I Seminários Internacionais de Música da

Universidade Federal da Bahia, organizado pelo músico alemão Hans-Joachim Koellreutter e

a professora Maria Rosita de Góes Salgado, a convite do então reitor Edgar Santos.

Ainda assim, a questão da democratização do acesso ao ensino de música, não

ocorre com a criação do curso superior de música da UFBA, uma vez que as classes menos

favorecidas, não poderiam ter oportunidade à formação musical, que as preparassem para

entrada nessa referida instituição.

O que se viam desde aquela época, eram os chamados cursos de extensão (oficina e

básico) oferecidos pela própria instituição (EMus-UFBA), como alternativa de preparação

musical para o indivíduo que almejasse adentrar no nível superior em música, bem como o

curso técnico do Instituto de Música da Universidade Católica da Bahia. (SECRETARIA DA

ESCOLA DE MÚSICA, 2016). Esses cursos eram pagos e geralmente não contemplavam de

maneira satisfatória as camadas de baixa renda. Outras formas de preparação para o ingresso

na graduação eram e ainda são os cursos de música existentes pela cidade ou aulas

particulares com professores capacitados para esse tipo de situação. Porém todas essas

alternativas envolviam e envolvem custos financeiros e muitas vezes até elevados,

impossibilitando assim o acesso à devida preparação das classes menos favorecidas.

Somente no início de 1993, com a criação do curso profissionalizante de música do

CEDMN é que verdadeiramente foram abertas as portas para o início de uma democratização

que permitisse o acesso ao nível superior, da população advinda das classes de baixa renda.

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

104

Compromissados com o social e engajado numa proposta pedagógica idealista que trazem

desde as raízes iniciais de criação do curso, o corpo docente do curso de música do CEDMN,

ainda garante uma formação sólida e consistente dos seus egressos, independente das

dificuldades que ocorrem dentro do sistema de políticas públicas relativas ao nível

profissionalizante de segundo grau.

Sobre a relevância do curso de música do CEDMN, como ponte de acesso para o

nível superior em música da UFBA e em relação à formação técnico profissionalizante do

estudante de música, o Profº. nº 6 afirma:

Buscamos preparar nossos alunos não só para a atuação musical profissional como

instrumentistas, mas também é nossa preocupação ajudá-los em sua formação

humanística, dando atenção aos aspectos comportamentais e éticos de sua

formação. Pleitear a inserção no nível superior de educação passa a ser uma meta

natural e legítima para os jovens que se habituam a buscar o desenvolvimento,

almejando sempre o aperfeiçoamento que certamente deverão encontrar na Escola

de Música da Universidade Federal da Bahia. (PROFESSOR nº6, 2015)

O Profº. nº 10 da EMus/UFBA,reconhece não só a importância do curso, bem como

a qualidade da maioria dos professores do corpo docente:

A importância dum curso desse para a referida camada populacional é imensa. Em

Salvador da atualidade, onde os menos favorecidos aprenderiam, formalmente

música? Destaco, também, o nível dos professores de lá, que conheci e conheço.

(PROFESSOR nº 10, 2015).

Observemos agora outros depoimentos de professores do CEDMN e da

EMus/UFBA, emitindo suas opiniões sobre a importância do papel de um curso

profissionalizante em música como o do CEDMN, no que diz respeito à democratização do

acesso ao nível superior em música da EMus/UFBA, para os estudantes de baixa renda.

A formação musical profissionalizante pré-acadêmica na escola pública aumenta as

possibilidades de acesso ao curso superior na EMUS-UFBA, já que possibilita ao

indivíduo com baixa renda a aquisição prévia de conhecimento e prática musical de

qualidade, capazes de facilitar a sua permanência na universidade e a conclusão do

curso superior de música. (PROFESSOR nº 4, 2015)

É de grande importância a existência de um curso desta natureza para a

preparação de estudantes de baixa renda que não tem recursos para custear aulas

particulares de música ou pagar um curso de extensão em instituições de ensino

voltada para a música. Além de servir, de maneira indireta, como preparação de

alunos para o vestibular em música, este curso oferece aos estudantes a

oportunidade de estudar e vivenciar práticas musicais básicas com boa qualidade

de ensino. (PROFESSOR nº 11, Emus/UFBA, 2015)

Acredito que um curso profissionalizante de música para a população de baixa

renda vem preencher uma lacuna que é a carência de cursos no ensino público de

música que tragam o conhecimento necessário para aqueles que pretendem

ingressar num curso superior de música. As aulas obrigatórias de música nas

escolas trazem conhecimentos iniciais, mas não um ensino direcionado para suprir

as exigências de um programa para ingresso na universidade. Dessa forma,

considero extremamente importante um curso desse nível para dar oportunidade de

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

105

ingresso da população de baixa renda em cursos superiores de música,

principalmente na universidade pública. (PROFESSOR nº 12, Emus/UFBA, 2015)

A Prof.ª nº7 destaca ainda o valor do curso para o mercado de trabalho:

Eu vejo como um papel muito importante para a vida desses estudantes que querem

viver da música e que não tem como pagar para estudar um instrumento. Esse curso

dá uma oportunidade maravilhosa a esses alunos de baixa renda poder estudar

música, que é um curso caro, e ainda se prepararem para ingressar na faculdade de

música proporcionando assim, a inserção deles também no mercado de trabalho.

(PROFESSORA nº 7, 2015)

Para a Prof.ª nº 9, a função de um curso profissionalizante em música como o do

CEDMN, não implica só na preparação do seu alunado em direção ao nível superior em

música ou para o mercado de trabalho. Ela acha necessário também, estimular o indivíduo a

estabelecer contato coma música como um meio de desenvolvimento das suas aptidões,

através do próprio curso:

O papel da escola é estimular as faculdades cognitivas, afetivas, sociais e motoras

para desenvolvimento do aluno. Muitos adolescentes iniciam o curso sem saber se

querem seguir a profissão de músico ou frequentar uma faculdade de Música,

porém querem muito estudar música, um instrumento. Apesar de o curso ser

‘profissionalizante’ não podemos perder de vista esta realidade que os alunos estão

trazendo. Isto não quer dizer, que estudem menos, ao contrário, participam dos

desafios apresentados com muito empenho. (PROFESSORA nº9, 2015).

O Profº. nº 13, ainda realça o nível e a qualidade dos alunos que estudaram nessa

escola:

Os exemplos de músicos que passaram pelo CEDMN e se tornaram grandes artistas

e profissionais são muitos. É importante termos escolas técnicas vinculadas ao

segundo grau, apesar do aparecimento de algumas opções paralelas como os cursos

da Funceb31, Pracatume algumas escolas particulares. (PROFESSOR nº 13,2015).

Para Franciel, que ingressou no curso de música do CEDMN em 2002, algumas

disciplinas foram de fundamental importância para o seu ingresso no curso de Licenciatura da

EMus/UFBA:

Sim. O curso me ajudou muito. Pude experimentar inúmeras vivências musicais. As

aulas de piano com a professora Graça Ferreira, as aulas de teoria musical e

percepção musical, enfim, tudo o que aprendi lá me preparou muito para ingressar

na universidade. (FRANCIEL, 2015).

O egresso Moura, ao qualificar o curso, aponta para um traço relacionado ao nível

de ensino do curso, que o chamou atenção na sua época:

Não só para entrar na faculdade como dar toda base e suporte para o

desenvolvimento profissional. Na parte teórica, na época o curso do Manoel Novais

tinha mais qualidade do que a própria faculdade, além do acompanhamento

educacional do corpo discente. (MOURA, 2015)

31 FUNCEB- Fundação Cultural do Estado da Bahia

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

106

De acordo com os depoimentos anteriores, observa-se a confirmação da real

necessidade de um curso profissionalizante como o do CEDMN dentro do processo de

democratização do ensino de música na Bahia, tendo como foco não só a inserção dos seus

estudantes no mercado de trabalho, bem como o acesso das camadas de baixa renda ao nível

superior. É interessante também reiterar que fica evidente à preocupação por parte do corpo

docente, com a concepção e os resultados das metodologias de ensino de música adotados por

eles, de maneira a virem a ser adequados ao seu público alvo. Falas como a do Profº. nº 6 “...

é nossa preocupação ajudá-los em sua formação humanística, dando atenção aos aspectos

comportamentais e éticos de sua formação” e da Prof.ª nº 9“... o papel da escola é estimular

as faculdades cognitivas, afetivas, sociais e motoras para desenvolvimento do aluno”,

também demonstram as suas impressões sobre a função e significado da música na formação

de um indivíduo, seja ela em qualquer nível de escolaridade.

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

107

6 CONCLUSÃO

A escolha do tema tratado nesta dissertação teve como objetivo principal, discutir a

relevância do curso técnico profissionalizante em música do CEDMN, principalmente para as

classes de baixa renda, no processo de democratização do ensino acadêmico de música na

Bahia.

Considerando que seria pertinente esclarecer o motivo que levou o autor à escolha

do seu objeto de pesquisa, apresenta-se no início deste trabalho um memorial que descreve

toda sua ligação afetiva com o referido curso. Bliumer (1969, p. 33 apud FLICK, p.21)

afirma: “Na posição de cientista social, é necessário quase sempre ter familiaridade com

aquilo que de fato ocorre na esfera da vida que ele se propõe a estudar”. Portanto, foram

narradas logo no começo desta dissertação, informações que descreveram toda relação do

autor com curso de música do CEDMN, bem como toda sua trajetória de vida acadêmica na

EMus/UFBA até os dias atuais. Através destes relatos também são demonstradas as

ansiedades do pesquisador que, ao observar a importância deste curso dentro do panorama

educacional de música na Bahia, foi premido pela necessidade de investigar o fenômeno no

universo científico.

Deste modo, no decorrer da pesquisa foram coletados dados através de entrevistas

com ex-alunos e professores do CEDMN, professores da EMus/ UFBA, pesquisa documental,

estudos bibliográficos sobre educação e o mundo do trabalho, ensino profissionalizante no

Brasil e as leis que o regem, dentre outros. Também, através de uma abordagem metodológica

próxima do estudo de caso, por meio da exposição dos acontecimentos, procurou-se descrever

e analisar o fenômeno, buscando a todo instante, respostas concretas que levassem à

compreensão dos fatos apresentados. Para tanto, tornou-se indispensável reconstruir a história

de existência do curso, considerando os aspectos históricos, culturais e políticos do ensino

profissionalizante do estado e país.

Para Arroyo (1998, p.155), é imprescindível rever a “centralidade das discussões

teóricas e das pesquisas sobre a contribuição histórica que os vínculos entre trabalho e

educação tiveram e continuam a ter para a configuração moderna dos processos educativos”.

Então, com o intuito de facilitar o entendimento das políticas de educação voltadas para a

formação profissional no Brasil, como parte inicial da pesquisa bibliográfica, procurou-se

discorrer sobre o “Ensino Profissionalizante e o Mundo do Trabalho”, através de um breve

olhar sobre o significado do trabalho em diferentes períodos da história e para algumas

civilizações. Nessa abordagem constaram impressões de autores como Arendt, Ramos, Marx

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

108

e Aristóteles. Essas impressões após serem discutidas e avaliadas permitiram concluir que,

dependendo da ideologia presente em cada sociedade, no decorrer da história, o trabalho e a

educação se constituem e se modificam de acordo ao contexto econômico, político e cultural,

acompanhado pelo avanço da ciência e da tecnologia. Neste sentido, parece não ser o caso do

Brasil, que ainda reflete através dos tempos, velhos paradigmas sobre o trabalho, mesmo que

incorporado a novos caminhos sugeridos pelos atuais modelos de educação.

Ao optar por reconstituir boa parte de toda história do ensino profissionalizante no

Brasil, desde a colonização até os dias atuais, buscou-se também explanar uma visão crítica

do campo político em que se insere o ensino profissionalizante neste país, demonstrando

contradições presentes na história da educação brasileira, relativas especificamente à

institucionalização do ensino voltado para a formação do trabalhador. Destacou-se ainda a

importância desse ramo do ensino na constituição da sociedade brasileira, denunciando

também o lugar secundário que vem ocupando este setor, nas políticas públicas de educação

do país. Concomitante a essas assertivas, constatou-se que, desde o início da história da

educação no Brasil, o acesso ao ensino superior esteve quase sempre nas mãos da elite,

enquanto às classes menos favorecidas era designada uma educação direcionada ao trabalho.

Dessa forma, observou-se também uma dualidade estrutural constante no sistema educacional

brasileiro, demonstrando assim sua maneira elitista e excludente, influenciado pelo estilo de

produção capitalista, que mesmo tentando superá-lo ao longo de toda sua história, se viu ainda

refletido pelas ideologias neoliberais que acatavam as vertentes econômicas e sociais da

década de 90.

Ao citar leis, decretos, atos e pareceres associados à história de existência do curso

profissionalizante em música do CEDMN foi inevitável não perceber os desajustes, equívocos

e desigualdades recorrentes nas políticas públicas de ensino desde os seus primórdios até os

dias atuais. É lamentável, mas percebeu-se, que a legislação é praticamente responsável, pelo

atual panorama educacional em que se encontra o ensino de nível profissionalizante no Brasil,

seja gerando reformas ou desencadeando a falta de organização dentro desse sistema. Vale

relembrar que este fato ocorre, pois a legislação educacional durante toda trajetória percorrida

pelo ensino profissionalizante no Brasil, foi completamente influenciada pelo

desenvolvimento econômico e por modificações constantes e avassaladoras que aconteceram

e acontecem no contexto social relacionadas com os meios de produção, tecnológico e de

comunicação dentro do mundo do trabalho, tornando-o cada vez mais imprevisível. A

pesquisa assinala também, para a extrema necessidade de se fazer vigorar o cumprimento das

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

109

devidas leis e reformas criadas para o Ensino em geral e principalmente para o Técnico e

Profissionalizante. Esse cumprimento deve ocorrer através de políticas públicas sérias, que

destinem verbas para um ensino público de qualidade, sem favorecimentos de classes sociais,

raça, sexo e com norteamento para diretrizes educacionais coerentes, implantando leis que

sejam cumpridas e se estendam principalmente às classes de baixa renda. É urgente que a

legislação educacional junto às políticas públicas de ensino,tenha também como foco:

[...] desenvolver um projeto político-pedagógico que, sistemática e

intencionalmente, conduza à compreensão das relações entre universal e particular,

sujeitos e sociedade, ciência e trabalho, razão e emoção, conteúdo e método, produto

e processo, produtor e proprietário, de modo a facilitar a construção das condições

necessárias à destruição da relação que dá origem a todas as formas de desigualdade:

a relação contraditória entre capital e trabalho (KUENZER, 2000, p.35).

Sendo assim, o papel da escola segundo Kuenzer (1988), é o de formular propostas

pedagógicas que democratizem o saber sobre o trabalho, prestando assim um serviço à classe

trabalhadora e não ao capital. Isso implica na aposta de um novo critério de educação

profissionalizante que prepare o indivíduo para enfrentar os desafios das novas tecnologias e

resgate a dimensão política da educação e formação, que contribua para a construção da

identidade social e a integração plena da cidadania. (ROMERO, 1994, p.16).

Dessa forma, espera-se uma educação preparada para as constantes mudanças que

ocorrem no mundo do trabalho, mesmo limitada por esse capitalismo desenfreado que atende

aos interesses do aceleramento econômico e industrial mundial. Isso sugere também a

concepção de um currículo onde “ensino e pesquisa” andem de mãos dadas, garantindo uma

formação sólida e autônoma dos indivíduos, permitindo-lhes assim um melhor desempenho

ao longo da sua vida, das suas capacidades de análise crítica e interpretativa na busca por

soluções e sugestões de escolhas.

Ao discutir o modelo de formação educacional musical e políticas públicas para

ensino profissionalizante, sem maiores pretensões e não contradizendo autores como (SILVA,

2001, p.37) quando afirma que “política pública é uma forma de regulação e intervenção

(estatal) na sociedade” e o próprio Ball que reconhece a importância da análise do Estado

assegurando que “qualquer teoria decente de política educacional deve analisar o

funcionamento e o papel do Estado” (BALL, 1994 p. 10), é importante atentar que em

nenhum momento, o presente trabalho objetivou aprofundar-se nesse tema, tomando como

exemplo a história de existência do curso de música do CEDMN. Porém, foram utilizados o

material de estudos do sociólogo Stephen Ball, Bowe e seus colaboradores, além de autores

de outras áreas da ciência, para perceber como as políticas públicas de ensino influenciaram

na condução do projeto de educação musical do curso técnico de música do CEDMN.

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

110

Através desse procedimento, teve-se a intenção de entender melhor como vem se

dando a manutenção da escola e a influência dela na inserção dos alunos em cada período na

EMus/UFBA. Esse material de estudo se refere a uma abordagem denominada “A abordagem

do Ciclo de Políticas: Uma Contribuição para Análise de Políticas Educacionais”, no qual os

autores debatem as contribuições da “policy cycle approach” ou “abordagem do ciclo de

políticas”, como já foi explicado na exposição do referencial teórico deste trabalho. Esta

abordagem está fundamentada em cinco contextos: Contexto de Influência, Contexto da

Produção de Texto, Contexto da Prática, Contexto dos Resultados/Efeitos e Contexto de

Estratégia Política. Vale ressaltar que, ainda assim, “as reflexões sobre concepção de Estado

podem ser exploradas nos três contextos primários do ciclo de políticas” (influência,

produção do texto e contexto da prática). (MAINARDES, 2007, p. 89).

Por meio desses contextos também foram discutidas questões pertinentes à:

implementação e os primeiros passos para criação do curso; interesses ideológicos e políticos

que envolviam o curso; conflitos internos entre os profissionais da prática quanto a

interpretação da proposta pedagógica do curso; política separatista entre os professores de

música e o restante dos professores da escola; dificuldades de dimensões contextuais que

envolvem a parte estrutural da escola ;investigação e análise dos efeitos que geraram impactos

no curso de música do CEDMN, durante as mudanças de políticas educacionais ocorridas no

governo FHC e Lula, (desativação e reativação do ensino técnico profissionalizante na

modalidade EPI) e programas educacionais de acesso ao nível superior para as classes de

baixa renda.

Quanto ao retorno do ensino técnico profissionalizante na modalidade EPI, o autor

enfatiza a fala do Prof. nº 5, quando reconhece a importância deste episódio:

O EPI (Ensino Profissional integrado) tem como proposta um ensino voltado para

formação unilateral do aluno, oferecendo conhecimentos dentro de uma base

unitária, entre a cultura, a ciência, tecnologia e o trabalho. Seu currículo é formado

por um núcleo comum, composta de disciplinas semelhantes ao ensino de formação

geral, mais a categoria de disciplinas específicas, por isso, o curso tem a duração

de quatro anos. Esta proposta tem a finalidade de acabar com a dualidade entre o

curso profissional, que teria a finalidade de formar a classe operária para o mundo

do trabalho como mão de obra barata, e o ensino propedêutico, para o vestibular

da classe dominante. O aluno egresso do CEDMN tem na sua bagagem curricular,

conhecimentos que dão condições de ter acesso a graduação de música, tanto para

a realização das provas do ENEM, quanto às de aptidão musical. (PROFESSOR

nº5, 2015).

Através desse relato, percebe-se então, que em relação à reativação dos cursos

profissionalizantes na modalidade EPI, o ensino profissionalizante em música do CEDMN

corresponde de maneira satisfatória em relação à proposta de alguns autores, quando afirmam

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

111

que a junção entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio devem

ocorrer de forma integrada, na mesma instituição de ensino, com uma matrícula única para

cada estudante e uma grade curricular que assevere uma formação ampla, integral e

humanística. Essa formação humanística abrange a cultura geral e técnica, de preferência

entrelaçadas, porém sem a superposição de uma sobre a outra, garantindo assim, condições

para uma participação efetiva na sociedade dentro dos contextos de ordem social, política,

cultural e econômica. Isso implica também numa formação não só voltada para o mundo do

trabalho, mas a qualquer uma dessas dimensões isoladamente. (FRIGOTTO; CIAVATTA;

RAMOS, 2005).

No transcorrer do trabalho, através de entrevistas com a Prof.ª Lydia Hortélio, o

Prof. nº3, ex-alunos do CEDMN,demonstrou-se os modelos pedagógicos de educação musical

que foram referências principais para proposta pedagógica almejada pelo curso. Por meio

desses modelos, ficou claro que esta era completamente diferenciada, pois além de outros

propósitos, tinha também como preocupação, o respeito ao perfil dos estudantes selecionados

pelo curso. Sendo assim, o trabalho nos mostrou que o foco de aprendizagem de ensino de

música do CEDMN, estava relacionado a uma proposta metodológica construída a partir de

uma linguagem voltada para música popular feita no Brasil e no mundo. Por meio desta,

procurou-se também não só estudar, bem como associar a chamada música erudita, dos

períodos, clássico, barroco, impressionismo, por exemplo, com a música popular brasileira.

Deste modo, buscou-se construir uma metodologia que garantiu, de certa maneira, o sucesso

do ensino de música do referido curso.

Também foram discutidas as dificuldades e resistências por parte do corpo docente

em relação à aceitação desta referida proposta. Vale relembrar, como reafirmação dessa

proposta, as duas falas da mentora e idealizadora do curso técnico de música do CEDMN, em

entrevistas cedidas a esta pesquisa. Para Prof.ª Lydia Hortélio:

[...] o ensino do CEDMN estava voltado principalmente da música popular

brasileira para música do mundo, começando claro, pela música feita na Bahia,

não só em Salvador[...](HORTÉLIO, 2015).

Para que tenhamos lugar no concerto dos povos nós queremos nesta escola: ouvir o

mundo e cantar o Brasil. (HORTÉLIO, 2015).

Tomando como parâmetro o ensino de violão do curso de música do CEDMN,

através de uma entrevista cedida pelo Prof. de violão do CEDMN Jailson Coelho, observou-se

também a importância da formação musical pautada na diversidade e pluralidade de métodos

e estilos musicais. Entendeu-se, através desse tipo de formação musical oferecida pelo curso

de música do CEDMN, que a diversidade é uma realidade e não uma opção. A diversidade é

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

112

uma condição da humanidade e no caso do Brasil encerra a própria idéia de brasilidade. Deste

modo, o ensino de música nos colégios profissionalizantes, conservatórios, universidades e

demais instâncias de ensino, devem ou deveriam estar fundamentados em conceitos que

compactuam com a liberdade de expressão, crenças e valores pertinentes as diversidades

dentro do universo cultural brasileiro e do mundo.

É importante atentar, em relação ao ensino de música aplicado no CEDMN, para as

palavras de Souza (2007), afirmando que “... a música, por estar conectada à etnicidade,

ideologia, religião, sexualidade, pode aumentar nossa compreensão do mundo. Ela pode

ajudar a compreender quem somos e, assim, nos comunicar melhor com os outros...”.

(SOUZA, 2007, p.19).

Sendo assim, através das informações adquiridas sobre os aspectos pedagógicos

dessa instituição pública de ensino profissionalizante em música, que possui 23 anos de

existência, pode-se considerar que ela aponta para a necessidade de trazermos material de

experiências concretas e exitosas de ensino, que tenham por princípio uma formação plural

dos estudantes seja ele violão ou qualquer outro instrumento.

No que diz respeito à contribuição do curso profissionalizante em música do

CEDMN, para a sociedade baiana, através de depoimentos prestados por ex-alunos e

professores do CEDMN, bem como os professores da EMus/UFBA, foram analisadas e

discutidas informações relevantes sobre o papel deste, não só como veículo gratuito

disponível para o aprendizado musical de nível profissionalizante, bem como um meio de

acesso ao nível superior em música, para as classes de baixa renda. Através dos questionários

e entrevistas em que constam depoimentos de alguns professores e ex-alunos do curso de

música do CEDMN e determinados professores da EMus/ UFBA, obteve-se resultados

significativos para a elucidação da análise dos fatos.

Ao retornar a campo, já próximo ao final da pesquisa, o autor retrata suas

impressões sobre o momento atual em que se encontra o curso de música do CEDMN. Nestas

impressões constam informações relativas não só aos aspectos físicos e estruturais com a

relação ao andar em que se localiza o curso (quantidade e nível de conservação das salas e

instrumentos disponíveis para uso; quadro de professores (as); quantidade de funcionários que

servem ao andar de música), bem como informações recentes sobre o seu funcionamento na

modalidade EPI (dados quantitativos sobre número de alunos matriculados atualmente nos

cursos matutino, vespertino e noturno).

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

113

Através dessa recente investigação, a pesquisa atentou para mais uma atitude de

comprometimento e engajamento por parte do corpo docente, com a criação no segundo

semestre de 2015, da Orquestra Filarmônica do Curso de Música do CDEMN. Esse evento

reflete o esforço destes profissionais que junto ao corpo discente, tentam preservar ainda a

proposta ideológica inicial do curso.

Mas a frente, nos últimos capítulos, é discutida aspectos relacionados à

democratização do ensino superior para as classes de baixa renda. Através de sugestão de

alguns autores, a pesquisa enfatiza a necessidade de estudos, na área das políticas públicas de

ensino, voltados para a compreensão do processo de formação sócio- cultural da população de

classe social menos favorecida. Com estes estudos têm-se a intenção de analisar o perfil

desses alunos, discutindo seus modelos de vida, valores e propósitos, com o intuito de garantir

maior acessibilidade destes ao nível superior de uma universidade. Por outro lado, aponta-se

também para algumas estratégias políticas, adotadas desde o início pelo governo Lula, logo

após a gestão de FHC, com a finalidade de lidar com as desigualdades sociais geradas pelas

políticas públicas de ensino, ao longo de toda sua trajetória. Essas estratégias têm a ver com a

criação de programas de incentivo ao acesso de estudantes da rede pública de ensino, no nível

superior das instituições públicas e privadas do país. Programas como o Enem, Prouni, Sisu e

a Lei de Cotas (étnica e racial), são reflexos das tentativas como parte da estratégia política do

governo federal, para amenizar esses desajustes resultantes das desigualdades acima citadas.

Contudo, à época da criação do curso de música do CEDMN, não podemos afirmar a

existência desses programas.

Sendo assim, a pesquisa denuncia que, naquela época, para adentrar ao nível

superior em música, era necessária uma preparação que exigia uma formação musical

adequada e que só um conservatório ou curso de música profissionalizante gratuito, teria para

oferecer. Outras formas de acesso implicavam em custos financeiros (cursos de extensão da

EMus/ UFBA e Instituto de Música da Universidade Católica, cursos e professores de música

particulares, dentre outros) o que seria inviável para a população de baixa renda. Deste modo,

esses programas de incentivo, não são e acredita-se não obterão, o sucesso pretendido pelo

Governo Federal como parte dessas estratégias relacionadas a inclusão das classes de baixa

renda em um nível superior, por não atenderem as especificidades relacionadas a essa referida

área de concentração (Música).

A pesquisa concluiu, portanto, por meio de um breve relato sobre o processo de

formação musical que antecede ao ingresso no nível superior em música no estado, que

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

114

mesmo com o surgimento do nível superior em música na Bahia, através dos Iº Seminários

Internacionais de Música da Universidade Federal da Bahia, organizado pelo músico alemão

Hans-Joachim Koellreutter, o problema da democratização do ensino de música no estado,

não foi resolvido. Somente em 1993, com a criação do curso técnico profissionalizante em

música do CEDMN, deu-se o pontapé inicial para essa referida democratização. Ainda neste

capítulo, também foram registrados vários depoimentos de professores e ex-alunos do

CEDMN, bem como professores da EMus/UFBA, onde eles expõem suas opiniões sobre a

relevância de um curso técnico profissionalizante em música como o do CEDMN. Nesses

depoimentos podemos notar claramente o valor que é conferido à existência desta instituição,

principalmente como agente transformador do ensino de música na Bahia, devido a sua

importância não só para inserção dos seus alunos no mundo do trabalho, bem como no nível

superior em música da EMus/UFBA.

Este trabalho pela sua especificidade não pretende apresentar respostas definitivas

sobre a importância do curso profissionalizante em música do CEDMN no processo de

inserção dos seus egressos na graduação da EMus /UFBA, mas sim, atentar para a

necessidade de complementar estudos como o que foi desenvolvido nessa pesquisa em outras

instituições. Desta forma, permitindo que a comunidade científica possa aprofundar os temas

e questões tratadas, com o intuito de apontar saídas para combater a escassez de novos

modelos de formação musical a nível profissionalizante, como as do curso de música do

CEDMN, que segundo Souza (2004), “tenha como meta principal agregar as mais diversas

experiências musicais, trazidas por esses mesmos alunos, para as salas de aula, respeitando-as

e tomando-as como ponto de partida para o início da formação musical desse indivíduo”. A

autora sugere também que primeiro o professor reconheça o aluno como ser sociocultural,

observando o mundo musical fora do ambiente escolar, que estes vivenciam em seu tempo e

espaço, para depois iniciar um processo de educação musical, de acordo com suas

potencialidades, linguagens, limitações e necessidades.

Deste modo, também se deve atentar para o pensamento de Freire (2002), quando

ressalta que o estudante deve deixar de ser apenas um depósito de conhecimentos produzidos

e transmitidos por outros, para passar a construir, desconstruir e reconstruir suas próprias

percepções a respeito dos conteúdos, da ciência, da tecnologia, do mundo e da própria vida.

Neste sentido, deve-se esperar que uma formação como a oferecida pelo CEDMN possa

propiciar um leque de possibilidades, dentre as quais, a progressão continuada do ensino

médio ao superior, não negando ao indivíduo o acesso cada vez maior ao conhecimento como

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

115

forma de libertação, construção e desconstrução das várias maneiras de aprender e ver a

realidade num todo.

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

116

REFERÊNCIAS

ESCOLA DE MÚSICA. História da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia.

2014. Disponível em: <http://www.escolademusica.ufba.br/historia>. Acesso em: 21 out. de

2011.

ALMEIDA, Cristiane Maria Galdino de. Diversidade e formação de professores de música.

Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 24, p. 45-53 set. 2010.

______. Educação Musical não formal e atuação profissional. Revista da ABEM, Porto

Alegre,v.13, p. 49-56,set.2005.

ÁLVARES, Sérgio Luis de Almeida. Educação musical curricular nas escolas regulares do

Brasil: a dicotomia. Revista da ABEM, Porto Alegre, v.12, p. 57-64, mar. 2005.

ARENT, Hannah. A Condição Humana. 11.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.

ARANHA, M. L. Arruda. História da Educação. 2. ed. São Paulo: Moderna.1996.

ARROYO, M. Trabalho, Educação e Teoria Pedagógica. In: FRIGOTTO, G. (Org.).

Educação e Crise do Trabalho: perspectivas de final de século. 2. ed. Petrópolis: Editora

Vozes, 1998.

______. Representações sociais sobre práticas de ensino e aprendizagem musical: um

estudo etnográfico entre congadeiros, professores e estudantes de música. 1999. 360

f.Tese(Doutorado em Música)–Programa de Pós-Graduação em Música, Universidade Federal

do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999.

______. Um olhar antropológico sobre práticas de ensino e aprendizagem musical. Revista

daABEM, Porto Alegre, v. 5, p.13-20, set. 2000.

______. Música na educação básica: situações e reações nesta fase pós-LDBEN/96. Revista

da ABEM, Porto Alegre, v.10, p. 29-34, mar. 2004.

AZEVEDO, J. M. L; AGUIAR, M.A. Políticas de educação: concepções e programas. In:

WITTMANN, L. C; GRACINDO, R.V. (Coord.). O estado da arte em política e gestão da

educação no Brasil: 1991 a 1997. Brasília: Inep, p. 43- 51, 1999.

Page 117: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

117

BALL, S. J; BOWE, R. Subjectdepartments and the “implementation” of National

Curriculum policy: an overview of theissues. Journal of Curriculum Studies, London, v. 24,

n. 2, p. 97-115, 1992.

BALL, S. J. Education reform: a critical and post structural approach. Buckingham: Open

University Press, 1994.

BALL, S. J; MAGUIRE, M.; BRAUN, A. How schools do policy: policy enactments in

secondary schools. London: Routledge. 2012.

BELL, Judith.Doing your resear chproject: a guide for thefirst-time researchers in education

and social science. 2. reimp. Milton Keynes, England: Open University Press, p. 145, 1989.

BIAGINI, Jussara. Revisitando momentos da história do ensino técnico industrial no cenário

da produção capitalista brasileira. In: Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes,

5.2001,Ouro Preto. Anais Eletrônicos. Ouro Preto: UFOP,2001. Disponível

em:<http://www.ichs.ufop.br/conifes/anais/EDU/edu1713.htm>. Acesso em 22 de maio de

2013.

BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de Agosto de 1971. Fixa diretrizes e bases para ensino de 1º e 2º

graus. Disponível em: <http://www010.dataprev.gov.br/sislex/páginas/42/1971/5692htm>.

Acesso em: 20 nov. 2013.

BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre oingresso nas universidades

federais e nas instituições federais deensino técnico de nível médio e dá outras providências.

Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30. ago. 2013. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm>.

BRASIL. Decreto nº 5154,de 23 de julho de 2004. Regulamenta o art.36 e osartigos 39 a 41

da Lei nº 9394/96. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil.../decreto/D5154.htm>.

Acesso em: 08 abr. 2013.

CARCASSI, M. Método de Violão: opus 59, Brasil, Irmãos Vitale, s/d.

COELHO, J. Dias. Metodologias aplicadas ao ensino do violão no curso profissionalizante do

Colégio Estadual Manoel Novaes. 2000. s/ publicação.

______. Depoimento [15. Dez.2013]. Entrevistador: Cleudson Passos. (120 min), filmagem.

Page 118: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

118

CARSPECKEN, P. F. Critical ethnography in educationresearch: a theoretical and

practicalguide. London: Routledge, 1996.

CARSPECKEN, P. F.; WALFORD, G. (Eds.). Critical ethnography and education.

London: Elsevier/JAI, 2001.

CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Parecer CFE. 1299/73. PROCESSOS CEE Nº

1479/88 apenso 523/88 -DRE-6-Sul. Disponível em:

<http://iage.fclar.unesp.br/ceesp/textos/1990/par_156_90_pro_1479_88_s_andre_c_anne_w_a

nne.pdf >. Acesso em: 14 de maio de 2015.

COSTA, Marineide Marinho Maciel; PERRONE, Maria da Conceição Costa. Personagens

musicais da Bahia em quatro décadas: uma iconografia musical. In: 3º Congresso Brasileiro

de Iconografia Musical.Anais eletrônicos... Salvador, UFBA, 2015. Disponivel em:

<www.portaleventos.mus.ufba.br/index.php/CBIM_RIdIM-BR/3cbim2015/.../42>. Acesso

em: 25 jul de 2016

COUTINHO, Carla Pereira;CHAVES, José Henrique. O estudo de caso na investigação em

Tecnologia Educativa em Portugal. Revista Portuguesa de Educação, v.15(1), pp. 221-

244.CIEd - Universidade do Minho, 2002.

CORBITT, B. Implementing policy for homelesskids in schools: reassessingthe micro and

macro levels in the policy debate in Australia. Journal of Education Policy, London, v. 12,

n. 3, p. 165-176, 1997.

DELTREGIA, M. C.; GARBOSA, L. W. F. Reflexões sobre o termo “método”: um estudo a

partir de revisão bibliográfica e do método para violoncelo de Michel Corrette (1741).

Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 24, p. 107-116, set. 2010

DUTRA, A. A questão política da alfabetização no Rio de Janeiro de janeiro de 1983 a 1987.

Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 85, p. 33-42, 1993.

ENGELS, F. Introdução ao Trabalho assalariado e capital de Karl Marx. In: Marx; Engels:

Obras escolhidas. São Paulo: Alfa Ômega, 1891.

FERNANDES, Ângela Viana M.et al. Nova LDB: trajetória para a cidadania?São Paulo: Arte

e Ciência, 1998.

Page 119: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

119

FIDEL, Raya. The case study method: a case study. In: GLAZIER, Jack D. & POWELL,

Ronald R. Qualitative research in information management. Englewood, CO:

LibrariesUnlimited, 238p. p.37-50, 1992.

FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. Tradução Joice Elias Costa, 3. ed.. Porto

Alegre: Artmed, 405 p. p.1- 405, 2009.

FREY, K. Políticas públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à prática da análise

de políticas públicas no Brasil. Planejamento e Políticas Públicas (IPEA), Brasília, v. 21, p.

211-259, 2000.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 34 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M.; RAMOS, M. N. (Orgs.). Ensino médio integrado:

concepções e contradições. SãoPaulo: Editora Cortez, p.106-127, 2005.

FONTERRADA, Marisa. A educação musical no Brasil: algumas considerações. Revista da

ABEM, Porto Alegre, v. 2, p. 69-83, jan. 1993.

GIULIANI, M. Ejercicios de Arpegios. Buenos Aires: Ricordi Americana, 1957.

GOMEZ, Gregório R.; FLORES, Javier; JIMÈNEZ, Eduardo. Metodologia de la

Investigacion Cualitativa, Malaga: Ediciones Aljibe, pp. 378, 1996.

GUBA, Egon; LINCOLN, Yvonna. Competingparadigms in qualitativeresearch In: DENZIN,

Norman; LINCOLN, Yvonna.Handbook of Qualitative Research, Thousand Oaks, CA:

SAGE Publications, pp. 105-117, 1994.

HERMIDA, Jorge Fernando. A reforma educacional na era FHC(1995/1998 e 1999/2002):

duas propostas, duas concepções. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E

PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”,4, 2012. João

Pessoa. Anais Eletrônicos... João Pessoa UFP, 2012. Disponível em:

<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario9/PDFs/2.48.pdf.

>Acesso em 20 set. 2013.

HORTÉLIO, Lydia. O presépio ou Baile de Deus Menino, um Natal Brasileiro. 2.ed.

Secretaria de Cultura, 2011.

Page 120: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

120

KIRTON, A. Access tohigher education: a case study of policy intentions and policy effects.

Tese (PhD/doutorado) – InstituteofEducation. University of London, 2002.

KNOGAN/HOUAISS. Encicloplédia e dicionário ilustrados. 3. ed. Rio de Janeiro:Seifer,

1998.

KUENZER, A. Z. Ensino de 2º grau - O Trabalho como princípio Educativo.São Paulo:

Cortez, 1988.

KUENZER, A. Z. O Ensino Médio agora é para a vida. Educação&Sociedade, Campinas,

ano 21, n.70, p.15-39, 2000.

LACORTE, S.; GALVÃO, A. Processos de aprendizagem de músicos populares: um estudo

exploratório. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 17, 29-38, set. 2007.

LEITE, Jaqueline Câmara. O Curso de Música do Colégio Estadual Manuel Novaes na

atuação profissional de seus egressos: uma abordagem sócio histórica. 2007, 147f

(Dissertação de Mestrado) - Programa de Pós-graduação da Escola de Música, Universidade

Federal da Bahia, Salvador, 2007.

LIMA JÚNIOR, O.B.; SANTOS, W.G. Esquema geral para a análise de políticas públicas:

uma proposta preliminar. Revista Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 241-

256, 1976.

LOONEY, A. Curriculum as policy: some implications of contemporary policy studies for

theanalysis of curriculum policy, with particular referenceto post-primary curriculum policy

in theRepublic of Ireland. The Curriculum Journal, London, v. 12, n. 2, p. 149-162, 2001.

MAINARDES, Jefferson. Abordagem do Ciclo de Políticas: uma contribuição para a análise

de políticas educacionais.Educ. Soc. Campinas, v. 27, n. 94, p. 47-69, jan./abr. 2006.

Disponivel em:<http://www.scielo.br/pdf/es/v27n94/a03v27n94.pdf.>. Acesso em: 15 de jun

de 2015.

MERRIAM, Sharan. Qualitative Research and Case Studies Applications in Education:

Revised and Expandedfrom Case StudyResearch in Education, San Francisco: Jossey-

BassPublishers, 1998.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Centenário da Rede Federal de Educação Profissional e

Tecnológica. 2009.

Disponívelem<http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/centenario/historico_educacao_profissi

onal.pdf>. Acesso em: 08/09/2013

Page 121: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

121

MOURA, D. H. Educação Básica e Educação Profissional: DualidadeHistórica e

Perspectivas de Integração. In: GT: Trabalho e Educação, n.9.Disponível em:

<http://www.anped.org.br>. Acesso em: 16 jun. 2013.

ORTEGA, Eliane Maria V. O ensino médio público e o acesso ao ensino superior.Estudos

em Avaliação Educacional. Fundação Carlos Chagas, n. 23, p. 153-176, jan./jun. São Paulo

2001.

PERRONE, Maria da Conceição Costa; CRUZ, Selma Boulhosa Alban. Um Século de

Tradição Musical na Bahia. Salvador: Grafufba, 1997.

PONTE, João Pedro. O estudo de caso na investigação em educação matemática. 2006.

Disponível em:

<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/MATEMATICA/

Artigo_Ponte.pdf >. Acesso em: 20 de jan. 2015.

POWELL, Ronald R. Qualitative research in information management. Englewood, CO:

LibrariesUnlimited, 238p. p.37-50, 1992.

PINTO, M. Ouvidos para o mundo: aprendizado informal de música em grupos do Distrito

Federal. Opus, n. 8, fevereiro 2002. Disponível em:

<http://www.anppom.com.br/opus/opus8/mercmain.htm>. Acesso em: 15 de ago. de 2015.

PINTO, H. Iniciação ao Violão: princípios básicos e elementares. São Paulo: Ricordi

Brasileira, 1978.

______. Curso Progressivo de Violão: nível médio para 2º, 3º e 4º ano. São Paulo: Ricordi

Brasileira 1982.

PRASS, L. Saberes musicais em uma bateria de escola de samba: uma etnografia entre os

Bambas da Orgia. Porto Alegre: UIFRGS Editora, 2004.

QUEIROZ, L. R. S. Educação Musical e Cultura: singularidade e pluralidade Cultural no

Ensino e aprendizagem da música. Revista da ABEM, Porto Alegre, v.10, p. 99-107, mar.

2004.

RAMOS, A.G. Introdução ao Histórico da Organização Racional do Trabalho. Brasília:

Conselho Federal de Administração, 2009.

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

122

REYS, M. C. D.; GARBOSA, L. W. F. Reflexões sobre o termo “método”: um estudo a partir

de revisão bibliográfica e do método para violoncelo de Michel Corrette. Revista da ABEM,

Porto Alegre, v. 24, p. 107-116, set. 2010.

RICO, E. de M. (Org.). Avaliação de políticas sociais: uma questão em debate. São Paulo:

Cortez, 1999.

ROMERO, C. C. O Futuro da Sociedade do Trabalho e Propostas para Educação. Boletim

Técnico do SENAC, n.20, set./dez. 1994.

SILVA, I. G. Participação popular e “reforma” do Estado Brasileiro nos anos

1990:contradições e impasses. 2001. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001.

SOUZA, C. “Estado do campo” da pesquisa em políticas públicas no Brasil. Revista

Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 18, n. 51, p. 15-20, fev. 2003.

SOUZA, J. Cultura e diversidade na América Latina: o lugar da educação musical. Revista da

ABEM, Porto Alegre, v. 18, p. 15-20, out. 2007.

SOUZA, Jussara. Educação musical e práticas sociais. Revista da ABEM, Porto Alegre.

v.10, p. 7-11,mar.2004.

SUPROF, BA. Educação Integral da EP. Disponível em:

<http://educacaoprofissionaldabahia.blogspot.com.br/p/educacao-integral-na-educacao.htm>

acessado em: 20/01/2014.

SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e

Cristina Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.

VASCONCELOS, Simão Dias; LIMA, KênioErithon Cavalcante. Inclusão social e acesso às

Universidades Públicas: o programa Professores do Terceiro Milênio.Estudos em Avaliação

Educacional, São Paulo, s.n., n. 29, p. 67-86, jan.-jun. 2004

VIDOVICH, L. Quality policy in Australianhighereducation of the 1990s: university

perspectives. Journal of Education Policy, London, v. 14, n. 6, p. 567-586, 1999.

VIDOVICH, L.; O’DONOGHUE, T. Global-local dynamics of curriculum policy

development: a case-studyfrom Singapore. The Curriculum Journal, London, v. 14, n. 3, p.

351-370, 2003.

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

123

WALFORD, G. A policy adventure: sponsoredgrant-maintained schools. Educational

Studies, Oxford, v. 26, n. 2, p. 243-262, 2000.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos.Tradução deDaniel Grassi - 2. ed.

Porto Alegre:Bookman, 2001.

______. Case StudyResearch: design and Methods, 2. ed. Thousand Oaks, CA: SAGE

Publications, 1994.

ZAGO, Nadir. Do acesso à permanência no ensino superior: percursos de estudantes

universitários de camadas populares.Revista Brasileira de Educação, v. 11, n. 32 p. 226-

370, maio/ago, 2006.

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

124

APÊNDICE A - Questionário sócio demográfico e roteiro de entrevista

Questionário: alunos de música da EMus, egressos do CEDMN.

Nome do colaborador( a ): ___________________________________________________

Data de nascimento: ______ /______/_______

E-mail: __________________________________Tels:______________________________

Data da entrevista ou preenchimento do questionário: ____________________________

Turma que cursou:

a) Profissionalizante ( ) / ano ______

b) Regime de Oficinas ( ) / ano _______

c) Reativação do curso profissionalizante / ano ______

d) Turma mais recente ( ) /ano ________

1. Sexo:

Feminino( )Masculino ( )

2. Idade: _______

3. Como você se considera:

Branco ( ) Pardo ( ) Preto ( ) Amarelo ( ) Indígena ( ) Outro _________

4. Religião

Católica( ) Protestante ou Evangélica () Espírita ( ) Umbanda ( ) Candomblé ( )

5. Estado civil quando cursava o C.E.D.N.M:

Solteiro(a) ( ) Casado (a) ( ) Separado ( a) Divorciado ( a) ( ) Outro __________

6. Origem (Cidade, Estado) da sua família__________________________

7. Residência durante o curso

a) Em casa ( ) ou apartamento ( ) próprio () ou alugado ().

b) Em habitação coletiva: hotel, hospedaria, pensionato, república etc. _________

c) Com a minha família ( ) ou sozinho (a) ( )

c) Outra situação___________________

8. Se você morava com sua família, era você o provedor principal da casa?

Sim ( ) Não ( )

9.Tinha ou teve filhos, durante o curso?Em caso afirmativo, quantos?

Sim ( ) Não ( ) ___________________

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

125

10. Qual o nível de escolaridade de seus pais?

a) Ensino fundamental completo ( ) ou incompleto ( )

b) Ensino médio completo ( ) ou incompleto ( )

c) Nível superior completo ( ) ou incompleto ( )

d) Pós-graduação ( )

11.Existia algum músico na sua família na época?

_________________________________________________________

12. Você trabalhava ganhando algum rendimento durante o curso?

Sim ( ) Não ( ) Com carteira assinada ( ) Sem carteira assinada ( )

Nunca trabalhei. ( )

13. Quantas horas semanais você trabalhava na época?

Com jornada fixa( ) Sem jornada fixa ( ) Até 10 horas ( ) De 11 a 20 horas( )

De 21 a 30 horas ( ) De 31 a 40 horas( ) Mais de 40 horas.( )

14. Qual a sua renda ou seu salário mensal durante o curso (CEDMN)?

Até 1 salário mínimo ( ) De 1 a 2 salários mínimos ( ) De 2 a 5 salários mínimos ( )

De 5 a 10 salários mínimos ( ) Acima de 10 salários mínimos ( )

15. Qual das opções abaixo descreve melhor sua motivação ou necessidade para

trabalhar?

a) Arrimo de família ( )

b) Ajudar meus pais nas despesas com a casa ( )

c) Meu sustento e o de minha família (esposo/a, filhos/as etc.) ( )

c) Morar sozinho ( )

d) Para adquirir experiência musical. ( )

f) Outra finalidade: __________________________

16. Com que idade você começou a exercer atividade remunerada?

Antes dos 14 anos ( ) Entre 14 e 18anos ( ) Entre 18 e 21 anos ( ) Após 21 anos ( ) Nunca

exerci atividade remunerada ( )

17. Já havia concluído o ensino médio na época em que ingressou no C.E.D.M.N?

Sim ( ) Não ( )

18. Em caso afirmativo, em qual colégio concluiu o ensino médio?

_________________________________________________________________________

19. Em que ano ingressou no C.E.D.M.N?? __________________

20. Qual foi o ano de conclusão? ____________________

21. Em que ano ingressou na graduação da Emus/ UFBA? ______________________

Page 126: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

126

22.Em qual curso ingressou na graduação da EMus/UFBA?

a) Licenciatura em Música ( )

b) Instrumento ( )

c) Composição e Regência ( )

d) Canto ( )

e) Música Popular [ Composição e arranjo ( ) Instrumento ( ) Canto ( ) ]

f) Ano de conclusão da graduação ___________

23. Você tocava algum instrumento antes de ingressar no CEDMN?

a) Sim ( )

b) Não ( )

Qual? __________________

24.Com que idade iniciou no estudo do instrumento? _______

25.Como foi a iniciação no instrumento? Através de:

Amigo ou parente ( )Internet ( ) Aulas particulares ( ) Cursos livres ( )

Revistinhas ( )Cd´s e dvd´s ( ) Conservatórios particulares ( )

Outros:______________________

26.Com que idade começou a desenvolver a leitura de partitura? ___________

27.Você teve algum outro tipo de vivência musical, mesmo não profissional, antes de

ingressar no CEDMN?

Sim ( )não ( ) bandas ( ) orquestras ( ) corais ( ) apresentações em bares e restaurantes,

shoopings ( ) g) outros ___________

28.Alguma dessas atividades que assinalou eram remuneradas?

a) Sim ( )

b) Não ( )

29.Como você soube da existência do C.E.D.M.N?

Meios de comunicação ( ) Redes sociais ( ) Através de amigos ( ) Outros ________

30. Você passou por algum exame de seleção para cursar o C.E.D.M.N,?

a) Sim ( )

b) Não ( )

31. Caso afirmativo, assinale os saberes musicais que julgou serem necessários para sua

aprovação nesse processo de seleção:

Leitura de pauta musical (partitura) ( ) Prática Oral (tocar de ouvido) ( )

As duas alternativas.( ) Outras _____________

32. Na sua opinião, qual desses saberes musicais, facilitou a sua aprovação nesse referido

processo de seleção?

Leitura de pauta musical (partitura) ( ) Prática Oral ( tocar de ouvido) ( )

As duas alternativas. ( ) Outros _____________

Page 127: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

127

33. Especifique qual instrumento musical você se submeteu ao teste de aptidão ao

ingressar no C.E.D.M.N? ______________________

34.Ao ingressar no curso de instrumento do C.E.D.M.N, em que nível você se encaixaria,

na sua opinião :

Iniciante ( )Elementar ( ) Médio ( ) Avançado ( )

35. De acordo com a época em que estudou no C.E.D.M.N, como você avaliou o nível da

qualidade de ensino (corpo docente) no decorrer dos quatro anos que se seguiram ?

Péssimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ótimo ( ) Excelente ( )

36.Você frequentava também as aulas do núcleo comum (propedêuticas), ou seja, as

disciplinas que não eram só da grade curricular de música, mas que também eram

obrigatórias ?

a) Sim ( )

b) Não ( )

37.Você achava importante frequentar aulas de disciplinas que não fossem de música?

a) Sim ( )

b) Não ( )

42.Quais disciplinas do núcleo de música foram fundamentais para na sua aprovação no

exame de seleção da Emus/UFBA?

Instrumento ( ) Canto Coral ( ) Percepção Musical ( ) Prática de Orquestra ( )Elementos de

música ( ) Improvisação Musical ( ) Música Popular e Folclórica ( ) Técnica de Gravação

( ) História da Música ( ) Regência Coral ( ) Ed. Artística ( )

Outras disciplinas ou atividades : ____________________________

43.Quais disciplinas de música do C.E.D.M.N foram mais importantes para ajudar na

sua formação acadêmica no decorrer do curso?

Instrumento ( ) Canto Coral ( ) Percepção Musical ( ) Prática de Orquestra ( )Elementos de

música ( ) Improvisação Musical ( ) Música Popular e Folclórica ( ) Técnica de Gravação

( ) História da Música ( ) Regência Coral ( ) Ed. Artística ( )

Outras disciplinas ou atividades : ____________________________

44.Em relação às suas expectativas durante o curso do CEDMN, quais afirmativas

abaixo se aproximam mais da realidade vivenciada:

a)Fiquei plenamente satisfeito ( )

b)Parcialmente satisfeito( )

c) Insatisfeito ( )

Page 128: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

128

Perguntas Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente

A quantidade de salas de aula disponibilizadas eram

suficientes?

Como avalia as condições em que elas se

encontravam para a execução das aulas , na época?

O que achava do tratamento acústico das salas? O que você achava da limpeza, higienização que era

dado às salas , banheiros e todo espaço físico do

andar de música?

A quantidade de instrumentos disponíveis para o uso

em sala de aula eram suficientes?

Como avalia a qualidade e o nível de conservação

dos instrumentos musicais na época?

Existiam equipamentos suficientes para uso em salas

de aula, por exemplo: quadro pautado, giz ou pincel

atômico, caixas de som, microfones, mesas de som,

aparelhos de som com dvd´s, televisão,

computadores?

Como você avalia a qualidade e o nível de

conservação da maioria desses equipamentos

musicais de acordo com a época em que você cursou

o C.E.D.M.N?

Existiam material didático oferecido pela escola não

só para aprendizagem do instrumento, assim como

para uso em outras disciplinas?

O corpo docente doava os próprios materiais

didáticos para o uso nas aulas , assim como usavam

seus próprios métodos ( livros publicados,

apostilas....) ?

Sua turma tinha acesso a merenda escolar? E se tinha

como era a qualidade desse serviço oferecido pela

escola na sua época?

45.Em sua opinião, os funcionários que trabalhavam no andar que eram ministradas as

aulas de música (zeladores, pessoal da limpeza, funcionários que pegavam os

instrumentos...) Como eles tratavam alunos e professores e como eram tratados

também pelos mesmos? Como você os via dentro daquele contexto?

_________________________________________________________________________

46.Em relação à turma a que você pertenceu, houve algum momento em que o curso

chegou a ser deslocado do andar em que ele funcionava, para outros compartimentos da

escola? Porquê? Em caso afirmativo, houve algum impacto no ensino oferecido?

_________________________________________________________________________

47. Houve evasão na sua turma? Na sua opinião, quais as causas principais?

48. Você acha que o curso contribuiu para o seu ingresso na universidade? De que

forma?

___________________________________________________________________________

Page 129: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

129

APÊNDICE B - Questionário sócio demográfico e roteiro de entrevista

Questionário: professores de música da EMus/UFBA.

Nome do colaborador( a ): ___________________________________________________

Data de nascimento: ______ /______/_______

E-mail: __________________________________Tels:______________________________

Data e ano de admissão como professor da EMus/UFBA: ______/_______/____________

Data da entrevista ou preenchimento do questionário: ______ /________/____________

1. Qual sua formação de nível médio?

Técnico profissionalizante ( )

Segundo grau normal ( científico ) ( )

2. Em qual colégio concluiu o ensino médio?

__________________________________________________________________________

3.Como foi a sua preparação para ingressar na graduação de música na Emus/UFBA ou

nstituto de Música da UCSAL (Universidade Católica de Salvador ou qualquer outra

Universidade de Música que tenha cursado? )

a) Cursos de extensão da Emus /UFba( )

b) Conservatórios formais ( )

c) Conservatórios informais ( )

d) Aulas particulares ( )

e) Outros _______________

4. Qual a sua área de formação acadêmica em música( graduação)?

a) Licenciatura ( )

b) Bacharelado ( )

c) Canto ( )

d) Composição ( )

e ) Regência ( )

5.Qual sua área de concentração? (mestrado) (doutorado)

a) Educação Musical ( ) ( )

b) Etnomusicologia ( ) ( )

c) Performance (instrumento) ( ) ( )

d) Musicologia ( ) ( )

e) Composição ( ) ( )

Page 130: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

130

f) Regência ( ) ( )

g) Não possuo titulo( mestre/doutor) ( )

6.Que disciplina(s) lecionou ou leciona, desde seu ingresso como professor do curso da

graduação em música da Emus/UFBA?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7.Participou de bancas examinadoras de vestibular para os cursos de música na

Emus/UFBA, a partir de 1997 ?

Sim ( ) Não ( )

8. Já participou de bancas examinadoras que avaliaram alunos advindos do CEDMN?

Sim ( ) Não ( )

9.Em relação ao nível de instrução musical, como você avalia, avaliou ou vem avaliando

o desempenho desses alunos?

Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Excelente ( )

10.Você já teve ou tem em sua classe, alunos oriundos do CEDMN?

Sim ( ) Não ( )

11.Conhece os profissionais que foram professores desses alunos no CEDMN?

Sim ( ) Não ( )

12.O que acha do desempenhodos alunos advindos do CEDMNno curso superior em

música da Emus/UFBA, em relação a outros que não tiveram a sua formação musical

inicial adquirida nessa referida escola?

Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Excelente ( )

13.Na sua opinião qual a importância de um curso profissionalizante como o do

CEDMN para as camadas menos favorecidas ou de baixa renda, no que diz respeito ao

acesso ao nível superior em música ? ( Obs: Além das linhas, pode usar a página

seguinte toda para a resposta).

Page 131: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

131

APÊNDICE C - Questionário sócio demográfico e roteiro de entrevista

Questionário: Aos Professores de Música do C.E.D.M.N.

Nomedo colaborador (a ): ___________________________________________________

Data de nascimento: ______ /______/_______

E-mail: __________________________________Tels:______________________________

Data e ano de admissão como professor do CEDMN: ______________________________

Data da entrevista ou preenchimento do questionário: ____________________________

1. Qual sua formação de nível médio?

Técnico profissionalizante ( ) Segundo grau normal ( científico ) ( )

2. Em qual colégio concluiu o ensino médio?

__________________________________________________________________________

3. Como foi a sua preparação para ingressar na graduação de música na Emus/UFBA

ou Instituto de Música da UCSAL ( Universidade Católica de Salvador)?

a) Cursos de extensão da Emus /UFba( )

b) Conservatórios formais ( )

c) Conservatórios informais ( )

d) Aulas particulares ( )

e) Outros _______________

4. Qual a sua área de formação acadêmica em música( graduação)?

a) Licenciatura ( )

b) Bacharelado ( )

c) Canto ( )

d) Composição ( )

e ) Regência ( )

5.Qual sua área de concentração (mestrado) (doutorado)

h) Educação Musical ( ) ( )

i) Etnomusicologia ( ) ( )

j) Performance (instrumento) ( ) ( )

k) Musicologia ( ) ( )

l) Composição ( ) ( )

m) Regência ( ) ( )

n) Não possuo titulo de mestrado ( ) nem doutorado

Page 132: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

132

6.Qual ou quais disciplinas leciona ou já lecionou, desde seu ingresso como professor no

curso profissionalizante em música do C.E.D.M.N?

__________________________________________________________________________

7. Atualmente coordena o departamento de música do CEDMN?

Sim ( ) Não ( )

8. Alguma vez já foicoordenador desse referido departamento?

Sim ( ) Não ( )

9. De acordo com a sua época de admissão como docente, qual formação acadêmica era

exigida para candidatar-se ao exame de seleção do CEDMN?

Bacharelado em Música ( ) Licenciatura em Música ( ) Bacharelado ou Licenciatura ( )

Mestrado ( ) Doutorado ( ) ( ) Pst

10. Qual seu nível de conhecimento sobre asleis, decretos, parâmetros, normas,

regimentos ou quaisquer outros documentos ligados ao ensino técnico

profissionalizante?

Regular ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Ótimo ( ) Excelente ( )

11. Já teve acesso ao projeto piloto do CEDMN?

Sim ( ) Não ( )

12. Qual a sua avaliação sobre o projeto?

Regular ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Ótimo ( ) Excelente ( )

13. Tem ou teve dificuldades em algum momento da sua docência, não só de interpretar

as leis, normas e regulamentos que regem o ensino técnico profissionalizante, mas

também em colocá-las em prática?

Sim ( ) Não ( )

14. No início do curso, logo nos primeiros anos de docência, quais foram as suas

expectativas em relação ao curso?

Regular ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Ótimo ( ) Excelente ( )

15. Desde o início de sua admissão, qual foi a sua avaliação da proposta pedagógica e

idealista do projeto do CEDMN?

Regular ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Ótimo ( ) Excelente ( )

16. Na sua opinião, em algum momento de sua docência houve divergência por parte do

corpo docente em relação a consecução do projeto piloto elaborado por parte dos

idealizadores do projeto CEDMN?

Não( ) Parcialmente ( ) Em grande parte ( ) Totalmente ( )

Page 133: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

133

17. Durante sua trajetória como professor do CEDMN percebeu a admissão ou

transferência de professores sem o perfil profissional exigido pelo exame de seleção?

Sim ( ) Não ( )

18. Em caso afirmativo, qual a reação do corpo docente em relação a esse fato?

Indiferença ( ) Pouca Insatisfação ( ) Insatisfação ( ) Muita insatisfação ( )

19. Em sua opinião, haviam professores que não só defendiam a formação do aluno para

o ingresso no mundo do trabalho, mas também a inserção destes ao nível superior em

música da Emus/UFBA?

Nenhum ( ) Poucos ( ) Boa parte ( ) Maioria ( )

20. Você se inclui em alguma destas categorias? Qual delas?

Nenhum ( ) Poucos ( ) Boa parte ( ) Maioria ( )

21. O que você pensava para formação do aluno? Prepará-lo para:

Mercado de trabalho( ) Nível superior/mundo acadêmico ( ) Ambos ( )

22. Como você reagiu à divisão das modalidades do ensino técnico profissionalizante

em: concomitante, subsequente, proeja, integrado?

Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Completamente insatisfeito ( )

23. Em algum momento da trajetória de existência do CEDMN, você ou algum

colega se sentiu pressionado a exercer suas funções em outra escola de nível técnico

profissionalizante?

Nunca ( ) Algumas vezes ( ) Muito pressionado ( )

24. Como músico (artista), muitas vezes já teve dificuldades em conciliar sua carreira

artística com a docência?

Em parte ( ) Um pouco ( ) Bastante ( )

25. As interpretações e a prática das normas e regulamentações relacionadas ao

ensino profissionalizante em música, eram discutidas regularmente pelo corpo docente

desde o início até os dias atuais?

Nunca ( ) Sempre ( ) Algumas vezes ( )

26. Em sua experiência como docente do CEDMN, qual foi o momento mais crítico

da existência do curso? Por que? (Se necessário, use a folha em branco no final)

_______________________________________________________________________

27. Qual impacto causado, em sua opinião, tanto para você como todo corpo docente

do CEDMN, com a desativação do ensino profissionalizante, mudando para o regime de

oficinas? (Se necessário, use a folha em branco no final)

_____________________________________________________________________

28. Ao voltar ao regime de curso profissionalizante as coisas melhoraram ou

pioraram? E em quais aspectos? (Se necessário, use a folha em branco no final)

_____________________________________________________________________

29. Como você vê o papel da formação musical profissionalizante, tendo como

exemplo o C.E.D.M.N, para acesso ao nível superior, pelas classes menos favorecidas ou

melhor de baixa renda, na inserção de alunos no nível superior em música da

Emus/UFBA? (se necessário, use a folha em branco no final)

Page 134: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA‡ÃO... · cleudson paula passos curso tÉcnico profissionalizante em mÚsica do colÉgio deputado manoel novaes: formaÇÃo e inserÇÃo de alunos

134

APÊNDICE D – Termo de Compromisso

Termo de Compromisso

Eu, Cleudson Paula Passos, solicito a sua colaboração para responder ao questionário de

pesquisa abaixo apresentado. Este documento se destina somente para fins acadêmicos e se

refere à pesquisa de Mestrado em Educação Musical desenvolvida no PPGMUS/UFBA. A

pesquisa tem como título: “Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes: formação e inserção

de seus egressos no curso de graduação de música da UFBA”. Com o intuito de evitar

qualquer tipo de transtorno, garanto o anonimato do (a) entrevistado (a), em todo conteúdo

deste trabalho. Ao aceitar colaborar com esta pesquisa, desde já antecipo os meus

agradecimentos. Salvador, 10 de novembro de 2014.